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Sumário

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 3
DEVIDA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ...................................................................................................................... 4
1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL: ........................................................................................... 4
a) Princípio do Contraditório: ............................................................................................................................ 4
b) Princípio da Ampla Defesa: ........................................................................................................................... 4
c) Princípio da Imparcialidade:.......................................................................................................................... 4
d) Princípio da Legalidade: ................................................................................................................................ 4
2. APLICAÇÃO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL: ................................................................................................................... 5
a) Respeito aos Direitos do Investigado: .......................................................................................................... 5
b) Coleta de Provas de Forma Legal: ................................................................................................................ 5
c) Transparência e Documentação Adequada: ................................................................................................. 5
d) Garantia de Julgamento Justo: ..................................................................................................................... 5
e) Investigação por Órgão Oficial do Estado .................................................................................................... 6
3. CONCLUSÃO:.......................................................................................................................................................... 6
AUTOMAÇÃO DO PROCESSO .............................................................................................................................. 6
1. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E SUA APLICAÇÃO PRÁTICA NO DIREITO: .................................................................................. 6
2. OBJETIVOS DO JUSTIÇA 4.0: ..................................................................................................................................... 7
a) Eficiência: ....................................................................................................................................................... 7
b) Transparência: ............................................................................................................................................... 7
c) Acessibilidade: ............................................................................................................................................... 7
d) Redução de Custos: ....................................................................................................................................... 7
3. COMPONENTES DO PROJETO JUSTIÇA 4.0: .................................................................................................................. 7
a) Juízo 100% Digital: ........................................................................................................................................ 7
b) Uso de Inteligência Artificial: ........................................................................................................................ 8
c) Plataformas Online: ....................................................................................................................................... 8
d) Treinamento e Capacitação: ......................................................................................................................... 8
e) Modernização da Infraestrutura: ................................................................................................................. 8
4. BENEFÍCIOS ESPERADOS: .......................................................................................................................................... 8
a) Rapidez: ......................................................................................................................................................... 8
b) Eficiência: ....................................................................................................................................................... 8
c) Acesso Universal: ........................................................................................................................................... 8
d) Redução de Erros: .......................................................................................................................................... 8
e) Economia: ...................................................................................................................................................... 8
5. QUESTÕES LEGAIS E ÉTICAS NO CONTEXTO DO PROCESSO PENAL: ................................................................................... 9
a) Segurança e Integridade de Provas .............................................................................................................. 9
b) Privacidade e Proteção de Dados: ................................................................................................................ 9

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c) Violação de Direitos Individuais: ................................................................................................................... 9
d) Acesso à Justiça: ............................................................................................................................................ 9
e) Preservação de Evidências Digitais: .............................................................................................................. 9
f) Responsabilidade e Transparência: ............................................................................................................... 9
g) Garantia do Devido Processo Legal: ............................................................................................................. 9
AUDIÊNCIAS VIRTUAIS ...................................................................................................................................... 10
1. CONCEITO E MODALIDADES:.................................................................................................................................... 10
2. REQUISITOS E CONDIÇÕES: ..................................................................................................................................... 10
3. VANTAGENS E DESAFIOS: ....................................................................................................................................... 13
PERSECUÇÃO PENAL E NOVAS TECNOLOGIAS ................................................................................................... 14
1. CONCEITO DE PERSECUÇÃO PENAL: ........................................................................................................................... 14
2. IMPACTO DAS NOVAS TECNOLOGIAS NA PERSECUÇÃO PENAL:........................................................................................ 14
3. DESAFIOS DO USO DE NOVAS TECNOLOGIAS NA PERSECUÇÃO PENAL:.............................................................................. 14
PROVAS DIGITAIS .............................................................................................................................................. 15
1. CONCEITO DE PROVAS DIGITAIS: ............................................................................................................................. 15
2. AUTENTICIDADE E INTEGRIDADE DAS PROVAS DIGITAIS: ............................................................................................... 15
3. CADEIA DE CUSTÓDIA DIGITAL: ............................................................................................................................... 15
4. NORMA ABNT ISO 27037:2013: ......................................................................................................................... 16
5. ADMISSIBILIDADE DA PROVA DIGITAL NO PROCESSO JUDICIAL: ...................................................................................... 17
JURISDIÇÃO NA INTERNET ................................................................................................................................ 18
1. TRANSFORMAÇÃO DIGITAL E PRÁTICAS DIGITAIS DAS EMPRESAS: ................................................................................... 18
2. MARCO CIVIL DA INTERNET (LEI N. 12.965/2014): ................................................................................................... 18
3. IMPACTO DA JURISDIÇÃO NA INTERNET NOS CASOS DE CRIMES CIBERNÉTICOS: ................................................................. 19

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INTRODUÇÃO

A prova do concurso público para o cargo de delegado de polícia da Polícia Civil do Estado de
São Paulo, organizado pela VUNESP, está se aproximando. A prova será realizada no dia 03 de
dezembro de 2023, faltando menos de duas semanas para a sua preparação final. Você já estudou
todo o conteúdo do edital? Você está confiante em suas habilidades e conhecimentos?
Se você quer se destacar entre os milhares de candidatos que disputam uma das vagas
oferecidas, você precisa de um material diferenciado, que te auxilie a revisar e aprofundar os temas
importantes e específicos do edital.
É por isso que eu criei este e-book, chamado Sniper, que tem como objetivo ser o seu tiro certo
para o sucesso no concurso de delegado de polícia. No conteúdo programático contido no edital,
alguns pontos de Direito Processual Penal chamam atenção pela sua inovação. São temas atuais, que
normalmente não são previstos expressamente em editais e, tampouco, nos manuais da disciplina.
Neste e-book, você vai encontrar cinco capítulos que abordam os seguintes assuntos:
Devida Investigação Criminal: Neste capítulo, você vai aprender sobre os princípios
fundamentais do devido processo legal e como eles se aplicam na investigação criminal, respeitando
os direitos do investigado, coletando provas de forma legal, garantindo a transparência e a
documentação adequada, e assegurando um julgamento justo. Você também vai entender a
importância da investigação ser realizada por um órgão oficial do Estado, como a Polícia Civil.
Automação do Processo: Neste capítulo, você vai conhecer o projeto Justiça 4.0, que visa
automatizar e digitalizar o processo judicial, usando a inteligência artificial e outras tecnologias. Você
vai saber quais são os objetivos, os componentes e os benefícios esperados desse projeto, bem como
as questões legais e éticas que ele envolve no contexto do processo penal.
Audiências Virtuais: Neste capítulo, você vai aprender sobre as audiências virtuais. Você vai
entender como elas funcionam, quais são as vantagens e desvantagens e quais são os requisitos legais
para a sua validade.
Persecução Penal e Novas Tecnologias: Neste capítulo, você vai estudar sobre os desafios e as
oportunidades que as novas tecnologias trazem para a persecução penal.
Provas digitais: Neste capítulo, analisaremos as provas digitais e a aplicação do regramento
aplicado às provas, mas no âmbito digital. Trataremos da cadeia de custódia digital, incluindo a coleta,
preservação e análise das evidências eletrônicas.
Jurisdição na internet: Neste capítulo final, abordaremos a incidência das normas jurídicas no
espaço virtual, como se dá a aplicação do direito no ambiente cibernético, como lidar com os crimes
cibernéticos e como aplicar o direito penal na rede mundial de computadores.

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Este e-book é um material complementar e auxiliar aos meus mentorados, que se preparam
para o concurso de delegado de polícia. O nome SNIPER foi pensado, em primeiro lugar, porque é um
material voltado para quem se prepara para esse cargo e, em segundo lugar, porque consiste em um
material objetivo e certeiro sobre alguns temas específicos do edital do concurso. Eu espero que este
e-book seja útil para você e que te ajude a alcançar o seu sonho de se tornar um delegado de polícia.

Boa leitura!

DEVIDA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

O devido processo legal é uma pedra angular do sistema jurídico brasileiro, garantindo que
todas as partes envolvidas em um processo criminal sejam tratadas de forma justa e imparcial. No
contexto da investigação criminal, o devido processo legal assegura que tanto o suspeito quanto a
sociedade sejam protegidos. No edital para o concurso de Delegado de Polícia do Estado de São Paulo,
esse tema é de extrema importância e requer compreensão sólida por parte dos candidatos.

1. Princípios Fundamentais do Devido Processo Legal:


O devido processo legal engloba uma série de princípios que devem ser observados durante o
processo criminal. Estes incluem:
a) Princípio do Contraditório:
Garante às partes envolvidas o direito de apresentar suas versões dos fatos e contestar as
alegações da outra parte.
b) Princípio da Ampla Defesa:
Permite que o acusado apresente todas as suas argumentações e provas, assegurando um
julgamento justo.
c) Princípio da Imparcialidade:
Exige que os investigadores ajam de forma imparcial, sem favorecer qualquer uma das partes
envolvidas.
d) Princípio da Legalidade:

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Determina que a investigação deve ser conduzida de acordo com as leis e regulamentos
vigentes, respeitando os direitos fundamentais dos cidadãos.

2. Aplicação na Investigação Criminal:


Durante a fase de investigação criminal, é vital que o Delegado de Polícia atue em estrita
conformidade com os princípios do devido processo legal. Além disso, é essencial que exista um
instrumento próprio de investigação, tendo no inquérito policial essa representação por excelência.
Sendo assim, uma investigação que respeita esse modelo é aquela conduzida por um órgão com
atribuição constitucional para essa finalidade, presidida por autoridade constitucionalmente
designada e que respeita os limites constitucionais postos. Francisco Sannini Neto afirma:
Certo de que a fase processual acarreta inúmeras conseqüências ao acusado, o
Inquérito Policial se destaca como uma garantia, impedindo que acusações
infundadas desemboquem em um processo. É por meio do procedimento
investigativo de Polícia Judiciária que o Estado consegue reunir elementos que
justifiquem a propositura da ação penal.
Assim, defendemos que o Inquérito Policial deveria, inclusive, constar em um dos
incisos do artigo 5º, da Constituição da República, como uma garantia fundamental
do indivíduo. É o que chamamos de devida investigação criminal constitucional.
Apenas por meio deste modelo investigativo o Estado consegue deixar a fase pré-
processual e ingressar na fase processual, buscando, ao final, exercer legitimamente
o seu direito de punir.

Dentre as características apontadas à devida investigação criminal, são mencionadas:

a) Respeito aos Direitos do Investigado:


O Delegado deve garantir que os direitos do investigado sejam respeitados, incluindo o direito
ao silêncio, o direito a assistência por advogado e o direito a um tratamento digno.
b) Coleta de Provas de Forma Legal:
Todas as provas devem ser obtidas por meios legais, evitando coerção, tortura ou qualquer
forma de tratamento desumano.
c) Transparência e Documentação Adequada:
O processo de investigação deve ser transparente, com todas as etapas devidamente
documentadas para garantir a prestação de contas e a integridade do processo.
d) Garantia de Julgamento Justo:
O Delegado deve trabalhar para garantir que a investigação seja completa e justa, permitindo
um julgamento imparcial baseado em evidências sólidas.

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e) Investigação por Órgão Oficial do Estado
Um modelo de investigação que atenda à devida investigação criminal deve ser conduzido por
um órgão oficial do Estado, que tenha previsão legal e constitucional, que seja imparcial e
desvinculado do processo posterior. Em um modelo processual penal garantista, a investigação
conduzida por particulares ou por instituições que não tenham atribuições, como o Ministério
Público, por exemplo, violaria direitos e garantias do investigado.

3. Conclusão:
O entendimento profundo do devido processo legal na investigação criminal é essencial para
qualquer Delegado de Polícia. Ao seguir os princípios fundamentais, os investigadores garantem não
apenas a justiça para as partes envolvidas, mas também a integridade do sistema legal como um todo.
Portanto, é imperativo que os candidatos ao concurso de Delegado de Polícia do Estado de São Paulo
dediquem tempo e esforço para compreender plenamente esse tema crucial, pois ele não apenas
aparece no edital, mas é tema contemporâneo, que pode ser objeto de avaliação, inclusive, em prova
discursiva.

AUTOMAÇÃO DO PROCESSO

A Inteligência Artificial - IA pode ser compreendida para além dos métodos biologicamente
observáveis ou da tentativa de reproduzir a inteligência humana por meio de computadores. Ela
representa um campo científico e de engenharia dedicado à "criação de máquinas inteligentes,
especialmente programas computacionais inteligentes". A IA utiliza ferramentas que auxiliam, desde
a organização de dados existentes até a análise de padrões, para tomar decisões ou resolver
problemas do mundo real. Estas ferramentas são vitais em diversas áreas, desde a previsão de
desfechos judiciais até a identificação de padrões decisórios para as partes envolvidas, aumentando
a eficiência na prestação jurisdicional.
O ano de 2020 destacou que a revolução tecnológica não apenas permitia a continuidade das
atividades judiciais em tempos de pandemia, por meio de audiências virtuais e trabalho remoto, mas
também aprimorava significativamente esses elementos.

1. Inteligência Artificial e sua Aplicação Prática no Direito:


O desenvolvimento do Justiça 4.0 e a promoção do acesso à justiça digital foram projetos
significativos no âmbito do STF e CNJ, pois visavam aprimorar a governança, a transparência e a

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eficiência do Poder Judiciário, facilitando a aproximação com o cidadão, reduzindo despesas e
combinando inteligência humana com artificial. No CNJ, foram lançados o Programa Justiça 4.0 e o
Juízo 100% Digital, utilizando plenamente o potencial tecnológico para expandir o acesso à Justiça e
melhorar a prestação de serviços jurisdicionais, reduzindo custos e aumentando a eficiência, sempre
em benefício do cidadão.
O projeto Justiça 4.0 é uma iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que visa promover
a modernização do sistema judiciário por meio da incorporação de tecnologias avançadas. O termo
"Justiça 4.0" é uma referência à Quarta Revolução Industrial, marcada pela integração de tecnologias
digitais, inteligência artificial, big data, automação e Internet das Coisas em processos industriais e
sociais. No contexto do Judiciário, essa transformação busca melhorar a eficiência, transparência e
acessibilidade dos serviços judiciais.

2. Objetivos do Justiça 4.0:

a) Eficiência:
Utilização de tecnologias para agilizar processos judiciais, reduzindo o tempo de tramitação de
casos e otimizando recursos.
b) Transparência:
Facilitar o acesso às informações judiciais, promovendo a transparência nas decisões e no
andamento dos processos, o que fortalece a confiança do público no sistema judiciário.
c) Acessibilidade:
Ampliar o acesso à justiça por meio de soluções digitais, permitindo que os cidadãos tenham
uma experiência mais fácil e intuitiva ao lidar com questões legais.
d) Redução de Custos:
Automatizar processos repetitivos e burocráticos pode levar a uma redução significativa nos
custos operacionais do sistema judicial.

3. Componentes do Projeto Justiça 4.0:


a) Juízo 100% Digital:
Este componente visa eliminar totalmente o papel nos processos judiciais, digitalizando
documentos, decisões e trâmites. Isso não apenas economiza recursos, mas também agiliza o fluxo
de trabalho.

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b) Uso de Inteligência Artificial:
O projeto incorpora soluções baseadas em inteligência artificial para auxiliar na análise de
casos, prever decisões judiciais com base em padrões históricos e automatizar tarefas repetitivas.
c) Plataformas Online:
Desenvolvimento de plataformas online acessíveis ao público, onde os cidadãos podem acessar
informações sobre processos, agendar audiências e até mesmo participar de sessões judiciais
remotamente.
d) Treinamento e Capacitação:
Um aspecto crucial é o treinamento dos profissionais do sistema judiciário para utilizar as novas
tecnologias de forma eficaz e ética.
e) Modernização da Infraestrutura:
Investimentos em infraestrutura tecnológica, como redes de alta velocidade e servidores
seguros, para suportar a carga de dados gerada pela digitalização e automação.

4. Benefícios Esperados:
a) Rapidez:
Processos judiciais mais rápidos, resultando em uma justiça mais célere para os cidadãos.
b) Eficiência:
Redução do tempo e esforço gastos em tarefas administrativas, permitindo que os profissionais
do direito foquem mais em questões substanciais.
c) Acesso Universal:
Maior acessibilidade aos serviços judiciais, especialmente para pessoas em áreas remotas ou
com mobilidade reduzida.
d) Redução de Erros:
Automação de tarefas rotineiras minimiza a possibilidade de erros humanos, aumentando a
precisão das operações judiciais.
e) Economia:
Redução de custos operacionais devido à eliminação do papel e à otimização de recursos.

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O projeto Justiça 4.0 representa um esforço significativo para transformar o sistema judiciário
brasileiro em um ambiente moderno, eficiente e acessível, alinhado com as demandas e as
possibilidades oferecidas pelas tecnologias avançadas do século XXI.

5. Questões Legais e Éticas no Contexto do Processo Penal:


a) Segurança e Integridade de Provas
Há preocupações sobre a segurança e a integridade das evidências digitais no processo penal.
Como garantir que as provas digitais não sejam adulteradas ou comprometidas durante o processo
de digitalização e armazenamento eletrônico?
b) Privacidade e Proteção de Dados:
No contexto penal, dados sensíveis podem ser compartilhados e armazenados
eletronicamente. É fundamental garantir que a privacidade dos envolvidos seja protegida e que o
tratamento dos dados esteja em conformidade com as leis de proteção de dados.
c) Violação de Direitos Individuais:
O uso de algoritmos de inteligência artificial para análise de casos pode levantar preocupações
sobre vieses algorítmicos e discriminação. Decisões automatizadas podem afetar os direitos
individuais, como o direito à não discriminação e à igualdade perante a lei.
d) Acesso à Justiça:
Embora a digitalização possa facilitar o acesso à justiça para algumas pessoas, pode criar
barreiras para outras, especialmente aquelas que não têm acesso regular à internet ou habilidades
digitais. Isso levanta questões de equidade no sistema judiciário.
e) Preservação de Evidências Digitais:
A preservação adequada de evidências digitais é crucial no processo penal. Como garantir que
as evidências eletrônicas sejam coletadas, armazenadas e apresentadas de maneira que seja
admissível em tribunal?
f) Responsabilidade e Transparência:
Quando decisões judiciais são influenciadas por algoritmos ou sistemas automatizados, a
questão da responsabilidade se torna complexa. Como determinar quem é responsável por decisões
tomadas por sistemas autônomos?
g) Garantia do Devido Processo Legal:
A digitalização do processo penal deve garantir que todos os princípios do devido processo legal
sejam mantidos. Isso inclui o direito a uma defesa adequada, ao contraditório, à imparcialidade do
julgamento e à presunção de inocência.

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Essas questões estão no cerne das discussões legais em muitos países à medida que buscam
incorporar tecnologias avançadas no sistema judicial. É essencial que as leis e regulamentações sejam
adaptadas para lidar com essas preocupações, garantindo que a modernização do sistema judicial
não comprometa os direitos e a justiça no processo penal.

AUDIÊNCIAS VIRTUAIS

1. Conceito e modalidades:
As audiências virtuais têm se tornado cada vez mais comuns no Direito Processual Penal,
especialmente a partir da pandemia de COVID. Essa modalidade de audiência, que pode ser realizada
por videoconferência ou telepresencialmente, traz consigo uma série de vantagens e desafios.
No Brasil, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) estabeleceu regras para a realização de sessões
e audiências em meio digital. A Resolução CNJ nº 354/2020 foi publicada em 19 de novembro de
2020. Ela define sessão por videoconferência como comunicação a distância realizada em ambientes
de unidades judiciárias. Já a sessão telepresencial são audiências e sessões realizadas a partir de
ambiente físico externo ao fórum ou juízo.
Com exceção do Supremo Tribunal Federal (STF), a medida alcança tribunais superiores e todas
as unidades jurisdicionais de primeira e segunda instâncias da Justiça Estadual, Federal, do Trabalho,
Militar e Eleitoral, que devem regulamentar a aplicação da norma no âmbito de sua competência. Na
Justiça do Trabalho, a regulamentação da resolução do CNJ cabe ao Conselho Superior da Justiça do
Trabalho (CSJT).

2. Requisitos e Condições:
A participação por videoconferência, via rede mundial de computadores, ocorrerá em unidade
judiciária diversa da sede do juízo que preside a audiência ou sessão, na forma da Resolução CNJ nº
341/2020; e em estabelecimento prisional.
As audiências só poderão ser realizadas na forma telepresencial a pedido da parte, ressalvado
o disposto no art. 3º, § 1º da Resolução CNJ Nº 354 de 19/11/2020, bem como nos incisos I a IV do §
2º do art. 185 do CPP, cabendo ao juiz decidir pela conveniência de sua realização no modo presencial.
Em qualquer das hipóteses, o juiz deve estar presente na unidade judiciária.
Como já antecipado, nos termos do art. 3º, § 1º da Resolução CNJ Nº 354 de 2020, o juiz poderá
determinar excepcionalmente, de ofício, a realização de audiências telepresenciais, nas seguintes
hipóteses: I – urgência; II – substituição ou designação de magistrado com sede funcional diversa; III

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– mutirão ou projeto específico; IV – conciliação ou mediação no âmbito dos Centros Judiciários de
Solução de Conflito e Cidadania (Cejusc); V – indisponibilidade temporária do foro, calamidade
pública ou força maior. VI – atos processuais praticados em Pontos de Inclusão Digital, na forma da
Resolução CNJ 508/2023.
A oposição à realização de audiência telepresencial deve ser fundamentada, submetendo-se ao
controle judicial.
Salvo requerimento de apresentação espontânea, o ofendido, a testemunha e o perito
residentes fora da sede do juízo serão inquiridos e prestarão esclarecimentos por videoconferência,
na sede do foro de seu domicílio ou no estabelecimento prisional ao qual estiverem recolhidos.
No interesse da parte que residir distante da sede do juízo, o depoimento pessoal ou
interrogatório será realizado por videoconferência, na sede do foro de seu domicílio, devendo-se
evitar a expedição de carta precatória inquiritória, salvo impossibilidade técnica ou dificuldade de
comunicação.
Os advogados, públicos e privados, e os membros do Ministério Público poderão requerer a
participação própria ou de seus representados por videoconferência, Contudo, o deferimento da
participação por videoconferência depende de viabilidade técnica e de juízo de conveniência pelo
magistrado, sendo ônus do requerente comparecer na sede do juízo, em caso de indeferimento ou
de falta de análise do requerimento de participação por videoconferência.
No interesse de partes, advogados, públicos ou privados, ou membros do Ministério Público,
que não atuarem frequentemente perante o juízo, o requerimento será instruído por cópia do
documento de identidade.
O réu preso fora da sede da Comarca ou em local distante da Subseção Judiciária participará da
audiência por videoconferência, a partir do estabelecimento prisional ao qual estiver recolhido. A
pedido da defesa, a participação de réu preso na sede da Comarca ou do réu solto poderá ocorrer
por videoconferência.
A audiência telepresencial e a participação por videoconferência em audiência ou sessão
observará regras específicas. Entre as regras, deve-se observar que as oitivas telepresenciais ou por
videoconferência serão equiparadas às presenciais para todos os fins legais, asseguradas a
publicidade dos atos praticados e as prerrogativas processuais de advogados, membros do Ministério
Público, defensores públicos, partes e testemunhas. Ademais, as testemunhas serão inquiridas cada
uma de per si, de modo que umas não saibam nem ouçam os depoimentos umas das outras.
Deve-se ter em conta que, quando o ofendido ou testemunha manifestar desejo de depor sem
a presença de uma das partes do processo, na forma da legislação pertinente, a imagem poderá ser
desfocada, desviada ou inabilitada, sem prejuízo da possibilidade de transferência para lobby ou
ambiente virtual similar. No entanto, importante anotar que as oitivas telepresenciais ou por

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videoconferência serão gravadas, devendo o arquivo audiovisual ser juntado aos autos ou
disponibilizado em repositório oficial de mídias indicado pelo CNJ (PJe Mídia) ou pelo tribunal.
Questão que vale assinalar diz respeito à publicidade, que será assegurada, ressalvados os casos
de segredo de justiça, por transmissão em tempo real ou por meio hábil que possibilite o
acompanhamento por terceiros estranhos ao feito, ainda que mediante a exigência de prévio
cadastro. A participação em audiência telepresencial ou por videoconferência exige que as partes e
demais participantes sigam a mesma liturgia dos atos processuais presenciais, inclusive quanto às
vestimentas. Por fim, saliente-se que, a critério do juiz e em decisão fundamentada, poderão ser
repetidos os atos processuais dos quais as partes, as testemunhas ou os advogados não tenham
conseguido participar em virtude de obstáculos de natureza técnica, desde que devidamente
justificados.
Quanto à participação por videoconferência a partir de estabelecimento prisional, essa
observará regras próprias, além das gerais. Os estabelecimentos prisionais manterão sala própria
para a realização de videoconferência, com estrutura material, física e tecnológica indispensável à
prática do ato, e disponibilizarão pessoal habilitado à operação dos equipamentos e à segurança da
audiência. Magistrado, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público poderão
participar na sala do estabelecimento prisional em que a pessoa privada da liberdade estiver, na sede
do foro ou em ambos.
Importante mencionar que o Juiz tomará as cautelas necessárias para assegurar a inexistência
de circunstâncias ou defeitos que impeçam a manifestação livre. Ademais, o Juiz garantirá ao réu o
direito de entrevista prévia e reservada com seu defensor, presencial ou telepresencialmente,
devendo ser disponibilizada ao réu linha de comunicação direta e reservada para contato com seu
defensor durante o ato, caso não estejam no mesmo ambiente.
Nos casos em que cabível a citação e a intimação pelo correio, por oficial de justiça ou pelo
escrivão ou chefe de secretaria, o ato poderá ser cumprido por meio eletrônico que assegure ter o
destinatário do ato tomado conhecimento do seu conteúdo. As citações e intimações por meio
eletrônico serão realizadas na forma da lei (art. 246, V, do CPC, combinado com art. 6º e 9º da Lei nº
11.419/2006), não se lhes aplicando o disposto nesta Resolução.
As partes e os terceiros interessados informarão, por ocasião da primeira intervenção nos
autos, endereços eletrônicos para receber notificações e intimações, mantendo-os atualizados
durante todo o processo.
Aquele que requerer a citação ou intimação deverá fornecer, além dos dados de qualificação,
os dados necessários para comunicação eletrônica por aplicativos de mensagens, redes sociais e
correspondência eletrônica (e-mail), salvo impossibilidade de fazê-lo.
O cumprimento da citação e da intimação por meio eletrônico será documentado por
comprovante do envio e do recebimento da comunicação processual, com os respectivos dia e hora

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de ocorrência ou certidão detalhada de como o destinatário foi identificado e tomou conhecimento
do teor da comunicação.
O cumprimento das citações e das intimações por meio eletrônico poderá ser realizado pela
secretaria do juízo ou pelos oficiais de justiça, atentando-se que, salvo ocultação, é vedado o
cumprimento eletrônico de atos processuais por meio de mensagens públicas.
A intimação e a requisição de servidor público, bem como a cientificação do chefe da repartição,
serão realizadas preferencialmente por meio eletrônico.
O CNJ disponibilizará sistema para agendamento de participação por videoconferência em
unidade judiciária diversa da sede do juízo que preside a audiência ou sessão, na forma da Resolução
CNJ nº 341/2020, e em estabelecimento prisional.
O princípio da celeridade processual, que busca a rápida solução do litígio, é um dos grandes
beneficiados com as audiências virtuais. A possibilidade de realizar audiências sem a necessidade de
deslocamento físico dos envolvidos permite uma maior agilidade na condução do processo penal.
Isso beneficia não apenas o advogado, promotor e demais atores do processo, mas também o Estado,
que vê uma redução nos custos e no tempo de tramitação dos processos.

3. Vantagens e Desafios:

As audiências virtuais trazem várias vantagens para o sistema judiciário, incluindo:

1. Celeridade Processual: As audiências virtuais podem ser organizadas e realizadas de


maneira mais rápida e eficiente do que as audiências presenciais, contribuindo para a
rapidez na solução do litígio.
2. Redução de Custos: A realização de audiências virtuais elimina a necessidade de
deslocamento físico dos envolvidos, o que pode resultar em economia significativa de
tempo e recursos para o Estado, advogados e partes envolvidas.
3. Acessibilidade: As audiências virtuais permitem que pessoas de diferentes localidades
participem do processo sem a necessidade de viagens longas ou dispendiosas.
4. Flexibilidade: As audiências virtuais podem ser agendadas com maior flexibilidade,
permitindo acomodar melhor as necessidades e disponibilidades das partes envolvidas.
5. Segurança: Em situações de pandemia ou outras crises de saúde, as audiências virtuais
permitem que o processo judicial continue sem colocar em risco a saúde dos envolvidos.
6. Transparência: A gravação das oitivas e a junção do arquivo audiovisual aos autos ou
disponibilização em repositório oficial de mídias garantem a transparência do processo
e permitem que as partes e seus advogados tenham acesso ao registro completo da
audiência.

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Em resumo, as audiências virtuais representam um avanço significativo para o Direito
Processual Penal, contribuindo para a eficiência e a celeridade dos processos. No entanto, é
importante que sejam observadas todas as normas e garantias processuais para que a justiça seja
efetivamente realizada.

PERSECUÇÃO PENAL E NOVAS TECNOLOGIAS

1. Conceito de persecução penal:


A persecução penal é o conjunto de atividades realizadas pelo Estado com o objetivo de aplicar
a lei penal a um caso concreto. Com o avanço das novas tecnologias, a forma como a persecução
penal é realizada tem sofrido grandes mudanças.

2. Impacto das novas tecnologias na persecução penal:


A Inteligência Artificial (IA), por exemplo, tem sido cada vez mais utilizada para auxiliar na
investigação e na solução de crimes. Através de algoritmos complexos, a IA é capaz de analisar
grandes volumes de dados em pouco tempo, identificando padrões e informações que podem ser
úteis para a investigação.
Além disso, as novas tecnologias têm permitido a realização de investigações mais eficientes e
precisas. Por exemplo, a análise de dados de geolocalização pode ajudar a determinar a localização
de um suspeito no momento de um crime, enquanto a análise de dados de comunicação pode revelar
conexões entre suspeitos.

3. Desafios do uso de novas tecnologias na persecução penal:


No entanto, o uso de novas tecnologias na persecução penal também traz desafios. Um deles é
a necessidade de regulamentação específica para garantir que o uso dessas tecnologias respeite os
direitos e garantias fundamentais dos indivíduos. Isso inclui, por exemplo, a necessidade de obter
autorização judicial para acessar determinados tipos de dados, como os dados de comunicação
privada.
Outro desafio é a necessidade de treinamento e capacitação dos profissionais envolvidos na
persecução penal. O uso efetivo das novas tecnologias requer conhecimento e habilidades
específicas, que muitas vezes não são parte do treinamento tradicional dos profissionais de justiça
criminal.

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Por fim, a adoção de novas tecnologias pode exigir uma mudança no modelo tradicional de
investigação, que é baseado principalmente no trabalho manual dos investigadores. Isso pode
envolver, por exemplo, a adoção de novas metodologias de investigação, a reorganização das equipes
de investigação e a revisão dos procedimentos de coleta e análise de provas.
Em resumo, as novas tecnologias têm o potencial de transformar a persecução penal, tornando-
a mais eficiente e eficaz. No entanto, é importante que essa transformação seja realizada de maneira
responsável, garantindo o respeito aos direitos e garantias fundamentais dos indivíduos.

PROVAS DIGITAIS

1. Conceito de Provas Digitais:


As provas digitais são aquelas que são produzidas ou armazenadas em meio eletrônico. Elas
podem incluir desde mensagens de texto e e-mails até arquivos de áudio e vídeo.

2. Autenticidade e integridade das provas digitais:


A autenticidade e a integridade das provas digitais são questões fundamentais no Direito
Processual Penal. Para garantir que uma prova digital seja considerada válida, é necessário que se
possa comprovar que ela não foi alterada ou adulterada de alguma forma. Isso é feito através da
chamada cadeia de custódia digital, que registra todas as etapas de manuseio da prova, desde a sua
coleta até a sua apresentação em juízo.

3. Cadeia de Custódia Digital:


A cadeia de custódia digital é um conjunto de procedimentos utilizados para manter e
documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para
rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte.
O principal objetivo da cadeia de custódia é preservar as informações coletadas. É um
procedimento formal e necessário que tem por finalidade documentar toda a história cronológica da
evidência desde a sua coleta ao descarte.
A cadeia de custódia corresponde ao conjunto de atos destinados a conservar e rastrear a
prova, garantindo a sua autenticidade e confiabilidade. Para tanto, o procedimento legal deve ser
rigorosamente observado.

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4. Norma ABNT ISO 27037:2013:
A norma ABNT ISO 27037:2013 tem como base a padronização no tratamento de evidências
digitais, descrevendo as diretrizes às pessoas responsáveis pela identificação, coleta, aquisição e
preservação da potencial evidência digital para que a prova digital tenha força probatória em juízo e
seja admissível em processos judiciais ou disciplinares.
A norma estabelece quatro aspectos fundamentais no tratamento da evidência digital:
auditabilidade, repetibilidade, reprodutibilidade e justificabilidade. A repetibilidade é considerada
quando os mesmos resultados de testes são produzidos utilizando os mesmos procedimentos e
métodos de medição, utilizando os mesmos instrumentos e sob as mesmas condições. A
reprodutibilidade é válida quando os mesmos resultados são produzidos utilizando diferentes
instrumentos, diferentes condições. A justificabilidade tem como objetivo justificar todas as ações e
métodos utilizados para o tratamento da evidência digital.
O processo de tratamento da evidência digital envolve a identificação, coleta, aquisição e
preservação de evidência digital que possam possuir valor probatório. Durante o processo de
aquisição, a cópia da evidência digital é produzida e os métodos usados e atividades realizadas são
documentados. A fonte original e cada cópia de evidência digital produzida devem produzir o mesmo
resultado de função de verificação.
A preservação da evidência digital é essencial para garantir sua integridade. O processo de
preservação envolve a guarda da potencial evidência digital assim como o dispositivo digital que pode
conter a evidência digital contra espoliação ou adulteração.
A norma também estabelece a importância da cadeia de custódia, que é o documento
identificando a cronologia de movimento e manuseio da evidência digital. Além disso, a norma
destaca a importância de precauções no local do incidente, incluindo a segurança do pessoal
envolvido no processo.
A norma também destaca a importância de documentar todo o processo para garantir que
nenhum detalhe foi deixado de lado durante os processos de identificação, coleta, aquisição e
preservação. Além disso, a norma enfatiza a importância de instruções adequadas para os agentes
antes da realização de suas tarefas no processo de coleta ou aquisição, e ao mesmo tempo respeitar
as leis de confidencialidade. As instruções devem ser suficientes para que os agentes estejam bem
preparados no desempenho de suas funções e responsabilidades, assegurando a extração de todas
as potenciais evidências digitais relevantes.
A norma também aborda a coleta de evidência não digital e a importância de instruir
adequadamente os agentes sobre detalhes fundamentais à investigação. Durante a etapa de
instrução, é recomendado que os agentes sejam providos com informações relevantes e instruções
detalhadas relacionadas ao tipo de evidência digital a ser coletada ou adquirida. Isso pode incluir
detalhes do incidente, plano de ação, equipamentos necessários para adquirir a evidência digital,
entre outros.

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Finalmente, a norma aborda o tratamento de dispositivos digitais de missão crítica, que são
dispositivos que não podem ser interrompidos ou desligados, como servidores em centros de dados,
sistemas de vigilância e sistemas médicos. Quando não for possível desligar o dispositivo digital, será
necessário efetuar a aquisição parcial e/ou aquisição imediata.
A aquisição parcial é realizada quando não é possível efetuar a aquisição ou coleta devido a
várias razões, como o sistema de armazenamento ser muito grande para ser adquirido, um sistema
ser muito crucial para ser desligado, ou quando compelido por autoridade legal, como um mandado
de busca, que limita o escopo.
A aquisição imediata serve para adquirir dados voláteis de dispositivos que ainda estão sendo
executados. Aquisição imediata de dado volátil em memória RAM pode permitir a recuperação de
informação valiosa, como estado do trabalho em rede, descriptografar aplicações e senhas.
Em resumo, a Norma ABNT NBR ISO/IEC 27037:2013 fornece diretrizes detalhadas para o
tratamento de evidências digitais, desde a identificação até a preservação, e é fortemente
recomendado que seja lida na íntegra para uma compreensão completa.

5. Admissibilidade da prova digital no processo judicial:


A admissibilidade da prova digital no processo judicial é um tema complexo que envolve a
interseção de direito, tecnologia e privacidade. No Brasil, a jurisprudência tem estabelecido que a
coleta de provas digitais deve ser realizada de acordo com as regras de coleta e preservação de
provas. Isso significa que, em muitos casos, é necessário obter autorização judicial para coletar provas
digitais, especialmente quando essas provas estão armazenadas em dispositivos privados.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem enfatizado em vários julgados que a coleta de dados e
conversas de aplicativos como o WhatsApp por autoridades policiais, sem prévia autorização judicial,
é considerada ilícita. Isso foi estabelecido, por exemplo, no julgamento do Habeas Corpus n.
674.185/MG, onde o relator Ministro Sebastião Reis Júnior afirmou que é ilícita a tomada de dados,
bem como das conversas de WhatsApp, obtidas diretamente pela autoridade policial em aparelho
celular apreendido no flagrante, sem prévia autorização judicial.
Em outro julgado, o AgRg no HC n. 646.771/PR, o relator Ministro João Otávio de Noronha
reforçou essa posição, afirmando que os dados constantes de aparelho celular obtidos por órgão
investigativo - mensagens e conversas por meio de programas ou aplicativos (WhatsApp) - somente
são admitidos como prova lícita no processo penal quando há precedente mandado de busca e
apreensão expedido por juiz competente ou quando há autorização voluntária de interlocutor da
conversa.
Essas decisões refletem a importância da proteção da privacidade e dos direitos fundamentais
no contexto da investigação criminal. Elas também destacam a necessidade de equilibrar a eficácia
da investigação criminal com o respeito aos direitos e garantias individuais.

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JURISDIÇÃO NA INTERNET

1. Transformação digital e práticas digitais das empresas:


A rápida transformação digital e a crescente adoção de práticas digitais pelas empresas têm
levantado questões importantes sobre a jurisdição na internet, também conhecida como soberania
digital. No contexto do direito processual penal, isso tem implicações significativas.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que, se houver uma ofensa ao direito brasileiro em
um aplicativo hospedado no exterior, uma autoridade brasileira pode determinar judicialmente que
o conteúdo seja removido da internet e que os dados do autor da ofensa sejam apresentados à vítima.
Em casos de ameaças por meio de mensagens eletrônicas enviadas através de uma conta de e-
mail em um domínio genérico “.com”, pode ser possível quebrar o sigilo da conta e exibir as
informações necessárias para identificar o usuário da conta de e-mail.
Em conflitos transfronteiriços na internet, a autoridade responsável deve agir de maneira
prudente e cautelosa, respeitando a territorialidade da jurisdição como regra geral. Exceções a essa
regra só podem ser admitidas quando há fortes razões jurídicas, proporcionalidade entre a medida e
o objetivo pretendido, e observância dos procedimentos legais locais e internacionais.
Quando uma atividade ilícita é realizada na internet, a autoridade judiciária brasileira é
competente para resolver o conflito, pois o autor tem domicílio no Brasil e é onde o acesso ao site
onde a informação foi veiculada ocorreu.
A internet não deve ser vista como um “porto seguro” ou “zona franca” contra a aplicação do
direito estatal. Se houver ofensa ao direito brasileiro em um aplicativo hospedado no exterior, pode
haver uma determinação judicial para que o conteúdo seja removido da internet e os dados do autor
da ofensa sejam apresentados à vítima.

2. Marco Civil da Internet (Lei n. 12.965/2014):


Com base no art. 11 do Marco Civil da Internet (Lei n. 12.965/2014), a lei brasileira se aplica
sempre que qualquer operação de coleta, armazenamento, guarda e tratamento de registros, dados
pessoais ou comunicações por provedores de conexão e de aplicações de internet ocorrer em
território nacional, mesmo que apenas um dos dispositivos da comunicação esteja no Brasil e mesmo
que as atividades sejam realizadas por uma empresa com sede no exterior. Isso reforça a soberania
digital do Brasil em casos de litígios na internet.

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3. Impacto da jurisdição na internet nos casos de crimes cibernéticos:
A jurisdição na internet tem um impacto significativo nos casos de crimes cibernéticos. Devido
à natureza global da internet, os crimes cibernéticos podem ser cometidos de qualquer lugar do
mundo, o que pode levar a conflitos de jurisdição.
A jurisdição é o poder que um estado tem para definir e preservar os deveres e direitos das
pessoas dentro de seu território, aplicar leis e punir violações dessas leis. Nos crimes cibernéticos, a
vítima e o acusado geralmente são de países diferentes, tornando a decisão sobre qual jurisdição
prevalecerá conflituosa.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que, se houver uma ofensa ao direito brasileiro em
um aplicativo hospedado no exterior, uma autoridade brasileira pode determinar judicialmente que
o conteúdo seja removido da internet e que os dados do autor da ofensa sejam apresentados à vítima.
Além disso, em conflitos transfronteiriços na internet, a autoridade responsável deve agir de
maneira prudente e cautelosa, respeitando a territorialidade da jurisdição como regra geral. Exceções
a essa regra só podem ser admitidas quando há fortes razões jurídicas, proporcionalidade entre a
medida e o objetivo pretendido, e observância dos procedimentos legais locais e internacionais.
Portanto, a jurisdição na internet é um aspecto crucial na luta contra os crimes cibernéticos,
pois determina quem tem o poder de processar e punir os infratores.

Ótimos estudos!!!

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