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FACULDADE DE DIREITO
GRADUAÇÃO EM DIREITO
FORTALEZA
2018
ANA BEATRIZ BARROS DE SIQUEIRA
FORTALEZA
2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. Dr. Sérgio Bruno Araújo Rebouças (Orientador)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_________________________________________
Prof. Dr. Alex Xavier Santiago da Silva
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_________________________________________
Mestranda Lara Dourado Mapurunga Pereira
Universidade Federal do Ceará (UFC)
Aos meus pais, Sandra e Germano, pelos quais
guardo o mais profundo amor e a mais alta
admiração.
AGRADECIMENTOS
A Deus, a quem confio toda a minha vida e em quem deposito inteiramente a minha
fé.
Aos meus pais, Sandra Helena Barros de Siqueira e Germano Silveira de Siqueira,
por serem a minha maior fonte de inspiração. Vocês me motivam diariamente a ser uma
estudante dedicada, uma profissional ética e um ser humano justo. Obrigada por todo amor,
todo o cuidado e todo apoio em cada momento da minha vida. A minha formação enquanto
indivíduo é essencialmente devida aos seus esforços em me proporcionarem o melhor que
podem e em me ensinarem valores tão nobres.
Ao meu irmão, João Victor Barros de Siqueira, por todo amor e companheirismo, e
a cada um da minha família que se manteve ao meu lado, desejando sempre o melhor. Às
minhas avós, principalmente, eu agradeço cada oração.
Aos amigos e colegas de faculdade e, especialmente, às ilustríssimas e tão
essenciais, Brenda Barros Freitas, Débora dos Santos Rocha, Gabriela Bustamante Hortêncio
de Medeiros, Lara Ferreira Sampaio, Luisa Sousa Gomes e Mariana França Mascarenhas.
Obrigada por compartilharem tanto comigo: as risadas, as dúvidas, os conselhos, as
inseguranças, as conquistas. Vocês são as responsáveis pelos momentos mais leves e felizes
durante essa graduação. Orgulho-me muito de cada uma e espero sempre poder cultivar a nossa
amizade.
Às minhas tão amadas amigas, Beatriz Vasconcelos de Azevedo, Bruna Levy Costa
Lima, Dímitra Bernardino Kyrtata, Hanna Levy Almeida, Mariana Costa Laranjeira, Martina
Quezado Vargas Valle e Raíssa Cavalcante Vasconcelos. Obrigada por, desde a infância,
compartilharem comigo a amizade mais verdadeira e preciosa de todas.
Ao querido amigo, David Peixoto dos Santos, não só pelos auxílios materiais
durante a produção deste trabalho, mas também pelo companheirismo e pelo o apoio ao longo
desse período.
À Defensoria Pública da União no Ceará, por ser uma instituição tão inspiradora,
na qual tive a oportunidade de estagiar, e onde conheci pessoas admiráveis. Defensores,
servidores, estagiários e assistidos, todos foram igualmente responsáveis pelo meu crescimento
profissional e pessoal durante a graduação.
Ao estimado professor Sérgio Bruno Araújo Rebouças, de quem tive a honra de ser
monitora e de quem recebi a mais solícita orientação na elaboração deste trabalho. Agradeço
por todos os ensinamentos e por toda a confiança e expresso minha mais sincera admiração.
Ao professor Alex Xavier Santiago da Silva, pela sua inegável competência
enquanto docente, e à mestranda Lara Dourado Mapurunga Pereira, colega de faculdade pela
qual tenho enorme admiração, ambos por haverem prontamente aceitado o convite para compor
a banca avaliadora desta monografia.
Mais vale arriscar-se a salvar um culpado do que a
condenar um inocente.
Voltaire.
RESUMO
Este trabalho visa analisar juridicamente a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal quanto
à possibilidade de desarquivamento do inquérito policial, tendo como principal objetivo a
análise crítica da decisão proferida pelo plenário da Corte, no julgamento do Habeas Corpus nº
87.395/PR, de acordo com a qual é válido o desarquivamento do inquérito quando este tiver
sido arquivado mediante determinação de decisão judicial que reconheceu a presença de
excludente de ilicitude. Busca-se examinar a natureza jurídica e os efeitos da decisão de
arquivamento, a fim de compreender se essa decisão é apta a produzir efeitos próprios da coisa
julgada. O estudo foi desenvolvido com base em uma pesquisa jurisprudencial e bibliográfica,
incluindo-se, como material de apoio, livros, artigos científicos e consultas a sítios eletrônicos,
além da legislação pátria referente ao tema. Para a efetiva compreensão da temática, trata-se
dos fundamentos e características das investigações preliminares, com principal enfoque no
inquérito policial, bem como do procedimento de arquivamento, na forma do art. 28 do Código
de Processo Penal, e do desarquivamento, previsto no art. 18 do mesmo diploma legal. Após,
colacionam-se posições doutrinarias acerca da natureza jurídica da decisão de arquivamento e
de seus efeitos, principalmente quanto à constituição ou não da coisa julgada. Ao fim, expõem-
se e examinam-se os principais julgados do Supremo Tribunal Federal sobre a matéria,
realizando-se uma análise crítica da decisão de julgamento do Habeas Corpus nº 87.395/PR,
através da exposição dos votos vencidos, relacionando-os com institutos próprios do direito
processual penal.
This work aims to juridically analyze the Brazilian Federal Supreme Court jurisprudence about
the possibility of reopening the police investigation, having as main focus the critical analysis
of the Court decision in Habeas Corpus nº 87.395 / PR, according to which it is valid to reopen
the police investigation even if it has been closed by the determination of a judicial decision
that recognized the presence of a cause that excludes the illicitness. It seeks to examine the legal
nature and effects of the decision that closes the police investigation, in order to understand
whether there is the constitution of res judicata. The study was developed based on a
jurisprudential and bibliographical research, including as support material, books, scientific
articles and queries to electronic sites, in addition to the national legislation related to the
subject. For the effective understanding of the thematic, the foundations and characteristics of
the preliminary investigations, with main focus in the police inquiry, were explored, as well as
the procedure of the inquiry archiving foreseen in article 28 of the Criminal Procedure Code,
and the reopening of the investigations foreseen in article 18 of the same law. Then, there is an
exposition of doctrinal positions about the legal nature of the decision that determinates the
inquiry archiving and its effects, mainly as to the constitution or not of the res judicata. Finally,
the Federal Supreme Court most important judgments are exposed and examined, and the
Habeas Corpus nº 87.395/ PR judgment decision is critically analysed, bringing the losing votes
most important aspects and relating them to institutes of criminal procedural law.
Art.: Artigo
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 13
2 O ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL ................................................... 15
2.1 Inquérito Policial ......................................................................................................... 15
2.1.1 Aspectos introdutórios ...................................................................................... 15
2.1.2 Conceito e natureza jurídica ............................................................................. 18
2.1.3 Características .................................................................................................. 20
2.1.4 Atribuições das autoridades .............................................................................. 26
2.2 Aspectos gerais sobre o arquivamento ........................................................................ 30
2.3 Causas permissivas de arquivamento .......................................................................... 34
2.3.1 Ausência de pressupostos processuais e condições da ação ............................ 36
2.3.2 Atipicidade penal do fato .................................................................................. 37
2.3.3 Existência de causa excludente de ilicitude ...................................................... 38
2.3.4 Presença de causa excludente de culpabilidade ............................................... 39
2.3.5 Extinção da punibilidade do agente .................................................................. 40
3. A POSSIBILIDADE DE REABERTURA DAS INVESTIGAÇÕES E OS EFEITOS
DA DECISÃO DE ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL .......................... 42
3.1 Desarquivamento e oferecimento da denúncia ............................................................ 42
3.2 Decisão de arquivamento............................................................................................. 47
3.2.1 Natureza jurídica e irrecorribilidade................................................................ 48
3.2.2 Constituição da coisa julgada ........................................................................... 53
4 OS LIMITES JURÍDICOS AO DESARQUIVAMENTO À LUZ DA
JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ....................................... 60
4.1 Ausência de pressuposto processual e de condição da ação ........................................ 60
4.2 Atipicidade penal e extinção de punibilidade .............................................................. 61
4.3 Causas excludentes de ilicitude e de culpabilidade ..................................................... 64
4.3.1 Julgamento do Habeas Corpus nº 87.395/PR ................................................... 64
4.3.2 Caráter absolutório da decisão ........................................................................ 68
4.3.3 Segurança jurídica ............................................................................................ 71
4.3.4 Vedação da Revisão Criminal pro societate ..................................................... 73
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 77
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 79
13
1 INTRODUÇÃO
1
Também compreendem as espécies de investigação preliminar, dentre outros, o Procedimento Investigatório
Criminal no âmbito do Ministério Público, a Comissão Parlamentar de Inquérito, o Termo Circunstanciado e o
Inquérito Policial Militar.
16
De acordo com Tourinho Filho, como titular do direito de punir, diante da notícia
da prática de um ato possivelmente delituoso, deverá o Estado buscar elementos que
2
MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: Bookseller, 1997, v. 1, p. 23.
3
Ibidem, p. 25.
4
Ibidem, p. 26.
5
Ibidem, p. 128.
6
Ibidem, p. 128.
17
comprovem a existência da infração penal e que indiquem a sua autoria, como forma de
autorizar a instauração da persecução penal em juízo.7
Em se tratando de ação penal de iniciativa pública, caberá ao órgão do Ministério
Público a persecutio criminis in judicio, que consiste na promoção e no acompanhamento da
ação penal. Não obstante, para a sua atuação em juízo, faz-se necessária a disposição de
elementos que sustentem pretensão punitiva estatal. Para tanto, o art. 144 da Constituição
Federal de 1988 prevê a existência a polícia judiciária, cuja função consiste em investigar o fato
em tese criminoso, a fim de apurar sua autoria e materialidade.8
Logo, é importante a existência de uma fase pré-processual, que tenha por
finalidade o esclarecimento dos elementos constitutivos do fato supostamente delituoso. Essa
etapa é denominada de investigação preliminar ou, como designa Aury Lopes Júnior, de
instrução preliminar, sendo conceituada pelo processualista como:
Esclarece o referido escritor que, o processo penal não deve iniciar-se de forma
imediata, sendo necessário para a sua instauração a coleta prévia de elementos aptos a justificar
a propositura da ação penal. Isso porque, o processo penal acarreta em si mesmo diversas penas
processuais ao investigado, não se podendo admitir que primeiro se acuse para que
posteriormente se investigue o fato e sua autoria. A fase preliminar apresenta, pois, essa
finalidade investigativa, cujo ponto de maior relevância consiste na conclusão pelo exercício
ou não da atividade acusatória do Estado.10
Segundo Aury Lopes Júnior, o principal fundamento da investigação preliminar se
revela na instrumentalidade constitucional do próprio processo penal. Isso significa afirmar que,
para além de ser um meio necessário para se atingir a satisfação da pretensão acusatória estatal,
a existência do processo penal – assim como a da fase preliminar - tem como principal
justificativa proporcionar a máxima eficácia dos direitos e garantias fundamentais previstos
constitucionalmente, de forma a preservar a dignidade da pessoa humana frente aos
constrangimentos que o processo acarreta.11
7
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 1,
p. 225.
8
Ibidem, p. 225.
9
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 252.
10
Ibidem, p. 250.
11
Ibidem, p. 253.
18
O termo “estigmatizar” encontra sua origem etimológica no latim stigma, que alude à
marca feita com ferro candente, sinal da infâmia, que foi, com a evolução da
humanidade, sendo substituída por diferentes instrumentos de marcação. O processo
penal em geral e a acusação formal em especial soa hoje manifestações da infâmia,
sendo o ferro candente substituído pela denúncia ou queixa abusiva e infundada. 14
Desse modo, a fase preliminar não deve ser entendida como uma preparação para o
procedimento em juízo, mas sim como um obstáculo a ser superado para que se dê início ao
processo penal.15
12
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 253.
13
Ibidem, p. 258.
14
Ibidem, p. 259.
15
CARNELUTTI, Francesco. Derecho procesal civil y penal. Tradução de Enrique Figueiroa Afonso. México:
Episa, 1997, p. 338-349 apud LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014,
p. 259.
16
BRASIL. Lei nº 2.033, de 20 de setembro de 1871. Altera differentes [sic] disposições da Legislação
Judiciaria [sic]. Rio de Janeiro, Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM2033.htm>.
Acesso em: 20 mar. 2018. “Art. 10. Aos Chefes, Delegados e Subdelegados de Policia [sic], além das suas actuaes
[sic] attribuições [sic] tão somente [sic] restringidas pelas disposições do artigo antecedente, e § único [sic], fica
pertencendo o preparo do processo dos crimes, de que trata o art. 12 § 7º do Codigo [sic] do Processo Criminal até
a sentença exclusivamente. Por escripto [sic] serão tomadas nos mesmos processos, com os depoimentos das
testemunhas, as exposições da accusação [sic] e defesa; e os competentes julgadores, antes de proferirem suas
decisões, deverão rectificar [sic] o processo no que fôr [sic] preciso. § 1º Para a formação da culpa nos crimes
19
novembro de 187117, por sua vez, ao regulamentar a essa espécie de investigação, definiu-a
como um procedimento escrito consistente na realização de todas as diligências necessárias
para a descoberta do fato criminoso, em suas circunstâncias e autoria.18
Segundo Bonfim, o inquérito policial deve ser compreendido, como “o
procedimento administrativo, preparatório e inquisitivo, presidido pela autoridade policial, e
constituído por um complexo de diligências realizadas pela polícia judiciária com vistas à
apuração de uma infração penal e à identificação de seus autores”.19
Evidencia-se daí a sua natureza jurídica de procedimento administrativo pré-
processual, não dispondo de uma estrutura verdadeiramente dialética, própria das relações
jurídicas processuais. Atua, portanto, como peça informativa e preparatória para o eventual
exercício da ação penal.20
Pela análise conjunta das normas previstas nos arts. 4º e 12 do Código Processual
Penal21, verifica-se que a finalidade do inquérito policial consiste na apuração da infração penal
em sua materialidade e autoria. Almeja-se, no entanto, a apuração desses elementos apenas em
um grau de probabilidade, visto que o campo de cognição nesta fase é limitado. 22
Será o destinatário imediato dessa atividade o Ministério Público, em se tratando
de crime cuja ação penal seja de iniciativa pública, ou o ofendido, em se tratando de ação penal
de iniciativa privada, visto que, com a reunião dos elementos colhidos pela polícia judiciária,
poderão formar sua opinio delicti para eventual propositura da denúncia ou queixa.23
communs [sic] as mesmas autoridades policiaes [sic] deverão em seus districtos [sic] proceder ás diligencias
necessárias [sic] para descobrimento dos factos criminosos e suas circumstancias [sic], e transmittirão [sic] aos
Promotores Publicos [sic], com os autos de corpo de delicto [sic] e indicação das testemunhas mais idoneas [sic],
todos os esclarecimentos colligidos [sic]; e desta remessa ao mesmo tempo darão parte á autoridade competente
para a formação da culpa [...]”.
17
BRASIL. Decreto nº 4.824, de 22 de novembro de 1871. Regula a execução da Lei nº 2033 de 24 de Setembro
do corrente anno [sic], que alterou differentes [sic] disposições da Legislação Judiciaria. Rio de Janeiro,
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/historicos/dim/dim4824.htm>. Acesso em: 20 mar.
2018. “Art. 42. O inquerito [sic]policial consiste em todas as diligencias necessárias [sic] para o descobrimento
dos factos criminosos, de suas circumstancias [sic] e dos seus autores e complices [sic]; e deve ser reduzido a
instrumento escripto [sic], observando-se nelle [sic]o seguinte: [...]”.
18
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 1,
p. 228.
19
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 100
20
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODIVM,
2015, p. 109.
21
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro,
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai.
2018. “Art. 4º. A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas
circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.”. “Art. 12. O inquérito policial
acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra.”.
22
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 271.
23
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 60.
20
Nesse sentido, Tourinho Filho esclarece que, no inquérito policial “se apuram a
infração penal com todas as suas circunstâncias e a respectiva autoria. Tais informações tem
por finalidade permitir que o titular da ação penal, seja o Ministério Público, seja o ofendido,
possa exercer o jus persequendi in judicio”.24
Por conseguinte, não cabe à autoridade policial realizar nenhum juízo de valor,
ainda que provisório, sobre, por exemplo, a ilicitude do fato ou a culpabilidade do indivíduo.
Deve somente atuar na colheita de prova da autoria e materialidade delitiva na execução de
providências acautelatórias dos vestígios deixados pela infração. Tal valoração é reservada
apenas àquele a quem compete expressar a opinio delicti, visto que será este o titular da eventual
ação penal.25
2.1.3 Características
24
TOURINHO FILHO, op. cit., p. 239.
25
TORNAGHI, Hélio. Instituicoes de processo penal. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 250.
26
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 252
27
Ibidem, p. 252.
21
28
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 40.
29
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018.
“Art. 9o Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e,
neste caso, rubricadas pela autoridade.”
30
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 78.
31
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 104.
32
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 1,
p. 243.
33
RANGEL, op. cit., p. 94
22
34
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 14. Ed. São Paulo: Malheiros, 2002,
p. 382.
35
MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Rio de Janeiro: Forense, 1961, p. 154-
156 apud MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 61.
36
De acordo com Mirabete (op. cit., p. 61), tal sigilo não se estenderá, por óbvio ao órgão acusador, nos termos
da Lei n.º 8.625/93. Nesse sentido: BRASIL. Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. Lei Orgânica Nacional do
Ministério Público. Brasília, DF, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8625.htm>.
Acesso em: 15 mar. 2018. “Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá: [...] IV - requisitar
diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial e de inquérito policial militar, observado o disposto
no art. 129, inciso VIII, da Constituição Federal, podendo acompanhá-los; [...]”; “Art. 41. Constituem
prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício de sua função, além de outras previstas na Lei
Orgânica: [...] VIII - examinar, em qualquer repartição policial, autos de flagrante ou inquérito, findos ou em
andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos; [...]”.
37
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 1,
p. 243.
38
TORNAGHI, Hélio. Instituições de processo penal. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 254.
39
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018.
“Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse
da sociedade.”
23
comprobatórios da infração, suas circunstâncias e autoria.40 Além disso, o sigilo pode ser
imprescindível quando, conforme Espínola Filho, se tratar de crime cuja repercussão social
possa causar danos à paz pública.41
Da soma de tais características, conclui-se que o inquérito policial é um
procedimento de cunho eminentemente inquisitivo. A esse respeito, Capez discorre:
40
GOMES, Amintas Vidal. Manual do Delegado. [S. l.: s. n.], [20--?] apud TOURINHO FILHO, op. cit., p. 244.
41
ESPINOLA FILHO, Eduardo. Código de processo penal brasileiro anotado. Rio de Janeiro: Borsoi, 1954
apud TOURINHO FILHO, op. cit., p. 244.
42
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 79.
43
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 92.
44
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; [...].
45
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 106-107.
46
REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 172-173.
24
47
Nesse sentido: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula Vinculante nº 14. Diário da Justiça Eletrônico.
Brasília, 09 fev. 2009. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=14.NUME.%20E%20S.FLSV.&base=ba
seSumulasVinculantes>. Acesso em: 25 mar. 2018. “é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso
amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.”; BRASIL. Lei nº 8.906, de 04
de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Brasília,
DF, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso em: 25 mar. 2018. “Art. 7º
São direitos do advogado: [...] XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação,
mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda
que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; [...]”.
48
BRASIL. Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB). Brasília, DF. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso em: 12 abr. 2018. “Art. 7º São direitos do
advogado: [...] XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade
absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e
probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva
apuração: (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016) a) apresentar razões e quesitos; [...]”.
49
REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p 172-173.
50
TUCCI, Rogério Lauria; TUCCI, José Rogério Cruz e,. Constituição de 1988 e processo: regramentos e
garantias constitucionais do processo .São Paulo: Saraiva, 1989, p. 25.
51
NORES, José I Cafferata et al. Manual de derecho procesal penal. [S. l.]: Advocatus, [20--], p. 165, tradução
nossa. Disponível em: <http://www.profprocesalpenal.com.ar/archivos/9c56835f-Manual.Cordoba.pdf>. Acesso
em: 10 maio 2018.
52
NORES, José I Cafferata. Eficácia de la Persecución Penal y Garantías Procesales en la Constitución de
Córdoba. [S. l.: s. n.], [19--], p. 29-30 apud TUCCI, op. cit., p. 29.
25
53
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 62.
54
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018.
“Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, nos casos em que caiba a
ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os
elementos de convicção.” “Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por
procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério
Público, ou à autoridade policial. [...] § 5o O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a
representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a
denúncia no prazo de quinze dias.” “Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de
5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias,
se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art.
16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos. § 1o Quando o
Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em
que tiver recebido as peças de informações ou a representação.”
55
MIRABETE, op. cit., p. 60.
56
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 1,
p. 239-240.
26
57
Nesse sentido: BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de
Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em:
18 mai. 2018. “Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.”.
58
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 62
59
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018.
“Art. 144. [...] § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União
e estruturado em carreira, destina-se a: I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento
de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras
infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se
dispuser em lei; [...] IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União [...] § 4º Às polícias
civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de
polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares”.
60
MIRABETE, op. cit., p. 57-58.
61
O Código Processual Penal, que, em seu art. 4º, confere à autoridade policial a titularidade do inquérito policial
concede, no seu parágrafo único, a outras autoridades administrativas a elaboração de inquérito, desde que haja
atribuição legal para investigar (LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva,
2014, p. 281).
62
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018.
“Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: I - de ofício; II - mediante requisição da
autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para
representá-lo.”
63
MIRABETE, op. cit., p 64-65.
27
De acordo com o art. 5º, I e II, do Código Processual Penal, nos crimes de ação
penal de iniciativa pública, o inquérito policial será iniciado de ofício pela autoridade policial,
ou mediante o requerimento do ofendido ou requisição da autoridade judiciária ou do Ministério
Público.
Segundo Tornaghi, o magistrado e o Ministério Público não têm o poder de ordenar
à polícia a instaurar o inquérito. Todavia, por se tratar de requisição das referidas autoridades,
o pedido deve ser atendido pelo órgão policial, salvo se manifestamente ilegal. Isso porque, não
é conferida à autoridade policial a possibilidade de não instaurar o inquérito, não havendo,
ainda, sequer previsão legal do indeferimento da requisição, como há na hipótese de
requerimento do ofendido.64
Em se tratando de ação penal de iniciativa pública condicionada à representação do
ofendido ou à requisição do Ministro da Justiça ou de iniciativa privada, a instauração do
inquérito policial tem como condição a requerimento destes sujeitos.65 66
Quanto as demais atividades de atribuição da polícia judiciária, o art. 6º, I a X, do
Código Processual Penal67, elenca, de forma exemplificativa, algumas diligências que a
autoridade policial deve realizar durante o inquérito, a fim de apurar os fatos apresentados na
notitia criminis, tais como a apreensão de objetos, a determinação da realização do exame de
corpo de delito - se for o caso-, a oitiva do ofendido, do investigado e de testemunhas.68
Além disso, a Lei nº 12.830/2013 atribui privativamente ao delegado de polícia o
indiciamento.69 Trata-se de ato fundamentado, por meio do qual a autoridade policial aponta
64
TORNAGHI, Hélio. Instituições de processo penal. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 257-258.
65
Inteligência do art. 5º, § 4º, do Código de Processo Penal (Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial
será iniciado: [...] § 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem
ela ser iniciado.).
66
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 68-69.
67
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018.
“Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I - dirigir-se ao
local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos
criminais; II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro,
devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura; VI - proceder a
reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo
de delito e a quaisquer outras perícias; VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se
possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o
ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois
do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e
caráter. X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e
o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.”
68
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 84.
69
BRASIL. Lei nº 12.830, de 20 de junho de 2013. Dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo
delegado de polícia. Brasília, DF, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
28
2014/2013/lei/l12830.htm>. Acesso em: 12 abr. 2018. “Art. 2o As funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de
Estado. [...]§ 6o O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante
análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias. [...]”.
70
REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 183.
71
Na legislação brasileira, existem prazos especiais para a conclusão do inquérito policial. Como exemplo, tem-
se a Lei nº 11.343/2006, que dispõe em seu art. 51, caput, que “o inquérito policial será concluído no prazo de 30
(trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto”. (BRASIL. Lei nº 11.343, de 23 de
agosto de 2006. Lei de Drogas. Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11343.htm>. Acesso em: 12 jun. 2018).
72
Nesse sentido: BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de
Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em:
18 mai. 2018. “Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em
flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a
ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. § 1o A autoridade fará
minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente. § 2o No relatório poderá a
autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser
encontradas. § 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer
ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.”
73
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodvim, 2015,
p. 149.
74
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 314.
29
75
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018. “Art.
129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma
da lei; [...] VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os
fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais; [...]”.
76
Nesse sentido: BRASIL. Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. Lei Orgânica Nacional do Ministério
Público. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8625.htm>. Acesso em: 15
mar. 2018. “Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá: [...] IV - requisitar diligências
investigatórias e a instauração de inquérito policial e de inquérito policial militar, observado o disposto no art. 129,
inciso VIII, da Constituição Federal, podendo acompanhá-los; [...]”.
77
Importante salientar que é conferida ao Ministério Público a possibilidade de exercer a atividade investigativa
preliminar, mediante a instauração do Procedimento Investigatório Criminal no âmbito do próprio órgão, na forma
da Resolução nº 181/2017 do Conselho Nacional do Ministério Público. (BRASIL. Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP). Resolução nº 181, de 7 de agosto de 2017. Dispõe sobre instauração e tramitação do
procedimento investigatório criminal a cargo do Ministério Público. Brasília, DF. Disponível em:
<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Resolucoes/Resolu%C3%A7%C3%A3o-181.pdf>. acesso em: 29 mar.
2018).
78
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p 58-59.
79
Nesse sentido: BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília.
Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28
fev. 2018. “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: [...] VII - exercer o controle externo da
atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior; [...].”; BRASIL. Lei
Complementar nº 75, de 20 mai. 1993. Dispõe sobre a organização, as atribuições e o estatuto do Ministério
Público da União. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp75.htm>.
Acesso em: 10 mar. 2018. “Art. 9º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da atividade policial
por meio de medidas judiciais e extrajudiciais podendo: [...].”; BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público
(CNMP). Resolução nº 20, de 28 de maio de 2007. Regulamenta o art. 9º da Lei Complementar nº 75, de 20
de maio de 1993 e o art. 80 da Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993, disciplinando, no âmbito do Ministério
Público, o controle externo da atividade policial. Brasília, DF. Disponível em:
<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Resoluçao_nº_20_alterada_pelas_Resoluções-65-98_113_e_121.pdf>.
Acesso em: 10 mar. 2018. “Art. 2º O controle externo da atividade policial pelo Ministério Público tem como
objetivo manter a regularidade e a adequação dos procedimentos empregados na execução da atividade policial,
bem como a integração das funções do Ministério Público e das Polícias voltada para a persecução penal e o
interesse público, atentando, especialmente, para: I – o respeito aos direitos fundamentais assegurados na
Constituição Federal e nas leis; II – a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio
público; III – a prevenção da criminalidade; IV – a finalidade, a celeridade, o aperfeiçoamento e a indisponibilidade
da persecução penal; V – a prevenção ou a correção de irregularidades, ilegalidades ou de abuso de poder
relacionados à atividade de investigação criminal; VI – a superação de falhas na produção probatória, inclusive
técnicas, para fins de investigação criminal; VII – a probidade administrativa no exercício da atividade policial.”
80
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodvim, 2015,
p. 189-190.
30
81
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 281.
82
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 50-52.
83
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 87-88.
31
84
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018.
“Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o
órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado.
No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em
que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.”
85
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 91.
86
Insta salientar que, conforme explica Greco Filho (op. cit., p. 88), a formação da sua opinio delicti pode levar à
conclusão pela incompetência do juízo, devendo nesse caso o Ministério Público requerer ao juiz alteração da
competência.
87
LIMA, Marcellus Polastri. Curso de processo penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 123.
88
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018.
89
Em se tratando da ação penal de iniciativa privada, a discussão acerca do arquivamento do inquérito policial não
apresenta muita relevância, tendo em vista a presença dos institutos da renúncia e da decadência. Não obstante,
Renato Brasileiro sustenta que o ofendido poderia requerer o arquivamento do inquérito policial quando, apesar
das diligências realizas do curso das investigações, não houver indícios mínimos da autoria delitiva. Isso porque
não haverá a decadência, visto que o marco inicial para a contagem do prazo decadencial inicia-se com o
conhecimento do autor do fato, razão pela qual também não poderia se falar em renúncia tácita. (LIMA, Renato
Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 170-171).
32
Isso porque, à esta concerne apenas a coleta de informações sobre o fato objeto da investigação,
não lhe incumbindo valorar os elementos colhidos.90
Não cabe igualmente ao magistrado determinar o arquivamento do inquérito
policial de ofício. Caso contrário, haveria evidente distanciamento do sistema processual penal
acusatório, que pressupõe a separação das funções de acusação, defesa e julgamento entre três
órgãos distintos. Dessa forma, ao magistrado compete o arquivamento do inquérito, mas desde
que requerido pelo Ministério Público, visto que este funciona como titular da ação penal, lhe
sendo atribuída de forma exclusiva a formação da opinio delicti.91
Incumbe ao magistrado apenas decidir sobre o pedido de arquivamento apresentado
pelo órgão ministerial. Essa atribuição da autoridade judiciária se justifica, na medida em que
é o juiz quem deve exercer o controle externo acerca da observância do princípio da
obrigatoriedade da ação penal pública.92
Sobre a fiscalização do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, Jardim
assevera:
90
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p.102.
91
LIMA, Marcellus Polastri. Curso de processo penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 124
92
JARDIM, Afrânio Silva. Direito Processual Penal. 11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 166.
93
Ibidem, p. 166.
94
De acordo com o STF, o pedido é irretratável. Nesse sentido: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inquérito nº
2028. Relatora: Ministra Ellen Gracie. Diário da Justiça. Brasília, 16/12/2005. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=80676>. Acesso em: 19 maio 2018;
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inquérito nº 2054. Relatora: Ministra Ellen Gracie. Diário da Justiça.
Brasília, 06/10/2006. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=80682>. Acesso em: 19 maio 2018.
95
LIMA, op. cit., p. 124.
96
“Entende-se como arquivamento implícito o fenômeno de ordem processual decorrente de o titular da ação penal
deixar de incluir na denúncia algum fato investigado ou algum dos indiciados, sem expressa manifestação ou
justificação deste procedimento” (JARDIM, Afrânio Silva. Ação Penal Pública: Princípio da Obrigatoriedade.
Rio de Janeiro: Forense, 1988, p. 28 apud LIMA, op. cit., p. 146). Essa forma de arquivamento é vedada, visto
que, de acordo com Eugênio Pacelli, a finalidade do procedimento é tornar a matéria indiscutível, ressalvada a
possibilidade de desarquivamento, quando do surgimento de novas provas. Por conseguinte, não é admissível que
o Ministério Público não ofereça a denúncia ou a ofereça somente em relação a alguns fatos ou indiciados, e nem
33
Logo, caso não concorde com a proposta do Ministério Público, o juiz determinará
a remessa dos autos do inquérito policial ao Procurador-Geral, que decidirá definitivamente
sobre a questão. No âmbito da Justiça Estadual, atividade é exercida pelo Procurador-Geral de
Justiça, salvo quando se tratar de ação penal de iniciativa originária deste, sendo nesse caso o
colégio de procuradores o órgão revisional.99 Por sua vez, na Justiça Federal, tal atribuição é
conferida às Câmaras de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, exceto nas
hipóteses de ação penal de iniciativa originária do Procurador-Geral da República.100 101
Recebidos os autos do inquérito pelo órgão revisional do Ministério Público, caso
sua opinião siga os fundamentos expostos na decisão judicial, poderá o Procurador-Geral
requeira o arquivamento expresso, deixando quanto aos outros a matéria em aberto (OLIVEIRA, Eugênio Pacelli
de. Curso de processo penal. 13. ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 73).
97
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 89.
98
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p 83.
99
BRASIL. Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. Lei Orgânica Nacional do Ministério Público. Brasília,
DF, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8625.htm>. Acesso em: 15 mar. 2018. “Art. 10.
Compete ao Procurador-Geral de Justiça: [...] IX - designar membros do Ministério Público para: [...] d) oferecer
denúncia ou propor ação civil pública nas hipóteses de não confirmação de arquivamento de inquérito policial ou
civil, bem como de quaisquer peças de informações; [...]. Art. 12. O Colégio de Procuradores de Justiça é composto
por todos os Procuradores de Justiça, competindo-lhe: [...] XI - rever, mediante requerimento de legítimo
interessado, nos termos da Lei Orgânica, decisão de arquivamento de inquérito policial ou peças de informações
determinada pelo Procurador-Geral de Justiça, nos casos de sua atribuição originária; [...].”
100
BRASIL. Lei Complementar nº 75, de 20 mai. 1993. Dispõe sobre a organização, as atribuições e o estatuto
do Ministério Público da União. Brasília, DF. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp75.htm>. Acesso em: 10 mar. 2018. “Art. 62. Compete às
Câmaras de Coordenação e Revisão: [...] IV - manifestar-se sobre o arquivamento de inquérito policial, inquérito
parlamentar ou peças de informação, exceto nos casos de competência originária do Procurador-Geral; [...]”.
101
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2015,
p. 164.
34
oferecer desde já a denúncia, bem como poderá designar outro membro do Ministério Público
para que a promova.102
Em sentido oposto, poderá acompanhar as razões expostas pelo órgão ministerial
originário, de forma a insistir no pedido de arquivamento. À vista disso, tratando-se de decisão
final e definitiva sobre o assunto, é defeso ao juiz não acolher o pedido do Ministério Público.
Conforme salienta Jardim, deverá o juiz determinar o arquivamento físico dos autos, tratando-
se de mero ato material de ordenar os autos do inquérito ao arquivo, não lhe restando nenhuma
margem para a apreciação do pedido.103
Levando em conta a liberdade funcional do órgão acusador, esclarece Bonfim:
102
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2015,
p. 164.
103
JARDIM, Afrânio Silva. Direito Processual Penal. 11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 166.
104
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 127.
105
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 89
106
Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018. “Art.
395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I - for manifestamente inepta; II - faltar pressuposto processual
ou condição para o exercício da ação penal; ou III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.”; “Art.
397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver
sumariamente o acusado quando verificar: I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; II -
a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; III - que o fato
narrado evidentemente não constitui crime; ou IV - extinta a punibilidade do agente.”.
107
REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 192-193.
35
108
O não mais vigente art. 43 do Código de Processo Penal previa como hipóteses que autorizavam a rejeição da
peça acusatória pelo juiz a evidente atipicidade penal do fato, a extinção de punibilidade e a falta de condição para
o exercício da ação. O referido artigo foi revogado pela Lei nº 11.719/08, permanecendo a ausência de condição
da ação como causa autorizadora da rejeição liminar da peça acusatória, na forma do art. 395 do CPP, ao passo
que a atipicidade penal do fato e a extinção de punibilidade passaram a ser consideradas causas de absolvição
sumária, nos termos do art. 397 do CPP.
109
REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 1069.
110
TÁVORA, Nestor.; ALLENCAR, Rosmar A. R. C. de. Curso de direito processual penal. 9. ed. rev, ampl. e
atual. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 155
111
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). Regimento Interno: [atualizado até julho de 2016]. Brasília, DF,
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/legislacaoRegimentoInterno/anexo/RISTF.pdf>. Acesso em:
25 abr. 2018. “Art. 21. São atribuições do Relator: [...] XV¹ – determinar a instauração de inquérito a pedido do
Procurador-Geral da República, da autoridade policial ou do ofendido, bem como o seu arquivamento, quando o
requerer o Procurador-Geral da República, ou quando verificar: a) a existência manifesta de causa excludente da
ilicitude do fato; b) a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade;
c) que o fato narrado evidentemente não constitui crime; d) extinta a punibilidade do agente; ou e) ausência de
indícios mínimos de autoria ou materialidade. [...]”.
36
112
REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 193.
113
JARDIM, Afrânio Silva. Direito Processual Penal. 11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 51.
114
REBOUÇAS, op. cit., p. 193.
115
Ibidem, p. 227-228.
116
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2015,
p. 131.
37
um lastro mínimo de prova que deve fornecer arrimo à acusação, tendo em vista que
a simples instauração do processo penal já atinge o chamado status dignitatis do
imputado. Tal lastro probatório nos é fornecido pelo inquérito policial ou pelas peças
de acusação, que devem acompanhar a acusação penal. 117
No que concerne ao mérito da ação penal, o inquérito deverá ser arquivado quando
verificada desde logo a atipicidade penal do fato. De acordo com Aníbal Bruno, “o fato punível
é a realização objetiva de um tipo; se o fato não alcança essa realização, nem sequer caminha
na realidade a realizá-la, está fora do Direito punitivo.”. A atipicidade da conduta pode se dar
tanto em razão desta não se enquadrar em nenhum tipo penal, bem como quando faltar na ação
algum de seus elementos típicos, tais como um agente ativo específico, uma determinada
circunstância temporal ou territorial, o seu próprio objeto ou o seu modo de execução.118
Por conseguinte, inexistindo adequação da conduta com investigado com nenhum
tipo penal, ou ausente algum dos seus elementos constitutivos, o fato objeto de investigação
será considerado formalmente atípico, autorizando-se o arquivamento do procedimento
preliminar.
117
JARDIM, Afrânio Silva. Direito Processual Penal. 11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 54.
118
BRUNO, Aníbal. Direito Penal: parte geral, tomo I. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978, p. 352.
38
Para parte da doutrina, será ainda devido o arquivamento quando, apesar de presente
a tipicidade formal da conduta, verificar-se a atipicidade material do fato, isto é, quando, apesar
de a ação do agente enquadrar-se formalmente do tipo penal, não houver relevo material da
conduta. Isso decorre da aplicação do princípio da insignificância à conduta do agente,
pressupondo-se, para tanto, a ofensividade mínima da atitude praticada, a ausência de
periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento do sujeito
e a inexpressividade da lesão jurídica por ele causada.119 120
119
Nesse sentido: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 92.463. Relator: Ministro Celso de
Mello. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 30 out. 2007. Disponível em: <
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=492876>. Acesso em: 19 maio 2018.
120
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2015,
p. 158.
121
BRUNO, Aníbal. Direito Penal: parte geral, tomo I. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978, p. 355-356.
122
BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 05 mar. 2018. “Art. 23 -
Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito
cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.”
123
Além das hipóteses citadas, o Código Penal prevê em sua Parte Especial outras causas excludentes de ilicitude,
tais como aquelas previstas nos arts. 146, §3º, e 128 (GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. 15.
ed. rev. ampl. e atual. Niterói: Impetus, 2013, v. 1, p. 313).
39
O inquérito policial deverá também ser arquivado quando se verificar desde logo
que o agente praticou a conduta em razão de engano quanto a existência ou aos limites de uma
causa de justificação, incorrendo em erro de proibição, ou que agiu mediante coação moral
irresistível ou em razão da obediência à ordem hierárquica, bem como se evidenciada a
inexigibilidade de conduta diversa por sua parte124, visto que em todos esses casos exclui-se a
culpabilidade do agente.125 126
De acordo com Nucci, as excludentes de culpabilidade “são causas que dirimem a
reprovação social no tocante àquele que pratica um fato típico e antijurídico, impedindo, pois,
a consideração de que houve crime, merecendo o autor punição”.127
Por outro lado, apesar de se tratar de uma causa excludente de culpabilidade, a
inimputabilidade do agente em razão de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto,
prevista no art. 26 do Código Penal128, não autoriza o arquivamento do inquérito policial. Isso
porque, somente através da instrução processual poderá se apurar existência dessas condições,
de modo a fundamentar a aplicação ou não da sanção penal, que consiste na medida de
segurança.129
Importante destacar que, tanto na hipótese de arquivamento em razão da existência
de causa excludente de ilicitude como de culpabilidade, a presença da excludente deve ser
manifesta e evidente. Caso haja dúvida sobre sua existência ou não, ação deverá ser proposta,
124
Trata-se de causa supralegal de excludente de culpabilidade (GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte
geral. 15. ed. rev. ampl. e atual. Niterói: Impetus, 2013, v. 1, p. 405-406).
125
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. 15. ed. rev. ampl. e atual. Niterói: Impetus, 2013, v. 1,
p. 405.
126
BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 05 mar. 2018 “Art. 21 -
O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável,
poderá diminuí-la de um sexto a um terço.” “Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita
obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da
ordem.”
127
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 307.
128
BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 05 mar. 2018 “Art. 26 -
É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao
tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.”.
129
LIMA, Marcellus Polastri. Curso de processo penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 139.
40
130
Nesse sentido: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de Competência nº 45.134. Relator: Ministro
OG Fernandes. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 7 nov. 2018. Disponível em:
<https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=200400915305&dt_publicacao=07/11/2008>.
Acesso em: 19 maio 2018. “A legítima defesa, ou qualquer outra excludente, só pode ser acolhida na fase
inquisitorial quando se apresentar de forma inequívoca e sem necessidade de exame aprofundado de provas, eis
que neste momento pré-processual prevalece o princípio do ‘in dubio pro societate’”.
131
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 577.
132
BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 05 mar. 2018 “Art. 107
- Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade
de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela
renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente,
nos casos em que a lei a admite; VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106,
de 2005) IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.”.
133
Ibidem, “Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1 o do art.
110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: I -
em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a
oito anos e não excede a doze; III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a
oito; IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro; V - em quatro anos, se
o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; VI - em 3 (três) anos, se o máximo da
pena é inferior a 1 (um) ano”.
134
Nesse sentido: Ibidem, “Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era,
ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos”;
41
135
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018.
“Art. 5º [...] XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o
limite do valor do patrimônio transferido; [...]”.
42
136
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro,
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai.
2018.
137
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 128.
138
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 84.
43
139
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 202.
140
JARDIM, Afrânio Silva. Direito Processual Penal. 11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 174.
141
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. São Paulo: Atlas [19--?], p. 58 apud CAPEZ, Fernando. Curso
de processo penal. 13.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 103.
142
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 201.
143
Ibidem, p. 202.
44
Afrânio Jardim igualmente afirma que a decisão pelo desarquivamento deve ser de
atribuição exclusiva do Ministério Público. Ao magistrado caberá um controle posterior, visto
eventual denúncia será por ele analisada, quando do seu oferecimento, oportunidade em que
poderá recebê-la ou rejeitá-la, se ela não estiver arrimada em provas novas.145
Dessa forma, a partir do momento que a autoridade policial tiver notícia de novas
provas, deverá oficiar ao órgão do Ministério Público atuante, requerendo o desarquivamento
da peça de informação. O Parquet, como exclusivo titular da ação penal de iniciativa pública,
será competente para promover o desarquivamento, mediante a solicitação à autoridade judicial
da retirada física dos autos do inquérito do arquivo, visto que, na prática, estes permanecem
arquivados perante o Poder Judiciário.146
Ademais, como consequência da ausência de indicação da titularidade para a
promoção do desarquivamento, questiona-se qual seria o órgão no âmbito interno do Ministério
Público com atribuição para efetivá-lo.
Segundo Jardim, a problemática deve ser resolvida através das leis orgânicas
estaduais de cada órgão, tal como a Lei Orgânica 106/2003 do Ministério Público do Estado do
Rio de Janeiro147, que confere ao Procurador-Geral de Justiça a atribuição para o
144
LIMA, Marcellus Polastri. Curso de processo penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p .142.
145
JARDIM, Afrânio Silva. Direito Processual Penal. 11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 176.
146
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2015,
p. 161.
147
BRASIL (Estado). Lei Complementar nº 106, de 03 de janeiro de 2003. Institui a Lei Orgânica do Ministério
Público do Estado do Rio de Janeiro e dá outras providências. Rio de Janeiro, RJ. Disponível em:
<http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/CONTLEI.NSF/1dd40aed4fced2c5032564ff0062e425/1f29578c748b110883256cc
90049373b?OpenDocument>. Acesso em: 25 abr. 2018. “Art. 39 - Além das atribuições previstas nas
Constituições Federal e Estadual, nesta e em outras leis, compete ao Procurador-Geral de Justiça: [...] XV
- requisitar autos arquivados, relacionados à prática de infração penal, ou de ato infracional atribuído a adolescente,
45
promover seu desarquivamento e, se for o caso, oferecer denúncia ou representação, ou designar outro órgão do
Ministério Público para fazê-lo; [...]”.
148
JARDIM, Afrânio Silva. Direito Processual Penal. 11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 176.
149
LIMA, Marcellus Polastri. Curso de processo penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p .142-143.
150
REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 201.
151
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 524. Diário da Justiça. Brasília, 12 dez. 1969. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2731>. Acesso em: 25 abr. 2018.
46
ulterior da denúncia, cujos fatos foram objeto de inquérito policial anteriormente arquivado.
Nesse caso, exige-se a presença efetiva de novas provas, isto é, que estas já tenham sido
produzidas.152
Nesse contexto, Rangel faz a seguinte diferenciação:
Na hipótese da Súmula, o que não se admite é a propositura da ação penal sem novas
provas. Ou seja, as provas (para a Súmula) devem existir no momento da propositura
da ação. Nesse caso, não se fala em desarquivamento do inquérito policial, mas, sim,
em propositura de ação penal.153 (grifo do autor)
O referido autor afirma, ainda, que, podem ocorrer situações em que, estando o
inquérito arquivado, surjam novas provas aptas a fundamentar o oferecimento da ação penal.
Na hipótese, defende que não se trataria de reabertura das investigações, mas sim o caso da
propositura da ação penal, que ocorreria independentemente do desarquivamento do
inquérito.154
Teria a exigência de existência de prova nova natureza de condição específica de
procedibilidade. Isso porque, sem a existência de novas provas a ação penal, contra fato que
fora objeto de inquérito anteriormente arquivado, não pode ser proposta.155
Por conseguinte, cabe finalmente distinguir quais as provas que autorizam a
reabertura das investigações. Isso porque, conforme explica Mirabete, “essas novas provas,
capazes de autorizar o início da ação penal, são somente aquelas que produzem alteração no
panorama probatório dentro do qual foi concebido e acolhido o pedido de arquivamento do
inquérito”.156
Rangel esclarece que, devem compreender o conceito de provas novas tanto
“aquelas que já existiam e não foram produzidas no momento oportuno, ou as provas que
surgiram após o encerramento do inquérito policial.”. Para o autor, a prova que autoriza o
desarquivamento é aquela substancialmente nova, entendida como aquela que possui aptidão
de mudar o quadro probatório, aduzindo informações novas, sendo capazes de fundamentar a
propositura da ação penal. Difere, portanto, da prova formalmente nova, que não tem
competência de mudar o contexto probatório, pois não agrega nenhum elemento novo ao
inquérito.157
152
LIMA, Marcellus Polastri. Curso de processo penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 140.
153
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 202.
154
Ibidem, p. 203.
155
Ibidem, p. 203.
156
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 84.
157
Ibidem, p. 202-203.
47
Com efeito, o conceito de prova nova abrange tanto aquela originalmente nova, isto
é, a desconhecida quando do arquivamento do inquérito, bem como a supervenientemente nova,
que já era conhecida naquele momento, mas que “assumiu em momento posterior nova versão
fática (e não apenas jurídica)”.159
No âmbito jurisprudencial, os Tribunais Superiores têm apresentado entendimento
bastante semelhante. Nesse aspecto, tem-se como importante referência a decisão do Superior
Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 18.561/ES, por
meio da qual foram indicados os requisitos necessários para a caracterização de uma prova
nova, capaz de autorizar o desarquivamento do inquérito.160 São eles:
a) que seja formalmente nova, isto é, sejam apresentados novos fatos, anteriormente
desconhecidos; b) que seja substancialmente nova, isto é, tenha idoneidade para
alterar o juízo anteriormente proferido sobre a desnecessidade da persecução penal;
c) seja apta a produzir alteração no panorama probatório dentro do qual foi concebido
e acolhido o pedido de arquivamento [...].161
158
REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 201-202.
159
Ibidem, p. 202.
160
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2015,
p. 162-163.
161
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 18.561. Relator: Ministro
Hélio Quaglia Barbosa. Diário da Justiça. Brasília, 1 ago. 2006. Disponível em:
<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=rhc+18561&b=ACOR&p=true&t=JURIDICO&l=10
&i=6>. Acesso em: 15 fev. 2018.
48
162
ROCHA, José de Albuquerque. Teoria geral do processo. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 229.
163
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro,
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai.
2018. “Art. 800. Os juízes singulares darão seus despachos e decisões dentro dos prazos seguintes, quando outros
não estiverem estabelecidos: I - de dez dias, se a decisão for definitiva, ou interlocutória mista; II - de cinco dias,
se for interlocutória simples; III - de um dia, se se tratar de despacho de expediente”
164
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido R. Teoria geral
do processo. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 327.
165
Nesse aspecto, o Código de Processo Penal trata da sentença absolutória no art. 386 e da condenatória no art.
387, bem como da absolutória sumária no art. 397.
166
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2015,
p. 1700-1701.
167
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro,
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai.
2018. “Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil: I - o despacho de arquivamento do
inquérito ou das peças de informação; [...]”.
49
jurisdicional despido de caráter decisório, visto que não resolve questões de mérito, nem
incidentais, e não põe fim a nenhuma fase do processo. Os despachos são, portanto, os demais
provimentos do órgão jurisdicional, que servem de impulso processual, revelando o cunho
residual desse ato.168
Nesse sentido, parte da doutrina, na qual se incluem, entre outros, Mirabete,
Tourinho Filho, Polastri e Espínola Filho, trata como despacho o ato de arquivamento.169 Nesse
aspecto, Espínola Filho atribui ao arquivamento a natureza jurídica de despacho, considerando
a ausência de juízo decisório por parte do órgão jurisdicional.
Em crítica à intervenção do Poder Judiciário, o referido autor discorre:
fora, de fato, reservar ao juiz uma função meramente mecânica, quando lhe é
submetido a deferimento o pedido de arquivamento formulado pelo Ministério
Público. Passaria o despacho a representar formalidade inútil, constituindo um
contrassenso e uma aberração de todos os princípios e de toda a técnica do direito
judiciário figurar decisão, em que nada decide, devendo confirmar-se, sistemática e
incondicionalmente, com o que é requerido. Assim, em vez de pronunciar-se sobre o
arquivamento, o juiz teria, na verdade, o seu papel reduzido a tomar conhecimento de
que a promotoria deliberará arquivar o processo.170
168
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido R. Teoria geral
do processo. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 327.
169
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 83-84;
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 327;
LIMA, Marcellus Polastri. Curso de processo penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 139.
170
ESPINOLA FILHO, Eduardo; SILVA, José Geraldo da.; LAVORENTI, Wilson. Código de processo penal
brasileiro anotado. Campinas: Bookseller, 2000, p. 409-410.
171
JARDIM, Afrânio Silva. Direito Processual Penal. 11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 66.
50
172
PITOMBO, Sérgio Marcos de Moraes. Arquivamento do inquérito policial: sua força e efeito. Revista do
Advogado, São Paulo, n. 11, out. 1982. Disponível em: < http://www.sergio.pitombo.nom.br/artigos.php>.
Acesso em 10 abril 2018.
173
COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. A natureza cautelar da decisão de arquivamento do inquérito
policial. Revista de Processo, São Paulo, v. 70, p.49-58, 1993, p. 53.
174
Ibidem, p. 53.
175
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 13. ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2010, p. 69.
176
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro,
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai.
2018. “Art. 414. Não se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria
ou de participação, o juiz, fundamentadamente, impronunciará o acusado. Parágrafo único. Enquanto não ocorrer
a extinção da punibilidade, poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova”.
177
OLIVEIRA, op. cit., p. 68-69.
178
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro,
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai.
51
que se trata de ato impugnável por apelação, na forma do art. 416 do CPP, com redação dada
pela 11.689/2008.179 Para o autor, isso reflete a impropriedade emprego do termo despacho,
tratando-se verdadeiramente de decisão judicial.180
A despeito da natureza decisória do ato que determina o arquivamento, é ajustado
o entendimento de se tratar de decisão irrecorrível. Nesse aspecto, a jurisprudência é pacifica
em não reconhecer o cabimento de qualquer recurso judicial contra o arquivamento do inquérito
policial, visto que sua interposição tenderia indevidamente a forçar o início da ação penal, que
é de atribuição constitucional exclusiva do Ministério Público.181
Na doutrina, Pacelli sustenta que o arquivamento é irrecorrível judicialmente, visto
que o ato de arquivamento reflete uma decisão do Ministério Público, que somente poderia ser
confrontada por um juízo proveniente de um órgão legalmente com atribuição revisional, como
o Procurador-Geral de Justiça, no âmbito estadual, e as Câmaras de Coordenação e Revisão do
Ministério Público Federal, no âmbito federal.182
Mais precisamente, Rebouças traça algumas considerações necessárias à
compreensão da questão. Primeiramente, deve-se conceber a decisão de arquivamento como
uma decisão definitiva ou com força de definitiva, a depender da apreciação ou não do mérito.
Por conseguinte, não constando no rol taxativo do art. 581 do Código de Processo Penal,183 não
seria impugnável por recurso em sentido estrito, mas sim por apelação, na forma do art. art.
593, caput, II, do mesmo diploma normativo processual.184 185
Contudo, a interposição do recurso não é possível, haja vista a ausência de interesse
recursal pelo Ministério Público, já que fora o próprio Parquet quem requereu o arquivamento
ao órgão judicial.186
2018. “Art. Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil: I - o despacho de arquivamento do
inquérito ou das peças de informação; [...]”.
179
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro,
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai.
2018. “Art. 416. Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária caberá apelação.”.
180
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 13. ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2010, p. 68-69.
181
Nesse sentido: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança nº 15.169.
Relator: Ministro Nefi Cordeiro. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 18 dez. 2014. Disponível em:
<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=rms+15169&b=ACOR&p=true&t=JURIDICO&l=10
&i=4>. Acesso em: 19 maio 2018.
182
OLIVEIRA, op. cit., p. 73.
183
O artigo trata das hipóteses de cabimento do Recurso em sentido estrito
184
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro,
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai.
2018. “Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: [...] II - das decisões definitivas, ou com força de
definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior; [...]”.
185
REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 207.
186
Ibidem, p. 207.
52
nem se poderia conceber que, tendo o Juiz deferido o pedido do órgão estatal da
acusação, no sentido de serem arquivados determinados autos de inquérito, pudesse o
ofendido sobrepor-se à vontade do Estado, exteriorizada na palavra o seu
representante, que é o Ministério Público, e também à decisão do Órgão Jurisdicional.
O art. 29 não tem, evidentemente, aquela extensão que se lhe quer emprestar. 192
187
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro,
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai.
2018. “Art. 598. Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença não for
interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas enumeradas no
art. 31, ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor apelação, que não terá, porém, efeito
suspensivo”.
188
Ibidem. Acesso em: 18 mai. 2018. “Art. 268. Em todos os termos da ação pública, poderá intervir, como
assistente do Ministério Público, o ofendido ou seu representante legal, ou, na falta, qualquer das pessoas
mencionadas no Art. 31”.
189
REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 207.
190
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro,
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai.
2018. “Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal,
cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os
termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do
querelante, retomar a ação como parte principal”.
191
LIMA, Marcellus Polastri. Curso de processo penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p .144.
192
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 1987, p. 405 apud LIMA,
Marcellus Polastri. Curso de processo penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 144.
53
193
GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães.; FERNANDES, Antonio
Scarance. Recursos no processo penal: teoria geral dos recursos em espécie ações de impugnação. 5.ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 36.
194
DELGADO, José Augusto. Efeitos da coisa julgada e os princípios constitucionais. In: Simpósio de Direito
Público da Advocacia-Geral da União-5ª Região, 1, 2000, Fortaleza. Disponível em:
<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:DRQ2GagWbsIJ:www.agu.gov.br/page/download/ind
ex/id/892447+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 10 abril 2018.
195
CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Tradução de Paolo Capitanio. 1. ed.
Campinas: Bookseller, 1998, p. 446
196
Ibidem, p. 452.
54
se a parte a quem não agrada o juízo pronunciado pudesse obter ou ainda somente
pedir ilimitadamente a mudança dele, a lide, em lugar de compor-se, permaneceria ou
poderia permanecer sempre aberta. A composição da lide exige, então, não só a
imperatividade, como até certo ponto também a imutabilidade do juízo [...].198 (grifo
do autor)
A sentença não mais suscetível de reforma por meio de recursos transita em julgado,
tornando-se imutável dentro do processo. Configura-se a coisa julgada formal, pela
qual a sentença, como ato daquele processo, não poderá ser reexaminada. É sua
imutabilidade como ato processual, provindo da preclusão das impugnações e dos
recursos. A coisa julgada formal representa a preclusão máxima, ou seja, a extinção
do direito ao processo (àquele processo, o qual se extingue). O Estado realizou o
serviço jurisdicional que lhe requereu (julgando o mérito), ou ao menos desenvolveu
as atividades necessárias para declarar inadmissível o julgamento do mérito [...]. 200
(grifo do autor)
197
CARNELUTTI, Francesco. Instituições do processo civil. Campinas: Servanda, 1999. Tradução de Adrián
Sotero de Witt Batista, p. 185-188.
198
Ibidem, p. 190.
199
DELGADO, José Augusto. Efeitos da coisa julgada e os princípios constitucionais. In: Simpósio de Direito
Público da Advocacia-Geral da União-5ª Região, 1, 2000, Fortaleza. Disponível em:
<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:DRQ2GagWbsIJ:www.agu.gov.br/page/download/ind
ex/id/892447+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 10 abril 2018.
200
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido R. Teoria geral
do processo. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 326.
55
201
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, CE, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 12 abr. 2018. “Art. 502.
Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais
sujeita a recurso”.
202
CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Tradução de Paolo Capitanio. 1. ed.
Campinas: Bookseller, 1998, p. 405
203
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1994,
p. 114.
204
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido R. Teoria geral
do processo. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 327.
205
Ibidem, p. 328.
206
Ibidem, p. 328.
56
207
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 201.
208
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 21.
209
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 87.395. Relator: Ministro Ricardo Lewandoski. Diário
da Justiça Eletrônico. Brasília, 13 mar. 2018. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=14493604>. Acesso em 10 fev. 2018.
210
TORNAGHI, Hélio. Instituições de processo penal. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 253.
211
ESPINOLA FILHO, Eduardo; SILVA, José Geraldo da.; LAVORENTI, Wilson. Código de processo penal
brasileiro anotado. Campinas: Bookseller, 2000, p. 412.
212
BRASIL. Tribunal de Apelação do Distrito Federal. Habeas Corpus nº 2.080. Relator: Lafayette de Andrada.
Diário da Justiça, Brasília, 20 ago. 1943. apud ESPINOLA FILHO, Eduardo; SILVA, José Geraldo da.;
LAVORENTI, Wilson. Código de processo penal brasileiro anotado. Campinas: Bookseller, 2000, p. 41
57
213
Nesse sentido: MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 84;
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 327.
214
Nesse sentido: LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 315;
LIMA, Marcellus Polastri. Curso de processo penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p.139.
215
COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. A natureza cautelar da decisão de arquivamento do inquérito
policial. Revista de Processo, São Paulo, v. 70, p.49-58, 1993, p. 53.
216
Ibidem, p. 53.
217
Para o autor, o caráter decisório da decisão de arquivamento implica o reconhecimento da existência de um
processo, que teria natureza cautelar em relação a questão de fundo, que seria a pretensão punitiva estatal.
218
COUTINHO, op. cit., p. 53.
219
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2015,
p. 159.
58
220
REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 201.
221
TÁVORA, Nestor; ALLENCAR, Rosmar A. R. C. de. Curso de direito processual penal. 9. ed. rev, ampl. e
atual. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 156.
222
REBOUÇAS, op. cit., p. 201.
223
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 13. ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2010, p. 68.
224
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2015,
p. 159; TÁVORA; ALLENCAR, op. cit., p. 159-161.
225
REBOUÇAS, op. cit., p. 203.
59
Dessa forma, para a doutrina mais moderna, a decisão de arquivamento terá eficácia
de coisa julgada formal quando o ato for determinado em razão da ausência de algum
pressuposto processual ou condição da ação, incluída a justa causa. Ademais, a decisão
implicará a constituição da coisa julgada material quando houver sido fundamentada na
atipicidade penal do fato, na presença de causa extintiva de punibilidade, na manifesta
existência de excludente de ilicitude ou na manifesta presença de excludente de culpabilidade.
60
Após discorrer acerca das posições doutrinárias sobre as hipóteses em que seria
possível o desarquivamento do inquérito policial, é importante expor e analisar o entendimento
jurisprudencial sobre a matéria.
O Supremo Tribunal Federal reúne relevantes julgados sobre o assunto,
apresentando posicionamentos diversos sobre a possibilidade de desarquivamento, a partir da
causa em que foi fundamentada a decisão de arquivamento da peça de informação.
Assim, neste capítulo serão expostos os principais julgados do STF sobre o assunto,
dividindo-se a análise jurisprudencial de acordo com a causa determinante do arquivamento,
relacionando-a com a constituição ou não da coisa julgada e com a possibilidade ou não de
desarquivamento.
226
Nesse sentido: STF, 2ª Turma, AP 898, Rel. Min. Teori Zavascki, Julgamento em 12.04.2016; STF, 2ª Turma,
STF, Pleno, Inq. 2054/DF, Rel. Min. Ellen Gracie, Julgamento em 29.03.2006; STF, 1ª Turma, HC 19.765/RJ,
Rel. Min. Moreira Alves, Julgamento em 16.12.1999; STF, 2ª Turma, RHC 57.191/RJ, Rel. Min. Décio Miranda,
Julgamento em 28.08.1979; STF, Pleno, RHC 50.203/GB, Rel. Min. Xavier de Albuquerque, Julgamento em
06.09.1972; STF, Pleno, RHC 40.421/GB, Rel. Min. Hermes Lima, Julgamento em 01.04.1964.
61
227
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). Habeas Corpus nº 84.156. Relator: Ministro Celso de Mello. Diário
da Justiça. Brasília, 11 fev. 2005. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=384937>. Acesso em: 19 maio 2018.
62
228
Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018.
“Art. 43. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I - o fato narrado evidentemente não constituir crime; II - já
estiver extinta a punibilidade, pela prescrição ou outra causa; III - for manifesta a ilegitimidade da parte ou faltar
condição exigida pela lei para o exercício da ação penal. Parágrafo único. Nos casos do no III, a rejeição da
denúncia ou queixa não obstará ao exercício da ação penal, desde que promovida por parte legítima ou satisfeita a
condição”. (Dispositivo inteiramente revogado pela Lei nº 11.719, de 2008).
63
229
Nesse sentido: STF, 1ª Turma, HC 83.346/SP, Rel. Min. Sapúlveda Pertence, Julgamento em 17.05.2005; STF,
1ª Turma, HC 80.560/GO, Rel. Min. Sapúlveda Pertence, Julgamento em 20.02.2001; STF, Pleno, Inq. 1538/PR,
Rel. Min. Sapúlveda Pertence, Julgamento em 08.08.2001; STF, Pleno, Inq. 2044, Rel. Min. Sapúlveda Pertence,
Julgamento em 29.09.2004; STF, 1ª Turma, HC 75.907/RJ, Rel. Min. Sapúlveda Pertence, Julgamento em
11.11.1997; STF, Pleno, HC 80263/SP, Rel. Min. Ilmar Galvão, Julgamento em 20.02.2003.
230
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). Habeas Corpus nº 80.560. Relator: Ministro Sapúlveda Pertence.
Diário da Justiça. Brasília, 30 mar. 2001. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=78442>. Acesso em: 19 maio 2018.“[...]
a eficácia preclusiva da decisão que defere o arquivamento do inquérito policial, a pedido do Ministério Público,
é similar à daquela que rejeita a denúncia e, como a última, se determina em função dos seus motivos
determinantes, impedindo – se fundada na atipicidade do fato – a propositura ulterior da ação penal, ainda quando
a denúncia se pretenda alicerçada em novos elementos de prova. [...]”.
231
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). Habeas Corpus nº 83.346. Relator: Ministro Sapúlveda Pertence.
Diário da Justiça. Brasília, 18 ago. 2005. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=79329>. Acesso em: 19 maio 2018.
64
mérito proferido e a consequente constituição da coisa julgada, não sendo aplicável ao caso o
art. 18 do CPP e a súmula nº 524 do próprio tribunal. 232
232
Nesse sentido: BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). Habeas Corpus nº 84.253. Relator: Ministro Celso
de Mello. Diário da Justiça. Brasília, 17 dez. 2004. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=79529>. Acesso em: 19 maio 2018. “[...]
o arquivamento judicial do inquérito ou das peças que consubstanciam a "notitia criminis", quando requerido pelo
Ministério Público, por ausência ou insuficiência de elementos informativos, não afasta a possibilidade de
aplicação do que dispõe o art. 18 do CPP, hipótese em que, havendo notícia de provas substancialmente novas
(Súmula 524/STF - RTJ 91/831), legitimar-se-á a reabertura das investigações penais (RTJ 106/1108 - RTJ
134/720 - RT 570/429 - Inq 1.947/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.). - Inexistirá, contudo, essa
possibilidade, se o Poder Judiciário, ao reconhecer consumada a prescrição penal, houver declarado extinta a
punibilidade do indiciado/denunciado, pois, em tal caso, esse ato decisório revestir-se-á da autoridade da coisa
julgada em sentido material, inviabilizando, em consequência [sic], o ulterior ajuizamento (ou prosseguimento) de
ação penal contra aquele já beneficiado por tal decisão, ainda que o Ministério Público, agindo por intermédio de
novo representante e mediante reinterpretação e nova qualificação dos mesmos fatos, chegue a conclusão diversa
daquela que motivou o seu anterior pleito de extinção da punibilidade. Precedentes. [...]”.
233
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). Habeas Corpus nº 87.395. Relator: Ministro Ricardo Lewandoski.
Diário de Justiça Eletrônico. Brasília, 13 mar. 2018. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=14493604>. Acesso em: 19 maio 2018.
65
O ministro Ayres Britto discorreu em seu voto que, a manipulação das provas pelas
autoridades policiais acarretou um inquérito eivado de vícios, conduzindo o Ministério Público
a requerer o seu arquivamento em razão das provas de que o fato teria ocorrido em legitima
defesa e no estrito cumprimento de dever legal. De acordo com o ministro, “não se formou a
coisa julgada material, já que as provas eram imprestáveis”, isto é, “a premissa ensejadora da
decisão transitada em julgado era falsa”.
O ministro Gilmar Mendes, por sua vez, fez menção a diversos julgados da própria
Corte, referentes à ausência de coisa julgada material quando a decisão tiver reconhecido extinta
a punibilidade com fundamento em certidão de óbito falsa. De acordo com o ministro, ao não
conferir a decisão os efeitos da coisa julgada, visa-se impedir que a parte beneficie-se da sua
própria torpeza, ficando impune de um delito sobre o qual é acusada, mediante a prática de
outra conduta criminosa.
No caso do Habeas Corpus nº 87.395/PR, havia fortes evidências de que os agentes
da polícia, valendo-se se seus cargos, teriam fraudado as investigações, a fim de saírem impunes
de um processo criminal. Assim, segundo o ministro, deveria ser aplicado o mesmo
entendimento acima citado, pois, caso contrário, se fosse conferida eficácia de coisa julgada
material à utilização da fraude processual, estar-se-ia apresentando posicionamento conivente
com ambas as práticas delituosas.
Em seu voto, a Ministra Cármen Lúcia, referiu-se ao julgamento do Habeas Corpus
nº 95.211/ES, de sua relatoria, por meio do qual a Primeira Turma do STF decidiu, em situação
análoga, pela validade do desarquivamento do inquérito policial em razão da notícia de provas
novas, quando o seu arquivamento tivesse sido baseado em provas falsas, que,
equivocadamente levaram o juiz a decidir pela existência de causa excludente de ilicitude.234
O Habeas Corpus nº 95.211/ES trazia um cenário de um inquérito policial
arquivado pela presença de causa excludente de ilicitude de estrito cumprimento de dever legal,
que foi desarquivado, dez anos após, pelo surgimento de provas novas, apontando um conjunto
probatório fraudulento, visto que as testemunhas ouvidas durante o inquérito teriam sido
coagidas. Para a Corte, o a existência de fraude tornou as provas imprestáveis, não havendo se
concretizado a coisa julgada material, razão pela qual seria possível o desarquivamento.
Para além do contexto fraudulento que fundamentou a decisão judicial de primeira
instância, no julgamento do Habeas Corpus nº 87.395/PR, o ministro relator Ricardo
234
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). Habeas Corpus nº 95.211. Relatora: Ministra Carmén Lúcia. Diário
de Justiça Eletrônico. Brasília, 22 ago. 2011. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=626323>. Acesso em: 19 maio 2018.
67
Lewandoski, sustentou que, diferentemente do que ocorre quando o inquérito é arquivado com
base na atipicidade penal do fato, “a superveniência de novas provas relativamente a alguma
excludente de ilicitude admite o desencadeamento de novas investigações”.
Segundo o relator, em se tratando de uma decisão tomada rebus sic standibus, não
haverá a constituição de coisa julgada, nem ocorrerá a preclusão. Diferentemente da fase
processual da persecução penal, durante a fase de investigações preliminares não há decisão
propriamente dita, não havendo res jusdicata.
Do mesmo modo, o ministro Ayres Brito aduziu em seu voto que o STF admite
apenas duas hipóteses nas quais a decisão de arquivamento fará coisa julgada: a atipicidade
penal do fato e a prescrição da pretensão punitiva, não se estendendo tal interpretação ao
arquivamento baseado em alguma das causas excludentes de ilicitude.
Nessa perspectiva, o ministro Gilmar Mendes fez referência ao julgamento do
Habeas Corpus nº 125.101/SP, quando a Segunda Turma da Suprema Corte decidiu que, diante
da notícia de provas novas, não obsta a reabertura das investigações a decisão do juiz
competente que determinou o arquivamento do inquérito policial baseado na presença de causa
excludente de ilicitude.235
Ademais, sustentou que o desarquivamento nesse caso não violaria a vedação à
dupla acusação, prevista no Pacto São José da Costa Rica, segundo a qual “o acusado absolvido
por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos
fatos”, visto que, na fase pré-processual, não há de se falar em acusado ou absolvição, já que a
ação penal não chegou sequer a ser proposta. Segundo o ministro, no âmbito do ordenamento
jurídico interno, a vedação teria como pressuposto a existência de um processo penal.236
Assim, por maioria e nos termos do voto do ministro relator, denegou-se a ordem
de habeas corpus, vencidos os ministros Marco Aurélio, Joaquim Barbosa e Cezar Peluso, que
a deferiram.
Não obstante, é importante discorrer sobre os argumentos em contraposição ao
entendimento firmado pelo STF. Em contraponto, encontram-se os votos divergentes do
ministro Marco Aurélio e dos ex-ministros Joaquim Barbosa e Cezar Peluso, exarados durante
o julgamento do Habeas Corpus nº 87.395/PR, bem como os fundamentos apresentados em
235
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). Habeas Corpus nº 125.101. Relator: Ministro Teori Zavascki.
Diário de Justiça Eletrônico. Brasília, 11 set. 2015. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=9363697>. Acesso em: 19 maio 2018.
236
ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Convenção Americano Sobre Direitos Humanos. San
Jose, 1969. Disponível em: <https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm>. Acesso
em: 2 maio 2018.
68
outros acórdãos dos Tribunais Superiores, que aludem a institutos e conceitos doutrinários
próprios do Direito Processual Penal.
237
Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018.
“Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: [...] VI –
existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1 o do art. 28,
todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; [...]”.
238
BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 05 mar. 2018. “Art. 23 -
Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito
cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito”.
69
239
Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018. “Art.
397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver
sumariamente o acusado quando verificar: I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; [...]”.
240
Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 8 mar. 2018.
“Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: [...] III - não
constituir o fato infração penal; [...]”.
241
Ibidem. Acesso em: 18 mar. 2018. “Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos,
deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: I - a existência manifesta de causa
excludente da ilicitude do fato; [...] III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; [...]”.
242
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 161.
243
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. 12. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013, p. 295-296.
70
é tão somente com a somatória dos juízos negativos de valor parciais que se vai dar
lugar à conformação do injusto culpável, enquanto “valoração global do fato e do
autor”. Assim, tipicidade, ilicitude e culpabilidade não passam de uma parte do juízo
negativo do valor global sobre o fato e o seu autor, visto que apreendem “apenas
alguns elementos da unidade ontológica em que se projetam”. 244
244
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. 12. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013, p. 297-298.
245
BRUNO, Aníbal. Direito Penal: parte geral, tomo I. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978, p. 291.
246
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (STJ). Recurso Especial nº 791.471. Relator: Ministro Nefi Cordeiro.
Diário de Justiça Eletrônico. Brasília, 16 dez. 2014. Disponível em:
<https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=41568646&num_r
egistro=200501722822&data=20141216&tipo=5&formato=PDF>. Acesso em: 19 maio 2018.
71
No caso em apreço pelo STJ, o inquérito policial havia sido arquivado a partir de
requerimento do Ministério Público, fundamentado na conclusão de que os investigados teriam
agido em legítima defesa. Ocorre que, mesmo após arquivado o inquérito por determinação
judicial, o Ministério Público retomou as investigações.
Em seu voto, o ministro relator discorreu:
Dessa forma, a turma entendeu que, considerando que o inquérito foi arquivado em
razão do reconhecimento de uma causa excludente de ilicitude, e não apenas por ausência de
suporte probatório, houve a apreciação do mérito, constituindo-se a coisa julgada e impedindo-
se a rediscussão da matéria. Caso contrário, estar-se-ia se autorizando a reabertura de inquéritos
por revaloração jurídica, afastando a segurança jurídica das decisões judiciais de mérito.247
247
No mesmo sentido: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (STJ). Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº
17.389. Relatora: Ministra Laurita Vaz. Diário de Justiça Eletrônico. Brasília, 7 abril 2008. Disponível em:
<https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=3441244&num_re
gistro=200500343088&data=20080407&tipo=5&formato=PDF>. Acesso em: 19 maio 2018. “[...] embora o
inquérito policial possa ser desarquivado em face de novas provas, tal providência somente se mostra cabível
quando o arquivamento tenha sido determinado por falta de elementos suficientes à deflagração da ação penal
[...]”.
72
248
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia do direito fundamental à segurança jurídica: dignidade da pessoa humana,
direitos fundamentais e proibição do retrocesso social no direito constitucional brasileiro. In: ROCHA, Carmén
Lúcia Atunes (Coord.). Constituição e segurança jurídica: direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada.
2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2009, p. 90-95.
249
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018. “Art.
5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...]”.
250
SARLET, op. cit., p. 91.
251
SCHMIDT, Eberhard. Los fundamentos teóricos y constitucionales del derecho procesal penal. [S. l.: s.
n.], 1957, p. 164 apud MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas:
Bookseller, 1997, v. 3, p. 84.
252
ALVIM, J. E. Carreira. Elementos de teoria geral do processo. Rio de Janeiro: Forense, 1989, p. 394.
253
BERMUDES, Sérgio. Coisa julgada ilegal e segurança jurídica. In: ROCHA, Carmén Lúcia Atunes (Coord.).
Constituição e segurança jurídica: direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada. 2. ed. Belo Horizonte:
Fórum, 2009, p. 131.
254
ROCCO, Ugo. Trattato di Diritto Processuale Civille. [S. l.: s. n.], 1957, v.2, p. 307 apud MARQUES, José
Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: Bookseller, 1997, v. 3, p. 81.
255
ALVIM, op. cit., p. 392.
73
Isso se justifica na medida em que o indivíduo não pode suportar uma renovação
constante da persecução penal, preferindo-se, então, o efeito preclusivo da coisa julgada.256
Nesse aspecto, Fenech esclarece:
[...] o Direito necessita correr o risco de que se não possa reexaminar uma decisão
injusta para evitar a consagração da instabilidade das decisões justas. Justiça e
segurança jurídica, em conclusão, não se encontram em posição antagônica, e sim, em
perfeita harmonia; e a coisa julgada, enquanto serve à segunda, colabora
indubitavelmente para a efetivação da primeira.257
256
BELING, Ernest. Derecho procesal penal. Barcelona: [s. n.], 1943, p. 202, apud MARQUES, José
Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: Bookseller, 1997, v. 3, p. 84.
257
FENECH, Miguel. Derecho procesal penal. [S. l.: s. n.], 1952, v. 2, p. 534 apud MARQUES, José
Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: Bookseller, 1997, v. 3, p. 84-85.
258
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 317.
74
julgado somente será possível através da ação rescisória, no âmbito cível, e da revisão criminal,
na esfera penal, nos casos taxativamente discriminados em lei.259
Nesse sentido, Grinover, Gomes Filho e Fernandes discorrem:
Presente na ordem constitucional desde 1891, a revisão criminal, apesar de não estar
contida no capítulo referente aos direitos e às garantias fundamentais, apresenta inegável
natureza jurídica de ação constitucional, sendo tradicionalmente considerada como um direito
fundamental do condenado.261 262
No âmbito infraconstitucional, é regulamentada pelos arts. 621 e seguintes do
Código de Processo Penal.263 Quanto ao seu cabimento, o art. 621 prevê que poderá ser proposta
a revisão em face de sentença condenatória que seja contrária ao texto legal ou à evidência dos
autos ou fundamentada em provas falsas, bem como se após a sentença surgirem provas novas
da inocência do condenado ou de alguma circunstância apta a promover a diminuição da pena.
Trata-se de uma ação autônoma para a impugnação de sentenças penais
condenatórias ou absolutórias impróprias transitadas em julgado, de competência originária dos
tribunais. De acordo com Grinover, Gomes Filho e Fernandes, a existência de uma sentença
condenatória consiste na possibilidade jurídica do pedido, incluindo-se também a sentença
absolutória imprópria, que aplica medida de segurança ao inimputável, tendo em vista a sua
feição condenatória. 264
259
GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães.; FERNANDES, Antonio
Scarance. Recursos no processo penal: teoria geral dos recursos em espécie ações de impugnação .... 5.ed. rev.
atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 303.
260
Ibidem, p. 103.
261
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018.
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: [...] e) as revisões
criminais e as ações rescisórias de seus julgados; [...]”; “Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I -
processar e julgar, originariamente: [...] b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos
juízes federais da região; [...]”.
262
GRINOVER; GOMES FILHO; FERNANDES, op. cit., p. 304.
263
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro,
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai.
2018. “Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida: I - quando a sentença condenatória for contrária
ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos; II - quando a sentença condenatória se fundar em
depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos; III - quando, após a sentença, se descobrirem
novas provas de inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da
pena.”.
264
GRINOVER; GOMES FILHO; FERNANDES, op. cit., p. 313.
75
265
MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: Bookseller, 1997, v. 3, p. 82.
266
MANZINI, Vicenzo. Trattato di diritto penale. [S. l.: s. n.], 1932, v. 4, p. 447 apud MARQUES, José
Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: Bookseller, 1997, v. 3, p. 82.
267
MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: Bookseller, 1997, v. 4, p.
328.
268
MÉDICI, Sérgio de Oliveira. Revisão criminal. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 230 apud
MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: Bookseller, 1997, v. 4, p. 328.
269
CERONI, Carlos Roberto Barros. Revisão criminal: características, consequências e abrangência . São Paulo:
Juarez de Oliveira, 2005, p. 20.
270
Ibidem, p. 20.
76
a vedação à dupla acusação, na medida em que prevê que, “o acusado absolvido por sentença
passada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos”.271 272
Apesar de parte da doutrina sustentar o status constitucional da convenção, tendo
em vista a previsão do art. 5º, §2º, da Constituição Federal 273, o Supremo Tribunal Federal, ao
julgar o Recurso Extraordinário nº 366.343274 e o Habeas Corpus nº 87.585275, posicionou-se
pelo caráter supralegal da norma, não tendo a mesma força normativa que as normas
constitucionais, mas estando em posição hierárquica superior às leis ordinárias.276
Trata-se, de todo modo, de uma norma com validade e eficácia no ordenamento
jurídico brasileiro, que, coadunando-se com a legislação infraconstitucional, impede a revisão
criminal pro societate.
Por isso, não pode o acusado ser processado novamente pelos mesmos fatos que já
foram objeto da apreciação meritória do Poder Judiciário. E, partindo-se da premissa que a
decisão que determina o arquivamento do inquérito pela inexistência da ilicitude do fato
consiste em um julgamento de mérito e faz coisa julgada, não seria possível a retomada das
investigações e o ulterior oferecimento da denúncia, sob pena de incorrer em uma revisão
criminal pro societate.
271
ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Convenção Americano Sobre Direitos Humanos. San
Jose, 1969. Disponível em: <https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm>. Acesso
em: 2 maio 2018.
272
BRASIL. Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana Sobre Direitos
Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Brasília, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d0678.htm>. Acesso em: 05 maio 2018.
273
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018.
“Art. 5º [...] § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
274
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). Recurso Extraordinário nº 366.343. Relator: Ministro Cezar Peluso.
Diário de Justiça Eletrônico. Brasília, 5 jun. 2009. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=595444>. Acesso em: 19 maio 2018.
275
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). Habeas Corpus nº 87.585. Relator: Ministro Marco Aurélio. Diário
de Justiça Eletrônico. Brasília, 25 jun. 2009. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=597891>. Acesso em: 09 maio 2018
276
GOMES, Luiz Flávio; MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Tratados internacionais: valor legal, supralegal ou
constitucional?. Revista de Direito, São Paulo, v. 12, n. 5, p.7-20, ago. 2009. Disponível em:
<http://pgsskroton.com.br/seer/index.php/rdire/article/view/1987/1890>. Acesso em: 03 maio 2018.
77
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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