Você está na página 1de 48

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR


CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – CCJ
Curso de Direito

A IMPORTÂNCIA DO ISOLAMENTO E DA PRESERVAÇÃO


DO LOCAL DE CRIME NA PRODUÇÃO DA PROVA
PERICIAL PAPILOSCÓPICA: O CASO DO FURTO AO
BANCO CENTRAL EM FORTALEZA/CE

José Ulisses Catunda Sampaio


Matr.: 0223451-3

Fortaleza–CE
Novembro, 2008
JOSÉ ULISSES CATUNDA SAMPAIO

A IMPORTÂNCIA DO ISOLAMENTO E DA PRESERVAÇÃO


DO LOCAL DE CRIME NA PRODUÇÃO DA PROVA
PERICIAL PAPILOSCÓPICA: O CASO DO FURTO AO
BANCO CENTRAL EM FORTALEZA/CE

exigência parcial para a obtenção


do grau de bacharel em Direito,
sob a orientação de conteúdo da
Professora Caroline Pontes
Almeida e orientação
metodológica do Professor José
Monografia apresentada como
exigência parcial para a obtenção
do grau de bacharel em Direito, sob
a orientação de conteúdo do(a)
professor(a) XXXXXXX e
orientação metodológica da
professora Núbia Maria Garcia
Bastos.
2

Fortaleza – Ceará
2008
Colocar aqui a ficha catalográfica
4

JOSÉ ULISSES CATUNDA SAMPAIO

A IMPORTÂNCIA DO ISOLAMENTO E DA PRESERVAÇÃO


DO LOCAL DE CRIME NA PRODUÇÃO DA PROVA
PERICIAL PAPILOSCÓPICA: O CASO DO FURTO AO
BANCO CENTRAL EM FORTALEZA/CE

Monografia apresentada à banca


examinadora e à Coordenação do
Curso de Direito do Centro de
Ciências Jurídicas da Universidade
de Fortaleza, adequada e aprovada
para suprir exigência parcial
inerente à obtenção do grau de
bacharel em Direito, em
conformidade com os normativos
do MEC, regulamentada pela Res.
Nº R044/17 da Universidade de
Fortaleza.

Fortaleza (CE), 06 de novembro de 2008.

XXXXXXXXXXX, Me.
Profa. Orientadora da Universidade de Fortaleza

XXXXXXXXXXXX, Me.
Profa. Examinadora da Universidade de Fortaleza

XXXXXXXXXXXX, Me.
Prof. Examinador da Universidade de Fortaleza

Núbia Maria Garcia Bastos, Me.


Profa. Orientadora de Metodologia

Profª. Núbia Maria Garcia Bastos, Me.


Supervisora de Monografia

Coordenação do Curso de Direito


AGRADECIMENTOS

Aos professores e orientadores, Caroline Pontes Almeida e José Cauby de Medeiros


Freire, pelo apoio e encorajamento contínuos na pesquisa, aos demais mestres da casa, pelos
conhecimentos transmitidos, e à Diretoria do curso de graduação da Universidade de
Fortaleza, pelo apoio institucional e pelas facilidades oferecidas.

À minha querida esposa, Noélia Marques, e aos meus filhos, Luiza e Hugo, pelo ânimo
nos momentos difíceis e pela capacidade de gerarem em mim uma disposição nova a cada dia
para permanecer firme até o fim.

Por fim, agradeço e louvo a Jesus Cristo, meu Senhor, que tem permanecido comigo
sempre, renovando-me a cada manhã.
Um dos segredos do sucesso é se recusar a
deixar que adversidades temporárias nos
derrotem.

Mary Kay Ash


RESUMO

Quando se realiza uma pesquisa acerca de um tema como o proposto, a primeira observação
que se tem a respeito é que há uma cultura enraizada no meio policial brasileiro de não se
priorizar o isolamento e preservação do local de crime. Corroborando com esta realidade,
verifica-se que os estudos publicados sobre a criminalidade ao tratarem do assunto o fazem de
uma maneira superficial, geralmente inserido em um contexto maior, que é o da
criminalística. Em um local de crime, existem muitas e importantes informações a respeito da
apuração do fato que se busca descobrir. Essas informações apresentam variados graus de
disponibilidade e a maneira como elas serão gerenciadas será de crucial importância para que
toda a dinâmica do crime seja revelada. Sabe-se, de pronto, que a autoridade policial que
primeiro comparece a um local de crime desempenha um papel determinante na solução do
delito. Nesse trabalho monográfico, abordam-se os procedimentos necessários a serem
adotados pelas autoridades responsáveis pelo processo de investigação de um crime, desde os
aspectos relacionados ao isolamento e preservação do local para efeito de produção de provas,
até a atuação dos peritos, demonstrando de forma concreta como o isolamento e preservação
do ambiente fazem diferença na hora de se realizar uma investigação policial, especialmente
no que diz respeito ao levantamento de impressões digitais. Após essa explanação, conclui-se
apresentando um caso concreto, de grande repercussão nacional, que foi o furto ao Banco
Central em Fortaleza no ano de 2005, quando ficou demonstrado que o isolamento e a
preservação da cena do crime fez o diferencial na identificação e prisão dos criminosos
envolvidos naquele evento.

Palavras-chave: isolamento e preservação; local de crime; criminalística; perícia


papiloscópica.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................7

1 A CRIMINALÍSTICA..................................................................................................10
1.1 A perícia criminal...................................................................................................15
1.2 Aspectos legais.......................................................................................................16
1.3 Do isolamento e da preservação do local de crime.................................................17

2 A PAPILOSCOPIA......................................................................................................20
2.1 A divisão da papiloscopia e seus princípios fundamentais.....................................22
2.2 Elementos técnicos da papiloscopia.......................................................................23
2.3 O processo de identificação criminal......................................................................26
2.3.1 A identificação criminal e o local de crime...................................................30
2.4 A perícia papiloscópica...........................................................................................30

3 O LOCAL DE CRIME.................................................................................................33
3.1 A atividade pericial.................................................................................................35
3.2 Importância do isolamento e preservação do local do furto ao Banco Central do
Brasil na cidade de Fortaleza-Ceará........................................................................38
3.2.1 Modus operandi do bando..............................................................................41
3.2.2 Modus operandi dos policiais federais...........................................................42

CONCLUSÃO.................................................................................................................52

REFERÊNCIAS..............................................................................................................54

APÊNDICE....................................................................................................................58.

(Não colocar apêndice no sumário)


INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da humanidade, o homem tem se deparado com um conflito entre


os que violam as leis estabelecidas para a manutenção da paz social e aqueles que os
combatem. Nessa luta diária, o poder de polícia tem sido um dos instrumentos utilizados para
fazer frente ao mal social da violação da norma. A organização do sistema judiciário e policial
tem permitido um controle relativamente eficiente, mas não o suficiente para impedir que o
crime continue a ser praticado rotineiramente, gerando prejuízos incalculáveis, seja contra o
patrimônio ou contra a vida.

Dentre as várias medidas adotadas no sentido de coibir a prática de delitos, destaque-se


que o investimento na polícia científica tem se revelado como um dos mais eficientes. Nas
últimas décadas, o desenvolvimento tecnológico possibilitou a criação de vários instrumentos
que permitiram um avanço significativo no trabalho desenvolvido por profissionais
especialistas das mais diversas áreas, dentre estes, os peritos criminais e papiloscópicos.

De acordo com o Código de Processo Penal brasileiro 1, cabe a esses profissionais a


responsabilidade pela análise do local de crime, com o objetivo de revelar evidências que irão
colaborar no estabelecimento da autoria dos delitos e o modo de atuação dos criminosos,
possibilitando a produção de provas irrefutáveis, já que estas têm por base fundamentos
científicos.

Entretanto, essa relação do perito com a cena do crime somente se revela exitosa
quando há uma preocupação com o isolamento e preservação do local, pois uma vez que este
é maculado, a produção da prova fica comprometida. A idoneidade desaparece no momento
em que há manipulação da área a ser analisada. Consigne-se que, em razão desse fato, o
trabalho desempenhado pela autoridade policial ao chegar ao local de crime ganha contorno
de essencialidade, pois a este compete isolar e preservar o ambiente até a chegada dos peritos
oficiais.

1
Arts. 6º e 158 e seguintes do CPP.
10

Dessa forma, no decorrer deste trabalho monográfico, responder-se-á a questionamentos


relevantes, tais como: qual o papel da autoridade policial ao chegar ao local de crime? Quais
os objetivos a serem alcançados pelos peritos na realização de uma perícia em um local de
crime? Quais são as consequências que envolvem um trabalho pericial? Qual a importância do
isolamento e da preservação do local de crime? De que forma poderá ser aperfeiçoada a
qualidade do trabalho policial em sua relação com a atividade pericial?

A justificativa para a apresentação deste trabalho decorre da necessidade de se ressaltar


o quanto são importantes para a condução de um processo de investigação as medidas
preventivas a serem tomadas pelos profissionais de segurança, quando no desempenho de suas
atividades, ao se depararem com um local onde ocorreu um crime, levando-os a
compreenderem que o isolamento e a preservação daquele local serão fundamentais para que
os peritos possam produzir as provas necessárias para embasar o inquérito policial e,
posteriormente, fundamentar a decisão judicial.

Em razão disso, teve-se como objetivo geral analisar a relevância do isolamento e da


preservação do local de crime para a produção da prova criminal. Os objetivos específicos foram:
compreender a importância do trabalho pericial; ressaltar a importância da postura a ser adotada
pela autoridade policial ao chegar à cena do crime; conhecer os procedimentos a serem adotados
pelos peritos na condução da perícia; verificar se há necessidade de se aperfeiçoar a formação do
policial nos aspectos relacionados ao isolamento e preservação do local de crime.

No que diz respeito aos aspectos metodológicos, as hipóteses foram investigadas através
de pesquisa bibliográfica. Em relação à tipologia da pesquisa, esta é, segundo a utilização dos
resultados, pura, visto ser realizada com o intuito de aumentar o conhecimento, buscando,
entretanto, uma transformação da realidade nos procedimentos atualmente utilizados nas
investigações policiais. Segundo a abordagem, é qualitativa, com a observação intensiva de
fenômenos sociais ocorridos, envolvendo a área em estudo.

Em relação aos objetivos, a pesquisa é exploratória, definindo objetivos e buscando


maiores informações sobre o tema em questão, e descritiva, descrevendo fatos, natureza,
características, causas e relações com outros fatos.

No primeiro capítulo, apresentam-se o conceito de criminalística, e sua evolução.


Demonstra-se ainda a importância da matéria como ciência e se discute a sua importância
11

dentro do contexto que envolve a prática de atos delituosos, em especial aqueles que
demandam a atuação do perito na cena do crime.

No segundo capítulo, discute-se a importância da papiloscopia como ciência


complementar da criminalística. Discorre-se sobre a importância do processo de identificação
e da produção da prova a partir da realização da perícia papiloscópica.

No terceiro capítulo, abordam-se a importância do local de crime, seu isolamento e


preservação, dentro do contexto de uma investigação policial e faz-se referência expressa ao
caso do furto ao Banco Central em Fortaleza, Ceará, no ano de 2005.
1 A CRIMINALÍSTICA

Criminalística é a ciência que estuda os fatos relacionados ao crime, sejam estes


executados contra a pessoa ou contra o patrimônio. Trata-se de uma ciência auxiliar que
estuda a materialidade do crime, estando inserida em um contexto mais amplo, que é o da
criminologia, ciência interdisciplinar que estuda o crime em sua essência, o criminoso e suas
características, além dos aspectos relacionados à criminalidade.

A definição de criminalística apresentada no 1º Congresso Nacional de Polícia Técnica,


realizado em São Paulo no ano de 1947, compilada na obra de Victor Paulo Stumvoll, Victor
Quintela e Luiz Eduardo Dorea (1999, p. 12), conceituava a matéria não como uma ciência,
mas apenas como uma disciplina: “Criminalística é a disciplina que tem por objetivo o
reconhecimento e interpretação dos indícios materiais extrínsecos relativos ao crime ou à
identidade do criminoso”. Outrossim, a definição apresentada por Luiz Eduardo Dorea (1995,
p. 178) expressa de forma mais abrangente a importância da atividade, ainda que não deixe
claro o aspecto científico da mesma:

Disciplina ou Sistema de conhecimentos que visa a ensinar como descobrir,


recolher, examinar e interpretar indícios existentes em locais de crimes, para
transformá-los em prova material, a fim de conseguir dar a certeza do ocorrido, de
como ocorreu, quando ocorreu e, se possível, de quem praticou o ocorrido.

Analisando os aspectos relacionados a uma definição que possa expressar de forma


abrangente a criminalística, opta-se aqui por apresentar o conceito transcrito na obra de
Deocleciano Torrieri Guimarães (2001, p. 223) como sendo o que melhor expressa o caráter
científico da matéria, que é a seguinte:

Ramo da ciência penal que estuda, investiga, descobre, comprova a existência de


criminosos, usando em seus trabalhos subsídios da Antropologia, Psicologia,
Medicina Legal, Psiquiatria, Datiloscopia, detector de mentira, etc. É utilizada pela
Polícia Técnica. Entre as suas atribuições estão o levantamento do local do crime,
colheita de provas e perícias. É também denominada jurisprudência criminal ou
Policia Cientifica. (Grifo original).

Nesse sentido, interessa ainda destacar a importância da criminalística como ciência ao


analisar os comentários de Victor Paulo Stumvoll, Victor Quintela e Luiz Eduardo Dorea
13

(1999, p. 15). Os autores ressaltam ser esta atividade um elemento fundamental, capaz de
produzir fatos jurídicos essenciais ao bom andamento da Justiça:

Sempre que, pelas infrações penais, segundo expressa determinação do Código de


Processo Penal, restarem vestígios materiais, o concurso da criminalística se fará
necessariamente presente para, através dos exames dos locais de crime, da pesquisa,
da análise, da interpretação e correlação dos vestígios possibilitar, como
testemunhas mudas, a reconstituição de todos os atos que ali se desenrolaram, com a
participação detalhada da ação de quaisquer personagens, quer sejam as vítimas,
quer sejam os autores, ou mesmo, as testemunhas, para que, à luz da Justiça, possam
ser aquilatados, em seus devidos parâmetros, seus verdadeiros valores de defesa e
acusação; ainda, pelos exames destes locais, há a possibilidade e necessidade de não
se chegar apenas à identificação do(s) criminoso(s), como também, e
principalmente, à prova irrefutável de sua culpabilidade, vinculando-o, definitiva e
insofismavelmente, ao fato investigado, a fim de que, mais tarde, em outros estágios
do processo, até mesmo uma confissão de autoria de delito não possa ser
modificada, ou até negada. (STUMVOLL; QUINTELA; DOREA, 1999, p. 15).

Analisada de forma conceitual, faz-se necessário compreender a criminalística a partir


do contexto histórico, sua origem e evolução. Inicialmente, há que se verificar que o
surgimento desta ciência está diretamente relacionado com fatos que envolvem o evento
crime, em sua essência. Os registros históricos mostram experiências que contextualizam
esses fatos, permitindo ao homem compreender o fenômeno da violência e sua evolução.

Dentre as muitas fontes existentes, podem-se citar os eventos registrados na Bíblia


sagrada - que retratam a epopeia do povo judeu na conquista da terra prometida - bem como a
história do povo grego e a conquista do mundo antigo perpetrada pelos romanos. Todos estes
registros estão inseridos em um contexto de muita violência, entretanto justificados por uma
cruzada religiosa, cultural ou mesmo expansiva, em termos territoriais.

Ressalte-se que o fato de estar o fenômeno da violência inserido nessas ações não
implicava necessariamente a existência de um crime, no sentido literal da palavra como hoje
se compreende. Na maioria dos casos, as guerras realizadas entre os povos buscavam tão
somente estabelecer uma melhor condição social àquele que prevalecesse na disputa,
cessando o processo de agressão tão logo houvesse um vencedor.

Normalmente, os povos derrotados se tornavam escravos dos vencedores, tendo que se


submeter às suas tradições e leis. Findada a guerra, iniciava-se um novo ciclo de existência,
tanto para vencidos quanto para vencedores. Destaque-se, no entanto, que esse
comportamento não se aplicava de forma linear, pois em muitas ocasiões, depois de realizada
a conquista, iniciava-se um massacre dos sobreviventes, caracterizado por uma grande
agressão ao direito individual, em especial à vida.
14

Nesse contexto de vencido e vencedor, as coisas tendiam a enveredar para o cunho


pessoal, particular. Uma vez cessado o conflito, os interesses postos passavam a ser os
individuais, e não mais os da Nação. Em razão disso, mudava-se o foco das preocupações, em
que a preocupação primordial passava a ser a manutenção de uma situação de status quo, de
superioridade em relação ao seu semelhante, fosse ele um escravo ou um compatriota com
quem disputasse uma porção de terra. Essas relações eram pautadas por um sentimento
denominado de “instinto fundamental”:

É um instinto de luta pela vida, uma força que proporciona a expansão do ser, a
conquista do espaço, que tende a romper obstáculos que limitam o espaço do
indivíduo e lhe criam empecilhos à vida. Não se trata, pois, de uma força cujo
objetivo original é atacar e destruir, mas sim conquistar e garantir a vida. Ocorre que
os tais obstáculos são com frequência as outras pessoas. Daí que a violência não
supõe uma relação de amor nem de ódio, mas unicamente de rivalidade. O objeto da
violência fundamental, a pessoa contra a qual ela se dirige é identificada
simplesmente como um outro, ao qual o indivíduo busca sobrepor-se, dentro do
trágico dilema ou ‘ele ou eu’ (BERGERET apud SÁ, 2008, s.p.).

Esses conflitos de interesses geravam situações que desencadeavam violência, causando


a violação do direito e, como consequência final, o crime. Uma vez concretizado o ato
criminoso, fazia-se necessária a intervenção do poder estatal, representado na forma de um
soberano, uma divindade ou mesmo da própria sociedade. Estabelecida a autoria, a punição
vinha, na maioria das vezes, de forma violenta, refletindo diretamente na pessoa, na família e
até mesmo na tribo ou nação. É nesse contexto que surge a Lei do Talião, que tem como regra
geral limitar a reação à ofensa a um mal idêntico ao praticado. O Talião foi adotado no
Código de Hamurábi e na Lei das XII tábuas.

Com a evolução do Direito como instrumento regulamentador das relações pessoais,


surgem as leis que visavam a punir os delitos e, juntamente com estas, os métodos de
investigação como instrumento para elucidação destes. A investigação criminal iniciava aí o
seu longo processo de aprimoramento. Ainda que de forma rudimentar, o homem começou a
compreender que para se estabelecer a autoria de um crime era necessário que os fatos que
envolviam aquele crime fossem “investigados” de forma minuciosa (BLUME, 2008).

No período clássico, existem registros de procedimentos de investigação realizados na


Roma antiga, no governo do imperador Júlio César. Gilberto Porto (1969 apud DOREA,
1995, p. 179-180) relata a seguinte experiência:

[...] embora se haja dito que o exame da prova material vem da última metade do
século XIX, e aí tenha surgido o esplêndido trabalho de Hans Gross, seguido de
15

outros do mesmo teor científico, já na velha Roma, César aplicava o método de


exame de local, segundo nos conta Tácito. É que Plantius Silvanus, tendo jogado de
uma janela sua mulher Aprônia, foi levado à presença de César que foi examinar o
seu quarto de dormir e nele encontrou sinais certos de violência. (Grifo original).

Nessa mesma linha de compreensão, o autor demonstra o entendimento de que o ato do


Imperador talvez tenha sido o marco inicial dos procedimentos de levantamento de local de
crime: “[...] se o exame de local é parte integrante da Criminalística, foi o ato de César, talvez,
o primeiro passo para a aplicação do método de exame direto de um local de crime, para
verificação do fato ali ocorrido” (PORTO, 1969 apud DOREA, 1995, p. 180).

Hodiernamente, o estudo da criminalística tem origem na Áustria onde, no ano de 1870,


o Juiz Hans Gross a intitulou com essa denominação. Hans Gross era um estudioso dos fatos
que envolviam os aspectos relacionados ao crime, tendo desenvolvido trabalhos acerca do
assunto e reunido suas anotações em obras intituladas de “Manual Prático de Instrução
Judiciária”, “Arquivo de Antropologia Criminal e de Criminalística” e “Manual do Juiz de
Instrução” (BLUME, 2008, s.p.).

A escola francesa também desponta como um dos importantes expoentes no


desenvolvimento da criminalística. Destaca-se entre os estudiosos do assunto o francês
Edmond Locard, que se tornou um referencial em sua época pela profundidade com que
investigava os temas relacionados ao crime, bem como os métodos utilizados na solução
destes. Em janeiro de 1910 criou na cidade de Lyon, França, o Laboratório de Polícia Técnica.
Entre os anos de 1930 e 1940, publicou uma volumosa obra dedicada ao assunto, denominada
de “Tratado de Criminalística”. O trabalho desenvolvido por este pesquisador o levou a
receber o título de “pai da moderna criminologia” (BLUME, 2008, s.p.).

Através desse processo evolutivo, a criminalística pouco a pouco foi ganhando espaço
dentro da dinâmica da investigação de crimes. Esse processo é observado, inclusive, na
literatura, na qual obras mundialmente conhecidas, como as aventuras dos detetives Sherlock
Holmes, criado pelo escocês Arthur Conan Doyle, e Hercule Poirot, de Agatha Christie,
enfatizavam a busca na solução de crimes perpetrados por misteriosos assassinos. Nessas
obras, a resolução dos crimes passava sempre por um processo de investigação que tinha por
fundamento a aplicação de técnicas utilizadas na realização de perícias criminais, tais como o
isolamento e a preservação do local de crime.
16

Outro dado marcante foi a criação das grandes agências oficiais de investigações a partir do
início do século 20, como o FBI, em 1908, Interpol, em 1923, e Scotland Yard, em 1929, o que
estabeleceu de uma vez por todas a sedimentação desse processo evolutivo, pois pela primeira vez
órgãos oficiais passavam a investigar crimes seguindo métodos cientificamente comprovados.

A criminalística ainda se encontra em plena fase de expansão. As técnicas hoje


utilizadas para se realizar as atividades desenvolvidas pelos peritos alcançam a cada dia um
grau mais elevado de precisão, permitindo ao profissional em comento efetuar suas tarefas de
forma muito mais eficaz. Ressalte-se ainda o avanço tecnológico vivenciado no século XX,
condição relevante e fundamental para que essa expansão alcançasse os índices desejados por
aqueles que pesquisam novas técnicas a serem aplicadas na solução dos casos criminais.

O crescimento da informática e das telecomunicações permitiu que pesquisas


importantes não ficassem restritas a uma pessoa ou grupo específico, mas que estes trabalhos
pudessem ser desenvolvidos de maneira que outros profissionais tivessem acesso às
informações das técnicas ali aplicadas, possibilitando, dessa forma, uma importante troca de
experiências. A essa aplicação prática, alie-se ainda a soma dos conhecimentos advindos de
outras áreas da ciência, fator este que possibilita uma soma de grande valor intelectual,
essencial tanto na pesquisa como na realização da atividade pericial. Alberi Espíndula (2008,
s.p.), ao analisar a evolução da criminalística e sua relação com outros ramos da ciência,
expressa de forma muito clara essa compreensão ao tecer o seguinte comentário:

Apesar de a criminalística ser, ainda, uma ciência relativamente nova, vem


caminhando a passos largos na busca de sua solidificação científica [...] No entanto,
pela própria demanda no meio da investigação policial e do processo criminal, ela
solidificou sua atuação, por intermédio de técnicas consistentes, agregadas aos
conhecimentos de outras áreas da ciência.

Como já enfatizado, no contexto internacional essa soma de conhecimentos científicos


já é uma realidade relativamente amadurecida. Agências policiais estruturadas, como o FBI,
Interpol, Scotland Yard etc., mantêm em seus quadros um corpo de profissionais com
profundos conhecimentos de técnicas de investigação forense, além de laboratórios equipados
com o que há de mais moderno para a realização dos trabalhos a serem desenvolvidos por
seus especialistas. Todo esse avanço reflete-se de maneira muito positiva no meio social, pois
as atividades desenvolvidas pelos peritos colaboram de forma significativa para que outros
ramos da ciência jurídica possam realizar de forma eficaz suas atividades, em especial os
operadores do direito.
17

Uma vez compreendida a importância da criminalística dentro do contexto científico e


histórico, faz-se necessário analisar, de forma particular, os procedimentos técnico-científicos
adotados pelos peritos no desempenho das atividades relacionadas à perícia criminal, os
aspectos legais que envolvem tais práticas, bem como a questão inerente ao isolamento e
preservação do local de crime.

1.1 A perícia criminal

Considerando que as ações humanas evoluem a cada instante da existência da espécie,


principalmente aquelas relacionadas às questões que envolvem o crime, a realização da
atividade de perícia criminal obedece a critérios que levam em consideração esse aspecto
sociológico. O fato de o ser humano estar em constante evolução, não sendo o ato criminoso
uma exceção a essa regra, implica a necessidade de se desenvolver novas técnicas na
execução dos procedimentos que envolvem a atividade pericial. Por essa razão, o perfil do
profissional que atua na área da perícia criminal deve ser moldado a partir de uma gama
considerável de saberes, desde o conhecimento da física e da química à matemática e ao
direito, dentre outros.

Várias são as áreas de atuação do perito criminal. Dependendo da natureza do crime


investigado, cabe a este profissional estabelecer uma linha de investigação que demandará um
conhecimento específico ou a aplicação de um método de atuação que permitirá um resultado
favorável. Isso porque a ação penal, em regra, tem como ponto de partida um trabalho
preliminar de investigação através do qual se possa apurar, quanto ao fato e suas
circunstâncias, bem como relativamente à autoria da infração, elementos de convicção
suficientes para provocar e justificar a instauração do competente processo-crime contra o
infrator ou infratores em questão. Esses procedimentos de investigação são denominados, na
legislação brasileira, de perícia criminal.

De acordo com o Deocleciano Torrieri Guimarães (2001, p. 423), perícia significa uma
“Averiguação feita por perito com conhecimentos especializados sobre a coisa objeto da
perícia”. Esta definição, entretanto, faz uma abordagem da atividade pericial a partir de um
contexto lato sensu, pois não difere a perícia criminal de uma perícia realizada por um
antropólogo, por exemplo.

Do ponto de vista de Victor Paulo Stumvoll, Victor Quintela e Luiz Eduardo Dorea
(1999, p. 12), a perícia criminal pode ser conceituada como uma série de procedimentos que
18

têm por objetivo determinar a origem comum dos indícios analisados com base em princípios
lógicos e técnico-científicos. Esses princípios obedecem a uma dinâmica que tem como meta
primordial a busca da verdade pela análise de todas as minúcias que envolvem a ação
criminal:

[...] análise dos vestígios materiais, as interligações entre os mesmos, bem como dos
fatos geradores, a origem, e a interpretação dos vestígios, os meios e modos como
foram perpetrados os delitos, não se restringindo, tão-somente, à fria estática
narrativa, sem vida, de forma como se apresentam os vestígios, isto é, ao simples
visum et repertum. (Grifo dos autores).

Depreende-se, portanto, que em obediência a esses princípios o perito deverá


desenvolver uma contínua revisão de suas práticas, objetivando realizar o trabalho de maneira
a obter uma resposta satisfatória para os questionamentos a ele apresentados ou por ele
elaborados.

Consigne-se ainda que a dinâmica de um crime não obedece a um padrão rígido; em


razão disso os estudiosos do assunto dividiram o trabalho pericial em diversas linhas de
investigação. As principais espécies de perícias desenvolvidas hoje dentro da criminalística
brasileira são as seguintes: Papiloscópicas, Documentoscópicas, Balística Forense, DNA,
Informática, Veículos, Áudio-visual, Econômico-financeira, Merceológica, Análise Química,
Meio Ambiente, Engenharia, etc. (TOCHETTO, 2005).

1.2 Aspectos legais

Um tópico importante dentro do estudo da criminalística está relacionado com o


cumprimento e aplicação da lei na realização dos procedimentos periciais. A legislação
brasileira preocupou-se em regulamentar as atividades inerentes aos trabalhos periciais,
delegando competências aos peritos nos casos que envolvem o local de crime e à preservação
de vestígios. Evidentemente que essa preocupação não se restringe apenas às questões
relacionadas ao local de crime, pois a legislação também contempla outros fatores não menos
importantes dentro da dinâmica de uma investigação policial.

A atividade pericial, nos aspectos relacionados à atribuição do perito e ao local de


crime, está regulamentada no Título VII do Capítulo II do Código de Processo Penal, a partir
do artigo 158. Com o título de “DO EXAME DE CORPO DE DELITO, E DAS PERÍCIAIS
EM GERAL”, o Código estabelece a forma como devem proceder todas as autoridades
envolvidas na investigação de um crime. O artigo 158 do Código determina, de forma
19

taxativa, a obrigatoriedade de se realizar uma averiguação do local do evento criminoso, ao


usar a expressão “indispensável” quando se tratar de exame do corpo de delito2.

Ressalte-se que, ao estabelecer essa obrigatoriedade, o Códex a condiciona à existência


de vestígios. Ocorre que, para que a autoridade policial verifique se há ou não vestígios
presentes na cena do delito, faz-se necessário examinar o local – atribuição esta do perito - o
que se leva a presumir que o local deve sempre ser preservado. Em tempo, de acordo com
Deocleciano Torrieri Guimarães (2001, p. 214), corpo de delito consiste em: “elementos
materiais que resultam da prática de um delito, recolhidos como provas ou indícios”.

Dentro dessa dinâmica, o artigo 159 do Código de Processo aduz que o exame do corpo
de delito seja realizado “por perito oficial”, portador de diploma de curso superior. Uma vez
realizado o trabalho pericial, cabe ao perito a obrigação de emitir em até 10 dias o competente
laudo pericial onde, de acordo com o artigo 160 do referido Código, deverá descrever de
forma minuciosa o que foi examinado, respondendo a todos os quesitos que porventura
tenham sido formulados.

Urge ainda ressaltar que, dentre as providências relacionadas pelo Códex, uma das mais
importantes diz respeito à obrigatoriedade da autoridade policial providenciar a preservação
do local a ser periciado até a chegada dos peritos. Estabelece o artigo 169:

Art. 169 - Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a
autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas
até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias,
desenhos ou esquemas elucidativos. (BRASIL, ano).

Previsão semelhante verifica-se no artigo 6º, incisos I do referido Código:

Art. 6º - Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade


policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e
conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; [...]. (BRASIL, ano).

Não terminar subcapítulo com citação direta

1.3 Do isolamento e da preservação do local de crime

2
“Art. 158 - Quando a infração deixar vestígios será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”. (BRASIL, ano).
20

A preservação do local de crime para exame dos peritos tem um sentido todo especial
em uma investigação policial, pois permitirá que os vestígios a serem revelados sejam
analisados sem que tenham sofrido nenhuma contaminação. Para que isso ocorra, no entanto,
é fundamental que estejam, tanto quanto possível, na exata condição em que foram
encontrados.

De acordo com Eraldo Rabello (1996, p. 46-47), as providências a serem tomadas pela
autoridade policial para a correta preservação da área a ser examinada são as seguintes: “a)
Interdição rigorosa do local; b) Custódia; c) Proteção dos vestígios”.

A primeira medida obedece a uma razão de ordem técnica, pois os “vestígios materiais
valem não só pelo que são, porém, e especialmente, pelo lugar e pelas posições em que se
encontram, bem como por suas possíveis relações com outros vestígios de importância, os
quais podem não ser perceptíveis de imediato”. (RABELLO, 1996, p. 46). Em razão desse
fato, o local deve ser literalmente lacrado, sendo determinado com marcadores específicos
quais os limites que não podem ser ultrapassados.

No que concerne à custódia, esta está diretamente relacionada com a eficiente proteção
do local, pois uma vez que foi devidamente resguardado, isso possibilitará aos peritos a
realização do trabalho de uma forma satisfatória, alcançando o objetivo pretendido, que é a
produção da prova material.

Considerando as medidas anteriormente adotadas, uma providência importante da


autoridade seria enfatizar aos responsáveis pela custódia um cuidado especial na proteção
dos vestígios até a chegada dos peritos. Essa preocupação é de grande relevância, pois
muitas vezes estes são danificados pela própria polícia, quando da realização de alguma
averiguação inicial no local. De acordo com Luiz Eduardo Dorea (1995, p.17), “[...]
inúmeros crimes estão hoje inscritos para sempre no rol dos insolúveis pelo simples fato de
que os primeiros policiais ao chegarem ao local lançaram-se numa busca desordenada e
frenética de pistas”.

Outros fatores, como agentes meteorológicos, por exemplo, podem causar um


comprometimento do local interditado, o que necessitará da intervenção da autoridade
policial, obrigando-a a ter que remover algum objeto de seu local de origem. É relevante
destacar que isso só deverá ocorrer em último caso, sendo devidamente notificado aos
peritos.
21

Alguns aspectos importantes, no entanto, devem ser levados em consideração quanto


aos efeitos práticos das medidas elencadas. A autoridade policial, para determinar a interdição
e custódia de um local, não poderá fazê-lo se os atos, frutos do delito, ainda estiverem se
produzindo, devendo intervir para fazê-los cessar imediatamente; ou, se houver vítima, prestar
imediata assistência, seja para livrá-la do agressor ou para prestar-lhe socorro.

Ainda enfatizando a questão da importância do isolamento e preservação do local, o


Código de Processo Penal estabelece no artigo 160 que o perito deverá descrever de forma
minuciosa as ações por ele realizadas, registrando tudo e ilustrando os laudos com fotografias,
desenhos ou esquemas, devendo, inclusive, preservar o material recolhido no local para a
realização de futuras perícias, caso seja necessário. Segundo Luiz Eduardo Dorea (1995, p. 14),
essas ações recebem a denominação de procedimento-padrão, que devem ser observados de
maneira obrigatória por todos os especialistas, em qualquer situação, pois isso permitirá o
indispensável ordenamento dos fatos e o exame mais completo possível do local.

Ante o exposto, percebe-se que a preservação e o isolamento do local do crime


repercutem diretamente no trabalho a ser desenvolvido pelos peritos, dentre eles o
papiloscópico, cujas atividades estão inseridas na ciência papiloscópica, que será melhor
analisada ao longo do próximo capítulo.
2 A PAPILOSCOPIA

A papiloscopia é a ciência que estuda a identificação humana através das papilas


dérmicas, a partir da coleta das impressões digitais, palmares ou plantares. Trata-se de um
sistema antropométrico de identificação com alto grau de confiabilidade, pois a impressão
papiloscópica tem a característica de ser individual e imutável, não se repetindo nem mesmo
entre os dedos ou palmas de um mesmo indivíduo.

Segundo José Clemil de Araújo (2001, p. 11), a palavra papiloscopia é resultante de um


hibridismo greco-latino (Papilla = Papila e Skopêin = examinar). O autor apresenta ainda
uma descrição das papilas dérmicas como sendo “pequenas saliências de natureza neuro-
vascular, situadas na parte externa (superficial) da derme, estando os seus ápices reproduzidos
pelos relevos observáveis na epiderme”.

A papiloscopia surgiu como ciência criminal a partir dos estudos desenvolvidos por
Marcelo Malpighi, anatomista italiano, nascido na cidade de Bolonha, Itália. Tornou-se um
estudioso do assunto ao observar as linhas papilares de suas próprias mãos, verificando que
estas se apresentavam ora espirais, ora circulares, formando desenhos diferentes entre si.
Copilou seus estudos em uma obra denominada “Epístola sobre o Órgão do Tacto”, publicada
no ano de 1665, na cidade de Nápoles, Itália. Nesses registros, ao descrever os aspectos
relacionados aos desenhos digitais presente nos dedos de sua mão, ele salienta:

Analisando a extremidade do dedo, observo inúmeras linhas dispostas em círculo ou


em espiral. Por fim, examino as mãos, em cujas palmas há linhas que descrevem
variadas figuras, e que, nas falanges terminais dos dedos, se acham dispostas em
espiral, e, observadas em microscópio, apresentam os orifícios sudoríparos
(CODEÇO; AMARAL, 1992, p 22).

Os estudos de Marcelo Malpighi serviram como marco para que outros pesquisadores
pudessem se aprofundar acerca do tema, possibilitando uma evolução que tornaria a
papiloscopia um referencial de identificação até aos dias atuais. (CODEÇO; AMARAL, 1992).
23

João Evangelista Purkinje, professor de filosofia e patologia da Universidade de Breslau,


na cidade de Praga, fez importantes estudos sobre o valor das impressões digitais como meio de
identificação de seres humanos. Destaque-se que ele foi o criador de uma classificação dos
desenhos digitais. Em seus estudos, ordenou os desenhos em grupos com caracteres diferentes,
formados pelas linhas papilares, denominando-os de Arco, Presilha Interna, Presilha Externa e
Verticilo. As pesquisas desenvolvidas por João evangelista Purkinje foram imprescindíveis para
que outros estudiosos pudessem estabelecer as bases hoje utilizadas nos processos de
identificação através da papiloscopia (CODEÇO; AMARAL, 1992).

Outro importante expoente foi Juan Vucetich. Natural da Iugoslávia, mudou-se para a
Argentina no ano de 1884, onde se tornou o encarregado do Gabinete de Identificação Criminal
da cidade de Buenos Aires. Desenvolveu métodos de classificação e arquivamento dos desenhos
digitais, possibilitando a realização de confrontos com fragmentos revelados em locais de crimes.
Brilhante criminalista, Vucetich desenvolveu o sistema datiloscópico de identificação, que veio a
substituir o método antropométrico, criado pelo francês Alphonse Bertillion (ARAÚJO, 2004).

O sistema antropométrico de Alphonse Bertillion foi muito utilizado pela polícia na


identificação de criminosos durante quase todo o século XIX. O assinalamento dos pontos
característicos consistia na retirada das medidas de partes do corpo humano e de outras
particularidades fisionômicas:

[...] o assinalamento antropométrico consistia na medida das seguintes partes:


Diâmetro antero-posterior da cabeça; Diâmetro transversal da cabeça; Diâmetro bi-
zigomático; Comprimento do pé esquerdo; Comprimento do dedo médio esquerdo;
Comprimento do dedo mínimo esquerdo; Comprimento do antebraço; Estatura;
Envergadura (comprimento dos braços abertos) e Busto (ARAÚJO; PASQUALI;
2006, p. 11-12).

No entanto, esse sistema apresentava falhas, causado muitas vezes injustiças ao


determinar que uma pessoa houvesse cometido um crime e, posteriormente, ser provado que
aquele indivíduo era inocente. Em razão desses fatos, em janeiro de 1896, o governo
argentino tornou o sistema datiloscópico de Vucetich o sistema oficial adotado para
identificação dos cidadãos argentinos (ARAÚJO, 2004).

No Brasil, o advento da papiloscopia se deu com José Félix Alves Pacheco, piauiense
que se estabeleceu na cidade do Rio de Janeiro. Em 1903, incentivado por ele, o Presidente da
República Rodrigues Alves tornou oficial o sistema de identificação criando por Vucetich.
Félix Pacheco foi um apaixonado pelo tema “investigação”, em especial os aspectos
24

relacionados à individualização e identificação de pessoas através das impressões digitais


(CODEÇO; AMARAL, 1992).

2.1 A divisão da papiloscopia e seus princípios fundamentais

Com o avanço das pesquisas acerca das linhas papilares, os estudiosos perceberam que
as mesmas ocorriam nos dedos e palmas das mãos, e também nos dedos e plantas dos pés; e
mais, apresentavam uma rica diferença de caracteres, possibilitando várias subdivisões
quando utilizadas para efeito de arquivo. Dessa forma, as propriedades presentes nas
impressões papilares conferem as mesmas características que as fazem inquestionáveis
quando utilizadas como meio de identificação. De acordo com Marcos Elias Cláudio e Luiz
Pasquali (2006, p. 210), diante dessa constatação e em razão da necessidade de se adotar
regras para catalogação dessas informações, verificou-se a necessidade de se dividir a matéria
em três linhas de análise, a saber:

a) Datiloscopia: processo de identificação através das impressões digitais;


b) Quiroscopia: processo de identificação por meio das impressões palmares, ou seja,
das palmas das mãos;
c) Podoscopia: processo de identificação através das impressões plantares, isto é, das
plantas dos pés.
Os autores apresentam ainda os seguintes princípios fundamentais que estruturam a
ciência papiloscópica (CLÁUDIO; PASQUALI, 2006, p. 21-22):
a) Perenidade: é a propriedade que têm os desenhos papilares de se manifestarem
definidos desde a vida intra-uterina até a completa putrefação cadavérica;
b) Imutabilidade: propriedade que têm os desenhos papilares de não mudarem a forma
original, desde o seu surgimento até a completa decomposição cadavérica. Desde o
sexto mês de vida intra-uterina, começam a se formar, no feto, os desenhos digitais que
acompanharão o indivíduo por toda a sua existência;
c) Variabilidade: é a propriedade que têm os desenhos papilares de não se repetirem,
variando, portanto, de região para região papilar e de pessoa para pessoa. Não há
possibilidade de se encontrarem dois desenhos papilares idênticos;
d) Universalidade: todo ser humano, em regra, possui impressões papilares.
25

José Clemil de Araújo (2004, p. 23), discorrendo sobre o tema, considera os princípios
acima apresentados como sendo: “[...] postulados fundamentais da Papiloscopia aceitos
universalmente, pois são verdadeiros princípios científicos”.

2.2 Elementos técnicos da papiloscopia

Considerando os aspectos apresentados como base para a elaboração dos princípios


fundamentais da papiloscopia, faz-se necessário compreender a formação fisiológica das
impressões papilares. Os desenhos papilares encontrados nas pontas dos dedos das mãos e dos
pés, bem como na palma da mão e na planta dos pés, são formados pelas cristas papilares das
falangetas. Marcos Elias Cláudio de Araújo e Luiz Pasquali (2006, p. 21) apresentam a
seguinte definição para papilas:

[...] pequenas bolsas de formação neurovascular, que podem conter vasos


sanguíneos ou corpúsculos do tato, que se projetam a partir da parte mais profunda
da pele, a derme, formando relevos irregulares na camada mais superficial, a
epiderme, servindo ainda para aumentar a aderência entre estas duas camadas.
Quando esses relevos têm a forma de uma montanha são chamados de cristas
papilares [...] e, quando os relevos se assemelham a um vale são chamados de sulcos
interpapilares.

O desenho papilar, uma vez reproduzido, recebe a denominação de papilograma. No caso


de uma reprodução específica da impressão digital, a denominação que recebe é datilograma.
De acordo com José Clemil de Araújo (2004, p. 32), o vocabulário datilograma consiste em
híbrido greco-latino: dactilos= já definido e grama, cujo significado é símbolo inscrito ou
impresso. As linhas produzidas no desenho digital contêm características que o tornam único;
essas características são denominadas de minúcias ou pontos característicos.

Destaque-se que a divisão do desenho digital nesses quatro tipos fundamentais foi
estabelecida a partir dos estudos desenvolvidos por Francis Galton. Nascido na cidade de
Birmingham, Inglaterra, era formado em medicina e antropologia e foi um dos principais
colaboradores para o estabelecimento da papiloscopia como ciência aplicada à identificação
humana. Em 1891, ao desenvolver estudos para a classificação das impressões digitais, ele
sentiu necessidade de dividir os desenhos de forma a facilitar as suas anotações (ARAÚJO;
PASQUALI, 2006).

2.3 O processo de identificação criminal


26

O processo de identificação estudado pela papiloscopia ocorre tanto no campo cível


quanto no campo criminal. De um modo geral, a identificação de um indivíduo é feita para
fins civis, visando individualizar o cidadão dentro do contexto social em que vive,
delimitando, desse modo, tanto seus direitos quanto suas obrigações.

A identificação criminal, no entanto, tem como característica fundamental sua aplicação


no campo judicial, envolvendo aspectos relacionados a inquéritos policiais ou processuais
criminais, e tem como objetivo fundamental comprovar culpabilidade ou inocência daqueles
que estão sendo indiciados ou processados, ou ainda a identificação de cadáveres de pessoas
de que se desconhece a origem.

Destaque-se que a identificação criminal obedece a uma série de procedimentos que


vai além da coleta de impressões digitais. A pessoa indiciada em um inquérito policial
deverá, respeitada a legislação vigente, ter suas digitais coletadas, ser fotografada de frente
e de perfil, além de ter seus traços fisionômicos e individualizadores lançados em
formulário próprio.

A legislação brasileira, a partir da Constituição Federal de 1988, passou a regulamentar


a identificação criminal tendo como diretriz basilar os princípios da proteção à pessoa. A
Constituição que vigorava antes da carta magna de 1988 permitia um entendimento jurídico
de que não consistia constrangimento à pessoa o fato de ela ser identificada criminalmente,
mesmo que já houvesse sido identificada civilmente. A súmula 5683 do Supremo Tribunal
Federal mostrava claramente esse ponto de interpretação. A posição adotada pela Corte
Superior permitia que a autoridade policial determinasse a coleta das impressões digitais dos
indiciados, bem com a realização de fotografias e demais procedimentos, sempre que
entendesse ser necessário.

Entretanto, com o advento da nova legislação em 1988, esses procedimentos passaram a


ser regulamentados por lei. Nesse sentido, estabelece o artigo 5º, inciso LVIII, da CF que: “o
civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses
previstas em lei”. (BRASIL, 1988). A determinação constitucional faz expressa referência à
identificação criminal, impossibilitando às autoridades policiais identificar as pessoas
indiciadas em inquéritos policiais se estas portarem documento de identidade civil.

3
A identificação criminal não constitui constrangimento ilegal, ainda que o indiciado já tenha sido identificado
civilmente.
27

O entendimento claro e predominante no meio jurídico naquela ocasião foi que, após a
promulgação da Constituição de 1988, a identificação criminal somente deveria ocorrer nas
hipóteses regulamentadas em lei. Sobre isso, escreve Emerson Wendt (2008, s.p.):

Assim, o entendimento majoritário era no sentido de que ‘a autoridade policial não


pode mais submeter pessoa civilmente identificada, e portadora da carteira de
identidade civil, ao processo de identificação criminal’, conforme relato de
FERNANDO CAPEZ. O mesmo mestre refere que havia ‘entendimento isolado,
em sentido contrário, na jurisprudência, sustentando que o preceituado no
inciso LVIII do art. 5º da Lei Maior não é auto-executável, ficando, pois, na
dependência de lei regulamentadora’, portanto, para uma minoria, não haveria
constrangimento ilegal a submissão de uma pessoa ao processo de identificação
criminal quando presente a civil. (Grifo original).

A consequência imediata dessa nova realidade jurídica foi uma redução drástica nos
arquivos criminais mantidos pelos Institutos de Identificação, pois os advogados orientavam
seus clientes a se apresentarem à autoridade policial portando algum documento de
identidade, fossem os fornecidos pelas Secretarias de Segurança Pública dos Estados, ou
aqueles emitidos pelos conselhos federais. Ambos serviam para livrar o cidadão do processo
de identificação.

Ocorre que, no Brasil, qualquer pessoa pode se dirigir ao Instituto de Identificação de


qualquer Estado da Federação ou do Distrito Federal, portando uma cópia autenticada da
certidão de nascimento ou de casamento, e com ela retirar uma carteira de identidade civil,
passando a ser possuidor de 27 carteiras de identificação.

Diante desse quadro e preocupado com a repercussão negativa gerada pela facilidade que
tinham os criminosos de se ocultar atrás de documentos de identidade falsos ou mesmo
verdadeiros, mas de origem diversa, o Congresso Nacional passou a regulamentar a matéria
através de várias leis, levando em consideração a gravidade do crime cometido e suas
repercussões na sociedade. As principais leis que regulamentam a Identificação criminal após a
promulgação da Constituição Federal de 1988 são as seguintes: Lei nº 9.034/95 e Lei nº
10.054/00.

A lei nº 9.034/95, denominada de “Lei do Crime Organizado” (AGUDO, 2008),


estabelece em seu artigo 5º o seguinte preceito em relação à identificação de pessoas
envolvidas com organizações criminosas: “A identificação criminal de pessoas envolvidas
com a ação praticada por organizações criminosas será realizada independentemente da
identificação civil”. A previsão legal tinha por escopo assegurar à autoridade policial a
28

possibilidade de estabelecer procedimentos de investigação mais concretos em relação aos


indiciados, já que a identificação criminal permitiria a busca de informações em bancos de
dados dos Institutos de Identificação, possibilitando a coleta de informações acerca da
existência de possíveis inquéritos já respondidos por aquela pessoa, ou mesmo o uso de um
nome falso.

A lei nº 10.54/00 também manteve o mesmo diapasão, ou seja, estabelecia a


identificação criminal como um importante instrumento para combater o crime especializado.
Aprouve ao legislador manter essa prerrogativa ao definir no artigo 3º que para determinados
crimes executados com características especiais a autoridade policial teria a obrigação de
realizar o processo de identificação do investigado, como se verifica:

Art. 3º. O civilmente identificado por documento original não será submetido à
identificação criminal, exceto quando:
I – estiver indiciado ou acusado pela prática de homicídio doloso, crimes contra o
patrimônio praticados mediante violência ou grave ameaça, crime de receptação
qualificada, crimes contra a liberdade sexual ou crime de falsificação de documento
público; [...]. (BRASIL, 2000).

Ademais, a lei em questão veio também regulamentar o dispositivo constitucional do


artigo 5º, LVIII, que determina: “o civilmente identificado não será submetido à identificação
criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”. A referida lei, além da identificação criminal
prevista nos casos de crime organizado, estipula ainda no art. 1º:

Art. 1º. O preso em flagrante delito, o indiciado em inquérito policial, aquele que
pratica infração penal de menor gravidade (art. 61, caput e parágrafo único do art. 69
da Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995), assim como aqueles contra os quais tenha
sido expedido mandado de prisão judicial, desde que não identificados civilmente,
serão submetidos à identificação criminal, inclusive pelo processo datiloscópico e
fotográfico. (BRASIL, 2000).

A única ressalva feita é quanto ao fato de que os indiciados nos crimes ali previstos não
poderiam ser identificados criminalmente, caso já tivessem sido identificados civilmente,
mantendo, nesses casos, a proteção à privacidade da pessoa, pois se trata de uma situação
resguardada pela Carta Magna.

Por oportuno, urge ressaltar que os crimes previstos na lei nº 8.072/90 (Lei dos crimes
hediondos e assemelhados) não foram inseridos no rol daqueles em que o autor deve ser
identificado criminalmente. Entretanto, a própria Carta Magna estabeleceu novas diretrizes no
trato dos crimes considerados hediondos, tornado as penas mais rígidas e impossibilitando
benefícios como a graça e o indulto4.

Consigne-se que houve por parte do Congresso Nacional a preocupação de se


determinar a identificação criminal nos crimes considerados hediondos e assemelhados,
dentre estes o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins. A Comissão de Constituição e
Justiça e de Redação da Câmara dos Deputados chegou a preparar o projeto de Lei nº
1.820/96 (apenso ao PL nº 188, de 1999) tratando desse assunto, no entanto não há registro de
que tal proposta tenha se transformado em lei. A sociedade brasileira teria muito a ganhar se o
projeto tivesse avançado.

Outro aspecto importante relacionado com o processo de identificação criminal diz


respeito à criação de banco de dados. Sempre que uma pessoa é identificada
datiloscopicamente, essas informações passam a compor um grande banco criminal
centralizado no Instituto Nacional de Identificação do Departamento de Polícia Federal,
sediado em Brasília/DF. Esse banco é alimentado tanto pelas informações coletadas pela
Polícia Federal quanto pelos Institutos de Identificação nos Estados. Atualmente, segundo
informações da Polícia Federal, existem aproximadamente 5.000.000 (cinco) milhões de
planilhas datiloscópicas contendo as impressões digitais de pessoas que foram indiciadas em
inquéritos policiais.

As impressões digitais coletadas dos presos são arquivadas digitalmente em um sistema


denominado AFIS - Automated Fingerprint Identification System (Sistema Automático de
Identificação de Impressões Digitais). Esse sistema é capaz de realizar um processamento de
leitura dos pontos característicos de uma impressão digital com grande velocidade e precisão,
comparando e identificando esses pontos com outros já existentes no banco de dados; tudo
isso é feito de forma automática. (ARAÚJO, 2008).

2.3.1 A identificação criminal e o local de crime

No que concerne ao local de crime, a identificação criminal assume um aspecto de


grande relevância, pois, a partir das informações coletadas na cena onde foi realizada uma
perícia, o confronto desse material com as individuais papiloscópicas coletadas dos suspeitos
poderá ou não estabelecer um elo entre aquelas pessoas e o fato investigado.
4
“Artigo 5º, XLII CF/88: A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por
eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.” (BRASIL, 1988).
O perito em impressões digitais, ao realizar o confronto dessas informações, emitirá um
laudo informando à autoridade competente se os fragmentos de digitais revelados no local do
crime pertencem ou não aos indivíduos suspeitos; essas informações têm um grande valor
probatório. Evidentemente, o laudo papiloscópico é apenas mais uma prova dentro de todo um
universo de provas que estão sendo levantadas e analisadas; o diferencial é que as
informações geradas a partir dos fragmentos de impressões digitais revelados em uma cena de
crime dificultam em muito uma negativa de que, no mínimo, aquela pessoa esteve ou passou
pelo local periciado, gerando, de forma direta ou indireta, um vínculo com o fato ocorrido.
Essa informação definirá, em muitos casos, o rumo que o juiz dará ao processo.

Na seção seguinte, bem como no próximo capítulo, será realizada uma abordagem da
perícia papiloscópica e sua importância dentro do contexto em estudo.

2.4 A perícia papiloscópica

A definição de perícia papiloscópica é apresentada com muita propriedade por José


Clemil de Araújo (2004, p. 13):

Perícia papiloscópica é o conjunto de técnicas utilizadas na busca e exame de


impressões papilares com a finalidade de estabelecer a identidade de quem as
produziu, avaliando o valor probante dos vestígios de impressões papilares e
esclarecendo o papel destes no cenário do crime.

É um dos principais instrumentos utilizadas na busca da solução de delitos e que mais


evoluiu nos últimos anos, pois o crescimento da tecnologia tem permitido aos especialistas que
atuam na área dispor de ferramentas com alto grau de eficiência na revelação e levantamento
dos fragmentos existentes nas cenas dos crimes. Produtos, como reveladores químicos e físicos,
ampliaram o universo de possibilidades para a atuação dos peritos, ajudando a desvendar crimes
que, no passado, seriam praticamente impossíveis de serem solucionados.

O policial especializado na realização do trabalho pericial da papiloscopia é


denominado de perito papiloscópico ou perito papiloscopista. No Departamento de Polícia
Federal, recebe a denominação de Papiloscopista Policial Federal. Trata-se de um profissional
que desempenha um papel fundamental na produção da cadeia probatória, pois cabe a ele
analisar o local de crime em busca dos fragmentos papiloscópicos que poderão servir de base
para futuros confrontos com impressões digitais de suspeitos.
Ressalte-se que dentre as muitas atribuições desenvolvidas pelo perito papiloscopista,
uma das mais importantes diz respeito à sua atuação no local de crime. Ao realizar uma
perícia papiloscópica em uma cena de crime, o perito levará em consideração todas as
informações ali coletadas, analisando cada detalhe e, por fim, produzindo um laudo
denominado de “Laudo de Perícia Papiloscópica”, onde serão apresentadas as conclusões do
especialista (ARAUJO, 2004).

Nesse sentido, interessa destacar que o êxito na realização de uma perícia


papiloscópica está diretamente relacionado à importância que se dá à preservação do local a
ser examinado pelo perito. É na cena do crime que o profissional irá coletar as informações
necessárias para tentar chegar à autoria do delito investigado. Por essa razão, é de
fundamental importância que a autoridade policial cumpra os preceitos estabelecidos no
Código de Processo Penal.

Quando o Códex determina em seu artigo 6º que a autoridade policial, logo que tiver
conhecimento da prática do delito, deverá dirigir-se ao local, tomando as providências
necessárias para que o mesmo seja conservado imaculado até a chegada dos peritos, o faz com
a preocupação de resguardar os vestígios que porventura possam ali existir.

Em síntese, verifica-se que a papiloscopia é uma ciência que tem por fundamentos
princípios fortemente estabelecidos, cuja produção está mais do que sedimentada no meio
jurídico, especialmente na área criminal. No entanto, para que o trabalho desenvolvido pelos
especialistas possa surtir os efeitos esperados, faz-se necessário uma conjugação de fatores,
dentre estes o conhecimento das autoridades competentes da importância de um perfeito
isolamento e preservação do local de crime, pois essa medida poderá se transformar em um
poderoso instrumento na elucidação de um crime, seja de que forma este tenha se
consumado.

No capítulo seguinte, será feita uma abordagem acerca do local de crime, enfatizando os
aspectos relacionados aos procedimentos de isolamento e preservação, bem como aqueles a
serem adotados pelas autoridades policiais e peritos, no desempenho de suas atribuições,
realizando ainda, a título de exemplificação, uma explanação dos referidos procedimentos
adotados pelos papiloscopistas Policiais Federais no caso do furto ao Banco Central em
Fortaleza, Ceará, ocorrido em agosto de 2005.
3 O LOCAL DE CRIME

O local de crime, analisado de uma forma genérica, consiste em uma área onde ocorreu
um fato que apresente características ou configurações de um delito. De forma específica,
pode-se entender como sendo o espaço físico, interior ou exterior, onde se desenvolveu a
prática de uma infração penal (ESPINDULA, 2008). No mesmo sentido, segundo Eraldo
Rabelo (2006, p. 25), local de crime é:

Porção do espaço compreendido num raio que, tendo por origem o ponto no qual é
constatado o fato, se estenda de modo a abranger todos os lugares que,
aparentemente, necessária ou presumivelmente, hajam sido praticados, pelo
criminoso, ou criminosos, os atos materiais, preliminares ou posteriores à
consumação do delito e com este diretamente relacionado.

Observa-se que o autor levou em consideração todos os aspectos envolvendo o(s) ato(s)
delituoso(s); no entanto, faz-se necessário ressaltar que o espaço ali descrito não consiste
apenas da área física visível, onde possivelmente ocorreu o crime pois o perito deve sempre
ter em mente a possibilidade de que a área seja mais extensa do que o visto ou imaginado,
inclusive fora do local analisado.

Corroborando com esse entendimento, Luís Eduardo Dorea (1995, p. 44) descreve a
seguinte definição para local de crime: “Local de crime não é só o espaço físico onde se
consumou o ato delituoso, mas também e ainda aqueles espaços físicos onde se
desenvolveram as atividades anteriores e posteriores ao fato delituoso”. Com isso, entende-se
que o local de crime deve ser visto como um todo, levando em consideração a possibilidade
da existência de mais de uma área a ser isolada e preservada.

Seguindo essa linha de compreensão, Hélder Taborelli Sêmpio (1993, p. 7-8) apresenta
a seguinte classificação para local de crime:

a) Internos ou Fechados: são caracterizados quando o fato ocorreu em um ambiente


fechado, circunscrito por paredes ou outras formas de fechamento como
residências, fábricas, interiores de veículos, prédios, dentre outros, e que também
se dividem em:
• Área Mediata Aberta: são consideradas as vias de acesso ao ambiente onde
ocorrer o fato delituoso, como corredores, os ambientes ao redor do cômodo, os
jardins e demais área vizinhas;
33

• Área Imediata Interna: consiste no espaço físico onde ocorreu o fato delituoso,
como um quarto ou outro cômodo qualquer.
b) Externos ou Abertos: É assim determinado quando o crime ocorre em ambiente
aberto, não limitado por edificações, como estradas, matagal, beira de rios e
outros, que também são subdivididos em:
• Área Mediata Externa: são consideradas as áreas de acesso para onde ocorreu o
crime, como estradas, picadas e ainda as imediações;
• Área Imediata Externa: consiste no local propriamente dito, onde ocorreu o crime.
c) Locais Relacionados: São aqueles locais que, apesar de diversos daqueles
relacionados anteriormente, apresentam relações com um único fato delituoso.
(Grifo original).

Uma vez definido o que é local de crime, realizar-se-á uma análise do que a legislação
discorre sobre o assunto, enfatizando os aspetos legais, bem como aqueles relacionados às
obrigações e atitudes das autoridades envolvidas no desenrolar de uma investigação policial,
na cena do delito.

O Código de Processo Penal em seu artigo 6º estabelece os procedimentos necessários


para a realização do isolamento e preservação do local do fato criminoso. É de fundamental
importância que esses procedimentos sejam obedecidos de forma rigorosa, pois o
descumprimento de tal norma poderá gerar consequências irreparáveis para o bom andamento
de uma investigação criminal. Entretanto, nem sempre esses procedimentos são realizados de
forma satisfatória. Analisando as atividades desenvolvidas pelos peritos na cena do crime,
Alberi Espíndula (2007, s.p.) tece o seguinte comentário:

Um dos requisitos essenciais para que os peritos possam realizar um exame pericial
de maneira satisfatória é que o local esteja adequadamente isolado e preservado, a
fim de não se perder qualquer vestígio que tenha sido produzido pelos atores da cena
do crime. Este é um problema que os peritos encontram quase sempre nos locais de
crime, pois não há no Brasil uma tradição de isolarmos e preservarmos o local de
infração penal. Esta falta de tradição é da própria população que, ao passar por um
local, acaba se aproximando de tal maneira que se desloca por entre os vestígios. Da
população, em princípio, é até compreensível a curiosidade natural em olhar tais
fatos, no entanto, as dificuldades são maiores quando a própria polícia, que é a
responsável por esse mister, na grande maioria das situações não cumpre a sua
obrigação prevista em lei. (Grifou-se).

Destaque-se que o comportamento da autoridade policial ao comparecer à cena do crime


é de grande relevância, pois, dependendo da natureza do ato criminoso investigado, o mesmo
poderá ser implicado judicialmente se houver algum prejuízo ao trabalho pericial em razão de
uma providência negligente no que diz respeito ao isolamento e preservação do local. Luiz
Eduardo Dorea (1995, p. 18) discorre sobre essa possibilidade de maneira muito enfática:

É de tal maneira importante que o local seja mantido corretamente isolado até a
chegada do perito, que qualquer ato imprudente, descuidado ou imprevidente do
policial, de que resulte alteração e, conseqüentemente, destruição de possíveis
34

indícios, não é mero ato de negligência ou falta funcional: constitui, tecnicamente,


um delito de cumplicidade criminal.

O policial, como servidor público constituído para desenvolver atividades de prevenção


e repressão ao crime, tem a responsabilidade legal de isolar e preservar o local do fato até a
chegada dos peritos. Uma vez que tais providências são tomadas, deve a autoridade seguir os
pressupostos estabelecidos nos artigos 6º, 158 e seguintes do Código de Processo Penal.
Dessa forma, como o local foi devidamente preservado, a responsabilidade do mesmo passará
a ser dos peritos até a conclusão dos trabalhos periciais.

Considerando ainda os aspectos relacionados à importância da preservação, é


importante saber que o local do evento criminoso apresenta uma série de características que o
torna peculiar dentro do contexto de uma investigação policial. Para compreender e atender a
essas peculiaridades, os peritos devem adotar uma série de procedimentos, tais como: definir a
dimensão do local, verificar se existem ou não vítimas, se há testemunhas, realizar
levantamento de vestígios, fotografarem o local, etc. (DAMASCENO et al., 2006).

Entretanto, para que todos esses procedimentos sejam efetuados, faz-se necessário
realizar um levantamento das características físicas que envolvem o local e a forma como esse
foi encontrado. Victor Paulo Stumvoll, Victor Quintela e Luiz Eduardo Dorea (1999, p. 52)
apresentam a seguinte classificação das características do local ao tratar do tema:

a) Preservados, idôneos ou não violados – quando são mantidos na integridade ou


originalidade com que foram deixados pelo agente após a prática da infração
penal até a chegada dos peritos;
b) Não preservados, inidôneos ou violados – quando são devassados após a prática
da infração penal e antes do comparecimento dos peritos ao local, em detrimento
da perícia. (Grifo original).

Desse modo, uma vez reconhecidas e analisadas as condições do local, deverá o


especialista realizar os procedimentos de investigação pericial, aplicando de forma prática os
conhecimentos adquiridos durante sua formação profissional.

3.1 A atividade pericial

O perito ao chegar à cena de crime deverá empregar uma série de técnicas e


metodologias durante a realização dos exames periciais. Evidentemente, essas técnicas irão
levar em consideração a natureza do crime e a forma como este ocorreu, caso seja possível
determinar. Como já tratado nos capítulos anteriores, várias são as áreas de atuação dos
peritos criminais, entretanto, considerando o foco do presente trabalho, ater-se-á às atividades
35

desenvolvidas pelo perito papiloscópico ou papiloscopista policial federal, no caso, do


especialista do Departamento de Polícia Federal.

Dessa forma, antes de se concentrar especificamente na atividade prática realizada pelo


perito no local de crime, é de extrema importância conhecer o significado do objeto fim da
perícia, que é a busca dos sinais presentes na cena do crime, sejam estes visíveis ou latentes.
Para definir esses sinais, as denominações adotadas pela criminalística são as seguintes:
indício, vestígio e evidência.

Na acepção do Código de Processo Penal, artigo 239, indício é: “[...] circunstância


conhecida e provada que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a
existência de outra ou outras circunstâncias”. Por outro lado, quanto à definição de vestígio, o
Novo Dicionário da Língua Portuguesa assim o define: “Sinais que homem ou animal deixa
com os pés no lugar onde passa; rastro, rasto, pegada, pista; no sentido figurado, indício, sinal,
pista, rastro, rasto” (FERREIRA, 1986, p. 1771). Esta definição, no entanto, não conceitua a
palavra especificamente dentro de uma visão criminalística, fazendo-o tão- somente de modo
generalizado.

Melhor definição apresenta Alberi Spíndula (2008), pois o faz de maneira mais enfática,
relacionando a palavra com o tema em estudo: “[...] vestígio é tudo o que encontramos no local do
crime que, depois de estudado e interpretado pelos peritos, possa vir a se transformar -
individualmente ou associado a outros - em prova”. Apesar da aparente semelhança entre os
significados propostos para vestígio e indício, o vestígio é considerado o primeiro sinal da
existência de que algum ato foi praticado no local investigado; após ser analisado, interpretado e
associado com outros dados da investigação, havendo consistência, o mesmo passará a ser
considerado um indício (STUMVOLL; QUINTELA; DOREA, 1999, p. 65-66).

Destaque-se a existência de uma hierarquia entre os sinais adotados pela criminalística,


pois no momento em que os peritos concluírem que o indício está relacionado ao evento
ocorrido no local periciado, o mesmo assume a condição de evidência. De acordo com o Novo
Dicionário da Língua Portuguesa, evidência é a “qualidade do que é evidente; certeza
manifesta” (FERREIRA, 1996, p. 736). No contexto da criminalística, significa qualquer
material, objeto ou informação que estejam relacionados, direta ou indiretamente, com a
ocorrência do delito (SPÍNDULA, 2008).
36

Uma vez conhecidos os aspectos relacionados aos sinais verificados na cena do crime,
competirá ao perito papiloscópico realizar os procedimentos considerados fundamentais ao
bom desempenho de suas atividades. A primeira preocupação será identificar a autoridade
responsável pela preservação do local, com o fim de obter a maior quantidade possível de
informações sobre o ocorrido. Posteriormente, deverá proceder às anotações de endereço,
hora, nomes de pessoas envolvidas, testemunhas, etc.

Completada a fase de coleta de dados, o especialista passará a realizar uma análise


detalhada do local, procedendo a uma visualização geral da cena do crime, efetuando registros
fotográficos e manuscritos - anotações essenciais no momento em que for confeccionar o laudo
papiloscópico - para, posteriormente, definir o padrão a ser adotado na busca de vestígios.

É relevante ressaltar que essa busca deverá ser realizada com especial atenção,
objetivando preservar as evidências porventura existentes, tais como impressões digitais em
locais empoeirados, marcas de solado de calçados, manchas de sangue, sêmen ou outras
secreções. Destaque-se que, caso o fato tenha ocorrido em uma área externa, o perito deverá
analisar as condições do tempo, por ser este um fator essencial, pois o sol ou a chuva podem
interferir na qualidade dos fragmentos de impressões papilares, sejam estes visíveis ou latentes.

O perito papiloscópico deverá se ater tão somente aos aspectos relacionados ao trabalho
de revelação de digitais, pois os demais procedimentos, como realização de croquis, medição
de dimensões de objetos ou distâncias entre estes, coordenadas geográficas em locais abertos,
etc., são de competência do perito criminal.

No tocante à identificação, o especialista deverá lançar mão dos instrumentos


necessários capazes de permitir que os fragmentos papiloscópicos ali existentes possam ser
revelados e identificados, caso estejam latentes. Para isso, deverá se utilizar de produtos 5
como pós reveladores tipo grafite, magnéticos, fluorescentes, etc., cianoacrilato, ninidrina,
amido black, cristais de violeta, massa modeladora, dentre outros. A utilização desses
produtos ocorrerá de acordo com a superfície a ser trabalhada, obedecendo às normas de
segurança estabelecidas pelos órgãos de proteção oficial.

Uma vez identificado, revelado e fotografado, o fragmento papiloscópico passará pelo


processo da coleta. A coleta consiste em transferir esse fragmento de um suporte, denominado

5
Reagentes físicos e químicos utilizados na realização de perícias.
de primário6, para outro secundário, o que permitirá que o mesmo seja removido para outro
local, em regra um laboratório, onde poderá ser analisado mais detalhadamente pelo policial.
Feito esses procedimentos, o perito papiloscópico irá confeccionar um laudo, onde serão
respondidos, de forma minuciosa, todos os questionamentos que envolvem aquele fragmento,
inclusive se o mesmo oferece ou não condições de confronto. Oferecendo condições, será
confrontado com as impressões papilares de suspeitos, bem como será realizada uma
investigação junto aos bancos de dados de digitais do Departamento de Polícia Federal e dos
Institutos de Identificação nos Estados.

Destaque-se que os procedimentos acima descritos foram aplicados pelos


Papiloscopistas Policiais do Departamento de Polícia Federal no caso do furto do Banco
Central, ocorrido na cidade de Fortaleza, Ceará, no mês de agosto do ano de 2005. O caso em
comento será tratado no tópico seguinte, mostrando como é fundamental para o êxito de uma
investigação o local utilizado por criminosos ser isolado e preservado.

3.2 Importância do isolamento e preservação do local do furto ao Banco


Central do Brasil na cidade de Fortaleza-Ceará
Inicialmente, é importante ressaltar que o processo investigativo desenvolvido pela
Polícia Federal para elucidar o caso do furto ao Banco Central em Fortaleza consistiu em um
trabalho de equipe, em que cada membro da corporação desempenhou uma função vital para o
êxito da missão, desde o momento em que a equipe de policiais adentrou no cofre do banco,
até a prisão dos envolvidos no assalto.

Segundo Durval Alcântara Melo7 (informação verbal), eram aproximadamente 09 horas


da manhã do dia 08 de agosto de 2005, quando o Superintendente Regional da Polícia Federal
foi comunicado que havia ocorrido um assalto à agência do Banco Central, em Fortaleza.
Equipes de policias foram acionadas para se dirigir ao local, dentre estes quatro
Papiloscopistas Policiais Federais.

Ao chegarem ao local, os policiais se depararam com uma cena típica de filme


americano: muito dinheiro espalhado pelo interior da casa forte e um buraco no concreto,
tendo como sequência um túnel com vários metros de extensão. É relevante destacar que no
interior do cofre encontravam-se outras pessoas – servidores do banco - além dos policiais, o
6
Suporte primário: local onde é encontrada e revelada uma impressão digital ou fragmento desta.
7
Durval Alcântara Melo é Papiloscopista Policial Federal e foi um dos responsáveis pela condução dos
trabalhos de investigação realizados pelos Papiloscopistas no caso do furto ao Banco Central em Fortaleza,
Ceará.
que dificultou, neste ambiente, a adequada preservação do local, impossibilitando a realização
de procedimentos periciais.

Uma das primeiras providências adotadas pela equipe de policiais foi tentar descobrir de
onde tinham vindo os indivíduos que cometeram o ousado crime. Para responder a esse
questionamento, a única maneira possível seria adentrar pelo interior do túnel, o que levaria
ao local de origem do mesmo. Dessa forma, coube a um agente e a um papiloscopista a
realização dessa tarefa. Os dois policiais entraram pelo túnel, percorreram uma extensão de
aproximadamente 80 metros, chegando a uma residência localizada à Rua 25 de março, nº
1071, no centro da capital cearense.

Destaque-se que, quando chegaram ao imóvel, os policiais tomaram a decisão de mantê-lo


isolado e preservado, impedindo que repórteres, curiosos e até mesmo outros policiais tivessem
acesso ao mesmo. Essa medida possibilitou que a cena do delito se mantivesse intocada.
Posteriormente, o Delegado federal responsável pelo caso requisitou a presença dos peritos
criminais e dos papiloscopistas, entregando o local para que fossem iniciados os procedimentos de
perícia. No decorrer desse processo, entretanto, outras equipes de policiais adentraram no recinto,
respeitando, contudo, os procedimentos de preservação estabelecidos pelos peritos, atuando,
inclusive, de forma conjunta com os especialistas.

Entretanto, apesar das providências acima adotadas, o processo de isolamento e


preservação apresentou falhas no aspecto relacionado ao tempo em que o imóvel ficou isolado
para acesso ao público externo, pois em menos de 48 horas o local já havia sido liberado para
que a imprensa realizasse a cobertura do evento. Várias equipes de rádio e televisão obtiveram
autorização para proceder a filmagens e reportagens in loco.

No entanto, esse acesso se deu de forma prematura, pois havia ainda locais e objetos
que não tinham sido periciados. Segundo Durval Alcântara Melo (informação verbal), uma
prova disso é que um fragmento de impressão digital revelado na porta da geladeira que se
encontrava na cozinha do imóvel foi identificado em um procedimento realizado na noite do
dia 10 de agosto de 2005, quando repórteres já haviam transitado pela cena do crime. Esse
fato mostra que os princípios norteadores determinados pelo Código de Processo Penal não
foram devidamente observados.
Luiz Eduardo Dorea (1995, p. 17), analisando a importância da manutenção do
isolamento do local de crime, mesmo depois de realizadas as primeiras perícias, chama
atenção para o fato ao ressaltar que:

[...] o isolamento da área será mantido por quanto tempo se mostre necessário,
ficando a Polícia com a posse das chaves que fecham os meios de acesso. [...]
Impede-se dessa forma que detalhes que necessitem ser examinados mais
acuradamente possam vir a ser alterados.

Em razão disso, depreende-se que uma cena de crime só pode ser liberada depois de
esgotados todos os recursos investigativos possíveis, mesmo que isso implique manter a área
isolada por dias, independente dos transtornos que isso poderá causar a terceiros. Apesar do
Delegado de polícia ser a autoridade responsável pela condução do inquérito policial, e,
consequentemente, por todos os atos que envolvam a investigação, uma vez que o local é
entregue aos peritos, somente estes é que poderão determinar quando aquele deverá ser
liberado. As autoridades devem ter em mente que os interesses da Justiça são superiores a
quaisquer outros interesses acaso existentes.

3.2.1 Modus operandi do bando

Conforme informações prestadas pela autoridade federal, o sistema organizacional do


bando demonstrava ser extremamente eficiente. As equipes se revezavam de forma
ininterrupta em turnos para realizar as escavações; enquanto um grupo cavava, outros
descansavam. De acordo com a Polícia Federal, o trabalho de escavação demorou,
aproximadamente, dois meses.

Um dos membros do bando coordenava todas as equipes, realizando as atividades


externas, como compra de alimentos ou de algum outro material necessário. Para afastar
qualquer suspeita, ele registrou uma empresa de fantasia com o nome de Grama Sintética,
que se propunha a realizar a venda e o plantio de grama. Esse artifício ajudava a justificar a
movimentação de terra, resultado da escavação realizada no túnel. É relevante destacar que
o túnel tinha um sistema de refrigeração, além de iluminação elétrica.

Segundo informações do Banco Central, foi retirada do interior do cofre a quantia R$


164.755.150 (cento e sessenta quatro milhões, setecentos e cinquenta e cinco mil, cento e
cinquenta reais) em notas de cinquenta reais que seriam destruídas, pois tratava-se de dinheiro
já recolhido para sair de circulação (TÚLIO, 2007).

De acordo com declarações de Antônio Jussivan Alves dos Santos, o Alemão, a


retirada do dinheiro ocorreu durante o final de semana que antecedeu o dia 08 de agosto.
Ainda segundo o assaltante, a quadrilha adentrou no cofre após as 21 horas do dia 05 de
agosto, permanecendo no interior do mesmo por aproximadamente 10 horas. Os membros
do bando utilizaram um sistema de transporte rudimentar, mas que se mostrou muito
eficiente na retirada do dinheiro: consistia em uma espécie de bacia, tendo cordas amarradas
em suas extremidades. O dinheiro era colocado em sacos de farinha de trigo, organizados
dentro do recipiente e puxado pelo interior do túnel. Após serem esvaziados, eram
novamente puxados ao interior da caixa forte e repetida a operação (RIBEIRO; LOBO,
2008).

Consigne-se que, após a retirada do montante acima informado, o bando adquiriu carros
junto a uma revenda de automóveis de Fortaleza, utilizando esses transportes como forma de
remover o dinheiro da capital sem chamar muito atenção. Inicialmente, grande parte do
dinheiro foi enterrado, sendo utilizado posteriormente para compra de bens móveis e imóveis
pelos membros do bando, fatos estes comprovados durante as apreensões realizadas pela
Polícia Federal (RIBEIRO; TÚLIO, 2007).

As decisões eram tomadas por um grupo restrito, que desempenhavam as atividades de


logística. Segundo a Polícia Federal, o grupo era formado por membros da organização
criminosa PCC – Primeiro Comando da Capital, baseada na cidade de São Paulo. A maior
parte do dinheiro arrecadado seria utilizada para financiar as atividades da organização. (PF
LIGA [...], 2006).

3.2.2 Modus operandi dos policiais federais

Segundo a Polícia Federal, um dos primeiros obstáculos encontrados pelos papiloscopistas


ao examinarem a cena do crime, foi uma engenhosa atitude de despiste tomada pela quadrilha: ao
abandonarem o local, eles espalharam gesso em pó por toda a casa, objetivando comprometer o
trabalho da coleta de impressões digitais.
De fato, esse procedimento foi relativamente eficiente, pois muitos fragmentos de
impressões digitais ficaram comprometidos em razão dessa ação, vez que o pó de gesso
impossibilitou a revelação dos mesmos. Entretanto, os especialistas não focaram suas
investigações apenas nos locais atingidos pelo pó; muitas outras superfícies foram periciadas,
bem como vários objetos deixados para trás, tanto na casa como no interior do túnel.

A equipe, inicialmente composta de quatro papiloscopistas, aumentou para dez


profissionais, o que permitiu uma maior rapidez na realização dos levantamentos. A
quantidade de material encontrada em todos os locais periciados consistia em algumas
centenas de objetos, o que exigiu a realização de uma rigorosa triagem. Consigne-se que
durante aproximadamente dois meses os policiais trabalharam na análise do material
recolhido, tendo como resultado a revelação de dezenas de fragmentos de impressões digitais.

A dinâmica das atividades se desenvolveu de forma sincronizada. A técnica de


localização e revelação de fragmentos de impressões digitais utilizada pelos profissionais da
Polícia Federal obedeceu a critérios utilizados pelos serviços científicos das principais
polícias do mundo. Ressalte-se que para que a revelação de uma impressão digital ocorra com
sucesso é necessário que o especialista tenha conhecimento de qual o melhor agente químico
ou físico a ser utilizado. Esse cuidado é fundamental, pois essa substância irá reagir com os
componentes orgânicos e inorgânicos, citoplasma e substâncias gordurosas presentes nas
glândulas da pele. Caso o produto não seja o adequado, o fragmento de digital poderá se
perder de forma definitiva, o que significaria um grande prejuízo a todo o processo de
investigação (DAMASCENO, 2006).

Inicialmente, os papiloscopistas trataram de definir um perímetro para atuação, já que


a área era muito extensa e consistia em vários locais. Segundo Durval Alcântara Melo, a
equipe optou pela realização de um pente-fino, em que foi efetuada a coleta de todos os
objetos passíveis de conter fragmentos de digitais, para uma posterior analise em
laboratório. O segundo passo consistiu na realização de perícias in loco. Cada objeto, cada
móvel, cada canto foi analisado e periciado. Na realização desse trabalho, os peritos em
impressões digitais utilizaram pó de ferro e negro-de-fumo, cianoacrilato e ninidrina,
substâncias extremamente eficazes na revelação de impressões digitais latentes.
O pó revelador é um produto que tem a capacidade de reagir com os resíduos de gordura
presentes na pele, impregnando o desenho digital, tornando-o visível. É importante ressaltar
que a aplicação deste precisa ser realizada com um pincel apropriado, pois muitas vezes o
fragmento encontra-se sobre uma superfície que demanda cuidados especiais em sua
revelação.

O cianoacrilato é uma substância que vem em forma líquida ou de gel, entretanto, é


necessário que a mesma assuma a forma de vapor para ter uma melhor aplicabilidade, o que
pode ser conseguido com aquecimento. O cianoacrilato reage com a umidade presente nas
impressões digitais, solidificando-as e tornando-as esbranquiçadas. É muito eficaz na
maioria das superfícies não porosas, como plásticos, metais, isopor, vidros e papéis
plastificados.

Em relação à ninidrina, por ser um reagente orgânico, ela combina com os aminoácidos
presentes no suor. Tem um alto grau de eficácia quando utilizada em papel ou similares,
podendo ser utilizada também em gesso, papel moeda, madeira em estado bruto, etc.
Caracteriza-se pela capacidade de revelar impressões antigas, bem como por ser um eficiente
fixador (ARAÚJO, 2004).

Anote-se que, depois de revelados pelos papiloscopistas, os fragmentos eram


devidamente fotografados e transferidos para um suporte secundário - na execução desse
procedimento, o especialista utiliza uma fita aderente produzida especialmente para esta
finalidade. Decorrida essa fase, cada fragmento era catalogado com informações do dia, hora
e local em que foi revelado e por quem foi revelado. Com isso, foi possível estabelecer que o
fragmento da impressão digital do José Marleudo de Almeida foi revelado na porta da
geladeira que se encontrava na cozinha da casa da Rua 25 de março.

É relevante destacar que os papiloscopistas procederam a perícias em vários automóveis


e em outros imóveis, posteriormente identificados como pertencentes ao grupo, entretanto, as
principais investigações foram realizadas na casa da Rua 25 de março e no interior do túnel,
além de um furgão que foi utilizado para transportar grande parte do dinheiro furtado.

Paralelo ao trabalho da perícia, o serviço de inteligência da Polícia Federal conseguiu


identificar alguns suspeitos de terem realizado o assalto, solicitando aos Institutos de
Identificação o prontuário civil dos mesmos, para que fossem realizados confrontos com os
fragmentos de digitas revelados nos móveis e imóveis utilizados pelo bando.

Como já enfatizado, esse trabalho conjunto entre as equipes da Polícia Federal foi o que
permitiu a identificação do suspeito José Marleudo de Almeida, denominado no meio policial
de “Baixinho”, pois o confronto do fragmento com as digitais do prontuário civil deixou claro
que o mesmo havia participado de todo processo de escavação do túnel. Posteriormente,
outros fragmentos foram positivados, permitindo a prisão e condenação de outros membros do
bando.

Enfatize-se ainda que para assegurar a identidade de uma pessoa por meio de uma
impressão digital o perito precisa assinalar 12 pontos característicos coincidentes dentre
linhas, deltas, pontos, círculos, encerros, linha axial, pontas de linha, etc. A determinação de
doze pontos, no entanto, não é taxativa, podendo esse número variar para até oito pontos,
caso se tenha uma figura de característica rara, como marca de nascença ou cicatriz
(ARAÚJO, 2004).

A preservação do local foi muito importante para o levantamento de outras evidências,


além das papiloscópicas. Muitas informações foram investigadas a partir da coleta de materiais
deixados nos locais utilizados pelo grupo. Essas informações foram cruciais para que nomes de
suspeitos fossem identificados e, posteriormente, presos. O coroamento do trabalho
investigativo se deu com a prisão em fevereiro de 2008 do nacional Antônio Jussivan Alves dos
Santos, o Alemão, considerado um dos líderes do bando (NENHUM [...], 2008).

Consigne-se que a Polícia Federal conseguiu prender praticamente todos os elementos


que participaram do assalto, recuperando, aproximadamente, um terço dos 164 milhões que
haviam sido furtados, além de impedir que uma ação semelhante, perpetrada pelo mesmo grupo,
fosse concretizada na cidade de Porto Alegre, quando foram presos mais de trinta elementos que
cavavam um túnel para furtar bancos na capital do Estado do Rio Grande do Sul. O túnel já
contava com quase oitenta metros de extensão (OPERAÇÃO [...], 2006).

De todo o exposto, depreende-se que o isolamento e a preservação do local realizado


pelos policiais federais que chegaram à cena do crime na data de 08 de agosto de 2005 foram
fundamentais para que todo o processo de investigação alcançasse êxito, permitindo uma
resposta rápida e satisfatória à sociedade, mostrando ainda aos delinquentes que o crime, de
fato, não compensa.
CONCLUSÃO

A evolução das técnicas científicas utilizadas pelas instituições policiais em todo o


mundo permitiu algumas melhorias nos resultados dos processos de investigações adotados
pelas autoridades no combate ao crime. Exemplo disso é o Estado de São Paulo, onde se
verifica através de estatísticas da Secretaria de Segurança Pública, uma diminuição das
práticas criminosas, o que demonstra que investimentos na polícia científica é uma ação que
deve ser copiada por todos aqueles que pretendem vencer a luta contra a delinquência.
Infelizmente, a preocupação com esses investimentos não é a realidade na maioria dos
Estados brasileiros.

Ocorre que para se obter resultados positivos no combate ao crime faz-se necessário
ampliar os investimentos em tecnologias que permitam aos policiais realizarem suas
atividades de forma cada vez mais eficiente, pois o trabalho desenvolvido por esses
profissionais é extremamente relevante em todo o processo de investigação de um delito. No
mesmo sentido, também é importante destacar a necessidade de se investir na qualidade da
formação do policial de campo, pois, via de regra, ele é sempre o primeiro à chegar na cena
do crime.

Deve-se ter em mente que, concomitante com o avanço da ciência investigativa, a


criminalidade também aperfeiçoou seu modus operandi, praticando crimes com técnicas
cada vez mais sofisticadas. Nessa luta do bem contra o mal, a preocupação com os detalhes
pode fazer toda a diferença. Nesse contexto, o trabalho policial na investigação de um delito
é dividido em várias fases, dentre estas, destacam-se o isolamento e a preservação do local
de crime.

Observa-se, de um modo geral, que a polícia brasileira não tem a cultura de preservar a
cena do crime. Apesar das disposições contidas nos artigos 6º, 158 e seguintes do Código de
Processo Penal, o que se constata é que os policiais ao chegarem ao local praticam atos que
acabam por comprometer o trabalho a ser realizado pelos peritos, ou não tomam as medidas
necessárias para evitar que terceiros assim o façam. Tome-se, a título de exemplo, o caso da
45

garota Isabella, morta em São Paulo na noite de 29 de março de 2008. O comprometimento do


local de onde a garota foi atirada poderá inviabilizar toda a produção pericial
(GUANDELINI, 2008).

Por outro lado, tem-se o caso do furto do Banco Central em Fortaleza como um
exemplo marcante de que a preocupação com o isolamento e a preservação do local de crime
poderá ser um diferencial na condução do trabalho policial, pois no caso em comento a
Polícia Federal conseguiu prender praticamente todos os membros do bando que realizou o
furto, recuperando grande parte do montante subtraído, além de evitar que novas ações da
organização criminosa viessem a obter êxito.

Evidentemente que o isolamento da cena do crime por si só não pode ser tomado como
único referencial a ser seguido em uma investigação policial; muitos outros aspectos devem
ser levados em consideração. No entanto, quando o perito encontra o local devidamente
isolado e preservado, as possibilidades de obter êxito na produção das provas que irão
embasar futuras investigações ou mesmo decisões judiciais devem servir como estímulo para
que cada vez mais a polícia invista na qualificação de seus membros, bem como em
tecnologias que possam servir de ferramentas para o bom desempenho da atividade pericial.

Ademais, é importante ressaltar que o perito é um profissional que tem a


responsabilidade de conduzir todo o processo de produção de prova no local de crime. Por
essa razão, deve haver uma parceria entre a atividade por este desenvolvida com aquela
realizada pelo policial que está na linha de frente, seja ele federal, civil ou militar. O
importante é que haja a consciência de que um depende do outro, para que o resultado final
possa ser a realização de uma investigação bem conduzida, na qual a soma de esforços
redunde em prisões e condenação de culpados.

Por tudo isso, depreende-se que o isolamento e a preservação do local de crime é uma
medida de grande relevância, motivo pelo qual deverão sempre ser priorizados por todos os
profissionais envolvidos com a investigação policial. No mesmo sentido, deverá também ser
realizada uma reformulação no sistema de capacitação do policial brasileiro, acrescentando na
grade curricular de habilitação para ingresso na carreira matérias específicas de técnicas de
isolamento e de preservação de locais de crimes, bem como atividades práticas para que os
mesmos possam memorizar os procedimentos a serem adotados quando se defrontarem com
uma situação concreta.
REFERÊNCIAS

AGUDO, Luís Carlos. A identificação criminal no inquérito policial. Disponível em:


http://www.jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3592. Acesso em: 22 set. 2008.

ARAÚJO, José Clemil de. Afis: sistema automático de impressões digitais. Disponível em:
http://www.papiloscopistas.org/afis.html. Acesso em: 10 set. 2008.

ARAÚJO, José Clemil de. Perícia papiloscópica. Brasília: ANP, 2004.

ARAÚJO, Marcos Elias Cláudio de; PASQUALI Luiz. Datiloscopia, a determinação dos
dedos. Brasília: LabPAM, 2006.

BÍBLIA Sagrada. A. T. Livro de Josué. 34. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1992.

BIOMETRIE/images. Disponível em: http://www.ccc.de/biometrie/images/small_04-finger+


zyanoacrylat.png. Acesso em: 10 out. 2008.

BLUME, Arlindo. Histórico da criminalística. Disponível em: http://www.pr.gov.br/


policiacientifica/historico.shtml. Acesso em: 14 ago. 2008.

BRASIL. Câmara Federal. Projeto de Lei nº 1.820/96 (apenso ao PL nº 188, de 1999),


Deputado Max Rosenmann. Disponível em: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/
39769.pdf. Acesso em: 22 set. 2008.

BRASIL. [Código (1941)]. Código de Processo Penal. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. 13. ed.


São Paulo: Saraiva, 2007.

CARVALHO, João Luiz de. Fundamentos da perícia criminal. Campinas: Bookseller,


2005.

CODEÇO, Álvaro Gonçalves; AMARAL, Flávio Antônio Azevedo do. Identificação


humana pela dactiloscopia. Brasília: Gráfica do DPF, 1992.

DAMASCENO, Clayton Tadeu Mota et al. Locais de crime. Brasília: ANP, 2006.

DOREA, Luiz Eduardo. Local de crime. 2. ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1995.

ESPÍNDULA, Alberi. Isolamento e preservação de local de crime com cadáver.


Disponível em: http://www.espindula.com.br/default4d.htm. Acesso em: 05 set. 2008.

ESPÍNDULA, Alberi. Perícia criminal e cível. Campinas: Millennium, 2006.


47

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de


Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

GUANDELINI, Leonardo. CASO Isabella: Corregedorias devem investigar porque cena do


crime não foi preservada. O Globo, Rio de Janeiro, maio 2008. Disponível em:
http://oglobo.globo.com/sp/mat/2008/05/07/caso_isabella_corregedorias_devem_investigar_p
orque_cena_do_crime_nao_foi_preservada-427256508.asp. Acesso em: 14 out. 2008.

GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário técnico jurídico. 4. ed. São Paulo: Rideel,
2001.

NENHUM tiro disparado. O Povo On line, Fortaleza, 27 fev. 2008. Disponível em:
http://www.opovo.com.br/opovo/fortaleza/768868.html. Acesso em: 10 out. 2008.

OPERAÇÃO Facção Toupeira: PF frustra roubo e prende 28 do PCC. Vale Paraibano, São
Paulo, 02 set. 2006. Disponível em: http://jornal.valeparaibano.com.br/2006/09/02/
sjc/apcc1.html. Acesso em: 10 out. 2008.

PF liga PCC a assalto do Banco Central de Fortaleza. Consultor Jurídico, Brasília, 01 set.
2006. Disponível em: http://www.conjur.com.br/static/text/47951,1. Acesso em: 14 out. 2008.

RABELO, Eraldo. Curso de criminalística. Porto Alegre: Sagra Luzzato, 1996.

REZENDE, José Haroldo. Identificação e datiloscopia. Brasília: Ipiranga, 1981.

RIBEIRO, Cláudio; TÚLIO, Demitri. O roubo do século: 11 condenados. Penas variam de 3 a


53 anos de prisão. O Povo, Fortaleza, jun. 2007. Disponível em: http://www.opovo.
com.br/opovo/fortaleza/708342.html. Acesso em: 10 out. 2008.

RIBEIRO, Fernando; LOBO, Nathália. Alemão confessa o crime. Diário do Nordeste,


Fortaleza, mar. 2008. Disponível em: http://www.diariodonordeste.globo.com/materia. asp?
codigo=517419. Acesso em: 10 out. 2008.

SÁ, Alvino Augusto. Razões e perspectivas da violência e da criminalidade: punição


versus reconciliação. Disponível em: http://www.direitoufba.net/mensagem/josebarroso/cr-
razoeseperspectivas.doc. Acesso em: 23 set. 2008.

SÃO PAULO. Secretaria de Segurança Pública. Estatística: SSP constata avanços na


segurança no 1º trimestre. Disponível em: http://www.ssp.sp.gov.br/home/noticia.aspx?
cod_noticia=7932. Acesso em: 14 out. 2008.

STUMVOLL, Victor Paulo; QUINTELA, Victor; DOREA, Luiz Eduardo. Criminalística.


Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1999.

TOCCHETO, Domingos; ESPÍNDULA, Alberi. Criminalística: procedimentos e


metodologia. Porto Alegre: ABC, 2005.

TÚLIO, D. Sentenciados vão pagar 33,2 milhões. O Povo. Fortaleza, jul. 2007. Seção
Policial. Disponível em: http://www.opovo.com.br/opovo/fortaleza/709573.html. Acesso em:
10 out. 2008.

Você também pode gostar