Você está na página 1de 552

Copyright © 2021 por Jéssica Larissa

Box A menina do CEO | 1ª Edição


Todos os direitos | Reservados
Livro digital | Brasil

Esta é uma obra de ficção.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos aqui
são produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança
com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou


transmitida por qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia,
gravação ou outros métodos eletrônicos ou mecânicos, sem a prévia
autorização por escrito do escritor, exceto no caso de breves citações
incluídas em revisões críticas e alguns outros usos não-comerciais permitidos
pela lei de direitos autorais.

Capa: Mellody Ryu


Revisão: Victoria Gomes, Natália Dias, Luisa Bruno, Christine King
e Eveline Knychala
Diagramação: Mellody Ryu

O artigo 184 do Código Penal tipificava como crime, apenado com detenção de 3 (três)
meses a 1 (hum) ano, ou multa, a violação de direito de autor que não tivesse como
intuito a obtenção de lucro com a reprodução da obra intelectual protegida.
Querido (a) leitor (a)

Este e-book contém:


A menina do CEO;
Presente Perfeito;
Cinco capítulos inéditos;
Conto, Um dia Perfeito

Boa leitura!
Como amor, Jéssica Larissa.
Sumário
A MENINA DO CEO
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
EPÍLOGO
PRESENTE PERFEITO
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO BÔNUS
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
EPÍLOGO
CAPÍTULOS INÉDITOS!
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
UM DIA PERFEITO
SINOPSE
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
A MENINA DO CEO
SINOPSE
(+18) Contém cenas de sexo explícito.

Ele jurou nunca mais amar alguém.


Carlos Eduardo é frio e calculista, mas deliciosamente
sedutor. CEO de uma das maiores empresas do Brasil, também é o
alvo de um amor proibido. Beatriz, a filha do seu melhor amigo,
nutre por ele um amor secreto e um desejo ardente.
Ele carrega lembranças amargas que o fizeram criar uma
aversão a relacionamentos sérios. Mas ela o anseia e fará de tudo
para tê-lo, mesmo que tenha que jogar um jogo arriscado, testando
o juízo e o bom senso do homem.
Nesse jogo de sentimentos e desejos opostos, de prazeres e
consciência, haverá apenas um resultado. Você consegue adivinhar
qual é?
PRÓLOGO

ANOS ANTES

CARLOS EDUARDO

Era fim de tarde naquele dia. O relógio na parede branca do


meu escritório marcava quatro e trinta e três da tarde, jogando na
minha cara que mais um dia exaustivo estava próximo do fim.
Desliguei meu computador, após checar todo o trabalho do dia, e me
espreguicei para trás na cadeira de couro, colocando as mãos atrás
da minha cabeça.
Trabalhava como diretor executivo de uma empresa de
marketing, localizada no centro de Curitiba. Era meu orgulho. Tudo
que construí foi por meus próprios méritos, e não havia mais nada no
mundo que me desse tanta satisfação quanto saber que não cresci
na sombra do meu pai, CEO e dono majoritário de uma das maiores
empresas de construção civil do país, com escritório principal
localizado no Rio de Janeiro.
Não nos falávamos há muitos anos. Mais precisamente, desde
que me recusei a seguir seus passos dentro da Ferraz Engenharia.
Provei a mim mesmo que eu não era apenas mais um riquinho
mimado, herdeiro de um império. Eu poderia caminhar com os meus
próprios pés, e foi o que fiz.
Vivia e respirava trabalho, mas também tinha a minha válvula
de escape. Só em pensar nela, toda nua para mim, meu pau já ficava
ativo. Vivian era minha noiva, confidente e melhor amiga.
Começamos a sair no último ano da faculdade de Administração e,
desde então, não nos desgrudamos mais.
Pensar na bela loira esperando-me em casa me deixava
aceso e revigorado. Eu estava pronto para uma dura e suada noite
de sexo bruto.
Respirei fundo e afrouxei o nó da gravata preta em volta do
meu pescoço. Liguei para minha secretária para confirmar a agenda
do dia seguinte, em seguida, dispensei-a. Peguei minha pasta preta
sobre a mesa e saí da minha sala em direção ao elevador.
Naquela noite, faria uma bela surpresa para a minha mulher.
Eu iria compensá-la um pouco pela minha ausência por causa do
trabalho, que me consumia todos os dias. Foi pensando nisso que
não liguei para avisá-la que estava saindo da empresa, como eu
fazia todos os dias. Queria surpreendê-la.
Durante o percurso, parei o sedã em frente a uma loja de
vinhos exclusivos, comprei uma garrafa de Chianti Clássico, uma das
bebidas que ela mais apreciava. Mais à frente, completei o presente
com um elegante buquê de rosas vermelhas.
Cheguei ao apartamento que dividia com ela uma hora e meia
mais cedo que o meu costume. Saí do carro, deixando a minha pasta
no interior do veículo, e corri em direção ao elevador, segurando os
presentes em minhas mãos. Ao chegar na sala, coloquei o vinho
sobre a mesa e o buquê de rosas em cima do sofá, para então
começar a tirar o terno quente que estava me sufocando.
Arregacei as mangas da camisa branca e abri alguns botões,
enquanto andava. Meus nervos relaxaram instantaneamente e um
sorriso lascivo surgiu em meus lábios assim que ouvi a música
baixinha que vinha do nosso quarto, misturando-se ao som do
chuveiro ligado.
Abri a porta devagar e entrei, tomando cuidado para não fazer
barulho, maravilhando-me ao som de Secrets, do OneRepublic, uma
das minhas músicas favoritas. Retirei o relógio do pulso e o coloquei
sobre a mesinha de cabeceira. Logo depois, dei o mesmo tratamento
ao meu cinto.
Abri mais alguns botões da camisa e andei em direção ao
banheiro, na intenção de surpreendê-la, já imaginando tudo o que
faria daquele momento em diante. Minhas mãos já tremiam em ânsia
de tocar o corpo macio. No entanto, um som abafado, lamuriante e
tão conhecido por mim, me fez parar no meio do caminho. Congelei.
Era um gemido de prazer.
Senti o sangue sumir do meu corpo, dando lugar a uma
mistura de confusão e raiva imensurável. Não… Não poderia ser o
que eu estava pensando. Eu perderia a razão, seria capaz de fazer
uma besteira. A passos firmes, segui até o banheiro e empurrei a
porta usando toda a força que tinha, fazendo-a se chocar contra a
parede, causando um barulho retumbante. Então, eu os vi. Minha
noiva e o seu personal trainer, traindo-me descaradamente dentro da
minha própria casa. No quarto em que eu dormia.
Vi o homem se encolher covardemente atrás da vagabunda.
Nem ao menos teve a decência de me enfrentar. Um verdadeiro
covarde, miserável.
Vivian me encarou, alarmada, o peito subindo e descendo
nervosamente, enquanto tentava tapar a sua vergonha com as mãos.
Fora de mim, segurei-a pelo braço bruscamente e a arrastei
para fora do banheiro.
— Saia, agora! — ordenei com ódio. — Saia!
— Cadu... Meu amor… Me deixe explicar.
— Cala a boca, porra! Sua puta descarada. Eu te dei tudo, e
olha como me agradece. Exijo que você saia agora mesmo, você e
esse escroto covarde.
— Eduardo, não pode fazer isso — O imbecil falou, vindo logo
atrás.
Virei-me e cravei minha atenção em sua fisionomia, com
sangue nos olhos. Parecia que o demônio havia me possuído, era a
definição mais próxima de mim naquele momento.
Avancei em sua direção e o atingi com rajadas de socos no
rosto. Logo depois, empurrei-o para cima da vadia. Seu lábio
sangrava. Meu desejo era fazer isso com ela, mas seria covardia.
Não bateria em mulher.
— Cadu, amor, me ouça. Eu…
— Saia! —disse, possesso. Voltando a segurá-la pelo braço,
puxei-a na direção da sala.
— Por favor, espere, eu preciso me vestir.
— Tá com vergonha agora, sua puta? Pois quero que o prédio
inteiro saiba a vadia que você é!
Sem cerimônia e sem um pingo de remorso, abri a porta que
dava acesso ao corredor e enxotei os dois para fora, da forma em
que vieram ao mundo. Eu queria humilhá-los, da mesma maneira
que haviam feito comigo.
Naquele momento, prometi a mim mesmo que aquela fora a
primeira e última vez que eu havia sido feito de idiota. Naquele
momento, prometi a mim mesmo que nenhuma mulher teria lugar na
minha vida, a não ser em cima da minha cama.

DIAS ATUAIS
Deixo o copo de uísque em cima do suporte prateado,
próximo à banheira, e começo a abrir os botões da camisa social.
Minha boca ainda lateja, ardendo devido ao soco que recebi daquele
desgraçado. No entanto, sorrio. Adorei provocar a filha de Andrew no
dia do seu casamento. De certa forma, aquilo me deixou eriçado.
Sou mesmo um cretino, confesso. Gostei de ser desafiado.
Contudo, agora, estou muito mais interessado em descarregar
as energias que acumulei durante o período de estadia aqui em
Nova Iorque. O trabalho é, e sempre será, a minha maior prioridade.
Enquanto fito a ruiva de lábios carnudos deliciosos,
completamente nua dentro da banheira, permito que um gemido
escape da minha garganta. Com o olhar fixo nos meus, ela torce
uma mecha de cabelo acobreado entre os dedos e fica de joelhos
dentro da banheira, deixando os seios túrgidos ao meu deleite.
Descaso os botões da minha calça e a desço junto com a
cueca, fazendo meu pau saltar para fora, grande, grosso e
majestoso, completamente melado com o pré-gozo.
— Gosta de chupar, querida? — provoco quando a vejo
passar a língua pelos lábios e mordiscá-los, ansiosa.
— Adoro, Edward! — responde com ousadia, chamando-me
com o sotaque carregado.
— Boa garota. Mostre-me o que sabe fazer. — Acaricio a pele
do seu rosto, branca como porcelana, e deslizo as minhas mãos até
os fios dos seus cabelos, puxando-os, direcionando a sua boca até o
meu pau.
Fecho os meus olhos e trinco os dentes quando sinto a língua
quente me experimentar. Logo, sou abocanhado por inteiro.
Os lábios experientes me sugam com vontade, dando beijos e
lambidas estaladas, deliciosas. A ruivinha sabe o que está fazendo e
nada mais poderia me agradar tanto no momento. Quem diria que
uma noite tão desafiadora acabaria assim, comigo em uma suíte de
um hotel cinco estrelas, comendo uma mulher linda e experiente que
acabei de conhecer. Do jeito que gosto.
Quando minhas bolas se tencionam e sinto a força do gozo
aproximando-se, seguro seu cabelo com mais força e enfio meu
caralho com vontade até a sua garganta, deixando-a entalada. Pisco
descaradamente na sua direção, vendo o rosto pálido tornar-se
vermelho, e então descarrego toda a minha porra dentro da sua
garganta, fazendo a moça engolir cada gota.
— Isso, querida, toma tudo. Putinha, safada! — digo, satisfeito
com a gula com que ela me toma.
Quando termino, deixo os meus ombros caírem, relaxados, e
suspiro. Esta noite, irei me esbaldar em cada buraco que ela tem no
corpo, mas amanhã, quando o dia raiar, nem sequer lembrarei o seu
nome, e então ela será só mais um número na lista de conquistas de
uma noite que coleciono. Para falar a verdade, é apenas disso que
preciso.
CAPÍTULO 1

CARLOS EDUARDO

O som do toque do meu celular soa fraco sobre a mesinha de


cabeceira, do lado da cama onde estou deitado, relaxado. Pego o
telefone, sem prestar atenção no visor. Olho para o lado e vejo que
a ruiva ainda dorme enrolada no lençol branco.
Antes de atender a chamada, retiro rapidamente o pano que
cobre a sua bunda e deslizo minha mão pela pele macia e muito
clara. Passo meus dedos pelas curvas do seu traseiro e acerto um
tapa, deixando o local avermelhado.
— Alô. — Levanto-me da cama, pelado, atendo a chamada, e
sigo até as vidraças.
— Bom dia, Carlos! — cumprimenta Andrew com a voz seca
— Que merda foi aquela ontem, na minha casa? — questiona, indo
direto ao ponto.
Franzo a testa e suspiro. Para falar a verdade, nem eu
mesmo sei por que me meti justamente com a noiva e, pior, filha de
um antigo amigo da minha família. Contudo, ser desafiado me
instiga, principalmente porque nunca tive quaisquer problemas para
ficar com alguma mulher. Aquela gracinha de olhos verdes
tentadores fez justamente o contrário: me ignorou. O problema é
que não imaginei que o pitbull do marido fosse me flagrar.
— Peço desculpas pela indiscrição, Andrew. Acabei
confundindo a sua filha com… — Pauso por alguns segundos,
pensando em alguma desculpa qualquer. — Com outra mulher que
conheci esses dias. Elas têm o mesmo perfil — minto.
— Não tente me fazer de bobo, Carlos. O conheço há anos.
Conheço a sua fama também — diz, austero.
Gargalho, sem conseguir me conter. Realmente, conheço
Andrew há muitos anos, fomos apresentados pelo meu pai em uma
das nossas muitas viagens a Nova Iorque. Apesar de ser um federal
rigoroso e respeitado, ele é também frequentador de grandes
eventos importantes entre as pessoas mais requisitadas do país.
— Vamos esquecer o passado e focar no presente, parceiro
— sugiro — Que tal um drink mais tarde? Pegarei o voo daqui a
algumas horas e não tenho muito o que fazer durante este tempo.
Paro de observar o circular de pessoas no Central Park pelos
vidros da suíte e me viro na direção da cama. A ruivinha, que
acabou de acordar, me olha, sonolenta, e sorri. Algumas mechas
avermelhadas de cabelo deslizam pela sua testa, emoldurando o
rosto bem desenhado, salpicado de minúsculas sardas.
— Hoje não posso, estou morto depois da noite de ontem,
mas podemos marcar algo daqui a uma semana, no Brasil. Pegarei
alguns dias de férias e pretendo fazer um passeio em família.
Aproveito para fazer uma visita ao seu pai — diz, um pouco mais
calmo.
— Sem problemas — respondo, analisando o corpo nu da
mulher na cama. — Tenha um bom dia, Andrew — digo e caminho
na direção dela.
Deixo o celular sobre a mesinha de cabeceira e me aproximo
mais. Apesar de a noite ter sido suada e deliciosa, está chegando a
parte menos interessante do dia. A parte em que dispenso a mulher
sem deixar tão evidente que eu só queria comê-la e nada mais.
Essa tática serve para evitar possíveis ataques logo pela manhã,
coisa que não tenho muita paciência para aturar.
Fico de frente para ela e pisco descaradamente, como
somente eu sei fazer. A moça praticamente se derrete, enquanto me
analisa dos pés até o último fio de cabelo, focando no meu pau que
ainda exibe a ereção matinal. Ela deve estar pensando em quanta
sorte teve na noite passada, mas não posso tirar sua razão. Não é
qualquer homem que tem pique para dar a uma mulher dois
orgasmos seguidos, e isso porque ela nem imagina a extensão da
minha conta bancária.
— Dormiu bem, querida? — pergunto assim que ela sai da
cama e me agarra pelo pescoço, colando o seu corpo ao meu.
— Maravilhosamente bem — responde, animada, com um
sorriso estampado no rosto.
— Ótimo. Então apronte-se, está na hora de ir embora.
Seu sorriso morre instantaneamente, dando lugar a uma
expressão de incredulidade.
— Como assim? Pensei que… Não sei… Que fôssemos nos
divertir um pouco mais.
Encaro a mulher com seriedade e seguro seu pulso com
certa firmeza, sem comprimir demasiadamente, apenas o suficiente
para que ela entenda que não estou lhe dando liberdade para me
tocar desta maneira. Em seguida, retiro suas mãos do meu pescoço
e afasto-a.
— É uma pena. Mas tenho muito o que fazer, então você
precisa ir.
— Mas hoje é sábado. Podemos fazer tantas coisas — diz,
desapontada.
Toco o seu queixo de leve e faço com que ela me encare.
Sorrio com cinismo, já impaciente.
— Tão linda, mas tão ingênua — digo e me viro. Cato as
minhas roupas espalhadas pelo chão e começo a me vestir. — O
que foi? — questiono ao ver que a moça segura o lençol com força
contra o seu corpo esguio. Ela me encara com frieza no olhar, a
testa franzida de raiva.
— Eu já conheci homens imbecis, mas você, certamente,
ganhou o título de honra — diz, sarcástica.
— Fico feliz que você tenha compreendido o recado… —
Termino de vestir a camisa e paro, pensativo, tentando relembrar o
nome dela. Contudo, é em vão. Não me lembro nem se ela tinha me
dito. — Como se chama mesmo? — pergunto na cara de pau.
A mulher arregala os olhos e abre a boca, incrédula, mas eu
apenas dou de ombros, até porque aqui não tem nenhuma criança.
Somos dois adultos que estavam com tesão, só isso.
— Vou embora e espero nunca mais precisar olhar para essa
sua cara, ridículo! — rebate.
— Obrigado! — Sorrio e respondo calmamente. Ela está me
poupando de uma enorme dor de cabeça.
Já vestido, encosto-me na parede e, sem que ela se dê
conta, observo-a se vestir, irritada. Apesar da indiferença, me delicio
com a visão do corpo nu, no qual fiz um banquete a noite inteira.
Quando ela termina, pega a bolsa e passa por mim, soltando
fogo pelas ventas, fazendo questão de empinar o nariz.
— Adeus, querida. Foi um prazer comer você! — provoco
ainda mais.
A mulher parece transformar-se em um felino raivoso, pois dá
meia-volta e marcha na minha direção.
— Querida é sua avó, seu imbecil! — Levanta o braço e faz
menção de me acertar com um tapa no rosto, mas, para seu azar,
sou mais rápido. Seguro sua mão com força e a impeço.
— Não ouse levantar a mão para mim. Agora, saia! —
ordeno, cerrando os dentes.
— Seu maldito… — vocifera com o olhar cheio de ódio. —
Algum dia você vai se arrepender por tratar uma mulher dessa
maneira, seu grosso.
Balanço a cabeça e sorrio ainda mais, quase que
gargalhando. Ah… Se ela soubesse que esse dia nunca irá chegar,
com certeza não estaria me fazendo perder tempo. Já gastei a
minha cota de trouxa para nunca mais repetir. Para falar a verdade,
tenho pena da criatura que tentar entrar no meu caminho com
terceiras intenções que não sejam apenas me dar a boceta. Não
tenho pena de pisar nos cacos dos pobres corações feridos, afinal,
não tenho culpa de elas serem tão vulgares e descaradas. Além
disso, não sou responsável por suas ilusões infantis, nunca ofereço
mais do que sexo.
Lembrar de vulgaridade faz meus pensamentos voarem para
anos atrás, e isso faz uma ira insana despertar em mim. Fecho os
meus punhos, ainda mais irritado.
Assim que a mulher sai da suíte, batendo a porta com ira,
sigo até o bar e sirvo-me de uma dose de uísque. Ainda que esteja
cedo e o sol mal tenha acabado de raiar, sinto a necessidade de
relaxar um pouco antes de embarcar de volta para o Brasil. Lá,
deixarei a pose de conquistador irresistível e voltarei à velha e boa
rotina como o CEO respeitado que sou, dentro do meu império na
Ferraz Engenharia.
Tomo o líquido amargo e coloco o copo sobre a bancada. Vou
ao banheiro e faço uma breve higiene pessoal. Pego minha carteira,
o celular e me preparo para sair. Contudo, assim que sigo até a
porta, lembro de olhar o meu WhatsApp para conferir se há algum
recado importante.
Respondo a algumas mensagens da minha secretária
particular e outras de Felipe, meu advogado e melhor amigo.
Quando estou prestes a bloquear o visor, vejo que há uma
mensagem de alguém que não está nos meus contatos.

Saudades de você, meu amor. Quando retorna?

Analiso o número de telefone, confirmando que é do Brasil e


que se trata da mesma pessoa que vem me atormentando durante
toda a semana com mensagens descabidas e bobas como essas.
Franzo a testa, impaciente com esse joguinho adolescente, e
simplesmente ignoro, como das outras vezes. Se houver mais
alguma mensagem dessas, precisarei bloquear o número.
CAPÍTULO 2

BEATRIZ

Pela milésima vez no dia, olho o visor do celular na


esperança de que haja alguma resposta da mensagem que enviei
para ele. Mas não. Como das outras vezes, Cadu simplesmente
ignorou a mensagem que enviei sem nem se dar ao trabalho de
perguntar de quem se trata.
Irritada, deixo o celular de lado e releio mais algumas das
inúmeras besteiras que escrevi no meu diário nas últimas semanas.
Em cada linha, falo algo bobo sobre ele, inclusive sobre a última vez
que o vi, um dia antes de embarcar para Nova Iorque. Cadu estava
resolvendo alguns assuntos com meu pai no escritório aqui em
casa. Seria impossível esquecer as sensações que tive quando nos
trombamos na porta. Aquele toque grosseiro, o olhar de mar revolto,
o cheiro almiscarado que aflorou todos os meus sentidos.
Respiro fundo, sem conseguir controlar o misto de emoções
que aquele homem vem despertando em mim, ano após ano. Agora,
tudo está mais intenso, cada dia mais difícil de ser ignorado.
Impaciente, deixo o diário de lado e levanto-me da cama.
Meu coração bate forte no peito com uma mistura gritante de medo
e ansiedade. Caminho até a janela do quarto, que dá acesso à área
da piscina, e coloco algumas mechas do meu cabelo atrás da
orelha. Enquanto observo, imagino se algum dia conseguirei fazer
com que ele me olhe como uma mulher, e não como uma garota
mimada, a filha do seu amigo advogado, e nada mais.
Meus pensamentos voam até a semana anterior, quando
papai fez um churrasco e convidou alguns amigos. Como sempre,
Cadu estava entre os convidados, já que ele e meu pai são amigos
antigos e geralmente estão presentes em todos os eventos das
duas famílias. Vê-lo dentro daquela sunga preta, que moldava
perfeitamente o volume entre as pernas musculosas, levou-me à
loucura, definitivamente. Minha vontade era de agarrá-lo na piscina
e escalar aquele abdômen trincado. Contudo, eu nem sequer pude
ter um segundo da sua atenção, já que ele estava ocupado demais
na companhia de uma loira aguada que o estava acompanhando.
Tenho vontade de gritar de raiva só de me lembrar daquela
mulher irritante. Bom, talvez para os outros ela não seja tão irritante
assim, mas para mim, sim. Só de estar perto dele com aquele
decote saliente, os seios quase saltando para fora do biquíni.
Desencosto da janela e sigo até em frente ao espelho.
Observo meus cabelos castanhos e desgrenhados, que ainda não
viram pente hoje, e bufo, esmorecida. Dou alguns passos para trás,
ajeito o pijama das Meninas Superpoderosas no meu corpo e
empino a bunda, esperançosa de já ter aumentado alguns
centímetros após a sessão de agachamento que fiz ontem com
Gracy e Pedro, meus melhores amigos e colegas da faculdade.
Mordisco o lábio, desanimada, quando me lembro das
mulheres experientes e de corpos esculturais com quem o Cadu
costuma sair. Definitivamente, minhas chances de conquistá-lo são
iguais ou menores que zero. Talvez elas aumentem daqui a alguns
anos. Quem sabe quando eu não for mais uma menina, e sim uma
mulher forte e decidida? Porém, até lá, já terei morrido de raiva,
ciúmes e vontade de tê-lo.
Estou perdida nos meus pensamentos, quando ouço a voz
eletrizante da Ariana Grande invadindo o quarto. É o toque do meu
celular. Pego o aparelho com toda pressa do mundo e olho o visor,
imaginando ser ele o autor da ligação, porém, nunca estive tão
enganada.
Deito-me largada na cama, de costas, e atendo a chamada.
— Oi, Gracy.
— Bia, já está pronta? O Pedro vai passar aí em dez minutos
— diz ela.
Recordo-me que havíamos combinado de pegar uma praia
agora pela manhã, e eu nem sequer me lembrei de arrumar minhas
coisas. Que droga!
— Não sei se irei, Gracy, não estou tão animada assim —
respondo, completamente sem ânimo.
— Caramba, Beatriz, o que deu em você? — questiona,
aparentemente irritada. — Já havíamos combinado há semanas.
— Eu sei — gemo, frustrada, e mordisco o lábio. Pondero se
falo o motivo que me deixou entristecida. Após alguns segundos,
pensativa, decido que devo me abrir com alguém. — Ele não me
respondeu, Gracy. Mais uma vez, ignorou a mensagem que enviei.
Ouço o suspiro impaciente dela do outro lado da linha e me
preparo para ouvir outro sermão. Minha amiga colocou na cabeça
que devo me declarar para ele de uma vez por todas ou esquecer
essa história, porque essas mensagens anônimas não irão dar em
nada.
— Bia… Já conversamos sobre isso. Ou você vai à luta, ou
esquece esse homem. Ele não vai simplesmente acordar no dia
seguinte e pôr na cabeça que quer pegar a filha do amigo. Muito
pelo contrário.
— Eu sei, mas o que você quer que eu faça? Que eu chegue
nele e fale que o amo desde os meus quinze anos? Esquece!
Bom, talvez seja melhor do que ficar mandando mensagens
anônimas. Ele vai continuar ignorando, como fez das outras vezes.
Com o coração martelando o meu peito, viro-me na cama,
fico de bruços, e respondo:
— Eu não sei o que fazer. Todas as vezes que estou perto
dele, fico trêmula. Meu cérebro parece se transformar em geleia,
porque não sai nada que preste.
Gracy gargalha do outro lado da linha.
— Ai, amiga… Então se você quer mesmo aquele homem,
vai ter que descer do salto e pôr a mão na massa. Você sabe o que
quero dizer, não é? O Cadu não é um garoto, é um homem feito e
tem necessidades. Você está pronta para satisfazê-lo em todos os
sentidos?
— Pelo amor, Gracy, você fala como se fosse a dona de um
bordel. — Reviro os olhos e sorrio.
Gracy, apesar de ser um pouco mais velha do que eu, nunca
se importou em esperar o cara certo para perder a virgindade. Já
eu? Além de ter um pai ciumento que nem sequer deixa os meninos
se aproximarem, ainda passei parte da minha adolescência
apaixonada por um homem que não me nota. Definitivamente, não
sou a número um em quesitos de sorte.
— Você sabe que tenho razão. Já saí com alguns homens
mais velhos e posso dizer que tenho experiência suficiente para te
ajudar a conquistar um homem como ele. Com certeza, passear de
mãos dadas no parque não é a atividade favorita deles.
— Certo. Vamos supor que você tenha razão sobre o sexo.
Antes de tudo, preciso fazer com que ele me note. Enquanto eu for
invisível, não terá nem passeios de mãos dadas no parque, imagina
outra coisa.
Volto a me virar na cama e coloco o celular no outro ouvido.
— Vou pensar em algo para te ajudar. Mas só se você for à
praia com a gente. Promete?
— Tudo bem. Prometo.
Desligo a chamada e coloco um sorriso forçado no rosto. A
verdade é que eu queria passar todo o dia na cama, mas é provável
que logo minha mãe bata na porta, ou Gracy e Pedro apareçam aqui
para me obrigar a ir com eles. Sem escolhas, sigo até o banheiro,
tomo um rápido banho e, após escovar os dentes, me troco.
Quando Pedro chega, já estou vestida com uma bela saída
de praia preta e tenho todas as coisas que irei precisar dentro da
bolsa. Desço as escadas e o vejo conversando sobre futebol com
meu pai na sala. Apesar de ser um homem, ele é o único com quem
papai não implica quando se aproxima de mim, talvez porque
sejamos amigos desde crianças e, definitivamente, não haja a
mínima possibilidade de rolar algo entre nós. Digamos que Pedro
não faz o meu tipo, já que tenho atração por homens mais velhos.
— Bom dia — cumprimento-os.
— Bom dia, filha — responde papai e, logo depois, Pedro.
— Bom dia, preguiçosa — provoca e sorri.
Balanço a cabeça e também sorrio com sua provocação
barata. O sorriso se expande em seu rosto claro, quase chegando à
orelha. Os olhos castanhos brilham ao me fitar, deixando-me um
pouco desconcertada e, por um segundo, tenho a impressão de ter
visto algo parecido com fascínio em seu olhar. Ignoro essa besteira
e pigarreio.
— E então, vamos? Gracy já deve estar louca à nossa
espera.
Pedro desvia o olhar do meu rosto, passa as mãos nos
cabelos pretos um pouco compridos e fita o chão por breves
segundos.
— Vamos, sim — responde. Dá meia-volta, acena para papai
e segue em direção à porta.
Meu pai, que estava distraído olhando o celular, caminha na
minha direção com o aparelho na mão e coloca-o no ouvido.
— Tchau, querida. Comporte-se. — Ele deposita um beijo na
minha testa e se afasta. Ouço-o atender ao celular e lhe dou as
costas.
Contudo, viro-me na sua direção no momento em que o
escuto falar o nome Eduardo. Meu coração dispara. Antes que
Pedro retorne até onde estou e me puxe para a porta de saída,
ainda ouço papai perguntar se o Cadu irá passar aqui amanhã, após
o desembarque.
Engulo em seco só em imaginar que poderei vê-lo, mesmo
que de longe. Ou talvez não tão longe assim. Respiro fundo quando
coloco os meus pés para fora de casa, fecho os meus olhos e
aprecio a brisa refrescante que balança os meus cabelos.
Não posso mais conviver com isso. Com este sentimento
sufocante. Talvez eu deva jogar um jogo arriscado, testando os seus
limites e os meus.
Olho para a frente, decidida. Enquanto aperto a bolsa ao meu
tronco, digo a mim mesma que irei conquistá-lo, custe o que custar.
CAPÍTULO 3

BEATRIZ

Após passarmos na casa de Gracy, Pedro para o carro ao lado de


um quiosque no calçadão de Copacabana. O dia está ensolarado e os
turistas trafegam de um lado a outro, como é normal no Rio. Apesar da
minha falta de ânimo mais cedo, o barulho das ondas e a brisa do mar
recarregam as minhas energias. Eu e Gracy descemos, segurando nossas
bolsas, nos sentamos nos banquinhos e pedimos, cada uma, um suco
natural de laranja, enquanto Pedro estaciona o veículo.
— E então, Bia. O que está pensando em fazer em relação ao
Cadu? — questiona Gracy, olhando-me com os seus olhos escuros cheios
de expectativa.
Desvio meu olhar, coloco o canudinho na boca e sorvo um pequeno
gole da bebida gelada. Passo a língua em meus lábios e, sem encará-la,
respondo:
— Para falar a verdade, ainda não sei. Pensarei em algo.
Minha amiga sorri abertamente e continua tomando o suco.
Quando termina, levanta-se e chama o atendente para pedir outro. Sua
alegria e autoestima são contagiantes. É impossível não se sentir bem
quando ela está por perto. Dona de lábios carnudos magníficos, cabelos
cacheados bem definidos e pele morena, ela deixa um rastro de luz por
onde passa e pouco se importa se está um pouco acima do peso.
— Olha, estive pensando… — Ela começa a falar e me fita. — Já
que você inventou de enviar mensagens anônimas para ele, que tal
mudarmos este jogo? Se não surtiu qualquer efeito, tem que mudar de
estratégia.
— Como assim? — Arqueio uma sobrancelha e questiono,
esperando que ela apresente sua ideia.
— Vou te explicar. — Após pegar o suco das mãos do atendente e
voltar a se sentar, Gracy continua: — É o seguinte: e se, ao invés de
continuar mandando essas mensagens bobas, você começasse a falar
coisas mais inteligentes e menos melosas?
— Tipo? — questiono e coloco o dedo no meu queixo, tentando
imaginar onde ela pretende chegar.
— Você precisa deixar claro que se conhecem, Bia, mesmo que ele
não saiba de quem se trata. Instigue-o a querer te conhecer mais a fundo,
até marcarem um encontro.
Mordo o canudinho, já começando a ficar nervosa.
— Acho que para isso terei que trocar meu número. Porque
provavelmente já queimei meu filme com ele — digo, ao relembrar que
enviei uma mensagem chamando-o de meu amor. Que vergonha! Ele
deve estar querendo correr a quilômetros de distância de mim.
Gracy estreita os olhos e me encara com uma expressão de
incredulidade e divertimento.
— Olha, se foi tão grave assim, melhor providenciarmos outro
número para você, urgentemente.
Solto um risinho um pouco sem graça e balanço a cabeça em
concordância.
— Está certo. Farei isso o mais breve possível. E o que tem em
mente? — pergunto. Contudo, sou interrompida pela voz de Pedro, que se
aproxima do quiosque e também pede um suco de laranja.
— E então, meninas. Qual a novidade da vez? — Ele se senta em
um banquinho ao meu lado.
Gracy gargalha e começa a contar para o Pedro o plano
mirabolante para que eu conquiste o Cadu. Meu amigo me observa com
olhar neutro, sem demonstrar muitas emoções. Passa a mão nos cabelos
escuros e volta a sua atenção para o mar, aparentemente incomodado.
— Não sei por que esse seu interesse naquele homem, Bia. Já
parou para pensar que ele tem idade para ser o seu pai? — diz com
deboche.
— Mas não é, e não tenho qualquer preconceito com idade —
respondo e finjo que seu tom não me incomodou. Pedro anda estranho
ultimamente.
— Ah, Pedrinho, deixa de ser careta. Além disso, o Cadu é um
gostoso — comenta minha amiga.
— Está vendo? Gracy também concorda comigo. — Sorrio.
Pedro toma um gole do suco, balança a cabeça de um lado a outro
e volta-se para mim.
— E quando você acha que um homem como ele, que pode ter a
mulher que quiser aos seus pés, vai olhar para você, Bia?
Quando ouço suas palavras ferinas, sinto meu coração dar um
salto com uma mistura torturante de confusão e mágoa. Definitivamente,
este não é o mesmo Pedro que conheço desde criança. Ou então ele está
num dia muito ruim. O que será que aconteceu?
— Pedro, não estou entendendo… Por acaso acha que não sou
boa o suficiente?
— Gente, o clima está ficando estranho aqui. Será que podemos
mudar de assunto? — interrompe Gracy. — Acho melhor irmos para a
areia. Preciso tomar um banho de sol.
— Vocês que mandam. — Pedro dá de ombros, levanta-se e retira
a camisa azul, ficando apenas com a bermuda estampada com as cores
do oceano. Ele é bonito. Tem um sorriso lindo e um físico bem definido.
Faz muito sucesso com as meninas, pena que anda irritadiço ultimamente.
Também me levanto, pego as minhas coisas e seguimos os três na
direção da areia. Após Gracy retirar a saída de praia e se acomodar em
uma toalha ao lado de Pedro, também retiro a minha e fico apenas com
um biquíni azul-turquesa que combina perfeitamente com o tom claro e
levemente bronzeado da minha pele.
Passo um pouco de protetor solar no corpo, deixo os dois e começo
a andar pela praia. A textura da areia debaixo dos meus pés é como
massagem relaxante. Logo mais à frente, encontro um vendedor
ambulante, vendendo chips para celular. Um puta golpe de sorte, já que
não precisarei me deslocar para fazer o que preciso.
Após pagar o moço, volto para o quiosque e me sento à sombra.
Sem esperar mais, coloco as ideias de Gracy em ação. Troco o número
do WhatsApp e mando uma mensagem para a minha amiga.
O que mando para ele? Me dê uma dica. Ass: Bia

Passam-se alguns segundos e, de onde estou, eu a vejo enfiar a


mão dentro da bolsa, pegando o aparelho.

Vem curtir o sol, esquece esse homem só um minuto.

Por favor, Gracy. Quebra esse galho para mim.

Sorrio quando imagino Gracy torcendo o nariz, inconformada. Após


alguns minutos, ela responde:

Diga que o conheceu em alguma conferência e que ficou


contente em saber que logo poderão se ver de novo. Inventa alguma
coisa, você deve saber os lugares que ele frequenta. E só mais uma
coisa: coloque uma foto decente no perfil, de modo que não pareça
que você está se mantendo no anonimato, mas também cuide para
que ele não reconheça você. Boa sorte ;)

Começo a vasculhar na minha galeria, buscando alguma imagem


que eu ainda não tenha postado em nenhuma rede social e em que meu
rosto não fique muito visível. Estou quase desistindo, quando me recordo
de algumas fotos que Pedro tirou de mim no apartamento dos pais de
uma de nossas colegas da faculdade.
Era noite e eu usava um vestido preto de renda, aberto na lateral,
enquanto olhava o movimento da rua pela varanda. Havia terminado os
parabéns para a aniversariante, e no momento em que começou a festa,
segui para a varanda na intenção de tomar ar fresco. Pedro me
acompanhou.
Com pressa, entro no meu e-mail e procuro pelo contato dele.
Como imaginei, lá estão as imagens que ele havia me enviado e eu
esqueci de salvar. Escolho uma mais sóbria, mas ainda assim sexy. Nela,
parte do meu corpo aparece de lado no perfil e o meu rosto fica pouco
definido, iluminado apenas pela luz dos faróis dos carros na avenida
abaixo. Aplico um filtro azulado para camuflar a cor do meu cabelo, que
cai como ondas em minhas costas, e coloco a imagem no perfil do
aplicativo.
Depois de tudo pronto, respiro fundo e decido mandar a bendita
mensagem para ele.

Bom dia, Carlos, como vai? Nos conhecemos há alguns


meses, mas acho que você não se recorda de mim, foi um breve
momento. No entanto, fico contente em saber que em alguns dias
poderei revê-lo no evento ambiental que será patrocinado pela Ferraz
Engenharia. Será interessante. ;) Um beijo. Ass: B

Meu coração bate desesperadamente em meu peito quando


termino de escrever e clico em enviar. Guardo o celular, trêmula, e retorno
para a areia.

O dia passa com toda a sua pressa, jogando na minha cara o


quanto um segundo pode significar tudo ou nada. Cada minuto de espera
me tortura, mas ainda não há nenhum sinal dele. A parte boa é que ele
ainda não visualizou a mensagem, então há esperança.
Após sairmos da praia, deixamos Gracy em sua casa e seguimos
para a minha. Pedro se mantém em silêncio, e eu também não procuro
puxar assunto, até porque estou exausta e a única coisa que quero agora
é tomar um banho, jantar e dormir.
Assim que estaciona na minha rua, despeço-me e faço menção de
sair do carro, mas ele segura o meu braço.
— Bia, espera.
Volto minha atenção para o seu rosto e aguardo que continue.
— Sim?
— O que vai fazer mais tarde? — pergunta com o olhar cheio de
expectativas.
Engulo em seco.
— Irei descansar, Pedro. Só isso — respondo e volto a puxar o
trinco da porta.
— Não gostaria de sair comigo? Podemos jantar fora — sugere.
Arregalo os olhos, surpresa. Nunca saímos somente nós dois,
saímos sempre em trio.
— Pedro, desculpa, mas realmente estou cansada.
— Me dê uma chance, Bia. Posso fazer você feliz. — Seu toque em
meu pulso se estreita ainda mais, quase me machucando, mas a sua
revelação, confusa e incoerente, me causa choque.
— O que está dizendo? Somos amigos, Pedro — questiono,
assustada, e puxo o meu braço. Mas ele segura com ainda mais força.
— Estou dizendo que gosto de você, não como amigo. Desejo
você, Bia. Como um homem deseja uma mulher.
— Você não está… raciocinando direito — gaguejo ao ver que ele
me encara com firmeza e inspeciona algumas partes específicas do meu
corpo. Fico constrangida.
— Me dê uma chance. Esquece aquele cara.
— Pedro, me solta. Você está me machucando. Me solta!
Vejo-o soltar um suspiro pesaroso. Em seguida, afrouxa o aperto no
meu braço. Respiro, aliviada, mas ainda assim confusa com as revelações
dele. No entanto, estou tão cansada que prefiro acreditar que ele esteja
delirando, assim evito a fadiga de discutir sobre o assunto.
— Perdão. Não quis te machucar — diz e se afasta.
— Melhor você ir descansar também. Raciocinará direito amanhã.
— Levo a minha mão à porta, abro-a e saio depressa, sem esperar que
ele responda.
Entro em casa, subo para o meu quarto e sigo direto para o banho.
Quando termino, desço para jantar com meus pais. Aproveitamos para
conversar sobre o dia.
Mais tarde, após virar de um lado para o outro na cama, estou
prestes a me levantar e ir até a cozinha comer algo, quando ouço o toque
de mensagem do meu celular, que está do meu lado na cama. Viro-me e
pego o aparelho para conferir de quem se trata.
É uma mensagem de Pedro, pedindo desculpas pela forma que
falou comigo. Penso em responder, mas decido deixar para o dia
seguinte. No entanto, sinto meu coração falhar algumas batidas quando
vejo outra mensagem chegar. Olho o nome dele na tela, quase sem
acreditar que ele tenha mesmo respondido. Tenho a sensação de ter
milhares de borboletas no estômago quando vejo o nome “Carlos
Eduardo”.
CAPÍTULO 4

CARLOS EDUARDO

Quando o avião aterrissa em solo carioca, já é quase meia-


noite. A cidade está movimentada por ser sábado, e a noite está
escaldante, clima típico dos meses de verão, o que me agrada. É a
época mais bela e prazerosa do ano, onde posso me esbaldar nos
corpos femininos bronzeados. Meu motorista me aguarda
pacientemente no desembarque. Também pudera, não tem do que
reclamar com o salário gordo que pago a ele.
Pego minha mala e sigo em sua direção. Estou satisfeito por
estar de volta ao Brasil, contudo, a longa viagem me deixou
quebrado. Preciso urgentemente comer algo e tomar o belo de um
banho.
— Boa noite, senhor. Bem-vindo de volta — cumprimenta e
pega a minha mala.
— Boa noite, Antônio — respondo e o sigo até o Cadillac
chumbo, estacionado próximo à saída do aeroporto.
Enfio as mãos por dentro do tecido do meu terno preto e
ajeito a peça no meu corpo. Entro no banco traseiro do carro e, após
me acomodar, ergo a manga do terno para verificar as horas no
relógio de pulso pela milésima vez.
— Direto para o seu apartamento, senhor Ferraz? —
pergunta Antônio, olhando-me pelo retrovisor.
— Sim, por favor — confirmo.
O homem, já de meia-idade e olhos cansados, assente e
segue viagem, permanecendo em silêncio. Desvio minha atenção
das ruas do Rio e pego meu celular.
Há mais alguns recados da secretária e de Felipe. Leio por
alto e respondo algumas coisas rapidamente. Continuo passando as
mensagens, vendo se há mais alguma relevante, e é quando algo
me chama atenção. Há uma mensagem de um número que não
está em meus contatos, mas não é o mesmo que me enviou
besteiras anônimas durante a semana.
Leio o texto onde a pessoa diz que me conhece e que estará
presente em um dos eventos da Ferraz Engenharia, que acontecerá
em algumas semanas.
Olho a foto do perfil, e o que vejo me agrada. Agrada-me
muito, na verdade. É uma foto sexy, não muito reveladora, mas me
dá a ideia de ser uma mulher deliciosa. Seu corpo é pequeno e
magro, mas, ainda assim, atraente. Ela possui a cintura fina e um
traseiro empinadinho, posso ver perfeitamente pela forma justa e
sensual com que o vestido longo o emoldura.
Passo meus olhos pelos cabelos escuros e longos.
Involuntariamente, sorrio quando me imagino segurando as
madeixas com força, enquanto ela rebola essa bunda no meu pau,
de quatro.
Para conferir sua afirmação de que já nos encontramos,
analiso o seu rosto. Realmente, tenho a nítida impressão de que a
conheço, mas não me recordo de onde, nem quando a vi. Mas isso
não tem importância agora.
Em outra ocasião, eu ignoraria, como sempre faço. Mas
como agora estou dentro do carro, sem mais nada importante para
fazer, decido respondê-la e fazê-la se sentir importante em algum
momento da vida.

Oi, linda. Que bela surpresa. Como se chama?

Aguardo alguns minutos, mas a resposta não vem. Guardo o


celular no bolso do terno e, assim que o motorista estaciona o
veículo no estacionamento do meu prédio no Leblon, desço. Pego a
mala e sigo para o elevador a passos rápidos; entro e aciono o
botão que dá acesso à minha cobertura. Minha digital libera o
movimento do elevador, que inicia sua subida.
Quando as portas se abrem, respiro aliviado e entro no meu
apartamento. Levo a mala para a suíte que ocupo e a deposito no
piso de tábua corrida. Em seguida, começo a tirar as minhas roupas.
Uma por uma, vejo as peças caírem no chão. Quando fico
completamente pelado, pego as roupas e as levo até o cesto para
depois entrar debaixo do chuveiro. Tomo um banho rápido, enrolo-
me num roupão branco e desço as escadas. Caminho na direção da
cozinha e vou direto à geladeira.
Pego um dos pratos que Sônia preparou e deixou no
congelador, retiro o plástico protetor e coloco o recipiente no micro-
ondas. Sônia é como se fosse minha segunda mãe, trabalha para a
minha família há anos e é a responsável por cuidar do meu
apartamento e das coisas pessoais.
Depois de me alimentar, vou até a adega e passo meus
dedos pelos rótulos das várias garrafas de vinho e uísque que
comprei em leilões ao redor do mundo. Alguns me custaram uma
verdadeira fortuna.
Penso em optar pelo uísque, mas, quando olho para o balcão
ao lado da adega, vejo uma garrafa de Bourgogne 1974 dentro do
balde com gelo. Balanço a cabeça e sorrio. Sônia realmente me
conhece.
Pego o balde, meu celular e subo as escadas. Caminho
direto para o terraço. Sento-me em uma das espreguiçadeiras e me
sirvo de uma taça da bebida encorpada.
A luz da lua se reflete na água da piscina e traz um ar de
calmaria ao ambiente. Deixa tudo mais harmonizado. Tomo um gole
da bebida e degusto o sabor levemente ácido que me faz relaxar.
Desato o nó do roupão e permito que as bandas da peça caiam de
cada lado do meu corpo, deixando os músculos do peito e o meu
pau em evidência. O ar refrescante faz com que eu me distraía, e
fecho os olhos. Suspiro, satisfeito com todo o luxo e poder que
possuo sob o meu controle. Uma vida de rei.
De repente, ouço o toque de mensagens do meu celular.
Pego o aparelho e confiro as horas: já passa de uma da manhã.
Abro o aplicativo de mensagens, passo a mão na minha barba que
começa a despontar e leio a resposta da mulher.

Me chamo Bianca. ;)

Então você me conhece, Bianca?


Interessante.
Gostaria de revê-la em uma ocasião mais discreta.

Envio a mensagem e aguardo a moça misteriosa me


responder. Pouco me importo se fui tão direto, elas nunca dizem
não.

Creio que terá uma bela surpresa quando me vir.

Gargalho e tomo outro gole da minha bebida. Tadinha, ela


nem imagina que nada mais neste mundo me surpreende.

Qual a sua idade, lindinha?

22, e a sua?

Um bebê. Tenho 38, criança. ;)


Coloco a taça vazia no suporte ao lado do balde e passo a
mão no meu pau, que está levemente ereto, atiçado por esse
joguinho barato e misterioso. Volto a olhar o celular.

Gosto de homens experientes :)

Sorrio novamente, envolvido com a ousadia dela. Não me


lembro de ter ficado com nenhuma mulher tão jovem nos últimos
anos. Sempre preferi as mais experientes e decididas, mas talvez
eu possa abrir uma exceção, se ela for uma boa menina.
Aciono a câmera do meu celular, coloco a mão cobrindo o
meu pau e tiro uma selfie, de modo que fique em evidência que
estou pelado, revelando apenas uma parte do rosto, do nariz para
baixo. Não sou irresponsável de enviar nudes para uma
desconhecida… Nem mesmo para uma conhecida. Tenho visto as
diversas consequências disso entre pessoas ricas, famosas e
poderosas.
Envio a imagem quase irreconhecível e provoco com uma
mensagem:

Gosta disso, Bianca? Você dá conta?

Aguardo uma resposta, mas nada vem, e acabo deixando


para lá. Retorno para o quarto e me deito. Logo, pego no sono.
No dia seguinte, gemo baixinho assim que acordo, sentindo
meu pau duro roçando no colchão. Estou com a bela de uma ereção
matinal, louco de vontade de meter em uma boceta.
A luz dos raios solares invade o quarto, deixando claro que já
está bem tarde. Levanto-me e caminho em direção ao banheiro,
esvazio a bexiga e lavo o rosto para despertar do sono. Retorno ao
quarto e volto a me deitar. Pego o celular que deixei em cima da
mesinha de cabeceira, deslizo a tela e olho as mensagens.
Relembro a curta conversa que tive com a mulher, ontem à noite. O
fato de ela não ter me respondido me deixa ainda mais eriçado. O
mistério instiga os meus sentidos.
Quando vejo que tem uma resposta dela, abro a mensagem e
sinto o meu pau pulsar, cheio de tesão.

Creio que sim. Eu dou conta. E você?

Junto com a mensagem, há uma foto dela de frente para o


espelho. A mulher está de joelhos na cama, usando apenas um
shortinho e uma blusa decotada colada ao corpo pequeno e
delicado. A foto revela apenas as formas do corpo, sem mostrar o
rosto.
Puta que pariu. Que delícia!
CAPÍTULO 5

CARLOS EDUARDO

Que corpo lindo, Bianca. Me deixou excitado, criança.

Respondo à mulher e volto a largar o celular. Espreguiço-me


na cama, ainda com o corpo quebrado devido à viagem, mas me
forço a levantar e tomar um banho. Hoje é dia de visitar os meus
pais e talvez eu fique para o almoço.
Após o banho, visto-me informalmente com um jeans
amarronzado e camisa social azul-escuro. Faço uma pequena
inspeção pelo cômodo, pego as minhas chaves e sigo para o
elevador.
Desço até o térreo, onde fica a garagem do meu edifício.
Caminho por entre os carros até chegar próximo ao Lamborghini
Aventador prateado que comprei recentemente. Embora eu ainda
esteja quebrado e deseje apenas ficar de molho em casa, penso em
dirigir o esportivo, sentir o vento chicoteando o meu rosto enquanto
piso no acelerador. Contudo, decido optar pela discrição, já que
passarei o dia com os meus pais.
Caminho até o Mercedes McLaren branco e, após entrar e
dar a partida, sigo para o meu destino.
A distância do Leblon para Ipanema é curta. Em quinze
minutos, já estou entrando no condomínio onde meus pais moram.
É também o bairro que Felipe, meu advogado e amigo, mora.
Aproveitarei para pegar alguns papéis na casa dele, mais tarde.
Estaciono o carro na rua, em frente à mansão, e desço. Antes
de me aproximar do portão, vejo minha mãe, que vem ao meu
encontro, sorridente. A mulher elegante, de cabelos loiros, presos
em um penteado bem-arrumado, aproxima-se e me abraça com
força.
— Finalmente veio visitar sua mãe, Cadu. Eu já estava
depressiva com seu abandono — Ela dramatiza e me encara,
passando a mão por cada centímetro do meu rosto. — Meu coração
é fraco, filho.
Gargalho e acaricio seu rosto.
— Não seja dramática, dona Rebeca Ferraz. Eu estive longe
por apenas uma semana. — Estendo meu braço para que ela o
segure. — Vamos entrar ou iremos passar o restante do dia aqui
fora?
— Menino levado. — Ela segura meu braço, e seguimos em
direção à porta de entrada. — Espero que tenha me arranjado uma
nora nesse tempo que passou fora. Quero netos, Eduardo.
Balanço a cabeça, sorridente, acompanhando-a. Minha mãe
é realmente o drama em pessoa, mas é uma mulher admirável.
Mesmo depois da doença do meu pai, ela não se deixou abater e
mantém um sorriso no rosto, sempre.
— Sinto em dizer que isso não será possível.
— Por que não? — questiona, assim que passamos pela
porta principal da mansão. Minha mãe para de andar, vira-se na
minha direção e me encara. — Você já tem quase quarenta anos.
Precisa se casar, ter filhos. — Abre os braços e começa a apontar
para todos os lados. — Não permita que tudo isso morra com você
simplesmente porque uma mulher qualquer te destruiu no passado.
— Mãe, por favor. — Volto a segurar o seu braço e a guio em
direção à cozinha. — Esquece essa história e vamos procurar algo
para saciar a minha fome. Estou faminto.
Ouço seu suspiro frustrado, mas finjo que isso não me abala.
Na verdade, não me abala. Minha decisão está tomada quando se
trata de mulheres. Se algum dia eu optar em ter um filho, ele com
certeza não será gerado pela minha esposa, e sim por uma barriga
de aluguel. Casamento não entra nos meus planos.
— Como está o meu pai? — pergunto, mudando de assunto,
e pego uma maçã vermelha na fruteira. Sento-me próximo ao
balcão.
— Como sempre. — Ela se senta do meu lado e responde,
sem muita emoção na voz. — Ranzinza, abatido. Já não quer mais
sair da cama.
Sorvo uma lufada de ar para os meus pulmões, enquanto a
ouço. Apesar de nunca ter me dado muito bem com meu pai, saber
que o homem que ergueu um império e me criou está se
deteriorando a cada dia, deixa-me entristecido.
O remorso me atinge quando me recordo dos anos
anteriores, quando me neguei a seguir seus passos dentro da
Ferraz Engenharia. Naquela época, eu simplesmente fui embora
sem olhar para trás. Passamos anos sem nos falar e só voltei a vê-
lo quando recebi a notícia de que ele estava dentro de uma sala de
cirurgia, após a ocorrência de um AVC hemorrágico.
Mordo a maçã, escorado no balcão da cozinha. Minha mãe
não para de falar um só momento. Termino de me alimentar e
conversamos por mais alguns minutos, em seguida, ela volta sua
atenção para a cozinheira e passa-lhe algumas instruções sobre o
almoço.
Deixo as duas envolvidas na discussão do prato do dia e
caminho na direção do quarto do meu pai. Enquanto ando, ouço o
toque do meu celular. Olho o visor e atendo.
— Oi, Felipe.
— Oi, cara, como vai?
— Um pouco quebrado da viagem, mas estou bem —
respondo e me encosto na parede.
— Imagino. Apesar disso, você não quer vir almoçar aqui em
casa? Convidei alguns amigos e suas esposas, e agora a
mulherada está aprontando um verdadeiro banquete.
— Com direito a lasanha? — pergunto, sorrindo.
Felipe gargalha e volta a falar.
— Sim. Com direito a lasanha.
— Estou aqui nos meus pais. Passo aí mais tarde, guarde um
pedaço para mim.
Dentro dos negócios, sou conhecido como um carrasco.
Todos me conhecem e me respeitam. Mas de folga, na companhia
dos meus amigos, sou comprado facilmente por um pedaço de
lasanha.
Felipe continua falando, mas é interrompido. De imediato,
reconheço a voz da sua filha, Beatriz. É uma linda menina, na faixa
dos dezoito ou dezenove anos. É o xodó do meu amigo, o cara
morre de ciúmes da garota e tenho até pena do marmanjo que
ousar se aproximar dela com segundas intenções.

BEATRIZ
Ao acordar pela manhã, a primeira coisa que faço é pegar o
celular e reler a conversa que tive com ele durante a noite. Mal pude
acreditar quando vi que ele havia respondido. Fiquei tão eufórica
que liguei para Gracy a uma da manhã para contar a novidade, e
agora não vejo a hora de levarmos essa conversa para um nível
mais avançado.
Suspiro, olhando a foto que ele enviou para mim. Apesar de
não ter nada revelador, percebo que ele está completamente
pelado. Fecho os meus olhos, sonhadora, e relembro da vez em que
o flagrei masturbando-se no banheiro do quarto de visitas, há alguns
meses. Aqueles gemidos não saem da minha mente, embora eu
não tenha conseguido ver o que tanto queria.
Ah, Cadu! Como eu amo você.
Mordisco o lábio e apenas torço para que ele não fique muito
bravo quando descobrir quem é a Bianca, e que não tenho vinte e
dois anos, e sim dezoito. Foi só uma mentirinha de nada.
Perdida nos meus sonhos de menina, levanto-me e rodopio
pelo quarto, feliz. Meu sorriso está de orelha a orelha.
Após alguns minutos, apronto-me e desço as escadas para
tomar o café da manhã com a minha família. Papai, que não para de
atender ligações a cada cinco minutos, informa que teremos
companhia para o almoço, e eu logo me empolgo ao imaginar que
talvez o Cadu venha passar o dia conosco, e não chegue somente
ao anoitecer, como havia dito ontem na ligação que fez para o meu
pai.
Após terminarmos, ajudo mamãe a retirar a mesa e vou para
o meu quarto revisar alguns assuntos da faculdade, antes que
Gracy e Pedro cheguem.
Passo os dedos pelas folhas do caderno, mas meus
pensamentos me traem, sempre relembrando nossa conversa.
Estou distraída, quando meu celular apita. Pego o aparelho e olho o
visor. É uma resposta dele, falando que ficou excitado com a foto
que enviei. Minhas bochechas enrubescem.
Quem diria que o importante empresário Carlos Eduardo
Ferraz é um safado.
Penso em responder de imediato, mas me contenho. Gracy
havia me dito para não deixar tão óbvio que estou a fim dele.
Segundo minha amiga, essas coisas assustam os homens, que eles
gostam mais de serem desafiados.
Na minha mente, isso não passa de besteira, mas se ela, que
é experiente, diz que não, quem sou eu para contestar?
Quando meus amigos chegam, deixo os estudos de lado e os
acompanho até a piscina. Gracy está animada, como sempre, mas
Pedro está calado, cabisbaixo, nem mesmo olha no meu rosto. Só
agora me recordo que não respondi ao seu pedido de desculpas,
ontem à noite.
— Está tudo bem? — pergunto e me sento em uma das
espreguiçadeiras.
Gracy, que está distraída, passando protetor solar no corpo,
nem se dá conta da nossa conversa.
— Bia, sobre ontem, eu…
— Pedro… — interrompo-o. — Esquece isso, por favor.
Ele se senta do meu lado e volta a falar:
— Não quero que fique chateada comigo. Não quis magoar
você. — Ele me encara com o semblante triste, e o meu peito se
aperta.
— Não estou magoada. Você só me assustou. Mas vamos
esquecer isso, tá bem?
Ele sorri e estende o dedo mindinho.
— Sempre amigos?
Cruzo o seu dedo com o meu e também sorrio.
— Sempre amigos.
Gracy, que no momento é a única usando trajes de banho,
senta-se do nosso lado, relaxada, e entra na conversa que
acabamos de engatar. No fim das contas, combinamos de jogar
algumas partidas de voleibol no fim da tarde.
Logo, a casa está lotada com os amigos que papai convidou
para o almoço. Deixo Gracy e Pedro na piscina e vou à procura do
meu pai para que ele possa instalar a rede de voleibol, próximo à
área da piscina. As mulheres estão na cozinha, ajudando minha
mãe a preparar o almoço, e os homens na sala, conversando
alegremente sobre futebol.
Encontro meu pai perto da janela, falando ao telefone. Eu me
aproximo e o interrompo por poucos segundos. Assim que ele
confirma que irá instalar a rede, retiro-me e volto para onde os meus
amigos estão.
O dia passa rapidamente, entre risadas e muitas conversas.
A maior parte das visitas já foi embora, e o vestido soltinho que eu
usava foi substituído por um short térmico preto, colado ao corpo.
Na parte de cima, coloquei apenas um biquíni azul-marinho.
O voleibol começa de forma improvisada. Como não há o
número necessário de jogadores, colocamos quatro pessoas de
cada lado. Eu, Gracy, Pedro e minha mãe de um lado e dois casais,
amigos dos meus pais, do outro. Papai ficou responsável pela
arbitragem.
Estamos jogando há quase meia hora. O jogo está difícil,
trincado, mas me recuso a perder.
Observo papai sair e seguir na direção do portão, mas não
lhe dou atenção. Em posição de saque, seguro a bola e saco,
visando marcar um ponto, mas para o meu azar, a bola bate na
barreira e volta. Desdobro-me em duas para evitar que a equipe
adversária consiga pontuar, contudo, ao tentar impedir que a bola
caia na minha quadra, falho vergonhosamente.
Irritada, viro-me depressa e corro o mais rápido que posso
para pegar a bola e voltar a atacar. Contudo, com o movimento
rápido, não percebo a presença de um homem que caminha
distraidamente próximo ao local onde estou, e o nosso choque é
inevitável. Caímos os dois com tudo no chão.
Por sorte, caio por cima dele e não me machuco, mas sinto
meu coração falhar uma batida quando vejo que o tal homem é o
Cadu. Pela sua expressão, ele não teve tanta sorte quanto eu.
— Porra! — ele xinga e praticamente me empurra, fazendo
com que eu saia de cima do seu colo. Vejo o homem colocar a mão
em cima do pênis e se contorcer, sem ar. — Minhas bolas.
— Cadu? — Desesperada, nem ao menos percebo a hora
que retiro suas mãos do local machucado e começo a massageá-lo.
— Gente, ajuda aqui, ele está machucado — grito.
Massageio seus testículos de leve, nervosa e suando frio. A
culpa está me consumindo. Ele tenta conter meus movimentos,
segurando os meus pulsos. É neste momento que ouço sua voz
sofrida e falha:
— Bia… Você está segurando o meu pau. — O ar parece
faltar em meus pulmões.
CAPÍTULO 6

CARLOS EDUARDO

Após passar o dia com meus pais, despeço-me e sigo para a


casa de Felipe. Assim que chego, sou atendido por ele no portão. O
homem me cumprimenta e me dá espaço para entrar, logo depois,
segue na direção da área da piscina, onde vejo algumas pessoas
jogando voleibol.
Sigo-o devagar, inspecionando as mulheres que correm e
pulam loucamente atrás da bola para evitar que o grupo adversário
marque pontos. Aproximo-me da quadra e paro quando ouço o toque
do meu celular. Olho o visor e atendo ao ver que é uma das minhas
“amigas” de cama.
— Oi, querida.
— Oi, mi amor. Que saudades eu estava de você.
Repuxo os lábios em um sorriso sarcástico quando ouço a
revelação nada verdadeira.
— Não seja falsa, Raquel. Nós dois sabemos do que você
está com saudades, e não é de mim — brinco, mas com um fundo de
verdade. Refiro-me a ela estar com saudades do meu pau e da
minha conta bancária. É disso que elas gostam, de rola e dinheiro.
— Tem razão, mi amor, estou com saudades do seu pau —
diz com a voz manhosa.
— Sinceridade é tudo — debocho.
Raquel gargalha do outro lado da linha e eu continuo andando
distraidamente, enquanto a ouço. A voz sedutora, porém dengosa,
traz até mim uma mistura de indiferença e tédio. De todo modo,
Raquel ganhou alguns pontos comigo por não ser uma mulher
pegajosa. Ela sabe que quero apenas transar e nada mais, e aceitou
as minhas condições sem maiores questionamentos. É por esse
motivo que ela é uma das únicas com quem repito a dose quando
estou sem saco para ir à caça.
— Tem um tempinho para mim, hoje à noite? — pergunta com
voz suave.
Repuxo os lábios em um sorriso cínico e abro a boca para
respondê-la, contudo, sou surpreendido por algo que faz todo o ar
sair dos meus pulmões. Como um carro desgovernado, sou
atropelado por alguém que corre na minha direção e se choca com
tudo contra o meu corpo. Como estava distraído, e devido à pancada
brusca, caímos os dois no chão. Meu celular voa para longe.
— Porra! — O pior é que a pessoa cai no meu colo com tudo.
Sinto a pressão do peso dela nas minhas bolas e suo frio. Tudo
acontece tão depressa que só consigo identificar que é uma mulher e
a tiro de cima de mim o mais rápido que posso. Contorço-me no
chão por causa da dor e cubro os meus testículos com as mãos,
antes que a louca resolva terminar o serviço e acabar de esmagar os
meus futuros filhos. — Minhas bolas.
A dor é latente, mas, por sorte, a pancada não pegou em
cheio. Do contrário, eu sairia daqui direto para um hospital.
— Cadu? — Ouço a voz assustada da mulher e, ainda
grogue, abro os olhos para identificá-la.
Vejo uma Beatriz assustada e nervosa, que nem ao menos
percebe quando retira minhas mãos de cima do meu pau e começa a
massagear-me em todos os lugares, desajeitadamente.
É uma situação, no mínimo, estranha. Puta merda.
Ela começa a gritar, nervosa, pedindo socorro e,
inocentemente, agarra o meu pau. O mais estranho é que a dor
brutal que eu sentia começa a dar espaço a outras sensações mais
peculiares. Engulo em seco.
Seguro os seus pulsos para impedi-la de continuar tocando-
me dessa forma extravagante, mas quando ela se volta para mim,
com aqueles olhos tão intensos quanto um quartzo verde polido,
sinto o traidor do meu pau enrijecendo, contrariando todas as
vontades da minha mente.
— Bia… Você está segurando o meu pau — digo com a voz
falha, ainda sem conseguir definir se é de dor ou de tesão.
Ela estremece, arregalando os olhos, e afasta-se, petrificada.
Desço meu olhar rapidamente pelo seu busto e franzo o
cenho quando me dou conta que essa região me parece familiar. Bia
percebe o meu olhar confuso, analisando-a, e levanta-se
rapidamente.
Neste instante, todos que estavam na quadra chegam até
mim, fazendo um enorme alvoroço, tentando entender o que
aconteceu. Volto a colocar a mão em cima da minha virilha para
disfarçar o volume que começou a se formar e explico o ocorrido.
Inesperadamente, Bia desaparece da vista de todos,
deixando-me surpreso e ainda mais confuso com o comportamento
assustado dela quando a analisei. Apesar de ser uma menina linda e
atraente, é filha de Felipe, pessoa que respeito e trato como irmão.
Automaticamente, entrou para a lista de mulheres que jamais levarei
para a cama. Sem contar o fato de que tenho o dobro da sua idade.
Contudo, a sensação que senti quando ela me tocou deixou-me
intrigado.

BEATRIZ
Quando vejo que Cadu analisa o meu busto e franze o cenho,
pareço acordar do choque que me atingiu quando ele alertou que eu
estava segurando o seu pênis. Levanto-me depressa e saio da vista
de todos. Entro em casa e vou direto para o meu quarto. Tranco a
porta e recosto-me na madeira, sem ar, aflita.
Será que ele reconheceu algo em mim, da foto que mandei?
Seria possível?
Trêmula, caminho até a cama e me deito.
Aquele olhar intenso, tão azul como o oceano, tão marcante
como safiras. Senti-lo tão próximo a mim foi como ir ao céu e ao
inferno ao mesmo tempo, porque, por mais que eu desejasse tanto
tocá-lo, a situação constrangedora em que me meti não ajudou em
nada. Na verdade, temo que ele queira se manter a mil quilômetros
de distância de mim depois daquele ocorrido.
Suspiro fundo, derrotada, e penso em tomar um banho, mas
ouço uma batida na porta e a voz preocupada de Gracy.
— Bia, está tudo bem? — Caminho na direção da porta e a
abro.
— Oi, Gracy. — Deixo meus ombros caírem e dou um passo
para o lado, para que ela entre. — Acho que eu acabei com o um
porcento de chance que tinha de conquistá-lo — desabafo, sem
ânimo, e sigo com ela até a cama.
Gracy senta-se e me analisa por poucos segundos, como se
ponderasse o que diria a seguir.
— Realmente, acho que ele não vai querer correr o risco de
receber outra pancada nos ovos tão cedo. — Minha amiga tenta
manter-se séria, mas logo se desmancha em gargalhadas. — Bia,
você é inacreditável. Mas talvez possa funcionar se, ao invés de ficar
estática, você o ameaçar. Exija que ele te beije, se não irá receber
um chute nas partes baixas também.
Reviro os olhos e jogo-me na cama, desiludida. Gracy
gargalha por mais alguns minutos, fazendo algumas piadas bobas, e
assim o tempo passa com toda a sua lentidão e angústia.
Logo Pedro aparece para se despedir e, pela graça de Deus,
carrega Gracy consigo.
Tomo um banho rápido, coloco um vestido simples de cor
vinho e tecido leve, amarro meus cabelos em um rabo de cavalo alto
e retorno para a sala. Passo pelo cômodo vazio e sento-me no sofá
preto. Aproveito e pego o livro 1984, de George Orwell, que eu havia
deixado em cima da mesinha. Abro-o e continuo a leitura de onde
havia parado.
Leio algumas páginas distraidamente, mas, quando ergo o
meu rosto e olho na direção da porta do escritório de papai, quase
tenho um ataque do coração. Cadu está escorado na porta,
encarando-me com seriedade. Seu olhar reflete curiosidade e divide
a atenção entre o meu rosto e o livro que seguro.
Ele se aproxima, e eu engulo em seco, vendo o homem tão
viril e confiante andar na minha direção. Nem parece a mesma
pessoa que se contorcia de dor, há pouco.
— Não sabia que gosta de ler George Orwell — diz ele,
fitando a capa do livro que deixei em meu colo.
— Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo
que nos é dado — respondo, usando uma das frases de Tolkien. A
resposta meio que sai no automático. — Eu… gosto de passar o meu
tempo lendo… — completo em um murmúrio.
Cadu arqueia uma sobrancelha e encara meu rosto. Parece
incrédulo. Seus olhos fitam os meus e, por um segundo, tenho a
impressão de que ele analisa a minha boca.
Umedeço os lábios, nervosa.
— Pensei que garotas da sua idade gostassem de coisas
fúteis, e não de ler livros que abordam assuntos tão complexos.
Sinto uma pontada de irritação quando ouço o tom sarcástico
da sua fala, mas ignoro. O fato de estar conversando com ele tão de
perto e, pela primeira vez, a sós, deixa-me de pernas bambas, e o
meu cérebro parece não raciocinar direito.
— Acontece que não sou como todas as garotas — respondo,
desafiando-o, mas arrependo-me instantaneamente. A verdade é
que não sei o que dizer ou como agir perto dele.
Levanto-me quando percebo que papai se aproxima, já de
banho tomado, com uma pasta na mão. Cadu permanece em
silêncio, mas sinto meu coração acelerar quando ele me encara com
uma expressão indecifrável no rosto. Parece pensativo, não sei ao
certo. Também não consigo definir se é boa ou ruim a forma com que
seu olhar me queima com tanta intensidade.
CAPÍTULO 7

BEATRIZ

De frente para o espelho, observo o vestido nude que se molda tão


perfeitamente à minha cintura. A gola em V é discreta e valoriza as formas
dos meus pequenos seios, ao mesmo tempo que o restante da roupa se
cola ao meu corpo, tapando até a metade das coxas. Digamos que estou
vestida à altura de um jantar elegante, porém, estou nervosa.
Só de pensar que em alguns minutos estarei em uma mesa, ao lado
do senhor e senhora Ferraz, de frente para ele, sinto meus nervos gélidos e
sinto-me paralisada. Desde aquele ocorrido na área da piscina, há uma
semana, não tive coragem de enviar-lhe outra mensagem, fingindo ser a tal
Bianca. Também não o vi mais depois de nossa curta conversa na sala.
Solto os meus cabelos, que caem em ondas castanhas, alinhadas e
sutis, em minhas costas. Passo o batom vermelho como sangue em meus
lábios e finalizo com um perfume suave. Fecho os olhos à procura de calma
e assim permaneço até ouvir uma batida na porta.
— Filha, está pronta? — pergunta minha mãe.
— Sim, mamãe. Estou pronta — murmuro.
Continuo parada, ansiosa e sem forças para me mover. Penso em
dizer que não irei, mas, ao mesmo tempo, meu subconsciente diz para que
eu vá e, na primeira oportunidade, me declare para ele. Perco-me em meus
pensamentos e até me esqueço que mamãe me aguarda do lado de fora,
só volto a me recordar quando ela abre a porta e entra.
— Querida, o que foi? — pergunta ao ver que estou cabisbaixa. Nem
consigo disfarçar.
Levanto a minha cabeça e a encaro. Mamãe ainda é jovem; as faces
são coradas e a pele firme como se ainda possuísse vinte anos, e não mais
que quarenta.
— Mamãe… A senhora já amou outro homem que não foi o papai?
— pergunto, tentando sanar um pouco da minha curiosidade e entrar em
um assunto delicado. Sinto que devo falar com alguém experiente.
Minha mãe ergue uma sobrancelha e caminha na minha direção.
Cruza as mãos em frente ao vestido azul-marinho que usa.
— Por que essa pergunta agora, querida? — questiona.
— É que… preciso entender algumas coisas… Algo que estou
sentindo.
Com o olhar confuso, mamãe assente, segura na minha mão e guia-
me até a cama para nos sentarmos.
— Já tive algumas paixonites antes do seu pai, sim. Mas amar, amar
mesmo, a gente só ama uma vez, e eu senti isso no dia em que o vi pela
primeira vez. — Ela parece se perder no tempo, pois sua expressão
suaviza-se e seus olhos amarelados se iluminam.
— E todas as vezes que o via, a senhora se sentia como se
estivesse perdendo o chão? Como se seu corpo flutuasse e nada mais no
mundo existisse, a não ser ele?
Ela sorri e me fita. Seu olhar parece captar tudo o que estou
sentindo. Confirmo isso no brilho do sorriso que se abre em seus lábios.
— Você está apaixonada, querida? — pergunta e toca o meu rosto,
deslizando as costas das mãos nas minhas bochechas.
— Acho que sim — digo e umedeço os meus lábios. — Mas ele não
sabe — completo.
Curiosa, mamãe franze a testa e questiona:
— Quem é ele? Algum colega da faculdade?
Um pouco aflita, levanto-me da cama e fico de costas para ela, para
que eu consiga camuflar a verdade que meu olhar não conseguiria
esconder.
— Não. E… a senhora também não o conhece — minto, nervosa.
Ouço seu suspiro às minhas costas e sinto o toque de suas mãos no
meu ombro em seguida.
— Filha, pode confiar em mim. Eu sou sua mãe.
Viro-me e a encaro.
— Eu sei.
Ela sorri.
— E ele? Também está apaixonado por você?
— Tenho certeza de que não! — afirmo.
— Tem certeza? Você é tão linda e inteligente. Qualquer homem…
— Mamãe — interrompo-a. — Ele é inalcançável para mim.
Ainda sorridente, mamãe diz:
— Tente. Diga a ele. Só não consegue o que quer quem não se dá
ao luxo de tentar. — Dito isso, ela vira as costas e segue na direção da
porta. Antes de sair, completa: — A espero lá embaixo. Se apresse.
Respiro fundo, pego meu celular e abro o aplicativo de mensagens.
Vou direto ao contato dele.
A imagem de Eduardo dentro do escritório da empresa preenche a
foto do perfil. O rosto másculo e destemido, a expressão imbatível. Posso
dizer que ele é o homem mais bonito e intimidante que já conheci em toda a
minha vida.
Um pouco trêmula, digito uma resposta atrasada para o comentário
que ele havia feito na semana anterior.

É um prazer saber que te deixei excitado. Precisamos dar um jeito


nisso. ;)

Envio a mensagem, guardo o celular na minha bolsa de mão e desço


as escadas.

Na sala, converso distraidamente com mamãe e a senhora Ferraz. A


mulher elegante, com os cabelos loiros perfeitamente arrumados em um
coque alto, usando um conjunto de saia e terninho cinza, é um poço de
gentileza e requinte.
Enquanto fala sobre o estado depressivo do marido, que até este
momento não compareceu à sala, ouço o toque da campainha e vejo o
mordomo seguir até a porta. Logo, um grupo de pessoas se junta a nós e,
contente, a senhora Ferraz nos apresenta uma por uma. Ela começa pelo
homem bonito e educado que a cumprimenta com um aperto de mão e um
beijo no rosto.
— Queridas, este é Andrew Thompson. Um velho amigo do meu
marido que está passando alguns dias de férias aqui no Rio.
O homem nos cumprimenta com um sotaque arrastado, logo,
presumo que não é brasileiro.
— Prazer, senhor Andrew — cumprimento e aperto a sua mão.
Mamãe faz o mesmo.
— E estes são Alexander e Angelina. Estou certa? — diz a senhora
Rebeca.
Só então volto-me para o casal que está atrás de Andrew, que dá um
passo para o lado e apresenta os dois como sua filha e genro. O homem
alto, cabeludo e de olhar intimidante mantém-se sério enquanto aperta a
mão de todos na sala. Sua mão possessiva não larga a cintura da esposa
por um só segundo.
Acabo viajando para longe ao analisar a mulher tão pequena e linda
que se assemelha a um anjo, enquanto ele, ao mesmo tempo que é bonito
e rústico, possui quase o dobro do tamanho dela. Pergunto-me como ela
aguenta um homem desse tamanho. Se bem que Cadu não tem o porte
menor que este Alexander e eu não sou muito maior que Angelina.
Sinto minhas bochechas enrubescerem quando me dou conta que
estou pensando em safadezas enquanto a senhora Ferraz fala algo comigo.
Nem presto atenção no que ela diz, apenas assinto e volto meu olhar para a
porta ao ver que mais uma vez o mordomo a abre.
Desta vez, meu coração falha uma batida quando vejo quem entra
na sala. Pareço flutuar.
O terno preto, o maxilar másculo, o olhar viril e confiante. Eduardo
entra e para por alguns instantes, pondo as mãos nos bolsos da calça. Ao
longe, vejo-o erguer uma sobrancelha e virar-se, olhando para fora. Parece
impaciente.
Continuo petrificada, admirando-o, até sentir um aperto no peito
quando uma mulher morena, de corpo escultural repleto de curvas, entra na
sala e cruza o braço no dele. Ao olhar para onde estamos, ela sorri e
ambos caminham em nossa direção.
Não consigo disfarçar a decepção que sinto ao vê-lo acompanhado
de outra mulher. Não consigo nem sequer desviar meu olhar.
Aperto com força a pequena bolsa que seguro, tentando disfarçar o
nervosismo que me toma. Quando os dois se aproximam, procuro disfarçar
a minha irritação e dirijo minha atenção para os lados, à procura de algo no
qual eu possa focar, contudo, parece ser tarde demais. Percebo isso no
olhar travesso e no sorriso debochado que a mulher me dirige.
CAPÍTULO 8

CARLOS EDUARDO

Desço do carro e aguardo que Raquel me acompanhe. Assim


que ela cruza o braço no meu, seguimos em direção à porta.
Contudo, antes de chegarmos, ela para e pede que eu a espere por
um instante, enquanto arruma o cabelo. Impaciente, sigo para o
interior da mansão e aguardo. Não entendo que mania boba é essa
que as mulheres têm de se preocuparem com coisas tão
desnecessárias. O cabelo dela estava perfeitamente arrumado.
Essas futilidades me deixam irritado e já começo a me arrepender
de tê-la convidado para me acompanhar a esse jantar.
A mulher me alcança e volta a cruzar o braço no meu.
Viramo-nos e seguimos até o grupo de pessoas que conversam na
sala de visitas.
Vejo o tal Alexander agarrado à cintura da esposa, mas
mantenho minha pose de bom samaritano como se nada tivesse
acontecido. Andrew já havia me ligado para informar que sua filha e
o genro também iriam comparecer ao jantar. Quando o homem me
vê, cerra o maxilar e fecha a expressão, deixando claro o quanto a
minha presença o desagrada.
Abro um sorriso cínico e o ignoro. Aproveito para fazer uma
rápida inspeção pela sala, enquanto caminho. Vejo minha mãe
conversando alegremente com Andrew e a esposa de Felipe. Do
seu lado esquerdo, está Beatriz. Eu mentiria se dissesse que não
voltei o olhar para ela mais uma ou duas vezes disfarçadamente. A
garota está um espetáculo de linda dentro do vestido justo. Contudo,
observo que ela olha na minha direção e muda a pose; parece ter
ficado desconcertada. Imagino que ainda se sinta envergonhada
depois de ter agarrado o meu pau na piscina. Se Felipe souber de
uma desgraça dessas, arranca minhas bolas fora, mas o toque
daquelas mãozinhas em mim fez o meu pau corresponder de uma
maneira descontrolada, como nenhuma outra mulher conseguiu
fazer tão facilmente.
— Boa noite — cumprimento e aperto a mão de todos os
presentes. Exceto a de Alexander, que me deixa com a mão
estendida no ar, causando um desconforto no ambiente. Imbecil.
O clima tenso é quebrado quando Raquel passa a mão pela
minha barriga e resolve abrir a boca. Já começa falando merda.
— Não vai me apresentar aos seus amigos, mi amor?
Minha mãe arregala os olhos e abre um sorriso iluminado
quando escuta a menção do apelido idiota dirigido a mim. Fecho os
meus punhos, nervoso, e retiro as mãos de Raquel da minha
cintura. Ela sabe que este apelido ridículo é estritamente proibido de
ser dito em público.
Apresento-a a todos como uma amiga de longa data, o que
não deixa de ser verdade, e me afasto um pouco.
— Onde estão Felipe e o meu pai? — pergunto, desviando o
foco da conversa.
— Estão no quarto, querido. Logo vão aparecer por aqui —
diz minha mãe.
— Irei até eles, com licença. — Viro-me e dou um passo para
sair. Deixo Raquel na companhia do restante dos convidados.
Preciso me afastar antes que eu perca os últimos fiapos de
paciência e a mande embora. Não aturarei outra indiscrição da parte
dela.
Passo por Beatriz e, involuntariamente, meu corpo roça em
seu braço de leve. A sensação de tocá-la me causa arrepios. Acabo
virando o meu rosto e a fito. Percebo que ela me encara também,
mas desvia o olhar rapidamente.
Ergo uma sobrancelha, curioso, ao ver que ela respira
descompassadamente. Parece um gatinho assustado, e não a
mesma menina que me desafiou na sala de sua casa, há uma
semana, embora o nariz empinado e a tentativa falha de indiferença
continuem estampados em seu rosto. A garota simplesmente finge
que não me vê parado, encarando-a.
Por que merda ela está agindo dessa maneira?
Desvio minha atenção dela e sigo para o quarto do meu pai.
Ao entrar, vejo-o de pé, segurando uma bengala, enquanto Felipe o
ajuda.
O homem está magro, definhando dia após dia. O rosto
enrugado está sem vida, o olhar já não brilha mais. A doença
praticamente levou a vida do meu pai embora, e vê-lo assim não me
agrada, por mais que tenhamos nossas diferenças. No entanto,
continuo impassível. Não quero que ele confunda a minha aflição
com pena.
— Precisa de ajuda? — pergunto.
— Não é necessário — diz meu pai, ríspido. Tudo que ele
mais odeia na vida é depender dos outros. Lá no fundo,
compreendo-o, porque sou da mesma forma.
Dou de ombros e me afasto para que eles passem pela porta.
Felipe me encara, pesaroso, mas nada diz. Acompanho-os até a
sala de jantar, e logo o restante dos convidados se junta a nós,
sentando-se em seus lugares.
Raquel faz questão de sentar-se do meu lado. Enquanto a
comida é servida, minha mãe engata uma conversa com Andrew,
Felipe e sua esposa.
Hora ou outra, vejo o olhar cintilante de Beatriz passar por
mim e por Raquel. Ela mal toca na comida e mantém-se calada todo
o tempo.
— Que garota mais estranha, não acha, querido? — Raquel
sussurra em meu ouvido e indica Beatriz, sutilmente.
— Por que estranha? Ela é apenas uma menina tímida —
respondo, sem muito interesse na conversa.
— Tímida ou bobinha apaixonada?
Confuso, viro-me para fitá-la.
— O que quer dizer?
— Ah, Eduardo, faça-me o favor. Não diga que não
percebeu? — Raquel ergue uma sobrancelha e crava os olhos no
meu rosto, como se perguntasse em que mundo vivo.
— E o que eu deveria perceber, Raquel? Seja clara.
— É simples: a menina está apaixonada por você. Percebi
isso assim que chegamos, pela forma com que ela nos encarou,
decepcionada. — A mulher sorri com sarcasmo e volta a falar. —
Imagine só, uma coisinha dessas achando que tem chances com
você. Era só o que me faltava.
Desacreditado, passo meus olhos pela garota, que leva um
mínimo pedaço de fruto do mar à boca, e viro-me na direção de
Raquel.
— Não diga besteiras. Como disse, ela é só uma menina.
— Uma menina que também sente tesão. E, pelo visto, é
gulosa. — A mulher sorri. — Coitadinha.
— Já chega. Você está ultrapassando todos os limites —
repreendo-a em um sussurro, nervoso. — Não irei mais tolerar suas
indiscrições. Beatriz é filha de Felipe, ele é praticamente meu irmão,
e eu os respeito.
Digo a última palavra mais alto do que deveria, e, ao voltar
minha atenção para os convidados, vejo que todos me encaram,
confusos, inclusive Beatriz.
— Está tudo bem? — pergunta minha mãe.
— Está, sim, senhora Ferraz — responde Raquel, fingida.
Pergunto-me onde eu estava com a cabeça quando resolvi trazer
uma foda para jantar na casa dos meus pais. — Só estou discutindo
um assunto importante com seu filho.
Respiro fundo e volto a comer. Ao terminar o jantar e a
sobremesa, todos se retiram da mesa e vão para a sala de visitas,
inclusive meu pai.
Vejo que Beatriz não se junta aos outros. Parece deslocada.
Ela pega uma taça de vinho e se acomoda em um canto afastado,
enquanto beberica a bebida.
— Querido, onde fica o toalete? — pergunta Raquel.
Digo a ela a localização do banheiro e, enquanto se afasta,
junto-me aos outros. Minutos depois, pego meu celular para verificar
as mensagens e vejo que há uma resposta bem ousada da tal
Bianca.

É um prazer saber que te deixei excitado. Precisamos dar um


jeito nisso. ;)

Sorrio e digito uma resposta.

Vai acabar se queimando, criança.

Volto a guardar o aparelho e, quando levanto os olhos e fito


na direção de Beatriz, percebo que ela olha algo no seu aparelho e
também sorri. Confesso que essa coincidência deixa meus sentidos
aguçados. Seria possível? Será que… Não!
Tiro da minha cabeça qualquer possibilidade de que seja ela
a autora das mensagens, mas a curiosidade me instiga a aguardar
uma resposta. Fico prestando atenção em cada movimento que ela
faz, contudo, sua atenção é desviada quando Raquel se aproxima e
segura em seu braço.
As duas trocam algumas palavras, mas a essa distância não
consigo identificar o assunto. Franzo a testa, desconfiado do teor
dessa conversa, e dou um passo na direção das duas. Porém, paro
no meio do caminho, incrédulo, quando vejo Beatriz virar a taça de
vinho no decote de Raquel, enquanto a encara desafiadoramente. A
essa altura, conhecendo minha acompanhante como conheço, sei
que ela falou o que não devia e recebeu exatamente o que
mereceu.
Admito que essa atitude de Beatriz me surpreende. A vejo
fitando Raquel corajosamente, tão menina, mas também tão mulher.
A mesma que me desafiou dias atrás.
Isso, garota!
Quando percebo, estou sorrindo, orgulhoso da mulher linda e
confiante que ela está se tornando.
CAPÍTULO 9

BEATRIZ

O jantar transcorre lento e agoniante. A cada segundo que se


arrasta, preciso me segurar para não vomitar de tanta repulsa que
sinto dessa Raquel. Seu olhar de indiferença na minha direção,
enquanto conversa com o Cadu, deixa claro que ela não passa de
uma víbora asquerosa e, quando o vejo conversando com essa
mulher, tenho ímpetos de jogar a comida na cara dele.
Como o Cadu pode se envolver com uma mulher tão baixa?
Quando o jantar termina, todos se retiram da mesa. Pego
uma taça de vinho para tentar disfarçar a minha irritação e me
afasto das demais pessoas. Sinto-me perdida, arrependida de ter
vindo.
Encaminho-me para a sala e me acomodo em um canto
afastado, enquanto tomo um pequeno gole da bebida suave. A
tristeza me toma e um aperto tão grande em meu peito faz com que
meus olhos se encham de água. Sinto-me humilhada.
Vejo a mulher sair na direção do toalete, mas finjo que suas
ações não me incomodam. Tentarei ignorá-los o máximo que posso
até finalmente poder ir embora.
Estou presa em meus pensamentos, quando ouço o toque de
mensagens do meu celular. Pego o aparelho e olho o visor para me
certificar de que não estou perdendo nada importante. Meu coração
dispara quando vejo que é uma mensagem dele em resposta a que
enviei mais cedo.

Vai acabar se queimando, criança.


No mesmo instante, até me esqueço de toda a raiva que
estou sentindo. Sorrio e, desta vez, tenho certeza de que o sorriso
alcança os meus olhos. Ele nem imagina o quanto estou disposta a
me queimar.
Cogito responder-lhe, movida pelo calor da ansiedade, e
começo a digitar algo bobo.

De repente, ficou quente aqui.

Espero alguns segundos, ainda decidindo se envio ou não.


Contudo, sou surpreendida por alguém que segura o meu braço
com força, obrigando-me a ignorar o conteúdo da mensagem e a
levantar o olhar. Meu sangue ferve e meu corpo treme assim que
me dou conta de quem se trata. Raquel, em carne e osso, na minha
frente, a dita cobra.
— O que pensa que está fazendo, ratinha? — A mulher
analisa-me dos pés à cabeça, desdenhosa. Seu olhar escuro está
enfurecido, destilando cólera.
Fecho a minha expressão, irritada. Ela pode até estar com o
Cadu, mas não me permitirei ser pisada.
— Primeiramente, solte o meu braço. Segundo, para você é
Beatriz. Tenha mais respeito ao falar com as pessoas.
Ela sorri e aperta ainda mais o meu pulso.
— Coitadinha. — Aproxima-se e fala quase sussurrando: —
Fique longe dele, querida. Acha que não vi seu olhar apaixonado?
Tire os olhos do meu homem. Ele não é compatível com uma ratinha
magricela e inexperiente como você.
Sinto meus nervos inflamarem com as palavras dela. Meus
olhos lacrimejam, minhas pernas tremem. Mas não darei esse
gostinho a ela. Posso estar ferida e magoada, mas não irei baixar a
cabeça para essa mulher.
Fito os seus olhos, decidida, e quando ela aperta ainda mais
meu braço, levanto a mão livre que segura a taça de vinho e
despejo todo o conteúdo dentro do seu decote.
A mulher arregala os olhos, surpresa, e se afasta.
— Tire as mãos de mim, sua louca — digo, ríspida. Encaro-a,
destemida. Seja o que Deus quiser.
— Olha o que você fez, garota! Meu vestido de grife. — Ela
passa a mão pelo vestido vermelho, lamentando a mancha que se
forma no busto. Engulo em seco quando imagino o que ela irá fazer
comigo assim que os olhos brilhantes de cólera se voltam para mim.
Dou um passo para trás.
— Sua ratinha asquerosa…
— O que está acontecendo? — Ouço a voz de Eduardo e
olho em sua direção. O homem encara-nos, impassível, mas
percebo um traço de divertimento nos olhos azulados. Ele aproxima-
se ainda mais. Olha para mim e em seguida para a Raquel. —
Digam, estou esperando.
— Mi amor, por favor, leve-me para casa. Olha o que essa
guria fez com o meu vestido — diz ela, apontando para o decote
molhado. Os seios quase saltam para fora.
Reviro os olhos e bufo, mal podendo acreditar no quão cínica
ela pode ser.
— Não poderei ir agora, Raquel, irei chamar um táxi para
você — diz ele e acena para o mordomo que está servindo algumas
taças de vinho para os convidados.
Raquel fecha a expressão e me encara uma última vez,
destilando veneno pelos olhos. Em seguida, vira-se na direção dele.
— Pensei que fosse passar a noite comigo, Edu. Foi o que
combinamos.
Aperto a taça que seguro com mais força quando ouço as
palavras dela. Sinto que ela diz isso apenas para me provocar, e
meu peito se aperta.
— Chamou-me, senhor Carlos Eduardo? — pergunta o
mordomo ao se aproximar.
— Chame um táxi para a senhorita Raquel — ele ordena e
vira-se na direção da mulher. — Sinto muito, querida. Mudança de
planos.
Chocada, vejo-o passar os dedos pelo queixo dela e piscar o
olho, descartando a mulher como um nada. Engulo em seco e sorrio
internamente. Mal posso acreditar que ele realmente vai mandá-la
embora.
Ao me dar conta que os encaro, sorridente, disfarço e decido
sair de vista. Caminho na direção da porta de saída e dou a volta
pelo jardim.
Tudo em mim parece se renovar.
A noite está agradável, um vento suave sopra e balança os
meus cabelos enquanto caminho. Quando vejo que Cadu e Raquel
também saem, resolvo me camuflar pelas sombras na lateral da
casa, para passar despercebida por eles. Acabo caminhando mais
do que deveria, e quando me dou conta, que estou quase nos
fundos, ouço alguns sussurros vindos da área de serviço.
Curiosa, dou alguns passos, devagar, na direção dos
sussurros, e fico atrás de algumas plantas, escondida. Abaixo-me e
retiro alguns galhos da minha frente, contudo, a essa distância, não
consigo identificar do que se trata.
Eu deveria ignorar os sussurros e retornar para dentro, fingir
que nada chamou a minha atenção. Mas a gata que vive dentro de
mim fala mais alto e tudo que faço é sair de trás das plantas e
andar, agachada, até me aproximar o suficiente para descobrir do
que se trata.
Atrás de alguns vasos grandes de barro, vejo o casal
Alexander e Angelina aos beijos. Percebo que a mulher tenta se
esquivar dos braços do marido, mas o homem a instiga a continuar.
Preciso tapar a boca para não deixar escapar um murmúrio
de surpresa quando vejo o homem virá-la de costas e traçar beijos
pelo seu pescoço, enquanto ergue seu vestido. Assim que ela se
firma na parede, ele a penetra forte, por trás, ao mesmo tempo que
coloca a mão na boca da mulher para abafar seus gemidos.
Admito que os ver dessa maneira, tão intensos e
apaixonados, faz o meu corpo ficar quente e tudo o que penso é em
ter um momento assim com o Cadu. Aos poucos, sinto um líquido
quente e denso umedecendo a minha calcinha. Ofego e,
instintivamente, firmo as minhas mãos em um dos vasos.
Quando eles terminam, forço meu corpo a erguer-se para que
eu possa sair daqui o mais rápido possível. Contudo, minhas pernas
trêmulas falham e preciso segurar-me com força em um dos jarros.
O problema é que, devido à distração, não percebo que este é o
único vazio e, com o peso do meu corpo, ele cai no chão com tudo,
e vou junto, com os joelhos no piso.
Arde um pouco, mas o que mais me apavora é erguer o olhar
e ver que o casal me observa com os olhos arregalados. A mulher,
principalmente. Envergonhada, levanto-me depressa e corro na
direção do jardim, ofegante, com o coração quase saindo pela boca.
Ao me aproximar da porta de entrada, paro e coloco a mão
no meu peito. Preciso me acalmar um pouco antes de entrar e ter
que responder às milhares de perguntas que mamãe irá fazer por eu
ter sumido.
Estou com a cabeça baixa, distraída, quando ouço a voz de
Eduardo às minhas costas, chamando-me.
Viro o meu corpo e o encaro. Os olhos oceânicos me fitam,
pacíficos, intensos. Deixam-me ainda mais tensa. Desço meu olhar
pelo seu corpo e quase deixo escapar um gemido quando observo o
tronco másculo e viril, moldado pelo terno elegante. Os braços
fortes, os ombros largos, as coxas grossas e bem torneadas. Não
sei se corro dele ou para cima dele.
CAPÍTULO 10

CARLOS EDUARDO

— Estou triste com você, mi amor — Raquel aproxima-se,


fica na ponta dos pés e enlaça o meu pescoço. — Combinamos de
passar a noite juntos, fazendo loucuras entre quatro paredes. —
Pisca.
Seguro os seus pulsos e os retiro do meu pescoço. O riso
sarcástico que deixo escapar da minha boca faz com que ela feche
a cara, irritada.
— Sinto muito destruir os seus sonhos, querida, mas já deixei
claro que este é um jantar de família. O único motivo pelo qual eu a
convidei foi porque pensei que você poderia ser uma boa
companhia, mas, ao invés de se comportar como se deve, na
primeira oportunidade fez um escândalo. Acrescente a isso a forma
intimista com que age e me chama por esse apelido ridículo em
público. Que merda deu em você, Raquel?
— Eu fiz um escândalo? Aquela rat…
— Olha como fala — interrompo-a, nervoso. — Já falei para
se referir à Beatriz com respeito.
— Qual é agora, Cadu? Vai ficar defendendo aquela pirralha?
Olhe o que ela fez com o meu vestido. — Ela aponta para o decote
do vestido, manchado com o vinho, e continua: — Por acaso está
interessado nela?
— Porra! Beatriz é só uma menina. Pare de falar merda e
entre logo no táxi. — Aponto para o carro que está parado próximo à
calçada, a alguns metros de distância.
— Não é o que parece. Acha que não vi você olhando para
ela quando fui ao banheiro?
Impaciente, franzo a testa e passo a mão na barba que
começa a despontar. Raquel está ultrapassando todos os limites da
minha paciência. Nunca lhe dei liberdade para se meter nos meus
assuntos. Nem a ela, nem a nenhuma outra mulher.
— E se eu estiver interessado? O que isso mudaria? Você
nunca se importou em me dividir com mais dezenas de mulheres —
digo com rispidez apenas para provocá-la e fazê-la entender que
não lhe devo satisfações. — E esse é o único motivo pelo qual ainda
te fodo. Só te trouxe porque pensei que você se portaria como uma
dama, e não como uma puta.
— Não percebe, Cadu? Ela está te seduzindo e você nem se
dá conta!
— Não diga asneiras, Raquel. Entra logo na merda desse
táxi, antes que eu te jogue aí dentro.
— Por que está agindo assim? Não vê que ela não é mulher
para você? Aposto que ainda é virgem, sem experiência nenhuma.
Puxo o ar para os meus pulmões e conto até três para não
perder as estribeiras com essa mulher.
— Terminou? — pergunto, cerrando o maxilar. — Já pode ir,
está dispensada. Não irei te comer hoje.
Raquel arregala os olhos, chocada, e logo depois fecha a
expressão. Contudo, pouco me importo com seu fingimento barato.
Nunca menti ou a enganei, sempre deixei claro que para mim só
importava a sua boceta.
Assim que ela entra no táxi, dou meia-volta e sigo na direção
do jardim.
Ainda do portão, vejo Beatriz passar correndo e parar
próximo à porta de entrada, ofegante. Apresso o passo na sua
direção, mantendo meu olhar compenetrado em cada movimento
que ela faz, e, ao me aproximar o suficiente, a chamo:
— Beatriz? — Ela se vira com o olhar assustado e me analisa
dos pés à cabeça. — Aconteceu alguma coisa?
A garota abre e fecha a boca algumas vezes, sem conseguir
formular uma frase. De onde estou, posso perceber o seu corpo
trêmulo.
— É que… Eu… — gagueja e gruda o corpo na parede,
como se se sentisse incapaz de permanecer em pé sem se firmar
em algo sólido.
“A menina está apaixonada por você.” Lembro das palavras
de Raquel e estreito os olhos, pensativo, enquanto a observo. Ela
estaria assim devido à minha aproximação? Estaria nervosa? Essa
possibilidade nunca havia se passado pela minha cabeça, da
mesma forma como jamais a olhei como uma mulher, mas, agora,
vendo-a tão perto, observo os lábios vermelhos, tão sensuais, e os
desejo, mesmo que minha consciência diga para que eu mantenha
distância.
Desço os meus olhos pelo corpo esguio e atraente. Pergunto-
me onde ela havia se enfiado todo esse tempo. Como demorei tanto
para notar o quanto ela cresceu e se transformou em uma mulher
tão bonita?
— O senhor… quer dizer, você quer alguma coisa? Está me
olhando de uma forma estranha — diz ela, em um murmúrio tímido.
Só então percebo que demorei mais do que deveria em seu
corpo. Levanto meu olhar e fito os seus. Beatriz encara-me,
confusa.
— Sou tão velho assim? — pergunto, ao recordar que ela se
referiu a mim como senhor.
— Na verdade, não. É costume. Papai sempre me incentivou
a chamá-lo assim.
A menção de Felipe no meio da conversa deixa-me irritado
comigo mesmo. Lembrar que ela é filha dele faz todos os meus
nervos entrarem em combustão, e eu me amaldiçoo internamente.
Balanço a cabeça em negativa e sorrio, contrariado. Porra! É
a Bia, Cadu. Você não pode desejá-la. Praticamente a viu crescer.
— Diga-me, Beatriz. Qual a sua idade? — questiono e volto a
fitá-la.
Continuo passivo, admirando-a, enquanto aguardo a sua
resposta. A pele é levemente bronzeada e o olhar vívido e
encantador como um quartzo esverdeado.
— Dezoito, Eduardo — responde, arfante. — Por quê?
Puta que pariu. Dezoito aninhos e já com esse corpo tão
sedutor?
— Curiosidade, apenas — desconverso e tento disfarçar o
efeito eletrizante que ela me causa. Porém, o clima tenso e o teor
magnético que parece surgir entre nós deixa bem claro que o meu
corpo a quer, mesmo que eu lute para negar.
Coloco as mãos nos bolsos da minha calça quando sinto que
meu pau começa a enrijecer apenas por ela passar a língua nos
lábios grossos e suculentos. Admito que este movimento tão
inocente me faz imaginar loucuras.
Vejo Beatriz abrir a boca para falar algo, contudo, parece
mudar de ideia quando percebe um movimento incomum às minhas
costas. Também olho para trás. O que vejo me faz entender por que
Beatriz está tão nervosa. Não tem nada a ver com a minha
aproximação.
Alexander segura a mão da esposa, enquanto caminha em
direção da porta, mantendo um sorriso sacana na cara. Um sorriso
satisfeito de quem fodeu e gozou gostoso para caramba, enquanto
Angelina está com os cabelos desgrenhados e o rosto vermelho,
envergonhada.
Volto a minha atenção para Beatriz e vejo que ela tenta não
olhar para os dois.
Quando a ficha cai, começo a gargalhar descaradamente,
sem me importar com seu olhar matador na minha direção.
— Porra. Não acredito que você flagrou os dois — digo, ainda
sorrindo.
— Foi sem querer, Cadu — responde, o rosto corado de
constrangimento.
— Não precisa ficar envergonhada, Beatriz. Todo mundo faz
isso — comento, tentando quebrar o clima tenso e constrangedor
que a cerca. Contudo, ao observá-la, vejo que a menina continua
séria, encarando-me com os olhos arregalados como um gatinho
assustado. — Espera. Não me diga que você… nunca fez? —
pergunto, incrédulo.
Por que alguém se manteria intocada até os dezoito anos?
Imaginei que, em pleno século vinte e um, virgindade fosse artigo de
luxo. Agora, estou frente a frente com uma virgem.
O problema é que essa descoberta deixa-me ainda mais
excitado e o meu instinto predador começa a gritar na minha
cabeça.
— Prefiro não falar sobre isso — responde e olha para os
lados.
— Nunca teve um namoradinho, menina? — Aproximo-me e
pergunto, sério.
— Sim, eu já tive…
— E ele nunca tentou nada?
— É claro que tentou. Não sou mais virgem, nem nada disso
que está pensando — responde com a voz falha, o peito subindo e
descendo com a respiração descompassada.
— Você mente muito mal, pequena.
Ela abre a boca para revidar, mas sua voz falha quando
percebe que fito a sua boca. Admito que a atração que começa a
ser desperta em meu corpo faz com que eu anseie sentir a textura
dos seus lábios. Esqueço momentaneamente que ela é proibida
para mim.
Devagar, permito que meus dedos toquem o seu rosto.
Deslizo-os até o seu queixo, fazendo com que ela me encare.
— O que vai fazer, Cadu? — pergunta, rouca. A voz tão
aveludada faz ondas de desejo surgirem por todo o meu corpo.
— Uma loucura… — respondo e me aproximo mais. Porém,
passos rápidos e precisos, vindos da direção da porta, me fazem
recuar. Pareço acordar de um transe enlouquecedor.
— Filha? Onde estava? — Sua mãe aproxima-se e a
questiona. — Já vamos para casa, vá se despedir dos outros,
querida.
Como se nada tivesse acontecido, afasto-me e sigo para o
interior da mansão, mas a cada passo que dou, sinto os olhos dela
queimarem as minhas costas.
CAPÍTULO 11

BEATRIZ

Meu coração parece falhar uma batida quando ele toca o meu
queixo e faz com que eu o encare. Prendo a respiração, trêmula, em
expectativa. É como se eu estivesse pisando em nuvens, perdida
dentro de um sonho que, por tantas noites, sonhei. O homem que
amo, pela primeira vez na vida, está me olhando como uma mulher,
não apenas como a menina que viu crescer.
Quando ele se aproxima, fazendo menção de encostar os
lábios sobre os meus, vejo dúvidas, mas também um fogo flamejante
emanando do fundo do seu olhar. Cadu parece estar desnorteado.
Sua expressão transmite hesitação, mas logo dá lugar à certeza.
Meu corpo treme.
Meu Deus! Ele quer… Ele me quer.
Conto os segundos para senti-lo e me perder no sabor do seu
beijo. Mas, como diz um velho ditado, tudo que é bom dura muito
pouco. O barulho de passos próximos à porta faz com que ele dê um
passo para trás e tire a mão do meu queixo, como se acordasse de
um transe.
Quero gritar e chorar, pedir para que me beije, mas mudo de
ideia quando ouço a voz da mamãe. Meu sonho de princesa se
desfaz no ar como fumaça.
— Filha? Onde estava? Já vamos para casa, vá se despedir
dos outros, querida. — Sem conseguir fitá-la, vejo Cadu virar-me as
costas e sair, como se nada tivesse acontecido. Como se não tivesse
quase me beijado há poucos segundos. — Beatriz?
Minha mãe me chama, e eu a encaro, sem rumo. Vejo seu
olhar estreitar-se quando me encara. Ela olha para trás, no momento
em que o Cadu passa pela porta, e depois volta sua atenção para
mim. Seus olhos se arregalam.
— Mamãe, oi… — respondo. Contudo, mesmo tentando
disfarçar o choque momentâneo de tê-lo quase beijado, não consigo
impedir que uma lágrima solitária e frustrada escape dos meus olhos.
Ela percebe.
— Oh! Meu Deus. — Minha mãe coloca as mãos sobre a
boca, assustada. — É ele… Como que não percebi antes… Por que
não me disse, filha? — questiona.
Desvio o olhar e me recomponho. Amaldiçoo-me por ter
permitido que ela percebesse o segredo que guardo há tantos anos.
— Desculpa, mãe. Do que a senhora está falando? —
desconverso.
Ela abre a boca para falar, mas é interrompida pela voz de
papai, que chega nos chamando.
— Em casa a gente conversa, querida.
Assinto e sigo até o interior da mansão. Despeço-me de todos
e em poucos minutos chegamos em casa. Ao entrar, corro direto
para o meu quarto. Procuro evitar essa conversa com mamãe, ao
menos por hoje.
Após tomar banho e me trocar, deito-me na cama com o
celular em mãos e vou direto no contato dele. Releio sua mensagem.

Vai acabar se queimando, criança.

Não sou criança coisa nenhuma, querido.

Envio a mensagem e aguardo. Em alguns minutos, vem a


resposta.
Prove-me. O que sabe fazer, menina?

Meu coração dá um salto quando leio sua mensagem. Quanta


ousadia.
Sorrio internamente e mordo os meus lábios, imaginando o
que farei a seguir. Penso que, se de alguma forma eu fizer com que
ele tenha interesse em mim virtualmente, Cadu não ficará tão bravo
quando descobrir quem é a pessoa que se esconde atrás da tela do
celular.
Levanto-me e ando pelo quarto, pensativa. Decido ousar
também.

Faço o que você desejar.

A resposta dele vem de imediato, em uma chamada de vídeo.


Quase deixo o celular cair no chão, tamanho é meu susto. Corro de
um lado a outro, pensando no que farei, mas, verdade seja dita, não
posso atendê-lo. Do contrário, ele saberá de quem se trata.
Meu Deus, estou tão ferrada.
Espero a chamada de vídeo ser encerrada e, após alguns
minutos, ele envia um áudio.
— Ficou com medo, menina? — A voz rouca e libertina
explode no ar, fazendo meus nervos inflamarem de uma forma
terrivelmente deliciosa. — Não irei morder você. Não tanto.

Ainda é cedo para te atender. Talvez outro dia.

Respondo, trêmula, quase deixando o celular cair no chão.


Eu sou um homem feito, criança, e não tenho muito saco para
ficar trocando mensagens. Mas se quiser ir para um motel
agora, é só dizer que te pego em alguns minutos. Do contrário,
irei dormir ;)

Pasma, leio e releio sua resposta mais algumas vezes, para


logo depois deixar o aparelho sobre a cama. Ao mesmo tempo que
sorrio, tenho vontade de esganá-lo por ser tão cachorro. Como
pode? Há pouco tempo quase me beijou, e agora está chamando
outra mulher para um motel. Cretino descarado…
Bufo, irritada, e volto a pegar o celular quando ouço o toque
de mensagens. Quase infarto quando abro a mensagem e vejo a foto
sensual e terrivelmente erótica que ele acabou de enviar.
A camisa social está com todos os botões abertos, revelando
o peito forte, salpicado de poucos pelos escuros. A barriga definida e
levemente bronzeada deixa-me sem ar, pareço perder os sentidos.
Admito que minha boca saliva e uma sensação quente invade o meu
íntimo. Preciso esfregar minhas pernas uma na outra para tentar
controlar todas as sensações libidinosas que meu corpo expressa
descaradamente.
Quando desço o olhar, preciso puxar o ar para os meus
pulmões e contar até três. O zíper da sua calça também está aberto
e revela a boxer branca que molda perfeitamente o volume e as
formas da sua excitação de uma maneira tão voluptuosa que sinto a
secura em minha garganta.
Engulo a minha saliva com dificuldade, sem conseguir
desgrudar os meus olhos da tela do celular. Estou quase babando.
A curiosidade me instiga, me excita e faz minha cabeça
imaginar coisas. Quase posso ver as veias vigorosas e a cabeça
rosada, suculenta. Estou em êxtase. Porém, recordo-me do quanto
ele é um safado e, ainda irritada, decido ignorá-lo um pouco, mesmo
que, por dentro, meu corpo implore para que eu aceite o seu convite,
mesmo sendo tão arriscado.
Sinto muito. Hoje já tenho compromisso.

Com o coração martelando o meu peito, clico em enviar, mas,


em meu íntimo, acolho uma combinação perigosa de audácia e
inconsequência que se mistura ao desejo que sinto por ele. Uma
vontade incontrolável de ir até o fim, mesmo que, no final, eu saia
magoada.

CARLOS EDUARDO
Sinto muito. Hoje já tenho compromisso.
Cerro o maxilar ao ver a recusa dela em sair comigo. Deixa-
me irritado. Que merda essa garota quer de mim?
Olho a foto do perfil e, mais uma vez, confirmo as minhas
suspeitas. É ela, só pode ser… O corpo pequeno, os longos
cabelos… A recusa em atender a minha ligação. Só pode ser ela. A
não ser que Raquel tenha se precipitado quando falou aquele monte
de besteiras.
Deixo o celular de lado e relembro a forma como Beatriz me
olhou tão assustada quando tentei beijá-la. Não há como negar que
ela estava nervosa, e eu não deveria ter feito aquilo. O problema é
que, a cada segundo que se passa, a vontade de sentir o sabor
daqueles lábios triplica.
Levanto-me da cama e caminho pelo meu quarto, irritado.
Termino de tirar as minhas roupas, impaciente, e as deixo em
qualquer lugar. Minha irritação só aumenta quando coloco os meus
punhos na parede e olho para baixo. Meu pau está duro feito uma
rocha e tudo o que penso é em foder aquela boquinha deliciosa.
Amaldiçoo-me por ter permitido que as coisas chegassem a esse
ponto. Não posso desejá-la, caralho.
No dia seguinte, acordo cedo, visto-me e sigo direto para a
sede da empresa. Quando chego, cumprimento alguns funcionários
que estão entrando no elevador, mas mantenho a minha pose de
chefe, dono da porra toda, como faço todos os dias. Olhar firme,
expressão severa, peito estufado.
Assim que o elevador para no andar da presidência, sigo na
direção da minha sala, caminhando a passos firmes. Ajeito o paletó
no meu corpo e passo a mão no cabelo, certificando-me que esteja
tudo em ordem.
— Bom dia, senhor Ferraz — cumprimenta a minha secretária,
Sandra, levantando-se. — Em alguns minutos, deixarei os relatórios
que me pediu na sexta, na sua mesa — informa, toda prestativa.
Vejo a mulher arrumar a blusa branca, fazendo questão de
deixar o decote em evidência, enquanto segura uma mexa do cabelo
loiro.
Apesar de ser uma bela mulher e fazer questão de demonstrar
o seu interesse por mim, tenho uma regra estritamente rigorosa
dentro da empresa e que cumpro à risca: jamais misturar meu lado
pessoal com o profissional. Isso inclui não levar as funcionárias da
empresa para a cama. Para elas, sou o chefe, um ser inalcançável e
nada mais.
— Bom dia, Sandra — também a cumprimento. — Antes de
me levar os relatórios, peça um café para mim. Obrigado — peço
educadamente, mas sem muitas cordialidades. Apenas o suficiente
para que ela entenda qual é o seu devido lugar aqui dentro.
— Sim, senhor — responde com um sorriso amarelo e volta a
se sentar.
Dou-lhe as costas e caminho em direção da minha sala, mas,
antes de entrar, recordo-me de algo e me viro para ela.
— Sandra — chamo. Ela volta a me encarar e sorri, com o
olhar iluminado.
— Sim?
— Assim que o Felipe chegar, peça a ele que se dirija direto
para a minha sala e… também atualize a minha agenda do dia.
A mulher assente, visivelmente frustrada, e volta a se sentar.
Entro na minha sala, coloco minha pasta sobre a mesa e sigo
direto até as vidraças. Afrouxo o nó da gravata e suspiro, imaginando
o quanto o dia será estressante e cansativo. Para começar, em uma
hora tenho reunião com dois empresários importantes do ramo de
hotéis de luxo. Estou prestes a fechar um grande negócio e faltam
apenas alguns detalhes para fecharmos contrato e darmos início à
construção do maior resort da América Latina.
Coloco as mãos no vidro, enquanto olho o movimento de
carros e pessoas pelas ruas do centro do Rio de Janeiro. Após
alguns minutos, retorno até a mesa e me sento no meu trono.
Com o computador ligado, reviso alguns projetos de
infraestrutura. Estou concentrado nos meus afazeres, quando ouço o
toque de mensagens do meu celular. Pego o aparelho, distraído, e
penso que devo colocá-lo no silencioso antes da reunião.
Deslizo a tela de bloqueio e me deparo com uma mensagem
da Bianca, falando dos sonhos obscenos que teve comigo esta noite.
Franzo a testa, já ficando incomodado com todo esse mistério, mas
decido que tirarei essa história a limpo o quanto antes. Se essa
Bianca for mesmo a Beatriz, descobrirei no evento beneficente da
Ferraz Engenharia, que irá acontecer em poucas semanas. Insistirei
que Felipe compareça com esposa e filha, e como a Bianca disse
que iria, em algum momento conseguirei descobrir a verdade por trás
dessa história.

Agora te imagino sentada em cima do meu pau, menina.

Digito a mensagem provocativa e envio. Quero ver até que


ponto ela consegue levar essa farsa e o que pretende com isso.
Claro que em nenhum momento cogito a possibilidade de levá-la
para a cama, mesmo que já esteja ficando excitado só de imaginar a
voz rouca gemendo o meu nome. Ela tem uma carinha de anjo com
um belo corpo de mulher.
Estou apenas entrando no seu jogo para saber suas
verdadeiras intenções. Não sou louco de me meter com a filha de
Felipe, principalmente pelo fato de ela ser tão jovem. Imagino que
seja inexperiente e mimada, e a última coisa que quero é uma
pirralha no meu encalço. Além disso, ele com certeza arrancaria as
minhas bolas. Mas, enquanto finjo que não sei de quem se trata,
provoco. Inclusive, penso em propor um encontro casual em um dos
quartos do hotel onde acontecerá o evento. Veremos se ela terá
coragem de continuar me provocando quando estiver frente a frente
comigo.
Sorrio e volto a me concentrar na tela do computador. Está na
hora de deixar as besteiras de lado e focar em coisas realmente
importantes, por exemplo, o andamento da empresa que carrego nas
costas e que, nos últimos anos, desde que assumi o cargo de CEO,
teve seus lucros multiplicados.
Orgulhoso, continuo analisando os projetos até ser
interrompido por uma batida na porta.
— Bom dia, Eduardo. — Felipe abre a porta e entra. Volta a
fechá-la e caminha em minha direção, segurando sua costumeira
pasta nas mãos.
— Bom dia, Felipe. — Confiro as horas no meu relógio de
pulso e confirmo que ele está com vinte minutos de atraso. Fecho
minha expressão e o encaro. — Está atrasado — recrimino. Ele sabe
que não tolero atrasos ou faltas dentro da empresa. Mesmo se
tratando do meu melhor amigo. A regra é clara. Amigos, amigos,
negócios à parte.
— Eu sei. Peço desculpas, mas precisei deixar minha esposa
no aeroporto antes de vir para a empresa. Ela precisou viajar com
urgência.
Deixo o computador de lado e coloco as mãos sobre a mesa.
— Tudo bem, Felipe, mas certifique-se de que isso não
aconteça de novo e, se acontecer, me ligue para avisar. As merdas
dos celulares servem para isso, e em poucos minutos teremos uma
reunião importante.
O homem puxa a cadeira e se senta de frente para mim.
Coloca a pasta sobre a mesa.
— Qual é, Eduardo? Suas ficantes dormiram com calça jeans
essa noite? Quanto estresse, porra — rebate, visivelmente irritado.
— Já disse que precisei levar minha esposa ao aeroporto com
urgência — diz e começa a abrir a pasta.
Fuzilo-o com um olhar mortal uma última vez, mas Felipe finge
que não vê. A parte ruim de trabalhar com seu melhor amigo é que
em alguns momentos as discussões são inevitáveis e nem sempre
posso lhe enviar uma carta de demissão. Inferno.
— Aqui estão os documentos para serem assinados na
reunião. Já analisei todas as cláusulas, mas peço que também dê
uma lida.
Confirmo com um aceno de cabeça, pego os papéis de suas
mãos e começo a ler. Porém, antes que eu termine, meu celular vibra
sobre a mesa e, como ainda tenho alguns minutos livre, decido ver
do que se trata.
Meu ar falta quando abro a mensagem e vejo uma foto da
menina de costas, como se estivesse de joelhos, em cima da cama.
Seu corpo está completamente nu, mas, devido à posição, não
consigo ver os seios. Quando meus olhos analisam cada centímetro
das costas e da cintura bem delineada, e descem até o traseiro
redondinho, sinto meu pau crescer dentro da calça, como um vulcão
que estava adormecido e de repente explode, deixando-me em uma
situação para lá de constrangedora. Porra, que vontade de matar
essa garota atrevida. Ela sabe que não posso, por isso está me
provocando.

Adoraria estar sentada no seu pau.


Minha boca saliva e minhas mãos tremem assim que leio o
conteúdo da mensagem embaixo da foto, tamanha é a vontade que
sinto de fazê-la pagar com juros por esse atrevimento.
Disfarçadamente, levo minha mão até o meu pau e dou uma
coçadinha de leve, tentando acalmar a fera, enquanto mantenho meu
olhar vidrado na tela do celular.
— Aconteceu alguma coisa? — questiona Felipe, com
seriedade. — Você parece estar atordoado.
Encaro-o sem graça, bloqueio a tela do aparelho e levo minha
mão até o colarinho da camisa para afrouxá-lo um pouco.
— Não é nada — minto. — Pode pegar alguns relatórios com
a secretária e me trazer aqui, por favor?
Felipe assente e se levanta para ir buscar o que pedi. Assim
que ele sai, corro até o banheiro do meu escritório e abro o zíper da
calça para libertar o meu pênis que está sufocado. Bato a mão na
parede, nervoso, e trinco os dentes, negando-me a aceitar que meu
corpo reaja tão descontroladamente apenas com a porra de uma
foto.
Quando a situação melhora, ajeito minhas roupas e retorno
até a minha sala. Ao chegar, vejo Felipe nervoso, quase que
esganando a pobre secretária, enquanto segura o terno nas mãos e
aponta para algo na camisa branca.
— Sinto muito, senhor Tenório. Não foi minha intenção
derramar café na sua roupa — diz ela, cabisbaixa.
— Tenho uma reunião importantíssima em poucos minutos,
Sandra. Como irei aparecer assim? — questiona ele, irritado.
Sandra volta a pedir desculpas, pega a bandeja e os cacos de
louça no chão e retorna para a sua sala.
— O que aconteceu? — O homem vira-se na minha direção e
então vejo o porquê de ele estar tão irado. A camisa está com uma
mancha de café horrível. O paletó, de cor cinza, também deve estar
manchado.
— Sua secretária desastrada derramou café em mim. Agora
preciso voltar para casa às pressas para me trocar. Já não basta a
dor que estou sentindo por causa da queimadura — responde, bravo.
— Sandra é desastrada, mas é muito eficiente — defendo a
mulher, mas preciso me segurar para não explodir em uma
gargalhada ao olhar a cara de poucos amigos de Felipe. Contudo,
meu sorriso morre em meu rosto quando confiro o relógio e vejo que
já está em cima da hora.
— Sinto muito, mas você vai ter que comparecer à reunião
assim — digo e aponto para o relógio no meu pulso.
Felipe balança a cabeça em negativa e começa a andar de
um lado para o outro na sala, pensativo, até que o vejo pegar o
celular e ligar para alguém.
— Filha, está em casa? — Ao perceber que ele está falando
com ela, sinto que meus nervos se tencionam. — Preciso que pegue
uma das minhas camisas de trabalho e traga para mim aqui na
empresa o mais rápido que você conseguir. Estou na sala da
presidência.
Ele desliga o aparelho e volta-se para mim.
— Beatriz vai trazer outra camisa para mim — diz e senta-se
na cadeira, relaxado.
Fecho os meus punhos e volto a caminhar na direção da
vidraça. Não entendo por que, de repente, fiquei tão enfurecido, mas
a vontade que tenho é de dar uma boa lição nessa menina assim
que ela entrar por aquela porta. Ela precisa entender que não se
provoca um homem como eu.
CAPÍTULO 12

BEATRIZ

Durmo com o celular nas mãos, aguardando-o responder


algo após a minha recusa em sair, mas nada poderia ser mais
frustrante do que acordar e ver que ele não enviou mais nada.
Imagino que nem tenha dado atenção ao que eu disse e que,
provavelmente, tenha ido atrás de outra mulher para passar a noite.
Pensar nisso me entristece, pois a cada passo que dou em
frente, acabo retrocedendo três. Meu coração se aperta de uma
forma tão dolorosa que perco o ar.
Saio da cama, cabisbaixa, e caminho devagar, seguindo até o
espelho. Olho a minha imagem desgrenhada no reflexo, sem o
mínimo ânimo de me arrumar e sair do quarto para ir à faculdade.
Só queria passar o dia na minha cama, quietinha, como se não
tivesse mil coisas para fazer.
Usando um pente, começo a desembaraçar os meus cabelos,
mas desisto quando o objeto fica grudado em uma das mechas. Dou
meia-volta e sigo para o banheiro, escovo os dentes e entro debaixo
do chuveiro na intenção de tomar um banho e dar uma rápida
hidratada nos cabelos. E assim faço. Após passar o hidratante,
massageio, tiro o excesso com água e finalmente desembaraço os
fios. Retorno para o quarto e, ao me aproximar do guarda-roupas,
enrolada em um roupão branco, ouço uma batida na porta. É a
minha mãe.
Meu coração dá um salto quando imagino o porquê de ela
estar aqui. Será que veio conversar sobre o que aconteceu ontem,
no jantar na casa da família Ferraz? Mamãe, com certeza, percebeu
que é ele o homem a quem me referi quando disse que estava
apaixonada. Oh, Deus! Eu definitivamente estou ferrada.
— Estou indo, mamãe — respondo, receosa, mas decido que
é melhor conversar com ela e lhe falar a verdade. Não tenho outra
saída.
Aperto o roupão em meu corpo como se, de alguma forma, o
tecido grosso fosse me proteger das inúmeras perguntas
desconcertantes que ela me fará. Contudo, ao abrir a porta, vejo
mamãe segurando uma pequena mala, já toda arrumada para sair.
Vejo aflição em seu semblante e logo seus olhos fascinantes se
enchem de lágrimas. Então, ela me abraça.
— Querida, seu avô não está bem de saúde. Eu irei vê-lo —
diz ela, enquanto passa as mãos no meu cabelo.
Ao ouvir suas palavras, sinto como se tivesse recebido uma
ferroada no peito. Apesar de não ser muito próxima dos meus avós
maternos, por morarem longe, eu os estimo e os quero bem.
— Mamãe, o que aconteceu? — questiono e afasto-me para
encará-la.
Ela leva a mão aos olhos para secar uma lágrima e suspira.
— Seu avô passou mal nesta madrugada e está
hospitalizado. Sua avó me ligou aflita, hoje pela manhã, para avisar,
e decidi que irei passar um tempo com eles, até ele melhorar. —
Mamãe pega o celular para conferir as horas e volta sua atenção
para mim. — Estou em cima da hora, Bia. Cuide-se, está bem? E
me ligue todos os dias. Quando eu voltar, a gente conversa sobre
aquele assunto — diz e dá um beijo na minha testa. — Fique bem,
minha filha.
— Vá com Deus, mãe, e não se preocupe. Vou ficar bem. —
Volto a abraçá-la. — Dê muitos abraços neles por mim. Eu irei orar
pela saúde do vovô.
Ao se afastar, mamãe assente e vira-se para sair. Sigo-a até
as escadas e vejo papai pegar a sua bolsa, seguindo-a em direção
da porta.
Retorno para o meu quarto com o coração apertado,
preocupada, e me deito na cama, decidida a realmente não ir para a
faculdade. Volto a pegar o celular para falar com Gracy, digito uma
mensagem e conto por alto tudo o que aconteceu ontem à noite,
desde o jantar até a nossa curta troca de mensagens. Aguardo um
pouco, ansiosa, mas logo ela me retorna com um texto enorme que
mais parece um jornal, falando para que eu tome atitude e ouse
mais.
Reviro os olhos com o tamanho da bronca e mordisco o lábio.
Pensando bem, acho que Gracy pode ter razão. Preciso ousar mais,
fazer as coisas subirem de nível. Após refletir por alguns segundos,
mando uma mensagem de bom dia para o Cadu. Na mensagem,
descrevo alguns sonhos eróticos que tive com ele.
A resposta vem quase de imediato. O que leio faz todo o meu
corpo entrar em combustão. Meus pelos se eriçam e um frio intenso
apossa-se da minha espinha.

Agora te imagino sentada em cima do meu pau, menina.

Que cachorro safado!


Tenho vontade de gritar quando leio suas safadezas tão
obscenas. Ainda não me decidi se sinto raiva por ele dizer isso a
outra mulher ou se fico contente por saber que podemos marcar um
encontro a qualquer momento. Só em pensar nisso, minhas pernas
tremem e meu sexo fica úmido.
Reflito por mais alguns minutos e chego à conclusão que
preciso surpreendê-lo. A ideia de enviar uma foto mais sensual vem
à minha mente.
Levanto-me, animada e decidida. É isso, enviarei uma foto
ousada. Não tem como não chamar a atenção dele, até porque o
Cadu já deu o primeiro passo ontem, quando me mandou aquela
foto com o pau duro dentro da cueca.
E, Senhor, que pau. Eu, definitivamente, babei por cima e por
baixo e também me tremi de medo. Como poderei ficar com ele,
tendo que acomodar toda aquela estrutura dentro de mim? Admito
que isso é algo que vem afastando o meu sono, noite após noite.
Sempre o observei discretamente durante os nossos poucos
encontros aqui em casa ou em qualquer outro lugar, e aquele
volume nas calças dele não é de Deus. Faz jus ao tamanho do seu
corpo, que me deixa amedrontada e, ao mesmo tempo, excitada só
de pensar em ficar por baixo.
Balanço a cabeça e me recrimino por ficar sofrendo antes da
hora. Sei que vai doer, Gracy e algumas outras colegas disseram
que dói para caramba perder a virgindade, mas, com ele, eu quero e
estou disposta a tudo.
Tiro o meu roupão, ficando completamente nua, e com a
ajuda de um suporte para selfie, consigo tirar uma fotografia minha,
de costas, com os joelhos apoiados no colchão e o bumbum
levemente empinado. É uma imagem bastante ousada, mas não
revela tanto, a não ser a minha bunda e as coxas.
Digito uma mensagem provocante e envio junto com a foto.
Confesso que fico um pouco nervosa e até penso em apagar, mas
antes que eu consiga raciocinar coerentemente e tomar uma atitude,
ele visualiza a mensagem.
Respiro fundo e aguardo uma resposta, mas nada acontece.
Deixo o celular sobre a cama e corro até os meus pertences para
pegar uma roupa. Porém, sinto meu coração disparar quando ouço
o toque do meu celular. Imagino ser Cadu o autor da ligação.
Corro até a cama e pego o aparelho. Respiro, aliviada,
quando vejo que se trata do meu pai, e atendo. Ele pede para que
eu leve uma camisa de trabalho ao seu serviço com urgência e que
eu a entregue em suas mãos, na sala da presidência.
Meu coração acelera ao imaginar que verei o Cadu, e ainda
penso em inventar uma desculpa, mas papai diz para que eu seja
breve, pois tem uma reunião importante em poucos minutos. Sua
fala soa quase que desesperada. Concluo que ele esteja em maus
lençóis e me apresso.
Nervosa e trêmula, volto ao meu armário às pressas, à
procura de uma roupa apresentável, mas não tenho muito tempo
para me arrumar, então visto um macaquinho curto, verde-militar,
que cai bem no meu corpo e valoriza as minhas pernas.
Após passar um batom rosado, pego a camisa de papai e
chamo um Uber. Por sorte, a empresa não é muito longe de onde
moro e, em pouco mais de quinze minutos, já estou dentro do
elevador.
Ao chegar ao andar da presidência, cumprimento a secretária
de Eduardo. Eu a conheci em uma das poucas vezes que vim aqui
com o meu pai. Não sei por que, mas não simpatizo com ela. Ela diz
que papai me aguarda e indica a direção da sala do Cadu.
A cada passada que dou, pareço estar pisando em areia
movediça, pois não sinto a firmeza que deveria em minhas pernas,
mesmo estando com sandálias rasteiras. É como se eu estivesse
prestes a perder o equilíbrio.
Dou uma batida na porta e entro, devagar.
— Com licença.
— Beatriz, graças a Deus que você chegou. — Papai, que
está sentado em frente à mesa, levanta-se e praticamente corre em
minha direção. Estendo-lhe a camisa que pediu e começo a
vasculhar a sala, à procura do Cadu. — Obrigado, querida. — Ele
deposita um beijo em minha testa e segue na direção do que
imagino ser o toalete.
Vejo o Cadu próximo às vidraças, com o braço esquerdo
escorado na parede acima da sua cabeça e a mão direita enfiada no
bolso da calça. Toda a magnitude e sofisticação desse lugar
combinam perfeitamente com todo o poder que exala dele.
Sinto, de longe, toda a sua confiança quando ele se vira na
minha direção.
Puxo o ar com dificuldade e, tirando coragem do fundo da
minha alma, decido caminhar até ele e cumprimentá-lo. Os olhos
dele me analisam de cima a baixo de uma forma terrivelmente
estranha, que me deixa amedrontada. É como se ele quisesse
enxergar todos os segredos que guardo na minha mente, ao mesmo
tempo que parece admirar cada movimento que faço.
Ignoro esse seu gesto e, por instinto, desço os meus olhos
pelo seu corpo, almejando vislumbrar o volume entre as suas
pernas. Mordisco o meu lábio ao ver que ele passa a mão no pau
disfarçadamente. Caminho, balançando os meus quadris em um
quase rebolado, e volto a fitá-lo.
Vejo em seu olhar uma mistura de satisfação e fúria que me
deixa completamente confusa. Ergo uma sobrancelha, sem
conseguir entender por que ele me encara desta maneira. No
entanto, sei que não tenho o que temer. Deve ser só impressão
minha.
— Oi… — Sorrio, confiante, e o comprimento assim que me
aproximo.
Eduardo olha para a minha mão estendida no ar, depois para
mim. Vejo seus lábios se curvarem em um sorriso debochado, e a
oferta da minha mão é ignorada com sucesso.
Confesso que essa atitude inesperada faz o meu sorriso
morrer e meu subconsciente grita para que eu recue. Quando
menos espero, sinto o toque brusco das suas mãos em minha
cintura, deixando-me embaraçada. Meu corpo inteiro estremece.
— Oi — Eduardo diz, fitando-me como um touro raivoso, os
olhos oceânicos flamejando de ira. Em seguida, olha na direção da
porta, por onde o meu pai saiu para arrumar a camisa.
Acontece tão rápido que meu cérebro não consegue
acompanhar, mas tudo à minha volta parece parar quando ele
segura o meu rosto e toma os meus lábios com ferocidade, enfiando
a língua quente e possessiva dentro da minha boca.
CAPÍTULO 13

CARLOS EDUARDO

Quando ela entra na sala e conversa com o pai, preciso usar


todo o meu autocontrole para não me virar em sua direção e encará-
la. Meu sangue ferve de tesão e, ao mesmo tempo ira, por permitir
que uma menina me desestabilize desta maneira, apenas por ter me
enviado uma foto. Com as mulheres e com os negócios, sou eu
quem mantém o controle. Sou eu quem dita as ordens e dá a
cartada final.
Quando seu pai sai para se trocar, ouço os passos dela na
minha direção e, então, me viro. Fecho o meu punho e até sinto
algumas gotas de suor brotarem em minha testa, tamanho é o calor
que me toma quando a vejo dentro de uma roupa minúscula,
deixando suas pernas à mostra. A peça molda os quadris bem
delineados de uma forma tão sedutora que minha garganta fica
seca. Caralho! E pensar que, há poucos minutos, eu a vi
completamente nua em uma foto.
Agora, meu cérebro relembra cada detalhe da cor da pele e
as formas das curvas por baixo desse pedaço de pano. Sinto meu
pau enrijecer sem nenhum controle, obrigando-me a passar a mão
para acalmá-lo um pouco. Quase posso sentir, em minhas mãos, as
formas macias e deliciosas do seu traseiro.
Estreito os olhos ao vê-la abrir um sorriso encantador e
balançar os quadris em um gesto sensual, mas ao mesmo tempo
virginal. Ela é naturalmente sexy, sem ser vulgar, mas possui uma
aura inocente no olhar de menina que me instiga.
Trinco os meus dentes, lutando para esconder a minha ira
quando ela inspeciona o meu corpo por breves segundos,
disfarçadamente. Contudo, por mais que ela tente manter-se
confiante, percebo que seu olhar vacila quando fita os meus,
encarando-a duramente. Em poucos segundos, ela passa de tigresa
imbatível para gatinha assustada. Merda!
A cada segundo que a observo, tenho vontade de lhe dar
umas boas e velhas palmadas, ao mesmo tempo que excomungo o
meu pau por estar quase rasgando a minha calça. Essa falta de
controle não é do meu feitio. Isso me irrita além do imaginável.
Fico surpreso ao ver que, mesmo sob meu olhar severo, ela
decide continuar e se aproxima. O primeiro pensamento que se
passa em minha cabeça é colocá-la contra a parede e confessar
que sei que Beatriz e Bianca são a mesma pessoa. Quero saber,
olhando em seus olhos, por que merda ela está fazendo esses
joguinhos.
Estará mesmo apaixonada por mim? Pobre criança. Tão
linda, mas tão ingênua. Não percebe que nós dois somos
incompatíveis? Ela é apenas uma garota, tem metade da minha
idade. Acha mesmo que pode me satisfazer?
— Oi… — Ela para em minha frente e me cumprimenta,
ainda sorridente, estendendo a mão.
O cheiro do perfume suave invade as minhas narinas e aflora
os meus sentidos. Meu instinto predador ruge. O olhar brilhante, que
me fita esperançoso, faz o meu corpo reagir de uma forma
totalmente contrária ao que imaginei durante todo esse tempo.
Ah, Bia. Se você soubesse… Já sei de tudo, pequena
sedutora.
Sorrio, sarcástico, quando percebo que fingir que não a quero
é em vão. No momento, tudo o que necessito é sentir o sabor dessa
boca voluptuosa que me fez salivar na noite anterior. Seguro a sua
cintura, bruscamente, sentindo o seu corpo estremecer, surpreso
pelo meu toque. Olho na direção da porta em que Felipe foi se
trocar e calculo que devo ter menos de um minuto para ter o quero
antes que ele retorne.
Então foda-se.
— Oi — respondo, áspero, excitado, louco.
Se ela quer jogar, irei jogar. Se ela acha que pode me
provocar e ficar por isso mesmo, sinto dizer que está muito
enganada.
Deslizo minhas mãos até o seu rosto e o seguro com firmeza.
Sem esperar mais nem um segundo, tomo os seus lábios em um
beijo roubado, cheio de anseio e tensão sexual.
Quando minha língua penetra na sua boca, ofego ao imaginar
o meu pau penetrando na sua boceta, tomando toda a sua pureza
para mim. Todo o meu autocontrole é destruído.
Sinto suas mãos trêmulas deslizarem até o meu braço e o
segurarem com força, como se ela procurasse equilíbrio para se
manter de pé. Aproveito o momento para deslizar minhas mãos até
seus quadris e acariciá-lo. Trago-a para mim, apertando sua barriga
na minha pélvis, fazendo-a sentir o volume latejante do meu pênis
excitado. Meu corpo está queimando de desejo e, a cada segundo
que ela se desfaz em meus braços, tenho anseio de tomá-la, de
fazê-la minha e tirar a sua virgindade.
Movo minha língua para dentro e para fora da sua boca
quente e ávida, degustando o sabor dos seus lábios de uma
maneira tão imoral que a sinto gemer em meus braços, com
dificuldade de acompanhar o meu ritmo.
Subo minha mão pela lateral do seu corpo, esmagando a sua
pele com os meus toques possessivos, com ímpetos de acariciar o
seio pequeno e delicado. No entanto, tomo consciência de que aqui
não é hora nem lugar para isso e, juntando todos os destroços do
meu autocontrole, afasto-a abruptamente e deslizo a mão pelos
meus cabelos, sem ar.
Beatriz me encara, petrificada e confusa.
— Cuidado com o que deseja, Bia — advirto em um sussurro
ofegante, enquanto ajeito o meu terno.
Passo a mão em meus lábios para tirar qualquer vestígio do
batom suave que ela usava e volto a encará-la. Seus olhos estão
expressivos e brilhantes, sua pele está corada e sua respiração
ofegante.
— Cadu… Eu… O que foi isso? — Beatriz leva a mão
trêmula aos lábios levemente avermelhados e questiona.
— Apenas um beijo — respondo, indiferente. — Não era isso
que você queria ontem à noite? — desconverso e forço um sorriso,
relembrando-a que apenas continuei o que quase aconteceu no
jardim da casa dos meus pais. Ainda não é o momento de ela ficar
ciente de que sei toda a verdade.
A garota franze a testa, fingindo descaso, aparentemente
incomodada em me ouvir dizer que ela queria isso, quando na
verdade sou eu quem está louco para devorá-la.
— Isso foi… Céus! — Sua tentativa de indiferença cai por
terra quando ela curva os lábios em um sorriso brando. — Cadu…
Acho que…
Sinto meus nervos se retesarem quando imagino o que vem
a seguir. Já posso ouvir as declarações de amor sem fundamentos,
e antes que isso aconteça, a interrompo.
— Olha, Bia, isso foi apenas um simples e inocente beijo. E
não acontecerá novamente. Lembre-se de quem você é filha e o
que sou do seu pai — digo, seco, certo de que isso quebrará todas
as suas ilusões.
No entanto, ela apenas morde o lábio inferior e suspira,
olhando-me com firmeza.
— Será mesmo? — questiona, franzindo a sobrancelha.
— Tenho certeza! — afirmo e dou um passo para trás no
instante em que ouço o barulho da porta do banheiro se abrir. Dou a
volta na mesa e me sento atrás dela para que o volume na minha
calça não seja percebido por Felipe.
Alheio a qualquer acontecimento, ele caminha na nossa
direção, esfregando a mancha de café na camisa branca. Percebo
que o tecido está molhado.
Beatriz caminha na direção do pai, despede-se e segue até a
porta, mas, antes de sair, olha-me uma última vez e sorri com
suavidade.
Merda! Solto o ar que estava preso em meus pulmões.
Depois que tudo passa, percebo o quanto fui inconsequente e me
deixei ser guiado pelo desejo do meu pau. Inferno!
— Essa mancha não sai nem com reza. — Ouço Felipe
reclamar, nervoso, quase rasgando a camisa, e reviro os olhos.
A única coisa na qual consigo me concentrar é que, em
poucos dias, a verei de novo no evento beneficente.
— Com certeza uma camisa a menos não fará falta — digo,
impaciente, e cruzo as minhas mãos em cima da mesa. — Felipe,
em poucos dias acontecerá o evento beneficente, patrocinado pela
Ferraz Engenharia. Gostaria que fosse com sua esposa e filha —
exijo em forma de convite velado.
O homem caminha até a mesa, joga a camisa no encosto da
cadeira e se senta.
— Desculpa, cara, mas minha esposa não poderá ir. O pai
dela não está bem de saúde, por isso ela teve que viajar hoje às
pressas.
— Sinto muito — digo, surpreso. Só agora me dou conta do
quão frio agi mais cedo, quando ele me falou o motivo do atraso. —
Espero que não seja nada grave.
— Eu também espero — responde e cruza os braços,
pensativo. Parece preocupado.
— Então vá com a sua filha. Ela pode levar alguma amiga, se
preferir — insisto.
Felipe assente e confere as horas no celular. Logo depois,
ouço uma batida na porta, e a secretária entra para informar que os
empresários já nos aguardam para a reunião.
Assinto para ela e pego a minha maleta. Sigo com Felipe na
direção da sala de reuniões, mas, ao passar pela mesa da
secretária e olhar na direção do elevador, sinto meu sangue fervilhar
com uma mistura de raiva e outra coisa que não consigo decifrar.
Vejo Beatriz conversando alegremente com o novo estagiário,
com uma aproximação tão íntima que me incomoda.
Mas que diabos ela ainda faz aqui?
Ela ri de algo que ele diz e seu sorriso se abre até a orelha,
deixando-me irritado. Os dois estão tão concentrados na conversa
que nem ao menos percebem que os observo.
Felipe dá meia-volta para falar algo com a secretária, e eu
continuo andando, contudo, o fato de vê-la se despedir dele com um
abraço e um beijo no rosto faz com que todos os nervos do meu
corpo se ericem. Tenho vontade de socá-lo até ele esquecer que por
um curto período de tempo a tocou.
CAPÍTULO 14

BEATRIZ

— Oh, meu Deus! Oh, meu Deus! Oh, meu Deus! — sussurro,
encostada na porta do escritório dele, com a mão em meu peito e os olhos
fechados.
Minha empolgação é tanta que beira a histeria. Mal posso me conter.
Na verdade, nem consigo me desfazer do enorme sorriso que está
estampado no meu rosto.
O beijo dele foi tão impetuoso e viril que arrancou todo o ar dos meus
pulmões. Agora, estou ofegante e energizada. Presumo que meus lábios
estejam levemente avermelhados.
Desencosto-me da porta e cubro a minha boca para não soltar um
riso involuntário, tamanha é a minha euforia. Com as pernas bambas, abro
os olhos e dou algumas passadas, mas paro e me recomponho quando
vejo o olhar interrogativo e desdenhoso da secretária na minha direção.
Respiro fundo e volto a andar. Penso em despedir-me
educadamente, no entanto, mudo de ideia quando ouço o toque do telefone
e ela desvia a atenção de mim para atender o aparelho. Apenas aceno,
sem ter certeza se ela viu o meu gesto, pois não faz nenhum movimento em
minha direção.
Também a ignoro e sigo o meu caminho na direção do elevador.
Retiro uma mecha de cabelo que cai sobre o meu rosto e a acomodo atrás
da orelha. Ainda enquanto ando, vejo as portas do elevador se abrirem e
surpreendendo-me ao notar uma pessoa de quem há anos eu não tenho
notícias.
O homem de boa aparência, usando uma camisa social azul-bebê
com um colete preto por cima, dá um passo para sair e caminha na minha
direção. Ele anda distraído, parece estar pensativo, mas quando seu olhar
escuro me fita, vejo-o se espantar, como se visse um fantasma ou algo
assim, mas logo seu rosto se abre em um sorriso tão brilhante quanto o sol.
— Beatriz? — diz ele e se aproxima, perto o suficiente para me
cumprimentar com um meio abraço e um beijo na bochecha.
— Victor… Quanto tempo! — respondo, sorridente, e me afasto para
fitá-lo melhor. Gosto muito do que vejo.
Ele sorri e também me inspeciona.
— Como você cresceu, Bia. — Seu sorriso se abre até a orelha,
parecendo maravilhado. — Por quanto tempo eu dormi?
Pigarreio e solto outro risinho, vendo-o me encarar tão fascinado.
Imagino que a lembrança mais recente que tenha de mim seja de quando
éramos vizinhos e eu ainda não tinha peitos. Se bem me recordo, não
éramos muito próximos, até porque ele apreciava mais a companhia das
garotas mais velhas. Mas às vezes trocávamos algumas conversas e as
nossas mães costumavam se visitar de vez em quando.
Lembro-me que Victor foi embora para outro país. Pouco tempo
depois, seus pais também se mudaram e não tive mais notícias.
— Na verdade, acho que a pergunta certa é: por onde você andou
todo esse tempo? Não te vejo há anos.
Ele sorri amplamente e passa a mão pelos cabelos castanhos.
— Digamos que passei uma temporada fora de casa e retornei
recentemente.
— E o que faz aqui? — pergunto, curiosa, e olho para as suas mãos.
Percebo que ele segura uma pilha de papéis.
— Ah! Sou o novo estagiário. Hoje é meu primeiro dia — informa,
descontraído. — Mas e você? O que faz aqui?
— O meu pai. Lembra dele? Ele trabalha aqui.
Victor acena com a cabeça e engata uma curta e agradável
conversa. Após trocarmos os números de telefone, despeço-me e entro no
elevador. Contudo, antes que a porta se feche, olho de relance na direção
da mesa da secretária e o que vejo faz meu coração dar um salto.
Cadu está parado, encostado na vidraça, encarando-me com uma
expressão fria e tempestuosa. Quase posso sentir o calor que emana dos
seus olhos. Seu maxilar quadrado está trincado, como se algo o
incomodasse.
As portas se fecham, e respiro aliviada por não estar mais sendo
observada por ele daquela maneira. Um sentimento confuso se instaura em
meu organismo quando me recordo do beijo ardente e voluptuoso que
trocamos. Naquele momento, eu havia sentido em cada pequena célula do
seu corpo que ele também me queria. Mas depois de ver a forma
indiferente com que me encarou, tenho dúvidas.
Ao sair do prédio, pego meu celular e disco o número de Gracy.
Enquanto caminho pela rua movimentada, ela atende.
— Oi, Bia… — diz, em um sussurro. Imagino que esteja no meio da
aula.
— Gracy, ele me beijou — digo, sem rodeios.
— O quê? Ele quem? — questiona, confusa.
— Ele. O Cadu…
Um silêncio mortal se faz presente do outro lado da linha. Se eu me
esforçar um pouco, sou capaz de ver, nitidamente, a boca aberta de Gracy
agora.
— Puta que pariu. Como assim?
— É isso mesmo, Gracy. Um beijo rápido e delicioso — afirmo.
— Então ele já sabe que você e a Bianca são a mesma pessoa? —
questiona com uma surpresa evidente na voz.
— Não! Claro que não! — digo, convicta. Estou certa de que, de
alguma forma, ele percebeu que não sou mais uma menininha, e sim uma
mulher que desperta seus nervos e desejos.
Após encerrar a ligação, pego um táxi e sigo até a orla de Ipanema.
Como é próximo da minha casa, decido passar um tempo sentindo o frescor
da brisa do mar em meus cabelos enquanto caminho. O barulho suave das
ondas me acalma e faz com que eu relaxe um pouco. Respiro fundo e paro
para observar o mar. O cristal azulado das águas, contrastando com o
esplendor do céu, lembra a cor vibrante dos olhos dele. Essa constatação
faz meu coração se aquecer em um misto de ternura e desejo.

— E então, como foi a reunião? — pergunto ao meu pai, enquanto me sirvo


de um copo generoso de suco de maracujá durante o jantar.
— Um sucesso, querida — responde e leva uma garfada de comida
à boca. — O projeto foi aprovado e em breve daremos início às obras.
— Fico feliz, papai. — Esboço um sorriso e volto a comer.
Contente, papai começa a falar sobre os detalhes do resort e a
grandeza da obra. Assim, as horas passam até que ele se retira para
dormir. Também sigo para o meu quarto, coloco um pijama confortável,
pego o celular e me deito. Ao deslizar a tela do aparelho, percebo que tem
uma mensagem de Victor, falando o quanto foi agradável me reencontrar e
me convidando para passear na praia com ele, qualquer dia.
Com um sorriso no rosto, concordo.
Enquanto conversamos, respondo algumas mensagens de Gracy e
Pedro, questionando-me por que sumi durante todo o dia. Envio uma breve
explicação, falando que passei parte do dia na praia e aproveitei para fazer
algumas compras. Enquanto aguardo a resposta de ambos, sinto uma
palpitação em meu peito quando vejo uma mensagem de áudio do Cadu.
A voz grossa, levemente rouca e autoritária, quebra o silêncio assim
que aperto o play.
— Boa noite, criança.
Logo após a mensagem, ele envia uma foto que corta metade do seu
rosto, deixando à mostra apenas a barba que começa a despontar abaixo
da sua boca, o peito nu e bronzeado que posso ver através do tecido da
camisa desabotoada, e em suas mãos, um copo largo contendo uma
bebida amarronzada e destilada que presumo ser uísque.
Meus lábios ficam secos diante da imagem. Engulo com dificuldade
ao imaginar o quão másculo e viril ele possa ser entre quatro paredes.
Perder-me em seus braços fortes é tudo que mais desejo agora.
Mordisco o meu lábio inferior e digito uma resposta.

Uau. Como eu queria estar aí com você!

Envio a mensagem e corro até meu armário de roupas, em busca de


um lingerie sexy. Troco as peças pouco chamativas que estavam em meu
corpo pelo conjunto mais sensual e subo na cama. Fico de joelhos e me
sento meio de lado, de forma que consiga tirar uma foto nítida da minha
boca para baixo, revelando o decote dos meus seios e a peça terrivelmente
minúscula que uso na parte de baixo.
Após alguns minutos, ele responde em forma de áudio.
— Você está me deixando maluco, sabia? — Sua voz está ofegante
e ainda mais marcante do que nunca. Todo o meu corpo se arrepia. —
Estou louco para te foder, menina. E não medirei esforços para ter o que
quero. — Trêmula, aperto o celular com força até sentir o ar faltar em meus
pulmões ao ouvir as últimas palavras dele. — No dia do evento, deixarei um
cartão magnético de uma das suítes do hotel na recepção. Você sabe o que
isso quer dizer, não é?
Sinto um frio agudo em minha barriga ao imaginar as pretensões
dele. Meu coração quase para de bater. No entanto, estou certa e ciente de
que esse será o momento perfeito para me entregar por completo a ele,
revelando a minha identidade. O desejo ardente com o qual ele me beijou
hoje pela manhã deixa claro que estou ganhando essa primeira batalha.
CAPÍTULO 15

BEATRIZ

Deito-me de costas na cama, enquanto meus pensamentos


voam ao curto momento que tive com ele. Meus lábios formigam ao
relembrar nosso primeiro beijo, meu corpo se aquece com a
lembrança do calor que senti dele.
Sorridente, digito uma resposta.

Sim. Estarei à sua espera no horário e local combinados.

A resposta dele vem de imediato, poucos segundos depois.

Boa menina. Não vejo a hora de ver você chupando o meu pau.

Releio a mensagem dele mais algumas milhares de vezes,


até ter certeza de que não estou vendo coisas. Meus olhos até
lacrimejam só de imaginar aquela protuberância toda na minha
boca. Mas, ao mesmo tempo, fico receosa em fazer algo que nunca
fiz antes. Céus! E se ele não gostar? E se eu fizer algo errado?
Nervosa, levanto-me e começo a andar pelo quarto, sem ter a
mínima ideia do que fazer. Já vi alguns vídeos pornôs e já sei a
teoria, mas nunca pratiquei. Seria melhor testar e ver se consigo
fazer como aquelas mulheres nos vídeos. Penso em algo que se
pareça com aquela anatomia específica masculina e me ocorre que
posso usar uma banana. Acho que terei que apelar para uma
banana-nanica como um treinamento, para ter certeza de que não
farei nenhuma besteira.
Apressadamente, coloco um roupão e corro até a cozinha, na
esperança de encontrar a fruta que preciso. Pego as bananas que
mamãe comprou no dia anterior e escolho a mais vigorosa. O
comprimento avantajado, meio tortinho para um lado, e a grossura
encorpada até me faz lembrar um pau de verdade. Será que o dele
é torto assim? Ou todo perfeito, com a cabeça rosa e veias
espessas como sempre imaginei? Definitivamente, isso não tem
importância agora.
Seguro a fruta madura em minha mão e a analiso por poucos
segundos. Após descascá-la, coloco a banana na boca até a
metade, que é o máximo que consigo enfiar garganta abaixo sem ter
ânsia de vômito. Começo chupando lentamente, até tirar a fruta toda
da boca e voltar a engolir. A cada investida, consigo abocanhar um
pouco mais e isso deixa-me orgulhosa. Já me sinto uma expert em
chupar paus grandes gloriosos.
Distraidamente, continuo o meu treino com afinco, chupando
e lambendo a banana até conseguir acomodá-la quase que por
completo na minha garganta. Embora seja uma situação um pouco
estranha, devido às circunstâncias, continuo dando toda a minha
atenção ao que estou fazendo. Contudo, o barulho de uma porta
batendo e os passos pesados de alguém caminhando na minha
direção faz com que eu dê um pulo para a frente devido ao susto.
Esse é o meu maior erro, pois, sem querer, engulo a banana.
Para completar a catástrofe, a fruta fica entalada na minha
garganta, e a voz de papai às minhas costas deixa as coisas em um
nível milhares de vezes mais constrangedor.
Desespero-me ao procurar o ar e não encontrar. Aflita, viro-
me na direção do meu pai com a cabeça erguida e a boca aberta
com a banana entalada. É, no mínimo, a situação mais vergonhosa
que já tive o desprazer de me encontrar.
— Filha! Beatriz!
Ao ver o meu estado catastrófico, papai corre na minha
direção e, com um simples movimento de primeiros socorros,
pressiona as mãos sobre o meu diafragma, forçando-me a tossir e
expelir a fruta da qual, a partir de hoje, quero distância.
Ainda dou algumas tossidas atordoadas enquanto respiro
descompassadamente em uma busca frenética por oxigênio. Papai
me ajuda a seguir até a mesa e me sento. Tomo o copo de água que
ele me oferece e, após parar de tremer um pouco, encaro seus
olhos escuros que me fitam, confusos.
— O que foi aquilo? — questiona e põe a mão sobre a mesa.
— Como você conseguiu se engasgar com uma banana?
Ah, papai. Eu só estava treinando para enfiar o pau do seu
amigo na boca, penso, e até tremo de medo ao imaginar o castigo
que ele me daria se descobrisse. Com certeza, ele me manteria
trancafiada em casa ou me enviaria para outro país.
— Eu… Eu me assustei com a batida na porta e acabei
engolindo a banana sem querer — justifico, nervosa.
— Hum. Sei! — diz, desconfiado. — Engoliu uma banana
inteira sem querer.
Sinto minhas bochechas enrubescerem ao ver a expressão
severa de papai. O que mais me envergonha é imaginar que ele tem
lá suas desconfianças sobre o que eu estava fazendo. O que me
leva a outro pensamento, um que me faz imaginar as obscenidades
que ele e mamãe andaram fazendo. Só de imaginar essas coisas,
sinto vontade de vomitar e tento ao máximo afastar estes
pensamentos asquerosos da mente. Na minha cabeça, fui trazida
por cegonhas para ser criada por eles com muito carinho e afeto.
Ambos nunca fizeram sexo.
Sorrio das minhas próprias besteiras, mas volto a ficar séria
ao ver a cara de poucos amigos de meu pai. Internamente,
agradeço quando ele muda o foco da conversa.
— Em alguns dias, acontecerá o evento beneficente
patrocinado pela Ferraz Engenharia. Como sempre, teremos a
presença de inúmeros empresários e artistas importantes. A mídia
também estará presente. — Levando uma das mãos até as
têmporas, papai massageia essa região e continua: — Como sua
mãe não poderá nos acompanhar, você tem permissão para
convidar uma das suas amigas. Certifique-se de irem às compras o
mais breve possível. — Ele sorri, vendo que arregalo os olhos,
surpresa e feliz por poder levar Gracy comigo. Ela me transmite
confiança, com certeza será uma noite memorável.
— Fico muito feliz em poder levar Gracy comigo, papai.
Esses eventos costumam ser chatos, às vezes — comento, fingindo
que não estou muito interessada em comparecer, quando na
verdade estou contando as horas e os minutos.
Papai balança a cabeça e sorri, descontraído.
— Acho que não, querida. Este ano terá uma atração
imperdível. Você vai se divertir.
Papai continua falando do evento, empolgado. Faz questão
de detalhar sobre a atração tão aguardada que será o auge da
festa, mas não consigo me concentrar no nome do artista, pois
meus pensamentos se perdem no único homem que tem a minha
total atenção e interesse.
Ao me retirar para o meu quarto, um pouco mais calma e
menos trêmula, deito-me e rolo na cama por horas a fio sem
conseguir dormir. Contudo, a imagem dos lábios dele sobre os meus
não sai da minha cabeça.
Pego o celular e olho seu contato. Cogito enviar uma
mensagem, mas decido ousar.
O toque da minha chamada ecoando em meu ouvido faz meu
coração acelerar de uma forma desesperadora, mas a necessidade
de ouvir a voz dele fala tão alto que sigo em frente.
— Oi — atende, calmo. A voz grossa e inconfundível me
arrepia da cabeça aos pés.
— Oi — respondo baixinho, tentando ao máximo camuflar o
tom da minha voz para que ele não desconfie de nada. Estou certa
de que as poucas palavras que trocaremos não serão suficientes
para que ele reconheça a minha voz assim tão facilmente.
— Diga, Bianca. Não consegue dormir?
— Não… não consigo — murmuro. Minha voz sai ofegante
apenas por ouvir a respiração dele do outro lado da linha.
— Pensando em mim? — provoca descaradamente, e meu
coração dispara. No entanto, da mesma forma que me derreto por
ele, também me irrito por ser tão convencido.
Suspiro fundo e respondo em tom provocativo, quero deixá-lo
louco:
— Na verdade, sim. Inclusive, acabei de fazer algumas
coisas pensando em você.
Ouço-o respirar fundo e me responder com a voz rouca:
— Que tipo de coisas? Diz pra mim, menina!
— Quer mesmo que eu diga? — indago. — Quer que eu
detalhe também?
— Sim. Me conte tudo, todos os detalhes.
Mordisco os meus lábios e decido inventar algumas coisas
para provocá-lo. Tento fazer minha voz ficar parecida com os
gemidos de atriz pornô, contudo, falho miseravelmente na missão
da voz sensual. Mesmo assim, vou em frente.
— Eu tinha acabado de sair do banho e me deitei para
dormir, mas não consegui pegar no sono. Deslizei minhas mãos
pelo meu corpo até alcançar o elástico da minha calcinha, e tudo
que meu corpo desejou foi estar fazendo sexo com você. Como eu
não tinha o que queria, retirei minha calcinha, ficando apenas com
uma fina camisola, e comecei a me tocar, pensando no seu pau
dentro de mim.
Ouço-o respirar com dificuldade, como se acabasse de correr
uma maratona, e aperto os meus olhos, envergonhada e excitada.
Meu corpo inteiro se aquece por causa do desejo e do medo de tudo
o que acabei de dizer ao amigo do meu pai.
— Porra! — diz ele, ofegante. — Meu pau ficou todo melado,
te querendo, garota.
— Não vejo a hora de ter o seu pau, Cadu.
— Então se toque de novo para mim? Imagine que sou eu,
acariciando sua bocetinha. Goza para mim, menina…
Com os olhos fechados, deslizo minha mão lentamente para
dentro do roupão, até encontrar a fina renda da lingerie que uso.
Com cuidado, escorrego o tecido pelas minhas pernas e retiro a
peça para ter livre acesso. Coloco minha mão no meio das minhas
pernas, bem no meu centro, e arquejo quando os meus dedos
tocam o meu clitóris suavemente.
Ouço seus gemidos misturados à sua voz inebriante, grave e
enrouquecida, enquanto ele descreve tudo o que gostaria de fazer
comigo.
— Eu… ai… Cadu, eu estou me tocando… — murmuro,
excitada. — Estou tão molhada… E quente.
Ouço um longo suspiro escapando da sua boca e mordisco o
meu lábio.
— Porra, menina. Tudo que quero agora é sentir o cheiro da
sua boceta molhada e enfiar minha língua dentro dela… — ele diz
em um sussurro arfante, e todo o meu corpo se arrepia com as
palavras imorais que saem da sua boca. — Estou segurando o meu
pau, imaginando ele entrando todo na sua bocetinha escorregadia.
Prendo a minha respiração ao imaginar ser tomada por ele
assim, da forma que sempre sonhei. Gemo, baixinho e continuo as
carícias em meu sexo.
— Eu quero muito… o seu pau… — murmuro com os olhos
fechados. Sinto uma quentura se formando no meu ventre,
inebriando meus sentidos.
Cadu geme do outro lado e diz mais algumas obscenidades.
Nessa combinação perigosa de paixão e anseio, pela primeira vez
em minha vida, chego ao orgasmo, enquanto falo safadezas com
alguém ao telefone.
CARLOS EDUARDO

Ouço os gemidos dela do outro lado da linha, tão intensos e


verdadeiros que é impossível dizer que ela está fingindo. É real,
Beatriz está gozando intensamente enquanto sussurro tudo o que
gostaria de fazer com ela. Ainda agora, posso ouvir sua voz doce e
sensual, tão marcante como qualquer outra vez que conversamos.
Mesmo que no início da ligação ela tenha tentado disfarçar o tom,
agora posso distingui-la perfeitamente entre os gemidos e os
sussurros roucos.
Meu pau reage em forma de espasmos e fecho os meus
olhos, ao mesmo tempo que o massageio. Aperto os meus dedos em
volta da cabeça latejante e imagino os lábios dela sugando-me com
vontade. Aquela boca macia como algodão, quente e úmida,
chupando a minha glande com desejo.
Deslizo minha mão com firmeza até a base e subo
novamente, fazendo movimentos contínuos, masturbando o meu pau
como um adolescente sem controle.
Inferno! Inferno! Isso não está certo. Mas é tão gostoso…
Ela não faz ideia do quanto é linda e do quanto me seduz sem
nem ao menos perceber, com essa voz doce e maliciosa. Estou a
ponto de explodir. Desde que ela começou com esse joguinho bobo,
vem testando o meu autocontrole de forma enlouquecedora.
Uma pequena sedutora…
Trinco os meus dentes quando sinto o gozo aproximando-se e
sussurro que irei gozar tudo dentro dela. A respiração
descompassada de Beatriz deixa-me como um louco alucinado.
Quando o primeiro jato quente mela a minha mão, mordo o
meu lábio inferior, quase arrancando sangue, e me amaldiçoo
internamente por ter gostado tanto. Porra!
Os espasmos de prazer diminuem gradativamente e volto a
respirar. Puxo o ar com força e falo:
— Que delícia, garota — ofego. — Você merece umas
palmadas por fazer isso comigo.
— Foi maravilhoso — sussurra. — Senti como se você
estivesse realmente aqui.
Abro os olhos e gargalho ao ouvir o comentário dela. Pobre
inocente. Nem imagina que, se o meu pau tivesse entrado de
verdade naquela bocetinha virgem, ela não estaria gemendo, e sim
gritando.
— Não se engane, menina. Isso não foi nem o começo.
— Eu sei… Mas é que… Foi incrível e… — Na metade da
fala, ela para. Imagino que percebeu que não está disfarçando a voz,
pois logo se despede com um tom forçado, dizendo que precisa
dormir, e desliga o telefone.
Ah, Beatriz. Quero ver se terá coragem de me dizer tudo isso
cara a cara. Vamos ver se continuará torrando o meu juízo quando
eu a colocar contra a parede.
Deixo o aparelho de lado e olho para a meleca de porra que
está no edredom e na minha barriga. Que merda estou fazendo?
Porra! A que ponto cheguei? Fazendo sexo pelo telefone com uma
garota, quando posso ter qualquer mulher experiente que eu desejar.
Dou um soco na cama, irritado, e cerro a minha mandíbula.
Levanto-me e descarto o edredom sujo, em seguida, sigo para o
banho.

BEATRIZ
Desligo o telefone assim que me dou conta de que não
disfarço mais a minha voz. Largo o aparelho na cama e levo a mão
trêmula aos meus lábios. Oh, Deus! O que fiz? Será que ele
percebeu alguma coisa?
Olho para o lado, onde deixei o celular, e reflito por alguns
segundos. Acho que se ele tivesse percebido, teria dito algo. É isso!
Respiro um pouco mais aliviada e me levanto. Caminho
lentamente até o espelho que fica acima do armário do banheiro.
Observo minha expressão cansada no reflexo, toco as minhas
bochechas levemente coradas e deslizo meus dedos pelos meus
lábios novamente. Desta vez não é o medo que me atinge, e sim as
lembranças do nosso primeiro beijo.
Com as mãos escoradas no mármore, sinto meu coração
martelar meu peito ao repassar em minha mente a imagem do rosto
másculo e sedutor, de uma beleza tão forte e marcante que deixa as
minhas pernas bambas. O maxilar quadrado, com um furo no queixo,
os olhos tão azuis quanto safiras, mas que ardem com as chamadas
do desejo.
Sorrio e sigo para o chuveiro. Após tomar um banho rápido
para retirar o suor do corpo, seco-me e me envolvo no roupão.

ALGUNS DIAS DEPOIS

No decorrer dos dias, dividi o meu tempo entre a faculdade, as


poucas horas de serviço voluntário no aquário da cidade e algumas
saídas com meus amigos. Gracy havia ficado para lá de empolgada
quando a convidei para ir ao evento da Ferraz Engenharia comigo.
Além de me fazer companhia, ela poderá ser uma excelente
cúmplice, caso eu precise inventar alguma desculpa para o papai. Já
Pedro, ficou enciumado por não ter sido convidado para um evento
tão importante e repleto de “beldades”, segundo ele.
Conversei algumas vezes com mamãe e fiquei aliviada
quando ela informou que o vovô estava melhor, mas que ela irá
permanecer por lá por mais alguns dias. De certo modo, tirei um
enorme aperto do meu peito e agora estou mais tranquila. Exceto
pelo fato de que estou olhando para o vestido longo de cor marsala
estendido sobre a cama, e que estarei cara a cara com ele em
algumas horas.
Pego o vestido em minhas mãos e me afasto da cama para
observá-lo mais detalhadamente. É uma linda peça, chamativa e
sensual. Foi escolhido a dedo com a ajuda de Gracy, para esta noite.
Retiro o roupão que envolve o meu corpo ainda fresco pelo
banho recém-tomado e, com delicadeza, visto a peça. A saia
esvoaçante cai sobre os meus pés descalços, e a fenda ousada
deixa parte da minha coxa à mostra.
Caminho até o espelho para terminar de me arrumar e sorrio
ao ver o profundo decote, velado apenas por uma delicada e
transparente camada de tule da mesma cor do restante do vestido.
Os ombros desnudos, devido às alças caídas, deixam o look ainda
mais sexy.
Hoje não serei apenas uma inexperiente menina. Serei uma
mulher decidida, disposta a tudo para conquistar o homem que ama.
Retiro os grampos que prendem os meus cabelos e permito
que as madeixas sedosas caiam sobre as minhas costas. Após
calçar as sandálias de salto e passar um perfume suave, retoco o
batom vermelho, pego a bolsa e o celular, e me retiro do quarto.
Papai me aguarda na sala, distraído, como sempre falando ao
telefone. Vejo-o andar de um lado ao outro, ansioso. Aproximo-me a
tempo de ouvi-lo falar que já está a caminho. Ele desliga o telefone e
vira-se na minha direção. Os olhos escuros se arregalam, surpresos
ao me observar, e sorrio.
— Filha… Você está belíssima — diz e caminha na minha
direção, estendendo a mão, também sorridente. Mas, ao observar
melhor o meu decote, franze o cenho. — Este decote não está
exagerado, querida?
— Ora, papai, não seja antiquado. É assim que as mulheres
se vestem para esses eventos — digo, já o puxando para a saída
antes que retrucasse. — Vamos? Precisamos passar na casa de
Gracy.
Papai assente e segue na direção da porta. Acompanho-o e,
após alguns minutos, estaciona o carro em frente ao portão da casa
dos pais de Gracy. Ela caminha até nós, sorridente, usando um
vestido azul-turquesa que eu a ajudei a escolher. O tecido gracioso,
marcado na cintura, e os cabelos soltos, com cachos bem definidos,
a deixam ainda mais bonita.
Gracy senta-se do meu lado no banco de trás e me abraça.
— Você está um arraso, Bia — sussurra. — O Cadu vai cair
durinho quando te ver.
Engulo uma gargalhada e jogo os cabelos para o lado, feliz,
no entanto, nervosa. Tenho consciência do quanto estou bonita e
bem arrumada. Mas será suficiente para seduzi-lo? Meu peito se
aperta só em imaginar a cara dele quando descobrir quem sou de
fato.
Ao chegarmos ao hotel, papai entrega a chave do carro ao
manobrista e entramos. Já no hall, posso ver a magnitude e luxo do
evento que mais parece uma festa de gala, não um evento
beneficente para arrecadar fundos para o projeto “zero moradores de
rua”.
Vejo empresários e políticos importantes circularem pelo local,
acompanhados de lindas mulheres. Alguns artistas famosos também
estão presentes e interagem entre si. Sinto-me deslocada e ao
mesmo tempo maravilhada por nunca ter participado de um evento
desse nível.
Continuo andando ao lado de Gracy e meu pai, até avistarmos
um grupo de pessoas que trabalham na empresa. Entre eles, vejo
Victor, todo trabalhado na elegância, conversando alegremente com
outro funcionário, mas ainda nenhum sinal do Cadu.
Ao chegarmos perto das pessoas, papai nos apresenta e
engata uma conversa com o grupo. Ao ver que analiso as pessoas à
minha volta, ansiosa, Gracy me puxa para o lado, longe o suficiente
de ouvidos e olhos curiosos.
— Disfarça, Bia. Você está quase tendo uma crise de
ansiedade.
— Não estou vendo sinal dele, Gracy — digo, nervosa.
— Não se preocupe, amiga. Com certeza, ele está em algum
lugar deste hotel. Fique tranquila e respire.
Assinto e tento controlar os meus nervos. Pego um drink com
um dos garçons que circulam pelo salão e o tomo quase todo de
uma vez. Apesar do sabor adocicado, o gosto final do álcool queima
a minha garganta.
No entanto, pego um atrás do outro, em uma tentativa
frustrada de me acalmar. Quanto mais os minutos passam, mas fico
ansiosa e amedrontada pelos acontecimentos da noite.
Ao contrário de mim, Gracy parece estar encantada com toda
a decoração sofisticada que nos cerca. Não consigo prestar muita
atenção à minha volta, a não ser em cada rosto que observo,
frustrando-me ao perceber que não é o dele.
Os minutos se arrastam e eu já me sinto mais animada devido
à quantidade de drinks que consumi. Por um instante, até me
esqueço por que estou aqui e de quem estou à espera. Logo Victor
se junta a nós duas com seu charme e sorriso contagioso.
— Oi, meninas — cumprimenta assim que se aproxima.
— Oi! — Sorrio e também o cumprimento.
Victor coloca uma das mãos no bolso do paletó cinza e vira-se
para Gracy. Apresento os dois e pego mais um drink, mas, ao
contrário dos outros, começo a tomar este com calma.
— Não esperava vê-la aqui, Bia — diz ele, virando-se para
mim novamente. — Que surpresa maravilhosa.
— Pois estou aqui. Fico feliz que minha presença o agrade —
brinco, desinibida, e sorrio.
— Me agrada muito, na verdade. — Seu sorriso se abre de
orelha a orelha e quase deixo um suspiro escapar da minha
garganta. Já Gracy, não faz tanta questão de disfarçar assim.
É incrível como os anos o deixaram extremamente bonito.
— Está gostando do evento? — pergunto.
— Oh, não. — Victor sorri e leva as mãos às têmporas. — Isso
aqui estava um tédio, até você chegar.
Franzo a testa ao entender o sentido das palavras dele, mas
não me acanho. Na verdade, levo tudo na esportiva, como se ele não
tivesse acabado de me passar uma cantada, e sorrio mais uma vez
antes de responder-lhe:
— Então você é um homem de sorte.
— Com certeza, sou — responde ele, olhando firmemente o
meu rosto.
Um pouco desconcertada, desvio minha atenção para o lado,
e é quando o vejo passar, parando vez ou outra para cumprimentar
alguém. Os passos firmes, confiantes e elegantes. A cabeça erguida,
olhando para a frente, focado. O terno preto e impecável. Cada poro
do corpo dele emana poder, controle e autoridade. Sinto minhas
pernas ficarem bambas diante da figura tão máscula e viril que
permeia os meus sonhos todas as noites. Contudo, algo que vejo faz
minha respiração falhar e o meu coração se aperta como se
estivesse sendo esmagado lentamente. Ao lado dele, vejo uma bela
e elegante mulher.
Acho que é a mulher mais bonita que já vi em toda a minha
vida. Seus cabelos são loiros, brilhantes, batendo na altura dos
ombros. A pele é tão clara e imaculada que parece porcelana,
contrastando magnificamente com o vestido dourado que usa.
Sinto uma secura em minha garganta e desvio o olhar quando
ela entrelaça as mãos nos braços dele. Meus olhos marejam, e a
única vontade que tenho agora é de sair correndo, embora não faça
muito tempo que eu tenha chegado. Deduzo que ele tenha desistido
do nosso encontro, afinal, não traria uma mulher consigo se ainda
fosse levar o plano adiante. Conjecturando assim, sinto-me
derrotada, vazia.
— Beatriz… Beatriz… — Viro o meu rosto e fito os olhos
expressivos de Victor. Seu semblante está preocupado. — Está tudo
bem? Você está gelada.
Olho para baixo e só agora me dou conta que ele segura a
minha mão.
— Sim… Estou bem. Não se preocupe. — Abro um sorriso
forçado, tento disfarçar minha grande decepção e olho na direção de
Gracy. Ela também me encara, visivelmente séria. Em seguida, olha
na direção do Cadu. Ela também percebeu que ele chegou
acompanhado de outra mulher.
Baixo os meus olhos, envergonhada. A sensação é de que
acabo de levar um degradante e covarde pé na bunda. Ele poderia,
ao menos, ter desmarcado nosso compromisso. Tento me recuperar
do choque e restabelecer meu bom senso. Preciso superar esse
momento e essa humilhação. Então decido que, já que estou aqui,
tentarei me divertir um pouco, ou ao menos fingir.
— E lá vem a parte mais chata da noite — comenta Victor.
— Como assim? — Pisco como se tivesse acabado de
acordar de um pesadelo e questiono, confusa.
— Está na hora dos discursos e blá blá blá. E com certeza o
primeiro a discursar é o todo poderoso Carlos Eduardo Ferraz. Fala
sério… — Victor se aproxima do meu ouvido e sussurra. — Esse
cara é um porre.
Preciso me conter para não soltar um riso cínico. Realmente,
tenho que concordar com ele. Cadu é um porre, um cachorro safado,
e eu me odeio por gostar tanto dele.
Victor pisca e aperta a minha mão um pouco mais. Porém,
quando ele se aproxima novamente para falar algo em meu ouvido,
ouço o toque de chamada no meu celular e me afasto. Olho para o
Cadu de relance e percebo que ele acaba de guardar o aparelho no
bolso do paletó e se encaminha para subir no pequeno palco.
Pego meu aparelho dentro da bolsa, vejo a chamada perdida
dele e uma mensagem. Meu coração dispara freneticamente.
Pegue o cartão da suíte na recepção e me aguarde na cama.
Meu discurso vai durar apenas dez minutos.
CAPÍTULO 17

BEATRIZ

Peço licença ao Victor, deixando-o confuso, e sigo na direção


de Gracy. Puxo minha amiga para um canto menos movimentado e
mostro a ela a mensagem.
Gracy franze a testa. Olha para o palco onde o Cadu discursa
e depois para a mulher que chegou com ele. Respiro fundo e fecho
os meus punhos, magoada. Meus olhos analisam cada detalhe do
rosto másculo que eu daria tudo para deixar meus cinco dedos
gravados agora.
— Eu não sei o que fazer, Gracy — digo, virando-me para
ela. — Não entendo por que ele veio acompanhado. Estava certo
para nos encontrarmos na suíte.
Gracy suspira e volta a sua atenção para o palco, como se
procurasse as palavras a serem ditas com cautela.
— Não sabemos quem é essa mulher, muito menos o que ela
representa para ele, Bia. Mas se ele já te enviou mensagem,
pedindo para esperar na suíte, mesmo estando acompanhado de
outra, é porque, com toda a certeza, ela não significa nada. —
Gracy segura na minha mão e se aproxima mais. — Além disso, ele
não sabe que você é a Bianca. Fazer jogo duro agora só vai afastá-
lo e anular qualquer chance que você tenha de conquistar aquele
homem. Então sugiro que você vá e diga a verdade, mas, por
enquanto, não dê o que ele quer. Seja firme, amiga. Faça-o ver que
você não é qualquer uma e muito menos se contenta com tão
pouco. Estamos entendidas?
Assinto para ela e franzo a testa, preocupada. Apesar de
estar um pouco mais leve devido à ingestão de álcool, sinto um
enorme aperto no meu coração.
— Fique na companhia de Victor e me dê cobertura, caso o
papai pergunte. Eu não demoro.
Gracy balança a cabeça em afirmativa, e eu sigo na direção
da recepção. Pego o cartão magnético e caminho até o elevador
que dá acesso aos quartos e suítes. Após sair do elevador e
encontrar a suíte que ele reservou, sinto meu coração bombardear
meu peito com batidas tão frenéticas que praticamente posso ouvir
os embates alucinados.
Minhas pernas fraquejam e o mundo parece rodar à minha
volta. Sou obrigada a me segurar na porta para não perder o
equilíbrio. Já começo a me arrepender dos drinks que tomei. Acho
que passei do limite completamente.
Um pouco melhor, destranco a porta e abro apenas uma
fresta para espionar lá dentro. E, uau…
Analiso cada detalhe dos móveis sofisticados em tons marfim
e da decoração requintada. Fico momentaneamente impressionada
com todo o luxo da suíte presidencial.
Ainda mais nervosa, entro e encosto a porta atrás de mim.
Dou alguns passos pela sala de estar, tomando cuidado para não
encostar e quebrar nada. Não posso confiar em meu próprio tato
depois de cinco drinks.
Continuo andando até atravessar o local e chegar ao quarto.
A cama larga, com lençóis brancos e vermelhos, é como um
convite velado para que eu me deite e sinta a maciez sob as minhas
costas. Engulo a saliva com dificuldade ao me imaginar deitada ali,
fazendo amor com ele. Sinto arrepios por todo o meu corpo.
No entanto, esses sentimentos são massacrados e
pisoteados como folhas secas no chão, quando me recordo que ele
teve a audácia de aparecer acompanhado de outra mulher. A raiva e
a tristeza me consomem e nem ao menos percebo quando me sento
na cama e coloco as duas mãos na cabeça.
Céus, o que estou pensando?
Cadu é um homem maduro, bonito e extremamente rico.
Pode ter qualquer mulher, a hora que quiser. É um conquistador.
Não sei se me encontrar com ele nesse estado de embriaguez é
sensato. Eu abriria as pernas para ele apenas com um sorriso do
cafajeste, e hoje ele não merece isso. Aquele cretino…
Decidida, pego meu celular e começo a digitar uma
mensagem para informá-lo que a Bianca teve um imprevisto e não
pôde ir ao evento. Voltarei para o salão e chamarei Gracy para
irmos embora. Papai que me desculpe, mas não posso ficar me
torturando, vendo o Cadu com outra. Também não lhe darei o
gostinho de me tocar assim, não depois do que ele fez. Ele não vai
morrer se levar um toco uma vez na vida.
Termino de digitar a mensagem e saio do quarto
apressadamente. Passo a mãos pelos meus cabelos, visando
arrumar qualquer fio que esteja fora do lugar, e assim que fecho a
porta às minhas costas, corro até o elevador.
Chamo o elevador e, enquanto o aguardo, ouço o toque do
meu celular. Pego o aparelho, já imaginando de quem se trata, e
minhas suspeitas se confirmam quando vejo que é ele.
Respiro fundo e atendo.
— O que aconteceu? Por que não pôde vir? — questiona ele,
parecendo irritado.
— É que… Eu… Estou resfriada — minto e tento mudar um
pouco a minha voz. — Sinto muito.
Respiro mais aliviada quando vejo o elevador parar no andar
que me encontro.
Mas, quando as portas se abrem, tudo o que desejo é correr
até a janela mais próxima e me jogar.
— Tem certeza, Bianca? Ou posso chamá-la de Beatriz? —
indaga ele, parado na minha frente com o maxilar cerrado e os olhos
azuis vibrantes, encarando-me com ferocidade.
Ah, meu Deus! Estou tão ferrada. Meu nervosismo e medo
são tão grandes que posso sentir o álcool em meu sangue
evaporando.
— Cadu? Oi… Que surpresa — murmuro e dou alguns
passos para trás.
O homem caminha na minha direção com passadas firmes e
eu praticamente perco o ar. Senhor, por que ele tem que ser tão
grande e intimidante?
Continuo andando para trás até me chocar contra a parede.
Fecho os meus olhos quando ele se aproxima e apoia as mãos na
parede, uma em cada lado dos meus ombros, impossibilitando que
eu tenha qualquer chance de fuga.
A proximidade com o calor do seu corpo faz o meu tremer,
descontrolado.
— No que você estava pensando, menina? — questiona. A
voz tão raivosa que, por um momento, penso que vou desmaiar.
Sinto o toque bruto da sua mão no meu queixo, fazendo com
que eu vire o rosto para ele. Ao sentir o hálito quente, próximo à
minha boca, estremeço ainda mais.
— Olhe para mim. Quero que diga todas aquelas coisas
olhando na minha cara!
Lentamente, abro os meus olhos e fito os dele. Nossos rostos
estão tão próximos que posso distinguir perfeitamente o tom
amarronzado que ele possui na íris do olho esquerdo. Fico
impressionada. Contudo, logo mudo o foco da minha atenção
quando ele volta a falar:
— Diga, Beatriz. Por que me mandou aquelas mensagens e
fotos? O que pretendia com aquilo?
— Eu… amo você, Cadu — confesso, sem fôlego,
hipnotizada. A voz sai em um murmúrio ofegante, mais parecido
com um sussurro. — Eu sempre amei.
Ele dá um passo para trás, arregalando os olhos, como se o
que acabou de ouvir fosse a confissão de um assassinato, e não
uma declaração de amor.
— Essa foi a única forma que encontrei de me aproximar —
completo.
— O que está dizendo? — Vejo-o passar a mão pelo cabelo,
desacreditado.
— A verdade! — respondo. — Foi por isso que inventei tudo
isso. As mensagens, as fotos, as provocações. Eu não suportava…
— Beatriz… — diz ele, interrompendo-me, e puxa a minha
mão. — Venha comigo.
— O quê? Para onde?
— Para a suíte que reservei. O corredor não é um local
adequado para se ter uma conversa como esta — responde, seco.
Meu corpo congela quando o vejo pegar outro cartão
magnético do bolso do paletó e abrir a porta. Engulo em seco ao
imaginar que ficarei a sós com ele em uma suíte.
— Entre! — ordena e dá um passo para o lado, dando-me
espaço para entrar.
Ao fitar seu semblante furioso, paraliso no mesmo lugar.
— Acho que não é uma boa ideia… — respondo com
hesitação.
Cadu caminha para o interior da sala de estar e volta a me
encarar.
— Entre, Beatriz. Chega de jogos. A brincadeira acabou.
Relutante, dou alguns passos para a frente e, assim que
entro, apresso o meu ritmo. Sento-me no sofá da sala de estar,
trêmula, procurando não o encarar. Eduardo caminha na minha
direção e para na minha frente. Levanto a minha cabeça e vejo o
seu olhar gelado, analisando cada compartimento do meu rosto.
— O que sabe sobre o amor? — questiona, impassível. —
Você é só uma menina, Beatriz. Você não sabe o que é amar
alguém!
As palavras dele são como ferro em brasa, direto no meu
coração. Sinto raiva, angústia e dor. Quem ele pensa que é?
— Não tenho culpa se você não tem sentimentos, Eduardo,
mas não sou como você — digo, ferida, e me levanto, desafiando-o.
— Eu posso ser jovem, sim, mas não preciso pisar nos sentimentos
de ninguém para me sentir superior. — Uma lágrima rola pela minha
face e viro o rosto, enquanto levo a mão ao olho para contê-la.
Quando volto minha atenção para ele, percebo que o Cadu
me encara intrigado, como se tentasse decifrar a verdade no fundo
dos meus olhos. Mas eu não baixo a cabeça. Mantenho meu nariz
erguido e o fito com todo o meu orgulho.
— Eu não quis magoar você — justifica. — Mas você é muito
jovem para entender algo sobre isso — diz e volta a me olhar com
seriedade. Desta vez, o semblante furioso dá lugar a algo mais
parecido com pena. — Com certeza está confundindo uma atração
com amor. Jovens são volúveis, e logo terá superado esta paixonite.
Mesmo assim, você é inexperiente, acabará saindo magoada, e não
quero isso.
Deixo um sorriso sarcástico escapar dos meus lábios e viro
as costas para ele, impossibilitada de continuar encarando este
homem que tanto me faz mal. Engulo as lágrimas amargas que
teimam em querer cair, enquanto o meu corpo humilhado treme,
quase desabando.
— Engraçado. Você não pensou que me magoaria quando
chegou acompanhado de outra mulher…
Ouço seu suspiro profundo logo atrás de mim e o toque da
sua mão nas minhas costas faz o meu corpo reagir com arrepios.
Odeio-me ainda mais por isso.
— Ela não é quem ou o que você está pensando… — O som
da sua voz soa calmo e preocupado, mas nada disso importa agora.
— Não precisa se explicar. Você não me deve explicações,
Eduardo. — Viro-me na direção dele e o encaro. — Eu vou para
casa.
Dou meia-volta e caminho na direção da porta. Mas paro no
meio do caminho quando ouço a voz dele.
— Posso não ter sentimentos, como você mesma disse. Mas
eu sempre soube que a Bianca era você, Beatriz. E eu nunca usaria
outra mulher para humilhá-la.
A revelação dele é como um soco no meu estômago. Se eu
já estava envergonhada, agora devo estar vermelha.
— O que disse? — incrédula, fito-o lentamente.
— Sim. Eu já sabia que Bianca e você eram a mesma
pessoa. — Continuo encarando-o, confusa, começando a entender
o que está acontecendo. Ao ver que permaneço calada, ele
continua: — Aquela mulher que chegou na festa comigo é uma
prima, filha de uma irmã da minha mãe. Ela chegou ontem da
França, veio cuidar dos preparativos do próprio casamento e está
hospedada na casa dos meus pais. O noivo dela desembarca no
Brasil em algumas semanas e os pais chegam ao Rio amanhã.
Abro e fecho a boca algumas vezes, ainda sem conseguir
processar as informações que ele jogou em cima de mim, tudo ao
mesmo tempo. Percebo como fui precipitada no meu julgamento
quanto à mulher que o acompanhava. Também estou envergonhada
do joguinho que mantive com ele quando ele já sabia a verdade…
Como fui tola.
— Por que não me disse que já sabia? Eu não entendo… —
pergunto, confusa.
Cadu balança a cabeça de um lado a outro e sorri.
— Porque eu queria saber até que ponto você iria chegar. —
Ele caminha na minha direção e, ao se aproximar, quase colando o
corpo no meu, toca o meu queixo com cuidado. — Queria saber se
toda aquela ousadia se estenderia além das telas de um celular.
Mas, principalmente, queria te dar um belo corretivo para aprender a
não ser tão atrevida. O que você fez não foi legal, menina. Me
provocou de uma forma insana, sem pena. Eu sou um homem, é
difícil manter o controle, e você é algo que eu não posso ter.
Sua mão quente desliza do meu rosto até os cabelos da
minha nuca, prendendo-os. Seus olhos percorrem o meu pescoço e
busto. Parece fascinado.
Puxo o ar com dificuldade para os meus pulmões, assustada
e ao mesmo tempo perdida com a mudança do jogo. Em um
momento, eu estava lá embaixo. Agora, estou no topo, ouvindo
coisas que jamais imaginei ouvir dele.
Uma pontinha de esperança começa a surgir em meu peito
quando o vejo fitar a minha boca, sedento.
Umedeço os lábios, ansiosa. Já não sei mais nem quem sou,
nem o que faço aqui. É como se tudo tivesse perdido o sentido e
tudo o que tem importância agora é sentir o sabor dos beijos dele.
— Eu não posso desejar você… — ele diz, mas seu corpo
não reage da mesma forma que o seu raciocínio, pois, no instante
seguinte, os lábios possessivos se colam aos meus.
Ergo minha mão e deslizo por seu peito, fazendo uma carícia
lenta até alcançar sua nuca larga. A língua quente e ávida desliza
pelos meus lábios, buscando entreabri-los a todo custo. Quando
permito, ele mergulha para dentro da minha boca com movimentos
desesperados que me deixam tonta. Sinto o toque da sua mão,
deslizando pelas minhas costas e cintura, subindo até alcançar um
seio e o envolver em sua mão. Ofego.
Ele aprofunda o beijo e aperta ainda mais o meu corpo contra
si, permitindo que eu sinta toda a sua rigidez dentro da calça. E
mesmo que meu corpo esteja quase paralisado de surpresa e medo,
mordisco o lábio dele até ouvi-lo gemer e, lentamente, desço minha
mão pelo seu peito e barriga.
— Bia… — ele grunhe quando toco seu pênis por cima da
calça e aperto. Os lábios quentes deixam a minha boca e se
apossam do meu pescoço. Morde e chupa de uma forma
dolorosamente deliciosa, deixando-me arrepiada.
CAPÍTULO 18

CARLOS EDUARDO

— Bia… — grunho com a voz rouca quando sinto as mãos


ousadas dela descendo até o cós da minha calça. Com uma carícia
lenta, ela massageia o meu pênis e o aperta. Inferno! Fico louco,
principalmente quando sinto os tremores do seu corpo inexperiente,
colado ao meu. A maneira quase inocente e insegura com que ela
me toca é deliciosa. Meu pau está quase explodindo de tanto tesão.
Deslizo meus lábios pelo seu pescoço, passando a língua em
alguns pontos e mordendo em outros, enquanto continuo
acariciando o seu seio. Ela geme baixinho e me aperta mais contra
si em busca de equilíbrio. Sua pele fica completamente arrepiada
com as sensações que provoco em seu corpo.
— Linda… — sussurro em seu ouvido. — Tão quente,
fogosa… Louca para me dar a bocetinha.
Ouço seu suspiro confuso e o estremecer do seu corpo.
Beatriz coloca a mão no meu peito, como se fosse me afastar, mas
não permito. Sei que ela está temerosa e eu deveria me refrear. Mas
estou tão cego pelo desejo doloroso que ela desperta em mim que a
aperto mais, voltando a procurar a maciez dos seus lábios.
— Eduardo… — ela murmura e tenta me empurrar, mas tudo
o que faço é incliná-la sobre o sofá e, enquanto cubro o seu corpo
com o meu, introduzo minha língua dentro da sua boca mais uma
vez. Entorpecida com o beijo, Beatriz ofega e arranha o meu ombro
por cima da camisa, entregue às minhas vontades.
Sinto suas mãos delicadas descerem pelo meu ombro e
costas, massageando devagar. E nessa carícia deliciosa, desço
minha boca pelo seu pescoço. Uso uma mão para me firmar no sofá
e, com a outra, puxo o decote do seu vestido, expondo um seio.
Afasto-me, lentamente, e a encaro. Seus olhos continuam
fechados, como se estivesse entorpecida, a respiração ofegante
cheia de anseios. Que merda! Como ela é deliciosa… Tão doce…
Tão irresistível.
— Você é uma menina muito má — sussurro. — Quase fiquei
louco quando te vi dentro desse vestido… atrevida! Exibindo esses
seios lindos para aquele frangote… Ainda vai me pagar por isso
também.
Envolvo o seio pequeno em minha mão e a sinto estremecer
com o calor do meu toque. Fico doido. Esqueço todos os motivos
que me impedem de tocá-la e fazê-la minha.
Com desespero, abaixo o meu rosto e abocanho o seio
intumescido, ouvindo-a gemer e levar as mãos até os meus cabelos.
Sugo o bico sensível e rosado para dentro da minha boca e depois
passo a língua para aliviar a ardência causada pela pressão dos
meus lábios.
— Ahh!
Beatriz murmura coisas desconexas, sem sentido algum, e
eu me afasto para observá-la. Ela pende a cabeça para trás,
tamanho é o prazer que sente nos meus braços, deixando os seios
túrgidos e a pele clara do pescoço ao meu dispor.
Perdido, excitado e embriagado com os beijos que dei nela,
levo minhas mãos ao cós da minha calça, abro os botões e desço o
zíper desesperadamente. Volto a me inclinar sobre ela e, ao
alcançar o lóbulo de sua orelha, mordisco e sussurro:
— Pega no meu pau, menina. Sinta como ele está duro por
você! — Beatriz abre os olhos e me encara, assustada, contudo,
não espero até que ela se acostume com a ideia, apenas pego sua
mão e a levo até o meu cacete. Quando sinto o seu toque quente
por cima da cueca, ofego em um ritmo curto. — Isso… Assim…
Firmo-me no encosto do sofá e fecho os olhos quando sinto
as unhas da sua outra mão deslizarem por minha barriga,
arrepiando até a minha alma. Beatriz inspira fundo e continua com a
leve carícia até retornar ao cós da minha cueca.
Em um movimento lento, sinto-a puxar o tecido para baixo,
fazendo meu caralho saltar para fora, duro como uma rocha, com a
cabeça completamente lambuzada de excitação.
— Cadu… É tão… grande.
Esboço um sorriso orgulhoso e abro os olhos para observá-
la. Seus olhinhos assustados analisam cada detalhe do meu pau
com uma mistura de curiosidade e medo.
— Sim, criança. Mas vai caber direitinho dentro de você!
Agora, acaricia para mim.
Acatando a minha ordem, ela segura o meu pau firmemente e
começa a fazer movimentos de vai e vem. Os dedos finos tocam a
glande vermelha e apertam, ao mesmo tempo que espalham o
líquido pré-ejaculatório pelo cogumelo avantajado. Apesar da
inexperiência, ela tem bons instintos. Safadinha deliciosa!
— Porra! Que gostoso… — gemo, quase perdendo o
controle.
Penso em fazê-la chupar gostoso até eu me derramar nessa
boquinha linda, mas no momento estou mais interessado em fazê-la
gozar e meter o pau bem fundo na sua boceta, até sentir minhas
bolas batendo no cuzinho que logo irei comer também.
Em um movimento rápido, seguro suas mãos e as prendo
acima da sua cabeça. Com a outra mão livre, liberto seu outro seio e
passo a chupá-lo com força. Ela choraminga, contorcendo o corpo,
coberta de prazer.
— Ohh! — Ouço seus gemidos sofridos assim que minha
boca libidinosa mordisca o bico, para logo depois abocanhar o seio
inteiro, chupando e mordendo sem pena.
Desço minhas mãos até a fenda do vestido na sua coxa,
aperto a carne macia e deslizo meus dedos pelo local. Exploro cada
pequeno centímetro da sua pele com os meus toques. Subo minha
mão até alcançar o bumbum bem feito e o aperto com vontade.
Volto a beijá-la, ergo o seu vestido completamente e me coloco
entre as suas pernas.
— Abre mais as pernas! — ordeno. Ela ofega, mas me
obedece. Dobra os joelhos, dando-me mais acesso ao centro do seu
prazer, e não perco nenhum segundo para alcançar sua calcinha e
colocar o tecido para o lado. — Olhe para mim, Beatriz. — Esfrego
meu dedo no centro lambuzado e quase vou à loucura quanto sinto
o quanto ela está melada e toda depiladinha. Inferno! — Está
pingando, menina.
Mantendo minha atenção focada em cada reação do seu
rosto, dedilho o clitóris devagar e deslizo a ponta do meu dedo na
sua entrada. Beatriz crava as unhas no meu braço e choraminga,
franzindo a testa.
— Oh… meu Deus! Cadu… — Sinto a pressão das suas
unhas afundando na minha carne por cima da camisa, mas não me
retraio. Adiciono mais um dedo na sua boceta e aprofundo mais
dentro dela, devagar. — Ahh! Não, por favor… — ela reclama,
ofegante, e põe a mão no meu peito quando os meus dedos
alcançam a barreira da sua virgindade.
Afasto minhas mãos do seu sexo e seguro suas coxas com
força. Inclino o meu corpo para beijar sua boca e distribuo beijos
pelo seu rosto até alcançar o lóbulo da sua orelha e mordiscá-lo.
— Eu vou te dar uma surra de pau — sussurro. — É isso que
você merece por ser tão safada.
O cheiro suave da sua pele me inebria, aguça os meus
sentidos de uma forma tão intensa que ofego, fico em ânsia, em
busca de mais contato e prazer. Tenho vontade de devorá-la toda.
Não me sentia assim, tão vivo e tão voraz, há muitos anos.
A cada beijo e carícia que trocamos, minha consciência grita
para que eu pare. Mas puta que pariu. Eu não consigo. Essa garota
me atrai como um ímã… Quero cada vez mais.
Ergo o meu corpo e fico de joelhos entre as suas pernas.
Abro as suas coxas e inclino os seus joelhos para os lados,
deixando a bocetinha toda aberta para mim. Caralho! Arregaço mais
a calcinha para o lado, passo meus dedos pelos grandes lábios
rosados e gemo ao ver os líquidos de sua excitação escorrendo da
boceta até o cuzinho gostoso.
Beatriz contorce o corpo e me encara com os olhos
arregalados, nervosa. Ela leva a mão até a boca e morde o punho
fechado ao mesmo tempo em que tenta fechar as pernas. Seguro
suas coxas com mais força, puxo o seu corpo para mim e desfiro um
tapa no seu traseiro.
— Isso é por todas as vezes que me deixou com as bolas
doendo de tesão. — Ela reclama, se contorce, deixando-me ainda
mais excitado. Pego uma almofada e coloco embaixo do seu
traseiro, abro sua vagina com uma das minhas mãos para expor o
feixe de nervos sensíveis e rosados. Abaixo o meu rosto e enfio
minha língua dura e possessiva na sua entrada, enquanto fricciono
seu clitóris, arrancando mais alguns gritos da sua boca.
— Eduardo… — geme e leva as mãos ao meu cabelo,
bagunçando os fios. — Oh… Céus!
Dou lambidas frenéticas no seu nervinho inchado e o
abocanho. Chupo e mordisco de leve, tirando e enfiando a língua
como se estivesse beijando a sua boca, para logo depois voltar a
lamber de baixo para cima. Quando sinto que o corpo dela começa
a tremer, levanto a minha cabeça e desfiro um tapa do outro lado do
seu traseiro.
— Aiii! — grita,
— E isso é por você ter deixado aquele imbecil babar em
cima do seu decote.
— Você está ficando louco, Edu — choraminga.
Volto a lamber sua boceta, tendo a certeza de que realmente
estou ficando mais louco a cada segundo. Abro os grandes lábios e
rodeio o clitóris com a minha língua, empurrando o nervo para um
lado e para o outro. Coloco um dedo na sua entrada e começo a
fodê-la assim. Beatriz geme alto e ergue o quadril, desesperada por
mais fricção. Arreganho mais suas pernas e dou uma lambida de
Venom lá dentro, para logo depois deslizar a língua para cima,
friccionando o montinho vermelho.
Ela volta a gritar, alucinada, e arranha os meus ombros.
Quando sinto seu corpo tremer, ergo a minha cabeça para observá-
la e a vejo com os olhos fechados, a testa franzida.
Sua boceta pulsa, apertando o meu dedo com um gozo tão
intenso que me deixa à beira de um colapso. O cheiro do seu sexo
entranha meus sentidos, e o sabor salgado e delicioso na minha
boca me faz perder todo o raciocínio.
Respiro fundo e levo a mão ao cós da minha calça para
terminar de retirá-la, decidido a me afundar todo dentro dela. No
entanto, quando volto a fitá-la e vejo as íris verdes brilhantes
encarando-me com admiração, em uma mistura de desejo e amor,
sinto como se eu tivesse acabado de ser esbofeteado no rosto.
Vejo, no fundo do seu olhar de menina inocente e sonhadora,
que o que ela sente por mim vai muito além de paixão e desejo…
Dou-me conta de que o que quero fazer, apenas por um desejo
carnal, vai degradar seus sentimentos e magoá-la. Essa consciência
é como um balde de água fria.
Engulo em seco ao me dar conta de que estou prestes a
cometer uma loucura. Pela primeira vez em muitos anos, uma onda
de indignação e culpa me tomam, fazendo com que eu me afaste
dela e leve a mão até os meus cabelos, irritado comigo mesmo.
Irritado porque a quero loucamente quando não deveria e porque
não posso tê-la. Caralho, que merda!
Felipe me mataria se soubesse de uma merda dessas. E pior,
eu a magoaria de todas as formas possíveis, porque não posso
corresponder a tudo que ela está disposta a me dar.
CAPÍTULO 19

BEATRIZ

Meu coração bate desesperadamente dentro do peito, meu


corpo parece flutuar no ar. Quando as ondas do prazer diminuem
um pouco, abro os meus olhos com lentidão e o encaro, fervorosa.
Sinto todo o meu corpo se aquecer ainda mais à medida que o vejo
levar a mão até a calça para terminar de tirá-la.
Ver o pênis dele completamente ereto, cheio de veias
vigorosas e a cabeça avermelhada, faz a minha boca salivar. Anseio
em senti-lo, mesmo que esteja trêmula e temerosa por causa da dor
que irei sentir quando ele me possuir.
Nossos olhares se encontram, mas eu não consigo mais
fingir ou omitir o que sinto. Sorrio levemente, seduzida pela virilidade
tão quente que emana dele. É certo que o brilho e a admiração que
estampam os meus olhos deixam claro o quanto o amo e o quanto
desejei este momento. No entanto, percebo no fundo das ondas do
seu olhar que a certeza que ele parecia ter, de repente, perde força.
Sinto meu sangue gelar.
Eduardo me fita por poucos segundos e, como se de repente
ele se tornasse uma outra pessoa, afasta-se e passa a mão pelos
cabelos, nervoso, virando as costas.
Aflita, arrumo o meu vestido e forço-me a me levantar. Não
sei o que dizer ou como agir diante da situação que começa a ficar
constrangedora. Ao ver que ele continua de costas, caminho
devagar na sua direção e o chamo.
— Cadu…
Espero alguns segundos, mas não obtenho nenhuma
resposta. Ele continua imóvel, as costas e os ombros rígidos e
tensionados. Os punhos fechados com força.
— Eu não posso fazer isso, Beatriz. Vá embora!
Sinto uma tensão fora do comum tomar conta do meu corpo
no instante em que ouço as suas palavras. Meus olhos lacrimejam.
Ele está me rejeitando? Depois… depois de tudo?
— O que está dizendo? A gente estava…
— Isso foi um erro, menina. — Percebo que ele arruma a
calça e vira-se na minha direção. — Isso não deveria ter acontecido,
merda! — esbraveja, fazendo com que eu arregale os olhos,
assustada.
Eduardo me encara, irritado, os olhos azuis faíscam. Ele
morde o lábio inferior com tanta força que mal consigo acreditar
quando vejo o sangue minar do ferimento assim que ele diminui a
pressão dos dentes na carne macia.
— Céus… Seu lábio… — Faço um movimento lento,
ponderando se me aproximo dele, mas sou interrompida.
— Vá embora. Saia daqui! — Suas palavras rudes fazem
com que eu pare. Fico estática, sem nenhuma reação.
— Por que está falando isso? Há poucos minutos
estávamos… quase transando — digo a última frase quase em um
sussurro. Minha voz falha devido ao bolo agoniante que se forma
em minha garganta.
— Olha, menina. Não sou nenhum príncipe encantado, não
posso dar o que você quer. Então, antes que se machuque mais,
aconselho que vá embora. Fique longe de mim.
Respiro com dificuldade, tentando controlar o tremor que se
apodera do meu corpo, e dou mais um passo em sua direção. Ainda
não consigo decifrar suas palavras como deveria. Estou chocada e
envergonhada demais para raciocinar coerentemente.
— Está falando isso por causa do papai? Ele não…
— Também, Beatriz. Seu pai é o meu melhor amigo, e o que
quase fizemos foi um erro que não vai mais se repetir.
Um soluço escapa da minha garganta quando ouço suas
palavras frias, vazias. Como se o homem que me tomava nos
braços há alguns instantes tivesse se desfeito no ar, dando lugar a
um desconhecido completamente transtornado.
Balanço a cabeça de um lado a outro e sorrio
sarcasticamente. Um erro. É isso que significo para ele?
— Não parecia errado quando você estava enfiando a língua
na minha boca seu… seu ogro — gaguejo e seco uma lágrima
vergonhosa que escorre pela minha bochecha. Sinto-me humilhada.
Eduardo arruma o terno no corpo e sorri de lado com cinismo.
— Sua sorte foi que usei apenas a minha língua. Você não
gostaria de ser apenas mais uma na minha cama, gostaria? — Levo
minha mão aos meus lábios, tentando conter o choro que vem em
forma de soluços constantes. Por que ele está fazendo isso? Por
quê? — Desculpe destruir os seus sonhos, princesa. — Ele caminha
até mim e segura o meu queixo trêmulo, fazendo com que eu o
encare. — É melhor assim.
Por um instante, percebo que seu semblante se torna
pesaroso, mas essa expressão dura por pouquíssimos segundos,
pois logo o sorriso debochado toma o seu lugar.
Afasto-me dele, enojada, ferida, enquanto o arrependimento
me toma. Como pude ser tão ingênua, meu Deus? Para o Cadu, as
mulheres servem apenas para um prazer momentâneo. Como pude
achar que esse homem tão árido se apaixonaria por mim, ou por
alguém? Como pude amar este homem por tantos anos? Eu me
guardei para ele com a tola ilusão de que Cadu seria capaz de
corresponder. Mas ele não pode, porque tem uma pedra de gelo no
lugar do coração.
Engulo a saliva com dificuldade e fecho os meus olhos, em
busca de forças. Eu preciso sair daqui. Só preciso ficar longe dele.
— Beatriz… — Eduardo volta a se aproximar e estende a
mão para segurar o meu braço. Parece preocupado. Contudo, em
um rápido movimento, me desvio dele.
— Não toque em mim, por favor. Não cansa de me humilhar?
Eduardo respira profundamente e volta a falar:
— Beatriz, não haja como criança. Vamos passar uma
borracha em tudo e fingir que nada aconteceu. Será melhor para
nós dois.
Ainda com o corpo trêmulo, desvio meu olhar do seu rosto e
termino de secar o restante das minhas lágrimas, decidida a ir
embora e seguir os seus conselhos: fingir que nada aconteceu e
que nunca o conheci.
— Tem razão, Eduardo. Vamos fingir que nada aconteceu.
Irei fingir que nunca conheci você e, a partir de hoje, minhas
prioridades serão outras. A primeira coisa que irei fazer será perder
a merda dessa virgindade com o primeiro babaca que aparecer na
minha frente.
Ao terminar de falar, não espero nenhuma reação vinda dele.
Viro-lhe as costas e sigo na direção da porta, pronta para ir embora
e esquecer que algum dia amei este imbecil.
***
Ao chegar ao salão em que está acontecendo o evento, vejo
Gracy conversando alegremente com algumas pessoas, entre elas
Victor e a tal prima do Cadu. Observo-os, enquanto imagino sobre o
que tanto conversam e sorriem. Passo a mão por meus cabelos,
tentando reverter um pouco do estrago. Arrumo o vestido e caminho
na direção de ambos.
Ao me ver, Gracy ergue a sobrancelha e torce a boca para
evitar sorrir. Mantenho minha expressão fechada, finjo sorrir para
algumas pessoas que me cumprimentam e, assim que me aproximo
dela o suficiente, Gracy me puxa pelo braço para um lugar mais
reservado.
— Amiga, você está com cara de quem fodeu — comenta
ela, sorridente. — Seus cabelos estão bagunçados e suas
bochechas vermelhas como pimentão.
Cruzo os braços na frente do meu corpo e balanço a cabeça
em negativa.
— Ele é um babaca, Gracy — digo sem rodeios — O Cadu já
sabia de tudo, sabia quem eu era e simplesmente me dispensou.
Por favor, vamos para casa, eu não quero vê-lo mais.
Gracy arregala os olhos, confusa, e segura minha mão.
— Como assim, amiga? Me explique tudo com calma.
Assinto e conto a ela tudo o que aconteceu entre nós dois no
quarto do hotel, inclusive os detalhes sórdidos e a súbita mudança
de comportamento dele. Gracy ouve tudo atentamente, mas nada
diz, apenas dá alguns sinais com a cabeça para que eu prossiga.
— E foi isso. O homem que amo desde os meus quinze anos
é um ogro insensível e babaca.
— E o que você vai fazer a respeito?
Inspiro fundo e aperto os meus braços ainda mais em volta
do meu corpo.
— Eu não sei… — Olho à minha volta e vejo Cadu se
aproximando de um grupo de pessoas. O terno e os cabelos estão
novamente impecáveis, como se há poucos minutos ele não
estivesse me atacando como um louco. Ao desviar meu olhar,
percebo que Victor me encara entre um gole e outro da bebida que
está em suas mãos. Seus olhos brilham quando o encaro de volta e
esboço um sorriso.
Em instantes, ele caminha na minha direção, deixando o
grupo de pessoas que conversam animadamente. Ao ver que Victor
se aproxima, Gracy fala alguma coisa que não consigo entender e
volta a se juntar aos outros.
— Oi… me acompanha em um drink? — pergunta.
Desvio minha atenção do seu rosto, disfarçadamente, e
vasculho o salão em busca do Cadu. Vejo-o sorrir enquanto
conversa com algumas pessoas. Parece não notar a minha
presença. É como se aqui, no meio das pessoas, eu não existisse
para ele.
Abaixo a cabeça, triste, e volto a fitar o Victor. Seu semblante
expressivo me encoraja a aceitar seu convite e, apesar de não ser o
Cadu, ele também é um homem bonito, muito bonito.
Não sei se em algum momento estarei preparada para novas
aventuras ou novos amores, mas este me parece ser um bom
momento para seguir em frente e tentar, ou ao menos fazer novas
amizades.
— Claro — aceito, e ele curva os lábios, esboçando um
sorriso tão perfeito que me encanta.
CAPÍTULO 20

CARLOS EDUARDO

— Tem razão, Eduardo. Vamos fingir que nada aconteceu.


Irei fingir que nunca conheci você e, a partir de hoje, minhas
prioridades serão outras. A primeira coisa que irei fazer será perder
a merda dessa virgindade com o primeiro babaca que aparecer na
minha frente.
Merda! Só em imaginá-la com outro homem, sinto meus
nervos aflorarem ainda mais. Tenho vontade de socar qualquer
idiota que ousar olhá-la com segundas intenções.
O problema é que eu não deveria me importar, até porque eu
a tive nos meus braços e não fui até o fim exatamente porque não
posso. Mas a verdade é que, mesmo não querendo, eu me importo.
A raiva que me toma ao imaginá-la com outro homem é tão grande
que, quando ela sai e fecha a porta, caminho até o banheiro e
acerto o meu punho fechado no espelho acima do armário.
Ofegante, abaixo a minha cabeça e inspiro profundamente.
Os cacos de vidro que brilham em cima do mármore contrastam
com as gotas vermelhas do sangue que escorre por meus dedos.
Sinto a ardência em minha mão, mas nada se compara com a
frustração que sinto por desejar tanto uma mulher e não poder
possui-la.
— Merda! Merda! Merda! Maldita sedutora… — esbravejo,
irritado, encarando o estrago que acabei de fazer. Ela é tão linda e
doce que não consigo nem ao menos disfarçar o desejo que passei
a sentir com tanto descontrole.
Quando foi a última vez que me vi tão louco para foder uma
mulher assim? Acho que isso nunca aconteceu.
Meu lábio inferior lateja, fazendo-me relembrar o quão longe
fui. Meu tesão por ela era tanto que mordi o meu lábio com toda a
força, tentando me concentrar na dor e esquecer que ela estava ali
na minha frente, entregue e excitada. Passo a língua pelo local
ferido e sinto o gosto de ferrugem. Mas o sabor da bocetinha dela
ainda está entranhado em mim, deixando-me louco. Porra!
Abro a torneira e coloco a mão ferida debaixo da água fria.
Permaneço assim até os pequenos cortes pararem de sangrar e os
meus nervos se acalmarem um pouco. Seco minhas mãos, arrumo
o terno e o cabelo em um outro espelho do banheiro e caminho para
fora da suíte. Apesar de tudo, preciso manter a pose de CEO
respeitado e seguir para o evento. Afinal, é para isso que estou aqui
hoje.
Ao retornar para o salão, logo engato uma conversa forçada
com um grupo de pessoas, enquanto finjo não perceber que ela me
encara do outro lado do local.
Pego um drink da bandeja de um dos garçons que circulam
pelo salão, cumprimento algumas pessoas e me mantenho focado
na missão de ignorá-la, até porque o que Beatriz faz ou deixa de
fazer não é problema meu. Não permitirei que uma garota me tire de
órbita e me faça cometer alguma loucura. Sou um homem
experiente que mantém o controle sobre tudo e todos.
— Boa noite, cara. — Ouço a voz de Felipe às minhas costas
e viro-me na sua direção. — Você simplesmente desapareceu. Não
me diga que já estava flertando por aí! — Felipe sorri e toma um
gole da sua bebida, enquanto eu apenas franzo a testa.
— Não exatamente — respondo, impassível. — Tive alguns
contratempos — justifico e tomo mais um gole do drink.
Felipe assente e começa a falar sobre o evento. Agradeço
por ele não fazer mais perguntas porque, apesar de tudo, seria
muita cara de pau da minha parte fingir que não me sinto mal por ter
quase tirado a virgindade da filha dele.
Outras pessoas se juntam a nós em uma conversa ampla e
eu me perco no tempo, até que a principal atração da noite é
anunciada.
De relance, olho na direção dela e sinto meu sangue ferver
quando a vejo conversando com Victor. Os dois estão com os rostos
tão próximos um do outro que posso garantir que em alguns
instantes ele tentará beijá-la.
Beatriz balança os quadris no ritmo da batida eletrônica e
sorri. Nem parece a mesma garota que saiu irritada e triste da suíte
do hotel. Muito pelo contrário, está se divertindo como nunca. Seria
ela tão volúvel assim? Por outro lado, conheço a natureza feminina.
Ela está frustrada e muito puta da vida comigo, por isso tentará se
vingar. Com certeza vai dar mole para esse idiota.
Merda!
Tenciono os meus músculos e corro os meus olhos pelo
restante do salão. Vejo a amiga dela conversando com outras
pessoas, incluindo a minha prima Priscila, que chegou recentemente
da França. As duas conversam de forma tão espontânea que
parecem se conhecer há séculos.
Volto minha atenção para Beatriz e sou obrigado a descontar
minhas frustrações no copo que seguro, apertando-o.
Ela vira as costas para o Victor. Permite que o imbecil a
segure pela cintura e cochiche alguma coisa no seu ouvido. Ao olhar
na minha direção, Beatriz percebe que mantenho minha atenção
focada nela. Sorri e dá um rebolado discreto, voltando a conversar
com ele.
Cerro o meu maxilar irritado e encaro Felipe, possesso de
ódio. Ele agora conversa animado com um dos nossos clientes mais
poderosos, não parece se importar que sua filha esteja quase
agarrada a um marmanjo do outro lado do salão. Será que ele ainda
não percebeu essa pouca vergonha da princesinha dele? Porra!
Para deixar a situação ainda mais estranha, vejo Beatriz segurar na
mão de Victor por alguns segundos e, então, ele ruma em direção à
saída. Em seguida, ela caminha, sorridente, na nossa direção.
— Papai… — Beatriz passa por mim e toca o braço de
Felipe, chamando-o. Apesar do som alto, consigo ouvir nitidamente
a conversa de ambos, devido à nossa proximidade.
— Oi, querida. Está tudo bem? — pergunta ele, preocupado
ao fitá-la.
— Na verdade, sim. Estou um pouco cansada. Pedi para o
Victor levar a mim e a Gracy para casa, o senhor se importa?
Que merda! Fecho os meus punhos, segurando-me para
prensá-la na parede mais próxima e perguntar que porra ela tem na
cabeça. Não percebe que o cara está louco para levá-la para a
cama?
No entanto, balanço a cabeça e sorrio ao me dar conta de
que estou me preocupando em vão. O pai dela não permitirá que o
Victor, um estagiário novato da Ferraz, a leve para casa.
— O Victor? O novo estagiário da Ferraz?
— Sim, papai. Ele era nosso vizinho, o senhor se lembra?
— Ah, claro, lembro, sim. Ele era um bom garoto… — Felipe
faz uma pausa, analisando a situação, e continua: — Tem certeza
de que quer ir com ele, querida? Eu não irei demorar.
— Não se preocupe, papai.
Aperto o copo mais uma vez, sem acreditar no que ouço.
Felipe vai mesmo permitir que ela vá com aquele idiota? Enfurecido,
nem ao menos percebo quando abro a boca para falar o que não
deveria.
— Posso levar você, Beatriz. Creio que seja mais
conveniente para o seu pai.
Ela me fita de repente com os olhos arregalados e as maçãs
da face coradas. Com certeza não imaginou que eu me ofereceria
para levá-la. Contudo, diante das circunstâncias, eu seria capaz de
tudo para vê-la bem longe do sedutorzinho.
— Não será necessário, senhor Carlos Eduardo. Mas,
obrigada! — Sorri descaradamente e passa por mim, seguindo na
direção da saída para ir ao encontro do outro homem, deixando-me
ali ainda mais enraivecido pela sua audácia em me chamar de
senhor, quando há poucas horas estava gritando, alucinada,
enquanto eu a chupava.
Vejo Felipe voltar a conversar com o cliente como se a filha
ser levada para casa por um homem qualquer fosse algo normal.
Mesmo que aquele babaca tivesse sido um vizinho e amigo da
família no passado, ele não passa de um aproveitador barato, louco
para enfiar o pau no primeiro buraco que aparecer. O problema é
que, só de imaginar uma merda dessas, sinto o sangue congelar em
minhas veias de uma forma terrivelmente assustadora.
Sem pensar coerentemente, sigo no encalço dela, e antes
que Beatriz alcance a porta de saída, seguro em seu braço.
— Aonde pensa que vai com aquele cara, Beatriz? —
questiono, e ela vira na minha direção, assustada.
— Para… para casa… — murmura.
— Você acha que sou idiota? Acha mesmo que irei acreditar
nessa história de cansaço?
Ela puxa o braço, libertando-se da minha mão, e responde:
— E o que você tem a ver com isso, senhor Eduardo? Que
eu saiba, não te devo nenhuma satisfação!
Cerro o maxilar, nervoso diante do seu atrevimento, mas
decido partir para outra estratégia. Sei muito bem que ela está
fazendo tudo isso apenas para me provocar.
— Tentando me deixar com ciúmes, Beatriz? Isso não vai
funcionar, menina. — Sorrio de lado, debochado, ao ver que ela
perde a fala, ficando ainda mais nervosa.
— Não tenho nenhuma pretensão em te deixar com ciúmes,
Eduardo. Agora, se me der licença, minha noite está apenas
começando, e eu não quero me estressar discutindo com o senhor
novamente — rebate ela com atrevimento, fazendo o sorriso
vitorioso se desmanchar no meu rosto.
— Você não teria coragem de ir para a cama com ele…
— Não? Paga para ver, então! — responde e dá meia-volta.
Ainda me movimento para ir atrás dela e impedi-la de sair
daqui com aquele projeto malfeito de homem, contudo, no instante
seguinte, sou cercado pela imprensa e inúmeros repórteres cheios
de perguntas infinitas me rodeiam.
Tento me desviar e seguir atrás dela, porém, ao procurá-la
entre as pessoas, percebo que simplesmente a perdi de vista no
meio da multidão. Sinto o ar faltando em meus pulmões, tamanha é
a minha fúria.
CAPÍTULO 21

BEATRIZ

Percebo que ele se embaraça com os repórteres que o


cercam e me perde de vista. Com o coração batendo forte no peito,
corro o mais depressa possível na direção da saída, tomando todo o
cuidado para me camuflar em meio às pessoas que circulam pelo
local.
As palavras ditas por ele feriram como brasa. Ainda sinto a
ferida recém-aberta, minando sangue dentro do meu peito, junto
com o peso da rejeição. O sorriso debochado foi a gota d'água para
mim.
Ao sair do hotel, sinto uma lufada do vento frio balançar os
meus cabelos. Avisto Victor dentro do carro, acenando para mim, e
aperto o meu passo. Assim que me aproximo, indico para que ele
espere um segundo e pego meu celular para falar com Gracy.
— Bia? Cadê você, mulher? — pergunta Gracy, atendendo a
ligação.
— Amiga, estou na frente do hotel. Preciso que venha até
aqui, por favor.
— Aconteceu alguma coisa? Você está bem?
Afasto-me do carro dele e me encosto na parede do hotel
para poder falar com mais privacidade.
— Eu disse ao meu pai que Victor iria levar nós duas para
casa. Falei isso alegando estar cansada, apenas para fazer ciúmes
no Cadu. Se papai te vir aí dentro sem mim, com certeza vai me dar
a bela de uma bronca. Sei que tentar fazer ciúmes no Cadu foi uma
tremenda inconsequência. Mas eu agi por impulso. Agora preciso
que você me ajude.
Gracy bufa do outro lado da linha e já posso imaginar o
quanto está ranzinza por eu ter interrompido sua diversão essa
noite.
— Porra, Bia. Você se mete em confusão com esses homens
e sobra até para mim?
— Desculpa, amiga. Quebra esse galho para mim, por favor
— falo, prometendo a mim mesma agir com mais racionalidade no
futuro.
Ela suspira pesadamente.
— Espere um instante. Estou indo.
Retorno para o carro de Victor e entro no banco do carona,
um pouco sem jeito.
— Gracy já está vindo — informo. Ele assente e sorri.—
Desculpe te tirar da festa para nos levar para casa. Eu realmente
estou cansada — explico.
— Não precisa se desculpar, Bia. Para mim é um prazer. —
Pisca.
Engulo em seco, vendo seu olhar com segundas intenções
fitarem cada milímetro do meu rosto. Quando o pedi para me levar
em casa, alegando estar exausta, não parei para pensar nas
consequências disso. Naquele momento, eu só queria provar para o
Cadu que ele não era o único homem na face da Terra capaz de
despertar o meu interesse. No entanto, agora que cheguei até aqui,
dou-me conta de que acabei abrindo uma brecha para o Victor
pensar que estou interessada nele. Apesar das provocações que
deixei escapar da minha boca na discussão com o Eduardo, não
tenho a mínima pretensão de ir para a cama com o homem que
praticamente me devora com o olhar agora.
Senhor!
Abro um sorrisinho amarelo e desvio o olhar, morta de
vergonha.
Em que situação fui me meter?
Após alguns instantes, Gracy aparece e se aproxima do
carro. Respiro mais aliviada ao ver minha amiga vindo ao meu
encontro, pronta para me ajudar a sair dessa enrascada. Contudo,
não é bem isso que acontece.
A louca se debruça na minha janela e simplesmente nos
informa que vai pegar um táxi para ir embora. Alega para o Victor
que mora em outra direção e não deseja incomodar. Cochichando
no meu ouvido, diz que de forma alguma vai segurar vela para mim.
Ele compreende a intenção da Gracy e assente para ela com um
sorriso matreiro. Não tenho meios de contestá-la sem que o Victor
perceba. Agora estou mesmo lascada.
Tenho ímpetos de assassiná-la aqui mesmo, só não o faço
porque sei que sofrerei depois. Mas a vontade é grande.
Gracy sorri e se afasta, dando um tchauzinho descarado que
me faz ranger os dentes de raiva. Não vejo a hora de poder torcer o
pescoço dessa amiga da onça que ignora na cara dura o meu apelo
silencioso.
Após dar a partida no carro, Victor liga o som em uma música
contagiante do Zayn, o que me faz relaxar um pouco, mesmo com o
seu olhar travesso em minha direção.
Enquanto ele guia o veículo pelas ruas movimentadas da
capital carioca, não consigo pensar em mais nada que não seja no
Cadu e no quanto agi como uma criança boba por tanto tempo.
Confesso que ao relembrar do momento em que declarei o meu
amor para ele, sinto vontade de me jogar da ponte para nunca mais
ter de olhar naquela cara de cachorro cretino. Percebo agora que
ele não me leva a sério. Deve achar que é uma paixonite infantil.
Nisso, não posso culpá-lo. Até o momento, não tive qualquer atitude
adulta. Mas isso vai mudar.
Estou perdida em meus pensamentos, quando ouço o toque
de mensagens do meu celular. Pego o aparelho para verificar de
quem se trata e vejo que é de Gracy.

Amiga, já estou a caminho da minha residência. Divirta-se ;)

Reviro os olhos e aperto o celular com toda a minha força.


Gracy tem sorte de não ser ela que está na minha frente.

Quero te matar, Gracy

Vai querer me matar ainda mais quando souber o que eu disse


para o Cadu quando ele chegou na frente do hotel enquanto eu
aguardava a minha condução :)

Quando leio a menção do nome dele, sinto meu sangue


coagular em minhas veias. Meu corpo inteiro fica gelado.

O que você disse?

Que vocês tinham ido para um motel, lógico.


O homem ficou transtornado.

Meu Deus…

Chocada, inspiro fundo e escoro a minha cabeça no encosto


da poltrona. Se ele tinha alguma dúvida de que eu realmente iria
para a cama com o Victor, agora deve estar se mordendo de raiva.
E deve me achar ainda mais leviana e infantil. Merda!
Não precisa agradecer. Afinal a fila anda, não é mesmo? Depois
me conte tudo. Beijos

Mordisco o meu lábio e volto a guardar o celular na pequena


bolsa de mão. Permaneço em silêncio, concentrada na melodia da
música e em cada beijo que troquei com ele mais cedo. Queria odiá-
lo, porém não tenho forças o suficiente para isso. Mas saber que feri
o seu ego, mesmo que minimamente, me dá uma sensação de
revanche. Sim, eu sei: vingança não é um sentimento nobre nem
maduro. Mas também tive meu ego ferido e não vou negar que sinto
um gostinho bom pela desforra.
Fecho os meus olhos e cantarolo um trechinho da música
Dusk Till Dawn, tentando esquecer um pouco do desastre que foi
essa noite.
— Tem certeza de que quer ir para casa, Bia? Podemos fazer
alguma outra coisa, se você desejar. — Ouço a voz de Victor e viro-
me na sua direção. — Ainda é cedo, podemos tomar alguma coisa
em um barzinho aqui perto — sugere.
Balanço a cabeça e nego.
— Acho que não é uma boa ideia. Já bebi mais do que devia
e estou realmente cansada. Quem sabe outro dia — digo, para
desfazer o mal-entendido e eliminar qualquer ideia equivocada.
— Tudo bem. — Assente, sorridente. — Irei considerar que
você esteja realmente cansada para não me sentir tão mal com a
sua recusa.
Mesmo estando triste, sorrio e ajeito a barra do meu vestido.
— Você não mudou praticamente nada, Victor. Continua o
mesmo garoto divertido que morava ao lado da minha casa.
— Divertido e bonito, diga-se de passagem — diz, curvando
os lábios.
Gargalho com o comentário bobo dele e volto a respondê-lo,
lembrando o quanto ele fazia sucesso com as garotas. Engatamos
uma conversa agradável, relembrando alguns momentos
engraçados que vivemos. O tempo parece voar e, em poucos
minutos, ele estaciona o carro no meu condomínio.
— Chegamos… — Victor destrava o cinto de segurança e eu
faço o mesmo.
— Obrigada. E mais uma vez, desculpa por…
— Shhh… — Ele coloca o dedo nos meus lábios, impedindo
que eu continue falando, e me encara. Seu olhar escuro como a
noite me arrepia, hipnotiza-me por breves segundos. No entanto, a
sua aproximação, fitando a minha boca, faz com que eu desperte do
meu transe e desvie o meu rosto para o lado, rejeitando o seu beijo.
— Victor… Eu… não posso — murmuro, ofegante, e abro a
porta do carro.
Ele assente em silêncio, seriamente, como se
compreendesse por que o estou recusando. Fita o meu rosto uma
última vez e desvia o olhar, focando a atenção à sua frente. Saio do
carro rapidamente e aguardo até que ele dê a partida no veículo e
vá embora.
Com o coração martelando forte, confusa, entro em casa e
sigo direto para o meu quarto.
Tomo um banho morno para tentar relaxar e aliviar um pouco
da tensão do dia, no entanto, nem mesmo o banho relaxante
consegue fazer com que minha mente desacelere. Coloco os fones
de ouvido, escolho a playlist de Zayn e me agarro a um dos
travesseiros.
Cansada de tentar ser forte e fingir que não me importo,
permito que uma lágrima escorra pelo meu rosto e molhe o
travesseiro. Por mais que eu tente sorrir e mentir para mim mesma,
dizendo que ele não vale a pena, sei que não é verdade. Meu
coração traidor insiste em bater descompassado quando o maldito
do meu cérebro repassa milhões de vezes a imagem do seu rosto
na minha cabeça.
Retiro os meus fones, disposta a tudo para tirá-lo da mente e
conseguir dormir um pouco, mas nada no mundo havia me
preparado para ver o nome dele na tela do meu celular em uma
ligação.
Um frio na barriga me faz ranger os dentes, nervosa e
ansiosa. Reflito se o atendo, porém, diante dos acontecimentos do
dia, concluo que o melhor para mim agora é me afastar um pouco,
antes que eu enlouqueça. Preciso me desintoxicar desse homem
para dar outro rumo à minha vida.
Respiro fundo e, enquanto outra lágrima escorre pelos meus
olhos, clico em rejeitar chamada.
CAPÍTULO 23

CARLOS EDUARDO

— Diabos! — esbravejo, irritado, em frente ao hotel, enquanto


vejo a amiga de Beatriz sumir da minha vista dentro de um táxi.
Beatriz só pode estar brincando com a minha cara. Pela
primeira vez na vida, eu desisti de uma transa. Fiz isso para evitar
que ela se machucasse posteriormente. Não quero que ela se
magoe com um cara como eu, de coração árido. Posso ser um
homem sem coração, mas tenho consciência. Mas, aí, o que ela
faz? A menina simplesmente se manda para um motel com outro
homem. Um outro qualquer que não a valorizará como merece. Que
merda!
Porra! Porra!
Jogo a taça que ainda estava em minhas mãos no chão da
calçada, fazendo o objeto cristalino se estilhaçar em milhões de
partículas. Algumas pessoas que saíam da festa olham em minha
direção, surpresos, e ficam ainda mais assustados quando se dão
conta de quem eu sou. Respiro fundo e aceno, indicando que está
tudo bem, como se a taça quebrada fosse apenas um acidente.
Disfarço, mesmo que minha única vontade agora seja ir atrás
daquela pirralha sem juízo e deixá-la trancada em um quarto para
nenhum gavião inescrupuloso chegar perto.
Passo a mão pelo meu cabelo e pescoço, nervoso, e ando de
um lado para o outro. Contudo, não tenho outra saída, a não ser
voltar para o evento e cumprir com as obrigações às quais me
dispus. Afinal, não posso perder a merda do meu controle por causa
de uma menina inconsequente. Preciso ser racional e dimensionar
devidamente a situação. Ela é apenas uma menina brincando de
seduzir.
Gargalho com sarcasmo e me repreendo internamente por
perder meus minutos preciosos com uma garota. Passei anos da
minha vida sem dar a mínima para o que as mulheres que
frequentavam a minha cama faziam quando eu não estava por
perto. Não darei importância e nem perderei a minha cabeça e
controle com isso agora. Foda-se.
Quando caminho para retornar ao hotel, volto a ser
surpreendido pela imprensa, que faz inúmeras perguntas sobre o
projeto e evento beneficente, além de alguns questionamentos mais
invasivos sobre a minha vida pessoal. Respondo-os, tentando
manter a calma e discrição, mesmo que por dentro esteja me
mordendo de raiva. Procuro responder a todas as perguntas sem
deixar transparecer o meu estado de espírito ou expor a minha vida
particular. Respiro, aliviado, quando finalmente consigo abrir uma
brecha para escapar dos holofotes. Retorno para o interior do hotel,
pego outro drink e passo a conversar com um grupo de empresários
do ramo da construção civil.
Alguns minutos depois, minha prima, Priscila, que me
acompanhou até o evento, aproxima-se e começa a questionar
sobre o paradeiro de Beatriz e a amiga Gracy, sem deixar de
mencionar o machucado no meu lábio inferior. Achei estranho ela
me interpelar sobre a Bia. Elas foram apenas rapidamente
apresentadas. Dou de ombros, invento uma desculpa qualquer
sobre a ferida e digo que não tenho ideia para onde elas foram. No
entanto, Priscila me encara com a testa franzida e a sobrancelha
erguida, deixando claro que não está convencida com as minhas
justificativas.
— Engraçado, Cadu. Pensei ter visto você indo atrás da Bia
na direção do hall e, alguns minutos depois, a Gracy, amiga dela,
que estava conversando comigo, atendeu um telefonema, deu uma
desculpa qualquer e também saiu. — A mulher despeja tudo de uma
vez e cruza os braços em frente ao abdômen. — Tenho um
excelente instinto e sei que tem coelho nesse mato. Vai me dizer o
que está acontecendo? — Sorri e me fita com ar divertido.
— Definitivamente, nada, Priscila. Você deve ter se
confundido ou está vendo coisas — desconverso e ajeito o relógio
no meu pulso, dando a entender que não tenho interesse nenhum
nessa conversa.
— Tem certeza? — Seu olhar interrogativo e o sorriso
estampado no rosto deixam claro que ela não vai parar com o
inquérito até alcançar o fio da meada. Porém, não estou disposto e
nem irei revelar nada a respeito, principalmente por eu já ter
colocado um ponto final nessa história. — Então eu devo ter me
confundido quando pensei ter visto você segurar a mão dela e falar
algo que a deixou bastante assustada.
Foco minha atenção no seu rosto e franzo a testa. Pergunto-
me por que todo esse interesse dela em saber mais da Beatriz.
— Provavelmente foi isso que aconteceu. Você me confundiu
com alguém — afirmo cinicamente, para explicitar que não me
renderei às suas especulações. O que ela pretende com isso?
Somos amigos e parentes próximos, mas não darei essa abertura
para ela se intrometer na minha vida pessoal.
Ela solta um sorriso espirituoso e descruza os braços.
— Você consegue mentir para todo mundo, menos para mim,
Cadu. Nos conhecemos desde crianças, crescemos juntos,
praticamente. Ou se esqueceu disso também?
Ergo uma sobrancelha e, impaciente, questiono:
— Aonde quer chegar, Priscila? Seja clara! O que isso tem a
ver com a Beatriz?
Minha prima leva a mão à boca, escondendo um riso, e eu
respiro fundo. Já não me resta mais nenhuma gota de paciência.
— Eu vi você olhando disfarçadamente para ela, Cadu.
Parecia encantado, e eu nem tiro a sua razão, porque ela é linda.
Mas… — Com o maxilar cerrado, fecho os meus punhos e a
expressão. Advirto-a de forma silenciosa para que pare. O problema
é que nem mesmo a minha cara de carrasco é capaz de fazê-la
fechar a boca. — Ela parece ser tão jovem. Qual a idade…
— Priscila, não me provoque — falo, ríspido. — Não é porque
você é da família que permitirei que se intrometa na minha vida
pessoal.
Ela continua sorrindo, mas balança a cabeça
afirmativamente.
— Não se preocupe, não irei me intrometer, priminho. Até
porque, pelo que percebi, Beatriz e aquele rapaz lindo, o Victor,
estavam flertando, e ela parecia bem interessada. Você não se
importa, não é mesmo? — pergunta e me fita, olho no olho,
enquanto põe a mão na cintura.
Inferno! Só de imaginar os dois juntos, sinto meu corpo se
retesar e uma vontade louca de quebrar a cara daquele desgraçado
me toma. Cerro o maxilar e respondo:
— Não. Eu não me importo! Beatriz não é nada para mim,
além de ser a filha do meu amigo e advogado — minto
descaradamente.
Nem sob tortura irei admitir o efeito devastador que aquela
menina causa em meu corpo. Preciso repetir milhares de vezes para
o meu subconsciente que ele está ficando louco a cada ataque de
nervos que tenho ao imaginar outro homem tocando-a. Sei que ela
está tentando se vingar do que pensa ter sido uma rejeição minha.
Essa é mais uma razão para eu não me deixar abalar.
Mas não consigo controlar as minhas reações. Minha irritação
e agonia são tantas que minha testa começa a suar.
Percebo que, de repente, Priscila fica séria e me analisa com
atenção, como se só agora se desse conta de algo que passou
despercebido. Seu semblante divertido dá lugar a algo mais
parecido com incredulidade.
— Oh! Meu Deus… Você está se apaixonando por ela e
ainda nem percebeu.
Sua afirmação é como um soco no meu estômago. Minha
garganta fica seca e meu sangue gela no mesmo instante em razão
do efeito das suas palavras.
Respiro fundo e balanço a cabeça de um lado a outro,
sorrindo cinicamente.
— Não diga besteiras, Priscila — repreendo-a. — Você sabe
muito bem que essa palavra não existe no meu vocabulário. —
Tento refrear as elucubrações dela. Ela não sabe o que está
dizendo… Está fazendo intrigas. Conheço essa tática feminina.
Priscila está jogando verde para colher maduro. Mas estou anos luz
à sua frente. Não vou cair nessa.
Passo a mão em meu cabelo, viro-lhe as costas e
cumprimento algumas pessoas que passam por mim. Com um
sorriso forçado na cara, caminho até o banheiro mais próximo e
entro. Ao me olhar no espelho, analiso o pequeno corte na minha
boca, sentindo os meus nervos aflorarem descontroladamente.
Merda! A que ponto cheguei?
Abro a torneira e jogo um punhado de água no rosto, em uma
busca por calma e equilíbrio. Contudo, sinto uma pequena ardência
nos meus ombros quando inclino o corpo sobre a pia. Relembro das
unhas dela afundando na minha carne enquanto eu a tocava
intimamente. Beatriz e eu estávamos alucinados com a atração
absurda que sentíamos naquele momento. O tesão louco que ela
despertou em mim foi surreal e incontrolável, me atraiu como um
ímã num campo magnético. Mas a palavra-chave é essa: tesão.
Apenas tesão.
Contudo, admito que estou puto da vida com a desfaçatez
dela de ir embora com outro. Mesmo que eu não a queira, não
posso deixar que seja usada por um cafajestezinho de quinta
categoria. Irritado, procuro o celular e disco o número dela. Aposto
todas as minhas fichas que neste momento ela está em casa,
aguardando uma ligação minha, e todo aquele teatro sobre um
motel com Victor foi algo que as duas combinaram apenas para me
provocar. Apesar de bela e deliciosa, Beatriz ainda é muito menina,
ingênua, e está perdidamente apaixonada por mim. Ela não iria para
a cama com outro apenas por uma desforra.
Encarando o meu reflexo no espelho, espero a ligação ser
completada e mantenho um sorriso vitorioso em meus lábios
quando o celular dela chama. No entanto, a confiança que havia
estampada nos meus olhos desaparece assim que ouço o toque de
chamada rejeitada.
Olho a tela do celular com a testa franzida, incrédulo,
sentindo a raiva me tomar por completo. O ciúme me invade.
— Maldita! Mil vezes maldita! Aquela fedelha não teria esse
atrevimento!
CAPÍTULO 23

CARLOS EDUARDO

Seco o meu rosto, ainda sentindo os meus nervos à flor da


pele. Apesar de estar me mordendo de raiva, tenho consciência de
que talvez tenha sido melhor assim. Quanto mais distante ela ficar de
mim, menores as chances de uma tragédia acontecer e menos ela
irá se magoar. Afinal, não quero nem pensar no que o pai dela fará
se ao menos imaginar que a toquei daquela forma. Eu me comportei
como um animal selvagem no cio, fui guiado pelo tesão e quase fiz
uma loucura irreversível. Que espécie de amigo eu sou? Inferno!
Relembro as palavras de Priscila, dizendo com convicção que
estou me apaixonando por Beatriz, e mais uma vez sorrio,
sarcástico. Um sorriso amargo, repleto de lembranças dolorosas que
me fazem odiar quem fui no passado. Um homem fraco e
apaixonado, que se doou por completo a uma mulher e foi traído
descaradamente.
Não há lugar para essas besteiras de amor em minha vida.
Tudo que algum dia senti, destruí sem pena. Agora, vivo um dia após
o outro, dormindo em uma cama diferente todas as noites, beijando
bocas vazias sem me comprometer a nenhuma, despejando as
minhas frustrações em cada mulher que abre as pernas para mim.
Para falar a verdade, estou muito melhor assim, apenas eu, a minha
empresa e todo o prazer que sexo sem compromisso pode me
proporcionar.
Abro a porta do banheiro e movo-me para retornar ao salão,
enquanto afirmo para mim mesmo que devo deixar as coisas como
estão. Beatriz ainda é jovem, inexperiente. Logo irá esquecer as
besteiras que fizemos e seguirá em frente sem olhar para trás, sem
carregar sequelas. O problema é que só de imaginar algo do tipo,
sinto um aperto estranho no peito, um vazio de algo que nem ao
menos percebi que existia. Sinto uma secura fora do comum em
minha garganta e engulo a saliva para aliviar a sensação áspera.
Respiro fundo e apresso o passo, decidido a pôr uma pedra
nessa história que nem deveria ter começado.

Sentado atrás da minha mesa, entro de cabeça no trabalho e


mantenho o foco no início da construção do maior resort da América
Latina. Apesar da Ferraz Engenharia ser uma das maiores
construtoras do país, com atuação internacional, uma obra desse
patamar nos trará ainda mais reconhecimento.
Termino de avaliar os desenhos definitivos da estrutura, ligo
para a secretária e ordeno que convoque uma reunião com todos os
engenheiros que foram contratados para a obra. Estou prestes a sair
da minha sala, quando a porta se abre e Felipe, todo confiante,
entra.
— Tenho ótimas notícias — diz e caminha na minha direção a
passos firmes. — Os trâmites e documentação da obra do resort já
foram aprovados. Podemos dar início à construção imediatamente.
— Perfeito! — Assinto e estendo a mão para pegar a pasta
que ele me entrega. — Acabei de acionar uma reunião com os
engenheiros responsáveis e o nosso cliente. Discutiremos os últimos
detalhes e em poucos dias a obra será iniciada — comunico,
enquanto analiso a documentação.
Felipe balança a cabeça em afirmativa, guarda os papéis e se
vira para se retirar, no entanto, lembro-me de perguntar sobre o
estado de saúde do pai da sua esposa. Recordo de ele ter
mencionado alguma vez em nossas conversas, nos últimos dias.
— Felipe, e o seu sogro, como está?
Ele se vira na minha direção e sorri. Parece despreocupado,
apesar da grande responsabilidade que carrega nas costas.
— Está bem melhor. Logo minha esposa retornará para casa.
Assinto e volto a falar, esperançoso de que ele diga algo sobre
a filha também. Desde o evento, há alguns dias, não tive mais
notícias dela e, por uma motivo que não consigo compreender, sinto-
me tentado a saber se ela está bem.
— Fico feliz que tudo esteja se ajeitando, parceiro.
Felipe balança a cabeça e pisca, sorridente.
— Eu também, Eduardo. Minha esposa está fazendo uma
falta tremenda, se é que você me entende. — Gargalho e balanço a
cabeça. Compreendo perfeitamente o que ele quer dizer. Ficar sem
sexo por tanto tempo é uma merda! — E minha filha está eufórica
com o retorno da mãe — completa.
Não compreendo por que, mas quando ele faz menção a
Beatriz, sinto uma sensação diferente no interior do meu peito.
— Então ela está bem… — comento em um sussurro
abafado, mais para mim do que para ele.
— Sim, muito bem. E, o mais importante, cada dia mais
focada nos estudos — diz e caminha em direção da porta, orgulhoso.
Pego minha maleta e o acompanho, um pouco mais relaxado. Saber
que ela está bem, de uma certa forma, me deixa em paz.

BEATRIZ
Dias depois
O toque do despertador soa alto, acordando-me para mais um
dia de aula na faculdade. Saio da cama e me apronto depressa para
encarar mais um dia, enquanto não chega o horário de mamãe
retornar para casa.
Termino de me arrumar e desço as escadas quase correndo.
Encontro papai terminando de tomar o seu café da manhã,
aproximo-me e lhe dou um beijo no rosto.
— Bom dia, papai.
— Bom dia, querida, dormiu bem? — pergunta e coloca a
xícara suja sobre a pia.
— Muito bem, obrigada. — Sento-me próximo ao balcão e me
sirvo de uma xícara de café, pensativa. Apesar de estar seguindo em
frente, às vezes, quando me recordo daquela noite, ainda sinto um
enorme vazio no meu peito. Sinto-me incompleta e envergonhada.
— Está bem mesmo, Beatriz? Parece triste.
— Estou bem, sim — minto. — É que dormi tarde, estudando.
Estou um pouco cansada.
Papai assente, dá-me um beijo na testa e se despede.
Quando ele sai, relaxo o corpo e solto um suspiro doloroso.
Embora tenha dormido tarde da noite, repassando algumas matérias,
não consegui dormir direito com a lembrança dele em minha mente.
Olho meu celular e vejo mensagens de Gracy e Pedro,
informando que passarão aqui em casa em alguns minutos, para
irmos para a faculdade. Envio uma resposta, confirmando que estou
à espera, e termino o meu café. Quando eles chegam, já estou
pronta, aguardando na sala.
— Bom dia — cumprimenta Gracy com seu sorriso
costumeiro. Assim que abro a porta, Pedro se aproxima, dando um
beijo amigável na minha testa.
— Bom dia, gente — respondo. — Vamos?
Pedro e Gracy assentem, e seguimos os três para o carro do
meu amigo. Quando sinto o frescor do vento matinal bater em meu
rosto, sorrio e entro no banco de trás do veículo. Embora eu esteja
lutando, dia após dia, para esquecê-lo, sou grata pelos amigos que
tenho e que estão sempre ao meu lado, dando o apoio que preciso
para não me desabar em lágrimas.
— Gente, que tal sairmos hoje à noite? Podemos pegar uma
baladinha, mais tarde — sugere Gracy, animada.
— Por mim, tudo bem. O que acha, Bia? — Pedro me fita pelo
retrovisor do carro e aguarda uma resposta.
Apesar de ele não ter mais mencionado algo sobre seus
sentimentos por mim, sinto um frio na barriga quando seus olhos me
fitam, esperançosos. É como se ele ainda tivesse esperanças de
uma aproximação. Percebo isso quando ele mordisca o lábio e
inspeciona o meu corpo por breves segundos.
Engulo em seco e desvio o olhar. Quero sair e me divertir mais
com meus amigos, no entanto, não quero que ele veja isso como
uma oportunidade de se aproximar de mim com segundas intenções.
Terei de conversar seriamente com Pedro em um outro momento,
deixar claro que quero apenas a sua amizade.
— Eu não sei, gente. Estamos em semana de provas e…
— Vamos, Bia, por favor! Você precisa relaxar um pouco. —
Gracy segura a minha mão e me olha com carinha de gato manhoso.
Rio do seu drama e assinto.
— Tudo bem, mas nada de encher a cara, estamos
entendidas?
— Yes, yes! — exclama ela, animada.
Pedro sorri e foca sua atenção no volante. Fito-o por um
tempo, analisando sua expressão contente. Os cabelos pretos, na
altura do pescoço, contrastam com a pele branca e balançam com a
brisa que adentra pela janela, deixando-o sexy. Pedro é um rapaz
bonito. Um pouco misterioso, mas bonito. No entanto, mesmo que eu
tente vê-lo com outros olhos, além do forte sentimento de amizade
que sinto, não consigo.
Ao chegarmos à faculdade, seguimos para a sala de aula e
nos mantemos concentrados entre uma matéria e outra. Contudo, a
parte mais interessante do dia é quando somos direcionados para o
auditório de palestras. Um grupo de biólogos e demais profissionais
da área de proteção ambiental palestram sobre a importância do
projeto de conservação e proteção da vida marinha, em especial as
tartarugas ameaçadas de extinção no litoral.
Meu coração dá um salto de felicidade quando eles passam
uma lista, pegando o nome e contato de alunos do curso de Biologia
Marinha que gostariam de se voluntariar no projeto de preservação,
principalmente com a aproximação da temporada de desova no
litoral.
Pedro e Gracy não se interessam muito pelo assunto, mas no
fim eu acabo convencendo-os a se inscreverem comigo.
No fim das aulas, decidimos passar no shopping para comprar
algo legal para usarmos à noite e depois passamos um tempo no
calçadão da praia de Copacabana. Almoçamos em um restaurante
ali perto e aproveitamos para conversarmos e rirmos um pouco,
como nos velhos tempos, e assim o dia passa em um piscar de
olhos.
Mais tarde, quando já estou em casa, tomo um banho rápido,
coloco um biquíni e decido correr um pouco pela praia de Ipanema.
O fim de tarde traz até mim a energia que preciso para continuar
seguindo em frente sem maiores arrependimentos. Eu preciso
esquecê-lo, preciso viver a minha vida sem me recordar a todo
momento que o amor que sinto pelo Eduardo vive como uma sombra
no meu encalço.
Abro os meus braços para sentir a brisa do mar refrescando o
meu corpo e corro o mais rápido que posso na direção da água. O
líquido suave toca a minha pele com tanta leveza que fecho os meus
olhos para apreciar a sensação. É reconfortante.
Mantenho-me tão concentrada no que faço que dou um pulo
para a frente, assustada, quando ouço a voz de alguém gritando o
meu nome, às minhas costas.
Viro-me, surpresa, ao ver a pessoa correr, sorridente, na
minha direção. O corpo forte e desnudo da barriga para cima brilha
por causa do suor, e o sorriso sensual em seus lábios faz minha
garganta ficar seca.
CAPÍTULO 24

BEATRIZ

— Oi, Bia!
— Victor? Oi… O que faz aqui? — pergunto, ainda surpresa
por vê-lo. — Nunca te vi por aqui.
Ele sorri e põe a mão na cintura, deixando os músculos do
seu peito e abdômen em evidência. Suspiro. Afinal, estou de
coração partido, não cega.
— Me recordo que, quando éramos crianças, gostávamos de
correr por aqui. Nossas mães nos traziam para brincarmos na praia
quase todo fim de tarde. Não se lembra? — Ele abre o sorriso ainda
mais, revelando a fileira de dentes brancos e perfeitamente
alinhados. — Quando te liguei e você não atendeu, pensei que
pudesse estar por aqui, não sei… — Ele faz uma pequena pausa,
como se refletindo sobre algo e continua: — Ainda bem que eu
estava certo e te encontrei.
Retiro uma mecha do meu cabelo que cai sobre os meus
olhos e coloco-a atrás da minha orelha antes de responder-lhe:
— Para falar a verdade, não. — Sorrio e nego com a cabeça.
— Não me recordo de virmos aqui.
— Você era apenas uma garotinha, Bia. Posso imaginar que
não se recorde.
Balanço a cabeça em afirmativa e sugiro nos sentarmos na
beira do mar para conversarmos um pouco.
— E o que queria falar comigo? — questiono, curiosa.
— Sinceramente? — Ele se senta na areia, ao meu lado, e eu
mantenho a minha atenção nas ondas à minha frente. — Eu só
queria te ver, Beatriz. — Sua declaração me deixa sem voz por
alguns instantes. Nervosa, encaro-o e fito a sinceridade no fundo do
seu olhar.
— Victor, olha… — Tento falar, mas ele interrompe minha
fala.
— Eu sei que pode ser cedo, mas peço que me ouça — diz,
olhando no fundo dos meus olhos. — Desde aquela noite no evento,
não consigo tirar você da minha cabeça. — Seus dedos quentes
tocam as minhas bochechas frias, fazendo com que eu prenda a
respiração. — Sinto algo diferente por você, algo que me deixa
apreensivo e ansioso por vê-la. Queria poder passar mais tempo em
sua companhia.
Engulo em seco, sentindo as minhas pernas tremerem,
surpresa. Eu já imaginava que ele estava interessado em mim, suas
atitudes deixavam isso bem claro, no entanto, não imaginei que ele
fosse me falar assim, tão diretamente e com tanta sinceridade.
Ele está se… apaixonando… por mim?
Desvio meu olhar e volto a fitar o mar, sentindo um misto de
confusões invadir o meu peito. O sol começa a se pôr no horizonte,
trazendo mais beleza à paisagem, mas nem mesmo isso é capaz de
aplacar um pouco da agonia que começo a sentir. Uma coisa é
certa: não há espaço para outro homem dentro do meu coração
agora, e Victor não merece ser enganado, não merece sofrer. Nada
mais justo do que eu ser sincera e deixar as coisas bem claras entre
nós.
— Victor, eu gostaria de poder dizer que sinto o mesmo por
você… — A secura na minha garganta impede que eu fale, e minha
voz falha. Engulo um pouco de saliva e continuo: — Mas o meu
coração pertence a outro homem. E eu… não conseguiria me
relacionar com um outro alguém no momento. Eu sinto muito…
— Bia, olhe para mim.
Faço o que ele pede e o encaro.
— Eu imaginei que fosse dizer isso. — Seu sorriso, contido e
um pouco triste, aperta o meu peito de uma maneira tão doída que
não consigo explicar. — Para ser sincero, não estou cobrando nada
de você. Só queria que soubesse o que sinto e que não tenho
pretensão nenhuma de desistir. Estou disposto a lutar pelo que
sinto, Bia. E se, no fim, você ainda não me quiser, eu entenderei.
Sinto um nó se formando em minha garganta quando ouço as
suas palavras. Minha voz fica embargada e nada mais consigo
dizer. Tudo o que eu queria era que fosse ele. Que fosse o Cadu me
dizendo isso. Eu só queria que ele me amasse.
— Victor, não sei o que dizer… — respondo com a voz falha.
— Não precisa dizer nada agora. — Ele segura a minha mão
e a aperta entre seus dedos. — Abra uma brecha para mim. Me
deixe ao menos ser seu amigo…
Pondero sobre o seu pedido, refletindo se permito ou não a
sua aproximação. No entanto, concluo que nada tenho a perder e,
para falar a verdade, seria uma dádiva se eu conseguisse esquecer
aquele homem e me apaixonasse por outro. Victor, com certeza,
seria o primeiro da lista. Sua espontaneidade e caráter são coisas
que me cativam cada dia mais, sem falar no sorriso contagiante.
Com os olhos marejados, balanço a cabeça em afirmativa.
Victor sorri abertamente e me abraça, depositando um beijo
demorado em minha cabeça.
— Eu não te prometo nada, Victor. Mas podemos, sim, ser
amigos. Acho que é um bom começo — sussurro.
— Já é o suficiente para mim.
Depois de alguns minutos em silêncio, levantamo-nos e
continuamos andando pela praia até o sol se pôr completamente.
Victor me acompanha até a minha casa e, no portão mesmo,
combinamos de sair para jantar qualquer dia.
Ele se despede e eu caminho na direção da porta principal.
Já está um pouco tarde e imagino que meu pai já tenha ido buscar
mamãe no aeroporto. Estou morta de saudades e ansiosa para vê-
la.
Subo as escadas correndo em direção ao quarto, pego o
telefone que eu havia deixado em cima da cama e confiro as
ligações perdidas do Victor. Meu coração bate, confuso, no meu
peito. Por um lado, minha mente diz que sim, ele merece uma
chance, mas o meu coração traidor diz que não. Que eu não posso
me envolver com ninguém agora porque ainda amo aquele cretino.
Meus olhos se enchem de água novamente, mas eu me
recuso a chorar. Recuso-me a permitir que ele me machuque outra
vez.
Encosto-me na parede do quarto, segurando o celular
fortemente em minhas mãos, e fecho os olhos, disposta a dar um
rumo definitivo à minha vida. Talvez agora eu me distraia com os
trabalhos voluntários no projeto de proteção das tartarugas
marinhas. Juntarei o útil ao agradável, por ser algo que sempre amei
fazer. Não é à toa que desde criança sou apaixonada pelo sol, pela
praia e pelo mar.
O toque de chamada do meu celular desperta-me do meu
transe e eu abro os olhos. Analiso o número desconhecido,
pensativa, mas atendo.
— Alô!
— Beatriz? Como vai, tudo bem? — A voz de uma mulher
soa do outro lado da linha, e eu franzo a testa, intrigada.
— Sim, quem fala? — questiono.
— É a Priscila, a prima do Cadu. Peguei seu número com sua
amiga Gracy. Desculpa te ligar assim, é que eu queria te fazer um
convite.
Arregalo os olhos ao ouvir a menção do nome do Cadu e
sinto as batidas frenéticas do meu coração. Tenho vontade de me
estapear por reagir com tanto entusiasmo a tudo que tenha a ver
com ele. Minhas pernas tremem. Céus, o que ela quer comigo?
— Oi… Priscila. Que convite? — pergunto, após me
recuperar do choque momentâneo.
— Para a minha despedida de solteira, daqui a alguns dias.
Teremos a tarde das garotas com direito a piscina, massagem
relaxante e strip-tease e, logo mais à noite, uma festinha privada.
CAPÍTULO 25

BEATRIZ

— Oi… Priscila. Que convite? — pergunto, um pouco


desconcertada pela surpresa da sua ligação.
Ouço seu sorriso brando do outro lado da linha e surpreendo-me
ainda mais quando ela me convida para a sua festa de despedida de
solteira que acontecerá em um espaço requintado no centro do Rio, em
alguns dias. Sei disso porque conheço parcialmente o local por ela citado.
— Nossa. Uau… — murmuro, sem saber muito o que responder.
Afinal, mal fomos apresentadas no evento beneficente da Ferraz
Engenharia.
— Então, Bia, você irá comparecer? Gracy já confirmou presença
e, como são amigas, achei que seria legal que você fosse. Além disso,
será uma oportunidade perfeita para nos conhecermos melhor e
conversarmos um pouco…
Automaticamente, me pergunto se o Eduardo estará presente
nessa festa. Calculo quais as possibilidades de eu me manter imune à sua
presença sem cometer nenhum vexame. No entanto, quando Priscila
informa que será uma festa apenas para mulheres e que o noivo também
fará uma despedida com alguns conhecidos em outro local, respiro,
aliviada, e confirmo a minha presença.
— Tudo bem, eu comparecerei — confirmo.
— Certo, querida. Não esqueça seus trajes de banho. Depois te
passarei o horário certinho, via mensagem.
Nós nos despedimos, e eu desligo o telefone, ainda sentindo meu
coração batendo descompassado por causa do convite inesperado.
Suspiro, sem ânimo, dou de ombros e decido organizar o quarto
rapidamente antes de ir para o banho.
Ouço o barulho do carro de papai estacionando na garagem,
coloco o secador de cabelos em cima da cômoda e caminho, saltitante,
em direção da porta do quarto. Com um sorriso imenso no rosto, vejo
mamãe sair do banco do carona assim que entro na garagem e corro para
abraçá-la. Os olhos amarelados brilham como o sol ao me fitarem, e seus
braços se abrem para me receber com um abraço de urso.
— Bem-vinda de volta, mamãe. — Passo os braços em volta do
seu pescoço e lhe dou um beijo no rosto.
— Querida, que saudade. — Sinto suas mãos afagando os meus
cabelos e sorrio.
— Como está o vovô?
Afasto o meu corpo e a encaro, sorridente.
— Agora o seu avô está muito bem de saúde, querida — responde
com um sorriso contagiante.
— Que maravilha. — Sorrio mais uma vez e a ajudo com a bolsa de
mão. Papai pega a mala no porta-malas do carro e entramos em casa.
Após minha mãe tomar um banho, ajudo-a a preparar o jantar,
enquanto papai põe a mesa, e aproveitamos para conversar sobre
assuntos diversos. Quando papai sai da cozinha e segue para a sala de
estar, minha mãe olha-me, pensativa, e então dou-me conta de que ela
provavelmente esteja procurando uma forma de conversar comigo sobre o
Eduardo.
Abaixo a cabeça e aguardo que ela fale. Não há como fugir ou
evitar, apesar de ser a única coisa que desejo fazer agora.
— Querida, durante esses dias que passei com seus avós, me
mantive muito preocupada com você. Imagino que você saiba o porquê.
Balanço a cabeça em afirmativa e viro-lhe as costas,
envergonhada.
— A senhora não precisa se preocupar. Foi apenas uma ilusão
boba — minto. De todo modo, é nesta mentira que me agarro, e batalho
todos os dias para que ela se transforme em realidade.
— Uma ilusão, Beatriz? Não foi isso que me pareceu naquela noite.
— Ouço-a mexendo com as panelas, e o silêncio reina na cozinha, mas
por apenas alguns minutos, pois logo é quebrado pelo seu longo suspiro.
— Eu não sei o que aconteceu na minha ausência, querida. Mas quero
que saiba que pode confiar em mim. Eu sou a sua mãe e tudo que mais
quero nessa vida é que seja feliz.
Sinto um aperto estranho no peito e levanto o meu olhar. Viro-me e
a encaro. Queria poder dizer a ela que continuo amando-o. Que continuo
apaixonada por ele. Mas sei que a tristeza que carrego no olhar deixaria
claro que este sentimento não é correspondido e que para ele fui apenas
um bichinho interessante para brincar um pouco.
Quando relembro de tudo, sinto meus olhos queimarem com as
lágrimas que teimam em cair, mas desvio o olhar e apenas respondo:
— Eu sei, mamãe. Eu sei. Mas não se preocupe. Estou bem e
aquilo que eu disse sobre estar apaixonada não passou de uma ilusão
boba. Eu nem me recordo mais.
Ela caminha até mim e deposita um beijo na minha testa. Seu olhar
cálido me acalenta e me faz sorrir, ajuda-me a tirar um pouco da angústia
que carrego no peito.
— Vá chamar o seu pai para jantar.

Após o jantar, subo para o meu quarto e me apronto para sair com
meus amigos. A noite está abafada, então opto em usar um vestido
branco de tecido leve, justo no corpo e batendo na metade das minhas
coxas. Capricho na maquiagem nos olhos, perfumo-me e desço.
Gracy e Pedro me aguardam, como sempre, na sala. Despeço-me
dos meus pais e os acompanho até o carro. Ao chegarmos à boate
escolhida, já entro dançando ao som de uma batida eletrônica.
Seguimos até o bar e pedimos uma dose de tequila para cada um.
Viro a bebida toda de uma vez, sentindo meus olhos lacrimejarem com o
sabor forte do álcool. Meu corpo treme todo com um calafrio, contudo, já
estou pronta para outra. Brindamos, sorrimos e nos divertimos como se
não houvesse amanhã. Após algum tempo, percebo Gracy trocando
olhares com um cara atraente, e logo os dois se aproximam, deixando
Pedro e eu sozinhos entre a multidão desconhecida.
Enquanto Pedro continua bebendo descontroladamente, decido dar
um basta na bebida e apenas faço companhia a ele, afinal, alguém
precisa continuar sóbrio esta noite, pois pelo andamento da carruagem,
voltaremos para casa de táxi.
Vez ou outra, percebo que ele me encara firmemente, como se
quisesse dizer algo, mas não tem coragem. Embora eu saiba dos seus
sentimentos em relação a mim, estou crente que uma conversa franca
entre nós dois deixará as coisas em seus devidos lugares.
Uma música contagiante começa a tocar, fazendo com que eu
feche os olhos e balance o corpo no ritmo da melodia e, apesar dos
pesares, me sinto leve e bem, como há muito tempo não me sentia.
No entanto, a proximidade de alguém às minhas costas enquanto
danço deixa-me em alerta e eu me afasto. Contudo, a pessoa me segura
fortemente contra o seu corpo, fazendo o meu sangue gelar pela
proximidade íntima e invasiva demais. Posso sentir cada centímetro do
corpo masculino colado ao meu.
— Me solta! — grito, mas meu apelo não surte nenhum efeito.
— Como você é gostosa, cheirosa… Uma delícia de mulher. —
Ouço o sussurro de Pedro em meu ouvido e meu coração parece parar.
— Pedro, ficou louco? Para com isso! — exijo, assustada, e o
empurro com mais força.
Ele prende mais forte a minha cintura e continua falando
imoralidades ao meu ouvido, enquanto a mão gananciosa alcança um dos
meus seios. Grito e esperneio, enlouquecida, tentando a todo custo me
soltar do seu toque inescrupuloso.
Ele afrouxa o aperto em meu corpo e faz com que eu vire na sua
direção, forçando-me a encará-lo.
Ao ver seus olhos vermelhos, frios, sinto um nó estranho se formar
na minha garganta. Sinto nojo e repulsa de tudo o que ele acabou de
fazer. Por me tocar daquela maneira. Odeio-me por ter aceitado o seu
convite para sairmos.
Pedro solta o meu braço como se nada tivesse acontecido e me
fita.
— Não ouse encostar o dedo em mim de novo, seu nojento! —
digo, ferida, a voz tão embargada que se mistura com os meus soluços.
Pedro encara-me friamente, a expressão neutra, sem demonstrar
nenhum sentimento de arrependimento. Isso é como um punhal no meu
peito. Ele aproxima-se novamente, e eu dou um passo para trás,
amedrontada. Não consigo reconhecer aquele garoto que sempre foi o
meu amigo. Quando viro o corpo para sair o mais rápido possível da sua
presença, sinto sua pegada brusca no meu pulso, seguido de um sussurro
no ouvido que me causa ânsia de vômito.
— Você sempre quis dar a boceta para aquele cara. Por que não
dá para mim? Por que me evita? Eu amo você, sua vadia, não percebe?
Fecho os meus olhos, tendo a certeza de que a amizade que
construímos por tantos anos acaba de ser destruída para sempre. Mesmo
que ele esteja sob o efeito do álcool. Sem lhe dar ouvidos, puxo o meu
braço e corro por entre as pessoas que dançam na pista, até chegar ao
toalete.
Ofegante e trêmula, ligo a torneira e passo as mãos molhadas pelo
meu pescoço suado. Abaixo a cabeça e permaneço assim por alguns
minutos, crente que nada poderá ficar pior. O problema é que nunca
estive tão enganada.
Ao levantar meu olhar, vejo a silhueta de Raquel refletida no
espelho, encostada na porta, encarando-me. Viro-me depressa e a fito de
volta.
— Olha só quem está por aqui! A ratinha! — provoca ela,
debochada, e caminha na minha direção.
Os quadris avantajados balançam debaixo do minivestido preto
muito vulgar.
Oh, céus, mais essa agora.
— O que você quer? — pergunto, trêmula. Sinto uma mistura
angustiante de ansiedade e medo.
A mulher se aproxima e para, tão perto que posso sentir seu
perfume enjoativo.
— Quero apenas deixar claro que eu e o Cadu estamos juntos de
novo e agora é para valer, querida. Portanto, não volte a se aproximar
dele, ou não responderei por mim. — Ela levanta a mão e praticamente
esfrega um anel brilhante na minha cara. — Estamos noivos.
Arregalo os olhos, surpresa, sentindo cada pequena partícula do
meu coração partindo-se em minúsculos pedaços. Minha garganta se
fecha e o mundo parece parar à minha volta, ao mesmo tempo que sinto
meus olhos arderem mais. No entanto, mantenho-me firme, sem
expressar nenhuma emoção. Não irei dar esse gostinho a ela, mesmo que
por dentro eu esteja começando a sangrar.
— Não se preocupe, Raquel. Não tenho a mínima pretensão de me
aproximar dele.
— Ótimo, querida! — Ela sorri e dá meia-volta, saindo do toalete.
Só então permito que meu corpo deslize pelos azulejos gelados e me
sento no chão. As lágrimas frescas queimam as minhas bochechas,
fazendo minha visão ficar turva, e eu soluço.
A cada minuto que passa, sinto como se o mundo estivesse
desabando em minhas costas. As lágrimas não cessam.
Uso a palma da minha mão para secar os meus olhos e busco meu
celular dentro da bolsa. Sem pensar muito, pego o aparelho e mando uma
mensagem para o Victor.

Oi. Está muito ocupado?

Em poucos segundos ele responde.

Para você, jamais, Bia.

Pode me buscar em um lugar?

Aconteceu alguma coisa?

Eu não sei se gostaria de falar sobre isso agora.

Tudo bem. Me passe o endereço.


Digito a mensagem, passando todas as coordenadas, e ele
responde, dizendo que chegará em alguns minutos. Enquanto o espero,
limpo os meus olhos borrados com o auxílio de um lenço e arrumo o meu
cabelo. Permaneço no interior do toalete até receber a mensagem dele,
informando que se encontra na entrada do estabelecimento.
Caminho depressa na direção da porta, temendo encontrar Raquel
ou Pedro em algum lugar da casa. Como Gracy está acompanhada,
decido não interromper. Enviarei uma mensagem, informando o meu
paradeiro, assim que chegar em casa.
A passos rápidos, caminho, cortando espaço entre a multidão, até
que, de súbito, olho na direção do camarote e o vejo. Lindo, sexy e
arrogante, usando uma camisa social branca, conversando
descontraidamente com algumas pessoas, enquanto segura um copo que
imagino ser uísque.
Como se sentisse a minha presença, ele olha na minha direção e
me fita, franzindo a testa. Nossos olhares se encontram como imãs
magnéticos impossíveis de serem desconectados. Os olhos oceânicos
permanecem cravados no meu rosto, como se procurasse entender o que
se passa na minha cabeça.
Suspiro e desvio o olhar quando vejo Raquel se aproximando dele.
Ela sorri mais uma vez, e eu viro-lhes as costas.
Um gosto amargo invade a minha boca e todo o meu corpo treme,
angustiado e humilhado. Caminho depressa, as lágrimas voltando com
força, deixando em evidência o quanto sou fraca.
O celular vibra em minha mão, fazendo com que eu me assuste,
quase deixando-o cair.
Abro a mensagem pensando ser Victor, mas me surpreendo ao ver
que se trata de uma mensagem dele, do Cadu. Meus nervos tremem ao
ler o conteúdo. Pergunto-me como ele pode ser tão frio, tão babaca.

Está tudo bem?


Com a mágoa tomando o meu peito, desligo a tela do aparelho,
ignorando-o, e continuo andando até avistar o Victor. Quando ele me vê,
sorri e acena. Corro na sua direção o mais rápido que consigo, como se
nas minhas costas tivesse um mar revolto e ele fosse o meu porto seguro.
Sem conseguir mais esconder o meu sofrimento, abraço-o em prantos e
sussurro:
— Por favor, leve-me para casa.
CAPÍTULO 26

CARLOS EDUARDO

Depois de um dia exaustivo na empresa, chego em casa por


volta das oito da noite, louco por um banho, comida quente e uma
bela noite de sono. No entanto, assim que passo pela porta, alguns
colegas da época que eu trabalhava em Curitiba me ligam,
convidando-me para sairmos, já que estão de passagem pelo Rio.
Aceito o convite e sigo direto para a cozinha. Retiro a comida
do congelador, levo ao micro-ondas e subo as escadas para tomar
um banho relaxante.
Apesar do meu cansaço, devo confessar que preciso me
desligar um pouco do trabalho e focar a mente em outras coisas.
Isso serve para tentar sanar essa confusão martirizante que se
formou em minha cabeça desde a noite do evento. Não consigo
parar de pensar nela, no cheiro doce e suave da sua pele ou no
quanto Beatriz fica encantadora quando sorri. Isso já está se
tornando ridículo.
Termino o banho, seco-me e me deito na cama, pelado.
Respiro fundo e fecho os meus olhos, exausto, ao mesmo tempo em
que levo a mão ao meu pau para massageá-lo.
Sinto-o crescendo, enchendo a minha mão com o volume
desejoso, louco para ser enfiado dentro de uma boceta quente e
macia. O pior é que a primeira que vem à minha mente é a dela.
Rosada e suculenta, melada e quente como o inferno. Merda!
Preciso tirar esses pensamentos idiotas da minha cabeça. Irei
dar um basta nessa obsessão louca que está me tomando nos
últimos dias e que luto desesperadamente para deixar de lado.
Irritado, levanto-me e vou à procura de uma roupa, enquanto
penso em aproveitar a noite para bater um papo descontraído com
os amigos e, no fim, me enterrar todo dentro de alguma mulher
gostosa que eu venha a conhecer, até adormecer exausto de tanto
gozar gostoso.
Termino de me arrumar, fechando os botões da camisa
branca social. Borrifo meu perfume favorito de fragrância
almiscarada, no colarinho da camisa e peito, saio do quarto e pego
as chaves do meu Lamborghini. Ao chegar à garagem, ouço o toque
de chamada do meu celular e atendo sem olhar o visor, enquanto
entro no carro descontraidamente:
— Alô?
— Mi amor? Que saudades. — A voz de Raquel soa,
enjoativa, do outro lado. Eu nem ao menos me recordava da sua
existência desde o nosso último encontro, quando ela foi à minha
procura na empresa, alguns dias depois do jantar na casa dos meus
pais. Claro que não pude atendê-la, estava em reunião. Apenas
recebi o recado da secretária e uma mensagem da própria Raquel.
— Olá, Raquel. O que deseja? — questiono, sem demonstrar
a mínima gota de interesse, e sento-me no banco.
— Queria te ver, mi amor. Faz tanto tempo que não nos
divertimos um pouco.
— Eu sinto muito, estou de saída agora — respondo, seco e
sem encorajá-la.
— Podemos marcar algo para mais tarde, o que acha? — diz
com a voz manhosa, quase como um miado. — Posso fazer aquela
massagem que você gosta e que te leva à loucura. — Respiro
fundo, um pouco impaciente, já cansado da sua conversa. Mesmo
que eu esteja louco para foder, Raquel não desperta o meu
interesse no momento. Preciso de carne fresca!
O pior é que pensar nisso me leva direto para a noite do
evento, quando Beatriz estava toda aberta para mim, recebendo a
minha língua. Chego a salivar quando me lembro do sabor dela, o
cheiro do sexo excitado me levando à loucura.
Merda! Merda! Que porra eu vi naquela pirralha?
Passo a mão pelo meu queixo, frustrado, sentindo a barba
começando a despontar, e volto a responder para a Raquel:
— Talvez eu te ligue qualquer dia e te foda, caso eu não
tenha mais nada para fazer. Agora irei desligar, estou atrasado.
Encerro a chamada, respiro fundo e confiro as horas. Vejo
que realmente estou atrasado para o compromisso. Confirmo o local
marcado e arranco na direção da boate.
Piso o pé no acelerador, sentindo a adrenalina tomar conta
das minhas veias a cada segundo, devido à velocidade do carro, e
sorrio. O esportivo prateado combina perfeitamente com a vida de
liberdade que levo. Sem nenhuma amarra ou preocupações
desnecessárias.
A poucos quilômetros de distância do local combinado, ao
olhar pelo retrovisor, tenho a impressão de ver um sedan escuro me
seguindo. Desvio o trajeto, entrando em outra rua, e sigo o meu
caminho.
Estaciono o carro e adentro a boate. Ando a passos firmes,
sério e atento, sentindo o meu ego inflar um pouco mais a cada
passo que dou, percebendo a luxúria que provoco nas mulheres.
Sigo direto para o camarote, onde ambos os ex-colegas me
aguardam. Cumprimento-os, feliz. Apesar dos anos, é como se o
tempo não tivesse passado.
Por estar dirigindo, opto por não ingerir muito de nenhuma
bebida alcoólica, ficando apenas em um copo praticamente vazio de
uísque, que vai ser o único da noite. Os minutos passam enquanto
conversamos animadamente. Hora ou outra, observo as mulheres
dançando lá embaixo, imaginando o momento em que levarei
alguma ou algumas delas para um motel.
Fecho a expressão, surpreso quando vejo Raquel entrar na
casa, olhando em todos os locais à sua volta. Quando a mulher
percebe a minha presença, sorri e vem em minha direção. Estreito
os olhos, incomodado com a sua presença, mas ajo naturalmente
como se ela fosse apenas uma conhecida e que nos encontramos
por acaso. Lá no fundo, já imagino que pode ter sido ela a pessoa
que me seguia no caminho.
Sorrindo descaradamente, Raquel me cumprimenta e passa
a mão pelo meu pescoço, ficando na ponta dos pés para me dar um
selinho nos lábios, fazendo com que eu torça a boca, irritado.
Contudo, apresento-a aos meus colegas e nem ao menos preciso
convidá-la para fazer parte da conversa. Ela mesma se auto
convida, sempre se mantendo ao meu lado, tentando me tocar.
As horas passam e já estou prestes a ir embora, quando vejo
Raquel fixar o olhar em algo lá embaixo e, em seguida, pedir licença
e sair. Volto o meu olhar na direção de onde ela olhava, mas não
vejo absolutamente nada fora do lugar.
Em poucos minutos, ela está de volta, parecendo triunfante,
com um sorriso presunçoso nos lábios. Encaro a mulher por alguns
segundos, imaginando que merda ela acha que está fazendo. Mas
Raquel simplesmente expande o sorriso enjoado e dá de ombros.
Despeço-me de todos ali, inclusive dela, e vejo o sorriso
vitorioso morrer em seu rosto. Pouco me importo. Viro-me devagar e
olho lá embaixo. Contudo, o que vejo faz uma sensação diferente
surgir no meu âmago, e eu congelo. Tudo parece perder a
importância à minha volta.
Vejo Beatriz encarando-me como se estivesse petrificada,
uma expressão indecifrável em seu semblante. Algo parecido com…
dor, mágoa. Os olhos de íris esverdeadas estão vermelhos e
brilhantes, como se ela estivesse lutando para não deixar uma
lágrima cair.
Sem entender absolutamente nada, ergo a sobrancelha,
desconfiado, e sinto a aproximação de Raquel nas minhas costas,
fazendo todos os sentidos do meu corpo se alarmarem. Meu sangue
ferve de raiva ao imaginar que mal Raquel tenha feito a ela e fecho
os meus punhos. Não é difícil adivinhar que essa peçonhenta tenha
destilado seu veneno em Bia.
Seu olhar triste e magoado me deixa atordoado. Sinto-me
verdadeiramente culpado por algo que nem ao menos sei do que se
trata.
Quando ela me dá as costas e sai, em um rápido movimento,
pego o celular e lhe envio uma mensagem, perguntando se está
bem. Imediatamente, xingo-me por perguntar algo tão idiota. Mas é
claro que ela não está bem. Merda!
Encaro Raquel com frieza, deixando claro que descobrirei
tudo o que ela tenha aprontado, mas não espero uma resposta.
Desço as escadas de vidro o mais rápido que posso e caminho em
direção da saída sem conseguir me contentar em ficar aqui de
braços cruzados.
Preciso entender por que ela está chorando, mesmo quando
meu cérebro grita para que eu fique longe. Algo no fundo da minha
alma insiste para que vá até ela. A vontade de abraçá-la e protegê-
la é mais forte do que consigo controlar.
Ao chegar do lado de fora, vejo-a correr rapidamente até
alguém. Ao olhar para a frente, vejo o estagiário da Ferraz e sinto
meu sangue ferver em uma mistura de raiva e incerteza que não
consigo compreender.
Ela o abraça, mas não me dou por vencido e me aproximo.
Vejo os seus ombros estremecerem e escuto um soluço escapar da
sua garganta, fazendo o meu peito palpitar, preocupado, enciumado
e confuso.
— Beatriz? — chamo-a. Vejo-a virar-se lentamente, como se
não acreditasse no que está vendo.
— Cadu? O… o que faz aqui? — murmura, levando a mão
aos olhos para secar as lágrimas abundantes.
Fecho os meus punhos e trinco o maxilar, revoltado com toda
essa situação, sentindo-me um animal enjaulado, sem saída para
alguma solução. Que merda está acontecendo?
— O que aconteceu? Por que está chorando? Alguém te
machucou? — questiono e me aproximo mais, perdendo a razão.
Olho para o Victor ao lado dela, em busca de uma resposta, e
ele fecha a expressão. Beatriz faz o mesmo. Com incerteza no
olhar, ela o fita e depois me encara.
— Não aconteceu nada — mente com a voz falha, mesmo
quando seu semblante diz o contrário. — Victor, por favor, me leve
para casa.
Ele apenas balança a cabeça em concordância, e eu dou
mais um passo na direção de ambos, negando-me a aceitar que ela
vá embora assim com ele, sem me dar maiores explicações. Sinto-
me seriamente preocupado.
— Bia…
— Cadu, eu estou bem… — diz sem me encarar, a voz cada
vez mais embargada. — Victor, vamos.
Sem que ela volte a me olhar, vejo-o segurar a mão de
Beatriz e caminhar na direção do estacionamento, deixando-me ali
parado, com a garganta seca, o peito apertado e irritado. Ao mesmo
tempo, sinto a raiva me tomando por ela ter preferido ir com ele ao
invés de confiar em mim.
Passo a mão pelos meus cabelos, nervoso, movimento que
faço sempre que estou irritado ou contrariado com algo. Meu
sangue ferve como a lava de um vulcão furioso, minha testa sua de
frustração e algo a mais que não consigo explicar.
CAPÍTULO 27

CARLOS EDUARDO

— Merda!
Retorno para o interior da boate, agitado, à procura de
Raquel, decidido a descobrir tudo o que aconteceu aqui. Procuro em
todos os lugares, mas não obtenho sucesso. A mulher parece ter
evaporado, ou simplesmente a raiva não me permite ver com
precisão.
Caminho até um local mais escuro e, de onde estou, vejo o
amigo de Beatriz bebendo descontroladamente. Franzo a testa,
ainda mais intrigado, imaginando por que Beatriz recorreu ao Victor,
e não ao amigo que está na boate. Se bem que, vendo-o nessa
situação, não posso tirar a razão dela.
Continuo andando pelos cantos escuros, à procura de
Raquel. Encontro alguns conhecidos e cumprimento-os, mas a
maior surpresa é quando vejo a amiga, que sempre está com Bia,
conversando com um cara. Gracy, se não me engano.
Ela sorri descontraidamente, sem se dar conta da minha
presença.
Intrigado, caminho até os dois, toco-a no ombro, chamando a
sua atenção, e franzo as sobrancelhas quando ela me encara,
parecendo surpresa.
— Boa noite — cumprimento ambos, e, tocando em seu
braço, chamo Gracy para um local mais afastado para
conversarmos com calma. Ela deve saber alguma coisa do que
aconteceu com Beatriz.
— Eduardo? O que quer? — pergunta, parecendo confusa.
Vira-se na direção do cara e acena com a mão, indicando que não
irá demorar.
— Beatriz… Ela saiu da boate em prantos e não tenho ideia
da merda que aconteceu — digo, sem rodeios.
Gracy arregala os olhos escuros, espantada, e volta a falar:
— A Bia? Ela foi embora? — sua expressão é assustada e,
ao mesmo tempo, acusadora — O que… o que você fez dessa vez,
seu…
— Me escute, Gracy, eu não fiz nada. Nem ao menos falei
com ela — interrompo-a, segurando os seus ombros — É por isso
que estou aqui. Preciso saber que porra aconteceu, se Raquel a
machucou… — Sinto meus nervos incharem com a raiva
espalhando-se pelo meu corpo. Aquela mulher irá pagar caro se
machucou Beatriz.
Gracy suspira pesadamente, um pouco mais calma, mas
visivelmente perdida.
— Eu não sei o que aconteceu, Eduardo. Na verdade, nem
sabia que Beatriz havia ido embora. Sei muito menos se essa tal
Raquel a machucou. Ela não me disse nada — justifica. A testa
franzida deixa em evidência o quanto está preocupada.
Nervoso, olho de um lado a outro, em busca de qualquer
pista do que pode ter acontecido, mas nada parece fazer muito
sentido, nem mesmo o fato de Raquel tê-la machucado. Por que ela
faria isso?
Virando na direção de Gracy, concluo que devo agir o mais
rápido possível, mesmo que eu tenha de ir até ela. O problema é
que Beatriz me ignoraria da mesma forma que fez na saída da
boate, não me dando outra alternativa, a não ser apelar para a
amiga dela. Gracy terá que me ajudar, não há outra saída.
— Gracy, preciso que fale com ela e descubra o que
aconteceu — digo, firme.
— Como é? Não está achando que irei perguntar as coisas
para a minha amiga e fofocar para você! — responde, fazendo bico,
irritada, deixando-me ainda mais nervoso.
— Gracy, colabora, por favor. Isso é sério! — esbravejo,
encarando-a seriamente. — Beatriz saiu daqui em prantos, com o
Victor. Você nem ao menos sabia que ela tinha ido embora, e tudo
indica que alguém ligado a mim teve alguma coisa a ver com isso.
Não entende a gravidade, porra?
Afasto-me dela, fora de controle e sem um pingo de paciência
desses jogos adolescentes. Por que essas garotas complicam tanto
as coisas? Merda!
— Eu… tudo bem. Desculpe — diz ela, voltando a se
aproximar. — O que eu devo fazer?
— Não sei… envie uma mensagem, algo assim. Pergunte o
que aconteceu!
Enquanto aguardo Gracy entregar em contato com Beatriz,
continuo olhando, impacientemente, o circular de pessoas pela
casa. Se Bia não fosse tão teimosa, obviamente eu já estaria no seu
encalço, fazendo-a se abrir comigo e dizer toda a verdade.
— Senhor! Eu não posso acreditar nisso… — Gracy
resmunga do meu lado, chamando a minha atenção para o aparelho
que ela segura nas mãos.
— O que ela disse? — pergunto, exaurido.
— Não posso acreditar… Não consigo acreditar…
— Que diabos…
Impaciente, pego o celular da mão dela e olho a mensagem.
Beatriz fala algo relacionado ao amigo Pedro, mas não entra
detalhes. Contudo, fala explicitamente que estou noivo de Raquel e
que a própria disse a ela. Diabos!
— Isso não é verdade, menina. — Adianto-me em me
justificar, sentindo meus nervos ferverem mais, enquanto estendo o
celular para Gracy. — Essa mulher é louca — afirmo.
Apesar de não ter obrigação nenhuma de lhe dar satisfação,
sinto a necessidade de ela dizer isso a Beatriz. O que me deixa dez
vezes mais intrigado. Aos poucos, Beatriz está me deixando maluco.
Pergunto-me que merda está acontecendo comigo. Por que logo
ela?
Gracy solta um suspiro aliviado, colocando a mão no peito.
No entanto, há algo que ainda não se encaixa.
— E esse Pedro? O que ele fez?
— Eu não sei. Bia disse para conversarmos depois, porque
agora ela não está com cabeça para isso.
Assinto, mesmo não me dando por satisfeito sobre as
informações. Não enquanto não descobrir cada detalhe do que
aconteceu aqui.
Ao virar-me para ir embora, vejo Raquel aproximando-se com
um sorriso aberto, mantendo a satisfação estampada no olhar. Ela
chega até mim, ignora Gracy completamente e faz menção de
entrelaçar as mãos no meu pescoço.
— Mi amor, pensei que já tivesse ido embora. Será que pode
me levar para cas…
— Tire as mãos de mim, Raquel — advirto, segurando o seu
pulso com firmeza. — Você me enoja, mulher!
Ela arregala os olhos, surpresa, mas ainda tenta me tocar.
— Querido, o que aconteceu? — pergunta, mas antes que
possa concluir a fala, a mulher é interrompida pela voz de Gracy.
— Então é você a Vaquel?
Virando-se na direção da garota, Raquel a encara e franze a
sobrancelha, surpresa.
— O que disse? — questiona, nervosa, passando a mão nos
cabelos.
Vejo Gracy gargalhar cinicamente. Mal posso acreditar no
que ela faz quando se aproxima de Raquel e acerta um soco bem
em cima do olho esquerdo. As duas soltam um grito de dor.
— Nunca mais se aproxime da minha amiga, sua vaca —
adverte Gracy, fora de si, enquanto sacode a mão no ar. — Porra!
Como isso dói! — reclama.
— Você é louca! — grita Raquel, levando a mão ao
machucado, enquanto tenta se reequilibrar, apoiando-se nas
pessoas à sua volta.
Ainda estou chocado, observando a cena, mas não consigo
evitar que um sorriso divertido escape da minha garganta assim que
Raquel se aproxima de mim.
— Vai deixar essa pirralha me agredir, mi amor?
Gargalho e dou de ombros. Com certeza, essa é uma briga
na qual não irei me meter.
— Não me diga que está com medo de uma garota, Raquel?
— provoco.
Gracy resmunga algo que não consigo compreender e coloca
um cacho do cabelo rebelde atrás da orelha, ao mesmo tempo em
que encara Raquel com olhar ferino.
A mulher esbelta, mas terrivelmente enjoativa, me encara
com ódio no olhar, olha para a garota ao meu lado e nos dá as
costas. Sai pisando duro.
— Ei, Raquel! — chamo-a. Ela se vira, curvando os lábios em
um sorrisinho vitorioso. — Antes que se vá… Quero deixar claro que
ratifico o que disse a Gracy. Não se aproxime mais da Bia, ou se
verá comigo. Aliás, não se aproxime de mim também. Se insistir,
tomarei medidas judiciais.
O sorriso vitorioso morre em seu rosto e o olhar de ódio
retorna, agora acompanhado de algo mais: decepção, rancor,
humilhação. Encaro Gracy e aceno, murmurando um obrigado
silencioso. Ela balança a cabeça em afirmativa e retorna até onde
deixou seu parceiro.
Caminho na direção da porta de saída, pego o meu carro e
arranco para casa. Os pensamentos vagueiam para longe,
diretamente aos olhos brilhantes que tanto me fascinam. Minha
mente diz para que eu continue longe e a esqueça de uma vez por
todas, mas há algo que me impele a ir atrás dela, mesmo eu não
tendo o que dizer. A lembrança dela indo embora com outro homem
me faz perder toda a órbita. Trinco os dentes e piso no acelerador. A
adrenalina acompanha o meu estado caótico.
Quando dou por mim, estou estacionando o carro em frente à
casa de Felipe. Eu me camuflo debaixo de uma árvore, pego o
telefone e ligo para ela. Suspiro, aliviado, quando Beatriz atende no
terceiro toque:
— Cadu?
— Oi, Beatriz. Tá tudo bem? — questiono, apesar de saber
que essa não passa de uma pergunta idiota.
— Sim, está! — responde, seca, a voz ainda rouca pelo
choro. — O que deseja?
— Quero conversar com você um minuto — digo, indo direto
ao que interessa.
— Olha, estou muito cansada e…
— Eu estou em frente à sua casa. — Ouço sua respiração
ofegar do outro lado e, de alguma forma, isso me instiga, me excita
de uma maneira terrivelmente dolorosa.
— Eu… não sei se é uma boa ideia.
— Prometo que não tomarei muito do seu tempo. Serei
breve.
— Tudo bem… Irei descer em alguns instantes.
Os minutos se arrastam em câmera lenta, parecendo se
transformar em horas. Após o que parece uma eternidade, vejo o
vulto de alguém no portão. Beatriz se aproxima do carro, envolvida
em um roupão preto. Abro a porta do carona, à sua espera.
À medida que ela caminha, analiso cada detalhe do corpo
pequeno, marcado pelo tecido de seda. As formas bem feitas e
voluptuosas fazem o meu pau reagir com espasmos, empurrando o
tecido da minha calça.
Trinco os meus dentes, sem conseguir controlar a ereção que
me toma só por vê-la se aproximar, parecendo um bichinho acuado.
Os cabelos soltos, balançando ao vento, deixam-na extremamente
deliciosa.
Bia para, um pouco hesitante, e me encara, confusa. Indico
para que ela entre e, quando o faz, dou a partida e sigo para um
local mais reservado, longe dos olhares curiosos.
— Para onde estamos indo? — questiona, olhando para os
lados. — Acho que não estou vestida adequadamente para sair por
aí.
Paro o carro no acostamento, debaixo de uma árvore de
sombra espessa, e suspiro.
— Não se preocupe. Não seria muito inteligente
conversarmos em frente à sua casa, acho que seu pai não veria isso
com bons olhos. — Destravo o cinto de segurança e viro-me em sua
direção.
Ela me encara com um certo interesse.
— Eu soube da Raquel. Soube o que ela disse a você na
boate — digo, fitando-a. Beatriz estreita os olhos e permanece
calada por alguns instantes, permitindo que eu continue. — Imagino
que tenha acreditado nas palavras dela.
Seu suspiro desconfortável corta o ambiente, mas não
impede que ela responda com calma:
— Para falar a verdade, eu não sei… Aconteceram tantas
coisas… — Leva as mãos aos cabelos e os penteia com os dedos,
parecendo desnorteada. — Mas, de qualquer forma, isso não
importa agora. Você não me deve nenhuma satisfação…
Ouvir essas palavras da sua boca deveria fazer com que eu
respirasse aliviado. Até porque ela tem razão, não devo satisfações
a ninguém. No entanto, suas palavras me causam um efeito
contrário, e tudo que sinto é um aperto estranho no peito. Um
buraco negro que cresce a cada maldito segundo. Um vazio que me
deixa tonto.
Cada movimento que ela faz me fascina de uma forma
enlouquecedora e, quando cravo os meus olhos nos lábios
avermelhados, a vontade de beijá-los é tanta que me sinto
sufocado.
— Eu não irei me casar… — digo. Não sei de onde vem
tamanha necessidade de deixá-la a par disso. Mas é preciso. —
Você sabe que Raquel era apenas uma amiga. Alguém que ficou no
passado.
— Cadu, não sei por que está me dizendo essas coisas
agora, mas não é necessário. Não precisa se explicar. — Ela
suspira e se agarra ainda mais ao roupão. — Sei que está
preocupado comigo porque é amigo do meu pai, principalmente
depois de toda aquela confusão que armei no hotel. — Ela me fita,
parecendo decidida. Neste instante, sinto uma agonia inexplicável
nascer em meu âmago. A conversa está tomando uma direção que
eu não esperava. — Acho que lhe devo um pedido de desculpas.
Não deveria ter feito o que fiz… As fotos, as provocações… Enfim,
tudo. Peço que me desculpe, por favor. Isso não vai voltar a
acontecer.
Se ela tivesse dito essas coisas há algum tempo, certamente
eu teria relevado e fingido que nada realmente havia acontecido. Eu
me sentiria até aliviado. Mas, apesar de admirar a forma franca e
madura com que ela conversa comigo agora, sinto algo bem
diferente de alívio.
Um gosto amargo predomina em minha boca, fazendo minha
garganta ficar seca. O pior é que não consigo decifrar que diabos
está acontecendo. Tenho uma sensação de perda. Mas como estar
perdendo algo que nunca tive?
Ainda encarando-a, pergunto algo que está martelando a
minha mente há dias, impedindo que eu raciocine direito:
— Você está saindo com aquele cara? Está indo para a cama
com ele?
Beatriz abre e fecha a boca algumas vezes, sem conseguir
formular uma resposta. Contudo, não espero que ela diga algo.
Aproximo-me, certeiro, fitando os lábios macios que tanto me
enlouquecem, pronto para tomá-los em um beijo ardente. Ela não
pode simplesmente ter me esquecido assim, não agora, quando não
consigo arrancá-la da minha cabeça. Maldita!
CAPÍTULO 28

BEATRIZ

Não sei se estou mais trêmula por ter aberto o jogo com ele,
pedindo desculpas, ou por estar dentro de um carro desse nível ao
lado dele. Já estive em veículos de alto luxo, mas este é
exageradamente luxuoso. Tenho até medo de tocar em algo ou
deixar alguma mancha no estofado. É como se eu estivesse sentada
em cima de milhões de dólares.
Céus, que merda eu fui fazer? Como pude achar que
conseguiria conquistar um homem como ele? Rico e poderoso e, ao
mesmo tempo, mesquinho e mulherengo. Um idiota metido a
filantropo. Pensando bem, como pude me apaixonar por ele?
Cadu me olha de uma forma enigmática. Está sério, os olhos
focados em cada centímetro do meu rosto, o maxilar trincado.
— Você está saindo com aquele cara? Está indo para a cama
com ele? — pergunta.
O rosto está tão expressivo, demonstrando raiva, que, por um
instante, sinto-me acuada. Abro e fecho a boca, sem reação. Quem
ele pensa que é para me questionar? Ele me rejeitou, não tem o
direito de se intrometer na minha vida.
Meu coração dispara quando vejo a aproximação dele, fitando
a minha boca. Parece decidido, o que me deixa ainda mais confusa.
O que esse homem quer? Quer me humilhar mais?
Coloco a mão em seu peito para contê-lo, enquanto as
palavras daquela mulher ainda martelam na minha cabeça. Mesmo
que ela tenha mentido, ainda o odeio por se envolver com alguém de
tão baixo nível, uma qualquer. Mais uma razão para que eu me
mantenha longe.
Quando Eduardo encosta a boca na minha, na intenção de
roubar um beijo, viro o meu rosto e o empurro novamente, pedindo
para que se afaste. Seu corpo forte não se move. Minha força,
comparada a dele, é praticamente nula, e tudo o que faço é ranger
os dentes para evitar que um gemido escape quando os lábios
experientes beijam e mordiscam o lóbulo da minha orelha. Meu
corpo inteiro se arrepia.
O cheiro do seu perfume me inebria e minha voz sai
entrecortada:
— Pare com isso! — exijo. Não irei me render aos beijos
desse safado, ainda tenho orgulho.
— Me deixe beijá-la, menina — sussurra no meu ouvido. —
Estou ansiando por isso.
Balanço a cabeça em negativa e me afasto mais, enquanto
minhas mãos continuam na tentativa falha de empurrá-lo.
— Ficou louco? Foi você mesmo quem disse o quanto me
queria longe, e agora quer me beijar? O que acha que sou, senhor
Carlos Eduardo? Um brinquedo para você jogar de um lado para o
outro como bem quiser?
Vejo-o afastar o rosto e me encarar. A cor dos seus olhos se
intensifica, ao mesmo tempo que sua expressão se torna mais
fechada.
— Apenas um beijo! — Ele volta a se aproximar, segurando os
fios de cabelo na minha nuca. Como se eu estivesse dentro de uma
espécie de hipnose, sentindo meu queixo tremer, fecho os olhos
quando os lábios experientes tocam os meus e, em seguida, ele
penetra a língua, dura e possessiva, dentro da minha boca. Ofego.
Sinto seu gosto misturado a um leve sabor de álcool e quero
mais. Contudo, prometi a mim mesma que não iria mais sucumbir ao
desejo e à paixão que sinto por ele. Mordisco seu lábio inferior uma
última vez e me afasto, ao mesmo tempo em que tateio a porta do
carro, tentando abri-la.
— Eu sinto muito, Cadu. Falei muito sério quando me
desculpei e disse que não faria mais aquelas loucuras. Estou
tentando fazer o que me pediu, mantendo-me afastada. Então, por
favor, não confunda as coisas. Você é amigo do meu pai, como você
mesmo gosta de destacar, e apenas isso — relembro-o.
Eduardo nega com a cabeça, como que decidido a conseguir
o que quer. Passa a língua nos lábios e acaricia o meu rosto
levemente.
— Você me quer, princesa, não tente negar. Vi o quanto
estava abalada na boate, após o que a louca da Raquel disse… —
Seus dedos passeiam por meus lábios e os acaricia. — Não há lugar
para outro homem na sua vida…
Meu coração falha algumas batidas quando ouço suas
palavras, expressando tanta certeza. Parece-me uma sentença
maldita. Mas não lhe darei esse gostinho, não hoje, e muito menos
agora. Por mais que o ame, Eduardo precisa entender que não sou
como as outras que ele costuma levar para a cama. Eu o superarei e
seguirei em frente.
Gargalho, mesmo sem emoção, mas no momento é o
suficiente para fingir que suas palavras não têm nenhum significado
para mim.
— Está enganado. — Respiro fundo para impedir que uma
lágrima transborde pelos meus olhos, quando relembro o ocorrido na
boate. Pensar em Pedro me dói a alma. — O que Raquel falou só
serviu para abrir os meus olhos. Me fez perceber o quanto estive
enganada sobre os meus sentimentos por todo esse tempo. Mas o
que aconteceu lá antes disso, com outra pessoa, sim, me feriu como
ferro em brasa, mas isso não vem ao caso agora.
Franzindo a sobrancelha, ele questiona:
— O que quer dizer, Beatriz? O que aconteceu naquela
boate? Alguém te machucou?
— Não aconteceu nada que possa ser resolvido — afirmo.
— Me diga! — Sua expressão é séria e, ao mesmo tempo,
preocupada. No entanto, ele é a última pessoa no mundo que quero
que saiba o que aconteceu.
— Esqueça isso! — digo, ofegante — E… Eduardo, por favor,
não se aproxime mais. Estou saindo com o Victor agora, ele é um
cara legal.
Encontrando a tranca que destrava a porta, abro-a e saio o
mais rápido que consigo, sem dar tempo de ele me impedir.
Bato a porta do Lamborghini e corro por entre as ruas mal
iluminadas, rogando a Deus para não ter deixado nenhum
arranhãozinho no carro. Do contrário, terei que rodar a bolsinha na
esquina para conseguir pagar o reparo.

CARLOS EDUARDO

Diabos! O que foi isso? Beatriz sai do carro após jogar na


minha cara que está saindo com aquele cara e corre, sumindo na rua
sombreada. Merda! Irritado, ligo o veículo e saio atrás dela. Nem
maluco deixaria a menina voltar para casa sozinha a essa hora da
noite.
Ao me aproximar, desço o vidro e a chamo:
— Beatriz, entre no carro!
— Vá se ferrar, Cadu — xinga e continua correndo, sem me
dar atenção.
Inferno!
— Não seja teimosa, garota. Não vê que é perigoso?
Beatriz me ignora, demonstrando o quanto falou sério quando
disse que queria distância. Frustrado e sem um pingo de paciência,
acelero o carro para ultrapassá-la alguns metros, desço e corro até
conseguir alcançá-la.
— Espere. O que acha que está fazendo? — Seguro o seu
braço, fazendo Beatriz parar e voltar-se para mim. — Não pode sair
assim, está muito tarde.
Ao fitar o seu rosto, sinto meu coração se apertar assim que
vejo as trilhas grossas de lágrimas que banham a sua pele. Ela solta
um suspiro e vira o rosto, evitando me encarar.
— Me deixe ir. Por favor… — Soluça. — Por que não me
deixa em paz, Cadu?
Por alguns instantes, não sei exatamente o que responder a
ela. Nem eu mesmo entendo por que estou aqui. Mas quando
recordo das vezes em que me peguei pensando no seu cheiro, seu
gosto, ou quando puxava conversa com Felipe para saber como ela
estava, percebo que, pouco a pouco, Beatriz vem se incrustando na
minha pele muito mais do que pensei ser possível. Imaginá-la longe,
de repente, não é algo que meu corpo deseja.
— Eu não sei… — respondo ao ver que ela voltou a me olhar.
— Eu simplesmente não consigo ficar longe! — confesso.
Essa constatação me atordoa, faz com que eu me recorde de
anos atrás, quando era noivo e iria me casar. Eu estava
apaixonado… merda!
Fito seu olhar incrédulo na minha direção e engulo em seco.
Ela é tão linda, doce. Cada parte do seu corpo me enlouquece
desesperadamente. Fecho os meus punhos ao sentir o meu pau
tomar força de novo e me sinto um tarado por desejá-la tanto.
Ela é só uma menina! Uma menina!
Repito isso na minha cabeça mil vezes, tentando afastar o
desejo de agarrá-la e fazê-la minha em cima do capô do carro.
Diabos! Por que ela tinha que ser tão deliciosa?
Beatriz passa o pulso trêmulo nos olhos, secando as lágrimas,
e balança a cabeça de um lado a outro. Está confusa, incerta. Não
tiro a sua razão, porque é exatamente assim que me sinto.
— Eu preciso ir — diz e volta a andar na direção da sua casa,
não me dando mais nenhuma chance de falar algo.
— Droga! — murmuro, nervoso, e retorno ao carro, odiando-
me por sentir essas coisas. Esse desejo louco, essa vontade
incontrolável de beijá-la, tocar seu corpo e sentir meu pau afundando
na sua boceta enquanto a ouço gritar. Sinto minhas bolas doerem de
tesão.
Passo a mão na minha barba por fazer, ligo o carro e a sigo a
uma distância considerável até que ela entra em casa.
Um pouco mais calmo, pego meu celular e ligo para uma
pessoa na qual confio e sei que poderá me ajudar no que preciso.
— Alô — atende o homem do outro lado da linha.
— Eu preciso de um favor — respondo. Vou direto ao ponto.
Não importa a quem eu tenha que recorrer ou subornar,
descobrirei toda a merda que aconteceu naquela boate.
CAPÍTULO 29

BEATRIZ

Fecho a porta do meu quarto às pressas, como se o mundo


estivesse sendo destruído e esse fosse meu único refúgio. Meu
coração bate, desesperado, e ainda consigo sentir o sabor dos
lábios dele sobre os meus: álcool, paixão e desejo. Foi tudo o que
senti naquele momento, uma mistura de sensações tão intensas que
me vi sem ar.
Céus!
Estou muito abalada com essa atitude inesperada do Cadu.
Mas preciso me manter firme em meu propósito de me manter
afastada. Quanto mais deixar que ele se aproxime, mais eu sofrerei.
Com a mão direita sobre os meus lábios, caminho até a cama
e pego meu celular. Desbloqueio o visor, verifico as redes sociais e
respondo mais algumas mensagens de Gracy, perguntando como
estou e informando que também já está em casa.
Além das mensagens dela, há uma outra de Victor,
perguntando se estou bem.
Suspiro com pesar, imaginando o quanto ele é um cara legal
e bonito. Cheio de atrativos capazes de fazer qualquer mulher cair
aos seus pés. Exceto eu. Como o destino é cruel às vezes.
Mordisco meu lábio inferior e o respondo:

Sim, estou bem.


A resposta não demora. Chega alguns minutos depois,
enquanto me arrumo para dormir.

Pensei que já estivesse dormindo. ;)

Estou sem sono. Desculpe por acordar você.

Não se preocupe.
Estou contente que tenha sido você a pessoa que respondeu a
mensagem às duas da madrugada e quase me fez cair da cama
de susto, rs.

Bobo! kkk

Sorridente, deixo o celular de lado e me agasalho debaixo


dos lençóis. Os pensamentos vagueiam por minha mente como uma
teia de aranha: confusos e difíceis de me livrar.
Impaciente por ficar deitada e não conseguir pregar os olhos,
penso em ir até a cozinha tomar um chá calmante, no entanto, uma
batida na porta me faz dar um pulo para a frente, assustada.
Na ponta dos pés, caminho até a porta, tomando todo o
cuidado do mundo para não fazer barulho.
— Querida? — Ouço a voz de mamãe e não sei se me
exaspero ou se respiro, aliviada. Será que ela percebeu quando saí
de casa novamente e veio me dar a bela de uma bronca? Por outro
lado, é melhor ter sido ela do que o papai.
— Oi — respondo assim que destranco a fechadura.
Ao fitar o seu rosto, sinto meu peito se apertar devido às
expressões tão bem definidas em seu rosto. Uma mistura de
preocupação e mágoa.
— Querida, onde estava? — Ela desce o olhar pelo meu
corpo, como se tentando adivinhar o que fui fazer na rua a essa
hora. — Ouvi quando você desceu as escadas e, quando me
levantei para ir até a janela do meu quarto, vi você atravessar a rua,
usando apenas um roupão, e entrar em um carro escuro. O que
você fez, Beatriz?
Seu olhar de descrença e decepção me faz engolir em seco,
nervosa.
— Mamãe, eu não fiz nada de mais — tento explicar — Só
estava conversando com…
— Com o Cadu? Você estava com ele?
Diante da sua expressão preocupada, não consigo omitir a
verdade estampada em meu rosto e apenas assinto com a cabeça.
Mamãe passa a mão pelos cabelos, parecendo aflita, e caminha
para o interior do quarto.
Cruza as mãos uma na outra e volta seu olhar para mim.
— Seu pai vai ficar louco se souber disso, Beatriz. Filha, ele
tem o dobro da sua idade e… vocês estavam na rua, correndo o
risco de serem flagrados por algum vizinho…
— Mamãe, por favor, não tire conclusões precipitadas —
interrompo-a e me aproximo. — Entre nós dois não aconteceu nada
do que está pensando. Estávamos apenas conversando.
Respirando fundo, mamãe balança a cabeça negativamente
e me encara:
— Querida, ninguém sai a esta hora usando roupão apenas
para conversar com um homem dentro do carro dele. Não nasci
ontem, minha filha. Sei que você ama esse homem, está escrito no
seu olhar em cada momento que fala dele.
— Eu sei, eu sei. — Sinto minhas pernas tremerem, mas
ainda assim caminho na sua direção. — Sei que pode parecer
estranho, mas estou falando a verdade, mamãe. — Uma lágrima
rola pela minha face, mas eu a enxugo com a palma da mão. — Por
favor, acredite em mim, eu não fiz nada.
Mamãe olha de um lado a outro, descrente, como se tentasse
acreditar no que digo, mas a dúvida fala mais alto. Ela dá alguns
passos até onde estou, segura na minha mão e diz:
— Querida, eu sou a sua mãe e preciso que seja sincera
comigo. — Vejo no fundo do seu olhar o quanto está preocupada
com a situação. — Você… fez sexo com ele?
Balanço a cabeça em negativa, ao mesmo tempo em que
mordo o meu lábio, aflita.
— Não… Nem com ele, nem ninguém. Ainda sou… virgem.
Ouço um suspiro aliviado escapar da sua boca. Ela assente
com a cabeça e continua:
— Amanhã irei marcar uma consulta no ginecologista para
você. Irá usar anticoncepcional.
— Como? Mas, mamãe, que parte do “eu sou virgem” a
senhora não entendeu? — questiono, surpresa, fazendo um sinal de
aspas com os dedos.
— Querida, eu já tive a sua idade. Está apaixonada por
aquele homem, é difícil segurar. Eu sei! Por isso, ficarei mais
tranquila quando tiver certeza de que você estará protegida de uma
gravidez.
Sinto minhas bochechas enrubescerem ao ouvir seu
posicionamento. Tento explicar a ela que entre mim e ele não
acontecerá nada, porém, mamãe não me dá ouvidos, deixando claro
que me levará a uma consulta no dia seguinte, antes que eu siga
para a faculdade. Antes de sair do quarto, ainda me dá o belo de um
sermão sobre o uso de preservativos, como se eu fosse alguma
espécie de ignorante. Mães e seus sensos de proteção exagerados.
Mas pondero que ela tem razão. Afinal, quase perdi a
virgindade com o Cadu naquela noite. Claro que usaríamos
preservativo, não sou tão inconsequente. Mesmo que eu não tenha
ninguém em vista no momento, é melhor que comece a me prevenir.
Um pouco mais tranquila, eu me agasalho debaixo das
cobertas e logo pego no sono.

No dia seguinte, acordo mais cedo que o costume, seguindo


as instruções que minha mãe havia passado na noite anterior.
Respondo uma mensagem do Victor, convidando-me para sair, e
aceito, afinal, sou livre e desimpedida, e minha missão de superar o
Cadu ainda está de pé.
Saio do quarto e encontro meus pais na cozinha, tomando
café. Junto-me a eles para o desjejum e, quando terminamos, sigo
com mamãe para a clínica ginecológica, conforme o combinado.
O dia passa depressa, pois mantenho-me concentrada em
minhas atividades. Depois de sair da clínica, sigo para a faculdade,
assisto às aulas com Gracy e, mais tarde, almoçamos juntas.
Durante esse tempo, conto a ela tudo o que aconteceu na boate.
Gracy fica fora de si, tenho que segurá-la para que não vá à casa de
Pedro armar um barraco.
Depois de fazê-la prometer ficar quieta, seguimos o plano do
dia e, agora, estamos concentradas no projeto de proteção às
tartarugas marinhas, para o qual nos voluntariamos.
Os trabalhos de hoje, apesar de cansativos, são gratificantes.
Já estamos há algumas horas auxiliando no trabalho dos biólogos,
que consiste em capturar algumas futuras mamães-tartarugas para
coletar material genético para estudos e colocar números de
identificação nas nadadeiras. Além disso, há um imenso caminho a
percorrer até o nascimento dos filhotes.
Após colocar a tartaruga-mestiça de volta ao mar, esboço um
sorriso, admirada por todo o esplendor e beleza desses animais e,
claro, admirada com a vista. A água límpida e azulada, contrastando
com o amarelo forte do sol, deixa-me sem ar. Meus olhos brilham,
maravilhados.
Estamos em uma praia afastada da correria da metrópole,
onde anualmente acontece a desova das tartarugas-mestiças no
litoral carioca. Apesar da distância dos grandes arranha-céus,
preocupa-me o fato de a obra que acontece a alguns metros de
distância ser próxima demais de alguns dos ninhos e a grande
circulação de pessoas.
Chuto uma poça de água após me afastar das demais
pessoas, limpo uma gota de suor que desce em minha testa e
caminho até uma das biólogas que está entretida em examinar uma
outra tartaruga. Devagar, aproximo-me e me sento na areia.
— Victoria, me tira uma dúvida? — A moça simpática e de
lindos olhos amendoados, brilhantes, pausa o que está fazendo e
me encara.
— Sim, Bia. Pode falar.
— Aquela obra ali do outro lado não vai atrapalhar a desova?
— Aponto na direção de alguns homens que escavam próximo à
praia. — Digo, não colocará os ovos em perigo? Percebi que há
alguns ninhos por ali.
Victoria move um cacho de cabelo que se desprendeu do
coque e agora teima em cair por sua testa e bochecha.
— Na verdade, sim. Mas o que podemos fazer? Além de
palestras sobre a conscientização das pessoas, não há muito o que
ser feito. — Suspira. — Ouvi boatos que será um resort, o maior da
América Latina. Mas esse povo não quer saber se vai prejudicar a
desova das tartarugas, eles só enxergam dinheiro, Bia.
Ouço sua reclamação com um enorme aperto no peito. Sinto-
me de mãos atadas.
— Mas já contataram os órgãos de fiscalização ambiental?
Essas coisas não são contra as normas de conservação?
Victoria chama um dos outros colegas para ajudá-la com o
animal e volta a responder aos meus questionamentos:
— Infelizmente, não. A pesca e o abate desses animais são
proibidos por lei, mas nada diz respeito às construções habitacionais
ou comerciais próximos à praia. — A mulher passa a mão na testa
para secar o suor e continua: — Pelo que verifiquei, a obra possui
todos os licenciamentos ambientais para seguir adiante. De todo
modo, tentamos entrar em contato com o responsável pela empresa
de construção, mas não conseguimos nem sequer passar da equipe
de advogados.
Indignada, levanto-me, passando as mãos completamente
sujas de areia pelo meu cabelo.
— Essa gente não tem um pingo de escrúpulos. Eles se
negaram a receber vocês? — Vic dá de ombros e responde:
— Infelizmente, sim. Fizeram pouco caso da situação e ficou
por isso mesmo.
— Isso não pode continuar, Vic, precisamos fazer alguma
coisa.
Ela me encara com tristeza, levanta-se e caminha na direção
do mar. Acompanho-a.
— O que poderíamos fazer? Já tentamos de tudo!
— Eu não sei… Talvez, se eu pudesse pedir ajuda para o
meu pai, ele é advogado… — Paro no meio do caminho e concluo,
esperançosa: — É isso. Pedirei ajuda para o papai. Só preciso que
você me informe o nome da empresa.
Victoria para de andar um pouco, pensativa, e diz que irá
pegar um cartão com os contatos dentro do carro. Enquanto a
espero, vejo Gracy se aproximar, eufórica, e com um sorriso nos
lábios.
— Estou me sentindo a “Gaia” do Capitão Planeta. A
salvadora da pátria.
Sorrio e assinto com a cabeça. O que estamos fazendo não
tem preço e a cada segundo me sinto mais conectada e encantada
com a profissão que escolhi. Em poucos minutos, Victoria retorna
com um cartão de visitas e me entrega. No entanto, sinto meu
fôlego falhar quando leio as inscrições informando o nome da
empresa. Minhas pernas tremem e meu coração acelera pelo susto.
Um gosto amargo se apossa da minha boca, deixando-me
desnorteada.
Ferraz Engenharia.
— Não. Não pode ser — murmuro.
CAPÍTULO 30

CARLOS EDUARDO

Com o auxílio de um perito em imagens, assisto à gravação


das câmeras de segurança da boate, na noite em que vi Beatriz.
— Não há dúvidas. É a mesma garota da foto! — afirma o
homem, confiante, apontando para a foto impressa de Beatriz em
cima da mesa.
Apesar dos jogos de luzes, consigo distinguir quando ela
conversa com um rapaz como se já o conhecesse. Neste momento,
o vídeo é cortado e continua no instante em que Bia começa a
dançar e o mesmo cara a agarra por trás. Ao ver a cena, sinto uma
secura incômoda se instaurar em minha garganta. Meus músculos se
tensionam de uma forma absurda e uma sensação de perda me
invade. É como se eu estivesse perdendo algo que nunca tive, e
essa ideia me atordoa.
Contudo, ao vê-la lutar para se soltar, ao mesmo tempo em
que ele a apalpa em todos os lugares, sem permissão, sinto o ciúme
dando espaço à ira, fazendo-me trincar o maxilar, tamanha é a minha
raiva.
— Porra! — Bato a mão sobre a mesa, possesso, e puxo o ar
com força. Tenho vontade de matá-lo por tocar nela dessa maneira.
Desgraçado!
Continuo assistindo à gravação e, quando consigo ver o rosto
do cara com melhor nitidez, peço para o perito congelar a imagem.
De imediato, não reconheço a fuça do imbecil, mas ao analisar com
mais calma e atenção, percebo que ele lembra alguém que conheço.
Os cabelos pretos, um pouco compridos, o porte físico magro.
Diabos! É o amigo de Beatriz, o mesmo que vive com ela para cima
e para baixo e que não sai da casa de Felipe. Recordo-me que o
nome dele é Pedro. Estuda com ela. Ora, vejam… Um lobo em pele
de cordeiro.
Mas que merda esse imbecil foi inventar de fazer? Era por
isso que ela estava chorando, concluo, passando a mão em meus
cabelos. Ela foi molestada pelo melhor amigo da maneira mais
covarde possível e bem debaixo dos meus olhos. Meu sangue ferve
em ira como a lava de um vulcão raivoso. As besteiras que Raquel
disse a ela só pioraram a situação. Vagabunda!
— Já chega disso — digo e coloco as mãos em cima da
mesa, respirando fundo em busca de calma. Peço ao perito que
confirme a identidade do cara, mesmo eu já tendo certeza de quem
se trata. No entanto, quero provas concretas o mais breve possível.
Passo as informações necessárias a ele e o dispenso.
Acompanho o homem até a porta do escritório, retorno à minha mesa
e me jogo na cadeira. Preciso pensar na melhor estratégia de lidar
com essa situação.
Confiro as horas, percebendo que já são quase cinco da
tarde. Coloco dois dedos na minha testa, que lateja como nunca,
parecendo que irá rachar no meio, de tanta dor de cabeça.
Momentos depois, Felipe entra na sala, deixa alguns papéis e
se retira apressadamente, alegando estar atrasado para um
compromisso. Penso em questioná-lo sobre esse Pedro, tentar
descobrir se ele sabe de algo, mas decido não tocar no assunto sem
antes ter uma conversa séria com Beatriz. É óbvio que a garota me
odiará se eu me intrometer em seus assuntos dessa forma.
Maldição!
Ainda perdido em meus pensamentos, ouço o interfone da
minha secretária tocar e atendo-o.
— Sim, diga, Sandra.
— Senhor Carlos Eduardo, a senhorita Beatriz, filha do doutor
Felipe, está aqui na recepção e deseja falar com o senhor. Eu avisei
que o senhor deveria estar muito ocupado, mas ela insistiu. Quer que
eu marque outro horário para uma reunião?
O que ela está falando? A Bia está aqui e deseja falar
comigo? Meu coração dá um salto em expectativa.
— Não precisa, Sandra. Por favor, deixe-a entrar — digo,
ansioso para saber do que se trata. Afinal, ela poderia ter me
mandado uma mensagem.

BEATRIZ

— Você é um desumano, Eduardo! — acuso assim que entro


no escritório e caminho na direção dele, decidida. Com certeza,
Eduardo está ciente do prejuízo que a obra vai causar às tartarugas,
portanto, está sendo insensível à questão.
O homem me encara com o olhar pacífico, como se nada o
abalasse. O que me deixa ainda mais irritada. Como ele pode ser tão
frio? Mas não me deixo abalar por sua expressão, que se torna
acirrada. Também o encaro, irritada, deixando claro que irei até o fim
com o meu propósito.
— Por que está fazendo isso? É só o dinheiro que importa
para você? — indago, enquanto ele me analisa de cima a baixo com
curiosidade. Pouco me importa se estou suada e coberta de areia.
Ele se levanta da cadeira, parecendo confuso, mas não
abandona a expressão autoritária e intimidante.
— Do que está falando, menina? — questiona.
Não me abalo diante da sua aproximação. Continuo parada,
encarando-o de frente.
— Como do que estou falando? Disso! — Pego um dos papéis
que trouxe comigo e o entrego: — Não vê que está destruindo a
ecologia da região e colocando em risco animais ameaçados de
extinção? Não percebe? Seu egoísta!
Vejo o homem arquear uma sobrancelha, intrigado ao abrir os
papéis e se deparar com imagens da obra que está sendo realizada
próximo à praia de desova das tartarugas. Ele olha algumas vezes
de mim para o papel antes de questionar:
— O que essas imagens dizem respeito à minha índole,
Beatriz? É apenas a construção de um resort, e está tudo dentro das
normas.
Balanço a cabeça de um lado ao outro, incrédula. Será que
ele não percebe o que está fazendo? Como pode ser tão desumano
assim?
— Essa sua obra está destruindo os ninhos de tartarugas que
desovam naquela região. Estão sendo pisados por seus funcionários!
— exclamo e ando de um lado a outro com a mão na cintura. — Sem
mencionar o fato de as luzes, à noite, prejudicarem a eclosão dos
ovos e afastarem algumas tartarugas da praia, forçando os animais a
procurarem outros lugares para abrirem seus ninhos.
Percebo que ele desvia sua atenção para o meu corpo,
analisando o short jeans e a camiseta azul da ONG que estou
usando. Desce o olhar pelas minhas pernas à mostra, e sinto o rosto
corar de raiva, tamanha é a audácia dele.
Fico horrorizada quando o vejo passar a mão em cima do pau,
discretamente. O volume que começa a se formar naquela região me
faz querer sair correndo. Tenho vontade de estapeá-lo.
Ao perceber que eu o observo, incrédula, Eduardo fita o meu
rosto e volta à sua expressão anterior. Frio!
— O que quer que eu faça? Cancele a obra?
Arqueio a sobrancelha e o olho, desafiadora. Não me abalarei.
Prometi a mim mesma que conseguiria.
— Alguma atitude deve ser tomada, senhor Carlos Eduardo.
São animais ameaçados de extinção!
Ele balança a cabeça de um lado ao outro e sorri. Um sorriso
presunçoso, arrogante. Como se tudo o que acabei de dizer não
passasse de uma mera besteira aos seus olhos.
— Está prestando atenção ao que está me pedindo, Beatriz?
São milhões de reais em jogo. Os órgãos ambientais responsáveis
me deram o aval e as licenças para a obra. A construção está dentro
dos padrões exigidos pela legislação. Eu sempre me certifico disso.
Dou alguns passos para trás, sentindo o meu coração doer a
cada palavra indiferente que ele profere, e abro os meus braços:
— Evidentemente, as leis ambientais, criadas por
representantes de empresários com interesses naquela região, foram
bastante condescendentes. Olhe à sua volta, Eduardo. Você já tem
tudo. Não precisa destruir vidas animais para ganhar mais dinheiro!
— exclamo. Minha voz está tão carregada pela mágoa que preciso
pausar a fala e puxar o ar.
Ele coloca as mãos nos bolsos da calça e, devagar, caminha
até a vidraça. Para, pensativo, por alguns segundos e diz:
— Não posso acatar ao seu pedido, Beatriz. — Vira-se na
minha direção, sério. — Não é apenas uma simples obra. É a
construção de um dos maiores resorts da América Latina. Não estou
sozinho nesse empreendimento, tenho parceiros. Um único dia de
atraso pode causar prejuízos imensos. Além disso, a obra é legal e
está dentro de todas as normas. Não tenho argumentos para
defender sua interrupção junto aos meus sócios.
Gargalho, debochada. De onde estou, posso imaginar que ele
ouve minha respiração ofegante.
— É só isso que importa para você, não é? Dinheiro, poder.
Não interessa o custo ambiental, não importa o prejuízo à natureza.
— Sinto meus olhos se encherem de lágrimas, mas disfarço e
continuo: — Não pense que irei parar por aqui, está me ouvindo? Se
for necessário, irei à mídia e promoverei uma sensibilização social
para essa causa. Irei lutar contra você, o papai e todo esse
massacre. Tem de haver uma forma alternativa que não destrua o
meio ambiente.
Viro as costas e caminho na direção da porta. Porém, antes
de alcançá-la, sou surpreendida pelo calor da sua mão segurando o
meu pulso.
— Espere!
— O que quer? — pergunto ao me virar.
Ele sorri, leva a mão até o meu rosto e o acaricia.
— Você é admirável, menina. Mas saiba que pode ir à mídia e
gritar para os quatro cantos do mundo. Nada irá adiantar.
— Eu te odeio, Cadu — digo, trêmula. A raiva me toma por
dentro.
— Tem certeza? — questiona e se aproxima mais, passando
as mãos em minha cintura. Seu toque quente faz meu corpo entrar
em combustão instantaneamente.
— Ficou louco… — Minha voz é abafada pelos lábios famintos
e vorazes que se apossam dos meus. A língua dura penetra minha
boca, com tanta vontade que fico tonta, e por alguns instantes me
esqueço do meu próprio nome.
— Deliciosa! — sussurra, fazendo com que eu recobre a
consciência.
— Me solta… — Tento revidar, mas ele volta a esmagar a
boca contra a minha, e eu perco o ar. Meu cérebro o odeia, quer
distância de tudo o que tem a ver com ele, mas o meu corpo o
deseja desesperadamente.
Quando dou por mim, estou sendo imprensada na parede,
com o corpo másculo sendo esfregado no meu de todas as forças
possíveis. Eduardo me segura pelos quadris e me impulsiona para
cima, abrindo as minhas pernas. Encaixa meu sexo em cima do seu
pau rígido e movimenta o quadril como se estivesse me penetrando.
Gemo alto.
— Me deixe tomar você. Estou doido para meter o pau na sua
boceta. Me arrependo todos os dias por não ter levado a cabo e te
fodido aquela noite. — Suas palavras sujas fazem o meu sexo pulsar
e eu o sinto ficando melado. — Eu preciso acabar com essa
obsessão louca de te comer, menina. Estou ficando louco.
Porém, Cadu não espera que eu responda. Volta a me beijar,
desesperado, mas desta vez eu correspondo. Mas o que acaba de
passar pela minha cabeça é totalmente contrário ao que ele deseja.
Eduardo me põe de volta no chão e eu aproveito o momento
para passar a mão em seu pênis por cima da calça, provocando-o.
Ele geme, baixinho, e mordisca o meu lábio, fazendo-me estremecer
de prazer.
Beijo os seus lábios, mordo e o provoco sem pudor, fingindo
ter esquecido a nossa última conversa. Toco-o e permito que ele me
toque até ter certeza de que está enlouquecendo. Percebo isso na
forma desesperada com que ele me aperta contra si, beijando e
lambendo os meus lábios.
— Passe a noite comigo… — sussurra mais uma vez, fora de
controle.
Sorrio e o encaro, decidida. Meus olhos lacrimejam, minha
garganta fica seca, mas nada pode me deixar mais realizada do que
dispensar o todo poderoso Carlos Eduardo e ainda deixá-lo de pau
duro.
— Eu sinto muito, querido. — Solto-me do seu abraço e me
distancio, saindo de perto da parede. — Pode “gritar para os quatro
cantos do mundo”. Nada irá adiantar — cito as mesmas palavras que
ele havia dito, dou-lhe as costas e corro o mais rápido que consigo
até a porta. Já no corredor, ainda posso ouvir sua voz rouca e
raivosa me chamando, carregada de tesão. Sei que ele vai me
confrontar depois, mas estou pouco me fodendo.
CAPÍTULO 31

CARLOS EDUARDO

Estou ficando louco. É a única justificativa para o que acabei


de fazer. Mas foda-se. Quero essa menina como um louco, e não é
de hoje que venho me controlando para conseguir me manter longe.
A cada “não” que ela me diz, o desejo aumenta drasticamente,
chegando a ser impossível conseguir tirar o gosto e o cheiro dela da
minha cabeça.
Em pé, no umbral da porta do escritório, vejo Beatriz se
distanciar no corredor às pressas, deixando-me com o pau a ponto
de explodir. Minhas bolas estão doendo por causa do tesão
reprimido.
Coloco a mão no batente da porta e fecho os meus olhos,
frustrado. No entanto, permito-me sorrir ao lembrar das palavras
dela me confrontando em defesa das pobres tartaruguinhas. A
menina estava tão nervosa que nem se deu conta do absurdo que
estava pedindo. Se eu simplesmente interromper a obra, outra
empresa retomará a construção. A Ferraz sairá no prejuízo,
provavelmente respondendo a um processo por quebra de contrato,
várias pessoas ficarão sem emprego e as tão amadas tartarugas de
Beatriz continuarão a ter seus ninhos pisoteados.
Contudo, a maneira com que ela me confrontou, tão decidida
em defesa dos seus ideais, me atraiu de uma forma
enlouquecedora. Isso me fez recordar a época em que eu era
jovem, que lutava contra tudo e todos pelo que eu acreditava, a
ponto de sair de casa, largar tudo e ir morar em uma cidade
completamente desconhecida, porque não queria viver à sombra do
meu pai.
Ah, Beatriz!
Tão menina e tão mulher. Diabos! O Felipe vai me matar,
inferno, mas eu não aguento mais. Preciso meter nela, fazê-la
minha por uma noite e acabar com toda essa loucura.
Volto a fechar a porta do escritório e termino de analisar
alguns papéis sobre a mesa. Ligo para a secretária e peço-a para
agendar uma reunião com os clientes, donos do resort, no primeiro
horário do dia seguinte. Enquanto isso, convoco a equipe de
engenheiros até a minha sala, passo algumas instruções e ideias
sobre o que tenho em mente e os dispenso.
Os minutos passam rápido e logo se transformam em horas.
O prédio fica em total silêncio com o fim do expediente dos
funcionários. Continuo na minha sala, rascunhando a melhor
proposta possível para ser discutida na reunião do dia seguinte,
pensando no sorriso bonito que verei nos lábios dela se eu for bem-
sucedido no meu plano. Mesmo do seu jeito errado, Beatriz me
encanta por não se acomodar, por lutar e correr atrás do que
acredita ser certo. Ela fez o que eu também faria, há alguns anos.
Também estou articulando algo em relação àquele maldito
amigo dela. Não vou deixar que ele saia impune, nem que a menina
corra o risco de sofrer tal assédio novamente.
Quando me dou conta, já passa das oito. Estou exausto,
louco por um banho e uma boceta quente para acalmar os meus
nervos. Preciso me distrair daquela menina. Tentar tirá-la da minha
mente. Uma boa trepada irá ajudar. Estou cheio de tesão acumulado
e preciso me liberar.
Tiro o paletó sufocante, saio da sala e caminho depressa até
o elevador. Em alguns minutos, estou chegando na minha cobertura
no Leblon. Após tomar um banho e jantar, procuro em meus
contatos alguma mulher que eu ainda não tenha comido. Não quero
repetir, para não criar expectativas. Só quero uma foda ocasional.
Encontro o WhatsApp de uma vizinha que mora no segundo andar e
que vive se insinuando para mim. Não é apropriado que seja uma
pessoa que mora no mesmo prédio, mas admito que a facilidade me
tenta. Terei de deixar as coisas bem claras para que ela não pegue
no meu pé depois.
Abro a foto do perfil, analisando o par de seios siliconados e
os lábios carnudos experientes. Essa safada, com certeza, tem uma
carreira extensa. Servirá bem ao meu propósito. Meu pau se anima
no mesmo instante. Envio mensagem e aguardo.

Boa noite, minha linda.

Chamo todas as vadias de “linda” para evitar confusão com


os nomes. A resposta não demora, vem em menos de dois minutos.

Eduardo? Que surpresa, querido.

Gargalho, debochado, e coloco uma mão atrás da minha


cabeça, louco para ir logo aos finalmentes.

Não quer vir assistir um filminho aqui em casa?


Estou à procura de companhia ;)

Uau. Que convite tentador.

Te espero em dez minutos, tudo bem?

Combinado.
Espreguiço-me na cama, entediado. A facilidade das coisas,
às vezes, chega a ser frustrante.
Coloco uma cueca boxer e caminho até o quarto de
hóspedes, lugar que trago as minhas fodas de vez em quando. Não
gosto de levá-las ao meu quarto, prefiro resguardar a minha
intimidade. Ligo a TV, coloco em um filme qualquer e, após alguns
minutos, a campainha toca.
Atendo a porta, e a mulher cujo nome nem lembro entra na
sala, rebolando. Ela tem os cabelos castanho-claros e compridos,
batendo na altura do bumbum. Inspeciono a forma do seu traseiro
dentro de um vestido micro e sinto o meu pau crescer, almejando
tudo o que irei fazer com ela. Irei meter até o dia amanhecer e eu
me sentir saciado, livre desse tesão que aquela pequena megera
tem me provocado.
— Boa noite, Edu. — Ela se aproxima e sorri. — Uau. Seu
apartamento é o máximo — comenta, inspecionando todos os
lugares.
— É mesmo? Que bom que gostou, minha linda — digo,
orgulhoso, meu ego nas alturas. — Iremos nos divertir muito aqui
hoje.
Ela sorri novamente e passa a mão pelo meu pescoço.
— Pensei que nunca iria me convidar para vir aqui, querido.
Desço minha mão esquerda pelas suas costas e apalpo o
traseiro cheio, esfregando sua pélvis no meu pau duro. Com a outra,
acaricio seus lábios.
— Shhh… Não diga mais nada. Vamos aproveitar cada
minuto. — Pisco. Prefiro que ela fale o mínimo possível. Desço
minha outra mão pelo seu busto. Aperto um seio e ela geme
baixinho, envolvida.
A mulher fica na ponta dos pés e busca os meus lábios,
desejosa, doida para ter tudo de mim. Sinto o sabor dos seus lábios
sobre os meus, da língua ávida e experiente varrendo a minha boca,
mas me frustro ao não sentir absolutamente nada. É como se eu
estivesse beijando um buraco negro. Frio, vazio e sem nenhuma
emoção.
A lembrança dos lábios de Beatriz vem à minha mente e eu
fecho os meus punhos. Doces, inocentes e sensuais. Um verdadeiro
pecado em forma de menina. O inverso dessa mulher que me beija
agora. Diabos! Isso só pode ser alguma espécie de maldição. Não é
possível que eu não consiga arrancar aquela garota da minha
mente, até mesmo quando estou prestes a me enfiar em outra
boceta.
Nervoso, afasto a mulher dos meus braços e faço com que
ela se vire, ficando de costas para mim.
— Gostosa! — Disfarço o incômodo e a minha falta de
interesse, dando-lhe um tapa no traseiro.
— Ai! — geme com voz manhosa. — Que selvagem.
— Vem, querida. Chupa o meu pau. — Seguro o seu pulso e
caminho até o sofá. Sento-me e tiro o meu cacete para fora,
deixando-o ao deleite dela.
Sorrio quando a vejo se abaixar, ficando de joelhos na minha
frente, e abrir a boca, admirada com o tamanho. Passa a língua nos
lábios vermelhos e comenta:
— Jesus! Esse pau vai acabar comigo, Cadu.
Seguro os seus cabelos firmemente e forço a sua cabeça na
direção do meu pênis, almejando sentir a suavidade da sua boca me
tomando. Ela segura na base e chupa a cabeça para logo depois
engoli-lo todo.
— Humm. — Fecho os meus olhos para aproveitar melhor a
sensação deliciosa e relaxo o corpo.
Contudo, mais uma vez, a imagem dela vem à minha cabeça
com toda a intensidade, fazendo-me ranger os dentes ao imaginá-la
me chupando como essa mulher, cujo nome nem conheço, faz
agora.
Porra!
Posso imaginá-la, com detalhes, nua na minha frente. Os
olhos verdes me fitando, dengosa, os lábios inchados me dando
prazer. Posso sentir as minhas mãos tocando o seu rosto,
passeando e apertando os seios delicados, acariciando a boceta
rosada e melada, enfiando os meus dedos até ouvi-la gemer. Porra!
— Bia… — sussurro o nome dela quando sinto o gozo me
atingir com força. Todo o meu corpo treme. — Beatriz…
Abro os meus olhos no instante em que a mulher se afasta e
um jato de sêmen atinge o seu rosto, fazendo-a gritar, assustada.
— Seu… Seu cretino! Estava murmurando o nome de outra
enquanto eu te chupava! — esbraveja, irritada.
Puta merda!
Nem consigo formular uma palavra, pois no instante seguinte
ela acerta os cinco dedos no meu rosto com toda força que tem.
— Babaca! — diz e sai pisando duro na direção da porta.
Diabos! Levo a mão ao local que ela acertou o tapa, sentindo
uma ardência descomunal, e deixo a minha cabeça cair para trás. O
que está acontecendo comigo?
CAPÍTULO 32

CARLOS EDUARDO

Limpo os vestígios de esperma, do meu pênis e do chão, com


o auxílio de um papel toalha que peguei na cozinha. Tiro a cueca que
também está suja e caminho na direção do meu quarto, irritado. Essa
merda nunca aconteceu antes, porra! Eu tinha um mulherão delicioso
para enfiar o pau a noite inteira e simplesmente meti o pé pelas
mãos, chamando o nome de outra enquanto ela me chupava. Será
alguma maldição?
Entro debaixo do chuveiro para me lavar, mas me frustro
ainda mais ao ver a minha ereção erguendo-se, majestosa, como se
eu não tivesse acabado de gozar. A situação chega a ser cômica de
tão absurda.
Gemo, rouco e baixo, quando a imagem dela me invade
novamente. Parece alguma espécie de alucinação descabida.
Pensar nela me deixa duro ao extremo e a culpa me invade.
Sorvo o ar com dificuldade, enquanto o líquido transparente
escorre pelos meus cabelos, varrendo todo o restante do meu corpo.
Mesmo debaixo da água fria, sinto-me em meio ao deserto,
morrendo de sede e fome. É assim que me sinto quando os meus
pensamentos voam até ela. Beatriz é um oásis em meio às dunas de
areia debaixo do sol escaldante. E eu sou o viajante perdido que não
mata a sua sede há vários dias.
As coisas não se encaixam como deveriam. Eu não posso
querê-la dessa forma tão imoral. Sou um homem maduro,
experiente, já fiz todas as obscenidades que se possa imaginar. E
quanto a ela? É uma menina. Apenas uma menina. Linda,
inteligente, deliciosa… Diabos! Que espécie de pervertido eu sou?
Termino o meu banho, seco o corpo e me deito na cama larga.
O tempo não passa. Rolo de um lado a outro sem conseguir pregar
os olhos. Sinto-me exausto, sufocado, com milhões de problemas
para resolver. E só nas horas mortas da madrugada consigo dormir
um pouco.

Acordo cedo. Tomo apenas um café forte para aplacar a noite


mal dormida e sigo direto para a empresa. Após a reunião com a
equipe de funcionários e os empresários, retorno à minha sala para
dar continuidade às tarefas do dia.
Acomodo-me atrás da minha mesa, ligo o computador e
respondo alguns e-mails. Uma pilha de papéis me aguarda para
análise, fazendo eu me arrepender de ter saído da cama para
trabalhar.
Passo a mão pela minha barba por fazer, sentindo a aspereza
dos fios despontando e espetando a minha pele. Não tive o menor
ânimo para me barbear hoje pela manhã. Enquanto trabalho,
aguardo a resposta dos empresários que prometeram pensar na
minha proposta. Se por um acaso for positiva, começaremos as
modificações no projeto principal do resort imediatamente.
As horas passam, e eu continuo enfiado no trabalho como se
não houvesse amanhã. Almoço às duas da tarde, após Felipe entrar
na minha sala questionando por que não apareci no restaurante que
costumamos frequentar no intervalo do expediente.
A verdade é que meter a cara no trabalho foi a única maneira
que encontrei de parar de pensar nela por alguns instantes.
Afrouxo o nó da gravata e arregaço as mangas da camisa
branca, respirando fundo. Mais um dia termina. Mais um dia que a
vontade de a ter em meus braços me leva à beira da loucura.
Arrumo os papéis, ligo para a secretária e peço para me
enviar a agenda de reuniões do dia seguinte. Enquanto aguardo o e-
mail, o telefone volta a tocar. É Sandra, informando que o perito
deseja falar comigo novamente.
Autorizo a entrada e aguardo.
— Boa tarde, senhor Carlos Eduardo! — diz e caminha até
onde estou, sentando-se na cadeira à minha frente.
— Boa tarde, Rogério. Alguma novidade sobre o que pedi? —
questiono.
— Sim. É por isso que estou aqui — responde e me entrega
alguns papéis. — Aí estão todas as informações que precisa saber
sobre o incidente da boate.
Analiso a documentação, conferindo o nome do Pedro,
algumas imagens e os seus dados pessoais, incluindo o endereço.
Dispenso o homem após uma última conversa. Pego os
documentos e saio da empresa, imaginando como prosseguirei de
agora em diante. A primeira coisa a fazer será confrontá-lo. Não
permitirei que esse desgraçado volte a se aproximar dela, nem por
cima do meu cadáver.
Arranco a toda velocidade, seguindo as instruções do
endereço dele através do GPS. Ao estacionar o carro na rua em que
ele mora, aguardo até aparecer uma oportunidade de falar com ele
sem precisar colocar seus pais por dentro do assunto, por enquanto.
Aguardo cerca de quarenta minutos, até ver o portão se abrir
e um Ecosport vermelho sair. Quando o carro se vira para pegar
velocidade na rua, consigo ver a cara do rapaz pela abertura da
janela. Bingo!
Espero-o pegar uma certa distância, ligo o Mercedes e o sigo
pelas ruas movimentadas do Rio. Meia hora depois, ele entra no
estacionamento de um shopping e eu piso o pé no acelerador. Essa
é a oportunidade que preciso.
Ao entrar, vejo-o saindo do veículo e caminhando na direção
dos elevadores. Estaciono o mais rápido que consigo e corro em sua
direção. Procuro as câmeras de segurança e identifico um ponto
neutro atrás de uma pilastra. Alcanço-o e puxo-o para o ponto morto
das imagens e, antes que ele tenha alguma reação, levo minhas
mãos diretamente ao seu pescoço, segurando o desgraçado pelo
colarinho da camisa.
Ouço um murmúrio assustado saindo da sua boca, mas não
espero que ele grite. Prenso Pedro no pilar, levo minha mão até a
sua garganta e o ergo do chão, deixando-o na altura do meu rosto.
— Olá, Pedro! — digo com sangue nos olhos, apertando-o
cada vez mais.
O homem arregala os olhos e leva as duas mãos até o
pescoço, o rosto todo vermelho pelo medo e o aperto que aplico.
Tenta a todo custo se libertar.
— Ficou… louco? Você está… me sufocando… — sussurra
com a voz falha.
— Vou direto ao ponto, garoto. Eu sei de tudo o que
aconteceu na merda daquela boate. Sei o que você tentou fazer com
a Beatriz. Eu só não quebro a sua cara aqui e agora porque não irei
sujar minhas mãos com um verme feito você, entendeu? — Encaro-o
com toda a minha fúria e continuo: — Não ouse se aproximar dela
novamente. Nem mesmo pense nessa possibilidade. Sob qualquer
pretexto, nunca chegue a menos de quinhentos metros dela. Eu
tenho os vídeos e todas as provas necessárias para te deixar em
grandes apuros. Vai querer isso, pirralho?
O rapaz arregala os olhos ainda mais e balança a cabeça em
negativa. Está se cagando de medo, o covarde.
— Ótimo. Lembre-se: uma única ligação e eu acabo com toda
a merda de carreira que você pensa em construir. Isso se não acabar
atrás das grades.
Dito isso, afrouxo o aperto em sua garganta e o jogo com toda
a minha ira no chão, fazendo o moleque gemer de dor com a força
do impacto.
Viro-lhe as costas e vou embora.

Alguns dias depois

Sobrevivo um dia após o outro, sem ânimo. Minha rotina se


resume a me deslocar entre o meu apartamento, a casa dos meus
pais e o trabalho. Isso é o bastante para mim. Sinto-me vazio,
confuso. É como se as coisas à minha volta tivessem perdido a cor.
Por várias vezes, fui até a casa de Felipe, alegando pegar um
documento, na esperança de vê-la. Mas olhá-la à distância só pirou
as coisas. Em algumas dessas ocasiões, tentei me aproximar, mas
fui completamente ignorado.
O desprezo dela, a indiferença, me feriu de uma maneira
arrebatadora.
Tentei tirá-la da minha cabeça, procurei outras mulheres para
saciar o meu desejo, mas o meu pau não correspondia aos
comandos da minha mente. Fui chamado de imbecil, babaca, frouxo,
tudo porque o maldito traidor do meu pau resolvia falhar. Eu sequer
conseguia ter tesão, então eu as descartava antes de um vexame
maior. Também dispensei várias investidas explícitas. A essa altura,
estão pensando que mudei de time e agora sou gay. Tudo porque eu
não consigo esquecer aquela maldita sedutora.
Confiro as horas pela milésima vez, no relógio localizado na
parede do escritório, ansioso. São onze da manhã, o ponteiro do
relógio deixa claro que o tempo passa e os momentos perdidos não
voltam mais. Chego à conclusão de que preciso dar um rumo à
minha vida, antes que eu perca o controle de tudo.
Olho para a tela do meu celular sobre a mesa e decido ligar.
Talvez convidá-la para sair, já que as minhas outras tentativas de
aproximação não surtiram efeito.
Ligo, mas a chamada cai direto na caixa de mensagens.
Deixo os meus braços caírem para os lados, mas respiro
fundo ao imaginar que ela esteja na sala de aula.
— Chega disso! — Levanto-me, impaciente, pego os meus
pertences e caminho em direção à porta. Recordo-me de Felipe
comentando, uma certa vez, em que faculdade a filhinha dele
cursava Biologia Marinha. — Sandra, cancele todos meus
compromissos do dia. Preciso sair! — digo à secretaria, assim que
me aproximo da sua mesa.
— Sim, senhor. — Balança a cabeça em afirmativa.
— Se alguém me procurar, informe que não retornarei mais
hoje. Obrigado!
Afasto-me e caminho na direção do elevador, decidido a dar
um basta nessa obsessão infernal.
No percurso para a faculdade, compro um buquê de rosas
vermelhas, pequeno e elegante. Estou disposto a qualquer coisa
para que ela me aceite. Apenas uma noite. Uma única noite, e tudo
vai voltar ao normal. Tenho certeza de que é apenas um desejo
reprimido. Sei que ela ainda me quer, está apenas chateada comigo.
Vou tratá-la bem e transformar sua primeira vez em algo maravilhoso
e inesquecível. Será muito melhor para ela do que se entregar a
qualquer fedelho incompetente. Vamos trepar deliciosamente, vou
tirar sua virgindade, e nossas vidas poderão prosseguir
normalmente. Eu, satisfeito, e ela iniciada de uma forma primorosa.
Sim, sairemos ambos satisfeitos. E o Felipe sequer precisará saber.
Paro o carro do outro lado da rua, na frente de um prédio, e
aguardo.
Vejo Beatriz sair ao lado de Gracy. As duas conversam e
sorriem alegremente. Ela parece feliz.
Meu coração dispara quando ela passa a mão pelos cabelos,
tirando as madeixas macias do rosto. Seu sorriso encantador brilha
mais que o sol, fazendo-me sorrir também, admirado do quanto ela é
linda. Perfeita!
Por um momento, esqueço-me do que vim fazer aqui e desço
os meus olhos pelo belo e delicado corpo. As coxas bem torneadas,
apertadas dentro da calça jeans, os quadris delineados e bem feitos.
Sinto meu pau endurecer no mesmo instante, ansiando em
provar cada pedacinho dela. Minha boca saliva com a possibilidade
de beijá-la, lamber os seios intumescidos, chupar a boceta deliciosa.
Ofego.
Pego o buquê no banco de trás, saio do carro e dou meia-
volta para atravessar a rua e chegar até ela. No entanto, sinto o
mundo parar à minha volta e uma sensação de sufocamento me
toma. Meu peito se aperta, minha garganta fica seca e todo o desejo
que sinto dá lugar à angústia, ao desespero.
Como em câmera lenta, vejo Victor correr até ela e abraçá-la,
erguendo a minha menina do chão. Ela gargalha, feliz. Fica contente
em vê-lo.
Meu mundo parece ruir. Não entendo que diabos acontece
comigo, mas a dor que sinto no peito assemelha-se à dor física. Dou-
me conta de que não posso mais fugir, não há como negar. Estou
perdidamente apaixonado pela filha do meu melhor amigo, uma
menina vinte anos mais jovem e que agora me odeia.
Jogo o buquê na lata de lixo mais próxima, entro no carro,
aperto o pé no acelerador e saio sem rumo. Sem destino. Eu só
queria que ela saísse da minha cabeça, maldição!
CAPÍTULO 33

BEATRIZ

Saio da sala de aula com Gracy e seguimos direto para o


elevador. Minha amiga está animada. Desde ontem, quando eu, ela
e Victor saímos para fazer um programinha de amigos, que se
resumiu a uma ida ao cinema, percebi que ela não tira o sorriso do
rosto. Desconfio que a danada esteja de olho no bonitão e só está
esperando que eu dê um empurrãozinho, já que faz questão de
dizer o quanto ele é bonito e divertido, e eu uma boba por não dar
uma oportunidade.
— Bia, pelo amor de Deus. Ou você dá logo para aquele
homem ou sai da moita. Nesse chove não molha que não pode ficar
— diz, sorridente, segurando o meu braço enquanto saímos do
elevador e caminhamos pelo corredor que dá acesso à porta de
saída.
— Gracy, para com isso. — Gargalho e coloco a mão em
minha boca para abafar o riso. — Todos irão ouvir, se continuar
falando nesse tom.
Ela para por um instante e me encara com a sobrancelha
franzida e olhar travesso.
— O que você tem, garota? Um gato daqueles babando por
você e você dando mole? Poxa, Bia, nem parece que é minha
amiga.
Balanço a cabeça e volto a sorrir.
— Somos amigos, Gracy. É tudo que posso dar a ele, minha
amizade. Você sabe por quê. — Ajeito a mochila em minhas costas
e continuo: — Mas se está interessada, o caminho está livre, fique à
vontade. — Pisco e volto a andar, chegando à porta de saída. De
onde estou, posso ouvir Gracy comemorando:
— Yes… Yes… Yes…
Sorrio mais uma vez e aguardo até que ela me acompanhe.
Saímos do prédio e continuamos conversando, indo na direção da
rua.
O dia está ensolarado, com poucas nuvens no céu azulado.
O vento sopra, fazendo algumas mechas de cabelo caírem por meu
rosto, e eu as tiro, enquanto gargalho de mais uma gracinha de
Gracy.
Ao dar mais alguns passos, somos surpreendidas pelo dito
cujo, que chega até nós, feliz. Abraça-me, erguendo-me do chão e
dando uma voltinha, em seguida, faz o mesmo com Gracy.
Enquanto me recupero do susto e observo minha amiga
agarrá-lo pelo pescoço, tirando uma casquinha quando Victor a
abraça, olho de relance para a rua e vejo um carro que parece ser
familiar.
O Mercedes pega velocidade e, em poucos segundos, some
da minha vista. Meu coração acelera ao imaginar que pode ser ele.
Sinto meu peito se apertar devido à angústia e à saudade que sinto.
— Oi, meninas — Victor nos cumprimenta, arrancando-me
dos meus devaneios, e eu balanço a cabeça, sentindo-me uma
idiota por continuar sofrendo por aquele homem.
Viro minha atenção para ele e curvo os lábios em um sorriso
forçado. Contudo, acabo sorrindo de verdade ao ver Gracy agarrada
ao braço dele.
— Victor, que surpresa! — Apoio a mão em seu outro braço e
começamos a andar. — O que faz aqui?
— Oras. Ele veio me ver, é claro — diz Gracy, dando uma
piscadela.
Assinto com a cabeça, tentando esconder o riso, e espero
que ele responda. O homem sorri, sem jeito, com o comentário de
Gracy, e responde:
— Bom, garotas. Como estou no meu horário de almoço,
pensei em levá-las para almoçar comigo. Tenho novidades.
— Humm. Então é essa novidade o motivo de toda essa
alegria? — questiona Gracy. — Poxa, pensei que era por minha
causa. Estou decepcionada — dramatiza.
Não consigo controlar uma gargalhada diante das
provocações dela e sigo andando na frente.
Ao atravessar a rua, paro para esperá-los, e é quando vejo
algo intrigante dentro da lixeira. Há um buquê de rosas vermelhas.
As flores ainda estão frescas e brilhantes.
— Que estranho. Quem faria isso? — sussurro para mim
mesma.
Gracy e Victor me alcançam e seguimos em direção ao
restaurante que costumo frequentar. Olho uma última vez para as
rosas e sigo andando. Estamos quase chegando ao hall de entrada,
quando ouço o toque do meu celular. Aceno para que ambos sigam
sem mim e atendo o aparelho:
— Alô!
— Oi? Beatriz? Querida, aconteceu algo maravilhoso. — É a
voz da Victoria, bióloga da ONG.
— Ah! Oi. Tudo bem?
— Parabéns. Você conseguiu. Estou tão emocionada que
mal consigo falar direito.
Pisco os olhos algumas vezes, confusa, e questiono:
— Desculpa, Vic, mas o que eu consegui? Não entendi.
Ouço a respiração profunda da mulher do outro lado da linha
e logo ela volta a falar, eufórica:
— O departamento de comunicação da Ferraz Engenharia
entrou em contato conosco hoje pela manhã, informando que as
obras serão paralisadas por alguns dias, até que o novo projeto seja
aprovado. Pediram desculpas pelos transtornos e nos enviaram um
convite assinado pelo CEO, o próprio Carlos Eduardo Ferraz,
destinado a um dos nossos voluntários. — Meu coração paralisa
quando ouço o nome dele. Minhas pernas tremem de uma maneira
tão intensa que preciso me segurar na parede mais próxima.
— Que convite? — pergunto, trêmula.
— Ele convida você para fazer um discurso sobre o projeto
de preservação de tartarugas marinhas, no auditório da empresa…
para os donos do resort.
— Meu Deus! — digo, incrédula. Meu coração bate tão forte
no peito que posso ouvir as batidas descompassadas.
— Querida, eu não sei o que você fez, mas não tenho
palavras para agradecer. Nunca teríamos conseguido sem a sua
ajuda. Obrigada, Beatriz.
Nem ao menos percebo quando retiro o celular do meu
ouvido e sinto uma lágrima de agradecimento cair. Meu coração
transborda de felicidade, uma mistura de receio com medo e amor.
Céus!
— Beatriz? Bia…? — Como um sussurro distante, ouço a voz
de Victoria me chamando e recobro a consciência.
— Oi — murmuro.
— Fique bem, querida. Mais uma vez, obrigada.
— Não precisa agradecer.
A mulher desliga a chamada e eu continuo escorada na
parede, sorridente. As lágrimas abundantes banham todo o meu
rosto. É como se o tempo voltasse. Eu me vejo há alguns anos,
quando o olhava escondida pelos cantos, suspirando, enquanto ele
conversava com o papai. Eu o amava tanto… Ainda o amo…
Mas, então, a consciência fala mais alto e eu balanço a
cabeça, negando-me a permitir que ele se aproxime e eu saia
magoada de novo. Preciso ser forte.
Desencosto-me da parede e sigo para o interior do
restaurante.
Durante o almoço, Victor fala sobre a proposta de trabalho
que teve em outra empresa e que, assim que o estágio na Ferraz
terminar, ele irá assinar o contrato. Parabenizo-o e tento me manter
concentrada na conversa, mas meus pensamentos acabam voando
até o Cadu. Ouço apenas sussurros distantes do que Victor e Gracy
falam.
Ao terminarmos, nos despedimos e volto para casa. Recordo
que é hoje a festa de despedida de solteira da Priscila, a prima do
Cadu. Apesar do desânimo, decido ir, por ter dado a minha palavra.
Combino o horário com Gracy e tiro o restante da tarde para
descansar.
Assim que acordo, arrumo uma pequena bolsa com biquíni,
um vestido vermelho de festa, sandálias de salto, perfumes e
maquiagens, além de itens de higiene pessoal. Alguns minutos
depois, estou entrando no Uber com Gracy.
Priscilla havia dito que passaríamos o fim de tarde na piscina,
apenas um grupinho de mulheres curtindo e batendo papo, e à
noite, após a sessão de strippers, os rapazes que estarão com o
noivo dela em um outro clube se juntarão a nós para terminarmos a
noite em uma festa de grande estilo. Essa parte eu tive que omitir
para o papai, no entanto, disse que iria dormir por lá com as
garotas.
Cerca de uma hora depois, entramos na rua do local da festa.
O sol ainda não se pôs e o clima está quente, perfeito para uma
festa na beira da piscina. Saio do carro acompanhada da minha
amiga e seguimos até o portão.
— Bem-vindas, meninas — Priscila nos cumprimenta com um
abraço assim que abre o portão. — Entrem. Só estava faltando
vocês — diz e se afasta, dando espaço para que possamos passar.
— Obrigada! — respondo.
Ao entrarmos no local, nos deparamos com um espaço
imenso e bem decorado, com jardim bem cuidado e podado, repleto
de flores coloridas. Ao lado da piscina, algumas mulheres beliscam
alguns petiscos e conversam entre si, alegremente.
Algumas, reconheço dos eventos que já frequentei com meu
pai. Outras, reconheço como sendo funcionárias da Ferraz.
— Me sigam, garotas. Irei mostrar onde poderão trocar de
roupas.
Após me trocar, sigo para a piscina com Gracy. Apesar do
clima alegre e descontraído, não é bem assim que me sinto.
Confesso que me vejo pensando nele muito mais do que deveria, e
a possibilidade de vê-lo mais tarde deixa-me ansiosa.
Recordo-me das vezes em que o vi na minha casa, nos
últimos dias. Eduardo estava diferente, parecia triste. Ou talvez
fosse apenas a minha imaginação me pregando peças. O problema
é que eu o quis desesperadamente em cada momento que ele
tentou se aproximar, mas o medo da rejeição, de ser magoada outra
vez, falou mais alto, e eu fugi. Afastei-me dele o máximo que pude.
As horas passam, vejo as pessoas se divertindo, e logo
chega a hora da diversão. As mulheres gritam e batem palmas
quando os strippers entram em cena. Gracy é a primeira a subir no
palco e se agarrar a um deles, quase que tirando a cueca do rapaz.
Não consigo ver a cena e não me acabar em risos. São um
dos poucos momentos em que me permito sorrir de forma
espontânea.
Após o show de pênis dançantes, rouca de gritar e
completamente descabelada, sigo até um dos quartos onde deixei
minhas coisas. Tomo um banho e me arrumo, tendo cuidado para
não pesar tanto na maquiagem.
Ao voltar para a festa, percebo a presença de mais algumas
pessoas. Homens e mulheres dançam e conversam, enquanto um
DJ anima a pista.
Com o cair da noite, o vento começa a soprar frio. Recordo-
me da ligação de Victoria, e isso me faz pensar que preciso
agradecê-lo, talvez me desculpar por ter sido tão grossa naquele
dia.
Pego o celular na bolsa de mão, caminho até um local mais
afastado das demais pessoas e ligo. Contudo, a ligação cai direto na
caixa de mensagens.
— Beatriz? — Viro-me e dou de cara com Priscila. A loira me
fita com olhos reluzentes e sorri. — Está tudo bem?
— Ah… Sim… Sim, está tudo bem — gaguejo e desvio o
olhar para o portão, aflita. Um enorme aperto toma conta do meu
peito.
— Eu não sei se ele virá, Bia. — Surpresa, volto a fitá-la.
— O que disse?
— Ele, o Cadu. Não sei se ele virá.
Sinto minhas bochechas corarem com o comentário dela.
Minha expressão espantada faz com que ela sorria, mostrando os
dentes perfeitamente alinhados.
— Mas… Como assim? — questiono, confusa. Ainda não
consegui entender aonde ela deseja chegar. — Você sabe de algo?
A mulher sorri e cruza os braços em volta do corpo.
— Tudo o que sei é que nunca vi meu primo apaixonado por
ninguém antes… — Ela faz uma pausa, suspira e olha para a frente.
— A não ser pela ex-noiva. Mas ela o traiu da pior forma possível.
Estreito os meus olhos, sem acreditar em tudo o que ouço, e
questiono:
— Por que está me dizendo essas coisas, Priscila?
Ela volta a me encarar, parecendo pensativa.
— Porque o meu primo está apaixonado por você, Beatriz. E
vejo-o sofrendo dia após dia.
Meu coração parece falhar uma batida e o ar falta em meus
pulmões. Sinto que estou perdendo o chão, o mundo roda à minha
volta.
— Isso… não é verdade. — Uma lágrima rola pela minha
bochecha e eu a seco antes que ela perceba.
Priscila sorri e diz:
— Eu vou retornar para a festa. Espero podermos conversar
com mais calma depois.
Assinto e a acompanho com o olhar até que ela se perca na
multidão.
As horas passam lentamente e a ansiedade me toma. A cada
minuto, olho na direção do portão, mas não vejo nenhum sinal dele.
Sinto que estou retrocedendo, todos os dias que lutei para esquecê-
lo se tornam insignificantes.
Impaciente, decido voltar mais cedo para casa. Despeço-me
de Priscila e aviso à Gracy que estou indo embora. Minha amiga
ainda faz menção de me acompanhar, mas a convenço a ficar,
afinal, não quero que ela perca a diversão por minha causa.
Já dentro do táxi, observo o circular dos carros na rua, as
luzes nos prédios. As pessoas indo de um lado a outro, apressadas.
O sinal fecha e, enquanto aguardo, continuo olhando o circular de
pessoas na calçada. É quando o vejo.
Cadu está sentado em um dos vários bares da orla. De onde
estou, posso ver a decadência da situação. O Mercedes
estacionado bem em frente, o mesmo carro que vi mais cedo em
frente à faculdade. Mas o que mais chama a minha atenção é a
garrafa de uísque quase vazia sobre a mesa e o seu olhar perdido.
Nem percebo quando simplesmente desço do carro, peço ao
motorista para me aguardar e corro na direção dele, aproveitando o
sinal fechado. Aproximo-me do bar, mas não presto atenção em
nada à minha volta. Apenas fito o homem que por tantos anos amei,
com um copo de uísque na mão. A barba por fazer, o olhar fitando o
nada. Ele parece acabado.
— Cadu? — chamo.
Ele levanta o olhar vermelho e fita os meus. Neste momento,
constato que ele está completamente bêbado.
— Bia… — Mesmo com a fraca luz, consigo ler em seus
lábios quando surra o meu apelido.
Cadu continua me olhando firmemente e eu me aproximo
mais, imaginando o que o fez ir até ali. Olho a garrafa de uísque
quase vazia sobre a mesa e ele segue o meu olhar. Aperta o copo
com força entre os dedos e sorri. Um sorriso amargo, cheio de
angústia. Meu peito fica sufocado ao vê-lo desta maneira.
Desço meu olhar para o seu corpo e vejo que ainda usa os
mesmos trajes do trabalho, com exceção do paletó. A camisa
branca está amarrotada, demonstrando que passara o dia com ela.
— Por que me olha assim? Não precisa sentir pena nem ficar
chocada, Bia. A bebida está me ajudando a esquecer meus
temores… Eu também sou humano… Também tenho minhas
fraquezas… — diz, voltando a fitar o nada, e leva o copo à boca
mais uma vez, tomando outro gole.
— Cadu, por favor, não beba mais, vamos para casa! — Toco
o seu ombro e o encaro de frente. — Você já tomou quase todo o
uísque da garrafa, vai acabar tendo um coma alcoólico.
— Isso ajuda a esquecer… — Respiro fundo e o fito, confusa.
Ele fala coisas aleatórias que não consigo compreender. Imagino
ser o efeito da bebida.
— Não é responsável beber desta maneira. Por favor,
vamos?
Ele curva os lábios em um sorriso debochado, fecha os olhos
e balança a cabeça em negativa.
— Cadê seu namorado, criança? Ele é tão idiota assim, a
ponto de deixá-la andar sozinha à noite?
— Cadu… O que está dizendo?
— Eu vi você… — Ele me interrompe, ainda com os olhos
fechados. — Estava feliz com ele… Não foi tão difícil me esquecer,
não é? Mesmo depois de tudo, depois de me seduzir com seus
beijos, suas carícias. — Chocada, vejo-o abrir os olhos e me fitar. —
Mesmo depois de dizer que me ama…
Ele me viu com alguém? Céus, o que este homem está
dizendo? Ficou louco?
— Você está delirando. — Seguro em seu braço e o puxo
para que ele se levante. — Vamos para casa, não é seguro ficar
aqui!
Para o meu alívio, ele não contesta. Passa a mão na barba
por fazer e suspira. Levanta-se, um pouco cambaleante, e chama o
garçom.
— Talvez você tenha razão. Meu carro está logo ali — diz,
apontando para o Mercedes estacionado em frente ao local.
— Não irá dirigir, Cadu. Olha o seu estado!
— Não posso deixar o carro aqui — diz, tirando as chaves do
bolso.
Toco a sua mão, devagar, e o encaro, aflita. Sentir o calor da
sua pele me arrepia, mas ignoro a sensação para me concentrar no
que é preciso.
— Por favor… É perigoso — peço. Retiro as chaves da sua
mão e sinto meu coração parar quando os olhos azulados fitam os
meus. Eduardo assente, e eu passo meu braço na sua cintura,
guiando-o em direção à rua. — Vem, o táxi está esperando.
Ainda o ouço rir com acidez, mas ignoro e continuo andando.
Quando entramos no carro, passo as instruções do endereço
do Cadu ao motorista e o ajudo a colocar o cinto de segurança.
Cada segundo em que toco o seu corpo, recordo dos momentos
íntimos que tivemos, dos beijos e das carícias que trocamos. Cada
toque me inebria.
Ele fecha os olhos quando o carro se movimenta, parecendo
estar incomodado com a luz que vem dos prédios. O cheiro de
uísque invade o interior do veículo, fazendo o meu peito se apertar,
angustiado, imaginando a quantidade de álcool que ele consumiu.
A viagem é feita em silêncio até o Leblon. Ao chegarmos em
frente ao prédio que ele mora, volto a abraçá-lo pela cintura para
que possa se firmar e seguimos para o elevador.
Eduardo está abatido. Caminha cambaleante, escorando-se
na parede.
Eu poderia simplesmente deixá-lo aqui e ir embora, afinal, já
está em casa. Mas algo dentro de mim grita com força para que eu
entre com ele. Por mais que eu queira seguir a minha consciência e
continuar distante, meu coração pede que eu fique, e é isso que
faço.
— Onde está a chave do apartamento? — pergunto.
— No meu bolso — informa.
Pego a chave, destranco a porta e entramos. Ao acender a
luz, deparo-me com a sala bem decorada e moderna, com paredes
em tons pastéis. Continua exatamente igual a quando vim aqui com
papai, há alguns meses.
Vejo-o colocar a mão sobre os olhos e gemer baixinho, como
se sentisse dor. Ele se movimenta e caminha até o sofá, deitando-se
de olhos fechados.
— Não irei deixar você aqui. Irá acordar quebrado pela
manhã. Vamos para o quarto.
Mais uma vez, ele não contesta, então o ajudo a se levantar e
o levo em direção ao quarto principal. Deito-o na cama e começo a
tirar a sua camisa, na intenção de colocá-lo debaixo do chuveiro.
Ele sorri. É um sorriso forçado, mas, ainda assim,
encantador.
Termino de desabotoar os botões e subo na cama para
suspender suas costas e arrancar o tecido branco pelos braços.
Após acomodar sua cabeça em cima do travesseiro, desço minhas
mãos até sua calça e também a tiro.
— Precisa de um banho frio, Cadu, vai se sentir melhor.
Perco o fôlego ao observar o seu corpo bronzeado e suado
quase nu, apenas o pênis coberto por uma cueca boxer branca.
Passo os meus olhos pelo peito forte, salpicado por alguns fios de
cabelos negros, e ofego. Sinto vontade de tocá-lo e sentir a maciez
da pele, mas me contenho.
— Vamos.
Levo-o até o banheiro e o coloco debaixo do chuveiro. Ligo a
água fria e continuo firmando-o, sentindo o líquido molhar os nossos
corpos e ensopar as minhas roupas.
— Preciso que pegue alguns comprimidos para mim, em
cima do balcão da cozinha — diz, ofegante. — Não estou tão
bêbado assim, Bia… Na verdade, estou com uma puta dor de
cabeça. O álcool que consumi só piorou um pouco as coisas.
Quando ouço sua voz fraca e sussurrada, sinto minhas
bochechas corarem, envergonhada. Afasto-me um pouco e o fito,
completamente incrédula ao que acabei de ouvir. Não é possível
que ele me permitiu tirar suas roupas e colocá-lo debaixo do
chuveiro e, só agora, me diz isso. Não… Qualquer um ficaria
extremamente bêbado ao consumir toda aquela bebida…
— Mas você secou uma garrafa de uísque… É impossível
não estar…
— Por favor… Os comprimidos. — Percebo que ele fecha os
olhos e suspira, demonstrando estar sofrendo muito mais do que
imaginei. Diante do seu apelo, corro até a cozinha e encontro
algumas cartelas de analgésicos em cima do balcão. Encho um
copo com água e corro de volta para o quarto.
Encontro-o sentado na cama com uma toalha enrolada na
cintura. As mãos trêmulas estão na testa, protegendo os olhos da
claridade.
— Tome, Cadu. — Ele pega a água e os compridos da minha
mão. Toma dois analgésicos e me entrega o copo.
— Por que ainda está aqui, Beatriz? — questiona. A
expressão de dor dá espaço a algo parecido com raiva. O azul do
seu olhar se intensifica. — Seu namorado não vai gostar de saber
que está sozinha em um apartamento com um homem, pelado. E
pior, que foi você mesma quem tirou as roupas dele. — Sinto a
hostilidade vinda da sua voz, mas ignoro. Coloco o copo em cima da
mesinha de cabeceira e volto a minha atenção para ele.
— Não devo satisfações a ninguém, Eduardo — respondo,
magoada. No entanto, procuro disfarçar ao máximo o quanto suas
palavras me ferem. — Deite-se, precisa descansar.
Ajudo-o a se agasalhar na cama e o cubro com a colcha
macia.
Ao me levantar para ir embora, olho-o uma última vez, no
momento exato em que ele também me fita.
— Por favor, não vá. Fique comigo essa noite — sussurra. O
olhar angustiado fixa no meu.
Suspiro. Sei que devo negar o seu pedido, antes que seja
tarde demais, mas não consigo. Eu não conseguiria ir para casa e
deixá-lo ali, sofrendo. Apenas assinto com a cabeça e o vejo fechar
os olhos, a expressão fechada tornando-se aliviada.
Apago a luz do quarto, deixando apenas um pequeno abajur
aceso, e corro até o armário de roupas dele. Pego uma blusa
qualquer, tiro o meu vestido e peças íntimas molhadas e me visto
com a camisa. Em seguida, sigo até a cama.
Assim que me aproximo, ouço sua respiração pesada e
constato que ele adormeceu. Afasto a colcha que o cobre e
aconchego-me ao seu corpo imóvel. Deslizo minhas mãos pelo seu
peito nu, admirando a musculatura rígida, e ofego, sentindo meu
corpo se excitar apenas por tocá-lo.
Beijo o seu peito de leve e subo, deslizando os lábios pela
pele quente do seu pescoço e queixo, sentindo os fios da barba
arranhando-me, o cheiro de homem misturado a uísque invadindo
cada pequena célula do meu corpo. Beijo e mordisco a sua pele até
alcançar a boca macia e, então, roço os meus lábios nos dele
devagar, dando a ele todo o amor que guardo dentro do meu peito.
Com a respiração descompassada, descanso a minha
cabeça no seu peito até me acalmar e também adormeço.
CAPÍTULO 34

CARLOS EDUARDO

Abro os olhos com dificuldade, sentindo um enorme peso na


minha cabeça. Minhas pálpebras doem, mas, ainda assim, me forço
a mexer o corpo em meio ao breu. Tudo está escuro e silencioso
aqui dentro, permitindo que eu escute os sons da noite lá fora: o
barulho de carros e sirenes transitando pelas ruas do Rio.
Ouço uma respiração profunda vinda do meu lado, na cama, e
constato que não estou sozinho. Confuso, tateio debaixo dos lençóis
até conseguir sentir a pele quente e macia do que imagino ser as
pernas de uma mulher, fazendo com que eu me esforce mais para
lembrar o que diabos aconteceu.
Flashes do dia rondam a minha cabeça como um vendaval. A
faculdade. Beatriz feliz com outro homem. As rosas que joguei no
lixo. Maldição!
Meus nervos se tensionam de uma forma terrivelmente
dolorosa e a dor que tanto lutei para esquecer volta com toda a sua
força. Sinto minha alma em pedaços.
Movo o meu corpo para conseguir me sentar, sentindo cada
nervo doer, e quando finalmente consigo, ligo o abajur e volto a
minha atenção para a mulher que dorme profundamente de bruços,
com o rosto agasalhado no travesseiro.
Puta que pariu! Bia?
Os cabelos dela estão espalhados sobre a cama, deixando-a
tão linda como um anjo. Os cílios pretos e densos emolduram os
olhos que tanto me fascinam, fazendo-me tremer de angústia e uma
vontade louca de tê-la em meus braços. Ofego e fecho os meus
punhos ao imaginar tudo o que pode ter acontecido. Que merda ela
está fazendo aqui?
Puxo um pouco os lençóis, revelando os ombros estreitos e as
costas bem delineadas cobertos por uma das minhas camisas de
trabalho. Meu pênis começa a inchar entre as minhas pernas,
tomado pelo desejo obsceno que sinto ao vê-la tão vulnerável a mim.
A cada minuto, uma lembrança diferente me atinge e, de
repente, tudo começa a fazer sentido.
Recordo-me de jogar as flores no lixo e seguir de volta para a
empresa, onde me enfiei de cabeça no trabalho até anoitecer. Eu só
queria arrancar aquela cena da minha mente, antes que eu
enlouquecesse de vez. Estava fora de mim, odiando-me por ser fraco
e ter permitido que uma menina me prendesse na sua teia daquela
forma.
Continuo descendo a merda do lençol até deixá-la quase
completamente descoberta. Preciso fechar os olhos e gemo baixinho
quando vejo o traseiro nu descoberto, um pouco arrepiado pela falta
do lençol. Porra!
Ela está sem calcinha. E está tão perto de mim… Tão doce…
linda.
Fascinado, toco a pele clara e lisa como seda. Meus dedos
tremem ao sentir a maciez dessa parte do seu corpo. A vontade de
tomá-la me inebria de uma forma terrivelmente dolorosa e, por um
instante, me esqueço do estado caótico em que me encontro e no
quanto ela pode ser perigosa.
Continuo deslizando minha mão pelas suas coxas e subo-as
novamente, até alcançar os quadris arredondados. Encosto o meu
rosto em seus cabelos, inspiro o aroma refrescante que emana deles
e ofego. Mordo o meu lábio com força quando o desejo me deixa
tonto. Preciso usar todo o meu autocontrole para não a acordar e
tomar o seu corpo para mim até o dia amanhecer.
Suspiro e retiro a parte do lençol que me cobre. Meu pau
salta, duro feito uma rocha, completamente melado, louco para ser
enterrado dentro dela.
Porra!
Irritado, saio da cama e caminho na direção do banheiro. Ligo
o chuveiro e permito que a água fria leve embora um pouco do meu
tormento.
Recordo-me de ter recebido uma ligação de Priscila,
questionando se eu não iria à sua festa de despedida de solteira. Eu
simplesmente havia me negado a comparecer, disse que precisava
esfriar a cabeça um pouco.
Já passava das oito da noite quando saí da empresa e
comecei a dirigir, sem rumo, pelas ruas do Rio. Meu peito estava
sufocado, a saudade dela estava me destruindo, e a cena que vi só
serviu para me afundar ainda mais. Minha cabeça doía como nunca,
era insuportável, mas, ainda assim, não me feria tanto quanto a dor
que estava cravada no meu peito.
Eu a havia perdido. Deixei Beatriz escapar por entre os meus
dedos e estava pagando o preço. Eu merecia aquilo.
Nem me dei conta quando estacionei o carro em um barzinho
qualquer da orla e pedi uma garrafa de uísque ao garçom. Tomei
algumas doses de uma única vez, a bebida descia rasgando pela
minha garganta como fogo líquido.
A dor de cabeça e o álcool me deixaram tonto e, por um
momento, achei que estivesse sonhando quando ouvi a voz dela,
chamando-me. Mas não era sonho, ela estava ali na minha frente,
sozinha.
Termino o banho e enrolo a toalha em volta da minha cintura.
Enquanto escovo os dentes para tirar o gosto amargo da boca, ouço
alguns passos vindos do quarto, dando-me a certeza de que ela
também acordou.
Passo a mão em meus olhos, sem muita certeza do que irei
dizer a ela. O que eu poderia falar? Que estou apaixonado? Que a
quero para mim? Maldição!
Como pude deixar isso acontecer? Porra!
Termino de enxaguar o rosto, respiro fundo e abro a porta.
Quando saio do banheiro, percebo que ela acendeu a luz principal do
quarto e está concentrada, olhando algo em suas mãos. Parece ser
um papel.
Ela mordisca o lábio, com um movimento deliciosamente sexy,
e eu suspiro, querendo-a como um animal faminto. Quando me
aproximo, Beatriz levanta a cabeça e me fita. As íris esverdeadas
brilham com luxúria. Seu olhar hipnotizante varre o meu abdômen nu
sem nenhum pudor, e a vejo encostar as pernas uma na outra,
esfregando-as.
Caralho! Grunho com este movimento inconscientemente
sexy, sentindo meu pênis ficar tão duro quanto uma barra de ferro.
Ela percebe o volume que se forma entre as minhas pernas,
deixando a toalha armada como uma barraca, e volta a me encarar
com os olhos acesos e assustados.
— Cadu, encontrei isso na sua camisa… — gagueja, com o
olhar assustado. Parece nervosa. — Meu Deus, as rosas… Foi você!
Então é isso. É o recibo da floricultura que está em suas
mãos.
Passo a mão por meus cabelos, nervoso. Ela sabe disfarçar
tão bem o que sente que por pouco me convence. É certo que está
fingindo-se preocupada, quando na verdade deve estar rindo da
minha cara. O que tem de linda tem de mentirosa.
— Isso não tem importância agora! — Caminho em sua
direção a passos firmes, a expressão séria, meu corpo tomado pelo
desejo e o ciúmes. De onde estou, consigo ouvir sua respiração
descompassada. — Não finja que sente alguma coisa, Beatriz, isso
não combina com você.
Ela dá alguns passos para trás e então se choca contra o
armário de roupas, ficando presa entre mim e o móvel.
— Você entendeu tudo errado… Eu e o Victor…
— Não fale o nome daquele bastardo! — interrompo-a,
enfurecido. — Me diga. Por que está aqui? Por que decidiu ficar? —
pergunto com o coração acelerado, agarrando-me à esperança de
que ela ainda me queira. — Diga!
— Você estava bêbado, eu não poderia deixá-lo naquela
situação — responde, ofegante, o olhar vidrado no meu.
Maldita! Sinto o ciúme corroendo-me por dentro, mas o desejo
louco de tê-la nos meus braços, ao menos uma vez, fala mais alto
que qualquer coisa.
— Só por isso?
— Não! — responde, fitando a minha boca — Eu quero
você…
Quando ouço suas palavras, sinto meu corpo ser tomado por
uma espécie de fogo ardente que consome cada célula do meu
autocontrole.
Rendido pelo poder que ela exerce sobre o meu organismo e
a minha mente, perco a razão dos meus atos e seguro o seu rosto,
trazendo a boca carnuda e suculenta para a minha. Quando
entreabro os seus lábios com os meus e penetro a língua em sua
boca, sinto-a estremecer e gemer em meus braços.
Eu a quero como nunca quis nenhuma outra mulher, nem
mesmo a minha ex-noiva. O que estou sentindo por Beatriz vai muito
além do que já senti por alguém antes e confirmo isso na forma
enlouquecedora com a qual meu corpo corresponde ao dela.
Sem desgrudar nossas bocas, desço minha mão pelas suas
costas e quadris, avaliando cada pedaço da minha camisa no seu
corpo. Ela também não fica atrás, mordisca os meus lábios e desliza
as mãos delicadas pela minha barriga, até chegar à borda da toalha.
— Eu quero tudo de você, menina — sussurro entre seus
lábios. — Sua boca, sua boceta, seu traseiro delicioso.
Beatriz geme e firma-se em meus braços quando afasto suas
pernas com as minhas e deslizo os meus dedos entre as suas coxas.
Exploro cada curva do sexo pequeno e escorregadio, enfiando os
meus dedos entre os lábios da boceta melada.
— Tão quente… Vou te comer de todas as formas esta noite.
— Cadu… — choraminga e me aperta mais… — Ai!
Esfrego o clitóris endurecido e o prendo entre os meus dedos,
fazendo Beatriz perder o equilíbrio das pernas. Seguro-a com mais
firmeza e penetro o indicador no seu canal. Os líquidos da sua
vagina lambuzam a minha mão e eu ofego, louco para sentir seu
gosto na minha língua.
— Diabos! Está pingando de tão molhada. — Minha voz sai
rouca, sussurrada. — Abre mais as pernas. Se entregue a mim.
Mesmo trêmula, ela obedece e faz o que peço, dando-me total
acesso ao centro do seu prazer.
Em um só movimento, trago suas mãos para a frente da
toalha e faço com que ela segure o meu pênis através do tecido
grosso. Beatriz puxa o tecido para baixo e liberta o meu pau,
fazendo-o saltar para fora, cheio de veias vigorosas, inchadas e
pulsantes.
— Ai, meu Deus… — Minha menina choraminga, envolvendo
meu cacete em suas mãos. A respiração descompassada, a voz
entrecortada.
— É isso que você quer, não é? — Mordo a pele do seu
pescoço e a chupo, para logo depois voltar a murmurar: — Quer o
meu pau todo enfiado dentro de você?
— Sim — admite, arfante.
Aperto o seu traseiro e desfiro um tapa na nádega esquerda.
Ela grita e enfia as unhas em minhas costas, tomada pela paixão que
nos envolve.
Em um movimento brusco, puxo-a para mim e a ergo do chão,
fazendo Beatriz gritar pelo susto e se agarrar ao meu pescoço.
Seguro a sua bunda com firmeza e abro as suas pernas, trazendo a
boceta arreganhada de encontro ao comprimento do meu pau.
Ela geme ao sentir meu membro pulsando entre os lábios da
sua vagina, esmagando e esfregando o pequeno clitóris.
Caminho com ela em meus braços e a deposito sobre a
enorme cama. Arranco minha camisa do seu corpo, deixando-a nua,
e sorrio ao observar seu olhar assustado, analisando cada
centímetro do meu membro longo e grosso.
Cego pelo desejo, seguro os cabelos da sua nuca e a beijo,
enfiando e tirando a minha língua da sua boca, de forma imoral, dura
e crua, deixando claro que nessa noite ela será minha e eu farei o
que quiser com o seu corpo.
Quando cesso o beijo, apoio os meus pés no chão, ficando
inclinado entre as suas pernas e, ainda segurando os cabelos
compridos, puxo sua cabeça na direção do meu pau, fazendo-a abrir
a boca avermelhada e chupar a cabeça.
— Porra! — grunho, enlouquecido, quando sinto a língua
quente de Beatriz envolvendo o cogumelo melado de excitação.
Impulsiono o quadril para a frente, enrolo seus cabelos em minha
mão e vou ao delírio ao vê-la abrir mais a boca, tentando me tomar o
máximo que consegue. Seus movimentos são inexperientes, isso me
faz questionar se ela já fez isso antes, mas o calor dos seus lábios
envolvendo o meu pau é devastador. Fico completamente louco. —
Assim, querida, engole tudo o que é seu — digo, hipnotizado.
Beatriz segura o meu cacete com as duas mãos e o afasta,
tomando fôlego, para logo depois voltar a chupá-lo. Impulsiono o
meu quadril mais uma vez e começo a bombear com mais força,
fazendo-a engolir até a metade.
Os sons das suas lambidas e chupadas me inebriam.
Seus olhos lacrimejam e ela grunhe, sem ar, vermelha. A
saliva escorre pelos cantos da sua boca.
Sinto suas mãos massageando minhas bolas pesadas e
subindo pelo meu comprimento, fazendo movimentos de vai e vem
em uma tortura deliciosa. Preciso respirar fundo para não explodir
em sua boca e, então, me afasto.
Não espero que ela tome fôlego. Abro as suas pernas
bruscamente e me ajoelho aos pés da cama, trazendo o seu corpo
para mim.
— Cadu… Ai … — geme.
Beatriz sustenta o corpo nos cotovelos e me encara, curiosa.
Os lábios ainda estão molhados com uma mistura de saliva e a
excitação do meu pau.
Passo o dedo pela sua boceta linda, toda depiladinha,
ouvindo-a gemer, e observo os grandes lábios se abrirem, revelando
o feixe de nervos rosado e inchado.
— Cadu… — Beatriz geme, tentando fechar as pernas, mas
eu as seguro com força. Usando dois dedos, abro sua boceta um
pouco mais e enfio o meu rosto entre as suas coxas, sentindo o
cheiro cru do seu sexo penetrando as minhas narinas.
— Como eu desejei isso, menina — sussurro. — Como quero
lamber essa boceta.
— Eduardo! — ela grita quando sugo o clitóris para dentro da
minha boca, para logo depois esmagá-lo com a minha língua,
chupando e lambendo sem pena. — Oh! Céus!
Bia arqueia o corpo e impulsiona os quadris de encontro ao
meu rosto. Aproveito para meter a língua lá dentro, fazendo Beatriz
gritar novamente, desesperada.
— Ahhh! — Ouço seus gritos indecentes, repletos de prazer e
luxúria, mas não paro. Continuo metendo a língua na sua abertura
escorregadia, vendo minha menina esfregar a boceta no meu rosto,
alucinada de tesão.
Chupo e mordisco o montinho inchado, em seguida, desço
para a abertura pingando e lambo de baixo para cima, arrancando
outro grito da sua garganta.
— Cadu… Ai, meu Deus! — Ela fecha os olhos e impulsiona
os quadris, alucinada. O corpo começa a tremer. — Eu vou gozar…
Afasto-me um pouco ao sentir o seu corpo convulsionando e
vou à loucura quando vejo o buraquinho da sua vagina pulsando, os
líquidos do seu gozo escorrendo até a entrada do cuzinho gostoso.

BEATRIZ

Quando os espasmos do meu corpo diminuem, sinto os lábios


dele sobre a minha barriga, subindo até alcançar um dos meus seios.
Ele lambe e mordisca o bico devagar, puxa com cuidado e suga,
para logo depois dar a mesma atenção ao outro.
Eduardo abre mais as minhas pernas e monta sobre o meu
corpo, fazendo-me sentir todo seu peso e calor. Ofego.
Os lábios experientes continuam explorando cada centímetro
do meu busto até chegar ao lóbulo da minha orelha e mordiscá-lo.
Sinto todos os meus pelos se arrepiando.
— Como você é linda, Bia. Deliciosa… Uma tortura em forma
de mulher.
A boca quente desliza pelo meu pescoço e sobe até o queixo,
fazendo-me desejar outro beijo.
No entanto, ele se afasta e ergue os meus joelhos, abrindo as
minhas pernas até o limite, deixando meu sexo completamente
exposto. Meu corpo gela ao sentir a cabeça robusta do seu pênis
entre os lábios da minha vagina. Eduardo me olha com a testa
franzida e pincela o pau no meu clitóris, esmagando-o sem nenhuma
pena, sem tirar os olhos dos meus.
Ele para na minha entrada e, então, impulsiona o quadril com
firmeza.
— Ahhh! — grito e contraio o meu corpo ao sentir a invasão
do seu pênis grosso dentro da minha vagina, esticando-me além do
limite, até se deparar com a barreira da minha virgindade. — Cadu…
— Coloco a mão na sua virilha e o empurro, meus olhos marejados
de lágrimas.
Percebo que ele me encara, surpreso, a expressão parecendo
confusa.
— Ainda é virgem — sussurra — Por que não me disse? —
Sua voz se torna dura, rude. — Eu pensei que…
— Não… Nunca fui de outro homem, Cadu. Eu me guardei
para você todos esses anos… — Sinto uma lágrima escorrer pelas
minhas bochechas, mas ele a seca com a palma da mão.
— Me perdoa… — Seus lábios quentes e suaves se apossam
dos meus, enquanto os dedos ágeis procuram o feixe de nervos
entre as minhas pernas. — Quer que eu continue?
Assinto com a cabeça, e ele sussurra:
— Vou meter devagar, princesa, aguente firme.
Cravo minhas unhas nos lençóis quando ele coloca as minhas
pernas sobre os ombros e direciona o pênis na entrada do meu sexo
mais uma vez. Não consigo segurar outro grito ao ser invadida
lentamente e soluço ao sentir seu pênis me esticando, como se fosse
me partir ao meio. É demais para mim.
— Céus! — berro, enterrando as minhas unhas na carne do
seu braço, sentindo a ardência do meu hímen sendo rompido. —
Você é grande… Ai!
Suas mãos apertam as minhas coxas e ele continua enfiando
com firmeza, até suas bolas baterem na minha bunda.
— Diabos, menina… que boceta deliciosa. Porra!
Choramingo, dolorida, e ele se inclina para alcançar os meus
lábios, beijando-os suavemente.
— Passou, Bia. Você é minha agora.
Eduardo se afasta e retira o pênis todo melado de sangue do
meu sexo. Esfrega a cabeça inchada entre os meus lábios vaginas e
volta a me penetrar, estocando até o fundo.
— Ah! — reclamo pelo incômodo. Meu corpo ainda treme por
causa da dor descomunal.
Procuro os olhos oceânicos e me perco no azul vibrante das
suas íris. Eduardo também me fita, mas permanece imóvel,
esperando que eu me acostume com o seu tamanho.
Seus dedos massageiam o meu clitóris de leve e eu me
contorço com a mistura vibrante de prazer e ardência. Cada
milímetro do meu sexo está dolorido.
Ao ver que estou mais relaxada, ele volta a tirar o pau todo,
deixando apenas a cabeça dentro de mim, e então enfia novamente
até o talo. Grito e choramingo, alucinada, enquanto ele me come
cada vez mais rápido e profundo.
Lambe e mordisca o meu pescoço, subindo devagar até a
minha orelha. Sinto o calor da sua respiração no meu rosto e ofego,
entregando-me às sensações de prazer que começam a surgir.
Cravo os meus dedos entre os seus cabelos e procuro a
maciez da sua boca, ouvindo o meu homem gemer cada vez mais
alto.
A dor de perder a virgindade está se dissipando aos poucos,
dando lugar à excitação que volta a encharcar o meu canal. Meu
sexo pulsa, lateja, e ele estoca cada vez mais fundo, girando e
esfregando o quadril contra a minha pélvis, fazendo-me ver estrelas
a cada metida.
Sua respiração se torna ofegante, o suor começa a escorrer
pela sua testa. Choramingo e grito, agarrando-me ao seu pescoço,
sentindo o resfolegar da sua boca sobre a minha.
— Bia… — ele murmura o meu nome e enfia a cabeça na
curva do meu pescoço, inspirando o meu cheiro, enquanto aumenta
a velocidade das penetrações.
— Ai! — Ofego ao sentir outro orgasmo se formando em meu
ventre e, quando o gozo começa a me tomar, grito sem controle,
impulsionando o meu quadril para ter mais dele.
— Porra! — Eduardo grunhe. — Menina… Que delícia. —
Vejo-o me olhar e revirar os olhos, firmando o braço no colchão ao
mesmo tempo em que seu pênis pulsa dentro de mim.
Sinto os jatos do esperma quente me enchendo toda, seu
corpo se desfazendo em um orgasmo devastador, fazendo o meu
próprio prazer se prolongar. Então, ele estoca duro e profundo uma
última vez, despejando até a última gota do seu gozo dentro de mim.
CAPÍTULO 35

BEATRIZ

Eduardo fita os meus olhos com intensidade, enquanto ainda


se mantém dentro de mim. Imóvel. Sinto sua respiração quente e
ofegante no meu rosto, o suor banhando nossos corpos, o cheiro de
sexo tomando o quarto. Sua boca toca a minha de leve, e eu fecho
os olhos, sentindo meu coração ser tomado de felicidade.
Mal posso acreditar que acabei de fazer amor com o homem
que amo, que sempre amei. Sinto uma lágrima escorrer pelos meus
olhos e o abraço mais forte, abrindo um sorriso brando.
Gemo, baixinho, devido à ardência quando ele começa a tirar
o pênis da minha entrada, devagar, deixando apenas a cabeça
inchada entre os grandes lábios. Todo o meu corpo se arrepia.
— Você está fodendo com a minha vida… — ele sussurra
contra a minha boca, com a voz rouca e inebriante. Meu coração
acelera, descompassado. — Por que não me disse que ainda era
virgem, Bia? Quase enlouqueci achando que aquele cara tinha te
tocado. Eu machuquei você, minha menina… me desculpe.
Sua voz sai carregada, cheia de ressentimentos e algo
parecido com dor. Abro os meus olhos e encaro os seus, ao mesmo
tempo que ele acaricia o meu rosto.
— Cadu, nunca tive nada com o Victor — respondo, um
pouco receosa. — Não imaginei que você realmente tivesse
acreditado nas minhas provocações, quando eu disse que iria para
a cama com outro homem — explico.
— E não acreditei, Beatriz. Sempre soube que você só dizia
aquilo porque estava ferida… Queria me ferir também. — Ele
suspira, aflito, e passa uma mão pelos cabelos escuros,
bagunçando os fios, enquanto continua se firmando com a outra. —
Mas aí você começou a me ignorar, não atendia minhas ligações. E
quando vi vocês em frente à faculdade, sorrindo, felizes, tive certeza
de que você tinha sido dele. Ali eu soube que tinha te perdido.
Aquilo me destruiu, diabos!
Arregalo os olhos ao ouvir suas palavras, sentindo meu
coração pular descontroladamente dentro do meu peito. Seu tom
torna-se rude, cheio de angústias, mas, ainda assim, não é capaz
de tirar a alegria que surge no meu coração ao ouvir essa
declaração.
Sua expressão sutil torna-se fechada, e ele se afasta,
retirando-se todo de dentro de mim, deixando-me arfante,
necessitada de ser preenchida outra vez. Sinto seu esperma denso
escorrendo da minha entrada, deixando-me toda melada, até
mesmo a minha bunda. Meu sangue gela. Jesus! Só agora dou-me
conta da loucura que acabamos de fazer.
Eduardo levanta-se completamente nu e caminha até a janela
de vidro, abrindo as cortinas. Ele diz alguma coisa, mas não consigo
me concentrar nas suas palavras. Estou mais preocupada com a
eficácia das pílulas anticoncepcionais que estou tomando há alguns
dias.
Senhor! O que eu fiz?
Aflita, também me levanto e caminho até ele, sentindo o
líquido grosso escorrendo pelas minhas coxas. Parece ter um litro
de esperma saindo da minha vagina.
Ao perceber que não lhe dou ouvidos, ele se vira no
momento em que passo a mão entre as pernas, tentando limpar um
pouco da sujeira que fizemos.
Minha mão fica completamente melada de esperma e
sangue.
Nesse instante, levanto o olhar e fico petrificada ao ver que
os olhos de safira fitam o centro das minhas pernas. Sinto meu rosto
corar e, envergonhada, tapo o meu sexo com as duas mãos.
Olho o seu corpo nu e vejo o pênis tomar força outra vez,
ficando completamente ereto. Robusto. Engulo em seco quando
Eduardo caminha em minha direção e para a apenas poucos
centímetros de distância.
— Não se esconda de mim. Me deixe vê-la assim, princesa
— diz e retira as minhas mãos do meu sexo, deixando-me
completamente nua aos seus olhos. — Linda… Toda meladinha. —
Sinto sua mão tocando a minha virilha e descendo, até alcançar
minha entrada.
Os dedos longos deslizam para as coxas e depois sobem,
explorando as dobras molhadas da minha vagina, espalhando seu
gozo pelo clitóris. Gemo, envolvida, e mordisco o meu lábio, quase
perdendo a racionalidade, contudo, a razão fala mais alto por um
segundo e eu o afasto.
— Por favor… Espere — peço, quase sem forças. — Você
gozou dentro de mim. Estamos com sérios problemas, Cadu —
digo, preocupada, e procuro os seus olhos.
Ele me fita e suspira.
— Eu sei. Não estava em meu juízo perfeito naquele
momento. — Sua expressão torna-se preocupada.
— Eu estou tomando anticoncepcional há alguns dias —
informo, voltando a tapar minha virilha. — Mas não sei ao certo se já
estou segura para fazer sexo sem proteção. Além disso, tem… você
sabe, as DST's.
Ele franze a testa, espantado, e logo em seguida sorri com
sarcasmo, fechando os punhos. Vejo a raiva tomar conta do seu
semblante e dançar em seus olhos como labaredas flamejantes.
— Não se preocupe, Beatriz, eu estou limpo. — A hostilidade
na sua voz me faz dar um passo para trás, mas ele me acompanha.
— Meus exames clínicos estão todos em dia e nunca transo sem
proteção. Mas quanto a você… Caralho! Estava pretendendo
transar com ele, não é? Por isso começou a se prevenir? — acusa.
— Cadu, o que está dizendo? Claro que não! — rebato,
magoada, e continuo dando passos para trás até alcançar a cama.
Pego o lençol e cubro o meu corpo com pressa, sentindo-me
intimidada devido à sua estatura. — Além disso, você não está em
condições de me exigir nada, ou acha que me esqueci daquelazinha
lá, a Raquel?
— Raquel não é ninguém, pelo amor de Deus. — Ele para e
balança a cabeça.
— Ah, não? Se bem me lembro, ela estava com você no
jantar na casa dos seus pais. Aquilo me pareceu ser algo bem
íntimo! — Empino o nariz e o encaro com firmeza, negando-me a
baixar a cabeça para as suas acusações descabidas.
— Isso não vem ao caso, menina, eu não tinha compromisso
com ninguém! — responde, ríspido.
— Eu também não! — provoco. — Sou solteira e
desimpedida, posso transar com quem eu quiser! — praticamente
grito. Meus olhos ardem e eu preciso lutar com todas as forças para
não chorar na frente deste cretino.
Eduardo sorri, joga a cabeça para trás e suspira. Volta a me
encarar e se aproxima.
— Não tinha! Mas a partir de agora tem um compromisso
comigo.
Arregalo os olhos ao ouvir o que ele diz e balanço a cabeça
em negativa. Meu coração dispara, mas ainda estou muito magoada
devido às suas acusações, quando ele mesmo, certamente, não se
manteve casto.
— Eu não quero nada com você, seu… seu safado! —
rebato, irritada.
Ele se aproxima e entrelaça as mãos em volta da minha
cintura, olhando-me irritado, desarmando o meu raciocínio e
autocontrole. Minhas pernas tremem como gelatina ao sentir o seu
toque.
— Acha mesmo que depois de hoje eu permitirei que você
volte para os braços daquele fedelho? Você é minha, diabos!
Prendo a respiração por alguns instantes e tanto dizer algo,
mas minha fala não sai.
— Eu… Ai! — Deixo um gemido escapar quando os lábios
quentes se apossam da minha orelha e ele me mordisca o lóbulo.
Meu corpo se entrega a ele de uma maneira vergonhosa.
Tento lutar contra todo esse misto de sentimentos dentro de
mim e o empurro. No entanto, os meus esforços não surtem
nenhum efeito.
— Por que está fazendo isso? — pergunto, confusa com as
suas ações. Em um momento, ele está me acusando de algo que
não fiz, e no outro está esmagando o meu corpo com carícias
deliciosas.
Ouço seu suspiro profundo em meu ouvido e estremeço. A
língua morna desce para o meu pescoço e não consigo conter um
gritinho ao sentir até os pelinhos da minha bunda se arrepiarem.
— Porque estou perdidamente apaixonado por você e o
ciúme está me enlouquecendo.
Ai, meu Deus!
Sinto minhas pernas falharem e me firmo em seus ombros
para não cair. A boca pecaminosa encontra a minha e me envolve
em um beijo ardente, explorando cada cavidade. Encosto a mão em
seu peito, e as batidas frenéticas falam por si só. Está exatamente
como o meu.
Sinto uma lágrima escorrer pelos meus olhos, emocionada
por ouvir o que mais almejei em toda minha vida, e afasto o meu
rosto para encará-lo.
Os olhos azuis fitam os meus, brilhantes, repletos de
promessas silenciosas.
— Eu amo você! — digo e o abraço com força. — Céus! Acho
que estou sonhando.
— Prometa para mim, Bia. Diga que não tem nada com
aquele cara. Eu não suportaria…
— Shh… — interrompo-o e deposito um selinho em seus
lábios.
Relembro as palavras de Priscila, falando sobre o Cadu e a
traição da noiva e, de repente, as atitudes dele começam a fazer
sentido na minha mente.
O ciúme louco, a necessidade de se manter longe de um
relacionamento, a confusão que vi em seus olhos nas vezes que
nos beijamos. Não era só por causa do papai…
— A sua prima me falou sobre ela — sussurro. Sinto seu
corpo enrijecer, mas ele continua calado, dando-me espaço para
continuar. — Naquele momento, não dei muita atenção, as palavras
da Priscila não faziam sentido. Mas agora, eu compreendo. — Fito
os seus olhos e volto a abraçá-lo, passando as mãos em volta da
sua cintura. — Eu sinto muito.
— Não sinta… — murmura, acariciando os meus cabelos. —
Ela ficou no passado e você está aqui e agora. — Sorrio e me afasto
para olhar o seu rosto, vendo os lábios finos se curvarem em um
sorriso que me arranca suspiros.
— Eu serei só sua, Cadu. Mas, e você? Será só meu? —
pergunto, para confirmar se haverá reciprocidade.
— Minha pequena… Você não tem ideia do quanto sou seu
— ele fala, olhando bem nos meus olhos para que eu veja sua
sinceridade. — Só seu — completa, passando os dedos no meu
queixo. — Agora vem. Vamos tomar um banho gostoso… Vou lavar
essa bocetinha linda — diz e segura o lençol que me cobre,
puxando-o.
— Eduardo… — Sorrio, envergonhada, e dou um tapa em
seu ombro.
Meu homem me segura em seus braços e me abraça forte
contra o seu peito.
— Não quero que tenha vergonha de mim, Bia. — Sinto suas
mãos descerem até a minha bunda e apertá-la. — Cada pequena
parte do seu corpo me fascina.
Assinto e seguimos para o banheiro, tomamos um banho
demorado na banheira e retornamos ao quarto, agarrados um no
outro.
Pelos vidros da janela, posso ver os primeiros raios do sol
surgindo, iluminando as vidraças dos prédios.
Sinto-me sonolenta, mas o cansaço dá lugar ao desejo
quando ele me coloca sobre a cama e monta em cima de mim. Abre
as minhas pernas e posiciona o corpo entre elas, beijando e
mordiscando os meus lábios. Sua língua morna desce para o meu
pescoço, traçando uma trilha de beijos suaves e cálidos,
enlouquecendo-me.
Quando a boca úmida alcança o bico dos meu seio e o
chupa, solto um gemido prazeroso, entregando-me a cada
sensação. Ao prazer e ao desejo, ao amor e à paixão.
— Estou ficando louco, Bia. — Ouço sua respiração na minha
barriga, descendo até a minha virilha, e sinto meu corpo estremecer,
desejando tudo o que ele tem para me dar.
Minhas pernas são flexionadas e abertas até o limite. Seguro
os lençóis e grito quando sinto o calor da sua língua penetrando a
minha vagina dolorida. Ofego, sem ar.
— Aiii! — Mordo os meus lábios e grudo os meus dedos nos
seus cabelos, puxando-os. — Que delícia… Cadu…
Meu clitóris é sugado e mordiscado sem pena, fazendo-me
gemer e gritar, alucinada. Estou quase gozando, quando ele dá uma
lambida generosa, do meu ânus até o clitóris, demorando um pouco
no anel intocado, fazendo-me corar, envergonhada.
Tento fugir da sua língua lasciva e ousada explorando essa
região, mas é tarde demais. Ele segura o meu corpo, metendo a
língua entre as minhas pernas, e o gozo me toma, intenso e
arrebatador.
Sinto-me tonta, entregue. Sem nenhuma força nas pernas.
Minhas pálpebras se fecham. Suas mãos serpenteiam pelo meu
corpo e a boca ardente vai de encontro ao meu pescoço, subindo
cada vez mais.
— Abra os olhos, querida… — pede, ofegante, e passa a
mão por baixo do meu pescoço, segurando os cabelos da minha
nuca. — Olhe para mim.
Faço o que pede e pisco algumas vezes, tentando manter os
olhos abertos. Sinto seu pênis abrir espaço para dentro de mim,
lentamente.
Grito, ofego e o arranho. Arde um pouco, mas é tão gostoso
senti-lo assim. Nossos olhares se encontram, nossas bocas se
aproximam, resfolegando uma na outra até que o sinto entrar todo.
CAPÍTULO 36

CARLOS EDUARDO

Após fazê-la gozar, retiro o meu pau da sua boceta e me


derramo em sua barriga, tomando cuidado para não a encher de
porra outra vez.
Embora eu não tenha demonstrado preocupação, o fato de
ter gozado dentro dela pode nos pôr em grandes apuros.
Penitencio-me por ter pedido o controle. Geralmente, sou muito
racional quanto ao uso de preservativos. No entanto, perder a
cabeça agora não ajudará em nada. Já está feito e foi gostoso pra
caramba. Eu estava tão louco para me enterrar dentro daquela
bocetinha rosada que camisinha foi a última coisa que pensei na
face da terra. Decididamente, Bia está me tirando do sério. Parece
que voltei a ser um adolescente.
Beatriz suspira e sorri, fechando os olhos. Está quase
desmaiando de tão cansada.
Descanso do seu lado por alguns instantes, deposito um beijo
nos seus lábios, limpo sua barriga com a minha camisa e sussurro
ao seu ouvido, informando que irei sair para correr na praia. Ela
assente, fecha os olhos e se aconchega entre os lençóis. Sigo para
o banheiro, tomo um banho rápido para tirar o suor e o cheiro de
sexo do corpo.
Uma boa corrida agora pela manhã me fará bem, preciso pôr
os pensamentos em ordem e pensar com calma sobre tudo.
Só de imaginar o tipo de conversa que terei com Felipe, já
sinto o meu estômago se revirar. Ele, com certeza, vai querer me
esfolar vivo, principalmente sabendo do meu histórico de
mulherengo. Felipe sabe de todas as obscenidades que já cometi e,
conhecendo-o como conheço, vai quebrar a minha cara quando
souber que tirei a virgindade da sua filha. Porra!
Enfim, já foi. Agora preciso ser racional e assumir as
consequências, mesmo sabendo que se eu pudesse voltar no
tempo, faria tudo de novo.
Termino de me banhar e me seco. Visto um short e camisa
próprios para atividade física, calço o tênis e pego o celular. No
entanto, percebo que o aparelho está descarregado. Bufo, irritado, e
o conecto ao fio do carregador. Pego a carteira e caminho até
Beatriz.
A menina dorme profundamente, como um anjo. Os lábios
suculentos estão um pouco inchados e ainda mais vermelhos que
de costume, por causa dos beijos e mordidas que dei.
Sorrio e inspiro seu cheiro, de leve, evitando fazer barulhos
para não a acordar. Pego as chaves do carro e saio.
Ao chegar à orla, estaciono o veículo e caminho até a beira
da praia. O mar está calmo e o clima fresco do início da manhã é
agradável, embora eu ainda sinta algumas pontadas na cabeça
devido à quantidade de uísque que ingeri. Contudo, antes de me
alongar e seguir com a programação do dia, paro e passo a mão em
meus cabelos, pensativo.
Uma coisa é certa. Mesmo que Felipe se oponha, não abrirei
mão dela por nada neste mundo. O que fizemos ontem foi o limite
para a minha resistência. A entrega dela, o prazer e a paixão que vi
em seus olhos, a sensação quase surreal que senti quando a
penetrei e depois vi meu esperma escorrendo por suas coxas,
marcando-a como minha mulher.
É ela que quero comigo em cada amanhecer. É o cheiro dela
que me deixa tonto, que me excita e me inebria como um animal no
cio. É o amor dela que faz o meu coração bater, enlouquecido, e é a
presença dela que me transborda.
O vento fresco sopra, balançando os meus cabelos, e como
um garoto bobo e apaixonado, sorrio.
Faço um alongamento rápido e começo a correr pelo
calçadão da orla do Leblon, despreocupado, apenas pensando no
momento em que voltarei para o meu apartamento e a encontrarei
dormindo, completamente nua na minha cama. Caralho! Que
delícia.
Só em pensar nela assim, sinto meu pau inchar. Preciso
desviar os pensamentos para não passar vexame aqui, no meio da
rua.
Corro por cerca de uma hora, sem descanso. O suor já me
banha todo, e o sol brilha como nunca no céu azul.
Paro por alguns minutos para tomar um fôlego e decido
retornar para o meu apartamento. No caminho, tomo uma água de
coco para repor as energias e compro algumas coisas para tomar
café com ela. Imagino que minha geladeira só tenha água e comida
congelada que Sônia deixou preparada.
Puta que pariu.
Pensar em Sônia me faz lembrar que a essa hora ela deve
estar chegando ao meu apartamento. Caralho! Como pude me
esquecer disso?
Meto o pé no acelerador, na esperança de chegar antes dela
e ligar para dispensar seus serviços. Em poucos minutos, estou
entrando no condomínio que moro.
Deixo o carro logo em frente ao prédio e corro para os
elevadores.
Ao entrar na sala, sigo direto para o quarto, vendo que a
porta está aberta. Contudo, antes que eu consiga alcançá-la, ouço o
que eu mais temia: a voz assustada de Sônia.
— Meu Jesus Cristinho!
Entro no aposento e o que vejo me deixa estático. Preciso me
segurar para não ter uma crise de riso nervoso diante do olhar
chocado das duas mulheres.
Sônia olha para Beatriz, surpresa por ver uma mulher na
minha cama. Não as trago para o meu quarto e sempre as dispenso
antes do amanhecer. Minha menina também a encara de volta,
assustada, puxando os lençóis até o pescoço para esconder o corpo
nu.
— Bom dia — cumprimento, e ambas olham em minha
direção. Caminho até Sônia e deposito um beijo na sua bochecha.
— Vejo que já se conheceram… — digo e caminho até a
cama, sentando-me ao lado de Beatriz, que continua imóvel.
— Meu filho, o que essa menina faz aqui? — pergunta Sônia,
parada no mesmo local, encarando-nos com a testa franzida.
Seguro a mão de Beatriz e a levo até a minha boca. Deposito
um beijo e a encaro, sorridente.
— Ela é a minha menina. Minha namorada, Sônia.
Beatriz sorri timidamente e volta a olhar para a mulher.
— Acho que me lembro da senhora — diz ela, um pouco
mais calma. — Quando vim aqui uma vez com…
— Com o senhor Felipe — conclui Sônia, petrificada. — Meu
Jesus Cristinho...
Puta merda! Não me lembrava que as duas já se conheciam.
Beatriz assente com a cabeça, tímida, e volta a me encarar,
aflita. Sussurro para ela não se preocupar e em seguida chamo
Sônia para conversarmos a sós.
— Sônia, vamos para a sala, explicarei tudo com calma.
A mulher concorda, encara-me desconfiada uma última vez e
volta a sua atenção para Beatriz. No entanto, vejo seus olhos se
arregalarem ainda mais ao ver as marcas vermelhas do sangue da
minha menina no lençol.
Beatriz cora, quase se enfiando debaixo das cobertas, e eu
sorrio, orgulhoso.
Claro, uma parte de mim está preocupada com tudo que
teremos de enfrentar, começando por Sônia, que me encara como
se eu fosse alguma espécie de criminoso. Mas a outra parte só quer
abraçar Beatriz e gritar para o mundo que ela é minha.
Assim que chegamos à sala, sento-me no sofá e aguardo que
ela comece o interrogatório. Apesar de não termos nenhum laço de
sangue, Sônia está comigo há tanto tempo que a trato como uma
segunda mãe e, claro, ela preocupa-se e se comporta como tal.
— Eduardo, o que você está fazendo? Perdeu o juízo, meu
filho? — questiona, colocando a mão no peito. — Ela é só uma
menina, e vocês… — Faz uma pausa e me encara, horrorizada —
Senhor... Não quero nem pensar no que vocês fizeram.
Gargalho com o comentário dela e a acalmo:
— Beatriz já é maior de idade, se é isso que está te
preocupando — informo. — E, sim. Acho que perdi o juízo. —
Sorrio. — Estou completamente louco por ela.
Sônia arregala os olhos, incrédula, e questiona:
— Dessa vez é pra valer?
— Sim! — confirmo. — Dessa vez é pra valer.
— Meu senhor! Não sei se fico feliz ou se te dou uns tapas,
menino. Eu quase morri de susto quando me deparei com aquela
garota na sua cama.
Vejo o indício de um sorriso nascer em seus lábios, mas logo
a mulher fica séria.
— Mas… E os pais dela? Eles concordaram com isso?
Desvio o meu olhar e suspiro, balançando a cabeça em
negativa.
— Não. Isso é algo que ainda irei resolver. — Escoro o braço
no encosto do sofá e passo a mão na barba, pensativo. —Terei uma
conversa séria com Felipe o mais breve possível.
Sônia assente e faz mais algumas perguntas sobre o meu
relacionamento com Beatriz. Por fim, me deseja boa sorte e diz que
torce pela minha felicidade.
Após a mulher ir embora, sigo até o quarto e encontro Beatriz
de banho tomado, enrolada em uma toalha branca. Ela está
distraída, mexendo no celular.
— Oi — chamo, e ela levanta o olhar, abrindo um sorriso
lindo.
— Oi… — Beatriz caminha na minha direção, um pouco
tímida, e eu a enlaço pela cintura.
— O que faço com você, menina? — questiono, olhando
cada centímetro do seu rosto de anjo. Toco os lábios bem-feitos e
deslizo até o queixo pequeno. — Tão perfeita… — Trago-a para
mim e inspiro o cheiro do seu pescoço. — Cheirosa… Já estou
doido para te comer de novo.
Sinto seus pelos se eriçarem e ela sorri, mordiscando o lábio
inferior de forma provocante.
— Pode fazer o que quiser comigo.
Gemo baixinho, sentindo meu pênis inchar com as
provocações dela. Sinto vontade de pegar Beatriz e jogá-la em cima
da cama para devorar cada cantinho desse corpo delicioso. No
entanto, eu me contenho. Ela acabou de perder a virgindade, deve
estar toda inchada e dolorida.
— Agora você precisa comer um pouco, hum? Deve estar
faminta.
— Estou morta de fome — confirma e se afasta um pouco. —
Posso pegar outra camisa sua? Acabei de perceber que esqueci
minha mochila dentro do táxi e a roupa que eu usava ontem está
molhada.
— Claro. Você fica linda usando as minhas roupas. — Pisco.
— Mas e as suas coisas? Já entrou em contato com a central?
— Sim, não se preocupe. — Ela se aproxima e eu aguardo,
esperando para ver qual será sua próxima ação.
Minha pequena fica na ponta dos pés e passa a mão pelo
meu pescoço, olhando-me firmemente.
— Essa noite foi maravilhosa… — sussurra. Os olhos brilham
de felicidade.
Sinto meu coração dar um salto em meu peito, mal podendo
acreditar que sou alvo do amor de uma menina. Uma menina
mulher, encantadora e inteligente.
— Há quanto tempo, querida?
— Há quanto tempo o quê? — Vejo-a piscar os olhos e
questionar, confusa.
— Desde quando você me ama?
Beatriz cora e desvia o olhar, sorrindo.
— Cadu… Por favor, não…
Esmago o seu corpo dentro do meu abraço e deposito um
beijo na sua testa.
— Diga! — sussurro.
— Desde os meus quinze anos.
Sua declaração me faz arregalar os olhos, surpreso, mas não
nego que gosto de saber disso. A melhor parte é que agora ela é
maior de idade e é toda minha. Do contrário, eu iria morrer de tanto
tesão reprimido.
— Beatriz… — murmuro o seu nome e afasto o seu rosto
para que ela olhe nos meus olhos. — Eu sei que você é jovem e tem
a vida inteira pela frente. Mas… — Suspiro e acaricio o seu rosto. —
Quero aproveitar cada momento ao seu lado e, por isso, quero
assumir um compromisso sério com você. Claro, pretendo pedir sua
mão em namoro para o seu pai. Farei as coisas do jeito certo.
Ela arregala os olhos e pisca algumas vezes, evitando que
uma lágrima deslize por sua bochecha.
— Meu Deus… É tudo o que mais quero. — Sorri. — Mas
você sabe que o papai não vai aceitar assim numa boa, não é?
— Eu sei, eu sei… Depois pensaremos nisso com calma.
Agora, vou alimentar você.
— Você está me deixando mal-acostumada, Cadu.
— Me deixe mimar você — murmuro. — Quero te acordar
todas as manhãs chupando a sua boceta. E quero dormir com meu
pau enfiado nela.
Beatriz gargalha, jogando a cabeça para trás.
— Seu cachorro! — Sua mão desce do meu pescoço para o
meu peito. — Vá na frente. Chegarei na cozinha em alguns
instantes.
Deposito outro beijo na sua boca e caminho em direção à
cozinha. Em poucos minutos, ela aparece, vestida com uma das
minhas camisas sociais, com os cabelos molhados penteados e
partidos de lado. Uma tentação com rostinho de menina e corpo de
mulher. Preciso me controlar ao máximo para não a pegar de jeito
em cima do balcão.
Assim que terminamos o café, sigo com ela até o sofá da sala
e a coloco sentada entre as minhas pernas. Ligo para a secretária,
avisando que só irei para a empresa à tarde, e, em seguida, volto
minha atenção para Beatriz.
Abraço o seu corpo por trás, ao mesmo tempo em que
mordisco o seu pescoço.
— Agora irei cuidar de você! — sussurro, deslizando a mão
pelo seu ombro. — Está dolorida?
— Uhum. — Ela vira o rosto na minha direção e mordisca os
lábios, o olhar guloso fitando a minha boca. — Cada pedacinho.
— Deliciosa. Já está querendo de novo, não é?
Os lindos lábios se curvam em um sorriso safado, e eu não
espero que ela responda mais nada.
Desço a minha boca para a sua e mergulho a língua no seu
interior. Minha mão vai de encontro ao seu pescoço, apertando de
leve, enquanto a outra pousa em um seio por cima da camisa. O
beijo é lento, terno, mas desperta cada poro do meu corpo.
Sinto-a gemer e se remexer no meu colo quando meu pau
cutuca a sua bunda, já excitado pela nossa curta proximidade.
Aprofundo o beijo, devorando sua boca com vontade, e desço
a mão, contornando as curvas da sua cintura, indo de encontro à
pele macia da sua coxa. Aperto sua carne de leve e mordisco o
lábio, sugando-o. Ela reclama e arranha o meu braço, mas logo
seus gemidos tomam conta da sala quando ergo a barra da camisa
e passo o dedo na bocetinha deliciosa.
— Ai… — Ela tenta fechar as pernas e larga a minha boca,
ofegante. Contudo, seguro as coxas com cuidado e continuo
esfregando o clitóris de leve.
— Relaxa, Bia. Preciso preparar você para não doer tanto
novamente! — Volto a procurar a maciez dos seus lábios e enfio a
ponta do meu dedo na sua boceta. Vou enfiando devagar, até ouvi-
la gemer, dengosa, cravando as unhas na minha coxa. Retiro o
dedo melado e o levo aos seus lábios.
— Chupe, menina. Sinta como você é gostosa. — Minha voz
sai falha, carregada de tesão.
Gemo baixinho quando ela envolve o meu dedo com os
lábios e volta a fechar as pernas, esfregando-as.
— Oh, Bia… Diabos! — Retiro o dedo da sua boca e volto a
mergulhar a língua, deliciando-me com o gosto da sua boceta.
— Eu também quero tocar você! — pede. A voz falha, a
respiração entrecortada.
— Vem — sussurro e a ajudo a se levantar. Em seguida,
puxo o short junto com a cueca, expondo o pau completamente
duro, e inclino o corpo, ficando quase deitado. — É todo seu,
menina.
Beatriz senta-se em cima do meu colo, colocando uma perna
de cada lado, de frente para mim, e segura meu pau com as duas
mãos. Na posição em que me encontro, consigo ver a bocetinha
toda arreganhada. Vou à loucura.
— Porra, Bia!
Sinto suas mãos macias acariciando-me. Ela me masturba
devagar, subindo e descendo, segurando e apertando as bolas
pesadas.
Fecho os olhos e desço as mãos até o traseiro gostoso,
apertando a carne macia e volumosa.
Ela inclina o corpo e passa a beijar o meu pescoço, enquanto
desliza as mãos pelo meu peito suado, por baixo da camisa,
explorando e apalpando os músculos, conhecendo e demarcando o
seu território.
Abro os olhos para ver tudo o que ela está fazendo, quando
firma-se em meu peito e coloca os pés em cima do sofá. Desce com
a boceta abertinha na direção do meu pau e esfrega a cabeça no
clitóris, empurrando o nervinho de um lado para o outro,
masturbando-se descaradamente.
— Ai… — geme, fechando os olhos. — É tão gostoso.
A esta altura, já estou suando frio, louco para me enterrar
todo dentro dela. Contudo, preciso me conter e deixá-la guiar os
movimentos, até se sentir confortável para ser penetrada.
— Querida, você… você está me matando… — sussurro,
embora minha voz quase não saia.
Ela esfrega a ponta do pênis no clitóris e desliza até a
entrada melada, colocando e tirando a cabeça, bem devagar.
— Bia…
Contudo, sinto meu corpo gelar quando ouço a porta da sala
sendo aberta. Viro o meu corpo bruscamente por causa do susto e,
sem perceber, toco na sua perna, fazendo-a escorregar e se sentar
com tudo em cima do meu pau.
— Aiii! — grita, trêmula, e coloca as mãos em cima do meu
peito.
— Cadu? Meu filho, o que está fazendo? Está matando a
mulher?
Minha mãe entra na sala e corre, desesperada, em direção
ao sofá após ouvir os gritos de Beatriz.
— Mãe, não se aproxime! — grito e ela para a alguns metros
de distância, petrificada, o olhar chocado, cravado na menina em
cima de mim.
— Beatriz?
Puta que pariu! Caralho!
CAPÍTULO 37

BEATRIZ

Sinto minhas entranhas arderem como nunca e choramingo.


Até a minha alma está doendo. Contudo, este é o menor dos meus
problemas agora, pois quando levanto a minha cabeça, vejo os
olhos petrificados da senhora Ferraz na minha direção. Eu só queria
encontrar um buraco para enfiar a cara.
— Beatriz? — Uma lágrima escorre pela minha bochecha.
Ainda não sei se é de dor ou de vergonha. É provável que seja
pelas duas coisas.
— Mãe, por favor, nos dê um minuto — Cadu pede, aflito.
Ela dá alguns passos para trás até alcançar a porta. Seu
olhar pasmo não larga os meus até sumir no corredor do prédio.
— Ai… Cadu, o que iremos fazer? Dois flagras em um único
dia? — reclamo, irritada, enquanto me levanto devagar para sair de
cima do pênis dele.
Ele rapidamente se recompõe e levanta-se.
— Eu sinto muito, Bia — diz, passando a mão pelos cabelos.
— Sônia é quem cuida de tudo aqui, e minha mãe tem a chave do
meu apartamento, para emergências. Eu nunca tive de me
preocupar com isso, porque nunca durmo com mulheres, muito
menos aqui dentro. Elas eram apenas sexo casual. Depois de foder,
era cada um para o seu lado, entende? — explica.
Respiro fundo. Eu dispensaria esses detalhes. Também me
levanto e ajeito a camisa dele no meu corpo.
— Ela não poderia ter ligado antes? — questiono e, mais
uma vez, o vejo balançar a cabeça em negativa.
— Eu havia deixado o celular desligado e carregando quando
saí. Além disso, era para eu estar na empresa. Ela sabe disso, não
imaginou que eu estivesse aqui com você. — Os lábios finos se
repuxam em um meio sorriso, e eu coro mais. — Agora temos de
enfrentar as consequências, Bia. E a primeira do dia é
conversarmos com a sua sogra. — Pisca.
— Eu vou morrer de vergonha.
— Não se preocupe… — Ele se aproxima e me abraça. —
Minha mãe está assustada agora, mas ela ama você. Logo irá se
acostumar com a ideia de ficarmos juntos.
Assinto e volto a me sentar no sofá, trêmula. Coloco uma
almofada em cima do meu colo e aguardo o Cadu chamar a dona
Rebeca.
— Meu filho, me perdoe. Pensei que estivesse na empresa e
precisava pegar algo importante que esqueci da última vez que
estive aqui. — Ouço a voz dela justificando-se assim que ambos se
aproximam da porta.
Dona Rebeca me encara e então volta a sua atenção para o
Cadu. A impressão que tenho é que ela vai cair dura no chão a
qualquer momento.
— Oi… — Aceno com a mão discretamente, sentindo minhas
bochechas ficarem vermelhas.
Ela caminha ao lado do Cadu na minha direção e para a
alguns metros de distância.
— Podem me explicar o que está acontecendo? Filho,
vocês… A Bia… Senhor! — Ela olha de mim para o Cadu, aflita, e
segura a bolsa com firmeza.
Eduardo suspira do seu lado e segura a sua mão, como se
preparando-a para o que vai vir.
— Mãe, eu e a Bia estamos juntos.
— Como assim, juntos?
Aperto a almofada ainda mais contra o meu corpo e espero
que continuem.
Eduardo caminha até onde estou e estende a mão, indicando
para eu me levantar. Mesmo com as pernas bambas, levanto-me e
caminho com ele na direção de dona Rebeca.
— Olha, sei que deve estar confusa e achando que seu filho
é louco — diz ele, trazendo o meu corpo para dentro do seu abraço.
— Mas nós dois… — Cadu me olha e sorri. — Estamos gostando
um do outro, e eu pedirei a mão dela em namoro para o Felipe.
— Querido… Mas ela é a Bia, a nossa menininha…
Balanço a cabeça, sentindo meus olhos arderem quando ela
me fita. A mulher madura e elegante me inspeciona de cima a baixo
com o olhar preocupado.
Sinto vergonha e uma mistura de culpa, devido à sua
expressão repreensiva. É como se o que estivéssemos fazendo
fosse a coisa mais errada do mundo.
— Dona Rebeca… — chamo, incapaz de continuar calada. —
Eu já não sou mais uma menininha. Sou uma mulher e… eu amo o
Cadu. Sempre amei! — digo com a voz falha, e uma lágrima cai.
Percebo que seus olhos também marejam e ela volta a
encará-lo.
— Filho, vocês estão certos disso?
Eduardo assente e me aperta mais contra si.
— Nunca estive tão certo!
— Muito bem… — Ela suspira e segura a mão dele. — Vocês
têm a minha bênção. Mas, Cadu, se magoar a Bia, serei a primeira
a virar as costas para você, está me entendendo?
Eu a encaro com os olhos transbordando de alívio e
felicidade. Sou surpreendida quando a mulher me puxa e me abraça
fortemente.
— Bem-vinda à família, querida. Precisamos fazer um jantar
para comemorar.
Sorrio e busco os olhos do meu namorado, pedindo socorro,
mas ele apenas curva os lábios.
— Dona Rebeca, vai esmagar a menina.
— Estou tão emocionada… — diz ela, levando uma mão aos
olhos. — Finalmente você vai se assentar, Cadu. Parar de andar por
aí perdido. Vai me dar o meu netinho, filho.
Meu corpo inteiro gela ao ouvir as palavras dela. Minhas
pernas tremem e o medo me toma, fazendo-me lembrar que não
usamos proteção. Eduardo percebe o meu estado e volta a se
aproximar, envolvendo o meu corpo.
— Então, dona Rebeca — Ele limpa a garganta, chamando a
atenção dela, e continua: — Acho que está na hora da senhora ir.
Depois marcamos o jantar com calma.
Ela revira os olhos, repreendendo-o, mas sorri ao me encarar.
— Tudo bem, querido. Depois volto para pegar o anel de
brilhantes que esqueci em cima da pia do banheiro do quarto de
visitas… — Dá um passo em minha direção e toca o meu rosto. —
E, Bia, cuide bem desse moço. Ele é um ogro, às vezes, mas é um
bom homem.
Curvo os meus lábios, sorridente, e assinto. Dona Rebeca se
despede e logo vai embora, permitindo que eu retorne até o sofá e
me sente, aliviada. Meu namorado caminha até mim e senta-se do
meu lado, trazendo meu corpo para o seu colo.
— Finalmente sozinhos — diz, inspirando em meu pescoço.
— Outra dessas e você pode comprar o meu caixão.
Ele gargalha, apertando-me mais contra o seu peito rígido, e
volta a falar:
— Bia… Você disse que está tomando contraceptivos. Por
que está preocupada? — indaga, as mãos subindo e descendo por
meu ombro, acariciando-o.
— Sim, mas e se algo der errado? E se o anticoncepcional
falhar? — questiono e viro o rosto para fitá-lo. — Eu sou muito
jovem, Cadu, e o papai…
Sua mão acaricia o meu queixo e sobe até os meus lábios,
calando-me.
— Não teremos outra alternativa, a não ser enfrentar tudo e
todos, Bia — diz, convicto. — Além disso, estou aqui, para tudo.
— Não está preocupado?
Ele desvia o olhar e fita o nada na sua frente. Percebo que
seus músculos se enrijecem mais.
— Sim, estou preocupado. Até ontem você ainda era virgem
e eu, bom… Você sabe, vivia pulando de galho em galho. Mas não
vamos sofrer por antecedência, tudo bem? Esquece isso um pouco,
temos muito o que aproveitar.
— Você tem razão… — concordo e me aconchego no seu
peito, sentindo as batidas do seu coração.
Permanecemos assim por alguns minutos, entre beijos e
carícias, até nosso fogo se acender novamente. Desta vez, Eduardo
me garante que nenhum inconveniente irá acontecer.
Um pouco mais tranquila, permito que ele retire a blusa que
uso e me tome para si no tapete da sala, beijando e acariciando
cada centímetro do meu corpo, amando-me em cada canto do seu
apartamento, exatamente como sonhei que seria algum dia.
CAPÍTULO 38

BEATRIZ

Assim que as minhas coisas são entregues no apartamento,


visto-me e peço para o Cadu me deixar em casa. Já é quase meio-
dia e tem várias ligações da mamãe no meu celular. Imagino que
esteja preocupada e ansiosa para saber como foi a festa.
Enquanto o Cadu toma banho, envio mensagem para Gracy,
contando por alto o que aconteceu depois que saí da festa da
Priscila e pedindo ajuda, caso eu precise de um álibi.
Ele termina e veste-se todo formal, com direito a terno e
gravata. Engulo em seco quando o vejo caminhar em minha direção
na versão homem de negócios. Sério e intimidante.
— Tem certeza de que não quer almoçar comigo? —
pergunta. Leva o celular ao ouvido e me enlaça pela cintura com a
outra mão.
— Não posso. Já passei tempo demais fora de casa —
justifico, quase sem ar. O cheiro marcante do seu perfume me
inebria.
Ouço-o ditar ordens a alguém, pedindo para pegarem a chave
do Mercedes na portaria do prédio e ir buscar o veículo no bar. Em
seguida, guarda o celular no bolso e volta-se para mim, abraçando-
me e inclinando o corpo para alcançar a minha boca.
— Porra! — sussurra entre meus lábios. — Vou ficar louco
naquela empresa, pensando na minha menina.
— Deixa de ser safado, Cadu — digo, sorridente. Coloco a
mão no seu ombro e tento afastá-lo. — Vamos logo, antes que mais
alguém descubra o que fizemos e eu fique em grandes apuros.
— Diabos! — xinga e crava os dedos no meu quadril. — Por
mim, falaríamos com o seu pai agora mesmo. Estou me sentindo um
adolescente, namorando às escondidas. Isso é torturante, sabia? —
A mão ousada segura a minha e a leva até o meio das suas pernas,
fazendo-me apertar o pênis avantajado. — Quero poder ficar com
você sem medo ou culpa, em qualquer dia ou horário.
— Eu sei. — Gemo ao sentir um espasmo vindo do seu
membro rígido. — Mas antes me deixe falar com a mamãe. Só peço
alguns dias, por favor!
Ele fecha a expressão, contrariado, mas concorda. Respiro
aliviada e seguro sua mão, puxando-o em direção à porta.
Dentro do Lamborghini Aventador, sinto o vento chicotear o
meu rosto e esvoaçar os meus cabelos quando ele pisa no
acelerador. Olho-o de relance e perco o ar ao vê-lo tão concentrado
ao volante. Os músculos tensionados marcando o terno elegante, a
barba recém-feita, o olhar oceânico focado na direção, o queixo
quadrado e másculo com um furinho que me deixa sem ar. Céus!
Como ele é maravilhoso.
Quando paramos no semáforo, sinto seus dedos passearem
por minha coxa e cavarem por baixo do short folgadinho que uso,
alcançando o fundo da minha calcinha. Ofego ao sentir meu sexo
ficando molhado e fecho as minhas pernas, receosa por estarmos no
meio da rua. As cenas de nós dois nos devorando, em plena luz do
dia, no tapete da sala, retornam à minha cabeça e sinto minhas
bochechas corarem, envergonhada.
— Cadu… — Mordisco o lábio e tiro sua mão de polvo da
minha calcinha.
Ele sorri e me fita de lado com aquele olhar que me deixa
tonta, mostrando a fileira de dentes brancos. Tenho vontade de
estapeá-lo pelo seu descaramento. Ainda estou toda assada do
último sexo que fizemos e, só em imaginar o que me espera nos
próximos dias, gemo baixinho, sentindo minha vagina ficar
ensopada, querendo-o outra vez.
Ao chegarmos à rua da minha casa, ele para o carro debaixo
de uma árvore frondosa e me puxa para o seu colo, colando a boca
na minha em desespero. Sinto o membro grosso e duro cutucando-
me, e rebolo um pouquinho, fazendo meu homem gemer, excitado.
— Pego você à noite para jantarmos, ok? — sussurra.
— Cadu, espera… — murmuro. — Não sei se posso.
Os lábios possessivos mordiscam os meus e seguem para o
meu pescoço, fazendo a minha pele se arrepiar.
— Por que não? — questiona e volta a me fitar.
— Já passei a noite fora de casa e… não sei que desculpas
inventar para sair de novo. Acho melhor não nos vermos hoje.
Amanhã darei um jeito.
Ele franze a testa, incomodado com a situação, mas assente,
voltando a beijar os meus lábios.
— Tudo bem, princesa.
Beijamo-nos uma última vez e saio do carro. Sigo direto para
casa, disposta a contar tudo para a mamãe.

CARLOS EDUARDO

Minha menina sai do carro e acena com a mão, despedindo-


se e me deixando ali, louco de desejo. Passo as mãos pelos meus
cabelos, inconformado em ter que me encontrar com ela às
escondidas, sentindo-me culpado por ter que enganar Felipe e
completamente incapaz de me afastar dela.
Respiro fundo e dou partida no carro. Paro em um restaurante
para almoçar e logo depois sigo direto para a empresa, para resolver
uma montanha de problemas e assinar uma pilha de papéis.
Ao chegar, encontro Felipe em sua sala, de frente para o
computador, distraído. Fecho os meus punhos, controlando-me para
não ir até ele e dizer tudo o que está acontecendo. No entanto, me
contenho. Sei que o local de trabalho não é o melhor lugar para
falarmos sobre isso. Além disso, dei a minha palavra a Beatriz de
que iria esperar alguns dias para dizer a ele. Ela está temerosa, tem
medo da reação do pai e prefere ir com calma.
Porra!
Irritado, caminho para a minha sala e entro. Sento-me à minha
mesa e ligo o computador. Respondo alguns e-mails importantes e
volto minha atenção para a pilha de papéis aguardando para serem
analisados.
Por diversas vezes, perco a concentração e os meus
pensamentos voam até ela e a noite que passamos juntos. Meu pau
incha dolorosamente quando recordo do quanto foi delicioso fazê-la
minha em cima do tapete da minha sala, em plena luz do dia. Bia
gritando enquanto eu lambia aquele grelinho vermelho, abrindo e
chupando a boceta inchadinha de tanto que meti. Ofego e fecho os
meus olhos, sentindo meu pênis pedir para ser libertado, sentindo-
me como um tarado sem controle. Preciso usar toda a minha força
de vontade para conseguir voltar ao trabalho e tirá-la da minha
cabeça por um segundo.
No fim do expediente, despeço-me de todos, evitando ter
conversas prolongadas com Felipe, e sigo para o estacionamento.
Estou quase alcançando o meu carro, quando ouço a voz familiar de
uma mulher me chamando. Viro o meu corpo e vejo Raquel se
aproximar.
— Cadu?
— Diga, Raquel. — Fecho os meus punhos, irritado, já
esperando o veneno ser destilado. Contudo, surpreendo-me por não
ser bem isso que acontece.
— Eu… quero te pedir desculpas, mi amor. Sei que errei em
me intrometer no seu lance com aquela… — faz uma pausa, como
se procurasse a melhor maneira de continuar. — Bom, aquela
menina.
Impaciente, assinto, aceitando as suas desculpas, e viro as
costas. Contudo, ela volta a me chamar.
— Por favor, espere. — Percebo que sua respiração está
entrecortada e o olhar opaco, sem brilho, completamente vermelho.
— Nós éramos tão bons juntos, mi amor. Eu perdi o controle quando
percebi que estava te perdendo e… — Ela pausa e continua me
encarando.
— E o quê? — questiono.
— Eu amo você, mi amor. Percebi isso tarde demais, eu sei.
Mas amo você, Cadu… — declara, os olhos enchendo-se de
lágrimas, os joelhos curvando-se para se ajoelhar no chão. — Por
favor, não me faça ficar sem você.
— Levante-se, Raquel — peço, sentindo uma mistura de
incredulidade e nojo quando a vejo se arrastar no chão e abraçar as
minhas pernas, humilhando-se para ter a minha atenção.
— Perdoe-me…
— Já disse que está desculpada. Agora, levante-se e vá
embora — exijo, nervoso.
A mulher firma-se na minha perna e se levanta, ficando de
frente para mim. Movo o meu corpo para dar-lhe as costas mais uma
vez, no entanto, ela segura o meu braço com firmeza e vem para
cima de mim, devorando os meus lábios de surpresa, de forma
desesperadora.
Sinto o gosto de álcool e uma outra mistura nojenta que não
consigo identificar. Meu estômago embrulha, e o medo de que
Beatriz descubra uma merda dessas me atordoa.
Seguro o seu braço e a afasto de mim, fazendo a mulher
cambalear para trás.
— Perdeu o juízo, Raquel? Não cansa de ser uma puta?
— Mi amor, por favor… Fica comigo! — ela grita e se
descabela, puxando os cabelos. Está fora de si. — Eu vou morrer
sem você, Cadu!
— Tenho nojo de você, inferno! Não volte a se aproximar de
mim ou da minha menina, do contrário, não responderei pelos meus
atos.
— Cadu, por favor. Aquela pirralha não é mulher para você…
Ela não sabe do que você gosta.
Algumas pessoas que passam pelo estacionamento se
aproximam para ver o que está acontecendo. Porém, não dou
importância e entro no meu carro, ainda ouvindo o choro e os gritos
descontrolados de Raquel.
Olho a mulher no chão, chorando, e ligo o carro para ir
embora. No entanto, meu senso de humanidade fala mais alto e me
odeio por isso. Nenhum ser humano merece ser largado assim, à
própria sorte.
Enquanto desço do veículo, pego o celular e ligo para um dos
motoristas da empresa. Peço para o homem comparecer ao
estacionamento e volto a guardar o aparelho. Caminho até ela e
estendo a mão para que se levante.
— Venha, Raquel — chamo e a vejo levantar a cabeça para
me olhar. As maçãs do rosto estão sujas devido à mistura de sujeira
do chão e as lágrimas que descem por sua face.
Ela segura minha mão, põe-se de pé e me abraça, chorando
copiosamente.
— Você voltou, querido. Eu sabia que voltaria…
— Shh… Fique calma — digo, tentando tranquilizá-la e evitar
que a mulher faça alguma besteira. — Não chore, vai ficar tudo bem.
Quando o motorista chega, aceno para ele ligar um dos carros
de uso da empresa e a guio até o veículo.
— Ele vai levar você para casa, tudo bem? — comunico,
afastando-a do meu peito.
Ela assente, ainda trêmula, e me abraça mais uma vez.
— Amo você, querido. Vamos ficar juntos, eu sei.
Preciso respirar fundo para não perder a paciência e piorar as
coisas. Ajudo-a a entrar no carro, dou as instruções ao motorista e
então sigo o meu próprio caminho.
CAPÍTULO 39

BEATRIZ

Assim que chego em casa, procuro mamãe para tentar contar-


lhe as novidades, mas não a encontro em lugar algum. Deixo minhas
coisas no quarto e desço até a piscina, sentindo meu coração leve,
quente e apaixonado.
Sento-me em uma das espreguiçadeiras e ligo para ela,
informando que já estou em casa. Mamãe diz que chegará mais
tarde, pois está resolvendo algumas coisas na rua, e que deixou meu
almoço na geladeira.
Após desligar o telefone, sigo para a cozinha, ouvindo minha
barriga roncar de fome e sentindo as pernas trêmulas. Arrependo-me
de não ter ficado mais tempo com ele, contudo, não poderia abusar
da minha sorte.
Termino de almoçar, lavo a louça e sigo para o meu quarto.
Sinto meu corpo cansado e sorrio ao relembrar o motivo. Sinto-me
como uma criança que acaba de ganhar um presente. Mas, neste
caso, meu presente possui quase dois metros de altura e faz
obscenidades comigo.
Sinto minhas pálpebras pesarem. Meu corpo cobra o preço
por ter passado a noite acordada, e nem ao menos percebo quando
caio no sono.
Acordo com o corpo mole e dolorido. Levanto-me e ainda sinto
aquela ardência entre as pernas, da mesma forma de quando
acordei pela manhã. Tomo um banho rápido, coloco uma roupa leve
e desço. É quando vejo mamãe entrar pela porta, carregando
algumas sacolas, contendo mudas de plantas.
Quando ela me olha, não consigo esconder o sorriso de
felicidade e corro para ajudá-la.
— Oi, mamãe — cumprimento-a e pego uma das sacolas.
— Oi, querida. Me ajude com essa aqui — pede, entregando-
me uma outra muda repleta de espinhos.
Ajudo-a a carregar as plantas até a área dos fundos e depois
me sento.
Mamãe lava as mãos e caminha até mim com as
sobrancelhas erguidas. Pelo seu olhar, já posso imaginar que há mil
perguntas na sua cabeça.
— Posso saber onde esteve, mocinha? — indaga e senta-se
em outra cadeira de frente para mim. — Nem adianta dizer que
estava com Gracy. Liguei para a casa dela hoje de manhã e a mãe
da sua amiga disse que ela estava dormindo e que você não estava
com ela, nem mesmo quando chegou da festa.
Engulo em seco, sentindo meu corpo tremer, nervosa.
Contudo, concluo que não há nada a temer. Imagino que mamãe já
saiba com quem eu estava e está apenas esperando que eu
confirme.
Esfrego minhas mãos uma na outra e cruzo as pernas, um
pouco envergonhada. Contudo, o sorriso no meu rosto me entrega.
— Querida, você e o Cadu…
— Sim, mamãe. Passamos a noite juntos — confirmo.
— Eu sabia. Esse sorrisinho apaixonado não engana
ninguém, menina.
— Meu Deus, mãe. É tão óbvio assim? — Desvio o olhar e
sorrio, envergonhada.
— Quer mesmo que eu responda? — Olho em sua direção e a
vejo esboçar um sorriso divertido. — Não precisa ficar com
vergonha, menina. Sou sua mãe e também sou mulher. Entendo o
que está sentindo.
— Tudo bem. É que é estranho falar dessas coisas com a
senhora, dona Karine.
Arqueio uma sobrancelha e ela sorri, balançando a cabeça.
— Como será agora, filha? Digo… Foi só dessa vez ou vão
continuar se encontrando? Espero que tenham se protegido,
mocinha.
Sinto um frio gelado na barriga quando ouço sua frase sobre
termos nos protegido, no entanto, respondo-lhe, omitindo alguns
fatos e acrescentando outros:
— Bom, sim… O Cadu me pediu em namoro. Na verdade, ele
quer pedir a minha mão para o papai, mas insisti para ele esperar um
pouco, até eu conversar com a senhora. Acho que o papai não vai
encarar isso com bons olhos.
— Sim, tem razão, querida. Nem quero ver o dia que ele
descobrir tudo. Vai ficar uma fera. — Seu olhar sereno passa de
divertido para preocupado.
Levanto-me e fico de costas. Abraço o meu corpo e fito as
pequenas plantas que ela trouxe consigo.
— Tenho medo de que o papai cometa alguma besteira. Ele
sempre confiou cegamente no Cadu. Será um choque grande —
comento, aflita.
— Sim, é verdade. — Ela também se levanta e caminha até
onde estou, tocando o meu ombro. — Mas não tem que ficar
pensando nisso. — Viro o meu corpo em sua direção e mamãe
coloca as mãos sobre os meus ombros. — Apesar de tudo, seu pai
precisa entender que você não é mais uma menininha. É uma
mulher, linda e inteligente, que corre atrás dos seus objetivos e sabe
o que quer.
Meus olhos marejam quando escuto suas palavras, e a
abraço.
— Obrigada… Obrigada por tudo. — Seco as minhas
bochechas usando a palma da minha mão e continuo: — O seu
apoio é muito importante para mim.
— Não chore, querida. Saiba que tenho muito orgulho da
pessoa que você se tornou.
Afasto o meu corpo do seu abraço e sorrio, ainda mais feliz.
— Também sou orgulhosa de tê-la como a minha mãe.

Alguns dias depois.

Enquanto meus pais me aguardam na sala, termino de me


arrumar, borrifando um perfume suave no meu pescoço. Olho uma
última vez no espelho e sorrio, aprovando o resultado.
O vestido preto e discreto com mangas compridas, batendo na
metade das minhas coxas, cai como uma luva sobre o meu corpo,
valorizando as minhas curvas. Dou uma voltinha, sentindo o
movimento balançar os meus cabelos, e pego a minha bolsa.
Meu corpo está ansioso, em expectativa para chegarmos logo
ao casamento de Priscila e eu poder ver meu namorado dentro de
um terno elegante. A última vez que nos vimos foi há dois dias,
quando fizemos amor em um motel próximo à faculdade, durante o
intervalo de almoço dele.
Desço os degraus quase correndo e sou amparada por papai,
que segura a minha mão e me faz dar um giro na sala.
— Gostaram? — pergunto e dou mais uma voltinha.
— Com certeza está mais bonita que a noiva — diz meu pai,
sorridente.
— Está perfeita, querida — diz mamãe, piscando o olho. Ela,
mais do que ninguém, sabe o motivo da minha empolgação.
Abro um sorriso imenso e seguimos para o carro. Ao
chegarmos à igreja, sento-me em um dos bancos da frente, ao lado
dos meus pais, e aguardo a cerimônia começar.
Em alguns instantes, vejo o Cadu chegar com a sua mãe e
caminhar em nossa direção. Ele está maravilhoso, todo elegante
com seu paletó preto e gravata borboleta. Os cabelos bem
penteados, a barba bem-feita. Meu coração dá um salto quando ele
me olha e sorri por poucos segundos, mas logo retoma a compostura
séria e nos cumprimenta com um aperto de mão.
Dona Rebeca também nos cumprimenta, sorridente, e olha
para a minha mãe de soslaio como se para confirmar se ela sabe de
algo. Quando mamãe pisca um olho e olha para o Cadu
disfarçadamente, vejo dona Rebeca abrir um sorriso brando e
abraçá-la, alegre.
Minhas bochechas coram e meu coração dispara quando sinto
a mão do Cadu procurar a minha enquanto conversa com o meu pai.
Ele a acaricia de leve, fazendo uma corrente elétrica correr por todo
o meu corpo, devido à temperatura do seu toque, e depois a solta,
deixando-me trêmula e quase sem ar. Uma mistura de adrenalina e
medo me invade.
Eles seguem até o altar e cada um toma o seu lugar. O Cadu
será padrinho do casamento, com uma outra amiga da noiva.
Infelizmente, quando eu e Priscila nos conhecemos, os padrinhos e
madrinhas já estavam definidos e ela me pediu um milhão de
desculpas.
Mas tudo bem também. Sinto-me feliz por saber que em
alguns instantes ela estará se casando com o amor da sua vida,
enquanto o meu não para de me olhar.
A noiva entra na igreja, tão linda quanto uma princesa, e a
cerimônia se inicia. Tento focar minha atenção no casal, mas vez ou
outra, meu olhar recai sobre o homem elegante, em pé, próximo ao
altar. Os olhos oceânicos e brilhantes se encontram com os meus, e
não consigo disfarçar um sorriso modesto. Preciso desviar a atenção
para não entregar a todos os presentes o segredo que guardamos.
Quando o casamento termina, espero que os noivos e
padrinhos sigam para a saída da igreja. Parabenizo os recém-
casados e sigo para o carro, para aguardar os meus pais e
seguirmos para o local da festa.
O local do evento é amplo e bem iluminado. A decoração é
requintada e elegante, com detalhes prateados e dourados nas
paredes. Muitos lustres e arranjos aéreos dão um toque romântico e
alegre à decoração, além das mesas de doces espalhadas pelo
salão, decoradas com lindas flores brancas.
Fico encantada com o requinte e bom gosto agregado a cada
detalhe. Meu sorriso se amplia ao imaginar que algum dia poderá ser
eu.
Meus pais se encontram com alguns amigos e aproveito para
pegar um drink e aguardar o Cadu chegar. Encontro um salão
decorado com sofás e almofadas e sento-me. Após alguns minutos,
recebo uma mensagem dele, informando que chegará em alguns
instantes.
Os minutos se arrastam demoradamente. Balanço a perna
cruzada em cima da outra por diversas vezes, enquanto observo
algumas pessoas andarem de um lado a outro no salão. Pouco
tempo depois, eu o vejo se aproximar e seu sorriso se ilumina ao pôr
os olhos em mim. Meu coração bate descompassadamente dentro
do meu peito a cada passo que ele dá.
— Oi. — Senta-se do meu lado e passa a mão pela minha
cintura. — Que saudades, querida.
A boca quente vai de encontro à minha, mergulhando a língua
morna para o meu interior, roubando-me um beijo ardente.
— Cadu… Espera. — Afasto-o, sem ar. — Não podemos fazer
isso aqui.
Percebo que algumas pessoas nos observam, surpresas, mas
voltam a nos ignorar.
— Bia, eu não suporto mais essa situação — sussurra —
Quero poder beijar e abraçar você em qualquer lugar. Sem medo!
— Eu sei, mas precisa esperar um pouco — digo, temerosa.
— Porra, Bia! Tem ideia de como estou me sentindo por não
poder tocar você? Estou enlouquecendo.
— Logo iremos mudar isso, Cadu. Por favor, espere mais um
pouco.
Ele suspira pesadamente e toca o meu queixo.
— Do que tem medo, Bia? Por acaso sente vergonha por eu
ser mais velho? Diz! — Vejo a mágoa se apossar do seu semblante,
e então ele se afasta. — Não sou mais um garoto para continuar com
joguinhos, menina.
— Não diga isso. — Eu me aproximo mais do seu corpo e
sussurro: — Claro que não tenho vergonha. Por acaso já se olhou no
espelho, tio? — Sorrio, provocando-o.
Sua expressão se fecha mais, e ele aperta as mãos em
punhos.
— Do que tem medo, Beatriz?
— Tenho medo por você, Cadu. Não sei qual será a reação do
papai — confesso.
— Eu me entenderei com ele, menina. O que não suporto
mais é continuar assim, distante. Sem poder beijar ou tocar você
sempre que eu quiser. Minhas bolas vivem doendo de tanto tesão
reprimido.
Não consigo disfarçar um sorriso e gargalho, vendo o Cadu
sorrir também.
— Também estou louca para fazer algumas coisas com
você… — confesso, mordiscando o lábio, voltando a me aproximar.
Nossos lábios se encontram outra vez, em um beijo lento e
sensual.
— Quero fazer amor com você, querida. Meu pau está
queimando…
— Acho que podemos fugir um pouquinho, o que acha? —
pergunto baixinho, próximo ao seu ouvido.
— Meu apartamento?
— Hum. Acho que não. Tenho outro lugar em mente — digo e
me afasto. — Me encontre lá fora em alguns minutos.
Ele sorri, passando a mão em cima do pênis disfarçadamente,
e balança a cabeça em concordância.
Tomo distância, rebolando e olhando em sua direção,
sorridente, tendo o olhar azulado focado na minha bunda. Assim que
passo pela área da piscina e sigo em direção ao portão, escuto
alguém me chamar e então paro no meio do caminho.
Vejo Victor caminhando até mim, aproximando-se com um
sorriso no rosto.
— Bia? — chama. A expressão leve, decidida. O olhar focado
nos meus olhos. — Como está linda.
— Obrigada! — Forço um sorriso amarelo e olho em volta, à
procura do Cadu. Sei que ele não ficará muito satisfeito se me vir
conversando com o Victor.
— Está sozinha? — pergunta e toca a minha mão, levando-a
até seus lábios, depositando um beijo.
— Estou com os meus pais — respondo, nervosa.
— Posso te fazer companhia? — Sinto minhas pernas
tremerem e minha respiração falhar quando ele dá mais um passo
em minha direção, quase colando os nossos corpos.
— Victor, olha, não podemos… — No entanto, sou
interrompida por sua boca ávida, que procura a minha de repente.
Nervosa, desvio o meu rosto e sinto sua respiração
descompassada no meu pescoço. Empurro-o.
— Bia… Quero que seja a minha namorada.
— Sinto muito, Victor, mas eu amo outra pessoa. Sempre
deixei isso claro para você!
Os olhos escuros me fitam, tristes, e meu coração se aperta.
No entanto, sinto cada músculo do meu corpo se enrijecer quando
ouço a voz do Cadu às minhas costas, e logo as mãos firmes e
possessivas me seguram pela cintura.
— Ela já tem um namorado, frangote. Afaste-se da minha
mulher.
CAPÍTULO 40

CARLOS EDUARDO

— Divertindo-se, Beatriz? — digo, hostil, virando-me para ela,


vendo o fedelho se afastar.
O ciúme me toma de forma dolorosa. Meu sangue ferve sem
controle, as lembranças amargas me atingem.
— Cadu, eu… — Ela tenta se explicar, mas sua voz não sai.
Está nervosa, trêmula.
Preciso respirar fundo para não fazer uma besteira. Meus
nervos se afloram mais, a imagem dele tentando beijá-la não sai da
minha cabeça. Victor nos encara, surpreso, como se não
acreditasse no que está vendo, e questiona Beatriz:
— É por causa dele que você nunca me deu uma
oportunidade, Bia? É ele o homem que você vive dizendo amar?
Beatriz assente de forma silenciosa, e meu coração dispara.
Passo a mão por meus cabelos, nervoso, sem saber o que dizer ou
como reagir. A verdade é que, por um instante, pensei que ela seria
como a outra, uma mentirosa que apenas me usou. Mas, agora,
vendo-a me encarar, receosa, os olhos lacrimejando, a confissão de
Victor sobre os sentimentos dela, percebo o quão idiota sou.
— Sim, é por causa dele, Victor. Sinto muito por nunca ter
podido corresponder aos seus sentimentos.
Victor olha de mim para ela, alarmado. Vejo em seu
semblante que o que sente por ela é real. É exatamente assim que
eu ficaria se descobrisse que a mulher que amo é apaixonada por
outro.
Logo em seguida, ele assente com a cabeça e sai,
desnorteado, perdido.
Um bolo se forma em meu peito quando ela me abraça,
trêmula, a voz entrecortada.
— Cadu, ele tentou… Eu não fiz…
— Bia — chamo o seu nome, interrompendo-a, e faço com
que ela me olhe. Os olhinhos verdes brilham, fazendo meu coração
disparar desesperadamente. — Eu amo você, pequena. — Abraço-a
e enfio meu nariz nos seus cabelos. — Sei que você não fez nada.
Digo isso para ela e para mim mesmo, colocando uma pedra
no passado e permitindo que o presente e o futuro me abracem.
Deixo para trás as amarguras que me fizeram duro e permito que
minhas muralhas caiam por terra. Beijo os seus lábios e pego
Beatriz nos braços, ouvindo-a gritar, assustada. Levo-a até o carro,
estacionado do outro lado da rua.
— E então, para onde estamos indo? — pergunto, lembrando
que ela havia dito ter um lugar em mente para irmos.
Um pouco mais calma, Beatriz passa as instruções, e eu sigo
a rota até sairmos da cidade. No caminho, ela conecta o celular ao
bluetooth do carro e seleciona uma playlist do Zayn. Ao chegarmos
ao local indicado, perco o fôlego ao ver que é a mesma praia do
resort, iluminada pela luz da lua cheia. A esta hora, está deserta.
Beatriz tira as sandálias e sai do carro, sorridente. A brisa do
mar balança os cabelos longos e sedosos, e então, peça por peça,
ela começa a tirar a roupa. Com o olhar cravado no dela, saio do
carro e caminho até Beatriz, admirando cada pedacinho do corpo nu
que tanto me enlouquece.
Seguro minha menina pela cintura e encosto minha boca na
sua, minhas mãos descendo até o traseiro durinho, apertando-o.
— Eu quero você aqui, amor… — sussurra e leva a mão até
a minha camisa.
Gemo baixinho ao alcançar os seios pequenos e apertá-los.
Como se minha vida dependesse disso, começo a apalpar o seu
corpo em todos os lugares, gravando as formas das curvas dela na
minha mão.
— Porra! — Grunho quando ela termina de retirar o meu
terno, abre os botões da minha camisa e depois enfia a mão dentro
da minha calça, arrancando o meu pau para fora. — Eu nunca
pensei que pudesse desejar alguém tanto assim. — Deslizo minhas
mãos até o interior das suas pernas e acaricio o triângulo do seu
sexo. — Meu pau está tão duro que chega a doer.
Ela sorri baixinho e mordisca o lábio. Segura meu pênis com
firmeza e o masturba devagar, arrancando outro gemido da minha
garganta, enlouquecendo-me.
— Perfeita para mim — murmuro.
Abraço Beatriz com força, ergo-a do chão e a levo em direção
ao carro. Quando me aproximo o suficiente, coloco o seu corpo em
cima do capô, com as pernas abertas, e me posiciono entre elas.
Começo chupando os peitinhos pequenos, lambo e sugo os
bicos durinhos até fazê-la se contorcer de prazer. Quando alcanço o
pescoço delicado, mordisco e chupo a pele macia, deliciando-me
com seu gosto e o seu cheiro.
— Cadu… Meu Deus…
Continuo lambendo-a toda, abro mais as suas pernas e
arreganho os lábios da sua boceta, meto e retiro a língua várias
vezes. Subo novamente com movimentos libidinosos e alcanço a
sua boca. Chupo e mordo sem pena, devorando-a, demonstrando o
quanto ela me enlouquece.
Ainda vestido, termino de descer o zíper da minha calça e
levo o pau até a entradinha melada. Com uma única estocada, entro
todo dentro dela, deixando Beatriz arfante, a respiração errática.
— Aiii — ela grita e firma os braços no capô do carro,
levantando a cabeça para me ver entrando todo.
— Vem, princesa, olha o seu macho te comendo. — Alcanço
os cabelos da sua nuca e puxo, deixando seu pescoço à mercê da
minha boca. — É gostoso, não é?
Giro o quadril, alucinado, vendo a boceta pequena e esticada
além do limite, engolindo-me por completo.
— Sim… Sim… — Ela grunhe, e eu saio do seu corpo. Sorrio
quando ela reclama, mas, para suprir a sua necessidade, coloco a
minha menina de quatro em cima do capô e abro as bandas do
traseiro gostoso.
Sem cerimônia, enfio o meu rosto entre as suas pernas e
meto a língua no anelzinho virgem. Minha respiração acelera
quando enfio um dedo na entrada do sexo escorregadio e sinto seus
líquidos descendo, melando a minha mão. Beatriz ofega e
choraminga mais, empinando a bunda, dando-me total acesso ao
seu corpo.
Afasto-me e subo para as suas costas, mordendo e
lambendo sua pele enquanto masturbo o meu pau. Puxo Beatriz
para mim e a abraço por trás, perdido no momento que nos envolve,
sentindo o meu membro quente esmagado entre o meu corpo e o
dela.
Seguro o seu queixo com brusquidão e faço com que ela vire
o rosto para mim. Chupo os lábios deliciosos com vontade, mordo e
penetro a língua na sua boca de forma imoral, dura e crua.
Ela geme mais, perdendo o equilíbrio das pernas, e eu a
seguro entre os meus braços. Abro a porta do Aventador e a coloco
sentada no banco do carona.
O olhar cheio de luxúria fixa-se no meu, faminto e guloso. Os
cabelos compridos grudam no corpo suado, deixando Beatriz
extremamente sexy, um verdadeiro pecado em forma de mulher.
— Bia… — gemo o seu nome e fecho os meus olhos quando
ela segura o meu pau e o leva até a boca. Lambe a cabeça robusta,
suga os nossos líquidos e depois chupa, engolindo-o quase todo.
Seguro os seus cabelos, formando um rabo de cavalo, e acaricio o
seu queixo, voltando a abrir os olhos para fitá-la.
Os estalos das suas chupadas no meu pau lambuzado me
deixam louco e preciso me segurar para não gozar em sua boca
como um animal no cio.
— Querida… — Tento sair da sua boca, mas ela parece estar
disposta a ir até o fim. — Bia, vou encher a sua boca de porra se
você não parar — advirto ao sentir o meu corpo tremer e as ondas
do prazer se apossarem das minhas bolas. — Porra!
Afasto o meu corpo, tentando me controlar, mas ela crava os
dedos nas minhas coxas, ao mesmo tempo em que abocanha meu
pau todo, impedindo que eu o retire da sua garganta.
É o meu fim.
O primeiro jato sai forte, fazendo-me ranger os dentes,
tamanho é o prazer que sinto. Seguro-me na porta do carro,
firmando-me para não desabar no chão, e me entrego à sensação
do prazer, sentindo minhas bolas se contraírem, liberando todo o
tesão acumulado.
Beatriz engasga e se afasta um pouco, tomando outro jato
forte entre os lábios. Meu gozo mela o seu queixo e escorre por seu
pescoço, fazendo o meu prazer se prolongar com a cena mais
erótica e deliciosa que já vi em toda a minha vida.
Louco e insensato, puxo as suas pernas em minha direção,
fazendo a minha menina se deitar bruscamente, e monto o seu
corpo, enterrando-me todo dentro dela, até o talo.
— Oh, céus! — Ela reclama devido à invasão inesperada,
mas não paro, o prazer ainda me consumindo.
Meto forte. Profundo. Uma, duas, três vezes, fazendo Bia
gritar mais e me arranhar, alucinada. O interior do carro é tomado
pelo som dos nossos sexos lambuzados chocando-se, nossas
bocas resfolegando uma na outra, e então a sinto estremecer.
Enfio uma última vez e sinto a boceta gulosa contraindo-se,
liberando todo seu prazer.
Beatriz abre a boca, formando um "O", e fecha os olhos.
Suas unhas cravam-se nos meus braços, o corpo tremendo, o suor
escorrendo por sua testa. Puxo o ar para os meus pulmões e
desabo em cima dela, sentindo-me saciado e de peito inflado.
CAPÍTULO 41

CARLOS EDUARDO

A música First, do SoMo, começa a tocar baixinho no som do


carro, fazendo-me relaxar mais, quase dormindo em cima dela. A
letra praticamente define o que acabamos de fazer aqui.
— Cadu… — Beatriz reclama debaixo do meu corpo e coloca
a mão no meu ombro. — Você está… me sufocando.
Sorrio com a respiração entrecortada e apoio um braço no
banco, ao lado das suas costelas. Afasto-me um pouco e a encaro.
— Ajoelhou tem que rezar, menina! Estou morto de cansado.
— Você é pesado. Quase me esmaga. — Sorri e retira um
punhado de cabelo que gruda no seu pescoço. — Já não basta ter
quase me afogado com um litro de esperma?
Gargalho e me afasto mais, retirando o meu pau da sua
entrada. Beatriz ofega e contrai o corpo.
— É o preço que se paga por ter deixado seu homem louco,
danada.
— Eu amo deixar você louco — confessa com carinha de
safada, mordiscando o lábio.
— Eu sei… — Curvo meus lábios em um sorriso e tiro mais
alguns fios de cabelo do seu rosto e pescoço. — Me deixou tão
louco que cometi a maior loucura de toda a minha vida.
— Por acaso está arrependido, senhor Ferraz? — questiona.
— Nem um pouco. Faria tudo de novo, se fosse preciso. —
Acaricio o seu queixo e ela toca a minha mão, retribuindo a carícia.
Seu sorriso se abre brandamente, mas então logo vejo um resquício
de preocupação tomar a sua face.
— Amor, olhe o meu estado. Como poderei voltar para a festa
assim? — diz, referindo-se ao cabelo molhado de suor e ao
esperma escorrendo pelo pescoço.
— Para mim, você está perfeita. — Pisco.
Ela fecha a cara, irritada.
— Cadu, estou falando sério. Mesmo que eu me lave na água
do mar, como explicarei meu cabelo molhado para o papai e a
mamãe? Não dá para simplesmente inventar uma desculpa.
Respiro fundo, entendendo perfeitamente o que ela quer
dizer, e tomo a decisão mais sensata possível, algo que eu já
deveria ter feito há muito tempo.
— Ainda hoje irei conversar com o seu pai, Beatriz. Chega de
omitir sobre nós dois. Poderemos ficar juntos onde quisermos, você
poderá ir a eventos como minha namorada e dormir em minha
casa…
Ela arregala os olhos, surpresa.
— Cadu… mas…
— Bia, por favor. Chega disso! — Levanto-me e subo o zíper
da calça. — O Felipe precisa saber. Ele é meu amigo, como acha
que me sinto, escondendo algo assim dele?
— Céus! Eu vou morrer de vergonha — diz, tapando o rosto
com as duas mãos.
— Vem, querida. Precisamos encarar as consequências, não
há outra saída — digo e estendo a mão para ela se levantar.
Ela segura a minha mão e assente com a cabeça. Beijo seus
lábios mais uma vez e aguardo que ela se vista. Contudo, sou
surpreendido quando Beatriz corre na direção do mar e vira-se para
mim.
— Vem, Cadu… — Sorri, enquanto dá alguns passos para
trás, dentro da água, e prende os cabelos no topo da cabeça para
não molhar. — Entre aqui comigo.
— Bia… — Tento adverti-la e pedir para irmos embora, mas o
traidor do meu pau começa a ficar duro de novo e o corpo dela, nu,
banhado pela luz da lua, me deixa tonto.
Fascinado, dou alguns passos em sua direção, vendo a
minha menina sorrir, tendo as ondas suaves como pano de fundo.
Caralho, Bia!
Com o olhar preso no dela, retiro a minha camisa, seduzido,
e a jogo na areia. Faço o mesmo com a calça e a cueca boxer.
De repente, sinto um arrepio estranho na espinha e uma
sensação ruim me toma, no entanto, ignoro e continuo andando até
sentir a água fria tocando os meus pés.
Beatriz corre em minha direção e pula em meus braços,
entrelaçando as pernas em minha cintura, grudando os lábios na
minha boca, feliz.
Seguro o seu quadril com firmeza e caminho com ela para
dentro do mar, até ter metade dos nossos corpos cobertos pela
água azul do oceano. Ela se enrosca mais em mim, acaricia os
meus cabelos e procura a minha boca. Nossos corpos se arrepiam
por causa do vento que sopra sobre nossas peles molhadas.
Permanecemos assim, em silêncio, amando-nos devagar, entre
beijos e carícias, tomados pela sensação deliciosa de estarmos
abraçados.
Quando saímos da água, forro a minha camisa na areia e me
deito, trazendo minha menina comigo, por cima do meu corpo.
Beatriz monta meu pênis e desce lentamente, entregando-se
mais uma vez ao nosso desejo.
Prendo a respiração e a deixo comandar o ritmo, subindo e
descendo devagar, até não aguentarmos mais e então gozamos
juntos, entre gritos e gemidos ofegantes, beijos ardentes e
arranhões.
Ela encosta a cabeça no meu peito e permanecemos assim,
em silêncio, até nossas respirações se normalizarem. De volta à
realidade, lembro que temos de voltar. Afinal, fugimos da festa sem
qualquer explicação, devemos satisfação aos seus pais.
— Vamos, querida? Precisamos voltar — chamo, e ela
concorda.
Percebo no seu olhar que está receosa pelo que vamos
enfrentar, contudo, assente e levanta-se.
Já vestidos, entramos no carro e dou a partida. Dirijo
devagar, com a mão em cima da sua coxa, acariciando-a enquanto
reflito sobre tudo, embora a tensão se faça presente em cada célula
do meu corpo. Apesar de tudo, sou um homem maduro e vivido.
Tenho responsabilidades, e a primeira delas é assumir as
consequências dos meus atos.
Antes de voltarmos para a festa, passo no meu apartamento,
às pressas, e troco a camisa amarrotada e coberta de areia. Beatriz
retoca a maquiagem usando algumas coisas da pequena bolsa de
mão, arruma o vestido e os cabelos, e retornamos para o carro.
Enquanto dirijo, perdido em pensamentos, tomo um susto
quando o celular da Bia toca e ela atende. Estaciono o carro no
acostamento, às pressas, quando a vejo pôr a mão sobre os lábios
e começar a chorar, aflita.
— Querida, o que foi? — Pego o celular da sua mão e a
abraço, sentindo seu corpo tremer por causa dos soluços.
— Cadu, era a Gracy… O Pedro… Ele… — Sua voz falha.
— Bia, respira. Fale com calma — peço, segurando-a pelos
ombros.
— Ele foi levado para o hospital em estado grave, em
decorrência de uma overdose… — Ela soluça novamente, e sinto
meu sangue gelar. Apesar de ele ter sido um babaca idiota, entendo
que sempre foram amigos. — Ele está morrendo.
Abraço-a mais forte e sussurro:
— Querida, tenha calma. Vai dar tudo certo.
— Preciso que me leve até os meus pais, para que possamos
ir ao hospital. — Ela afasta o corpo do meu, mas não me encara. —
O Pedro teve umas atitudes estranhas, de certo tempo para cá, e
por isso me afastei dele. Mas… — Ela respira fundo e continua: —
Sempre fomos amigos e não consigo ser indiferente a isso.
Assinto, sabendo exatamente o que ela quer dizer, mas nada
digo.
A sensação ruim que eu havia sentido volta com mais força e
eu seguro forte o volante, incomodado. No entanto, volto a ligar o
carro e sigo em frente.
Ao chegarmos ao salão da festa, observo todos os lados
antes de descer do Aventador, certificando-me de que está tudo em
ordem. Aparentemente, está tudo em seu devido lugar.
Beatriz desce primeiro e caminha em direção ao portão,
passando a mão pelos cabelos, nervosa. Saio do carro e bato a
porta, mas, antes que eu dê um passo para acompanhá-la, ouço o
toque de mensagens do meu celular.
Pego o aparelho e abro a mensagem, sentindo todo o sangue
se esvair do meu corpo quando vejo o conteúdo. Minha testa sua e
a tensão toma conta do meu organismo ao ver inúmeras fotos nossa
em situações comprometedoras: nós dois nos beijando perto da
piscina do salão, Beatriz sendo carregada até o carro nos meus
braços, a sombra dos nossos corpos nus, devorando-nos dentro do
mar.
Mais embaixo, há uma legenda que faz o meu sangue ferver
como fogo.
Você mentiu para mim, mi amor. Disse que ficaria tudo bem.
Mas não cumpriu, continuou com ela.

Aflito, abro a boca para gritar o nome de Beatriz e impedir


que ela siga até Felipe, temendo que ele também tenha recebido as
imagens.
No entanto, é tarde demais.
Vejo Felipe sair pelo portão, enraivecido, enquanto conversa
quase gritando com a dona Karine, dando de cara com Beatriz.
Corro na direção de ambos, quando ele segura o braço da minha
menina com brusquidão, e a ouço gemer, assustada.
— Papai, o quê… — Ela procura uma explicação para o seu
comportamento irado, mas eu a interrompo.
— Não ouse machucá-la, Felipe, ficou louco?
— Felipe, solte a menina, homem — pede sua esposa, aflita,
tentando puxar Beatriz para o seu lado.
Quando ele ouve a minha voz, vira a cabeça e caminha até
mim. Vejo a raiva dançar em seus olhos, a mágoa, o sentimento de
traição.
Engulo a minha saliva ao sentir um gosto amargo se apossar
da minha garganta, mas permaneço no mesmo lugar. Sei que
mereço isso. Mereço o seu ódio e o seu desprezo, e não me resta
mais nada, a não ser me desculpar por amar a sua filha.
— Desgraçado!
— Felipe, eu… — Ainda tento me explicar, mesmo não tendo
muito o que dizer, mas a força de um soco me atinge em cheio na
boca e o gosto metálico do sangue invade o meu paladar.
Dou um passo para trás, cambaleando, mas consigo me
firmar.
— Seu miserável, maldito! Eu confiava em você, porra!
— Não, papai… — Ouço a voz de Beatriz aproximando-se,
desesperada, mas nem ao menos consigo vê-la, pois antes que eu
me recupere, sinto outro soco atingindo o meu maxilar. — Por favor,
não o machuque. — Percebo que ela está chorando.
— Não se aproxime, Beatriz! — ordena ele, e eu aceno para
ela obedecê-lo.
Tento me proteger dos golpes e fazer Felipe se acalmar, mas
é em vão. Ele está tão furioso que é quase impossível fazê-lo voltar
à consciência. Vários golpes me atingem, no olho, nariz e maxilar,
fazendo a minha cabeça zunir, deixando-me tonto.
— Você é um hipócrita. Um traidor. Se aproveitou da minha
filha pelas minhas costas… Seu pedófilo de merda.
Ouvir essas palavras é como um soco no meu estômago. Dói
muito mais do que o corte que se abriu nos meus lábios e agora
mina sangue. Levo minha mão aos meus lábios, sentindo o líquido
denso escorrer, e já sinto minhas pálpebras incharem.
— Felipe, não é nada disso… — Tento me justificar, mas ele
não me dá espaço, vindo para cima de mim outra vez, ignorando os
gritos e os apelos de Beatriz e os de sua esposa.
Vejo um grupo de pessoas nos cercarem, chocados, mas
nem isso o impede de me segurar pelo colarinho e meter outro soco,
dessa vez acertando o meu nariz. Rodopio no meio da rua, quase
perdendo o equilíbrio. Ao longe, ouço os gritos da minha menina,
chorando sem consolo.
— Você é podre, Eduardo! Sujo! Mesmo sabendo o galinha
de merda que você é, não pensei que fosse tão nojento a ponto de
fazer isso com a minha filha. Miserável!
— Felipe… Eu amo a Bia — digo, ofegante, sentindo o
sangue escorrer pelo meu nariz e boca.
— Ama a minha filha? — Ele gargalha, sarcástico, a voz tão
trovejante que parece um demônio. — Você não ama ninguém, seu
hipócrita, nem a si mesmo.
Olho para as pessoas à minha volta, encarando-me como se
eu fosse um assassino ou algo pior, e sinto a vergonha me atingir
como nunca antes. Céus, o que eu fiz?
Passo a mão pelos meus cabelos, sentindo meu rosto arder,
e vejo Beatriz chorando, abraçada à sua mãe. Ela não merecia
passar por isso. A culpa me consome.
As palavras ainda vivas de Felipe gritam na minha cabeça,
fazendo com que eu me sinta um merda, um nada.
— Vamos embora, Beatriz! Você está proibida de se
aproximar desse homem outra vez!
— Papai, não.
Ela se desvencilha dos braços da sua mãe e corre em minha
direção, abraçando-me.
— Querida… — Envolvo o seu ombro e fecho os meus olhos
quando ela coloca a cabeça no meu peito e soluça.
— Eu não vou deixar você, amor.
Céus! Não mereço ser amado assim. Nunca pensei que
seria, nem em mil anos.
— Vamos, Beatriz. Já chega dessa palhaçada!
Ouço a voz de Felipe às suas costas e ela balança a cabeça
em negativa. Contudo, sei que este não é o melhor momento para
confrontá-lo. Está nervoso, e eu não tiro a sua razão. Até eu me
revoltaria vendo aquelas imagens.
— Bia, olhe para mim — peço e seguro o seu queixo,
fazendo-a me encarar. — Vá com ele, princesa. Vai ficar tudo bem.
Vejo decepção em seu olhar. Ela deve estar pensando que
desistirei de nós dois, mas isso nunca passou pela minha cabeça.
— Confie em mim, meu amor. Por favor!
Ela assente e suspira, afastando-se. Deixo meus ombros
caírem, cansados, e o aperto em meu peito se intensifica a cada
passo que ela dá para mais longe de mim.
Mas ainda falo, dirigindo-me ao Felipe:
— Eu explicarei tudo quando estiver calmo, Felipe. Meus
sentimentos pela Bia são profundos e sinceros. Nos falaremos
amanhã.
Em resposta, ele simplesmente bufa e range os dentes.
Beatriz caminha devagar no meio da rua, um pouco atrás de
Felipe e Karine, vez e outra olhando na minha direção. Contudo,
antes que ela alcance o carro, ouço o disparo de um tiro vindo do
meio da multidão.
Todos se abaixam, amedrontados, mas eu nem ao menos
penso em me proteger quando vejo a minha menina cair no chão,
inconsciente.
— Beatriz! — grito, enlouquecido, sentindo uma lágrima
transbordar pelos meus olhos e queimar a minha face como fogo
líquido.
O desespero me toma.
CAPÍTULO 42

CARLOS EDUARDO

Corro o mais rápido que consigo até ela, o vento chicoteando


o meu rosto, fazendo as feridas arderem como nunca. Antes de
alcançá-la, tenho o ímpeto de me virar. Então, vejo a silhueta de
alguém se afastando no meio da multidão.
Não consigo ver com nitidez, mas percebo que é uma mulher.
O porte físico e a mensagem que recebi mais cedo não me deixam
dúvidas. É a Raquel. Maldição!
Fecho os meus punhos, agoniado, e continuo correndo na
direção de Beatriz. Vejo sua mãe ajoelhando-se, desesperada, ao
seu lado, e logo depois Felipe. Aproximo-me e caio de joelhos no
chão quando vejo o líquido vermelho escorrendo do seu peito e
pintando o asfalto. Olho para o seu rosto pálido, inconsciente, e
desejo ser eu no seu lugar, sentindo a dor que ela sentiu antes de
desmaiar.
— Beatriz, minha princesa… — Toco a sua testa, trêmulo,
retirando algumas mechas de cabelo do seu rosto, e é quando vejo
um corte profundo em sua testa. O sangue mina do ferimento e
escorre na minha mão, dando a entender que ela desmaiou quando
bateu a cabeça no meio-fio. — Meu Deus… Querida… Não morra.
Por favor, não morra.
Enquanto ouço a voz de Felipe chamando os primeiros
socorros, gemo, rouco, sentindo meu coração sangrar com a
possibilidade de perdê-la. Mas quando encontro um batimento
cardíaco, mesmo que fraco, e a sinto respirar, é como se a vida
voltasse para o meu corpo.
No entanto, o que mais me preocupa é o sangue que mancha
a sua roupa sem pena. Nem ao menos percebo quando sigo meus
instintos e rasgo a parte de cima do seu vestido, expondo a ferida
acima do seu seio. Arranco um pedaço da minha camisa e pressiono
o ferimento, tentando, a todo custo, conter o sangramento.
Abaixo meu rosto até os seus cabelos e beijo os fios, sentindo
o mundo ruir à minha volta, enquanto as lágrimas rolam por minha
face, sem controle.
— Você vai ficar bem. Eu sei… — sussurro, tentando acreditar
que tudo não passa de um sonho ruim, que logo irei acordar e vê-la
em cima de mim, sorrindo, expondo as covinhas das suas
bochechas.
Escuto sua mãe chamando o seu nome com desespero, como
se estivesse distante. Os minutos se arrastam demoradamente,
parecem transformar-se em horas. Ouço o barulho de sirenes, vozes
e gritos distantes, mas nada me faz tirar a concentração dela.
Então, alguém me puxa para trás, e vejo Beatriz ser cercada
pelos paramédicos que logo a imobilizam e a colocam em cima de
uma maca.
Levanto-me o mais rápido que posso e faço menção de entrar
na ambulância com ela. No entanto, Felipe me impede, destruindo-
me ainda mais. Sinto alguém me abraçar com força, e o seu cheiro
materno me acalma um pouco.
— Fique calmo, querido. Vai ficar tudo bem… Nossa menina
vai ficar bem — diz minha mãe, acariciando as minhas costas,
acalentando-me.
Respiro fundo e a abraço de volta, em busca do alívio que não
vem.
Uma fina garoa começa a cair e logo se transforma em uma
forte chuva. Um pouco mais calmo, sigo com a minha mãe até o
carro e rumo em direção ao hospital para onde ela foi levada. Na
sala de espera, aguardo por horas a fio uma única notícia. Felipe e
Karine também aguardam, inconsoláveis. A mulher não para de
chorar um só segundo, abraçada ao marido, que nem sequer olha na
minha cara.
Em algum momento da noite, minha mãe me traz um café,
mas não consigo beber absolutamente nada. Minha garganta parece
fechada, mal consigo engolir a minha própria saliva.
As horas passam, angustiantes, até que uma porta se abre e
o médico entra na sala, chamando pelos parentes dela.
— Como está minha filha, doutor? — pergunta Karine,
aproximando-se do homem ao lado do marido.
Também me levanto e caminho até ele, com a mão dentro dos
bolsos.
— Ela está fora de perigo — comunica o médico com o
aspecto exausto, cansado. — Os primeiros minutos foram cruciais
para que ela sobrevivesse. Apesar da bala não ter atingido nenhum
órgão interno, perfurou uma artéria e ela perdeu muito sangue.
Poderia ter sido fatal se alguém não tivesse estancado o
sangramento no momento do ocorrido.
Respiro, aliviado, quando escuto as suas palavras, informando
que ela está bem, e fecho os meus olhos, agradecendo aos céus. Ao
voltar a fitá-los, percebo que a mãe de Beatriz me encara,
emocionada, e corre na minha direção.
— Obrigada, meu filho — diz, abraçando-me, em prantos. —
Você salvou nossa menina.
Também a abraço de volta, aliviado, e olho na direção do
Felipe.
Apesar de ele se manter indiferente, vejo o homem balançar a
cabeça e acenar sutilmente em agradecimento. Sei que ainda há um
longo caminho a percorrer até que eu finalmente consiga
reconquistar a sua confiança, mas por ela, eu estou disposto a tudo.

Alguns dias depois


O sol brilha com toda a sua força quando chego ao hospital,
trazendo comigo um buquê de rosas brancas, e algo especial que
minha mãe me entregou na noite em que Beatriz foi baleada.
Respiro, aliviado, por saber que Raquel foi presa após ter sido
pega no aeroporto internacional, tentando fugir do país. Assim que
dei o meu depoimento sobre o que aconteceu naquela noite e
entreguei para a polícia as mensagens dela, junto com algumas das
fotos que ela havia tirado, automaticamente a mulher passou a ser a
principal suspeita do atentado. A partir de então, não foi difícil juntar
as peças do quebra-cabeça.
A arma usada no crime foi encontrada, escondida dentro de
um vaso de plantas no seu apartamento, contendo as suas digitais, e
se ainda não bastasse, foi encontrado mais de dois quilos de cocaína
entre os seus pertences, o que deixou explícito o seu envolvimento
com coisas ilícitas. Na delegacia, Raquel confessou ter se
aproximado do amigo de Beatriz para adquirir informações. O caso
ainda estava sendo investigado.
Caminho pelo corredor, que dá acesso ao quarto onde ela
está internada, ansioso para ver minha menina e louco de saudades.
Desde que ela acordou, ainda não consegui vê-la, devido às
barreiras impostas por Felipe. O homem se opôs a todas as minhas
tentativas de visitar Beatriz e, por respeito à sua dor, não quis forçar
a barra, mesmo eu estando aqui todos os dias, dormindo noite após
noite na sala de espera, aguardando notícias sobre o seu estado. No
entanto, embora eu ainda sinta remorsos pela forma como ele
descobriu meu envolvimento com ela, Felipe precisa entender que
Beatriz não é mais uma garotinha. Ela cresceu, tornou-se uma linda
mulher. A minha mulher.
Aproximo-me da porta do cômodo onde ela está internada e
avisto Felipe conversando com o médico. Ao me ver, sua expressão
torna-se acirrada, o maxilar trincado e os punhos fechados.
— Bom dia — cumprimento-o e vou direto ao ponto. —
Podemos conversar um minuto, Felipe? De homem para homem.
— Acho que nossos assuntos já estão encerrados, Eduardo.
Não vejo o que mais precisa ser discutido — responde, seco. O
médico, percebendo a situação delicada, despede-se e sai para nos
dar privacidade.
— Está equivocado, Felipe, e você sabe disso — respondo,
um pouco exaltado. Procuro manter a calma e respiro fundo. — Não
estou aqui pedindo que me perdoe e esqueça tudo o que viu
naquelas imagens. Tenho consciência do quão chocante foi para
você ver tudo aquilo. — Levo minha mão até o meu pescoço,
tentando quebrar um pouco da tensão, enquanto o observo fechar a
expressão. — Só quero que saiba que lutei com todas as minhas
forças para resistir ao que estava sentindo por ela. Eu tentei, juro que
tentei. Mas não consegui. — Puxo o ar com força, sentindo a ira dele
aumentar a cada palavra que digo, mas foda-se. — Eu amei aquela
menina com tudo de mais forte que havia em mim, mesmo tendo
prometido nunca mais amar alguém. Ela entrou na minha vida como
um furacão raivoso e tomou tudo, eu não tive a menor chance contra
o seu sorriso ou sua personalidade marcante. Por isso, peço que
reconsidere, por favor. Permita que eu a veja, que eu me aproxime
novamente. Beatriz é o que há de mais importante para mim. Eu a
amo e jamais a magoaria.
Felipe continua calado, encarando-me com o olhar aceso,
cheio de ódio.
Neste momento, vejo sua esposa se aproximar e me encarar
com pesar, pedindo uma desculpa silenciosa pela teimosia do
marido.
— Querido, não se oponha mais. — Karine chama a atenção
dele para si e segura o seu rosto. — Nossa filha cresceu, se
transformou em uma mulher belíssima e fez suas próprias escolhas.
Felipe balança a cabeça, contrariado, e questiona:
— Você sabia de tudo, não é, Karine? E mesmo assim não
disse nada.
A mulher suspira, afastando-se dele, e responde:
— Sim, eu sabia de tudo. Nossa filha fez questão de me dizer,
porque ela sabia que eu não a julgaria. — Olhando o marido com
seriedade, Karine segura sua mão e continua: — E sabe por que não
me opus, Felipe? Porque nossa filha estava feliz. Para mim, é a
única coisa que importa.
Felipe me encara, desconcertado, a respiração pesada. Vejo
um misto de dúvidas se apossar do seu olhar. Percebo que ele
balança a cabeça de um lado a outro, nervoso, sem rumo. O olhar
ferido fixa-se no meu e, então, ele questiona:
— Por que não me disse? Por que deixou que eu descobrisse
tudo por outra pessoa?
Sinto sua revolta, o sentimento de traição carregando sua voz,
mas não há muito o que justificar, a não ser dizer a verdade.
— Foi tudo uma questão de oportunidade… Eu e a Bia
conversamos e estávamos esperando o melhor momento para lhe
contar que estávamos juntos. Naquela noite, eu a trouxe de volta
para a festa disposto a dizer a você tudo o que estava acontecendo,
mas, infelizmente, aquela mulher foi mais rápida e, para se vingar de
mim, enviou-lhe aquelas imagens. Eu sinto muito.
— Você é um miserável! — O homem dá um passo na minha
direção, mas continuo imóvel. — Não pense que compactuo com
isso. Jamais voltarei a confiar em você. — Ele fita o chão e para,
pensativo. — Mas se minha filha está feliz assim, não posso impedi-
la de tomar as suas próprias decisões, por mais tortuosas que sejam.
— Dito isso, ele olha de soslaio para a esposa e ruma em direção à
saída. Antes de sumir no corredor, vira-se na minha direção e diz: —
Não machuque a minha filha, Ferraz. Não tenho medo de ser preso,
acusado de homicídio.
Aceno com a cabeça, sutilmente concordando, e respiro
aliviado, sentindo meu coração disparar dentro do peito, tamanha é a
felicidade que me toma.
— Vá vê-la, Cadu — diz dona Karine, sorrindo, emocionada.
— Ela está esperando você.
— Obrigado! — agradeço e corro até o quarto em que está
Beatriz. Abro a porta e a vejo olhando a paisagem além da janela, o
olhar focado no céu azulado.
— Querida… — Ela se vira na minha direção e abre o sorriso
mais lindo que já vi em toda a minha vida, fazendo meu coração
disparar descontroladamente.
Caminho devagar até seu leito e inclino o meu corpo,
devorando os seus lábios, louco de saudade. Seguro suas mãos
trêmulas e coloco o delicado buquê sobre o seu colo, arrancando
outro sorriso da sua boca.
— Como senti sua falta, Cadu… — murmura, encostando a
testa na minha.
— Eu estou aqui agora, para sempre — sussurro.
Meus dedos procuram a maciez da sua pele e deslizam até as
mechas escuras do seu cabelo. Sem esperar que ela diga nada,
enfio a mão no meu bolso e pego o anel de brilhantes que trouxe
comigo, herança que está na minha família há gerações, passado de
mãe para filho durante décadas, para que pudesse ser entregue para
a única mulher que verdadeiramente valeu a pena.
Seguro sua mão com delicadeza e deslizo o anel pelo seu
dedo anelar. Levanto o meu olhar e deparo-me com o dela,
arregalado, confuso.
— Agora você é oficialmente a minha namorada! — digo,
levando sua mão aos meus lábios. — Aceita ser minha, querida?
Para sempre?
Com lágrimas nos olhos, Beatriz passa a mão por meus
cabelos e me puxa para perto de si.
— Eu amo você — diz, soluçando. — Nunca valeu tanto a
pena esperar.
— Também amo você, princesa.

Semanas depois

Um coro de aplausos agita o grande auditório da Ferraz,


quando Beatriz termina o seu discurso sobre a preservação das
tartarugas marinhas.
Os empresários, donos do resort, sorriem, satisfeitos. Um
deles caminha até ela para parabenizá-la pelo grandioso discurso, no
qual Beatriz apresentou ideias e soluções plausíveis que satisfizeram
ambos os lados. Orgulhoso, também sigo em sua direção e a enlaço
pela cintura, sentindo meu peito inflado.
— Parabéns, senhorita — diz o homem gorducho e careca,
apertando a mão da minha menina. — Foi uma grandiosa palestra.
— Obrigada! — Beatriz sorri, confiante. — Agradeço muito
pela oportunidade e a confiança dada a mim.
— Estou impressionado. Foi genial a sua ideia de usarmos a
temporada de desova das tartarugas marinhas para atrairmos
turistas para o resort. Será com imenso prazer que investirei nessa
nova etapa do projeto, criando um centro de preservação e
conservação naquele local.
— Não sabe o quanto isso me deixa feliz, senhor.
Ele se vira para mim e também me estende a mão.
— Parabéns, Ferraz. Você tem uma joia ao seu lado.
— Sim. Eu sei…— Sorrio e aperto a sua mão, enquanto a
outra acaricia a cintura dela. — Acho que agora podemos trabalhar
sem interrupções para adaptarmos o novo projeto da obra.
— Nunca estive tão ansioso para isso.
Enquanto o homem se afasta um pouco para conversar com
outras pessoas, um grupo de homens e mulheres cumprimentam e
parabenizam Beatriz pelo discurso impecável. Seus pais se
aproximam e a abraçam também, orgulhosos. Felipe me olha de
soslaio. Ainda não resolvemos todas as nossas diferenças, mas sei
que isso será passageiro.
Gracy se aproxima, sorridente, e confesso que ergo a
sobrancelha, surpreso ao ver sua mão entrelaçada à mão de Victor.
As duas conversam por alguns minutos e se abraçam, deixando
transparecer o quanto estão realizadas. Por último, vejo um casal se
aproximar. Reconheço-os como sendo os pais do Pedro. Pela
expressão pálida e o olhar repleto de olheiras da mulher, concluo que
ela ainda sofre, dia após dia, com o que aconteceu com o filho.
— Bia? — chama a mulher, olhando Beatriz, emocionada. —
Como você foi maravilhosa. Tenho orgulho da mulher que está se
tornando.
Beatriz segura sua mão e a puxa para um abraço.
— Que alegria a ver aqui, dona Ísis. Não sabe o quanto estou
feliz.
— Eu também, querida. Eu também.
Beatriz a afasta e, olhando nos seus olhos, questiona:
— Como ele está? — pergunta, referindo-se a Pedro, que foi
internado em uma clínica de reabilitação para dependentes químicos.
Secando uma lágrima, Ísis suspira e cruza as mãos na frente
do seu corpo.
— Se recuperando, querida.
Beatriz assente e a abraça novamente.
Após nos despedirmos de todos, retiro Beatriz do evento, sob
o olhar irado do seu pai, e a levo para o meu apartamento. Meu
pênis pulsa quando ela passa pela porta do quarto, puxando-me pela
gravata, e deita-se na minha cama. Cubro o seu corpo com o meu e
sugo o lábio inferior, provocando-a. Suas mãos vão certeiras ao
colarinho da minha camisa.
— Enfim, sozinhos — falo, rente ao seu ouvido. — Sei que
vou levar outras porradas do seu pai quando te deixar em casa mais
tarde, mas eu precisava te trazer aqui para fazermos aquele
amorzinho gostoso.
Ela ri, gargalhando, e passa os braços em volta do meu
pescoço.
— Não vejo a hora de ganhar uma surra de pau.
Também gargalho, sentindo meu pênis esticar o tecido da
calça, e abro as suas pernas com as minhas. Levanto a saia social
até a altura do seu quadril e acomodo a minha virilha no meio das
suas pernas.
— Você é muito danada, menina.
— Aprendi com você, amor — responde, fitando a minha
boca, ansiando por um beijo.
Grudo os meus lábios nos seus e a sinto ofegar debaixo do
meu corpo. Desesperadamente, retiro as nossas roupas, deixando
os nossos corpos completamente nus, e volto a enroscar-me nela,
beijando e lambendo cada pedacinho da sua pele. Toco o sexo
pequeno e ofego quando a sinto molhada. Tão minha…
Penetro-a lentamente, ouvindo Beatriz grunhir, enrouquecida,
enquanto me envolve. O olhar esverdeado cravado no meu rosto, o
coração descompassado batendo junto com o meu.
Distribuo beijos pelo seu queixo e paro, admirando as formas
perfeitas do seu rosto, tendo a certeza de que, mesmo da maneira
errada, ela entrou na minha vida no momento certo, quando eu
estava perdido e precisava ser reencontrado.
— Minha menina — sussurro.
— Meu CEO — Ela sorri e me abraça mais forte.
— A menina de um CEO — concluo, voltando a beijá-la,
enterrando o meu rosto entre os fios do seu cabelo.
EPÍLOGO

ALGUNS MESES DEPOIS

BEATRIZ

Acordo no meio da madrugada sentindo a minha barriga


roncar de fome e uma vontade louca de fazer xixi. Uso o banheiro às
pressas e desço as escadas, estranhando o fato de eu nunca me
sentir assim. Abro a geladeira, pego o restante do bolo que sobrou
do aniversário do papai, no dia anterior, e coloco um pedaço
generoso no prato. Minha boca saliva quando corto a massa fofinha
e o recheio de chocolate escorre um pouquinho da colher, fazendo-
me passar a língua nos lábios em ânsia. Coloco o primeiro pedaço
na boca e pareço estar comendo o céu. A sensação é indescritível.
Como uma garfada atrás da outra, como se eu não me
alimentasse há dias e essa fosse a única comida disponível no
mundo. Concentrada em atacar o bolo, não percebo quando mamãe
aparece na cozinha e senta-se do meu lado. O susto é tamanho que
quase caio da cadeira.
— Filha, está tudo bem? — pergunta com as sobrancelhas
franzidas.
— Sim, mamãe, por quê?
Ela olha para mim e em seguida para o suporte que estava
com o bolo na geladeira, agora contendo apenas alguns farelos.
Meu Deus.
Fico chocada quando percebo que comi todo o doce em uma
única sentada e nem ao menos percebi. Mamãe me fita com
seriedade, analisando o meu rosto e descendo o olhar para o meu
corpo. Suas sobrancelhas se erguem mais ao analisar os meus
seios, que estão quase pulando para fora da camisola.
— Céus! — diz ela, colocando a mão sobre a boca. — Há
quanto tempo está tendo esses ataques de fome durante a
madrugada, Beatriz?
— Há alguns dias, eu acho — respondo, um pouco confusa,
ainda sem entender onde ela quer chegar com esse assunto.
— Filha do céu… — Ela tapa a boca e arregala os olhos.
— Mãe, a senhora está me assustando, pelo amor de Deus!
— Levanto-me e levo o prato até a pia. — Espero que não tenha
nada anormal no meu rosto ou no meu corpo. Amanhã é meu
casamento e…
— Querida… — Ela também se levanta e caminha na minha
direção, interrompendo a minha fala. — Não percebe?
— O que eu deveria perceber?
Desço os olhos para os meus seios e passo a mão pelo tecido
fino da camisola. Será que estou gorda?, penso, mordiscando o lábio
e já pensando na dieta que farei. Se bem que o Cadu disse ontem,
em algum momento, que os meus seios estavam enormes e ele
estava amando tudo isso.
Pensar naquele safado faz a curva de um sorriso nascer em
meus lábios, e me arrependo de não ter dado uma fugidinha para o
seu apartamento no começo da noite. Estava tão cansada após
passar o dia experimentando o vestido e escolhendo os acessórios
que usarei amanhã que nem ao menos tive ânimo para respondê-lo
quando me enviou uma mensagem, se oferecendo para vir me
buscar e passarmos a noite juntos. Eu só queria dormir.
— Filha, você pode estar esperando um bebê — diz ela com o
olhar alarmado, e eu preciso me segurar na pia para não cair no
chão.
— Um bebê? Mas como? Eu me previno desde… — É então
que me recordo de algo que havia acontecido no mês anterior,
quando peguei uma virose e tive de usar antibiótico.
Cadu havia dormido aqui em casa, no quarto de hóspedes,
claro, porque o papai cismou em dizer que não iríamos dormir na
mesma cama antes do casamento. Naquela noite, eu havia ido para
a cama mais cedo e, como o céu estava quase desabando em
nossas cabeças, antes de subir para o meu quarto pedi para que ele
dormisse conosco, pois era perigoso voltar para casa debaixo
daquele temporal.
No meio da madrugada, acordei sonolenta, sentindo beijos
sendo distribuídos pelo meu rosto e pescoço, enquanto era abraçada
por trás. Recordo-me de ter ouvido os murmúrios do Cadu ao meu
ouvido e então levei minhas mãos para trás das minhas costas,
agarrei o seu pênis duro e o ouvi gemer. Fizemos amor nas horas
mortas da madrugada até a exaustão, quando o sol já começava a
raiar.
Depois disso, ele passou uma semana de cama por ter pego a
minha virose, e agora eu estou descobrindo o presente que ganhei
naquela noite.
— Meu Deus, eu estou grávida! — digo, colocando a mão na
minha barriga. — O papai vai surtar.
— Calma, querida. Precisamos fazer o teste primeiro, para
confirmar — diz minha mãe, tentando me acalentar.
— Mamãe, o antibiótico que tomei mês passado deve ter
cortado o efeito do anticoncepcional.
— Mas, filha, naquela semana você nem ao menos saiu de
casa… — Ela pausa a frase e franze a sobrancelha, encarando-me
com a expressão acusadora. Provavelmente montou todo o quebra-
cabeça — Meu Jesus! Praticamente estou criando dois coelhos
dentro da minha casa.
Sinto minhas bochechas corarem, envergonhada, mas sorrio.
Mamãe me abraça, emocionada, dá um tapinha no meu ombro e diz:
— Parabéns, querida. Sei que está cedo e que é muito
provável que seu pai arranque as bolas do seu futuro marido para ele
aprender a nunca mais tocar na filhinha dele, mas está feito, não é?
Afasto o meu corpo do seu e percebo que ela me fita com
uma mistura de felicidade e medo no olhar. No entanto, tenta a todo
custo disfarçar o receio.
— Obrigada! — digo, emocionada. — Sei que não era isso
que a senhora esperava de mim agora, mas prometo que irei concluir
a faculdade e cuidar desse filho com todo o amor que há no meu
coração.

CARLOS EDUARDO

Perco o meu fôlego, nervoso, quando as notas da marcha


nupcial começam a soar, e Beatriz passa pelo arco decorado com
flores brancas e caminha na minha direção, sendo guiada por Felipe.
Ela sorri, radiante, ao me ver dentro do terno cinza e camisa branca
sem gravata, da forma como planejamos que seria o nosso
casamento: simples, mas inesquecível, de frente para o mar que ela
tanto ama.
Bia caminha descalça pelo tapete de cor nude colocado na
areia. Pareço estar vendo uma miragem quando ela retira uma
mecha do cabelo escuro que cai em cima dos seus olhos e o prende
atrás da orelha, junto com a flor branca que embeleza ainda mais as
suas madeixas.
O vestido esvoaçante, com uma fenda na lateral, a deixa
parecida com uma sereia. O sorriso estampado no rosto angelical faz
meu coração palpitar tão desesperado que preciso me segurar para
não correr até ela e girá-la em meus braços. Tudo some à minha
volta. Só vejo Beatriz andando para mim, enraizando-se dentro do
meu coração, vindo de mudança para a minha vida.
— Não deixe que eu me arrependa disso, Eduardo — adverte
Felipe quando estende a mão de Beatriz para mim.
Olho para ele e vejo a curva de um sorriso surgir nos seus
lábios. Também sorrio e assinto, tomando consciência que, por mais
tempo que leve para ele voltar a confiar em mim de novo, sei que fui
perdoado.
— Obrigado! — digo e encaminho Beatriz na direção do altar
para que o padre dê início à cerimônia.
Na hora dos nossos votos, seguro o papel que por tantas
noites rabisquei, mas as palavras me faltam. Olho o seu rostinho de
menina encarando-me em expectativa e engulo um punhado de
saliva.
— Querida… — começo, sentindo minha voz falhar, e um
entalo se forma na minha garganta. — Enfrentar mil reuniões ou
passar noites em claro trabalhando não é nem um por cento tão
difícil quanto expressar o que sinto por você. — Beatriz sorri, a mão
trêmula segurando a minha, o olhar emocionado. — Por você, eu
seria capaz de abdicar de toda uma vida de riquezas, de todas as
minhas conquistas, de tudo o que construí. Porque você, Bia, é o
meu céu ensolarado, é o mar que acalma os meus nervos, é o ar que
preciso para respirar.
Beatriz abaixa a cabeça e fita o chão. Vejo o seu corpo
estremecer e, sem esperar que o padre dê a ordem final, abraço-a e
ergo a sua cabeça, beijando os seus lábios.
— Cadu — Ela sussurra entre os meus lábios. — Estou
grávida. Estou esperando o nosso filho…
Porra! Meu coração só falta parar quando ouço a sua
declaração. Fito-a, incrédulo, sem fala e, mais uma vez, ela sorri em
meio às lágrimas.
— Fiz o teste hoje pela manhã. Parabéns, papai! — Ela
segura as minhas mãos e as leva até a sua barriga. Um coro
surpreso é ouvido entre os convidados. Até mesmo o padre parece
ficar impactado com a notícia inesperada.
— O meu netinho… — Ouço a voz da minha mãe ao fundo e
um resmungo do Felipe, mas não presto atenção em mais nada que
não seja nela.
— Porra! Eu vou ser pai! — grito, feliz, e ergo Beatriz do chão,
rodopiando com ela em meus braços.
Enquanto o sol se põe no horizonte, tenho certeza de que a
nossa história está apenas começando. Este é apenas o início de
toda uma vida que está por vir, eu, ela e o nosso filho, o lugar seguro
que jamais pensei que encontraria.

FIM
PRESENTE PERFEITO
SINOPSE
(+18) Contém cenas de sexo explícito.

O amor deles era proibido pela diferença de idade, mas era forte
demais para ser parado.
Em “A menina do CEO”, Carlos Eduardo jurou nunca mais amar
alguém, mas Beatriz não era qualquer “alguém”.
Você chorou, sorriu e se apaixonou pelo casal Cadu e Bia. Agora, o
que acontecerá quando um novo integrante chegar à família de forma
inesperada? Em “Presente Perfeito”, você irá rir e se emocionar com o dia
a dia inusitado do mais novo casal Ferraz e, claro, suspirar com o
nascimento do presente mais que perfeito.
PRÓLOGO

CARLOS EDUARDO

Já passava das sete horas naquela noite escura e nebulosa.


O trânsito impenetrável nos arredores do Aeroporto Internacional do
Rio de Janeiro impedia que o motorista dirigisse o sedan mais
rápido. Olhei o relógio pela milésima vez enquanto cruzava e
descruzava as pernas, impaciente, no banco de trás do carro,
sabendo que estava atrasado para o jantar na casa da minha
pequena sedutora.
Suspirei e fechei os olhos, louco de saudade de Beatriz,
tentando a todo custo me controlar e manter a calma no meio do
tráfego interminável de veículos. Há quinze dias, precisei viajar com
urgência para Nova Iorque, a fim de resolver algumas questões
pendentes na filial americana da Ferraz Engenharia. Tentei levar
Beatriz comigo, é claro, mas Felipe foi enfático ao não permitir. Além
de tudo, ela não poderia faltar tantos dias na faculdade.
Enquanto respirava fundo, enfiei a mão no bolso direito do
paletó e segurei a caixinha aveludada contendo um anel de noivado
que comprei em Nova Iorque alguns dias antes do voo de volta para
o Brasil. Não iria esperar mais. Já estávamos juntos há alguns
meses e Beatriz era a mulher que eu amava. Esses dias separados,
além de me deixarem com as bolas azuis e com o pau dolorido,
deixaram-me louco de saudades em todos os sentidos.
Sentia falta de conversar com ela depois de fazermos amor
gostoso dentro do carro, ou até mesmo às pressas no meu
apartamento. Sentia falta de sorrir ao vê-la falar da faculdade com
entusiasmo, do quanto ela ficava linda e sexy quando se irritava
com alguma coisa. E o cheiro dela… Diabos! Era a coisa mais
deliciosa do mundo.
O sinal abriu e eu pedi ao motorista para pegar outra rota
menos conturbada. Como se não bastasse todo o estresse do
trânsito, eu estava morto de fome e cansaço após várias horas
dentro do voo.
Quando cheguei ao meu apartamento, tomei um banho às
pressas, correndo contra o tempo para encontrá-la. Barbeei-me e
me vesti casualmente com uma calça jeans e camisa polo, peguei
as chaves do Aventador e corri para a garagem. Eu parecia um
adolescente no início da puberdade: bobo e ridiculamente
apaixonado.
Não havia conversado muito com ela naqueles últimos dias
como eu gostaria. Beatriz estava focada no projeto de preservação
das tartarugas e seguia de perto as etapas de construção do resort,
e eu entrei de cabeça no trabalho para terminar as análises o mais
breve possível e poder voltar logo para o Brasil, para os braços da
minha menina.
Infelizmente, um dia antes do meu retorno, Bia havia pegado
uma virose e estava de cama. Infelizmente, não poderíamos sair
para transar gostoso e passarmos um tempo juntos como eu havia
planejado fazer assim que retornasse. Primeiro porque, naquele
momento, ela precisava de outros cuidados além do meu pau.
Segundo porque, desde que Felipe descobriu o meu envolvimento
com a sua filha, impôs algumas condições desnecessárias e
extremamente imbecis para que eu pudesse continuar a vê-la.
Aquele filho de uma puta!
Ele a levaria e a buscaria na faculdade todos os dias para
garantir que não sairíamos para trepar por aí. Uma vez por semana,
eu tinha permissão para levá-la para jantar, desde que deixasse o
endereço e o telefone do estabelecimento em suas mãos. E jamais,
em hipótese alguma, eu poderia deixá-la em casa após o horário
combinado. Claro que eu não havia concordado com aquela
palhaçada, pois Beatriz era maior de idade e dona do próprio nariz,
além disso, eu sabia que era apenas implicância da parte dele.
Felipe queria me ver sofrendo pelo o que eu havia feito. No entanto,
Beatriz achou melhor concordarmos com as condições dele ao
menos por um tempo. Segundo ela, ainda era dependente do pai e
já havia dado a ele desgostos demais em um período muito curto de
tempo. Não tive outra opção a não ser concordar, até aquele fatídico
dia.
Em poucos minutos estava estacionando em frente à casa de
Beatriz. Uma fina garoa começava a cair, pintando a calçada com as
gotas de chuva. A noite estava um pouco gélida e logo um
relâmpago cortou o céu negro, indicando que uma tempestade se
aproximava.
Bufei impaciente devido ao frio, desci do carro e apertei a
campainha. Após me identificar pelo interfone, o portão foi
destravado e Karine me recebeu na porta, sorridente, convidando-
me para entrar.
— Eduardo, boa noite — disse e se encaminhou para o lado,
dando-me passagem. — Entre.
— Boa noite, Karine, como vai? — cumprimentei-a e dei um
passo para o interior aconchegante da casa, ouvindo o ranger da
porta sendo fechada às minhas costas.
— Estou bem! — respondeu animada, acompanhando-me, e
apontou na direção do sofá. — Sente-se um pouco. Beatriz está na
cozinha e Felipe no escritório. O jantar ficará pronto logo.
Assenti e a vi passar a mão nos cabelos presos em um rabo
de cavalo.
— Eu irei chamá-la — comunicou.
Balancei a cabeça em concordância, mas não foi necessário
esperar mais nem um segundo para ver minha diabinha, pois, logo
em seguida, Beatriz saiu da cozinha e correu na minha direção com
um sorriso brando. Os cabelos castanhos estavam soltos e as
madeixas compridas balançavam sobre os seus ombros como
cascatas. Um vestido soltinho de cor vermelha emoldurava e cobria
o corpo delicioso que tanto me enlouquecia. Só de vê-la, senti a
garganta ficar seca de desejo.
— Amor, até que enfim você chegou! Que saudades — disse
rouca e me abraçou fortemente, passando os dedos entre os fios
dos meus cabelos da nuca.
— Também estava louco de saudades, princesa — respondi,
apertando o seu corpo contra o meu, sussurrando em seu ouvido. —
Você está linda.
— Gostou? — perguntou com a voz manhosa e passou a
ponta do dedo no meu abdômen, por cima da camisa.
Todo o meu corpo se arrepiou.
Diabos! Ela queria me matar vestida daquele jeito
provocante.
Passei minhas mãos por suas costas e a abracei com mais
força. O cheiro dos sais de banho vindos da sua pele instigou todos
os meus sentidos e eu ofeguei. Era um aroma cítrico, marcante e
sensual, que me fez pensar no quanto amaria cheirar cada
pedacinho daquele corpo e depois lamber. Senti meu pau enrijecer,
louco de saudades, e subi minha mão até o seu pescoço enquanto
os meus lábios procuravam a boca macia e volumosa. Contudo, fui
interrompido por uma onda de espirros vindos dela, o que fez
Beatriz afastar-se e limpar o nariz com o auxílio de um lenço.
— Desculpe, eu… — Ela voltou a espirrar seguidamente.
Preocupado, toquei o seu ombro e a encarei.
— Querida, você está muito mal, precisa ir ao médico — falei,
observando o quanto seu nariz estava vermelho e a pele do seu
rosto, pálida. — Vamos, eu levo você.
— Não será necessário, Cadu — disse ela após mais uma
onda de espirros. — É só uma virose e uma dor de garganta chata.
Fui ao médico mais cedo e já estou usando antibióticos. Vou ficar
bem.
— Tem certeza? — perguntei e voltei a agarrá-la pela cintura,
colando nossos corpos. — Quero te ver bem logo, porque estou
contando os dias para meter o pau em você — brinquei.
Ela gargalhou e se afastou um pouco. Segurou minhas mãos,
conduzindo-nos na direção do sofá, e sentou-se do meu lado,
cruzando as pernas.
— Sim, eu tenho certeza — respondeu sorridente, colocando
a mão sobre o meu peito. — Senti tanto a sua falta. Esses foram os
quinze dias mais longos de todos. — Suspirou.
— Também senti a sua falta… — Toquei o seu queixo,
fazendo Beatriz me encarar. Os longos cílios piscaram e uma
covinha voltou a surgir nas suas bochechas. — Tem ideia do quanto
foi difícil passar quinze dias sem poder tocar você?
Aproximei-me e inspirei o aroma do seu pescoço.
— Sem poder beijá-la, acariciar o seu corpo, enfiar a língua
na sua boceta…
— Cadu… — Gargalhou e me deu um tapa no ombro. —
Como você é descarado!
Segurando o seu pulso, puxei Beatriz para mais perto e
aproximei as nossas bocas, almejando beijá-la.
— Eu sou louco por você, garota.
Senti sua respiração ficar tensa e ela mordiscou o lábio
levemente enquanto fitava a minha boca. Estávamos loucos para
nos agarrar ali, matar a saudade e sanar o desejo que nos consumia
como fogo.
— Você pode ficar doente também se me beijar agora.
— Eu sei — respondi, sabendo que poderia ser eu a ficar de
cama na próxima semana, mas estava ligando o foda-se. — Não
ligo.
— O papai vai matar nós dois se pegar a gente se
agarrando…Não esperei que Beatriz terminasse a frase e a beijei ali
mesmo, no sofá da casa de Felipe.
Chupei seus lábios deliciosos e enfiei minha língua na sua
boca morna enquanto descia as mãos pelo seu ombro, apalpando
um dos seios. Senti meu pau se contraindo e não consegui segurar
um gemido sofrido e doloroso. Beatriz ofegou, sem ar, e me afastou
com uma das mãos. O rosto pálido havia tomado uma tonalidade
rosada e o peito subia e descia.
— Amor, espera… — Bia tentou falar algo, mas eu voltei a
interrompê-la com outro beijo, dessa vez mais intenso e ardente. A
vontade de tê-la em meus braços estava corroendo o meu corpo. Eu
já não suportava mais.
Segurei o seu rosto com uma das minhas mãos e com a
outra deslizei até seus quadris, cavando e apertando a carne macia,
deleitando-me com o prazer que era tocá-la. Alcancei a parte interna
da sua coxa e a senti quente, tão chamativa que precisei de todo o
meu autocontrole para parar com as carícias ousadas.
— Bia, não posso mais concordar com as loucuras do seu
pai. Não somos mais crianças — sussurrei contra a sua boca. —
Chega de amassos e rapidinhas no carro.
Naquele instante, senti seu corpo estremecer e sorri quando
ela se afastou, encarando-me amedrontada.
— Cadu, o que… o que está dizendo? — murmurou.
Segurei sua mão e a levei até os meus lábios, decidido a
seguir com os meus planos para aquela noite.
— Acho que está na hora de darmos o próximo passo.
— Que passo? — questionou com os olhos arregalados e
surpresos.
Esbocei um sorriso e acariciei o seu queixo levemente,
fitando os olhos de quartzo verde que reluziam. Devagar, enfiei a
mão no bolso da calça e retirei a caixinha aveludada, sentindo meu
peito palpitar. Suspirei lentamente, abri a caixa e, em um lento
movimento, levei o anel de ouro trançado, cravejado com pequenos
diamantes, até o alcance dos seus olhos.
Beatriz encarou-me, pálida, e levou a mão até a boca. Sorri
mais uma vez ao ver que ela tremia e, sem esperar que dissesse
algo, agachei o meu corpo e me ajoelhei no chão à sua frente. Um
típico pedido de casamento, clichê e clássico, impossível de dar
errado.
— Querida, aceita se casar comigo?
Primeiro ela começou a sorrir, depois o sorriso misturou-se às
lágrimas e logo depois uma onda de espirros a atingiu. O brilho de
felicidade que vi em seu olhar me fez ter certeza de que estava no
caminho certo.
— Oh meu Deus! — Levantou-se, trêmula, e segurou a minha
mão. As lágrimas escorriam do seu rosto como uma cachoeira e ela
sorria também. Tão linda!
Continuei encarando-a, receoso, com o coração apertado,
imaginando se ela realmente desejaria se amarrar a alguém no
auge dos seus dezenove anos. Aguardei uma resposta enquanto ela
tentava secar o rosto com a outra mão.
— Oh meu Deus, Cadu… — Puxou-me, fazendo-me levantar,
e me abraçou alucinada. — É claro que eu aceito, amor. Como não
aceitaria?
Soltei o ar que prendia, aliviado, e inspirei o seu cheiro. O
peito estava sufocado de tanta felicidade. Queria gritar feito um
louco para o mundo inteiro que aquela mulher era minha.
Afastei-me e voltei a segurar a sua mão esquerda, colocando
o anel no seu dedo anelar. Acariciei sua palma levemente e Beatriz
piscou, tentando controlar as gotas de água salgada que escorriam
pelos seus olhos.
Com cuidado, ela passou o dedo pelo diamante central
cravado no anel de noivado e estendeu a outra mão na minha
direção, mostrando o anel de família que eu havia dado a ela no
hospital há alguns meses, quando foi baleada pela louca da Raquel.
— Mas e o anel que pertenceu à sua mãe? — questionou
confusa.
Sorri mais uma vez e segurei a sua mão que carregava o
anel de brilhantes. Beijei-a e disse:
— Este anel é uma tradição de família. Será seu até nosso
filho encontrar a mulher que verdadeiramente valerá a pena
compartilhar uma vida.
Sorrindo, Beatriz olhou para o outro anel e aguardou que eu
falasse algo.
— E esse… — Fiz uma pequena pausa enquanto procurava
as palavras que melhor definiriam o que eu sentia por aquela
menina. — Esse será seu por toda a eternidade. Receba-o como
uma parte do meu coração, querida.
Beijei sua mão e a vi sorrir, emocionada.
— Ah, Cadu! — Ela soltou um gritinho feliz e voltou a me
abraçar. — Eu amo você. Como eu amo você.
Como uma resposta para tudo o que sentia, beijei Beatriz
com desejo, esmagando os seus lábios contra os meus, e contornei
sua cintura com as minhas mãos.
— O que acha de nos casarmos em três semanas? —
sussurrei.
— Três semanas? Amor, está muito em cima.
— Eu quero você do meu lado sempre, Bia. Por mim, nos
casaríamos amanhã mesmo. Não há por que esperar.
Ela sorriu e eu a apertei mais contra o meu peito.
— Você é louco — murmurou. — Não podemos nos casar em
três semanas. Mesmo que eu esteja louca para dormir e acordar
com você todos os dias… É pouco tempo para organizamos um
casamento. O ideal seriam dois meses.
— Não se preocupe. Eu dou um jeito. — Toquei o seu queixo
delicado e fiz Beatriz me encarar. — Confia em mim?
Sorrindo, ela revirou os olhos e balançou a cabeça.
— Claro que confio, mas ainda acho que não será tempo
suficiente.
Suspirei frustrado, sabendo que ela não cederia facilmente,
mas eu também não era conhecido por desistir dos meus objetivos,
muito pelo contrário.
— Um mês, Bia. Nem um dia a mais! — afirmei próximo à
sua boca. — Nem um dia a mais, querida.
Ela ponderou por alguns instantes sem desviar os olhos dos
meus.
— Na praia? — perguntou, passando as mãos pelo meu
pescoço e mordiscando a pele. Senti todos os meus pelos se
eriçarem junto com meu pau.
— Sim, na praia… — concordei aliviado e fechei os olhos
quando senti suas mãos descerem até o cós da minha calça.
Ela massageou o meu pênis e depois o apertou, fazendo-o
corresponder com um espasmo. Eu iria enlouquecer se não me
enterrasse dentro dela o mais rápido possível. Quanto mais louco eu
ficava, mais Beatriz me provocava.
— Ao pôr do sol?
— Ao pôr do sol! — murmurei roucamente, inebriado de
tesão.
Toquei a sua coxa levemente e afastei o meu rosto,
mantendo nossos olhares focados um no outro enquanto minha mão
subia por debaixo da barra do seu vestido, ansiando em explorar
cada centímetro da sua pele. Eu sentia sua respiração morna contra
a minha boca, meu coração batia forte pela aproximação do seu
corpo. Nós ficamos desejando-nos e amando-nos em silêncio.
Enquanto voltava a beijá-la, ouvi um pigarro vindo da direção
da porta do escritório e não precisei me virar para saber que era o
Felipe. Provavelmente ele estava bravo, muito bravo, por me ver
beijando Beatriz.
Diabos! Aquela era uma péssima hora para o meu futuro
sogro aparecer.
— Papai? É… Estávamos conversando — disse Beatriz,
assustada, enquanto arrumava o vestido.
Posicionei-me atrás dela para esconder a barraca que estava
armada dentro das minhas calças e aguardei que ele dissesse algo.
— O que pensa que está fazendo, Ferraz? — questionou
com as mãos trincadas e a ira estampada nos olhos. — Tire já as
mãos da minha filha. Vocês estão dentro da minha casa! Tenha mais
respeito.
— Não estava fazendo nada de mais, Felipe. Como você
disse, estamos dentro da sua casa e eu tenho os meus limites.
Felipe se aproximou mais, irritado, e Beatriz pressionou o
corpo contra o meu, sabendo que eu estava em uma situação
desconfortável e constrangedora para o momento. No entanto, a
tentativa de me ajudar surtiu um efeito contrário quando senti meu
pênis inchando ainda mais a cada roçar dos seus quadris na minha
pélvis. Perdi o fôlego.
— A regra é clara, Ferraz! Nada de beijos, nada de sexo,
nada de amassos! Será que esse seu amor consegue resistir a
isso? — provocou de forma desdenhosa.
Fechei meus punhos e rangi os dentes, procurando não
perder o controle diante das provocações dele. De toda forma, sabia
que toda aquela rixa era por ciúmes e proteção da filha. Eu não era
o maior exemplo de bom moço do mundo e tinha minhas parcelas
de culpa por Felipe não confiar em mim. Afinal, fui um verdadeiro
canalha por muito anos, e ele sabia de todas as mulheres que eu
levava para a cama e tratava como lixo após me saciar
sexualmente. Se não bastasse, ainda tirei a virgindade da sua
princesinha.
— Papai, por favor, até quando vai ficar com isso? —
questionou Beatriz em meio a um espirro.
Felipe a fitou impassível e respondeu:
— Até você ser independente e pagar suas próprias contas,
mocinha. Até lá, vai viver conforme as minhas regras.
Balancei a cabeça e sorri sarcástico, louco para descontar
meu desgosto nas fuças de Felipe. Era tão irônica que chegava a
ser cômica a forma como o mundo dava voltas. Nesse meio tempo,
perdi meu melhor amigo e ganhei um sogro e pior inimigo, que
estava pagando para me ver morrer com as bolas roxas.
Desgraçado!
— Querido, não seja tão duro com eles. — Estava tão vidrado
e irritado, mantendo meu contato visual com Felipe, que mal percebi
a chegada de Karine. — Não se lembra de como éramos quando
namorávamos? Fazíamos amor igual coelhos, escondidos dos meus
pais — disse, passando a mão nos ombros do marido.
Segurei-me para não sorrir ao ver a cara de espanto de
Felipe e o grito chocado de Beatriz.
— Mamãe, me poupe dos detalhes!
— Karine, faça-me o favor. Agora não! — falou Felipe, bravo,
encarando a mulher com um olhar repreensivo.
— Que bobagem! — Karine sorriu e ficou de frente para ele,
desestabilizando-o. — Se bem me lembro, eu tinha a mesma idade
que a nossa filha na época em que fizemos amor pela primeira vez,
no portão da casa dos meus pais. Você se lembra, querido?
— Ka… Karine! — Engasgou.
Não consegui me segurar ao ver que Felipe ficava vermelho
e sem fala, enquanto Beatriz encarava os pais como se visse um
fantasma. Gargalhei, quebrando o silêncio que havia se formado na
sala, e concluí:
— Acho que você está em desvantagem aqui, irmão.
Felipe fitou-me com os olhos afogueados, mas nada disse.
Virou as costas e saiu na direção da cozinha, pisando duro no chão.
Mantendo um sorriso brando no rosto, Karine chamou-nos para o
jantar e seguiu a passos rápidos atrás do marido.
— Eu acho que vou vomitar…
Gargalhei mais uma vez e abracei Beatriz pelas costas,
inspirando o seu cheiro.
— Respire e relaxe, meu amor. Vem, vamos jantar antes que
eu te roube e te jante. — Pisquei.
Sorridente, ela balançou a cabeça de um lado para o outro e
colocou a mão no meu braço. Seguimos juntos até a mesa de jantar.
Os minutos seguintes passaram como uma câmera lenta
enquanto comíamos e um clima mórbido e silencioso tomou conta
do ambiente. Ninguém ousou dar uma palavra. Eu muito menos, já
que Felipe estava sentado de frente para mim com uma faca na
mão. Eu tinha amor à minha vida e ainda queria foder muito antes
de morrer.
Ao terminarmos, Karine retirou a mesa com a ajuda da filha,
deixando Felipe e eu a sós por alguns minutos. Pensei em
conversar, tentar convencê-lo ou fazê-lo entender que eu amava a
Bia e estava disposto a tudo para fazê-la feliz, mas hesitei. Eu já
havia tentado antes, milhares de vezes, mas Felipe não me ouvia,
nem sequer me dava espaço, então, permaneci onde estava e em
silêncio, odiando-me por fazê-lo me odiar.
Alguns minutos depois, Bia e sua mãe retornaram até a
mesa. Beatriz sentou-se do meu lado, segurou a minha mão e
anunciou que iríamos nos casar em breve.
Enquanto uma chuva torrencial caía lá fora e um forte raio
cortava o céu, beijei sua mão e a trouxe para mim, dando um
selinho em seus lábios, sentindo meu peito transbordar. Karine
levantou-se e correu até nós, abraçando-nos. Olhei na direção de
Felipe, aguardando que ele dissesse algo, mas seu olhar não
indicava orgulho e felicidade, mas sim desprezo. Senti minha
garganta ficar seca.
— Felipe, eu… gostaria muito de ter a sua bênção — falei e
me levantei.
Dei a volta na mesa e caminhei na sua direção, mas parei
quando ele resolveu dizer algo:
— Não precisou da minha bênção para fazer o que fez. Creio
que agora não será necessário — disse e se levantou, arrumando o
colarinho da camisa.
— Papai…
— Tudo bem, Bia. Está tudo bem. — Tranquilizei-a, sem tirar
os olhos dele.
Karine também tentou convencer o marido a deixar o orgulho
e a teimosia de lado, mas foi em vão. Ele permaneceu irredutível.
— Está na hora de ir, Ferraz, minha filha precisa descansar.
— Virou-me as costas, saindo na direção das escadas.
Suspirei profundamente, sem ânimo para uma nova
discussão, e retornei minha atenção para Beatriz. Seu semblante
estava aflito, angustiado, mas ela não hesitou em me abraçar e
descansar o rosto no meu peito.
— Eu não queria que as coisas fossem assim. — Soluçou.
— Tudo bem, amor. Em algum momento, ele vai ceder. —
Abracei-a com mais força e me afastei. — Preciso ir.
Beatriz balançou a cabeça em concordância e
disfarçadamente secou uma lágrima que escorreu pelo seu rosto.
Despedi-me da sua mãe e segui com Bia até a porta. No
entanto, quando me aproximei da saída, um trovão ensurdecedor
quebrou o silêncio. O temporal dava indícios de que não iria parar
tão cedo. Pelos vidros das janelas, era possível ver a copa das
árvores sendo balançada de um lado a outro pela força do vento e o
quintal completamente alagado.
— Você não pode sair assim. É perigoso — disse Beatriz ao
abrir a porta e sermos açoitados por uma lufada de vento e chuva.
— O mundo está desabando lá fora.
— Bia… — Tentei justificar o motivo pelo qual eu precisava ir
embora com ou sem chuva, mas fui interrompido por Karine, que
chegou logo atrás.
— Beatriz tem razão, Cadu. É perigoso — disse convicta. —
O melhor é que durma aqui hoje e vá para casa pela manhã.
Virei-me na sua direção e respondi:
— Karine, eu agradeço, mas tenho certeza de que o Felipe
não ficará muito contente com essa decisão.
— Eu me entendo com ele depois. Não se preocupe.
Ainda pensei por alguns instantes, decidido a recusar o
convite e evitar mais um embate com Felipe pela manhã, mas mudei
de ideia quando as duas me fitaram aflitas. Deixei meus ombros
caírem, derrotado, e assenti.
— Ótimo. Eu vou levar alguns lençóis para o quarto de
hóspedes — informou e virou-se para Beatriz. — Filha, não se
esqueça de tomar o seu antibiótico.
Após despedir-se, Karine subiu as escadas e logo Beatriz
também se retirou.
Fui para o quarto de hóspedes, tirei a camisa e deitei-me.
Estava exausto devido à viagem, mas não conseguia dormir. Fiquei
horas e horas rolando de um lado a outro, procurando
desesperadamente pegar no sono e esquecer que o meu tormento
diário estava em um quarto a poucos metros de distância de mim.
Minha consciência gritava para eu continuar ali onde estava,
mas meu pau implorava para que eu saísse daquela cama e fosse
até lá dar uns amassos nela, mesmo sabendo que aquele poderia
ser o meu fim. Felipe me mataria com certeza.
Diabos!
Fechei os olhos e uma Beatriz sem-vergonha apareceu na
minha mente com seu vestidinho vermelho na altura das coxas e os
cabelos soltos. Praticamente podia sentir o seu toque no meu
abdômen, descendo, arranhando e massageando o meu pau. Podia
sentir o roçar dos seus lábios quentes nos meus enquanto as
minhas mãos exploravam a sua bunda e desciam até o centro das
suas pernas, deslizando um dedo na sua boceta.
Ofeguei. Sentia meu pênis babado, duro feito uma rocha.
Estava quase gozando só em pensar nela. Eu sabia que não
deveria fazer aquilo, que estaria infringindo as regras mais uma vez
e que não merecia perdão. Só não sabia que a loucura que estava
prestes a cometer mudaria para sempre nossas vidas.
Já passava das duas da manhã quando me levantei, sentindo
meu pau dolorido, o corpo suado e febril de tanto tesão. Devagar,
abri a porta e caminhei na direção do quarto dela, tateando as
paredes para me nortear e não derrubar nada pelo caminho.
Abri a porta do seu quarto devagar, tomando cuidado para
não fazer nenhum ruído, e entrei, fechando-a na chave.
Beatriz estava deitada de bruços, adormecida. De onde eu
estava, conseguia ver a silhueta deliciosa do seu corpo debaixo das
cobertas, iluminada pela fraca luz de um pequeno abajur em cima
do criado-mudo.
Aproximei-me devagar, admirando cada pequeno detalhe do
seu rosto angelical, ouvindo o som da sua respiração misturando-se
com o barulho das gotas de chuva no telhado.
Estava frio, mas meu corpo estava quente e completamente
arrepiado.
Puxei os lençóis que a cobria, deitei-me do seu lado e fui
certeiro em seu pescoço. Inspirei seu cheiro, mordisquei e lambi a
pele macia enquanto minhas mãos desciam até o seu quadril,
apalpando sua carne em todos os lugares.
— Cadu? — Ouvi um murmúrio sonolento escapar da sua
garganta e continuei a acariciá-la, faminto. — Por que demorou
tanto?
Gemi roucamente quando ouvi sua voz dengosa me atingiu.
Logo, uma mão ousada serpenteou pelo cós da minha calça,
provocando e apertando a cabeça do meu pau.
— Eu não deveria estar aqui. Você sabe… — sussurrei,
ofegante, mas não conseguia parar de apertá-la. Estava ali para me
queimar, disposto a sofrer todas as consequências.
— Estou com saudades. — Virou-se e inclinou a cabeça na
minha direção, oferecendo os lábios volumosos para mim.
Aceitei a oferta de bom grado. Beijei-a e montei em cima do
seu corpo. Abri suas pernas com as minhas enquanto acariciava
sua boca com a minha língua e invadia a barra do shortinho que ela
usava, constatando a falta de calcinha. Fiquei louco.
— Quero te lamber toda. Cada pedacinho dessa boceta.
Louco de desejo, mordi sua boca e desci, abrindo as suas
pernas o máximo que consegui, deixando minha mulher toda
abertinha para mim.
Com um único puxão, coloquei a barra do short para o lado e
abri os grandes lábios da sua vagina com uma das minhas mãos. O
feixe de nervos rosado e carnudo ficou exposto a poucos
centímetros do meu rosto e Beatriz grunhiu, agarrando-se aos
lençóis da cama. Eu podia sentir o cheiro da sua excitação, picante
e estimulante, inebriando-me como um tarado que não fazia sexo há
anos. Enfiei o nariz entre as suas dobras e inspirei seu aroma,
segurando-me para não gozar na calça. Em seguida, lambi a boceta
que tanto me enlouquecia, da entrada até o montinho pulsante.
Enfiei e retirei a língua algumas vezes, chupei e mordisquei o clitóris
vermelho, fazendo-a espernear e morder o travesseiro para não
gritar.
Deixei seu canal melado, escorrendo de desejo. Ela estava
louca de vontade de ser possuída. Retirei seu shortinho e me livrei
da calça que eu usava em frações de segundos. Dei a mesma
atenção à blusa que cobria os seios pequenos e os lambi. Um após
o outro.
— Ah, Cadu… — choramingou, abrindo mais as pernas
quando passei a esfregar seu clitóris com a cabeça do meu
membro. Eu estava ofegante, suava e tremia, desesperado para me
enterrar dentro dela. Não suportaria esperar por mais tempo e ela
também não.
— Preciso entrar em você, menina — murmurei e me afastei
um pouco para ver os lábios carnudos da sua boceta abrindo e
fechando quando eu pincelava meu pau para cima e para baixo.
— Eu quero você… — grunhiu baixinho.
Puta que pariu!
Ela estava melada, quente, pronta para me receber. Era
praticamente impossível resistir a mais um segundo naquela tortura
deliciosa.
— Quero que monte em mim e me engula todo — sussurrei,
sabendo que me derramaria em menos de um minuto se eu
tomasse o controle.
Ela assentiu, mordiscando o lábio, e me posicionei em cima
da cama.
Segurando a base do meu pau, ajudei Beatriz a se firmar em
cima do meu colo e, em uma única investida, ela desceu, rebolando
lentamente, arrancando-me suspiros e gemidos dolorosos, sugando-
me todo até o fim.
Diabos! Xinguei mentalmente ao ver a gulosa me envolver
por completo, devagar, com a testa franzida e a respiração ofegante,
deixando-me melado com o seu prazer.
— Cadu, eu… Ai! — gemeu sem controle e jogou o corpo
para trás, tremendo.
— Bia, inferno… — murmurei, perdendo a razão quando a vi
gozar no meu pau com uma única sentada.
Puxei-a bruscamente e a beijei para abafar seus gemidos,
sentindo seu corpo estremecer em meus braços e as unhas afiadas
arranhando as minhas costas. Joguei-a de costas na cama e abri
suas pernas bruscamente, penetrando a sua boceta com uma única
estocada, até sentir minhas bolas tocarem na sua bunda, sem
desgrudar as nossas bocas.
Nossos gemidos e grunhidos misturaram-se com o barulho
da chuva e eu a comi ferozmente, metendo e tirando sem pena,
dando tudo o que Beatriz queria. Gozei dentro dela como um louco,
vibrando e enchendo seu canal com o meu prazer, abandonado em
meio ao orgasmo enlouquecer que me consumia.
Quando terminei, desgrudei nossas bocas e retirei o pau
lentamente enquanto afastava o meu corpo e abria mais as suas
pernas para ver o líquido esbranquiçado escorrendo do seu canal.
Seu sexo ainda pulsava e estava levemente inchado por
causa das minhas investidas. Gemi e abri seus grandes lábios com
os meus dedos, sentindo o pênis ficar duro de novo com aquela
cena imoral e deliciosa.
Fitei-a e a vi com os olhos fechados enquanto mordia o
punho, completamente entregue. Linda! Abracei minha menina e a
amei até os primeiros raios do sol surgirem no horizonte. Eu era
dela e ela era minha. A partir daquele momento, nossos caminhos
estariam para sempre entrelaçados, mesmo que só viéssemos
confirmar aquilo um mês mais tarde, no dia do nosso casamento.
CAPÍTULO 1

BEATRIZ

Apertei o botão do elevador que dava acesso ao andar do


apartamento do Cadu e aguardei ansiosa, recostando-me nas
paredes metálicas. Enquanto os segundos passavam, respirei
profundamente, procurando mandar a ansiedade para longe, morta
de medo de que ele descobrisse o quanto eu estava nervosa e
ansiosa.
Fazia alguns dias desde que fui pedida em casamento e
aceitei no mesmo instante. Estava eufórica naquela noite, pois o
homem que eu amava queria se algemar a mim pelo resto da vida.
Que mulher com suas faculdades mentais perfeitas não ficaria feliz?
Era assim que eu me sentia: eufórica, feliz e realizada.
Porém, isso foi só até o momento em que a ficha caiu de verdade.
Meu Deus, eu iria me casar. No auge dos meus dezenove
anos e sem terminar a faculdade. Iria subir ao altar e juraria amar
um homem de quase dois metros de altura e faminto por sexo por
toda a eternidade. Entrei em pânico.
Roí um pedaço de unha e senti meu coração gelar quando as
portas do elevador se abriram. Dei um passo lento e trêmulo para
fora, segurando-me nas portas para não desabar no chão, e
finalmente saí de dentro da caixa de metal.
Peguei a chave do apartamento na minha bolsa, caminhei até
a porta e a abri. Estava silencioso lá dentro e supus que Cadu
tivesse dormido assim que desligou a ligação que me fez naquela
manhã, informando que estava de cama, quase morto de tanta
gripe.
Não pensei duas vezes antes de sair da faculdade e pegar o
primeiro táxi que passou na minha frente. Porém, assim que cheguei
em frente ao prédio dele, todo um filme passou pela minha cabeça.
Eu iria me casar. Era realmente isso que queria desde os
meus quinze anos? A dúvida martelou na minha cabeça e meu
coração apertou.
Dei um passo para frente e entrei, fechando a porta nas
minhas costas.
Segui direto na direção do seu quarto, pensando a todo
momento que logo seria o nosso quarto, nossa cama e nosso
apartamento.
Mordisquei o lábio e entrei. Perdi o fôlego quando o vi deitado
na cama, dormindo profundamente enquanto a luz do sol que
entrava pela janela de vidro iluminava o quarto, refletindo em seu
rosto tão másculo e viril.
Aproximei-me devagar, observando sua testa franzida e a
pele levemente pálida. Meu peito se apertou e o medo que eu sentia
deu lugar à tensão ao perceber que o seu estado não era dos
melhores. Toquei sua pele, preocupada, e senti minha mão
esquentar. Ele estava quente, parecia queimar de tanta febre.
— Cadu? — chamei-o aflita e retirei uma parte do lençol que
o cobria. Coloquei a mão no seu peito nu e o sacudi. — Amor,
acorda, você está queimando.
— Bia? — Remexeu-se na cama e sussurrou o meu nome,
ainda com as pálpebras fechadas. — O que faz aqui, amor?
— Vim ver como estava. Não imaginei que estivesse tão mal
assim — falei, analisando sua expressão dolorosa.
Cadu abriu os olhos e me olhou. Toquei o seu rosto, retirando
um punhado de cabelo que caía por sua testa, e forcei um sorriso.
— Nunca mais me permita beijá-la gripada. Eu sinto que vou
morrer a qualquer momento — dramatizou.
Não consegui segurar um sorriso e gargalhei.
— Eu disse que não era uma boa ideia, Cadu. Você que
estava com fogo dentro das calças e agora está aí de cama.
— Você me provocou, mocinha. — Levantou-se e sentou
escorado na cabeceira, colocando a mão na cabeça, permitindo que
o lençol caísse até seus quadris.
— Que safado mentiroso — rebati. Ele sorriu de lado e eu
não pude me segurar também. Toquei o seu ombro de leve e desci
minha mão até o seu peito forte. Suspirei. — Precisa ir ao médico.
Você está péssimo.
— Eu vou ficar bem. — Ele segurou a minha mão e me puxou
para mais perto do seu peito, fazendo-me soltar um grito, assustada.
— Depois de tomar um banho, ficarei novinho em folha. Me
acompanha? — perguntou com aquele sorriso presunçoso que era a
sua marca registrada.
Eu o olhei, incrédula, imaginando o quanto ele era um cretino
safado e gostoso. Os receios que eu sentia há poucos minutos
pareciam ter se fragmentado em milhões de partículas e, naquele
momento, só pensava em agarrá-lo.
— Claro que não, senhor Ferraz. — Sorri. — Vai entrar
naquele banheiro e vai tomar um belo banho frio enquanto eu
preparo um chá para você.
Senti sua mão entrelaçando a minha cintura e gargalhei
quando ele aproximou o rosto do meu pescoço e disse:
— Por favor, Bia. Meu pau está duro. Está doendo…
— Carlos Eduardo Ferraz, vá logo para o chuveiro — ordenei
em meio ao riso que eu não conseguia esconder enquanto tentava
empurrá-lo.
— Não se nega um último pedido a um doente. Não percebe
que estou morrendo?
Coloquei a mão sobre a boca para disfarçar a risada e
balancei a cabeça.
— Você não está morrendo. Os mortos não sentem tesão —
disse, procurando me manter séria.
— Só uma sentada, querida. Devagarzinho. Você faz tão
gostoso…
Seu sorriso se ampliou e eu senti minha respiração acelerar.
Meu coração disparou no instante em que ele tocou os meus lábios
com os seus dedos.
— Cadu, por favor, vá para o… — Calei-me quando a boca
quente tocou o meu pescoço, beijando-o, e uma mão grande e
pesada amassou um dos meus seios. Revirei os olhos, inebriada de
prazer, quase que perdendo a consciência e esquecendo os motivos
do motivo pelo qual estava ali, até ser despertada por uma onda de
espirros vindos dele.
— Diabos! — esbravejou irritado e se afastou um pouco. —
Isso só pode ser castigo. Será alguma praga do seu pai?
Gargalhei mais uma vez e tentei me levantar, mas fui pega
por suas mãos ágeis, que seguraram a minha cintura e me fizeram
sentar no seu colo, mas precisamente em cima do seu pau.
— Cadu…
— Só uma sentadinha, amor. Bem devagar — sussurrou.
Suspirei profundamente e prendi o ar em seguida quando
senti o tecido do lençol tocando as minhas pernas ao ser retirado do
seu corpo. Sua pele estava quente, queimava em febre devido à
virose que ele havia pegado de mim naquela noite de tempestades.
Sabia que deveria interromper aquele jogo de desejo e sedução,
pois não era o momento para aquele tipo de coisas.
Senti o membro rijo latejar debaixo da minha bunda e rebolei
devagar.
A mão dele serpenteou para o cós da minha calça e eu joguei
a cabeça para trás, abrindo as pernas, incapaz de resistir àquele
homem.
Parecia que eu estava sendo abraçada por labaredas de fogo
flamejantes, que me consumiam e me impediam de raciocinar
coerentemente. Que espécie de pervertida eu havia me
transformado? Estava louca para ser possuída pelo meu noivo
enquanto ele ardia na cama, doente.
— Cadu, por favor…
— Shhh… — Ofegante, deixei que ele descesse a minha
calça até os tornozelos, colocando minha calcinha para o lado,
passando os dedos pelas dobras da minha vagina. Sem dizer uma
única palavra, ergui o meu corpo e desci novamente, encaixando-
me na cabeça do seu pau.
Cadu gemeu e eu gritei quando o membro entrou todo.
Grosso, rijo e ardente como o inferno. Parecia uma barra de aço
fervilhando no meio das minhas pernas, mas era tão bom, tão
gostoso e quente… Provavelmente, eu precisaria de um tubo inteiro
de creme para assaduras para aliviar as consequências que essa
brincadeirinha me causaria.
Senti seus beijos queimarem o meu pescoço mais uma vez e
um dedo ousado deslizou por entre as bandas da minha bunda,
massageando o orifício que eu ainda mantinha intocado. Meu
sangue gelou.
— Estou louco para enterrar o pau nesse cuzinho — disse
ele, rente ao meu ouvido.
Minhas bochechas coraram e eu abri a boca para revidar.
Nem ferrando eu o deixaria enfiar aquela mangueira na minha
bunda. Contudo, fui interrompida pelo alto e estridente toque do meu
celular.
Levantei-me apressadamente, sem dar tempo de ele me
impedir, e peguei o aparelho do outro lado da cama. Era o papai.
Provavelmente estava à minha espera na rua da faculdade.
Subi minhas roupas apressadamente e senti o medo tomar
conta de mim outra vez. Eu parecia uma garotinha perto daquele
homem, como poderia satisfazê-lo por completo? Como poderia
assumir o posto e ser a sua mulher?
— Querida, o que foi? — Cadu moveu-se até mim, com
aquele membro enorme apontando para cima. Engoli em seco.
É, Bia. Ajoelhou tem que rezar. Pensei, mordiscando o lábio.
— O meu pai… Ele está ligando — falei nervosa e deixei o
celular tocando em cima do criado-mudo.
— É apenas isso que está te deixando assim, arredia?
Balancei a cabeça em concordância, mas a expressão
duvidosa que vi em seu semblante me fez perceber que ele não
acreditava em nada do que eu dizia.
— Tem certeza de que é só isso, Beatriz? — questionou,
arqueando a sobrancelha.
Soltei o ar que prendia em meus pulmões e deixei meus
ombros caírem, derrotada. Não dava para fugir. Eu teria que ser
sincera. Talvez ele pudesse me ajudar a não sentir tanto medo do
futuro que nos aguardava.
— Tudo bem. São duas coisas. — Suspirei.
— Então diga! — Ele deitou-se na cama e colocou as duas
mãos atrás da cabeça, deixando o corpo nu completamente à
mostra.
Dei uma olhadinha rápida no abdômen definido, coberto com
espessos pelos negros, e desci até o pênis avantajado, analisando a
espessura brutal e as veias altas latejantes. Era tão imoral, rústico e
lindo. A cabeça rosa e macia me chamava para chupar com tanta
força que só percebi que estava babando quando ele pigarreou.
— E então, querida? — perguntou, sorrindo de lado. — Vai
dizer o que está te incomodando ou quer dar uma chupadinha
primeiro? Pode olhar mais de perto se quiser.
Recompus-me e respondi, mordiscando o lábio:
— Muito bem. A primeira coisa é que não irei fazer sexo anal!
— Despejei de uma vez, apontando na direção do seu quadril. —
Você é grande e não vou conseguir acomodar tudo isso.
Ele sorriu e segurou a minha mão, induzindo-me a continuar.
— E o que mais?
Um pouco desconcertada, virei o meu corpo e andei na
direção da janela de vidro, passando a mão por meus cabelos. Olhei
os carros transitando lá embaixo, pessoas indo e vindo,
concentradas nos seus afazeres. Eu simplesmente não conseguia
entender o motivo pelo qual eu me sentia daquela forma tão
estranha.
— Por favor, me diga, está me assustando. — Ouvi sua voz
baixa e confusa aproximando-se e me virei na sua direção.
— Cadu, você tem certeza de que quer… se casar? Tem
certeza de que sou a mulher certa?
A expressão duvidosa que cobria o seu rosto deu lugar a algo
parecido com medo, receio. Ele ficou parado por alguns instantes,
como se estivesse analisando o que eu tinha acabado de falar.
— O que quer dizer? — perguntou seco, fitando os meus
olhos, rangendo os dentes. — Está pensando em desistir? Não me
quer mais?
Dei alguns passos na sua direção e parei a cerca de um
metro de distância.
— Não é isso. Eu só estou com medo…— Abracei o meu
corpo e continuei: — Você é um homem lindo, maduro e bem-
sucedido. Sempre teve as mulheres que quis aos seus pés. E eu…
sou só uma menina ainda na faculdade.
— Está com medo de que eu me arrependa do nosso
casamento e procure outra, Beatriz?
Balancei a cabeça em concordância.
Percebi que sua expressão mudou pacificamente e seus
olhos brilharam, intensificando ainda mais o azul oceânico das suas
íris. Cadu sorriu, abraçou-me e girou o meu corpo no ar, arrancando
alguns gritos surpresos da minha garganta.
— Diabos, menina, eu já estava pronto para cometer um
assassinato — confessou assim que me colocou no chão, com as
mãos ainda entrelaçadas na minha cintura. — Pensei que fosse me
deixar por causa de outro, algum pirralho de vinte e poucos anos.
— O quê? Não! — Tentei dizer algo, mas ele me calou
colocando um dedo nos meus lábios.
— Bia… — Aproximou-se e sussurrou no meu ouvido: — Eu
quero me casar com você não apenas pelo sexo gostoso que
fazemos ou porque tem um rosto lindo e um corpo deliciosamente
sexy. Você é maravilhosa em todos os sentidos. É inteligente,
esperta, bondosa. Me enlouquece com apenas um sorriso e me faz
suspirar de orgulho quando defende seus ideais. Isso nenhuma
outra mulher no mundo é capaz de me oferecer.
Senti meu coração bombardear forte e um suspiro aliviado
escapou junto com uma lágrima solitária. Sorri, ainda sem saber se
era de felicidade ou por meu noivo ter feito uma declaração de amor
sussurrando no meu ouvido, completamente pelado.
Nossos lábios se encontraram levemente e, naquele
momento, eu tive a certeza de que precisava. Eu queria aquilo,
queria ser dele para sempre. Iria ser dele. Nada mais importava. Ele
era o Cadu, o CEO dos meus sonhos, o homem que sempre amei.
Enquanto nos beijávamos, ouvi o toque do interfone e não
precisei atender para saber que era o papai. Cadu colou sua testa
na minha, respirando descompassadamente, e clamou sorridente:
— Por favor, Deus, não permita que você seja filha do Felipe
na próxima encarnação.
Gargalhei, permitindo que meu sorriso transbordasse até os
meus olhos, e respondi:
— Vá tomar seu banho, amor, deixe que eu me entendo com
o papai.
CAPÍTULO 2

BEATRIZ

Entrei tensa no carro do meu pai, devido à forma contrariada


que ele me encarava. Levei uma mão ao meu pescoço e suspirei,
incapaz de dar prosseguimento àquelas imposições por muito mais
tempo.
Papai sentou-se no banco do motorista e encarou a rua à sua
frente, mantendo-se sério durante todo o tempo. Pela forma
grosseira que segurava o volante, era claro que ele estava querendo
esganar o meu noivo pela afronta de ter me chamado para o seu
apartamento com a desculpa de estar gripado.
Deu a partida no carro e seguimos para casa. Enquanto o
veículo trafegava pelas ruas movimentadas do Rio, sentia minha
garganta ficar seca. Eu estava no meu limite com aquela situação.
Recordei-me do suspiro profundo e doloroso do Cadu quando
eu o pedi para ir tomar banho enquanto eu conversava com o meu
pai. Era real o seu sofrimento emocional, tanto por ficarmos
afastados, quanto pela amizade — agora destruída — que os dois
tiveram.
Quando saí do seu apartamento, nem ao menos me despedi,
pois não queria ocasionar mais uma discussão entre os dois, então,
evitei que ambos se encontrassem.
Meu pai mantinha-se focado na direção. O maxilar cerrado
indicava que também estava incomodado, mas o silêncio continuava
reinando. As mãos firmes e fortes seguravam o volante com muita
força, demonstrando o quanto os seus nervos estavam aflorados.
Cansada, suspirei e desviei minha atenção para a praia,
quando passávamos pela orla do Leblon. Escorei o cotovelo na
janela do carro, sentindo o vento bater em meu rosto e bagunçar os
fios do meu cabelo, colando-os na minha testa. Os minutos se
arrastaram, torturantes, e o clima tenso que surgiu me angustiava e
massacrava o peito sem pena. Parecíamos dois desconhecidos, não
um pai e uma filha que um dia se deram tão bem.
Angustiada, suspirei e virei-me na sua direção.
— Papai… Por favor, chega!
Ele inspirou profundamente, sem focar a atenção em mim, e
parou o carro no acostamento. Era como se sentisse que havia
chegado o momento de termos uma conversa civilizada. A cara de
poucos amigos que estava estampada em seu rosto indicava o
quanto havia tentado adiar aquele momento.
— Pai, eu cresci. Estou na faculdade… — falei decidida, mas
senti minha voz falhar por causa da secura que se formou na minha
garganta. — Sei que errei quando traí a sua confiança…
Senti meus olhos arderem e puxei o ar com mais força. Papai
continuava focado à frente sem me encarar, segurando o volante
fortemente.
— Peço, por favor, que me perdoe. Te magoei, tenho
consciência disso. Sei que o que fiz foi grave e imperdoável, mas
amo o Cadu, papai. Eu o amo desde que era só uma menina. —
Uma lágrima rolou pela minha face e precisei parar por alguns
instantes antes de continuar: — E dói muito ver os dois assim, como
se fossem inimigos e não amigos de toda uma vida. Dói em mim
saber que o senhor odeia o homem que me faz feliz. Não posso mais
suportar conviver com isso. Preciso que se entendam por mim, por
favor!
Quando terminei de falar, senti as lágrimas rolarem com força
pelas minhas bochechas, enquanto minhas mãos tremiam
descontroladamente.
Sequei o rosto com a palma na mão e esperei pacientemente
por uma resposta. Ouvi um longo suspiro escapar da sua garganta e,
como um sopro de esperança, o tom da sua voz fez meu coração
acelerar, buscando uma resposta autêntica e precisa.
— Eu sei, filha — disse pausadamente. — Sei que você o
ama. E conhecendo o Cadu e todo o seu histórico, também sei que o
sentimento é recíproco. Mas porra, Bia. Tinha que ser logo ele?
Papai virou o rosto na minha direção e me encarou
severamente. A testa franzida e o maxilar cerrado deixavam claro o
quanto aquela conversa o incomodava, mas, ao mesmo tempo, ele
parecia querer colocar tudo em os pratos limpos. Mesmo que fosse
desconfortante falar sobre o assunto. Mesmo que doesse.
Engoli a saliva com dificuldade, mas meu corpo começava a
relaxar, aliviado diante das palavras dele. Aquele era um bom
começo.
— Não é fácil para mim aceitar que o bebê que segurei em
meus braços quando nasceu se transformou em uma mulher. Uma
linda e decidida mulher que agora vai se casar com o meu melhor
amigo. — Tenso, ele passou a mão pela barba rala e a deslizou para
o pescoço. — E mesmo você tendo crescido, Bia, continuará sempre
sendo a minha menininha. Isso nunca irá mudar.
Percebi que seus olhos marejaram e ele se esforçou para não
deixar as lágrimas caírem. Nunca vira o meu pai tão vulnerável e
preocupado, mas apesar das barreiras que havia criado em seu
coração, sabia que tudo o que ele queria era me proteger de tudo e
todos.
Ainda com as lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas,
aproximei-me e o abracei de lado, passando as mãos em volta do
seu pescoço. Encostei minha cabeça em seu ombro, tremendo.
Quando os soluços se aplacaram um pouco, voltei a falar:
— Sempre serei sua garotinha, pai. Sempre estarei com o
senhor.
— Bia, prometa para mim que vai terminar a faculdade. E que
nunca irá desistir dos seus sonhos — pediu e se afastou um pouco
para me encarar. Seus olhos estavam vermelhos pela emoção.
Assenti, voltando a suspirar com alívio. Uma terna alegria
cresceu no meu peito.
— Sim, prometo…
Papai sorriu e secou uma gota que escorria pela minha
bochecha.
— E nada de filhos agora, está me entendendo? Ainda sou
muito jovem para ser chamado de avô.
Gargalhei, passando as mãos pelos meus cabelos, sentindo o
vento que entrava pela janela bater em meu rosto, refrescando os
rastros das lágrimas que restaram na minha pele. Meu coração
palpitava de emoção, mal cabendo em meu peito.
— Certo, papai. Nada de filhos agora — concordei.

Semanas depois

— Positivo! — O mundo girou à minha volta e eu quase caí no


chão quando olhei o resultado do teste de gravidez que havia feito
naquela manhã, algumas horas antes do meu casamento. — A
senhora tinha razão, mãe.
Mamãe, que estava ao meu lado dentro do quarto, pegou o
teste, trêmula, e me abraçou em seguida, sem dizer uma única
palavra.
Pela conversa que havíamos tido na noite anterior, já
sabíamos que aquela gravidez era possível devido ao antibiótico que
tomei algumas semanas atrás, que deve ter cortado o efeito do meu
anticoncepcional. Porém, ver o resultado em minhas mãos fez o meu
ar parar, minhas pernas se assemelharem à gelatina e meu coração
bombardear com força. Estava imaginando a tempestade com nome
e sobrenome que iria enfrentar mais cedo ou mais tarde: meu
excelentíssimo pai.
Saí dos braços da minha mãe e sentei-me na beirada da
cama, colocando as mãos na minha testa.
— Apesar da conversa madura e reconfortante que tivemos…
— Puxei o ar e o soltei lentamente. — Confesso que não estava
preparada para ver esse resultado — falei, incrédula.
Coloquei uma mão em meu ventre e apertei levemente. Em
seguida, levantei o olhar e fitei minha mãe. Ela me fitava com
compaixão. De onde eu estava, sentia seus sentimentos conflitarem
entre felicidade e medo. Mesmo assim, mamãe sorriu para disfarçar
as lágrimas que se formavam em seus olhos.
— Minha filha, não quero que baixe esta cabecinha nunca.
Sentou-se ao meu lado, segurando a minha mão, e acariciou
o meu rosto.
— Você me faz lembrar a mim mesma quando tinha mais ou
menos a sua idade. Também era uma menina quando fiquei grávida
de você e estou aqui agora, ao seu lado…
— Mãe…
Meu peito inflou diante das suas palavras de conforto e senti-
me protegida e acolhida.
— Nunca desisti, querida. Nem fraquejei. Por mais difícil que
tenha sido, eu e o seu pai te amamos desde o primeiro momento…
— Com a voz falha, ela continuou: — E agora essa missão é sua.
Sei que será uma mãe maravilhosa e o Cadu um exemplo de pai.
Mais lágrimas jorraram pelos meus olhos e funguei baixinho,
encostando a cabeça no seu ombro.
— Obrigada… — murmurei emocionada.
— Ei, ei, nada de choro, mocinha. Precisamos nos apressar e
correr para o spa, pois hoje será seu dia de princesa. Precisa estar
relaxada, linda e cheirosa para a cerimônia mais tarde.
Com uma mistura de medo, felicidade e euforia, levantei a
cabeça e a encarei.
— Mal posso acreditar que irei me casar com ele.
Sorri. Um sorriso tão amplo que chegava aos meus olhos.

Quando as notas nupciais começaram, passei pelo arco


decorado com flores brancas, sendo guiada pelo meu pai, e curvei os
lábios em um sorriso. Meus olhos iluminaram-se ao avistá-lo no altar
montado na areia, de frente para o mar que eu tanto amava. O terno
cinza e a camisa branca, sem gravata, deixavam-no tão bonito que
minhas pernas ficaram bambas e fui tomada pelo nervosismo.
Os olhos oceânicos brilharam e eu via fascínio em seu
semblante. Meu sorriso ampliava-se a cada segundo. Meu coração
disparou, a testa suou e a respiração acelerou a níveis extremos. A
emoção me tomou quase que incontrolavelmente quando a ficha
finalmente caiu e eu me dei conta de que estava indo para ele, para
a vida dele, que estava fincando minhas raízes em seu coração.
Quando cheguei ao altar, respirei fundo e procurei não me
abalar ao ouvir a advertência do papai. Em meu íntimo, ainda
buscava uma forma de dizer que ele seria avô. Pensar nisso
deixava-me apavorada. Havia quebrado o juramento que havia feito
a ele. Meu coração doía só em imaginar o olhar decepcionado que
viria em seus olhos mais cedo ou mais tarde. Também temia pela
reação do Cadu. Não fazia ideia do que sentiria ou como agiria
quando soubesse.
Estava entre a cruz e a espada. Apenas rezava em silêncio
para que, no fim, tudo saísse bem e que o seu amor fosse capaz de
suportar todos os obstáculos que ainda enfrentaríamos.
— Não deixe que eu me arrependa disso, Eduardo — disse o
meu pai, estendendo a minha mão para o meu futuro marido.
Vi a curva de um sorriso surgir nos seus lábios e respirei
aliviada quando Cadu sorriu de volta. Ver os homens da minha vida
finalmente se entendendo foi como sentir o ar voltar ao meu pulmão.
Era libertador.
Cadu me encaminhou para o altar e o padre deu início à
cerimônia que marcava o início da nova fase da minha vida.
Na hora dos votos, vi meu futuro marido segurar um papel,
trêmulo, e o encarei em expectativa.
— Querida… — começou, mas sua voz falhou
miseravelmente. No entanto, não me importava. Não era preciso que
dissesse uma única palavra para eu saber o que ele tentava
expressar. Seu olhar apaixonado e emocionado dizia tudo. Quando
Cadu continuou, senti minha mão tremer sob a sua e funguei
baixinho para não me derramar em lágrimas. Cada palavra do que
disse fincou no meu coração e espalhou-se em minhas veias, mas foi
a última frase que me tirou de órbita. — Porque você, Bia, é o meu
céu ensolarado, é o mar que acalma os meus nervos, é o ar que
preciso para respirar.
Não pude mais suportar.
Baixei a cabeça e fitei o chão, sentindo as lágrimas quentes
banharem o meu rosto. Meu corpo estremeceu e tudo à minha volta
se apagou, restando apenas eu e ele ali. Minha cintura foi enlaçada
por suas mãos fortes e, sem esperar que o padre desse a ordem
final, Eduardo ergueu a minha cabeça e beijou os meus lábios
intensamente, sugando e lambendo cada milímetro da minha boca.
Ofegante e incapaz de continuar guardando aquele segredo
comigo, não pensei em mais nada, muito menos nas consequências
das minhas palavras. Meu coração gritava para que eu dissesse
sobre o nosso filho ali, naquele momento tão significativo para as
nossas vidas. Então, eu falei.
— Cadu… — sussurrei entre os seus lábios. — Estou grávida.
Estou esperando nosso filho.
Meu marido afastou-se, incrédulo, e, por um segundo, tive
dúvidas do que ele faria a seguir. Com a voz falha, contei-lhe sobre o
teste que fiz naquela manhã, enquanto segurava as suas mãos e as
levava até a minha barriga.
Todos à nossa volta estremeceram, chocados com a notícia
inesperada, inclusive o padre, mas eu não liguei e continuei com o
olhar perdido nas íris do meu marido.
— O meu netinho… — Ouvi a voz da minha sogra ao fundo e
um resmungo do meu pai, mas nem isso foi capaz de mudar o foco
da minha atenção.
— Porra! Vou ser pai! — gritou meu marido, erguendo-me e
girando-me no ar, fazendo o meu coração dar saltos de alegria.
Quando os meus pés voltaram a tocar o chão, o padre
finalizou a cerimônia e as pessoas aproximaram-se para nos felicitar
pelo casamento e pela chegada do bebê. Minutos depois, quando a
multidão havia se dissipado e a mãe do Cadu parou de me abraçar
emocionada pelo neto, olhei de relance para a frente e percebi que
papai se aproximava, sério. Engoli em seco ao ver o desânimo que
estampava o seu rosto e toquei o braço do Cadu, chamando sua
atenção.
— Meus parabéns, Beatriz! — parabenizou-me com cara de
poucos amigos e se virou na direção do meu esposo.
Ao longe, vi mamãe deixar a conversa com alguns convidados
de lado e apressar o passo na nossa direção. Como em uma câmera
lenta, senti o aperto da mão do Cadu na minha, mas logo ele a soltou
bruscamente quando o meu pai acertou o seu maxilar com um forte e
certeiro soco.
— Você destruiu a vida da minha filha, imbecil! Confiei em
você por duas vezes! — vociferou.
— Papai! — gritei, assustada e trêmula, sentindo o medo
aflorar os meus sentidos. Coloquei-me entre os dois. — Por que está
fazendo isso?
— Felipe, chega disso… — advertiu Eduardo, impaciente,
levando a mão até a boca machucada. — Não estrague meu
casamento com a sua filha ou não responderei pelos meus atos.
Mamãe chegou logo em seguida e olhou no rosto do marido,
balançando a cabeça, incrédula com o que tinha acabado de
acontecer. Voltando sua atenção para mim, captei tristeza e
desapontamento no semblante do meu pai.
— Você me decepcionou, Beatriz. Me prometeu que
terminaria a faculdade e agora está grávida aos dezenove anos.
Engoli a saliva com dificuldade, sentindo o gosto amargo do
remorso apossando-se do meu corpo, e segui os seus passos
quando ele se virou e saiu, distanciando-se de onde estávamos.

— Será que meu pai vai me perdoar algum dia? — perguntei


ao meu marido, enquanto ele me abraçava por trás em frente ao
espelho do nosso quarto naquela noite.
Havíamos feito apenas uma reunião íntima com os mais
próximos para comemorarmos nosso casamento. Assim que o
evento terminou, seguimos para casa na intenção de descansarmos
um pouco antes de pegar o voo para o Havaí no dia seguinte.
— Não se preocupe, Bia. Seu pai é uma anta de tão teimoso,
mas ama você e vai amar o nosso filho também. — Senti a
respiração quente do Cadu no meu pescoço e fechei os olhos
lentamente. — Eu sou o homem mais feliz do mundo agora.
Apesar do inconveniente mais cedo, eu também estava feliz.
Meu amor estava ali comigo, com os braços envolvendo a minha
cintura e as mãos firmes em meu ventre por cima da camisola
transparente. Como havia sonhado com aquele momento…
— Eu também. Sonhei com este momento a minha vida
inteira, Cadu.
Meu marido acariciou a minha barriga e inspirou o cheiro que
emanava dos meus cabelos.
— Mas, agora, vamos esquecer o mundo lá fora um pouco.
Quero você, querida — sussurrou.
— Tem razão, amor.
Senti as mãos quentes dele tocando o meu pescoço de leve,
colocando meus fios de cabelo para o lado, acariciando e apertando
a minha pele. Seus lábios tomaram o lugar dos seus toques e beijos
molhados foram distribuídos pela curva do meu pescoço. Arrepiei.
Meu corpo inteiro correspondeu ao seu toque como o álcool
inflamava o fogo.
Pouco a pouco, o tecido fino que me cobria caiu sob os meus
pés, deixando-me completamente nua e pronta para ele. As roupas
que ele usava tiveram o mesmo destino, foram arrancadas do seu
corpo e jogadas no chão.
Continuei de costas para Cadu e ofeguei quando voltou a me
abraçar de costas. Dessa vez, o corpo quente e nu colou-se ao meu
de uma maneira tão intensa que não consegui segurar um gemido.
Senti os poucos pelos do seu abdômen rasparem nas minhas
costas e o membro duro contraiu-se na altura da minha bunda.
Grunhi, enlouquecida.
As mãos cobriram os meus seios e os apertaram fortemente,
envolvendo os bicos sensíveis em seus dedos. Logo depois, desceu
os toques ágeis pelo meu corpo, explorando cada pedacinho de pele,
massageando e prensando os meus quadris.
Com a respiração ofegante, lambeu o meu pescoço e enfiou a
língua na minha orelha. Ao mesmo tempo, cavou e esfregou cada
dobra que eu possuía entre as coxas. A essa altura, meu corpo já
queimava, querendo-o, estimulado pelas doses de prazer que ele me
proporcionava.
Tremi quando meu marido inclinou o corpo, firmando-se na
parede, e encaixou o pênis rígido entre as minhas pernas, raspando
a glande e o comprimento cheio de veias vigorosas no meu clitóris.
Não me penetrou, apenas me fez sentir todo o poder que eu exercia
sobre ele.
Rebolei e empinei o corpo um pouco mais para facilitar que
seu membro deslizasse com mais facilidade entre as minhas coxas.
Virei o meu rosto na sua direção e as nossas bocas se encontraram,
as respirações se misturaram e as línguas se fundiram.
A mão pesada desceu pelo meu abdômen, acariciando a pele
nua até alcançar o meu ventre. Puxou o meu corpo para mais perto
do seu e aprofundou o beijo, faminto, voraz, cheio de promessas de
uma vida que estava apenas começando.
CAPÍTULO BÔNUS

FELIPE

Possesso de raiva, saí daquele casamento pisando firme no


chão, enquanto contava até dez para não voltar lá e terminar de
quebrar a cara daquele traidor de merda. Aquele babaca imbecil que
ousou encostar a lagartinha nojenta dele na minha filha e engravidá-
la. Maldito!
Entrei em casa o mais rápido que pude, batendo a porta com
força. Caminhei até a cozinha, arrancando o paletó do meu corpo,
joguei-o em cima de uma cadeira e afrouxei a gravata. Ao
aproximar-me do que queria, peguei a garrafa de uísque em cima do
balcão, enchi o copo e tomei um gole generoso, sentindo o álcool
me rasgar por dentro. Estava nervoso, fora de mim.
Tudo o que havia construído e planejado para o futuro da
minha filha havia sido destruído por puro capricho e
irresponsabilidade daqueles dois. Sentia-me mais uma vez traído,
apunhalado pelas costas.
Suspirei, sentindo-me cansado, derrotado, e sentei-me. Meu
peito se apertava como nunca e sentia amargamente o desprazer
de ter falhado como pai. Havia falhado miseravelmente e pensar
nisso massacrava por dentro. Doía…
Não sei quanto tempo permaneci ali no balcão, preso entre
os meus pensamentos. Meu desejo era arrancar o pau daquele
desgraçado. Perdi as contas de quantos copos de uísque tomei.
Apesar do tempo que passei ali, aflito, supus ter perdido algumas
horas desde que saí do casamento, pois Karine havia acabado de
chegar em casa e subia as escadas apressadamente.
Naquele momento, soube que a guerra estava apenas
começando, então, eu a segui até o quarto. Havia feito merda, tinha
consciência disso. Karine teria razão em querer me esganar naquela
noite.
Caminhei até o quarto, devagar, e parei em frente à porta. A
luz do abajur estava acesa. O som dos suspiros e do choro dela
eram as únicas coisas que quebravam o silêncio. Porra! Meu
coração quase parou.
Fiquei ali estagnado, observando minha esposa, sem saber o
que fazer ou dizer. Karine estava de pé, com as mãos cobrindo os
olhos, de frente para o armário de roupas.
Por um momento, eu me senti como o dono da razão e da
verdade por ter quebrado a cara do Eduardo; no outro; pensei que
fosse morrer de angústia quando vi minha mulher pegar uma mala,
colocá-la sobre a cama e começar a enchê-la com suas roupas e
pertences.
— Karine, querida, o que está fazendo? — chamei-a e dei um
passo para o interior do quarto, indo em sua direção.
A mulher me fitou indiferente. Secou os olhos com as mãos e
empinou o nariz. O jeito típico que só ela tinha para me fazer
entender que eu estava em maus lençóis.
— Estou indo para um hotel, Felipe! — Jogou todas as
palavras em cima de mim, sem rodeios, sem pausas, sem
explicações, e continuou arrumando a mala.
— Está brincando? Karine, o que deu em você?
Percebi que a coisa estava ainda mais feia quando ela sorriu
histericamente. Deixou as roupas onde estavam e deu um passo na
minha direção.
— O que eu fiz? — questionou, irritada. — A pergunta certa
é: O que você fez, Felipe?
A histeria deu lugar a mais lágrimas e logo Karine estava
chorando como um bebê. Passei a mão pela minha cabeça e puxei
o ar, nervoso e aflito. Minha testa suava devido à tensão que havia
se formado.
— Você destruiu o casamento da nossa filha, Felipe. Como
pôde?
Pegou um lenço no meio das roupas e secou o rosto
molhado.
— Querida, pelo amor de Deus! — bradei. — Aquele babaca
de merda engravidou a nossa filha! A nossa Bia. O que queira que
eu fizesse?
Ela balançou a cabeça em negativa e lambeu os lindos
lábios, fazendo-me prender o ar, receoso pelo que viria.
— Será que não se recorda da gente, Felipe? — Olhou-me,
contrariada. — Não se lembra que eu tinha a mesma idade que a
Bia quando você me engravidou?
Engoli em seco quando ela começou a relembrar a nossa
vida há alguns anos. Éramos dois jovens com a paixão à flor da
pele, loucos de amor e desejo um pelo outro.
— Querida, era diferente… — Parei de falar quando percebi
que não tinha argumentos para justificar as coisas. Minha esposa
ficou ainda mais irritada com isso.
— Claro que era diferente! Éramos dois adolescentes sem
juízo e irresponsáveis. O que é totalmente o contrário do seu genro
e da nossa filha. A Bia está na faculdade, Felipe, e o Cadu… Bom,
acho que não precisarei falar mais nada sobre ele, não é? — Karine
terminou de colocar as roupas na mala, fechou-a e voltar a me olhar.
— Mesmo com todas as dificuldades, não desistimos. Você deu o
seu melhor, trabalhou dia e noite, entrou na faculdade, cuidou da
gente e te apoiei em tudo. Também dei o meu melhor pela nossa
família. Mas, agora, não posso permitir que continue fazendo isso
com a nossa filha. Você nos envergonhou publicamente por puro
capricho, puro egoísmo. Não aceita que a sua filha cresceu e se
transformou em uma mulher independente.
Quando ela terminou, senti a secura em minha garganta e
minhas mãos tremeram. Não sabia ao certo se era apenas
nervosismo ou orgulho ferido. Ainda assim, a ideia de imaginar
aquele almofadinha tocando um dedo na minha princesa me dava
arrepios.
— Meu amor, por favor, desfaça essa mala e vamos
conversar civilizadamente. Porra! Serei avô aos quarenta anos, isso
é desesperador!
Contrariando todos os meus pedidos, Karine pegou a mala e
se aproximou de mim antes de dizer algo que certamente teria me
infartado se eu não tivesse o coração forte.
— Se não tem maturidade para ser avô, é certo que também
não tem para ser pai outra vez. É por isso que vou embora.
Dizendo isso, minha mulher passou por mim e se aproximou
da porta, disposta a ir embora sem me dar maiores explicações. No
entanto, enquanto eu tentava processar aquela frase, segurei em
seu braço e a puxei para mim, deixando nossos rostos próximos,
sentindo sua respiração quente no meu rosto.
Com dificuldade e quase sem fala, questionei:
— O que… o que você quer dizer com isso?
Após alguns segundos de silêncio e um breve suspiro, ela
respondeu, olhando nos meus olhos:
— Minha menstruação está atrasada, estou sentindo enjoos
matinais e os meus hormônios estão me matando. Só preciso fazer
o teste para confirmar.
Quando meu cérebro terminou de processar o que minha
esposa disse, senti o mundo girar e uma sensação desesperadora
tomou conta do meu corpo.
Um filme passou pela minha cabeça e me recordei de quando
a Bia nasceu, das noites em claro, dos primeiros passos, do
primeiro dia de aula, da primeira festa, das fotos dela na praia com o
meu melhor amigo e, por fim, da minha filha grávida.
Provavelmente morreria se tivesse que passar por tudo aquilo
de novo.
— Puta merda! Acho que vou… desmaiar! — falei, levando
as mãos até o colarinho e desabotoando a camisa que me sufocava.
Àquela altura do campeonato, já não tinha mais uma gota de
sangue no corpo e só conseguia implorar em silêncio aos céus para
que o bebê que a minha esposa esperava fosse um menino.
CAPÍTULO 3

CARLOS EDUARDO

Dentro de um vestido leve e estampado, Beatriz sacudia os


quadris no ritmo da dança Hula, enquanto observávamos a
apresentação das dançarinas em volta da fogueira, na praia próxima
ao resort que estávamos hospedados em Honolulu, capital do
Havaí.
Um pouco bêbado devido aos drinks que eu havia tomado,
passei a mão na cintura dela e deslizei até a barriguinha que ainda
não tinha vestígios de uma gravidez. Trinquei os dentes quando Bia
rebolou para um lado e para o outro, passando o bumbum
empinadinho nas minhas bolas, acompanhando o ritmo da dança
das outras mulheres.
A respiração falhou, o pau cresceu e eu não conseguia parar
de imaginar o momento em que meteria todo o meu pau naquele
cuzinho gostoso, o único lugar do seu corpo que ainda era virgem.
Não parava de pensar nele desde aquela tarde, quando peguei
minha mulher em cima da cama, de quatro, e meti sem pena. Bia
gemia, gritava e rebolava. Minha mulher me enlouqueceu com a
visão tão devassa da bocetinha recebendo-me e o cuzinho
contraindo-se quando ela gozou, querendo-me também.
— Amor, vamos voltar para o hotel. — Inclinei o corpo e
sussurrei rouco no seu ouvido. Estava quase gemendo de tesão.
Puxei seu corpo um pouco mais para o meu e desci a mão
até sua coxa.
— Tão cedo? Está tão divertido aqui. — Ela virou-se de frente
para mim e passou as mãos pelo meu pescoço, ficando na ponta
dos pés. Os olhos esverdeados cintilavam. — Não está gostando?
Sorri, fascinado com o quanto ela era linda, delicada e
deliciosa. Principalmente agora que os seios estavam maiores e
preenchiam as minhas mãos. Não me cansava nunca de admirá-la.
— Eu bebi além da conta. Gostaria de tomar um banho e
descansar. — Pisquei e Beatriz assentiu. Limpei a garganta,
disfarçando a mentira deslavada que eu havia dito. A última coisa
que queria naquele momento era descansar.
— Tudo bem, vamos.
Segurando a sua mão, caminhamos devagar pela areia,
passando por alguns casais que aproveitavam o frescor da noite
iluminada pela lua cheia. Em poucos minutos, estávamos de volta
em nossa suíte no térreo do resort, com porta automática de vidro
que dava acesso para uma área privada da praia.
Assim que entramos, puxei Bia para mim e enlacei sua
cintura com as duas mãos, colando os nossos corpos. Ela suspirou
e abraçou-me, sorrindo. Um sorriso tão radiante que fez meu
coração dar saltos de felicidade por saber que era minha. Meu pau
latejou de tesão enquanto eu analisava aquela boquinha vermelha,
suculenta e quente. Ah, Bia… Como ela chupava gostoso, diabos!
— No que está pensando, Cadu? — perguntou enquanto
descia a mão até o meu peito — Está me olhando de uma forma
safada demais — concluiu, curvando os lábios mais uma vez.
Toquei o seu rosto levemente, acariciei o pequeno queixo
aveludado e raspei o dedo no seu lábio inferior, fazendo Beatriz
entreabri-los.
— Estou pensando no momento em que meu pau vai entrar
nessa boquinha outra vez. — Pisquei. — E depois nessa bundinha
linda.
Ela gargalhou e colocou o rosto no meu peito, abraçando a
minha cintura.
— Cadu, como você é descarado! Não vou te dar a minha
bunda. Eu não posso correr o risco de parar no pronto socorro em
plena lua de mel.
Também sorri e a abracei mais forte. Logo depois, desci as
mãos pelos seus quadris, cravando meus dedos em sua carne.
Apertei o bumbum durinho por cima do vestido, amassei e abri suas
nádegas com desejo e uma fome louca, colando seu corpo ao meu
ainda mais.
— Não tenha tanta certeza, minha linda. Eu sempre consigo
o que quero. E o que quero agora é te dar muito prazer pela parte
de trás — sussurrei e enfiei a mão por baixo do seu vestido.
Senti seu corpo estremecer e, mais uma vez, ela gargalhou
sem conseguir se conter.
— Querido, não vou deixar que encoste esse pau na minha
bunda. Tenho amor aos músculos da minha cavidade preciosa. —
Apressou-se em dizer e afastou a minha mão das suas nádegas —
Eu quero sentir prazer, não ser arrombada. Você tem uma
mangueira no meio das pernas — concluiu, engasgando-se com os
risos.
Não consegui me segurar e gargalhei sem controle,
afastando-a e olhando o seu rosto risonho.
— Porra, Bia. Cavidade preciosa? — questionei. — É
cuzinho, meu amor. Um gostoso e apertado cuzinho.
Balançando a cabeça, ela piscou e desvencilhou-se dos
meus braços, indo na direção do banheiro.
— Irei tomar o meu banho e trancarei a porta, marido. — Ela
desceu o olhar e analisou o volume que havia se formado na minha
virilha, mordiscando o lábio. Meu pênis estava quase rasgando a
calça de tão duro. — Você não é um esposo confiável e eu ainda
pretendo andar pelas ruas e me sentar elegantemente.
Balancei a cabeça sorridente e me sentei na poltrona no
centro da suíte enquanto observava minha esposa caminhar
rebolando na direção do banheiro, provocando-me.
Quando Beatriz retornou ao quarto, enrolada em um roupão
branco, eu já estava completamente nu. Beijei os seus lábios
brevemente e segui para tomar o meu próprio banho, ansiando em
retornar o mais rápido possível para beijar e lamber cada pedacinho
do corpo dela.
Após me lavar rapidamente, sequei-me e envolvi os meus
ombros e costas com um roupão preto, deixando a parte da frente
aberta.
Retornei ao quarto, caminhando devagar, com um sorriso
presunçoso no rosto, sentindo-me como um leão faminto prestes a
abater e devorar cada pedacinho de carne da sua pequena,
delicada e preciosa presa.
Enquanto andava na direção dela, parei a alguns metros de
distância, constatando que Beatriz falava com alguém no notebook,
e pigarreei. De onde eu estava, pude ouvir a voz de Felipe e me
surpreendi ao ouvir um pedido de desculpas. No entanto, a única
vontade que me assolava naquele momento era a de agarrar e
beijar a minha mulher na frente dele, apenas para provocá-lo.
Imbecil! O local que ele havia me socado ainda doía
constantemente.
Quando Beatriz se deu conta da minha presença, mordiscou
o lábio e suspirou, analisando o meu corpo antes de dizer:
— Querido, vista uma cueca e vem aqui para a cama. Estou
com a mamãe e o papai no Skype.
Que Deus me perdoasse, mas eu sorri e gargalhei muito por
dentro só em imaginar a cara de horror do Felipe ao saber que eu
estava pelado ali naquele momento, de frente para Beatriz.
Assenti para ela, curvando os lábios discretamente, e
caminhei até os meus pertences para pegar um vidro de lubrificante.
Fechei o roupão e me sentei ao lado da minha menina na cama,
tomando cuidado para não deixar meu cacete aparecer por acidente
pela abertura da peça de tecido.
— Olá, Felipe. Oi, Karine — cumprimentei-os.
Karine sorriu e me respondeu alegremente, perguntando
como estavam as coisas. Enquanto o esposo, respondeu apenas
um “oi” com a cara amarrada.
— Filha, nós temos uma novidade para contar a vocês, mas
iremos esperar que retornem! — disse Karine, feliz, segurando a
mão do marido.
Naquele momento, percebi que os olhos de Felipe brilharam
e ele sorriu, fitando a esposa todo apaixonado.
— Não saia de casa novamente, querida, ou eu enlouqueço e
você será a culpada — sussurrou para ela.
Franzi a testa ao ouvir o pronunciamento dele e fiquei ainda
mais surpreso quando Karine colocou um dedo nos lábios do
esposo e respondeu, arqueando a sobrancelha:
— Não farei. Desde que você se comporte como deve.
Que merda tinha acontecido para o Felipe se comportar
daquela maneira? Parecia um filhote de gatinho de tão dócil.
— Como assim sair de casa? Mamãe, o que aconteceu? —
indagou Beatriz, surpresa.
— Irei contar tudo quando vocês voltarem, meu amor. Só
liguei para saber se estão bem por aí. Depois conversamos com
calma porque aqui já passou de meia-noite.
Após se despedirem, minha mulher colocou o notebook sobre
o criado-mudo e retornou para a cama, deitando-se, pensativa, com
as mãos atrás da cabeça. Imaginei que aquele silêncio se devia à
curta conversa que teve com seus pais. Diante dos fatos, supus que
as coisas não andavam muito bem entre eles nos últimos dias, mas
eu ainda não conseguia imaginar que espécie de novidade Felipe e
Karine tinham para contar.
Deixando de lado os questionamentos sobre os dois, coloquei
o lubrificante em cima do criado-mudo, aproximei-me de Beatriz,
inclinei o meu corpo na sua direção e toquei o seu rosto.
— Está tudo bem? — questionei, chamando sua atenção
para mim.
Ela suspirou e assentiu, fitando-me.
— Estou bem, meu amor. Só fiquei um pouco confusa com a
conversa do papai.
— Então vamos tratar de esquecer isso! — sugeri e sorri,
enquanto me movia para ficar em cima dela. — Tenho algo delicioso
em mente para fazermos agora.
— Cadu, já conversamos sobre esse assunto de sexo anal.
— Beatriz colocou a mão no meu peito e prendeu o lábio entre os
dentes, tentando disfarçar um sorriso.
Aproximei-me do seu ouvido, roçando meu rosto na sua pele,
e sussurrei:
— Eu só quero beijar você.
Tirei uma mecha de cabelo do seu rosto, fitei seus olhos
brilhantes e colei minha boca na sua. Comecei beijando-a devagar,
passando os lábios nos seus, sentindo a doçura quente da sua
boca.
Quando ela abriu os lábios para receber a minha língua,
ofeguei, sentindo meu membro enrijecer descaradamente, e
penetrei sua boca da mesma forma que faria na sua boceta. Minha
mulher ofegou, enfiando as mãos por baixo do roupão que eu
usava, desfazendo o laço que prendia o tecido ao meu corpo.
Meu pau saltou para fora, acomodando-se em sua virilha, por
cima da peça macia que cobria sua pele lisa e cheirosa. Ele estava
tão duro, tão quente e inchado, que precisei me controlar para não
abrir suas pernas e tomá-la ali, sem nenhuma preliminar. No
entanto, queria mais, queria todo seu corpo naquela noite. Queria
comer sua boceta e a sua bunda desesperadamente.
Terminei de retirar o meu roupão e fiquei completamente nu
em cima dela. Abri suas pernas devagar para me acomodar entre
elas, desfiz o laço da peça que Beatriz usava e colei os nossos
corpos, gemendo com a sensação deliciosa de sentir a pele nua da
minha menina fundindo-se à minha.
— Querido, eu pedi comida… — Ela tentou dizer algo, mas
eu a interrompi, beijando o seu queixo e subindo para a boca outra
vez. — Amor, devemos… esperar…
Contudo, sem poder imaginar a tragédia que estava prestes a
acontecer, ignorei as suas palavras e continuei a beijá-la, chupando
a língua e mordendo os lábios inchados.
Desci, beijando o seu pescoço, chupando os seios lindos e
acariciando a barriguinha esguia que carregava o meu orgulho: meu
filhão. Em seguida, voltei a beijar e a morder o seu queixo.
— Bia… — adverti-a quando ela escorregou as mãos por
minhas costas e deslizou até meu traseiro, apertando a minha
carne. — Pare com isso, moça.
— Você quer enfiar o pau na minha bunda e eu não posso
tocar na sua? Isso é injusto, Cadu — protestou, ofegante, e me
apertou mais.
Gargalhei, olhando aquela carinha sapeca, e arqueei a
sobrancelha.
— Nessa região ninguém toca, nem mesmo quando eu
estiver morto!
— Estou realizando um sonho de adolescência. Sempre quis
fazer isso na sua bunda — confessou sorrindo.
— Por quê? — questionei curioso.
Afastei suas coxas ainda mais, deixando-a toda exposta para
mim, e pincelei a cabeça grossa do meu pau na sua abertura.
— Nós mulheres também sentimos tesão em bunda de
homem… Gostoso…
Penetrei a glande nela, mantendo a minha atenção focada no
seu rosto, e Beatriz grunhiu, fechando os olhos.
— É gostoso, querida? Gosta de dar assim para o seu
marido?
— Oh, sim… — gritou quando eu enfiei todo e segurei suas
mãos, prendendo-as no topo da sua cabeça.
— Não é da bunda de homem que vocês gostam, mas sim de
um pau grosso e quente metido lá no fundo.
Respirando descompassadamente, ela assentiu, e eu a beijei
novamente. Continuei com o pênis dentro dela por vários minutos,
sem me mover, apenas apreciando o prazer que era beijá-la e tê-la
dentro dos meus braços.
Inclinei o meu corpo para lamber os seios e me afastei um
pouco, tirando o pênis do seu interior.
Quando a toquei intimamente, fui à loucura, pois Beatriz
estava quente, melada e escorregadia. A bocetinha pingava de tanto
que me queria.
Sem consegui me segurar mais, ergui o meu corpo e fiquei
de joelhos ao seu lado. Passei uma mão por baixo das suas costas
e a outra entre as suas coxas, e então a virei bruscamente na cama.
Beatriz soltou um grito, surpresa, quando em um rápido
movimento, fiquei de pé no chão, segurei seus quadris e a ergui,
colocando minha mulher de quatro, deixando seu rosto apoiado no
colchão.
— Oh meu… Ain… — choramingou.
Abri suas nádegas, deixando minha mulher toda abertinha
para mim, revelando os lábios avermelhados do seu sexo e expondo
o feixe de nervos do clitóris. Passei o polegar no montinho sensível,
massageei e subi até alcançar o anel intocado de musculosos.
— Cadu, devagar… Por favor… — pediu com a voz
entrecortada.
Inclinei o meu corpo para alcançar o seu ouvido e sussurrei:
— Eu vou lamber você e te deixar ainda mais molhada. Você
vai gostar, princesa.
Voltei minha atenção para aquele traseiro lindo, abaixei-me e
enfiei o rosto entre as suas coxas, fazendo tudo o que eu havia
prometido, lambendo, sugando e penetrando Beatriz com a língua.
Chupei seu clitóris e lambi seu canal até alcançar o ânus. Chupei
aquela região com vontade, enquanto ela gritava e se contorcia,
arranhando o colchão.
Quando senti que Bia estava preparada, lambuzei o cuzinho
dela com o lubrificante e massageei a região em círculos, deixando-
a ainda mais excitada e relaxada.
Estava tudo muito lindo e delicioso até o momento em que
fiquei de pé e direcionei a cabeça do meu pau naquele buraquinho
tão apertado. Comecei enfiando a ponta do meu dedo
delicadamente, e ela reclamou e se moveu para a frente.
— Cadu, não me deixe tetraplégica, pelo amor de Deus!
Gargalhei com o comentário amedrontado dela e a acalmei,
massageando seu traseiro. Parecia que Beatriz estava prestes a
entrar em uma sala de cirurgia e não que iria dar a bundinha
gostosa para o seu marido.
— Relaxa, meu amor. Vou enfiar devagar. Só a cabecinha,
bem lentamente…
Pincelei a cabeça grossa na entrada lambuzada, desci um
pouco, meti na boceta inchada e então voltei para o anelzinho.
Empurrei devagar e senti o buraquinho dando espaço para eu
entrar.
Minha testa suou e o pau latejou de tesão só em imaginar
que estava prestes a entrar naquele local proibido. Eu já sentia
minhas bolas contraindo-se com a quantidade absurda de porra que
derramaria dentro dela.
— Para, Cadu… Ai! Está doendo… — Aliviei a pressão
quando ela reclamou, tentando me afastar, e enfiei uma mão entre
as suas pernas para massagear seu clitóris.
— Calma, calma… — sussurrei.
Beatriz relaxou um pouco e eu voltei a empurrar, tomando
cuidado para não perder o controle e machucá-la. Estava tão
gostoso sentir cada milímetro da cabeça do meu pau tomando
espaço. Estava tão quente que era quase possível sentir o gozo
saindo. Mas então, quando troquei a posição do meu corpo e dei um
passo para frente, acabei pisando em algo escorregadio no chão.
No ímpeto de me equilibrar, inclinei o corpo para frente, firmando-me
nas costas de Beatriz, e sem querer penetrei a glande no ânus dela.
— Aaaaiii! — Minha mulher berrou, tão alto que, por um
instante, senti o chão e as paredes estremeceram. Meu corpo inteiro
congelou, preocupado, quando a vi se deitar no colchão, levando a
mão até o local. — Você vai me matar assim!
Puta merda! Olhei para o chão onde eu havia pisado e vi um
creme esbranquiçado. Imaginei ter sido a própria Beatriz que havia
deixado o produto cair ali.
— Perdão, querida. Perdão!
Abracei Beatriz de costas, acariciando os seus ombros, e
beijei seu pescoço, enquanto ela ainda se contorcia, dolorida.
— Porra, Cadu. Está ardendo como o inferno!
Naquele momento, percebi que a coisa era ainda mais séria
do que pensei. Eu nunca tinha visto minha esposa falar tanto
palavrão em um período tão curto de tempo.
— Me desculpe, escorreguei em um pouco de creme que
caiu no chão.
Ela assentiu e se virou para mim, colocando a mão no meu
peito.
— Eu odeio você, sabia? — afirmou, curvando os lábios. —
Odeio você e essa anaconda que você chama de pau. Cretino.
— Mentirosa. — Puxei-a para mais perto de mim, passando o
braço em sua cintura, segurando seu maxilar com a mão livre, e
deixei sua boca próxima à minha — Você ama tanto o meu pau que
agora está buchudinha, bebê.
Sorri ao ver suas bochechas corarem, e ela me beijou com
suavidade. Continuei acariciando o corpo da minha mulher por
alguns minutos, beijando e mordendo alguns pontos até ter certeza
de que ela não sentia mais nenhum incômodo.
Enquanto ela gemia com as minhas carícias, coloquei Beatriz
de lado, mordisquei o lóbulo da sua orelha e perguntei em um
sussurro:
— Está pronta?
— Acho que nunca estarei pronta para isso — murmurou.
— Confia em mim, amor — supliquei. O medo de ela desistir
já estava deixando-me com as bolas azuis.
— Não deu muito certo confiar em você da última vez —
disse, sorrindo. — Naquele momento, entendi o significado de
queimar a rosca.
— Porra! — Não consegui me segurar e gargalhei alto,
acompanhado por Beatriz, que também sorria, descontraída,
deixando-me com a cara típica de um bobo apaixonado. — Eu amo
você, diabos! — falei entre risos e voltei a me encaixar atrás dela,
de conchinha.
Alcancei o vidro de lubrificante que eu havia deixado em cima
da cama, coloquei uma quantidade generosa em meus dedos e me
afastei para espalhar o produto no seu traseiro. Abri suas nádegas
com cuidado e, novamente, preparei-a para me receber, lubrificando
e enfiando um dedo.
Encaixei a cabeça na entradinha dela e funguei em seu
pescoço, deixando Beatriz relaxada.
— Devagar… Ai, ai.
Forcei lentamente, sentindo seus músculos cedendo, dando-
me passagem para entrar. Trinquei os dentes e ofeguei quando a
cabeça entrou quase que completamente, esmagando o meu pau.
Diabos! Como era gostoso e quente. Aquela sensação estava
alucinando-me.
Beatriz choramingou, colocando a mão na minha coxa, e eu
empurrei um pouco mais. Entrou, gostoso, tão apertado que me fez
grunhir.
— Não se mexe, fica assim… — pediu com a voz dolorosa e
ofegante.
Usando todo o meu autocontrole, abracei minha mulher e
inspirei o cheiro doce que exalava dos seus cabelos, procurando
ficar imóvel por alguns instantes.
— Está tão gostoso. Você é deliciosa demais… — falei em
seu ouvido, com a respiração pesada tamanho era o prazer que eu
sentia.
Contudo, nada no mundo havia me preparado para ir ao céu
e ao inferno em questão de segundos nos momentos seguintes.
— Cadu, tem certeza de que não tem nada saindo aí atrás?
— questionou, fazendo-me sorrir mais uma vez. — É estranho ter
um negócio desse tamanho enfiado no rabo.
— Sim, eu tenho certeza. Acho… — respondi descontraído,
voltando a enfiar mais, louco para meter tudo.
Beatriz gritou, e eu gemi. O coração quase enfartou quando
ouvi uma batida brusca na porta, seguida de uma ordem que fez
cada nervo do meu corpo explodir de ódio.
— Abram a porta! É a polícia!
Naquele momento, soube que a deliciosa ideia de comer o cu
da minha mulher, naquela noite, havia escoado pelo ralo.
Maldição!
CAPÍTULO 4

CARLOS EDUARDO

— Abram a porta! É a polícia! — disse a voz grave em um


português arrastado, mas com sotaque havaiano bem carregado.
Quem inferno trouxe a polícia até aqui? Pensei, roxo de raiva,
enquanto saía de dentro de Beatriz, frustrado e ofegante.
— Cadu, eu ouvi direito? É a polícia? — questionou minha
pequena com os olhos arregalados, puxando os lençóis para
esconder a sua nudez.
— Parece que sim, princesa, mas não se preocupe. Irei
verificar. Deve ter sido algum mal-entendido.
Ela assentiu, assustada, e eu peguei o roupão, envolvendo o
meu corpo com o tecido felpudo. Caminhei apressadamente até a
porta, ansiando acabar logo com aquilo e voltar para os braços da
minha mulher. Contudo, não foi bem esse o feito que consegui
quando abri a porta.
— O que está acontecendo… — Tentei questionar, mas fui
barrado por uma dupla de policiais baixinhos, gorduchos e armados,
que apontavam suas armas na minha direção. Não tive alternativa a
não ser me calar, estático.
— Mãos para cima! O senhor está preso acusado de agressão
e tentativa de homicídio contra a sua acompanhante — disse um
deles, o mais rechonchudo, falando um português bem arrastado e
de difícil compreensão, apontando o revólver para a minha cabeça.
Automaticamente, levantei minhas mãos, sem fala,
imaginando que merda tinha acontecido com a cabeça daquelas
pessoas para pensar algo do tipo, sem me dar conta que eu havia
me esquecido de fechar o laço do roupão, enquanto analisava cada
detalhe daquela situação, no mínimo, constrangedora.
Dei um passo para trás, respirando descompassadamente de
nervoso, e foi quando vi uma senhora uniformizada logo atrás dos
policiais, com a mão em cima de algo parecido com um suporte,
contendo pratos, talheres e alguma outra coisa que supus ser o
jantar que Beatriz havia pedido.
Puta que pariu!
— Céus, o que aconteceu? — Ouvi os passos da minha
mulher logo atrás de mim, angustiada, e me movi na sua direção.
— Não se mexa! — ordenou o outro policial com um sotaque
mais marcante que o do outro homem, fazendo-me ficar imóvel.
— Senhora, não se preocupe. Você está a salvo agora! —
disse a velhinha de cara fechada e sotaque igualmente carregado,
aproximando-se um pouco mais. Seu português era um pouco
melhor que o do homem. — Graças a Deus ouvi tudo no momento
que trouxe o seu pedido e…
— Céus, não… Isso é um mal-entendido. Meu marido não
estava me agredindo, pelo amor de Deus! — bradou Beatriz, aflita,
chamando a atenção de todos para si.
— Mas eu ouvi a senhora gritando! Dizia que ele a mataria…
Foi então que, de repente, tudo começou a fazer sentido e eu
soltei o ar que prendia em meus pulmões, ainda sem saber se
explodia de raiva ou se gargalhava da situação. A verdade é que
comer uma bunda nunca havia dado tanto trabalho e gerado tantos
mal-entendidos. Eu já me perguntava se seria outra praga de Felipe.
Olhando para a minha esposa ao meu lado, senti meu
coração se apertar.
Suas bochechas estavam ainda mais coradas, indicando seu
embaraço e constrangimento, enquanto ela segurava o lençol com
toda a força em volta do seu corpo. Até mesmo os policiais a
encaravam, confusos. Imaginei o quão constrangedor era para minha
menina vivenciar e explicar aquela situação.
— Senhora, senhores… Eu e o meu esposo estamos em lua
de mel e nós estávamos fazendo amor. Entendem?
— Resumindo, ela estava me dando a parte de trás. —
concluí, antes que mais perguntas surgissem e eles prolongassem
aquela conversa.
No instante seguinte, fui alvo do olhar alarmado e furioso de
Beatriz, e de um sorriso cúmplice vindo dos policiais.
A velhinha me fitou chocada, arregalando os olhos
acinzentados. Provavelmente, me blasfemava internamente,
pensando que eu era um pervertido. Contudo, seu choque foi ainda
maior quando baixou os olhos e soltou um grito horrorizado, levando
a mão até a boca. Em seguida, fitou minha pequena e linda esposa
com o semblante preocupado.
— Coitadinha… — murmurou.
Segui o rumo que o seu olhar havia feito até o meu quadril e
senti todo o sangue fugir do meu corpo quando me dei conta de que
meu pau estava à mostra, semiereto. Parecia que tinha vida própria
quando balançava de um lado a outro sempre que eu me movia.
Merda!
Naquela noite, provavelmente seria mesmo preso, acusado de
agredir a minha esposa com o pau, ou de ter matado a velhinha de
infarto.
— Céus, me ajude! — Beatriz colocou a mão no rosto,
envergonhada, e eu fechei o roupão o mais rápido que pude.
No momento seguinte, ouvi o pigarro de um dos homens,
seguido do seu pronunciamento:
— Creio que o mal-entendido foi resolvido… — disse,
limpando a garganta para não sorrir. — Sinto muito pelo
constrangimento, senhor! Nossas sinceras desculpas.
Franzi o cenho, irritado, e balancei a cabeça em concordância.
A velha senhora caminhou até Beatriz, tão nervosa e pálida,
que pensei seriamente em ligar na emergência. Segurou sua mão,
pedindo-lhe desculpas e informando que conversaria com o gerente
do resort para que fôssemos recompensados com sessões gratuitas
no SPA devido ao grande engano. Eu ainda tinha a nítida sensação
de que ela não se simpatizava comigo.
Respirei fundo e segurei a porta, aguardando que saíssem.
Beatriz aceitou os pedidos de desculpas, tranquilizando a
mulher, mas recusou a oferta. A senhora caminhou até o corredor,
onde havia deixado o suporte com a nossa comida, e o trouxe para o
interior da suíte.
— É por conta da casa! — falou, nitidamente ressentida, e
logo depois saiu, sendo seguida pelos policiais.

BEATRIZ

Cadu fechou a porta do quarto e levou a mão até o pescoço,


enquanto me fitava, tenso. Eu queria matá-lo pelo que havia dito aos
policiais, queria pegar aquelas bolinhas que ele chamava de saco e
torcê-las até fazê-lo se ajoelhar no chão, pedindo-me perdão pela
vergonha que me fez passar.
Se não bastasse tudo, meu bumbum doía como nunca, ardia
como brasa a cada passo que eu dava no quarto. Tudo culpa do fogo
no rabo. Pensei, choramingando internamente. Não deveria ter dado
ouvidos aos desejos da cabeça de baixo dele. Ou melhor, não
deveria ter dado a bunda.
Os hormônios da gravidez estavam enlouquecendo-me. Eu só
pensava em sexo dia e noite, e foi por isso, por causa do desejo
incontrolável, que eu havia deixado Cadu enfiar aquele pênis enorme
na minha bunda. Agora, sofria as consequências do ato, e uma delas
seria passar uma semana sem conseguir me sentar direito. Não era
justo.
Tive vontade de chorar, de ir embora e deixá-lo ali sozinho
com aquele pau infernal.
Sentei-me na cama, irritada, segurando-me para não dar uns
tapas nele, mas, como ainda estava toda melada de saliva,
lubrificante e os próprios líquidos do meu corpo traidor, foi impossível
me manter quieta naquela posição. Eu precisava de um banho
urgentemente.
— Meu amor, você está bem? Está tão quieta! — perguntou
ele, aproximando-se. Sentou-se do meu lado e tocou o meu rosto.
Foi a deixa que eu precisava para juntar forças e me levantar
daquela cama. Empinei o nariz, disposta a ignorá-lo e nunca mais
cair em tentação. Deixei os lençóis caírem no chão, deixando o meu
corpo completamente nu, pois sabia que ele estaria olhando-me
cheio de tesão. No entanto, eu o deixaria sofrer, da mesma forma
que eu estava sofrendo.
Caminhei para o toalete apressadamente, passando em frente
a um dos enormes espelhos que estava acentuado ao lado da pia.
Dei alguns passos na direção do box, mas parei no meio do caminho
quando algo inusitado passou pela minha cabeça.
Respirando fundo, dei meia-volta e parei em frente ao meu
reflexo, observando o meu corpo esguio com algumas marcas de
mordidas e chupadas. Aquele homem era um demônio tarado! Falei
em meus próprios pensamentos.
Virei as costas, decidida a ir em frente e olhar o tamanho do
estrago. Devagar, virei o rosto na direção do espelho, levei as duas
mãos até o meu traseiro, empinando-o, e abri as bandas da minha
bunda.
O local estava avermelhado, com algumas marcas de sangue.
Quase deixei uma lágrima escapar pelos meus olhos quando percebi
que não havia sobrado nenhuma preguinha. Nem umazinha para
contar a história.
— Querida? O que está fazendo?
Meu coração deu um salto e eu soltei um grito, assustada,
quando meu marido se aproximou, fitando-me com as sobrancelhas
arqueadas e um sorriso presunçoso no rosto.
— Estava mesmo fazendo o que estou pensando, Bia? —
Sorriu.
Simplesmente não tinha como negar, pois ele havia visto cada
detalhe do que eu estava fazendo em frente ao espelho.
— Sim! — confessei, segurando o choro. Eu queria matar
aqueles hormônios que mudavam o meu estado de humor a todo
instante, deixando-me louca. — Você fez um rombo na minha bunda,
Cadu… — Solucei.
Percebi que seu semblante havia mudado de safado para
preocupado. Correu na minha direção e abaixou-se, deixando-me
confusa.
— Me deixe ver isso!
— O quê? Não! — protestei quando finalmente entendi o que
ele quis dizer, e o afastei, antes que ele enfiasse a fuça entre as
minhas pernas para ver meu estado caótico. — Nunca mais
permitirei que encoste esse pau monstruoso aí.
Atendendo ao meu apelo, Eduardo levantou-se e tocou o meu
rosto, envolvendo-me na sua teia predatória.
— Se Deus fez assim, é porque cabe direitinho, querida —
sussurrou.
Eu queria ter raiva, queria sentir ódio e desprezá-lo, mas,
naquele momento, precisei ser forte e me segurar para não explodir
em uma gargalhada.
Quando dei por mim, estava chorando e sorrindo, abraçada ao
meu marido ali, no centro do banheiro, enquanto ele acariciava os
meus ombros e costas.
— Eu ainda não sei como fui me apaixonar por um tarado
como você! — falei chorosa enquanto secava as minhas lágrimas
com uma parte do roupão dele.
Cadu gargalhou e se afastou do meu corpo, fitando-me com
aquele sorriso Colgate que me deixava derretida no chão, o olhar tão
azul e sereno que me arrancava suspiros sem perceber.
— Talvez tenha se apaixonado por mim exatamente por isso.
Balancei a cabeça, sem conseguir mais disfarçar um sorriso, e
curvei os lábios. Era bem provável que o meu olhar brilhava também.
— Eu amo você, meu pequeno anjo. E amo toda essa
bagunça que fez na minha vida. — Fitou-me, voltando a ficar sério, e
desceu o olhar pelo meu corpo, analisando os meus seios inchados,
parando no meu ventre.
Tocou minha barriga com tanta suavidade que senti os meus
pelos se arrepiarem, correspondendo à sua aproximação.
— E eu amo o nosso filho, nosso pequeno presente.
Minha respiração acelerou, o coração bombardeou forte. Eu o
amava cada segundo mais, desesperadamente. Nem sequer
consegui me afastar ou negar-lhe um beijo quando ele retirou o
roupão e agarrou o meu corpo, beijando-me com doçura.
Naquela noite, nós nos amamos apenas com toques,
declarações de amor e carícias. Não houve penetração, não teve
sexo bruto. Era apenas o amor que sentíamos um pelo outro, em
cada batida do coração, em cada respiração descompassada, em
cada toque eletrizante.
CAPÍTULO 5

BEATRIZ

Dias depois…
No momento em que coloquei os pés na plataforma, saindo
do avião e pisando em solo carioca novamente, o mundo começou a
girar à minha volta como um redemoinho. Meu estômago
embrulhava. Até mesmo o perfume e a loção pós-barba do meu
marido me davam ânsia de vômito.
Os enjoos da gravidez haviam começado tímidos, apenas um
leve desconforto no início da manhã, mas, nos últimos dias, haviam
se intensificado drasticamente, adiantando a nossa volta para o
Brasil e dando um fim à nossa tão sonhada lua de mel no Havaí.
Eduardo segurou na minha mão e seguimos na direção da
área do desembarque para pegarmos as nossas malas e finalmente
podermos ir para casa.
Minhas costas doíam, os pés estavam levemente inchados,
devido às várias horas que passei sentada, e a cabeça latejava
como nunca.
— Amor, espera! — pedi quando não consegui mais suportar
o mal-estar que havia se formado em meu estômago, parando no
meio do caminho.
— Está tudo bem?
Senti suas mãos me acalentando, firmando-me pela cintura.
— São os enjoos. A viagem só piorou as coisas.
Levantei minha cabeça para fitá-lo e presenciei seu olhar
preocupado analisando os detalhes do meu rosto com um misto de
aflição e ternura. Era como se ele sentisse medo, mas ao mesmo
tempo estivesse maravilhado com cada acontecimento.
— Eu sinto muito por isso… — falou, tocando o meu rosto. —
Não queria que você sofresse.
Sorri ao ouvir aquelas palavras vindas de alguém que tanto
significava para mim, sendo transmitidas por seus lábios e pelos
olhos oceânicos através das suas expressões apreensivas.
— Eu vou ficar bem — tranquilizei-o e segurei sua mão,
apertando a pele quente na minha. — Só preciso que você esteja ao
meu lado.
Cadu sorriu, passou a mão pela minha cintura e me guiou
novamente na direção do desembarque.
O mundo girou novamente quando dei um novo passo e o
estômago roncou de fome, mas a simples lembrança de um prato de
comida na minha frente fez a ânsia de vômito aumentar
consideravelmente.
A garganta inchou, a boca encheu de água e um gosto
amargo se instaurou na minha língua, causando uma sensação
sufocante.
Sem conseguir mais me segurar, procurei o banheiro mais
próximo e corri com toda pressa na direção do toalete indicado pela
placa. No entanto, apesar dos meus esforços, a vontade de vomitar
foi mais forte e eu parei em um canto do corredor. Encostei a
cabeça na parede e firmei as duas mãos ali, vomitando tudo o que
comi nas últimas horas.
— Bia? Meu Deus, você está passando muito mal…
— Cadu, por favor, saia daqui… Não quero que veja isso —
implorei, ofegante, tentando impedir que ele presenciasse toda
aquela sujeira que eu havia feito.
— Nem brinque com isso, menina. — Senti sua mão
pousando sobre a minha e ele me puxando para o lado. Ele me
afastou do vômito que escorria no chão, e eu quis morrer de
vergonha naquele momento.
— Não era para você ter visto isso.
Meus olhos lacrimejavam devido ao esforço que eu havia
feito, e eu mal conseguia me mover para olhá-lo.
— Sim, eu deveria. Você é a minha esposa, Beatriz. Tudo o
que se passa com você e com nosso filho é também do meu
interesse.
Assenti ainda desconcertada, mas não tive outra escolha a
não ser aceitar o inevitável. Éramos nós três agora. Em qualquer
situação, em todos os momentos.
— Vem, eu te levo até o banheiro para lavar o rosto.
Dizendo isso, meu marido me ergueu em seus braços fortes,
forçando-me a passar as mãos pelo seu pescoço, e me levou até o
toalete feminino, entrando porta adentro sem se importar com os
olhares curiosos e chocados.
— Cadu, você não existe — falei, disfarçando o riso,
enquanto escondia o rosto na maciez da sua camisa.
— Na saúde e na doença, lembra? Deveria saber disso
quando me seduziu descaradamente, menina.
— Eu não te seduzi! — rebati cinicamente. — Você que é um
safado e me engravidou.
Ele me colocou no chão em frente ao lavatório, aguardou que
eu lavasse o rosto e a boca e, quando me virei, deparei-me com seu
sorriso provocador, enquanto me analisava com atenção.
— Eu não fiz esse bebê sozinho, querida. Foi você que abriu
essas lindas perninhas por livre e espontânea vontade e deu a
bocetinha para mim — sussurrou sorridente, fazendo minhas
bochechas corarem.
Balancei a cabeça, sentindo as forças se renovarem em meu
organismo, e retirei uma mecha de cabelo que caía em cima dos
meus olhos, imaginando o quanto a minha vida havia mudado.
Meu Deus… Eu era uma mulher casada. Iria ser mãe aos dezenove
anos. Aquilo me assustava de uma forma enlouquecedora, mas eu
sabia que independentemente de tudo, o Cadu estaria comigo,
protegendo-me e me aquecendo em seus braços, não importando o
que acontecesse.
— Está melhor? — perguntou e me puxou para si.
— Sim. Vamos…
Segurei sua mão e seguimos em frente, enquanto éramos
alvos dos mais diversos olhares e sorrisos espontâneos das
mulheres que estavam ali suspirando pelo meu marido.

Acordei no dia seguinte sentindo meu corpo quebrado e


ainda cansado devido à viagem longa e exaustiva.
Senti a respiração do meu marido no meu pescoço e o corpo
quente colado nas minhas costas, completamente nu da cintura
para cima. Pelo ritmo profundo da sua respiração, presumi que ele
estivesse mergulhado em um sono pesado e tranquilo. A mão
protetora envolvia o meu ventre, quase me esmagando contra o seu
corpo.
Movi-me devagar para não o acordar, retirei sua mão da
minha barriga e me levantei quase correndo para não fazer xixi na
calcinha.

Quando retornei ao quarto, parei ao lado da porta, cruzei os


braços e fiquei observando-o dormir.
Cadu havia virado na cama, ficando com a barriga para cima.
Seu abdômen subia e descia lentamente, e o lençol tampava
somente até a virilha, deixando os músculos daquela região em
evidência.
Dei um passo na direção da cama e sentei-me ao seu lado,
olhando os detalhes do seu corpo. Estava um pouco frio naquela
hora da manhã e isso refletia nos pelos arrepiados do seu corpo. No
entanto, seu sono parecia profundo. Eu não poderia tirar a sua
razão. Ele estava cansado, pois a viagem de volta para o Brasil
tinha sido longa e exaustiva.
Percebi que meu marido franziu a testa e gemeu, fazendo
uma expressão que o deixava deliciosamente sexy. Parecia que ele
sonhava com algo…
Desci o olhar, passando pela sombra da barba, pelos ombros e peito
fortes, pelo caminho de pelos escuros que trilhava seu abdômen e
sumia debaixo dos lençóis brancos. Notei que um volume
considerável havia se formado naquela região e aquilo aguçou os
meus sentidos de uma forma assustadora. De repente, senti minha
boca encher de água e uma vontade insana me tomou.
Minha língua desejou com toda força sentir a textura e o
sabor que somente uma região específica do corpo do meu marido
poderia me proporcionar.
Engoli a saliva ofegante, mal podendo acreditar que eu
estava sentindo desejo. Não um desejo comum ou tesão, mas um
desejo irresistível que somente uma mulher grávida poderia
entender. Eu ansiava por aquilo. Desejei desesperadamente sentir o
gosto do pau e do sêmen do Cadu na minha boca.
Aquilo era insano…
Céus, eu deveria estar louca! Até porque nunca gostei muito
daquela textura pegajosa na minha boca, muito menos no café da
manhã. Mas, naquele momento, eu queria. Queria muito. Minha
língua pingava saliva só de imaginar o gosto do meu homem.
Devagar, puxei o lençol do seu quadril, revelando a cueca
boxer preta, e arregalei os olhos, surpresa com o quanto o pau dele
estava duro sob o tecido. Ouvi outro gemido rouco escapar da sua
garganta e, desta vez, tive certeza de que ele estava sonhando com
sexo.
— Bia… — murmurou, mas não abriu os olhos e nem deu
sinal que estava acordado. Mordi os lábios e sorri em seguida,
contente com a nova descoberta.
Talvez não fosse tão insano assim chupar o pau do meu
esposo enquanto ele dormia, afinal, ele estava sonhando que me
comia, o cretino.
Com cuidado, segurei o elástico da sua cueca e desci o
tecido até abaixo das bolas pesadas, bem devagar para evitar que
ele acordasse e me pegasse fazendo arte. O pau saltou para fora,
tão comprido e grosso que senti uma fisgada entre as pernas.
Aquele era mais um dos sintomas da minha gravidez… Os
hormônios estavam loucos e minha libido aumentava de forma
enlouquecedora a cada dia que passava.
Segurei aquele pedaço de carne quente, rochoso e rodeado de
veias altas em minha mão e massageei a pele aveludada. Minha
boca babou quando olhei a cabeça vermelha e percebi que um
líquido transparente saía do pequeno canal. Coloquei a língua para
fora, quase prendendo a minha respiração para não o acordar de
repente, e toquei a ponta naquele mel. Ondas de prazer me
consumiram quando senti o gosto salgado e excitante.
Abri a boca, incapaz de resistir a todas aquelas sensações, e
envolvi a cabeça grossa completamente, passando a língua em
volta e chupando com gosto, quase gemendo com o quanto era
gostoso. Engoli mais, dando lambidas estaladas e molhadas,
deliciando-me naquele pau melado.
Ouvi a respiração dele acelerar, mas não me importei em
interromper o que eu fazia. Eu já estava completamente envolvida e
louca para saciar o meu desejo. Lembrei-me de minha melhor amiga
Gracy comentar certa vez que os homens amavam serem
acordados com sexo oral pelas suas parceiras.
Cadu gemeu e seu pênis latejou em minha boca. Senti seu
corpo tremer e levantei minha cabeça para fitá-lo, deparando-me
com o momento em que ele abriu os olhos, desnorteado, e por
instinto empurrou o quadril, enfiando o pau no fundo da minha
garganta.
— Bia, querida… Caralho… — Ofegou, fora de si.
Aquela arremetida me pegou completamente desprevenida e
eu engasguei. Não conseguia tomá-lo todo até a minha garganta,
pois Cadu era grande demais.
Tudo aconteceu tão rápido que mal consegui processar todos
os acontecimentos daquele segundo devastador.
A ânsia de vômito veio forte quando o primeiro jato do seu
esperma golpeou o fundo da minha garganta, deixando-me
entalada.
Afastei-me rapidamente e libertei o pênis dele dos meus
lábios para puxar o ar. No entanto, nada seria capaz de me preparar
para a chuva de esperma que eu receberia no rosto, principalmente
na entrada direita do meu nariz e olho.
Céus! Levei a mão ao meu rosto e tossi fortemente quase
sem fôlego enquanto o Cadu tentava se levantar da cama para vir
ao meu socorro. Entretanto, as ondas do orgasmo o impedia de se
levantar e tive vontade de estapeá-lo quando ele revirou os olhos,
ainda gozando. Cachorro!
— Bia, amor, perdão… Eu estava dormindo. Porra! Garota, o
que você estava fazendo? — bradou após alguns segundos e se
colocou de pé. Aproximou-se e deu um tapinha nas minhas costas
para me ajudar a desentalar.
Pelo tom da sua voz, supus que ele estava preocupado e ao
mesmo tempo irritado.
— Água… — murmurei, apontando na direção do frigobar em
meio à crise de tosse, e tranquei os dois olhos.
Tentei abrir as pálpebras novamente quando ele se afastou
para pegar a água, mas o olho ardia insistentemente e o líquido
gosmento escorria, deixando meu desejo de lado, dando lugar à
vontade de vomitar.
— Aqui, amor. Beba! — Pegou minha mão e guiou o copo até
a minha boca, fazendo-me tomar um gole. — Você está uma
gracinha com toda essa porra escorrendo pelo rosto.
Bufei quando ele sorriu e segurou o meu queixo. Usei a mão
para manter o olho direito fechado e abri o outro para encará-lo.
— Você quase me matou entalada, Cadu… — reclamei e
devolvi-lhe o copo. Em seguida, segui na direção do banheiro para
lavar o rosto.
Cadu me acompanhou até a pia e aguardou que eu
terminasse. Quando tive certeza de que não restava mais nenhum
vestígio de esperma no meu rosto, sequei-me com o auxílio de uma
toalha macia e voltei a fitá-lo com a sobrancelha arqueada.
— Eu sinto muito por isso…— Desculpou-se e me puxou pela
cintura, colando o meu corpo ao dele. Coberto apenas com o tecido
da cueca, aproximou a boca do meu ouvido e disse: — Eu estava
sonhando com a gente, Bia. Estava tão gostoso que não consegui
controlar a reação natural do meu corpo ao abrir os olhos e ver
minha esposa chupando o meu pau. Foi demais para mim.
— Cretino… Eu poderia ter morrido, sabia? — dramatizei.
Ele gargalhou e me apertou mais.
— Ninguém morre com um pouquinho de esperma na
garganta, minha linda.
Passei minhas mãos pelo seu pescoço, pendurando-me no
seu ombro, e sorri, relembrando cada momento da loucura que eu
havia feito.
Malditos desejos de grávida…
Nossos risos transformaram-se em gargalhadas, e minha
barriga já doía quando precisei correr até o vaso sanitário para jogar
toda a água que eu havia tomado para fora. Água e mais uma
coisinha…
Meu marido continuou ao meu lado em cada momento
constrangedor e agoniante. Foi inevitável tentar afastá-lo quando
mais uma ânsia me atingiu e abaixei a cabeça na direção do vaso
para vomitar. O Cadu manteve-se impassível em não me deixar
passar por tudo aquilo sozinha.
Assim que me senti melhor, ele me carregou em seus braços e me
colocou sentada dentro da banheira. Tirou a fina camisola branca
que eu usava e deslizou minha calcinha de vovó pelas minhas
pernas, deixando-me completamente nua. Olhou com curiosidade
para o tecido cinza de algodão em suas mãos e em seguida me fitou
com o semblante divertido.
Minhas bochechas coraram. Eu nem ao menos me recordava
da peça íntima que havia vestido durante a noite, assim que
tomamos banho após chegarmos de viagem. Só queria ter uma
noite tranquila e confortável, então acabei pegando qualquer coisa
no guarda-roupa.
— Por favor, finja que não me viu vestindo isso. — Arranquei
a peça horrorosa da sua mão e joguei longe.
Com certeza, eu era a última na fila das esposas sexies
naquele momento.
Ele sorriu e se afastou para abrir a torneira. Em seguida,
retirou a cueca e entrou na água morna, puxando-me para me
sentar no seu colo, colocando as minhas pernas em cada lado do
seu corpo. Ofeguei ao ser esmagada dentro do seu abraço, pousei a
mão em seu peito e senti meu coração bombardear forte ao fitar seu
olhar brilhante e apaixonado.
Suspirei…
— Você é linda! — disse com um sorriso presunçoso nos
lábios e deu um beijo na ponta do meu nariz. — Mesmo usando
uma calcinha idêntica às da minha falecida avó.
Gargalhei e o abracei mais forte, tendo a certeza de que o
amor que eu sentia por aquele homem crescia descontroladamente
a cada segundo que se passava.
CAPÍTULO 6

CARLOS EDUARDO

Algumas horas depois, estávamos entrando na casa dos pais


de Beatriz. Karine nos recebeu na porta com entusiasmo, e o Felipe,
apesar da carranca que fez quando me viu, compartilhava da mesma
alegria que a esposa.
Entramos e nos acomodamos na sala de visitas após os
cumprimentos e abraços calorosos. Karine e Felipe sentaram-se na
poltrona à nossa frente, de mãos dadas e sorrisos de orelha a orelha.
Franzi a testa, observando-os desconfiado, sem conseguir
compreender o que de fato tinha acontecido para os dois estarem tão
felizes. Felipe foi quem mais me intrigou naquele momento. Por mais
incrível que a situação pudesse ser, era o mais sorridente de todos
os presentes no ambiente.
— Filha, estou tão feliz em ver vocês — disse Karine,
sorrindo, enquanto acariciava a mão de Felipe entre as suas. — Me
conte tudo. Como foi a viagem?
Beatriz sorriu, colocou uma mecha do cabelo brilhante atrás
da orelha e suspirou.
— Foi maravilhoso, mamãe. — Sorri ao sentir as mãos
quentes da minha menina massageando o meu braço por cima da
camisa social. — O Havaí é lindo e o Cadu… — Olhou na minha
direção. — É o melhor marido do mundo.
— Linda… — Toquei o seu rosto e acariciei seu pequeno
queixo até ser interrompido por um pigarro vindo de Felipe.
Desconectei nossos olhares e me recompus, fitando o
homem. Foi um breve momento, mas consegui ver seu olhar
ameaçador antes de ele disfarçar com um sorriso forçado. Ao menos
estava tentando me engolir, isso já era um bom sinal.
— Querida, seu olho está vermelho? O que aconteceu? —
questionou sua mãe ao fitar Beatriz novamente.
As bochechas da minha menina coraram.
Meus lábios se curvaram sorridentes e um leve inchaço no
pau me fez arrumar a barra da camisa por cima do cós da calça. A
lembrança do que havia deixado o olho da minha esposa vermelho
me excitou, e eu não senti um pingo de remorso.
A danadinha quase me matou pela manhã ao me acordar com
um boquete delicioso.
— É mesmo, querida, o que aconteceu com seu olho? Eu não
havia visto — provoquei.
Ela me fitou com os olhos arregalados e franziu a testa. Senti
suas unhas apertarem e machucarem a carne do meu braço, o que
me fez suspirar um pouco mais, imaginando os arranhões que ela
deixou nos meus ombros algumas vezes quando fizemos amor.
Beatriz era tão linda e sexy que meu fôlego falhava sempre
que eu a fitava.
Como eu amava aquela pequena encrenqueira.
— Imagino que tenha sido o xampu quando lavou os cabelos
hoje pela manhã, estou certo? — falei.
— Ah sim… — mentiu, voltando-se para a mãe. — Foi o
xampu. Mas enfim, me contem logo o motivo de tanta alegria! Eu
nunca vi vocês tão felizes! — desconversou.
Karine abriu o sorriso novamente, e Felipe a acompanhou,
passando os braços nas costas da esposa.
— Querida, você vai ter um irmãozinho, ou irmãzinha. Eu
estou grávida!
Arregalei os olhos, surpreso, e fitei os dois. Felipe sorriu de
lado, e Beatriz abriu um “O" com a boca.
— Oh, meu Deus! Não posso acreditar. — Levantou-se e
caminhou até sua mãe, abraçando-a. — Nada poderia me fazer mais
feliz.
Em seguida, abraçou o Felipe.
— Isso explica por que estavam se comportando de forma tão
estranha. — Bia voltou a se sentar do meu lado e continuou: — Por
que não nos disse antes?
— Queríamos esperar o retorno de vocês. Eu só confirmei
depois que vocês viajaram. Naqueles dias, eu e seu pai tivemos um
pequeno desentendimento, então não quis preocupá-los vocês —
explicou Karine.
— Não foi um pequeno desentendimento Karine —
interrompeu Felipe, fitando a esposa. — Você saiu de casa logo após
jogar a notícia na minha cara. Quase fiquei louco.
A mulher sorriu discretamente, e Beatriz os encarou com os
olhos arregalados de confusão.
— Não seja tão dramático, querido. Só quis te dar uma lição
— disse, massageando o braço do marido.
— Mamãe, por que saiu de casa? — questionou Beatriz.
Karine suspirou, encarou o marido brevemente e em seguida
respondeu:
— Foi na noite do seu casamento, filha. Eu não poderia
compactuar com a vergonha que esse teimoso nos fez passar, então
saí de casa.
Encarei Felipe, surpreso com a revelação de Karine, mas o
homem desviou o olhar para o chão, respirando profundamente. Era
visível que ele estava incomodado e ainda magoado com os
acontecimentos.
— Querido, não vai dizer nada? — Karine perguntou.
O homem encarou a filha por alguns segundos e logo depois
dirigiu a atenção para mim. Os olhos escuros me analisaram com
atenção, sérios, como se quisessem ler os pensamentos que
vagueavam pela minha mente. Após alguns segundos, perguntou:
— Posso falar com você um momento? Em particular.
Arqueei a sobrancelha, mas assenti e o segui na direção da
cozinha. Puxei uma cadeira em volta da mesa e me sentei.
— Diga, Felipe.
Enquanto eu aguardava o homem abrir a boca, Felipe pegou
dois copos e nos serviu com uma dose de uísque. Sentou-se à
minha frente e tomou um gole da bebida antes de começar a falar:
— Eu não sei se algum dia poderei te perdoar pelo que você
fez, Eduardo. — Suspirou. — Mas, uma coisa é certa: Beatriz ama
você de todo o coração e eu não posso e nem irei mais interferir na
felicidade da minha filha. — Cruzou as mãos em cima da mesa e
continuou, mantendo a atenção focada no meu rosto. — Estou
disposto a colocar uma pedra no que passou para vivermos em
harmonia.
Soltei o ar que prendia em meus pulmões, sentindo-me
aliviado por ouvir aquelas palavras, e assenti.
— Por favor, não magoe a minha filha. Nunca! Ela é uma boa
menina.
— Eu jamais magoaria a Bia, Felipe. Ela é a minha vida —
respondi, sendo o mais sincero possível.
Eu amava aquela mulher, mais do que algum dia achei
possível amar alguém. Ele balançou a cabeça em concordância.
— Quero pedir desculpas pelo que aconteceu no dia do
casamento de vocês. Eu fiquei fora de mim quando soube que ela
estava grávida e não raciocinei direito. Sei que não tem como
consertar o que aconteceu, mas…
— Eu entendo — interrompi-o. — Talvez eu tenha merecido
aquele soco. Sempre soube o quão protetor você era com ela e,
mesmo assim, me deixei levar pelo desejo e amor que sentia, e
acabei a engravidando. Faria o mesmo se fosse com a minha filha.
Felipe assentiu mais uma vez e eu estendi a mão, aceitando
as suas desculpas e deixando nossas diferenças de lado.
— Amigos?— perguntei confiante.
— Não seja tão otimista, Ferraz! — advertiu, curvando os
lábios sutilmente, e apertou a minha mão.
— Parabéns pelo bebê. É nítida a felicidade que estão
compartilhando. Me sinto da mesma maneira.
Os olhos de Felipe brilharam, e ele se afastou um pouco,
levando a mão até a barba.
— Eu não esperava por essa. — Sorriu descontraído. — Mas
já amo tanto aquele garoto que nem consigo disfarçar o sorriso.
Franzi a testa quando ele enfatizou “garoto” e precisei me
segurar ao máximo para não gargalhar.
— Garoto? Não é cedo demais para saber o sexo?
— Eu sinto que será um menino.
— E se for uma menininha? — questionei de forma
provocativa, vendo o homem fechar a expressão.
— Deus não faria isso comigo. Já paguei todos os meus
pecados aqui na terra.
Gargalhei e peguei o copo à minha frente para tomar um gole.
A bebida desceu queimando, mas não desfez o sorriso que eu
carregava no rosto.

Alguns meses depois…

Dentro do consultório médico, senti minha testa suar quando


segurei a mão de Beatriz e observei a médica levantar sua blusa e
passar o gel condutor para realizar mais uma ultrassonografia. Na
última que ela fez, apesar de ter nos deixado tranquilos com relação
à saúde do bebê, não foi possível identificar o sexo devido à posição
desfavorável que ele se encontrava.
— Vou ter um ataque de ansiedade, linda… — sussurrei e
acariciei o rosto da minha mulher.
— Está com medo de que seja uma menina? — questionou
com olhar aflito.
Beatriz sabia o quanto eu era ciumento e a sufocava com meu
senso de proteção exagerado. Sabia que isso também se estendia
ao nosso filho ou filha. Mas, apesar do aperto no peito em imaginar
minha filha relacionando-se com algum marmanjo, a ideia de segurar
uma princesinha com os olhos dela em meus braços me acalentou e
eu sorri. Porra, eu amaria ter uma mini Bia como filha, da mesma
forma que seria incrível segurar um garotão.
— Não, o sexo não importa. — Ela fungou emocionada pelo
momento, mas não permitiu que uma lágrima caísse.
— Estamos quase lá — disse a médica, passando o aparelho
no ventre da minha esposa. — Aqui está o bebê!
Olhei a tela congelada do monitor, ansioso para ver o que me
aguardava, e senti meu coração acelerar quando ela circulou uma
pequena área na tela.
— O rostinho… — A médica curvou os lábios, espantada, e
nos fitou. — O bebê está sorrindo.
Lágrimas escaparam dos olhos de Beatriz, e meu coração
bombardeou com força. O meu bebê estava ali, saudável, crescendo
tão forte quanto um touro. Apertei a mão dela um pouco mais.
— E o sexo? Já consegue ver? — perguntou Beatriz.
— Só um momento. Estou quase lá — respondeu a médica.
Longos minutos se passaram enquanto ela analisava cada
pequeno centímetro do ventre da minha esposa, olhando
minuciosamente os detalhes do bebê.
— Consegui! — Sorriu e fez outro pequeno círculo na tela. —
Conseguem ver?
Fitei a tela por alguns instantes, mas não consegui identificar
absolutamente nada, exceto um ponto mais escuro. Como se
adivinhasse o que se passava na minha cabeça, a mulher congelou
a tela mais uma vez e virou-se na nossa direção:
— É um forte e saudável menino. Parabéns, papais!
Senti meu peito inchar com a revelação dela e a respiração
falhou. Curvei-me e abracei Beatriz com força, tocando os lábios nos
seus, emocionado.
— Obrigado, querida — sussurrei em sua boca. — Obrigado
por toda a bagunça que fez na minha vida. Nunca fui tão feliz.
Ela me abraçou forte e aninhou a cabeça no meu ombro
enquanto sorria e chorava ao mesmo tempo.
— Nós vamos ter um príncipe, Cadu. Meu Deus, como sou
grata…
Afastei o suficiente para encará-la e sequei as lágrimas que
escorriam dos olhos esverdeados. Em seguida, voltei a beijá-la,
ignorando a presença da médica na sala.
— Com licença… — Soltei os lábios de Beatriz e voltei a me
ajeitar na cadeira, voltando a prestar atenção na médica.
A mulher de jaleco branco sorriu um pouco constrangida e
sentou-se atrás da sua mesa com uma ficha em mãos.
— Preciso fazer algumas perguntas com relação ao parto. É
importante que, de agora em diante, vocês conversem e decidam se
irão optar pelo parto normal ou uma cesariana.
— Normal… — disse Beatriz ao mesmo tempo em que eu abri
a boca.
— Cesariana… — falei e virei na direção dela. — Bia, já
conversamos sobre isso. Não quero que sofra.
Ela balançou a cabeça, um pouco irritada, e respondeu:
— Sim, Cadu, já conversamos sobre isso e eu deixei claro o
meu desejo de ter parto normal.
Fechei os punhos, contrariado com a teimosia dela, e analisei
o corpo pequeno e a barriga protuberante. Aquilo com certeza não
funcionaria. Diabos! Xinguei mentalmente ao imaginar pelo que ela
teria que passar para ter o meu filho e me peguei fitando sua virilha.
— Bia, você é muito pequena. Não vai caber um bebê aí.
Suas bochechas ficaram levemente avermelhadas, e ela
fechou a expressão, ficando constrangida e irritada. Foda-se. Ela mal
conseguia receber o meu pau todo, como iria dar a luz a um Ferraz?
Eu havia nascido com quase cinco quilos.
Ouvi o sorriso discreto da médica e me virei, sentindo o olhar
bravo de Beatriz queimando-me antes de se virar também.
— Não se preocupe, senhor Ferraz. Sua esposa é
perfeitamente capaz de ter um bebê por parto normal.
— Está decidido. Eu quero parto normal. Cadu, não adianta
tentar me fazer mudar de ideia, pois minha decisão já está tomada.
A médica assentiu e fez algumas anotações na ficha.
— Já decidiu se o seu esposo vai poder estar com você na
hora do parto? Ele pode assistir se você quiser — perguntou a
médica.
— Eu acho que não seria uma boa ideia… — Beatriz tentou
dizer, mas eu a interrompi, irritado.
— Claro que eu vou assistir. Nem morto perderei o
nascimento do nosso filho, Beatriz.
— Cadu, por favor, não quero que você esteja olhando
quando…
— Não vou sair do seu lado, menina — afirmei. — Quero estar
lá quando nosso filho nascer, para te abraçar quando você sentir dor.
Ela suspirou contrariada, mas assentiu, fazendo com que eu
me acalmasse um pouco.
— Tudo bem, mas você está proibido de olhar lá embaixo,
OK?
A médica sorriu mais uma vez e prescreveu mais algumas
vitaminas para Beatriz. Fez algumas anotações e nos dispensou da
consulta.
Felipe, Karine, minha mãe e Gracy, a melhor amiga de Beatriz,
nos aguardavam na sala de espera da clínica. Todos se levantaram e
quase correram na nossa direção para saberem da novidade.
Felipe ainda estava ranzinza após descobrir que a mulher
teria gêmeos, um menino e uma menina, e em nenhum momento fez
questão de esconder o desejo de que meu herdeiro fosse uma
garotinha. Segundo ele, eu teria que pagar aqui na Terra pelos meus
pecados.
Sinto muito, amigo. Não será desta vez!
Sorri de lado, passando a mão na cintura da minha mulher, e
a trouxe mais para mim.
— E então? É menina ou menino? — perguntou Gracy,
eufórica.
Os outros na sala nos fitaram ansiosos, mas eu fiz questão de
olhar nos olhos de Felipe quando respondi:
— É um menino. — Sorri.
— Merda! — respondeu ele, ranzinza.
Karine abraçou o marido, sorrindo do seu descontentamento,
e minha mãe se aproximou de Beatriz para acariciar sua barriga.
Seus olhos não negavam o quanto ela estava feliz.
— Parabéns, amiga… — disse Gracy. — Dois Ferraz para
chamar de seu não é para qualquer uma, não.
Todos sorriram e se aproximaram mais para nos parabenizar e
acariciar o ventre da minha mulher, quase esmagando-nos em um
abraço de família.
CAPÍTULO 7

CARLOS EDUARDO

Quando me sentei na cama, passei a mão pelo rosto e


deslizei até o pescoço, tenso. A noite havia sido uma merda e eu me
sentia um fodido. Pela primeira vez em meses, havíamos brigado
por uma besteira.
Olhei para ela dormindo encolhida na pontinha da cama, com
as mãos em volta da barriga, e suspirei. Beatriz não entendia o
quanto era difícil para mim permitir que ela continuasse
frequentando a faculdade e voluntariando-se em projetos de
proteção ambiental a essa altura da sua gravidez.
E se ela se machucasse de alguma forma? Poderia esbarrar
em alguém nos corredores e machucar o bebê. Ou pior, poderia se
desequilibrar e cair. Eu morreria se uma merda dessas acontecesse.
Minha vontade era largar tudo e segui-la para todos os lados
que ela fosse. De preferência, eu a carregaria em meus braços para
não correr riscos, mas a mulher era a teimosia em pessoa. Segundo
Bia, gravidez não era doença e ela estava bem e saudável para
seguir com suas tarefas sem a necessidade de ter a mim ou a
qualquer pessoa como babá.
Diabos!
Ninguém havia me avisado que as mulheres grávidas eram
tão teimosas. Eu iria acabar enlouquecendo pendurado no celular o
dia inteiro para saber como ela estava, ou se sentia alguma dor. Até
o final dessa gravidez, eu já não estaria mais lúcido pelo tanto de
preocupação.
Deixei Beatriz dormindo e me levantei para tomar um banho
para ir à empresa. Lavei-me rapidamente da cabeça aos pés, me
sequei e vesti uma roupa formal; uma camisa social branca e um
terno azul escuro, combinando com a gravata preta.
Eu teria uma importante reunião naquela manhã e, depois de
fechar os contratos, passaria o dia enfiado dentro do escritório
resolvendo problemas.
Depois de pronto, aproximei-me dela, beijei o seu rosto e
desci até a altura da barriga coberta pelo tecido fino do baby doll
preto. Beatriz se mexeu, tirando a mão do ventre, mas não acordou.
Levantei a blusa devagar para não a despertar e toquei a
ondulação do seu ventre suavemente, sentindo-me orgulhoso.
Surpreendi-me ao ver que o bebê havia formado um pequeno
montinho na parte mais alta da sua barriga. Aquela região estava
mais quente do que o restante do seu corpo.
Ele se mexeu e eu sorri. Meu coração dava saltos de
felicidade ao imaginar que havia sido eu o homem que colocou
aquele bebê ali. Beatriz carregava a minha criança, uma parte do
meu corpo dentro dela.
Minha… Meus… A minha família…
Beijei sua barriga de leve, demorando-me no local que ele
havia chutado, e saí.

O dia havia passado depressa enquanto me mantinha


concentrado de frente para o computador. A reunião mais cedo,
apesar do atraso, foi um grande sucesso. Mais um contrato
milionário havia sido assinado.
Retirei o paletó quente que me sufocava e peguei o celular
para ligar para Beatriz. Bufei irritado quando a chamada caiu na
caixa de mensagens pela terceira vez.
Durante todo o dia, ela apenas me respondeu uma
mensagem informando que estavam bem e que eu não precisava
ligar a cada meia hora, deixando-me louco de preocupação. Precisei
entrar em contato com a sua amiga para que me informasse sobre o
andamento das coisas enquanto estavam na faculdade.
Olhei as horas no relógio em meu pulso, constatando que já
estava um pouco tarde, comparado ao horário em que eu retornava
para casa todos os dias.
Arquivei alguns relatórios que a secretária havia enviado e
desliguei o computador, pronto para ir para casa. Só queria me
perder no calor do corpo da minha esposa. Isso se ela ainda não
estivesse chateada com as minhas exigências, pois, do contrário, eu
dormiria de pau duro de novo. Suspirei.
Já havia recolhido os meus pertences e me levantado quando
a secretária informou que eu tinha uma visita urgente e inadiável.
Como ela havia dito que seria rápido, decidi atender e aguardei.
Minutos depois, a porta foi aberta e uma mulher entrou,
caminhando firmemente na minha direção. Não foi preciso muito
para que eu pudesse reconhecê-la. Os cabelos estavam um pouco
mais escuros, e a aparência estava mais madura e elegante. O
olhar amendoado continuava o mesmo; lembrava-me descrença e
traição.
— Cadu? Uau… Quanto tempo! — disse assim que se
aproximou da minha mesa.
— Vivian… — Levantei-me, arrumando o relógio no pulso, e
dei a volta, caminhando na sua direção. Parei a alguns metros de
distância.
Fitei a mulher com atenção, analisando seus movimentos
enquanto ela inspecionava o lugar, admirada. Estava surpreso por
ela estar justo ali no meu escritório, pois não imaginei que voltaria a
vê-la tão cedo, muito menos no meu local de trabalho.
— Então agora você é o CEO! Não pensei que voltaria atrás
na sua decisão de não viver na sombra do seu pai.
Ergui uma sobrancelha, quase me perguntando se ela estava
em seu juízo perfeito.
— O que faz aqui? — questionei sem muita educação.
Estava ansioso para retornar para casa.
— Oh, perdão… Não quis dizer nada que o ofendesse. Só
fiquei… surpresa. — Deu um passo na minha direção.
— Não se preocupe com isso — respondi de forma neutra e
calma.
A verdade é que essa não era a reação que eu esperava ter
se algum dia voltasse a ver a mulher que destruiu a minha vida no
passado. A mulher que eu amei e dei tudo, mas que me traiu
descaradamente na minha própria cama.
Pensei que, quando esse dia chegasse, eu sentiria raiva,
rancor, amargura ou ódio, mas não. Quando vi aquele olhar tão
vívido na minha frente, não senti absolutamente nada. Era como se
Vivian nunca tivesse existido, muito menos feito parte da minha
vida. Era como se ela fosse apenas uma desconhecida.
— Você continua tão bonito… — disse, aproximando-se mais
um pouco.
— Obrigado — respondi de forma direta, seco.
A mulher suspirou e continuou encarando-me. Percebi que
ela queria dizer algo, mas ponderou, mordiscando o lábio.
— Deseja mais alguma coisa? — perguntei um pouco
impaciente.
Ela puxou o ar fortemente e segurou a alça da bolsa com
mais força. Suas mãos tremiam.
— Eu… pensei que poderíamos tomar um café para
conversarmos um pouco. Em nome dos velhos tempos. — Sorriu.
Um sorriso tímido que não chegava aos seus olhos.
Cruzei os braços na frente do corpo enquanto me recostava
na mesa e respondi:
— Eu acho que isso não será possível. Estou indo para casa
agora.
— Ah… Desculpe, não quis te atrapalhar. — Desviou o olhar
brevemente e, em seguida, estendeu-me a mão. — Foi um prazer te
rever.
Assenti, sério, e apertei sua mão, deixando claro que eu não
carregava nenhum ressentimento do passado. Beatriz havia
preenchido todas aquelas lacunas com amor.
Com um olhar triste, Vivian virou-me as costas e caminhou na
direção da porta, mas parou antes de abri-la e voltou a me fitar.
— Cadu… Sinto muito pelo o que aconteceu no passado —
disse e esperou uma resposta.
No entanto, eu não respondi. Não havia o que dizer. Apenas
esperei que ela entendesse o meu silêncio como um “adeus”.
— Eu sempre te acompanhei pela TV e pelas revistas de
fofoca. Nunca consegui esquecer.
Balancei a cabeça e sorri sarcástico, fazendo a mulher
interromper a fala. Naquele momento, eu senti nojo e desprezo.
— Se me acompanha pelas mídias, sabe que agora sou um
homem casado, com um filho a caminho. Eu amo a minha esposa,
Vivian.
— Nós fomos noivos. Isso não significa mais nada? —
perguntou esperançosa.
Sorri incrédulo, tendo a certeza de que ela precisava de um
psiquiatra urgentemente.
— Se quer saber a verdade… — Descruzei os meus braços e
voltei a pegar as minhas coisas, preparando-me para sair enquanto
falava. — Você não passa de uma desconhecida para mim. Pensei
que quando voltasse a vê-la, eu reviveria aquele dia com raiva, mas
pelo contrário… Não senti nada. Minha esposa não deixou nenhum
espaço no meu peito para que eu pudesse te odiar. Agora, só estou
ansioso para chegar em casa e vê-la.
A mulher arregalou os olhos e abriu a boca, incrédula, mas
não disse uma única palavra. Assentiu e voltou a abrir a porta,
saindo em seguida.
Que merda tinha sido aquilo? Perguntei-me ao caminhar na
direção do elevador.
De uma coisa eu estava certo: o passado estava para sempre
enterrado. A única coisa que me importava era o presente e o futuro
ao lado da minha família.

Cheguei em casa uma hora mais tarde, quando finalmente


consegui sair do trânsito. Estava com saudades de Beatriz, mas
também estava puto de nervosismo e preocupação por ela ter me
ignorado o dia inteiro.
Deixei o carro na garagem e corri para o elevador, cansado e
estressado.
Entrei no apartamento já tirando a camisa, coloquei o tecido
em cima do ombro e olhei na direção da escada, imaginando se ela
estaria em nosso quarto. Dei alguns passos naquela direção, mas
parei quando senti um cheiro delicioso vindo da cozinha. Mudei o
curso e caminhei rapidamente até o local, deparando-me com
Beatriz próxima ao fogão, mexendo algo na panela.
Gemi baixinho quando desci o olhar e vi que ela usava uma
camisola vermelha transparente, que revelava apenas um pequeno
fio do que seria a sua calcinha. Seus cabelos estavam soltos e
brilhantes, caídos sensualmente por suas costas, fazendo meu pau
enrijecer instantaneamente. Quase que me esqueci do motivo pelo
qual estava bravo com ela.
Limpei a garganta para chamar a sua atenção e ela se virou.
Sorriu, desligou o fogo e correu na minha direção, passando as
mãos pelo meu pescoço.
A barriga protuberante colou-se ao meu corpo e eu
finalmente pude respirar, tranquilo.
— Surpresa! — falou sorridente e afastou o rosto para me
fitar.
— Uau! — ofeguei, excitado. — Hoje é meu aniversário e eu
não estou sabendo? — Segurei sua cintura e deslizei o meu toque
até os seus quadris, apertando a carne. — Não tente me ludibriar,
menina. Você me ignorou o dia inteiro e eu estou puto por isso.
Beatriz sorriu, jogando a cabeça para trás, e em seguida
voltou a me olhar, mordiscando o lábio inferior.
— Não gosto quando a gente briga, por isso decidi fazer um
jantar especial para o meu marido. — Sua mão quente e macia
desceu até o meu abdômen. Meu pau contraiu-se em resposta ao
seu toque. — Gostou?
Inspirei o perfume suave que exalava dos seus cabelos, mas
segurei sua mão quando desceu para o cós da minha calça. Ela
ainda me devia explicações.
— Não pode tentar me seduzir sempre que te der na telha,
Bia. Você ignorou as minhas ligações e eu estava preocupado.
Entenda que só quero proteger vocês…
— Eu não ignorei você, amor. Simplesmente passei a tarde
preparando uma surpresa. Vim direto para casa quando saí da
faculdade.
— Bia… — chamei o seu nome como uma forma de
advertência, e ela se afastou sorrindo, caminhando na direção da
sala. — Poderia ter me avisado que ficaria em casa, assim eu não
teria um calo nos dedos de tanto te ligar.
Ela parou e virou o rosto, olhando-me por cima do ombro com
aquele olhar travesso que indicava que estava aprontando. Precisei
usar todo meu autocontrole para não desviar minha atenção para a
sua bunda.
— E que graça teria? — provocou, levando as mãos até o
elástico da minúscula calcinha, deslizando o tecido pelas suas
pernas e jogando-o no chão.
Merda! Ela estava jogando pesado.
Segui-a, sentindo-me como um animal irracional que só
pensava com a cabeça de baixo. Beatriz andou na direção do sofá e
se deitou, colocando os pés no braço do móvel, deixando as pernas
levemente inclinadas.
A visão do seu corpo praticamente nu, entregue para mim,
me fez ficar sem ar e eu gemi baixinho. O tecido fino da camisola
me permitia ver as formas dos seios inchados e o ventre
arredondado que tanto me orgulhava. Os cabelos compridos
espalhavam-se pelo estofado, deixando minha menina tão sensual
que minhas bolas doeram com a expectativa de tocá-la.
Ela sorriu, colocando um dedo na boca de forma provocativa,
e eu me aproximei.
— Diabos, garota. Não me provoque, pois ainda não
terminamos aquela conversa! — adverti ao me aproximar do seu
corpo. Sentei-me próximo aos seus pés e toquei seu tornozelo
levemente, massageando aquela região enquanto procurava o seu
olhar.
— Você fica tão lindo quando está bravo.
Ela moveu as pernas devagar e as inclinou um pouco mais,
colocando os pés em cima do meu peito, abrindo as coxas.
Salivei quando desci o olhar e vi a boceta toda depiladinha,
chamando por mim. Meu pau babou quando Beatriz escancarou as
pernas e mordiscou o lábio, convidando-me para prová-la. Usou as
duas mãos para manter as pernas inclinadas e afastadas uma da
outra. Em seguida, levou uma mão até o seu centro e começou a
massagear o clitóris em círculos. Um dedo penetrou em seu interior
e ela gemeu, enlouquecendo-me. Senti todo o meu corpo
estremecer, louco para possuí-la.
Não havia como resistir àquilo. Ela sabia que me tinha em
suas mãos. Eu nunca tive chance contra o desejo que sentia pela
minha pequena e provocante esposa desde o dia em que a toquei
pela primeira vez.
Fiquei de joelhos no chão e puxei o seu corpo bruscamente
para a beira do sofá, fazendo-a soltar um gritinho de susto e retirar o
dedo da sua boceta. Seu mel escorreu entre as suas dobras de tão
melada que estava, e meu pau doeu.
Levantei o olhar para fitar o seu e quis morrer quando vi os
lábios entreabertos e a expectativa refletida em seu rosto.
— Quero sentir a sua boca lá embaixo — disse roucamente,
deixando-me ainda mais irracional.
Segurei suas coxas com força e as inclinei mais, deixando
seu sexo exposto, sem nenhuma barreira para me impedir de enfiar
a língua no seu canal.
Sua respiração acelerou e ela grunhiu assim que meti a boca
entre suas pernas. Minha língua tocou o pequeno feixe de nervos e
o lambeu. Meu pau contraiu e senti o líquido da minha excitação
umedecendo a cueca.
O cheiro do sexo penetrou em minhas narinas, entorpecendo-
me, impedindo que eu raciocinasse direito. Eu nem me lembrava
mais do meu próprio nome.
Meti a língua dentro dela, esfreguei o clitóris com um dedo e
parei assim que seu corpo começou a tremer. Não queria que ela
gozasse ainda.
— Cadu! — protestou ofegante, puxando os meus cabelos,
mas eu não dei ouvidos. Subi minha boca para o seu corpo,
beijando e acariciando o seu ventre, adorando a minha menina
como ela merecia.
Senti o bebê chutar no local em que minha mão pressionava
e sorri. Meu peito inflou com uma mistura de desejo e honra. Honra
por seu o homem daquela mulher. Honra por ser o pai daquela
criança.
Coloquei suas pernas em volta do meu quadril e subi o tecido
da camisola até o seu pescoço. Agarrei um seio com uma mão e
chupei o outro, fechando a boca em volta do pequeno bico. Ela
gemeu, mexendo os quadris para encontrar fricção.
Quando não suportei mais, alcancei os seus lábios e meti a
língua dentro da sua boca, provando seu gosto doce. Minhas mãos
trabalharam no zíper da minha calça, e eu desci a peça junto com a
cueca. Meu pau saltou para fora, rígido, grosso e completamente
melado.
— Gosta de dar assim para o seu marido? — sussurrei,
agarrando o seu maxilar.
Afastei o meu corpo do dela, larguei o seu rosto e me firmei
no encosto do sofá. Com a outra mão, levei o pau até a entrada da
sua boceta.
Entrei, duro e firme, fazendo-a gritar.
— Oh, sim! — gemeu.
— Abre mais as pernas, quero meter tudo em você — exigi.
Sem protestar, Beatriz fez o que eu disse, arreganhando-se
toda. Coloquei seus tornozelos em cima dos meus ombros, afastei-
me um pouco para ver sua boceta me recebendo e tirei o meu pau
quase todo.
Voltei a meter, indo a loucura ao ver seu pequeno canal se
abrindo para acomodar o meu pau. Ela era tão pequena e delicada
que se tornava insano ver o seu sexo esticado me envolvendo.
Levei uma mão até o seu clitóris e esfreguei a carne macia.
Ela grunhiu e fechou os olhos, arranhando o estofado com as
unhas. Não demorou muito para que ela gritasse, chegando ao
clímax. Sua boceta estrangulou o meu pau ao se contrair com as
ondas do orgasmo.
Fechei os olhos e parei os movimentos, cravando meus
dedos na carne da sua coxa. O gozo saiu forte, enchendo seu canal
com o líquido quente e me fazendo ver estrelas.
Ao abrir as pálpebras, encontrei seu sorriso presunçoso,
provocante, de quem sabia que havia feito a tarefa de casa
direitinho. Sorri.
— Eu não me importaria de ser recepcionado assim todos os
dias — falei, ainda dentro dela.
Beatriz colocou a mão no meu peito, e eu inclinei o rosto para
a frente, na intenção de alcançar os seus lábios. Firmei-me no
encosto do sofá para não esmagar a sua barriga e a beijei de forma
doce, apenas um pequeno lembrete do quanto ela era importante.
Suspirei e embalei o seu corpo dentro dos meus braços,
tendo a certeza de que o que eu senti por Vivian, no passado, não
foi nem um por cento do que sentia por Beatriz no presente.
Eu morreria e mataria por ela.
CAPÍTULO 8

CARLOS EDUARDO

Os meses passaram depressa e Beatriz já estava no último


mês de gestação. Eu mal conseguia dormir à noite com medo de ela
entrar em trabalho de parto. Até peguei uma folga da empresa para
passar mais tempo com minha esposa.
Era véspera de Natal naquela noite. Estávamos na casa dos
meus pais, reunidos para a ceia. Felipe e Karine também estavam
presentes. Beatriz andava ao meu lado com as mãos nas costas,
visivelmente cansada. A barriga estava enorme, envolvida por um
vestido verde de saia esvoaçante, que caía aos seus pés. Estava
linda.
— Amor, eu preciso me sentar — sussurrou enquanto
conversávamos com alguns vizinhos e amigos da família ali
presentes. — Sinto que minha barriga está pesando uma tonelada.
— Vou te levar até a sua mãe. — Apontei para onde Karine
estava sentada ao lado de Felipe e da minha mãe, conversando.
— Preciso ir ao banheiro também ou irei fazer xixi na calcinha
a qualquer momento. — Sorriu. — Me espere aqui, já volto.
— De forma alguma. Irei com você. — Segurei o seu pulso
quando ela fez menção de se mover. Pedi licença as pessoas que
conversavam conosco e a puxei na direção do toalete.
— Cadu, pelo amor de Deus, não sou uma inválida —
bradou, puxando a mão do meu aperto. — Posso ir e voltar sozinha.
Ignorei o seu apelo e passei a mão na sua cintura, guiando-a
na sala. Tinha medo de que ela tropeçasse e caísse. Ou pior, que
alguém machucasse o bebê em sua barriga ao trombar com ela.
— Eu vou com você, Bia. Não discuta!
Ela bufou, revirando os olhos.
— Você está me sufocando, sabia?
— Não! Só estou protegendo vocês de possíveis acidentes.
Ela assentiu, já que não tinha nenhuma escolha, e seguimos
juntos até o banheiro. Entramos e eu me recostei na parede de
frente para o vaso, enquanto cruzava os braços, aguardando Beatriz
fazer xixi.
Bia me encarou com as sobrancelhas arqueadas e colocou a
mão na cintura. Olhei em volta, pensando se havia algo errado, mas
tudo estava em seu devido lugar.
— O que foi?
— Preciso que saia. Irei usar o vaso — respondeu,
apontando na direção da porta.
— Qual a diferença? Eu posso aguardar aqui mesmo.
— Cadu, preciso fazer xixi sem que você me olhe.
— E qual o problema, querida? — perguntei sorridente. — Eu
já vi tudo, não tem mais o que esconder. Posso dizer até quantas
dobrinhas você tem aí embaixo.
— Não se trata disso. — Irritou-se. — Só quero fazer as
minhas necessidades com privacidade.
Gargalhei ao fitar sua expressão séria e virei as costas,
ficando de frente para a parede.
— Eu não irei sair daqui. Você pode se desequilibrar e cair.
— Eduardo, você vai me enlouquecer com esse senso de
proteção exagerado.
— Amor, vou contar um minuto para você fazer xixi. Do
contrário, irei me virar e esperar que faça na minha frente mesmo.
Não posso te deixar sozinha, entenda isso.
Beatriz resmungou, mas não reclamou mais. Usou o vaso
rapidamente e me virei quando ela caminhou na direção da pia para
lavar as mãos.
— Boa menina… — falei sorridente e a puxei para mim.
— Eu estou puta com você — declarou enquanto tentava me
empurrar.
— Não me importo desde que você e o nosso pequeno
Eduardo estejam seguros.
A menção do nome do bebê fez Beatriz se acalmar, mas ela
tentou disfarçar um sorriso.
Não havia ficado muito contente quando Beatriz expressou o
desejo de que bebê se chamasse Eduardo Felipe, contudo, não me
opus. Se era importante para ela, eu deveria respeitar, mesmo que
por dentro estivesse enciumado.
Ela se desvencilhou dos meus braços, lavou as mãos e as
secou com uma pequena toalha branca.
— É melhor nós irmos. Minha barriga está roncando de fome.
Já é quase meia-noite, então logo a ceia será servida.
Concordei com um aceno de cabeça, e saímos do banheiro.
Mal chegamos onde sua mãe e seu pai estavam, e ela parou como
se estivesse sentindo algo.
— Bia? Está tudo bem? — questionei preocupado, ficando na
sua frente.

— Está sim — respondeu, passando a língua nos lábios. —


É só que, de repente, senti vontade de comer algo diferente. Algo
doce…
— Vamos até a cozinha, deve ter algum doce por lá.
Ela balançou a cabeça em negativa.
— Não, Cadu. Não é exatamente um doce. Estou com desejo
de comer aquela fruta grande que tem a casca grossa, que tem um
sabor forte e doce — falou, mostrando o tamanho da fruta com as
mãos, deixando as palmas afastadas uns bons trinta centímetros
uma da outra.
Precisei esconder o divertimento que se apossou do meu
semblante quando me recordei de que era exatamente assim que
ela representava o tamanho do meu pau quando eu pedia para
comer o seu cuzinho.
Pigarreei, e Felipe, que conversava com a esposa e minha
mãe, nos fitou preocupado.
— Está tudo bem por aí? — questionou.
— Beatriz está com desejo — respondi, tentando adivinhar de
que fruta ela estava falando.
Torci para que tivesse uma delas aqui na casa da minha mãe
ou no nosso apartamento, já que todos os comércios da cidade
estavam fechados naquele horário.
Nos últimos dias, ela vinha tendo desejos estranhos e
principalmente durante a madrugada, o que quase me deixava
louco. Há duas noites, precisei rodar a cidade inteira para comprar
sorvete de cajá.
Beatriz colocou a mão na cabeça, tentando lembrar o nome
da fruta, e mais uma vez lambeu os lábios.
— Meu Deus, me lembrei! — disse eufórica. — É jaca. Eu
estou louca para comer uma grande e doce jaca… — Lambeu os
lábios quase como se sentisse prazer só por falar o nome da fruta.
— Amor, compra uma para mim, por favor? Preciso comer uma jaca
agora mesmo.
Abri e fechei a boca algumas vezes, imaginando em que
momento eu havia jogado pedra na cruz. Como e onde eu iria achar
uma jaca àquela hora, em plena véspera de Natal?
— Meu filho, você precisa encontrar uma jaca — falou minha
mãe sorrindo. Ela se levantou e caminhou na direção de Beatriz.
Colocou a mão sobre a protuberante barriga e a acariciou
orgulhosa. — Meu netinho não pode nascer com cara de jaca.
— Meu amor, será que podemos esperar até amanhã?
Tentarei achar uma jaca para você.
Seus olhinhos me fitaram decepcionados e até pensei que
ela iria chorar quando pedi para esperar até o dia seguinte. Xinguei-
me internamente por isso, pois partia meu coração vê-la triste.
Agora, eu só precisava fazer uma mágica e tudo ficaria bem.
— Querido, eu também estou com vontade de comer jaca. —
Karine se levantou com certa dificuldade, segurando a mão do
marido, e caminhou até a filha. Sua barriga estava imensa.
Diabos! Agora eram duas grávidas querendo jaca. Como iria
explicar para as duas que eu não era o Papai Noel?
— Karine, meu amor, não temos uma jaca por aqui — disse e
olhou o relógio em seu pulso. — E já são quase meia-noite, logo
iremos comer.
— Acho que sei onde encontrarão uma jaca. — Minha mãe
se apressou em dizer.
— Eduardo e Felipe, não se diz não a uma mulher com
desejos. Vão agora mesmo atrás dessa jaca.
Porra! Que merda eu havia feito para merecer aquilo?
— OK, onde eu irei encontrar uma? — perguntei um pouco
desesperado.
Minha mãe sorriu e, naquele momento, soube que ela estava
aprontando algo. Eu só não sabia se resolveria os meus problemas
ou se iria me ferrar ainda mais.
— Não se preocupem. O Joaquim, nosso vizinho, tem um pé
de jaca em seu quintal. Batam em sua porta e peçam uma fruta A
ele. Ficarei com as esposas de vocês enquanto estiverem por lá.
— Tudo bem. Vamos lá, Felipe.
O homem assentiu e me seguiu na direção da porta. Eu
conhecia bem aquele bairro, também conhecia a casa do senhor
Joaquim. Ele não era alguém muito amigável, mas eu estava
disposto a enfrentar tudo para conseguir essa jaca, ou dormiria no
sofá da sala naquela noite.
— Cara, a Karine está me deixando louco com esses desejos
— reclamou o Felipe enquanto caminhávamos pela rua iluminada.
Por sorte, o clima estava agradável.
— Acredite em mim, irmão. Eu já paguei todos os meus
pecados. — Sorri. — A Bia não me dá um pingo de descanso.
Suspirei relembrando as pérolas que a minha mulher
aprontou até chegar ao último mês de gestação. A mulher não
queria parar com a rotina agitada. Se eu não tivesse intervindo,
ainda estaria frequentando a faculdade e o estágio como se não
estivesse carregando um Ferraz em sua barriga. Meu cabelo já
estava ficando branco.
Felipe gargalhou.
— Espere só até o bebê nascer. Sua vida nunca mais será a
mesma.
— Isso não é engraçado — respondi, tentando disfarçar o
sorriso.
A casa do senhor Joaquim ficava a poucos metros de
distância da residência dos meus pais. Parei em frente ao portão
enquanto analisava a escuridão que vinha do quintal. Parecia que
não havia ninguém em casa naquele momento, ou todos já tinham
se recolhido. Dei alguns passos até o portão e acionei o interfone.
Aguardei por cerca de um minuto e voltei a acioná-lo, mas
nenhuma alma viva apareceu na porta.
Merda!
— Não há ninguém aqui — falei, passando a mão em meus
cabelos. — O que faremos?
Felipe andou até o portão e acionou o botão constantemente.
O barulho provavelmente acordaria até um morto, se tivesse um lá
dentro. Contudo, nenhum sinal de que havia alguém em casa veio
até nós.
— Porra! — xinguei irritado.
— Vamos ter que pular o muro — disse ele, analisando a
altura do paredão.
— Não sei se é uma boa ideia invadir um terreno privado —
adverti.
Felipe me encarou, arqueando a sobrancelha de forma
interrogativa. Coçou o queixo, tenso, e suspirou.
— E o que você pretende fazer? Tenho certeza de que pular
este muro será muito mais fácil do que encarar aquelas duas sem
uma jaca na mão. Karine vai amassar as minhas bolas. Beatriz
provavelmente fará o mesmo com você.
Andei de um lado a outro procurando uma solução, mas
quanto mais os minutos passavam, mas certeza eu tinha de que
pular o muro seria a única maneira de conseguir a bendita fruta.
Analisei as paredes pintadas com uma cor creme,
constatando que não eram tão altas e não possuíam cerca de
proteção. Daria para subir. Com sorte, eu não teria nem um osso
quebrado quando pulasse para o outro lado.
— Inferno… — sussurrei irritado. De uma coisa eu estava
certo: Beatriz iria me pagar na cama com juros por todas as
loucuras que me fez fazer durante a gravidez. — Me dê cobertura,
Felipe. Eu vou pular.
— Certo.
Arregacei as mangas da camisa cinza que eu usava e
alcancei o topo do muro. Não foi difícil firmar os pés na parede
grossa e impulsionar o corpo para cima. Em alguns segundos, eu já
estava do outro lado.
O quintal estava um verdadeiro breu, coberto pela sombra
das árvores densas. Caminhei devagar, tomando cuidado para não
fazer nenhum barulho, e usei a luz do celular para tentar identificar a
bendita jaqueira.
Lembrei-me de ter visto a árvore certa vez quase na parte
dos fundos da casa, do lado esquerdo, e foi para lá que andei
apressadamente.
O barulho de galhos quebrando-se debaixo dos meus pés me
fez diminuir os passos para evitar fazer ruídos muito altos. Algum
vizinho poderia ouvir e não seria muito bom para a minha imagem
ter outro envolvimento com a polícia.
Vi a jaqueira a alguns metros de distância. Iluminei o chão
para tomar cuidado onde eu pisava e tentei me apressar. Estava
aflito para sair logo dali e chegar em casa. Nunca em minha vida
havia me imaginado roubando jaca para a minha mulher grávida.
Aquilo era loucura.
Logo eu, CEO das empresas Ferraz, conhecido
internacionalmente no mundo dos negócios, estava naquele exato
momento no quintal do meu vizinho de forma clandestina, tudo
porque amava uma mulher e ela queria comer jaca.
Meu garoto ainda nem tinha nascido e já estava me
enlouquecendo.
Quando finalmente alcancei a árvore, soltei um murmúrio
aliviado por encontrar a jaqueira repleta de frutos.
Rapidamente, procurei uma fruta não muito grande para que
eu pudesse me locomover sem dificuldade. Ao verificar se estava
madura, retirei-a do pé. Um sorriso de alívio e satisfação brotou em
meus lábios, mas foi embora tão rápido quanto havia chegado
quando ouvi um rosnado tenebroso às minhas costas.
Congelei.
O ar de repente faltou, uma suadeira me atingiu e eu me virei
tão lentamente quanto uma lesma.
O cachorro do vizinho me encarava com aqueles olhos
escuros e as presas afiadas à mostra. Ele era grande. Na verdade,
era gigante. Era um monstruoso vira-lata alaranjado.
Merda! Mil vezes merda.
— Cachorrinho bonzinho… — sussurrei, dando um passo
para trás, e me choquei contra o tronco da jaqueira.
Meu coração quase parou quando ele latiu, tão alto que meus
ouvidos zuniram. Naquele momento, soube que se eu não fosse
para a cadeia, com certeza iria para o hospital.
Olhei para o lado, analisando a distância do muro do vizinho.
Não era tão longe. Só precisava distrair o amiguinho e correr como
um louco para não ser pego e ter o corpo despedaçado antes de
alcançar o muro.
Ele latiu novamente e rosnou, aproximando-se cada vez
mais. Minha testa suou.
— Calma, cachorrinho. Não podemos ser amigos? — Ouvi
outro rosnado como resposta.
Definitivamente, depois daquela noite, Beatriz teria uma
dívida infinita comigo. Eu iria reivindicar meu pagamento assim que
conseguisse chegar em casa.
Dei mais um passo para trás, preparando-me para começar a
correr, quando ouvi o barulho de um galho chocando-se com algo.
Logo depois, a voz de Felipe me fez soltar o ar de alívio.
— Aqui, amiguinho… — chamou
O cachorro virou-se na direção do Felipe, latindo.
— No três você corre para o muro, Ferraz. — Deu alguns
passos para trás e começou a contar. — Um… Dois… Três…
Puxei o ar com força e corri na direção do muro vizinho,
ouvindo os latidos e rosnados estridentes na minha cola. Por sorte,
consegui jogar a jaca do outro lado e pulei, alcançando a parte mais
alta. Impulsionei o corpo da mesma forma que eu havia feito antes,
firmando os pés na parede, e finalmente consegui saltar, caindo de
costas do outro lado.
— Inferno! — xinguei alto quando uma dor cortante me fez
prender o ar, mas ainda assim me esforcei a me levantar. Minhas
costas latejavam.
Algumas luzes da casa se acenderam e uma janela foi aberta
antes que pudesse encontrar a jaca e correr.
— Ahh! — alguém gritou. — Um ladrão! Querido, liga para a
polícia! Tem um ladrão no nosso quintal.
— Maldição!
Consegui me firmar de pé, gemendo de dor, e peguei a jaca
toda despedaçada no chão. Arranquei a camisa às pressas para
envolver a fruta gosmenta e voltei a correr. Encontrei o Felipe na
rua, vindo correndo ao meu encontro. Ele parou e colocou as mãos
no joelho, cansado.
— Pelo amor de Deus, me diga que conseguiu pegar a merda
dessa jaca.
— Vamos… — Arfei e apontei para a camisa embolada. —
Rápido! A polícia está vindo.
Ao chegarmos na casa dos meus pais, entrei pela porta dos
fundos e fui direto para a cozinha. Coloquei a camisa em cima do
balcão e retirei a jaca, colocando-a em um prato.
Felipe tinha ido para a sala, a fim de chamar as mulheres. Em
menos de um minuto, as duas apareceram na cozinha, ansiosas.
— Meu amor, o que aconteceu? — Beatriz apressou-se na
minha direção, aflita ao me ver sem camisa e com o cabelo
completamente bagunçado.
Tocou o meu peito levemente, inspecionando o meu rosto.
— Nada que você não possa pagar, querida — respondi e
curvei os lábios em um sorriso lascivo, passando a mão em sua
cintura.
Minhas costas doíam quando eu me movimentava, e precisei
me segurar para não xingar quando ela desceu a mão,
massageando as minhas costelas. Tudo latejava;
— Ótimo. — Sorriu. — Então, agora eu irei comer.
Segurei o seu braço quando ela se afastou e a trouxe de
volta para mim, encostando os lábios em seu ouvido.
— Fique bem forte para mim, porque eu não terei pena de
você depois de hoje.
Ela sorriu envergonhada e olhou na direção de Felipe e
Karine, que conversavam na ponta do balcão, enquanto a mulher
pegava um gomo da fruta maldita. Bia voltou sua atenção para o
meu rosto, passou as mãos pelo meu pescoço e mordiscou os
lábios. Meu pau inchou instantaneamente.
— Promessa é dívida, Cad…
Naquele momento, vi seu sorriso morrer em seus lábios e
Beatriz se afastou, colocando a mão na barriga.
— Ai! — reclamou, juntando as sobrancelhas.
— Bia, o que foi? — Minha testa começou a suar de
nervosismo.
— Deus… Ai, Cadu… — Firmou-se no balcão e baixou o
olhar, demonstrando que estava com dor.
Porra, não… Não podia ser. Não naquele momento. Ela ainda
nem tinha comido a jaca! Toda aquela merda foi em vão?
— Beatriz, fala comigo.
— Cadu… Acho que nosso bebê vai nascer.
Senti o chão fugir dos meus pés e todo o meu corpo tremeu
em expectativa, medo e ansiedade.
Porra, caralho, o meu filhão ia nascer! Eu iria ser pai…
Até tinha me esquecido da dor que eu sentia nas costas. Só
voltei a me lembrar quando, em um rápido movimento, ergui Beatriz
em meus braços e rumei na direção da porta, quase correndo.
Bia protestou e minha carne latejou pelo esforço, mas eu
estava pouco me fodendo. Ela precisava ir para a maternidade e
levá-la era exatamente o que eu iria fazer naquele momento.
CAPÍTULO 9

BEATRIZ

— Oh céus… — gemi quando mais uma contração me fez


prender o fôlego e apertei a mão do meu marido com força.
As contrações eram suportáveis, mas estavam cada vez mais
próximas uma da outra. Segundo a médica, isso indicava que as
dores iriam aumentar logo e o bebê iria nascer a qualquer momento.
Já estava na sala de parto há algumas horas. Estava sentada
dentro da banheira, sentindo a água morna envolvendo-me e
acalmando. O dia estava prestes a nascer e o Cadu mantinha-se de
joelhos à minha frente, segurando a minha mão e acariciando o meu
rosto.
Parecia que seria ele que teria um bebê, pois a cada gemido
de dor que eu soltava, ele ficava mais pálido. Não saiu um único
momento do meu lado, nem ao menos para descansar um pouco ou
comer algo. Nem mesmo para esticar os pés.
— Respira, querida. Puxa e solta o ar devagar… — disse
com a voz falha. Sua testa suava de nervosismo.
— Cadu, meu amor, você precisa ficar calmo. Eu estou bem.
— Estou calmo. — Passou a mão na testa e deslizou até os
cabelos. Os olhos apreensivos estavam focados no meu rosto.
Sorri quando a contração diminuiu e acariciei sua mão de
leve, acalmando-o. Cadu estava prestes a ter um ataque de
nervosismo.
— Nunca mais irei te engravidar, está me ouvindo? —
sussurrou, sério. — Eu não posso te ver sofrendo tanto, Bia.
Meu coração se aqueceu quando ouvi suas palavras duras,
mas ao mesmo tempo doces. Mesmo aflito, ele chegava a ser fofo.
Eu o amei um pouco mais por isso.
— Cadu, eu estou bem. A médica disse que o bebê está
ótimo e meu corpo está mais que preparado para ter o nosso filho.
Vai dar tudo certo.
Inclinei-me um pouco mais para frente, alcançando os lábios
macios, e os beijei. Cadu descansou a mão contra a minha, em
cima da beirada da banheira, e senti a outra palma deslizar até o
meu ventre. Seu toque suave acelerou o meu coração, e o bebê
mexeu, arrancando-me um sorriso.
— Acho que ele sente quando o pai dele está perto —
murmurei sorridente. Meu coração dava saltos no peito de tanto
amor que eu sentia. Estava completamente envolvida naquele
momento.
Eduardo sorriu brevemente, mas logo depois fechou a
expressão, preocupado.
— Não iremos mais fazer sexo sem proteção — disse
convicto, arrancando outra risada da minha boca. — Só irei tocar em
você após três meses depois que começar a tomar o
anticoncepcional e irei usar camisinhas para ter certeza de que não
irá engravidar de novo. — Senti sua mão tocando o meu queixo e
ele continuou: — Nem tente me enganar, menina.
Balancei a cabeça aos risos e passei a mão em seu pescoço,
fitando o seu rosto. Seus olhos estavam vermelhos e aflitos. Eu
quase podia dizer que ele sentia medo do que estava por vir.
Abri a boca para tranquilizá-lo e fazer algumas provocações,
contudo, uma contração forte e dolorosa me fez prender as unhas
no ombro do meu marido e eu gritar.
— Senhor! Aiiii!
O ar faltou em meus pulmões e uma lágrima deslizou pelas
minhas bochechas. A dor veio mais forte, agoniante.
— Merda, Bia. — Ouvi a voz tensa dele, mas não consegui
levantar o meu olhar, pois logo que a contração passou, veio outra
mais intensa, em um intervalo de poucos segundos.
— Oh, meu Deus!
As lágrimas me tomaram e a dor aumentou mais, fazendo-me
contorcer o corpo. Senti minhas pernas moles, sem força, e me
agarrei ao Cadu enquanto chorava, sentindo outra contração varrer
o meu ventre.
— Eu vou te levar para a mesa de parto. — Ouvi sua voz
distante, quase que como um sussurro, e logo depois ele chamou
pela enfermeira.
Os braços fortes do meu marido me ergueram no ar, as
lágrimas embaçaram a minha visão e a dor da contração aumentou,
fazendo-me prender os dentes para não gritar enlouquecida. Um
calafrio me cobriu da cabeça aos pés quando o ar fresco da manhã
se chocou contra a minha pele nua e molhada.
Naquele momento, desejei arrancar o pau do meu marido
com os dentes e prometi internamente que não seriam apenas três
meses de castidade. Nunca mais faria sexo outra vez.
— Vou morrer, Cadu… — choraminguei quando ele me
colocou sentada na mesa e me vestiu com a roupa hospitalar. —
Por favor, não me deixe morrer sozinha.
Outra contração me fez gritar, e eu girei o corpo na cama de
parto, apoiando os pés e deitando-me de lado, impossibilitada de
continuar na mesma posição.
— Vai dar tudo certo. Não irei sair daqui.
Senti sua mão pesada massagear as minhas costas e
suspirei, um pouco aliviada pela diminuição do incômodo naquela
região.
Um forte medo me atingiu quando a ficha finalmente caiu.
Chorei mais. Eu estava prestes a ter um bebê. Iria ser mãe. A
realidade me açoitou com tanta força que senti todo o meu corpo
estremecer.
No momento em que a médica, acompanhada de algumas
enfermeiras, entrou na sala e me examinou, soube que estava
perto. Pude ver isso no fundo do olhar contente que ela me dirigiu. A
mulher informou que a minha dilatação estava quase completa, mas
que a bolsa ainda não havia rompido. No entanto, era só uma
questão de tempo para que isso acontecesse.
Suas palavras se confirmaram alguns minutos depois quando
não aguentei mais ficar deitada e me ajoelhei em cima da mesa,
firmando-me com minhas mãos. Eu sentia que era mais fácil
suportar as contrações naquela posição.
O líquido quente escorreu pelas minhas pernas, e o Cadu se
alarmou, andando de um lado a outro da cama hospitalar.
— Muito bem, mãezinha. Você está pronta — disse a médica,
tocando o meu ombro levemente. — Deite-se, pois o seu bebê vai
nascer.
— Não… — Solucei, balançando a cabeça, e levantei o rosto,
olhando na direção de Carlos Eduardo. — Por favor, me abrace.
Estou com medo.
Não precisei esperar nenhum segundo para sentir seus
braços rígidos segurando o meu ombro. E então, ele me abraçou
com tanta força e amor que a dor pareceu se dissipar um pouco.
Senti-me protegida. Naquele momento, soube que era capaz de
enfrentar qualquer coisa ao lado dele.
Suas mãos massagearam as minhas, e a pele quente
acalmou os meus nervos aflorados. A dor aumentou, rasgando-me
por dentro, mas eu não senti mais medo.
— Aguente firme, meu amor, você vai conseguir. — Sua voz
estava embargada. — Agora você precisa se deitar.
— Não, por favor… — Balancei a cabeça entre os soluços e
o apertei mais entre os meus braços. De uma forma estranha que
eu não conseguia explicar, aquela posição, de joelhos e de frente
para ele, deixava-me mais confiante.
— Tudo bem, mãezinha. Não precisa ficar com medo — falou
a médica tranquilamente. — Preciso que você afaste seus joelhos o
máximo que puder um do outro e incline o corpo um pouco mais
para a frente. Senhor Carlos, pode firmá-la dessa maneira? Pode
demorar um pouco.
— Não tem importância, eu farei qualquer coisa — respondeu
ele e depositou um beijo na minha testa.
Fizemos como a médica havia instruído e eu me agarrei ao
seu pescoço, trêmula. As contrações vieram fortes, uma após a
outra, e eu usei toda a força que havia em meu ser para trazer o
meu filho ao mundo.
O suor cobria a minha testa, as lágrimas banhavam o meu
rosto e parecia que meu corpo iria se partir ao meio enquanto o
Cadu limpava a minha pele e arrumava os meus cabelos. Não tive
certeza se havia se passado segundos, minutos ou horas, pois eu
havia me perdido no tempo em meio à agonia.
Meu corpo estava sem forças, minhas pernas tremiam, mas
foi no choro estridente que ecoou na sala que eu me apeguei. As
lágrimas de dor deram lugar a um sorriso agradecido.
A médica rapidamente colocou o lindo menino em meus
braços, ainda com o cordão umbilical e completamente sujo de
sangue. Naquele momento, só pude agradecer a Deus pelo
presente que foi enviado para nós. Ele era tão perfeito quanto um
anjo.
— Bem-vindo à minha vida, garotão — sussurrou o meu
marido, segurando a mãozinha do bebê.
Levantei o olhar para fitá-lo e meu coração deu um salto
quando vi seus olhos lacrimejados de emoção. O orgulho era visível
em seu rosto.
— Ele se parece com você… — sussurrei roucamente ao
analisar os cabelos pretos e os cílios espessos do meu pequeno
menino. A emoção me tomou.
— Ah, Bia… — murmurou com a voz entrecortada. — Como
eu amo você, garota.
— Temos um filho. — Foi a única coisa que consegui
responder.
Minha voz falhou pela emoção e um filme passou pela minha
cabeça, desde o momento em que passei a ver o Cadu como o
homem que eu amava. Eu era só uma menina na época. Agora,
tinha o filho dele nos meus braços.
Aquilo era muito mais do que algum dia sonhei.
Sua testa colou-se à minha e só fomos interrompidos quando
a médica e os enfermeiros precisaram pegar o bebê para limpá-lo e
terminar os procedimentos do pós-parto.
Em alguns minutos, eu já havia trocado a camisola hospitalar
e estava deitada de lado com meu pequeno Eduardo embalado nos
meus braços novamente.
Cadu estava sentado às minhas costas, e eu podia sentir sua
respiração em meu rosto conforme seus dedos acariciavam os
cabelos escuros e lisos do nosso filho.
— Com licença… — Ouvi uma suave batida na porta e logo
ela se abriu.
Sorri quando papai e mamãe entraram com imensos sorrisos
em seus rostos.
— Oi! — falei orgulhosa.
Os dois caminharam em nossa direção. Meu pai segurava a
minha mãe pela cintura, e ela descansava a mão em cima da
barriga volumosa. O vestido azul claro que ela usava batia na altura
dos joelhos e a deixava deslumbrante.
Aproximaram-se e fitaram o pequeno Eduardo dormindo.
— Como ele é lindo, querida. Estou tão orgulhosa de vocês
— disse minha mãe com os olhos lacrimejados.
— O pequeno Eduardo Felipe — falou meu marido.
Meu pai levantou o olhar, surpreso com aquela revelação, até
então desconhecida para ele. Abriu e fechou a boca algumas vezes
antes de caminhar na direção do Cadu e o abraçar de lado.
— Você fez um ótimo trabalho, Ferraz. É um lindo e forte
garoto. Parabéns. — Percebi que sua voz embargou no fim.
— Obrigado, meu amigo.
A voz do meu marido saiu trêmula, minha mãe soluçou e eu
agradeci internamente a Deus pelo retorno de uma forte amizade.
Pensei em pedir um abraço coletivo, mas, no momento
seguinte, o barulho de algo parecido com água derramando-se no
chão chamou a atenção de todos. Fitei minha mãe e vi seus olhos
se arregalarem. Então, ela olhou para os seus pés.
Uma poça de água havia se formado onde ela pisava, e o
líquido escorria por suas pernas, pingando no chão, deixando a
todos ali estáticos.
— Oh, meu Deus… A minha bolsa estourou.
CAPÍTULO 10

CARLOS EDUARDO

Algumas semanas depois…


Cheguei em casa por volta das sete da noite, morto de cansaço e de
estresse. O dia havia sido difícil na empresa, com milhões de problemas a
serem resolvidos e uma pilha de projetos para ser analisada.
O apartamento estava em total silêncio quando entrei, até mesmo a
babá já tinha ido embora. Xinguei internamente, revoltado comigo mesmo por
ter me atrasado tanto.
Retirei o terno cinza e suspirei irritado ao me lembrar de que Vivian
havia me procurado novamente na empresa, insistindo para sairmos para
conversar. Naquela ocasião, eu havia deixado claro que isso não iria
acontecer, no entanto, precisava conversar com Beatriz sobre aquela mulher,
pois não poderia correr o risco de Vivian tentar entrar em contato com a minha
esposa para inventar alguma mentira ao meu respeito. Dela, eu poderia
esperar tudo.
Enquanto comecei a tirar a camisa, subi as escadas e rumei na
direção do quarto. Quando entrei, senti toda a raiva se esvair do meu corpo
ao ver Beatriz deitada com o bebê na nossa cama. Os dois dormiam tão
profundamente e serenos que meu peito se aqueceu. A preocupação deu
lugar à felicidade.
Sentei-me ao lado dos dois e toquei os cabelinhos lisos do pequeno
Eduardo. Sua boquinha estava toda lambuzada de leite e o seio de Beatriz
estava à mostra, molhando os lençóis, o que indicava que ambos haviam
dormido enquanto o bebê mamava.
Observei aquela cena um pouco surpreso e maravilhado. Peguei um
paninho branco que estava preso entre os dedos dela e sequei a boca do
bebê. Em seguida, fiz o mesmo com o bico do seu seio e com a parte do
lençol que estava molhada.
Ao terminar, peguei o bebê devagar, tomando cuidado para não o
machucar, e o levei até o berço montado ao lado da cama. Beatriz havia
decidido colocar o móvel ali devido às inúmeras vezes que acordava à noite
para dar mamar.
Eduardo se espreguiçou todo quando seu minúsculo corpo tocou o
colchão, fazendo-me sorrir admirado. Ele havia crescido e engordado tanto
naquelas últimas semanas que se assemelhava a uma bolinha macia,
empacotada em um macacão azul marinho.
Toquei as bochechas gorduchas e o cobri com o edredom antes de
retornar para a cama.
Um raio cortou o céu quando me joguei no colchão macio ao lado da
minha mulher, e uma fina garoa começou a cair. Precisava tomar um banho e
relaxar, mas estava tão exausto que mal consegui me mover.
Fitei-a por um segundo e minha atenção se focou no seio inchado e à
mostra. Meu pau começou a inchar de desejo ao ver sua pele tão macia, tão
deliciosa. Não transávamos há tantas semanas que eu já quase poderia
imaginar como seria chupar aqueles bicos carnudos e enfiar o meu pau na
sua carne quente.
Aproximei-me devagar e mergulhei o meu rosto na curva do seu
pescoço para inspirar o perfume da sua pele. Beatriz cheirava a flores e a
leite. Era tão bom, quase afrodisíaco.
Precisei usar todo o meu autocontrole para me afastar e evitar acordá-
la. Minha menina estava exausta devido às noites em claro com o nosso filho.
Por mais que tivéssemos uma babá para ajudar com o pequeno enquanto ela
se dedicava aos estudos, Beatriz fazia questão de assumir todas as
necessidades do bebê à noite e em quase todo o período do dia.
Como ela havia amadurecido. Sorri, orgulhoso da menina-mulher com
quem eu havia me casado.
Toquei seu rosto de leve, sentindo a textura aveludada da sua pele, e
desci, deslizando os dedos pelo seu pescoço delicado. Gemi quando meus
dedos tocaram o seio descoberto e meu pau inchou mais.
A carne era tão macia e rosada que não pude me conter. Envolvi um
seio com minha mão gulosa, apertando e esfregando o bico sensível.
Beatriz acordou de susto. Abriu os olhos, confusa, e me encarou.
— Meu amor? — Olhou para os lados e em seguida voltou sua
atenção para mim.
— Desculpe te acordar — murmurei rouco pelo desejo e apertei o seu
peito um pouco mais, sentindo-me um egoísta por querê-la tanto.
Meu pau doía, apertado dentro da calça.
— Amor, o que está fazendo? — questionou, levando a mão até o
sutiã para ajeitá-lo em seu corpo.
— Não faça isso, Bia.
Segurei sua mão, impedindo-a de cobrir o seio, e aproveitei para
puxar o outro lado do sutiã para baixo, deixando os peitos deliciosos livres
para serem degustados pela minha boca.
— Você é tão linda… — Abaixei a cabeça e toquei seus lábios
delicadamente, para logo depois descer até o seu busto. — Deixa eu mamar
em você, querida.
— Cadu, se afasta. Meu peito está pingando leite.
Senti suas mãos espalmando os meus ombros para que eu me
afastasse, mas o desejo falou mais alto e eu não me movi. Pelo contrário,
deslizei a língua até o bico sensível e o tomei dentro da minha boca.
— Querido… — Beatriz estremeceu sob o meu toque e arfou. — Não
seja cretino, Cadu.
Ouvi um gemido rouco escapar da sua boca quando suguei a auréola
e levei a mão até o outro seio, esmagando-o.
O jato quente e doce encheu a minha boca, fazendo-me grunhir de
tesão. Engoli todo o leite que ela me dava. Meu pau se contraiu, lutando por
sua liberdade, e eu não pensei duas vezes antes de desabotoar minha calça e
descer o zíper. O membro saltou para fora, tão duro como uma rocha,
enquanto eu continuava sugando o seio da minha mulher. Ela gemia e se
contraía, às vezes puxando o meu cabelo para mais perto, outras tentando
me afastar do seu corpo.
Ela estava tão perto… Eu só precisava abrir suas pernas cobertas
pela camisola, colocar sua calcinha de lado e entrar.
— Vou meter em você, Bia… — sussurrei ao cravar o olhar no seu
rosto, fitando a boca rosada.
Suas bochechas estavam coradas e o olhar alarmado, como se ainda
não acreditasse no que eu havia feito, mas eu acreditava. Sabia que a culpa
do meu descontrole era do velho e incontrolável tesão.
— Você tomou o leite do bebê… — murmurou incrédula.
— Sim. — Subi no seu corpo e baixei o meu rosto na direção da sua
boca, murmurando roucamente: — E agora vou chupar lá embaixo.
Alcancei os lábios macios e os mordisquei, para logo depois envolver
a minha língua na dela de forma lenta e imoral. Coloquei minhas pernas entre
as suas e afastei suas coxas uma da outra, dando espaço para que eu
pudesse esfregar o meu pau no seu sexo por cima da calcinha.
— Cadu, espera… — disse, virando o rosto para o lado e tentando me
empurrar com a mão em meu peito.
— O que foi, meu amor, ainda está dolorida? — Beijei o seu pescoço e
toquei o seu queixo para que ela me olhasse. — Posso te dar prazer de
outras formas, a penetração pode esperar mais alguns dias.
A última frase falei com um lamento tão grande que quase soltei um
gemido de frustração. Meu pau estava tão duro que se eu não me
controlasse, acabaria gozando nas calças.
Já eram quatro malditas semanas sem tocá-la de forma sexual devido
ao resguardo. Eu estava enlouquecendo.
Beatriz gargalhou e balançou a cabeça.
— O que é tão engraçado? — questionei confuso.
— O que aconteceu com todo aquele discurso sobre não fazermos
sexo nos primeiros três meses? E os preservativos? Eu não vejo nenhum.
Droga, eu nem me recordava disso.
— Querida, não pode levar em conta as palavras de um homem em
um momento de adrenalina.
Seus dentes prenderam o lábio inferior, e ela voltou a sorrir. Colocou a
mão em meu peito e me afastou.
— E eu disse que nunca mais faria sexo. Falei sério.
Meu pau latejou em resposta, frustrado e desiludido. Beatriz sorriu e
saiu da cama. Provocou-me quando apertou os seios enquanto me fitava e os
acomodava dentro do sutiã.
Em um milésimo de segundo, levantei-me da cama e diminuí o espaço
que havia entre os nossos corpos. Agarrei-a pela cintura.
— Não brinque com coisa séria, menina.
Como resposta, ela passou a mão em meu pescoço e levou os lábios
aos meus por um breve momento.
— Eu só estou cansada, Cadu. E preciso de um novo banho — falou
seriamente.
As olheiras profundas abaixo dos seus olhos deixavam claro o quanto
Beatriz estava esforçando-se. Eu a admirava tanto por isso.
— Vem para a banheira comigo. Vou cuidar de você.
Ela assentiu sorrindo de lado e segurou a minha mão. Estávamos
caminhando na direção do banheiro quando o bebê começou a chorar. Beatriz
suspirou derrotada e virou o corpo para ir até o berço, no entanto, eu a
impedi.
— Tome o seu banho e relaxe um pouco. Eu cuido dele.
— Tem certeza? — questionou, arqueando uma sobrancelha. — Ele
pode ter aprontado nas fraldas.
Gargalhei, já imaginando que espécies de traquinagens ele havia
aprontado, e levei a mão até o queixo, coçando a barba por fazer. Beatriz
ainda me fitava com o olhar divertido, mas ela merecia um momento de
descanso.
— Sim, tenho certeza — falei.
Enfiei o pau dentro da cueca e arrumei o zíper da calça.
— Certo. Você sabe como trocar uma fralda cheia de xixi, já fez isso
algumas vezes, mas caso ele tenha feito o número dois, é só limpar com os
lenços umedecidos. É simples.
— Pode ir, eu me viro — respondi um pouco incerto.
Minha menina assentiu e seguiu para o banheiro. Caminhei na direção
do pequeno Dudu. Era assim que minha mãe e Beatriz o chamavam.
O bebê chorava no berço, esperneando as perninhas e os bracinhos.
Parecia incomodado. Quando me aproximei o suficiente para tocá-lo, o cheiro
da bombinha de fedor não deixou dúvidas de que ele havia aprontado.
Merda! Ainda tinha esperanças dele não estar coberto de cocô.
— Oi, garotão — chamei e toquei sua barriga.
Os grandes olhos azuis me fitaram e ele levou as duas mãozinhas à
boca, fazendo barulhinhos estalados. Chupou o punho e voltou a chorar,
irritado. Esse era o meu garoto, já queria mamar de novo.
— Será que você pode dividir a mamãe com o papai só um
pouquinho? Aqueles peitos também são meus.
Ele não pareceu gostar muito da minha sugestão, pois abriu o
berreiro. Sorri, orgulhoso da pessoinha que eu havia feito junto com a minha
menina. O garoto tinha personalidade. Eu já imaginava o brilhante CEO que
ele seria no futuro.
— Vem aqui, filho, o papai vai tirar essa bombinha de você.
Peguei o bebê em meus braços e o levei até a cama. Coloquei um
brinquedo em suas mãos e arrumei as coisas que eu iria precisar para limpá-
lo.
Comecei abrindo o macacão, um pouco desajeitado, mas finalmente
consegui. Quando tirei a fralda, fiquei incrédulo ao ver o tamanho da bagunça
que ele havia feito. Havia cocô até em suas costas. Não era possível que um
neném daquele tamanho pudesse fazer tanta meleca e com um cheiro tão
desagradável.
— Céus… — murmurei chocado. —Tem certeza de que você só toma
leite, garoto?
Ele passou a debater as perninhas, sujando tudo em volta, inclusive o
lençol da cama. Naquele momento, senti que Beatriz iria arrancar as minhas
bolas quando saísse do banho.
— Quieto, Edu, deixa o papai te limpar — falei, segurando suas
perninhas no ar, e retirei um lenço umedecido do recipiente.
Passei o lenço pelo seu bumbum, mas não pareceu adiantar muita
coisa. Aquela meleca grudava. Retirei outro e mais outro, por fim, eu já estava
com uma pilha enorme de lenços sujos sobre a cama, mas o bumbum
continuava melecado.
Depois de muito esforço e tempo, consegui deixá-lo limpo. Terminei de
retirar seu macacão, que já estava todo enfeitado com sua traquinagem, e o
levei para o outro lado da cama.
Dudu parou de chorar e eu suspirei de alívio. Peguei uma fralda limpa
e a abri para colocar nele.
— Isso, garoto, fica quietinho.
Estava preparando-me para erguer suas perninhas novamente
quando um jato quente me acertou no rosto. Grunhi surpreso e fechei os
olhos. Porra, eu havia acabado de ganhar um banho de xixi.
Tentei secar um pouco do estrago com a mão e voltei a abrir os olhos.
Foi então que senti o gosto salgado na boca.
— Porra, Edu. Controla essa torneirinha, rapaz.
Terminei de colocar a fralda nele e me levantei para pegar outro
macacão, quando vi Beatriz escorada na parede, próximo à porta que dava
acesso ao banheiro, coberta com um roupão e os braços cruzados na frente
do abdômen. Ela estava vermelha de tanto sorrir.
— Querido… — Caminhou na direção da cama, sorrindo. — Me
lembre de nunca mais permitir que troque as fraldas do Dudu. Você fez mais
sujeira que ele.
Ela olhou em volta, analisando as manchas amarelas no lençol branco
e o macacão embolado em um canto. Seus olhos passaram pela montanha
de lenços sujos e pararam no meu rosto. Voltou a gargalhar.
— Por que não pegou o trocador? Por que não colocou uma fralda de
pano em cima do piu piu dele? Teria evitado tudo isso.
— Não pensei que precisaria de tudo isso para trocar uma fralda —
respondi sério, arqueando uma sobrancelha. — Como vocês conseguem
fazer isso?
Beatriz sorriu novamente e passou por mim. Pegou o bebê,
agasalhando-o no seu peito, e me fitou.
— Tome um banho, amor. Assumo daqui.
Puxei o ar para os meus pulmões e soltei lentamente, um pouco
frustrado.
— Certo. Eu volto logo.
Saí apressadamente e entrei no chuveiro quente, demorando muito
mais do que havia planejado. A água morna me ajudou a relaxar, levando
embora um pouco do cansaço do dia. Só não levou a necessidade de ter a
minha mulher nua, debaixo do meu corpo. Saí do chuveiro, sequei-me e
enrolei a toalha em volta da minha cintura, planejando fazer amor com
Beatriz. Queria amá-la, beijar todo o seu corpo e depois penetrá-la bem
lentamente para sentir cada detalhe.
Retornei ao quarto, ansioso, mas a encontrei dormindo ao lado do
nosso filho.
O bebê estava deitado com a barriga para cima, envolvido com um
macacão verde água. As perninhas e os bracinhos estavam abertos,
ocupando bastante espaço na cama.
Que bela dupla… Pensei, enquanto me aproximava dos dois.
O desapontamento que senti ao vê-la dormindo deu lugar a sorrisos
orgulhosos. Naquela noite, eu iria dormir com as bolas e o pau doendo
novamente, mas não tinha importância. Tudo o que precisava para ser um
homem feliz e realizado estavam ali na minha frente: minha mulher e o nosso
presente.
Beijei o topo da cabeça de Beatriz e em seguida fiz o mesmo com o
bebê. Cobri-os e me deitei. Logo, peguei no sono também.

Acordei com o sol iluminando o quarto e me sentei. Olhei para o lado,


em busca de Beatriz e do bebê, mas eles não estavam ali. Afastei o lençol
que cobria os meus quadris, fui até o guarda-roupa para pegar uma calça de
moletom e me vesti.
Cinco minutos mais tarde, eu estava descendo as escadas com as
mãos nos bolsos da calça. Ali dentro continha algo que eu pretendia
presentear a minha esposa. Escolhi aquela manhã ensolarada de sábado
para tirar alguns sorrisos da sua boca, mas, antes, iria falar sobre a Vivian.
Ouvi a voz de Beatriz vindo da cozinha e apressei o passo. Ela falava
em um tom baixo e carinhoso, e logo concluí que conversava com nosso o
filho. Entrei devagar, tomando cuidado para não fazer barulhos, e sorri ao vê-
la agachada em frente ao carrinho de bebê.
— Bom dia. — Ela abriu um lindo sorriso ao me olhar e se levantou.
— Bom dia, meu amor.
— Dormiu bem? — perguntei quando a abracei e encostei os meus
lábios nos seus.
— Maravilhosamente bem. O bebê só acordou agora pela manhã.
Afastei-me dela e me agachei para olhar os incríveis olhos brilhantes.
Dudu brincava com um cachorrinho macio, colocando-o na boca. Aqueles
barulhinhos que ele fazia me arrancava sorrisos bobos.
— Bom dia, filhão. Parabéns pelo seu mêsversário.
Toquei suas bochechas gorduchas, acariciando-as suavemente.
Estava maravilhado. Meu coração dava saltos de felicidade só em olhar para
aquela coisinha, embora ele desse um trabalho absurdo.
Levantei-me e voltei minha atenção para Beatriz. Minha esposa sorria,
enquanto tirava o avental. No entanto, havia chegado o momento de termos
uma conversa séria. Confesso que eu estava receoso com a reação dela.
— Bia, precisamos conversar. Sei que você pode ficar chateada, mas
antes, quero que ouça tudo o que tenho para dizer.
O sorriso sumiu do seu rosto, mas ela assentiu. Empurrou o carrinho
do bebê até a mesa posta com o café da manhã e se sentou.
— Diga, Cadu.
Também puxei uma cadeira e me sentei de frente para ela. Não era
fácil começar aquela conversa. Não porque era difícil falar sobre o passado,
mas porque eu tinha medo de que nós dois brigássemos. Beatriz era tudo
para mim.
— Há alguns meses, Vivian me procurou na empresa.
Beatriz me encarou um pouco surpresa, mas eu não via raiva em seu
olhar. Isso era bom.
— Vivian? Sua ex-noiva? — questionou.
— Sim, querida — respondi e fiz uma pausa sem tirar os olhos dela.
Sentia-me incomodado por ter omitido essa informação. — Sinto muito não ter
te contado antes, mas você estava grávida e eu não queria preocupá-la. E
depois que nosso filho nasceu, fiquei tão envolvido com tudo isso que me
esqueci completamente da visita dela.
— E o que essa mulher queria? — Percebi que seu olhar vacilou e
senti uma ponta de aflição em sua voz. — Eu sei que você a amou muito no
passado…
— Bia… — Segurei sua mão com cuidado. — Aquela mulher não tem
nenhum significado para mim. Só estou te contando isso porque sempre
fomos cúmplices um do outro. Jamais esconderei algo de você, princesa.
Ela sorriu e balançou a cabeça em concordância.
— Ontem, Vivian voltou a me procurar, mas eu a cortei e deixei claro
que não permitirei que se aproxime outra vez. — Contei a ela a breve
conversa que tive com Vivian, enquanto analisava suas reações.
Beatriz xingou a mulher algumas vezes, mas em nenhum momento
desconfiou da minha palavra. Agradeci aos céus por isso.
— Eu tive medo de que ela tentasse entrar em contato com você e
nos prejudicasse de alguma forma. Não suportaria perder você, Beatriz. Por
Deus, mataria aquela mulher se ela tentasse algo — concluí, aliviado por
jogar toda aquela merda para fora.
— Obrigada por me dizer, Cadu. Não sabe o quanto isso significa para
mim.
Dei a volta na mesa e a puxei para os meus braços. O coração batia
forte dentro do meu peito.
— Eu ainda não terminei — falei, curvando os lábios em um sorriso, e
enfiei as mãos no bolso, retirando o molho de chaves. Coloquei-as em sua
mão.
— Cadu? O que é isso? — questionou com os olhos arregalados.
— Uma casa de praia em Búzios.
Sorri quando ela me fitou incrédula.
— Você está brincando?
— É claro que não.
Beatriz pulou no meu pescoço e enganchou as pernas nas minhas,
quase derrubando nós dois no chão.
— Vai com calma, moça — falei e me firmei na mesa. Logo depois,
caminhei com ela até o balcão.
— Estou tão feliz. Mal posso esperar para passar alguns dias na
nossa nova casa.
Encostei minha boca na sua e roubei um beijo, deixando nós dois sem
fôlego.
— E eu mal posso esperar para fazer amor com você. — Voltei a
beijá-la, faminto, e deslizei uma mão até um seio, apertando a carne macia. —
Tira a roupa para mim, amor.
Ela sorriu e colocou a mão no meu peito.
— Cadu, o bebê — disse, apontando na direção do carrinho. — Ele
está acordado.
— Ele não vai ver, Bia. O Dudu é só um bebezinho. Você só precisa
abrir as pernas, amor — sussurrei e comecei a lamber seu pescoço,
gemendo. Meu pau já estava melando a calça de tanto tesão. — Faz isso
para o seu homem.
Subi para o queixo e cobri sua boca com a minha, a mão
serpenteando por sua coxa. Estava quase alcançando a calcinha quando a
campainha tocou e eu bufei, irritado.
— Porra! — grunhi e cravei os dedos na carne da sua coxa. — Eu te
quero tanto que está doendo.
— Amor… — Arfou. — Vou atender a porta. Quando as visitas forem
embora, irei pôr o bebê para dormir e teremos um tempo só nosso.
Não tive alternativa a não ser assentir e me afastar. Coloquei Beatriz
no chão e ela seguiu até a porta. Peguei o Dudu em meus braços e fiquei
brincando com ele, acariciando seus cabelos cheirosos até ouvir um
movimento incomum vindo da sala.
Caminhei com o bebê até lá e me surpreendi ao ver minha mãe,
Felipe, Karine e um carrinho duplo com os dois bebês.
— Surpresa! — disse minha mãe, estendendo um pequeno bolo na
minha direção.
Felipe empurrava o carrinho com as crianças e Karine carregava outro
bolo nas mãos.
— Viemos comemorar o mêsversário dos nossos pequenos e passar o
dia com vocês — disse a mulher, sorridente.
Puta que pariu.
Por um momento, não soube se sorria, feliz pela visita da família, ou
se chorava devido à frustração sexual.
Beatriz olhou na minha direção e piscou, sorridente. Eu ainda estava
um pouco pálido pela surpresa, mas, pouco a pouco, senti os meus músculos
relaxarem.
Eu estava com a minha mulher, nosso filho e as pessoas que mais
eram importantes em nossas vidas. O sol brilhava com toda a sua força lá
fora, a manhã estava agradável. O sexo poderia esperar um pouco mais.
Caminhei até eles com meu pequeno garoto embalado em meus
braços e os cumprimentei, dando as boas-vindas, contente por estarem
conosco.
Beatriz abraçou a minha cintura forte e deu um beijo estalado na
bochecha do nosso filho. Minha mãe abriu um sorriso radiante, orgulhosa pelo
netinho que havia ganhado. Felipe e Karine pegaram os bebês no carrinho,
tão felizes como nunca. Poderia ser apenas mais um sábado normal, apenas
um dia qualquer, mas o importante é que estávamos juntos. O que mais eu
poderia querer?
Eu já tinha tudo.
E o mais importante: tinha a minha esposa e meu herdeiro. Meu
presente perfeito em meus braços.
EPÍLOGO

EDUARDO FELIPE

Vinte e dois anos depois…


Minhas mãos tremiam quando segurei o papel que Valentina havia me
entregado. As batidas do meu coração estavam descompassadas, minha
testa suava e eu fui obrigado a me sentar na orla da praia para não perder o
equilíbrio das pernas e cair.
As palavras descritas no topo da folha deixavam tudo muito claro para
mim.
Positivo.
Eu iria ser pai aos vinte e dois anos de idade. Porra, eu era um cara
morto naquele momento.
Levantei a minha cabeça após ler o resultado do exame um milhão de
vezes e foquei a minha atenção no rosto molhado pelas lágrimas da linda
garota à minha frente, no auge dos seus dezoito anos.
— Como isso é possível, Val? Só fizemos uma vez — questionei
incrédulo.
— Eu não sei… — Suas íris cor de mel se dilataram um pouco
enquanto me fitava, e as lágrimas abundantes não paravam de descer pela
pele pálida. — Talvez a camisinha estivesse furada e nós não percebemos.
Além disso, foi a única vez em que fui tão longe com alguém. Eu… era
virgem, Edu, você sabe.
— Eu sei, Val. Não estou te contestando, mas é que… — Fiz uma
pausa, passando a mão por meus cabelos escuros, e continuei: — Porra,
ainda estou em choque.
Fazia sentido o que ela dizia. Na noite em que transamos, estávamos
um pouco bêbados também, mas ainda era difícil para mim ter que assimilar e
me conformar com os acontecimentos. Minha vida estava prestes a ter uma
reviravolta, e o medo do desconhecido me assolava.
Valentina era a irmã mais nova do Matheus, meu melhor amigo.
Éramos amigos desde a infância e agora estávamos na faculdade de
Engenharia Civil. Enquanto eu me preparava para trabalhar ao lado do meu
pai na Ferraz Engenharia, Matheus seguia todos os meus passos, afinal,
éramos uma dupla formidável no mundo dos cálculos matemáticos.
— O Matheus já sabe? — perguntei, sabendo que independentemente
se ele já soubesse ou não, nossa amizade estava com os dias contados. Ele
jamais me perdoaria por ter engravidado a sua tão amada irmãzinha.
Valentina era proibida para mim.
A mulher balançou a cabeça em negativa e colocou uma mecha do
cabelo curto e castanho atrás da orelha. Suspirei com pesar, imaginando o
quanto ela estava sofrendo com aquela situação. Meu peito se apertou.
— Vem aqui, Val — chamei, abrindo os meus braços para abrigar o
seu corpo. Ela caminhou na minha direção e se sentou ao meu lado, receosa.
O vento suave balançava e brincava com os seus cabelos, deixando-a ainda
mais bonita e rebelde.
Puxei o seu corpo para o meu e a ergui o suficiente para que se
sentasse no meu colo. Ouvi um suspiro surpreso escapar da sua boca, mas
ela não disse nada, apenas descansou a cabeça no meu peito e se
aconchegou.
— Vai ficar tudo bem, OK? Eu não vou te abandonar. — Acariciei os
seus cabelos e inalei o cheiro doce dos fios, relembrando o quanto aquela
noite havia significado para mim.
Valentina me enlouquecia e amava me provocar sempre que eu ia em
sua casa. Comecei a evitá-la com o passar do tempo, quando percebi que
não a tirava da minha cabeça. O Matheus sempre deixou claro que não
permitiria que nenhum dos seus amigos se envolvesse com a sua irmã, e eu
respeitava isso, afinal, tinha duas irmãs gêmeas três anos mais novas que eu.
Eu entendia o seu ciúme e a sua proteção.
No entanto, há dois meses, quando o próprio Matheus fez uma festa
na sua casa enquanto seus pais viajavam, não consegui resistir àquela
mulher. Valentina dançava, rebolando com um copo de tequila na mão, e não
fazia questão de esconder o quanto me queria.
Eu havia bebido além da conta e, quando dei por mim, já estávamos
nos agarrando no seu quarto como se não houvesse amanhã. Eu a beijei,
toquei e provei da forma que sempre quis. Tirei a sua virgindade e não me
arrependi por isso, mas agora estávamos pagando o preço pelas
consequências daquela noite.
— O que faremos, Edu? — murmurou em um sussurro.
Queria poder dizer que tudo daria certo, mas eu sabia que nada seria
tão simples. No entanto, não desistiria dela e nem daquela criança. Não me
importaria com o que acontecesse, nem com quantas pessoas sairiam
magoadas.
— Nós daremos um jeito… — Acariciei a sua nuca e beijei o topo da
sua cabeça. — Apenas confie em mim.

Duas horas depois, entrei no escritório do meu pai, na sede da Ferraz


Engenharia. Eu tinha uma tarde quente e repleta de trabalho pela frente, mas
não conseguia me concentrar em nada. Minha cabeça ainda fervilhava com a
última descoberta.
O homem estava sentado em sua mesa de frente para o computador e
nem ao menos levantou os olhos quando entrei. Imagino que nem tenha
percebido a minha presença. Ele vivia e respirava trabalho.
— Pai? — chamei quando não aguentei mais ficar calado. Precisava
desabafar com alguém.
— Oi, filho… — Digitou mais algumas vezes e levantou o olhar
idêntico ao meu para me encarar. Nossa semelhança era inacreditável, exceto
pelas marcas do tempo que ele carregava no rosto. — Está tudo bem?
Passei a mão pelos meus cabelos, nervoso, e me aproximei da sua
mesa. Eu não sabia nem por onde começar, mas sabia que ele era o único
que podia me entender naquele momento.
— Pai, eu… engravidei uma garota — falei direto, sem rodeios.
Seus olhos azuis se fixaram no meu rosto, mas nada disse. Entendi
isso como um aviso para que eu continuasse, e foi exatamente o que fiz.
— É a Val. A irmã do Matheus… — Caminhei pela sala de um lado a
outro antes de voltar a fitá-lo. — Eu estraguei tudo, pai. Ele era o meu melhor
amigo. Nunca irá me perdoar.
Meu pai se levantou da sua cadeira e deu a volta na mesa. Por um
momento, pensei que ele fosse me repreender ou até me deserdar, mas o que
vi em seu olhar se parecia mais com divertimento.
— Isso me lembra alguém, Eduardo. — Ajeitou o terno escuro e
caminhou até a vidraça, olhando o tráfego de carros. — Nunca se perguntou
se o Felipe já me odiou algum dia?
Aquela pergunta me surpreendeu, e eu arregalei os olhos. O que ele
estava dizendo?
— O que quer dizer?
Ele virou-se na minha direção, sorrindo.
— Sua mãe é vinte anos mais jovem que eu, filho. Isso não te diz
nada?
Meu queixo caiu quando, de repente, tudo começou a fazer sentido.
Meu pai e meu avô eram velhos amigos, mas nunca tinha parado para pensar
por este lado até aquele momento.
Era óbvio que meu avô não teria aceitado o relacionamento da sua
filha e do melhor amigo no começo, mas isso não impediu os dois de
continuarem juntos até os dias atuais.
— Acho que você já tem a sua resposta, Edu. — Agora, sua
expressão era séria, mas o brilho de satisfação não abandonou os seus olhos.
— Sei que pode estar com medo agora. Nem foi preciso você me dizer para
que eu percebesse a aflição e o receio em sua voz. Mas, independentemente
de tudo, filho, seja forte. A raiva do seu amigo não irá durar para sempre, mas
o que você sente por essa garota, e o que sentirá pela sua criança, isso sim é
eterno. Se lembre disso antes de tomar qualquer decisão.
— Obrigado, pai. — Minha voz falhou quando agradeci.
Estava surpreso pela sua reação. O senhor e a senhora Ferraz eram
um verdadeiro exemplo de um casal que se amava. O mais importante é que,
naquele momento, eu estava mais que disposto e decidido a trazer Valentina
para a minha vida.
Por mais que fosse cedo demais, por mais que tivéssemos toda uma
vida de batalhas pela frente, eu a amava.

Fim…
CAPÍTULOS INÉDITOS!
CAPÍTULO 1

CARLOS EDUARDO

2 anos depois do nascimento do bebê...

Pelo vidro transparente que separa o chuveiro e a banheira


do quarto observo a silhueta da minha esposa deitada, de bruços,
sobre a enorme cama com os pés virados na direção da cabeceira e
o rosto de frente para mim, enquanto conversa pelo WhatsApp com
alguém. Beatriz está pronta para dormir, dentro de sua camisola
vermelha e sexy, toda sorrisos para a tela do celular.
Tento fingir que não estou enciumado, mas a verdade é que
estou puto e louco para questionar com quem, infernos, ela tanto
conversa e sorri. Um pouco antes de eu entrar no banho, ela estava
batendo papo por ligação com um tal de Alberto, seu colega de
trabalho no centro de preservação das tartarugas marinhas, e agora
gargalha enquanto responde as mensagens no celular sabe-se lá de
quem.
Confio em Beatriz, tenho plena convicção de que ela nunca
me trairia, mas o problema é o bando de gaviões que vivem
rondando em cima dela, como se a minha garota fosse uma bela
peça de filé.
Irritado, passo a mão sobre o vidro embaçado pela água
quente e desligo o chuveiro.
Beatriz levanta o olhar na minha direção e sorri brevemente,
mas logo volta a atenção para a porra do celular sem nem ao menos
descer o olhar até o meu pau como ela costumava fazer.
Quando decidimos reformar o apartamento no ano anterior,
combinamos de fazer certas mudanças na nossa suíte, e foi
justamente Beatriz que sugeriu retirarmos a parede que dava
privacidade a área do chuveiro e banheira e substituí-la por um vidro
transparente, assim poderíamos assistir os banhos um do outro
direto da cama. Até alguns dias atrás eu pensava que a ideia era
deliciosa e excitante, mas há dois dias Beatriz mais me evitava do
que fazia amor comigo.
Confuso, caminho até o espelho instalado sobre a pia em
uma parte privada da suíte, e encaro o meu reflexo.
Será que estou ficando velho e agora ela está arrependida
de ter se casado comigo?
As dúvidas me deixam louco.
Passo a mão em minha barba por fazer, pensando que foi
justamente ela que me pediu para deixar a barba crescer um pouco.
Segundo ela, eu fico mais gostoso, com cara de mau.
Continuo analisando o meu reflexo, nervoso com a
possibilidade de estar parecendo um velhinho aos olhos dela, e
respiro fundo.
Abro uma das gavetas e pego a máquina de barbear para
aparar os pelos do meu saco antes que eu me esqueça. Deveria ter
feito isso antes do banho, mas agora é tarde e terei que me lavar
novamente. Estou louco para sentir a boca carnuda da minha
mulher no meu pau, e para isso o moleque precisa estar
apresentável.
Seguro as bolas com cuidado e ajusto a máquina para
deixar os pelos bem curtos. Já fiz isso um milhão de vezes, mas
prezar pela segurança é imprescindível quando se trata dessa
região em específico. Beatriz pediria o divórcio se algo acontecesse
com o brinquedinho dela por minha culpa.
Conto até três e levo a máquina ao local, atento a cada
detalhe. No entanto sinto o coração falhar uma batida e penso que
terei um ataque fulminante. Vejo o caralho de um fio branco e
espetado para cima bem do lado direito do meu pau, um pouco
acima das bolas, se destacando como se fosse o rei do mundo.
Porra!
Até sinto as mãos tremerem e deixo a máquina sobre a pia
de mármore, nervoso.
Analiso o problema mais uma vez, incrédulo, e puxo o ar
com mais força.
Que diabos farei agora? Preciso arrancar esse intruso daqui.
O que Beatriz irá pensar se ver isso?
Abro algumas gavetas de uso pessoal dela, pois sei que há
uma pinça por aqui em algum lugar. Já vi minha esposa usar o
pequeno objeto torturante algumas vezes para limpar as
sobrancelhas. Acho que isso vai resolver.
Encontro a pinça ao lado de uma caixinha de absorventes,
fecho as gavetas e retorno a minha atenção para o maldito fio de
cabelo branco.
Devagar, prendo o fio com a pinça, fecho os olhos e puxo
sem mais delongas.
— Caralho! — Gemo de dor, suando frio, ao sentir a pele
esticar e o fio ser arrancado.
Tenho ímpetos de esmurrar a parede tamanha é a dor que
sinto.
Desfiro um milhão de xingamentos e jogo a pinça sobre a
pia. Fecho os olhos e tranco o maxilar com força antes que eu
destrua tudo dentro desse banheiro. Como elas conseguem, porra?
Como isso dói!
Minutos depois, e um pouco mais calmo, enrolo a toalha em
volta da cintura e caminho, mancando, para o quarto. Sinto a pele
formigando, como se estivesse em carne viva. O mais provável é
que precisarei de uma bolsa de gelo para pôr no local e acalmar a
irritação.
Avisto Beatriz deitada, mas o tesão acabou. Nem mesmo
com macumba o meu amigo levanta hoje.
— Tá tudo bem, amor? Você parece chateado… — pergunta
ela ao me ver seguir para o closet com a cara amarrada.
Ainda não me decidi se estou mais bravo com a dor, o fio de
cabelo branco no saco, ou essas conversinhas de Beatriz no
WhatsApp.
— Estou bem! — respondo seco.
Pego uma cueca boxer, penduro a toalha e retorno, pelado,
até a cama. Fico de frente para ela.
Beatriz adora ficar me secando enquanto me troco. Ela
nunca perde a oportunidade de tirar uma casquinha do maridão
aqui.
Ouço seu risinho delicioso enquanto me mantenho com a
cabeça baixa e subo a cueca lentamente para que ela aprecie a
vista.
Arrumo o pau para o lado, para não machucá-lo, e levanto a
cabeça para pegá-la no flagra como sempre faço.
No entanto, é como receber um balde de água fria na cara
quando a vejo concentrada no telefone.
Fico puto. A raiva e o ciúmes me fazem enxergar o quarto
em tons de vermelho, e passo a mão pelos cabelos, lutando para
me manter calmo.
— O Dudu já dormiu? — puxo assunto e afasto o edredom
para me deitar.
Preciso mudar o foco da minha tensão.
Beatriz finalmente deixa o celular de lado, vira-se na minha
direção, colocando-se de lado na cama, e abre um sorriso com a
cabeça apoiada no travesseiro.
— Sim. Ele dormiu cedo hoje, logo depois que você chegou
— responde com um brilho esplêndido no olhar, da mesma forma de
sempre quando o assunto é o nosso filho.
Assinto e esboço um tímido sorriso quando me recordo do
meu garoto me estendendo os braços assim que cheguei da
empresa. Ele está grande e forte. Um pequeno homenzinho.
— Ele já é um rapaz… como o tempo está passando
rápido... — comento também ficando de lado.
Desço o olhar pelo corpo lindo e tão jovem da minha esposa
e foco o olhar em seu ventre esguio, coberto apenas pelo tecido fino
da camisola de seda. Imagino-a com o barrigão grande outra vez.
De repente a ideia de ter outro bebê me faz balançar a cabeça em
negativa e sorrir, abobado. Como eu queria ver isso...
— O que foi? — pergunta curiosa e se aproxima um pouco
mais. Posso sentir o seu hálito morno em meu rosto, o calor do seu
corpo próximo ao meu enquanto seu olhar está focado em minha
cara.
— Fiquei pensando que amaria ver a sua barriga crescendo
outra vez com outro bebê — levo a mão até as mechas do seu
cabelo e me aproximo mais, visando a boca macia e cheia. — O que
você acha? Podemos começar a treinar agora mesmo… —
murmuro, rouco, já ficando excitado.
Mas antes mesmo de conseguir beijá-la, Beatriz coloca a
mão em meu peito, para me afastar, e se deita com a barriga para
cima, sorrindo.
— Eu gosto da ideia de ter outro filho, mas não agora! Sinto
que ainda tenho muito o que viver e aproveitar.
Balanço a cabeça em concordância, observando-a. Tenho
consciência de que Beatriz engravidou ainda jovem demais
esperarei até que ela esteja pronta para ser mãe novamente, no
entanto, o que mais me apavora é a sensação de distanciamento
outra vez.
A simples ideia de perdê-la me deixa alucinado.
Beatriz anda estranha, distante. Me evita para o sexo e até
mesmo um beijo. E embora saiba o quanto a mulher me ama, o
diabinho do ciúmes está começando a me deixar doido.
Principalmente agora quando ela apenas se inclina sobre mim para
depositar um selinho rápido em meus lábios, se agasalha debaixo
do edredom e fecha os olhos, ignorando completamente o meu
desejo de transar.
CAPÍTULO 2

BEATRIZ

Acordo mais cedo do que o normal e abro os olhos


lentamente, ao mesmo tempo que espreguiço os braços.
Remexo-me na cama devagar e olho na direção do meu
marido, temendo acordá-lo.
Um sorriso endiabrado toma conta dos meus lábios quando o
vejo dormir tão gostoso e sexy. Preciso morder os lábios para evitar
cair em tentação e pôr o meu plano a perder.
Afasto o edredom do meu corpo e levanto. Começo a
caminhar na ponta dos pés para ir até o banheiro, fazer xixi, escovar
os dentes e me banhar sem acordá-lo.
Faço tudo apressadamente, seco o meu corpo e corro até o
closet para me vestir. Preciso ir até o quarto do nosso filho para
organizar as suas coisas antes da chegada da babá. Hoje o dia será
cheio com os assuntos que preciso adiantar no centro de
preservação de tartarugas marinhas, local onde agora trabalho. Em
cinco dias será o aniversário de 42 anos do Cadu e estou
preparando uma surpresa em Búzios. Ou seja, preciso adiantar o
máximo de trabalho possível para poder aproveitar a noite e o dia
com meu digníssimo marido, e para isso preciso correr.
Visto-me com uma calça jeans e camiseta. Também pego um
boné, pois hoje teremos trabalho em campo, e minha pele é sensível
ao sol.
Passo um filtro solar e uma base leve. Concluo com um
batom cor de boca.
Saio do closet com tudo que precisarei e sigo de volta para o
quarto. Porém, para o meu total desespero, percebo que meu marido
mudou de posição na cama e agora está de barriga para cima.
O cobertor macio agarra-se às formas do seu corpo,
delimitando as coxas grossas, e…
Puta que pariu!
Ele está com uma gloriosa ereção matinal.
Cadu suspira e se remexe outra vez. O rosto está suave e
tranquilo. A barba cerrada o deixa terrivelmente atraente, e só em vê-
lo começo a sentir coisas. Sinto as minhas pernas estremecerem e o
meu sexo latejar com vontade de montar nele.
Como pode um homem ser tão bonito assim? Chega a ser
pecado para o restante da humanidade.
Aproximo-me do meu marido na ponta dos pés para me
despedir, deposito um selinho bem suave em seus lábios, e aproveito
a nossa proximidade para deslizar minha mão em sua virilha e
acariciar o pau duro por cima do edredom.
Cadu se remexe outra vez e eu me afasto mordiscando os
lábios. Um riso travesso estampado em meu rosto.
Antes mesmo que ele tenha a oportunidade de me ver, saio e
tranco a porta.
Encontro o meu outro homenzinho atravessado no berço
ainda dormindo. Aproximo-me devagar, sorridente, o peito
transbordando de felicidade e amor ao vê-lo.
Eduardo Felipe está tão grande e sapeca. Os cabelos um
pouco mais escuros, os traços inocentes a cada dia mais parecidos
com os do pai.
É quase uma cópia mirim do meu marido.
Acaricio seus cabelinhos macios e me inclino em sua direção
para beijar as suas bochechas gorduchas.
Inspiro seu cheirinho gostoso, sentindo-me abençoada, e
aperto suas bochechas.
O bebê reclama com um chorinho dengoso e se vira na
cama, voltando a dormir.
Sorrio novamente e ajeito o cobertor em seu corpinho.
Deposito outro beijo em seu rosto e sigo até os armários para
separar algumas roupinhas que ele usará durante o dia.
Quando termino, corro para a cozinha, deixo a lista com o
cardápio alimentar do Dudu na porta da geladeira, pego uma maçã
na fruteira e me sento próximo ao balcão para esperar a babá.
Enquanto aguardo, pego o celular e percebo que há uma
mensagem de texto no grupo das amigas: Um grupo constituído por
mim, Gracy e nosso novo amigo Alberto, mais conhecido como
Betinho, meu colega de trabalho no centro de preservação.
Então xuxu, nosso plano está dando certo?
É uma pergunta de Betinho referindo-se ao plano que
traçamos para despistar o Cadu da surpresa que estou tramando
para ele.
Para isso, a única forma que encontrei de fingir que não me
recordo da data do seu aniversário é ignorando as suas tentativas de
sexo, colocando a culpa no trabalho, em uma dorzinha ou outra de
cabeça.
Segundo o Betinho, que se diz especialista em homens,
preciso ser convincente e fingir que não estou muito afim de transar
com o meu marido por alguns dias. Isso irá deixá-lo puto e
enciumado, e consequentemente nem perceberá que estou
tramando para ele. E, claro, quando finalmente o grande dia chegar,
o homem estará tão louco que vai querer me devorar como um leão
faminto.
Essas foram as palavras exclusivas do meu amigo.
Por um momento eu pensei que seria sacrifício demais
passar uma semana sem aproveitar o meu tanque de lavar pessoal,
mas vendo as reações emburradas de Cadu nos últimos dias, até
que está sendo divertido. Ele está fazendo de tudo para chamar a
minha atenção. E, claro, é difícil resistir à tentação, mas eu sou
persistente.
Será por uma boa causa, digo a mim mesma enquanto digito
uma resposta para postar no grupo:
Sim. Tudo conforme o plano.
Envio a mensagem e guardo o celular na bolsa. Não demora
muito e dona Sara chega para se encarregar do Dudu.
— Bom dia, dona Sara — cumprimento assim que abro a
porta e a humilde senhora entra.
— Bom dia, senhora — responde sorridente. — Mas já vai
trabalhar? Tão cedo? — questiona, surpresa, ao ver que já estou
pronta para sair.
Assinto.
Dona Sara é uma senhora na faixa dos cinquenta anos, e
que trabalha como babá do meu filho desde que ele nasceu.
Digamos que sou ciumenta demais para contratar alguém muito
jovem para ficar debaixo do mesmo teto que o meu marido.
Sei que Cadu será fiel a mim até o fim, eu sinto isso, mas o
que fazer sobre as mulheres que faltam voar em cima dele? Já
flagrei até mesmo a dona Sara de olho gordo em suas partes baixas.
Sorrio ao me lembrar do ocorrido, mas disfarço com um
discreto pigarreio.
— Preciso resolver algumas coisas…— comento e arrumo a
bolsa em meu ombro. — Eduardo Felipe ainda está dormindo e o
Cadu deve descer em alguns instantes para ir pra empresa. Minha
mãe virá buscar o bebê às 14h, já deixei as coisas dele arrumadas, e
deixei o cardápio de suas refeições na geladeira. Tenha um bom dia,
dona Sara, e qualquer coisa não hesite em me ligar.
— Não se preocupe, minha filha, vá em paz.
Despeço-me dela e saio. Primeiro adiantarei o meu serviço
no centro, e logo depois ligarei para o caseiro de nossa casa de praia
em Búzios para lhe passar algumas instruções.

CARLOS EDUARDO

Olho o relógio na parede do escritório constatando que já são


quase 13h da tarde e ainda não almocei. Estou faminto, estressado e
com tesão.
Quando acordei pela manhã, Beatriz já saíra bem mais cedo
do que o seu costume habitual. E lá se foi mais uma manhã em que
precisei me contentar com o pau duro e dolorido.
Respiro fundo e levo a mão até a nuca. Sinto a região tensa,
rígida. Embora tenha dormido bem, aquela sensação estranha de
que há algo errado não me larga e isso está me incomodando, me
deixando agitado.
Preciso descobrir que inferno está acontecendo ou vou
enlouquecer de vez.
Desanimado, levanto-me para ir ao restaurante de costume,
e pego o paletó que deixei pendurado no encosto da minha cadeira.
Estou quase alcançando a saída quando ouço uma batida na porta e
logo depois a minha esposa coloca a cabeça para dentro.
— Oi… atrapalho? — pergunta.
Encaro-a por alguns segundos, pensativo, e me afasto para
que ela entre.
— Não. Pode entrar — tento forçar um sorriso, mas a
verdade é que estou mais propício a prensá-la na parede e
pressioná-la a me dizer porque está tão distante.
Sinto os meus nervos aflorarem quando Beatriz caminha na
minha direção e vejo a calça jeans colada ao seu corpo jovem e
cheio de curvas, a camiseta branca marcando os seios que tanto
amo.
Ela parece um anjo quando sorri para mim. Os lábios cheios,
a pele aveludada, os olhos brilhantes.
— Estava indo almoçar. Vem comigo? — dou um passo em
sua direção e passo a mão em sua cintura. — Estava com saudades.
Beatriz mordisca o lábio inferior e sua respiração acelera.
Posso sentir na forma como o seu peito começa a subir e descer
freneticamente.
Mas, para a minha total frustração, Beatriz balança a cabeça
em negativa.
— Eu já almocei. Não se preocupe… — Ela passa a mão em
meu peito levemente e encosta o corpo um pouco mais, com o olhar
fixo ao meu — na verdade, só passei aqui para pedir que pegue o
Dudu na casa da minha mãe quando sair da empresa. Infelizmente
irei me atrasar um pouco e sairei tarde do trabalho.
Fecho os punhos, irritado, quando ouço as suas palavras,
mas me controlo. A desconfiança começa a me torturar como um
ácido que corrói por dentro.
Puxo o ar com mais força encarando-a seriamente e abro a
boca algumas vezes para questioná-la. Mas, para ser sincero, tenho
medo da resposta. Repito para mim mesmo que é apenas trabalho.
Ela deve estar cansada, por isso anda distante…
— Tudo bem — respondo seco e Beatriz faz menção de se
afastar. No entanto, aperto o seu corpo ainda mais contra o meu,
impedindo-a de se mover. — Não vai me dar um beijo? — questiono.
Para a minha total surpresa, ela sorri e fica na ponta dos pés
para passar os braços em meu pescoço.
— Adoraria… — sussurra e eu inclino a cabeça para
alcançar os seus lábios.
Minha boca toca a carne macia e quase solto um gemido de
pura satisfação.
Faminto por ela, entreabro os seus lábios com os meus e
penetro a língua em sua boca, chupando e sugando. Sentindo o seu
gosto doce. Minhas mãos são certeiras em seu traseiro, e já começo
a me mover com ela até a mesa, na intenção de arrancar sua calça
jeans e fazê-la abrir as pernas para mim. Estou ficando louco para
meter gostoso.
— Cadu? Amor, espera… — inebriado de desejo, paro no
meio do escritório e a encaro, ofegante.
Vejo minha mulher voltar a mordiscar os lábios, mas se
afastar.
— Preciso voltar ao trabalho, estou atrasada — diz ela,
enquanto arruma a blusa na frente do corpo e em seguida faz o
mesmo com o colarinho da minha camisa.
Seguro o seu braço, mas, ainda que nervoso, tomo cuidado
para não a machucar.
— Beatriz, não tem nada a me dizer? — pergunto com a voz
rígida, autoritária.
Ela ofega com o semblante surpreso, mas logo força um
sorriso travesso, deixando-me ainda mais confuso com o seu
disfarce repentino.
— Claro que não! Se eu tivesse algo a dizer, já teria dito —
voltando a ficar na ponta dos pés, ela me beija brevemente e se
afasta. — Nos vemos mais tarde.
Ela pisca e sai, fechando a porta atrás de si.
Maldição!
Angustiado, caminho até o banheiro e abro a água da
torneira para molhar o meu rosto. Meus nervos estão à flor da pele, o
ciúmes e o desejo me deixando louco.
— Porra! — xingo nervoso e encaro o meu reflexo abatido no
espelho. — Ela está mentindo!
CAPÍTULO 3

CARLOS EDUARDO

— Oi, filhão. Aqui está o meu garoto! — sorrio quando Karine


me entrega o meu filho, dormindo, e eu o agasalho em meu ombro.
Com a outra mão seguro a bolsa que contém as suas coisas.
São quase 17h e decidi sair mais cedo da empresa para
pegar Felipe Eduardo na casa dos meus sogros. Karine sempre fica
com ele no período da tarde para brincar com os gêmeos.
— Tem certeza de que não quer esperar até que ele acorde?
Já tem um tempinho que o Dudu está dormindo, creio que não vai
demorar — pergunta Karine também sorridente. O olhar gentil
analisando o bebê em meus braços.
Balanço a cabeça em negativa e a agradeço.
— Não será necessário. Além disso, estou louco para chegar
em casa e descansar — justifico.
Caminho em direção à porta e Karine pega a bolsa da minha
mão para me ajudar.
Agasalho o meu filho na cadeirinha com cuidado. Assim que
chegamos no carro, pego as suas coisas e me despeço de Karine.
O trajeto até o apartamento é rápido. Assim que estaciono o
veículo no estacionamento subterrâneo, meu filho acorda e começa
a chorar um pouco assustado.
— Calma, filhão. O papai está aqui… — desprendo o cinto
de segurança e saio do veículo.
Ando até o banco de trás do carro para retirá-lo da
cadeirinha.
— Papa?
Os olhinhos brilhando de lágrimas me encaram mais calmos
e eu acaricio a sua barriguinha fazendo cócegas.
Dudu solta uma gargalhada gostosa e eu o retiro da
cadeirinha.
— Vamos para casa, garotão. Hoje somos só nós dois.
Agora, aos dois aninhos, é um garoto esperto e muito
traquino, com tanta energia que deixa qualquer um esgotado.
Pego sua bolsa, ajeito-a em meu ombro e o carrego em
direção ao elevador. Assim que adentramos o apartamento, deixo a
bolsa em seu quarto e o levo para a minha suíte.
Estou esgotado por causa do dia corrido e os milhões de
questionamentos que não me largaram. A ideia agora é justamente
tomar um banho e comer alguma coisa, mas para isso terei que levar
o meu filho para se banhar comigo na banheira, do contrário ele
aprontará todas aqui no quarto.
Deixo meu garoto brincando com um cachorrinho de pelúcia
no tapete e corro para preparar um banho relaxante.
Encho a banheira com água morna até um ponto seguro para
que não seja perigoso para ele, adiciono os sais e a espuma, e logo
retorno ao quarto para retirar as roupinhas do Dudu. Coloco o bebê
no chão, enquanto também me dispo, aproveito o momento e pego
alguns patos e baleias de brinquedo para brincar com ele.
Eduardo Felipe caminha aos tropeços na direção do
banheiro, e eu apenas sorrio, abobado, admirado com o quanto ele
cresceu.
— Bano… quelo bincar — diz ele animado, me fazendo
gargalhar.
Caminho atrás dele e o coloco dentro da banheira de
espuma.
A alegria parece tomar conta do meu menino e o banho se
transforma em uma guerra de pontapés, risadas e água sendo
jogada para todo o lado.
Invento uma historinha sobre a baleia que sabia voar e faço
os movimentos com as mãos, girando o brinquedo no ar. Em seguida
mergulho a baleia na água, fazendo Dudu gargalhar outra vez e me
encarar com curiosidade.
— Pa onde ela foi? — pergunta com os olhinhos brilhando.
— Xumiu.
— Cuidado, filhão, ela está se preparando para te pegar — e
em um passe de mágica a baleia salta em sua barriguinha, fazendo-
o soltar gritinhos estalados. Nós dois caímos na risada.
Foi um momento tão bom entre pai e filho, que mal vejo o
tempo passar, e muito menos perceber que estamos sendo
observados.
Somente quando decido concluir o banho e voltar a ligar a
torneira, que me dou conta da presença de Beatriz no quarto.
Ela está escorada no vidro, encarando-nos sorridente.
Minha mulher caminha até nós em silêncio, agacha-se e
deposita um beijo no rosto do nosso filho.
— Oi, meu amor. Como está cheiroso…
— Chegou cedo… pensei que tinha trabalho para fazer —
comento um pouco aliviado por vê-la antes do previsto, e ao mesmo
tempo intrigado.
Beatriz se vira na minha direção, beija os meus lábios
sutilmente e se levanta.
— Sim, eu tinha, mas o Betinho me ajudou com algumas
coisas, então terminei antes do previsto — pisca. — Irei fazer o jantar
enquanto vocês terminam.
Ela sai sem ao menos esperar uma resposta da minha parte
e eu fico ali enlouquecido de ciúmes.
Suspiro e permaneço parado, digerindo a sua fala. O apelido
do seu amigo sendo soado por seus lábios quase me deixou insano
de raiva.
Termino de me banhar de forma automática e faço o mesmo
com o bebê. Enrolo-o em uma toalha macia, também coloco uma em
volta da minha cintura e o levo até o seu quartinho para vesti-lo.
Quando termino, penteio os seus cabelos, também me visto
e sigo com ele até a cozinha.
Vejo minha mulher picando verduras sobre o balcão para
fazer o jantar do nosso filho, e sinto um aperto estranho no peito. Ela
é tão linda, responsável… não consigo pensar na mínima
possibilidade de Beatriz estar me traindo.
Até mesmo agora, com as roupas de trabalho, os cabelos
presos, o rosto sem maquiagem enquanto prepara o jantar do nosso
filho, ela parece uma princesa para mim.
E o que mais me admira é o quanto ela sempre foi dedicada
a nossa família. Mesmo eu repetindo que poderia contratar alguém
para fazer as refeições e uma babá para o período da noite, Beatriz
não quis. Ela faz questão de assumir as responsabilidades do nosso
filho quando chega do trabalho.
Uma espécie de agonia me toma e pela primeira vez em
muito tempo me vejo sem saída. Perdido.
Tento me manter rígido e fingir que essa distância entre nós
não faz diferença para mim. Mas porra! Eu amo essa mulher! Eu a
amo tanto que seria capaz de fazer uma loucura para mantê-la
sempre ao meu lado.
Será que ela se cansou de estar casada comigo?
— Irei pedir comida para nós. Ou podemos jantar fora se
você quiser — digo em uma tentativa quase desesperada de fazer
Beatriz se abrir para mim.
Ela levanta o olhar e mordisca o lábio, analisando-me por
alguns segundos.
— Pode pedir o nosso jantar. Enquanto isso, irei terminar
aqui e tomar banho — responde.
Beatriz coloca as verduras no fogo e tapa a panela, em
seguida se movimenta para sair.
— Não quer ir a um restaurante? Tem certeza? — questiono
chateado e mantenho contato visual com ela. — O que está me
escondendo, Beatriz?
Vou direto ao ponto.
Engolindo em seco, Beatriz olha para mim e para o nosso
filho, que brinca com um carrinho em meus braços.
É certo que ela esconde algo, só me resta descobrir do que
se trata.
— Amor, não seja bobo. Não está acontecendo nada —
justifica com sua voz calma e volta a sorrir. — Só estou cansada.
Quero ficar em casa com vocês.
Brinca com o nosso filho e vira as costas para ir tomar
banho.
— Logo estarei de volta. Pode olhar a panela, por favor?
Assinto.
Prendo a respiração e volto a inspirar com força, impaciente
e angustiado. As dúvidas me atormentando por dentro.

BEATRIZ
Fecho a porta do quarto e me escoro nela, ofegante. Um
risada me toma quando me recordo do olhar desconfiado de Cadu na
minha direção. O homem estava prestes a saltar sobre mim, não sei
se para me devorar ou me dar umas palmadas no bumbum. Se bem
que as duas opções seriam bem-vindas hoje.
Mordiscando os lábios, pego o meu celular que deixei na
gaveta da mesinha de cabeceira e acesso o grupo das amigas.
Rapidamente, digito uma mensagem:
Meu marido está desconfiado de alguma coisa, preciso
mudar de tática.
Clico em enviar e aguardo para que Betinho ou Gracy
respondam a mensagem.
Ninguém mandou você se casar com um CEO frio e
calculista.
É Betinho quem responde e eu preciso pôr a mão na boca
para abafar os sons dos meus risos.
Esqueceu de dizer que ele desconfia até mesmo da
própria sombra.
Gracy completa a frase de Betinho e eu reviro os olhos com
o drama deles. Mas bem lá no fundo sei que ambos têm razão.
Se eu continuar fugindo dele, Cadu será capaz de pôr um
detetive no meu encalço. Vai acabar descobrindo tudo de
qualquer forma.
Suspiro pensativa e envio a mensagem. Estou planejando
essa surpresa há algum tempo e não posso permitir que o tiro saia
pela culatra como no ano passado. Ele descobriu tudo faltando uma
semana para o seu aniversário, e embora tenha me garantido que
não liga para essas coisas, este ano tenho algo especial para ele.
Um riso baixinho escapa da minha garganta ao imaginar o
que o espera. Cadu vai ficar louco, mas, para que tudo dê certo,
preciso desviar a sua atenção para outras coisas. Neste caso, o mais
provável é que ele esteja louco de ciúmes do meu amigo gay
Betinho.
Isso terá de servir.
Mas talvez eu possa lhe dar um agradinho hoje para acalmar
seus nervos.
Um boquete, quem sabe?
E que tal um meia nove?
Começo a sentir coisas deliciosas entre as pernas quando
imagino a boca do meu marido fazendo loucuras na minha vagina.
Céus, ficar todos esses dias sem transar com ele está se
equiparando a tortura física.
E se você disser que está no período vermelho?
Pergunta Betinho seguido de um emoji esperançoso.
Já ouviu o ditado de que um verdadeiro guerreiro não
tem medo de sujar a espada de sangue? Pois é, ele segue esse
ditado com afinco. Kkkk Além disso, o Cadu sabe a data da
minha menstruação. E eu já menstruei este mês.
Envio a mensagem sorrindo e deixo o celular de lado para
me despir. Preciso ser rápida, pois ainda tenho um homenzinho
sapeca e guloso para alimentar.
Entro no chuveiro e ligo a água morna. Lavo os cabelos e
esfrego o meu corpo com o meu sabonete líquido favorito de
amêndoas.
Permito que o líquido gostoso banhe o meu corpo e fecho os
olhos para apreciar a sensação deliciosa.
É neste momento que ouço passos e o box do banheiro
sendo aberto. Abro as pálpebras rapidamente e me viro.
Dou de cara com o meu marido analisando o meu corpo nu,
cada detalhe dele, ao mesmo tempo em que arranca a camisa e a
joga no chão.
Ele dá o mesmo destino a calça de flanela e a cueca boxer
que estava usando. O pau grosso e muito duro salta em minha
frente, fazendo a minha boca salivar com vontade de chupá-lo.
Minhas pernas quase se dobram no chão por conta própria.
Preciso balançar a cabeça para recobrar a consciência e
começar a pensar coerentemente.
— O que está fazendo? O bebê…
Meu marido avança na minha direção e sua mão é certeira
em meu pescoço. Segura as mechas de cabelo em minha nuca e me
puxa para ele. Os lábios quase colados aos meus.
Todo o meu corpo estremece com essa promessa silenciosa
de sexo bruto.
— Minha mãe está com ele na cozinha. Ela veio fazer uma
visita.
— Mas… — tento abrir a boca para protestar, mas ele me
interrompe com um beijo.
— Shh... — sussurra — prefere trepar agora e me explicar
que merda está havendo depois? Ou prefere o contrário? A escolha
é sua, Beatriz — sua voz sai dura, carregada de hostilidade. Concluo
que meu homem está furioso e muito, muito enciumado.
Sorrio internamente, mas não permito que ele perceba a
minha diversão.
Não o respondo, apenas levo a mão até o seu pênis ereto e
o acaricio, arrancando um gemido doloroso dos seus lábios.
Agacho devagar, mantendo o olhar sempre preso ao de
Carlos Eduardo, e me ajoelho na sua frente.
Sinto sua respiração acelerar drasticamente quando sopro a
cabeça bulbosa do seu pau. Seu dedo acaricia os meus lábios, e eu
deslizo a língua em minha própria boca, provando, degustando,
antes de esticá-la um pouco mais e alcançar a pele suave da cabeça
avermelhada.
Lambo devagar e vejo meu marido prender a respiração,
fechando os olhos.
E enquanto ele geme baixinho, penso que se há uma tática
mais eficaz para amansar um marido furioso do que um delicioso
boquete, eu desconheço.
CAPÍTULO 4

BEATRIZ

Acordo cedo novamente e faço todas as tarefas da manhã,


como de costume, evitando acordar o meu marido. Embora ele tenha
se acalmado um pouco, nossos beijos e amassos ontem não foram
suficientes para aplacar as suas desconfianças. Eduardo é esperto
como o diabo. O mundo dos negócios é implacável em todos os
sentidos, e ele sabe quando algo está fora dos eixos a quilômetros
de distância. Está difícil ludibriá-lo, mas não desistirei.
A noite de ontem foi… digamos… excitante e ao mesmo
tempo tensa.
Depois de chupá-lo por alguns minutos debaixo do chuveiro,
Cadu me ergueu, segurando em meus ombros, e me levou para a
cama. Fui jogada nua e completamente encharcada sobre os lençóis,
e logo ele estava em cima de mim, distribuindo beijos pelo meu
corpo, mordendo em meus pontos sensíveis. Com muita dificuldade,
consegui ficar por cima dele e fizemos um delicioso 69. Gozei tanto
que fiquei zonza e de pernas bambas. O maxilar dormente, os lábios
doloridos.
Quando terminamos, Cadu começou a me beijar e me
prendeu na cama, ficando em cima do meu corpo. Foi difícil
conseguir me desvencilhar de suas investidas.
Precisei recorrer ao bom senso e o lembrei que sua mãe
estava lá embaixo com o nosso filho à nossa espera, e eu precisava
descer para cumprimentá-la.
Claro que ele protestou e não deu a mínima para as minhas
desculpas esfarrapadas, mas após muita insistência e alguns beijos
roubados da parte dele, consegui me vestir e desci para ir à cozinha.
Depois que sua mãe se foi, jantamos e coloquei o nosso filho
para dormir.
E então lá estávamos nós dois sozinhos novamente. Apenas
eu ele, uma cama enorme, lençóis quentinhos… mas me tranquei no
escritório alegando ter assuntos do trabalho para resolver, e fiquei
um bom tempo conversando com Gracy e Betinho.
Quando finalmente saí, ele já estava dormindo.
Deixando as lembranças da noite passada de lado, termino
de tomar o meu café forte e doce, como gosto, e pego uma maçã.
Assim que a babá chega, saio do apartamento, sigo para o
estacionamento subterrâneo e entro na minha Mercedes preta,
presente que ganhei do meu marido assim que casamos, e que
tenho mais ciúmes do que do próprio Carlos Eduardo.

CARLOS EDUARDO

Dias depois
Inquieto, esfrego o meu pescoço com certa força enquanto
Felipe dá prosseguimento a reunião com um cliente importante. Ele
explica as normas legais da construção, dando um parecer detalhado
e ao mesmo objetivo sobre o assunto.
Tento focar a minha atenção no assunto que está sendo
tratado, mas a cada segundo os meus pensamentos voam até
Beatriz e em todos os acontecimentos do dia. Meu sangue ferve
quando me recordo de certas coisas, e começo a pensar que talvez
ela esteja me escondendo algo ainda mais grave do que previ. Fico
louco.
O nervosismo é tanto que não consigo ouvir mais nada do
que está sendo dito à minha volta. Tudo se resume apenas nela.
Já é sexta-feira, o último dia útil da semana, e a data do meu
aniversário de quarenta e dois anos. O dia em que eu deveria estar
encerrando mais um expediente para voltar para casa e ver o meu
filho brincar, beijar minha esposa e me enterrar em seu corpo até
ficarmos exaustos.
Embora em nada me agrade a ideia de ficar um ano mais
velho, principalmente quando Beatriz parece estar a cada dia mais
jovem, era para ser um dia especial. Sairíamos para jantar, nos
divertiríamos na noite da capital carioca, e no dia seguinte faríamos
uma comemoração em família.
Mas nada disso está acontecendo, ela nem sequer se
lembrou que dia é hoje.
Como todas as outras vezes nos últimos dias, Beatriz
acordou cedo pela manhã e saiu sem que eu percebesse. Em um
primeiro momento, tentei assimilar essa distância dela com algum
plano sórdido de me fazer uma surpresa na data de hoje, do mesmo
modo que ela fez ano passado, e essa possibilidade me deixou um
pouco mais relaxado durante a semana. Não a pressionei para
conversar, nem tentei sexo. Deixei a minha esposa livre para concluir
seus planos sem deixar tão em evidência as minhas desconfianças.
Mas hoje, inferno! Justo hoje eu soube que seu
distanciamento em casa nada tinha a ver com esta maldita data.
Era por volta do meio-dia quando deixei o apartamento após
analisar alguns projetos no meu escritório. Fiquei a manhã inteira
preso naquilo e por isso decidi deixar para ir à Ferraz Engenharia no
período da tarde. Minha secretária repassou as ligações importantes
para o meu telefone pessoal, e como eu só teria reunião depois das
14h, não teria problemas em ir mais tarde. Passaria no centro de
pesquisa e preservação onde a minha mulher trabalha, e com sorte
ela estaria disponível para almoçar comigo.
E foi exatamente isso que fiz.
No entanto, as coisas não aconteceram conforme o
planejado.
Assim que cheguei no estacionamento, peguei o meu SUV
de vidro fumê e segui direto para o centro de pesquisa. O local não
ficava muito distante da Ferraz e o trânsito estava ameno naquele
horário, sem maiores tumultos.
O lugar era imenso e muito bem estruturado, com alas
separadas por divisões e setores, ocupava quase que um quarteirão
inteiro. No entanto, não foi difícil encontrar a minha esposa. Na
verdade, nem mesmo precisei entrar para falar com ela.
Logo em frente ao centro havia um restaurante de comida
italiana. Já tinha almoçado ali com ela uma ou duas vezes, e eles
serviam uma incrível lasanha à bolonhesa, prato típico do seu país
de origem.
De onde eu estava dentro do carro estacionado há alguns
metros de distância do centro, vi Beatriz sair do restaurante
acompanhada de Gracy e o tal Alberto. Já o tinha visto algumas
vezes de longe, mas não tão próximo da minha esposa como
naquele momento.
Ele era ainda mais jovem do que me lembrava, deveria ter
por volta dos vinte e cinco anos.
Os três conversavam e gargalhavam tanto que senti ciúmes
até mesmo do olhar brilhante e os lábios cheios dela curvados em
um sorriso na direção do cara.
Senti um aperto imenso no peito quando Beatriz passou a
mão na cintura dele e o cara fez o mesmo com ela. Naquele
momento eu só conseguia pensar que estava perdendo a minha
esposa. Ela iria me deixar. Aquilo me fez ficar louco e por um
instante apenas coloquei a cabeça no volante perdido em minha
própria dor.
Levantei o olhar mais uma vez e vi os dois se despedirem de
Gracy. E então, como em uma câmera lenta, Beatriz e o tal Alberto
entraram na Mercedes que eu dera para ela quando nos casamos.
— Sr. Ferraz … sr. Ferraz? — pisco os olhos, afastando os
sentimentos conflitantes que me tomaram, e levanto o olhar dirigindo
a minha atenção na direção da voz que me chama com certa tensão
e um timbre de preocupação.
Todos os presentes na reunião me encaram confusos, os
olhares focados no meu rosto, como se esperassem uma resposta.
Pigarreio, incomodado com a situação, e suspiro enquanto
me excomungo internamente.
Preciso manter o controle! Preciso manter o controle!
É o que repito para mim mesmo incontáveis vezes, antes de
abrir a boca para dizer algo.
— Desculpe… eu não entendi bem a pergunta. Poderia
repetir, por favor?
Felipe se adianta, como se adivinhando os vários conflitos
que se passavam em minha cabeça, e apenas diz:
— Só queríamos saber se está de acordo com os termos do
contrato!
Fito-o sem saber o que responder, pois nem ao menos me
recordo do que foi dito, muito menos do que está redigido no
contrato.
Felipe ergue uma sobrancelha, percebendo que algo está
fora dos trilhos, e balança a cabeça em uma afirmação sutil, como se
para me assegurar que posso concordar sem receios, com o que foi
discutido.
Suspiro um pouco aliviado, e decido encerrar logo este
assunto com base na total confiança que tenho no meu sogro.
— É claro, senhores — levanto-me e aperto as mãos dos
três clientes ali presentes. — Estou de acordo e já adianto que
faremos uma parceria formidável.
Forço um sorriso convincente e os homens concordam,
satisfeitos.
Assim que retorno a minha sala, Felipe me acompanha e
fecha a porta atrás de si, encarando-me com aquele olhar inquisidor.
— Eduardo, eu não sei o que está acontecendo com você,
mas espero sinceramente que retome a razão o mais rápido
possível! — esbraveja ele com um tom irritado e incrédulo. — O que
foi aquilo, cara, ficou louco?
Encaro-o irritado, os pulsos fechados em volta do meu corpo,
o maxilar cerrado. Penso no que ele faria se soubesse o que Beatriz
está fazendo, se soubesse que ela possivelmente está me traindo,
mas me controlo.
Não tenho certeza de nada. Pode haver outro motivo para
tudo que presenciei. Mas é tão difícil acreditar em outra
possibilidade. Ela parecia tão feliz olhando para aquele cara, tão
cheia de si, como várias vezes nos últimos dias parecia não se sentir
comigo.
Com a garganta seca e a cabeça latejando, caminho até as
vidraças do escritório e observo o curso de carros lá fora.
— Não é nada, Felipe. Estou exausto apenas — minto.
Mas por dentro sinto meu peito destroçado.
— Eduardo… cara, não minta para mim. Eu te conheço há
anos. Se há algo sério acontecendo, tente resolver. E se precisar de
ajuda, sabe que pode contar comigo, não é?
Engulo saliva com dificuldade e me viro na direção dele.
Felipe me analisa com atenção, está visivelmente preocupado, mas
não quero encher a sua cabeça com essas merdas agora. Preciso
ter certeza antes de dizer qualquer coisa.
— Ficarei bem, não se preocupe. — Ele suspira e sei que
não acreditou em nada do que eu disse. No entanto, balança a
cabeça em concordância e sai, alegando ter muito trabalho para
fazer.
Sento-me na cadeira da presidência, pego o telefone e ligo
no local em que ela trabalha. Após a segunda chamada, a atendente
do setor em que minha esposa trabalha atende:
— Centro de pesquisa e preservação AM. Boa tarde. Com
quem falo? — pergunta com amabilidade e faço uma pequena pausa
antes de respondê-la. No entanto, decido ir até o fim.
— É Carlos Eduardo Ferraz. Por favor, gostaria de falar com
a minha esposa, Beatriz Ferraz. Estou tentando ligar para ela, mas
parece que seu celular está descarregado — explico.
— Só um instante, Sr. Ferraz, irei verificar se ela se encontra
aqui no centro. Poderia aguardar um minuto?
Afasto a cadeira da mesa alguns centímetros, e inclino a
cabeça para trás. O coração batendo forte no peito.
— Certo! — respondo.
Enquanto aguardo, pego o meu celular e envio uma
mensagem para a minha esposa:
Oi, querida, está fazendo pesquisa de campo agora?
Estou louco para te dar um beijo.
Meus olhos ficam vidrados na tela do celular, como se assim
a resposta pudesse vir mais rápido. Quando me canso de esperar,
deixo o celular sobre a mesa.
Em pouco tempo, a atende volta a me chamar na linha.
— Desculpe, Sr. Ferraz, mas sua esposa saiu logo após o
almoço e ainda não retornou. Quer deixar algum recado?
— Não! Obrigado.
Desligo a chamada sem esperar que ela diga mais nada. A
única coisa que paira em minha cabeça é que Beatriz ainda está com
aquele cara, fazendo sabe-se lá o que.
Cinco minutos depois, o toque de mensagem me faz olhar a
tela do aparelho que deixei sobre a mesa. Com a mão trêmula,
deslizo a tela de descanso, e o que leio iguala-se ao mesmo que
levar um soco no estômago.
Estou trabalhando no centro de pesquisa, amor. Um
beijo.
Maldita!
Bato na mesa, sentindo-me fora de mim. O coração
dilacerado, a respiração tão pesada como se eu tivesse corrido uma
maratona.
CAPÍTULO 5

CARLOS EDUARDO

A tarde passou tão devagar, que até mesmo pensei estar


preso em um pesadelo torturante, e que em algum momento iria
acordar, virar para o lado e descobrir que Beatriz ainda dormia ao
meu lado, em meus braços.
Passei o restante do dia preso no escritório, sentado na
cadeira da presidência, olhando para os vidros que davam acesso à
vista.
Atendi algumas ligações importantes, passei instruções para
a secretária, mas me fechei apenas nisso.
Não quis ir embora e ficar naquele apartamento onde cada
canto está marcado com a presença e o cheiro dela.
Também estava fora de questão ir até a casa da minha mãe
ou conversar com Felipe.
A verdade é que simplesmente preferi ficar sozinho,
digerindo tudo. Tentando encontrar uma justificativa plausível para as
atitudes dela e de tudo que vi. Tentando procurar uma justificativa
para as suas mentiras.
Confiro as horas no meu relógio de pulso, e percebo que já
são quase 18h e eu ainda não sei o que fazer ou para onde ir.
Caminho devagar na direção do toalete, arregaço as mangas
da camisa até os cotovelos, lavo o meu rosto com água fria, em
busca de calma, e analiso as minhas feições no reflexo do espelho.
Meu rosto está cansado, abatido. É como se eu não
dormisse há dias.
A angústia faz isso com as pessoas, deixam inertes,
abalados.
Estou mentindo para mim mesmo quando repito
internamente que posso lidar com isso. Que sobreviverei.
Mas a verdade é que não... Beatriz me estragou para
qualquer outra mulher na face da terra. Não consigo sequer pensar
numa vida sem ela daqui pra frente.
Continuo analisando o meu semblante desanimado. As rugas
ainda suaves em volta dos meus olhos, jogando na minha cara que o
tempo não para. Os fios de cabelos brancos quase imperceptíveis
entre as mechas negras me fazem refletir o quanto sonhei alto
demais quando me casei com ela.
Sorvo o ar para os meus pulmões, pensativo.
Não há outra alternativa. Se Beatriz realmente estiver me
traindo, pedirei o divórcio e conseguirei na justiça a guarda do nosso
filho. Mesmo que isso me destrua por dentro, ela também sofrerá.
A realidade dos fatos me deixa ainda mais abalado. No
entanto, minha decisão está tomada.
Enquanto encaro meu reflexo no espelho, ouço o toque de
mensagens no meu celular, retorno à sala da presidência e pego o
aparelho que deixei em cima da mesa.
O nome e a foto dela estão escancarados na tela.
Abro a mensagem e sinto meu sangue ferver quando analiso
o conteúdo.
É uma selfie dela ao lado da amiga Gracy e do desgraçado.
Os três sorriem felizes, estão escorados na Mercedes que dei a ela.
Logo abaixo há uma mensagem de texto.
Estamos indo passar a noite de sexta em Búzios com
meus amigos, estarei de volta amanhã à tarde. Deixei o Dudu e
as coisinhas dele com a minha mãe. Te amo, querido. Bjos.
Em um primeiro momento, penso que irei explodir de raiva,
loucura e ciúmes.
Permaneço alguns segundos parado, sem ação para nada.
Meu corpo parece congelar no tempo.
— Maldita, desgraçada! — vocifero fora de mim. O coração
batendo tão forte no peito como se estivesse prestes a se partir ao
meio, o ar faltando em meus pulmões.
Você ficou louca?
Envio a mensagem, mas não espero nenhuma resposta dela.
Jogo o celular no chão com tanta força que as partes removíveis se
espalham pelos cantos, em todos os lugares.
O mundo para a minha volta. Nada mais tem importância.
Mal percebo quando saio do escritório e passo por minha
secretária, que se arruma para ir embora. Ouço sua voz ao longe,
me chamando, mas não lhe dou atenção e muito menos paro no
caminho. Simplesmente entro no elevador e sigo direto para o térreo
do prédio. Pego o SUV no estacionamento, dou a partida e arranco a
toda velocidade com destino a Búzios.

BEATRIZ

— Xuxu, você vai se meter em problemas. Seu marido vai


ficar louco… — diz Betinho logo atrás de mim, espiando por cima
dos meus ombros enquanto digito a mensagem que irei enviar ao
Cadu daqui a 1 hora quando estiver na metade do caminho para
Búzios.
Preciso correr para chegar em nossa casa de praia e me
aprontar para esperá-lo. O caseiro e sua esposa já deixaram tudo
pronto para o que planejei. O vinho, o quarto decorado, o jantar
especial...
— E desde quando ele é certo? Aquele homem parece uma
máquina de negócios ambulante — diz Gracy ao lado dele, com um
pacotinho de biscoitos Globo na mão, interrompendo os meus
pensamentos ansiosos.
Afasto-me de ambos, termino de digitar a mensagem, onde
digo que irei para Búzios com meus amigos, e bloqueio a tela do
meu celular.
— Pode parar vocês dois — digo sorridente. — É a única
forma de fazê-lo ir até Búzios sem eu ter que revelar tudo. Passei
dias planejando essa surpresa e não desistirei agora. Além disso,
vocês dois são meus cúmplices.
Dou um risinho travesso e jogo meus cabelos escovados e
muito bem hidratados para o lado.
— Tem certeza que ele vai pra Búzios atrás de você? E se
ele ficar bravo? E se…
— Betinho, por favor, não me deixe ainda mais nervosa —
interrompo-o.
Embora eu saiba que provavelmente passei um pouquinho
dos limites, tenho certeza de que no fim valerá a pena.
— E respondendo a sua pergunta… — respiro fundo antes
de respondê-lo e caminho até o porta-malas do carro para fechá-lo
— eu conheço o meu marido. Ele vai até o fim do mundo se achar
que algo está fora dos trilhos.
Viro o rosto na direção dos dois e vejo Gracy sorrindo com
uma expressão safada no rosto. Betinho apenas se abana, indicando
sentir um calor que é inexistente.
— Ai! Acho que estou tendo tremedeira nas pernas só de
pensar naquele homem indo ao fim do mundo por minha causa —
dramatiza Betinho me fazendo soltar uma gargalhada.
— Nós dois sabemos muito bem que espécie de trilho ele vai
encontrar quando chegar em Búzios — Gracy ri e abraça Betinho de
lado. — Não é, Bia, sua safada?
Não me contenho e também sorrio um pouco envergonhada.
Ambos sabem cada detalhe dos meus planos para hoje à noite.
Inclusive, foi o próprio Betinho que me ajudou a escolher a lingerie
que usarei mais tarde. Ele também me acompanhou no salão de
beleza e no sex shop, e por último, fomos a um SPA, onde fiz
massagem relaxante, limpeza de pele e uma super depilação à
brasileira.
— Bom, gente, está na minha hora — abro um amplo sorriso
e os dois correm na minha direção para me abraçar, dando gritinhos
de pura empolgação. — Vejo vocês amanhã, hein?
— Arrase, gata. Chupe cada pedacinho daquele homem em
nome de todas as mulheres que existem no mundo. Pelo amor de
Deusss — diz ele empolgado além do normal.
— Betinho… — dou um tapinha em seu ombro,
repreendendo-o, e gargalho.
— O que foi? — pergunta ele se fazendo de inocente. —
Você tem o macho mais cobiçado do país, então aproveite por todas
nós.
Balanço a cabeça, incrédula e vermelha de tanto sorrir com a
audácia dele.
— Farei isso, pode deixar — respondo e me viro na direção
de Gracy: — Leve o Victor amanhã para o almoço. Sei que ele chega
hoje de viagem, mas não aceito desculpas.
Gracy assente para mim, também sorridente, e os dois se
afastam.
Caminho na direção do carro, entro no banco do motorista e
ligo o veículo. Faço uma vistoria mental para ter certeza de que não
estou esquecendo nada, dou a partida e coloco o carro em
movimento.

Estou mais ou menos no meio do caminho para Búzios


quando me lembro de enviar a mensagem para Cadu com a foto em
anexo que tirei mais cedo com os meus amigos, em frente ao
condomínio que Betinho mora. Terei cerca de uma hora para
aprontar tudo assim que chegar na casa de praia. Conhecendo meu
marido como conheço, ela virá atrás de mim como um leão
enjaulado, pronto para atacar.
O trajeto é feito tranquilamente, sem maiores problemas com
o trânsito. Por sorte meu marido não nasceu em nenhuma data
festiva ou feriado, do contrário isso aqui estaria um inferno de tantos
carros.
Após mais de duas horas na estrada, chego ao meu tão
aguardado destino: uma linda e tranquila vila à beira mar. Nossa
casa fica há uns 500 metros de distância.
Sorrio ao ver a casa recém reformada aparecer na minha
vista. Estaciono o carro próximo a piscina, desço rapidamente, e
pego a mala no porta-malas.
Com um enorme sorriso no rosto, admiro a fachada ampla de
tijolinhos, toda pintada de branco. As vidraças esverdeadas são
como um convite para entrar e apreciar todo o conforto e
tranquilidade que a casa proporciona.
Pisando firme no piso de azulejos marrons, que lembram
madeira maciça, puxo a mala para o interior da casa, e subo as
escadas para o segundo andar.
Entro na suíte principal, encantada de como a reforma deixou
o ambiente visualmente mais espaçoso por causa da pintura branca,
e muito convidativo.
Os lençóis alvos e imaculados estão repletos de pétalas de
rosas vermelhas, e um aroma sutil e delicioso com o cheiro de mar
invade as minhas narinas, misturando-se ao cheiro das pétalas.
Antes de me aprontar, sigo até a janela e abro as cortinas.
De onde estou, é possível ver a varanda decorada, de frente para o
mar de águas azuis, com balões metálicos presos aos pilares que
sustentam a cobertura de madeira, uma faixa branca com inscrições
de "feliz aniversário, meu amor" e uma mesa rústica de madeira,
contendo um pequeno bolo, velas e morangos.
Sorrio maravilhada. Meus olhos brilham ao ver o contraste
das ondas do mar, com os tons amarelados e laranja do crepúsculo
do fim da tarde.
Inspiro fundo, e retorno até onde deixei a mala em um canto
no quarto. Arrumo todos os itens essenciais para a noite em cima do
aparador próximo a cabeceira da cama, pego os sais de banho
aromáticos e caminho direto para a banheira.
Dispo-me, tendo consciência que tenho menos de uma hora
para estar pronta, prendo meus cabelos no topo da cabeça e preparo
tudo.
Tomo um banho revigorante e relaxante na banheira de
espumas e sais de banho com aroma frutal, delicado e delicioso.
Quando termino, envolvo o meu corpo em um roupão branco,
faço uma maquiagem suave, destacando os olhos com rímel e
delineador. Aplico um batom vermelho nos lábios, um perfume frutal
com o mesmo aroma dos sais, atrás de minhas orelhas e nos pulsos,
solto os cabelos e analiso o meu reflexo no espelho.
As mechas castanhas e modeladas em ondas soltas, caem
em cascatas pelos meus ombros cobertos pelo roupão.
Mordisco o lábio inferior, um pouco nervosa, e retiro o tecido
macio que cobre o meu corpo, ficando completamente nua em frente
ao espelho.
Observo as formas de meu corpo e as mudanças que sofri
ao longo dos anos. Posso dizer que o tempo está sendo generoso
comigo. Minhas coxas estão mais grossas, meu bumbum mais
avantajado. Minhas feições também amadureceram.
Acaricio a aliança de casamento em meu dedo, e flashes de
tudo o que vivemos nos últimos anos passam por minha cabeça. Eu
nunca fui tão feliz em toda a minha vida. Pensar nisso faz meu
coração bombardear o meu peito com batidas frenéticas e tão
vigorosas que preciso fechar os olhos por alguns segundos.
Com o corpo trêmulo em ânsia de abraçar o meu marido,
pego a lingerie vermelha e me visto.
O sutiã rendado valoriza os meus seios, deixando-os
volumosos. A calcinha transparente e fio dental, é tão minúscula que
mal tapa a minha vagina, deixando quase nada para a imaginação.
Visto a cinta liga e as meias, e para fazer um pequeno mistério,
coloco um robe da mesma cor, levemente transparente por cima do
traje para lá de sensual.
Por último calço os sapatos de salto fino, sento-me na cama,
agarrada a um dos travesseiros e aguardo.
A espera torna-se torturante à medida que os minutos
passam. Ando pelo quarto, mais nervosa do que quando perdi a
virgindade. A ansiedade me toma, e já começo a pensar que Cadu
não virá.
Caminho até o aparador com o coração a mil, quase saindo
pela boca. Abro o vinho importado, que está dentro de um balde com
gelo, e me sirvo com uma taça.
O sabor marcante em minha língua me acalma um pouco, e
tomo todo o conteúdo da taça em um único gole.
Estou quase enchendo o recipiente outra vez quando ouço o
barulho de um carro arrancando a toda velocidade.
— Céus. É ele! — murmuro nervosa. O coração dando saltos
no peito, a respiração acelerada.
Ouço passos rápidos e firmes no andar de baixo, seguido
pelo timbre grosso e rouco de sua voz:
— Beatriz! — sua voz sai ofegante, o tom estridente
indicando irritação.
Os passos tornam-se mais notáveis à medida que ele sobe a
escada, vindo na direção da suíte.
Começo a suar frio, tendo consciência de que meu marido
está bravo. Muito bravo.
Respiro fundo e me preparo para o momento em que
estivermos frente a frente. Sento-me na cama forrada de pétalas,
cruzo as pernas e aguardo que ele entre.
No momento seguinte, a porta é aberta bruscamente e um
Cadu completamente desalinhado invade o quarto adentro.
Os olhos oceânicos fixam-se nos meus com ira. As íris
fervilhando de raiva, e uma outra coisa que não consigo identificar.
— Onde o desgraçado está? — indaga de modo brusco,
duro, deixando claro que o que o levou até ali foi o ciúmes cru e
palpável. Ele caminha pelo cômodo à procura de algo, observando,
analisando. Segue até o banheiro e retorna segundos depois
passando a mão pelos cabelos, o olhar de mar revolto, o rosto
pálido.
Levanto-me um pouco incerta, receosa. Embora tenha
consciência de que ele ficaria bravo com minha inocente
brincadeirinha para atraí-lo até aqui, não pensei que seria tanto.
Cadu desce o olhar angustiado pelo meu corpo, e o vejo
fechar os punhos como se fosse impossível controlar a fúria que
despertou dentro de si.
Rapidamente ele faz uma análise minuciosa pelo quarto.
Seus olhos azuis varrem a cama repleta de pétalas e passeiam pelo
aparador. Observa as duas taças sobre o móvel, a garrafa de vinho
dentro do balde, lubrificantes e óleo de massagem comestível e dois
plugs anais em formato de rubis.
— Não há ninguém aqui além de mim e você — digo arfante,
tomando coragem para me aproximar, e dou alguns passos na sua
direção.
— O que é tudo isso? — seu olhar recai sobre mim, confuso.
E quase posso ver uma mistura de alívio e descrença em seu
semblante.
— Feliz aniversário, meu amor… — volto a mordiscar o lábio
inferior e abro um suave sorriso, incitando-o a se aproximar.
Surpreso, ele arregala os olhos:
— Beatriz… — Cadu passa a mão pela barba cerrada,
visivelmente nervoso, e volta a me olhar de cima para baixo. Seu
olhar recai em meu decote e o vejo passar a língua nos lábios,
umidificando-os. — Porra!
O homem caminha até a porta, desnorteado, e recosta a
cabeça na guarnição, me deixando momentaneamente amedrontada
com seu comportamento muito atípico.
— Meu amor… você não gostou? — questiono incerta, a
aflição tomando conta do meu peito.
Quando Cadu levanta a cabeça devagar e fita o meu rosto
novamente, sinto meu coração dar um salto tão grande em meu peito
que fico paralisada.
Há lágrimas brotando em seus olhos, mas ele não permite
que elas caiam.
Em um movimento rápido e firme, ele caminha na minha
direção, encurtando completamente a distância que nos separa. Sua
mão direita é certeira em meu pescoço, me puxando para si.
Minha cabeça encaixa-se em seu peito forte, e estremeço
quando percebo que seu corpo está tremendo. O coração tão
acelerado como se ele estivesse correndo uma maratona, a
respiração errática, as mãos ansiosas, nervosas, enfiando-se nos
fios do meu cabelo.
— Pensei que estivesse me traindo… maldição, Bia. Por que,
merda, fez isso?
Oh, meu Deus…
Afasto-me um pouco para inspecionar o seu rosto, e a dor
que vejo em seu semblante faz meu estômago se revirar.
— Eu não… Cadu… — dou um passo para trás, sem saber o
que dizer diante daquela informação.
Sabia que ele estaria enciumado por eu ter me afastado dele,
por passar muito tempo com meus amigos, e principalmente por
Betinho ser homem… mas achar que eu o estava traindo…
— Eu vi ele entrando no carro com você. E depois liguei no
seu trabalho, mas informaram que você ainda não tinha chegado…
— meu marido suspira, dúvidas e culpa dançando em seus olhos…
— E então você me mandou mensagem… — continuou sua fala,
compreendendo o motivo de suas desconfianças. — E você
respondeu dizendo que estava no trabalho.
— Oh, meu Deus… — percebo que por um triz não acontecia
uma tragédia.
Inspiro e solto o ar algumas vezes antes de respondê-lo:
— Betinho é gay, Cadu. Ele e Gracy me ajudaram a planejar
tudo isso aqui, durante semanas. Foi a única forma plausível que
encontrei para impedir que você estragasse tudo como no ano
passado. — falo um pouco chateada, mas acabo deixando a
chateação para lá. Foi apenas um mal entendido, e de certa forma, a
culpa foi minha.
Ele volta a se aproximar de mim e seus braços envolvem o
meu corpo possessivamente.
Puro fogo passeia por seus olhos, a angústia dando lugar ao
desejo cru e imoral que somente eu sou capaz de despertar nele.
— Perdão, amor, mas o que queria que eu fizesse? Fiquei
louco de ciúmes. Louco!
Seu olhar recai para o meu decote outra vez e sua mão
desliza para a minha cintura, massageando a carne, cravando os
dedos em minhas curvas.
— Você está tão deliciosa, que quase fui a loucura quando a
vi, e imaginei que estava toda produzida para outro homem. — sua
voz sai carregada de aflição e desejo, suas mãos deslizam por baixo
do robe e alcançam a parte interna das minhas coxas.
Sinto que meu marido ainda está abalado pelos
acontecimentos, e confesso que eu também. Mas tudo que quero
agora é estar em seus braços e senti-lo dentro de mim.
— De joelhos, Bia. Agora! — Ele exige, rouco, bruto, e
entreabro os lábios para tentar dizer algo, mas nenhum som sai da
minha boca. — Vai chupar o meu pau e depois vou comer você com
tanta força, até essa agonia sair do meu peito.
Há um mix de raiva em sua voz, mas não ouso desobedecer.
Agacho-me devagar, sem tirar os olhos de sua expressão
fechada. Os lábios cerrados de desejo, loucura, ciúmes.
Meu marido leva a mão à calça, abre os botões e desce o
zíper com tanta pressa que prendo o ar.
O pau grosso e muito duro salta para fora, a cabeça
vermelha toda babada de excitação.
Ele parece insano quando segura o pênis pela base com
uma mão, e com a outra segura os meus cabelos, puxando-me para
si.
Esfrega a ponta melada e escorregadia em meus lábios e me
força a abrir a boca para recebê-lo todo.
Sinto minha vagina latejar e o líquido da excitação escorrer
em minha vulva. Um mix de tensão e prazer me atinge com toda
essa brutalidade, uma sensação de plenitude, de estar sendo
desejada além da razão pelo meu marido.
— Porra! — Ele grunhe rouco quando o abocanho, e deslizo
a língua na ponta. Provo e chupo cada gota do seu pré-gozo. — Vai,
querida, me tome mais. Abre bem essa boquinha.
As sucções estaladas de minhas chupadas toma o quarto, e
Cadu segura os meus cabelos com as duas mãos. Começa a se
movimentar freneticamente, forçando o seu pau em minha boca, me
fazendo arfar e esticar os lábios o máximo que consigo.
Lágrimas começam a descer pelos meus olhos, e eu
engasgo com seu cumprimento em minha garganta.
Ele aplica em mim uma espécie de castigo, punição, em
cada estocada firme e vigorosa. Quer me fazer engolir toda a dor
que causei nele, mesmo que inconsciente… E eu gosto disso.
Meu clitóris pulsa com vontade de ser tocado, minha vagina
começa a se contrair, melada e desejosa, ansiando por um gozo.
— Já chega! Levante-se.
Ele inclina o corpo e me força a ficar de pé, de frente para
ele.
Fito os seus lábios por breves segundos, louca por um beijo,
em ânsia de sentir sua língua brincando com a minha, me possuindo
com a boca. Mas ele não me beija.
Simplesmente retira a gravata e me empurra, na cama, me
fazendo cair de costas sobre o colchão macio.
— Vou comer o seu cu, querida esposa. É isso que quer,
não é? — questiona rouco.
Assinto sem ar e o ouço gemer baixinho.
Cadu observa cada detalhe do meu corpo com uma áurea
imponente. Seus cabelos estão bagunçados, mas os fios em
desalinho o deixam extremamente viril. A camisa social está toda
amassada, o pau tão duro quanto o aço apontado para cima, repleto
de veias dilatadas.
O olhar gelado recai no V entre minhas pernas e ele volta a
me encarar, faminto. Labaredas de fogo queimam em suas íris.
— É linda como o inferno, Beatriz. — diz ele.
— Cadu… me faça sua… — peço em um murmúrio sôfrego,
sentindo meu corpo tremer sob seu olhar.
Meu marido dá a volta na cama e caminha até o aparador.
Com a respiração errática e as pernas trêmulas, o vejo pegar o maior
plug que está sobre o móvel junto com o lubrificante, e retornar para
a cama.
— Coloque a calcinha de lado. Me mostre essa boceta —
ordena ofegante.
Faço o que ele pede, sem me importar com a forma rude
com que me trata. Cada palavra suja e imoral que sai de sua boca,
deixa-me ainda mais excitada.
Retiro o robe rapidamente do meu corpo, abro bem as
pernas, apoiando os pés no colchão e flexionando os joelhos.
Levo a mão a minha calcinha e a puxo para o lado, deixando
minha vagina completamente aberta e exposta para ele.
— Oh, inferno — meu marido geme baixinho e se aproxima
mais. Segura os meus tornozelos, me puxa para a beirada da cama
e se ajoelha no chão.
Começa a beijar os dedos dos meus pés, um a um, bem
lentamente.
Choramingo baixinho quando sua língua desliza pelo dedinho
e seu olhar recai entre as minhas pernas, comendo minha boceta
com os olhos.
Quase choro e imploro para que ele me coma logo. Essa
tortura deslavada está me levando a loucura.
Depois de mordiscar e lamber os meus dedos, ele me puxa
ainda mais para si, forçando minhas pernas a se abrirem mais,
colocando-as em volta dos seus ombros.
Um dedo longo e duro serpenteia em minha pele, cavando o
interior de minhas coxas.
Sinto o toque de seu polegar em meu clitóris, e dou um salto
para trás, aturdida demais pelo prazer eletrizante que toma o meu
corpo. Um grito escapa da minha garganta.
— Não se afaste — pede em um sussurro rouco, levantando
a cabeça para prender o meu olhar ao seu — Me deixe ver você…
assim bem aberta — volta a descer o olhar para o meio das minhas
pernas e aproxima o rosto do meu centro.
Sinto sua respiração morna em meu clitóris, e fecho os meus
olhos, trêmula. Entregue. Meu corpo queimando e ondulando por
causa dele.
— Como amo chupar essa boceta linda, vermelhinha. Toda
depilada — murmura sôfrego, inspirando o meu cheiro com força,
prazer. Os dedos grossos espalham os pequenos lábios do meu
sexo e a ponta de sua língua lambe minha pequena protuberância,
experimentando o meu gosto, sentindo o meu sabor. — Ah Beatriz.
Você me deixa louco, menina.
E então meu marido se afasta.
Confusa e torturada, volto a abrir os olhos e o encaro, vendo
um sorriso endiabrado surgir em seus lábios.
Meu marido termina de se despir, revelando os músculos do
abdômen e dos braços, me deixando ofegante com sua imponência.
Cadu é tão másculo que chega a ser doloroso apenas olhá-
lo.
— Fique de quatro para mim e encoste o rosto no
travesseiro. Deixe a bunda bem empinada… — exige.
— Cadu… o que vai… — tento questioná-lo quando o vejo
pegar a gravata e subir na cama, mas ele me interrompe:
— Confie em mim, Beatriz!
Engulo em seco diante do seu olhar decidido, mas assinto.
Faço como ele pediu. Fico de quatro para ele com as pernas
escancaradas em sua direção, e apoio o rosto no travesseiro.
Meu marido se agacha às minhas costas, abre bem as
bandas da minha bunda, forçando a calcinha para o lado, e
abocanha o meu clitóris, me fazendo gritar de prazer, susto e luxúria.
A língua ávida penetra o meu corpo, tão quente e invasiva
que até me esqueço das suas pretensões.
Os dedos experientes não param de esfregar meu feixe de
nervos, me deixando à beira do abismo mais profundo do prazer.
Ofego quando ele sobe em meu corpo, firma-se com uma
mão, e com a outra encaixa o pênis na minha entrada. Com uma
única e longa estocada, penetra o meu corpo com seu pau grosso,
me esticando, enlouquecendo.
Grito enrouquecida, torturada. E não é preciso mais que duas
investidas firmes para me fazer quebrar. Todo o meu corpo treme,
ondula. As ondas do prazer me consomem e eu gemo seu nome em
um abandono doloroso, prazeroso, enquanto o orgasmo intenso me
deixa grogue.
— Cadu… oh, céus…
Não consigo mais me manter firme na cama, então desabo
sobre o colchão. As pernas tremendo, o coração quase saindo pela
boca.
Ainda dentro de mim, meu marido inclina o corpo para a
frente quase que me esmagando no processo, segura as minhas
mãos e as amarra com a gravata, deixando-me incapacitada para
fugir do que está prestes a acontecer.
— Eu não sei se consigo… — ofego quando ele sai de mim.
— Consegue sim… é só ficar quietinha, meu amor.
Um tapa é desferido em minha bunda, e logo depois, ele
segura as minhas nádegas e me força a ficar de quatro outra vez.
Sinto a textura gelada do plug anal benzuntado de
lubrificante na entrada do meu ânus, e contraio o corpo
instintivamente.
— Calma, Bia. Relaxe o corpo, confie no seu marido.
Um dedo lambuzado com a minha própria excitação toma o
lugar do plug, e começa a entrar devagarzinho, ao mesmo tempo em
que o um outro massageia e esfrega meu clitóris inchado.
Relaxo o corpo, mesmo que esteja dolorida entre as pernas
após o gozo intenso que tive, mas o desejo ainda está ali, palpável
de tão intenso.
— Ai… — choramingo quando ele começa a me penetrar
com mais rapidez, tirando e enfiando o dedo.
— Assim, garota… assim.
Volta a pegar o plug anal, e o força a entrar.
Sinto-me melada lá atrás, mas é difícil relaxar quando
imagino o tamanho do pau do meu marido enfiado em minha bunda.
— Cadu… — reclamo ao sentir meu orifício se abrindo para
dar espaço ao plug. É doloroso, mas ao mesmo tempo gostoso.
Todas essas sensações me assustam.
— Não se mexa, está quase lá — sussurra e esfrega a minha
coluna, fazendo de tudo para acalmar o meu corpo tenso.
Quando relaxo, Eduardo volta a empurrar o plug, e dessa vez
eu sinto quando o objeto se encaixa lá dentro.
— Pronto… entrou tudo.
Viro o meu rosto para fitá-lo por cima do meu ombro, e vejo
seu olhar vidrado em minha bunda, admirado.
Tento pensar que não é o momento para decoro, mas sinto
que minhas bochechas coram.
Ainda assim, mordisco o lábio e balanço o quadril,
levemente. Provocando-o.
Meu marido desfere outro tapa em minha bunda, tão forte
que sei que o local ficará marcado por um bom tempo.
— É a coisa mais linda que já vi, sabia? — confessa rouco.
Ele volta a se agachar e chupa o meu clitóris, dando
lambidas longas e deliciosas, ao mesmo tempo gira o plug em meu
ânus, arrancando alguns arquejos da minha boca.
Quando volta a se levantar, tira o plug do meu canal e volta a
me chupar toda. Me lambuza com a sua saliva, enfia a língua no
local que o plug ocupava fazendo o prazer crescer em meu corpo em
uma velocidade alucinante.
— Eu vou entrar em você, querida. Não suporto mais…
Balanço a cabeça em afirmativa, um pouco receosa, mas
muito decidida.
Meu marido leva a mão entre as minhas pernas e começa a
me massagear outra vez, me dando prazer.
Sinto a cabeça larga de seu pênis na entrada do meu ânus, e
fecho os olhos, arquejando.
Ele força, e sinto-me sendo alargada além do limite para
recebê-lo. Dói, lágrimas teimam em querer sair.
— Está doendo, Cadu... — tento mover as minhas mãos,
mas a atadura é firme e me impede de fazer qualquer movimento —
por favor…— choramingo.
Ele para no mesmo lugar e a pressão em meu clitóris se
intensifica.
— Calma, amor. Calma. Relaxe para mim, vai entrar gostoso.
Respiro com mais força, e deixo meu corpo relaxar um
pouco. O prazer aumenta por causa da fricção de seus dedos, o
êxtase se aproxima novamente.
Estou quase gozando, quando Cadu volta a empurrar, e
dessa vez o pau me invade com um pouco mais de facilidade.
— Está entrando, Bia. Caralho!
Grito ao ser preenchida por ele. É uma sensação esquisita.
Arde, queima um pouco, mas por algum motivo eu quero mais.
— Oh, céus… você é muito grande… — reclamo em uma
lamúria ofegante. Meu corpo treme, sinto o suor escorrer em minha
testa.
Ainda imóvel, meu marido inclina o corpo para alcançar o
lóbulo da minha orelha e mordisca. Beija o meu pescoço e acaricia
meus ombros levemente, fazendo meu corpo relaxar mais.
Os dedos voltam a acariciar o meu clitóris e eu ondulo o
corpo, à beira de outro orgasmo.
Gemo baixinho, choramingo e quase morro de prazer quando
ele esfrega minha protuberância com mais força. Começo a gozar
em seus dedos, meus músculos se contraindo tanto que fico sem ar.
E então meu marido me penetra até o fim, gemendo como um louco,
o prazer o dominando.
— Bia… inferno… — ouço sua voz lamuriosa, ofegante. E
então o sinto tremer em cima de mim, o pênis quente latejando
dentro do meu ânus em um gozo tão intenso que ele desaba sobre o
meu corpo.

Abraçados em uma das espreguiçadeiras na varanda,


agarro-me ainda mais ao Cadu.
Depois que ele saiu do meu corpo quando fizemos amor na
suíte, descansamos por alguns minutos, ele me despiu da lingerie e
tomamos um banho na banheira. Expliquei a ele com detalhes tudo o
que havia acontecido e como planejei tudo por aqui, inclusive o
almoço que terá amanhã com toda a família, Gracy, Betinho, e
alguns dos funcionários da Ferraz.
De início, Cadu se manteve firme na decisão de que eu não
precisava ter feito uma surpresa para ele, no entanto acabou
rendido. Ainda mais porque estava todo bobão e apaixonado por ter
comido o meu cu. O cretino.
Após o banho, enrolamo-nos em mantas quentes e
decidimos ir até a varanda para comer um pedaço de bolo.
Cantei parabéns para ele em meio a risos e beijos, comemos
e acabamos transando outra vez na espreguiçadeira.
E agora estávamos ali, em silêncio, apenas aproveitando a
sensação de estarmos juntos.
A manta grossa e quente aquece nossos corpos nus,
trêmulos e suados.
As ondas do mar se quebram na areia, me fazendo fechar os
olhos, relaxada. Inspiro seu cheiro de homem, e me aninho ainda
mais contra o seu peito, envolvida.
— Amor… — chamo-o após longos minutos de silêncio e
descanso.
— Sim? — responde, calmo. A voz macia, a mão acariciando
os meus cabelos.
— Estava pensando sobre o que você me perguntou naquela
noite. Se eu gostaria de ter outro bebê… — faço uma pausa para
levantar a cabeça e fitar o seu rosto.
As luzes aqui fora me permitem ver o brilho em seus olhos.
— E a resposta é sim. Eu quero ter outro bebê com você…
— afirmo com o coração batendo forte.
Ele sorri maravilhado e me aconchega mais, contra o seu
corpo.
— Pensei que quisesse deixar isso para depois. Depois de
viajar, aproveitar a vida…
— Não, amor. Eu só estava te provocando — interrompo-o
sorridente, e aproximo a minha boca do seu ouvido. — Estou louca
para ter outro bebê com você.
Meu marido gargalha todo feliz e procura os meus lábios. A
língua quente invade a minha boca com tanta paixão que me sinto
derreter em seus braços.
— Amo tanto você, sua diabinha.
— Também amo você, seu cretino arrogante.
Tento me manter séria, mas acabo gargalhando e o beijo
outra vez. Nossos corpos se moldam tão bem juntos como se de fato
tivéssemos sido feitos um para o outro desde sempre.
— Sempre será você, Cadu. Sempre… — repito isso mais
uma vez, deixando claro que nunca houve e jamais haverá espaço
para outro homem na vida.
Acariciando o meu rosto, ele responde:
— Eu sei, menina. Me desculpe por hoje... é que só a ideia
de perder você me faz pirar. Eu perco o controle — confessa.
Abraço o meu homem com mais força, aninhando-me em
seu peito, e em algum momento da noite adormeço.
Mas a certeza de que somos eternos é a maior verdade que
guardo dentro do meu peito, não importa o que aconteça.
UM DIA PERFEITO
SINOPSE

Eles estavam em plena descoberta do prazer e no auge do


desejo quando a cegonha simplesmente não resolveu esperar.
Karine era uma linda jovem de olhos encantadores e Felipe era um
rapaz bonito e sedutor, prestes a se tornar advogado.
As lembranças de Um Dia Perfeito mostrarão Felipe e Karine
lidando com a chegada de um bebê simplesmente irresistível:
Beatriz.
Um Dia Perfeito é um spin off do livro A menina do CEO e
conta a deliciosa, romântica e engraçada história do primeiro dia
dos namorados do casal
CAPÍTULO 1

KARINE

12 de junho. Dias atuais

Era uma manhã fria e enevoada do mês de junho, mais


precisamente o dia dos namorados. Meu marido conversava ao
telefone com o genro, enquanto eu olhava pela janela que dava
acesso ao jardim, e, como sempre, eles falavam de trabalho.

Terminei de fechar o zíper do vestido preto que batia acima


dos meus joelhos e observei calmamente meu marido. Os anos
haviam passado, e as primaveras nos roubaram um pouco da
juventude, mas a beleza daquele homem continuava ali, presente
em cada centímetro da pele bronzeada e dos músculos do seu
abdômen nu. Uma beleza ainda tão marcante e deliciosa como no
nosso primeiro dia dos namorados. Aquela data trazia tantas
lembranças maravilhosas que meu peito se aqueceu
enlouquecidamente apenas ao recordar pequenas passagens de
nossa história.

Caminhei devagar na direção de Felipe, imaginando o quanto


precisávamos de um tempo sozinhos, apenas eu e ele, e o abracei
pelas costas. Passei a mão em seu peito quente e firme, e senti o
seu toque nos meus dedos, fazendo-me apertá-lo um pouco mais.

Suspirei feliz pelo marido maravilhoso que eu tinha, e a


família linda que havíamos construído com o passar dos anos. No
entanto, eu estava um pouco cansada.

As crianças ainda dormiam e o silêncio era quase absoluto na


casa. Algo raro de se acontecer quando os gêmeos estavam
acordados e corriam para lá e para cá em todos os cômodos.

Agora com seis anos de idade, Sophia e Gabriel eram uma


dupla imbatível. Enquanto Gabriel era arteiro e agitado, Sophia era
um pouco mais contida e tranquila, mas ainda assim ela me
arrancava o sossego durante todo o dia.

Após alguns segundos, Felipe desligou a chamada, deixou o


celular em cima do parapeito da janela e segurou minhas duas
mãos, afastando-as do seu corpo.

Virou-se na minha direção e me abraçou, agarrando a minha


cintura e me levando para si.

— Eles já estão a caminho, devem chegar em alguns minutos


— disse ele, referindo-se à nossa filha, Cadu e às crianças.

Passou uma mão nas mechas do meu cabelo que caíam


sobre a minha testa e acariciou a pele ali.

Encostei meu rosto em seu peito, sorrindo. A felicidade em


meu coração era tanta que estava transbordando. Em poucos
minutos, nossa filha e nosso genro chegariam com as gêmeas e
Dudu para darmos prosseguimento à programação do dia.

Felipe e Eduardo ficariam com as crianças enquanto eu e


Beatriz iríamos às compras e às sessões de beleza.

Logo mais à noite seria a vez dos namorados. As crianças


seriam cuidadas pela mãe do Cadu com a ajuda da babá, e nós
quatro sairíamos para jantar fora.
— Em que está pensando? — perguntou Felipe quando
permaneci em silêncio. — Está tão quieta.

Intensifiquei o aperto das minhas mãos em suas costas


largas.

— A data de hoje é tão nostálgica. Lembra-me a primeira vez


que transamos e todo os acontecimentos depois daquele dia,
incluindo nosso primeiro dia dos namorados.

Ouvi Felipe sorrir e sua mão desceu até a lateral da minha


bunda, fazendo-me gemer por causa da região dolorida.

— Podemos relembrar aquela noite. O que acha? Temos


alguns minutos antes que as crianças acordem. — Sua boca desceu
até a minha orelha e mordiscou o lóbulo, arrancando-me arrepios
gostosos.

O que ele disse me vez relembrar o que havia acontecido na


noite anterior, e eu balancei a cabeça, sorrindo, pensando no que
aprontamos e de como minha bunda acabou daquele jeito, dolorida.

Ainda sorrindo, comecei a me lembrar...

Após o jantar, havíamos colocado Sophia e Gabriel para


dormir e subimos para o nosso quarto, ansiosos para darmos
atenção um ao corpo do outro. Há dias o cansaço do trabalho e a
atenção com as crianças não nos permitiam namorar um pouco.

Nós nos beijávamos e nos tocávamos, arfantes, enquanto


nossas roupas eram despidas. Eu rebolava em cima da pélvis do
meu marido coberta pela cueca boxer, contando os minutos para
descer no eixo dele, quando a porta do quarto se abriu e Sophia
entrou. O susto foi tão grande que, ao tentar sair de cima de Felipe,
enrolei as pernas no lençol e caí de lado no chão. Eu quis chorar
naquele momento, já sentindo meu traseiro arder.
A garotinha chorava, segurando seu ursinho rosa, alegando
estar com medo do bicho papão debaixo da cama. Segundo ela,
fora Gabriel que havia dito. Ela acreditou no irmão piamente.

Felipe, como o pai babão que era, levantou-se e pegou nossa


filha nos braços. Levou a menina para a cama e a deitou.

— Não chore princesa. Não tem nenhum bicho papão


debaixo da sua cama — ele disse, acalentando-a enquanto alisava
seus cabelos castanhos.

— Estou com medo, papai. — Soluçou — Me deixe dormir


aqui com o senhor e a mamãe. — Quando fitei os olhinhos
molhados de Sophia, meu coração também se derreteu. Ela era tão
doce. — O Gabriel é um irmão mau. Ele me faz ficar com medo,
papai… — ela continuou.

Naquele momento, eu soube que a tentativa de fazer amor


com meu marido já era, e tentei me conformar.

Quando Sophia finalmente dormiu, levei-a então de volta para


o seu quarto, mas quando retornei, Felipe também dormia
profundamente e eu não tive outra alternativa a não ser pegar no
sono.

E então, depois de lembrar da bunda dolorida pela noite


anterior, ainda sorrindo, deslizei as mãos pelo peito de Felipe,
retrocedendo ao momento em que nos abraçávamos e me afastei
um pouco para fitá-lo. Mordisquei o lábio suavemente enquanto
observava aquele rosto másculo e expressivo, a barba cerrada com
alguns fios grisalhos, os olhos castanho-escuros que me faziam
suspirar, mesmo após tantos anos. Felipe era um homem grande,
charmoso e muito teimoso. Mas era o meu teimoso. O único que
esteve em minha vida e em minha cama. Eu o amava tanto.
— Está usando roupas demais, querida. Não é assim que me
recordo da nossa primeira vez. — Felipe sorriu, deslizou as mãos
pelas minhas coxas e alcançou a barra do meu vestido. Ergueu em
seguida o tecido e alcançou as bandas da minha bunda e esmagou
minha carne entre os seus dedos.

Gemi.

— Felipe… — Tentei adverti-lo de que não tínhamos tempo,


pois Beatriz e as crianças chegariam logo, mas meu marido
simplesmente me ignorou.

— Uma rapidinha meu amor, isso não te lembra nada?

Sorri, segurando em sua camisa enquanto a boca quente


distribuía beijos pelo meu pescoço. Suas grandes mãos foram
certeiras em minha calcinha e desceram o tecido até metade da
minha bunda.

— Ao menos feche a porta... — sussurrei. — Não queremos


ser interrompidos por um time de pestinhas não é verdade?

Meu marido gargalhou e, em um rápido movimento, ergueu o


meu corpo, fazendo-me cruzar as pernas em seus quadris. Firmei
minhas mãos em seu pescoço.

Os passos de Felipe foram rápidos na direção da porta.


Passou a chave e retornou comigo em seus braços. Deitou-me na
cama e cobriu o meu corpo com o seu. Minhas pernas foram
abertas para que ele pudesse se acomodar entre elas.

Colocou um braço em cada lado da minha cabeça, tocou o


meu queixo sem tirar a expressão sorridente do rosto e baixou os
lábios até tocar os meus.
Gemi roucamente quando a língua quente e invasiva
penetrou minha boca. Seus quadris se moveram entre as minhas
coxas e o volume do seu pênis grosso e rígido se fez presente
enquanto esmagava o meu clitóris por cima da calcinha.

As lembranças me atingiram em cheio e foi como se eu


tivesse voltado no tempo, em um dia tão especial quanto decisivo. O
dia em que me entreguei de corpo e alma àquele homem...

22 de abril. Ano 2000

— Quer ir para casa agora? Podemos andar mais um pouco


se quiser, acho que seu pai não irá me estrangular se nos
atrasarmos alguns minutos. — Senti o aperto forte da mão de Felipe
na minha e estremeci um pouco.

Andávamos devagar na orla da praia de mãos dadas depois


que saímos do cinema. Já era tarde, mas algumas pessoas
circulavam por ali naquele horário e a lua cheia brilhava com tudo no
céu. O clima estava agradável e o vento soprava os meus cabelos
de um lado a outro. A brisa suave que batia em meu rosto me
acalmava.

Eu não sabia o que poderia acontecer quando entrássemos


de volta no carro que ele pegou emprestado de um amigo da
faculdade. Namorávamos há alguns meses e o clima havia
esquentado muito entre nós nas últimas semanas. Era por isso que
eu estava nervosa. Nossos beijos já não eram mais inocentes,
nossos toques queimavam como fogo em brasa. O desejo ardia
dolorosamente.

Eu queria Felipe, e ele também me queria. Éramos dois


jovens com os hormônios à flor da pele, apaixonados e loucos um
pelo outro, vivendo em um mundo de ilusões.

Ele, um estudante de Direito, correndo atrás dos seus


sonhos, e eu apenas uma garota no fim do colegial. No entanto,
nossos medos e receios ficavam em segundo plano sempre que ele
me beijava e me abraçava forte contra o seu peito. Eu até mesmo
me esquecia dos ensinamentos rigorosos de minha mãe sobre me
casar virgem e nunca permitir nenhum tipo de perversão antes do
casamento.

Eu sentia que era dele. E ele era meu. Estava disposta a tudo
pelo homem que amava...

Dias atuais

— Deixa eu tirar essa calcinha… — Meu marido sussurrou


em meu ouvido, e eu retornei dos meus devaneios, abrindo os
olhos. — Erga o quadril, amor.

Suas íris faiscavam de paixão quando eu o fitei. A cor dos


seus olhos havia escurecido e minha respiração acelerou.

Felipe baixou o olhar e enganchou os dedos na lateral da


minha calcinha. Puxou-a, e eu ergui o quadril para ajudá-lo
enquanto ele deslizava o tecido pelas minhas coxas.

A barra do meu vestido embolou em minha barriga quando


Felipe me puxou para a beirada da cama e segurou minhas coxas
firmemente. Abriu as minhas pernas, inclinou os meus joelhos e se
agachou.

Gemi ofegante ao sentir a respiração quente no meu sexo, e


logo depois a língua dura e morna me golpeou no clitóris, fazendo
rajadas de prazer se espalharem pelo meu corpo.

Fechei os olhos, arfante, e agarrei seus cabelos. Mais


lembranças me atingiram em meio ao prazer e eu já não estava
mais dentro do nosso quarto, e sim no banco de trás da Hilux prata,
em frente à casa dos meus pais.

22 de Abril. Ano 2000

— Seus lábios são deliciosos, minha linda Karine… —


murmurou ele, aprofundando o beijo sedutor e passou a mão pela
minha coxa, por baixo do vestido listrado que eu usava.

Meu coração batia forte no peito por medo de sermos


flagrados por alguém enquanto nos beijávamos ali. No entanto, a
rua estava vazia e as luzes que iluminavam a frente da minha casa
estavam apagadas. Todos dormiam.

— Eu preciso entrar, Felipe — sussurrei em sua boca, sem


conseguir desgrudar nossos lábios, entretanto, o medo fazia minha
respiração falhar.

Eu o queria tanto que temia não ser capaz de pará-lo caso


avançasse o sinal. Éramos jovens demais para lidarmos com
qualquer consequência. Meus pais certamente nos forçariam a um
casamento se descobrissem.

— Não quero que vá. — O olhar escuro buscou o meu,


frustrado. — Me deixe te beijar um pouco mais, por favor…

Assenti querendo o mesmo, e ele voltou a envolver os meus


lábios com os seus. Uma mão envolveu os cabelos da minha nunca
e a outra serpenteou pela minha coxa, subindo cada vez mais.
Estremeci quando senti os dedos ásperos alcançando a barra da
minha calcinha e uma sensação de umidade me fez ficar consciente
do quanto eu estava molhada entre as pernas.

Ofeguei, querendo-o.

Felipe já havia me tocado ali antes por cima da calcinha, mas


fora por breves segundos. No entanto, naquele momento o seu
toque se estendeu, mais intenso, e um dedo grosso percorreu por
debaixo do elástico.

Minhas bochechas esquentaram. Eu estava envergonhada,


mas não conseguia afastá-lo, nem mesmo quando a ponta do seu
dedo pressionou o meu clitóris, arrancando-me um gemido sôfrego.

Tentei fechar as pernas, assustada, confusa e excitada. A


umidade em meu sexo só aumentava e meus pensamentos já não
eram mais tão coerentes.

— Deixa, meu amor. Me deixe te tocar aqui… — Felipe pediu


ofegante, parecia estar tão envolvido quanto eu estava.

Ele começou a esfregar o dedo em círculos com cuidado e


devagar. Precisei fechar os olhos para suportar as alfinetadas de
prazer que eu experimentava.

— Não podemos…

Remexi os quadris no banco, desorientada pelo prazer e


desejo. Mas, ao invés de afastá-lo, eu o puxei ainda mais para mim.
Mordi seus lábios e Felipe não conseguiu conter um gemido.

— Eu só irei tocar você… — Sua voz estava arrastada,


rouca. — Afaste suas coxas um pouco mais, deixa eu te dar prazer
com os meus dedos.
Fiz o que ele pediu sem conseguir raciocinar direito e abri as
pernas ainda mais. Dei o espaço que ele precisava. Felipe
continuou com os lábios grudados aos meus e colocou o tecido da
minha calcinha para o lado. Logo senti dois dedos acariciando os
meus nervos e deslizando para a minha abertura.

— É tão quente, Karine. Está tão melada para mim.

Contive o ar quando Felipe afastou o seu corpo e deslizou


minha calcinha por minhas pernas. Arranhei o seu ombro fortemente
por cima da jaqueta jeans que o cobria.

— Eu quero você… — murmurei fora de mim — Me beije.

Nossas bocas voltaram a se encontrar, dessa vez com beijos


profundos e estalados. Estávamos famintos, desejosos, febris pela
paixão que consumia cada célula dos nossos corpos.

— Te darei tudo o que quiser… — ofegou.

Sabia que deveria pará-lo, mas não protestei quando ele


segurou as minhas coxas e as escancarou. Deu um último beijo em
meus lábios e tomou uma curta distância do meu corpo ao mesmo
tempo em que inclinava os meus joelhos, apoiando os meus pés em
cima do banco do carro.

Seu olhar baixou para o centro das minhas pernas e Felipe


gemeu. Parecia fascinado enquanto analisava o meu sexo exposto.
Minhas bochechas ardiam envergonhadas, mas o desejo que eu
sentia era tão forte que não consegui protestar e fechar as pernas.
Eu me sentia mole.

— Como é linda… Eu quero provar você, Karine. — O olhar


escuro procurou o meu, como se pedisse permissão.
Contive o ar em meus pulmões quando ouvi suas palavras e
senti a umidade aumentar entre as minhas pernas. Eu nunca tinha
sentido a boca de um homem em minha intimidade, nem mesmo
carícias com os dedos. Felipe era o meu turbilhão de primeiras
vezes.

Assenti brevemente, trêmula. Meu peito subia e descia pelo


ritmo acelerado da minha respiração.

Felipe se abaixou, sustentou uma perna no assoalho e


manteve a outra em cima do banco. Segurou minhas coxas
firmemente para mantê-las abertas e enfiou o rosto entre as minhas
pernas.

— Oh Deus! — Arqueei as costas para trás e segurei o banco


com força para me firmar, antes que eu caísse de costas.

A língua dura varreu a minha carne macia, lambendo e


pressionando meu clitóris de baixo para cima, levando-me ao céu
em milésimos de segundos.

Ele subia e descia a língua freneticamente contra o meu


nervo, apresentando-me sensações que nunca achei que fosse
possível que existissem.

Gemi sem forças quando minhas pernas começaram a tremer


e uma pressão deliciosa se formou em minha intimidade. A
sensação que eu tinha era que iria explodir a qualquer momento.

Eu sentia meu clitóris inchado, pulsante. O prazer crescia


alucinado em meu interior e estava prestes a ser libertado. Meus
braços perderam as forças e eu me joguei para trás, encostando a
cabeça no banco do carro com os olhos trancados.

Nem soube como respirar quando o êxtase me atingiu, mais


forte do que qualquer outra vez que eu tenha me tocado, e mordi
minha mão para não gritar. Sentia que poderia morrer enquanto
arqueava as costas querendo mais dele. Querendo ser dele por
completo.

Felipe afastou o seu corpo e logo em seguida eu ouvi o


barulho de um zíper. Abri os olhos lentamente para fitá-lo e
encontrei aquele olhar alucinado de pura paixão. Ele era quente.

Não protestei quando meu namorado desceu a calça junto


com a cueca e o pênis rígido saltou para fora. Arregalei os olhos
surpresa por causa do tamanho e grossura. Senti medo, mas quis
tocá-lo. Ele era fascinante… lindo… quase poderia contar o número
de veias se não fosse a pouca luz ali no carro.

— Quer me tocar? — perguntou roucamente e segurou a


minha mão. — Ele é seu, não tenha medo.

Mordi os meus lábios, respirando descompassadamente e


assenti.

Felipe se aproximou mais e levou a minha mão até a grossa


ereção. Com a outra, firmei-me no banco e me inclinei levemente
para ter uma melhor visão.

Segurei aquela carne pulsante, trêmula, e deslizei o dedo


pela cabeça macia. Surpreendi-me ao sentir a textura aveludada,
gostosa. Meu clitóris voltou a pulsar.

Felipe inclinou o corpo grande sobre o meu e alcançou os


meus lábios. Beijou-me com fervor.

O dedo longo voltou a brincar com o meu clitóris e esfregou o


ponto sensível. Arfei em sua boca. Eu queria mais, precisava ter
mais dele. Nada parecia ser suficiente.

— Amor...— chamei ofegante e o afastei. — Quero mais…


Como se soubesse o que se passava em minha cabeça,
Felipe retirou os dedos da minha vagina e fechou a mão por cima da
minha em volta do seu eixo. Gemeu.

Abri minhas pernas um pouco mais, dando total acesso a ele,


soltei seu pênis inchado e deslizei um dedo até meu clitóris sensível.

— Karine… — murmurou em forma de advertência.

— Eu quero sentir você aqui.

— Porra… — Ele grunhiu, rouco e levou a mão até o meu


sexo. Deslizou a ponta do dedo em minha abertura e voltou a falar:
— Eu estou perdido, linda… Você é tão deliciosa…

Não terminou a frase, simplesmente guiou a ereção até o


meu clitóris e o esmagou, dando leves batidinhas.

Gemi com aquela tortura e inclinei os meus quadris,


buscando mais fricção contra a sua carne.

— Quero mais, por favor…

— O que você quiser, amor.

Senti a cabeça robusta e escorregadia entre os lábios da


minha vagina e ofeguei quando ele deslizou um centímetro em
minha abertura. Seu pênis pulsava.

Seu dedo voltou a pressionar o meu clitóris, torturando-o,


dando leves beliscadas. Foi demais para mim.

— Me dê mais… — pedi entre delírios sussurrados. — Eu


quero mais...
Gozei novamente, sussurrando o nome dele e inclinei o
quadril, passando minhas pernas em volta do seu para me prender
ao seu corpo. O pênis entrou, apenas mais alguns centímetros, mas
foi o suficiente para eu sentir uma fisgada dolorosa em minha
vagina.

Felipe ofegou e eu gritei surpresa quando ele empurrou mais,


rompendo o meu hímen, tomando o meu corpo para si. Doía e ardia
de uma forma alucinante.

— Merda… — Ele estremeceu, mas não foi capaz de


controlar o jato quente que me banhou por dentro.

— Karine… perdão… Eu fui muito bruto —Tentou falar


enquanto gozava, mas eu apenas o abracei mais forte, querendo
sentir mais dele.

— Não diga nada, amor — pedi e enchi minhas mãos com os


fios do seu cabelo. Fechei os olhos. — Apenas me abrace até a dor
passar… eu te amo.
CAPÍTULO 2

FELIPE

12 de junho. Dias atuais


Cobri o corpo da minha esposa e comecei a entrar bem
devagar enquanto as memórias refrescavam a minha mente, e
Karine sorria, mordiscando os lábios. Eu sabia exatamente em que
ela pensava. O brilho do seu olhar e a emoção que ali estava
deixavam claro que Karine relembrava naquele instante o momento
que tirei sua virgindade no banco de trás da Hilux prata, quando
namorávamos. Sempre iríamos nos lembrar daquela data, pois fora
naquela noite que nossa vida se transformou completamente.

— Está incorporando muito bem o personagem — sussurrei


sorridente em seu ouvido.

Ela me abraçou e enfiou as mãos nos fios do meu cabelo,


puxando-me para si.

— Eu quero mais — murmurou dengosa, e eu a fitei.

Karine sorriu e mordeu o lábio com mais força, dando-me gás


para comê-la forte. O gemido gostoso veio a seguir quando retirei o
pau quase completamente do seu corpo e voltei a meter.

— Quer mais querida? Eu te dou tudo… tudo o que você


quiser.

Sem me retirar da sua entrada, fiquei de joelhos e mergulhei


as mãos por baixo do seu corpo, levantando seu traseiro gostoso
dos lençóis da cama e, em seguida, cravei os dedos em suas
nádegas, erguendo o seu quadril para que ela pudesse me receber
todo.

— Felipe… — minha mulher grunhiu ofegante e eu investi,


mantendo suas pernas escancaradas para mim.

Nem mesmo o barulho de corridas e gritos frenéticos se


aproximando da porta me fizeram parar. Eu estava inteiramente
concentrado nela, cada pequeno compartimento do meu cérebro,
cada segundo da minha atenção.

— Aii… Felipe, as crianças…

— Deixa eles brincarem… agora você é toda minha.

Passei a comê-la rápido, com força, dando estocadas firmes


e profundas. Karine gritou em meio às batidas da cabeceira da
cama na parede.

— Ah, Céus… você é grande, cretino… — Pressionei o dedo


em seu clitóris e o esfreguei freneticamente, até sentir seu corpo
começar a tremer.

Sorri enquanto a observava fechar os olhos e arranhar os


lençóis, gozando gostoso. Outro gemido alto escapou da sua boca e
eu diminuí o ritmo quase gozando também. Minha testa suava,
minha respiração estava ofegante e minhas bolas já doíam com a
ânsia do orgasmo. Estava quase lá… só mais algumas metidas e eu
ejacularia forte dentro dela.

Mas então tudo mudou no instante em que fortes e


desesperadas batidas na porta me fizeram congelar e Karine se
afastou, alarmada, fazendo meu pênis sair do seu corpo.

Porra!
— Papai, o Gabriel colocou um bicho na minha cama. — Era
a voz de Sophia, parecia assustada. — Ahhhhh! — gritou
estridentemente e ouvi as gargalhadas de Gabriel.

Merda. Naquele momento o pau até murchou e uma pontada


de dor surgiu do lado direito da minha cabeça.

Eu certamente deixaria o Gabriel a semana inteira de castigo,


seja lá que besteira aquele garoto tivesse feito.

— Eu acho que a brincadeirinha acabou. — Karine colocou a


mão na testa e sorriu. — Foi bom enquanto durou, amei relembrar
os velhos tempos, amor — completou e se levantou da cama,
desanimada.

Suspirei pesadamente e respondi:

— Eu não gozei. Meu pau está doendo… Inferno!

Karine nem ao menos disfarçou o seu divertimento enquanto


vestia a calcinha e arrumava o vestido amarrotado.

— Mamãe… papai… — Outra batida na porta me fez xingar


baixinho. — Tem um sapo no corredor…

— Sua medrosa... — Ouvi a voz de Gabriel ao longe,


provocando Sophia e deixei os ombros caírem, frustrado.

— Querida, a mamãe está indo. — Minha mulher olhou uma


última vez para a minha cara de poucos amigos e se aproximou,
dando um beijo nos meus lábios, e em seguida caminhou na direção
da porta.

Apressei-me para pegar a cueca no chão e me agachei para


fazê-lo. Vesti a peça de roupa às pressas, xingando baixinho por
causa da dor que sentia nas bolas. Era certo que ficariam azuis
mais tarde.

Fui até o armário para pegar uma muda de roupas e me vesti


casualmente, com camisa polo e bermuda jeans. Ao terminar de me
vestir, lavei as mãos rapidamente no banheiro e saí do quarto.
Assim que entrei na sala, senti-me como se tivesse acabado de
invadir uma creche devido a quantidade de crianças que brincavam
e pulavam em cima do sofá, jogando as almofadas no chão. Sophia
e Gabriel brigavam no outro lado da sala por causa de uma boneca.

A sala já estava uma verdadeira zona, com sapatos e


brinquedos no chão.

— Olá, criançada — Sorri, um pouco chocado pelo terrorismo


mirim, mas feliz por vê-los. Apesar do choque Inicial, eu estava
morrendo de saudade dos pirralhos.

— Vovô — gritaram em uníssono, fazendo-me franzir o cenho


incomodado. Mesmo depois de seis anos e três netos na bagagem,
ainda não tinha me acostumado a ser chamado de avô. Eu sentia
como se tivesse envelhecido cem anos.

Dudu e as gêmeas, Isabela e Rafaela, correram na minha


direção e eu me agachei para acomodá-los dentro de um abraço de
urso. Sophia e Gabriel também se juntaram a nós, esquecendo a
pobre boneca no chão.

— Cadê os pais de vocês? — perguntei enquanto voltava a


me levantar com Isa e Rafa em meus braços.

As gêmeas, de apenas três anos e expressivos olhos azuis,


eram o clone em miniatura de Beatriz, até mesmo nos cabelos
castanhos e nos narizinhos empinados. Eduardo iria passar um
perrengue e tanto daqui a alguns anos, e aquela ideia me arrancava
gargalhadas.
— Papai tá lá fola, falando no telefone — respondeu Isabela,
a mais arteira da dupla, fitando-me com os olhinhos manhosos. Era
impossível não babar por essas coisinhas sapecas. Até mesmo eu
havia caído no encanto das pestinhas.

— E a mamãe está com a vovó na cozinha — completou o


Dudu, o outro pestinha que eu amava, apesar de ele ser uma mini
réplica do pai.

— Certo, então todos vocês se sentem aqui comigo. Vamos


bater um papinho.

Caminhei até o sofá e me sentei com as duas meninas no


meu colo. Sophia, Dudu e Gabriel se sentaram no tapete no chão,
de frente para mim.

— A Mamãe e a vovó vão fazer compras hoje e passarão o


dia se embelezando, e vocês ficarão o dia inteiro comigo e o Cadu.
Vamos nos divertir. — Sorri apesar da dúvida sobre nos divertir.
Uma coisa era certa, eu terminaria o dia com mais algumas
centenas de cabelos brancos.

— Por que a mamãe e a Bia vão se embelezar, papai? —


perguntou Sophia, observando-me com lindos olhos escuros e
curiosos.

Os cabelos pretos caiam por seus ombros como um véu


negro. Era muito parecida com a mãe, exceto a cor dos olhos que
eram iguais aos meus.

— Porque hoje é o dia dos namorados e mais tarde sairemos


juntos para comemorar — respondi e comecei a acariciar os cabelos
macios das meninas.
— E o que é um namolado? — Foi a vez de Rafaela
expressar sua curiosidade.

— Namorado é quando um homem adulto e uma mulher


adulta se beijam. Argh, isso é nojento — interrompeu Gabriel,
fazendo cara de nojo.

Gargalhei, fitando o garoto e imaginando o quanto era arteiro


e esperto. Como que merda ele sabia disso? Se bem que não era
algo para se alarmar, já que hoje em dia as crianças já nasciam
quase falando.

— Então o Dani é meu namorado, papai? Que legal, eu vou


contar para todas as minhas amiguinhas na escola — questionou
Sophia alegremente, e minha respiração falhou.

De repente senti meus pés suando e até mesmo o meu


coração começou a tremer. Como assim? Minha princesinha tinha
sido beijada por um pirralho? Aquilo não estava acontecendo, não
podia ser… eu morreria…

— Quem é Dani, Sophia? E o que ele fez com você? —


interroguei, alarmado. Eu sentia que meu coração iria parar de bater
a qualquer momento.

— É o garoto mais bonito da minha sala, papai. Ele tem os


olhos mais lindos que eu já vi.

Porra… Eu iria matar aquele pirralho, já estava preparado


para bater de porta em porta até descobrir onde o filhote de cruz
credo morava.

— Ele beijou você? Onde ele beijou você, Sophia? — bradei,


possesso. Coloquei as gêmeas no sofá e me levantei, tão bravo
quanto um leão enjaulado.
Sophia arregalou os olhos, assustada, e levou a mão até a
face. Seus olhos se encheram de água.

— Na bochecha... — Fungou visivelmente aflita e


amedrontada, fazendo meu coração se derreter de arrependimento
por ter me alterado com ela. Eu me senti um monstro.

Puta que pariu. Mais uma pérola dessas e eu certamente


passaria dessa para uma melhor logo cedo.

Meus ombros então relaxaram e eu voltei a me sentar,


aliviado. O ar voltava para os meus pulmões.

Ouvi as gargalhadas de Cadu nas minhas costas, e logo ele


deu a volta e se sentou na poltrona atrás das crianças.

— Não seja tão neurótico, Felipe. Ela é só uma garotinha —


disse ele, despreocupado.

Cravei os olhos naquela cara limpa sorridente e tranquei os


lábios em uma linha fina, irritado.

— Quero ver você dizer isso quando as gêmeas completarem


seus quinze anos.

Eduardo fechou a expressão e o sorriso morreu em seus


lábios, mas permaneceu em silêncio, sabendo que havia perdido
aquele jogo.

— Por que ficou tão bravo? — perguntou Sophia com a voz


chorosa. — É por que o Dani é meu namorado?

Eduardo voltou a gargalhar e eu precisei me segurar para


não o acertar com um soco até desfigurar aquele sorriso colgate
dele. E eu faria exatamente isso se Beatriz não o amasse tanto.
Maldição. O cara sabia ser irritante quando queria. Não percebia
que eu estava quase morrendo com o fato da minha menininha
estar falando de namorado? Ela só tinha seis anos, porra.

Desviei minha atenção dele e voltei a olhar para Sophia. Sua


expressão assustada deixou meu peito sufocado. Segurei sua
pequena mão.

— Querida, o Dani não é seu namorado. Ele é só seu


coleguinha da escola. Crianças não namoram.

Ela assentiu, balançando a cabeça e voltou a questionar:

— E quando eu poderei ter um namorado, papai?

Bufei e respirei profundamente, procurando me controlar e


não explodir enquanto o babaca do Cadu gargalhava outra vez. Ele
não perdia por esperar, era só uma questão de tempo até Isabela e
Rafaela crescerem.

— Você só poderá ter um namorado depois dos quarenta


anos, Sophia. Está me entendendo? — Soltei sua mão e escorei o
corpo no encosto do sofá. Coloquei as garotinhas novamente em
meu colo.

— Sim, papai — respondeu e arrumou a barra do vestido azul


e rodado, enquanto se ajeitava no tapete.

— Então já que hoje é o dia dos namorados, eu tive uma


ideia. Vou contar para vocês a história de um casal que se conheceu
há muitos, muitos anos e se amaram muito. O primeiro dia dos
namorados deles havia sido tão perfeito que eles juraram nunca se
separarem e cumpriram essa promessa.

Sophia se empolgou para ouvir a história, mas os meninos


reviraram os olhos, entediados. Dudu fez questão de dizer que
preferia jogar Video Game e Gabriel queria brincar lá fora. No
entanto, eu os convenci a ouvir o que eu tinha para dizer, e em troca
iríamos jogar vôlei e almoçar brigadeiro.

Cadu continuava sentado na poltrona, ouvindo tudo


atentamente, não perdendo uma única oportunidade para encher a
merda do meu saco.

Karine e Beatriz entraram na sala com uma jarra de suco,


copos e uma bandeja com sanduíches. Despediram-se, fazendo
algumas mil recomendações antes de saírem e nos deixaram ali
com as cinco crianças. Quando todos finalmente estavam
acomodados e comportados, puxei o ar com força para os meus
pulmões e sorri. Comecei então a contar como havia sido o meu
primeiro dia dos namorados com Karine, omitindo alguns fatos e
nomes, é claro.
CAPÍTULO 3

FELIPE

A linda garota de olhos encantadores, pele clara como a neve


e lindos cabelos escuros veio
em minha mente de uma forma tão límpida como se tivesse
sido ontem, e não há mais de
vinte e cinco anos.

12 de junho. Ano 2000

Andava aflito pelas ruas de Florianópolis, cidade em que eu


fazia faculdade e estagiava de forma remunerada na área de direito
imobiliário.

Era uma manhã fria, quase congelante, na verdade, bem


diferente de algumas semanas atrás quando eu e Karine havíamos
dado um grande passo na nossa relação. Transamos no banco de
trás do carro pela primeira vez e havia sido delicioso pra caramba.
Minha Karine era uma garota maravilhosa, doce e inteligente, tão
linda quanto o luar. Eu estava completamente apaixonado por
aquela menina de olhos fascinantes, mas pensar nisso ou naquela
noite apenas me deprimia mais.

Meus pensamentos vagueavam entre contar a verdade a ela


ou aproveitar um pouco mais o nosso tempo juntos, antes que eu
tivesse que ir embora e deixá-la. A imobiliária na qual eu estagiava
iria me transferir para a minha cidade natal, Rio de Janeiro, e junto
com a bagagem, vinha uma proposta de trabalho irrecusável para
assim que eu me formasse em Direito.
Eu deixaria de ser um mero estagiário e passaria a ser um
advogado de fato, com um ótimo salário e uma carreira de sucesso
pela frente.

Maldição!

O preço era alto demais para ser pago, e eu não queria


deixá-la. Não poderia viver sabendo que deixei a mulher que amava
para trás, mas também não poderia ser o homem que ela merecia
se não conseguisse terminar a faculdade. A empresa não tinha me
dado escolhas, eu precisava ir, do contrário teria o contrato
cancelado.

Xinguei baixinho e me agasalhei um pouco mais dentro da


camisa xadrez de cor vermelha que eu usava. Arrependia-me
copiosamente por não ter pegado um casaco grosso para me
proteger do frio, enquanto eu entrava em loja por loja atrás de algo
legal para presenteá-la. Era dia dos namorados e nos
encontraríamos no meio da tarde para passarmos um tempo juntos.

Meu coração palpitava dolorosamente em imaginar que


aquele dia poderia ser o nosso último. A tristeza me rasgava por
dentro. Doía… machucava como nunca pensei.

Saí de mais uma loja de artigos femininos com as mãos


vazias. Nada parecia ser bom o suficiente para dar ela, ou talvez
fosse apenas o meu ânimo que não ajudava muito.

Após mais algumas tentativas frustrantes, eu já estava


prestes a ir embora quando olhei uma pequena vitrine, quase
invisível em meio àquelas grandes lojas. Parei e fiquei olhando
indeciso se entrava ou não.

Algumas ideias surgiam em minha mente ao mesmo tempo


em que eu tentava afastá-las por considerar uma loucura, mas
quanto mais o tempo passava, mais eu as considerava.
Respirei fundo, tomando coragem e entrei. Peguei um
pequeno e delicado ursinho de pelúcia de cor amarela. Ele vinha
dentro de uma caixinha de plástico azul, transparente. Poderia não
ser o presente mais caro ou significativo do mundo, mas serviria
bem para o meu propósito. A decisão que surgiu em minha mente já
estava tomada e eu estava disposto a transformar aquele dia dos
namorados em o mais perfeito de todos, não importando como
terminaria.

Paguei o ursinho e um papel de presente de coração que eu


precisaria depois, e saí apressadamente da loja.

Caminhei alguns bons quilômetros pelas ruas de


Florianópolis até conseguir fazer tudo o que eu almejava. Já
passava do meio dia quando consegui finalmente retornar para o
apartamento alugado onde eu morava com alguns amigos da
faculdade.

Tomei um rápido banho, lembrando-me de me vestir com


roupas mais grossas, comi um sanduíche de queijo rapidamente,
peguei a jaqueta jeans e em seguida saí.

A Hilux prata do meu colega estava estacionada do outro


lado da rua. Entrei e coloquei o presente de Karine no banco de trás
do carro. Iria entregá-lo a ela no final do dia.

Em pouco tempo, eu estacionava a caminhonete em frente à


sua casa.

Karine já me aguardava no portão quando desci do carro


para apertar a campainha. Até me surpreendi quando a vi sair e
caminhar na minha direção. Ela estava séria, até parecia um pouco
ansiosa. No entanto, estava tão vidrado em sua beleza e no quanto
era fascinante que mal notei a incerteza que ela carregava no olhar.
Desci os olhos por seu corpo, aprovando cada detalhe do
visual que ela havia escolhido. A saia xadrez de cor azul deixava
parte das suas coxas à mostra e a blusa verde de veludo com
mangas compridas contrastava com os seus olhos, deixando-a
extremamente sexy. Minha voz falhou e eu não consegui dizer
absolutamente nada, exceto olhar maravilhado para todo o seu
corpo: da botinha de inverno que cobria parte das suas pernas, até
os fios de cabelo que havia deixado soltos, emoldurando o seu rosto
fino. Em sua mão continha um casaco jeans e uma pequena bolsa
marrom.

— Olá. — Sorriu visivelmente envergonhada, e eu saí do meu


transe.

Passei a mão por meus cabelos curtos e sorri de volta.


Aproximei-me perto o suficiente para segurar a sua mão macia.

— Você está maravilhosa.

Seu sorriso se abriu mais, quase chegando aos olhos.

— Você também está muito bonito.

Puxei Karine para mim, louco de saudades e cheio de


vontade de sentir o seu cheiro e busquei a boca avermelhada. Beijei
os seus lábios por breves segundos, até ela se afastar com as
bochechas coradas e uma expressão divertida no rosto.

— O papai está nos observando. — Ela segurou o meu braço


e me puxou na direção da caminhonete. — É melhor nós irmos
antes que ele resolva mudar de ideia. Ainda está bravo desde
aquela vez que saímos e eu me atrasei para voltar para casa…

Karine interrompeu a fala quando o assunto da noite em que


transamos veio à tona.
— Enfim. Você sabe — concluiu, baixando a cabeça.

Balancei a cabeça em concordância enquanto relembrava os


acontecimentos das últimas semanas. Karine havia ficado quase um
mês inteiro de castigo sem poder me encontrar por ter se atrasado a
voltar para casa na noite que transamos. Só tinha permissão para
conversamos alguns minutos pelo telefone. Nos últimos dias fui
autorizado a vê-la no portão, mas nem consegui beijá-la. Seu pai
tinha a marcação cerrada e aquele seria nosso primeiro encontro
após o castigo.

Talvez o último. Meu coração gelou com a possibilidade.

Entramos no carro e esperei que ela se acomodasse no


banco do passageiro. Liguei a caminhonete, mas não dei a partida
imediatamente. Antes disso, virei-me para ela e segurei a sua mão:

— Não sinta vergonha pelo que aconteceu naquela noite,


meu amor. Foi especial.

Karine sorriu assentindo e mordiscou o lábio.

— Foi maravilhoso…

Acariciei o seu rosto, sorrindo, e logo depois pegamos a


estrada. Tínhamos pouco tempo para aproveitarmos, pois antes do
sol se pôr eu teria que levá-la de volta para casa. Regras do seu pai.

Nossa primeira parada foi na praia para darmos um rápido


passeio de escuna. Ficamos abraçados todo o tempo enquanto
admirávamos as belas paisagens das ilhas próximo a Florianópolis.

Quando retornamos para a terra firme, fizemos um tour pelos


pontos históricos da cidade, apenas pelo prazer de estarmos juntos,
vivendo nosso dia perfeito. Beijava e abraçava Karine sempre que
eu tinha uma oportunidade. Queria gravar cada momento, cada
sorriso dela em minha memória.

Quase no final do dia, decidi que havia chegado o momento


de conversar com ela sobre a minha volta para o Rio. Eu não tinha
outra opção, precisava decidir a minha vida de uma vez por todas e
só desejava que no final tudo desse certo com Karine ao meu lado.
A minha garota.

Fizemos um lanche rápido em um dos passeios e seguimos


para a nossa última parada: a Lagoa da Conceição.

O sol estava fraco, quase não havia aparecido durante o dia.


Sentei-me na grama na margem do lago e puxei Karine para o meu
colo.

Ela me olhava apaixonadamente, os olhos expressando algo


indizível.

Várias emoções explodiam dentro de mim: medo, desejo,


amor, ansiedade. E era como se Karine estivesse sendo levada por
um mar de sensações também, ali, olhando-me com seus intensos
olhos azuis que pareciam angustiados de paixão.

Desci meu rosto até o dela, e a beijei demoradamente,


mordiscando os lábios grossos e vermelhos que me enlouqueciam
enquanto o vento fresco soprava em nossos cabelos. Sentia- me
excitado, frustrado. Queria fazê-la minha outra vez. Queria tê-la
comigo para sempre.

Quando não mais suportei a incerteza, afastei minha boca da


sua e disse:

— Querida, eu preciso te dizer algo.


Karine suspirou e fechou os olhos, deixando-me confuso. Ela
esteve um pouco estranha a tarde toda, mas eu também me sentia
assim. Quando seu olhar voltou a procurar o meu, senti um aperto
estranho no peito, algo que não conseguia explicar. Vi dúvidas e
medo ali, aquilo me agoniou.

— Eu também tenho algo para te dizer. — Seus olhos


marejaram e ela pegou a pequena bolsa que estava do seu lado no
chão. Abriu-a e me entregou uma pequena caixinha embrulhada. —
Parabéns pelo dia dos namorados, meu amor — falou com a voz
falha e percebi que seus dedos tremiam.

Sustentei seu olhar por alguns instantes e me voltei para o


objeto em minhas mãos. Abri o papel de presente e logo fiz o
mesmo com a tampa da caixinha. Deparei-me com um saquinho
plástico transparente e dentro dele havia algo parecido com uma fita
estreita de papel branco e azul, com duas listras rosas.

Olhei para Karine, um pouco confuso e senti um baque no


peito ao ver as lágrimas grossas escorrendo por suas bochechas.

— Você vai ser papai. Eu estou grávida, Felipe… e esse é o


meu presente do dia dos namorados para você… A confirmação
que o nosso filho está aqui dentro — Karine falou coma voz
engolfada, tocando levemente sua barriga com seus dedos que
ainda tremiam, e vi que sorria enquanto chorava.

Segurei o saquinho com força entre os meus dedos. Estava


trêmulo e chocado, mas com uma felicidade tremenda dentro do
meu peito. Embora as circunstâncias fossem desfavoráveis, e eu
estivesse em uma situação complicada, aquilo me transmitiu a
certeza que eu precisava. Parecia que o destino conspirara a favor
dos meus desejos,

Abracei Karine fortemente, embalando-a dentro dos meus


braços por vários minutos, dando e tendo a certeza de que ela
ficaria comigo para sempre, não importando o que acontecesse.

— Foi o melhor presente de todos — sussurrei em seu


ouvido. — Eu já amo muito vocês dois.

— Eu estava com medo de você não reagir muito bem —


confessou, com a voz emocionada.

— Eu não vou abandonar você, nem essa criança em sua


barriga.

— Obrigada — respondeu em um sussurro fungado.

Éramos jovens, Karine e eu tínhamos toda uma vida pela


frente, mas eu seria um tremendo mentiroso se não admitisse que
estava aliviado em tê-la engravidado. Aquele filho era a ponte que
me ligaria àquela mulher pelo resto da vida. Eu estava grato.

— Eu também tenho algo para você… — sussurrei quando


percebi que os tremores do seu corpo haviam se acalmado. —
Espere um segundo, eu já volto.

Levantei-me às pressas e corri até a caminhonete para pegar


o pequeno urso. Segurei o presente em minhas mãos, dei meia
volta e retornei até Karine, entregando-lhe o embrulho.

Karine abriu o papel de presente com corações e sorriu ao


ver o ursinho amarelo. Levou a mão ao rosto para secar as lágrimas
que marcavam a sua pele.

— É lindo, Felipe. Eu amei.

Voltei a sorrir e a instiguei a abrir a caixa. Ela fez o que pedi,


abriu o objeto com cuidado para não amassar, e retirou o ursinho.
Contudo, algo que estava preso na parte de baixo da pelúcia caiu no
chão, chamando a atenção de Karine.
Ela pegou os papéis e os analisou, em seguida me fitou
chocada:

— São duas reservas de passagens áreas para o Rio de


Janeiro? — Karine perguntou, expressando surpresa.

— Sim, uma em meu nome e a outra no seu — falei,


convicto, certo de que ela não me recusaria. — A imobiliária que
estou fazendo estágio me ofereceu uma excelente oportunidade de
emprego no Rio. Mas para isso eu preciso transferir a faculdade e o
estágio para lá. Eu não tenho outra opção. Ou eu vou para o Rio ou
meu contrato com a filial daqui será cancelado.

Ao ver que ela continuava sem fala, encarando-me incrédula,


continuei:
— Karine… vem embora comigo. Seja minha para sempre.
Você e o nosso filho.

Meus olhos lacrimejaram.

— Oh céus! — ela exclamou ainda pasmada e colocou a mão


sobre a boca. — Deus… sim. Eu vou aonde você for, Felipe.

Soltei o ar que eu estava prendendo por medo da sua


resposta e Karine pulou em meus braços, beijando-me
alucinadamente.

— Eu serei o melhor pai e o melhor marido do mundo. Eu


prometo.

Dias atuais
— E foi assim que o dia perfeito do casal terminou. Eles se
casaram, mudaram-se para o Rio e tiveram uma linda bebezinha —
falei, finalizando a história sobre o dia perfeito para as crianças.

Sophia me encarava com olhos brilhantes e até mesmo os


garotos pareciam contentes com a história que haviam acabado de
ouvir.

— Vovô, como o bebê foi parar na barriga dela? — perguntou


Dudu, deixando-me sem fala.

Cadu sorriu e me encarou, dando de ombros. Cruzou os


braços na frente do peito, aguardando que eu respondesse.

Merda! Eu estava malditamente ferrado.

— Seu pai ou sua mãe nunca contaram a história da cegonha


para você?
— perguntei a ele, mas fitei na direção do Cadu, irritado.

— Papai disse que as cegonhas não existem, vovô. Mas ele


não me explicou como que eu fui parar dentro da barriga da mamãe.

— Dudu, já falei mil vezes que quando você crescer


entenderá tudo isso. Por enquanto você é muito pequeno para saber
sobre os assuntos de adultos — disse o Cadu, tentando parecer
sério.

Sentei-me no tapete em sua frente e chamei a atenção do


pequeno garoto.

— É isso mesmo, garotão. Um dia você entenderá tudo. Mas


não tem que se preocupar com isso agora. Ao invés disso, que tal a
gente aproveitar o nosso dia perfeito? Quem quer ir para a piscina?

Levantei-me sorridente e as crianças me acompanharam.


— Euuu — disseram juntos e a bagunça voltou com tudo
quando ambos saíram correndo na direção do quintal

Aquele era definitivamente um dia perfeito, ao lado dos


pestinhas que eu amava.

Fim.
Romance dark e hot contemporâneo (+18)

No coração de Manhattan, tudo pode acontecer.


Alexander Roussel é um homem ferido, que só sabe ferir, que
desliza caminhando sua sombra perigosa e sedutora na noite. Um
anjo caído da morte.
Ele tira vidas. É um mercenário, um assassino de aluguel. Sem
escrúpulos, sem pena, sem medo. Sem coração.
Mas o destino quis que ele cruzasse com aquela que se dedica a
salvar vidas: a filha protegida de um dos chefões da Máfia.
Ela é o seu contrário. Angelina Lucky é a luz da vida, é a inocência.
É o coração pulsante. Ela é a ternura que ele nunca conheceu.
Ela é o anjo de luz que talvez ele precise para iluminar seus passos
cheios de sangue.
Alexander se vê diante de talvez o seu maior pecado: tirar a pureza
da mulher que abala todas as suas estruturas, fazendo-a conhecer
todas as tentações da carne ao lado de um homem corrompido por
natureza.
Angelina se vê no dilema entre o amor proibido e tão carnal e suas
inclinações religiosas.
Eles são o maior pecado um do outro. Mas também podem ser a
salvação que eles precisam.

Aviso: Este livro contém linguagem crua, cenas de violência e sexo


explicito. Respeite seus limites de leitura.

- https://amzn.to/3Bn7nby
Sinopse: (+18)
Para o CEO Matheo Bragantino, um homem tão poderoso quanto
devasso, casamento não é uma opção.
Diversas mulheres anseiam em ter uma noite em sua cama, e ele
está acostumado a viver seus desejos sexuais sem nenhum peso na
consciência. Ele as possui sem qualquer promessa de amor. Tudo
está dando certo, mas, em uma viagem para uma cidadezinha do
interior de São Paulo, ele conhece Giulia, a bela filha do pastor
local, muitos anos mais jovem que ele.
Giulia nunca conheceu o mundo além da cidade onde vive, mas, ao
se deparar com aquele lindo desconhecido de olhar penetrante e
sorriso sedutor, verá que existem desejos profundos a serem
despertados.
Saberá Matheo lidar com as consequências de se envolver com A
FILHA de um PASTOR?
Saberá Giulia controlar os desejos e vontades que surgirão pelo
misterioso homem?

Atenção: o livro contém sexo explícito, ingestão de bebida alcoólica


e agressão, podendo assim causar gatilhos emocionais. Respeite
seus limites e boa leitura.

- https://amzn.to/3ev55gX
Sinopse:
Pode existir um milagre de natal?
Para o Bilionário Vincent Blackwell, sim.
No passado, o sorriso de uma menina no natal lhe deu forças
quando ele mais precisava.
De forma inesperada, um anjo doce o salvou de todas formas que
um homem pode ser salvo.
Agora, um homem duro de negócios, ele nunca deixou de se
lembrar de quando era um garoto ferido que uma certa menina
encantou.
Até que um novo milagre de natal acontece, e aquela menina agora
em forma de uma linda mulher novamente reaparece em seu
caminho, e ele não vai descansar até conquistá- la.
Escrito por Mellody Ryu, Christine King e Jéssica Larissa

- https://amzn.to/3kwM955
Sobre a autora:
25 anos, baiana, apaixonada por livros e música. Fez da escrita um
estilo de vida

Redes sociais da autora:


Instagram: https://instagram.com/autorajessicalarissa?
utm_medium=copy_link

Grupo do Facebook:
https://www.facebook.com/groups/221932408436790/?ref=share

Wattpad: https://cutt.ly/XmMd4oX

Grupo do whatsapp:
https://chat.whatsapp.com/IWBIfFzy0aFGBYi2s0uzYr
E-mail: jessicalarissa1995@gmail.com

Você também pode gostar