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A Redenção do CEO
Gabriela Lins
Copyright © 2020 Gabriela Lins
Título: O Alfa
Subtítulo: A Redenção do CEO
Autora: Gabriela Lins
Capa: Will Nascimento
Revisão: Angélica Podda
Diagramação Digital: Will Nascimento
— Benjamin, estou com muito medo. Nossa menina... Como vai ser a
vida dela sem…
— Eu sei, querida, mas ficar naquela casa só mataria a nós três. —
Olho no retrovisor do carro que roubamos e vejo o carro de Gabriel a nos
seguir. Sim, roubamos o carro de uma vizinha para fugir.
— Por que seu pai quer fazer isso conosco e ainda colocou Gabriel no
meio? Ele nos odeia! — grito de raiva.
— Eu também queria saber, Júlia, mas neste momento você precisa
ter calma — diz, prestando atenção na estrada. Está muito escuro e chove
bastante em Seattle.
— Ah, vou ter muita calma com um homem nos seguindo em um
carro e querendo nos matar — ironizo.
— Não cansa de ser irônica nem nessas horas?
— Eu não quero morrer. Nossa Isabel só tem cinco anos. — Sinto as
lágrimas molharem meu rosto.
— Não queria que isso acontecesse, e Isabel é esperta. Kátia vai
cuidar dela.
— Deveríamos ter avisado.
— Sabe que não dava tempo. Se Gabriel entrasse, iria matar nossa
menina. Tínhamos de distraí-lo.
— Nós só vamos estar em paz quando morrermos, e Isabel ficará
segura se isso acontecer. Seria melhor acabar de vez com tudo isso. —
Benjamin me olha rapidamente.
— Eu não queria que acabasse assim — murmura e logo ouvimos
disparos de armas contra nós.
— Eu também não, mas é pelo bem de Isabel. Não quero que minha
menina morra.
— Muito menos eu.
Olhamos um para o outro, no momento em que Benjamin para o
carro.
— Eu te amo, Júlia. Até depois da vida.
— Eu também te amo, Benjamin. Até depois da vida.
Mal saímos do carro e fomos alvejados por tiros.
Sinto meu corpo queimar e minha visão escurecer. No momento em
que caio no chão, não sinto, não vejo e não lembro de mais nada.
A luz me chama e é para lá que eu vou!
Epígrafe
- Isabel Mitchell -
Não desejo para ninguém o que eu passei. Sou uma pessoa sem papas na
língua, divertida e alegre, mas tudo isso não passa de uma máscara para
esconder todo meu passado doloroso e triste. Quem me vê assim, hoje em
dia, nunca vai imaginar o que passei há alguns anos. Quero superar isso,
passar por cima de meu passado ruim, e espero que nada estrague meus
planos.
Sou Isabel Mitchell, com cicatrizes profundas de um passado horrível.
Fui ferida fisicamente, mas nada se compara às cicatrizes que carrego na
alma!
- Adam Lavisck -
As pessoas acham que sempre tive tudo na mão, mal sabem elas que estão
completamente erradas. Tudo que consegui foi com meus esforços, e também
com coisas ilegais. Se me orgulho disso? Não, mas eu precisava provar para
meu o pai que eu posso e que sou melhor que ele. Esse homem é uma das
pessoas que mais odeio no mundo, por motivos que não vêm ao caso agora.
Hoje sou conhecido mundialmente como um grande CEO das empresas de
Marketing e Investimentos Lavisck. Comando várias unidades espalhadas por
inúmeros países; não é à toa que sou um dos homens mais ricos do mundo, e
o mais desejado de Seattle. Podem me chamar de arrogante, metido, safado...
Não ligo. Tenho tudo que quero, pois não descanso até conseguir.
Assim como milhares de pessoas, já sofri por amor, ou melhor
dizendo, por uma puta que nunca me mereceu. Por isso me tornei esse
homem frio e calculista, sem medo de nada e de ninguém.
Meu nome é Adam Lavisck. Sou um homem quebrado, de coração
fechado à sete chaves; essa mulher vai ser minha e não existe nada no mundo
que me impeça.
Capítulo Um
- Isabel Mitchell -
Na minha vida tudo foi difícil para conseguir. Desde os meus 5 anos de
idade tive de lutar para sobreviver, pois foi nessa idade que perdi meus pais.
Uma das poucas lembranças que tenho deles é exatamente do dia em que me
deixaram. Antes de tudo acontecer, eles prometeram que nunca me
abandonariam. Como meus pais morreram? Para falar a verdade, eu não sei
bem como, foi tudo muito confuso e ninguém me explicou nada. Eu era
pequena demais e não tinha mais nenhum parente vivo. Tive de ir para um
orfanato. A única coisa que soube foi que meus pais foram enterrados sem
cerimônia. Foram enterrados e pronto.
Se a morte deles ainda dói? Claro que sim! Porque se eles não
tivessem morrido eu não teria sofrido o tanto que sofri até dois anos atrás.
Hoje, aos dezenove anos, já passei por tanta coisa que daria até para
escrever um livro. Já fui espancada, quase estuprada, já matei e fui parar em
um reformatório. Sim, já matei. Mas eu não tive escolha e Deus que me
perdoe, mas não me arrependo disso nem um pouco. O que faço da vida
hoje? Eu era faxineira de uma casa de strip, e agora que sou maior de idade,
trabalho como dançarina. Não me envergonho porque não estou fazendo nada
de errado. Não me prostituo; primeiro porque é proibido aqui na boate Hiz's e
também porque ninguém aqui tem coragem. Pelo menos eu não tenho.
Há dois anos o dono da boate, o senhor Hiz, me tirou das ruas e, se
não fosse por ele, eu teria sido estuprada. Eu tinha dezessete anos quando fui
morar com ele; no começo tive medo porque ele era um desconhecido e
poderia estar se aproveitando, mas, quando cheguei em sua casa, conheci a
mulher dele, Jena, e o filho deles, Pedro, que agora está com dez anos de
idade e é uma fofura. Ele é como meu irmão mais novo. Vivo com eles, que
me tratam como uma filha.
Três meses atrás consegui um estágio em uma empresa muito
importante. Ganho um dinheiro bom, que estou juntando para comprar uma
casa. Não quero viver às custas dos outros a vida toda. Hiz é uma ótima
pessoa, assim como sua família, mas às vezes me sinto uma intrusa por estar
usufruindo das coisas deles, mesmo que ele insista para que eu não me sinta
assim. Eu poderia largar meu emprego de dançarina na boate, mas amo
dançar. A dança me distrai e me ajuda a equilibrar a mente, me faz esquecer
um pouco do mundo à minha volta e do meu passado por alguns minutos.
Hoje é segunda-feira, dia em que pela manhã vou para a faculdade de
Administração e à tarde tenho estágio. Sou secretária da secretária do dono da
empresa. Estranho, não? Tenho sorte de a Abby ser um amor de pessoa e
também ser sobrinha do senhor Hiz. O resto das mulheres daquela empresa
são todas um bando de vacas interesseiras. Várias vezes cansei de ouvir
gemidos vindos da sala do senhor Adam Lavisck. Ele é lindo, um deus grego,
mas o que tem de bonito tem de arrogante, cafajeste, metido e mulherengo.
Cada dia é uma mulher diferente que entra naquela sala. Eu acho incrível
como elas não se tocam que ele só vai querer uma foda de minutos e depois
tchau. Bando de burras.
Me arrumo e opto por uma saia-lápis cinza, acima dos joelhos, e uma
blusa branca de manga comprida, saltos pretos com o solado vermelho.
Prendo meu cabelo loiro-escuro em um rabo de cavalo alto e como odeio
maquiagem, não uso. Checo minha bolsa e meu material da faculdade e já
estou pronta. Quando chego à cozinha, vejo Hiz, Pedro e Jena tomando café,
o que me faz olhar no relógio e me dar conta de que estou superatrasada.
Tenho de estar na faculdade às 08h30 e já são 08h20. Demoro vinte minutos
até chegar lá de ônibus.
— Bom dia, família! Tchau, família! — cumprimento-os correndo,
pronta, e sigo em direção à porta.
— Bel, não vai tomar café? Ontem você não jantou — Jena fala.
— Prometo comer algo na rua, mas agora preciso ir.
— É bom comer mesmo. Vou ligar para Abby e perguntar se você
comeu algo enquanto trabalhava, mocinha. — Vou até Hiz e dou um beijo em
sua bochecha. Ele é como um pai para mim, assim como Jena é como uma
mãe. Eu os amo muito.
— Pode deixar, Hiz. Sabe que se tem uma coisa nesse mundo que
adoro fazer é comer. — Jena ri.
— Nunca vi uma pessoa comer como ela. Parece ter mais de um
estômago. — Pedro diz e eu lhe mostro a língua.
Nossa, que mulher madura eu sou, pensei.
— Sei que vocês me amam muito, mas realmente preciso ir. Até mais
tarde. — Saio de casa e como o ponto de ônibus é logo ao lado, fica mais
fácil para a atrasadinha aqui.
As aulas passam voando. Gosto desse curso, mas minha paixão
sempre foi a escrita. Amo ler e escrever, e se Deus quiser, um dia serei uma
grande escritora. Só estou nele mesmo por causa do estágio, meu patrão exige
que os estagiários tenham feito ou estejam fazendo Administração.
Quando saio do curso, olho no meu celular e percebo que já está na
hora do almoço e como não comi nada, é melhor parar e comer algo. Vou até
a lanchonete que fica perto da faculdade de Seattle, a melhor da cidade, entro
e peço um hambúrguer enorme e um copo gigante de refrigerante. Não me
levem a mal, mas amo comer, ainda mais se for besteiras. Não tenho essa de
que “não como isso” ou “aquilo” para não engordar. Na verdade, acho que
sou magra de ruim, pois como demais e não surte efeito algum. Acho que eu
tenho um buraco negro no estômago.
Quando saio da lanchonete estou três minutos atrasada para meu
estágio. A empresa Lavisck fica a uma quadra daqui e vou sempre andando,
só que desta vez vou correndo mesmo.
Chego feito uma desesperada na empresa e pedindo aos céus para que
não notem meu atraso. Corro em direção ao elevador, ignorando os olhares e
falatórios das pessoas. Acho que esse elevador está de sacanagem com a
minha cara. Três minutos depois e estou no vigésimo andar, o último. Corro
até a sala de Abby, entro quase caindo e ela me olha com aquele olhar tipo
"onde você estava, rapariga?". Coloco um sorriso cínico no rosto e com a
maior cara de pau digo:
— Abbynha, meu amor... Vamos ao trabalho. — Me acomodo em
minha mesa, que fica na sala de Abby.
A sala é grande o suficiente para nós duas, com duas paredes brancas
e uma em um tom acinzentado, a outra parede é toda feita de vidro espelhado,
nos dando uma perfeita visão do centro de Seattle.
— Pode me explicar o porquê desse atraso? — Questiona ela, me
encarando com direito a mão na cintura e tudo.
— Me desculpe, Abby. Acontece que esse final de semana foi puxado
lá na boate. — Recosto na cadeira.
— Bel, olha... Você deveria largar esse emprego. Não sei como Hiz
ainda não tirou você daquele lugar. Você não precisa disso... — Me chama a
atenção e eu detesto quando ela diz essas coisas.
— Abby, não adianta, eu gosto de dançar! Hiz por várias vezes pediu
que eu saísse, mas não dá. A dança me ajuda e você sabe que preciso de algo
para me distrair. Hiz também sabe e por isso parou de insistir. Não acho nada
de errado, afinal, não é nenhum crime que estou cometendo — digo cansada.
— Tudo bem! Desculpe, é que fico com medo de alguém daqui
descobrir isso e te julgar. Você sabe que muitas dessas mulheres são vistas
como prostitutas, o que na maioria das vezes não é verdade. — O que é fato,
já vi muitas serem humilhadas por isso.
— Eu tomo cuidado. Sempre uso uma máscara para ninguém me
reconhecer e ainda por cima a iluminação de lá dificulta enxergar direito as
feições de quem está no palco.
— Está bem. Mas cuidado, viu?! — pede, se senta e começa a mexer
nos papéis.
— Pode deixar — concordo olhando para o computador, checando e-
mails e documentos.
Abby é uma morena dos olhos castanhos, cabelo escuro e lábios
carnudos, muito bonita, que chama a atenção por onde passa. Ela é como a
irmã que nunca tive.
— Isabel, preciso que vá até a sala do senhor Lavisck e leve alguns
contratos que ele tem de avaliar e assinar. — Assinto, pego os papéis e
quando já estou na porta, ela diz:
— Não arrume confusão, por favor. — Sorrio e saio da sala.
Abby me conhece. Sabe que sou bem atrevida, mas sei ser educada
quando são comigo.
Antes de entrar, bato na porta e escuto um "entre". Avisto o senhor
Lavisck sentado em sua cadeira, com a atenção voltada para o computador.
— Com licença. Vim trazer alguns contratos para o senhor avaliar e
assinar. Eles já foram avaliados por Abbygrey e está tudo certo, mas ela
pediu para o senhor dar uma olhada e conferir se está tudo nos padrões. —
Tento parecer o mais profissional possível.
— Onde está a senhorita Butter? — Ele pergunta sem me olhar. Que
falta de educação!
— Ela está muito atarefada, organizando suas reuniões e viagens,
como o senhor pediu — respondo calmamente.
— E você, quem é? — fala, agora me olhando.
Como pode uma pessoa não saber quem trabalha para ele?
— Isabel Mitchell. Sou estagiária aqui e ajudo a Abbygrey. — Estou
a um fio de perder a paciência.
— Mitchell? Seu sobrenome é Mitchell? — indaga surpreso.
— Sim, senhor. — Além de irritante, é surdo.
— Saia da minha sala. — Ele é ríspido e me deixa confusa. O que eu
fiz agora?
— Mas senhor, eu não fiz nada...
— Já mandei você sair daqui. É surda? — Filho da mãe.
— Idiota. — Saio e vou bufando até a sala de Abby, lá dou de cara
com Carlos.
Carlos é vice-presidente da LAVISCK’S MARKETING E
INVESTIMENTOS e irmão do chato do Adam. Ele é um amor de pessoa,
diferente do “senhor simpatia”.
— O que foi, loirinha? — pergunta Carlos, me olhando preocupado.
Ele sempre me chama assim. O considero como um irmão, mesmo
com o pouco tempo de convivência. Carlos é lindo, um homem alto e bem
forte, de pele clara e olhos verdes, cabelo castanho-escuro e tem covinhas. As
mulheres daqui babam por ele, mas ele já tem dona e ela está nessa sala. Não
sou eu e sim Abbygrey, que detesta esse nome. Eles namoram, mas ninguém
aqui sabe, somente eu.
— O seu irmão — respondo com desdém.
— O que você fez dessa vez, Bel? — Por que sempre sou eu que faço
algo?
— Não fiz nada. Ele surtou quando falei meu sobrenome e me
mandou sair da sala dele. Ele é um idiota — digo completamente irritada.
— Não fica assim. Meu irmão não é a melhor pessoa do mundo, mas
esses dias ele tem andado meio estressado. — Tenta defender seu irmão.
— Seu irmão é um imbecil que não sabe tratar as pessoas bem. O
Lavisck é um arrogante, chato, cretino, irritante e... — Paro de falar assim
que percebo que a atenção de Abby e Carlos estão voltadas para alguma coisa
atrás de mim. Abby está com olhos arregalados e engulo seco na hora. — Ele
está bem atrás de mim, não está? — pergunto e os dois balançam a cabeça
dizendo que sim.
— Na minha sala agora, senhorita Mitchell! — Ele fala tão perto que
sinto seu hálito quente em meu ouvido, me arrepiando toda. Nossa, que
estranho!
— Está bem. — O sigo até a sua sala e vários pensamentos me vêm à
mente.
Droga! Vou ser demitida e não conseguir a minha tão sonhada casa.
Merda! Como sou burra.
Capítulo Dois
- Isabel Mitchell -
Entro na sala do senhor Lavisck me sentindo uma criança que logo irá
receber uma bronca. Quando ele se senta e faz menção em falar, eu o
interrompo.
— Senhor Lavisck, não foi minha intenção dizer aquilo do senhor, é
que...
— Não quero lhe dar uma bronca pelo que você disse lá na sala da
Abbygrey, mesmo você merecendo muito mais que uma bronca. Sou seu
chefe e exijo respeito, não tolero certos tipos de coisas, como as que você fez
desde que saiu da minha sala, me chamando de idiota, e até o que disse de
mim para outros funcionários. — Seu tom é sério.
— Desculpe. Então por que me chamou?
— Nunca vi você por aqui. Conheço todos os meus funcionários,
menos você, o que é muito estranho — diz, mexendo nas gavetas, logo em
seguida, coloca uma pasta preta na mesa e começa a olhá-la.
— Pensei que o senhor fosse mais cuidadoso — falo sem pensar.
Controle sua língua, Isabel! — me repreendo.
— Eu sou sim e por isso estou analisando seu currículo e sua ficha de
funcionária. Quero te fazer algumas perguntas.
— O que precisa saber de mim para trabalhar em sua empresa está
nesses papéis, não há nada mais a acrescentar. — Sou ríspida.
— Além de abusada quer se fazer de misteriosa? — Sorri.
Nossa! Que sorriso!
— Não estou tentando me fazer de misteriosa, apenas estou deixando
claro que não vou dar nenhuma informação da minha vida pessoal.
— Não disse em nenhum momento que faria perguntas pessoais. —
Ai! Essa doeu. — Bom, vamos ver... Você tem apenas dezenove anos
mesmo? — pergunta parecendo chocado.
— Por que eu iria mentir sobre isso?
— Você não parece ser tão nova, pelo menos não no físico; é bem
desenvolvida, se é que me entende. — Ergue uma sobrancelha.
— Eu sou uma mulher com dezenove anos e muitas experiências. —
Ele recosta-se na sua cadeira, inclina um pouco a cabeça para o lado e coça a
barba rala.
— Que tipo de… experiências? — Posso ver um sorriso cínico se
formar em seus lábios.
Credo que delícia... Quero dizer, que abusado, penso.
— Coisas que não te dizem respeito. — Sou grossa.
— Você é muito abusada. Alguém tinha que te dar uma lição para
deixar de ser assim. Sou seu chefe e deveria me respeitar e, ao menos,
responder às minhas perguntas. — Olho para ele chocada e irritada por suas
palavras.
— São perguntas que eu não sou obrigada a responder. São coisas
pessoais. — Desvio o olhar.
— Posso te demitir por falar assim comigo. — Ele ameaça, com a voz
grave e mais grossa.
— Certas perguntas devem ser respondidas da forma como elas foram
feitas. — Ele ri.
— Boca esperta e bonita, gostei.
Ele tira o paletó e se exibe, mostrando seus músculos firmes e
grandes, que podem ser notados mesmo com a blusa azul que os cobrem.
Retira a gravata e a deixa em cima da mesa.
Esse homem pode ser o que for, mas é muito sexy e lindo, penso.
— Está me assediando? Posso muito bem denunciá-lo por isso.
— Não estou te assediando, não preciso disso para ter uma mulher —
diz com um sorriso debochado.
— Desculpe, senhor Lavisck, mas tenho mais o que fazer, com
licença. — Me viro para sair de seu escritório.
— Não mandei você sair. — Paro no mesmo instante e me viro para
olhá-lo.
Deus! Como nunca dei atenção para o quanto ele é lindo? Esses olhos
azuis que estão me olhando... de um jeito que me arrepia toda, é tão…
intenso.
— Não tenho mais nada para fazer aqui, senhor Lavisck. Creio eu que
essa conversa não vá levar a nada e eu estou sem paciência para certas coisas.
Preciso trabalhar e o senhor também. — Me viro de novo para sair, mas mais
uma vez sou interrompida quando sinto braços me puxarem e logo em
seguida sinto um corpo me pressionando contra a parede.
— Como eu havia dito, você é muito abusada. Merece levar umas
palmadas que te deixem sem poder sentar por vários dias e eu teria um
grande prazer em fazer isso. — Ele está tão próximo do meu rosto que posso
sentir seu hálito quente; sua boca está tão próxima da minha que se eu me
inclinar só um pouco, vou sentir seus lábios nos meus. Posso ver claramente a
intensidade do seu olhar e estou totalmente hipnotizada por esses olhos.
Baixo o meu olhar para os seus lábios e ele os morde, me fazendo engolir em
seco.
Ô, tentação!
— Eu tenho de ir — digo, tentando mostrar que estou calma, mas não
estou. Ele coloca uma mão no meu rosto e começa a me acariciar. Confesso
que senti minha pele queimar, meu corpo se arrepiar e minha vagina pulsar.
— Não é o que seus olhos me dizem, muito menos seu corpo. —
Adam pega na minha cintura e me junta mais ao seu corpo, em um encaixe
perfeito.
— Como você é... Convencido — sussurro e ele dá um meio sorriso
que faz meu íntimo se molhar todo.
— Você é tão linda. — Passa o polegar pelos meus lábios, me
fazendo fechar os olhos automaticamente, quando os abro ele está me
olhando com um sorriso diferente, me despertando do encanto maldito que
ele me pusera.
— Com licença.
Junto todas as minhas forças e saio de sua sala, indo correndo para a
minha. Dou graças a Deus quando chego lá e não vejo Abby nem Carlos. Me
jogo no sofá bege em forma de L que tem no escritório e relaxo.
Meus pensamentos vão logo para o que aconteceu na sala do senhor
Lavisck. Que homem mais arrogante! Confesso que gostei, mas isso é errado,
ele é errado. Além de ser meu chefe, ele é um grande cretino, que adora foder
qualquer uma e eu não sou qualquer uma. Será que ele estava só de zoação
com a minha cara? Não, não estava. Se não tivesse saído logo de lá, ele iria
me beijar ou até mesmo... Não, isso não pode acontecer! Não posso largar
meu emprego, pois preciso dele. Mas posso evitá-lo.
Isso mesmo! Vou fazer o possível para não dar de cara com ele. Não
sei como eu reagiria na frente dele depois de hoje.
Nossa, como estou sendo covarde. Essa não sou eu. Sou Isabel
Mitchell, que não tem medo de nada. Tenho certeza que ele irá agir como se
nada tivesse acontecido, então se vai agir assim, eu também vou.
***
No meio da tarde eu aproveito que estou com o tempo livre para sair e vou
até a cafeteria do outro lado da rua, compro um copo de cappuccino e volto
para a empresa. Assim que o elevador se abre, uma pessoa entra na minha
frente, quase me derrubando no chão. Quando ergo o olhar, vejo que não é
ninguém menos que Adam Convencido Lavisck.
Azar ou sorte?
— Deveria olhar por onde anda, senhorita Mitchell — diz sem me
olhar. Assim que as portas do elevador se fecham, olho para ele, irritada.
— Educação se usa também, sabia? O senhor que saiu atropelando os
outros. Não tenho culpa por ser tão... arrogante e mal-educado. Só porque é
dono da empresa não pode fazer isso com as pessoas. — Não escondo a
minha irritação e simplesmente não consigo me conter em falar umas
verdades a esse idiota.
— Vejo que continua abusada.
— Eu nasci assim, sou assim, esse é meu jeito e não vou mudá-lo por
ninguém; sinto muito que não gosta — falo bem alto, com direito a mão na
cintura e tudo.
Adam fica me encarando com a maior cara de paisagem, mas não por
muito tempo, pois logo vejo um sorriso se formar em seus lábios.
— Você fica sexy com raivinha. — Sorri.
— Aff! Não dá para dialogar com o senhor. — As portas do elevador
se abrem e aproveito para sair dali o mais rápido possível. Mas antes o escuto
dizer:
— Não adianta fugir, menina abusada.— Juro que senti vontade de
me virar e lhe mostrar o dedo do meio, mas me contive por dois motivos: ele
é meu chefe e não posso ficar falando assim o tempo todo; se eu o olhar mais
uma vez, vou acabar me derretendo por aquele sorriso de arrancar calcinha.
Meu Deus, sou muito confusa! Uma hora quero enforcá-lo e outra
ficar admirando a sua beleza. Droga! Por que nós mulheres não podemos ter
o combo lindo, gentil, inteligente, atencioso, humilde e sedutor?
***
Olho para Adam e um arrepio passa pelo meu corpo. Não é de excitação e
sim de medo. Não só por mim, mas também por ele. Léon é louco e capaz de
qualquer coisa. Só eu sei o tamanho da barbárie que esse monstro pode
cometer e, quando seu pai estava vivo, juntos, eram terríveis.
— Léon, solte-a agora. — Seu tom frio faz o meu corpo todo arrepiar.
— Ora, ora, ora... Olha só quem temos aqui, se não é o grande Alfa!
— Léon fala ironicamente.
Alfa?
— Que coisa linda, pegando mulheres indefesas — provoca Adam.
— Indefesa? Você não a conhece bem. — O asco é nítido em seu tom
de voz.
— Deixe a moça em paz e tudo vai ficar bem — avisa Adam.
— Você não tem nada a ver com isso, Alfa. Essa vadia vai pagar pelo
que fez. — Aponta para mim.
Adam me olha, surpreso, e depois volta o olhar para Léon.
Merda! Todo o meu passado, que eu tanto lutei para esconder, está
bem na minha frente!
— Não importa o que ela fez, Léon. Vá embora daqui e a deixe em
paz.
— Você se acha superior, né? Não tenho medo de você e nem do seu
bando, Alfa. Nunca tive, mas não vale a pena brigar com você. Pelo menos
não agora. — Léon ri, depois se vira para me encarar.
— Não vou esquecer de você, princesa — ameaça friamente e, em
seguida, some no meio da escuridão.
Olho para Adam na mesma hora que o vejo correr em minha direção.
Ele me pega em seus braços sem dizer uma palavra e me leva até seu carro,
estacionado no final do beco. Sinto minha cabeça pesar e a única coisa que
vejo antes de cair no sono é Adam me tirando do carro.
***
Acordo com uma baita dor de cabeça. Sinto minhas costas doloridas, olho em
volta e percebo que não estou no meu quarto, mas é óbvio que não. O quarto
que estou é muito grande e luxuoso, tem um toque, digamos... masculino.
Só depois de alguns segundos olhando para esse quarto é que a minha
ficha cai.
Oh, meu Deus! Eu estou no quarto do senhor Lavisck! Por que ele me
trouxe para cá? Me sinto agradecida por ele ter me salvado ontem, mas não
precisava me trazer para a casa dele. Levo a mão à cabeça, sentido uma leve
dor, e aquelas malditas lembranças voltam a me assombrar.
Por que ele está vivo? Ele tinha que estar morto! Eu mesma me
certifiquei de checar! Ele estava com os batimentos fracos e era impossível
alguém tê-lo encontrado ainda vivo e o salvado. Pobre pessoa, não sabe o mal
que fez à sociedade salvando a vida daquele monstro.
Sacudo a cabeça para dissipar essas lembranças sombrias e foco no
quarto de Adam. Ele é enorme, acho que dá três do meu, ou mais. As paredes
vão do preto ao branco, mas tem uma somente de vidro que mostrava uma
boa visão da marina de Seattle. A cama é um modelo king size com lençóis e
travesseiros brancos; em cada lado da cama tem um abajur todo branco em
cima de uma mesinha de madeira envernizada. Vejo três portas da cor branca,
uma na minha frente e outra na esquerda, a da direita é uma porta dupla, o
que suponho ser um closet. Me levanto e vou para a porta da esquerda, que
talvez possa ser o banheiro, e acerto.
O banheiro tem as mesmas cores do quarto. Tudo organizado, luxuoso
e bonito. Na banheira poderiam caber umas cinco pessoas.
Me olho no espelho e só agora percebo que não estou com a minha
roupa e sim com uma blusa masculina, branca, de manga comprida, que vai
até metade das minhas coxas. Olho por debaixo da roupa e vejo que ainda
estou com a minha lingerie, branca. Será que a gente transou?
Não, não, não. Isso não!
Vejo meu reflexo no espelho, mostrando uma mulher completamente
derrotada, rosto inchado, cabelo bagunçado e uma dor absurda nas costelas.
Aquele infeliz me machucou mesmo.
Saio do quarto e começo a andar pelo grande corredor branco ladeado
por inúmeras portas e com piso de madeira. As paredes são compostas por
várias obras de arte e ao final há uma enorme escada. Desço os degraus e,
quando chego ao último, dou de cara com uma sala gigantesca. Olho em volta
e percebo que as cores daqui são as mesmas do quarto. Ando mais um pouco
e me deparo com dois enormes sofás, na frente deles tem uma grande TV, de
última geração. Há uma parede à minha esquerda, só de vidro, e perto dela
está uma entrada. Ando até lá, dando de cara com a cozinha mais linda que já
vi na minha vida. Ela é toda branca, com o piso também de madeira. A
bancada, os bancos, a mesa... tudo só aumenta o ar de puro luxo da casa.
De repente uma mulher sai por uma porta que até então eu não havia
visto.
— Bom dia, senhorita Mitchell. Sou Bárbara, a governanta da casa.
— A senhora aparenta estar na casa dos 50 anos, bem vestida e ao mesmo
tempo simples. Ela é baixinha, morena, tem os olhos castanhos e o cabelo
preto com alguns fios brancos, presos em um coque perfeito. A mulher é
muito bonita.
— Bom dia. Me chame de Isabel, ou Bel, se preferir. — Sorrio
envergonhada.
— Isabel... Um nome bonito para uma jovem tão linda. — Coro com
o seu elogio.
— Me desculpe pelas minhas vestimentas. — Ela sorri de novo.
— Não tem problema.
Ela deve estar acostumada a ver mulheres vestidas assim por aqui.
Deve achar que sou como as outras, penso.
— Onde está o senhor Lavisck?
— Ele foi correr, como faz todas as manhãs. Logo estará aqui.
— Oh, sim. — Ela começa a ajeitar tudo que suponho ser para o café
da manhã. Com muita vergonha, eu pergunto.
— Quer ajuda?
— Tudo bem, menina, não precisa ajudar — responde sem graça.
— Mas é claro que sim, quero te ajudar. — Levanto-me e vou até
onde ela está.
— Obrigada.
— Trabalha há muito tempo com o Adam? — indago para passar o
tempo.
— Sim! O conheço desde que nasceu. Fui babá dele e o tenho como
um filho. Quando ele saiu da casa dos pais, digamos que me "sequestrou"
para trabalhar para ele. Faz dez anos que ele mora aqui e que eu trabalho
somente para ele e para a sua filha de oito anos.
Filha?
— Eu não sabia que ele era casado. — Estou chocada.
— Mas meu menino não é casado. A mãe da menina Sophia a
abandonou assim que ela nasceu. A pequena nasceu com deficiência auditiva;
largou ela com o pai e sumiu por aí... — Que mãe faria isso com uma filha?
— Deus! Que espécie de mãe essa mulher é? — falo ainda sem
acreditar.
— Ela era noiva dele... — Bárbara diz pensativa.
— E o que houve para ela desistir de tudo? — pergunto curiosa.
— Bom, essa parte eu não sei muito bem, mas pelo que entendi, ela
fugiu com um amigo do Adam. Acho que eles eram amantes. — Que porra!
— Nossa, que coisa triste! Deve ser terrível uma pessoa que amamos
fazer algo desse tipo conosco.
— Sim, mas meu Adam faz tudo pela filha dele, ela é a razão da sua
vida.
— Eu posso imaginar. — Sorrio. — Onde ela está agora?
— O menino Adam leva a sua filha para a escola todos os dias pela
manhã; eles sempre vão andando, já que a escola fica próxima daqui. Depois
de a deixar lá ele vai correr. — Ela para de falar e me encara. — Desculpe,
mas juro ter a impressão de já te conhecer... — diz, pensativa.
— Deve ser só impressão mesmo — murmuro ainda pensando no fato
de Adam já ter uma filha e, ainda de quebra, ter sido abandonado pela noiva.
— Não, é que você me lembra muito a...
— Bom dia. — Uma voz incrivelmente sexy ecoa pela cozinha,
interrompendo Bárbara.
Quando olho para trás, vejo Adam com somente uma toalha enrolada
na cintura, os cabelos molhados, parecendo ter acabado de sair do banho.
Nossa senhora das periquitas pegando fogo, chama o bombeiro
porque a minha está em chamas! Deus! Que homem mais gostoso. E esse
tanquinho? Acho que molhei a minha calcinha.
— Adam, vá colocar uma roupa, por favor. — Bárbara ordena e
Adam ri, se aproximando dela.
— Que foi, Bah? Não resiste a mim, não é? — Ele ri.
— Olha, menino... Eu vou te dar umas chineladas, hein! — Ela tenta
ficar séria, mas não consegue.
— Oi, Isabel. — Me cumprimenta com a sua voz sexy.
Nossa, que calor que ficou aqui de repente.
— Oi. — É a única coisa que consigo dizer.
—Trouxe umas roupas para você vestir, estão lá no quarto. A sua
estava muito suja, então mandei lavá-las. — Isso explica por que estou com
esta blusa.
— Foi você que tirou a minha roupa? — sussurro sentindo minhas
bochechas ruborizarem.
— Sim. — Ele se aproxima.
— Por que me trouxe para sua casa? — pergunto, hipnotizada pelo
seu olhar.
— Porque eu quis. — Ele responde tão próximo de mim que posso
sentir o calor do seu corpo.
— Jura que vai bancar o arrogante agora? — Adam ergue uma
sobrancelha e sorri.
— Eu só respondi a sua pergunta.
Escuto a campainha tocar e Bárbara sai para atender.
— Você é tão idiota — murmuro.
— E você é muito mal-agradecida. — Sou pega de surpresa quando
os braços de Adam circulam a minha cintura, me puxando para si.
— Mas o que...
— Salvei sua vida ontem, poderia apenas me agradecer — sussurra
bem próximo do meu rosto.
— Obrigada, mas mesmo assim, tenho muitas perguntas para te fazer.
— Olho bem nos seus olhos.
— Eu também. — Adam vai se aproximando dos meus lábios aos
poucos e quando vai me beijar...
— Maninho, sábado temos... Nossa! — Desvio o olhar de Adam e
vejo Carlos com os olhos arregalados nos encarando. Olho para ele querendo
enfiar minha cabeça em um buraco bem fundo.
MERDA!
Sinto que estou vermelha feito um tomate. Ai Deus! Onde foi que eu
me enfiei? Por que essa peste me trouxe para a casa dele?
— Carlos, eu posso explicar... — Tento me manter calma.
— Você não precisa me explicar nada, loirinha. O que você e meu
irmão fazem não é da minha conta. Só que isso é estranho. — Carlos tenta
reprimir uma risada.
— E por que seria estranho? — Adam pergunta. Olho para ele com os
olhos arregalados.
Ele é louco? Quer piorar ainda mais a situação?
— Está na cara, Adam. Ela é bem mais nova que você, é atrapalhada,
e você detesta pessoas assim, ela adora contrariar todo mundo e você odeia
ser contrariado, ela fala mal de você e ainda por cima é alegre e você sério.
Quase nunca te vejo rir como eu vi há alguns minutos. — Já posso matar o
Carlos?
— Carlos, seu bastardo — falo irritada.
— Então quer dizer que ela fala mal de mim? Interessante — comenta
Adam, com um meio sorriso. Deus, que sorriso!
Espera! Por que ele está sorrindo? Por saber que falo mal dele?
Definitivamente ele é estranho.
— Desculpa, loirinha, mas é que eu fui pego de surpresa. Nunca, em
hipótese alguma, poderia imaginar que vocês....
— Não fizemos nada. Não estamos juntos, não aconteceu nada do que
está pensando. — O interrompo.
— Pode até ser, mas é difícil imaginar o contrário vendo vocês nessa
situação. — Aponta para nós dois.
— Chega! Eu vou me trocar, quero ir embora. — Saio da cozinha
batendo os pés.
Onde já se viu, eu e aquele irritante do Adam juntos? Isso sim é
impossível. Só Carlos mesmo para pensar essas coisas absurdas.
- Adam Lavisck -
Como vou olhar para a cara do Adam de novo? Ou melhor dizendo, como
vou olhar na cara do meu chefe? Meu Deus! Eu não pensei nisso. Adam é
meu chefe! O que vão pensar de mim? Era só o que me faltava.
Quando saio do banheiro, vejo que ele não está mais no cômodo.
Olho em volta e vejo minha roupa arrumada em cima da cama. Não sei quem
as trouxe e nem quero saber. Visto tudo rapidamente, procuro minha bolsa e a
acho em cima do pequeno sofá que fica no pé da cama.
Ao chegar na sala, dou de cara com Adam, impecavelmente arrumado
num terno azul-escuro quase preto. Como pode ser tão gostoso? Como só
pude reparar essas coisas agora? Ele está de costas para mim e não me viu
entrar.
Nossa, que bunda!
Controle-se, Isabel! Lembre-se de que ele é seu chefe.
— Senhor Lavisck? — o chamo, ele se vira e... Deus! Que visão do
paraíso.
— Até que enfim... Vamos? — Olho para ele sem entender.
— Para onde? — Como consegue agir tão naturalmente depois do que
houve quase uma hora atrás?
— Para a empresa, ué! Já estamos bem atrasados. — O quê? Eu ouvi
bem?
— O quê? Está louco? É óbvio que não vou com você! — Cruzo os
meus braços.
— E por que não?
— Imagina quando me virem chegar na empresa com você? Vão
pensar que passei a noite com o senhor — explico.
— Mas você passou — diz maliciosamente.
— Você entendeu o que eu disse. Não quero que pensem algo que não
aconteceu.
— Nunca ligo para a opinião dos outros, deveria fazer o mesmo.
— Adam, eu não vou com você e ponto. — Ele me olha por alguns
segundos pensativo e depois pergunta:
— Tem certeza?
— Sim.
— Está bem. — Quando dou por mim estou em cima de seus ombros.
Adam começa a andar, me carregando para fora da casa.
— ADAM! ME PONHA NO CHÃO, AGORA! — grito lhe dando
vários socos que não adiantam nada.
— Cala a boca! — Sinto quando ele me dá um tapa na bunda, me
fazendo parar de gritar.
— Você não tem esse direito. Está agindo como um homem das
cavernas — digo irritada.
Ele não me responde. Quando chegamos perto do carro, ele, sem me
tirar dos ombros, abre a porta do carona e praticamente me joga no banco.
Ogro.
Adam dá a volta, entra no carro e começa a dirigir sem dizer uma
palavra.
— Não vai falar mais nada? — pergunto completamente irritada com
o silêncio que se instalou por alguns minutos.
— Não — responde friamente.
— Sabia que você é estranho? Uma hora está todo mandão e
brincalhão e agora parece que fez voto de silêncio.
— Não sou obrigado a falar com você. Agora cala a boca. — Idiota!
— Aff, quanta infantilidade — murmuro.
Adam não diz nada, e assim foi até chegar na empresa. Antes que ele
abra a porta para mim eu mesma faço isso e saio andando, logo atrás vem ele.
Olho em volta e todos estão me olhando e cochichando.
Droga! Eles me viram sair daquele maldito carro.
***
***
- Adam Lavisck -
Hoje é a festa que minha mãe insiste que eu vá; sinceramente, não estou nem
um pouco a fim de ir, mas sei que, caso eu não compareça, terei sérios
problemas com dona Kátia.
— Alfa, está na hora. — Um dos seguranças avisa, respiro fundo e
caminho em direção ao extenso corredor escuro que dá para o ringue, lá vejo
três homens algemados.
Pelo que me foi passado, um deles era um aliciador de menores, o
outro um espancador de mulheres e o último, um maldito estuprador. Todos
são condenados e enviados pela própria polícia.
Sou dono de um dos de um dos maiores clubes secretos de Seattle,
somente membros sabem da existência e, para se tornar membro, deve ser
convidado por um ou ser uma pessoa com ódio bastante para matar. Sim, aqui
a pessoa só vai para ser morta. Polícia e autoridades maiores participam,
todos lutam contra vermes acusados de crimes bárbaros. Ou, às vezes,
colocamos esses vermes para lutarem uns contra os outros só para
apreciarmos.
Sei que é sádico demais, loucura até, mas ao sentir os ossos desses
vermes sendo quebrados, ouvindo seus gritos, é ótimo; no entanto, não chega
nem perto do que causaram a suas vítimas.
Antes de subir no ringue, a imagem de Isabel em cima daquele palco,
com fantasia de colegial, vem a minha mente. Ontem eu a segui. Achei muito
estranho ela sair nos finais de semana e sempre pegar um caminho oposto de
onde mora; fora que, uma vez, eu ouvi a conversa dela com Abbygrey,
comentando sobre uma boate. Não resisti e tive de segui-la. Chegando lá, a vi
em cima do palco, com uma máscara, cabelo preso em um rabo de cavalo e
uma roupa extremamente curta de colegial. Ver aquela cena me deixou louco,
mas o que me deu uma raiva tremenda foi perceber que não fui só que que
ficou louco. Pelo que percebi, ela é uma das dançarinas mais aguardadas da
noite.
Ainda vou questioná-la, perguntar o porquê faz algo desse nível e por
que o tal pai adotivo dela permite algo assim.
- Isabel Mitchell -
Adam sai do carro e abre a porta, assim como Carlos fez com Abby, ele faz
comigo; eu mal ponho os pés no chão e ele coloca a mão na minha cintura de
uma forma bem possessiva.
Se eu disser que não gostei disso estarei mentindo descaradamente.
Antes de entrarmos, colocamos nossas máscaras. As dos irmãos
Laviscks são de cores escuras sem muitos detalhes, já a minha é prata com
pequenas pedras brilhantes em torno dela, e a da Abby é branca com pedras
pequenas em torno dos olhos.
Antes de conseguirmos entrar, somos recebidos por uma chuva de
flashes. Tento sair de perto do Adam para que ele pose para as fotos, mas
sinto-o apertar ainda mais seu braço em torno da minha cintura. Olho para ele
assustada, mas decido não falar, e então por fim, conseguimos entrar.
Fico boquiaberta com a decoração da festa, simplesmente está tudo
muito lindo. Não sou chegada a esses tipos de festas, também nunca fui em
uma, mas tudo aqui está lindo, não tenho nem palavras para descrever. Olho
para cima e vejo diversos lustres enormes, que pelo que percebi são de cristal,
fora a decoração que está um luxo. O dourado e o branco fazem uma junção
perfeita; mesas espalhadas pelo salão e uma ala reservada para dançar. Em
um canto há uma mesa enorme com diversos tipos de aperitivos; garçons não
param de circular com bandejas de prata que continham não só taças de
champanhe, mas de outras bebidas de cores diferentes que não faço ideia do
que eram.
— Meninas, nós temos de falar com alguns convidados e logo
voltamos — diz Carlos, saindo junto com Adam. Abby e eu ficamos ali,
paradas como duas idiotas no meio da festa.
— Eles não vão voltar, não é? — pergunto para Abby que está com
uma cara nada boa.
— Espero que voltem — rebateu irritada.
— E nós vamos ficar aqui em pé feito duas idiotas? — Mal termino
de falar e uma mulher de vestido branco e máscara branca, com uma pena
gigante, aparece com um sorriso enorme no rosto.
— Vi que chegaram com meus filhos. A Abby eu já conheço, mas
você não. Sou Katia e você é? — Se apresenta e me surpreende quando me
beija em ambas as minhas faces.
— Sou Isabel. Trabalho como estagiária há pouco tempo na empresa.
— Olho para ela e não sei o porquê, mas acho que a conheço de algum lugar.
— Oh sim. Me desculpe, mas tenho a ligeira impressão de que te
conheço de algum lugar, mesmo estando com a máscara, o que é estranho. —
Sorri sem graça, sentindo a mesma sensação.
— Eu também acho que te conheço — murmuro.
— Me desculpe, mas você pode tirar a sua máscara? É que estou
curiosa para saber se realmente a conheço. — Ela pede e eu acho um pouco
estranho.
Aquela sensação estranha me bateu de novo. Sinto o meu corpo gelar
e um arrepio inusitado me aflige.
— Está se sentindo bem? — pergunta preocupada.
— Sim, só foi um mal-estar, mas já vai passar. — Dou um sorriso
falso.
— Abby, vai buscar um pouco de água para ela por favor, e leve para
o meu escritório. — A senhora Lavisck pede e Abby concorda, saindo em
seguida à procura de água.
— Vem, vamos ao meu escritório. Lá você vai poder se sentar um
pouco, parece nervosa e está pálida. — Me segura pelo braço e me leva para
uma porta grande de madeira escura; quando entramos ela me ajuda a me
sentar em um sofá enorme, claro, e se senta ao meu lado. — Como se sente?
— indaga ainda preocupada.
— Com um pouco de falta de ar — digo retirando a minha máscara e
quando olho para ela, vejo que me encara com os olhos completamente
arregalados.
— Senhora Lavisck? Se sente bem? — Agora é a minha vez de me
preocupar, pois, do nada, ela ficou pálida.
— Não é possível... — Ela diz e coloca a mão na boca, tentando
reprimir o choro.
— Não é possível o quê? Desculpe, mas não estou entendo nada. —
Assim que termino de falar, a porta se abre e vejo Abby, Carlos e Adam que
me olham e depois para a mãe, indo até ela.
— Mãe, o que você tem? Está pálida e gelada — diz Carlos
segurando a mão da mãe, enquanto Adam a abraça.
— Adam! É ela, a minha Rapunzel! — A senhora Lavisck fala, me
fazendo olhar completamente confusa para Adam, assim como está Abby,
que também não entende nada.
— Eu sabia — murmura Adam olhando para Carlos, que concorda.
— Sabia do quê? O que vocês estão escondendo? — pergunta Abby.
— Você está idêntica à sua mãe, minha Rapunzel. — Olho para ela
bem nos olhos e logo sinto flashes de lembranças em minha mente.
— Júlia, ela está cada dia mais bonita e parecida com você — fala a
minha tia Kátia.
Ela vem até mim, me pega no colo e diz, olhando fixamente para os
meus olhos com o sorriso enorme:
— Você está idêntica à sua mãe, minha Rapunzel.
Em seguida dá um beijo longo em minha testa.
Olho para Kátia de olhos arregalados e só percebo que estou chorando
quando sinto uma única lágrima escorrer pelo meu rosto.
— Tia Kátia? — Um sorriso gigante surge em seus lábios e junto com
ele vêm as lágrimas.
— Você se lembrou, minha querida! — Ela me abraça fazendo-me
chorar mais.
Nem acredito que estou cara a cara com a minha madrinha. Pensei
que jamais iria vê-la de novo. Nossa! Então quer dizer que os meninos que
sempre estavam me atazanando eram eles! Que ironia! Hoje em dia quem faz
isso sou eu.
— Desculpem interromper, mas alguém pode me explicar o que que
está acontecendo aqui? — Abby questiona bem confusa.
— Kátia era... Bom, é a minha madrinha. Foi ela quem escolheu meu
nome quando eu nasci — digo sem desviar os olhos dos de Kátia.
— Então espera aí. Sua mãe era a melhor a amiga da senhora Lavisck,
correto?
— Sim — respondo.
— Então sua família era da alta sociedade?
—Não. — Nego rindo da cara confusa da minha amiga. Até Carlos
está achando engraçado.
— Bom, meus pais trabalhavam para ela. Minha mãe era a governanta
e meu pai o motorista — explico.
— Minha mãe e a tia Júlia tinham uma amizade incrível. Sempre
estavam juntas, saíam juntas. Júlia se tornou parte da família, tanto ela quanto
o tio Benjamin, que era um grande amigo do meu pai. — Adam fez uma
careta ao falar do pai.
— Hum, agora entendi. Nossa, isso é ótimo. A Bel sempre quis
conhecer alguém que tivesse conhecido seus pais de verdade, afinal ela tem
poucas lembranças deles — diz Abby.
— Eu tenho tantas perguntas — falo toda empolgada, mas logo paro
quando vejo que Adam, Carlos e Kátia ficam sérios e se entreolham.
— É... Claro que você tem de saber. — Kátia começa a falar fazendo
Adam e Carlos a encararem de uma forma como se tivessem a repreendendo,
o que acho estranho.
— Quais são as lembranças que você tem da sua mãe? — Carlos
pergunta.
— Muito poucas, mas uma delas ficou marcada na minha memória.
— E qual seria? — Agora é Adam quem indaga.
— Haviam se passado somente dez dias que eu tinha ido morar no
orfanato depois da morte dos meus pais. Escutei as cuidadoras comentarem
sobre a morte deles. Elas falavam que haviam morrido em um acidente de
carro, que meu pai perdeu o controle da direção, bateu e que ambos haviam
morrido na hora.
— Sim, mas foi isso mesmo — confirma Carlos meio nervoso.
— Tudo bem, mas, Carlos, como meu pai e minha mãe sofreram um
acidente de carro sendo que meu pai não tinha carro e muito menos a minha
mãe havia saído com ele naquela noite? Lembro vagamente dela saindo do
meu quarto. Ela não me disse nada que sairia com o meu pai. Não me
deixariam sozinha. Eu só tinha cinco anos! — Todos me olham nervosos sem
dizer absolutamente nada, o que faz minhas suspeitas serem confirmadas. —
As cuidadoras sabiam que eu estava escutando e falaram aquilo, sendo uma
grande mentira. Mas por quê?
— Bel, olha, não ponha...
— Sei que era muito criança na época, mas não sou burra, eu reparava
nas coisas. Se meu pai tivesse um carro, eu iria saber. Meu pai saiu naquela
noite, minha mãe estava comigo e recebeu uma ligação que a fez ficar
nervosa, ela saiu do meu quarto e, antes que saísse, me pediu para jamais
revelar que eu era filha dela e do meu pai; mesmo se me perguntassem, eu
deveria negar até a morte. — Os três me olharam mais tensos ainda.
— Isabel, realmente você precisa saber de muitas coisas, mas somente
o necessário. Espero que entenda, é para o seu próprio bem. — Olho para
Adam confusa.
— Mas por quê? É meu passado, mereço saber disso.
— Quando você desapareceu, pensamos que você tinha sido pega
pelo seu... — Carlos se cala ao perceber que havia falado demais.
— Pega por quem?
— Ninguém. Tudo que precisa saber é que isso é para te proteger —
Adam fala friamente.
— Mas do quê, porra?! — Se não fosse a música alta do lado de fora
do escritório, com certeza os outros convidados ouviriam os meus gritos.
— Bel, se acalme. Ficar assim não vai...
— Como não ficar nervosa, Kátia, sabendo que escondem algo de
você?! Meus pais morreram misteriosamente. As cuidadoras do orfanato
sabiam que eu estava ouvindo e mentiram ao falar aquelas coisas. Minha
mãe, antes de morrer, me disse para jamais dizer que sou filha dela! Ah, qual
é? Não sou mais uma criança para vocês me esconderem as coisas. A vida
toda as pessoas mentiram para mim. — Ando de um lado para o outro.
Minha vida toda é baseada em mentiras e mistérios, penso.
— Isabel, por favor, tenha calma. Podemos te contar algumas coisas,
mas só o necessário. — Olho para Carlos extremamente irritada.
— Quer saber? Para mim já deu! Não tenho mais cabeça para festa
alguma e nem para vocês. — Pego a minha máscara, minha bolsa e saio do
escritório.
Passo por todos os convidados sem olhar para trás, quando chego do
lado de fora da mansão, escuto Adam me chamar. Ignoro e continuo a andar
em direção ao portão principal, trato de procurar um ponto de táxi bem
próximo assim que chego à rua. Continuo a andar e sinto as lágrimas
molharem o meu rosto.
Por que mentiram para mim? Por que me batiam sem motivo? Por que
meus pais se foram e me deixaram sofrendo nesse mundo? Deus! Por que eu
não fui junto com eles?!
— Isabel! — Olho para trás e vejo Adam correr em minha direção.
Antes que eu consiga olhar para frente de novo, sinto um forte impacto de
algo se chocando contra o meu corpo, me arremessando para longe.
Quando caio no chão, sinto uma dor insuportável no corpo, minha
cabeça parece que vai explodir, olho para o chão e vejo sangue, muito
sangue. Não consigo me mexer, sinto meu corpo ficando fraco e frio, minha
visão turva e aos poucos a escuridão começa a me tomar. A única coisa que
vejo antes de apagar é Adam gritando pelo meu nome enquanto me segura
em seus braços e as pessoas se aglomerando à nossa volta. O desespero em
seus olhos é nítido. E a única certeza que tenho é de que vou morrer!
***
Acordo sentindo uma terrível dor de cabeça e uma tremenda dor no corpo, a
luz forte me força a fechar os olhos de novo e piscar várias vezes para ter
uma boa visão. Quando consigo abri-los novamente, olho em volta e vejo
Adam dormindo em uma cadeira perto da cama onde estou e só agora
percebo que estou em um hospital. Escuto um barulho de bip e vejo um
aparelho ligado a mim, assim como vários fios estão, o que me assusta.
O que aconteceu comigo?
Então as respostas surgem como flashes na minha cabeça. Deus! Eu
poderia ter morrido. Tento chamar Adam, mas minha voz sai muito baixa,
tento levantar a minha mão para cutucá-lo, mas parece uma missão
impossível. Meus braços estão pesados, faço o meu possível e jogo meu
braço em cima dele. — Nunca foi tão cansativo levantar um braço. — Adam
acorda no susto, olhando para todos os lados até ter seus olhos bem azuis em
cima de mim. Ele abre o sorriso mais lindo que já vi na vida e se aproxima;
parece que não dorme há dias, está com a barba por fazer, cabelos
bagunçados, com olheiras e parece um pouco mais magro.
— Graças a Deus você acordou. Eu fiquei tão preocupado, pensei que
iria te perder. — Ele beija a minha testa e em seguida pega na minha mão.
— Água. — É a única coisa que consigo dizer no momento, pois
estou morrendo de sede.
— Está bem, vou chamar um médico e pegar algo para você beber. —
Dito isso, ele sai praticamente correndo do quarto.
Alguns minutos depois ele volta, juntamente com o médico.
— Olá, senhorita Mitchell, como se sente? Finalmente acordou — diz
o médico olhando os aparelhos e anotando tudo em um papel na prancheta.
— Quero água, estou com sede — sussurro.
— Aqui está. — Adam me dá a água em um copo com canudo e eu
sugo como se fosse minha única salvação. — Não beba rápido demais —
Adam fala.
— O senhor terá de sair para que eu a examine. — O médico pede,
fazendo Adam o olhar como se tivesse acabado de dizer algum absurdo.
— O quê? Eu não vou sair daqui de jeito nenhum — Adam diz
decidido.
— Senhor, por favor, preciso...
— Precisa examinar logo a paciente. — Adam exige e o coitado do
médico se encolhe com o seu tom de voz.
— Está bem. — O médico concorda e logo em seguida começa a me
examinar.
Alguns minutos depois, o médico termina e sai do quarto com uma
cara nada boa.
— Parece que você conseguiu um inimigo — murmuro, me sentindo
um pouco melhor depois de ter matado a sede.
— Um a mais não faz diferença. — Ele puxa a cadeira para mais
perto de mim e se senta.
— Quanto tempo estou aqui? — pergunto.
— Quase duas semanas. Você foi induzida ao coma depois da
cirurgia. — Coma? Cirurgia?
— Como assim?
— O acidente foi grave. O carro que te atropelou fugiu sem prestar
socorro, você teve ferimentos graves e o pior deles foi na cabeça. Fizeram
uma cirurgia para diminuir o inchaço que se formou na sua cabeça e para isso
você foi induzida ao coma. Os médicos queriam só te tirar do coma quando o
inchaço passasse. Há três dias fizeram novos exames e constataram que o
inchaço tinha sumido e decidiram te tirar do coma, mas você não acordava de
jeito nenhum, o que não preocupou só a gente, mas aos médicos também. —
Minha cabeça parece que vai explodir diante de tantas informações.
— Espera... Como assim a gente?
— Sua família, minha mãe, meu irmão, todos estávamos preocupados
com você. Pensamos que iria morrer.
— E onde estão todos? — questiono, olhando para a porta.
— Foram para casa. Cada dia alguém dormia aqui com você e hoje
era a minha vez e... Graças a Deus você acordou. Por que saiu correndo
daquele jeito?
— Adam, eu estava confusa. Era informação demais, fora que todos
me escondem as coisas. Qual é? É sobre minha vida! Eu mereço saber.
— Ok. Sei que você tem o direito de saber, mas tudo isso é para o seu
bem. — Ele leva as mãos até meu rosto e começa a me acariciar.
— Mas Adam... — Me interrompe me dando um rápido beijo. Por
essa eu não esperava.
Jesus, Maria, José!
— Por favor, só não faça mais perguntas. Prometo um dia te contar
tudo, mas não agora, não é o momento certo. — Depois desse beijo, até
esqueci o que eu estava querendo saber.
— Por que me beijou? — Mudo de assunto.
— Ah... me desculpe, eu só... sei lá. Não me pergunte algo que não
sei explicar — pede nervoso, e pela primeira vez desde que conheci Adam
Lavisck, ele cora e isso o deixa muito fofo.
— Adam Lavisck ruborizado não tem preço. — Ele sorri.
— Posso fazer outra coisa ruborizar também. — Olho para ele sem
acreditar no que acabou de dizer.
— Mal acordei de um coma e você já está dando em cima de mim,
senhor Lavisck? — A gargalhada gostosa de Adam ecoa pelo quarto, fazendo
meu coração acelerar e um sorriso extremamente grande surgir em meu rosto.
— Sou uma pessoa que gosta de marcar território daquilo que me
pertence.
— Sei... Como se eu fosse sua, senhor Alfa. — Seu sorriso some
dando lugar à tensão e nervosismo, e só agora me liguei no que eu acabei de
dizer.
— Adam, sobre aquela história de Alfa, eu...
— Não estrague este momento, por favor. Vamos esquecer essas
coisas por agora, está bem? Prometo que em breve respondo a todo seu
interrogatório, mas não agora. — Penso em protestar, mas ele tem razão.
Acabei de acordar de um coma que poderia ter me levado à morte e agora só
quero relaxar e pensar na sorte que tive de não morrer.
As horas vão passando e Adam permanece o tempo todo ao meu lado.
Todos já haviam vindo me ver. Jena, Abby e Kátia queriam ficar, mas Adam
deu um jeito e disse que ficaria comigo e que qualquer coisa as avisaria. Foi
uma tarefa difícil, mas elas cederam. Adam e eu ficamos conversando sobre
amenidades até a enfermeira entrar com uma bandeja com o meu almoço, que
não parecia nem um pouco saboroso. A sopa mais parecia vômito do que
comida.
— O que foi? — pergunta Adam ao ver minha cara.
— Eu não vou comer isso. — Aponto para o prato.
— Mas precisa comer. Se quiser ficar bem logo terá de comer isso.
— Deus que me perdoe, Adam, mas isso parece vômito. — Ele ri.
— Pode parecer, mas não é. Anda, você tem de comer — diz,
pegando um pouco de sopa e trazendo em direção a minha boca.
— Não sou uma criança de cinco anos. — Protesto por ele estar
querendo me dar comida na boca.
— Mas está agindo como uma. — Adam enfia a colher de sopa na
minha boca.
ECA! Isso está sem sal e com um gosto muito estranho.
— Isso é tortura. — Faço drama.
— Eu não estou te torturando. Agora coma. — Pega mais um pouco e
aproxima da minha boca.
— Adam!
— Isabel!
— Seu chato!
— Maluca!
— O quê?
— Nada, Isabel.
— Senhor Lavisck. — Com isso começamos a rir e assim foram se
passando os dias em que fiquei no hospital.
Em nenhum momento Adam saiu de perto de mim, nos tornando mais
próximos e isso me fez muito feliz, pois ao longo dos dias fui me apegando a
ele e gostando também. Hoje penso que talvez ele possa ser o meu céu e ao
mesmo tempo meu inferno.
Capítulo Seis
- Isabel Mitchell -
Minha rotina voltou ao normal. Bom, quase ao normal. Descobrir que a mãe
de Adam e Carlos é a minha madrinha, que já vivi naquela casa, que meus
pais foram grandes amigos deles, foi uma coisa muito boa. Carlos e Abby
finalmente assumiram o namoro e nem preciso dizer que Kátia adorou tê-la
como nora. Hiz e Jena ficaram surpresos e chocados com tudo que contei;
eles, assim como eu, jamais imaginariam que os Lavisck tinham alguma
ligação com a minha família. Eu era muito pequena quando morava naquela
mansão, quase não tinha lembranças de lá.
Ainda continuo na boate e com meus estudos. Adam e eu? Digamos
que estamos nos dando muito bem, tipo muito bem mesmo, não ao ponto de
transarmos, mas às vezes rola um amasso aqui, outro ali e assim vamos
levando, mas, para ser sincera, eu não quero somente isso. Com esse tempo
de convivência, eu conheci um lado de Adam que jamais pensei que existisse.
Parece que ele se esconde dentro de uma casca de homem frio, arrogante,
cretino, mas por dentro é brincalhão, carinhoso, atencioso e muito amoroso.
Claro que ser grosso é dele mesmo e isso é até indiscutível. E sabe o que mais
me assusta? Que a cada dia que passa eu estou me apaixonando mais e mais
por ele e tenho medo de voar alto demais e depois cair de uma altura que
pode me ferir muito ou até mesmo me matar. Eu amo o Adam de verdade,
mas não quero sofrer; já passei por muita coisa nessa vida, mas nunca por
uma desilusão amorosa e espero não passar.
— Bel, Adam quer que você vá à sala dele agora — diz Abby, me
tirando dos meus devaneios.
Ah, esqueci de mencionar que ele também é mandão, mas é algo que
se nota a quilômetros.
— Sim, eu já vou e quando voltar quero que me conte como foi o
jantar com Carlos ontem. Pelo que vejo foi ótimo. — No mesmo instante,
Abby abre um sorriso enorme.
— Você nem imagina, mas vai logo lá e volta rápido, quero te contar
o quanto meu namorado é perfeito e romântico.
— Perdão, mas não estamos falando do mesmo Carlos. — Debocho e
ela responde me dando língua.
Saio da sala e vou até a de Adam; antes de entrar conto até dez para
poder ter sanidade para enfrentar esse homem. Entro sem bater e o encontro
em pé, mexendo em alguns papéis na mesa. Como ele pode ser lindo até
fazendo isso? Ou eu que estou apaixonada demais?
— Senhor Lavisck — chamo sua atenção e nem preciso dizer que
antes de olhar nos meus olhos inspecionou todo meu corpo e, de repente,
sinto um calor...
— Pensei que já havíamos parado com essas formalidades, Bel. Não
já passamos disso? — pergunta maliciosamente.
— Acho que na empresa devemos somente trabalhar senhor, e nada
mais — digo de um jeito profissional. Sei que ele odeia quando digo essas
coisas e principalmente quando o chamo de senhor.
— Isabel, eu odeio quando fala assim. Não vejo necessidade disso, já
que sabemos de toda a verdade e que já nos conhecemos bastante. Somos
amigos. — Larga os papéis em cima da mesa e depois vem até mim.
— Adam, não me faça rir. Sabe muito bem que não sei de toda a
verdade e que você esconde coisas de mim. Se somos tão próximos assim,
por que você não me conta o motivo do Léon te chamar de Alfa naquela noite
no beco? — o questiono.
— Isso não é da sua conta. — Volta a sua postura de dono do mundo.
— Está vendo? Quando falamos de você, muda completamente de
postura e de assunto. Pelo que eu saiba, amigos que se conhecem bem contam
tudo um para o outro. — Ele bufa.
— Assim como eu escondo coisas, você também o faz, querida Isabel.
Seu passado é o que mais me intriga, pois, pelo que sei, meu irmão sabe de
algo que parece ser bem grave. — Carlos não teria contado para ele, teria?
— Carlos te contou al....
— Fique tranquila. Nós, Lavisck, quando prometemos guardar
segredos, fazemos isso muito bem — responde friamente.
— Então tá. Voltamos à estaca zero de novo. Quer saber, Lavisck?
Cansei! Você é um saco e é melhor só sermos chefe e funcionária e pronto.
— Não escondo a minha irritação e quando me viro para sair ele me para ao
fazer uma pergunta que me assusta.
— Stripper, senhorita Mitchell? — Como ele descobriu?
Me viro para ele com os olhos arregalados e Adam me encara com um
sorriso triunfante.
— Pensou que ninguém iria descobrir? Isabel, seus pais ficariam
decepcionados com você.
— Como descobriu isso?
— Te seguindo. Ouvi uma conversa sua com Abby, vocês falaram
sobre uma boate que você vai todo final de semana e achei estranho. Mesmo
com a máscara eu te reconheci, Isabel. Agora a questão é: por que você faz
isso?
— Gosto de dançar, não pelo dinheiro e sim porque a dança é algo
que me ajuda a esquecer os problemas. — Não deveria explicar, mas fiquei
com medo de ele querer me demitir por isso.
— Fazendo stripper? Não tinha coisa mais decente? Imagina o que
minha mãe ia dizer se soubesse disso?
— Primeiro: a vida é minha e eu faço o que quiser com ela. Segundo:
o que os outros pensam ou não eu nunca liguei. Terceiro: não se meta na
minha vida. — Adam franze o cenho.
— Como Hiz permite isso?
— Ele nunca gostou. Sempre tentou me fazer desistir, mas como eu
disse, eu gosto e a vida é minha. — Ele começa a rir, mas logo em seguida
grita, me assustando.
— Eu proíbo você de pôr os pés lá de novo!
— Eu não sou sua propriedade e muito menos faço o que você manda,
não sou nada sua! — grito mais alto.
— Você é minha sim e de mais ninguém, e sabe por quê? — Ele se
aproxima de mim.
— Por quê? — Seu rosto está a centímetros do meu. Adam leva suas
duas mãos até o meu rosto, me obrigando a olhar bem nos seus olhos.
— Porque eu amo você, sua maldita loira, e eu sei que você sente o
mesmo. Morro de ciúme quando qualquer homem se aproxima de você e só a
ideia de saber que fica de roupas íntimas na frente de muitos homens me
deixa possesso de raiva. A ponto de matar um por um que se atrever a te
olhar.
Deus! Foi isso mesmo que eu ouvi? Ele me ama? Posso ter um treco
agora? Esse deus grego me ama!
— Adam, eu não acredito no que você disse, é muito difícil imaginar
que você sinta algo por mim... Fora que isso foi uma declaração de amor
muito bonita, para não dizer o contrário. — Ainda estou em choque por causa
dessa revelação.
Ele se aproxima ainda mais, colando sua boca no meu ouvido; morde
o lóbulo da minha orelha me arrancando um suspiro e, logo em seguida,
sussurra bem pertinho do meu ouvido com a sua voz rouca e grossa.
— Você não imagina a vontade que estou de arrancar essa roupa do
seu corpo e te foder em cima da minha mesa até ouvir seus gritos pedindo
para que eu meta mais forte e rápido. — Oh, meu Deus!
— Adam, por favor — sussurro, sentindo algo molhado entre minhas
pernas.
— Você não imagina o quanto é linda. Não imagina o quanto te
desejo e o quanto preciso de você ao meu lado. Não consigo suportar a ideia
de outro homem te tocando, não posso permitir isso. Parece que você jogou
um feitiço em mim, sua diaba loira. — Ele me puxa pela cintura, deixando
meu corpo bem colado ao seu em um encaixe perfeito.
— Como assim outro homem? Adam, eu juro que não entendo. Por
favor, me explique isso, eu te peço — imploro.
— Ah droga, a quem eu estou querendo enganar? Eu não posso ter o
que tanto quero — diz ele, parecendo frustrado.
— Por quê?
— Porque você não é para mim. Seu destino já foi traçado há muito
tempo, mesmo os seus pais não querendo. — Destino traçado? Do que ele
está falando?
— Adam, me explique isso melhor — peço.
— Você já foi prometida a outro homem desde quando seu avô soube
de sua existência. — O quê?
— Meu avô? — pergunto confusa.
— Sim, Isabel. Você tem um parente vivo em outro país, que é o seu
avô; ele é mais rico que eu, acho que ele é mais rico que qualquer pessoa
deste país.
— Me explique isso melhor.
— Seu avô é rei. Ele quer promover uma aliança com outro reino
entregando a mão de sua neta em casamento com o filho de um outro rei,
princesa Isabel.
Rei? Princesa? Será que isso pode ficar ainda mais confuso e maluco?
— O quê?
— Você é a futura e única herdeira do trono. — Minha mente está
completamente bugada.
— Adam, eu não estou entendendo. Como assim meu avô é um rei?
— Daqui a pouco sai fumaça pelas minhas orelhas de tanto que estou
tentando entender essa história. Isso não é possível.
— Melhor marcamos uma reunião hoje à noite na casa da minha mãe.
Leve Hiz, Jena e Abby, lá vamos explicar de uma vez por todas. Não só sua
história, mas a dos Lavisck também.
— Fala sério? Vai me deixar confusa e curiosa até à noite?
— Sim, e não adianta me olhar desse jeito, Bel. Quando chegar a hora
de sair, eu levo você para a casa da minha mãe. Ligue para Hiz, passe o
endereço a ele e peça que vá com Jena, e Carlos levará Abbygrey. — Ele diz
isso e volta para a sua mesa, retomando toda sua atenção para os papéis em
cima dela.
Penso em perguntar mais coisas, mas sei que ele não vai me responder
nada até mais tarde, então, é melhor eu segurar minha ansiedade.
***
Estão todos reunidos na mansão Lavisck, a filha de Adam e meu irmão Pedro
também estão presentes, mas distraídos brincando pela casa enquanto
estamos reunidos na sala de visitas.
— Ok, quem vai começar? — pergunta Carlos, chamando a atenção
de todos.
— Acho melhor o Adam começar. Sabe que essa parte da história é a
que mais odeio — fala Kátia.
— Quando conhecemos seus pais, eu tinha treze anos e Carlos dez.
Nossos pais ainda eram casados e, para todos os efeitos, éramos uma família
feliz, mas isso não era verdade. Conhecemos seus pais quando eles
apareceram aqui dizendo que haviam visto um anúncio no jornal dizendo que
precisávamos de um chofer e uma governanta, eles ficaram por uma semana
em fase de testes e depois, então, foram contratados. Os dias foram passando,
Júlia descobriu estar grávida e foi nesse tempo que minha mãe se aproximou
muito dela; elas se tornaram amigas inseparáveis. Meu pai e Benjamin, o pai
de Isabel, também se tornaram bons amigos, tudo parecia bem. Os anos
passaram, eu tinha dezessete, Carlos tinha acabado de completar quatorze e
Isabel já estava com quatro anos quando tudo aconteceu. — Ele para de falar,
Adam parece nervoso e incomodado.
— Tudo o quê? — pergunto.
— Sua mãe estava arrumando o escritório do meu pai e em cima da
mesa havia vários papéis. Ela foi organizando tudo, mas dois papéis que
estavam ali chamaram sua atenção. — Adam para e olha para sua mãe, que
parece triste.
— Ela encontrou uma certidão de nascimento e um registro de
compra. A certidão era pouca coisa perto do registro de compra — diz Carlos
com desdém.
— Por quê? — pergunta Abby.
— A compra que meu pai fez foi de uma mulher, meu pai comprou
uma pessoa. — Adam fala secamente.
— O quê? Como assim? — pergunto surpresa.
— Meu pai comprou uma mulher em um desses leilões onde as
mulheres são sequestradas e apagam suas memórias com alguma substância,
fazendo com que não se lembrem de nada de suas vidas — explica Carlos.
— E quem foi que ele comprou? — questiona Jena, pasma com tudo
isso.
— Eu. — Kátia responde cabisbaixa. Olho para ela, chocada e triste
por isso haver lhe acontecido.
— Kátia, eu sin...
— Foi um choque terrível quando descobri que o homem que eu
amava havia me comprado em um leilão. Foi algo que jamais, em toda a
minha vida, pensei que iria passar. Eu o odiei e o odeio até hoje por isso e por
muito mais coisas que ele fez, mas no meio de tudo de ruim que esse homem
fez, conseguiu fazer duas coisas boas na minha vida. Me deu dois filhos, que
amo com todo meu coração. Adam e Carlos nunca foram amados pelo pai.
Gabriel sempre arrumava algum pretexto para sempre ficar longe dos
meninos, eu pensava que era coisa da minha cabeça, mas depois que descobri
tudo, tive a certeza de que meu marido jamais me amou ou amou a nossos
filhos. Ele só se importava com o status social, tendo a mulher perfeita e os
filhos perfeitos. O que me doeu mais em tudo isso foi o fato de ele nem se
importar com o que eu ia pensar, ele nem ao menos tentou se explicar ou
pedir desculpas, ele simplesmente virou as costas e foi embora.
— Mas depois de saber disso, descobriu quem realmente você era? —
Abby tira as palavras da minha boca.
— Eu contratei um detetive. Não demorou muito e ele descobriu que
eu não tinha família nem amigos. Eu morava em Toronto, Canadá, em um
bairro pobre; ele até encontrou a casa na qual eu morava sozinha, e estava
caindo aos pedaços. Com depoimentos de vizinhos, ele descobriu também
que eu trabalhava como garçonete em uma lanchonete próxima à minha casa
e que sempre chegava tarde.
— Deduzimos que minha mãe deve ter sido sequestrada em uma
dessas noites em que estava voltando para casa, e como ela não tinha
ninguém, não procuraram saber do seu desaparecimento, nem denunciaram
— complementa Carlos.
— Conheci o pai dos meninos em um hospital, ele chegou contando
uma história que eu havia sido atropelada por ele. Gabriel me contou tantas
mentiras... Eu acreditei em todas. Ele foi capaz de contratar pessoas para me
contarem que eu morava em um bairro simples aqui de Seattle e muito mais;
esse homem fez de tudo para eu acreditar na história dele.
— Que horror! — diz Jena.
— No começo pensei em denunciá-lo, depois vi que não ia valer a
pena, mas se eu tivesse feito isso antes, jamais seus pais teriam morrido. —
Franzo o cenho com as palavras de Kátia.
— Por que está dizendo isso? — pergunto já imaginando o pior.
— Gabriel prometeu matar sua mãe por ter descoberto toda a verdade
e ter contado a todos nós, e a seu pai também por tentar defendê-la.
Pensávamos que ele só havia falado aquilo da boca para fora, jamais pensei
que Gabriel cumpriria a sua promessa.
— Ele matou os meus pais? — Sinto as lágrimas se formarem em
meus olhos.
— Não sozinho. Ele, de alguma forma, descobriu que Benjamim e
Júlia haviam fugido do seu avô, pois ele jurou matar Júlia por ter ficado com
seu único filho. Sua mãe era uma empregada da família real, seu pai era
príncipe e futuro rei. Ele conheceu sua mãe e se apaixonou. Seu avô, furioso,
disse que mataria Júlia e que preferia ver o filho morto ao vê-lo casado com
uma plebeia. Então eles decidiram fugir. Os anos haviam se passado e seu
avô nunca os encontrara porque eles, antes de virem para minha casa,
passaram um bom tempo se mudando de um lugar para outro. Meu pai se
aliou ao rei e contou que Júlia e Benjamin tiveram uma filha. Durante um ano
seu avô tentou de tudo para te tirar dos seus pais até que resolveu fazer isso
da forma mais baixa e cruel possível....
Olho para Carlos e completo o que ele dizia.
— Os matando — confirmo, sentindo as lágrimas descerem.
— Sim, ele queria você para servir de um tratado com o reino
vizinho; dando sua neta para se casar com o filho do rei, assim tornaria os
dois reinos em um só. Ele queria te sequestrar para criar você até estar mais
velha e poder se casar. Na noite da morte dos seus pais eles estavam na casa
deles, haviam acabado de sair daqui e, antes de sua mãe ir embora, ela me
pediu para proteger e cuidar de você na ausência dela e do seu pai, mas eu
falhei. Só soubemos da morte deles dois dias depois e você já tinha sido
levada para um orfanato e seus pais enterrados sem cerimônia nem nada.
Tentei desesperadamente localizar o orfanato, mas não consegui. Dois anos
depois descobrimos que Gabriel e seu avô haviam matado eles. Não sabemos
como morreram, mas só sabemos quem os havia matado, pois Gabriel veio
dizer isso pessoalmente. Adam, não se segurando mais, partiu para cima de
Gabriel, e ele só parou por que Carlos tirou. Foi uma confusão só, não
tínhamos provas para prendê-lo e quando pensei em denunciá-lo por ter me
comprado em um leilão de mulheres, os papéis haviam sumido. — Kátia
chora.
— E a certidão? — Tento reprimir o choro.
Minha vida parece uma novela mexicana, é tanta confusão, tanta
coisa.
— Gabriel me traía e tinha um filho, mais velho que Adam, fora do
nosso casamento. Ele se chamava Léon e sua mãe era Benissa Martínez, eles
são descendentes de mexicanos. — Sinto um choque muito grande quando
escuto esses nomes.
Não é possível! Deus, não pode ser!
— Você disse León e Benissa Martínez? — pergunto querendo não
acreditar.
— Sim, por quê? Você os conhece? — Olho para Kátia tentando me
manter firme.
— Eu tinha dez anos quando eles me adotaram. Naquela casa eu
sofria tanto! Sonhava com o dia de ver a morte de todos daquela casa; eles
me batiam, me maltratavam e me faziam de escrava. Durante três anos foi
assim. — Só de lembrar dos momentos horríveis que passei naquela casa,
sinto um arrepio na espinha.
— Nossa! Isabel, isso é horrível! — diz Kátia.
— Kátia, Carlos, Adam, eu sinto muito pelo que vou falar e pelo que
fiz, mas foi em legítima defesa, eu tive de fazer isso... Eu achava que o
sobrenome do seu pai ser o mesmo do homem que me adotou era mera
coincidência, mas vejo que não é. — Respiro fundo com medo do que todos
vão pensar.
— Como assim, Isabel? — pergunta Adam confuso.
— Havia se passado apenas seis meses que Benissa tinha morrido de
um infarto. Gabriel e Léon estavam evasivos, então não paravam mais em
casa. Léon saía em uma noite e só voltava dois dias depois e Gabriel sempre
voltava bêbado. Em uma noite dessas, os dois voltaram completamente
bêbados, eu estava na sala assistindo televisão e quando os vi me levantei o
mais rápido possível para ir para o meu quarto, mas Léon me segurou. —
Paro de falar para tentar reprimir um soluço, meu rosto está coberto de
lágrimas. — Eles tentaram me estuprar e em legítima defesa, eu... Eu os
matei. Até hoje me pergunto como consegui fazer isso com duas pessoas
usando um pedaço de espelho cortado, mas vi que estava enganada; há
algumas semanas eu vi Léon vivo e ele quer se vingar de mim por ter tentado
matá-lo e ter matado seu pai. — Todos me olham chocados e de olhos
arregalados.
— O quê? Como? Isabel... — Carlos mal consegue falar.
— Eu sinto muito, mas eu matei Gabriel Mertovini. Me desculpem
pelo que vou dizer novamente, mas depois do que descobri aqui, não me
arrependo nada de ter feito isso. Eu não sabia que ele tinha outra família, nem
nada disso. Eu só sabia o quanto eu o odiava e o quanto queria vê-lo morto.
— Termino de falar esperando que os Lavisck me expulsem de sua casa e de
sua empresa, mas o que mais me dói é o ódio e a rejeição que vejo no olhar
de Adam.
Me desculpe, meu Adam. Me perdoe!
Capítulo Sete
- Isabel Mitchell -
Adam me olha com uma expressão vaga e muito escura, enquanto todos me
encaram, chocados e de olhos arregalados. Kátia se senta rapidamente e
respira fundo como se estivesse tentando encontrar forças.
— Eu não sei o que dizer... eu... eu estou muito surpresa... — Kátia
quase não consegue formular uma frase.
— Meu pai foi um monstro, mas nunca desejei sua morte. Mas
também, foi ele quem procurou isso — diz Carlos ao olhar para o irmão que
ainda me observa. Ele não se mexe, simplesmente me olha de um jeito que
quase não dá para descrever.
— Eu peço perdão a vocês por tudo isso, mas eu não tive escolha. —
Tento manter a calma.
— Bel, por que nunca nos disse isso? Pensei que havia nos contado
tudo sobre o seu passado — pergunta Hiz, incrédulo.
— Por medo de vocês me olharem como a assassina que eu sou, medo
de me julgarem. Essa é a parte do meu passado que mais repudio. — Sinto as
lágrimas se formarem, novamente, em meus olhos. Sei que não vou aguentar
por muito tempo segurar essa vontade imensa de chorar.
— Mas é claro que não, minha filha. Óbvio que não somos a favor de
justiça com as próprias mãos, mas nesse caso, você não teve escolha — diz
Jena vindo até mim e me abraçando.
— Eu digo o mesmo, Bel — Abby fala, também vindo me abraçar.
Olho para Kátia que ainda tem os olhos arregalados. Me aproximo
dela e em seguida, me abaixo, ficando frente a frente com ela. Olhando bem
nos seus olhos eu digo:
— Eu não queria te decepcionar, mas eu não tive escolha, tia. —
Sinto as lágrimas descerem.
— Eu sei, minha filha, eu só não imaginava que ele estava... É
estranho. Desejei muito que ele pagasse por tudo que me fez passar, e agora
que descubro que ele está morto eu... Eu simplesmente não sinto nada,
alegria, tristeza nada. — Dá de ombros.
— Você não sente ódio de mim? — pergunto.
— É claro que não, minha Rapunzel. Você foi a maior vítima de tudo
que aconteceu. — Ela leva uma de suas mãos ao meu rosto, secando minhas
lágrimas.
— Minha mãe tem razão, loirinha. — Olho para Carlos, que me dá
um sorriso reconfortante.
Me levanto e paro bem na frente de Adam, que se mantém quieto,
sem demostrar nenhuma emoção. Isso me preocupa.
— Adam, você...
— Você matou meu pai. — Ele me interrompe. Sua voz sai calma e
baixa.
— Eu peço...
— Não tem por que pedir perdão. Ele já se foi mesmo, não tem
importância se você pedir perdão ou não. — Me interrompe mais uma vez.
Dessa vez, sua voz sai fria e com um certo desdém.
— Adam! — Kátia o repreende.
— Ele está certo, tia — digo sem desviar os olhos dele.
— Cansei desse circo, estou saindo. — Adam sai, sem deixar que
qualquer um de nós diga mais alguma coisa. Ele bate a porta com tanta força
que nos assusta.
Sinto mais lágrimas descerem. O medo de Adam nunca mais me
perdoar me toma. Quando vou correr atrás dele, sinto alguém me segurar pelo
braço, olho para trás e vejo que é Carlos.
— Deixe-o; é que tudo isso é difícil para o Adam. Ele era bem
apegado ao nosso pai, mesmo sem meu pai nunca ter demostrado qualquer
tipo de afeto por nós, e piorou mais ainda quando Gabriel se transformou em
um monstro. Acredite, ele não odeia você, só não esperava que o pai
estivesse morto, assim como minha mãe e eu também não esperávamos por
isso. — Tenta explicar a reação do irmão.
— Só não quero que ele me odeie — murmuro com a voz embargada.
— E ele não vai, acredite. Adam só precisa de um tempo — diz
Carlos.
E eu dei esse tempo a ele. Adam ficou uma semana sem vir trabalhar,
sem me procurar ou procurar algum familiar e isso fez com que eu me
sentisse horrível. Nem à boate eu estava indo, estava deprimida demais. Me
senti como uma verdadeira assassina, e tudo piorou porque eu não me
arrependo de ter matado alguém, muito menos esse alguém sendo Gabriel
Mertovini. O homem que, junto com o meu avô, matou os meus pais, pessoas
inocentes que só queriam um pouco de paz e viver o amor deles.
— Bel, pode deixar esses documentos na sala do Adam para mim por
favor? — pergunta Abby, me tirando dos meus pensamentos.
— Mas o Adam não...
— Eu sei, mas é que... O Carlos pediu para que deixasse lá. — Desvia
o olhar.
— Sei, vou fingir que acredito. — Pego os tais documentos e me
dirijo para a sala de Adam.
Ao chegar lá, entro sem bater acreditando que ele não tivesse vindo
trabalhar de novo.
— A educação mandou lembranças, Isabel — diz Adam
ironicamente, me assustando.
Ele está sentado em sua cadeira, me olhando com aqueles grandes
olhos azuis suaves e brilhantes por trás de uns óculos que o deixa muito sexy.
Nunca o tinha visto de óculos. A sua barba está um pouco maior e isso o
deixou terrivelmente uma perdição, ainda mais sexy. Como sempre, está com
o tradicional terno e gravata cinza. Nossa, essa gravata cinza ficou perfeita
nele, realçou mais a sua beleza.
— Desculpe, senhor Lavisck, eu não sabia que estava aqui. O senhor
ficou um...
— Eu sei, Isabel. E quantas vezes vou precisar te pedir para parar de
me chamar de senhor? Não precisamos disso — fala estranhamente
descontraído.
— Você é bipolar? — pergunto.
— O quê? — Me olha surpreso.
— Perguntei se você é bipolar, por que é o que parece. Primeiro me
trata friamente e sai, me ignorando, da casa de sua mãe, fica uma semana sem
vir trabalhar, nem me procura, liga ou manda mensagem e agora quer vir
conversar comigo como se nada tivesse acontecido?! Isso aqui não é bagunça
não, Adam. É bom você parar com suas maluquices, pois assim eu vou
enlouquecer. — Praticamente grito cada palavra na sua cara.
— Terminou? — Ergue uma sobrancelha grossa.
— Sim — murmuro.
— Bom, vamos por partes. Primeiro, eu me vi perdido por amar uma
mulher que está prometida a outro homem. Segundo, descobri que meu pai
tentou estuprar a mulher que eu amo e terceiro, descobri que a mulher que eu
amo matou o meu pai. Acredite, Isabel, eu posso parecer frio e insensível,
mas tenho sentimentos. Meu pai era um herói para mim. Eu era muito
apegado a ele, mesmo sem ele nunca ter dito que me amava ou ter
demostrado qualquer tipo de afeto por mim ou pelo Carlos. Descobrir que ele
era um monstro foi um choque muito forte, senti ódio e nojo dele, confesso
que cheguei a desejar a sua morte. Aí do nada, você vem e diz que ele está
morto porque você mesma o matou...
— Desculpa, eu imagino como deve ser duro tudo isso, mas você se
esqueceu de uma coisa.
— De quê?
— De que eu posso estar prometida a outro homem, mas é você que
eu amo, é você quem ocupa o meu coração e é você quem eu quero —
confesso.
— Merda! — esbraveja.
Adam me pega de surpresa quando me agarra pela cintura, me dando
um beijo bem quente e longo; sinto sua língua entrelaçar na minha de uma
forma bem gostosa. Ele coloca uma mão na minha nuca e outra na minha
bunda, encostando sua ereção na minha barriga.
— Adam — falo entre beijos.
— O quê?
— Aqui não é lugar para isso. — Adam mais uma vez me pega de
surpresa, me levantando pela bunda e, antes de me colocar deitada em cima
da mesa, joga tudo que estava sobre ela no chão.
— A empresa é minha e eu faço o que quiser nela — diz e volta a me
beijar. Adam logo começa a descer os beijos.
— Eu não vou transar com você em cima dessa mesa. — Solto um
gemido quando ele beija meus seios por cima da minha blusa.
— E por que não? — pergunta, parando para me encarar.
— Nessa mesa você fodeu várias mulheres e eu não sou como elas
que transam com você uma vez e depois tchau.
— E quem disse que você é como elas?
— Ninguém, mas...
— Admito que eu transei com várias mulheres em cima dessa mesa,
mas com você é diferente. Sabe por quê? — Não digo nada e então ele
mesmo responde. — Porque em tão pouco tempo você me conquistou e me
provou que nunca é tarde para amar. Antes eu achava que nunca iria me
apaixonar de novo, então você apareceu com esse seu jeito de ser. Atrevida,
espontânea, inteligente e me deixou de quatro por você. Eu mudei, mudei
para melhor e quero partilhar essa mudança ao seu lado, minha linda.
— Como... — Ele me interrompe.
— Quer namorar comigo?
Fico estática no lugar, acho que não ouvi bem o que Adam acabou de
me pedir. Talvez seja coisa da minha cabeça ou...
— Isabel?
— Oi. — Acho que eu ouvi mal mesmo.
— Você ouviu o que eu te perguntei? — Não, Isabel, você não ouviu
mal.
— Ouvi, eu só... Não acreditei no que ouvi, eu não sei o que dizer. —
Desvio o olhar.
— Um sim seria muito bom de se ouvir. — Sorri malicioso. Como
resistir?
— Eu aceito. — Mal consigo terminar de falar e Adam sela nossos
lábios em um beijo cheio de amor e promessas não ditas.
— Você não sabe o quanto me faz feliz neste exato momento. Eu amo
você, Isabel, amo tanto que me assusta. Jamais amei alguém desse jeito,
nunca me senti assim com outra pessoa. — Acaricia o meu rosto.
— E isso é bom?
— Maravilhosamente bom. — Sorrio puxando-o para beijá-lo.
Sinto a mão de Adam passar por todo o meu corpo até chegar na barra
da minha saia, ele a levanta e em seguida coloca a mão no meu sexo, por
cima do tecido fino da calcinha de renda vermelha. Sinto minha vagina
molhar e meu clitóris pulsar, louco para ter atenção.
— Só em pôr a mão nessa boceta gostosa por cima da calcinha, dá
para sentir o quanto você está malditamente molhada — sussurra bem
próximo do meu ouvido, me arrepiando toda.
Sou pega de surpresa quando Adam rasga a minha calcinha com
bastante facilidade.
— Adam, por que fez... — Sou deliciosamente interrompida quando
sinto seu polegar passar pelo meu clitóris, dando várias voltas bem
lentamente. Me contorço toda deixando escapar alguns gemidos baixos.
— Está gostoso? — questiona bem próximo do meu ouvido.
— Uhum — murmuro sem conseguir abrir a boca.
Oh, porra! Como isso é gostoso.
— Como você está molhada... Meu pau fica duro só de imaginar a
minha boca nessa boceta molhadinha. — Já disse que adoro a boca suja dele?
Não? Pois eu adoro a boca suja dele.
Não tenho tempo de falar ou de pensar em algo, pois sinto Adam abrir
o botão da minha blusa. Ele arranca o meu sutiã bem violentamente, depois
passa a mão livre nos meus mamilos, que agora estão soltos, duros e
doloridos de tanto tesão.
Porra!
— Perfeitos. Bem melhores do que eu imaginei — sussurra. Adam
abaixa e passa a língua em volta do meu mamilo esquerdo, depois o chupa
bem forte e no final dá aquela mordida de leve, bem gostosa.
Que boca! Esse homem vai me matar.
Enquanto ele repete o mesmo com o seio direito, continua com a outra
mão no meu clitóris. Sinto que não vou aguentar por muito tempo e Adam
percebe isso e vai descendo pela minha barriga, distribuindo beijos até chegar
onde tanto necessito da sua boca.
— Como eu desejei tanto isso — confessa e passa a sua língua no
meu clitóris, dando várias voltas, me fazendo ir ao delírio.
— Hummm — gemo mais alto. Espero que essa sala seja à prova de
som.
— Que delícia de bocetinha — fala entre lambidas. Toda a minha
sanidade se vai quando ele suga e depois penetra o meu sexo com a língua,
fazendo movimentos de vai e vem.
Isso é bom, muito bom!
— Adam, eu... Vou gozar... Não aguento mais — gemo.
— Goze, minha linda. Goze bem gostoso na minha boca. — E com
suas palavras eu me libero, meu corpo se entrega, não aguentando mais. Gozo
intensamente na sua boca enquanto ele bebe tudo, sem deixar nenhuma gota.
Tento me recompor, mas sinto minhas pernas moles e um alívio
também. Adam sai do meio das minhas pernas e logo me dá um beijo
selvagem de tirar o fôlego, me fazendo sentir o meu gosto em sua boca.
— Como eu imaginava — diz entre os beijos.
— Imaginava o quê? — pergunto ofegante.
— Que seu gosto é viciante — Adam rapidamente retira seu paletó, e
ao abrir o botão de sua blusa, revela os músculos definidos que eu já tive o
prazer de ver, ombros e peitoral largos. Leva uma mão ao zíper da calça e a
abre. Então eu o vejo colocar seu membro duro, grande e pulsante para fora.
Como isso vai caber? Essa merda é muito grande.
— Surpresa? — Sorri, malicioso.
— Não, é que...
— Isabel, não me diga que você ainda é virgem? — O espanto é
visível em seu rosto.
— Não, não sou, mas como isso vai...
— Meu pau vai caber bem direitinho. — Ao dizer isso, sinto a cabeça
do seu membro roçar na entrada da minha vagina quando ele se debruça por
cima de mim, colocando seu peso em seus braços torneados. Não demora
muito e sinto seu pau entrando lentamente, fazendo-me arfar.
— Ooooh.
— Porra! Tão deliciosamente apertada — sussurra no meu ouvido.
Adam vai entrando bem lentamente em mim, olho para o seu rosto e
posso ver o quanto ele me deseja. A luxúria e o desejo cru e intenso em seus
olhos são nítidos.
Quando sinto seu membro todo dentro de mim, ele começa a se mover
em um movimento de vaivém bem lento, me deixando frustrada querendo
que ele vá mais rápido.
Ele faz isso de propósito.
— Adam... por favor — imploro.
— Por favor o quê?
— Vai mais rápido, me foda bem forte! — grito de frustração.
— Com todo o meu fodido prazer — diz e investe indo mais rápido e
forte.
— Aaaaaah — gemo bem alto.
— Isso, geme bem gostoso, meu amor — pede.
— Adam!
— Merda! Que boceta gostosa... Apertada demais e... Oh, caralho! —
Ele vai mais fundo e, para me deixar mais louca ainda, coloca um dos meus
seios na boca enquanto leva uma de suas mãos ao meu clitóris e começa a
massageá-lo.
Não vou aguentar!
— Eu vou gozar. — Levo minhas mãos para as costas dele, fincando
minhas unhas em sua pele, ele geme alto quando faço isso.
Tenho certeza que vão ficar belas marcas ali.
— Goza no meu pau, meu amor. — Ele mal termina de falar e logo
sinto o meu orgasmo me rasgando completamente, mas o que mais me
assusta é que eu não gozo, simplesmente eu ejaculei chamando pelo seu
nome.
Adam, com mais três estocadas goza, dizendo o meu nome, me
preenchendo por completo. Quando sinto seu gozo escorrer por minha coxa,
o empurro de cima de mim e me levanto rapidamente, fazendo-o me olhar
assustado.
— Calma, Isabel, você só ejaculou — diz calmamente e se senta na
mesa ainda com o seu membro duro à mostra.
— Não, Adam, não é isso. É que transamos sem camisinha — digo
catando as minhas roupas.
— E daí?
— E daí? Adam, não quero ser mãe, pelo menos não agora.
— Você não toma remédio? — pergunta assustado.
— Tomo, mas mesmo assim devemos nos prevenir. Além do mais,
isso não deve ser preocupação apenas da mulher.
— Você está certa, deveríamos ter sido mais responsáveis. Da
próxima vez vamos usar camisinha, mas agora volta aqui e vamos para o
segundo round — ele fala ao mesmo tempo em que me chama com o dedo.
Isso é engraçado de se ver, ainda mais sendo de um homem como
Adam Lavisck, todo grandão e sério.
— Adam, não era nem para termos transado aqui, Abby deve estar
louca me procurando e...
— Eu sou o chefe disso tudo. Eu mando aqui, então, se eu quiser que
você fique aqui e foda comigo até meu pau não aguentar mais, a gente vai
foder até meu pau não aguentar mais. — Adam declara se aproximando e me
agarrando pela cintura, ainda sem roupa, então logo sinto seu membro duro
na minha barriga.
— Mal acabamos de transar e você já quer de novo? — Ele ri.
— O que posso fazer? — Dá de ombros. — Sou insaciável e depois
de provar sua bocetinha eu simplesmente viciei, agora vou querer toda hora.
— Morde o lábio e me beija.
— Já disse que você tem uma boca muito suja?
— Não. Você não gosta? — Me olha em dúvida.
— Adoro — respondo acariciando seu rosto.
— Mesmo se não gostasse, você teria de se acostumar. Agora vamos
retomar de onde paramos. — Dá um tapa estalado na minha bunda.
— Adam, não — nego.
— Isabel, sim. — Beija o meu pescoço.
Como não ceder a isso?
— Adam... Isso não vale, é jogo sujo — sussurro me derretendo em
seus braços.
— Nunca disse que jogava limpo. — Mordisca a minha orelha.
— Devo me acostumar com isso?
— Ôh se deve, pois, se depender de mim, você vai ter de conviver
com o meu jogo sujo por toda a sua vida.
Capítulo Oito
- Isabel Mitchell -
Nem acredito que Adam e eu estamos namorando. Óbvio que estou muito
satisfeita, nunca em toda a minha vida fui tão feliz como estou sendo agora.
Ele é um amor de pessoa, um homem completamente diferente do que muitos
estão acostumados a ver. Quando todos ficaram sabendo do nosso namoro,
foi uma alegria só. Tia Kátia, então, nem se fala. Hoje terá um jantar especial
na casa dela, que reunirá a família dele e a minha.
— Isabel, você está pronta? — pergunta Jena, batendo na porta do
meu quarto.
— Quase, Jena, só mais alguns minutinhos. — Pego um batom nude e
passo. Odeio maquiagem, mas hoje é uma noite especial.
— Está bem, vamos te esperar na sala.
— Ok.
Mais alguns minutos e escuto novamente batidas na porta.
— Jena, eu já vou! — grito.
Me abaixo para pegar os meus sapatos que estão debaixo da cama.
— Achei — digo assim que vejo os sapatos; quando estico o braço
para pegá-los, sinto alguém me dar um tapa bem forte na bunda, me fazendo
bater a cabeça no estrado de madeira debaixo da cama.
— Ai! — Me sento, passando a mão na cabeça.
— Bel, me desculpa. — Escuto a voz do Adam atrás de mim, logo ele
já está me pegando nos braços e me colocando sentada na cama.
— Você me assustou. — Solto um gemido de dor.
— Me desculpa, não queria te assustar e muito menos te machucar. —
Ele parece se sentir culpado.
— Tudo bem.
— Deixa-me ver como está isso. — Coloca a mão na minha cabeça,
ele mal encosta e sinto uma dor terrível.
— Ai!!! — reclamo.
— Parece que machucou mesmo.
— Preciso tomar um remédio para dor de cabeça. — Faço uma cara
de dor.
— Claro, onde fica?
— No meu banheiro tem uma caixa de primeiros socorros. — Mal
termino de falar e ele corre para pegar o comprimido. Em seguida, Adam sai
do quarto, não demora muito e volta com um copo com água; pego o
remédio, coloco na boca e bebo a água toda.
— Acho melhor ficarmos em casa — sugere.
— Ficarmos? — Olho confusa.
— Claro, eu machuquei você, e meu dever é cuidar até que se sinta
melhor — diz me puxando para um abraço.
— Adam, não foi nada e além disso todos estão nos esperando na sala
e...
— Jena foi na frente e me deixou entrar. — Me interrompe.
— Então vamos. — Tento me levantar, mas sou impedida por ele.
— Não vamos sair daqui com você desse jeito — diz sério.
— Adam, só foi uma pancadinha de nada..., e todos devem estar nos
esperando — protesto.
— Que se fodam os outros, nesse momento o que me importa é você,
e onde você levou a pancada se formou um galo. — Ele passa a mão onde eu
bati e, quando faz isso, gemo de dor.
— Está vendo? De jeito nenhum vamos sair assim; deita aqui que eu
vou cuidar de você. — Me ajeita na cama.
— Mas...
— Mas nada, eu vou ligar para a minha mãe e avisar que não vamos
poder ir mais e a mocinha vai ficar deitada enquanto cuido de você. —
Ordena.
— Au-au. — Debocho imitando um cachorro.
Por um lado, estou puta da vida por ele ser assim, tão mandão, mas
por outro eu estou feliz por saber que ele se preocupa comigo.
— Pronto, já avisei a minha mãe, ela vai cuidar de Sophia para mim e
pedi para ela avisar a todos que não vamos mais. Agora vamos tirar essa
roupa. — Se senta ao meu lado.
— Desde quando para cuidar de mim é preciso que eu fique sem
roupa? — ironizo.
— Claro, assim curo duas cabeças em uma tacada só. — Sorri
malicioso.
— Adam! Como você é pervertido. — Lhe desfiro um leve tapa em
seu braço.
— Eu sei e você ama esse pervertido aqui. — Aponta para si mesmo.
— Sim, é verdade, amo mesmo, mas eu não vou tirar a roupa —
provoco.
— Ah, você vai tirar sim, pois foi a primeira coisa que pensei assim
que te vi de quatro nesse vestido curto demais para o meu gosto. Você ia sair
apenas com esse pedaço de pano, Isabel? — diz rapidamente.
— O vestido não é tão curto assim, ele é dois dedos acima do joelho.
— Me levanto e olho para o meu corpo.
O vestido é muito bonito; é um tomara que caia, preto, com um leve
decote na frente, justo e dois dedos acima dos joelhos.
— Mas ele é muito apertado, está mostrando muito as suas curvas,
fora também esse decote. — Oh homem ciumento!
— Adam, é só um vestido. — Reviro os olhos.
— Um pedaço de pano, não é? Não vou querer um bando de urubus
olhando para a minha mulher. — Faz biquinho.
Até assim ele consegue ser fofo.
— Eles podem olhar, mas eu sou só sua, baby. — Jogo-me em cima
dele, que ri do meu gesto.
— Acho que vou comprar roupas novas para você. — Acaricia o meu
rosto.
— Ué, por quê? —indago, confusa.
— Está precisando, vou comprar umas burcas.
— Como você é um idiota possessivo. — Sorrio.
— Idiota possessivo não, só estou cuidado do que é meu — resmunga
e me dá um beijo.
— Virei propriedade agora e nem sabia? — Me finjo de ofendida.
— Sim, propriedade de Adam Lavisck. Se qualquer um encostar,
perde o pinto. — Solto uma gargalhada.
— Não sabia que você podia ser tão engraçado. — Olho bem para os
seus olhos.
— E por que não?
— Adam, vamos ser sinceros, você era um homem muito
mulherengo, frio, mandão e arrogante, embora a parte do frio, mandão e
arrogante ainda pairam em você.
— Sou assim com outras pessoas, mas com você e minha família não
— confessa.
— Eu sei e amo isso. — Mordo os lábios.
— Você me fez ver que a vida não parou e que é possível amar
novamente, só que dessa vez é diferente. — Me aperta mais forte.
— Por que diferente?
— Porque só agora eu sei como é amar de verdade — declara e abre o
maior sorriso de todos.
— Se você está querendo me persuadir para transar, saiba que está
conseguindo. — Adam solta uma gargalhada gostosa.
— Por incrível que pareça não. Eu nunca fui tão sincero em toda a
minha vida como estou sendo agora, Isabel — fala com seriedade.
— Eu te amo — afirmo com um tremendo sorriso.
— Eu também te amo, minha linda, como jamais amei outra pessoa
em minha vida — diz ele, tirando alguns fios rebeldes de cabelo que estão na
frente do meu rosto.
— E a sua filha? — Mudo de assunto.
— Ela está bem e louca para conhecer você. — Se endireita na cama e
me coloca sentada em seu colo.
— Sério? — pergunto animada.
— Sim, ela sempre me dizia que a mulher que me fizesse ser diferente
teria de ser bem especial e... Não é que ela acertou? — Eu sorrio.
— Sua filha parece ser uma menina bem inteligente para a idade dela.
— Ela é um dos meus bens mais preciosos — afirma.
— E quem são os outros?
— Você e minha família — responde e me tasca um beijo de tirar o
fôlego. Sinto uma mão segurar o meu rosto e a outra ir descendo até minha
coxa e subir de volta até a minha bunda, bem lentamente.
— Adam... — pronuncio entre beijos.
— Que foi?
— Não vamos transar — digo ainda entre beijos.
— Nós não vamos — fala enquanto sua mão se dirige ao zíper do
meu vestido, nas costas, e começa a abri-lo.
— Então por que está tirando o meu vestido? — inquiro, agora
olhando bem nos seus olhos.
— Porque nós não vamos transar, nós vamos fazer amor — conclui.
Minha expressão muda, eu fico surpresa pelo que ele disse e não consigo
falar mais nada, então, ao invés de palavras, correspondo com atitudes. O
jogo na cama e ataco sua boca, o beijando como nunca havia beijado alguém
antes. Um beijo cheio de amor e carinho.
Como eu o amo! A cada dia que passa, eu vou amando mais esse
homem que caiu de paraquedas na minha vida e roubou o meu coração.
***
Acordo sentindo vários beijos que estão sendo distribuídos em meu colo e
logo dou um sorriso já sabendo quem é.
— Adam... Me deixa dormir — digo preguiçosamente sem abrir os
olhos.
— Foda matinal, amor. — Mordisca a minha orelha.
— Não, me deixa dormir. — Levanto a mão para empurrá-lo, ainda
de olhos fechados.
— Seu chefe não está pedindo, está ordenando. — Assusto-me com o
tapa forte e estalado que Adam dá na minha bunda.
— Adam!! Isso doeu e só por causa disso não vamos transar. —
Levanto resmungando para ir ao banheiro, completamente nua, mas antes que
eu continue a andar, sinto braços me erguerem no alto e Adam me põe em
cima do seu ombro.
— Eu disse que vamos ter uma foda matinal — fala me levando em
seus braços fortes para o banheiro.
— Você me paga, Adam Lavisck — murmuro.
— Oh sim, querida, vou te pagar com juros com todo o meu prazer.
— Ao chegarmos no banheiro, ele me põe no chão do box, liga o chuveiro,
enlaça seus braços ao redor da minha cintura, me puxando para si e me
fazendo sentir seu pau duro feito pedra em meu ventre.
Seus lábios devoram ferozmente os meus enquanto a água cai sobre
nós, sua mão boba passeia pelo meu corpo deixando-me completamente
extasiada. Seus beijos vão da minha boca ao pescoço, dando fortes mordidas
e chupões; quando sua boca finalmente chega nos meus seios, sem cerimônia
ele abocanha um, dando um grande chupão seguido de uma mordida leve no
mamilo, sua mão desce para a minha bunda, dando um aperto gostoso que
abala as minhas estruturas. Olho fixamente em seus olhos azuis, vejo suas
írises brilharem e um sorriso malicioso se abrir em seus lindos lábios
carnudos.
— Você me deixa completamente maluco — sussurra no meu ouvido.
Arfo no momento em que sua mão entra em contato com a minha
umidade, seus dedos hábeis brincam em minha vagina, fazendo-me gemer;
me surpreendo quando ele se abaixa, levanta uma de minhas pernas, a coloca
em cima do ombro e cai de boca na minha boceta extremamente molhada,
não só pela água, mas por tamanho tesão que estou sentindo.
É como se eu estivesse indo ao céu quando sua língua safada, bem
lentamente, com movimentos circulares, entra em contato com o meu clitóris.
Se não fosse ele, eu cairia no chão, pois minhas pernas parecem
gelatina.
— Um gosto viciante, e somente eu posso provar. — Minha vagina se
contrai quando ele introduz dois dedos nela enquanto continua com a sua
tortura oral.
— Oh, Adam...eu... — Não consigo falar. Porra, isso está muito bom.
Sem aguentar mais, libero o meu orgasmo e meu Adam, sem hesitar,
suga tudo sem deixar uma gota sequer.
Quando penso que vou poder me recuperar desse maravilhoso
orgasmo, meu chefe e namorado, sem que eu esperasse, me vira de costas e
empina a minha bunda. Antes que eu diga mais alguma coisa, seu pau entra
na minha boceta de uma vez só, fazendo-me soltar um grito, suas mãos vão
até meu cabelo, enrolando-os, ele aproxima seus lábios do meu ouvido e
sussurra:
— Vamos transar até o meu pau não aguentar mais.
Merda!
Depois de transarmos feitos loucos três vezes no banheiro do meu
quarto, ele finalmente me deixa sair. Vou direto para a cozinha, pois estou
morrendo de fome. Ao entrar na cozinha, dou de cara com Jena e Hiz
sentados à mesa, tomando café da manhã.
— Bom dia, pessoas — falo, me sentando à mesa e pegando uma
xícara.
— Bom dia, querida, como você está? — pergunta Jena.
— Bem, obrigada. — Agradeço.
— Ficamos preocupados ontem quando Adam ligou dizendo que não
iriam mais porque você havia se machucado — diz Hiz.
— Não foi nada demais. Adam que é muito exagerado, só fiz um galo
na cabeça — explico.
— Nossa, então a pancada foi forte mesmo.
— E como foi isso? — Olho para Jena e ela me encara, esperando
pacientemente a resposta; eu coro, o que é inédito, já que nunca corei assim
tão facilmente.
— Ontem eu estava procurando os meus sapatos embaixo da cama,
Adam entrou e me assustou, me fazendo bater a cabeça na madeira. —
Basicamente é verdade.
— Nossa, deixa eu ver isso. — Jena se aproximo e olha o local onde
está o galo.
— E o Pedro? — pergunto não o vendo à mesa.
— Está na casa de um amigo aqui perto — responde Hiz.
— Realmente tem um galo aqui, quer pôr gelo? — questiona Jena.
— Não precisa, está melhor, ontem estava doendo demais. Ainda está
dolorido agora, mas não como ontem. — A tranquilizo.
— Se quiser tenho uns remédios para dor no meu quarto, se caso a dor
ficar pior é só ir lá e pegar — avisa Jena.
— Está bem, obrigada. — Dou um breve sorriso.
— E Adam? — Hiz indaga.
— Está tomando banho — respondo um pouco envergonhada.
— Ele dormiu aqui? — Ele quer saber.
— Sim — respondo.
— Na sua cama?
— Hiz! Isabel já é bem grandinha, não precisa desse interrogatório
todo. Adam é um homem maravilhoso, não precisamos nos preocupar. —
Olho para Jena e ela dá uma breve piscada para mim.
— Eu sei, mas me preocupo. Isabel é como minha filha, é normal eu
me preocupar como todo pai sensato faz. — Tenta se explicar.
— Ele está certo, Jena, me sinto muito feliz em saber que se preocupa
comigo e que me tem como uma filha, pois eu também tenho você como meu
pai. — O tranquilizo e me levanto para abraçá-lo.
— Bom dia. — Adam fala ao entrar na cozinha, vestindo uma
bermuda jeans escura e uma camiseta branca, o que me faz perguntar de onde
ele tirou essa roupa.
— Adam, de onde tirou essa roupa? — pergunto confusa.
— De um closet — fala como se fosse óbvio.
— Não estou brincando, eu não vi você chegar com bolsa alguma
ontem.
— Essa roupa ficou aqui desde a última vez que estive aqui, amor,
não se lembra? — Olho automaticamente para Hiz e fico mais vermelha
ainda.
— Agora eu lembro — murmuro.
— Ele passou outras noites aqui?! — questiona Hiz, apontando para
Adam com espanto.
— Amor, nós não íamos resolver aquele assunto? — pergunta Jena a
Hiz e eu logo entendo o porquê.
— Resolver que assunto? — Olha confuso para ela.
— Aquele assunto, vem, vamos lá em cima comigo — diz Jena já o
puxando pela mão.
— Mas, amor, eu...
— Hiz, vamos logo. — Ela praticamente o arrasta para fora da
cozinha, nos fazendo rir.
Jena e Hiz tem uma história linda de amor; eles passaram por muitas
coisas para ficarem juntos.
Pelo que Jena me contou foi amor à primeira vista. Foi complicado no
começo, pois o pai de Jena odiava Hiz por ele não ser o que queria para a
filha. Eles passaram por maus bocados para ficarem juntos. Jena diz que
passaria por tudo de novo para viver com o homem que ama. Seria difícil
alguém não se apaixonar por Jena; além de ser uma morena com lindos olhos
verdes, ela tem um jeito que encanta a todos. Hiz também não fica muito
atrás com seus lindos olhos cinzas. O amor deles me lembra um pouco o do
meus pais, mas, diferente deles, Jena e Hiz tiveram o seu felizes para sempre;
já meus pais, não.
— Hiz é um homem admirável, achei engraçado isso — comenta
Adam, sorrindo.
— Mas ele não está errado, imagine quando Sophia estiver uma moça.
— No mesmo instante ele para de rir.
— Sophia vai namorar com trinta anos e o cara que chegar para pedir
minha permissão terá de passar por um pouco de tortura psicológica e física,
e talvez até tenha uma probabilidade de chegar na parte de enfrentar a minha
arma — fala.
— Nossa, que pai ciumento! Mas o que vai fazer até os trinta anos
dela para que não arrume um namorado antes? — Investigo, me divertindo
com a preocupação de Adam.
— Até lá, ela só irá vestir roupas que a cobrem dos pés à cabeça —
responde sério.
— Burcas, né?!
— Isso, boa ideia.
— Adam, pelo amor, se depender de mim isso nunca vai acontecer,
imagine quando tivermos a... — Paro de falar quando eu percebo que estou
falando demais.
—Termina — incentiva.
— Nada... Vamos tomar café — digo disfarçadamente e começo a
tomar meu café da manhã.
— Amor, não precisa ficar com vergonha, somos namorados. — Pega
na minha mão, me fazendo olhá-lo.
— Não é isso, Adam, eu que estava fantasiando demais as coisas,
sonhando acordada, como sempre fiz a minha vida toda e nunca adiantou —
desabafo.
— A partir de hoje eu farei todo o possível para realizar seus sonhos e
sabe por quê? — Ele me vira para que fiquemos frente a frente, leva uma de
suas mãos ao meu rosto e começa a me acariciar com muito carinho.
— Por quê? — sussurro.
— Por que eu amo muito você e não existe coisa melhor do que ver a
quem amamos feliz. — Não contenho o meu sorriso.
Como não amar um homem desses?
— Você é um homem maravilhoso. Às vezes eu acho que tudo isso
que estamos vivendo não passa de um simples sonho. — Entrelaço nossas
mãos.
— Se for, eu nunca mais vou querer acordar — diz, me dando um
breve beijo.
— Eu também não, meu amor.
— Só Deus sabe a vontade que tenho de construir uma família ao seu
lado, pois sinto que jamais amarei outra pessoa como amo você, minha ogra.
— Ele riu de suas próprias palavras.
— Ogra? Isso é algum apelido carinhoso? — Me finjo de ofendida.
— Sim, pois você é toda bravinha, bruta e turrona, combina
perfeitamente com você. — Adam ri mais.
— Muito obrigada, Senhor Grey — falo, já sabendo que ele odeia
quando o chamo assim.
— Sabe que detesto quando me chama assim, faz para me provocar,
não é? — questiona sério, me encarando com seus lindos olhos azuis.
— Claro que não, meu amor. — Me finjo de inocente.
— Nunca compare um homem com outro — avisa.
— Mas Christian Grey é um personagem literário e... — Paro de falar
quando, do nada, Adam se levanta, me coloca em seu ombro e caminha em
direção ao meu quarto.
— O que deu em você? Por que está fazendo isso? — pergunto
confusa.
— Vou te mostrar que Christian Grey não chega aos pés de Adam
Lavisck. — Ele me joga na cama e rasga a minha roupa.
— E como pretende fazer isso? — rebato, já excitada.
— Te fodendo até que se esqueça de quem você é — fala, beijando-
me selvagemente.
Oh, senhor! Que homem é esse!
E pensar que ele é única e exclusivamente meu. Todo e só meu.
Capítulo Nove
- Isabel Mitchell -
Me ajoelho na frente de Adam, olho para o seu membro grande e duro feito
pedra e sinto minha vagina se molhar ainda mais. Sem perder tempo eu o
enfio na boca, sentindo o gosto do líquido pré-gozo na minha língua; Adam
arfa na mesma hora, levando suas duas mãos até o meu cabelo e segura-o
com força enquanto eu chupo e lambo o seu pau, que pulsa em minha boca.
— Oh! Que delícia de boca, meu anjo! — Me sinto muito poderosa ao
olhar para ele e ver um homem como Adam entregue ao prazer que a minha
boca pode lhe proporcionar.
Enfio quase todo o seu pau na minha boca e ele solta um gemido mais
alto, lambo o seu membro de baixo para cima até enfiá-lo na minha boca
novamente e chupar com força, sem parar.
— Baby, é melhor parar senão eu... Porra, Isabel! — Minha deusa
interior está dando cambalhota.
Chupo ainda mais forte e alguns segundos depois, sinto ele se liberar
na minha boca. Faço o possível para nenhuma gota sequer sobrar, mas sou
interrompida quando Adam me puxa pelos braços e me beija com muita
força.
— Gostou? — pergunto.
— Sua boca é maravilhosa! Porra! Nunca gozei assim antes. — Sorrio
feito uma boba.
— Fico feliz que tenha gostado. — Ele me surpreende quando me
pega pela cintura, enlaço as minhas pernas em torno do seu quadril e ele me
prende na parede, jogo meus braços em volta da sua nuca. Ambos estávamos
nus, os corpos roçando e se arrepiando, pois tínhamos acabado de transar.
— Você me deixa excitado só em me olhar. — Enfia o seu rosto no
meu pescoço e começa a mordiscá-lo.
— Adam... você é insaciável. — Posso sentir seu sorriso em meu
pescoço.
— Com você, sempre. — Ele me surpreende mais uma vez quando,
sem avisar, entra com uma única estocada em mim. Solto um grito e logo me
repreendo ao lembrar que Hiz e Jena estão em casa.
— Porra! Que boceta apertada... tão quente... tão gostosa, estou
viciado. — Ele começa a se mover bem rápido, me fazendo soltar gemidos
altos.
— Adam...
— Calma, amor, eu disse que transaria com você até que não
lembrasse do seu nome, ainda se lembra?
— Meu nome é Isabel ainda. — Ele sorri.
— Tão safada, do jeito que eu gosto. — Me penetra mais fundo com o
seu pau, fazendo-me arfar.
Adam Lavisck vai me levar à loucura.
Quatro meses de namoro, quatro meses de pura alegria e paz. Nunca em toda
a minha vida fui tão feliz a ponto de sempre estar sorrindo feito boba o dia
todo. Jamais imaginei que meu namoro com Adam fosse ficar tão sério
assim; não estou dizendo que duvidava do amor dele, mas por ele ser bem
ciumento e teimoso, às vezes temos nossas brigas, como um casal normal,
mas não se passa nem um minuto e já estamos nos agarrando. Conheci a filha
de Adam, e confesso que me apaixonei por ela assim que a vi, uma menina
doce, inteligente e linda. Tenho pena do Adam quando tiver vários meninos
correndo atrás de sua filha, ele terá cabelos brancos antes dos quarenta anos.
Depois de conhecer Sophia, nos tornamos inseparáveis; sempre a levo
para sair, seja só nós duas ou com Adam. Às vezes é difícil imaginar que a
mãe a tenha abandonado para fugir com outro. Mesmo ela tendo surdez
unilateral, ou seja, a surdez afetou apenas um dos ouvidos, e fazendo uso de
aparelho auditivo para poder ouvir, ela não se intimida e está sempre se
divertindo como uma criança qualquer; não é fechada ou isolada do mundo,
ao contrário, ela é bem alegre, com uma personalidade forte e que deixa
sempre uma marca onde quer que vá. Não sei porquê, mas ela lembra muito a
mim e não é somente eu que penso isso, o próprio Adam e Kátia também.
Lembro muito bem quando Sophia disse que me amava, me senti muito feliz
quando ouvi isso saindo de sua boca.
— Princesa, agora tenho de ir para casa, vou precisar sair depois.
Bárbara ficará com você até que seu pai chegue, mas só vou sair depois que
você dormir.
— Amanhã você volta? — pergunta me olhando com aqueles grandes
olhos azuis.
— Claro, meu amor, agora boa noite. — A cubro e lhe dou um beijo
de boa noite. Estávamos na casa de Adam e ele tinha saído para resolver um
problema que não quis me dizer o que era, e eu fiquei com Sophia.
— Boa noite, Bel, te amo. — Sophia se virou para o lado e dormiu.
Senti meu coração acelerar com suas palavras.
— Eu também te amo, minha princesa. — Depositei um beijo casto
em sua bochecha.
***
***
Dois dias sem ver Adam e eu já estou louca. Mesmo morrendo de vontade de
vê-lo, é preciso esse afastamento para que ele veja que eu não estava
brincando quando disse aquelas coisas. O amo muito, mais do que eu
imaginava, mas se ele não confia em mim, esse namoro nunca irá para frente.
Hoje é domingo e pela manhã resolvi andar um pouco para espairecer a
mente e, por onde eu andava, via diversos casais apaixonados juntos e isso
me fez lembrar de Adam, me fazendo ficar triste por não estar com ele.
Nessa história toda, o que mais me doeu foi o fato de ele não ter me
ligado ou me procurado; confesso que isso me magoou demais, pois, parece
que para ele foi um tanto faz o que aconteceu naquela sala.
Estou deitada no sofá da sala quando Hiz e Jena aparecem, já é noite e
eles estão bem arrumados. Hiz nem abriu a boate, está dedicando essa noite à
sua mulher. Jena está muito bonita em um vestido preto justo que vai pouco
acima dos joelhos, os cabelos negros lisos e soltos, Hiz está vestido a rigor,
de terno e gravata preta, e está bem bonitão.
— Humm, pelo visto a noite vai ser boa — comento maliciosamente.
— Óbvio que sim. São doze anos de casados, e não é todo dia que
saímos assim; faz anos que não temos uma noite só para nós — diz Jena.
— Fico muito feliz por vocês.
— Obrigada, querida. Pedro está no quarto jogando videogame, daqui
a pouco o obrigue a ir dormir.
— Está bem, pode deixar — digo os acompanhando até a porta.
— Se qualquer coisa acontecer, por favor, nos ligue — Hiz avisa.
— Sim, senhor. — Bato continência.
— Bel, tem certeza que você está bem para ficar com Pedro? —
questiona Jena, se referindo ao meu drama com Adam.
— Vou ficar, Jena, pode deixar. — Esboço um sorriso falso.
— Está bem. Tchau, querida.
— Tchau. — Fico olhando da porta os dois caminhando até o carro e,
assim que eles dão a partida, eu entro e vou direto para o quarto de Pedro ver
como ele está.
— Pedro? Posso entrar? — peço.
— Claro, maninha.
— E aí, o que vamos fazer hoje? Temos a noite toda sem Jena e Hiz
— falo chamando a sua atenção que até então estava na tela da TV.
— Eu sei o que você está fazendo. — Olho para ele sem entender.
— Como assim? — pergunto confusa.
— Você quer mostrar que está bem, mas não está, eu te conheço Bel.
Me dou por vencida e pergunto:
— Está tão na cara?
— Sim.
— Ah Pedro, o amor dói. — Me jogo na cama.
— Ainda bem que eu não sei o que é isso, só o amor da minha família
basta.
— Um dia você vai saber e entender o que estou dizendo. — Dou um
breve suspiro.
— Ele ama você, irmã — afirma, me chamando a atenção.
— Será mesmo?
— Claro. Olha, no começo não fui muito com a cara dele, mas depois
que fui conhecendo eu vi que ele é um bom homem. — Olho mais surpresa
ainda por eu estar desabafando com um menino de dez anos e que ainda por
cima está me consolando!
— Adam é um grande homem e eu o amo muito, só que ele tem
muitos segredos — murmuro pensativa.
— Você também.
— Ele sabe de tudo sobre mim, Pedro.
— Ele sabe sobre o reformatório?
— Sim.
— Mas ele sabe o que aconteceu lá? — Pela primeira vez, Pedro
consegue me fazer ficar muda. — Pela cara que fez ele não sabe de nada.
— Você sabe o que aconteceu? — Estou chocada, pois só quem sabe
disso é Jena e Hiz.
— Sim, eu ouvi você dizendo a meus pais e fiquei muito triste por
você.
— Essa é a parte do meu passado que eu mais odeio — comento
melancólica.
Além de ter sido maltratada no reformatório, as meninas mais velhas
de lá me faziam de escrava e se eu não fizesse o que mandavam, me
torturavam. O pior de tudo era que os funcionários viam o que elas faziam
comigo e nunca se meteram para me ajudar. Uma vez eu tive de ficar quieta
quando uma das meninas que me batiam me tocava, não chegou a me
estuprar, mas passava a mão nas minhas partes íntimas, principalmente nos
meus seios que, embora eu fosse bem nova, já eram grandes. Eu me senti tão
suja naquele dia, lavei minha boca com sabão, pois a todo momento ela
beijava a minha boca. A única coisa que eu podia fazer naquele momento era
chorar muito e pedi a Deus para me tirar daquele sofrimento. Não tenho
preconceito com homossexuais, mas eu não fiz aquilo porque eu quis e sim
porque fui obrigada; ou eu fazia ou ela juntava todas as suas amigas para me
baterem, e eram muitas.
— Eu imagino. Mas Isabel, você não pode cobrar algo de Adam se
você mesma não cumpre. — Ele tem razão.
— Não sei o que é pior, se é o fato do meu irmão de dez anos estar
com razão sobre coisas do meu namoro, ou o fato de que Adam não quer
mais saber de mim — digo dando uma risada fraca.
— Liga para ele. — Ele joga seu celular em cima de mim.
— Não posso, eu estaria admitindo que ele está certo.
— Mas eu não disse que ele está certo. Segredos em um namoro é
muito ruim, meu pai me disse isso há alguns dias.
— Pedro, não vou ligar. Se ele não me ligou, não me procurou e nem
fez sinal de fumaça, é por que não quer falar comigo.
Assusto-me quando, do nada, a campainha toca. Pedro olha para mim
sem entender, já que está um pouco tarde para visitas.
— Está esperando alguém? — questiona Pedro.
— Não. — Me levanto e vou até a sala para atender a porta, com
Pedro atrás de mim.
Quando abro a mesma, tomo um susto com dois homens que mais
parecem postes de tão altos.
— Isabel Mitchell? — um deles fala.
— Quem são vocês? — pergunto sentindo um medo terrível e coloco
Pedro atrás de mim.
— O Alfa mandou vir buscar você — responde o outro homem que
tem uma cicatriz no olho esquerdo.
— Alfa? Quem é Alfa? — indago confusa.
— Por favor, senhorita, nos acompanhe; ele solicitou a sua presença e
nos mandou vir buscá-la. — diz um deles segurando o meu pulso e me
fazendo o olhar de cara feia.
— Ei, quem vocês pensam que são para chegar aqui querendo me
arrastar sem mais nem menos? Nem conheço vocês e nem esse Alfa. — Ao
dizer a palavra Alfa, lembranças da noite em que Adam me salvou de León
me invadem.
— Ninguém tem medo de você Alfa, nem de você e nem do seu bando.
Claro! Alfa é o Adam. Mas... por que Alfa? Por que ele mandou esses
homens virem me buscar? Será que é armação do meu suposto avô para
conseguir me levar? Oh Deus, me ajuda, me dê uma luz!
— Por favor senhorita, só venha conosco — fala o homem com a
cicatriz.
— Como vou saber se isso é verdade? — questiono.
Logo um deles pega um celular, digita um número e depois me
entrega o aparelho; relutantemente eu o pego.
— Isabel, por favor, faça o que eles estão pedindo, preciso muito
conversar com você. — A voz de Adam do outro lado da linha soa
impaciente.
— Ah, agora você quer conversar? Você sumiu por dois dias! —
acuso irritada.
— Eu sei, me desculpe. Quando você chegar vou te contar tudo — diz
com uma voz estranha agora.
— Chegar onde? Contar o quê?
— O meu passado de verdade.
Ele vai me contar o passado dele? Será que eu quero saber toda a
verdade sobre o passado dele? E se eu não quiser mais vê-lo depois de hoje?
Para ele não ter me contado antes, deve ter medo de alguma coisa.
Espero não me arrepender.
Capítulo Dez
- Isabel Mitchell -
Um dos homens levou Pedro para a casa de Adam para ele ficar com
Bárbara e Sophia, e eu sigo em um outro carro com o segundo homem, o da
cicatriz.
Estou em um carro com um completo desconhecido me levando para
um lugar mais desconhecido ainda. Fico cada vez mais assustada quando
percebo que estamos saindo de Seattle e o carro segue por um caminho
deserto e sem iluminação. Facilmente alguém poderia matar outra pessoa
aqui e nunca ser descoberto. O carro para perto de uma pequena casa velha
feita de madeira e que está caindo aos pedaços, entramos na casa e logo
somos recebidos por um senhor de cabelos grisalhos que nos leva até uma
porta. Quando ele abre, assusto-me quando percebo que se trata de um
elevador. Antes de entrar, respiro bem fundo para manter a calma; o homem
que me trouxe aperta um botão e logo começa a digitar vários números e
letras que suponho ser um código.
Não quero admitir, mas estou com um mau pressentimento e não
gosto nada, nada disso.
Depois de pouco tempo a porta do elevador se abre, me dando a visão
de um enorme cassino luxuoso, cheio de pessoas vestidas a rigor. Fico
surpresa com tudo, é enorme! Isso é uma espécie de cassino subterrâneo.
Passamos pelo cassino e de novo o homem digita números e letras, só
que, dessa vez, uma porta dupla de metal se abre, dando a visão de um ringue
de luta, e ao redor estão centenas de homens gritando. Olho tudo assustada e
me desespero mais ainda quando vejo Adam entrar dentro desse ringue com
mais dois homens. Todos estão sem camisa, apenas com uma bermuda e
descalços. Meu coração para quando vejo os dois homens se aproximarem de
Adam com violência, mas ele é mais rápido e se esquiva, derrubando um
deles, que bate a cabeça com tanta força que até eu senti a dor. O outro
homem aproveita que Adam está distraído e acerta uma cotovelada em sua
cabeça, fazendo Adam cambalear. Eu me assusto quando o outro homem que
havia caído no chão derruba Adam com uma rasteira. Meu coração bombeia
forte. Todos os homens que estão no recinto gritam por Adam, ou melhor,
pelo Alfa.
Assim que Adam se levanta, os dois homens tiram duas facas não sei
de onde, meus olhos se arregalam de medo, minha respiração falha e temo
que eles o matem ali mesmo. Mas o que me surpreende é quando Adam, bem
rapidamente, arranca a faca de um deles, quebrando a mão de um, e ao
mesmo tempo, dando um chute na mão do outro. O homem que tem a mão
quebrada cai no ringue e geme de dor, enquanto Adam vai para cima do
outro, desviando dos diversos socos que o homem tenta lhe dar. Ele derruba o
homem no chão com apenas um soco e o levanta pela cabeça; com muita
frieza ele quebra o pescoço do homem e arregalo os meus olhos diante dessa
cena, sinto arrepios percorrendo meu corpo nesse momento. Adam vai para
cima do segundo, que tenta se levantar e dar um soco em Adam, mas ele é
mais rápido e desvia. Logo em seguida quebra o braço do homem, que urra
de dor; pude ouvir daqui os ossos do braço dele sendo quebrados e todos em
volta gritam a palavra “mata”!
Adam se abaixa, pegando uma das facas e se aproxima do homem que
ele quebrou o braço, e, com tamanha facilidade, crava a faca bem no meio do
rosto do homem, dando um sorriso de dar medo. Olho tudo isso em choque,
não acreditando no que vejo. Não creio que esse é meu Adam, esse não pode
ser o Adam pelo qual me apaixonei, é impossível.
— Senhorita, vamos para o escritório do Alfa — diz o homem que me
trouxe para esse lugar terrível.
O acompanho até uma sala que também fica por trás de uma porta
dupla de metal com senha, logo depois dela tem outra porta, só que, dessa
vez, de madeira. Ele abre a porta de madeira e já estamos dentro de um
escritório, bem parecido com o de Adam na empresa, só que mais sombrio e
com várias armas e espadas presas na parede.
— Aguarde aqui, o Alfa já está vindo — fala o homem, que logo sai
me deixando sozinha naquela sala e de novo aquela sensação ruim me atinge.
Quando penso em começar a explorar o escritório, a porta se abre me
dando a visão de um Adam totalmente diferente do que vi a minutos atrás.
Ele está com uma calça preta, camisa branca com as mangas enroladas até os
cotovelos e os três primeiros botões abertos, cabelo molhado do banho recém
tomado.
— Oi. — Ele diz parado próximo à porta e me olha da cabeça aos pés.
— Oi — digo desviando o olhar.
— Quer beber alguma coisa ou...
— Enrolar não vai ajudar, Adam, ou melhor dizendo, Alfa — falo
sem rodeios. Ele fica sério e, sem nenhuma expressão, começa a andar pela
sala e se senta em uma das poltronas de couro do escritório.
— Pelo visto me viu lutando. — Se encosta na poltrona.
— Lutando? Você quer dizer matando, né?
— Lutando até a morte — explica naturalmente.
— Supernormal, não é, senhor Lavisck? Ainda mais para o CEO
mais respeitado e conhecido de Seattle, e que é pai de uma menina de oito
anos — ironizo friamente.
— Você não entende.
— Acho que nunca vou entender.
— Eu preciso disso, preciso aliviar minhas dores.
— Matando pessoas? A polícia sabe disso?
— A polícia ajuda, o FBI, a CIA, os federais, todos fecham os olhos
para isso; aqui matamos homens que cometem crimes bárbaros, desde estupro
a tráfico de crianças ou violência doméstica.
— Mas isso é errado.
— Errado? Como pode me dizer que é errado se você já matou, e
ainda por cima meu pai? — Eu não acredito no que estou ouvindo.
— Espera, você quis me mostrar isso só para jogar na minha cara o
que eu fiz com seu pai? Adam, seu pai foi um monstro, ele matou meus pais
junto com o meu avô e ainda por cima tentou me estuprar junto com o filho
dele. Tudo o que fiz foi em legítima defesa.
— Nós também matamos monstros, fazemos isso por legítima defesa.
— Vocês matam por prazer, é diferente. Pelo que eu entendi você
entra no ringue e só saí de lá vitorioso ou morto. Já pensou na sua filha? Na
sua família? Em mim? — Sinto as lágrimas descerem.
— Eu necessito disso, Bel, preciso tirar todo esse ódio de mim. —
Sua voz é fraca.
— E que ódio é esse que você tem? — Me aproximo dele.
— De tudo. Da vagabunda da minha ex-noiva que fugiu com o
homem que eu achava ser meu melhor amigo e que, na verdade, era um pau
mandado do seu avô. Ódio do meu pai, ódio de mim mesmo por ser esse
homem quebrado e todo fodido.
— Espera, como assim “pau mandado do meu avô”?
— Dimitri era meu amigo e nos conhecemos no primeiro ano da
faculdade, foi no mesmo período que conheci a mãe de Sophia, Amber.
Namoramos durante dois anos e, aparentemente, estava tudo certo e eu
achava que ela me amava. Quando me contou que estava grávida, eu não
perdi tempo e a pedi em casamento, íamos nos casar depois do nascimento do
bebê. Logo tratei de procurar um emprego e com o dinheiro que eu havia
juntado das mesadas que meu pai me dava, comprei um apartamento. Não é o
mesmo que vivo hoje com Sophia, pois o outro era mais simples e não tinha
tanto luxo. Quis me livrar daquele por não me trazer boas lembranças e, com
o tempo, passei a ter nojo de tudo que tinha alguma coisa a ver com o meu
pai, principalmente o dinheiro. Eu era novo e ingênuo demais, só fui entender
o tamanho da maldade que meu pai fez alguns anos depois. Parecia tudo
perfeito, pois, na minha cabeça, eu estava morando junto com a mulher da
minha vida e prestes a me casar com a mãe da minha filha. Quando Sophia
nasceu eu fiquei tão feliz e Amber parecia estar também, mas, três meses
depois, em uma noite, uma semana antes do nosso casamento, eu cheguei em
casa e a vi trepando com Dimitri. Sabe o que ela disse enquanto trepava com
ele? — A raiva é nítida em seus olhos, sacudo a cabeça e ele continua. —
Que eu era um idiota e incompetente, que ter Sophia foi uma droga, que era
uma gravidez indesejada e, que, se dependesse dela, teria abortado. Ela
insultou tanto a minha filha que eu quase cedi à vontade de bater nela, não
por ter me traído e sim por falar tamanhas barbaridades da própria filha.
Mandei-a ir embora e assim ela o fez, deixando Sophia para trás e sumindo
pelo mundo com Dimitri. Anos depois descobri que tudo foi armação do
maldito do seu avô e que Amber está morta. Ele queria mostrar o poder que
tinha. Sabe como soube disso? Me mandaram uma caixa, com uma carta
revelando esse plano doentio do seu avô e junto estava a porra da cabeça de
minha ex-mulher. — Arregalo os meus olhos.
— Adam... Eu não... Por que não me contou?
— Isabel, eu amo você com todo o meu coração, mas não queria
contar o meu passado; você não merece, você já sofreu muito. — Posso ver
as lágrimas se formando em seus olhos.
— Adam, eu sou sua namorada e também te amo com todo o meu
coração. Eu sempre vou querer seu bem; se eu pudesse fazia você esquecer
tudo de ruim que já passou, meu amor. — Sento-me em seu colo.
— Você não pode ser tirada de mim, eu não vou aguentar isso, Isabel.
— Sem pensar duas vezes, eu o abraço e posso sentir suas lágrimas molhando
o meu ombro.
— Eles não vão conseguir, meu amor. Nunca! — afirmo e, por fim,
dou um beijo nele, um beijo forte, urgente e cheio de amor.
— Eu te amo, minha ogra — diz, me fazendo sorrir.
— Também te amo, meu mandão. — Ele sorri em meio às lágrimas.
— Senhor, temos problemas — anuncia um homem ao entrar
correndo, nos interrompendo.
— O que houve, Albert? — pergunta Adam, preocupado.
— É o Dimitri. Ele está aqui e trouxe um exército com ele; estão
fortemente armados e querem a senhorita Mitchell.
Droga!
Olho para Adam e vejo em seu olhar algo que jamais pensei que veria
um dia, desespero. Definitivamente esse não é o Adam confiante e cheio de si
que conheci há meses.
— Albert, quero que me deem cobertura, vou sair daqui pela
passagem secreta junto com a senhorita Mitchell e façam o possível para
nenhum deles chegar perto de nós — ordena.
Albert sai correndo, nos deixando sozinhos, Adam me olha bem nos
olhos e depois me beija, um beijo que não gosto, parecia mais um beijo de
despedida.
— Seja lá o que for que aconteça, saiba que te amo com todo o meu
coração. — Ele diz acariciando o meu rosto.
— Eu também, meu amor, te amo com todo o meu coração, e não vai
acontecer nada, nós vamos conseguir sair daqui. — Lhe dou outro beijo.
— Me promete uma coisa?
— Sim.
— Se conseguirmos sair dessa você se casa comigo? — Olho para ele
surpresa.
— Sim, meu amor — respondo sorrindo.
— Agora vamos, temos de sair daqui o mais rápido possível. — Ele
me puxa, indo em direção a uma estante enorme cheia de livros.
Adam joga um deles no chão e logo aperta um botão, uma passagem
secreta se abre, ele sai correndo, me puxando pelo corredor mal iluminado.
Depois de cinco minutos correndo e subindo escadas, conseguimos sair dessa
espécie de clube secreto. Um pouco mais à frente, avistamos um carro que,
suponho, está esperando por nós. Adam, de longe mesmo, destrava as portas
e, assim que chegamos perto do carro, elas se abrem sozinha. Entramos
rapidamente, logo trato de pôr o cinto e, assim que Adam entra no carro, sai
acelerando em alta velocidade.
— Adam, você está indo rápido demais, está muito escuro e essa
estrada é cheia de curvas — constato preocupada.
— Não dá tempo de pensar nisso, temos de sair daqui e ir o mais
longe possível, não vou deixar que te tirem de mim — diz sem tirar os olhos
da estrada.
— Você está sem cinto Adam, e se...
— Bel, não vai acontecer nada, lembra?
— Sim — confirmo, me dando por vencida.
Olho para trás e percebo que há uma picape preta nos seguindo e
entro em pânico quando começam a atirar em nós.
— Adam, tem alguma arma aqui?
— Para que você quer uma arma?
— Para que seria? Eles estão atirando, temos de revidar — digo,
procurando no porta-luvas alguma.
— Não vou deixar você sujar suas mãos com esses vermes.
— Então pretende fazer o quê? Usar seu poder da mente para levitar a
arma e sair atirando? — ironizo.
— Nem nessas horas você deixa de ser irônica? Meu Deus! —
exclama.
— Adam, pelo amor de Deus, me diga onde... — Paro de falar quando
sinto algo queimar em meu ombro, coloco a mão e vejo que está suja de
sangue.
Merda, eles me acertaram!
— Adam.
Ele dá uma breve olhada e logo percebe o que aconteceu, entra em
desespero e acelera mais o carro.
— Filhos da puta! Eles te acertaram! — vocifera.
— Adam, presta atenção na estrada! — grito, mas já é tarde demais.
Um caminhão cruza nosso caminho, Adam tenta desviar e o pior acontece.
O carro atravessa a pista e começa a capotar em um pequeno
barranco, sinto meu corpo girar diversas vezes. Tento gritar, mas minha voz
não sai. Quando o carro finalmente para eu olho para o banco do motorista e
não vejo mais Adam ali. Tento me mexer, mas não consigo. Levo um
segundo para perceber que o carro caiu em um lago e que estou afundando.
Entro em desespero, pois não consigo me soltar ou ao menos me mexer.
Começo a me afogar e fico mais desesperada ainda por não conseguir sair;
sinto minha visão turvar, minha respiração falhar e a única coisa que escuto
antes de apagar é alguém gritando: moça!
- Adam Lavisck -
Sabe quando você sente que seu mundo acabou? Que nada mais na sua vida
faz sentido? Então, é isso que sinto quando minha mãe diz que Isabel foi dada
como morta. Me recuso a acreditar em tais palavras. Ela me prometeu que
nada iria acontecer, que ficaria comigo... Ela não pode ter me deixado. O
amor da minha vida não pode ter me deixado.
— Mãe, diz para mim que é mentira — peço sentindo as lágrimas
descerem.
— Meu filho, só Deus sabe como eu queria que isso tudo fosse
mentira também, meu querido. O corpo dela não foi encontrado. — Ela
chora.
— Ela prometeu ficar sempre do meu lado, ela não tinha esse maldito
direito de me deixar! — grito.
— Adam, pelo amor de Deus, você não pode fazer muito esforço,
acabou de acordar de um coma. — Minha mãe tenta me acalmar.
— Que se foda a porra do coma, mãe. Eu só quero a minha mulher de
volta. — Sinto os braços de minha mãe me rodearem e não aguentando mais,
desabo em um choro de soluçar.
— Eu sei que dói, meu amor, eu sei que dói muito. Nada do que eu
faça ou diga irá tirar essa dor que você está sentindo, mas você precisa se
lembrar que tem uma filha e que ela, durante todo o tempo em que você
esteve em coma, não conseguia dormir. Ela acha que Isabel foi embora e não
que ela está...
— Ela não está morta.
— Filho...
— Não, mãe! Você disse que por não terem encontrado o corpo ela
foi dada como morta, então há possibilidades de ela estar viva.
— Adam, é impossível. Já se passaram semanas e nada de ela
aparecer, já colocamos a notícia em todos os jornais, nas TVs e revistas e até
agora nada.
— Não importa, talvez o maldito do avô dela tenha conseguido pegá-
la.
— Filho, não pense nisso agora, você tem de se recuperar.
— Não vou descansar até comprovar com meus próprios olhos que
Isabel está morta ou não. Talvez ela esteja em algum lugar por aí ou então
com o avô dela. E acredite, mãe, se Isabel estiver naquele maldito castelo,
sendo obrigada a se casar com um filho da puta, eu mato um por um que
esteja nessa merda toda, ou não me chamo Adam Lavisck!
EM OUTRA CIDADE
Minha cabeça dói, e como dói. Parece que alguém me acertou com um taco
de beisebol, está a ponto de explodir. Abro meus olhos bem lentamente para
me acostumar com a luz forte do ambiente e quando minha visão se habitua,
percebo que estou em um quarto de hospital. Olho em volta e vejo um
médico mexendo nos aparelhos conectados a mim, ele se assusta quando
percebe que acordei.
— Oh, moça! Finalmente acordou, como se sente? — pergunta me
olhando atentamente.
— Minha cabeça parece que vai explodir. O que aconteceu? —
Coloco a mão na cabeça.
— Você foi encontrada quase morta, com ferimentos graves e uma
grande perda de sangue; depois da cirurgia que fizemos para retirar a bala do
seu ombro, você entrou em uma espécie de coma. Está aqui há quatro
semanas. — Arregalo os meus olhos.
— O quê?! Bala? Eu fiquei em coma? Doutor, me explique melhor
isso — peço.
— Você não lembra o que te aconteceu? — Ergue uma sobrancelha.
— Não, na verdade não sei nem quem eu sou. — O doutor me olha
assustado.
— Droga! Eu sabia que teria sequelas depois da cirurgia — diz
olhando na prancheta.
— Sequelas? — pergunto confusa.
— Sim, no meio de uma tomografia vimos que você teve um pequeno
inchaço na cabeça, não era preciso uma cirurgia por ser bem pequeno e não
grave, mas não sabíamos o quão forte foi a pancada que levou. Acho que com
a pancada você perdeu a memória. — Olho para ele, assustada.
— Eu perdi a memória?! Então quer dizer que não lembro de quem eu
sou ou de alguém que eu conheça?!
— Sim, eu sinto muito.
— Mas isso pode passar, não é? — Isso não pode estar acontecendo.
— Não posso responder a essa pergunta. Há casos em que a perda de
memória se arrasta por dias ou até semanas, mas também há casos em que ela
dura anos, ou que a memória nunca volte.
— Então quer dizer que talvez eu nunca lembre quem sou?
— Sim.
— O que eu vou fazer da minha vida? Não sei meu nome, não sei
nada sobre mim, não sei se tenho família, não sei nada.
— Tem certeza que você não se lembra de nada?
— Tenho, doutor, nem da droga do meu nome eu lembro!
— Eu sinto muito.
— Que tipo de acidente eu sofri para isto acontecer? — pergunto.
— Eu encontrei você, bom, na verdade eu salvei você.
— Como assim?
— O carro que você estava caiu no lago, e antes de cair ele atravessou
a pista e capotou por um barranco, eu vi.
— Mas então você viu o que causou esse acidente?
— Não, só vi o carro mesmo, mas tem uma coisa que não deixei de
notar — fala pensativo.
— O quê?
— Quando te encontrei, você estava presa no banco do carona. —
Olho confusa para ele e, depois de alguns segundos, eu entendo o que ele
queria dizer.
— Acha que tinha mais alguém no carro?
— Provavelmente sim, não teria como o carro sair por aí sem alguém
dirigir.
— Se tinha alguém no carro, então por que não estava lá na hora que
o carro caiu no lago?
— Não sei, isso é um mistério.
— Não, o verdadeiro mistério é quem estava comigo naquele carro...
Talvez essa pessoa saiba quem eu sou.
— Sim, provavelmente.
— Eu não posso viver a vida sem uma identidade, sem saber quem
realmente sou. — Me ajeito como posso na cama.
— Invente um nome — sugere.
— Inventar? Isso não seria crime?
— Seria se você estivesse roubando a identidade de alguém, mas
nesse caso, você só estará dando um nome a você, e não roubando.
— Verdade.
— Então, já pensou em um?
— Júlia.
— O quê?! — pergunta assustado.
— Júlia. Pode ser esse nome.
— Nossa, você falou de um jeito que pensei que tinha lembrado do
seu nome.
— Não, é que... Esse nome foi o primeiro que veio na minha cabeça.
— Então está bem. A partir de hoje, você se chamará Júlia.
— Sim — concordo.
— Viu? Agora você tem uma identidade. — Sorrio para ele.
— Sim, doutor. Desculpe, estamos conversando há um tempo e nem
perguntei seu nome.
— Ethan.
— Ethan, Júlia pode ser minha nova identidade a partir de agora, mas
eu preciso saber sobre a minha antiga — digo decidida.
— E o que pretende fazer para descobrir?
— Descobrir quem estava comigo dentro daquele carro.
***
***
— Isabel. — A chamo.
Estamos, Isabel e eu, deitados em minha cama depois de fazermos
amor. Ela está perfeita como sempre, com os cabelos loiros espalhados pelo
travesseiro, completamente nua e com um olhar de deliciosamente satisfeita.
— Sim, amor. — Amo ouvi-la me chamando assim.
— Sabia que te amo? — Ela se vira para ficar frente a frente comigo,
leva uma de suas mãos até meu rosto e começa a me acariciar, seu toque é
gostoso e delicado. Isabel sorri quando beijo sua mão que está em meu rosto.
— Eu também te amo, minha vida, muito mais do que você imagina
— sussurra.
— Tenho tanto medo de te perder. Me dói pensar nessa hipótese —
digo bem sério.
— Então, não pense — diz colocando seu rosto mais próximo do
meu.
Seus olhos azuis são tão lindos!
— É difícil não pensar quando sabemos que seu avô está louco atrás
de você, querendo te sequestrar para se casar com um rei. Tenho muito medo
de ele fazer algo pior com você. — Só de pensar nisso sinto meu coração
doer, eu amo muito essa mulher.
— Ele não seria capaz. Se eu morrer, ele perde a aliança com esse tal
rei que nunca ouvi falar. Isso tudo está sendo uma loucura para mim, uma
hora sou uma simples estagiária na sua empresa, dançarina de strip e órfã. E
agora descubro que sou uma princesa, única herdeira de um trono, que meus
pais morreram para me proteger, que seu pai os matou por vingança e aliança
com o meu avô e que estou sendo caçada há anos por esse meu avô do mal
para me casar à força com um homem que nunca vi na minha vida. Bom, isso
é loucura demais e até confuso, mas ainda tem um lado bom — diz sem
desviar os olhos dos meus.
— E o que seria?
— Que eu conheci o homem mais lindo, mais atencioso, mais
carinhoso, mais romântico e intenso de todos os tempos. — Profere cada
palavra entre beijos.
— Ah! Não diga isso que me apaixono mais. — Ela ri, me fazendo rir
também.
— Adam, agora é sério. — Ela emenda, parando de rir. — Se um dia
alguma coisa acontecer comigo, quero que saiba que sempre vou te amar, não
importam as circunstâncias. Você sempre terá um lugar especial no meu
coração, sempre será o amor da minha vida e o único homem que amei em
toda a minha existência. Te amo com todo o meu coração, meu Adam
Lavisck. — Meu coração parece que vai sair pela boca depois de ouvir tudo
isso; como não amar uma mulher dessas? Como resistir a qualquer coisa que
ela me pede? Impossível.
— Eu também te amo com todo o meu coração, minha futura Isabel
Lavisck.
***
Olho fixamente para o homem estanho que está parado na minha frente,
aparentemente em estado de choque. Ele parece ver um fantasma, pois está
muito pálido e de olhos arregalados, me olhando de um jeito muito estranho.
Será que estou tão feia assim?
— Não é possível! — o outro homem diz, também me olhando em
estado de choque.
— O que não é possível? Vocês estão bem? — pergunto preocupada.
— É ela, Carlos! É a minha Isabel! — O homem que antes estava
pálido agora está chorando e junto com o choro está com um sorriso enorme
em seu rosto.
— Desculpem-me, não estou entendendo.
— Não se lembra de nós, Isabel? — pergunta o tal de Carlos.
— Não. Deveria? — O homem que está sorrindo entre as lágrimas,
subitamente fica sério e logo sua expressão dá lugar a um semblante de medo
e desespero.
— Isabel, você não se lembra de mim? Não lembra do seu Adam? —
Ele pega na minha mão e nesse exato momento sinto uma eletricidade passar
pelo meu corpo e junto com ela absorvo uma sensação muito esquisita.
Nunca senti isso antes.
— Os senhores devem estar me confundido com outra pessoa. —
Afasto as minhas mãos.
— O quê? Isabel, sou eu, Adam, seu namorado. —
Como?!Namorado?!
— O senhor está louco, não me chamo Isabel, e sim Júlia — respondo
ríspida.
— Mas, Isa...
— Desculpe-me, senhorita. É que meu irmão perdeu a namorada em
um acidente há seis meses e você se parece muito com ela. Na verdade, você
é a cópia exata dela — emenda Carlos, se desculpando.
— Tudo bem, eu entendo.
— Meu irmão machucou você? Só agora percebi que está grávida e
como meu irmão esbarrou em você... — Ele parece preocupado.
— Não, tudo bem. Ele só colidiu com as coisas que estavam nas
minhas mãos. Eu e meu filho estamos bem. Obrigada pela preocupação. —
Agradeço.
— Você vai entrar nesta empresa?
— Sim. Minha amiga trabalha aqui, vim chamá-la para almoçar
comigo.
— Ela se chama Abby? — O tal Adam pergunta.
— Não, Emilly Gutierrez.
— Oh sim, é a nova recepcionista, começou ontem — diz Carlos.
— Sim. Espera! Vocês são Adam e Carlos Lavisck, não é? Os donos
da empresa? — pergunto surpresa.
— Sim, somos — responde Carlos.
— É um prazer conhecê-los. Minha amiga fala muito bem da empresa
e fora que já ouvi falar muito dela depois que me mudei para Seattle. —
Sorrio.
— Muito obrigado. — Carlos agradece.
— Com licença, preciso ir ver Emilly.
— Claro, nós já vamos — diz Carlos puxando o irmão que, entre
protestos, o segue.
Entro na empresa e de cara já vejo Emilly. Além de uma grande
amiga, ela também é minha cunhada e esse é o primeiro trabalho da vida dela.
Ela é recém-formada em Economia e Administração. Emmy, como a chamo,
é muito inteligente, além de também ser linda. Ela está vestindo um terninho
cinza e uma saia lápis da mesma cor, os cabelos ruivos estão presos em um
rabo de cavalo perfeito e está de salto preto.
— Juh, sua louca, por que demorou tanto? — pergunta me avaliando
com seus brilhantes olhos verdes.
— Desculpe, é que na entrada da empresa um homem esbarrou em
mim.
— Que homem? Ele te machucou ou ao meu sobrinho? — questiona
preocupada.
— Não, ele só esbarrou na minha mão, derrubando meu celular e os
papéis do contrato com a editora — explico.
— Oh, sim. Vamos logo almoçar porque estou morrendo de fome e
quero saber como foi lá nessa editora. — Pega a sua bolsa e me puxa com
cuidado para sairmos da empresa.
Há uma semana mandei um manuscrito meu para uma editora aqui em
Seattle. Ele não está terminado, não está nem na metade ainda, para dizer a
verdade, e hoje me ligaram pedindo para que eu fosse até lá para
conversarmos sobre a história. O dono da editora me recebeu e disse que
nunca havia lido coisa mais perfeita no mundo. Ele me pediu para ir até lá,
pois queria me parabenizar pessoalmente pelo lindo manuscrito. Me senti
lisonjeada com as maravilhas que ele disse sobre o meu trabalho. E me
assegurou que, assim que terminar de escrever, eu devo enviar para a editora
que eles farão todo o processo de publicação. Conversamos mais e ele
entregou-me o contrato para avaliar em casa e enviar de volta pelo correio,
caso não consiga ir pessoalmente.
— Agora me conta como foi tudo lá na editora? — indaga já
terminando de comer seu frango grelhado, arroz branco e um pouco de salada
verde.
— Foi ótimo, o chefe da editora amou meu manuscrito e disse que
será um prazer publicá-lo! Me deu o contrato para avaliar em casa e, se eu
concordar com tudo, é só assinar e enviar a eles.
— Nossa! Meus parabéns, Juh. Você merece isso, é uma excelente
escritora.
— Obrigada.
— Tem certeza que não vai comer?
— Tenho, já comi muito antes de sair de casa. Vou ficar só no meu
suco de laranja mesmo.
— Quem foi que esbarrou em você na porta da empresa? — pergunta
curiosa.
— Adivinha? Adam Lavisck! Ele estava junto o irmão, Carlos.
— Eles são uma tentação, não são? Carlos já é comprometido, mas o
Adam, não. O ruim é que ele ainda ama a ex dele. Fiquei sabendo hoje que
ela morreu em um acidente de carro aqui em Seattle. — Ergo uma
sobrancelha.
— Sério? O nome dela era Isabel?
— Sim, como sabe?
— Eles me chamaram de Isabel quando me viram. — Ela para de
comer para me olhar completamente surpresa.
— O quê?! E o que você disse?
— Que me chamo Júlia.
— Mas seu nome de verdade não é Júlia, você não lembra do seu
nome de verdade.
— O que você está querendo dizer com isso, Emmy? — pergunto
desconfiada.
— E se você for essa Isabel? — Pela primeira vez, desde que conheci
Emmy, ela me deixa sem palavras. — Você perdeu a memória em um
acidente de carro e essa ex dele aparentemente morreu em um acidente —
conclui Emmy.
— O acidente foi há seis meses, como o meu.
— Coincidência demais, não acha? — sugere.
— Sim, mas não acho que eu seja essa mulher. E outra, se ele é tão
poderoso, porque não fez nada para me encontrar... quer dizer, encontrar a
Isabel? — Bebo um pouco do meu suco.
— Vamos investigar isso, deve ter alguma razão.
— Investigar? E vamos começar por onde?
— Deve ter alguma notícia sobre esse acidente. A sala do senhor
Lavisck também seria o melhor lugar para investigar — diz pensativa.
— E como pretende entrar na sala dele para vasculhar suas coisas?
— Deixa isso comigo, já tenho um plano. — Profere dando a última
colherada na sua comida.
— Isso é ridículo! Não acho que eu possa ser essa tal de Isabel. —
Óbvio que não sou ela.
Mas e a sensação estranha que senti quando ele pegou na minha mão?
A eletricidade desconhecida... Jamais senti isso antes, mas me pareceu
familiar, não sei de onde.
Oh, porra! Será que sou mesmo essa Isabel?
- Adam Lavisck -
Não é possível que aquela mulher na qual colidi não seja a minha Isabel; a
mulher é a cópia exata dela! Não tem como duas pessoas se parecerem tanto
assim, meu Deus! É ela, tem que ser a minha querida e única Isabel.
— Carlos, devemos voltar para falar com a Isabel. — Eu e Carlos
estávamos no restaurante novo que ele sugeriu para almoçarmos, mas, depois
de ver aquela mulher, perdi completamente a fome.
— Adam, aquela não é a Isabel, ponha isso nessa sua cabeça de vento
— insiste pela décima vez.
— É ela sim. Tem de ser ela. Eu reconheceria a minha Isabel a
quilômetros de distância. — Tento convencê-lo.
— Ela nem sabe quem somos, ela não nos reconheceu.
— E se ela perdeu a memória, talvez isso possa ser uma sequela do
acidente. — Ele me olha como se eu estivesse dizendo um absurdo.
— Adam, está se ouvindo? Com certeza você enlouqueceu de vez.
— Não encontraram o corpo dela, Carlos — insisto. Ainda há
esperanças dentro de mim.
— Mas já se passaram seis meses! — Altera o tom de voz tentando
colocar meu juízo no lugar.
— Carlos, eu conheço a Isabel como a palma da minha mão. Aquela
mulher, além de ser idêntica a ela, têm o mesmo olhar, o mesmo sorriso, o
mesmo brilho especial nos olhos. — Lembro de cada detalhe relacionado a
minha Isabel.
— Ela está com o cabelo curto e grávida. — Verdade, ela está
grávida.
— Ela tem uma cicatriz de bala no ombro esquerdo. — Me recordo
desse detalhe.
— E o que tem isso? — pergunta Carlos sem entender.
— Quando eu e Isabel estávamos fugindo dos cúmplices do avô dela,
Isabel foi atingida por um tiro no ombro esquerdo — explico.
— Pode ser somente uma coincidência — pondera Carlos terminando
de comer o seu salmão.
— Nossa, uma coincidência muito grande, não acha?
— Está bem! Isso realmente pode ser alguma coisa. — Ele admite.
— Finalmente! — respiro aliviado.
— Mas isso não muda o fato de duas coisas. — Olho confuso para
ele.
— E o quais seriam essas duas coisas? — pergunto.
— Primeiro, ela não se lembra de nós. Segundo, ela está grávida.
— Tenho duas respostas para isso.
— Quais? — pergunta Carlos.
— Ela pode ter perdido a memória, e aquele filho que está esperando
pode ser meu. — Ele ergue uma sobrancelha ao ouvir minha constatação.
— Bom, a parte da memória vou ter de concordar com você. Agora
do filho ser seu, eu não garanto. — Dá de ombros.
— O que quer dizer com isso?
— E se ela refez a vida dela? — Isso não passou pela minha cabeça.
E se minha Isabel refez a vida dela ao lado de outro homem? Não,
não, não! Espero que isso só seja uma hipótese, não quero imaginar que
minha Isabel está com outro homem, muito menos grávida de outro. Seria um
choque horrível para mim.
***
- Isabel / Júlia -
Estou tão ansiosa para que Emmy chegue logo e diga de uma vez por todas se
sou ou não essa Isabel, que mal me contenho de nervoso. Isso seria um dos
maiores pesos que sairia de cima de mim. Mas tenho medo de descobrir a
verdade sobre minha identidade, descobrir que antes de perder a memória eu
era alguém ruim ou, sei lá. Tenho medo também de descobrir que fui a
desgraça na vida de alguém ou de muitas pessoas. Sei que preciso parar de
ser tão medrosa e enfrentar logo de uma vez esses fantasmas que só vivem
me atormentando. Talvez eu esteja enganada, quem sabe eu não tenha sido
uma pessoa ruim. Contudo, somente quando eu descobrir a verdade sobre
quem realmente sou, poderei saber de uma vez por todas quem fui no
passado.
— Júlia? — Saio dos meus devaneios com Tryna me chamado.
Tryna é a mulher que Ethan contratou para cuidar da casa enquanto,
na sua cabeça, estou impossibilitada de fazer qualquer coisa, o que eu acho
um exagero, pois estou grávida e não doente. Óbvio que não posso fazer
muitos esforços, mas meu querido noivo não entende isso. Adoro a
preocupação dele, me sinto muito protegida, porém, Ethan tem exagerado
muito nessa superproteção.
— Sim, Tryna. — Sento-me na minha cama.
— Emilly está lá em baixo e quer falar muito com você, mando-a
subir?
Tryna é uma mulher com quarenta anos, mas com corpinho de trinta;
além de ser uma negra linda, de cabelos lisos e olhos verdes, é também como
uma mãe para mim.
— Sim, pode sim. — Ela se vira para sair e alguns minutos depois
Emilly aparece, sua fisionomia é preocupante.
— Juh, você não faz ideia do que eu descobri. — Sinto meu coração
disparar pela ansiedade.
— Desembucha logo, mulher. — Ela respira bem fundo e dispara:
— Você só não é essa Isabel, como Adam Lavisck é o pai do seu
filho. Você também é uma princesa, a única herdeira de um trono. — Não sei
se caio dura no chão ou se tenho um infarto agora mesmo.
Como assim princesa, meu Deus?!
— O quê?!... Emmy... Explique essa história melhor. — Quase não
consigo formular uma frase sequer.
— Ele não me explicou direito. O senhor Lavisck me disse apenas
que na noite do acidente você e ele estavam fugindo dos homens que seu avô
mandou para te sequestrarem e um tiro acabou te atingindo. Adam, que
estava ao volante, se distraiu ao ver que você sangrava muito e perdeu o
controle do carro. Pelo que me contou, ele foi arremessado para fora antes do
carro cair no lago e você ficou presa lá. — Isso parece aqueles filmes
americanos cheios de ação e surpresas no caminho.
— Mas por que estaríamos fugindo do meu avô? Por que ele queria
me sequestrar? Emmy, essa história está muito confusa — falo desnorteada.
— Hoje à noite você vai poder esclarecer isso tudo. — Olho confusa
para ela.
— Como assim?
— Ele disse que hoje à noite terá uma reunião com todos da família
para vê-la, lá você poderá tirar todas as suas dúvidas. — Hoje à noite?!
— Mas hoje? Tão rápido assim? — questiono surpresa.
— Quanto antes, melhor, não é, cunhada. — Verdade, estou louca
para saber mais sobre a minha vida.
— Estou muito ansiosa — confesso.
— Dá para perceber. — Ela sorri.
— Você perguntou se eu era alguém ruim antes do acidente? —
Tomara que não.
— Sim, ele disse que você foi alguém que transformou a vida de
todos daquela família. — Isso é bom, não é?
— Fico tão aliviada em ouvir isso. — Realmente, respiro bastante
aliviada.
— Em ouvir o quê? — Olho para a porta do meu quarto e vejo Ethan
nos encarando sem entender nada.
Ethan é um homem lindo. É alto, forte, olhos negros como a noite e
cabelo castanho-escuro que vai até seus ombros. Meu noivo é o melhor do
mundo. Além de lindo, Ethan também é extremamente carinhoso. Adoro
quando ele chega vestido com o uniforme médico, acho tão sexy.
— Irmão, descobrimos quem realmente a Júlia é. — Ethan arregala os
olhos.
— O quê?! Sério?! — Se aproxima.
— Sim, meu amor. Isso não é maravilhoso? — pergunto toda
animada.
— Bom... Claro que sim, anjo. Como descobriram? Qual é o seu
nome de verdade? — Ele senta-se ao meu lado.
— Hoje mais cedo, quando fui à empresa onde Emilly trabalha,
esbarrei no chefe dela, que estava acompanhado do irmão. O senhor Lavisck
me chamou de Isabel e praticamente chorou ao me ver. Perguntou-me se eu
não lembrava dele, dizendo que ele era o meu Adam, meu namorado. Depois
disso, me encontrei com Emmy e contei o que havia acontecido, então sua
irmã resolveu invadir a sala do chefe dela para conseguir provas — explico.
— Deixa-me adivinhar. Você usou o seu famoso grampo para abrir a
porta — Ethan sugere.
— Nem vem, esse dom ajudou muito hoje. Encontrei várias fotos de
Júlia com ele, de Júlia sozinha e de Júlia com ele e a filha dele. O senhor
Lavisck acabou me pegando no flagra com uma foto dela nas mãos e foi
quando me fez perguntas sobre a Júlia, eu respondi confirmando minhas
suspeitas e as dele. Júlia é essa tal de Isabel Mitchell — complementa Emmy.
— Nossa! Que loucura — comenta Ethan, pensativo.
— Amor, ele disse que na noite do acidente, ele e eu estávamos
fugindo do meu avô que queria me sequestrar. — Ethan me olha
aparentemente confuso.
— Por que ele queria te sequestrar?
— Bom, não sei bem, só sei que eu sou uma princesa, herdeira única
de um trono. — Os olhos de Ethan se arregalam.
— Princesa?! Meu Deus, isso eu nunca poderia imaginar — continua
descrente.
— Nem nós acreditamos — emenda Emmy.
— E o que mais esse Adam disse? — interroga Ethan.
— Ele marcou uma reunião para que Júlia vá até lá, todos vão querer
vê-la. Assim, ela poderá ter todas as respostas que tanto quer. — Ethan olha
para mim.
— Mas hoje à noite? Isso está muito em cima. A que horas ele
marcou? — pergunta Ethan.
— Bom, ele disse às vinte horas. Me deu o endereço e tudo —
responde Emmy.
— São dezessete horas agora, ainda dá tempo de irmos — falo.
— Não acho uma boa ideia eu ir. — Olho confusa para Ethan.
— E por que não? — eu questiono.
— Está com medo de enfrentar o poderoso Adam Lavisck? — Emilly
o provoca.
— Óbvio que não, baixinha, mas eu me ponho no lugar dele. Deve ser
ruim ver alguém que amamos, grávida, ao lado de outra pessoa e ainda por
cima sem lembrar dele. — Olho surpresa para Ethan.
— Nossa! Eu pensei que você morreria de ciúme com isso —
completo ainda admirada.
— Não vou mentir, eu sinto, sim. Todavia, nesse caso dá até para
entender. — Olho orgulhosa para ele.
— Que lindo! Meu amor é compreensivo. — Inclino-me para beijar
sua bochecha.
— Vai chover. — Mais uma vez, Emmy provoca.
— Por favor, Ethan, quero que você e Emilly vão comigo. Preciso de
vocês ao meu lado nesse momento tão importante — peço.
— Você sabe que por você eu faço tudo. — Ele me beija.
— Vou sair para que vocês se comam. — Emilly se vira para sair.
— Às sete e meia esteja aqui, Emilly — ordena Ethan.
— Pode deixar. — Ela fecha a porta.
— Estou muito orgulhosa de você, não é qualquer um que pensaria
assim. — Sento-me em seu colo.
— Eu amo você, anjo. Eu me sentiria horrível se caso isso fosse
comigo. — Sorri.
— Eu também, Ethan, muito obrigada por tudo. — Ele traz uma de
suas mãos até o meu rosto e o acaricia.
— Eu que agradeço, você mudou a minha vida. — Não sei bem o
porquê, mas ao ouvir ele dizer isso, me lembro de Adam.
Capítulo Quatorze
- Isabel / Júlia -
Teve um tempo em que eu achava que jamais saberia quem realmente era no
passado. Confesso que já estava quase desistindo, mas, como se tivesse caído
do céu, Adam Lavisck surge revelando tudo sobre mim. Bom, nem tudo, mas
hoje vamos resolver isso, pois neste exato momento estamos entrando pelos
portões da enorme mansão Lavisck.
Uau! Isso não é uma mansão, é um castelo. É linda e luxuosa demais,
o jardim parece ser muito grande e deve ser muito mais bonito durante o dia.
— Preparada? — Olho para Emmy e Ethan, que têm seus olhos fixos
em mim, nem havia percebido que estávamos parados dentro do carro.
— Estou nervosa — confesso.
— É uma reação normal. Você vai conhecer a sua família e saber
quem era no passado — fala Emmy bem animada.
— É, mas... E se no passado essas pessoas não gostavam de mim? E
se eu fui ruim e esse Adam mentiu só para me deixar mais tranquila? E se...
— Não existe “e se” agora, Júlia. Independentemente do que você foi
ou se essa família te odeia, você vai enfrentar isso como a verdadeira
guerreira que é. Eu estou aqui para tudo, meu amor, absolutamente tudo. —
Ethan pega na minha mão e a leva até seus lábios, dando um beijo carinhoso
nela.
Me sinto um pouco mais tranquila depois de suas lindas palavras de
apoio.
— Vamos. — Sou firme.
— É assim que se fala, garota — Emmy diz nos fazendo rir.
Ao sairmos do carro somos recebidos por um senhor que se apresenta
como mordomo da casa.
Essas pessoas são ricas mesmo!
— Por aqui, vou levá-los até onde todos estão.
— Todos? Como assim, todos?!
Assim que chegamos a uma espécie de sala de visitas, vários olhares
desconhecidos são dirigidos a mim, o espanto e a surpresa são nítidos nos
olhos dessas pessoas, algumas até começam a chorar. Aperto mais a mão de
Ethan para tentar conter meu nervosismo, ele me olha e lança um breve
sorriso para me tranquilizar.
— Oh! Meu Deus! Não é possível! — Uma moça exclama vindo em
minha direção, rapidamente sou envolvida em um abraço bem forte; solto a
mão de Ethan e, para não ser grossa, retribuo. — Eu acho que isso é um
sonho — diz agora me encarando. Ela é bonita, seus olhos verdes brilham e
seu sorriso é enorme.
— Desculpe-me, eu não...
— Nós sabemos, mas não imagina a emoção que todos nós sentimos
quando soubemos que você estava viva. — Sua mão vem até meu rosto e
seca uma única lágrima que estava prestes a cair, não sei o porquê desta
lágrima.
— Pode me dizer o seu nome, aliás, vocês podem se apresentar para
mim? — Olho para todos e eles concordam.
— Eu sou Jena, sua mãe. — A olho surpresa e um sorriso espontâneo
surge em minha boca.
— Minha mãe mesmo? — pergunto maravilhada.
— Bom, não biológica, mas, mesmo não sendo de sangue, você é a
minha filha. E aquele ali é Hiz, seu pai adotivo também. — Aponta para um
homem que, sem pensar, vem na minha direção e me abraça bem forte. Não
sei por qual motivo, mas me sinto protegida agora.
— Minha menina, não sabe o quanto eu senti sua falta. — Sua voz sai
um pouco chorosa; quando ele me olha posso ver a mesma emoção que vi
nos olhos de Jena. Eles parecem me amar de verdade.
— Desculpem-me por não lembrar — sussurro.
— Você não tem porque se desculpar. — Sorri.
— Esse é Pedro, nosso filho e seu irmão, Bel. — É estranho me
chamarem assim, me acostumei com Júlia ou Juh.
O menino tem um brilho diferente nos olhos e, assim como os pais,
me abraça como pode e eu, sem hesitar, retribuo com gosto.
— Pensei que nunca mais iria te abraçar — declara, se desmanchando
em lágrimas e eu, sem me aguentar, choro também.
— Agora estou aqui — digo.
Duas mulheres se aproximam com uma menina que me encara de
olhos arregalados, ela parece ter uns oito ou nove anos.
— Rapunzel — Uma das mulheres diz ao me abraçar entre lágrimas.
— Kátia, cuidado, o bebê.
— Oh, me desculpe! Eu estou tão feliz em te ver que até havia me
esquecido. — Sorriu sem graça.
— Tudo bem.
— Sou Kátia, sua madrinha e mãe do Adam. — Ela seca as lágrimas.
— E eu sou sobrinha do Hiz e sua melhor amiga. Me chamo
Abbygrey, mas por tudo que você mais ama nesse mundo, me chame apenas
de Abby, meu nome é um xingamento horrível que deveria ser abolido do
mundo. — Todos riem. Ela me abraça diferente dos outros, sendo que foi
mais cuidadosa e não me aperta muito.
— Tudo bem, pode deixar — afirmo.
Olho para a menina que me encara ainda de olhos arregalados, ela
parece estar em estado de choque. Tomo a iniciativa e a abraço; nesse
momento sinto vários borrões com vozes desconexas passarem pela minha
cabeça. Sinto um pouco de dor, fecho os olhos para tentar aliviar a dor e
consigo. Os borrões e as vozes somem, mas, antes de sumirem, ouço um
nome.
— Sophia. — O nome sai da minha boca automaticamente e todos me
olham como se eu tivesse sete cabeças.
— Como sabe o nome dela? — Carlos, que até então não percebi que
estava aqui, pergunta surpreso, apontando para a menina que estou
abraçando.
— Bom eu... Eu... Antes de vir, procurei saber sobre vocês e... Soube
que o senhor Adam Lavisck tem uma filha chamada Sophia, deduzi porque
ela é muito parecida com ele. — Isso meio que é verdade.
Não quero falar o que aconteceu, vejo como essas pessoas estão
felizes em me ver e que realmente sentiram muito a minha falta. Não quero
pôr falsas esperanças na cabeça deles, principalmente na minha.
— Oh, sim, por um momento pensei que houvesse lembrado — diz
Kátia.
— Infelizmente não — concluo sem graça.
— Você vai ter um bebezinho? — finalmente a menina fala alguma
coisa.
— Vou sim, princesa.
— Meu irmãozinho ou irmãzinha? — Olho sem graça para Ethan que
mantém uma expressão ilegível no rosto.
— É irmãozinho, ele se chama Ryan. — Todos olham surpresos para
Ethan.
— Um momento, esse bebê que você está esperando é do Adam? —
pergunta Carlos sem acreditar.
— Sim — confirmo.
— Oh! Eu vou ser avó de novo! — exclama Kátia quase pulando de
alegria.
— Nós vamos ser avós, querida Kátia. Vamos ser avós de um menino
— completa Jena com um enorme sorriso no rosto.
— Que falta de educação a nossa, nem sequer falamos com vocês. —
Jena se desculpa com Ethan e Emmy.
— Tudo bem, entendemos — responde Emilly.
— Você é o noivo dela, não é? — questiona Carlos, avaliando-o.
— Sim. — Ethan confirma.
— Acho melhor nós todos nos sentarmos, temos muitas coisas para
esclarecer — aponta Kátia e todos concordamos.
Olho em volta e não vejo Adam. Queria falar com ele, talvez saiba
exatamente o que aconteceu na noite do acidente, pois Emmy disse que ele
afirmou estar comigo. Adam foi meu namorado, deve me conhecer muito
bem. Espero que sim, pois estou louca para lhe fazer um interrogatório ainda
hoje. Preciso saber quem eu realmente era e tenho certeza de que Adam terá
respostas claras para me dar sobre o meu passado, melhor dizendo, o nosso
passado.
***
A conversa flui naturalmente na sala, cada um conta uma parte do que sabe
sobre a minha vida; me surpreendo ao saber que já matei alguém e que fui
parar em um reformatório, nunca poderia imaginar que eu teria feito isso
antes. Resumindo tudo: meus pais morreram para me proteger do meu avô e
eu acabei sofrendo horrores depois da morte deles até os meus dezessete
anos, que foi quando Hiz me encontrou na rua. Eu poderia escrever um livro
com tudo isso.
E não é uma má ideia...
— Nunca imaginei que meu passado fosse tão... Perturbado —
constato, olhando-os atentamente. Ethan e Emmy estão ao meu lado, tão
chocados quanto eu com essas descobertas.
— Imaginamos, você sofreu muito Bel e a culpa é minha. — Olho
para Kátia, confusa.
— Por que a culpa é sua? — questiono.
— Seus pais sempre me pediram para que quando eles não estivessem
mais aqui, eu cuidasse de você. Só fui saber da morte deles dias depois e já
era tarde, você tinha sumido no mundo. — A tristeza é nítida em seus olhos.
— Ninguém aqui tem culpa do que me aconteceu, os únicos culpados
são aqueles que só querem o meu mal. Estou chocada com tudo, mas esse é
meu passado, não posso mudá-lo. — Aperto mais a mão de Ethan.
— Eu sei, só que...
— Só que nada, o sentido da vida é algo sem resposta ainda. Nunca
sabemos o que vai nos acontecer, nunca podemos mudar algo que fizemos ou
aconteceu no nosso passado, pois viagem no tempo não existe. Devemos
viver a vida intensamente, como se não houvesse amanhã, sem nos lamentar
por algo que aconteceu ou que fizemos no passado, porque a única certeza
que temos é que um dia vamos morrer. Só temos uma vida e ficar se
lamentando por algo que já passou é perda de tempo. — Todos me olham de
olhos arregalados, será que falei demais?
— Nossa, desde quando ficou tão... filosófica? — pergunta Abby.
— Eu era tão doida assim?
— Sim, nunca poderia imaginar que algo desse tipo saísse pela sua
boca; estou surpresa.
— Todos nós estamos — concorda, Jena.
— Você tem razão, Bel. Ficar se lamentando é perda de tempo. —
Kátia sorri para mim e eu retribuo.
— Pelo que eu entendi e sei, Ethan te salvou do lago e cuidou de você
— comenta Carlos, parecendo querer mudar de assunto.
— Sim, fui o médico dela, quando Ju... Isabel chegou no hospital.
Pensávamos que ela não ia resistir, pois foi encontrada quase morta, com
ferimentos graves e uma grande perda de sangue. Na cabeça dela se formou
um pequeno inchaço, mas como era bem pequeno e sem gravidade, não
achamos necessária uma cirurgia no local. Fizemos uma para retirar a bala do
seu ombro e, depois disso, Isabel entrou em uma espécie de coma. — Ethan
olha para mim por um segundo e depois volta seu olhar para todos. — Não
sabíamos o quão forte foi a pancada que ela levou na cabeça e acho que, com
a pancada, Isabel perdeu a memória. Descobri que ela estava grávida no
período em que ficou desacordada, depois que despertou eu fiquei
sensibilizado, já que ela não lembrava de nada e ainda estava grávida, então a
ajudei e... com o tempo me apaixonei. — Olho para ele com um sorriso
enorme no rosto e ele também sorri.
— Ficamos agradecidos por tudo, Ethan, você foi um herói. —
Agradece Hiz.
— Que acabou ficando com a donzela em perigo.
— Carlos! — Abby o repreende.
— Pelo que parece sim, Carlos. Fiquei com a donzela em perigo. —
Ethan leva minha mão até seus lábios e a beija suavemente.
— Por que não a levou à delegacia? Lá podiam ajudar puxando fichas
dela ou algo do tipo, isso iria ajudar a achá-la... Acho muito estranho o fato
de termos espalhado por diversos meios de comunicação o desaparecimento
dela e nunca a termos achado. Ela estava em um hospital, como ninguém a
reconheceu? — Sinto Ethan apertar minhas mãos, e sei que está começando a
se interessar.
— Acha que a escondi de propósito? Eu não seria capaz de fazer....
— Então por que não a levou à delegacia?
— Já chega, Carlos, pare com esse interrogatório, o importante é que
ela está aqui agora. Ethan foi um herói e se não fosse ele, Isabel realmente
estaria morta. Fora que se ele realmente a tivesse escondido, nem a traria aqui
hoje. — Kátia repreende seu filho.
— Teria evitado o sofrimento do Adam.
— Onde está Adam? — pergunto para mudar de assunto.
— Está lá em cima — responde Kátia.
— Posso ir falar com ele? — Todos se entreolham.
— Bom, eu não sei se...
— Deixa, mãe. Adam e Isabel precisam conversar, você sabe disso.
Adam já sofreu demais, precisa vê-la. — Carlos interrompe.
— Mas, filho, ela não lembra de nada e Adam...
— Mãe! — Kátia olha para mim e depois volta seu olhar para Carlos.
— Penúltima porta à esquerda. — Ela fala.
Olho para Ethan, que assente, e eu vou andando em direção às
escadas. Sinto meu coração disparar. Isso é estranho.
Não demora muito e já estou parada em frente à porta do quarto de
Adam. Sinto um frio na barriga e um arrepio estranho, quando abro a porta
dou de cara com ele. Adam está apenas de calça, descalço, seu cabelo está
bagunçado.
E que bagunça! Opa! De onde veio isso?
Ele ainda não me viu, está muito concentrado sentado na cama,
olhando para o que parece ser um álbum de fotografias. Entro no quarto e
somente quando fecho a porta Adam percebe a minha presença. Ele arregala
os olhos e coloca o álbum de fotos em cima da cama. Levanta-se e vem
andando lentamente na minha direção.
Nossa! Como ele é bonito.
Adam para bem na minha frente, fica me encarando por alguns
segundos e quando eu vou falar, ele se adianta.
— Oi.
— Oi. — Mordo os lábios de nervosismo e seu olhar vai
automaticamente para os meus lábios.
— O que faz aqui?
— Queria conversar com você, preciso muito falar com você.
— Antes de começarmos, eu quero te fazer uma pergunta que não
para de me atormentar. — Ele acha que não vi, mas ele deu uma breve olhada
para a minha barriga, logo já sei o que ele vai perguntar.
— É seu. — Ele me olha surpreso.
— O quê?
— O filho que eu estou esperando, Adam, é seu. — Ele pisca os olhos
várias vezes, posso ver seus olhos brilharem e lágrimas descerem lentamente.
— Eu... Eu vou ser... Pai?!— indaga sem acreditar.
— Sim, Adam. Você vai ser pai de um menino. — Sou pega de
surpresa quando ele se joga de joelhos bem na minha frente, na altura da
minha barriga.
— Eu posso? — aponta para a minha barriga e eu assinto.
Adam leva suas duas mãos para a minha barriga enorme e, ao fazer
isso, sinto Ryan chutar.
— Ele chutou? — pergunta todo abobado.
— Sim.
— Ryan, meu filho, eu sou o seu pai. — Mais uma vez Ryan chutou,
só que mais forte.
— Parece que alguém gostou de ouvir a sua voz — comento.
— Fiquei sabendo agora que você é meu filho, mas saiba que já te
amo. Você tem uma irmã mais velha, mas quero que me ajude a espantar os
moleques pervertidos quando ela estiver mais moça e você também, meu
menino. — Não me contenho e começo a chorar, não de tristeza e sim de
felicidade. — Eu amo tanto a sua mãe, ela é linda.
Estou chorando porque acabei de descobrir que o pai do meu filho é o
melhor, que vai amá-lo e protegê-lo e, mesmo não me lembrando ou sentindo
algo por ele, tenho certeza que ele foi muito mais que um simples namorado.
Ele foi o homem da minha vida.
Capítulo Quinze
- Adam Lavisck -
— Adam? — Olho para Isabel, ela está linda deitada em meus braços.
— Sim.
— A noite está tão linda. — Realmente, as estrelas brilham
lindamente no céu assim como a lua, que está bela essa noite, como a minha
Isabel. Estamos deitados no jardim da mansão Lavisck.
— Linda como você. — Ela vira a cabeça de lado para me olhar.
— Às vezes eu acho que você não existe. — Sorri.
— Por que diz isso?
— Porque nunca vi um homem ser tão romântico assim.
— Eu sinto a necessidade de te conquistar todos os dias — confesso.
— Por quê?
— Para que você nunca esqueça do nosso amor, não importa o que
aconteça. — Isabel coloca uma de suas mãos no meu rosto.
— Eu nunca vou esquecer do nosso amor.
— Promete?
— Prometo.
Naquela noite ela me prometeu nunca esquecer do nosso amor;
embora eu saiba que não se lembra de mim, tenho a plena certeza que ela
ainda me ama. A mente dela pode ter esquecido, mas o seu coração não.
— Estou louco para ele nascer — falo me levantando do chão.
— Também estou, não vejo a hora de ter meu Ryan nos braços. — A
felicidade ao falar do filho é nítida em seu olhar.
— Venha. — Puxo Isabel para que se sente na cama. — Quero te
mostrar uma coisa. — Ela assente, aparentemente muito nervosa, diria que
está do mesmo jeito que ficou quando nos conhecemos.
Vou até a gaveta do criado-mudo e pego outro álbum de fotografias,
ela o olha sem entender, mas quando o abro fica surpresa.
— São fotos nossas?
— Sim, e ainda têm as que não couberam ali.
— Tiramos tantas fotos assim?
— Muitas.
— Nossa! — exclama olhando para uma foto onde ela dorme,
lindamente vestida com uma blusa minha.
— Às vezes eu acordava no meio da noite para olhar você dormir.
— Por quê?
— Você me transmitia a paz que eu procurei por anos — Ela não diz
nada e volta a olhar o álbum.
Ela passa as fotos olhando-as atentamente, depois de um tempo
coloca o álbum em cima da cama e me encara.
— Se em alguma hora eu tive dúvidas sobre ter te amado algum dia,
essas dúvidas já acabaram. — Olho surpreso.
— Por que diz isso?
— Porque nas fotos está evidente o amor entre nós dois. — Um
sorriso espontâneo surge em meus lábios. — Como nos conhecemos? —
sento-me ao seu lado.
— Bom, você era estagiária na minha empresa, minha secretária era
Abby e você a ajudava. Um dia ela pediu para que você levasse alguns
documentos para eu assinar. Você se apresentou e falou seu sobrenome,
fiquei chocado e nervoso e acabei mandando você sair da minha sala.
— Por que ficou nervoso?
— Quando você falou seu sobrenome me lembrei da tia Júlia.
— Oh, sim.
— Fui atrás de você na sala de Abby. Ao chegar lá, te escutei me
xingando de inúmeros nomes. — Ela ri.
— Eu era desse jeito?
— Sim. Além de atrevida, você sempre falava tudo que vinha na sua
cabeça.
— Quero nem imaginar.
— Eu mandei você me seguir até a minha sala e lá procurei sua ficha.
Perguntei sobre seu sobrenome, falei sobre nunca a ter visto na empresa e
você tinha as respostas na ponta da língua.
— Você é muito abusada. Alguém tinha que te dar uma lição para
deixar de ser assim. Sou seu chefe e deveria me respeitar e, ao menos,
responder minhas perguntas.
— São perguntas que não sou obrigada a responder, são coisas
pessoais.
— Posso te demitir por falar assim comigo.
— Certas perguntas devem ser respondidas da forma como foram
feitas.
— Boca esperta e bonita, gostei. — Retiro o meu paletó e nesse
momento, vejo ela varrer rapidamente o meu corpo.
— Está me assediando? Posso muito bem denunciá-lo por isso.
— Não estou te assediando, não preciso disso para ter uma mulher.
— A irritação é nítida em seus olhos.
— Desculpe, Senhor Convencido, mas tenho mais o que fazer, com
licença.
— Não mandei você sair. — Ela parou no mesmo instante e se virou
para me olhar.
— Não tenho mais nada o que fazer aqui, senhor Lavisck. Creio eu
que essa conversa não vai levar a nada e estou sem paciência para certas
coisas; preciso trabalhar e o senhor também. — Antes que ela dê mais algum
passo, eu a puxo pelo braço e a pressiono contra a parede.
— Como eu havia dito, você é muito abusada, merece levar umas
palmadas na bunda que te deixe sem se sentar por vários dias, e eu teria um
grande prazer em fazer isso. — Mordo os meus lábios e a vejo engolir em
seco.
— Eu tenho de ir. — Sua voz sai baixa.
— Não é o que seus olhos me dizem, muito menos seu corpo. — A
puxo pela cintura e junto ainda mais nossos corpos.
— Como você é... Convencido. — Dou um meio sorriso.
— Você é tão linda. — Passo o polegar pelos seus lábios, ela fecha os
olhos automaticamente, e eu fico ali, parado, admirando o quão linda essa
mulher é.
— Com licença — diz e logo em seguida sai praticamente correndo.
— Deixa-me adivinhar. Depois desse dia, você virou um louco
perseguidor e não me deixou mais em paz. — Sorrio por suas palavras.
— Digamos que foi quase isso. — Ela ri.
— Parece que fomos mais felizes do que eu imaginava — diz, de
repente.
— Muito mais — afirmei.
— Eu queria me lembrar. — Desvia o olhar.
— Eu também queria muito que você se lembrasse. — Ela volta a me
fitar e por um segundo vejo o brilho em seu olhar. O mesmo brilho que
sempre vi na minha Isabel quando ela estava sendo sincera. — Espera aqui.
— Levanto e vou até meu Ipod, conecto com a caixa de som e a voz de Justin
Timberlake cantando Mirrors ecoa pelo quarto. Viro-me para ela, que me
olha confusa.
— Qual o motivo da música?
Não digo nada, simplesmente me aproximo dela e estendo a mão, ela
me olha mais confusa ainda, mas acaba aceitando.
— Não sou fã desse cara, mas essa música me faz lembrar muito
você. — A puxo para mais perto de mim, levo a minha mão até a sua cintura
e automaticamente ela coloca seus braços em volta do meu pescoço.
— Eu sempre gostei dessa música, nunca entendi o porquê — fala
sem desviar seus olhos dos meus.
Mirrors
Tradução: Espelhos
- Isabel / Júlia -
As palavras de Adam não saem da minha cabeça e tenho certeza de que não
vão sair tão cedo. Depois de conversar com ele, eu tenho mais uma
motivação para tentar me lembrar de tudo. Quero recordar-me dos momentos
felizes da minha vida, como ele relatou. Ele descreveu uma Isabel que nunca
imaginei que poderia ser e confesso que senti curiosidade em saber mais
sobre ela. A Isabel que todos amam e sentem falta. Aquele homem realmente
me ama. Aquele homem lindo e carinhoso me ama. O verdadeiro pai do meu
filho me ama. Pensar nisso me deixa mal, pois imagino a situação dele: amar
uma mulher que não se lembra de você, que está grávida de um filho seu e
que, ainda por cima, vai se casar com outro homem.
Ethan!
Como eu pude me esquecer dele?! Eu estou aqui pensando em outro
homem enquanto daqui a alguns meses vou me casar com um que me ama
demais. Me sinto uma vadia agora. Tudo bem que Adam foi meu namorado,
mas agora estou noiva de outro, vou me casar com ele e sei que vou ser muito
feliz ao seu lado, pois Ethan me ama.
Mas, em um relacionamento ambos têm de se amar!
— Amor, ligaram do hospital, precisam de mim urgente lá — avisa
Ethan, entrando no quarto.
Fazia duas horas que havíamos chegamos da casa dos Lavisck. Emmy
resolveu ficar para dormir aqui hoje e nesse momento está lá embaixo,
preparando uma lasanha para comermos, o que me dá água na boca.
— Mas já está um pouco tarde, Ethan.
— Eu sei, Juh, mas é a vida de alguém que está em risco, preciso ir —
conclui, pegando suas coisas.
— Está bem, cuidado. — Ele se aproxima de mim e me beija.
— Sim, querida. Não me espere acordada. — Dá um beijo casto na
minha testa. — Te amo.
— Também amo você. — Assim que Ethan sai do quarto, Emmy
entra com dois pratos com um pedaço de lasanha em cada, ambos sobre uma
bandeja.
— Pensei que não subiria mais. — Pego o meu prato.
— Foi difícil achar os ingredientes, querida cunhada. Esta casa é
muito grande e aquela cozinha, então, nem se fala. Não sei para que tantos
armários lá — resmunga, se sentando de frente para mim. Eu estou encostada
na cabeceira da cama com as pernas para cima.
— Coisas do seu irmão. — Pego um pedaço e coloco na boca, o gosto
é maravilhoso, simplesmente adoro lasanha, ainda mais à bolonhesa.
— E aí? Agora me conta como foi lá com o meu chefe.
— Foi normal. Nossa, isso aqui está bom. — Tento mudar de assunto.
— Jura que vai querer tentar mudar de assunto logo comigo? —
Sorrio derrotada, pois sei bem que Emilly é difícil de dobrar.
— Foi estranho, jamais achei que poderia ser assim. Ele é gentil,
carinhoso e muito atencioso. Adam Lavisck foi surpreendente, me deixou
sem palavras e curiosa. — Emmy me olha de uma forma estranha e logo
sorri. — Por que está sorrindo?
— Seus olhos — aponta e coloca um pedaço de lasanha na boca.
— O que tem eles?
— Eu nunca os vi brilharem tanto ao falar de alguém.
— Impressão sua — disfarço.
— Sei.
— Ele me contou como nos conhecemos, me mostrou fotos e dançou
comigo.
— Dançou?
— Sim. Sabe aquela música do Justin Timberlake que eu escuto todos
os dias?
— Sim, a Mirrors.
— Acho que já sei por que gosto dela.
— Tem alguma coisa a ver com vocês dois, não é?
— Sim. Emmy, vou te contar uma coisa, mas, por favor, deixa isso
entre nós.
— Claro.
— Eu nunca desejei tanto lembrar do meu passado depois de tudo que
aconteceu naquele quarto. — Ela me olha surpresa.
— Você o ama.
— Está louca? Claro que não, pelo menos não mais.
— Você pode ter perdido a memória, mas o amor que sentimos por
uma pessoa não vem da cabeça e sim do nosso coração. Você só não admite
por não lembrar de nada.
— Isso é loucura, sabia?
— Sim, mas é verdade.
Será que é verdade? E se for? O que eu vou fazer, meu Deus?!
- Adam Lavisck -
Eu queria ter marcado para que Isabel fosse até a minha casa, mas achei
melhor marcar na casa da minha mãe, assim seria melhor para todos a verem.
E agora estou aqui, deitado no meu antigo quarto, pensando na minha mulher
e no meu filho.
Sim, Isabel sempre foi a minha mulher e não importa o que aconteça,
ela será sempre a única.
Saio dos meus pensamentos quando minha mãe, Carlos e Abby
entram no meu quarto. Continuo na mesma posição, deitado sem camisa,
olhando para o teto.
— Cadê os outros? — pergunto me referindo a Hiz, Jena e Pedro.
— Já foram — responde Abby.
— E a minha filha?
— Foi para o quarto descansar, foi muita emoção para ela — diz
minha mãe.
— O que vocês querem? — questiono.
— Saber como você está — esclarece minha mãe.
— Como acham que estou? — Desta vez eu me levanto para olhá-los.
— Ela estava estranha quando saiu daqui. O que vocês conversaram?
— Olho para Abby.
— Tudo o que ela me perguntou eu respondi.
— Mostrou fotos a ela? — Carlos inquiriu com o álbum em mãos.
— Sim. Ela ficou surpresa pela quantidade de fotos e principalmente
pelas fotos que tirei dela dormindo.
— Acho que isso é de família, Carlos têm a mesma mania. — Abby
sorri e Carlos também.
— Ela ainda me ama. — Todos me olham com atenção.
— Como sabe disso? — pergunta Carlos.
— Eu senti isso. Embora ela não se lembre, ainda tem as mesmas
manias que antes da perda de memória, principalmente de morder os lábios
quando está nervosa ou escondendo algo. Toda vez que dizia algo bonito, ela
sorria. Seus olhos ainda brilham quando falo algo bonito, ela mesma admitiu
que queria muito se lembrar de tudo.
— Adam, olha, você não pode afirmar sem ter certeza, não quero ver
você sofrer de novo — Carlos diz, chamando a atenção de Abby.
— É óbvio que ela ainda o ama, Carlos.
— Amor, como pode ter tanta certeza?
— O primeiro amor nunca esquecemos. Embora ela não se recorde de
nada, Isabel ainda o ama porque quando amamos uma pessoa, o sentimento
não vem daqui, — aponta para a cabeça, — e sim daqui. — Coloca a mão no
peito e, pela primeira vez, vejo meu irmão sem argumentos.
Abby um, Carlos zero.
— Ela tem razão, filho — minha mãe concorda.
— Ainda mais em se tratando do primeiro amor, esse sim é
praticamente impossível de se esquecer. Ela não lembra dele, por isso que ela
mesma ainda não percebeu o que sente por Adam. — Ergue uma sobrancelha
e mais uma vez, meu irmão não sabe o que dizer.
Como sei disso? Bom, ele sempre faz a mesma cara quando não sabe
o que dizer. Carlos franze o cenho, depois ergue uma sobrancelha e logo em
seguida coça a cabeça.
Abby dois, Carlos zero.
— Mas, mesmo assim, ela vai se casar com outro. Acho estranho isso,
como ela aceitou se casar com ele sem saber se já era casada no passado?
— Isso é algo que pretendo descobrir, mas também preciso fazer algo,
ela não pode se casar com ele.
— Você tem até o nascimento do bebê — Abby diz.
— Ela vai casar com outro e grávida de um filho meu. — Me sinto
tão impotente.
— O Adam que eu conheço não permitiria isso — completa Carlos,
provocando.
Bastardo!
— Nesse caso, eu só tenho duas opções — redarguo.
— Quais? — indaga minha mãe.
— Esperar para que ela relembre de tudo, correndo o risco muito
grande de ser tarde demais, ou a conquistar de novo.
— É isso! — praticamente Abby grita, nos assustando.
— Isso o quê? — indago.
— Se você já a conquistou antes, pode conquistá-la de novo.
— Abbygrey, não é fácil. Agora tem mais um cara na jogada e ela
está de casamento marcado com ele.
— Pelo amor de Deus, não me chame de Abbygrey. Por favor, isso é
um insulto. — Todos riem.
— Adam, Abby têm razão, não custa tentar — concorda minha mãe.
— Ela não lembra, mas continua a mesma, reconquistá-la não será
fácil.
— Não custa tentar. — Abby dá de ombros e ela tem razão.
Isso não vai ser uma simples reconquista, vai ser A Reconquista do
coração que pertence e sempre vai pertencer ao Chefe, ao Alfa.
Capítulo Dezesseis
- Adam Lavisck -
Três dias já se passaram desde a última vez em que vi Isabel. Ela não nos
procurou mais, será que se arrependeu de ter vindo aqui? Ou eu falei algo que
ela não gostou? Não sei o que fiz, só sei que nesse momento estou à procura
de Emilly para que ela me passe o endereço de Isabel. Preciso vê-la, preciso
abraçá-la e sentir seu aroma doce, nem que seja de longe.
Sei que é loucura, pois ela mora com o noivo, mas mesmo assim, eu
estou pouco me fodendo para ele; tudo que eu quero neste instante é ver
minha Isabel que, mesmo não se lembrando de mim, ainda é minha.
Quero pôr meu plano em prática.
Saio do meu escritório e vou até a recepção para achar Emilly, assim
que chego a encontro falando ao celular.
— Emilly? — Ela se assusta e quase joga o aparelho no chão.
— Senhor Lavisck, eu estava...
— Não se preocupe, Emilly, e por favor, me chame de Adam. —
Assente surpresa.
— O que o senh... você precisa?
— Eu sei que pode estar parecendo abuso da minha parte, mas queria
muito que você me desse o endereço de onde Isabel está morando.
— Bom, eu até posso passar porque ela está grávida e você é o pai,
mas antes tenho de falar com o meu irmão.
— Olha só, eu poderia descobrir isso em dois tempos, sem precisar
perguntar, mas estou aqui pedindo a você para mostrar que sou uma pessoa
educada. — Ela ri. — Por que está rindo?
— Você ainda a ama, não é?
— Muito.
— Ela pode me matar por estar te falando isso e meu irmão ficar com
raiva de mim.
— Do que está falando? — pergunto, confuso.
— Eu não acho que o que Júlia ou Isabel sente pelo meu irmão é amor
— revela.
— Por que diz isso?
— Ontem, quando meu irmão saiu para uma emergência, eu fiquei
com ela, conversamos sobre muitas coisas, principalmente sobre você.
— E?
— Quando falamos de você o semblante dela mudou, o olhar brilhou
e um sorriso espontâneo surgiu em seus lábios, ela parecia que estava no
mundo da lua. Já com meu irmão não é assim, é tudo mais normal e simples.
Para ser sincera, eu tenho quase certeza que ela não ama o meu irmão como
diz amar. Acho que ela confundiu o sentimento de gratidão e carinho com
amor. — Não vou mentir e dizer que isso não me incentiva mais ainda a
reconquistá-la.
— Eu queria reconquistá-la — confesso.
— Então vá.
— Mas e se mesmo assim ela ainda quiser casar com o seu irmão?
— Tenho certeza que você vai conseguir, mas caso isso aconteça, vai
ser escolha dela e não poderá fazer mais nada. — Ergo uma sobrancelha e a
encaro.
— Por que está me incentivando a fazer isso? E o seu irmão? — Ela
sorri sem graça.
— Eu amo o meu irmão e amo a Júlia, eu sei muito bem que nenhum
dos dois será realmente feliz nesse casamento onde somente um deles ama.
Ethan a ama, isso é evidente, mas Júlia não; ela colocou isso na cabeça e lá
no fundo sabe que estou falando a verdade.
— Por que ela colocou isso na cabeça?
— Meu irmão salvou não só a vida dela, mas a do bebê também; a
gravidez foi difícil no começo e Júlia já teve um princípio de aborto, meu
irmão a ajudou muito... Ele lambe o chão que ela pisa. — Princípio de
aborto?
— Ela não me falou isso — falo pensativo.
— Talvez ela não queria te preocupar ou simplesmente esqueceu, mas
a questão aqui é que você precisa correr atrás da sua felicidade e evitar que
duas pessoas sejam infelizes em um casamento sem amor mútuo.
— Você pode ter certeza que vou fazer o possível. — Sorri.
— Toma. — Ela pega um papel, anota algo e me entrega. — Ela está
sozinha hoje, meu irmão só volta à noite.
— Muito obrigado, não sabe como suas palavras me ajudaram. —
Agradeço.
— Só estou fazendo o que é certo. — Me despeço dela e praticamente
corro em direção ao meu carro, mas preciso passar em um lugar antes de ir
até lá.
— Você me fez ver que a vida não parou e que é possível amar
novamente, só que dessa vez é diferente.
— Por que diferente?
— Porque só agora eu sei como é amar de verdade.
— Se você está querendo me persuadir para transar, saiba que está
conseguindo. — Solto uma gargalhada.
— Eu nunca fui tão sincero em toda a minha vida como estou sendo
agora, Isabel.
— Eu te amo.
— Eu também te amo, minha linda, como jamais amei outra pessoa
em minha vida.
A cada quilômetro eu sinto como se meu coração fosse sair pela boca.
Pareço um adolescente que está nervoso indo se declarar pela primeira vez.
Mas não, hoje vou iniciar o meu plano de reconquistar o grande e único amor
da minha vida. Eu sou Adam Lavisck, o grande CEO conhecido
mundialmente por sempre conseguir o que quer, que nunca desiste de nada.
Não importa aonde eu vá, para consegui-la novamente, nada e nem ninguém
irá me impedir.
— Adam?
— Que foi?
— Não vamos transar.
— Nós não vamos. — Levo minhas mãos até o zíper do seu vestido e
começo a abri-lo.
— Então por que está tirando o meu vestido? — Ela me encara.
— Porque não vamos transar, nós vamos fazer amor.
Essas lembranças estão somente me motivando mais e mais a correr
atrás do amor da minha vida. São lembranças vividas por duas pessoas
completamente diferentes uma da outra, mas que viveram um grande e puro
amor, tão grande que nem mesmo as circunstâncias em se encontram nesse
momento as separou.
Chego no endereço dado por Emilly, toco a campainha e sinto meu
corpo todo se arrepiar quando escuto sua voz.
— Adam? — A surpresa é nítida em seu olhar quando me vê e seus
olhos brilham quando ela nota o lindo buquê de rosas vermelhas, as suas
preferidas.
— Suas preferidas. — Ela sorri e pega o buquê, inspira o cheiro das
rosas e eu fico ali parado, feito um bobão, olhando para ela sem conseguir
desviar o olhar.
Como eu ainda te amo tanto, minha Isabel.
- Isabel / Júlia -
Olho para Adam surpresa, as rosas que ele me trouxe são lindas e são as
minhas preferidas. Ele está tão lindo, vestindo terno e gravata.
Ôpa! De onde veio isso?!
— Entre, por favor, fique à vontade — peço dando passagem para que
ele entre.
— Obrigado. — Agradece.
— Tryna! — A chamo.
— Sim, Júlia. — Ela olha rapidamente para Adam que está nesse
momento olhando o hall da casa.
— Prepare um lanche rápido para nós, eu estou morrendo de fome.
Estarei na sala de visitas com o senhor Lavisck e por favor, coloque estas
flores em um vaso para mim, mas deixe que eu escolha onde deixá-las —
aviso.
— Claro, Júlia. Em dez minutos levo para vocês, com licença.
— Venha comigo — digo chamando a atenção de Adam e peço para
que me acompanhe até a sala de visitas.
— Essa casa é bem grande — comenta olhando em volta.
— Sim, eu acho um exagero, mas Ethan insistiu muito quando nos
mudamos para cá. — Chegamos na sala e peço para ele se acomodar em um
dos sofás de couro e eu faço a mesma coisa.
— Vocês vieram morar aqui assim que chegaram em Seattle? —
pergunta.
— Sim, Ethan comprou antes de nos mudarmos.
— Sério? Ele atua em que área da saúde?
— Cirurgião, mas também ele é meu médico, óbvio que vou a um
obstetra mesmo, porém ele cuida de mim também — explico.
— Você disse que se mudaram para cá por causa do convite que ele
recebeu para gerenciar um hospital aqui, não é? — Por que tantas perguntas?
— Sim.
— E antes de se mudarem para cá onde moravam?
— No centro de Portland, em um apartamento em um bairro de classe
média..., mas por que tantas perguntas, Adam?
— É porque isso tudo é estranho. — O olho sem entender.
— O que é estranho?
— Vocês moravam antes em um apartamento em um bairro de classe
média e do nada, quando se mudam para Seattle, se mudam não só para o
bairro mais rico da cidade, mas também para uma das mansões mais caras.
— Como sabe que essa mansão é tão cara assim?
— Sou observador, Isabel; além do mais, eu já estava de olho nessa
mansão há muito tempo. Estava prestes a comprar antes de tudo acontecer. —
A surpresa me atinge.
— E por que não comprou depois?
— Porque a minha intenção era vir morar aqui com você e Sophia,
não fazia sentido sem você. — Engulo em seco, sem saber o que dizer.
— Por que quer saber tanto sobre Ethan? — Mudo de assunto.
— Para um cirurgião, ele ganha muito bem. — Posso sentir a ironia
em seu tom de voz.
— Um cirurgião é bem pago sim, Adam.
— Mas a ponto de conseguir comprar uma mansão que custa milhões
de dólares? Acho que não.
— Olha, Adam. Vamos deixar bem claro que você está falando do
meu noivo e se sua intenção é...
— Não tenho intenção de nada, Isabel, eu só quero saber com quem a
mulher que eu amo, junto com o meu filho, vão viver. Eu sei que talvez você
nunca recupere a memória, Isabel, e nunca rememore o que já vivemos ou o
que sinto por você, então pelo menos me deixe saber com quem as pessoas
mais importantes da minha vida estão. — Respiro bem fundo para me
acalmar, não posso me alterar... Preciso me lembrar que é uma gravidez de
risco.
— Aqui está, Júlia. — Tryna entra na sala, deixando o que pedi e logo
em seguida sai.
— Eu sei que você me ama, Adam. — Ele me olha. — Só um cego
para não ver isso. — Ele se aproxima e se ajoelha bem na minha frente.
— Me desculpe. Eu não queria falar daquele jeito, você não tem culpa
e também está grávida, me perdoe. — Segura em minhas mãos.
— Você só quer me proteger, eu entendo. — Sorrio e ele também.
Ele tem um sorriso tão lindo.
— Eu te amo tanto, minha Isabel, você não imagina o quanto. — Uma
de suas mãos vem até meu rosto para me acariciar, seu toque é bom e suave.
As suas palavras fazem meu coração acelerar, nunca senti isso antes, é
estranho, mas ao mesmo tempo tão bom.
— Perdão por não poder dizer o mesmo a você, Adam, eu... — Ele
coloca o polegar em meus lábios me fazendo ficar quieta.
— Não diz nada, está tudo perfeito. — Ele morde os lábios e eu olho
automaticamente para eles, volto a olhar para os seus olhos e de nervosismo
mordo os meus lábios também, assim como eu fiz quando ele mordeu os dele.
Isso é tão... Quente!
— Adam.
— Sim.
— Isso é errado — falo percebendo o que ele vai fazer.
— O errado é bom, você me dizia muito isso. — Se aproxima mais.
— Eu era uma maluca antes. — Ele ri.
— A minha maluca. — Adam está tão próximo...
— Eu estou noiva — sussurro.
— Você é minha, Isabel, assim como eu entreguei o meu coração a
você.... — Beija a minha bochecha. — Você também me entregou o seu. —
Beija o canto da minha boca dando uma leve mordida. — E, mesmo não se
lembrando, o seu corpo, o seu coração e a sua alma são meus. — Novamente
passa o polegar por meus lábios. — Assim como o meu corpo, o meu coração
e alma são seus, meu amor. — Sinto lágrimas descerem pelo meu rosto e
Adam se apressa para beijar uma delas.
— Você me deixa tão confusa — murmuro.
— Eu posso acabar com essa confusão, basta você deixar.
— O que você está fazendo comigo, Adam Lavisck? — Ele pega a
minha mão e leva até seu peito.
— O mesmo que você faz comigo, Isabel Mitchell. — Sem mais
delongas, Adam pega uma de suas mãos e traz até minha nuca, me puxando
para um beijo e eu, em nenhum momento, penso em recusar, ao contrário, o
beijo com vontade, uma vontade que nunca senti antes na minha vida.
Nesse momento, estou ligando o foda-se para tudo, a única coisa que
quero é beijá-lo como se não houvesse amanhã. O que eu sinto por esse
homem eu não sei, só sei que é algo que nunca senti antes na minha vida.
— Como senti falta disso — sussurra entre beijos. — Não quero parar
de te beijar nunca. — Sorri.
— Eu acho melhor pararmos, alguém pode chegar e eu já estou com a
consciência pesada por estar traindo o Ethan.
— Você não o ama, Isabel.
— Nesse momento eu não sei de mais nada.
— É só esquecer de tudo por um momento e vir comigo. — Olho
confusa.
— Para onde?
— Surpresa. Confia em mim?
— É estranho, mas sim, eu confio. — Ele se levanta e estende a mão
para mim.
— Ethan vai demorar, não é?
— Vai. Acho que ele nem virá dormir em casa hoje. — Adam ri, mas
acho que de uma piada interna.
— Então passe esse tempo comigo. Não vamos fazer nada de mais, só
vamos passear um pouco, fazer coisas que você gostava de fazer comigo. —
Um sorriso malicioso surge em seus lábios.
— Eu perdi a memória Adam, mas não sou burra. Senti um duplo
sentido nisso. — Sua gargalhada ecoa pela sala.
— Eu sei, e eu acho engraçado a cara que você faz quando falo assim.
Não mudou nada, agora vamos.
— Para onde, Adam?
— Só vem comigo. — Olho para a sua mão e penso se é uma boa
ideia aceitar. Tenho de me lembrar que Ethan é meu noivo, mas também eu
sempre fico entediada quando ele passa a noite no hospital. É ruim ficar
sozinha e faz tempo que não saio, então, por que não aceitar?
— Vamos. — Seguro sua mão e Adam, com cuidado, me ajuda a
levantar.
Minha consciência vai pesar mais tarde, tenho certeza, mas neste
momento só quero ficar ao lado dele.
Capítulo Dezessete
- Isabel / Júlia -
***
- Adam Lavisck -
Faz quatro horas que Isabel está neste hospital, até agora ninguém veio falar
comigo. Quando cheguei com Isabel em meus braços, Ethan me viu e só
faltou me matar com o olhar. Não me importei, pois naquele momento, quem
me preocupava era a minha Isabel.
— Senhor Lavisck? — Uma enfermeira chama.
— Sou eu. Como Isabel está? — Ela me olhou confusa.
— Isabel?
— Desculpe, como a Júlia está?
— Bom, pelo que o doutor Gutierrez me falou, ela está bem e já está
acordada, ainda hoje ela terá alta. — Um sorriso enorme de alívio surge em
meus lábios.
— Posso vê-la?
— Eu...
— Não, não pode. — Olho para trás e vejo Ethan me encarar com um
olhar nada amigável. A enfermeira rapidamente sai, nos deixando sozinhos.
— Ah, jura? Por que não? — Debocho.
— Por que ela é MINHA noiva e em breve MINHA esposa. — Ele dá
ênfase nas duas vezes em que ele fala a palavra “minha”.
— E o que eu tenho a ver com isso? — Posso ver a raiva tomar conta
do seu rosto.
— Eu estou começando a perder a minha paciência com você. Antes
eu tentei te entender porque ela perdeu a memória, mas agora você está
começando a abusar. Não te dei o direito de ir a minha casa e muito menos
levar minha mulher para sair. — Sinto uma vontade louca de socar a cara
dele até desfigurar tudo.
— Não estou nem aí.
— Ela é minha noiva! — grita.
— É a mim que ela ama! — grito mais alto na sua cara.
— Júlia não te ama, Adam. Aceite isso.
— Sabe que não estou a fim. — Debocho e o vejo fechar as mãos em
punho, tentando se controlar.
E eu não quero que ele se controle, quero que ele tente me bater para
eu poder quebrar cada osso do seu corpo.
— Eu não quero você perto dela.
— Isso é ela quem decide, meu caro Ethan. — Perca o controle.
— Maldita hora em que decidi vir morar em Seattle.
— Oh, sim. DOUTOR Gutierrez, me diga uma coisa. Como um
cirurgião conseguiu comprar uma mansão como aquela? Pelo que eu saiba,
antes você morava em um bairro de classe média em Portland e do nada,
quando se muda para cá, vai morar justamente em uma das mansões mais
caras de Seattle, que fica em um bairro nobre onde só pessoas com muito
dinheiro vivem... — O vejo engolir em seco e um sorriso surge em meus
lábios.
— Pelo visto andou investigando a minha vida. — Tenta disfarçar seu
nervosismo.
— Mas é claro que sim, tenho de saber com quem a mulher que amo e
MEU filho estão.
— Só que isso não te interessa — responde tentando se manter firme.
— Isso me interessa e muito, sabe por quê?
— Por quê?
— Porque se você estiver mentindo para Isabel, pode se considerar
um homem morto.
— E quem será o corajoso homem que vai me matar? — ironiza.
— Adam Lavisck, o homem mais poderoso do país, O CHEFE de
Seattle, mais conhecido como O ALFA. — Cuspo as palavras na sua cara e
me viro para sair.
Esse cara não perde por esperar.
Capítulo Dezoito
ALGUMAS SEMANAS DEPOIS
- Isabel / Júlia -
***
“Olho em volta e percebo que estou em um lugar escuro, não vejo nada a não
ser uma luz branca no final do que suponho ser um corredor. Ando até a luz
branca e, quando passo pela porta, avisto duas pessoas caídas no chão. São
dois homens, ambos sangram muito; me aproximo mais deles, e quando olho
bem para eles, tenho a impressão de já conhecê-los.
Obviamente estão mortos, um está com um pedaço de espelho no
peito e o outro estava com a garganta cortada. Abaixo-me perto deles e
coloco a mão na frente do nariz do que está com um pedaço de espelho no
peito para ver se ainda está respirando.
Me assusto quando o homem segura meu pulso com força e com os
olhos arregalados, diz:
— Assassina!
Ele aperta ainda mais o meu pulso, tento me soltar, mas não consigo.
— Você matou o meu pai! — Mordo com tanta força o seu pulso que
sinto o gosto do sangue na minha boca.
Me arrasto para longe dele e quando vou me virar para sair correndo,
sinto alguém me segurar por trás, colocando uma mão na minha cintura e a
outra no meu pescoço. Tento me soltar, mas a pessoa que me segura é mais
forte. A tal pessoa me vira bruscamente e quando vejo que se trata do outro
homem, o que tem a garganta cortada, entro em pânico. Sua garganta está
aberta, o sangue escorre até a sua blusa branca e posso ver o ódio em seu
olhar.
— Você vai pagar pelo que fez comigo, vadia! — Os olhos dele, são
idênticos aos do...
Porra! É o pai do Adam!
— Gabriel. — Minha voz quase não sai.
— Voltei do inferno para te matar, querida princesinha. — Tento
gritar, mas logo sinto alguém tampar a minha boca com força e sussurrar no
meu ouvido.
— Fique tranquila, vamos te matar bem lentamente. Ninguém vai te
salvar, Isabel. — A voz... Só pode ser Léon.
Isso só pode ser um pesadelo, pelo amor de Deus! Eu não estou
conseguindo acordar!
Léon me segura de costas para ele, Gabriel tira um pedaço de vidro
não sei de onde e com lentidão enfia no meu peito. Grito ao sentir o vidro
entrar lentamente na minha carne, essa porra dói demais!
— Sinta a dor que senti quando você enfiou essa merda no meu peito,
sua vadia. — Tento me soltar, mas não consigo. Grito mais alto quando
Gabriel enfia o vidro já quase todo dentro de mim.
Sinto quando Léon me joga no chão com força, passo a mão na minha
barriga e a sinto lisa, e logo um grande desespero me invade e esqueço até a
dor que estou sentindo.
— Meu filho! — Vejo Gabriel gargalhar.
— Seu filho morreu e agora você será presa pelo meu assassinato. —
Sou puxada do chão com brutalidade, e logo sinto as algemas em meus
pulsos, olho em volta e vejo que estou cercada de policiais. Olho para o meu
peito e não vejo mais o pedaço de espelho e nem sangue, mas, ainda assim,
estou sentindo uma dor muito grande.
— Você está presa. — O policial me puxa com força e logo escuto
Léon e Gabriel gargalharem.
— Meu filho! Eu quero o meu filho! — grito desesperada”.
Acordo no sobressalto, olho em volta e respiro aliviada ao constatar
que estou no meu quarto. Volto o olhar para o meu corpo e percebo que ainda
estou vestida com a mesma roupa de mais cedo e suspiro aliviada quando
vejo a minha barriga, passo a mão por ela e logo sinto o meu Ryan chutar.
Quase choro sentindo a alegria de tudo ter sido apenas um pesadelo.
Mas você é uma assassina. Você matou o pai do Adam e pensou ter
matado Léon.
É verdade, as coisas que mais consigo me recordar são as lembranças
ruins, isso está me fazendo ter pesadelos. Verifico o relógio digital e vejo que
já é uma hora da manhã. Eu devo ter cochilado esperando alguma resposta de
Adam.
Adam!
Ele prometeu me tirar daqui o mais rápido possível. Espero que seja
logo, não vou conseguir olhar na cara de Ethan depois do que descobri.
Confesso que nunca o amei, mas eu gostava bastante dele e me decepcionei
muito ao saber que tudo que vivemos não passa de uma grande mentira.
Assusto com o toque do telefone, rapidamente eu o atendo e fico feliz
em ouvir a voz de Adam.
— Adam.
— Ele está perto de você?
— Não, eu acabei cochilando, mas ele não está aqui comigo.
— Ótimo, escute bem o que vou te dizer.
— Sim.
— Estou indo junto com Carlos e um amigo meu do clube até a sua
casa. Obviamente terá muitos seguranças espalhados pelos arredores da
mansão, mas, pelo que percebi quando fui aí, a sacada do seu quarto fica
desprotegida. — Me levanto da cama e sigo até a sacada constatando que
realmente não há nenhum segurança perto dela.
— Acho que Ethan não achou necessário por ser o segundo andar.
— Isso é bom. Preciso que olhe na direção da sacada e veja se tem
algum muro ou algo do tipo. — Faço o que ele pede e, além de ter visto um
muro bem alto, vi que também não há segurança por ali. Na verdade, olhando
bem em volta, não vejo nenhum segurança.
— Adam, tem alguma coisa errada.
— Como assim?
— Os seguranças... Não estou vendo nenhum.
— Tem certeza?
— Sim.
Escuto ele murmurar algo com alguém.
— Isabel, ele pode estar ouvindo a nossa conversa por outro telefone?
— Sinto meu corpo gelar e posso ter certeza que estou muito pálida.
— Adam, não venha mais, por favor.
— Isabel, o que...
Tiro o telefone do meu ouvido e me viro para confirmar o que já
imaginava. Ethan ouviu minha conversa com Adam e agora está parado perto
da porta, me fitando com um olhar frio.
— Ethan... — Minha voz quase não sai.
— Por quê, meu amor? Por que quer me deixar? — O tom de sua voz
é tão calmo que me assusta.
— Você me enganou durante todos esses meses. — Ele começa a
andar na minha direção, até ficar frente a frente comigo. Ethan pega o
telefone da minha mão, coloca no ouvido e diz:
— Fique tranquilo, Alfa. Vou cuidar muito bem da Isabel e do meu
filho. — Desliga o telefone e o joga contra a parede, fazendo com que o
aparelho fique em pedaços. — Agora você vai vir comigo por bem ou por
mal? — Sinto as lágrimas descerem pelo meu rosto e automaticamente
coloco as minhas mãos na minha barriga.
— Me deixa ir, por favor. Se você... — Sou interrompida quando
sinto ele enfiar uma agulha no meu braço.
— Durma meu amor. Amanhã teremos muito o que fazer.
Sinto o meu corpo pesado, vejo tudo rodando e, não aguentando mais,
eu apago em seus braços.
Capítulo Dezenove
- Isabel Mitchell -
Sinto uma terrível dor de cabeça e quando abro os meus olhos lentamente,
me assusto ao olhar em volta e perceber que estou em uma espécie de galpão
abandonado. Tento me levantar, mas ao fazer isso escuto barulho de
correntes. Olho para os meus pés e vejo que eles estão acorrentados, assim
como as minhas mãos; percebo também que estou em cima de um colchão
velho, que está com um cheiro bem desagradável.
Fico um tempo pensando em como vim parar aqui e só depois de
alguns segundos me lembro. Eu estava no meu quarto falando ao telefone
com Adam, dando informações para ele ir me buscar quando Ethan apareceu
e descobriu tudo; com certeza ele me sedou.
Meu Deus, o Adam!
Será que Ethan pode ter feito alguma coisa com ele? Não! Só de
imaginar isso eu sinto uma grande dor no meu peito.
— Júlia? — Olho para a porta e vejo Ethan parado me olhando.
— Meu nome é Isabel! — digo bem alto.
— Parece que se lembrou de quem você realmente é. — Ele começa a
andar na minha direção até se abaixar e ficar frente a frente comigo.
— Por que me trouxe para cá?
— Por amor. — Quase não seguro a minha vontade de rir.
— Por amor? Se me amasse você nunca teria mentido para mim.
— Isabel, eu fiz isso por não ter opção.
— Como não teve opção, Ethan? — O vejo sentar-se reto, leva as
duas mãos até o rosto e o esfrega, dando um longo suspiro.
— Minha mãe precisava de uma cirurgia urgente, os médicos haviam
descoberto um tumor que estava no começo e que podia ser removido, pois
era bem pequeno, mas para que essa cirurgia acontecesse, minha mãe teria de
viajar até Nova York para ser operada em um hospital especializado nesse
tipo de caso. Infelizmente, tanto a viagem quanto a cirurgia custavam uma
fortuna, e ainda tinham os exames e remédios que eram pagos, tudo isso
custava mais dinheiro do que eu juntaria como médico em anos e acho que,
mesmo assim, eu jamais conseguiria juntar uma quantia tão alta.
— Continue — incentivo.
— Emmy estava prestes a se formar e não trabalhava, era eu quem a
sustentava, sempre foi assim desde que o meu pai morreu. Essa doença foi
descoberta uma semana antes do seu acidente, eu havia acabado de sair de
Portland quando vi seu carro. Isabel, eu juro que nunca tinha te visto antes, eu
salvei você porque era o certo a se fazer.
— E quando foi que meu avô entrou nessa história?
— Depois da sua cirurgia. Dois dias depois, Léon e Dimitri
apareceram no hospital e...
— Espera, antes de prosseguir me diga uma coisa.
— Sim.
— Há quanto tempo você conhece Léon?
— Conheço ele desde a adolescência, somos como irmãos. Ele
namorou minha irmã por um tempo, mas terminaram, pois ele precisava
viajar para fora do país. Eles realmente se amavam e ainda se amam, mas
Léon não se acha mais digno do amor da minha irmã e ele está certo.
— E o Dimitri?
— Eu o conheci no hospital, nunca o tinha visto e aquela foi a única
vez que o vi.
— Como Emmy se apaixonou por um homem como Léon? Como
você foi se tornar amigo dele? Por que está se sujeitando às loucuras dele?
— Léon não era uma pessoa ruim, pelo menos não com a minha
família e principalmente com a minha irmã. Digamos que ela é o ponto fraco
dele.
— Mas...
— Isabel, eu preciso te contar tudo o que sei, por favor. — Posso ver
o desespero em seus olhos.
— Está bem, mas antes me tire daqui, prometo não tentar nada. —
Ethan, sem falar nada, tira uma chave do bolso e abre o cadeado, me
liberando das correntes.
— Léon e Dimitri me ofereceram milhares de dólares para participar
do plano doido deles. Eles me explicaram tudo e eu recusei. Os dois me
pediram algo que ia contra os meus princípios, óbvio que não iria aceitar, mas
no dia seguinte minha mãe passou mal e os médicos disseram que o tumor
estava crescendo muito rápido e precisava ser removido imediatamente. E eu
sabia que quanto mais demorasse para fazer a cirurgia, mais a situação da
minha mãe iria se agravar. Emmy ficou muito triste com tudo e vê-la
chorando, com medo de perder a nossa mãe, foi como uma faca entrando no
meu peito.
— Eles voltaram lá novamente e você aceitou?
— Sim. Eu não tive opção, Isabel. Era a vida da minha mãe que
estava em jogo. Não topei entrar nessa por dinheiro, e sim para salvar a vida
da minha mãe. — Fico olhando para ele por alguns segundos, tentando me
imaginar no lugar dele.
Para ser sincera, não sei o que teria feito.
— Ainda assim, Ethan. Eu estou muito magoada com você, agora
mais ainda por você ter me trazido à força para esse lugar.
— Isabel, eu te trouxe para cá porque jamais permitiria que você fosse
levada à força para se casar com um homem que você não ama. — Olho para
ele completamente confusa.
— Como assim?
— Você com certeza ouviu a minha conversa com Léon.
— Sim, mas...
— Eu me apaixonei por você, Isabel. Sou capaz de tudo para te
proteger.
— Ethan...
— Nunca poderia imaginar que, no meio daquele plano doido, eu
poderia me apaixonar. Neste exato momento, Léon já deve ter percebido que
desaparecemos e com certeza está louco atrás de nós.
— Isso tudo é tão confuso. — Esfrego os meus olhos já sentindo uma
maldita vontade de chorar.
Vou pôr a culpa nos hormônios da gravidez.
— Há algo que você precisa saber. — O olho bem atentamente para
ele.
— O quê?
— Seu avô nunca se aliou a Gabriel Mertovini. Ele nunca matou os
seus pais e sequer tentou matar você ou o Adam naquele acidente. —
Arregalo os meus olhos.
Como assim??
— Ethan... O que você está querendo dizer com isso? — A surpresa é
nítida em minha voz.
— As maldades que você ouviu dizer que seu avô fez são mentiras, os
únicos erros de Ben foi não ter aceitado Júlia como a mulher que o seu filho,
Benjamin, amava e tentar te casar à força com um homem que você não
conhece nem ama.
Mais revelações! Mais mentiras! Meu Deus, onde é que isso vai
parar?!
Olho para Ethan em estado de choque, sem saber exatamente o que
falar ou o que fazer. Tudo isso está muito confuso; na verdade, a minha vida
toda é muito confusa.
— Você está mentindo para mim — acuso e ele me olha assustado.
— Não! Claro que não, Isabel. Eu não teria motivos para mentir em
relação a isso.
— Você já mentiu para mim, isso não seria nenhuma surpresa. — Seu
olhar direcionado a mim é triste e ele parece ter se magoado com as minhas
palavras.
— Eu não tenho motivos para mentir sobre esse assunto, não ganharia
nada.
— Está bem, como sabe que isso é verdade?
— Lembra da viagem que falei para você que tive de fazer quando
morávamos em Portland?
— Sim.
— Eu viajei para a Geórgia.
— Mas você me disse que ia à Geórgia mesmo, falou que tinha
assuntos para resolver. — Eu lembro bem desse dia; depois dessa viagem,
Ethan ficou muito depressivo e pensativo.
— Eu fui falar com o seu avô, ele solicitou a minha presença lá,
queria conversar comigo.
— O que ele te falou?
— Eu vou te contar algumas coisas, mas tem detalhes que não posso
falar porque só diz respeito a ele, e se alguém deve te contar é ele, não eu.
— Está bem.
— Seu pai estava namorando a filha de um amigo do seu avô, que
também era um rei, quando conheceu a sua mãe. Ela era filha de uma das
empregadas do castelo. Na verdade, ela era filha da mulher que cuidou do seu
pai desde que ele nasceu. E quando a rainha morreu, ela foi como uma mãe
para ele.
— Eu nunca soube disso — murmuro.
— Bom, a mãe de Júlia morreu alguns anos após a rainha, sua mãe
tinha vinte anos, ficou inconsolável; Benjamin tinha vinte e um e um grande
carinho por Miriam, mãe de Júlia. Ele a via como uma segunda mãe e
prometeu a si mesmo que tomaria conta de Júlia assim como Miriam tomou
dele. Seu avô me disse que nunca imaginou que um dia eles poderiam se
apaixonar, os dois pareciam ser muito próximos desde criança, mas nunca
demonstraram outra coisa.
— Então meu avô não se importava do meu pai ser amigo de uma
empregada?
— Não, ele via Miriam como uma amiga que o ajudou muito a cuidar
de Benjamin quando ele perdeu sua esposa. O rei estava passando por um
momento difícil, já que tinha perdido a mulher que amava. A amizade de
Júlia e Benjamin nunca o incomodou, ao contrário, agradava muito; eles
sempre estavam juntos.
— Ele não aceitou o relacionamento dos dois.
— É, ele não aceitou. Ben, seu avô, me disse que só descobriu o
relacionamento dos dois quando entrou no quarto de Benjamin sem bater e os
viu se beijando.
— O que o meu avô fez?
— Mandou Júlia sair do quarto de Benjamin e ficou sozinho para
conversar com o filho.
— E?
— Ben e Benjamin brigaram e no meio da briga, Benjamin disse que
estava apaixonado e que queria se casar com ela, que já estavam nesse
relacionamento desde a morte de Miriam. Óbvio que seu avô foi contra, disse
que mataria Júlia e que preferia ver o filho morto do que casado com uma
plebeia.
— As palavras tem poder... Minha mãe tinha quantos anos quando
isso aconteceu?
— Pelo que seu avô me falou, fazia três anos que eles estavam nesse
relacionamento escondido, e se sua avó Miriam morreu quando ela tinha
vinte, acho que uns vinte e três anos.
— Ela era muito nova — sussurro.
— Pois é.
— O que aconteceu depois disso? — pergunto.
— Seu pai ficou muito triste com o seu avô e expulsou o pai do
quarto. No dia seguinte, seu avô estranhou o fato de Benjamin não ir tomar
café da manhã e foi até o quarto dele, chegando lá não o encontrou, foi até o
closet dele e as roupas haviam sumido. Depois, ele mandou uma empregada
ir até o quarto de Júlia ver se ela estava lá. Júlia também tinha sumido, junto
com suas coisas.
— E depois disso?
— Ele mandou guardas e detetives atrás deles, contudo, demorou
muito para encontrá-los de novo. Quando os achou, seus pais estavam
morando na casa dos Mertovini, que agora são Lavisck. E foi atrás deles.
— Meu avô?
— Sim, Ben estava no outro lado da rua em um veículo junto com
seus guardas quando um carro saiu da mansão. Ele viu seu pai e sua mãe lá
dentro e resolveu segui-los. Seu avô achou estranho quando o carro deles
parou em frente a um consultório médico; assim que seus pais saíram do
carro viu que a mãe de Adam e Carlos estava lá também. Ben resolveu
esperar que eles saíssem do consultório, o que não demorou muito. Ele
estranhou quando viu seu pai sorrindo feito bobo e se jogando de joelhos na
frente da sua mãe no meio da rua, porém logo entendeu o porquê quando seu
pai fez um gesto.
— Que gesto?
— Ele levantou a blusa da sua mãe, deixando a barriga exposta, e
plantou um beijo ali. — Entendo logo de cara.
— Foi quando minha mãe descobriu estar grávida de mim. — Sinto
uma emoção muito grande ao imaginar a cena. Isso me lembra também o
gesto de Adam, ele fez o mesmo que meu pai fez.
— Exatamente. Ele ficou tão balançado que resolveu voltar para casa
e passou um bom tempo pensando naquilo. — Ergo uma sobrancelha e,
confusa, pergunto:
— Mas ele não tinha ido lá na intenção de falar com meu pai ou trazê-
lo de volta, sei lá?
— Se ele tinha alguma dessas intenções, desistiu no momento em que
viu seus pais felizes. O que pesou mesmo foi saber que ele seria avô... Ben
ficou triste por saber que não ia poder acompanhar tudo de perto. Então
decidiu que, mesmo de longe, iria cuidar e acompanhar. Foram selecionadas
duas pessoas para se infiltrarem na mansão e ficarem lá como empregados
para vigiá-los. Foi assim que ele soube da confusão que ocorreu lá com seus
pais e o Gabriel.
— Em que momento ele se aliou a Gabriel?
— Em nenhum momento. Seu avô ficou com muito ódio quando
soube que Gabriel havia ameaçado matar seus pais. De alguma forma que
ninguém nunca soube, Gabriel descobriu que Benjamin era um príncipe e que
havia fugido com Júlia. Ele foi até o seu avô e pediu ajuda para acabar com
Júlia, mas seu avô recusou, pois ele sabia que a intenção dele não era matar
somente Júlia, mas Benjamin também.
— Mas se fosse só a minha mãe estava tudo bem, não é? —
praticamente grito.
— Claro que não, Isabel! Seu avô recusou, ele jamais seria capaz de
fazer algo assim.
— Ele ameaçou matar minha mãe e disse que preferia ver o filho
morto, quer prova maior que essa? — digo com desdém.
— Na hora da raiva as pessoas dizem coisas sem pensar. Quando ele
soube da morte do seu pai e da sua mãe, ele ficou sem chão. Quando
descobriu quem tinha feito isso, moveu céus e terra para encontrá-lo, mas
Gabriel parecia que tinha evaporado do planeta.
— Mas, a Kátia me contou que meu avô tentou me tirar dos meus
pais. — Sinto as lágrimas se formarem em meus olhos.
— Isso foi o que Gabriel contou. Ele praticamente colocou o seu avô
como mandante de tudo só para tirar o foco dele.
— Então, por que a minha mãe queria muito me proteger? Por que
eles insistiram para que eu jamais dissesse sobre eu ser filha deles para
ninguém?
— Eu não sei bem o porquê, só quem pode te responder essa pergunta
é seu avô.
— E sobre o casamento? Por que ele quer que eu me case com um
cara que não conheço?
— Bom, pelo que ele me disse é para te ajudar na administração do
reino, pois você não vai entender muito sobre isso. Além do mais, o cara que
ele escolheu para você é justamente o filho da mulher que seu pai namorava
quando conheceu sua mãe. — Ironias do destino.
— Ele não tem esse direito.
— Isabel...
— Ele me procurou depois da morte dos meus pais?
— Sim, mas ele soube pela boca de um dos seus informantes que
você estava desaparecida e alguns dias depois descobriu que você tinha ido
para um orfanato. Ben tentou encontrar esse orfanato, mas não conseguiu.
— Nem mesmo a Kátia havia descoberto. Para falar a verdade, eu
nunca descobri qual orfanato eu estava. Tenho uma desconfiança de que isso
tem dedo do Gabriel, que foi ele que se certificou para que eu fosse bem
escondida no orfanato e que as cuidadoras dissessem aquilo para eu ouvir.
— Seu avô desconfiou disso também.
— Ele sabe que Gabriel está morto?
— Não.
— E o que eu passei durante todos esses anos, ele soube?
— Também não porque, quando fui conversar com ele, nem eu sabia
sobre o seu passado; só fui saber mesmo no dia em que fomos à mansão
Lavisck.
— Eu ainda tenho muitas perguntas.
— Imagino.
— E sobre a ex-noiva de Adam? A morte dela, a carta que Adam
recebeu um tempo depois revelando um suposto plano do meu avô?
— Só quem pode te responder isso é o Ben, Isabel.
Quem será então que mandou aquele envelope para mim com minhas
fotos e uma carta?
— Como ele vai me responder isso?
— Eu estava pensando em dar um jeito de chegar até ele para fazê-lo
desistir dessa ideia louca de te casar com um estranho e, quem sabe, você não
conversa com ele.
— Está louco? Se eu for lá ele não vai deixar que eu saia do castelo.
— Eu tenho um homem de confiança que cuida da segurança do seu
avô, pedi para ele falar com Ben. Estou aguardando a resposta, mas de todo
modo já providenciei a nossa viagem para a Geórgia.
— Você pode morrer, não pelas mãos do meu avô, pelo que pude
perceber, e sim pelas de Léon.
— Não me importo. Eu te amo Isabel, e daria a minha vida por você.
— Eu ainda estou confusa. — Mudo de assunto.
— Provavelmente não é só o Léon que quer me matar, Dimitri
também. — E por falar nele me lembro de algo.
— Na noite do acidente, ele foi até o clube do Adam tentar me
sequestrar, isso foi a mando do meu avô?
— Sim, mas seu avô pediu para ele ir tentar conversar com Adam
para te tirar daquele ambiente. Não para fazer o que fizeram.
— Meu avô sabia sobre o clube?
— Sim; mesmo de longe, ele queria te proteger. Ele acha que Adam
não é uma boa influência e eu concordo. Eu sei que também não fui um santo
com você, pois menti, mas as coisas que ele já fez...
— Adam já matou e eu também, casal perfeito. — Posso ver a cara de
descontentamento quando eu digo a palavra “casal”.
— Você não vai ficar com esse cara!
— E quem é você para me dizer isso? O homem que mentiu para mim
em troca de dinheiro? Ethan, você errou feio comigo, não espere que eu te
perdoe. Fora também que você me trouxe para cá contra a minha vontade e
ainda me sedou. — Ele desvia o olhar e quando volta a me olhar de novo,
posso ver o quão triste ele ficou ao ouvir as minhas palavras.
— Isabel...
— Ethan, por que o meu avô te contou isso tudo? — Mudo de
assunto.
— Seu avô está morrendo, Isabel. Ele está muito doente e lhe resta
pouco tempo de vida.
Capítulo Vinte
- Isabel Mitchell -
Na manhã seguinte, Ethan ligou para o tal homem de confiança para ver se
ele conseguiu arrumar um jeito de irmos até o castelo sem ter problemas. Para
a minha sorte, ou azar, ele conseguiu; disse que mandaria um jatinho
particular vir nos buscar ao meio dia em ponto e, neste momento, já são dez
horas da manhã. Eu mal consegui dormir. Primeiro, porque esse lugar onde
Ethan me trouxe é assustador e fede muito. Segundo, porque esse colchão
é muito duro e o fato de eu estar grávida só piorou ainda mais as coisas.
— Isabel, está tudo pronto para irmos, agora é só esperar um carro vir
nos buscar aqui em frente e nos levar até o aeroporto — anuncia Ethan, se
aproximando e sentando próximo a mim.
— Isso não vai dar certo — digo, insegura.
— Por que está dizendo isso?
— Léon deve estar sabendo o que fez e com certeza, quando nos
achar, não só vai matar você, mas matar a mim e a meu filho.
— Isso se ele nos achar. Fique calma, Isabel, tudo vai dar certo.
— Como sabe disso?
— Confia em mim. — Rio do seu cinismo.
— Confiar em você é algo que ninguém deveria.
— Se não confia em mim, então por que aceitou isso?
— Porque eu já imaginava que isso poderia acontecer.
— O quê? Como assim?
Levo a minha mão até meus brincos e tiro um deles, ele me olha mais
confuso ainda.
— Atrás destes brincos tem um rastreador. — Ele exibe seus olhos
arregalados.
— Mas como...?
— Eu estava usando estes brincos no dia do acidente e quando eu
comecei a desconfiar de você, fui vasculhar as suas coisas e mexendo na
gaveta do seu escritório os encontrei. No mesmo momento em que os vi eu
lembrei deles, foi o Adam que me deu quando completamos um mês de
namoro. Só fui ver que tinha um rastreador nele quando o olhei atentamente.
Suponho que quando você os guardou, os desativou sem querer e por isso
Adam não me encontrou. — Ethan me olha horrorizado.
— Isabel, juro que eu realmente não sabia que esses brincos tinham
algum rastreador e realmente, se eu desativei, foi sem querer. — Olho para
ele desconfiada.
— Certo. — Viro o brinco e aperto um minibotão de diamante. O
brinco é de ouro com uma pedra de esmeralda bem pequena. Alguns
diamantes pequenininhos e um menor atrás.
Adam vai me ouvir por ter feito isso sem me consultar.
— O que você fez?
— O ativei. Neste exato momento, isto deve estar mandando um sinal
para algum aparelho ou sei lá o quê para que Adam saiba onde estou.
— Está louca? Por que fez isso?
— Adam pode nos dar cobertura.
— Seu avô não gosta dele e se nos vir juntos com ele isso...
— Confie em mim. — Ele bufa.
— Está bem, mas posso perguntar uma coisa?
— Sim.
— Como conseguiu namorar alguém como Adam? Pelo que vi, ele
parece ser possessivo e obsessivo para te dar um brinco com rastreador sem
você saber. Eu sei que te fiz mal, mas ele praticamente tem uma máfia
naquele clube maluco.
— Você não conhece o Adam que eu conheci.
— Isabel, por favor, eu te peço uma chance para me redimir, mostrar
que posso ser diferente, que...
— Ethan, acredite, mesmo se eu lembrasse da minha vida passada, eu
me casaria com você. — Me olha surpreso.
— O quê?
— Se nunca tivéssemos vindo para Seattle e eu tivesse me lembrado
de tudo em Portland, eu procuraria a minha família sim, mas somente para
dizer que eu estava bem. Quando conheci você, eu realmente me encantei e
me encantei ainda mais pelo fato de você saber que eu estava grávida, e,
ainda assim, querer ficar comigo e dar um sobrenome ao meu filho. Ethan, eu
gosto de você, não vou mentir, mas o que você fez ninguém merece. Você
sabia o tempo todo quem eu era e aceitou dinheiro do meu avô para fingir...
— Não. Nada do que eu disse ou fiz foi fingimento, tudo foi sincero.
Isabel, eu te amo e meu amor é sincero e verdadeiro.
— Jura?
— Claro.
— Então por que nunca mostrou? — Ele emudece.
— Isabel...
— Ainda em Portland você se mostrava um noivo presente, embora
trabalhasse muito. Porém, quando nos mudamos para Seattle, você ficou frio,
distante, poucas vezes me beijava e já fazia tempo que não saíamos nem
nada, você ficou frígido. — Posso ver o quanto as minhas palavras o estão
magoando, é nítido em seus olhos.
— Me desculpe.
— Uma mulher deve ser conquistada todos os dias pela pessoa
amada. Sentir que é amada e que pode, sem medo algum, amar alguém. Isso
foi o que você nunca fez. — Ignoro suas desculpas.
— Estou me sentindo um lixo.
— Era exatamente assim que eu me sentia quando você chegava em
casa e nem me tocava. — Ele não diz nada, somente me encara com os olhos
arregalados e tristes. — Você me perguntou como consegui namorar alguém
como o Adam. Bom, ele é o oposto de você, nunca mentiu para mim, mas
omitiu coisas que até entendo o motivo, mas nada que pudesse me fazer amá-
lo menos. Todos os dias me mostrava o quanto me amava, sempre que podia
dizia aquelas três palavras que, para mim, são as mais bonitas e sinceras; elas
devem ser ditas de coração, não da boca para fora.
— O que quer dizer com isso?
— Que você pôs na sua cabeça que me ama, mas não me ama.
— Não! É claro que eu...
— Sabe por que estou dizendo isso?
— Por quê?
— Porque você nunca olhou nos meus olhos e disse com toda a
sinceridade que me ama. — Ele desvia o olhar e não diz nada, isso só
confirma o que eu já sabia.
— Eu sou uma pessoa horrível.
— Pelo menos admitiu isso. — Me assusto quando o vejo pegar seu
celular do bolso e me entregar.
— Para que está me dando isso?
— Quem deve estar ao seu lado quando você for falar com o seu avô
não sou eu, definitivamente não sou eu. — Olho surpresa para ele.
— Como assim?
— Liga para o homem que você ama e seja feliz.
Olho para Ethan com os olhos completamente arregalados, estou
chocada. Não pensei que poderia ouvir isso sair da boca do homem que me
impediu de fugir com Adam.
— Ethan, você está falando sério? — Ele sorri sem graça.
— É claro, Isabel. Liga logo para ele. — Analiso seus olhos
procurando algo que me dissesse que ele está blefando, mas não encontro.
Então pego o telefone e, sem esperar mais, digito o número de Adam, que
atende no terceiro toque.
— Adam falando.
— Adam.
— Isabel! Meu amor! Fico muito feliz em ouvir a sua voz. Onde você
está? Me diga agora que vou aí e corto o Ethan em pedaços. Esse verme te
machucou? Ele...
— Ei, calma, Adam. Eu estou bem e o Ethan não me machucou. —
Pelo menos não fisicamente.
— Onde ele está?
— Do meu lado.
— Esse infeliz está te ameaçando? Mandou me ligar para pedir
resgate? Ele está ouvindo nossa conversa? Verme! Eu vou te matar!
— Adam não, chega! Ele me pediu para ligar para você, mas não da
forma como você está imaginando.
— Como assim?
— Eu ativei o rastreador que você colocou nos meus brincos.
— O quê? Como...
— Não posso ficar falando muito, pois esta ligação pode estar sendo
rastreada. Só veja as coordenadas do rastreador e venha me encontrar. Tome
cuidado para ninguém te seguir.
— Isabel, mas...
— Tchau, Adam. — Desligo o celular.
— Ele quer me matar, não é? — pergunta Ethan me encarando.
— Acho que matar é pouco. — Entrego o celular para ele.
— Vou me livrar do celular, não demoro. — Ele se levanta e sai do
meu campo de visão.
Fico no meu lugar, quieta e pensativa.
***
Olho para fora da janela do jatinho sentindo um misto de emoções, não sei
qual será a reação desse meu avô ao me ver. Pode ser boa ou ruim.
Deus queira que seja boa, estou grávida e prestes a dar à luz; além
disso, o fato de minha gravidez ser de risco me obriga a ter cuidado
triplicado.
Saio dos meus pensamentos quando sinto Adam se remexer ao meu
lado, ele estava com a cabeça encostada no meu ombro.
— Oi, amor — diz ao se endireitar na poltrona e me olhar.
— Oi.
— Você está bem?
— Estou. Por que não estaria?
— Eu te conheço, Isabel. Sei quando algo te preocupa. — Ele pega na
minha mão e leva até seus lábios, dando um beijo nela. — Saiba que estou
aqui e nunca mais vou sair do seu lado. — Um sorriso estupidamente grande
surge em meus lábios.
Como pude me esquecer do meu Adam?
— Desculpe. — Ele me olha sem entender.
— Por quê?
— Por ter te feito sofrer, por não lembrar do homem da minha vida,
por quase me casar com outro, por... — Sou interrompida quando Adam me
puxa para um beijo.
Os lábios dele são tão macios.
— Você não precisa me pedir desculpas, meu anjo. O que aconteceu
conosco foi um descuido meu.
— Como assim?
— Se eu não a tivesse levado no meu clube, seu avô nunca teria
mandado ninguém te tirar de lá e...
— Adam, ele não mandou aqueles homens lá para me tirarem à força,
e sim para pedirem a você para me tirar de lá. — Ele ri.
— Você realmente acreditou no que Ethan contou?
— Em partes sim, e pelo que soube, tudo aquilo foi causado por
Dimitri. Nada que fizeram foi a mando do meu avô.
— Essa história ainda está mal contada, Isabel. Por que Ethan não
veio conosco?
— Ele já explicou, Ethan arriscou a vida para me salvar.
— Foi ele quem te colocou nessa merda toda, Isabel.
— Adam, vamos dar o benefício da dúvida a ele.
— Não sei.
— Você mandou mais homens irem na frente para nos dar cobertura,
não é? — Ele me olha surpreso.
— O quê? Está louca? Eu não...
— Me enganar não vai adiantar, senhor Lavisck. — Adam bufa.
— Ô mulher! Não dá para esconder nada de você, estou começando a
ficar assustado.
— Isso mesmo, é bom ficar.
— Te amo muito, sabia?
— Eu sei, eu também me amo muito. — Ele ri.
— Continua a mesma.
— Eu acho que sempre fui, mesmo não me lembrando. — Adam me
puxa para me sentar em seu colo e eu vou de bom grado.
— Continua sendo minha, só minha. — Eu rio com suas palavras.
— Nossa, mas que homem mais possessivo.
— Em relação a tudo que me pertence, sim, eu sou muito possessivo.
— Penso em dizer algo, mas logo esqueço quando ele cobre os meus lábios
com os seus novamente. Neste momento, quase esqueço até o meu nome, de
novo.
***
Assim como eu, Adam está nervoso e preocupado com essa situação toda.
Nós havíamos acabado de chegar na Geórgia e assim que coloquei os meus
pés aqui, senti a presença dos meus pais, isso me acalmou um pouco.
Carlos está ao volante, Hiz no banco do carona e Adam e eu no banco
de trás. Adam acha que não percebi, mas tem dois carros nos seguindo à
distância e sei que é a mando dele. Odeio quando ele me esconde as coisas e
eu tenho de descobrir por conta própria; embora eu tenha perdido a memória
e a recuperado, ainda assim detesto este seu lado.
— Por que está mordendo os lábios tão frequentemente? — me
assusto com a voz de Hiz.
— Para ser sincera, nem eu mesma percebi que estava fazendo isso.
— Ela está nervosa, Hiz. Sempre faz isso quando fica assim. — Olho
para Adam de cara feia.
— Acho melhor vocês se prepararem, já estamos chegando — avisa
Carlos.
Vejo Hiz entregando uma arma para Adam, que rapidamente a guarda
no cós da calça e a cobre com a blusa e o blazer escuros.
— Para que as armas? — indago.
— Precaução — justifica Carlos.
— Posso ter uma também? — Adam me encara assustado.
— Não.
— Ué, e por que não?
— Você está grávida, pode se machucar.
— Estou grávida, não inválida, posso pegar uma arma na mão.
— Vocês são estranhos, no jatinho estavam no maior love e agora
estão feito cão e gato. — Adam ignora Hiz.
— Isabel, isso não é um jogo. Está sendo muito difícil para eu aceitar
o fato de que estamos chegando na toca do lobo.
— Pensei que o Alfa fosse você, senhor Adam Lavisck Mertovini. —
Posso ver o quanto o incomoda ouvir o sobrenome Mertovini.
— Falando o sobrenome todo não vai adiantar, senhorita Isabel
Mitchell.
— Vocês dois podem parar com a DR e por favor se concentrarem no
aqui e agora?!— Carlos diz bem alto e Hiz concorda.
— Só estou cansada do Adam sempre me esconder as coisas.
— Do que está falando?
— Acha que não vi os dois carros nos seguindo? — Ele me olha
confuso.
— Dois?
— Sim e não se faça de idiota, não vai adiantar.
— Isabel, a que horas você viu esses dois veículos? — pergunta Hiz.
— Desde quando entramos no carro. — Vejo Carlos bufar e Adam
praguejar.
— Ligue para Albert — Adam ordena para Carlos.
— O que está acontecendo? — pergunto.
— Adam só colocou um carro para nos seguir, não dois. — Profere
Hiz, me deixando preocupada.
— Não sou um dos seus homens, Adam. Você não manda em mim.
— Porra, Carlos! Só faça o que pedi. — Carlos rapidamente faz o que
Adam pediu; coloca o celular no suporte do carro e deixa no viva-voz.
— Está no viva-voz — avisa Carlos.
— Senhor.
— Albert, o que está acontecendo?
— Tem um carro nos seguindo, senhor.
— Isso eu já sei, mas como não viram isso?
— Eu sinto muito, vou tentar despistá-lo. Enquanto isso, senhor
Carlos, pise fundo no acelerador e não pare até chegar ao portão do castelo.
— Pode deixar. — Meu corpo vai todo para trás quando Carlos pisa
no acelerador, indo ao máximo.
— Vocês viram quem está no carro? — inquire Adam.
— Sim. É o Dimitri, senhor, e pelo que vi tem mais alguém no carro
com ele.
— Infeliz, deve ser Léon.
— Fique tranquilo, senhor Lavisck, se depender de mim, ele não vai
chegar perto do seu carro.
— Obrigado, Albert. Mantenha-me informado.
— Sim senhor. — Hiz desliga o celular.
— Acho que Ethan armou para nós.
— Não acho que isso seja armação do Ethan. — Posso ver a raiva nos
olhos de Adam.
— Por que caralho insiste em defender esse verme, Isabel?
— Porque não acho que ele faria aquele teatro todo para...
— Chega! Estou cansado de ouvir você defender um homem que
aceitou se fingir de noivinho por dinheiro.
— Confesso que me magoou sim, mas foi para salvar a mãe dele,
Adam.
— Foda-se! Não quero saber, vou mandar matá-lo.
— Claro, sempre é assim. “Eu vou mandar”. Tudo tem que ser como
o Senhor Lavisck manda, não é mesmo?
— Não vamos discutir isso agora.
— Certo, mas isso ainda não acabou. — Vejo ele abrir a boca para
dizer mais alguma coisa, mas é interrompido quando escutamos o seu celular
tocar.
— Alô. — Atendeu seco e de cara emburrada, mas vejo seu rosto
mudar completamente. Adam me olha e logo em seguida pega o celular e
coloca no viva-voz.
— Pode falar.
— Isabel? — Olho confusa para Adam e para o celular.
— Sim, quem é?
— Sou eu, Ben. Seu avô.
Sinto um choque muito grande e um misto de emoções ao ouvir a voz
desse homem. Olho para Hiz de olhos arregalados que, assim como eu,
também está chocado. Para falar a verdade, todos nós que estamos dentro do
carro estamos paralisados, em estado de choque.
— O quê?
— Aqui quem está falando é o seu avô. — Sua voz saiu um pouco
chorosa.
— O que você quer? — pergunto ainda assustada.
— Sei que está na Geórgia e que está acompanhada.
— Sim.
— E que está em um carro que vem justamente pelo mesmo caminho
onde se encontra o meu castelo.
— Então o carro que está nos seguindo foi você quem mandou?
— Não, eu não mandei nada. — Encaro Adam perplexa.
— Como assim, não foi você?
— Isabel, eu não mandei nada. Quem está no carro que está seguindo
vocês?
— Vimos Dimitri e suspeitamos que a outra pessoa que está com ele
seja Léon — responde Adam.
— Esses imprestáveis! Bem que Ethan me avisou. Ele me ligou mais
cedo, foi assim que soube que você estava vindo. Me ligou de novo há pouco,
dizendo que você viria acompanhada e me deu os nomes.
— O que o Ethan me contou é verdade? — Não sei porquê, mas
desejo muito que o que ele me disse seja realmente verdade. Se for, o rumo
desta história pode mudar completamente.
— Quando chegar aqui conversamos. Continue a seguir o caminho
que está e terá homens dando cobertura quando chegar perto do castelo. — E
então ele desliga.
Olho para trás e vejo o carro em que Dimitri está, depois me viro
novamente, mantendo um olhar fixo para fora da janela.
— Você está bem? — Sinto Adam tocar na minha mão.
— Eu não sei. Falar com ele me lembrou do meu pai. — Sinto as
lágrimas molharem o meu rosto e só assim percebo que estou chorando.
— Tem lembranças dele? — questiona Hiz.
— Poucas, assim como as que tenho da minha mãe. Sempre achei a
voz do meu pai muito bonita e... Ouvir a do meu... Do Ben, me fez sentir
saudade. Foi como se estivesse falando com o meu pai, é estranho. — Ah pai,
como sinto a sua falta e a da mamãe.
— Ei, pessoal! Chegamos. — Carlos alerta.
O carro para em frente a enormes portões de grade, acho que são os
maiores que já vi na minha vida. Três homens se aproximam para falar
conosco e assim que me veem não hesitam em nos deixar passar. Os portões
se abrem e sinto como se meu coração fosse sair pela boca. Fico boquiaberta
quando o carro entra e, de longe, avisto o castelo.
Deus, como é lindo!
Esfrego os meus olhos para ter certeza de que o que estou vendo é
real. Assim que o carro para em frente ao castelo, de estilo medieval, mas
com toques de modernidade, saio primeiro que todos e contemplo,
maravilhada, o belo castelo.
Nunca tinha visto um de perto antes.
Olho em volta e fico mais encantada com o jardim, é enorme e lindo.
— Princesa. — Um homem vestido de terno e gravata como os
demais me chama e se curva quando chega perto de mim.
— É uma honra conhecê-la, Alteza. — Fico envergonhada, sinto
alguém pegar na minha mão e quando olho para o meu lado vejo Adam.
— Por favor, não precisa disso, se levante. — Peço ao homem que
continua curvado, ele levanta o olhar e sorri para mim.
— Seu avô nos deixou a ordem de te tratar como a princesa que a
senhora é. — Penso em falar algo, mas, do nada, Adam me puxa para trás
tomando a frente da situação.
— Obrigado, agora pode sair, a MINHA mulher não ficará muito
tempo. — Adam dá ênfase ao “minha”.
— Adam... — O repreendo.
Ô homem ciumento!
— Claro, senhor, me desculpe. Por favor, me acompanhem. — Ao
longo do caminho que vamos traçando até o castelo, me encanto ainda mais
com o que vejo.
Uau! Isso é enorme, um milhão de vezes maior que a mansão Lavisck
ou a que eu e Ethan morávamos. Olho para o teto e fico boquiaberta ao ver
muitos lustres enormes, maravilhosos.
— Todos eles são de diamante. — Uma senhora fala, descendo uma
grande escada.
Ela é negra, baixa, cabelo levemente grisalho e está bem vestida.
— São de diamantes mesmo? — Escuto Carlos perguntar surpreso.
— Sim, foram comprados por Petra Mary Rose Mitchell Mountbatten,
a falecida rainha. — Minha avó. — Prazer, me chamo Charlotte, cuido de
toda a organização do castelo. — Ela se apresenta.
— Ei, mas espera! Mitchell não é o sobrenome do avô da Isabel? —
Hiz questiona.
— Não. Mountbatten é do rei e Mitchell da falecida rainha; ela veio
para a Geórgia quando era uma criança, seus pais eram americanos. — Penso
por alguns segundos e chego à uma conclusão.
— Meu pai não quis usar o sobrenome do meu avô no meu registro.
— Evidencio me sentindo muito confusa com essa história toda.
— Seu pai não sabia, Isabel. Às vezes ele achava que tudo que
aconteceu foi culpa do seu avô. É como eu e o Adam, usamos o sobrenome
da nossa mãe — justifica Carlos, acho que ele está tentando me consolar, só
não entendi o porquê.
— É, pode ser — retruco, pensativa.
— Alteza, o rei lhe aguarda em seus aposentos. Não sei se sabe, mas
ultimamente ele não pode sair da cama, está muito doente. — Lembro de o
Ethan ter mencionado isso.
— Sim, eu já vou. — Olho para Adam, que mal me deixa falar.
— Não, você não vai falar com ele sozinha.
— Adam...
— Isabel, não, eu prometi que...
— Por favor, eu preciso muito tirar essa angústia do meu peito. —
Sinto as lágrimas se formarem em meus olhos, faço o possível para não as
derramar.
— Tenho medo que te aconteça algo. — Levo minhas duas mãos até
o seu rosto e o acaricio.
— Eu te amo, não vai me acontecer nada. — Ele sorri e então me dá
um breve beijo.
— Eu também te amo.
Capítulo Vinte e Dois
- Isabel Mitchell -
- Isabel Mitchell -
Minha vida mudou no decorrer destas semanas, meu avô fez uma certa
“aliança” com Adam e, juntos, eles deram um jeito em Dimitri e Léon.
Prefiro nem saber o que eles fizeram. Neste momento a única coisa que está
na minha cabeça é o nervosismo de estar em uma festa no hall do castelo com
pessoas muito importantes me olhando com curiosidade.
Ben resolveu me apresentar como sua neta e eu aceitei, não tinha mais
nada que impedia. Todos estão aqui neste dia que era para ser especial para
mim, mas não é. Embora eu esteja aqui nesta festa, minha cabeça está longe,
pensando não somente no quão nervosa estou com essa atenção toda, mas
também estou preocupada com Ethan.
Não o vejo desde aquele dia, sua mãe e sua irmã estão aqui, mas,
assim como eu, estão muito preocupadas com ele. Pedi ao Adam para tentar
encontrá-lo e nada, é como se ele tivesse sumido da face da terra. Sei que não
sou só eu que já pensou que o pior que pode ter acontecido, mas sinto que ele
está vivo e bem, em algum lugar. Deus queira que minha intuição seja
verídica.
— Uma noite de sexo por seus pensamentos. — Adam sussurra em
meu ouvido.
— Como o senhor é safado, senhor Lavisck. — Ele ri.
— Em relação a você, sempre. — Me puxa para ficar bem próxima
dele.
— Estou me sentindo muito desconfortável nesta festa.
— Acostume-se, você é uma princesa e mulher de um dos
empresários mais conhecidos e desejados de Seattle.
— Esqueceu de dizer convencido também.
— Sabe que sempre fui assim e espero que meu filho também seja. —
Suas mãos se apoiam na minha barriga, que está coberta pelo longo vestido
preto, que não é justo, e com detalhes em brilhantes.
— Ainda bem que Sophia não é assim — digo olhando para ela, que
está entretida conversando com Pedro.
Os dois ultimamente têm ficado muito unidos, se tornaram amigos
inseparáveis; Sophia quis até trocar de escola para ficar perto dele.
— Ela está se tornando uma menina tão linda; ela consegue até
ignorar completamente o fato da perda auditiva — concordo com Adam.
— Sim, estou muito orgulhosa dela. — Sinto meus olhos marejarem.
Argh! Hormônios de grávida.
— Quando é que vai nascer esse bebê? — Escuto Abby perguntar e
junto com ela está Carlos.
— Calma gente, logo, logo o pequeno Ryan estará conosco. —
Tranquiliza Adam.
— E o seu, Carlos? — pergunto.
— Oh, ainda faltam alguns meses, Isabel, mas eu já estou eufórico. —
Sim, minha amiga está grávida, Adam havia me dito que nessas últimas
semanas a Abby andava estranha. Ela havia descoberto que estava grávida e
tinha medo da reação de Carlos, que dizia que não queria um filho agora,
mas, finalmente tudo foi esclarecido e Carlos está quase superando o Adam
em “pai louco para ter o filho nos braços”.
— Então, princesa Isabel, como se sente sendo apresentada como
única herdeira de um trono tão importante? — Abby dá uma cotovelada em
Carlos, que reclama.
— Eu sinceramente não sei, isso tudo aqui é... Estranho para mim.
— Princesa, a Sua Majestade deseja vê-la — diz um dos guardas.
— Claro, onde ele está? — Aponta para um canto do salão onde logo
avisto a cadeira de rodas do meu avô.
Vejo também que ele está acompanhado de dois homens que talvez
sejam sócios, sei lá.
— Amor, eu já volto.
— Claro, não demora, vou sentir saudade. — Me puxa para um beijo
rápido.
— Eu também. — Começo a andar na direção do meu avô, mas paro
rapidamente ao sentir uma pontada na minha barriga, não foi forte, mas que
incomodou.
Como foi uma pontada rápida, volto a andar novamente, porém, mais
uma vez, sinto outra pontada, só que mais forte, e levo minhas mãos até a
minha barriga.
Será? Ainda faltam alguns dias para a data prevista.
— Isabel, você está bem? — Hiz me olha preocupado.
— Sim, não é nada demais. — Mais uma vez tento voltar a andar, mas
de novo a pontada vem, só que muito mais forte e intensa, e eu gemo de dor.
— Filha, está sentindo o quê? — Hiz para na minha frente.
— Pontadas. — Sou interrompida ao sentir agora uma dor muito
grande, tento me curvar, mas Hiz me impede.
— Isabel, é óbvio que você não está bem, venha comigo. — Ele tenta
me levar com ele, mas eu protesto.
— Pai, é sério, não... — Paro de falar no momento em que sinto algo
escorrendo pelas minhas pernas.
Oh, Meu Deus!
— Isabel! Como você está linda. — Escuto uma voz e quando olho
para trás me surpreendo.
Ethan!
— Onde você... Ai!
— O que houve? Está se sentindo bem?
— Não, minha bolsa acabou de estourar. — Hiz me olha de olhos
arregalados.
— Droga!
— Hiz, vá chamar o Adam, vou levar Isabel para algum quarto
enquanto arrumam um carro para levá-la ao hospital. — Ele concorda e sai o
mais rápido possível à procura de Adam.
Me assusto quando Ethan me levanta e, sem se importar com as
pessoas a nossa volta, caminha bem rapidamente comigo até as escadas.
Um minuto depois, Ethan me coloca deitada em uma cama de um
quarto desconhecido.
— Isabel, fique calma, você deve estar no começo das contrações e
começando a apresentar dilatações. Sentiu dores mais cedo? — Tenta me
tranquilizar.
— Cólicas, nada forte.
— Ok.
— Minha gravidez é de risco. — Respiro fundo já sabendo que uma
dor muito maior do que as outras está prestes a chegar.
— Isabel! — Adam entra correndo no quarto e se joga de joelhos no
chão, ficando próximo à cama.
— Meu amor. — Pego na sua mão e a aperto com força.
— Hiz foi buscar o carro. — Dou graças a Deus.
Um grito muito alto sai da minha garganta quando sinto a dor me
varrer completamente.
Porra, filho! Vai com calma.
— As contrações estão vindo de dez em dez minutos, deveria ter
avisado das cólicas mais cedo — conclui Ethan, olhando para o seu relógio
de pulso.
— Vai dar tempo de chegar ao hospital? — Adam pergunta.
— Não sei, o hospital fica bem longe daqui, e como Hiz está
demorando a trazer o carro, talvez não dê tempo.
— Filha! — Jena fala ao entrar junto com Kátia, Abby, Emilly e
Sônia, a mãe de Ethan.
— Cadê meu pai?
— Carlos foi atrás dele para ver o que houve com o carro — diz
Abby.
— E meu avô?
— Está se despedindo dos convidados; todos já sabem que você
entrou em trabalho de parto, então seu avô achou melhor encerrar a festa. As
apresentações necessárias já foram feitas. Não se preocupe, Charlotte está
com ele — explica Emilly.
— Porra! — digo tentando reprimir um grito ao sentir mais uma vez a
contração.
Não sabia que ter um filho doía tanto. Não quero mais!
— O castelo deve ter uma equipe médica — murmura Adam.
— Não! Ethan, você foi meu médico, não existe pessoa melhor para
fazer o parto do meu filho.
— Isabel, eu não vou deixá-lo... — Dou um aperto na mão de Adam e
o puxo pela gola do smoking.
— Não me questione. — Adam levanta as mãos em sinal de rendição.
— Isabel, eu não sei se devo.
— Por favor, Ethan. — Emmy implora. Ele reluta por alguns
segundos, mas logo concorda.
— Muito bem, vou fazer o parto.
— Isso é seguro, Ethan? — pergunta Adam.
— Partos em casa são habituais, no caso de Isabel fica melhor, pois
sou o médico dela, ou era... — murmura a última palavra.
— O que você vai precisar? — pergunta Kátia.
— Primeiro, quero que tragam lençóis limpos, travesseiros, preparem
uma bacia limpa com água morna, uma tesoura, álcool, bolas de algodão e,
enquanto eu vou até o banheiro lavar as mãos, quero que a preparem para o
parto. — Ethan rapidamente se levanta e entra no banheiro do quarto. As
meninas começam a andar de um lado para o outro pegando tudo que ele
pediu, Sônia sai do quarto e vai buscar água morna.
— Muito bem, Isabel, levante as pernas e as abra, mas antes deixe eu
te ajudar a tirar a sua calcinha. — Jena e Kátia me ajudam e quando Ethan
volta, eu já estou pronta.
— Julgando pelo intervalo das contrações, o trabalho de parto já está
avançado. Então, obviamente já deve dar para ver a cabeça do bebê.
— O que mais você precisa? — agora é Adam que pergunta.
— Que todos saiam. Não vou pedir para Adam sair, pois ele é o pai
e... Eu sei que ele está com raiva por eu estar fazendo este parto.
— Já me conhece bem. — Sorrio com essa cena, mas logo o sorriso
some e urro de dor com mais uma contração que parece me rasgar.
— Ethan, pelo amor de Deus, tire esse bebê de dentro de mim! Eu não
quero ter mais filhos! Adam, porra, quem mandou me engravidar?
— Amor, fique calma. — Puxo Adam pela gravata deixando seu rosto
bem próximo do meu.
— Cala a porra da boca. Não é você quem está parindo, seu idiota! —
Ele arregala os olhos.
— Adam, levante o vestido de Isabel deixando-o na cintura, pegue um
lençol e a cubra, aposto que não vai querer ver demais. — Adam ri.
— Que felicidade de saber que você já sabe disso.
— Pelo amor de Deus, faça logo, Adam — grito.
Rapidamente ele faz o que Ethan pediu. Ele se posiciona bem na
minha frente entre as minhas pernas e com cuidado levanta um pouco o
lençol.
— Muito bem, Isabel, as dores estão vindo mais rápidas, certo?
— Sim.
— Que bom, pois já posso ver a cabeça do bebê, mas calma, não faça
força.
— Mas que caralho, Ethan!
— Adam, pega na mão dela. — Adam o faz. — Ajude-a com a
respiração. É preciso evitar a hiperventilação. Procure acalmá-la falando
baixo e orientando para que ela inspire pelo nariz e expire pela boca seguindo
um ritmo uniforme. Para ajudar, faça isto junto com ela. — Ele concorda.
— Isabel. Só empurre se sentir uma pressão crescente na região
lombar, no períneo ou no reto. — Espero sentir o que ele diz, o que não
demora muito para acontecer; logo sinto.
— Ethan — digo entredentes.
— Certo. Agora empurre, Isabel, com toda a sua força. — Junto todas
as minhas forças e as concentro só nisso. Fico exausta, isso cansa demais.
— Isso, Isabel, continue. — Mais uma vez eu empurro. — Isso,
respire fundo. A cabeça do bebê já saiu, só faltam os ombros e logo o Ryan
estará em seus braços.
Respiro fundo enquanto aperto a mão de Adam. Eu o olho suplicando
ajuda, ele está com os olhos marejados, aperta a minha mão e beija a minha
testa.
— Só mais uma vez, Isabel. — Minhas forças já estão se esgotando.
— Eu não consigo — sussurro.
— Meu amor, pense no nosso Ryan, ele está chegando. Você
consegue. — Olho para Adam e vi um brilho diferente em seus olhos, que o
deixa muito mais bonito.
Meu filho e do Adam, fruto do nosso amor.
Junto as únicas forças que me restam e empurro com tudo, continuo
fazendo força e, quando finalmente paro, um choro ecoa pelo quarto. Sinto
meu corpo relaxar e a emoção extravasando através do meu choro.
Deus!
— Você conseguiu, meu amor. Deu à luz ao nosso filho. — Adam me
olha com o rosto coberto de lágrimas.
— Olha Ryan, dê oi para a mamãe e o papai. — Ethan entrega o bebê
nas mãos de Adam.
— Oh, meu Deus! Como você é lindo, meu filho! — Ele beija a testa
de Ryan e eu me emociono ainda mais com a cena.
— Oi, mamãe — diz Adam colocando Ryan em meus braços.
Fico olhando para ele e ainda não acredito que essa pequena pessoa é
meu filho, que saiu de mim.
— Olá, meu amor. Espero ser uma boa mãe para você, e saiba que já
te amo incondicionalmente.
CINCO MESES DEPOIS
Olho para o meu celular pela décima-segunda vez, faltam dois minutos para
as quatro e meia da tarde. A hora exata que eu e meu futuro marido
escolhemos para nos casarmos e eu ainda estou me maquiando.
— Filha, a cada dois minutos você olha este celular.
— Eu estou muito ansiosa, vou chegar atrasada.
— Uma noiva chegar atrasada em seu casamento é supernormal, meu
amor. Ainda mais se for chegar linda e arrasando como você está. — Exibo
um sorriso sem graça.
— Eu acho que vou chorar — diz Kátia, tentando segurar as lágrimas.
— Sogrinha, não faça isso se não eu choro também — fala Abby me
fazendo rir.
— Seu casamento foi há dois meses, agora é minha vez.
— Eu sei, mas é que eu estou grávida pela segunda vez, sabe como os
hormônios são...
— Vocês dois mal tiveram um bebê e já vão ter outro — profere Jena,
nos fazendo rir.
— Onde estão Sônia e Emilly? — Elas estavam aqui há pouco tempo.
— Foram conferir como está tudo e nos esperar lá.
— Não fale muito, Bel, deixa eu terminar de passar o batom e...
pronto. — Jena diz e, logo as outras se juntam a ela e me encaram.
— Por que estão me olhando assim?
— É que você...
— Está linda. — Abby termina a frase de Kátia.
Levanto da cadeira e me olho no espelho, me surpreendendo com o
que vejo, uma mulher bem diferente da que eu estou acostumada. Observo
meu vestido e fico muito satisfeita com o resultado.
Decidi não me casar de branco. Meu vestido, marfim, tem o corpo de
seda guipure branca e a saia de tule tem um grande volume, a cintura é bem
marcada e tem um decote em V nas costas.
— Está uma princesa, literalmente — comenta Jena e todas nós rimos.
— Seus pais ficariam orgulhosos — diz Kátia, emocionada.
— Vai usar a coroa que seu avô mandou fazer para você? — Olho a
coroa em cima da cama, pronta para ser colocada.
A coroa é prateada e simples, com pequenas pedras de diamante por
toda a extensão e uma pedra maior de esmeralda no meio, em destaque.
— Vou sim. — Pego ela com cuidado, a coloco e me olho no espelho.
É linda! Me sinto muito... poderosa.
— Uau! — exclamam as três em uníssono.
— O Adam vai babar — completa Abby.
— Ei, por que vocês... Uau — Ethan para de falar no momento em
que olha para mim.
— Nós já vamos. Ethan, leve-a em segurança até a igreja — pede
Abby.
Adam e eu decidimos nos casar aqui na Geórgia e na igreja na qual
toda a família real se casou. Foi um pedido do Ben, e como ele não pode
viajar por estar com a saúde debilitada, aceitamos.
— Pode deixar. — Elas saem nos deixando sozinhos.
— E então? — Abro os braços e dou uma volta, ele assobia.
— Você está linda, Isabel, um sonho para qualquer marido. — Não
posso deixar de sorrir com o seu elogio.
— Obrigada. — Ethan se aproxima.
— Adam é um homem de sorte, tomara que eu tenha essa sorte
também. — Puxo ele para um abraço.
— Você vai, tenho certeza.
— Espero também que ele tenha dado um tempo naquele clube. Ele
precisa se lembrar que agora é pai e vai se casar, quer dizer, ele já era pai,
mas agora ele tem dois filhos nas costas.
— Sim, Ethan. Ele deu um tempo no clube, tem um homem de
confiança tomando conta. Desde que Ryan nasceu, Adam não vai mais lá.
Ethan agora faz parte de nossa família e mesmo não sendo algo
concreto, virou uma espécie de colega de Adam e Carlos. Sem Dimitri e Léon
no caminho, ele ficou livre para poder voltar ao trabalho na direção do
hospital de Seattle. Hoje ele será meu motorista e vai me levar até a igreja;
quando chegarmos lá, meu pai Hiz vai me levar até o altar.
- Isabel Mitchell -
O castelo está em festa, bom, pelo menos para as outras pessoas, não
para mim. Hoje serei coroada a Rainha da Geórgia e, com isso, vou nomear o
meu representante enquanto estiver em Seattle com a minha família. Com a
morte repentina de Ben eu precisei tomar essa decisão às pressas e todos
concordaram. Esse trono ficará com o meu escolhido até que meu filho mais
velho cresça e decida se vai ou não herdar o trono. Se caso ele não quiser,
meu filho mais novo poderá herdar se desejar, mas caso nenhum dos dois
queira, nomearei como rei o meu escolhido, passando a ele a
responsabilidade de todo o reino.
— Preparada? — pergunta Charlotte entrando no quarto.
— Não, dá tempo de sair correndo? — Ela ri.
— Vossa Alteza está linda e a coroa perfeita, seu avô que mandou
fazer para este dia tão especial. — Olho-me no espelho mais uma vez e vejo
que Charlotte tem razão.
É um vestido longo, com corpo de guipure de algodão e saia de crepe
georgete, com decote em forma de coração complementado com
transparências em vermelho, verde-água, prateado, azul-marinho, azul e azul-
cobalto.
― A coroa é muito pesada, Charlotte?
― Não sei te responder essa pergunta, nunca usei uma, mas sei que
elas são lindas e preciosas.
― Eu estou com muito medo. ― Ela estende a mão para mim.
― Seja você mesma, querida, e eu tenho certeza que seus pais e seus
avós devem estar te olhando neste momento e se sentindo muito orgulhosos
da mulher que você se tornou, e da rainha que irá se tornar. ― Sim, eu estou
chorando; falar sobre a minha família sempre vai mexer comigo.
― Obrigada. ― Abre um sorriso simpático e diz:
— Já está na hora — concordo com ela, deixando-a ir na frente e
saindo logo em seguida.
Ao chegar no topo da escada que dá no hall do castelo, todos ali
param o que estão fazendo para me olhar, incluindo ele, meu Adam, que está
tão perfeito de smoking.
Desço as escadas lentamente até chegar no hall do castelo e me dirijo
à sala do trono junto a meu marido. Trombetas são ouvidas quando apareço
na entrada, há dezenas de cavaleiros reais, desde a entrada até próximo ao
trono em cima de um palco; centenas de pessoas já me aguardavam na
enorme sala do trono, políticos, figuras públicas, monarcas de outros países e
assim por diante. Respiro fundo, tentando não surtar. De longe, olho para o
trono do meu avô e não consigo me imaginar sentada nele, comandando um
país inteiro.
Adam vem até o meu lado e com cuidado pega nas minhas mãos; só
com o olhar ele consegue me manter calma, obviamente sabe que estou uma
pilha de nervos. Ele caminha comigo, lado a lado sobre o enorme tapete
vermelho. O que me tranquiliza mais um pouco é saber que todas as pessoas
que amo também estão aqui, emocionadas.
Ao me aproximar melhor do trono, vejo que o mesmo é feito de ouro
com um estofado vermelho, e é maior do que eu pensava. O Arcebispo Rick
abre um sorriso largo quando subo na espécie de palco.
— Majestade. — Ando até o Arcebispo, que está parado ao lado do
trono, com Adam ao meu lado. Giro meu corpo, ficando de costas para o
trono e de frente para todos aqui presentes.
Fecho os meus olhos e solto uma respiração pesada.
― Olá a todos, e boa tarde. Como sabem, hoje é um dia especial para
toda a Geórgia, mas também um dia triste, já que, infelizmente, três meses
atrás o nosso querido rei Ben nos deixou. ― Olho para Charlotte, que se
apressa em secar uma lágrima. ― Todos tinham medo disso um dia acontecer
e não haver mais ninguém na linha de sucessão ao trono. ― Respiro fundo
quando o Arcebispo olha para mim e diz: ― Mas eis aqui a herdeira legítima
de todo o nosso país. — O barulho alto das palmas ecoa pela grande sala, e
eu sorrio para todos, sem graça. — Antes de prosseguirmos com a coroação,
quero pedir um minuto de silêncio em memória do nosso amado Rei Ben
Richard Ewbank Mountbatten, do seu filho Benjamin Eduard Ewbank
Mitchell Mountbatten, da esposa do príncipe, Julia Daves Bullard, e da
amada rainha Petra Mary Rose Mitchell Mountbatten.
Meus pais não conseguiram se casar no papel, mas a alma de ambos
já estava unida e permaneceria assim.
O silêncio predomina no recinto, e eu, por alguns segundos, me
lembro do pouco tempo de convivência que tive com o meu avô. Foi muito
pouco para suprir todos esses anos de ausência e mal-entendidos.
Seguro as lágrimas que insistem em cair ao me lembrar que tudo
podia ter sido diferente se Ben tivesse aceitado o amor que meus pais sentiam
um pelo outro. Olho para o lado e vejo Adam de olhos fechados e cabeça
baixa. Acho que aquele velho ditado se aplica a isso.
Deus escreve certo em cima de linhas tortas, pois se nada disso tivesse
acontecido, eu jamais teria conhecido o Adam ou a família dele, também não
teria conhecido Jena, Hiz, Pedro e Abby. É, acho que há males que vem para
o bem.
— Agora, por favor, se aproxime, Princesa Isabel Bullard Mitchell
Mountbatten Lavisck. — Sim, resolvi usar esse sobrenome e isso deixou Ben
muito feliz. Sinto o manto vermelho de veludo sendo colocado em meus
ombros. Uau, isso pesa um pouco. — Com este óleo te ungirei e você
caminhará lado a lado com o Nosso Senhor, nessa grande e bela jornada. —
O Arcebispo Rick diz e me unge com o tal óleo. Nossa, nem sabia dessa
parte. Arregalo os meus olhos quando o vejo pegar uma almofada de veludo
vermelho e em cima está a enorme coroa prateada ornamentada com
diamantes e rubis enormes. — Com esta coroa, lhe coroarei para que se torne
apta para reinar neste país. — Ele retira a brilhante coroa da almofada e a
levanta ao alto, em cima da minha cabeça; fecho os olhos quando o sinto
depositá-la em minha cabeça, quando abro os meus olhos, viro lentamente
para frente, ficando novamente de costas para o trono sentindo não só o peso
da coroa, mas também o peso de ter de comandar tudo isso.
— Vossa Alteza, que a partir de agora será tratada como Majestade,
queira sentar-se no seu trono. — Com a ajuda de Adam, sento no enorme e
exagerado trono; quando me acomodo, o Arcebispo diz em alto e bom som:
— Estamos diante da nova Rainha da Geórgia. Todos saúdem a
Rainha Isabel Bullard Mitchell Mountbatten Lavisck. — Todos aplaudem e
até escuto assovios e eu... estou fodida.
Espero a salva de palmas cessar para finalmente dar o meu
comunicado. Todos me olham surpresos quando me levanto do trono,
incluindo meu marido.
— Bom, como sabem, sou nova nisso, não imaginava que me tornaria
rainha e agora me sinto no dever de dizer algumas palavras; peço desculpas
se disser algo errado. — Todos riem. — Eu não sei a história deste país, já
que tempos atrás eu nem sabia que pertencia a este lugar. Porém, pelo pouco
que conheci, vi que se trata de um país bom, acolhedor e muito feliz, graças
ao trabalho que meu avô Ben realizou e espero de coração que eu consiga
fazer o mesmo, mantendo essa harmonia. Obrigada. — Todos me aplaudem.
Escuto novamente assobios vindos de algum canto, procuro de onde
vêm e vejo Carlos levando uma cotovelada de Abby, sorrio com essa cena.
Olhei para Adam, que acena para mim e eu já entendi o porquê.
Respiro fundo antes de continuar a falar.
— Agora, é a minha vez de anunciar o meu escolhido para tomar
conta do reino. — Um grande borbulho é ouvido quando Ethan se aproxima,
vejo a mãe dele e a irmã arregalarem os olhos.
— Eu, Rainha Isabel Bullard Mitchell Mountbatten Lavisck, te
nomeio representante da rainha. Você ficará no comando do reino até que
meu filho Ryan Ben Mountbatten Lavisck tenha idade suficiente para
escolher se vai ou não assumir o trono que é dele por direito. Caso ele não
queira, meu filho mais novo, que está em meu ventre, será o novo herdeiro e,
em último caso, se não houver herdeiros, você será o novo rei da Geórgia.—
Pego outra coroa dourada, com diamantes azuis, que eu mandei fazer para
Ethan e coloco nele, ele se levanta e sorri. Todos ali aplaudem surpresos, pois
muitos não esperavam por isso. E talvez eu possa estar quebrando alguma lei
da monarquia, mas agora que sou rainha, a última palavra é minha.
Logo a comemoração é iniciada e a festa começa.
— Obrigado por me escolher, Isabel — agradece Ethan quando todos
estavam distantes.
— Você é um homem bom, Ethan. Não existe pessoa melhor para
este cargo.
— Mas eu te fiz mal, eu...
— Não. O que você fez, de alguma forma, foi para ajudar sua mãe e
não para me prejudicar. Eu fiquei magoada sim, mas agora entendo e foi por
isso que estou te dando este cargo. Agora você terá milhares de vidas para
tomar conta, como se fosse em um hospital.
— Sim, espero que eu ainda possa exercer minha função.
— E você vai. Olhe pelo lado bom, sua família virá morar com você
no castelo, e elas estão muito orgulhosas.
— Sim, você tem razão.
— Agora só falta arrumar uma mulher para tomar conta deste reino
junto com você. — Ele sorri sem graça.
— Quem sabe eu tenha tempo para isso.
— Bobo.
— Oi, minha rainha. — diz Adam, trazendo com ele Ryan e Sophia.
— Oi, meu rei. — Ele sorri e me beija.
— Agora eu sou uma princesa? — pergunta Sophia.
— Sim, como você é minha filha e eu sou uma rainha, sim, meu
amor, você é uma princesa. — Me abaixo para lhe dar um beijo na bochecha,
ela sorri e sai correndo até Pedro.
— Escolheu bem, meu amor.
— Pensei que você seria o primeiro a falar que fiz mal.
— Por mim você poderia escolher qualquer um, desde que fosse
embora para Seattle comigo. — Dou-lhe um tapa em seu braço.
— Você é muito bobo.
— O seu bobo.
— Imagine nosso filho sendo rei? — Mentalizo.
Adam olha em volta e diz:
— Ele será o melhor rei de todos os tempos, fora que será o mais
bonito e mais disputado pelas mulheres.
— Meu filho não será mulherengo, Adam.
— Sonha, baby.
— Adam, como você é pervertido.
— Só com você. — Ele me puxa para um beijo longo, mas logo
somos interrompidos quando uma pessoinha reclama.
— Ei meu amor. Deixe-me beijar a mamãe. — Ele sacode a cabeça
nos fazendo rir.
— Eu te amo, meu Adam.
— Eu também te amo, minha Isabel.
Epílogo
VINTE ANOS DEPOIS
- Isabel Mitchell -
Hoje está sendo um dia de festa para todos nós, pois o meu filho Ryan vai
assumir o trono da Geórgia. Para mim está sendo uma alegria só, vou passar
minha coroa para ele. Ethan fez o combinado, cuidou muito bem do país e até
deixou muito melhor do que já estava. Ele se casou e teve dois filhos lindos.
Hoje também é um dia muito especial não só para Ryan, mas para Mia
também. Mia é sua noiva. Eles escolheram justamente hoje para se casar e
ambos se tornarem rei e rainha da Geórgia.
— Isabel, me ajude aqui com o vestido — pede Mia.
— Hoje será um dos melhores dias da minha vida — digo sorrindo.
— Hoje está sendo um dia normal como qualquer outro, mãe — Júlia,
minha filha, é quem diz.
— Júlia, pare.
— Eu vou lá em baixo ver se acho algo para comer.
— Mas ainda não está na hora...
— Só vou lá ver, mãe.
— Ela está ficando uma adolescente muito difícil.
― Júlia deixou de ser adolescente, sogrinha, ela já tem dezenove
anos.
— Eu sei e ela me lembra muito a mim quando tinha a idade dela, foi
quando conheci o meu marido, mas tem alguns pontos dela que me
preocupam. De uns quatro anos para cá ela se afastou muito de mim; sei que
está focada em ser a nova sucessora do Adam na empresa, mas ela ficou tão...
fria.
— Isso acontece, eu me senti responsável pela minha irmã quando a
minha mãe morreu, ela ainda era menor de idade e agia exatamente assim
comigo, mas isso vai passar, você vai ver.
— Eu sei, mas ela poderia agir mais como Sophia.
Sophia se tornou uma mulher linda, mãe de um menino lindo e esposa
de Pedro. Quem diria que esses dois ficariam juntos... Nem preciso dizer
como foi a reação de Adam quando, aos quinze anos, ela disse que estava
namorando Pedro. Ele ficou louco e quase matou o garoto, mas, no final
aceitou e hoje o considera como filho.
— Ficar dizendo para ela agir como a irmã vai ser pior, acredite. —
Mia se senta na cama e eu a ajudo a colocar os sapatos.
— Está sendo um dia corrido para todos.
— Eu sei, talvez não seja um bom dia para um casamento.
— Claro que é, vocês dois vão ser muito felizes aqui e serão os
melhores rei e rainha da história da Geórgia. — Ela sorri sem graça.
— Não sei se me acostumo com isso.
— Você se acostumará. No começo foi assim comigo também, foi
algo muito estranho, inesperado e repentino.
— Vim ver como está a noiva mais linda do mundo — disse Eva,
irmã de Mia, entrando no quarto junto com Brenda, a filha mais velha de
Abby e Carlos. Eles tiveram mais uma filha, que se chama Ana.
— Ah, ainda bem que chegaram, agora posso ir ver como está meu
filho. Não confio muito no pai dele para arrumá-lo. — Elas riem e eu saio em
disparada para o quarto de Ryan, do outro lado das escadas.
— Cheguei. — Vejo Adam auxiliando Ryan a ajeitar o smoking.
— Mãe, ainda bem. Estava com medo do papai me arrumando aqui.
— Adam olha para ele de cara feia.
— Não tem graça.
— Calma, meu amor. Estou aqui, cheguei. —Vou até ele e ajeito a
sua gravata borboleta.
— Como se sente, filho? — pergunta Adam.
— Feliz, ansioso e muito nervoso.
— É normal, ainda mais para vocês dois que escolheram se casar no
dia da coroação.
— Quero logo os meus netos.
— Adam. — Ele apenas sorri.
— Isso pode esperar um pouco. Quero aproveitar meu tempo de
casado com Mia e depois pensamos nisso.
— Isso aí. Não faça como seu pai e sua mãe que trouxeram você e sua
irmã por acidente. — Dou um tapa em Adam, que ria junto com Ryan.
— Que coisa feliz de se dizer para um filho que está prestes a casar.
— Meu filho ri.
— Mãe, adorei o livro que me deu — diz Ryan, se referindo ao livro
que escrevi há anos. Nele conto a história de amor entre Adam eu. O título é:
O Alfa – A Redenção do CEO.
— Que bom, sabe que este livro conta a minha história e a do seu pai?
— Sim, uma história bem louca, por sinal.
— É verdade, mas agora já está na hora de descermos. — Puxo Ryan
pelo braço e Adam vem logo atrás. Minutos depois, Mia aparece no topo da
escada, usando o mesmo vestido de casamento que usei, só que
completamente reformado. Ela é uma morena linda, e está perfeita.
A cerimônia de casamento foi linda e chorei muito ao ver o meu bebê
se casando. Em seguida começou a coroação e me emocionei muito ao vê-los
sendo coroados. As coroas eu mesma escolhi e mandei confeccionar. São
perfeitas, a dele é dourada e ornamentada com diamantes e lindas esmeraldas;
a dela, prateada, com safiras azuis e rubis.
Não consigo conter a minha emoção. Corro até eles, sem vergonha
alguma, e os trago para um abraço vigoroso.
— Sejam felizes — sussurro para só eles ouvirem.
A festa corre tranquila e tudo está perfeito, a não ser Júlia, que só
reclamava. Sinceramente, eu preciso ter uma conversa muito séria com ela.
— Bel, não é lindo? — expressa Abby, se referindo à festa.
— Sim, está tudo perfeito.
— Agora somos velhinhas.
— Ei, não somos velhas, ainda.
— Verdade, nós somos — diz Kátia com Sônia ao seu lado.
— Nem tanto assim.
— Oh, não, estamos bem enferrujadas.
— Não acho que estamos enferrujadas.
— Podemos provar isso — fala Emilly.
— Podemos sair e curtir essa noite — sugere Abby.
— Não somos mais adolescentes, meus amores.
— Abby está certa, Isabel. Deveriam sair.
— A noite das quarentonas. — Olho para Emilly de olhos
arregalados.
— Isso é loucura.
— Mas vai ser uma loucura boa. — Sabe qual é o pior disso tudo? É
que ela tem razão.
E assim que chegamos em Seattle saímos à noite, curtimos, bebemos
sem preocupações, sem maridos e sem filhos. Só nós três, já que Kátia e
Sônia acharam melhor ficar em casa.
Ao chegar em casa, sou pega de surpresa quando sinto os braços de
Adam me rodearem.
— Ei, o que é isso?
— Você foi curtir esta noite, certo?
— Sim. — Ele me vira bruscamente, me levantando pela bunda e
fazendo com que enlace minhas pernas na sua cintura.
— Agora é minha vez de curtir a noite. — Olho para esse homem de
cinquenta anos e sorrio. Passo a mão por seus cabelos levemente grisalhos e
seu sorriso o deixa muito sexy.
— Vamos curtir a noite toda se quiser, baby.
— E assim será, minha Isabel.
— Meu Adam.
É assim que vivo ao lado dele, ao lado do meu eterno amor chamado
Adam Lavisck, O Alfa de Seattle e do mundo. O Alfa do meu mundo e do
meu coração.
Bônus
- Abby e Carlos -
Observo mais uma vez aquele homão da porra passar na minha frente indo
em direção à sala do seu irmão Adam. Às vezes me pergunto por que tenho
tantas expectativas em relação a ele. Um homem como Carlos Lavisck nunca
olharia para uma simples secretária.
Acho que me iludi e me encantei pelas poucas vezes em que ele foi
gentil comigo, mas a quem eu quero enganar? Ele deve ser assim com todo
mundo, já que ele é completamente o oposto do seu irmão mais velho, que é
todo frio e arrogante.
— Abby? — Saio dos meus devaneios com a voz de Isabel.
— Oi, me desculpa, estava distraída.
— Ah, eu sei bem o porquê — ironiza.
— Não diga besteiras. — Começo a andar até a minha sala, que agora
é dela também, já que Isabel começou a trabalhar ontem aqui como minha
assistente.
Ela me ajuda bastante, sem contar que é filha adotiva dos meus tios
Hiz e Jena.
Isabel é secretária da secretária. Que coisa, não?!
— Olha, por que não diz para ele o que sente?
— Está louca? Eu não sinto...
— Mentir é feio, Abbygrey. — Odeio meu nome.
— Primeiro, não é mentira. Segundo, não me chame pelo meu nome.
— Ela levanta as mãos em sinal de rendição antes de sentar em sua mesa, que
fica em frente a minha.
Ficamos em silêncio por alguns segundos até que a porta é aberta e a
razão do meu tormento entra.
Carlos é lindo, um homem alto e bem forte, de pele clara e olhos
verdes, cabelo castanho-escuro e tem covinhas. Essas covinhas me matam!
— Bom dia, meninas.
— Bom dia — dizemos em uníssono.
— Abby, sei que é secretária do meu irmão, mas é que a minha tirou
licença para poder ter o bebê e eu fiquei completamente na mão, estou
precisando de uma ajuda.
— Ah... eu..., mas seu irmão, ele...
— Já conversei com ele, Adam te deixou me ajudar, mas nada que te
sobrecarregue; eu só preciso que atenda as minhas ligações quando eu não
puder, anote recados e me ajude com algumas planilhas.
— Acho melhor a Isabel ajudar. — Ela me olha com espanto.
— Eu? Abby, eu comecei a trabalhar ontem, você acha que eu vou me
sair bem nessa?
— São coisas simples e que você pode fazer. E eu tenho muito
trabalho... Eu... eu... não posso ajudar.
Eu não posso te ajudar porque quero distância, assim, talvez, eu possa
tirar ideias tolas da minha cabeça fantasiosa.
— Ok, pode me ajudar, Isabel? — Ela me encara pedindo com o olhar
que eu volte atrás e diga algo, mas quando percebe que não direi mais nada,
ela fala:
— Sim, ajudo, mas já aviso, não sou profissional, ainda estou na
faculdade. Sou uma estagiária, secretária da secretária, e comecei a trabalhar
ontem. — Carlos abre um sorriso simpático.
— Eu entendo, fique tranquila que é bem fácil. Só fiquei atolado com
isso por conta de outras coisas que preciso fazer, reuniões, pautas, relatórios.
— Tudo bem, vamos até a sua sala e você me passa tudo direitinho —
Isabel diz andando até a porta e ele me olha antes de se virar para sair, o que
acho estranho, e logo depois se retira.
Me jogo na minha cadeira sentindo uma puta vontade de me bater.
Por que comecei a ter sentimentos sem ao menos conhecê-lo melhor?
***
Fim...
OU SÓ O COMEÇO DE MAIS UMA HISTÓRIA?
A Filha do Alfa
SPIN OFF O ALFA – A REDENÇÃO DO CEO
EM BREVE
Prólogo
Sinto o sangue escorrer por entre meus dedos enquanto soco a cara de mais
um adversário; o nome Athena é o mais aclamado. Puxo o ar com força
quando o verme infeliz acerta um soco nas minhas costelas, rapidamente me
recomponho e no momento em que ele tenta acertar um soco no meu rosto,
eu desvio, abaixando-me rapidamente para lhe dar uma rasteira; ele cai feito
um saco de merda que é, afinal, todo pedófilo é isso.
Ele está sem ar, com o rosto desfigurado, e o vermelho se tornou a sua
nova cor. Tenta se levantar, mas falha inutilmente, caindo em cima do ringue.
Ando até ficar com o seu rosto próximo a meus pés e, com raiva e força,
acerto um chute na sua boca, o sangue voa junto com muitos dos seus dentes;
ele desmaia ou morre. Para ser sincera, eu estou pouco me fodendo para isso,
já que esse infeliz foi condenado a trinta anos de prisão por violentar e matar
cinco crianças entre sete e doze anos de idade.
— E mais uma vez, a nossa Athena é a vencedora! — O locutor grita
e logo em seguida todos gritam e assobiam.
Saio às pressas do ringue, indo direto para a ala dos lutadores; lá,
tenho um quarto só meu, afinal, sou filha de Adam Lavisck, dono do cassino
em que, no subsolo, fica o clube de luta mais sangrento e mortal de toda
Seattle. Condenados por crimes hediondos são mandados para cá pela polícia
ou autoridades maiores, aqui eles são torturados ou mortos; o clube também
serve para alguns lutadores que apostam algo ou simplesmente querem
mostrar que são mais fortes que os outros, o que é ridículo!
Meu pai, fundou este clube para ter uma válvula de escape para seus
problemas na época; assim como eu, ele lutava e era conhecido como O Alfa,
até hoje o chamam assim. Quando ele casou com a minha mãe, Isabel,
prometeu não entrar mais neste clube. Óbvio que ele cumpriu com a
promessa, mas ainda o mantém, quem está à frente cuidando do cassino e do
clube é Brendon, um dos melhores seguranças do meu pai e o único que lhe
transmitia confiança para cuidar de um negócio tão delicado e secreto.
— Júlia. — Brendon entra no quarto no momento em que tiro a minha
máscara.
O CEO Adam Lavisck não pode nem imaginar que sua filha caçula e
futura sucessora no império Lavisck frequenta esse tipo de clube e que ainda
participa de lutas que podem até matá-la, mas acontece que faz dois anos que
estou aqui e nunca ninguém me derrotou.
— Sabe que não gosto que me chame pelo nome aqui, alguém pode
ouvir.
— Ok, senhorita Athena, não está mais aqui quem falou — diz em
tom zombeteiro.
— Fala logo o que quer.
— O de sempre, te convencer a sair desse clube. — Reviro os olhos,
já cansada dessa ladainha toda.
Brendon é um homem muito bom e durante esses dois anos está me
acobertando, mas sei que ele não gosta de esconder as coisas do meu pai,
ainda mais sendo algo assim. Durante esse tempo todo ele tentou me
convencer a sair disso, mas toda vez eu digo a mesma coisa.
— Gosto do que faço; meu pai pagou os melhores professores de artes
marciais para treinar Ryan, Sophia e eu, nos ensinou a atirar e até mesmo a
saber lidar com facas, então por que não usar? Tenho meus motivos para
procurar por isso.
Meu pai nos dizia que o treinamento era para nos defender quando ele
ou a mamãe não estiverem mais aqui.
— O problema, loirinha, é que se seu pai descobrir que estou te
acobertando por todo esse tempo, vai mandar arrancar a minha cabeça e
enviar para a minha família em uma caixa. — Dramático!
— Ele nunca vai descobrir se continuar do jeito que está, ninguém
sabendo quem eu sou, somente atendendo pelo codinome Athena. — Ando
até o banheiro para lavar o meu rosto.
— Te tenho como uma filha, eu te vi crescer, menina; se algo
acontecer a você eu nunca me perdoarei. — Saio do banheiro secando o meu
rosto e me encosto na porta do banheiro para encará-lo.
— Desde quando ficou maricas? — Ele ri.
— Você pode ter a aparência da sua mãe, mas no gênio é idêntica ao
seu pai, não tem o que tirar e nem por; seus irmãos são os opostos de você.
— Acho que é por isso que sou tão especial e linda.
— Consegue superar Adam no quesito convencida...
— Amor próprio é tudo. — Brendon balança a cabeça, abrindo um
sorriso largo.
— Eu vou sair para você se arrumar e ir embora; coloquei sua moto
no mesmo lugar, e já sabe por onde pode sair.
— Sim senhor. — Bato continência e ele sai do quarto caindo na
gargalhada.
****
Saio pela passagem secreta do quarto, ando pelo extenso túnel e, dois
minutos depois, estou distante o suficiente do clube. Avisto a minha moto de
longe, ando a passos largos até ela, dou uma rápida olhada para trás para ver
se ninguém havia me visto e acabo esbarrando em algo, ou melhor, em
alguém; quase caio no chão, se não fossem os braços do homem que
praticamente colou meu corpo ao seu.
Levanto o meu rosto para encará-lo e... Puta que pariu! O filho da
mãe é uma puta visão dos deuses olímpicos. Cabelo grande e escuro preso em
um coque, barba um pouco grande, mas bem-feita, queixo quadrado, olhos
cor de mel, pele branca com um leve bronzeado e um aperto daqueles!
Uau! Como consegui enxergar isso tudo no escuro?!
— Você está bem? — Minhas pernas ficam bambas com a potência
da voz da criatura.
— Sim, estou — murmuro saindo do seu aperto.
— O que uma menina como você faz a essa hora em um lugar tão
afastado da cidade?
— Algo que não é da sua conta. — Ele levanta as mãos em rendição.
— Ok, não está mais aqui quem falou.
Ele fica em silêncio, me encarando por alguns segundos, e isso me
incomoda, é como se ele enxergasse algo muito além do que as pessoas estão
acostumadas a ver.
— Preciso ir. — Rompo o silêncio.
Ele não diz nada, fica ainda me encarando e eu aproveito para sair o
mais rápido possível dali; subo rapidamente na minha moto, ponho o
capacete e saio em alta velocidade, pegando a estrada com a minha mente
naquele desconhecido de olhos lindos.
Preciso de sexo, urgente!
Agradecimentos
Primeiramente, quero agradecer a Deus por esse incrível dom que Ele me
deu e também as minhas conquistas.
Quero agradecer a minha revisora Angélica Podda, linda❤
Ao Aurélio Collins, diagramador de meus e-books, parceiro na escrita
e meu melhor amigo.
A April Kroes, minha diagramadora dos físicos, maravideusa, arrasa
em tudo esse mulherão da porra.
Ao Capista, Will Nascimento.
As minhas leitoras maravilindas; já disse e repito: sem vocês, nós
escritores não seríamos nada.
Aos meus familiares, principalmente aos meus pais e meu namorado.