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Copyright © 2023 DANIELLE VIEGAS MARTINS
Capa: Lucas Bernardes
Revisão: Mariana Rocha
Diagramação: Imaginare Editorial – April Kroes
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
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A ESPOSA GRÁVIDA E REJEITADA PELO CEO S
1ª Edição - 2023
Brasil
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São proibidos o armazenamento e / ou a reprodução de qualquer
parte dessa obra, através de quaisquer meios ─ tangível ou intangível ─
sem o consentimento escrito da autora.
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9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
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longe de casa e sem compreender muito bem do que se tratava, posso dizer
que estava um pouco nervoso. Não era comum me desencontrar de meus
que isso acontecesse, mas não dessa vez. O GPS falhou, e eu estava
completamente desorientado em uma estrada que jamais havia visto antes.
Tentei insistentemente ligar para Dominic, mas não havia sinal. Não
percebiam que eu precisava de ajuda, mas eles têm também suas próprias
importante na empresa e alguns, como eu, têm suas próprias famílias para
desafio.
mesmo tempo, não havíamos tido tempo para mais nada, nem sequer para
um passeio, até porque tudo que eu queria era voltar logo para casa e
Todos os dias, sem falha, nós fazíamos uma chamada de vídeo para
nos vermos, mas, no fundo, eu me sentia culpado por tanto tempo longe
delas. Minhas meninas já não tinham a mãe ao seu lado, e eu não podia me
afastar também, mesmo que temporariamente, por isso sempre evitei
deviam estar sentindo a minha falta, da mesma forma que eu sentia delas.
melhor a fazer seria continuar ali mesmo e, no outro dia, tentar encontrar
meu irmão, talvez um mapa de papel me ajudasse, já que o sinal era
péssimo ali. Fiz uma careta ao me imaginar tentando ler um mapa físico,
Fui até diversas hospedarias, mas todas estavam até o limite de sua
indicaram uma ou duas pousadas, mas eram lugares que já estavam cheios.
Quase sem esperanças, enquanto caminhava sem destino, avistei uma placa
e passei meus olhos pelas letras: Lepre Incantata.
alguém. Não tive muito tempo de pensar, apenas senti o líquido vermelho se
espalhar pela minha camisa branca, enquanto uma mulher dizia
insistentemente: Oh! Scusi! Scusi!
emolduravam seu rosto perfeito. Talvez aquela fosse a mulher mais linda
que eu já havia visto em toda minha vida desde Amber, minha falecida
esposa, e eu não conseguia parar de contemplar aquela visão.
ela.
Ela olhava para ele assustada, seus olhos tão bonitos com uma
expressão de temor; aquilo era inaceitável! Por mais que eu não entendesse
das palavras, afinal, italiano não seria uma língua desconhecida para um
Silvestri.
— Inutile! Inutile! — ele berrava a plenos pulmões, sua linguagem
que ele parasse. O homem era alto e forte, era intimidador e sua raiva
parecia exalar dos seus poros. — A culpa foi minha, e eu não admito que
essa jovem seja tratada dessa forma por algo que eu fiz!
O velho olhou para mim, parecia ter ficado acovardado com a minha
postura, por mais que tentasse manter a pose de superior com um olhar
duro, e então apenas apontou um dedo para a jovem, que ainda observava
— Vá servir o cliente!
Eu não queria que ela sofresse qualquer tipo de retaliação mais tarde
aquilo.
doeu notar o quanto aquele homem havia a atemorizado. Quando ela estava
de pé, eu meneei a cabeça como quem pede perdão, e ela me respondeu
com um sorriso, um sorriso cheio de medo, mas que seria capaz de iluminar
Passei algum tempo olhando para ela sem palavras, como se seu
sorriso arrancasse qualquer pensamento lógico da minha cabeça. Seus olhos
timidamente ainda para mim, um sorriso doce, gentil, e isso me fez sorrir
também. Ela era contagiante, mesmo que eu ainda nem sequer tivesse
ouvido sua voz. — Foi tão ruim assim? — perguntei curioso, sem perceber
que falava em inglês, mas logo em seguida me dando conta de que ela não
compreenderia.
daquele dia, mesmo com tantas outras, havia sido aquele encontro. Aqueles
incurável, insuperável.
Aquele homem era diferente de qualquer outro que já tinha entrado
seis, trinta e sete anos. Eu sempre fui boa em presumir a idade dos hóspedes
todos e a gentileza com a qual ele me olhou depois que meu tio foi embora,
das vezes, as pessoas têm medo do irmão do meu pai. Evitam se meter
quando ele é duro ou agressivo comigo, por mais que depois me olhem com
Todos têm seus próprios problemas para lidar. Por que se preocupar comigo
e arranjar mais um problema sério com tio Tommaso? Tê-lo como inimigo é
amigos do meu pai sempre estivessem por perto, ainda assim, não tinham
poder ou autoridade para realmente enfrentar meu tio por mim, nem eu
gostaria disso, porque, de qualquer forma, sentia ainda muito afeto por ele.
Para alguns, pode ser difícil imaginar uma vida em que o trabalho
não tem reconhecimento e remuneração justa, mas, para mim, trabalhar era
o que instigava o meu melhor, através dele, eu podia me superar e ter
explicar ou descrever o que eu senti naquele momento, mas era algo que eu
— Não foi culpa sua — disse com apreço e mais uma vez eu sorri.
preocupação genuína.
era minha família e, em seu rosto, eu podia ver a memória de meu pai, o
homem mais importante da minha vida. Quando eu olhava seus traços
todos os prejuízos.
— Então o senhor veio da América? — perguntei para quebrar o
silêncio.
— Não posso dizer que sinto muito; para mim, pelo menos, foi, sim,
boa sorte o senhor ter vindo parar justamente aqui, na Lebre Encantada,
nesta noite — falei com simpatia e gratidão. Meu coração ainda estava em
dúvidas sobre como me portar naquela situação, mas, de fato, estava bem
mais aquecido do que antes.
Quando meu pai ainda estava vivo, tudo era muito diferente, eu sabia
o que era felicidade, sentia gosto de fazer as coisas, mas, depois da perda
dele, minha vida ficou tão vazia que era praticamente impossível encontrar
sentido em algo. Ainda assim, o trabalho era importante para afastar essa
tristeza, fazendo com que se tornasse mais suportável, afinal, cuidar de
tudo, dia após dia, era o que me fazia seguir. Cuidar da hospedaria e da
taberna era uma forma de manter o legado dele, pois ele havia comprado
esse lugar para que pudesse cuidar melhor de mim.
que temos no momento. Por causa do Festival das Uvas, o povoado sempre
fica lotado e as hospedagens, no limite — expliquei de maneira formal
Ele era tão alto! Quando meus olhos percorreram dos seus pés até seu
rosto, sua blusa manchada de vinho trouxe à tona a vergonha, mais uma
vez.
poderia não ter visto um homem como aquele? Eu perguntava agora a mim
mesma.
depois de perder meus pais e parar nas garras cruéis do meu tio, queria
esquecer os planos dele de praticamente me vender para o dono da maior
vinícola da região! Queria esquecer, pelo menos naquela noite, que, para
ele, eu era um objeto, um estorvo, e que a melhor coisa que ele poderia
fazer comigo era ganhar algum dinheiro.
Stuart ali, parado em frente a mim, fazia com que essas coisas
Com aquela proximidade toda, era impossível fingir que nada estava
mais perto e segurou meu rosto com delicadeza. Aquele simples contato me
fazendo suspirar, todo meu corpo balançando, cada milímetro da minha
Provavelmente aquele homem devia ter uma esposa, ele era bonito demais,
interessante demais, tinha um porte elegante e devia ser rico, jamais estaria
disponível, ainda mais para uma mulher como eu, sem família que se
Olhei para os meus próprios pés, tímida, não queria dar a impressão
de que era uma oferecida ou uma funcionária desesperada por qualquer
cliente endinheirado que surgia naquele lugar. Me afastei mais ainda e nos
colocamos em uma distância segura, onde poderíamos por fim nos despedir.
— Aqui está sua chave. A taberna fica aberta até mais tarde hoje,
caso queira comer ou beber algo. — Tentei soar profissional sem ser
antipática.
poderia ajudá-lo a tornar sua pronúncia ainda melhor, eu sempre fui uma
boa professora, até ensinei o italiano a alguns amigos clientes.
— Se eu não puder deixar a gorjeta com você, vou ter que deixar
com seu tio, lá embaixo. — Seu tom foi sugestivo e íntimo. Aquele homem,
um bife no açougue.
era ser apreciada, aquela foi a frase mais doce que alguém já havia me dito
em muito tempo. De certa forma, encontrar Stuart havia sido um grande
presente naquela noite.
que estávamos prestes a fazer. Respirei fundo para me recompor, não podia
ceder à loucura daquela atração repentina assim tão facilmente.
O quarto realmente não era dos melhores, mas estar ali me fazia
sentir algo diferente, que eu não sentia em nenhum outro país. Talvez fosse
o fato de as raízes de nossa família partirem da Itália, provavelmente nosso
sangue falava de forma mais nítida ali, por mais que tenhamos nos
descer para sentir qual seria o clima do lugar, embora, nas profundezas do
meu ser, eu soubesse que o que eu estava procurando era poder olhar para
ela mais uma vez, pois eu sabia que, no dia seguinte, estaria partindo.
parecia ter idade para trabalhar, ainda mais em uma taberna, me atendeu
com simpatia.
avistasse aquela bela moça mais uma vez. Eu deveria ter perguntado seu
nome, ela havia me instigado de forma que nenhuma mulher havia feito nos
últimos anos, desde que minha esposa falecera. Aliás, desde que eu havia
perdido a mãe de minhas filhas, achei que seria incapaz de amar novamente
ou até mesmo de me interessar por alguém, por mais que tivesse tentado
algumas vezes.
Mas lá estava ela, uma mulher que eu jamais havia visto, despertando
pôs os olhos no conteúdo. O homem, que devia ter seus setenta e poucos
anos, colocou o colar no pescoço delgado da moça, que agradecia de forma
incansável.
uma vez e a retirou dali de forma imediata. Não pude conter minha
curiosidade, afinal, alguns segundos atrás, eles estavam festejando.
— Mi scusi, signori! Non ho un tavolo. Posso sedermi con voi
signori? — pedi, com meu melhor italiano, e aqueles mesmos senhores me
— Foi com você que Tommaso foi tão rude! Esse homem é um
estorvo na vida da pobre Nana — disse com um olhar cansado, e eu tentei
— Você viu com seus próprios olhos. Ele passa o tempo inteiro
quanto Paolo era um homem bom! A mãe de Giovana era linda, a filha é
um espelho dessa beleza. Ela tem a pele escura da mãe e os olhos
— Mas o que houve com eles, afinal? Por que ela acabou aqui com...
Sozinha com esse homem? — pronunciei a contragosto.
— A mãe morreu no parto, mas a mocinha sempre fez questão de
abandonou o emprego como marinheiro para ficar em terra com sua filha.
Usou todas suas economias para comprar, junto do irmão, esse
estabelecimento. Eles sempre tiveram algumas rixas, mas a sociedade
existia por trás da expressão tão vivaz de Giovana, com sua simpatia tão
contagiante.
semana para vender a casa deles e a menina se viu obrigada a morar nessa
hospedaria, em um quartinho que, inicialmente, servia como despensa... Foi
um tempo de tristeza por aqui. Todos amavam Paolo, ela principalmente.
poderia fazer nada para mudá-la. Eu estava de mãos atadas e muito triste
em saber de tudo aquilo, mas nossa confraternização não terminou ali.
Giuseppe fez questão de falar sobre as plantações e de como esse ano havia
sido produtivo, do quanto a cidade estava prosperando, além de me explicar
onde encontrar os melhores queijos, salames e vinhos.
Após muitas conversas e muito vinho, decidi ir para a rua, queria ver
as pessoas, saber se o vinho do lugar que ele me indicou com entusiasmo
era tão bom, e assim o fiz. Saí, um pouco ébrio, mas, acima de tudo, feliz, o
ar daquele lugar me fazia sentir como se estivesse em uma outra dimensão,
mais brilhante e mais pura. Talvez o álcool também ajudasse nessa
percepção incrível.
A bebida já havia tomado cada parte do meu organismo, fazendo com que
uma nuvem de bem-estar relaxasse meus músculos e melhorasse meu
humor em níveis estratosféricos.
Quando saí, pude observar as mulheres que dançavam em roupas
típicas, além das pequenas carroças abarrotadas de uvas, uma quantidade
inacabável de barris de vinhos e pessoas, pessoas por toda a parte!
existentes no planeta e, mesmo sabendo que era errado, não pude desviar o
olhar. Era como ver uma deusa na Terra, seus quadris eram largos e sua
cintura fina, seus seios pequenos, que poderiam caber em taças de
champanhe, suas pernas tão torneadas, seu rosto iluminado de maneira
ínfima pela lua.
Estava tão escuro e ela não pôde me ver, apenas percebeu minha
presença quando já estávamos ambos dentro da água, frente a frente, tarde
demais para voltar atrás.
Meu coração estava aflito. A minha vida parecia estar indo por um
caminho que não tinha nada a ver com o que eu desejava. Eu me lembrava
das coisas bonitas que meu pai dizia enquanto velejávamos em seu pequeno
barco. Ele dizia o quanto eu era especial, o quanto eu merecia ter coisas
ordem; quando decidi mergulhar para aproveitar aquela noite quente, jamais
imaginei que encontraria com aquele homem mais uma vez. Imaginei que
realmente fosse o destino, tentando promover mais um encontro, mas nem
tudo soou tão bonito durante a cena, afinal, eu levei um susto que não pude
controlar e quase morri do coração quando percebi que havia um homem
ali, só reconhecendo o forasteiro depois que ele falou comigo.
— Não, por favor, você não precisa ir — falei um pouco mais alto e
ele voltou atrás. Se aproximou lentamente de mim, a cada centímetro mais
perto, mais meu coração se acelerava.
Logo aquele homem, com seus olhos que refletiam o brilho dos
astros acima de nós, estava à minha frente. Ele estava diferente, parecia
mais desinibido, mais sorridente. Parecia tentar ler meu olhar, parecia ler
meus pensamentos.
ele disse como se fosse uma constatação óbvia, mas minha reação foi
apenas sentir meu rosto esquentar. Nunca fui adepta a aceitar elogios, pois,
para mim, o que mais tinha valor era apenas o trabalho duro, apenas.
pode ser que só no ano que vem. — A ideia de o calor ir embora era triste,
pois eu sempre adorei as temperaturas mais altas. — Meu pai dizia que esse
era o meu sangue brasileiro falando alto — disse e me interrompi depois,
não queria parecer tagarela.
— Você pode ter certeza de que não atrapalhou nada... Essa cidade...
Essa noite... Eu tenho a impressão de que tudo isso foi preparado pela
minha imaginação, porque é tudo tão bonito. Aí você aparece para deixar
melhor ainda.
Sem perceber, foi como se as águas nos levassem cada vez mais para
perto um do outro, quando notei, nossos olhares já estavam misturados e
nossos rostos tão próximos que nossas respirações se chocavam. Uma brisa
fresca de repente passou por nós, arrepiando meu corpo e fazendo com que
a mistura de sensações que se apossavam de mim se tornasse ainda mais
singular.
Eu tinha medo de dizer que sim, tudo que estava em jogo ainda
permeava meus pensamentos, fazia com que meu coração, já mais
acelerado que o normal, fizesse movimentos imprevisíveis. Eu queria de
toda a alma. Eu o queria. Não pude dizer que sim. Não com palavras. Movi
Ainda em seus braços, ele me conduziu para fora da água, me levando para
o ancoradouro ali perto. Não me soltou em nenhum momento e fez com que
eu me deitasse de maneira delicada sobre a superfície áspera.
joelhos, ele aproximou seu rosto do meu, beijou meu pescoço, minha
clavícula, meus seios... Um arrepio gostoso percorreu minha espinha e o
calor entre minhas pernas se tornava cada vez mais difícil de ignorar. Meu
corpo clamava por algo que eu jamais havia feito, mas que, naquele
momento, parecia extremamente natural.
Seu rosto desceu até a região entre minhas coxas, enquanto minha
respiração se tornava cada vez mais precipitada, até sua língua começar a
explorar meu sexo com delicadeza, como se ele me saboreasse. Fechei os
Sem parar seu bom trabalho com a língua, com delicadeza, ele
ritmo único entre nossos corpos, senti que havia alguma coisa diferente,
uma força que me dominava, completava meus sentidos, me possuía.
Respirei fundo enquanto deixava que ela me preenchesse, logo em seguida
sendo arrebatada por uma onda que parecia queimar cada milímetro na
minha pele, sendo liberada em um orgasmo poderoso ao mesmo tempo em
que Stuart me acompanhava, eu pude sentir quando ele se derramou quente
coragem.
Ele acabou dormindo ao meu lado, mas eu não consegui. Poderia tê-
lo acordado, mas não o fiz. Alguma estranha força tomava conta de mim
naquela noite. Arbitrariamente decidi continuar ali, nos braços dele, e
permiti que meu corpo descansasse depois de um dia exaustivo de trabalho.
Talvez eu quisesse que todos descobrissem que eu me entreguei para um
Eu mal tive tempo de me cobrir direito, porque meu tio gritava como
realidade, esse era o percurso que ela costumava fazer de manhã, eu sabia
disso. Essa era uma das figuras mais conhecidas na cidade por sua fama de
fofoqueira, ela estava sempre trazendo e levando informações, verdadeiras
Eu sabia que ela nos veria ali e espalharia a notícia aos outros, isso
seria o suficiente para que eu não fosse obrigada a me casar com Giacomo
Salvatore só por causa de seu dinheiro. Salvatore nunca aceitaria uma noiva
vontade, mas eu nunca imaginei que pudesse me sentir tão mal quando meu
tio descobrisse.
de pé e fez com que meu tio me soltasse. O homem doce e simpático dando
espaço para uma fera. Por maior que fosse minha humilhação, eu soube que
não estava sozinha, mais uma vez ele estava me defendendo. Aquele
homem tão alto, tão forte, tão elegante estava entrando em uma briga feia
por mim. Ele empurrou meu tio e fez com que ele se afastasse.
— Você é tão sujo quanto ela! Acha que pode vir aqui e destruir a
vida das pessoas? Você não sabe de nada! Essa puta estava prometida em
casamento e deu pra você! Só Deus sabe pra quantos antes! — meu tio
o circo estaria feito a partir dali. Ela me odiava com todas as forças porque
era apaixonada por meu pai, os pais dela e meus avós faziam gosto pela
união quando eram jovens, mas seu desejo foi frustrado quando meu pai se
casou com minha mãe de surpresa. Ela jamais havia superado o rancor e me
— meu tio intimou com raiva, apontando para mim, e eu apenas olhei para
meus pés. — Me encare, puta! — gritou, e eu fui obrigada a ver seus olhos
em chamas, cheios de ódio, mais uma vez.
Ele saiu em seguida, e eu desabei, não pude me conter mais. Deixei
confiou. Por mais que eu não tivesse tanta fé quanto ele, ainda acreditava
que alguém olhasse por mim, talvez porque precisasse de um pouco de
conforto.
automaticamente. Não queria que mais ninguém nos visse, como se isso
fizesse alguma diferença naquele momento! Mas eu não pude ser racional o
quanto antes — esclareci, sabendo que as coisas não iriam melhorar a partir
dali. Eu não queria envolver aquele homem tão gentil em um problema que
eu mesma causei.
— Eu fico — ele respondeu com firmeza.
Toda a beleza da noite anterior, onde nós nos tornamos um só, onde
somente as estrelas e a lua nos cobriam em sua vigília eterna, se esvaia com
tudo aquilo. Em meu peito, senti que as coisas nunca mais seriam as
mesmas. E eu estava certa.
Nos vestimos o mais rápido possível e eu fui até a cozinha pela porta
dos fundos, para beber um copo de água. Stuart foi até o próprio quarto
pegar suas coisas, assim que aquilo “acabasse”, ele iria embora. Eu tremia
tanto que mal conseguia segurar o copo. Não demorou muito para que a
sensação pacífica acabasse.
tudo que pude assistir foi Giacomo Salvatore, que falava aos berros com
meu tio.
isso debaixo do seu nariz, imagina o que ela pode ter feito fora da sua vista,
Tommaso! Você não tem vergonha, velho pilantra? Querendo me vender
mercadoria de segunda mão... Ah! Mas isso não vai ficar assim de jeito
pouco de vinho.
Salvatore. Era algo que eu também sabia e, mesmo que fosse complicado
admitir para mim mesma, eu sabia que, se ela visse a cena com os próprios
Você acha mesmo que eu vou aceitar esse lixo como pagamento? — o
homem falou em fúria, enquanto eu podia sentir como uma punhalada a
palavra “lixo” se dirigir a mim.
Eu nunca havia visto meu tio tão desesperado, ele estava vermelho e
parecia prestes a enfartar, como se a coisa fosse bem mais grave do que
parecia. Eu sabia que não me casar com aquele homem iria fazer com que
ele não tivesse o prestígio que procurava, mas não fazia sentido a dimensão
palavras:
— Você vai me pagar. Eu não sei como, mas vai. Se não pagar, pode
ir arrumando suas malas, porco imundo! — Quase cuspiu as últimas
palavras e deu às costas para meu tio Tommaso, agora completamente
desnorteado.
tio, assim que me viu, mais uma vez veio até mim, como se quisesse me
matar.
passasse! Garota inútil! Imprestável que nem a sua mãe, que não soube nem
parir!
— Tio, por favor, não fale assim da minha mãe... — pedi, mesmo
— Ah, agora você está preocupada com o que eu falo da sua mãe, sua
piranha? Agora você vai ter que fazer jus à sua fama, vai ter que vender
esse seu corpo, que é a única coisa que você tem pra se sustentar! —
Tudo que eu fiz naquele momento foi tentar me manter calma, tentei
apenas respirar, por mais que todo fôlego parecesse ter sido roubado de
mim.
— Tio, por favor! — pedi mais uma vez, mas ele me ignorou.
— Você está indo embora nesse momento, Giovana, e não tem nada
para que lembrasse do meu pai, do quanto ele o amava, que nós podíamos
resolver aquilo tudo, que eu trabalharia em dobro, mas nada foi capaz de
fazer com que ele me ouvisse.
cesto que havia ali. Depois disso, saiu em direção à rua e jogou tudo no
chão, inclusive as fotos e alguns objetos que pertenceram ao meu pai.
— O que você está fazendo? — disse, mais uma vez encarando meu
tio.
comigo. Era isso que ela sempre quis, e conseguiu. Agora a minha
hospedaria vai fechar por culpa dela! Por culpa dela, nós dois ficamos sem
nada!
— Mas, tio, não foi minha intenção, eu não sabia... Eu...
— Não sabia?! Não sabia? Então você sabe agora que não tenho
como pagar a dívida que fiz pra manter esse lugar funcionando, pra te
— Deixe essa garota em paz, você não acha que fez o suficiente? Eu
certeza ele tinha coisas muito importantes para fazer, e eu não podia prendê-
realmente nervoso.
um meio— sorriso.
— Mas não tem nada a ver com o que você tá pensando, eu sou
viúvo e...
ajudar a sair dessa situação. Não posso fazer muita coisa, mas pelo menos
podia atrasar mais ainda seu caminho, seja lá para onde ele estivesse indo
dali.
— Vamos ser honestos aqui, Stuart. Eu não queria dizer dessa forma,
mas meu tio estava certo. Eu realmente fiz isso de propósito. Eu não queria
me casar com aquele homem asqueroso da vinícola, por isso deixei que
aquilo acontecesse. Mas nós nem nos conhecemos. Você me parece um
bom homem, mas o que aconteceu não foi um encontro mágico ou qualquer
coisa do tipo, foi só algo que eu tive que fazer pra garantir minha liberdade
— expliquei com cautela, embora algumas partes fossem verdadeiras, a
em minha frente fazia com que meu coração se partisse em mil pedaços,
como se algo muito importante estivesse sendo arrancado de mim.
Mas no fundo eu sabia que era a coisa certa, afinal, aquilo havia sido
apenas um sonho que não se repetiria. Aquele homem estava com pena de
mim depois de ter me visto sendo maltratada e expulsa de casa, mas isso
não significava que nós teríamos um futuro juntos.
— Não, tudo bem, você está certa, nós mal nos conhecemos. Talvez
pequeno rancho. Não fica tão longe daqui. Se você me deixar ligar pra ela e
Meu tio não me deixava ter um celular, dizia que não tinha dinheiro e
que naquele lugar o sinal era muito ruim, então não valia a pena. Pelo
menos a última parte era verdade, quando tentei falar com Cassandra, o
sinal havia caído.
Então pedi para que ele me levasse para a casa dela diretamente. Eu o
Quando chamei minha amiga no portão e ela veio até mim, vi em seu
— Eu prometo que conto tudo, mas eu posso ficar por aqui alguns
— Você sabe que o que nós conseguimos com o que produzimos aqui
maior do problema havia sido gerada com a ajuda dele também. — Que
falta de educação!
Dessa vez, ele não insistiu, apenas tirou algo de um dos bolsos, era
um pequeno cartão que estendeu para mim, mas eu hesitei em pegar, então
Cassandra o segurou.
precisava mais do que nunca lembrar tudo que meu pai me ensinou sobre
realizar sonhos, nunca é fácil, mas sempre vale a pena no final.
mas esse não era o dia, eu já havia aceitado que não poderia pedir ajuda
com ele.
a minha revelação.
meus sonhos, eu iria lutar e trabalhar para alcançar tudo que um dia, junto
naquela casa.
Eu madrugava, às vezes acordando antes deles, às quatro da manhã,
para adiantar qualquer tarefa necessária. Recolhia os ovos, alimentava as
tratavam muito bem, o que era até estranho para mim. Eles usavam boa
parte do seu pouco dinheiro para custear os estudos da minha amiga, que,
mais ou menos quatro meses que tudo começou a mudar, como se minhas
mais forte da tarde, quase tive outro desmaio, mas consegui me manter de
pé. Quando olhei para os meus pés, tonta, vi o sangue que gotejava sem
desespero.
de Pietro Berti.
— Você precisa prometer que vai ficar calma com o que eu vou te
dizer.
— Nana, você está grávida, tem um bebê na sua barriga — disse, mas
eu não podia compreender o significado daquilo, não quis acreditar.
não sabia o que fazer, pensar ou sentir. Eu estava com tanto medo, tão
confusa. Eu teria um bebê! Por mais que ainda não tivesse assimilado essa
ideia, estava preocupada com o fato de que poderia perdê-lo. Eu estava com
raiva por ter engravidado, por ter feito aquela besteira, por ter sido tão
impulsiva. Tinha uma criança na minha barriga, mas ela poderia nem
sobreviver!
saúde sem saber que estava prejudicando outro ser também. Eu me sentia
tão culpada!
estava levemente inchada, mas nada demais. Eu deveria ter sido mais
observadora e cuidadosa. Fiz as contas e estava grávida de quatro meses.
Quatro meses, e eu só estava descobrindo naquele momento.
fragilizada.
— Por ter feito isso, por estar agora atrapalhando sua vida e dos seus
firme, mas agora eu precisaria parar, estava fraca, incapacitada, pelo menos
se quisesse que aquele bebê se mantivesse ali. Ainda assim, não conseguia
— Nós vamos lidar com isso juntas, pode contar comigo. — Ela
dar certo. Até que nós nos afastamos e ela me olhou ainda aflita. — Você
vai precisar de cuidados especiais, você deveria ligar para o pai do seu
filho.
— Eu não quero que ele pense que estou tentando dar um golpe,
eu ficasse em repouso, fui parar no hospital mais duas vezes com alguns
sangramentos, as coisas não estavam indo bem, e eu me sentia mais
quando tentei fazer tarefas simples, como o almoço, acabei passando mal.
fazer alguma coisa. Além do mais, é só por um tempo, daqui a seis meses
eu volto.
precisei. Por isso comecei a matutar sobre o que eu poderia fazer para
resolver a situação.
— Menina, tudo que você precisar e eu puder fazer por você sempre
farei, não só pelo seu pai, mas porque você é importante pra mim! — disse
outras pessoas, mas era a única opção que eu tinha naquele momento.
Durante as semanas seguintes, ele mandava entregar mantimentos no meu
pequeno alojamento e sempre ia ver se eu estava bem, até o dia em que ele
não apareceu, e eu senti que havia algo estranho. O senhor Giuseppe estava
muito doente, além de ser muito idoso. Eu tive um mal pressentimento, que
socorrer e eu poderia perder meu filho. Eu rezei com toda fé para que eu
não perdesse o bebê, para que meu coração mantivesse a serenidade, apesar
da notícia tão triste.
sina nunca me despedir dos que eu amava, porque eu não podia correr o
risco de ficar nervosa e piorar ainda mais minha situação, também porque
terríveis.
para comer, eu não podia deixar aquilo acontecer, mas não conseguia
enxergar uma luz no fim do túnel. Decidi dormir para esquecer pelo menos
um pouco daqueles problemas.
No dia seguinte, fui acordada por uma voz que chamava, era
mas, quando a porta se abriu, me deparei com uma figura conhecida: meu
tio.
enfático.
mas...
pagar aos poucos. — Ele sorriu. Aquilo era incomum. — Agora você
precisa descansar, cuidar para que esse bambino nasça com saúde.
Saber que ele se importava aqueceu meu coração, fazendo com que
verdade e meu filho poderia crescer na pensão que meu pai ajudou a
comprar.
esperar, nada mais. É claro que o tédio me consumia, pois tudo que eu podia
fazer era assistir à televisão e ler livros, mas, ao mesmo tempo, eu tentava
imaginar o rosto do meu bebê e fantasiar como tudo seria quando ele
nascesse.
•••
A ansiedade tomou conta de mim quando percebi que o grande dia
estava chegando, mas, ao mesmo tempo, eu estava feliz. O médico já havia
pouco aflita, pelo menos até perceber que já estava lá, que a sala estava
preparada e que a anestesia já estava sendo aplicada.
É claro que eu ficaria muito feliz com um parto normal, mas aquela
bebê. O que me deixou mais nervosa entre tudo foi imaginar minha mãe
quando deu à luz a mim, pois ela havia perdido a própria vida para que eu
respirando!
estaria bem para voltar a trabalhar com toda a minha disposição de sempre.
Tudo continuou muito calmo, pelo menos por um tempo, até que
chegou o momento em que mais uma vez vi minha vida de cabeça para
baixo. Meu tio entrou no meu quarto com um olhar enigmático, até ali ele
nem sequer havia pegado o bebê, o que eu havia achado estranho, afinal, ele
parecia ansioso para conhecer o sobrinho-neto antes disso.
trabalhar.
como doação. — E quem vai te comprar, junto com essa coisinha, é o ricaço
pra quem você abriu as pernas — ele concluiu com um sorriso tão perverso
que eu me senti mal por ver a semelhança entre ele e meu pai, porque meu
— Agora você vai se comportar, assim você pode continuar com seu
pequeno sanguessuga e eu nunca mais vou precisar ver sua cara — concluiu
e me deu as costas. Eu estava tão terrificada que não pude me mover.
Meu tio trancou a porta atrás de si, me deixando presa, mas o pior
não era estar dentro daquele quarto e não ter como sair, e, sim, mais uma
vez estar sendo vendida por ele.
com Amy, mas sabia que ela ficaria bem, afinal, já estava muito bem
acompanhada pela tia Gerta, ao mesmo tempo me senti um tanto estúpido
passamos. A voz dela replicava vez após vez aquela sentença onde ela dizia
aquilo que vivemos não representava nada, que havia sido apenas uma
maneira de se livrar de um casamento forçado, era frustrante, de qualquer
maneira me esforcei para me colocar no lugar dela, afinal, ela vivia uma
vida que eu jamais havia conhecido, uma vida difícil, sem luxos ou fartura.
Eu não podia sentir raiva daquela moça, não podia mesmo. Eu havia
o véu da vergonha.
Dom estava entretido com seu livro na poltrona ao meu lado e havia
aconteceu?
— Ela está bem, meu irmão, nós já estamos quase indo embora.
Desde então, ele não havia perguntado mais nada, era o jeito dele,
não gostava de se intrometer, nem de forçar conversas, então passamos um
assim.
fantástico.
— Vamos parar com as brigas, ok? Como vocês passaram esses dias
despertar de uma ilusão, parecia que tudo aquilo havia acontecido apenas
dentro da minha mente, embora eu soubesse que era realidade, afinal,
minha imaginação não seria capaz de inventar um ser tão doce e belo como
Giovana, ela precisava ser real.
foto em família ainda estava sobre a lareira e eu a via sorrir para mim.
que estivesse, afinal, ela sempre foi generosa. De qualquer maneira, ainda
não era o momento de me abrir para ninguém, estão afastei esses
pensamentos.
Talvez tivesse sido a solidão e a aura mágica e bucólica daquele lugar
que tivessem feito com que eu vacilasse. No final das contas, nada daquilo
era feito para durar. Assim, meses passaram de maneira pacífica e aos
•••
sucesso, e eu sabia que isso nos ajudaria a ampliar nosso capital de maneira
relevante. Eu estava até mesmo fazendo algumas aulas de italiano para
Era alguém estranho e dizia que precisava falar comigo, aquele era
meu número pessoal e não era comum de maneira alguma, ainda mais
porque eu tinha certeza de que não era a primeira vez que tinha uma
conversa com aquela pessoa, mas quem seria?
menos três vezes para não agredir um idoso por sua causa. — Minha voz
era pura raiva contida.
— Isso não pode ser verdade — falei baixo, enquanto sentia o suor
frio salpicar meu rosto.
Eu estava nervoso e envergonhado pela minha imprudência, mas,
como sempre, mantive a compostura, trabalhei com a hipótese de que fosse
mentira.
— Por que o senhor não viaja até aqui e nós fazemos um exame? Eu
asseguro que o bebê é seu, só de olhar o rostinho já é visível, mas nós
somos muito corretos e eu quero fazer as coisas direito, tenho uma ótima
proposta.
recatadas, não são iguais aos que vivem na América e se deitam com
qualquer um. Aqui, nós temos valores e princípios. Você não pode
isso mesmo. Ouça: é só isso que eu peço, case com a minha sobrinha e leve
seu filho, pague um pequeno valor para cobrir meu transtorno e está tudo
resolvido.
senhor sabe disso, posso muito bem arranjar um lugar para que ela viva
confortável com o bebê. Isso, é claro, se tudo o que está me dizendo é
verdade.
— Veja bem, senhor, apesar do passo em falso, minha sobrinha é
moça honrada e precisa de uma família para seu pequeno. Não a deixo
partir sem um casamento formal que garanta que você cuidará dela.
era se importar com a sobrinha, mas, ainda assim, ele a tinha sob sua tutela
e a manipulava como bem entendia.
armadilha.
últimos tempos, eu estava sentindo tudo com muito mais intensidade que o
normal e isso estava destruindo meu estado emocional.
depois de quase quarenta anos de vida, eu havia sido capaz de cair em uma
situação como aquela... Era completamente inacreditável, porque eu jamais
•••
Eu não queria falar sobre aquilo, tive vergonha de mim mesmo, mas
precisava contar para os meus irmãos, achei que eles tinham direito de saber
reunião com os irmãos Silvestri precisava ser convocada e foi o que eu fiz,
com destaque para a emergência.
Dominic, como era costume em situações assim. Era esquisito pensar que
meu irmão era o “substituto” do nosso pai, porque era o mais velho.
Felizmente eles eram completamente diferentes, e meu irmão não tinha
difícil descer desse pedestal e admitir que eu tentava ser perfeito, mesmo
aconteceu...
— O quê? Além de você ter se perdido feito um bobo? — Bruce riu,
Mas o assunto tem a ver exatamente com isso — falei com uma postura
— Irmão, você sabe que pode contar tudo pra nós — Greg disse de
incentivar.
para fazer um bom julgamento das coisas. Josh andava meio aéreo, olhando
para o celular o tempo inteiro, talvez preocupado com o encontro que teria
depois que saísse dali.
lugar estranho, era uma vila, cidadela, sei lá. Eu só sei que estava
manifestou.
estava falando, mas a verdade é que até para mim era difícil de aceitar.
— O tio da moça me ligou, ele disse que eu preciso me casar com ela
se quiser ver meu filho. — Suspirei enquanto falava. Eu me sentia um
verdadeiro idiota.
— É óbvio que você não vai se casar com uma mulher só porque ela
— Mas você não acha que tudo isso pode ter sido armado pelos dois?
— Greg falou em tom de preocupação.
— Sim, eu acho, mas, ainda assim, não consigo deixar de ter pena
— Como você pode ter pena de alguém que tentou passar a perna em
cabeça.
Aquela garota tão frágil, com uma aparência tão ingênua, havia me
que ela não era igual ao tio, era tudo que eu queria crer.
— Eles não saberiam quem eu sou, sempre fui discreto, poucas fotos
minhas estão na internet e, naquele lugar, não tem nem sinal! Mas, ao
mesmo tempo, foi muito suspeito a forma como ela apareceu no lago
à rádio que é muito usada em áreas rurais, talvez eles não soubessem que
você iria parar naquele lugar, mas, quando viram você, podem ter pensado
que era a oportunidade perfeita, pode ter sido tudo um teatro armado.
charlatão que apenas fez uma limonada com os limões que eu mesmo lhe
entreguei, afinal, o que eu esperava transando sem camisinha?
principalmente pra explicar toda essa história para as trigêmeas, não sei se
vai ser fácil ou difícil, só sei que estou com medo de fazer sozinho.
— Eu agradeço.
— Mas o que você vai fazer com relação a isso? — Greg perguntou,
ainda muito consternado.
— Você tem meu apoio e isso realmente seria bom pra empresa.
•••
Viajei apenas com meu advogado e a primeira coisa que fizemos foi
um teste de DNA. Tommaso estava muito certo da minha paternidade e não
— Você não pode fazer isso! — Bufei quando fui até a hospedaria
exigir ver meu filho.
última vez que nos encontramos, ela preservava sua beleza, mas, ao mesmo
tempo, parecia cansada e doente, muito frágil.
— Boa noite, Stuart — disse de forma débil. Aquela mulher forte que
eu havia encontrado parecia estar definhando.
— Eu não posso permitir, não até que nós estejamos casados, por que
senão, que garantia eu teria dos meus direitos? — ela pontuou.
— Você não tem direito algum, só o menino tem. — rosnei, mas ela
manteve a postura, como se aquele fosse um texto ensaiado. Eu não queria
crer que aquilo partiu dela, afinal, ela era muito jovem, devia ter sofrido
lavagem cerebral do tio, mas, de qualquer maneira, estava ajudando a
realizar o plano.
ele ter nascido tão desamparado. Algo forte tomou conta de mim, e eu
queria proteger aquela criança de tudo.
Meu advogado questionou a decisão, disse que facilmente poderia
requerer a guarda, mas eu sabia que isso levaria tempo e que o juiz não
tiraria o filho de uma mulher lactante assim. Decidi engolir meu orgulho e
simplesmente aceitar a chantagem de Tommaso, pelo menos depois daquilo
eu não precisaria vê-lo nunca mais e o bebê ficaria protegido comigo. Sobre
Giovana... Eu decidiria como lidar com ela.
da minha vida escapar das minhas mãos por um momento, mas eu sabia que
daria um jeito.
que aquela mulher possuía era capaz de me fazer olhar para ela de um jeito
positivo.
Eu não queria olhar para ela, muito menos falar, havia um ódio
encrustado dentro de mim. Após a assinatura dos papéis, quando Tommaso
finalmente entregou meu filho, me senti tentado a acabar com a vida dele,
enfim já não havia mais nada com que ele pudesse me subornar, mas desisti
da ideia, afinal, eu nunca fui esse tipo de pessoa, não deixaria que o ódio
me controlasse.
A afeição com que Stuart olhava para Paolo foi uma surpresa para
que me senti quando perdi meu pai. Era algo que eu não conseguia apagar.
Aquele olhar carinhoso para meu filho me fez esquecer um pouco da dor e
lembrar a mulher forte que sempre fui.
Quando meu tio revelou seu plano astuto para mim, semanas antes,
tudo que eu sempre idealizei caiu por terra, como se a vida não fizesse
sentido. Foi muito difícil superar o fato de que ele havia ido tão longe.
Eu conhecia meu tio, havia vivido minha vida inteira ao lado dele,
mas, ao mesmo tempo, não esperava crueldade tamanha mesmo assim, não
por causa do que ele fez comigo, mas porque ele não poupou nem meu filho
levar o meu maior estorvo! Onze anos atrasado! — gritou, irritado, mas
logo voltou para seu sorriso doentio. Desconfiei que ele estava desvariando,
começou a falar.
Minha pele ardia, mas aquela era uma sensação conhecida, não derramei
paralisar com a sensação do golpe. — Se esse teste der errado, eu juro que
mato você! — Quando dei por mim, a mão inteira de meu tio Tommaso
Eu sabia que lutar contra ele seria pior, então apenas respirei
profundamente, por mais que fosse difícil com aquela pressão em minha
garganta.
num reflexo, passei a mão pelo meu próprio pescoço, agradecendo por estar
íntegro.
com Paolo, então o segurei em meus braços com firmeza, quase não percebi
que o apertava demais até que ele começou a chorar. Dessa vez acabei
— Você vai dizer para ele que só poderá ver o bambino se casar com
você, caso contrário nada — meu velho e cruel tio dizia como se explicasse
No dia em que Stuart apareceu exigindo ver o próprio filho, meu tio
já havia me ameaçado o suficiente para que eu falasse o que ele havia
Paolo, que se acalmava em seus braços. Era como se ele nunca quisesse me
devolver o bebê, apenas quando ele chorava com fome.
levemente, mas não me senti no direito de comentar. — Elas têm nove anos
e tudo que fazem é brincar e estudar. Tenho me esforçado ao máximo para
mantê-las distantes dos problemas do mundo, quero que elas tenham uma
infância boa para se lembrar. Você vai conviver com elas, mas eu espero
que você não se aproxime demais. Eu não quero que elas pensem que estou
tentando substituir a mãe delas...
— Eu espero que você saiba que tudo isso é temporário, pelo menos
até Paolo crescer um pouco. Você fez questão do casamento, pois nós
estamos casados, nenhum dos dois vai ficar desamparado — ele finalizou,
mas seu rosto denunciava que ainda não havia dito tudo.
Stuart passou algum tempo olhando para fora, como se houvesse algo
suspenso no ar, mas, de repente, ele me olhou nos olhos pela primeira vez.
Eu poderia dizer que meu tio havia me obrigado, mas isso seria uma
— Tudo bem. Não responda — ele disse friamente e voltou para sua
funcionária também.
— Bom dia, Olívia! — Stuart disse para a moça. — Esse é meu filho
os cuidados do seu pequeno. Posso lhe apresentar a casa mais tarde, caso
você queira — a moça falou de maneira solícita, e eu respondi com um
sorriso.
— Isso é ótimo, Olívia. — Sorriu para ela. — Hoje não seria dia de
trabalho dela, mas eu pedi para que ela viesse pra te mostrar tudo, afinal,
casa tinha e com toda aquela formalidade. Eu não sabia se algum dia me
Nós iríamos para o quarto, mas, quando tivemos que passar pela
pessoas. Havia um homem que parecia um pouco com Stuart, mas devia ser
um pouco mais jovem, talvez um dos irmãos?
— Stuart, você não tem noção do que elas fizeram comigo — disse,
quarta era uma menina completamente diferente delas, sua pele era mais
escura do que a minha, reluzente, linda. — Suas filhas se recusaram a ir à
crianças empolgadas.
Giovana, essas são Amy, Lily e Annie, com o tempo você descobre quem é
quem. Essa quarta belezinha é minha sobrinha Ayo, filha do meu irmão
Gregory, mas que é mais conhecido por Greg e que está aqui parado
olhando que nem um bobo — disse, dando um tapa no ombro do irmão, que
sorriu.
— Muito prazer, Giovana, seja bem-vinda à nossa família. Todos são
meio loucos, mas você se acostuma, pode apostar. — Gregory sorriu com
— Nós podemos segurar? — uma das meninas disse, ela tinha olhos
vivazes e altivos, estava muito ansiosa por ver o irmãozinho.
rolaram os olhos.
Fiquei admirada com a forma que Stuart foi capaz de criar meninas
pai quando ele ainda era vivo. Suspirei e fiquei pensativa sobre tudo aquilo,
mas, ao mesmo tempo, estava aliviada por saber que nunca faltaria algo
para meu filho.
lentamente.
comecei a trabalhar pra esse tipo de... público... também achava impossível
me sentia uma intrusa, mas não poderia fazer nada quanto a isso por
enquanto.
dormia.
— Um anjo, não deu nenhum trabalho até hoje. Nas primeiras noites,
Stuart Silvestri. Deixei meu cérebro acreditar que aquilo era uma espécie de
sonho, por isso fingia não estar afetada por todo aquele esplendor.
espaço de sobra para receber o nosso novo membro — disse com animação.
— As meninas dormem no mesmo quarto porque não se desgrudam,
acredita? — Sorri ao pensar nisso. Eu teria sido muito feliz se tivesse tido
uma irmã para dividir a vida. — Dessa janela, você pode ver nosso jardim,
é maravilhoso, não é?
Apontou para o andar de cima, onde havia uma sacada maior do que as
restantes. — Eu nunca fui até lá, mas dizem que é enorme, afinal, são uns
cem metros quadrados.
você viu tudo que é mais importante. Ah! A sauna fica na ala leste, acho
que você vai gostar de relaxar um pouco, afinal, acabou de ter um bebê.
Quando ela disse a palavra relaxar, eu até achei estranho, já não sabia
o que isso significava, na verdade nunca soube, mas eu me sentiria mais à
Voltei para o quarto de Paolo e disse que poderia cuidar dele, assim
Claire saiu. Era estranho ter pessoas para me “servir” não o contrário, isso
não me deixava nem um pouco contente, mas, por ora, precisava aceitar.
Sentei-me na poltrona de amamentação com Paolo e aquilo era como um
— Ele parece com fome. — Uma voz me tirou dos meus devaneios.
Era Stuart. Meu coração disparou e eu olhei para ele de relance, evitando
Nesse momento não pude evitar o contato visual, ele havia baixado a
guarda por alguns segundos e, quando fazia isso, era tão bonito. Toda a
poderia.
toda a atenção e admiração foi o que tornou todo aquele momento menos
assustador. O pequeno iria completar dois meses, e elas insistiram para que
têm uma percepção muito melhor que a dos adultos. Greg havia ido embora
vontades.
com seu jeito de sempre. Era como se ela sempre precisasse estar no
controle de tudo.
— Ansiosa? Você sabe por acaso o que essa palavra quer dizer?
— É claro que ela sabe, eu contei pra ela — Annie disse com o nariz
— A Olívia contou que o Paolo vai fazer dois meses, então nós
enche umas bexigas roxas pra imitar as uvas, como na Itália. Nosso irmão é
meio italiano — Annie, com sua pose de sabichona, continuou as
divagações. Meus olhos estavam arregalados com todas as informações que
uma pista de skate e... — Amy bem que tentou continuar, mas precisei
intervir.
— Chega! É sério! Não vai ter mêsversários nem nada disso e não
quero ouvir mais nada. — Bufei.
Olívia, que acenou com a cabeça para confirmar que havia compreendido.
beleza daquela cena, era como se ambos fossem lindos anjos iluminados
esforcei, então apenas tivemos uma breve conversa, e eu fui atrás dos meus
afazeres, que eram muitos. Era complicado manter a cabeça no lugar com
irmãos nasceram, era sempre uma novidade divertida, além de que, por
mais que eu não quisesse proximidade de Giovana, aquilo seria para Paolo,
jeito algum. É óbvio que meus desejos naquela casa estavam em último
lugar em qualquer lista, na realidade, eram elas as rainhas do castelo, que
davam as ordens, e eu tive mais certeza ainda disso quando vi que nosso
salão de festas tinha uma mesa e elas estavam entretidas, enchendo balões
azuis.
— Como assim?
— Tudo bem, Sandra, pode colocar o bolo sobre a mesa, não tem
problema. — Vi que as meninas se controlavam para não saltar de alegria
notar pela grafia infantil e colorida. Os balões haviam sido fixados com fita
adesiva por toda parte, em uma ordem meio particular, mas não poderia
— Aliás, vocês haviam dito que os balões seriam roxos, por que
— Ah, nah! — Annie disse, como se fosse óbvio que algo havia me
escapado.
— O que não era previsto? — Ouvi uma voz rouca soar na entrada e
vi a figura matrona de minha tia no canto.
beijos e abraços, além dos presentinhos que a titia sempre trazia do campo.
Elas se acotovelavam para contar mais sobre o novo irmão, e eu fiquei fora
de foco mais uma vez, o que não era de todo ruim. Pelo visto, a “festa” teria
Assim foi. Claire desceu com Paolo nos braços, e Giovana não
apareceu. Eu me senti constrangido e um pouco estranho por saber que ela
sido passado para trás despertava o pior de mim, e eu não conseguia superar
esse obstáculo.
— Que criança mais linda! — tia Gerta disse ao olhar meu filho mais
novo pela primeira vez, e ele retribuiu com um sorriso enorme e sem
nenhum dente.
— Nossa! Ele é tão pequeno, parece que vai quebrar! — Amy disse
com um olhar de fascinação.
— Mas que graça tem uma festa se ele nem pode comer bolo? —
Lily parecia triste ao perceber isso.
e entregar pra ele quando estiver maior, o que acha, papai? — Amy
comentou como se fosse a ideia mais interessante do mundo.
— Não sei não, talvez seja melhor só comemorar por ele e, quando
ele puder comer bolo, nós faremos o maior bolo do mundo — tentei ser
convincente.
— Chato — disse baixinho e rolou os olhos.
sorrisinho sapeca.
— Mas, papai, ela precisa estar aqui, senão pode ser que ela não se
sinta bem-vinda — minha pequena disse com uma expressão tão triste que
eu não poderia dizer não. Ela tinha um coração tão puro e sempre foi
As três subiram correndo, com Diane atrás delas. Era uma boa
menina, jovem e bem treinada para a profissão, principalmente muito bem-
por telefone, e ela havia demonstrado muita preocupação, tanto é que estava
ali.
conheço você, acha que não pode errar nunca, mas quem não errou não
pensamentos.
ser apresentada para tia Gerta, que não hesitou em louvar e exaltar a beleza
da moça ali parada e sem saber onde se esconder. Depois disso, ela foi
deixada em paz enquanto a conversa rodava em torno de assuntos banais e
bobagens cotidianas.
seu sítio. Aliás, esse foi o único momento em que Giovana levemente
comunidade rural. Tia Gerta disse que exigia uma visita de todos ao seu
necessidade.
pegar no sono... Foi um dia longo — falou com seu tom de voz adocicado.
ao ouvir isso foi um misto de indagação e surpresa, ela deve ter pensado
conversa na Itália, ela me olhou por mais do que alguns segundos, foi como
se nós estivéssemos travando uma luta para desvendar a mente um do outro,
Infelizmente não pude impedir que uma das minhas mãos acariciasse
o rosto dela, sua pele era tão macia, embora ela estivesse bem mais magra.
Sem pensar, permiti que meu polegar deslizasse suavemente por seu lábio
impossível. Pensei que meu desejo por ela teria morrido junto da confiança,
mas, na realidade, o que eu sentia por aquela garota era diferente de tudo.
capaz de fazer algo que colocasse sua saúde em risco, afinal, já havia
cometido irresponsabilidades o suficiente por toda uma vida.
deixava que meu braço a puxasse para mais perto, o calor dos nossos corpos
se integrando de uma maneira natural. Aos poucos, ela entreabriu os
próprios lábios, rendendo-se à minha língua, que buscou explorar sua boca
de maneira faminta. Ela era tão doce quanto a primeira vez, seu hálito de
— Bom, apesar de tudo, sou sua esposa, você não precisa se privar
de nenhum direito...
ela consentia, mas outra coisa, mais forte, me continha de continuar, era
como se fazer aquilo fosse me deixar mais fraco diante dos seus feitiços,
afinal, a atração que eu sentia por ela era quase doentia.
— Sim.
família, então elas teriam um novo irmãozinho que viria morar conosco,
com a sua mãe.
boa noite — completei e dei as costas a ela, ainda sentindo meus lábios
formigarem com aquele beijo e o gosto de sua boca na minha. Seria difícil
•••
No dia seguinte, assim que acordei e saí para o café da manhã, avistei
a porta do quarto de Giovana entreaberta, ouvi sua voz, e ela falava em
italiano. Não consegui entender muita coisa, pois ela falava muito rápido e
— Giovana?!
enredasse, não mais, precisava estar de olho nela para que nenhum outro
golpe acontecesse.
um movimento de cabeça.
demais das meninas, mas o que eu poderia fazer? Elas eram crianças!
havia me beijado com doçura na noite anterior. A forma como ele acariciou
meu rosto fez com que eu me sentisse querida, mas não durou muito, ele
não iria se aproximar de mim, não enquanto não percebesse que eu não sou
— Tudo bem, então nós vamos te esperar. Sua assistente já deve estar
chegando.
— Sim, o nome dela é Giulia Moretti e vai te ajudar em tudo que for
necessário. — A forma como ele dizia aquilo era tão formal, como se fosse
manter a comunicação aberta, ok? Você pode aproveitar tudo que essa casa
tem a oferecer, pode usar o cartão de crédito que Giulia irá te entregar hoje,
não precisa nem tocar no dinheiro que eu passarei a depositar na sua conta
você, ele precisa de uma mãe, mesmo que não seja a mais adequada. Acho
que é isso.
responder. Aos olhos dele, eu não era “adequada” como mãe, porque era
aquela caixa nas mãos, meus olhos ardiam, e eu me controlava para não
chorar, deixei que o objeto caísse, quicando sobre a cama. Eu não iria me
próprios dedinhos.
— Depois do seu café da manhã, aposto que ele vai apreciar uma
mamada.
— Com certeza — concordei e entreguei meu pequeno para aquela
— Ela chegou! — uma das meninas falou com alegria. Aquela era
Uma das pequenas veio até mim e puxou minha mão, eu apenas
— Agora você vai ter que fechar os olhos. — Acho que dessa vez foi
Lily quem disse, enquanto tentava cobrir meus olhos de forma desajeitada,
afinal, elas eram bem mais baixas que eu.
— Tchau, Gio!
— Tchau, Nana!
voltou, era Lily. A menina correu até mim e me abraçou. — Até depois. —
O sorriso era de uma doçura de proporções maravilhosas, e eu quase
primeiro.
— Por que não me ajuda? Eu não vou conseguir comer tudo isso
sozinha — ofereci, empolgada, pensando em ter alguém para conversar.
Ao mesmo tempo, lembrei-me do celular que eu havia deixado sobre
a cama sem sequer mexer e, também, da minha assistente, que não era nada
mais do que Claire, Olívia e Diane eram para as crianças: uma babá para
baixo.
maior parte do tempo com aquelas crianças, por que não poderia se sentar
comigo para tomar café? Isso me fazia lembrar dos meus amigos na Itália.
Giuseppe sempre fazia questão de que eu me sentasse ao lado dele para
almoçar quando meu tio ia para o Centro e não podia brigar comigo.
lado timidamente.
pra me acostumar. Nem sabia que crianças podiam ser assim — ela
explicou, admirada.
explicou com simplicidade. — Fazia tempo que não havia uma presença...
— Isso não é verdade, afinal, você e Olívia estão sempre com elas.
espalhafatosa dizia.
Era a senhora que havia vindo para visitar Paolo ontem, ela se
baixando o olhar.
— Mocinha, pode ser que meu sobrinho ainda não tenha percebido,
mas eu nunca erro. Você tem um coração bom e veio parar aqui por algum
poderia ser que não e que, quando ela descobrisse, me desprezasse também,
mas eu quis acreditar que ela realmente me daria uma chance de qualquer
forma.
sobre mim. Meu nome é Giulia Moretti, e eu estou aqui para auxiliar você.
— O sorriso dela era branco e cheio de dentes, sua pele era clara e seu
rosto, cheio. Os cabelos pretos da mulher eram tão brilhantes que poderiam
me cegar. Acho que é assim que seria o ideal de aparência de uma “mulher
desses compromissos. Nós também vamos conversar sobre como você deve
responder aos outros convidados.
ótima esposa.
Com Giulia falando tantas coisas e me mostrando um milhão de
atividades extras.
Depois de colocar Paolo para dormir, fui para o meu quarto. Pela
porta entreaberta, vi Stuart passar para o quarto que agora ele ocupava, no
mesmo andar que o meu e de nosso bebê. Por um momento, ouvi seus
passos se aproximarem, e eu tinha certeza de que ele viria até meu quarto,
talvez me beijasse de novo, talvez... mas não. Os passos foram para o lado
•••
Quando abri os olhos, Stuart estava ao meu lado sorrindo. Ele tocava
jogava os cabelos encharcados para trás, seu rosto era como de um deus,
seu maxilar, de mármore esculpido.
com a roupa de baixo. Devagar, entrei na piscina, mas, apesar do calor, senti
Lembrei como era me sentir protegida, desejada. Ele era tão grande,
como uma fortaleza ao meu redor. Eu amava sentir aquele cheiro, aquela
minhas pernas era avassalador e se espalhava para todo o resto do meu ser,
tomando conta de qualquer resquício de sanidade que eu ainda possuísse.
pertencia, mas era delicioso estar em seu abraço, com nossos quadris tão
próximos, pressionados um contra o outro, com nossas respirações se
chocando e línguas se movendo com intensidade.
aparecia ainda mais definido para mim. Ele era encantador, esplêndido...
minha cintura, abriu meu sutiã, me libertando da peça. Meus seios cabiam
perfeitamente em suas mãos e em sua boca, então ele me devorava sem
pudor. Eu gemia com o prazer da sua língua ao redor dos meus mamilos
Ele puxou minha calcinha e essa simples ação fez com que eu
respirasse fundo, sentindo a eletricidade percorrer meu ventre até o ponto
Abri meus olhos e percebi que tudo que havia em meus braços eram
os lençóis daquela cama enorme e fria. Meu coração doeu ao perceber que
eu estava sozinha mais uma vez, tão perto e tão longe dele. A umidade entre
as minhas pernas era real, eu estava tão molhada que tudo que conseguia
pensar era em me tocar imediatamente.
— Stuart — sussurrei.
encontrava.
Abri os olhos e vi o borrão que ele era, acordar daquele jeito era
eram tão verdadeiras! Eu queria nunca ter acordado daquele sonho, mas,
pelo visto, a realidade era minha única opção.
disso, apesar de só ter ouvido um tipo de murmúrio. Sim, ela disse meu
nome. Tentei não pensar muito sobre isso, mas a voz sôfrega dela volta e
de Annie. — Mas a Amy está chateada porque hoje nós temos que ir pra
escola.
reclamei.
com vocês.
como um pai. — Nós não vamos passear, Amy, apenas vamos checar se a
Giovana e o bebê estão saudáveis, coisa rápida, e logo nós estaremos de
volta.
— E quando nós vamos sair todos juntos? — dessa vez foi Lily quem
encurralado.
se ela estiver cansada, vocês vão prometer que não irão insistir.
— Mas é claro que eu adoraria sair com vocês. — Ouvi a voz dela
atrás de mim e meu coração reagiu disparando, como se eu fosse algum tipo
de colegial. Por que era tão difícil ficar perto dela sem esses sentimentos
poderia preencher aquele cômodo inteiro sem dificuldades. Ela possuía uma
matinal.
Giovana estava diferente aquela manhã, era notável. Ela não estava
somente bonita, mas exalava uma confiança que eu não havia percebido de
maneira pronunciada desde que o tio dela havia feito tudo aquilo. Era como
se, naquele dia, a essência daquela jovem mulher tivesse reaparecido, algo
que era próprio dela, apenas dela, e que a tornava tão cativante e única.
— Vejo que está usando as roupas novas — falei quando percebi que
ela vestia algumas das roupas que a senhorita Moretti havia comprado para
ela sob minha orientação. Aquelas peças eram um pouco diferentes do que
eu já havia visto em seu corpo, mas lhe caiam bem, era como se fosse uma
versão aprimorada dela mesma. — Essa cor cai muito bem em você. — A
blusa verde-petróleo contrastava bem com seus cabelos negros e, ao mesmo
suas aventuras semanais e reclamavam umas das outras. É claro que todos
têm defeitos, mas as minhas filhas sempre tiveram um ótimo
— Pai, você precisa falar pra Amy que as chances disso acontecer de
novo são pequenas — Annie falou com seu tom de quem entende as coisas,
antes.
— Viu só? — Lily comentou, mas seu tom era compreensivo, não
sabichão.
— Não adianta, eu nunca mais vou andar a cavalo! — Amy disse,
cruzando os braços.
Ali, eu entendi qual era o assunto. Desde que havia caído, Amy se
voltar por conta própria, mas era muito triste perceber que ela não tinha
nenhuma intenção de voltar, afinal, seria um desperdício enorme de talento.
Ele deve sentir sua falta... Aliás, como foi que você caiu?
medo, não sei o que houve, mas ele levantou as patas, e eu caí — explicava
com empolgação, gesticulando de forma expressiva.
— Talvez ele tenha sentido seu medo e tenha ficado com medo
também, é claro que não foi de propósito — Giovana disse, segurando a
mão de Amy, que franziu os lábios.
Era estranho ver uma cena como aquela de manhã. Eu estava tão
acostumado com sermos só nós quatro, então fiquei receoso, não queria
pensar que nós fôssemos alguma espécie de família. Giovana não fazia
parte daquela casa, ela era apenas mais uma pessoa aproveitadora no
mundo, e eu não queria que isso influenciasse minhas filhas. Não queria
•••
também era impressionante para mim, afinal, eu sabia que ela via bebês e
crianças o dia inteiro, mas, ainda assim, era capaz de olhar para todos com
enquanto eu já tinha tido que lidar com três bebês de uma vez só, embora de
duas babás, ela preferia fazer as coisas sozinha sempre que conseguia, só
ao mundo, ele já era um homem idoso, mas ótimo profissional. Ele afirmou
que tudo estava bem com ela, apesar da perda de peso, algo que foi
considerado normal, nada fora do esperado.
— Vejo que você está saudável e não há nenhuma alteração
importante nos seus exames, sendo assim, você já está pronta para algumas
atividades, como exercícios leves, pode começar com algumas caminhadas
por esse aval depois que Amber teve nossas filhas, mas demorou um pouco
mais, pois a gravidez com trigêmeas é sempre uma coisa complicada.
sexo não era prioridade na minha vida, e eu aprendi a viver, a maior parte
do tempo, sozinho. Pelo menos, até aquele momento.
morava no meu corpo quando eu era mais jovem, uma força quase animal,
poderia ter simplesmente chamado os médicos até a nossa casa, mas preferi
levá-los ao hospital, para sair um pouco, ver a cidade, dar uma volta, mas
ela não parecia feliz. Havia um sério problema de comunicação entre nós, e
ter contratado uma... assistente. Você não me consultou sobre nada disso.
apagar — completou.
— Eu não sou uma coisa, Stuart. — Ela não foi ríspida ou grosseira,
mas, ainda assim, as palavras delas soavam aos meus ouvidos como
pequenas farpas.
estava contendo uma resposta ácida, mas não conseguiu por muito tempo.
poderia ter feito muitas coisas, mas escolheu o caminho fácil. — Mais uma
vez o tom de voz dela era argumentativo, nada grosseiro, mas ainda assim...
Aquilo me desarmou. Ela tinha uma língua afiada e não tinha medo
de dizer o que pensava. A honestidade com a qual Giovana me atingiu me
causou mais irritação ainda, era como se fosse uma grande afronta. Eu
respirei fundo, porque não gostaria de acordar Paolo com uma discussão.
— Você também quis assim, então seja uma boa esposa — respondi
com simplicidade e a intenção era realmente provocá-la, o que funcionou e
Aquela era uma guerra que não teria vencedores, e nós sabíamos
disso.
•••
No horário da tarde, trabalhei e tentei compensar tudo que não havia
feito de manhã, mas precisei admitir para mim mesmo que estava
levemente distraído, para não dizer muito distraído. Há algum tempo minha
perfeita do universo. Não o peguei para não atrapalhar seu sono tranquilo e
apenas saí em silêncio.
e a luz que escapava por suas frestas, era o quarto de Giovana. Bati na porta
polido.
— Ok, então... Eu vou indo... Boa noite — falei um pouco sem graça
— Stuart.
clichê.
mão segurou sua nuca e assim ficou mais fácil de encaixar nossas
invadia sob a camiseta que ela usava, encontrando seus seios durinhos e
beliscando um dos seus mamilos de um jeito delicado, porque sabia que
deviam estar extremamente sensíveis.
ir embora, primeiro meu terno, depois a camisa, depois as calças, logo nós
estávamos ali, eu só de boxer, e ela com seu conjunto leve de shorts e
camiseta de dormir, que eu não demorei em me livrar também, até que nada
Deixei que meus olhos a fodessem primeiro, porque era isso que eu
estava fazendo enquanto via a pele firme de seu ventre bem desenhado,
admirar tudo aquilo que estava à minha frente. A puxei mais uma vez para
mim e uni nossos lábios, beijei, mordi, chupei seu pescoço, tudo com uma
voracidade fervorosa. Sua boca tinha gosto de menta e canela, era
irresistível.
entregue, seu jeito encantador, seus gemidos baixos... Ela era perfeita em
todos os sentidos, eu não queria pensar em nada além daquilo, pois havia
me lembrado da paixão com que nos entregamos na primeira noite em que
mesmo tempo em que ela agarrava meus cabelos e arranhava minhas costas.
Foi preciso muita força de vontade para não gozar rápido demais, até
o meu quarto.
Parte de mim gostaria de dormir ao lado dela, mas meu orgulho era
mais forte, então apenas saí, deixando para trás aquele momento de
fraqueza.
coisas boas que eu havia adquirido da minha própria família, como minhas
raízes eram tão bonitas e diversificadas. Meu pai tinha orgulho do fato de eu
ser fruto da junção de pessoas tão diferentes, como ele e minha mãe. Ele
sempre falava que eu era uma obra de arte, fazia com que eu me sentisse
uma criança muito especial.
educado, mas eu sabia mais sobre ele do que qualquer um. Sabia que ele
tentava esconder suas fragilidades, porque sua vida também havia sido
muito difícil.
que eles sobrevivessem quando eram mais jovens. A vida era dura e a
comida, escassa. Como mais velho, tio Tommaso sempre alimentava meu
pai primeiro e trabalhava desde muito jovem para ajudar no sustento da
casa.
de vez, afinal, eu teria todos os motivos para odiá-lo, mas saber que, em
algum momento, ele amou meu pai e ajudou para que estivesse vivo e
minha história.
para aquela casa e ver tanto luxo. Sempre que eu despertava, no primeiro
assim como meu estado de espírito, afinal, nos meses anteriores, foi como
se tudo tivesse sido arrancado de mim. É claro que eu não havia perdido as
ser.
Ver meu rosto tão reluzente me fez sorrir para mim mesma, eu estava,
carinhosamente por Claire, que cuidava tão bem dele. A moça era uma
doçura, além de ser muito inteligente. Meu filho a adorava e ria o tempo
Paolo. Ele era tão lindo, a imagem do meu pai e ao mesmo tempo de Stuart,
uma graça de se ver, e eu não cansava de observar essa semelhança com
toda a atenção.
sentiria o tempo todo por estar em uma casa que não me pertencia.
delas.
— Gio, que roupa você vai usar na festa de hoje? — era Amy que
nenhuma festa.
— Sempre que a família ganha um novo membro, nós fazemos uma
festa. — O tom explicativo da fala denunciava que era Annie quem estava
falando.
Eu olhei para ele com um sorriso bastante sem graça, e ele me lançou
uma expressão de sagacidade, como se tivesse vencido.
mesa. Às vezes, a forma com que Stuart agia despertava sentimentos que,
em geral, não faziam parte de mim. Ele me irritava quando se esforçava ao
máximo para fingir que eu não existia, embora, na noite passada, houvesse
Talvez fosse essa a vingança dele por eu tê-lo feito se sentir usado,
•••
Eu não poderia dizer que não gostava de Giulia Moretti, afinal, ela
tentava até mesmo falar comigo em italiano de vez em quando, mas
também não poderia dizer que gostava, pois as histórias de como ela havia
Eu nem sequer conseguia notar por que aquelas peças eram tão
valorizadas, afinal, eu sempre fui uma costureira razoavelmente boa e as
roupas que eu fazia tinham qualidade semelhante ou superior, mas eu não
dizia nada, pois não queria deixar a moça chateada com essas colocações.
encontro de família, por isso eu não precisava usar nada muito requintado.
forma despretensiosa.
nos olhos, mas o sorriso indulgente que recebi em resposta, como se aquilo
não fosse para mim, me deixou um pouco chateada, mas não me importei.
Infelizmente as pessoas das cidades às vezes não conseguem ver o potencial
— Não é tão fácil assim, mas, quem sabe, estudando muito, você não
inteiro.
— Não, está tudo ótimo, acho que estou preparada para o evento —
O vestido florido longo, porém, leve, que ela separou para mim era
parecido com meu gosto, o que me surpreendeu, pois ela tinha percepção,
apesar de o seu jeito, às vezes, parecer meio distante. A peça também tinha
uma fenda que partia da metade da coxa para baixo, o que achei meio
revelador, mas decidi experimentar. O decote era em forma de coração e a
cintura, marcada. Uma das roupas de que melhor me lembro, pois foi a que
— Mas eu preciso cuidar do Paolo, ele ainda não está pronto — falei
com preocupação. Meu filho era tão pequeno, e eu sentia o tempo inteiro
que precisava cuidar dele, mal dormia pensando se ele estaria bem.
arrumadas. Aquela era uma reunião de família simples para eles, mas, para
mim, parecia um grande banquete de luxo, o que me deixou muito feliz.
mim, mas ergui a cabeça e fui em direção àquelas pessoas, que agora
também fariam parte da minha vida.
tia Gerta falou com graça. — Essa é a Suzy, Giovana. Ela é esposa do Greg
e mãe da Ayo, que deve estar... Ah sim, acabou de sair correndo com as
trigêmeas — completou rindo.
pessoas.
— Meu Deus, você é tão bonita quanto o Greg disse! — Suzy sorriu
Ela tinha uma vibração tão alegre que fez com que meu otimismo se
de forma educada. Ele era muito gentil e me tratou com delicadeza desde a
primeira vez que nos vimos. — Olá, Giovana, nós já nos conhecemos.
era muito galante. — Meu nome é Josh, e você deve ser a bela Giovana. —
Ele me estendeu a mão para um cumprimento caloroso.
ele demonstrar que se importava comigo, por mais que, na maior parte do
tempo, eu tentasse me convencer de que ele jamais iria querer um
posse.
— Não liga pra esses idiotas — Josh falou, rindo sem graça, e eu
balancei a cabeça, rindo bastante da situação. — Finalmente chegou quem
grupo.
cumprimentou com dois beijos, como os italianos. Ele era o primeiro que
de ser.
assistir a filmes americanos, havia uns CD’s antigos do meu pai com filmes
sem legenda em inglês, e eu via mesmo assim. Meu amigo também me
ajudava muito, o senhor Giuseppe.
Falar o nome do meu querido amigo trouxe uma dor ao meu coração,
porque eu nem sequer havia tido tempo de digerir a morte dele, era muito
triste pensar naquilo, ainda assim, eu sentia que era uma forma de honrar
sua vida lembrar dele sempre que tivesse oportunidade.
— Com certeza ele devia ser uma boa pessoa — disse com cortesia,
pareceu perceber minha dor.
— Eu sinto muito, mas fico feliz em saber que você teve apoio. —
— Ele chegou! — uma voz estridente disse com animação. Era tia
Gerta que anunciava a chegada do mais novo herdeiro Silvestri, que descia
nos braços de Claire. Aquela movimentação quebrou qualquer clima de
tristeza e todos se direcionaram para onde estava o pequeno.
Eu estava aliviada por meu pequeno estar ali comigo novamente, mas
também havia um pequeno aperto no meu peito em saber que eu precisaria
aprender a compartilhar meu bebê, meu filho, com outras pessoas.
quando precisava cuidar de Paolo, sempre dizia que eu devia descansar, ele
era proativo e cuidadoso, assim como meu pai costumava ser.
Em certo momento, ele se voltou para mim, seu rosto parecia sereno,
tranquilo, bem diferente das expressões preocupadas do dia a dia.
— Acho que ele quer você. — Sorriu com afeto, um sorriso cheio de
criança tão pequena poderia usar aquilo tudo, mas, ao mesmo tempo, fiquei
muito feliz com a atenção.
Estava tudo muito bem até o momento em que decidi ir ao banheiro e
— Ele ficou muito chateado por você ter trazido uma pessoa estranha
pra dentro da sua casa — Dominic respondeu de maneira comedida.
diferentes umas das outras e com opiniões diferentes também. No final das
contas, quem precisava provar ser uma pessoa confiável era eu e assim eu
faria.
não havia tido tempo para conversar com meus irmãos sobre assuntos do
dia a dia, mas me surpreendeu saber que Bruce havia ficado chateado
comigo por causa do que aconteceu. Eu sabia que isso tudo era preocupação
e que ele não estava totalmente errado, mas, mesmo assim, queria que ele
compreendesse tudo que eu havia feito e todas as decisões que tomei.
Tentei ligar para ele durante a festa, mas não atendeu, devia estar
ocupado com suas próprias coisas. Era ruim essa sensação de divisão dentro
da família, pois sempre fomos unidos, pelo menos na maior parte do tempo.
a ser feito naquela noite, então voltei para perto daqueles que estavam ali
presentes, mas nossa primeira foto em família com Paolo não teria a
postura dela e sua doçura. Ela estava bastante tímida, mas conversando com
todos e cuidando de Paolo também.
tivéssemos passado pouco tempo juntos, não era difícil ler Giovana, seu
rosto era cristalino, ela era tão verdadeira e feroz, mas, ainda assim, um
pouco ingênua.
deixar de sorrir. — Eu sei que seu irmão não veio por minha causa.
tudo me sentia mal por ela, não queria deixá-la constrangida nem nada do
— Ah! Não se preocupe com o Bruce, ele é o caçula, sabe como é...
Meio mimado, meio implicante.
— Eu não acho que ele esteja errado com relação a isso. Eu sou uma
estranha e suas filhas vivem aqui.
— Eu não quero causar divisões entre vocês, ainda mais agora que
conheci sua família. Eu daria tudo pra ter uma família assim, tão grande,
— Bom, agora você faz parte de tudo isso. — Dei de ombros, porque
sabia que agora não havia como voltar atrás, Giovana já havia sido acolhida
pelos Silvestri e, mesmo que nós não ficássemos juntos no final da história,
me comoveu. Talvez nós pudéssemos nos dar bem, talvez eu pudesse lhe
perdoar em algum momento.
•••
indagação.
— Então quer dizer que na sua cidade não tinha nenhum shopping?
realidade com quem minhas filhas tinham contato era Ayo, minha sobrinha,
ainda assim não era o suficiente para que elas notassem que nem todo
ainda não tinham muita percepção sobre o mundo longe da vida que elas
mesmas viviam. Não era culpa delas, pois eu sempre fui muito protetor, eu
sabia que era eu quem estava fazendo o máximo para mantê-las longe da
realidade o máximo possível, ainda mais depois da morte de sua mãe,
embora talvez estivesse na hora de elas aprenderem um pouco mais sobre
humorada.
— Então quer dizer que você também nunca foi à Disney. — Lilly
continuava tristonha, e Annie, que naquele momento estava meio
desinteressada no assunto, despertou.
Quando a palavra “mágica” foi dita, as três me olharam com uma
expressão faminta, e eu sabia o que aquilo significava.
S.A.
viagem para a China no dia seguinte, caso precisasse. Elas não conheciam o
mundo, mas conheciam nossos próprios privilégios.
escadas.
bebê.
assustava um pouco.
•••
afinal, elas não me deixariam em paz caso eu não usasse as minhas também,
— Ali tem uma barbearia de verdade, nós vamos trazer o Paolo aqui
quando for o momento do primeiro corte de cabelo dele, aí ele vai ganhar
A cada ano aquele lugar se ampliava mais e nem eu sabia mais quais
eram as atrações atuais, apesar de irmos sempre.
Nós até abrimos mão da nossa dieta saudável para comer o cachorro-
quente mais clássico do Magic Kingdom, que elas adoravam, apesar das
outras dezenas de opções. Claro, nós também tomamos o sorvete do
olhávamos para todos os lados, pelo menos até olharmos um para o outro.
comunicar assim. Havia afeto, carinho, desejo, entre outras coisas não tão
Quando o Paolo for maior e vir essas fotos! — ela exclamou em uma
— Ele vai ficar apaixonado por você — falei sem pensar muito, mas
naquele momento, com algumas lágrimas, mas não quis perguntar o motivo,
afinal, ela tinha muitos para se emocionar e o sorriso em seu rosto mostrava
próximo passeio.
sugeri.
— Ah, então quer dizer que não fazem questão da minha companhia?
— Não é isso, papai, é que a gente sabe que o senhor odeia contos de
fadas! — ela disse ainda rindo, e eu não pude deixar de rir também.
aquelas histórias tão mentirosas, mas preferi não explicar, pois elas
•••
Ao final do dia, mesmo completamente cansado, decidi fazer uma
ligação. Por mais que não achasse que fosse direito de Bruce estar chateado
comigo, ainda queria que minha família permanecesse unida, então peguei
o celular e lhe fiz uma chamada de vídeo, que ele não demorou a atender.
— E aí? Como vai meu irmão quase mais velho? — disse com certo
bom humor.
— Melhor agora que você venceu sua partida — respondi com ironia.
preocupado.
Bruce.
apenas a sua vida, não a de pessoas que não escolheram por isso. Eu sei que
você não me deve nada, mas é um total absurdo que você tenha levado uma
estranha pra conviver com suas filhas, ainda mais depois de receber um
golpe.
A forma com que ele dizia aquelas palavras me fazia pensar que eu
realmente havia enlouquecido. Ouvir meu irmão caçula, que não era
nenhum exemplo de sensatez, falando coisas que faziam tanto sentido,
aumentava minha culpa.
revoltado. — O Greg foi viajar com uma pessoa que ele mal conhecia e tá
ok, porque, se ele morresse, seria problema dele. Nós iríamos ficar muito
tristes, mas ele é um adulto. Definitivamente não é igual.
— Bruce, eu vou te dizer algo que não falei pra ninguém, mas sei que
você não vai contar.
Pelo menos sobre isso eu não precisava me preocupar, já que Bruce
era o melhor guardião de segredos da família, talvez o único.
— Você vai dizer que eu sou louco ou qualquer coisa do tipo, que
isso é bobagem, imprudência, mas... Eu gosto dela. Eu sinto que essa moça
tem feito uma diferença positiva na nossa vida. Eu não vejo aquela casa tão
animada desde que... desde que Amber foi embora. É uma situação
complicada, e eu não vou negar que também sou uma pessoa complicada às
vezes, mas sei lá, é como se fosse uma oportunidade de mudar as coisas,
sorrisos. Eu acho isso bonito, queria ser assim, mas só posso admirar sua
qualidade e tentar colocar algum juízo na sua cabeça de vez em quando.
que eu te digo e preste muita atenção nessa moça, você precisa proteger sua
família.
— Eu sei, concordo com você plenamente. Não precisa se preocupar
com as meninas, porque meus funcionários de confiança ficam ao redor
— Você diz isso pra todos. — Ele riu com minha declaração. — Mas,
dramático.
com uma careta. — Mas pode acreditar que estou louco para conhecer o
novo homem da família.
resto da noite dividido (para variar), pensando sobre o dia agradável que
tive com minhas filhas, Claire e Giovana, mas, ao mesmo tempo, assustado
estrangeira que havia roubado o coração de todos com quem havia cruzado
até ali.
minha relação com Stuart não melhorou, afinal, o que eu esperava? Nós
havíamos passado uma noite juntos, não era uma promessa de amor eterno,
e eu entendia bem.
presente.
uma história como aquela se a vida do meu filho não estivesse envolvida.
meninas e Stuart, aquilo havia deixado meu coração feliz e feito com que
para trás.
sentia muita falta de uma rotina mais ativa, embora a tranquilidade também
enquanto Giulia desfilava com os modelos que havia trazido para mim.
— Você não sabe o quanto foi complicado, mas eu estou sempre
pronta pra desafios — ela se elogiava enquanto acariciava o tecido daquelas
roupas. — Você vai ficar tão linda. Eu escolhi esse para o coquetel de hoje
à noite.
gostar dela.
afinal, é seu debut. Você precisa mostrar que é uma leoa, que está pronta
para esse mundo louco e cheio de gente arrogante, você precisa empinar o
nariz e sorrir, porque, se você não fizer isso, será engolida por eles! —
comigo, ou, ao menos, com a figura que eu costumava ter de mim mesma.
O corpo daquela mulher estava envolvido por um tecido fino cheio de
carinhosamente.
Dessa vez o sorriso dela foi doce e acolhedor, era o olhar de uma
eu estava feliz.
perfeito com seu smoking preto, colete e gravata fina. Aquelas peças com
toda certeza haviam sido feitas sob medida e o caimento era maravilhoso,
clássico e impecável. A barba dele estava perfeitamente alinhada e seu rosto
parecia mais jovial do que nunca. Nós nos olhamos, ambos embasbacados.
de entregar uma joia de nossa mãe para nossas esposas. Não pense que é
algum tipo de costume arrogante de quem acha ser da família real — falou
bem-humorado, e eu sorri. — Só três dessas joias tiveram outras donas, essa
quarta era uma das favoritas da senhora Silvestri e acho que vai combinar
com você. É um colar de brilhantes, espero que você goste.
menos ainda a uma joia de família! Naquele momento, cada peça que eu
usava seria quatro vezes mais cara do que a casa em que eu morei com meu
•••
precisava me acostumar.
com as mãos, o que me deixava bastante feliz, pois ainda não havia chegado
gentil que nos oferecia um espumante, do qual eu nunca havia ouvido falar,
mas que com certeza era caro, muito caro. Tudo ali cheirava a dinheiro e,
aparência.
— Vamos lá, é agora que começa o show — Stuart disse baixinho
apresentava para aquelas pessoas das quais eu não recordaria do rosto, nem
do nome. As esposas eram as que puxavam assunto comigo, falando sobre
dizendo.
no meio das pessoas de verdade. Não pense que nós aqui somos vaidosos e
cheios de frescura. Meu pai era engenheiro por profissão, mas um grande
pude, enfim, escapulir para uma sacada que possuía uma vista incrível para
um jardim enorme abaixo. Aquele jardim conseguia ser mais deslumbrante
Eu não fiquei sozinha por muito tempo, logo um dos ricaços que
como Brassard. O homem tinha cabelos grisalhos e devia ter por volta de
uns quarenta anos, tinha um nariz avantajado e ele era bem alto, apesar de
— Jamais! Não foi isso que eu quis dizer, sinto muito. Você é
seu cabelo ficaria muito, mas bonito se você prendesse o lado direito,
afinal, todas as noites, na taberna do meu tio, eu cruzava com vários iguais.
Ele estava mais perto do que deveria e puxou uma mecha dos meus
fios, colocando-a atrás da minha orelha. Aquilo me arrepiou, e eu dei um
seu tipo.
respondi, saindo pela tangente. — Inclusive, acho que estou vendo-o por
Algo que aprendi sobre homens é que não importa a idade ou classe
social, boa parte deles consegue ter uma autoestima invejável e cometer as
piores atitudes, principalmente quando se trata das mulheres.
Já Stuart... Stuart não era assim. Eu percebia em seu olhar que ele era
Aquela foi uma longa noite, mas felizmente Stuart fazia o tipo
introvertido e não quis ficar lá até muito tarde, apenas o suficiente para
então ela viu Stuart, arregalando os olhos, mas ele a tranquilizou também.
tempo.
momentos.
lado.
levemente tímido.
Eu sabia bem sobre o que ele estava falando e, também, não queria
pensar naquilo.
— Eu sei — murmurei.
De repente, Stuart puxou um dos meus pés para seu colo e começou a
A forma com que ele segurava meus pés e alisava meus calcanhares
com delicadeza fazia meu corpo vibrar como uma sinfonia... Bastava aquele
homem se aproximar para desestabilizar minhas estruturas.
foi frio e distante comigo, cada vez que tentou me castigar pelos meus erros
com sua indiferença, mas aí passava, muito mais rápido do que eu gostaria.
você...
pensar com a cabeça, não podia apenas falar tudo que pensava. — Eu sei
que é difícil, mas você pode confiar em mim. Eu jamais faria algo que te
tudo que eu queria era provar que eu não era isso, não era apenas uma
golpista barata.
que essa sempre foi a melhor atitude. — Ele coçou o queixo e olhou ao
longe, como se pensasse, ele passava boa parte do tempo assim. — Eu
tento... Mas sempre acabo descobrindo de novo que tudo isso é um erro.
Uma agitação intensa tomava conta de mim, eu queria gritar, queria
correr, fazer qualquer coisa que tirasse a aflição do meu peito, mas havia
coisas que eu jamais havia aprendido, afinal, vivendo com meu tio, sempre
tive que me conter, guardar qualquer vestígio de raiva e agir como se nada
tivesse acontecido.
Em uns poucos segundos, apenas uma virada de cena, já estava sobre ele,
sentada em suas pernas, olhando em seus olhos. Com toda a coragem que
física, era uma sensação meteórica de paixão, desejo, euforia. Ela era muito
mais a mulher que eu havia visto através dos seus olhos na primeira vez em
que nos cruzamos. Aquela noite que perpassava meus pensamentos sem
nuvens do esquecimento.
tinha nada a ver com os encontros e casos que tive depois da morte de
Amber, porque eram sempre iguais, apesar dos rostos diferentes.
Sair com pessoas depois de ficar viúvo era sempre estranho e sempre
sem graça, como se eu nunca mais fosse encontrar qualquer coisa que me
mais aconteceria até ela estar ali, naquele instante, mais precisamente, tão
perto que nossas respirações podiam se tocar.
com que eu me sentisse ainda mais solitário, por isso resolvi que só iria me
casar de novo se algum dia encontrasse alguém que valia a pena, alguém
que fizesse bem para mim e para minhas filhas.
Ali estava ela com seu rosto encantador, voz de anjo e corpo quente.
O contraste esverdeado de seus olhos com sua pele terrosa, ela era como a
que ela usava estava enrolado, expondo parte de suas coxas, e eu não hesitei
perfeita.
Tudo que eu queria era tocar aquela mulher, por mais que, na maior
sentidos e sensações. Ela mordia meu lábio inferior e depois eu deixava que
minha língua traçasse uma reta exata em seu pescoço. Nós nos agarrávamos
sua mão e a levei até o banheiro, não sem antes pegar alguns preservativos.
— Você é bonito. — Sua frase foi tímida, mas seus olhos eram
— Sim — falou sem ar, me olhando nos olhos. Uma das minhas
mãos procurava o zíper da peça que ela vestia. Por que as roupas das
mulheres eram tão complicadas? — Vamos com calma, isso é Prada.
Não pude evitar uma leve risada com a forma que ela me chamou
atenção.
pode ficar no meu caminho, nem seu Prada — finalizei com desdém, e ela
sorriu, mas seu sorriso se tornou um resfolegar repentino quando, com
apenas um movimento, fiz com que ela se virasse para a enorme pia,
coberta por mármore. Ela se segurou sobre a bancada, e eu afastei os seus
A pele dela era suave, e eu a beijei com minúcia, bem devagar, até
como resposta. Afastei as coxas dela com as mãos, de maneira firme, mas
delicada.
mãos sobre a bancada e, com aquela bunda deliciosa empinada para mim,
deixei minha língua percorrer a parte interna da sua coxa de maneira
implorando por alívio. Tudo que eu queria era foder aquela mulher com
força, mas eu era detalhista também, então gostava de preparar o terreno.
Devagar, segurei aquela peça fina e apertada com cada uma das mãos
de um lado, então, em um movimento só, a rasguei ao meio, arrancando
dela, que mais uma vez deixava escapar um som ininteligível dos seus
lábios deliciosos.
Naquele momento, ela estava completamente exposta a mim, ainda
usando seu vestido chique. Suas nádegas nuas e macias que eu beijei com
cautela, agora puxando seu quadril, para que ficassem ainda mais
Após alguns minutos, fiz com que ela se movesse mais uma vez,
segurando suas coxas, então seu corpo estava virado para mim e sua boceta
na altura do meu rosto, a expressão de prazer tomando conta dela.
vez, ela não resistiu, liberando um gemido que foi quase um grito, o que me
fez continuar com ainda mais voracidade, enquanto ela esfregava a boceta
mais linda que eu já havia visto na minha vida na minha cara.
O tapa que desferi em sua bunda foi tão forte que o estalo soou bem
alto no banheiro e a marca da minha mão ficou ali quente e formigante em
seu rosto para que ela olhasse para trás, ela moveu a cabeça em
concordância, enquanto um sorriso perverso estava desenhado em seu rosto.
sensações mais primitivas ao meu corpo. Nós nos movíamos como se fosse
minha vida.
que parecia ter arrancado parte das minhas forças, fazendo com que meu
sua peça tão cara, com a qual, dessa vez, ela pareceu não se importar tanto.
Finalmente liguei a ducha, o que tinha planejado desde que havia entrado
ali, mas havia mudado durante o percurso.
Logo nós dois estávamos sob a água morna, perdidos em beijos
lado.
jeito mais calmo agora, até o momento que Giovana se aproximou mais,
colocando uma de suas pernas sobre a minha e levando sua mão até meu
sexo. A forma com que ela decidiu tomar a iniciativa várias vezes durante
concentrar no toque dela, que era um tanto delicado. — Não precisa ficar
com medo — falei enquanto colocava uma das minhas mãos sobre a dela
para guiá-la no ritmo e pressão, o que ela estava aprendendo aos poucos,
mas já fazia muito bem. — Isso... — sussurrei em um quase gemido.
curto, ela se levantou, colocando-se entre minhas coxas, seu rosto lindo sob
seus cachos molhados enquanto ela ainda segurava meu sexo em sua mão,
como um cetro de poder que ela controlava como quisesse. Depois foi a vez
enquanto a via tentar me engolir pela primeira vez, deslizando sua boca
macia pela extensão do meu pau sem nem pensar duas vezes.
continuando a chupar a parte superior com afinco, enquanto com sua mão
fazia movimentos na parte inferior. Sim, ela era boa nisso, um talento
natural que me tirava dos eixos com cada estímulo, pressão e olhar. Ela
preservativo na mesma gaveta que eu no outro dia. Seu olhar era lascivo e
ela sorriu com a expressão de quem comete diabruras.
meu pênis e depois se encaixava sobre mim, fazendo com que eu deslizasse
Ali, naquela cama, nós dois nos libertávamos e trazíamos tudo que
queríamos esconder durante o dia. A noite escura era o único véu que
cobria nossos corpos e emoções despidas. Era assim que nos entregávamos
•••
acontecido ao ver o corpo daquela mulher perfeita sendo esculpido pela luz
matinal. Ela estava de bruços e cada uma de suas curvas parecia mais
dignificada pelas sombras criadas pelo sol.
Eu havia dormido ao lado dela, algo que prometi a mim mesmo não
Quando dei por mim, Giovana me olhava com uma expressão vivaz,
preocupação.
Eu não sabia muito bem como reagir, nem o que dizer, esperava
apenas me despedir e sair para as atividades matinais de domingo, pelo
menos até ouvir várias batidas na porta que vieram acompanhadas de uma
gritaria inexplicável.
— Giovana!
— Gio!
— Nana!
Eram elas. Eu lembrei imediatamente que, naquele domingo, era dia
do clube dos escoteiros, ao qual eu levava as meninas quinzenalmente. Meu
sussurros.
estava cedo”, “a culpa toda foi da Annie” e “vocês são muito mal-educadas,
o papai vai brigar”.
estava ali, nem era o que eu havia dado a ela, pois estava em cima da mesa
de cabeceira.
— O que é isso? — perguntei, desconfiado.
Tive uma sensação de aperto no peito quando, mais uma vez, percebi
que aquilo era coisa dela e que ela continuava fazendo algo pelas minhas
Segui o som que ouvia e abri uma das portas do guarda-roupa dela.
Eu não devia ter feito isso, mas, mais uma vez, aquela fúria tomava conta
conseguia tirar da minha mente aquela ideia de que estava sendo enganado.
— Então vai ser assim, não é? Você não vai me dizer a verdade. Não
casa, você conhece todos os meus passos, o que quer mais de mim? —
Giovana dizia, exasperada, e eu me sentia cada vez mais irritado, decidindo
finalizar aquela conversa antes que as coisas ficassem piores.
— Muito bem. Se é assim que você quer, é assim que as coisas vão
ser — finalizei, virando as costas e pouco me importando se havia alguém
no corredor.
— Stuart! Por favor! — ela ainda disse atrás de mim, mas eu apenas
fechei a porta e saí.
acontecendo, por que ela escondia coisas tão pequenas de mim e por que ela
fingia gostar de mim, se, no fundo, eu era apenas um bom negócio.
Entrei sob a ducha fria, deixando aquela noite tão intensa para trás e
torcendo para que toda aquela raiva se dissipasse antes que eu precisasse
voltar para minha vida normal, onde minha preocupação mais importante
Stuart havia visto o celular que eu usava para falar com meu tio
Tommaso e aquilo fez com que meu coração quase explodisse dentro do
peito com o nervosismo. Ele não podia saber de maneira alguma que eu
ainda tinha contato com ele, pois pensaria que nós dois éramos uma espécie
disfarçar melhor, afinal, ele não sabia que eu possuía aquele aparelho, mas,
sido suficiente apenas para pagar a enorme dívida dele, pelo menos era o
que ele dava a entender.
meninas na sala.
O meu pequeno estava a cada dia mais lindo. Seus olhos eram duas
tornado uma mulher, e tudo que eu sonhava, ou planejava, incluía aquele ser
ideia de que jamais seria amada verdadeiramente por Stuart, ou até mesmo
recordava de todas as belezas que fui apresentada quando era pequena. Nós
tínhamos tão pouco, mas éramos tão felizes, e eu lembrava muito bem.
realmente pegar algo! — meu pai dizia em um tom didático, mas eu era
muito pequena para segurar com a força necessária. — É assim que se faz
ser boa o suficiente se não tiver essa qualidade — o senhor Paolo Grossi
explicava com tranquilidade e me olhava nos olhos de forma afável. Ele era
chato assim, você não precisa vir mais. — Ele dava de ombros de um jeito
— Vamos puxar!
Foi uma sensação incrível de ser importante e fazer algo maior do que eu
mesma.
Olhando para Paolo, eu planejava ensinar tudo sobre o avô para ele,
planejava levá-lo até a Itália, mostrar as coisas boas que existiam naquele
lugar. Eu gostaria que ele tivesse uma infância tão feliz quanto a minha.
Com um suspiro, quando ele já estava alimentado e praticamente
dormindo, me levantei com meu filho no colo. Eu sabia que, se tudo desse
certo, ele teria uma vida boa, o que era suficiente para mim, por mais que a
— Caramba, Gio! Pensei que você não ia descer nunca. — Era Amy?
vezes.
— Agora só falta o papai, pela primeira vez ele tá mais atrasado que
todo mundo! — Lilly falou impaciente.
— Alguém disse que eu estou atrasado? — Finalmente ele apareceu
com suas roupas esportivas de final de semana. O perfume dele era forte,
marcante, refrescante sem ser exagerado, e trazia memórias.
Era estranho ver Stuart daquele jeito — uma sensação rastejava sobre
a superfície da minha pele e todas aquelas sensações me provocavam um
— Vamos, nós temos muito o que fazer hoje, princesas. — Ele sorriu,
bem-humorado.
Com a nossa pequena discussão pela manhã, eu achei até mesmo que
a postura dele seria diferente comigo, mas não, ele parecia reluzente, bem-
humorado.
Era estranho quando eu me dava conta de que Paolo não era mais
apenas meu. Eu queria protegê-lo de tudo e todos, mas outras pessoas já o
amavam e queriam estar por perto. Eu não pensava muito sobre isso, mas,
— Nós ainda somos lobinhas, porque ainda não fizemos onze anos
poder ajudar — Lilly dizia com seu jeitinho fofo de sempre, ela era sempre
adorável.
— Eu até acho legal, mas, se tiver que fazer respiração boca a boca,
riram, é claro.
Depois das atividades das meninas, nós fomos até a sorveteria favorita
sobre aquela família, e Olívia já estava com eles havia muito tempo, apesar
de jovem.
com crianças.
— Sim, sempre. Ele tem adoração por essas meninas e agora por essa
coisinha linda — disse, apontando para o neném, que dormia tranquilo. —
É claro que, no começo, não foi fácil, mas, ainda assim, ele se esforçava ao
máximo.
— Imagino! Se cuidar de um bebê já é difícil, me questiono como
seria com três — falei, sem poder sequer cogitar essa ideia.
apaixonados por aquela mulher que era difícil lembrar-se dela sem se
entristecer. — Mas você não tem que se comparar com ela. — A moça se
virou para mim de um jeito compreensivo. — Vocês duas são muito
a única possibilidade.
meus olhos. Ele pegava Paolo nos braços e o levava para passear longe de
mim, evitando ficar sozinho ao meu lado de qualquer forma.
•••
explicava, e eu me sentia esquisita. Por que alguém iria querer saber algo
sobre a minha vida? Aliás, eu não era bilionária, nem nunca seria, nada
daquilo me pertencia.
perguntarem quem está por trás disso, tudo você vai dizer: minha assistente
noites.
salto inicial.
tom dela agora era mandão, e era essa parte dela que eu detestava.
acontecendo. Giulia era esperta, pegava tudo no ar, era ácida, inteligente e,
espero que você não acabe como uma esposinha medíocre e totalmente
— Giulia, acho que agora você tá indo longe demais — falei em tom
irritado, por que todos achavam que precisavam decidir por mim ou tomar
Eu poderia pedir para que Stuart mandasse Giulia embora, mas ter
alguém que era tão honesto comigo, a ponto de às vezes ser cruel, era algo
existia alguém ali que não iria só me bajular o tempo inteiro, como a
maioria das pessoas.
haver de errado nisso? Eu só queria retribuir todo o carinho que elas tinham
por mim.
que elas ficaram totalmente empolgadas, estavam na fase que tudo era festa
e adoravam a companhia dos adultos. Exceto Amy, que parecia um pouco
triste ao saber que eu as acompanharia. Ao chegar lá, descobri o motivo: ela
estava fugindo das aulas desde que havia se recuperado da queda. Certo dia,
no café da manhã, nós havíamos falado sobre o assunto, mas ela ainda não
tinha conseguido superar aquela situação.
Dizia que eu não tinha modos, que devia carregar carga que nem um
jumento. — Eu ri levemente, mas Amy me olhou impressionada, e eu me
arrependi de ter contado aquilo para ela, ela era só uma criança. — Mas era
que os seres selvagens também têm coração, também amam. Você nunca
machucou alguém que amava sem querer? — perguntei, e ela se pôs a
pensar.
mais vá cair, mas posso prometer estar aqui pra te ajudar a levantar —
completei com um sorriso sincero. Os olhos da menina estavam reflexivos,
a expressão dela era taciturna. — Promete que vai pensar? — insisti, e ela
dormia de novo — uma bela vida. Até certo momento em que Amy se
levantou do banquinho e começou a olhar fixamente para as irmãs.
— Acho que eu preciso ir até lá, quem sabe eu não ajudo essa cabeça
de vento — pronunciou, me fazendo sorrir imediatamente, afinal, isso
queria dizer que... — Eu vou tentar montar o Júpiter de novo hoje —
demais e julga a todos por suas profissões, aparências ou pelo lugar onde
vivem.
meu pai ainda estava vivo e meus irmãos ainda eram adolescentes, exceto
poderia resolver.
Meu pai não era uma pessoa agradável e adepto dos castigos físicos,
embora Dom e eu tenhamos fugido um pouco dessa fase. O que mais sofria
com tudo isso era Greg, gêmeo de Josh. Saber que Gregory estava sofrendo
Eu queria poder levar todos os meus irmãos embora daquela casa, ou,
ao menos, fazer com que meu pai desaparecesse. Quando eu não conseguia
proteger meus irmãos, simplesmente fugia para tentar fazer coisas normais.
cafés, lojas, bares, sempre tentando tirar a vida em casa da minha mente.
já havia passado e eu estava tentando ter uma vida independente, por mais
que me sentisse mal por saber que meus irmãos mais novos continuavam
já estava solteiro mais uma vez — pelo menos até encontrar aquele olhar de
novo.
lado de Amber era como andar em nuvens, diferente de qualquer coisa que
eu já tivesse vivido antes.
É óbvio que meu pai não concordava com aquilo, pois ela era apenas
uma pessoa comum, uma professora que havia lutado muito para conseguir
estudar, que tinha uma família simples, sem posses, e havia sido criada pela
mãe e pela avó. A avó faleceu pouco tempo depois de nós nos
conhecermos, algo que a atingiu de maneira muito forte.
Quando meu pai estava em casa, era como se tudo fosse frio e triste,
por isso, quando conheci a afeição de Amber, decidi que não me afastaria
mais dela.
— Você acha mesmo que nós devíamos nos casar assim tão rápido?
— dizia enquanto conversávamos deitados na sala de estar do meu
apartamento.
— Eu quero que você tenha tudo que sempre quis — dizia a ela com
honestidade.
Nós não planejávamos ter filhos, não tão cedo, mas, em certo
Tudo que meu pai havia feito conosco durante a infância e juventude
difícil.
— Então quer dizer que nós vamos ter três meninas?! — perguntou
felicidade e medo.
estava sempre preocupado com ela, ansioso para que as meninas nascessem
logo para que ela pudesse recuperar sua saúde e nós pudéssemos ter nossa
gravidez de trigêmeos, a gestação nunca vai muito longe, por isso elas
nasceram com quase oito meses. Felizmente tudo correu muito bem e
nova casa.
tranquilo. Tudo estava preparado para receber nossas meninas e com muita
muito para amamentar as três pelo menos até os seis meses, mas, em certo
mais complicada para nós, reles mortais. Quando uma delas chorava, ela já
nossas filhas eram a inspiração e motivação para ela, mas nosso pequeno
chegamos a pensar que poderia ser uma nova gravidez. Mesmo nos
protegendo, ainda poderia haver a chance e foi isso que nos levou ao
médico mais uma vez. Mas o resultado foi negativo, e nós respiramos
aliviados, afinal, seria uma loucura cuidar de outro bebê quando já tínhamos
Minha mulher, sempre tão vivaz, começou a perder peso e a não ter
nossas filhas. Nós não quisemos acreditar que poderia ser algo grave, ela
sempre foi perfeitamente saudável e ativa, mas nada daquilo era normal,
então, mais uma vez, fomos ao médico.
a dia, mas que eu conhecia muito bem, afinal, minha mãe também havia
tido a mesma doença, não no mesmo lugar, nem da mesma forma.
abracei Amber para lhe dar forças, e ela chorou apenas um pouco, mas
chorou.
mundo, ela aceitou todos os tratamentos, por mais que eles a deixassem
completamente debilitada. Amber queria viver mais pelas filhas, eu via na
forma com que ela olhava para as meninas, ela só queria ver as filhas
crescerem e creio que foi isso que a motivou a lutar tanto, mas o corpo dela
não suportou muito mais que dois anos.
Minha família me apoiou como pôde, mas não era uma batalha que
alguém pudesse enfrentar por mim. Era difícil manter a postura otimista
para não atingir minhas filhas com a tristeza que me destruía por dentro,
Até o dia em que Amber começou a passar mal. Ela estava muito
fraca quando eu percebi que talvez fosse a última vez que nos
Aquele foi, com toda certeza, um dos piores dias da minha vida,
competindo com o dia que soube da doença e morte de minha mãe. Eu não
sabia o que pensar, não sabia como agir, já não possuía lágrimas e estava
em choque. Todos diziam que ela havia descansado da dor, mas eu a queria
ali comigo e com nossas filhas. Eu queria que ela estivesse com elas no
Minhas filhas estavam perdendo a mãe — mais cedo do que eu, tão
bens materiais que alguém poderia imaginar, mas, ainda assim, perdíamos
as coisas que realmente importavam.
não suportava olhar para aqueles olhos e saber que eles nunca mais iriam
brilhar para mim, eu não tinha forças suficientes para pensar naquilo sem
desabar, então tentava fugir sempre que podia.
O tempo passou e, com ele, a dor foi ficando cada dia mais tímida. É
claro que a perda não foi superada, mas nós encontramos caminhos para
seguir em frente, para sobreviver. Ter minhas filhas comigo sempre foi o
maior apoio que eu poderia desejar, o abraço delas todos os dias era o
lo em meus braços, mais uma vez eu senti o alívio assim como quando
abracei minhas filhas após o falecimento da minha esposa. Era como se,
pelo menos ali, as coisas continuassem corretas, como se a vida ainda
tivesse um propósito.
A mulher que havia trazido essa nova parte do meu propósito estava
agora importante para minhas filhas e para a minha família também — era
aproximando de nós tanto assim era assustador, algo novo demais, muito
nós em nosso pequeno mundo, mas as coisas não poderiam mais ser iguais
e era sobre isso que eu refletia todos os dias desde que toda aquela confusão
havia começado.
torcia, enquanto Paolo estava em seu colo. O sorriso dela era tão bonito, ela
parecia tão feliz, de um jeito tão natural e ingênuo que eu mal podia
compreender, pois era algo que eu já não sentia há anos. Minha mente
insistia em perdoar Giovana, por mais que eu soubesse que ela não era
inocente. Não havia muito que eu pudesse fazer, então apenas me
aproximei.
ela olhou para baixo, estava pensativa, mas logo se voltou para mim com
uma resposta.
— O dia estava tão bonito, eu quis trazer o Paolo para dar uma volta.
que ele sempre faria parte de mim, afinal, era um mecanismo de defesa para
quem já havia sofrido muitos impactos, de qualquer forma, eu precisaria
aprender a lidar com isso e talvez dar uma trégua naquela guerra particular.
Pelo menos por enquanto.
misterioso livro.
— Olá, meninas! — Eu sorri com paciência, e elas estavam indecisas
sobre me chamar para ficar mais perto ou não, o que era muito estranho,
afinal, elas sempre pediam pela minha companhia.
um reflexo.
concordei.
que as coisas estavam mudando, por isso tentavam não perder o que já fazia
luxuosa. Era estranho ver tudo aquilo e lembrar como meu casamento com
Stuart havia acontecido — ele nem sequer havia olhado para mim.
desejaria que o dia do meu casamento tivesse sido daquela maneira, embora
Tommaso voltou à minha mente. Ele havia feito com que eu tivesse medo,
perverso.
meus desejos, mas eu me sentia impotente sabendo que Paolo poderia sofrer
qualquer coisa.
— Menina, você nunca mais vai ver o seu filho se não aceitar o que
eu estou dizendo — explicava como se fosse óbvio. O quarto não era
— Eu vou entregar seu filho ao estrangeiro e você nunca mais vai ver
essa criança. Você sabe que ele é rico? Bilionário! — Meu tio Tommaso
parecia contente ao pronunciar as palavras. — Não vai aceitar que o filho
dele viva aqui, nessa pocilga, e vai ser muito fácil pra ele tomar a criança de
você, por isso não vou me dar ao trabalho de lutar, vou entregar o menino, e
você vai ter que aceitar, ou prefere que seu precioso filho fique aqui e passe
fome com você?
— Não, titio! O senhor não vai fazer isso! Eu nunca permitiria que
meu filho passe fome! — disse aos gritos enquanto segurava Paolo no colo,
como se pudesse protegê-lo do mundo, como se fosse capaz de salvá-lo
daquele mundo terrível.
meu pai me explicou que o dinheiro movia o mundo e que era muito difícil
viver sem ele, que quem o possui tem todas as vantagens.
e a mim também, pois nem sabendo da gravidez dela mudaram de ideia. Por
isso, sempre tive receio das riquezas, pois, às vezes, elas cegam as pessoas e
acabam com o caráter de algumas.
Eu tinha medo de que Stuart, por mais doce que ele aparentasse ser,
utilizasse seus privilégios sociais para levar meu filho, por mais que eu não
quisesse acreditar que ele seria capaz.
despesas.
pois sabia que seu plano era ótimo e que sua ideia tinha grandes chances de
funcionar — e funcionou.
aquele era também o efeito dos comprimidos que meu tio me oferecia e eu
acabava aceitando para acalmar minha ansiedade, resultando em um
que você precise falar com o homem e, quando isso acontecer, precisa dizer
as palavras certas.
Naquele instante, eu comecei a imaginar que aquele plano do meu tio
seria uma via de escape, afinal, eu estava mais enredada do que nunca. Era
vergonhoso, mas era um mal necessário para salvar meu pequeno.
— Diga que ele só vai ver o filho se concordar com o casamento, que
você precisa de uma garantia de que ele não vai fugir das suas
responsabilidades.
acontecendo.
identificar.
Eu sempre fui ingênua com meu tio por causa da sensação que ele me
trazia, a sensação de que uma parte do meu pai ainda estava viva, como se
meu pai. Meu pai havia partido, e eu precisava aceitar e seguir em frente.
entender as coisas.
— Me parece que ela era uma ótima mãe. — Sorri enquanto via
aqueles rostinhos sérios e preocupados. — Vocês não precisam se preocupar
comigo, eu sou amiga de vocês e sempre vou fazer de tudo pra que essas
insegura, mas, ao mesmo tempo, eu imaginava que o que havia entre nós
era muito forte, pois ele jamais teria aceitado minha presença ali se não
houvesse um propósito.
algum momento, que aquele jogo doloroso iria ser deixado para trás, que o
redor e principalmente aquelas crianças, que, como eu, haviam perdido uma
das coisas mais preciosas para alguém que é a própria mãe. Eu sentia um
dele que eu conheci pessoas boas e que agora eram importantes para mim,
além de ver Paolo tão tranquilo era o suficiente para que eu tivesse forças
bom humor. — Mas quero sim! — concordei com animação e fomos para
Eu não sabia fazer nenhum salto ainda — Amy explicava com os olhos
brilhantes. Ela tinha muita paixão dentro de si.
— Então você precisa ir. Vou pedir pro papai levar a gente, com
certeza ele vai concordar! — Ela sorriu, animada.
são de quando a gente nasceu. — Ela parecia contente com aquele álbum e
entregou em minhas mãos.
pôde estar ao meu lado quando Paolo nasceu, teria sido um momento lindo
e memorável.
— Meu pai disse que minha primeira palavra foi abelha! — Lilly
— É, mas não era pra ser — Amy falou com naturalidade, e eu não
pude deixar de rir, era engraçado ver uma criança dizendo esse tipo de
coisa.
— A Lou e o Matt disseram que foi melhor assim, então deve ser
verdade. — Annie deu de ombros, e eu não tinha nenhuma palavra sábia
para acrescentar, então apenas deixei que o assunto se esvaísse enquanto
fazia muito tempo que eu não me sentia assim tão em casa, mais em casa
até do que quando vivia na pensão do meu tio.
— Eu espero que esses copos de suco tenham ficado bem longe dos
— Sinto muito por isso. — Ele coçou a testa e se ajoelhou para olhar
Paolo, beijando a testa dele com delicadeza. O pequeno dormia, e Stuart se
demorou, admirando a cena. — Às vezes, eu preciso colocar limites —
bebê. Mais uma vez as palavras dolorosas de meu tio Tommaso tomavam
conta da minha mente, e eu rememorava o quanto ele havia me pressionado.
Antes de ir embora, ele disse para mim que levasse um celular e que
eu nunca deveria deixar que Stuart visse. Ele faria isso porque nós éramos
uma família apesar de tudo, não podíamos nos separar completamente, mas,
nas últimas semanas, tudo que ele fazia era ligar para me pedir dinheiro, e
eu já não tinha praticamente nada na conta que Stuart havia feito para mim
e depositava um valor semanalmente para minhas despesas pessoais.
Refletindo bem, eu chegava à conclusão de que não podia viver
minha vida inteira sob aquela manipulação, não podia viver à sombra de
alguém que jamais me amaria, que nunca sentiria por mim o que eu sentia
por ele. Não, ele nunca seria meu pai. Eu disse a mim mesma mais uma vez,
pois era difícil me convencer.
até que eu adquirisse coragem, mas depois de lembrar mais uma vez de
tudo que eu havia passado, desbloqueando memórias que eu me recusava a
trazer à tona... eu sabia que tinha que fazer.
Fechei meus olhos e o rosto dele estava ali me assombrando.
tentava convencer meu pai, que, nesse dia, quase o agrediu fisicamente, mas
não o fez por ser a pessoa mais amável que eu conhecia.
tentasse enterrá-las.
Mais uma vez repeti mentalmente: esse homem não é meu pai.
sendo o melhor pai possível para minhas filhas, embora sempre me sentisse
inseguro quanto a isso, afinal era doloroso cuidar delas sem o apoio de
Amber. Meus irmãos estavam sempre ao redor de nós quatro, assim como a
A presença de Giovana trouxe muito mais vida para aquela casa e era
como se aquele vazio ainda existisse, mas fosse muito menos agonizante.
Eu podia me recordar como era terrível voltar para casa nos primeiros dias
também nunca me trouxe boas memórias, pois era a casa onde crescemos
com nosso terrível pai. Então logo voltamos e eu cogitei vender a mansão,
mas as meninas eram muito pequenas e já teriam que lidar com a perda da
força vital.
Depois de um ano, eu tentei voltar a me relacionar com as pessoas,
mas era como se eu tivesse esquecido como se fazia esse tipo de coisa, além
conclusão de que devia ficar sozinho, e talvez fosse melhor assim, porque
nenhuma mulher poderia viver na casa em que a mãe das minhas filhas
viveu.
jovem e que não tinha motivos para desistir de me relacionar e outras coisas
tornado muito exigente e não havia cruzado com uma mulher sequer que
fizessem meu coração se abalar minimamente.
era muito complicado abrir meu coração pra qualquer pessoa, como se isso
fosse me trazer algum tipo de sofrimento. Minha única preocupação era
precisava estar sempre um passo à frente e, quando elas tinham uma gripe
sequer, isso me desestabilizava, embora eu sempre escondesse das outras
pessoas.
como se isso fosse uma traição com Amber, e era difícil vencer esse
bloqueio.
— Então por que até hoje você não se casou de novo? — rebati certa
vez.
pessoas, tentar encontrar alguém para compartilhar a vida, mas isso acabou
por se tornar uma atividade de risco, principalmente porque as meninas
tinha uma mulher completamente irritada comigo que nunca mais falou
comigo.
onde minha amiga deveria ir. Isso aconteceu depois de outros diversos
problemas como molhos caindo em peças de roupas e comentários como “o
Nós tivemos uma conversa muito séria sobre como aquela moça
poderia ter se machucado de verdade naquele dia, e elas ficaram de castigo
por uma semana. Esse foi o ápice para mim, então, resolvi simplesmente
continuar sozinho, afinal, queria poupar nossa família desses pequenos
dramas.
mais complicadas de toda minha vida — mesmo para mim, que tinha que
convencer acionistas e investidores de todos os países, pessoas instruídas e
— Não, eu... — Eu não sabia o que dizer. Eram apenas três crianças
ter um irmãozinho. — Gregory tentou ajudar, mas eu temi que tivesse sido
direto demais.
— É isso que vocês estão ouvindo. Agora ele vai precisar viajar pra
— Sim.
— Não.
Gregory e eu afirmamos e negamos ao mesmo tempo, as meninas
ficando ainda mais confusas, e eu sem saber como dizer qualquer outra
coisa.
“o”.
só poderia significar algo bom, afinal, eles não costumavam errar com
assim como souberam que Amber também era, apesar do meu pai sempre
Eu precisava dar algum crédito aquela mulher, ela era um ser puro
que havia sido manipulada por um homem cruel, o homem que a criou por
quase toda a vida. Todas as vezes em que eu chegava e ela estava com
No final das contas, eu sabia que não queria viver sem Giovana, eu
ela tinha com todos ao seu redor e da forma com que ela se preocupava em
conversar da mesma maneira com pessoas ricas e pessoas menos abastadas.
Eu não podia fingir não ver como as coisas haviam mudado para
Giovana era uma peça rara, como se tivesse sido colocada em meu caminho
alguns momentos, ela tenha que ter deixado certas amarras morais de lado,
apenas porque precisava sobreviver. No final, ela era apenas uma menina
severos para ela em diversas ocasiões. Pensei que talvez eu devesse relaxar,
Mas ali não havia estrelas se comparado àquele pequeno vilarejo tão
mágico.
necessidades dele.
— Não vejo motivos pra que você me agradeça — ela falou com seu
jeito simples, e eu olhei para o alto antes de encontrar seus olhos mais uma
vez.
Com ela, era tão fácil. Quando nós não nos lembrávamos do passado,
conseguíamos rir com uma facilidade tão grande, que era até esquisito. —
espertas, amáveis...
— Sim, mas, ainda assim, elas parecem... Como dizer? Bem mais
felizes e animadas. Elas acordam pensando no próximo desafio do dia, mas
— Eu não consigo imaginar uma coisa dessas — ela dizia com uma
— Pois saiba que essas anjinhas nem sempre são tão anjinhas.
como se houvesse alguma coisa no ar, como se ela quisesse dizer algo e
sobre a vida de vocês. Sempre fico com medo de parecer uma intrusa para
elas, mas elas me tratam tão bem, como uma amiga de verdade.
dá muita atenção, algo que elas adoram — expliquei como se fosse simples.
elas não se sintam tão mal, vou ser a pessoa mais feliz do mundo.
compartilham esse aspecto em comum, assim como eu, que também não
cresci com minha mãe. É como se nós todos estivéssemos conectados de
pode ser que tenham a sorte de crescer ao seu lado também. Esse
comentário iluminou o rosto de Giovana, que corou imediatamente. — Eu
nem que isso só seja explicado de uma maneira sobrenatural, nunca deixaria
você aqui convivendo com minhas filhas todos os dias. Seria estupidez e
criancice da minha parte não admitir. Eu só tenho medo de que essa minha
quanto aquelas.
— Não, Giovana, por favor... É por isso que a gente sempre acaba
brigando. Essas memórias, eu não quero lembrar isso.
— Sim, sinto tanta falta que chega a doer. Eu sinto o cheiro das uvas
todos os dias quando acordo e, quando olho pela janela, espero encontrar o
riacho que serpenteava pelo vilarejo. — A forma como ela descrevia era tão
apaixonada que eu não conseguia parar de prestar atenção.
— Então isso é algo que eu quero fazer por você — eu disse com
carinho enquanto estendia uma das minhas mãos para segurar as dela.
O olhar dela era vivaz, como alguém que acaba de descobrir algo
muito bonito e quer admirar por mais tempo. Nós nos aproximamos
Eu não sabia que sentia tanta falta da Itália até voltar. Era como se
eu adorava observar.
O que mais me deixou feliz entre tudo era o fato de estar ali com
Paolo, porque, apesar de pequeno, ele também pertencia àquele lugar, assim
como eu.
Apesar das quase dez horas de viagem, eu me sentia revigorada por
sorrindo.
bonitas, mas tudo que vi até agora é de tirar o fôlego. — Ela estava
enquanto nos dirigíamos para o elevador e eu só pude rir. Era difícil para
mim ver beleza em qualquer homem quando tinha Stuart ao meu lado, mas
responsável.
Estar ali, naquele lugar, olhando para todos os lados, fazia com que eu me
independente de mim, era complicado me afastar dele nem que fosse por
alguns minutos.
convivência. Estar nos braços daquele homem acelerava meu coração, mas,
ao mesmo tempo, acalmava minha alma.
esses dias.
Aquela era uma nova fase para nós. Sem olhares estranhos, sem
acusações, era como se Stuart estivesse dando uma chance para os seus
próprios sentimentos, e isso me fazia muito feliz.
— Infelizmente vou ter que sair para uma reunião de negócios, mas
amanhã o dia será todo nosso, o que acha? — disse enquanto afagava meus
ombros.
mesmo lugar.
eu mesma.
Depois de me perder em pensamentos, acabei por chegar a uma
decisão, então fui até o quarto de Claire, que era ao lado do nosso e,
também, possuía um berço, assim como o que reservamos.
— Senhora Grassi...
desesperados.
pai, que não vou deixar isso acontecer. — A coisa mais importante para
mim sempre foi a lembrança que tinha do meu pai; eu nunca mentiria sob o
nome dele.
eu a abracei.
— Muito obrigada, Claire!
•••
Eu sabia que sair sem avisar Stuart não era a coisa mais prudente a se
fazer, mas, se eu lhe contasse o que eu pretendia fazer, ele com certeza
tentaria me impedir, e isso era algo que eu não poderia permitir, afinal,
aquela era uma oportunidade única — eu não sabia quando visitaria a Itália
novamente.
bem o lugar. Logo percebi também que meu celular estava sem sinal, como
de sair daquela maneira, ainda mais sabendo que poderia provocar uma
reação ruim em Stuart, mas eu precisava estar naquele lugar mais uma vez.
Eu queria muito ir até o vilarejo, mas a primeira parada que fizemos
linda! E Paolo, meu Deus! Está enorme e perfeito! — falava alto enquanto
Estar ao lado da minha amiga fez muito bem para mim, embora agora
amava.
carinho.
— Um pouco, mas estou feliz — eu disse enquanto olhava para
Havia alguma coisa da qual ela sabia, alguma coisa que não era boa.
enquanto uma parte de mim, apesar de tudo, ficava aliviada em saber que
dele foi levado. Ao que parece, ele planejava fugir e não pagar Salvatore
por aquela dívida. Quando você foi embora, ele conseguiu um prazo maior
e disse que pagaria aos poucos, mas o plano era realmente ir embora daqui e
questionando o que meu tio estava fazendo com o dinheiro que eu havia
enviado para ele, além da boa quantia que com certeza Stuart havia lhe
dinheiro suficiente para pagar a dívida e ainda viver bem! Por que ele faria
isso?
— Tommaso sempre foi assim, Nana, sempre quis mais, mas nunca
isso por ter tido uma infância difícil e por já ter sofrido muito na vida. Eu
achava que ele um dia cairia em si e passaria a valorizar as coisas pequenas
da vida, mas ele nunca iria mudar — foi o que eu descobri da pior forma.
seco.
— Parece que fraturou umas costelas, mas nada muito grave, está se
— É claro, é só dizer.
•••
O vilarejo não parecia ter mudado muito desde a última vez em que
estive lá. Na realidade, nada havia mudado, era como se o tempo ali
passasse de maneira mais lenta, era até estranho para mim, depois de
observar a rotina frenética das pessoas em minha nova casa.
Acendi as luzes e senti uma aura pesada quando olhei para todos os
lados do salão. Aquele era o lugar onde eu trabalhei durante minha infância
e juventude. Agora, mais madura, eu conseguia perceber que aquilo não era
trabalho, e, sim, uma forma de escravidão. Suspirei aliviada ao saber que
ainda era vivo: o escritório de meu tio no porão. Então foi para lá que eu me
dirigi, pois era a única parte do prédio que eu desconhecia.
por perto, sempre me ameaçando de ganhar uma surra, caso entrasse ali.
Mas lá eu estava, e ele nunca mais iria me agredir.
lâmpada. O lugar não parecia ter nada de especial, na verdade, era um tanto
claustrofóbico, até mesmo desagradável e úmido. A mesa dele estava cheia
de papéis e, ao lado, garrafas de vinho vazias se amontoavam, meu tio
Quanto mais eu olhava para tudo aquilo, mais achava coisas que eu
não conseguia explicar, como diversas fotos de minha mãe e meu pai. Ao
encontrar aquilo, não pude abafar a emoção e impedir minhas lágrimas.
Meu tio sempre dizia que possuía poucas fotos deles, pois éramos pobres
demais para esse tipo de lembrança. Ele só me deu algumas fotos dos dois
porque eu insisti muito e, apesar dos castigos, não desisti. Acho que ele me
que era. Quando abri, foi difícil conter minhas emoções, eu senti como se
pudesse desfalecer a qualquer momento: ali estava dezenas de cartas
enviadas pela família de minha mãe, minha família!
descobria mais um dos seus golpes. Era difícil até mesmo ler, eu estava
tomada pelo ódio e pela raiva por uma vida que havia sido tomada de mim.
Eu queria me controlar, mas levei alguns minutos até conseguir, com
contato e que eles não precisavam guardar o quarto, nem nada do tipo. Eu
me arrependi amargamente de não ter colocado um homem na frente do
sido tão ingênuo e levado Giovana para matar a saudade de sua terra natal, e
ela ter correspondido fazendo alguma bobagem, não é verdade?
acalmar. Giovana não faria algo do tipo. Não era ela que era má, e, sim, o
tio que a coagiu durante toda a vida, eu sabia disso! Ela não fugiria com
nosso filho, ainda mais levando Claire.
comunicando com ele esse tempo inteiro, por isso parecia tão culpada
uma memória agridoce ouvir o som do riacho, ao mesmo tempo em que era
Eu bati na porta com força, mas ninguém veio atender. Era estranho,
porque aquele lugar estava sempre aberto. Pensar que não havia qualquer
me deixaram mais calmo, pois, se ela estava bem, queria dizer que Giovana
aquilo.
agredido mais uma vez?! A vontade que eu tive, segundos antes, de gritar
com ela havia passado completamente, eu odiava vê-la daquela forma,
ainda mais sabendo que ela não estava tentando me trair, estava
provavelmente apenas preocupada com o tio, por isso havia ido até aquele
lugar.
— Giovana! Você poderia ter me dito que queria vir aqui. Eu não
ficaria feliz, mas seria muito mais seguro do que vir sozinha — reclamei, e
ela começou a chorar, sem conseguir dizer alguma coisa que parecia
engasgada.
— Tudo bem, ok? Eu não vou brigar com você. — Ela era jovem, e
eu já havia cometido erros piores quando tinha a idade dela, não podia
julgar sua atitude, mas nós, definitivamente, teríamos que conversar sobre
como se fosse uma espécie de depósito, mas o que mais chamava a atenção
era a mesa e a cadeira atrás dela, como se fosse também um escritório.
Tommaso,
Nós fizemos tudo que você pediu e, ainda assim, você nos impede de
telefone. Por mais que ela tenha ressentimento conosco por causa da mãe,
nós precisamos que você nos envie provas de que pelo menos ela está viva.
estendeu uma carta que havia deixado separada, a data era antiga,
provavelmente de quando ela ainda nem havia nascido, lhe entreguei para
que ela traduzisse para mim.
Querida filha,
escrever essa carta, espero que você a leia com o coração aberto.
Saiba que deixamos de lado a ideia tola de lhe tirar a herança.
Tenha certeza de que, no dia em que partirmos desse mundo, você ainda
terá tudo a que tem direito. Nós a amamos, filha, assim como já amamos a
Não nos opomos à ideia de que vocês vivam na Itália, mas, por favor,
venham nos visitar, nós sentimos muito a sua falta.
Com amor,
Mamãe.
apartada de sua família e forçada a uma vida tão difícil pela ganância e
Querida filha,
perdoe e venha nos ver, ou ao menos nos diga como lhe encontrar.
Com amor,
Mamãe.
para os meus pais. Meu tio deixou que minha mãe morresse. Ele é um
muito mais que eu pudesse fazer em uma situação como aquela. Eu estava
revoltado e triste por Giovana, queria poder matar Tommaso, porque era o
— Sim... Meu próprio tio dizia que nós éramos muito pobres, por
isso minha mãe e meu pai morreram tão jovens. Ele dizia que minha mãe
era burra por ter aberto mão da herança pra viver com um pé-rapado como
meu pai. Isso quando ele não dizia que aqui não era meu lugar, que eu era
escura demais, que iriam achar que não era filha do meu pai.
A cada coisa que Giovana me contava, mais eu me surpreendia com a
maldade que uma pessoa pode ser capaz de cometer. Ela era tão doce e
verdadeira, como alguém poderia submeter alguém a tantos maus-tratos?
— Me desculpe por ter vindo aqui, mas eu tive medo de que você
precisava vir aqui descobrir toda a verdade, alguma coisa me fez vir até
aqui.
— Ele está no hospital, levou uma surra e perdeu todo o dinheiro que
situação, era como se ela estivesse incrédula. Ela espalmou uma das mãos
na própria testa em um gesto de descrença.
duvidaria de nada que você me dissesse sobre ele agora... Mas você disse
algo que eu não sabia... Como assim o dinheiro que nós demos a ele?
explicar.
— Bom, ele me deu um telefone quando eu fui embora, disse que
precisávamos nos falar, porque ele estava muito velho e precisava de mim.
Por compaixão, eu falei com ele algumas vezes, mas ele me ligava o tempo
inteiro pedindo dinheiro e não acreditava quando eu dizia que não tinha
mais. Ele queria que eu mentisse pra você e pedisse mais dinheiro, mas eu
me recusei a fazer isso. Eu peço perdão por não ter te contado antes.
— São muitas coisas pra um coração tão bondoso, por que nós não
mão, que ela tomou, e nós voltamos para o salão juntos, depois de recolher
todas aquelas correspondências, documentos e fotos.
elas que Giovana precisava de um tempo antes de poder contar sobre aquele
assunto, pois era tudo muito delicada.
Pedi para Cassandra que nos acompanhasse até o hotel, pois Giovana
iria gostar da companhia dela naquele dia tão triste, e ela concordou. Nós
avisamos aos pais dela que ela voltaria somente no dia seguinte e pudemos
seguir caminho.
Foi estranho ver o quanto Giovana estava triste, afinal, ela era sempre
uma estrela brilhante que animava todos ao redor, mas, naquela noite, ela
não pôde esconder e, depois do jantar, contou o que havia descoberto para
Percebi que, para ela, era como viver o luto pela morte da mãe mais
uma vez, pois ela acreditava que sua progenitora poderia ter sobrevivido,
companhia. Logo nós estávamos juntos mais uma vez, mais uma vez sob
aquele céu tão misterioso e sedutor, mas agora em uma situação muito mais
difícil, embora eu achasse que isso seria impossível.
sejam borradas em sua maioria. Meus irmãos acham que Dom e eu nos
lembramos de muitas coisas da nossa mãe, mas a realidade é que a maioria
foi o pior dia da minha vida, também foi a única vez que vi meu tio chorar,
deve ser por isso que eu acreditava que ele amava meu pai de alguma
Ela ficou em silêncio por alguns segundos e logo continuou sua fala,
como se pensasse alto, como se estivesse perdida pelo labirinto das próprias
vivências.
— Meu pai mal havia sido enterrado, e meu tio vendeu nossa casa.
Lembro até hoje de estar juntando minhas coisas e ele se aproximou, me
entregando uma mala, disse que tudo que eu precisava cabia nela, que o que
não coubesse ali, iria para o lixo, porque era desperdício — concluiu com
risinho amargo. — Eu tinha uma boneca que adorava e não pude ficar com
ela, porque ocupava espaço demais...
Ela olhou para as próprias mãos, que agora estavam apoiadas sobre o
parapeito da varanda do quarto, seu rosto era reflexivo, mas não triste como
antes, era como se sua expressão demonstrasse determinação.
um sorriso. Giovana ficava tão bem sorrindo que eu gostaria que ela nunca
mais ficasse triste.
— Obrigada... Acho que com vocês dois por perto vai ser mais fácil
seguir em frente. — As palavras dela soavam verdadeiras.
obstáculos.
madura.
sempre me dizia e fazia questão de pontuar. Era por isso que ele me tolerava
e continuamente dizia que ninguém mais no mundo me queria, no final das
dizia que não iria mais mandar dinheiro, caso ele não enviasse informações
mais concisas e se não os deixassem falar comigo por telefone. Eles
meus pais. Era como se eles estivessem perto de mim o tempo inteiro, me
ser eu mesma, como se a vida não tivesse muita razão de ser. Perder as
esperanças não era algo que fizesse parte de mim, mas, naqueles momentos,
lhe havia oferecido, pois conhecia bem a cidade, muito mais do que eu, que
raramente saía do vilarejo, conversei um pouco com minha amiga, mas ela
logo teve que partir. Nós dissemos adeus com promessas de nos vermos
logo.
coisas pendentes e que não ter aquele último encontro poderia ser muito
pior para mim psicologicamente, talvez eu precisasse mesmo do
que eu despertasse para a realidade: meu tio havia ido parar ali pelos seus
próprios pecados.
apenas ir embora e nunca mais falar com ele. Optei por continuar e a
recepção que tive foi óbvia.
mais semelhante que ele fosse ao meu pai. Eu havia aprendido a desassociar
os dois.
Veio dizer adeus à sua única família. A pessoa que te criou a vida inteira?
Você precisa de mim, Giovana! — Ele fez questão de pronunciar cada
— Vim me despedir da pessoa que tentou fazer com que minha vida
fosse uma completa mentira, mas a verdade sempre surge, não importa que
alguns tentem impedir.
agora. Sei que você enganou meus avós, sei que você me enganou e até ao
meu pai.
— Tudo que eu fiz foi por você, pra manter você alimentada! —
gritou a plenos pulmões, mas não tinha forças para sustentar aquela postura
agressiva por muito tempo.
importa nem um pouco. Eu só quero que você saiba que não estragou minha
vida, que eu vou realizar todos os meus sonhos ao lado de pessoas que eu
amo e ao lado de pessoas que irei aprender a amar. Bem longe de você —
E aquela foi a última vez que me dirigi a meu tio Tommaso. Eu lhe
dei as costas, ao mesmo tempo em que ele gritava e esbravejava. Eu já não
— E imaginar que eu passei toda minha vida aqui por perto, mas
— Agora nós vamos fazer todos os passeios possíveis, você pode ter
lembrava aquelas pequenas com carinho. Elas faziam muita falta, tudo era
mais quieto sem a presença delas.
— Não se preocupe que elas não vão nos deixar em paz enquanto não
Meu coração ficou apertado quando pensei que elas estavam tão
longe. Uma sensação muito parecida com a que eu tinha quando tinha medo
de que algo acontecesse com Paolo. Em pouco tempo, nosso vínculo havia
se tornado algo muito forte, diferente de tudo que eu já havia
experimentado.
compreendi que estava no lugar correto e que faria de tudo para que as
coisas funcionassem daquela vez.
•••
quarto era agradável e a sensação que eu tinha era de alívio, um alívio que
já não conhecia há eras. Pela primeira vez, eu pude me sentar e perceber
que eu não devia nada a ninguém. Respirei fundo, aproveitando essa nova
percepção de vida.
Stuart parecia mais bonito ainda sentado sob a faixa de luz que
conseguia olhar. Seu rosto era concentrado e sua barba estava começando a
crescer mais do que de costume, sua camisa estava com os botões abertos
Eu me sentia bem.
quase impossível ficar totalmente tranquila quando meu bebê não estava
por perto, tentei fazer o que ela dizia, afinal, os últimos dias não haviam
sido nada fáceis ou típicos. Talvez eu precisasse realmente de um tempinho
simpático.
— Gosto de te admirar. — Dei de ombros com leveza, e ele se
aproximou.
A troca entre nossos olhares era tão intensa que eu podia sentir as
Stuart sentou-se atrás de mim na cama, e eu pude sentir seu calor, seu
me fazendo estremecer.
minhas costas, fazendo com que toda a tensão que eu sentia fosse se
dissipando devagar.
Aquilo era completamente novo para mim. Eu podia me entregar sem culpa,
podia simplesmente deixar acontecer.
As mãos dele eram tão grandes que era como se quase pudessem dar
a volta em minha cintura. Seu toque firme, com a compressão perfeita, fazia
com que eu me derretesse. Não era necessário muito para que Stuart me
Meu corpo respondia com fúria a qualquer estímulo que viesse dele e
não demorava nada para que a umidade e a vibração no ponto entre minhas
calças dele.
A forma com que ele me olhava agora era diferente, não havia
desconfiança ali, apenas um homem doce e vulnerável, como ele era por
dentro. Então nós nos deixamos ir com os beijos demorados que logo nos
vestido. Nós já nos conhecíamos, nossos corpos eram íntimos, então aquela
dança era muito mais precisa, muito mais exata. Ele beijou meu pescoço,
mordiscou meu ombro, deixou que sua língua deslizasse até um dos meus
mamilos, arrepiando minha pele e fazendo com que meu corpo inteiro
queimasse de desejo. O percurso de sua boca seguiu explorando a pele
sobre minhas costelas, até minha cintura, enquanto eu me agarrava aos seus
Meu corpo era uma antena captando todas as energias que emanavam
se despindo em seguida.
Olhar para ele tão excitado por minha causa fazia com que eu me
mexiam, tentando acompanhar todo aquele apetite, o que era até simples,
longo e mais forte, sendo seguida imediatamente por ele, que se derramou
em meu interior.
Não foi como das outras vezes, era algo novo. Não era meramente
•••
é novo.
pensativo.
— Nem com... — Quando dei por mim, já havia dito as palavras, por
mais que tenha me arrependido em seguida, pois certos assuntos não
precisam ser tocados.
— Nem com Amber — ele confirmou enquanto segurava meu rosto
com uma de suas mãos, acariciando meu queixo com o polegar. — Amber
foi uma das pessoas mais importantes da minha vida, porque foi através
dela que eu conheci minhas filhas e foi com ela que vivi momentos muito
especiais, além de ter descoberto que era possível, sim, ter amor em um
casamento, diferente do que meu pai fazia parecer. Meu coração sempre vai
ter um espaço pra ela. Mas você, Giovana, me fez acreditar em alguma
coisa superior, como destino, almas gêmeas, todas essas coisas que eu
expectativas de Stuart e das meninas, mas, ao mesmo tempo, sabia que nós
descobriríamos juntos uma maneira de sermos felizes e convivermos com
as cicatrizes de nossos passados tão conturbados. Finalmente eu poderia
que demonstrei ao saber o que o tio fez com ela. Eu prometi que a ajudaria
a entrar em contato com a família materna e procurei Dominic para me
ajudar com aquela tarefa assim que voltamos da Itália. A família dela era
abastada, segundo as informações que ela havia me dado, então não seria
difícil encontrar informações daquelas pessoas.
coisa horrível.
— Exatamente! Eu estou até agora sem saber muito bem como agir
diante disso, é um assunto delicado. Em uma pesquisa simples, encontrei
algumas informações sobre a avó dela, que é a responsável por uma das
fonte havia secado, e ele não possuía mais dinheiro, apenas dívidas.
— No fundo, eu já sabia que ela não tinha más intenções, apenas uma
percepção errada do tio. Como eu poderia julgá-la por isso, Dom? Nós
mesmos já agimos várias vezes como idiotas para agradar nosso pai, um
homem completamente desagradável e tóxico. — Suspirei, e ele concordou
com um menear de cabeça. — Eu me sinto péssimo por ter sido tão cruel
— Não há como voltar no tempo, então tudo que você pode fazer é
•••
dos meus lábios, mas era agradável alcançar aquela nova fase. Eu queria me
aproximar dela, queria que ela se sentisse segura de que as coisas haviam
realmente mudado e nós poderíamos agir como um casal normal.
provou que a estratégia era boa, que estávamos em sintonia. Paolo estava
ele.
Aquilo tudo era tão perfeito que eu mal podia acreditar. Aquela vida
era mesmo real ou estava preso em uma realidade paralela criada por
inteligência artificial? Havia tanto tempo que eu não sentia meu peito tão
leve, tão cheio de paz, que era complicado assimilar.
— Ele sente sua falta — ela comentou quando viu o quanto ele me
olhava.
Depois que voltamos da Itália, ela teve um pouco mais de tempo para
processar tudo e isso deve ter criado perguntas e reflexões.
— Bom, sim. São tantas coisas. Eu ainda nem sei por onde começar...
segundos. — Meu medo fez com que eu impusesse um casamento pra outra
pessoa...
— Dessa vez foi um risinho irônico que escapou, como se aquela situação
tivesse algo de cômico. — Sempre que eu penso no ridículo dessa situação,
não posso deixar de me punir mentalmente. Tudo que eu fiz por uma pessoa
que nunca me amou. — Ela parecia desapontada, e eu não pude evitar tocar
seu rosto numa carícia espontânea, como se eu pudesse consolá-la um
pouco.
— Você e Paolo são as melhores coisas que surgiram na minha vida
nos últimos tempos. Meu único arrependimento foi não ter te trazido pra cá
comigo. Eu deveria ter insistido, insistido tanto que você aceitaria. — Ela
existe.
— Eu paro quando você parar — falei para que ela percebesse o que
estava fazendo.
dizer: nós não precisamos seguir com esse casamento só porque temos um
filho — pontuou.
muito surpreso. Giovana era muito jovem, ainda tinha muitas coisas a
hesitante.
— Eu não estou mais te obrigando a ter um compromisso comigo,
Stuart, isso foi uma loucura do meu tio... — Ela parecia triste.
com você. Não daquela maneira, é óbvio, mas ter você ao meu lado e na
pro que estamos vivendo aqui. É uma coisa boa, afinal — falei baixinho,
próximo ao rosto dela. — Mas preciso saber se isso te deixa satisfeita
gostaria de saber o que você quer fazer com relação a sua vida na Itália.
Acredito que não seja justo deixar pra trás o único bem que você herdou do
seu pai.
Dessa vez ela suspirou cansada e voltou a sentar-se ao meu lado. Não
nunca mais pensar sobre aquele lugar, afinal, sobraram mais memórias ruins
do que boas, mas... Realmente não seria justo. Eu não sei, pode ser que,
quando Paolo for mais crescidinho, quando eu conseguir um emprego,
— Giovana, você sabe muito bem que eu posso fazer isso por você.
Seu tio mais do que nunca precisa de dinheiro e não pensaria duas vezes
antes de aceitar.
— Stuart, você já fez muito por mim, mas isso é algo extremamente
pessoal, um tipo de favor que eu não quero aceitar. — Ela parecia decidida,
e eu sabia que não podia competir com sua obstinação, por isso sequer
tentei.
— Tudo bem... Nós vamos dar um jeito nisso também. Você já
claro que não sou nenhuma profissional, mas vi que existem algumas
realidade.
mas, no final das contas, aprendi a gostar dela — sorriu mais uma vez —,
ela nunca conheceu garotas como eu, pois sempre teve uma vida
ouvir muita estupidez saindo da boca do seu tio, mas essa é a verdade. Você
é praticamente perfeita, seu único defeito é ser boa demais. — Dessa vez,
concordância.
— Tudo bem, tudo bem... Bom, no final das contas, um assunto ficou
em aberto...
pouco nervosa.
procurei um pouco sobre eles e reli aquelas cartas também... Descobri que
minha avó foi uma pessoa importante na indústria têxtil no Brasil, acredita?
Hoje está aposentada, mas é um grande nome.
pois sabia que não havia mais lugar para mentiras e omissões entre nós
dois.
— Você deve ter descoberto bem mais do que eu. — Ela parecia
— Ativei alguns contatos e posso dizer que não vai demorar muito
pra sabermos o necessário... — falei, deixando certo mistério no ar, e ela
todas as pessoas com quem você cruzou nessa vida... Às vezes fico
procurando as razões por você não ter sido tratada com todo esse amor
durante a sua vida inteira, realmente não faz sentido.
— Pessoas como meu tio acreditam que são superiores às outras por
causa da cor de pele, ou por causa de suas origens... Ele não aceitava que
uma pessoa como eu, que ele sempre considerou inferior, pudesse ter coisas
boas. Por muito tempo, eu tentei negar a mim mesma essa verdade, mas
Aquele era um assunto grave, uma situação pela qual eu jamais havia
passado e jamais passaria, pois tinha muitos privilégios. Por isso decidi que
faria de tudo para tentar entender Giovana e protegê-la das coisas ruins do
mundo.
minha, mas, em muitos lugares, ele sempre será visto apenas como não
branco, por isso sempre vou lutar pra que ninguém nunca o trate como
inferior jamais.
enquanto segurava uma das mãos dela. — Me veio uma coisa à mente agora
— falei de repente, mudando completamente de assunto e tentando trazer
um clima mais ameno.
Eu jamais havia levado uma mulher ali desde que Amber falecera.
Era a primeira vez que eu abria meu coração e as portas do meu quarto para
alguém. Quando abri espaço para que Giovana entrasse, pude ver a
expressão de choque em seu rosto. Aquele lugar era realmente um exagero,
tinha três ambientes diferentes e uma decoração clean — uma pessoa
poderia facilmente viver ali sem precisar sair para qualquer outra coisa.
a colocação.
O novo clima que existia entre nós era maravilhoso, nós nos
beirada da cama king size feita sob encomenda. Quando estávamos perto da
ponta do colchão, fiz com que ela se deitasse, enquanto se movia com os
fitando seus olhos, neles eu podia ver o brilho da vida, uma beleza
inexplicável.
com você — ela disse baixinho, e eu nem soube como responder, apenas
conectei nossos lábios para selar o momento de magia.
Era como se uma parte que havia sido danificada em mim, aos
poucos, começasse a se reconstituir. Estar com Giovana era como viver
novamente e aquele era apenas o nosso começo.
jamais havia sentido antes, como se a vida começasse a fazer muito mais
sentido.
rápido, mas, ainda assim, eu adorava carregá-lo no colo, pois sabia que esse
tipo de coisa não duraria por muito tempo, pois logo ele estaria grande
demais. O tempo havia passado tão rápido que eu mal pude me acostumar.
Era como se há dias ele fosse um neném dependente de mim para tudo, e
agora era um bebê enorme que já tinha melhor controle do corpo e fazia
barulhos o tempo inteiro.
Estar com meu menino no colo, além de estar ao lado das minhas três
enteadas, me dava muito mais segurança para o que estava prestes a
Alguns dias antes, menos de duas semanas antes, Stuart disse que
precisava me contar uma coisa, e eu fiquei completamente curiosa, pois a
— Vamos, diga logo — eu insisti para que ele contasse rápido, e ele
levitasse pelo quarto. Eu não soube como responder, apenas senti como se
todo o calor do meu peito fosse roubado e como se meu coração fosse uma
centrífuga de roupas.
— Isso é sério? — Eu sorri, sentindo todos os meus membros
dormentes.
estava mil vezes mais entusiasmada e ansiosa do que imaginei que ficaria.
tempo, queria vê-los o mais rápido possível. — Meu Deus, Stu! Eu te amo,
te amo muito! — Eu fiquei na ponta dos pés para abraçá-lo de um jeito
— Seus avós estão loucos pra falar com você, pediram pra que nós
mesmo preocupada.
Stuart pediu para que eu arrumasse minhas coisas e escolhesse uma boa
roupa, pois havia uma surpresa para mim no dia seguinte. É claro que eu
mal pude dormir, pois imaginei que estava relacionada à chamada de vídeo
que faria com minha família materna, então, quando as meninas vieram me
acordar, eu já estava arrumada. Stuart não estava mais no quarto, o que não
era tão incomum, pois ele sempre se levantava antes de mim e não me
chamava, para não incomodar, embora eu dissesse que gostava de acordar
Amy falou com um sorriso enorme e com uma nova janelinha, que havia
surgido nos dias anteriores.
nervosa, respirei fundo e apenas deixei que meu coração batesse com força.
uma voz e, em seguida, passos. Era Claire com Paolo no colo, eu sabia, pois
reconheceria aqueles barulhinhos em qualquer lugar.
ver nada. Eu queria muito ver o meu bebê, mas me decidi embarcar naquela
brincadeira e não retirar a venda. Entreguei Paolo para Claire mais uma vez,
Logo, pelo vento que me atingiu, percebi que estávamos em algum lugar a
céu aberto, e eu fiquei curiosa.
Lilly e Bruce! Até o irmão mais novo havia vindo, mesmo que eu
acreditasse que ele nunca gostaria de conviver comigo, uma estranha.
Também foi o mesmo Bruce que veio até mim. Ele sorria e parecia
muito simpático, era tão bonito quanto os outros, mas seu aspecto era mais
bem-humorado e jovial do que o dos irmãos, como se ele tivesse um pouco
Paolo estava em meu colo e sorria para o tio, ele já estava tão esperto
e crescido. O tempo passa rápido quando se tem um bebê.
interveio.
meu bem mais precioso e percebi que ele até levava jeito pra coisa.
como tia Gerta. Então, após aquele pequeno ritual, decidi perguntar:
— Nós vamos todos para o Brasil? — Não cabia tanta alegria em
mim, era como se meu corpo fosse pequeno demais pra conter a agitação.
quanto eu.
mudado suas rotinas apenas para estarem ali comigo naquele momento tão
importante.
ele, eu sempre me sentia segura, ele havia se tornado tudo que eu poderia
querer de um marido.
— Tudo que eu venha a fazer por você sempre será pouco, meu amor.
Assim nós viajamos para o Brasil e foi uma viagem divertida, diga-se
de passagem. Josh e Bruce puxavam músicas que as pessoas cantavam em
mosquitos. A noite foi fresca e até mesmo fria em alguns momentos, mas,
no dia seguinte, o sol estava iluminando tudo, e o céu, muito azul.
que você vai usar, afinal, você é a neta deles, são vinte anos de atraso para
uma boa impressão de mim — falei com certo desânimo, pois não é nada
— Deve estar por aqui, tenho certeza de que Giulia e eu colocamos. Ah,
sim, as duas haviam arrumado minhas malas sem que eu percebesse, o que
não era muito difícil, afinal, eu não era a pessoa mais atenciosa com roupas
na face da Terra.
vestido da minha mãe, ela mesma o fez, e eu o reformei. Acho que é velho
pra um encontro tão importante.
— Pois, pra mim, ele parece perfeito! Você quer algo mais
sabia que minha vida iria mudar completamente mais uma vez.
quase roí todas as unhas, apesar de Giulia quase me matar quando eu fazia
deles fez com que eu tivesse a sensação de completude pela primeira vez.
coisinha daquele cenário, pois queria que aquela memória durasse para
Stuart se aproximou com nosso bebê no colo, e meus avós foram até
eles para um cumprimento longo. Eles estavam tão encantados e
emocionados que eu tive até medo de que pudessem passar mal ou algo do
tipo, mas, felizmente, tudo continuou bem enquanto eu assistia à cena mais
surreal de todos os tempos.
com meu marido, minhas enteadas e o restante da família era algo que eu
não cogitaria nem em meus mais loucos sonhos. Aquela era mesmo uma
noite especial.
pelo visto, eles sabiam muito bem. Antes do jantar, todos nos reunimos em
uma sala de estar, onde quase tudo era de madeira, causando uma sensação
um minuto.
ele não se permitiu abalar. — A lembrança do seu pai vai estar sempre com
você — finalizou e me deu um beijo na testa.
Eu mal podia acreditar e nem queria aceitar aquilo, mas sabia que era
um sinal de paz e boa vontade e que era importante para eles. No final das
contas, fiquei aliviada em saber que a única coisa que meu pai havia
deixado não estava mais nas mãos de meu tio e, no fundo, apesar de tudo,
também diminuía minha preocupação saber que meu tio não estava
completamente sem dinheiro. Eu me punia mentalmente por ser tão boba,
mas há certas coisas que não se podem mudar.
pouco de paz.
construção, meus avós me levaram até um lugar que, para eles, era muito
especial. Quando abriram a enorme porta de mogno, revelaram um quarto
adolescente intocado. Eu já sabia do que se tratava.
voltando a se emocionar.
necessidade, por isso fomos tão duros, mas veja o resultado. — Ele suspirou
com tristeza.
de repente —, eu sei como as coisas aconteceram com seu tio e como você
conheceu a família Silvestri. Eu só gostaria de dizer que nós somos sua
família e que, caso você queira, pode vir viver conosco ou em qualquer
lugar que queira, nós vamos fazer qualquer coisa por você e o nosso
pequeno.
Estar ali com os dois sozinhos, no quarto que fora de minha mãe,
fazia com que eu não tivesse mais a antiga sensação de ter vindo “do nada”,
finalmente eu conhecia minha família e estava feliz em saber que eles eram
boas pessoas, não apenas os pais que abandonaram a filha por se casar com
um homem pobre.
Nós conversamos por um bom tempo e depois nos reunimos com os
outros. Quando chegamos, todos ficaram em silêncio mais uma vez, o que
era esquisito. Stuart se levantou e veio até mim. Olhou para o meu avô,
— Você nem sabe o que é — ele desdenhou, e eu fiz uma careta, que
foi se desfazendo aos poucos enquanto eu o observava se ajoelhar. Era
altar novamente. Jurei a mim mesmo que nunca mais faria algo do tipo, que
poderia até mesmo me unir a alguém, mas sem pompa alguma, apenas em
uma cerimônia legal. Mas aquela era uma promessa que eu não poderia
cumprir.
que eu já havia visto em toda minha vida. Ouro Preto, em Minas Gerais, no
Brasil, era realmente uma das cidades mais lindas do mundo, e eu estava
completamente encantado, extasiado. Sim, com a ajuda da minha família e
dos avós de Giovana, nós preparamos uma cerimônia no país da mãe dela,
aquilo.
— Hã? Eu concordo.
podíamos ouvir o canto dos pássaros e sermos abençoados pelo azul do céu
momento precisava.
Como não pudemos decidir qual das meninas levaria as alianças sem
causar uma enorme briga, concordamos que a melhor opção seria deixar a
Naquele momento, eu tive mais certeza do que nunca de que jamais havia
visto uma mulher tão linda quanto ela. Seus cabelos estavam soltos e
claro que praticamente não consegui dormir e, ainda assim, não achei as
palavras. Seria impossível, em poucas horas, resumir tudo que eu passei e
tudo que significa esse momento para mim, mas eu gostaria de agradecer.
Agradecer a você, Stuart, por não ter desistido mesmo quando as coisas
ficaram complicadas, e me ajudou a trazer ao mundo minha razão de viver,
para os Silvestri e depois para seus avós, que pareciam radiantes. — Hoje é,
com certeza, o dia mais recompensador da minha vida — Giovana finalizou
Após ter uma percepção quase palpável dos sentimentos dela, ficava
mais complicado falar sobre os meus, pois também havia sido difícil tentar
resumir aquela história e como fui afetado por ela.
beijo que selava aquele compromisso. Aquele beijo tinha o gosto do nosso
amor, trazia uma percepção diferente de tudo e nos carregava para uma
havia sido deixado para trás de uma vez, nós havíamos superado aquilo
tudo, e nossa vida se tornou uma coisa completamente diferente, cheia de
satisfação e felicidade.
assim que chegamos ao quarto, seu cheiro sempre me lembraria das uvas da
Itália e seu olhar sempre me lembraria do céu noturno estrelado.
Não saía da minha cabeça a primeira vez que nos amamos, sendo
banhados pela lua e pelo riacho daquele pequeno vilarejo. Nós nos
tornamos um desde aquele dia, e eu sabia que não nos separaríamos mais.
dela.
profundamente. Eu daria minha vida por aquela mulher, porque ela havia
bochecha macia. Ela fechou os olhos sob o meu toque, relaxando, como se
dança afoita.
Tentei não ser afoito demais, queria que aquele momento fosse
perfeito, então, devagar, fiz com que o zíper central, nas costas daquele
Parei por alguns segundos apenas para observar: ela era uma obra de
arte sem igual. Giovana tentou se cobrir com os braços quando percebeu
que eu a observava, mas eu segurei uma de suas mãos e, com minha outra
nessa vida — falei de bom humor, ela sorriu e pôs os braços ao meu redor,
seguida, fiz com que minha mulher se deitasse na cama. Eu nunca fiz o tipo
possessivo, mas gostava de sentir que ela era minha naqueles momentos
específicos.
Desci meu rosto para a altura das coxas dela, mordiscando a região e
baixo.
Logo ela estava livre para mim e seu olhar era de prazer e entrega,
não havia nenhum medo, remorso ou culpa, apenas deleite. Quando tomei
para penetrá-la de uma vez só, arrancando dos dois sons que eram a
manifestação daquele prazer insano.
embora nenhum dos dois parecesse apto a prolongar o ato por muito tempo,
porque nossa tensão já era explícita. Nossos corpos iam e vinham dentro
daquela agitação, e nós não podíamos conter os gemidos que escapavam de
nossos lábios.
Eu sabia que pensar nisso era de uma cafonice sem tamanho, mas
— Seria tão lindo passar esse momento ao lado dos nossos filhos —
— Exato! Eu amo cada momentinho a sós com você, mas estar aqui
na terra da minha mãe, com Paolo e as meninas, meus avós e sua família,
ufa! Isso é indescritível, e eu não queria perder nem um segundo disso.
quatro horas por dia. Quando Tommaso negou meu direito mais básico, que
— Eu queria muito que esse dia não acabasse nunca, queria ficar
mais tempo com vocês — Giovana disse com sua voz angelical.
— Vocês acham que vão passar a madrugada inteira falando mal de
mim, e eu não vou estar aqui pra me defender? — falei em um tom afetado
de brincadeira.
— Ela é tão fofa — Suzy falou, olhando para ela com encantamento.
pegou Paolo em seus braços mais uma vez, o que pareceu lhe trazer muito
alívio. Nós seguimos a noite falando sobre amenidades e sobre como aquele
enquanto, aos poucos, alguns iam ficando com sono e indo para seus
aposentos. No final, só restamos Gregory, Dom, Giovana e eu. Nós falamos
sobre nossas infâncias, e Giovana contou sobre como seu pai a havia
ensinado a pescar, entre outras coisas, o que deixou meus irmãos muito
interessados em combinar um dia de pescaria, entre outras centenas de
Amy não estava nem um pouco nervosa, pois havia levado bem a
sério que cair é algo normal. Eu sabia que era, ainda mais ali, naquele
instante. Tinha certeza de que, se não tivesse cometido tantos erros, jamais
que eu não aconselhava ninguém a agir com tanta imprudência, assim como
fiz naquele momento, mas não poderia dizer que estava exatamente
arrependida.
meus avós o tempo inteiro, eles queriam que eu produzisse roupas para a
marca da família e pensavam em expandir para os Estados Unidos.
aquilo tudo abria um belo precedente para novos encontros — o que eu iria
amar de todo meu coração.
Stuart disse que não havia convidado a família Silvestri inteira para o
alguém que cuidasse muito bem de tudo e foi por isso que deleguei essa
tarefa a Cassandra e aos seus pais, que aceitaram de bom grado e muito
não lhe desejava nenhum mal, mas também não gostaria de ter contato com
competição. Apenas Amy havia passado para a final, então Lilly e Annie
que ele ainda estava preocupado pelo acidente que ela havia sofrido.
Segurei sua mão para lhe dar confiança, e ele sorriu para mim. Paolo sorriu
para ele em meu colo e acho que isso o tranquilizou um pouco mais.
sons de admiração e lá estava ela, nossa menina, dando seu salto mais
bonito, passando pelo obstáculo com graça e leveza. Nós aplaudimos com
vigor e gritamos de euforia. Aquele salto com certeza lhe renderia a vitória,
eu ainda não entendia muito sobre hipismo, mas sabia e isso foi confirmado
logo em seguida.
— Essa é a minha amazona! — Stuart disse com empolgação
— Mãe! Não era pra contar agora! — reclamou, e todos riram com a
cena.
Em pequenos momentos como aquele era que eu me sentia a pessoa
mais sortuda do mundo, afinal, era aquela vida que eu queria viver.
Stuart
Annie e Amy que eram as mais arteiras. Elas se acabavam de rir, e os outros
faziam o mesmo.
Bruce apenas ria de mim, porque, quando era criança, fazia o mesmo.
Ele e Joshua começaram a treinar árabe apenas para me irritar e deixar o
seu ombro.
várias vezes.
— Eu sei que vocês adoram essas conversas, mas vou aproveitar meu
dia sem os aborrecentes hoje — Dominic falou de repente, fazendo com que
— Cuidado, acho que a última vez que você andou a cavalo foi
quando tinha uns vinte e oito anos, o que faz muuuuito tempo — Greg
disse, estendendo a palavra para dar dimensão do que queria dizer, e nós
seguimos rindo.
— Vocês acham que o Dom ainda vai demorar por muito tempo? —
— Acredito que não. Ele sempre gosta de parar em algum lugar pra
ver o pôr do sol. Vamos só esperar anoitecer e ele vai estar aqui rapidinho.
— Não sei não... — Greg ainda estava preocupado, mas aquele era o
jeito dele.
momento de solidão.
— Tudo bem, mas, se ele não aparecer assim que a noite cair, eu vou
— Não deve ser nada, Greg, ele só deve estar aproveitando, a gente
acaba esquecendo a vida. Eu sei como é. — Suzy tentou acalmá-lo com sua
experiência de aventureira.
— Calma, pessoal, daqui a pouco ele vai estar aí. — Bruce tentava
era atendida.
rabugento.
— Eu vou também — falei, e ele seguiu caminhando. — Nós vamos
ver onde o Dom está, cuidem das meninas — pedi em voz alta e os que
dos cavalos. Ele também parecia preocupado, mas não quis expressar de
forma muito veemente para não nos deixar mais inculcados.
— Você vai ver só, quando nós estivermos bem longe, alguém vai
ligar dizendo que ele chegou — falei para tentar amenizar a tensão, mas era
decidimos caminhar, vimos uma parte dos arbustos que parecia amassada e
acreditamos que ele havia entrado por ali. Ligamos a lanterna do celular e
procuramos por muito tempo. O espaço verde daquele lugar era muito
amplo e já estava escuro.
Nós tivemos que voltar quando percebemos que poderíamos acabar
e voltamos para a floresta. Pedi para Bruce, Giovana e Suzy cuidarem das
meninas, também para que não contassem ainda sobre aquilo para tia Gerta.
Pedi para que avisassem aos meus sobrinhos que o pai voltaria no dia
Eu estava com medo, muito medo. Sabia que Bruce também estava,
por isso me olhou de maneira aflita e preferiu não nos acompanhar, eu sabia
parecia carrancudo.
abracei Gregory, que parecia muito mais sem reação do que eu.
— Vai ficar tudo bem — sussurrei para Greg, que ainda não havia
como todos os outros, a recorrer ao nosso irmão mais velho que era muito
manter firme, pois era o segundo mais velho, precisava agir como tal.
— Vai ficar tudo bem — eu repeti para meu irmão, mas, na verdade,
era como se eu estivesse falando comigo mesmo.
Aquele havia sido um dia tão agradável e agora tudo havia mudado,
mas eu tinha fé de que tudo acabaria bem, nossa vida era resolver
problemas. Agora era minha vez de manter a postura, pois eu era o segundo
onde estava, nem como havia ido parar ali. Meus pensamentos estavam tão
nublados que eu precisei repetir várias vezes informações sobre mim. Meu
nome é Dominic Silvestri. Eu tenho dois filhos. Isso mesmo, eu tenho dois
filhos. Sou divorciado e tenho quatro irmãos. Muito bem.
eu estava acordando mesmo? Por que minha cabeça doía e meu cérebro
estava caótico?
um pouco, mas fui afligido por uma dor na costela, além de não conseguir
minha cabeça com o braço que estava livre, senti uma faixa ao redor dela.
O corpo de Bruce, meu irmão mais novo, estava estirado sobre uma
sonolento, mas começou a abrir os olhos aos poucos. Pode ser que eu tenha
feito algum barulho que chamou sua atenção, ou ele apenas sentiu que eu
havia acordado.
abrupta.
Aquele dia tinha tudo para ser uma lembrança bonita no álbum de
— Puta merda, isso dói pra caralho! — Foi tudo que eu pude dizer
dos vivos... — falei com um tom de sarcasmo, e ele sorriu mais uma vez.
sorriso que ele nos oferecia quando ganhava algum doce, e a imagem era
vívida na minha mente. Nosso caçula correndo pela sala com seus quatro
que a situação havia sido mesmo séria, afinal, aquela não era uma reação
comum do meu debochado e distante irmão mais novo.
— Desculpa — ele disse baixo. Essa também não era uma palavra
adolescentes quando diz “crianças”, sim. Estão muito bem, tão preocupados
quanto todos nós. Eles me surpreenderam. Lou passou todas essas noites
em negação. — Bom... Além desse fato curioso, você sabe me dizer o que
mais aconteceu comigo? — O gesso no meu braço e perna esquerda eram
reveladores.
pinos no seu corpinho. Vai ter que andar por aí com exames médicos, pelo
menos se quiser passar pelos detectores de metal sem problema.
desconfiança, afinal, meu irmão, o segundo mais velho depois de mim, era
a pessoa mais honesta, franca e trabalhadora que eu conhecia. Minha
preocupação com trabalho tinha raízes mais profundas e começava com a
criação que recebi do meu pai, o homem mais inflexível do mundo. Assim
de se ver.
Rolei os olhos, e ele sorriu de novo. Era muito para Bruce em um dia.
— Eu fico feliz que você esteja de volta. Espero que você não se
importe, mas pode ser que a família Silvestri apareça aqui em peso daqui a
pouco. — A notícia era boa, mas eu não sabia se estava pronto para aquele
— Ah, tem isso. Ele tá confiscado com sua filha. Ela disse que,
quando você acordasse, não queria que você fosse correndo ver como estão
as coisas no trabalho. Lou disse que agora você vai estar em férias forçadas,
nada de home office, ou coisas do tipo.
— Fala sério. Vocês não vão me tratar que nem uma criança só
viu? Uma pirralha de treze anos tentando organizar minha vida — falei
mais para mim mesmo, mas a declaração estava preenchida de bom humor.
— Certo, mas o médico disse que você não pode beber muito agora,
mais para uma pessoa que dormiu por três dias depois de um acidente
deplorável. Tentei ver o lado bom das coisas. Ao menos, eu estava vivo para
contar aquela história.
estava meio cheio ou meio vazio, no final das contas, definindo para mim
mesmo que era apenas um copo com cinquenta por cento do seu conteúdo
•••
Gregory, logo Josh, irmão gêmeo de Greg, também apareceu. Bruce havia
ido até sua casa para tomar banho e trocar de roupa, além de cuidar de
algumas obrigações profissionais. Sentir o abraço, muito mais delicado do
que o de Bruce, dos meus irmãos fez com que eu me sentisse tranquilo,
como se pudesse estar certo de que as coisas ficariam bem e de que não
havia motivos para desespero.
— Você consegue se lembrar do momento do acidente? — Josh
tão violento que eu nem entendi o que aconteceu. Já fazia muito tempo que
eu não andava a cavalo e pensei que seria que nem andar de bicicleta.
atenção dos meus filhos por alguma traquinagem, porque realmente eu era o
pior, até pior do que Joshua, que tinha uma fama terrível.
campo aberto, onde aceleramos um pouco. Depois disso, continuei até uma
área de mata, na realidade, eu não estava muito interessado em explorar
Ele simplesmente saiu em disparada e tudo que eu fiz foi tentar me segurar
vida, ao mesmo tempo em que não sabia o que fazer, foi tudo tão rápido que
sozinhos, era como se eu fosse a pessoa mais estúpida do mundo. Até a voz
irmãos, Dominic?
Mas eu estava lá, mais vivo do que nunca, apesar de todas as injúrias.
acabou deixando quase todos mais sensíveis e, de certa forma, acabou nos
aproximando mais. Logo, minhas cunhadas Suzy e Giovana, com meus
sobrinhos Paolo e Ayo, apareceram para me visitar também, mas não antes
da chegada de tia Gerta, que me encheu de amor e palavras de conforto.
— Logo você vai ficar bem. Nós vamos cuidar de você — afirmou
com carinho, e eu rolei os olhos não por ingratidão, mas, sim, por saber que
— Ah, meu anjo, não é porque você é o mais velho que eu vou deixar
sincera, que doeu, é claro. Um homem de quase quarenta anos sendo tratado
como um bebê.
forma discreta. Precisar dos outros era algo que nunca havia se passado pela
minha cabeça, e isso fazia com que eu me sentisse extremamente
e focando no presente.
Passei aquelas horas cercado por aquelas pessoas tão importantes,
que estavam sempre próximas a mim, nos melhores e piores momentos. Foi
sofrimento. Logo fiquei angustiado, porque meu pai foi horrível e não
soube proteger seus cinco filhos nem dele mesmo.
acabava fazendo com que eu não tivesse tempo para prestar atenção em
outras coisas. Então, só quando meu casamento entrou em crise, o que não
levou muito tempo, eu percebi que precisava ser um pai melhor e mais
Eu não estava mais com medo. Era como se minha vida estivesse
tenho vida pessoal. Estou disponível a qualquer hora, não há nada que
distraia do meu foco.
+18
SINOPSE:
William Scalamandre.
Fortuna.
Mulheres.
Bonito e sedutor.
Angeles.
Só amou uma vez, quando era muito jovem, e perdeu a menina que
teve seu coração para um câncer.
Mas, muitos anos depois, uma garota que nunca deu um beijo na
boca chegou para mudar pra sempre a vida do bilionário CEO do Sexo,
como ficou conhecido. Will não entendia o porquê daquela sua jovem
secretária inexperiente o afetar de uma forma que o fazia querer muito mais
que apenas ter uma assistente competente e que sempre fazia mais do que
era esperado dela.Contudo, conseguir uma secretária como Ingrid foi
muito, muito difícil, e ele não queria abrir mão disso. Mesmo que
repressor, abusivo e violento. Ela só queria ter uma vida como todas as
outras moças de sua idade e queria poder ir pra faculdade de Cinema, sem
ter que fazer tudo escondido. A moça de 22 anos já tinha sido abandonada
Sem casa. Sem família. Sem dinheiro. Ela acabou tendo que morar
em um quartinho sujo e com ratos passeando atrás das paredes. Era tudo
que suas economias de estudante bolsista podiam pagar. Ela não gostava de
depois que descobriu sua mentira e que ela traiu sua confiança.
seus planos e sonhos de ter uma família grande. Ser pai era o que ele mais
Ele foi abandonado pela esposa e viu seu mundo desmoronar. Sua vida
perfeita ruiu. Alec Donovan havia ficado impotente e os médicos disseram
que ele, muito provavelmente, não poderia mais ser pai e que nunca mais
teria uma ereção. E foi assim por cinco longos anos, ele nunca mais sentiu
desejo ou pôde dar prazer a uma mulher. Até o CEO conhecer Lila.
LILA HARRISON não teve uma vida fácil.Fugiu para bem longe
de um padrasto abusivo e de uma mãe que nunca demonstrou amor para
estudar e ter um futuro diferente do que diziam que ela teria. Foi assim que
daqueles homens.
Lila era virgem, mas não era boba. Sabia que nunca tinha
experimentado antes o desejo que sentia pelo tio de sua melhor amiga Mas,
quando o CEO bilionário Alec Donovan revela seu segredo, ele também lhe
nova que aceita a proposta dele de apenas receber prazer oral e nada mais.
que o fez acreditar que poderia ter a chance de amar e ser feliz outra vez.
ME APAIXONANDO PELO MEU CHEFE INSUPORTÁVEL:
SÉRIE FAMÍLIA CAMPANELLI - LIVRO 1
CLICHÊ CHEFE E SECRETÁRIA;
AGE GAP;
FAKE DATING;
ENEMIES TO LOVERS.
grosso do mundo?
Precisava muito mesmo, já que estava prestes a ser despejada por estar
devendo quatro meses de aluguel. Daquela entrevista, viria a resposta se
ela teria ou não um teto sob sua cabeça quando voltasse pra casa naquele
dia.
que recebeu secretamente da assistente idosa dele, que está louca para se
aposentar, mas precisa de uma substituta que aceite ter o diabo em pessoa
como chefe. Tudo que Savannah faz parece estar errado. O chefe a ignora
ou a crítica, quando não faz questão de dizer que ela não está fazendo
direito o trabalho para o qual está sendo paga, gentil como um cavalo,
dando coices. E todos que trabalham na Diamantes Campanelli parecem ter
medo do bilionário.
INSUPORTÁVEL.
TIRANO.
INTIMIDADOR.
melhor. Ter o total controle de tudo sobre sua empresa e sua vida é o que ele
mais preza. Um chefe que não admite falhas. Ele nunca agradece. Nunca
pede desculpas. Nunca diz por favor. Mas, para infelicidade de Malcom,
coração.
que têm o direito de se meter e dar palpites na minha vida pessoal. Mas o
idiota do meu irmão gêmeo superou nossa tia casamenteira e me jogou de
cabeça na pior furada de toda a minha vida quando me deu um contrato
para assinar no meio daquela papelada toda, eu nem li, porque jamais
pensei que ele seria capaz de me enganar dessa forma.
Meu irmão pelo menos foi honesto e listou no perfil tudo que eu — o
gêmeo insuportável e antissocial — apreciava na vida, ou seja, quase
nada e todo tipo de diversão que eu não suportaria por mais de dez
minutos, ou seja, quase tudo.
Joshua era apenas três minutos mais velho que eu e se esforçou para
listar as poucas qualidades que via em mim, mas para reunir os meus
defeitos, ele recorreu a cada um de nossos outros três irmãos para fazer uma
"inscrição fiel à verdade". E, pelo jeito, meus defeitos eram muitos, sem
mencionar a lista das muitas coisas que eu simplesmente nem sequer
consideraria fazer em um encontro. O que significava que todos os meus
perfeitamente sob controle, do jeito que eu sempre quis que fosse, uma
"combinação perfeita" foi encontrada pelo maldito algoritmo do programa
de relacionamentos quando eu já havia até esquecido dele.
Um viúvo bilionário.
AGOSTINI que ela tinha apenas três meses de vida. Que deveria desfrutar
seus dias resolvendo suas pendências e fazendo tudo que sempre quis fazer
e nunca pôde. Foi assim que a comissária de bordo, que era conhecida por
ser a pessoa mais previsível do mundo por seus colegas, em uma noite de
Elisa ouve uma conversa que não deveria ouvir de que o CEO viúvo
OTTO LANCASTER, descobriu, depois de um ano de luto e muita dor pela
morte de sua adorada esposa, que ela o traiu com seu melhor amigo. No
dormir com a primeira mulher que queira transar com ele naquela noite.
golpe que recebeu. Quando, enfim, a reencontra, nove meses depois, ele
inteira. E Otto fará de tudo para proteger e cuidar da sua nova família ao se
ver fascinado pela comissária de bordo que lhe deu a chance de ser feliz
novamente.
Lancaster.
A ESPOSA SEM MEMÓRIA DO CEO: FAMILIA QUOTAR -
LIVRO 1
O CEO bilionário Andras Quotar ama sua esposa mais do que tudo no
mundo.
Tudo que Milena Medeiros sabia foi que dormiu com vinte e quatro
anos e acordou três anos depois, casada e grávida do homem mais rico da
Hungria. Nada veio fácil na vida de Milena. No entanto, a estudante de
intercâmbio. Uma noite e três doses de uma bebida que ela nem lembrava o
completamente apaixonado por ela era seu marido há três anos. Falaram
que ela sofreu um acidente, ou algo assim, e que teve um forte trauma na
cabeça.
histórias dos irmãos Adam e Jordi. Poderão ser lidos separadamente, pois
A mãe de LILIANA a odiou desde que soube que estava grávida. O
de sua mãe e batia nela com uma ripa de madeira que mantinha ao lado da
apenas com a ponta dos pés tocando o chão. Liliana já havia quebrado as
pernas em três lugares e, por isso, mancava um pouco. Aos dezoito anos, no
segundo andar, Liliana encontrou sua chance de fugir daquela vida de maus
tratos e medo.
troca de dinheiro suficiente para lhe permitir recomeçar sua vida como
quisesse, mas havia uma condição: em troca, Liliana teria que vender sua
virgindade. Depois de conhecer o que era passar fome e frio nas ruas, a
vantagens de ser um Salomon, ele não encontrava tempo para perder com
Uma noite, ele foi convidado para ir a um clube muito exclusivo. Lá,
viu horrorizado a virgindade de uma moça que mais parecia um anjo ser
negociada pelo maior lance. Gustavo não apenas acionou seus contatos na
que sua vida nunca mais seria a mesma. Ele a protegeria de tudo e de todos,
se fosse preciso.
Salomon.
UMA FAMÍLIA INESPERADA PARA O CEO:
SÉRIE FAMÍLIA BRUSMAN - LIVRO I
anos depois acabou descobrindo que é pai e agora ele a quer de volta a
qualquer preço.
o valor de cada centavo que ganhou e não aceita nada que não se enquadre
mídia.
solo. No entanto, após uma grande injustiça, Natália acabou sendo demitida
Anos se passam e o acaso faz com que o filho de três anos de Natália
cara. Arturo Brusman nem precisa fazer as contas entre o dia da realização
conheceu em sua vida. É assim que ela se torna a esposa do único homem a
quem entregou seu corpo e seu coração, mas que, ironicamente, nem se
lembrava da noite em que tudo aconteceu. Todavia agora é ela que não o
quer e, por mais que tenha concordado em usar seu sobrenome, na cama de