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JURIMETRIA

JURIMETRY

Leandro Vinicius Fernandes de Freitas1.

RESUMO

Com o avanço da tecnologia e suas técnicas, o direito tem a difícil missão de se


adaptar e responder para a população e o clamor para a aplicação da justiça em
meio a moroso processo judicial. Mas o judiciário, pode agora utilizar de novas
ferramentas para além de organizar sua estrutura, pode também se beneficiar
para modernizar seus procedimentos. A jurimetria é uma ferramenta que pode
ser usada para ajudar na tomada de decisões justas e objetivas, sendo uma
ferramenta poderosa para o direito, que pode ajudar a tornar o sistema jurídico
mais democrático.

Palavras-chave: 1) Tecnologia. 2) Laws 3) Jurimetria

ABSTRACT

With the advancement of technology and its techniques, the law has the difficult
task of adapting and responding to the population and the clamor for the
application of justice in the midst of a lengthy judicial process. But the judiciary
can now use new tools in addition to organizing its structure, it can also benefit
from modernizing its procedures. Jurimetry is a tool that can be used to help make
fair and objective decisions, being a powerful tool for law, which can help make
the legal system more democratic.

Keywords: 1) Technology. 2) Totalitarianism 3) Jurimetry

1Advogado, possui graduação em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI (2019).
Mestrando em Ciência Jurídica no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica
– PPCJ Universidade do Vale do Itajaí, Contato eletrônico: leandroviniciusfreitas@gmail.com
INTRODUÇÂO

Neste novo milênio, a população mundial foi entregue a maior


ferramenta já inventada para a subsistência de nossa raça, esta ferramenta se
chama tecnologia.
Tecnologia tem um conceito polissêmico, mas que naturalmente sua
utilização fala por si só, em questão cientifica, um dicionário comum, auxilia na
ideia abstrata que se pretende passar. Tecnologia é o conjunto de
conhecimentos, habilidades, técnicas, ferramentas e métodos utilizados para
produzir bens e serviços, solucionar problemas e melhorar a qualidade de vida
das pessoas. A tecnologia é aplicada em muitos setores, incluindo a saúde, a
educação, a energia, a comunicação, a produção e a logística e agora, ao direito.
Com a globalização, esta nova técnica, passou a servidão do cidadão,
alguns acreditam que para o bem e outros para o mal. Nesta técnica, a
comunicação passou ser instantânea, assim como as discussões e proliferação
de conhecimento e informações passaram a estar a um dedo de distância.
Quanto aos objetivos específicos deste estudo, é destacado: descrever
o contexto da fundamentação teórica quanto ao termo “jurimetria” e a utilização
de novas tecnologias para a modernização do judiciário; a transformação e
aceitação social para dar mais garantias aos novos debates e ao fim a sua
aplicabilidade.
Quanto à metodologia, utilizou-se o método indutivo, aliado à técnica
da pesquisa bibliográfica, por meio da leitura de obras de autores nacionais e
internacionais que versam sobre Sociologia, Filosofia do Direito e Economia.

1. ADAPTAR-SE PARA EVOLUIR.

Os aspectos, políticos, culturais, sociais e econômicos sofrem radicais


mudanças, assim como o direito. Atualmente, o Direito está passando por
mudanças significativas devido à crise econômica e social. Com a diminuição
dos recursos financeiros disponíveis para as ações estatais, as leis são revistas
para adequar os orçamentos existentes.
Além disso, a globalização trouxe novas demandas que exigem novas
regras, que devem ser criadas de forma a atender às necessidades de diferentes
países e culturas. Assim, o Direito se torna cada vez mais flexível, diversificado
e adaptável aos novos contextos. A legislação passa a contemplar as
necessidades sociais e econômicas, buscando sempre manter a justiça e o
equilíbrio entre os direitos dos indivíduos e os interesses do Estado. Assim
Campos2 seleciona:
Nesse sentido, o novo processo é eminentemente popular. Pondo a
verdade processual não mais apenas a cargo das partes, mas
confiando, numa certa medida, ao juiz a liberdade de indagar dela,
rompendo com o formalismo, as ficções e presunções que o chamado
‘princípio dispositivo’, de ‘controvérsia’ ou ‘contradição’, introduzia no
processo, o novo Código procura restituir ao público a confiança na
justiça e restaurar um dos valores primordiais da ordem jurídica, que é
a segurança nas relações sociais reguladas pela lei. Noutro sentido
ainda podemos falar do cunho popular do novo processo: ele é um
instrumento de defesa dos fracos, a quem a luta judiciária, nos quadros
do processo anterior, singularmente desfavorecia.

O Estado contemporâneo é responsável por estabelecer e garantir os


direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos, mas também precisa atuar
como agente regulador da economia e dos mercados. Esse paradoxo é cada vez
mais evidente com a evolução tecnológica, pois o aumento da interconexão
entre os atores do mercado e o fluxo de informações cada vez mais rápido exige
do Estado ações cada vez mais rápidas e eficazes, assim como dizeres de José
Eduardo Faria3:
O Estado contemporâneo, por meio de seu Poder Executivo, passa a
agir de modo paradoxal gerando, em nome da estabilização monetária,
do equilíbrio das finanças públicas, da retomada do crescimento e da
abertura comercial e financeira, uma corrosiva inflação jurídica.
Este tipo de inflação se traduz pelo crescimento desenfreado do
número de normas, códigos e leis, de tal modo que a excessiva
acumulação desses textos legais torna praticamente impossível seu
acatamento por seus supostos destinatários e sua aplicação efetiva
pelo Judiciário, ocasionando, por consequência, a “desvalorização”
progressiva do direito positivo e o impedindo de exercer
satisfatoriamente suas funções controladoras e reguladoras.

Os fatores acentuados pela crise do positivismo jurídico, se busca na


ciência jurídica, que com metodologia racional, busca sistematizar, disseminar,
controlar, rever e conferir segurança à produção dos conhecimentos moral, ético
e jurídico, dentro dos quadros de um determinado paradigma4.

2
CAMPOS, F.; O Estado Nacional. Brasília: Senado Federal. 2001, pag. 164
3
FARIA, José Eduardo. (organizador) Direito e globalização econômica: implicações e perspectivas, São
Paulo, Malheiros, 1996, pág. 9
4
KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções cientificas. São Paulo: Perspectiva, 2009.
Neste contexto, a ciência jurídica atualmente revê suas bases
teóricas, e através da pesquisa do Professor Dr. Orlando Zanon5 constrói a teoria
complexa do direito:
Destaca-se que os cenários acadêmico e forense brasileiros
efervescem em uma revolução na teoria do Direito, caracterizada pela
substituição gradual dos principais postulados do modelo teórico do
Juspositivismo, que já não mais oferece respostas adequadas aos
problemas jurídicos, mormente em decorrência da diversidade de
valores que dimanam de uma sociedade amplamente heterogénea, do
progressivo acentuamento da complexidade dos casos submetidos ao
questionamento jurisdicional e da ampliação da reflexividade
transnacional, dentro outros fatores.

A evolução deste paradigma é o instrumento de estudo na ciência


jurídica, mas a crise no direito como um todo em perspectiva do homem comum,
pois de forma primaria o cidadão enxerga de forma perplexa as crescentes leis
e regulamentos, a falta de clareza e coerência nas decisões judiciais, a influência
política nas decisões judiciais, a falta de recursos para aplicar eficazmente as
leis, entre outras. Além disso, a globalização e a evolução tecnológica também
estão desafiando a forma como o direito é aplicado e interpretado, contraponto
na visão de Catells6:
A sensação geral é de que, em vez de uma cultura democrática, o que
ocorre na América Latina é uma cultura eleitoral manipulada pelas
elites políticas. A verdade é que, nos últimos cinco anos, temos tido
evidências consideráveis de que isso representa uma tendência global,
que revela uma crise fundamental da democracia política praticamente
no mundo inteiro.

Com a globalização e a tecnologia, agora entranhadas na vida do


cidadão, não seria diferente com o direito, com crises e novos reforços diuturnos
para a manutenção, a utilização desta nova ferramenta é uma realidade.
Assim os juristas encontram novas formas e métricas, não só para
auxiliar o crescente desejo de equidade, mas obviamente uma ferramenta para
auxiliar as demandas do trabalho, que agora mais que nunca se faz necessário,
Castells7 contribui:

No final do século XX vivemos um desses raros intervalos na história.


Um intervalo cuja característica é a transformação de nossa cultura

5 ZANON JUNIOR, Orlando Luiz. Teoria Complexa do Direito.


6 CASTELLS, Manuel. A crise da democracia, governança global e a emergência da sociedade
civil global. In: GUTERRES, António; et al. Por uma governança global democrática. São Paulo:
IFHC, 2005, p. 95-128
7 CASTELLS, Manoel. A sociedade em rede. 8.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. p. 67
material pelos mecanismos de um novo paradigma tecnológico que se
organiza em torno da tecnologia da informação.

E nesta nova métrica, adicionando demandas excessivas de


contenciosos jurídicos, aumento significativo da população, informação e a
aparente democratização de direitos e garantias, surge o banco de dados, muitos
falam que este é o petróleo digital. Nesta seara, juristas compreendem a da
estatística aplicada ao direito, ou popularmente Jurimetria.
Jurimetria, categorizada incialmente por Lee Loevinger8, advogado
norte americano que nos anos 60, desenvolve o artigo “Jurimetrics: the
methodology of legal inquiry” e com suas demandas observa que as decisões
judiciais como conhecemos, deveram também ter uma análise cientifica, não
apenas comentada, Loevinger9 indaga:

Não se pode converter filosofia em ciência simplesmente adotando o


vocabulário ou imitando os métodos da ciência. Para conduzir uma
investigação científica, deve-se primeiro fazer uma pergunta científica.
Aquele que coloca um problema que a ciência é capaz de investigar.
Uma questão científica deve ser aquela que pode ser respondido, pelo
menos parcialmente, fazendo algo e observando o resultado. Essas
considerações sugerem porque não temos e provavelmente nunca
teremos uma jurisprudência que é “experimental” ou “científica”.

Apesar da antiga resistência, a jurimetria ganhou força nos últimos


tempos. Esta aceitação se deve, em parte, à evolução tecnológica e ao
surgimento de ferramentas de análise de dados capazes de auxiliar o julgador
na tomada de decisões. Além disso, o uso da jurimetria também é considerado
como uma forma de reduzir o tempo e o custo de julgamentos.

A jurimetria está preocupada com questões como a análise quantitativa


do comportamento judicial, a aplicação da teoria da comunicação e da
informação à expressão jurídica, o uso de lógica matemática em direito,
a recuperação de dados legais por meios eletrônicos e mecânicos, e a
formulação de um cálculo de praticabilidade jurídica 10.

8 LOEVINGER, Lee, autor de outros 150 livros nas áreas da Direito, Economia, Direito da
concorrência, regulamentação da Comunicação e do Jornalismo e na relação entre Direito e
Ciência
9 LOEVINGER, Lee. Jurimetrics: the methodology of legal inquiry. Published by: Duke

University School of Law. Law and Contemporary Problems, Vol. 28, No. 1, Jurimetrics
(Winter,1963), pag. 5
10 LOEVINGER, Lee. Jurimetrics: the methodology of legal inquiry. Published by: Duke

University School of Law. Law and Contemporary Problems, Vol. 28, No. 1, Jurimetrics
(Winter,1963), pag. 6
Nesta ideia inaugural entre direito e estatística, alavancou vários
outros fundamentos, a ideia original evoluiu.
Juristas vem analisando, a fundamentação proposta por Loevinger,
e agora teorizando a aplicabilidade, como De Mulder, Van Noortwijk e Combrink-
Kuiters11, que propõem:
A jurimetria é o estudo empírico da forma, do significado e da
pragmática e das relações entre aqueles de demandas e autorizações
emanadas de órgãos estatais com o auxílio de modelos matemáticos
e usando o individualismo metodológico como base paradigma para a
explicação e previsão do comportamento humano”.

A revolução tecnológica permitiu que os anseios de velocidade que


dominam o mundo alcançassem o direito, notadamente no que diz respeito ao
poder sonhar um processo célere e com efetividade da prestação jurisdicional.
E assim, a jurimetria atualmente é muito utilizada, principalmente na
previsibilidade de decisões judiciais.

2. SEGURANÇA NA ERA DA INFORMAÇÃO.

Neste atual momento tecnológico em paralelo a outras vontades da


população, somado ao “princípio da velocidade” que dominam o mundo não
demorou para que alcançassem o direito. No que se diz respeito aos que se
podem sonhar com um processo célere e com efetividade da prestação
jurisdicional, assim como um estalar de dedos, Nieto compartilha12:

Uma justiça ineficaz é a praga da economia, já que a insegurança os


custos e os atrasos dos pleitos carreiam severos prejuízos
econômicos. A dificuldade na cobrança das dívidas provoca uma
elevação dos preços como o prêmio de seguro pela demora nos
pagamentos. Existem empresas que se arruínam ainda que tenham
ativos importantes que não existe modo de os fazer efetivos porque
dormitam durante decênios em algum julgado ou porque as sentenças
não se executam a tempo.

Com a evolução destes temas, a justiça vem se aprimorando a sua


participação com a sua tecnologia e experimentando processos de forma
eletrônica, audiências remotas, e dentre o mais pujante, as análises feitas sobre

11 DE MULDER, Richard; VAN NOORTWIJK, Kees; COMBRINKKUITERS, Lia. Jurimetrics


please! A history of legal informatics, lefis series, v. 9, 2010. pag. 147.
12 NIETO, A.; El Desgobierno Judicial 3ª ed. Madri: Ediciones Trotta. 2005. Pag. 71
as decisões judiciais no formato estatístico, como em um banco de dados, na
contribuição de Carlos Henrique Abrão13:

Não pode pairar dúvidas que a busca por uma decisão em tempo real
e não meramente virtual atende aos anseios da sociedade moderna e
na situação candente da economia, tudo depende da segurança
jurídica em sintonia com a democracia regulamentando o perfil da
Justiça.

Porém, isso não é sinônimo de eficiência da prestação jurisdicional ou


maior assertividade nas sentenças emanadas pelo poder jurídico. Mas com tanta
informação, coloca-se em dúvidas alguns princípios básicos do direito.
Assim como a segurança jurídica no meio destes novos arranjos
tecnológicos, haveria pressupostos na estabilidade e previsibilidade para
assegurar a utilização desta nova ferramenta para auxiliar nas demandas
jurídicas? Canotilho14 perpassa essa compreensão:

O princípio da segurança jurídica não é apenas um elemento essencial


do princípio do Estado de Direito relativamente a atos normativos. As
ideias nucleares da segurança jurídica desenvolvem-se em torno de
dois conceitos: (1) estabilidade ou eficácia ex post da segurança
jurídica dado que as decisões dos poderes públicos uma vez
adoptadas, na forma e procedimentos legalmente exigidos, não deve
poder ser arbitrariamente modificados, sendo apenas razoável a
alteração das mesmas quando ocorram pressupostos materiais
particularmente relevantes; (2) previsibilidade ou eficácia ex ante do
princípio da segurança jurídica que, fundamentalmente, se reconduz a
exigência de certeza e calculabilidade, por parte dos cidadãos em
relação aos efeitos jurídicos dos atos normativos.

Neste contexto a Política Nacional de Comunicação criada pelo


Conselho Nacional de Justiça através da Resolução 85/2009, promove a
segurança jurídica a partir dos meios informacionais uma vez que visa:

Aprimorar a comunicação com o público externo é um dos Objetivos


Estratégicos do Judiciário, “com linguagem clara e acessível,
disponibilizando, com transparência, informações sobre o papel, as
ações e as iniciativas do Poder Judiciário, o andamento processual, os
atos judiciais e administrativos, os dados orçamentários e de
desempenho operacional.
I – dar amplo conhecimento à sociedade das políticas públicas e
programas do Poder Judiciário; II – divulgar, de forma sistemática, em
linguagem acessível e didática, os direitos do cidadão e os serviços

13ABRÃO, Carlos Henrique. Processo Eletrônico. São Paulo: Juarez de Oliveira. 2009. p. 3.
14
CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7ª ed., Coimbra:
Almedina, 2003, p. 264.
colocados à sua disposição pelo Poder Judiciário, em todas as suas
instâncias; III – estimular a participação da sociedade no debate e na
formulação de políticas públicas que envolvam os seus direitos; IV –
disseminar informações corretas sobre assuntos que sejam de
interesse público para os diferentes segmentos sociais e que envolvam
as ações do Poder Judiciário; V – incentivar, no âmbito dos
magistrados e servidores, através da comunicação, a integração com
as ações previstas nesta Resolução, de modo a garantir a eficácia dos
objetivos nela colimados; VI – promover o Poder Judiciário junto à
sociedade de modo a conscientizá-la sobre a missão exercida pela
Magistratura, em todos os seus níveis, otimizando a visão crítica dos
cidadãos a respeito da importância da Justiça como instrumento da
garantia dos seus direitos e da paz social.

Dentre a utilizações destas estáticas somadas a tecnologia e ao


direito, novas plataformas foram adotadas para auxiliar a velocidade com que os
pronunciamentos jurisdicionais precisam ocorrer revela que o valor segurança
jurídica cede espaço para a efetividade da jurisdição.
Como roga a Constituição Brasileira, todos temos direitos a um
processo justo e razoável:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade: XXXV - a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados


a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade
de sua tramitação

Contribuindo assim com a análise de documentos e a criação de


bancos de dados com informações relevantes para o bom desempenho da
jurisdição, além da otimização da busca de decisões judiciais e doutrinas, entre
outras ferramentas para o acompanhamento e monitoramento dos
procedimentos e processos judiciais.
Novos tempos devem ser adequados a um estado contemporâneo,
visto que a sua utilização por ferramentas modernas é necessária para auxiliar
a população, no direito e na jurisdição, mas assim como as ferramentas são
novas, as interpretações a luz da real sociedade também devem seguir a dos
seus interpretadores, como o Ministro Barroso15 leciona:

15
BARROSO, Luiz Roberto. A nova interpretação Constitucional. 3ª Edição, Rio de Janeiro:
Renovar, 2008.
No direito, a temática já não é a liberdade individual e seus limites,
como no Estado liberal; ou a intervenção estatal e seus limites, como
no welfare state. Liberdade e igualdade já não são os ícones da
temporada. A própria lei caiu no desprestígio. No direito público, a nova
onda é a governabilidade. Fala-se em desconstitucionalização,
delegiferação, desregulamentação. No direito privado, o código civil
perde sua centralidade, superado por múltiplos microssistemas. Nas
relações comerciais revive-se a Lex mercatoria. A segurança jurídica –
e seus conceitos essenciais, como o direito adquirido – sofre
sobressalto da velocidade, do imediatismo e das interpretações
pragmáticas, embaladas pela ameaça do horror econômico. As
fórmulas abstratas da lei e a discrição judicial já não trazem todas as
respostas. O paradigma jurídico, que já passara, na modernidade, da
lei para o juiz, transfere-se agora para o caso concreto, para a melhor
solução, singular ao problema a ser resolvido.

Não é possível negar o uso que as ferramentas tecnológicas têm e


terão no direito e na atividade jurisdicional maior utilização. E é aqui que a
jurimetria deve ser lembrada, não como algo perfeito, acabado, ou absoluto, mas
algo em construção, onde a tecnologia auxilie o magistrado na motivação de
suas decisões na busca da melhor resposta.
Mas nos moldes atuais, a jurimetria vem realizando mudanças
fundamentais na vida jurídica, mas infelizmente não resolvendo o cerne dos
problemas, não por sua criação em si, mas por questões da própria política que
a mantem, mas qual aplicabilidade a jurimetria pode nos auxiliar?

3. APLICAÇÕES JURIMÉTRICAS

Visto a apelo social para uma melhor aplicação do direito, sendo ele
mais justo e democrático, que ele alcance a todos os cidadãos,
independentemente de sua classe ou condições, e na busca de ferramentas para
auxiliar a enorme demanda dos contenciosos jurídicos. Com a crise empenhada
no positivismo jurídico, mudanças abruptas são vistas no coque entre a decisão
jurídica e casos individuais, e na era da tecnologia, a jurimetria pode ser uma
ferramenta poderosa.
A jurimetria poderá ter mais eficiência se utilizada não só como meros
resultados na pesquisa de um banco de dados em busca de um perfil para
determinas pesquisas, poderá também servir em outros eixos, metodicamente
aperfeiçoadas para a vontade geral dos cidadãos. A exemplo das políticas
públicas.
A visão geral está no amplo espectro que no uso de informações para
facilitar o bem-estar do cidadão no gozo de seus direitos, padrão que pode ser
utilizado o uso de estatísticas, está ligado diretamente ao tema, segundo
Souza:16
Pode-se, então, resumir política pública como o campo do
conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o governo em
ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando
necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações (variável
dependente). A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio
em que os governos democráticos traduzem seus propósitos e
plataformas eleitorais em programas e ações que produzirão
resultados ou mudanças no mundo real.

Como se sabe, as políticas públicas são feitas por nossos


legisladores, eles que muito não compreendem a necessidade real, o a utilização
da máquina pública com eficiência, logo com o auxílio estatístico voltado ao
direito, assim com o suporte destas novas ferramentas, os legisladores podem
se valer da análise dos fatos descritos nos autos, bem como da própria
jurisprudência, como forma de embasar a criação e manutenção legislativa
contemporânea, exemplo extensivo que foi dado por Zabala e Silveira:17

Uma das mais destacadas atuações da jurimetria é a análise de


informações organizadas em bancos de dados públicos, fundamentais
para o entendimento da situação socioeconômica vigente. A
organização e análise de dados propor racionam um ambiente
favorável para a produção de leis coerentes, criando um alicerce
comum para discussões políticas. Em 2010, foi levantado o tema da
escassez de táxis versus novas concessões de licenças em Porto. Sob
a óptica jurimétrica, o debate político antecedeu um levantamento a
respeito da situação do transporte público na capital gaúcha. Fulanos
estimavam 500 novas licenças de táxi, beltranos falavam em 75,
enquanto cicranos apontavam um excedente na frota.

Outra abordagem da jurimetria é sob o enfoque da decisão judicial,


mas com muita ênfase, pois a cautela se faz necessária em foque a autonomia
por parte do juiz, mas não se pode ignorar a abordagem cientifica que coloca a
frente sob o aspecto da veracidade, assim auxiliando na possível tomada de
decisão do juiz, Bulos18 leciona:

16
SOUZA, Celina. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano 8,
nº 16, jul/dez 2006, p. 20
17
ZABALA, Filipe Jaeger; SILVEIRA, Fabiano Feijó. Jurimetria: estatística aplicada ao direito.
Revista Direito e Liberdade, Natal, v. 16, n. 1, p. 87-103, jan./abr. 2014. Quadrimestral.
18 Cf.: Antonie Garapon, Bem julgar: ensaio sobre o ritual judiciário, Lisboa, Instituto Piaget, 1997,

p.310.
A técnica mediante a qual as provas são examinadas de acordo com a
consciência judicial, à luz das impressões colhidas do processo e pela
análise imparcial e independente dos fatos e circunstâncias constantes
nos autos. No Brasil, o princípio da livre convicção do juiz, além de
encontrarse previsto no Código de Processo Civil (art.131), também
vem albergado no Código de Processo Penal, que considerou a
liberdade de formação do convencimento do magistrado um prius do
ato decisório (art.157). Para tanto, cumpre-lhe apreciar livremente a
prova, valorando-a, num trabalho meticuloso e delicado. Por aí já se
percebe que a livre convicção no direito brasileiro requer um exame
crítico, inteiramente imparcial, que convém ser feito com o máximo de
escrúpulo.

É impossível negar o auxílio que se pode experimentar com a utilização


da jurimetria, visto vastos exemplos que já são utilizados nos dias atuais, só que
não recebem o devido crédito, enquanto isso, diversos outros casos equiparados
não são usuais pois, a livre convicção em suma maioria das decisões, não são
levadas em consideração sua aplicação no mundo concreto, exemplo de Zabala
e Silveira19
Um exemplo corrente está nos processos criminais ou de paternidade
nos quais se avalia o ácido desoxirribonucleico (DNA). Ainda que o
senso comum atribua 100% de certeza em batimentos de DNA, esses
métodos não são infalíveis. Não há uma avaliação de toda a cadeia de
DNA como se pode imaginar inicialmente, mas uma comparação dos
padrões no código genético (microssatélite) em partes do DNA, o que
deixa margem – ainda que pequena e mensurável – para a ocorrência
de equiparações ao acaso. Para avaliar a grandeza dessa margem,
podem-se utilizar métodos estatísticos baseados nos autos do
processo e em dados históricos de avaliações similares. Tais métodos
resultam na probabilidade de o indivíduo ter dado origem àquela
específica amostra de DNA.
O ferramental jurimétrico funciona, como um processador inteligente
de dados, fornecendo uma análise apurada como suporte ao juiz.

Outra métrica que deve ser levada em consideração é na hora da


instrução probatória. Métodos jurimétricos são naturalmente aplicados na
advocacia, que pode fazer uso de medidas de evidência em processos, a
modelos de processos, bases teóricas e conceitos, jurisprudência e outros.
O cerne é a medida do possível sucesso com determinadas
demandas. A exemplos simples de nosso dia a dia. É o caso do “fundado receio
de dano irreparável ou de difícil reparação” no pedido de tutela antecipada em
ações envolvendo o pedido de internações, creches, medicamentos etc... a
exemplo de Zabala e Silveira20

19 ZABALA, Filipe Jaeger; SILVEIRA, Fabiano Feijó. Jurimetria: estatística aplicada ao direito.
Revista Direito e Liberdade, Natal, v. 16, n. 1, p. 87-103, jan./abr. 2014. Quadrimestral.
20 ZABALA, Filipe Jaeger; SILVEIRA, Fabiano Feijó. Jurimetria: estatística aplicada ao direito.

Revista Direito e Liberdade, Natal, v. 16, n. 1, p. 87-103, jan./abr. 2014. Quadrimestral


É possível apresentar uma análise estatística que indique a chance de
haver sequelas ao paciente, caso não seja tomado o medicamento
requerido de forma urgente. Tais informações devem ser calculadas a
partir de dados de fácil acesso, dando preferência para os dados
públicos. Outro recurso interessante é a possibilidade de avaliar as
chances de ganhar ou perder uma causa. Pode-se também estudar a
viabilidade econômica antes de iniciar uma ação judicial, baseado em
dados históricos e elementos específicos de cada caso. É possível
quantificar a chance de êxito com base na análise de variáveis comuns
e na jurisprudência consolidada para casos de ações em massa.
Utilizando alguma medida de “chance de sucesso”, podem-se
mensurar de forma mais precisa os valores a ser cobrados em casos
de honorários condicionais ao êxito. Antecipar resultados com relativa
eficiência é, portanto, uma das muitas possibilidades da aplicação
jurimétrica bem planejada.

A jurimetria se torna uma nova disciplina que combina conceitos de


direito, e estatística para ajudar na resolução de questões legais em uma área
em constante evolução e vem ganhando importância em um mundo cada vez
mais globalizado e dependente da tecnologia.
Em resumo, a jurimetria se tornou uma ferramenta poderosa para o
direito, que pode ajudar a tornar o sistema jurídico mais eficiente e justo. No
entanto, é importante que seja usada com cuidado e equilíbrio.

CONCLUSÂO

A jurimetria vem para auxiliar como nova ferramenta o ramo jurídico


como um todo, o avanço da tecnologia no direito tem a difícil missão de se
adaptar e responder para a população a aplicação da justiça de um modo justo.
Podendo agora utilizar de novas ferramentas para além de organizar sua
estrutura, pode também se beneficiar para modernizar seus procedimentos.

A jurimetria é a adaptação do direito ao modo de vida


contemporâneo, na era do imediatismo, com sistemáticas crises políticas,
sócias, culturais e econômicas, o direito tende a ser o vórtice das reclamações
entre os cidadãos comuns, que buscam a justiça. Infelizmente pela morosidade
e a desigualdade vivida no judiciário, faz com que o direito sempre fique em
desprestígio, mas com novas ferramentas e a tecnologia faz com que o direito
seja mais democrático.
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