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Copyright © Mari Sales

Todos os direitos reservados.


Criado no Brasil.
Edição Digital: Criativa TI
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as
pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos
são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos reservados. São proibidos o


armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra,
através de quaisquer meios — tangíveis ou intangíveis — sem o
consentimento escrito da autora.

Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime


estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código
Penal.
Sumário
Dedicatória
Nota da Autora
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Epílogo
Sobre a Autora
Outras Obras
Dedicatória

Para a poderosa Flaviane Botelho, que faz um lindo trabalho em


apoio à Literatura Nacional. Espero que esse presente fique
eternizado em seu coração como ficou no meu. James Blat me
surpreendeu.

Para todos que desejam uma segunda-chance, eu acredito nelas,


com todo o meu coração.
Nota da Autora

Olá, querido leitor!

Esse eBook foi publicado, anteriormente, em 2019 com o


título James Blat. Refiz a capa, sinopse e algumas alterações no
texto, mas nada que afete o enredo.

Se você ainda não o conhece, gratidão pela oportunidade,


tenha uma boa leitura. Se já o leu, convido para que tenha uma
segunda experiência, como a segunda-chance que James Blat
buscou com Flaví e seu filho. Vou te surpreender.

Feliz Natal e Feliz Ano Novo. Boas Festas. Prosperidade e


Saúde! Todo o meu amor em forma de histórias.

Mari Sales
Sinopse

James Blat estava focado em expandir os negócios e ser um


CEO de sucesso. Arrogante e determinado, ele não se intimidava
com ninguém, muito menos com uma mulher atraente e sincera.

Flaviane Castro estava de aviso prévio quando resolveu


desabafar com o estranho na festa da empresa. Ela só queria se
divertir e ultrapassar alguns limites, uma vez que ninguém poderia
demiti-la pela segunda vez.

Depois de uma noite quente e de forte conexão, Flaví optou


por se afastar de todos relacionados com seu antigo empregador. O
que ela não imaginava era que aquela noite teria consequências
permanentes.

Ela só queria que James assumisse o bebê.

Ele estava de luto e só via dor a sua frente.

Anos depois, no momento em que Flaviane mais precisava


de ajuda, James Blat retornou a sua vida. Ela não queria nada
daquele homem, mas o pai do seu bebê estava disposto a
conquistar o seu perdão e recuperar o tempo perdido com seu filho.

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Capítulo 1

Tentava entender o motivo de ter vindo para a festa de


confraternização da empresa a qual tinha feito meu desligamento há
dois dias. Claro, ainda precisava cumprir o aviso prévio, aguentar o
meu chefe mal-humorado e o diretor que parecia ter chupado limão
todos os dias no café da manhã.

Apesar do ambiente de trabalho hostil, eu tinha uma alta


tolerância às críticas, por ser a própria senhora sinceridade. Para
mim, a verdade tinha que ser dita, mesmo que fosse dolorida.

Mas a negatividade tinha limite. Ser verdadeira também


incluía falar as coisas boas e meus superiores, com certeza, não
sabiam disso. Não aguentava mais voltar para casa me sentindo
pior que a lombriga da bosta do cavalo. Para enfeitar o bolo da
crueldade, tive a infelicidade de ver Willis compartilhando
informações confidenciais da empresa para outro meio de
comunicação. Para quem vivia de imagem e notícia como a MB
News, ceder manchetes, principalmente de notícias exclusivas antes
delas serem publicadas, era entregar a audiência para o
concorrente.

Enquanto eu fazia meu papel de jornalista que dava o


sangue para conseguir um furo, todo o meu potencial era
desperdiçado por Willis e sabe-se mais quem. Márcio, o diretor?
Não conhecia todo o alto escalão da MB News, ainda mais agora
que ela tinha sido recém-fundida com a JB Atualidades.

O que iria virar? JMB News?

Sentada em um banco fixo no balcão do bar onde acontecia


a festa, tomei a quarta dose de tequila e comecei a ver tudo mais
colorido do que no início. Mesmo que não fosse open bar, todas as
minhas economias iriam para o meu porre do dia e a satisfação de
ver meu “querido” chefe Willis me encarando com desdém.

— Vai ter que me engolir pelo aviso prévio, querido — falei


baixo assim que meu olhar encontrou o azedo e o diretor mal-
humorado Márcio. Por pouco tempo ele me encarou, o que me deu
satisfação, ele não estava contente comigo ali.

Minha demissão tinha sido assinada, mas eu ainda fazia


parte do quadro de funcionários, então, eu teria minha noite de
glamour no bar mais badalado da cidade de Orquídea do Sul. Três
artistas musicais fariam a trilha sonora do local, mas como meu foco
jornalístico era a política, eu iria apenas observar tudo.

O som sertanejo começou a soar, todos que estavam


afastados do palco agora se aproximavam dele para prestigiar a
dupla. Por mais que a música fosse boa, meu humor estava
péssimo e o álcool estava subindo cada vez mais rápido para a
cabeça.

Agora sim eu estava sem filtro nenhum.


— Uma dose de uísque para mim, por favor. — Um homem
elegante, com um blazer cinza, camisa branca sem gravata e calça
escura se aproximou de mim e fez o pedido para o garçom que
estava vindo entregar mais uma dose. Apesar da música alta, onde
estávamos era possível falar com mais tranquilidade.

— Olá, você — cumprimentei erguendo minha dose,


olhando-o da cabeça aos pés pela segunda vez e virando a dose de
tequila em um gole só. O homem se surpreendeu com minha
atitude, e confiante, bati o pequeno copo no balcão e sorri. — Você
é muito bonito e sorridente para ser da equipe da MB. Com certeza
é da JB.

— Não estou sorrindo — respondeu sério e tive uma crise


de riso bêbada por isso. Será que não tinha entendido aonde eu
queria chegar?

Sua dose chegou, controlei minha histeria e segurei no seu


braço para não o deixar me abandonar. Faria dele minha vítima para
conversas sem nexo. Em alguns dias não trabalharia mais na
empresa, que mal poderia causar?

— Para você perceber o quanto de alegria está faltando em


ambas as empresas. — Estendi a mão e ele a segurou em um
cumprimento firme. — Uau, que pegada. — Olhei para sua mão e
depois para seu rosto, que agora esboçava irritação. — Sou
inofensiva, moço. Prazer, Flaviane, mas pode me chamar de Flaví.
Entonação maior no i, por favor.

— Acho que excedeu no álcool.


— Não é difícil constatar. Estava precisando relaxar. — Virei
para olhar a multidão, vi meu chefe me encarando com surpresa e
acenei com ousadia. — Esse é meu chefe azedo.

— Não gosta de Willis? — questionou interessado e se


sentou no banco ao meu lado, o que me fez sorrir.

— Acho que o correto a dizer é, ele não gosta de mim. —


Chamei o garçom levantando a mão e o homem ao meu lado a
abaixou com a dele em cima da minha. Uau, além da pegada forte,
era galante. — Ainda não estou bêbada o suficiente.

— Nem precisa. Agora me conte sobre seu chefe, Flaviane.

— Hum... — Inclinei-me na sua direção, admirada como


meu nome soava em seus lábios e voltei a ficar ereta por quase ter
caído em seu colo. — Nossa, eu estou mal mesmo. Chega de
tequila para mim, vou me embebedar um pouco mais te vendo
tomar uísque.

Seu copo foi erguido para mim em um brinde e ele tomou


apenas um gole. Fiz uma careta de deboche, virei para o balcão e
admirei as bebidas nas prateleiras enfileiradas à minha frente.

— A consciência pesou ao falar do seu chefe? Você sabe, é


antiético — o homem que ainda não havia se apresentado
provocou.

— Não mais do que ele faz. — Dei de ombros e senti o peso


da razão querendo tomar conta do impulso. Olhei para a multidão e
lá estava o azedo me encarando com mais raiva que o normal.
Céus, faria tudo para que ele tivesse que me engolir de alguma
forma.

— O que disse? — questionou aproximando-se de mim, virei


para ele e coloquei minha mão em concha na boca, como se fosse
falar um segredo.

— Parece que Willis não está gostando da minha conversa


com você e olha, nem sei quem você é.

— James. — O nome era familiar, mas nada conseguiria


ultrapassar a neblina bêbada que me dominava. — Agora já sabe
quem sou, pode falar. Ele está te assediando?

— Com certeza se fosse você, eu não iria me incomodar. —


Coloquei a mão na boca escondendo meu riso e neguei com a
cabeça quando seu olhar pareceu brilhar com algo diferente. —
Caramba, não soou legal. Por favor, esqueça o que eu disse,
assédio não é bom nem vindo de um homem elegante e bem
controlado como parece.

— Você está bêbada — constatou bebendo tudo do seu


copo e pedindo outra dose.

— E você também ficará se continuar no meu ritmo. — Ergui


meu braço e ele novamente o colocou para baixo. — Já sentiu o
peso da sua mão? — Com meus dedos, tomei a sua mão e conferi a
palma, os dedos e a textura. — Isso é uma mão masculina.

— Graças a Deus, eu sou homem. — Mais uma dose veio


para ele, que a tomou em um gole só, como eu fiz. Bati palmas e o
fiz sorrir.

— E tem um bom sorriso. Estamos cinco a dois, vamos, me


deixe tomar mais uma dose, James.

— Você ainda não me contou sobre seu chefe.

— E nem vou falar, porque só estar perto de você já o irrita o


suficiente. Para mim, isso basta. Não tenho mais nada pelo que lutar
nessa empresa. — Olhei para Willis e agora, Márcio, que estava do
seu lado, também me encarava com reprovação. Desviei o olhar e
me senti uma merda. — Fodam-se os dois, não sou obrigada.

— Se não vai aproveitar a festa ou trabalhar, você veio para


cá apenas para beber? — James pediu mais uma dose de uísque e
apoiei minha cabeça mão enquanto meu braço se equilibrava pelo
cotovelo no balcão.

— Passei tanta raiva nessa vida, estava na hora de dar o


troco. É apenas uma vingança da paz. Eles não suportam minha
presença, nesse momento são obrigados a me ter por perto. — Dei
de ombros e James saiu do banco, me fazendo suspirar de tristeza.
Ele iria embora, era uma vez um momento de tranquilidade
divertida.

— Venha comigo.

— O quê? — Olhei para sua mão segurando meu braço e


sua aproximação. Apesar de saber da sua beleza e o quanto me
atraía, apenas agora senti aquele formigamento no meu baixo
ventre.
— Pode confiar em mim, iremos para o andar de cima, na
área VIP e você poderá aproveitar melhor a festa.

“Quando você ouve aquele grito de batalha

Envie arrepios pela sua espinha

Pele como ferrugem, coração de pedra

Vou moê-lo até pó e ossos

Quando você sente aquela luz queimando

Batendo em você dia e noite

Pele como ferrugem, coração de pedra

Vou moê-lo até pó e ossos”

Syd Duran, Valora – Dust and Bone

A música estava contribuindo para minhas ações. Fixei o


olhar na nossa conexão, depois subi para encontrar seus olhos e
umedeci meus lábios com a língua, por conta dos pensamentos
impertinentes que se formavam. Eu não conseguiria controlar minha
boca. Por Deus, que não saísse nenhuma ofensa, nem mesmo para
mim.

— Aproveitar, na atual situação que estou, é tirar a roupa e


dançar nua. Por favor, só me deixe de lado e não me leve a sério,
posso ser seu pior pesadelo.

Controlou o sorriso, até porque, eu já tinha saído do banco e


ergui a cabeça para encará-lo. O homem era alto, eu deveria ter
colocado meu salto alto e não a sapatilha confortável.

— Meus pais me ensinaram a tratar com respeito às


mulheres, mesmo elas não estando em seu perfeito juízo. E se seu
chefe te abordasse?

— Ah, pode ter certeza, James, me oferecer a ele seria a


última coisa que eu faria. — Passei a mão na lapela do seu blazer e
sorri. — Vou me arrepender amargamente do que estou falando
para você, ainda mais se cruzar contigo no corredor da empresa,
mas... — Não completei, olhei para seus olhos intensos e preferi
omitir que estava cumprindo aviso prévio.

Tão cavalheiro como era, capaz de não acabarmos na


cama. Eram apenas alguns dias, eu ficaria sob o radar desse
James. Seu perfil era de jornalista de celebridades, nossos
caminhos nunca se cruzariam.

Estendeu o braço, envolvi o meu no dele e o segui me


achando poderosa e elegante.

Tudo bem que esse glamour estava maquiado pela bebida e


tão necessitada de conforto que eu me encontrava, iria na sessão
VIP e deixaria tudo o que estava guardado sair de mim, sem
reservas.
Capítulo 2

Fui vencido pela curiosidade. Imprudente e antiprofissional,


levei Flaviane para a área VIP com a intenção de conseguir mais
informações sobre os funcionários da MB News, principalmente
Willis, meu amigo de infância.

Não estava desconfiando ou em dúvida sobre o


profissionalismo do gerente geral dos jornalistas da empresa que
comprei, era apenas... zelo em excesso.

O interesse sexual estava abafado, mas existia e queria sair


por conta da ousadia da mulher. Colada em mim, o toque de mãos
que trocamos no bar causou um rebuliço estranho no meu
estômago. O álcool que tomei não era suficiente para me deixar
embriagado e fazer perder o juízo, a questão era, o quanto poderia
dar um passo errado me envolvendo com uma subordinada?

Assim que chegamos à área reservada, ela se soltou de


mim, foi para a grade e admirou o show da posição privilegiada.
Pedi uma água para ela e outra dose de uísque para mim, a
coragem líquida iria me ajudar a conversar e falar mais do que
gostaria.

Por ser dono da JB Notícias, uma empresa que


compartilhava a vida de todos e sobre o mundo, aprendi a me
resguardar. Desde a minha imagem até a vida que levava,
conseguia me manter por baixo dos panos ao ser o sócio oculto
enquanto João Paulo Figueiredo fazia a frente, era a cara do império
e amigo do meu pai.

Era claro que a funcionária de Willis não tinha noção de


quem eu era, mas pela forma que me vestia e a trouxe para cá,
provavelmente entendia que tinha muito dinheiro e fazia parte do
alto escalão da empresa.

— Vem aqui! — Flaviane gritou me chamando.

Esperei o garçom me servir e depois me aproximei da afoita


mulher que pretendia me mostrar algo. Lá estava Willis, encarando-
nos confuso e precisei sorrir, porque isso era algo que o irritava
profundamente. Ele nunca sabia o que pretendia fazer e não
contava, apenas apresentava o resultado para ser publicado, seja
uma matéria ou um projeto jornalístico.

Não revelar minhas intenções estava enraizado demais nas


minhas atitudes. Depois que meus pais se separaram, quando
estava prestes a entrar na faculdade de administração, eu me
fechei, não soube lidar com a situação, ainda mais quando ambos
me usavam para desabafar sobre as insatisfações conjugais.

Descobri que o silêncio era a melhor opção e acabei


trazendo essa característica para a vida profissional. Claro que
refletiu nas minhas relações pessoais, amizades e mulheres. Até
tentava me relacionar por mais de uma semana com elas, mas as
cobranças, querer saber sobre mim e minha família, me faziam
recuar e encerrar o que mal tinha começado.
Por outro lado, para o sexo sem compromisso, eu tinha
doutorado.

— Você ainda não me disse o motivo de querer provocar


seu chefe — falei sério, entreguei-lhe a água e ela revirou os olhos
enquanto ficava de costas para a grade.

— É a minha vez de estar por cima. — Piscou o olho e


tomou um gole da garrafa que lhe entreguei. — Prefiro a tequila.

— Você precisa se hidratar. — Ela tirou minha bebida da


mão e junto com a dela, colocou em cima da mesa próximo a um
sofá. Voltou apressada, colocou uma das mãos no meu ombro e a
outra apertou meus dedos, me fazendo retesar.

Ela queria dançar?

— Vamos, James, remexe um pouco comigo. — Tentou me


conduzir e aproximou sua boca do meu ouvido. — Aproveite que
estou fácil, em outro momento, eu chutaria suas bolas com minha
sinceridade sem filtro.

Respirei fundo antes de seguir seu ritmo aos poucos e


quando ganhei confiança, conduzi a dança no automático. Quando
ela me provocava ou mesmo dizia palavras que a depreciavam, algo
dentro de mim se retorcia. Não sabia explicar o motivo, o
pensamento machista conduzia para “aproveite o momento”, mas
existia uma determinação em querer fazer o certo, que seria levá-la
para casa em segurança. No caso, precisaria conseguir algumas
informações antes, para saciar minha curiosidade.
O DJ tocava vários estilos musicais e, no momento, estava
convidativa para dançar. Eu não iria parar de acompanhá-la
enquanto não mostrasse cansaço. Empurrava-a para frente, trazia
para mim e a embalava para continuar dançando o Pop-Rock-
Eletrônico enquanto meus olhos fixavam-se nos dela.

Não mais parecia embriagada, estava pouco a pouco me


sentindo atraído por ela e esquecendo o principal objetivo. Apesar
dela não querer falar, estava fácil arrancar se eu tivesse paciência,
diferente de mim, que nada sairia da minha boca se eu não
quisesse.

Hallucinate, de Dua Lipa começou a tocar, ela mordeu o


lábio e se aproximou de mim o suficiente para fazer a mesma coisa
que a letra da música dizia:

“Não, eu não poderia viver sem seu toque

Não, eu nunca poderia ter muito

Eu vou respirar você para todo o sempre

Alucinar”

Surpreendeu-me quando seus lábios tocaram os meus com


inocência. Ela não tinha intenção de aprofundar, mas eu fiz, ainda
mais quando ela parou de dançar para abraçar meu pescoço e se
entregar.

“Eu alucino quando você chama meu nome

Aparecem estrelas nos meus olhos


E elas não desaparecem quando você vem em minha
direção

Eu estou perdendo o controle da minha me-me-me-mente,


me-me-me-mente”

Minhas mãos apertaram sua cintura, foram para seus


quadris e depois para as costas enquanto o pouco do uísque que
tomei se misturava com a tequila nítida na sua língua. Ela estava
ávida, mostrou ousadia quando se esfregou em mim fingindo
acompanhar a música, mas a verdade eu sabia, ela me queria.

Ainda bem que meu juízo ainda estava no controle,


consegui interromper nosso ato íntimo sentindo a decepção de me
afastar dela. Como era possível sentir atração por alguém que
conheci em apenas alguns minutos, não mais que uma hora?

Com um sorriso satisfeito, deu passos para trás, foi até onde
estavam as nossas bebidas e tomou meu copo ao invés da água.

— Se é para colocar o pé na jaca, que seja em grande


estilo. — Ela se sentou no sofá e bateu ao seu lado me convidando,
mas neguei com a cabeça e dei passos até a grade, na esperança
de que ninguém tivesse visto a merda antiética que tinha feito.

Não havia ninguém olhando para cima e ao nosso redor só


existiam os garçons, que precisariam ser devidamente
recompensados no final, para não valorizar a situação além do
necessário.
Enquanto ela não parecia incomodada com minha frieza, fui
até o bar pegar minha dose de uísque e tomei-a em um gole, só
quando voltei para próximo dela, dançava sentada. Optei pela
cadeira próxima ao seu sofá e surpreendendo-me como sempre, se
levantou e se sentou no meu colo.

Porra, como lidar com essa mulher imprudente?

— Estou me sentindo o homem da relação aqui, James.


Como preciso agir para respirar você para todo o sempre, alucinar?
— usou a música que a impulsionou para me beijar e senti uma
cutucada em meu pau. Não precisava provar nada a ninguém,
principalmente para ela, mas as ações foram mais fortes do que a
razão.

Apertei seu quadril, próximo à bunda e percebi seu vestido,


que ia até debaixo do joelho, se levantar e revelar suas coxas.
Inspirei profundamente, seu corpo se mostrou receptivo e até
empinou os seios em minha direção.

— Por que está se oferecendo, Flaviane? — perguntei com


receio de ofender. Minha curiosidade havia mudado do profissional
para o pessoal.

— Gostei de você, James, apesar da sua falta de atitude,


comprovei que sua pegada é boa. — Envolveu seus braços no meu
pescoço e me encarou ficando séria. — Estou cansada de não ser o
suficiente, de fazer o meu melhor e ser humilhada e de lutar para
fazer o certo e as pessoas ao meu redor buscarem a corrupção.
Lido com notícias de economia e política, estou exausta de ler
mentiras e fingir pudor. Se você não me quiser, entenderei, nem eu
planejava ter um caso com um colega de trabalho. Estou há mais de
quatro anos na MB, dando o meu melhor e sendo respeitosa com
quem não deveria, está na hora de fazer algo para retribuir o carinho
que me dão. — Não me passou despercebido o tom irônico na
palavra carinho.

— Você está bêbada e não vou me aproveitar da situação.

— Se te dá segurança, peça mais doses de uísque ou


vamos para outro lugar, onde poderemos ficar bêbados juntos e não
precisar dizer quem está se aproveitando da situação. Não vou
aparecer na sua sala e exigir um relacionamento, é apenas hoje,
James. Nem sei que setor você trabalha, sou boa em fingir que não
conheço as pessoas. — Ela riu e escondeu o rosto no meu pescoço,
me fazendo arrepiar, o que acertou em cheio meu membro. —
Mentira, eu serei super sincera, sou uma merda em esconder meus
sentimentos. Mas não se preocupe, você não cruzará comigo, vivo
dentro de uma sala e só saio para tomar meu chá.

— Você é maluca, Flaviane — confessei com o olhar


surpreso. O que será que aconteceu com ela para agir de forma tão
imprudente? — Não faremos mais do que está acontecendo aqui.

— Isso é o que iremos ver, James. O que eu quero, mesmo


bêbada consigo — desafiou-me saindo do meu colo, indo até a
grade e dançando de forma sensual enquanto outras músicas
tocavam.

A música estava cada vez mais nos induzindo a luxúria e


sedução. Precisei de mais duas doses de uísque para assisti-la
provocadora dançando, erguendo o vestido e se insinuando.
Quando parecia duro demais dentro da calça, me levantei
determinado e esquecendo qualquer bom senso ou ética. Ela
conseguiu o que queria, nós iríamos foder, aqui ou na sua casa, eu
precisava sentir o que minha mente estava elaborando.

Por que tinha bebido mais essas doses?

Ela veio dançando em minha direção e no meio do caminho


nos encontramos com batidas lentas e sensuais. Ela mexia a boca
cantando a música e me provocando com a letra, que estava bem
aqui.

“Estou usando aquele perfume

Que você comprou pra mim em Junho

Você não sente o cheiro no ar?

Eu estou bem aqui”

Zara Larsson – Right Here

— Eu sou um homem, Flaviane.

— Que bom.

Novamente foi ela quem deu o passo para que nos


beijássemos, dessa vez, cheio de desejo e impulso sexual. Minha
mão foi para a barra do seu vestido enquanto suas mãos
exploraram dentro do meu blazer, meu peitoral e descendo até
minha calça.

Precisei parar o que estávamos fazendo, olhei em seus


olhos e decidi. Nós iríamos para outro lugar terminar o que
começamos.
Capítulo 3

— Aonde nós vamos? — perguntei quando James pegou na


minha mão e nos conduziu para fora da área VIP.

— Um lugar mais reservado — falou baixo quando


chegamos ao térreo e sem que eu pudesse olhar para as pessoas
que estavam nela, me levou para a saída.

— Podemos ir à sua casa — ofereci abusada. Ele parecia


ter muito mais condição financeira, ou seja, no outro dia alguém,
que não fosse eu, limparia a bagunça.

— Prefiro que seja um motel. — Apressou os passos


quando chegamos na calçada em direção ao estacionamento.

— E ter que conversar pós-foda até me levar em casa? Ou


pior, me deixar para pagar o táxi? — Ele me olhou de lado e não
disse nada. Eu não tinha intenção de fazer a caminhada da
vergonha depois de uma noite de prazer, fosse ela boa ou ruim.

James parou em frente a um carro de luxo e abriu a porta


para mim. Deveria ter percebido que sua condição financeira estava
muito além do que imaginava, mas a névoa da luxúria misturada
com a embriaguez me tornou ousada, além do normal.

— Que seja na minha casa. Tenho meia garrafa de tequila


para encerrarmos a noite.
— Iremos para sua casa, mas não tomaremos mais álcool
— decretou ligando o carro e minha mão foi para sua coxa, próximo
da virilha.

— Ah, você precisa estar no mesmo nível que eu, bonitão.


Minha casa, minhas regras. — Senti seu pau por cima da calça e o
vi retesar assustado. — Você precisa de um pouco mais de atitude,
porque sua pegada é perfeita.

— Porra — resmungou colocando a mão em cima da minha


e esfregando contra a sua calça. Sorri com diversão e tesão, já que
pouco a pouco o sentia endurecer. — Vai falar o endereço da sua
casa ou terei que parar no meio da rua para te comer?

— Só queria te animar um pouco, está todo duro. — Dei


uma risadinha por conta do duplo sentido, tirei minha mão dele e
liguei o som enquanto lhe indicava o caminho.

Morava em um bairro afastado. A casa alugada no meio da


quadra era simples e confortável, conquistada com meu trabalho
desde o estágio mal remunerado na época da faculdade. Não me
dava bem com os vizinhos e por ficar apenas o final de semana
nela, para mim, não importava quem estava ao redor.

“Cada palavra que eu lembro

Eu ouço sua voz através do furacão

Eu estou caindo para sempre?


Não quero enfrentar isso

Não quero enfrentar a chuva”

Eyes Set To Kill, Howard Jones – Face The Rain

Diferente da letra da música, eu queria enfrentar aquela


noite, com um homem desconhecido, que me desejava como
nenhum outro fez. Cantei fora do tom e me remexi, fazendo
insinuações para o homem que dirigia e forçava a postura séria. Ele
parecia uma fortaleza com grades e cerca elétrica, para atravessar
seus muros seria necessário um canhão.

Não estávamos nesse nível de relacionamento. Era coisa de


momento, a química e muito álcool envolvido.

Apesar de ter relutado, saí do carro quando parou em frente


de casa e abri o portão para que o guardasse na garagem. Não
confiava nos vizinhos, ou seja, o bairro inteiro fazia parte da minha
desconfiança.

Logo que fechei o portão, aproximei-me dele e fiquei na


ponta dos pés para lhe dar um beijo na boca, que foi muito bem
recebido com suas mãos na minha cintura, apertando com posse e
desejo. Inclinei a cabeça para aprofundar, conquistar um pouco mais
do seu sabor e foi sua vez de ser ousado, apertando minha bunda e
pressionando nossos quadris.

— Quer começar por aqui? — questionou com rouquidão e


ri baixo, puxando-o para a porta de entrada.
— Não, vou te embebedar primeiro.

Abri com tranquilidade e joguei meus pertences em cima da


mesa enquanto ele tirava seu blazer com cuidado. Fui para a
cozinha, peguei a garrafa de tequila pela metade, dois copos
pequenos e voltei para sala, onde ele parecia observar tudo com
muita atenção.

— Sua família? — perguntou apontando para uma foto onde


meus pais, minha irmã e eu estávamos, tendo de fundo a casa onde
cresci, a chácara que eles pareciam nem um pouco dispostos a
deixar. Diferente deles, eu e Cristiane queríamos ganhar o mundo, o
mato não fazia parte da nossa ambição.

— Sim, para você ver o quanto precisei caminhar para


chegar até aqui. — Servi-nos uma dose e fiz uma careta. — Nossa,
falando dessa forma até pareço ingrata. Amo minha família, só não
concordo muito com o jeito antiquado que me criaram.

— Quando saiu da casa dos seus pais? — Ele tomou a dose


em um gole e antes que pudesse tomar a minha, ele a roubou e
também a ingeriu.

— Hei, dessa forma você ficará mais bêbado que eu. —


Empurrei-o para sentar-se no sofá, deixei os copos no raque da
televisão e tirei meu vestido sem nenhuma vergonha, levando
apenas a garrafa enquanto me acomodava no seu colo
escarranchada.

Ah, esse brilho no olhar de James já estava virando uma


constante quando eu tomava a iniciativa.
— Aproveite, bonitão, é apenas por essa noite.

— Certo. Você falou que não iria invadir minha sala e exigir
um relacionamento. — Rebolei no seu colo e o senti ficar duro
novamente.

— Você tem uma boa memória. — Tomei um gole da tequila


e ele a tirou da minha boca, ingeriu alguns goles e a colocou longe
de nós, no chão. — Tome cuidado, porque a bagunça, quem limpa
no final, sou eu.

Sua língua encontrou o vão dos meus seios cobertos por um


sutiã básico e me arrepiei. Pelo visto, ele era homem da ação, ainda
mais quando provocado.

Dando beijos medidos, provocou meu colo enquanto eu me


esfregava em seu quadril. Cada momento que passava, sentia seu
pênis ficar ereto e esfregar a parte certa da minha anatomia, meu
clitóris.

Minha lingerie não combinava e não era sensual. A última


coisa que pensava era ter companhia para a noite, ainda mais por
estar há mais de seis meses sem nem mesmo beijar alguém.
Sempre cansada e maltratada emocionalmente, a última coisa que
eu precisava era de alguém ajudando a colocar um prego no meu
caixão.

Quem diria que algumas doses de tequila mudariam minha


autoestima para elevada à estratosfera?
Minhas mãos foram para trás e tirei o sutiã com pressa. Ele
parecia decepcionado por algo, então segurei seu rosto e o beijei
feroz, mudando sua postura para exigente. Suas mãos apertaram
meus seios de tal maneira, que estava arriscado eu me movimentar
um pouco mais e gozar sem antes tirar a calcinha.

Sua boca deixou a minha e foi tomar meu pescoço e seio,


mordendo e sugando, me deixando louca.

— Nunca fiz isso — resolvi confessar, afinal de contas, eu


nunca tive nada a esconder.

— Isso, o quê? — perguntou displicente, sua atenção estava


nos meus seios e sua língua fazia mágica nos bicos.

— Transar com um homem que conheci na balada.


Normalmente eu troco mensagens antes da ação. — Gemi quando
a sucção foi mais forte e me levou a um êxtase momentâneo. —
Isso, faz mais assim.

A conversa foi deixada de lado, porque meu amante


obedeceu ao meu comando e com movimentos desesperados de
vai e vem contra seu colo, senti meu clímax me encontrar e me
entreguei aos tremores e sensações proporcionadas por ele.

Nem acreditava que já estaríamos no final do ato, uma vez


que minha parte sendo feita, a outra só precisava encerrar.

Como estava enganada!

James me segurou com devoção, me colocou deitada no


sofá e antes que pudesse me recuperar, tirou a calcinha
vagarosamente do meu corpo e sorriu com malícia.

— Posso continuar? — questionou sedutor abrindo uma das


minhas pernas para enxergar meu sexo com mais clareza.

Sério mesmo que ele continuaria? Sem forças para o


momento, apenas acenei e me deixei levar pela sua boca na minha
boceta enquanto minhas mãos sentiam a textura do seu cabelo e
lhe mostravam a direção exata do meu prazer.

Bem-vindo, segundo orgasmo. Corria um grande risco de


me apaixonar pelo sexo com esse homem, mesmo que não
acreditasse em amor à primeira vista, muito menos à primeira
transa.
Capítulo 4

Era como se o sabor que transbordava de sua pele, boca e


sexo me embriagassem muito mais do que a bebida alcoólica que
tomei. Flaviane não só estava entregue ao meu toque, mas a tudo o
que tinha em mente quando gozou pela segunda vez e se forçou a
ficar ereta para me ajudar a tirar a camisa social.

— Uau — falou admirada, mostrando que eu tinha feito


certo.

— Ainda preciso de mais iniciativa? — questionei


provocador. O que muitas mulheres ainda não sabiam era que
certas faltas de atitude nada mais eram do que uma tentativa de
esconder a explosão de tesão que havia dentro de um homem, que
era o meu caso.

— Acho que está na hora de pagar com a língua — falou


abrindo minha calça. Ah, se ela colocasse sua boca em mim, seria
meu fim. Queria fazer com que ela chegasse ao seu limite antes que
me levasse ao meu próprio.

Infelizmente – dependendo do ponto de vista –, ela foi mais


rápida. Ainda sentado no sofá, ela se ajoelhou e tomou meu pau na
boca, sugando e lambendo com avidez. Olhei para o seu corpo,
alisei suas costas até chegar na sua bunda e apertei, aumentando o
meu tesão.
Porra, essa mulher era gostosa pra caralho, com curvas nos
lugares certos e atitudes sem pudor. Seria meu ideal de mulher para
foder, se não fosse minha alergia a relacionamentos. Não me
envolveria com alguém que pudesse me dar prazer e no futuro,
cobrasse o que não poderia lhe dar. Eu era um homem fechado e
não me abriria, mesmo que sua boca no meu pau, todos os dias, me
fizesse desistir dessa postura rígida.

— Caralho — falei estrangulado quando me levou até o


fundo da garganta, depois subiu até a cabeça do meu pau e sugou
soltando-me prestes a gozar.

Fechei os olhos e respirei fundo, ainda bem que parou,


porque minha intenção era estar dentro dela quando finalmente me
permitisse gozar.

— Tem camisinha? — Ajoelhou-se no chão e tirou meus


sapatos. A submissão não combinava com sua postura altiva, o que
me confundiu e ao mesmo tempo mostrou que comigo poderia ser
diferente.

Neguei com a cabeça para espantar os pensamentos


sentimentais e depois acenei afirmativo corrigindo minha resposta à
sua pergunta. Tirei a carteira do bolso erguendo o meu quadril e ela
aproveitou para tirar minhas calças.

— Está na carteira. Obrigado pela ajuda — falei brando,


colocando a carteira no chão do outro lado da tequila e lhe
entregando o pacote de preservativo.
Para minha surpresa, ela se levantou, foi até a bebida e
tomou mais uma dose com o olhar em chamas. Porra, ela queria me
provocar, ainda mais quando deixou parte do líquido escorrer no
corpo, a partir dos seios.

— Quero ser sua garota essa noite. — Flaviane ofereceu


seu corpo e sem levar em consideração o peso das suas palavras,
levantei-me e tirei a bebida da sua mão, tomando todo o líquido e
descartando a garrafa no chão.

Meu esôfago e estômago reclamaram, mas que se foda, ela


não precisava mais daquilo para transar comigo. Olhei para os seus
pés e vi o tapete respingado com a bebida.

— Você quem está sujando tudo — falei com diversão antes


de segurar seu seio e inclinar-me para chupá-lo.

— Eu nos xingarei amanhã, agora eu quero você, James.

Antes que cumprisse o seu pedido, lambi e suguei todo o


seu corpo, para livrá-la da tequila e substituir pela minha saliva. Ela
gemeu de forma descontrolada, tocou-me com desespero e quando
tirei a camisinha da sua mão, seus olhos brilharam com a
antecipação.

Olhei ao redor em um primeiro momento e decidi ficar por


aqui. Quando estivéssemos saciados, iria para sua cama e
recuperaria o fôlego para um segundo momento, porque com ela, só
um não bastaria.
Ela gostou da posição, voltei a me sentar e a puxei para
ficar no meu colo. Encaixando meu membro na sua entrada, foi fácil
mergulhar dentro dela por estar encharcada de tanto gozar.

Subiu e desceu vagarosamente, me encarando como se


fosse a primeira vez que me via. Apertei suas coxas, subi para a sua
bunda e depois pelas suas costas, digitalizando pelos meus dedos a
suavidade da sua pele e o arrepio que lhe causava.

Sua respiração começou a acelerar, os gemidos


aumentaram um tom e apertando a sua nuca, trouxe sua boca para
a minha, numa clara demonstração de posse. Seus movimentos
aceleraram, mudaram para subir e descer combinados com
reboladas e assim que retesou momentaneamente, se livrou da
minha boca para buscar ar e gemer com mais intensidade do que
das outras vezes.

Abraçou meu pescoço e respirou fundo várias vezes para se


recompor. Apressei-me em deixá-la de joelhos e apoiada no encosto
do sofá, coloquei-me atrás e a penetrei com apenas um impulso.
Coloquei um joelho no sofá, e o outro pé no chão me ajudou a ser
ágil enquanto metia com força. As mãos apertaram seus seios e
dessa vez, quem gemeu alto fui eu quando fui fundo uma vez,
segunda vez e por fim, terminando de jorrar minha porra, a terceira
vez.

Um calafrio passou por mim, depois beijei seu ombro, costas


e suspirei saciado.

Não tinha como negar, nossa química era única, comparada


a todas as outras que tive. Tendo a segurança de que seria apenas
essa noite, saí de dentro dela, tirei a camisinha e amarrei buscando
um banheiro com o olhar.

— Vamos para a minha cama — pediu segurando meu


pulso.

— Vou descartar no banheiro, já estou indo. — Toquei seu


seio e barriga, ela fez uma careta. — Não vai tomar uma ducha?

— Sim, depois que você a usar. — Ela caminhou, empurrou


uma porta e rebolou até outra. — O banheiro é esse.

Fechei a porta antes mesmo de acender a luz. Descartei a


camisinha e tomei uma ducha apenas para tirar o suor do corpo.
Tudo era muito pequeno e apertado, estava acostumado com outro
padrão. A verdade era que estava me sentindo estranho... era muita
intimidade com alguém que teria apenas uma breve passagem pela
minha vida.

Fui até seu quarto, ela me encarou sonhadora de onde


estava deitada. Levantou-se me ajudando a deitar e me acomodar
no meio da sua cama de casal.

— Aceita uma água? — questionou deixando um beijo doce


nos meus lábios.

— Você também precisa beber água. Traga para nós.

Deu passos para trás tocando seu corpo inteiro e me


fazendo acender antes mesmo do que estava acostumado.
Rapidamente saiu e voltou com uma grande jarra de água e um
copo, tomou um gole e me deixou sozinho para tomar seu próprio
banho.

Ou ela demorou demais ou a bebida me ajudou a relaxar


além da conta e dormir, porque senti tocarem meu pau e meus olhos
estavam fechados, pesados. Minha cabeça latejava um pouco, mas
fui ofuscado pela boca me devorando.

Ergui o lençol que me cobria e vi Flaviane entre minhas


pernas fazendo sexo oral como se fosse sua mais preciosa refeição.
Descobri-nos e a admirei empinando a bunda e se mostrando ávida
por mim.

— Que horas são? — perguntei com a voz rouca de prazer


e sonolência.

— Hora de te foder um pouco mais — respondeu erguendo


uma camisinha e mordendo o lábio ao abrir o pacote. — Confesso
que ainda estou bêbada, mas também sóbria. Você é gostoso
demais, James.

— Tire todo o proveito. — Coloquei as mãos atrás da


cabeça, ela teve dificuldade em pôr a camisinha, mas conseguiu e
subiu, precisando de um pouco de vai e vem antes de se afundar
em mim.

Empinou os seios e me fez de objeto para o seu prazer.


Admirei a mulher confiante e cheia de desejo me tomar como se
fosse dela. Não era para menos, dei-lhe liberdade para tirar tudo de
mim.
Coloquei as mãos nos seus seios quando a percebi gemer
mais forte. Minha intuição parecia conectada com ela, me motivando
a agir conforme a sua necessidade.

Ela me cavalgou com lentidão e logo foi substituído pelo


tesão ao se esfregar e acelerar o vai e vem. Ergui meu tronco para
chupar um bico do seu seio e a senti gozar rebolando no meu colo e
puxando meus cabelos. Porra, ela era linda entregue ao prazer e
por isso não consegui evitar, também gozei e a puxei para se deitar
ao meu lado.

Demorei tempo demais naquela posição, aproveitando do


seu calor e a conexão. Minha ereção tinha ido embora, quando fui
sair dela, senti o preservativo ficar no meio do caminho. Interrompi
nossos movimentos para que eu fizesse aquilo de forma correta.

— Espere, acho que a camisinha se moveu — soei sério,


ela endureceu nos meus braços e para complementar a situação
constrangedora, tirei meu pau vagarosamente e a camisinha ficou.

Merda.

Antes que ela falasse algo ou entrasse em desespero,


coloquei minha mão na sua boceta, enfiei com cuidado um dedo e
encontrei o preservativo logo na saída. Deveria ter conferido se
estava completamente desenrolado ou saído de dentro dela assim
que gozasse, mas o prazer tinha sido tão intenso que o descuido
prevaleceu.

Sorri aliviado quando o tirei de dentro dela e vi que o líquido


esbranquiçado estava nele. Tudo bem, sem consequências para o
nosso ato.

— Se sua preocupação é DST, eu estou limpa, me cuido


sempre — falou apressada e me levantei para ficar de costas e não
a encarar. Percebi que o quarto estava um pouco mais iluminado, ou
seja, a manhã havia chegado, era momento de ir embora.

— Está tudo bem — falei sem encará-la indo até o banheiro,


me limpando e depois buscando minhas roupas na sala.

Algo estava entalado na minha garganta quando terminei de


colocar minhas roupas e a vi, nua, me observando da porta do seu
quarto.

— Tome mais água. — Coloquei a carteira no bolso de trás


da calça e ficamos um olhando para o outro, como se ambos
tivéssemos mais uma coisa para dizer que não fosse apenas a
recomendação para a ressaca.

— Você também. — Inspirou profundamente e soltou pela


boca junto com as palavras: — Adeus, James.

— Adeus, Flaviane.

E mesmo que um lado meu dissesse que era o certo a se


fazer, um lado que eu desconhecia me fazia sentir culpa ao sair da
casa, abrir o portão da garagem e ir embora sem nem ao menos
trocarmos o número de telefone para nos falarmos novamente.

Ela não iria cobrar um relacionamento... secretamente


desejava que me surpreendesse como fez várias vezes nessa noite
e contrariasse suas palavras.
Capítulo 5

Sentia-me péssima ao chegar na empresa e olhar para


meus colegas de trabalho que se tornariam ex depois de algumas
semanas. Sentia o peso do julgamento mesmo que ninguém
soubesse o que aconteceu, no caso, a minha mente fantasiava que
todos viram minha peripécia sexual e me acusavam de prostituta.

Era uma merda ter enraizado tantos ensinamentos


retrógrados de quem sempre morou em uma chácara e não sabia
que as mulheres conquistaram seu espaço. Mesmo assim, foi por
causa desse sentimento ruim que estava enfeitando meu peito que
cheguei na minha mesa de trabalho, recolhi todos os meus
pertences pessoais e fui direto para o setor de Recursos Humanos.

— Você já vai? — Karine questionou cruzando comigo no


corredor. Dei de ombros e não respondi, meu coração acelerava só
de saber que poderia deparar-me com o homem que eu transei
depois da festa.

Céus, levei minha liberdade para outro nível. Por que bebi
tanto assim?

O que deveria ser um grito de liberdade acabou se


transformando em desespero e culpa. Havia um piano de cauda
gigantesco nas minhas costas e eu só precisava me desligar da MB
News o quanto antes para poder respirar aliviada e claro, ir atrás de
outro emprego.
Para minha sorte, ou misteriosa decepção, não cruzei com
Willis, Márcio ou mesmo James. Qual seria seu cargo? Que
nenhuma resposta fosse encontrada, precisava pensar em mim e
mais ninguém. Ele era do alto escalão, seu carro me dava certeza, e
a última coisa que precisava era da acusação sobre me envolver
com um chefe em busca da minha readmissão.

Nunca mais para os azedos e mal-humorados.

Cheguei em casa depois de ser deixada por um táxi e me


joguei no sofá, lembrando-me das peripécias sexuais que aprontei.
Parecia ter sido ontem, ou mesmo há um século. Confusa e carente,
deixei minhas coisas no chão e me deitei no sofá para dormir e me
entregar à procrastinação. Eu poderia ter um ou dois dias de fossa
antes de pensar em trabalhar, certo?

Acordei com o meu celular tocando. Estiquei o braço para


alcançar minha bolsa, procurei dentro dela e coloquei-o no ouvido
sem saber quem estava do outro lado da linha.

— Alô?

— Dormindo a essa hora? — Cristiane, minha irmã,


perguntou divertida.

— Sim. Estou desempregada no momento, o que manda?


— Ajeitei-me no sofá e suspirei prevendo uma brincadeira
depreciativa. Ela nunca levava nada a sério, o que eu tinha de
sinceridade, ela tinha de irresponsabilidade.
— Que maravilha, já que está com a vida ganha, não
poderia me emprestar um dinheiro? Abusei no cartão e não aguento
mais pagar juros — falou chorosa e revirei os olhos mais acordada.
Ela não tinha limites ou seu controle estava sem pilha,
permanentemente.

— Você sabe que está me devendo sua alma, certo? Agora


vou começar a cobrar outras coisas. — Fiz uma careta, sabendo
que não conseguiria negar seu pedido, mesmo que ela merecesse
ficar sem apoio para aprender uma lição. Éramos apenas nós nesse
mundo, eu daria a ela o mesmo apoio que gostaria de ter.

— Sou toda sua, Flaví. Você é meu anjo da guarda, sabe


disso.

— E você o meu. — Lembrei quando ela veio da casa dos


nossos pais para a cidade, dois anos depois que eu tinha saído para
fazer faculdade. Ela dizia que nossos pais estavam cada vez piores
e o contato que tinha com eles, com o passar dos anos, foi
diminuindo cada vez mais. — Está na cidade?

— Não, viajando a trabalho, como sempre — falou com


diversão.

— Encontrou algum gatinho no caminho?

— Só se for o atropelado no meio da estrada. — Riu alto


enquanto eu fiquei pensando na real situação, tadinho do bichinho.
— Você sabe que eu e homens não damos certo.

— Mas você não é lésbica.


— Devo ser sem gênero. Eu sinto tesão em trabalhar, todos
os homens com quem cruzei são imaturos demais.

— Ah, talvez isso mudasse se encontrasse um bonitão


como o meu. — Mordi a língua, não deveria falar de um caso que
não se repetiria, mas era mais forte do que eu.

— Opa! Quem é ele?

— Cristiane, se eu contar toda a história, vai achar que é


mentira. — Ri baixo, sentindo meu corpo formigar ao lembrar-me de
James. Minha irmã também o fez e quando abri a boca para
continuar, ela me interrompeu:

— Preciso desligar, estão me chamando. Vou te mandar o


valor e a conta para depositar por mensagem.

— É mais fácil me mandar o boleto do cartão para pagar,


mas tudo bem, se cuida.

— Você também, minha salvadora da pátria. Eu faria o


mesmo por você, saiba disso. Beijos.

Encerrei a ligação e já fui direto para o aplicativo de


mensagem aguardar as coordenadas dela. Mesmo desempregada,
eu tinha uma boa reserva e ajudaria minha irmã, já que não
tínhamos apoio de nossos pais. No momento que decidimos não
voltar para a chácara, depois de formada, estávamos por nossa
conta.

Era uma boa forma de encarar a vida, ir atrás do que


realmente importava, já que não haveria alguém para nos salvar no
final. Mas também era muito difícil aprender na dor, na falta de
carinho e sustentação.

Seria para minha irmã o que eu mesma não tinha. A


recíproca seria verdadeira quando fosse minha vez precisando dela,
tinha certeza.

Depois de feita a transferência, aproveitei para pesquisar


alguns anúncios on-line para vagas de emprego. Salário inicial era
muito baixo, precisaria de outros quatro anos de empresa e muito
suor para voltar a ter o mesmo prestígio financeiro que tinha antes.

Poderia pegar os freelancers que alguns dos meus colegas


já me indicaram, para complementar a renda. Teria que me
reinventar, nunca tive medo disso, ainda mais quando dentro de
mim sentia leveza.

Não cruzaria com nenhum James, não precisaria lidar com o


azedo do meu chefe nem o mal-humorado do diretor. Estava tudo
bem na medida do possível e com a satisfação sexual que estava,
focaria apenas no profissional por ter saciado uma das minhas
fomes ocultas.
Capítulo 6

Três meses depois...

Coloquei a mão na cabeça ao me deparar com o resultado


do exame na minha frente. O médico percebeu o meu desespero e
não disse nada, ainda mais porque nesse momento, parabéns era a
última coisa que queria escutar.

— Se precisar de ajuda ou acompanhamento psicológico,


temos uma equipe no hospital que pode te ajudar.

— Eu preciso é de um marido ou o pai da criança para me


amparar — falei com rispidez, peguei os papéis em cima da mesa
que indicavam que meus enjoos e tontura não tinham nada a ver
com uma virose e sim, gravidez.

De quem, meu Deus? Como?

O último homem que transei foi James e usamos camisinha


nas duas vezes. Caminhei apressada até sair do pronto atendimento
e encarei o sol com desafio. Por que o universo parecia conspirar
para que a história se repetisse? Apesar da minha mãe não admitir,
ela se casou grávida do meu pai por obrigação. Se eles eram
retrógrados, meus avós eram mais ainda.
Caminhei até o ponto de ônibus, pensei nas mil e uma
desculpas que poderia dar para a minha chefe e só consegui ver
uma alternativa, a verdade. Não bastava eu ter dois ex-chefes
insuportáveis, agora tinha uma chefe carrasca, estressada e que
adorava esfregar na minha cara que eu inventava uma dor por dia.

Tudo bem que eu cumpria minhas metas, inclusive parei de


reclamar em voz alta, bebia muita água e ficava de cara feia, claro,
mas também a incomodava. Laurilene parecia ter uma missão na
Terra e essa era criticar tudo o que eu fazia. Com dois meses de
empresa, estava focada em mostrar meu trabalho e resistência às
críticas. Se aturei por mais de quatro anos dois homens chatos, uma
mulher seria fácil.

Estava completamente enganada, ainda mais quando fui


contratada grávida, sendo que no meu exame admissional, falei que
não estava e tomava remédio. Tudo bem que eu costumava falhar
um ou dois dias, mas ninguém precisava saber a não ser eu
mesma.

Grávida. Com 25 anos, um emprego que me pagava mal,


com uma superior que me humilhava, carregava um ser inocente
para vir a esse mundo e sofrer comigo. Por quê?

Percebi tarde demais que o meu ônibus tinha passado e


teria que esperar mais outros 30 minutos para o próximo vir. O que
poderia fazer nessa situação? Eu não sabia que estava grávida,
nunca mentiria, por Deus, eu estaria surtada como agora na
entrevista de emprego, que Laurilene me enganou muito bem se
mostrando receptiva e pronta para me ensinar.
Na segunda semana de trabalho, quando corrigi um texto
jornalístico dela sem que pedisse, eu despertei a fera. Não só
defeito ela colocava nas minhas redações, como adorava me fazer
reescrever e comparava os textos antes e depois.

Por um lado, me sentia desafiada a mostrar que sua


implicação comigo era apenas mágoa por eu ter achado uma falha
no seu trabalho perfeito. Caramba, eu a abordei na sua sala, não
contei para ninguém, pensei no bem dela caso alguém visse o que
vi.

Maldita hora que a sinceridade foi além do necessário.

Sofrendo com os pensamentos negativos da empresa, que


agora eu não poderia nem pensar em largar por conta do bebê que
estava a caminho, acenei para o ônibus e entrei nele pensando nos
meus pais. Como falaria com eles?

Tinha que ir por partes e a primeira pessoa para quem


contaria seria para minha chefe. Depois, ligaria para Cristiane, já
que não havia feito colegas de trabalho. A empresa tinha uma
energia competitiva muito alta, então, confraternizar com a pessoa
do lado da sua mesa era a mesma coisa que entregar informação
para o inimigo.

Enquanto uns não faziam isso, outros jogavam para o


mundo sem se preocuparem com a empresa, como Willis fazia.

Por que estava remoendo o passado? Ah, claro, porque


depois da minha irmã, precisava ir até a MB News ou a JB Notícias
para encontrar James e jogar a bomba no colo dele. Apesar de ter
decretado que nunca pisaria os pés no seu escritório cobrando um
relacionamento, eu o faria, mas exigindo assumir a paternidade.

Cuidar sozinha de um bebê? Caramba, estava difícil lidar


apenas comigo, imagine eu e outra pessoa que dependesse de
mim? Nunca pensei em formar uma família, muito menos me casar,
mas um filho...

Do mesmo jeito que o pensamento negativo veio com


velocidade, ele se foi. Tirar não era uma opção, ele não tinha culpa
das minhas escolhas e história familiar.

Caramba, mas nós usamos camisinha!

Indignada como tudo estava acontecendo, desci no ponto


que estava há três quadras da empresa que trabalhava atualmente
e caminhei pisando firme e tentando não chorar. Engraçado como
os sintomas de mal-estar sumiram no mesmo momento que o
médico me deu o diagnóstico. Remédio? Apenas em caso extremos,
já que nas primeiras semanas de gestação, qualquer coisa poderia
provocar um aborto espontâneo.

Só de pensar causava um arrepio ruim no meu corpo.


Mesmo que não tenha sido desejado e no momento estava difícil
aceitar minha condição, ele não merecia minha rejeição.

Apressei-me até a sala de Laurilene, bati na porta e coloquei


minha cabeça para dentro. Ela estava conversando com Sebastião,
o dono da empresa e com seriedade, me chamou para entrar.
— Que bom que chegou, Flaviane. Suas ausências por
conta de dores de cabeça estavam prejudicando o trabalho.

— Meu serviço está em dia, as pendências que existem são


apenas as de hoje, que terminarei no prazo estipulado — falei
abaixando minha cabeça e entrando com um ar submisso, mas que
não escutaria sem retrucar. O homem de cabelos grisalhos e
semblante sereno me encarou tranquilo até o momento que me
sentei ao seu lado.

— Lembro muito bem dos seus momentos, Lauri. Se o


trabalho está sendo feito, dê um desconto. — Sorriu para ela e
depois me encarou. — Vou deixar que conversem.

— Não, pode ficar Sebastião, porque hoje ela foi no médico


e me trouxe um atestado, certo? — exigiu e abri minha bolsa com o
coração na garganta para lhe fazer o que pediu.

— Sim, fiz exames de sangue e estou grávida. — Engoli em


seco e encarei de um para outro, chocados. — Não menti quando
fui admitida. Estou mais surpresa do que vocês com a notícia, já que
foi há tanto tempo. — Olhei para o teto em busca de força e não me
sentir envergonhada. — O certo a se fazer, pela dignidade, era
cancelar meu contrato de experiência e me demitirem. Mas... —
Controlei o choro. — Por favor, eu preciso trabalhar agora mais do
que nunca.

— Quem é o pai desse bebê? — O dono da empresa


perguntou sério e uma lágrima escorreu. Limpei-a rapidamente e
mordi o lábio sem saber o que responder pela primeira vez na vida.
— Oh, que ótimo, ela nem sabe quem é o pai. — Minha
chefe encarou o dono e depois a mim com desdém. Inspirei
profundamente para não rebater com crueldade, mas tudo o que
vinha na minha mente eram xingamentos.

— Independente disso, é um assunto particular dela, Lauri.


— Sebastião deu dois toques na minha mão e forçou um sorriso. —
Entre o certo e errado a se fazer, nesse caso, preciso me guiar pela
legislação. Você ficará conosco até ganhar esse bebê, a não ser
que você peça demissão.

Era para me sentir aliviada, mas o peso de ser um estorvo


na vida das pessoas me deixou mal. Olhei para minha chefe, que
queria me matar apenas com o olhar e abaixei a cabeça, querendo
sair daqui e ligar para a minha irmã em busca de apoio.

— Pode voltar ao trabalho, Flaviane. As próximas ausências


deverão ser acompanhadas de atestado médico — Laurilene me
dispensou e me levantei apressada para sair.

— E parabéns. Filhos são uma bênção, mesmo não


planejados — Sebastião falou antes de abrir a porta, não olhei para
trás e andei apressada até o banheiro.

Céus, como poderia pensar dessa forma, quando o que eu


queria era que alguém me dissesse que tudo ficaria bem no final?
Sozinha, como sempre estive, não poderia contar com o apoio dos
meus pais.

Lavei o rosto, me recompus e enchi meu copo de água para


focar no trabalho. Deixaria para avisar minha irmã quando estivesse
em casa, onde pudesse chorar e gritar para desabafar.

Então, lidaria com o pai da criança.


Capítulo 7

Não deveria me surpreender com a reação de Cristiane.


Sentindo-se a mais poderosa das mulheres por se tornar tia, já
falava de enxoval e até comprou a primeira roupa do bebê pela
internet, para ser entregue no meu trabalho.

Como se não estivesse com meu filme queimado o


suficiente e as contas pesando mais ainda no bolso, minha irmã até
brincou que ela comprou, mas quem pagava era eu.

Doeu saber que ela não dava valor para a ajuda financeira
que eu dava, mas a dor era maior ao pensar que poderia viver
sozinha com essa criança.

Precisei de uma semana para conseguir adiantar todo o


meu trabalho e sair mais cedo do meu atual emprego para pisar no
lugar onde nunca pensei que voltaria. MB News ficava em um prédio
imponente, admirável e parecia mais bonito depois de meses sem
vê-lo, por estar fora da minha rota.

“Estou tentando acender uma luz, luz acesa, luz acesa

Alguém sentado no escuro e chorando

Arrume sua maquiagem ou seu cabelo, sente-se aqui


Tenho que fazer o que você faz para sobreviver, sim”

YONAKA – Call Me a Saint

Tirei os fones de ouvido, a música foi minha companhia até


aquele encontro. Cheguei na recepção e a moça que nos atendia
era a mesma, me cumprimentou simpática e eu fiz o mesmo. Apesar
dos chefes insuportáveis, os colegas eram muito melhores. Bem, ou
poderia ser apenas eu a errada e intragável.

— Como está, Flaví? Quando soube que não trabalhava


mais aqui fiquei tão triste. — Olhou-me com expectativa e fiz uma
careta. — Vai voltar?

— Não. Eu preciso de uma ajuda, na verdade. — Inclinei-me


no balcão e diminuí o tom da minha voz. — Preciso saber quantos
James existe na empresa ou na JB.

— James Blat? — perguntou um pouco alto, senti meu


coração palpitar e parecia que dentro de mim o havia reconhecido
por mais que a cabeça não parecia conectar-se com nada. — Acho
que só tem ele, Flaví, um dos sócios da JB Notícias. Apesar da
fusão, os nomes continuarão separados por um tempo. Estamos em
transição. — Sorriu franzindo a testa ao me ver surtar internamente.

Eu transei com o dono da empresa?

Não só isso, como falei mal do Willis e...


Tampei meu rosto com as mãos e deixei que atendesse
outra pessoa que tinha chegado. Quando ficou sozinha novamente,
fui para o seu lado e agachei.

— Não me pergunte o motivo, só preciso ver uma foto desse


homem.

— Como você não o viu? Está em todos os jornais, semana


passada o pai dele faleceu, deixou a empresa como herança e está
brigando com a mãe para ficar com ela — sussurrou fazendo uma
breve pesquisa na internet e apontando para o monitor do seu
computador.

Tão imersa na minha dor e nos meus problemas, eu tinha


deixado de lado a parte de me atualizar de notícias. Agora entendia
o motivo, parecia que o universo queria me blindar com mais uma
dor.

James Blat era o meu “James caso de uma noite.”

E agora? Eu precisava de conforto tanto quanto ele. Levar


uma notícia dessa, com a divulgação da sua herança, estava na
cara o golpe da barriga, com a diferença de que não era nada disso.

Só precisava de um emprego estável, as contas pagas e


meu filho a salvo. Não era pela riqueza ou mesmo o casamento, só
precisava não me sentir só. Com minha irmã sempre viajando, eu a
tinha por telefonemas, não era a mesma coisa de estar ao lado.

— E então? O que foi? — a moça da recepção me deu a


mão para me ajudar a levantar e inspirei profundamente. A verdade
precisava ser dita, doesse em mim ou nele.

— Preciso falar com James Blat. É urgente. Poderia


conseguir para mim? — implorei, sabendo que a agenda dele
deveria ser uma loucura.

— Nossa, fiquei preocupada, Flaví. Posso ajudar? —


perguntou pegando o telefone e neguei com a cabeça, porque as
lágrimas estavam prestes a cair.

Esperar mais uma semana ou um mês para contar o


inevitável era a mesma coisa que esconder uma mancha debaixo do
carpete. A raiva por ser pego de surpresa seria muito pior do que
apresentar logo de uma vez.

Para minha sorte – ou não –, ele iria me receber naquele


momento. Fui informada onde era sua sala, apressei-me em pegar o
elevador e subir até o último andar. Não havia nada que pudesse
mudar o rebuliço que estava meu estômago. Iria dizer sem papas na
língua e não me desculparia se o chocasse, afinal, eu lidei com isso
na semana passada sozinha, hoje, ele poderia se apoiar em mim.

Havia garra em mim para lidar com a situação e prevaleceria


com meu orgulho caso ele não aceitasse ou acreditasse em mim.
Enquanto não houvesse a confirmação de que não haveria apoio,
eu buscaria um, ele tem o direito de escolher, por mais que eu não
me sentisse da mesma forma.

— Flaviane? — a secretária se levantou quando saí do


elevador e me aproximei. — O senhor Blat a aguarda.
Continuei caminhando firme e quase fraquejei quando meu
olhar encontrou o dele. Sofrimento e indignação pareciam saltar dos
seus poros ao se mostrar sentado na cadeira empresarial atrás de
uma mesa. Com determinação, aproximei-me até uma cadeira
enquanto escutava a porta atrás de nós se fechando.

— Posso me sentar? — perguntei baixo.

— O que quer aqui, Flaviane? — Havia tanto rancor e


crueldade, que quase desisti de tudo e aceitei ser mãe por conta
própria. Engoli o bolo que estava na minha garganta e empinei o
nariz, porque se ele estava mal, eu o faria ficar pior.

— Sei que prometi nunca vir aqui cobrar um relacionamento.


Não menti, o motivo da visita é outro. — Abri minha bolsa e ele
apenas observou com atenção. Pela minha visão periférica,
enquanto buscava o papel que atestava minha gestação e de
quantas semanas estava, pensei ter visto um vislumbre de
fragilidade. — Sinto muito pelo seu pai — falei sincera ao encontrar
o papel.

— Se quisesse prestar suas condolências, que tivesse ido


ao funeral. — Ele demonstrou ressentimento, a culpa tomou conta,
mas dei prioridade para nosso filho. Estendi o papel com os lábios
comprimidos.

— Estive aérea esses últimos dias, soube apenas agora. —


Umedeci os lábios e o encarei analisando o papel. — Estou grávida.

Suas mãos tremeram brevemente, então jogou o papel na


mesa e me encarou com desdém.
— E daí? Quer reaver seu emprego? Poderia ter ido direto
ao setor de recursos humanos, não falado comigo.

— Vim aqui, porque esse filho é seu. — Aproximei-me da


mesa e apontei para as semanas.

— Nós transamos com camisinha, Flaviane. Valeu a


tentativa, mas você não entrará na briga por causa da herança do
meu pai também. — Levantou e me pegou pelo braço.

Saí com violência do seu agarre, bufei irada e controlei para


não o agredir.

— Não estou aqui pedindo dinheiro ou herança. Que se


fodam seus bens, estou fazendo minha parte, você será pai e eu
mãe daqui a seis meses. — Abriu a boca e apontei o dedo para o
seu rosto indignada. — E não me venha falar que não é seu.
Durante esse um ano, eu só transei com você!

— Então vá para uma igreja e peça que te torne uma santa,


porque você não está grávida de mim. — Olhou-me da cabeça aos
pés e negou decepcionado. Comigo? Ele não tinha o direito, estava
sendo honesta.

— Não tenho razões para mentir, James Blat. — Deixei as


lágrimas saírem e cruzei os braços na minha frente em busca de
proteção. — Poderia sumir e aparecer depois de dez anos, com
uma criança ao meu lado e esfregar na sua cara que te impedi de
construir uma relação com ela. Não quero seu dinheiro, beijos ou
uma boa foda, eu preciso de apoio!
Tão chocado e frágil como eu, ele se apoiou na mesa depois
de alguns passos para trás, me observou e não disse nada.
Também espelhou minha postura, ambos machucados tentando se
proteger.

Ele estava sozinho no mundo, estava claro ao mesmo


tempo que eu externava em palavras nossa semelhança. Custava
esquecer as circunstâncias e apenas seguir a partir daqui?

— Esse filho não é meu. Nós usamos camisinha! — repetiu


irritado e bufei.

— Não acha que me perguntei a mesma coisa? — Arregalei


meus olhos, lembrando-me do nosso momento. — O preservativo
tinha ficado lá dentro...

— Você colocou o preservativo de qualquer jeito para


engravidar?

— Está me acusando de... — Dei a volta e estava prestes a


sair, mas voltei furiosa, cutuquei seu peito três vezes e o encarei. —
Você não quer ter nada a ver com esse filho?

— Ele não é meu.

— É seu e faremos teste de DNA quando nascer. Não


transei com ninguém desde a nossa última vez e muito tempo antes!
— Limpei o rosto com brusquidão quando não o vi ter um pingo de
empatia pela minha situação.

— Eu não te conheço, Flaviane. Só sei o que existe na sua


ficha funcional e o que Willis me falou.
— Que se foda aquele azedo, eu sou honesta, não ele. —
Bati no meu peito e ele franziu a testa curioso, não mudaria de
assunto.

— Quem está me jogando um filho no colo é você.

— Vai se foder, James Blat! — Dei passos para trás com a


resposta que eu não queria nas mãos. — Vou cuidar desse filho
sozinha, serei uma mãe melhor do que a sua e a minha. Não vou
brigar pelo caralho da sua fortuna, enfia tudo no cu!

— Me ofender só me faz querer retrucar — ameaçou.

— Você já está fazendo, me rebaixando a golpista. —


Apontei para a mesa. — No dia que o remorso tomar conta e você
quiser saber se o filho que não assumiu está bem, não venha atrás
de mim.

— E você quer que eu faça o quê? Sorria e aceite que uma


semana depois da morte do meu pai, agora existe esperança? —
Riu sem humor e mostrou um pouco da sua fragilidade. Queria um
abraço e ele também, mas não poderíamos nos confortar, ainda
mais com a agressividade entre nós. — Vá viver sua vida. Diferente
da sua promessa, não vou atrás de você para NADA!

Seu grito me assustou, os olhos vermelhos e a tentativa de


ocultar um choro me fizeram dar o braço a torcer, apenas um pouco.

Acenei afirmativo, mostrei minha insatisfação pelo seu


egoísmo e abri a porta para ir embora.
— Vejo seu sofrimento, James. Espero, que algum dia você
também consiga enxergar o meu. Infelizmente, poderá ser tarde
demais. — Não olhei para trás, caminhei apressada até o elevador e
deixei extravasar a frustração através do choro.

Para minha grande sorte, o elevador parou no antigo andar


que eu trabalhava e Willis entrou no elevador sem me cumprimentar
ou mesmo me notar. Porque o choro não era o suficiente para
mostrar que existia alguém ao seu lado.

Senti-me pior que nada quando saí na recepção e nem me


despedi da colega que me ajudou a falar com James Blat. Preferia-o
sem o sobrenome ou mesmo a pompa, porque o homem que deixei
naquela sala não tinha nada de carinhoso e prazeroso de meses
atrás.

Como o álcool poderia mudar e nublar o julgamento das


pessoas.

Fui para o ponto de ônibus e esperei minha condução para ir


até em casa. O pior já tinha passado, era momento de me preparar
para falar com meus pais.
Capítulo 8

Gritei em um desabafo descontrolado. Ultimamente estava


difícil esconder meus sentimentos, ainda mais quando existia uma
briga interna e externa me dominando.

Eu sentia tanta falta daquela mulher, sonhava com ela e


uma rotina onde pudéssemos ser um casal, que estava prestes a
procurá-la. Sei que o combinado foi apenas uma noite, que Willis me
falou o quanto ela era interesseira e crítica demais, atrapalhando o
bom desenvolvimento da equipe, mas para mim, era como se
aquele momento que compartilhamos fosse apenas nosso.

Comigo, ela era diferente. Livre e feliz.

Então, minha mãe surgiu para exigir sua parte em um


divórcio que nunca aconteceu no papel. Resultado, meu pai infartou,
foi para sete palmos do chão e minha mãe não se sensibilizou, ela
queria o que lhe era de direito, já que viveu muitos anos aguentando
o sofrimento de estar com o meu pai, para manter uma família para
mim.

Ela nunca tinha sido feliz, palavras dela. Ele tentou fazer de
tudo por minha mãe e foi rejeitado, palavras dele em uma das
nossas últimas conversas.

Só de pensar nisso me lembrava do bebê que estava sendo


gerado pela Flaviane e o quanto esse mundo era injusto. Como as
pessoas poderiam ser imprudentes e colocarem no mundo um ser
tão inocente para sofrer como nós?

Esse filho não poderia ser meu, impossível! Tudo bem que
ela se lembrou de algo que aconteceu, a camisinha mal colocada,
mas porra....

Batidas soaram na porta e estava disposto a encerrar o


expediente sem falar com ninguém. Minha garganta estava
obstruída e meu estômago parecia prestes a explodir.

— Entre — pedi e emendei: —, estou de saída.

— Oi, James. — Willis entrou enquanto eu pegava minha


carteira e celular para sair. — Está tudo bem?

— Exausto. Vou para casa. — Aproximei-me do meu amigo


prestes a lhe abraçar. Aquele que sempre estava ao meu lado, na
infância, poderia ser um ombro amigo, mas me abrir sempre foi
difícil demais.

— Você precisa relaxar, irmão. — Apertou meu ombro


quando me aproximei. — Vi Flaviane no elevador.

— Sim, ela veio falar comigo. — Olhei para a mesa e me


apressei em guardar o papel que ela trouxe do seu exame. Ninguém
saberia do que acontecia enquanto eu mesmo não descobrisse o
que fazer. A pior coisa que poderia fazer era rechaçá-la, mas
caralho... se ela soubesse como estava minha vida, não entraria em
contato comigo pelos próximos 50 anos. — Está tudo bem.
— Para você, mas para ela... — Deu de ombros indiferente.
A verdade era que Willis sempre teve interesse na funcionária e ela
nunca o viu diferente de um chefe rabugento. Ele sabia o que tinha
acontecido entre nós, mas nunca da minha boca, apenas deduções
óbvias ao nos ver sair juntos do bar onde foi a confraternização da
empresa. — Falei que você precisa de outra mulher para foder. De
tanto pensar nela, agora voltou.

— Não fale merda, sabe muito bem o que estou passando.

— Eu sei e preciso falar com você. — Saímos juntos da sala


e caminhamos em silêncio até o elevador.

— O que foi? — perguntei curioso e ao mesmo tempo


esperando que não fosse nada demais. O peso do papel no meu
bolso parecia afundar o lado do meu corpo. Se minha mãe não
estivesse tão preocupada em curtir a vida com o dinheiro do meu
pai e o meu, poderia estar me ajudando nessa situação.

— Sua mãe me ligou, ela pediu que conversasse com você.

— Chegou a esse ponto? — Entramos no elevador e


respirei fundo enquanto descíamos os andares de forma automática.
Olhei para o teto e por um lado agradeci a mudança de assunto,
Flaviane estava se tornando mais dolorido que a morte do meu pai e
a briga de família. — Quem será o próximo? João Paulo?

— Ela quer apenas uma parte, James. Não precisa entregar


a empresa inteira.
— Ou seja, entrego a JB na mão dela, que nunca se
interessou e fico com a MB. As duas empresas fazem parte do meu
esforço e suor, não apenas dela. — Quando o vi franzir a testa,
reforcei: — Não é orgulho! Avisei que lhe daria um salário decente,
melhor que a aposentadoria que conseguiria sozinha. Por que não
aceita?

— Mesmo que sua mãe estivesse em casa e não se


interessasse pela empresa, foi como ela conseguiu contribuir para
que seu pai e você se dedicassem.

— Ótimo, agora está do lado dela. — Saímos do elevador


no subsolo e fui até meu carro, não mais interessado em saber o
que ele tinha para contar.

— Quero encontrar uma forma de apaziguar essa briga.


Sabe que considero sua mãe a minha própria.

— E eu também a sua, mesmo que ela já tenha ido. — Parei


ao lado do meu carro e o encarei. Meu amigo de infância era astuto
e inteligente, então, minha mãe o usaria para me influenciar. —
Avise minha mãe que não vou abrir mão do que é meu.

— Ela vai entrar na justiça. Faça uma contraproposta.

— Não.

Entrei no carro, liguei o som alto e guiei sem rumo em um


primeiro momento.
“Agora eu sei

Não há ninguém em quem eu possa confiar

Eu costumava pensar que havia

Diga-me que sou um vilão

Eu acho que você está de olhos fechados

Sinta o medo

E engula as lágrimas

Deixe a fraqueza desaparecer

Não há ninguém além de mim aqui

O assassino no espelho”

Set It Off – Killer In The Mirror

Precisava espairecer minha cabeça e as ideias, mas só de


pensar em Flaviane, no bebê e a briga da minha mãe, sentia raiva,
frustração e uma necessidade imensa de alguém para desabafar.

Porra, como se fosse fácil falar com alguém, odiava me


expor.

A ameaça da mulher que pensei que poderia ser alguém na


minha vida acabou com o glamour que existia entre nós. Se estava
contaminado pelas outras dores, não sabia dizer, mas dentro de
mim necessitava esquecer um dos problemas e ela era o mais fácil.

Doce ilusão. Nunca pensei que esquecer a mulher que dizia


carregar um filho meu fosse tão difícil. Culpa e negação eram
companhias perigosas, ainda mais quando me induziam a me
perder em outros corpos.

O tempo passou e minha vida mudou sem que eu desse


conta de cada detalhe.

Não foram apenas dias ou semanas, mas meses seguindo a


vida e não querendo confrontar a realidade. O exame impresso no
papel estava em uma gaveta do meu escritório residencial, trancado
à chave e servindo de assombração quando me deixava imergir na
fossa induzida pelo álcool.

Nunca mais o toquei, mas encarava a gaveta como se fosse


minha sentença de morte. E se eles estivessem precisando de algo
e idiota como estava sendo, irritado com a vida, deixei-os na mão?

Os questionamentos sobre Flaviane foram substituídos pela


vingança que estava disposto a enfrentar contra a minha mãe. Ela
conseguiu metade da JB Notícias um ano depois da morte do meu
pai, para meu desgosto. A justiça impôs sua sentença e minha
progenitora forçou sua representante dentro da minha empresa.

Karine era uma funcionária antiga da MB News, que de


certa forma ganhou a confiança de Willis e consequentemente, da
minha mãe. Dona Marlene havia adotado meu melhor amigo como
filho e eu como inimigo. Não havia animosidade entre nós quando
estávamos dentro da mesma sala e meu humor mudou de sério
para algo pior que isso.

Não sabia dizer o dia exato que a frieza tomou conta de


mim, mas lembrava muito bem como foi. Em um final de tarde,
depois de lidar com os chiliques da minha mãe por conta da sessão
de moda não ter tanto destaque como atualidades e política, sua fiel
escudeira Karine entrou na minha sala sem ser convidada.

Essa mulher não me fazia sentir nada.

— James? — Ela abriu a porta e se apressou ao meu lado,


sem se importar que eu não a autorizei a entrar. — Faltou colher
assinatura desse documento para entregar à dona Marlene.

Não sabia dizer se foi de propósito ou não, se ela tinha


interesse em me manipular ou se deixar manipular, mas Karine
deixou o papel e a caneta caírem próximos de mim, ajoelhou-se de
costas para pegar, expondo parte das suas pernas e sua bunda bem
delineada pela saia executiva. Karine me olhou por cima do ombro
com safadeza e pela imensa sede de vingança, deixei-me ser
pescado pela luxúria.

Calculista e sem um pingo de sentimento por ela, que se


mostrou muito entregue à falsa paixão que lhe proporcionei,
iniciamos um relacionamento e alguns meses depois, eu a fiz minha
noiva. Ela era muito próxima da minha mãe e conseguia apaziguar
muita das nossas brigas e com isso, meu objetivo era recuperar a
empresa que ergui com meu suor, não importando o que custasse.
Se havia outro assunto mal resolvido na minha vida, não me
recordava, porque minhas noites estavam muito bem-entretidas com
uma mulher na minha cama, e meus dias trilhavam o caminho para
ter meu orgulho de volta.
Capítulo 9

Três anos e meio depois...

— Terminou o relatório? — Cristiane me perguntou da porta


do meu quarto.

— Estou anexando no e-mail.

— Maravilhosa. — Mostrou-me o polegar para cima, se


afastou e terminei de fazer o processo para poder suspirar aliviada e
ir buscar Júlio na escolinha.

Olhei no relógio do notebook que estava em cima da mesa


improvisada no meu quarto e resmunguei. Não daria tempo para um
banho, trocaria apenas a blusa e correria, meu filho precisava da
mãe para pegá-lo na escola.

— Estou indo buscar Julinho! — gritei para que fosse


ouvida, já que a porta do quarto da minha irmã costumava estar
fechada sempre. Para não atrapalhar sua concentração, ela dizia e
eu respeitava.

Aprendi a duras penas a aceitar muita coisa que não


compreendia. Quando nos tornávamos mães, muita coisa ficava
sem explicação, porque existia algo mais importante para nos
preocupar.
Coloquei o tênis no pé, tranquei a porta e fui para fora de
casa fazer a caminhada de sempre até onde meu filho estudava.
Não era tão longe, mas como voltava com ele no colo, junto com a
mochila, era praticamente um exercício físico.

Sempre que fazia esse trajeto, mesmo estando com a


cabeça cheia de trabalho, eu recordava como minha vida tinha
mudado tanto e o quanto precisava ser grata pela ajuda que tive da
minha irmã. Eu sempre salvei sua vida e quando liguei para ela,
dizendo que meu filho não teria pai e estava sozinha no mundo, ela
apareceu em casa uma semana depois e falou que ficaria comigo,
lidaríamos com o bebê juntas.

Claro, ela fazia da sua maneira, me dando alguns minutos


de descanso enquanto tomava banho ou mesmo à noite, enquanto
estava acordada por conta da insônia. Minha irmã tinha mudado
tanto, ela parecia mais madura, apesar de continuar brincalhona
como sempre.

Contei para os meus pais sobre minha gravidez quando


descobri o sexo do bebê. Claro que viria um menino e com certeza
seria a cara do pai, para me lembrar o quanto aquele idiota me
rejeitou. Era uma ferida aberta nossa última conversa, suas
acusações e sofrimento.

Cheguei até a sentir um pouco de empatia por James,


mesmo depois do parto sofrido que tive sozinha no hospital, já que
minha irmã estava viajando e meus pais, bem... ali também foi uma
grande confusão.
Eles me queriam casada e sem um marido, para eles, não
tinha filha. Bem, eu complementei que sem filha, o neto também
deixaria de existir e desde então não falava com eles, só Cristiane,
que às vezes me passava notícia e vice-versa.

Se algum dia meu filho quisesse ir atrás do pai, eu tinha


nome, sobrenome e endereço comercial. Tinha raiva desse homem
e toda a ausência que me proporcionou no desenvolvimento do
menino mais brilhante e criativo que já conheci.

Descobri o quanto me encontrei como mãe e assim que


minha licença maternidade acabou, Cristiane me chamou para
ajudá-la. Trabalhando com investimentos e transações financeiras,
ela me ensinou o básico de como funcionava o sistema e me deixou
com a parte final da coisa, os relatórios. Ainda estava aprendendo
sobre o que ela fazia, por isso me limitava aos investimentos de
baixo risco, morria de medo de fazer alguma besteira e prejudicar
algum investidor.

Ela era um gênio e conseguiu nos bancar até hoje.

Com satisfação, pedi demissão para Laurilene no retorno da


minha licença gestacional. Depois de nove meses sendo abusada
psicologicamente, sem perdoar minha enorme barriga e pés
inchados quando me deixava de pé para alguma apresentação, vivi
em casa por quase um ano e aos poucos me incluí dentro do
negócio virtual da minha irmã.

Não tinha satisfação profissional, mas tinha meu filho bem-


educado, alimentado e feliz.
— Júlio Castro — a mulher que ficava na portaria chamou
no microfone meu filho. Ansiosa como sempre ficava, esperei o
pequeno rapaz sair puxando sua mochila, se achando o máximo,
até me encontrar.

Abaixei-me para abraçá-lo, peguei a mochila e me ergui com


ele.

— Oi, meu amorzinho. Como foi a aula hoje? — Comecei a


andar com as mãos cheias enquanto ele dava tchau para seus
amigos antes de me encarar.

— Mãe, mãe! Hoje teve música!

— Que legal. Qual instrumento você tocou? — Mesmo


sentindo minhas costas doerem, continuei caminhando com tudo no
braço. Ele amava meu colo, nunca lhe negaria, porque sabia o
quanto eu mesma sentia falta depois de adulta.

— Chocalho. Chi! Chi! — Balançou as mãos, rimos juntos e


segui até em casa, cinco quadras de distância.

Quando cheguei, estranhei não encontrar o carro da minha


irmã. Bem, ela era uma alma livre e diferente dos nossos pais, eu
não iria prendê-la ou vigiá-la. Coloquei meu baixinho no chão da
sala, fui para a cozinha e comecei a abrir sua mochila para tirar os
potes de lanche.

— Põe desenho, mamãe! — Julinho apareceu na cozinha e


larguei tudo para atendê-lo.

— Vou fazer nosso papá. Você quer sopa ou pãozinho?


— Macarrão! — respondeu pulando ao ver seu desenho na
televisão.

— Será macarrão, de novo! — respondi divertida.

Voltei para a cozinha, ajeitei a mochila e fui preparar a


comida. Antes de colocar a quantidade de espaguete, enviei uma
mensagem para minha irmã perguntando se iria jantar.

Olhei para o calendário e percebi que faltava pouco tempo


para o aniversário de três anos de Júlio. Em nenhum dos outros que
passaram fiz uma festa e dessa vez continuaria apenas no bolo e
um passeio no shopping para não passar em branco.

Os gastos aumentaram, éramos três e nunca exigiria mais


do que minha irmã poderia me dar. Quando tinha folga dos seus
pedidos, fazia um ou outro freelancer na internet, que me rendia um
passeio extra ou comida melhor para o almoço.

Nunca pensei que daria conta sozinha, ainda bem que tinha
Cristiane por perto, ela foi meu pilar de sustentação em todos os
sentidos.

Olhei para o celular, sem nem mesmo ter recebido a


mensagem marcada para a minha irmã acabei fazendo comida a
mais apenas por precaução. Se ela chegasse a tempo e estivesse
com fome, teria algo, senão, eu comeria amanhã, não haveria
desperdício.

— Mamãe, onde tá tia Cris? — Júlio apareceu na porta da


cozinha e o olhei por cima do ombro.
— Saiu, meu amorzinho. Quer um pouco de água? —
Negou com a cabeça, seu olhar, tão parecido com o do pai, parecia
querer me dizer algo, mas guardou para si. — Fazer xixi?

Ele fugiu das minhas perguntas e voltou para sala. Finalizei


o jantar, servi-nos e esperei esfriar antes de chamá-lo e colocá-lo na
cadeira adaptada para ele.

— Mamãe, o vião, ele vuou e fez vrum! — Júlio balançou as


mãos animado, sua paixão era tudo que estava no ar, desde aviões,
pássaros e pipas. O máximo que consegui fazer foi uma pipa que
não decolou, para tristeza não só do meu filho.

Um dia o levaria para o aeroporto e quem sabe, andaríamos


de avião. Tinha certeza de que seria um ótimo presente de
aniversário para esse ano ao invés do passeio ao shopping.

Cada ano era um gosto diferente, estava sempre antenada


em seus diálogos e vibrações. Ainda existiam frases que não
compreendia direito, ele se atropelava ao contar sua rotina, tão
parecido comigo, mas também guardava alguma coisa, como o pai.

Era impossível não me lembrar de James Blat quando tinha


uma cópia idêntica, em miniatura, ao meu lado.

Por várias vezes pensei em lhe apresentar o filho ou mesmo


pesquisar na internet sobre como ele estava, a MB ou JB. Depois
que ganhei Júlio, me isolei do mundo e foquei apenas nas
estatísticas e relatórios gerenciais pedidos pela minha irmã. Na
televisão só passava desenho e no celular também, minha vida
tinha mudado e blindava meu coração para não sofrer.
Meu filho precisava de uma mãe forte e amorosa, queria ser
diferente do que tive, mesmo que estivesse privando meus pais de
verem seu neto. Se me aceitariam apenas casada, que esperassem
o dia de São Nunca.

— Mamãe, queru água — Júlio pediu interrompendo meus


pensamentos sentado à minha frente. Fiz uma careta para a
bagunça que tinha feito com a comida enquanto estava distraída
demais dentro do meu mundo. Não dava para brigar com ele, sendo
que não o freei no primeiro momento.

Levantei-me para servi-lo, depois passei um pano no chão e


o liberei quando terminou, o meu prato parecia intocado.

— Descansa agora, daqui a pouco vamos tomar banho para


dormir — falei alto para meu filho que foi para a sala. Peguei o
celular, conferi a mensagem enviada para a minha irmã e nenhum
sinal de retorno.

Eu ficava preocupada, apesar de não a pressionar ou


desesperar. Como não sabia detalhes do que fazia nas viagens
além de reuniões com os clientes que cuidavam dos investimentos,
fiz uma breve oração para minha irmã mais nova. Comi rapidamente
a comida e limpei a cozinha para iniciar a rotina da noite da casa.

Mais um dia concluído, que viesse o próximo.


Capítulo 10

Três dias sem notícias da minha irmã. Enviei uma


mensagem por dia e até tentei ligar, mas não houve retorno. Será
que ela tinha me falado algo e não escutei?

Relutei em entrar no seu quarto, mas depois da falta de


notícia, assim que deixei Júlio na escolinha depois do almoço, abri a
porta e a janela para arejar em um primeiro momento.

Tirei os lençóis da cama, recolhi algumas roupas deixadas


largadas e abri o guarda-roupa, para constatar que não havia nada
dentro.

O quê?

Desespero tomou conta quando conferi cada canto do


cômodo e percebi que a maioria das coisas dela tinha ido embora,
principalmente a grande mala com que veio para a minha casa.

Escutei barulho de portão e só fui dar atenção quando uma


porta dentro de casa bateu. Corri para a sala e gritei quando vi um
homem alto e mal-encarado na porta de casa. Senti um forte braço
me imobilizar o corpo e a mão tampar minha boca. Olhei ao redor,
parecia que meu filho também estava sendo vítima dessa situação,
até que suspirei aliviada ao constatar que estava na escola.
— Não precisa se assustar, eu só vim fazer uma pergunta.
— O homem sorriu amarelo e mostrou a arma na mão ao coçar a
própria cabeça com ela. — O problema será se não gostar da sua
resposta.

Olhei para quem me segurava e outro homem que surgiu da


cozinha, comendo a banana do meu filho. Tentei relaxar, se
buscavam dinheiro, infelizmente não conseguiriam nada, porque a
responsável financeira da família estava ausente.

Desaparecida.

Fiquei preocupada novamente, mas me mantive serena, na


medida do possível. O homem que me segurava foi me soltando aos
poucos e quando estava livre, respirei fundo.

— Então, boneca. Onde está Cristiane?

— Oi? — Quando apontou a arma para mim, ergui os


braços e senti minhas pernas tremerem. — Não sei. Meu Deus, o
que está acontecendo?

— É uma pergunta simples, então, a resposta deve ser a


mesma. Onde está Cristiane? — falou impaciente e arregalei os
olhos com medo por estar na mira de uma arma de fogo.

— Eu não sei! — confessei alterada.

O homem do meu lado puxou meu cabelo e me fez ajoelhar.


Comecei a chorar, rezar e pensar no que seria do meu filho sem a
mãe. Por que demorei tanto para apresentá-lo aos meus pais? Por
que não fui até James?
Todos os arrependimentos possíveis e imagináveis tomaram
conta.

— Ela estava escondida nesse buraco há três anos e você


não sabe onde ela está? O que é sua? — questionou se
aproximando e não abaixando a arma.

— Acho que é parente, chefe. Olha. — O homem que


comeu a banana apontou para o meu mural de fotos e me arrependi
de ser um livro aberto nesse momento. Eles não sabiam quem eu
era, agora, viram até que existia uma criança.

— Ah, que menino bonito. Ele parece até artista famoso —


zombou o homem que parecia comandar tudo. O cano da arma
tocou minha testa e agora meu corpo inteiro tremia. — Onde está a
puta da Cristiane e meu dinheiro?

— Eu juro, eu não sei. Há três dias ela saiu e não me falou


nada, nem minhas mensagens retorna, basta olhar meu celular. —
Jorrei tudo com pressa, confessando a realidade, mas apenas
porque era benéfica para minha família. Não saberia dizer se
guardaria o segredo do paradeiro da minha irmã caso eu soubesse.

O terceiro homem foi atrás do meu celular, eu o desbloqueei


e o chefe teve acesso à minha vida por aquele aparelho. Para meu
desespero, ele o colocou dentro do bolso, abaixou a arma e deu um
passo para trás. Meu cabelo foi solto, mas me mantive no chão,
rendida.

— Então, ela é sua irmã — apontou o óbvio.


— Sim — respondi sucinta, percebendo a preciosidade do
silêncio.

— Você não sabe onde ela está.

— Não sei — confirmei, mesmo que não fosse uma


pergunta.

— Meu dinheiro, então, não tem a mínima ideia de onde


esteja. — Olhou ao redor e apontou para o terceiro entrar nos
quartos.

— De onde é esse dinheiro? Eu realmente não sei —


confessei chorosa.

O homem apareceu com meu notebook na mão, colocou na


minha frente e o desbloqueei. Mais uma invasão de privacidade, por
mais que eu não tivesse o que esconder. Bem, pelo menos achava.

— Diz que não sabe onde está o meu dinheiro, mas tem
acesso aos meus investimentos e relatórios. — Avançou na minha
direção jogando o notebook de lado. Caí com as costas no chão
quando a arma, novamente na minha cabeça, foi pressionada. —
Me dê um motivo para não te matar agora mesmo, mentirosa do
caralho!

— Por favor, eu tenho um filho. Eu não sei do que está


falando. — Ele pressionou mais e continuei chorando em busca da
frase certa para dizer e me livrar de um final trágico. — Minha irmã
me ensinou umas coisas, mas só faço os relatórios. Não entendo
muita coisa, sou jornalista, sei escrever bem e não especialista em
investimentos.

— Cristiane é uma ladra vadia que desapareceu com meu


dinheiro! — berrou deixando um pouco de baba cair no meu rosto.
Fechei os olhos e coloquei minhas mãos para cima em rendição.
Céus, onde será que minha irmã estava escondida, ou pior, com
quem estava envolvida?

— Ela não sabe de nada, vai mijar nas calças de tanto


chorar. — Um dos homens me chutou na barriga e quase fiz o que
ele falou. Escutei o riso, eles se afastaram e assim que abri meus
olhos, o chefe me encarou com perversão.

— Estou de olho em você, Flaviane Castro. — Ergueu o


celular e guardou a arma. — Não fuja ou vá a polícia, porque eu
farei questão de te matar, enquanto seu filho servirá de saco de
pancada para meus soldados.

Quando achei que estava livre dele e poderia chorar sem


testemunhas, ele fechou a porta e depois abriu, mantendo a frieza
em toda a sua postura.

— A propósito, sou Dante Mercy. Quando sua irmã mandar


notícias, lembre-a de que seu filho está na minha mira, caso o
dinheiro não volte para as minhas contas.

Finalmente a porta se fechou, os intrusos foram embora e


meu coração parecia despedaçado em milhões de cacos. O que
faria a partir de agora? Não via minha casa como segura, não sabia
do paradeiro da Cristiane e estava com medo de ir até meus pais e
levar o problema para eles.

Chorei e orei em busca de solução, mas a única coisa que


minha mente pensava era em aproveitar os últimos momentos de
vida, porque amanhã eu poderia não estar mais aqui.
Capítulo 11

Sem celular e olhando para trás cada minuto, entrei em um


táxi com meu filho no colo, sem nenhuma mala a não ser minha
bolsa e rumei para o aeroporto. Meu filho veria os aviões, mesmo
que na escuridão, antes que algo de mal nos acontecesse.

Diferente de quando enfrentei meus medos e revelei para


James sobre minha gravidez, hoje, estava receosa demais para agir.
Não queria ficar em casa e provavelmente não dormiria enquanto
não colocasse meu filho na escola novamente.

Será que o tal Dante estava nos seguindo?

— Pronto, senhora — o taxista falou, entreguei-lhe dinheiro


e saí com Júlio no meu colo, passando pelas portas automáticas e
indo direto para o lugar onde pudesse olhar para os aviões.

— Vião, mamãe! — Júlio estava em êxtase enquanto eu


controlava meus nervos para não surtar.

Perguntei para um e outro funcionário, eles me indicaram


uma pequena parte de vidro ao lado do desembarque. Mesmo no
escuro, as luzes ajudaram a visualizar o grande meio de transporte
e Júlio gritava animado enquanto apontava para a parede de vidro.

Sim, meu bebê, era um avião, que eu queria poder nos


colocar dentro e sumir desse mundo. Havia enfrentado tanta coisa
para chegar até aqui, não poderia ser possível que um homem
desconhecido pudesse tirar nossas vidas apenas com uma arma.

Olhei para os lados e pensei na polícia que ficava dentro do


aeroporto. Será que nos dariam apoio imediato?

E se me chamassem de louca?

Um avião pousou para alegria de Júlio. Sentei-me no chão e


lhe dei colo quando quis, depois me rodeava e pulava alegre, até
que reclamou:

— Estou com fome, mãe.

Na pressa, não preparei o jantar e muito menos trouxe tanto


dinheiro. Sem o celular, não conseguia verificar o aplicativo do
banco e ao me lembrar disso, percebi que há três dias não
consultava minha conta. Será que o dinheiro estava lá ou tudo o que
existia sumiu?

Não teria outro jeito, mesmo sendo rejeitada pelos meus


pais ou mesmo enviando problema para eles, eu teria que os
acionar.

— Flaviane? — alguém chamou meu nome e virei o rosto


em busca da origem ao mesmo tempo que segurava Júlio de ir mais
longe do que meu alcance. — Nossa, como você está diferente.

Avistei Karine, minha ex-colega de trabalho na MB e levantei


forçando um sorriso enquanto segurava meu filho no colo. Ela
estava diferente também, elegante e poderosa, o oposto de como
eu estava e me sentia.
Sempre carinhosa, ela me abraçou e tentou falar com meu
filho, que escondeu a cabeça no meu pescoço, para meu alívio.

— Que bom te rever, como está? E esse menino lindo, tem


quantos anos?

Céus, qualquer um que visse meu filho saberia quem era o


pai. Mantive-o resguardado nos meus braços, sorri amarelo e tentei
não deixar minha sinceridade vencer a cautela.

— Bom te ver também. Eu preciso ir. Tchau.

Palavra errada para dizer, porque meu filho ergueu a cabeça


para acenar nas minhas costas quando me apressei para longe. Ele
amava acenar, fazer movimento com as mãos e claro, o céu.

Parei abruptamente para entender os danos causados pelo


gesto do meu filho. Arregalei meus olhos quando vi James se
aproximar de uma Karine boquiaberta. Então, o homem que nunca
pensei em rever, lhe envolveu a cintura e olhou na mesma direção
que ela.

Céus, não poderia acontecer as desgraças com folga? Tudo


tinha que vir como uma enxurrada de momentos intensos?

Estava nítido que os dois estavam juntos, mais claro ainda


que ambos perceberam de onde vinha a parte da genética do meu
filho. Ressentimento tomou conta quando vi pesar no olhar do
homem que nos rejeitou, por isso voltei para frente e segui, sem
saber exatamente para onde ir.

— Mamãe, tô cum fome.


Sim, tudo tinha que acontecer ao mesmo tempo.

— Flaviane! — James Blat me chamou e ignorei. —


Flaviane!

— Mamãe, seu nome. — Júlio me cutucou e apressei o


passo, mas foi em vão. Próximo à porta de saída do aeroporto, lá
estava o pai do meu filho, ofegante, tentando me impedir de seguir.

— Você não me escutou? — perguntou chateado, meu filho


se escondeu novamente e o abracei para protegê-lo.

— Escutei, só escolhi ignorar. — Segurei o choro. Meu


Deus, apenas um passo e nós três poderíamos nos abraçar, como
sempre sonhei. Não havia nada de relacionamento ou amor, apenas
algo para o meu bebê.

— Querido, precisamos ir, você chamou muita atenção —


Karine apareceu ao seu lado e toda a simpatia que tinha antes foi
substituída por frieza.

Dei um passo para o lado e ele fez o mesmo, para irritação


da mulher que era claramente sua namorada... ou esposa!

Deixei a lágrima escorrer, porque o dia estava pesado


demais para lidar.

— Preciso ir, licença.

— Temos que conversar, Flaviane. Por favor — ele pediu


desconcertado e até rechaçou o toque da mulher que estava ao seu
lado.
— James Blat, eu vou para o carro e se não vier atrás de
mim em um minuto eu vou fazer um escândalo! — Nós dois
encaramos Karine pisar firme para longe de nós, entrar no banco de
trás de um carro e fechar a porta com força. Voltamos a nos encarar
e confesso que quase ri da cena, se coisas piores não estivessem
acontecendo comigo.

Porcaria! E se o tal Dante me visse falando com ele e


deduzisse a paternidade? Com certeza iria extorquir dinheiro de
James e mais uma vez seria tachada de golpista.

Não outra vez.

— Eu PRECISO falar com você, Flaviane.

— Está atrasado e claro, nunca em boa hora. Tenho um


louco atrás de mim, por causa da minha irmã e se estiver nos
vendo, vai querer te extorquir. — Ele pareceu assustado e dei um
passo para trás quando Júlio ergueu a cabeça e encarou o pai. —
Sério, esse não é um bom momento, talvez depois que for para a
casa dos meus pais e tiver meu filho a salvo, nós poderemos...

— Ele é meu filho também — afirmou com convicção e


tampei o ouvido de Júlio com irritação.

— Vá para sua namorada antes que ela faça um escândalo.


Ou você quer que eu relembre todas as palavras cruéis que usou
para não assumir a gestação? — rosnei e meu filho se assustou,
abraçando meu pescoço e ficando choroso.
Para minha sorte, Karine abriu a porta do carro, corri para
fora do aeroporto e encontrei um táxi livre para entrar e me conduzir
para casa, mesmo que gastasse meus últimos trocados.

Lembrei que meu notebook tinha quebrado a tela e não


ligava mais, então, só descobriria como estava meu saldo bancário
quando levasse meu filho até a escola e pudesse parar em um
banco.

Se Dante Mercy não interviesse nos meus planos, talvez, eu


conseguisse falar com James também.
Capítulo 12

Ainda não conseguia pôr em palavras o que estava


sentindo. Um misto de surpresa e decepção, com certeza, entre
minhas atitudes e a dela. Com um menino a tiracolo, que era a
minha cara, Flaviane me deixou desolado quando entrou em um táxi
e partiu, sem conversarmos.

Ela não tinha esse direito.

Ah, com certeza ela deveria fazer isso e muito pior comigo,
já que neguei essa paternidade com unhas e dentes. Tão imerso
nos meus próprios problemas, desprezei uma vida em troca de
vingança.

E onde eu estava nessa guerra?

— James, vamos embora agora! — Karine ordenou baixo no


meu ouvido e como sempre fazia ao ouvir seus comandos, ignorei-
a. Caminhei em direção ao carro, mas ao invés de entrar, continuei
até a extremidade do aeroporto.

Meu Deus, eu tenho um filho. Como foi possível engravidá-


la?

Estava atordoado e com a cabeça cheia. Depois de retornar


de uma viagem cansativa, numa tentativa de descobrir uma forma
de reerguer os negócios, novamente me vi com o prato cheio e
tendo que optar por ignorar um assunto.

Flaviane não ficaria dentro de uma gaveta novamente.


Passei o último ano atestando, dia após dia, que minhas escolhas
foram as erradas desde a morte do meu pai.

JB Notícias estava prestes a falir se eu não fizesse algo.


Sem João Paulo para ser a cara da empresa e Márcio para gerir,
que pediu as contas no início da crise, eu estava trabalhando não só
como dono, mas também diretor e jornalista. Essa empresa era a
única coisa sólida na minha vida e não poderia perdê-la.

Com a entrada da minha mãe e os embates que tínhamos,


meu sócio João Paulo me deixou na mão forçando sua própria
aposentadoria. Odiando estar sob os holofotes, tive que assumir
também a frente de tudo, JB era tão minha quanto da minha mãe,
que aparecia toda semana em um site de fofoca sobre sua vida,
compras e affairs.

Era o fim do mundo enxergar minha mãe como adolescente,


esbanjando o dinheiro que não lhe custava o suor e desfilando em
festas com várias socialites, apenas para me irritar.

Organizar meus pensamentos e rever minhas estratégias,


era necessário.

Voltei a caminhar até o carro, entrei bruscamente no banco


de trás e peguei o celular em busca do que fazer.
— Estou muito chateada no momento, James. Vou para a
minha casa. — Karine tocou o ombro do motorista da empresa que
nos buscou e não dei importância, o que era uma merda, já que ela
era minha noiva e só dormíamos em casas separadas quando
estávamos estressados, ou seja, ultimamente, quase sempre.

— Sinto muito — falei apertando o topo do meu nariz e


fechando os olhos. Apesar de estar em um relacionamento apenas
para saber os passos da minha mãe e Karine ter se mostrado
exigente ao extremo, não merecia meu silêncio. A questão era,
mesmo que agora eu estivesse noivo, continuava fechado e não
relevando o que realmente se passava na minha cabeça. — Essa
viagem me deixou exausto.

— Não foi isso que me irritou e você sabe muito bem. —


Aproximou seu rosto do meu e sibilou: — Você teve um caso com
aquela jornalista metida e a engravidou.

— Não mexa em um assunto que não é seu — rebati com


seriedade, olhando-a nos olhos e mostrando o quanto isso era
perigoso de sua parte.

Afastou-se dando de ombros, nesse mesmo momento o


carro parou em frente ao seu prédio, ela abriu a porta, hesitou e
inclinou-se para beijar meus lábios com suavidade.

— Eu te amo, você precisa pensar no mal que fez para mim


escondendo isso. Será um escândalo para a mídia.

O motorista já tinha saído quando ela também o fez e


fechou a porta com brusquidão. Como se uma ficha tivesse caído,
olhei para a mulher, que achei que manipulava e percebi que
acontecia exatamente o contrário. Preciso pensar nas minhas
ações? Ela que não tinha o direito de se intrometer na minha vida
pessoal.

Quando minha vida se tornou uma bagunça desse nível?

“Porque tudo que cheiro é lavanda

Enquanto o mundo queima ao meu redor

Ao meu redor

E tudo que eu cheiro é lavanda

Vou ignorar toda essa dor ao meu redor

Ao meu redor

Lavanda, lavanda, lavanda”

Rivals – Lavenders

O mundo estava explodindo ao meu lado e eu só conseguia


pensar naquela criança. Olhei para a tela do celular e relutei em
chamar Willis, a única pessoa com quem conversava, mas nunca
me abria. Meu amigo, que negou o cargo de diretor da minha
empresa, me dava apoio profissional apenas. Nessa área, eu me
sentia confortável com ele, mas a pessoal... porra!
Como sempre, teria que resolver tudo sozinho.

Cheguei na minha casa com um indício de dor de cabeça. O


motorista me ajudou a tirar a mala do porta-malas e entrei em casa
seguindo em direção ao escritório. Peguei a chave da gaveta que
não abria há anos, olhei para o papel empoeirado, com a tinta já
desbotando e fiz os cálculos mentais. Porra, quantas semanas
levaria até que o bebê nascesse?

Fiz uma breve pesquisa no celular e constatei que o menino


deveria estar fazendo três anos, se já não havia feito. Larguei tudo
em cima da mesa, sentei-me na cadeira e senti meu coração
palpitar ao perceber que Flaviane deu conta sozinha por todo esse
tempo.

Eu perdi três anos dele.

Qual seria o seu nome? Seus gostos?

Caramba, ele era a minha cara!

Olhei ao redor e senti uma enorme necessidade de ter uma


foto minha criança para comparar com ele. Ela deveria me odiar, ao
olhar para o filho e me ver todos os dias. Até Karine percebeu que
era meu, mas não revelaria nada, porque não estava pronto para o
escândalo, muito menos para compartilhar minha vida com quem
nunca me aprofundei no relacionamento.

Senti uma fisgada no peito ao lembrar-me da preocupação,


pressa em fugir, como se Flaviane estivesse sendo ameaçada. Um
desejo sem controle surgiu, numa tentativa de proteger as pessoas
mais importantes da minha vida.

Vagamente lembrei-me do nosso encontro, na festa de


confraternização da empresa, sua ousadia, bebedeira e sexo.
Neguei com a cabeça, porque não havia nada sentimental em
relação a ela, era apenas a mãe do meu filho e teria que lidar dessa
forma.

— Senhor? — Dona Clotilde bateu à porta.

— Entre — falei guardando o papel na gaveta e não a


trancando. Não era mais um segredo e sim um assunto que deveria
ser resolvido.

— Aguardei o seu retorno para ver se precisa de algo ou


comida. Já levei sua mala para o quarto e a desfiz.

Olhei para a senhora que estava comigo há anos e nunca


quis saber sobre sua vida, nem ela a minha. Apesar disso, tínhamos
uma boa vivência e por ela não ter me trocado por outro patrão, com
certeza era muito bem remunerada, tanto financeira quanto
emocionalmente.

— Poderia fazer um macarrão, por favor? — Levantei-me e


ela acenou em concordância, saindo da sala. Ao invés de ir tomar
banho e me trocar, segui-a.

Claro que estranhou quando me sentei à mesa da cozinha e


a observei trabalhar. Ela sorriu e não disse nada, parecia satisfeita,
inclusive.
— Por que está comigo, Clotilde?

— Quer saber por que trabalho com o senhor? —


reformulou a pergunta e não parou de mexer nos utensílios da
cozinha.

— Sim. O que te faz vir trabalhar para um homem que


nunca te perguntou como estava ou sua família?

— O salário é muito bom — falou sincera e me encarou por


alguns segundos antes de voltar aos seus afazeres. — E me
identifico com o silêncio e jeito curto e grosso que tem.

— Já lhe faltei com o respeito? — perguntei surpreso e ela


negou com a cabeça.

— É modo de falar. Meu marido é assim e como nunca


tivemos filhos, adotamos nossos patrões, no melhor sentido da
palavra. — Ela foi para a geladeira, tirou uma jarra de suco e
colocou na mesa. Observava-a como se fosse a primeira vez, o zelo
e carinho que tinha por mim, tão diferente do que minha mãe estava
me dando atualmente, era desconcertante. — Aceita um copo de
suco?

— Sim. — Olhei para o teto e respirei fundo para ganhar


coragem de falar algo. Os funcionários de quem estava na mídia
tinham prestígio na hora de vender informações dos patrões. —
Estou noivo, mas não marcamos a data de casamento.

— Ah, sim — respondeu neutra, me serviu o suco e percebi


que havia algo nessa resposta.
— Pode me falar — exigi.

— Não é da minha conta, senhor. Dona Karine nunca fez


nada de mal para mim, mas... — Voltou para as panelas e a tábua
de cortar.

— Termine, Clotilde. Sei como minha noiva é.

— Manipuladora — soltou e depois se mostrou nervosa. —


É apenas o jeito dela, porque te ama muito, vejo a dedicação.

— Sim, foi exatamente isso que pensei — cortei-a e bebi um


pouco do suco, para nos deixar em silêncio e absorver o que dava.

Se eu precisava de mais um incentivo para ir atrás de


Flaviane, consegui, porque manter o relacionamento com Karine
não era mais minha prioridade.
Capítulo 13

Se eu piscasse um pouco mais longo, dormiria. Tensa por


me sentir vigiada e ter meu filho no meio disso tudo, passei a noite
em claro, velando o sono agitado de Júlio e pensando no que iria
fazer no outro dia quando ele estivesse na escola.

Estava sem um tostão na carteira, todo o dinheiro que tinha


ficou com o táxi. Orava para que tivesse algo no banco, mas dentro
de mim já estava certo de que minha irmã havia tomado tudo, já que
ela era quem cuidava dessa parte. Por um bom tempo vivemos
como um casal, mas sem ser um.

Por que ela nos colocaria em risco? Lidar com um homem


tão perigoso, que iria na própria casa, com uma arma, ameaçar
nossas vidas?

Preferia acreditar que Cristiane não sabia a verdade e


estava desaparecida, porque... bem, o celular sumiu.

— Mamãe, qué colo! — Pela décima vez Julinho me pedia


acalento e não consegui fazer nada de manhã. Como também
precisava de abraço, tomava-o para mim, seguia para o sofá e
assistíamos desenho até que ele cansava e ia brincar com seu
avião de brinquedo.

Olhei pela janela da sala, conferi o cadeado no portão, que


não costumava usar, mas ontem de noite não tive como não fazer.
Por Deus, estava tensa, exausta e precisando de apoio.

Sem celular e notebook para acessar a internet ou ligar para


alguém, deixei a hora passar, dei almoço para meu filho e preparei
sua mochila para levá-lo até a escola. Hoje, carregá-lo junto com a
mochila parecia três vezes mais pesado.

Sentindo minha apreensão, Julinho grudou em mim quando


chegamos na escola e avisei à professora que estava sem celular e
não havia outra forma de se comunicar comigo. A funcionária
percebeu que havia algo de errado, ainda mais quando deixei uma
lágrima escorrer ao ter que tirar meu filho do colo, virar as costas
para a professora e partir em busca de solução.

O primeiro lugar foi no banco, conferir o que já sabia, na


verdade, pior. Não só o dinheiro não estava na conta, como todo o
valor do cheque especial. Cristiane retirou tudo e me deixou com
dívidas, que não tinha noção de como pagaria.

Como iria ao mercado? E a escolinha, a energia, minha


casa?

Não tinha condições nem de comprar um cartão telefônico


para falar com meus pais, que nem sabia de cor o número, já que o
contato gravado no celular evitava esse tipo de tarefa.

Lembrei-me do encontro que estraçalhou ainda mais meu


coração no aeroporto e caminhei carregando uma grande negação
nos ombros e na cabeça. Ter que pedir ajuda a James Blat era a
última coisa que pensava em fazer. Como queria conversar e se
mostrou sensível ao ver o próprio filho... pelo menos a passagem
até a casa dos meus pais ele teria que fazer, por caridade se fosse o
caso.

Seguir até a JB Notícias não deveria ser feita a pé. Sentindo


as pernas queimarem e meu corpo reclamar, caminhei sem tomar
uma gota de água até aquele lugar que prometi nunca mais pisar.

Eu não tinha opção. Estava fazendo isso por desespero.

A moça da recepção continuava a mesma e quando me viu,


se apressou em levantar e me cumprimentar com um abraço.

— Estou suada — resmunguei.

— Quem é viva sempre aparece. Que bom te ver! — Joana


se afastou e caminhou comigo até um canto. — Você precisa de
água.

— Muita! — brinquei e forcei um sorriso antes de servir um


copo e tomar o líquido de uma vez. Fiz quatro vezes isso e ela
alisou minhas costas, parecendo saber que estava precisando de
apoio. — Obrigada.

— De nada. O que posso fazer para você? Diga que vai


voltar, a JB precisa demais de funcionários como você. — Franzi a
testa e ela correu para seu posto, porque uma pessoa apareceu.

Tomei mais dois copos de água e recuperei o fôlego. Olhei


para minhas pernas e percebi que hoje não teria colo para Júlio,
porque a volta até a escola me deixaria com os músculos gritando
em protesto.
Esperei Joana ficar sozinha novamente para me aproximar.

— Você poderia ver se James Blat pode me receber? —


perguntei e ela fez uma careta, olhando o monitor e depois para
mim.

— Desde o mês passado tenho ordens para não agendar


nada com ele, até tirou o ramal da sua sala. Está trabalhando
demais, tudo está sendo repassado para a mãe, dona Marlene Blat.

Algo naquela afirmação não estava certa e não sabia


explicar o motivo. Não, a avó do meu filho não poderia ajudar, até
porque, desconhecia a existência do seu título.

— Era só com ele mesmo. — Tive vontade de chorar,


porque faltavam forças para externar o quanto era importante meu
assunto, como da última vez.

— Vou tentar falar com Willis, quem sabe ele...

— Não! — Estiquei a mão para impedi-la de falar e ela


retesou assustada. Neguei com a cabeça e forcei um sorriso, teria
que pedir ajuda no sinal de trânsito. — Só deixe para lá. Eu dou um
jeito.

— Flaviane! — Olhei para o lado e James me chamava


saindo apressado do elevador. Estava prestes a questionar como
ele sabia que eu estava na recepção, quando olhou para Joana e
lhe ordenou: — Karine está para chegar e preciso falar com ela
antes de subir para a sala. Segure-a aqui.

— Se-senhor, ela é a...


— É uma ordem minha, Joana. Se precisar de segurança
para impedir, faça. — Olhou para mim e apontou para o elevador. —
Vamos, precisamos conversar.

Inspirei profundamente e soltei descompassada ao perceber


que foi puramente coincidência. Agora, não só estava me levando
para um lugar, como impediu a funcionária, que também era
namorada, de entrar na própria empresa.

— Meu Deus, o que está acontecendo, James? — perguntei


angustiada, colocando a mão no apoio que tinha dentro do elevador
para não cair, já que minhas pernas fraquejaram.

— Eu que pergunto. Você está bem? — Ele me segurou


com firmeza e me ajudou a caminhar quando chegamos no seu
andar. A secretária dele havia mudado e a cumprimentei com um
sorriso forçado enquanto passava por ela.

Assim que entrei na sala, que era a mesma que discutimos


uma última vez, fui posta na cadeira e suspirei aliviada, colocando a
cabeça para trás.

— Minhas pernas estão me matando e — bocejei — eu


dormiria uma semana. — James puxou a outra cadeira para ficar de
frente para mim e apoiou suas mãos nos meus joelhos.

— Por que veio aqui?

— Preciso de dinheiro. — Mudei minha feição para irritada


quando ele se afastou, como se eu fosse uma doença contagiosa.
— Não faça essa cara. Minha vida está uma merda, James e o
último lugar que viria era aqui. É apenas uma passagem de ônibus
até a casa dos meus pais, de lá eu me viro.

— Onde está trabalhando? — perguntou seco, ainda


retraído. Precisava me lembrar que nosso assunto era apenas de
pai e filho e não a minha vida.

— Olha, como percebeu, o Júlio é sua cara, mas exijo que


seja feito um exame de DNA, onde nenhuma sombra de dúvida irá
pairar na nossa relação de pai e mãe dele.

— Júlio — repetiu hipnotizado e precisei sorrir ao me


lembrar de como surgiu o nome.

— A história resumida é, quanto mais eu pesquisava nomes


que não me lembravam você, mais o meu dia a dia me presenteava
com Júnior, João, José e Jamil. Foi uma enxurrada desses nomes
com jota que fiz pesquisa e cedi, para Júlio.

— Você é jornalista em alguma empresa? — Céus, ele


insistia em querer saber de mim!

— Ele nasceu no dia 26 de novembro, parto normal,


saudável e enorme. — Coloquei a mão na barriga como se
recordasse e suspirei. — Em três dias será o aniversário dele e nem
sei como será nossa vida daqui a uma hora.

— 26 de novembro. Eu faço aniversário dia 26 de janeiro —


falou admirado e bufei irônica.

— É, porque de mim nem o gosto por batata fritas ele


puxou. Sua cara, sua data e tenho certeza que comer macarrão vem
de você.

— Sim — respondeu esboçando um sorriso e relaxando na


cadeira. — Meu Deus, eu tenho um filho. Júlio.

— Minha boca enche de saliva para lembrar-me da nossa


última discussão aqui. — Ele ficou sério no mesmo momento e
neguei dando de ombros. — Saiba que estou abdicando do meu
direito de jogar na sua cara muita coisa em troca de uma passagem
até a casa dos meus pais, uma chácara há 200km daqui. Só isso,
por favor.

— Por que precisa ir tão longe? — Ele se levantou e foi para


detrás da sua mesa, se sentar na cadeira empresarial. — Apenas
para que você saiba, já que na última vez nem tinha conhecimento
sobre a morte do meu pai, a JB está a um passo de declarar
falência, não conseguirá muito dinheiro da minha parte.

— Infelizmente você não me conhece o suficiente para


saber da minha essência — desdenhei e me aproximei da mesa
para enfrentá-lo. — Se em três anos eu não vim aqui te pedir um
centavo, acha que agora mudou, por quê? — Meu olhar faria um
buraco nele se tivesse o poder. — Se não cruzasse com o seu
caminho ontem, no aeroporto, eu pediria esmola no semáforo, mas
não viria desenterrar um caixão que você fez questão de colocar a
sete palmos.

— Ele é meu filho! — rosnou irritado e revirei os olhos.

— Até ontem, você era apenas um doador de esperma,


James Blat. Sabe o quanto é constrangedor para uma mãe, com
seu recém-nascido, registrar o filho e dizer que não sabe quem é o
pai, por que não estava disposta a exigir de um homem que fizesse
o que não queria? — Bati na mesa com a mão fechada e ele
abrandou a expressão facial. — Morda sua língua e engula seu
veneno antes de me julgar ou deduzir algo. Sempre fui honesta e
sincera, quando me tornei mãe, isso não mudou, apenas
intensificou, porque meu filho terá o melhor exemplo que eu poderei
ser, melhor do que eu mesma tive.

— Sinto muito. — Fechou os olhos e apertou o topo do


nariz. — Sinto muito, Flaviane, estou descontando em você uma
frustração que eu mesmo causei. Desde a morte do meu pai, minha
vida está um caos.

Mexi minhas pernas e fiz uma careta de dor ao mesmo


tempo que absorvia suas palavras. Se não me falhasse a memória,
essa foi a primeira vez que ele falava algo sobre si, mostrava-se
vulnerável com as palavras e não apenas com o olhar.

Quando meu gemido de dor foi alto o suficiente para chamar


sua atenção, tentei mexer minha perna e a senti formigar
exageradamente.

— O que foi, Flaviane?

Da mesma forma que para ele estava sendo demais, para


mim foi a última gota que transbordou a água do copo. Deixei as
lágrimas escorrerem e bati nas minhas coxas com frustração.

— Minhas pernas doem, estou sem dormir e tem um louco


assassino atrás de mim por causa da minha irmã. Por favor, James,
só pague a porcaria da passagem para mim e seu filho, eu preciso
de paz!

E foi assim que consegui o primeiro abraço de consolo que


eu precisava desde o dia que descobri minha gravidez.
Capítulo 14

James deu a volta na mesa, me levantou mesmo sem forças


e me abraçou. Chorei contra sua camisa e terno e quando minhas
pernas bambearam, ele me apertou ainda mais para me sustentar.

Por que uma noite como a que tivemos precisou virar tudo
isso? Tantas noites sem dormir, sofrendo calada, choros debaixo do
chuveiro... minha irmã deu o que poderia, mas o que eu precisava
era muito mais. Agora, em contrapartida, ela me tirou tudo e além,
pelos anos que não esteve comigo.

Quando me acalmei, bocejei e fechei os olhos aproveitando


o conforto que esse homem dava. Tudo bem, não merecia nem um
pouco do meu contato físico, mas por Deus, hoje era eu quem
tomava tudo dele enquanto não lhe retribuía nada.

— Você precisa descansar, Flaví — falou alisando meu


cabelo. Era a primeira vez que falava comigo com tanto carinho e
usava meu apelido.

— Daqui a pouco preciso voltar para buscar Julinho na


escola, vou precisar caminhar.

— A JB pode estar quebrando, mas meu filho terá o que


posso dar. — Apertou-me quando me remexi, descontente com sua
afirmação. Tanto tempo sendo apenas meu filho, ele vindo exigir que
divida com ele era como se parte de mim estivesse sendo mutilada.
— E quero saber sobre esse assassino que está atrás de você. É
real ou exagero?

— Acho que você está acostumado demais com pessoas


que mentem. — Toquei seu peito e tentei não fraquejar ao me firmar
no chão e dar passos para me sentar novamente na cadeira. Olhei
para cima e senti pena da sua raiva, seja direcionada a mim ou
qualquer outra pessoa. — Minha irmã está envolvida com
investimentos financeiros. Ela sumiu e um dos seus clientes veio até
minha casa exigir o dinheiro. Não sei quem é, ele quebrou meu
notebook, levou meu celular e me impediu de ir à polícia. Agora que
estou sem dinheiro nenhum em mãos ou na conta bancária, vou até
meus pais, que nunca viram o neto na vida, já que só me aceitariam
como filha se eu me casasse com o pai da criança. Isso não irá
acontecer, então, terei que obrigar os dois a me aceitarem, mesmo
que seja por pena.

— Muita informação — James resmungou e voltou a pôr a


mão no topo do nariz.

A porta da sala foi aberta com brusquidão, olhei por cima do


ombro e vi Willis, junto com uma Karine chorosa, entrarem.

— Não quero ninguém mais envolvido com Júlio — exigi


baixo para James quando o vi me encarar antes de seguir até os
dois visitantes.

— Como assim não posso entrar na empresa que


represento? E agora, está aí, conversando com essa... — Karine
falou com histeria e a vi por outros olhos pela primeira vez. Sempre
foi curiosa e prestativa, hoje, parecia mais uma dondoca superficial.
Willis me olhou de canto, mas focou a atenção na mulher ao
seu lado. Não estava com saudades do senhor azedo.

— Esse assunto é meu, você não precisa se preocupar —


James decretou, o que fez a mulher chorar ainda mais. — Vamos
conversar em casa mais tarde.

— Enquanto você me trai? James Blat, eu vou acabar com


sua vida, está entendendo? Odeia a coluna de fofocas, agora fará
parte com a força do meu ódio — ameaçou enquanto ele não
abaixava a cabeça, pelo contrário, estava ganhando força para
rebater.

Céus, quando precisei de apoio, não era isso que estava em


mente acontecer. Se existia uma crise na JB, eu, com certeza,
estava ajudando a afundar esse barco.

Forcei-me a levantar e Willis se aproximou de mim,


apertando meu braço e me empurrando para a saída.

— Hei, não encosta em mim. — Tentei me desvencilhar,


quem conseguiu me ajudar foi James. Não deveria ter feito, porque
Karine pareceu mais irritada.

— Qual o problema de vocês, hein? — James gritou


cessando o choro falso de Karine. — Willis, obrigado pelo apoio com
Karine, mas preciso que você me cubra hoje na JB. — Apontou para
a porta de saída. — Agora, por favor.

— Ela é sua noiva, a família vem sempre em primeiro lugar


— o azedo rebateu, sério.
— Enquanto meu nome estiver no contrato social da JB
Notícias como sócio majoritário, eu mando aqui e preciso de você
me dando apoio com a redação!

Olhei para o chão, porque a humilhação foi merecida e


desnecessária ao mesmo tempo. Percebi, pela minha visão
periférica, Karine segurar a mão de Willis e trazê-lo para perto antes
que ele obedecesse.

— Você não comanda essa empresa sozinho. Sou


representante da sua mãe, tenho direito aqui também e ele fica aqui
comigo. Você também tem responsabilidades comigo, James Blat.

— Sim, um casamento que nunca marcamos a data. Vai


querer discutir isso com plateia? — o tom de James começava a se
alterar.

— E onde mais iremos falar, já que me impediu de entrar na


minha própria empresa!

— Não te impedi, precisava de você afastada para lidar com


outro assunto.

— Ah, claro, eu tinha que estar longe para você poder fazer
um flash back com essazinha!

— Você está confundindo as coisas, Karine. Pare de ofender


Flaviane!

— Vai defender ela a mim? — gritou indignada.


— O que você quer então, porra? — questionou James
perdendo as estribeiras. Sabia que era errado e poderia causar
muito mais alarde sobre minha presença, mas ter um escândalo de
violência doméstica seria pior que uma separação litigiosa. Estiquei
meu braço e toquei seu cotovelo, fazendo-o retesar e depois dar um
passo para trás recuando. — Façam o que quiser, hoje não atendo
ninguém, amanhã converso com vocês.

— O quê? — Karine estava surpreendida quando James


envolveu minha cintura e caminhou comigo ao seu lado para a
saída. Era uma posição muito íntima, mas necessária assim que
três passos depois, eu quase caí de joelhos no chão pela fraqueza.

— Vamos passar em uma drogaria, pegar Júlio onde quer


que você o tenha deixado para vir sozinha aqui e fazer as malas.

— Malas? Você vai me ajudar? — perguntei esperançosa


quando entramos no elevador e encaramos ao longe os outros dois
cuspindo fogo pelos olhos.

— Não, vocês irão para a minha casa.


Capítulo 15

A gritaria, a discussão e o cansaço me fizeram apagar em


dois segundos estando sentada no carro de James. Por estarmos
com locomoção própria, teríamos um tempo a mais antes de buscar
Júlio na escola, então, relaxei além do necessário. Ele precisou me
acordar para saber onde eu morava e apenas dizer que era no
mesmo lugar foi o suficiente para chegar até o nosso destino.
Apenas a música do som automotivo ressoava longínqua, na minha
mente.

“Derrubando essas paredes

Sonhando com um novo horizonte

Das cinzas vamos ressuscitar

Erguer-se”

Smash Into Pieces – Rise Up

Percebi quando a porta do carro foi aberta e braços firmes


me carregaram para dentro de casa. A última coisa que iria fazer era
reclamar, uma vez que tendo um homem, alguém com quem me
sentisse protegida, do meu lado, eu poderia descansar o que não
consegui no dia.

— Flaví — James sussurrou no meu ouvido e chacoalhou


meu ombro. Ele fez isso outras três vezes e induzida pela neblina do
sono, envolvi meus braços no seu pescoço e trouxe sua boca para a
minha.

Caramba, como senti falta disso. Abri a boca e tomei do seu


sabor enquanto minha língua encontrava a sua. Ele não recuou,
retribuiu com lentidão e paixão, me fazendo aquecer por inteira.

Aos poucos o sono foi indo embora, a consciência tomou


conta e arregalei meus olhos assustada, me afastando da cama e
caindo no chão do outro lado com desespero.

— Meu Deus, me desculpa. — Coloquei a mão na boca e


precisei me apoiar na cama para me levantar. Ele demorou para vir
ao meu lado e ajudar, depois se afastou e cruzou os braços ficando
na porta do quarto. — James, por favor, só pague a passagem e me
deixe ir. Eu vou estragar sua vida mais do que já fiz.

— Está na hora de buscar Júlio na escola — falou sucinto e


o encarei me sentando na cama ao mesmo tempo que bocejava.
Deveria me sentir constrangida ou mesmo envergonhada, mas o
homem que beijei parecia não ter sentido nada. — Vamos no meu
carro.

— Você não vai falar mais nada, mas eu preciso. Temos


uma conexão, James. Talvez seja por causa de Júlio ou é apenas a
mesma química que nos uniu no passado. Não quero ser amante ou
apenas aplacar uma carência, então, vou pedir mais uma vez, me
deixe ir. Seu prato está cheio.

— Vocês ficarão na minha casa, já está decidido. Ou você


tem outro lugar para ir, para quem pedir ajuda? É a mãe do meu
filho, que foi ameaçada, ou seja, ele também está na mira. Não há
discussão quando tomo providências para proteger os dois. —
Olhei-o com raiva, porque ele precisou esfregar na minha cara
essas informações para eu poder ceder. Suspiramos resignados. —
Olha, Flaviane, no passado, eu estive na mesma situação e os
deixei de lado e estou pagando o preço, por mais que não saiba me
expressar corretamente. Hoje, resolverei tudo sem deixar nada para
trás.

— Tudo bem. Você venceu, tem o poder sobre nós, mesmo


não tendo feito nada para se redimir — precisei cutucar a sua ferida,
porque seria muito injusto ficar como estava. Levantei-me com
cautela e fiz careta enquanto andava. — Vou fazer as malas quando
voltar, obrigada por me deixar cochilar.

— Tomei a liberdade e já fiz isso. — James foi para a


cozinha e olhei para a sala com assombro ao ver três malas
próximas da porta. — Tome esse relaxante muscular, vai se sentir
melhor amanhã.

— Júlio estuda aqui perto, cinco quadras.

— Temos definições diferentes de perto.

— Daqui até a JB é longe, minhas pernas que o digam. —


Estiquei um pé e depois o outro para exemplificar.
Quando vi um saco com os brinquedos do meu filho ao lado
de tudo, peguei o copo, o remédio e obedeci, me sentindo
emocionada. Quando pensei que teria alguém comigo? Nem mesmo
Cristiane fazia as malas ou a mochila de Júlio, era sempre eu, sem
descanso ou feriado.

— Estou levando seu notebook para arrumar e não achei


seu celular. Não mexi na sua bolsa, pode estar lá dentro. — Olhei-o
assombrada e ele demonstrou preocupação. — Também fiquei de
olho no movimento da rua, os vizinhos são estranhos aqui.

— Sempre amei a casa, não o que estava ao redor. — Fui


até a cozinha, peguei dois pacotes de bolacha que meu filho mais
gostava e parei próxima à porta. — O homem levou meu celular e
com certeza já fez um estrago com a minha vida virtual. Tinha tantas
fotos do meu pequeno...

— Vamos — cortou-me abrindo a porta de casa e depois o


porta-malas do carro para guardar tudo. Notei que seu carro não era
um esportivo, mas uma SUV.

Entrei no carro ainda exausta e bocejando, pensei na minha


irmã, quando ela voltasse e não me encontrasse lá, então voltei
para dentro, procurei papel, caneta e deixei um bilhete pregado na
geladeira.

“Estou segura, fique você também.”


Não precisava ser mais extensa do que isso, não a queria
mais perto da minha família.

— O que foi? — James perguntou quando voltei para o


carro e suspirei.

— Deixei um bilhete para minha irmã, caso volte para cá.


Apesar dela não merecer, nunca desejaria sua desgraça como ela
fez comigo. — Ele saiu do carro para fechar o portão e voltou
apressado. — Ainda acho que teve algum motivo oculto para ter
feito tudo o que fez.

— Você disse que ela trabalhava com investimentos?

— Sim, e eu fazia os relatórios que eram entregues para os


clientes, com um texto florido e cheio de persuasão para mostrar o
quanto de lucro ou prejuízo teve naquele momento. — Cruzei os
braços por conta do ar frio do carro. — Larguei meu emprego depois
que acabou a minha licença maternidade. Estou há mais de dois
anos em casa com o apoio da minha irmã.

— Não pretende voltar para o jornalismo? — sondou


curioso, algo que me lembrava da personalidade dele e claro, Júlio
também tinha.

— No momento estou pensando em qual será o jantar do


meu filho e como farei para levá-lo na escola amanhã, se isso
acontecerá, já que não me resta mais dinheiro para nada. —
Apontei para a escola na próxima esquina e me apoiei no painel do
carro. — A maternidade me fez mudar algumas prioridades na
minha vida. Amo minha profissão, mas não consigo pensar nela
sem trazer meu filho junto. Ele não foi planejado e se não fosse
esse “acidente”, talvez nunca formasse uma família. — Olhei para
James, que parecia querer dizer tanto, mas como sempre, se
resumiu em silêncio. — Peço que não toque na palavra pai no
momento. Me deixe falar com ele e ver sua reação.

— Vou esperar o momento que você julgar correto. Mas isso


não quer dizer que eu não esteja ansioso para que isso aconteça.

Tive que sair às pressas do carro e buscar força nas pernas


para me afastar. Caramba, o homem estava se mostrando aos
poucos, com palavras duras, mas que indicavam o tanto que ele
sofreu por optar por estar ausente na vida do filho. Pois bem, eu
também sofri e nem por isso descartei minha gestação, comigo, ele
sempre estaria em desvantagem.

— Júlio Castro — a moça da portaria chamou no microfone


e tive um segundo para pensar no beijo roubado no pai do meu filho.
Estava muito carente, há tanto tempo sem contato masculino e
claro, precisando de proteção. Eu, mais do que nunca, estava
prestes a pisar em todo o meu orgulho só para reviver um momento
a dois de três anos atrás.

— Mamãe! — Julinho gritou puxando sua mochila. A


professora veio junto e segurei a respiração quando fez uma cara
com um pedido de desculpas. Levantei-me com ele tendo
dificuldade e esperei a notícia:

— Oi, mãe. O Júlio não comeu muito bem hoje e ficou


amuadinho no final do dia.
— Ah, tudo bem, é saudades do colinho, né, Julinho? —
Meu filho me abraçou forte e acenei para a professora em
agradecimento. Filho sentia tudo, como esconder a confusão que
estava dentro de mim?

Caminhei devagar e logo que apareci próxima ao carro de


James, ele saiu apressado e me ajudou com a mochila dele.

— Vai atrás — ordenou e tocou no cabelo do filho já que o


mesmo estava escondendo o rosto no meu pescoço.

Sentei-me com ele no colo, James ajeitou a mochila no


banco da frente ao seu lado, se ajeitou atrás do volante e acelerou
olhando para o retrovisor a cada cinco segundos.

— Quem é ele, mamãe?

— James — respondi com o coração pulando pela boca.

— O nome dele é James?

— Isso, meu amor. Com jota, igual ao seu nome.

Sua cabeça ergueu para ver o motorista e aqueceu meu


coração ao notar o olhar de pai para filho.

— Nós vamos ver vião, mamãe? — Esticou os braços para


tocar o banco da frente e James tocou sua mãozinha.

— Você gosta de avião, Júlio? — o pai perguntou.

— Sim. — Voltou a ficar no meu colo encostado na minha


frente e fez movimentos com as mãos imitando naves. — O vião, ele
tem luz, ele voa, faz assim...

Júlio desatou a falar sobre o que viu ontem, sem muita


coerência, mas que me ajudou a relaxar e também James. Ele
parecia encantado com o filho e me sentia uma megera ao privar os
dois de se verem como deveriam. Mas, antes de tudo isso, mágoas
que ainda existiam dentro de mim teriam que ser resolvidas. Não
adiantaria nada eu entregar meu filho para James cheia de
ressalvas.

Resolveria rápido, mas teria que falar com cautela com ele,
em outro momento, porque hoje, eu precisava descansar.
Capítulo 16

Acho que surpreendi até a mim mesmo quando disponibilizei


meu quarto para os dois ficarem. Dona Clotilde nos acompanhou
ajudando com as malas e me olhando disfarçadamente para saber o
que se passava comigo.

— James, pelo amor de Deus, não vamos ficar aqui. Tem


outros quartos tão confortáveis quanto o seu. — Flaviane se
aproximou de mim com fúria enquanto Júlio corria pelo meu quarto
se sentindo um avião. — Já entendi que você quer dar o mesmo
luxo que tem. Basta, é demais para mim.

Engoli em seco e acenei indicando para Clotilde acomodá-


los no quarto mais próximo, que tinha uma cama de casal, guarda-
roupa e televisão. Olhei por cima do meu ombro e vi meu filho
subindo na minha cama e pulando como se fosse a coisa mais
divertida do mundo.

— Desce já, Júlio. Você está de tênis! O que a mamãe já


falou sobre colocar o pé no sofá e na cama quando calçado? — Ele
se sentou de uma vez e passou um momento sério. Olhei do meu
filho até sua mãe, que estava ao meu lado furiosa, mas também
cheia de amor. Nunca pensei que educar poderia ser tão bonito de
ser ver.

Júlio tirou o tênis apressado, levantou-se na cama e voltou a


pular. Antes que Flaviane pudesse rebater, puxei-a para longe da
porta e sorri para a genialidade do meu filho.

— Você disse que não poderia subir com sapato na cama ou


sofá. Ele tirou e agora está pulando. Deixe-o, é inteligente demais.

— Sua cama, suas regras. Na minha, ele levará bronca


dobrado, sim — rebateu chateada, entrou no quarto e dona Clotilde
se aproximou.

— Quer que faça alguma coisa especial para o jantar,


senhor? — Ela segurava o sorriso, parecia contente com toda a
situação.

Olhei para o menino e voltei para o meu quarto em busca de


saber o que ele gostava.

— Quer comer o quê, Júlio?

— Macarrão! — gritou animado, pulando sentado, depois


em pé e se divertindo.

Sorri como ele, porque sua opção de comida era tão


parecida com a minha. Clotilde pareceu entender, porque também
expressou sua satisfação, diferente da mãe, que parecia séria, tirou
o menino da cama e o levou para o quarto que designei a eles.

— Vamos tomar banho e chega de macarrão, Júlio. Você


precisa comer arroz e feijão também.

— Faça os dois — ordenei para a minha governanta e ela


acenou afirmativo.
— Posso dizer algo, senhor? — perguntou quando a
acompanhei até a cozinha.

— Ainda não posso dizer o motivo deles estarem aqui, se


essa for a pergunta — adiantei-me pegando um pouco de água e
tomando, sentia-me alegre e nervoso ao mesmo tempo.

— Não era pergunta, mas afirmação. Mães e pais não


gostam de um ou outro apontando o que devem fazer ou não com
seus filhos. — Ergueu as sobrancelhas, para se fazer entender e
começou a mexer na cozinha. — Minhas irmãs tiveram seus bebês
e eu sofri muito ao palpitar e ser cortada. Crianças precisam de
limites e Júlio é muito parecido com o senhor.

— Ele gosta de macarrão e avião — falei satisfeito, percebi


que ela me encarava diferente, então fechei a cara e me afastei da
cozinha, esperando os dois na sala enquanto o jantar ficava pronto.

Porra, como era possível me transformar de um empresário


pensando na falência da empresa em um pai babão?

Olhei para meu celular e vi as mensagens recebidas de


Willis, Karine e até da minha mãe. Todos estavam nervosos pelo
meu sumiço no dia, já que trabalhava de segunda a segunda.
Precisava conversar com minha noiva e encerrar o assunto de uma
vez. O momento era de juntar forças para reerguer a JB Notícias e
não criar intrigas de bastidores, por conta de problemas pessoais.

De um dia para o outro, não vi sentido algum em manter


uma vingança que para mim, havia perdido totalmente o significado.
Essa mudança de perspectiva de vida estava sendo radical demais
e senti o medo dominar.

— Jamis — escutei a voz de Júlio se aproximando e me


levantei apressado do sofá, largando o celular de lado. Vestindo um
pijama cheio de barquinhos, ele caminhou até mim. — A mamãe
dumiu.

— Sim, ela está cansada. — Agachei para ficar da sua


altura e ele se aproximou sem ter medo, me abraçou e falou:

— Colo.

Se algum dia eu senti meu coração parar uma batida,


aquele foi momento. Levantei-me com ele e atento, passou a mão
no meu rosto e fez careta ao sentir a barba por fazer.

— Pinica.

— Você não gosta? — perguntei brando e ele sorriu


cutucando minha bochecha.

— Vião. Ele faz vrum! — Fez um barulho com a boca,


movimentou os braços e virei para encarar dona Clotilde me
admirando. Logo se recompôs, ainda bem, porque eu mesmo não
conseguia omitir a satisfação de tê-lo em meus braços.

— O jantar está na mesa.

— Macarrão! — Ele bateu palmas enquanto seguia para nos


sentar.
Coloquei-o sentado na cadeira ao meu lado e fiz uma careta
ao ver o desnível.

— Quer ajuda, senhor? — Dona Clotilde se prontificou.

— Por favor, não tenho noção do que fazer agora.

Ela foi para a cozinha e voltou com uma panela vazia.

— Levante-o, por favor. — Fiz como pediu e ao erguê-lo, ele


fingiu estar voando. Precisei entrar na brincadeira e seguir com ele
no ar, fazendo-o voar e gargalhar.

Acabamos fazendo muito barulho, porque Flaviane


apareceu na sala de jantar sonolenta e com a mão no coração.

— Que susto! — falou se apoiando no batente da porta.


Dona Clotilde apareceu do meu lado, entreguei-lhe o menino e fui
falar com a mulher.

— Você está bem?

— Eu dormi, escutei barulho, achei que era choro. —


Colocou a mão no rosto e inspirou profundamente, como se
precisasse controlar o choro. — Meu Deus, achei que o tinham
levado, porque peguei no sono e não o vi ao meu lado.

— Vai descansar, eu tomo conta dele. — Apertei seu ombro


e ela soluçou.

— Mamãe? — Júlio perguntou inquieto e olhei por cima do


meu ombro para Clotilde.
— Pode ficar com ele um minuto?

— Mamãe! — Júlio quis sair da cadeira, Flaviane tentou


passar por mim, mas a afastei enquanto minha governanta
entretinha o menino, que rapidamente voltou a sorrir.

Com um braço em volta do seu corpo, levei a mãe do meu


filho até o escritório, fechei a porta e a abracei, como fiz algumas
horas atrás e me senti bem.

Era como se eu estivesse pagando uma dívida, o alívio era


imenso ao tê-la nos meus braços e poder confortar seu choro. Ela
retribuiu, apertou minha cintura e fungou próximo ao meu coração,
que batia acelerado por tantas coisas, metade eu não sabia pôr em
palavras.

— Pode dormir e descansar. Você está lutando contra o


sono — constatei brando.

— Quando vou conseguir me sentir segura novamente? —


resmungou desolada.

— Hoje, agora. — Senti seu agarre aumentar em mim e


retribuí. — Vou providenciar segurança para a casa, para os dois.

— James, é errado em tantas formas. Eu te odiei por muito


tempo, sabia? — Ela se afastou e limpou as lágrimas olhando ao
redor. — Seu escritório é bonito, sua casa é linda, mas não é minha,
nem do meu filho.

— Não sei como lidar, Flaviane. — Coloquei as mãos no


bolso desconfortável. — Tenho um filho para proteger, é só nisso
que penso.

Ela caminhou até minha estante, tocou o avião de metal,


uma estatueta que nunca percebi que existia ali e algo dentro de
mim mudou, mais uma vez. Era do meu pai, meu pai tinha gosto
pela aviação, apesar de não ter seguido por esse lado profissional.

— Estou com medo dos meus pensamentos. Até largar Júlio


com você e ir atrás do tal Dante Mercy para saldar a dívida eu já
pensei, mas ao mesmo tempo sofro demais por ter que abandonar
meu filho, não posso.

— O dono do Banco Mercy, Dante Mercy? — questionei


seguindo para o meu computador pessoal e o ligando.

— Não sei, James, ele só deu o nome e pediu o dinheiro de


volta. Se conseguir arrumar meu notebook, consigo encontrar as
informações sobre esse cliente — ela falou cansada, voltou a
encarar o avião e eu, que buscava saber quem era o seu inimigo.

— Você nunca pensou em investigar sobre a vida dos


clientes na internet? Você era jornalista de política, fazia muito
disso.

— Disse certo, James Blat. Eu ERA. — Caminhou na minha


direção bocejando e parou quando se aproximou demais. — Vou ver
como está Júlio, ele faz muita bagunça no jantar.

— Clotilde dará conta, traga a cadeira aqui um pouco —


ordenei e a vi fazer bico, prestes a recusar. — Dois minutos, por
favor? Você pode contar no relógio.
— Saber quem é o homem que apontou a arma na minha
cabeça não vai me fazer dormir melhor à noite. — Mesmo
contrariada, puxou a cadeira e colocou ao meu lado. Abri as
imagens do homem e ela fez um barulho estranho. — Sim, é ele. E
agora, James? E se o trouxe aqui para te prejudicar também?

— Primeiro, vamos nos manter seguros. Segundo — não


resisti em tocar seu rosto, porque seu olhar cansado estava me
fazendo querer abraçá-la novamente —, durma, limpe sua mente e
acorde com a jornalista investigativa que há em você.

— Talvez eu não tenha mais esse dom, porque ter um filho


me faz ser mais cautelosa.

— Isso foi ontem, Flaviane. Hoje estamos juntos, Júlio está


são e salvo.

Para me desmentir, um barulho alto soou, saímos correndo


do escritório e fomos para a sala de jantar, onde a panela que meu
filho estava sentado caiu e dona Clotilde o tinha nos braços, ambos
sujos e rindo.

— Se precisar, eu ajudo com o banho. É que o avião


cargueiro da comida errou a porta, não é mesmo, Julinho?

— Errou a porta — repetiu rindo, colocando a mão na boca


e fazendo gracinha para nós.

Flaviane se aproximou, beijou a testa do filho e apertou o


braço da governanta em agradecimento.
— Vou separar uma roupa para ele em cima da cama. Não
precisa ser um banho elaborado, só limpar o rosto mesmo.

— Não vai comer? — ela perguntou.

— Não, eu estou bem. Boa noite. — Bocejou se despedindo


de todos.

— Boa noite — falei para ela que já saía sem me olhar.


Encarei os dois bagunceiros e ampliei o sorriso, apesar de estar
pensando em Dante Mercy. — Mostra para mim esse avião que
errou a porta!

Júlio riu alto, sentei-me à mesa e ficamos muito tempo


entretidos e comendo, até que Clotilde o limpou e o deixou com a
mãe para dormir.

Tinha muita coisa para resolver no outro dia, então, dormir


foi simples, o difícil foi não acordar mais cedo que o normal.
Capítulo 17

Acordei, novamente, sem meu filho nos braços e já senti o


coração disparar por tê-lo perdido. Saí da cama confortável
angustiada, segui os risos do meu filho e encontrei James deitado
no chão da sala, de roupa social, brincando de avião com Júlio.

Ele estava se esforçando demais, precisava reconhecer. O


ódio que sentia, o ressentimento que existia estava se
transformando em outra coisa que não queria nem pensar no que
poderia ser.

A última coisa que seria era o motivo da separação dele


com Karine. Não que me achasse tão especial assim, mas eu tinha
algo com o que ninguém poderia lutar contra, que era um filho com
ele.

— Vamos deixar o James ir trabalhar, filho? — falei


aparecendo na sala. Os dois se colocaram de pé e vieram me
cumprimentar.

— Mamãe! — Julinho abraçou meu quadril e James deixou


um beijo na minha testa.

— Bom dia, conseguiu descansar?

— Até demais, não é mesmo? — Peguei meu filho e inspirei


seu cheiro antes dele espernear para que o colocasse no chão. —
Já tomou café da manhã?

— Sim. Clotilde ofereceu frutas, pão, mas ele comeu apenas


iogurte. — Fiz uma careta para o homem que parecia preocupado
com minha reação, estava prestes a se justificar e sorri, fazendo-o
suspirar aliviado. — Pode ser?

— Claro, obrigada. Não precisa mais ficar fazendo sala


conosco, você precisa trabalhar.

— Antes, tenho que te mostrar algo. — Indicou a sala de


jantar e senti meu estômago protestar. — Clotilde, poderia ficar com
Júlio um pouco?

— Claro, senhor. — A mulher apareceu e me cumprimentou


com um sorriso. — Bom dia, dona Flaviane.

— Flaví, Clô. — Pisquei um olho e lhe entreguei meu filho.

— Vamos lavar a louça? — perguntou entusiasmada para


Júlio que bateu palmas, com certeza planejando bagunça com a
água.

— Sim!

Quando James saiu da sala de jantar, peguei um prato,


coloquei frutas, salgadinho e um pedaço de bolo. Céus, parecia um
café da manhã de hotel, como poderia retribuir tudo isso?

Entrei no escritório e James xingou baixo se levantando.

— Você nem comeu ontem e hoje, sinto muito.


— Mostre o que quer, James. Já me servi, estou bem, a não
ser que cair comida no chão seja pecado mortal.

Caminhei até a cadeira que ainda estava do seu lado, ele


me seguiu e mostrou a tela do computador. Havia uma notícia sobre
um assalto a uma casa, onde tudo foi revirado.

Ele rolou o scroll do mouse e chegamos aos comentários,


onde alguém dizia que Dante Mercy era responsável por isso. Na
hora olhei para o link do site e para mim, não era um grande veículo
de comunicação.

— O que quer dizer, James?

— Que você precisa de segurança urgente e é por isso que


fiquei aqui até que acordasse. — Ele me encarou e parecia querer
forçar as próximas palavras a saírem: — Também quis ficar com
Júlio, ele veio até meu quarto de manhã quando acordou.

— Uma das poucas coisas que ele puxou de mim. Se ele


quer, ele vai atrás, não tem vergonha ou medo.

— Vai falar com ele hoje? — perguntou esperançoso e sabia


o que significava.

— Sim, o quanto antes. — Toquei seu braço e olhei para seu


pescoço, com medo de encarar seus olhos. — Obrigada por tudo.
Posso parecer uma oferecida, mas é pensando na segurança dele.

— Você não me deve nada, Flaví. — Sua mão no meu rosto,


para que nos encarássemos, causou um rebuliço no meu estômago.
— Eu te tratei muito mal quando me contou sobre a gravidez há três
anos. Estou em dívida.

E todo o encanto que sentia foi jogado para o lado. Afastei a


cadeira, interrompi nossa conexão e segurei o prato de comida para
pôr uma distância entre nós. Sim, essa era uma ferida aberta,
porque me causou quase um ano de sofrimento com minha chefe
Laurilene e suas ironias.

— Você me recompensará dando amor para Júlio. Entre


mim e você, tem ele, apenas isso.

Ele acenou contrariado e olhou tempo demais para o


monitor.

— Estou levando seu notebook para arrumar, vou


providenciar um celular para que possamos nos falar e preciso que
oriente Clotilde sobre o que gosta de comer, se precisar comprar
algo ou brinquedo para Júlio. Acho melhor ele não voltar para a
escola enquanto eu vejo uma forma de te tirar da mira de Mercy.

— Está me pedindo em casamento ou me comprando como


mãe de aluguel do seu filho? — questionei irada, sem saber de onde
vinha tamanha irritação.

Duelando com os olhares, ele avançou e tomou minha boca


na dele, chupando meu lábio inferior e me fazendo esquentar
completamente. Não tinha forças para afastá-lo e estava com as
mãos ocupadas, então fiz um barulho com a garganta e ele se
afastou, ofegante e com outras coisas no olhar que não queria
pensar.
— Como se atreve? Só não jogo esse prato na sua cara
agora, porque estou com fome. — Levantei-me pronta para explodir,
saí do escritório e fui me sentar na cadeira elegante da sala de
jantar.

Meu Deus, era demais. Além de brigar comigo mesma por


alimentar um sentimento que não estava autorizado a aflorar,
também tinha o peso por mudar a vida do homem. Tudo bem, meu
filho também mudou a minha, qual o problema dele seguir o mesmo
destino que o meu?

Escutei o riso na cozinha e inclinei minha cabeça para


espiar pela porta que ficava na minha direção. Os dois pareciam avó
e neto, brincando sem se importarem com bagunça. Fazia tanto
tempo que não conseguia fazer isso com meu filho, agora, estando
presa na casa do seu pai, talvez eu pudesse me dedicar um pouco
mais, sem me acostumar, claro.

Precisava pensar sobre meu próximo passo, uma forma de


voltar a trabalhar e contribuir para a vida do meu filho além do afeto.
Nunca seria a encostada em um homem, ainda mais quando ele
tinha outra vida, Karine.

— Você me roubou um enquanto dormia. Eu só devolvi na


mesma moeda — James falou e saiu rapidamente da sala de jantar,
não me deixando questionar ou mesmo responder à sua afronta.

Roubar? Então me lembrei, do beijo que lhe dei quando


estava dormindo e esse, ele que tomou e claro, eu gostei, até mais
do que o necessário.
Voltei a focar em comer e me manter firme. Precisaria tomar
mais um relaxante muscular para melhorar minhas pernas e depois,
era momento da conversa séria com meu filho sobre nossa
mudança e o pai que eu nunca contei que existia.

Moleza.
Capítulo 18

A sensação de satisfação dominava meu peito, tão diferente


da preocupação que estava na minha mente. Os seguranças que
contratei para ficar em casa de olho na minha família eram um
indício de que minha vida mudaria completamente. O desconhecido
deveria me gerar medo, me fazer recuar, mas foi completamente o
oposto, porque sentia que estava agindo certo, pela primeira vez em
anos.

Toda a sensação de tranquilidade passou quando estacionei


o carro na garagem do prédio da JB. Karine e Willis estavam no
lugar, discutindo já que minha noiva gesticulava exagerada e assim
que me viu, correu em disparada na minha direção com meu amigo
atrás dela.

— Você levou aquela oportunista para a sua casa! — gritou


me empurrando e quase me fazendo fechar a porta do carro na
minha mão. Segurei o fôlego, porque em um segundo consegui virar
tempestade. — Desse jeito não dá mais, James. Não serei a
chifruda da história.

— Preferia conversar em particular — meu tom perigoso


deveria assustar os dois, mas só Willis me ouviu como deveria e
deu um passo para trás.

— Ah, o poderoso James Blat não quer expor sua vida


pessoal? — ela zombou com as mãos na cintura. Porra, eu sabia
que Karine era assim, mas até o momento, não tinha se virado
contra mim. — Adivinha, querido, eu vou dar uma entrevista
exclusiva para nossa coluna de Famosos sobre o dia que acabei
com o nosso noivado por você ser um escroto.

Falar de sentimentos não era comigo e quando iniciei o


relacionamento com ela, não tinha intenção de terminar, até porque,
por onde começaria? Tudo envolvia o que eu sentia e não estava
em negociação colocar minha vida pessoal para justificar minha
desistência.

Se ela queria sair como sendo a pessoa que encerrou com


tudo, para mim, seria até melhor. Fofocas e mentiras não me
atingiam, mas saber que meu filho ou a mãe dele estavam correndo
perigo, sim.

A constatação disso foi surpreendente. Enquanto Karine


começou a narrar o que falaria com nossa jornalista, eu percebia
que existia algo que me atraía para Flaviane, além do que tínhamos
em comum, um filho.

Neguei com a cabeça, porque eram poucos dias para que


se formasse um vínculo. Karine e minha mãe estavam aí, como
exemplo de mulheres, que mesmo depois de anos, não havia nada
firme ou duradouro entre nós.

— James. — Willis tocou em meu braço e vi Karine saindo


pisando firme em direção ao elevador. — Ela vai afundar a empresa
com a declaração da separação de vocês.
— Espera, Karine! — gritei seguindo atrás dela correndo e
escutei passos de Willis me acompanhando. Quando a alcancei e
toquei seu braço, o olhar brilhando de expectativa e esperança me
mostraram a real faceta da mulher. Não era à toa que estava
envolvida com minha mãe, que me colocou como rival. Uma decisão
estava tomada, mesmo que fosse impulsivo demais até para mim.
— Faça o que tiver que fazer, nosso noivado acabou e estou saindo
da JB.

— O quê? — Os dois se surpreenderam, aproveitei para


entrar no elevador e os deixar onde estavam.

Bem, se era para afundar a empresa que eu tanto prezava,


que eu saísse com minha dignidade e parte do dinheiro que investi.
Uma luz brilhou na minha cabeça e meu coração acelerou,
percebendo que poderia começar do zero e não estava sozinho.

De onde vinha essa necessidade de estar junto com


Flaviane e fazer as coisas com ela? Que se fodesse a explicação,
era momento de enfrentar minha mãe e entregar parte do que ela
sempre sonhou ser dela.

Meu pai me ajudou a construir essa empresa. Começamos


com jornal a cada três dias, depois revista semanal e hoje
estávamos apenas na internet e com mídias sociais. O alcance na
internet era muito maior que a imprensa, acompanhamos a evolução
tecnológica e adquiri a MB News com a intenção de ampliar meu
negócio para o exterior.

O sonho ficou para depois, porque desde o momento que


juntei as duas empresas, só confusão apareceu. Havia algumas
vitórias para serem comemoradas, mas agora que decidi, em um
rompante, que o significado da minha existência havia mudado, eu
só queria poder me desligar de tudo isso e colocar minha outra ideia
em prática.

Será que Flaviane toparia? Como tinha voltado a trabalhar


como no começo da minha carreira, eu estava cansado, mas
também com pique de um recém-formado.

Cheguei no andar onde minha mãe tinha sala e nem


cumprimentei o homem que ficava na recepção e era
constantemente humilhado por ela. Invadi sua sala sem bater à
porta e a peguei fazendo as unhas em pleno horário comercial.

Ser dono de uma empresa tinha suas vantagens e deveres,


ela parecia só usufruir da mordomia.

— James — cumprimentou altiva sem tirar o foco da mulher


que cuidava da sua mão.

— Tenho um assunto importante para tratar com a senhora.


— Entrei no campo de visão da manicure. — Pode nos dar licença?

— Não, filho, ela não pode e você falará na frente dela.


Claudiane guarda segredo, não é mesmo? — Tocou o queixo da
mulher com a mão livre, que sorriu sem graça e continuou o
trabalho.

Respirei fundo e olhei ao redor, percebendo que esse lugar


nunca foi um escritório, mas uma sala de estar. Dona Marlene era
boa em dar palpites e mandar, mas liderar ou colocar a mão na
massa, que fosse apenas para aprender sobre a área fim da
empresa, ela nunca se deu ao trabalho.

Se meu pai era difícil, minha mãe estava se tornando igual,


com a diferença que os resultados da empresa eram a forma que
ele conseguia me fazer trabalhar. Já ela gostava de me ver sofrer
pelo simples fato de exigir o retrabalho dos meus funcionários.

Respirei fundo e a encarei, que parecia impaciente.


Aproximei-me de Karine e tive um relacionamento com ela apenas
para me frustrar. Esperei, sem retorno, que minha noiva viesse para
o meu lado e juntos tirássemos minha mãe do poder.

O trabalho excessivo veio, a crise me atingiu e a rotina virou


soberana sobre todas as minhas vontades. Só percebi que tinha
caído na minha própria armadilha quando vi o rosto daquele
pequeno rapaz acenando tchau para mim do colo da sua mãe no
aeroporto.

Foi incrível como três anos se passaram na minha cabeça


em um segundo e a vontade de reagir ressurgiu.

Sem Karine no meu caminho e saindo dessa empresa,


conseguiria nos bancar por um bom tempo e erguer uma nova
empresa, com conteúdos reais e que agregasse valor às pessoas.
Em meio a tanta guerra política e sensacionalista, poderíamos nos
destacar pela verdade.

Eu tinha a rainha da sinceridade ao meu lado, Flaviane com


certeza se identificaria com os meus planos. O momento era de
renovação e para isso, precisava me livrar das coisas velhas e que
não tinham mais importância para mim, começando com a briga
com minha mãe.
Capítulo 19

— Se for apenas para xeretar na minha sala, pode ir


embora, James.

— Você venceu, mãe. A JB é sua. — Andei ao redor sem


encará-la, porque o brilho de satisfação me magoou profundamente.
— Faça uma proposta decente, vou assinar e deixar a herança para
você. A guerra acabou.

— O que está planejando? Sei muito bem do que sua


cabeça é capaz. Você quer fugir da responsabilidade de reerguer
essa empresa — falou amarga.

— Sim, a empresa está em crise, estou há meses


trabalhando de segunda a segunda, em três turnos e estou exausto.
— Sentei-me em uma das poltronas da sala e a encarei com
imponência. — Quero férias, dinheiro e paz.

— E Karine? — questionou vitoriosa e dei de ombros,


fazendo-a demonstrar alegria. Nunca pensei que poderia chegar a
esse ponto com minha mãe, vendo satisfação nas minhas derrotas.

— Nosso noivado acabou, por ela mesma, assim que


cheguei na JB hoje. — Analisei-a um pouco mais e complementei:
— Pode acelerar os papéis, por favor?
— Na segunda gaveta. — Inclinou a cabeça para a sua
mesa e hesitei ao me levantar.

Porra, ela tinha tudo planejado? Quando deu de ombros,


ganhei força para seguir até o local e pegar o que parecia ser um
contrato de cessão da minha parte para ela. No final das contas, a
vingança parecia ser dela e o derrotado era eu.

Meu orgulho estava ferido e queria ressurgir para provar que


eu merecia muito mais respeito. Sentindo a mão tremer ao pegar o
papel da gaveta, vi um pequeno símbolo de aviação no papel de
baixo e lembrei-me de uma pessoa mais importante que tudo isso.
Júlio, meu filho, seria meu triunfo e não uma empresa que estava
com os dias contados.

Seria necessário perder essa batalha, enquanto meus


inimigos achavam que era a guerra, para poder triunfar. O êxito
pessoal era subjetivo demais, não poderia me abalar nesse
momento crucial para alcançá-lo junto com o profissional.

Era fundamental, muitas vezes, abdicar da vitória para


alcançar o sucesso, como dizia meu pai.

Voltei a me sentar na poltrona que estava, li atentamente


cláusula por cláusula, apenas para saber se eu teria que ficar
devendo algo para ela depois que assinasse. O valor que iria me
pagar não era o justo, mas pelos meus cálculos mentais, poderia me
ajudar a alavancar a próxima empresa que tinha em vista.

— Você tem uma caneta? — questionei insensível.


Surpreendi-a tanto, que se afastou da mulher que agora trabalhava
em seus pés.

— Vá tomar um café, só volte quando eu chamar — ordenou


desconcertada à manicure, caminhou desengonçada até sua mesa
e se sentou na cadeira parecendo buscar apoio. Escutei a porta se
fechar indicando que a mulher saiu e ela continuou: — Você vai
entregar a empresa para mim?

— Essa é a intenção, logo após você me pagar, claro. —


Fuzilei-a com os olhos e ela não conseguia me encarar, buscando
algo na mesa.

— Nunca pensei que largaria tudo por esse valor. Sabe que
a empresa e sua parte, mesmo com a crise, valem muito mais —
seu tom brando não me comoveu.

— E foi você quem deu o preço. Só estou aceitando, dona


Marlene Blat. JB Notícias agora é sua.

— Seu pai ficaria decepcionado — falou rancorosa e me


encarou, o que retribuí com um dar de ombros.

— Pois é, mas ele morreu, você lutou pela sua parte e além.
Depois de três anos, você conseguiu.

Uma ficha caiu e arregalei os olhos lembrando-me do


aniversário de Júlio que seria amanhã. Meu Deus, ele teria o melhor
dia se dependesse de mim. Compraria aviões e...

— Quem ficará no seu lugar? Sabe que não entendo nada


desses jornalistas. — Interrompeu meus pensamentos e agora ela
parecia mais como minha mãe, calculista e rancorosa. Estendeu
uma caneta em minha direção e fui até ela, rubricar as páginas e
assinar na última. — Você precisa treinar alguém para ficar no seu
lugar.

— Willis é meu amigo, mas pelo visto, é também seu. Só


não assumiu a diretoria por medo. Quem sabe ele não consiga
dominar estando no meu lugar. — O homem ainda era meu amigo,
mas no jogo de poder, ele acabou se transformando em um coringa.

— Que eu me lembre, você precisa cumprir trinta dias antes


de sair.

— Só preciso fazer o que quero, que no caso é pegar o meu


dinheiro e desaparecer dessa empresa. — Entreguei a caneta, os
papéis e inclinei na sua direção para intimidá-la. — Quer que eu
peça para o financeiro fazer a transferência? Vai precisar de uma
aprovação do banco para isso.

— Você é insensível como o seu pai! — Bateu na mesa e


me afastei bufando de raiva. — Dei amor, não recebi nada em troca.
Briguei, surtei e mesmo assim vocês continuam intactos nos seus
pedestais! Você pelo menos me vê? Sabe que eu existo? Tenho
uma posição real no seu coração? — Apontou o dedo para mim
nervosa. — Eu sou sua mãe e mereço respeito.

Sim, ela estava certa na frase final e nas outras também,


mas de uma coisa eu tinha certeza, de que era minha liberdade de
fazer o que quiser da minha vida, porque era adulto e agora, pai de
um menino lindo que amava avião e faria aniversário amanhã.
Ah, já sei, vou levá-lo até o hangar da empresa em que freto
aviões.

— Tem todo o meu respeito, mãe. — Abaixei a cabeça


rapidamente e a ergui, para impor minha posição. Ela não merecia
estar na minha vida pessoal, mas da mesma forma que não estive
na vida de Júlio e estava sofrendo de certa forma, ela também
sentia igual. Já havia tentado uma vingança e falhado, estava
disposto a fazer diferente para ganhar. — Espero que essa raiva
passe entre nós com o fim dessa sociedade, porque há algo que
quero lhe mostrar.

— O quê, James? Apenas fale de uma vez, você nunca me


disse que me amava! É isso? — Mostrou fragilidade e dei passos
para trás sentindo que era sentimentalismo demais para alguém que
só me via com ódio. Aonde ela queria chegar?

— Talvez eu precisasse aprender a dizer essas palavras,


uma vez que nunca as escutei. — Era o máximo de mim que ela
escutaria. De Karine houve muitas palavras de carinho e em vários
momentos, mas nada que aquecesse meu coração.

Saí da sala e fui direto para a minha, sem interrupções ou


desvios, porque precisava recolher meus pertences antes de ir até o
financeiro. Minhas prioridades mudaram, meu foco era outro e com
o peso nas costas dissolvido, minha mente estava livre para fazer
voo solo.
Capítulo 20

Sentada em cima do vaso enquanto ele se divertia na


banheira do quarto de James, eu duelava sobre a invasão de
privacidade e o quanto meu menino perdeu por estar longe daquele
que o negou quando descobriu a gestação.

— Meu filho, você lembra quando a mamãe falou sobre o


papai? — comecei a conversa no meio do banho com Julinho, que
estava de sunga já que queria nadar na “piscina”.

— Não. — Bateu as mãos na água e não parecia dar


importância para o assunto. Respirei fundo várias vezes, sabia que
a qualquer momento o dono do lugar voltaria e não tinha feito a
minha parte.

— Então, Júlio. Para você nascer, precisou de uma mamãe


e um papai. É assim que os nenéns nascem.

— Cadê o papai? — Finalmente consegui prender sua


atenção, ele veio até próximo de mim e com seus olhinhos curiosos,
tão parecidos com o do pai, me encarou.

— Eu e o papai tínhamos nos perdido um do outro.

— Cadê o papai? — Aproveitou meu silêncio momentâneo


para perguntar novamente.
— Deixa a mamãe terminar de falar. Sabe quando a mamãe
fala para segurar a mão e andar pertinho de mim para não se
perder?

— O papai soltou da sua mão? — questionou assustado e


fiz uma careta. Não tinha outro jeito de contar, quando ficasse maior
e entendesse mais, se fosse necessário, eu contaria como
realmente foi.

— Sim. Ele soltou da minha mão, a gente se perdeu, mas


agora achou. Deu tudo certo. — Forcei um sorriso, para ver se a
preocupação dele passava, mas a expressão de choro só
aumentou. — Está tudo bem, meu amor, a gente achou o papai, eu
e você, juntos, lá no avião.

— Cadê? — perguntou confuso.

— O James. — Segurei o choro, porque a cabecinha dele


parecia mais confusa ainda. — Lembra que o vimos no aeroporto?
Avião? Então, a gente o achou e agora estamos aqui.

— Eu estou aqui — James falou atrás de mim, coloquei a


mão no coração assustada e meu filho recuou quando ele se
aproximou. James chegou no momento certo, ou não, já que
preferia continuar falando com ele sozinha antes de entregá-lo.
Céus, eu teria que o deixar com o pai? — Oi Júlio, está boa essa
banheira?

— Mamãe — ele resmungou se afastando na banheira e me


levantei para pegá-lo no colo. Envolvi-o com uma toalha, ele me
abraçou e encarei o pai da criança arrasado.
— Está tudo bem, meu amor. Você não brincou com o
James hoje de manhã? Ele não é legal?

— Sim — respondeu baixo, ainda me apertando forte, o que


me fez ver o meu medo refletido nele. As crianças percebiam tudo,
como era possível? Precisaria ceder, por ele.

— E amanhã teremos um dia incrível, porque um piloto vai


fazer aniversário — James tirou a mão das costas e mostrou um
embrulho de presente. Mesmo assim, meu filho parecia com medo
de enfrentar o pai, que tinha algo em mente para amanhã como eu
mesma não tinha planejado. — Eu estou muito feliz por ser seu pai,
Júlio. Nosso nome começa com a mesma letra, gostamos de
macarrão e avião.

— Você pode ir para o seu pai, meu amor. A mamãe fica


bem, tá? — Ele ergueu a cabeça e me encarou na expectativa.
Forcei o sorriso e acenei para James, que o pegou do meu colo.
Com uma força gigantesca, entreguei-o sem demonstrar o quanto
isso me afetava.

Feliz por ver o embrulho de presente e com o sorriso de


James, que acho que era a primeira vez que via de forma tão
genuína, os dois saíram do banheiro para o quarto e fiquei com as
lágrimas escorrendo enquanto limpava o banheiro.

— Vem, mamãe! — Júlio me chamou na porta e depois


correu para cima da cama do pai. Era um conjunto de vários aviões
de brinquedos, algo que eu nunca poderia dar e estava me
diminuindo profundamente.
Caramba, era o melhor para ele. No momento, a única coisa
que poderia proporcionar era amor e a ameaça velada de Dante
Mercy, ou seja, meu filho merecia mais e não poderia ser egoísta a
ponto de lhe privar o pai, por mais que ele merecesse sofrer.

Nessa briga de ego e rancor, quem sairia perdendo era a


criança, então, poderia me aplaudir por não impor resistência, já que
da parte dele só vinha amor. Não havia como negar, James Blat
estava disposto a ser uma figura paterna decente.

— Pode me chamar de pai ou papai — ele falou quando saí


do banheiro e tentei passar despercebida por eles.

— Mamãe, é o papai, a gente achou. — Júlio saiu da cama


apressado, pegou na minha mão e colocou junta com a de James.
— Pronto, não pode soltar, senão perde. — Voltou a subir e nem
percebeu o quanto essa ação me causou um rebuliço no corpo
inteiro.

Deitei-me de bruços no colchão ao lado de James que tinha


posição semelhante e finalmente o encarei. Havia tanta coisa
inexplicável no brilho dos seus olhos que precisei de um apertão na
minha mão para voltar à realidade. Com sutileza, indicou para
observar o meu filho.

Não, nosso filho.

Observamos ele brincar e nos convidar para participar com


outros aviões. Não separamos nossas mãos e Júlio parecia conferir
sempre se estavam assim. A história que contei, pelo visto,
traumatizou-o mais do que ajudou.
— Precisamos colocar uma roupa e dormir — falei
finalmente me soltando e sentindo o frio causado pela falta de
contato. A última coisa que precisava era interpretar o ato do meu
filho com envolvimento amoroso.

— Não quero doimi, mãe — resmungou sentando-se na


cama.

— Obedeça à mamãe, para amanhã brincarmos muito e


cantarmos parabéns — James pegou os brinquedos enquanto eu
carregava Júlio e me surpreendi pelas suas palavras. Fomos até o
quarto de visita, ele colocou os aviões em um canto enquanto eu
colocava a roupa na criança.

— Quer fazer xixi? — perguntei para Júlio, que bocejou e


me abraçou assim que terminei de vestir a calça do pijama nele.

— Colo — pediu e lhe dei, como sempre fazia e me sentindo


melhor das pernas para balançá-lo.

James saiu do quarto, mas quando virei para fechar a porta,


lá estava ele, encostado no batente e nos observando. Coloquei um
dedo na boca, chacoalhei o menino e poucos minutos ele se
entregou ao sono, uma vez que havia brincado muito com água logo
depois que comeu uma pratada de macarrão feito por dona Clotilde.

Coloquei-o na cama em volta de almofadas e saí do quarto,


percebendo que o dono da casa parecia querer falar comigo. Tinha
tanta coisa inexplicável exalando dele, que quando ficamos
sozinhos no corredor, aproximei-me dele e abracei sua cintura
fazendo-o suspirar.
— Isso é bom — falou alisando minhas costas e respirando
profundamente várias vezes. Apesar dele estar se aproveitando e
parecendo precisar, eu também estava, para deixar de sentir medo
de perder o meu filho.

— Por favor, nunca tire Júlio de mim — supliquei.

— Essa é uma promessa que eu posso cumprir,


independente do que estiver acontecendo comigo. — Apertou-me
em seus braços e depois nos afastou. — Eu também tenho direito
sobre ele, mas você é a mãe, lidou com a gestação sozinha e não
me impediu de estar com ele, apesar das circunstâncias terem
contribuído.

— Confesso, James, eu nunca o deixaria perto de você se


não fosse a ameaça. — Desviei o olhar do seu magoado. — Mas
esse ressentimento é meu, Júlio não irá sofrer por minha causa.

— Você já jantou? — Mudou de assunto e voltou ao seu


habitual tom sério.

— Ainda não, estava esperando por... — Não completei,


ainda mais quando senti meu rosto esquentar. Precisei andar na sua
frente e chegar primeiro na cozinha para esquentar a comida. Olhei
para o relógio da cozinha e percebi o quão tarde era. — Meu Deus,
Júlio ficou acordado até às onze horas?

— O dia foi cheio hoje. — Ficou ao meu lado e abri a


geladeira para disfarçar. — Onde está Clotilde?
— Falei que daria conta de te servir, mesmo que chegasse
de madrugada. Ela precisa dormir, Júlio lhe deu trabalho tanto
quanto para mim. — Mostrei o prato com frango e legumes e outro
com macarrão. — Qual?

— O mesmo que nosso filho escolheria — respondeu


sentando-se à mesa e me deixando atordoada. Pensar na palavra
nosso era uma coisa, mas ouvir de sua boca era completamente
outro.

— Macarrão — respondi saindo do transe, guardando o


frango e colocando o prato, que serviria nós dois, dentro do micro-
ondas.

Se o dia foi longo, a noite seria mais ainda, porque dentro de


mim poderia pressentir as mudanças de sensações só pela
palpitação do meu coração.
Capítulo 21

— Trouxe seu notebook arrumado e um aparelho celular.

— Eu realmente preciso achar uma forma de te


recompensar, James. — Olhei para o micro-ondas e depois para ele
com a mão na cintura. — Uma coisa é me ajudar por causa de Júlio,
outra apenas a mim.

— Você pode fazer isso, trabalhando comigo — falou sério e


tive que encará-lo por alguns segundos para perceber a importância
das suas palavras.

— Sei que Willis é seu amigo e estou precisando de


emprego, mas estou cheia de chefes abusadores na minha vida.
Prefiro mudar de área e trabalhar na faxina.

— Você poderia me contar o que realmente aconteceu entre


você e ele — pediu brando quando a comida terminou de esquentar.

Coloquei o prato na mesa apressada, busquei outros dois no


armário, talheres e nos servi sem perguntar o quanto ele queria,
porque só de lembrar o que passei, me incomodava profundamente.

— O que aconteceu pode não ter mais serventia ou ele pode


até ter mudado. Por que relembrar isso? — Antes de sentar-me,
busquei copos e uma jarra de suco na geladeira para nos servir.
James pegou nos talheres apenas quando o fiz.
— Como você mesmo disse, é passado, mas gostaria de
saber. Será bom você desabafar.

— Ah, James Blat, não queira ir por esse caminho, eu não


vou parar de falar e se fizer cara feia, vou chutar suas bolas. —
Percebi que se ajeitou melhor na cadeira e ri baixo começando a
comer. Eu não devia nada a ninguém ao mesmo tempo que sim. —
Eu o escutei no telefone repassando informações de uma matéria
exclusiva que iríamos publicar, no caso, eu mesma tinha feito.

— Estava falando com quem? — perguntou sério e também


comendo.

— Não sei, mas sabia que era alguém de fora da empresa,


porque exigiu um pagamento pela informação, algo como: eu fiz
minha parte, agora quero minha conta com mais de quatro zeros
antes da vírgula.

— Willis? — questionou surpreso e fiz uma careta.

— Pode ter sido uma vez ou sei lá, perseguição minha. A


questão é que eu escutei por estar bebendo café e quando me viu,
mostrou todo o seu azedume ao me esculhambar na frente da
colega, por gastar mais tempo no cafezinho do que produzindo.

— Então, outra pessoa escutou também.

— Oh, meu Deus, a Karine. — Soltei os talheres e coloquei


a mão na boca, nem lembrando-me dessa situação e a
cumplicidade.

— Karine sabia dessa situação.


— Ou não, você precisa entender que meu ouvido é biônico.
— Voltei a comer, mas James não o fez. — Caramba... como Karine
conseguiu virar sócia da JB?

— Minha mãe a colocou como sua representante na


sociedade, Willis confiava nela. — Bufou sorrindo com ironia. —
Muita coisa se explica agora.

— Acha que ela está te traindo com ele?

— Bem, se estava, meu orgulho vai ter que lidar com isso,
porque não importa mais, não estamos mais juntos. — Com
violência, ele colocou o macarrão no garfo e depois na boca.

— Você terminou com ela? — Senti o peso da culpa e ele


deu de ombros.

— Poderia deixar a culpa em você e Júlio sobre a minha


decisão, mas serei sincero como nunca fui antes, Flaví. — Soltou os
talheres abruptamente, tomou um gole de suco e demonstrou que
estava sendo difícil para ele agir assim. — Estive com Karine por
conta de uma insatisfação pessoal, era um meio para um fim. Minha
mãe queria a empresa, eu não estava disposto a lhe dar, porque eu
e meu pai a construímos, sozinhos.

— Você queria se vingar da sua mãe? Achou que estando


com Karine conseguiria algo? — Deduzi comendo com mais pressa,
porque a ansiedade para saber mais sobre o assunto estava
tomando força. — Isso que te fez esquecer que tinha um filho a
caminho?
— Estava irritado e cego, Flaviane. Vai me culpar até
quando? Estou fazendo a minha parte e não é por obrigação. —
Levantou-se da cadeira com indignação e me arrependi de ter feito
a acusação. — Eu amo aquele menino e serei presente na vida
dele, mesmo que isso custe estar em guerra com você todos os
dias.

Coloquei uma última garfada de macarrão na boca e


mastiguei com dificuldade, para engolir então, foi como pedra. Tinha
que guardar meu rancor para ser eliminado aos poucos dentro de
um ralo e não na sua cara, ainda mais quando ele demonstrou que
estava disposto a fazer o seu papel.

O que mais eu poderia exigir do pai do meu filho?

Estava prestes a me levantar e recolher tudo quando ele


voltou apressado, se sentou e suspirou esticando os braços na
mesa e deixando suas mãos próximas a mim.

— Não vou deixar que aconteça novamente. Não deveria ter


entrado nesse assunto com você, porque o dia foi foda. Karine
terminou comigo e irá dar uma entrevista exclusiva para a coluna
Famosos do JB, ela quer me expor e odeio tudo isso. — Deixei
minhas mãos pousarem em cima das suas e ele suspirou. — Depois
fui até minha mãe e vendi minha parte da empresa para ela, que já
tinha até o contrato pronto, só faltava a minha assinatura.

Estava chocada demais para responder e atenta às


sensações que suas mãos nas minhas causavam.
— Depois falei com o financeiro, cuidei do seu notebook, o
celular, rodei no shopping por horas para comprar presentes para
Júlio. — Desviou o olhar envergonhado. — Acho que exagerei.

— Aqueles aviões foram legais — respondi branda e ele deu


de ombros.

— O porta-malas do meu carro está cheio de pacotes, mas


pensei em dar amanhã.

— Desculpa — falei baixo, apertando seus dedos. — Estou


trabalhando em não me lembrar com rancor os meses de gestação
que foram os piores para mim. Quando Júlio nasceu e minha irmã
mostrou o trabalho dela, para que a ajudasse, as coisas
melhoraram.

— E sobre isso, quero que trabalhe comigo. Vamos criar


uma nova empresa de notícias com uma proposta original. — Ele
usou meus braços para me arrastar ao redor da mesa com a cadeira
e me aproximar dele. O barulho nem pareceu incomodá-lo, seu
olhar estava vidrado em mim. — Lutar contra a minha mãe não tem
mais sentido quando tenho um filho para criar, com você.

— Isso é muito íntimo, James. Nós não somos namorados


nem nada, você não conhece meu trabalho ou como sou no dia a
dia. Ainda nem invertemos a balança de bons e maus momentos de
estarmos juntos.

— Temos um longo caminho, por isso, não há tempo a


perder.
Afastou a cadeira, me puxou para cair no seu colo e tomou
minha boca com pressa. A mistura de sabores, com o suco e o
macarrão pareceu deixá-lo ainda mais animado, porque me ajeitou
no seu colo, apertou minha bunda e me fez sentir seu membro duro
sob a calça.

Mesmo retribuindo, ainda estava assustada e buscando


forças para me afastar, mas quando sua mão entrou por debaixo da
minha blusa e encontrou meu seio, que estava com um sutiã
simples, sem bojo ou aro, por estar em casa, me desconcertou de
prazer e me transformou.

Sairia da seca de mais de três anos aquela noite.


Capítulo 22

Deixei que suas mãos me dominassem e estimulassem meu


corpo, que havia mudado desde a gestação. Estrias, gordurinhas a
mais e zero bronzeamento era uma das coisas que mais me
incomodavam, ou seja, eu precisaria de um lugar escuro para
terminarmos o que iríamos começar.

Movimentei meu quadril de forma sensual para frente e para


trás, sentindo meu short jeans curto me estimular e também fazer o
mesmo com ele, que se mostrava duro.

— Dessa vez, você não estará bêbada — falou antes de


começar a beijar meu pescoço e tentar tirar a minha blusa.

— Talvez eu precisasse de um pouco de álcool, já faz muito


tempo. — Saí do seu colo e o puxei pela mão para se levantar. Seu
olhar era confuso, o que me fez hesitar. — Temos uma criança na
casa, precisamos de um cômodo com a porta trancada ao mesmo
tempo que próximo dele, caso chore ou acorde. Tudo bem?

Era o suficiente para ele voltar a dominar a situação, me


levantou pela bunda, tentei rodear minhas pernas na sua cintura,
mas não consegui, por isso ri quando caminhou comigo até seu
quarto.

— Eu não sou a mesma daquele dia. Céus, nem te dar uma


chave de perna consigo.
— Para mim está tudo bem — falou com rouquidão
fechando a porta do seu quarto e virando a chave. — E se
estivermos no meio...

— Não diga isso. — Tampei sua boca e ele assustou. —


Júlio sempre acordava quando eu profetizava algo. Só vamos deixar
rolar, na hora que acontecer, a gente dá um jeito. — Como não saiu
do lugar, pulei do seu colo. — Vamos, nosso tempo é cronometrado!

Voltou a me beijar, agora segurando minha nuca enquanto a


outra mão apertava minha cintura. Seu braço contornava minhas
costas e aos poucos sentia que ia até minha bunda. Não deixei por
menos e tirei seu blazer para apertar seus braços e sentir sua
estrutura física. James era alto, firme e com muitos músculos, um
dos motivos por ter conseguido me carregar sem muito problema.

Comecei a desabotoar sua camisa e ele tentou tirar a minha


blusa, o que recusei novamente.

— O que foi? — perguntou confuso e continuei com minha


tarefa.

— Aguarde e verá — respondi ousada, apenas para


disfarçar minha vergonha.

Quando seu tórax ficou exposto, empurrei-o até a cama para


se deitar de costas. Ele parecia atento a cada movimento, por isso
me dediquei a tirar sua roupa e sapatos com lentidão, até que fui ao
closet, acendi a luz e apaguei a do quarto.
Ainda bem que não questionou nada. De cueca boxer preta,
me observou voltar tirando a roupa, peça por peça, até ficar apenas
de calcinha. Inspirei profundamente para não me acanhar dos seios
que já não eram tão firmes quanto naquela época, subi na cama de
joelhos e cobri seu corpo com o meu para lhe beijar a boca.

Rapidamente fui posta debaixo dele e o frenesi começou,


agora era pele contra pele, seu domínio sobre a minha tentativa de
submissão. A confiança que eu tinha nessa área havia ido embora
no momento que fui rechaçada grávida.

Impedi que meus pensamentos fossem para esse lado, até


porque, o prazer estava acendendo o meu corpo. Parar o que
começamos não era opção, a não ser que Júlio o fizesse.

Sua mão apertou meu seio novamente, agora nu e brincou


com o bico. Seus lábios se afastaram dos meus com lentidão, nosso
olhar, mesmo na penumbra, estava conectado. Ele desceu pelo meu
corpo deixando beijos, sugando os meus seios e me fazendo
contorcer de prazer. Quando beijou minha barriga, fechei as pernas
e temi o que poderia acontecer a partir de agora. Eram muitas
sensações femininas, havia me esquecido como mulher e sentia-me
como uma borboleta saindo do casulo.

Ele tirou a calcinha com cuidado, abriu minhas pernas


olhando nos meus olhos e me tocou sorrindo satisfeito.

— Molhada. — Introduziu um dedo em mim e o curvou para


tocar meu ponto G. — Apertada.

— James — gemi movimentando meu quadril para cima.


— Vou te fazer sentir bem — prometeu abaixando sua
cabeça e abrindo meus grandes lábios para sua língua tocar meu
clitóris.

Gemi pelo toque íntimo e a habilidade. Impossível não


pensar que ele fez tudo isso com a ex-noiva e com a força da raiva
que queria transbordar, fechei as mãos no lençol e contraí minha
vagina numa tentativa de impedir de gozar, mas foi exatamente o
contrário que aconteceu. Abri um pouco mais minhas pernas e me
rendi ao clímax, já que não dava para pegar de volta e nem queria.

Como era bom me sentir mulher, apesar de tantas coisas


que nos cercavam e impediam que entregasse muito mais do que a
luxúria.

Ele saiu da cama enquanto fechava os olhos e me


recuperava. Escutei o barulho da embalagem do preservativo e logo
o senti se colocar entre minhas pernas. Sua boca sugou meu
pescoço e para me provocar, ofegou enquanto tentava me penetrar
de pouco em pouco.

— Você é gostosa pra caralho, quer experimentar? — Não


esperou minha resposta, tomou minha boca e me fez sentir o sabor
que degustou em sua língua. Era um afrodisíaco proibido, que me
estimulou a erguer o quadril e permitir-lhe entrar em mim
vagarosamente.

Céus, parecia que eu tinha ficado virgem novamente.


Retesei o corpo e ele percebeu, alisando meu cabelo e esperando
que meu olhar encontrasse o dele.
— O que foi? — perguntou com carinho e lhe retribuí com
um sorriso triste.

— Sempre ouvi falar que a primeira vez, depois do parto,


seria mais complicada, só não achei que duraria tanto tempo. —
Abracei seu pescoço e suspirei para controlar as emoções. — Está
tudo bem, é como se fosse a primeira vez, eu superei uma, não me
intimidará a segunda.

— Nossa primeira vez — declarou cheio de significados,


entrou e saiu de mim e se ergueu o suficiente para observar minha
reação.

Precisei fechar os olhos por conta da intensidade que ele


colocava em mim. Aos poucos, fui sentindo mais prazer do que dor
e pude relaxar com um sorriso nos lábios.

Ele nos virou na cama e me colocou em cima, lembrando


um momento maravilhoso que tivemos e provavelmente que
resultou em Júlio. Tive que me levantar para conferir nossa união,
estávamos protegidos. Subi e desci com timidez, apoiei-me no seu
tórax e fiz novamente com suas mãos subindo e descendo nas
minhas coxas, onde havia parte das minhas imperfeições.

— Linda — falou baixo, quase inaudível.

Ganhei confiança com seu elogio e fui me entregando ao


prazer. Primeiro, com sobe e desce, que sabia o quanto poderia
proporcionar prazer, depois eu rebolava e me esfregava, empinando
meus seios e me libertando dos pudores que existiam dentro de
mim.
Sua mão espalmou minha bunda e apertou, causando um
rebuliço dentro de mim. Não bastava estar me sentindo poderosa,
eu teria que ser presenteada com mais um orgasmo.

Mostrei o quanto apreciei seu ato, tomei seu pau com minha
boceta em um vai e vem equilibrado com sobe e desce e ele fez a
ação novamente, agora com as duas mãos e expondo meu buraco
secreto. Encontrei o clímax com paixão e ele parecia seguir o
caminho comigo já que estava de boca aberta, ofegante. Quando
deitei meu corpo em cima do dele, dobrou suas pernas e meteu
mais um pouco antes de se entregar por fim e se saciar do fogo que
havia dentro de nós.

Meu Deus, foi maravilhoso, estava realmente precisando


disso para esquecer tudo.

Ele saiu de dentro de mim, me colocou de lado na cama e


apenas esticou o braço para descartar a camisinha no chão.

— Você não vai deixar isso para outra pessoa limpar —


repreendi.

— Pode ficar tranquila que eu arrumarei tudo. Só queria


aproveitar esse momento.

Abraçou-me beijando minha cabeça e fiz o mesmo,


buscando a confiança e a força que eu precisava. Não poderia me
iludir que disso poderia virar algo mais, até porque, o mais
importante de nós não poderia ser prejudicado, Júlio.
Desvencilhei-me dos seus braços quando percebi que
estava além do tempo permitido para uma transa casual, saí da
cama e recolhi minhas roupas no chão com pressa.

— Aonde vai?

— Tomar um banho e dormir, com Júlio, ele pode cair da


cama.

Era uma desculpa deslavada, mas serviu e talvez até mais


do que deveria, já que se sentou na cama colocando os pés no chão
e não disse mais nada.

Pausei antes de sair do quarto e sem acender a luz, corri


para o meu, porque o coração judiado estava disposto a fazer algo
que se arrependeria no final.
Capítulo 23

Flaviane sempre foi sincera, pela primeira vez a vi usando


os mesmos artifícios de proteção que eu usava e não gostei.
Deveria respeitar e quem sabe, me identificar, mas não, estava
irritado e nem tinha o direito.

Qual seria o verdadeiro motivo de fugir de mim depois de


um momento tão bom? Na verdade, só não foi maravilhoso porque
ela apagou a luz. Ver-nos seria maravilhoso, mas novamente, ela
parecia disposta a esconder algo de mim.

Antes de dormir, tomei um banho, descartei corretamente a


camisinha e ainda fui para a cozinha guardar a comida, algo que
não fazia. Sua repreensão surtiu efeito até demais nas minhas
ações e percebi o quanto a mãe do meu filho poderia me dominar se
eu não tomasse o devido cuidado.

E por que precisava recuar? Não a conhecia o suficiente


para saber das suas intenções, apesar de criar um filho com a
minha cara, por três anos, era motivo suficiente para lhe dar crédito
sobre não querer se aproveitar.

Ajeitei o notebook dela e o celular na minha mesa do


escritório, onde nós dois poderíamos dividir espaço. Ela não aceitou
trabalhar comigo, mas usaria muitos argumentos de persuasão,
como resolver seu problema com Dante Mercy. Isso me fez lembrar
sobre o cartão de um delegado que consegui entre minhas visitas à
empresa de segurança que contratei, ele seria um bom contato para
nos ajudar com a investigação.

Quando achei que poderia voltar para o quarto e dormir,


olhei no relógio do escritório e percebi que passava da meia-noite.
Que horas meu filho tinha nascido? Como foi o parto?

Deixei as perguntas de lado e foquei em proporcionar uma


boa recepção. Trouxe algum dos brinquedos e roupas que comprei,
espalhei pela sala e cocei a cabeça, com a outra mão na cintura, ao
perceber que tinha exagerado mesmo não sendo tudo.

Que se foda, eu tinha três anos para recuperar e uma coisa


que sabia bem, era que lhe daria tudo o que não pude ter. Recursos
me sobravam, apesar de precisar me controlar por conta de estar
começando uma nova empresa. Não seria por isso que ele ficaria
em segundo plano, era possível caminhar junto.

Deitei-me na cama onde o cheiro de Flaví predominava e


rolei muito antes de finalmente me render ao sono. Era muito
estímulo para não recordar ou pedir mais.

Fui acordado por mãozinhas no meu rosto.

— Jamis, Jamis — chamou baixo e não o respondi, porque


esperava o meu título e não o meu nome. — Papai? — Bateu de
leve no meu rosto e abri os olhos com um amplo sorriso.

— Bom dia, filho — falei rouco de sono e pela emoção das


palavras. Peguei-o com as mãos em suas axilas e o trouxe para
cima de mim. Seus olhos iguais aos meus brilhavam de curiosidade.
— Acoidô? — perguntou sorrindo.

— Sim, papai acordou. Sabe que dia é hoje?

— Não. — Mal respondeu, seu olhar arregalou e ele saiu de


cima de mim para pular na cama. — Avião, vamos ver vião.

— É seu aniversário e tem um monte de presente te


esperando na sala.

O menino era sagaz, parou de pular e saiu da cama como


um foguete, deixando a porta aberta me permitindo observar, ainda
deitado sua euforia ao chegar na surpresa.

Segundos depois Flaví saiu do quarto e virou-se para me


encarar. Ela parecia sem graça ao me ver deitado e queria me sentir
íntimo o suficiente para chamá-la até mim, beijar-lhe a boca e
desejar um bom dia.

Por isso, saí da cama e fui até ela, que caminhava para a
sala. Dona Clotilde já estava lá, ajudando-o a rasgar os embrulhos.

— Bom dia — ela murmurou encostada na parede e depois


acenou para minha governanta, eu fiz o mesmo. Ousado, fiquei
atrás dela também escorado e observando tudo. — Obrigada.

— Sobre ontem? — questionei esperançoso e ela suspirou


antes de responder:

— Os presentes. — Virou-se para mim quando me afastei,


um pouco chateado pela sua resposta. Não precisava de
agradecimento sobre as minhas obrigações de pai. — Certas coisas
não se agradecem, apenas aproveita. — Virou novamente para a
sala e cruzou os braços. — Meu filho nunca teve um aniversário
decente e você está lhe dando, eu agradeço.

— Nosso filho — sussurrei em seu ouvido sem controlar


minha indignação, me sentei no chão próximo a Júlio e recebi um
abraço caloroso dele. Entendia que precisaria de um tempo para
mudar a rotina de chamá-lo apenas dela, minha reação era apenas
inevitável.

— Avião! Tratô! — O menino pulou no meu colo, pegou a


mãe pela mão e uniu com a minha, como fez no dia anterior. —
Aqui, não perde.

Era uma mescla de esperança e conforto nossa união, que


foi desfeita por ela ao caminhar para a cozinha.

— Vou fazer nosso café da manhã, já volto.

— Não se preocupe, eu cuido de tudo. — Clotilde tentou se


apressar, mas acabou que as duas ficaram na cozinha e eu tive meu
momento com Júlio.

Sem saber com qual começar a brincar, peguei um carrinho


e tentei me lembrar da infância, como eu brincava e a emoção de
fazer algo tão simples. Júlio me acompanhou, subia nas minhas
costas, depois me abraçava ou apenas me chamava de pai para
amaciar um pouco do ego que estava ferido.

Se eu soubesse que ser pai me aliviaria de tantas ambições


sem sentido, eu teria feito muito antes dos meus 36 anos.
Porra, estava ficando velho, precisava acelerar com a
criação da nova empresa.

Depois de muito insistir, Flaviane conseguiu levar Júlio para


tomar café da manhã. Nós três estávamos juntos compartilhando a
refeição e celebrando o nascimento do meu filho.

— Como foi esse dia, quando ele nasceu? — perguntei à


mulher que estava admirando sem perceber enquanto servia o filho
e se alimentava ao mesmo tempo.

Peguei-a de surpresa, parecia que o momento estava sendo


demais e para variar, eu queria muito mais.

— Há três anos? — Era retórico, por isso não respondi. —


Senti contrações desde o dia anterior. O médico me examinou no
pronto atendimento e me mandou para casa, porque a bolsa não
tinha rompido e eu só tinha dois centímetros de dilatação. Estava
com 39 semanas.

— Isso quer dizer o quê? Vai até quantos centímetros?

— Dez. — Riu baixo quando arregalei os olhos. Distraiu-se


olhando para Júlio e continuou: — Minha irmã não estava em casa
comigo, não consegui dormir, anotando de tempo em tempo que
vinha a contração. Até que não doía tanto.

— Onde estava Cristiane? Por que não fez cesárea? —


questionei percebendo que parecia ser mais fácil ou menos sofrido.

— Não sei, porque não sabia que poderia escolher. Como


meu atendimento foi público, a orientação era pouca e eu... — Deu
de ombros e comeu um pedaço de fruta. — Confesso que naquela
época, a minha ficha sobre ter um filho não tinha caído. Mas quando
as contrações reais surgiram, dentro de um táxi indo para a
maternidade, aí sim eu senti que era real.

— Como assim? — Imaginei toda a cena que me descreveu,


mesmo que mínima e senti uma fisgada de arrependimento. O que
estava fazendo naquela época?

— Era uma hora da tarde quando as contrações ficaram de


cinco em cinco minutos. Já estava com nove centímetros de
dilatação quando o médico me examinou, fui direto para um quarto,
estouraram minha bolsa e uma hora depois, Júlio nasceu, 39cm e
3,875kg. — Sorriu com orgulho, dessa vez, me olhando nos olhos.
— Parece até mentira que ele nasceu por aquele buraco e agora
doeu um pouco para... você sabe — sussurrou divertida e aproveitei
a brecha para que o humor continuasse assim.

— Acho que a culpa foi minha, preciso de uma segunda vez


para melhorar essa situação. — Pisquei um olho quando a percebi
ficar acanhada e estendi a mão para Júlio. — Então, filho, você
nasceu às 14h? Vamos cantar parabéns!

— Viva, parabéns, quero bolo! — ele respondeu animado e


levou minha mão até a da mãe. — Não perde.

Não resisti e a trouxe para a minha boca, beijei e me


levantei para continuar com o clima que estávamos. Teríamos um
dia inteiro para festejar e esperava que continuássemos assim,
entrosados.
— Agora, vamos para o hangar ver um avião de verdade —
anunciei e saí da sala de jantar para tomar um banho gelado e
apagar minha vontade de repetir a dose da noite passada.

Os planos, agora, eram para a família e não o casal.


Capítulo 24

Era errado sentir ciúmes do relacionamento que mal


começou de James com Júlio? Um misto de emoção, entre feliz por
poder proporcionar um dia maravilhoso ao mesmo tempo que raiva,
por ele ter privado meu filho por três anos disso. Ah, sem esquecer
da minha impotência de fazer tal coisa, afinal, só o levei para o
aeroporto depois de muito tempo, em plena crise.

Com o celular de James, tirei foto dos dois no avião e fora


dele, apenas do meu filho e me fechei dentro de mim, não querendo
fazer parte dessa felicidade. Parecia fácil falar que eu precisava
deixar de ser rancorosa ou esquecer o passado, mas aquelas
palavras sobre eu querer dar o golpe da barriga ainda eram uma
ferida aberta e que sangrava a cada sensação de impotência.

Nunca seria tão boa quanto James Blat e ele só veio agora.

— Vem, mamãe! — Júlio me chamou e para disfarçar,


peguei o celular e tirei fotos aleatórias dos dois. — Foto, não!

— É seu aniversário, hoje pode tirar um monte de fotos —


rebati permanecendo na mesma posição.

— Não perde! — falou bravo puxando o pai para se


aproximar de mim e unir nossas mãos. Era bom e um castigo ao
mesmo tempo, ter um homem que poderia ser não só um bom pai,
mas marido. A crueldade de sonhar com isso me impedia de
interagir com mais alegria.

— Ele está percebendo que você está chateada com algo —


James sussurrou. Precisei controlar minha vontade de socar sua
barriga, uma vez que a culpa era toda dele.

Fechei os olhos e suspirei assim que percebi o quanto


estava me fazendo de vítima, sendo que não existia nenhum
agressor por perto.

— Que tal irmos almoçar? — Soltei com relutância da mão


de James e agachei para me aproximar de Júlio, que recuou para o
pai. — Avião não enche barriga, Julinho.

— Qué brincar mais — resmungou batendo o pé e fechei a


cara quando segurou na mão de James para ter apoio. — Papai,
queru brincá mais.

— Eu estou com fome, você não está? — Levantei e James


inclinou para erguer o filho no colo. — Sua mãe tem superpoderes,
ela sabe até quando estamos com fome. O que acha?

— Mamãe é a Mulher Maravilha, eu sou o Super-Homem! —


Ergueu os braços e fez movimento como se estivesse voando. Ele
realmente gostava do céu. — Você é o Batman. — Cutucou o peito
dele e nos encaramos com diversão. Se existia alguma animosidade
em mim, apenas observar a alegria do meu filho fez com que
abrandasse a turbulência da minha cabeça e coração.
— Misterioso e fechado, sua cara — provoquei apenas para
vê-lo refletir com a testa franzida.

— Só me faltam os bens e a tecnologia — respondeu


esboçando um sorriso. — Vamos lá, super-herói, hora de comer.

— Será que existe algum lugar reservado e que dê para


criança brincar? — perguntei preocupada, me lembrando depois de
tanto tempo sobre a ameaça que existia nas minhas costas.

— Se está preocupada com aquele assunto, temos


seguranças nos seguindo. Pode ficar tranquila. — Enlaçou minha
cintura, beijou minha testa e caminhamos assim por um tempo. Foi
um movimento involuntário dele, ainda mais quando o senti retesar
e logo me soltar quando tomou consciência.

Estava tão bom, me fez sentir em uma família como um dia


sonhei e enterrei, já que o final feliz de uma mãe solo nunca era
como os dos filmes.

Entramos no carro comigo e Júlio no banco de trás e James


atrás do volante. Entreguei-lhe o celular e antes de dar partida,
olhou para as fotos que tirei.

— Estão lindas. Quero revelar algumas e colocar no


escritório. — Mostrou a tela para o filho. — Olha como você está
grande aqui, Júlio?

— Sou forte! — Julinho respondeu animado.

— E você? — perguntou assustado. — Não tem nenhuma


foto sua.
— Sou apenas a mãe, James. Por que queria uma foto
minha?

Ele me encarou com tanta indignação que revi a fala na


minha cabeça por várias vezes em busca do que disse de errado.
Caramba, o que tinha a ver eu com seu filho?

Como desviei o olhar envergonhada, ele focou na sua


frente, ligou o carro e o guiou sem dizer mais nada, porém, deixou
no ar um peso incômodo. Ele achava que poderíamos brincar de
casinha? Tudo bem, nós tivemos um momento, eu me senti muito
bem, mas não queria me iludir, afinal, ele acabou de sair de um
relacionamento, que por sinal, eu fui a culpada pelo rompimento.

Nós não deixamos de gostar de uma pessoa com um estalar


de dedos. Mesmo antes de ser mãe eu sabia separar o prazer do
relacionamento, até porque, nunca tive nada duradouro.

“Amor desbotado

Como tempo perdido

Gostaria de não ter peso, acredite em mim

Tentando substituir essa dor por algo

Se eu ficar na escala de cinza, você pode me amar?

Desbotado, desbotado”
Sleeping Wolf – Grayscale

Aquelas músicas estavam tentando me acalmar, mas só


piorava a situação.

— Podemos pedir lanche no drive Thru e terminar o dia em


casa com os brinquedos que comprei. — Apesar de não parecer
contrariado por seguir o meu pedido, dentro de mim parecia que
sim.

Estava foda lidar com tudo isso, eu queria a minha casa, a


base que me sustentava... minha irmã.

— Eu prefiro assim — respondi séria. — Vou aproveitar e


dar uma olhada no meu notebook, para saber se ainda tenho e-mail
e redes sociais.

— Como você quiser.

Ele poderia ter respondido qualquer coisa, menos isso. Uh!


Odiava quando a pessoa se mostrava passiva justamente para
esfregar na minha cara o quanto estava sendo infantil ou mesmo
mesquinha.

Mantive minha postura enquanto ele nos comprava o


lanche, Júlio comeu as batatas enquanto seguíamos para casa e
meu olhar parecia buscar o dele, que não olhou pelo retrovisor
interno nem por um segundo.
Será que ele toparia uma conversa sincera? Nunca fui de
guardar o que estava dentro de mim, sinceridade sempre, doa a
quem doer, mas a cautela parecia querer tomar a frente, o que
nunca fez parte da minha vida.

Chegamos na casa de James, fomos direto para a sala de


jantar e comemos em silêncio, bem, pelo menos eu. Os dois
brincaram, estavam descontraídos enquanto eu parecia cada vez
mais submersa no meu inferno pessoal.

— Você fica com ele? — perguntei quando nem o


refrigerante descia mais pela minha garganta.

— Pode deixar, tem a mim e dona Clotilde — respondeu


sério, mas demonstrou um pouco de preocupação comigo. Odiava
saber que o homem que me largou grávida parecia muito melhor do
que eu agora.

Por que estava querendo competir? Por Deus!

— Vou mexer no notebook, acho que estou com abstinência


de trabalho. — Levantei-me. — Onde ele está?

— Coloquei-o no escritório, está ligado e funcionando.


Aproveite e configure o seu celular, eu já adicionei meu número na
memória interna. — Acenei afirmativo e lhe dei as costas. —
Qualquer coisa, estamos aqui. — Olhei por cima do ombro e ele
tentou sorrir reconfortante. — Pode me chamar.

Ou seja, ele estaria pronto para me ajudar.


Voltei para beijar a testa do meu filho apenas para me
aproximar daquele que eu queria agradecer.

— Te amo, Júlio. Feliz aniversário.

— Avião, mãe! — Mostrou uma batata frita voando e sorri,


acolhendo como se fosse sua forma de me dizer o quanto me
amava também. Céus, o tempo passava rápido, ele já estava
falando a palavra direitinho!

Era injusto demais cobrar de um bebê que se comportasse


como adulto. Se nem meus pais diziam o quanto me amava, por que
cobrar dele? Se alguém tivesse que fazer diferente seria eu, para
ensiná-lo que não havia mal falar que amava outra pessoa.

Abri a porta do escritório e vi os dois computadores lado a


lado. Uma visão de nós dois trabalhando juntos encheu meu peito
de satisfação e logo a joguei de lado, porque estava sonhando
demais, meus pés precisariam ficar no chão.

Sentei-me na cadeira em frente ao meu notebook, peguei o


celular e o liguei, percebendo que precisaria começar tudo do zero.
Segui os passos da instalação inicial, coloquei meus dados e e-mail,
que não parecia ter se perdido. Consegui recuperar meus contatos,
e-mails e algumas mensagens.

Bem que minha vida poderia ser dessa forma, algo ruim
aconteceu, eu apenas formataria e retornaria apenas os backups
que eu queria. Seria simples, mas também sem emoção, já que
máquina não demonstrava sentimentos.
Lembrei-me de estar sobre James Blat, me entregando ao
prazer e percebi que essa sensação eu não trocaria por nada, por
mais cruel que os relacionamentos pudessem ser.

A primeira coisa que fiz quando tudo estava pronto foi ligar
para a minha irmã. Sem sinal, nem minhas mensagens ela recebeu
e para desencargo de consciência, enviei outras duas.

Ela deveria estar aqui, comemorando o aniversário do seu


sobrinho, que nem tinha perguntado da tia. Será que ele a
esqueceria se não voltasse logo?

O que será que Cristiane aprontou?


Capítulo 25

Os momentos das perguntas acabaram, agora era hora das


respostas.

Deixei o aparelho celular de lado e foi a vez do meu


notebook. Ele havia sido formatado, o que me fez lamentar, uma vez
que não conseguiria encontrar nada sobre Dante Mercy. Também
precisei fazer os cadastros iniciais e quando tudo foi liberado,
encontrei uma pasta chamada BACKUP.

Não teve como não sorrir, James Blat era um poço de


eficiência, não era à toa que construiu um império. Por mais que ele
me tenha falado sobre estar em crise, com certeza não era por parte
dele. Ou talvez sim, já que estava tão focado em uma vingança sem
fundamento.

Eu entendia sobre problema com os pais, a conversa com


minha mãe, a última vez que falei com ela, não foi amistosa, mas
nem por isso a enfrentaria. Ela me queria casada, filha sua não seria
mãe solteira. Nem adiantaria explicar que meu estado civil não tinha
nada a ver com cuidar do meu filho sozinha. O que queria que
fizesse, o abandonasse ou pior, me casasse com o primeiro que
quisesse me assumir?

A mente tradicional condenava aquelas que tinham filhos de


forma independente e isentavam o homem de culpa. Por que não
dizer que o homem que não assumiu a paternidade nunca pisaria
dentro da sua casa ao invés da própria filha?

Que seja, eu ainda estaria disposta a apresentar seu neto


quando eu tivesse mais condição financeira. O problema agora era,
quando isso aconteceria?

Seguindo orientação de segurança que tinha lido algum


tempo atrás, primeira coisa que precisava fazer era mudar a senha
de tudo. Meu Deus, se eu fizesse isso ia esquecer e virar uma
merda.

Olhei para os lados em busca de papel e caneta. Achei


como escrever, mas nenhum bloco ou caderno. Sem me importar de
ultrapassar algum limite, dei a volta na mesa, abri as gavetas e fui
procurar o que precisava.

Não havia nada de útil para mim ou interessante, até que


cheguei na última e espirrei assim que vi uma grande quantidade de
poeira e um papel dentro. Havia marcas de que recentemente
alguém havia mexido ali. Meu coração quase pulou pela boca – ou
era apenas o lanche – ao ver o símbolo de um laboratório de
exames.

Eu conhecia aquele papel, era o meu teste de gravidez.


James Blat guardou esse resultado aqui dentro por todo esse tempo
ou apenas o colocou aqui recentemente?

Queria chorar e exigir sua presença aqui, mas a covardia foi


maior, eu fechei a gaveta com cuidado e me arrastei até o meu
lugar, vendo ao longe, perto de um armário atrás da mesa, o bloco
de notas.

Parecia até que o universo estava me obrigando a achar o


conteúdo daquela maldita gaveta.

Levantei-me apressada, peguei o bloco e deixando as


lágrimas escorrerem, mesmo que não emitisse som de choro, anotei
meus acessos e as novas senhas. Que raiva de ter que colocar letra
maiúscula, minúscula, caractere especial e mais de 8 dígitos. Eles
não queriam uma senha, mas um código do nível das catacumbas
egípcias.

Toda essa energia em trocar senha foi boa, porque me


acalmei, foquei no que importava e comecei minha busca. Olhei e-
mail por e-mail de propaganda ou de cliente em busca de Cristine.
Depois tentei acessar o sistema de investimentos e não consegui.
Nesse ponto, apenas minha irmã tinha acesso de administrador e
pelo visto, haviam sido excluídas minhas credenciais.

Não sei quanto tempo se passou desde o começo das


minhas atividades, mas estava ficando cansada a cada pesquisa
que fazia e não encontrava nada. Entrar no site do banco e
constatar as dívidas me deixou puta da vida. esqueci o DNA que
compartilhava com minha irmã e a xinguei por várias gerações.

Ela me ajudou tanto, não fazia sentido querer me foder


dessa forma.

Respirei fundo e fechei os olhos. Quando nada estava


dando certo ou seguindo de forma satisfatória, costumava me
organizar.

Virei uma página no bloquinho que anotei minhas senhas e


fui anotando o que tinha em cada coisa. E-mail, rede social,
conversas por mensagens, criei uma pasta e fui arquivando
relatórios e anotando onde estava para fazer uma segunda
pesquisa.

Excluí e-mails que não me serviam e percebi que havia um


rascunho. No automático, assim que cliquei no e-mail, apertei o
botão excluir, mas não antes do meu olhar pegar algo importante.

— Não! — gritei desesperada.

Passos apressados se aproximaram e James entrou no


escritório assustado.

— O que foi? — perguntou se aproximando.

— Desculpa, é que eu fiz uma cagada aqui. Eu deletei e não


deveria — choraminguei.

— Olhe na lixeira ou aperte ctrl e z.

Fiz o segundo passo e o e-mail descartado no rascunho


retornou. Foi tanta emoção que levantei, pulei no pescoço de James
e beijei sua bochecha várias vezes como forma de agradecimento.

Suas mãos apertaram meu quadril e percebi o que estava


fazendo. Afastei-me dele e vi seu olhar de desejo para mim. Não era
momento disso, por mais que meu ventre tenha se contraído em
apreço de um repeteco.
— Júlio está dormindo — ele falou sedutor.

— Há quanto tempo? — perguntei sem acreditar que estava


viabilizando o momento. Eu não tinha acabado de pensar que não
deveria seguir em frente? Pelo visto, minha libido tinha mais poder
sobre mim que a razão.

— Vinte minutos. Está no meu quarto, assistíamos um


desenho de aviões. — Envolveu minha cintura com seu braço e me
trouxe próximo dele. — Posso fechar a porta?

— Seja rápido — sussurrei e ele o fez, me deixando


brevemente e voltando para segurar minha nuca e trazer minha
boca para a dele.

As línguas se encontraram rapidamente, meu desejo se


ampliou e toda a preocupação de antes foi colocada de lado para
me dar um momento de alívio. Sabia do poder de James e o quanto
ele poderia me fazer bem.

Interrompeu o beijo só para olhar para os lados.

— Em cima daquele armário — apontei por cima do ombro o


lugar que achei o bloco de notas e ele não hesitou, me levou até o
lugar, tirou o que restava em cima para o chão e me colocou
sentada nele, nos deixando na altura perfeita para o que tínhamos
em mente.

Será que era assim que os pais de crianças pequenas


faziam? A cada sono era uma busca de resgatar o homem e mulher
que existia em nós? Sorri por ter o vislumbre do que seria uma
família, olhando em seus olhos e percebendo que ele parecia sentir
o mesmo.

Ele desabotoou meu short e o tirou, junto com a calcinha e


quando chegou aos meus pés, fez o mesmo com a sapatilha que
estava lá. Sua mão me estimulou e James parecia mais do que
satisfeito em me estimular com os dedos, me tocando da forma mais
íntima.

— Eu lhe fiz uma promessa — falou com rouquidão


enquanto com a outra mão erguia minha blusa para tocar meus
seios.

— Qual? — perguntei confusa e abrindo ainda mais minhas


pernas.

— Vou te deixar molhada e você não sentirá dor. —


Ajoelhou na minha frente e me tomou com a boca cheia de saliva. A
mescla das minhas sensações com a umidade excessiva me fez
gemer de antecipação.

Que ele cumprisse essa promessa todas as vezes que


transássemos, porque não tinha nada contra.

Com sua língua me estimulou onde mais precisava e seus


dedos me penetraram, tocaram meu ponto G e me fizeram gozar
sem muita dificuldade. Quando achei que iria parar, ele continuou,
me fazendo contorcer.

Pediria para parar ou continuar? A dúvida era tanta, que


apenas gemi ainda mais e encontrei meu clímax novamente,
sentindo a pressão e o inchaço do seu sexo como nunca.

A cabeça foi para a parede onde o móvel era apoiado e


meus olhos se fecharam para aproveitar o último momento da sua
boca em mim. Se ele queria me fazer apaixonar pelos seus dotes
sexuais, estava executando um ótimo trabalho.

— Porra — resmungou e despertei na hora, o encarando


assustada. — Não tem camisinha aqui. — Ele abriu o short e
mostrou seu membro já com o líquido pré-sêmen saindo dele. —
Preciso estar dentro de você.

Estava na ponta da língua ser imprudente, ainda mais por


usar o DIU e não me preocupar com uma nova gestação, mas ele
tinha uma ex recente, isso me dava dúvidas.

Sua testa se apoiou no meu ombro e frustrado começou a


se masturbar.

— Espera. — Tentei impedi-lo ou mesmo fazer por ele o que


fez em mim.

— Está tudo bem se você me disser que haverá uma


próxima vez — falou com sofrimento e prazer, uma mistura
alucinante que chegou até o meu peito e causou um rebuliço dentro
de mim.

Peguei seu rosto com minhas mãos e seu olhar


semicerrado, boca aberta e vulnerabilidade me aqueceram.

— Nunca transei sem camisinha — confessou com a mão


em movimento frenético para cima e para baixo. — Flaví, eu sonhei
tanto tempo com você antes de finalmente conseguir te esquecer.

Minha respiração começou a acelerar, numa tentativa de


acompanhá-lo. Mesmo com dois orgasmos, eu já estava latejando
internamente por ele. Era muita intimidade dita por James em
poucas palavras.

— Você me esqueceu? — Não havia ressentimento, até


porque, eu tinha visto o exame na sua gaveta, nossa conexão foi
interrompida por obrigação, mas apenas visualmente, porque
emocionalmente, nunca aconteceu.

— Nem um fodido minuto. Bastou te ver que tudo o que


escondi de mim mesmo transbordou. — Fechou os olhos e tentou
abaixar a cabeça ao chegar próximo do seu clímax. — Porra, estou
falando demais aqui.

— Fala, James, por favor, continue falando.

Apertei sua mão que envolvia seu membro e o consegui


fazer parar. Ambos com as cabeças baixas, encarando nossos
sexos, eu o conduzi até minha entrada, mesmo com ele relutando.

— Você não precisa...

— Eu uso DIU e estou limpa, não tive ninguém depois de


você. — Sua cabeça ergueu-se com surpresa para mim e decidi me
abrir também. — Te odiei por muito tempo, James Blat e estou
cansada. Confio em você quando diz que nunca transou sem
camisinha. Vem.
Abraçou-me apertado e meteu forte na primeira vez e nas
outras também. Já estava molhada e inchada o suficiente para que
o vai e vem frenético dele fosse apenas prazeroso.

Os ecos dos sons de luxúria que fizemos tocavam minha


pele com ternura. Envolvi minhas pernas até que meus pés
conseguissem formar um gancho e o prendesse em mim para nunca
mais soltar.

Foi a primeira vez que o vi fazer esse som de exaustão e


prazer ao mesmo tempo. Senti seu pau latejar e o sêmen me
preencher como se fosse o ápice da minha própria satisfação
sexual.

Aumentei meu agarre quando ele suspirou e me abraçou


forte. Parecia que não queria me soltar, porque senão, eu fugiria e
não teríamos mais nada.

— Eu quero tentar, Flaviane — falou baixo e finalmente me


soltou, provocando medo ao perdê-lo. — Eu e você, com Júlio, eu
quero tentar.

— Te... tentar como? — Meu peito subia e descia afoito. —


Uma família? — murmurei e ele acenou afirmativo. Parecia ser
demais para ele também, por isso o trouxe de volta para os meus
braços, fechei os olhos e suspirei.

Seria o certo ou uma armadilha?


Capítulo 26

— Podemos fazer isso quando eu não for uma ameaça,


inclusive, para você? — questionou sem força quando me soltou do
abraço e saiu de cima do móvel. Suas pernas se fecharam e a
careta que fez poderia ter arrancado um sorriso do meu rosto, se
não fosse a rejeição que ela estava prestes a me ofertar.

— Quero estar na vida do meu filho, dar a ele o que não tive
e também, estar com você. — Dei passos para trás e abri a porta do
banheiro. — Tentar, Flaví.

— O problema de tentar é a falha eminente, James. Não


estou com estrutura psicológica para lidar com isso. — Ela abaixou
para pegar seu short e calcinha e foi até o banheiro, para minha
felicidade, não fechou a porta.

Observei-a se limpar e usá-lo, percebendo o pânico se


formando dentro de mim por conta de tamanha intimidade. Eu já
tinha revelado muito, transado sem camisinha pela primeira vez,
agora, eu queria todo o resto.

— Vai se limpar ou ficar assim? — perguntou se ajeitando e


colocando as mãos na cintura. — Tentar é isso, James. Me ver
usando o banheiro, lidar com minhas estrias e imperfeições, e pior, o
meu humor quando estou cansada e só quero dormir.
Caminhou até ficar de frente para mim e empinou o nariz
para me desafiar.

Se eu queria tudo isso? Estava assustado pra caralho, mas


sim. Da mesma forma que me arrisquei saindo da sociedade da JB
para construir uma nova empresa, eu queria lidar com um
relacionamento entre homem e mulher; pai, mãe e filho.

— Foi o que pensei. — Ela se afastou e se sentou na


cadeira em frente ao seu notebook com indiferença fingida.

— Não responda por mim — falei irado, entrei no banheiro e


fui me limpar para continuar essa conversa.

— O silêncio é uma forma de responder também. Com seu


jeito fechadão, Batman, meia palavra basta.

Bufei com sarcasmo, afinal, ela demonstrou insegurança


com a minha proposta tanto quanto eu estava sentindo. Estava tudo
bem, a página que estávamos era a mesma, então, só seguiria o
fluxo e aos poucos a faria acreditar em mim.

— Estou indo bem com Júlio? — perguntei quando voltei


para a sala e abri a porta, colocando a cabeça para fora e buscando
algum barulho.

— Mesmo que não fosse, está nítido o quanto quer fazer dar
certo, James. Ele merece.

Voltei para a mesa que iríamos compartilhar para o trabalho,


sem que ela ainda tivesse aprovado e a encarei com mistério. Seu
olhar não desviou do meu e alcancei algo que me interessou muito.
Ela me admirava e estava satisfeita. Menos uma coisa para me
preocupar.

— E o e-mail que você recuperou? O que era? — perguntei


voltando minha atenção para seu notebook. Arrastei minha cadeira
para o seu lado e ela se abraçou preocupada.

— Não me lembro de ter escrito isso — sussurrou e meus


olhos foram para o conteúdo dele.

Querida irmã,

Já escrevi e apaguei várias vezes esse texto, mas não tinha


outra forma de me comunicar com você de forma segura. Espero
que o leia o quanto antes, você sempre foi organizada, tenho
certeza de que verá o item no rascunho e o lerá.

Tem dinheiro debaixo do colchão de Julinho, o suficiente


para que você consiga viver por um tempo em outro lugar, de
preferência, outra cidade. Use apenas dinheiro, sem rastros.
Coloquei-nos em perigo e nunca poderei me perdoar por isso.

Fiz algo que não me orgulho, nossos pais nunca mais me


aceitarão como filha. No primeiro momento achei que era algo
banal, que não faria diferença, mas no momento que me dei conta,
já não tinha mais como voltar atrás, minha vida estava em risco e a
de vocês também.

Não pedirei desculpas, porque não quero o seu perdão, não


o mereço.
Estou segura. Quando eu conseguir arrumar a merda que
fiz, eu te acharei e então, me desculparei como se deve.

Te amo e ao meu sobrinho lindo, você é a mãe que eu


queria ter tido, que nós deveríamos ter. Pensarei em vocês todos os
dias.

PS: mude as senhas de todos os seus cadastros na internet


para uma mais forte, com letras maiúsculas, minúsculas, números e
caracteres especiais.

— É sua irmã? — perguntei e a puxei para o meu colo


quando a vi mergulhada em lágrimas. Ela veio de bom grado, se
aninhou em mim e fungou.

— Por quê? — questionou soluçando. — O que ela fez?

— A resposta está em Dante Mercy, Flaví. — Alisei seus


braços, suas costas e ela foi se acalmando.

— Se o que esse homem falou é verdade, então, Cristiane


roubou e me colocou no meio. Como ela achou que não faria falta
ou que era banal? — Ergueu-se para me encarar. — Roubo é roubo,
desde um giz de cera a dez milhões.

— O que nos leva de volta ao dono do Banco Mercy. —


Coloquei a mão na sua cabeça e a fiz deitar-se no meu peito. —
Consegui o contato com alguém de confiança da polícia para nos
ajudar.
— Ele falou que não era para os envolver! — Saiu do meu
colo apressada e começou a andar de um lado para o outro. — E se
ele souber e vier pegar Julinho?

Parou de andar como se tivesse tido uma ideia e saiu da


sala apressada. Fiquei olhando para a porta e ela logo retornou,
suspirando aliviada.

— Foi atrás do quê?

— Júlio. Ele acordou e foi direto para a cozinha, está


fazendo bolo com dona Clotilde. — Colocou a mão na cintura e
outra na cabeça caminhando na minha direção. Realmente, seu
ouvido era biônico, eu não tinha escutado nada. — Apesar de ter
brigado com você por envolver a polícia, não tem outra forma, não é
mesmo? — Encarou-me preocupada.

— Na verdade, iremos fazer da nossa forma, o que nos leva


a isso aqui. — Voltei minha cadeira atrás da mesa e apontei para
tudo o que estava ao nosso redor. — A ideia pode parecer um
pouco utópica, ainda mais para você, que lidou com muito texto
jornalístico sobre política. O que quero é resgatar a imparcialidade,
trazer a verdade para que o leitor possa ter o senso crítico de
escolher o que ele acha certo ou errado, se realmente for
necessário julgar.

— Você realmente vai abrir outra empresa de notícias? Vai


concorrer com a JB?

— A mídia digital tem o objetivo de dar mais informação e


também, de confundir o usuário. Estamos na era da Fake News e
dos sites que provam o contrário. Seremos concorrentes, claro, mas
nunca rivais. Você não impedirá uma pessoa de ler a mesma notícia
em vários sites. O nosso atrativo será esse, a imparcialidade e se
for o caso, contar os dois lados da moeda.

— Ousado — falou de forma analítica, seus braços se


soltaram e sua cabeça balançou de um lado para o outro. — Parece
até que você sabe meu ponto fraco — resmungou segurando o
sorriso.

— Sei? — Levantei-me de forma predatória e mostrei a


minha melhor encarada perigosa.

— A verdade a qualquer custo. É a qualidade que me


destaca e o pior dos meus defeitos também. — Deu um passo para
trás fingindo intimidação e continuei avançando. — Júlio está
acordado e precisamos focar em Dante Mercy.

— U-hum — respondi expondo meu sorriso satisfeito ao vê-


la contra a parede. Peguei suas mãos, entrelacei meus dedos e as
ergui acima da sua cabeça para que ficasse rendida nos meus
termos.

Sua respiração acelerou e um pouco da tristeza que existia


nela foi embora quando aproximei minha boca da sua.

— É só um beijo — falei sedutor.

— Com você nunca é apenas um toque, James Blat.

Estava muito satisfeito em tomar conhecimento de que ela


sabia disso. Mas, como sua mente ainda criava alguma restrição
entre nós, em TENTAR, eu lhe mostraria a todo momento que
conseguiria.

Se eu tinha a possibilidade de ter uma família com pessoas


incríveis, com quem me conectava e sentia-me bem, além de
escrever uma nova história profissional, eu não desistiria tão fácil,
mesmo que eu tivesse que abrir minha boca e falar sobre mim, algo
que odiava.

Era para um bem maior.


Capítulo 27

Foram dias maravilhosos dentro de casa com um homem


motivado e uma criança altiva. Deixei um pouco minhas indiferenças
e rancores de lado e aproveitei o momento, até porque, minha
mente jornalística estava em ação, tudo o que poderia pensar era
em trabalho.

Como amava minha profissão de graduação, muito mais do


que os relatórios que fazia para apoiar minha irmã, eu me sentia
bem. Cristiane nunca saía das minhas orações já que não
conseguia pensar em uma forma de encontrá-la.

James saiu duas vezes de casa para ir até a JB Notícias


assinar alguns papéis para finalmente se desligar daquele lugar.
Toda vez que voltava, ele parecia exausto, como se lutasse um
torneio o dia inteiro e só havia ficado fora poucas horas.

Ele não desabafava ou contava como foi, se resumia a: está


acabando, tome um banho comigo.

Nossa vida pessoal estava bem ativa. Para nós, por mais
que tivéssemos um filho, era início de namoro, descobertas sobre
nossos prazeres e o quanto ficávamos bem juntos.

Eu não dormia na sua cama, mas todo dia de manhã ele nos
acordava depois de fazer seus exercícios matinais. Descobri que
existia uma mini academia nos fundos e que eu também poderia
usar a qualquer hora, mas minha mente só pensava em estruturar o
site da Imparcial Notícias e criar conteúdo. Era muito trabalho para
uma pessoa só, mas estávamos em duas, James também era um
bom jornalista, não tinha medo de pôr a mão na massa.

Fazendo o que eu gostava e ajudando o homem que me


acolheu e protegeu, não me sentia tão fardo. Estávamos juntos,
mesmo que eu estivesse recuando quando falou sobre tentar. Céus,
eu queria que desse certo de uma vez e fosse perfeito e não ter a
sombra da derrota ao nosso lado.

Era estranho pensar assim, mas lidar com James era fácil.
O perfeito equilíbrio entre falar demais e de menos, a exposição
sem medo e o reservado. Ele não me cobrava nada e nem eu a ele,
agíamos conforme nossos instintos e estava até mais fácil falar
nosso filho.

Se estivesse sonhando, que o tombo não fosse muito duro


quando caísse no chão.

— Mamãe, quero a cama do papai — Júlio resmungou


assim que me deitei ao seu lado depois de um dia exaustivo de
pesquisas e conversa com o policial de confiança de James. O
movimento para que Mercy me tirasse de ser seu alvo havia
começado e claro, renderia uma ótima reportagem dependendo do
resultado.

— Nossa cama é aqui, filho. — Abracei-o e ele se


desvencilhou.
— Vou dormir com papai — decretou e saiu da cama antes
que conseguisse impedi-lo. Apressado, abriu a porta e correu
quando me viu levantar.

Poderia apenas deixar os dois juntos, já aconteceu outras


vezes, mas durante a tarde. Caminhei sonolenta até o quarto dele e
os vi deitados assistindo televisão. A cena era linda, pai e filho, o
menor a miniversão do maior e precisei de um momento para gravar
na minha mente.

— Vem — James me chamou e mordi o lábio hesitante.

— Vem, mamãe. Não perde! — O rapazinho mais esperto


do mundo saiu da cama para pegar na minha mão, me arrastar e
juntar com a mão de James. — Não perde — falou satisfeito, voltou
a deitar sobre o braço do pai e encarei o homem que estava
conseguindo invadir minha vida, começando pela parte mais difícil,
meu coração.

— Não perde — sussurrou trazendo minha mão para sua


boca e me fazendo cair deitada na cama.

Rendida, ajeitei-me como dava e ficamos nós três assistindo


desenho até que Júlio dormiu. Virei para o lado e encarei nossas
mãos que não se desgrudaram e depois seu rosto. Ele fez o mesmo
e acreditava que diria algo pessoal ou mesmo faria uma declaração,
mas desligou a televisão e sussurrou:

— Boa noite.
— Boa noite — respondi seca, mais pela indignação de mim
mesma do que dele.

Seus lábios tocaram meus dedos novamente e depois


cessaram, me induzindo a dormir. Que fosse feita a sua vontade,
precisava me obrigar a curtir o bom momento que estava tendo
sendo uma família. Ponto.

Para corroborar meus sentimentos de antes de dormir,


acordei com Júlio querendo abrir meus olhos e depois com um beijo
na testa de James.

— Olha quem abriu os olhos — o homem falou e meu filho


pulou animado entre mim e ele.

— Sua cama é boa — falei me espreguiçando e finalmente


me soltando da sua mão. Dormimos unidos?

— Quando acordou, Júlio trouxe sua mão para a minha, não


perde. — Piscou um olho e ergueu o menino, que já estava pulando
na cama. — Quem é o Super-homem?

— Eu! — gritou animado.

— Vem na academia comigo agora de manhã? — convidou


com um brilho nos olhos.

— Júlio está acordado e querendo a atenção dos pais —


repreendi em tom de brincadeira.

— Vamos tomar café da manhã, Super-homem. O Batman


está com fome.
— Qué suco de laranja! — Pediu e os dois saíram do quarto,
me deixando sozinha. Aproveitei para curtir um pouco mais as
acomodações, minha mente foi para a academia e tudo o que
poderíamos fazer antes de mergulharmos no trabalho e
esquecermos da vida. Corri para o meu quarto, tomando um banho
rápido e colocando uma roupa leve para me exercitar.

Cheguei na sala de jantar, onde os dois terminavam de


tomar café da manhã e o sorriso satisfeito de James me aqueceu
ainda mais.

— Olha, Super-homem. A Mulher-Maravilha está pronta


para o combate. — Sentei-me à mesa revirando os olhos e James
complementou depois do risinho divertido de Júlio. — Mas vamos
dar atenção para o filhão primeiro.

Olhei-o com raiva, segurando a faca e ele riu de mim,


levando nosso filho a acompanhá-lo. O pequeno não sabia das
segundas intenções das palavras ditas, mas eu sim e estava
tomando do meu próprio veneno.

— Eu sou rancorosa — declarei passando geleia na torrada


com fúria.

— Ah, sei bem sobre isso — respondeu com mais diversão


ainda e fechei a cara indignada.

— Mamãe, xixi — Julinho pediu e no meio da minha refeição


tive que largar tudo e atendê-lo, por mais que James tenha se
voluntariado.
— Ele pediu a mim.

Era bobo da minha parte, sabia, mas fazia todo sentido


quando imaginava o que poderia acontecer conosco naquela
academia. Seria a primeira vez que me permitiria fazer algo
extravagante com Júlio acordado. Dona Clotilde cuidava bem do
meu menino sempre, a confiança de deixá-lo ter seu tempo para
que eu tivesse o meu me dava forças.

Que desse certo, meu Deus, porque o tentar estava sendo


bom demais.
Capítulo 28

Voltei para a sala de jantar depois de muito tempo


procrastinando no meu quarto. Aproveitei para dar um banho em
Júlio, já que tinha sujado a roupa com um pouco de xixi. O menino
segurava até o último minuto para fazer, tinha que ter muita
paciência.

— Onde está James? — perguntei para dona Clotilde, que


já empurrou uma cadeira ao seu lado e atraiu meu filho para si. —
Meu Deus, ele já se acha o dono da cozinha.

— Faremos biscoitinhos em formato de avião, o que acha


Júlio? — perguntou para o menino.

— Eba! — Ergueu os braços animado.

— Na academia, Flaví. Eu cuido dele — Clô me dispensou e


precisei de um tempo para acalmar a vermelhidão no meu rosto.
Será que ela sabia nossa intenção? O que James falou para ela
afinal?

Caminhei pelo quintal e cheguei na academia. O barulho de


metal batendo metal atiçou meu sangue e nem sabia explicar o
motivo.

Havia um grande espelho do teto ao chão em uma das


paredes. O ar condicionado estava ligado e as janelas fechadas,
deixando apenas a luz interna para iluminar.

— Com segundas intenções, James Blat? — questionei


fechando a porta atrás de mim e seguindo até ele, que puxava uma
barra até a nuca e soltava, com seriedade.

— Comece na esteira, eu já vou te alcançar — ordenou sem


parar os movimentos que fazia.

Coloquei a mão na barra da minha blusa e chamei sua


atenção. Iria ficar apenas de top esportivo para ele, mesmo que a
confiança no meu corpo não existisse mais.

— Tire — pediu mais brando e caminhei até a esteira com


nervosismo. Não só seu olhar estaria em minha direção, mas o meu
próprio e o espelho. Era demais para mim no momento. — Percebi
que existe um pouco de vergonha.

— Meu corpo mudou e está difícil voltar ao que era, ainda


mais com tanta coisa gostosa que Clotilde faz — falei apressada,
olhei para o painel da esteira e encontrei o botão de ligar.

— Tire. — Soltou a barra sem cuidado ecoando o barulho


forte do metal com metal. Ele tirou a própria camiseta regata e
revirei os olhos ao ver seu corpo esculpido.

— Se a intenção era me estimular, fez o contrário. Eu


carreguei um filho por 39 semanas.

— Por isso mesmo que não deveria ter vergonha. — Voltou


a puxar o peso e me encarar pelo espelho. Sua visão sobre mim era
tão... digna. — As celulites e estrias formam a palavra gostosa em
braile.

— Essa é antiga. — Comecei a caminhar na esteira e olhei


para baixo. — Obrigada pelo momento motivacional, mas esse tipo
de liberdade eu só consigo quando vamos fazer sexo.

— Faremos, se você tirar a roupa.

Meu corpo inteiro se arrepiou e tive que seguir seu comando


mesmo que ainda não estivesse pronta. Aumentei a velocidade da
caminhada e foquei nele ao invés de mim.

Levantou-se do aparelho que estava e se sentou em outro,


para o abrir e fechar das pernas. Ele não disse mais nada e nem
precisava, porque eu via no seu olhar e no seu corpo, cujo short não
escondia sua evidente excitação.

Ficamos nessa preliminar por alguns minutos, até que ele


seguiu para erguer a barra com pesos enormes do lado. Ele se
deitou e perdeu sua visão de mim. Parei a esteira e caminhei até
aonde ele estava, determinada. Tirei meu tênis no caminho,
ajoelhei-me entre suas pernas e ele escorou o peso no aparelho.

— Flaví? — perguntou com rouquidão.

— Vou aumentar a pressão, vamos ver se dará conta —


falei ousada, abaixei seu short apenas para tirar o pênis ereto de
dentro. Movimentei-me para cima e para baixo antes de colocar a
boca e vê-lo ofegar.
Ele demorou um tempo para voltar a pegar a barra. Com
certeza era distração demais, porque abaixou e subiu duas vezes e
largou.

— Nossa, porra, eu vou gozar.

— Ainda não — decretei me afastando e tirando minha


legging e calcinha. Dessa forma, com tanta luz e sua atenção, ele
me veria por completo. — Você ainda pode desistir.

— Nem que eu tiver que fechar outra empresa e abrir uma


nova — declarou esticando a mão na minha direção, eu a segurei,
montei seu quadril e retirei o top esportivo. Nua por completo, na
posição que mais tinha prazer. — Eu... — Ele diria algo importante e
hesitou, ainda mais quando alinhei seu pau na minha entrada e o
mergulhei em mim.

Seus olhos fecharam e suas mãos apertaram meus seios


enquanto eu subia e descia apoiada apenas nas pernas. Quando
me faltou força, coloquei minhas mãos no seu tórax e ele desceu as
suas para a minha bunda, abrindo os olhos e sorrindo satisfeito.

Esfreguei uma vez e senti as melhores das sensações.


Sensível e quase no ápice, fui acelerando os movimentos de vai e
vem para me esfregar e alcançar o prazer.

Seu dedo encontrou meu buraco proibido e não me


intimidei, ainda mais quando gemeu satisfeito.

— Eu quero você aqui — praticamente implorou.


— No nosso casamento — respondi por impulso e lhe tomei
a boca para esconder meu constrangimento.

Ele me ajudou a continuar a dinâmica, agora que estava


deitada em cima dele. Tomou meus pulsos e colocou minhas mãos
apoiadas na barra em cima de nós para continuar.

Foi demais seu olhar para mim, gozei entregue ao meu


prazer e o senti me acompanhar quando apertou minha bunda e
ergueu o quadril um pouco mais para ficar na posição ideal.

Cedi sobre ele e suas mãos acariciaram minhas costas com


carinho. Estávamos ofegantes e conectados demais.

Gemeu quando me afastei e o tirei de dentro de mim.


Mesmo com minhas pernas bambas, segui para o banheiro e liguei
a ducha fria para me acalmar.

De onde tirei que daria meu cu no casamento?

— Flaví, está tudo bem? — perguntou entrando debaixo da


ducha comigo, já nu.

— Sim, foi intenso. — Beijei-lhe a boca voltei minha atenção


para o sabonete. — O policial vai vir hoje também?

— Não mude de assunto, fale comigo. — Virou-me e tentei


controlar minha língua de soltar tudo atropelado.

— Eu falei, sua vez de falar.

— Você quer tentar? — perguntou esperançoso e


mostrando fragilidade, algo que já havia percebido que ele odiava.
— Porra, sim, eu quero me casar com você.

— James, não foi um pedido de casamento. — Arrependi-


me assim que o vi se virar e sair do banheiro. — Não, espere!

— O que você quer de mim, então? — questionou alterado,


jogando os braços para o ar. — Para pai eu sirvo, lhe dar uma casa
e trabalho também, mas homem é só isso? Sexo?

— Eu falei merda e assumo — apressei-me a esticar os


braços tentando me aproximar. — Gosto de você, James. Irracional
e de certa forma, parece que estou traindo a Flaviane de três anos
atrás, que foi rechaçada quando mais precisou.

— Não perde! — Pegou minha mão na sua e ergueu na


altura dos nossos olhos, o ato que meu filho fazia para nos unir. —
Entende o que isso quer dizer?

— Eu falei que você tinha se perdido de nós, igual quando


ele não segurava minha mão. Ele não quer que você se afaste, é
isso. — Ele quis se soltar, estava clara a insatisfação com minha
resposta e me desesperei. — Caramba, James, o que quer de mim?
Sou impulsiva, tenho um filho para criar e morro de medo de passar
pelo que passei novamente. Acha que é fácil apagar o passado?
Também tenho medo do futuro! Eu confiava na minha irmã, que era
sangue do meu sangue e tão parecida com você, tão fechada. —
Deixei as lágrimas escorrerem e ele se compadeceu, me trouxe
para próximo e nos abraçamos. — Você quer e está tentando, mas
com tanto assunto inacabado na minha vida, tenho medo de que
eles encerrem junto com o que sinto por você, por nós três. Ontem à
noite foi perfeito. — Solucei.
— Eu entendi, eu entendi.

Alisou meu cabelo enquanto eu me permitia chorar. Ainda


abraçados, ele me ergueu com o braço na minha cintura, nos levou
para debaixo da ducha e assim ficamos por um tempo, mesmo
depois de ter me acalmado. Era bom estar com ele, por isso o medo
de confiar e perder.

— Não queria apenas tentar, James. — Ergui a cabeça e saí


debaixo da ducha. — Quero que dê certo. Pelo Júlio e
principalmente por mim.

— Não perde. — Pegou minha mão e trouxe até sua boca


para deixar um beijo. Senti como se fossem as palavras: eu te amo,
por isso, repeti:

— Não perde.

— Quando o medo dominar, pense que temos um filho que


impedirá que nos separemos. No momento que o pânico quiser
aparecer, lembre-se de que seu nome está no contrato social da
nossa empresa, Imparcial Notícias. — Arregalei os olhos
surpreendida e ele sorriu. — Estamos trabalhando juntos, certo?

— Mas eu não tenho capital para investir. É tudo seu!

— Eu tenho capital por mim e pelo nosso filho. Terei por


você também, quando aceitar. — Alisou meu rosto, meu cabelo e
não disse mais nada, até porque, nem precisava. Respeitar seu jeito
e seu espaço era um exercício diário e continuaria assim da mesma
forma que ele fazia comigo e com Júlio.
— Se demorarmos no banho, teremos que trabalhar até
mais tarde — impus em tom de brincadeira.

— Nosso chefe está com sua mulher em um momento


comprometedor. — Ele me pegou pelas pernas, me ergueu e
colocou contra a parede. — Vamos aproveitar um pouco mais, vai
valer à pena compensar de noite.

Envolvi minhas pernas na sua cintura e o abracei, pronta


para mais uma rodada de prazer e cumplicidade. Nunca pensei que
trabalhar juntos, morar juntos e sermos uma família poderia ser mais
acolhedor do que sufocante.

Ofegantes como deveríamos estar na malhação, precisamos


de outro banho depois de gozarmos pela segunda vez no dia.

E contando.
Capítulo 29

Estava tudo muito tranquilo e deveria ter percebido que algo


estava prestes a acontecer. Focados em trabalhar e manter a família
a salvo até que os procedimentos da polícia contra Dante Mercy
começassem, esqueci-me da minha mãe ou mesmo da JB Notícias.

Para que pensar no lado de fora de casa se todos que


estavam dentro eram os mais importantes?

— Senhor. — Clotilde bateu à porta do escritório com Júlio


ao seu lado, que correu na direção da mãe e pediu colo. — Dona
Marlene está no portão.

— Sua mãe? — Flaví perguntou e abraçou o filho, que já


esperneava para se afastar.

— Sim, mas não a convidei — respondi seco e me levantei.


— Fiquem aqui, vou falar com ela. — Dona Clotilde se afastou e
minha mulher segurou a minha mão.

— Não me importo de falar com ela, seria bom mostrar o


neto. — Fiz uma careta e ela se levantou indignada. — Você não
falou de nós para ela? É sua mãe!

— Papai! — Júlio se jogou para mim e ela o entregou


contrariada.

— Não é nada disso que está pensando.


— Uma coisa é nos proteger aqui na sua casa, outra é nos
esconder do mundo. Qual a vergonha de estar comigo e seu filho?
— exigiu uma explicação e a única que tinha condições de lhe dar
era segurar seu queixo e beijar sua boca.

— Eca, que nojo — Júlio falou tentando nos afastar. Pelo


menos consegui acalmar a fúria de Flaví, que suavizou o olhar.

— Venham comigo, então. Se o assunto ficar muito pesado,


espero que o leve para longe. Não tivemos um bom relacionamento
nos últimos anos.

— Se o mini-James te fez ter um surto de consciência, com


certeza poderá fazer o mesmo com sua mãe... minha sogra. —
Caminhou na minha frente e me preparei para enfrentar quem não
gostaria.

Confesso, estava amando estar na minha bolha de empresa


e família ideal enquanto nossa única preocupação era Dante Mercy.
Mesmo sem poder ou uma arma, minha mãe poderia ser mais
implacável.

— Olá dona Marlene. Sou Flaviane. — Estendeu a mão para


cumprimentar e minha mãe não lhe deu atenção, estava focada em
mim e meu filho.

— Você tem um filho? — questionou surpresa e minha


mulher veio para o meu lado magoada.

— Essa é Flaviane e Júlio, minha família, o que eu tinha de


importante para falar quando estivesse mais calma — apresentei
seco. — O que veio fazer aqui?

— Tentar lhe dar um pouco de juízo, você precisa voltar para


a JB. — Minha mãe encarou tanto Júlio, que meu filho escondeu o
rosto no meu pescoço com vergonha. — Meu Deus, James, ele é a
sua cara. Por que não me contou?

— Primeiro, não vou voltar para a JB Notícias, ela é sua.


Segundo... — Hesitei, eu teria que falar muito e não estava disposto
a compartilhar além do necessário. Minha empresa era segredo por
enquanto. — Precisei de um tempo para assumir meu filho. Apenas
isso.

— E fez DNA? — questionou indignada, senti Flaví ficar


tensa do meu lado e a abracei para reconfortá-la. Não havia
necessidade de exame quando algo superior aos números e testes
reverberava em mim.

— Já tem sua resposta, mãe. Adeus. — Estiquei o braço


indicando a saída e ao contrário do sugerido, ela se sentou em uma
poltrona e suspirou.

— Por que se afastou de mim, meu filho? — Olhou para


mim e mostrou fragilidade, o que não me comovia. — Um neto,
nunca pensei que poderia ter um. Mas é necessário confirmar com
exame, por mais que o menino seja...

— A cara do pai — completou Flaví, impaciente. — Não me


importo que faça, eu mesma exigi de James no início, mas agora...
— Não faz mais sentido. Se estivéssemos casados e
houvesse um filho, ninguém exigiria um exame para comprovar a
paternidade. — Precisei externar olhando para a minha mulher. Ela
não poderia mais duvidar de mim e pelo seu semblante amoroso,
sabia que estávamos na mesma página, era minha mãe que queria
causar confusão. — Vá embora, dona Marlene.

— Falo isso para o seu bem, filho. Apesar das brigas, eu me


preocupo com você. Você foi a única coisa boa que me aconteceu
ao estar junto de Julian.

Cuidado, zelo e preocupação, nunca amor. Júlio não teria


meias palavras, ele saberia a verdade da minha boca.

— Eu te amo, filho. — Beijei sua testa e entreguei para


Flaviane, que parecia surpreendida. A intenção era que ele
soubesse o que sentia e também esfregar na cara da minha mãe o
que ela nunca me deu. — Preciso ficar sozinho com minha mãe.

— Estaremos te esperando — sussurrou tentando impedir


que Júlio voltasse para o meu colo.

Caminhei até o local mais próximo a ela do sofá, sentei-me


e a encarei com ironia. Ela até tentava mostrar emoção, mas
nenhuma lágrima escorria, era uma distância que nem ela mesma
conseguia diminuir.

— E se ela for uma oportunista, James? — perguntou baixo.

— Pare de colocar minha mulher em posição de dúvida. Ela


está comigo, definitivo. Se a senhora quiser conhecer o menino
inteligente e que adora aviões, farei uma exceção por ele, que
merece ter uma família.

— Aviões, como seu pai? — Piscou várias vezes


surpreendida. — Você também a ama? — perguntou chocada.
Inclinei a cabeça para o lado e não respondi, quem deveria saber
sobre esse sentimento, por mais que trocávamos “não perde” antes
de dormir, era minha mulher. — É muito jovem para saber o
verdadeiro sentido dessa palavra.

— E a senhora descobriu agora, depois dos 50? —


questionei irritado.

— Sim. Gostaria muito de ter a mente de hoje com a idade


que eu tive você, evitaria essas brigas e tanto tempo perdido. —
Olhou ao redor e focou nos brinquedos. — Sua casa precisa de
alguém que organize as coisas.

— Essa é uma casa onde tem uma criança de três anos que
é feliz. — Encarou-me insensível. — O que depender de mim, eu
farei para esse menino, sem pensar duas vezes.

— Então volte para a JB e dê um futuro para ele em uma


empresa séria. Está tudo desorganizado, as pessoas me perguntam
as coisas e Willis está relutando em assumir seu posto. Ele também
confia apenas em você.

— Já que está na fase de descobrir as coisas, por que não


investe em uma nova profissão? — Neguei quando esticou as mãos
para me tocar e recuou. — Você tinha tudo planejado para a minha
saída. Dessa guerra, eu desisti e não quero ter mais nada a ver.
Aceite.

— Você vai criar outra empresa — deduziu e não


demonstrei emoção, o que a irritou. — Diga alguma coisa, caramba.
Seu pai fazia a mesma cara e eu queria socar seu nariz.

— Não sou meu pai, mas sim o filho. Com você, só retribuo
o que recebo. Se estou frio e insensível, pode ter certeza de que
aprendi com a melhor.

— O melhor, seu pai que era assim — respondeu indignada.


— Eu sim demonstrei tudo o que estava ao meu alcance, nunca
escondi nada, das alegrias às insatisfações.

— Sim, também aprendi com Julian Blat, mas pelo menos,


ele me dizia o quanto estava orgulhoso de mim.

— Se formando em uma coisa e trabalhando com outra?


Isso não é sucesso, James Blat.

— É o melhor que posso fazer. Hoje não preciso mais da


sua aprovação e quem está do meu lado, COMIGO, aprova onde
estou. — Levantei-me exausto e chateado por não conseguir ter um
relacionamento normal com ela.

— Eu tentei, James. Juro que tentei ser mãe, a mulher


exemplar, aquela que seu pai amava expor nos eventos da JB, mas
não é para mim. — Ela bateu no peito, se levantou e mostrou
rancor, um tão parecido com o de Flaví que me fez refletir. — Julian
Blat me roubou tempos preciosos da minha vida, por isso eu exigi o
seu dinheiro, por isso que essa herança é apenas minha. Você
precisa entender que eu fiz demais e me anulei, mereço ser
recompensada.

— O que ele fez para você? Morreu, mãe. Segue sua vida
como estou fazendo com a minha!

— Foi o que fiz e agora não sei mais. Encontrei meu


caminho, mesmo assim me vejo perdida. A vida não é tão fácil como
você a pinta. — Jogou os braços para o ar, olhou ao redor e bufou.
— Não deveria ter vindo, você não vai me ajudar. Tão egoísta
quanto seu pai, sou apenas um empecilho para que você olhe
apenas para seus problemas.

— A JB é assunto encerrado para mim — respondi seco e


ela me encarou amargurada. — A outra proposta está de pé.

— Qual?

— Conhecer meu filho, seu neto.

Parecia que tinha lhe dado um tapa na cara, virou as costas


e saiu batendo a porta da frente. Fui até a cozinha e pedi para
Clotilde preparar um lanche para nós, porque o dia tinha sido
encerrado, não tinha cabeça para nada que não fosse estar com
minha família.

— Está tudo bem? — Flaví perguntou deitada na minha


cama com meu filho, assistindo televisão. Não, era nossa cama,
com NOSSO filho.
— Clotilde servirá um lanche, o expediente acabou. —
Troquei minha seriedade por um sorriso, fui até Júlio e brinquei com
seu pé.

— Para, pai.

— Enquanto você sorrir, meu filho, parar será a última coisa


que farei. — Tirei os sapatos, deitei-me ao lado dos dois e trouxe a
boca da minha mulher para encerrar o assunto pesado do dia.

Ou melhor, família nunca encerrava o assunto, apenas


abrandava.
Capítulo 30

Sem James, a JB não era a mesma e com certeza quebrará


em minhas mãos. Assumi um cargo com o qual não me identificava.
Ser chefe da redação foi o que sempre me deu satisfação, mas
diretor geral, praticamente um dos sócios, mexendo com burocracia
e briga de família, não era para mim.

Tinha que reconhecer, eu busquei isso quando resolvi tudo à


minha maneira. Vi uma oportunidade para a MB News alavancar e
fui atrás, sem me importar com os meios utilizados, já que o fim
seria a melhor, JB comprando a empresa que eu trabalhava.

Meu amigo de infância James era competente e bem-


sucedido. Admirava-o desde a época do colégio e quando seguimos
caminhos diferentes na graduação, eu com jornalismo e ele com
administração, pensava em como nos unir novamente.
Precisávamos estar juntos.

O contato entre nós diminuiu, mas sempre insisti que não se


rompesse. Acompanhei meu amigo se tornando um empresário do
mesmo ramo de negócio que o meu e meus olhos brilharam. Era o
momento de agir e com imprudência, comecei a ceder informações
sobre matérias exclusivas da MB News para um concorrente. Isso
amenizaria o impacto da publicação e não traria o retorno esperado,
ou seja, MB andaria mal das pernas e precisaria de ajuda.
Com a empresa em baixa, ela seria um alvo perfeito para
que outra a comprasse. Claro que intermediei tudo com James e
convenci Marcio, o diretor naquela época, a comprar a minha ideia
de criar uma poderosa empresa de mídia digital. Ainda existiam
revistas mensais, mas não tinha o mesmo retorno que o site da MB
News, que se tornou uma só com a JB Notícias.

Em busca do meu objetivo, pisei em quem precisava e


atropelei quem se mantinha no meu caminho, no caso, Flaviane
Castro, que se mostrava cada dia mais uma mente brilhante e
empreendedora. Senti-me ameaçado, tentei fazer com que ela
pedisse as contas por várias vezes, mostrando meu lado mais
crítico e egoísta.

A jornalista tinha fibra e aturou por muito tempo. Ela não


poderia estar por perto quando eu conseguisse fazer parte da
equipe de James Blat.

Esse dia veio de surpresa, quando ela entregou um pedido


de demissão por escrito. Estava tão eufórico que nem perguntei o
motivo, só se ela cumpriria o aviso prévio até que eu encontrasse
outra pessoa para ocupar o seu lugar.

Aquela festa de confraternização para comemorar a


transição das empresas não foi feita para ela e me irritou,
profundamente, que tenha aparecido e demonstrado clareza em
querer me irritar. Surpreendeu-me ainda mais quando se jogou nos
braços do meu amigo, aquele que deveria estar do meu lado por ter
lhe dado uma empresa de bandeja para somar com a sua.
Tentei me consolar ao lembrar que James Blat não
namorava ou mesmo se relacionava com as pessoas. Fechado e
profissional, eu era seu único amigo e sabia mais dele do que ele
mesmo. Bem, pelo menos, até alguns dias atrás, quando entregou
sua parte para dona Marlene e me abandonou.

Ingrato do caralho, ele me deixou na mão e o motivo, aquela


que desprezei no passado, a jornalista que se destacava demais.
Flaviane era uma ameaça para todos na empresa, agora, mais do
que nunca com uma criança no colo.

Tudo isso passou pela minha mente enquanto Marlene se


lamentava depois de uma visita na casa do filho. Ressentido, não
liguei para James e nem fui atrás dele, era sua vez de fazer algo
para nos aproximar, estava cansado demais de ser o único a mover
montanhas para ficarmos juntos.

Eu o sentia como um irmão e a mulher que reclamava na


minha frente se parecia muito com a minha mãe, por isso, eu
escutava e me deixava ser o confidente. Estávamos na empresa,
final do expediente e cheio de relatórios e matérias para avaliar.

Queria ter meu cargo de volta, mas ela precisava de mim


sendo tanto quanto o filho era. Sentiria muita satisfação em poder
substituir James e excluí-lo da nossa vida, mas o vazio, só de
pensar nessa situação, era muito grande. Precisávamos estar
juntos, não aceitaria outro cenário.

— Essa mulher fez a cabeça dele, só pode. James ama


essa empresa, não poderia ter nos descartado assim sem influência
— falou indignada.
— Concordo, dona Marlene. A questão é, se a senhora não
conseguiu trazê-lo de volta, quem conseguirá?

— Karine! Ela terá que fazer o possível e o impossível para


colocá-lo comendo em suas mãos. — Bateu na mesa e ecoou pela
sala. — Contrariada ou não, ela fará o que estou mandando, é para
o nosso bem!

— Estando em casa, ainda abalada pelo término do


noivado, acha que será de alguma ajuda? — inquiri controlando o
desdém. Karine se tornou uma grande amiga e por vezes pensei
que ela traía meu amigo com alguém, ao esconder o celular em
demasia. Estava sempre atento para respaldar meu amigo, ele nem
parecia se importar.

— Ela tem que entender que o fingimento é apenas na ação


e não quando não dá certo. — Pegou a bolsa em cima da mesa de
trás e se levantou da cadeira. — Estou cansada, vou para casa e
não sei se venho amanhã. Está tudo dando errado e não há uma
alma competente para assumir esse lugar.

Um tapa doeria muito menos, com certeza. Nem me movi da


cadeira que estava, deixei que fosse embora e avaliei as
possibilidades para que o meu objetivo fosse conquistado. A minha
vida inteira eu lutei para estar ao lado de James e ele não fez nada
para retribuir. Deveria fazer uma última coisa e cobrar uma ação da
sua parte. Ele deverá abandonar Flaviane e voltar para a empresa
por mim e por tudo o que fiz para lhe ajudar, mesmo que não nunca
tenha falado.

Sempre sonhei em ser reconhecido sem me mostrar.


Suspirando, saí daquela sala e fui para a minha, aquela que
ainda não abandonei por ser chefe de redação. Enquanto via os
jornalistas indo embora a cada minuto que passava do final do
expediente, fazia o meu trabalho atrasado e pensava numa forma
de encontrar outra pessoa, de confiança, para assumir a posição
que era de James enquanto ele não voltava.

Quem sabe, com alguém no seu lugar, ele não ficasse


tentado a voltar e recuperar o que é dele?

Lembrei-me de Márcio, nosso antigo diretor e larguei tudo


para pegar meu celular. Ele nunca conseguiu um emprego tão bom
quanto o que tinha aqui, depois que pediu demissão. Não deu
muitos motivos para ter se desligado e não me importei, porque meu
foco sempre foi James.

Busquei o contato dele na minha agenda do celular e


chamei, sem pensar duas vezes. Apesar dele ter sido meu superior
no passado, sentia dentro de mim que a pessoa que realmente
mandava nessa empresa era eu. Manipulando e fazendo o que era
preciso para ter o resultado que eu queria, poderia estar em
qualquer posição hierárquica, eu que dava as cartas.

— Só um minuto — uma mulher atendeu depois de vários


toques. Que eu me lembrasse, Márcio não era casado.

— Alô? — Ele atendeu e descartei a dúvida anterior.

— Oi Márcio, é Willis, da JB Notícias.

— Como vai? — perguntou polido.


— Estou bem, precisando de você, para falar a verdade.
Está empregado?

— Continuo com os freelancers e algumas consultorias.

— Ótimo. Então venha amanhã na empresa, tenho uma


proposta para você.

— Willis... — Ele hesitou e sua forma polida demais, ainda


mais para nós que sempre tivemos mais liberdade, estava me
incomodando. — Obrigado pela oferta, mas vou declinar.

— Ah, mas você nem sabe o que tenho para falar. Sua vaga
nunca foi preenchida novamente.

— Não tenho mais perfil de diretor. Estou contente ao


trabalhar para mim mesmo. Obrigado mais uma vez.

— E quem sabe representante social? — insisti, já


pensando em tirar Karine da jogada, mesmo que Marlene
recusasse. As duas tinham cumplicidade e se defendiam na minha
frente, mas eu era o homem que acolhia as duas, elas precisavam
me obedecer.

— Olha, não tenho palavras para agradecer a confiança,


Willis, mas estou com outras ambições.

— Márcio, Márcio. Seu salário será o dobro do que recebia


aqui. Nunca entendi o motivo de ter nos deixado, mas agora,
precisamos de você. James abandonou o barco e a empresa
precisa de bons gestores. Olha a confiança que tenho em você,
revelando a situação e te colocando como salvador.
— Finalmente — murmurou e não entendi o que quis dizer,
causando uma tempestade dentro de mim. — Estou ocupado com
um trabalho aqui, Willis. Obrigado pela confiança e em acreditar no
meu trabalho, mas não é o que tenho em mente.

— Está recusando o posto mais alto da JB? Quem você


pensa que é? — explodi, sabendo que minha paciência havia
esgotado, ainda mais por saber que ele era minha única opção. —
Você precisa voltar!

— Sua obsessão com James Blat está descontrolada.


Nunca te falei isso, porque não era da minha conta, mas você
precisa de acompanhamento especializado. — Encerrei a ligação e
joguei o celular contra a parede.

Ele não entendia a minha conexão com meu melhor amigo,


aquele que me defendeu dos fortões da escola e nunca mais sofri
bullying. Não estava doente, apenas em busca de uma solução para
trazer o melhor homem para a empresa, ele também precisava do
melhor tanto quanto a JB Notícias.

Se Marlene conseguiu falar pessoalmente com James, eu


também farei.

Larguei tudo o que tinha pendente, peguei minha carteira, a


chave do carro e fui para o estacionamento da empresa
determinado a fazer tudo para convencer James Blat a voltar à sua
empresa.
Capítulo 31

Acordei assustada com o rompante de James praticamente


pulando da cama. Olhei para o quarto e senti Júlio nos meus braços,
por isso suspirei aliviada mesmo sem entender o motivo do homem
ter saído do quarto às pressas.

Era momento de comprar uma cama para Julinho, montar


seu quarto e ter uma rotina de família decente. Sabia que
esperávamos que Dante saísse da minha cola e por mais que o
dono do Banco Mercy não me tenha procurado novamente, ele
ainda era uma sombra.

Havia tanta coisa para ser feita e que nos transformasse


numa família de verdade. Mudar a certidão de nascimento de Júlio,
voltar a levar meu filho na escolinha, apresentá-lo aos meus pais...
não havia rancor suficiente que me faria recuar, ainda mais
conhecendo minha sogra no dia anterior.

Não poderia esquecer que além de tragédia, também


serviria de manchete alavancadora da Imparcial Notícias. Muito
conteúdo já havia sido criado e o site construído por nós mesmos ao
estudar uma ferramenta virtual pré-pronta. O momento era de fazer
por nossa conta, estávamos criando uma empresa com nosso
esforço.

NOSSO.
Minha irmã poderia estar aqui se não fosse sua forma
irresponsável de lidar com sua liberdade. Não sabia quais as boas
intenções de Cristiane, mas com certeza sofri com as
consequências. Bem, pelo menos um pouco, já que aquele incidente
dentro de casa, com uma arma na minha cabeça, foi crucial para
buscar James Blat.

Estiquei a mão para o criado-mudo, peguei o celular e vi as


horas ao mesmo tempo que escutei vozes alteradas. Eram pouco
mais de seis da manhã, Júlio acordaria a qualquer momento, mas
meu coração não permitiria que os acontecimentos do lado de fora
do quarto ficassem sem explicação imediata.

Acomodei meu filho para que não caísse da cama, peguei a


camisa social de James no closet e logo que abri a porta já estava
nítida a discussão e quem estava com ele.

— Vai trocar nossa amizade por uma mulher que abriu as


pernas para você em uma festa? — Reconheceria a voz de Willis
em qualquer lugar, um trauma a ser carregado sobre um chefe
azedo e mau-caráter.

Respirei fundo enquanto caminhava lentamente até a sala.

— Não venha na minha casa falar mal da minha mulher.


Você é meu amigo, mas deixará de ser se não parar de cuspir
merda.

— Ela está entre nós, você não percebe? Brigou com sua
mãe, desistiu do seu sonho, terminou com Karine... não está vendo
o quanto ela está te manipulando? — questionou alto e os dois
entraram no meu campo de visão.

Meu ex-chefe parecia que tinha dormido dentro do carro por


conta do cabelo desalinhado e a roupa amassada. Quando seu
olhar cheio de cólera encontrou o meu, ele avançou em mim e
James intercedeu se colocando à minha frente.

— Tá louco? — perguntei irada, sentindo o peso do seu


questionamento anterior cair sobre as minhas costas. Sim, por
minha causa James mudou a vida dele completamente, mas não o
obriguei, ele fez por conta própria. — O único com desvio de
conduta aqui é você.

— A culpa é minha, eu deveria ter aceitado sua demissão


sem cumprir aviso prévio. Pagar a mixaria de um mês de salário me
daria menos dor de cabeça do que te ver se prostituindo para subir
na vida — Willis deu passos para trás e James precisou me segurar
para não avançar nele.

— Vá embora. Não te recebi ontem e nem deveria ter feito


hoje. Eu não volto para a JB e o que minha mãe faz da vida é
problema dela — James usou seu tom mais cruel e apertei seu
braço para tentar me controlar.

— Tem noção que a JB vai acabar? Que todo o esforço que


você fez para conseguirmos trabalhar juntos será em vão? — Ele
parecia desolado, mas não me deixei abalar.

— Você fez tudo isso, Willis. Quantas vezes falou que seu
sonho era trabalhar comigo? Na primeira oportunidade que
encontrou, você me mostrou a MB News e aconteceu. Foi bom e
odioso ao mesmo tempo, mas é passado. Eu quero paz e se
precisar virar as costas para muitas pessoas, eu farei. — James me
abraçou mostrando com quem ficaria, o azedo parecia prestes a
explodir de indignação.

— Somos amigos! — Bateu o pé no chão com birra,


assustei-me com a percepção de que o meu ex-chefe poderia ser
apaixonado pelo meu homem ou apenas obcecado. — Ela é apenas
uma vagabunda.

— Morda sua língua ao falar da mãe do meu filho. Do jeito


que está agindo, deixaremos de ser. Exijo respeito. — O braço de
James me segurava com força, porque estava ansiando pular no
pescoço desse sem noção.

— A JB é sua, sem você ela afundará! — insistiu, acionando


meu interruptor da raiva.

— Se a empresa está afundando, é por culpa sua, desde


que a MB fornecia informações indevidas para a concorrência. —
Willis se surpreendeu e meu homem tentou me impedir de continuar
a falar me olhando com seriedade.

— Sua fofoqueira de merda, filha da puta, eu tive a melhor


das intenções!

Fui posta nas costas de James antes dele pegar o amigo


pelo colarinho e caminhar até a porta. Mesmo de pijama como eu,
não se importou de ser visto pelos vizinhos.
— Vou falar com sua mãe, você precisa me ouvir. Ela vai
tirar todo o seu dinheiro e te destruir! — berrou descontrolado, me
fazendo perder as forças nas pernas.

Sentei-me no sofá e logo Júlio veio, coçando o olhinho e


esticando os bracinhos para que eu desse colo. Mesmo chocada,
abracei-o apertado enquanto encarava a porta de entrada. Demorou
demais para que James voltasse e nem me olhasse nos olhos.

— Já volto — resmungou e Júlio quis sair do meu colo para


ir atrás do pai, mas o impedi.

Céus, será que ele levou algo em consideração? Willis


estava claramente desequilibrado e muita coisa passava pela minha
cabeça por causa dessa atitude dele. Será que ele nutria
sentimentos pelo James? Mas pelo que percebi, ele não reclamava
quando Karine estava por perto.

E se os dois fossem amantes?

— Tô cum fome — Julinho resmungou e nos levantei do


sofá para ir até a cozinha. Clotilde me encarava com preocupação e
logo tirou meu filho dos braços.

— Está tudo bem? Se precisar, eu cuido dele.

— Por favor, Clô. Ele ainda não fez xixi, vou ver James.

Ela acenou afirmativo rapidamente e me apressei a procurar


meu homem pela casa. Encontrei-o no banheiro, a fumaça que
impregnava o lugar indicava que a água estava escaldante demais
para o momento.
— James? — chamei assustando-o. Ele virou para mim e
logo desligou o registro. — Está tudo bem?

— Eu não sei — respondeu perdido, sem me encarar.


Enrolou uma toalha na cintura e me aproximei para lhe abraçar.

Doeu demais quando ele hesitou antes de retribuir o


carinho. Tentei evitar que o rancor e vários outros sentimentos que
estavam tentando enterrar ressurgissem como zumbis sedentos de
caos.

— Estou te molhando — murmurou suspirando, o alívio


também era meu.

— Fala comigo. Qualquer coisa, você não vai me magoar —


incentivei, até porque, a observação de Willis foi muito válida e não
sabia se tinha falado outras coisas antes que eu chegasse. —
Depois que voltei para a sua vida, você abriu mão de muitas coisas.

— Quando você engravidou e optou por criar Júlio sozinha,


também fez esse tipo de escolha. — Beijou minha cabeça. — Não
estou comparando ou competindo, é só que ações precisaram ser
tomadas para que eu pudesse curtir minha família. Não leve em
consideração o que ele falou, Willis está doente.

— Percebi — resmunguei inspirando seu cheiro limpo. —


Será que ele gosta de você além do normal?

— Se ele é gay? Não, Flaví, Willis apenas me tem em


autoestima, sempre foi assim e nunca me dei conta de que
ultrapassou o limite do saudável. Quando chegou aqui, a primeira
coisa que falou foi o quanto estava decepcionado comigo, pelo fato
de tê-lo deixado sozinho como na época do colégio. Parece simples,
mas isso me fez lembrar de quando começamos a nossa amizade.

— Como ele foi embora daqui? — Ergui a cabeça e ele me


beijou com suavidade, ainda estávamos abraçados, precisando do
calor um do outro.

— Exaltado demais e falando que mataria para me ter de


volta. Estou preocupado e acionei um dos seguranças da casa para
ir até minha mãe. A única pessoa que me veio à mente para ele
tentar me convencer a voltar a JB seria Júlio, você ou ela.

— Será que ele sempre foi assim? — Afastei-me e


caminhamos de mãos dadas até a cama para nos sentarmos. —
Não perde — falei cheia de carinho ao erguer nossas mãos unidas.

— Não perde. — Trouxe-a para a boca e beijou-a, nossa


forma de dizer eu te amo, mesmo que eu ainda quisesse escutar as
palavras clássicas. — Vou falar com o policial que está nos
ajudando com Dante Mercy sobre o assunto. A única coisa que me
vem à mente é psiquiatria e internação.

— Uma consulta terapêutica não mata ninguém. — Segurei


seu rosto e o beijei casto várias vezes, até que ele deitou e eu subi
em cima dele. — Posso ir com você?

— Quem ficará com Júlio? — perguntou preocupado, o que


me fez sorrir satisfeita por ele ter me aceito e estar pensando no
filho.
— Clô nos ajudará. Ela está fazendo o papel de vó com
maestria, você não acha? — Coloquei as mãos no seu peito e apoiei
meu queixo nelas. — Nunca pensei que teria isso.

— E sua mãe?

— Quarto para Júlio — ergui uma das mãos e mostrei o


dedo indicador —, entrar com processo para adicionar seu nome na
certidão de nascimento e o DNA...

— Não precisa fazer o exame — rebateu chateado e revirei


os olhos.

— Estava pesquisando, fica mais célere o processo com seu


voluntariado e o exame. Formalidades, Júlio Castro precisa do Blat
no nome.

— Júlio Blat. Gostei. — Sorriu parecendo mais aliviado do


que antes.

— Depois disso tem meus pais e o lançamento da Imparcial


Notícias. No meio do caminho, acredito que poderei negociar com
Dante Mercy e encontrar minha irmã.

— Você tem tudo planejado — atestou admirado enquanto


suas mãos passeavam pelo meu corpo.

— Sinto dentro de mim que estamos a um passo de poder ir


ao shopping sem nos preocuparmos em sermos sequestrados ou
agredidos verbalmente. Já pensou, nós três, um filme para assistir e
comer sorvete. — Seus olhos brilharam ou era apenas o reflexo dos
meus. — Eu tinha raiva desse sonho, James. Hoje, você me fez
olhar para ele de outra forma, também quero uma família, mesmo
com toda essa confusão.

— Eu vou resolver tudo.

— Nós vamos. — Procurei sua mão e apertei levando na


altura dos nossos olhos. — Não perde.

— Eu te amo — falou sem me dar chance de falar ou


processar, porque me beijou voraz, mudou nossas posições na
cama e debaixo dele, me fez esquecer tudo, mais um pouco e além.

Meu coração sabia, sentia e reverberava suas palavras por


todo o meu ser.

Ele disse que me amava.


Capítulo 32

Dona Clotilde assumiu a responsabilidade de ficar com


Julinho enquanto o segurança protegia a casa. Eu e James fomos
para a delegacia falar com o policial e acabamos envolvidos com um
delegado que parecia muito interessado no sobrenome Mercy.

Mesmo começando o assunto com os problemas familiares


e da JB, no final, voltamos para o assunto principal, Dante Mercy e
suas atividades ilícitas.

Já passava o horário do almoço e minha cabeça latejava


pela fome, mesmo assim, mantive a postura e falei o que precisava.
Tentei ocultar minha irmã e suas atividades suspeitas com
investimentos financeiros na internet, mas foi impossível

— Preciso de tudo o que vocês têm. Não posso entrar em


detalhes, mas será bom para vocês, que foram ameaçados por ele.
— O delegado me encarou de forma intimidadora. — Bandidos têm
que pagar pelos crimes que cometeram.

— Está tudo aí o que sei sobre o que minha irmã fazia —


falei chateada apontando para uma pasta recheada de papéis, que
era o processo contra Dante Mercy. — Viemos aqui em busca de
orientação com o amigo psicopata e a mãe chantagista.

— Terapia — o policial falou sério enquanto James apertava


minha mão. Olhamo-nos e não aceitei sua exigência silenciosa. Não
sabia dizer como, mas ele me incentivava a falar do e-mail escrito
por Cristiane, que nunca lhes revelei. — Minha esposa trabalha em
uma clínica, é a melhor da cidade de Orquídea do Sul.

— Duvido que algum deles irá de boa vontade. Ainda estou


esperando que meu segurança dê informações sobre Willis. —
James apertou minha mão novamente depois de terminar de falar e
suspirei derrotada.

— Tem mais uma coisa que não falei — declarei e o


delegado se mostrou atento.

— Sim, existe ainda a ex-noiva do senhor Blat. Pelo que


entendi, só o amigo e a mãe que demonstraram insatisfação — o
homem da lei apontou.

— Não disso, mas de Mercy. Minha irmã deixou um recado


no meu e-mail e — encarei Blat, que parecia orgulhoso —, temos
que ir até minha casa, pegar o dinheiro e devolver a chave para o
proprietário.

— Que dinheiro? — o delegado me perguntou.

— Aqui. — Peguei o celular, abri o aplicativo de e-mail e lhe


mostrei a mensagem. — Talvez seja esse o dinheiro de Mercy. Se
eu conseguir devolver para ele, posso me livrar das suas ameaças.

— Você não foi na casa dela ainda? — a pergunta foi feita


do superior para o policial, que disfarçou uma careta. — Vamos
colher as evidências e sinto muito, moça, esse dinheiro não poderá
ficar com você.
— Nem quero, não é meu — falei chateada pronta para me
levantar.

O celular de James tocou, prestamos atenção quando o


colocou no ouvido e mostrou espanto.

— Tudo bem, entendi. Segure as pontas, eu estou


chegando. — Encerrou a ligação e se levantou me ajudando. —
Teremos que adiar a ida até a casa de Flaví, porque Willis está
alterado na casa da minha mãe e ameaçando ela e Karine.

— O que sua ex-noiva está fazendo lá? — questionei de


forma retórica.

— Resolva isso, Correa. Assim que terminar, me ligue e


lidaremos com o processo Mercy.

— Sim, senhor — respondeu o policial, que abriu a porta da


sala e nos deixou sair primeiro.

Apressados, saímos da delegacia em direção ao


estacionamento. O policial iria na viatura com mais dois homens
enquanto nós iríamos na SUV de James.

Ele guiou com pressa, mesmo achando que estava focado


na situação atual, me surpreendeu com sua fala:

— Precisamos de cadeirinha para o carro. Júlio ainda não


pode usar apenas o cinto de segurança.

— A escola que ele estava é muito longe da sua casa,


poderíamos ver outra mais perto. — Ele me encarou rapidamente
com um misto de satisfação e preocupação. — Sei que não é
momento de planejar, mas precisamos pensar na empresa também.
Para o lançamento, nós dois seremos suficientes, mas a demanda
irá aumentar.

— Tem um prédio comercial de coworking[1]. Podemos


começar usando uma forma inovadora e mais barata.

— Imparcial, transparência e inovação. Faz parte dos


nossos valores, perfeito. — Estiquei meu braço para que minha mão
apertasse sua perna mostrando concordância e seu sorriso me
contagiou.

— Eu deveria saber que a sincera e bêbada que conheci na


festa da empresa mudaria minha vida. — Parou o carro em frente a
uma mansão.

— Demorou três anos, mas foi sim — falei antes de mostrar


a língua numa tentativa de deixar transparecer que era apenas uma
brincadeira com meu próprio rancor. Pelo retrovisor, a viatura parou
atrás de nós.

— Vamos.

Saiu do carro e fiz o mesmo, dando a volta nele e me


aproximando de James para segurar sua mão. Ele só não esmagou
meus dedos porque demonstrava que controlava a ansiedade, o que
justificou nem ter se importado com minha brincadeira anterior.

— Só iremos interferir em caso de atentado à vida, senhor


Blat. Nosso papel aqui é apenas intimidar — o policial que tínhamos
contato falou.

— Tudo bem.

Aproximando-me do portão, o responsável pela guarita


apareceu, identificou James e abriu sem protestar. Elegante e cheia
de luxo, a casa tinha um enorme quintal de frente onde carros
estavam estacionados próximos à casa. Precisamos caminhar uma
curta distância para chegar até a porta, que estava sendo guardada
por uma mulher idosa preocupada.

— Oh, James, é um horror. Um horror! — A mulher colocou


as mãos no rosto e arregalou os olhos.

— Onde eles estão?

— No escritório. Willis pegou uma faca da cozinha e está


apontando-a para dona Marlene e dona Karine. É muito preconceito,
por favor, ajude as duas, elas já passaram por muito.

— O quê? — questionei e nem consegui esperar resposta,


porque James e os policiais entraram às pressas para dentro da
casa e acabei ficando para trás.

Que Deus nos ajudasse a não terminar em tragédia o que


deveria ser apenas uma discussão calorosa.
Capítulo 33

Quando cheguei ao escritório, a cena que vi ficaria guardada


na minha mente para sempre. Willis segurava a enorme faca com
displicência estando atrás da mesa e onde dona Marlene se sentava
em uma cadeira, ainda com roupa de dormir. Ela estava chorando e
demonstrando pavor enquanto o outro parecia um lunático.

Karine estava sendo amparada por um policial, pois tinha


um braço sangrando e também estava vestindo pijama, ou seja, ela
dormiu aqui ou foi arrastada até aqui?

— Abaixe a faca, rapaz. Somos três contra você — um dos


policiais falou.

— Será que agora você vai me ouvir, James? — Willis falou


ficando atrás de Marlene, a faca não foi usada como ameaça, mas
estava na mão dele apoiada no ombro dela. — Vamos, Marlene,
convença seu filho a voltar para a JB, ou vou contar o seu
segredinho.

— Pare, Willis, você foi longe demais — ela rebateu


chorando, o homem rosnou e nos assustou.

— Esse é o último aviso. Largue a faca ou vou atirar — o


policial se posicionou mais perto e tampei a boca em choque.
Busquei James na sala, ele estava em choque apoiado na parede.
— Você pode ficar com ela até terminarmos aqui? — O
policial me entregou Karine sem que eu respondesse. A ex-noiva do
meu homem chorava e nem parecia ter me reconhecido. Quando a
toquei, ela saiu correndo em direção a Marlene, James a segurou
pela cintura.

— Me solta, ele vai matá-la! — Karine gritou e Willis revirou


os olhos, se pondo atrás de Marlene para sair da mira do policial.

— Pelo visto, sua namoradinha vai revelar o segredo antes


de você. — Willis usou o cabo da faca para empurrar o rosto de
dona Marlene. — Convença James de voltar agora!

— Eu vou, você venceu, Willis — James falou.

Os olhos do homem brilharam, Karine e Marlene choraram e


tudo fez sentido para mim de uma forma surpreendente.

Karine e Marlene tinham um caso. Como aconteceu e desde


quando, não tinha como descobrir, apenas assim. Olhei para James
e busquei reconhecimento da sua parte, mas ele tinha vestido sua
armadura indiferente e tive medo de que esses acontecimentos
pudessem mexer com ele.

— Elas traíram você, não eu, nunca serei eu — Willis falou


abaixando e colocando a faca no chão. Depois ergueu as mãos e
Karine correu até Marlene, as duas se abraçaram e me
emocionaram.

Foi então que a ficha do meu homem caiu, a raiva


transbordou e ele partiu para cima do amigo que precisava de ajuda.
Os policiais intercederam e apenas um soco foi desferido, me
deixando com o coração na mão. Não tinha comido nada, por isso
meu estômago parecia intacto com a cena.

— Cuidamos a partir daqui, senhor Blat. — O policial pegou


Willis, que se debatia enquanto era levado em minha direção.
Afastei-me da porta e ainda recebi alguns xingamentos de graça
quando meu ex-chefe me viu.

Apressei-me em abraçar James, ele retribuiu e fraquejou


tentando disfarçar. Ajudei-o a se sentar, ele me puxou para o seu
colo e enterrou sua cabeça no meu pescoço, como Júlio costumava
fazer ao sentir vergonha.

— Me desculpe, filho, não queria que descobrisse assim —


dona Marlene falou chorosa e apenas eu consegui olhá-la de onde
estávamos. Amparada por Karine, que também escondeu o rosto na
outra mulher, eu sofri com a compreensão e também,
incompreensão.

— Você não pode ficar nervosa, olha a pressão — Karine


falou branda, essa era a mulher que eu conhecia, não a histérica
que presenciei no aeroporto.

— Desde quando? — a pergunta de James reverberou em


meu corpo. Ele ergueu a cabeça e encarou as duas, senti sua dor e
a sensação de traição.

Oh, merda, ela era sua ex-noiva. Que confusão!


— A última vez que ficamos foi há seis meses — Karine
quem respondeu e se colocou ao lado de Marlene. — Desde sua
ausência na cama, eu tenho buscado me encontrar.

— Me traindo? — questionou magoado.

— Fechado e nunca falou que me amava, por mais que eu


cansasse de repetir as palavras para você. — Olhou para mim e
depois para Marlene. — Quando ficamos pela primeira vez, não
sabíamos o que fazer, como contar. A diferença de idade foi um
empecilho, o preconceito que poderíamos enfrentar... Era confuso
ao mesmo tempo que bom. Enquanto estivesse em segredo, não
precisaríamos nos preocupar com nada. — Suspirou. — Só
deixamos o rio correr, tudo parecia estar fluindo bem, até Flaviane
aparecer com um filho no colo.

— Você me manipulou esse tempo todo? Estava comigo


apenas para...

— Não se isente da responsabilidade. Você também só foi


atrás de mim para chegar até sua mãe. Eu sabia do seu jogo e
tentei te desarmar, você me frustrou, James Blat. Aprendi a ser
amada com Marlene e não você. — Bufou irritada, acariciando os
ombros da senhora. — A questão é, eu me apaixonei, nos
descobrimos e tudo está uma verdadeira confusão. Temos
responsabilidade, mas você também!

— Seu pai sabia que eu preferia mulheres quando nos


casamos. Ele roubou parte da minha vida e vivi infeliz. Até agora
não sei o que fazer, porque estou realizada e arrasada ao mesmo
tempo, não aceito sair do armário na idade que tenho, por mais que
seja a coisa certa — Marlene falou acertando meu coração em
cheio. — Não me desculparei, mas peço que me entenda. Tudo o
que fiz, foi para me aproximar de você e também, descobrir minha
identidade.

— Com licença — o policial que conhecíamos entrou na sala


um tanto constrangido. — Precisamos colher o depoimento de
vocês, tudo bem?

Marlene voltou a chorar copiosamente e James se levantou


comigo apressado.

— Iremos até a delegacia depor, eu não consigo mais ficar


aqui.

Apenas concordei, porque ele precisava de um tempo e as


duas também. Saber de uma traição dessas não deveria ser fácil,
porque vinha de mais de um lado. Mas não poderíamos apontar o
dedo para ninguém, porque todos tinham sua responsabilidade e
achar um culpado para queimar na fogueira era apenas tampar o sol
com a peneira.

Mantive-me em silêncio até entrar no carro e James dirigir.


Mordi até minha língua para não falar antes dele dar o sinal,
precisava respeitar seu momento não jogar mais informação no seu
colo.

— Minha mãe é homossexual.

— Sim — respondi, mesmo que não fosse uma pergunta.


— Meu pai sabia disso, casou e ainda me tiveram. —
Acenei, mesmo que ele não estivesse me encarando. — Sabia que
isso explica muita coisa? Como se minha vida inteira fosse uma
tempestade e agora o céu apareceu e sumiu com as nuvens?

— Isso é bom, não é? — questionei com cautela, ele estava


receoso, apesar de constatar algo bom.

— É muito ruim eu não sentir nada pela traição de Karine?


Claro, tirando a parte que eu já tinha percebido que tentei manipular
e fui manipulado. O que me incomoda é minha mãe estar com
alguém que já fiquei. É estranho, não sei como olhar para as duas.

— O tempo dirá, James. Assumir a sexualidade fora do


padrão social não deve ser fácil, ainda mais com todas as variáveis
nessa equação. — Ele buscou minha mão e a apertei. — E Willis
usando isso para chantagear. Que salada que virou.

— Não é mais problema meu, nenhum deles — falou


convicto e parou o carro em frente à delegacia. — Está
entendendo? Não é problema meu, nem seu. Eles que se resolvam,
estou preocupado se você está bem e se meu filho almoçou com a
Clotilde.

— Não consigo ser tão evoluída assim, James, mas


concordo e te apoio. — Ele me olhou com intensidade e me derreti.
— Vou querer saber deles, só para acalmar meu coração. Willis
precisa ir para a cadeia e as duas merecem ser felizes. Já a JB
Notícias, ela sim, eu fecho os olhos e deixo nas mãos dos
responsáveis. Quem sabe agora tudo flua melhor, sem segredos ou
briga de ego?
— Não perde — falou trazendo nossas mãos unidas para a
boca e beijou. Tentei não me decepcionar, mas respondi como ele
fez a última vez:

— Eu te amo.

Fiquei de joelhos no banco, tomei sua boca na minha e


beijei-o como se não houvesse amanhã. O resquício de adrenalina
tomou conta das nossas ações e ele me trouxe para o seu colo.

Tudo ficaria bem enquanto a confusão terminasse comigo


beijando James e nós estando em sintonia.
Capítulo 34

Tentei focar no trabalho nos próximos dias que se seguiram


depois do confronto na casa da minha mãe e a revelação. A
indignação e o sentimento de rejeição foi o primeiro sentimento que
me dominou, mas tendo Flaví ao meu lado, tudo foi amenizado.

Depois da polícia colher nosso depoimento e almoçarmos


tardiamente, fomos até sua casa com o delegado e outros policiais
para colher as evidências. Dessa vez, teria muita coisa para ser
analisada, porque o lugar estava revirado, não havia dinheiro e o
celular da minha mulher estava sobre o raque da televisão.

Ela não queria considerar como encerrada sua parte no


caso Dante Mercy, mas o delegado me orientou e tranquilizou, que
sim, Flaviane poderia estar fora de perigo – na medida do possível –
já que o dinheiro foi recuperado. Apesar de serem criminosos, eles
tinham um código de conduta, e dívida paga era sagrada.

O que não poderia ser dito de Cristiane, irmã da minha


mulher, que lhe passou para trás. A dívida dela não era monetária,
mas de ego ferido. Ela teria que lidar com isso sozinha da mesma
forma que deixei minha mãe lidar com seus problemas.

Estávamos em eminência de liberar o site para acesso pela


internet, mesmo com tanta coisa nos rodeando. Já que Flaví ainda
tinha receio de sair de casa com Júlio, comprei os móveis para o
quarto do meu filho e em uma semana estava pronto. Apesar de ter
sido difícil deixar meu menino longe de mim enquanto dormia, foi
fácil aceitar minha mulher nos meus braços todas as noites.

Com o pensamento acelerado, costumava testar Flaví


quando acordava. Já sabia quando estava disposta ou não para o
sexo, apenas com um toque no seu corpo. Deixei minha mão
deslizar pela sua barriga e mergulhei no short, gemendo ao
perceber que estava sem calcinha.

— Hum... — resmungou se esfregando em mim, meu pau já


estava duro e louco para sentir o calor da sua boceta.

Não negava mais, estava apaixonado por essa mulher,


completamente. Seu corpo, sua boca, a inteligência, a cada ideia
que tinha, eu queria comemorar enterrado nela e gozando juntos.

Estava virando um maníaco sexual, precisava me controlar.

— Molhadinha? — sussurrei dando mordidinhas em sua


orelha enquanto estimulava seu clitóris. Espalhei a umidade e
movimentei meu quadril em busca de alívio. Ela deveria estar com
tesão assim como eu, porque estava pronta e nem a tinha tocado.

— Vem por trás? — fez um pedido diferente, o que não me


freou de tirar seu short e apertar seu seio. — Sonhei com você vindo
aqui. — Ela segurou meu pau e trouxe entre suas nádegas.

— Dobre as pernas — pedi ajudando-a a fazer o movimento


depois que descartei o short. Usei meus dedos para penetrar a
boceta e depois seu cuzinho. Fiz esse movimento várias vezes até
que troquei pelo meu pau e ela retesou. — Relaxa, amor. Eu vou
devagar.

Enquanto tentava ir por trás, uma das mãos massageava o


seio e a outra esfregava seu clitóris. Aos poucos consegui ir
invadindo, seus gemidos aumentaram um tom e eu estava prestes a
gozar.

— Porra, apertado pra caralho — resmunguei excitado.

— Gostoso — gemeu implorando por mais.

Arrastei-nos até a beirada da cama, onde deixei seus pés no


chão e voltei a investir no seu cuzinho com mais afinco. Ela
começou a rebolar e eu abracei seu corpo, gemendo desesperado e
me jorrando dentro dela quando seu corpo inteiro estremeceu,
mostrando que também tinha gozado.

— Agora pode me chamar de marido — falei saindo dela e


sorrindo orgulhoso com a posição. Ela teve dificuldade em erguer a
cabeça, mas o sorriso foi fácil de perceber.

— Você tem uma ótima memória, James Blat. Depois disso,


posso te levar para ver meus pais. — Virou-se para ficar de costas e
inspirou profundamente. — Bom dia, marido.

— Bom dia, esposa. — Inclinei para beijar sua boca com


sensualidade. — Estamos fazendo tudo na ordem errada.

— Divergente, sempre soube que era.


Ergui-nos e a levei no colo até o banheiro. Estava nítido em
sua feição o quanto gostou de fazer diferente de como fazíamos e
não disse nada, apenas curtiu o momento.

— Você não falou nada sobre ir ver meus pais.

— Vamos hoje? — questionei controlando o riso, ela estava


achando que eu não queria ou estava com medo.

— No final de semana, eu gostaria. É pouco mais de 200km,


podemos ir de carro.

— Ou de avião, se tiver alguma pista por perto. — Arregalou


os olhos e fiz o mesmo. — Imagina Júlio, ele vai ficar louco dentro
de um monomotor, no ar. Vocês já foram? — questionei com uma
careta, lembrando que durante três anos eu não fiz parte da vida
deles.

— Não fomos, essa primeira vez é sua. — Abraçou meu


pescoço e me beijou sedutora. — As melhores primeiras vezes são
com você, James Blat.

— As primeiras vezes inusitadas, não se esqueça, eu sou


fora do padrão.

— Mamãe! Papai! — escutamos a voz de Júlio nos chamar


e rimos.

— Estamos indo — gritei de volta me apressando no banho


para atender nosso filho. — Vamos almoçar no shopping?

— Mas... — tentou recuar.


— O delegado falou que está tudo bem para você. Tenho
seguranças. Confia em mim, não colocaria minha família em risco.
— Segurei sua mão e as ergui unidas.

— Não perde — falou mostrando emoção.

— Eu te amo — confessei sem amarras e dessa vez não


fugi, esperei que absorvesse cada letra dita. — Gostei assim. Não
perde, eu te amo. É só nosso, marido.

— Só nosso, esposa. — Bati na sua bunda e ela se


assustou. — Vamos aproveitar a folga que nossos chefes deram e
desfrutar com a família.

Saí do banheiro e fui colocar uma roupa apressada


enquanto me enxugava de qualquer jeito. Escutei a porta ser batida
mais uma vez e quando a abri, lá estava Júlio esticando os braços e
pedindo colo.

— Cadê mamãe?

— Tomando banho e você também precisa, vamos ao


shopping.

— Shopping? — Franziu a testa e rapidamente seu olhar se


iluminou. — Pula-pula.

— Isso. E hambúrguer, batata frita...

Júlio bateu palmas e o levei até seu quarto, tirei a roupa e


segui para o banheiro como se fizesse isso todos os dias.
Dei-lhe banho cantando as músicas de avião, coloquei a
primeira roupa que vi e o peguei no colo para buscar sua mãe, que
estava na cozinha conversando com Clotilde.

— Que linda visão. Vão sair? — minha governanta


perguntou admirada. Flaviane se virou para nós e bateu palmas.

— Iremos trocar sua comida maravilhosa por fast food. Não


fique brava, a janta é por sua conta.

— Pode deixar comigo, Flaví — respondeu acenando


despedida e Júlio retribuiu.

— Você deu banho nele? — questionou baixo enquanto


pegávamos bolsa, carteira e íamos até o estacionamento.

— Sim. Somos meninos, não é mesmo? — questionei para


meu filho, que colocou as mãos para cima.

— Sou forte, eu ando de avião.

— É mesmo, nós vamos andar de avião no final de semana,


meu filho e conhecer seus avós.

Trocamos um olhar cúmplice e agradecido antes de


entrarmos no carro e termos nosso primeiro momento em família
sem nos preocuparmos com nada nem ninguém. Acompanhado por
seguranças, Flaví aos poucos se soltou e no final do dia, quando
voltamos para casa, ela estava decidida a começar a viver uma vida
para nós três, começando por rever os pais.
O que não estávamos preparados era para o impacto antes
do encerramento.
Capítulo 35

O celular de James tocou nos tirando da concentração que


estávamos no escritório. Ele estava ignorando as chamadas da mãe
e Karine, precisava de um tempo e não o incomodaria com isso.

Tivemos a notícia que Willis foi preso e seu advogado entrou


com um pedido alegando insanidade mental. Dessa forma, a pena
seria abrandada, o que não faria diferença para mim ou James, já
que estávamos focados na Imparcial Notícias.

Estiquei o pescoço para ver a tela do seu celular e ele o


ergueu para me mostrar.

— É Márcio.

— O ex-diretor da JB? — questionei lembrando-me do mal-


humorado. — Por que não atende?

— Não sei — respondeu apertando o botão verde e


colocando o aparelho no ouvido. — Alô?

Parei o que estava fazendo para observá-lo falar. Olhou


para mim, depois desviou o olhar, fazendo meu coração acelerar.
Era algo que me envolvia, tinha certeza. Será que existia mais um
louco para nos atormentar?

— Entendi — James falou sucinto. — Sabe das


consequências, certo?
— O que foi? — questionei sussurrado.

— Compreendo. Vou deixar que Flaví decida.

— E aí? — perguntei levantando-me da cadeira quando


colocou o celular em cima da mesa e suspirou.

— Dante Mercy acabou de ser capturado.

— E Márcio te contou isso? O que ele tem a ver? — James


me puxou para seu colo e fui de bom grado, apesar da ansiedade.
Se o homem que eu tinha medo estava preso, isso queria dizer que
eu realmente estava livre.

— Cristiane descobriu que invadiram a casa que vocês


moravam. Ela conseguiu forjar um encontro com o Dante para
devolver o dinheiro, a polícia intercedeu e o prendeu.

— E minha irmã? — Apertei seus ombros. — Cris está com


Márcio?

— Vamos até eles? Além de nos convidar até sua casa, ele
só me falou isso.

— É seguro levar Júlio? — perguntei me levantando e


saindo do escritório. — Meu Deus, ela deve estar morrendo de
saudades do sobrinho.

— Podemos ir apenas nós, Flaví? — Ele se apressou até


mim e parou no corredor antes do quarto. — Sei que é sua irmã,
mas existem informações desencontradas. Ela fez algo errado.
— É minha irmã, James. Aquela que estendeu a mão
quando mais precisei. — Apertei seu braço quando o vi sentir culpa.
— Passou, não te culpo, mas também não a culparei até saber a
verdade.

— Apenas nós dois, então — insistiu e concordei com a


cabeça em derrota.

— Tudo bem, é justo. Ela com certeza tem uma explicação.


— Entrei no quarto e comecei a arrancar minha roupa no caminho.
— Márcio envolvido? Caramba, ela lidou sozinha com o tal Dante
Mercy?

— Você também o fez — rebateu tirando a roupa, pelo visto,


tomaríamos banho juntos. — Por causa dela.

— Sim. — Entrei no banheiro e liguei o chuveiro para nós.


— Talvez, se realmente acontecesse algo de ruim, eu teria rancor
sobre o assunto. Como foi apenas um momento difícil, passou. —
Coloquei a mão no peito e forcei um sorriso de alívio. — Finalmente
minha irmã apareceu. Acabou o assunto.

— Ou apenas abrandou. Você já conheceu minha mãe.

— E final de semana conhecerá meus pais. — Dei um pulo


animado. — Ela pode ir conosco? Será perfeito, chegaremos de
surpresa e todo mundo junto. — Fiz uma careta pelo olhar indignado
do meu homem. — Realmente, o mal-humorado do Márcio poderia
não ir.
— Você nem conversou com ela, Flaví e já a perdoou? Devo
te lembrar quanto tempo levei para que você não me jogasse na
cara o que fiz há três anos?

— Isso é rancor que estou vendo? — ironizei sem conseguir


levar a sério sua comparação. Abracei seu pescoço e beijei sua
boca várias vezes até que o senti mais relaxado. — Estou ansiosa,
praticamente bêbada de mim mesma.

— Bêbada, é? — Ergueu-me contra a parede do banheiro e


chupou meu pescoço, fazendo meu corpo inteiro se acender. —
Tenho boas lembranças.

— Não temos tempo, James. Quero ver minha irmã! —


reclamei, mas não fui convincente, ainda mais quando gemi ao
sentir seu membro ereto cutucando a minha entrada. — Corrigindo,
precisamos ser rápidos, temos compromisso.

— Com todo prazer.

Posicionou-se e entrou em mim com apenas um movimento.


Arfei de prazer e busquei sua boca para completar o ato junto
comigo, unidos como amantes apaixonados, recém-casados.
Márcio abriu a porta do seu apartamento e nos deixou
entrar. Quando vi minha irmã de pé em um canto da sala, corri para
lhe abraçar e ela me recebeu com seu pranto.

— Você está bem? — perguntei preocupada.

— Si-sim — respondeu entre os soluços. Tomando nota da


sua reação, afastei-me e lhe dei três tapas brandos no braço. — Ai!
— resmungou colocando a mão no lugar.

— Um por ter me escondido sobre o seu trabalho. Nunca te


pressionei e você se aproveitou da situação. Outro é pelo seu
sobrinho, tem noção do que seria de mim e dele se não fosse
James? — falei zangada enquanto ela abaixava a cabeça.

— E o terceiro?

— Pela preocupação de não saber onde estava. — Voltei a


abraçá-la e inspirei o cheiro da minha irmã que não tinha mais nada
a ver com casa. — O que você fez, Cristiane?

— Eu vou te contar, do início. — Levou-me para o sofá e


percebi que os homens tinham nos deixado sozinhas. — Conheci
Márcio quando você estava grávida, eu estava tentando falar com
James e resolver sua situação.

— O quê? — Revirei os olhos. — Cris, não acredito que


gastou seu tempo com isso. Eu não o queria naquela época.

— Pois é, no final, nem adiantou muita coisa, porque Márcio


estava se desligando da JB Notícias. Conversamos e ficamos. —
Deu de ombros olhando para as mãos em cima do seu colo.
— Tem noção de que ele é bem mais velho do que você? —
questionei baixo e foi a vez dela de me encarar com deboche.

— Sim, a primeira coisa que pensei foi na mãe dizendo que


eu pareceria uma golpista. Márcio nem é tão rico assim, eu o amo.

— Pelo visto é recíproco, te escondeu direitinho. — Olhei ao


redor o apartamento bonito e bem cuidado. — E Dante Mercy, Cris?

— Juro que não vi a dimensão, Flaví. — Buscou minhas


mãos e apertou em busca de conforto. — Ele é dono de um banco,
tem milhões de lucro e quando me esqueci de repassar um dos
valores do investimento e eles não reclamaram, continuei fazendo
igual, porque era com esse dinheiro que nos sustentava. Eu estava
perdendo clientes e entrei em desespero, precisava nos manter.
Você nunca negou me ajudar financeiramente, era a minha vez de
retribuir... só não achei que ele fosse tão perigoso.

— Perdendo clientes? Mas eu fazia vários relatórios na


semana, Cris. — Apertei sua mão indignada. — Você mentiu para
mim!

— Na verdade, comecei a oferecer meus serviços de graça,


para tentar conquistar mais pessoas. Como o dinheiro do Mercy nos
sustentava, eu...

— Márcio sabia desse rolo todo? — cortei-a soltando-me


dela e cruzando os braços na minha frente.

— Não, só contei quando fugi de casa e vim me despedir


dele. Eu ia fugir para outro estado, mas ele conseguiu me segurar
aqui e me proteger, acabamos construindo uma relação mais forte e
cá estamos.

— E você não pensou em saber como eu estava? Julinho?

— Tentei saber, mas estava limitada como Márcio também,


para não dar bandeira. Mexo com investimentos, não sou hacker ou
investigadora como você.

— Mas deu uma de agente secreta e foi enfrentar o Dante


Mercy.

— Ironia do destino, você poderia dizer. Meu celular estava


descarregado e sem chip. Em um momento de fraqueza, liguei o
aparelho e dois minutos depois, o homem me ligou e falou tudo o
que tinha feito com você. — Fez uma careta. — Ele estava em casa,
tinha achado o dinheiro e falou que te deixaria livre se eu me
entregasse para pagar pelo roubo.

— Não é do seu perfil se sacrificar, Cris. Não colou.

— Pois é, mas o universo estava me querendo tanto como


sacrifício, que a polícia veio em casa falar com Márcio sobre um tal
de Willis. Não sei como o assunto Mercy surgiu, mas lá estava eu,
combinando com um delegado o flagrante em troca de liberdade. —
Fez bico em busca de me comover. — A sorte foi que roubei de um
criminoso, os investimentos que lidava não eram declarados, ou
seja, caixa 2. Se fosse alguém sério, eu poderia estar sendo
processada e presa.
— Tem noção do que fez? Inconsequente, Cris. Apesar da
intenção ser nobre, me ajudar, o que fez é errado.

— Sei disso. — Levantou-se angustiada. — Não houve um


dia que não pensei e orei por vocês, me culpei por tudo, mesmo
sem saber o que tinha feito. Por favor, Flaví, me perdoa.

— Com uma condição — falei seca, apesar do meu coração


já estar derretido por ela. Pisou na bola, colocou minha família em
risco, mas... passou. Cris teria que arcar com as consequências,
nada mais que isso. — Vamos ver nossos pais no final de semana.

Talvez estivesse sendo dura demais ou exigente, mas se eu


a perdoava, ela também precisava perdoar nossos pais, como eu
mesma queria fazer. Tudo bem, o que vinha de cima era uma
enxurrada de críticas e represálias, mas eram nossos pais, avós do
meu filho, que amava avião.

O pai foi resgatado, a tia estava em redenção, era o


momento de criar laços com os avós.

— Vou pensar, eu ainda estou um pouco abalada do


flagrante.

— Mercy estava armado? — perguntei e ela voltou a se


sentar.

— Sim, mas não deu tempo de sacar, foi tudo muito rápido.
— Colocou a cabeça no meu ombro e suspirou. — Me perdoa.
Chega de mentiras.
— E de omissões. Se for me ajudar, pergunte, talvez eu não
queira a sua ajuda.

— Nossa, estava com saudades da sua sinceridade. — Ela


colocou os baços em volta dos meus ombros e me apertou. — Te
amo, Flaví. Obrigada, você sempre foi melhor do que eu.

— Sei que não fez por mal, só que ficarei muito chateada se
não for comigo até a chácara. — Afastei-nos e ela fez uma careta.
— É sério. Eu te desculpo em troca de nós nos desculparmos com
eles.

— Alguém precisa de um pouco de água? — Márcio e


James apareceram na sala com copos para nós e trocamos de
lugar, um casal para cada lado. — Tudo bem?

— Vai ficar — Cris respondeu para o namorado e o beijou.

Ela estava errada, já estava bem, mas sabia que seu


coração precisava de mais tempo que o meu. A raiz do rancor já
estava bem longe de mim, eu consegui mudar, minha irmã também
conseguiria.
Capítulo 36

— Olá, pessoas. Venho por meio desta informar que pode


ser meu último dia viva. Estou indo até meus pais, apresentar o
marido — virei a câmera do celular para James, que dirigia — e meu
filho. — Esse estava na cadeirinha do banco de trás, brincando com
um dos seus aviões. Voltei a câmera para o meu rosto. — Eles
falaram que poderia voltar para casa apenas casada, de preferência
com o pai do meu filho. Bem, sou uma filha obediente e estou
cumprindo suas exigências.

— E eu achando que voltou para mim, por amor — James


zombou e ri alto, ainda nos filmando.

— Ah, querido, foi pela força do ódio. Mas hoje é amor com
um pouco de balas gelatinosas de aviões. — Ergui o saco que
trouxe comigo para que Júlio não comesse tudo. Encerrei a
gravação e me estiquei para beijar seu rosto, já que estava focado
na direção até o hangar. — Percebi que estava esquecendo-me de
criar memórias audiovisuais como gostava de fazer.

— Você parece mais uma Blogueira, ou melhor, Influencer.

— Brinca comigo, que estou mais para Creator. Influencio


pelo que crio, é um novo conceito, você precisa se atualizar CEO da
Imparcial Notícias. — Abri minha rede social, há muito tempo
deixada de lado e hesitei, lembrando que James era reservado. —
Se importa de publicar esse vídeo nas minhas redes?
— Com você me chamando de marido? — questionou
daquele jeito que nunca sabia se estava chateado ou brincando
comigo.

— Sim e falando o quanto meus pais são retrógrados.

— Expor nossa vida — constatou e revirei os olhos


desistindo do que iria fazer.

— Entendi, capitão. Apenas minha recordação.

— O quê? — questionou atordoado e negou com a cabeça.


— Você entendeu errado, estava apenas apontando algumas coisas
e pensando.

— Que vai te expor demais. Sei que não gosta, eu não ligo.

— Exatamente, comissária de bordo. — Ampliou o sorriso e


bateu no volante com empolgação. — Como não pensamos nisso
antes? O que o mercado digital precisa é de pessoas que possam
influenciar de modo positivo outras e não mais um site de notícias.
Apesar de nossos valores terem peso, o que poderá alavancar
nosso sucesso é fazer isso.

— Eu acho que não entendi, James.

— Publique. — Pegou minha mão e apertou. — Não


precisamos parar a Imparcial, mas é possível que o trabalho fique
engavetado. Você tem carisma e desenvoltura para lidar com as
redes sociais, publique o vídeo e veja o resultado.

— Você me quer como influenciadora digital.


— Creator. Entraremos nesse mundo já com a nova visão
de mercado.

Antes que ele mudasse de ideia, soltei minha mão da dele,


olhei para o meu filho e tentei não entrar em pânico. Quando era
apenas eu empolgada com uma brincadeira, estava fácil. Com uma
pessoa importante apostando que isso poderá virar o trabalho dos
nossos sonhos... que peso a se carregar.

— Vou querer falar das notícias que amo escrever — falei


enquanto apertava o botão para publicar.

— E do que você quiser. É o futuro, Flaví, só nós que não


enxergávamos isso. Tão óbvio!

— O que queria? Depois de uma semana turbulenta como


essa, o cérebro já derreteu e as emoções estão à flor da pele. — A
imagem na tela do celular indicou que o vídeo foi publicado e
segundos depois alguém já reagia.

— Merda, esqueci! — James resmungou colocando a mão


em um bolso e depois o outro.

— Não fale palavrão na frente de Júlio — repreendi e abri a


boca quando me mostrou alianças. — O que é isso?

— Não nos casamos oficialmente, quando for o momento eu


comprarei outra aliança, mas para os seus pais, vamos usar essa.

— Que horas você fez isso? — perguntei assombrada,


coloquei a aliança no meu dedo e se encaixou perfeitamente.
Depois coloquei no seu dedo, ambos do lado esquerdo e fiquei
chocada. — Caramba, pesa uma tonelada.

— Tive que improvisar. Me deixe ver. — Coloquei minha


mão na sua frente e ele se inclinou para beijar a aliança. — Perfeita.
— Segurou minha mão esquerda com a sua e ergueu para chamar
atenção de Júlio. — Filho, olhe. Não perde.

O seu sorriso valeu mais do que as palavras que poderia


pronunciar. Claro, não entendia e nos ignorou, focado demais no
avião em suas mãos. Deitei minha cabeça no ombro de James e
suspirei apaixonada ao lado do meu marido sem papel passado e
um filho que não tinha o nome do pai na certidão de nascimento. O
que eram formalidades quando o imprevisto enchia meu peito de
satisfação?

Chegamos ao hangar e lá estava minha irmã com seu


namorado, o ex-Diretor da JB, o mal-humorado Márcio. Quem
poderia imaginar que o caminho dos dois se cruzaria? A vontade de
chorar veio forte, ela tinha cedido ao meu pedido depois de tudo o
que passamos.

Saí do carro e esperei James dar a volta para pegar nosso


filho no colo e a pequena mala.

— Ainda dá tempo de desistir — falei de brincadeira para


minha irmã, que me abraçou apertado suspirando. Os homens se
cumprimentaram, ela se aproximou de Júlio e ele ficou
envergonhado. Apertou meu coração ao perceber que ele não a
reconhecia mais como antes.
— Vião, papai! Avião!

— É só nos vermos mais, ele sabe que você é a tia do


coração.

— Amo esse garoto. — Sorriu com tristeza para os três que


se afastavam e me encarou. — Vou por você e Julinho, porque sei
que a mãe e o pai te acolherão, agora com James do seu lado.

— Eu acho que o neto vai amolecer o coração dos dois e o


passado vai ficar lá. Cris, já são mais de três anos sem nos
falarmos. Se eu não sinto mais raiva, acho que eles também não.
Sou mãe agora, eu sei como a cabeça deles funciona.

— A questão é que meu passado me condena, literalmente


— tentou brincar e Márcio a puxou para o seu lado. — Fora que a
mãe vai achar um absurdo eu estar com um namorado dez anos
mais velho que eu. Mas... agora que só tenho a perder, melhor que
faça direito.

— Que bom que veio — encerrei o assunto seguindo até


onde meus meninos estavam.

Não tinha o que falar da minha parte. Ela me colocou em


risco, fez algo ilegal, independente das boas intenções. Não
adiantava roubar de um para ajudar o outro, porque a equação
continuaria desequilibrada, um estaria injustiçado. Só que dentro de
mim existia gratidão e uma imensa felicidade por estar bem,
realizada. Havia preocupações e inseguranças, mas todas elas
eram ofuscadas pela rotina maravilhosa que tinha criado com James
e nosso filho.
Para que ficar olhando o passado cruel se tinha um presente
maravilhoso em mãos? Com certeza, se tudo fosse diferente, talvez,
os papéis poderiam se inverter e estaria sofrendo ao lembrar-me
dos bons momentos que tive.

Meu celular soou alerta de mensagem e quando o tirei do


bolso, percebi que existiam muitas notificações e comentários do
vídeo que tinha acabado de postar. Caramba, será que realmente
deu certo?

— O que foi? — James perguntou e sorriu ao olhar meu


celular. — Precisamos de uma foto de família, exiba bem essa
aliança no seu dedo.

— Deixa que eu tiro, senhora Blat — Cristiane pegou o


celular da minha mão e corri para o lado esquerdo do meu marido.
— Digam, família Blat!

— Avião! — Júlio falou movimentando seu brinquedo e o


encaramos divertido antes de voltar a olhar para a câmera.

— Nem vou tirar outra, essa ficou perfeita! — Cris entregou


o celular e a confirmação dos meus sentimentos me acertou em
cheio.

O melhor momento era o agora.


Capítulo 37

Nos meus 28 anos de idade, nunca pensei que ficaria tão


nervosa quanto naquele momento, para falar com meus pais.
Lembro-me na infância, quando caí do pé de seriguela e ralei meu
joelho em cima de outro machucado, manchando meu chinelo. O
sangue escorria pela minha canela e já escutava na minha mente a
bronca homérica que levaria por conta de ser mau exemplo para a
minha irmã mais nova, ou pior, que estava parecendo um menino.

Naquele dia eu tive muito medo, um dos piores, mas não se


comparava a agora.

Nem mesmo os vários comentários sobre o meu vídeo, tanto


com questionamentos sobre minha vida quanto de pessoas que
viviam a mesma realidade que a minha, de pais muito tradicionais.
Poderia desviar minha atenção e focar em responder minhas redes
sociais, já que o celular estava liberado durante o voo, mas estava
difícil focar.

— Dá tempo de desistir — minha irmã jogou na minha cara


as mesmas palavras que usei. Estando no banco do outro lado do
avião, ela tentava decifrar minha expressão facial e eu fazia o meu
melhor para esconder a covardia que existia em mim, ainda mais
que foi tudo ideia minha. — Não é feio assumir que está com medo.

— É ridículo ser hipócrita, isso sim. Fiz de tudo para esse


dia acontecer e agora estou com receio.
Júlio gritou, olhamos para o corredor e vimos os três
homens brincando nos bancos da frente. Minha irmã pulou para ficar
do meu lado e apoiou sua cabeça no meu ombro. Suspiramos
juntas, ambas precisando de apoio.

— Você sabe, eu exagerei ao falar que só te perdoaria se


voltasse comigo. Eu queria que esse dia fosse especial, com você
também do meu lado.

— Eu sei. Apesar de sincerona, você tem um coração mole.


— Ajeitou-se na cadeira. — O que será difícil de lidar é com a culpa,
é sério, nunca pensei que faria falta o dinheiro dele.

— Que tal você deixar de lado esse assunto e me ajudar em


uma coisa para esquecer a possível bronca que levaremos da dona
Nice e seu Paulo quando chegarmos? — Mostrei a tela do celular
para ela e abri a primeira mensagem, de uma colega minha rindo e
dizendo que estava com saudades minhas. — Foi só uma
brincadeira, mas meu marido é tão visionário que acertou no palpite.

— Você nem me chamou para o casamento — resmungou


tomando meu celular e respondendo a mensagem para mim.

— O que está fazendo?

— Mudando de ramo como você. Amo os números, mas não


quero me aproximar deles tão cedo. Preciso de um emprego novo,
ser sua assessora é um ótimo investimento.

Precisei recuperar meu celular e encenar, de forma


exagerada, o quanto isso me amedrontava, de todos os lados.
Comecei pela verdade mais drástica:

— Qual será a próxima armadilha em que cairei? — Ela


ficou chocada, eu estava mais ainda. — Sem boas intenções ou
mesmo estratégias duvidosas, estou aqui como sua irmã e não
colega de trabalho.

— Sabia que iria jogar na minha cara algum dia. — Cruzou


os braços derrotada.

— Eu ainda nem falei do dinheiro que te emprestei. —


Abracei-a apressada antes que saísse do meu lado. — Estou te
falando isso apenas para que saiba que por muito tempo fomos
apenas eu e você nesse mundão, agora temos uma vida inocente
envolvida, Julinho.

— Sei...

— Não sabe, Cris. Se soubesse, buscaria ser exemplo e


não resolver os problemas a qualquer custo. — Ela me encarou e
estávamos muito próximas. — Quando voltarmos, se ainda
estivermos vivas, vamos conversar sobre o assunto. Eu gostaria de
ter ajuda.

— Faz tanto tempo que não falamos com eles...

Os homens voltaram para os seus bancos, porque o piloto


anunciou que logo iria pousar a aeronave. Júlio veio para o meu
colo, colocou o nariz na janela e acompanhou o momento que
descemos até chegarmos ao solo.

— Mamãe, pousou.
— Avião legal, não é mesmo? — Puxei conversa quando ele
me abraçou forte sem nenhum motivo aparente. Olhei para James e
percebi que novamente meu filho sentia muito mais do que eu
mesma queria demonstrar. — Está tudo bem, Júlio. Você pode ir
brincar, a mamãe ficará bem.

Ele saiu rápido demais do meu colo para o pai, me dando


alívio e preocupação ao mesmo tempo. Não demorou para que o
avião parasse e saíssemos tranquilamente em uma pista pequena,
a 20km de onde meus pais moravam.

Um carro nos esperava e dessa vez foi Márcio que dirigiu,


com Cris ao seu lado e nós três atrás entretidos com meu celular e
as mensagens. A música Empty, da banda Flight Risk tentou nos
acalmar, mas só acelerou as batidas do meu coração.

— Quero ver de novo — Júlio pedia para rever o vídeo, que


no momento que foi gravado, ele nem estava dando bola. Respondi
às pessoas que eu conhecia e deixei as outras para avaliar o que
faria.

— Sabia que poderia alavancar. Mais de mil visualizações e


nem se passaram duas horas da postagem.

— As pessoas gostam de saber da vida alheia, não é


mesmo? — Digitei mais um pouco e apertei a mão de James
quando vi o portão de entrada da chácara. — Trouxe seu colete à
prova de balas?

— Eu gosto de correr perigo — Márcio respondeu alto antes


de sair do carro para abrir. Cris pulou para o banco do motorista e
passou o carro pela porteira.

— De uma coisa eu poderei rir, a mãe ficará horrorizada por


ter tudo isso de visita e não termos avisado.

— Vai mesmo e repetirá o quanto nós deveríamos ter ligado


antes, até irmos embora. — Olhou para trás e Márcio entrou no
carro. — E se eles nem morarem mais aí?

— Moram, eu confirmei antes de virmos — James


respondeu fazendo cosquinhas em Júlio, apenas para dissolver um
pouco a tensão.

O carro parou debaixo do pé de seriguela, que costumava


subir quando criança. Vi o pai ao longe, cuidando da horta e a mãe
varria a área da frente da casa. Quando nos viu, parou a limpeza e
não esboçou nenhuma reação.

Seus cabelos tinham ficado mais brancos, ela emagreceu e


a pele continuava a mesma, demonstrava o quanto trabalhou
debaixo do sol e de chuva. Agora que me tornei mãe, percebi o
quanto de força ela demonstrava e nunca percebi. Esperava que
minha irmã visse isso, era como se enxergasse minha mãe pela
primeira vez.

Não esperava abraço ou palavras de carinho, meus pais


nunca foram de demonstrar afeto, não como estava acostumada
estando com minha família atual.

— Oi mãe, te vi de longe! — cumprimentei forçando


entusiasmo, peguei Júlio do colo de James e me aproximei tomando
a frente. — Esse é seu neto e aquele é meu marido, James. —
Estiquei a mão para que ele se aproximasse com mais pressa.

— Olá, dona Nice, prazer em conhecê-la.

— Oi, mãe — Cris cumprimentou mais tímida, afastada de


Márcio e atrás de mim.

O olhar da minha mãe viajou por todos nós e no final fixou-


se em Júlio, que por incrível que pareça, não se escondeu de
vergonha. Vi o tremor nos lábios da dona Nice apenas para me
derrubar ainda mais. Sem dizer uma palavra, encostou a vassoura
na parede e esticou os braços para pegar seu neto.

Ele foi, sem hesitar, mas com uma postura mais cautelosa.

— Dá oi para a vovó, Júlio. É a mãe da mamãe.

— Vovó? — questionou apertando o nariz dela e me


fazendo rir e chorar ao mesmo tempo.

— Como se parece com a minha família, Flaviane. Olhe


para ele, tem os olhos da minha mãe. — Analisou meu filho, que
também fazia o mesmo, mas com as mãos em seu rosto e cabelo.

Revirei os olhos para James, que franziu a testa confuso.


Sim, querido, ele era a sua cara, mas minha mãe via apenas o que
queria. Acostume-se.

— O sorriso é do pai — Cris falou apenas para provocar e


minha mãe pareceu se dar conta que tinha ambas as filhas com ela
acompanhadas de homens.
— Por que não avisaram que estavam vindo? — Abraçou-
me com um braço, minha irmã e depois se voltou para os homens.
— E quem são vocês?

— James Blat, pai de Júlio e seu genro. — Fazendo uma


careta, minha mãe apertou sua mão e virou-se para meu cunhado.

— Desculpe se não reconheço seu sobrenome, eu moro no


meio do mato.

— Sou Márcio Ferraro.

— Meu namorado, mãe — apressou-se para complementar.


— E não estou grávida.

— Vamos para dentro. Uma das duas avise seu pai que
temos visita, precisará colher mais verdura para o almoço.

Minha irmã ergueu o pé com a sandália e revirei os olhos,


ou seja, serei eu a ir. Júlio foi com dona Nice para dentro e segurei
James comigo um momento para falarmos em privado.

— Foi bom, certo? — perguntei um pouco aliviada.

— Você quem me diz. — Ele me puxou para um abraço. —


Independente do que acontecer, basta olhar para nosso filho, ele
nem pestanejou para ir no colo da sua mãe.

Peguei o celular, abri o aplicativo da minha rede social e


preparei o vídeo.

— Apenas para atualizar, minha gente. Primeiro contato com


a matriarca correu bem. O danado do meu filho sabe o que é bom,
foi para o colo dela e com certeza comerá o primeiro pedaço de bolo
que fará para o lanche da tarde. Agora vou falar com meu pai, que
está colhendo as verduras para o almoço. — Respirei fundo e sorri.
— Vocês já tiveram a sensação te verem seus pais pela primeira
vez? Foi isso que aconteceu, recomendo. — Encerrei o vídeo e
apertei no botão de publicar.

— Flaví Imparcial. Pense nesse nome.

Meus olhos brilharam quando dei passos para trás para ir


até meu pai.

— Me mande Jobs. — Pisquei um olho e lhe dei as costas


para uma corrida rápida até meu pai, debaixo do sol escaldante
entre as alfaces, couves e cenouras.

— Pai! — gritei e lhe fiz tropeçar, quase caindo no chão.


Consegui segurar seu braço e percebi o quanto parecia mais forte,
mesmo com a velhice estampada em seu rosto. — Oi. Tudo bem?
Vim trazer Júlio e James para vocês conhecerem. Cris também veio,
com seu namorado. Família inteira reunida.

Ele olhou por cima do meu ombro, depois para mim e


segurou meus braços para conferir dos pés à cabeça. O sorriso
genuíno foi uma recepção tão diferente do que esperava que
novamente deixei a lágrima escorrer pela emoção.

— Que bom que veio, filha. Você e sua irmã estavam


fazendo falta. Sua mãe não deixa de falar de vocês um dia sequer.
— Pegou-me de surpresa e entregou-me uma cesta para carregar.
— Como está? Quantos anos tem o bebê?
— Estou muito feliz, pai. Júlio está com 3 anos e como
prometido... — Mostrei minha aliança e ele acenou antes de cortar
mais um pé de couve-flor. — Mãe pediu para você colher mais,
porque temos visita para o almoço.

— Tudo o que um pai quer é o sucesso do seu filho, então,


se você está bem, eu também estou. — Suas palavras foram
sentidas na alma. Se algum dia ele me cobrou ter uma família, com
certeza foi para o meu bem.

Às vezes, nossos pais falavam algo que nos machucava,


mas a intenção era completamente o oposto, era proteção para que
o mundo cruel não nos atingisse. A interpretação correta das suas
palavras precisava ter o contexto envolvido e agora, eu mesma
sendo mãe, tudo era mais fácil de entender, mesmo que eu fizesse
diferente deles.

O mundo estava cheio de pessoas bem-intencionadas. O


que faltava era prudência ao invadir o espaço alheio. Como dizia o
velho ditado, minha liberdade acabava onde começava a do outro.

— Acho que tem tomatinho cereja para colher. Meu neto


gosta?

— Se tiver os tomates italianos, também colha esses, ele


ama macarrão — falei animada e meu pai mostrou um sorriso que
parecia que nunca tinha visto. — Ele também gosta de avião, meu
filho é muito inteligente.

— Não esperava menos vindo de você. — Deixou a


conversa de lado e caminhou em direção a outra parte da horta.
Esperava um confronto ou talvez uma briga, a última coisa
que esperava era que ninguém comentasse sobre o tempo que
ficamos longe ou a briga que causou tudo isso.

Qual o motivo de iniciarmos uma discussão sobre o


passado, sendo que o presente estava sendo um presente?

Como o passado que tive com James, resolvi deixar de lado


o que aconteceu com meus pais e aceitar o que de bom estava
colhendo hoje. Por Júlio.
Capítulo 38

Um mês depois...

— Até o pai faz a lição de casa. Tem que ser um trabalho


compartilhado, vocês não acham? — Flaví encerrou a gravação
pelo celular enquanto eu estava sentado no chão ajudando Júlio a
fazer a tarefa na mesinha do seu quarto.

Apesar de não falar muito e continuar sentindo incômodo


sobre compartilhar minha vida pessoal para o mundo, já não era
mais contra, ainda mais quando colhia bons frutos do trabalho da
minha esposa.

Imparcial Notícias foi engavetado e FI - Flaví Imparcial


nasceu para compartilhar não só a rotina familiar, mas assuntos
atuais mostrando os dois lados ou nenhum. As polêmicas sempre
surgiam, mas como expúnhamos os prós e contras de tudo, desde
política à moda, muitos gostavam de acompanhar por sentirem
confiança no trabalho.

Um mês era pouco para alavancar um site de notícia, mas


foi o suficiente para deslanchar Flaví em seu novo ofício, Creator.

— Preciso de ajuda nas respostas das minhas redes, estou


ficando maluca — comentou baixo, se jogando no chão e fazendo o
filho rir.

— Mamãe maluca.

— Por que não chama sua irmã? Você ainda está lhe dando
um gelo? — Conferi o último desenho pintado de Júlio e fechei o
caderno para ajudá-lo a encerrar a atividade.

— Diz isso como se fosse frescura da minha parte. Ainda


não tenho recursos para bancar uma assessora. O que ganhamos
com publicidade não é o suficiente, ainda mais com Júlio na escola.

Ela se levantou e juntos fomos para a sala descansar do dia


de hoje. Era noite, o jantar já tinha sido consumido e ainda existia
um pouco de trabalho a fazer com os vídeos de Flaví para o FI.

Como a mudança radical de trabalho não aconteceu, uma


vez que fui colocando a mão na massa conforme a JB Notícias foi
entrando em crise, eu não me incomodei com a mudança de posto
de trabalho em casa, até parecia que tudo foi planejado para
chegarmos até aqui.

— Você sabe que existe dinheiro para isso, esposa.

— Sem pular etapas, James Blat. Empresas podem quebrar


quando existe muito capital e pouco esforço. Esse é o tipo de coisa
que precisa acontecer para evoluirmos. — Deitou-se no sofá e
colocou os pés em cima do meu colo enquanto Júlio ficou no chão
com seus brinquedos, que dobraram de quantidade nas últimas
semanas.

Eu era um pai que mimava, muito.


— Já sabe que intercederei caso perceba um problema,
como fiz com a minha mãe e suas visitas sem avisar antes — falei
brando.

— Ela está tentando, James.

Flaví tampou o rosto e controlou o riso, deveria estar


lembrando-se da última vez que dona Marlene veio e trouxe vários
sacos de doce para Júlio comer sem nos consultar. O menino
comeu um pacote de bala de gelatina e passou mal, para meu
desespero. Para mim, isso não era tentar, mas desrespeitar.

Já estava fazendo minha parte como filho, indo ao seu


terapeuta e dando minha contribuição para o seu tratamento. Ela
precisava de força e confiança para aceitar sua própria
homossexualidade, que para mim não era um problema. Sim, em
um primeiro momento foi chocante e inusitado, mas depois,
percebendo que isso não mudava nem para bem ou mal meu
relacionamento com minha mãe, percebi que era natural. Não era
da minha conta com quem minha mãe dormia, atualmente, só
precisava que fizesse o papel de vó com menos invasão de
privacidade.

Ela e Karine estão juntas e parecem felizes, mas não


consegui aceitar sua namorada dentro da minha casa, apenas por
ela ter sido minha ex. Tivemos uma história, sentia-me constrangido,
por mais que não tenha envolvido amor entre nós. Às vezes, eu
sentia culpa e voltava a olhar para a minha mãe com menos
julgamento. Como sua homossexualidade não era um problema,
não me sentia mal quando via alguma matéria sobre ela na televisão
ou internet. Dona Marlene se tornou uma celebridade com o
escândalo de Willis e conseguiu reerguer a JB Notícias com um
novo diretor à frente.

Minha satisfação profissional, no momento, era poder


conciliar minha vida pessoal com ela. As redes sociais estavam
sendo interessantes de trabalhar com Flaví entusiasmada, eu
estava bem.

Meu filho agora carregava meu nome e sobrenome na sua


certidão de nascimento, uma das vitórias sobre o passado que me
atormentava. Também fizemos o pedido no cartório para
oficializarmos a união. Depois de um pouco mais de um mês
estaríamos casados, mas sem a pompa que manda a tradição,
apenas Márcio e sua irmã como testemunhas.

Tentou me convencer de que tudo era uma questão de


estratégia da FI e não duvidava, já que Flaví não escondia o que
sentia. A questão era que eu fazia gosto pela tradição e seus pais
também, como pude perceber na nossa ida até a casa deles. Meus
sogros eram muito parecidos comigo e tudo o que tentaram
esconder, eu percebia e faria a nossa alegria.

— Será que tem tempo na sua agenda para um evento


extraordinário? — questionei despretensioso.

— Que não seja igual ao último, não aguentava mais


escutar o “milu, milu, miludiu”. — Ri alto e ela fez o mesmo, Júlio
subiu em cima dela e se divertiu com nossa alegria. A música tocou
na inauguração de um bar country e mesmo sem gostar de
sertanejo, ela foi, apenas pela oportunidade de produzir conteúdo
para os seguidores da Flaví Imparcial.

— Você gostou, dançamos a noite inteira — relembrei e ela


corou, com certeza lembrando o que fizemos escondido no escuro
daquele lugar. Com Júlio aos cuidados de dona Clotilde,
aproveitamos o momento de casal.

— Qué dançá! — Júlio pediu, fui eu quem atendeu seu


pedido. Peguei-o no colo e rodopiei com ele pela sala, arrancando
gargalhadas dele.

“Você pode ser incrível

Você pode transformar uma frase em

Uma arma ou uma droga

Você pode ser o pária

Ou ser a reação

Da falta de amor de alguém

Ou você pode começar a levantar a voz”

Brave, por Sara Bareilles começou a soar no celular de


Flaví, que se levantava para dançar conosco.
— I just wanna see you — ela cantou e Júlio acompanhou
animado o refrão estendendo a letra u.

Daria uma boa música de casamento, quem sabe, fazer-lhe


uma surpresa, já que usava minha aliança, se apoderou da minha
casa, me deu a melhor família que poderia ter e invadiu meu
coração desde o momento que a vi tomando aquela dose de tequila.
Poderia ser exagero da minha parte, até porque, naquela época, eu
tinha outras ambições e Flaví era apenas uma distração.

Muito aconteceu para chegarmos até ali, precisamos nos


perder para finalmente nos sintonizar. Não poderia dizer que não me
arrependia, mas com certeza não pisaria na bola novamente, com
certeza não.

— I just wanna see you be brave — Flaviane cantou. Eu só


quero te ver ter coragem era o significado das suas palavras e se
ela não sabia o que se passava na minha cabeça naquele momento,
descobriria em pouco tempo, casar-me com ela era um desafio que
estava disposto a enfrentar.

Peguei na mão da minha mulher, uma das formas que


expressava meu amor e busquei seu olhar apenas para ver o brilho
que refletia, uma clara demonstração de que tudo tinha valido a
pena.

— Não perde! — Júlio falou acima da música e beijamos


sua bochecha, cada um de um lado.

— Não perde, amo vocês — Flaví falou, girei com Júlio e


roubei-lhe um beijo, para diversão do meu filho.
— Eca, que nojo — falou e foi para o colo da mãe, mas não
sem antes eu dizer-lhes o que sentia. Havia trejeitos meus que
mudei, por eles, e um deles era dizer sempre que tinha a
oportunidade:

— Amo vocês.
Epílogo

Dois meses depois...

— Você está linda — falei admirando-a pelo espelho.


Teríamos um evento agora à tarde, de gala e seu vestido cinza com
detalhes prateados a deixavam encantadora.

— Amo esse seu terno — comentou virando na minha


direção e ajeitando a gravata.

— Está na hora, senhora Blat. — Estendi o braço para que


colocasse sua mão e saímos de casa em direção a limusine que nos
aguardava na entrada.

— Você é um exagerado — resmungou pegando o celular e


ligando a câmera.

— No seu ramo, as aparências importam muito. — Beijei


sua testa antes que ela começasse a fazer seus vídeos para
publicar nas redes sociais.

Acomodamo-nos no assento, o motorista guiou sem pressa


e analisei o que precisei fazer para chegarmos aqui.

Apesar da dificuldade de criar um evento secreto para


Flaviane, foi possível em pouco tempo. Júlio deveria estar na escola
e Clotilde trabalhando, mas ambos estavam na festa nos
aguardando.

O que seria apenas um evento de inauguração de uma nova


linha de joias, na verdade, era o nosso casamento. Os papéis
tinham sido assinados no cartório e nenhuma comemoração com
pompa aconteceu. Márcio e Cristiane foram nossas testemunhas,
almoçamos na minha casa em família e de noite curtimos uma
balada no mesmo bar que nos encontramos pela primeira vez.

Não chamou os pais e nem convidei minha mãe para aquele


momento, mas nesse, ambos estavam, inclusive Karine. Era a
companheira da minha mãe, apesar de tudo, eu já estava mais
confortável em ver as duas juntas. A convivência seria difícil de criar,
mas em eventos esporádicos com certeza seria possível de aturar.

A mãe de Flaviane foi difícil de trazer e precisei que minha


cunhada intercedesse. Ela não confiava que o casamento surpresa
seria a melhor opção, uma vez que eu poderia estar forçando sua
filha a casar. Por um lado, era a verdade, mas por outro, foi escolha
dela registrarmos nossa união no cartório, agora, era apenas
celebrar.

Uma vez por mês viajávamos para a casa de seus pais, de


carro. Júlio aprendeu sobre horta e o campo, já reconhecia os avós
e arrancava sorrisos da minha sogra que parecia uma rocha de tão
séria.

O que os filhos não faziam, os netos conseguiam sem muito


esforço.
O celular veio me filmar e forcei um sorriso. Ainda não era
minha posição preferida, mas fazia parte. Era como o frio e o calor,
eles existiam e nós nos adaptávamos a cada estação.

Essa era a vida que não conhecia no passado e estimava


muito para o futuro.

— Meu batom saiu? — perguntou fazendo bico e


bloqueando o celular.

Para provocar, coloquei a mão na sua nuca e trouxe-a para


ser beijada como deveria. Ela tentava resistir, mas não conseguia,
ainda mais quando fazia lento e sensual, como ela amava.

— Você me paga, James Blat — ameaçou em tom


apaixonado, sorri com malícia e a trouxe para o meu lado, bem
apertada. — Obrigada por vir e se esforçar quando te exponho.

— É o nosso trabalho e você me faz feliz. — Franzi a testa


com diversão, lembrando-me de uma emergência que teve alguns
dias atrás. — Menos nos dias que você está de TPM. Eu me
assustei.

— Eu sei, não é horrível? — concordou com diversão. —


Não vejo a hora de poder voltar com algum método contraceptivo.
Depois que tirei o DIU, não fui a mesma.

— Os exames estão em cima da mesa para poder retornar à


médica — repreendi e a vi suspirar.

— Você está comigo vinte e quatro horas por dia. Eu tento,


mas trabalho muito. Vou tentar marcar para a semana que vem.
— Não tem medo de engravidar? — perguntei tranquilo,
porque da minha parte, eu estava muito bem.

— E você, tem? — respondeu enigmática. — Foco no


trabalho, marido.

A limusine parou e desci primeiro para ajudá-la. Meu


coração começou a bater mais forte no peito quando pessoas que
contratei nos esperavam na frente do hotel para indicar o salão.

Para atualizar seus seguidores, Flaví pegou o celular,


começou a falar enquanto caminhávamos para dentro e assim que
chegamos à porta do salão de festas, que estava fechado, eu tomei
o aparelho de suas mãos e encarei meu reflexo.

— Olá, seguidores da Flaví Imparcial. Tenho um segredo


para revelar e quero todos vocês como testemunhas.

Afastei-me da minha mulher e mudei a câmera para filmá-la.


Ela parecia atônita me encarando e quando as portas foram abertas
e a música Brave, por Sara Bareilles começou a soar, ela mostrou
todo o seu amor por mim no olhar.

— I just wanna see you be brave — falou junto com a


música e acenei afirmativo que sim, foi nesse momento que decidi
fazer a surpresa e com a nossa trilha sonora iríamos recepcionar
nossos convidados.

— E então, senhora Blat? Aceita comemorar o seu


casamento comigo e nossa família? — questionei ainda segurando
o celular.
Estendi o aparelho para uma das funcionárias, tirei uma
caixa no bolso do paletó e exibi as novas alianças, as oficiais.
Ajoelhei-me, claro, para mostrar o quanto a admirava e sem
responder, colocou minha aliança no dedo que já continha uma e fez
a mesma coisa com ela.

— Você não respondeu e ainda por cima duplicou nossos


votos.

— O casamento é meu, vou usar duas alianças, porque sim.


— Pegou na minha mão e me puxou para dentro da festa quando a
música finalizou. Júlio correu ao nosso encontro e com um abraço
nosso, nos parabenizou.

O beijo sanduíche aconteceu, ele era nosso garoto valente,


que veio para esse mundo a partir de uma brecha, uma camisinha
mal colocada. Ele tinha que ser e nós, com certeza, precisávamos
acontecer.

O celular foi devolvido e antes de começar a cumprimentar


todos que faziam parte da festa, Flaví me mostrou a foto que foi
tirada e o brilho de seus olhos me aqueceu por completo.
Espontânea, eu e ela beijávamos nosso filho, de costas.

— O mundo precisa saber disso. Eu amo James Blat —


falou divertida.

E dessa vez, não tive medo de compartilhar algo pessoal


meu, porque também queria que todos soubessem que no final
dessa história, eu amava e era amado, estava feliz.
Seis meses depois...

— Bom dia, meu amor — cumprimentei beijando a testa de


Flaví enquanto se espreguiçava na cama. Teria reunião com uma
empresa que gostaria de ofertar uma publicidade para minha
Creator, então, já estava de pé e pronto enquanto ela ainda dormia.
— Estou indo, deixarei Júlio na escola no caminho.

— Precisa fazer a mochila dele — resmungou de olhos


fechados.

— O que eu não souber, Clotilde me ajudará, fica tranquila,


durma mais um pouco.

— Estou morrendo de sono.

Ela pareceu voltar a dormir, por isso peguei minha carteira e


ia saindo do quarto quando ela falou:

— Tem um papel importante na última gaveta da sua mesa.


Sem emoção ou explicação, ela não me falou mais nada e
não me restou alternativa do que ir até nosso escritório, sentar-me
na minha cadeira e abrir a gaveta em que não mexia há muito
tempo. Será que ela tirou o exame da primeira gestação de lá, por
que eu mesmo não o fiz?

Quando puxei a gaveta lentamente, ela estava limpa,


brilhando e com uma caixa dentro. Tirei-a e abri, sorrindo
amplamente ao ver o exame bem dobrado dentro. Congelei no lugar
quando reparei na data e o tempo de gestação no resultado, porque
era diferente de Júlio.

— Estamos grávidos. — Olhei para cima e vi Flaví na porta


me encarando. Então, sua saída no dia anterior tinha sido para
isso?

— Obrigado pela oportunidade de fazer diferente. Eu te


amo. — Abri os braços e ela veio correndo para se sentar no meu
colo e me encher de beijos. Caramba, eu até esperava que pudesse
acontecer, mas não imaginava o que sentiria naquele momento.

Medo, felicidade, realização... gratidão!

— Não perde, eu te amo — sussurrou.

— Não perde. — Peguei na sua mão e trouxe para ficar


entre nós, juntas, depois de um beijo em seu dorso. — Te amo.

— Papai! Mamãe!
Júlio entrou no escritório correndo usando seu uniforme e o

peguei no meu colo também, apenas para confirmar que nesse

caminho eu nunca mais me perderia, mesmo depois que nos


tornássemos 4.
Sobre a Autora
Mari Sales é conhecida pelos dedos ágeis, coração aberto e
disposição para incentivar as amigas. Envolvida com a Literatura
Nacional desde o nascimento da sua filha, em 2015, escutou o
chamado para escrever suas próprias histórias e publicou seu
primeiro conto autobiográfico em junho de 2016, "Completa",
firmando-se como escritora em janeiro de 2017, com o livro
"Superando com Amor". Filha, esposa e mãe de dois, além de ser
formada em Ciência da Computação, com mais de dez anos de
experiência na área de TI, dedica-se exclusivamente à escrita desde
julho de 2018 e publicou mais de 100 títulos na Amazon – entre
contos, novelas e romances.

Site: http://www.autoraMariSales.com.br

Instagram: https://www.instagram.com/autoraMariSales/

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Agradecimentos

Esse ebook saiu e o insight para a capa surgiu em uma


conversa presencial com Jéssica, Rosi, Aninha, Kelly e Adri.
Gratidão pelo apoio, acolhimento e carinho, em terras mineiras,
vocês moram em meu coração.

Meu marido e filhos, que estão orgulhosos e me dividem


com o mundo literário, gratidão. Vocês estão presente de muitas
maneiras e são minha inspiração, além de razão para fazer cada
vez mais.

Lizi, Ray, Sônia, Yukie, Cláudia e Legalzonas, gratidão por


estarem presente em momentos especiais e apoiarem minha
carreira literária.

Muitos motivos rodeiam minha escrita. O principal deles são


meus leitores, que disponibilizam parte do seu tempo para se
conectarem comigo através dos livros. Gratidão, leitoras
maravilhosas. Um beijo especial de Natal para aquelas que
participaram da leitura coletiva de “Salva pelo Príncipe CEO”:
Liziane Fiori, Paula Beatriz, Nedja Mendes, Patrícia Almeida, Aline
Gomes, Márcia Procópio, Beatriz Soares, Elena Ribeiro, Myslannia,
Ivana Sandes, Nélita Carvalho, Elizangela Paiva, Nicolly Soares,
Ionara Consuelo, Juliana Lelis, Keth Silva, Luize Casal, Cristina,
Lauryen, Mayana Carvalho, Mariana Telles, Ray, Nil, Enaê Ezequiel,
Laís Calmon, Paloma, Daiany, Adelle, Jaqueline Silva, Patricia
Dutra, Gilcélia Martins, Gilma, Bruna Correia, Sandra Cecília,
Andréia, Cilene, Rosyh Ferreira, Nay, Roseane Ferreira, Lorrany,
Juliana França, Carla, Nalu, Thatyana, Regina Fabbris, Helineh,
Marisa Gomes, Marisa Gomes, Marcella Albuquerque, Luciana, Ana
Karina Pereira, Amanda Angelina, Renata Ferreira, Tatiana Lima,
Márcia Leão, Carina Timm, Bruna Dal Ferro, Karlinha Pessoa,
Giane Silveira, Agda Assis, Luana Manhães, Arlene Lopes, Éveny
Alves, Sônia Orbe, Gláucia Padiar, Sarah Rabelo, Karoline Moreira,
Kleia Faria e Adolane.

Achei que não teríamos mais surpresa para 2021, mas


James Blat quis aparecer de forma inusitada! Boas festas, meus
queridos leitores. Saúde e amor em abundância!

Com amor, respeito e gratidão.

Mari Sales
Outras Obras

Meu Chefe Intenso: https://amzn.to/3nx8DEs

Sinopse: Para Theo Ferraz tudo era oito ou oitenta: ele


amava demais ou excluía de sua vida. Focado em alcançar a
posição de CEO do Grupo Gimenes, nada ficaria em seu caminho,
nem mesmo a nova funcionária desastrada.

Olivia Nunes estava empenhada em dar o seu melhor no


novo emprego, mesmo que tudo parecesse dar errado há muito
tempo. Desamparada pela família e o pai da sua filha, ela tentava
viver um dia de cada vez.

Bastou uma conversa para que Theo mudasse o foco, a


paixão não combinava com prudência. O interesse pela funcionária
ultrapassou o profissional ao querer saber mais sobre ela.

A intensidade de Theo surpreendeu Olivia. Muitos motivos a


impediam de se entregar sem receios: ele era seu chefe, ambos
foram abandonados e muitos assuntos pendentes precisavam ser
resolvidos.

Eles descobririam, entre o romance de escritório e os


cuidados com a filha de Olivia, que o amor conseguiria transformar
até o mais intenso dos corações.

ATENÇÃO! Essa história contém cenas impróprias para


menores de dezoito anos. Contém gatilhos, palavras de baixo calão
e conduta inadequada de personagens.
Prometida para Noah: https://amzn.to/3E3C0U0

Sinopse: Ser privado do seu dom não impediu que Noah


Baron agisse com o instinto animal. Considerado perigoso e
incontrolável, ele se tornou um empresário de sucesso e presidente
do Rage Wolf Moto Clube.

Em uma tentativa de frear o temperamento imprevisível de


Noah, sua mãe lhe fez uma proposta irrecusável: ela lhe devolveria
seu lobo, desde que ele seguisse as regras.

Celeste e sua irmã gêmea nunca tomaram conhecimento de


serem as Alfas Gemini. O tio se tornou tutor e as manteve reclusas
por anos, até que foram prometidas para homens desconhecidos.
Com medo de serem separadas, elas escaparam do seu
cárcere em busca de um recomeço. Para Celeste, não adiantou
fugir, o destino a encontrou antes que pudesse se sentir livre. Ela
era o último elemento do ritual que traria de volta o lobo de
Noah Baron.

Celeste não tinha outro caminho a não ser cumprir seu


papel de prometida. Faltava um mês para a Lua Azul, tempo
suficiente para que laços predestinados fossem revelados e o
verdadeiro Alfa assumisse a alcateia.
Um bebê na Máfia: https://amzn.to/3AoJvTk

Sinopse: Tabus e limites não existiam quando se tratava de


Leonel De Leon. Vivendo suas próprias regras, o mafioso controlava
a cidade e decidia o futuro das pessoas estando em seu escritório.
Ele se achava acima de todos, não havia ninguém que conseguisse
o atingir.

A advogada Sara Benildes estava em um restaurante,


comemorando o aniversário de namoro, quando conheceu o
poderoso De Leon. Para ele, a moça petulante e de nariz empinado
não era nada.
Eles se reencontrariam meses depois, em situações
peculiares. O mafioso tomou para si um bebê abandonado,
enquanto Sara perdeu o filho recém-nascido.

Para alguns, a segunda-chance. Para outros, uma realidade


deturpada.

Enquanto Sara lidava com o luto amamentando o filho de


um desconhecido, ela mergulhava no mundo obscuro de Leonel.
Tudo indicava que ela se moldaria ao mafioso, mas era ele que
abria o coração e se permitia ter um ponto fraco, uma família.

ATENÇÃO! Essa história contém cenas impróprias para


menores de dezoito anos. Contém gatilhos, palavras de baixo
calão e conduta inadequada de personagens.
Noivado de Mentira com o General:
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Sinopse: Davi Lucca Fiori tinha um único objetivo em sua


vida: alcançar a mais alta patente do exército. O General era um
solteiro cobiçado, fazia parte da família real, era respeitado e
exemplo de boa conduta.

A reputação do herdeiro Fiori ficou por um fio quando um


inimigo da monarquia descobriu seu segredo. Ele era um Príncipe e
não poderia fugir das suas obrigações.

Clarice Mattos queria esquecer sua adolescência. Se ela


estava bem naquele momento, devia ao Príncipe General, que
cruzou o seu caminho quando era mais nova. Por anos, eles
mantiveram contato à distância e se tornaram amigos, mas tudo
mudou quando a generosidade ficou prestes a ser revertida em um
escândalo.

A oportunidade de Clarice retribuir a benfeitoria surgiu. Davi


Lucca não queria expor sua amiga plebeia, mas aceitou forjar um
noivado falso, para protegê-la mais de perto e à sua família.

Da mentira, veio a atração. A amizade se transformou em


desejo e o amor, que deveria unir povos, poderia ser o elemento
crucial para destruir a monarquia.
Por Você: A Virgem e o Quarterback: https://amzn.to/3gS6cs8

Sinopse: O rebelde Paulo Victor não agia como o esperado.


Veterano no curso de Administração e quarterback do time da
cidade, ele era admirado pelos seus colegas e cobiçado pelas
garotas. Sua dedicação para o futebol americano não contribuía
para a carreira política que seu pai tinha planejado.

Entrar na faculdade era o sonho de Milena Swagger. Disfarçada de


Melissa Silva, ela conseguiu a oportunidade de ter uma vida normal,
longe de perseguições e constantes mudanças. Para continuar
segura, ela teria que seguir alguns protocolos, como não se
envolver com ninguém.
Quebrar todas as regras se tornou irresistível quando a rotina
estudantil começou. A atração pelo proibido e o mistério que
envolvia Paulo Victor e Melissa os conectaram muito além das
conversas de corredor e festas universitárias.

Eles não estavam preparados para que suas vidas fossem abaladas
pelas escolhas dos seus pais. O amor era forte para unir, mas
também, o argumento necessário para deixar a outra pessoa partir.
Pai por Acidente: https://amzn.to/3m6zjeQ

Sinopse: O atual CEO do Grupo Ferraro era dedicado ao


sucesso da empresa. Na vida pessoal, Nicolas Ferraro marcava
encontros com mulheres da mesma forma que agendava suas
reuniões de trabalho. Apenas assim conseguiria manter tudo sob
controle para evitar decepções.

Sua vida perfeitamente programada sofreu mudanças


quando um bebê foi abandonado em seu escritório. Com dúvidas se
a criança era sua, ele escolheu descobrir a verdade antes que
aquele acontecimento se transformasse em um escândalo.

Para os cuidados com o bebê, Nicolas precisaria de uma


babá.
Lane Simioni estava perdida. Em busca do seu verdadeiro
propósito de vida, ela tinha trancado a matrícula da faculdade de
Enfermagem sem avisar sua mãe. E, movida pela expectativa de ter
novas experiências, aceitou a oferta de emprego provisória.

Um bebê abandonado.

Uma babá inexperiente.

Um pai sem intenção.

Enquanto Nicolas Ferraro mudava de visão sobre o seu


passado doloroso, aquele acidente se transformava na sua melhor
escolha.
Sua Para Proteger: https://amzn.to/3B9sZbp

Sinopse: O que eu mais queria era me redimir, depois das


consequências da minha ilusão amorosa. Comecei pela vida
profissional e me encontrei nas pistas de corrida.

Fazer o certo ia além de agradar os outros. Meus irmãos


tinham suas famílias e estavam felizes com suas escolhas. Eu
precisava me permitir amar novamente e encontrei minha segunda
chance em uma festa, indicada pela mesma pessoa que um dia me
fez sofrer.

Rosyh Johnson não me permitiu tornar o momento de


luxúria em algo mais. Sem ter o seu contato, pensei nela enquanto
foquei nas corridas e socializei ao estilo do solteiro Mazzi.
Meu caminho cruzou com o de Rosyh meses depois, em
outros termos. Ela não era mais uma mulher desapegada, que
queria apenas diversão, mas uma grávida retraída. Diferente da
nossa primeira vez, eu insisti e mostrei que era diferente de todos os
homens que ela conheceu.

Sua confiança em mim me permitiu que eu a protegesse do


seu passado. Só não imaginava que ser altruísta pudesse colocar
em risco a família que tanto ansiei formar.

Aviso: Sua Para Proteger, livro 4 da Família Sartori, é um


volume único. Por ser com casais diferentes, cada livro da série
pode ser lido separadamente, mas o posterior contém spoilers do
anterior.
O Acordo: https://amzn.to/3q2BHDb

Sinopse: Samuel Vitta Dan era um CEO de sucesso na


área de investimentos financeiros. Rígido e intimidante, nas horas
vagas, lecionava empreendedorismo para o último ano do curso de
Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Essa atividade extra lhe
rendia muito mais do que satisfação profissional.

Nem todos apreciavam o professor Samuel. Scarllat Mancini


não se adequava em sua família e estava difícil se adaptar aquela
metodologia de ensino. Ela tinha sido julgada desde o seu
nascimento e nunca se acostumou a ter que provar seu potencial,
muito além das notas escolares.

Com um diploma na mão e órfã, Scarllat recebeu uma


oportunidade de mostrar sua capacidade, ela iria trabalhar na área
de tecnologia da Dan Financeira.

Novos desafios surgiram quando ela descobriu que o CEO


da empresa era aquele professor odiado. Mesmo que ainda
guardasse mágoa, Samuel estava se tornando um chefe misterioso
e irresistível. Para saber mais daquele homem, Scarllat iria se
render a um acordo e descobriria muito mais do que os segredos do
CEO.
Tristan e a Sugar Baby (Amante Secreto):
https://amzn.to/33YRBVa

Sinopse: O CEO da Ludwing Motors estava enfrentando


complicações no seu divórcio e, por ser um pai protetor, não queria
que sua filha fosse afetada. Tristan Adams estava decidido a
aproveitar seu atual estado civil se cadastrando em um site de
encontros.

Annelise Ortiz ganhou uma bolsa de estudos na faculdade


de Stanford e perdeu o namorado virtual. Ela foi iludida e estava
disposta a não sofrer pelo término do relacionamento. Por impulso,
acordou com sua melhor amiga para serem sugar baby por um dia.

Tristan só queria uma companhia para o evento empresarial,


sem que houvesse complicações posteriores. Annelise esperava
uma diversão inocente com o homem mais velho, não acabar
perdendo a virgindade.

Eles não deveriam se encontrar novamente, mas aconteceu


muito mais do que tinha sido planejado. As complicações que
rodeavam aquela relação aumentavam a cada dia. Tristan era o pai
da melhor amiga de Annelise e um final feliz estava longe de
acontecer… a não ser que o amor falasse mais alto.
Contrato com o CEO: https://amzn.to/3nUwZpV

Sinopse: Para Rico Lewis, trabalho se misturava com


prazer. Ele não sabia se relacionar com as mulheres se não fosse
baseado no que estava definido em um contrato. Essa era a forma
que encontrou para nunca mais ser enganado.

A seleção para secretária executiva do CEO da ReLByte era


concorrida. Alice Reis não achava que poderia ser a escolhida, na
verdade, nem queria. Sua confiança estava abalada ao ser
humilhada pelo homem que se dizia seu namorado.

Tudo estava acontecendo ao mesmo tempo e não havia


mais nada a perder. Sem companheiro, sem dinheiro e sem um
lugar para morar, Alice aceitaria qualquer proposta para assumir o
controle da sua vida. E ela conseguiu a vaga. Por impulso, assinou
o contrato e aceitou as consequências de ser a realização do fetiche
CEO e secretária.

Ela nunca tinha sido tocada daquele jeito. Senhor Lewis não
queria sentir o coração acelerar novamente. Era a iminência de um
desastre, mas eles ignorariam qualquer emoção para se protegerem
de uma nova decepção.
Valentine (Tríade Moto Clube – Livro 1): https://amzn.to/3aq5yib

Sinopse: O Doutor Brian Powell, ou Doc como era


conhecido pelos amigos, acompanhava de perto o sofrimento do
presidente do Selvagem Moto Clube devido a uma grave doença. A
morte se aproximava e a sucessão do seu legado estava gerando
uma grande disputa.

⠀ John Savage nunca quis que a família se envolvesse com


seus negócios, mas sua filha Valentine estava disposta a lutar pelo
cargo que lhe era de direito. Ninguém a conhecia o suficiente para
dar apoio, no entanto isso não a desmotivaria a alcançar seu
objetivo.
⠀ O primeiro contato que Valentine teve com um dos
membros do Moto Clube foi explosivo, mas Doc estava determinado
a ser um aliado, além de um bom amante. Ele já a queria muito
antes mesmo de a ver pela primeira vez.

⠀ Entre atentados e preconceito, Doc e Valentine terão que


lutar para preservar a paz do Selvagem e não se perderem entre as
armadilhas causadas pela superproteção.
Cedendo à Paixão: https://amzn.to/3kpvtd8

Sinopse: Quando o grande empresário Bernardo Camargo


cruzou com Alícia em um supermercado, não esperava que a
mulher fosse mais do que uma coincidência. Ambos estavam tendo
um péssimo dia, o desabafo sobre seus tormentos foi involuntário,
afinal, eles eram estranhos que nunca mais se cruzariam.

Bernardo lutava para esquecer o passado que o marcou.

Alícia estava disposta a renunciar sua própria felicidade para


ser uma boa mãe para seus filhos.
Um momento não deveria definir um relacionamento, muito
menos abrir a brecha para que a vida amorosa de Alícia voltasse a
ativa. Bernardo queria ser visto além do homem poderoso em um
terno e estava disposto a ter mais do que apenas em um encontro
casual com aquela mulher.

Restava saber se a paixão avassaladora entre os dois seria


o suficiente para superar tantos segredos.
A Filha Virgem do Meu Inimigo: https://amzn.to/2DwGGYZ

Sinopse: Antonio “Bulldog” era conhecido na cidade por seu


temperamento explosivo e trabalho árduo na presidência da
AMontreal. Com um histórico familiar de traumas com mulheres, ele
era um homem solitário que se apegava apenas ao seu ofício.

Nada o deixava mais irritado do que lidar com o seu rival, o


candidato a prefeito Ivan Klein. Ele estava ausente da cidade há
muito tempo, mas voltou para destruir com a AMontreal e ser o
chefe maior de Jargão do Sul.
Bulldog estava pronto para defender seus protegidos do
ambicioso político, mas ele não contava com a presença da filha do
seu inimigo. Deborah não só tinha quinze anos a menos do que ele,
mas era uma mulher doce, de sorriso contagiante e que tentava
influenciar as pessoas, de forma positiva, a favor do seu pai.

Ninguém disse que o destino jogava limpo. Ele não só unia


pessoas de lados opostos a uma guerra, mas confrontava segredos
e revelava a verdadeira face das pessoas. Cabia a Bulldog e
Deborah escutarem seus corações e não caírem na armadilha da
ganância alheia.
Box – Quarteto de Noivos: https://amzn.to/2JQePU2

Sinopse: Essa é a história de quatro primos solteiros que


encontram o amor. Coincidência ou não, o movimento para que eles
se permitissem amar iniciou com a matriarca da família, avó Cida,
em uma reunião de família. Ela mostrou, sem papas na língua, o
quanto eles estariam perdendo se buscassem apenas
relacionamentos vazios.

O que era para ser um encontro casual se tornou em uma


grande história sobre a próxima geração da família Saad.
Nenhuma das mulheres que se envolveram com o quarteto
de primos era convencional. Quem as visse de longe, julgariam suas
escolhas ou mesmo se afastariam.

Fred, Guido, Bastien e Leo aceitaram o ponto de vista da


avó de forma inconsciente, mas se apaixonaram por completo com
a razão e o coração em sintonia.

Envolva-se com as quatro histórias e se permita olhar para a


família Saad de uma forma completamente diferente.

Obs: Esse BOX contém:

1- Enlace Improvável

2- Enlace Impossível

3 - Enlace Incerto

4 - Enlace Indecente

Epílogo Bônus
Box Flores e Tatuagens: https://amzn.to/2LLjA4D

Sinopse: Eles eram ricos, intensos e poderosos em seus


ternos e tatuagens.

O CEO Tatuado Erik se apaixonou pela irmã do seu


tatuador. Orquídea fugia de um passado que a atormentava.

O Executivo Tatuado San Marino encontrou a estrela que


brilharia na sua vida. Daisy tentava escapar de um relacionamento
abusivo com um homem perigoso.
O Chefe Tatuado Dário era protetor e não hesitou em agir
quando conheceu a mãe de Enzo Gabriel. Gardênia fugia do pai do
seu filho e de uma vida submissa.

O Sócio Tatuado Laerte Azevedo era o vilão. Ele estava


disposto a contar a sua versão da história, mesmo que soubesse
que não era digno de perdão. Jasmim foi vítima da crueldade da
família Azevedo e estava disposta a superar seus medos.

Quatro casais, quatro histórias. Eles estavam dispostos a


reconstruir suas almas com o mais belo dos sentimentos, o amor.

ATENÇÃO! Essa história contém cenas impróprias para


menores de dezoito anos. Contém gatilhos, palavras de baixo calão
e conduta inadequada de personagens. ⠀

[1]
Coworking, ou co-working, ou cotrabalho, é um modelo de trabalho que se baseia no
compartilhamento de espaço e recursos de escritório, reunindo pessoas que trabalham não necessariamente
para a mesma empresa ou na mesma área de atuação, podendo inclusive reunir entre os seus usuários os
profissionais liberais, empreendedores e usuários independentes.

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