Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
a tomar uma decisão inadiável que poderá mudar os rumos de sua vida para
sempre.
Loren Santos
Se você já é minha leitora, sabe que a playlist conta muito sobre a
AGOSTO
produtiva.
se jogarem na dança.
constantemente.
cintura ao voltar a falar: — E você aqui, perdendo tempo com a sua velha
mãe. Por que não tira uma delas para dançar e comece a providenciar os
meus netinhos, hein? Estou ficando velha, preciso ser avó dos seus filhos
logo.
extremamente bonito.
respondeu dando três tapinhas no meu rosto. Seus olhos brilhavam, repletos
de vida, — Quero essa casa cheia de Albuquerquinhos. E seus eu quero pelo
um terreno seguro. É um menino de ouro, mas chega dessa vida boêmia que
— Pensa com carinho. Quero estar bem nova ainda para cuidar dos
antes da chegada de Marcela. Agora, além de rendido, ele era um pai babão,
homem de família.
Pelo contrário, não tinha nada contra. Havia tido duas namoradas sérias, a
Nunca fui o tipo de cara que forçava uma mulher a nada, não seria diferente
frear quando sentia meus limites sendo atingidos. Raramente ficava bêbado
foder muito, mas aquela ruivinha... Meus amigos, tenho vontade de pôr no
família Moreira, eu queria. Dizem que Rebeca é uma santa, mas acho difícil
tinha sido vereador por muitos anos, em seguida prefeito por alguns
filha Renata não tivesse se metido com a nossa família. Com sangue nos
Franzina, tinha o corpo com uma leve curva nos seios e quadris,
Quem olhava à primeira vista, jamais dizia que era irmã de Renata.
Notei o exato momento em que Joe deu um leve tapa em seu ombro,
chamando sua atenção. Rebeca se curvou levemente para frente e contorceu
ela desse jeito outra vez, vou te fazer engolir uns dentes.
tinha absolutamente nada a ver com quem ela se relacionava, mas uma
vontade de mandar meu amigo ir à merda veio com força. Dei de ombros,
fosse a compaixão e empatia por saber que talvez a vida da caçula não fosse
tão fácil quanto todos pensavam.
precisava de ajuda.
REBECA MOREIRA
força.
Ele tinha sido uma benção na minha vida e na do meu irmão. Era
conflituoso, porque atiçou ainda mais a ira do meu pai, mas a sua presença
carinho.
tudo doía. Nem mesmo a melhor atriz do Oscar conseguiria fingir estar bem
Joe parecia ter visão de águia. Talvez pela malícia que a vida lhe
ensinou a ter a duras penas, sabia identificar quando alguém não estava
bem, e era exatamente por isso que eu tentava evitá-lo, principalmente nos
— Ainda bem que desse mal eu não sofro, fico só com a parte boa.
Meu amigo era 8 ou 80. Quando levava as coisas a sério, era sério
Aos poucos, meu irmão foi se abrindo com o namorado até que um
finalmente tomar a decisão de sair de casa, desta vez sem volta. Contudo,
morar embaixo da ponte, mas não ficaria no mesmo lar que um homem tão
mim.
todos, até que meu pai e irmã começaram a tropeçar em suas próprias
ser encarada como a próxima Moreira capaz de cometer o crime do ano. Era
fato de ter sido concebida pelo político. Na verdade, até poderia parecer
ingratidão, mas se pudesse escolher, preferia ter tido outro pai ainda que
essa possibilidade jamais tivesse sido cogitada, uma vez que minha mãe
sempre foi uma esposa fiel, diferente dele.
lucidez para cuidar da minha mãe era porque eles tinham me sustentado em
Não consegui fazer uma faculdade e isso era um fato que dividia as
como já tinha ocorrido. Desde então, nunca mais me senti segura para
meus dedos. Era como se aos 23 anos eu não tivesse nenhuma história para
contar além de ter um pai e irmã bandidos, uma mãe doente e um irmão
liberdade. Na noite passada, por tentar mais uma vez me posicionar frente
ao meu pai e defender o meu direito de estudar, sofri com a sua fúria.
— O mundo deve ser muito grande. Acho que pode ter locais tão
Se ele soubesse!
aproximava.
Não sei explicar que coisa louca era aquela, mas toda vez que
acontecia, algo em mim sabia identificar. Mais louco ainda era que, de
algum modo, me acalmava. Virei-me devagar, observando ele e seus amigos
chegava nem perto do impacto que Artur causava. Mais alto que os outros,
ele tinha o corpo robusto, com braços e pernas bem definidos, sem exagero.
tranquilidade. Parecia tão descomplicado, tão fácil ser ele. Por um momento
tive inveja. Não por sua posição social, mas pelo modo como guiava sua
vida. Eu não conseguia sequer pensar em uma situação que pudesse tirá-lo
de sua serenidade.
ter achado o máximo uma intimidade tão grande — parou à minha frente,
em sua frente.
lenta e com os dois olhos. Não era uma tentativa de seduzir, pelo menos não
conscientemente. Ficou claro que Artur fazia aquilo como algum tipo de
nervosa.
demais.
Mexi na ponta dos dedos, temendo gaguejar. Eu nunca fui o que
podemos chamar de alguém comunicativa, mas em sua presença parecia ter
mesmo tempo em que tocava o ombro da bela ruiva, deixando-a quase tão
rubra quanto os cabelos brilhantes.
amigo.
besteiras que ele dizia. Joe era um bom rapaz e tinha o dom de deixar todos
ao seu redor envergonhados em algum nível, exceto Antônio que sempre foi
frio e subiu o olhar até encontrar o meu rapidamente para então desviar.
se!
ombros não me importando por ser o Joe. Ele tinha a Síndrome de Gabriela:
ouvi o seu ofego. Ela estava nervosa pra caramba e eu precisava derrubar
demais.
acanhada que, sem sombra de dúvidas, ainda não tinha vivido muitas
aventuras.
seguida. Sorri quando percebi a sua dúvida. Ela era espontânea e ingênua.
mão devagar enquanto engolia com delicadeza. Por fim, passou a língua
sobre os lábios grossos e rosados e, sem que se desse conta, tomou toda a
minha atenção.
contive o riso quando fechou um dos olhos, fez careta e tremeu os ombros.
Havia sido natural, espontâneo e contava muito sobre ela. Embora retraída,
a menina tinha um lado curioso e desbravador. No entanto, quando notou a
— É... diferente.
— Livre.
ver na cidade, ficava óbvio que a garota não tinha o hábito de sair de casa.
joguinhos.
— Por quê?
lutando.
não dê muito certo. Elas mais fofocam do que treinam. — Ri, despertando
um sorriso lindo em seus lábios também. — Se você quiser, posso te
— Claro que não. Te acharei apenas uma garota que tem muita
vontade de conhecer o mundo, mas por alguma razão ainda não fez.
do depois.
— Por quê?
— Você nem bebeu. Acha que aqueles dois ml que tomou realmente
— Para alguém que não bebe nada, dois ml podem ser muita coisa.
referindo, mas não seria indiscreto a ponto de questionar. Por isso, deixei
com que ela se sentisse confortável.
minhas análises.
— O quê?
a denunciasse.
acidente no banho.
suspeitas.
Compreendi o que ela queria dizer, mas admito que soou engraçado
— Não, não quero dizer que te acho esquisito. Quero dizer que te
acho meio estranho... bonito. Não, pera...
é essa facilidade com que me sinto bem em compartilhar com você aspectos
da minha vida que quase ninguém sabe.
Desci o olhar para analisá-la de modo amplo e percebi que sim, ela
e assustá-la.
mão com sutileza. O contato espalhou uma onda poderosa em meu corpo,
eletrizando-me inteira.
Parecia estar se contendo e aquilo me fez ter uma vontade absurda de beijá-
lo.
acontecesse a ele.
sabia que ele ainda desconfiava de que eu pudesse ter a mesma índole da
chorar.
Não sabia o que sentia, apenas que estava forte demais. Por um
segundo, achei que poderia estar rolando um clima entre nós, até a sua voz
ele se referia. Virei o meu olhar para o lado e notei o anfíbio marrom,
em sua direção, sendo recebida pelos braços fortes, quentes e muito, muito
cheirosos.
Não foi intencional e senti meu rosto corar tamanha vergonha por
ter sido tão ingênua ao achar que pudesse rolar algo entre nós. Entretanto,
tudo evaporou dos meus pensamentos quando senti a mão grande alisar as
selvagem. Na minha casa nem temos um cachorro, então ver um sapo tão de
perto me assustou.
baterem fortes por suas mulheres, achei que era besteira, o tipo de coisa que
muito preocupado com Rebeca, não pude conter um sorriso quando aquele
encarando de longe ao lado de Joe que apontou dois dedos para os próprios
Ri. Estava ferrado. Seria o motivo de assunto por uns três meses.
REBECA
respirar.
que fugi dos braços de Artur implorei para que fôssemos embora, não dava
para simplesmente continuar na fazenda diante da sua presença e sentindo
desconhecidas.
E por último, mas não menos importante, sair fugida como se tivesse
cometido um crime.
Encarei o meu irmão sem ter muito o que dizer. Ele tinha razão, mas
outros poderiam pensar, não me fazia amá-lo mais ou menos. Rodrigo era
— Ai, Dri, sei lá... Fiquei com medo dele me achar uma oferecida,
outros, Rebeca. Estou te dizendo isso por experiência de causa. Sofri por
Então como seu irmão mais velho, eu te intimo a se arriscar, a fazer o que
— Tenho medo.
— Deodato tem o poder de sugar o melhor de todos ao seu redor. Você, eu,
a mamãe... Sabe bem disso, irmã. Então para o seu bem, vá viver a sua vida.
— Você não entende, Rodrigo. Tem a mamãe, a Vânia, o Olegário...
se arriscar. Mas saiba, maninha, que você é a dona do seu juízo e eu estou
aqui. Se está com medo de ir morar na rua e passar fome, você tem a mim,
jamais te abandonaria. Quanto à mamãe, ela pode vir morar comigo. Tenha
ciência de que não poderá ajudá-la por muito tempo se também adoecer
nenhuma dúvida ele nos infernizaria, não porque nos amava, mas sim
porque o divórcio complicaria a sua tentativa de reeleição.
O mundo era grande e a minha vontade de ser livre era maior ainda,
vivido há pouco na fazenda. Estava com dor, mas ela se resumia a nada
quando a contemplação da brisa fria, o céu estrelado e o cheiro de liberdade
me invadiam.
Queria me sentir útil, saber que poderia somar para mudar a vida das
pessoas. Entretanto, tinha medo de sair das garras do meu pai e cair nas de
um marido tão ruim quanto. Sem dúvidas, Deodato moveria céus e terras
vitória de Aloísio.
mais para querer sair da gaiola em que vive. — Rodrigo me trouxe de volta
à realidade.
Não falei nada, ele estava certo. Ainda assim, a prática não era tão
Meu irmão estacionou nos fundos da minha casa, agora não mais
dele após ter sofrido muito nas mãos de papai e ter decidido voar.
Rodrigo colocou a mão sobre a minha perna, chamando minha atenção com
delicadeza.
casa, se referindo ao nosso pai — fizer qualquer coisa contra você, não
hesite em me ligar.
Engoli em seco. Meu irmão já tinha uma carga pesada demais para
lidar. Eu não seria mais uma. Por isso, apenas meneei a cabeça.
pela porta da cozinha, orando para que Deodato não estivesse em casa.
me no meio da escada.
não encarar seus olhos. Porém, ele agarrou meu braço em um aperto
doloroso, fazendo-me encarar seus olhos crispados de raiva, despertando
sacudiu, vociferando:
— Pai...
contribuindo com nada nesta casa além de manchar ainda mais a minha
imagem.
— Cala a porra da boca! Se eu ouvir sua voz outra vez, quebro todos
os seus dentes. — Chutou minhas pernas. — Aliás, não vou quebrar porque
comprometidos.
— Não seja tola a ponto de achar que irei te contar. Por ora, você
precisa saber apenas que vai sair de cena. Quando voltar, o futuro dessa
família e, principalmente da sua mamãe e daqueles empregadinhos de
merda que você tanto ama, só dependerão de você.
Passou as pernas por cima do meu corpo e saiu pela porta batendo-a
com força. Em segundos vi a imagem de Vânia e Olegário vindo em minha
direção. Nas mãos dela, uma toalha branca para secar o sangue que escorria
dos meus lábios.
Chorei.
Como todas as vezes em que esse tipo de situação acontecia, os
olhos dela estavam lacrimejados ao se abaixar na minha frente enquanto os
de sangue, rotina que Dona Marta não abria mão de que todos nós
fizéssemos anualmente.
direito, preocupado com Rebeca e com o que ela passava naquela casa.
Na noite em que estivemos juntos, não consegui dormir. Fui deitar-
garota.
Nenhum sinal.
O peito estava apertado, sabia que algo não ia bem. Mamãe dizia
que era intuição, mas eu preferia chamar de instinto todas as vezes que
sentia quando algo não ia bem. Foi assim no dia do acidente de Antônio,
Entrei em contato com Rodrigo e fiquei ainda mais apreensivo quando ele
coleta notando que ela parecia um pouco surpresa por ser eu.
comuns.
nervosa e levei a situação numa boa, pensando que talvez tivesse que ser eu
mesmo a puncionar a minha veia se não quisesse meu braço todo furado.
referirem à Rebeca.
— Pois é, Cleide, na madrugada da festa na fazenda dos
assinou alta, nem nada. Achei tão esquisito. Até pensei em chamar a
Rebeca estava com a região do tórax dolorida, mas com o quadro clínico
funcionária afirmou, algo muito sério tinha acontecido depois que nos
despedimos.
Quis perguntar para onde foram, mas era óbvio que ela não saberia.
indiscrição de conversar sobre uma paciente ainda mais tão perto da área de
atendimento.
tamanha barbaridade.
estaria.
modo na prefeitura.
— Pedimos que se retire, Senhor Albuquerque, ou iremos usar a
força — um deles alertou.
Trêmula, gaguejou:
algum canto?
Pensei nos locais onde poderia encontrá-la, mas foi em vão. Ela
quase não saía de casa, a não ser para frequentar padaria e a pracinha
me pedissem socorro.
ficaria bem.
Alto, tinha quase 1,60 de pura imponência. O pelo, tão alvo quanto algodão
reluzia, deixando evidente o quanto era bem tratado.
Sem sombra de dúvidas foi o melhor presente que papai poderia ter
me dado. Crescemos juntos. Talvez por isso nossa personalidade fosse tão
parecida. Quase sempre tranquilo, Ventania era paciente, amoroso, gentil e
teriam medo. Embora fosse meu, ele era o melhor cavalo para aprender a
temperamento.
estábulo e me despedi.
casa. Embora não fosse tão perto, fiz o percurso andando. Normalmente
gostava de aproveitar a paisagem, mas naquele dia em específico, a minha
L200 Triton Sport tinha sido enviada para lavar e os capatazes a deixaram
escurecendo completamente.
ruiva surgiu, deixando-me novamente irritado por não ter notícias suas.
Aloísio parou ao meu lado. Ele abaixou o vidro e colocou o cotovelo sobre
a janela.
moderado.
expliquei.
Ísio, por outro lado, era mais na dele, o mais sofisticado de nós
Aloísio nunca foi de perguntar sobre a minha vida pessoal, por isso,
— Que olhar?
minha vida.
Ri, lembrando-me de que naquela época ele tinha o apelido de
professora.
cascalho, desconversando:
Ele riu.
— Ainda que possa achar que está bem solteiro, confie no seu irmão
mais velho. Tentei me enganar tempo demais fingindo acreditar nisso, mas
desde que Luiza chegou, compreendi que todos nós precisamos de alguém
para dividir a vida. É o tipo de coisa que você só vai saber quando sentir.
meu irmão. De Antônio até poderia ser, claro com boas doses de ironia e
— Sabe que a mamãe vai ficar louca se vier outro neto por aí, né?
— Vai. — Segurou em meu ombro, olhando-me nos olhos. —
Desejo que você descubra essa emoção, Artur. Verá que amar alguém e
Luiza e as crianças. Estava feliz por Aloísio. Adorava ser tio e tinha certeza
— Boa noite, meninas! Não vão me dizer que fizeram aquele bife
Passei minha mão sobre os seus dedos, segurei com carinho levando
à boca em um beijo delicado.
— Acho que não sou bebê já faz um bom tempo, não é, Dona
Marta?
Ri do seu drama.
— Por muitos anos fomos eu, seu pai, você, seus irmãos e o Davi.
Ainda é difícil para mim — suspirou — não estou reclamando. Inclusive
quero muito que chegue a sua vez ou acha que não estou acompanhando
esse silêncio mais do que de costume e esse olhar brilhante?
— Tem horas que te acho muito pior de lidar do que os seus irmãos,
sabia? Essa cara de quem pensa tudo antes de falar e agir me faz querer te
dar uma coça. Me lembra quando você era criança.
aprontávamos. Por muitas vezes Antônio agia mais rápido, jogando a culpa
em mim. Mas os anos se passaram e comecei a usar mais da inteligência e
para os seus pais o motivo desse olhar estar tão distante ultimamente.
deixando claro que Rebeca não estava bem em nosso último encontro.
estar.
uma espécie morte em vida, mas ninguém sabe o que pode ter
desencadeado.
— Não nos resta dúvidas de que ela sofre agressões do pai. Todavia,
quebrar duas costelas da própria filha, sabe Deus como, imagina o que mais
fará se tiver tempo.
— Eu bem sei que não é nada fácil, filho. Convivo com situações
como esta todos os dias, e é exatamente por isso que iremos ajudar essa
menina e a mãe, mas vamos agir dentro da legalidade.
atenção.
alguma situação em que você entenda que precisa agir de imediato, saiba
que eu, seu pai e seus irmãos estaremos sempre com você — alertou, com
— Obrigado, mãe.
Sorriu, acolhedora.
SEMANAS DEPOIS...
só assim vai saber que minha vida inteira está em suas mãos.
forma de alumínio que tinha utilizado para fazer um bolo para a mamãe.
Sentia-me feliz, de certo modo, livre.
rememorava tudo o que tinha sentido naquela noite nos braços dele. Do
quanto me senti livre para ser eu mesma, das vergonhas passadas, seu
para as próximas gerações. Todas as conversas que ouvi sobre ele em Alta
tivemos contato direto, a não ser desde o momento que meu irmão começou
abalada pelo que viveu em uma única noite, e talvez fosse. Entretanto,
hospital. Fui retirada como uma bandida pelos seguranças de meu pai. O
pensavam coisas erradas sobre mim. Ainda que a equipe médica tenha sido
persistente ao averiguar as causas do ferimento, insisti no mesmo discurso
Medo. Medo de ele fazer algo pior comigo, maltratar mamãe, Vânia
ou Olegário. Impotência e temor da loucura dele. Sabia que se agisse
tomada pela emoção e sem estratégia seria muito pior quando ele me
achasse.
com este tipo de status. Ainda assim, o prefeito tinha muita gente que lhe
em que isso acontecesse seria o meu fim. Meu e dos que eu amava.
morávamos nos confins de Goiás. Não tive mais contato com o carrasco que
se dizia meu pai, mas sabia que algo ruim me aguardaria quando
voltássemos.
Nos primeiros dias, Vânia esteve conosco até que me recuperasse
fisicamente, mas a ordem para voltar foi clara e imperativa. Mesmo diante
Sentia-me livre para ligar o som alto, cantar, cozinhar o que bem quisesse e
pensamentos.
com o dinheiro que guardei ao longo de tantos anos, meu pai jamais saberia.
ateliê de costura onde mamãe passava a maioria dos seus dias sem grandes
surpresas.
— Posso? — pedi, após dar três batidinhas à porta, sem resposta.
eu arrumasse. Nas poucas vezes em que dizia algo, deixou claro que aquele
peças eram lindas, outras não passavam de alguns retalhos sem sentido,
Há alguns anos Célia Moreira não era mais dona de suas faculdades
nossas vidas, que amargasse a maldade que fez bem longe de nós. Era
muito mais suportável passar por tudo aquilo longe de seu veneno e
crueldade.
a viver a sua vida longe do preconceito do nosso pai. Então, éramos apenas
mamãe e eu.
em falso poderia significar o nosso fim. Por isso, aguentava tudo o que ele
daquela situação.
Mais uma vez não tive nenhuma resposta. Era comum e eu já tinha
senhora goste — avisei, mesmo sem esperar a sua reação, mas para minha
surpresa, seu olhar sem vida encontrou o meu. Dei um sorriso pequeno,
seguida.
Parecia fria e impessoal, mas essa era uma rotina na qual eu prezava
em seguir com mamãe. Sabia que mesmo em silêncio ela gostava daqueles
sairia desse mar de dor. Faria o que estivesse ao meu alcance para isso.
Precisei apanhar muito de Deodato para conseguir dar a ela o direito
a um terapeuta, porém, repetiria tudo se fosse necessário. Já tínhamos tido
ela.
corpo em sua lateral e prendi meu ombro entre seu pescoço e queixo.
Cansado, fixei o olhar em seu rosto, notando que mal respirava. No mesmo
levantasse.
respeito.
vagas, o Jiu Jitsu era, sem dúvidas, o meu esporte favorito. Embora tivesse
mais que um aluno comum devido aos mais de dez anos de prática. Sempre
que precisava, Danilo me pedia apoio quanto instrutor.
sua maior inimiga. Por esta razão, quase não tinha parceiros de treino.
repetiria. Desde então, continua treinando conosco, mas sabíamos que ele
minha respiração a ponto de começar a faltar o ar. Sem ter como corrigir,
dei três tapas em sua perna, reconhecendo a derrota, mas ele não diminuiu a
Ele fez ainda mais força, como se estivesse sentindo algum tipo de
raciocínio.
de entrar aqui.
espelunca.
— Não deveria ter feito isso, Sensei. Ele era um aluno importante.
Assenti.
surpresa.
e que em algum momento pudesse usar dessa rivalidade que existe apenas
— Besteira.
— Bruno não é má pessoa, mas existe uma raiva dentro dele que o
Aceitei ele na equipe por achar que pudesse aprender os valores do esporte
e o respeito, mas vi que me enganei. Escute o que vou te falar não só como
naquele local.
Noivo.
A palavra soava como uma bigorna na minha cabeça. Sabia que
mim.
Não que ele tivesse deixado claro, mas ainda que parecesse, eu não
era boba.
jaqueta grossa.
necessidades básicas...
dinheiro para o lugar, garantindo que estivesse bem escondido. Abri a porta
uma dose de uísque no bar. Era feio, não pela estatura mediana e roliça, mas
centavo.
significou nada para mim, além de uma grande pedra no sapato? Você só
trouxe desgraça para minha vida desde que soube da sua existência. Só não
me livrei da sua presença antes porque Célia não deixou e você se mostrou
bem útil desde que ela preferiu se fingir de besta nessa modinha de
depressão. Se tivesse tanta preocupação na cabeça e responsabilidades
surpreender. Não havia dúvidas de que ele me odiava, mas cada palavra me
assim, algum motivo teve. Não resta dúvidas que a culpa foi sua, crápula.
em que o rosto ficou tão vermelho quanto um morango. Sua voz soou baixa
e mordaz:
Mas eu juro, Rebeca, que se você fizer isso aqui — juntou o polegar e
porquê.
alisou meu rosto. Tinha o costume de observar minha interação com meu
me odiar tanto.
com ela e Olegário. Por várias vezes me perguntava a razão deles ainda se
preta, totalmente evidente pelo paletó aberto. Por um segundo foi como se
livros de história.
— Você não mentiu quando disse que a minha noiva era linda. Só
mão. Não sabia dizer o que sentia: medo, nervoso, apreensão, nojo... tudo
junto.
conhecer o homem com quem passará o restante dos seus dias. Vamos nos
sentar, em breve o jantar será servido. Que tal um uísque 18 anos para abrir
o apetite?
meu decote.
bem que meu moleque puxou ao pai. Corajoso, viril, macho de verdade. Já
a mais nova — de dezoito anos — se tornou um demônio desde que a mãe
machucar e humilhar.
soltando todo o ar que tinha prendido naquela interação que parecia ter
sugado toda a minha energia.
O choro forte transbordou quando Vânia me abraçou. Estava
Vindo pela porta dos fundos, Olegário acarinhou meus cabelos, estendendo
uma caixinha de lenços que ficava na cozinha.
— Essa é a melhor opção, meu bem, mas precisa agir com calma.
Não pode tomar uma decisão tão precipitada — ela consolou. — Nós
podemos ir com você.
proteger, lembra?
bem a razão, mas a verdade era que eles eram os únicos com quem eu sabia
que podia contar, então não fazia muitos questionamentos.
degustando a comida que eu sabia estar incrível, mas não conseguia sentir o
gosto de nada. Comia sem emitir nenhum tipo de som, tentando me fazer
invisível.
sala de jantar.
jeito assustador. Quase vomitei quando percebi que tinha molho em seu
bigode.
homem muito exigente e, quando fecho um acordo, quero usufruir logo dos
serviços que contratei. Se é que me entende.
Arregalei os olhos, sentindo os dentes baterem uns contra os outros.
Eu entendi. E me imaginar na cama com ele fez a comida voltar.
pensamentos, pois a cada vez que a imagem grotesca surgia, uma nova onda
de ânsia a acompanhava. Sentindo-me levemente melhor, lavei o rosto e
reação. Sua resposta silenciosa era “aguarde o que farei quando tiver posse
sobre você”.
Desequilibrei, mas ele não me deixou cair. Puxou meus cabelos com força,
fazendo-me inclinar a cabeça para trás, choramingando. Bateu com a outra
mão prendendo o olhar ao meu. A bochecha ardia, o sangue escorria pelos
cantos da boca ferida internamente quando mordi a mucosa.
será o seu marido e terá direito sobre o seu corpo. Irá usar e abusar como
quiser e ai de você se recusar.
conheceu metade do que o seu futuro marido é capaz. Só para você saber, é
a terceira esposa dele. As anteriores morreram de desgosto e desejo que
preciso lutar com as armas que tenho. — Deodato se abaixou perto de mim,
dizendo em tom rascante: — Em segundo, mas não menos importante, para
me vingar de toda a desgraça que você trouxe para a minha vida.
Chega!
precisava tomar uma decisão, e era isso que faria agora. Não havia tempo a
perder.
que esta tinha sido a última vez que um homem me trataria dessa maneira.
sempre sonhei.
— Nós ouvimos tudo, minha querida. Como você está? — ela
perguntou, preocupada.
— Com medo, mas preciso agir. Vou pegar algumas peças de roupas
Neguei de imediato.
abandoná-la assim.
— Não. Ela não iria, só confia em mim. Rodrigo não saberia cuidar
para levá-la com você. Prometo que quando você deixar essa casa, tirarei
Célia daqui e a manterei segura no ranchinho onde a minha mãe mora. Não
é longe para você buscá-la, nem perto para seu pai achá-la.
mais fácil, mas não poderia. Fechei os olhos, tentando pensar em uma
alternativa.
manta, meus documentos e todo o dinheiro que juntei. Teria que ser o
consciência por ter que deixar a mamãe. Sentia-me uma filha ingrata que
estava jogando a própria mãe na cova dos leões. Se algo ruim acontecesse a
Fui até o seu quarto, e ela dormia tranquila. Era tarde e, somado à
lágrimas grossas desciam pelo meu rosto. Orei baixinho, pedindo que Deus
trajetória.
nunca mais teria a chance de ser feliz. Era uma decisão difícil, mas
necessária.
linhas. Sabia que seria o último lugar que Deodato olharia ao sentir a minha
jeito de te avisar.
Neguei em um aceno.
lugar a serem procurados. Vou sair daqui. Está chovendo e está tarde,
Vânia tentou argumentar, mas não aceitei. Dei um abraço nele, ela
mochila impermeável.
que o meu medo aumentasse. Nunca tinha vivido nada parecido. Não tinha
seria óbvio demais, sem contar que seria reconhecida por qualquer pessoa.
Táxi também não era uma opção viável, já que além disso, era muito caro
sentia minhas calças molhadas pela chuva, começando a esfriar meu corpo.
ponta à outra. Tentei andar pela sombra das áreas agradecendo pela noite
estar escura.
não poderia dar brecha para ele me notar. Com o coração acelerado, não
pessoa iria para lá, nem que eu precisasse ficar alguns dias escondida.
Passei o braço removendo o excesso de água da lona, afastei-a um
fechando em seguida.
havia cochilado quando ouvi a porta do motorista ser aberta e o motor ser
acionado logo em seguida. Não houve conversa, apenas um country
estava diferente.
Não demorou até perder velocidade até parar de vez no que pareceu
aproximando cada vez mais de onde eu estava. Uma luz passou sobre a lona
penetrando pouca luminosidade, mas o suficiente para eu identificar como
Meu coração gelou. Orei para não ser descoberta ou estaria perdida.
Se qualquer pessoa me encontrasse naquelas condições, me denunciaria ao
Colina. Ainda que gostasse muito do local, estava um pouco saturado de ver
as mesmas pessoas todas as vezes.
em mim já não se animava mais com aquela rotina de barzinho aos finais de
chuva.
Não podia reclamar, tinha sido legal. Rimos, bebemos e nos
divertimos. Como acontecia há algum tempo, não fiquei com ninguém. Não
quisesse.
prestar atenção.
meu braço.
— Peão, por que não admite que ficou interessado e vai atrás da
A ruivinha...
pensamentos por alguns bons dias desde a conversa com os meus pais.
O que meu amigo não sabia é que eu não só tinha ido atrás dela,
como me certificado de que ela esteve bem todo esse tempo em que
permaneceu longe.
tão charmosa quanto Alta Colina, chamada Campos Belos, na divisa dos
Estados de Goiás, Tocantins e Bahia. Não fiquei em paz até viajar para o
que fazia parte da rotina ela sair todos os dias para ir ao mercadinho.
ainda mais cativante. Estava mais corada, com o semblante leve. Parecia
feliz.
Constatar que estive certo este tempo todo fez com que a fagulha
também se sentiu abalada. A nossa ligação parecia ter sido muito mais do
que física, e incrível. Por isso, sabia que abordá-la naquele instante
faria.
ao caixa.
cabeça com calma e olhou para trás, como se sentisse que estava sendo
seguida. Observou sua retaguarda rapidamente, passando o olhar por mim,
novamente, mas já não estava mais lá, acompanhava atrás de uma árvore o
seu olhar perdido. Coçou a cabeça, confusa e se deu por vencida, entrando
novamente na casa.
voltar para casa, não sem antes orientar o homem ao meu serviço a
voltar à realidade.
— Desculpe, dispersei.
— Não sei. O retorno dela foi repentino, ainda não pensei no que
vou fazer.
— Cara, para todos nós já está mais do que claro que está rendido
pela garota. Sabendo o quanto o pai dela não presta, acho que está perdendo
um tempo crucial.
— Tem razão, mas preciso pensar antes de agir. Agora vou nessa.
carroceria. Eu preferia andar com ela vazia justamente por não gostar de
objetos soltos batendo nas laterais. Ouvi um baque atrás do banco do
precariedade.
sentia.
jeito?
bochechas inchadas.
Não pensei.
— Shhh... Está tudo bem. Estou aqui e prometo que nada vai
Ainda assim, era a mulher mais linda que já tive o privilégio de pousar
meus olhos.
sem que eu tivesse qualquer controle. Talvez ela ainda estivesse sob torpor
que sequer percebeu.
Tentei aparentar tranquilidade, pois sabia que era o que ela precisava
condições.
adoeça.
meu.
Não sabia para onde estávamos indo, também não sentia vontade de
do Artur.
Não havia dúvidas de que o ocorrido tinha sido por um bem maior.
não dar chances para ele me encontrar. Não prestei atenção em nada mais
sentia seu cheiro gostoso vindo da camisa sobre os meus ombros. Cheguei à
conclusão de que Artur tinha uma energia tão poderosa e forte que me
deixava segura a ponto de não pensar mais nada quando estava com ele.
Prova disso foi que consegui cochilar alguns segundos em seus braços.
levava essa regra à risca, até conhecer Artur. Ele jogava por terra todos os
argumentos que tive para acreditar que homens eram maus, partindo do
chique.
mesmo de Artur.
pernas estavam.
um banho quente.
entrada.
levar ao quarto para que tome seu banho e tire essa friagem do corpo.
aconchego.
Ainda que vivesse um cenário onde nada era certo, eu me senti livre.
Sabia que teria muito o que lutar, mas prometi a mim mesma que jamais
me vestir melhor para encontrar o Artur, mas não tinha levado além de
Mais calma, passei meus olhos pelo quarto, só então me dando conta
comentou que gostava de jiu jitsu. Nunca imaginei que ele pudesse ficar
ainda mais bonito do que eu tinha me acostumado.
sorriso lindo.
— Gostou do banho?
— Lindo! ... Digo, estava perfeito — corrigi-me a tempo de passar
antes de eu fugir.
Sequer parecia a mesma garota que tinha fugido algumas horas atrás
e que precisava de ajuda naquele instante. Artur era assim, tinha uma força
um pouco deslocada.
Ele percebeu.
elas.
você estava.
ombros.
— O que foi?
na abertura do cálice.
— Também nunca entendi para que esse exagero. Mas é bom que
— Muito.
do vexame da cerveja.
— Sem caretas.
O clima estava de certo modo leve, ambos fingindo que não havia
Mais uma vez Artur foi um príncipe. Não fez piada, se virando para
a panela e experimentando da colher em um bico incrivelmente sedutor.
— Vamos te alimentar.
ARTUR
dei sorte, já que desde o retorno de Marcela ele nunca mais tinha estado no
apartamento.
casa, mas que não se preocupasse, pois daria notícias no dia seguinte. Não
que desse satisfação de tudo o que fazia, mas porque ao sair, avisei que não
demoraria. Sabia que Dona Marta teria uma pequena síncope se não a
avisasse que estava bem, ainda mais na chuva. Limpei a lama que
aquecidos na chuva.
de um menino.
mim. Não que não gostasse de elogios, mas me sentia um pouco encabulado
com eles.
Não precisava entrar no mérito que após esse período o lugar foi
muito utilizado para fins, digamos, menos católicos. Até porque, havia um
cama. Adorava sexo, mas entendia que o ato exigia uma troca de energia
embargou.
Rebeca contou sobre como tinha sido o seu retorno para casa e confesso que
rosto e boca.
mim. Fitei os olhos tristes, mas cheios de esperança. Os lábios, tão carnudos
e vermelhos, dividiam espaço com alguns cortes nas laterais. O peito ficou
mas não podia. Não quando a sua vida estava do avesso e, eu, a única
pessoa que poderia ajudá-la.
arregalaram, surpresos.
mas não posso fazer se não souber de fato o que você passa.
com certeza vai me matar antes mesmo de me fazer casar com o coronel.
e na sua mãe. Quer mesmo deixá-la sob o mesmo teto que ele?
Acha mesmo que vou te deixar ir embora como se não tivesse acontecido
nada?
— Por quê?
que me fez acolhê-la em meu abraço. Seus braços rodearam o meu corpo
com força, e apreciei aquele momento. Era como se, por um instante, eu
braços fez um arrepio quente subir pelo meu corpo. Acariciei as mechas
lamento quase inaudível. — Ele não aceita quando eu o contrario e... faz
isso.
mãos.
— Eu... não sei. Arrumar um jeito de fugir para bem longe. Sei que
bom plano, mas eu precisava pensar antes de sugerir algo que realmente
fosse efetivo.
manhã.
— Sei que sim, mas precisa tentar. Amanhã será um dia longo em
que você tomará decisões importantes. Precisará estar bem para isso.
corpos. Por um instante, senti a falta da pele quente contra a minha. Tive
vontade de trazê-la de volta, mas não fiz. Não podia.
direção ao quarto.
— É exatam...
necessidade mais forte que eu, segurei as laterais do seu rosto, olhei no
fundo de seus olhos lendo muito mais do que os lábios diziam. Beijei sua
testa com carinho, antes de me afastar. — Durma bem, amanhã — ou
melhor, daqui a pouco — será um novo dia.
Eu sentia tantas coisas ao estar com ela, mas não podia ouvi-las.
Não com a responsabilidade que tinha caído no meu colo sem que
esperasse. Ainda que não soubesse exatamente o que faria, sabia que estava
pronto para o que viesse.
surpresa. Algumas ideias passaram pela minha cabeça, mas nenhuma delas
parecia certa o suficiente. Se ajudasse Rebeca a fugir, ela poderia conviver
próximo à porta do quarto em que Rebeca estava quando ouvi algo que
parecia um choro e murmúrio.
dormindo.
de chorar instantes depois. Parecia tão certo e tão errado tê-la em meus
braços, como se tivessem sido feitos exatamente para o corpo frágil e
miúdo.
anterior.
como ela poderia se sentir ao ver que tínhamos dormido juntos. Embora não
sentir desconfortável.
sono.
Linda!
— Está delicioso.
grata o suficiente pelo que fez por mim e saiba que, quando precisar, pode
em qualquer lugar.
ainda mais tão bonita. Poderia se tornar alvo fácil nas mãos de homens
aceitar, ele não terá mais como fazer nada contra você.
contrato, mas você será livre para fazer o que bem entender. Trabalhar,
estudar, ter a sua vida e ser independente. No entanto, passará a ser uma
Albuquerque, poderá ficar próxima da sua mãe. Por último, mas não menos
— Sei que não, mas não posso simplesmente a deixar sofrer algo
pior. Quando te achar, Deodato é capaz de te matar, Rebeca, sabe disso.
a ideia.
inteira. Nem eu, nem ninguém da minha família. Você vem para a fazenda
acordo por determinado período até a ira do seu pai passar e você ter a sua
coisa entre nós, ok. Senão, tudo bem também. O que eu não gostaria é de
todo mundo. Não ficaria bem para a imagem de nenhum de nós dois.
sentimento perigoso.
— O que a sua família acharia disso?
— Tome seu tempo para pensar, mas saiba que o relógio está contra
nós. Seu pai já deve ter descoberto a sua fuga e estar movendo céus e terras
para te encontrar.
— Eu aceito.
REBECA
Confesso que pedi para a maquiadora esconder, mas não permiti que
fizesse nada muito carregado. No cabelo, uma modelagem básica e um
arranjo gracioso.
ontem, calça jeans escura, blusa social preta com as mangas dobradas nos
antebraços e uma fivela com o brasão da fazenda. Para arrematar, o chapéu
Sorriu.
do meu joelho.
não se importará com um detalhe como este. Além disso, sei que é
pequena Bruxinha, o que importa para mim é que você esteja bem.
mesmo sem interesse, ele me fascinava. Sabia que ele poderia fazer aquilo
por qualquer mulher em minha situação, mas era tão fácil me iludir e sonhar
a produção.
fugindo.
casar tão cedo. Queria que acontecesse, mas seguindo a ordem natural das
coisas, não de modo abrupto, a minha única opção.
temerosa de que pudesse se revelar tão ruim ou até pior do que o meu pai.
machucada?
Por outro lado, justamente o fato de ser Artur o meu futuro marido
de olhos fechados.
olhar dele para você é apaixonado. Desejamos que seja duradouro e muito
frutífero.
doía.
gorda.
Ah, Artur...
Não insisti, até mesmo porque esta não era uma despesa contida no
minha boca.
ele.
Revirei os olhos, pensando que aquele papo não colaria agora. Não
Sem acreditar, fiz o movimento uma vez, notando que algo estava
diferente. Ele sorriu apenas com os lábios, incentivando a fazer outra vez.
Anuí.
Artur observou-me sério, hábito esse que eu já tinha percebido ser
costumeiro. Intenso, compenetrado, capaz de detectar qualquer coisa fora
do lugar.
— Tem certeza de que quer mesmo fazer isso? Ainda que não
pareça, podemos tentar outra saída.
— Sim. — Juntei a pouca voz que ainda tinha. Apertei seus dedos
com carinho. — É isso que você quer também?
— Quero, Bruxinha.
Artur desconversou.
Levantei-me nervosa, preocupada por sequer termos as testemunhas.
Fato que eu tinha me dado conta apenas ao ver os casais ao nosso redor
presença do homem alto e viril, chamando pelo Artur. Ao seu lado, meu
irmão estava surpreso.
Assenti.
— Sim.
Se ele soubesse...
à mesa. Ele olhou ao redor, talvez na busca por mais convidados. Não disse
nada e iniciou a cerimônia.
pelo juiz. Sei que era bonita e calorosa, mas só consegui focar novamente
quando chamou o meu nome.
Olhei para a minha mão, em seguida, para Artur. Parecia tão ansioso
— Sim — assegurei.
— Sim, senhor.
tremi. Não soube explicar a emoção que me lambeu naquele instante, era
nova, diferente. Meu corpo inteiro esquentou, senti o rosto ruborizar e calor
e vergonha por mal conseguir repetir os votos do juiz.
Mas ele falou que se acontecesse, tudo bem. Não se puna por isso,
mulher. A outra assoprou, esperta.
Sem reação, meu cérebro tentava processar tudo o que ele disse com
aquelas palavras. Será que o casamento de fachada poderia não ser tão de
fachada assim?
duradouro. Este, sem sombra de dúvidas, será um deles. Em seu olhar, meu
rapaz, é possível notar o quanto está apaixonado por sua amada. E a
recíproca é verdadeira.
fixo ao meu.
Tremi.
Não havia sido assim que tinha imaginado o nosso primeiro beijo,
ainda mais na frente de tanta gente. Mas eu queria muito e sentia o
Fechei os olhos pronta para o que fosse acontecer, doida para sentir
sua boca na minha.
O juiz riu.
Artur sorriu, sem graça. Eu não sabia onde enfiar a cara. Nunca
tinha passado por uma situação parecida.
segundas intenções.
Contudo, tão rápido quanto começou, se tornou mordaz. A pressão
da sua boca na minha ficou mais intensa e, quando vi, a sua língua pedia
mesmo modo.
Excitado.
Por.
Mim.
Meus Deus!
Quase agradeci de joelhos quando os protocolos acabaram. Fomos
é porque teve seus motivos. Além disso, essa carinha inocente engana. Ela é
mais poderosa do que todos pensam.
Mexi nas pontas dos dedos trêmulos, sentindo o peso da aliança. Era
direção.
postura e estendeu a mão. — Agora vamos? Está esfriando aqui fora e você
ponto positivo para ele, que havia passado em uma farmácia e me feito
pareceu eterno.
Antes que Artur pudesse esticar o braço, a porta principal foi aberta
de modo ansioso.
desceram até a minha mão entrelaçada à dele. Por fim, subiu ao meu rosto
avaliação.
A ansiedade varreu meu corpo por não saber o que esperar. Será que
era esse o momento em que ela me enxotaria de sua casa e mandaria para o
olho da rua?
caloroso. Eu amava o modo como me sentia acolhida por Vânia, mas estar
acontecendo.
pequena abertura que a mãe nos deu. Paramos ao lado da porta, sua mão
tenho uma fama de filho atentado para zelar. — Deu de ombros. — Não
prometi segredo e nem tenho culpa se você escolheu a mim. Eu sou o
melhor, eu sei.
rústico e elegante. Não consegui focar nos detalhes, uma vez que meus
olhos pousaram em Alfredo, parado de pé no que parecia ser o pequeno bar
correndo.
ver os pombinhos chegando, tão curiosa que atalhei[2] pela porta da cozinha
que comentavam na cidade era real: depois que se acertou com Marcela,
com a Rebeca. Não vou entrar em detalhes agora, mas aquilo ficou na
permiti mostrar, mas jamais imaginei que pudesse buscar as razões, muito
longe, e não descansei até vê-la bem com os meus próprios olhos.
com intensidade.
branda.
acreditar.
— Exatamente.
brutalidade que não me lembro de ter visto nele. Não naquelas proporções.
— Um filho da puta desses sequer pode ser chamado de pai. Se alguém faz
supor.
seguida, trouxe a cabeça da filha para o seu peito. — Desculpa falar isso na
sua frente, bebê. Desculpe, Aurora. Mas ainda são muito novinhas para
entenderem essas coisas. Ainda bem que o Davi subiu para o antigo quarto.
Marta parou à minha frente, puxando-me novamente para um abraço
carinhoso e fraternal.
— Sei que está com medo do futuro, mas agora você é uma
Albuquerque, minha menina, e estará sempre protegida — declarou.
comigo, minha flor, serei sua maior aliada. — Afastou-se com cuidado,
limpou minhas lágrimas sorrindo e pronunciou, antes de beijar a minha
testa: — Seja bem-vinda a esta família! Nenhum de nós irá permitir que seu
pai ou qualquer outra pessoa faça algum mal a você.
empolgados e incrédulos.
ordem natural da vida, mas eu não estaria dando a minha benção agora se
não enxergasse nos olhos de vocês dois que existe sentimento de ambos.
Talvez não seja forte ainda, mas se regarem com cuidado, tenho certeza de
que será semeado.
seguida, sentenciou:
casamento de fachada que de falso não tem nada. Pelo menos não se
depender do Artur. — Voltou a comer o amendoim em uma vasilha
até a décima geração do meu pai. Ficou revoltado quando soube, inclusive
comigo que, segundo ele, não tive a confiança de revelar as violências.
Desde que entendi o que o olhar de Joe quis dizer, não consegui
Sei que Artur não me cobraria um passo tão importante, até porque
intimidade. Não era boba, sabia que provavelmente era o meu corpo
Tinha percebido que ele gostava de uma pequena dose para relaxar
muito cheirosa.
sabedor.
— Estamos casados.
queixo com as pontas dos dedos, fitando-me com atenção. — Está com
— Muito — admiti.
emocional ajudam muito nisso. Mas lá no fundo, fui pego tão de surpresa
quanto você.
casamento. Onde vamos morar? O que vou fazer com a minha mãe?
Seu contato disparou uma onda de arrepios pelo meu corpo, principalmente
— E a mamãe?
— Aqui tem vários quartos livres, ela poderá ficar em algum deles.
roupas novas e te ambientar até mesmo para que a adaptação dela seja mais
— Isso quer dizer que continuará ficando com as mulheres com que
tem costume?
— Como meu pai bem disse, invertemos a ordem, mas isso não quer
dizer que não podemos ir com calma e termos o privilégio de construirmos
o que sente apenas pelo olhar. Quero que possamos ser um casal sólido o
entregarmos, entendermos que não somos o que o outro precisa, tudo bem,
podemos nos separar com a absoluta certeza de que fizemos o máximo que
estava ao nosso alcance para que essa relação fosse duradoura. Não quero
que você se sinta presa a algo que, porventura, possa não te fazer bem.
vinda dele. Abalada, tentei buscar alguma resposta que não entregasse o
quanto eu estava deslumbrada, porque a verdade era que Artur sempre
superava todas as expectativas reais e ilusórias que eu criava para ele.
Artur sorriu, com certeza me achando uma tonta que nem mesmo
conseguia falar a palavra sexo com o próprio marido.
Escandalosamente lindo!
— Entenda de uma vez que o que importa para mim é o seu bem-
pronta.
príncipe.
Por isso, quando dei por mim, estava com a ponta dos meus dedos
em sua barba enquanto aproximava nossos lábios.
com atenção até que nossas bocas se encontrassem. Artur permitiu que
explodir.
Aos poucos, Artur passou a exigir tudo de mim, intenso, profundo e
muito gostoso. Gemi quando ouvi a taça caindo no chão, no mesmo instante
calor diferente subir pelo meu ventre. Sem pensar, ajeitei-me sobre os
joelhos, ficando montada em seu colo, de frente para ele.
em minhas nádegas.
A mão em meus cabelos se manteve presa ali, ditando o ritmo que ele
impunha, enquanto a outra mapeava minha cintura, tocando minha pele por
pele colada.
— Eu não sei o que você tem, mas... me faz ter vontade de tirar toda
a roupa.
em minha nuca: — Esse é o limite que você não pode passar se não quiser
em sua boca.
Seus olhos eram brasa pura, assim como todo o seu corpo quente e
viril.
Beijei-o outra vez para que sentisse que era real, não apenas fogo de
momento.
estava tomada.
Sem dar chance de ele me tirar de seu colo, levei a mão ao fecho do
sutiã, abrindo-o. Lentamente, deixei que as alças caíssem pelos meus braços
sobre os lábios de modo inconsciente. Sorri quando senti que tinha ganhado
aquela batalha.
causando um arrepio delicioso até chegarem aos meus seios. Ronronei, com
a mais pura certeza de que nunca tinha sentido algo parecido com aquilo.
pura expectativa.
sentada onde ele estava, descendo até minhas pernas, ajoelhando-se logo à
muita delicadeza.
para repetir o gesto com a calcinha, desta vez desvendando cada pedaço de
controle das próprias ações. Nunca o tinha visto daquele modo, e devo
— Você é linda!
Gemi quando distribuiu beijos intensos e molhados nas partes
Fui acometida por uma fisgada forte, cheia de prazer, e ele percebeu.
Em resposta, introduziu a pontinha do indicador, fazendo-me ofegar e
controle.
intensificando o estímulo.
Tentei segurar, querendo prolongar o prazer.
Meu olhar desceu para Artur no meio das minhas pernas, ainda
Cacete!
— Presente?
para a casa. Seu olhar recaiu outra vez para o meio das minhas pernas e
notei meus cabelos tocando a barriga.
Senti meu rosto pegar fogo quando entendi ao que ele se referia.
meu joelho.
murmúrio. — Quer dizer, está aparadinho e eu gosto assim, mas pode ser
que tenha crescido um pouco. Desculpe, eu realmente não achei que ia
acontecer.
— Ei, sem neuras. — Acariciou meu rosto. — Não ligo para isso.
Mas fui sincero quando disse que gostei de saber que é ruiva por inteiro.
Quero que mantenha assim, não sabe o tesão que me despertou.
começamos.
hora, o anjinho sexual que habitava o meu corpo naquela noite alertou:
naquele quarto. Sim, porque daquele tamanho, sairia uma outra pessoa
quando ele tirasse a cueca.
Nosso quarto!
ARTUR
Quase gozei nas calças quando descortinei a única boceta ruiva que
já tive o prazer de experimentar. Caralho! A verdade era que depois de tê-la
provado eu não queria ter outra. Isso porque nem mesmo tinha tido o prazer
de estar dentro dela, mas tinha certeza de que ficaria louco.
sentir por ela, poderia se tornar um caminho sem volta. Por isso, tentei me
afastar.
beijos por todo o seu corpo até que estivesse novamente pronta. Parei na
boceta inchada, excitada e linda.
— Quero que seja prazeroso para você. Se doer muito, me avise que
eu paro. — Rebeca não respondeu, mas eu queria ter certeza de que ela não
— Caralho, Bruxinha!
Sob mim, Rebeca arranhava minhas costas e gemia cada vez mais
entregue.
— Na verdade, não sei o que fez comigo, mas toda essa confiança
só aparece quando estou com você.
— eu vou te beijar.
— Por quê?
— E qual seria?
— Vou primei...
— Juntos — interrompi-a.
pescoço.
decidiu acordar o lobo que habita em mim. — Minha voz saiu baixa,
pingando desejo.
peito.
luz, um ar romântico.
quanto.
Eu não poderia falar a Rebeca tudo o que passava por minha cabeça.
memória.
que ela não estava mais sozinha. Agora eu estaria ao seu lado em todos os
momentos.
Que, quando senti o gosto dos seus lábios pela primeira vez soube
que nada mais seria como antes, pois o vulcão em erupção no meu peito
deixava evidente o quanto o sentimento por ela poderia crescer e ser muito
soube que a minha vida tranquila e controlada não seria mais a mesma.
instintivo: o protetor. Nada mais importava, a não ser a certeza de que ela
estivesse bem.
Era verdade que ainda tínhamos muito a nos conhecer, mas sem
dúvidas, ficava cada vez mais rendido diante da mulher que Rebeca
um piscar de olhos.
— Por quê?
nós?
murmurou, estremecida.
— Acha que não sei? É ele quem está doido para fazer um monte de
Ela era toda miúda, com curvas proporcionais nos seios e quadris
Linda demais!
joelhos.
— O que você vai fa... — Sua voz ficou presa na garganta quando
que ficassem inteiramente limpas, mas sem tocar os lábios nos pelos ruivos
gemidos manhosos. A mão trêmula agarrou meus cabelos, pedindo por mais
silenciosamente.
Fiquei maluco!
Deslizei as mãos sobre o seu corpo macio. Subi pela barriga até
chegar aos seios lambrecados do meu gozo, excitando-me outra vez.
questão é que você precisa ver se está tudo bem com a sua saúde íntima e
checar com a médica o melhor método contraceptivo. Embora adore ser tio,
acho que não é o momento ideal para ser pai, ainda mais diante do nosso
cenário.
— Não sabe o quanto estou louco para sentir essa boceta sem nada
entre nós.
cansada de ser um peso na vida de outras pessoas. Antes era o meu pai,
agora não quero que seja você. Pretendo trabalhar, ter meu dinheirinho,
poder pagar e continuar a minha faculdade. Ser independente.
minhas.
sopro.
conchinha gostosa.
Estávamos casados.
tantas mudanças.
mim.
Insegura e curiosa.
Tímida e corajosa.
devagar, sorrindo, apaixonada com o quanto Artur era lindo, até mesmo
dormindo.
quando o senti mexer sob mim. Quis abrir os olhos, denunciar que estava
liberdade me invadiu.
ciência de que não reagiriam quietos diante do que aconteceu, mas não
permitiria que aquilo me abatesse. Não quando me sentia tão feliz como
naquela manhã.
Perdi-me no tempo apaixonada pela paisagem incrível. Campos a
beijar.
sobrancelha.
Artur gargalhou, puxando-me contra ele. Tentou outra vez, mas não
facilitei.
— Hum-hum... — neguei.
Ele riu.
— Não ligo para isso, Bruxinha. Estou com saudade da sua boca.
— Mas eu ligo, pelo amor de Deus. Você não é obrigado.
sofridas há alguns dias. Tive vontade de tapar, mas não tinha levado
secos.
a minha mente sem qualquer controle. Abafei um ofego, doida para repetir.
Estava cada vez mais difícil me concentrar em qualquer coisa que não fosse
senhora?
comentar.
— Você está linda! Como foi sua primeira noite na nova cama?
antes de dormir.
Riu, safado.
horário apertado. Caso contrário, te prenderia naquela cama por mais algum
intensamente.
vergonha:
— Eu não comprei nada para você. Desculpe.
caminho certo.
— Vamos?
sairmos.
— Vamos tomar café com todo mundo, tenho certeza de que estarão
— Deve ser gostoso ter uma família tão calorosa assim — comentei
Gelei, pensando no que ele poderia ter visto. Meu Deus! Fiquei tão
entorpecida que nem me lembrei dos riscos de estarmos na varanda.
— Você não tem uma esposa e uma bebê para cuidar? — Artur
rebateu, mas não parecia irritado. — Fique tranquila, ele está blefando —
dizer:
aconchegante.
ar de mulher forte, surrada pela vida, mas que finalmente teve o seu final
feliz. Sua imagem era pura e simplesmente de uma mulher que amava o
um festão de arromba?
Estava meio tonta com o quanto ela falava empolgada. Toquei sua
mão com cuidado, como em um aviso não verbal para ela ir devagar.
verdade. Não acho que seja adequado fazer uma festa, tornando isso um
grande evento na boca do povo.
cara de todo mundo que não casaram escondidos porque está grávida ou
milhares de outras coisas que o povo inventa.
chamando toda atenção para si. — A primeira coisa que vão falar quando
aparecerem casados sem ninguém ter ficado sabendo é que nós não fomos a
favor dessa união. Para deixar claro nossa posição, acho melhor
escancararem à moda antiga que estão juntos.
cabeça em concordância.
— Tia Rebeca, é verdade que agora você é minha titia igual à titia
Marcela?
Contudo, antes que pudesse dizer alguma coisa, Antônio foi mais rápido:
— Era para ser surpresa, mãe. Mas esse pentelho não colabora.
estava crescendo.
comunicaram pelo olhar. Sem uma única palavra verbalizada, eles pareciam
arquitetar algo maquiavélico.
maluquices da família.
— Está feliz?
Anuí, sentindo a ponta macia de seus dedos fazendo cócegas na
minha palma.
— Imagino que sim, querida. Mas quero que se sinta à vontade para
conversar sobre qualquer assunto comigo ou até mesmo com as meninas.
São todas anjos que Deus colocou na vida dos meus filhos, assim como
você. Desejo que se sinta igualmente acolhida.
— Obrigada, Dona Marta. — Tentei soar firme, mas ela sentiu que
havia algo não dito.
— Pode falar, meu bem. Eu já estive no seu lugar e estou aqui para
apoiá-la no que for preciso.
— Pode parecer ingratidão o que vou dizer, mas não quero que
compreenda assim.
boa no caminho do meu caçula, afinal, 27 anos não são 17. Estava passando
da hora.
passando por sua cabeça neste momento e estou aqui para ajudá-la como
puder.
ser independente.
— Acolhimento psicossocial.
com a família.
Quando se mudou com os pais e a Bia, fez questão de frisar para ninguém
mexesse em nada, pois o continuava sendo o quartinho dele. E de vez em
Down e, pelo que pude conhecer de Davi no pouco contato até então, me
cavalo bonito.
Sempre achei que o casarão fosse muito bonito, mas não imaginava
enorme.
Deixamos a sede, andando sob o sol quente daquela manhã.
que não havia procurado o meu toque. Naqueles poucos dias, tinha se
posição para as mãos denunciavam que ele estava sem jeito, sentindo o
mesmo.
corpo.
mim.
Dei um passo para trás atingida pelo impacto de suas palavras duras.
Senti-me ingênua, sem saber se realmente deveria levantar uma discussão.
— Demorar o quê?
que fez por mim. — Arrependi-me assim que as palavras saíram da minha
— Então me diga por que está agindo tão friamente comigo. Eu fiz
cabelos.
seu peitoral, subindo até o pescoço, mas fui interrompida pelo seu toque
que diante ao grande homem que ele havia se mostrado, jamais seria capaz
de me fazer mal.
Sempre penetrante, vivo e pujante. Mais forte que nós dois, capaz de nos
muito mais envolvido do que julgo ser prudente. Então, se não está disposta
acontecido. Artur estava sentido pelo que eu disse para Luiza no café.
Desculpe.
imaturo que decide se casar da noite para o dia por diversão. Eu mudei os
rumos da minha vida por você, por ouvir o que o meu coração gritava. Se
não consegue se abrir para a chance de sentir o mesmo, me diga agora.
Talvez ainda esteja em tempo de tentar preservar alguma parte de mim.
corações acelerados. Nós dois sentindo muito mais do que éramos capazes
de expressar.
Ri, com nossas bocas ainda coladas quando Artur estendeu o dedo
do meio para Antônio sem nem mesmo precisar olhá-lo. Resmungando, ele
silenciosamente.
Beijei-o outra vez, pedindo, com sinceridade: — Desculpe, mais uma vez.
Não quis te magoar.
Assustei-me com tudo o que estava sentindo por Rebeca. Era tão
intenso que a possibilidade de ela não estar envolvida me abalou.
o momento.
entrelacei nossos dedos, notando a falta danada que aquele pequeno gesto
fazia.
ruivinha encheu o meu peito de orgulho. Cada pequena atitude como aquela
mostrava o quanto gostava da fazenda e não havia nada que me deixasse
mais feliz do que ela se sentir bem no meu lugar preferido no mundo.
Afrodite.
cavalo.
— O Fúria faz jus ao nome que tem. Somente o meu irmão, Marcela
aproximar.
— Marcela tem aquele jeitão na dela, mas é uma das mulheres mais
passado, mas adivinhe só? Ele voltou, trouxe Antônio junto e uma série de
risada gostosa.
continuei explicando:
mão sobre a sua, fazendo-a esticar o braço. — Deixe que ele sinta o seu
cheiro.
— É incrível.
Subi a outra mão pela saia do vestido, espalhando arrepios por suas coxas
chegar... Ai meu Deus! — gemeu mais alto quando invadi sua calcinha,
Ventania.
Ele, por sua vez, continuou comendo o feno como se sequer tivesse
nos vendo. Conhecia o meu cavalo como a palma da minha mão e, se decidi
fazer aquela proeza em sua baia, é porque sabia que não se estressaria.
nuca a invadindo furiosamente por cima e por baixo. Mantive sua cabeça
apoiada em meu ombro, descendo a mão direita para os seios túrgidos,
tirando-os para fora do vestido e apertando com um tesão descabido.
gozou com os meus estímulos em sua intimidade, seios e, por fim, com o
beijo erótico o qual me contive para lhe dar até aquele instante.
— Agora vou te levar para dar uma volta nas principais instalações
da fazenda. Depois, com mais tempo, quero te mostrar cada cantinho desse
lugar, e principalmente, estrear como fizemos no estábulo.
Ah, Rebeca, quando disse que você liberou o lobo que havia em
pude desfrutar.
vez, Artur tinha assumido como chefe dos veterinários e seus olhos
brilhavam quando falava da profissão.
mas seria o meu roteiro preferido para os próximos dias. Levamos o cavalo
de volta ao estábulo e depois seguimos de carro até a cidade.
preta adornando o punho grosso, o braço forte cheio de veias saltadas, além
imaginava.
Bruxinha — revelou.
apaixonada, ao confessar:
daquela noite.
mente.
pouco assustada, mas assenti. — Estou aqui com você para tudo. Conte
comigo — garantiu, alisando meus dedos carinhosamente.
— Obrigada.
— Não por isso. Agora vamos porque ele já deve estar nos
Olhei sem entender até o instante em que ele rodeou o carro, abriu a
Meu pai não poderia recorrer quanto ao meu casamento, porque ele
era válido perante a lei. Além disso, se fosse do meu desejo, eu poderia
sobre a minha mãe. Por isso, preferi deixar como estava e faria todo o
mim.
estar. Uma garota forte, dona de si. Não precisa ficar agradecendo por tudo.
apaixonado à minha frente era mesmo real ou parte dos meus devaneios
românticos.
Era a única coisa que explicava o quanto estava feliz diante de tantas
incertezas.
Comprei um novo chip, ansiosa para falar com Vânia e ter notícias
de mamãe. Liguei algumas vezes, mas não atendeu. Imaginei que estivesse
entretida em suas atividades domésticas e tentaria mais tarde.
alteza real britânica ou algo do tipo. Nunca tinha me sentido tão exposta.
Contudo, a mão firme do meu marido em minha cintura e o modo
me alertasse que aquilo não demoraria a chegar aos ouvidos do meu pai.
entanto, com aquele jeito tranquilo e doce, me arrebatou com uma simples
frase.
Encantada, não tive reação a não ser aceitar e garantir que ao menos
o sorvete seria por minha conta.
para o ataque. Tremi inteira, sabendo que aquela era uma tragédia
anunciada. Não me perdoaria jamais se ele se prejudicasse por minha causa.
— Seu franguinho mal saído das fraldas, é tão imbecil quanto essa
Seu olhar era diferente de tudo o que eu já tinha visto no rosto doce
e tranquilo. Exalava ódio, pronto para fazer uma grande burrada.
soube da sua aventura tola ao fugir de casa. Caso contrário, tenho certeza de
que não seria tão benevolente quanto eu e vir te buscar tão tranquilamente.
Artur desceu para o aperto cada vez mais firme e soube que se ele revidasse
às provocações, uma catástrofe aconteceria.
que sempre foi, ele deu um passo à frente, segurando o pulso do outro de
um jeito que o fez soltar o aperto na hora, o imobilizou nas costas e fez meu
— Ela não é noiva daquele velho com idade para ser o avô dela.
Agora, Rebeca é a minha esposa, uma Albuquerque — rosnou, furioso.
— Não pode ter se casado com ele, Rebeca — meu pai berrou. —
Vou recorrer, anular esse casamento.
ouvido:
furioso cintilou a íris escura em uma promessa silenciosa de que não ficaria
assim. Perder o acordo com o coronel seria desastroso, mas lembrá-lo da
perda de tudo o que viria junto com a derrota na campanha o enraivecia
ainda mais.
ser humilhada mais uma vez pelo meu pai. Tinha jurado que aquilo nunca
mais aconteceria e, por isso, não tentei impedir quando Artur o virou de
frente e deu um soco violento em seu rosto. Não permitiu que caísse,
segurando em sua camisa e batendo mais duas vezes até que os seguranças
o agarraram.
dos golpes tão ágil quanto um gato. Deodato se levantou com a mão sobre o
olho esquerdo e cuspindo sangue no chão. Lentamente, caminhou como se
canalizasse toda a raiva para golpear o meu marido, imobilizado pelos
seguranças.
nascido.
— Por que não fazemos uma luta justa? Quatro contra quatro. —
Antônio tinha assumido aquele ar animalesco, quase irracional. Estava
inclui a Rebeca, filha que agrediu e vendeu num acordo para ganhar votos.
— Não sou vil como você, Deodato, que gosta de ameaçar e colocar
medo no adversário mais fraco. Luto de homem para homem e ensinei aos
meus filhos a serem assim. Isto foi um aviso, não haverá o segundo.
passando a mão pelo meu rosto, não se parecendo em nada com o homem
furioso de minutos antes.
doido por um banho com o meu boy-delícia, rotina que fazíamos sempre.
estavam brincando.
Abri os primeiros botões da camisa, preparando-me para ir até eles,
preocupada.
— O seu pai. Ele descobriu que a Rebeca está na cidade com o filho
impedir.
estava desligada.
Obrigado, Deus!
aflito.
carros.
Vamos!
corrente sanguínea. Sem nenhuma palavra, ele me disse que o ocorrido não
ficaria assim.
o rosto molhado.
por um bom tempo planejando as próximas ações, para que nada desse
errado.
pelas denúncias.
Na época, Aloísio estava colérico por justiça quanto a violência
julgado, mas não precisávamos ser nenhum juiz para enxergar o óbvio.
Assim, ainda que fosse mais sujo do que pau de galinheiro[6], Deodato
nada compatível com o dia leve e incrível que tivemos. Desviei meus olhos
para Rebeca, notando que mal havia tocado na comida, presa em suas
afetuoso:
estar fazendo nesse exato momento com a minha mãe. Eu... — falou,
para ver sua reação. Levantei-me, caminhando até ela e peguei a sua mão,
com a minha Bruxinha ao meu lado. O arquejo deixou seus lábios quando
encontrou a mulher amparada por Rodrigo.
— Mãããeee...
Abraçou-a emocionada.
saído do transe.
de machucá-la. Por fim, ela tocou a minha palma e deu um sorriso pequeno.
exagero, mas a sensação era de que ela iria quebrar a qualquer instante.
casa. Eu sabia que ao ter seus planos frustrados, meu pai não a pouparia de
sua fúria.
— Fez bem, Rodrigo. Aqui na fazenda ele não poderá fazer mal a
carinho entre elas. Rebeca era apaixonada pela mãe, tocando-a com carinho
e cuidado. Nem se parecia com a garota triste de minutos antes. Sabia que
agora ela se sentiria mais tranquila. Como se soubesse o rumo dos meus
pensamentos, levantou o olhar e sorriu para mim.
Porra! O que eu estava sentindo por essa menina era muito mais
Quando Joe me avisou que Rodrigo estava com a mãe, não pensei
expliquei.
complicado, mas agora a senhora vai morar aqui comigo por algum tempo.
— Dona Célia, por que não dorme aqui só hoje, amanhã nós
pensamos em outra solução — sugeri, fazendo focar seus olhos escuros em
mim. Assentiu em um movimento quase imperceptível, voltando para a
preocupada.
— Enquanto me entregava as malas da mamãe, ela me disse que
voltaria para a casa da família em um sítio. Não entendi direito — o irmão
o canto da sala.
Pode estar debilitada, mas se não quebrou vivendo sob o mesmo teto que
aquele homem, não quebra nunca mais. Quem sabe os ares da fazenda não
abraçou a mãe, andando devagar com ela até o quarto, aproveitou para
mostrar alguns cômodos pelo caminho, mas a senhora pareceu não ter visto
nada. Eu ainda achava um pouco estranho lidar com uma condição como
Fui para o meu tomar banho e tentar relaxar um pouco até Rebeca
voltar. Sob a água morna, deixei os pensamentos fluírem soltos. Parecia
cada vez mais difícil manter o raciocínio coerente diante tudo o que estava
acontecendo.
REBECA
novamente:
eu prometo.
— As costuras.
Belos, lembra?
Ela me olhou, mas não disse nada. Precisando desabafar, acariciei
sei como, mas de algum modo, eu me encontrei estando com ele. Claro que
tenho os meus sonhos e vontades, mas estar com ele deu mais cor, mais
era que ela pudesse me aconselhar, não aconteceu. Às vezes, eu achava que
presa em si mesma.
até o tórax coberto por um pijama quente. Fazia bastante frio na fazenda.
— Estou muito feliz pela senhora estar aqui. Prometo que nunca
homem.
seguida, fui para o meu quarto. Ainda era estranho, mas começava a me
bermuda, sentado sobre a cama, com uma perna estendida para o chão e a
necessários.
ligação direta com o meu emocional. Senti a garganta travar à medida que
emoções.
cada pequena vertente dessas me fazia apaixonar ainda mais por ele.
instantes, até ele colocar o violão de lado, fazendo-me sentar em seu colo.
cabelos.
— Eu também não.
apaixonado e apaixonante.
— Não sei como você consegue se manter tão sereno diante tudo o
eixo e não fazer besteira. Como te amar sob essa trilha sonora, deixando
dividir tanta intimidade com outra pessoa, mas Artur tornava tudo muito
natural.
casa dos seus pais pode ser um problema para que ela se sinta confortável.
atender muito bem as necessidades dela. Acha que ela pode gostar?
— Eu não sei, e não quero que ela fique longe. Embora consiga
fazer as necessidades básicas sozinha, mas sempre tem que ter alguém para
lembrá-la.
acha viável, posso levá-las para conhecer. Quanto aos cuidados dela,
avó do meu pai, mas ela faleceu antes do meu nascimento, e naquela época
não era muito comum tirar fotos. Então, nunca a vi.
conosco.
casa.
Embora tenha passado pela vila ontem, não tive tempo de descer e
apreciar o quanto era charmosa. Parecia uma mini cidade e todas as casas
ficavam ao redor da lagoa. A igrejinha ficava na praça central, próxima a
Artur nos avisou que o espaço da escola havia ficado pequeno para
atender nos três turnos e com atividades extracurriculares. Assim, Marta e
até que estivesse em frente à porta de madeira. O restante era todo branco.
Destranquei, não podendo conter o suspiro ao olhá-la. Mamãe fez o mesmo,
Parecia uma cena corriqueira, mas para ela era um grande avanço. Sinal de
que estava mentalmente presente. Isso dizia muito para mim.
trazer as suas coisas para cá, irei te acompanhar até estar totalmente
adaptada, tudo bem?
Ela assentiu com um gesto. Peguei algumas jabuticabas para que ela
sempre. — Conheça sua nova vizinha, Dona Célia, mãe da minha esposa,
Rebeca.
fosse um tanto fechado, ele era bonitão, não parecia ter uma filha daquele
tamanho.
— Obrigada.
A casa estava fechada, mas não demorei a deixar tudo no jeito para
ela.
Liguei para Vânia, sendo atendida daquela vez. Estava satisfeita por
ter ouvido a voz dela. A saudade era enorme. Convidei-a para nos visitar
Olegário.
agitada.
uma vez que ela já estava noiva de outro influente da região que não teve o
seu nome divulgado.
aquela ação tinha deixado muito claro o poder daquela família. Não eram
arrogantes, mas se precisassem usar seu poder, ela o faria.
não deixarei que ele te exponha ou a nossa relação. Deodato terá o que
merece, mas não será a qualquer custa.
— Está tudo bem. Infelizmente, ele vai começar a colher tudo o que
plantou — afirmei, triste.
Ao meu lado, mamãe não parecia se ater ao que acontecia. Foi bom,
ela não merecia tamanho desgosto.
derrocada.
REBECA
DIAS DEPOIS...
acirrados entre eles. O coronel não tinha dado notícias, e eu não sabia dizer
se aquilo era bom ou ruim. No entanto, ia seguindo a minha vida do modo
no dia em que a convidei para conhecer a Canto dos Pássaros. Não precisei
daquele lugar falavam por si só. Ela ficou responsável por cuidar da casa da
orientou para que eu continuasse cuidando da minha mãe até que ela
energia negativa do meu pai não nos assolava mais como na casa da cidade.
aberta e, quando fui chamá-la para comer, encontrei um gato preto deitado
sobre seu colo enquanto ela costurava. Tentei tirá-lo, mas me pegando
perto dela. Às vezes saía de casa para dar uma volta, mas ficava a maior
adaptado uma mesa de estudos para poder ficar com ela enquanto fazia as
aulas on-line. Aos poucos, se aventurou para a cozinha, o jardim dos fundos
e, quando vi, o acompanhava pela varanda. Ora sentada na mureta de frente
Não era um processo rápido ou fácil. Havia dias em que nada a fazia
sair do quarto imersa naquela tristeza sem fim, mas eu tinha certeza de que
de se casarem. Era engraçado, pois agora era habitada pela minha mãe,
as suas casas.
Essa rotina estava sendo muito boa para nós. Enquanto ele e os pais
da tarde, Vânia vinha fazer companhia até que ela dormisse, depois voltava
minha?
mesmo o tivesse visto. Ao seu lado, Peludo parecia ser três vezes maior,
irmão, saiu correndo da casa dele e apareceu latindo, chamando atenção dos
continuou.
Cheguei rápido, elevando o tom da minha voz, posicionando-me na
esbravejando. Pois que ele continuasse, porque tinha me deixado doida para
tocando sua mão quentinha, ao mesmo tempo em que sentia meu coração
acelerado.
tranquila:
à nossa frente. Ele desceu, vindo até nós e tocou a mão da minha mãe de
modo carinhoso.
Ela deu um leve aceno, esticando a blusa para guardar as frutas que
apanhava. Parecia uma criança.
— O que aconteceu?
pegar as mais altas, depois nos guiando para dentro da pequena casa. Ao
fechar a porta, ela caminhou até a cozinha, e Artur explicou:
— E que tal a gente ir para casa e você continuar com aquelas aulas,
só que agora, com nós dois pelados.
— Eu criei um monstro.
mistura erótica do seu cheiro natural com o perfume que passava todas as
manhãs. Passei pelo brasão na fivela, até parar na braguilha, apertando o
Daria qualquer coisa para estar por baixo ou por cima de Artur, mas
não à sua frente ouvindo-o me ditar ordens, ainda que seu tom não fosse
detalhes rosa, nunca achei que fosse levar tão a sério a história de defesa
pessoal.
de me sacudir.
— Sei que não, mas pense que a sua vida ou a vida da sua mãe corre
Posicionei uma perna para frente, levando as duas mãos ao seu peito
sobre o quimono azul, impulsionando com força. Fiquei frustrada quando
— Está vendo que você não tem força para derrubar o seu
imobilizá-lo. Agora veja o que farei com você, e isso não depende apenas
braço sob o meu pescoço e outro sobre o meu tórax. Em seguida, passou a
meu seio com força sobre a rash guard[8]. O toque era diferente de tudo o
que ele já me fez sentir, com certo ar grosseiro. Seu corpo se posicionou
sobre o meu quando sua mão segurou meus braços sobre a cabeça. A ereção
roçou em minha pelve, mesmo protegida pelo tecido grosso.
Retribuí o beijo gemendo por mais, para que ele me desse tudo.
duro.
fazendo-me encolher.
aprender.
inteiro.
ao seu lado, até que tivesse minha perna ao redor de seu pescoço e seu
meus pais e a folga dos funcionários do casarão, só era possível ouvir o som
varanda.
cozinha. Não consegui conter o sorriso, sabendo que a Bruxinha estava lá.
preparando o café da manhã com a minha camisa branca que, para ela,
charme por conta dos fios soltos. Ao fundo, um dos diversos countries que
sabia. Rebeca me tinha nas mãos. O que eu sentia por aquela garota se
tornou tão forte, intenso e avassalador a ponto de eu jamais poder sentir
desastre falasse mais alto. Aos meus olhos, apenas aumentava o encanto e o
modo único pela qual eu a amava. Sim, embora ainda não tenha expressado
dias, havia fila de espera pelas peças bonitas e com preços acessíveis.
apoiava com alguma burocracia, mas a Bruxinha era esperta, aprendia com
também era dela. No entanto, ficou muito claro de que Rebeca prezava pela
caminhonete.
— So, let’s close your eyes. And strip it down[9]... — A voz macia
juntos, ia melhorando.
Caminhei até ela, pousando a mão sobre a sua, garantindo que não
mesmo instante que deslizei o nariz pelo pescoço cheiroso até o lóbulo
convite?
strip it down.
camisa até tirá-la pela cabeça, fazendo o cabelo cair em cascatas ao redor
do corpo gracioso.
— Está certo, mas prefiro tire a roupa. — Virei-a para mim com
com paixão.
Envolvi suas coxas, ajeitando melhor o seu corpo para que estivesse
Desci minha boca pelo seu queixo, pescoço e colo. Dei atenção aos
bicos túrgidos sem pressa. Beijei, chupei, lambi e mordi. Suas lamúrias
Contra o tecido do short, sentia o pau babar, desejoso demais para estar
seus pés nas laterais do corpo e deslizando os dedos pelos lábios melados.
— O que você quer? — provoquei.
Ostentando um olhar safado, roçou a glande por toda a região onde minha
boca brincou minutos antes, incitando-me de um jeito maravilhoso.
— Sua boceta.
Tirei o obstáculo entre nós e empurrei tudo de uma vez dentro dela,
arrancando um grito alto no instante em que sua mão puxou meu cabelo
Tomado pela luxúria, investi com força contra seu corpo. Levantei
um orgasmo violento.
vez ou outra. Rebeca tremia dos pés à cabeça, estava pronta. Estimulei o
clitóris mantendo o ritmo intenso, e ela gozou, mas não parei. Saí do seu
interior, roçando a glande no pequeno nervo, entrando com tudo outra vez,
mais impetuoso. Parei ao sentir seu corpo pegar fogo por dentro e
expulsando meu pau.
sair de dentro dela, espirrando na minha pelve. Alucinado, meti outra vez,
gozando em seu interior enquanto ela esguichava sem parar.
Pouco depois, notei que ela não conseguia me encarar, mesmo após
fale comigo.
— Eu... — murmurou , retraída — eu fiz xixi em cima da pia da
Não pude conter o riso. Pousei a mão sob o seu queixo, fazendo-a
— É sério?
coisas.
— Não mesmo! Você nunca será obrigado a ver essas coisas minhas.
Ri, beijando novamente seus lábios.
Sorriu.
matar.
— É por isso que nenhum de nós irá contar. Além disso, estou
ansioso para que a nossa casa fique pronta logo, e que cenas como essas se
tornem corriqueiras.
sacanagem.
Ajudei-a a descer, só então percebendo o tamanho da lambança
maravilhosa que havíamos feito.
batom um pouco mais rosado que a cor natural de seus lábios. Admirei de
casa deles.
— Você precisa admitir que a sua mãe também não colabora, né,
Bruxinha? — brinquei. Estava mais do que ciente de suas condições, e feliz
pela melhora gradativa. Contudo, de algum modo, sentia que ela fazia
Célia, por sua vez, deu as costas, voltando para casa com algumas
jabuticabas escondidas na blusa. Mesmo que fizesse aquilo todos os dias,
ela seguia padrões. Sempre calada, acompanhada do Peludo e usando a
blusa para guardar as frutas. Ao entrar em casa, seguia até a cozinha para
se proteger, sua mente havia a deixado naquela condição. Era como se fosse
melhor tê-la daquele modo do que enfrentando o trauma. Além disso, as
mazelas do casamento com Deodato corroboravam para que ela
desenvolvesse a depressão.
— Desculpe, patrão, mas não sei como conseguiu arrumar uma
— Por que não relaxa e a deixa? Uma hora as frutas vão acabar e ela
para.
duas figuras masculinas e sem camisa, descendo a rua com uma bola de
futebol na mão.
extintas.
Chutei a bola em sua direção, iniciando uma disputa para não deixar
a bola cair enquanto continuávamos conversando.
do seu irmão estar ganhando de lavada[11] e o fato da Dona Célia ter saído
de casa estar gerando repercussão negativa, parece que o coronel está
noiva. Só Deus sabe o que virá pela frente. Te cuida, viu, Lobinho? Da
ruivinha também.
atacasse não faria de igual para igual, esperaria alguma vulnerabilidade. Por
isso, todas as barreiras se manteriam levantadas.
lo, senti-me mais uma vez estar vivendo um conto de fadas. Agora,
mês, eu não me veria casada tão cedo, mas hoje, repetiria sem sombra de
dúvidas. Eu o amava, e queria surpreendê-lo com esta declaração no altar.
— Ei! — Luiza acenou a mão em frente ao meu rosto. — Alguém
aqui?
com a natureza e com uma força que parecia vir de dentro dela.
Aloísio. Assim como Marcela, Luiza era intensa, sem medo de enfrentar
desafios e batalhas.
Na poltrona ao canto, Marta observava nossa interação bebericando
é incrível.
feliz por finalmente ver os meus bebês casados e enchendo essa fazenda de
conjecturando que adoraria ser mãe, mas no momento certo. Por fim, um
casamento primeiro. Porque vou te contar uma coisa, ter filho dá trabalho,
viu? Mas é maravilhoso, eu recomendo a experiência.
havíamos espalhado.
— É lindo, mas não vai dar certo! Eu vou cair e passar vergonha na
segurança também será reforçada, já que com a derrota nas eleições, seu pai
situação ficou vexatória, pois os memes nas redes sociais não só zombavam
esposa terem saído de casa repentinamente antes das eleições, assim como o
ele viesse em alguma conversa. Por isso, decidi mudar os rumos dos meus
pensamentos.
— me virei para Marta e Marcela —, eu não saberia nem por onde começar.
Talvez, nem estivesse fazendo essa festa. Querendo ou não, toda a minha
Além disso, cada uma de nós tem uma vergonha diferente para contar. Uma
do Aloísio, acredita?
os cantos.
fazer ciúme ficando com outra garota na minha frente. Na hora da raiva,
não vi nada e me virei para o homem mais próximo e, acabei beijando o
Artur.
irritação por pensar que, de algum modo, eles tivessem sentido ou ainda
sentissem alguma coisa um pelo outro.
chegou aqui tão irritado, estava completamente rendido pela Marcela, mas
ela não facilitava para o lado dele. Eu assisti tudo de camarote.
acontecendo, porém, mentiria se dissesse que não fui mordida pelo bichinho
do ciúme.
tinha motivos. A interação entre Artur e Marcela sempre foi muito amigável
e respeitosa. Além disso, não fazia sentido algum ele se casar comigo se
Meu casamento.
quero. Somente ela, e nunca haverá qualquer outra pessoa que me fará
nascer.
mas nunca a levei a sério. Minha mãe criou homens fortes, fiéis aos seus
sentimentos. Claro que, com a fase adulta, não acontecia muito. No entanto,
por isso.
atentado apareceu.
esqueça de que agora você é casado e sua esposa também fica enciumada
por isso.
chamou. — A voz de papai nos fez virar. — Excluíram o velho que colocou
vocês no mundo?
bombadinhas.
foi espada.
fora, enojado.
— Então não me provoquem. Porque, meus queridos, já vivi cada
vestido, mas não renunciaria ao fato de que seu paletó fosse da cor dos
Após entrar com o meu pai, mamãe deu a volta e veio ao meu
encontro. Ainda que estivesse nervoso, não pude deixar de notar o quanto
matriarca da Fazenda Canto dos Pássaros ficava ainda mais bela com o
passar dos anos.
— A senhora está uma gata! O pai que não se cuide para ver —
elogiei, acariciando suas mãos.
— E você continua o mais galante dos meus bebês — devolveu,
sorridente. — Agora vamos, uma ruivinha linda e sortuda está lá dentro
Com certeza tinha sido escolha da Bruxinha e ela optou por me fazer uma
surpresa. A emoção se acumulava lentamente, mas eu sabia que em algum
cabeça. No mesmo instante, ouvi um clique e posso jurar que a foto tinha
ficado incrível. Sem sombra de dúvidas, iria para o aparador de fotos da
sala.
por amor, não apenas por um ato de proteção. Que Deus abençoe o seu
casamento com Rebeca e me conceda a chance de ser avó de muitos
época.
como sei que é o homem certo para ela. Mas se ousar a ser menos do que
essa garota merece, se verá comigo.
— Eu ia deixar para te falar nos votos, mas não quero que pense que
foi pelo ritual do casamento. Então preciso te falar agora. Eu te amo, Artur!
Amo muito, e jamais serei capaz de demonstrar em palavras tudo o que
Não que suas ações não tivessem deixado claro, mas ouvi-la dizer
você antes dos votos, mas ansiosa e impulsiva como sempre — brinquei,
tocando seu nariz —, não me deixou começar. — Alisei a bochecha
maquiada, ressaltando ainda mais a sua delicadeza. — Eu te amo, Bruxinha.
Cada pequeno detalhe seu. A sua pureza, a timidez, o seu jeito meio
desastrado, a sua simplicidade, o quanto ama esta fazenda tanto quanto eu e
Passei meus braços pela cintura fina, tomando cuidado para não
puxar o véu, e tomei sua boca sem me importar com os protocolos. Rebeca
pouquinho.
Rebeca esta tarde. Imaginem só qual não foi a minha surpresa ao descobrir
que ele tinha sido o juiz responsável por realizar o matrimônio diante as leis
do homem? — brincou, fingindo ultraje. Ainda assim, sua voz era branda e
acolhedora. — Embora seja muito comum hoje em dia este tipo de
dinâmica, devo ressaltar que vocês não poderiam ter escolha melhor do que
se casarem perante o Pai Celestial. Naquele dia, João me contou que os
Luiza fez o maior suspense sobre como seria, e cheguei a pensar que
seria algum dos meus sobrinhos. No entanto, não pude deixar de me
emocionar ao ouvir a voz de Davi vindo da mesma direção em que
minhas.
— Tá bom, titio. Agora vou levar ele de volta antes que faça cocô e
suje aqui tudo. A mamãe mandou eu ser rápido.
tinha mandado fazer outra como uma espécie de aparador para Rebeca,
sendo assim, duas alianças para ela.
acontecer tão rápido e tão intenso como foi. Você me tornou protagonista de
minha própria história. Somente nós dois podemos entender o que sentimos
um pelo outro, ainda assim, não conseguimos explicar. Você é muito mais
do que eu poderia sonhar para mim. Um homem protetor, valente e muito
carinhoso. Hoje, quero que receba esta aliança como prova de tudo o que
sinto por você. Todo o meu amor e a minha fidelidade. — Deslizou o anel
pelo meu dedo, tocando seus lábios quentes em seguida.
grande ironia se deu porque era para eu te aquecer, mas no fundo, você
trouxe calor para a minha vida, eu sequer sabia que precisava, até você
chegar. Sou privilegiado por você ter escolhido a minha caminhonete para
se esconder e o meu peito para fazer morada. — Deslizei a nova aliança ao
lado da outra. — Como disse no nosso primeiro voto, agora mais forte do
que nunca, é do meu desejo que a nossa relação floresça e perdure por
muitos anos. — Beijei sobre o anel, com o coração em paz. — Eu te amo,
Rebeca. Amo demais!
não deixei.
em que dançamos pela primeira vez. Fios com lâmpadas amareladas faziam
estava em polvorosa, soube que havia uma disputa sobre os nomes a serem
convidados. Artur era benquisto por todos, então a festa estava lotada, ainda
brinquedo.
— Agora não tem mais volta, esposa, você disse sim duas vezes —
minha mão direita sobre o seu ombro. Se ele soubesse o poder que esse
— Está feliz?
Riu alto, jogando a cabeça para trás, aproveitei para fechar os lábios
em seu queixo.
esforçou para aprender. Assim como foi corajosa ao fugir de casa, forte ao
sua vida.
A sua fala me atingiu de modo ambíguo. Feliz por ele ser o tipo de
homem que encoraja e não se sente fragilizado por isso. Angustiada porque
peito, uma certeza de que algo poderia acontecer e afetar a nossa alegria.
— Quero que você esteja nela. — Abracei-o com força.
aprecio ainda mais a mulher forte e corajosa a qual você está amadurecendo
para se tornar.
ouvido:
tumulto na porteira, disse que não vai embora enquanto não falar com o
O arrepio subiu pela espinha. Pensei ser o meu pai ou o coronel, mas
gente, Bruxinha, mas preciso saber o que eles estão armando. — Segurou
meu rosto entre as mãos e beijou minha testa. — Junte-se à minha mãe,
volto logo.
afastar.
metros à frente.
visão dos convidados, andei apressada, mas trombei com Marta, fitando-me
atenta.
— Estava te procurando. Você está bem?
meu lado.
e as pernas bem firmes no chão. Sabia que ele não permitiria qualquer
ofensiva.
Ainda que a música tocasse alta, era possível o homem com nitidez,
ar.
— Cara, qual é o seu problema? Na boa, o que eu te fiz para ser tão
estivesse sério, não muito distante de nós, ao lado do meu pai e Aloísio.
esperava, chorou.
minha!
— A Amanda.
ocorreu.
— Ela era minha namorada e terminou comigo para ficar com você.
Sabe o que ela me disse? Que o seu jeito doce era o que a encantava. Meu
ovo pro seu jeito doce — esbravejou com o dedo em riste.
mesmo de longe pude sentir que estava tensa, agora não apenas pela
presença de Bruno, mas pelo que ele havia dito.
— Ela era e ainda é o amor da minha vida. A perdi por sua culpa.
Bruno parecia sincero, até ofendido por eu ter pensado aquilo dele.
Estava bêbado, despido de qualquer armadura. Naquele instante eu percebi
que ele não era uma má pessoa, apenas um homem mimado, acostumado a
ter o mundo aos seus pés que não sabia como lidar quando os
acontecimentos não seguiam o esperado.
Embora merecesse uma coça para aprender a ser gente, não seria eu
vai procurá-la?
hombridade.
uma ameaça.
Enquanto corria até ela, notei que Aloísio e meu pai já tinham
dispersado a multidão.
Embora estivesse irritado com o que Bruno causou, não pude conter
um leve sorriso ao notar o quanto a minha baixinha era ciumenta.
de uma vez.
— Quem é Amanda?
você?
Colei meu corpo ainda mais contra o seu, colocando toda a cabeleira
ruiva sobre o ombro esquerdo, expondo o pescoço delicado. Ela suspirou,
em uma mistura de desejo e irritação. Desci as alças finas, espalhando
beijos suaves entre a clavícula e a orelha, sussurrando:
provocando rouco. — Mas que tal a gente parar de falar dela e antecipar a
nossa noite de núpcias?
descendo a mão até a boceta pequena. Gemi quando ela abriu a minha
calça, procurando avidamente o meu pau, começando uma masturbação
gostosa ainda por cima da cueca. Em seguida, abaixou a peça apenas o
sua felicidade.
Quando me contou que mal tinha saído de Alta Colina, eu soube que
ela amaria qualquer lugar que eu escolhesse para a nossa lua de mel.
Contudo, quando dei as opções de praia ou neve, seus olhos brilharam com
a primeira opção, então não tive dúvidas ao planejar o nosso roteiro nos
mínimos detalhes.
Foi incrível!
— Estava aqui pensando no quanto nunca pensei que amar fosse tão
bom.
— Sim, e amo o modo como você me ama. Como o meu nome soa
nos seus lábios. Como o som da sua risada faz as batidas do meu coração
para o café com todos à mesa, empolgados com os preparativos das festas
Todos sabíamos que Rebeca não poderia estagiar na sua área sem ter
uma psicóloga registrada no CRP[14] para a supervisionar. Por isso, até que a
Após o café, a levei até a casa de sua mãe, de onde faria alguns
Célia. Rebeca havia entrado de férias da faculdade, então seria mais fácil
— Vai doer, mas vou cuidar de você e ficará bem, cara — afirmei,
Ainda que não aceitasse outro veterinário que não fosse Marcela,
examiná-lo.
cuidador o acompanhasse.
combinado de ir à cidade.
Percebi que alguma coisa não estava certa quando parei em frente à
caminhonete.
— O que aconteceu?
mesmo que ainda estivesse nas aulas teóricas da autoescola. Porra! Ela
ainda não tinha segurança para andar sozinha, ainda mais naquele estado.
— Artur, consigo ouvir sua respiração. Para onde você está indo?
própria vida.
REBECA
Ela havia me recebido tão bem, era importante para mim estar à
noticiário da TV. Ao seu redor, as frutas ainda rolavam pelo tombo recente.
me ouvindo?
deixou confusa por um instante, sem saber o que fazer para acalmá-la.
— Mãe...
— Se acalme, mãe, está tudo bem. Ele não está aqui. Beba, vai te
completamente lúcida.
rápido para avaliá-la. Ela relutou, mas algum tempo depois, estava
medicada e dormindo. Soltei o ar preso nos pulmões quando ele deixou o
quarto explicando que o episódio deve ter sido desencadeado pelo contato
meus ombros.
— Você sabe o que causou tudo isso — afirmei baixo, o tom soou
mais rude do que eu gostaria. — Não acha que é o momento ideal para me
contar?
mais apreensiva.
— Vou te contar, mas antes me prometa que não vai fazer justiça
circunspecto.
— Me prometa, Rebeca.
muitos anos, quando ele e Célia tinham acabado de se casar. Não demorou
para que eu cultivasse muito carinho por ela. Sempre fomos mais do que
uma para a outra. Não é segredo que ela foi muito apaixonada por ele. Nos
primeiros anos, até fingiu não ver a verdadeira face do homem com quem
se casou. Deodato sempre foi um homem arrogante, duro e não media
esforços para tomar o que queria, nem sempre agindo pelas regras.
Ouvi calada, mas ansiosa demais para saber onde ela queria chegar.
a madrugada. Todas nós entendemos que ele tinha ido buscar na rua o que
não teve em casa. Embora magoada, sua mãe fingiu não ver. Talvez ele já a
traísse antes, mas a partir desse dia, não fez questão de esconder.
Fechei os olhos e os punhos sentindo uma imensa tristeza pela
minha mãe e raiva pelo meu pai. De algum modo, eu sabia que ele nunca a
amou. Tive ainda mais certeza diante daquela história. Em minha cabeça,
doce e angelical. Órfã de pai e mãe, tinha crescido na casa de parentes que a
maltratavam. Por isso, quando foi contratada para morar e trabalhar na casa
tinha medo do que Vânia poderia contar porque sabia que me destruiria por
— Sua mãe gostava muito dela. Noemi era sempre carinhosa com as
teve bom coração. Nas horas de descanso dos seus irmãos, ela aproveitava
para alfabetizar a Noemi. Foi uma festa a primeira vez em que a menina
fosse trágico, embora tudo apontasse para isso, já que eu nunca tinha
ALERTA DE GATILHO!
(Caso não queira ler, passe para o próximo capítulo.)
canela várias vezes ao dia, às vezes, escondido de nós. Sua mãe também
percebeu e a chamou para conversar. Lembro-me como se fosse ontem de
ter o bebê, já que não tinha condições de sustentá-lo e não poderia contar
com o pai da criança. Os olhos arregalados e expressivos da garota
deixavam claro que ela não gostaria de falar sobre o pai, mas não explicou a
razão. Compadecida e sem pedir maiores explicações, Célia a acolheu,
pedindo que não atentasse contra a vida do bebê, porque ele não tinha
culpa. Ela a apoiaria durante a gestação e após o nascimento. Foi uma das
“Até que em uma noite, Célia acordou achando ter ouvido Rodrigo
chorar. O quarto estava vazio, mas ela não estranhou, já que seu pai mal
dormia em casa.”
Que não seja o que eu estou pensando. Que não seja o que eu estou
pensando. Que não seja o que eu estou pensando.
embora. Vi o sangue sumir do rosto de Célia, assim como deve ter ocorrido
comigo. Sem pensar, ela girou a maçaneta devagar, encontrando seu pai nu
sobre a garota que se debatia na cama, pedindo repetidas vezes para ele
parar, que ela não queria e que estava doendo.
fechar os olhos, eu conseguia ver aquela cena horrenda e imaginar a dor que
Noemi sentiu ao ser violentada.
saber de tudo.
— Filha...
cama.
um segundo, cheguei a pensar que Célia iria para cima dela. Mas para a
nossa surpresa, perguntou apenas se o bebê tinha sido concebido daquele
queria. Nas vezes em que Célia me levou para a visitar, pude perceber o
carinho e apego que ela passou a ter com o filho. Então tudo desmoronou
agitada.
Seus ombros caíram, desolada.
então...
— Sim. Alguns anos depois, surgiram boatos de que seu pai pagou
— Há 23 anos.
Aquela era a primeira vez que tanta coisa fazia sentido. O desprezo
do meu pai, a tristeza infindável da minha mãe, a cor do meu cabelo.
FIM DO GATILHO!
REBECA
poucos cabelinhos ruivos. Naquele instante, eu soube que ela não aceitaria
te perder. Por isso, obrigou o seu pai a te registrar sob a ameaça de que
poderia acabar com a promissora carreira política que ele estava
quarto ao lado tivesse sido tão sagaz. Senti ainda mais orgulho dela.
— Por isso ele fazia tanta questão de me casar com o coronel, além
da chance de conseguir mais votos, é claro — pensei alto.
melhora em seu estado, embora haja algumas crises. Mas tenho muita
esperança de que ela possa se recuperar para ter uma qualidade de vida boa,
o que não iria acontecer na casa de Deodato. Ela estava cada vez mais
que nunca pensei ser capaz de sentir. Sem condições de me manter quieta,
— Ah, minha filha, se hoje as mulheres ainda não são ouvidas como
Revoltante, mas ela tinha razão. Seria injusto remoer algo que foi
lado me gerava ódio, por outro, me confortava saber que fui privilegiada
por ter o amor de duas mães. Naquele instante, Deodato passou a ser nada
para mim, embora fosse pagar caro pelo que tinha feito.
— Ah, minha menina, não tem nada que agradecer. Suas mães
Passei pelo homem alto na porta, o abracei rápido grata por também
não ter saído do meu lado. Ele não entendeu, mas retribuiu.
Sem dizer nada, saí pela varanda pensando em como faria para
Não pensei duas vezes, abri a porta e dei partida. Apanhei um pouco
cabeça.
impulsiva. Mas aquele monstro merecia o pior de mim para fazer jus a
não pude deixar de sentir orgulho pelas atitudes das minhas mães.
Noemi foi muito guerreira por ter passado por tudo sozinha e ainda
assim ter tido forças para seguir adiante com a gestação. Eu a admirava e
jamais a esqueceria. Prometi a mim mesma que faria todo o possível para
que Deodato amargasse os crimes que tinha cometido. Era uma dívida em
Por outro lado, Célia foi a mulher forte que criou uma filha que não
era sua. A mãe que me defendeu e cuidou de mim com todo carinho até o
ter mudado os rumos da minha vida. Se não fosse por ela, eu sequer
existiria.
Passei pelo jardim furiosa, mas ainda assim, não deixei de notar que
estaria de volta mesmo tendo casado com o velho da lancha, que de lancha
fazer o que aqui, fedelha? Pisotear a desgraça que você causou ao nosso
pai?
trás.
novamente.
coitada, mas agora está aí, se arreganhando para o caçula deles como a boa
puta que é.
Desviei do seu ataque, agarrando os fios loiros pela nuca, sentindo o mega
hair se soltando em minhas mãos. Deodato veio em minha direção, para me
nós. Abaixei o tom, deixando escorrer o veneno que ela tanto merecia. —
Estou. E confesso que nunca poderia ter sonhado em me lambuzar em um
homem melhor. Estou fazendo o que você sempre quis, mas nunca foi
capaz: fazer parte daquela família incrível.
um total de zero receio em mim. Eu não tinha mais medo dele, apenas ódio.
comigo foi por ciúme da atenção que a mamãe me dava, não é? Quando
colocou cola no meu cabelo. Iniciou o motim na escola para me chamarem
de alaranjada sardenta. Pisoteou na minha autoestima. E, principalmente,
que eu era filha também, então eu esqueci de que ela era a minha mãe —
bramiu. — Não me arrependo e faria de novo.
— Pois saiba que eu nunca me senti tão orgulhosa dos meus cabelos
e da minha origem. Minhas mães e a Vânia me deram o que você recusou
mãe e as tantas outras que ele deve ter ferido, chutei seus testículos com
toda força e raiva que havia em mim. Ouvi Renata gritando, tentando me
afastar, mas o ódio me estabilizou no lugar. Quanto mais ele gritava, mais
— Te vejo no inferno!
E atirou.
ARTUR
uma das mãos entre as pernas. Meus instintos me alertaram sobre o perigo,
advertindo que sua fúria naquele instante era para mim.
Foi tudo muito rápido, mas pude acompanhar como se tivesse sido
em câmera lenta.
O tiro veio em meu rumo e me preparei para a dor, mas sem que eu
comigo.
Não sei como ela tinha ido parar ali. Talvez estivesse com o meu pai
— Não diga isso nem de brincadeira. Você vai ficar bem. — Segurei
seu pulso, pousando a mão sobre a dela que começava a ficar fria. Seus
Não! Não!
Nossos corpos sacolejaram com as curvas em alta velocidade, mas
ainda assim, não parecia rápido o suficiente. Chegar ao hospital foi uma
eternidade.
contraído.
controlar para não fazer uma loucura. Aproveitando a deixa, ela entrou na
angústia me consumir.
cadastro de Rebeca.
— Não! — ela reagiu temerosa. — Não vou deixar você acabar com
a sua vida.
— Mãe, a minha vida está dentro daquela maldita sala lutando para
sobreviver. Eu não fui capaz de defendê-la quando ela mais precisou. Não
Ela nunca tinha me visto daquele jeito. Para ser sincero, nem eu me
recordo de ter ficado assim um dia. Não havia uma gota de razão em meu
sangue seco em seus dedos me deixou com mais ódio. Era sangue inocente,
— Filho, não estrague a sua vida, em breve ela estará bem e vocês
não tinha o que ser feito. Era uma luta minha em que eu precisava tomar a
frente.
— Volto logo.
Antônio brilhou no painel. Chamou duas vezes, mas não atendi, deparando-
fofoqueiros.
casa daquele merda, temos algo melhor para você no casebre da fazenda.
Parei de qualquer jeito, descendo com fogo nas ventas. Abri a porta
da blusa coberta de sangue deixava claro que ele tinha recebido um tiro no
braço, provavelmente para ser neutralizado quando atentou contra Rebeca.
Em uma leitura rápida, notei alguns raios de sol entrando pelos vãos
da madeira, destacando o lugar empoeirado e esquecido. Ao canto, meu pai
— Cara, já está bom, não vá foder a sua vida por um lixo desse —
— Fique de pé, seu miserável. Mostre a coragem que você tem para
Rebeca morrer, você vai se arrepender de ter nascido. Vou foder tanto a sua
vida que irá preferir nunca ter nascido. E irei começar enfiando um cabo de
Deodato sacudiu os pés sem ar, forçando minha mão para soltar o
seu pescoço. O odor característico de urina tomou o ambiente, atraindo
nunca imaginei sentir ao agredir alguém. Nunca fui um cara violento, mas
naquele instante, tudo o que eu queria era justiça.
— Levanta-se — vociferei.
lembre do meu punho na sua cara e o que um homem de verdade faz para
defender a mulher que ama. — Desferi vários socos, e a cada um deles, uma
verá comigo.
frente.
a pele molhada sob a camisa úmida. Fitei minhas mãos esfoladas, sujas do
sangue de Rebeca e Deodato, além da poeira.
Rebeca quanto com sua mãe, senti que precisava exorcizar aquela energia
bruta dentro de mim, fazendo-me respirar um pouco mais leve.
carregar na caminhonete.
gotas sobre as nossas botinas, fui voltando para o eixo, em uma espécie de
transe.
— Ainda não sei, não havia tido notícias quando saí do hospital.
me, aflita. Tocou meu rosto procurando algum machucado, descendo até
encontrar minhas mãos machucadas. — Me diz que não o matou.
Meneei a cabeça.
derrota.
fracasso de não ter protegido Rebeca quando ela mais precisou. A dor me
aniquilou, enchendo-me de arrependimento e inconformismo. Eu nunca me
perdoaria se algo pior acontecesse com a minha Bruxinha.
— Olhe para mim. — Senti sua mão abaixando meu braço e a outra
tocando o meu rosto, fazendo-me a olhar. — Desde pequenininho, mesmo
sendo o caçula, você sempre foi mais cuidadoso e protetor que os seus
irmãos. Eu o admirei cada vez mais ao acompanhar o homem defensor que
— Aquela bala era para mim. Não é justo que ela tenha que estar lá
dentro entre a vida e a morte por minha culpa.
— Não se martirize, meu amor. Não tinha como prever que Rebeca
— Se antes eu achava que você tinha sido um grande homem por ter
se casado com ela para defendê-la, agora não sou capaz de nomear um
adjetivo que consiga definir o patamar de mulher que Rebeca se tornou. Se
eu já era apaixonada por ela antes, agora prometo a carregar no colo quando
tiver alta desse hospital.
Meneei a cabeça.
— Obrigado, mãe.
própria filha. Velho maldito! Nunca mereceu as pessoas boas que tinha ao
seu redor. — Chorou, no meu ombro.
— Aquele tiro era para mim, cara. — Bati em suas costas, não
conseguindo conter novas lágrimas. — Me perdoe.
— Ela vai ficar bem — declarei com fé, abraçando-o outra vez. Só
queria que esse pesadelo acabasse.
Algum tempo depois, a médica finalmente apareceu, deixando-nos
Uma rotina que repetia dedicadamente dia após dia desde que ela
anteriores. Embora tivesse tido melhora em seu quadro geral, ainda aspirava
observação constante, por isso, mandei adaptar uma unidade semi-intensiva
Porém, com o tempo aprendi que precisava do trabalho, uma ou duas horas
hospital.
sequer para conversar com qualquer outra pessoa. Todavia, após muita
para que eu pudesse separar o que estava ao meu alcance e o que não
foragida. Para uma bandida que se achava tão esperta, foi amadora com a
tudo aconteceu. Mesmo assim, após termos ido para o hospital, os homens
da lei não impediram quando papai sumiu com Deodato por algumas horas
juntos pela lagoa e depois voltaram para suas casas são e salvos. Era um
corpo para dentro do quarto. — Sabe que já deu seu horário, não é?
— Por favor.
— Está vendo? Você precisa acordar logo para irmos embora desse
sozinha. Sabia que podia me ouvir e sentir a energia que eu passava, por
isso, sempre me policiava para que ela pudesse se sentir bem ao recobrar a
consciência.
estarei com você bem cedinho. E gostaria muito de chegar e te ver com um
esperançoso.
— Está querendo me enganar para ficar mais tempo com ela, não é?
aperto.
sinais vitais de Rebeca, não o quis fazer, pois a emoção poderia ser mais
despedindo-me:
Não sei quanto tempo fiquei daquele modo, até que levantei, sequei
os olhos e liguei a caminhonete. Abaixei os vidros, soltando todo o ar dos
— Sim.
Franzi o cenho, mas ainda assim respirei fundo para tentar controlar
a minha alegria. Meneei a cabeça e entrei.
A expectativa em vê-la acordada era tão grande que sequer parecia
seguinte:
— Você é ainda mais lindo do que imaginei — sua voz soou baixa,
mas carregada de encantamento.
Não pude esconder a minha dúvida. Por um instante, pensei que não
estivesse me reconhecendo.
— Algumas vezes, mas então algo que fazia voltar para onde estava.
interrompeu:
— Você não está sonhando. E ainda bem que gosta do que vê, ainda
genuinamente surpresa.
esquerda para ela. Seus dedos tocaram com delicadeza o anel dourado que
adornava meu dedo. Mantive minha atenção integralmente nela,
da ideia.
breve.
— E sobre a memória? — verbalizei o que estava me preocupando.
estivesse em uma fazenda linda, podia sentir meu corpo voando sobre os
voz bonita. Não podia ver seu rosto, mas sua energia me fazia querer estar
passear na companhia de uma mulher tão ruiva quanto eu, porém um pouco
mais velha. Seus olhos eram idênticos aos meus. Seu toque, macio e
delicado. A voz, aveludada. Ela não quis me dizer seu nome, mas tornou
— Não há lugar melhor para você estar do que ao lado dele, querida
— Porque já passei por muita coisa difícil na vida. Hoje eu sei o que
acolhimento e amor.
seu marido, sem remoer o passado e sem buscar vingança. Confie na justiça
sala. — Enquanto eu, preciso retornar para preparar aquelas crianças para
cabelos e sorrindo das suas peraltices. Senti a lágrima escorrer sabendo que
— ... Você precisa acordar logo para irmos embora desse hospital
de uma vez... Não queria ir, mas preciso. Prometo que amanhã estarei com
Não queria que ele se fosse. Gostava da sua voz, de sua presença e
até de quando o via de cabeça baixa lendo um livro com capa de um corpo
humano.
em meus olhos, fez cócegas nos meus pés e mãos, e mesmo diante das
afastar.
consegui.
instante.
dor.
Não sei quanto tempo fiquei sob avaliação médica. No entanto, senti
a energia mudar quando a porta abriu, e ele surgiu.
ele estava doido, mas algo me dizia ser verdade. Tudo se multiplicou
exponencialmente quando me mostrou as nossas alianças.
minhas mãos sem saber direito o que pensar, mas com o sangue correndo
tão rápido em minhas veias que me fez ter uma única certeza: eu gostava
— Estou tão feliz que acordou. Senti tanto a sua falta — declarou,
necessidade de estar com ele parecia ser maior do que qualquer coisa.
demais.
Insegura, deslizei a ponta da língua por eles, ouvindo sua respiração ficar
pesada, quase dolorida. Por fim, o urro surgiu de sua garganta e ele perdeu a
civilidade.
mim, uma emoção tão forte que me fazia ter vontade de chorar.
muito corrido, mas assim que a vi, imaginei como ficaria, assim como o seu
vestido de noiva.
— Eu me lembro — murmurei.
— É uma longa história e não acho que seja o melhor momento para
te contar.
— Por favor.
Artur suspirou, mas começou a contar tudo o que havia acontecido
até o instante em que me atirei em sua frente. Ouvi calada, recordando-me
sentimento ruim. Em meu peito, havia apenas gratidão por estar viva e junto
ao homem que eu amava.
Poderia ser louco, mas eu não tinha palavras para descrever o que
Artur causava em mim. Talvez nunca tivesse, mas sabia que se precisasse
me atirar outra vez em frente a uma bala para salvá-lo, eu faria.
REBECA
pele sem nenhum sinal da barba presente no dia anterior. Não pude conter o
suspiro apaixonado.
Ele riu.
Neguei.
cada canto daquele quarto demonstrava o quanto tinha sido pensado com
carinho para mim. Da decoração com dois jarros de flores até a minha
vestimenta.
Demorei algum tempo encarando a marca da cirurgia cicatrizando,
mais uma vez agradecida por estar viva. Fiz a minha higiene matinal,
madrugada.
fiquei sem entender quando deu a volta, parando atrás de mim. Esticou o
Achei que fosse me entregar, mas para o meu completo fascínio, soltou os
fios, começando a desembaraçar mecha por mecha, de baixo para cima,
dias.
— Você existe mesmo ou ainda estou sonhando? — zombei, cada
tocando meu rosto suavemente, ainda que seu olhar fosse intenso e
que fosse desmaiar quando um calor intenso se alojou em meu ventre. Era
por mais.
— Não quero que pare. — Avancei contra sua boca outra vez.
contra ela. Agitado, abriu o cinto e desceu o zíper da calça. Ofeguei diante
do volume robusto na cueca preta. Passei a ponta dos dedos sobre o tecido,
ansiosa para descobri-lo quando a voz de uma mulher no quarto nos fez
parar assustados.
frustrado.
— Já vamos, mãe.
A adrenalina de quase ser pega me fez ter vontade de continuar,
ainda que fosse errado. Segurei o rosto dele entre as mãos, beijando-o
novamente.
segundos depois.
rosas tive memórias de sua dona. Ela se virou em nossa direção, sorrindo ao
Tive vontade de rir, mas me segurei. Não senti vergonha, ela que
— Não achei que a senhora fosse vir agora cedo — ele falou, indo
se sentar na poltrona, na tentativa de esconder a protuberância que não tinha
cedido completamente.
— Decidi mudar os planos. Não tinha hora para sair do mercado e
para caso não me reconhecesse. Trouxe isso. — Apontou para uma bolsa
térmica. — Café da manhã de hospital é triste, então quis trazer algo bem
com bolo, pães de queijo, quitandas e uma garrafinha de café sobre a mesa.
Artur se juntou a nós na organização e começamos a comer em seguida.
— Os demais virão te visitar também, mas quis vir primeiro para agradecer
o que fez pelo meu menino. Serei eternamente grata pela sua coragem e
demonstração de amor.
e a abracei, dizendo com apenas um gesto muito mais do que mil palavras.
Estava feliz por estar viva, longe das maldades do meu pai e
voltando para a fazenda em que aprendi a chamar de lar, para o seio da
a nossa chegada.
— Acho bom, agora vem porque está todo mundo ansioso para te
ver.
todos.
da minha família.
nova nora. — Riu, arrancando sorrisos dos demais. — Desde a primeira vez
que pousei meus olhos nos seus, querida — fitou-me — soube que seria
sempre quisemos ter uma família grande, não é, meu bem? — Tocou o
braço dele sobre a mesa.
— Há controversa — ele zombou, fazendo careta. — Cada notícia
de gravidez que ela me dava na época era um teste cardíaco diferente. Se
modo fazendeiro dono da porra toda. — Muito me alegra ver a nossa casa
cheia e a família crescendo. Sejam todos muito bem-vindos.
a paciência do pai. Mas tinha razão, Alfredo falava pouco, mas sempre nos
momentos certos.
MARÇO
dias, vinha notando meu corpo diferente, mais lento, sensível e um sono que
não cabia em mim. Ainda não tinha feito nenhum exame, mas quando me
levantei enjoada naquela manhã, tive a certeza.
casa ampla, arejada e com vista para o amplo horizonte. Toquei os móveis
novinhos ainda sem acreditar que realmente estava vivendo aquela vida de
princesa.
ser engraçado o fato de que nos casamos por conveniência, mas nunca
Tirando o primeiro dia como esposa, em que tudo ainda era confuso
como na verdade ele sempre foi. Artur se entregou sem medo, porque
Já eu não fui muito diferente, porque me apaixonei por ele no dia da festa
problemas.
Pode parecer um pensamento machista ou retrógrado, mas a verdade
atentado, sentia que nossa ligação estava ainda mais forte. A mera
necessárias, assim como tinha certeza de que ele faria o mesmo por mim.
quente pelo meu corpo. Era tesão, mas principalmente uma energia tão
— Eu faço tudo por você, Bruxinha. Nunca pensei que pudesse ficar
estão por vir. — Acariciei o seu peitoral sem camisa, plantando um beijo
sobre o coração.
plana.
— Eu estou grávida.
— Ainda não fiz nenhum teste, mas eu sei que estou. E serão
você sabe?
Sorri, lembrando dos momentos que vivi com a minha mãe durante
o coma e as crianças que brincavam alegre quando nos despedimos.
— Eu apenas sei.
varanda.
Eu sabia que sua reação seria receptiva, mas nunca imaginei que
enquanto saqueava a minha boca com muito desejo. Desceu beijando meu
vez mais alto a cada lambida e sugada. Artur sabia exatamente onde tocar,
duro.
minha excitação.
lo.
Fiquei tensa. Com a voz mansa, percorreu minhas costas com as pontas dos
dedos: — Agora só relaxa e aproveite.
Fiz como ele pediu e aos poucos senti o seu membro ganhando
espaço. Era desconfortável e queimava, mas vi tudo rodar em mais absoluto
Aos poucos, ele tomou tudo de mim. Quando percebi, estava deitada
à sua frente, com seu peito colado em minhas costas enquanto arremetia
ferozmente e segurava minha perna para o alto.
Seus dedos acariciaram meu clitóris e a língua afundou em minha
boca. Gozei como nunca, sem saber exatamente por onde. Ele esporrou em
seguida, ofegante.
interior.
aparecessem.
vindo em nossa direção. Sua barriga já estava bem evidente. Ao seu lado,
Davi segurava a mão de Bia ainda um pouco cambaleante.
— Ah, qual é? Vai dizer que a gente vai achar ruim quando isso
acontecer?
boquinha da bebê.
silenciosamente.
alegre. Na sequência, abracei a minha mãe e Marta fez o mesmo com Artur.
— Finalmente você ouviu os pedidos da sua mãe e vai me dar um netinho.
— Você vai ter mais três primos, Davi. — O avô se aproximou dele,
pegando a Bia no colo e acariciando as costas do garotinho.
— Não acredito que meu sonho de ser avó de dez está cada vez mais
próximo. Agora só fal... — Marta foi interrompida pela voz de Antônio.
— Temos uma meta a cumprir, leoa. Desta vez não aceito menos do
que uma gravidez quádrupla. Nem que para isso eu precise ficar todo
esfolado.
ARTUR
OUTUBRO
ocorrido na fazenda.
pai babão que havia me descoberto, mantive-me sentado ao seu lado, com a
manteve um grande apetite sexual. Devo admitir, nunca achei que transar de
ladinho, levantando uma de suas pernas e com o braço abaixo do seu corpo,
alisando os seios enquanto tomava sua boca em beijos ardentes fosse tão
bom.
Ela estava aprendendo a ser uma mãe forte. Por muitas vezes, a
algum modo, Rebeca se conectava com os nossos filhos e com a sua mãe. O
de espaço e eu o fazia.
Enquanto a mim, não acreditava que seria pai de três numa única
vez. No início o susto foi grande, mas o amor por eles era exponencial. Fiz
comigo, ainda que Rebeca tivesse sido categórica ao dizer que seriam
ruivos. Contou que durante o coma viu dois meninos e uma menina com
cabelinhos cor de fogo. Por isso, não quisemos saber os sexos durante o
de volta à realidade.
— Sim, apenas emocionada por ver meu irmão se casando com uma
Meneei a cabeça, sabendo que tinha razão. Rodrigo e Joe eram duas
preconceito. Embora não tenha sido fácil, estávamos muito felizes por
coração de todos e tinha sido o convidado de honra para festa. Desde então,
aguardavam o trâmite da adoção.
trouxe outras coisas também que o horário não me permite dizer. A Marce
lembra quando cheguei na casa dela arrebatada por você, né, amiga? —
para o pronome utilizado. Mas o que eu realmente não consigo é viver sem
você e o seu amor. Receba esta aliança como prova da minha entrega,
declarando:
— Naquela mesma noite, eu não queria sair de casa, porém algo
infelizmente tivemos que passar. Mas valeu e continua valendo a pena cada
demais concordaram.
tempo de pé. Por isso, seguimos para a festa e logo a coloquei sentada ao
ganhando peso. Aos meus olhos, estava cada vez mais linda.
suspiro chamou minha atenção outra vez, ainda que respirar já não fosse tão
Assenti, em silêncio.
irmão.
— A festa vai continuar sem a gente. Vou ligar para a sua médica no
caminho.
— Sem discussão, filha. Ele se casou, você terá seus bebês. Quer
data melhor que essa? Vou buscar as malas e encontro vocês no carro.
ouvidos.
para a médica. Pelo retrovisor pude ver mais dois carros atrás de nós.
vendaval.
Rebeca em seguida.
finos e claros. Não dava para ver direito, mas tinha grandes chances de ser
ruivo. — Você será o Bernardo.
colo e não havia emoção maior no meu peito. As lágrimas escorreram pelos
meus olhos, embargado demais para não chorar sorrindo e sorrir chorando.
previsão dos nossos filhos. Dois meninos, uma menina e todos ruivinhos.
Eu estava ansioso para saber como seriam a cor dos olhos deles.
— Acha que eu não sei? Tenho um filho de oito anos, uma de dois e
outro de cinco meses, uma mulher brava e a prefeitura totalmente
desorganizada dessa cidade para gerir. Mas acha mesmo que por isso não
irei ter mais filhos? A vida passa, cara. Ser pai é a melhor coisa do mundo
e, se eu fosse você, encomendaria mais uns três na Marcela — Aloísio
MESES DEPOIS...
como a energia ao nosso redor estava ainda mais forte, com muito amor e
união.
pequena e faminta Noemi. Dos três, era a mais mandona. Deveria ser algum
estavam na água cuidando das suas filhas. Era engraçado ver dois homens
daquele tamanho molhados, sem camisas e de bonés todos preocupados
— Esse churrasco sai hoje, peão? — A mão firme do meu pai bateu
em meu ombro.
— Bom — disse, indo até o freezer. Serviu nossos copos com uma
— Ísio tinha razão quando disse que ser pai era maravilhoso. — Pus
virei-me para ele. — Não sei qual foi a última vez que tive uma noite inteira
vocês. Embora eu brinque com isso hoje, trabalhei muito nessa vida para
que vocês não passassem pelo mesmo desespero que eu passei quando
poderia ter me dado, mas sempre quis que vocês pudessem desfrutar desse
zombasse de uma situação ou outra, ainda não era muito claro para nós a
Assenti. Sabia que ele não se estenderia, por isso, mudei de assunto,
— Notícias de Deodato?
nenhuma. Mas ele não é bobo, sabe que meus homens estão de olho nele.
Nunca mais terá a coragem de se aproximar de nós. Claro, se um dia sair do
presídio.
homicídio.
descoberto que a escola em que Davi estudava antes de vir para a fazenda
era utilizada para lavagem de dinheiro. Por isso, Renata estava lá quando
atacou o garoto[16].
funcionários e justiça com as próprias mãos em defesa das garotas que ele
mas a cidade estava mais aliviada com a partida de um homem tão cruel.
Ao contrário do que todos imaginavam, Bruno seguiu a própria
vida. Ouvi dizer inclusive que estava amando. Ele não era uma pessoa ruim,
buscar a Aurora.
igualmente brava.
muita alegria.
músicas preferidas do meu pai. Ele por sua vez, serviu uma dose de cachaça
para cada um dos filhos e Marcela, a única nora com mesmo gosto para
bebida que ele. O velho ficou radiante quando ela parou de amamentar e
ainda estão por vir — ele anunciou, batendo nossos copos, virando em
seguida.
prefeitura como tinha se tornado comum. Não sei como ele conseguiu se
adaptar tão bem naquela nova profissão. Embora ele precisasse estar na
cidade todos os dias, não renunciou ao fato de continuar morando na
fazenda.
— Eu já falei que você não vai ser gostosão assim para sempre. A
Em tantos anos habilitada, ela nunca tinha cometido uma única infração de
trânsito. Por isso, quando as doze multas chegaram, foi motivo de piada
interna, principalmente porque ela ficava toda ruborizada. Agora não tinha
mais lugar de fala quando passávamos da velocidade.
estar zangada.
— Vem cá, amor, eu protejo você. — Papai a puxou para o seu colo
como um legítimo casal de apaixonados.
35 anos juntos, com muito amor, briguinhas bobas como todo casal, mas
acima de tudo, admiração e respeito.
— O que tem, menino? Você acha que velho não transa? — ela
brincou. — Pensa que nasceu como?
Todos riram.
— A tarde está linda! Propícia para uma bela, e não tão simples,
história de amor.
Eu sempre seria muito grato por tudo o que meus pais passaram para
que hoje os filhos pudessem ter conforto. No entanto, não havia nada
melhor do que a simplicidade de estar com a minha família compartilhando
atrás de Aloísio.
cena deplorável.
homem, pode ter certeza de que o cabo de vassoura será o seu tripé.
Ele arregalou os olhos, amedrontado. Seu rosto estava
você — adverti.
com força. — A situação estava resolvida, mas por vingança você iria atirar
atacar a minha família de novo, eu volto para buscar os outros nove que te
sobraram.
RODRIGO MOREIRA
exorcizar todo o mal que ele causou em mim. Seria a primeira e última vez
amarrar.
— O que veio fazer aqui? — ele indagou com asco, como sempre se
Renata, apenas a usava para conseguir o que queria. Eles eram iguais.
olhos que me tornei mulher de bandido e sou obrigado a fazer tudo o que
eles querem? Lavar, cozinhar, me vestir de mulher, transar...
dar a minha vida por ele. E este ao lado dele é o meu marido. Eles me dão
um jeito tão gostoso como você nunca fez e, para ser sincero, acho que
até aqui somente para te dizer que você não foi capaz de me destruir. Eu
não desejo o seu mal, mas espero, do fundo do meu coração, que continue
FIM.
UAU! Chegamos ao fim da história de Artur e Rebeca.
Estou curiosa para saber o que você achou. Não se esqueça de
avaliar na Amazon, tire alguns minutinhos para me contar o que sentiu
lendo A PROTEGIDA DO COWBOY, é muito importante para mim e para
que mais pessoas conheçam o livro. Além disso, me estimula a trazer
histórias melhores.
Me acompanhe nas redes sociais e fique por dentro de todos os
lançamentos. Sinta-se à vontade para me chamar e vamos trocar muitas
figurinhas.
A Família Albuquerque tem um cantinho muito especial no meu
coração, e de muitas das minhas leitoras também. Espero que Artur e
Rebeca tenham te cativado assim como a nós.
Sou muito grata a Deus por guiar meus caminhos e fazê-los cruzar
com pessoas tão incríveis que conheço a cada lançamento. Neste, em
específico, muitas coisas foram diferentes para mim.
Diversos desafios pessoal e profissional, prazos apertados,
perrengues e muita gente maravilhosa em meu caminho.
Agradeço em especial as minhas leitoras betas que estão sempre
comigo (Fabi Almeida e Fabi Souza), obrigada por todas as considerações a
respeito do Lobinho e da Bruxinha. À Karen Helena, minha amiga Ka,
obrigada por tudo. Te tenho em um cantinho muito especial do coração,
você sabe disso. A cada lançamento, está sempre empolgada, engajada e
muitas vezes, me joga para cima quando o cansaço, o desânimo e a correria
batem. Obrigada por tudo.
Para este livro, agradeço em especial a querida amiga, Cristina
Clini, um anjo que Deus colocou no meu caminho, a responsável por todas
as artes deste lançamento. Cris, muito obrigada por ter se mantido no eixo e
não ter pirado comigo quando as coisas apertaram. Você é uma pessoa
muito iluminada.
Obrigada, Lidi, minha revisora maravilhosa que foi super parceira e
paciente. Sei que não foi fácil, mas sou muito grata por tudo.
Gratidão ao meu esposo que me apoia e incentiva a cada livro.
Obrigada, querido(a) leitor(a) por ter me acompanhado até aqui e
espero te ver nos próximos lançamentos. Marta e Alfredo vem por aí. Ainda
sem datas, mas tenho certeza de que será uma história maravilhosa para
fechar com maestria a série Família Albuquerque.
Beijos,
Loren Santos
(Para acessar, clique na imagem.)
apaixonante?
(Para acessar, clique na imagem.)
[1]
Centro de Treinamento.
[2]
Encurtar o caminho.
[3]
História contada no livro A Redenção do Cowboy, Série Família Albuquerque, livro 2.
Disponível na Amazon.
[4]
Promete, Luan Santana.
[5]
Cena descrita no livro Uma Mãe Para o Filho do Cowboy, Série: Família Albuquerque,
livro 1. Disponível na Amazon
[6]
Pessoa desonesta.
[7]
Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar 135/2010).
[8]
Camisa de compressão usada por baixo do quimono.
[9]
Strip it down, Luke Bryan.
[10]
Nervoso, alterado.
[11]
Grande vantagem.
[12]
Agindo na surdina.
[13]
Expressão para se referir a calça muito curta. Córgo pode ser interpretado como
córrego.
[14]
Conselho Regional de Psicologia.
[15]
Interjeição referente a indignação.
[16]
Esta cena aparece no primeiro livro desta série, chamado: UMA MÃE PARA O FILHO
DO COWBOY – FAMÍLIA ALBUQUERQUE. Disponível na Amazon.