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Porto Alegre
2013
2
Porto Alegre
2013
3
117 f.
Diss. (Mestrado) – Faculdade de Direito, Programa de Pós-
Graduação em Ciências Criminais, PUCRS, 2013.
CDD: 341.4391
Bibliotecária responsável:
CRB10/1244
4
BANCA EXAMINADORA:
______________________________________________
Prof.ª Dra. Ruth Maria Chittó Gauer – PUCRS
Presidente da Comissão Examinadora
______________________________________________
Prof. Dr. Álvaro Filipe Oxley da Rocha
Membro da Comissão Examinadora
______________________________________________
Prof. Dr. Celso de Paula Rodrigues
Membro da Comissão Examinadora
Porto Alegre
2013
5
AGRADECIMENTOS
Eis chegado o momento em que expresso minha gratidão aos seres que
estenderam a mão ou me olharam com atenção durante esta caminhada.
Ao encontro com a essência de Thayara Castelo Branco, pela amizade que foi
uma das maiores conquistas alcançadas nessa temporada. Pela parceria
constante, por semear luz na minha vida.
E finalmente, à Porto Alegre. Por ter ampliado meus horizontes, por ter
alimentado minha mente com tantas experiências culturais e pela sensação de
estar em casa. Minha eterna gratidão a esta terra!
7
RESUMO
ABSTRACT
In the present research we analyze the way in which the Jury selects people to
serve as jurors in Brazil. We seek to investigate the decisive stages of this form
of judgment through a historical approach, which enabled us to identify who are
the authorities responsible for the enrollment of prospective jurors and what
were the criteria used in accordance with pertinent legislation. Thus, we
understand the problems faced since the early nineteenth century, when this
system of justice administration in Brazil was implanted. Based on these
indicators, we can depict the steps of the current dynamics of organization of
the list of jurors as well as evaluating the participation of citizens through the
data present in the years following the Jury’s Reform with the implementation of
the Law 11.689/08.
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................11
1 SELEÇÃO DOS JURADOS NO BRASIL IMPERIAL...................................16
1.1 Quem Julga? A administração da Justiça em discussão........................16
1.2 Contexto histórico do Júri no Brasil Imperial...........................................22
1.2.1 1822: Ano do advento da instituição no nosso país...............................23
1.2.2 1824: Primeira Constituição Federal brasileira.......................................26
1.2.3 1831: Surgimento do Código de Processo Penal...................................30
1.2.4 1841: Reforma do Código de Processo Penal.......................................36
INTRODUÇÃO
1
Nesse sentido, Salo de Carvalho aborda que: “As discussões sobre o Tribunal do Júri são
invariavelmente instigantes e muito ricas, o que permite que este espaço de jurisdição
constitua-se em um constante, renovado e fértil campo de pesquisa.” In: CARVALHO, Salo de.
Como não se faz um trabalho de conclusão. São Paulo, Saraiva, 2013. P. 91
12
Atentamos que há certo silêncio sobre este aspecto, o que abre espaço
para que o Juiz Presidente do Júri, na condição de administrador do processo
seletivo dos cidadãos, possa formar uma lista de acordo com sua concepção
sobre quem é idôneo ou não, recorrendo, na maioria das vezes, à forma mais
cômoda de alistamento: requisição de nomes a bancos de dados disponíveis
pelas universidades e instituições bancárias.
2
STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do Júri: símbolos e rituais. 4. Ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2001, P. 98-100.
3
Art. 425. Anualmente, serão alistados pelo presidente do Tribunal do Júri de 800 (oitocentos)
a 1.500 (um mil e quinhentos) jurados nas comarcas de mais de 1.000.000 (um milhão) de
habitantes, de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas comarcas de mais de 100.000 (cem mil)
habitantes e de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos) nas comarcas de menor população. (Redação
dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o O juiz presidente requisitará às autoridades locais, associações de classe e de bairro,
entidades associativas e culturais, instituições de ensino em geral, universidades, sindicatos,
repartições públicas e outros núcleos comunitários a indicação de pessoas que reúnam as
condições para exercer a função de jurado. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
15
4
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2006, p. 530
5
CARRARA, Francesco. Programa do Curso de Direito Criminal. Vol. II. São Paulo: Saraiva,
1957, p. 243-244.
17
6
MARQUES, José Frederico. O Júri no Direito Brasileiro. São Paulo: Editora Saraiva, 2ª ed. ,
1955, p. 45.
7
LOPES JR. Aury. Direito Processual Penal. São Paulo: 9ª edição, 2012, p. 1048. Neste
sentido, Goldschmidt expõe o contexto de existência do Júri e problematiza a questão no livro
Princípios gerais do processo penal (2002, P. 82) ao revelar que os meios de prova regulada
foram substituídos pelo direito do acusado de invocar, primeiramente, o testemunho e, depois,
o juízo de seus compatriotas. Desse modo, desenvolveu-se o Júri na Inglaterra, enquanto seu
transplante para o mundo chegou a ser objeto de uma petição política, que se justifica por ser a
Administração de justiça não apenas uma operação lógica, mas também um exercício de
império; e por isso a participação dos súditos nela foi uma consequência da intervenção do
povo em todos os poderes do Estado. Pelo contrário, a justificação dessa exigência política
pela maior independência dos juízes populares decaiu a partir da garantia constitucional da
independência dos magistrados, e, além disso, é verdade que os juízes populares são
independentes do governo, mas, pelo contrário, dependem da opinião pública.
8
WHITACKER, Firmino. Jury (Estado de S. Paulo). São Paulo: Typ. Espíndola, Siqueira e
Comp. – 1904, p. 1 e 2.
18
9
MITTERMAIER, Carl Joseph Anton. Tratado da prova em matéria criminal ou exposição
comparada dos princípios da prova em matéria criminal, etc, de suas diversas aplicações na
Alemanha, França, Inglaterra, etc.. Campinas: Editora Bookseller, 1997, p. 88.
10
TORRES, Margarino. Processo Penal do Júri no Brasil. São Paulo: Editora Quorum, 2008, p.
329.
19
11
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. Op. cit. , p. 1026-1029
12
TORRES, Margarino. Processo Penal do Júri nos Estados Unidos do Brasil. Rio de Janeiro:
Livraria Jacinto, 1939, nº 17, p. 77.
13
MAUSS, Marcel. Manual de etnografia. Lisboa : Dom Quixote, 1993, p. 191.
14
TORRES, Magarinos. Processo penal do júri no Brasil. Op. cit., p. 119-120.
20
Assim, vemos que essa linha de raciocínio tem como base uma
compreensão de que o povo conhece mais o contexto da situação do crime e,
por isso, pode ter uma carga maior de elementos para tomar a decisão no
momento em que é posto para julgar no Tribunal do Júri, ou seja, aos jurados é
dada certa amplitude para que possam refletir e chegarem a uma conclusão
sem necessidade de uma resposta lógica formal.
15
TORRES, Margarino. Processo Penal do Júri no Brasil. Op. cit., p. 148.
16
CARRARA, Francesco. Programa do Curso de Direito Criminal. Op. cit., p. 409.
21
17
FOUCAULT, Michel. Os anormais: curso no collège de France : 1974-1975. São Paulo:
Martins Fontes, 2001, p. 10-11.
18
LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. Op. cit., p. 1052.
19
CARRARA, Francesco. Programa do Curso de Direito Criminal. Op. cit., p. 417.
22
20
MARQUES, José Frederico. A Instituição do Júri. São Paulo: Saraiva, Volume I, 1963, p. 88.
21
MITTERMAIER, Carl Joseph Anton. Tratado da prova em matéria criminal ou exposição
comparada dos princípios da prova em matéria criminal, etc, de suas diversas aplicações na
Alemanha, França, Inglaterra, etc.. Op. cit., p. 100.
22
TUBENCHLAK James, Tribunal do Júri: contradições ou soluções. São Paulo: Saraiva, 1997,
p. 4.
23
23
GAUER, Ruth Maria Chittó. A Construção do Estado-Nação no Brasil. Op. cit., P. 243.
24
ALMEIDA JÚNIOR, João Mendes. O Processo Criminal Brasileiro. Rio de Janeiro: 2ª edição,
Livraria Francisco Alves, nº 112, 1911, p. 144.
24
25
MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1977-1979.
v.II, p. 151,154.
25
convocados, podendo o réu, recusar até 16 nomes dos sujeitos sorteados para
compor o Conselho de Sentença, competindo a oito procederem “no exame,
conhecimento e averiguação do fato.”.26
26
VASCONCELOS, L. C.. A supressão do júri. Fortaleza : Ed. Instituto do Ceará, 1955, p. 49-
50.
27
Ibid., p. 50-51.
26
28
GAUER, Ruth Maria Chittó. Violência e medo na fundação do Estado-Nação. Civitas –
Revista de Ciências Sociais. Ano 1, nº 2, dezembro de 2001, p. 82.
29
BRASIL. Constituição (1824). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal, 1824.: Art. 151 – O poder judicial é independente, e será composto de juízes
e jurados, os quais terão lugar, assim no cível como no crime, nos casos e pelo modo que os
códigos determinarem. Art. 152 – Os jurados se pronunciam sobre o fato e os juízes aplicam a
lei.
27
Essa instituição, porém, não exerceu poder algum nos processos cíveis,
pois os legisladores, que procuraram desenvolver e regulamentar os preceitos
da Carta Constitucional, entenderam que juízes do povo poderiam somente
decidir com acerto as questões criminais, porque, para julgar os processos
cíveis, em sua maioria complexos e difíceis, eram indispensáveis o
conhecimento das leis e a pratica de julgar, que só os magistrados podem ter.30
30
WHITACKER, Firmino. Jury Op. cit., p. 9.
31
ALMEIDA, Vital Alberto Rodrigues de. Tribunal do júri e o conselho de sentença. São Paulo:
WVC, 1999, p. 24.
28
32
CORRÊA, Mariza. Os crimes da paixão. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981, p. 29.
33
CARVALHO, José Murilo de. C i d a d a n i a n o B r a s i l , O l o n g o C a m i n h o . 3 ª
e d . Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. p. 32
29
34
COSER, Ivo. Visconde do Uruguai – centralização e federalismo no Brasil/ 1823-1866. Belo
Horizonte: Editora UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2008, p. 88-89.
35
AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira. Introdução ao estudo da cultura no Brasil. Rio
de Janeiro: IBGE, 1943, p. 179.
30
36
OLIVEIRA FILHO, Cândido de. A Reforma do Júri. São Paulo: Editora Quorum, 1932. p. 19.
37
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 4. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
1996, p. 163.
31
38
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3ª Ed.
São Paulo: Globo, 2001, p. 352-353.
39
TORRES, João Camillo de Oliveira. A democracia coroada: teoria política do Império do
Brasil. Petrópolis: Editora Vozes, 1964, p. 231.
40
BARRETO, Tobias. Crítica política e social. Rio de Janeiro: Record, 1990, p. 74
32
41
GAUER, Ruth Maria Chittó. A Construção do Estado-Nação no Brasil. Op. cit., p. 307.
42
ALMEIDA, Vital Alberto Rodrigues de. Tribunal do júri e o conselho de sentença. Op. cit., p.
24.
33
dar ao luxo de deixar os seus negócios, e quase sempre davam desculpas para
não apresentar-se..43
43
FLORY, Thomas. El juez de paz y el jurado en el Brasil imperial. México (D.F.): Fondo de
Cultura Economica, 1986, p. 191
44
APOLINÁRIO DE JABOATÃO. Correio Mercantil, Salvador, Bahia, 19 de outubro de 1839.
45
O CARAPUCEIRO, O Despertador. São Luís, 8 de março de 1840.
34
pelo juiz de paz do mesmo partido. Se por acaso era pronunciado, era julgado
pelos jurados apurados pelo juiz de paz e presidente da Câmara eleitos pelo
mesmo partido.46
46
URUGUAY, Visconde de. Ensaio sobre o direito administrativo. Rio de Janeiro: Tipografia
Nacional, 1862, tomo II, p. 204, nº2, p. 216 e 217.
47
BRASIL, Discurso do ministro de Justiça (Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho). Relatório,
1834, p. 21-22 apud VASCONCELOS, L. C.. A supressão do júri. Op. cit., p. 55
48
FLORY, Thomas. El juez de paz y el jurado en el Brasil imperial. Op. cit., p. 192
49
CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite política imperial. 2 ed. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, Relume-Dumará, 1996, p. 47.
35
50
COSER, Ivo. Visconde do Uruguai – centralização e federalismo no Brasil/ 1823-1866. Op.
cit., p. 180- 192.
51
Ibid., p. 170.
36
52
ALVES BRANCO, Discurso, p. 31 Apud ALMEIDA JÚNIOR, João Mendes de. O processo
criminal brasileiro. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos. Vol. I, 1959, p. 176-178.
53
BASTOS, Aureliano Cândido Tavares. A província: estudo sobre a descentralização no
Brasil. Brasília: Senado Federal, 1996, p. 217.
37
54
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. Op. cit.,
p. 383.
55
MARQUES, José Frederico. A Instituição do Júri. Op. cit., p. 19.
38
56
BASILE, Marcello Otávio N. de C. O império brasileiro: panorama político. In: LINHARES,
Maria Yedda (org.). História geral do Brasil. 9. Ed. Rio de Janeiro: Campus, 1990, p. 240.
57
VASCONCELLOS, José Marcelino Pereira de. Código dos Jurados. Rio de Janeiro:
Laemmert & C., 1885, p. 15.
39
58
FERREIRA SOUTO, Discurso, p. 32 apud ALMEIDA JÚNIOR, João Mendes de. O processo
criminal brasileiro. Op. cit., p. 181.
59
CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite política imperial. Op. cit., p.
159.
40
60
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 4. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
1996, p. 237.
61
CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite política imperial. Op. cit, p. 382.
41
dogma, não longe da verdade, perdia-se num círculo vicioso: o povo não tinha
capacidade para os negócios porque o sistema lhe impedia de neles
participar.62
62
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. Op. cit.,
p. 452.
63
WEBER, Max. Economia e sociedade. V. 2, Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília:
São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999, p. 234.
64
BARBOSA, Rui. Discursos parlamentares. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde,
Obras completas, v. 7, 1880, tomo I. 1945, p. 27.
42
65
SALDANHA, Nelson. O pensamento político no Brasil. Op. cit., p. 107.
66
BONAVIDES, Paulo. História constitucional do Brasil. 4. ed. Brasília (DF) : OAB, 2002, p.
257.
44
67
SALDANHA, Nelson. O pensamento político no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Forense,
1978, p. 98. Vale ressaltar o contexto do final do século apontado por João Mendes Almeida
Júnior no livro O século XIX : panorama político (1956, P. 191): O período de 1880-1890
apresentou, na política brasileira, os seguintes problemas: a agitação abolicionista, a agitação
para autonomia e mesmo para a federação das províncias e uma agitação republicana.
68
ALMEIDA JUNIOR, João Mendes de. Direito judiciário brasileiro. 2. ed.. Rio de Janeiro:
Batista de Souza, 1918, p. 92.
69
Id. O processo criminal brasileiro. Rio de Janeiro: Laemmert, 1901-1903, V. 3, p. 54.
45
70
Notamos que vários estados desrespeitaram tais regras, como expõe João Mendes de
Almeida Júnior no livro Direito Judiciário Brasileiro (1918, p. 92-93) especialmente o do Rio
Grande do Sul, que chegou até a abolir francamente a recusa não motivada, o voto secreto e a
redução da lista de jurados de 15 para a sessão e sorteio, e 5 para o julgamento.
71
UFLACKER, Augusto. Jury e Jurados: tratado completo de todos os actos e competência do
tribunal do jury. Porto Alegre: Oficinas da Livraria Americana. 1892, p. 10-11.
72
CARONE, Edgard. A República Velha: instituições e classes sociais. São Paulo: DIFEL,
1970, p. 292-293.
46
73
CARONE, Edgard. A República Velha: instituições e classes sociais. São Paulo: DIFEL,
1970, p. 169.
74
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. Op. cit.,
p. 699.
75
Sobre o projeto que resultou na reforma da legislação eleitoral a respeito do critério da
alfabetização, Tobias Barreto alegava que “o saber ler e escrever é condição essencial para o
exercício do direito do voto. Saber ler e escrever!... Isto é bem claro? É ler com prosódia, e ler
com ortografia? No caso negativo, mal se compreende o que a reforma adianta; quase nada,
visto como a incultura é a mesma, e não se pode dizer com razão que são excluídos os
analfabetos. No caso afirmativo, porém, se se toma em linha de conta as exigências da
ortoépia e os preceitos ortográficos, se não tem qualificação legal, quem, por exemplo,
47
questão pertinente ao estudo dos jurados não diz respeito à oposição “cultos
no comando” x “analfabetos dominados”, mas, sim sobre a falta do
chamamento para participar do exercício de escolha dos seus representantes,
o que configura, consequentemente, a chance de participar dos julgamentos no
Tribunal do Júri.
76
VASCONCELOS, L. C.. A supressão do júri. Op. cit., p. 27-28.
77
BARBOSA, Rui. A obra de Rui Barbosa em Criminologia e Direito Criminal. Rio de Janeiro:
Editora Nacional de Direito, 1952, p. 239
48
entretanto, tinha consciência das limitações que faziam parte da escolha dos
cidadãos, buscando questionar o atual método para poder, então, aprimorá-lo.
78
BARBALHO, João. Comentários. Rio de Janeiro: Typographia da Companhia Litho-
Typographia, 1902, p. 337.
79
LYRA, Roberto. Introdução de “O Júri sob todos os aspectos”: textos de Ruy Barbosa sobre
a Teoria e a Prática de Instituição. In: Revista Brasileira de Criminologia, Rio de Janeiro: Ano
III, Nº 8, 1949, p. 24.
49
80
MARQUES, José Frederico. A instituição do Júri. Op. cit., p. 22
81
ROSA, Inocêncio Borges da. Processo Penal brasileiro. Vol. III. Porto Alegre: Livraria do
Globo, 1942, p. 51.
50
82
MENDONÇA, Joseli Maria Nunes. Evaristo de Moraes, tribuno da república. Campinas:
UNICAMP, 2007, p. 178 e segs.
83
HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro, 2ª edição, 1948, p. 106 e
segs.
51
autônomo, mas para entregá-lo aos poderes estaduais. Essa transição está na
essência dos acontecimentos que partem do 15 de novembro.84
84
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. Op. cit.,
p. 700-701.
85
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto : o município e o regime representativo no
Brasil. 4. ed. São Paulo : Alfa-Omega, 1978, p. 20.
86
MENDONÇA, Joseli Maria Nunes. Evaristo de Moraes, tribuno da república. Op. cit., p. 213.
52
87
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. Op. cit.,
p. 712-713.
88
FOUCAULT, Michel. Repensar a política. São Paulo: Forense Universitária, 2010, p. 165.
53
89
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto : o município e o regime representativo no
Brasil. Op. cit., p. 38.
90
CORRÊA, Mariza. Os crimes da paixão. Op. cit., p. 30-31.
54
91
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto : o município e o regime representativo no
Brasil. Op. cit., p. 210.
92
BRASIL. Decreto n. 847, de 11 de outubro de 1890 - Art. 133 do Código Penal.
93
CARONE, Edgard. A República Velha : instituições e classes sociais. São Paulo: DIFEL,
1970, p. 253.
55
94
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto : o município e o regime representativo no
Brasil. Op. cit., p. 210,211.
95
BONAVIDES, Paulo. Os poderes desarmados : à margem da ciência política, do direito
constitucional e da história : figuras do passado e do presente. São Paulo: Malheiros, 2002, p.
20-21.
96
SKIDMORE, Thomas E. Uma história do Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 2 ed., 1998, p. 137.
56
97
A política do café com leite representou a aliança dos dois maiores estados da Federação
(São Paulo e Minas Gerais) para manter o controle político baseado nos interesses e na
alternância de gestores dos respectivos estados a cada eleição.
98
MOURÃO, Carvalho. TORRES, Margarino. Conferência nacional de Juristas sobre Instituição
do Júri. Rio de Janeiro: Editora Livraria Jacintho. Vol. 1, maio de 1933, p. 433.
99
TORRES, Margarino. Revista de Direito. Rio de Janeiro: Editora Livraria Jacintho. Vol. 1,
maio de 1933, p. 14.
57
100
TORRES, Margarino. Revista de Direito. Op. cit., p. 11.
101
LYRA, Roberto. Introdução de “O Júri sob todos os aspectos”: textos de Ruy Barbosa sobre
a Teoria e a Prática de Instituição. In: Revista Brasileira de Criminologia. Rio de Janeiro: Ano
III, Nº 8, 1949, p. 19-20.
58
102
FRANCO, Ary Azevedo. O Júri e a Constituição Federal de 1946. Rio de Janeiro: 1950, p.
10.
103
TORRES, Margarino. Processo Penal do Júri nos Estados Unidos do Brasil. Op. cit., p. 20.
59
104
ESPINOLA FILHO, Eduardo. Código de processo penal brasileiro anotado. Campinas:
Bookseller, 2000, p. 434.
60
uma decisão expressa pelo júri, avaliando a sentença quanto ao mérito do feito,
ou seja, avaliando sua pertinência em relação às provas constantes nos autos
(art. 92). Segundo o decreto, os presidentes dos tribunais do júri deveriam
investigar os jurados, no sentido de estabelecer um “censo alto” no júri (art.
10).105
Foi através do Decreto-lei nº 167 que o julgamento perante o Tribunal do
Júri foi federalizado, ou seja, todas as características estabelecidas pelos
estados foram uniformizadas a nível nacional: número de jurados, critérios de
seleção, competência de crimes, e assim por diante. Entretanto, a possibilidade
de reforma de decisão dos jurados perante o Tribunal de Justiça causou
protestos através do discurso da retirada de autonomia do Conselho de
Sentença.
105
MENDONÇA, Joseli Maria Nunes. Evaristo de Moraes, tribuno da república. Op. cit., p. 465-
466.
106
FAUSTO, Boris. História do Brasil. Op. cit., p. 389.
107
HAHNER, June E. Emancipação do sexo feminino: a luta pelos direitos da mulher no Brasil.
Florianópolis: Editora das Mulheres, 2003, p. 31.
61
Neste cenário surge a figura de Bertha Luz como uma das maiores
referências na luta pelos direitos políticos das mulheres brasileiras, tendo como
marca de seu discurso as seguintes palavras:
108
LUTZ, Bertha. Cartas de Mulher. Revista da Semana, 28 de dez. de 1918 In HAHNER, June
E. Emancipação do sexo feminino: a luta pelos direitos da mulher no Brasil. Op. cit., p. 408.
109
HAHNER, June E. Emancipação do sexo feminino: a luta pelos direitos da mulher no Brasil.
Op. cit., p. 30.
62
110
TORRES, Margarino. Chronica do Jury. Revista de Direito Penal, vol. 14, fascículo II, agosto
de 1936, p. 252. É interessante ver que este tipo de crítica partia de um dos maiores
conhecedores do universo dos jurados, tomando como base o fato de que foi Juiz presidente
da Vara do Distrito Federal e responsável pela seleção dos jurados durante boa parte do início
do século XX.
111
FONTOLAN, Tania. Mulher e representatividade no espaço público : a participação
feminina no Tribunal do Juri. Campinas: Dissertação, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
da Universidade Estadual de Campinas, 1994, p. 53.
63
112
ROSA, Inocêncio Borges da. Processo Penal brasileiro. Op. cit., p. 55.
113
BASSANEZI, Carla. As mulheres dos anos dourados. In: DEL PRIORE, Mary (org.). História
das mulheres no Brasil. 3ª Ed. São Paulo: Contexto, 2000, p. 624. . Em um discurso pautado
na defesa de um projeto que visava a luta pela ampliação dos direitos à educação feminina, na
data de 22 de março de 1879 Tobias Barreto afirmava: “Até hoje educada só e só para a vida
íntima, para a vida da família, ela chegou ao estado de parecer que é esta a sua única missão,
que nasceu exclusivamente para isso. E tal é a ilusão em que laboramos: tomando por efeito
da natureza o que é simplesmente um efeito da sociedade, negamos ao belo sexo a posse de
predicados que aliás ele tem de comum com o sexo masculino. In: BARRETO, Tobias. Crítica
política e social. Rio de Janeiro : Record, 1990, p. 173).
64
ausência da mulher nos seus respectivos lares. Muitos imaginavam que o corte
do cordão umbilical com o “habitat natural” provocaria sérias consequências
para a condução da vida familiar.
114
HAHNER, June E. Emancipação do sexo feminino: a luta pelos direitos da mulher no Brasil.
Op. cit., p. 168.
65
115
HAHNER, June E. Emancipação do sexo feminino: a luta pelos direitos da mulher no Brasil.
Op. cit., p. 154.
116
FONTOLAN, Tania. A participação feminina no Tribunal do Júri. In: BRUSCHINI, Christina;
SORJ, Bila (orgs.) Novos olhares: mulheres e relações de gênero no Brasil. São Paulo, Editora
Marco Zero, Fundação Carlos Chagas, 1994, p. 78.
66
117
LIPOVETSKY, Gilles. A terceira mulher: Permanência e revolução do feminino. Lisboa,
Instituto Piaget, 1997, p. 215.
118
ROSA, Inocêncio Borges da. Processo Penal brasileiro. Op. cit., p. 54-55.
67
Neste sentido, vale dizer que ocupar o espaço simbólico de “juiz leigo”
significa estar instituído na posição simbólica daquele que julga com base no
senso comum; que é facilmente conduzido pelos aspectos emocionais e,
consequentemente, está sujeito às manipulações retóricas de advogados e
promotores.120
119
MENDONÇA, Carlos Sussekind de. Mais uma reforma para o Jury. Rio de Janeiro: Editora
Livraria Jacintho. Vol. 1, junho de 1933, p. 491.
120
FIGUEIRA, Luiz Eduardo de Vasconcellos. O ritual judiciário no Tribunal do Júri: O caso do
ônibus 174. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da
Universidade Federal Fluminense. p. 218. Disponível em:
http://www.necvu.ifcs.ufrj.br/images/Tese%20LUIZ%20EDUARDO%20FIGUEIRA.pdf Acesso
em: 20 de agosto de 2013.
68
De acordo com Mary Douglas cada um de nós ocupa pelo menos duas
ou três posições na sociedade. Um indivíduo pode ser aluno, alfaiate, dona de
casa ou advogado – consoante a espécie de trabalho que executa; o mesmo
indivíduo também pode ser filho, filha, mãe ou pai – segundo a posição que
ocupa no lar. Qualquer que seja essa posição, esperamos que a pessoa que a
ocupe se comporte de determinada maneira. Aquilo que esperamos de tal
comportamento define o que chamamos função de tal pessoa. Em
determinadas sociedades, certas funções só podem ser desempenhadas por
homens, outras somente por mulheres.121
121
DOUGLAS, Mary. A sociologia : o homem, a família, a sociedade. Lisboa, Publicações
Europa-América, 1964, p. 64.
122
GOFFMAN, Erving. Estigma : notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed.
Rio de Janeiro : LTC, 1988, p. 11-12.
69
foram ensinadas a confiar na casta superior. Eis por que o mundo masculino se
apresenta a elas como uma realidade transcendente, um absoluto.123
123
BEAUVOUIR, Simone de. O segundo sexo. 2. A Experiência vivida. 2 edição. Tradução de
Sergio Milliet. Editora Difusão Européia do livro,1967, p. 366.
124
As idéias de perigo e ordem tem como base o conteúdo de Pureza e Perigo da antropóloga
Mary Douglas. In: DOUGLAS, Mary. Pureza e Perigo.
125
GOFFMAN, Erving. Estigma : notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Op. cit.,
p. 12.
70
No que diz respeito à questão do ritual, Victor Turner expõe que falar de
ritual é falar de vida social, como fenômeno de transformação e passagem do
gesto rotineiro ao ato ritual, e sobre movimentos sociais coletivos, quando todo
o sistema passa por um período especial, invertendo, neutralizando ou
reforçando a realidade cotidiana.126
No ritual há um contexto histórico que precisa ser remontado, sendo
assim, torna-se necessário remontar uma história acontecida, realizando
aproximações e fazendo conexões necessárias para compreender a lógica dos
fatos. Entretanto, temos que ter em mente que, embora o ritual pretenda
demarcar e reconstruir uma verdade, ele nunca consegue chegar neste nível.
Em relação ao rito de passagem, cremos que o rito exorciza o perigo, na
medida em que separa o indivíduo de seu antigo estatuto, durante algum
tempo, para em seguida fazê-lo entrar publicamente no quadro de sua nova
condição. Não só a própria transição é perigosa, como também os ritos de
segregação constituem a fase mais perigosa do rito.127
126
TURNER, Victor W. O Processo Ritual, estrutura e anti-estrutura. Petrópolis: Vozes, 1974, p.
12.
127
DOUGLAS, Mary. De La souillure. Essais sur lês notions de pollution ET de tabou. Paris:
Maspéro, 1971, p. 113 APUD Segalen, Martine. Ritos e rituais contemporâneos. Rio de
Janeiro : FGV, 2002, p. 48.
128
Sobre a questão do rito de passagem, tomamos como referência o estudo de Gennep In:
GENNEP, Arnold Van. Os ritos de passagem: estudo sistemático dos ritos da porta e da
soleira, da hospitalidade, da adoção, gravidez e parto, nascimento, gravidez, infância,
puberdade, iniciação, coroação, noivado, casamento, funerais, estações, etc. Tradução de
Mariano Ferreira. Petrópolis: Vozes, 1977.
71
Manter as mulheres fora do espaço público do júri, então, seria não uma
decisão isolada, tomada por funcionários que desvirtuariam o sentido da
Justiça, mas sim uma lógica mais arraigada e poderosa, a perpassar a
sociedade e a moldá-la, sendo atualizada, também, na seleção dos jurados.130
Neste sentido, vemos que a opção pelo não alistamento das mulheres
como juradas não constituía um problema relativo ao preconceito que cerca o
sistema judiciário, pois a situação revela que as autoridades apenas
reproduziam o discurso tendente a deslegitimar a presença das mulheres em
tal ambiente.
129
SEGALEN, Martine. Ritos e rituais contemporâneos. Rio de Janeiro, FGV, 2002, p. 49.
130
FONTOLAN, Tania. A participação feminina no Tribunal do Júri. Op. cit., p. 71-72.
131
SEGALEN, Martine. Ritos e rituais contemporâneos. Op. cit., p. 89-90.
72
132
FACHINETTO, Rochele Fellini. Quando eles a matam ou quando elas o matam: uma análise
dos julgamentos de homicídio pelo Tribunal do Júri. Tese de Doutorado do Programa de Pós
em Sociologia da UFGRS. Porto Alegre, 2012, p. 49.
73
para o sistema discutido atravessou séculos e sua presença nos dias atuais
demonstra a consolidação do Júri sem questionamentos ou maiores reflexões.
133
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Op. cit., p. 529.
134
CHOUKR, Fauzi Hassan. Júri: reformas, continuísmo e perspectivas práticas. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 21.
135
FIGUEIRAS, Luiz Eduardo Vasconcellos. O ritual judiciário do Tribunal do Júri. Porto Alegre:
Sergio Antonio Fabris. 2008, P. 148.
74
136
CALAMANDREI, Piero. Eles, os juízes vistos por um advogado. São Paulo, Martins Fontes,
2000, p. 20.
137
DA MATTA, Roberto. Apresentação na obra GENNEP, Arnold Van Gennep. Os Ritos de
Passagem. Petrópolis, Editora Vozes, p. 18.
75
respeito ou, ainda, quanto ele considera que os outros merecem ser
respeitados. Dessa forma, a “reputação é, portanto, um objeto sagrado”, por
isso, “a ordem expressiva necessária à sua preservação é uma ordem ritual”.138
Podemos sistematizar a lógica do ritual da seleção dos jurados em três
etapas:
1) A escolha pelos órgãos públicos requisitados/ Alistamento
voluntário:
O Cartório da Vara do Júri envia ofícios para órgãos públicos,
instituições privadas e associações requisitando nomes de cidadãos
idôneos para compor a lista de jurados. As varas do Júri também
divulgam informações sobre as inscrições para jurados voluntários,
ou seja, qualquer cidadão que preencha os critérios estabelecidos
pela lei pode se inscrever diretamente no Fórum local para o
exercício da função.
2) Escolha pelo Juiz – resultado dos ofícios dos órgãos e dos
voluntários:
Com as respostas dos ofícios e as fichas com os nomes dos
voluntários em mãos, o Juiz e os funcionários da Vara do Júri
começam a verificar a compatibilidade dos nomes disponíveis com o
possível trabalho. A medida básica reside na observância da certidão
de antecedentes criminais dos candidatos a jurados.
138
SEGALEN, Martine. Ritos e Rituais Contemporâneos. Op. cit.,, p. 112.
76
139
FERNANDES, Álvaro Roberto Antanavicius. O tribunal do júri popular : um olhar sobre o
processo ritual. Porto Alegre, 2007, p. 86.
140
STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do Júri: símbolos e rituais. Op. cit., p. 82.
141
WARAT, Luis. O direito e sua linguagem. Porto Alegre, Fabris, 1984, p. 76.
77
De acordo com esta linha de pensamento a seleção dos jurados pode ter
contornos amplos e diferentes, de acordo com a visão de cada conjunto de
pessoas responsável pela formação da lista. Ou seja, vivemos em uma época
em que o Juiz e as partes envolvidas, revestidas pela capa da autoridade,
possuem o poder de atribuir, ou desmerecer, idoneidade de acordo com os
padrões sociais estabelecidos em suas premissas.
142
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Poder Judiciário: crise, acertos e desacertos. São Paulo,
Revista dos Tribunais, 1995, p. 144.
143
STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do Júri: símbolos e rituais. Op. cit., p. 84
144
CORRÊA, Mariza. Os crimes da paixão. Op. cit., p. 32.
145
DOUGLAS, Mary. Pureza e Perigo. São Paulo: Perspectiva, 1976, p. 56.
78
146
Gauer, Ruth Maria Chittó. A fundação da norma para além da racionalidade histórica. Porto
Alegre, EDIPUCRS, 2011, p. 78.
147
FERNANDES, Álvaro Roberto Antanavicius. Op. cit., p. 82-83
148
GOFFMAN, Erving. Estigma. Op. cit., p. 138.
79
149
ROCHA, Everardo Guimarães. O que é etnocentrismo. São Paulo, Editora Brasiliense.
2006, p. 7-9.
150
STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do Júri: símbolos e rituais. Op. cit., p. 84.
151
Ibidem, p. 84.
80
152
CALAMANDREI, Piero. Eles, os juízes vistos por um advogado. Op. cit., p. 263.
153
STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do Júri: símbolos e rituais. Op. cit., p. 84.
154
Ibidem, p. 84-85
155
ROCHA, Everardo Guimarães. O que é etnocentrismo. Op. cit., p. 15.
81
O que se quer enfatizar nesse debate sobre “seleção dos jurados” é que
a própria composição do conselho de sentença está permeada por uma série
de disputas, ou seja, não é um ponto consensual no campo jurídico. Ademais,
nessa seleção, levam-se em conta também aspectos do “perfil” dos jurados, ou
seja, é central saber “quem são os profanos”, julgamento que, de certa forma,
também envolve uma adequação às expectativas do cumprimento de papéis
sociais.157
Neste sentido, Mariza Corrêa expõe que as listas de jurados nos dizem,
em última instância, quem são os principais guardiões da ordem pública, dos
valores estabelecidos, as pessoas respeitáveis, que detêm o poder de decidir
se a quebra de uma regra básica de relacionamento entre as pessoas pode ou
não ser considerada legítima, e em que termos158.
156
LOPES FILHO, Mario Rocha. O Tribunal do Júri e algumas variáveis potenciais de
influência. Porto Alegre, Nubia Fabris, 2008, p. 47.
157
FACHINETTO, Rochele Fellini. Quando eles a matam ou quando elas o matam: uma análise
dos julgamentos de homicídio pelo Tribunal do Júri. Op. cit., p. 81.
158
CORREA, Mariza. Morte em família: representações jurídicas de papéis sexuais. Rio de
Janeiro, Ed. Graal, 1983, p. 78.
82
“As qualidades que fazem um bom juiz”, todas de caráter não técnico,
foram enumeradas por Hobbes:
159
CAPPELLETTI, Mauro. Juízes legisladores? Trad. Carlos Alberto Álvaro de Oliveira. Porto
Alegre, Sérgio Antonio Fabris Editor, 1993, p. 33.
160
HOBBES, Hobbes, Thomas. Leviatã , ou matéria, forma e poder de uma república
eclesiástica e civil. São Paulo, Martins Fontes, 2003, p. 240.
83
161
STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do Júri: símbolos e rituais. Op. cit., p. 81.
162
LOPES FILHO, Mario Rocha. O Tribunal do Júri e algumas variáveis potenciais de
influência. Op. cit., p. 42.
163
LOPES FILHO, Mario Rocha. O Tribunal do Júri e algumas variáveis potenciais de
influência. Op. cit., p. 54.
84
164
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Op. cit., p. 535. A aceitação
dos juízes pelos réus sempre foi um traço característico do processo acusatório: em Roma,
onde os juízes são sorteados e recusados livremente pelas partes, contanto que se mantivesse
o número prescrito, p. 536.
165
Ibidem, p. 536.
166
CALAMANDREI, Piero. Eles, os juízes vistos por um advogado. Op. cit., p. 246.
85
Aury Lopes aborda que a cada jurado sorteado, deverá o juiz ler o seu
nome, podendo a defesa e, depois dela, o Ministério Público, recusar o jurado
sorteado. Duas são as espécies de recusa:
167
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. Op. cit., p. 1028.
168
LOPES FILHO, Mário Rocha. O tribunal do júri e algumas variáveis potencias de influência.
Op. cit., p. 50
86
169
CHOUCKR, Fauzi Hassan. Participação cidadã e processo penal. In: Revista dos Tribunais,
v.782, São Paulo, dez. 2000, p. 459-476, p. 469-470.
170
LOREA, Roberto Arriada. Os jurados “leigos”: uma antropologia do Tribunal do Júri. Porto
Alegre, Dissertação de Mestrado do Programa da Pós-graduação de Antropologia social da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2003, p. 84.
87
171
CALAMANDREI, Piero. Eles, os juízes vistos por um advogado. Op. cit., p. 61.
172
LOPES FILHO, Mário Rocha. O tribunal do júri e algumas variáveis potencias de influência.
Op. cit., p. 50.
88
173
MONTESQUIEU. O espírito das leis: as formas de governo, a federação, a divisão dos
poderes, presidencialismo versus parlamentarismo. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 169.
174
KANT, Immanuel. Metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 2004, p. 132.
89
Escolhidos pela sorte, numa lista onde os nomes são lançados segundo
o critério do magistrado profissional incumbido dessa função, o jurado não é
175
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 66.
176
PERET, Lauzé Di. Trattato, p. 24, Apud FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do
garantismo penal. Op. cit., p. 603
177
FACHINETTO, Rochele Fellini. Quando eles a matam ou quando elas o matam: uma análise
dos julgamentos de homicídio pelo Tribunal do Júri. Op. cit., p. 213.
90
178
MARQUES, José Frederico. A Instituição do júri. Op. cit., p. 183.
179
LIMA, Roberto Kant de. A polícia da cidade do Rio de Janeiro: seus dilemas e paradoxos. 2.
Ed. Rio de Janeiro, Forense, 1995, p. 151.
91
180
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. Op. cit., p. 1049.
181
ADORNO, Sérgio. Crime, justiça penal e desigualdade jurídica: As mortes que se contam
no Tribunal do Júri. São Paulo, Revista da USP in: http://www.usp.br/revistausp/21/12-
sergioadorno.pdf, v. 21, p. 132-51, 1994, P. 144. Nessa conjuntura Fauzi Hassan expõe que
“...não há “pares” julgando os réus no Tribunal do Júri, o que pode ser facilmente comprovado
pelo simples cotejo da faixa social dos jurados e dos acusados – e que, de resto, seria a
apologia do óbvio -, a escolha para o caso concreto também necessita de plena reforma no
intento de otimizar a participação “cidadã”. In: CHOUCKR, Fauzi Hassan. Participação cidadã e
processo penal. Op. cit., p. 473-474.
182
NASSIF, Aramis. Júri objetivo. 2. Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001, p. 60-61
93
183
CHOUCKR, Fauzi Hassan. Participação cidadã e processo penal. Op. cit., p. 469-470.
184
STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do Júri: símbolos e rituais. Op. cit., p. 81.
185
FONTOLAN, Tania. Mulher e representatividade no espaço público: a participação
feminina no Tribunal do Juri. Op. cit., p. 185.
94
186
GIACOMOLLI, Nereu José. "Exigências e Perspectivas do Processo Penal na
Contemporaneidade II". In: GAUER, Ruth Chittó. (Org.). Criminologia e Sistemas Jurídico-
Penais Contemporâneos II. 2ªed.Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011, v. 01, p. 285-305, p. 299.
187
LIMA, Roberto Kant de. A polícia da cidade do Rio de Janeiro: seus dilemas e paradoxos.
Op. cit., p. 151.
188
FACHINETTO, Rochele Fellini. Quando eles a matam ou quando elas o matam: uma
análise dos julgamentos de homicídio pelo Tribunal do Júri. Op. cit., p. 210.
95
189
WEBER, Max. Sociologia do Direito. In: Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia
compreensiva. Brasília: Editora Universidade de Brasília. 2009, p. 100 e segs.
190
STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do Júri: símbolos e rituais. Op. cit., p. 81.
96
191
FONTOLAN, Tania. Mulher e representatividade no espaço público: a participação
feminina no Tribunal do Júri. Op. cit., p. 189.
192
LOPES JÚNIOR, Aury. Processo Penal, Tempo e Risco: Quando a Urgência atropela as
garantias In: BONATO, Gilson (org.) Processo penal : leituras constitucionais. Rio de Janeiro,
Lumen Juris, 2003, p. 33
98
Em seu estudo sobre os jurados, Roberto Lorea aponta que não raras
vezes os jurados que atuaram num ano permaneceram na lista do ano
seguinte. O autor expõe um absoluto descaso em relação ao tempo que o
jurado atua, pois descobriu que as listas dos jurados não são guardadas, mas
vão para o arquivo “sexto”, como mencionaram os servidores, fazendo alusão
ao “cesto” do lixo. Não há um controle sobre quais jurados atuaram e mesmo
193
CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de Processo Penal: comentários consolidados e crítica
jurisprudencial. 3. Ed. Rio de janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 740.
194
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. Op. cit., p. 1019.
99
Não houve uma análise qualitativa prévia das reformas parciais de 2008,
dos pontos de avanço principalmente no que se referia à simplificação
procedimental, procedimento do Tribunal do Júri.196 Ou seja, até o presente
momento não houve qualquer monitoramento para avaliar se a medida está
sendo cumprida pelos tribunais.
195
LOREA, Roberto Arriada. Os jurados “leigos”: uma antropologia do Tribunal do Júri. Op. cit.,
p. 25-26.
196
BARROS, Flaviane de Magalhães; NUNES, Dierle José. Estudo sobre o movimento de
reformas processuais macroestruturais: a necessidade de adequação ao devido processo
legislativo. Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em
Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010,
In:http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/fortaleza/3482.pdf ,p. 7555
197
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito de defesa e acesso do Advogado aos autos do inquérito
policial: desconstruindo o discurso autoritário. In: BONATO, Gilson (org.) Processo penal :
leituras constitucionais. Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2003, p. 45.
100
198
Exposição de motivos do Coordenador da Comissão de elaboração do anteprojeto de
reforma do Código de Processo Penal, Ministro Hamilton Carvalhido: “A elevação do número
de jurados de sete para oito demonstra a cautela com que se move o anteprojeto em temas de
maior sensibilidade social. O julgamento por maioria mínima é e sempre será problemático,
diante da incerteza quanto ao convencimento que se expressa na pequena margem
majoritária. Naturalmente, tais observações somente fazem sentido em relação ao Tribunal do
Júri, no qual se decide sem qualquer necessidade de fundamentação do julgado.”
199
Assim Rochele Fachinetto destaca a situação em sua pesquisa empírica: “Em plenário,
alguns jurados comentaram que estavam lá por vontade própria, porque tinham curiosidade de
saber como era, outros porque tinham interesse no tema, outros ainda porque queriam
contribuir com a sociedade de alguma forma; outro comentou que era ‘fascinado’ por esse
universo de crimes, julgamentos, que era ‘fã’ de romances policiais e que sempre teve vontade
de atuar como jurado.”FACHINETTO, Rochele Fellini. Quando eles a matam ou quando elas o
matam: uma análise dos julgamentos de homicídio pelo Tribunal do Júri. Op. cit., p. 209.
200
CHOUCKR, Fauzi Hassan. Participação cidadã e processo penal. Op. cit., p. 474.
101
201
VELASCO, Pilar de Paul. El tribunal del jurado desde la psicologia social. Madrid: Siglo XXI,
1995, p. 55-58.
202
CHOUCKR, Fauzi Hassan. Participação cidadã e processo penal. Op. cit., p. 473. No Brasil
consta uma interessante experiência no estado do Rio: Como se deve proceder um juiz para
escolher os seus jurados? Os critérios são múltiplos e dependem de fatores diversos. Mas é de
meu dever registrar o que constatei na Comarca de Duque de Caxias no estado do Rio. O Juiz
Presidente do júri local mandou imprimir um formulário-questionário que será preenchido pelo
candidato a jurado. Após há uma entrevista pessoal do Juiz com o candidato onde as
respostas serão examinadas e só então, será o candidato aprovado ou não. In: TORRES DE
102
terem uma espécie de acesso aos dados dos jurados consiste em uma
tentativa de que possa possibilitar a formação de uma lista coerente.
MELO, Carlos Alberto. Ministério Público e Júri. Revista Justitia, Rio de Janeiro, V. 80, 1973, P.
73.
203
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Poder Judiciário: crise, acertos e desacertos. Op. cit., p. 183.
204
SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-
modernidade. São Paulo, Cortez, 2000, p. 174.
103
CONCLUSÃO
Concluímos que a seleção dos jurados teve sua fase mais problemática
em 1841 com a distribuição da responsabilidade para o Delegado de Polícia,
levando em consideração uma série de riscos impostos à condução do
julgamento se pensarmos que o mesmo Delegado responsável pela formação
da linha de investigação do crime também possuía o poder de escolher as
pessoas que julgaram o caso pré-julgado por ele. Logo, no final do Segundo
Império, conferimos que a Reforma Judiciária retirou o poder da seleção do rol
de atribuições de tais autoridades.
De acordo a coleta de dados dos nomes presentes nas listas dos últimos
cinco anos, após a reforma do procedimento do Júri através da Lei 11.968/08,
as cinco categorias que representam o grande número de participações
(servidores públicos, bancários, estudantes, professores e aposentados)
revelaram o método comum de obtenção dos possíveis candidatos a jurados:
repartições públicas, bancos e universidades.
Por meio deste percurso histórico, foi nos foi possível concluir que a
escolha dos jurados do sistema de justiça criminal brasileira sempre foi
marcada pela presença de pessoas pertencentes aos segmentos sociais
médios de acordo com os padrões estabelecidos pelas autoridades
responsáveis.
constitucional do art. 5º, XXXVIII, “com a organização que lhe der a lei”,
respeitando os princípios estabelecidos.
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA JUNIOR, João Mendes de. Direito judiciário brasileiro. 2. ed.. Rio de
Janeiro: Batista de Souza, 1918.
BASSANEZI, Carla. As mulheres dos anos dourados. In: DEL PRIORE, Mary
(org.). História das mulheres no Brasil. 3ª Ed. São Paulo: Contexto, 2000
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. 2. ed. São Paulo : Martins
Fontes, 2002.
LIMA, Roberto Kant de. A polícia da cidade do Rio de Janeiro: seus dilemas e
paradoxos. Rio de Janeiro: Forense, 1995.
114
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. São Paulo: Saraiva, 2012.
MENDONÇA, Carlos Sussekind de. Mais uma reforma para o Jury. Rio de
Janeiro: Editora Livraria Jacintho. Vol. 1, junho de 1933.
OLIVEIRA FILHO, Cândido de. A Reforma do Júri. São Paulo: Saraiva, 1932.
ROSA, Inocêncio Borges da. Processo Penal brasileiro. Vol. III, Porto Alegre:
Livraria do Globo, 1942.
SKIDMORE, Thomas E. Uma história do Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do Júri: símbolos e rituais. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 1998.