Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
abrir.
Sempre sonhei em ser professora.
Quando chegou a hora de escolher qual
profissão seguir, não tive dúvidas. Mudei
para o Rio de Janeiro, fiz o curso de
formação de professores no Ensino Médio e,
em seguida, a faculdade de Pedagogia.
Amava brincar de escolinha com
minhas bonecas. Chamava minhas amigas
para se passarem por alunas e dava aula
durante horas se não reclamassem e
pedissem para brincar de outras coisas.
Minha tia Antônia sempre me
apoiou. Foi dela o meu maior incentivo para
me mudar e correr atrás do meu sonho.
Ela me criou desde que perdi minha
mãe com apenas seis meses de idade.
Quando completei quinze anos, pedi de
presente saber a real história por trás do meu
nascimento, e ela me contou que minha mãe
engravidou, mas meu pai só queria saber de
trabalho.
Ele não pensou duas vezes quando
recebeu uma proposta para mudar de país,
mesmo sabendo que a esposa grávida não
estava incluída e teria que deixá-la para trás.
Minha mãe, que já estava em
depressão, piorou depois do parto e acabou
tirando a própria vida. Desde então, a tia
Antônia é a minha única família.
Não cresci com luxo, mas nunca me
faltou amor. Ela sempre fez de tudo para
suprir a falta que eu poderia sentir dos dois.
Tudo o que estava ao seu alcance para
conseguir me ajudar com a mudança e os
estudos, minha tia fez.
Não foi fácil no início, mas
consegui. Trabalhei dando aula de reforço
escolar, fazia sanduíches para vender na
escola e, depois, na faculdade, vendi
bijuterias e todas as revistas de cosméticos
que possa imaginar.
Trabalho há dois anos nessa escola
e consigo até mesmo retribuir um pouco do
que tia Antônia fez por mim enviando uma
parte, mesmo que pequena, do meu salário
para ela todo mês. Ainda faço alguns bicos
por fora como tomar conta de alguma criança
ou ajudar outras que estão com dificuldade
no aprendizado, mas nada tão corrido como
antes.
— Olha isso, Cat. — Bianca me
cutuca e indica com um movimento de
cabeça discreto a direção onde estão dois
homens de terno conversando. — Difícil
saber qual dos dois é o mais bonito.
— Até são bonitos, mas olha a
carranca do mais velho. — Abaixo o olhar e
vejo uma menininha linda perto deles. —
Começar o dia com esse humor não deve ser
nada bom.
— Nem todo mundo acorda
animado em plena segunda-feira, amiga. —
Arqueia a sobrancelha para mim.
— Não importa. Já está indo
embora. Não deve ser o pai de nenhum dos
alunos. Provavelmente veio só para
acompanhar. — Faço pouco caso. — Vamos
trabalhar. Está na hora. — Bato palma
animada e dou um passo para mais perto da
entrada para receber meus alunos.
Vejo alguns rostos conhecidos e
sinto minhas pernas serem abraçadas por
algumas crianças que já me conhecem dos
anos anteriores.
— Amiga, a menininha do deus
grego é da sua turma. — A Bianca diz
animada e se afasta sem me dar tempo de
responder.
A pessoa em questão para à minha
frente em seguida.
— Bom dia. — Abaixo-me para
ficar na altura dela e cumprimentá-la. —
Qual o seu nome? — Agarra-se à perna do
homem, que dá um sorriso doce e se abaixa
também.
— Ei! O que o dindinho falou
contigo? — Pergunta de forma carinhosa. —
Está tudo bem. Você não quer conhecer a tia
e seus novos amiguinhos? — Ela dá um
aceno fraco em resposta. — Diz qual é o seu
nome. Ela ainda não sabe.
— Aurora. — Fala, praticamente,
em um sussurro.
— Que nome lindo. Combina com
você, sabia? Uma princesinha com nome de
princesa. — Seus olhos brilham enquanto me
encara — Conhece a história da princesa
Aurora? — Acena com a cabeça em acordo
de forma mais animada. Acho que acertei na
maneira de conquistá-la. — Que tal se me
ajudar a contar para os seus amiguinhos? —
Estico a mão em sua direção, e ela não
demora a colocar a sua na minha. Levanto-
me e fico de frente para o padrinho dela. —
Prazer, meu nome é Catarina. Serei a
professora dessa menina linda aqui durante
este ano.
— Prazer, Catarina. —
Cumprimenta-me com um aperto de mão. —
Meu nome é Conrado. Meu irmão precisou ir
embora, pois tinha uma reunião importante.
Hoje eu sou o responsável por essa
bonequinha. — Faz um carinho na cabeça da
sobrinha. — Meu telefone já está na ficha
dela. Se precisar de alguma coisa, basta me
ligar. — Inclina-se para falar com ela outra
vez. — Venho te buscar daqui a pouco.
Comporte-se. — Aperta o nariz dela de leve
e dá um beijo em sua testa.
— Dindinho. — Chama antes que
ele se afaste. — Meu papai não vem me
buscar? — Sinto a tristeza em sua voz, e isso
corta meu coração.
— Estou magoado. Você não quer
ficar comigo? — Faz drama para distraí-la.
— Podemos almoçar no shopping. O que
acha? — Oferece, e gosto dele de imediato.
Não consigo entender o porquê de o
pai não ter esperado. Será que mais cinco
minutos iam fazer tanta diferença assim? É o
primeiro dia de aula da filha dele em uma
escola nova, caramba. Isso é um
acontecimento importante para a criança. Ela
precisa se sentir acolhida, protegida. Precisa
perceber que não está sendo largada aqui.
Ela tem sorte de ter um tio como o Conrado,
ou seria muito pior.
Mordo a língua para não falar o que
penso. Não preciso começar o ano letivo
arrumando confusão, ou a Glória, diretora da
escola, me mata.
— Vamos conhecer seus novos
amiguinhos? — Mudo de assunto.
— Obrigado. — Fala sem som
olhando para mim e faz sinal para eu ligar se
precisar de alguma coisa.
Dá tchau para a sobrinha e se
afasta, mas olha para trás antes de sair e
manda um beijo para ela, que só assim
começa a caminhar comigo para perto das
outras crianças no pátio de recreação.
— Ele é ainda mais lindo de perto.
— A Bianca fala ao meu lado e se abana de
forma nada discreta. — E quando sorri? Meu
Deus!
— Sossega, Bianca. — Recrimino-
a. — Ele é tio da minha aluna.
— Desde quando isso impede
alguém de ser bonito? — Questiona de forma
brincalhona. — O que foi embora é o pai?
— Solto um suspiro.
— Sim. Teve que ir antes por causa
de uma reunião. — Ela me olha pelo canto
dos olhos.
— Controla esse seu gênio, Cat.
Não tire conclusões precipitadas. — Pede.
— Não estou fazendo nada. — Faço
pouco caso.
— Eu te conheço, garota. Não se
esqueça disso. — Aponta o óbvio. —
Depois a gente se fala. — Joga um beijo no
ar e se afasta, caminhando para perto dos
alunos dela.
— Quem aqui gosta de ouvir
histórias? — Chamo a atenção para mim. —
Que tal começarmos com a princesa Aurora?
— Ofereço e vejo os olhinhos dela
brilharem, assim como os de várias outras
crianças — Como temos amiguinhos novos,
vamos nos apresentar primeiro. Eu começo.
Meu nome é Catarina, mas podem me chamar
de tia Cat.
— Oi, tia Cat. — Todos falam ao
mesmo tempo.
— Eu moro com a minha amiga
Bianca e adoro assistir a filmes e ler livros.
— Posso falar agora, tia? — Um
menininho pergunta.
Todos se apresentam, e a Aurora
fica calada em um canto.
— Falta uma pessoa. — Digo e
caminho para perto dela. — Conta para os
amiguinhos qual é o seu nome. — Peço com
delicadeza para não deixá-la ainda mais
assustada.
— Aurora. — Responde de cabeça
baixa.
— Com quem você mora e o que
gosta de fazer? — Insisto um pouco mais.
— Com o meu papai. — Diz e se
encolhe.
Resolvo não forçar mais. Ela já está
assustada o bastante. Não quero deixá-la
acuada.
Só preciso controlar a minha língua
para não perguntar pela mãe dela, que não
foi mencionada nem por ela e nem pelo tio.
Capítulo
três
Benício — Benício? — O
Benício
— Essa merda está demorando mais
do que pensei. — Bufo e me jogo no sofá do
quarto do hotel onde estou hospedado.
— Encontrou alguma coisa errada
na empresa? — O Conrado pergunta.
— Algumas divergências, mas
ainda não terminou. — Bebo um longo gole
de whisky. — A Aurora já está dormindo?
— Mudo de assunto.
— Como todos os dias quando
consigo falar contigo. — Sinto a reprimenda
em sua voz. — Ela está com saudade, Beni.
A professora mesmo já reparou.
— Como foi essa semana na
escola? — Ignoro sua alfinetada de
propósito, pois não estou com cabeça para
isso.
— Ela está gostando. Me conta toda
animada como foi, mas, como eu disse, e
você fingiu não ouvir, a professora me
contou que, apesar de brincar com os
colegas, às vezes se afasta tristinha.
— O que você quer que eu faça,
Conrado? Não estou aqui porque quero,
porra. Você, melhor do que ninguém sabe o
quanto evito vir pra cá, o quanto esse lugar
me faz mal, mas preciso resolver logo essa
merda para tirá-la do meu caminho.
— E não pode separar alguns
minutos do dia pra falar com a sua filha?
Porra, Benício. — Exalta-se. — Uma
chamada de vídeo, cara. Não vai te arrancar
um pedaço. A garota está sentindo sua falta,
caralho.
Fecho os olhos por alguns segundos
antes de responder e respiro fundo.
— Tenho ficado preso na empresa o
dia inteiro. Preciso ficar atento a tudo. —
Explico. — Já sei quem vai tomar conta pra
mim. — Conto com a intenção de mudar o
rumo da conversa.
Ele respira fundo antes de voltar a
falar, e sei que está se controlando para
evitar uma briga.
— Quem é e, se já escolheu, por
que não deixa essa pessoa tomando conta a
partir de agora e volta pra casa de uma vez?
— O Heitor. Amigo da Liz de
infância. Ela sempre confiou muito nele, e
sei que vai fazer um bom trabalho, mas está
viajando e só chega no próximo fim de
semana. — Explico. — Vou esperar pra
passar tudo pra ele antes de voltar. Enquanto
isso, acompanho a auditoria.
— Você vai ficar mais uma semana
aí? — Bebo o restante do líquido âmbar
antes de responder.
— Sim. Pode ficar com a Aurora
pra mim? — Questiono, mesmo sabendo
qual será a sua resposta.
— Sabe que sim. E, mesmo que não
pudesse, daria um jeito como das outras
vezes em que você se afastou. — Recrimina-
me outra vez.
— Conrado, eu... — Não me deixa
terminar de falar.
— Esquece, Benício. Não quero ter
esse tipo de conversa pelo telefone, e você
já sabe o que penso a respeito. Quanto à
minha afilhada, não precisa se preocupar,
pois eu nunca a deixaria sozinha. Aquela
menina é a minha vida. — Trinco o maxilar.
— Tenho que desligar. Vê se tira um tempo
pra ligar pra ela. — Diz e encerra a ligação
sem me dar tempo de dizer mais nada.
Capítulo
cinco
Benício
Pego o telefone para ligar para o
meu irmão, já esperando o que me aguarda.
Ele não vai gostar nada do que tenho a dizer,
e sei disso.
Passo a mão nos cabelos, respiro
fundo e ligo para o número dele, que atende
logo em seguida.
— Já está chegando? — Pergunta
sem ao menos me cumprimentar.
— Não. — Solto um suspiro. —
Marquei um almoço com o Heitor amanhã
para acertar todos os detalhes. Vou direto
pra casa depois disso. A Aurora está perto
de você? — Mudo de assunto.
— Já dormiu. — Sinto no seu tom
de voz o quanto está irritado comigo. —
Como sempre, não é mesmo!? Parece que
você faz de propósito. Quase duas semanas
longe dela e não pode passar cinco minutos
que seja em uma chamada de vídeo com a
sua filha, Benício?
— Eu falei com ela na terça. —
Defendo-me.
— Claro. A menina lutou contra o
sono feito uma louca pra conseguir esperar a
sua ligação. E tenho certeza de que você só
ligou, porque achou que ela já estaria
dormindo.
— Aqui não está sendo fácil,
Conrado. — Digo mais ríspido do que
pretendia.
— Imagino. — Fala com sarcasmo.
— Você deve estar se afogando em um mar
de lamentações ao invés de seguir em frente.
Só está se esquecendo de quem é a mais
atingida com isso tudo. Sua filha.
— Não coloque em dúvida o meu
sentimento pela Aurora, porra. — Exalto-
me.
— Eu não estou duvidando,
Benício. Sei que a ama. Só não entendo
como consegue se manter distante como faz.
A garota precisa de você. Ela só quer o pai
por perto, mais nada.
— Ela me tem. — Digo de maneira
firme. — A Aurora é a minha vida, Conrado.
É o que me mantém de pé.
— Tirando algumas épocas do ano.
— Alfineta. — Olha, faz como você achar
melhor. Só depois não reclama quando ela
crescer e começar a fazer o mesmo.
— O que... — Interrompe-me.
— Vou desligar. Preciso organizar
um dia movimentado e animado pra tentar
distrair a Aurora amanhã.
— Eu... — Olho o celular na minha
mão e vejo que já encerrou a ligação. —
Merda. — Jogo o aparelho na cama.
Caminho para o banheiro, tiro a
roupa e jogo no canto. Entro no box e ligo a
ducha, me colocando debaixo do jato d’água
em seguida. Fecho os olhos e solto um
suspiro. Só queria ter o poder de voltar atrás
no tempo e impedir a Liz de sair de casa
naquele maldito dia.
meus compromissos.
Vejo os outros responsáveis
parados na entrada e agradeço por ter
conseguido chegar antes de o portão abrir.
— Bom dia, minha linda. — A
Catarina faz questão de cumprimentar minha
filha e me ignorar, como de costume. —
Animada para o banho de mangueira?
— Papai! — Coloca as mãozinhas
no rosto. — A gente esqueceu o biquíni. —
Fala com uma vozinha triste.
— Que biquíni, filha? O papai não
sabia de nada. — Tento puxar pela
lembrança se alguém me disse alguma coisa,
mas não me lembro de nada.
— Tinha um recado na agenda
avisando do banho de mangueira hoje e
pedindo pra trazerem a roupa de banho. —
Encara-me séria. — Por isso peço pra
olharem todos os dias. — Recrimina-me.
— Desculpa se não sou um pai
perfeito, professora. — Falo com sarcasmo.
— Cheguei da escola com ela e ainda tinha
diversas coisas do trabalho pra resolver.
— Claro. O trabalho sempre em
primeiro lugar. — A amiga cutuca sua
cintura com o cotovelo, e o porteiro a
encara, sem acreditar que esteja falando
assim com um responsável.
O que eles não sabem é que ela
sempre faz isso. Comigo. Só comigo. Com
mais ninguém.
— Olha aqui... — Começo, mas a
Aurora choraminga, e eu paro.
— Eu não vou poder tomar banho
com os amiguinhos, tia Cat? — Ela
semicerra os olhos para mim.
— O senhor não tem alguém que
possa trazer a roupa de banho pra ela? — A
outra professora pergunta, em uma tentativa
de acalmar os ânimos.
Respiro fundo e vejo a cara de
choro da minha filha. Xingo-me mentalmente
por ter esquecido de olhar a maldita agenda
ontem à noite.
— Olha pra mim, princesa. —
Abaixo-me para ficar da sua altura e olhá-la
nos olhos. — Eu vou buscar, tudo bem?
Entra com a professora, que eu já volto. —
Beijo seu rostinho com carinho.
— Você é o melhor papai do
mundo. — Joga os bracinhos em volta do
meu pescoço e me abraça apertado. Logo
depois, corre para dentro com os outros
alunos, já mais animada.
Duas coisas acontecem ao mesmo
tempo: preciso me controlar para não chorar
na frente de todos com essa declaração, e a
professora desvia o olhar, mas ainda consigo
ver que foi pega de surpresa e também está
emocionada.
Levanto-me e me afasto sem olhar
em sua direção outra vez. Escutar minha
filha falando isso faz até mesmo com que eu
esqueça por alguns segundos a raiva que
estou sentindo daquela atrevida.
Assim que entro no carro, meu
celular toca, e vejo o nome do Conrado no
visor.
— Não vai me dizer que já te
contaram o que aconteceu? Colocou alguém
pra me vigiar? — Pergunto com deboche.
— Como assim, Beni? O que
poderiam me contar? — Solto um suspiro e
conto tudo. Até mesmo a fala da Aurora e a
reação da professora. — Juro que não
entendo vocês. A Catarina é sempre educada
com todos. Nunca a vi tratar outro
responsável como te trata. Assim como você
também. Pode até não ser a pessoa mais
simpática do mundo, mas não trata ninguém
com ignorância.
— Não sei o que fiz a ela. — Sou
sincero. — Está sempre com quatro pedras
na mão pra cima de mim. Ou me ignora, ou
me trata mal. — Bufo.
— Aposto que você não está
facilitando também. — Acusa.
— Conrado, eu tenho deixado até
barato demais por saber que a minha filha
gosta dela. Se fosse outra pessoa, já teria
feito uma queixa formal à direção da escola.
Fala logo o que você quer. Preciso desligar
pra ir buscar esse biquíni de uma vez.
— Deixa. Era pra saber se estava
tudo bem. Beni. — Chama quando fico
calado. — Posso te pedir um favor?
— Depende. Meu dia não começou
muito bem. Se não for nada que o faça
piorar, pode. — Respondo de mau humor.
— Conversa com a Catarina. —
Pede.
— Não. — Digo de maneira firme.
— Deixa de ser teimoso, cara.
Pensa na Aurora. Esse clima atinge a
menina. — Apela. — Seria bom pra ela que
vocês se dessem bem, mano. — Insiste.
— Vou pensar. — Digo e desligo
sem dar tempo a ele de falar mais alguma
coisa.
Sigo para casa pensando no que me
pediu. Por mais que eu odeie admitir isso,
ele está certo. Minha filha é uma criança
muito sensível e não vai demorar a perceber
que tem alguma coisa errada entre a
professora e eu.
Se ela não estivesse tão bem
adaptada, não gostasse tanto daquela
petulante, eu a trocaria de escola sem pensar
duas vezes. Mas essa não é a primeira
tentativa que faço, e ela não aceitou da outra
vez. Tenho medo de tirá-la e não conseguir
encontrar outra que aceite tão bem assim.
Podem até dizer que estou mimando
a Aurora, porém não me importo. Ela perdeu
a mãe quando ainda era um bebê. Tudo o que
eu puder fazer para que seja feliz, farei sem
pensar duas vezes. Mesmo que isso inclua
deixar o meu orgulho de lado e conversar
com aquela mulher como o Conrado sugeriu.
Entro em casa e corro para o quarto
da Aurora. Pego dois biquínis por não saber
qual ela prefere e volto para a escola
apressado.
Como todos os pais já foram,
consigo estacionar em frente ao portão.
— Bom dia. — O porteiro me
cumprimenta.
— Bom dia. Você pode chamar a
professora Catarina, por favor? Ela já estava
ciente que eu ia voltar.
— Só um minuto. — Concordo com
um aceno de cabeça e encosto no muro para
esperar.
— Oi. Não precisava ter me
chamado. — Diz como se a ideia de me
encontrar outra vez a incomodasse. — Podia
ter entregado ao Enrico. — Aponta para o
porteiro.
— Posso dar uma palavrinha
contigo? —Tento usar um tom calmo.
— Olha, eu... — Percebo que vai
negar e a interrompo.
— É sobre a Aurora. — Digo uma
meia verdade, e ela solta um suspiro.
— Tudo bem. Só não posso
demorar. — Avisa.
Faço sinal para que me acompanhe
e caminho para um pouco mais distante do
portão. Não preciso que ninguém nos ouça.
— Eu te fiz alguma coisa? — Vou
direto ao assunto, e ela me olha confusa.
— Não estou entendendo aonde o
senhor quer chegar. — Fica distante de mim
e cruza os braços.
— Você já me conhecia antes? Eu te
encontrei em algum lugar e te tratei mal, ou
qualquer coisa assim? — Insisto sem desviar
os olhos dos dela.
— Por que o senhor está me
perguntando essas coisas? O que isso tem a
ver com a Aurora?
— Só estou tentando entender o
motivo pra você me tratar sempre tão mal.
— Sou direto e percebo que a deixei sem
graça. — Eu sou o único que recebo esse
tipo de tratamento. Não te vejo falando com
o meu irmão ou qualquer outro responsável
da mesma maneira. O que eu te fiz? — Volto
a perguntar. Ela solta um suspiro e desvia o
olhar. — Posso não ter sido o mais educado
também e peço desculpa por isso, mas tenho
tentado melhorar esse clima estranho entre
nós, só que não está adiantando. Se a minha
filha não gostasse tanto de você, já teria ido
conversar com a diretora. — Sua fisionomia
muda quando me ouve. — Isso não é uma
ameaça. — Explico e passo a mão pelos
cabelos.
— Desculpa. O senhor está certo.
Não tenho lhe tratado como devo. — Diz,
mas noto que alguma coisa ainda a
incomoda.
— Acho que não começamos muito
bem. Que tal se a gente zerasse tudo e
recomeçasse? Vamos deixar essas
alfinetadas e esse clima ruim no passado.
Pela Aurora. — Estico a mão em sua
direção. — Prazer, meu nome é Benício. Sou
o pai da princesa Aurora. — Brinco, e ela
abre um sorriso discreto.
Sinto uma pontada de esperança que
a gente consiga conviver de forma
civilizada, pelo menos.
— Prazer. Sou a Catarina. A
professora que teve a sorte de ser escolhida
pra dar aula pra sua princesa. — Devolvo o
sorriso, o meu não tão discreto assim.
— Aqui. — Entrego a sacola com
os biquínis. — Trouxe mais de um, porque
não sabia qual ela ia querer. Desculpa por
ter esquecido. O dia de ontem foi bem
corrido e acabei não olhando a agenda como
sempre faço. Isso não vai se repetir. —
Garanto.
— Não tem problema. Essas coisas
acontecem. — Aponta para trás. — Tenho
que entrar. A turma está me esperando. Até
mais.
— Até mais — Vejo quando se vira
e caminha para a escola.
Fico parado, esperando-a entrar
para, só depois, voltar para o meu carro e
dirigir até a empresa.
Sigo com meu humor melhor do que
tem andado. Parece que essa conversa me
tirou um peso das costas. Se eu soubesse, já
teria feito isso antes.
— E aí? Conversou com a
Catarina? — O Conrado me pergunta assim
que saio do elevador.
— Estou começando a achar que
você colocou alguém pra me vigiar de
verdade. — Ele revira os olhos para mim.
— Não é possível. Como sabia que eu
estava chegando?
— Não muda de assunto, Beni. Fala
logo. Vocês se entenderam? — Volta a
perguntar.
Resolvo provocá-lo um pouco e
sigo para a minha sala em silêncio. Ele vem
atrás de mim pisando duro.
— Você não tem trabalho? Está se
aproveitando do status de herdeiro e
colocando os outros pra fazer o seu serviço?
— Provoco-o um pouco mais.
— Vai se foder e para de me
enrolar. — Exalta-se. — Espera. — Fica
parado me encarando. — Que sorrisinho é
esse? Tem muito tempo que não te vejo com
essa animação. — Semicerra os olhos para
mim, e vejo seus lábios repuxarem no canto.
— Beni, Beni, o que você está aprontando?
— Pode parar. Não começa a
inventar coisas nessa sua cabeça criativa. —
Corto antes que a imaginação dele comece a
criar coisas que não vão acontecer. —
Conversei com ela, a gente se entendeu e
pedi pra zerar tudo e começar de novo. Não
era isso que você queria? Pronto. Agora me
deixa trabalhar em paz.
— Claro. Você não consegue me
esconder nada por muito tempo mesmo. Sei
que vai me contar logo se estiver
acontecendo alguma coisa. — Fala e
caminha para a porta. Abre e se vira para
mim. — Como estar se interessando pela
professora da sua filha. — Diz e sai, sem me
dar tempo de responder.
— Filho da mãe. — Acabo sorrindo
com a sua brincadeira.
Há bastante tempo não me sentia
leve desse jeito. Só espero não me afundar
outra vez naquele mar de tristeza.
Capítulo
dez
Benício — Ahhhhh. — Ouço
o grito da Aurora e corro em sua direção. —
eu a pego no colo.
— Achei você. — Faço cosquinha
em sua barriga, e ela se remexe nos meus
braços. — Sua danadinha.
— Mais uma vez, papai. Mais uma.
— Pede com os olhos brilhando e um sorriso
lindo no rosto, trazendo um ao meu também.
— Daqui a pouco, princesa. Vamos
ver um filme. — Tento convencê-la e a
coloco no chão.
— Seu pai está velho, princesa. —
Fuzilo meu irmão com o olhar.
— Como se você fosse tão mais
novo do que eu. — Reviro os olhos para ele.
— Admite que já não tem o mesmo
fôlego de antes, Beni. — Provoca-me com
um sorriso de canto.
— Vai se ferrar, babaca. — Soco
seu braço de leve.
— Papai! Não pode falar palavra
feia. — Chama minha atenção, e meu irmão
gargalha.
— Desculpa, filha. Seu dindinho
tem o dom de me irritar. — Dou um tapa na
nuca dele. — Vamos pedir pizza? —
Ofereço.
— Obaaaaaaaa. — Pula animada no
sofá. — Pode ser de queijinho?
— Só de queijinho ou de linguiça
também? — Acena com a cabeça em acordo
quando dou a segunda opção.
— Você está entupindo minha
afilhada de besteira. — Meu irmão me
repreende.
— Controlo a alimentação dela a
semana toda, Conrado. Uma vez só não tem
problema. Deixa de ser chato. — Reclamo.
— O que vocês almoçaram hoje?
— Pergunta e cruza os braços, esperando
pela resposta.
— Carninha com batatinha, arroz e
feijão. — Minha filha me entrega.
— Tinha salada também, mocinha.
— Defendo-me e me viro para ele. — Você
vai querer comer ou vai ficar me criticando?
— Questiono.
Não me responde. Pega o celular do
bolso e faz o pedido de uma vez.
— Pedi uma de cada. — Avisa.
— Vamos tomar banho enquanto não
chega, princesa. — Falo com a Aurora e a
pego no colo.
Ela, apesar de estar animada, já
está cansada. É melhor dar logo o banho
dela para não acabar pegando no sono e
dormir toda suada.
— Não vai embora, dindinho. —
Diz quando passamos por ele.
Entro com ela no banheiro, ajudo a
tirar a roupa e ligo o chuveiro. Ela entra no
box, se molha e se ensaboa.
— Assim, papai? — Concordo com
um aceno de cabeça.
— Não molha o cabelo pra não
demorar. Amanhã você toma banho mais
cedo e lava. — Ajudo-a a terminar, pego a
toalha e enrolo no seu corpinho. — Vai
colocar qual pijama hoje?
— O da Elza. — Pede. — Papai,
posso passar perfume?
— Não, princesa. O perfume é pra
sair. — Explico como já fiz várias vezes.
— Mas eu quero ficar cheirosa. —
Faz bico.
— Você está. — Levo meu nariz ao
seu pescoço e aspiro. — Hummmmm. —
Brinco. — Muito cheirosa.
— Você é tão bobinho, papai. —
Ri.
— Por que eu sou bobinho? —
Coloco o pijama nela depois de secá-la e
endireito o seu cabelo.
— Esse é o meu cheirinho. — Olha-
me como se eu fosse um tolo por não saber.
— O seu cheirinho é o melhor
perfume do mundo, meu amor. — Dou um
beijo na sua bochecha e a levo de volta para
a sala. — Dindinho, o cheirinho da Aurora
não é o melhor perfume do mundo? —
Pergunto ao meu irmão, que pega a afilhada
no colo e cheira o pescoço dela.
— Uma delícia. Quero levar pra
minha casa. Posso?
Ficamos nesse clima gostoso até a
pizza chegar. Comemos enquanto brincamos
um com o outro. A Aurora não demora muito
a demonstrar que está cansada. Começa a
bocejar e seus olhos ficam pequenos.
Meu irmão aproveita que ela
dormiu para ir embora, pois marcou com a
Nathalia, namorada dele, de saírem daqui a
pouco.
Organizo tudo e vou para o meu
quarto. Pego uma bermuda e sigo para o
banheiro para tomar banho. Não demoro
muito a sair e seguir para a minha cama.
Deito e fico pensando nos últimos dias.
Várias coisas passam pela minha
cabeça. Até mesmo o rosto de uma certa
professora atrevida.
entramos em casa.
— Não prefere ficar em casa vendo
desenho e comendo pipoca? — Ofereço
torcendo para ela aceitar, pois estou exausto.
Essa correria de trabalho, levá-la e
buscá-la na escola, não está sendo fácil, pois
tenho que adiantar o máximo de serviço
possível em pouco tempo para conseguir sair
mais cedo da empresa e não me atrasar.
— Hoje, papai. — Insiste e faz
bico.
— Filha, estou cansado. Vamos
deixar pra amanhã. — Tento, mais uma vez,
torcendo para funcionar.
— Mas, papai, a tia Cat vai. —
Fala manhosa, e eu me viro para ela.
devolvo o cumprimento.
— Bom dia. — Abaixo-me para
ficar na altura da Aurora. — Tudo bem,
minha linda? — Acena com a cabeça em
acordo, desanimada.
Faço um carinho em seu rosto e me
levanto outra vez.
— Ela anda um pouco tristinha.
Está acontecendo alguma coisa? —
Pergunto.
— Meu irmão anda um pouco
enrolado essa semana, e ela está sentindo
falta de ficar com ele o tempo todo. —
Percebo em seu olhar que não está sendo
sincero. — Por falar nisso, posso dar uma
palavrinha contigo? É coisa rápida.
— Claro. — Respondo, mesmo que
por dentro a vontade seja de gritar que não.
— Vou levar a Aurora ao shopping
hoje à noite, e, como ela gosta muito de
você, pensei que seria uma boa ideia se
pudesse nos encontrar. — Encaro-o sem
dizer uma palavra. — Espera. — Ergue as
mãos e balança a cabeça para os lados,
repuxando o canto dos lábios. — Eu me
expressei mal. A minha namorada vai
comigo. Não é o que está pensando. Minha
intenção é tentar animar a Aurora. —
Explica, me fazendo relaxar.
— Tudo bem. — Concordo. — Só
me diz em qual shopping vocês vão e o
horário. Também estou precisando me
distrair. — Ele fica calado me olhando, e,
quando penso que não vai dizer mais nada,
volta a falar.
— Vou confirmar com a Nath e te
digo na hora da saída. Pode ser? —
Concordo com um aceno de cabeça. —
Obrigado. Até mais. — Despede-se e sai.
— O que foi isso? — A Bianca
para ao meu lado.
— Ele me chamou pra ir ao
shopping com a Aurora. — Ela arqueia a
sobrancelha para mim. — A namorada dele
vai junto, sua mente poluída. — Implico.
— Só eles? — Fica me encarando,
e logo entendo o que está pensando.
— Apesar de ele não ter dito nada,
acredito que sim. Quem você está pensando
não quer me ver. Tanto que nem trazer a filha
na escola tem trazido. — Pontuo. — Ainda
deve estar com raiva de mim. — Solto um
suspiro.
— Não é pra menos, Cat. O cara
tenta te alertar, entra em uma briga pra te
defender, e você faz o que fez. — Sobe e
desce os ombros. — O que esperava que ele
fizesse?
— Precisa ficar me lembrando do
meu erro? — Bufo. — Eu já me xingo todos
os dias por isso. Não precisa tripudiar.
— Sou sua amiga, mas não sou
obrigada a passar a mão na sua cabeça
quando erra e nem fingir que nada aconteceu.
Vou te lembrar sempre pra ver se não comete
o mesmo erro outra vez. — Pisca para mim e
se afasta.
nós.
— Eu que te pergunto, porra. —
Exalto-me. — Está traindo a Nath e ainda
quer fazer isso aqui em casa?
— Só não acerto sua cara agora,
porque algo me diz que esse tapa que você
levou doeu mais do que qualquer soco que
eu possa te dar. — Cerro os punhos ao lado
do meu corpo.
— O que aconteceu? — Viro-me ao
escutar a voz da Nath. — Por que a Catarina
saiu daqui daquele jeito? — Fecho os olhos
e me xingo mentalmente.
Puta que pariu. O que eu fiz?
— Pergunta ao idiota do seu
cunhado. — Meu irmão responde deixando
transparecer toda a sua indignação com o
que acabei de fazer e se afasta de nós
pisando duro.
— Fiz merda, Nath. — Admito e
passo a mão pelos cabelos. — O pior é que
não sei como corrigir e nem posso tentar
agora, pois não teria como sair da festa da
minha filha.
— O que você fez, Beni? —
Questiona carinhosa, ao contrário do
namorado, mas não posso julgá-lo.
— Insinuei que seu namorado
estava te traindo com a Catarina quando eles
chegaram juntos. — Conto e me sento em um
banco, frustrado comigo mesmo.
— Ficou com ciúme? — Arqueia a
sobrancelha para mim e se agacha à minha
frente, apoiando as mãos nos meus joelhos.
— Claro que não. — Digo firme. —
Por que ficaria? — Bufo.
— Sabe há quantos anos eu te
conheço? — Prende o sorriso. — Se você
quer mesmo corrigir esse erro, o primeiro
passo é admitir que agiu errado e o motivo
que te levou a isso, Beni. Pode começar
conversando com o seu irmão. Posso apostar
que ele não gostou nada da sua atitude, e
você não precisa sair daqui pra se
entenderem.
— Ele não vai querer me ouvir. —
Solto um suspiro. — Está puto comigo e com
razão. Eu poderia até ter desconfiado da
Catarina, Nath, mas não dele.
— Sempre achei linda a relação de
vocês e sei que não gostam de ficarem
brigados. Seja sincero, e tenho certeza de
que ele vai te desculpar. — Beija meu rosto
e se levanta. — Vem. Coloca um sorriso
nesse rosto, e vamos procurar a
aniversariante e seu irmão. Eu fico com ela e
olho as coisas enquanto vocês se acertam. —
Oferece.
Faço o que ela diz e caminho para
os fundos da casa onde alguns convidados já
circulam. Avisto meu irmão com a sobrinha
no colo e sigo para perto deles.
— Conrado. — Chamo quando me
aproximo deles.
Ele entrega a Aurora para a Nath,
que se afasta de nós, deixando-nos sozinhos.
— Sai de perto de mim, Benício.
Não quero olhar pra sua cara. — Começa a
caminhar para longe, e eu vou atrás.
— Eu sei que pisei na bola. —
Confesso. — Pode me xingar, me bater, fazer
o que quiser, mas me escuta. — Tento
convencê-lo.
— Pra quê? Pra te escutar falar
merda outra vez? — Explode. — Você não
ofendeu só a mim, Benício. Ofendeu a
Catarina também. Demorou um bom tempo
pra acabar com aquele clima péssimo entre
os dois para em poucos segundos colocar
tudo a perder. — Balança a cabeça para os
lados, decepcionado comigo.
— Você está certo, mas não sabe de
tudo. — Olha para mim e arqueia a
sobrancelha.
— Vai querer colocar a culpa nela
pela sua idiotice? — Semicerra os olhos.
— Não. Não vou. Só estou tentando
te contar o que aconteceu no fim de semana
passado. — Tento prender a sua atenção.
— Eu sei que se encontraram no
shopping. Esqueceu que fui eu quem armou
pra isso acontecer? — Pergunta com
sarcasmo.
— Sei disso, mas não estou falando
desse encontro. — Continuo.
— Do que você está falando,
Benício? Onde mais se encontraram?
— Depois que você e a Nath
levaram a Aurora, eu resolvi sair um pouco
pra espairecer e acabei encontrando a
Catarina. — Conto tudo o que aconteceu, até
a forma que ela foi embora, omitindo apenas
os detalhes do sexo, pois não falaria disso
nem mesmo com ele.
— Puta merda! — Solta assim que
acabo de falar.
— Na hora em que te vi entrar com
ela, perdi a cabeça. Sei que falei merda, sei
que fui um babaca, mas não consegui
controlar. — Solto um suspiro, ainda
frustrado com essa minha atitude.
— Sabe o porquê de isso ter
acontecido, não sabe? — Encara-me. — Até
quando vai lutar contra o que sente pela
Catarina? Admite de uma vez antes que faça
uma besteira que não tenha mais como
corrigir. Olha o tamanho da merda de hoje,
Beni. Tem noção do quanto a ofendeu?
— O que você quer que eu faça,
Conrado? Não posso sair no meio da festa
da minha filha, droga. — Repito o que já
falei para a Nath.
— Não, não pode, e eu não estou
dizendo pra fazer isso. Até porque ela não
iria te ouvir, e você não está preparado pra
ter essa conversa ainda.
— Como assim não estou
preparado? — Olho para ele sem entender.
— Antes de mais nada, você
precisa aceitar que gosta dela e que merece
ser feliz outra vez, que pode e deve voltar a
viver de verdade. Você precisa deixar a Liz
no passado, Beni.
— Eu não consigo. — Nego com
um aceno de cabeça e engulo em seco. —
Não posso fazer isso.
— Pode e deve. Já era pra ter feito,
Beni. — Respira fundo e se aproxima mais
de mim, dando um aperto no meu ombro. —
Vamos curtir a festa da nossa princesa. Você
não vai conseguir resolver nada disso agora.
Aproveita esse tempo antes de se
encontrarem na segunda pra pensar no que eu
te disse.
— Papai. — Minha filha corre em
minha direção. — Você está dodói? —
Questiona preocupada assim que me olha
mais de perto.
— Só preciso de um beijinho seu
pra melhorar, meu amor. — Pego-a no colo e
recebo vários beijos estalados espalhados
pelo meu rosto.
“Nós dois;
Já tivemos momentos;
Mas passou nosso tempo.
Não podemos negar.
Foi bom;
Nós fizemos história;
Pra ficar na memória;
E nos acompanhar.
Quero que você viva sem mim...”
— Eu vou tentar, Liz. Prometo que
vou tentar. — Digo com a voz carregada de
emoção como se ela pudesse me ouvir.
Capítulo
vinte
Benício — Você pode ir
empresa.
— Está com medo de ir sozinho? —
Provoca-me.
— Ela não apareceu na hora da
entrada. — Ignoro sua fala de propósito e
não preciso dizer a quem estou me referindo.
— Tenho uma ideia caso isso aconteça
novamente na hora da saída.
— O que você pretende, Beni? Não
vai fazer nenhuma besteira. — Pede com
receio.
— Depois que todos foram embora
da festa, eu não conseguia dormir e fiquei na
sala ouvindo música. Acabei pegando no
sono no sofá e sonhei com a Liz. — Conto, e
ele fica calado me encarando. — Foi tão
real. — Fecho os olhos por alguns segundos
e respiro fundo.
— Como foi? — Sorrio para ele.
— Ela me pediu o que você e a
Nath vivem me pedindo. Pra voltar a viver.
— Minha cunhada sempre foi uma
pessoa maravilhosa e continua sendo, pelo
jeito. — Tem um sorriso no rosto quando
diz.
— Será que eu consigo? Não sei se
quero me envolver com outra pessoa. Tenho
medo de passar por tudo aquilo outra vez. —
Confesso.
— Beni, você já está envolvido. Só
precisa parar de lutar contra e de fazer
besteira. Quanto ao que aconteceu com a Liz,
aquilo foi um acidente. Poderia acontecer
com qualquer um. Ninguém tem garantia de
nada nessa vida, mano. O que não dá pra
fazer é deixar uma chance como essa passar
e não aproveitar por medo.
— Tenho minhas dúvidas se a
Catarina vai me perdoar. — Dou voz ao meu
receio.
— Você errou feio, mas admitir já é
um bom começo. — Pontua. — Seja sincero
com ela, explica o que te levou a agir
daquele jeito e para de guardar pra si o que
sente, Beni. Só não adianta nada fazer isso e
continuar errando. Não foi a primeira vez
que insinuou algo desse gênero.
— Aquela professora mexe tanto
com a minha cabeça, que eu acabo fazendo
besteira. — Admito. — Não sei o que
aconteceu comigo quando vi vocês chegarem
juntos.
— Olha só! Já está até mesmo
assumindo que sente ciúme. — Debocha. —
Eu vivi pra ver isso.
— Vai se ferrar, Conrado. — Fecho
a cara, e ele ri ainda mais. — Posso ou não
contar contigo? — Olho para o relógio no
meu pulso. — Já está quase na hora.
— Sabe que sim. Vamos resolver
isso de uma vez. — Levanta-se. — Vou com
o meu carro. De lá, já sigo pra casa. Se
quiser, fico com a Aurora pra vocês
conversarem, ou, quem sabe, até mais do que
isso. — Sobe e desce as sobrancelhas várias
vezes.
— Você não cresce? — Saio da
sala com ele e acabo sorrindo. — Ana, vou
buscar a Aurora na escola e não volto hoje.
Você pode sair mais cedo também. —
Ofereço.
— Aproveita que o carrasco está
bonzinho. — Meu irmão brinca com ela.
— Babaca. — Dou um tapa na sua
nuca.
— Quando vão tomar jeito? —
Revira os olhos para a gente.
Caminhamos para o estacionamento
e seguimos direto para a escola. Assim que
estacionamos próximo ao portão, ele desce
do carro e vem até o meu para falar comigo.
— O que você pretende fazer? —
Cruza os braços e me encara. — Não quer
ficar aqui, e eu busco a Aurora? Se ela não
souber que você veio, talvez seja mais fácil
aparecer. — Opina.
— Acho que vou esperar o horário
de saída dela. Não quero ter essa conversa
na porta da escola. O ideal seria convencê-
la a ir a algum lugar, mas não espero tanto
assim desse encontro. — Passo a mão na
nuca.
— Certo. Vou buscar a Aurora e
levo pra minha casa. Depois você me liga e
me conta como foi. Se quiser, ela pode
dormir comigo. — Oferece.
— Sua fé em mim é bem maior do
que a minha. — Sorrio sem humor.
— Ela também sente alguma coisa
por você, Beni. É só ter paciência e não
meter os pés pelas mãos, que vão se
resolver. — Aperta meu ombro e se afasta
de mim, juntando-se aos outros responsáveis
na saída da escola.
Fico dentro do carro com o vidro
fechado para não ser visto. Se minha filha
souber que estou aqui, vai me gritar e acabar
com os meus planos de pegar a Catarina de
surpresa, e eu não quero que isso aconteça.
Depois que todos os alunos vão
embora, os funcionários começam a sair
também. Não demora muito para ela passar
pelo portão junto com a amiga. Espero até se
afastarem um pouco mais da escola para
descer do carro e a abordar.
— Catarina. — Chamo. Percebo
que ela me escuta, mas continua andando, me
ignorando de propósito.
Apresso o passo e a alcanço.
Seguro seu braço e a viro para mim com
cuidado para não machucá-la.
— Não encosta em mim. — Exalta-
se e se solta.
— Desculpa. — Passo a mão pelos
cabelos, frustrado. Acho que vai ser mais
difícil do que pensei. — Posso falar contigo
um minuto? — Nega com um aceno de
cabeça e volta a andar. — Por favor.
Prometo não demorar.
— Nada do que você tenha pra me
dizer pode me interessar. Se me der licença,
quero ir pra casa.
— Eu te levo. — Ofereço em uma
tentativa tola de ter mais tempo para fazê-la
me ouvir. — Faço o que você quiser se
disser que vai me escutar.
— Até mesmo esquecer que eu
existo? — Usa um tom irônico para falar.
— Isso é impossível. — Sou
sincero e percebo que a pego de surpresa,
porém ela disfarça rapidamente.
— Vai, Cat. — Fuzila a amiga com
o olhar. — É melhor assim. Diz logo o que
está te machucando e, se ainda quiser, coloca
logo um ponto final nessa história, mas
resolve de uma vez isso. Ficar remoendo não
vai adiantar nada. A gente se encontra em
casa. — Beija o rosto dela e caminha para
longe sem dar tempo à outra de reagir.
Sinto vontade de ir atrás dela para
agradecer, porém não o faço, pois tenho
certeza que a Catarina se aproveitaria desse
tempo para correr para longe de mim.
— Você tem cinco minutos. —
Cruza os braços e me encara séria, e eu
preciso me concentrar no seu rosto para não
perder o raciocínio com os seus seios
realçados bem à minha frente. Engulo em
seco. — O tempo está passando. — Avisa.
— Prefere ir para a lanchonete da
esquina? Podemos tomar um suco enquanto...
— Sou interrompido.
— Acho que o senhor não entendeu.
— Diz de maneira seca. — Eu não vou a
lugar nenhum contigo. — Faz uma pausa. —
Já se passou um minuto.
— Ok! — Respiro fundo. — Quero
te pedir desculpa por sábado. Sei que fui um
babaca, e você tem toda razão de estar com
raiva de mim. — Falo tudo de uma vez. —
Não sei o que me deu quando te vi com o
Conrado. — Fecho os olhos e balanço a
cabeça para os lados. — Eu enlouqueci. —
Confesso. — Fiquei maluco só de te
imaginar com ele. — Seus olhos ganham um
brilho diferente, e ela desvia o olhar do meu.
— Queria ter ido atrás pra te pedir desculpa
na mesma hora, mas não tinha como sair da
festa da minha filha. Passei o fim de semana
inteiro remoendo o que aconteceu por não
saber onde te achar.
— Acabou? — Olha para o relógio
e finge não estar mexida com tudo o que
falei, mesmo eu percebendo o contrário.
— Por que você saiu do quarto do
hotel daquele jeito? — Acabo perguntando
sem conseguir me controlar.
— Aquilo foi um erro. — Diz de
maneira firme.
— Não pra mim. — Dou um passo
para mais perto dela. — Você mexe comigo,
Catarina. — Passo a ponta do dedo pelo
contorno dos seus lábios, e ela dá um passo
para trás. — De uma maneira que há muito
tempo não acontecia.
— É melhor você esquecer aquilo,
pois não vai se repetir. — Vacila no final da
frase e se vira para ir embora.
— Espera. — Apresso-me e fico de
frente para ela. — Tudo bem. Podemos
deixar o que aconteceu no passado, mas será
que você consegue me perdoar pelo que fiz e
voltarmos a nos tratar bem? Pela Aurora. —
Apelo como já fiz antes, sem um pingo de
remorso. — Prometo que essa é a última vez
que te peço isso.
— Olha, Benício, eu... — Percebo
que vai negar e a interrompo antes que o
faça.
— Por favor. A Aurora é louca por
você. Não quero que minha filha pague por
um erro meu, Catarina. Se ficar esse clima
estranho entre a gente, ela vai sentir, e já
passou por sofrimento demais pra uma
criança da idade dela.
Não tenho vergonha de usar isso a
meu favor, nem tão pouco vou desistir
facilmente.
— Tudo bem. — Acaba cedendo, e
eu abro um sorriso nada discreto.
— Obrigado. Prometo me
comportar e não voltar a te tratar mal. Posso
te levar pra casa? — Ofereço.
— Não. — Corta de maneira direta.
— Eu vou de ônibus.
— Como preferir. — Não discuto.
Agora não quero mais lutar contra o
que estou sentindo. Sei ser paciente e posso
muito bem esperar que volte a confiar em
mim o suficiente para deixar que eu me
aproxime outra vez.
Capítulo
vinte e um
Benício Paro na entrada da
de mim.
Desde a nossa conversa, há dois
dias, que venho fazendo isso. Percebo o
olhar sem graça dela, porém não ligo.
Concordei em não falar mais sobre o que
aconteceu entre nós, mas isso não significa
que vá facilitar para ela.
— Você gostou, tia Cat? — Minha
filha pergunta e a encara, esperando pela
resposta dela.
— Claro, meu amor. É linda. —
Sorri para ela e cheira a flor em sua mão.
— O papai pegou no nosso jardim.
— Conta animada, e, diferentemente da outra
vez, não me importo e nem fico sem graça.
A Catarina me olha pelo canto dos
olhos, e pisco para ela, que desvia o olhar
na mesma hora.
Se essa mulher já mexia comigo
antes, depois daquela noite, a coisa ficou
ainda mais forte. Tê-la nos meus braços me
fez voltar à vida como meu irmão e cunhada
viviam me cobrando que eu fizesse.
Demorei a admitir isso, mas não
vou mais esconder e nem tentar sufocar esse
sentimento que está nascendo dentro de mim.
Só me resta esperar que ela sinta o mesmo e
não demore a perceber e nem a permitir que
eu me aproxime.
— Tchau, filha. — Chamo a atenção
da Aurora para mim. — Mais tarde, eu
venho te buscar. — Dou um beijo em seu
rostinho e ela dá um estalado no meu
também. — Tchau, Catarina. — Falo
olhando em seus olhos.
— Tchau. — Responde baixinho
sem me olhar.
— Tenha um bom dia. — Pego em
sua mão por poucos segundos, porém por
tempo suficiente para sentir um arrepio
gostoso, e, por mais que ela tente disfarçar,
noto que também sentiu.
Catarina Olho-me no
junto.
Separo uma muda de roupa e coloco
em uma mochila para levar, pois não tenho
certeza se terei que dormir lá por conta do
horário.
Pelo que o Benício me falou, ele e o
Conrado foram convidados para uma festa
de um cliente importante da empresa e não
teriam como faltar. Se eu não aceitasse ficar
com a Aurora, a Nathalia não poderia ir com
eles. Cheguei a pensar em dizer não, mas
acabei concordando.
Confesso que fiquei com o pé atrás
com aquela história de que o Benício já tinha
falado com a Bianca, porém ela saiu desde
cedo, reforçando o que tinha dito sobre ter
um compromisso.
Paro de frente para o espelho e me
olho pela última vez. Penteio meu cabelo e
faço um coque frouxo no alto da cabeça,
passo um gloss nos lábios e respiro fundo.
Na hora em que pego a chave e a
mochila para sair, meu telefone apita.
Desbloqueio a tela para ver o que é e
encontro uma mensagem do Benício me
dizendo que não vai mais sair e que não
preciso mais ir, pois a Aurora não está muito
bem.
A preocupação junto com o fato de
saber o quão importante é essa festa para ele
me fazem sair mesmo assim. Posso ficar com
a Aurora para ele ir, mesmo que por pouco
tempo.
Chamo um carro pelo aplicativo e
sigo para a casa deles. Quando paro no
portão, encontro o Conrado saindo, e
percebo que ele estranha me ver ali.
— Meu irmão não te avisou? —
Pergunta assim que paro perto dele.
— Avisou. — Respondo. — Como
eu já estava pronta, vim para saber se não
estão precisando de nada e se não querem ir
um pouco, pelo menos. Posso ficar com ela.
— Ofereço.
— Acho difícil que você consiga
convencer o Beni a sair de perto da filha
agora. Eles estão lá dentro. — Aponta por
cima do ombro. — Vou comprar o remédio
que o médico passou e já volto. — Comenta.
— Pode entrar. Ele tinha ido dar banho nela
para ver se a febre baixava. — Avisa.
Faço o que ele diz e entro, seguindo
para a sala. Escuto o choro da Aurora, e isso
parte meu coração. Resolvo caminhar para
onde os ouço para tentar ajudar de alguma
maneira.
Sigo as vozes e entro em um quarto
todo decorado com o tema de princesas.
Esse só pode ser o da Aurora. O chuveiro do
banheiro está ligado, e é para lá que sigo.
Assim que passo pela porta, que estava
aberta, dou de cara com o Benício somente
de cueca dentro do box com a filha no colo e
seu corpo todo molhado.
Travo onde estou, sem conseguir me
mexer e nem falar nada. Eu já vi esse homem
nu, e ele já esteve dentro de mim, então, por
que estou sentindo como se minhas pernas
fossem feitas de gelatina? Por que meu
coração parece uma bateria de escola de
samba dentro do meu peito ao ponto de me
dar a impressão que vai sair pela boca?
— Conrado pega... — Para de falar
quando me vê.
— Desculpa. Eu não sasa... Sabia...
— Gaguejo. — O Conrado me falou... —
Solto um suspiro e fecho os olhos.
Pareço uma adolescente que acabou
de encontrar a sua paixão da época da escola
e não consegue dizer uma frase completa
sem tropeçar nas palavras.
— Está tudo bem. Você pode pegar
uma toalha, por favor? — Aponta para onde
tem uma pilha delas. — Estava tão nervoso
com a temperatura dela que nem pensei
nisso.
— Cla... Claro. — Pigarreio para
tentar voltar a falar sem gaguejar e pego o
que me pede. — Pode deixar. Eu faço isso.
Vai se secar também — Estico os braços
para pegá-la no colo. — Vem, meu amor. —
Ela se joga para mim toda molinha, e eu saio
do banheiro o mais rápido que consigo, com
o rosto pegando fogo de vergonha.
Se eu for sincera comigo mesma,
vou admitir que não é só meu rosto que está
pegando fogo nesse momento.
Capítulo
vinte e dois
Benício
— Obrigado. — Agradeço quando
volto para o quarto da Aurora já seco e
vestindo uma bermuda. — Você não recebeu
minha mensagem? — Caminho para perto
dela, que está sentada na cama com a minha
filha no colo.
— Recebi, mas já estava pronta pra
sair e resolvi vir mesmo assim. A ideia era
dizer pra vocês irem que eu ficava com ela,
mas o Conrado me alertou que não vou
conseguir te convencer. — Diz sem me
encarar.
— Sem condições. Não vou pra
uma festa, seja ela qual for, com a Aurora
desse jeito. — Passo a mão nos cabelos.
— Ela estava tão bem ontem. O que
aconteceu? — Sinto a preocupação em sua
voz.
— Percebi que não estava muito
bem ontem a noite mesmo. Ela me pediu pra
dormir comigo, e eu pensei que fosse só
manha, mas logo notei que não era o caso,
pois estava muito quietinha. Hoje pela
manhã estava molinha e com febre. Baixa,
mas estava. Liguei pra pediatra, e ela me
pediu pra observar. Tinha piorado pouco
antes da hora em que te mandei a mensagem.
A febre ficou mais alta e não baixava por
nada. — Solto um suspiro e sento-me perto
delas. — Odeio vê-la assim. Só queria
poder passar seja o que for que ela está
sentindo pra mim. Meu dever é protegê-la, e
eu não consegui. — Travo o maxilar para
tentar controlar a emoção, pois não quero
desabar na frente dela.
— Não pense assim. Essas coisas
acontecem. — Tenta me confortar. — É
normal as crianças pegarem essas viroses.
Principalmente em idade escolar.
— Ela é tão pequena. Não merecia
passar por nada de ruim. — Faço um carinho
na cabeça da Aurora, que dorme no colo
dela. — Não quer colocá-la na cama? —
Pergunto. — Vai cansar seu braço.
— Pode deixar. Ela está tão bem
assim. Não quero acordá-la. — Dá um
sorriso doce olhando para a minha filha, e eu
fico feito um idiota olhando para as duas.
— Como ela está? — O Conrado
entra no quarto e pergunta baixinho,
entregando-me o remédio que foi comprar.
— A febre parece estar abaixando.
— Coloco a mão na testa dela e constato.
Pego o medicamento, marco a hora,
confiro a dosagem e dou a ela, que resmunga
um pouco, mas logo volta a dormir, quando a
Catarina a acalma cantarolando em seu
ouvido que está tudo bem.
— A Nath está vindo pra cá. —
Avisa. — Consegui falar com ela da
farmácia e disse que não vamos mais.
— Tem certeza que não querem ir?
— A Catarina questiona. — Essa festa não
era importante? Eu posso ficar com ela.
Prometo ligar se acontecer alguma coisa. —
Oferece.
— Obrigado, mas não vou
conseguir sair com ela assim. — Afirmo
outra vez. — Vai você, Conrado. — Viro-me
para o meu irmão. — Fala com a Nath e vão.
A Catarina fica aqui comigo. — Olho para
ela, que concorda com um movimento de
cabeça. — Assim a empresa será
representada. Explica o que aconteceu pra eu
não ir. Eles vão entender.
Fica encarando a sobrinha em
dúvida. O Conrado sempre foi louco pela
Aurora e a trata como filha. Sei que não é
fácil para ele fazer o que estou pedindo, mas
está ponderando sobre várias coisas ao
mesmo tempo.
— Vocês vão me ligar mesmo? —
Confirmo. — Qualquer mudança, mesmo que
pequena, eu quero ser avisado. O telefone
vai ficar comigo o tempo inteiro. — Diz. —
Vou ligar pra Nath, mas duvido que ela
aceite sem ver a Aurora primeiro. — Pega o
celular e sai do quarto para fazer o que
disse.
— Eu não poderia ter escolhido
padrinhos melhores pra minha filha. —
Pondero olhando para a porta. — O Conrado
e a Nath são loucos pela Aurora, e sei que,
se alguma coisa me acontecesse, ela estaria
em boas mãos.
— Dá pra perceber o quanto eles
gostam dela. — Concorda comigo. — E ela
também gosta muito deles. Está sempre
falando dos dois na escola. — Conta. —
Mas você não deve pensar nisso, Benício.
Nada vai te acontecer.
— É difícil deixar esse pensamento
de lado quando se perde uma pessoa que
ama ainda tão nova pra um acidente. —
Deixo todo meu rancor com esse assunto
transparecer. — Desculpa. — Solto um
suspiro e passo a mão pelos cabelos,
desviando o olhar do dela.
— Não precisa me pedir desculpa.
Eu não deveria ter falado assim. Sinto muito.
— Fala sem graça.
— Você não tinha como saber,
Catarina. Eu... — Sou interrompido pelo
meu irmão, que entra no quarto com a Nath.
Pelo tempo que demorou a chegar,
deve ter saído de casa assim que o Conrado
a avisou que não iam mais à festa e que a
Aurora estava doente.
— Boa noite. Nossa princesa está
melhor? — Minha cunhada pergunta
baixinho.
— Sendo mimada do jeito que está,
vai ficar boa rapidinho. — Brinco encarando
a Catarina e dou um sorriso com o canto dos
lábios.
— A gente não vai demorar. — Meu
irmão afirma. — Lembrem de nos manterem
informados. — Reforça o pedido.
— Não precisa sair cedo da festa.
— Digo. — Eu te aviso se precisar de
alguma coisa.
— Você vai ficar aqui sozinho com
ela a noite toda? De jeito nenhum. — Fala de
maneira firme.
Percebo alguma coisa em seu olhar,
porém não consigo definir o que é.
— Eu posso ficar. — A Catarina
oferece, e ele prende o sorriso antes de se
virar para ela.
Filho da mãe. Era isso que ele
estava querendo. Preciso me lembrar de lhe
agradecer depois. Esse meu irmão está se
saindo um belo de um cupido.
— Não, Catarina. Vai ficar tarde
pra você ir embora. — Desvio o olhar para
ela não perceber que estou sorrindo da cara
de pau dele.
— Sem problema, Conrado. Já saí
de casa contando que ia dormir aqui se fosse
preciso por não saber a hora que voltariam.
— Ele solta um suspiro dramático, e eu
penso em dar o Oscar de melhor ator para
esse sem vergonha.
— Tudo bem. — Finge ceder, como
se não quisesse que acontecesse, justamente,
isso. — Vamos, amor. — Chama a Nath e faz
um sinal com a mão avisando para a gente
ligar se precisar.
— Onde nós estávamos antes de
sermos interrompidos? — Viro-me para ela
outra vez. — Eu ia te contar a história da
mãe da Aurora.
— Benício, você não precisa fazer
isso. — Tenta me convencer.
— Mas eu quero. Talvez isso te
ajude a entender algumas coisas. —
Concorda com um aceno de cabeça. —
Quando a Aurora estava com seis meses, a
Liz colocou na cabeça que voltaria a
trabalhar, mesmo eu insistindo para que não
voltasse. No primeiro dia de trabalho, ela
sofreu um acidente enquanto estava indo pra
empresa em que trabalhava. — Respiro
fundo.
— Benício, é sério. Estou vendo
que esse assunto te machuca. Vamos deixá-lo
no passado. — Insiste.
— Está tudo bem. — Faço uma
pausa e volto a falar. — A Liz foi levada
para o hospital, mas não resistiu aos
ferimentos e morreu nos meus braços. —
Engulo o bolo que se forma na minha
garganta. — A minha esposa, mãe da minha
filha se foi, e eu não pude fazer nada pra
impedir. — Estica a mão e aperta a minha
com carinho. Seguro a dela e não solto —
De lá pra cá, a Aurora é a minha vida. Sei
que te dei a impressão errada quando nos
conhecemos, mas eu vivo em função dela.
Naquelas duas semanas...
— Você não me deve satisfações.
— Tenta me calar.
— Mas eu quero dar. — Continuo.
— No primeiro dia de aula, eu estava
insistindo com o Conrado para levar a
Aurora de volta pra casa. Já tínhamos
tentado colocá-la em uma escola e não deu
certo, pois não se adaptou. Saí antes de ela
entrar, porque não aguentaria se chorasse e a
levaria embora sem pensar duas vezes.
Inventei uma desculpa de precisar atender
meu telefone e me afastei. Depois disso,
precisei viajar, pois a avó da Aurora por
parte materna me ligou dizendo que tinha
dado entrada no pedido de guarda dela.
— Ela pode fazer isso? — Pergunta
alarmada.
— Poder, pode, mas não seria fácil
conseguir, pois nunca dei motivos para um
juiz tirar minha filha de mim. O problema
não era esse. Eu não queria minha filha no
meio de uma disputa judicial. A viagem que
eu fiz foi pra resolver isso. Os dois não se
importam com a neta de verdade. — Conto.
— Aquela mulher só pensa em dinheiro,
mais nada. E foi isso que usei pra me livrar
deles.
— Eles aceitaram dinheiro pra tirar
o processo? — Questiona horrorizada.
— Não. Sou sócio deles em uma
rede de lojas de conveniência e ameacei
vender tudo se não desistissem. Como eu já
esperava, foi o que fizeram por medo do que
aconteceria com a empresa se eu cumprisse
a minha promessa. Demorei mais tempo do
que pretendia, porque aproveitei para
verificar como andavam as contas da
empresa e para procurar alguém pra colocar
no meu lugar e não precisar mais encontrar
com eles.
— Eu me lembro do Conrado
dizendo que você teve um imprevisto. —
Conta.
— Sim. Mas não foi só isso. A
viagem era pra cidade onde a Liz cresceu.
Tudo lá me lembrava dela, e, pra piorar,
ainda estava se aproximando o nosso
aniversário de casamento. Eu tinha dito ao
Conrado que só voltaria no dia seguinte por
conta da hora, mas não consegui ficar lá nem
mais um segundo. Peguei minhas coisas no
hotel e vim embora. Só não consegui vir
direto pra casa. Parei em um bar, pois
precisava me anestesiar um pouco, nem que
fosse com bebida. Acabei passando um
pouco dos limites e indo pra cama com uma
mulher e, não sei como, mas meu irmão ficou
sabendo. — Ela desvia o olhar do meu. —
Nós discutimos, ele me ameaçou e me fez
ver o quanto a Aurora estava sendo atingida
por essas minhas atitudes. Estava sendo tão
egoísta que não conseguia enxergar o quanto
estava machucando a minha filha com tudo
isso.
Ela coloca a Aurora na cama com
cuidado e se abaixa de frente para mim.
— Não fala assim, Benício. —
Segura minhas mãos. — Eu me enganei
quando te conheci. — Sorri com os olhos
marejados. — Você é um pai maravilhoso.
Mesmo passando por tanta coisa, não
abandonou a Aurora. Está aqui por ela como
hoje. Deixou tudo de lado pra cuidar dela.
Dá carinho, atenção, segurança, amor, o que
mais uma criança pode querer?
— Será mesmo? Será que não estou
deixando faltar nada pra ela? — Coloco
para fora o meu medo.
— Claro que não. — Sorri sem
humor. — Meu pai abandonou minha mãe
grávida por conta de uma promoção. —
Sinto a mágoa em sua voz. — Ele preferiu o
trabalho à própria família. Minha mãe entrou
em depressão e só piorou depois do parto,
até tirar a própria vida. — Engulo em seco.
— Quando você ficou tanto tempo longe em
uma viagem, acabei descontando na pessoa
errada a minha raiva. Hoje, consigo
perceber que estava enganada. — Faz um
carinho suave no meu rosto, e eu fecho os
olhos, aproveitando o contato da sua pele
com a minha. — Me desculpa por isso. —
Pede.
— Não tenho o que desculpar. —
Encaro seus olhos e desvio para seus lábios.
— Catarina, eu preciso te beijar.
Não dou tempo a ela de me
responder. Seguro seu rosto com carinho e
me aproximo até estar com os lábios dela
colados aos meus. Começo de forma doce e
lenta, mas não demoro a puxá-la para mim e
aprofundar o beijo.
Capítulo
vinte e três
Benício
Seguro em sua cintura para trazê-la
para o meu colo, mas ela se afasta de mim e
se levanta.
— Catarina... — Chamo e me
levanto também, mas sou interrompido.
— Eu não podia... — Levanta a
mão me parando na hora em que tento me
aproximar. — Isso foi... — Dou um passo
largo e a calo, colocando meus dedos nos
seus lábios.
— Não diz que foi um erro, por
favor. — Peço e a encaro como se
suplicasse. — Não quero ouvir essas
palavras saindo de sua boca outra vez com
relação a gente.
— Mas foi. — Cobre o rosto com
as mãos. — Eu sou a professora da sua filha,
Benício. — Fala como se esse fato indicasse
algum impedimento.
— E o que é que tem? Eu sou
solteiro, Catarina, e você também. Não fui
informado de nenhuma regra da escola que
proíba isso de acontecer. Nada nos impede
de ficarmos juntos. A menos que você não
queira. — Dou um passo para trás.
— Você não entende. — Sorri sem
humor e balança a cabeça para os lados.
— Quem parece não entender é
você. Eu te desejo. — Puxo-a pela cintura
para perto de mim outra vez. — Como há
muito não desejava uma mulher. — Admito.
— Benício, não posso colocar meu
emprego em risco por conta de um desejo,
uma coisa passageira. Como vai ser quando
você se cansar disso? Quando não quiser
mais nada? Vamos continuar nos encontrando
na porta da escola e o clima entre a gente
será ainda pior do que antes.
— Quem garante que algo assim vá
acontecer? Você pode se cansar de mim
primeiro. — Tento brincar, mas ela continua
séria. — Catarina, olha pra mim. — Seguro
seu rosto com carinho e a faço me encarar.
— Desde o primeiro embate na escola, eu
senti alguma coisa diferente. Você mexe
comigo de uma maneira doida. — Sou
sincero. — Eu não consigo te tirar da
cabeça. Pensei que não fosse conseguir
sentir mais nada assim por ninguém, mas me
enganei. Eu te quero. E não é um simples
desejo, uma coisa passageira como está
achando.
— Como pode ter tanta certeza
assim? — Vejo um brilho diferente em seus
olhos.
Abro um sorriso, dou um beijo leve
nos seus lábios e sinto um fio de esperança
de que posso convencê-la a me dar uma
chance.
— Sei o que estou sentindo,
Catarina. Tenho trinta e quatro anos. Não sou
mais um moleque. Quanto a ter certeza, quem
pode garantir que um relacionamento vai dar
certo? Todos eles são um risco, mas eu estou
disposto a correr esse risco contigo. Basta
me dizer que também quer, que também sente
alguma coisa por mim, qualquer coisa. —
Solta um suspiro.
— Nós somos de mundos
diferentes. — Dá um passo para trás. —
Como se não bastasse a diferença de idade,
ainda tem a nossa classe social. Você é o
CEO de uma grande empresa, eu sou uma
simples professora da educação infantil e sei
o meu lugar. — Passo a mão pelos cabelos e
solto um suspiro.
— Seu lugar é onde você quiser,
Catarina, e minha conta bancária não
significa nada. — Digo de maneira firme. —
Ela não diz quem eu sou, não diz nada a meu
respeito. Quanto à diferença de idade, isso te
incomoda, ou só está preocupada com o que
os outros vão pensar? — Desvia o olhar do
meu. — Olha pra mim. — Seguro seu queixo
e viro seu rosto em minha direção. — O que
você sente por mim? Seja sincera. — Exijo.
Ela fecha os olhos e respira fundo.
Vejo suas bochechas ganharem um tom
rosado. O que a deixa ainda mais linda.
— Não sei explicar. Você tem
alguma coisa que me atrai. Parece um imã.
Por mais que eu lute contra, não consigo
ficar longe e nem te tirar da minha mente.
— Então pare de lutar. — Passo a
ponta do dedo pelo contorno dos seus lábios
e sinto sua respiração falhar. Dou um beijo
nela outra vez. Depois de algum tempo,
quando já estamos perdendo o ar, ela me
para. — O que foi? — Pergunto com a testa
colada na dela.
— A Aurora pode acordar. — Fala,
porém consigo perceber que também quer
continuar assim como eu.
— Vem aqui. — Puxo-a para o sofá
no canto do quarto e sento-me com ela no
meu colo. — Tenho uma coisa pra te contar
que pode te ajudar a perceber que isso não é
uma brincadeira pra mim.
— Benício, não precisa. — Dá um
sorriso fraco.
— Mas eu quero. — Afirmo. —
Desde que perdi a Liz, não me envolvi com
mais ninguém. Estaria mentindo se te
dissesse que não transei com outras
mulheres, mas nunca tinha sido como foi
contigo. — Admito. — Eu não queria saber
os nomes, não olhava nos olhos delas.
Cheguei a chamar algumas pelo nome dela.
Era apenas pra um alívio do corpo. Nada
mais. Tentei agir assim naquela noite, mas
não consegui. Precisava olhar nos seus olhos
e ver refletido neles o mesmo que eu estava
sentindo. Só não esperava sentir nada tão
intenso como foi.
— Deixa de ser exagerado. — Diz
sem graça.
— É a verdade. Na hora que você
me disse que tinha sido um erro... — Solto
um suspiro e não completo o raciocínio. —
Quando te vi chegar com meu irmão na festa
da Aurora, quase enlouqueci e falei merda.
Te tratei de uma maneira que não me orgulho
nem um pouco. Queria ter ido atrás de você
na mesma hora, mas não tinha como sair. —
Repito o que já tinha dito para ela outro dia.
— Deixa pra lá. Esquece isso.
Talvez eu tivesse a mesma reação no seu
lugar. — Confessa. — A maneira como agi
foi errada. Você me perguntou se queria
mesmo aquilo, e eu afirmei que sim. Não era
pra ter te tratado daquele jeito. — Percebo o
quanto está arrependida de ter agido daquela
maneira.
— Foi aquilo que me fez perceber o
quanto te queria. A maneira que suas
palavras me atingiram que me fez perceber o
quanto você mexia comigo. — Sinto que
alguma coisa ainda a incomoda. — O que
foi?
— Será que é mesmo uma boa
ideia? Não sei como a Glória vai reagir se
souber e nem quero aturar os olhares
recriminadores das outras professoras e dos
pais dos alunos.
— Se isso te incomoda tanto assim,
podemos manter segredo. — Ofereço. —
Por enquanto. — Friso. — Não quero e nem
preciso me esconder de ninguém, Catarina. E
nem você. Só te peço uma coisa, se algo te
incomodar, me fala. Podemos conversar e
resolver. Não quero brigas e nem mais
desentendimentos por besteiras.
— Obrigada. — Sorri para mim. —
Só preciso de um tempo pra me acostumar.
Também temos que ver como vamos fazer em
relação a Aurora.
— Como assim? O que é que tem a
Aurora? — Olho para ela confuso.
— Não sei se é uma boa ideia que
ela saiba agora. Pode confundir a cabecinha
dela. — Opina.
— Adoro o fato de você se
preocupar com a minha filha, mas não quero
esconder nada dela. A Aurora é a minha
vida, Catarina. Não vou deixá-la de fora de
uma coisa que pode afetá-la tão diretamente.
— O que você quer dizer com isso?
— Percebo a tensão em seu olhar.
— Minha filha, assim como eu, é
apaixonada por você. Está claro pra mim
que ela vai gostar dessa novidade. Além
disso, o tempo que tenho livre, passo com
ela. Como iríamos fazer se tivéssemos que
esconder dela que estamos juntos? Não vou
me contentar em ter você nos meus braços
nas poucas vezes em que o padrinho a leva
pra casa dele, Catarina. A Aurora é uma
garota inteligente pra idade dela. Podemos
conversar e dizer que é um segredo nosso, e
ela vai ficar toda boba de fazer parte dele.
— Tudo bem. — Cede, e percebo
que consegui tranquilizá-la.
— Papai. — A Aurora resmunga e
se remexe na cama, fazendo com que a
Catarina se levante em um pulo e pare ao
lado dela.
— Oi, minha linda. — Abaixa-se e
coloca a mão na testa dela para verificar a
temperatura. — Está melhor?
— Tia Cat, você ficou? — Pergunta
com uma vozinha um pouco mais animada.
— Claro, meu amor. — Faz um
carinho no rosto dela.
— Como você está, filha? —
Ajoelho-me à sua frente.
— Aqui dói. — Diz com a mão na
garganta. — Aqui também. — Indica a
cabeça agora.
Olho para o relógio e vejo que já
está na hora de repetir um dos
medicamentos.
— Vou buscar o seu remédio. Quer
comer alguma coisa? — Nega com um aceno
de cabeça. — Quer que faça uma vitamina?
— Volta a negar.
— Você precisa comer, minha linda.
Tem que ficar forte, ou vai piorar. — Tenta
convencê-la.
— Já volto. — Aviso, dou um beijo
na testa de cada uma e me afasto.
Sigo para a cozinha sem conseguir
controlar o sorriso enorme que nasce no meu
rosto e a felicidade em meu peito.
Confesso que a minha intenção
quando pedi a Catarina para ficar com a
Aurora era de conversar com ela na volta da
festa, mas não esperava que as coisas fossem
acontecer dessa maneira.
Ver o carinho e a preocupação dela
com a minha filha só faz tudo o que estou
sentindo se intensificar ainda mais.
Preparo a vitamina o mais rápido
que consigo, pego o remédio e volto para o
quarto onde deixei as duas. Paro na porta e
fico observando-as. A Catarina está sentada,
encostada na cabeceira da cama e com a
Aurora deitada na sua perna. Ela faz carinho
em seus cabelos enquanto conta uma história,
e a outra a olha com verdadeira adoração.
Consigo entender perfeitamente a minha
filha, pois preciso me controlar para não
olhar do mesmo jeito para a Catarina.
— É, Liz, você tinha razão. — Falo
baixinho, como se ela pudesse me ouvir. —
A Catarina é a pessoa certa pra me fazer
voltar a viver.
Sinto uma paz em admitir isso e um
sentimento bom me toma. É como se as
coisas se encaixassem e começassem a girar
de uma maneira melhor.
Como se sentisse que estou falando
dela, a Catarina me olha e sorri. Entro no
quarto e caminho para perto das duas, certo
de que não vou mais me esconder e nem
negar o que sinto.
Capítulo
vinte e quatro
Benício
Acordo, porém não me levanto.
Fico olhando para as duas durante alguns
minutos tentando me convencer de que é real
o que estou vivendo.
Acabamos trazendo a Aurora para
dormir no meu quarto, pois a mesma não
queria desgrudar da Catarina, e ficaria mais
fácil, já que a cama é maior. As duas
dormiram abraçadas, e eu não perdi a
oportunidade de me juntar a elas. Dormimos
com a Aurora entre nós e com a felicidade
estampada em seu rosto. Acho que nunca vi
minha filha tão feliz assim.
Faço um carinho em cada uma e me
levanto. Assim que me aproximo do
banheiro, meu irmão surge na porta do
quarto, que acabei deixando aberta.
— Desculpa, mano. Não queria te
atrapalhar, mas foi impossível segurar
aqueles dois. — Diz esbaforido.
— Do que você está falando,
Conrado? — Saio do quarto, e sigo com ele
para a sala.
— Conrado Martins, posso saber
por que você entrou correndo na nossa
frente? — Minha mãe pergunta com as mãos
na cintura, e noto o olhar culpado do meu
irmão. — O que vocês estão me
escondendo?
Meu pai e minha cunhada estão em
um canto calados, segurando o riso.
— Mãe, a Aurora está dormindo.
Fala baixo. — Reclamo e caminho para
perto dela, dando um beijo no seu rosto. —
O que estão fazendo aqui? Não estavam
viajando?
— Viemos para a festa e
descobrimos que a minha neta está doente, e
você não me falou nada. — Olha para mim
da mesma maneira que fazia quando eu era
criança e me dava uma bronca.
— Talvez por não querer preocupar
a senhora, e por não saber que estavam no
Rio. — Arqueio a sobrancelha para ela. —
Oi, pai. — Cumprimento e dou um abraço de
lado nele.
— Oi, filho. Não ligue pra sua mãe.
Você sabe como ela é. — Aceno com a
cabeça em acordo. — Como a nossa
princesa está?
— Está melhor. A febre baixou com
o remédio e não voltou a subir. Ela
conseguiu dormir bem. — Conto.
— Quero ver minha neta. — Minha
mãe fala e vai em direção ao corredor.
— Mãe, espera. A Aurora não está
no quarto dela e nem sozinha. — Para onde
está e se vira para trás.
Solto um suspiro. Preferia ter mais
tempo para essa conversa e não ter sido
pego de surpresa dessa maneira.
— Quem está com ela? —
Semicerra os olhos para mim. — Foi por
isso que você veio correndo, Conrado? —
Encara meu irmão de braços cruzados e
volta a me olhar. — Você está namorando,
Benício?
— Helena, para. Deixa os nossos
filhos. — Meu pai intercede por nós, como
sempre fez.
— Eles estão me escondendo
alguma coisa, Davi, e você ainda defende.
Essa sua mania de passar a mão na cabeça
deles. Sempre foi assim. — Reclama
contrariada.
— Nossos filhos cresceram,
Helena. Não são mais crianças. — Diz o
óbvio.
— Um filho nunca vai deixar de ser
criança para a mãe. — Bufa.
— Bom dia. — A Catarina surge na
entrada do corredor com o rosto rubro de
vergonha, e eu caminho para perto dela.
— Bom dia. Quem é você? —
Minha mãe olha para ela com os olhos em
fenda.
— Catarina, essa é a Helena, minha
mãe, esse é o Davi, meu pai. Os outros dois,
você já conhece. — Falo referindo-me ao
Conrado e a Nathalia.
— Prazer. — Diz tímida e aperta a
mão que meu pai estende para ela.
— Você ainda não respondeu minha
pergunta. — Minha mãe a encara.
— Minha namorada, mãe. — Passo
o braço pela cintura da Catarina e noto-a me
olhar pelo canto dos olhos. — Satisfeita?
Agora pode parar de deixá-la sem graça?
— O que estou fazendo, menino?
Hum! Vem, minha filha. Vamos preparar um
café pra esse povo enquanto conversamos
um pouco e você me conta como conheceu
meu Benício. — Arrasta minha namorada
para a cozinha de braços dados com ela.
— Nath, por favor, você já passou
por isso. — Peço com um olhar suplicante.
— Ajuda a Catarina. Não quero que ela saia
correndo por aquela porta no nosso primeiro
dia juntos.
— Não adianta, Beni. Você conhece
sua mãe. — Sorri para mim e dá um beijo no
meu rosto. — Relaxa. A Helena não morde.
Tenho certeza que elas vão se entender. —
Tenta me tranquilizar, porém segue para a
cozinha como pedi, e eu faço o mesmo.
— Como se conheceram? — Escuto
a pergunta assim que entro no cômodo e
sento-me ao lado da Catarina.
— Ela é a professora da Aurora. —
Respondo antes dela. — A Catarina não
gostava de mim no início das aulas. —
Comento.
— Por que não? O que você fez,
Benício? — Semicerra os olhos para mim
como fez há pouco.
— O Beni teve uns problemas e
precisou viajar, mãe. — Meu irmão tenta me
defender.
— Estou falando com o seu irmão,
Conrado. — Reclama com ele. — Uma
viagem não é motivo para ela não gostar de
você. Pode me contar o que aconteceu. —
Impõe enquanto anda pela cozinha
preparando o café e organizando a mesa.
— A Elisângela me ligou dizendo
que tinha dado entrada no pedido de guarda
da Aurora. — Conto.
— Aquela mulher fez o quê? —
Exalta-se. — Como ela ousa? Quem ela
pensa que é pra se meter com o meu filho?
Eu vou matar aquela víbora com as minhas
próprias mãos. Ahh, vou.
— Já está tudo resolvido, mas isso
me fez ficar um tempo longe, e a Catarina
não achou muito legal, porque a Aurora
estava cabisbaixa, sentindo minha falta. —
Explico.
Eu podia até esconder essas coisas
da minha mãe, mas conheço dona Helena
bem demais para saber que não adiantaria
muito. Ela não se daria por satisfeita com
uma história superficial e me infernizaria até
descobrir todo o resto.
— Já gostei de você. — Sorri para
a minha namorada, que ainda tem um olhar
assustado. — Só por defender minha neta,
ganhou pontos comigo.
— A Aurora é uma criança tão
doce. Ela me conquistou em pouquíssimo
tempo — Tem um brilho nos olhos e um
sorriso no rosto quando diz.
— Sabe, meu Benício é um bom
rapaz. Ele já passou por muita coisa nessa
vida, mas é um pai excelente. O melhor que
poderia existir. — Engulo em seco para
controlar a emoção escutando esse elogio.
— Eu estou aqui, Helena. — Meu
pai finge estar bravo.
— Ei, mãe. Que história é essa? E
eu aqui? — Meu irmão reclama.
— Você já é pai por acaso e eu não
sei? Está grávida, Nathalia? — Questiona
minha cunhada.
— Me deixa fora dessa, Helena.
Seu filho que se doeu. — Provoca meu
irmão.
— Estão me enrolando pra me dar
um neto e ainda querem reclamar. Agora
você vê. — Revira os olhos.
— Ninguém está enrolando
ninguém, mãe. Não começa. — Meu irmão
bufa contrariado com o rumo da conversa.
— Ah, não, Conrado? E quando vão
se casar? Você não está ficando mais novo.
Muito menos eu. Está querendo o quê? Que
eu não consiga brincar com meus netos? —
Faz drama.
— A senhora já tem a Catarina,
mãe, e seu filho mais velho é o Beni. Cobra
dele. — Tenta jogar para cima de mim.
— Ele já me deu uma neta. — Dou
uma gargalhada. — Fora que está
começando o namoro agora. Ao contrário de
vocês dois.
— Bem feito. — Debocho ainda
rindo.
— Da próxima vez, te deixo ser
pego de surpresa. — Ameaça.
— Como se tivesse me avisado
muito antes. Ela já estava aqui dentro. —
Faço pouco caso.
— Ela tinha que entrar no seu
quarto e te pegar... — Não consegue terminar
a frase.
— Conrado Martins! Você me
respeite. — Repreende.
A Catarina segura uma risada ao
meu lado, e a Aurora surge na entrada da
cozinha com o rostinho todo amassado e
carinha de sono.
— Vovó! Vovô! — Corre para os
braços do meu pai, que se abaixa para pegar
a neta.
— Minha princesa. — Dá diversos
beijos no rosto dela. — Você está melhor?
Aproveito-me da distração deles
com a neta para falar no ouvido da Catarina
baixinho de uma maneira que só ela possa
me ouvir.
— Minha mãe pode ser um pouco...
— Faço uma pausa procurando uma palavra
que a represente.
— Animada? — Questiona em um
tom divertido.
— Não era bem essa palavra que eu
tinha em mente, mas serve. — Brinco. — Ela
tem esse jeitinho, mas é a melhor pessoa que
conheço.
— Nesse pouco tempo, já consegui
perceber. — Dá um sorriso doce para mim,
tranquilizando-me. Não é todo mundo que
consegue lidar com a minha mãe.
Não resisto e beijo seus lábios de
leve.
— Bom dia, namorada. — Pisco
para ela.
— Bom dia, namorado. — Devolve
o cumprimento com os olhos brilhando.
Capítulo
vinte e cinco
Benício
— Será que você pode me deixar
cuidar da minha neta um pouco? Estou com
saudade dela. — Minha mãe reclama,
fazendo drama. — Vai levar sua namorada
em casa e não volte tão cedo.
— Vai, filho. A Aurora já está
melhor. — Meu pai tenta me tranquilizar. —
Se tiver alguma mudança, nós te avisamos.
— Garante.
— Tudo bem. — Acabo cedendo.
— Os remédios dela estão separados na
cozinha. — Aviso. — Se a febre voltar... —
Não consigo terminar a frase.
— Era só o que me faltava. Esse
moleque vai querer me ensinar a cuidar de
criança agora. — Minha mãe bufa. — Já se
esqueceu de que criei você e seu irmão?
Estão aí, saudáveis e abusados.
— Também te amo, mãe. —
Provoco-a e dou um beijo na sua testa. —
Qualquer coisa me liga. — Aviso antes de
sair da sala para me despedir da Aurora que
está no quarto brincando com a Catarina.
— Filha, vou levar a tia Catarina
em casa. O vovô e a vovó vão ficar contigo,
mas se comporte. Você ainda está dodói.
Nada de abusar.
— Eu já melhorei, papai. Olha. —
Levanta-se e começa a pular pelo quarto,
animada.
Acabo sorrindo, pois não resisto a
essa menina.
— Não precisa me levar, Benício.
— A Catarina se aproxima de mim. — Posso
ir sozinha. — Tenta me convencer.
— E aturar a dona Helena no meu
ouvido? De jeito nenhum. — Brinco. — Ela
insistiu que eu fosse te levar e a deixasse
cuidar da neta. Não sou nem louco de
contrariá-la.
Dá uma gargalhada gostosa e pega a
mochila que trouxe para irmos.
— Muito menos eu. — Pisca
quando passa por mim.
Levo-a para se despedir deles antes
de sairmos.
— Foi um prazer te conhecer,
Catarina. — Diz e a abraça. — Saber que
meu filho está namorando e com alguém
como você aquece meu coração de mãe.
— O prazer foi meu, Helena. —
Beija o rosto dela e se afasta para
cumprimentar meu pai.
— Até mais, Catarina. — Despede-
se. — Obrigado por cuidar da minha neta e
por fazer meu filho voltar a sorrir.
— Será que vocês podem parar
com isso? Eu estou ouvindo. — Finjo
reclamar.
— É bom que ouça mesmo e que dê
valor a essa menina. — Esta frase não
poderia vir de outra pessoa que não fosse
minha mãe.
— A senhora mal conheceu a
Catarina e já está brigando comigo por conta
dela. Eu sou seu filho, lembra disso? —
Faço drama.
— Por isso mesmo. Eu te conheço,
Benício. Sei bem...
— Vamos, Catarina, ou ela não vai
parar mais. — Implico e caminho para a
porta de mãos dadas com ela, carregando
sua mochila nas costas.
— Benício Martins. — Ainda ouço
seu grito antes de sair.
Abro a porta do carro para ela,
beijo seus lábios suavemente e dou a volta
para entrar também. Ela coloca o endereço
no GPS, e eu dou partida.
— Desculpa por toda essa agitação.
— Peço quando estamos a caminho da casa
dela. — Eu não sabia que meus pais viriam.
Dona Helena pode ser um pouco intensa
demais, mas é uma mãe maravilhosa.
— Não precisa pedir desculpa. Eu
gostei. — Força um sorriso.
— Tem alguma coisa te
incomodando? — Questiono e seguro a mão
dela quando paro em um sinal de trânsito.
Ela nega com um aceno de cabeça. — Tem
certeza? — Insisto.
— Não é incômodo. É que sempre
que tenho contato com uma família assim me
pergunto como seria a minha se o destino
não tivesse nos separado antes mesmo do
meu nascimento. — Fala em um tom
melancólico.
— Sinto muito. — Sou sincero. —
Não posso te dizer que essa agitação toda
não vá se repetir, porque é impossível
controlar a minha mãe, mas prometo...
— Para. — Pede sem me deixar
terminar de falar. — Nem pense em uma
coisa dessas. Sua família é maravilhosa,
Benício. Não quero que se controlem e nem
mudem nada por minha causa. Eu gostei. De
verdade. Me senti acolhida por eles. Não me
perdoaria se mudasse esse jeito por mim.
— Pode ter certeza de que meus
pais também gostaram de você. — Afirmo
sem a mínima dúvida de que estou falando a
verdade.
— Você me pegou de surpresa. —
Olha para fora do carro quando diz.
— Como assim? — Questiono
confuso.
— Quando me apresentou como sua
namorada. Eu não esperava. — Fica sem
graça.
— E como eu te apresentaria se não
fosse assim? — Paro em frente ao seu prédio
e a encaro.
— Quer entrar? — Convida e se
vira para sair do carro.
Saio também e seguimos em
silêncio até o seu apartamento.
— Você não me respondeu. —
Puxo-a para os meus braços assim que
entramos. — Como você pensou que eu
fosse te apresentar? — Volto a perguntar.
— Sei lá. — Levanta e abaixa os
ombros. — Só pensei que fosse preferir
esperar mais.
— Catarina, olha pra mim. — Peço
e seguro seu rosto com carinho. — Tudo o
que te falei é verdade. Sei bem o que sinto e
o que quero. Isso aqui não é uma brincadeira
e nem um passatempo. Concordei em esperar
um pouco, mas não vou esconder da minha
família e amigos e espero que você faça o
mesmo. — Ela desvia o olhar do meu. — Ou
você tem vergonha de estar comigo?
— Não! Claro que não! — Fala
com firmeza. — Deixa pra lá. É bobeira
minha. — Arqueio a sobrancelha para ela.
— Passou pela minha cabeça que você fosse
querer esconder dos seus pais que está com
a professora da sua filha. — Confessa.
— Certo. Só não entendo por que eu
faria isso. Sua profissão é linda. Uma das
mais importantes, Catarina. Todas as outras
começam por ela. Qualquer médico, juiz,
administrador, ou o que for, antes de se
formar, tiveram professores como você. —
Seus olhos ganham um brilho diferente. —
Eu não tenho vergonha de namorar uma
professora. Tenho um puta de um orgulho.
Isso, sim. — Beijo seus lábios de leve.
— Obrigada. — Sorri para mim
com os olhos brilhando.
— Sem agradecimentos. — Olho
em volta. — Sua amiga não está em casa? —
Pergunto.
— Ela tinha me mandado uma
mensagem avisando que ia passar o dia fora.
— Conta.
— Ótimo. — Dou um sorriso de
lado. — Tenho algumas ideias pra aproveitar
esse tempo sozinhos, já que não conseguimos
isso lá em casa.
Passamos o domingo com os meus
pais, meu irmão e a Nathalia, além da
Aurora. Almoçamos juntos e, depois disso,
meu irmão saiu com a namorada.
— É mesmo? E quais seriam esses
planos? — Passa os braços pelo meu
pescoço e morde o lábio inferior.
— Onde é o seu quarto? Não quero
ser surpreendido pela sua amiga entrando
aqui e me vendo venerar o seu corpo. —
Falo baixinho no seu ouvido e mordisco a
ponta da sua orelha.
— Isso é uma promessa? — Sinto-a
se desmanchar nos meus braços enquanto
passo a mão pelo seu corpo e começo a
provocá-la.
— Que faço questão de cumprir à
risca. — Pego-a no colo e sigo para o
corredor.
Capítulo
vinte e seis
Catarina
— Linda. — Diz olhando nos meus
olhos enquanto entra e sai de mim com
movimentos lentos, deixando-me ainda mais
desejosa por ele.
Envolvo minhas pernas em sua
cintura e puxo seu corpo, precisando de
mais.
— Benício. — Gemo seu nome.
— O quê? — Beija meu pescoço.
— Quer que eu pare?
— Não ouse. — Arranho suas
costas, e ele ri.
— Então me diz o que você quer.
Pede, Catarina, que eu faço. — Segura meu
rosto com as mãos e me encara, esperando
pela minha resposta.
— Para de me torturar. — Reviro
os olhos e jogo a cabeça para trás, quando
ele faz um giro com a pélvis e atinge o ponto
certo para me levar à loucura.
— Assim? — Pergunta e faz outra
vez. — Olha pra mim. — Exige. — Quero
olhar nos seus olhos.
— Eu... Ahhhh. Eu não consigo. —
Digo com dificuldade e me contorço debaixo
dele, que acelera os movimentos.
— Vem comigo, Catarina. —
Chama depois de mais algumas investidas.
Meu nome saindo de sua boca em
um tom sensual junto com todos os estímulos
pelo meu corpo me fazem atingir um
orgasmo tão intenso como não pensei ser
possível.
Ele desaba por cima de mim e rola
para o lado, me puxando para o seu peito.
Ficamos assim por alguns minutos, só
curtindo a presença um do outro e tentando
recuperar a capacidade de respirar
normalmente.
— Por que você me chama de
Catarina? — Questiono depois de um tempo
em silêncio.
— Esse não é o seu nome? —
Brinca, e dou um tapa fraco no seu peito.
— Bobo. Todo mundo me chama de
Cat. Até o Conrado já está me chamando
assim. — Comento. — Só você que não.
— A ideia de ser o único me atrai.
— Dá um sorriso de lado. — Você não
gosta? — Encara-me, esperando por uma
resposta.
— Gosto. — Apoio meu queixo nas
costas da mão e fico olhando para ele. — O
problema é o que o tom que você usa faz
comigo. — Desvio o olhar do dele e deito
minha cabeça outra vez.
— Como assim? — Segura meu
queixo com a ponta dos dedos e me faz
voltar a olhar para ele.
— Não sei explicar. Ele mexe
comigo de alguma maneira. Me dá um
arrepio bom. — Admito.
— Catarina. — Sussurra no meu
ouvido, e sinto todos os pelos do meu corpo
se arrepiarem. — Seu nome é lindo. —
Coloca uma mecha do meu cabelo atrás da
minha orelha. — Assim como você.
— Você também não é de se jogar
fora. — Provoco-o.
Ele beija meus lábios de leve e
solta um suspiro.
— Queria passar a noite assim
contigo, mas preciso ir. Por mais que meus
pais estejam com a Aurora, ainda estou
preocupado com ela. — Diz, e não consigo
julgá-lo, pois também estou.
— Eu te entendo. — Faço um
carinho em seu rosto. — Também estou
preocupada. Mesmo com aquela danadinha
bem mais animada quando saímos de lá,
acho melhor ficar de olho nela.
— Cat, está em casa? — Escuto o
barulho da porta da frente, e a Bianca me
chama.
— Só um minuto. — Respondo.
Levanto e coloco um roupão para sair do
quarto. — Eu já volto. — Dou um selinho
nele e sigo para a sala.
— Tem alguém com você? — A
Bianca me pergunta assim que me vê. Aceno
com a cabeça em acordo.
— Sim. — Respiro fundo. — Tenho
algumas novidades pra te contar. — Digo
com um sorriso no rosto.
Não contei para ela o que aconteceu
na casa do Benício. Apenas avisei que
ficaria por lá e que a Aurora estava
doentinha. Conheço minha amiga bem
demais. Ela me encheria de perguntas até
saber de tudo, mesmo que fosse por
mensagens, e prefiro ter essa conversa
pessoalmente.
— É ele? — Arregala os olhos para
mim, mas não tenho tempo de responder.
— Boa noite. — O Benício sai do
quarto já vestido, e eu fico feito uma idiota
olhando para ele. — Tenho que ir. — Para
ao meu lado e me abraça pela cintura.
— Espera. — Olho de um para o
outro. — Acabei de me lembrar de uma
coisa. Você tinha mesmo pedido a Bia para
ficar com a Aurora como disseram? —
Semicerro os olhos para eles.
— Então, Cat. — A Bianca começa.
— Você estava precisando de um
empurrãozinho. Que amiga eu seria se não te
ajudasse? — Faz cara de inocente.
— Vocês me enganaram. — Finjo
estar brava.
— Em minha defesa, ela começou,
eu só concordei. — O Benício diz, e a
Bianca o encara com os olhos em fenda.
— A gente tenta ajudar e é isso que
ganha em troca. — Bufa.
— Não precisa se preocupar. Tenho
certeza de que ela não vai brigar contigo. —
Fala de maneira convencida.
— Por quê? Fez valer a pena a
mentira? — Ergue a sobrancelha para ele.
— Isso quem tem que te responder é
ela. — Encara-me. — E aí, valeu? — Dá um
sorriso de lado.
— Não vou te responder. Você já
está convencido demais. — Reviro os olhos.
— Sabe que isso foi uma resposta,
não sabe? — Minha amiga me provoca.
— Queria muito continuar com essa
conversa, mas preciso ir. Quero chegar a
tempo de colocar a Aurora pra dormir. —
Fala, e eu caio mais um pouco por ele. Dá
um beijo leve nos meus lábios. — Até
amanhã. — Vira-se para a minha amiga. —
Boa noite, Bianca. — Despede-se e sai.
— Puta merda, amiga. — Fala
assim que ele passa pela porta e se abana.
— Você é sortuda. O cara consegue ficar
gostoso até com uma roupa casual como
essa. Ele não tem outro irmão, não?
— Só o Conrado, e ele já é
comprometido. — Solta um suspiro
dramático.
— Vida injusta. Umas com tanto,
outras com tão pouco. Agora me conta tudo.
— Bate palma e muda de assunto. — Quero
detalhes.
Puxa-me para o sofá com ela. A
animação estampada no seu rosto.
— Acho que a ficha ainda não caiu.
Não pensei que ele pudesse estar interessado
em mim. — Confesso.
— Ah, Cat, você é tão bobinha. Isso
estava na cara desde o início, amiga. Assim
como você também. Toda aquela implicância
de vocês, não teria como dar em outra coisa.
Como foi? Para de me enrolar e conta logo.
— A Aurora não estava muito bem
quando cheguei e me ofereci pra ficar com
ela, mas ele negou. Não aceitou sair de perto
da filha de jeito nenhum. — Conto. — Eu
estava enganada, Bia. O Benício é um pai
maravilhoso. Nós conversamos, e ele me
contou tudo o que já passou, o motivo para
ter sumido no início das aulas, até mesmo
sobre a esposa.
— Está vendo só? Eu te falei para
não julgar sem saber a história completa,
Cat. Mas quero saber de outra coisa. —
Levanta e abaixa as sobrancelhas para mim.
— Para de me enrolar, sua chata.
— Foi perfeito, amiga. Ele faz
questão de me olhar nos olhos durante todo o
tempo. Como se pra me provar que é
diferente. — Olha-me confusa.
— Não entendi o que quis dizer
com isso. — Encara-me, esperando por uma
explicação, e eu conto por alto o que ele me
disse das outras mulheres com quem transou
depois da morte da mãe da Aurora. — Na
outra vez de vocês... — Não termina a frase.
— Foi a mesma coisa. Parando pra
pensar agora, consigo até perceber que ele
tentou agir como agia com as outras, mas não
conseguiu. — Acabo me dando conta desse
detalhe e abro um sorriso.
— Que bom, amiga. Você merece
ser feliz, Cat. — Pega minhas mãos e dá um
aperto suave. — Segura essa chance e não a
deixe escapar.
Capítulo
vinte e sete
Benício — Bom dia. —
escola.
— Bom dia. Onde está a Aurora?
Ela piorou? — A Catarina me pergunta
preocupada.
— Não. Já está melhor. Teve febre
durante a noite, mas bem mais fraca do que
antes. Vim te avisar que ela vai ficar em casa
hoje, pois minha mãe preferiu não arriscar e
esperar ter certeza de que está curada.
— Por que não ligou pra avisar?
Não precisava ter vindo até aqui só pra isso.
— Pontua.
— Foi uma desculpa pra te ver. —
Digo baixinho, e ela desvia o olhar sem
graça.
Noto o porteiro disfarçando um
sorriso e se afastando um pouco de nós.
— Para com isso, Benício. — Diz
com timidez, porém consigo perceber que
gostou.
— Agora, sim, posso começar meu
dia. Na verdade, ainda falta uma coisa. —
Dou um passo para mais perto. — Pena que
não posso fazer o que estou pensando, ou
minha namorada vai brigar comigo.
— Com certeza. — Afirma,
entrando na brincadeira. — Mas posso
apostar contigo que ela também quer a
mesma coisa e vai passar o dia todo
pensando nisso.
— Catarina, Catarina, não me
provoca. — Olho para os seus lábios e
passo a língua pelos meus. — Posso te
buscar na hora da saída? A gente pede uma
pizza pra comer com a Aurora.
— Tenho algumas coisas pra
organizar em casa que não fiz no fim de
semana. — Solta um suspiro desanimada. —
Deixa pra outro dia.
— Certo. Eu te ligo mais tarde. —
Aviso e olho para o relógio em meu pulso.
— Tenho que ir. Até amanhã. — Despeço-
me e dou um beijo no seu rosto, bem perto
da sua boca.
Ela fecha os olhos com o contato, e
preciso de todo meu controle para não
agarrá-la aqui mesmo, sem me importar com
o que os outros vão pensar.
— Até amanhã. — Despede-se com
a voz afetada, fazendo-me perceber que não
sou o único a precisar me segurar.
Caminho para onde deixei meu
carro e sigo para a empresa com o humor
bem melhor do que costumava acontecer
antes de começar a namorar a Catarina.
É impressionante como, mesmo em
poucos dias, essa mulher já está fazendo
mudanças na minha vida. Nos últimos anos,
a única pessoa que me arrancava sorrisos
como o que carrego no rosto nesse momento
era a minha filha.
Depois que perdi a Liz, me fechei
para o mundo. Vivia para a Aurora e para o
trabalho. Todo o resto perdeu o sentido e a
importância para mim.
Quando conheci a Catarina, e ela
me tratou daquele jeito petulante e atrevido,
não esperava que fosse me apaixonar como
aconteceu. Talvez tenha sido isso que me
atraiu nela. O fato de não abaixar a cabeça e
nem fazer tudo o que eu queria apenas para
me agradar. Isso e o fato de proteger minha
filha sem pensar duas vezes e nem se
preocupar com as consequências.
Não sei o dia de amanhã. A única
certeza que tenho é que quero que esse
namoro dê certo e vou fazer tudo o que
estiver ao meu alcance para isso acontecer.
Entro distraído na empresa e acabo
esbarrando no meu irmão.
— Viu um passarinho verde? —
Provoca-me. — Pelo sorriso idiota na cara
não foi bem um passarinho.
— Está mais pra gata. — Entro na
brincadeira e sigo para a minha sala.
Ele gargalha e vem atrás de mim.
— É bom te ver assim, mano. —
Para na minha frente e dá um aperto suave no
meu ombro. — Cheguei a pensar que isso
não fosse mais acontecer.
— Eu também, mas fui fisgado pela
professora da minha filha. — Dou de
ombros. — O que posso fazer?
— Aproveitar e não fazer nem uma
besteira. Por favor, Beni. Não estraga esse
relacionamento. — Pede. — Nada de agir
por impulso. Pensa antes de falar ou fazer
alguma coisa. Já deu pra perceber que a sua
namorada não é de abaixar a cabeça pra
ninguém. Não vacila.
— Você precisa confiar mais em
mim, Conrado. — Faço-me de ofendido,
porém não dura muito. — Pode deixar. Não
pretendo desperdiçar essa chance que o
destino, ou seja lá o que tenha sido, jogou no
meu colo. — Garanto a ele.
— Você está em casa? — Pergunto
a Catarina assim que ela atende a ligação.
— Sim. — Ouço a Bianca falando
alguma coisa, porém não consigo definir o
quê. — Está tudo bem? A Aurora melhorou?
— A preocupação está presente em sua voz.
— Está melhor. — Respondo. —
Libera a minha entrada. — Peço.
— Como assim? — Questiona
confusa.
— Estou parado em frente ao seu
prédio, e o porteiro está me olhando
estranho. — Brinco. — Interfona pra ele e
fala que posso subir.
— Certo. — Diz ainda sem muita
certeza do que está acontecendo.
Aceno para o porteiro e espero.
Assim que ele abre a porta, sigo para o
elevador.
— Boa noite. Obrigado. —
Agradeço quando passo por ele.
Aperto o botão do andar dela e
solto um suspiro. Será que ela vai gostar de
me ver aqui? Balanço a cabeça para os
lados. Estou parecendo um adolescente
inexperiente que se apaixonou pela primeira
vez.
As portas se abrem, e a Catarina
está me esperando em frente ao apartamento
dela com um short curto e um top,
enlouquecendo-me de imediato.
— Aconteceu alguma coisa? —
Puxo-a pela cintura e beijo seus lábios.
— Quis te fazer uma surpresa. —
Sorrio e entrego a sacola em minha mão para
ela, que a coloca no aparador. — Você disse
que precisava organizar algumas coisas.
Desconfiei que não fosse parar pra comer.
— Entra. — Abre espaço para eu
passar. — Obrigada, mas não precisava,
Benício. A gente ia comer qualquer besteira
aqui mesmo.
— Que namorado eu seria se não
cuidasse bem de você? — Sorri e passa os
braços pelo meu pescoço. — Fora que tive
segundas intenções. — Admito.
— E quais seriam? — Encara-me
com os olhos brilhando.
— Quero meu beijo que você ficou
me devendo de manhã. — Falo e a beijo.
Desta vez, de maneira intensa.
Colo minha testa na dela e respiro
fundo quando encerramos o beijo.
— Vai ficar pra comer com a gente?
— Questiona com a voz manhosa.
— Não posso. Meus pais estão me
esperando. Eles vão voltar pra casa. Só
ficaram com a Aurora pra eu vir aqui.
— Estou te dando trabalho. — Faz
bico.
— Trabalho nenhum. Além do que,
já fui recompensado. — Pisco para ela. —
Minha mãe fez torta de frango e de queijo.
Como eu não sei de qual vocês gostam,
trouxe um pouco de cada.
— Eu ouvi torta de frango? — A
Bianca entra na sala e pergunta animada.
— Vou embora pra deixar vocês
terminarem a noite de meninas. — Falo em
tom de brincadeira e caminho para a porta.
— Boa noite, Bianca. — Despeço-me. —
Boa noite, Catarina. — Sussurro no ouvido
dela.
Mordo a ponta da sua orelha de
leve, e ela se arrepia. Sinto sua respiração
irregular.
— Vai ter volta, Benício. —
Ameaça e semicerra os olhos para mim.
— Durma bem e sonhe comigo. —
Finjo não ter escutado e provoco-a um pouco
mais.
Viro-me e saio sem dar tempo a ela
de me responder. Resta saber quem saiu
mais prejudicado nessa provocação: ela ou
eu, que também vou precisar dormir sozinho.
Capítulo
vinte e oito
Benício Passo a blusa do
e dou de ombro.
Ela foi chamada pela dona da
escola para conversar, mas, como nem
desconfia do nosso encontro, finjo não saber
do que se trata.
— Eu vou contigo. — Falo, e ela
me olha.
— Não precisa, Benício. Posso ir
sozinha. — Responde enquanto prende o
cabelo e se olha no espelho.
Segundo a Bianca me contou, a
Célia andou perguntando aos outros
funcionários da escola sobre a Catarina
ontem, além de ter conversado com algumas
mães também.
Não duvido de qual tenha sido a
resposta de todos e estou seguro quanto a sua
decisão.
— Faço questão. — Abraço sua
cintura por trás e beijo seu pescoço. — Não
vou perder a oportunidade de mostrar pra
todo mundo o quanto a minha namorada é
gata. — Abre um sorriso lindo e se vira nos
meus braços, ficando de frente para mim.
— Bobo. — Dou um selinho nela.
— Sou um bobo apaixonado. —
Faço um carinho no seu rosto. —
Completamente apaixonado.
— Vocês vão ou não? — A Bianca
aparece na porta e questiona. — Preciso
saber se tenho carona. — A Catarina solta
um suspiro e se vira para a amiga.
— Vamos. — Pega a bolsa, segura a
minha mão, e seguimos para a porta.
Benício
— Graças a Deus você chegou. —
A Bianca fala nervosa assim que chego à
escola. — Preciso falar contigo.
— O que aconteceu? Cadê a Aurora
e a Catarina? Elas estão bem? — A
preocupação me toma, e faço uma pergunta
atrás da outra sem dar a ela tempo para me
responder.
— A Catarina está indo embora. Ela
vai pegar o ônibus daqui a pouco. — Engulo
em seco.
— Como assim está indo embora?
Eu combinei de encontrar com ela aqui pra
gente conversar. — Agito-me.
— Você não está entendendo,
Benício. Ela está voltando pra casa da tia.
Está indo embora do Rio. — Travo onde
estou. — Você precisa fazer alguma coisa
pra impedi-la, e tem que ser agora, ou será
tarde demais. — Avisa.
Vários momentos que passamos
juntos desde que começamos a namorar e até
mesmo os antes de isso acontecer se repetem
na minha mente. Não consigo acreditar que
ela está desistindo de nós dessa maneira,
sem ao menos me contar o motivo.
— Papai, por que a tia Cat foi
embora antes de mim? Ela está dodói? —
Minha filha me traz de volta ao presente.
— Benício, faz alguma coisa. Não
deixa a Catarina ir embora. — A Bianca me
pede.
— Por que ela está fazendo isso?
— Questiono sem conseguir me mexer.
— Sua sogra esteve aqui na escola
no início da semana. — Travo meu maxilar e
aperto as mãos em punho do lado do corpo.
Capítulo
trinta e quatro
Benício Acelero o máximo
Catarina
Meses depois
Respiro fundo e dou o primeiro
passo. Meu cunhado está ao meu lado para
me levar até o altar improvisado no quintal
de casa, pois fez questão de entrar comigo.
Segundo o próprio, não perderia por nada a
oportunidade de olhar para a cara do irmão
enquanto me guia até ele.
Coloco uma das mãos no meu
ventre, que já dá sinal de que tem alguém
crescendo ali dentro. Abro um sorriso, e uma
lágrima escapa e desce pelo meu rosto, sem
que eu consiga controlar, mas diferentemente
das outras vezes, essa é de alegria, de
realização.
Estou formando uma família como
sempre sonhei. Tenho um noivo maravilhoso,
capaz de tudo por mim e pelas nossas
meninas. Sim, porque sinto como se a
Aurora fosse minha também. Ela pode não
ter nascido de mim, mas eu amo aquela
menina de uma maneira que não sei explicar.
Desde o primeiro momento que
coloquei meus olhos nela brotou dentro de
mim um sentimento de pertencimento, uma
sensação de que eu precisava protegê-la de
tudo e de todos.
Por falar nela, está linda carregando
uma cesta com pétalas de rosas, que espalha
por onde passa para abrir caminho para
mim. Seu vestido é parecido com o meu,
simples e delicado como eu queria. Nos pés,
estamos com sandálias rasteiras, e nosso
cabelo está solto em cascatas com apenas
uma tiara de flores.
— Sabia que eu devia ter trazido
uma câmera pra filmar a cara de paspalho do
Beni. — O Conrado brinca ao meu lado. —
Olha pra isso. — Sorri e balança a cabeça
para os lados. — Obrigada, cunhada. —
Fala quando estamos na metade do caminho.
— Por trazer esse cara de volta à vida. Eu
nunca serei grato o suficiente a você pelo
bem que faz a esses dois. — Dá um aperto
suave na minha mão.
— Fazer uma noiva chorar no dia
do casamento não vale, Conrado. — Fungo.
O Benício me olha preocupado e se
aproxima apressado.
— O que foi, amor? — Pergunta
quando para perto de nós. — O que você
falou pra ela, Conrado? — Fuzila o irmão
com o olhar.
— Relaxa, estressadinho. É de
alegria. — Responde, pisca para mim e se
afasta.
— Está tudo bem? — Meu noivo
questiona ainda em dúvida, e eu aceno com a
cabeça em acordo. — Como pode ficar
ainda mais linda a cada vez que te olho? —
Beija minha testa.
— Eu poderia te fazer a mesma
pergunta. — Sorrio e ficamos de frente para
o altar.
Um filme passa pela minha cabeça
enquanto o padre realiza a cerimônia. Tudo o
que aconteceu desde o primeiro dia em que
eu vi o Benício na porta da escola, passando
pela nossa primeira vez juntos, nossas
brigas, as tardes deitados nos sofá vendo
filmes com a Aurora, nossas noites, seu
pedido de casamento e o dia em que contei a
ele que estou grávida.
Trocamos as alianças e meu agora
marido se abaixa para conversar com a
minha barriga.
— Prometo fazer sua mamãe, sua
irmã e você felizes, bebê. — Diz baixinho e
dá um beijo no meu ventre.
— Liz. — Falo emocionada, e ele
ergue a cabeça para me olhar sem entender.
— O nome dela é Liz. — Engole em seco e
se levanta. — Eu já escolhi.
— Você está falando sério? —
Pergunta com dificuldade e os olhos cheios
de lágrimas.
— Sim. É minha maneira de
agradecer a ela pelos presentes que me deu.
Você e a Aurora. Além de uma garantia de
que não estou aqui pra roubar o lugar dela.
Ela é e sempre será a mãe da nossa princesa.
— Eu te amo. — Segura meu rosto
e cola sua testa na minha. — Meu Deus!
Como eu te amo. — Uma lágrima desce pelo
seu rosto. — Obrigado. Obrigado por
entender e aceitar a importância que a Liz
teve na vida da Aurora e na minha. Obrigado
por ser tão maravilhosa como você é. Eu te
amo. — Beija meus lábios de leve.
Epílogo
dois
Benício Quatro anos
depois Encosto-me ao batente da porta e
Eu devo ficar?
Seria um pecado;
Se eu não consigo evitar; Me
apaixonar por você?
Fim
Siga a autora nas
redes sociais
Página da autora na Amazon:
https://amzn.to/3zpcOs4
Página no Facebook:
https://www.facebook.com/AutoraAle
Perfil do Instagram:
@autora_ale_silva
Perfil no TikTok:
https://vm.tiktok.com/ZMN8vnbra/
Página no Skoob:
https://www.skoob.com.br/autor/7321
alexandra-silva