Você está na página 1de 43

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR


CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – CCJ
Curso de Direito

PROJETO DE PESQUISA

JURIDIFICAÇÃO: UMA BREVE ANÁLISE SOBRE A


EXPANSÃO DA ATIVIDADE JURÍDICA NO BRASIL
O ALUNO DE ENSINO MÉDIO NO PROFISSIONALIZANTE
E A PSSIBILIDADE DE ESTÁGIO
EM ÓRGÃOS PÚBLICOS OU PRIVADOS

Paulo Victor Rodrigues Damasceno


Matrícula 1111917-4

Machado Novais
Matrícula 0021100-1

Fortaleza – CE
Dezembro, 2017
2

PAULO VICTOR RODRIGUES DAMASCENO

JURIDIFICAÇÃO: UMA BREVE ANÁLISE SOBRE A


EXPANSÃO DA ATIVIDADE JURÍDICA NO BRASIL

Monografia apresentada como


exigência parcial para a obtenção
do grau de bacharel em Direito, sob
a orientação de conteúdo do
professor Flávio José Moreira
Gonçalves e orientação
metodológica da professora Tereza
Monnica Xavier Bacelar de
Carvalho.

Fortaleza – Ceará
2017
3
4

PAULO VICTOR RODRIGUES DAMASCNEO

JURIDIFICAÇÃO: UMA BREVE ANÁLISE SOBRE A


EXPANSÃO DA ATIVIDADE JURÍDICA NO BRASIL

Monografia apresentada à banca


examinadora e à Coordenação do
Curso de Direito do Centro de
Ciências Jurídicas da Universidade
de Fortaleza, adequada e aprovada
para suprir exigência parcial
inerente à obtenção do grau de
bacharel em Direito, em
conformidade com os normativos
do MEC, regulamentada pela Res.
Nº R028/99 da Universidade de
Fortaleza.

Fortaleza (CE), 30 de novembro de 2017.

Flávio José Moreira Gonçalves, Dr.


Prof. Orientador da Universidade de Fortaleza

Martonio Mont'Alverne Barreto Lima, Dr.


Prof. Examinador da Universidade de Fortaleza

Francisco Moreira Ribeiro, Me.


Prof. Examinador da Universidade de Fortaleza

Tereza Monnica Xavier Bacelar de Carvalho, Me.


Profª. Orientadora de Metodologia

Profª. Núbia Maria Garcia Bastos, Me.


Supervisora de Monografia

Coordenação do Curso de Direito


5

AGRADECIMENTOS

Aos professores e orientadores, Flávio José Moreira Gonçalves e Tereza Monnica


Xavier Bacelar de Carvalho, pelo apoio, atenção, paciência e encorajamento contínuos na
pesquisa, à Banca examinadora e aos demais mestres da casa, pelos conhecimentos
transmitidos, ao Centro de Ciências Jurídicas e à Diretoria do curso de graduação da
Universidade de Fortaleza, pelo apoio institucional e pelas facilidades oferecidas.

A Maria Rodrigues de Oliveira, Francisco Carlos Damasceno e Vicente de Paulo dos


Santos Queiroz, pelo apoio que me deram, em meio tantas dificuldades.

A Saulo Ferreira Damasceno, Savio Ferreira Damasceno e Gilberto Oliveira da Silva.

A Leandro Rodrigues, por sua solidariedade durante esses quase sete anos.

Aos companheiros de viajem, Allison Duarte Barbosa e Faber Rodrigues da Silva


Junior, que de alguma forma atravessam esse trabalho. “Amigos cujos corações eu vi baterem
nus quando lhes rasguei as camisas”.

Ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), programa do Ministério da Educação,


sem o qual jamais teria sido possível meu ingresso no Curso de Direito da Universidade de
Fortaleza.

A Meire, por salvar minha vida.

Ao Deus desconhecido.
6

"Nenhum aspecto de nossos sistemas jurídicos


modernos é imune à crítica. Cada vez mais
pergunta-se como, a que preço e em benefício
de quem estes sistemas de fato funcionam"
Mauro Cappelletti
7

RESUMO

O direito, compreendido em toda sua dimensão de instituições, leis, princípios, regras e


operadores, vem expandindo-se de forma acelerada sobre toda sociedade em diversas partes
do mundo, inclusive no Brasil, transpassando a existência humana e tudo aquilo que a cerca,
regulando cada vez mais objetos e sujeitos que compõem nosso espaço social. Tal fenômeno
vem recebendo atenção de estudiosos de diversas áreas do conhecimento desde o início do
século XX, quando a Alemanha introduziu o tema em sua pauta de discussões jurídicas e
sociológicas. Essa expansão do direito sobre a sociedade tem sido denominada de
juridificação, cuja conceituação é de difícil delimitação, podendo ser analisada sob diversas
acepções multidisciplinares. Esse estudo propõe-se inicialmente investigar a origem e os
vários conceitos elaborados sobre o fenômeno da juridificação, tentando encontrar um núcleo
conceitual comum entre eles; em seguida, se buscará investigar através de perspectivas
distintas, como os processos de interdependência sociais, o surgimento de novos direitos do
homem e o Estado Social (Welfare State) podem contribuir como causa geral para o
fenômeno da juridificação. No momento seguinte serão analisadas as causas específicas da
juridificação brasileira, demonstrando como a expansão do direito no Brasil teve como causas
fundamentais o processo de redemocratização e a promulgação da Constituição Federal de
1988. Por fim, será apontado através de dados quantitativos como o mundo jurídico brasileiro
vem expandindo-se em diversas direções, quer seja através de uma inflação legislativa ou
hipertrofia da lei, quer seja mediante a ampliação de outros elementos que compõem o mundo
do direito, tais como os litígios, juízes, advogados, escritórios de advocacia, estudantes de
direito e instituições de ensino jurídico, confirmando que o fenômeno da juridificação está
presente na sociedade brasileira.

Palavras-chave: Expansão do Direito. Juridificação. Inflação legislativa. Hipertrofia da lei.


8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................09
1 JURIDIFICAÇÃO: ORIGEM E CONCEITOS.....................................................................11
1.1 Habermas e os impulsos de juridificação.........................................................................13
1.2 Dimensões da juridificação em Blichner e Molander......................................................15
1.3 Conceitos de juridificação em Gunther Teubner.............................................................18
2 JURIDIFICAÇÃO: POSSÍVEIS CAUSAS...........................................................................21
2.1 Interdepedência como causa da juridificação .................................................................22
2.2 Juridificação: era dos direitos e o Estado Social intervencionista...................................24
2.3 Causas da juridificação brasileira.....................................................................................27
3 OS NÚMEROS DA JURIDIFICAÇÃO BRASILEIRA.......................................................30
3.1 Hipertrofia do judiciário brasileiro: a justiça em números...............................................31
3.2 Inflação legislativa: definição e alguns números.............................................................33
3.3 Direito em expansão: ensino jurídico e advocacia..........................................................36

CONCLUSÃO..........................................................................................................................39
REFERÊNCIAS........................................................................................................................41
9

INTRODUÇÃO

O direito, compreendido em toda sua extensão, vem ampliando-se sobre sociedade


numa tendência universal, a atividade jurídica cada vez mais ganha espaço dentro das relações
sociais através de formas distintas, o número de leis aumenta, surgem inúmeros direitos,
novos sujeitos de direito são incorporados aos ordenamentos jurídicos, surgem novos objetos
de direito, aparecem novas especialidades como o direito digital, consequência no avanço
técnico-cientifico, que faz emergir novas formas de relações que também passam a ser
reguladas. Surge, portanto, todo um mundo jurídico cada vez mais ativo e crescente na
sociedade.

De outro lado surge uma sociedade mais complexa, dentro de um mundo globalizado e
interdependente, que por consequência passa a exigir do direito um retorno que vise proteção,
proibição ou regulação de atividades antes postas a revelia do sistema jurídico. Tudo passa a
ser normatizado, até mesmo relações que antes eram alheias ao direito passam a ser reguladas
por ele, como as relações homoafetivas, certas relações familiares entre pais e filhos e a união
de pessoas não casadas. Surge toda uma plataforma de atividades jurídicas penetrando cada
vez mais nas relações sociais em um nível global. Diante desses acontecimentos emergem
inúmeros estudos na área sociológica e jurídica para explicar esse fenômeno de crescimento
do direito, que para muitos estudiosos é denominado através do termo “juridificação”.

No Brasil não é diferente, a expansão do direito, ou a juridificação, encontra-se


consubstanciada na inflação legislativa, no crescimento sem precedentes em diferentes níveis
do Poder Judiciário, no aumento da oferta em educação jurídica, no crescimento do número
de bacharéis, operadores do direito e escritórios de advocacia.

A partir desses fatos, o presente estudo será desenvolvido com a finalidade de propiciar
um maior esclarecimento sobre o fenômeno da juridificação na sociedade brasileira,
respondendo aos seguintes problemas de pesquisa: qual a origem conceitual da juridificação?
Quais são as acepções existentes e se há alguma identificação comum entre elas? Quais são as
causas desse fenômeno em uma perspectiva global e nacional? Quais dados podem comprovar
a existência da juridificação na sociedade brasileira?
10

Os aspectos metodológicos utilizados na presente pesquisa são os seguintes: em relação


à natureza ou abordagem do problema, o presente estudo é quali-quantitativo, uma vez que
utiliza fatos e dados objetivos, bem como analisa fenômenos sociais vinculados ao objeto de
estudo. O tipo ou procedimento técnico utilizado é bibliográfico, baseado em um estudo
descritivo-analítico através de explicações pautadas em trabalhos publicados sob a forma de
livros, artigos, seminários, relatórios, publicações especializadas, legislação e dados oficiais
que abordem o tema em questão, direta ou indiretamente. Quanto a utilização dos resultados,
a presente pesquisa é pura e/ou teórica, posto que terá como único objetivo a ampliação dos
conhecimentos. Em relação aos objetivos, a pesquisa é descritiva, tendo em vista que buscará
descrever, classificar e esclarecer o problema apresentado. Exploratória, com a finalidade de
aprimorar o assunto através de informações sobre o tema em discussão.

No primeiro capítulo é discutido através de várias acepções e perspectivas distintas, a


origem e o conceito de juridificação, tentando localizar entre eles um ponto nuclear comum.
O segundo capítulo, por sua vez, é dedicado a investigar através do olhar de diferentes
autores, quais são as causas da juridificação em uma perspectiva geral ou universal e quais
são as causas desse fenômeno dentro da realidade brasileira. O terceiro e último capítulo
propõe demonstrar de forma concreta e objetiva, através de uma série de dados e informações,
a existência da expansão da atividade jurídica no Brasil, ou, em outras palavras, tenta-se
confirmar o fenômeno da juridificação brasileira como acontecimento real e ativo. Em suma,
o presente trabalho tem como foco principal conceituar, determinar as causas e demonstrar a
existência da juridificação dentro da realidade nacional.
11

1 JURIDIFICAÇÃO: ORIGEM E CONCEITOS

Insta esclarecer inicialmente que este primeiro capítulo não pretende discorrer sobre
uma teoria social do fenômeno da juridificação 1, mas antes, estudar suas bases conceituais,
sua formação, seu surgimento e seus sentidos. O termo é de difícil conceituação, seja no
âmbito normativo ou descritivo, e a depender do contexto teórico onde esteja inserido, seu
significado pode ganhar conotações distintas, não apresentando, portanto, uma linearidade
conceitual definitiva. Sánchez (2007, p. 17), afirma que “juridification ou juridificação não
são termos que designem um fenômeno claro e uniforme. Pelo contrário, pode-se falar em
juridificação em contextos muito distintos e com finalidades, assim mesmo, diversas”. Assim,
para uma compreensão adequada da expressão e do fenômeno que ela designa, é necessária
uma análise contextualizada de seus âmbitos de aplicação, bem como uma revisão do tema
através de autores que se detêm sobre o assunto. Nesse sentido, faz-se necessário retomar a
gênese da expressão, que advém originalmente do vocábulo alemão Verrechtlichung, surgido
na República de Weimar, Alemanha, por ocasião dos trabalhos de Fränkel e Kirchheimer; este
último expressava uma profunda preocupação com a crescente formalização jurídica,
advertindo que esse crescimento neutralizava o movimento das decisões estritamente
políticas, bem como paralisava os conflitos de algumas dimensões sociais, como é o caso dos
conflitos da classe trabalhadora.

Caminha-se para a juridificação de todas às áreas, e procura-se evitar toda decisão


estritamente política, seja no âmbito do poder ditatorial do Presidente do Reich, seja
no da solução de conflitos trabalhistas; tudo está sendo neutralizado por meio da
formalização jurídica. (RIZZI, p. 59, online, citando KIRCHHEIMER, 1928).

Como se observa, o conceito de juridificação nasce dentro de uma conjuntura alemã


específica, não podendo, contudo, ser generalizado ou universalizado como única
conceituação possível, mas apenas utilizado como referência inicial que marca a gênese da
discussão. Posteriormente alguns autores se deterão sobre o tema, como Habermas (2016, p.
641-642), para quem o conceito de Verrechtlichun, expressado por Kirchheimer (1928)
significa “[...] em primeira linha, à institucionalização do conflito de classes em termos de um
direito do trabalho e do salário; em segundo lugar, [...] o engessamento jurídico de
controvérsias sociais e de lutas políticas.”. Nessa mesma esteira de pensamento, Sánchez
(2007, p. 16) aduz que, com a expressão Verrechtlichung, Kirchheimer (1928) queria sinalizar

1
Em inglês: juridification; em alemão: verrechtlichung; em francês: juridification e em italiano: giuridificazione.
12

o “fato de que determinadas questões foram subtraídas à distribuição social de forças e


inseridas na esfera do Direito”, o autor acrescenta ainda que o termo alemão denota a ideia de
um excesso desnaturalizador que se definiria melhor com a expressão hiper-regulação. Já para
Teubner (1988), embora reconheça a utilização do termo por Kirchheimer (1928), não admite
que este seja o percussor da expressão, pois assevera que Fränkel já se utilizava do termo para
criticar a institucionalização jurídica das relações de trabalho, fenômeno que paralisava a
dinâmica política do movimento da classe trabalhadora.

[...] foi pela primeira vez empregado durante a República de Weimar, com uma
acentuação polêmica, no âmbito do Direito do Trabalho: Kirchheimer usou-a para
criticar a formalização jurídica das relações de trabalho, neutralizadora dos genuínos
conflitos políticos de classe e, já antes disso, Fränkel a utilizara, para imputar à
juridificação das relações trabalhistas a ‘petrificação’ da dinâmica política do
movimento da classe trabalhadora. (TEUBNER, 1988, p. 29).

Embora Kirchheimer e Fränkel entendam, em certa medida, a juridificação como a


expansão do Direito sobre os conflitos políticos de classe, ambos os autores estão
preocupados não com a expansão em si, mas com os efeitos desta, aduzindo que o fenômeno
engessa e petrifica a dinâmica de lutas políticas e controvérsias sociais, bem como
institucionaliza a luta de classes através de regulações jurídicas sobre o trabalho e salário.
Observa-se, portanto, que o conceito de juridificação de ambos os autores possui uma
delimitação teórica que se restringe a uma análise crítica dos efeitos da juridificação sobre
lutas políticas, controvérsias sociais e regulações jurídicas sobre o trabalho, que são avaliadas
dentro do contexto histórico alemão. Na verdade, a Verrechtlichung analisada enquanto
fenômeno, transcende o espaço de domínio da ciência jurídica e sua conceituação ultrapassa a
delimitação fechada de uma ordem jurídica nacional. Assim, o uso do conceito, bem como a
observação do fenômeno, não estão vinculados única e exclusivamente ao sentido germânico
inicial, que deu origem, por exemplo, as noções de “hiper-regulação” ou de “elemento
paralisante das lutas sociais” desenvolvidas por Kirchheimer e Fränkel, nem tão pouco trata-
se de um problema próprio das ciências jurídicas, sociológicas e políticas da Alemanha,
embora tenha se desenvolvido a partir delas. Assim, compreendida essa etapa, o fenômeno da
juridificação deve ser observado como acontecimento universal, que apresenta semelhanças e
particularidades distintas de nação para nação, sendo sua discussão um debate complexo e
interdisciplinar que envolve não só juristas, mas economistas, sociólogos, filósofos e até
mesmo políticos.

1.1 Habermas e os impulsos de Juridificação


13

Em Habermas (2016), os conceitos de juridificação utilizados por Kirchheimer e


Fränkel, mencionados anteriormente, sofrem uma ampliação de seu horizonte teórico, não se
restringindo a determinadas lutas sociais e políticas, entendendo o autor que a juridificação
relaciona-se com o fenômeno da multiplicação do Direito escrito nas sociedades modernas,
definindo-a, de modo geral, como processo no qual o sistema jurídico se hipertrofia,
regulando cada vez mais objetos ou fatos já assimilados pelo mundo do Direito, bem como
amplia seu horizonte de atuação, seus campos de domínio, conduzindo a uma incorporação
cada vez maior de elementos que até então encontravam-se externos ao sistema. Segundo o
autor, o fenômeno da juridificação pode assumir duas formas distintas, as quais intitulou de
extensão e condensação.

[...] podemos fazer uma distinção entre a extensão do direito, ou seja, a


normatização jurídica de novos fatos sociais, até então regulados de modo informal,
e a condensação do direito, isto é, a especialização de matérias jurídicas globais que
se solidificam em matérias particulares. (HABERMAS, 2012, p. 641).

Em outras palavras, pode-se dizer que o alcance de um objeto ainda não regulado pelo
direito se localiza no âmbito de extensão da juridificação e a regulação ou especialização cada
vez maior de um objeto já assimilado pela normatização jurídica, estaria no âmbito de
condensação. Habermas utiliza o conceito de juridificação para testar sua tese sobre a
“colonização do mundo da vida”, conceito complementar ligado a sua “teoria do agir
comunicativo”, que por questões de delimitação teórica não serão tratados aqui. Em termos
gerais, Habermas descreve e distingue quatro impulsos globais de juridificação que marcaram
época e que são analisados a partir de uma perspectiva histórico-sociológica. O primeiro
impulso ou processo de juridificação deve ser compreendido a partir do desenvolvimento do
direito europeu, durante o período absolutista, onde ocorre a institucionalização, ou
normatização de dois âmbitos que permitirão a economia e o Estado se diferenciarem em
subsistemas. Um dos âmbitos que passa a ser normatizado através de um direito privado é o
comércio individual.

[...] o comércio entre proprietários individuais de mercadorias é normatizado no


sentido de uma ordem do direito privado, talhada conforme pessoas de direitos que
agem estrategicamente e celebram contratos. [...] tal ordem jurídica apresenta
características da positividade, da generalidade e da formalidade, tendo sido
construída com o auxílio do moderno conceito de lei e de pessoas de direitos que
podem celebrar contratos, adquirir, alienar ou herdar posses. Ela tem por objetivo
garantir a liberdade e a propriedade da pessoa privada, a segurança jurídica e a
igualdade formal de todas as pessoas de direito perante a lei e, com isso, a
calculabilidade de todas as ações reguladas pelo direito. (HABERMAS, 2012, p.
643).
14

No outro âmbito, o direito público outorga ao poder estatal soberano o monopólio do


poder legal, conferindo-lhe a exclusividade na produção de jurisdição, e por assim dizer, de
dominação. A esses dois acontecimentos que se desenrolam com intervenções de direito
público e privado é que Habermas denomina de primeiro impulso de juridificação, cujo
acontecimento permite a constituição da sociedade burguesa. Para o autor, a autocompreensão
dessa fase pode ser encontrada de forma mais coerente no Leviatã de Thomas Hobbes.

O segundo impulso de juridificação pode ser percebido no Estado de direito burguês,


que encontrou um modelo protótipo no constitucionalismo alemão do século XIX, sendo
caracterizado por uma normatização jurídico-constitucional do poder público, que no período
antecedente, ou seja, absolutista, era contido e limitado pelo legalismo formal e pelas vias
burocratizadas do exercício do poder. Nesse momento, a sociedade burguesa entendida
enquanto pessoas privadas, passa a adquirir direitos subjetivos públicos derivados de normas
constitucionais que vinculam diretamente o soberano e toda sociedade burguesa, que nesse
estágio ainda não possui uma formação democrática no sentido de uma participação. Tais
direitos podem ser reivindicados pelos cidadãos, constituindo um princípio da legalidade num
sentido de um “império da lei”.

Apartir de agora, a administração já não pode interferir contra, praeter ou ultra


legem na esfera da liberdade privada dos burgueses. As garantias da vida, da
liberdade e da propriedade de pessoas privadas já não constituem efeitos colaterais
funcionais de um intercâmbio econômico institucionalizado juridicamente em
termos de um direito privado; mediante a ideia do Estado de direito, elas adquirem o
status de normas constitucionais justificadas moralmente, imprimindo sua marca na
estrutura do poder com um todo. (HABERMAS, 2012, p. 646).

O terceiro impulso de juridificação nasce sob influência da Revolução francesa, que


trazia como lema as expressões Liberté, Egalité, Fraternité. Nesse momento, o Estado de
direito democrático recebe seus primeiros contornos. Dentro dessa conjuntura, é retomada, no
âmbito do direito constitucional, a concepção de liberdade, que o direito natural já tinha
inserido no conceito de lei. Assim, o poder do Estado, já constitucionalizado pelo impulso de
juridificação anterior, passa a ser democratizado, os sujeitos adquirem status de cidadãos e
conquistam direitos à participação política; as leis entram em vigor somente quando
legitimadas por um interesse geral democraticamente assegurado que deve passar por um
procedimento que vincule a produção de normas ao debate público, bem como a formação
parlamentar da vontade. Nesse contexto, pode-se dizer que a universalidade e isonomia do
voto, bem como a liberdade de organização, filiação e participação em partidos políticos são
direitos que se constituem necessários para a legitimação do processo de produção de normas.
15

Como consequência da dinâmica desses acontecimentos, a problemática da divisão dos


poderes institucionais estatais, compreendidos em executivo, legislativo e judiciário, se
acentua na discussão de suas diferenciações funcionais.

O quarto e último impulso de juridificação tratado por Habermas deve ser


compreendido a partir do Estado social, que se desenvolve no contexto do Estado de direito
democrático e objetiva garantir ainda mais liberdades e direitos que o impulso de juridificação
anterior. O desenvolvimento que conduz ao Estado Social deve ser interpretado como a
constitucionalização de uma relação de poder social que se encontra ligada a estruturas de
classe. Nessa fase surgem normas que amenizam os conflitos sociais, como por exemplo, a
limitação da jornada de trabalho, a proteção contra demissão, o seguro social e a liberdade
sindical. Essas normas acabam por equilibrar relações que antes estavam sujeitas “ao poder de
disposição ilimitado e ao poder de organização dos meios de produção dos proprietários
privados”, Habermas (2016, p. 649). Ou seja, tal processo de normatização acaba por
balancear o poder no interior de uma relação já constituída juridicamente. Em suma, pode-se
resumir os quatro processos de juridificação citados por Habermas da seguinte forma: o
primeiro impulso teria ocorrido na Europa Ocidental, culminando no Estado Burguês formado
em pleno absolutismo; o segundo impulso teria sua expressão no Estado de direito
democrático, exemplificado no século XIX com a monarquia alemã; o terceiro impulso teria
dado origem ao Estado de direito, difundido na Europa e América do Norte por influência da
Revolução Francesa; o quarto e último impulso de juridificação teria culminado no Estado de
direito democrático e social, forjado através das conquistas alcançadas durante o século XX
pelo movimento dos trabalhadores europeus.

1.2 Dimensões da juridificação em Blichner e Molander

Blichner e Molander (2005) entendem a juridificação como um processo no qual algo se


multiplica no decorrer do tempo. É a partir desse conceito genérico que os autores analisam,
de forma descritiva, cinco dimensões da juridificação: a) juridificação constitutiva; b)
juridificação como expansão e diferenciação do direito; c) juridificação como aumento da
resolução de conflitos, tendo a lei como referencial; d) juridificação como aumento do poder
judicial e; e) juridificação como enquadramento jurídico.

[...] Short of a workable generic definition we will proceed by delineating five


dimensions of juridification. First, constitutive juridification is a process where
norms constitutive for a political order are established or changed to the effect of
16

adding to the competencies of the legal system. Second, juridification is a process


through which law comes to regulate an increasing number of different activities.
Third, juridification is a process whereby conflicts increasingly are being solved by
or with reference to law. Fourth, juridification is a process by which the legal system
and the legal profession get more power as contrasted with formal authority. Finally,
juridification as legal framing is the process by which people increasingly tend to
think of themselves and others as legal subjects. (BLICHNER; MOLANDER, 2005,
p.5, online). 2

Para uma melhor compreensão, todas essas dimensões de juridification serão tratadas
detalhadamente. O primeiro conceito, ou dimensão, tratado pelos autores, é o de
“juridificação constitutiva”, que seria o processo no qual a produção normativa é criada ou
alterada para incorporar competências do sistema jurídico a uma ordem política. As normas
constitutivas podem ser dividas em três espécies: a) normas procedimentais; b) normas de
limitações do poder do Estado e; c) normas de separação dos poderes. O Estado
constitucional, por exemplo, é caracterizado por normas processuais que definem como
realizar atos políticos; normas de conteúdo que limitam o poder político do Estado e protegem
os direitos individuais; e normas institucionais que dão ao sistema político competências
exclusivas em relação aos outros poderes. O estabelecimento de uma constituição formal, por
assim dizer, pode ser o caso mais evidente do desenvolvimento de uma juridificação
constitutiva. Contudo, as normas constitutivas podem surgir dentro e fora de uma constituição
formal sob o aspecto de doutrinas jurídicas, jurisprudência ou paradigmas legais.

Uma segunda dimensão do conceito é a “juridificação como expansão e diferenciação


do direito”, que pode ser definida como o processo pelo qual um fato ou objeto social é
submetido a uma normatização legal, podendo ser geral ou detalhada. Esse sentido de
juridificação possui dois aspectos distintos, quais sejam: a) a expansão do direito enquanto
norma positiva e; b) a diferenciação horizontal e vertical da lei. A expansão do direito
enquanto norma positiva é o elemento central dessa modalidade de juridificação, que ocorre
quando a lei se multiplica, se expande. Já a diferenciação horizontal da lei, significa que uma
lei é dividida em duas ou mais leis de uma mesma dimensão hierárquica. De outro lado, a
diferenciação vertical significa dizer que uma lei é cada vez mais detalhada, particularista,
diferenciando um número crescente de fatos ou objetos normatizados.

2
[...] Na falta de uma definição genérica viável, procederemos por esboçar cinco dimensões da juridificação. Em primeiro lugar, a
juridificação constitutiva é um processo em que as normas constitutivas de uma ordem política são estabelecidas ou alteradas com a
finalidade de acrescentar competências do sistema jurídico. Em segundo lugar, a juridificação é um processo pelo qual a lei vem
regulamentar um número cada vez maior de atividades diferentes. Em terceiro lugar, a juridificação é um processo pelo qual os conflitos
cada vez mais estão sendo resolvidos por, ou com, referência à lei. Em quarto lugar, a juridificação é um processo pelo qual o sistema
jurídico e a profissão jurídica obtêm mais poder em contraste com a autoridade formal. Finalmente, a juridificação como enquadramento
jurídico é o processo pelo qual as pessoas tendem cada vez mais a pensar em si mesmas e nas outras como sujeitos jurídicos. (tradução nossa)
17

A terceira dimensão de juridificação diz respeito ao “aumento da resolução de conflitos


tendo a lei como referência”. Em outras palavras, significa dizer que em uma determinada
sociedade os conflitos são resolvidos, cada vez mais, baseados em referencias normativos, ou
seja, tendo a lei como referência. Os autores acreditam que esse tipo de juridificação pode se
distinguir em: a) resolução de conflitos judicias, que envolveria um procedimento
padronizado e especializado de raciocínio jurídico vinculado ao poder judiciário; b) resolução
legal de conflitos, que envolveria um raciocínio jurídico fora do judiciário e; c) resolução de
conflitos leigos tendo a lei como referência, que poderia envolver, com menos rigor, o
raciocínio jurídico. Inclusive com a possibilidade das referencias legais serem interpretadas de
forma equivocada, dando margem a erros e mal entendidos. Já a quarta dimensão de
juridificação está ligada ao “aumento do poder judicial” e as principais razões para esse
aumento, de acordo com essa concepção de juridificação, estão relacionadas à indeterminação
do direito ou a sua falta de transparência. A indeterminação pode ser compreendida quando
não está claro para jurisprudência quais regras de direito devem ser aplicadas ou como tais
regras devem ser interpretadas ao caso concreto. Partindo dessa avaliação chega-se a
conclusão de que, quanto maior for a indeterminação, maior será o poder discricionário do
judiciário. O aumento desse poder ocorre também através da falta de transparência, que
refere-se ao grau de abertura e inteligibilidade da lei a partir da ótica do cidadão. Assim,
quando a transparência é diminuída, automaticamente aumenta-se o poder daqueles que
“dominam” as normas em relação àqueles que não. Tanto a indeterminação como falta de
transparência causam o aumento do poder judicial, contudo, para que tal aumento ocorra, é
necessário que o sistema normativo permita uma abertura à discricionariedade do judiciário
quando tais regras estejam indetermináveis ou com falta de transparência.

A última dimensão da juridificação é tratada através do conceito de “juridificação como


enquadramento jurídico”, que é a tendência cada vez maior dos indivíduos compreenderem a
si mesmos e aos outros como sujeitos jurídicos, ou em outras palavras, como sujeitos de
direito, a partir de um ordenamento jurídico comum. Essa dimensão de juridificação é
fortemente observada em sociedades baseadas no Estado de Direito, onde as pessoas atribuem
grande valor ou significado as leis como constitutivas de suas práticas sociais. Nesse contexto,
os indivíduos tendem a si considerarem cada vez mais pertencentes a uma sociedade de
sujeitos legais que possuem direitos e deveres de forma igualitária. Blichner e Molander
(2005) distinguem quatro aspectos dessa dimensão de juridificação, o primeiro aspecto ocorre
quando a sujeição sob um Estado e a aceitação de deveres jurídicos substituem outras formas
18

de submissão e lealdade. Um segundo aspecto está ligado ao fato de que os indivíduos se vêm
cada vez mais autorizados, ou livres, para realizar práticas sociais que não são proibidas sob o
ponto de vista jurídico, bem como confiam a proteção dessa liberdade individual ao sistema
normativo. O terceiro aspecto ocorre quando o bem estar individual e social é pensado em
termos de direitos constituídos legalmente e não como decorrentes de obrigações privadas,
moral, caridade ou decisões políticas. Já o último e quarto aspecto dessa dimensão de
juridificação, ocorre quando a participação democrática é cada vez mais pensada em termos
legais e não meramente como virtude cívica.

1.3 Conceitos de Juridificação em Gunther Teubner

Em sua obra denominada “Juridificação: noções, limites, soluções”, Teubner (1988), faz
uma revisão interdisciplinar de três conceitos de juridificação distintos, existentes no debate
sociológico, jurídico e político. Na discussão jurídica, por exemplo, o autor identifica que o
conceito de juridificação surge ligado a uma concepção de expansão do Direito, expressões
como “inundação de normas” e “explosão legal” passam a ser invocadas para demonstrar a
preocupação da comunidade jurídica com a exorbitante multiplicação do direito positivo da
sociedade em geral. Para autor, essa concepção que faz referência a juridificação como
expansão do direito, é limitada e ortodoxa, posto que concentra-se na mera observação do
crescimento do direito, e, dessa forma, não passa de uma mera ferramenta de inventário que
apresenta pouca utilidade, tornando impossível construir um ponto de partida sólido para uma
compreensão adequada da juridificação enquanto fenômeno. O autor ainda adverte que o
problema da juridificação, entendido como simples expansão da normatização e do
crescimento de material legislativo poderia ser resolvido através de um processo de
racionalização da produção de normas que possibilitasse uma diminuição do número de leis,
contudo, sinaliza, a experiência histórica demonstra que esse tipo de projeto possui grandes
limitações, posto que não enfrenta o problema de forma satisfatória, pois o analisa em uma
perspectiva numérica de crescimento, sem atentar para os efeitos qualitativos acarretados ao
sistema jurídico, político e social.

Parece demasiadamente estreita, contudo, uma impostação da problemática em


análise que se limite à mera observação do crescimento do material legislativo e da
expansão quantitativa do Direito. Por um lado, a análise crítica do fenômeno de
juridificação sob a perspectiva geral de <<inundação de leis>> acaba efetivamente
por limitar a discussão em vários aspectos, muito dificilmente podendo assim
constituir um ponto de partida adequado para a compreensão adequada daquele
fenômeno. Ao puro problema quantitativo do crescimento do direito, ao qual a
expressão <<inundação de leis>> limita sua ênfase, poderão sempre provavelmente
19

acudir ou remediar certos progressos na técnica legislativa – sem que com isso,
todavia, se tenham respondido aos aspectos qualitativos do problema,
indubitavelmente aqueles que mais decisivas implicações acarretam e maiores
interrogações colocam (máxime, o de determinar quais as alterações que a crise da
juridificação trouxe a própria natureza do sistema jurídico). [...]. (TEUBNER, 1988,
p. 25).

Uma segunda acepção analisada advém da sociologia-jurídica, que interpreta a


juridificação como sendo uma “expropriação de conflito”, ou seja, nessa perspectiva os
litígios humanos são transportados de sua esfera social própria e natural, para logo em seguida
serem inseridos dentro de um formalismo jurídico que submete sua existência a processos de
resolução estritamente jurídicos. Esse conceito faz parte da tradição de estudos ligada ao
movimento das politics of informal justice desenvolvido nos Estados Unidos, tendo na Europa
o congênere das “alternativas de direito”. Os adeptos desse conceito de juridificação
questionam a validade de uma das principais funções do Direito, qual seja, “a resolução dos
conflitos”, isso porque, segundo adeptos, existem inúmeros fatores burocráticos dentro
processamento jurídico impedindo que os conflitos sociais sejam adequadamente
solucionados, dentre os quais citam-se: a lentidão processual, o receio de litigação,
dificuldade de acesso a justiça e a incerteza de sucesso no litígio. Assim, desse ponto de vista,
“[...] a juridificação não resolve conflitos, mas simplesmente aliena-os: ou seja, mutila os
conflitos sociais, reduzindo-se a um mero caso judicial, e desse modo exclui qualquer
possibilidade de uma resolução socialmente adequada [...]”, Teubner (1998, p. 26). Nessa
perspectiva, os militantes dessa concepção sugerem que os conflitos sociais devem ser
despidos da dimensão burocrática do formalismo jurídico e devolvidos a dimensão social
mediante a criação de métodos informais ou extrajudiciais de resolução de conflitos. Essa
concepção também é criticada pelo autor, alegando que:

[...] tais propostas revelam-se problemáticas sob vários aspectos: por um lado, um
retorno à justiça informal (<<informal justice>>) implica, nas condições actuais, um
abandono da sorte dos conflitos às existentes constelações de poder social; por outro
lado, as referidas propostas parecem menosprezar certos aspectos cruciais de uma
resolução dos conflitos operada num cenário de separação funcional dos papeis
sociais, que caracteriza a sociedade moderna; finalmente, tais propostas parecem
ainda subestimar uma outra importante função do Direito no contexto de um
universo social funcionalmente diferenciado, consistente na utilização prospectiva
dos conflitos como veículo de generalização e sedimentação de expectativas sociais
congruentes. [...] (TEUBNER, 1988, p. 28).

Por fim, o terceiro e último conceito de juridificação analisado pelo autor está ligado ao
sentido de “despolitização”, desenvolvido por cultores da ciência política. Nessa acepção, a
juridificação seria um processo de neutralização dos conflitos políticos de classe, que
20

acarretaria por consequência uma certa conformação política de determinados grupos sociais.
Em outras palavras, o Direito surgiria como uma espécie de elemento conciliador,
apaziguador dos conflitos sociais, mantendo cada lado da relação, antes conflituosa, em um
estado de imobilidade ou de limitação de seu potencial político, ocorrendo, assim, uma
despolitização. Nessa perspectiva, a juridificação seria algo ambivalente, que se traduziria a
um só tempo em privação e garantia de liberdade. Isso porque, ao garantir direitos, o processo
de juridificação impõe formalmente limites à atuação política dos grupos em conflito. O
exemplo clássico dessa ideia encontra-se nas relações de trabalho, tendo como atores: o
Estado, o trabalhador, a empresa e as respectivas associações sindicais destes dois últimos.

[...] por um lado, o Direito do Trabalho protege certos interesses dos trabalhadores e
assegura uma margem de manobra às associações sindicais representativas desses
interesses; contudo, e por outro lado, o caráter <<repressivo>> da juridificação tende
a despolitizar os conflitos laborais e sociais, em virtude de originar uma drástica
limitação das possibilidades de uma acção militante daquelas associações.
(TEUBNER, 1988, p. 29).

Para os defensores dessa acepção de juridificação, os efeitos despontencializadores do


caráter político das lutas laborais só poderão ser debelados mediante políticas sindicais que
reorientem sua perspectiva em direção a estratégias conflituosas que representem o interesse
dos trabalhadores de forma genuína e autônoma. Embora a “juridificação” seja de difícil
conceituação, conforme se pôde constatar através dos vários sentidos interdisciplinares
expostos neste capítulo, todos eles encontram uma certa similaridade que está vinculada a
uma acepção de “crescimento ou expansão do mundo jurídico” através da sociedade, e é nesta
acepção, existente de forma direta ou indiretamente nos vários sentidos de juridificação
apresentados, que assenta-se o ponto nuclear desse conceito, dai porque a análise da expansão
da atividade jurídica no Brasil portar inicialmente uma definição conceitual de
“juridificação”.
21

2 JURIDIFICAÇÃO: POSSÍVEIS CAUSAS

O Direito cresce em todas as direções em uma velocidade fascinante, atravessando todas


as dimensões da vida social. Dentro dessa conjuntura, talvez seja possível afirmar que não há
lugar em que a intervenção direta ou indireta do mundo jurídico esteja a acontecer. Mas quais
fatores contribuem para a existência do fenômeno da juridificação? Porque todo corpo social
encontra-se sedimentado, cada vez mais, por camadas de interversão do mundo jurídico?

Após discorrer no capítulo anterior sobre a origem dos vários conceitos de


“juridificação”, identificando entre eles o elo comum de uma base teórica conceitual, que em
termos gerais caracterizou-se por uma acepção de “crescimento ou expansão do Direito”, este
capítulo será dedicado a investigar as possíveis causas da juridificação. Importa esclarecer que
essas causas sofrem mutações no tempo e espaço, sendo possível visualizá-las por diversas
perspectivas, inclusive interdisciplinares.

Definir as causas da juridificação não é tarefa simples, a complexidade e magnitude do


fenômeno possibilitam recortes e delimitações específicas que proporcionam olhares distintos,
tornando impossível estabelecer uma causa única para o fenômeno. Em outras palavras, pode-
se afirmar que haverá causas diferentes a depender da disciplina que analisa, bem como do
contexto temporal e regional onde se desenvolve o estudo.

Compreendida essas ressalvas iniciais, esse capítulo dissertará em seu primeiro


momento sobre os processos de interdependência, característicos da sociedade
contemporânea, que contribuíram para a expansão do mundo jurídico. Em um segundo
momento será demonstrado como a multiplicação do direito dos homens e o surgimento do
Estado Social e intervencionista também contribuíram para a ampliação do Direito.

Por fim, serão analisadas causas específicas que impulsionaram o fenômeno da


juridificação no Brasil a partir reabertura democrática, que trás seu bojo a promulgação da
Constituição Federal no final dos anos 80, passando a estabelecer uma série de novos direitos
e transformando o Judiciário nacional em uma verdadeira instituição autônoma aos demais
poderes.
22

2.1 Interdependência como causa da juridificação

Para Lopes (2005), a expansão do Direito está estritamente ligada à ampliação dos
processos de interdependência existentes na sociedade contemporânea, sendo, portanto, o
veículo pelo qual o mundo jurídico se propagaria no tempo e espaço. Segundo o autor, a
interdependência caracteriza-se “[...] pela reciprocidade das dependências (mesmo quando
assimétricas) entre os participantes de uma relação social [...]”, Lopes (2005, p. 17). Essa
interdependência, conceito já incorporado às ciências sociais, possui características distintas e
variáveis que o autor divide em três modalidades históricas.

Numa primeira modalidade, há uma interdependência que se manifesta como base


das relações sociais. Essa interdependência nuclear de qualquer convivência adviria
da impossibilidade do homo sapiens de sobreviver isoladamente à natureza, o que o
impele a estabelecer relações entre si para lidar com ela. Nesse sentido, é uma
interdependência que precederia a própria sociedade, apresentando-se como
necessidade comum e básica para contrair relações sociais de produção. A
sexualidade também integra esta modalidade de interdependência pré-social, como
impulso que revela a dependência da proximidade de outros, como a constatação da
precariedade biológica do humano, particularmente evidenciada na “longa infância”
de cuidados necessários ao nosso desenvolvimento [...]. (LOPES, 2005, p. 18).

Essa primeira modalidade, denominada “interdependência biológica”, possui um caráter


de sobrevivência, está presente como base nuclear das relações entre os indivíduos, contudo,
não é responsável por definir as formas de organização social que são adotadas
historicamente, existindo outros fatores que contribuem para essa definição. A segunda
modalidade, classificada pelo autor como “interdependência relativa”, pode ser encontrada na
modernidade, consequência das relações sociais existentes nesse período. Nesse contexto
histórico, os sujeitos gozam de certa liberdade e autonomia, adotam o contrato como
paradigma de suas relações, possuem interesses distintos e são necessariamente mediados por
coisas, como o dinheiro, por pessoas ou instituições. A mediação, portanto, funcionaria como
condição indispensável para o estabelecimento dessas relações e o contrato seria a referência
ou paradigma principal dos atores envolvidos. Como consequência desse quadro, surgem as
“externalidades negativas”, ou seja, acontecimentos nocivos que ultrapassam a esfera dos
participantes envolvidos em dada relação, atingindo terceiros alheios aos agentes que às
deflagraram.

[...] Afinal, as relações sociais modernas envolvem sujeitos livres para contraí-las,
eles tendem a deslocar o ônus produzido no relacionamento para fora do mesmo,
atingindo pessoas alheias, ao invés de assumi-lo. Como não há submissão entre
interdependentes, não é razoável que algum ou todos os sujeitos da relação arquem
com suas consequências negativas, preferindo exteriorizá-las. (LOPES, 2005, p. 19).
23

Diante dessa conjuntura, a modernidade é marcada por uma larga escala de


externalidades negativas que podem ser observadas em meio aos processos de
industrialização, urbanização e internacionalização, muito visíveis no mundo moderno. Como
exemplos de externalidades negativas podem ser citadas a inflação no campo econômico ou a
poluição no campo ambiental. Essas externalidades ocorrem porque a sociedade moderna,
compreendida com um todo, não é interdependente de fato, mas um conjunto de pequenas
interdependências espalhadas pelo corpo social que vinculam somente os participantes
específicos de uma dada relação (independente da extensão de seus efeitos), sendo o restante
da sociedade descartada, não “existindo” ativamente.

Assim, como a interdependência entre sujeitos livres e autônomos não é propicia à


absorção – por todos ou alguns deles – dos custos da relação social, também
favorece sua externalização para os estranhos a ela, pertencentes a outras relações
sociais ou a nenhuma. Descarrega sua nocividade para além deles, porque a relação
de interdependência que praticam visa, exatamente, à sua independência (ainda que
provisória) da sociedade. Em suma, interdependência entre os envolvidos e
independência em face dos demais: o público-alvo de suas externalidades negativas.
(LOPES, 2005, p. 20).

Na contemporaneidade as relações sociais intensificam-se, emergindo através de uma


“interdependência mais abrangente e profunda”. Nessa modalidade, as interdependências não
estão restritas aos agentes de uma dada relação, mas estendem-se por todo conjunto do tecido
social, decorrendo daí sua abrangência. Sua profundidade, por outro lado, decorre das
dependências reciprocas emergentes, que nesse momento tornam-se ampliadas e diretas, cujo
impacto das ações é imediato, repercutindo não apenas entre os participantes envolvidos em
uma dada relação, mas sobre toda a sociedade. Para Lopes (2005), enquanto a modernidade
apresenta interesses individuais e coletivos, a contemporaneidade apresenta os interesses
difusos. É nesse contexto que nasce a sociedade da interdependência, preocupada com a paz,
o equilíbrio ambiental, a qualidade de vida, a higiene social, a moralidade pública, as guerras,
a insustentabilidade ecológica, as doenças, o desemprego em larga escala, a violência etc.
Trata-se de uma sociedade globalizada e cada vez mais complexa, cuja interdependência
envolve tudo, inclusive futuras gerações, exigindo uma ampliação das responsabilidades e das
exigências éticas em um plano cada vez mais amplo e geral.

E o que tem o direito com isto? Ora, como aduzem as várias teorias do direito,
relações jurídicas são relações sociais de interdependência. São vínculos sociais
constituídos por uma polaridade que apresenta uma correspondência entre, de um
lado, um dever jurídico cujo cumprimento se exige e, de outro lado, um direito
subjetivo cujo exercício lhe é pertinente. Implicam um ao outro e vice-versa,
caracterizando dependências recíprocas (interdependência). Jurídico é, assim, o
24

comportamento que exige um comportamento correspondente de outrem. (LOPES,


2005, p. 22, grifo original).

Ainda segundo Lopes (2005), a interdependência contemporânea é o habitat do direito,


sendo a ferramenta jurídica o instrumento mais adequado para atender as inúmeras demandas
que emergem das novas relações sociais existentes nesse período. O direito, portanto,
expande-se na medida em que passa a regular, cada vez mais, as inúmeras formas de relações
contemporâneas, que são interdependentes, instantâneas e causam efeitos imediatos
decorrente do auto nível de dependência e conectividade existente nessas relações, exigindo
uma conduta deontológica de seus participantes em relação a toda sociedade. Uma vez que as
relações sociais multiplicam-se e tornam-se mais complexas e dependentes umas das outras,
surge a necessidade de regular não só essas relações, mas os efeitos que advém delas. Nesse
contexto, a juridificação, ou a expansão do direito, surge como consequência e solução para
manter em harmonia das relações sociais.

2.2 Juridificação: era dos direitos e o Estado Social intervencionista

A multiplicação e a universalização dos direitos do homem é parte constitutiva do


fenômeno da juridificação, sendo importante uma pequena passagem pelo assunto. Nesse
caminho, faz-se necessário dar atenção aos estudos de Bobbio (2004, p. 33), para quem “o
desenvolvimento da teoria e da prática (mais da teoria do que da prática) dos direitos do
homem ocorreu, a partir do final da guerra, essencialmente em duas direções: na direção de
sua universalização e naquela de sua multiplicação.”. Embora o autor cite a universalização e
a multiplicação dos direitos do homem, apenas a multiplicação será analisada especificamente
em seu estudo.

Essa multiplicação dos direitos ocorreu, segundo o autor, de três modos distintos: em
primeiro lugar, porque houve um aumento de bens tutelados juridicamente; em segundo lugar,
porque foi ampliada a titularidade de direitos típicos do homem a sujeitos diversos; em
terceiro e último lugar, porque a figura do homem deixou de ser considerada ente genérico
(abstrato) e passou a ser identificada através de suas diversas formas de manifestação em
sociedade, com o velho, o doente, a criança etc. Em resumo, a multiplicação dos direitos
ocorreu porque há mais bens, mais sujeitos e mais identidades de indivíduos que passam a ser
tutelados pelo direito. O autor aduz que o primeiro processo surge com a passagem das
liberdades denominadas negativas, para os direitos sociais e políticos, que exigem uma
25

intervenção do Estado. O segundo processo, por sua vez, ocorre através da passagem do
indivíduo humano, considerado como único detentor de direitos, para a aquisição de direitos
através de sujeitos distintos, como as coletividades de minorias étnicas, os animais e a
natureza.

Com relação ao segundo, ocorreu a passagem da consideração do indivíduo humano


uti singulus, que foi o primeiro sujeito ao qual se atribuíram direitos naturais (ou
morais) — em outras palavras, da “pessoa” —, para sujeitos diferentes do indivíduo,
como a família, as minorias étnicas e religiosas, toda a humanidade em seu conjunto
(como no atual debate, entre filósofos da moral, sobre o direito dos pósteros à
sobrevivência); e, além dos indivíduos humanos considerados singularmente ou nas
diversas comunidades reais ou ideais que os representam, até mesmo para sujeitos
diferentes dos homens, corno os animais. Nos movimentos ecológicos, está
emergindo quase que um direito da natureza a ser res peitada ou não explorada, onde
as palavras “respeito” e “exploração” são exatamente as mesmas usadas
tradicionalmente na definição e justificação dos direitos do homem. (BOBBIO,
2004, p. 33, grifo original).

Por seu turno, o terceiro processo advém da passagem do homem genérico para um
homem mais específico, compreendido em sua multiplicidade de manifestações sociais que
passam a ser visualizadas através de critérios distintos de diferenciação, tais como a idade, as
condições físicas e o sexo. Cada um desses critérios revela condições e diferenças específicas
que impedem igual proteção e tratamento, isso porque o velho é diferente da criança, o
homem da mulher, o sadio do enfermo etc. Em suma pode-se dizer que essa proliferação dos
direitos do homem aconteceu por meio de três causas distintas, a dizer:

[...] a) porque aumentou a quantidade de bens considerados merecedores de tutela;


b) porque foi estendida a titularidade de alguns direitos típicos a sujeitos diversos do
homem; c) porque o próprio homem não é mais considerado como ente genérico, ou
homem em abstrato, mas é visto na especificidade ou na concreticidade de suas
diversas maneiras de ser em sociedade, como criança, velho, doente, etc. Em
substância: mais bens, mais sujeitos, mais status do indivíduo.[...] (BOBBIO, 2004,
p. 33).

Taubner (1988), por sua vez, analisa as causas da juridificação através de um prisma
bastante distinto. Segundo autor, para uma compreensão adequada das causas da juridificação
é necessário estabelecer uma delimitação histórica que concentre-se no Estado do Bem-estar
Social (ou intervencionista) encontrado no quarto impulso de juridificação analisado por
Habermas (2016), tema já discutido no primeiro capítulo deste trabalho. Por Welfare State, ou
Estado do Bem-estar Social, entende-se a forma de organização política e econômica que
estabelece o Estado como agente central na organização econômica e na promoção social, ou
seja, nesse modelo, o Estado é o ator que regulamenta toda a vida social, política e econômica
de uma nação através de suas leis e políticas de intervenção que visam o máximo de qualidade
26

de vida para todos os cidadãos, proporcionando direito a condições mínimas de educação,


saúde, moradia e assistência social. Em suma, passa a estabelecer mais direitos. Em sua
análise, Taubner (1988) lança mão aos estudos desenvolvidos por Max Weber. O autor
explica que na visão de Weber, há uma crescente particularização do direito, decorrente,
dentre outros fatores, dos “imperativos sociais da democracia”, que conduzem a um
intervencionismo estatal onde é possível visualizar a manifestação da juridificação.

As causas a que Weber atribui esta recente particularização do Direito são várias.
Uma delas deriva dos <<imperativos sociais da Democracia>>, conducentes ao
típico intervencionismo do Estado Social – exigências de materialização do direito
formal são endereçadas ao Direito por certos grupos de interesses tais como as
organizações sindicais, o mesmo acontecendo com outros grupos representativos de
diversos interesses desenvolvidos no mundo da indústria. Outra causa para a um tal
particularização é-nos dada afinal pelos próprios juristas – que Weber apelida de
<<ideólogos do direito>> –, em particular, pela insistência reivindicativa no sentido
do desenvolvimento de um <<direito social baseado em postulados éticos de forte
carga emocional tais como justiça ou dignidade humana>> (TEUBNER, 1988, p.
38, grifo original).

Essa particularização do direito se expressa através da materialização do direito formal


mediante o intervencionismo estatal que passa a utilizar o Direito para regular áreas que antes
eram consideradas autônomas ou autorreguladas, como o direito do trabalho e industrial. Essa
necessidade de regulação decorre das emergentes necessidades de proteção social
características dos enunciados democráticos, bem como da insurgência de blocos de poder
econômicos que passam a exigir mais direitos. Ainda segundo o autor, há uma
instrumentalização do Direito pelo sistema político cuja regulação jurídica é implementada
pelo Estado intervencionista. Em suma, Teubner (1988) aduz que a juridificação é típica do
Estado Social e intervencionista, expressando-se através da crescente materialização do
direito formal. Em análise mais ampla e diferente, Habermas (2016) aduz que existem quatro
grandes causas da juridificação (já mencionadas aqui em termos históricos), a primeira delas
seria o surgimento do Estado Burguês formado em pleno absolutismo; a segunda causa seria o
Estado de direito democrático, exemplificado no século XIX com a monarquia alemã; a
terceira teria surgido origem ao Estado de direito, difundido na Europa e América do Norte
por influência da Revolução Francesa e a quarta causa da juridificação decorreria do Estado
de direito democrático e social do século XX. Vianna (1999), por sua vez, dentro de uma
perspectiva mais especifica, leciona que a democratização do acesso à Justiça figura como
uma das principais causas que impulsionaram o crescimento do mundo jurídico
contemporâneo.
27

2.3 Causas da juridificação brasileira

Saindo um pouco das perspectivas e causas gerais (analisadas numa espécie de âmbito
global), visitadas até agora através dos olhares de Teubner (1988), Vianna (1999), Lopes
(2005), Habermas (2016) e Bobbio (2004), mas sem esquecê-las, pretende-se nessa sessão
discutir brevemente algumas das causas da juridificação brasileira. Para tanto, faz-se
necessário de início confinar o objeto de estudo em uma determinada conjuntura espacial ou
territorial, que é o Brasil, bem como demarcar o limite histórico cujo marco inicial assenta-se
a partir da Constituição de 1988. Importa frisar ainda que, embora haja um crescimento de
determinadas áreas do mundo jurídico brasileiro antes mesmo da redemocratização, conforme
restará demonstrado no capítulo seguinte, é a partir dela que haverá uma aceleração mais
densa e explícita do fenômeno nos vários níveis sociais e institucionais do Brasil a partir do
final dos anos 80.

[...] A constituição de 1988 ampliou o campo dos direitos, por vezes com uma hiper-
regulamentação dos mais diversos aspectos da vida econômica e social, aumentando
enormemente a quantidade de áreas sobre as quais o Judiciário tem o poder último
de decisão. A justiça tornou-se assim o recurso normal dos grupos derrotados na
esfera política. [...]. (SORJ, 2006, p. 117-118).

Nessa mesma esteira de pensamento, o agora Ministro do Supremo Tribunal Federal,


Barroso (2008), leciona que a redemocratização do país, que teve como fator histórico
preponderante a Carta Magna de 1988, recuperando garantias à magistratura, transformando o
Judiciário em um verdadeiro poder político, reavivando a cidadania, além possibilitar uma
larga plataforma democrática de direitos que passaram a ser requeridos pelos mais diferentes
grupos sociais. Dentro desse contexto, não restam dúvidas que a redemocratização fundada na
Constituição de 88 possibilitou a ampliação do sistema jurídico, propiciando um terreno
favorável aos processos de juridificação na sociedade brasileira.

Nas últimas décadas, com a recuperação das garantias da magistratura, o Judiciário


deixou de ser um departamento técnico-especializado e se transformou em um
verdadeiro poder político, capaz de fazer valer a Constituição e as leis, inclusive em
confronto com os outros Poderes. No Supremo Tribunal Federal, uma geração de
novos ministros já não deve seu título de investidura ao regime militar. Por outro
lado, o ambiente democrático reavivou a cidadania, dando maior nível de
informação e de consciência de direitos a amplos segmentos da população, que
passaram a buscar a proteção de seus interesses perante juízes e tribunais. Nesse
mesmo contexto, deu-se a expansão institucional do Ministério Público, com
aumento da relevância de sua atuação fora da área estritamente penal, bem como a
presença crescente da Defensoria Pública em diferentes partes do Brasil. Em suma: a
redemocratização fortaleceu e expandiu o Poder Judiciário, bem como aumentou a
demanda por justiça na sociedade brasileira. (BARROSO, 2008, online).
28

A reabertura democrática de agenda igualitária acoplada ao modelo constitucional


adotado no Brasil reacendeu o espírito cívico e pôs fim aos longos anos de restrição a certos
direitos e garantias fundamentais, que por um bom tempo sofreram certa limitação ou falta de
previsão no ordenamento jurídico, consequência dos anos negros da ditadura militar, que
restringiu em certa medida a participação popular, bem como intimidou o exercício cívico.
Vianna (1999, p.150) entende que a “presença expansiva do direito e de suas instituições [...]
é a expressão do avanço da agenda igualitária em um contexto que, tradicionalmente, não
conheceu as instituições da liberdade.”. O autor refere-se às décadas de autoritarismo que
desorganizaram a vida social e desestimularam a participação do povo. Com a
redemocratização do país, surge agora um Poder Judiciário robusto e independente, que passa
a ser provocado cada vez mais pelos anseios de uma sociedade ancorada em uma série de
novos direitos consubstanciados e garantidos na Constituição emergente. Nessa perspectiva de
busca de direitos, decorrente da nova paisagem de garantias legais, o Judiciário passa a ser
encarado como aquele que irá promover a efetivação dessas garantias caso elas não sejam
cumpridas. Sorj (2006) explica que a juridificação da sociedade brasileira, em sua forma mais
radical, expressasse numa espécie de substituicionismo que espera do Judiciário, e não de
outros setores, a efetivação dos direitos e de certas lutas contra as desigualdades sociais.

A juridificação da sociedade, no caso brasileiro, apresenta-se fundamentalmente


como um caso de substituicionismo, isto é, na sua versão mais radical, espera-se que
o Judiciário seja o ponto de partida da regeneração do sistema social, de luta contra a
desigualdade social [...] (SORJ, 2016, p. 115, grifo original)

Consoante observa-se, a sociedade passa a enxergar o Judiciário como força redentora


que irá dissipar suas mazelas sociais e confirmar seus direitos. A consequência disso é que
passam a surgir inúmeras demandas judiciais, decorrente do novo quadro social de direitos
estabelecidos através de uma agenda programática social com vertente igualitária. A nova
Constituição, além de estabelecer uma série de direitos, possibilitou o fortalecimento e a
expansão das varias instituições que compõem o Poder Judiciário, como a Defensoria Pública,
o Ministério Público, as justiças especializadas (Trabalho, Eleitoral e Militar), os Juizados
especiais etc. Na verdade, com o advento da Constituição houve uma verdadeira reforma no
Poder Judiciário brasileiro, impelindo-o a tornar-se mais ativo na vida nacional. Inúmeras leis
ordinárias passaram a ser editadas para acompanhar a Norma Maior, causando uma verdadeira
inflação legislativa; cresceu o número de magistrados, de operadores do direito, de fóruns,
varas, litígio, tudo decorrente da nova condição histórica imposta pela democracia emergente.
Em suma, o processo de redemocratização do país com alicerces fincados na Constituição
29

Cidadã de 1988, que passou a estabelecer uma nova plataforma de direitos e garantias,
constituem, dentre outras causas, os fundamentos principais da juridificação brasileira.
30

3 OS NÚMEROS DA JURIDIFICAÇÃO BRASILEIRA

Após discorrer no capítulo anterior sobre as possíveis causas da “juridificação”, esse


capítulo será dedicado especificamente aos números da juridificação brasileira, ou seja, a
expansão da atividade jurídica no Brasil. Para tanto, será analisado o crescimento do mundo
jurídico brasileiro através de dados concretos e objetivos, como o aumento da litigiosidade, de
magistrados, leis, advogados, instituições de ensino jurídico, além de outros atores. Nesse
momento da pesquisa foram selecionados dados públicos consubstanciados nos Relatórios do
Conselho Nacional de Justiça – CNJ, referentes aos anos de 2003, 2009, 2015 e 2016,
pesquisa do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação – IBPT (2016), pesquisa
realizada pela Fundação Getúlio Vargas – FVG (2016) além de outras fontes que serão
mencionadas no decorrer desta sessão. Considera-se que a analise em termos de crescimento
quantitativo seja de fundamental importância para que em um momento futuro possibilite uma
avaliação dos efeitos qualitativos da juridificação brasileira.

Embora o crescimento do mundo jurídico seja naturalmente constante desde o Império,


a contemporaneidade brasileira apresenta um aumento expressivo do direito, isso se deve,
além de outros fatores, a redemocratização, como visto no capítulo anterior, que impulsionou
o desenvolvimento do judiciário como instituição de poder independente, ampliando sua
estrutura em vários aspectos, como o número de juízes, funcionários, estrutura, gastos, litígios
etc. Os dados levantados pelo CNJ demonstram que o Direito transformou-se em uma
máquina em constante expansão. O diagnóstico deixa claro que a expansão de todos esses
agentes, elementos e mecanismos que efetuam a operação do Direito, acabam por produzir
uma sociedade cada vez mais juridificada, cada vez mais invadida pelo mundo do Direito.

Contudo, importa ressaltar que não é possível desenhar um quadro perfeito e acabado do
processo de expansão do mundo jurídico brasileiro. Ademais, esta pesquisa possui natureza
transitória, posto que os dados relacionados ao crescimento do mundo do jurídico sofrem
constantes e intermináveis alterações, assim, pode-se dizer que o presente capítulo é apenas
um diagnóstico determinado por certa delimitação temporal e espacial dos dados relacionados
ao seu objeto de análise, qual seja: a expansão da atividade jurídica no Brasil. Seu
aperfeiçoamento, portanto, depende de uma atualização constante e interminável de seu
31

objeto. Ademais, seria impossível no quadro de apenas um ano, tempo de uma monografia,
inventariar as inúmeras zonas de expansão da atividade jurídica, isso demandaria um enorme
tempo e esforço de pesquisa, o que não é possível em tão exíguo tempo.

3.1 Hipertrofia do judiciário brasileiro: a justiça em números

No Brasil, os dados relacionados ao crescimento do Poder Judiciário passaram a ser


sistematicamente inventariados a partir do ano de 2005, após a criação, em 31 de dezembro de
2004, do Conselho Nacional de Justiça - CNJ, órgão que passou a compor o poder judiciário
brasileiro por força da emenda constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004, tendo papel
precípuo de gestor administrativo e financeiro do Poder Judiciário. Os números levantados
pelo CNJ, consignados no relatório “Justiça em Números3” (online), demostram que durante
um período de treze anos, 2003 a 2015, houve um crescimento significativo do Judiciário
brasileiro sob vários aspectos. Os cargos de magistratura na Justiça Estadual, por exemplo,
passaram de 9.745 em 2003, para 15.891 em 2015, representando um aumento de 6.146 novos
cargos; na Justiça do Trabalho o número saltou de 2.456 em 2003 para 3.928 em 2015,
significando um aumento de 1.472 cargos; já na Justiça Federal, o número evoluiu de 1.162
em 2003 para 2.442 em 2015, expressando um aumento de 1.280 cargos. Em termos
percentuais, a Justiça Federal obteve um aumento de 110,15%, Justiça Estadual 63,07% e
Justiça do Trabalho 59,93%. Em síntese, o número de cargos criados por lei na Justiça
Estadual, Federal e do Trabalho, passou de 13.363 em 2003 para 22.261 em 2015,
representando um acréscimo de 66,59%, ou seja, em relação aos dados iniciais houve um
aumento de 8.898 cargos, significando dizer que entre o período de 2003 a 2015, esses três
ramos do Poder Judiciário, juntos, criaram em média um cargo para magistratura a cada 45h
(1 dia e 21 horas).

Em confronto com as estimativas populacionais, em 2003 tínhamos um juiz 4 para cada


13.516,36 brasileiros, enquanto que, em 2015, esse número diminuiu para 9.184,25, isso
ocorre porque a tendência do crescimento populacional, em termos percentuais, é menor que o
crescimento da magistratura. Enquanto a magistratura cresceu 66,59%, a estimativa
populacional ascendeu 13,19% entre os anos de 2003 a 2015, demonstrando que o

3
Justiça em Números é um relatório regido pela Resolução nº 76/2009 do CNJ, faz parte do Sistema de Estatísticas do Poder Judiciário
(SIESPJ), sua publicação é realizada anualmente desde 2003, de forma online.

4
Para essa análise específica, levou-se em consideração apenas a Justiça Estadual, Federal e do Trabalho.
32

crescimento da magistratura brasileira não está subordinado ao aumento populacional,


existindo outros fatores que contribuem para justificar esse crescimento.

A força de trabalho também cresceu de forma significativa na Justiça Estadual, Federal


e do Trabalho entre os anos de 2003 a 2015. A Justiça Estadual contava em 2003 com cerca
de 178.750 pessoas em seu quadro funcional, já em 2015 esse número saltou para 299.786,
um acréscimo de 121.036 pessoas. A Justiça do Trabalho, por seu turno, contava com 34.411
pessoas em 2003, passando em 2015 a comportar um total de 60.293, o que representa um
aumento de 25.882 funcionários em sua estrutura. Já a Justiça Federal, passou de 32.038
pessoas em 2003 para um contingente de 48.309 em 2015, significando um crescimento de
16.271 funcionários. Em termos percentuais a Justiça do Trabalho foi o ramo que mais
ampliou seu quadro de pessoal entre os anos de 2003 a 2015, com um aumento de 75,21%,
seguido de Justiça Estadual com 67,71% e Justiça Federal com 50,79%. No total, estes três
ramos obtiveram um crescimento 66,55%, que em termos numéricos representa um aumento
de 163.189 pessoas que passaram a compor o judiciário brasileiro, implicando um
crescimento médio de 12.553 pessoas ao ano.

O número de defensores públicos também tem crescido no Brasil. De acordo com o


Ministério da Justiça (2016), as Defensorias Públicas Estaduais possuíam em média 190
defensores por Estado em 2008, número inferior ao ano de 2014, quando os dados apontaram
uma média de 227 defensores ativos em cada Unidade Federativa. Em 2008 o Brasil possuía
5.986 defensores públicos estaduais ativos, passando em 2014 a comportar o número de
7.526, ou seja, em relação a 2008 houve um aumento de 1.540 defensores. A Defensoria
Pública da União - DPU, por sua vez, detinha o número de 112 cargos efetivos em 2005,
passando para 481 em 2008 e 577 em 2014, dos quais 550 estavam ativos e 27 afastados ou
inativos. Ao analisar esses dados é possível verificar que a DPU obteve um aumento de 465
cargos entre os anos de 2008 e 2014.

Os gastos financeiros também ampliaram-se, em 2003 a Justiça Estadual comportou


gastos na ordem de R$ 10,7 bilhões, enquanto em 2015 os gastos elevaram-se para a cifra de
44,7 bilhões, portanto, um aumento de R$ 34 bilhões. O mesmo ocorreu com a Justiça
Federal, que em 2003 gastou R$ 3,1 bilhões, passando em 2015 para o montante de R$ 10
bilhões, representando uma elevação de gastos na ordem de R$ 6,9 bilhões. Na Justiça do
Trabalho as despesas financeiras também foram ampliadas, em 2003 foram gastos R$ 5,2
33

bilhões e em 2015 R$ 16,5 bilhões, revelando um aumento de R$ 11,3 bilhões. Somados, os


três ramos do judiciário ampliaram seus gastos financeiros em aproximadamente R$ 52,3
bilhões entre os anos de 2003 e 2015. Considerando todos os ramos da máquina judiciária
brasileira, o custo aos cofres públicos verteu ao valor de R$ 84,8 bilhões, que corresponde a
1,4% do Produto interno Bruto (PIB).

No ano de 2016, as despesas totais do Poder Judiciário somaram R$ 84,8 bilhões, o


que representou crescimento de 0,4% em relação ao último ano e uma média de
3,9% ao ano desde 2011. O ano de 2016 foi o de menor variação em toda a série
histórica. As despesas totais do Poder Judiciário correspondem a 1,4% do Produto
Interno Bruto (PIB) nacional, ou a 2,5% dos gastos totais da União, dos estados, do
Distrito Federal e dos municípios. [...]. (CNJ, 2016, online).

Dentro desse panorama, possivelmente o Brasil é detentor de um dos judiciários mais


dispendiosos do mundo, como apontou Ros (2015), em pesquisa denominada “O custo da
Justiça no Brasil: uma análise comparativa exploratória”.

A litigiosidade é outro componente do Poder Judiciário que merece atenção, em 2009 a


Justiça Estadual contava com aproximadamente 49,4 milhões de processos em tramitação,
passando em 2015 a comportar 59 milhões de ações, o que representa um aumento de 9,6
milhões de demandas judiciais. Em 2009 a Justiça do Trabalho detinha um acervo de 3,3
milhões de processos, ampliando-se, ao final de 2015, para 5 milhões de ações trabalhistas,
significando um crescimento de 1,7 milhões ações. A Justiça Federal, por sua vez, detinha 7,8
milhões de ações em 2009 e 9,1 milhões ao final de 2015, expressando um aumento de 1,3
milhões de processos em andamento. Esse crescimento constante na quantidade de demandas
judiciais acarreta um acumulo de processos que contribuem para a morosidade do nosso
sistema judiciário. De acordo com o relatório do CNJ (2015, p.97), ainda que o ingresso de
novas demandas fosse paralisado nesses três ramos do judiciário, seria necessário cerca de 3
anos para Justiça Estadual zerar seu estoque de ações, 14 meses para Justiça do trabalho e 2
anos e meio para Justiça Federal.

3.2 Inflação legislativa: definição e alguns números

A ampliação desenfreada do número de leis tem recebido atenção por parte de alguns
estudiosos em várias partes do mundo, Galanter (1993) ao analisar o crescimento do Direito
nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, utilizou as expressões “explosão legal” e
“império da lei” para designar o fenômeno. Taubner (1988) utilizou a expressão “inundação
34

de normas”, palavra empregada por Vogel (1979) na discussão alemã sobre o aumento da
quantidade de leis. Na literatura jurídica nacional destacam-se os termos “Inflação
legislativa”, “hipertrofia da lei” e “elefantíase legislativa”, expressões importadas da literatura
estrangeria e que vêm sendo empregadas para designar o fenômeno que caracteriza o
crescimento rápido, desordenado e massivo do número de leis. Silva (1968) sinaliza que
Carnelutti foi o primeiro a empregar as expressões “inflação legislativa” e “hipertrofia da lei”
e que Biondi, por seu turno, empregou a expressão “elefantíase legislativa”, todos eles
referindo-se à produção crescente do número de normas.

No Brasil, esse fenômeno tem sido objeto de análise por parte de alguns pesquisadores
há algum tempo, havendo inclusive registros de estudos datados de meados do século
passado.

A multiplicação das leis é fenômeno universal e inegável. Com segurança pode-se


dizer que nunca se fizeram tantas leis em tão pouco tempo. No Brasil, por exemplo,
durante o império, foram promulgadas cerca de 3.400 leis. Durante a primeira
República, de 1981 a 1930, cerca de 2500 leis. E de 18 de setembro de 1946 a 9 de
abril de 1964, nada menos que 4.300 [...]. (NOGUEIRA, 1971, p. 149, citando
FERREIRA FILHO, 1963, p. 11).

Souza (2012), em um estudo denominado “A inflação legislativa no Contexto


Brasileiro”, afirma que em 1960, Victor Nunes Leal, um dos Ministros do Supremo Tribunal
Federal àquela época, já mencionava que o Brasil ocupava um lugar de destaque entre as
nações que mais produziam leis no mundo. No mesmo estudo, o autor menciona uma análise
estatística realizada em 1961 por Alcino Salazar, então membro do Conselho Federal da
OAB, onde se fez um levantamento do número de normas existentes no Brasil até o final do
ano de 1960, cujo resultado demonstrou, na época, a existência aproximada de 100.00 (cem
mil) leis, decretos e decretos-leis, que foram catalogados da seguinte forma: a) decretos de
1931 a 1934 - 5.000; b) leis de 1935 a 1937 - 583; c) decretos-leis de 1937 a 1946 - 10.000; d)
leis de 1946 a 1960 - 3.865; e) decretos de 1935 a 1960 - 50.000; f) leis anteriores a 1930 -
6.000 e g) decretos anteriores a 1930 - 2.000. O estudo não levou em consideração os decretos
legislativos e a legislação do império, mas já revelava a tendência brasileira ao exagerado
processo legiferante. Um pouco mais de meio século depois, a crise legislativa permanece
ampliando-se sem que a técnica dos atuais legisladores tenha avançado no sentido de um
controle ou eficácia maior no processo legislativo de produção de normas. Em pesquisa
recente, realizada pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação – IBPT (2016),
verificou-se que desde o advento da Constituição Cidadã, em 05 de outubro de 1988, até o dia
35

30 de setembro de 2016, a União, os Estados e os Municípios editaram cerca de 5,4 milhões


de normas em todo Brasil, o que representa, em média, 535 normas editadas diariamente ou
769 normas por dia útil.

Foram editadas mais de 5,4 milhões de normas, em média são editadas 769 normas
por dia útil, em matéria tributária, foram editadas 363.779 normas. São mais de 1,88
normas tributárias por hora (dia útil). Em 28 anos, houve 16 emendas
constitucionais, foram criados inúmeros tributos, como CPMF, COFINS, CIDES,
CIP, CSLL, PIS IMPORTAÇÃO, COFINS IMPORTAÇÃO, ISS IMPORTAÇÃO,
foram majorados praticamente todos os tributos, em média cada norma tem 3 mil
palavras, o termo “direito” aparece em 22% das normas editadas Saúde, Educação,
Segurança, Trabalho, Salário e Tributação são temas que aparecem em 45% de toda
a legislação. Somente 4,13% das normas editadas no período não sofreram nenhuma
alteração. (AMARAL et al, 2016, online).

Confrontando o número total de normas existentes no Brasil (5.471.980) com a


população (206.081.432), considerando o ano de 2016, chega-se a conclusão que o país possui
1(uma) norma para cada grupo de 38 habitantes. A quantidade de normas editadas a nível
Federal, durante o período de 1988 a 2016, chegou ao número de 163.129, o que representa
em média 15,96 normas editadas diariamente. No mesmo período, o âmbito Estadual editou
1.460.985 leis, significando dizer que, em média, cada uma das 27 unidades da Federação
editaram 54.111 normas, expressando 5,29 normas diárias. Já na esfera municipal, o número
de normas editadas bateu todos os recordes, atingindo o número exorbitante de 3.847.866, o
que em outros termos expressa que cada município brasileiro editou em média 691,19 normas
entre 1988 e 2016, ou 376,50 normas diariamente. Durante o lapso temporal supracitado,
2012 figura como ano de maior produção de Leis Complementares e Ordinárias editadas no
âmbito Federal.
O ano de 2012, aniversário de 24 anos da promulgação da Constituição Federal, foi
o ano com maior número de Leis complementares e Ordinárias editadas, na esfera
Federal, alcançando o número de 222, no total. Entre 01 de outubro de 2012 e 30 de
setembro de 2013 houve a maior quantidade de Decretos e de Medidas Provisórias
editadas, totalizando 299 Decretos Federais e 42 Medidas Provisórias. (AMARAL et
al, 2016, online).

A tendência à inflação legislativa assenta-se sob todos os estados brasileiros, inclusive


no Ceará, como é possível verificar através de matéria veiculada pela Assembleia Legislativa
do Estado (2015), onde foi constatado que em 30 anos, compreendendo o período de 1984 a
2014, o Estado do Ceará editou 682 leis ordinárias, o que expressa à criação média de 22,73
leis anualmente. No ano de 1984 foram criadas 121 leis ordinárias no Estado, já em 2014 esse
número foi de 247, expressando um crescimento de aproximadamente 100%.
36

Todos esses dados demonstram de forma objetiva a existência de um contínuo fluxo


inflacionário de leis no Brasil, que se expressam em todas as dimensões do mundo jurídico e
em todos os níveis do Estado. A norma parece ter ganho um caráter onipresente, tal qual o
Grande Irmão, personagem fictício de “1984”, romance de George Orwell. Por todos os lados
é possível verificar uma multidão de normas presentes, ampliando-se cada vez mais,
regulando e produzindo efeitos na vida de todo cidadão, principalmente naqueles que
ocupam-se em trabalhar diretamente com as leis. Para Nogueira (1971), a “multidão de leis
afoga o jurista, esmaga o advogado, estonteio o cidadão, desnorteia o juiz.”. Em um país onde
se produz um número tão excessivo de leis, ao mesmo tempo em que apresenta um elevado
índice de corrupção, não é tão difícil lembrar a famosa expressão imputada a Tácito, político e
historiador romano: “corruptissima republica plurimae leges5”.

3.3 Direito em expansão: ensino jurídico e advocacia.

Em um estudo denominado “Exame da ordem em números” (FGV, 2016), durante o


lapso temporal compreendido entre os anos de 1996 a 2013, o número de cursos, instituições e
matrículas em graduação aumentaram de forma expressiva em todo o Brasil. Essa expansão
surge por consequência da Lei nº 9.394, promulgada em 20 de dezembro de 1996, cujo
conteúdo trazia novos critérios para as “Diretrizes e Bases da Educação Nacional”. A edição
da nova legislação alterou profundamente o cenário do ensino superior brasileiro, isso porque
extinguiu certas barreiras institucionais e legais que impediam a diversificação nos processos
de organização e estabelecimento das instituições de ensino superior. A nova legislação
facilitou a criação e interiorização de novas faculdades e universidades, possibilitou a criação
de métodos de aprovação alternativos ao tradicional vestibular, abriu espaço para a
flexibilização da grade curricular, promoveu os fundamentos do Ensino a Distância – EAD,
ampliou as fontes de financiamento estudantis além de outras alterações que culminaram por
favorecer uma explosão de cursos superiores no país.

Nesse contexto, é possível afirmar que o novo quadro regulatório colaborou


diretamente para a expansão e interiorização dos cursos e vagas no ensino superior.
Segundo dados do Censo do Ensino Superior, do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), entre 1996 e 2013, o número de
Instituições de Ensino Superior no país elevou-se de 922 para 2.390 – o equivalente
à adição de 86 novas instituições a cada ano. Em termos de cursos de graduação, a
oferta saltou de 6,6 mil para um universo de 32 mil no mesmo período: uma média
de 1.500 novos cursos oferecidos a cada ano durante o período. Em 2013, os cursos
de graduação já acomodavam 7,3 milhões de alunos, uma expansão de 8,2% ao ano
frente a 1995. (FGV, 2016, p. 28-29)
5
Expressão latina que significa: quanto mais corrupto o Estado, maior o número de leis.
37

Como reflexo dessa conjuntura, entre o período de 1995 a 2013 houve uma ampliação
do ensino jurídico brasileiro em varias perspectivas. Em 1995 o país contava com apenas 235
cursos, passando em 2013 a comportar o total de 1.149 (um aumento de 388%), representando
um acréscimo de 914 novos cursos de Direito, cuja média de criação resulta em 51 novos
cursos por ano. Como consequência dessa evolução, a quantidade de vagas na graduação em
Direito também ascendeu, saltando de 55,7 mil para 220,6 mil, expressando um aumento de
164,9 mil vagas; paralelamente o número de matrículas passou de 215,2 mil para 769,9 mil,
representando uma elevação de 554,7 mil; já o número de concludentes saltou de 27,2 mil
para 95,1 mil, significando um aumento de 67,9 mil bacharéis. Em 2013 Direito figurava no
quarto lugar em número de instituições de ensino, com 880 estabelecimentos, atrás apenas de
Administração com 1.493, Pedagogia com 995 e Ciências Contábeis com 919. No que se
refere ao número de vagas, Direito despontou no ano de 2013 como segundo curso de
graduação com maior oferta, disponibilizando 220.579 vagas, perdendo somente para
administração que ofertou 410.103 vagas. Ao fim de 2013, Direito foi o curso de graduação
brasileiro com maior número de inscritos, com 925.839 alunos.

O ensino jurídico, além de ser um dos mais ofertados, é um dos mais demandados
entre os cursos de graduação no país, juntamente com Administração, Pedagogia,
Ciências Contábeis, Enfermagem e Engenharia Civil. Combinados, esses seis cursos
eram responsáveis por 34% das vagas e 41% das matrículas no ensino superior em
2013. [...] Direito, em 2013, era o curso com a quarta maior oferta institucional do
país, com 1.148 cursos presenciais em 880 instituições. Em termos de vagas e
candidatos inscritos, Direito ocupava a segunda posição, atrás apenas de
Administração. No mesmo ano, Direito consolidou-se como o curso com o maior
alunado entre os cursos presenciais e o segundo maior em número de concluintes.
(FGV, 2016, p. 40)

A expansão do ensino jurídico reflete diretamente no crescimento da advocacia no país,


cujo número de profissionais duplicou durante o período de 2006 a 2016. A quantidade de
advogados só aumenta a cada ano, sendo necessário atualmente três Exames de Ordem para
absorver a demanda do mercado jurídico de ensino. Os dados do Exame Unificado, cuja
responsabilidade a partir de 2010 passou a ser da Fundação Getúlio Vargas – FGV,
demonstram que em 16 edições (II ao XVII) o vestibular jurídico alcançou a marca de 1,91
milhão de inscritos, um número estratosférico.

Nesse período, 1,91 milhão de inscrições foram contabilizadas – o equivalente a


uma média de 119 mil inscritos por edição e 359 mil a cada ano. No referido
intervalo de tempo, 639 mil pessoas participaram das provas. Desse contingente, 360
mil examinandos (56%) foram aprovados no Exame de Ordem. (FGV, 2016, p. 51)
38

De acordo com o Conselho Federal da OAB (2017), o Brasil possui atualmente


1.053.968 advogados distribuídos em todo território nacional (do quais 508.346 são do sexo
feminino e 545.890 do sexo masculino), número bastante expressivo em relação a 2006,
quando o Brasil possuía aproximadamente 574 mil advogados inscritos na Ordem (análise
advocacia, 2016). Levando em considerações os dados disponibilizados pelo IBGE e pela
OAB em novembro de 2017, pode-se dizer que o país possui um advogado para cada grupo de
197 brasileiros. São Paulo é o Estado que mais possui advogados, com 293.708, seguido de
Rio de Janeiro com 141.327, Minas Gerais com 108.053 e Rio Grande do Sul com 78.713.
Esse crescimento do número de causídicos, somado a ampliação do Simples Nacional, que
flexibilizou a formalização da advocacia através de um regime tributário diferenciado,
possibilitou a seguinte previsão do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB, 2014, online):

A entrada da advocacia no Simples Nacional- regime simplificado de tributação -


possibilitará que milhares de profissionais se formalizem, por meio de novos
escritórios. Hoje, apenas 5% dos 822 mil advogados do país integram formalmente
bancas. A previsão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) é de que o número de
escritórios cresça seis vezes nos próximos cinco anos, passando dos atuais 20 mil
para 126 mil. 2014

É inegável que o ensino jurídico e a advocacia transformaram-se em um mercado em


constante expansão, cuja evolução reflete no crescimento de outros setores envolvidos, como
os cursinhos preparatórios de Exame de Ordem, por exemplo, que a cada dia ganham mais
espaço no mercado do ensino jurídico. A quantidade de publicações jurídicas também cresce:
livros, revistas, matérias didáticos, mídias digitais, tudo alimenta esse mercado, que ganha
dimensões de uma verdadeira “indústria da advocacia”.
39

CONCLUSÃO

O conceito de juridificação possui inúmeras acepções que, embora distintas, apresentam


certa similaridade conceitual. De modo geral, observou-se que esse conceito pode ser
expresso através da concepção de “expansão do mundo jurídico”, encontrada de forma direta
ou indireta, em todas definições analisadas no primeiro capítulo . Esse mundo jurídico deve
ser entendido levando em consideração todos os elementos pertencentes ao universo do
direito, como suas instituições, operadores, leis, regras, princípios e outros atores que se
deslocam direta ou indiretamente dentro do horizonte jurídico. A definição e delimitação do
conceito, portanto, é observada a partir do fenômeno da expansão do direito sobre sociedade.
Seguindo esse raciocínio, o objeto de estudo torna-se mais preciso e claro, sendo possível
analisar as inúmeras causas que podem contribuir para o fenômeno da expansão do direito.

Em decorrência da dimensão e complexidade do fenômeno, não é possível estabelecer


uma única causa para seu acontecimento, surgindo à necessidade de recorrer a diferentes
perspectivas de análises que tentam compreender sua manifestação. Nesse sentido, é
importante dar atenção aos processos de interdependência da sociedade contemporânea, que
tornaram as relações sociais mais complexas e dependentes umas das outras, passando a
exigir do mundo jurídico uma regulação cada vez maior. A multiplicação e a universalização
dos direitos do homem, após o final da segunda guerra mundial, é outra causa que contribuiu
para o fenômeno da juridificação, isso porque houve uma passagem das liberdades negativas
para direitos sociais e políticos que exigem intervenção estatal. Houve também um aumento
dos bens tutelados juridicamente, tais como a natureza, os animais, certas coletividades
étnicas, religiosas etc. Houve ainda a passagem do homem genérico para um homem mais
específico, compreendido em suas diversas formas de manifestação social, como a criança, a
mulher e o velho. Todos esses fatores contribuíram para uma maior proteção legal,
funcionado como causas para juridificação.

A partir de uma perspectiva mais ampla e abrangente, é possível diagnosticar ainda que
Estado do Bem-estar Social (Welfare State) ou Estado Intervencionista, contribuiu
sobremaneira para a intensificação da expansão do mundo jurídico, funcionando como causa
40

preponderante da juridificação. Isso porque, essa modalidade de Estado controla toda vida
social com o objetivo de garantir uma maior qualidade de vida para os cidadãos. Nessa
conjuntura o Estado utiliza o direito de forma mais intensa para realizar seus objetivos,
intervindo ainda mais nas relações sociais.

Deixando de lado as causas amplas e universais, mas sem desconsidera-las, observou-se


de forma mais específica quais fatores impulsionaram a expansão do direito na recente
história do Brasil, que ao juízo deste trabalho, foram a reabertura democrática e a
Constituição de 1988, que superaram a neblina da ditadura militar. Tais fatores funcionaram
como molas propulsoras para a juridificação brasileira, estabelecendo uma maior plataforma
de direitos, um maior acesso a justiça, tornando o Poder Judiciário numa instituição política
mais forte, ampliada e independente, reacendendo o desejo cívico e possibilitando uma maior
participação social na busca por seus direitos.

Definido o conceito e estabelecidas algumas causas da expansão do mundo jurídico,


tanto a nível universal como nacional, tornou-se necessário demonstrar através de dados
concretos e objetivos a existência da juridificação no Brasil. Trata-se do momento crucial
desse estudo, onde foi possível diagnosticar, através de uma série de números reais, o
crescimento ou a expansão da atividade jurídica brasileira em diversas direções, tais como o
aumento da magistratura, de funcionários e despesas do judiciário, demandas judiciais,
advogados, escritórios de advocacia, estudantes de direito e estabelecimentos de ensino
jurídico. Toda essa produção e ampliação jurídica, bem como sua aplicação, interferem
diretamente na vida social brasileira, repercutindo em todas as suas camadas, em tudo aquilo
que a atravessa, tornando a sociedade mais enraizada numa cultura jurídica que a cada dia
expande-se sem precedentes.
41

REFERÊNCIAS

ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTDO DO CEARÁ. Produção de leis é expressiva,


mas precisa de atualização. Disponível em: < https://www.al.ce.gov.br/index.php/ultimas-
noticias/item/37966-produ%C3%A7%C3%A3o-de-leis-%C3%A9-expressiva-mas-precisa-
de-atualiza%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 15 de out. 2017.

BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática.


Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/eadcnj/mod/resource/view.php?id=47743>. Acesso
em: 23 de out. 2017.

BLICHNER, Lars Chr and Molander, Anders. What is Juridification? Working Paper no.14,
Centre for European Studies. University of Oslo. Março, 2005. Disponível em:
<http://www.arena.uio.no>. Acesso em: 05/05/2017.

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Editora Elsevier /Campos, 2004.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 13. ed. São
Paulo: Saraiva, 2017.

____________________. Emenda constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004.


Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc45.htm>. Acesso em:
13 de out. 2017.

____________________. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e


bases da educação nacional. Presidência da República, Casa Civil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 18 de out. 2017.

____________________. Concelho Nacional de Justiça – CNJ. Resolução nº 76 de 12 de


maio de 2009. Dispõe sobre os princípios do Sistema de Estatística do Poder Judiciário,
estabelece seus indicadores, fixa prazos, determina penalidades e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/atos-normativos?documento=110f>. Acesso em: 13 de
set. 2017.

CAPPELLETI, Mauro. Acesso à justiça. Porto alegre: Editora Fabris, 2002.

CARNELUTTI, Francesco. A Morte do direito. Belo Horizonte: Líder, 2003.

CENTRO DE ESTUDOS SOBRE O SISTEMA DE JUSTIÇA – CEJUS. IV Diagnóstico da


defensoria pública no Brasil. Disponível em:
<https://www.anadep.org.br/wtk/pagina/materia?id=25830>. Acesso em 18 de out. 2017.
42

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em números 2003: Variáveis e


Indicadores do Poder Judiciário. Disponível em:
<http://www.cnj.jus.br/images/stories/docs_cnj/relatorios/justica_numeros_2003.pdf>.
Acesso em: 03 ago. 2017.

________________________. Justiça em números 2009: Variáveis e Indicadores do


Poder Judiciário. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica-em-
numeros.pdf>. Acesso em: 03 ago. 2017.

________________________. Justiça em números 2015: Variáveis e Indicadores do


Poder Judiciário. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica-em-
numeros.pdf>. Acesso em: 03 ago. 2017.

________________________. Justiça em números 2016: Variáveis e Indicadores do


Poder Judiciário. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica-em-
numeros.pdf>. Acesso em 03 ago. 2017.

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS – FGV. Exame da ordem em números. Disponível em:


http://fgvprojetos.fgv.br/publicacao/exame-de-ordem-em-numeros-vol3. Acesso em: 18 de
out. 2017.

GALANTER, Marc. Direito em Abundância: A atividade legislativa no Atlântico Norte.


Revista Critica de Ciências Sociais, ambiente e cidadania. Nº 36. São Paulo: Boitempo
Editorial, 1993.

HABERMAS, Jurgen. Teoria do agir comunicativo. São Paulo: Editora WMF Martins
Fontes, 2012. vol. II.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISICA - IBGE. Projeção


População. Disponível em: <https://ww2.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/>. Acesso em:
15 de ago. 2017.

INSTITUTO BRASILEIRO DE PLANEJAMENTO E TRIBUTAÇÃO - IBPT. Quantidade


de normas editadas no Brasil: 28 anos da Constituição Federal de 1988. Disponível em:
http://www.ibpt.com.br/img/uploads/novelty/estudo/1266/NormasEditadas25AnosDaCFIBPT
.pdf.>. Acesso em 01 set. 2017.

LOPES, Júlio Aurélio Viana. A invasão do direito: a expansão jurídica sobre o Estado o
mercado e a moral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.

NASCIMENTO, Emerson Oliveira. A judicialização da política e seu impacto sobre a


América Latina. Pensar, revista de ciências jurídicas. Fortaleza: Universidade de Fortaleza,
2010.

NOGUEIRA, Fernando Giuberti. Multiplicação das leis. Revista de informação legislativa.


Brasília. 1971.

NUNES JUNIOR, Amandino Teixeira. A judicialização da política no Brasil: os casos das


comissões parlamentares de inquérito e da fidelidade partidária. Brasília: Câmara dos
deputados, Edições Câmara, 2016.
43

ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – OAB. Quadro de advogados. Disponível em:


< https://www.anadep.org.br/wtk/pagina/materia?id=25830>. Acesso em: 15 de ago. 2017.

____________________. "Valor": Número de escritórios deve crescer seis vezes com


Simples. Disponível em: <https://www.anadep.org.br/wtk/pagina/materia?id=25830>. Acesso
em: 15 de ago. 2017.

RIZZI, Ester Gammardella. Democracia e transformações sociais no Estado parlamentar:


Kirchheimer e a República de Weimar. Dissertação de Mestrado – Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo. São Paulo, 2011. Disponível em: <
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2139/tde-24042012-110644/pt-br.php>. Acessado
em: 15 de jul. 2017.

ROS, Luciano da. O custo da Justiça no Brasil: uma análise comparativa exploratória.
Newsletter. Observatório de elites políticas e sociais do Brasil. NUSP/UFPR. 2015

SANCHEZ, Jesús-María Silva. La injerencia de las leyes: problemas de la juridificación de


las relaciones sociales. Persona y Derecho: Revista de fundamentación de las Instituciones
Jurídicas y de Derechos Humanos. Navarra: Servicio de Publicaciones de la Universidad de
Navarra. 2007.

SILVA, Juary C. Considerações em torno da inflação legislativa. Revista de Direito da


Procuradoria Geral do Estado da Guanabara, Rio de Janeiro, 1968.

SILVA, Márcio Alves da; SILVA, Matheus Passos. A inflação legislativa a partir da
Constituição Federal de 1988. Brasília: Vestnik, 2014.

SORJ, Bernardo. A Nova Sociedade Brasileira. 3. ed. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editor,
2006.

TATE, Neal; VALLINDER, Torbjorn (org.). The global expansion of judicial power. New
York, NY: New York Unive. Press, 1995.

TEUBNER, Gunther. Juridificação: Noções, Características, Limites, Soluções. Revista de


Direito e Economia. Coimbra: Centro Interdisciplinar de Estudos Jurídico-Econômicos.
1988.

VIANNA, Luiz Werneck et al. A judicialização da política e das relações sociais no Brasil.
Rio de Janeiro: Revan, 1999.

Você também pode gostar