Laudo Isabele

ESTADO DE MATO GROSSO
SECRETARIA DE ESTADO DE SEGURANÇA PÚBLICA

PERÍCIA OFICIAL E IDENTIFICAÇÃO TÉCNICA - POLITEC
DIRETORIA METROPOLITANA DE CRIMINALÍSTICA
COORDENADORIA DE PERÍCIAS EXTERNAS
GERÊNCIA DE PERÍCIAS EM MORTES VIOLENTAS
LAUDO PERICIAL Nº 2.06.2020.007720-01

PROTOCOLO: 009267/2020
Contém o presente Laudo Pericial o total de 62 (sessenta e

duas) folhas de papel timbrado desta DIRETORIA
METROPOLITANA DE CRIMINALÍSTICA, onde fica
arquivada uma cópia, sendo todas devidamente numeradas e
rubricadas da forma como segue:
• Esta folha de rosto sem numeração.
• As folhas de 01 a 61 compõem o texto com as ilustrações.
• A folha 62 compõe o anexo

PERICIA OFICIAL E IDENTIFICAÇÃO TÉCNICA
SUMÁRIO
1. DADOS OFICIAIS ........................................................................... 4
2. DO HISTÓRICO .............................................................................. 4
3. DO LOCAL ...................................................................................... 6
4. DOS EXAMES ............................................................................... 14
Do Cadáver ...................................................................................................... 14
4.1.1. Da Caracterização ...................................................................................... 14
4.1.2. Da Posição, Localização e Identificação.................................................... 14
4.1.3. Das Vestes.................................................................................................. 17
4.1.4. Dos Pertences e Objetos ........................................................................... 17
4.1.5. Do Exame Perinecroscópico ...................................................................... 17
4.1.6. Das Manchas de sangue ............................................................................ 25
4.1.7. Da Caracterização ...................................................................................... 35
Das Armas de Fogo ......................................................................................... 37

4.2.1. Pistola Tanfóglio numeração “ V02251” (1) ................................................ 40
4.2.2. Pistola CZ numeração “D065867” (2) ........................................................ 40
4.2.3. Revolver Smith & Wesson numeração “DLJ5825”(3) ................................. 40
4.2.4. Revolver Smith & Wesson numeração “DMK0481”(4) ............................... 40
4.2.5. Pistola Tanflóglio numeração “ V02251” ................................................... 42
4.2.6. Pistola Imbel numeração “ V02251” (Arma do Crime) ................................ 42
Dos Estojos e Projéteis .................................................................................. 44

4.3.1. Das Munições. ............................................................................................ 44
4.3.2. Do Estojo deflagrado. ................................................................................. 44
4.3.3. Do Confronto balístico ............................................................................... 44
Da Coleta de padrão para exame residuográfico ........................................ 47
Do Teste de Quimioluminescência (Luminol) ............................................... 47
5. DA ANÁLISE DO EVENTO ........................................................... 49
Das Considerações Técnico-Periciais .......................................................... 49

5.1.1. Da Distância do disparo ............................................................................. 49
5.1.2. Do Mecanismo do Disparo ......................................................................... 50
5.1.3. Da Posição do Atirador .............................................................................. 51
5.1.4. Da Posição, Altura do disparo e queda da vítima ...................................... 52
Página 2 de 62
Laudo Pericial assinado digitalmente, com Certificação Digital quando visualizado no site
https://portal.segurança.mt.gov.br/politec-online.
Da Dinâmica Parcial do Evento...................................................................... 57
6. DA CONCLUSÃO ......................................................................... 58
7. REFERÊNCIAS ............................................................................. 59
8. DISPOSIÇÕES FINAIS ................................................................. 61
Página 3 de 62
1. DADOS OFICIAIS
Autoridade Requisitante: Olímpio Cunha Fernandes Júnior (Delegado).

Órgão Requisitante: Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Pessoa –
Cuiabá/MT.
Documento Solicitante: Requisição S/N.
Natureza da Perícia: Crime contra a vida.
Data do Documento Solicitante: 13/07/2020. Data do Recebimento: 13/07/2020.
Data e Horário dos Exames: 13/07/2020 das 0h10min às 0h50.
Local dos Exames: Rua Cataias, 95, Condomínio Alphaville, Bairro: Jardim Itália,
Cuiabá - MT.
Coordenadas de GPS: 21L 0599996 e 8975841.
Nome(s) da(s) Vítima(s): ISABELE GUIMARÃES RAMOS.
Nome(s) do(s) Investigado(s): Não informado.
Destino do Laudo: Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Pessoa –
Cuiabá/MT.
Informação Complementar: Nada consta.
2. DO HISTÓRICO
Aos 13 de julho de 2020, em atendimento à requisição da autoridade

supramencionada e cumprindo determinação da direção desta Diretoria
Metropolitana de Criminalística, o perito oficial criminal, Thiago José Resplande Lima,
signatário do presente laudo, compareceu ao local especificado acima a fim de
realizar os exames periciais em local de morte violenta em residência situada no
endereço em epígrafe.
Segundo o relato apresentado no histórico no ofício, haveria uma vítima

atingida por projétil de arma de fogo, que se encontrava caída, em óbito, certo
banheiro da residência. Nesse sentido, foram procedidos registros de dados e
coletas de vestígios para análise do fato, bem como a análise dos laudos
complementares (balística e necropsia) à luz corpo de evidências do local, que
serviram de fundamento para a análise apresentada no presente laudo pericial, por
meio do qual o perito passa a expor o que verificou.
Página 4 de 62
(A)
B)
Figura 1 – (A )magem de satélite do local do exames. (B) Imagem de satélite aproximada do local dos
exames.
Página 5 de 62
3. DO LOCAL
Todas as localizações no presente laudo tiveram como referencial o

observador postado dentro do imóvel (e dentro de cada repartição) e com a face
voltada para a Rua Cataias. Foram definidos os seguintes referenciais de amarração:
R1 – alinhamento longitudinal coincidente com a parede posterior do banheiro da
suíte superior esquerda; R2 – alinhamento transversal ao eixo do referencial R1,
coincidente com a parede lateral esquerda do banheiro e H – distância do piso.
Trata-se de imóvel urbano particular situado no Condomínio Alphaville

Cuiabá, Bairro Jardim Itália, Cuiabá/MT e localizado sob as Coordenadas
Geográficas 15°35'35.47"S/ 56° 4'3.14"O (Figura 1). O lote ficava limitado na parte
anterior pela Rua Cataias, via pública de pista simples, pavimentada, com passeio
público pavimentado e com meio-fio (Figura 2).
Figura 2 - Fachada da residência onde foram realizados os exames.
Página 6 de 62
Com o acesso ao interior do lote pela parte anterior sem vedação,
verificou-se que tanto o limite posterior quanto as laterais eram vedados por muro de
alvenaria. Na porção central do lote havia uma edificação construída em alvenaria, de
dois pisos e telhado oculto por platibanda.
A via de acesso principal ao interior da residência era uma porta localizada

na parede anterior que dava acesso à sala. O acesso ao segundo piso dava-se por
uma escada localizada na porção mediana da sala de estar (Figura 3 e Figura 4).
Na parte superior, havia várias dependências, das quais duas ofereciam

interesse pericial. A primeira delas era a suíte localizada na porção anterior esquerda,
onde jazia o cadáver (Figura 5, Figura 4, Figura 9, Figura 10 e Figura 11). A outra, era
a suíte de casal localizada na região mediana posterior, indicada pelo dono da casa
como sendo o local onde se encontrava a suposta arma utilizada no evento (Figura
25 e Figura 26).
A suíte anterior era composta por três (3) ambientes. O primeiro ambiente
era o quarto, que continha duas (2) camas de solteiro e uma mesa de escritório com
duas cadeiras, um computador “Desktop” além de diversos elementos de decoração
(Figura 5), localizado na porção direita da suíte. O quarto tinha duas portas, uma,
localizada na parede posterior que provia o acesso entre o quarto e o restante da
casa; e a outra, localizada na parede lateral esquerda, que provia o acesso entre o
quarto e o closet.
O segundo ambiente que compunha a suíte era o closet, localizado na

porção posterior esquerda. Em sua parte interna, havia dois guarda-roupas, um
encostado na parede posterior e com alinhamento mais a esquerda; e outro
encostado na parede anterior e com alinhamento mais a direita. O primeiro guarda-
roupas, estava sem a porta de correr mediana. Essa porta solta estava encostada no
segundo armário do closet (Figura 6 e Figura 25).
Página 7 de 62
(A)
(B)
Figura 3 - (A) Vista lateral da escada de acesso ao segundo piso. (B) Escada vista de outra perspectiva
Página 8 de 62
(A)
(B)
Figura 4 - (A) Vista da escada e (B) vista do corredor de acesso ao quardo onde foram procedidos os
exames.
Página 9 de 62
(A)
(B)
Closet
Figura 5 - Suite superior esquerda. (A) Vista das camas e (B) vista da mesa
de escritório e da porta de acesso ao closet.
Página 10 de 62
Por fim, o terceiro ambiente que compunha a suíte era o banheiro,
localizado em sua porção anterior esquerda, onde jazia um cadáver. Para se chegar
ao banheiro deve-se passar pelo closet primeiramente.
Este ambiente apresentou-se como o de maior relevância pericial, já que

os vestígios constatados em seu interior abarcavam todo o conjunto de manchas de
sangue verificadas no exame, bem como o projétil utilizado no disparo que resultou
o óbito da vítima (Figura 29).
Na porção posterior do segundo piso, havia uma suíte de casal, composta

por três (3) ambientes, a saber: um quarto de casal, um closet e um banheiro. Destes,
apenas o closet, localizado em sua porção posterior, ofereceu interesse ao exame
pericial. Havia ali um conjunto composto por seis (6) armas, dentre as quais uma era
apontada pelo dono da residência, como a arma utilizada no disparo do projétil que
culminou com o óbito em questão (Figura 10).
Com relação à preservação, o perito observou a presença considerável de

terceiros no lado exterior da residência. Havia a presença de equipes da Polícia Militar
e da Polícia Civil. Os policiais Militares controlavam o acesso ao interior da residência
e ao seu andar superior. Os policiais civis encontravam-se coletando as informações
preliminares.
Em que pese o controle de acesso observado no momento da chegada da

equipe pericial, percebeu-se certa deficiência na preservação do local nos momentos
anteriores à chegada da equipe. Isto porque o estojo, supostamente ejetado pela
arma de fogo utlizada no evento, teve sua localização descaracterizada, uma vez que
fora apresentado em mãos aos investigadores da Polícia Civil e repassados à equipe
pericial a seguir.
Página 11 de 62
(A)
Guarda-
roupas 1
Guarda-
roupas 2
Acesso ao
banheiro
(B)
Porta com espelho do

guarda-roupas 1
apoiada sobre
guarda-roupas 2
Figura 6 - Vista do acesso ao closet. Observou-se que o local se encontrava visualmente organizado
e com aspecto de limpeza não recente.
Página 12 de 62
O perito considera que houve um isolamento parcial do local, dado a
presença de terceiros na sala da residência; e que não apresentava preservação
satisfatória no momento da chegada da equipe, dado que a descaracterização do
local em que o estojo do disparo se encontrava prejudica a avaliação da posição do
atirador.
Página 13 de 62
4. DOS EXAMES
Os exames periciais foram realizados em três datas distintas: dia 13 de

julho de 2020 (perícia de local); dia 14 de julho de 2020 (coleta de medidas
complementares) e dia 17 de julho de 2020 (aplicação do reagente Luminol).
Na primeira data, foram examinados onze (11) conjuntos de manchas de

sangue; um (1) projétil deflagrado; um (1) estojo deflagrado de calibre .380 AUTO; um
(1) cadáver; seis (6) armas de fogo. Na segunda data, foram coletadas medidas
detalhadas dos elementos constituintes do banheiro onde jazia o cadáver. Na terceira
data, foi procedida aplicação de reagente Luminol nas imediações de acesso ao local
examinado.
Do Cadáver
No piso superior da residência, no interior do banheiro da suíte anterior

esquerda, jazia um (1) cadáver.
4.1.1. Da Caracterização
Trata-se de cadáver do sexo feminino, jovem, com 1,61 m de estatura,

compleição normolínea, cabelos castanhos e lisos, olhos castanhos e cútis branca.
O cadáver não apresentava tatuagens ou quaisquer outros sinais particulares.
4.1.2. Da Posição, Localização e Identificação
O cadáver encontrava-se posicionado em decúbito dorsal, com o tronco e

os membros inferiores estendidos, com orientação levemente oblíqua. Os braços
encontravam-se estendidos e alinhados à linha longitudinal do tronco. Sua cabeça
encontrava-se apontada para a região lateral direita do banheiro (fundo do box) e
mantinha-se apoiada sobre o piso por sua parte posterior (Figura 8).
Página 14 de 62
(A) (B)
Porta do
banheiro.
Figura 7 – (A) Vista do closet e da entrada do banheiro. (B) Vista do banheiro da suíte a partir do .
Evidencia as condições em local foi encontrado, o banheiro com a porta aberta sem danos aparentes
e a posição em que se encontrava o cadáver.
Página 15 de 62
(A) (B)
(C) (D)
Parede da
Limite do vidro do box banheira
Figura 8 – (A) e (B) Foto do cadáver feita do interior do banheiro com o observador orientado da janela
para a box. A porta do banheiro estava à direita do observador. (C) Vista do cadáver na região interna
do box, com o observador posicionado na banheira. (D) Vista aproximada da parte superior do tórax e
da cabeça do cadáver.
Página 16 de 62
4.1.3. Das Vestes
Trajava blusa estampada de cor predominante verde, short jeans de cor

azul, sutiã e calcinha de cor preta.
4.1.4. Dos Pertences e Objetos
O cadáver possuía um colar metálico na região do pescoço.
Havia uma bolsa de tamanho pequeno, cuja alça encontrava-se sob os

dedos de sua mão esquerda.
Foi observado um vaporizador eletrônico portátil de cor preta da marca

“ASVAPE”, modelo: Excelsior, localizado entre os pés da cadáver.
4.1.5. Do Exame Perinecroscópico
No local, ao proceder o exame perinecroscópico perito observou o que

segue:
a) Uma (01) ferida pérfuro-contusa, produzida pela passagem de projétil

de arma de fogo na região nasal esquerda, apresentando zona de
contusão e enxugo, auréola equimótica de 9 mm (nove milímetros),
formato circular com bordas invertidas, produzidas por entrada de
projétil de arma de fogo em tiro efetuado a curta distância;
b) Zona de tatuagem com formato circular medindo 10,5 cm (dez
centímetros e cinco milímetros) localizada na região da face,
centralizada no ponto da lesão de entrada do projétil;
c) Uma (01) ferida pérfuro-contusa produzida pela passagem de projétil de
arma de fogo na região occipital com bordas evertidas e de formato
estrelado de aproximadamente 9 mm (nove milímetros), produzida por
saída de projétil de arma de fogo;
d) Rigidez cadavérica não instalada (rigor mortis);
e) Temperatura relativamente morna (algor mortis);
f) Palidez discreta na face (pallor mortis);
Página 17 de 62
g) Livores hipostáticos em estágio inicial de fixação e compatíveis com o
posicionamento do cadáver (livor mortis).
Tabela 1 – Posicionamento do cadáver em relação à linha da porta da entrada do banheiro e à linha

da janela localizada na lateral esquerda.
Parte do corpo Distância da linha Distância da linha

da porta do da janela do
banheiro banheiro
Topo da cabeça 0,89 m 2,68 m
Solado do pé direito 0,71 m 1,08 m
Página 18 de 62
(A) (B)
(C) (D)
Figura 9 - (A) Vista superior do tronco e cabeça do cadáver dentro do box do banheiro. (B) Bolsa preta
encontrada sob a mão direita do cadáver. (C) Manchas de sangue projetadas no piso. (D) Vaporizador
eletrônico portátil de cor preta da marca “ASVAPE”, modelo: Excelsior.
Página 19 de 62
(A)
(B) (C)
Figura 10 - (A) Vista da face do cadáver de Isabele Guimarães Ramos com padrões de manchas de
sangue por escorrimento oriundas da região nasal. Acúmulo de sangue na região do entorno da
cabeça. Presença de coágulos. (B) e (C) Mostram a região da face do cadáver no IML após a limpeza.
Observa-se o conjunto de pontos de material incombusto, distribuído em padrão circular com 10,5 cm
(dez centímetros e meio), centralizado na região nasal. Em (C) pode-se observar a presença de resíduo
de disparo incrustado no globo ocular do cadáver.
Página 20 de 62
(A)
Concentração de manchas de
sangue na parte interna do box
em contraste com a região de
vazio na parte externa.
Pelo quadro indicado deflui-se
que não houve movimentação
do cadáver.
(B)
Lesão de saída do projétil
Figura 11 - Imagens da região da posterior da cabeça do cadáver onde se

localizava a lesão de saída do projétil.
Página 21 de 62
(A) (B)
(C)
Figura 12 - (A) Parte superior do tronco do cadáver. (B) Orifício de saída do projétil. (C) Projétil
encontrado na lesão de saída do cáver. O projétil foi limpo e colocado sobre o piso para o registro
fotográfico.
Página 22 de 62
a) Acúmulo de manchas de sangue com g) Padrão de gotejamento na parte inferior da coxa

coágulo h) Gotas de sangue no piso
b) Manchas de sangue com padrão de fluxo na i) Gotas de sangue no pé direito cadáver
face j) Gotas de sangue no piso próximo ao vão da porta
c) Machas sangue por expectoração k) Gotas de retrocesso na face externa da porta.
d) Gotas de sangue na blusa do cadáver
e) Padrão de gotas de sangue projetado no Obs.: As medidas da distância relativa de cada elemento
batente da banheira com os referenciais R1 e R2 encontram-se tabeladas em
f) Impregnação de manchas de sangue na seus respectivos itens.
toalha sobre o cabide no canto inferior
direito.
Figura 13 – Croqui ilustrativo do banheiro.
Página 23 de 62
O Cadáver foi identificado como sendo de ISABELE GUIMARÃES RAMOS,
de forma preliminar no local, a partir da apresentação de documento de identificação
compatível. Ressalta-se, contudo, que a identificação final fica a cargo do Instituto
Médico Legal (IML).
Figura 14 – Acima, vista da parte anterior do documento de identificação de Isabele Guimarães Ramos.
Abaixo, vista da face posterior do mesmo documento.
Página 24 de 62
4.1.6. Das Manchas de sangue
Foram observados nove (12) conjuntos de manchas de sangue distribuídas

no interior do banheiro.
(A)
Sangue coagulado.
Plasma separado do sangue
(B)
O escorrimento deu-se sobre a
Escorrimento de sangue na
porção direita da face do
região direita da face.
cadáver
Manchas de expectoração no
batente da banheira à direta
da face do cadáver.
Manchas de retrocesso
(backspatters), escorrimento
e expectoração.
Figura 15 - (A) Padrão de manchas de sangue formado por concentração

com presença de coágulos e plasma separado. (B) Padrão de fluxo
predominantemente na porção direita da face do cadáver.
Página 25 de 62
(A)
Mancha típica de
deslizamento de
cabelo
ensanguentado
(swipe) com direção
oblíqua e orientação
para vão do box.
Mancha de formato
irregular formada
por golpe de
Gota projetada
volume de sangue.
(B)
Padrão de manchas
de sangue por
impregnação na
parte superior da
blusa do cadáver
Figura 16 - (A) Na parte superior esquerda, mancha de deslizamento de

cabelo ensanguentado. Na parte mediana esquerda, mancha de sangue
projetada sobre o revestimento externo da banheira, com bordas largas e
fluxo de escorrimento espesso.
Página 26 de 62
4 3
3
1
Figura 17 – Ampliação do conjunto de manchas do revestimento da banheira evidenciando que a

maioria apresentava orientação para o vão da porta. (1) Mancha com bordas largas e escorrimento
espesso. Setas indicando dois pontos de transferência orientados de forma oblíqua para o vão da porta.
(2) Manchas por gotejamento. (3) Manchas por transferência orientadas para o vão do box. (4) Mancha
por deslizamento de cabelo ensanguentado orientada de forma oblíqua para o vão do box.
Página 27 de 62
(A)
(B)
Figura 18 – (A) e (B) Manchas de sangue impregnadas na toalha situada no cabide próximo à entrada.
Página 28 de 62
(A)
(B)
Figura 19 - (A) Conjunto de manchas com padrão de gotejamento, com formato circular, de tamanhos
variados, produzidas em concomitância com às manchas projetadas sobre a coxa. (B) Na parte
superior dos joelhos pode se observar a presença de manchas circulares com padrão típico de
manchas por retrocesso (backspatters), formadas no sentido contrário à trajetória do projétil.
Página 29 de 62
(A)
(B)
Figura 20 – (B) Gotas com borda circular no hálux direito do cadáver, com presença de gotas filhas de
formato circular, preenchimento completo e tamanho reduzido.
Página 30 de 62
(A)
Gotejament
to sob os
membros
inferiores
do cadáver
Vaporizador
eletrônico
(B)
Figura 21 – (A) Conjunto de manchas com padrão de gotejamento, com formato circular, de tamanhos
variados, produzidas em concomitância com as manchas projetadas sobre a coxa e sobre o hálux
(dedão do pé) direito do cadáver. Parte do conjunto de gotas encontram-se situadas sob a parte
mediana das pernas do cadáver e não apresentam continuidade que indique um padrão de trilha por
deslocamento do cadáver.(B) Manchas com orientação obliqua projetadas sobre a parte superior do
joelho do cadáver.
Página 31 de 62
(A)
(B)
Figura 22 – (A) e (B) Conjunto de manchas de sangue de formato circular e tamanhos variados,
produzidas por gotejamento de pequena distancia, característica de manchas estáticas. (B) Na
porção mediana inferior, conjunto de gotas de sangue com gota circular com presença de coágulo.
Página 32 de 62
(A)
(B)
Figura 23 – (A) Manchas com formato elíptico com formação de gota satélite direcional, o projetadas
sobre a face externa da porta no canto inferior direito.(B) Detalhe para mancha com formato elíptico
alongado com formação de gota satélite com característica direcional. Os conjuntos de manchas de
(A) e (B) apresentam tamanho relativamente pequeno comparado às demais manchas por
gotejamento, característica de manchas produzidas por retrocesso.
Página 33 de 62
(A) (B)
(C) (D)
Figura 24 – Detalhamento das manchas de retrocesso (backspatters) identificadas na porta do

banheiro.
Página 34 de 62
4.1.7. Da Caracterização
Manchas de sangue observadas no local:

a) Conjunto de manchas formado por acúmulo na região interior da
box do banheiro, oriundo da região da cabeça do cadáver, com
presença de coágulos e estágio de separação entre o soro e o
plasma;
b) Conjunto de manchas de sangue, com padrão de fluxo,
concentradas na lateral direita da face do cadáver, oriundas da
região nasal;
c) Conjunto de manchas de sangue, formadas por gotejamento na
face interna do batente da box, com orientação oblíqua, oriundo
da região nasal do cadáver;
d) Conjunto de manchas de sangue impregnadas na porção superior
da blusa do cadáver;
e) Mancha de deslizamento de cabelo ensanguentado na região
superior do revestimento da banheira com direcionamento
oblíquo para o vão do box;
f) Mancha de sangue projetada sobre o revestimento externo da
banheira, com bordas largas e fluxo de escorrimento espesso, na
parte mediante do revestimento da banheira;
g) Conjunto de manchas projetadas sobre porção anterior das
toalhas no cabide da entrada;
h) Conjunto de manchas de sangue, formadas por gotejamento na
face inferior das coxas do cadáver, com orientação oblíqua;
i) Conjunto de manchas de sangue de formato circular com
preenchimento regular, formadas por gotejamento sobre o piso,
próximo ao joelho do cadáver;
j) Conjunto de manchas de sangue de formato circular com
preenchimento regular, formadas por gotejamento sobre o a face
Página 35 de 62
superior do pé (peito do pé) direito do cadáver e sobre o hálux
(dedão) do mesmo membro;
k) Conjunto de manchas de sangue de formato circular e tamanhos
variados, produzidas por gotejamento de pequena distancia,
característica de projeção vertical estática, com presença de
coágulo na porção central;
l) Manchas de formato elíptico, com presença de gotas satélites
direcionais, projetadas sobre a face externa da porta do banheiro,
em seu canto inferior direito.
As distâncias relativas de cada conjunto de mancha de sangue

elencado no rol anterior encontram-se registradas na tabela a seguir.
Tabela 2 - Distância entra a mancha de sangue e os referênciais "R1", "R2" e "H". Medida com
unidade em metros.
Mancha de Distância R1 Distância Distância
Sangue (m) R2 (m) H (m)
A 0,64 2,58 0
B 0,40 2,51 0
C 0,12 3,35 0
d1 = 0
D 0,94 2,64
d2 = 0,20
e1 = 0,17
E, F 1,13 2,25 e2 = 0,37
e3 = 0,44
G 0,83 2,30 0
H 0,76 1,57 0
I 0,12 1,55 0
J 0,46 2,11 0
Página 36 de 62
Das Armas de Fogo
Na suíte posterior do segundo piso, quarto do proprietário da residência,

foram encontradas quatro (4) estojos para armazenamento de arma de fogo,
conhecidos como case pistols. Todos os estojos acondicionavam armas em seu
interior no momento do exame. Três (3) encontravam-se empilhados de forma
alinhada no guarda-roupas da lateral direita em desalinho com relação aos demais
elementos guarda-roupas (Figura 26, Figura 27, Figura 28, Figura 30).
Página 37 de 62
(A) (B)
(C) (D)
Figura 25 – (A) Acesso ao interior do closet do proprietário da residência, local onde se encontravam
os quatro (4) cases (estojos). (B) Três (3) cases (estojos) empilhados no guarda-roupas posicionado na
lateral direita do closet. (C) Vista do guarda-roupas posterior que acondicionava o case com arma
utilizada. (D) Vista aproximada da posição em que o case fora encontrado pela equipe pericial.
Página 38 de 62
(A)
(B)
1
3 4
2
Figura 26 - (A) Vista dos estojos guarda e (B) das armas encontradas no local.
Página 39 de 62
Nos estojos acondicionados no guarda-roupas direito foram
observadas ao todo seis (6) armas curtas que serão devidamente descritas na
sequencia.
4.2.1. Pistola Tanfóglio numeração “ V02251” (1)
Pistola da marca TANFLOGLIO, calibre .38, modelo: “LIMITED” e

identificador alfanumérico: “V02251”, fabricada na Itália, possui acabamento
oxidado, cano unitário de alma raiada com 12 cm (doze centímetros) de comprimento.
Possui capacidade de (17 + 1) tiros (dezessete tiros mais um) (Figura 26).
4.2.2. Pistola CZ numeração “D065867” (2)
Pistola da marca CZ, calibre 9x19 mm, modelo: Shadow 2 e identificador

alfanumérico: “D065867”, fabricada na República Tcheca, possui acabamento
oxidado, cano unitário de alma raiada com 12 cm (doze centímetros) de comprimento.
Possui capacidade de (17 + 1) tiros (dezessete tiros mais um) (Figura 26).
4.2.3. Revolver Smith & Wesson numeração “DLJ5825”(3)
Revolver da marca SMITH & WESSON, calibre .357 Magnum, modelo:

“686-6 COMPETIDOR” e identificador alfanumérico: “DLJ5825”, fabricada em U.S.A,
possui acabamento inox, cano unitário de alma raiada com 15 cm (quinze
centímetros) de comprimento. Possui capacidade para 6 (seis) tiros (Figura 26).
4.2.4. Revolver Smith & Wesson numeração “DMK0481”(4)
Revolver da marca SMITH & WESSON, calibre .357 Magnum, modelo:

“627-5 Performance Center” e identificador alfanumérico: “DMK0481”, fabricada em
U.S.A, acabamento em inox, cano unitário de alma raiada com 7 cm (sete
centímetros) de comprimento. Possui capacidade para 8 (oito) tiros (Figura 26).
Página 40 de 62
O estojo, do guarda-roupas posterior, era confeccionado em polímero de
cor preta. Possuía alça para o transporte que se encontrava quebrada sua parte
mediana. Internamente, era forrado por espuma também de cor preta apresentava
formato composto por padrões de depressões e saliências. Havia duas (2) pistolas
em seu interior, dentre as quais uma foi apontada como a arma utilizada no disparo
que atingiu a vítima (Figura 27 e Figura 28).
(A)
(B)
Figura 27 – (A) Vista aproximada do estojo que acondicionava a arma utilizada no evento. (B) Vista das
armas encontradas no interior do estojo.
Página 41 de 62
4.2.5. Pistola Tanflóglio numeração “ V02251”
Pistola da marca TANFLOGLIO, calibre .38 SA modelo “Gold Custom” e

identificador alfanumérico: “N0210BR”, fabricada na Itália, possui acabamento
oxidado, cano unitário de alma raiada com 16,0 cm (dezesseis centímetros) de
comprimento. Possui capacidade para 1 (um) tiro. É de uso permitido consoante a
legislação vigente e encontrava-se eficiente para produzir tiro.
4.2.6. Pistola Imbel numeração “ V02251” (Arma do Crime)
Pistola da marca IMBEL, calibre .380 AUTO, modelo “.380 GC MDI” e

identificador alfanumérico: “HGA44564”. A arma foi fabricada no Brasil, possui
acabamento em inox, cano unitário de alma raiada com 10,8 cm (dez centímetros e
oito milímetros) de comprimento. Possui capacidade de 20 + 1 tiros (vinte tiros mais
um). É de uso permitido consoante a legislação vigente e encontrava-se eficiente para
produzir tiro.
A arma encontrava-se com o cão retraído em sua totalidade para a parte

posterior e havia uma munição alocada no interior da câmara. a trava de segurança
lateral encontrava-se acionada (Figura 28).
Página 42 de 62
1
3
Figura 28 – (1) trava lateral. (2) Cão em posição retraída. (3) Tecla.
A pistola foi desmuniciada pelo Delegado Olímpio Cunha Fernandes
Júnior.
Figura 29 - Sacolas de segurança com os materiais devolvido para a autoridade requisitante no local.
Página 43 de 62
Além da munição na câmara, internamente a arma possuía carregador com
(16) munições calibre .380 AUTO, que serão descritas e caracterizadas em item
próprio.
Dos Estojos e Projéteis
4.3.1. Das Munições.
Trata-se de dezessete (17) munições calibre .380 AUTO, marca “CBC”,

intactas, encontradas com a pistola Imbel. Destas, dezesseis estavam em carregador
e uma (1) estava na câmara da arma que realizou o disparo contra a vítima. Depois
de descritas, as munições foram lacradas e devolvidas à autoridade requisitante que
requisitou posteriormente o exame de eficiência. De acordo com o exame, todas as
munições foram eficientes para produzir disparo ao serem percutidas (Laudo Pericial
no 2.3.2020.40689-01, p.4).
4.3.2. Do Estojo deflagrado.
Trata-se de estojo deflagrado calibre .380 AUTO, da marca “CBC”. A

localização do estojo resta prejudicada, uma vez que fora apresentada em mãos pelo
delegado responsável pelas investigações, que por sua vez teria recebido de
terceiros.
O estojo apresentava marca de percussão próxima à região central de

sua base. Após ser lacrado (lacre 03095449), o estojo foi devolvido à autoridade que
requisitou posteriormente seu exame de confronto balístico com a arma
supostamente utilizada no evento.
4.3.3. Do Confronto balístico
O exame de uma caixa de cartucho disparada pode possibilitar a

identificação de uma arma em termos de tipo, marca e modelo. A identificação de
Página 44 de 62
uma arma pode ser feita comparando-se as marcações nos cartuchos de teste com
as do cartucho de evidência. (DI MAIO V. J., 1999). Nesse sentido,
No que diz respeito à procedência do disparo do estojo e do projétil o

laudo de confronto balístico constata a existência de “coincidências determinantes
[...] presentes na base dos estojos, o que permite concluir que o estojo EQ procede
de cartucho de munição que foi percutido e deflagrado pela arma AFQ1 (pistola
número de série “HGA44564”).” (Laudo no 2.3.2020.40689-01, p. 5). Desse modo,
resta evidente para o presente perito que o estojo e o projétil foram disparados pela
IMBEL.
Página 45 de 62
(A) (B)
(C) (D)
Figura 30 - Pistolas, carregadores e munições encontrados no quarto do proprietário. (C) Estojo

deflagrado apresentado como sendo o estojo utilizado no disparo. (D) Projétil encontrado sob a lesão
de saída do cadáver.
Página 46 de 62
Figura 31 – Lacres acondicionando as munições intactas, o estojo deflagrado e o projétil dosparado

contra a vítima.
Da Coleta de padrão para exame residuográfico
Por força do ofício de no 225/2020/GAB/POLITEC/SESP datado de

12/5/2020, oriundo da Direção Geral da POLITEC, que informa sobre a paralisação
definitiva dos exames residuograficos oferecidos até então pela Gerencia de Perícias
em Química Forense – Diretoria Metropolitana de Laboratório Forense, o perito não
procedeu coleta de material residuográfico para eventuais exames.
Do Teste de Quimioluminescência (Luminol)
No dia 19 de julho do corrente ano, o perito retornou ao local a fim de

proceder a aplicação do reagente Luminol nas regiões de acesso ao piso superior da
residência e de acesso ao banheiro onde se encontrava a vítima, objetivando detectar
possíveis manchas de sangue nestas áreas.
Página 47 de 62
O Luminol é um composto quimiluminescente usado como teste catalítico
presuntivo para a presença de sangue que utiliza a atividade semelhante à peroxidase
do grupamento heme para a produção de luz como produto final, em vez de uma
reação de cor verdadeira (JAMES, 1998, p.124).
No momento da aplicação, preparada uma solução na proporção de 0,5 g

de luminol (3–aminoftal-hidrazida) e 25 g de carbonato de sódio, de 3,5 g de
perborato de sódio em 500 mL de água destila. A mistura foi acondicionada em um
borrifador. A solução foi borrifada sobre as regiões do piso do closet sobre os
degraus e corrimão da escada de acesso ao piso superior da residência.
O exame apresentou resultado NEGATIVO para a produção de

quimiluminescência nos locais examinados.
Página 48 de 62
5. DA ANÁLISE DO EVENTO
Das Considerações Técnico-Periciais
5.1.1. Da Distância do disparo
A distância do disparo foi determinada a partir do diâmetro da zona de

tatuagem produzida na face do cadáver. De acordo com o exame de balística, “No
momento do tiro a boca do cano da arma de fogo questionada AFQ1 distava da vítima
em cerca de vinte centímetros (20 cm) a trinta centímetros (30 cm).” (Laudo pericial
2.3.2020.40756-01, 2020, p. 6).
Para a estimativa do atirador, o perito considera a distância entre as mãoas

e a linha do tronco. Para isso, deve ser levado em conta tanto o atirador com o braço
esticado ou flexionado. Em seguida, esse valor é incrementado ao valor da faixa de
distância de disparo. Assim, obtém-se o valor de amplitude entre a vítima e o atirador.
Nesse sentido, o perito realizou o incremento considerando dois indivíduos

adotados como extremos. Para o extremo menor, o perito adotou a estatura de 1,40
m (um metro e quarenta) com os braços flexionados e incrementou ao menor valor
de distância de disparo oferecido pelo laudo de balística 0,20 m (vinte centímetros).
Utilizando o valor tabelado abaixo. Depois, foi repetido o processo para o extremo
maior, adotando a estatura de 2,00 m (dois metros).
Página 49 de 62
Figura 32 – Ilustração das zonas de posição do cadáver e do atirador com base na projeção de
manchas de sangue no sentido da trajetória do projétil e em sentido contrário. Os setores dos anéis
de cor verde representam as faixas de posições da arma (faixa verde próxima ao centro da
circunferência) e do atirador (faixa verde mais distante do centro da circunferência). O setor vermelho
representa a zona de projeção mais plausível para a queda do cadáver considerando tanto a produção
de manchas de entrada, manchas de saída e manchas por deposição quanto a posição do corpo:
justaposto em a um espaço limitado sem escoriações.
Para ambos os extremos o perito verificou a suficiência do espaço

interno do banheiro. Desse modo, é possível afirmar que o interior do banheiro
comporta espacialmente qualquer indivíduo na faixa de altura entre 1,40 m (um metro
e quarenta) e 2,00 m (dois metros), seja com o braço estendido seja flexionado tanto
com a arma apontada a 0,20 (vinte centímetros) de face da vítima quanto a 0,30 m
(trinta centímetros).
5.1.2. Do Mecanismo do Disparo
A sustentação da hipótese de tiro acidental depende diretamente das

condições de funcionamento da arma e da inviabilidade do acionamento regular do
gatilho. “Tiro acidental é todo tiro que se produz em circunstâncias anormais, sem o
acionamento regular do mecanismo de disparo, devido a defeitos ou falta do
mecanismo de segurança da arma” (TOCCHETO, 2013, pp. 259 - 263).
Desse modo, para que se afirme que o disparo contra a vítima seja
acidental, é necessário averiguar as condições de funcionamento da pistola IMBEL,
Página 50 de 62
apontada como a arma do crime. Nesse sentido, foi solicitado o exame da arma
específico para caracterização da possibiidade de tiro acidental.
Todavia, de acordo com o laudo de balística, a arma questionada somente

produz tiro “estando carregada (cartucho de munição inserido na câmara de
carregamento do cano), engatilhada” (Laudo pericial 2.3.2020.40689-01, p. 9).
Depreende-se, portanto, que a pistola Imbel produziu o tiro que culmiou com óbito
do cadáver mediante o acionamento regular do gatilho (Figura 27 e Figura 28).
5.1.3. Da Posição do Atirador
Com relação à posição do atirador duas informações são relevantes: a

zona de tatuagem na face do cadáver; e o padrão de gotas de retrocesso
(backspatter) no canto inferior da porta.
Vestígios como a zona de tatuagem guardam informações importantes

sobre a proximidade do disparo e sobre a orientação da trajetória do projétil.
Consequentemente, é possível inferir informações sobre o atirador.
A zona de tatuagem consiste em numerosas lesões pontilhadas marrom-

avermelhadas a vermelho-alaranjadas ao redor da ferida de entrada (Figura 10). A
distribuição em torno do local de entrada pode ser simétrica ou excêntrica,
dependendo do ângulo da arma em relação ao alvo no momento da descarga, a
natureza do alvo (plano ou angular) e qualquer cobertura da pele, por exemplo, cabelo
ou roupas que podem impedir que os grãos em pó atinjam a pele (DI MAIO V. J.,
1999). Com efeito, observou-se que a distribuição dos grânulos incombustos sobre
a face do cadáver formava um padrão circular concêntrico ao plano frontal da face.
A diferença de altura das lesões de entrada e de saída era praticamente

nula. Ambas apresentavam 1,44 m de distância do solo, o que indica uma trajetória
consideravelmente alinhada ao eixo horizontal do tronco do cadáver. Nesse sentido,
Página 51 de 62
o exame necroscópico corrobora essa perspectiva ao informar que o trajeto no
interior do crânio também ocorreu de forma alinhada.
De acordo com o referido laudo “O trajeto do PAF: após a penetração pela

ponta nasal à esquerda, atravessou o osso maxilar e em seguida penetrou o crânio
pelo osso occipital (parte basilar anterior), dilacerando as estruturas do tronco
encefálico, saindo da cabeça pelo osso occipital posteriormente, próximo ao forame
magno.” (p. 4). Portanto, resta claro que esse trajeto condiciona uma posição do
atirador próximo da vítima em orientação frontal.
5.1.4. Da Posição, Altura do disparo e queda da vítima
A hipótese da posição da vítima no momento do disparo deve ser

consistente com uma queda instantânea. A esse respeito, o laudo de necropsia
constata:
“Os achados intracranianos evidenciados no exame necroscópico da

vítima demonstram que o óbito ocorreu por traumatismo crânio-
encefálico. O PAF, em seu trajeto, atingiu o tronco encefálico, estrutura
nobre que dentre outros núcleos, contém o centro respiratório e
conecta o encéfalo ao restante do corpo, tendo o óbito, neste caso,
ocorrido de forma imediata.” (Laudo 1.1.01.2020.013917-01, p. 8).
Com efeito, é improvável que após ser atingida pelo projétil a vítima tenha
caminhado pela região do banheiro, nem tão pouco desenvolvido movimentação
mista como caminhar e rotacionar, tombar e girar; ou que tenha realizando um
tombamento. O interior do banheiro apresentava em sua topografia elementos como
quinas, cantos vivos e arestas agudas potencialmente lesivos, caso haja um embate
com o corpo humano.
A ilustração a seguir representa a topografia do banheiro considerando

seus elementos fixos em perspectiva com projeções variadas da vítima no movimento
de queda. A vítima é representada pelas linhas com altura em escala com a altura da
vítima e as medidas do local.
Página 52 de 62
No caso concreto, esse cone estaria posicionado na região de abertura da
porta. Desse modo, a partir do contraste observado nos padrões de manchas de
sangue, infere-se que a vítima se encontrava próxima à porta e com o tronco
orientado para a lateral esquerda do banheiro (parte dos fundos).
Atirador Vítima
Figura 33 – Ilustração das zonas de posição da vítima e do atirador com base na projeção de manchas
de sangue no sentido da trajetória do projétil e em sentido contrário. Os setores dos anéis de cor verde
representam as faixas de posições da arma (faixa verde próxima ao centro da circunferência) e do
atirador (faixa verde mais distante do centro da circunferência). O setor vermelho representa a zona
de projeção mais plausível para a queda da vítima considerando tanto a produção de manchas de
entrada, manchas de saída e manchas por deposição quanto a posição do corpo: justaposto em a um
espaço limitado sem escoriações.
Por fim, cabe ressaltar ainda que as manchas encontradas no pé do

cadáver, na região de seus joelhões e no piso do banheiro sob suas pernas foram
produzidas em concomitância. A mancha projetada sobre o hálux (“dedão”) da perna
direita (Figura 22), bem com as gotículas menores na face superior do pé (“peito do
pé”) (Figura 20), possuem alinhamento compatível com a linha do orifício de entrada
localizado no nariz do cadáver (Figura 10).
Página 53 de 62
Semelhantemente, as gotas projetadas sobre os joelhos possuem direção
oblíqua orientada para a parte inferior do corpo, compatível com o alinhamento da
lesão. No entanto, a direção oblíqua e para a produção da mancha levemente oblíqua,
Portanto, a posição que melhor se ajusta, tanto à posição específica

assumida pelo corpo após a queda quanto ao sentido da produção de manchas de
sangue, é aquela com a vítima sobre os pés e com a face voltada para a parte
posterior do banheiro (parede lateral esquerda) na área de abertura da porta. Nesse
sentido a queda do cadáver deu-se composta por dois lances de movimento:
abaixamento; e, em seguida, tombo para o dorso.
Página 54 de 62
2
1
Impacto do
projétil
0,81 m
0,40 m
0,40 m
3 4
Manchas de
projeção no
Desligamento imediato sentido da
Manchas de das funções motoras trajetória do
retrocesso (Laudo necropsia projétil
(Pouco volume) 1.1.01.2020.013917-01)
Back Spaters Maior volume
5 Força
6
Peso
P
Força do Força peso
impacto
do projétil
Força peso
Força do
choque
com o
projétil
Página 55 de 62
7 8
9 10
Quina da
banheira
Cabeça e
tronco fora
da linha da
quina da
banheira
11 12
Mancha
projetada Mancha
Mancha do primeiro no piso das coxas
pododáctilo do pé
direito (dedão )
Figura 35 – Sequencia de movimentações realizadas pela vítima. Essa ilustração foi feita em escala e
considera vítima postada inicialmente em pé com a face voltada para a região da parede esquerda do
banheiro (parte do fundo). A sequência de modelos ilustra as etapas da queda desenvolvida pela
vítima. (2), (3) e (4) Representam o efeito do projétil no momento do impacto e em sua saída. (5) e (6)
Representam a ação mecânica das forças atuantes no movimento. (6) Ilustra a produção concomitante
de manchas de sangue no joelho, no hálux direito e no piso. (9) Retrata a etapa intermediária da queda
com o cadáver apoiado pelo quadril, antes da posição de repouso. (10) Destaca o estágio em que a
região superior do tronco situa-se fora da linha da quina e dos cantos vivos da banheira. (11) e (12)
Ilustram o rebaixamento dos membros inferiores. (12) Destaca, por fim, a posição das manchas de
sangue produzidas na queda após a movimentação.
Página 56 de 62
Da Dinâmica Parcial do Evento
Ante o estudo e a interpretação dos elementos materiais consignados e

expostos, assim o Perito reconstitui a dinâmica parcial do evento.
Por volta das 22h de dia 13/07/2020, a menor ISABELE GUIMARÃES RAMOS
encontrava-se no interior do banheiro da suíte localizada na parte anterior direita do
segundo piso.
Em momento seguinte, um(a) atirador(a), que este perito não pode identificar,
postou-se na região interior do banheiro, na parte esquerda, com a pistola Imbel
descrita no corpo desse laudo apontada para a face da vítima, contra a qual efetuou
disparo acionando o gatilho, com a arma posicionada a uma altura de 1,44 m do piso
e a uma distancia entre 0,20m e 0,30 m da face da vítima.
A vítima foi atingida na região nasal pelo projétil, que transfixou a sua cabeça.
Concomitantemente, produziu as manchas de sangue observadas nos joelhos, no
hálux (dedão) do pé direito e no piso, ao proceder o movimento de queda para o
decúbito dorsal permanecendo nesta posição.
A arma e o estojo deflagrado utilizados no disparo foram removidos do local
por indivíduo que não se pode precisar.
Página 57 de 62
6. DA CONCLUSÃO
Diante do exposto, o perito conclui que se trata de morte violenta causada

pelo disparo de arma de fogo contra a região da face da vítima ISABELE GUIMARÃES
RAMOS por terceiro, que resultou o óbito da vítima. O disparo foi executado mediante
o acionamento regular do gatilho da pistola IMBEL (no HGA44564) com o atirador na
porção esquerda do banheiro. No ato do disparo, o agente agressor posicionou-se
frontalmente em relação à vítima, sustentou a arma a uma altura de 1,44m do piso
com alinhamento horizontal e a uma distância entre 20 e 30 centímetros da face da
vítima. O motivo e a finalidade da ação não foram determinados pela perícia.
Página 58 de 62
7. REFERÊNCIAS
BEVEL, T., & GARDNER, R. M. (2008). Bloodstain pattern analysis with an introduction to
crime scene reconstruction. Boca Raton: CRC Press.
CRUZ, C. A., & GUARNICA, A. (2010). Ergonomía aplicada. Bogotá: EDICOE Ediciones.
DI MAIO, D. J., & DI MAIO, V. J. (2001). Forensic pathology. Boca Raton: CRC Press.
DI MAIO, V. J. (1999). Gunshot wounds: practical aspects of firearms, balistics, and forense
techniques. Boca Raton: CRC Press.
Ergonomia: Trabalho adequado e eficiente. (2011). Rio de Janeiro: Elsevier.
FRANK, H., & NETTER, M. (2015). Atlas de anatomia humana 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevior.
JAMES, S. H. (1998). Scientihc and legal applications of bloodstain pattern interpretation.

Boca Raton, FL: CRC Press.
JAMES, S. H., & ECKERT, W. G. (1998). Interpretation of bloodstain evidence at crime

scenes . Boca Raton, FL: JAMES, Stuart H.; ECKERT, William G. .
JAMES, S. H., & NORDBY, J. J. (2009). Forensic science: an Introduction to scientific and
investigative techniques. Boca Raton: JAMES, Stuart H.; NORDBY, Jon J.
Laudo 1.1.01.2020.013917-01 (13 de julho de 2020).
Laudo pericial 2.3.2020.40689-01, B.O. no 2020.162747, A.I. no 251.2.2020.1794 (309/2020)

(17 de julho de 2020).
Laudo pericial 2.3.2020.40756-01, B.O. no 2020.162747, A.I. no 251.2.2020.1794 (309/2020)

(24 de julho de 2020).
Laudo pericial 2.3.2020.40756-01 (24 de 7 de 2020).
Mondelo, P. R., Gregori, E., & Barrau, P. (1994). Ergonomía 1 : Fundamentos. Barcelona:
CPDA.
ORR, T. (2008). Crime scene investigator. Ann Arbor: Cherry Lake.
PETERSON, D. R., & BRONZINO, J. D. (2008). Biomechanics: priciples and applications.

Boca Raton, FL: Donald R. Peterson and Joseph D. Bronzino.
Página 59 de 62
RABELLO, E. (1995). Balística forense. Porto Alegre: Sagra DC Luzzatto.
TOCCHETO, D. (2013). Balística forense: aspectos técnicos e jurídicos. Campinas:

Millennium Editora.
TOCCHETO, D., DOREA, L. E., STUMVOLL, V. P., & QUINTELA, V. (2006).

Criminalística. 3. ed. . Campinas: Millenium.
WHITLEY, R., & FIGARELLI, D. (2009). A simplified guide to bloodstain pattern analysis.
Largo, FL.
Página 60 de 62
8. DISPOSIÇÕES FINAIS
Nada mais havendo a lavrar, é encerrado o presente Laudo Pericial que,

relatado pelo primeiro signatário, vai devidamente assinado.
Cuiabá, 7 de agosto de 2020.
____________________________________
Thiago José Resplande Lima
Perito Oficial Criminal
Página 61 de 62
Página 62 de 62

Laudo Isabele

Enviado por

Dados do documento

Direitos autorais

Formatos disponíveis

Compartilhar este documento

Compartilhar ou incorporar documento

Opções de compartilhamento

Você considera este documento útil?

Este conteúdo é inapropriado?

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

Laudo Isabele

Enviado por

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

ESTADO DE MATO GROSSO

SECRETARIA DE ESTADO DE SEGURANÇA PÚBLICA

LAUDO PERICIAL Nº 2.06.2020.007720-01

Contém o presente Laudo Pericial o total de 62 (sessenta e

• Esta folha de rosto sem numeração.

• As folhas de 01 a 61 compõem o texto com as ilustrações.

• A folha 62 compõe o anexo

1. DADOS OFICIAIS ........................................................................... 4

4. DOS EXAMES ............................................................................... 14

Das Armas de Fogo ......................................................................................... 37

Dos Estojos e Projéteis .................................................................................. 44

Da Coleta de padrão para exame residuográfico ........................................ 47

Do Teste de Quimioluminescência (Luminol) ............................................... 47

5. DA ANÁLISE DO EVENTO ........................................................... 49

Das Considerações Técnico-Periciais .......................................................... 49

8. DISPOSIÇÕES FINAIS ................................................................. 61

Autoridade Requisitante: Olímpio Cunha Fernandes Júnior (Delegado).

Aos 13 de julho de 2020, em atendimento à requisição da autoridade

Segundo o relato apresentado no histórico no ofício, haveria uma vítima

Todas as localizações no presente laudo tiveram como referencial o

Trata-se de imóvel urbano particular situado no Condomínio Alphaville

Figura 2 - Fachada da residência onde foram realizados os exames.

A via de acesso principal ao interior da residência era uma porta localizada

Na parte superior, havia várias dependências, das quais duas ofereciam

O segundo ambiente que compunha a suíte era o closet, localizado na

Este ambiente apresentou-se como o de maior relevância pericial, já que

Na porção posterior do segundo piso, havia uma suíte de casal, composta

Com relação à preservação, o perito observou a presença considerável de

Em que pese o controle de acesso observado no momento da chegada da

Porta com espelho do

Os exames periciais foram realizados em três datas distintas: dia 13 de

Na primeira data, foram examinados onze (11) conjuntos de manchas de

No piso superior da residência, no interior do banheiro da suíte anterior

Trata-se de cadáver do sexo feminino, jovem, com 1,61 m de estatura,

4.1.2. Da Posição, Localização e Identificação

O cadáver encontrava-se posicionado em decúbito dorsal, com o tronco e

Trajava blusa estampada de cor predominante verde, short jeans de cor

4.1.4. Dos Pertences e Objetos

O cadáver possuía um colar metálico na região do pescoço.

Havia uma bolsa de tamanho pequeno, cuja alça encontrava-se sob os

Foi observado um vaporizador eletrônico portátil de cor preta da marca

4.1.5. Do Exame Perinecroscópico

No local, ao proceder o exame perinecroscópico perito observou o que

a) Uma (01) ferida pérfuro-contusa, produzida pela passagem de projétil

Tabela 1 – Posicionamento do cadáver em relação à linha da porta da entrada do banheiro e à linha

Parte do corpo Distância da linha Distância da linha

Topo da cabeça 0,89 m 2,68 m

Solado do pé direito 0,71 m 1,08 m

Lesão de saída do projétil

Figura 11 - Imagens da região da posterior da cabeça do cadáver onde se

a) Acúmulo de manchas de sangue com g) Padrão de gotejamento na parte inferior da coxa

Figura 13 – Croqui ilustrativo do banheiro.

Foram observados nove (12) conjuntos de manchas de sangue distribuídas

Plasma separado do sangue

Figura 15 - (A) Padrão de manchas de sangue formado por concentração

Figura 16 - (A) Na parte superior esquerda, mancha de deslizamento de

Figura 17 – Ampliação do conjunto de manchas do revestimento da banheira evidenciando que a

Figura 24 – Detalhamento das manchas de retrocesso (backspatters) identificadas na porta do

Manchas de sangue observadas no local:

As distâncias relativas de cada conjunto de mancha de sangue

Na suíte posterior do segundo piso, quarto do proprietário da residência,

4.2.1. Pistola Tanfóglio numeração “ V02251” (1)

Pistola da marca TANFLOGLIO, calibre .38, modelo: “LIMITED” e

4.2.2. Pistola CZ numeração “D065867” (2)