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Harin Andreo

Copyright © Harin Andreo, 2020.


Arte e Capa: Natália Ártemis.
Revisão: Mariana Rocha.
Diagramação: Natália Ártemis
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

UNIDOS PELO DESEJO – Pétalas em Sangue, livro 2 / Harin Andreo 1ª


Edição – 2020
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É proibido o armazenamento, e/ou reprodução de qualquer parte dessa obra
– física ou eletrônica – através de quaisquer meios (tangível ou intangível)
sem o consentimento escrito da autora. A violação dos direitos autorais é
crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código
Penal.2018.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados.
Sumário
Agradecimentos 6
Prólogo 7
Capitulo 1 8
Capitulo 2 13
Capitulo 3 20

Capitulo 4 25
Capitulo 5 29
Capitulo 6 37
Capitulo 7 41
Capitulo 8 46
Capitulo 9 51
Capitulo 10 56
Capitulo 11 61
Capitulo 12 67
Capitulo 13 74
Capitulo 14 80
Capitulo 15 85
Capitulo 16 91
Capitulo 17 94
Capitulo 18 100
Capitulo 19 104
Capitulo 20 109
Capitulo 21 113
Capitulo 22 118
Capitulo 23 122
Capitulo 24 128
Capitulo 25 137
Capitulo 26 140

Capitulo 27 144
Capitulo 28 152
Capitulo 29 156
Epílogo 162
Agradecimentos

A Deus primeiramente, sempre.


E às pessoas que se permitiram ser conquistadas por esse universo!
Obrigada.
Prólogo
Milena, 11 anos.

— S abe o que é isso, Milena?


— Sim, papai. — Olhei em volta da sala sem as cores vivas do meu quarto.
Era escuro e em todos os lugares havia armas de todos os modelos e
tamanhos. — Você sempre tem uma dessa com você, Ludo também.
— São armas.
Papai me acompanhou com os olhos enquanto eu andava por elas e olhava
com curiosidade.
— Você sabe a diferença desta para esta? — Ludo, responsável por minha
segurança, perguntou. Era uma arma menor; e a outra, pouca coisa maior.
Olhando, a diferença era mínima, mas o pente era diferente. Manuseando
ambas, eu indiquei a diferença em alguns segundos. Ludo deu um olhar
conhecedor para meu pai. Ele era um mestre de armas. — Você tem talento,
baixinha.
Na hora, eu não entendi. Eu só sabia que aquelas armas eram apaixonantes, e
desconfiava que meu pai havia me levado ali naquela sala que ficava no
subsolo porque eu sempre fui encantada com as armas dele. Imitava armas
com as mãos e acertava minhas irmãs quando me irritavam.
Desde os meus 8 anos, o treinamento fazia parte da minha rotina e de minhas
irmãs. Lutas e exercícios, mas era a primeira vez que papai falava ou me
deixava tocar em uma arma.
— A partir de hoje, você vai vir aqui e Ludo vai te ensinar tudo sobre essas
armas. Parte do seu treinamento será aqui embaixo.
Assenti com um sorriso.
Papai costumava dizer que eu era uma bomba prestes a explodir, um vulcão
em erupção e, com o passar dos anos, eu entendi o meu fascínio pelas armas.
Em muito éramos semelhantes: Eu e ela fazíamos estragos e barulho.
Capitulo 1
Antes.

A cordei com o som do celular tocando. Quem


estava me ligando esse horário? Era apenas 08:00 de uma sexta.

Peguei o celular e vi o nome no visor: Luísa Conti.


Suspirei.
Eu tinha uma dificuldade extrema em seguir regras, sempre foi assim. Eu e
Eduardo passamos grande parte da nossa vida fazendo tudo juntos, mas,
enquanto ele era polido e correto, eu não dava a mínima para algumas regras.
Veja, eu não ofereço mais do que posso dar, eu gosto de me divertir e vou me
divertir antes que a responsabilidade bata com força na minha bunda, como
aconteceu com Eduardo.
Seu pai o está pressionando para se casar, aliás, exigiu, pois, em breve, ele
será o Don, inclusive, amanhã será a comemoração de seu aniversário,
quando ele deverá conhecer a sua futura esposa. Tão ultrapassado, surreal,
mas algumas coisas em nosso mundo não mudavam. Eu sei que um dia
chegará minha vez, mas, enquanto não chega, eu vou vivendo assim, do meu
jeito. Luísa Conti é filha de um Caporígeme[1] da Filadélfia e está em Nova
Iorque para estudar. Ela sempre mostrou um interesse descarado em mim, eu
tento (tento) evitar me envolver com as meninas da Famiglia[2], mas, quando
elas vêm em meu apartamento tarde da noite com uma lingerie por baixo de
um sobretudo, fica meio difícil chamar a razão.
Mas a regra é clara, eu não tenho compromissos, ninguém passa a noite
inteira, sem conversa constrangedora no dia seguinte. A garota não era uma
virgem inocente, então não me sinto obrigado a reparar uma situação.
Rude, porém, honesto.
Soltei uma respiração que nem percebi que segurava e atendi. Eu já estava
evitando educadamente suas ligações há uma semana, pelo jeito teria que ser
mais claro.
— Alô.
— Gio, é a Luísa. Você sumiu… fiquei preocupada.
— Eu ando muito ocupado, Luísa. Você precisa de alguma coisa?
— Bom, na verdade, hoje eu não tenho aula à tarde e queria saber se você
não gostaria de sair, um cinema ou um café.
Como se eu fosse um universitário.
— Eu realmente não posso, sinto muito.
— Bom, então talvez a gente possa sair…
— Não vai rolar, Luísa!
Silêncio. Eu odeio ser cruel, mas às vezes é necessário, espero que ela
entenda de uma vez que não vamos ficar juntos novamente.
— Eu achei que a gente tinha se divertido. — A voz dela era quase chorosa.
— E nos divertimos, mas foi só isso — disse com um suspiro.
— Você é um babaca! — ela gritou e desligou.
— Que bom que você descobriu. — disse para mim mesmo, abandonando o
celular.
Eu tentei ficar longe de Luísa o máximo possível, justamente porque eu sei
qual o jogo da maioria dessas garotas, elas querem um anel no dedo. Elas
sabem que um dia isso acontecerá, mas não será tão cedo. Luísa não está
apaixonada por mim, ela está apaixonada pelo que vem junto, porque, em
nosso mundo, o que vale é o poder, sempre o poder, e meu nome e
sobrenome carregam um tanto dele.
Noite passada, fui fazer a ronda em um de nossos clubes e, enfim, fiquei um
pouco distraído por lá. Mais uma vez, a vantagem do poder, como filho do
consigliere[3], conseguir companhia para a noite nunca foi um problema.
Então, daí a distração.
Deitei novamente e resolvi dormir mais um pouco, esperava que Luísa
tivesse entendido o recado dessa vez.

Almocei com meus pais. Sendo filho único, dona Antonella usava toda sua
energia italiana em mim. Mesmo com meus 28 anos, ela ainda me tratava
como um bebê. Não reclamo, eu gosto de atenção, ainda mais atenção
feminina.
— Meu bebê não está comendo o suficiente. Você está magro, figlio[4].
— Estou bem, mãe.
— Deixa o menino, Antonella, você tem que parar de tratá-lo como bebê.
— Ele sempre será o meu bebê, Salvatore. E você também, amore mio[5].
Minha família era amorosa, calorosa e muitas vezes foi o único modelo que
Eduardo teve, tendo a família fodida que ele tinha. Apesar do seu jeito
reservado, minha mãe o tratava como filho, talvez ela sentisse a carência e a
necessidade de pessoas que se importassem com ele.
— Você está cortejando a menina Conti, figlio?
Perguntou meu pai.
— Onde o senhor ouviu sobre isso?
— As notícias correm.
— Não é assim. Eu e ela conversamos algumas vezes, mas não tenho nada
com ela.
— Talvez você devesse avisá-la então. Hoje ela ligou para sua mãe,
combinou de passar o dia com ela na semana que vem.
Eu fechei os olhos. Será que era tão difícil de entender? Garota maluca.
— Figlio, sabe que te apoiaria em qualquer coisa, mas tem algo sobre essa
garota que me incomoda, soa forçada essa aproximação. Mas se você a quer,
então farei um esforço e…
— Mamma[6], por favor, não é assim, eu não tenho nada com essa garota, eu
já disse isso a ela. — Segurei a mão de mamma e dei um sorriso contido. —
Você não é obrigada a recebê-la. Quando ela te procurou?
— Hoje, um pouco antes de você chegar.
Eu estava odiando isso.
Importunar minha mãe era totalmente fora dos limites. Veja, eu já estive com
garotas que esperavam mais de mim, mas Luísa Conti passou atropelou todas
as regras. Eu teria que falar com ela, deixar bem claro que não teríamos mais
nada.
Achei que, depois da ligação, ela teria entendido, mas pelo jeito ela parece
um cão que não larga o osso. Cazzo[7].
Terminamos o almoço e meu pai não parou de me mandar olhares
desconfiados. Quando fomos ao seu escritório, ele logo perguntou.
— Você dormiu com essa garota, né? — Eu não respondi. — Cazzo, figlio.
Será que você não aprende? Se o pai dela pedir uma reparação? Ela pertence
a Famiglia, é filha de um Capitão, pelo amor de Deus!
— Então, ele vai ter que ter um conversa séria com a filha dele, porque
aquela toca já tinha sido invadida antes.
— Eu espero não ter dor de cabeça por causa disso, Giovanni. Eu já tenho
problemas suficientes para ter que me preocupar com suas amantes.
— Não se preocupe, pappa[8]. Eu só achei que ela conhecia as regras, ela
parecia conhecer quando apareceu no meu apartamento. — Eu estava
irritado, mas a culpa era minha. Deveria saber que, com a insistência dela, só
poderia ser louca.
Conversamos mais alguns minutos e recebi uma mensagem de Eduardo para
me encontrar em uma cafeteria próxima. Eu sabia que ele não estava muito
bem sobre arrumar uma esposa e eu realmente sentia por isso.
Encontrei com ele e entramos na fila para pegar o café. Atrás, ouvíamos a voz
de algumas garotas falando alguma merda sobre filmes, mas não me virei.
Hoje eu estava enfadado com as mulheres. Peguei meu café e avisei Eduardo
que ia me sentar para aguardar que o seu pedido ficasse pronto.
Quando me sentei, pude ver as garotas que tagarelavam perto do balcão. Uma
estava próxima a Eduardo, a outra parecia uma adolescente, loira, e estava de
costas, mas o nocaute era a morena de cabelo longo. Um rosto em formato de
coração, uma postura confiante, um sorriso quase doce, um olhar escuro
impenetrável. Ela estava alheia a minha inspeção, então continuei olhando.
Pernas torneadas que se destacavam em um vestido preto e curto, cobertas
por meia-calça preta e saltos, um sobretudo creme aberto. Linda, linda. Já
imaginei aquelas pernas em volta da minha cintura...
Dei um chute mental em minha bunda, meu humor azedando. Eduardo se
aproximou parecendo bem-humorado para quem tem um prazo para se casar
e não tem noiva.
— Que cara de besta é essa? — zombei dele.
Ele logo franziu o cenho e se fechou. Eu dei uma risada com isso.
— Não sei do que está falando. — Ele me olhou e continuou: — Agora você
está com cara de merda.
Fiz uma careta, eu ia começar a contar sobre Luísa quando vimos uma
movimentação próximo ao caixa.
Foi tudo muito rápido.
Um assaltante puxou uma das garotas que estavam perto de nós na fila pelo
braço e ela deveria ter caído no chão, mas se equilibrou com facilidade.
Eduardo já estava levantando e eu ia seguir o seu exemplo quando ela
desarmou o assaltante com um golpe, derrubou-o no chão e o desmaiou.
Acompanhei seu olhar e o outro assaltante estava com a arma apontada para
ela. Mas logo não estava mais.
Atrás dele, a loira acertou seus joelhos e deu-lhe um mata-leão, o homem
apertou o gatilho e por muito pouco não acertou a morena. Meu coração
disparou quando a vi desviando da bala. Mais uma vez me surpreendi com o
olhar mortal que a loira deu para o homem ao soltá-lo. Ela estava pegando
algo em sua perna. Uma arma? A morena de cabelo curto correu, mas a de
cabelo longo já estava próximo ao homem e, com um olhar confiante,
naqueles saltos arrasadores, nocauteou o segundo assaltante.
E foi o ato mais sensual que já vi em toda minha vida. Ela acertando o
Stronzo[9] de merda que quase a baleou. A de cabelo curto saiu puxando a
loira pelo braço e falando energicamente em seu ouvido.
Logo, alguns seguranças apareceram nas portas e as tiraram de lá.
Eu sentei na cadeira em um baque. Eduardo estava com o mesmo olhar.
— Va fancullo[10]! O que foi tudo isso?
Capitulo 2

C heguei na festa de Eduardo no sábado e logo encontro Luísa


como se estivesse esperando que eu aparecesse. Diminui os passos e
praguejei baixinho enquanto olhava ela se aproximando de mim com um
sorriso radiante que eu não entendia.
— Oi, gatinho. — Ela se aproximou com a mão em meu ombro como se
fosse o quê? Uma namorada? A menção da palavra me revirou o estômago.
— Achei que você não viria mais. — Ela estava perto. Muito perto.
— O que você pensa que está fazendo? — Seu sorriso caiu um pouco, mas
logo foi banhado de determinação.
— Do que você está falando?
Luísa era linda, não me levem a mal. Ruiva, olhos azuis e um corpo perfeito.
Mas, neste momento, eu não conseguia entender como me senti atraído por
ela em primeiro lugar.
— Eu vou dizer, querida, uma só vez: Não temos nada, não somos nada, eu
posso ser um amor mas não queira despertar o meu monstro. Outra coisa:
Fica. Longe. Da. Minha. Família.
Minha voz foi dura e ela arregalou os olhos empalidecendo. Eu a deixei no
meio da festa e fui falar com Nero, nosso Capitão-Mor.
— Ela me perguntou três vezes se você vinha.
— Ela é maluca.
— Cara, você precisa pensar mais com a cabeça de cima. Uma menina da
Famiglia[11], sério?
— Ela apareceu no meu apartamento. Achei que ela soubesse das regras, não
é como se eu fosse o seu primeiro.
— Mas, pelo jeito, ela quer ser a sua última.
Gemi alto e Nero riu da minha miséria. Ela quer ser a esposa do
consigliere[12], poder. Ela nem quis me conhecer, ela nem sabe quem sou eu
em primeiro lugar. Isso me irrita.
Não que eu esteja atrás de qualquer coisa que não seja diversão, se ela ao
menos tivesse algum interesse genuíno em mim, eu poderia pensar no caso,
mas eu sabia que não era a situação. Nunca era, eu tinha consciência disso e
jogava dentro da realidade, nunca prometi nada a ninguém.
Enquanto conversava com Nero, meus olhos vagaram para a entrada, onde
Eduardo recebia os convidados, e minha bebida parou no meio do caminho
para minha boca.
Acontece que, entre os convidados, estava uma certa beleza morena de cabelo
longo, liso, olhos escuros, em um vestido vermelho, longo, solto da cintura
para baixo.
Ela tinha um andar confiante, como se não houvesse nada no mundo a temer,
uma aura de mistério que me deixou cativo.
Femme Fatale.
Não tinha outra palavra para descrever aquela mulher. Não consegui desviar
os olhos.
Nem quando as outras duas se aproximaram e ela disse algo que as fizeram
rir.
Nem quando Antônio Ferrari, filho do Sottocapo[13] da Nova Inglaterra, parou
ao nosso lado e comentou:
— São as filhas de Enrico Castelle. Lindas de doer os olhos.
— Sottocapo da Filadélfia? — eu perguntei ainda com os olhos na morena.
— Sim, elas são um nocaute.
Ele não faz ideia de como elas podem dar um nocaute.
Conversamos mais alguns minutos, Antônio saiu para conhecer as damas que
estavam roubando a cena quando Eduardo se aproximou.
— Parece que descobrimos quem eram “As Panteras” de ontem. Filhas do
Sottocapo da Filadélfia, hein, quem diria — eu disse.
— Parecem inofensivas, não entendi a referência — Nero diz com
neutralidade.
— Isso é porque você não as viu em ação, meu amigo. Não se engane, e está
vendo aquela loirinha com carinha de boneca? É a pior. — eu complementei.
— Ela parece que ainda nem terminou o colegial. Ela deve ter o quê?
Dezesseis? — Nero estava incrédulo.
— Não faço ideia. Mas elas impediram um assalto no Café, ontem à tarde,
Eduardo as viu. Elas desarmaram os assaltantes e nocautearam os infelizes. E
a loirinha? Quase matou um deles.
— Você só pode estar brincando comigo.
Enquanto eu e Nero discutíamos a veracidade das informações que eu tinha
lhe dado, Eduardo foi dançar com Sophia DeLucca. Meus olhos se voltaram
para a morena que estava com a irmã mais nova. A loirinha tinha uma face
plácida, quase congelada em seu rosto. A morena estava visivelmente
incomodada de estar ali, não fazia questão de ser cordial. A mãe, que era
muito parecida com ela, disse algo em seu ouvido, e ela revirou os olhos.
Reviro os olhos.
Eu tinha que parar, agora. Ela poderia ser a mulher mais linda que já vi na
vida, mas ela pertencia a Famiglia e eu já tinha problemas demais.
Um dos soldados chamou minha atenção, fazendo com que eu esquecesse por
um momento meu fascínio pela morena, e eu senti um frio na espinha.
— Há algo errado. — Nero só afirmou o que eu já sabia.
Ao chegarmos na entrada, ouvimos o som de disparos, Nero e eu nos
abaixamos, e foi como efeito dominó. Os convidados que estavam próximos
começaram a gritar e logo todos estavam em pânico, sem ao menos saber o
que era. Foi um caos total. Don Lorenzo apareceu ao meu lado.
— O que está acontecendo?
— Ainda não sei. Vou falar com Eduardo. Nero, verifique a situação lá fora
com os soldados.
— Peça para Eduardo resolver isso. — Foi a única ordem de Don Lorenzo.
Alguém estava disparando contra os soldados. Nero foi para a frente da casa,
e eu fui até Eduardo. Não muito tempo, Nero chegou com informações e eu
fiquei incumbido de levar as mulheres para a sala de pânico, no subsolo.
Sem perder tempo, com a ajuda de dois soldados, começamos a orientar as
mulheres para a sala de pânico.
— Vamos, senhoras, lá estarão seguras, por favor.
Cheguei na entrada da sala e, quase por último, entraram a morena e a sua
mãe. Eu não sabia o quê, mas elas estavam discutindo.
— Mamma[14], elas podem estar precisando de mim. Eu vou!
— Milena, não. Pelo amor de Deus, vocês vão fazer com que eu morra cedo,
Per Dio[15], me escute pelo menos hoje.
— Mamma, sinto muito. Entre, vou atrás delas e volto em um segundo.
A mãe não teve como pará-la, todos já tinham entrado, então eu dei um sinal
para o soldado ficar na porta.
O que aquela garota tinha na cabeça? Irresponsável, ainda não tínhamos
noção do que estava acontecendo. Me aproximei da mãe.
— Não se preocupe, senhora, entre, eu irei atrás dela.
A mãe assentiu, mas estava visivelmente abalada. Eu fui atrás da morena e a
encontrei virando o corredor para as escadas que davam para o salão.
— Hey — gritei quando estava alguns metros distante e ela parou. — O
protocolo é entrar na sala de pânico. A senhorita não tem permissão para
transitar quando estamos sob ataque.
Escutei um riso zombeteiro. Ela se virou lentamente e aqueles olhos escuros
me atingiram como um caminhão desgovernado. Falei sem muita convicção.
— Você precisa voltar... comigo. — Essa voz era minha? Ela levantou uma
sobrancelha e deu um sorriso de canto, me avaliando como eu estaria
avaliando ela em outra situação. A ironia da inversão de papéis não me
passou despercebido. Lentamente me aproximei como se estivesse
hipnotizado, e parei em sua frente.
— Eu preciso encontrar minhas irmãs. — Ela se virou, mas eu fui mais
rápido e segurei seu pulso. Ela virou o meu braço e colocou o antebraço em
meu pescoço, me encostando na parede. Porra, o movimento me deixou
duro, tive que morder um sorriso. Ela estava a uma respiração de distância, se
eu abaixasse, poderia tocar seus lábios. Ah, mas ela não iria me distrair.
Soltei do seu agarre com um grunhido, torci seu braço nos virando até que
estivesse de frente a parede e a pressionei com meu corpo. Inalei seu
perfume, me aproximei e falei bem em seu ouvido.
— Desculpe, bella[16] selvagem, mas eu mando nessa operação e o protocolo
diz que você deve voltar e ficar com as outras mulheres.
Senti a pele do seu ombro nu se arrepiar e foi por muito pouco que não
encostei os lábios ali. Ótimo.
— Tudo bem — ela disse em um sopro, afetada como eu. — Solte o meu
braço, por favor, senhor.
Eu não sabia se deveria confiar nela, mas ela estava abalada, acho que até
mais que eu. No fim das contas, ela só era uma garota criada pelas regras da
Máfia, mesmo que fosse um pouco mais ousada. Eu soltei e ela virou-se para
mim. Estávamos muito perto mas eu estava alerta.
Ela se aproximou, seu rosto se inclinou para o meu e, caramba, meu coração
disparou no peito, a merda mais estranha que já me aconteceu. Ela colocou as
mãos em meu peito e eu prendi a respiração. Ela subiu as mãos para o meu
pescoço, fechando os olhos lentamente, e foi a coisa mais erótica que eu já vi.
— Me desculpe… — Eu estava um pouco inerte com sua proximidade, seu
hálito em meus lábios, seu perfume, que deveria ser alguma merda cara,
porque essa mulher era pura sofisticação.
— Não entendi… AAAAIIII — A pequena selvagem acertou minhas bolas.
A dor foi tão grande que eu caí de joelhos. Ela se afastou e, em seu rosto,
apareceu uma ponta de remorso, mas logo ela disse.
— Não toque em mim sem minha permissão, senhor.
Eu fiquei ali no chão recuperando o ar e ela se foi.
Sem me conter, apesar da dor, eu estava sorrindo.
Após algumas baixas, conseguimos prender alguns russos. Nero se
aproximou e disse que Eduardo estava na parte de cima da mansão nos
aguardando, pois tentaram sequestrar Anita, sua irmã de dez anos. Subimos
às pressas, pois a situação já estava mais controlada. Quando chegamos,
encontrei Eduardo, Anita e as três irmãs Castelle juntas. Ao que fui
informado, as irmãs impediram os russos de levarem Anita.
— Opa, opa, olha o que temos aqui, alguém fez uma festa sangrenta e não me
esperou. — Milena, agora eu sabia seu nome, estava mirando duas armas em
mim. — Uau, adoro as selvagens!
— Eu detesto os babacas. — Sorrindo, eu me aproximei da petulante até que
a arma estivesse encostada em meu peito. — Não me tente, senhor.
Escutei o riso engasgado de Nero e não fui capaz de conter o meu próprio.
Essa garota era diferente de todas que já encontrei e sua hostilidade me
excitava.
— Milena, chega. Não se esqueça da importância da hierarquia - a irmã de
olhos verdes e cabelos curtos disse com firmeza. A contragosto, sem tirar os
olhos de mim, ela girou as armas nas mãos, levantou a perna bronzeada que
ficou nua pela fenda do vestido e colocou as armas no suporte. Eu não
disfarcei meu olhar, era uma visão, quando voltei aos seus olhos, ela revirou-
os. Sorri.
— Fofa!
— Idiota! — Se olhar matasse.
Eduardo nos parou com um esbravejo impaciente. Nero informou que os
russos estavam presos no porão, alguns escaparam, e informou sobre as
baixas. Neste momento, a loirinha pediu para participar da reunião do porão
que, em outras palavras, significava tortura no porão. Eu não contive a
gargalhada, realmente era impressionante, essas garotas eram como nada que
já tinha visto. Eduardo, claro, dispensou a ajuda meio sem jeito de como
proceder e a garota realmente ficou desapontada. Eu não consegui parar
antes de dizer.
— Mas eu prometo chamar quando precisarmos da sua ajuda, Anabelle.
Porque ela realmente parecia uma boneca, mas quando você olhava mais de
perto, ela poderia ser assustadora como Annabelle, a boneca do mal. Ela nem
piscou com o apelido, pelo contrário, manteve aquele sorriso falso congelado
no rosto.
Ficou decidido que Anita ficaria com as irmãs Castelle, pois a mansão não
era segura, e Eduardo me pediu para acompanhar as meninas até a casa delas.
Milena estava muito irritada e quando chegamos perto de sua mãe que estava
com outras esposas na sala, ela diminuiu os passos e eu bati em suas costas.
— Cuidado, amor.
Ela me deu um olhar assassino.
— Srta. Castelle pra você.
Eu dei risada. De longe, vi Luísa vindo em nossa direção com olhos
determinados e meu sorriso caiu.
— Querido, estou tão abalada.
Ela me abraçou na frente das outras mulheres e eu tinha certeza de que isso
seria a fofoca do mês. Coloquei uma mão em suas costas por educação, mas a
afastei.
— Estou ocupado — falei duramente.
Não esperei resposta, pois as irmãs Castelle já estavam na porta, saindo,
acompanhadas pela sua mãe. Quando acertei o passo com elas, as direcionei
ao meu carro. A mãe era uma figura.
— Antes eu tivesse três filhos. Porque eu já estaria preparada para esse tipo
de susto. Eu já falei que vocês não são homens, que devem aprender a se
comportarem. Já falei que esse hábito de salvar o mundo, um dia, ainda
colocará vocês em um caixão.
— Mãe, por favor, agora não… — gemeu Milena entrando na parte de trás
do carro com suas irmãs e Anita. Um carro com os seguranças nos seguiram.
— O quê? Milena, principalmente você, não me escuta, nunca faz o que é
esperado. Mia, bambina[17], rebelde, não me escuta. — Dona Alessandra
chorava copiosamente, mas achei que era em parte um show, pois suas filhas
seguravam o riso miseravelmente, como se fosse normal.
— Mãe… — Milena tentou falar novamente.
— Ora, um dia vocês vão chegar em casa e estarei estirada no chão, morta.
De tanta preocupação. E sem netos. Dio[18].
Ela deu um suspiro derrotado e tampou o rosto com as mãos. Eu estendi um
lenço para a senhora e ela pareceu se dar conta da minha presença pela
primeira vez.
— Você não se importa, não é, meu filho? Um dia você será pai, você vai
entender o que eu passo.
— Eu entendo a senhora, deve ser difícil não ser ouvida como merece - disse
já a caminho do apartamento delas.
Arrisquei uma olhada para Milena e ela agora me fuzilava com os olhos.
Com um aliado, a senhora Alessandra, como ela se apresentou, foi
reclamando por todo o caminho e eu concordava com tudo, me divertindo
muito com os bufos fofos e irritados de Milena.
O carma é uma cadela.
Voltando para a mansão Santorelli, ao longe, percebi que o caos se estendia
até onde minha vista alcançava. As faces distorciam a minha frente enquanto
eu caminhava para uma comoção em volta de um carro em chamas. O carro
do meu pai.
Nero e Eduardo vieram ao meu encontro, mas antes que eles dissessem algo,
eu já sabia.
Meu pai estava morto.
Capitulo 3

O s dias que seguiram após a festa desastrosa do futuro Don


foram sombrios. A guerra aberta e declarada contra a Bratva, a tentativa de
sequestro da pequena Anita, a morte do consigliere. Segundo meu pai,
Salvatore era um homem decente, que protegia sua família, acredito que
deveria ter sido um bom marido e pai. Mamãe disse que Antonella Maceratta,
a mãe de Giovanni, estava desolada.
Os dias se passaram, minha irmã ficou noiva do futuro Don. Inicialmente eu
fiquei muito assustada, eu sabia das histórias do antigo Don e tinha muito
medo por Giulia. Seu filho poderia ser um idiota abusador total e eu, com
certeza, meteria uma bala em sua testa pouco me importando com quem ele
era. Mas, segundo Giulia, ele tinha se mostrado decente, embora eu ainda
estivesse de olho nele.
Meu pai nos ensinou tudo sobre a arte da guerra, mesmo que tenhamos
nascido em uma família tradicional italiana, meu pai nos deu liberdade, muito
mais que outras famílias do nosso meio. Admito, eu principalmente
aproveitei dessa liberdade muito mais que minhas irmãs. Eu gostava de me
divertir, de sair com minhas amigas da escola, de ir em boates e, sim, eu não
era uma puritana, sabia apreciar uma boa companhia masculina.
Claro que essa era uma parte da minha vida que eu mantinha discreta. Ainda
respeitava os valores da Famiglia[19] e jamais envergonharia meu pai
publicamente. Mas eu e ele já havíamos conversado. Ele sabe que eu jamais
me casaria por conveniência, esse é o meu maior horror na vida, eu jamais
faria o que Giulia está fazendo. Se um dia eu me casasse, eu estaria muito
apaixonada. Mas, no íntimo, eu sabia que isso não aconteceria comigo.
Eu não era linda como Isabella, minha irmã mais nova, que vibrava perfeição.
Bailarina, reservada, mesmo que fosse um pouco distorcida emocionalmente,
ela tinha uma inocência única, tão única que alguém poderia se apaixonar
pela sua maneira peculiar de ver o mundo.
Eu também não era como Giulia, responsável, prática e razoável. Disposta a
cumprir o que é esperado dela, mesmo que não queira. Altruísta, musicista e,
apesar da fachada de durona, ela é doce e tem mais sensibilidade do que
demonstra, sempre colocando os outros acima de si mesma, como agora.
Eu sou a Milena, a rebelde, não sou bailarina, não sou musicista, minha única
habilidade é com as armas. Eu tenho uma coleção delas e, às vezes, passo
horas olhando e namorando elas. Meu único relacionamento sério. Não que
meus pais me comparem com minhas irmãs ou mesmo eu me sinta mal por
elas, não é nada disso. Eu amo minhas irmãs, mas tenho completo
reconhecimento das minhas limitações. É fácil aceitar a peculiaridade de
Isabella, pode até mesmo ser fascinante. É fácil amar Giulia, pois, no fundo,
ela sempre estará lá por qualquer um que seja importante para ela.
Eu sou ácida. Muitas vezes, insensível.
Mas eu morreria pelas pessoas que amo.
Continuo tentando ler esse romance sobrenatural, ainda deitada em minha
cama, de pijama, quando mãe entra no quarto.
— Estou indo visitar Antonella Maceratta. Em breve, voltaremos para
Filadélfia e só voltaremos para os preparativos finais do casamento de Giulia.
Mamãe estava nas nuvens com o casamento da minha irmã. Estrategicamente
no jogo de poder que se estendia a nossa realidade, minha irmã estaria no
topo. Eu ainda não estava de acordo, mas torceria pela felicidade dela.
— Giulia e Isabella saíram com seu pai, não me pergunte para onde, presumo
que para comprar adagas personalizadas. Eu gostaria que você me
acompanhasse.
Olhei pra minha mãe e respirei fundo. Ir na casa dos Maceratta? Não sou boa
com isso de consolar, não sei o que falar, pessoas muito emocionais me dão
coceira.
— Você não precisa dizer nada, minha filha, aliás, eu prefiro que você fique
caladinha lá. É mais como uma consideração, são uma família importante da
Cosa Nostra e merecem nosso total respeito. Eu sei que prefere um tiro a
presenciar alguém chorando, mas deve se esforçar, você ainda é uma princesa
da Máfia.
Cobri meu rosto com o edredom e gemi.
— Dez minutos, Milena. Se apresse.
Pensei no filho e me senti mal por ele. Mesmo que ele tenha sido insuportável
em todas as situações em que nos encontramos, ele tinha perdido o pai. Não
imagino como é perder o pai.
Me levantei a contragosto, estava um frio terrível, então coloquei um vestido
de lã cinza, listrado de preto, uma touca preta, calça de lã grossa e preta e
uma bota marrom, cano longo, sem salto. Mesmo com a roupa de frio, o
vestido marcava minhas curvas e eu estava gostosa. Deixei meu cabelo liso e
comprido solto nas laterais do rosto e passei minha maquiagem. Como estava
de dia, não elaborei demais. Talvez eu devesse enrolar as pontas do cabelo…
— Milena! — mamãe gritou da sala.
Deixa pra lá.
Arrumei o suporte na coxa com minhas armas e uma última olhada no
espelho. Tinha feito um bom trabalho em dez minutos, embora sempre fosse
possível melhorar. Peguei meu sobretudo marrom e fomos.

A casa dos Maceratta era, uau! Linda, imponente, mas supera colhedora.
Branca e moderna, estilosa, com estilo georgiano, exalava poder. Nossa casa
na Filadélfia também era linda, mas essas em Nova Iorque eram
arrebatadoramente maravilhosas. Entrando na grande sala, fomos recebidos
pela senhora Antonella. Ela era uma mulher muito bonita, cabelo loiro e
grandes olhos azuis. Sua feição era pálida e seu sorriso era triste. Ela
provavelmente amava muito seu marido, seu sofrimento era sincero.
Cumprimentei-a com um abraço contido, eu sinceramente não sabia muito
bem como me comportar nessas situações, então fiquei em silêncio.
Seguimos para a sala de estar, minha mãe disse algumas palavras de consolo.
Ela era realmente boa com essa coisas.
— Suas filhas são impressionantes e tão lindas, Alessandra. Eu gostaria de ter
uma filha. Giovanni logo se casará e, de qualquer forma, ele tem o
apartamento dele.
— Obrigada, querida. Giovanni também é um cavalheiro. Foi muito
atencioso conosco na outra noite. E, de qualquer forma, você terá uma nora,
que presumo será como filha.
Segurei um riso irônico. Ele poderia estar enlutado, mas cavalheiro ele não
era. Na verdade, extremamente irritante definiria melhor.
— Oh, querida, eu gostaria muito. De verdade, quero que meu filho conheça
a felicidade como eu conheci com Salvatore. — Seus olhos se abaixaram e
ela disfarçou as lágrimas. — Acredito que seja a mesma felicidade que você
compartilha com Enrico. Fomos abençoadas sendo a exceção.
Eu sei que isso era verdade. Na Máfia, os casamentos eram de conveniência
em sua maioria, traições e falta de respeito eram comum, às vezes até mesmo
a violência era aceitável. E exatamente por isso que eu jamais abriria mão da
minha vida para me casar, nem mesmo pelo meu pai.
— Oh, minha querida, você pode contar com a gente. Se quiser passar alguns
dias na Filadélfia conosco, é mais que bem-vinda.
— Obrigada, eu vou me lembrar disso.
Elas continuaram conversando e eu pedi para ir ao toalete. Eu tinha tirado
meu casaco, porque dentro da casa estava esquentando e queria ver como
estava o vestido. Pedindo licença, a senhora Antonella me indicou o toalete
da parte de cima, pois o de visita estava em manutenção.
Subi as escadas e achei o toalete. Sem fechar a porta, mirei o meu reflexo.
Sim, vaidade era meu sobrenome. Ajeitei o meu vestido, acertei o batom,
virei a lateral para ver o meu cabelo, balancei as madeixas. Virei de frente e
joguei o cabelo de lado.
Nada mal.
Escutei um pigarreio ao meu lado e já coloquei a mão no suporte da arma,
mas, pelo reflexo, vi um sorriso torto e olhos azuis brilhantes em mim. Tudo
bem, ele era lindo, isso era inquestionável.
— Cazzo[20]! Quer me matar do coração? — falei em um grunhido virando-
me para ele, que estava em pé, na porta.
— Eu acho que quem pode ter um ataque do coração sou eu… diante de
você, assim — disse mordendo os lábios e me olhando dos pés à cabeça.
Segurei uma resposta cortante, mas revirei os olhos. Ele estava enlutado e
isso me fez suavizar um pouco. Porque, por trás de todas aquelas piadas, seus
olhos estavam vermelhos e, em sua mão, tinha uma faixa.
Provavelmente foi pela renovação do voto de lealdade, oficialmente agora
Giovanni era o consigliere[21] da Cosa Nostra, o segundo no poder. Quando
alguém assumia um dos topos da hierarquia, o voto de lealdade era reforçado
diante de todos os Sottocapos[22] e Caporegímes[23] da Cosa Nostra. Eu não
poderia me esquecer disso.
— Eu sinto muito pela sua perda — disse pela primeira vez me dirigindo a
ele com suavidade.
Seus olhos prenderam os meus e, por um segundo, ele perdeu aquele ar de
deboche. Seu olhar foi tão profundo que eu me senti cativa.
— Obrigado — ele respondeu, sincero. — Eu não sabia que você estava aqui
na minha casa.
— Minha mãe veio ver a sua. Eu estava em casa, então minha mãe me fez
fazer companhia a ela.
— Agradeça sua mãe pela atenção com a minha. E obrigado a você também.
— Imagina, não é nada demais.
Ficamos ali em um silêncio desconfortável. Era a primeira vez que tínhamos
um diálogo civilizado, sem provocações.
— Preciso ir — Sentindo-me agitada, disse, indicando para que ele saísse da
porta.
Ele era grande, ombros largos, estava de calça jeans, uma camiseta cinza de
manga longa. Ele tinha o cabelo liso, quase loiro, curto nas laterais, mas que
teimava em cair sobre a testa. Cílios enormes que só enfatizavam o azul dos
olhos. Uma cara de cafajeste, enlutado ou não. Perigo sinalizado em todo o
rosto.
— Se quiser tirar uma foto, fique à vontade. Dura mais. — Idiota.
Dei um falso sorriso e parei em sua frente. Ele não se moveu e, quando
levantei meus olhos aos dele, senti o seu perfume. Tão masculino. Meu
sorriso falso vacilou um pouco e ele engoliu em seco, perdendo um pouco do
deboche e da confiança. Seu olhar estava pesado e vi que ele levantou a mão
para o meu rosto lentamente, quase indeciso. Nós tínhamos química, aliás,
mais química que já experimentei com qualquer pessoa antes e eu tinha visto
o cretino somente algumas vezes, sem qualquer interação física dessa
natureza. Mas esse era um limite rígido para mim, eu não poderia cair na
tentação, ficar com o consigliere só porque ele era gostoso e achar que isso
não me atingiria de alguma forma, até mesmo a minha família. Eu não era tão
louca assim.
Quando sua mão alcançou meu rosto, eu a torci em um movimento rápido e
bati a outra mão em seu diafragma. Ele se afastou puxando o ar, mas um
sorriso sacana estava no rosto. Eu saí do toalete e disse.
— Eu já falei para não me tocar.
Ele recuperou o ar ainda sorrindo, em seus olhos, um fogo brilhou, ele se
aproximou. Todo meu corpo se acendeu em eletricidade só com a sua
proximidade, mesmo que não houvesse toque envolvido. Seu hálito fez
cócegas em meu ouvido quando ele disse:
— Você ainda vai implorar pelo meu toque. — Arrogante. Stronzo[24].
Mesmo um pouco instável por dentro, eu mantive o rosto impassível.
— Vai sonhando.
Ele soltou uma risada que esquentou meu ventre e eu voltei para a sala antes
que me fizesse parecer tola.
Capitulo 4
2 meses depois

S entado no sofá, na cobertura de Eduardo, escutava os novos


planos de Nero, para fazer a segurança do casamento de nosso Don. Eduardo
agora era Don, eu era consigliere[25], a responsabilidade bateu mais cedo do
que eu esperava. Com a morte do meu pai, eu assumindo os negócios, mal
tenho tido tempo para dormir. Estávamos em guerra, a preocupação ainda era
grande, em especial com a chegada do casamento de Eduardo, Nero estava
treinando uma equipe de Elite para fazer a guarda da família Santorelli
principalmente.
Lidar com a perda do meu pai e com a adaptação da minha mãe com a
falta dele tem tomado parte desse tempo também. Tenho mantido uma
postura firme diante dos homens, toda a chefia da Cosa Nostra sendo
substituída de uma só vez, teria que mostrar força e foco, qualquer sinal de
fraqueza seria perigoso.
Meu celular toca e vejo Luísa ligando novamente. Ela simplesmente
não desiste. Mesmo ignorando todas as suas ligações, mesmo dizendo
abertamente que não estou interessado, ela me monitora como uma namorada
ciumenta.
— Essa garota está obcecada — Eduardo diz sem me dignar um olhar.
— Bem, é o que parece — digo frustrado.
— Você voltou a transar com ela? — Nero pergunta.
— Tá louco? Claro que não. Aliás, ultimamente estou em um período
sabático, que nem percebi que estava. Meu tempo tem sido ocupado entre os
negócios e a minha mãe.
Nenhum deles disse nada, mas o silêncio era confortante e conhecedor. Luísa
tem ido à casa da minha mãe ao menos uma vez por semana para “fazer
companhia”. Segundo minha mãe, ela está apaixonada e não esconde de
ninguém. Territorialista, como se eu, de alguma forma, pertencesse a ela,
dizendo as outras meninas para se manterem longe.
Distraído como estava essas semanas, mal me dei conta do quanto a situação
estava ficando séria. O que acontece é que eu já não sei mais o que fazer para
que ela entenda que não temos nada, nunca tivemos, foi uma foda e pronto.
— Eu só queria saber o que eu faço para afastar essa louca — disse com um
suspiro cansado.
— Isso é para você aprender a controlar seu pau — Nero fala escondendo um
sorriso.
Miserável.
Olho para Eduardo e ele não para de olhar o celular. Ultimamente ele está
assim, parecendo um adolescente curtindo o primeiro amor. O que não deve
ser muito diferente, visivelmente, os noivos estão envolvidos. E eu fico feliz
por ele. Mas isso não me impede de brincar um pouco quando ele faz essa
cara de merda toda vez que liga para a noiva ou recebe um texto.
— E voltamos para o colegial.
Eu sou um dos únicos, se não o único a brincar assim com Eduardo. Até Nero
é mais contido na presença dele quanto à brincadeiras. Eduardo me ignora.
— Hoje Giulia volta da Filadélfia.
Entendi sua inquietação. A Castelle realmente conquistou o coração do meu
amigo. E, pensar sobre ela, leva meus pensamentos para outra Castelle. Uma
de olhos negros e cabelo longo, uma cintura estreita, bunda arrebitada, pernas
lindas e tonificadas… e uma língua venenosa.
Cazzo[26].
— Ela vem sozinha? — pergunto indiretamente.
— Sua mãe e irmãs vão acompanhá-la. Enrico virá mais próximo ao
casamento. — Eduardo tenta soar indiferente, mas ele está mais do que
animado com o casamento.
— Mas me fala: Qual o seu interesse em saber quem vem com ela? — Essa
veio do Nero. Sempre desconfiado.
— Autopreservação. Ela tem irmãs loucas.
Isso arrancou algumas gargalhadas. Milena Castelle é um furacão em saltos,
sedutoramente capaz de arrancar as bolas de qualquer um. Eu gosto de
apertar os seus botões, ver o rubor subir em sua face quando se irrita, penso
se ela é assim quando ganha um orgasmo... mas devo ter cuidado. Eu já tenho
uma dor de cabeça tremenda por causa do meu pau. Isso me fez gemer de
dor. Essas meninas da Máfia são loucas, Milena pode ser ainda pior, tenho
que me manter distante de qualquer uma delas para evitar problemas.
Terminamos, me despedi de ambos, e eu fui para o meu apartamento.
Lá, sozinho, foi impossível não me lembrar do meu pai, meu coração se
apertou.
Eu sentia falta dele.
Eu precisava estar firme pela minha mãe.
Eu precisava estar firme para auxiliar Eduardo nas decisões.
Mas ali eu me permiti ser fraco.
Com um copo de uísque puro, eu deixei meus olhos queimarem.
Eu só esperava honrar a memória do velho, vingando sua morte e sendo um
bom consigliere.

Cheguei na casa da minha mãe no dia seguinte para jantar. Já era rotina,
todos os dias eu me esforçava para jantar e passar a noite com ela. Às vezes,
eu dormia lá para que ela não se sentisse tão solitária. Eu evitava ir durante o
dia por temer encontrar Luísa. Ela sempre estava por perto, principalmente
depois que meu pai faleceu. Eu poderia ser grato por ela estar fazendo
companhia a minha mãe, mas temia encontrá-la, e que ela ficasse cheia de
ideias.
Chegando no saguão da casa da minha mãe, escutei vozes e uma risada que
me fazia ter vontade de correr. Parei e pensei seriamente em fazer isso, mas
esse meio tempo me custou a escolha. Minha mãe me viu.
— Querido! Venha aqui, Talía e Luísa estão me fazendo companhia. — Talía
é minha prima e deve ter uns dezoito anos, sei que ela vai entrar na mesma
faculdade que Luísa está e por isso, recentemente, ela se mudou para Nova
Iorque. E ultimamente ela tem andado muito com Luísa.
— Oi, mãe. — Me aproximo e dou um beijo na testa. — Olá, meninas. —
Não me aproximo delas. Se beijar a testa de Talía como o habitual, talvez
Luísa queira se aproximar também, e eu não quero arriscar.
— Oi, Giovanni — diz Luísa com uma voz doce. Eu me sinto um covarde
por correr de uma garota que tem metade de meu peso e tamanho, mas ela me
causa arrepios.
Que diabos.
Isso tem que acabar.
— Oi — digo o mais indiferente possível — Mãe, eu vou te atrapalhar, só
passei para saber se estava tudo bem. — Beijo a testa da minha mãe, ela me
dá um olhar conhecedor, mas não diz nada. Ela aceita a companhia de Luísa,
mas sabe que a garota quer se aproximar de mim.
— Tudo bem, meu amor. Se cuida! Não se esqueça de sábado, o evento na
casa dos Tommazzi — ela gritou enquanto eu ia pela porta. Dei um joia e
continuei o meu caminho.
Eu saio pelo porta quase correndo. Tenho conseguido evitar Luísa com
sucesso nas últimas semanas, mesmo sabendo que ela tem se aproximado de
todos que são próximos a mim.
Antes de chegar em meu carro, escuto passos. Saltos.
Merda.
— Onde você está indo? — Luísa pergunta, ofegante. Ela é linda, mas já não
consigo sentir nem tesão por todas as suas loucuras. Aliás, nos últimos meses,
estou com falta de tesão sempre. Logo eu, que sempre senti tesão, até
dormindo.
Será que eu deveria estar preocupado? Talvez eu devesse dar uma volta, ir em
algum dos nossos clubes.
— Você foge de mim como se eu fosse o diabo. Não precisa ser desse jeito,
Giovanni. Podemos ser amigos.
Respiro fundo, destravando o carro.
— Ok, Luísa. Só não fique me ligando nem me perguntando o que eu faço ou
deixo de fazer, nem se comportando ou dizendo por aí que é minha
namorada. Nós não temos nada. E estas atitudes estão me irritando.
Percebi que seus olhos ficaram marejados. Ela deu um sorriso sem graça e
saiu. Eu me sentia mal por ser assim tão direto, mas ela não me deixou outra
escolha. Eu já tinha enfrentado o perigo de várias formas. Todos os dias eu
corria o risco de não voltar vivo para casa, mas essa garota minúscula, com
esses olhos esperançosos me assustava como meu trabalho nunca assustou.
Saí do estacionamento. Por um momento, considerei ir para um de nossos
clubes, mas logo senti um desânimo, cansaço.
Pensei em meu pai.
Quando estava com minha mãe, a noite era mais fácil. Quando estava
trabalhando, eu poderia me envolver ali e esquecer. Mas, quando eu estava
sozinho em meu apartamento, meu coração apertava pensando nele.
Novamente, fui para casa e amorteci minha dor com uísque.
Capitulo 5

E stávamos em Nova Iorque novamente. Eu tinha que admitir,


essa cidade me fascinava. Eu já tinha conversado com meu pai sobre fazer
um curso intensivo de Moda aqui, e ficar no apartamento, já que Giulia
moraria aqui quando se casasse. Meu pai ficou de pensar sobre o assunto,
mas eu sei que ele decidiria a meu favor. Uma das coisas que mais amo é
Moda. Montar looks, criar, desenhar. Pode parecer fútil para alguns, mas não
nasci para me moldar a vontade dos outros.
De qualquer forma, levei minha pasta de desenhos para me inscrever na
Universidade da Columbia, que magicamente deu certo com o período que
ficaríamos aqui. Com alguma sorte, eu ficaria durante um ano.
Eu não tinha como objetivo cursar a faculdade de Moda. Eu só queria um
curso intensivo com Chantal Meyer, grande estilista e produtora de moda,
que veio de Milão somente para dar o curso aqui.
Eu vou abrir a minha própria marca. Eu sei que tenho talento, só preciso de
alguma técnica, e trabalhar com Chantal me abriria muitas portas e poderia
me trazer reconhecimento internacional, porque, sim, eu quero ir longe.
Abraçando meu portfólio, encarei a frente da universidade. Eu sabia que era o
primeiro passo para o meu sonho. Olhei em volta, eu não via, mas tinha
certeza que os fantasmas de papai estavam me seguindo. Este sempre seria o
combinado, em qualquer lugar. Hoje não estava tão frio, apenas uma brisa
gelada, então optei por uma saia plissada roxa, acima do joelho, uma camisa
branca com botões, um chapéu superestiloso preto, meu cabelo, em ondas,
solto nas costas, e uma bota branca com saltos altíssimos.
Eu sabia que chamava atenção por onde passava, então não me admirou os
olhares em minha direção. Mas, nos últimos meses, eu trabalhei arduamente
no meu portfólio e ajudei Giulia com o casamento, ficando sem tempo para
garotos. Pensar no casamento de Giulia tão próximo me deu um aperto no
coração. Eu tinha que seguir minha vida, como ela estava seguindo a dela.
Isabella era tão envolvida com ela mesmo, eu a amava, mas era diferente da
ligação que tinha com Giulia. Ela era a minha mentora. Isabella ficaria bem
comigo ou sem mim.
Entrei no setor de matrícula e deixei meu portfólio com a assistente da
Chantal Meyer. Preenchi vários formulários e saí torcendo por mim mesma.
Quando saí da universidade, um carro já me esperava, mas eu dei sinal para
Ludo, meu segurança principal, que iria caminhar um pouco. Eu sei que os
olhos estavam reprovadores por trás dos óculos, mas ele sabiamente não disse
nada. Por um minuto, só queria caminhar, curtir esse momento, minha vida
tomando um caminho que eu estava escolhendo. Sonhando com minha
própria marca e, quem sabe, uma loja exclusiva.
Entrei em um café, pois estava começando a esfriar e eu queria algo quente
para continuar minha caminhada. Ludo odiava quando eu fazia isso, sair da
rota sem comunicar, mas hoje eu me daria isso. Meu telefone tocou.
— É só um café, Ludo.
— Porta dos fundos.
Nem pensei.
Eu era treinada a nunca questionar uma orientação da segurança. Algo estava
errado, mas não era hora de perguntar. Olhei ao redor colocando meu
treinamento em ação. Pressionei onde minha arma estava na perna e, com
menos calma do que aparentava, me encaminhei para os fundos. Antes que
alcançasse a porta, senti uma mão em meu ombro. Virei-me e atingi o
estranho com um golpe no rosto, já preparando o próximo, quando uma voz
familiar gritou.
— CAZZO[27]! Você é uma louca mesmo! — Essa voz, essa pessoa, oh, meu
Deus, agora não! Giovanni estava com a mão no rosto e reclamando como
uma garotinha.
— Giovanni? — falei entre assustada, surpresa e irritada.
— O que deu em você? — ele me respondeu no mesmo tom.
— O que deu em você para me abordar assim! — atirei de volta — Alguma
coisa está errada. Minha segurança ativou protocolo.
— Eu sei, exatamente por isso que também entrei aqui. Irlandeses.
— Estamos em guerra com os Irlandeses? — perguntei confusa.
— Temos um tratado de não ataque, porém, não é bom confiar.
Sem mais conversa, fomos para o fundo, onde meu carro já estava
aguardando junto ao do próprio Giovanni. Ele até poderia sair com o próprio
carro, mas também sempre era seguido por seguranças. Entrei e logo percebi
que Giovanni entrava comigo.
No meu carro.
— Hey, seu carro não é esse.
— Que cavalheiro eu seria se não te acompanhasse? — O sorriso zombeteiro
estava lá. Estreitei os olhos.
— Eu não preciso de um cavalheiro.
— Tudo poderia ser evitado se a senhorita seguisse o protocolo. — Isso veio
de Ludo.
— Agora não, Ludo. — Eu só queria um café, droga!
— Eu vou te levar para sua casa e depois voltarei em meu carro, que está nos
seguindo. Ponto.
— Isso é desnecessário, eu tenho Ludo.
— Está decidido. — Que cara irritante. Me encostei no banco e cruzei os
braços.
— Qual o problema com os irlandeses? — perguntei com um suspiro
derrotado.
— Nenhum. Mas eu sou o consigliere[28] e você é filha de um líder. Quer
pagar para ver?
— Isso é ridículo. — Mas eu sabia que ele tinha razão. Um tratado poderia
ser desfeito a qualquer momento, não havia lealdade nisso.
— É a nossa realidade, gatinha.
— Senhorita Castelle, senhor.
Escutei sua risada baixinha. Ele era um idiota. E eu não entendia por que,
mas ele sempre me irritava. Ficamos em silêncio por alguns minutos e, pelo
canto do olho, pude dar uma boa olhada. Ele era um stronzo[29], mas era
muito gostoso.
E totalmente fora dos limites.
Diferente do meu futuro cunhado, que vestia social o tempo todo, Giovanni
usava jeans e camiseta com casaco, quase sempre em tons escuros ou cinza.
Tinha um cabelo que parecia treinado a cair em sua testa, covinhas, que se
não fosse nele, eu poderia achar adorável.
Tudo bem, são adoráveis. Ele se aproximou e disse bem em meu ouvido.
— Você sabe que está virando a nossa coisa, né…
E lá se foi o encanto.
Graças a Deus.
Olhei em seus olhos o mais indiferente possível:
— O quê? — perguntei mesmo sabendo que viria mais uma pérola de
Giovanni.
— Eu te encontrar, você me bater, não é o que eu curto na verdade, mas, por
você, eu posso fazer uma exceção.
Eu queria sorrir, mas só encorajaria sua safadeza.
— Aaargh, isso costuma funcionar? — eu disse em um gemido.
— Sempre. — ele disse sem desviar os olhos dos meus.
A pior parte?
Eu acreditava que sim.
— Nem sempre — eu disse com meu próprio sorriso sarcástico.
— Você ainda vai implorar por mim, gatinha.
— Continue repetindo isso para o seu ego se ele é tão frágil para lidar com a
rejeição.
Eu disse já me preparando para descer do carro. Sua voz me parou antes que
eu abrisse a porta.
— Vamos sair?
Eu me virei e olhei para seu rosto.
— Tomar um café…
Estreitei os olhos, mas meu coração disparou no peito.
— Um jantar…
Ele se aproximou mais e eu segurei a respiração.
— Conhecer meu apartamento…
Eu tive que morder um sorriso de volta. Ele era incorrigível.
— Sinto muito. Mas minha resposta é não.
Ele colocou a mão falsamente em seu peito.
— Você me destrói desse jeito.
— Tenho certeza que você vai superar rapidinho.
Abro a porta e saio sem olhar para trás, mas o escuto sair também e entrar em
seu próprio carro com uma risada. Sou incapaz de interromper o sorriso que
fica estampado em todo o meu rosto.

Hoje é o jantar na casa dos Tommazzi. Eu estava no espelho, meu vestido


vermelho fatal, tomara que caia, justo, realçava minhas curvas, me deixando
espetacular. Ficou difícil encaixar uma arma, então peguei uma das adagas de
Isabella.
Sem que ela soubesse, claro.
Eu usei meias com ligas e saltos pretos. Meu cabelo completamente liso e
solto.
Um barulho no quarto e minhas irmãs entraram. Giulia, em um vestido verde
e os cabelos soltos, saltos nude. Isabella, em um vestido azul de corpete justo,
com a saia solta até a panturrilha. O vestido realçava a cor dos seus olhos,
uma faixa de brilhantes na cabeça e o cabelo solto em cachos sedosos. O
vestido a deixava com aspecto ainda mais inocente, pois ela era pequena,
menor que a média, e parecia uma adolescente de quinze anos.
Mas quem conhecia, convivia, sabia que minha irmã era mortal.
— Está faltando uma das minhas adagas.
Em silêncio, continuei acertando minha maquiagem.
— Milena, eu sei que você pegou uma adaga minha. Devolva.
Droga.
Mas eu não iria devolver, não mesmo. Fingindo demência, continuei
estudando minha aparência. Ela se aproximou e eu já me preparei para o
golpe dela. Mas antes que ela me acertasse, eu revidasse, e tudo virasse um
caos, Giulia interviu:
— Chega! Quantas adagas tem com você, Bella?
— Não importa.
— É uma adaga sua egoísta! — Infantil, eu sei. Isabella era obcecada por
essas adagas. — Eu vou te devolver. É por causa do vestido, não dá pra
colocar meu suporte de arma.
— Vista algo menos vadia, então.
Eu iria matá-la.
— Parem, as duas! Isabella, uma adaga não vai fazer falta, considerando a
sua coleção. Agora, vamos, o jantar será em homenagem a mim e ao
Eduardo, não podemos chegar atrasadas.
Giulia era sempre assim, ela raramente se desentendia com os outros. Ela
poderia ser durona, mas sempre era controlada e prática.
Meu oposto total.
Sem mais palavras, nós fomos para o estacionamento com nossos pais. Não
muito tempo depois, chegamos à casa dos Tommazzi. Rafaelle Tommazzi era
um Caporígeme[30] em Nova Iorque, muito respeitado e um dos mais velhos
no poder. Ele tinha esposa e um casal de filhos, gêmeos, Cara e Gabriel. Eles
deveriam ter minha idade, vinte anos. Os gêmeos loiros dos olhos azuis
tinham uma beleza impressionante. Todas as vezes que nos encontramos,
Cara foi cordial, mas meu principal interesse era que ela estava no segundo
ano de Moda na Columbia. E se eu esperava ficar aqui durante um ano,
deveria começar a me socializar, Giulia seria casada e Isabella estaria em
Philly.
A casa dos Tommazzi era enorme e linda. Não tão imponente quanto à
mansão Santorelli ou Maceratta, mas ainda assim linda. Fomos recebidos por
Rafaelle e logo estávamos rodeados pela alta sociedade. Todos os olhos,
principalmente os masculinos, estavam em nós, o que também não era uma
novidade. Mas eu não me esforçava para ser encantadora em eventos da
Máfia, somente o suficiente para não ser mal-educada. Isabella era
naturalmente encantadora. Não amável, não acolhedora. Apenas encantadora,
capaz de manter um conversa cordial, usar o tom de voz correto e jamais
bufar.
Giulia foi abordada por Eduardo, que nos cumprimentou e logo a levou para
longe. Eu passei meu olhar entediado pelo local até que vi algumas garotas,
muito mal vestidas por sinal, falando e apontando nada discretamente para
mim e Isabella. Foi impossível não revirar os olhos. Onde elas pensavam que
estavam? Ensino Médio?
Peguei algumas bebidas e logo um grupo se aproximou de nós, entre eles,
estavam os gêmeos, Cara e Gabriel, e Luísa Conti. Eu e Luísa fomos para a
escola juntas, mas nunca fomos amigas. Ela era muito perfeita e eu muito
selvagem, não foi uma boa combinação. O fato dela sempre gostar de se
sobressair em cima das outras meninas também me desagradava e talvez eu
tenha acertado seu olho enquanto ela intimidava uma colega gordinha.
Talvez. A questão me rendeu uma suspensão na escola e castigo em casa. Eu
sei que ela tinha vindo para Nova Iorque para estudar e não a vi em dois anos.
Quando se aproximaram, Cara me recebeu com um caloroso abraço. Gabriel
não disfarçou o olhar afiado em mim e em Isabella, mas nos cumprimentou
cordialmente. Luísa deu um sorriso amarelo, mas não se aproximou. Melhor
assim.
Comecei a conversar com Cara sobre o curso de Moda na Columbia e ela foi
super receptiva, me dizendo que me apresentaria para seus colegas e para os
profissionais importantes da Moda em Nova Iorque.
Luísa, de repente, mudou a expressão de tédio para total deleite. Toda a
linguagem corporal dela mudou olhando para a entrada. Segui seus olhos por
curiosidade e me deparei com Giovanni Maceratta. Ele, de smoking, era uma
visão. Ele tinha um sorriso fácil, um brilho nos olhos azuis e toda a atenção
feminina.
Ótimo para passar um tempo.
Verdadeira dor de cabeça para quem ele colocasse um anel.
Ele exalava “Não se apaixone ou vou quebrar seu coração” pelos poros e eu
tinha pena das desavisadas. Pelo jeito, Luísa era uma delas, com olhos
sonhadores, até um pouco possessivos.
— Cara, já volto.
Cara deu um suspiro e voltou à atenção para mim.
— Ela está em uma missão: Convencer Giovanni a se casar com ela. Mesmo
que ele tenha deixado claro que não está interessado.
— Oh! Meio que é um tiro no pé se apaixonar por um cara como Giovanni.
Ele é bom para curtir, não para manter.
Gelei por alguns segundos, esquecendo quem estava conversando, não tinha
intimidade com Cara, ela bem poderia ser puritana e se escandalizar. Mas ela
jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada. Algumas pessoas olharam
para nós.
— Querida, adorei você! — ela me disse e eu sorri de volta. Isabella estava
envolvida em uma conversa com Gabriel. Ele estava adorando a atenção que
Isabella dava para o que quer que fosse que ele estivesse falando.
Cara pediu licença, pois tinha sido requisitada por outro grupo, e Gabriel a
acompanhou. Me aproximei de Isabella
— Você deveria beijá-lo.
Isabella nem piscou.
— Não vejo o sentido.
— Não é para fazer sentido, é para curtir e se soltar.
Ela me dignou um único olhar e voltou sua atenção à frente, para Gabriel. Na
sua falta de participação na conversa, eu continuei.
— Você sabe, o garoto do clube em Philly não conta.
— Foi um beijo.
— Muito ruim. Você vai ser celibatária o resto da vida por causa de um
beijo?
De repente, Isabella ficou vermelha. Muito vermelha. E eu fiquei ainda mais
interessada.
— Você ficou com mais alguém, Bella? E não me contou?
— Você não me conta suas aventuras.
— Bella, quem foi?
Ela continuou igual a um tomate. Era hilário ver Isabella reagir, quase
impossível arrancar uma expressão dela. Quando achei que não diria, ela
falou:
— No último dia do Ensino Médio, ano passado. Meu parceiro de Ballet,
Garret. Depois da apresentação da festa de fim de ano, eu… Nós fomos para
um hotel. E eu, bem, eu deixei que ele fizesse… coisas… comigo.
— Que coisas? — Estava impossível segurar o riso. Ela ainda estava muito
constrangida e eu queria filmar o momento para jogar na cara dela quando se
transformasse na bonequinha de gelo novamente.
— Ele… desceu. A boca.
— Ele fez sexo oral em você? — Bella fez uma careta.
— Você é nojenta. — Limpou a garganta — Ele fez. E foi legal. Mas eu não
curti o resto. Então, conclui que não gosto de sexo.
— Você gostava dele? — perguntei quase ansiosa.
— Eu me sentia confortável com ele. E não senti vontade de matá-lo no
processo. Mas nada como descrito naqueles livros que você costuma ler.
— Andou lendo meus livros?
— Mais para fim de pesquisa. Queria ver como eram descritas as emoções e
tentar identificar se sentiria alguma. Enfim, não é para mim.
— Bella, a primeira vez é dolorosa mesmo. Até a segunda pode doer um
pouco, mas depois é a melhor coisa.
— Eu não sinto vontade de repetir a experiência.
— Talvez você ainda não tenha conhecido alguém que faça você sentir
vontade de repetir a experiência.
Ela passeou seus olhos pelo salão e parou em Nero, que conversava com
alguns capitães. O cara era lindo, mas enorme. Acho que eu não me
arriscaria. Ele tinha aquela fachada perigosa e séria, uma barba estilo
lenhador. Um cabelo cumprido, sempre amarrado atrás e algumas tatuagens
visíveis. Ele não era sofisticado como Eduardo e Giovanni, tinha um ar mais
selvagem.
Curioso.
— É, talvez — ela respondeu.
Então ela me encarou com seus grandes olhos azuis.
— Eu só não entendi uma coisa, como uma pessoa que lê tanto sobre
sentimentos pode ser tão cínica sobre se apaixonar?
Ai.
Essa foi para mim.
Mas antes que eu respondesse, uma voz falou bem em meu ouvido:
— Boa noite, bella selvagem.
Capitulo 6

Q uando entrei na residência dos Tommazzi, a primeira coisa


que prendeu minha atenção foi um borrão vermelho, sexy pra caralho, com
uma cascata de cabelos negros que iam até o quadril. Chamando meu olhar
para a bunda perfeita.
Milena Castelle.
Cumprimentei algumas pessoas, mas volta e meia meu olhar seguia em sua
direção, onde ela conversava com sua irmã, que eu carinhosamente apelidei
de Annabelle, a boneca do mal.
Eu precisava manter distância das meninas da Famiglia[31], mas algo sobre
Milena era simplesmente impossível de resistir. Ela era uma bomba sexy
ambulante, com uma boca esperta, uma expressão zombeteira, principalmente
quando se dirigia a mim, e eu só queria mordê-la inteirinha.
Era um pensamento tão lascivo que até mesmo me assustava. Porque eu
amava uma mulher embaixo de mim, em cima, de lado, de… certo. Mas algo
sobre Milena era simplesmente diferente. Me inflamava. Eu sabia que ficar
com ela seria diferente de tudo que eu já havia experimentado. E justamente
por isso que eu deveria me manter longe, eu já tinha complicação demais na
minha vida.
Mas quando eu escutei todos os meus pensamentos saindo da boca de um dos
capitães sobre ela, simplesmente fui até onde ela estava com a irmã, antes que
eu arrancasse a língua do capitão.
E esse sentimento de posse também me assustou, porque eu não era de
ninguém, logo, ninguém me pertencia também. Resolvi não pensar muito
nisso e me aproximei da dupla.
— Boa noite, bella selvagem — falei bem em seu ouvido só para ter o prazer
de vê-la se arrepiar onde meu hálito tocava. — Boa noite, Annabelle.
Isabella só me deu um aceno sem ao menos piscar com o apelido. Milena
estreitou os olhos e disse entredentes.
— É Milena. Ou melhor, pra você, é Srta. Castelle.
Eu não contive o sorriso e percebi que ela também mordia um sorriso de
volta. Isabella revirou os olhos e resmungou alguma coisa, mas minha
atenção era completa em Milena.
— Dança comigo? — Me ouvi perguntando. Não dei tempo para que
respondesse e a levei para a pista. Não era uma festa para muita gente, o
grupo era bem seleto. Coloquei minhas mãos em sua cintura e aproximei seu
corpo do meu. Ela envolveu seus braços em meus ombros e encostou a
cabeça em meu peito.
Ela cheirava a caro.
Tudo nela era impecável.
Perfeito.
A suavidade do cabelo, seu aroma, seu rosto maquiado, o vestido perfeito. Eu
não costumava reparar detalhes nas mulheres. Mas, em Milena, era quase
impossível não reparar cada detalhe perfeito, como uma armadura.
Não fiz piadas e ela não fez comentários ácidos. Ficamos ali, curtindo Roses,
de James Arthur, com a atração crepitando no ar, enquanto a embalava em
meus braços. O momento era tão perfeito que fiquei com medo de estragar só
por respirar. Olhei em seus olhos e vi algo que nunca tinha visto em Milena.
Instabilidade.
Seus olhos estavam um pouco assustados, como se não conseguissem
entender o que diabos estava acontecendo. Ela era sempre tão segura de si,
tão determinada a me manter afastado, e tudo o que vi ali foi uma brecha em
sua defesa. Uma abertura para algo que ela guardava internamente, e eu me vi
desesperado para descobrir e para desvendar cada um dos seus segredos.
Ela se afastou, pediu desculpa por algo, e saiu para um corredor. Fui atrás.
Não sei exatamente o que falaria quando a encontrasse, mas senti que deveria
ir.
Encontrei-a encostada em uma parede, cabeça para trás e olhos fechados.
Provavelmente, ela sentiu minha presença, pois logo se endireitou e pôs a
mão na perna. O que atraiu meus olhos para as pernas tonificadas.
— Você me assustou — ela disse em um sussurro.
— Parece a nossa coisa. — Minha voz estava rouca e não tinha o ar
sarcástico de sempre. Porque, olhando nos olhos de Milena, eles refletiam o
mesmo que os meus: desejo. Eu queria ficar longe, eu tinha que ficar longe,
mas era curioso eu simplesmente não conseguia.
— Eu preciso voltar — ela disse instável, passando ao meu lado para voltar,
mas eu segurei seu braço. Eu corria um sério risco de ser chutado, esmurrado
ou coisa pior, mas foi mais forte que eu. Ela não se mexeu e puxou uma
respiração profunda para, em seguida, olhar em meus olhos, tão pesado de
desejo quanto os seus.
Dane-se o cuidado.
Ela queria e eu também.
Segurei seu pescoço e bati minha boca na dela. Se ela pareceu surpresa,
escondeu bem, porque, em seguida, me puxou pela lapela do smoking e me
beijou na mesma ferocidade. Eu virei seu corpo sem qualquer gentileza para a
parede, e ela suspirou apertando as unhas na raiz do meu cabelo, onde
provavelmente iria arder mais tarde.
Era quase um beijo punitivo.
Subi seu vestido e a segurei pelas pernas, que ela obedientemente passou em
volta da minha cintura. Apertei as bochechas da bunda com força suficiente
para marcar, e ela gemeu em meus lábios quando pressionei minha furiosa
ereção em seu centro.
Eu queria mordê-la, consumi-la, me perder em sua perfeição.
Ela parecia com a mesma fome, porque mordeu meu lábio inferior com força
o bastante para sentir um filete de sangue em minha boca.
Selvagem.
Acredito que o gosto de sangue deve tê-la despertado do torpor, pois ela
afastou o rosto do meu e fechou os olhos, respirando profundamente.
Quando os abriu os olhos, tirou as pernas da minha volta e a falta de seu calor
em mim foi imediata. Ela baixou o vestido com calma, e a visão da calcinha,
da liga, da meia, do suporte com uma faca era quase demais, então virei os
olhos antes que a atacasse novamente. Era só irresistível o quanto ela era
segura da sua perfeição.
— Acho que a gente deve esquecer disso — ela disse me olhando com
firmeza.
Um beijo dessa garota mexeu comigo mais do que eu gostaria de admitir. Eu
tinha a sensação, lá em meu íntimo, que se eu transasse com Milena, algo
mudaria, mesmo sem saber exatamente o quê.
Um olhar em seu rosto me fez ver que ela pensava o mesmo.
Eu era um jogador e Milena também, ela tinha o mesmo medo que eu. Medo
de se apegar, medo de se queimar. Eu só dei um aceno em concordância e
sumi pelo corredor. Porque, por mais que eu soubesse o quanto poderíamos
sair queimados disso tudo, eu a queria como há muito tempo quis alguém. E
geralmente era eu quem estabelecia os limites.
Era irônico que ela tenha sido a primeira a se afastar e deixar claro que não
tinha interesse em mais. Meu ego estava ferido, e uma pontada no peito, que
eu não soube explicar ou definir, fez o meu humor cair.
De repente, a festa já não tinha mais graça, aquele vazio desde que pappa[32]
se foi se apossou do meu peito. Eu deveria sair e pegar alguma garota
aleatória, mas algo sobre isso parecia não ter o mesmo apelo de antes. Eu
dizia a mim mesmo que era parte do processo de luto. Saí pelos fundos, fui
para meu carro, dirigi inerte até chegar ao meu apartamento. Antes de dormir,
ainda conseguia sentir a mistura de desejo e perigo do beijo de Milena.
Capitulo 7

T udo estava um caos total. Hoje era o casamento de Giulia e


minha mãe estava enlouquecendo a todas nós. Eu evitava pensar em como as
coisas seriam diferentes. Papai me deu permissão para ficar em Nova Iorque.
Fui aceita em primeiro lugar no curso intensivo de Moda da Chantal Meyer.
Cara já havia me dado seu número para qualquer coisa que eu precisasse.
Volta e meia eu ainda pensava em Giovanni. Eu o encontrei algumas vezes
em eventos, principalmente próximo ao casamento. Ele, como consigliere[33],
sempre estava presente; e eu, como irmã da noiva, também. Mas ele tem sido
cordial e distante. Sem piadas, sem flerte, eu estaria sendo hipócrita se
dissesse que não senti falta. Mas aquele beijo me fez ir para outro nível de
excitação e desejo. Eu queria ser consumida e sabia que isso poderia me
render muitos problemas. Eu não poderia só transar e esquecer, eu iria morar
em Nova Iorque, estaríamos nos esbarrando o tempo todo. Foi melhor assim.
Mesmo que ele fosse dolorosamente gostoso.
Estávamos nos arrumando no hotel, eu estava junto de Giulia e de Isabella.
Giulia estava deslumbrante após colocar o vestido, tão linda que doía olhar.
Um dos motivos de estar tão iluminada também era por estar feliz. Ela estava
genuinamente feliz por estar se casando com Eduardo. Eu tinha que dar isso a
ele, o ladrão de irmãs beijava o chão que ela pisava. Comprou uma mansão
digna de rainha para ela, fez espaço para que ela continuasse seu treinamento,
uma sala de música e, se ela pedisse um pedaço da lua, ele ao menos tentaria
dar a ela. De repente, eu estava emocional novamente. Mas já tínhamos
chorado e rido juntas, não era hora, pois eu poderia borrar minha maquiagem
e a dela também.
Me olhei no espelho, meu vestido azul-celeste era do mesmo modelo e cor
que o de Isabella, Giulia era muito tradicional, queria o mesmo modelo de
vestido, mas pelo menos não era horrível. Ao contrário, acentuava a cintura e
soltava em camadas discretas de seda. Uma tiara de diamantes no alto da
cabeça, e meu cabelo parecia uma cortina em ondas soltas. Isabella parou ao
meu lado, no grande espelho. Ela era linda, a cor destacava seus olhos e
deixava uma aura de inocência que era própria dela. Ela prendeu metade do
cabelo loiro brilhante, deixando alguns fios suaves emoldurando o rosto.
— Você vai ficar? — ela disse me olhando do espelho.
— Sim, fui aceita para trabalhar com Chantal.
— Eu estou feliz por você. Só será solitário lá, sem vocês.
Olhei minha irmã, então a abracei de lado. Ela era o nosso bebê, e ser miúda
só ressaltava isso.
— Você pode me ligar a qualquer hora. Sabe disso.
— Não é o mesmo. Mas não vou ser uma chorona. Vocês estão seguindo a
vida de vocês, o propósito de vocês. Eu tenho que arrumar algum antes que
pappa[34] resolva me casar também — ela disse com um sorriso e eu sorri
também, embora a batalha para não chorar estivesse cada vez mais difícil.
— Ele não faria isso, ele teria pena do pobre coitado. — Ela me deu um soco
no estômago, mas logo disse: — Gabriel me chamou para um café.
— Ele é gatinho. Você deveria ir.
Seus olhos ficaram distantes.
— Deveria. Hoje vamos conversar, quem sabe?
— Você não parece animada.
— Na verdade, não sinto nada em relação a esta situação.
Meu coração doía quando Isabella falava estas coisas. Era difícil acreditar
que esta criatura, que mais parecia um anjo, tinha dificuldade de sentir.
Isabella raramente sentia raiva, vergonha, vontade de chorar, medo. Ela era
fria em praticamente todo o tempo e seu ponto de equilíbrio sempre foi a
família. Eu tinha esperança que um dia ela se apaixonasse, que talvez outra
pessoa em sua vida, que não fosse a família, pudesse ajudá-la a lidar com
toda esta falta de emoção. Ela não era cruel, mas não sentia pena ou remorso
por nada. Desde criança ela foi assim. Às vezes, eu tinha a sensação de que
isso lhe incomodava, mas era difícil ler Isabella. A gente só saberia se ela
falasse a respeito.
— Acho que vocês já podem ir descendo — a cerimonialista disse.
Eu estava indo para a porta quando Isabella me pediu pra ir descendo e logo
me encontraria. Eu estava um pouco ansiosa, pois hoje estaria perto de
Giovanni, ele era padrinho; e eu, dama de honra. A gente não tinha se falado,
mas hoje seria inevitável. Entrei no elevador, estávamos na suíte master do
hotel, então seria uma longa descida de 20 andares. Na metade da descida, o
elevador parou e Giovanni entrou. Tive que me conter para não babar em sua
beleza.
Era injusto ele ser tão lindo. Os olhos azuis, os cílios enormes que qualquer
mulher morreria para ter, e de smoking. De novo. Seus olhos varreram meu
corpo e senti meu corpo tremer de leve.
— Oi — eu disse na falta de reação dele, parado na entrada.
Ele me deu um aceno, ultimamente era somente isso que fazia, entrou e me
ignorou. Ótimo, eu também poderia jogar este jogo. Quando chegamos ao
térreo, mesmo andando lado a lado, parecia que havia um abismo entre nós.
Entrei no carro designado a mim sem olhar para trás, pedi que fosse e depois
voltasse para buscar Isabella. Por infelicidade, chegamos juntos na frente da
igreja e Luísa Conti interceptou nosso caminho grudando em seu lado.
Embora ele não fizesse nada para encorajá-la, também não a afastou. Eu pedi
licença aos dois e continuei andando. Não era da minha conta.
Encontrei Cara, Gabriel, Sophia DeLucca e mais alguns outros que ainda não
tinha memorizado o nome. Quando me aproximei, Sophia me deu um olhar
de desprezo e saiu. Eu sabia, por Giulia, que ela tinha interesse em Eduardo.
Que ela gostaria de estar no lugar da minha irmã, então fingi que não tinha
percebido.
— Isabella ainda não veio? — perguntou Gabriel. Eu quase senti pena dele.
Seria bom para minha irmã permitir que ele se aproximasse suficiente. Ele
era jovem, mas um cavalheiro. Eles formariam um lindo casal de ouro, mas
achava difícil algo evoluir com Isabella. Ela precisava de alguém que
sacudisse o mundo dela.
— Acredito que logo ela estará aqui.
Assim que terminei de falar, Isabella entrou, linda e chamando a atenção de
todos. Igualmente indiferente a tudo em sua volta. Seus olhos, de repente,
brilharam levemente e eu os segui, indo diretamente a um grupo de soldados
e a Nero. Ele também estava olhando para ela, mas desviou os olhos
rapidamente e voltou para o soldado. Isabella nem chegou à mesa e Gabriel já
foi ao seu encontro. Com mais um olhar, percebi Nero acompanhando a
interação da minha irmã com Gabriel de longe. O olhar não era amigável.
Interessante.
— Cara, o que você sabe sobre Nero? — Ela me olhou de esguelha.
— Está interessada no grandão, Milena? — Eu só dei uma risada, mas não
desmenti. Talvez se ela pensasse isso, poderia me contar algo importante. —
Bom, ele é jovem, vinte e cinco, mas não se mistura com os jovens. Evita
nossas rodas e sempre está no encalço de Giovanni e de Eduardo. Sério,
focado, gostoso, como já vimos, mas um pouco selvagem para o meu gosto.
— Namorada?
— Até onde eu sei, não. Sei que ele mantinha um relacionamento com uma
das meninas de um clube. Até deu um apartamento para ela e a ajudou a sair
do clube, segundo Gabriel. Se eles ainda mantêm o relacionamento, eu não
sei. Ele é discreto quanto à vida privada. E não dá uma segunda olhada para
as meninas da Famiglia[35]. Eu quase me sinto ofendida.
Ela disse isso, mas sorriu e eu a acompanhei. Meus olhos foram para onde
Giovanni estava com sua mãe e Luísa. Eu só não entendia por que me
incomodava com isso. Isabella me encontrou na entrada, pois ia dar início a
cerimônia. Eu entraria com Giovanni, mas jamais iria dar sinal ou chamá-lo.
A cerimonialista disse algo em seu ouvido e ele veio em minha direção. Atrás
de mim, Nero estava com Isabella.
— Acho que já vai começar — disse Giovanni me estendendo o braço.
Aceitei, mas olhei firme para frente. — Aliás, você está incrível
Me virei para seu rosto, buscando alguma piada, algum flerte, mas nada. Ele
me elogiou, simples assim.
— Obrigada — disse e voltei minha atenção para frente.
A cerimônia foi linda, minha irmã brilhava e Eduardo estava igualmente
feliz. Era tão raro em nosso mundo um casal radiante de felicidade enquanto
se casava. Ao sairmos para o salão do hotel, onde aconteceria a recepção,
percebi porque Nero não se misturava com a “galera jovem”. Ele estava
sempre focado, tenso, cuidando da segurança, de cada detalhe. Ele parecia
bem mais velho do que realmente era, talvez por sua grande responsabilidade
na Famiglia.
Eu sabia que, depois do que aconteceu com Salvatore Maceratta e a tentativa
de sequestro da pequena Anita, que aliás estava uma princesa na festa,
preocupação com a segurança era primordial. Mas hoje eu iria me divertir,
afinal, não é todo dia que se casa uma irmã. Eu me sentei com Cara e Gabriel
e fiz questão de ficar de costas para onde Giovanni estava. Ver Luísa sempre
por perto me incomodava e eu me odiava por isso.
Depois da dança dos noivos, eu tinha que dançar com o padrinho. Senti um
puxão no ventre, pois foi impossível não me lembrar da última vez que
dançamos e como tudo terminou. Giovanni se aproximou, e eu fiquei o mais
impassível possível. Tentei manter uma distância segura enquanto íamos para
a pista, mas ele me deu um aperto firme, me aproximando mais. Me
aproximando demais. Olhei para seu rosto, estreitei os olhos, e ele me deu
aquele sorriso que, confesso, senti saudade.
Baixei a cabeça para que ele não percebesse que eu queria sorrir também.
Enquanto dançávamos, senti uma tranquilidade e uma calma que eu não
queria explorar questionando. Quando a música terminou, ele ainda me
segurou como se quisesse dançar a próxima também. Suas mãos em mim me
fizeram começar a ficar instável novamente, como na última vez. Eu não
estava familiarizada com este tipo de reação com alguém. Mas, claro, Luísa
apareceu ao seu lado. Eles estavam juntos? Não era possível, essa garota não
desgrudava. Giovanni suspirou, ele não estava gostando da interrupção dela.
— Acho que é a minha vez.
Eu que não faria uma cena por causa de um galinha como Giovanni. Antes
que ele falasse algo, eu disse:
— Claro. Eu vou tomar uma bebida.
Falei com a voz mais cordial possível e saí sem olhar para trás. Fui até o bar
quando senti uma mão em meus ombros, me virando com certa
possessividade. Já me virei com um olhar assassino, mas me surpreendi com
Don Lorenzo. O pai de Eduardo ainda usava o título por respeito, mas o Don
hoje era Eduardo.
— Don Lorenzo — disse com mais calma que aparentava. Certa vez, quando
Eduardo foi oficializar o seu relacionamento com minha irmã Giulia, eu
desafiei Don Lorenzo na mesa de jantar. Porque posso ter sido criada na
Máfia, mas tudo sobre Don Lorenzo e suas práticas era o que me fazia ter
certeza que jamais me casaria. Ele não gostou do meu desafio e, nas poucas
vezes que nos encontramos, ele me dava um olhar lascivo. E me incomodava
com sua falsa cordialidade. Como agora.
— Milena Castelle. Dança comigo. — A mera possibilidade fez com que a
bile subisse em minha garganta. Ele me estendeu a mão e eu fiquei parada. —
Uma recusa seria uma grande falta de respeito, senhorita.
Era verdade. Somente pela minha irmã, eu resolvi aceitar. Quando Lorenzo
pegou minha mão, apertou-a em punição. Tinha vontade era socar o seu
nariz ou suas bolas, ou, quem sabe, balear suas bolas, porque ele era um
cretino sádico que gostava de bater em mulheres, sentia prazer na dor dos
mais fracos. As histórias dele eram famosas, mesmo que sussurradas pelos
cantos.
Eu não me permiti mover um músculo para demonstrar desconforto. Eu já
passei dores piores, uma pressão na mão não era nada.
Enquanto dançávamos, ele me puxou muito perto, e eu senti vontade de
empurrá-lo longe, diferente da sensação que eu tinha com Giovanni. Na
metade da música, eu já não conseguia mais bancar a civilizada.
— Eu realmente preciso sair um pouco. — Sua mão apertou na minha, e suas
feições endureceram.
— Você não vai me deixar sozinho na pista. — Foi suficiente para o meu
temperamento explodir.
— Observe — falei entredentes. Com um movimento brusco, saí sem me
importar em como isso poderia se transformar na fofoca da vez. Fui para a
frente do hotel, onde tinha uma fonte, pouca iluminação e um banquinho bem
isolado. Eu só precisava de alguns minutos.
Capitulo 8

E u, sinceramente, estava frustrado. Eu juro que tentei, fiz de


tudo para manter distância de Milena; se era isso que ela queria, eu daria a
ela. Mas cada vez que eu a via, sentia vontade de enfiar meus dedos em seu
cabelo novamente e sentir seu gosto. Eu estava frustrado, pois nunca foi um
problema chamar a atenção das mulheres. Elas vinham sem que eu precisasse
pedir.
Mas Milena era diferente em todos os sentidos, ela queria que eu trabalhasse,
que a convencesse. Quando terminei a música com Luísa, que estava cada
vez mais pegajosa, vi um vulto de cabelos pretos virando na entrada do salão.
Sem pensar, pedi licença e fui atrás. Ela estaria marcando algum encontro
com alguém? E se estivesse, por que me importava? Um calor estranho
tomou conta do meu peito, muito parecido com o que as pessoas descreviam
como ciúmes. Totalmente irracional, olhei para sua figura sentada em um
banquinho isolado.
Me aproximei com cuidado, vendo seu rosto iluminado pela lua, seu cabelo
jogado para trás, uma cortina escura que eu tinha passado os dedos e sentido
sua suavidade. Seu rosto perfeito, o caimento do vestido a deixava parecendo
uma deusa. O que diabos estava acontecendo comigo? Desde quando
mulheres pareciam deusas para mim? Merda, merda. Eu deveria me afastar
definitivamente dessa mulher.
— Vai virar hábito agora? — disse sem abrir os olhos. Ela sabia que eu
estava aqui, claro que sabia. Me aproximei mais.
— Estou estragando algum esquema? — Era para ser uma piada, mas saiu
com um toque de acusação. Ela abriu os olhos e passeou por todo o meu
corpo. Ela gostava do que via, segurei um sorriso.
— Garotos da Famiglia[36] estão fora dos limites para mim — ela disse e eu
pisquei. Depois pisquei de novo. Porque essa frase era minha quando falava
das meninas da Famiglia. Recuperei do choque.
— Ah, sim. Eu devo ter sido a exceção. — Ela levantou-se em um
movimento calculado e parou em minha frente. Ela era segura, poderosa. Eu
nunca tinha conhecido alguém como ela. Colocando as mãos em meu peito,
deixando um rastro de fogo onde ela tocava, meu autocontrole ficou por um
fio.
— Você vai ser um erro, Giovanni. Mas um erro que nem eu e nem você
conseguiremos resistir, ou você não estaria aqui.
Ela puxou as lapelas do meu smoking exatamente como na outra vez. Eu
passei meus braços em volta do seu corpo. Seu hálito em minha boca.
— Uma vez, Giovanni. Uma única vez só para que a gente se liberte desta
sensação.
E mais uma vez a ironia bate em meu rosto, eu estou escutando o que eu
sempre falo para as meninas, e a sensação é uma merda. Principalmente
porque eu não tinha certeza de que uma vez com Milena seria suficiente. Mas
eu aceitaria qualquer coisa que ela estivesse disposta a dar.
— Espero que você não seja virgem e amanhã esteja com teu pai exigindo
casamento - Ela sorriu em minha boca, nossos lábios se tocando, mas ainda
não nos beijando completamente, sua risada rouca e sensual me deixando
duro como pedra.
— Espero que você não se apaixone e depois me peça para não quebrar seu
precioso coração. Porque eu vou quebrá-lo, Gio. — Foi a minha vez de rir.
Pressionei todo o seu corpo ao meu, enfiei os dedos em seu cabelo e apertei a
raiz, beijando sua boca com ferocidade.
Se fosse apenas uma noite, eu iria aproveitar em todos os sentidos.
— Venha comigo. Meu apartamento — falei quando nos afastamos alguns
centímetros para respirar. Ela olhou em meus olhos e pareceu hesitar.
— Não é melhor um hotel? — ela pergunta um pouco insegura.
— Se eu vou ter você por uma noite, será na minha cama, no meu
apartamento.
Sem conseguir segurar minha ansiedade por essa garota, a puxei para o
estacionamento, escutando sua diversão com a minha pressa. Logo eu tiraria
este riso da sua boca linda e a única coisa que escutaria seria seus suspiros e
meu nome. Entramos no carro, e enquanto ela se concentrava em mandar
mensagem para a irmã, eu me concentrava em chegar logo ao nosso destino.
Não muito tempo depois, eu estava puxando Milena para o elevador privativo
sem a menor gentileza, enquanto ela ria. Eu estava já há algum tempo sem ter
alguém, o que era inédito para mim. Eu sempre tinha alguém, mas depois da
morte do meu pai… chutei o pensamento. Não era hora de pensar no meu pai,
hoje, nesta noite, eu me concentraria em Milena e em tirar essa atração louca
do meu sistema. Enquanto o elevador subia, eu consegui manter minhas mãos
para mim, embora minha mente estivesse a mil por hora, imaginando tudo o
que eu faria, tudo o que tinha sonhado nesses últimos dias fazer com essa
mulher.
Chegando em meu apartamento, eu respirei fundo antes que fechasse a porta
atrás de nós. Eu estava na penumbra do apartamento, meu coração estava
batendo muito rápido, uma antecipação sem limites. Eu estava quase
desesperado, como se estivesse no deserto e Milena fosse o meu oásis. Não
quis me aprofundar no verdadeiro significado de tudo. Eu estava há algum
tempo sem sexo, era só isso. Quando Milena se virou para mim, seus olhos
brilharam. Ela simplesmente abaixou a manga do vestido, abrindo o zíper
lateral, e ele caiu aos seus pés. Ela usava um conjunto de calcinha e sutiã sem
mangas azul, uma meia com cinta liga e, claro, uma arma na coxa. Ela tirou o
suporte sem desviar os olhos dos meus, tirou a tiara de seu cabelo e eu achei
que ficaria maluco. Porque ela era uma predadora. Ela já tinha feito isso
muitas vezes e isso me fez ter um ciúmes louco de todos os homens que já
olharam para esta perfeição. Era irracional, mas ela me deixava assim.
Ela se aproximou de mim com um sorriso de lado e uma sobrancelha erguida,
mas antes que desse mais um passo em minha direção, eu a encontrei no meio
do caminho. Ela poderia ser uma predadora, mas eu também era. Eu não iria
ficar atordoado enquanto ela liderava todo o processo. A e ergui pela cintura
e inalei o calor do seu pescoço, quase ficando tonto. Ela cheirava a sonho e a
perigo. Carreguei-a para o quarto e a joguei na cama sem qualquer cuidado, e
ela soltou um gritinho junto com uma risada. Ela se esticou como uma
gatinha, se levantou pelos cotovelos, e abriu as pernas, mordendo o lábio
inferior.
— Se quiser, tire uma foto. Dura mais. — Ela jogou minhas palavras de
volta. Claro que jamais me deixaria tirar uma foto dela.
Uma visão.
Maldita sedutora.
Praguejei baixinho e comecei a tirar a minha roupa. Ela queria um show? Eu
também daria um show. Quando comecei a tirar minha camisa, ela segurou
uma respiração e perdeu um pouco da zombaria.
Ótimo.
Quando desabotoei a calça, ela passou a língua nos lábios e, se foi possível,
fiquei ainda mais excitado. Quando estava totalmente nu, puxei um de seus
pés com força e ela soltou uma gargalhada, foi quase impossível não começar
a rir também. Tirei uma sandália, logo a outra. Soltei a liga da meia e desci as
meias lentamente em suas pernas, aproveitando e dando uma mordida ali,
bem na coxa, escutando seu suspiro trêmulo. Tirei sua calcinha, que já estava
úmida, e ela já tirava o sutiã. Seus seios eram proporcionalmente perfeitos
para seu corpo, suas curvas suaves, um sonho molhado para qualquer
homem.
Ela parecia um banquete; e eu, um homem que não se alimentava há dias.
Nua, ela engatinhou pela cama até parar em minha frente. Sem qualquer
pudor, ela segurou minha ereção, que estava furiosa contra minha barriga, e
começou a bombear. Seu olhar era safado quando disse.
— Eu quero te provar. — Foi uma sentença, proferida sensualmente, sem
fazer qualquer esforço. Eu estava perdido, pois logo senti a suavidade da sua
boca no meu pau e fui incapaz de articular qualquer resposta. O que era muito
fodido, pois eu sempre estive no controle, mas aqui, agora, eu parecia um
caminhão descarrilhado. No início, ela brincou e eu deixei, mas logo eu
segurei seu cabelo e dirigi no fundo da sua garganta, fodendo a sua boca. Ela
arranhou meu quadril, mas em nenhum momento se afastou, dando conta de
tudo. O que me fascinou e enfureceu ao mesmo tempo. Onde ela aprendeu a
ser assim? Apertei seu cabelo com mais força e ela soltou o meu pau,
apertando ainda mais as unhas em meu quadril. Uma selvagem.
— Minha vez.
Sem esperar por uma resposta, eu levantei suas pernas e a derrubei de costas
na cama. Novamente ela riu, um canto de sereia. O que estava acontecendo
comigo? Desde quando eu me preocupava com ex-parceiros das minhas
companhias? Desde quando isso me incomodava?
Meti a cara no meio das suas coxas e suguei sem dó. Eu estava com raiva. Eu
estava excitado. Eu estava confuso. Mas o gosto dela me dissuadiu de toda a
confusão. Ela era doce como o pecado, uma tentação. Ela passou os dedos
entre os meus cabelos e se entregou ao prazer, soltando pequenos gemidos
que só me deixavam mais louco. Acalmei o nervo sensível só para sugá-lo
com força novamente e ela gritou o meu nome, perdida em seu próprio
prazer. Quando o orgasmo a assolou, eu não perdi tempo, peguei a camisinha
na gaveta da cabeceira da cama, nos protegi e me lancei sobre ela, entrando
em um único movimento poderoso. Ela era apertada e soltou um suspiro
quando não me mexi, dando tempo para se acostumar com meu tamanho. Ela
levantou os quadris, e foi a minha única permissão. Eu comecei a me mover
implacavelmente, como um animal que estava enjaulado por muito tempo e
finalmente estava livre. O único som que se escutava era a batida de nossos
quadris até ver Milena com as faces ruborizadas, atingindo o seu segundo
orgasmo. Saí de seu calor e a virei sem dar tempo para que se recuperasse.
Apertei as bochechas de sua bunda e dei uma palmada para, em seguida,
aperta-la novamente. Milena gemeu e, com uma olhada por cima do ombro,
me deu uma piscada.
Essa mulher seria a minha morte.
Eu entrei nela e investi novamente com força. Era uma foda dura. Segurei sua
cabeça no travesseiro e mordi seu ombro. Ela gemeu, jogando os quadris para
trás. Quando finalmente eu senti o meu clímax se aproximando, eu a puxei
contra meu corpo pelo cabelo e apertei seus seios com força. Milena gritou
novamente, o que só potencializou o meu orgasmo.
Dessa vez, foi ela quem não me deu tempo; aproveitando que eu estava me
recuperando, ela virou de frente e me empurrou de costas na cama. Montando
meu estômago, ela começou a morder meu pescoço, chupando, me marcando
como eu fiz com ela. Eu já estava ficando duro de novo. Ela foi descendo
pelo meu peito, colocou meu mamilo entre seus dentes e apertou, logo o
acalmando com a língua.
— Você deve estar querendo me matar — eu resmunguei, e ela só deu uma
risadinha. Embalou meu pau em suas mãos e pegou outra camisinha. Quando
terminou, ela o posicionou em sua entrada e desceu no meu pau lentamente,
jogando a cabeça para trás com um gemido.
Eu não sabia ainda o que ia fazer, mas essa não seria a única vez que
ficaríamos juntos. Eu queria mais, uma vez não era suficiente. Logo ela
começou a cavalgar no meu pau sem demorar muito para alcançar o seu
prazer novamente. Quando ela terminou, eu me sentei e retomei o controle,
embora com menos força que antes, atingi o clímax novamente.
Ficamos ali, sentados no meio da minha cama, de frente um para o outro, ela
com o cabelo bagunçado, ambos suados, nos encarando, eu segurei seu rosto
e a beijei com paixão. Ela apertou suas paredes internas no meu pau e eu juro
que quase gemi novamente.
Ela saiu do meu colo, olhou ao redor do quarto, respirou umas três vezes e se
levantou. Ela se abaixou para pegar a calcinha, mas eu a alcancei antes,
puxando seu braço para que ela caísse em mim novamente.
— Você pensa que vai fazer o quê? — disse dando uma mordida em seu
pescoço.
— Ir embora? — ela respondeu com um gemido.
— Você fica.
— Não faz parte do nosso acordo. — Ela tentou me empurrar, mas eu era
mais forte.
— Está tarde, muito frio e você é irmã da esposa do meu Don. Não vou te
deixar…
— Você não tem que deixar nada, Giovanni. — Ela bateu em meu ombro,
olhando indignada. Mas ela pareceu pensar melhor, pois se acomodou ao meu
lado, fazendo meu peito de travesseiro.
Parecia cansada demais para discutir.
— Amanhã, não estranhe se acordar e não me achar. Não costumo deixar
bilhetes.
Eu queria rir da sua birra, mas segurei. Nos cobri com o lençol e fechei os
olhos. Eu nunca precisei convencer uma garota a dormir comigo, mas se era
isso que ela queria de mim, ela teria. Cansado e mais satisfeito do que em
muito tempo, inalei o cabelo de Milena e deixei o cansaço me tomar.
Capitulo 9

A cordei levemente atordoada com o meu telefone tocando.


Uma ardência entre minhas pernas me lembrou das atividades noturnas.
Estava ainda escuro, e eu estava praticamente fundida ao corpo de Giovanni.
Que era delicioso, por sinal. Ele me arrebatou, me levou a outro nível de
prazer, e eu adoraria fazer isso mais vezes, mas… eu tinha que ser esperta.
A vibração do meu celular fez com que ambos despertássemos. Olhei o visor
e estranhei por ser Giulia. Era sua noite de núpcias.
— Alô — respondi sonolenta. Giovanni já se sentando na cama.
— Milena, onde está Bella? Me fala que ela está com você. — Sentei, estava
um pouco atordoada com a urgência na voz de Giulia.
— Ow, calma aí, como assim? Bella deve estar com nossos pais no
apartamento. — Que merda estava acontecendo?
— Onde você está? — Congelei.
— Você não deveria estar curtindo sua noite de núpcias? Nem amanheceu,
cazzo[37]. Qual o seu problema, Eduardo não deu conta? — O ataque era
sempre a melhor saída.
— Eu não tenho tempo para isso agora. Recebi uma ligação, alguém dizendo
que está com a Bella. — Eu já estava em pé, procurando minhas roupas.
— Como assim? Mas que merda. Eu não dormi em casa, vi Bella pela última
vez na festa. — Pânico passou por mim quando Giulia finalmente disse.
— Venha para cá agora, Milena. Recebi uma foto. Levaram a Bella. Ainda
estou no hotel. — Ela desligou e eu já estava colocando o vestido.
Giovanni veio atrás de mim falando com alguém ao telefone. Ele já estava se
vestindo também.
— Levaram minha irmã - eu disse depois que terminei de colocar minhas
roupas. Giovanni se aproximou de mim, já vestido.
— Calma, vamos encontrá-la - disse passando as mãos em minhas costas e
colocando meu cabelo atrás da orelha.
Ele pediu o elevador e, sem mais palavras, fomos para a suíte do hotel onde
estavam Giulia e Eduardo.
Não muito tempo depois, meu pai chegou com Nero, que estava muito
inquieto.
Isabella tinha sido levada pela Bratva e eles queriam trocá-la pela Giulia. Eu
me senti culpada como nunca. Eu tinha deixado ela na festa, sozinha. Embora
ela soubesse se cuidar, embora eu quisesse me divertir, nós sempre tivemos
as costas uma da outra.
Fiquei ali remoendo minha culpa quando um dos soldados entrou segurando
outro. E o que aconteceu foi muito rápido para assimilar. Nero quase matou o
homem que deveria cuidar de Isabella. Eduardo precisou intervir e usar o
cartão de Don para controlar o grandão.
O homem, após ser questionado, disse que ninguém estava feliz com Eduardo
sendo Don e deixou entendido que havia uma conspiração interna, em
seguida, começou a se debater e a morrer em nossa frente, com uma risada
louca. Ele tinha se envenenado antes de vir, ele sabia que iria morrer.
Pegando os olhares horrorizados, papai pediu a foto que mandaram para
Giulia e sua expressão me deixou ainda mais arrasada. Ele não estava feliz
comigo, eu deveria estar com ela e ele sabia disso. Ele afirmou que os brincos
que Isabella usava tinham rastreadores. Eram de esmeraldas, eu e Giulia
tínhamos os mesmos. Eu anotei isso mentalmente, embora tivesse certeza
que papai fez isso mais por segurança do que qualquer outra coisa.
Pelos brincos, conseguimos a localização de Isabella e traçamos um plano
para surpreender os sequestradores. Fui para casa com papai, ainda atordoada
em culpa, tomei um banho, amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo.
Coloquei uma calça preta, botas e camisa também preta. Coloquei minhas
armas no suporte da coxa, um sobretudo e estava de saída quando minha mãe
entrou.
— Tem necessidade de você também ir, Milena? — Minha mãe estava com
olhos chorosos e vermelhos. Eu a abracei e segurei meu próprio choro.
— Vai dar tudo certo, mãe.
— Onde você estava Milena? — Ela se afastou e segurou meus braços. E foi
como um soco no meu coração.
— Mãe, por favor. Agora não. — Eu já estava me culpando suficientemente.
Saí e encontrei meu pai na sala. Ele ainda não tinha falado comigo, e eu
estava me sentindo péssima. Resolvi que não era hora de pressionar. O único
objetivo era assegurar que Isabella voltasse conosco.
O local era uma construção na saída da cidade. Eu e Giovanni entramos pelos
fundos com os outros soldados, minha ansiedade nas alturas. Eu queria matar
todos aqueles russos. Cada hora que algum aparecia, depois do olhar
surpreso, a única coisa que ele via era sangue e escuridão. Eu tentava ter uma
vida o mais normal possível, mas ninguém mexia com a minha família e
ficava impune. Eu estava focada e calada. Mesmo tendo Giovanni e os outros
soldados ao nosso lado, eu só os ouvia. Acho que estava deixando a todos
chocados, pois tinha duas armas nas mãos e nada ficava em movimento na
minha frente.
Encontrei Nero em uma porta, e ele nos deu sinal para entrar. No canto da
sala estava um colchão, havia um pouco de sangue e eu me apavorei com as
possibilidades do que poderia ter acontecido. Giulia e Eduardo estavam
armados e, quando olhei no canto direito, uma escada, e um homem estava
subindo com Isabella. Sem perder tempo, eu atirei em seu braço antes que ele
me visse. Eu queria atirar em sua cabeça, mas ele merecia uma morte bem
pior.
Ele soltou Isabella escada abaixo e meu coração se apertou. Eu e Giulia
corremos para nossa irmã, enquanto os homens perseguiam o maldito russo.
— Isabella! — Giulia gritou e a virou. Ela nos olhou com olhos sonolentos.
— Estou bem.
— Claro que você não está bem! — eu gritei chegando ao seu outro lado.
— Eu acho que só machuquei o pulso na queda. — Ela fez uma careta com o
desconforto.
— Ele te machucou? Ele… ele…
— Não, Giulia. Mas ele queria — ela disse.
Foi quando eu vi, na parte de trás do vestido de dama de honra, sangue
fresco. O que era aquilo?
— O que ele fez com você, Bella? — disse Giulia acompanhando meus
olhos. Na parte de trás do corpo de Bella, o vestido estava arruinado, com
uma buraco nas costas. Uma palavra em russo foi queimada ali. A dor em
meu coração fez as lágrimas finalmente descerem. Giulia segurou um soluço
com mais dignidade, mas eu soltei um grito que veio do fundo da minha alma
e reverberou pelo armazém. O desgraçado havia marcado minha irmã.

Os dias que seguiram após a tentativa de sequestro de Isabella foram


caóticos. Eduardo fora baleado, ficou em coma por três dias. Isabella teve o
pulso fraturado e não quis falar sobre o machucado nas costas. Giulia estava
cuidando da recuperação de Eduardo e muito abalada para qualquer outra
coisa, mas a única coisa que tinha em minha mente era vingança.
Ficou claro que Isabella tinha sido drogada na festa. E a responsável era
Sophia DeLucca. O principal objetivo era matar a minha irmã, a louca tinha
esperança de se casar com Eduardo. Com um telefonema, consegui a
localização de Nero, que estava em um dos restaurantes que pertenciam à
Famiglia[38]. De longe, vi o grandão. Resolvi procurá-lo porque, sim, estava
evitando Giovanni. E depois, Nero teve uma reação muito intensa ao
sequestro de Isabella, foi quase pessoal. E eu tinha algumas ideias formando
em minha mente, precisava confirmar.
— Oi, Nero.
Ele levantou o rosto, surpreso por me ver ali. Pediu licença para os outros e
veio falar comigo.
— Está tudo bem? — Suas palavras eram quase ansiosas, como se ele
quisesse perguntar mais.
— Sim, mas eu precisava falar com você.
— Certo. Venha comigo.
Ele me levou para os fundos, provavelmente para o seu escritório. Eu entrei e
sentei na cadeira de frente a ele.
— Eu quero matar Sophia DeLucca.
Seus olhos me fitaram, surpreso.
— Você sabe, mesmo que o pai dela esteja sendo investigado por traição, ela
e a mãe estão imunes. A Cosa Nostra protege mulheres e crianças. Homens
feitos não torturam ou matam mulheres de outros homens feitos, traidores ou
não.
— Foi ela quem drogou Isabella. Eu não estou pedindo para que vocês a
matem. Eu a quero morta.
Eu notei o olhar de morte de Nero com o que falei. Ele também a queria
morta. Algo sobre o que eu disse fez o seu conflito ir embora.
— O que você precisa? — Sua voz era gutural e mortal.
— Cobertura. Não conheço os armazéns de Nova Iorque, não sei onde vocês
levam as pessoas quando querem dar um fim. Preciso de informação.
— Quando estiver com ela, me ligue. — Ele me deu o seu cartão. — Eu
cuido do resto.
Era tudo o que eu precisava. Levantei e voltei para o carro. Eu sempre levava
minha segurança a sério, principalmente pelo momento. Eu ainda estava
engasgada com tudo e meu alvo era Sophia. Dispensei minha segurança e,
dirigindo, fui para onde sabia que ela estaria. No salão.
Quase ri.
Liguei para Giulia.
— Milena.
— Eu vou matar Sophia.
— Passa aqui e me pega.
— Tem certeza?
— E leve Isabella. Esta vingança é dela!
Foi o último dia da vida de Sophia DeLucca.
Capitulo 10

— F omos treinados da mesma forma, consigliere[39]. É melhor


me matar, pois não direi uma palavra. — Dei mais um soco em sua
mandíbula já inchada.
— Palavras corajosas para alguém em sua posição. Amarrado, espancado e à
mercê de Ethore e Enzo — eu disse para Elano DeLucca com mais um soco,
agora em seus ferimentos no abdômen.
— Eu te vi crescer, garoto.
Não contive e soltei uma gargalhada amarga, mas logo ela foi morrendo,
sendo substituída pelo meu olhar assassino. Sim, esse traidor era amigo do
meu pai, e mesmo assim conspirou e ajudou na morte dele.
— E isso não o impediu de conspirar contra sua própria gente, ajudando
aqueles malditos russos. Eu sei que você está protegendo alguém, Elano. Eu
não tenho o dia todo.
— Vocês mataram minha filha. Vocês também estão pisando nos preceitos da
Cosa Nostra, torturando e matando mulheres.
— Tecnicamente, não fomos nós que matamos sua filha. Chame de justiça
divina, lei do retorno, o que você quiser, Elano. Ela mexeu com quem não
deveria.
— Aquelas puttanas[40] Castelle irão morrer, assim como toda a sua corja. Eu
sempre soube que vocês seriam a ruína da Cosa Nostra, mas tive certeza no
dia que Eduardo escolheu aquela figlia de una cagna [41]para ser esposa e não
minha Sophia. Mas vocês irão cair, a pena é que eu não estarei aqui para ver
a queda de vocês.
Elano não iria falar. Ele não diria uma palavra a respeito de quem estava
protegendo. Eduardo e Giulia viajaram para passar um tempo na Itália e eu
fiquei no comando.
A Cosa Nostra e a Bratva geralmente se ignoravam a maior parte do tempo,
ou se atacavam indiretamente. Mas essa série de ataques contra a elite da
Cosa Nostra nos colocava em outro nível de confronto. A Bratva era
governada pela família Ivanov, descendentes da realeza russa, até por volta
de 12 anos atrás e vivíamos pacificamente. Um massacre matou toda a
família Ivanov e os Nikolai estão no poder desde então.
O que sabemos até agora não é nada animador. Dimitri Nikolai, atual
Pakhan[42] da Bratva, quer que entreguemos o filho sobrevivente de Bóris
Ivanov, o antigo Pakhan. Enrico Castelle tinha uma estreita relação com o
antigo Pakhan e escondeu o verdadeiro herdeiro da Bratva em nosso
território, bem embaixo de nossos narizes, e mesmo com a arma de Nero
apontada para sua cabeça, ele não disse quem é.
Sei que Eduardo só o deixou viver por Giulia. Tenho que reconhecer, o
Sottocapo da Filadélfia foi firme, não implorou e nem se desculpou.
Mantivemos Elano aqui por quase três semanas, mas tudo o que tinha que
tirar desse traidor já foi tirado. Ele era um cadáver respirando. As coisas
estavam calmas, mas eu poderia dizer com certeza que ainda não havia
terminado. Eu dei-lhe uma facada no abdômen e falei, torcendo-a:
— Eu posso não saber de tudo agora, mas eu vou descobrir. E como tudo que
tentaram até agora, vai se virar contra vocês. — Me afastei lentamente
enquanto ele gemia. — Elano DeLucca, você é acusado de conspirar contra a
Famiglia[43], por tentar sequestrar Anita Santorelli, por sequestrar e torturar
Isabella Castelle e matar Salvatore Maceratta. Sua punição é tortura e morte.
— Me virei para Enzo e Ethore. — Faça o sofrimento dele durar.
Os gêmeos executores deram um sorriso de puro deleite e eu me afastei.

Já tinha se passado três semanas.


Três semanas que eu não via Milena, desde a manhã após o casamento de
Eduardo e Giulia. Ela deveria estar junto da irmã e da família depois do susto
que passaram. As coisas já não eram as mesmas, o clima sobre tudo o que
tinha acontecido deixou o desconforto da insegurança pairando no ar. Ficar
no comando por esses dias me fez sentir o peso da responsabilidade que
enfrentaria de agora em diante.
Nero estava seguindo obsessivamente todos os passos de Isabella. Dimitri
Nikolai prometeu voltar para pegá-la, acreditando que ela pertencia a ele. Isso
fez com que sua segurança fosse alta prioridade, e Nero cuidava
pessoalmente, pedindo relatório diário de todos os seus passos.
Dirigindo por Nova Iorque, passei nos arredores da Universidade da
Colúmbia. Eu poderia tentar me enganar, fingir que estava passando apenas
por passar, mas, no meu íntimo, eu sabia que estava passando na esperança
de ver Milena. Eu sabia que ela estava fazendo algumas aulas por aqui,
embora não soubesse sobre o que ou a duração, mas sabia que, nesse horário,
Ludo a pegaria e a levaria ao apartamento.
Ela não me procurou.
Eu também não procurei por ela.
Quando precisou, procurou por Nero e, mesmo que eu queira negar, senti
uma ponta de traição por ela não ter vindo a mim.
Parei em uma das saídas, pois reconheci o carro de Ludo. Ela deveria sair por
aqui. Esperei até ver a figura que tem invadido meus sonhos e meus
pensamentos. Eu acho que estava um pouco obcecado por Milena, o que era
uma ironia do caramba, pois, ela não parecia tão afetada quanto eu. Ela parou
na saída, mas não foi para o carro. Estava com calça jeans skinny, botas de
salto, cano longo, e um casaco preto. Na cabeça, um chapeuzinho de crochê
que a deixava com um ar fofo. Solto um suspiro frustrado, desde quando
alguma garota é fofa? Eu devo ter ficado com algum problema depois de
tudo. Um efeito passageiro pela onda de ataques que vínhamos sofrendo. É
isso.
Ela ligou para alguém e virou na direção contrária. Ela entrou no café
próximo, eu me vi saindo do carro e indo atrás dela. Vi quando ela sentou em
uma mesa próxima à janela e ficou olhando o movimento da rua. Ela não
deveria facilitar assim, não com tudo que está acontecendo. Entrei no café e
vi exatamente quando ela sugou o ar ao encontrar meus olhos. Me aproximei
e sentei na cadeira em sua frente.
— Olá — ela disse com calma.
— Você não deveria sair assim, sozinha. Não com tudo o que está
acontecendo — falei antes que conseguisse controlar minha língua, já me
preparando para sua resposta mordaz. Mas ela só me olhou enquanto
bebericava seu café.
— Ludo está lá fora, e sua equipe também está agora. Estamos seguros — ela
disse. Sem revirar os olhos, me socar ou dar uma má resposta. Ela parecia
cansada e até um pouco triste.
— Mesmo assim, você não deveria facilitar. Estamos em guerra. — Minha
voz saiu um pouco mais suave.
— O que você está fazendo aqui? — ela perguntou depois de alguns
segundos. Seu tom não tinha nada mais que curiosidade.
— Estava passando, vi você sair e entrar aqui. — Ela se recostou na cadeira e
suspirou olhando para o lado de fora.
— Precisava respirar um pouco. — Seu olhar estava perdido nas pessoas
andando lá fora.
— Como você está? — eu perguntei me inclinando para ela.
— Estou bem, eu acho.
— E Annabelle? — Isso fez com que sorrisse e, cazzo[44], me vi sorrindo de
volta. Eu preferia ela sorrindo ou me respondendo mal do que vazia assim.
— Isabella está bem. Na verdade, não dá para saber com ela, nunca dá. —
Um olhar sombrio passou em seu rosto — A questão é que meu pai só está
esperando Giulia voltar da Itália, ele precisa voltar para Philly, e Isabella vai
ficar comigo.
Isso me surpreendeu. Ficar com ela? Ela iria ficar? Eu sabia de suas aulas,
mas não achei que ela ficaria só.
— Você vai ficar por quanto tempo? — Eu estava ansioso pela resposta.
— Um ano. Ou mais, tudo depende. — Agora seus olhos estavam nos meus.
— Isabella está em terapia, embora diga que não tem necessidade. Papai acha
mais seguro para ela estar em Nova Iorque por enquanto, mas ele precisa
voltar. Então ela foi transferida para a Companhia de ballet daqui e vamos
ficar juntas.
— Não se preocupe, Nero está cuidando de todos os passos dela, quase
obsessivamente. — Nós sabíamos que Isabella era um alvo para Dimitri
Nikolai. Ele a queria, então, se quiséssemos pegá-lo, teríamos que nos
antecipar a qualquer ataque dele. Olhei para sua pasta e vi vários desenhos de
roupas e acessórios. — Moda, hein?
Seu olhos se iluminaram quando respondeu:
— Sim, eu amo isso. Sempre desenhei minhas roupas e das minhas irmãs,
quando tínhamos algum evento especial. Fazer esse curso intensivo com a
Chantal Meyer vai me abrir muitas portas. Quero criar minha própria marca
e, quem sabe, uma loja exclusiva. — Ela, de repente parou e ruborizou um
pouco. Ruborizou. — Oh, me desculpe. Geralmente eu me empolgo falando
sobre isso.
Eu nunca quis saber mais sobre uma garota do que o quanto ela estava
disposta a abrir as pernas. Percebi que Milena também não era muito boa
sobre conversar, e eu estava gostando de saber mais sobre os interesses dela.
— Não tem que pedir desculpas. É bom… ouvir você. Tomara que quando
você se casar, seu marido...
— Eu não vou me casar. Nunca. — Sua voz foi implacável. Ela estava segura
disso e algo me incomodou. O que era uma bobagem, porque casamento era
ainda uma realidade ilusória para mim. Embora eu tivesse o dever de me
casar um dia.
— Eu jamais me casaria também, mas não tenho essa opção.
Ela me deu um sorriso conhecedor, o qual eu retribui. Eu sei o que ela estava
pensando, que não sou material para marido, e eu concordava com ela. Nesse
momento o celular dela tocou.
— Ludo, já estou saindo. — Ela aguardou mais alguns segundos e desligou.
— Preciso ir. Eu só precisava de um café — Ela colocou a mão em meu
antebraço — Obrigada pela companhia.
Seu sorriso foi genuíno e, enquanto ela se levantava para se afastar, eu
segurei seu braço. Ela me olhou e engoliu em seco, sentando novamente com
um olhar ansioso. As palavras saíram antes que eu pudesse contê-las.
— Eu quero você. — Minha voz saiu estranha até mesmo para mim.
— Giovanni…
— Aqui. — Dei meu cartão com meu telefone. — Me ligue. Se precisar de
qualquer coisa, sabe que pode me ligar.
Lentamente coloquei meu cartão em suas mãos percebendo que suas palmas
estavam transpirando. Ela pegou o cartão, seu olhar encontrou o meu. Ela
limpou a garganta e desviou o olhar, levantou e se foi. Suspirei e passei meus
dedos pelo cabelo. Eu só poderia torcer para que ela me procurasse.
Capitulo 11

M inha mãe estava em modo drama. Embora dessa vez fosse


muito justificado, ela iria voltar sozinha para Philly, eu e Isabella ficaríamos
em Nova Iorque. Filadélfia era fronteira com o território da Bratva, Nova
Iorque era o lugar mais seguro no momento para Bella, junto de mim e de
Giulia. Mamãe não deixaria papai sozinho, mesmo que estivesse de coração
partido por ir sem suas bambinas[45].
Eu ainda me sentia culpada por tudo. Estava comendo pouco, me sentia triste
e desanimada, nem o curso com a Chantal estava me animando. Ficava a
maior parte do tempo em meu quarto e evitava conversar com qualquer
pessoa. Talvez se eu estivesse com Bella, ela não teria sido levada. Ela não
teria passado pelo que passou. Eu sentia que meu pai estava frio comigo, sei
que ele pensava o mesmo. Hoje eles estariam voltando para Filadélfia.
Várias vezes olhei o cartão que Giovanni me deu há uma semana, quase
entrei em contato, louca para falar com alguém que não fosse minha família.
Mas eu diria o quê? Para desabafar como amigos fazem? Um flashback?
Embora eu tivesse gostado da nossa conversa no café, ainda éramos
estranhos.
Com meus pais voltando para casa, não admirei quando papai me chamou em
seu escritório. Era hora da conversa que se arrastou silenciosamente entre nós
dois ao longo dessas semanas. Entrei no escritório e me sentei como quando
eu era uma garotinha.
— Milena, como você está?
— Estou bem.
— Giulia agora está casada e tem a vida dela. Eu estou confiando em deixar
você e Isabella no apartamento, mesmo que Eduardo tenha proposto de vocês
ficarem com eles.
Eu continuei em silêncio.
— Milena, eu sei que você tem o seu próprio estilo de vida e eu sempre fui
maleável com você. Não se engane pensando que eu não sei das suas
atividades. Eu sei de tudo Milena. Tudo.
Me encolhi na cadeira. Muito ruim seu pai saber das suas atividades sexuais.
Eu era uma garota má. Meu pai colocou as duas mãos em sua cabeça e
respirou fundo.
— Eu quero que você se cuide, aqui não está em casa. Não me envergonhe,
siga o protocolo e… seja discreta com sua vida.
Eu sempre soube que papai sabia das minhas escapadas, mas nunca
conversamos sobre isso. Ele ignorava o fato de eu fazer e eu ignorava o fato
dele saber. Eu senti minha face queimar e uma pontada no coração. Mas ao
mesmo tempo senti alívio. Eu não gostaria de mentir para meu pai, que nunca
foi nada além de bom para mim.
— Certo.
Com seu silêncio, eu me levantei ainda com os olhos no chão. Estava
mortificada de vergonha. Quando coloquei a mão na maçaneta, senti meu pai
me virar pelos ombros. Encontrei seu olhar especial, de cores diferentes, que
sempre chamou a atenção. Ele me envolveu nos braços e me abraçou. O nó
em meu peito apertou e eu segurei as lágrimas.
— Não foi sua culpa, não deixe pensamentos assim te consumirem. Você
sempre foi a luz dessa família, a alegria. Me desculpe se eu te fiz se sentir
culpada. Eu te amo, bambina[46].
E eu chorei. Chorei tudo o que estava segurando nos últimos dias. Meu pai
me segurou e me embalou como quando eu era uma garotinha e eu chorei
mais. Porque eu tinha sido abençoada com a minha família, que sempre
estava lá por mim. Porque eu não poderia ter um pai melhor, ele era parceiro,
amigo e o distanciamento das últimas semanas tinha me matado por dentro.
— Também te amo, pappa[47] — disse entre lágrimas. Ele me apertou mais e
eu soube que tudo ficaria bem.
Dois dias depois que meus pais se foram, eu e Isabella estávamos nos
adaptando à nova rotina. Pappa deixou Ludo como responsável principal pela
minha segurança com algum reforço, pois tinha medo de que eu fosse um
alvo para atingir Giulia ou mesmo Bella. E quanto à Bella, ela estava
inteiramente na responsabilidade de Nova Iorque. Eu sabia que Nero estava
cuidando pessoalmente de todos os seus passos. Embora eu ainda tivesse
dúvidas de que toda essa dedicação fosse apenas profissional.
Bella ficava quase o dia todo no estúdio de ballet, uma vez por semana ia na
terapia e auxiliava a professora dando aulas para crianças. Segundo a
terapeuta, seria bom para ela. Olhando para minha irmã, ela parecia a mesma,
como sempre.
Me aconcheguei ao seu lado no sofá, onde ela assistia um filme de terror
embaixo de uma coberta, e fiquei fitando o celular. Salvei o número de
Giovanni, mas ainda não tinha coragem de entrar em contato. Isso era
perigoso, era burrice, eu sabia, mas a questão é que eu queria ficar com ele de
novo.
— Seu silêncio está gritando. — Ela estava comendo pipoca olhando para a
TV.
— O que você quer dizer? — Perguntei.
Será que falei em voz alta?
— Você deveria ligar — disse ainda olhando para a TV. Arregalei os olhos e
congelei.
— Do que você está falando? — eu falei em voz alta sobre Giovanni,
cazzo[48].
— Eu não sou boba, Milena.
— Não tenho ideia do que você está falando. — Melhor fingir demência.
— Eu achei o cartão de Giovanni no seu quarto. Eu também sei que vocês
ficaram juntos. — Agora ela virou para mim.
— Como você sabe sobre isso? — Minhas mãos começaram a suar. Não que
não confiasse em Isabella, mas, poxa, será que dei tanta bandeira assim?
— Eu vejo as coisas. Todas essas brigas? Tensão sexual, ela irradia quando
vocês estão próximos. — Empalideço. Merda, mais um motivo para não
entrar em contato, deixar isso para lá. — Eu vejo porque sou sua irmã, Mi.
Você quer, ele também. Você deveria parar de ter medo e ver onde isso leva
vocês.
— Claro que não. Não é assim, é apenas sexual, sem emoções. Não vai nos
levar a lugar algum além da cama — digo com firmeza, mas ela continua
sorrindo.
— Claro! — Isso foi quase irônico — Então não tem por que ter medo de ir
além se você está segura dos limites.
Eu pensei sobre isso. Olhei meu telefone, eram 20:00. Será que ele estaria em
casa? Ele deveria estar em algum dos clubes, pensar isso me deu um nó no
estômago. Sem pensar, eu me levantei do sofá e liguei. Isabella estava
sorrindo, e eu queria socar a cara dela.
— Giovanni Maceratta.
Sua voz fez meu coração bombardear no peito.
— É a Milena. — Silêncio. Droga, será que fiz mal? Nunca me senti tão
insegura. Só falta ele me perguntar “Milena de onde?” — Você está
ocupado? Posso ligar outro dia — disse de repente, desesperada para desligar.
— Não! — Sua resposta foi quase um grito. — Não, não estou ocupado. Só
fiquei… surpreso.
Senti o nó do peito se afrouxar. Ficou até mais fácil respirar.
— Eu, bem. — Limpei a garganta. — Eu queria falar com você. Está em
casa?
— Sim, estou sim. — Ele parecia ansioso.
— Então, em 30 minutos, eu estou aí.
— Eu vou te aguardar — Sua voz saiu rouca. Eu senti meu corpo estremecer.
Eu desliguei e Isabella continuou com o sorriso arrogante no rosto. Joguei
uma almofada nela e fui para o quarto me arrumar. Ter irmãs, às vezes, era
irritante.
Era primavera, mas, à noite, o vento ainda estava gelado. Coloquei uma meia-
calça grossa, de lã preta, uma bota cano curto, um vestido branco básico, com
uma manga longa. Peguei meu casaco, só para o caso de esfriar. Amarrei o
cabelo em um rabo de cavalo frouxo, maquiagem mínima e fui para o
apartamento de Giovanni. Resolvi ir dirigindo, mesmo tendo certeza de que
alguém da segurança me seguia. Ludo reportaria ao meu pai, mas eu não me
preocupava.
Eu estava ansiosa. Quando parei em frente ao seu condomínio, fiquei
surpresa por não terem me perguntado nada. Só liberaram minha entrada.
Quando cheguei à sua porta, respirei profundamente duas vezes e bati. Ele
abriu a porta com uma calça de moletom, sem camisa. Minha boca ficou seca
e foi difícil olhar em seus olhos. Uma verdadeira provocação. Ele se afastou e
eu entrei, olhando seu local agora iluminado. Na última vez em que estive
aqui, não consegui prestar atenção nos detalhes.
— Oi — eu disse um pouco sem jeito.
— Oi — ele respondeu e me indicou o sofá. Tão estranho, nunca fiz essa
conversa e, pelo jeito, ele também não. — Quer beber alguma coisa?
— Não, obrigada.
Ficamos ali, sentados no sofá, eu apertando uma mão na outra. Que merda.
Eu tinha vindo aqui porque queria ficar com ele e estava me comportando
como uma virgem. Olhei para seu corpo e senti um calor em minhas veias.
Minha vontade era de subir em seu colo, eu não era boa com as palavras,
ainda mais nessa situação. Eu me levantei e fui até a janela de vidro que ia do
chão ao teto e tinha uma fantástica vista para a cidade. Fechei os olhos e me
muni de coragem. Ele disse que me queria, era só abrir a boca e dizer
exatamente o que eu queria.
Virei-me para ele, que estava ainda sentado olhando para mim um pouco
confuso. Me aproximei dele, parei em sua frente, e ele engoliu seco.
— Eu vim porque eu também quero você — disse em um sussurro.
Seus olhos brilharam em mim, suas mãos se levantaram e pararam em minhas
coxas, elas subiram lentamente por baixo do vestido e minha respiração ficou
mais curta. Era eletricidade pura. Suas mãos eram grandes e apertaram as
bochechas da minha bunda enquanto eu continuei parada curtindo a sua
exploração. Ele puxou a minha meia junto com a calcinha até o tornozelo e
eu já estava molhada. Depois, me ajudou a tirar as botas junto das meias e a
calcinha. Eu estava em sua frente somente com meu vestido.
Sentir suas mãos em minhas pernas nuas foi outro nível de excitação. Ele era
sexo puro, lindo e mortal. Ele puxou minhas pernas para o seu colo e eu
estava montada nele no sofá. Ele tirou meu vestido e tinha algo muito erótico
em estar em seu colo totalmente nua, enquanto ele ainda vestia uma calça,
que não escondia nada de sua excitação. Hoje não tinha uma disputa de
poder, não tinha pressa. E eu estava rendida para receber o que ele me desse.
Porque as últimas semanas minhas emoções tinham sido brutais.
Ele acariciou meus seios, sugou-os sem pressa. Brincou com meu corpo até
eu me sentir inflamada e tudo o que pude pensar e sentir era somente ele.
— Você é tão perfeita — ele disse enquanto suas mãos me exploravam e sua
boca beijava meu pescoço. — A única palavra que definiu você desde que eu
te vi pela primeira vez. Perfeição.
Ele era perigoso. Eu estava sentindo coisas que nunca me permiti, mas
resolvi não pensar sobre isso no momento. Eu só queria sentir e pensar nele e
na sensação de estar aqui agora. Me ocorreu então que ele ainda não tinha me
beijado. Eu tinha que acabar com essa suavidade e acabar com qualquer
confusão. Me aproximei da sua boca, ignorando o quanto aqueles olhos azuis
intensos poderiam me ler, mordi seu lábio inferior e o puxei. Ele sorriu, o
sorriso safado que eu tanto gostava, apertou minha bunda a ponto de me fazer
suspirar e eu me senti normal novamente.
Eu arranhei seu pescoço e sorri de volta, meu próprio sorriso predador. Ele
me levantou, eu quase gritei de susto, e tirou a calça, sentando novamente.
Ele tirou uma camisinha do bolso da calça e deslizou em seu membro.
— Me monta.
Foi dito como uma ordem e pela primeira vez eu não estava nem um pouco
incomodada em obedecer. Guiei seu pau em minha entrada e desci
lentamente. Ele jogou a cabeça para trás no encosto do sofá e soltou um
gemido que acompanhou o meu. Quando ele voltou seus olhos aos meus, eles
estavam selvagens, Giovanni me firmou pelo cabelo e me beijou
selvagemente. Foi um beijo duro enquanto eu apertava seus ombros com
minhas unhas, afundando em sua carne. Foi ficando mais intenso ao mesmo
tempo em que eu cavalgava histericamente, uma sensação impossível de
controlar, como o orgasmo que me consumiu.
Giovanni não esperou minha recuperação, ele me virou no sofá, deixando
minhas costas em seu peito, minha bunda no ar. Ele mordeu minhas costas e
baixou sua boca até minha bunda. Ele alternou beijos e mordidas até alcançar
o meu núcleo. Eu estava aberta, literalmente sob seu domínio. Eu estava
enlouquecendo novamente, enquanto suas mãos apertavam minha bunda a
ponto da dor, e com a exploração de sua boca em mim, era uma combinação
perversamente prazerosa. Ele me levou novamente ao limite e eu me senti
flutuar em um segundo orgasmo.
Novamente Giovanni levantou meu corpo puxando meu cabelo e entrou em
mim. Seus movimentos foram selvagens, duramente ritmados. Estávamos
suados, seu quadril batendo na minha bunda, me deixando excitada e
emocionada ao vê-lo perder o controle. Suas mãos em meus quadris
deixariam contusões, eu tinha certeza.
— Eu quero que você goze novamente — ele disse em meu ouvido,
segurando meu cabelo e levantando meu tronco. — Goze no meu pau,
Milena.
— Não posso....
Ele não me deixou terminar, seus dedos alcançaram meu clitóris, que já
estava sensível. Ele brincou enquanto me penetrava, e meu prazer começou a
ser construído novamente. Eu estava consumida. Eu não conseguia pensar em
nada que não fosse ele em mim ao choramingar palavras inteligíveis.
Atingindo meu terceiro orgasmo, eu mal consegui pensar. Ele voltou a
inclinar meu corpo para frente e bateu em mim fervorosamente.
Ele atingiu o ápice do prazer e soltou seu peso sobre mim. Alguns segundos
depois, eu me mexi para que ele saísse de cima, e ele ficou ao meu lado no
sofá. Olhei para ele, suado, seus lábios inchados, cabelo bagunçado, pescoço
arranhado. Eu deveria estar uma bagunça também. Eu só queria me virar e
dormir, mas tinha que voltar para casa. Como se visse através de mim,
Giovanni disse:
— Dorme comigo essa noite. — Sua voz era quase vulnerável.
— Eu tenho que ficar com Isabella… — Ele me cortou.
— Confie em mim, nada acontecerá com Isabella. Nero está cuidando dela,
ninguém que ela não queira vai entrar lá. — Eu sabia disso. Para Nero, virou
algo pessoal a segurança de Isabella, como se o rapto dela fosse, de alguma
forma, uma falha sua.
Eu pensei um pouco. Eu queria ficar e isso era o pior, porque eu nunca fiquei
para o dia seguinte.
— Amanhã tenho aula. — Tentei mais uma vez. Eu só não sabia se estava
tentando convencer a ele ou a mim.
— Eu te levo. — Isso me fez sorrir.
— Eu vim de carro.
— Melhor ainda. Você acorda e vai. — Ele era impossível.
— Não, eu preciso passar em casa e me arrumar, pegar meu material…
— Então você acorda cedo e vai. — Ele se aproximou e embalou meu rosto.
— Fica.
— Você não recebe muito não, né? — eu disse sorrindo e inclinando meu
rosto em sua mão.
— Só de você. — Seu olhar era intenso em mim. Esse cara era perigoso, eu
estava andando em uma linha fina permitindo essa proximidade.
Mas eu não consegui dizer não. Cazzo, eu estava desenvolvendo um fraco por
esse stronzo[49]. Me recusei a pensar no perigo disso e só curti a sua
proximidade. Eu assenti e ele me levantou nos braços indo para o quarto
encostada em seu peito quente. Era tão, tão bom. Hoje eu me permitiria ser
fraca. Só hoje.
Capitulo 12

A cordei com um corpo quente enrolado ao meu.


Eu não passava a noite com as mulheres que transava, mas, pela segunda vez,

passei uma noite com Milena. Eu tinha ficado surpreso com sua ligação,

depois de mais de uma semana, eu já tinha desistido e não iria persegui-la.

Não era da minha natureza me forçar a alguém.

Mas ela me ligou, me procurou. Ela também queria ficar comigo. Olhei para
a bagunça de seu cabelo no rosto, seu corpo nu, sua respiração.
Ela era letalmente linda.
Sem sua maquiagem, sem os saltos e as roupas de grife, ela era mais humana,
mas ainda assim ela era perfeita. Sem respostas espertinhas, sem o sarcasmo
marcando suas expressões, sem sua arma a reboque. Sem sua armadura. Ela
ainda era linda.
Seus olhos se abriram lentamente e focaram em mim. Logo ela se sentou na
cama um pouco desorientada.
— Que horas são?
— Cedo. Tome um banho, eu vou fazer um café antes que você saia. — Eu
não sabia que merda estava fazendo, mas achei educado oferecer um café.
Milena não me deu tempo. Ela empalideceu sob a perspectiva de tomar café
comigo. Se não fosse tão engraçado, eu poderia me sentir ultrajado.
— Não, não. Não é necessário. Eu vou embora, preciso me arrumar, cadê
minhas roupas?
Uma Milena totalmente perdida andava pelo apartamento pegando suas
roupas, falando consigo mesma coisas que eu não conseguia entender. Em
seguida, ela se trancou no banheiro. Eu fiquei ali na cama, olhando o teto.
Alguns minutos depois, ela saiu do banheiro, vestindo as roupas que veio na
noite anterior. Parou na porta do meu quarto, desconfortável, pegando sua
bolsa com o cabelo preso em um coque frouxo acima da cabeça.
— Bem, obrigada. Eu já vou indo.
Eu me levantei totalmente nu observando-a engolir em seco. Eu segurei seu
rosto e beijei sua boca duramente. Ela colocou suas mãos nas minhas, mas
não me afastou. Eu soltei seu rosto e dei o meu melhor sorriso.
— Eu vou te esperar novamente. — Ela estreitou os olhos.
— Você não acha que está assumindo demais? — Aí está. Minha bella[50]
selvagem e suas garras.
— Eu vou te esperar de novo, Milena — eu disse com mais firmeza. Ela quer
e eu também, não tem por que correr disso, aproximei meu rosto a uma
respiração do seu. — Isso entre nós não acabou. A gente vai, sim, continuar
com isso e ver onde vai levar.
— Isso não vai a lugar algum além da cama, Giovanni. Não pense que s...—
Eu a beijei novamente e não a deixei terminar. Ela lutou um pouco, mas
relaxou. Eu ficava mais alerta quando ela relaxava, então a soltei.
— Tem medo do quê? — disse enquanto ela apertava ainda mais seu olhos.
— Eu não tenho medo de nada! — Seu olhar era firme e seu tom implacável.
— Eu acho que você tem medo sim, medo de se apaixonar loucamente por
mim.
Ela gargalhou com isso. Meu riso quase escorregou.
Quase.
Ela se aproximou e ficamos a centímetros de distância.
— Eu volto essa semana, Giovanni. Eu vou usar e abusar de você e depois te
dar um belo de um Addio[51]— Ela me deu um selinho e saiu antes que eu
desse qualquer resposta, nada parecida com a Milena que acordou atordoada
e vulnerável.
Eu fiquei ali, olhando meu apartamento, dividido entre beijar e esganar
Milena.

Saí do estacionamento por volta das 11:00 da manhã, iria almoçar com minha
mãe e discutiria nosso primeiro plano de ação contra a Bratva. Sabia que
todos os ataques não ficariam sem respostas. Eu era estrategista e Nero
executava, e hoje Eduardo voltaria em ação após alguns dias na Itália. Saindo
do estacionamento, um vulto pulou em minha frente, pisei no freio e já
coloquei a mão em minha arma. Sempre tinha uma equipe e segurança me
seguindo, então logo eles estariam aqui.
Quando olhei melhor, suspirei em desânimo. Luísa. Ela bateu no vidro do
motorista e eu o desci.
— Você está querendo se machucar? — disse em um latido, já sem paciência
para outra louca.
— Você não me atende — ela disse com sua versão de voz sedutora.
— O que você quer?
— Eu só queria conversar. — Ela encostou na janela do carro.
— Não tenho tempo, estou atrasado para uma reunião.
— Quando você terá tempo? — Ela se aproximou mais.
— Nunca — eu resmunguei.
— O quê?
— Não sei, eu disse que não sei. — Eu era um homem das mulheres. Sempre
as tratei bem, sempre evitei ser estúpido e jamais fui violento. Mas Luísa
estava me pondo à prova.
— Eu posso ir com você e esperar você terminar. — Oh, Dio[52]. Tirei meus
óculos para que ela olhasse em meus olhos e não tivesse dúvidas das minhas
próximas palavras.
— Presta atenção, Luísa, eu estou atrasado, ocupado e não tenho tempo nem
vontade de falar com você. Desencosta do carro, por favor. E eu só vou pedir
com educação uma vez. — Ela arregalou os olhos e se afastou um pouco.
— Você disse que poderíamos ser amigos.
— Você parece uma perseguidora louca, não uma amiga. — Seu lábio tremeu
um pouco, mas ela logo endireitou a postura e colocou um sorriso brilhante
no rosto.
— Eu vou em seu apartamento hoje à noite.
— Nem pensar. — Essa garota era louca, desequilibrada, precisava de
internação ou de morrer para me deixar em paz.
— Libera a minha entrada, Giovanni. — Eu comecei a rir, mas foi de
desespero.
— Você é louca! — disse mais para mim do que para ela.
— Eu estou cansada de ser... — Antes que ela terminasse, e pouco me
importando que estivesse de frente para a avenida, eu segurei seu queixo com
força, trazendo seu rosto para perto do meu. Ela sufocou um grito de susto.
— Se você não se afastar, eu vou passar por cima de você, eu é que estou
cansado dessa loucura. Ela acaba aqui! — disse e apertei ainda mais seu
queixo com um sorriso maníaco — Não se aproxime de mim ou eu esqueço
que você é filha de um Caporígeme[53] e meto uma bala em sua cabeça!
— Você não pode me machucar! — Lágrimas desciam no seu rosto, mas eu
pouco me importei. Dei outra risada maníaca.
— Você não tem ideia de com quem está falando. Eu posso te matar sorrindo
e fazer parecer um acidente, garota. Não confunda meu bom humor com
fraqueza! Fica. Longe.
Soltei seu queixo, empurrando-a para trás e parti. Essa mulher era louca de
uma maneira péssima. Isso tinha que terminar, porque minha paciência já
tinha terminado.
Cheguei na casa da minha mãe, mas ainda estava alterado e nervoso.
— Figlio[54]! O que aconteceu com você?
Minha mãe sabe que quase nunca perco a calma. Geralmente sou razoável,
frio, não é à toa que sou o consigliere[55]. Sento-me no sofá com um suspiro
frustrado.
— Mãe, não quero mais Luísa aqui. Não quero ela perto da senhora e, se
possível, quero Talía longe dela também.
— O que aconteceu? Eu não sou fã dessa garota, mas ela é amiga da sua
prima, está sempre aqui com ela. Eu sempre desconfiei que era mais por sua
causa do que por mim. O que ela fez?
— Ela virou uma perseguidora. Me liga todos os dias, onde me vê tenta me
encurralar, eu não sei o que ela espera com isso, mas tudo que ela está
conseguindo é me fazer ter raiva.
— Ela quer casamento! — Escuto a voz de Tala entrando na sala da minha
casa de infância. Ela me dá um beijo, outro em minha mãe e se senta na
poltrona ao meu lado. Talía veio de Nova Inglaterra para estudar em Nova
Iorque. Ela quer ser médica. Ela conseguiu convencer seu pai, irmão de meu
e um Caporigeme em Nova Inglaterra, a ficar em um alojamento. Por ser
filha única, meu tio faz de tudo por ela. Até colocá-la em risco lá. Mas ela
disse que, antes de se casar, quer ter toda a experiência da faculdade como
uma universitária comum. Eu achava um absurdo, não era seguro.
— Dio! Giovanni, você prometeu algo a essa menina? — minha mãe disse
preocupada.
— Claro que não! Foi uma foda! — disse irritado.
— Giovanni Maceratta! — minha mãe disse em sua voz firme e eu me
encolhi.
— Mas a culpa é dele, tia. Ele não consegue controlar seu…
— Talía Maceratta! Per Dio[56]! Que palavreado horroroso é esse!
— Desculpe, tia. — Talía me deu um sorriso de canto.
— Aquela maluca apareceu no meu apartamento, tarde da noite. Eu nunca
prometi nada a ela — resmunguei.
— Ela me ligou. Chorando. Disse que você agrediu e ameaçou ela.
— Talía, quero você longe dessa garota. Bem longe — disse para minha
prima.
— Você não manda em mim, Gio — disse a pirralha.
— Eu sou seu consigliere! Essa garota está usando vocês duas para se
aproximar de mim, ela precisa ficar longe de mim, consequentemente longe
de vocês.
— Eu não vou deixar de ter amizade com ela porque você é um galinha! E eu
estou tão preocupada com o fato de você ser consigliere.
— Não me teste, Talía. — Eu estava no meu limite.
— Vai fazer o quê?
— Chega! Os dois! Talía, seu primo tem razão. Não traga mais essa garota
aqui e você está proibida de falar de Giovanni para ela. Você pode achar que
já enfrentou todos os tipos de perigos, mas uma mulher obcecadamente
determinada é o pior deles, figlio.
— Eu a mato.
— Giovanni...— minha mãe começou a me repreender.
— Tô brincando. — Eu não estava. — Mas quero que se afastem dela. Eu
sou o chefe dessa família agora. E se você não me escutar, eu vou falar com
seu pai! Aliás, ela nem é boa companhia para você.
— Não, imagina. Só para você quando quer “se divertir”.
— Eu não preciso discutir isso com você! Essa garota está te usando, estou
tentando te proteger também.
— Poxa, não é justo! Não tenho que pagar por seus erros!
— Chega! Os dois! Vamos almoçar em paz, e sua prima tem razão, o erro foi
seu Giovanni. Você não tem o direito de proibir elas de conversarem. Mas
nada de trazê-la aqui, Talía. E nem dê informações sobre o seu primo.
— Mãe, por favor, eu sou…
— E eu sou a sua mãe! Você pode ser o consigliere, mas ainda é meu filho e
me deve respeito. E já deu dessa conversa.
Dei um suspiro derrotado. Fomos almoçar e minha mãe começou a perguntar
sobre as aulas para Talía, dando o assunto por encerrado.
Nossas reuniões costumavam acontecer no Vecchio, o melhor restaurante
Italiano de Nova Iorque. Ele pertencia a Nero. Depois que Eduardo se tornou
Don, as reuniões menores aconteciam aqui.
Entrei no Vecchio e fui direito para o escritório de Nero, onde Eduardo já
estava.
— Está atrasado. — Eduardo disse.
— Pelo jeito, as férias não melhorou o seu humor.
— Pelo contrário! Estou em meu melhor humor! — Me joguei no sofá. —
Você parece terrível.
— Eu acho que faço uma ideia do que seja. — Nero olhou em minha direção
— Luísa.
— Eu não quero falar sobre essa garota.
— Deveria ter pensado nisso antes. Espero que tenha aprendido a não se
meter com as meninas da Famiglia[57], a não ser que queira se casar com
alguma.
Pensei no furacão Milena. Eu achava bem difícil ela ficar louca igual Luísa,
então disso eu estava seguro. Começamos a conversar sobre os ataques. Nero
disse que as fronteiras estavam silenciosas no mês que transcorreu. Nenhum
ataque da Bratva, nenhuma ameaça.
— O silêncio me deixa ainda mais alerta — disse Eduardo pensativo.
— Eles estão planejando algo. Algo grande. — Nero concluiu.
— Temos que nos antecipar. Meu palpite é que façamos uma armadilha. —
Os olhos de Nero estreitaram em mim.
— O que você sugere? — perguntou Eduardo.
— Uma isca. O que Dimitri Nikolai mais quer, além do Ivanov que não
sabemos quem é?
— Nem pense nisso. — disse Nero com o maxilar travado.
— Isabella Castelle. — eu disse sorrindo.
— Não. — Foi um grunhido.
— Ela estaria segura, nada aconteceria com ela. Só daremos a impressão de
que ela está vulnerável. Não é como se ela não soubesse se defender. — A
menina poderia matar comendo um chocolate.
— Eu não vou permitir isso de maneira alguma, Giovanni. — Nero olhava
furiosamente para mim. Punhos cerrados e a boca em uma linha fina. Ele era
assustador quando queria, mas eu também era.
— Qual o seu problema? Ele está obcecado por ela. Essa é a nossa vantagem
sobre ele. — Isso era lógica.
— Não! Esqueça isso!
— Eu acho que deveríamos falar com ela. Tenho certeza que ela concordaria.
— A garota era firme, tinha treinamento. Ela só foi levada porque tinha sido
drogada.
— NÃO! — Nero disse com um soco na mesa. Ficamos ali em uma disputa
de olhar. Ele estava sendo irracional. Se quiséssemos aniquilar a ameaça de
vez, deveríamos ir em quem importa: Dimitri Nikolai.
Eduardo perdeu a paciência.
— Chega! Não vamos colocar a irmã da minha esposa em perigo, precisamos
pensar em outro plano.
— Poderíamos ao menos falar com ela? Não vamos deixá-la desprotegida,
jamais faria uma proposta assim. Estou propondo a participação dela.
— Giulia não vai concordar… — Eduardo pareceu pensar em voz alta. —
Vamos ver. Vou pensar sobre isso.
— Isso é loucura!
Nero me fulminava com os olhos. Eu estava muito desconfiado dessa
superproteção com Isabella já tinha alguns dias. Eu achava, no início, que era
orgulho ferido, até um pouco de culpa por estar responsável pela segurança
no dia que ela foi sequestrada. Mas, para uma pessoa razoável, Nero estava
quase irracional.
Conversamos mais alguns minutos sobre outros tópicos. Nero disse que
atacou alguns laboratórios da Bratva, mas não houve respostas. Nenhum
contra-ataque.
— A família Nikolai é composta por Dimitri, sendo o atual Pakhan [58]e, ao
que tudo indica, ele matou o pai. Ele tem uma irmã e um irmão. E atividades
sexuais masoquistas. O conselho na Rússia não está feliz em como ele está
gerindo as coisas por aqui, então isso justifica seu desespero com a
possibilidade de ter um sobrevivente Ivanov. Ele tomaria o posto sem
nenhum trabalho — eu disse.
— Devemos coletar mais informações. Sobre a família, os hábitos e,
principalmente, sobre Dimitri. Pelo preço certo, as pessoas falam. Eu preciso
de alguém de confiança lá. — O olhar de Eduardo para em mim. — Preciso
que você vá à Ohio, Giovanni. Alguns poucos soldados, Nero selecionará os
melhores. Ninguém deve saber que você irá. Ninguém. Tente coletar o maior
número de informação possível. Eu mandaria outra pessoa, mas preciso de
alguém de minha confiança lá.
Concordo com um aceno.
— Vamos nos manter alertas. Eles estão planejando algo, avise aos outros
Sottocapos[59]. Nada de baixar a guarda. Se organize para ir na semana que
vem.
Capitulo 13

E ra sábado e estávamos jantando na casa de Giulia.


Ela estava radiante e eu estava feliz por ela.

— E sabe o que ela disse? Que eu era muito inteligente, seria a primeira da
minha turma — Anita contava delirante de alegria sobre as aulas na nova
escola. Eduardo tinha permitido que ela fosse à escola presencial, graças à
insistência de Giulia.
— Que bom, querida. Mantenha isso! Nos orgulhe sempre! — disse minha
irmã. — E você, Milena, como está o curso?
— Estou amando. Chantal é exigente, mas é maravilhosa. Tão elegante, tão
talentosa. Me sinto sortuda por ter sido selecionada.
— Você merece, Mi. Fico feliz por você — Giulia se vira para Bella. — E
você, Bella? Vocês ficam tão ocupadas durante a semana, mal sei de vocês.
— Estou bem. O ballet toma todo o meu tempo, e entre terapia e as aulas
com as crianças, não tenho tido muito tempo.
— Fico feliz que esteja ocupando o seu tempo. E que esteja bem. — Giulia
estava pisando em ovos com Bella desde o sequestro. Ela se sentia culpada,
eu sabia disso. A indiferença de Bella não ajudava. — Você está fazendo
amizades?
— Vamos fazer uma temporada de apresentações mês que vem. Será no
Lincoln Center. E, sim, não tenho problemas com ninguém, me receberam
muito bem.
— Que maravilha, fico feliz maninha! — Giulia apertou a mão de Bella por
cima da mesa.
— Que apresentação será? — perguntou Anita animada. Ela tinha começado
o ballet.
— Lago dos Cisnes.
— Que lindo! Quem você será? — Os olhinhos de Anita brilhavam
— Princesa Odette.
— Você vai ser a principal? Ed, eu quero ir, por favor, me deixe ir!
Eduardo olhou divertido para sua irmã quando respondeu.
— Claro, Anita. Vamos todos prestigiar Isabella. Só não se esqueça de passar
essa informação para a segurança, Isabella.
— Tenho certeza de que eles já sabem.
— Eu ficaria louca com esse monte de guardas — falei.
— É necessário. Eu fico mais tranquila sabendo que Bella está segura —
Giulia disse com firmeza e ainda me lançou um olhar furioso.
— Eu não gosto. Mas ninguém perguntou o que eu acho de nada até agora,
então… eu vou deixar vocês continuarem assumindo que sabem o que é
melhor para mim — Isabella disse tranquilamente.
Ficamos em um silêncio desconfortável. Ela tinha o dom de desequilibrar um
ambiente sem precisar de qualquer explosão emocional. Às vezes, sua frieza
machucava e ela não percebia. Eduardo e Giulia seriam irredutíveis quanto à
segurança de Isabella, independente do que ela achava. Eduardo pediu licença
para atender uma ligação. Eu resolvi quebrar um pouco da tensão.
— Realmente, fica difícil até para namorar. Gabriel Tommazzi que o diga.
— Milena. — Isabella estava um pimentão vermelho.
— Está namorando Gabriel, Bella? Mas isso é ótimo, ele é um garoto
adorável, sensível — disse Giulia.
— Claro que não estou! Milena está inventando isso. Talvez devesse
perguntar à Milena se ela está vendo alguém. — rebateu Bella com um
sorriso.
Stronza[60].
Cerrei os olhos em sua direção.
— O que vocês duas andam aprontando?
— Eu nada. Como se eu pudesse dar um passo sem que vocês soubessem. Já
Milena…
— Eu não estou aprontando nada! — eu disse rápido demais.
— Milena, cuidado. Não estamos em Philly.
O jantar perdeu a graça. Levantei e joguei o guardanapo na mesa.
— Eu sei que não estamos, Giulia. Eu já vou embora.
— Vamos, eu preciso arrumar algumas coisas também.
Nos levantamos e fomos para a sala, mas ainda ouvi o resmungo mal-
humorado de Giulia.
Eduardo voltou e a abraçou por trás, beijando seu ombro. Ela soltou um
suspiro feliz. Eles claramente se amavam.
— Em breve, eu também estarei ocupada. Irei treinar os novos soldados. Sou
faixa preta em várias modalidades de lutas e resolvi aproveitar disso.
Em Philly, Giulia já fazia esse trabalho. Aqui foi mais difícil, pois as famílias
eram mais conservadoras, mas, devagar, Giulia estava conquistando seu
espaço. Ela poderia derrubar qualquer um, pois tinha técnica. E Eduardo a
apoiava incondicionalmente.
Antes que saíssemos, escutamos a campainha. Não muito tempo, entra
Lorenzo, pai de Eduardo.
A tensão deles era palpável.
Esse homem me causava nojo e arrepio. Ele me olhava de um jeito que me
dava calafrios.
— O que você está fazendo aqui? — O maxilar de Eduardo parecia que iria
rachar.
— Acho que ainda faço parte da família. — Como não teve nenhuma
resposta, ele continuou: — Vim ver a minha filha. Já que ela não vai me ver.
Anita estava séria e visivelmente nervosa. Lorenzo parou o olhar em mim e
em Bella. Se aproximou e beijou a mão de Bella sem tirar os olhos de mim,
quando se aproximou, eu tive que reprimir o desejo de puxar minha mão. Ele
a beijou mais demoradamente e passou a língua discretamente.
Bile subiu em minha garganta e eu soltei minha mão em um movimento um
pouco brusco demais.
— Sempre selvagem, senhorita Castelle.
Eu não me importava quando Giovanni me chamava assim. Eu fingia que me
importava, mas, na verdade, eu sabia que era algo nosso. Mas vindo de
Lorenzo, me deu vontade de socá-lo na cara e arrancar a sua língua da boca
com uma adaga de Isabella.
Nojento.
— Eu já estava de saída. Com licença.
Puxei Isabella pelo braço e saí. Quando entramos no carro, Isabella disse.
— Não gosto do jeito que ele olha para você.
— Nem eu.
Com isso, fomos para casa. Ele não tinha como fazer nada comigo. Não sem
perder as bolas antes.
Quando chegamos em casa, fui direto para o meu quarto. Vi o horário, 21:30.
Tinha uma semana que eu não via Giovanni. Por duas vezes ele me mandou
mensagem perguntando se eu gostaria de ir até sua casa, mas eu estava muito
ocupada com o curso. Ele estava sugando meu tempo. Ontem ele não me
ligou, deveria estar com outras mulheres.
Pensar sobre isso me fez ficar de mal humor.
Droga, nunca tive um caso. Não sabia qual o protocolo. Olhei meu telefone e
estava prestes a deixar uma mensagem quando ele tocou.
Giovanni.
Atendi com meu coração acelerado.
— Alô.
— Eu quero você. — Sempre direto.
— Eu estou bem, Giovanni, e você? — disse com sarcasmo, mas suas
palavras fizeram meu ventre apertar.
— Vou ficar bem quando estiver dentro de você. — Esse homem era
impossível.
— Você é um safado.
— Você adora. — Revirei os olhos.
— Onde você está?
— Saindo da minha mãe. Jantei com ela e Talía. — Eu encontrei Talía
algumas vezes na cafeteria da universidade, mas nunca trocamos mais que
cumprimentos. Ela sempre tinha Luísa a reboque, então não tinha nenhuma
oportunidade de conhecê-la melhor.
— Passa aqui e me pega. — disse antes que perdesse a coragem.
— Traga roupa para passar o dia amanhã.
— De jeito nenhum.
— Ou não traga nada. De qualquer forma, eu prefiro você nua. Passo aí em
15.
Esse homem.
Coloquei meus itens de higiene e uma calcinha na bolsa. De jeito nenhum
que eu iria passar o dia amanhã.
Desci para esperar por ele no saguão. Meu telefone tocou.
— Ludo.
— A senhorita vai sair?
— Vou.
Eu poderia ouvir seu suspiro de desaprovação do outro lado.
— Só… só toma cuidado, tá.
— Pode deixar.
Ele desligou. Eu sabia que sair nesse horário era preocupação para ele. Ludo
era amigo do meu pai e com certeza diria a ele. Mas eu não estava
escondendo nada do meu pai. Só do resto da humanidade. Mandei uma
mensagem para Isabella, com certeza ela estaria dormindo já.
Reconheci a BMW de Giovanni.
Entrei no banco passageiro, coloquei o cinto, fechei a porta e enfim olhei para
Giovanni. Ele era lindo e sabia disso.
Era gostoso.
Perigoso.
Ele puxou meu pescoço e me beijou.
Eu senti seu beijo em todos os lugares do meu corpo e devolvi com a mesma
paixão. Eu sabia que isso tinha que parar, eu estava quebrando todas as
minhas regras. Mas, poxa, era tão bom.
— Oi, gatinha.
Eu sorri de volta e ele seguiu para o apartamento. Eu e Giovanni éramos fogo
e gasolina. Começamos a nos despir no elevador, cheguei no seu andar e já
tinha tirado casaco, sapato, mal entramos e ele já tirou minha roupa e a dele.
Chegamos ao quarto nus. Foi uma longa noite.

Acordei toda dolorida. Ainda conseguia sentir Giovanni entre minhas pernas.
Olhei seu rosto tão pacífico dormindo.
Seu cabelo bagunçado caindo na testa, minha mão coçou para arrumar.
Levantei minhas mãos para sua testa, mas antes de encostar, desisti. Isso era
burrice. Quando fui retirar, ele segurou minha mão, abriu os olhos e me
encarou sério, com suas piscinas azuis. Eu engoli em seco. Fiz menção de
levantar, mas ele veio por cima de mim e me prendeu com seu corpo. Senti
sua rigidez, pois estávamos ambos nus.
Giovanni estava sério, ainda segurando minha mão, ele beijou meu nariz e
minhas bochechas com uma ternura que eu nunca tinha sentido antes. Senti
minha garganta se apertar. Levantei a mão que estava solta, um pouco
trêmula, e arrumei o seu cabelo como queria fazer antes que ele acordasse.
Ele encostou sua testa na minha e fechou os olhos. Como se ele sentisse o
mesmo que eu. Me sentia nua por dentro, vulnerável.
Ele abriu os olhos confusos, como imagino que estavam os meus. O que
estávamos fazendo? Meu coração estava acelerado, a impressão de que me
faltaria ar. Presa por seu corpo, nossas batidas se misturavam, as suas tão
furiosas quanto as minhas.
Ele me beijou.
Foi um beijo doce, totalmente dissonante da noite selvagem que tivemos. Foi
um beijo mais emocional que carnal e este pensamento me trouxe de volta à
realidade.
Alerta.
Perigo.
Perigo.
Eu mordi sua boca com força e ele se afastou. Passei a língua em seu lábio
inferior e dei um sorriso safado.
Ele estreitou os olhos, pegou uma camisinha na cabeceira e não muito depois
entrou em mim. Com força.
Assim era melhor. Assim era mais seguro.
Foi mais uma foda dura.
Eu estava dolorida, mas eu morreria antes de reclamar, porque o orgasmo que
eu tive fez todo o desconforto valer a pena.
Capitulo 14

E nquanto Milena estava no banheiro, eu fui para a


cozinha. Nós tivemos uma noite selvagem. Era incrível como éramos

compatíveis sexualmente, ela era insaciável e capaz de me acompanhar por

todo o caminho.

Fiz café, algumas panquecas e só então pensei em quanto aquilo era


doméstico. Esperei o desespero, o desconforto, o alerta, mas nada.
Provavelmente porque eu tinha certeza que Milena não confundiria aquilo
com o que não era. Caramba, eu ainda estava esperando o surto dela a
qualquer minuto.
Eu senti falta dela durante toda a semana. Eu pensei em ir atrás na
universidade mais de uma vez, mas controlei o impulso. Eu não queria virar
um perseguidor, mas não ia negar, eu queria mais dessa garota. Muito mais.
Eu estava longe de acabar com ela. Enquanto eu pensava, ela saiu do
banheiro vestida com meu roupão.
— Eu te disse para trazer uma roupa.
— Eu só vim pelo cheiro de café. Mas logo eu vou embora.
Me aproximei, a puxei pelo roupão e passei meus braços pela sua cintura,
sentindo o cheiro floral de seu sabonete.
— Eu vou ficar fora por algumas semanas. Queria que ficasse hoje comigo.
Toda vez que eu falava assim, mostrando minha vulnerabilidade, Milena não
me negava. Eu estava começando a aprender como era o seu funcionamento.
Se eu fosse arrogante? Ela me chutava nas bolas e saía xingando como um
marinheiro, o que excitava da mesma forma. Eu deveria ter algum problema.
— Acho... acho que é demais. — Suas mãos estavam no meu peito, mas eu
sabia que já tinha ganhado essa batalha.
— Milena. Me escuta, isso que temos é algo bom. Por que não mantemos
assim? Vamos curtir o momento.
Seus olhos estavam enormes.
— Eu não sei como ter um caso. — Sua voz era quase ansiosa. Insegura.
Eu dei risada e ela beliscou meu mamilo. Com força. Eu belisquei sua bunda
e ela estreitou os olhos.
— Nem eu — disse por fim.
— Haha.
— Nada fixo. Eu tive uma namorada na escola, mas faz muito tempo. — Eu
beijei seu pescoço.
— E como funcionaria? — Sua voz estava instável.
— Você vem ficar comigo. Ou eu posso ir até você, mas não sei se é uma boa
ideia.
— Não quero que saibam. As coisas podem ficar ruins para mim, meu pai
ficaria envergonhado. E sem pensar que eu ficaria manchada.
Ela tinha razão. Se as pessoas soubessem, ela seria ridicularizada.
— Não se preocupe. Será o nosso segredinho.
Ela olhou meus olhos, parecia tão insegura como eu nunca vi, um sentimento
de proteção me tomou e eu a abracei.
Tomamos café e foi natural, ela me contou sobre o seu curso, eu me vi
escutando e gostando de suas novidades. Milena não era só um corpo perfeito
e uma deusa do sexo, ela era inteligente e, mesmo que mostrasse força e
segurança, ela tinha um lado vulnerável. Um lado que eu queria cuidar.
Eu estava tão ferrado.
Ela decidiu colocar uma camisa minha, já que ficaríamos no apartamento,
então ela foi para o quarto. Não muito tempo ela voltou, um rosto pálido em
horror com as passagens que estavam em minha cômoda.
— Você vai para Ohio? — ela quase gritou.
— Sim. — Eu estava sentado no sofá e só levantei a vista.
— Mas é território da Bratva. — Ela estava brava de um jeito fofo. Ainda
mais vestindo a minha camisa.
— Sim.
— Giovanni, é perigoso. Por que você vai?
Eu me levantei e aproximei dela com um meio sorriso.
— Está preocupada comigo? Achei que você queria somente abusar de mim.
Ela estreitou os olhos e se olhar matasse...
— Giovanni, isso é sério. Depois de tudo, você vai direto para a toca do
inimigo?
Me aproximei mais e falei em seu ouvido.
— Assim eu vou achar que você gosta mesmo de mim.
— Você não leva nada a sério? — ela disse empurrando meu peito.
— Eu tô achando lindo você se preocupar comigo.
Ela revirou os olhos.
— Deixa de ser carente. Qualquer pessoa que fosse para lá eu acharia
maluquice e me preocuparia. Você viu o que eles fizeram com a Bella, o que
queriam fazer com a Giulia, e mesmo assim vai até lá. Já pensou se você é
levado? Já pensou no que eles gostariam de fazer com o consigliere[61] da
Máfia Italiana?
Milena gostava de mim e ter conhecimento disso fez o meu sorriso ficar cada
vez maior. Ela estava muito brava e muito preocupada, então eu resolvi falar
sério. Eu a abracei, estava ficando viciado em abraçar Milena.
— Eu vou tomar cuidado. Nós precisamos responder os russos depois do que
fizeram.
Ela amoleceu em meus braços.
— Por que não mandam outra pessoa? — ela disse com o rosto em meu
peito. Eu comecei a rir.
— Achei que você ficaria preocupada com qualquer pessoa que fosse.
Ela pisou no meu pé, e eu sufoquei um gemido.
— Maledetto[62].
Eu e Milena passamos o dia juntos. Eu sabia que ela estava dolorida, então
não insisti em sexo. Só ficamos juntos e foi muito bom. À tarde, nós
assistimos a um filme, eu nem pude acreditar que estava ali no sofá, Milena
ao meu lado só com a minha camisa, tão natural.
Por volta das 14:00 horas, ela dormiu. Eu deitei ao lado dela no sofá e a
estudei em seu sono. Ela se aconchegou em meu peito e ele se apertou com
seu gesto inconsciente. Eu a apertei junto a mim e dormi também.
Acordei com a boca de Milena em meu pau.
Estava um pouco atordoado, mas percebi que já era noite. Milena pegou um
preservativo e colocou em mim, montando meu corpo e descendo com um
suspiro. Eu me sentei e segurei sua bunda. Eu adorava sua bunda. Ela passou
os braços em meu pescoço e me beijou com suavidade. Seus movimentos
eram suaves.
Milena sempre ficava selvagem quando o momento ficava emocional demais.
Mas assim, no escuro, acredito que foi mais fácil para ambos.
Eu reverenciei seus seios, seu pescoço, enquanto ela buscava seu prazer
lentamente. Quando ele sacudiu o seu mundo, eu a virei no sofá, ficando por
cima e comecei a ritmar meus movimentos. E foi ficando a cada estocada
mais intenso. Tão intenso que eu me perdi novamente no prazer que seu
corpo me proporcionava.
Milena estava se tornando meu vício.
Minha fraqueza.
Minha obsessão.
Ficamos ali alguns minutos, curtindo o momento enquanto nossos corações
voltavam a bater normalmente.
Eu saí de cima de Milena e fui para o banheiro descartar o preservativo.
Minha mente estava turbulenta, uma sensação de aperto no peito. Eu não
poderia ser hipócrita. Essa coisa entre nós estava intensa. Estava diferente de
tudo que já experimentei, mas eu quebraria um braço antes de me afastar
voluntariamente de Milena.
Perdido em pensamentos, a senti atrás de mim. Suas mãos estavam em
minhas costas e foi suficiente para que aquela nuvem negra deixasse os meus
pensamentos. Tudo virou calmaria. Sua mão foi para meu abdômen e eu a
puxei para minha frente, beijando-a com ardor nos lábios.
Tomamos banho juntos. Foi confortável, mesmo que não tenhamos
conversado. Quando saímos, ela vestiu a sua própria roupa e começou a
arrumar as suas coisas.
— Eu vou te levar — ofereci, me lembrando que ela veio comigo.
— Não precisa, Ludo já está lá embaixo.
— Ele sempre cuidou de você?
— Desde os 11 anos. Ele também me treinou. — Eu já sabia que Milena era
ótima com armas. Ficamos ali, parados, olhando um para o outro quando ela
se aproximou de mim lentamente. Ela levantou o rosto e me deu um selinho.
— Se cuida, viu.
Antes que ela se afastasse, eu abracei seu corpo e a beijei com vontade, como
ela deveria ter me beijado em primeiro lugar. Quando estávamos ambos sem
fôlego, ela afastou o rosto.
— Eu vou tomar cuidado. E vou te ligar quando chegar — eu disse com os
olhos fechados.
Eu vou sentir saudades, eu queria dizer, mas as palavras não saíram.
— Tchau — ela disse por fim.
Ela saiu e eu fiquei ali, olhando meu apartamento vazio e esse vazio se
estendendo pelo meu peito.

No dia seguinte, antes que amanhecesse, eu estava no aeroporto. Documentos


falsos, boné, jaqueta, com mais dois soldados para não chamar muito a
atenção. Para quem olhava, parecíamos amigos viajando juntos. A guarda
estava alta.
Achei cedo para ligar para minha mãe, então mandei uma mensagem
avisando que estava saindo.
Assim que chegamos em Ohio, nos estabelecemos em um apartamento
localizado bem no centro de Columbus. Com um celular descartável, entrei
em contato com o informante de Nero. Ele poderia apenas pedir essa
informação, mas no momento não confiávamos em ninguém. O informante
poderia saber que estávamos em seu território, mas não sabia exatamente o
local. No apartamento, em um dos quartos montamos nosso arsenal de armas.
Ethore, um dos executores, veio conosco. O outro soldado foi Carlo, um
hacker que seria essencial nessa missão.
— O complexo fica no endereço que vou te mandar por mensagem. Também
mandei as informações que tenho dos irmãos de Dimitri. É quase impossível
entrar no complexo, então, para pegá-lo, deverá ser fora. Boa sorte.
Olhando a mensagem, abri os arquivos. Sentamos onde Carlo já montava
seus aparelhos, e analisamos o que tínhamos.
Irina Nikolai, 20 anos. Irmã de Dimitri, não frequenta faculdade. Ajuda o
irmão na parte financeira. Andrei Nikolai, 25 anos, é o cérebro da Bratva.
Irina saía para compras com uma rajada de segurança ao redor.
Eu gostaria de saber a dinâmica da família Nikolai.
— Carlo, segundo nosso informante, a casa é repleta de câmeras. Consegue
hackear? Esta é a melhor maneira de descobrir a dinâmica da família Nikolai.
— Deixe-me ver.
Ele ficou ali fazendo a sua mágica, enquanto eu combinava com Ethore como
faríamos a partir dali. Eu preferia sujar as mãos somente quando necessário.
Eu era bom em estratégia, era bom em traçar planos. Mas se precisasse, eu
era capaz de qualquer crueldade em nome da Famiglia[63]. Porque a Famiglia
vinha antes de tudo.
— Eles tem um bom sistema de segurança. Vai demorar um pouco…
— Quanto tempo? — digo com um suspiro.
— Vou trabalhar nisso.
Isso, em outras palavras, queria dizer que iria demorar.
— Sem saídas desnecessárias, sem chamar a atenção e o principal: sem falar
com ninguém.
Eles concordaram e fui tomar um banho. Carlo já tinha colocado o sistema de
segurança na rua e no prédio onde estávamos. Liguei para Eduardo e avisei
que já estávamos instalados. Agora era esperar.
Capitulo 15

— N ão basta ter talento para prosperar. Tem que ter alma! Se


não tiver alma, não é arte! Dispensados por hoje.
Encantada com mais uma aula da Chantal, juntei meu material enquanto
Luci, uma nova-iorquina que conheci nas aulas, tagarelava sobre o projeto
que faríamos no final do curso. Teríamos que desenhar uma coleção e fazer
um desfile. Ela tinha mechas azuis no cabelo, um piercing na sobrancelha e
tinha um estilo bem despojado.
— Você já pensou no seu tema? — Luci estava eufórica.
— Ainda não — respondi desanimada enquanto a gente saia.
Eu andava bem distraída esses dias. Já tinham passado três semanas desde
que soube de Giovanni. Eu queria chutar minha bunda, mas estava
preocupada. Até tentei tirar alguma informação de Giulia, mas ela sabia tanto
quanto eu.
Eu estava muito preocupada.
— Hey!! Você não escutou uma palavra do que eu disse? — me perguntou
indignada.
— Desculpe, eu estou um pouco distraída — disse culpada.
— Essa distração é homem?
Sim.
— Não! — respondi até que bati de frente com um corpo. Meus desenhos
foram para o chão. Eu realmente estava distraída. — Me desculp…
— Você não enxerga por onde anda?
Aquela voz.
Aff.
Olhei Luísa Conti parada em minha frente mais louca do que jamais vi.
— Me desculpe, Luísa, eu realmente não vi — falei entredentes.
Ao seu lado, estava Talía. Queria tanto perguntar sobre Giovanni, mas agora
não era o momento. Ela só me deu um meio sorriso e seguiu Luísa, que
bufava indignação.
— Você conhece?
— Ela é da minha cidade. Nunca fomos amigas.
— Mundo pequeno, ela parece desequilibrada.
— Ela é.
Entramos no restaurante que tinha ali no campus e eu falei que ia fazer
minhas coisas de menina e já voltava. Entrei no banheiro mais próximo e me
aliviei. Enquanto estava ali, escutei novamente a voz irritante de Luísa,
falando de mim, para variar.
— Nunca suportei Milena Castelle. Sempre se achou melhor. Sua irmã Giulia
é suportável, e Isabella é insípida. Mas Milena sempre gostou dos holofotes,
de chamar a atenção. Sempre fez o que quis.
— Ela é bonita. — Escutei Talía.
— É uma selvagem. Sempre se sentiu superior por meu pai ser subordinado
ao dela. Mas aqui nós somos iguais.
— Ela é cunhada do Eduardo Santorelli.
— Giulia é casada com Eduardo, não Milena. — Ela fez uma pausa, eu já
estava prestes a sair do banheiro e colocar aquela garota no lugar, mas parei
quando ela voltou a falar — E logo eu me casarei com Giovanni. Serei a
esposa do segundo no comando. Aliás, onde ele está?
— Nós já conversamos sobre isso, sabe que estou proibida de falar de
Giovanni para você. Acho que você deveria desistir, ele foi bem claro que
não quer nada com você.
— Nós tivemos uma noite maravilhosa, Talía. Claro que ele logo vai ver que
sou a pessoa perfeita para ele. Eu tenho paciência.
As duas saíram eu fiquei com um peso no estômago. Giovanni dormiu com
Luísa? Será que foi depois que ficamos juntos? Eu percebi seu assédio, mas
ele nunca me pareceu interessado, ele parecia se irritar com seus avanços. De
qualquer forma, ninguém falou sobre exclusividade. Mas eu assumi que sim.
Droga.
O pior era não poder perguntar.
O pior era me sentir assim.
O pior era me dar conta de que eu estava com ciúmes.
E se ele tivesse ficando com nós duas, pela primeira vez em minha vida, eu
estaria chateada por não ser a única.
A única de Giovanni. O pensamento me fez rir de desespero. Giovanni era o
que era, e eu deveria tomar cuidado para não me perder em meu próprio jogo.

Mais uma semana se passou, eu ia em meus compromissos, fazia minha


rotina e ia para casa. Não sai sequer uma única vez para me divertir. Cheguei
em casa e Isabella estava deitada no chão, olhando para o teto. Eu já nem ligo
para as estranhezas da minha irmã. Deito ao lado dela e ficamos ali.
— Que tal sairmos hoje? — eu digo de repente.
— Onde?
— Vamos comer alguma coisa, assistir a um filme, uma boate… — digo
ainda olhando para o teto.
— Milena — ela diz e começa a rir — Tenho que me concentrar. Semana que
vem é a minha estreia.
— Então hoje vamos fazer um programa de irmãs. Você vive naquele
estúdio.
Se dando por vencida, nos arrumamos e estávamos descendo. Estava uma
noite não muito fria, pois o verão já era próximo. Coloquei um vestido preto
e botas, e Bella, uma calça preta com botas e um top branco.
Primeira parada foi em uma lanchonete. Comemos entre risadas e fomos ao
cinema assistir a um filme mulherzinha, porque gostamos de filme de
romance. Pelo menos, no romance, as coisas são perfeitas.
Quando o filme acabou, meu telefone tocou. Toda vez que ele tocava meu
coração disparava.
Eu vou te ligar quando voltar, ele tinha dito.
— Para casa agora?
— Ludo, vamos dançar. Eu e Bella.
— Isso é fora do protocolo srta. Milena, e Nero não vai concordar. Uma
boate é difícil manter o control…
— Tchau, Ludo.
Desliguei. Eu estava sendo irresponsável? Sim. Mas hoje eu queria sair.
Queria me divertir com minha irmã. E eu faria isso.
— Ludo não quer que a gente vá — concluiu Bella.
— Nem Nero.
Ela me olha com um brilho estranho nos olhos.
— Então vamos! — Ela me segura pelo braço e saímos. — Vamos ser loucas
hoje! Vamos fugir da segurança, Mi.
Paro e olho minha irmã. Ela enlouqueceu? Ela sai para o elevador me
arrastando, para no quarto andar e sai pela porta de emergência do shopping,
despistando os soldados. Assim que saímos, ela me empurra dentro de um
táxi. Eu ainda estou tentando entender o que aconteceu, mas ela já deu o
endereço para o taxista.
— Onde estamos indo, Bella? Desde quando você é impulsiva?
— Eu estava sufocando. — Ela estava sufocando. Ela estava reclamando?
Quem sou eu para discutir, até porque eu esperava algo assim de mim, não
dela. Mas tudo bem.
Chegamos em frente a uma boate, com dinheiro e um lindo sorriso, nós
conseguimos entrar sem enfrentar fila. Olhei para minha irmã e ela estava
com os olhos brilhando e percebi, estava tão com a cabeça na minha bunda
que não vi os sinais. Ela não estava tão bem quanto aparentava. Ela precisava
disso mais que eu.
Ela pegou uma bebida e se entregou na pista. Eu me juntei a ela, sabendo que
não demoraria até nos encontrarem. Mas a intenção era ter alguma emoção e
não nos esconder. Eu me garantia na dança, mas me comparar com Bella?
Não dava. Ela colocou uma sapatilha antes mesmo de começar a andar.
Era a primeira vez em muito tempo que a via tão leve. Nos entregamos.
Eu precisava esquecer um pouco de tudo o que me afligia. A falta de notícias,
a incerteza, a angústia. Tudo o que eu passei a vida evitando sentir.
Olhei no bar, Ludo estava lá sentado muito irritado, mas de olho em nós. O
restante da equipe já deveria estar por lá também. Fiquei mais aliviada. Eu
tinha, sim, minhas ressalvas. Nossa vida sempre foi rodeada de perigos, mas
agora parecia ainda mais real. Eu fechei os olhos e deixei a música me
envolver.
Tanta coisa havia mudado em tão pouco tempo.
Giulia casada…
Isabella quase sequestrada… machucada
Meus olhos queimaram mesmo fechados. Queria chorar.
Giovanni, um mês sem dar uma notícia. Eu sabia que ele não poderia fazer
isso sem se colocar em risco. Eu sabia que era protocolo não se comunicar
com ninguém além do necessário. E eu me odiava por estar me preocupando.
Me odiava por sentir a falta dele.
Isabella estava bebendo muito. Eu nunca vi Bella perder a compostura, mas
ela estava bêbada e dançando loucamente. Precisei parar um pouco, alguém
deveria estar sóbria. Sentei no bar ao lado de Ludo e ficamos a observando
encantar a todos com sua desenvoltura. Logo, várias pessoas ficaram ao redor
dela, porque Bella era encantadora, mesmo que fosse fechada. Ludo não
falava comigo e eu não me incomodei com seu silêncio. Ficamos ali,
assistindo a Bella.
Como um trovão, escutei a voz de Nero em meu ouvido.
— Enlouqueceram? — Olhei seu rosto que estava severo. — Cadê ela?
Eu olhei para onde Isabella estava e ele seguiu meus olhos. Quando a viu, seu
maxilar trancou e ele fez menção de ir onde ela estava, curtindo uma música
lenta, olhos fechados e bebida na mão. Antes que ele fosse, eu parei em sua
frente.
— Hey, pare aí! Ela não está correndo nenhum perigo, apenas se divertindo.
— Vocês não tem um mínimo de responsabilidade. Sabe que sua irmã tem
um alvo gigante nas costas e....
— Pare! Não pense que eu não sei! Mas, nos últimos meses, minha irmã tem
vivido como uma prisioneira. — Ele tentou falar, mas eu não deixei — Eu
disse a ela que hoje nós iriamos nos divertir e nós vamos. — Me virei para
onde ela estava — Está vendo? Sabe há quanto tempo ela não tem essa leveza
no rosto? Não sabe. Porque você não conhece ela. Eu a conheço toda a minha
vida. Ela precisa disso.
— Ser inconsequente?
— Ser feliz! Você também deveria tentar!
— Você não me conhece!
— E você não nos conhece!
— Eu estou fazendo o meu trabalho.
— Eu estou te dispensando do seu trabalho hoje, muito obrigada. Eu jamais
colocaria Isabella em perigo deliberadamente.
Ele suspirou e se sentou. Eu parei também. Por mim, iria para casa, mas
olhando Isabella se divertindo, eu me sentei ao lado de Nero.
— Deixe por isso mesmo, só por hoje — falei em um suspiro cansado — Ela
não tem amigos, não tem namorado, meus pais estão longe. Deixe-a ser ela só
por hoje.
— Você faz parecer que eu estou prejudicando sua irmã.
— Você só é muito tenso. Por que não toma uma bebida e relaxa também? —
Ele me olhou como se eu tivesse chutado um cachorrinho. — Ou não.
— Só mais uma hora — disse a contragosto, seu olhar nunca deixando minha
irmã.
Confesso que, com Nero e minha equipe, me senti mais tranquila. Fui para a
pista, eu e Isabella dançamos até suar. Ela estava muito bêbada, precisou ser
carregada.
Por Nero.
Ele pareceu desconfortável quando pedi, mas quando outro soldado se
propôs, ele a pegou nos braços. Era uma visão hilária, eu tinha quase certeza
que o grandão tinha sentimentos pela minha irmã. Seu olhar era terno e
cuidadoso, contradizendo muito com seu aspecto selvagem.
Isabella falava sem parar, ria de coisas estúpidas e Nero lidando com ela era o
que tinha de mais engraçado. O olhar dele gritava proteção. Ele nos levou até
o apartamento e a colocou em sua cama.
— Eu assumo a partir daqui.
Ele assentiu, deu mais uma olhada para Bella desmaiada na cama e saiu. Eu
saí atrás.
— Obrigada, Nero. Por ficar lá. Por entender.
— Eu só estava fazendo o meu trabalho. — Antes que eu fechasse a porta, ele
virou-se e disse: — Não se arrisquem mais assim, e não é uma ordem. As
coisas tendem a ficar mais tensas com a Bratva. Ela é um alvo. Você
também. Só... não facilitem.
Eu concordei. Eu queria perguntar sobre Giovanni.
Eu não aguentava mais.
— Você tem notícias do Giovanni?
Seu rosto ficou surpreso.
— O que você sabe sobre isso?
— Giulia comentou — Uma mentira. Ele continuou com os olhos
desconfiados. Eu não poderia dizer que o mesmo me confidenciou isso, ou
que achei as passagens no quarto dele, em seu apartamento.
— Não comente isso com ninguém, Milena. É muito perigoso.
— Eu sei disso — falei com irritação.
— Ele está bem. Logo ele vai voltar.
Com isso, ele saiu.
Eu troquei Bella e a coloquei na cama.
Deitei ao lado dela, cansada.
Ele está bem. Logo ele vai voltar.
Capitulo 16

— D eu certo? — perguntou Eduardo.


— Hoje tudo vai pelos ares.
— Ok. Boa sorte.
Ele desligou. As ligações deveriam ser curtas e objetivas.
Um mês assistindo aos passos da família Nikolai.
Nós entramos no coração da Bratva. Bem debaixo de seus narizes. Carlo
conseguiu hackear as câmeras da fortaleza, que chamavam de casa da família
Nikolai, e tudo o que vi me deixou doente. O negócio mais lucrativo da
Bratva era o tráfico de mulheres e crianças.
Carlo teve dificuldade para entrar em seus negócios, demorou mais do que
prevíamos. Um dia, tive que entrar disfarçado em um dos negócios da Bratva
para colocar algumas câmeras onde faziam reuniões e conseguir o IP do
computador de Andrei, irmão mais novo e cérebro por trás dos negócios, que
era mais fácil de se aproximar.
Dimitri era quase impossível de alcançar.
Foi um risco? Foi. Mas foi necessário. Agora sabemos todos os passos, locais
e datas de seus negócios. Iríamos quebrar a Bratva de dentro para fora.
Dimitri Nikolai, Pakhan[64] da Bratva nos Estados Unidos, tem uma área da
casa onde ficam mulheres à sua disposição, praticando masoquismo imposto.
Ele é um sádico.
Sua irmã, Irina Nikolai, é visivelmente doente pelo irmão. Faz tudo para
agradá-lo, literalmente tudo. Só não faz mais porque o próprio Dimitri não
permite. Em um dia, acompanhando pelas câmeras para aprender melhor
sobre os hábitos da família, Carlo me fez levantar para assistir a Irina tentar
dormir com o irmão e ele a rechaçar.
Andrei Nikolai, irmão mais novo, foi o mentor do plano das bombas nos
carros no dia do aniversário de trinta anos de Eduardo. Ele foi o responsável
pela morte do meu pai.
Ele iria pagar. O calvário de Dimitri estava para começar.
Eu ainda estava enojado e agora ainda mais determinado a acabar com toda
essa sujeira na Bratva. Era um favor ao mundo.
Hoje chegaria um contêiner com crianças vindas de vários lugares do mundo.
Eu sou um mafioso, posso ser implacável quando necessário, mas jamais
machucaria uma criança. Eu estava totalmente sem energia depois de saber
dos negócios da Bratva.
Arrumando nossas coisas, fechando, desinstalando nosso sistema, cuidando
para que não ficassem vestígios de nossa estadia, hoje à noite voltaríamos
para Nova Iorque. Resolvemos voltar dirigindo, pois, depois da execução do
nosso plano, seria perigoso ficarmos expostos em território inimigo.
Quando subimos no carro, dirigimos até a saída da cidade. Parei o carro
enquanto Carlo monitorava as câmeras, pelo tablet, do armazém onde a
Bratva fabricava suas próprias bombas.
Onde a bomba que matou meu pai foi fabricada.
Malditos.
— Ele chegou, senhor.
— Entrou? — perguntei.
— Sim. Está dentro.
— BOOM — disse para Carlo e dei uma piscada. Ethore deu uma risada.
A tela do tablet escureceu.
Andrei explodiu junto com suas reservas de explosivos.
Matamos o cérebro da Bratva.
E era só o começo.
Algumas horas depois, paramos em um posto.
Uma das vantagens de ser da Máfia era ter conexões. Liguei para Phillip
Walker, oficial do FBI que estava em nossa folha de pagamento.
— Quer um bom caso? Ganho?
— O que você precisa. — Foi sua única resposta.
— Hoje, só que você faça o seu trabalho. No porto de Cleveland, hoje à noite,
chegará um contêiner trazendo crianças de vários lugares do mundo. Quero
que confisque.
— Você tem certeza disso?
— Está mesmo me perguntando isso? Quero que impeça a Bratva de colocar
as mãos nessas crianças. Impeça. Está previsto para às 22:00 horas. O número
do contêiner é 48.
— Estamos indo para lá.
— Eu quero ouvir falar sobre isso — falei.
— Ouvirá.
Ele desligou.
Respirando um pouco melhor, eu pensei em ligar para a morena que vinha
assombrando minhas noites. Pensei melhor e resolvi não ligar. Eu disse que
entraria em contato quando chegasse.
Dirigimos durante a noite inteira, chegamos no meio da manhã do dia
seguinte. Eu deveria ir para casa dormir um pouco, mas a ansiedade me
corroeu. Eu nem entrei em casa, só parei na minha garagem, peguei meu
carro e fui para a frente da Universidade Columbia.
E esperei.
Capitulo 17

H oje era sexta, eu estava tão cansada da semana. Isabella


estava superfocada em sua apresentação, que seria amanhã à noite, e
provavelmente eu ficaria sozinha em casa a tarde toda. Meus pais chegariam
amanhã para assistir à apresentação de Bella, até mesmo Eduardo estaria
presente, pois Anita não falava de outra coisa.
Terminando a aula, sai com Luci em meu encalço, falando sobre o seu tema
de desfile e em como convidaria os meninos da Educação Física. Seu tema
seria praia e ela tinha um garoto lá que estava interessada. Eu estava tentando
prestar atenção, eu gostava de Luci, mas não estava com disposição para falar
de rapazes.
Quando chegamos na saída, perto do estacionamento, Luci parou de falar e
gemeu. Sim, ela gemeu.
— Oh, cara, ele é de verdade? Que homem! Será que ele aceita ser meu
modelo?
Meio desanimada, olhei para cima e estagnei. Ela andou alguns passos e
parou também, voltando para mim.
— Ele está te encarando! Conhece esse deus grego?
Meu olhar encontrou duas piscinas azuis. Ele encarava com aquele sorriso
cafajeste, encostado em sua SUV. Eu não sabia o que fazer. Bater nele por
me deixar preocupada? Xingá-lo por ter dormido com a Luísa? Abraçar e
beijar até que perdesse o fôlego? Na minha falta de ação, ele se aproximou.
Eu estava com meu coração aos saltos, minhas pernas tremeram e foi uma
merda. Quando ele chegou perto, seu perfume me invadiu, dando a sensação
de conforto. Eu queria pular nele.
Apesar do sorriso, seu olhar também era ansioso. Quando percebi isso, sem
pensar nas consequências, me aproximei do seu rosto sem desviar os olhos
dos seus. Ele entendeu a minha intenção e sorriu mais amplamente, foi
impossível não sorrir junto.
Ele mal abriu os braços, eu pulei nele. Literalmente.
Seu abraço me dava conforto e, pela primeira vez em um mês, eu me senti
viva. Eu nem queria pensar no que isso significava, de verdade. Ele me
cheirou, seu abraço me consumiu e um nó que estava apertando meu peito se
soltou.
Ele me afastou e me levantou do chão. Eu passei as pernas em sua cintura,
pouco me importando com o local que estávamos, e beijei seus lábios. Uma
parte distante do meu cérebro queria me alertar sobre os perigos de estar
protagonizando uma cena em frente a universidade, mas eu deixei ela cada
vez mais distante. Ele segurou minha nuca e tomou o controle do beijo,
acariciando minha língua com a sua, sugando e mordiscando, deixando-o
mais intenso, cheio de saudade.
— Stronzo[65]!! — disse em um fôlego.
— Eu também estava com saudade, bella[66] selvagem — Ele me beijou
novamente e eu me permiti curtir aquele momento.
— O que significa isso? — uma voz gritou atrás de mim, me chamando a
razão. — Você é uma puttana[67] mesmo, eu deveria desconfiar que você
tentaria algo com Giovanni.
Luísa. Era só o que me faltava. Brigar por causa de homem, a que ponto eu
cheguei? Já desci do colo de Giovanni, mas ele me segurou firme ao seu lado.
Ainda bem que tinha poucas pessoas ali.
— Você sempre quis tudo o que era meu!
Eu não controlei a minha risada, o que a enfureceu mais.
— Luísa, eu não devo satisfações da minha vida para você! Eu achei que a
gente tinha conversado.
Ela encheu os olhos de lágrimas e eu quase senti pena dela. Quase.
— Mas eu pensei que…
— Faça um favor a si mesma e não pense.
Ela nos olhou com ódio. Isso em seu olhar era ódio.
— Não pense que ele gosta de você de verdade. Se tem algo que aprendi com
esse aí, é que ele só gosta de si mesmo. Boa sorte para lidar com um futuro
coração partido.
Saiu pisando duro.
Eu fiquei ali, parada, indo do céu ao inferno em questão de segundos. Tentei
soltar minha mão, mas ele não deixou. Me virou para ele e franziu o cenho
quando viu minha expressão. Foi quando me lembrei de Luci, que não estava
mais ali. Com certeza saiu na hora do beijo e quando nos víssemos, me
metralharia de perguntas.
— Vamos para minha casa — ele pediu, inseguro.
— Eu não...
— Por favor. Por favor, eu… eu senti… muito a sua falta. — Ele me abraçou.
Eu não consegui dizer não. Esse Giovanni, esse que demonstrava o que
sentia, me desarmava. E eu acho que ele sabia disso, mas não consegui
encontrar forças para lutar contra.
Entrei em seu carro, mandando uma mensagem para Ludo e fomos para sua
casa. Luísa ter aparecido foi como a notícia da morte de um conhecido.
Ficamos em um silêncio desconfortável.
Talvez seja hora de terminar esse… caso.
Está muito confuso. Iríamos acabar ultrapassando alguma linha, eu poderia
acabar me machucando. Pela primeira vez em minha vida, poderia dizer que
estava envolvida e não sabia como lidar com isso.
Subimos, entramos em seu apartamento e ele me empurrou para o sofá. Ele se
sentou ao meu lado, mas não me tocou. Ficou em silêncio alguns segundos.
Eu queria levantar, rir da situação e acabar com tudo aquilo, que eu nem sabia
direito o que era. Eu queria vestir minha armadura e dizer que foi divertido,
mas acabou. Eu estava prestes a fazer isso quando ele disse.
— Eu fiquei com Luísa uma vez.
— Você não me deve nenhuma satisfação, Giovanni — disse, mas senti uma
facada no coração.
— Para de ser marrenta, Milena. Eu sei que não devo, mas eu quero dar.
— Pois, não precisa! — disse já me levantando, mas ele foi mais rápido me
puxando para o seu colo. Eu olhei para o seu rosto, embora minhas mãos
continuassem em meu colo. — Você sabe que se eu quiser sair daqui, eu saio.
— Eu sei — ele disse com o nariz em meu pescoço. Quase gemi de tão bom
que era. Ele deve ter sentido minha entrega, pois continuou: — Foi antes de
conhecer você. Aliás, desde que vi você naquele Café, eu não toquei em outra
mulher.
Isso me surpreendeu. Olhei seu rosto para ver se via alguma mentira ali, mas
ele me pareceu sincero.
— Por quê? — perguntei.
— Não sei. Logo meu pai morreu, me tornei consigliere[68], acho que não tive
muito tempo. Ou vontade. Até você. — Ele me aconchegou mais em seu
colo. — Luísa tem alguma obsessão louca por mim. Ela tem vindo atrás de
mim, me encurrala onde pode, na última vez, eu a ameacei para me deixar em
paz.
— Acha que ela pode fazer algo a respeito? — Minha preocupação era ela
nos entregar. Eu não tinha medo de nada, mas não queria envergonhar meu
pai.
— Eu vou cuidar disso, não se preocupe.
Eu estava me colocando em tantos riscos por causa de Giovanni. Eu era o elo
mais fraco, eu era mulher. Ele era homem, no fim, ainda seria uma vítima,
por isso homens da Famiglia[69] sempre foram um limite para mim. Este
pensamento me fez levantar de seu colo e ele não me segurou.
— Acho que estamos correndo muitos riscos, talvez nos afastar ser…
Ele se levantou e me beijou, não me deixando concluir. Seu beijo inflamou
meu sangue e logo estávamos lutando com nossas próprias roupas. Nua, ele
me deitou no sofá, mordendo e arranhando meu pescoço com os dentes,
minhas unhas em suas costas, e ele entrou em mim. Eu congelei e ele
também. Eu nunca transei sem camisinha. Eu tomo contraceptivo, mas
Giovanni, bem. Giovanni é Giovanni.
— Nunca transei sem camisinha — ele disse.
Estava maravilhada por senti-lo em mim, sem barreiras.
— Tomo injeção.
Seu olhar conversou com o meu. E com o consentimento, mesmo silencioso,
ele começou a se mexer, e meu mundo voltou a ficar de ponta cabeça.
Giovanni tinha esse poder sobre mim. Às vezes, ele me dominava, não me
fazendo pensar em nada que não fossem suas mãos e boca em mim. Às vezes,
eu retribuía o serviço e adorava vê-lo se perder.
Nos movimentamos em sincronia e quando meu prazer veio, ele me virou
como uma boneca de pano. Como se eu não pesasse nada.
Eu adorava.
Ele apalpou minha bunda e disse em meu ouvido
— Você não imagina o quanto eu senti saudade dessa bunda. Eu sonhei com
ela.
Com isso, ele inclinou minha cabeça para baixo, fazendo com que minha
bunda ficasse no ar. Ele voltou a me penetrar e ritmar seus movimentos. Foi
como eu me lembrava.
Feroz.
Selvagem.
Como eu e Giovanni.
Ele gozou, me levantou pelo cabelo, e me deu um beijo lânguido. Curtimos o
beijo enquanto nossas respirações se normalizavam. O ambiente cheirava
suor e sexo, mas apenas deitamos no sofá enquanto ele acariciava o meu
cabelo.
Dormimos abraçados.
Acordei e já tinha anoitecido. Olhei para Giovanni e ele estava dormindo
profundamente, muito cansado. Me levantei sem fazer barulho, ele
resmungou algo, mas voltou a dormir. Fui até o banheiro e vesti o seu robe,
que ficava enorme em mim, mas era sedoso e tinha seu cheiro.
Peguei meu celular, fui para a cozinha. Liguei para Bella. Ela não atendeu,
deveria estar no estúdio, amanhã seria sua estreia. Eu deixei uma mensagem
para que ela não se preocupasse.
Olhando a cozinha de Giovanni, hesitei antes de abrir a sua geladeira. Estava
com fome, então acho que ele não se importaria de fazer um sanduíche. Fiz
para mim e fiz para ele também. Olhando as malas no canto, percebi que ele
chegou há pouco tempo.
E ele foi me ver.
Meu coração se aqueceu com isso.
Peguei um refrigerante e me sentei na banqueta na ilha da cozinha. Conectei
meu fone e estava escutando Bird Set Free da Sia. Fiquei tão distraída que
não vi quando fui levantada de uma vez do banco e sentada na ilha. Giovanni
tomou meu lugar no banco e se sentou, com as mãos em minhas coxas.
— Espero que não se importe. Fiz para você também.
— Eu estou com fome de outra coisa — Suas mãos foram para debaixo do
robe roçando minha virilha.
— Você é um safado, Giovanni — disse com um suspiro.
— Você adora — ele disse pressionando no meu ponto de prazer, quase me
fazendo engasgar. Tirei sua mão dali enquanto ainda tinha forças — Vá
comer alguma coisa. Tenho a impressão que você não comeu nada hoje.
Ele tirou as mãos e lambeu o dedo com os olhos nos meus. Minha boca ficou
seca.
Esse cara.
Depois pegou o sanduíche como se não tivesse acabado de devastar minha
mente e começou a comer. Ainda tomou meu refrigerante.
— Como foi a viagem? — perguntei tentando recuperar minha compostura.
— Você não quer saber! — ele disse entre mordidas.
— Claro, segredo. Meu pai nunca escondeu nada da gente, sempre foi aberto.
— Seu pai é bem… liberal, né?
— Meu pai nos deu mais liberdade que qualquer outro pai da Famiglia. Ele é
fantástico, o melhor pai que poderia existir. Ele é capaz de qualquer coisa
para nos proteger e nos ver felizes.
O que me deu uma pontada de tristeza. Eu sempre fui a filha que mais deu
trabalho para meus pais. Eu nunca controlava minha língua, eu resolvia as
coisas do meu jeito e muitas vezes meu pai teve que arrumar a minha
bagunça.
— Você ficou triste. O que foi? — Ele apertou minha perna.
— Nada. Não é nada. — Tentei sorrir para disfarçar, mas ele não retribuiu.
— Fale — pediu com seriedade. Suspirei e enfim falei. Acho que era saudade
desse stronzo que me deixou com a língua solta. Ou o pós-sexo.
— É só que me dei conta de que meu pai sempre foi maravilhoso, mas eu
nem sempre sou uma filha tão maravilhosa assim. Eu vivo do meu jeito.
Acho que sou um pouco egoísta.
— Eu acho que você é maravilhosa — ele disse se aproximando do meu
rosto. Eu comecei a sorrir.
— Eu acho que você quer ter mais sexo comigo — disse colocando meus
braços em volta do pescoço dele e descendo da ilha para pousar em seu colo.
— Eu sempre quero mais sexo com você, mas além do sexo… eu te acho
incrível!
Meu coração deu um salto.
Droga.
Ficava difícil não gostar dele.
Ele me beijou ali, um beijo que começou lento e terno, mas se espalhou como
fogo por todo o meu corpo. Logo, sanduíche, refrigerante e preocupações
estavam esquecidos e nos perdemos um no outro, ali mesmo, na ilha da
cozinha.

— Preciso ir embora! — disse tentando me desvencilhar de Giovanni na


cama. Depois da ilha, viemos para o quarto, não saímos nem para tomar água
e já eram 22:00 horas.
— Não precisa! — ele disse me mantendo no colchão. Não que eu estivesse
fazendo muito esforço para sair.
— Eu preciso! — falei com mais uma tentativa inútil de me levantar, mas
Giovanni se colocou em cima de mim.
— Dorme aqui. Por favor… — disse beijando meu pescoço e queixo.
— Eu tô com a impressão de que você está me manipulando, Giovanni.
— Jamais. — disse entre beijos e eu detectei um sorriso.
— Eu preciso ir… amanhã meus pais estarão aqui. Amanhã é a apresentação
de Bella no Lincoln Center. Sua mãe e você foram convidados.
— Então eu vou. Mas fica hoje, amanhã eu te levo em casa.
Me dei por vencida, acabei ficando.
De novo.
Capitulo 18

— V iu os noticiários? — Eduardo disse, formal como


sempre, em seu lugar na mesa.
— Acharam um contêiner cheio de crianças traficadas. Pertencia a Bratva,
contudo, não há como provar a responsabilidade de Dimitri Nikolai —
acrescentou Nero.
— Os desgraçados têm as autoridades no bolso. — Eduardo prosseguiu. Na
minha falta de resposta, ele continuou: — Foi arriscado, Giovanni. Não fazia
parte do plano.
— Eu não me importei de foder um pouco mais a mente deles. — Irritação
subiu em mim, me lembrando de tudo sobre aquela organização. Em minha
vida, eu tinha visto e feito muita coisa ruim, sendo treinado para a Chefia da
Máfia, não teria como ser diferente. Mas tínhamos princípios que não
ultrapassávamos. Eu não ultrapassava. Mulheres e crianças eram protegidos.
Ou deveriam ser. Nem todo homem da Cosa Nostra considerava esse
princípio, mas ele ainda existia.
Eduardo suspirou.
— Acha que vão retaliar?
— Um soldado que fazia um dos carregamentos foi encontrado morto. Foi
escrito por uma navalha, zakon o vozvrashchenii. Em russo, lei do retorno. —
Nero comentou. Então os russos já associaram os atentados a nós. Ótimo.
— Va fancullo[70]!! — Eduardo se levantou. — Dobre a segurança. Os
cuidados também. — Após alguns segundos, completa: — A partir de agora,
Giulia vai auxiliar você, Nero, nos treinamentos com os soldado, não
somente os novos, mas todos.
Surpresa tomou o rosto de Nero, mas logo ele se recuperou.
— Sim, senhor. Embora devo avisar que alguns soldados podem não receber
a notícia muito bem.
— Os soldados, caporegímes[71] ou qualquer outro chefe, farão o que eu
mandar. Se minha esposa quer treinar, ela vai. Você garante a segurança dela.
— Claro, senhor.
— Embora ela não precise disso — digo para tentar quebrar o clima.
Eduardo soltou um riso relutante. Giulia era uma das únicas pessoas no
mundo capaz de tirar um sorriso, mesmo que relutante, de Eduardo. E mais
uma vez ele estava provando que, por ela, faria qualquer coisa.
Uma mulher treinando com os homens seria mais um escândalo, e eu
entendia a preocupação de Nero, pois o momento era crítico. Mas o próprio
sobrenome de Giulia a protegeria de qualquer membro da Cosa Nostra
insatisfeito.
— O que ela tiver de ideias, Nero, você escuta. Ela era o braço direito do pai,
é ótima em estratégias.
— Claro, para mim, não será um problema. — Nero diz, genuíno.
— Bom. Eu tenho que ir agora, vamos almoçar com meus sogros. — Quando
chegou na porta, ele se virou — Giovanni. — Meus olhos encontraram os
seus — Muito bem.
Era isso.
No fim, qualquer um de nós teríamos feito o mesmo, ainda que denunciar o
contêiner com crianças não fosse parte do plano. Eu sabia que poderia ser
punido, mas Eduardo tinha uma irmã, ele teria feito o mesmo.
Ainda aliviado, percebi o escrutínio de Nero em mim. Seu olhar era de
curiosidade e algo mais.
— Não tem frequentado os clubes, Giovanni — ele disse se inclinando para
frente. Estávamos em seu escritório, no restaurante.
— Talvez seja por que eu estava viajando? — disse com a minha melhor cara
de deboche.
— Mesmo antes disso. — Um cão que não larga o osso.
— Talvez eu esteja e você não sabe.
— Não é só isso. — Ele se recosta na cadeira com os olhos semicerrados —
Você anda estranho. E Alessa disse que você realmente não apareceu por lá
ou nenhum outro lugar nos últimos meses. E quando apareceu, dispensou
toda garota que se pôs em seu caminho. Esse definitivamente não é você
Giovanni.
— Ainda vê essa mulher, Nero?
— Somos amigos — Alessa é uma prostituta próxima a Nero. Ela teve um
envolvimento com ele, que a tirou da prostituição, ele arrumou um emprego
para ela, gerenciando um dos restaurantes, e a colocou em um apartamento.
Embora já tivesse algum tempo que eles não se envolviam assim, pelo jeito
continuavam próximos. — E não muda de assunto. Alguma coisa está
acontecendo com você. — Nero suspirou. — Olha, eu não faço essa merda
sentimentalista, mas se você está com algum bloqueio de pau, pode falar.
Fechei os olhos e contei até cinco.
— Cara, não precisa ficar envergonhado. Eu sempre soube que você é um
merda sensível e tem acontecido muita coisa....
— Nero, Nero… Cala a boca, imbecil! Eu não estou com bloqueio de pau!
— Eu sei que pode ser difícil admitir, mas, cara, eu não vou te julgar…
— NERO! EU NÃO ESTOU COM BLOQUEIO DE PAU! CAZZO[72]!
Quando olhei para ele, o infeliz estava segurando o riso. Miseravelmente. A
recepcionista do restaurante estava na porta, pálida. Pediu licença e saiu sem
dizer o que a trouxe. Nero soltou uma sonora gargalhada e eu queria matar o
infeliz.
— Definitivamente, você está com bloqueio de pau. Nem flertou com a
minha assistente. Nenhuma vez te vi olhar para alguma mulher.
Fiquei atordoado com o que ele disse. A verdade é que meus pensamentos e
meu pau só estavam ligados em uma pessoa: Milena Castelle. Quando parou
o acesso de risadas, ele me disse mais sério, embora ainda limpasse os olhos
das lágrimas pelo tanto que riu. Às minhas custas.
— Eu não sou cego, Giovanni. Eu sei o que está acontecendo. Eu não tenho
nada com a sua vida, mas me considero seu amigo então posso dizer:
Cuidado.
Eu queria perguntar como ele sabia de Milena, porque eu sabia que era isso.
Mas resolvi ignorar, eu e a morena tínhamos um acordo e estávamos bem
com ele. Mesmo que eu me sentisse na obrigação de protegê-la de qualquer
situação que pudesse vir.
— Os soldados falam entre si. Vocês não têm sido exatamente discretos. Ela
ficou aflita com a sua missão e nem adianta desmentir, eu sei que ela sabia
onde você estava. — Ele suspirou. — Só tomem mais cuidado, posso
controlar os danos por um tempo, mas não tenho controle sobre o que todos
dizem por aí.
Me limitei a acenar, não querendo discutir a situação com ele. Apesar de meu
amigo, não queria expor Milena. Ficamos ali mais alguns minutos, falando
sobre outros assuntos e logo também tomei o meu caminho. Todo o tempo, a
preocupação sobre como isso poderia prejudicar Milena ainda estava em
mim. O que me fez lembrar que outra pessoa, muito perigosa em sua loucura,
estava ciente do nosso envolvimento e me deixou alerta. Com destino
decidido, me pus a caminho. Eu precisava resolver isso.

Parei em frente ao condomínio onde Luísa morava e disquei o seu número.


Um toque depois, ela atendeu:
— Alô! — Sua voz era ansiosa.
— Eu preciso falar com você.
— Claro, claro.
— Eu estou na frente do seu condomínio.
— Vou liberar a sua entrada. Apartamento 402.
Eu desliguei. Eu nunca entrei em seu apartamento, embora eu soubesse onde
ela morava por já ter buscado Talía diversas vezes. Entrei e me encaminhei
para o apartamento. Ela me esperava na porta. Apenas de robe.
Ótimo.
— Entre.
Luísa era uma garota bonita.
Mas era igualmente louca.
Entrei no seu apartamento e ela fechou a porta.
— O que eu tenho para te falar é bem rápido. Eu resolvi falar pessoalmente
para que não reste dúvidas da minha seriedade.
Ela prendeu seus olhos nos meus, lentamente deslizando o robe em seu
corpo.
Que estava nu por baixo.
Fechei os olhos de pura frustração.
Ela se aproximou e, antes que colocasse as mãos em mim, eu as segurei no
ar.
— Pare de envergonhar a si mesma! — Minha voz era baixa mas meu aperto,
forte — Eu vou te dizer uma única coisa, Luísa: Até agora eu fui tolerante
com toda a sua loucura.
— Você está machucando meu braço.
— Não confunda meu bom humor com fraqueza! Você vai esquecer que me
viu com Milena. Se você abrir essa boca de alguma forma, escute bem, eu
vou matar você. Eu acabo com essa sua vida patética se você prejudicar a
Milena de alguma forma.
— Você gosta dela! — Seu olhar era de puro horror — Daquela…
— Cuidado! Muito cuidado com as suas palavras! Meus sentimentos não são
da sua conta, e não se esqueça: Fique longe de mim, fique longe de Milena. E
bico calado! Ou eu vou atrás de você e acabo com a sua vida. Não se esqueça
de quem eu sou.
Soltei seus braços e, com o impulso, ela caiu no chão, chorando. Me virei
sem olhar pra trás e segui o meu caminho para casa. Eu tinha um show de
ballet para comparecer.
Capitulo 19

I sabella brilhou. Encantou com seus movimentos. Era muito


reconfortante vê-la bem depois de tudo. Meus pai estava orgulhoso e minha
mãe chorou durante o espetáculo. Estava lotado e, embora fosse um evento
público, homens estrategicamente posicionados fizeram a segurança.
Giovanni e Antonella Maceratta também estiveram presentes. Eu estava
tolamente roubando olhares de Giovanni, como uma adolescente no colegial.
Mas mantivemos distância, falamos o necessário, mesmo que meus lábios
estivessem dormentes de tanta vontade de beijá-lo.
Ao fim do espetáculo, fomos jantar, meus pais, Isabella, Giulia, Eduardo e
Anita. Foi diferente, mas confortável. Nossa família estava crescendo, mesmo
que eu sentisse alguma tensão entre meu pai e Eduardo. O que me deixou
intrigada. Quando voltamos para casa, ficamos na sala conversando até muito
tarde, como fazíamos em Philly. Eduardo era todo polido e sério, mas todas
as vezes que olhava minha irmã sorrindo, seus olhos se suavizaram. Ele era
louco por minha irmã.
Anita estava pegando instruções com Isabella sobre o ballet, minha mãe
estava cobrando netos de Giulia, Eduardo sorriu um pouco desconfortável.
Me aproximei dele.
— Não se preocupe, logo você se acostuma.
Ele sorriu genuinamente e respondeu.
— Vocês são uma boa família. Vivaz.
— Você é parte dessa boa família, Eduardo. Você faz minha irmã feliz, é
suficiente para que a gente te considere um de nós. E Anita também.
Eduardo pareceu surpreso e, por um momento, ficou sem palavras.
— Obrigado, Milena — disse, por fim.
As palavras foram quase um ruído. Como se não estivesse acostumado com
gentileza ou qualquer sentimento do gênero. Como se não estivesse
acostumado a agradecer. Talvez não estivesse.
Apertei seu ombro e dei um sorriso, me levantando em seguida.
Ali, perdida em meus pensamentos, percebi que amava minha família, mas
estava com saudade do Stronzo[73]. Como seria se ele estivesse ali também? O
pior é que eu conseguia visualizar ele ali, com suas piadas e seu jeito sacana,
que irrita e encanta ao mesmo tempo. Pensar sobre isso aquecia o meu
coração. Esse jogo já estava perigoso, indo longe demais, mas, Deus, eu não
tinha forças para dar um basta. Eu sabia que estava envolvida, até mesmo
apegada a ele.
No dia seguinte, passamos o dia na casa de Giulia e Eduardo, estava
chegando o verão, então até ficamos um pouco na piscina. Foi divertido,
aproveitamos cada momento com eles. No fim da tarde, antes que minha mãe
embarcasse, ela fez um número de drama, ou não seria Alessandra Castelle.
As semanas seguintes passaram como um borrão, caindo em uma rotina.
Minha vida se resumia em meu curso, algumas saídas com Cara, que se
revelou uma boa amiga, e minhas noites divididas entre Isabella e Giovanni.
Isabella dispensou Gabriel definitivamente, mesmo que o garoto sempre a
abordasse nos eventos e tentasse chamar a sua atenção.
Outro que passou a impor a sua presença foi Don Lorenzo Santorelli. Algo
sobre ele me deixava incômoda e alerta. Onde ele me encontrava, sempre
fazia comentários e insinuações. Em algumas dessas situações, eu fui amável,
mesmo quando queria arrancar a sua cabeça. Em outras, nem tanto. Eu
tentava mentalizar que não estava em meu território e que teria que ser
esperta, mas às vezes simplesmente só pensava depois que já tinha
respondido. Ele me olhava com ódio velado quando isso acontecia.
Estar com Giovanni era fácil, cada dia eu ficava mais acostumada e,
consequentemente, mais apegada a ele. E devo admitir, Giovanni, além da
nossa química sexual, é um bom ouvinte, perceptivo, carinhoso, de um jeito
que eu nunca imaginei.
Suas mãos estavam sempre em mim de alguma forma quando estávamos
juntos, e nem sempre de um jeito sexual. Ele sempre estava acariciando meu
cabelo, beijando meu ombro ao passar por mim, a mão em minha cintura,
dizendo abertamente que sentia minha falta quando precisava se ausentar.
Quando tinha eventos da Máfia, sempre evitávamos um ao outro, e falávamos
o necessário. Giulia perguntou, há poucos dias, o que havia de errado comigo
e Giovanni, porque não brigávamos mais. E eu tive que mentir para ela,
porque sabia que, em nossa realidade, eu poderia sair desgraçada dessa
situação e não queria colocá-la em uma situação difícil com Eduardo,
omitindo informações.
Um dia Giovanni ficou estranhamente quieto após um evento da Máfia. Eu
fui para seu apartamento no final e ele não me olhava nos olhos. Sem flerte
barato, sem mãos em mim, sem reações típicas de Giovanni.
— Algum problema? — perguntei sentando ao seu lado no sofá, onde ele
havia jogado o terno e bebia uísque. Ele acenou que não, mas seus olhos não
encontraram os meus. — Giovanni, fala comigo.
Tentei mais uma vez me aproximando e passando a mão em seu cabelo,
suavemente. Ele se afastou rispidamente.
— Não é nada!
Eu não tenho o melhor temperamento, então, após essa atitude ridícula e sem
explicação, eu me levantei como um tornado.
— Certo, stronzo! Então fica aí com o seu mau humor de merda, mas vai
encontrar outra idiota para molhar seu pau.
Gritei e virei as costas, estava chegando na porta quando o senti atrás de
mim. Ele bem que tentou imobilizar meus braços, mas eu fui mais rápida,
impedindo seu movimento e me afastando. O movimento o deixou na porta,
impedindo que eu saísse.
— Saia. Quem você pensa que é para falar assim comigo?
Ele fez menção de se aproximar.
— Pare aí! Eu arranco suas bolas — gritei.
— Não, amor, você não arranca porque você adora brincar com elas.
Eu vi vermelho. Eu queria pular em sua garganta. Ele estava com um sorriso
torto e os braços cruzados no peito.
— Eu juro por Deus, Giovanni. Saia da minha frente ou eu vou machucar
você! Eu não sou seu saco de pancadas, você não pode falar comigo desse
jeito.
Ele suspirou.
— Me desculpe.
— Ótimo, agora saia da minha frente. — Ele deu um ruído frustrado
passando as mãos pelos cabelos que eu quase acariciei.
— Você é difícil! Eu já pedi desculpa, o que quer mais?
— Que você saia da minha frente!
Ele estreitou os olhos em teimosia.
— Eu não vou sair!
Peguei minha arma no suporte da perna e apontei para ele em meio segundo.
O canalha sorriu.
— Você não vai me matar! Você já não consegue viver sem mim, Milena.
— Talvez eu só machuque você um pouquinho. Posso ser misericordiosa em
consideração aos orgasmos que me deu! — disse com uma calma ácida.
Ele foi se aproximando e eu considerei seriamente. Mas ele sabia que era um
show antes mesmo de mim. Eu jamais machucaria esse stronzo
deliberadamente, ele era importante para mim. Embora eu jamais fosse
admitir em voz alta. Ele me desarmou em um movimento e segurou minhas
mãos em minhas costas. Seu aperto era firme e ele se aproximou do meu
pescoço, primeiro inalando e depois dando leves beijos.
— Eu fico louco vendo você dançando com todos aqueles idiotas… eles
ficam babando em você... Enquanto eu não posso nem mesmo ficar mais que
dez minutos conversando. — Ele me dá um mordida quase punitiva no meu
pescoço — Eles dançam, têm seu sorriso... Eu fico louco, eu sei, não fazia
parte do acordo, mas eu quero matar cada filho da puta que te toca. E isso me
deixa nervoso.
Sua declaração me fez amolecer de vez. Ele estava com ciúmes?
Puxei uma respiração profunda antes de dizer:
— Ajuda se eu disser que o tempo todo eu quero mesmo é ficar com você?
Ele se afastou para me olhar nos olhos, refletindo a mesma vulnerabilidade.
Pegou a arma da minha mão e colocou na mesinha lateral. Eu mordi o lábio
inferior, e ele gemeu. Em um piscar de olhos, Giovanni me pegava no colo
sem gentileza alguma e me levava para o quarto.
Eu adorei cada minuto.
Depois disso, mesmo sem palavras ditas, eu percebi que as coisas estavam
ficando sérias. Cada missão que Giovanni acompanhava, meu coração se
apertava de preocupação. A situação com a Bratva ainda era tensa, Giovanni
agora era um alvo grande por ter matado o irmão do Pakhan[74], embora eu
não procurasse saber muito sobre o assunto. Eu só queria que as pessoas que
eu me importava ficassem bem, incluindo Giovanni. Quem gostava de estar
por dentro das estratégias era Giulia. Quem gostava de torturar era Isabella.
Eu só queria minha marca.
Em uma viagem, Giovanni acompanhou um carregamento de armas que
vinha do Golfo do México, ficando fora por semanas. Quando retornou, ele
decidiu me fazer uma surpresa, alugando uma casa nos Hamptons.
Foi um fim de semana lindo, onde era somente eu e ele no mundo. Em um
momento, nos sentamos em uma rede de frente para o mar. Eu estava contra
o seu corpo forte, e ele me abraçava, incrivelmente encaixados.
— Eu não sabia — ele murmurou.
— O que? — respondi encarando o mar.
— Que era bom. Ficar assim, só abraçado a alguém.
Dei um sorriso satisfeito. Porque, por mais que em alguns momentos eu
reconhecesse que já não tinha controle algum sobre a situação, as declarações
de Giovanni demonstravam que ele também já não tinha controle.
Ali eu percebi o quanto Giovanni era importante para mim, o quanto a
aprovação dele em meus planos importava, e não era por imposição e, sim,
por vontade minha. Porque ele respeitava meus sonhos.
Eu nunca quis um relacionamento, mas talvez, só talvez, um relacionamento
com Giovanni não fosse tão ruim.
Capitulo 20

E u estava fodido.
Totalmente.
Aqui, sentado no sofá, olhava ao redor, percebendo que os últimos meses o
melhor da minha vida tem sido ela. E ela estava presente em cada canto do
apartamento. O banheiro tinha o cheiro do seu shampoo. Tinham roupas e
botas jogadas no meu closet, uma imensidão de maquiagens e cremes
espalhados no meu banheiro. Mesmo que eu pedisse para que ela usasse o
banheiro do quarto de hóspedes para guardar suas coisas, elas continuavam
no meu banheiro. Eu nunca iria entender por que ela precisava de tudo isso,
mas tenho amor à vida suficiente para guardar meus pensamentos para mim.
Tem uma caneca Power Girl [75]no balcão da minha cozinha, pulseiras no
aparador da sala, alguns desenhos, em meu escritório, misturados com meus
documentos. Ela invadiu a minha vida, deixou a marca dela e eu não estou
nem um pouco incomodado.
Por isso que eu estava fodido.
Porque já não imaginava minha vida sem as loucuras e a bagunça que é a
Milena. Ela tem toda aquela confiança de ser mais forte que o mundo, de ser
inabalável. Ela grita por causa da minha arrogância, mas se derrete com
qualquer indício de que algo me incomoda, ela é agridoce. Ela é uma
parceira, uma igual.
Eu sei quando ela está pensativa, pois começa a desmontar e limpar suas
armas, mesmo sem necessidade. Ela tem um vinco na testa quando está
concentrada em seus desenhos e morde a sua língua. Sei que ela fica louca se
eu tento falar com ela nesses momentos, então, às vezes, eu falo mesmo
assim, só para vê-la esbravejar e eu ficar duro com a sua falta de paciência.
Milena não tinha pudor quanto à sua sexualidade. Ela era aberta para ir mais
e além, sempre. Ela não tinha limites para o novo, era aventureira. Ela era
tudo que eu era, tudo que eu poderia querer em alguém para estar comigo e
mais. Ela poderia ser geniosa ao extremo, mas eu sabia como domá-la. Eu
sabia onde tocar para tê-la mansa e ronronando como uma gatinha manhosa.
Não falar isso em voz alta era um precedente, ou ela ia de manhosa a
selvagem em um minuto. E eu adorava todas as partes dela.
Droga, estava tão fodido.
Já não queria mais ficar nesta situação, onde temos que nos esconder. Eu já
não vejo motivos para continuar escondendo nossa relação. Antes era por ser
temporário, mas já temos seis meses juntos, e eu não consigo ver um final
que não seja ela na minha cama e na minha vida. Porque já não é somente
sexo, faz um tempo que é mais que isso. Ela também sabe disso.
Por isso hoje eu oficializarei um compromisso com ela. Pedi para que
preparassem um jantar no terraço e vou finalmente falar como eu me sinto
sobre ela, como eu quero ir além do que temos. Eu estava nervoso e isso era
irônico. Eu jamais me vi nesta situação. Sempre pensei que quando
oferecesse o lugar a alguém, esse alguém estaria esperando ansiosamente. Eu
sei que Milena sente mais, ela não fala, mas eu vejo em seu olhar cada vez
que estou dentro dela ou quando ela sorri para mim. Eu sei.
Eu falo que não gosto da sua bagunça na minha, mas a verdade é que os
pertences dela misturados com os meus são perfeitos. Eu queria sair com ela,
exibi-la em meu braço, poder beijá-la e tocá-la quando bem entendesse. Eu
queria que ela fosse minha. E ela seria.
Meu telefone toca e me tira do meu devaneio: Eduardo.
— Venha ao Vecchio, Giovanni. Nero e eu te esperamos.
— Chego aí em alguns minutos.

— Atacaram alguns laboratórios da Nova Inglaterra. Antônio Ferrari me


ligou hoje, tivemos algumas baixas. Um capitão entre eles. — Nero falou
enquanto ia até a janela que dava para o saguão do Vecchio.
— Eles estão voltando a ficar mais corajosos. Não podemos baixar a guarda,
nem um pouco — disse Eduardo.
— Os irlandeses querem marcar uma reunião. Também estão sofrendo
retaliação em Boston, a Bratva quer o território deles — Nero, a enciclopédia
das informações, disse.
— Eles podem ter um território menor em expansão, mas Aleksander Dardan
é o terror de sua região. Domina as ruas de Boston com punho de ferro.
Dimitri está cavando a própria cova — eu declarei.
— Eles querem uma aliança, algo mais profundo que o tratado de paz —
Nero informou, virando-se para nós.
— E por aliança, você quer dizer: Casamento — eu disse, sarcástico.
— Aleksander Dardan tem 27 anos e não é casado. É Ceannaire[76] há um
ano. Ele quer uma noiva italiana e só aceita dois sobrenomes: Maceratta ou
Santorelli — Nero disse, por fim.
— A única Santorelli é Anita, e eu jamais a venderia para um homem que
tem idade para ser seu pai — Eduardo esbravejou.
Fúria passou por mim, Talía.
— Não vou impor isso a Talía. Ela só vai se casar se ela quiser, se ela se
recusar, eu não a forçarei e ninguém aqui fará isso.
— Ainda não é nada certo. Primeiro vamos conversar sobre isso e só então
decidiremos sobre Talía — propôs Eduardo.
Pensei em Aleksander Dardan. Pouco sabia sobre eles, mas o que sabia não
era animador. Aleksander era brutal, perigoso e eu temia colocar minha prima
em suas mãos.
— Ela vai decidir, Eduardo. Ela — disse duramente.
— Você não pode tudo, Giovanni — Eduardo devolveu no mesmo tom.
— Por que não casamos Nero com alguém de lá? — eu disse e Nero
arregalou os olhos para, em seguida, sorrir.
— Eu sou um Rossi. Quase um ninguém — Desgraçado.
— Você é o terceiro no poder, pode ser uma ótima barganha.
— Chega! O assunto é sério! Primeiro vamos ver exatamente o que
Aleksander quer. Depois decidimos o resto. — Com o silêncio que se
apoderou do ambiente, Eduardo continuou: — Hoje à noite, Giulia fará uma
festa de aniversário para Anita. Espero vocês.
Hoje? Soltei um gemido frustrado.
— Tinha planos, Maceratta?
— Vá a merda, Rossi.
Nero deu risada. Eu lhe dei o dedo do meio. Eduardo suspirou frustrado. Essa
era a nossa dinâmica madura.
Talvez eu mantivesse o jantar para depois do aniversário. Geralmente,
aniversário de criança termina cedo. Era isso, eu iria chamá-la para ir lá em
casa depois. Mandei mensagem combinando exatamente isso com a morena,
mas ela respondeu que tentaria, pois seus pais estavam chegando.
Droga, era disso que eu estava cansado.
Quero Milena comigo, sem reservas.
Ela logo mandou outra afirmando que sempre poderia sair depois que todos
dormissem. Eu dei um meio sorriso, garantindo a mim mesmo que seria a
última vez que ela sairia assim, escondida. Logo, nosso envolvimento não
seria um segredo.
— De volta ao colegial…
— Vá à merda, Nero.
Capitulo 21

E stou ajudando Giulia com os preparativos para o aniversário


de Anita. A pequena está radiante, pois será a primeira vez que estará
comemorando seu aniversário. Nitidamente, Giulia trouxe luz para essa
família. Será uma festa pequena, na mansão, com alguns membros da
Famiglia[77] e alguns colegas da escola de Anita.
Eu e Isabella passamos o dia ajudando na organização e temos que voltar
para casa, nos arrumar e voltar para a mansão. Giovanni tem algo de
importante para me dizer e eu estou muito ansiosa para o que quer que seja.
Sei que nosso envolvimento passou de todos os limites do que planejamos, eu
vivo entre minha casa e a dele. Eu não fiquei com mais ninguém depois dele,
e ele também.
A verdade é que já perdeu o sentido estarmos assim, nos escondendo. As
coisas foram se arrastando, se aprofundando e ninguém argumentou a
respeito. Um mês se tornou dois, que tornaram cinco, seis e cá estamos.
Agora ele quer conversar e faz questão de me ver. Ainda hoje.
Isabella foi na frente, pois estava ansiosa para ver nossos pais, que viriam
para o aniversário, e eu estava saindo, pois fiquei para ajudar Giulia na
finalização de tudo. Ela estava com aspecto cansado, então fiquei. Saindo
para me encontrar com Ludo, havia um carro próximo à entrada da mansão,
vi um dos homens de Don Lorenzo. Era a casa de Eduardo, que era filho dele
no fim das contas, mas o sentimento não foi bom.
Senti um arrepio em minha espinha, uma sensação de mal-estar quando um
deles se aproximou de mim. Ele me pediu para que entrasse no carro, pois o
“chefe” queria falar comigo. Todos os sinais ficaram alertados em mim.
Olhei para os seguranças da mansão, a minha equipe, e olhei para o carro
dele. Ele jamais poderia fazer algo comigo. Pode ser delírio, mas
simplesmente tenho uma impressão ruim desse homem em relação a mim.
Mesmo a contragosto, fui até a janela de seu carro, que desceu mostrando seu
rosto asqueroso e um sorriso malicioso.
— Boa tarde, senhorita Castelle. São somente algumas palavras. — Sua voz
era cordial. Muito cordial.
— Não tenho muito tempo.
— Não se preocupe. Acredite, é de seu interesse.
Eu duvidava muito. Mas entrei no carro de qualquer maneira. Torcendo para
que acabasse logo o que quer que fosse.
— Como você está?
— Com pressa! Fale logo o que tem para me dizer!
Sua mandíbula se apertou em desgosto pela minha petulância.
— Eu vou amar cada segundo de sua disciplina. — Sua voz era sombria.
— O que disse?
— Você quer que eu diga logo? — Ele se virou para mim, toda a máscara de
cordialidade indo abaixo — Então, eu vou dizer. Querida Milena, até que
ponto você iria para proteger sua família?
— O que você quer dizer? — Minha voz ficou ansiosa.
— Você sabia que seu pai é um traidor? — Choque passou por mim.
— O que você está falando? Meu pai é o homem mais honrado que eu
conheço — quase gritei em seu rosto. Quem ele pensava que era para falar do
meu pai?
— Seu pai é um traidor! Por que não pergunta a ele? Ele só não foi executado
porque meu filho está enfeitiçado pela sua irmã e não o delatou. O que
também é uma traição.
— Isso é uma mentira — Fúria passou por mim e eu alcancei minha arma. Eu
apontei para sua testa e falei com raiva, mesmo com dois soldados de Don
Lorenzo já tendo as suas apontadas para mim — Você é um mentiroso
asqueroso de merda. Você está despeitado por seu filho superar você em
tudo, ser um Don e um homem melhor.
— Ele é um fraco! Um fraco! E seu pai um traidor! — Apertei minha arma
ainda mais em sua testa, eu iria atirar nesse infeliz e dane-se as
consequências.
— Pare de falar do meu pai! Para de falar de Eduardo! — eu disse
entredentes.
Ele soltou uma gargalhada e me deixou ainda mais atordoada.
— E sabe o que mais? Giovanni e Nero também sabem da traição, logo serão
punidos também. — Ele bateu em meu braço e segurou meu rosto duramente.
— Sei que você é a prostituta do consigliere[78]. Eu andei seguindo seu
passos, bambina[79]. Tão prostituta que ele nunca te assumiu publicamente.
Eu queria matar Don Lorenzo. Saí do seu aperto banhada em fúria.
— Você não sabe nada sobre isso. Você está inventando essas histórias, eu só
não entendi ainda o motivo de tudo isso. O que você pretende me chamando
aqui e falando todas estas mentiras?
Eu estava muito descontrolada. Eu precisava me acalmar. Minha falta de
controle emocional era o meu pior defeito, eu precisava focar.
— Querida, seu pai escondeu um russo em nosso meio. Esse russo da Família
Ivanov, somente seu pai sabe quem é. O verdadeiro herdeiro da Bratva. Ele
manchou o nosso povo trazendo sujeira para cá. Já pensou no que o Conselho
vai dizer? Eduardo, Giovanni e Nero sabem, mas escolheram esconder isso.
Isso explicava a tensão entre Eduardo e meu pai.
Oh, Dio[80], não pode ser. Parei e me virei para frente com o olhar perdido.
Meus olhos estavam banhados em lágrimas não derramadas. Meu pai,
Eduardo… Giovanni. O que eles fizeram?
— O que você pretende me contando tudo isso? — disse o mais friamente
possível.
— Eu quero apenas uma coisa, bambina.
— O quê?
— Você. — Olhei assustada para ele. — Mas eu vou ser melhor que o seu
amante, vou me casar com você.
Meu corpo inteiro tremeu de desgosto.
— Eu prefiro morrer!
— Mas não é você quem vai morrer, querida. Não. Seu pai, Eduardo,
Giovanni serão executados por traição. Sua mãe e irmãs serão isoladas do
nosso convívio e você será mandada para um prostíbulo por ser a prostituta
que é!
Ele passou a sua mão em meu rosto, e eu quase vomitei.
— Só depende de você… Eu vou fazer com que você aprenda o seu lugar!
Afastei meu rosto bruscamente e saí do carro, mas antes que me afastasse,
ouvi a ameaça de Don Lorenzo.
— Hoje à noite, vamos anunciar o nosso compromisso, Milena! Se me
rechaçar, já sabe o que vai acontecer!
Entrei no carro totalmente transtornada. Acho que alguém falou comigo, mas
não consegui responder. Oh, meu Deus, tudo que eu mais temia aconteceria
comigo. Por quê? O que meu pai tinha feito? Isso tinha que ser mentira. Meu
pai era um homem honrado, ele jamais faria algo assim.
Cheguei em casa no automático. Parei na porta e vi meu pai, Bella e minha
mãe conversando animadamente. Pensei se toda essa situação realmente seria
verdadeira. Se meu pai realmente seria um… traidor. Não, não, não. Eu sabia
muito pouco sobre a história da Bratva. Sabia que a família Ivanov foi
massacrada pela Família Nikolai. Meu pai tinha um bom relacionamento com
o Pakhan[81] Ivanov. Poderia ser verdade? Meu pai poderia ter escondido um
filho dele aqui, na Cosa Nostra?
— Milena, vai ficar aí na porta, parada? Venha dar um abraço na sua mãe.
Abracei minha mãe, mas todo o meu corpo estava dormente. Cumprimentei a
todos e disse para meu pai:
— Preciso falar com o senhor. Precisa ser agora, pappa[82].
Todos nos olharam assustados. Papai levantou e eu o segui. Ele se sentou e
eu tomei a cadeira a sua frente.
— Pappa! Preciso que me responda com sinceridade: O senhor seria capaz
de trair a Cosa Nostra?
— De onde veio isso, Milena?
— Pai, me responda, é importante! — Ele me olhou confuso — Por favor!
Seus ombros caíram um pouco e ele evitou o meu olhar. Ele não precisava
me dizer mais nada.
— Em alguns momentos da vida, Milena, temos que escolher com qual
realidade damos conta de conviver.
Era isso. Eu não precisava de mais nada.
— Por que você está me perguntando isso? Aconteceu alguma coisa?
— Não, pappa. Não. Estou bem, eu prometo. Eu só quero te pedir uma coisa!
— Sim?
— Confie em mim. Por favor, só… confie em mim.
— Figlia[83], o que está acontecendo? — ele me perguntou, preocupado.
— Pappa, por favor. Só confie em mim.
Eu me levantei, antes que começasse a chorar em sua frente. Entrei em meu
quarto e chorei. Como eu iria sair dessa situação? Meu pai poderia ser morto!
E Giovanni… olhei o meu celular, uma mensagem dele.

Giovanni: Hoje à noite eu te quero completamente.

Sua mensagem me fez chorar ainda mais. Qualquer chance de algo mais, Don
Lorenzo tirou de nós. Depois de chorar mais, eu fui ao banheiro, lavei o rosto
e encarei o meu reflexo.
Não dava para ser explosiva e resolver do meu jeito. Não dava para ser
egoísta e mandar tudo à merda. Tinha muito envolvido, gente que eu amava.
Sim, amava. Eu não poderia arriscar, pois vivíamos sobre regras.
Eu tinha que ser inteligente. Fria. Eu iria reverter o jogo.
Don Lorenzo se arrependeria de ter cruzado meu caminho e ameaçado as
pessoas que eu amo.
Capitulo 22

E u estava ansioso. Hoje, pela primeira vez em minha vida, eu


falaria de sentimentos com uma garota. Mas era isso, acredito que todo esse
tempo eu não tinha encontrado alguém que me fizesse sentir vontade. Milena
já é uma extensão de mim, nós já somos um do outro, só precisamos
oficializar com palavras.
Cheguei no aniversário de Anita um pouco tarde, pois estava acompanhando
os detalhes do jantar, onde teria minha morena só para mim. Assim que
entrei, vi meu furacão. Hoje seria a última vez que estaríamos assim,
distantes. Eu iria fazer toda a merda séria de falar com o pai dela, noivar,
casar, tudo que tem que ser feito para que ela fosse respeitável.
Ela não me olhou nos olhos. Ela estava estranha em cada gesto. Tensa e
pálida. Eu tentei ser impassível como sempre, mas estava preocupado com
ela e seu comportamento atípico. Ela sempre me dava uma piscadinha ou um
meio sorriso, eu nem sabia que precisava tanto disso.
Cantamos parabéns, tiveram brincadeiras, a casa de Eduardo parecia e era um
verdadeiro lar. Mas Milena continuava tensa. Tentei fazer algumas
brincadeiras, mas ela ignorou. As pessoas começaram a ir embora, e eu já não
estava mais aguentando a situação. Eu iria onde ela e Isabella estavam e
perguntaria qual o problema dela, mas quando fiz menção de ir, Eduardo fez
um anúncio.
— Família, temos um comunicado a fazer. Seremos pais.
Foi uma comoção. Todos ficaram muito felizes, abraçaram o novo casal.
Abracei Eduardo e parabenizei meu amigo, que agora era pai. Champanhe foi
servido aos adultos. Os pais de Giulia estavam muito felizes com a notícia,
mas, ao olhar Milena, ela ficou ainda mais pálida, como se fosse passar mal.
Em seguida deu um sorriso genuíno, abraçou a irmã, mas eu a conhecia
agora, algo estava errado com ela.
Don Lorenzo deu um passo à frente e também fez um anúncio.
— Eu também gostaria de fazer um anúncio. E aproveitar que estamos todos
reunidos, afinal, somos família — Ele virou-se para Milena — Venha aqui,
querida.
Querida? Meu coração afundou no peito. Eu não tinha ideia do que estava
acontecendo, mas sabia que não iria gostar. Uma Milena muito tensa se
aproximou de Don Lorenzo. Ele enlaçou a sua cintura e fez o anúncio que
explodiu meu mundo.
— Milena e eu estamos noivos.
A taça de champanhe em minha mão se quebrou. Senti uma ardência em
minha mão, mas a do meu coração era muito pior. Encarei Milena, mas ela
não encontrou os meus olhos uma só vez. Ouvi um barulho como um rugido
de animal, desconfio que foi eu quem fez. Ia dizer alguma coisa, mas minha
voz não saiu. Neste momento, Milena olhou para mim e vi em seus olhos a
minha própria dor refletida. Escutei mais algumas palavras, mas não entendi
nenhuma delas. Saí em um rompante e fui para o meu carro.
Me senti traído. Me senti humilhado. Milena, minha Milena, noiva de Don
Lorenzo. Minha fúria era tão grande que eu achava que iria explodir por
dentro. Eu só sentia raiva. Quando ia entrando no carro, senti uma mão em
meu ombro.
Nero.
— Saia.
— Você não vai sair assim.
— EU DISSE PARA SAIR, PORRA!
— E EU DISSE QUE NÃO VOU!
Ficamos nos encarando o que pareceu uma eternidade, até que ele disse:
— Me dê a chave, eu vou dirigir.
Sentei no banco do passageiro e Nero dirigiu.
— Para sua casa?
Pensei no jantar, onde eu diria àquela ordinária que a queria para sempre.
Pensei em tudo que lembrava ela e neguei. Não poderia ir para casa hoje.
— Eu preciso quebrar alguma coisa. — Minha voz saiu sombria até mesmo
para mim.
Nero dirigiu para o Clube. Fomos para onde aconteciam as lutas em gaiolas e,
sem palavras, nos trocamos e fomos para uma delas. Nero era um lutador
nato, gigante, mas a minha fúria era tão grande que eu poderia matá-lo com
minhas próprias mãos.
Eu me entreguei a minha fúria naquela gaiola. Eu dei e levei golpes, e Nero
não me poupou. Ele sabia que eu precisava. Eu precisava amortecer a dor
interior.
Eu dei golpes com toda a raiva, até que eu só sentisse vazio e cansaço. Então,
eu me ajoelhei no chão e dei um rugido, que foi sombrio até para meus
próprios ouvidos. Eu soquei o chão, uma, duas, três vezes, até sentir como se
meus ossos quebrassem.
Nero me segurou e, quando eu acalmei a tempestade dentro de mim, ele ainda
ficou em silêncio. Eu fiquei ali, apático e vazio.
Um novo sentimento tomou conta de mim.
Determinação.
Me levantei, coloquei minha roupa e fui para o carro.
— Giovanni…
Eu me virei para Nero, toda a raiva e traição transbordando em meu sistema.
— Não se coloque em meu caminho, Nero.
— Eu vou com você.
— Você não sabe onde eu vou.
— Não me interessa, eu vou.
Peguei o carro e fui em direção ao apartamento de Milena. Eu merecia uma
satisfação.
— Giovanni, não é uma boa ideia.
— Se você vai comigo, guarde seus pensamentos para si mesmo.
Cheguei ao apartamento e eu sabia que sua família estava lá. Eu já tinha
passagem em seu condomínio. Eu entrei e bati em sua porta. Senhora
Alessandra abriu a porta um pouco assustada devido ao horário, já eram
quase 01:00 da manhã.
— Eu quero falar com Milena.
— Calma aí, rapaz. — Escutei a voz de Enrico ao fundo.
— Eu preciso falar com ela, agora! — Eu estava instável, machucado,
sombrio.
— Você não vai falar com a minha filha nesse estado.
— Deixa, pai.
Escutei Milena dizendo fracamente, junto de Isabella. Ela estava de pijama, o
cabelo em um coque, pés descalços e olhos vermelhos. Ela estava abatida, e
as minhas entranhas se contorceram. Olhei para sua mão e vi o anel.
A visão do anel, minha fúria voltou com tudo.
— Filha!
— Pai, confie em mim!
Todos saíram da sala, inclusive Nero, que resolveu ficar no lado de fora, e eu
me aproximei dela.
— Giovanni…
— Você poderia ter me avisado! Mas o que tínhamos não era nada, não é?
Você pode dizer agora que me avisou. — Minha voz estava inflamada de
mágoa e raiva — No fim das contas, você é uma vagabunda que estava
esperando o melhor lance. Consigliere[84] era muito pouco? Eu achei que
você nunca fosse se casar! Eu achei que você tinha horror a isso, e você vai
se casar com um sádico como Don Lorenzo? Você sabe do que ele gosta,
Milena? Se eu soubesse que era isso que você estava procurando, eu tinha…
Ela me deu um soco no nariz, por ironia, o anel acertou meus machucados.
Eu me calei e encarei seu rosto. Ficamos em silêncio por alguns segundos
seus olhos inundados de lágrimas.
— Eu quero que você confie em mim, Giovanni. Eu preciso e quero te contar
tudo, mas ainda não posso. — Ela estava tão vulnerável. Meu coração se
apertou, o que me fez sentir mais raiva ainda. Mesmo depois de tudo, de toda
a sua traição, eu ainda me importava profundamente com ela.
— Eu nunca mais quero te ver na minha frente, eu só precisava dizer isso
olhando em seus olhos.
Ela se encolheu com cada palavra, abraçando seu próprio corpo e eu escutei
um soluço. Eu saí batendo a porta. No caminho de volta, fui para a casa de
Nero. Eu não poderia entrar em casa tão cedo.
— A missão dos homens é amanhã. Eles vão buscar um carregamento no
Golfo de México?
— Giovanni…
— Eu vou junto.
— Fomos atacados da última vez.
— Eu vou!
Eu precisava ficar longe de casa.
Eu precisava ficar longe de Milena.
Capitulo 23

E u já não aguentava mais. Don Lorenzo me exibia como uma


boneca em todo evento que teve na última semana. Como seu eu fosse um
troféu. Tudo que eu sempre abominei. As coisas em casa estavam tensas.
Isabella estava ficando instável por causa dessa situação e meus pais
precisaram ficar mais tempo do que o pretendido. Isabella poderia ser
perigosa. Ela sabia que algo estava errado.
Outra que não me deu paz foi Giulia, mas que irmã eu seria se a colocasse em
uma situação de tanto estresse, ela estando grávida? Não poderia. Eu estava
fazendo tudo isso por ela também. Meu pai guardou silêncio, uma das coisas
que mais amava nele era isso. Eu poderia contar com ele, estava nítido que
não concordava com o que eu estava fazendo. A única coisa que ele disse foi:
— Você sabe, você não se casará com Don Lorenzo. Você está jogando um
jogo perigoso, Milena. Eu vou te deixar conduzir por enquanto, mas se você
perder o controle, eu vou assumir. Dane-se as consequências.
Não tive mais notícias de Giovanni. Giulia apenas disse que ele foi em uma
missão e que não tinha data para retornar. Minha mãe me olhava sempre com
o cenho franzido, como se eu fosse um quebra-cabeça complexo que ela não
entendia. Eu sempre gritei que jamais me casaria. Agora eu estou noiva do
pior homem que já existiu.
Olhei meu reflexo no banheiro, hoje Don Lorenzo teve um jantar e, claro, eu
tive que acompanhá-lo. Eu fazia tudo no automático. Eu ainda não sabia
como, mas eu derrubaria Don Lorenzo. A porta se abriu e Luísa entrou.
— Olha, olha, quem está aqui. A vagabunda da Famiglia[85]. A golpista
miserável. Giovanni te deu um pé na bunda? — Ela soltou uma gargalhada.
— Eu sabia que iria acontecer. Você achou mesmo que ele iria querer algo
sério com você? Foi bem esperta em pegar o Don gagá. Você não iria
conseguir nada melhor!
A última pessoa que gostaria de encontrar no momento era Luísa, estava sem
paciência para o seu cinismo. Eu estava com um humor das trevas. Cheguei
bem perto dela e saquei minha arma. Segurei-a pelos cabelos e apertei a arma
em sua têmpora. Ela soltou um grito, e eu bati sua cabeça na parede, tapando
sua boca em seguida.
— Eu estou cansada, exausta do seu ataque de mulher mal amada. De agora
em diante você fica longe de mim, se me vir em qualquer lugar, você desvia
ou passo por cima de você. Se me dirigir a palavra, eu corto a sua língua para
nunca mais ter o desprazer de te ouvir. E se voltar a me xingar de qualquer
coisa, eu acabo com a sua existência. — Ela me olhou assustada com olhos
chorosos — Você me entendeu?
Ela fez que sim com a cabeça. Eu soltei ela, mas antes de sair, acertei seu
rosto com um tapa. Seu lábio sangrou ao lado da boca, ela gemeu. Eu me
virei, mirei meu reflexo no espelho, arrumei minha arma na perna, acertei o
batom, enquanto ela estava encolhida no canto. Fiz tudo calmamente. Ao sair,
parei em sua frente e disse:
— Sua maquiagem está manchada, querida.
Pisquei e saí do banheiro.
Ao voltar para a mesa, Don Lorenzo me lançou uma carranca. Ele queria
controlar todos os meus passos, substituiu minha segurança, queria mudar
minhas roupas, mas o que ele não sabia é que ninguém controlava Milena
Castelle. Por enquanto, eu estava deixando que ele pensasse que havia
vencido. Eu precisava muito manter a mente fria ou colocaria tudo a perder.
Nero estava participando da reunião e não tirava os olhos de mim, como se
procurasse algo em meu comportamento. Eu nem ao menos dei-lhe um
sorriso. Don Lorenzo queria ser o tipo possessivo. Eu mantive meus olhos
baixos e fui cordial todo o tempo, como ele recomendou. Não por medo, mas
por cuidado.
Don Lorenzo não tentou nenhuma aproximação íntima comigo. Embora seus
olhos sempre tinham um brilho malicioso, ele sempre tem me deixado em
casa. Quando terminamos o jantar, eu estava entediada e não conseguia
disfarçar a minha frustração. Entramos no carro e ele tomou um caminho
diferente.
— Onde estamos indo?
— Minha casa. Quero um tempo sozinho com a minha noiva.
Eu fiquei nervosa, tive vontade de gritar e esbravejar, mas tinha que manter a
calma.
— Amanhã tenho que acordar cedo, tenho clube de tiro.
— Não há mais necessidade de fazer esse tipo de atividade. Sua única função
é ser bonita e me satisfazer na cama. O mesmo com aquele curso
desnecessário que você está fazendo.
Meu estômago embrulhou. Minha paciência tinha limite.
— Eu não vou dormir com você. Esqueça isso, eu jamais dormiria com um
velho sádico como você.
— Você esquece quem está com a vantagem aqui.
— Eu não me importo nem um pouco!
Ele começou a sorrir.
— Então nós vamos jogar um jogo, Milena. Transar comigo ou disciplina.
Sempre a sua escolha, até que nos casemos. Ambos me darão prazer.
Velho nojento, asqueroso, insano.
— Eu prefiro morrer do que ser tocada por você.
— Não seja tão radical, Milena. Por enquanto, você vive. Por enquanto.
Chegamos em sua casa e ele me empurrou para um cômodo no andar
superior. Era um quarto.
— Nós podemos fazer isso do jeito doloroso ou fácil. Não vou dizer indolor,
porque eu estaria sendo mentiroso. — Ele entrou em um closet e trouxe um
chicote de couro.
— Ainda quer a disciplina, Milena?
Meu instinto era matá-lo. Meu instinto era acabar com sua vida com as
minhas próprias mãos.
— Pense no seu pai, em Eduardo, que acabou de descobrir que é pai… pense
no seu adorado Giovanni.
Ele me tinha aí.
— Tire a roupa. E fique de costas.
Engolindo meu orgulho, eu me virei. Eu prometi a mim mesma que não
choraria. Eu abaixei a parte de cima do meu vestido, que era muito mais
modesto do que eu normalmente usava. Eu senti sua presença atrás de mim.
— Eu sempre sonhei com você assim, sob o meu domínio.
— Não encoste suas mãos em mim. Faça o que tenha que fazer, mas não
encoste em mim.
— Teremos tempo, Milena. Eu vou te disciplinar com o meu pau em você
ainda. Um dia.
Eu fechei meus olhos, Eu tenho treinamento, não iria me acabar de chorar. O
que doía era a humilhação. Eu senti o primeiro golpe.
O segundo.
O terceiro.
O quarto.
A dor era quase insuportável.
Escutei gemidos atrás de mim e me dei conta de que o maldito estava
sentindo prazer ao me castigar. Ele estava se tocando, me dar conta disso
quase me fez vomitar.
Eu poderia matá-lo, seria tão fácil. Eu não sairia viva desta casa, mas eu
livraria o mundo desse doente.
Eu pensei nos meus pais.
Eu pensei nos momentos com minhas irmãs.
Eu pensei no meu sobrinho ou sobrinha por nascer.
Pensei em Giovanni…
Eu derrotaria Don Lorenzo.
E eu não iria chorar.
Minhas irmãs resolveram me dar o tratamento de gelo. Isabella não falava
comigo e Giulia só falava para me recriminar. Se eu contasse a Isabella que
estava sendo chantageada, ela mataria Don Lorenzo. E eu não iria
sobrecarregar Giulia com meus problemas. Era hora de eu ser altruísta.
Eu me comportava como o robozinho de Don Lorenzo. Ele não voltou a me
castigar, toda vez que saímos, ele fazia algum suspense, mas me trazia para
casa. Eu só não sabia se conseguiria continuar agindo assim por mais tempo.
As marcas em minhas costas levaram alguns dias para desaparecerem
completamente. Por sorte, não houve cortes.
As mulheres me olhavam com pena, outras, com deboche. Todas sabiam
sobre Don Lorenzo. Estávamos indo para o Vecchio e meu coração se
encolheu. Por várias vezes viemos jantar aqui, eu e Giovanni. Passar por todo
o calvário com Don Lorenzo não me deu vontade de chorar tanto quanto vir
aqui sem Giovanni. Parecia uma traição.
Eu sentia tanta falta dele. Mas antes de qualquer coisa, eu deveria resolver a
situação. Don Lorenzo recebia ligações misteriosas, em uma dessas vezes ele
ficou muito nervoso e quebrou o telefone. Ele estava sendo ameaçado. Quem
poderia estar ameaçando-o? Algo que esse alguém teria contra ele, eu
descobriria. Ele faria uma viagem amanhã. Era a minha chance de entrar em
sua casa e fazer uma varredura. Como sua “noiva”, eu teria passe livre lá
dentro, certo? Eu também consegui colocar um programa espião em seu
notebook e escutas que papai conseguiu para mim em seu escritório.
Mas, por hoje, eu teria que continuar bancando a noiva submissa e
conformada. Entramos e até sua mão em mim me dava ânsia. Mas eu tentei
manter a face limpa. Eu conseguiria, mesmo que as emoções estivessem
explodindo dentro de mim.
Olhei o final do Vecchio, o cantinho escondido que era meu e de Giovanni. O
lugar que Nero “nos deu” para que ficássemos fora de visão. Olhei e imaginei
se teria alguém lá, usurpando o nosso lugar. Minha garganta se apertou, meus
olhos encheram de lágrimas. Mentalizei que eu precisava ser forte, eu
precisava ser forte. Don Lorenzo escondia segredos, eu descobriria cada um
deles e o teria em minhas mãos. E eu não teria misericórdia.
Quando sentamos, eu disfarcei o máximo que pude meu tédio. Os elogios, os
parabéns me enojavam. Eu continuei bancando a boa menina até que pedi
licença para ir ao toalete. Não aguentava mais. Quando me levantei, foi quase
impossível não olhar novamente para o lugar onde costumava ficar com
Giovanni. Mas, antes de entrar no toalete, uma movimentação me chamou a
atenção.
Aquele cabelo, aquele relógio, aquela mão… Giovanni estava aqui? Estagnei
no lugar. Ele estava. Me doeu vê-lo em nosso lugar. Ele virou para mim
como se me sentisse e seus olhos estavam nos meus. Ele ficou surpreso ao me
ver, mas não teve reação. Meu olhar deveria refletir toda a saudade que eu
sentia dele. Duas semanas sem vê-lo. Eu queria correr e me jogar em seus
braços, queria que ele me abraçasse e dissesse que tudo ficaria bem, que ele
estava comigo. Mas eu ainda não poderia contar a ele, eu não tinha nada
sólido contra Don Lorenzo, apenas especulações. Eu poderia colocar todos
eles em risco.
Ainda olhando, percebi uma silhueta se sentando ao seu lado. Uma mulher.
Eu vi vermelho. Eu não podia acreditar, aquele stronzo[86], aquele
maledetto[87], aquele… ele estava com outra? No nosso lugar? Enquanto eu
passava um calvário com Don Lorenzo, Giovanni estava por aí com outra?
Minha raiva, aquela que eu vinha segurando há tanto tempo, explodiu em mil
pedacinhos e eu já não me importava com o papel que eu tinha que
representar.
Como um furacão, me vi indo em sua direção antes mesmo que pudesse
pensar a respeito. Parei em sua mesa e ele tentava parecer entediado, mas seu
olhar era cauteloso. Olhei para a mulher bonita que estava sorrindo para ele,
mas parou quando me viu. Ali era bem vazio. Por isso era o nosso lugar.
— O que você pensa que está fazendo? — falei entredentes. Peguei minha
arma e mirei para o stronzo. Ele se escorou na cadeira e cruzou os braços
como quem tivesse certeza que eu jamais atiraria nele. E ele estava certo.
Estreitei os olhos e mirei na garota que estava ao seu lado. Com isso, ele se
assustou e tentou falar meu nome, mas eu não deixei. Com os olhos nele,
ainda mirando a garota eu disse:
— Saia.
— Milena.
— Você fica. — Virei para a garota — Saia, agora. Eu não vou falar de novo.
A garota, muito assustada, saiu em direção ao escritório de Nero.
— Você é louca — Giovanni disse baixinho.
— Você não viu nada. — Eu abaixei minha arma e coloquei as duas mãos na
mesa, chegando bem perto dele. Perto demais para a minha paz de espírito.
— Eu tenho vontade de te quebrar inteirinho Giovanni, como você pôde ser
tão canalha?
— Canalha? Eu— Fogo e mágoa irradiavam dele — Quem está com um anel
no dedo não sou eu — ele respondeu no mesmo tom, chegando muito perto
do meu rosto. Nossas respirações duelando, raiva e desejo misturados. Pensar
assim fez meu coração cair.
— Você não tem ideia do quanto está sendo injusto comigo. Quando você
descobrir, Giovanni, você vai me pedir perdão e, sinceramente, se eu souber
que você andou molhando o pau por aí, eu te deixo sem ele e te mando à
merda. Não brinque comigo.
— Eu acho muito difícil, Milena. Contra fatos — Ele olhou meu anel — não
há argumentos.
— Você vai ver o quanto está errado. Eu só precisava que você confiasse em
mim. Mas você só está tornando tudo mais difícil — Minhas lágrimas
rolaram e minha voz falhou, pela primeira vez eu não me importei em parecer
fraca. Fiquei ereta novamente — Eu espero que você não arruíne qualquer
chance da gente voltar a ficar juntos.
Seu olhar se suavizou com minhas lágrimas. Ele se aproximou e pareceu que
ia dizer algo, mas uma mão em meu braço fez com que ele fechasse ainda
mais a sua expressão.
— Consigliere[88]. — Don Lorenzo me puxou e eu fechei o rosto em
desgosto. Não dava para disfarçar as lágrimas. Eu ainda tentei, mas elas só
continuaram rolando. — Se me der licença, preciso de minha noiva comigo.
O rosto de Giovanni parecia pedra de tão duro. Don Lorenzo me arrastou e eu
dei uma última olhada em Giovanni, que virou de costas com as duas mãos
na cabeça, antes de ser sacudida e o aperto em meu braço ficar ainda mais
forte.
— Pelo jeito teremos disciplina hoje, bambina[89].
Capitulo 24

E stava em um dos nossos clubes pensando sobre o que tinha


acabado de acontecer. Por um momento, enquanto Milena veio até minha
mesa e vi seus olhos banhados em lágrimas, eu quase me esqueci que aquela
mulher tinha me destruído, me lembrando porque me envolver
emocionalmente nunca foi uma opção. Eu perdia o controle quando se tratava
daquele furacão selvagem e simplesmente não conseguia sentir desejo ou
tesão por qualquer outra mulher. Meu celular estava vibrando loucamente
em meu bolso, mas eu só ignorei. Não queria falar com ninguém.
Enquanto as dançarinas se moviam e tentavam chamar a minha atenção,
minha mente estava nas lágrimas daquele demônio. Quem ela pensava que
era para me cobrar qualquer coisa? Não que eu estivesse envolvido com
qualquer outra pessoa, mas aquela louca achava que poderia se comportar
como se tivéssemos algo? Apontou uma arma para mim, e mesmo com tudo
acontecendo, eu fiquei duro com todo aquele fogo.
Selvagem.
Maledetta[90].
Eu só poderia estar louco. Terminei meu quinto copo de uísque ao mesmo
tempo em que uma das meninas vinha para mim. Tinha uma máscara no
rosto, um par de roupa que não deixava nada para a imaginação, se é que
poderia ser chamado de roupa. Pela semiescuridão, não conseguia distinguir
seus olhos ou cabelo.
Em outro tempo, eu com certeza a teria em minha cama em meio segundo.
Mas tudo o que eu sentia era raiva e desgosto. A garota sentou em meu colo
e praticamente colocou os seios em meu rosto. Um pouco tonto, bêbado, mal
consegui afastar a garota.
— Hoje não, bella[91].
Ela não ouviu ou não me levou a sério, pois continuou se retorcendo em meu
colo. Por um segundo, imaginei que poderia me deixar levar, apertei a mão
em seus cabelos e olhei seus rosto. Os olhos eram azuis, não negros. O
cheiro era muito doce, não cítrico. Constatar isso só me deu mais raiva.
— Saia.
— Por favor — a garota disse montando meu colo de frente e buscando
minha boca. Eu a empurrei usando mais força do que gostaria e ela caiu
sentada no chão — Grosso, estúpido. — Levantou-se em um grunhido
irritado.
Eu reconheci aquela voz. Mesmo sob o efeito do álcool, aquela voz tirou um
pouco da sonolência. Me levantei e tirei a máscara da garota.
Luísa Conti.
Cazzo[92].
— O que você acha que está fazendo? — Minha voz era baixa, mas mortal.
— Agora eu vi! Está apaixonado Giovanni? Por aquela vadia de quinta? Eu
achava que o problema fosse eu, que você estava me punindo! Mas, olha isso,
olha para você, bêbado, negando fogo. Que clichê mais deprimente!
— Cala a sua boca! Eu poderia acabar com a sua vida de principessa[93]
italiana, por que o que a princesinha Conti estaria fazendo em um clube
masculino? Imagina só.
— Você teria que se casar comigo! — O sorriso dela era maníaco. Onde eu
fui meter meu pau?
Soltei uma sonora gargalhada que foi morrendo enquanto minha raiva
aumentava.
— Sabe qual o seu erro, Luísa? Achar que eu sou um cavalheiro! Achar que
eu me importaria minimamente com você! Eu sou Giovanni Maceratta,
consigliere[94] da Cosa Nostra, ninguém me diz o que fazer! Ninguém!
Quanto mais um louca, uma vadia como você!
Ela começou a me abraçar, tentando alcançar minha boca.
— Você é meu, Giovanni! Meu! Eu sei que você me ama, me ama!
Segurei seus braços com firmeza, ela sentiria o aperto nos próximos dias.
— Eu só não te deixo aqui para sempre, servindo como uma prostituta de
merda, porque eu acho que você precisa de ajuda médica! Mas não é
problema meu, então essa é a última vez que digo, FICA LONGE! — Ela se
assustou com meu grito e eu a joguei no chão. — Some daqui, ou você não
sairá mais! Nunca!
Neste momento alguns soldados apareceram.
— Pra onde levamos a vadia?
Eu a olhei uma única vez.
— Joga na rua! E se ela voltar, têm permissão para fazer o que quiserem!
Ela ofegou com o meu comando e eu me virei, chamando meu soldado para
que me levasse para a casa de Nero. Eu não estava pronto para voltar para
casa. Olhando para o meu celular, vi inúmeras ligações de Talía e me
preocupei. Liguei de volta e ela respondeu no primeiro toque.
— O que aconteceu? — perguntei.
— Você está no clube? Luísa me mandou uma mensagem, Gio. Ela disse que
sabia que você estava no Clube e iria te seduzir. Para ficar grávida e você se
casar com ela. Não achei certo você ter usado ela, mas também não concordo
com o que ela está tentando fazer.
Fechei os olhos.
Ela estava totalmente louca.
— Estou bem, percebi que era ela. Já me livrei dela — disse com um suspiro.
— Se livrou? Como assim? — Talía perguntou beirando a histeria.
— Sua amiga respira. Mas se ela não procurar um hospício, será por pouco
tempo! Tchau!
Desliguei. Me perguntei quando foi que a minha vida saiu dos trilhos tanto
assim. Sentia uma angústia e uma dor extrema oprimirem meu peito.
Fechando os olhos, só pedi que tudo passasse logo. Eu precisava aprender a
respirar sem Milena.
Cheguei na casa de Eduardo, receoso de encontrar Milena por lá, afinal, era a
casa de sua irmã. Quando entrei, Nero, Isabella, Enrico, Giulia e Ludo
estavam reunidos na sala com Eduardo. Estranhei ao ver Enrico Castelle fora
da Filadélfia. Depois do nosso último encontro, eu não o tinha visto. Ao ver
Ludo, já imaginei que o furacão poderia estar por ali também.
Depois de ter passado as últimas semanas em uma missão suicida, e depois
da noite de merda que tive ontem, eu só queria poder tirar todo esse acúmulo
de sentimentos do meu peito. Pela primeira vez, eu sabia o que era ter um
coração partido. Partido por uma mulher que me avisou que se eu me
apaixonasse, ela me devolveria o coração em caquinhos.
Ela me pediu que confiasse nela, ficou ciumenta com Alessa ao meu lado.
Alessa, amiga de Nero, com quem nunca tive nada além de algumas
conversas. Mas eu gostei de ver aquele fogo nela, gostei de saber que ela
ainda se sentia possessiva sobre mim. E eu me odiava ainda mais por isso.
Suas palavras me fizeram pensar muito. Ela me pediu novamente que
confiasse nela. A forma como ela estava se comportando, a forma como ela
estava se deixando dominar, não era nada como Milena. Me fez pensar que
poderia ser um show. Mas por quê? O que estaria acontecendo?
— Sente-se, Giovanni.
Eduardo pediu. Eu não queria ficar muito tempo, não achei que houvesse
mais pessoas lá. Olhei ansioso ao redor, mas não vi Milena.
— Não vou demorar — disse desconfortável.
— Estamos falando sobre Milena. — Giulia informou sem tirar seus olhos de
mim.
Senti o meu semblante endurecer.
— Não acho que seja assunto meu. — Milena era uma ferida aberta e recente.
Falar sobre ela doía.
— Não seja orgulhoso, Giovanni. Todos aqui sabemos que vocês estavam se
vendo há meses — Giulia disse com irritação. — Eu estava muito
desconfiada, mas depois da sua reação à notícia do noivado e do confronto de
vocês, eu tenho certeza.
— Tem alguma coisa errada nessa história — Nero refletiu — Milena não
está agindo como ela. Aquela garota não aceitaria de bom grado essa
situação. As vezes que a encontrei com Don Lorenzo, a mesma faltava matá-
lo com o olhar.
— Don Lorenzo tem algo contra a Srta. Milena. Ou ele não teria despedido
meus serviços, porque sabe que minha lealdade é somente com ela —
interveio Ludo e a informação me surpreendeu. Ludo sempre cuidou de
Milena.
— Milena jamais, JAMAIS, ficaria com Don Lorenzo por vontade própria.
Eu conheço minha irmã — Giulia continuava falando enfaticamente. Eu já
estava me encaminhando para a porta, precisava me afastar dessa história,
preservar o pouco de sanidade que ainda me restava. Fosse o que fosse, ela
não confiou em mim.
— Tem marcas nas costas dela — Isabella disse e todos pararam. Me virei
instantaneamente, Isabella olhava diretamente para mim. — Ela tentou
esconder, mas eu as vi ontem.
— Que marcas? — eu disse entredentes, minha voz sombria como nunca.
— Ela não me falou. Só me pediu para confiar nela, que iria resolver essa
situação. Eu sei que você está ferido, Giovanni, que seu orgulho e dor têm te
deixado cego. Mas tem algo muito sério nessa história e minha irmã está
sofrendo.
Meu sangue inflamou como combustível em minhas veias. Ela me pediu para
que confiasse nela, seu comportamento, suas roupas, sua face limpa, tudo
gritava que algo estava errado. Mas eu estava magoado demais para perceber.
— Primeiro, precisamos falar com ela. Ela precisa nos contar o que está
acontecendo. Se ela não contou, é porque não queria justamente esse tipo de
reação. Vamos falar com ela antes de qualquer decisão precipitada —
Eduardo interviu.
Enrico sempre foi um homem controlado, mas jogou o copo que estava em
sua mão longe. Eu queria matar Don Lorenzo. Eu queria e faria.
— Onde está Milena? — eu perguntei.
— Disse que ficaria em casa. Ela não sai do quarto para nada, só para sair
com o asqueroso — Isabella disse com raiva chispando em seus olhos. Era
raro ver alguma emoção nessa garota, mas, pelo jeito, a família era o seu
calcanhar de Aquiles. — Eu queria resolver do meu jeito, mas ela me fez
prometer que não faria nada. Que ela tinha isso e resolveria.
Minha mandíbula apertou. Eu saí em disparada para o meu carro. Eu falaria
com Milena, e ela me diria o que estava acontecendo. Liguei para ela, mas
estava desligado. Fui ficando ansioso, liguei mais algumas vezes, mas ainda
não consegui contato. Entrei em seu condomínio e a encontrei saindo. Ela
parou ao me ver e meu coração saltou. Me aproximei devagar e vi seus olhos
se estreitaram em raiva e confusão. E sua raiva sempre me excitava. Sempre.
— Precisamos conversar — Minha voz saiu cheia de emoção. Saudade de
abraçar e beijar seu corpo. Seu perfume me invadiu e eu tive que segurar a
respiração para manter o controle.
— Eu não tenho nada para falar com você. — Ela tentou passar por mim, mas
eu segurei seu braço. — Me solta, Giovanni. Vai atrás das suas vadias e fica
bem longe de mim. Não era isso que você queria? Nunca mais me ver?
Ótimo. Também não quero mais te ver.
Ela estava muito nervosa. Mas eu não iria abrir mão de ter essa conversa, eu
precisava saber o que ela estava escondendo de todos.
— Não me obrigue a ser um homem das cavernas com você. Nós vamos
conversar.
— Vá à merda!
Ela tentou sair, mas eu a peguei e a joguei por cima dos ombros. Ela se
debateu, mas eu fui para o estacionamento mesmo acompanhados por alguns
olhares curiosos. Eu não iria recuar agora.
— Giovanni, eu vou te machucar — ela gritou.
— Você já fez! — eu gritei de volta, e ela parou de lutar. Eu queria entender,
mas fato era fato, ela estava noiva de Don Lorenzo. E isso doía pra caralho.
Pouco antes de chegar ao meu carro, senti seu corpo tremer em soluços.
Abri o carro e a coloquei com cuidado no banco. O estacionamento estava
vazio e pingos de chuva começaram a cair. Ficamos ali por alguns segundos,
eu olhando cada traço da sua expressão angustiada e chorosa com atenção e
saudade. Em um momento, achei que ela me beijaria, pois vi toda a tristeza
que eu sentia refletida nela. Vulnerável, Milena, com o rosto banhado em
lágrimas, me empurrou e caminhou para frente do carro, soltando um grito de
desespero. Caiu de joelhos no chão chorando e algo em mim se quebrou. Me
aproximei com cuidado, a chuva ficando gradativamente mais intensa.
Abaixei ao seu lado e ela me olhou, lágrimas e chuva misturadas em seu
lindo rosto.
Sem palavras, eu a abracei e ela se entregou no abraço, chorando
compulsivamente. Minha menina estava sofrendo e eu me recriminei até a
medula por não ter estado com ela. Passando as mãos em suas costas, senti os
vergões sobre a roupa molhada. Eu queria gritar e matar o responsável, mas
vê-la ali chorando e quebrada, percebi que ela precisava de mim inteiro. Ela
se afastou se acalmando um pouco e me olhou nos olhos.
Nos levantamos e ela se aproximou, segurando meu rosto com as duas mãos.
Eu queria perguntar por que ela estava fazendo tudo aquilo. Eu queria que ela
me explicasse por que me destruiu, mas tudo evaporou quando me dei conta
de que não importava. Eu precisava dela para viver, respirar, e seu olhar me
disse o mesmo. Independente da confusão que ela estivesse, eu estaria com
ela e a protegeria.
— Eu te amo — sussurrei.
Tudo foi esquecido com aquelas palavras. Ela encarou meu rosto com olhos
arregalados, seus dedos, que até então acariciavam minha barba por fazer,
congelaram, eu puxei seu corpo de encontro ao meu e a beijei. A beijei com
saudade, com desespero, com paixão, com raiva e com todo o sentimento que
eu estava guardando dentro de mim. A levantei em meu colo, devorando seus
lábios.
— Você me ama? — perguntei beijando seu pescoço, seu colo, chupando,
mordendo, totalmente descontrolado, movido pelas emoções que estavam
trancadas. Eu precisava saber, eu precisava ouvir. Poderia parecer fraqueza,
mas eu não me importava. Porque se ela me amasse um pouquinho...
— Com desespero — ela disse acariciando meu cabelo. — Te amo com
desespero, como nunca amei ninguém.
— Você me ama, me ama. — Ela me encarou emoldurando meu rosto com
suas mãos.
— Com cada fibra do meu ser — Ela chorava e meu peito queimava.
Milena, minha Milena, minha garota, minha femme fatale, me amava. Me
amava.
Eu encostei seu corpo no carro, estacionamento estava vazio, chuva,
torrencial, levantei o seu vestido e rasguei sua calcinha do corpo. Eu
desafivelei meu cinto, tirando o meu pau pra fora e o empurrei nela, me
sentindo em casa. Ela me encarou por alguns segundos e vi ali tudo que havia
em mim.
Saudade.
Tristeza.
Amor.
Deitei seu corpo sobre a frente do carro e empurrei. Ela me abraçou com
pernas e braços, e eu abaixei meu rosto, indo de encontro ao seu.
— Eu te amo. Eu morri mil mortes quando achei que tinha te perdido. Eu te
ofendi, mas era minha raiva, era porque eu te amava demais para te ver ir. Eu
te amo e vou matar qualquer um que ficar em nosso caminho. Você é minha.
Minha Milena. Minha.
Ela chorou, e eu reverenciei seu corpo, a chuva lavou toda a mágoa e
incerteza. Pela primeira vez na vida, eu declarei minha posse a alguém. Foi
maravilhoso e libertador. Eu ainda não sabia os motivos de Milena, mas
acreditava que ela os tinha. E eu confiaria nela. Porque pertencíamos um ao
outro.

Pela primeira vez em duas semanas, eu entrava em meu apartamento. Eu


trazia Milena em meu colo, ela olhou ao redor e voltou seu rosto para o meu
pescoço. Seu jeito manhoso me fez rir. A coloquei em meu colo no sofá e
disse em seu ouvido:
— Precisamos tirar essa roupa molhada. — Ela retesou o corpo.
— Eu vou sozinha tomar banho, só quero ficar mais alguns minutinhos aqui.
— Milena.
Ela não respondeu. Eu a coloquei no sofá e fui para o banheiro. Enchi a
banheira com água quente, tirei minha roupa e fui até onde ela estava. Ela
dormia. Com cuidado, comecei a tirar sua roupa. Quando a virei para
desabotoar o sutiã, meu ar ficou preso nos pulmões.
Milena, minha Milena, estava com marcas do que pareciam ser cordas em
toda a extensão de suas costas. Ódio puro passou por mim, eu queria
abandonar tudo ali e matar Lorenzo onde ele estivesse. Mas agora eu cuidaria
da minha menina, eu cuidaria dela, porque ela precisava de mim.
Percebendo meu estado, ela despertou e tentou encostar as costas no sofá para
se esconder. Eu mantive o olhar sobre ela, que não encontrou o meu. Eu
levantei o seu queixo até que ela me olhasse.
— Não se esconda de mim, Milena.
Com cuidado, a carreguei até a banheira e entrei com ela. Comecei a lavar
seu corpo com ternura que nunca usei com ninguém, além da minha mãe. A
água quente fez com que a tensão do seu corpo fosse passando. Ela se
encostou em mim e ficou em silêncio por um tempo.
— Lorenzo está me chantageando — ela disse e, apesar da minha vontade de
quebrar alguma coisa, permaneci em silêncio para que continuasse. — Ele
disse que meu pai é um traidor, que tem provas de que meu pai escondeu o
verdadeiro herdeiro da Bratva, aqui na Cosa Nostra. E que Eduardo e você
sabiam. Ele também sabia sobre a gente. Ele disse que se eu não me casasse
com ele… ele entregaria meu pai, você e Eduardo para o Conselho. Que
vocês seriam mortos, minha mãe e irmãs exiladas, e eu… ele mandaria para
um prostíbulo.
Eu apertei Milena mais forte.
Desgraçado.
— Eu não poderia arriscar que isso fosse verdade. É verdade, Gio? Meu pai é
um traidor?
Suspirei antes de responder. Nossos desencontros até agora foram por
omissão. Eu não continuaria escondendo nada dela.
— Sim, seu pai acolheu o menino Ivanov. Ele não nos contou quem era, e
Eduardo resolveu poupar a vida dele.
— Giulia.
— Sim.
— Eu aproveitei a situação para investigar Don Lorenzo. Ele está traindo a
Cosa Nostra, Giovanni. Eu o escutei ao telefone mais de uma vez e ele estava
sendo ameaçado. Um desses dias eu ouvi claramente o sotaque carregado.
Russo. Ele é o verdadeiro traidor. Eu coloquei um programa espião no
notebook dele ontem à noite, depois de…
— Milena, Milena… até onde esse desgraçado foi? — Ela estava muito
sensível sobre o assunto. Respirou fundo e, por fim, respondeu:
— Ele me pedia para escolher: entregar meu corpo ou disciplina. Eu não
quero falar sobre isso.
Eu deixei passar. Eu também não queria falar sobre a situação, as marcas em
seu corpo diziam por si só.
— De qualquer forma, há um espião no notebook dele. Eu só preciso acessar
os seus dados. Eu quero comprometê-lo também sobre o que ele acusou meu
pai. Quero que pensem que ele escondeu o garoto Ivanov. Quero essa culpa
sobre a cabeça dele e longe do meu pai.
— Nós vamos dar um jeito.
— Eu comecei a implantar provas. E-mails, documentos forjados, mentiras…
Eu quero a queda de Don Lorenzo. Se eu não conseguisse nada, eu
inventaria, mas ele cairia.
Milena era muito inteligente. Sozinha, estava conseguindo enganar um
homem muito perigoso. Uma verdadeira serpente. Terminamos o banho e ela
colocou uma camisa minha. Entrou no quarto e viu suas coisas ainda
espalhadas.
— Achei que você tinha jogado fora minhas coisas.
— Eu não vim aqui desde o dia em que você saiu. Eu nunca poderia me
desfazer do que tinha restado de você, mas eu também não poderia viver mais
aqui.
Ela me abraçou. Eu segurei seu corpo apertado no meu.
— Me perdoe. — Milena estava fragilizada.
— Eu também devo te pedir perdão, amore mio[95].
— Eu só quero me livrar de Don Lorenzo logo. Eu quero ficar com você.
— Eu nunca mais vou te deixar ir, Milena.
— Eu nunca vou querer que você me deixe ir.
Deitamos em minha cama e Milena não demorou para dormir. Eu ainda
fiquei pensando por um tempo. Minha corajosa Milena tinha implantado um
sistema espião e eu sabia quem poderia descobrir qualquer sujeira de Don
Lorenzo. Sai com cuidado da cama para não acordá-la e peguei meu celular.
— Carlo. Preciso de um serviço.
Capitulo 25

A cordei com a cabeça latejando, como se tivesse bebido


muito. Olhei ao redor do quarto e fui tomada pela sensação de saudade e
familiaridade. Estava no quarto de Giovanni, em sua cama. Não tinha muito
tempo a última vez que estive com Giovanni, ali, naquele quarto. Mas parecia
uma vida. Uma vida inteira.
Com um suspiro exagerado, fui até o banheiro. Ali, mirei o meu reflexo.
Olheiras, minhas costas ardiam, o cabelo nunca esteve tão sem brilho. Acho
que emagreci um pouco. Não sabia que caminho seguir a partir daqui. Voltei
para o quarto e peguei o meu celular. Já era tarde, muito tarde da noite.
Várias chamadas não atendidas. Meu pai, Giulia e Lorenzo.
Muito desanimada, resolvi que iria dar atenção a esses problemas depois.
Certamente Lorenzo já sabia que eu estava com Giovanni. Toda a minha
equipe de segurança foi trocada e seus homens, provavelmente, já o havia
informado.
Avisei meus pais que estava bem e que logo estaria em casa. Ele viu a
mensagem, mas não respondeu. Ignorei as mensagens de Lorenzo e fui para a
sala onde encontrei Giovanni sentado só com uma cueca Calvin Klein, a
cabeça inclinada no encosto do sofá. Olhos fechados.
Giovanni era tão lindo, tão lindo, que meu coração se comprimia com o
tamanho do sentimento por ele. Olhando seu rosto, percebi que ele tinha
emagrecido também. Ele estava com o rosto levemente mais fino, olheiras. A
mão machucada. Eu tive que reconhecer, olhando ao redor do apartamento,
que ele se tornou uma extensão do meu lar. Minhas coisas estavam em todo
lugar e eu senti aquele aperto no peito novamente.
A sala estava na penumbra, como a primeira vez que entrei aqui. Eu nunca
imaginei que acabaríamos tão próximos, que compartilharíamos mais que
nossos corpos. Que compartilharíamos nossa alma e nosso coração. Do nosso
jeito estranho e complicado, éramos bons juntos.
Me aproximei muito calmamente. Ele sempre acordava quando eu me
aproximava, porque, por mais que ele fosse assim, aparentemente calmo e
bem humorado, ele ainda era um mafioso. Ele era o segundo no comando, o
consigliere[96] de uma organização criminosa. Ele só escondia bem. Esse era
um dos motivos pelos quais não disse nada a ele, nem a meu pai, nem às
minhas irmãs. Eles poderiam se colocar em risco.
Quando me aproximei, como previsto, suas pálpebras se mexeram, mas ele
não abriu os olhos. Mas eu sabia que ele estava acordado. Na parte de trás do
sofá, eu acariciei seus cabelos, me aproximei e beijei sua testa bem
levemente. Em um rompante, Giovanni me ergueu por cima do sofá e eu
estava em seu colo. Com um gritinho, eu segurei seus ombros e ele me
beijou. Eu respirei aquele beijo tão profundamente que me embriaguei com o
sentimento inundando meu coração. Isso era amor, só poderia ser amor.
Giovanni passou os olhos em meu rosto e eu vi, Giovanni também sofreu,
talvez tanto quanto eu. Passei a minha mão em seu rosto e suspirei. Ele
aproximou o nariz em meu pescoço e suspirou também.
— O que você pretendia fazer ontem?
— Eu pretendo! Estou indo agora mesmo na casa de Don Lorenzo. Quero
pegar os aparelhos que coloquei lá de escuta. Quero dar uma revistada no
escritório dele, pois o asqueroso não estará na casa, ele viajou. — Vi a
reprovação em seus olhos. — Não adianta reclamar, Giovanni, eu vou
resolver isso. Só confie em mim.
Ele me entregou um copo de água ainda em silêncio e eu tomei. Quando
terminei, ele disse em uma voz implacável.
— Você não vai sair dessa casa, Milena. Não até que eu mate Don Lorenzo.
— Não, Giovanni. Don Lorenzo é meu. Eu não quero uma morte rápida,
quero ver a perda em seus olhos, destruí-lo em sua essência, e só então matá-
lo. Eu não quero te envolver nisso ou meu pai. Eu vou resolver do meu jeito.
— Você não sai dessa casa, Milena. Eu não vou correr o risco. Você já fez o
suficiente por todos.
— Você não decide isso! Cazzo[97]! — Me levantei enfurecida. — Foi por
isso que não falei nada, eu tinha um plano, um plano, Giovanni, eu vou
continuar fingindo...
— Para! Chega! — ele gritou e se levantou também. — Você não vai mais
chegar perto desse homem. Continuar com o quê? Fingindo o quê? Até que
ele resolva te matar? Que ele continue agredindo você? Eu não vou permitir.
Não vou permitir, Milena.
— Eu não preciso da sua permissão. Estou indo embora — disse em um
sussurro.
Ele me olhou com quase pesar.
— Me desculpe.
Olhei sem entender, mas senti que estava ficando tonta. Meus olhos
começaram a desfocar. Não, não pode ser. Ele me drogou?
— Figlio de una Cagna[98], maledetto[99], você me drogou? Seu, seu... eu não
vou te perdoar, Giovanni — Minhas vistas foram escurecendo, mas eu senti
ser amparada por seu corpo forte. Perdi os sentidos lentamente, mas, antes de
apagar de vez, ainda escutei o seu sussurro.
— Me desculpe, gatinha. Mas você só sai daqui quando for seguro.
Capitulo 26

— M ilena está segura? — Escutei Enrico do outro lado.


Olhei a morena deitada em minha cama. Só por segurança, amarrei seus
braços no suporte. Mais minha do que dela.
— Ela está! Agora eu, não sei por quanto tempo depois que ela despertar!
— Foi necessário. Eu avisei a ela que, se perdesse o controle, eu assumiria.
Mas agora eu estou com outra preocupação. — Ele suspirou e disse: —
Isabella sumiu.
— Como assim?
— Foi de propósito. Ela fugiu da segurança.
— Tem certeza disso?
— Ela deixou um bilhete. Disse que estaria de volta ao amanhecer.
— Por que ela fez isso?
— Eu tenho minhas teorias. Mas não adianta, se ela não quiser ser
encontrada, não será. O que não significa que não estou tentando. Bem, eu e
Nero.
Péssimo momento para Annabelle aprontar. O que deu na menina?
— Eu estou indo para o seu apartamento. Vou colocar um dos meus homens
de confiança para ficar com Milena, caso ela acorde, ele vai me avisar.
— Quando ela acordar, quero ter Don Lorenzo em mãos. Ela quer vingança,
ela terá. Minha menina já passou o suficiente.
— Pode ficar tranquilo. Milena não sai daqui.
— Te aguardo.
Arrumei minhas coisas, deixei Luigi responsável por Milena, e fui para a casa
de Enrico. Milena provavelmente dormiria a noite inteira, quando acordasse,
eu estaria lá para começar o ritual de acalmar seu temperamento. Que sempre
foi um desafio.
Quando cheguei, Giulia, Eduardo e Nero já estavam me esperando.
— Milena vai ficar uma fera — Giulia disse quando me viu.
— Mas vai passar. Ela não concordaria com nosso plano — Enrico afirmou.
— Eu já consegui todas as provas a partir do sistema que a senhorita
implantou. Muito inteligente, embora eu tenha trabalhado para conseguir as
informações mais rápido. Todos os e-mails trocados, dinheiro recebido.
Alguns estão criptografados, de forma quase impossível de corromper, mas a
relação dele com a Bratva está explícita — afirmou Carlo, nosso hacker.
— Motivo suficiente para condená-lo à morte — Eduardo afirmou.
— Só falta saber onde se encontra o desgraçado! Ele saiu para uma viagem e
era para estar retornando. Mas desde que deixou o hotel, não foi encontrado
— afirmou Nero, desviando a atenção para o celular, que tocava. Saiu para
atender, mas logo voltou.
— A equipe de segurança de Don Lorenzo foi encontrada. Estão todos
mortos, uma pilha de corpos no quarto de hotel.
— E Don Lorenzo? — Eduardo perguntou.
— Desaparecido.
Nessa hora houve uma troca de olhar significativa entre Giulia e Enrico.
Giulia se sentou pálida como seu vestido branco.
— O que aconteceu? — perguntei já alarmado.
— Isabella. — Enrico respondeu, sentando-se também.
Per Dio[100]. Uma menina de apenas 18 anos teria feito um massacre?
— Sozinha? — Me escutei perguntando. — Acho que ela não precisa de
tanta proteção, Nero, você poderia até mesmo pegar uma dica ou outra com
ela.
Eu sabia que essa escapada de Isabella era um golpe no ego de Nero. Ele
sempre tinha o controle de tudo, Isabella fugir e atacar abertamente Don
Lorenzo, além de perturbador, era como jogar em seu rosto que ele não
estava tão no controle como imaginava.
Já se passavam das 04:00 da manhã, estávamos ali, sem saber que caminho
tomar. O plano era entregar Don Lorenzo para o Conselho com todas as
provas, e então Eduardo deixaria Milena executá-lo. A ideia de deixá-la de
fora era por sua teimosia e por querer fazer tudo sozinha, por cogitar a
hipótese de continuar noiva daquele homem.
A porta se abriu e nos deparamos com Isabella Castelle entrando, vestida de
preto, o cabelo em um coque amarrado no topo da cabeça e uma expressão
surpresa, que logo foi substituída pela frieza de sempre.
— Olá — disse tranquilamente.
Nero e Enrico se levantaram, Giulia correu para a irmã.
— Você está bem? Per Dio, Isabella, o que você fez? Você não sabe que
corre um perigo terrível? Por que faz isso?
— Como você conseguiu fugir da segurança? — A voz de Nero era puro aço.
— Irresponsável, Isabella. Isso que você é — Enrico disse com uma
expressão severa.
Tranquilamente, a garota se aproximou da mesa e deixou ali sua bolsa. De
dentro, tirou armas, facas, e outros instrumentos de tortura ensanguentados.
Levou para um quarto onde tinham armamentos e parecia ser usado para
treinamento. Nós a seguimos como se condicionados a cada movimento dela,
que tranquilamente começou a limpar suas armas.
Sem expressão alguma.
Ela levantou os olhos e disse:
— Ninguém mexe com a minha família.
Essa garota era de outro mundo. Já vi muitos homens forjados no aço, mas
essa garota, eu só não tinha palavras para dizer.
— Nós tínhamos um plano — Nero disse entredentes.
— O meu era melhor.
A passividade de Isabella perante a fúria de Nero era perturbadora. Os
homens se encolhiam perante um rugido de Nero, não era por nada que o
apelidaram de cruele[101].
Mas não era o mesmo efeito em Isabella. Aliás, eu me perguntava o que
poderia assustar a garota.
Nero parecia que iria sacudi-la, mas respirou fundo e foi para a sala.
— Mas não se preocupem. Eu deixei ele vivo, vocês podem seguir o plano de
vocês. Só pode ser que ele esteja um pouco machucado. — Olhou para o
relógio — Deve estar chegando na casa dele agora.
— Quem te ajudou? — eu perguntei, alguém deveria ter lhe ajudado.
— Liguei para um táxi e dei o endereço de onde o deixei.
— Ele te viu, Isabella? — perguntou Eduardo.
— Claramente.
— Ele vai te acusar, você entende o risco? — Seu pai a alertou.
— Eu tenho sérias dúvidas. Imagina só, o poderoso Don Lorenzo dizendo ao
Conselho que foi espancado por uma pequena bailarina. O ego dele é grande
demais para isso. E ele não vai viver muito tempo de qualquer forma. — Ela
nos encarou com gelo nos olhos. — Do jeito de vocês ou do meu. Escolham.
— Tomou cuidado? Limpou a bagunça? Te tirou de cena? — Enrico
perguntou.
— Claro. Sem digitais, mortes limpas, sem câmeras. Eu não sou uma
amadora.
Eu não sabia por que ainda me admirava. Enrico olhava a filha como se não
soubesse o que fazer com ela. Deu um aceno e ela saiu do cômodo.
— Vou tomar banho e dormir um pouco. — disse e saiu, deixando todos nós
desestabilizados com sua tranquilidade.
— Quando eu acho que já vi de tudo… — eu disse mais para mim — Bom,
eu tenho uma gata selvagem para domar em casa. — Eduardo limpou a
garganta e Enrico me escrutinou com seu olhar — Com todo o respeito.
Eu não tinha medo de Enrico, mas não queria começar errado com a família
de Milena. Eu queria o respeito do homem que a mulher, que eu amava,
venerava.
Giulia riu, Nero virou o rosto, provavelmente querendo rir também. Sentindo
que era a minha deixa, dei o meu sorriso cafajeste e fui embora. Antes de
chegar ao elevador, Eduardo me alcançou.
— Todos os Caporegímes[102] e Sottocapos[103] vão se reunir, estarão aqui para
o julgamento de Lorenzo. Espero você.
— Bom. Eu vou levar Milena. — Dei um sorriso torto. — Se eu sobreviver.
Eduardo sorriu e voltou para Giulia.
Era brincadeira, mas também era sério.
Se eu sobrevivesse ao furacão que estava em meu quarto...
Antes que entrasse, outra presença se fez notória. Enrico Castelle. Eu sabia
que ele iria querer conversar comigo, apesar de tudo. Fiquei um pouco
desconcertado, o que era novidade. O Sottocapo seria meu sogro.
Virei meu rosto para ele, que me encarava sério.
— Saiba, Enrico, eu quero me casar com Milena. Já queria antes de toda essa
confusão. Eu amo a sua filha!
Ele continuou sério, mas enfim suavizou o rosto. Ele se aproximou e apertou
meu ombro.
— Eu não te deixaria perto dela se não soubesse disso! — Ele virou as costas,
mas antes que entrasse, se virou e disse com um meio sorriso — E boa sorte
com ela!
Soltei uma respiração com uma risada junto.
Eu iria precisar.
E já estava duro de antecipação.
Capitulo 27

A cordei novamente com a cabeça girando. Tentei me lembrar


o que aconteceu e senti que meu pulsos estavam presos. Na hora, tudo veio
em minha mente. Aquele stronzo[104], maledetto[105], figlio de una cagna[106],
me drogou e me amarrou. Forcei meus braços, mas estava fraca. Tudo que
aconteceu nos últimos dias caiu com força em mim. Vi uma sombra no canto
do quarto. Fiquei alerta, todo o meu treinamento entrando em ação, mesmo
estando desarmada, tonta e amarrada.
— Relaxa, amor.
Alívio, seguido de fúria tomou conta de mim. Mas eu precisava me controlar,
estava em clara desvantagem. Usando minha melhor voz de mulher
vulnerável, disse:
— Meus braços estão doloridos.
Escutei seus passos se aproximando. Ali, era fácil dar uma chave de perna no
infeliz, se ele fosse qualquer outro, mas era Giovanni, que lutava muito bem.
Não iria funcionar.
— Eu conheço esse olhar calculado. — Ele acendeu o abajur. — Você está
muito brava, eu sei. O que eu fiz foi horrível, eu sei. Mas você não deixou
outra alternativa, nós só queríamos te proteger.
— NÓS? Nós, quem? — Respirei fundo, deixando a fachada calma
quilômetros de distância. — Me solta, Giovanni. Eu só vou embora.
O cretino estava segurando um sorriso.
— Não, amor. Não até você escutar o que tenho a dizer.
— Então me solta, eu prometo que vou te escutar e ir embora.
— Você foi muito inteligente, já temos todas as informações necessárias para
conseguir a execução de Lorenzo. E Isabella, bem, Isabella pode ter
começado o trabalho, mas deixou a finalização com você.
Olhei para ele, ainda com muita raiva.
— Me solta! Tá machucando! — Minha voz já não era tão desamparada.
— Primeiro, me prometa que vai agir como uma pessoa civilizada, sem
agressão.
— ME. SOLTA.
— Você não está fazendo um bom trabalho em me convencer.
Abaixei a cabeça com lágrimas nos olhos. Lágrimas de pura frustração.
— Você deveria ter confiado em mim, em sua família. Você pediu confiança
em todos, mas você não confiou em ninguém. Se colocou em perigo, colocou
o que a gente tinha em perigo ao fazer com que todos acreditassem que você
queria ficar com ele.
Quando ele colocava assim, eu me sentia um pouco inconsequente. Embora,
a todo momento, eu só quisesse proteger as pessoas que amo. Ele me olhou e
eu devolvi o olhar significativamente para a corda.
— Me recuso a conversar com você me tratando como uma selvagem.
— Uma selvagem gostosa — disse com um sorriso cínico.
— Você não está se ajudando. — Meu núcleo se apertou, apesar das minhas
palavras.
Ele ainda me encarou alguns segundos, para então começar a desamarrar a
corda. Seu olhar o tempo todo foi cauteloso. Eu não olhei em seus olhos,
massageei meus pulsos e me levantei. Ele se levantou junto, ainda esperando
que eu explodisse para cima dele.
Eu queria.
Ah, como eu queria.
Ele errou ao me drogar e isso não ficaria assim.
Ele merecia uma lição.
Fui até o banheiro com calma, enquanto ele acompanhava todos os meus
movimentos. Como se a qualquer momento eu fosse pegar algum objeto e
lançar nele. Fiz a minha higiene, coloquei minha roupa, peguei a minha
bolsa, enquanto ele observava. Peguei minha arma e olhei para ele, que me
deu seu sorriso de merda. Coloquei-a na minha bolsa muito calmamente.
Fui para a sala e antes que eu chegasse à porta, ele me segurou, se dando
conta de que eu iria embora sem lhe dar qualquer coisa. Antecipou todos os
meus movimentos, provando que conhecia todos eles na cama e fora dela.
Ele segurou meus braços com força atrás de minhas costas, me imobilizando
definitivamente, objetivando me parar. Minha respiração estava ofegante pelo
esforço e eu estava muito cansada.
— Não vai me bater? — disse rouco, a respiração muito próxima a minha.
— Vou embora! — disse entredentes, embora meu coração já estivesse
descompassado só pela sua proximidade.
— Não, você não vai! — Ele me soltou e colocou as mãos para trás —
Vamos, me bata. Pode bater, me xingue, grite, faça o que quiser comigo. —
Ele me olhou sério e sussurrou: — Só não me deixe.
Esse Giovanni, entregue e sem seu sarcasmo e atrevimento habitual… esse
me tem nas mãos. Mas eu não iria facilitar, ainda não. Mesmo que meu corpo
gritasse para ser tocado por ele.
— Tchau, Giovanni.
Ele entrou em minha frente, parando na porta, me impedindo de sair.
— Não vá.
— Giovanni, você me drogou! ME DROGOU!
— SIM, EU TE DROGUEI, PORQUE VOCÊ É UMA PORRA TEIMOSA!
— Ele suspirou e disse: — Não vou pedir desculpa, não vou. Não me
arrependo. Faria de novo, mil vezes. Sua segurança está em primeiro lugar
para mim.
Perdi a linha, totalmente. Levei as mãos em sua garganta com toda a raiva do
mundo e aproximei o rosto. Eu queria beijá-lo e bater em sua cabeça com a
mesma vontade. Apliquei mais pressão e Giovanni não mexeu um músculo,
mas seus olhos ficaram pesados. Ele gostava. Cazzo[107], eu também. Seus
olhos gritavam somente uma coisa:
Desejo.
Era sempre assim.
Minha pressão ficou menos intensa e ele não perdeu o movimento.
Se aproximou mais e mordeu meu lábio inferior.
Lentamente.
Droga, droga.
Mordi de volta com raiva e frustração.
Em um rompante, eu estava em seu colo e a mistura de raiva e desejo se
transformou em desespero.
Desespero para tê-lo em mim.
— Eu te odeio, stronzo.
— E eu te amo, te amo, te amo…
As roupas foram para o chão.
Ele foi para o quarto e me jogou na cama, dando mordidas em todo o meu
corpo. Eu arranhei suas costas, selvagemente.
Era uma mistura de raiva, frustração e desejo.
Eu virei e fiquei por cima, montando seu corpo. Nus, descontroladamente
loucos.
Ele me levantou pelo quadril e trouxe meu núcleo para o seu rosto em um
movimento rápido que quase me deixou tonta, me sugando e mordendo do
seu jeito selvagem que eu amava, deixando-me bêbada de prazer. Pressionou
meu clitóris com a língua, me firmou com as poderosas mãos, não me
deixando escolha a não ser aceitar o prazer que me dava. Não muito tempo,
eu tinha alcançado o orgasmo intensamente.
Ele não me deu tempo, como nunca me dava, me colocou de quatro e entrou
em mim, bateu em minha bunda e logo massageou o lugar. Eu gritei o nome
dele. Ele grunhiu, gozando, me enchendo dele.
A respiração dele estava pesada como a minha. Ele saiu de mim e me abraçou
por trás. Ficamos em silêncio alguns minutos até que ele disse:
— Hoje, às 13:00 horas, vamos executar Lorenzo. Estamos indo buscá-lo
para que não fuja. Fique aqui, coma algo, ainda tem roupas aqui. Venho te
buscar para que você participe. A honra será sua, se quiser.
— Eu quero decidir a forma como ele deixará esse mundo. Eu já tenho um
plano.
— O que você quiser, amor.
Quando ele estava devidamente distraído, acertei seu estômago com meu
cotovelo. Com força.
— AI!
— Nunca mais me drogue, Giovanni. Nunca mais.
Ele gemeu em reclamação, mas senti seu sorriso em meu cabelo.

O Conselho da Cosa Nostra era composto por onze dos Sottocapos[108] e


Caporegímes[109] mais velhos, vindo de todas as regiões. A palavra final era
do Don, porém o Conselho estava ali para intervir quando as decisões fossem
tendenciosas ou injustas.
Era hipócrita que uma organização criminosa, que ganhava em cima de
sofrimento e de morte, fizesse tanto por justiça e defendesse tanto o conceito
de honra. Olhando de fora, era irônico. Mas esse foi o mundo em que nasci,
as regras pelas quais fui moldada. Nunca conheci outra realidade. As nossas
leis eram absolutas aqui.
Sentei junto com Giulia, que fez questão de me acompanhar. Isabella ficou
fazendo companhia para minha mãe, que eu ainda não tinha visto, mas estava
me preparando para o drama e para a bronca.
Papai fazia parte do Conselho. Eu temia o que Lorenzo ainda poderia fazer
contra eles, mas Giovanni disse que já havia cuidado de tudo. Eduardo deu
abertura, no topo da mesa, e Giovanni estava ao seu lado, Nero, do outro.
A tríade do poder.
Lorenzo foi trazido, algemado e muito machucado.
Isabella.
Contive o meu sorriso.
Ele se sentou de frente para o círculo do Conselho, como um réu.
Eu sonhei, por semanas, para vê-lo assim, sendo julgado e desmoralizado.
Meu prazer.
— Segundo os documentos dos quais todos têm em mãos, Don Lorenzo foi o
informante da Bratva nos atentados, dos quais perdemos muitos homens,
inclusive, Salvatore Maceratta, antigo consigliere[110]. O que acarretou na
tentativa de sequestro de Anita Santorelli e Isabella Castelle, sendo esta
torturada pela Bratva.
— Absurdo! Eu sempre fui leal! Sempre! — Lorenzo gritou.
— Você também é acusado de maus tratos a Milena Castelle, até então, sua
noiva.
— Ela era minha noiva.
— Mas ainda não era sua esposa! — meu pai gritou. — Eu reclamo em nome
de minha filha, que ainda é uma Castelle. Eu exijo reparação. Também exijo
reparação pela minha honra. Lorenzo escondeu um filho da Bratva em nosso
meio e me acusou. Sem provas. Quando é nítido que quem mantém contato
com o inimigo, é ele mesmo.
Lorenzo virou os olhos em fúria para meu pai. De repente deu um sorriso
cruel.
— E por que eu traria porcaria para a Cosa Nostra?
— Por poder! Por ser movido a poder! — Meu pai era assustador quando
queria. Senti o aço cortante em sua voz.
— É VOCÊ QUEM ESCONDE O FILHO DA BRATVA.
— Mas aqui temos e-mails onde você chantageia a Bratva a te ajudar a
eliminar Eduardo e voltar para o poder. Você chantageia dizendo que tem
informações privilegiadas — acrescentou Antônio Ferrari, Sottocapo da Nova
Inglaterra.
— Essas informações são manipuladas! Mentiras!
— Conseguimos áudio de suas ligações, Lorenzo. Inclusive sobre o atentado
que matou Salvatore — Nero disse em toda sua seriedade.
— Você matou o meu irmão! — gritou Enzo Maceratta, Caporígeme de
Baltimore.
— Acabou para você, papai! — A palavra foi tão cuspida que eu me senti
mal.— Sendo assim, devemos decidir qual será a sentença de Lorenzo.
— Concordamos que Milena Castelle, que foi subjugada aos maus tratos por
parte dele, deverá decidir a pena. Eu, em nome de Isabella, deixo a decisão
nas mãos de Milena Castelle — disse meu pai.
— Eu, como filho de Salvatore, deixo a decisão nas mãos de Milena Castelle.
— Eu, como irmão de Anita Santorelli, deixo a decisão nas mãos de Milena
Castelle.
Eu me levantei do banco e dei minha própria versão de sorriso cruel para
Lorenzo. A máfia ainda era muito machista, então uma mulher estar ali e
ainda decidir o destino de um traidor só era possível pelo Don e o consigliere
estarem de acordo. Mesmo assim, não perdi o olhar de alguns membros do
Conselho, de puro desprezo.
— Quero que levem Lorenzo para o galpão e o amarrem. Eu vou em seguida!
— Ela é uma prostituta! A prostituta do Consigliere! Ela deveria ser jogada
em um prostíbulo, eu tenho provas de que ela é uma puta.
Eu sabia que isso estava vindo. Eu sabia que ele tentaria de todas as formas
arrastar quem fosse para o inferno com ele. Meu pai deveria estar
envergonhado e decepcionado comigo, então eu senti medo de levantar meu
olhar. Senti o desamparo e foi horrível.
Mas eu sabia dos riscos de me envolver com Giovanni.
Eu sabia que poderia ser a única a sair queimada daquela situação.
Eu também sabia que Eduardo jamais permitiria que isso acontecesse, mas
minha honra estaria manchada para sempre. Eu sempre achei que não me
importava com isso, mas naquele momento eu me importei.
Olhei para Giovanni que se levantava com os olhos queimando em fúria.
— Vou lavar sua língua com soda cáustica! — disse para Lorenzo e virou-se
para o Conselho — Embora não seja do conhecimento de todos, Milena
Castelle é minha noiva. Iríamos anunciar o compromisso hoje, após a
execução.
Congelei.
Vi meu pai dar a Giovanni um olhar agradecido.
A atenção de todos estavam em mim.
Olhei para Giovanni para ver quão sério ele falava.
— Você está bem, Enrico. Uma filha casada com o Don, a outra noiva do
consigliere. Me pergunto qual o segredo das irmãs Castelle… — Não
consegui detectar o som do Caporígeme que falou com meu pai. Se era ironia
ou admiração.
Meus olhos estavam unicamente em Giovanni.
Ele queria se casar comigo? Ele só estava salvando minha honra? Ele disse
que me amava, mas nunca fomos nem namorados.
Ainda confusa e abalada, tentei dançar conforme a música. Perdi o gingado e
saí da sala com Giulia apertando minha mão, falando sobre o quanto estava
feliz com a declaração e sobre o porquê termos guardado segredo por tanto
tempo.
Eu gostaria de ter uma resposta para ela, mas não tinha.
Fomos para o galpão e eu dei uma piscada para Nero, que sabia do meu
plano.
Chegando lá, alguns membros do Conselho fizeram presença para assistir.
Lorenzo estava amarrado, sem as calças e a camisa. O homem imponente,
que subjugou tantas mulheres, estava ali, vulnerável e a minha mercê.
Suas costas estavam cortadas, com feridas abertas feitas por facas.
Adagas.
Isabella.
Nero apareceu na porta e me deu um sinal. Giovanni acompanhou meu olhar
com uma careta.
— O que eu mais quero, além de você morto e enterrado, é ver você
subjugado. Prostrado. Quero destruir sua honra e só então a sua vida. Nos
diga, Lorenzo, quem machucou as suas costas assim?
— Nunca.
Apesar de ter sido drogada, eu seria grata a Isabella por deixar que eu
escolhesse como acabar com a vida de Don Lorenzo. Mas a sanguinária, a
aprendiz de executora, era ela. O que pior poderia acontecer com Don
Lorenzo era ter Isabella o dirigindo para a morte. Porque eu tinha pressa em
matar, a minha falta de paciência e fúria me faziam agir precipitadamente.
Não tolerava provocações.
Isabella era fria, seus movimentos calculados. Gritos e provocações não
ditavam seu comportamento. Ela não se deixava levar por emoções.
Eu o condenei a ela.
— Esse foi só o começo. — Viro-me para Nero — Agora.
Nesse momento, Isabella entrou. Vários instrumentos usados para tortura por
executores estavam em uma mesa na lateral.
— Faça com que sofra — disse para minha irmã.
O olhar de Lorenzo era de ódio e de medo. Os membros do Conselho
suspiraram em coletivo. Surpresa, horror e admiração se misturavam em suas
faces.
— Sentiu saudades? — Isabella perguntou.
Eduardo levantou as sobrancelhas e Giovanni me deu o seu sorriso malandro,
se aproximando e me direcionando à saída do galpão.
Ao passar por Nero, dei-lhe um aceno agradecido.
Antes que chegasse ao carro, escutei os gritos e xingamentos de Lorenzo.
Foi o seu merecido fim.
Capitulo 28

M ilena estava no telefone com sua mãe, que já fazia planos


para o nosso casamento. Ela estava estranha e quando tinha que falar sobre o
casamento, parecia incerta sobre o que responder. Por fim, disse a mãe que
iria para casa para o jantar e voltou a ficar quieta. Eu ainda estava pensando
sobre a ligação que ela parecia ter com Nero. Pela segunda vez, ela correu
para ele ao invés de mim. Estava enciumado, queria que ela procurasse por
mim em primeiro lugar, afinal, eu iria me casar com ela. Percebendo seu
silêncio resolvi perguntar.
— Por que o Nero?
— Não sei… sinto certa segurança em relação a ele! — Apertei o volante.
Ela percebeu meus nódulos brancos com a pressão e logo voltou a falar—
Não é assim, não desse jeito. Ele me passa confiança e eu gostaria de te
surpreender. E ainda estava chateada por você ter me drogado. É algo mais
fraternal, aliás, acho que o grandão tem sentimentos pela minha irmã.
— Então você também percebeu? — eu disse, por fim. Ela procurar ele me
incomodava, muito, mesmo que afirmasse ser um sentimento fraternal. — Na
próxima vez, eu quero ser o primeiro a ser procurado.
Ela estreita os olhos em minha direção, odiava que eu lhe desse ordens.
Talvez, pelo cansaço, não disse nada. Voltou a se perder em seus próprios
pensamentos. Algo a estava perturbando.
— O que está acontecendo? — Ela me olhou por um longo tempo.
— Quer mesmo se casar comigo? Ou fez isso por um senso de honra? — Não
notei nada além de curiosidade em seu tom de voz.
Eu parei o carro no acostamento e respirei fundo. Não tínhamos conversado
ainda.
— Lembra sobre o jantar que eu preparei na noite que Lorenzo anunciou que
estava noiva dele? — Ela baixou os olhos e eu segurei seu rosto, forçando-a a
olhar para mim. — Eu faria o pedido aquela noite. Já tem um tempo que eu
sei que quero você para sempre, Milena. Do jeito que você é: louca,
impaciente, inconsequente, linda e com um coração muito maior do que
imagina. Você é perfeita para mim!
Seus olhos se encheram de lágrimas.
— Eu espero que você me aceite com as minhas imperfeições também —
continuei: — Que continue rindo das minhas piadas e alegrando os meus
dias. Eu te amo, Milena. Mais gostosa que você, não há.
Minha mão escorregou para o seu seio e dei um aperto.
Ela começou a rir.
— Safado — disse com a voz rouca de desejo.
— Você adora — disse já trazendo seu corpo para o meu colo.
Ela ficou séria e então respondeu.
— Adoro. Muito — disse já descendo a mão para minha ereção, que estava
furiosa exigindo sua atenção.
Talvez tenhamos ficado por um tempo no acostamento.

— Quando pretendem marcar a data? Depois de todo esse escândalo, você


não pode demorar, querida. — Alessandra Castelle estava em êxtase.
— Ainda não conversamos sobre isso, mãe. — Uma Milena tímida estava se
revelando.
— Então vamos conversar agora.
— Quero uma festa de noivado. Com toda a pompa do mundo — eu disse, e
Milena arregalou os olhos.
— E por que isso? — Era muito divertido vê-la sem toda aquela segurança.
— Com você, eu quero tudo!
Milena corou.
Eu não aguentei e a puxei para mim, beijando sua bochecha vermelha.
Eu só não conseguia me parar, era um otário por essa garota.
— Grazie, Dio[111]. Vamos marcar então, para sábado, assim nem precisamos
voltar para a Filadélfia. Um noivado digno de um consigliere[112]. Isabella e
Milena, temos pouco tempo para organizar, mas nada é impossível. Giovanni,
vou precisar de sua mãe, acredito que ela não irá se importar em me ajudar
com os preparativos.
— Ela vai adorar, tenho certeza.
Antes que Milena fosse puxada de perto de mim, dei-lhe um último beijo,
rápido, enquanto sua mãe se afastava e foi minha deixa para ir embora.
Resolvi falar com minha mãe, que já tinha me ligado cinco vezes. Certamente
tio Enzo deveria já ter lhe contado a novidade.
Chegando em casa, estava na sala minha mãe, junto de Talía e tio Enzo,
sentada na sala. Antes que chegasse Talía já me recebeu com um abraço.
— A família é a última a saber, né. — Me deu um soco com seus punhos
minúsculos. Talía, com seu cabelo escuro comprido e olhos azuis, a
princesinha da família Maceratta, me olhava com os olhos marejados —
Milena é linda. Apesar de não ser próxima à ela, sempre a admirei. Ela é tão
segura e autoconfiante. Parece que nada no mundo pode atingi-la. Teria que
ser uma garota como ela para segurar você.
Ela era tudo isso e muito mais. Ela também era carinhosa, companheira e
muito gentil.
— Que bom que gosta dela. Achei que ficaria um pouco decepcionada por
ser amiga da louca.
— Eu ainda sou amiga de Luísa, porque ela foi a primeira a me acolher
quando mudei para cá. Mas estou feliz por você, Gio. Você gosta da Milena,
e ela é linda. Tenho certeza que se ganhou o coração do cara mais arredio que
já existiu, é porque ela é uma boa pessoa.
— Ela é! Tenho certeza que se darão bem!
— Figlio[113], acabei de saber que está noivo! Ingrato, como não me avisa? –
ela diz isso, mas me abraça.
— Oficializaremos sábado, mamma[114]. — respondo retribuindo o seu abraço
— Alessandra Castelle virá a qualquer momento para acertar os detalhes.
Toda a Famiglia[115] será convidada.
— Per Dio[116], Giovanni. Preciso pensar nos detalhes, a festa será aqui. —
Parou de repente de seu afobamento e me segurou pelo rosto — Meu
bambino[117], meu filho querido. As meninas Castelle são únicas, qualquer um
pode ver. Eu estou feliz com a sua escolha, olha como Eduardo está feliz com
Giulia e o bebezinho que está vindo. Quero a mesma felicidade para você.
— Calma, mamma. Casamento, okay, filhos, ainda é uma realidade distante,
muito distante.
Ela me abraça e seu telefone toca. Alessandra Castelle está ligando e minha
mãe se afasta para atender. Tio Enzo me parabeniza e avisa que está voltando
para Baltimore.
Subo para o meu antigo e quarto e vejo, próximo a minha cama, uma foto
minha com o meu pai.
Pensar no desgraçado do Lorenzo encomendando a morte dele, que se dizia
seu amigo, faz o nódulo em minha garganta querer explodir. Peguei a foto e
me sentei na cama.
Queria meu pai ao meu lado nesse momento, me vendo casar com a mulher
que amo, que me tem nas mãos.
Penso em como seria, ele provavelmente a amaria como a filha que não teve.
Ele admiraria sua força e me diria o quanto sou sortudo por tê-la.
Mas ele não estaria aqui, não estaria em meu casamento e não veria nenhuma
das minhas conquistas.
Engoli o nódulo que se intensificava e respirei fundo. Eu acabaria com todos
os russos, eu dizimaria o trono de Dimitri Nikolai.
Esta guerra estava longe de terminar.
Capitulo 29

A festa estava incrível, mas eu estava muito nervosa. Eu ainda


não tinha visto Giovanni, pois enquanto andava para onde ele me esperava, as
pessoas me paravam para me parabenizar. As pessoas queriam a todo custo
cair em minhas boas graças, essas pessoas que sempre criticaram a mim e
minhas irmãs, agora me adulavam. Como se eu desse alguma merda para
isso.
— Com o tempo, você vai se acostumar, minha querida. — Senhora
Antonella se aproximou de mim.
— A essa falsidade toda?
— A reciclar tudo o que chega até você. Sua posição é de extremo poder na
nossa organização, e ser independente como você quer ser vai lhe render
muita dor de cabeça, exigir muito jogo de cintura… Mas eu sei que você vai
dar conta. — Ela sorriu para mim. — Eu estou feliz que vocês estejam juntos.
Eu queria que meu filho encontrasse a felicidade como eu encontrei com
Salvatore. Claramente, ele encontrou com você!
— Obrigada. — Ela estava emocionada e eu também. De repente, ela me
abraçou e eu, mesmo sem jeito, a abracei de volta. — Só não garanto que eu
vá mudar toda a minha vida e comportamento por causa dessas pessoas. Não
seria eu.
— Tenho certeza que meu filho se apaixonou pelo seu verdadeiro eu. — Me
deu um sorriso tranquilizador e se afastou.
Eu precisava de Giovanni comigo para passar por esse tormento. Já sem
paciência para fazer a “lady”, passei entre as mulheres procurando meu noivo
sem dar atenção a elas, lancei um olhar em direção à minha mãe, que estava
horrorizada com meu comportamento arrogante. Me aproximei de Giulia que
conversava com Eduardo e Giovanni, que estava de costas. O familiar aperto
em meu ventre se fez presente com a mera visão de suas costas. Como era
libertador poder estar com ele em qualquer lugar. Passei o meu braço em
volta dele e, mesmo sabendo que tinham muito olhos em nós, dei uma leve
apertada na sua bunda.
Ouvi um suspiro horrorizado da esposa de um dos chefes que estava
passando ao lado e Giulia começou a rir. Eduardo manteve o rosto sério, mas
pude ver um leve repuxar. Eu não iria fingir ser alguém que não era, futura
esposa do consigliere[118] ou não. Escutei o riso fácil de Giovanni e ele se
virou inteiramente para mim. Seu olhos varreram meu vestido prata, minha
maquiagem trabalhada, meus saltos assassinos da mesma cor que o vestido,
meu cabelo preso apenas de um lado, com uma tiara de diamantes de lado. Eu
sabia que estava gostosa. E ele não estava diferente.
— Você vai escandalizar os convidados, amore mio [119]— disse me puxando
para sua frente e beijando meu pescoço.
— Veja se me importo com isso — disse em um suspiro.
— Está magnífica! — Sorri com sua declaração.
— Milena, você não muda — Giulia diz, sorrindo. — E quanto às mulheres,
se acostume. Você agora será uma senhora de poder no nosso mundo.
— Isso é uma merda! Falsidade e hipocrisia, não tenho paciência para isso!
— Mas são ossos do ofício, Milena. Tudo vem com responsabilidades —
Eduardo disse no seu tom chato de Don.
Eu não discutiria sobre isso ali, mas revirei os olhos. Eu faria o possível para
ser amável, mas não garantiria sucesso.
Com Giovanni ali ao meu lado, tudo ficou mais tolerável. Cumprimentei a
todos, recebi os parabéns, até que antes do jantar Giovanni toma a palavra:
— Antes desse jantar, eu gostaria de oficializar o meu compromisso com
Milena Castelle. Sei que já não se faz mais festas para noivado, mas eu fiz
questão. — Ele virou-se para mim. — Milena, a partir de hoje, com esse anel,
você oficialmente é minha noiva. Minha futura esposa. E eu te reivindico
perante a Cosa Nostra.
Todos aplaudiram. Ele abriu uma caixinha e lá tinha o anel mais lindo do
mundo. Um diamante cravejado de rubis, tão lindo que fez meu coração doer.
Chamativo, explosivo. Como eu e Giovanni.
— Precioso, como você… — Giovanni sussurrou para que somente eu
ouvisse enquanto se inclinava e beijava meu rosto.
Ficava difícil não sucumbir a vontade de subir nele. Era difícil esse negócio
de “se comportar”.
Ainda na festa, fizemos tudo como mandava o protocolo, meu sorriso já
estava congelado no rosto. Dei uma olhada no stronzo[120] do meu noivo.
Lindo e gostoso, e eu queria um gosto dele para dar conta do resto.
— Gio, não estou bem… — Falei com o cenho franzido e voz suave.
— O que foi, amor? — Giovanni me deu toda a sua atenção.
— Me leva para um lugar mais tranquilo, acho que minha pressão…
Ele pediu licença e me levou para o andar superior. Seu cenho franzido em
preocupação. Minha mãe veio atrás e eu suspirei. Esse negócio de ter
compromisso nas regras da Famiglia[121] era uma merda. Das grandes.
Giovanni me sentou no sofá e se ajoelhou ao meu lado.
— Figlia[122], o que aconteceu? — Minha mãe apareceu na porta.
— Ela disse que… — Giovanni ia dizendo algo, mas eu o interrompi.
— Mãe, per Dio[123], eu só quero beijar meu noivo.
Minha mãe deu um gritinho apavorado e levou a mão à boca. Giovanni
abaixou a cabeça disfarçando o riso e minha mãe se afastou, dizendo algo
sobre eu ainda matá-la um dia.
Quando enfim ficamos sós, ele me olhou com suas piscinas azuis.
— Me beijar? — Olhar safado, tão cafajeste, mas eu amava, como amava.
— Eu odeio ter que ser respeitável — disse já o puxando para cima de mim
enquanto ele ria. Beijei seu pescoço, seu queixo e enfim sua boca ao mesmo
tempo em que ele deitava seu corpo em cima do meu.
Nesse momento escutamos a porta se fechar.
— Que lindo! Que maravilhoso!
Sentamos rapidamente para lidar com Luísa, em pé com uma arma apontada
para nós. Mais especificamente, para mim.
— Abaixe essa arma, Luísa — Giovanni disse.
— Hahahahahahaha, nunca. Eu vou matá-la, Gio, matá-la e aí você vai me
enxergar, vai ficar comigo, eu vou ser a esposa do consigliere. EU VOU
SER, NÃO ESSA VAGABUNDA!
Descontrolada.
Ela estava totalmente descontrolada. Seu riso era histérico e seu semblante
estava retorcido em loucura e choro. Eu comecei a me afastar de Giovanni,
para que ela não o acertasse por acidente. Mas o stronzo continuava a se
colocar em minha frente.
— SAIA DA FRENTE, GIO! — ela gritou e, em seguida, começou a chorar
— Não é possível, não é possível que você queira morrer para salvar essa
garota — Suas mãos tremiam, o que me deixou ainda mais alerta — Antes
que ela chegasse, nós estávamos bem, a gente tinha tudo para ficar juntos.
— Luísa, eu… — Tentei conversar mas ela interrompeu.
— POR QUE VOCÊ TEVE QUE APARECER? POR QUE NÃO FICOU
NA FILADÉLFIA? Você sempre tem que ser a primeira em tudo, sempre
tem que brilhar em tudo, me tomar tudo… Teve que me perseguir até aqui,
estudar na mesma universidade que eu, roubar o Giovanni de mim…
Ela se aproximou e eu me coloquei à frente de Giovanni.
— Eu vou acabar com você!
Eu olhava desesperadamente pela porta, implorando para que alguém pudesse
ter escutado seus gritos, mas com a música alta lá embaixo, era pouco
provável.
— Vou me livrar de você. Aquele dia no banheiro você me bateu e me
humilhou, cadê a sua coragem agora, hein? Cadê? Como é estar do outro
lado?
Eu só conseguia segurar a minha respiração.
Era isso.
Talvez ela errasse o tiro, talvez não.
— Abaixa a arma, Luísa! Eu não vou ficar com você de maneira nenhuma, e
se atirar em Milena, a única coisa que terá de mim é o meu ódio.
Ela começou a chorar.
— Não, não, não… Você me ama, você só está confuso, você vai ver, quando
ela sair do caminho, tudo vai se esclarecer.
A situação estava saindo do controle, tentei me afastar aos poucos para
conseguir pegar a minha arma, mas o vestido justo não facilitava. Vi uma
sombra atrás da porta e senti um pequeno alívio. Alguém poderia ter escutado
seus berros.
Giovanni continuava tentando conversar com Luísa quando vi a porta se
abrindo. Infelizmente a porta fez barulho e Luísa se assustou. Atrás dela,
estava Giulia com uma arma.
Luísa virou-se para minha irmã, levando a arma junto, e eu desesperei.
Giulia estava grávida. Sem pensar eu fui em direção à Luísa para pará-la e ela
voltou-se para mim apertando o gatilho.
Escutei o grito de Giulia.
Escutei o grito de Giovanni.
Será que não teríamos uma festa nessa família que começaria e terminaria em
paz?
Com a minha agilidade, a bala pegou a queima-roupa em meu braço. Giulia
chutou a arma da mão de Luísa e deu uma coronhada em sua cabeça. Luísa
caiu, desacordada.
Giovanni estava comigo em seus braços, olhando meu ferimento, que não era
nada demais.
Meus pais chegaram, outros convidados e curiosos.
Quando o pai de Luísa chegou e viu sua filha, Giovanni logo gritou:
— Ou você coloca essa louca em um sanatório, ou ela vai estar a sete palmos
embaixo da terra ainda hoje! Eu só não mato ela agora, porque sigo o meu
juramento!
— Tenho certeza que há uma explicação, essas garotas, principalmente essa
daí — disse apontando para mim — Sempre foram problemas.
— Cuidado, Conti! - Eduardo avisou.
— Ela apontou uma arma para mim, senhor Conti! Acho que se esqueceu do
seu lugar na hierarquia. Os homens poderiam não matá— la, mas eu não fiz
esse juramento! Sua filha colocou em risco a vida da minha irmã, a minha e
de meu filho. Seriam motivos suficientes para cortar a garganta dela.
Conti empalideceu.
Isabella estava ao lado de Giulia e tinha sua própria versão de olhar mortal no
Capitão Conti.
— Vai que cuidamos disso. — Escutei Nero dizendo.
— Sanatório ou Morte! — Giovanni disse me pegando nos braços descendo
escada abaixo. Seu corpo todo vibrava em fúria.
— Eu posso andar — disse acariciando o cabelo da sua nuca e encostando o
rosto em seu ombro.
— Não pode!
Revirei os olhos e bufei. Meus pais vieram atrás com Isabella.
— Giovanni, espere, Giovanni, temos que levar Milena para o apartamento,
não foi profundo, mas vai precisar de curativo — minha mãe gritava atrás.
— Ela vai ficar comigo! — A voz de Giovanni era irredutível.
— Per Dio, isso é um escândalo. Jamais!
— Alessandra, cara mia[124], deixa… — meu pai disse — Só sejam discretos,
por favor…
— Enrico! Eles não são casados, não é de bom tom!
— Alessandra, deixa — disse dando sinal para Giovanni ir.
Giovanni me colocou no carro e eu ainda escutei minha mãe argumentar:
— Mas eu ainda não tive a conversa com ela, Enrico.
— Que conversa, cara mia?
— A conversa sobre a copulação, sobre o que um casal faz, eu estava
esperando chegar mais perto do casamento para isso...
Foi impossível não rir e Giovanni, apesar da carranca, segurou o riso
também.
Ele dirigiu para o apartamento dele em silêncio, me levou no colo todo o
caminho do estacionamento a porta de entrada e, apesar da marra, eu estava
amando o mimo todo.
Ele me sentou no sofá, pegou um kit de primeiros socorros e cuidou do
ferimento com cuidado e ternura que me surpreendeu. Não estava ruim. Ele
me deu um analgésico para dor, tirou a minha roupa, me vestiu com um
pijama e deitou-me na cama. Como se eu fosse um bebê.
Ele se trocou e deitou ao meu lado, me trazendo para perto do seu corpo
quente. Após alguns minutos de silêncio, ele disse.
— Eu não suportaria te perder também.
Meu coração doeu.
Giovanni poderia ser forte, mas ele sofria pela morte do pai. Tomando
cuidado para não fazer força no braço, me virei para ele. Seu rosto estava
torturado. Ele começou a fazer círculos em minhas costas e continuou:
— Por alguns minutos, achei que perderia você também… Perder o meu pai
não deveria ser nada demais, não nesse mundo onde voltar para casa vivo e
inteiro é pura sorte. Mas depois que ele morreu, eu só consegui respirar
direito quando você entrou na minha vida. Como um furacão.
Eu beijei seus lábios, docemente.
— No início, eu achei que era por você ser diferente, uma novidade. Você
acabou sendo o meu alívio nos dias sombrios, minha luz e, logo, a melhor
parte da minha vida. Se não fosse você, talvez eu estivesse mergulhado em
tristeza, mas sua presença facilitou tudo. Quando dei por mim… Já estava
viciado em você. Completamente apaixonado.
Eu abracei seu corpo. Engoli o choro.
— Eu não suportaria perder você. — Seu abraço foi forte — Você não sai
mais das minhas vistas, Milena. Nunca mais. Vamos nos casar o mais rápido
possível.
— Calma aí, bonitão. Nossas mães jamais aceitarão algo assim. A gente sabe
que pertence um ao outro, você não vai me perder, nunca.
Ele me abraçou mais forte quase machucando, mas eu não reclamei. Ele
precisava sentir que eu estava ali e não era temporário.
Era para sempre.
— Para sempre, amor — ele disse após um tempo.
— Para sempre.
Epílogo
8 meses depois

A cordo sentindo Giovanni me beijando. Tem sido assim nos


últimos três meses desde que nos casamos. Ele bem que tentou adiantar o
casamento, mas foi em vão, duas mammas[125] italianas queriam uma festa
esplêndida para seus filhos. Logo, ele se deu por vencido. Nossa lua de mel
foi no Brasil, mais especificamente em Camboriú, Santa Catarina. Fomos
conhecer uma das maiores baladas do mundo, Green Valley. Também
conhecemos o Rio de Janeiro e fiquei apaixonada pelo país. Pretendemos um
dia voltar.
Depois que voltamos, Antonella queria desocupar a casa para deixá-la para
Giovanni, que é o herdeiro da mansão. Mas eu fiz questão de que ela morasse
conosco. Ela já tinha perdido o marido, não queria que ficasse com a
impressão que estaria perdendo o lar e o filho para mim. De qualquer forma,
ela ficava mais tempo viajando do que em casa, e era uma pessoa muito
tranquila.
Eu consegui concluir meu curso com Chantal Meyer, embora eu tivesse
faltado por duas semanas, depois que esclareci algumas situações dentro do
permitido, ela entendeu e me aceitou. Abri minha própria marca de roupas de
grife, a Castelle’s. Meu principal produto era vestidos estilo cocktail.
Algumas esposas dos chefes acharam um absurdo a esposa do consigliere[126]
ter um ofício, porém Giovanni era o primeiro a me animar em seguir meus
objetivos. Eu, em breve, inauguraria minha primeira loja. Entre favores aqui e
ali, Giovanni conseguiu um ponto para minha loja na Fashion Avenue. Eu
estava super atarefada, mas nunca me senti mais completa.
Isabella, agora com seus dezenove anos, se tornou a primeira bailarina de sua
Companhia de ballet. Meu pai queria que ela voltasse para Filadélfia, as
coisas com a Bratva estavam silenciosas, sem mais ameaças ou ataques. Mas,
como ela estava se reconstruindo aqui em Nova Iorque, meu pai decidiu
deixá-la aqui. Porém, ela deveria morar com Giulia. Eduardo fez questão. Ela
poderia morar comigo também, mas Giulia poderia precisar mais, agora que
estava próximo de ter o bebê.
Luísa estava internada em um sanatório. A família Conti ainda me odiava,
mas nada poderia fazer a respeito. As coisas estavam bem. Estávamos nos
tornando a família mais influente da Cosa Nostra e alguns mais
conservadores não estavam muito felizes, porém ninguém se atrevia a dizer
qualquer coisa a respeito. Nero continuava protetor em relação à Isabella, a
relação dos dois era, no mínimo, estranha. Era nítido que o grandão nutria
sentimentos por minha irmã, mas o mais intrigante era perceber que ela
também se sentia afetada por ele. Sempre o acompanhava com o olhar,
sempre sabia onde ele estava no ambiente, e embora não demonstrasse, eu a
conhecia. Um mero respirar diferente era muito para Isabella.
Mas nenhum fazia um movimento a respeito. Eu só queria saber até que
ponto eles levariam a situação assim.
— Promete que não vai surtar — Giovanni diz com seu melhor sorriso
cafajeste.
— Hummmmmmm, o que é?
— Giulia entrou em trabalho de parto.
— Oh, meu Deus, oh, meu Deus — digo me levantando e acabo caindo no
chão ao ficar presa nos lençóis. Me levanto e corro para o banheiro — Ai,
meu Deus, como ela está? Liga para Eduardo, será que já nasceu?
— Calma. Sua mãe e a minha já saíram da Filadélfia e devem estar chegando
a qualquer momento. Isabella acompanhou sua irmã e está com ela no
hospital. Não há muito o que fazer, amor. — Giovanni acompanhava meu
desespero com seu sorriso cafajeste no rosto. Quando passei por ele não
resisti e o tirei no beijo.
— Ai, meu Deus! — digo já terminando de me vestir — Vamos, Gio. Preciso
conhecer o meu sobrinho.
Quando chegamos ao hospital, ficamos surpresos ao saber que meu sobrinho
já havia nascido. Foi um parto super rápido e fácil. Corremos para o quarto e
me deparei com minha irmã, Giulia, amamentando um pacotinho lindo.
— Conheçam Pietro Santorelli, herdeiro da Cosa Nostra — Eduardo disse
com orgulho estampado por todo o rosto. E, pasmem, sorrindo.
Eu me aproximei e o pequeno príncipe deixou o leite da mãe e me encarou
com seus grandes olhos verdes. Olhos da minha irmã. Era lindo. Embora a
tez fosse morena como Eduardo.
Minha mãe chegou em seguida, junto com meu pai e já começaram a mimar e
estragar Pietro Santorelli. Eu e Giovanni fomos escolhidos para padrinhos.
Nossa família tinha mudado tanto no último ano, e mesmo com as mudanças,
nunca estivemos tão completos e felizes.
Nesse momento, o celular de Eduardo tocou, ele olhou e franziu a testa, mas
atendeu:
— Alô!
Ele saiu do ambiente, e algo me puxou para Eduardo, eu e Giovanni o
seguimos para fora. Todos os meus sentidos ficaram alerta e eu me perguntei
onde estaria Nero e a segurança. Estaríamos sob algum risco? Eduardo olhou
ao redor e colocou no viva-voz, quando percebeu eu e Giovanni ao seu lado.
— Gostaria de te parabenizar pelo pequeno Pietro, Don Eduardo.
O sotaque russo era inconfundível.
— O que você quer? Outro tiro? — disse Eduardo. Quando minha irmã
Isabella foi sequestrada, Dimitri Nikolai foi alvejado duas vezes, por mim e
por Eduardo, mas ainda conseguiu sair com vida.
— HAHAHAHAHAHA, eu estava sentindo falta desse seu senso de humor
terrível — Sua risada era medonha e psicótica, os seguranças já estavam
barrando qualquer enfermeiro e já tinha um carro preparado para levar Giulia
para casa. — Mas me deixa perguntar: Onde está o seu capitão-mor? Como é
mesmo nome dele… Nero Rossi… ou eu poderia dizer… Yuri Ivanov?
O silêncio foi mortal. Yuri Ivanov era o herdeiro da Bratva, o menino que
meu pai salvou e escondeu. Oh, meu Deus, Nero era o verdadeiro herdeiro da
Bratva.
— Aiaiaiai, pelo seu silêncio, acredito que não tinha conhecimento disso…
Mas eu só estou ligando para avisar, Don Eduardo, já tirei ele do meu
caminho, a única pedra em meu sapato. E a única coisa que eu ainda quero de
vocês é a cabeça de seu consigliere, que matou o meu irmão e a minha
shchenok[127]. Eu vou levá-la é só uma questão de tempo agora que o cão de
guarda da Cosa Nostra se foi. Meus cumprimentos a Giulia, que deve estar
tão vulnerável após o bebê. Cuidado no caminho para casa.
A ligação foi finalizada.
— O que ele disse? — Isabella que estava atrás de Eduardo, perguntou,
estava pálida segurando a cadeira de rodas onde Giulia estava sentada com o
bebê. — Ele disse que eliminou Nero?
— Cadê o Nero? — Eduardo esbravejou.
Giovanni, que estava falando com um dos soldados, voltou com o rosto
amargurado, torcido em agonia.
— A caminho daqui, Nero sofreu uma emboscada. Estavam em dois carros,
ambos saíram da pista e explodiram. Ainda não sabemos se há sobreviventes.

[1]
Capitão.
[2]
Família.
[3]
Conselheiro.
[4]
Filho.
[5]
Meu amor.
[6]
Mamãe.
[7]
Porra.
[8]
Papai.
[9]
Idiota.
[10]
Caralho.
[11]
Família.
[12]
Conselheiro.
[13]
Segundo Chefe.
[14]
Mamãe.
[15]
Por Deus.
[16]
Linda.
[17]
Minha menina.
[18]
Deus.
[19]
Família.
[20]
Porra.
[21]
Conselheiro.
[22]
Segundos Chefes.
[23]
Capitães.
[24]
Idiota.
[25]
Conselheiro.
[26]
Porra.
[27]
Porra.
[28]
Conselheiro.
[29]
Idiota.
[30]
Capitão.
[31]
Família.
[32]
Papai.
[33]
Conselheiro.
[34]
Papai.
[35]
Família.
[36]
Família
[37]
Porra.
[38]
Família.
[39]
Conselheiro.
[40]
Putas
[41]
Filha da puta
[42]
Líder da Máfia Russa. Mesma função do Capo, na Máfia Italiana
[43]
Família.
[44]
Porra.
[45]
Meninas.
[46]
Criança.
[47]
Papai.
[48]
Porra.
[49]
Idiota.
[50]
Linda.
[51]
Adeus.
[52]
Deus.
[53]
Capitão.
[54]
Filho.
[55]
Conselheiro.
[56]
Por Deus.
[57]
Família.
[58]
Líder em russo.
[59]
Segundos Chefes.
[60]
Idiota.
[61]
Conselheiro.
[62]
Maldito.
[63]
Família.
[64]
Líder em russo.
[65]
Idiota.
[66]
Linda.
[67]
Puta.
[68]
Conselheiro.
[69]
Família.
[70]
Caralho.
[71]
Capitães.
[72]
Porra.
[73]
Idiota.
[74]
Líder em russo.
[75]
Garota Poderosa.
[76]
Líder em irlandês.
[77]
Família.
[78]
Conselheiro.
[79]
Criança.
[80]
Deus.
[81]
Líder em russo.
[82]
Papai
[83]
Filha.
[84]
Conselheiro.
[85]
Família.
[86]
Idiota.
[87]
Maldito.
[88]
Conselheiro.
[89]
Criança.
[90]
Maldita.
[91]
Linda.
[92]
Porra.
[93]
Princesa.
[94]
Conselheiro.
[95]
Meu amor.
[96]
Conselheiro.
[97]
Porra.
[98]
Filho de uma puta.
[99]
Maldito.
[100]
Por Deus.
[101]
Cruel.
[102]
Capitães.
[103]
Segundos Chefes.
[104]
Idiota
[105]
Maldito.
[106]
Filho de uma puta.
[107]
Porra.
[108]
Segundos Chefes.
[109]
Capitães.
[110]
Conselheiro.
[111]
Obrigada, Deus.
[112]
Conselheiro.
[113]
Filho
[114]
Mamãe.
[115]
Família.
[116]
Por Deus.
[117]
Menino.
[118]
Conselheiro.
[119]
Meu amor.
[120]
Idiota.
[121]
Família.
[122]
Filha.
[123]
Por Deus.
[124]
Minha querida.
[125]
Mamães
[126]
Conselheiro.
[127]
Filhote em russo.

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