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CURITIBA
1995
S ILV A N A SOUZA N E TTO M A N D A L O Z Z O
A M A T E R N ID A D E E SU A S IM PLIC A Ç Õ E S
N O C O N T R A T O D E T R A B A LH O
Orientador: ____________________________________
Prof. João Régis Fassbender Teixeira
Setor de Ciências Jurídicas
Curitiba,
"De outra parte, habituado o industrial a explorar a mão-de-obra, a mulher era obrigada a realizar
longas jornadas, lidando com máquinas complicadas e muitas vezes perigosas, em um ambiente
saturado de ruídos enervantes e de emanações de substâncias perniciosas, tendo, quantas vezes, de
levantar volumes de peso muito superior às suas possibilidades físicas. Nessas condições, é claro,
estava sendo comprometida a célula máter da sociedade - a mulher - cuja missão mais sagrada é a
de ser mãe, enguanto que a do homem é a de ganhar o pão de cada dia com o suor de seu rosto."
(Hirosê PIMPÃO, Das Relações de Emprego no Direito do Trabalho.)
SU M Á R IO
R E SU M O .............................................................................................................. vii
1 IN TR O D U Ç Ã O ..................................... 1
6 LICENÇA-M ATERNIDADE...................................................... 15
6.1 FU N D A M EN TO ................................................................................................. 15
I
IV
7.1 INÍCIO DA ESTABILIDADE.................................................... 27
7.2 INÍCIO DA GRAVIDEZ DURANTE O AVISO PRÉVIO ................... 31
7.3 ASPECTOS PRÁTICO S..................................................................................... 31
7.4 REINTEGRAÇÃO ................................................................. 34
7.5 R EN Ú N C IA ................. 34
7.6 CONVERSÃO EM INDENIZAÇÃO .............................................................. 35
7.7 EMPREGADAS DOM ÉSTICAS........................................................................ 35
I
V
R ESU M O
VI
SILVANA SOUZA NETTO MANDALOZZO
A M A T E R N ID A D E E SU A S IM P LIC A Ç Õ E S
N O C O N TR A TO D E TRABALH O
ERRATA
encontra em crescente evolução, mas ainda suscitando muitas dúvidas, para as quais
se buscam soluções adequadas.
tanto à pessoa física desta, mas, sim, a finalidades diversas, como constituir-se em
uma das formas mais importantes de proteção demográfica, dentro dos fins
Debemos exponer las razones, obvias por lo demás, de esta protección particular. Son
ellas diferencias antropométricas, biológicas y fisiológicas de la mujer frente al hombre,
de las que deriva su menor resistência a los trabajos fatigosos. Se toma em cuenta,
además, la preservación de la maternidad, su función esencial. Los fisiólogos
recomiendan precauciones especiales desde el punto de vista físico (evitar trabajos
complicados descomponiéndolos em actos más simples que no requieran um esfuerzo
excesivo, multiplicar los intervalos de reposo, automatizar en lo posible, los
movimientos ejecutados profesionalmente) y espiritual (evitar esfuerzos prolongados e
intensos dei pensamiento, ejecutar trabajos de breve duración, etc.).1
o do sexo oposto. Esse fato está inclusive previsto na legislação brasileira, mais
BARRASI, Ludovico. Tratado de derecho dei trabajo. Buenos Aires : Editorial Alfa, 1953. t. 2, p. 114-115.
1 IN T R O D U Ç Ã O
mulher visa ao aspecto fisiológico, com a maternidade e família, sendo até mesmo
mais importante que a proteção aos menores, pois estes são transitórios.2
passou a adotar determinadas formas de proteção. Para esse avanço, além das razões
proteção à maternidade.4
2 M ARQU EZ, Miguel Hernainz. Tratado elemental de derecho dei Trabajo. 9. ed. Madrid: Instituto de Estúdios
Políticos, 1964. p. 467.
PO ZZO, Juan D. Derecho dei trabajo. Buenos Aires : Ediar, 1948. t. 2, p. 226-227.
4 R U SSO M AN O , Mozart Victor. Curso de direito do trabalho. 4. ed. Curitiba : Juruá, 1993. p. 402.
física em relação à do homem, e social, interessando a proteção da família, como a
preservação da humanidade. Quer pelo aspecto físico, quer pela tão comentada dupla
5 N A SCIM EN TO , Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. 7 ed. São Paulo : Saraiva, 1989. p. 530.
6 GOMES, Orlando, G O TTSCH A LK , Elson. Curso de direito do trabalho. 10. ed. Rio de Janeiro : Forense, 1987.
3 NOTÍCIA HISTÓRICA DE ALGUNS ASPECTOS
DA PROTEÇÃO AO TRABALHO DA MULHER
europeus, com exceção da Rússia, Turquia, Grécia, Sérvia e Romênia, foi proibido o
CUEVA, Mario de la. Derecho mexicano dei trabajo. México : Ed. Porrua, 1963. t. 1, p. 901-903.
CA BANELLA S, Guilhermo. Tratado de derecho laborai. Buenos Aires : El Gráfico Impresores, 1949. t. 2, p. 388.
6
Artículo 2.
[...] A los efectos dei presente Convênio, el término "mujer" comprende a toda persona
dei sexo femenino, cualquiera que sea su edad y nacionalidad, casada o no, y el término
"hijo" comprende a todo hijo, legítimo o no.
Artículo 3.
[...] En todas las empresas industriales o comerciales, públicas o particulares, o en sus
dependencias, con excepción de las empresas en que solo estén empleados los miembros
de una misma familia, la mujer:
a) no estará autorizada para trabajar durante um período de seis semanas después dei
parto;
b) tendrá derecho a abandonar el trabajo mediante la presentación de un certificado que
declare que el parto sobrevendrá probablemente en um término de seis semanas;
c) recibirá, durante todo el período em que permanezca ausente en virtud de los párrafos
a) y b), prestaciones suficientes para su manutención y la dei hijo em buenas condiciones
de higiene; dichas prestaciones, cuyo importe exacto será fijado por la autoridad
competente en cada país, serán satisfechas por el Tesoro público o se pagarán por un
sistema de seguro. La mujer tendrá además derecho a la asistencia gratuita de un médico
o de una comadrona. El error dei médico o de la comadrona en el cálculo de la fecha dei
parto no podrá impedir que la mujer reciba las prestaciones a que tiene derecho, desde la
fecha dei certificado médico hasta la fecha em que sobrevenga el parto;
d) tendrá derecho en todo caso, si amamanta a su hijo, a dos descansos de media hora
para permitir la lactancia.3
peculiaridades desse labor, tendo em vista a presunção de que a própria família não
norma.4 N a realidade, a anulação dessa lei não deixou de ser uma proteção ao
trabalho feminino. PO ZZO cita ainda a legislação do Brasil, Bolívia e Chile, que
licença de 6 semanas após o parto. A Convenção 103, ratificada pelo Brasil em 1952,
“2. A duração dessa licença será de doze semanas, no mínimo; uma parte dessa
4 PO ZZO , Juan. Derecho dei trabajo. Buenos Aires : Ediar, 1948. t. 2 p. 232.
5 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito internacional do trabalho. 2 ed. São Paulo : LTr, 1987. p. 485.
4 A N T E C E D E N T E S H IST Ó R IC O S E N O R M A S C O N SO L ID A D A S
D E P R O T E Ç Ã O A O T R A B A L H O D A M U L H E R N O B R A SIL
4.1 C O N ST IT U IÇ Õ E S BRASILEIRAS
[•••]
d) prohibição de trabalho a menores de 14 annos; de trabalho nocturno a menores de 16;
e em industrias insalubres, a menores de 18 annos e a mulheres;
TEIXEIRA, João Régis. Fassbender. Direito do trabalho. São Paulo : Sugestões Literárias, 1968. p. 412-413.
2 CA M PA N H O LE, Adriano, CA M PA N H O LE, Hilton Lobo. Todas as Constituições do Brasil. 3. ed. São Paulo :
Atlas, 1978.
[...]
h) assistência medica e sanitaria ao trabalhador e á gestante, assegurado a esta descanso,
antes e depois do parto, sem prejuizo do salário e do emprego, e institutição de
previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a
favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de accidente de trabalho ou de
morte;
[...]
§ 3o. Os serviços de amparo á maternidade e á infancia, os referentes ao lar e ao trabalho
feminino, assim como a fiscalização e a orientação respectivas, serão incumbidos de
preferencia a mulheres habilitadas.
[-.]
k) proibição de trabalho a menores de quatorze anos; de trabalho noturno a menores de
dezesseis anos e, em indústrias insalubres, a menores de dezoito anos e a mulheres;
1) assistência médica e higiênica ao trabalhador e à gestante, assegurado a esta, sem
prejuízo do salário, um período de repouso antes e depois do parto;
[...]•
A Constituição dos Estados Unidos do Brasil promulgada a 18 de setembro
U
II - proibição de diferença de salário para um mesmo trabalho por motivo de idade, sexo,
nacionalidade ou estado civil;
[••■]
IX - proibição de trabalho a menores de quatorze anos; em indústrias insalubres, a
mulheres e a menores de dezoito anos; e de trabalho noturno a menores de dezoito anos,
respeitadas em qualquer caso, as condições estabelecidas em lei e as exceções admitidas
pelo juiz competente;
X - direito da gestante a descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do emprego nem
do salário;
[...]
XIV - assistência sanitária, inclusive hospitalar e médica preventiva, ao trabalhador e à
gestante;
[...]
XVI- previdência, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, em
favor da maternidade e contra as conseqüências da doença, da velhice, da invalidez e da
morte;
10
158, determinava:
[•••]
III - proibição de diferença de salários e de critério de admissões por motivo de sexo, côr
e estado civil;
[•••]
X - proibição de trabalho a menores de doze anos e de trabalho noturno a menores de
dezoito anos, em indústrias insalubres e êstes e às mulheres;
[...]
XVI - previdência social, mediante contribuição da União, do empregador e do
empregado, para seguro-desemprêgo, proteção da maternidade e nos casos de doença,
velhice, invalidez e morte;
[...]
trabalho da mulher. Avançada, abordou, na Seção V do Capítulo III, nos artigos 391
assim dispõe:
Não constitui justo motivo para a rescisão do contrato de trabalho da mulher o fato de
haver contraído matrimônio ou de encontrar-se em estado de gravidez.
Parágrafo único. Não serão permitidos em regulamentos de qualquer natureza, contratos
coletivos ou individuais de trabalho, restrições ao direito da mulher ao seu emprego, por
motivo de casamento ou de gravidez.
3 CA M PA N H O LE, Adriano, CA M PA NH O LE, Hilton Lobo. Todas as Constituições do Brasil. 3. ed. São Paulo :
Atlas, 1978.
4 OLIVEIRA, Juarez de (Org.). Consolidação das Leis do Trabalho. 15. Ed. São Paulo : Saraiva, 1983.
O artigo 392 do texto consolidado proíbe o trabalho da mulher grávida nas
ser dilatado para 2 semanas antes e duas depois, também condicionado a atestado
Segundo o artigo 393, a empregada afastada fará jus aos salários integrais;
no caso de receber remuneração variável, esta será calculada pela média dos últimos
anteriormente ocupada.
O artigo 394 permite que, se o labor for prejudicial à gestante, esta possa
romper o compromisso.
jornada de trabalho 2 intervalos de meia hora cada um, para que a mãe possa
amamentar o filho (artigo 396).
último, o artigo 400 assevera que os locais destinados à guarda dos filhos de
instalações necessárias.
Com o se vê, em linhas gerais, a C L T prevê normas específicas e até
minuciosas de proteção à maternidade, embora para algumas delas inexista sanção
em caso de descumprimento.
5 FIN A L ID A D E D A P R O T E Ç Ã O À M A T E R N ID A D E ,
D ISP O SIÇ Õ E S C O N ST IT U C IO N A IS E
D ISP O SIÇ Õ E S C O N SO L ID A D A S
o seu físico, que sofre desgastes, pois durante 9 meses ela alimenta dentro de si outra
vida. Melhor, portanto, que não lhe sejam exigidos muitos esforços, considerando-se
Por outro lado, o filho necessita dos cuidados da mãe, mormente nos
primeiros tempos de vida, demandando total atenção, especialmente em relação à
amamentação.
Direitos Sociais, previu-se o direito de licença à gestante, com duração de 120 dias.
Criou, ainda, a Constituição da República, no artigo 10, II, "b", do Ato das
à gestante desde a confirmação da gravidez até 5 meses após o parto. N o artigo 7o,
estabelece que a Assistência Social terá como um dos objetivos "a proteção à família,
livro D ireito Social Brasileiro, esclarece qüe em nosso país existia a fiscalização dos
C A RD O N E , Marly. Proteção à maternidade. Licença-paternidade. In: ROM ITA, Arion Sayão (Coord.). Curso de
direito constitucional do trabalho. São Paulo : LTr, 1991. v. 1, p. 275.
OLIVEIRA, Juarez de (Org.). Constituição da República Federativa do Brasil. 8. Ed. São Paulo : Saraiva, 1993.
14
maior número (49,3%) e a América Latina pelo menor (19,6%). Acentua que ainda
existe discriminação em relação ao trabalho feminino, e uma das suas causas seria o
[...] Esse último item vem-se minimizando com a universalização da tese de que o ônus
do amparo à maternidade deve caber à sociedade, como um todo, e não aos
empregadores, em relação direta com as respectivas empregadas. Aliás, a "Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher", aprovada
pela O N U em 1974 e ratificada pelo Brasil a 1° de fevereiro de 1984 (Decreto de
Promulgação n° 89.460, de 20/03/84), preceitua que os direitos relativos ao emprego
sejam assegurados "em condições de igualdade entre homens e mulheres" (art. 11); mas,
adverte que as medidas "destinadas a proteger a maternidade não se considerará
discriminatória (§ 2o do art. 4o).4
CESA RIN O JR., A.F. D ireito social brasileiro. Rio de Janeiro : Freitas Bastos, 1957. v. 1, p . 171.
SU SSEKIND, Arnaldo. Direitos sociais na Constituinte. Rio de Janeiro : Freitas Bastos, 1986. p. 71-72.
6 LIC E N Ç A -M A T E R N ID A D E
6.1 FU N D A M E N T O
atribuir à relação de emprego a mais ampla duração. Tal suspensão de atividade é útil
à empresa, que conserva o laço que a une à empregada, e a esta, que tem assegurados
ausente.1
percepção de salários:
A mulher grávida não pode trabalhar por algum tempo antes e. depois do parto.
É, exatamente, nessa ocasião que ela mais necessita de seu salário, para adquirir roupas
para seu filho, para cobrir as despesas com medicamentos e médicos, para recuperar as
energias perdidas naquele dramático transe biológico, etc. Por isso, a lei nacional
estabeleceu um prazo durante o qual a empregada poderá repousar, sem prejuízo de sua
remuneração. MESMO SE A EMPREGADA RECEBER O "AUXÍLIO M ATERNI
DADE" DA INSTITUIÇÃO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, o empregador não ficará
eximido de lhe assegurar o salário correspondente ao repouso legal (art. 393, parágrafo
/ •2 \
umcoj.
PLÁ RO D RIG U EZ, Américo. Princípios de direito do trabalho. São Paulo : LTr, 1993. p. 141-176.
2
RU SSO M AN O , Mozart Victor. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. Rio de Janeiro : José Konfino,
1952. v. 1, p. 494.
16
6.2 T ER M IN O LO G IA
6.3 N O RM AS LEGAIS
gestante terá a duração de 120 dias. Tal norma apresenta caráter "auto-aplicável".
6.5 PRAZOS
qual deve ser visado pela empresa. O atestado médico se justifica, sem dúvida, pelo
fato de que esse profissional, com seus conhecimentos, pode delimitar a data prová
vel do parto.
aí uma questão, qual seja a de como se configura esse período: como suspensão ou
3 SUSSEKIND, Arnaldo et al. Instituições de direito do trabalho. 12. ed. São Paulo : LTr, 1991. v. 1, p. 485.
18
via oblíqua, deixa entender que para o empregado o prazo seria de interrupção:
“Resulta que o período de 120 dias fixado no art. 7o, XVIII, da Constituição só pode
tempo de serviço para todos os efeitos legais, chega-se à conclusão de que o prazo em
6.8 PRINCÍPIOS
4 RU SSO M A N O , Mozart Victor. Curso de direito do trabalho. 4. ed. Curitiba : Juruá, 1991. p. 145.
5 M A G A N O , Octavio Bueno. Direito individual do trabalho. 3. ed. São Paulo : LTr, 1992. v. 2, p. 316.
6 M A RAN H ÃO , Delio. Direito do trabalho. Rio de Janeiro : Fundação Getúlio Vargas, 1966. p. 121-122.
19
pagamento dos outros 36 dias de salário. Tal problema desde logo foi enfrentado
licença de 120 dias e depois se entender com o IAPAS. Esclareceu que Marcelo
PIM EN TEL perfilhava o entendimento de que a licença à gestante não seria auto-
previdenciário cujo prazo seria de até dois anos e meio após a promulgação da Carta
Entendemos, que assiste razão à primeira doutrina que considera o dispositivo auto-
aplicável cabendo às empresas a concessão do benefício imediatamente e depois deduzi-lo
na Guia de Recolhimento Mensal da Contribuição do IAPAS. Para nós, o custeio da
licença já existe, bastando um simples remanejamento do orçamento do Ministério
competente para cobrir as despesas necessários."
7 N A SCIM EN TO , Amauri Mascaro. Direito do trabalho na Constituição de 1988. São Paulo : Saraiva, 1989.
p. 184-185.
g
CHEIB, Ronaldo Maurílio. Inovações constitucionais no direito do trabalho. Rio de Janeiro : Aide, 1989. p. 91.
20
pelo pagamento dos salários durante esses 36 dias de afastamento — prazo não
não vinculam os juízos inferiores, porém traçam linhas mestras que demonstram o
SAAD, Eduardo Gabriel. Constituição e direito do trabalho. São Paulo : LTr, 1989. p. 131-132.
TERAYAM A, Míriam Rachel Ansarah Russo (Org.). Jurisprudência trabalhista. São Paulo : IOB, 1991. p. 354-355.
21
junto ao Instituto Nacional do Seguro Social, até mesmo via judicial, se necessário,
que a licença não beneficiaria as mães que adotam filhos, pois a norma consolidada e
Porém tal forma de interpretação deve ceder lugar a métodos mais eficazes,
BO LETIM CIRCU LA R DA AM ATRA. v. 9, n. 2, 18 jan. 1995. Anexo 4. [Cópia xerográfica remetida aos juizes.]
22
artigo 20 proíbe qualquer distinção entre filhos, adotivos ou não. Uma vez adotado,
esse filho possui os mesmos direitos e deveres de qualquer outra espécie de filho,
segundo o disposto no artigo 41. Assim sendo, o filho adotivo merece também um
período de 120 dias de convivência com sua mãe, pois também necessita de carinho e
que obteve filho através de gravidez. Esses períodos foram previstos para se preparar
atestado médico. Porém, in casu inexistiria atestado médico, mas sim a mera
integração mãe-filho independe desse fator. Casos de má-fé por parte da empregada
por justa causa, como ato de indisciplina, enquadrável no artigo 482, "h", da C LT.
As questões abordadas necessitam de regulamentação através de normas
específicas.
Embora recente o assunto e encontrando posições divergentes, também a
Justiça do Trabalho vem demonstrando que a licença-maternidade beneficia as mães
“Mãe adotiva. Mulher que, na qualidade de mãe adotiva, adota recém-nascido, tem
direito a concessão de licença-maternidade de 120 dias, sem prejuízo do seu salário e do
emprego." (Ac. TRT 9 a Reg. I a T - RO 7623/90 - Rei. designado: Juiz Carlos Buck,
DJPR 07.08.92 - p . 271)
"Licença maternidade da empregada adotante. A licença maternidade de que trata o art.
7o, XVIII, da Carta Magna, se estende a empregada adotante, quer pelo exercício do
nobre mister de cuidar e amparar o recém-nascido, quer pela existência da vedação
constitucional de discriminação entre o filho natural e o adotado (art. 227, parágrafo 6o,
CF)." (Ac. TRT 2a Reg. 8a. T. - Proc. 02910001606 - Rei.: Juíza Silvia Regina Pondé
Galvão Devonald, D O /SP 07.01.93, Ementário de Jurisprudência Trabalhista do TRT
da 2a. Reg., Ano XXVIII, no. 07/93).12
LICEN ÇA M ATERNIDADE. MÃE ADOTIVA. DIREITO - A mãe adotiva também
tem direito a licença-maternidade, mesmo que o adotado não seja recém-nascido. A lei,
ao proteger a maternidade e a infância, não distingue entre mãe biológica e mãe adotiva.
Aplicação da Constituição Federal de 1988 (arts. 6o e 227, parágrafo 6o) e do Estatuto da
Criança e do Adolescente (arts. 4o e 41).13
Juízo a quo, o mesmo ocorrendo com a ação principal; mas finalmente o Juízo ad
Mãe é mãe, seja ela biológica ou adotiva. De outro lado, a proteção à maternidade e à
infância não se limita à proteção da mãe, mas também do(s) filho(s), visando assegurar a
permanência da mãe junto à criança, com o objetivo de estreitar os laços afetivos que os
une, garantindo um saudável desenvolvimento integral da criança. Isso se mostra
necessário qualquer que seja a origem da maternidade, biológica ou legal. Ou, ao
contrário, quer-me parecer que no caso de filho adotivo a necessidade desse estreito
contacto físico-psicológico entre mãe e filho se mostra ainda mais presente. A
empregadora recorrida insiste na alegação de que o filho adotiva da reclamante contava,
na ocasião, com a idade de 7 meses, como um dos argumentos para repelir a pretensão.
Ora, mesmo um leigo sabe (ou deveria saber) que a adoção de uma criança com essa
idade é mais problemática e mais traumática que a adoção de um recém-nascido. Ao
deixar a casa de seus pais naturais, biológicos, já com 7 meses de idade, para passar a
conviver com uma nova família, com pais substitutos, a criança vai carecer de muito
maior contacto, afeto, carinho, atenção, cuidado, compreensão, tolerância, orientação,
dedicação, paciência e amor do que um recém-nascido que não chegou a conhecer os pais
naturais.
[...]
BONFIM , Benedito Calheiros, SA N TOS, Silvério dos. Dicionário de decisões trabalhistas. 24. ed. Rio de Janeiro :
Edições Trabalhistas, 1994. p. 452-341.
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 9a Região. Ac. 3a T. 6035/93. Recurso ordinário 653/92. Recorrente:
Maria Cristina Zaina Cubas. Recorrido: Fundação da Universidade Federal para o Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Cultura.
Relator: Juiz Zeno Zimm. D iário da Justiça do Estado do Paraná, Curitiba, p. 56, 11 nov. 1993.
24
uma que se encontra em estado gravídico e outra que adotará uma criança que irá
com o filho, essencial nos primeiros meses de vida, acrescida, no caso da primeira, da
expedindo normas. Por ora, a questão deveria ser pactuada no âmbito do Direito
servidora federal que adota ou obtém guarda judicial de criança até 1 ano de idade; o
mesmo artigo, no parágrafo único, estabelece que a licença será de 30 dias se a
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 9a Região. Ac. 3a Turma 6099/93, 5 maio 93. Relator Zeno ZIMM.
Revista LTr, São Paulo, a. 58, n. 5, p. 601-602.
25
[...] E é claro que a doméstica terá direito a licença de cento e vinte dias. E é claro que vai
tirar tal descanso onde julgar mais conveniente: não na casa da patroa, é claro. Com
direito a mordomias e televisão, mais geladeira à disposição. E cafezinho na bandeja para
suas visitas normais — servido pelo patrão, certamente doutor de anel no dedo.15
Tem direito, então, a 120 (cento e vinte) dias de licença. Onde passará esse período? Há
duas hipóteses: a de que reside no emprego e a de que reside fora. A segunda. A primeira
é mais complicada, porque a patroa não pode ficar cuidando da empregada ou contratar
nova empregada para cozinhar, lavar e passar para a empregada em licença. E se a patroa
trabalhar fora e precisar gozar férias? E se precisar viajar? Nisso não pensou o legislador,
mas o problema deve ser resolvido, amigavelmente, entre patroa e doméstica. Como
dissemos antes, a doméstica deverá passar esse período fora do emprego.16
TEIXEIRA , João Régis Fassbender. Trabalho doméstico. Curitiba : Juruá, 1992. p. 88.
R O C H A , Silvia Regina da. O trabalho da mulher à luz da Constituição de 1988. Rio de Janeiro : Forense, 1991.
p. 54.
26
este termina antes de 4 semanas que precedem o parto, não terá direito à licença, e se
dispensada sem justa causa: "A garantia de emprego à gestante não autoriza a
reintegração, assegurando-lhe apenas o direito a salários e vantagens correspondentes
Assim está disposto no A D C T : “Art. 10. Até que seja promulgada a lei
empregador dar por findo o contrato de trabalho, seja em caso de ato faltoso do
7.1 IN ÍC IO D A E S T A B IL ID A D E
1 SUSSEKIND, Arnaldo et al. Instituições de direito do trabalho. 12. ed. São Paulo : LTr, 1991. v. 1, p. 626-627, 636.
28
gravídico, ele não poderia despedir a obreira. Tal posição representa um avanço
posicionamento:
2 CA RRIO N , Valentin N ova jurisprudência em direito do trabalho. São Paulo : Revista dos Tribunais, 1994. p. 177.
BRASIL. Tribunal Regional do T r a b a l h o da 9a Região. Acórdão 5a T. 15345/94. Recurso ordinário. Relator: Juiz
Juvenal Pedro Cim. Boletim de Jurisprudência, p. 176-177, jul./ago. 1994.
4 JU R ISPR U D ÊN CIA TRABALHISTA. Curitiba : Instituto de Pesquisas Jurídicas Bonijuris, a. 5, n. 118, p. 1615-1616,
verbete 14686, 30 nov. 1994.
29
assegurada constitucionalmente. Despedida sem justa causa, faz jus a obreira à percepção
dos valores equivalentes aos salários e demais vantagens, como. se na ativa estivesse, ao
encargo do empregador." (TRT - 3a. Reg. - RO-05704/94 - 23a. JC J de Belo Horizonte -
Ac. 4a. T - unân. - Rei: Maurício Pinheiro de Assis - Fonte: DJM G II, 20.08.94, pág.
122)5
citada, a solução deve provir de outro ângulo. Carlos Alberto Gomes CH IARELLI,
sem desprezar a teoria objetiva, não deixa de lado o fato de que o empregador deve
ser cientificado do estado gravídico. Alega que a norma constitucional não fixa um
dia específico para o início da estabilidade, mas um instante, para que a empregada
tenha o direito de preservar seu emprego, instante esse definido por quem seja
Por exemplo, seria despedida sem justa causa, aguardaria vários e vários meses e
determinação judicial os salários sem trabalhar. É evidente que esse não seria o
6 CHIARELLI, Carlos Alberto. Trabalho na Constituição. São Paulo : LTr, 1989. v. 1, p . 159.
7 RU SSO M AN O , Mozart Victor. Curso de direito do trabalho. 4. ed. Curitiba : Juruá, 1993. p. 408-409.
30
subsidiária ao Direito do Trabalho, já que com este não colide e inexiste norma
específica trabalhista: "Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do
devedor, se lhe torne impossível abster-se do fato, que se obrigou a não praticar".
8 JU RISPRU D ÊN CIA TRABALHISTA. Curitiba : Instituto de Pesquisas Jurídicas Bonijuris, a. 5, n. 113, p. 1547,
verbete 14116, 15 set. 1994.
31
Saliente-se que o aviso prévio possui projeção para todos os efeitos legais,
janeiro de 1990 a I o de maio de 1993 e foi despedida nesta última data sem justa
1993 — dentre outras, o aviso prévio, 5/12 de décimo terceiro salário, 5/12 de férias
empresa só são devidos no caso de despedida sem justa causa, nos termos do artigo
requisitos legais. Quanto aos salários do período de afastamento, eles não devem ser
pagos porque não houve culpa do empregador pelo afastamento, durante o qual, é
disposições legais, despedisse sem justa causa a obreira, não obstante ter recebido
recebera o benefício, mas que haviam sido deferidos salários alusivos aos meses em
empregador, caberia ao órgão que o concedeu adotar as medidas cabíveis para seu
ressarcimento.
Art. Io. A inspeção do trabalho dará tratamento prioritário, entre os atributos de rotina,
à constatação de casos simulados de rescisão do contrato de trabalho sem justa causa,
seguida de recontratação do mesmo trabalhador ou de sua permanência na empresa sem a
formalização do vínculo, presumindo, em tais casos, conduta fraudulenta do empregador
para fins de aplicação dos §§ 2o e 3o do artigo 23, da Lei 8.036, de 11 de maio de 1990.
Art. 3o. Constatada a prática da rescisão fraudulenta, o agente da inspeção do trabalho
levantará todos os casos de rescisão ocorridos nos últimos vinte e quatro meses para
verificar se a hipótese pode ser apenada em conformidade com o artigo Io desta Portaria.
Parágrafo único. O levantamento a que se refere este artigo envolverá também a
possibilidade de ocorrência de fraude ao seguro-desemprego, hipótese em que será
concomitantemente aplicada a sanção prevista no artigo 25 da Lei n° 7.998, de 11 de
janeiro de 1990.11
fazendo, sempre poderá provar que a volta ao trabalho decorreu de imposição legal.
conhecendo o empregador o seu estado gravídico. Como se viu, ela deve ser
do aviso prévio, vem a descobrir que está grávida e, portanto, fora despedida sem
que o empregador tivesse conhecimento do seu estado, ela deve ser readmitida, mas
sem receber os salários e demais consectários legais do período de afastamento, nem
ter computado esse período como tempo de serviço, porquanto nessas condições
nenhuma das partes citadas pode ser responsabilizada pelo período de inexecução
contratual.
7.4 R EIN T E G R A Ç Ã O
grávida despedida tem direito à reintegração, isto é, a proteção mais ampla, com
7.5 R E N Ú N C IA
salários, desde que seja observada a formalidade contida no artigo 500 da C LT. Logo,
7.6 C O N V ER SÃ O EM IN D EN IZA Ç Ã O
que se tenha expirado o prazo da estabilidade, desde que antes a empregada tenha
renúncia à estabilidade.
Além das medidas já citadas, outras foram previstas pelo legislador para
assegurar proteção à maternidade.
8.1 M U D A N Ç A DE F U N Ç Ã O
de atestado médico, conforme preceitua o artigo 392, § 4o, da CLT. Certo é que
existem funções que se tornam dificultosas para uma mulher grávida desempenhar,
como aquelas que exigem esforço físico acentuado. Embora a norma legal não
isto é, com o fim do estado gravídico, a obreira poderá voltar à sua função anterior
sem que se lhe apliquem os efeitos do artigo 468, caput, da C LT , pois a exceção é
prevista no próprio diploma legal, justamente em benefício da trabalhadora, aliás
por tal benesse. Tal proteção está exposta no artigo 395 da C LT. Mozart Victor
[...] Para tanto, é indispensável que ela faça a prova do fato através de atestado médico
oficial, substituído pelo atestado particular apenas nas cidades em que não houver
repartição federal, estadual ou municipal encarregada de serviços de higiene ou, havendo
38
tais repartições, não forneçam atestados ao público. E esse atestado, além de indicar o
fato e a data em que êle se verificou, deverá declarar, sob a inteira responsabilidade do
profissional que o subscreve, que não se tratou de aborto criminoso. Se não fôr assim,
não haverá direito ao descanso com remuneração. Sendo o aborto provocado ilegalmente
um delito previsto e punido pelo Direito Penal, seria contraditório que o Direito do
Trabalho fosse premiá-lo com um descanso remunerado.1
assegura (artigo 207, § 4o) 30 dias de repouso remunerado em caso de aborto atestado
401 da C LT , sendo essa uma das alternativas. Outra interpretação poderia ser
serviço extra, segundo o artigo 71, § 4o da C LT, sendo esta a mais correta, uma vez
que a mãe teria gastos pecuniários com a amamentação artificial; além disso, o
1 RU SSO M AN O , Mozart Victor. Comentários â Consolidação das Leis do Trabalho. Rio de Janeiro : José Konfino,
1952. v. 1, p. 504.
2 CA RR IO N , Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 18. ed. São Paulo : Revista dos Tribunais,
1994. p. 253.
39
tais intervalos independem dos demais intervalos, devendo ser, portanto, remune
Art. V - 1. Se a mulher amamentar seu filho, será autorizada a interromper seu trabalho
com esta finalidade durante um ou vários períodos cuja duração será fixada pela
legislação nacional.
2. As interrupções do trabalho para fins de aleitamento devem ser computadas na
duração do trabalho e remuneradas como tais nos casos em que a questão seja
regulamentada pela legislação nacional ou de acordo com esta; nos casos em que a
questão seja regulamentada por convenção coletiva pertinente.4
de creches e pré-escolas.
3 TEIXEIRA , João Régis, SIMM, Zeno Teoria prática do direito do trabalho. São Paulo : Revista dos Tribunais, 1981.
p. 292.
4 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito internacional do trabalho. 2. ed. São Paulo : LTr, 1986. p. 486.
40
instituir creches ou berçários nas vilas operárias com mais de 100 casas e em centros
cimentos que dispõem de local apropriado para guarda e assistência de filhos de mães
período de amamentação. Esse artigo admite, ainda, que tal prerrogativa seja suprida
com outras entidades. Tal assunto, de que a creche pode ser própria ou conveniada, é
seguinte ementa:
5 GOM ES, Orlando, G O TTSCH A LK, Elson. Curso de direito do trabalho. 10. ed. Rio de Janeiro : Forense, 1987.
v. 1-2, p. 515.
6 SUSSEKIND, Arnaldo et al. Instituições de direito do trabalho. 12. ed. São Paulo : LTr, 1991. v. 2, p. 874.
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 2a. Região. Ac. 5a. Turma 35.591/95. Relator:'Francisco Antonio de
Oliveira. 28 jun. 1993. LTr, São Paulo, a. 59, n. 1, p.61, 1995.
41
escolhida pela mãe, pelo menos até os 6 meses da criança; a benesse deve ser
as empregadas devem ter ciência de tal sistema e dos procedimentos para sua
à exigência em questão.
Lei 8.742/93.“
por via oblíqua, protege a maternidade, qual seja a licença-paternidade, que será
comentada de forma breve.
de filho, devendo ser concebida como prestação previdenciária. Assevera, ainda, que
período em que os gastos com a criança são maiores. Assim esclarece Arnaldo
SU SSEKIN D :
9 M A G A N O , Octavio Bueno. Direito individual do trabalho. 3. ed. São Paulo : LTr, 1992. p. 317.
43
apresentação da certidão de registro, salvo se a futura lei admitir como válido o atestado
da maternidade onde ocorreu o parto.10
assunto, expõe que a Assembléia Nacional previu a integração do pai em uma família
11 CH IA RELLI, Carlos Alberto Gomes. Trabalho na Constituição. São Paulo : LTr, 1989. p. 174-175.
9 A LG U M A S PA R T IC U L A R ID A D E S
do Capítulo II, nos artigos 396 a 409, aludia à "Proteção à Maternidade". Segundo o
artigo 399, se em fraude à lei ou por culpa do empregador a empregada prestasse
serviços durante o período da licença, além do salário normal teria direito ao dobro
do que lhe seria devido pelo repouso compulsório. Já o artigo 400 dispunha que se a
[...]
IV - a proteção do trabalho da mulher e o amparo à maternidade; a proteção do trabalho
do menor, dos idosos e dos minusválidos, das populações indígenas e tribais e dos
trabalhadores migrantes;
M ORAES FILH O , Evaristo. Anteprojeto de código do trabalho. Rio de Janeiro : IUP, 1963. p. 164.
2 BO LETIM C IRCU LA R DA AMATRA. Curitiba, a. 9, n. 2,. 18 jan. 1995. Anexo 5. [Cópia xero enviado aos juizes.]
45
de proteção à maternidade. Mas isso não ocorre. Surgem, então, as penalidades aos
um caráter educativo e punitivo aos empregadores, para que não mais cometam tais
falhas.
Deve-se registrar, entretanto, que os preceitos que visam a assegurar condições especiais
de amparo à mulher vêm recebendo uma tendência de reformulação que, na verdade,
elimina dispositivos entendidos de caráter protecionista discriminatório.
Há um movimento acentuado visando à supressão dessas disposições legais, em alguns
casos pelo entendimento que a igualdade de tratamento decorre do princípio
constitucional que proíbe diferenças por motivo de raça, cor e sexo. Outros pleiteiam a
supressão ou a redução sob a alegação de que as medidas protecionistas, na verdade,
importam na redução de amplitude de mercado de trabalho para as mulheres.3
transcritas:
Gozarão de estabilidade provisória no emprego, salvo por motivo de justa causa para
demissão:
a) gestante: A gestante, desde a gravidez, até 60 (sessenta) dias após o término da licença
maternidade;
[•■.]•
(Convenção coletiva de trabalho celebrada pela Federação Nacional dos Bancos e outros,
e Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito (FETC) do Estado de Minas
Gerais e outros, firmada em São Paulo, a 15.10.93.)4
3 SUSSEKIND, Arnaldo et al. Instituições de direito do trabalho. 12 ed. São Paulo.: LTr, 1991. v. 2, p. 865.
Esses textos referentes a convenções coletivas de trabalho foram extraídos de cópias xerográficas.
47
do direito à estabilidade, determinam qual das partes contratantes deve ter ciência do
estado gravídico:
prestação jurisdicional fosse rápida as medidas cautelares não seriam utilizadas. Mas
o caráter moroso das ações trabalhistas leva as partes a se valerem dessa prerrogativa
com a intenção de buscar solução célere para seus litígios, ainda que em caráter
mora, segundo o exposto no artigo 801, IV, do CPC. O primeiro pressuposto trata
não deve, por isso, ser produto de um seu capricho ou sentimento meramente
pessoal e sim de justificado temor de dano, de tal modo que o juiz não fique em
dúvida quanto a isso".1
fixação da data para sua licença a fim de cuidar do filho. O empregador nega-lhe tal
direito, afirmando que a licença é incabível para as mães que adotam uma criança.
N ão resta outra alternativa à obreira senão ajuizar uma ação cautelar inominada
porquanto a norma legal deve ser adequada à época atual. A concessão de liminar na
forma inaudita altera pars é ato de competência funcional do juiz presidente de Junta
tanto, o juiz deve observar o exposto no artigo 804 do CPC: "É lícito ao juiz
réu, quando verificar que este, sendo citado, poderá torná-la ineficaz, caso em que
1 TEIXEIRA FILH O , Manoel Antonio. As ações cautelares no processo do trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 1992.
p. 102 e 105.
2 N E G R Ã O , Theotônio. Código de processo civil. 24. ed. São Paulo : Malheiros, 1993. P. 514.
51
pelo princípio da gratuidade. Por outro lado, a análise da norma legal, em vez de
parte contrária não tornaria ineficaz a medida, mas poderia transformar a concessão
concedido após algum tempo, depois da época mais necessária para a convivência
cunho social e até mesmo material, uma vez que teria de transferir a outra pessoa os
cuidados com o filho. A respeito da medida liminar, esclarece ísis de ALM EIDA:
"[...] O que importa é o "temor de um dano jurídico" por parte do requerente; e que,
ciente o requerido de que contra ele se requer medida cautelar, aja ou abstenha-se de
continuar agindo; faça ou desfaça uma situação jurídica, enfim, de forma a causar
prejuízo ao requerente. A natureza do prejuízo não é relevante; pode ser apenas de
ordem processual, sem repercussão material imediata."3
10.4 PR O C ED IM EN TO
também deverá indicar as provas que pretende produzir, segundo preceito contido
no artigo 802 do CPC. Uma vez contestado o feito, se necessário o Juiz designará
3 ALM EIDA, ísis de. Manual de direito processual do trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 1991. v. 1, p. 294.
52
como sucede com o relator nas ações de competência originária dos tribunais, apenas
pode deferir sozinho o pedido concernente à liminar.4
interposta fosse rejeitada, pois de nada adiantaria à obreira gozar da licença de forma
10.5 T U T E L A A N T E C IP A T Ó R IA
4 M ALTA, Christóvão Piragibe Tostes. Prática do processo trabalhista. 25 ed. São Paulo : LTr, 1994. p. 838.
53
causa preceituada no artigo 482, "i", da CLT; por outro lado caso, ela continuasse
trabalhando sem nada alegar, perderia o momento mais precioso e necessário aos
cuidados do filho.
6 TEIXEIRA FILH O , Manoel Antônio. As recentes alterações no processo civil e suas repercussões no processo do
trabalho. Revista Ltr, São Paulo, a. 31, p. 107-109, nov. 1995. Suplemento Trabalhista.
C O N C L U SÃ O
"O direito à licença-gestante, prevista no art. 7o., inciso XVIII da Constituição Federal, é
auto-aplicável, não dependendo de lei regulamentadora do benefício, uma vez que
recepciona o art. 4o. da Lei 6.136/74, que cuida do custeio da Licença-maternidade
devida à empregada gestante, pelo novo texto constitucional." (BRASIL. Tribunal
Superior do Trabalho. Recurso de Revista 31482/91.5. Relator: Ministro Indalécio
Gomes Neto. Dicionário de Decisões Trabalhistas, 24 ed, Rio de Janeiro, Edições
Trabalhistas, 1994, verbete 2364, p. 340)
"A atual Carta Federal ampliou a duração da licença-gestante, assegurando o pagamento
dos respectivos salários relativos ao período de afastamento. O preceito é de eficácia
imediata, pois independe de regulamentação por lei ordinária, já que referia licença é
paga diretamente pelo empregador." (BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Ac. 2a.
T. 764/93. Recurso de Revista 50.674/92.3. Relator: Ministro Vantuil Abdala. Nova
lurisprudência em Direito do Trabalho. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1994, verbete
1664, p. 232)
"O empregador sempre teve a obrigação de adiantar a licença maternidade e essa
obrigação permaneceu com a edição da CF/88 que ampliou o tempo de licenciamento
como direito do trabalhador. O dispositivo constitucional é, sem dúvida, auto-aplicável,
cabendo sua imediata execução pelo empregador, com o conseqüente ressarcimento pela
Previdência Social." (BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho. Ac. 2a. T. 1.939/93 -
Recurso de Revista 39.362/91.0. Relator: José Francisco da Silva. Nova Jurisprudência
em Direito do Trabalho. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1994, verbete 1871, p. 233)
Contrato de Experiência
Empregada Doméstica
Medida Cautelar
"A medida cautelar visando à observância do prazo de 120 dias para a licença à
empregada gestante, com a condenação do empregador do pagamento "dos consectários
legais", abrange, ainda que de forma sutil, os "salários" do período, em face dos próprios
termos da disposição legal que justificou a procedência (art. 7o., XVIII, da CF/88). A tese
do cabimento da medida na hipótese levaria a ação principal à curiosa posição de "ação
de cumprimento" do mela já decidido e, portanto, de ação secundária, mais difícil sendo,
ainda, acolher-se a tese de que, no caso, a cautelar independeria da principal." (BRASIL,
Tribunal Superior do Trabalho, Ac. 3a. T. 35/93, Recurso de Revista 37.691/91.3.
Relator: Ministro Manoel Mendes de Freitas. Nova Jurisprudência em Direito do
Trabalho. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1994, verbete 1.670, p. 233)
Renúncia à Estabilidade
"A empresa ao perceber que tinha demitido empregada grávida, anula a demissão e
determina a sua reintegração. A recusa ao retorno isenta o empregador das obrigações
decorrentes da estabilidade provisória, pois equivale à renúncia ao direito." (BRASIL.
Tribunal Superior do Trabalho. Ac. 2a. T. 5354/94. Recurso de Revista 103.309/94.3.
Relator: Ministro João Tezza. INSTITUTO DE PESQUISAS JURÍDICAS
BONIJURIS - JURISPRUDÊNCIA TRABALHISTA - Curitiba, no. 123 -15.02.95 -
Ano VI - no. 3 - verbete 15123 - p. 1671)
"Indevida a reintegração da empregada gestante ao emprego, se no momento da rescisão,
comunicando ao empregador o estado gravídico, este lhe oferece o retorno, que não é
aceito. Há no caso, renúncia ao direito, valendo lembrar que o que a norma protege é o
emprego." (BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 9a. Região - Ac. la. T. 21489/94
- Recurso Ordinário 11690/93 - Relator: Juiz Armando de Souza Couto. INSTITUTO
DE PESQUISAS JURÍDICAS BONIJURIS - JURISPRUDÊNCIA TRABALHISTA -
Curitiba, no. 121 - 15.02.95 - Ano VI - no. 1 - verbete 14907 - p. 1643)
"Gestante. Estabilidade provisória. A recusa da empregada gestante, amparada por
estabilidade provisória, de retornar ao trabalho, após ser imotivadamente despedida,
retira-lhe o direito à percepção dos salários correspondentes ao período abrangido pela
garantia de emprego." (BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 12a. Região. -
Recurso Ordinário 365/88 - Reclamante: Elisabeth Tencini Pereira Barreto. Reclamada:
Cetil Processamento de Dados Ltda. Relator: Juiz Umberto Grillo - Jurisprudência
Trabalhista - São Paulo, IOB, 1987-1991. p. 227)
"GESTANTE. ESTABILIDADE. RENÚNCIA . Ao empregado estável é garantido o
emprego, precipuamente, não o pagamento de salários, apenas. Renuncia a esse direito a
gestante que vem a Juízo reclamar somente salários, quando já findo o período de
estabilidade provisória, verificando-se, inclusive, que o empregador tomou ciência da
gravidez apenas quando da propositura da ação." (BRASIL. Tribunal Regional do
Trabalho da 9a. Região. Ac. la. T. 8897/93. Recurso Ordinário 566/92 - Relator: Juiz
60
Silvonei Sérgio Piovesan. Boletim de Jurisprudência. Curitiba, Ago/93, verbete 1159, p.
49)
’’Estabilidade da gestante. Dispensa. Restabelecimento de situação anterior. Renúncia. A
proibição à dispensa da empregada gestante, contida no art. 10 das Disposições
Constitucionais Transitórias, assegura a continuidade do vínculo de emprego. A recusa à
proposição da empresa ao restabelecimento de situação anterior configura renúncia à
garantia.’’ (BRASIL, Tribunal Regional do Trabalho da 4a. Região. Recurso Ordinário
2796/90. Relator: Juiz Mauro Augusto Breton Viola. Dicionário de Decisões
Trabalhistas. 24 ed. Rio de Janeiro, Edições Trabalhistas, 1994, verbete 2381, p. 342)
R E FE R Ê N C IA S B IB LIO G R Á FIC A S
1 ALM EIDA, ísis de. M anual de direito processual do trabalho. 4. ed. São
Paulo : LTr, 1991. v. 1.
8 . Ac. 3 a Turma 6099/93, 5 maio 93. Relator Zeno ZIMM. Revista LTr,
São Paulo, a. 58, n. 5, p. 601-602.
18 C O N FE R E N C IA IN T E R N A C IO N A L D EL TRA BA JO . Convênios y
recomendaciones. Ginebra : Oficina Internacional dei Trabajo, 1952.
38 SU PLEM EN T O TRA BA LH ISTA LTr. São Paulo, a. 28, n. 74, p. 466, 1992.