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Assim que cheguei em casa naquele dia, após o trabalho, há três anos, ansioso
para ver Tábata, uma modelo lindíssima e minha namorada há algum tempo, eu não
esperava achar em cima da mesa de centro da sala um recado seu dizendo que havia ido
embora.
Aprendi com meus pais a importância da família e que um homem de bem deve
alcançar metas para dar o mínimo de conforto as pessoas que ama, independentemente
de fortuna acumulada ou posição social; e o mais importante: que sempre deveríamos
amar e zelar por aqueles de nosso sangue, ou que escolhíamos para passar o resto de
nossas vidas juntos. E foi isso que fiz assim que me formei em economia, passando a
trabalhar na empresa da minha família para poder me casar com Tábata o mais rápido
possível e construir nosso futuro. Na época, eu era um homem apaixonado, bem
diferente do que sou hoje.
Não acreditei quando li as poucas palavras escritas para mim. Ela me disse que
nosso namoro havia se tornado algo chato e monótono, que eu não era mais o cara
animado e festeiro de antes, que sentia falta das farras que fazíamos na minha época de
faculdade e que eu só trabalhava, pensava e falava em um futuro promissor para nós
dois.
Mas, não é isso que toda mulher deveria querer e esperar do homem que
amava?
Ela se despediu dizendo que não aguentava mais e, por isso, estava indo embora
de vez da minha vida e que, se dependesse dela, eu não a veria nunca mais. Destruindo
nesse momento todos os meus sonhos e o que eu acreditava ser um relacionamento.
Foi aí que, revoltado, dei uma grande guinada em minha vida e me tornei o
playboy farrista que sou hoje. Continuo sendo o diretor financeiro da M.B. Papel e
Celulose, a empresa da minha família, cujo nome é composto pelas iniciais dos
sobrenomes de meu pai e minha mãe, Montenegro Bittencourt, e eles, em especial meu
pai, tem a satisfação de dizer que construíram seu império do zero.
Não costumo cumprir horários, sempre chego atrasado e, às vezes, perco as
reuniões. Usar terno? Nem pensar! É claro que isso sempre acaba me criando alguns
problemas e atritos com o meu velho, que sempre me cobra mais empenho e dedicação.
Entretanto, essa foi a vida que escolhi para mim. No início, eu era ainda muito jovem,
tinha 23 anos, e, como sempre tive tudo o que quis, não soube lidar com a rejeição.
Coloquei em minha cabeça que daquela forma eu jamais perderia um novo amor, porém,
depois acabei me acostumando e gostando da vida que estava levando e hoje faço isso
com o intuito de não me prender a ninguém. Minha mãe, que é formada em psicologia,
diz que eu tenho medo de me apaixonar e me machucar de novo. Talvez ela tenha razão,
mas isso eu não assumo nem para ela, nem para ninguém.
Hoje não lamento mais o fato de Tábata ter ido embora e o nosso
relacionamento não ter dado certo. Tenho várias mulheres à mercê de mim: disponíveis
onde, quando e a hora que eu decidir. Faço festas badaladas e bem frequentadas,
inclusive por famosos, em minha casa. O que, por vezes, deixa minha vizinha de cabelo
em pé e a faz ter discussões icônicas comigo. Confesso que me divirto muito vendo-a
tão irritada. Acho que ela é uma das poucas mulheres do condomínio que não peguei
ainda. Ela é linda, mas chata pra caralho, além de trabalhar na empresa do meu pai, o
que me renderia grandes problemas.
Acho que também é o tipo de mulher para se namorar, casar e constituir família.
E se tem algo que não desejo no momento e acho que nunca vou querer, é um
relacionamento sério com alguém. Eu amo minha vida atual e não me vejo em outra.
Gabriel...
Em definitivo, aquele não era o meu dia. Além de ter que aguentar as asneiras e
indiretas da minha tia Laís, assim que entrei na rua da minha casa, que ficava em um
condomínio de luxo, logo vi que meu vizinho insuportável estava dando outra festa.
Meu deus, será que esse homem não se cansa dessas festas quase todos os
dias?
Há três meses, depois de poupar grande parte do salário, que ganhei como
diretora de marketing da M.B. Papel e Celulose, realizei o sonho da minha casa
própria. Minha primeira aspiração alcançada foi meu carro alguns meses antes, um
Renault Captur Intense, e depois comecei a guardar para a moradia. Queria muito ter
um canto para chamar de meu e que tivesse a minha cara, além de não suportar mais
morar no mesmo teto da minha prima ladra de namorados. Meu desejo era trazer minha
avó comigo, entretanto ela alegou que não podia deixar minha tia e Suelen sozinhas,
pois ambas moravam na casa dela desde que a primeira ficou viúva.
Eu só não esperava me tornar vizinha de um playboy mimado, que vivia na farra
e fazia festas quase todos os dias perturbando o meu sossego. A bagunça só não rolava
quando ele saía de casa à noite para “caça de mulheres”, ou o festim acontecia na
residência de alguma outra pessoa, mas ele sempre voltava acompanhado. Pensei várias
vezes em vender o local onde morava e comprar outro em lugar mais tranquilo, porém
sua audácia, petulância e insistência em me provocar mexeram com a minha vaidade e
resolvi comprar essa briga. Jamais daria a ele o gostinho de achar que havia vencido a
guerra.
O pior é que o mulherengo, farrista e intragável que morava ao lado da minha
casa era ninguém mais, ninguém menos que o filho do meu patrão, o herdeiro da
empresa em que eu trabalhava. Um cara muito irresponsável, que só queria saber de
badernar, cada dia estava com uma mulher diferente, às vezes até mais de uma, sempre
chegava atrasado no trabalho e eu arrisco dizer que só ocupava o cargo de diretor
financeiro porque seu pai era o todo poderoso da MB papel e celulose.
Chamar a polícia para o filho do chefe e correr o risco de perder meu emprego
não estava nos meus planos. No começo até tentei tirar proveito dessa situação e
reclamar dele para o meu patrão, ver se assim ele parava com as festas ininterruptas,
mas foi tudo em vão. Acabei desistindo e hoje o enfrento no tête-à-tête. Nossas
discussões chegam a ser memoráveis, em especial quando saio do sério e dou uma de
louca.
Já era tarde da noite, meio da madrugada, e a festa continuava a todo vapor. Os
convidados do meu vizinho começaram a invadir a varanda e o terreno em volta da
minha casa para transar, usar drogas e algumas coisinhas a mais. E eu continuava sem
conseguir dormir por mais uma noite. Lembrei-me que daí a três dias começariam
minhas férias e, enfim, eu poderia ter meu merecido descanso, pois poderia, pelo
menos, dormir durante o dia, já que a noite o cara da casa ao lado não estava
colaborando e nem disposto a deixar. Entretanto, essa informação não foi suficiente
para me segurar e, irritada, saí de casa pronta para a carnificina, disposta a tudo para
acabar logo com aquela balburdia.
Passei pela porta da casa dele, que estava aberta para que seus convidados
pudessem transitar à vontade pelo local, e caminhei firme em sua direção, desejando
que ele fosse direto para o inferno.
Quem diabos ele achava que era para que seus amigos invadissem meu
espaço? Já não bastava perturbar o meu sossego?
— Dá para você tirar os seus convidados do terreno e da varanda da minha
casa? — Ele olhou para baixo, na verdade bem para baixo, já que era bem mais alto do
que eu, para me encarar com uma expressão de quem não estava entendendo nada.
— O que você disse? Por que está no meio da minha festa vestida desse jeito,
abelhinha? A festa não é do pijama.
Só então me dei conta de como estava vestida. Eu estava deitada, tentando
dormir quando minha varanda foi invadida por uma fulana que mais parecia uma gata no
cio, miando alucinada a cada estocada que recebia. Foi então que percebi o terreno da
minha casa sendo invadido pelos frequentadores da festa do meu vizinho. Fiquei tão
irritada com a situação, que me levantei e nem lembrei de trocar de roupa antes de
invadir sua festa. Sorte que não estava usando nenhuma das minhas camisolas mais
sensuais e sim em discreto pijama composto por short e camiseta regata.
— Não pedi sua opinião sobre o que eu estou trajando. O meu traje é mais
bonito do que muitas roupas das suas convidadas oferecidas. E antes que eu perca as
estribeiras e te dê uns tapas, acho bom você tirar seus amigos da minha varanda e do
terreno que pertence à minha casa ou vou esquecer que você é o filho do meu patrão e
vou chamar a polícia. — Após dar o meu recado em alto e bom som para todos os
presentes ouvirem, dei as costas e saí.
— Você pode se vestir como quiser. Aliás, seu pijama é lindo e me deixou cheio
de tesão. Mas não é de bom tom ir à festa dos outros com roupa de dormir, abelhinha.
Eu já estava quase deixando sua casa quando ele resolveu fazer mais aquela
provocação, me tirando do sério.
— Eu já falei para você parar de me chamar desse apelido ridículo. Eu tenho
nome, sabia?
— E não é isso que você é? Uma abelhinha do ferrão afiado sempre pronta e
disposta a me ferroar?
— Quer saber? Eu não vou mais discutir com você. O meu recado está dado. Se
não quer que eu o denuncie a polícia e resolva o problema a minha maneira, melhor
fazer o que eu mandei. — Ameacei.
— Nossa, que medo de você!
— Não brinque comigo, Gabriel Montenegro Bittencourt. Você não sabe do que
eu sou capaz. Até agora tenho evitado um confronto direto por respeito ao seu pai, que
me é um homem incrível. Entretanto, se eu perder as estribeiras contigo para valer, nada
vai me segurar, mesmo que isso me custe o emprego e cargo dos meus sonhos — falei
tentando não demonstrar fraqueza, nem deixar transparecer que aqueles eram os meus
maiores medos e que só por isso ainda não tinha tomado nenhuma providência a
respeito. — O que seus convidados estão fazendo é invasão de privacidade e
domicílio, além do uso de algumas “coisinhas ilícitas”. — Fiz sinal de aspas no ar. —
Se não quer ficar enrascado com as autoridades, melhor tirá-los de lá e acabar logo
com essa algazarra e me deixar dormir em paz.
— Você está mesmo falando sério?
— Seríssimo, vizinho! Eu não tenho paciência para joguinhos e você já deveria
ter descoberto isso nesses três meses, desde que me mudei para cá.
— Quem é essa mulher, Biel? — Uma loira deslumbrante, daquelas de capa de
revista, indagou ao se aproximar e segurar em seu braço.
— A minha vizinha chata. — Ironizou.
Todos na sala me olharam, medindo forças contra mim.
— Muito prazer, eu sou a vizinha chata, louca e empata-foda e farra de todos
vocês. — Levantei o olhar, deixando claro que não estava nem aí para a opinião que
tinham a meu respeito. — Nos vemos amanhã na empresa, querido vizinho.
Saí de lá sem dizer mais nada, deixando todos de boca aberta.
Meu ataque de loucura acabou surtindo efeito. Pela janela da minha sala pude
ver o pomposo Gabriel Montenegro Bittencourt reunir todos os seus convidados na sala
e acabar com a festa. Aos poucos todos foram se despedindo e batendo em debandada.
Só não vi a loira, que havia conversado com ele na sala, ir embora; com certeza eles
iriam passar a noite juntos.
O que me importa? Que faça bom proveito.
Estava se achando a última bolacha do pacote e seria descartada na manhã
seguinte, como todas as outras. Isso era típico daquele playboy idiota e engomadinho,
cada dia uma mulher diferente. Pelo menos agora eu poderia dormir em paz.
Anna...
Por volta das seis horas da manhã, em plena segunda-feira, antes de ir trabalhar,
abri a porta da minha casa e, irritada, fui limpar a bagunça que os vândalos, que
estavam na casa do meu vizinho na noite anterior, haviam deixado em minha varanda.
Tinha de tudo um pouco: camisinhas, bitucas de cigarro, latas de cerveja, entre outras
coisas.
Quem diabos eles achavam que eram para, além de perturbar minha paz,
deixar toda aquela bagunça no meu quintal?
Irritada, comecei a jogar tudo para o lado dele. E se ele viesse me encher o
saco, iria chutar sua bunda para aprender a nunca mais torrar minha paciência e me tirar
do sério. Eu já havia chegado ao meu limite e suas provocações não estavam ajudando
muito. Uma hora eu explodiria de vez e ele teria o que estava procurando e sem direito
a reclamar de nada.
Gabriel Montenegro Bittencourt era um homem lindo, o sonho de consumo de
dez entre dez mulheres, aquele tipo que molha calcinhas só de olhar: alto, corpo
definido, sorriso perfeito e cativante, cabelos e olhos castanhos, mas se achava o
máximo e acreditava que todas as pessoas deveriam se curvar diante dele e estender um
tapete vermelho para que ele passasse. Suas atitudes eram levianas e egocêntricas,
assim como a sua mania de se achar irresistível. E, para minha falta de sorte, era meu
vizinho. Eu não estava disposta a renunciar à casa dos meus sonhos, mas para que isso
não acontecesse, teria que arrumar um jeito de colocá-lo na linha. Como? Ainda não
sabia.
A vontade que eu tinha era de chutar suas bolas com tanta força que o deixaria
vendo estrelas. Seria um prazer vê-lo sofrer, se estrebuchando de dor. Continuei
jogando toda a sujeira de seus convidados no terreno se sua casa, fazendo questão de
fazer bastante barulho. Queria acordá-lo na marra e contemplar sua cara quando visse o
que eu estava fazendo.
— Bom dia, vizinho. — Cumprimentei-o formalmente, assim que abriu a porta
de sua casa e veio em minha direção.
— Que merda, abelhinha! De novo, não. O que você pensa que está fazendo? —
Aproximou-se irritado ao ver o lixo que eu estava jogando no seu terreno.
— Quantas vezes vou precisar dizer para parar de me chamar desse apelido
ridículo? E eu estou apenas devolvendo o lixo para o dono dele. — Sorri com ironia.
— Pelo jeito, além da vizinha chata, maluca e empata-foda, agora você também
se tornou vingativa. Resolveu sujar toda a área da minha casa só porque tem inveja e
não suporta a minha vida livre e feliz?
— Faz-me rir. — Gargalhei. — Que motivos eu teria para ter inveja de alguém
como você? Um cara que só sabe usar as mulheres e ainda vive como se fosse um
garoto irresponsável de quinze anos.
Em um piscar de olhos, Gabriel já estava quase no meu quintal, vindo em minha
direção, pisando duro, pronto para tirar satisfações, quando fiz uma careta observando
a loira, que não vi ir embora de sua casa ontem, sair pela porta de sua residência e
revirei meus olhos com a constatação de que estava certa e eles tinham passado a noite
juntos de fato. Ele parou onde estava e gargalhou ao notar minha reação. De repente, foi
a vez de uma morena sair lá de dentro e logo em seguida uma ruiva.
— Três? — perguntei, irritada, mais para mim mesma do que para ele. Na
verdade, foi mais um pensamento que não deveria ter saído em voz alta.
— Não vai me dizer que você achou mesmo que tinha acabado com a minha
noite e empatado de vez a minha foda?! — Olhou-me de forma estranha. — A ceninha
que você fez foi até melhor para mim porque pude fazer uma festinha particular e
extravasar a raiva que você me fez passar. E, se quer saber a verdade, foi a melhor
coisa que fiz. As três são demais e foi muito excitante observá-las se pegando entre si.
Em certo momento, até me peguei pensando que se estivesse aqui, você iria gostar de
participar da nossa orgia.
Nervosa com sua audácia, lancei com força a pá que estava segurando na sua
direção. Pegou no seu braço e o vi empertigar-se de dor. Acertei em cheio.
Quem ele pensava que era para falar daquela maneira comigo, como se eu
fosse uma qualquer?
— Que isso, abelhinha? Não sabe brincar, não brinca, garota.
— Experimente insinuar algo do tipo de novo para ver o que eu faço com você.
Eu te capo sem dó, seu idiota. — Ele semicerrou os olhos, como sempre costumava
fazer quando o ameaçava daquela maneira. — Agora se me der licença, vou entrar e me
arrumar porque as nove horas teremos reunião na empresa e, ao contrário de você, o
senhor irresponsável, que faz isso sempre, e tenho certeza de que fará hoje de novo, não
quero me atrasar. — Encarando-o, joguei o último saco de lixo para o lado da casa dele
e saí plena, andando em direção a entrada de minha.
— Hoje se eu me atrasar, abelhinha, a culpa será sua e terei prazer em contar
isso para o meu pai. Dessa vez vou ser eu que vou te entregar e, ao contrário de mim,
que sou filho do dono da M.B., você poderá ser despedida por isso. — Ouvi-o gritar e
me ameaçar assim que adentrei em minha sala e fingindo não o ouvir, bati a porta na sua
cara.
Bingo! Eu sabia que falar aquilo iria afetá-lo em cheio. Gabriel Montenegro
Bittencourt era o tipo de homem que não aguentava ter a verdade jogada em sua cara
daquela maneira. Mais uma vez eu havia conseguido desconcertar e deixar sem
palavras o playboy irresponsável que morava na casa ao lado da minha, fazendo-o ficar
sem palavras. Ele agiu como um adolescente, fazendo ameaças infundadas.
Nossa discussão e o fato de eu ter-lhe devolvido o seu lixo, perto de tudo o que
ele costumava fazer, com certeza, não seria justa causa para me fazer perder o emprego,
mesmo partindo do filho do dono da empresa. O doutor Roger era um homem justo e já
estava cansado da insensatez do filho.
Gabriel...
“Querido Gabriel,
Desculpe-me ter sumido por 3 anos.
Muita coisa aconteceu nesse tempo.
Entre elas Maria Isabel, nossa filha.
Estou indo embora do país para um trabalho internacional e não terei mais
como cuidar dela.
Está na hora de você assumir suas obrigações e direitos de pai.
Não sei se volto e nem quando.
Cuide bem dela.
Com carinho,
Tábata.”
Encarei a garotinha que esticava aos bracinhos em minha direção. Vi-me sem
reação, mas senti algo tocar dentro de mim com a cena. Fiquei com raiva e indignado
com a filha da puta da minha ex por abandonar aquela criança na minha porta após sair
da minha vida sem maiores explicações, deixando apenas um bilhete.
Peguei a criança pela mão, coloquei-a dentro do meu carro e segui até a entrada
principal do condomínio a procura de Tábata, que parecia ter evaporado ou
desaparecido como fumaça. Os guardas da guarita me encaram espantados e
confirmaram a história da menininha. Havia sido aquela maldita que tinha deixado a
garota na minha porta mesmo. Voltei para a minha casa com a menininha, indignado,
perdido e sem saber o que fazer.
Parecia que tudo ao meu redor estava girando e que eu havia ingressado em uma
outra dimensão. Uma garotinha abandonada, sozinha, chorando, na minha porta....
Peguei-a no colo e coloquei para dentro junto com sua pequena mala cor de rosa
e me joguei no sofá, sem reação, apenas observando a pequena criatura que também me
observava, porém bem assustada, com enormes olhos castanhos. Uma lágrima perdida
escorreu pelo seu pequeno e delicado rosto e senti como se uma faca estivesse sendo
fincada em meu coração.
Levantei-me, andei até ela, sentando-me ao seu lado e acariciei seus cabelos
claros, sentindo a suavidade e maciez. Aos poucos nós dois fomos nos acalmando.
Respirei fundo várias vezes, enquanto Belinha me encarava com devoção. Pensei em
chamar a polícia, depois mudei de ideia e pensei que talvez fosse melhor fazer primeiro
o exame de DNA.
Será que ela era mesmo minha filha?
Olhando melhor pude perceber alguns traços e trejeitos muito parecidos com os
meus, mas poderia ser coisa da minha cabeça.
E se ela for mesmo minha? O que eu vou fazer?
Inclinei a cabeça para o lado, observando-a com mais atenção. Resolvi que o
melhor seria fazer primeiro o exame de DNA só para me certificar. Independentemente
do resultado, sendo positivo ou não, talvez fosse melhor eu entregar aquela doce e
assustada garotinha para adoção, já que eu não tinha a menor condição e muito menos a
intenção de ser pai naquele momento.
Esfreguei as mãos no rosto me sentindo perdido. Lembrei-me do fatídico dia em
que Tábata me abandonou e de como eu desejei ter morrido a passar por aquilo tudo.
Levantei-me de súbito com as lembranças, sentindo muita raiva de mim mesmo. Eu não
queria a responsabilidade de me tornar pai. Ter uma família estava fora de cogitação.
Como minha vizinha mesmo vivia repetindo, eu era um playboy irresponsável sem
qualquer condição de dar um lar aquela linda e encantadora criança.
Pedi licença a ela, que continuava me observando assustada, sem nada dizer e
fui até o banheiro jogar um pouco de água em meu rosto. Encarei-me no espelho e o meu
reflexo não se parecia em nada com o de um homem que seria um bom pai. Eu não
estava preparado para aquilo.
Voltei para a sala e após sentar-me novamente, a garotinha se aproximou de mim
com seu jeitinho faceiro, subiu em meu colo e rodeou seus braços no meu pescoço,
abraçando-me e derrubando todas as minhas barreiras erguidas. Abri a boca para falar
alguma coisa e pedir para que se afastasse, mas ela se aconchegou um pouco mais,
distribuindo pequenos beijos estalados pela minha face. E eu fiquei ali com ela em
meus braços, me sentindo perdido.
Pressionei meus dentes com força tentando aplacar a frustração. Minha vontade
era sair atrás de Tábata até encontrá-la e devolver o pequeno pacote que deixou em
minha porta, mas como fazer isso se eu não sabia onde ela estava e nem para onde tinha
ido.
O que eu faço agora, meu Deus?
Gabriel...
Com Belinha, minha suposta filha, nos braços subi e desci os degraus da entrada
da casa de Anna várias vezes. Talvez seja melhor desistir, mas ao mesmo tempo não
tenho a quem recorrer, então volto a subi-los. Tenho que ir ao aniversário da minha mãe
e não posso, do nada, chegar lá com a garotinha no meu colo e dizer que é minha filha.
Primeiro, preciso me certificar através do exame de DNA. Vai que tudo não passa de
uma piada de mau gosto de Tábata.
— Vamos lá, Gabriel, coragem! — sussurrei com meus botões sendo observado
por Maria Isabel. — O pior que pode acontecer é ela dizer não e se negar a ajudar. Se
isso ocorrer você ainda pode tentar argumentar e, em último caso, tem a opção de
implorar. Sinceramente, espero não ter que chegar a esse estremo. Torço para que a
mulher seja emotiva e caia de amores pelas caras e bocas encantadoras que a criança
faz.
Ainda estou criando coragem, quando a porta se abre e seus enormes olhos azuis
me fitam desconfiados.
— Posso saber o que você está fazendo há um tempão na porta da minha casa,
subindo e descendo esses degraus? — perguntou rudemente. — Quem é essa criança?
— Apressou-se em dizer, estranhando a cena a sua frente.
Por que eu resolvi insistir nisso? O que estou fazendo aqui se sei que ela me
odeia e, com certeza, não vai querer me ajudar?
— Na verdade, eu... nós, queremos falar com você — falei apontando para
Belinha, que sorriu para a mulher a nossa frente. — Precisamos de um favor seu.
— Um favor? — Percebi surpresa em seu olhar.
— Isso mesmo. Preciso que você fique com a filha do meu amigo essa noite...
— Menti, afinal ela não precisava saber que a garotinha era minha possível filha.
— Está de brincadeira comigo, não é mesmo? — Interrompeu-me, com um tom
debochado. — Eu nem conheço seu amigo. Por que faria um favor a ele?
— Não. Estou falando sério. É só até eu voltar do aniversário da minha mãe, aí
eu venho aqui e a pego com você.
— Não! — Foi direta e começou a fechar a porta.
— Por favor, me deixe, ao menos, te explicara situação — implorei, me
sentindo humilhado. Pelo jeito eu teria que abrir o jogo sobre a suspeita de paternidade
para convencê-la a me ajudar.
— Eu acho bom você ter um bom motivo para estar me incomodando nas minhas
férias ou vou colocá-lo daqui para fora aos chutes — ameaçou.
Ela abriu espaço para nós e entramos em sua casa. Observei e admirei a
decoração de muito bom gosto, enquanto, sem se alterar, ela me olhava com
curiosidade.
— Anna, eu preciso mesmo da sua ajuda. — Senti-me meio estupido repetindo
aquilo.
Ela se sentou em uma poltrona confortável e me convidou para me abancar no
sofá de dois lugares a sua frente. Acomodei-me ainda com minha suposta filha em meu
colo, aconchegando-a em minhas pernas e fiz um carinho em sua cabecinha.
— Aceita um café? — Ofereceu com educação.
Percebi que ela nos encara com curiosidade e prestando bastante atenção a cena
que se desenrolava entre mim e Belinha. Parecia não acreditar no que via. Qual o
problema? Eu não posso gostar de crianças?
— Claro! — respondi sincero, tentando ganhar tempo e achar uma maneira de
convencê-la a ficar com a criança e contar a verdade sem causar muito impacto.
Anna saiu da sala para buscar o que me ofereceu e eu fiquei de boca aberta
admirando seu rebolado dentro do minúsculo short que estava usando. Tinha que
admitir, apesar de chata, ela era muito linda e gostosa. Alguns minutos depois, minha
vizinha retornou, entregou-me uma xícara e voltou para seu lugar com outra.
— Obrigado. — Agradeci e tomei um longo gole do líquido que estava
delicioso. — Então — Criei coragem e comecei a falar, disposto a contar toda a
verdade. —, como te disse no início, eu preciso de um favor seu. — Prossegui com
minha fala. — Belinha é minha filha.
— Oi, tia beinha! — A garotinha enfim se manifestou, sorrindo e acenando a
mãozinha. Chamando-a pelo apelido que ela detesta e que eu caí na bobeira de falar
para a minha filha na tentativa de fazê-la aceitar ficar na companhia de Anna.
Minha vizinha se engasgou com o café e começou a tossir sem parar.
— Você está bem? — Bati em suas costas, enquanto ela levantava os braços
para o alto, tentando conter a tosse.
— Como eu posso estar bem depois dessa bomba, que me contou!? — Foi
efusiva.
— Entendeu agora por que preciso que você fique com ela para eu ir ao
aniversário da minha mãe? Ela foi deixada hoje na porta de casa com um bilhete. —
Olhei para o teto pensando no que dizer. — Posso te contar os detalhes com mais tempo
depois, se quiser. Sei que já tivemos muitos desentendimentos e você tem todo o direito
de ter raiva de mim, mas não posso chegar à casa dos meus pais com essa criança e do
nada dizer que é minha filha.
— E por que, não? Tenho certeza de que sua mãe vai adorar saber que é avó de
uma linda garotinha.
— Não é tão simples assim, Anna. Antes tenho que ter certeza da paternidade e
de que isso não é uma brincadeira de mau gosto que está sendo feita comigo.
— Nada feito. — Sacudiu a cabeça enfaticamente. — Resolva você os seus
problemas. Peça ajuda as suas amigas, frequentadoras das suas festas.
— Tia beinha não gota de Belinha. — A garotinha começou a chorar e por
instinto Anna estendeu os braços para ela, que se jogou em seu colo.
— Não, meu amor, a tia Anna gosta de você; ela não se dá bem com o seu pai, é
diferente. — Acariciou o cabelinho da menina, que logo se acalmou.
— Ótimo, vou deixar vocês duas sozinhas para que se entendam. — Falei e, me
aproveitando da situação, resolvi jogar um pouco sujo para conseguir o que eu queria e
fui saindo da sua casa. — Eu preciso ir, já estou atrasado.
— Gabriel Montenegro Bittencourt, volta aqui agora. — Ela saiu gritando atrás
de mim. — Eu não disse que ficaria com a menina. A filha é sua e você tem que ser
responsável pelos seus atos. Volta aqui agora.
— Eu prometo que volto logo e a busco — gritei — Depois faço o que você
quiser, Anna. Até te pago se for preciso. — Entrei no meu carro e dei partida antes que
ela me alcançasse. — Você vai gostar dela, é uma criança muito boazinha. Vão se dar
bem.
— Droga, Gabriel! — Bateu um dos pés com força no chão, irritada, mas
desistiu de brigar ao ver que não conseguiria me alcançar e devolver a criança. — Se
não vier buscá-la eu juro que arranco suas bolas com uma faca de serrinha para ser bem
lento e dolorido — bradou a ameaça e eu, mais que depressa, arranquei com o carro,
para não dar sorte ao azar.
Anna...
Maldito! Quem ele achava que era para fazer isso comigo?
Onde já se viu, se aproveitar do fato de eu estar consolando uma criança para
fugir dessa maneira. Na primeira oportunidade eu vou afrontá-lo e falarei poucas e boas
em sua cara. Só espero que ele cumpra com a palavra e volte para buscar a garotinha.
Se não voltar, é mais um motivo para eu sair do sério.
E agora, meu Deus, o que eu faço?
Nem acredito que ele conseguiu arruinar um dia das minhas férias. Eu estava
preparada para assistir alguns filmes na Netflix até tarde. Nem isso posso fazer mais,
porque, com certeza, eles não terão classificação etária para alguém tão jovem.
— Acho que agora somos só nós duas, lindinha — falei meio sem saber o que
fazer sozinha com a menina em meus braços.
— Nossa! — A garotinha me encarou nos olhos e acariciou os meus cabelos. —
Tia beinha é tão monita. Vochê é namolada do meu papai? — perguntou curiosa.
Ela me olhou de cima a baixo, como se estivesse me analisando e depois sorriu
com seus poucos dentinhos minúsculos, evidenciando uma covinha na bochecha, como a
do pai. Ela é tão linda que parece aquelas crianças de comerciais de TV. Suas feições
são muito parecidas com Gabriel. Ele está falando em fazer exame de DNA, mas acho
que nem precisava. Ela é uma cópia dele em miniatura, só que com os cabelos mais
claros.
— Não, eu sou só a vizinha. — Baguncei o seu cabelo com a mão. — E eu
gostaria que me chamasse de tia Anna, esse é o meu nome.
— Tá bom, tia Naninha. — Encarou-me sem graça por não conseguir falar meu
nome no diminutivo do jeito certo e eu sorri, tranquilizando-a. Antes Naninha do que
beinha. Isso me lembrou que eu precisava ter uma conversa muito séria com o pai
daquela criança. Como ele ousa contar o apelido ridículo que me deu para ela?
— Vamos entrar? — disse, incomodada com seu olhar que não parava de me
avaliar. — Gosta de achocolatado? Posso fazer um para você.
— Eu quelo — assentiu com a cabecinha. — Tia Naninha é tãooooo boazinha.
A mamãe Tátata é bava, guita muito comigo. — falou baixinho. — O papai Gabiel
também é bonzinho, não gotou de ver Belinha chorá e fez carinho. Você é amiguinha
dele?
— Não muito. — Evitei dar muitos detalhes. Afinal, como dizer a uma criança
que eu odeio o pai dela e tudo o que penso a seu respeito? Vi quando seus olhinhos
brilharam. — Você se parece muito com ele, sabia?
— Então, eu sou muito bonita, poiquê o papai é lindão — sussurrou e eu
assenti. Não tinha como negar a beleza dele. Se não fosse tão insuportável e
irresponsável, seria o meu sonho de consumo. — Você num qué namolá com ele?
— Acredite em mim, Belinha, essa não é uma boa ideia. — Fiz uma careta,
descontente.
Como eu não tinha uma mamadeira na minha casa e o pai relapso não trouxe
nenhum pertence da criança para que eu pudesse usar, coloquei o achocolatado que bati
no liquidificador em um copo de acrílico, peguei um canudo em uma das gavetas do
meu armário da cozinha, ainda bem que tenho alguns que às vezes uso para tomar algum
drink ou refrigerante, e o coloquei na boca da criança, que sorveu o líquido
rapidamente. Pelo jeito estava com fome. Eu não me admiraria se o pai dela tivesse
esquecido de alimentá-la. Aliás, acho bem provável que isso tenha acontecido.
Depois levei-a até o sofá da sala e liguei a televisão em um canal infantil
qualquer. Ainda bem que pago assinatura de um pacote de canais fechados que tem
alguns para crianças. Ela se deitou entre as almofadas, eu fiz o mesmo ao seu lado, que
começou a enrolar mechas do meu cabelo no dedinho e logo pegou no sono.
Olhei mais uma vez para o relógio. Droga! Estava ficando tarde. Que parte do
que disse sobre não aparecer para buscar a criança Gabriel não entendeu? Tenho
certeza de que fui bastante enfática quando eu disse que arrancaria suas bolas com uma
faca de serrinha, de forma lenta e dolorida.
Olhei pela janela e nada. Voltei para o sofá e me deitei de novo. Resolvi assistir
mais um filme para ver se o tempo passava mais rápido. Já que Belinha havia dormido,
não vi mal nenhum em seguir com os meus planos anteriores. Acabei adormecendo
também, mas acordei assustada com sons de vozes e portas de carro batendo. Fui até a
janela da sala e vi Gabriel chegando em casa acompanhado da mesma loira da última
festa e fiquei puta.
Com cuidado para não a acordar, afinal a menina era muito boazinha e não tinha
culpa dos absurdos que o pai fazia, peguei Belinha no colo e saí de casa a passos
firmes, indo em direção a residência vizinha da minha.
— Está atrasado, Gabriel Montenegro Bittencourt. Sua filha até cansou de
esperar e adormeceu no meu sofá. — Coloquei a menina em seus braços.
— Anna, eu ia buscá-la assim que Rayssa fosse embora. Eu juro! — disse, meio
sem graça.
— Ótimo! Poupei o seu trabalho de ter que ir até minha casa para pegá-la. —
Ele me olhou parecendo irritado.
— Espere aí, você disse filha? — A loira afinal resolveu se pronunciar. —
Gabriel é pai dessa criança?
— Ele não te contou, querida? — falei baixo para evitar despertar a criança. —
Ele descobriu isso hoje. Evitou contar direito os detalhes, mas parece que a mãe da
garotinha a deixou de presente para ele. E veja só que maravilha, ela fará companhia
para vocês dois a noite inteira. — Fui irônica e a cara que ela fez foi impagável.
— Acho melhor eu ir embora. Nos falamos em uma próxima oportunidade,
Gabriel. — A perua foi logo se esquivando ao perceber que não ia conseguir o que
queria e ainda teria que ajudá-lo a cuidar da criança.
— Espere um momento, Rayssa — argumentou. — Você está a pé, veio de
carona comigo. Vou levá-la para casa. Tenho certeza de que Anna não se importará de
ficar um pouco mais com Maria Isabel.
— Me importo, sim. — Crispei os lábios. — O combinado era eu ficar com ela
até você chegar do aniversário da sua mãe. Agora a responsabilidade é sua. Toma que o
filho é seu!
Se ele achava que ia me fazer de boba mais uma vez, estava muito enganado.
— Não se preocupe, Biel. Eu chamo um motorista de aplicativo lá da portaria.
Tchau. — A patricinha foi saindo rápido e de fininho.
Aproveitei sua partida para ir embora também. Movi minhas pernas em direção
a minha casa, enquanto ele me observava contrariado.
— Isso é covardia, sabia, abelhinha? Eu não ia deixar a menina a noite inteira
com você. Só queria me distrair um pouco antes de pegá-la. Acho que mereço depois de
tudo o que passei — sibilou. — E não precisava sair por aí contando a torto e a direito
sobre a Belinha. Talvez ela nem seja filha minha. — Aumentou o tom de voz à medida
que eu ia me afastando.
— Eu não contei para todo mundo, só para a sua amiguinha — respondi,
virando-me de novo em sua direção. — E a quem você quer enganar? Já olhou direito
para essa criança? Ela é a tua cara. E se eu fosse você, parava de gritar, porque ela
pode despertar e terá que passar a noite inteira acordado tentando fazê-la dormir de
novo — falei com ironia.
Ele anuiu, reconhecendo que eu tinha razão quanto a isso. Entrei em casa e
fechei a porta sem olhar para trás, me sentindo vitoriosa. Aquele homem me dava nos
nervos.
Anna...
Olhei para a tela do meu celular que estava na minha mesa de cabeceira. Droga!
Quatro horas da manhã? Quem estaria socando a porta da minha casa e apertando a
campainha naquele momento? Será que havia acontecido algo com minha avó? Acho
difícil, pois havíamos conversado mais cedo e estava tudo bem. E se fosse algo com
ela, seria o meu telefone a tocar com insistência, devido à distância de nossas casas.
Levantei-me irritada... Meu Deus! A minha vontade era dar uns tapas em quem
estava fazendo aquele alarde todo. E com bastante força, para aprender a não
importunar as pessoas na alta madrugada. Com certeza, a pessoa não entendia nada
sobre a lei do silêncio. Novas batidas violentas soaram, mas quem estava lá fora deve
ter ouvido o barulho dos meus passos, pois se apressou em parar.
Estava pronta para xingar e dizer poucas e boas quando me deparei com um
Gabriel desesperado e impaciente.
— Boa noite. — Cumprimentou-me de maneira formal e se escorou no batente
da porta, respirando com dificuldade.
— Não vá me dizer que não conseguiu dormir por causa da nossa discussão
mais cedo e resolveu vir me acordar para brigar. Não suporto ser despertada dessa
maneira, sabia? Se soubesse que era você, nem teria atendido.
Foi então que notei que ele parecia muito nervoso. Estava só de camiseta e
cueca boxer. Devia ter acontecido algo muito grave para estar a minha porta àquela
hora e vestido daquela maneira. Lembrei-me de Belinha e entrei em pânico. O que
aquele irresponsável poderia ter deixado acontecer com a garotinha?
— O que foi que aconteceu? Belinha está bem? — questionei.
Coloquei a cabeça para fora, procurei pela criança, mas não a encontrei. Foi
então que ouvi seu choro estridente ao longe.
— Por que ela está chorando? O que você fez? — Apontei o dedo para o seu
peito, revirando os olhos.
— Porra, abelhinha, não fala assim. Eu já estou me sentindo o pior pai do
mundo — falou, tomando fôlego.
— Então, o que aconteceu para ela estar aos berros e você colocando a porta da
minha casa abaixo desse jeito?
Gabriel arregalou os olhos, engoliu em seco e, mesmo assim, não conseguiu
disfarçar suas feições assustadas.
— Eu não sei. Estávamos os dois dormindo tranquilos, quando ela acordou e
começou a chorar — respondeu baixo. — perguntei por que ela estava chorando e
Belinha só respondeu que queria tetê. Eu vou lá saber o que é isso? Preciso da sua
ajuda para descobrir.
— É a maneira como algumas crianças pedem por mamadeira, Gabriel. Você só
precisa dar leite para ela.
— Ah, não, merda! — Se moveu de forma irritada pela minha varanda. — Justo
leite? Eu não tenho isso em casa.
— Você está brincando comigo, não é mesmo? — Quebrei os segundos de
silêncio que se instalaram entre nós. — Como pode ter uma criança em casa e não ter
leite?
Aproximei-me dele e vi quando sua mandíbula vibrou de descontentamento.
— Olha, abelhinha, eu descobri que sou pai há poucas horas, ok? Se é que ela é
minha filha de verdade. Maria Isabel chegou em minha casa de surpresa essa tarde, a
noite eu fui ao aniversário da minha mãe e você me devolveu a criança de supetão, já
dormindo. Eu não tive tempo de me preparar e pensar nessas coisas práticas. Agora a
minha filha está se esgoelando na casa ao lado e nós aqui jogando conversa fora. Dá
para me ajudar e me ensinar como faz ela parar de chorar, por favor? — indagou.
— Vou, sim. Mas por ela, não por você. Para sua sorte, eu tenho leite em casa.
Vou pegar um litro e encontro vocês dois em minutos na sua casa — sibilei.
Minha cabeça está rodando e, de verdade, não sei o que fazer. A quem estou
querendo enganar? Está na cara que a garotinha loira que foi deixada em minha porta é
minha filha com Tábata. Só não entendo o porquê de ela não ter me procurado antes
para contar sobre a criança e ter resolvido deixá-la comigo agora, tanto tempo depois, e
de forma tão tempestuosa. Tenho que confessar que não me agrada a ideia de entregar
Belinha para adoção. Meu coração e minha consciência estão pesados.
Mas como posso criar essa criança sozinho?
Não tem outro jeito e me vejo tentando me convencer, de todas as formas
possíveis que vai ser melhor para ela.
A minha vizinha parece ser uma mulher tão centrada, cheguei a cogitar a
possibilidade de pedir a sua ajuda para criar Belinha, mas ouvi um sonoro não.
Desesperado, assisti Anna ir embora para a sua casa após se negar a me ajudar. Mas me
recusei a ir atrás dela, seria humilhação demais. Não sou homem de me rastejar por
nada nesse mundo. Se não quer me ajudar, tudo bem, eu dou outro jeito e o único que me
resta é aquele que está me deixando pesaroso.
Voltei para dentro da minha residência remoendo tudo o que ela me disse. Não
tinha muito o que se fazer, havia voltado à estaca a zero e a única solução que eu
conseguia enxergar era a de entregar a garotinha para adoção. Claro que primeiro faria
o exame de DNA e depois com o resultado em mãos eu tomaria as medidas cabíveis
para tal ato.
Acordei na manhã seguinte, ou melhor me levantei da cama, porque não
consegui pregar os olhos, e fui direto para a cozinha preparar o tal tetê da minha filha,
antes que ela acordasse e começasse o show de horrores, se esgoelando por um pouco
de leite.
Fui atraído pelo toque da campainha, seguida de leves batidas em minha porta.
De imediato, senti uma sensação de alívio. Pensei na possibilidade de ser a pessoa que
resolveu fazer aquela brincadeira de mau gosto comigo, estar voltando para pegar a
menina e assim minha vida voltaria ao normal e o pesadelo acabaria. Ao abri-la, me
deparei com os olhos azuis de Anna Ayala, minha vizinha e diretora de marketing da
empresa de meu pai.
— Eu topo.
— O quê?
— Te ajudar a cuidar de Belinha.
— Está falando sério? Vai me auxiliar com a menina?
Eu não estava nem acreditando. Na minha cabeça eu já cogitava que após
morrer eu iria para o inferno por abandonar minha filha para adoção, sem ao menos
tentar criá-la.
— Por Belinha. — Fez questão de deixar claro. — Mas eu tenho algumas
condições.
— Tenho até medo de ouvi-las, abelhinha — sibilei.
— Uma delas é exatamente essa, que você pare de me chamar desse apelido
ridículo.
— Não sei qual o seu problema com ele. Eu acho tão fofo. — Tentei dissuadi-la
da ideia. Na real, eu gostava de chamá-la assim. No início era só para provocá-la, mas
no fim acabei achando que o apelido lhe caía muito bem. Tinha tudo a ver. — Juro que
nunca te intitulei assim por maldade. É um apelido carinhoso. Acho fofo como você
reage quando te chamo assim.
Ela ponderou, porém logo voltou atrás. Percebi pelo seu jeito que era melhor
não insistir ou logo iniciaria uma nova discussão.
— Se quer minha ajuda, precisamos de um acordo. — Adotou uma postura
sincera. — Vamos fazer uma trégua em nossos desentendimentos para que todos
saiamos felizes nessa equação. Por isso, nada de apelido para que não haja nenhum
contratempo. Eu, realmente, odeio essa alcunha.
Ela arqueou uma das sobrancelhas e percebi que vinha mais coisa por aí. Seria
ingenuidade minha achar que sua única condição seria a questão da maneira com que eu
me referia a ela.
— E quais as outras condições, Anna? — Dei ênfase ao seu nome e coloquei a
mão no queixo, observando-a intensamente.
— Eu te ajudo a cuidar de Belinha durante esse mês que estou de férias, até que
você consiga uma babá, para ter quem fique com ela depois que eu voltar a trabalhar.
— Abri e fechei a boca com uma sensação estranha. Com certeza, vinha coisa dura por
aí. — Em troca, além da questão do apelido, você se compromete a não fazer mais
festas.
— Só isso? — Sendo sarcástico, abri os meus braços, quantificando a extensão
de seu pedido.
— Não, ainda tem mais.
— E quais seriam as outras exigências da “madame”? — Abri aspas, sendo
irônico.
— Só estou prezando pela sua filha, se não quer, tudo bem. Eu vou embora e
você finge que nunca estive aqui.
— Tá legal! — Levantei minha mão em rendição. — Continue.
— Você também irá se comprometer em assumir de vez e sem ressalvas o seu
cargo na M.B., para que Belinha possa ter orgulho do pai que tem. Irá trabalhar todos os
dias, cumprir os horários, sem atrasos e de terno e gravata. — Senti-me asfixiado só de
pensar, mas preferi não dizer nada. Na hora certa tentaria uma negociação. — E vai me
prometer pensar melhor, mesmo que as coisas estejam difíceis e complicadas, nessa
história de mandar sua filha para adoção.
— Podemos negociar? — propus. — Já que é da sua vontade, de agora em
diante só a chamarei de Anna, não vejo motivos para alterar essa regra, já que é bem
simples e não implica em nenhuma mudança em minha vida. — Ela sorriu vitoriosa. —
Quanto as festas em minha casa: por quem me tomas, Anna? Não sou louco de fazer
minha filha conviver com algo promíscuo do tipo. Já o cargo da empresa, não vai ser
fácil, me sinto claustrofóbico só de pensar, mas prometo tentar, além de querer que
Maria Isabel, se for de verdade minha filha, sinta orgulho de mim, acho que meus pais
também ficarão felizes com essa iniciativa.
— E quanto a tantas mulheres entrando e saindo da sua casa? — indagou,
curiosa. — Acho que não deveria mais trazê-las aqui.
— O quê? Não pensei nisso. Podemos negociar essa? — Fui direto ao assunto.
— Se não vou poder fazer sexo, você também não. A menos que abramos para
encontros, onde um fica com Belinha enquanto o outro sai. E assim podemos criar uma
escala. O que acha? Quanto a me ajudar só até eu encontrar uma babá, quero que mesmo
depois que isso aconteça você continue me ajudando nos dias de folga dela e a noite,
depois que ela for embora e nos finais de semana. Como vou estar em casa não acho
necessário ter uma pessoa estranha aqui dentro. E por fim, prometo sim pensar melhor
sobre a adoção, desde que você continue me ajudando como prometeu. — Sustento o
seu olhar com o meu. — Então, o que me diz?
— Acho que posso conviver com isso, desde que os encontros se resumam a
duas vezes ao mês. Ou eu vou levar desvantagem e ter que ficar muito mais com Belinha
do que você — concluiu. — O que eu não acho justo, já que é o pai. Não sou do tipo
que sai com todo mundo ou qualquer um. Diferentemente de você, é claro. Aceito
continuar te ajudando mesmo após encontrar uma babá, com ressalvas desde já aos
domingos, que é o dia de eu visitar e ficar um pouco com minha avó.
— Vai me deixar sozinho com a menina aos domingos? — indaguei assustado.
— Todos eles?
— É pegar ou largar. — Desafiou-me.
— Eu pego — assenti.
— Fechado, então? — indagou e estendeu a mão em minha direção.
— Combinado.
Mal sabia eu que aquele estranho acordo mudaria minha vida em todos os
sentidos e para melhor.
Gabriel...
Depois da conversa que tive com Anna, onde ela se propôs a me ajudar com
Maria Isabel, apesar de ter imposto um monte de condições, confesso que consegui me
sentir mais calmo e confiante. Até que as coisas que ela sugeriu, não foram tão ruins
assim ou difíceis de cumprir.
De qualquer forma, com uma criança em casa, seria complicado e imprudente
continuar levando uma vida desregrada como era a minha até então. Usar terno e
gravata iria me incomodar muito, mas não era nada com o qual eu não pudesse conviver
e me acostumar, afinal, num passado não muito distante, era assim que eu me trajava
para trabalhar.
Prometi pensar melhor sobre caso de não entregar a bela garotinha para adoção,
mesmo sem ter certeza de que conseguiria honrar com minha palavra. Se ela não fosse
minha filha, o que eu já estava convencido de que seria difícil acontecer, eu faria isso
sim. Com certeza, seria o melhor para ela. Talvez até mesmo se eu fosse o seu pai,
fosse o mais recomendado. A verdade é que eu estava com muito medo dessa história
toda.
O que mais me desagradou, foi ter que parar de apelidá-la de abelhinha. Na
real, eu gostava de chamá-la daquela maneira. Achava que o apelido se encaixava com
perfeição e adorava a sua reação. Conseguia ficar ainda mais bonita do que já era.
Não se enganem que isso significa algo especial para mim ou que eu a ache
linda a ponto de pensar em um relacionamento. De jeito nenhum! Deus que me livre de
me envolver com uma mulher brava e mandona daquela!
Assim que Anna deixou a minha casa, se comprometendo a ir comigo e Belinha
ao laboratório para, enfim, fazermos o exame de DNA, ouvi o choro da minha filha no
quarto, que pelo jeito já estava de novo com fome. Dei a mamadeira para ela e, após
ela insistir muito, acabei cedendo e deixei que escolhesse as próprias roupas,
auxiliando-a apenas a se vestir e rezando para não ser criticado ou chamado de pai
relapso.
Não fazia a mínima ideia de como vestir uma criança. Tive também que
exercitar minha paciência e ajudá-la a escovar os próprios dentinhos. Ao final, fiz uma
anotação mental para perguntar a Anna se eu havia feito certo, pois não quero que minha
filha entre para as estatísticas cruéis dos desdentados, apesar dos seus ainda serem
poucos e decíduos, os populares dentes de leite.
Lembro-me de certa vez, há uns 3 anos mais ou menos, ter lido em uma coluna
de saúde de um jornal, uma matéria escrita por um renomado cirurgião-dentista que
dizia que o Brasil é um país de desdentados. Que triste realidade, meu Deus! Isso me
chocou tanto, que cheguei a guardar na memória os números assustadores que li.
O estudo feito por ele dizia que trinta e nove milhões de brasileiros usavam
algum tipo de prótese dentária e que um em cada cinco deles tinham entre vinte e cinco
e quarenta e quatro anos. Dezesseis milhões não tinham nenhum dente na boca e que
mais de quarenta por cento deles eram idosos acima dos 60 anos. Para trinta e dois por
cento dos entrevistados, a perda dos dentes os impedia de levar uma vida saudável e
ativa. Deles, cinquenta e dois por cento disseram que sem os dentes ficaram com a
aparência pior, vinte e um por cento que a condição lhes impediu de fazer novos
amigos, trinta e oito por cento que se sentiam inseguros em festas e eventos sociais e
quarenta e um por cento relataram ter dificuldades de pronunciar algumas palavras.[1]
Isso me fez lembrar também que, se Belinha fosse minha filha de verdade e eu
fosse ficar com ela, teria que levá-la a um dentista e procurar saber como estava a sua
saúde bucal, assim como a um médico pediatra também. Não dava para ser relapso e
ignorar certas coisas, principalmente aquelas relacionadas a sua saúde.
Será que eu daria conta? Conseguiria ser um bom pai?
Esses pensamentos rondavam a minha cabeça e me deixavam muito inseguro,
pois nem eu mesmo conseguia acreditar nisso.
Sempre ouvi dizer que pais quando saiam com seus filhos levavam uma mala
pronta com todas as coisas que a criança poderia precisar, como não fazia ideia do que
fosse, peguei sua mala completa, aquela mesma com a qual ela havia sido deixada na
porta da minha casa, joguei lá dentro uma mamadeira e coloquei no porta-malas do meu
carro, um luxuoso Lamborghini Aventador preto. Retirei o carro garagem, parei em
frente à casa de Anna e, após buzinar, aguardei que ela entrasse no veículo para
seguirmos em direção ao laboratório.
Não consegui dizer nada além de um sussurrado “oi”. Eu estava muito tenso com
a situação, a minha vizinha pareceu perceber isso e como se entendesse o meu lado, não
tentou puxar assunto, apenas sorriu para mim em sinal de cumplicidade e entrou no
banco de trás, pegando Belinha, que ainda não tinha uma cadeirinha por eu não ter tido
tempo de comprar, no colo, prendendo as duas juntas no cinto de segurança.
Meu Deus, mal havia começado o processo de ser pai e já estava sendo
inconsequente com minha filha! Precisava comprar uma cadeirinha urgente, mas
primeiro precisava do resultado do maldito exame que estávamos indo realizar e me
decidir o que fazer com a criança.
Encarei as duas pelo retrovisor, a bela loira de olhos azuis, de vestido tubinho
preto, extremamente elegante, e a linda garotinha de vestido rosa, amassado por ter
permanecido por muito tempo dentro da mala, uma tiara da mesma cor com um laço
enorme e meio sonolenta. Bem que meus amigos e primos casados e com filhos sempre
me disseram que passear de carro era um santo remédio para as crianças dormirem. Foi
então que me dei conta da sensação de paz e lugar comum que se apossou de meu
coração, como se o que estava acontecendo ali fosse a coisa mais certa desse mundo.
Confesso que me senti incomodado com a profundidade desses sentimentos e sensações.
— Droga, Anna! Estou me sentindo um bunda mole vestido assim. — Ela riu,
enquanto eu falava.
— Você prometeu. Além do mais, faz parte do nosso acordo, lembra? — disse,
ajeitando a minha gravata.
Maldita hora em que fui aceitar suas condições. No início, achei que seria fácil
voltar a me trajar como um executivo, mas assim que coloquei aquela maldita gravata,
comecei a me sentir sufocado por ela.
— Olha, não vai ser tão ruim assim. Pensa pelo lado bom da coisa, quando sua
filha começar a entender, vai se sentir orgulhosa de ter um pai trabalhador, honesto,
cumpridor de suas obrigações. — Arqueou uma sobrancelha, balançando o indicador
em minha direção. — No futuro, você ainda vai me agradecer por isso.
— Tá legal! Você também vai ficar orgulhosa de mim? — Revelo, sem querer, a
minha curiosidade sobre ela.
Pensei também em como deixaria meu pai e minha mãe felizes com essa
mudança repentina. Eles vêm me cobrando isso há algum tempo e eu sempre me
negando com veemência. Agora com o surgimento de Belinha e o acordo com Anna, eu,
finalmente, iria realizar o grande desejo deles, voltar a ser aquele Gabriel responsável
e dedicado ao trabalho, à empresa e a profissão que eu um dia fui.
— Todos nós ficaremos, Gabriel. — Revirou os olhos. — Belinha, seus pais,
parentes, amigos, vizinhos e até eu.
Por que será que ela havia se colocado em último lugar na lista? E o que quis
dizer com “até eu”?
Pensei, porém, achei melhor deixar para lá. Vai que a resposta fosse algo que
iria me desagradar.
— Você sabe que meu pai não é bobo e vai desconfiar que existe algo de errado
acontecendo, não é mesmo? — Faço mais uma tentativa inútil de convencê-la a mudar
de ideia. — Será que não é melhor deixarmos para começar essa parte do acordo
depois que o resultado do exame sair? Vai que ela nem é minha filha.
— Não, porque eu não tenho dúvida nenhuma desse resultado. — Derrotado,
desviei meus olhos dos seus. — Por que você não aproveita e já conta toda a verdade
para o doutor Roger? Tenho certeza de que ele e dona Cora ficarão felizes com a
notícia de que são avós.
— Tá louca, Anna? — Riu mais uma vez, ajeitando agora o paletó do meu terno.
— Só vou contar quando tiver certeza e estiver com resultado do DNA em mãos.
— Ok, você é quem sabe! — Encarou-me com olhos expressivos.
— Sabe, eu estava pensando aqui, se combinamos de cuidar juntos de Maria
Isabel, não tem sentido eu ir trabalhar e te deixar sozinha aqui com ela — falei, me
aproximando um pouco mais e assistindo de camarote ela revirar os olhos. — Acho que
tem um furo em nosso acordo e precisamos renegociar as condições.
— Não seja babaca, Gabriel Montenegro Bittencourt. Estou por um triz de
discutir com você de novo e infringir mais uma vez a cláusula da nossa trégua. — Senti
o nó da minha gravata me incomodar de novo e mexi nele, enquanto ela continuava a
falar. — O que combinamos é que eu te ajudaria a cuidar da garotinha até o final das
minhas férias, ou que você contratasse uma babá. E é isso que vou fazer, estou de folga
e ficarei com ela o dia todo para que você trabalhe. Por falar nisso, é melhor você se
despedir da sua filha e sair, ou vai chegar atrasado.
Encostei no balcão da minha cozinha, pensativo. Tomado por uma vontade
enorme de jogar tudo para o alto. Voltei a me concentrar no que Anna havia dito e fui
até o quarto de Belinha, que já estava acordada com seus olhinhos enormes arregalados
e sorriu para mim de um jeito encantador. Eu já estava começando a me apegar aquela
garotinha, só não sabia se isso era bom ou ruim.
— Oi, filha. Bom dia! — Aproximei-me, beijei sua cabecinha e falei, tentando
mostrar animação. — O papai está indo trabalhar e a tia Anna vai ficar com você até eu
voltar.
Era estranho falar com ela daquela maneira, assumindo nossa condição de pai e
filha sem, ao menos, estar de posse do resultado do exame de DNA e ter certeza disso.
— Vô senti sodade de vochê, papai. — Levantou-se, ficando em pé na cama,
enlaçou o meu pescoço e me deu um beijo molhado e estalado na face.
— Também vou sentir saudades, mas prometo voltar logo.
— Você vai retornar ao final do expediente. — Anna apareceu como um
fantasma na porta e falou levando a mão na cintura. — Trato é trato. — Revirei os olhos
para ela.
— Claro que sim. — Inclinei-me para dar um último beijo em Belinha. — Mas
tenho certeza e esperança de que o tempo passará rápido.
— Ótimo! — Sorriu vitoriosa. — Agora vá ou vou achar que está procurando
um pretexto para se atrasar.
— Puta que pariu, Anna! Você é mesmo chave de cadeia. — Apressei-me em
dizer, passando por ela e indo em direção a saída.
— Tudo bem! — Acompanhou-me até a porta. — Se quiser, paramos tudo por
aqui e você cuida da garota sozinho. Aliás, você deveria moderar suas palavras chulas
na frente dela. Não é nada saudável para a criança ficar ouvindo seu pai falar
palavrões.
— Vá a merda! — Aproximo-me mais dela, puto da vida.
— Se você continuar irritado comigo e prosseguirmos discutindo, vai ser pior!
Conforme o nosso acordo, você terá que trabalhar todos os dias de forma responsável.
Agirá sempre assim? — Suspirei longamente, engolindo as palavras para não prolongar
aquela discussão.
— Deus que me proteja de você. — Tamborilei os dedos na porta. — Se
precisar de mim ou acontecer algo, me liga, que volto correndo para casa.
— Vai tranquilo, ficará tudo bem com nós duas.
Aproximou-se mais uma vez para ajeitar de novo minha gravata e nossos
olhares se cruzaram. Aquela maldita atração que sinto por ela, em especial quando
estamos brigando, ressurge e a minha vontade é tomá-la em meus braços e tascar-lhe um
beijo de arrepiar seu corpo inteiro. Droga! Preciso sair com alguma das minhas
“amigas” para me aliviar ou isso aqui vai dar merda.
— Anna, Anna... — Forcei um afastamento, sem a mínima vontade. — Você está
brincando com fogo, abelhinha.
— Como assim?
— Até mais tarde! — Não respondi a sua pergunta, me afastando dela e saindo
de casa em direção ao meu carro.
— Não sei se você percebeu, mas acaba de infringir mais uma regra me
chamando por esse apelido ridículo — gritou e sua braveza, sem explicação, reflete em
meu pau, fazendo-o pulsar dentro das minhas calças.
O que está acontecendo comigo, meu Deus?
Só podia ser falta de sexo. Precisava dar um jeito naquilo urgente.
— Posso saber que milagre foi esse? — Meu pai entrou em minha sala sem ser
anunciado, fazendo sua voz ecoar por toda ela.
— Que susto pai. — Quase deixei cair o celular, que estava segurando enquanto
olhava uma foto que tirei de Belinha ontem na sorveteria, na qual Anna aparecia no
fundo.
— O que trouxe o meu filho pródigo à empresa no início do expediente de terno
e gravata? — falou, colocando as mãos nos bolsos.
Achei engraçada a reação dele diante de tudo. Não era isso que ele queria e me
cobrava há três anos? Ao invés de ficar feliz, parece apenas curioso e achando que
estou aprontando alguma coisa.
— Não é o que o senhor e minha mãe sempre quiseram e sonharam? — Franziu
o cenho, enquanto se sentava a minha frente. — Resolvi seguir o seu conselho. Estou de
volta ao modo homem responsável e de família. — Eu esperava estar sendo
convincente, não queria falar sobre Belinha ainda.
— Gabriel...
— Tudo bem, pai. Eu estou de volta.
— Você está me escondendo alguma coisa?
— Por que estaria?
— Porque conversamos há poucos dias e você não me pareceu muito disposto a
ceder.
— O senhor me pediu para pensar melhor a respeito. Foi o que fiz e resolvi
voltar.
— Você tem certeza de que é só isso? Não há nada mais por trás da sua
decisão? — questionou, deixando-me surpreso.
— Fique tranquilo, doutor Roger, está tudo sob controle. — Menti
descaradamente.
— Está seguro disso? — Balançou a cabeça em minha direção. — Você sabe,
meu filho, que se estiver acontecendo alguma coisa ou com algum problema, pode se
abrir comigo. Eu o ajudarei, independentemente de qualquer coisa.
— Pai, de boa! Não precisa se preocupar. Estou mesmo voltando por livre e
espontânea vontade. Porque eu quero isso.
— Está falando sério?
— É claro que sim.
— Ah, Gabriel! — Massageou as têmporas. — Por que eu tenho a ligeira
impressão de que está me escondendo algo?
— Tá legal, pai! — Cerrei os dentes. — Não tem como enganar o senhor
mesmo. Tem sim algo por trás da minha decisão de voltar.
— Suponho que você não irá me falar o que é.
— Por enquanto, não. — Adiantei-me em dizer. — Na hora certa, acredito que
dentro de doze dias, mais ou menos, o senhor e dona Cora serão os primeiros a saber.
Mas fique tranquilo que não é nada ilícito ou perigoso.
— Assim espero.
Ele não disse mais nada por alguns instantes. Achei que meu pai ficaria feliz ao
me ver retornar com responsabilidade ao meu cargo na empresa, mas, pelo jeito, eu
acabei o deixando preocupado.
— Tem alguma coisa a ver com Tábata? Não me diga que aquela irresponsável,
que quase acabou com a sua vida, retornou.
— Em parte tem a ver com ela, sim. Entretanto, minha ex noiva não voltou.
— Aposto que se arrependeu de abandonar um rapaz de família e trabalhador,
está querendo voltar e fez exigências. É isso, meu filho?
— Também não, pai! Francamente! Não acredito que o senhor ainda acha que eu
voltaria com ela depois de tudo o que me fez passar. Tábata faz parte do meu passado e
é lá que vai permanecer.
— Então, qual o problema? O que pode ter a ver com ela e não ser uma
reconciliação entre vocês.
— Doutor Roger, eu não quero falar sobre isso agora, por favor.
— E por que não?
— Estou esperando pela confirmação de algo. Assim que tiver, conto tudo para
vocês dois. Esse não é o melhor momento para se fazer isso. Mas já adianto que irão
gostar da novidade se ela se concretizar.
— Você sabe que a sua mãe vai ficar muito curiosa e ansiosa quando eu disser
isso.
— Tenho certeza de que o senhor saberá como controlar essa situação. Por hora,
espero que fiquem felizes com a minha volta.
— É claro que estou feliz, meu filho. — Meu pai se levantou, sorriu e abriu os
braços em minha direção. Repetindo o seu gesto, caminhei até ele e nos abraçamos. —
Seja bem-vindo de volta a M.B Papel e Celulose. Sua mãe também ficará radiante com
a novidade.
Minutos depois e sem mais me questionar, meu pai saiu de minha sala e pude
voltar ao trabalho, mas não sem antes olhar a foto das duas garotas lindas que me
esperavam em casa.
Anna...
Eu e Belinha passamos o dia inteiro juntas. Até que foi tranquilo, a garotinha era
muito boazinha e fofa. Já estava conquistando meu coração. Não sei dizer se era o fato
de a mãe tê-la deixado sem mais nem menos na porta do pai, que nem sabia da sua
existência, ou por notar que era extremamente carente de atenção e carinho. O fato é que
eu estava me afeiçoando muito a ela.
No final da tarde, Maria Isabel começou a ficar um pouco mais agitada. A
menina, que já era tagarela por natureza, agora também parecia que falava até pelos
cotovelos.
— Que tal tomar um banho e colocar uma roupa limpinha? — indaguei,
levando-a para o quarto em meu colo.
Ela concordou, tirei sua roupa e a levei ao banheiro enrolada na toalha. Voltei
aos seus aposentos e peguei um vestidinho de malha confortável.
— Vamos lavar tudo direitinho para ficar bem cheirosa.
— Vamos sim, tia Naninha. O papai tá pra chegá, né?
— Pelo horário, já deve estar quase chegando. Por quê?
— Ele vai gotá de me vê limpinha, espelando poi ele — respondeu, enquanto
eu esfregava seu corpo.
— Tenho certeza de que ele vai amar chegar em casa e te encontrar,
independentemente do banho. É muito bom termos alguém esperando por nós.
— Eu goto muito dele. O papai é lindão. Será que vai dar tempo dele assisti
desenho comigo?
— Acho que ele vai chegar cansado do trabalho, mas quem sabe mais tarde.
— Tá bom — respondeu meio desapontada.
— Não fique assim, minha querida. O papai te ama! É que as vezes nos
cansamos um pouco do trabalho e precisamos de um tempo para recuperar nossas
forças.
Finalizei logo o seu banho e a vesti, porém também fiquei toda molhada. Para
não a deixar sozinha, fiz uma coisa que eu não sabia se iria incomodar Gabriel. Fui até
seu quarto, peguei uma camiseta e short emprestados, que, por sinal, ficaram enormes
em mim. Fiz uma anotação mental de trazer uma muda de roupa na manhã seguinte, não
dava para ficar usando as dele, que, por sinal, tinha um cheiro maravilhoso.
— E aí, como foi? — perguntei assim que ele entrou pela porta da sala, onde eu
e Belinha o esperávamos, assistindo a um programa infantil na TV.
— Um pouco cansativo. Eu já havia me desacostumado a trabalhar por tanto
tempo. Mas correu tudo bem.
— Que bom! E o seu pai?
— Como eu previa, desconfiou que havia algo de errado. Acabei contando a ele
que existe sim, um motivo para eu voltar a M.B., porém não falei sobre Belinha ainda.
Prometi que na hora certa ele e minha mãe seriam os primeiros a saber a novidade.
Olhou-me de cima a baixo ao perceber que estava usando suas roupas e mordeu
o lábio inferior, me encarando com olhos penetrantes, que me fizeram tremer de
excitação.
Foco, Anna! Você sabe que esse cara não vale nada e não convém se sentir
envolvida por ele.
— Espero que não se importe. Eu dei banho em Belinha, acabei me molhando
toda e me esqueci de trazer roupa — justifiquei-me. — Eu não queria deixá-la sozinha e
acabei achando mais fácil colocar as suas ao invés de ir até a minha casa com ela.
— Sem problemas. — Olhou-me de cima a baixo de modo sacana, que até hoje,
com essa intensidade, só vi nele. — Fique à vontade para fazer o que quiser. Elas
ficaram bem em você.
Belinha, que havia tirado um cochilo no sofá enquanto esperava a chegada do
pai, despertou e, toda empolgada, ficou de pé no móvel, abrindo os bracinhos.
— Já chegô, papai? — Ele se aproximou e ela jogou os bracinhos em seu
pescoço.
— Sim, minha princesinha. Acabei de chegar. — Rodopiou com ela em seus
braços pela sala.
— Vamos assistir um desenho, agola?
— O papai está um pouco cansado, filha. — Acariciou com delicadeza a sua
cabecinha.
— Mas é aquele que vochê gota, paizinho. — Fez um bico e o encarou com
olhos pidões.
— Tá legal, mas vai ser um desenho só, ok? Depois vamos comer pizza. O que
acha?
— Obaaaa! — A garotinha gritou toda animada.
— Anna, você pode pedir uma pizza e refrigerante para jantarmos, por favor?
— perguntou enquanto os dois se acomodavam no sofá. — E fique para jantar com a
gente. Vai ser ótimo termos a sua companhia.
— Vou pedir, mas não se preocupe comigo, vou embora daqui a pouco, tenho
algumas coisas para fazer e resolver em casa — disse com voz vacilante.
— Ei, janta com a gente. — Sorriu amistoso. — Se for embora agora, vai ter
que fazer algo para comer ou pedir um fastfood. A pizza é grande para nós dois,
podemos dividi-la com você.
— Acho melhor eu ir. Não quero atrapalhar a interação de vocês. — Caminhei
em direção a um aparador, onde deixei minha bolsa desde a hora que cheguei. — Se
precisar de algo, estarei aqui do lado, é só chamar.
— Fica. — Gabriel já estava em pé na minha frente, segurando meu braço. —
Por favor.
— Não vou mesmo atrapalhar?
— Claro que não, Anna. Eu acabei de chegar do trabalho, cansado, quero
apenas ter um bom momento com você e minha filha. Contar as novidades. Não há nada
demais nisso.
— Talvez você tenha razão. Vou pedir a pizza e ficarei para o jantar. — Cedi.
— Posso resolver as coisas em casa mais tarde.
— Papai, vem! — A garotinha gritou do sofá. — Já vai começá.
— Estou indo, filha — falou, soltando o meu braço. — Não vai se juntar a nós?
— Vou só pedir a pizza e estou indo.
Pela primeira vez, desde que dei uma guinada de cento e oitenta graus na minha
vida e me tornei um playboy e solteiro convicto, fui rejeitado por uma mulher, deixei o
nervosismo tomar conta de mim e fiquei sem reação. Não entendi nada do que havia
acontecido e foi difícil processar sua rejeição. Permaneci mais um tempo na varanda,
olhando incrédulo na direção da casa de Anna. Impaciente, coloquei as mãos nos bolsos
e resolvi entrar e, já que Maria Isabel estava dormindo, dar uma zapeada nas redes
sociais em busca de distração.
Quase não dormi a noite toda pensando no que houve entre nós. Foi uma atração
tão forte que não conseguimos controlar. Pelo menos, eu não. Ela, eu não poderia dizer
o mesmo, já que me repeliu com maestria e se quer deu explicações, correndo para casa
feito uma criança assustada. E nem tinha se dado ao trabalho de aparecer na manhã
seguinte. Como eu iria cumprir minha parte no acordo e ir trabalhar se ela também não
estava fazendo a dela de vir ficar com Belinha para que eu pudesse me encaminhar a
empresa?
— Papai, a tia Naninha não vem hoje? — Belinha me trouxe a vida real, me
tirando da minha bolha de pensamentos.
— Ela se chateou um pouco com o papai ontem à noite, depois que você dormiu
— respondi sem dar muitos detalhes. — Acho que ela está de mal de mim.
— Dá uma flor pá ela, papai. A mamãe sempe ficava de bem dos namolados
dela quando eles davam rosas pá ela.
Essa menina era um gênio, não era à toa que era minha filha. Claro! Eu iria até a
casa de Anna, com flores e pediria desculpas pela noite anterior. Diria a ela que, com
certeza, o que aconteceu era porque eu estava a muito tempo sem sexo. Tenho certeza de
que me entenderia, afinal estava passando pelo mesmo que eu. De uma hora para a
outra, nós dois tivemos que deixar nossa vida pessoal de lado para cuidar de Belinha.
Mas onde eu encontraria uma flor a essa hora do dia, ainda mais aqui no condomínio?
Não tinha outro jeito, teria que furtá-la do próprio jardim da minha vizinha. Atravessei
apressado a área entre a minha casa e a dela, furtei uma linda rosa vermelha e me
encaminhei para a sua porta.
Quando o “ding dong” da campainha soou, respirei aliviado ao ver Anna abrir a
porta para mim, depois de olhar pela janela da sala e ver que era eu. Afinal, ela poderia
ter me ignorado. Talvez não estivesse tão brava assim, a raiva inicial já tivesse
passado ou havia aberto a porta para me distratar, dizer que me odiava, não me
perdoaria jamais e que não me ajudaria mais. Vindo de Anna Ayala, minha vizinha chata
e brigona, eu poderia esperar qualquer coisa.
— Bom dia! — Cumprimentei com o meu melhor sorriso, entregando-lhe a rosa
vermelha que estava em minha mão.
— O que você quer? — Me encarou com um olhar questionador. — Sério que
você roubou uma rosa do meu jardim para me dar?
— É que a essa hora da manhã eu não fazia ideia de onde encontrar uma flor
para você. Achei que não se importaria, afinal trata-se de uma gentileza da minha parte.
— Obrigada. — Balançou a cabeça de um lado para o outro, inconformada. —
O que faz aqui tão cedo?
— Nós precisamos conversar sobre ontem à noite, Anna. — Encostei-me no
batente da porta. — E eu preciso saber se o nosso acordo ainda está de pé e se vai ficar
com Belinha para que eu possa ir trabalhar e cumprir minha parte no trato.
— Olha, Gabriel, acho que nosso acordo não foi uma boa ideia. Posso não ser a
pessoa certa para ajudá-lo. Além do que, acho que você está confundindo as coisas e...
— Por favor, Anna. Deixe-me me explicar. — Ela me encarou espantada. — Se
mesmo depois de me ouvir você resolver colocar um fim no nosso acordo, não vou
tentar forçá-la a nada. Prometo respeitar sua decisão. Mas primeiro me ouça. Eu vou
ser breve.
— Ok, entra. — Abriu um pouco mais a porta me dando passagem. — Quer um
café?
— Obrigado! Eu já tomei em casa.
— O que você tem para me dizer, afinal?
— Tá. Vou direto ao assunto, então. — Soltei o ar com pesar. — O que
aconteceu entre nós ontem à noite foi muito bom. — Ela me lançou um olhar severo de
repreensão. — Droga, Anna! Não precisa ficar brava assim. Somos adultos, eu não vou
mentir e dizer que não gostei. Você é uma mulher linda e gostosa, caralho.
— Se veio até a minha casa para me cantar e levar para cama, perdeu seu
tempo. Pode levantar seu traseiro gordo desse sofá, dar meia volta e ir embora.
— Você prometeu me ouvir e eu ainda não terminei de falar o que eu quero —
falei desanimado com o rumo da conversa.
Anna olhou para o chão e depois voltou a me encarar. No seu rosto uma
expressão que eu muito temia. Ela parecia estar muito tentada e decidida a colocar um
fim no nosso acordo e não mais me ajudar com a minha filha. Tudo isso por causa de um
único beijo. Tá legal que estávamos prestes a transar quando ela interrompeu nossa
deliciosa interação.
Mas será que era para tanto?
Eu havia sentido que ela tinha gostado tanto quanto eu. O que havia de mais em
dois adultos transarem por puro desejo?
— O fato é, Anna, que mesmo tendo gostado do que rolou entre nós ontem à
noite, e eu gostei muito, te peço desculpas pelo ocorrido. — Sorriu com sarcasmo. —
Te prometo que não vai acontecer de novo. Eu sou um homem adulto e minha vida
sexual era bem intensa até Maria Isabel aparecer em minha porta. É provável que meus
hormônios estejam explodindo e que eu esteja sentindo muita falta de sexo. Portanto,
não digo essas duas primeiras semanas porque tenho muito no que pensar e me habituar,
mas assim que sair o exame de DNA, vou procurar por alguma das meninas, mais
provável que por Rayssa, que já sabe de tudo, e marcar um encontro. Acho que isso vai
afastar o risco de que essas coisas aconteçam com a gente de novo.
— Um encontro? Com Rayssa? — inquiriu, olhando em meus olhos.
Era impressão minha ou ela estava com... ciúmes? Será? Impossível! Essa
mulher me odeia pelas inúmeras noites de sono que eu a fiz perder. Ou será que era só
um disfarce?
— Foi isso que combinamos, não foi? Um encontro a cada quinze dias? — Ela
piscou os olhos várias vezes e pigarreou.
— Claro! Foi isso mesmo, que cabeça a minha. — Seu olhar parecia confuso.
— Acho até que você devia fazer o mesmo, Anna. Você parecia estar curtindo o
momento tanto quanto eu — falei, me aproximando um pouco mais dela, que me
empurrou com brusquidão.
— Eu não tenho tantos contatinhos quanto você. Assim que voltar a trabalhar,
vou aceitar um convite que venho negando há algum tempo a alguém de lá. Também
estou desconfiada de que o que aconteceu possa ter sido causado por falta de sexo. —
Concluiu, parecendo um pouco desconfortável por estar falando sobre aquele assunto
comigo.
— Alguém da empresa... Jura? Posso saber quem é?
Quem diabos estava querendo sair com a minha abelhinha? Droga, Gabriel!
Ela não é sua e pelo jeito não faz a mínima questão de querer ser.
— Não é da sua conta, Gabriel. Minha vida pessoal não te diz respeito. —
Ergueu os braços, inconformada. — A única coisa que nos une é um trato que fizemos
até que eu volte a trabalhar e você consiga uma babá para a sua filha. O que me faz
lembrar que precisamos começar a procurar por uma.
— Só te lembrando de que você se comprometeu a continuar mesmo depois que
encontrarmos alguém para olhá-la, nos finais de semana e dias de folga da contratada.
Mas, então... Isso significa que você me perdoou e está me dando uma nova chance?
— Vamos esquecer o que aconteceu e tentar de novo... Por Belinha, não por
você. Eu já me afeiçoei muito a ela.
— Bom, acho que agora você pode dar o nó na minha gravata — Sorri de canto
de boca e entreguei o objeto que estava em meu bolso para ela — e depois ir até minha
casa ficar com minha filha para eu atender suas reivindicações e trabalhar.
— Até parece que você não está gostando de voltar a ser um homem
responsável. Me lembro muito bem do que me disse ontem. — Brincou enquanto
enlaçava o pedaço de tecido no meu pescoço. — Agora vá! Vou colocar a minha rosa
em um copo d’água e daqui a pouco estarei lá.
— Ah, Anna! — Encarei-a com profundidade. — Você sabe que pode acontecer
de novo se você quiser, não é mesmo.
— Gabriel! — Ralhou com severidade.
— Está bem, desculpa! Já não está mais aqui quem falou. — Garanti a ela,
sacudindo a cabeça para dispersar as lembranças. — É que meu cérebro não é uma
lousa que eu possa passar um apagador e acabar com tudo. Não vejo problema algum
em duas pessoas adultas fazerem sexo para saciar seus desejos e necessidades. É muito
difícil para mim pedir desculpa por algo que foi muito bom.
— Está vendo só, já começou de novo. Está na cara que esse acordo não vai dar
certo mais uma vez. — Se afastou abruptamente. — Você é um playboy libertino que só
pensa em sexo. Tenho certeza de que vai dar merda. É tão difícil assim entender que eu
não quero nada com você? Que eu te odeio e só estou nessa do teu lado pela sua filha.
— Ok! Não precisa pegar pesado e nem magoar. Eu vou te respeitar. Já prometi.
Pronto.
— Não sei, Gabriel. — Foi reticente.
— Anna, eu e Belinha precisamos da sua companhia. Ela sentiu sua falta hoje
pela manhã. — Caminhei em direção a porta e me voltei para encará-la. — Foi ideia
dela eu te trazer uma rosa para me perdoar. Nós nos afeiçoamos muito a você. Nem sei
como isso foi acontecer comigo, visto que até poucos dias atrás eu te odiava e só
fazíamos brigar, mas acho que a vida tem dessas coisas. — Sentou-se no sofá,
pensativa. — Coloca sua rosa na água e pegue suas coisas, nós te esperaremos lá em
casa.
Ela bufou antes que eu saísse, mas não lhe dei a chance de replicar. Virei as
costas e fui para a minha residência, de onde só saí depois dela chegar e me certificar
que estava tudo bem entre nós e que nosso acordo ainda estava de pé.
Gabriel...
Surpreendi-me ao fim do dia, quando cheguei à conclusão de que não me saí tão
mal quanto imaginava. Assim que Anna saiu, pesquisei na internet, “atrações desse final
de semana para crianças de dois anos”, e descobri que havia sido lançado um filme
baseado em um desenho animado que Belinha amava assistir na TV e levei-a para ver
no cinema do shopping que ficava próximo ao condomínio. Depois fomos a área de
recreação, onde minha filha se esbaldou em vários brinquedos e, por último, a praça de
alimentação, onde comeu um sanduíche, acompanhado de refrigerante, batata frita e do
seu amado sorvete de chocolate.
Cheguei em casa exausto, carregando nos braços uma Belinha adormecida de
tão cansada e algumas sacolas com coisas que acabei comprando para mim e para ela.
Fechei a porta com dificuldade, deixei as compras sobre a mesa e caminhei até o seu
quarto, colocando-a sobre a cama.
Gastei algum tempo admirando seu lindo rostinho. O canto de sua boca estava
um pouco sujo, mas achei melhor não acordá-la, pois estava dormindo pesado. Mais
tarde eu lhe daria um banho. Foi aí que minha ficha caiu, sou um homem e vou dar
banho em uma menina.
Será que isso era certo?
Se ela fosse minha filha, acho que tudo bem. Tenho amigos que dão banhos em
suas garotas.
Mas e se não fosse?
Será que eu me sentiria mal por isso depois?
A quem você está querendo enganar, Gabriel? Ainda não se tocou do quanto
ela se parece com você? É óbvio que é sua filha.
A voz da minha consciência me alertou mais uma vez.
Saí do quarto dela, encostando a porta atrás de mim, deixando apenas uma fresta
entreaberta para que não sentisse medo caso acordasse e estivesse tudo escuro. Fui para
a sala, esticando meus músculos o mais que podia, pois estava cansado demais e com
algumas dores na nuca por ter carregado Belinha nos braços.
Lembrei-me que eu ainda tinha que verificar alguns documentos da empresa, que
cabiam ao meu cargo em específico e que seriam analisados em uma reunião de
diretoria na manhã seguinte. Quem diria, até alguns dias atrás, eu delegaria essa função
ao meu assistente, que seria quem participaria e falaria a respeito, já que eu,
provavelmente, chegaria atrasado. Acho que podia chamar essa mudança em minha vida
de “Efeito Anna” ou “Efeito Abelhinha”. Confesso que eu preferia a segunda opção.
Sorri sozinho imaginando sua cara de brava ao saber disso.
Achei melhor tomar um banho quente e relaxante primeiro. Depois de algumas
horas sentado à mesa, analisando papéis e fazendo alguns cálculos, me dei conta de que
Maria Isabel não havia acordado para se banhar. Mas eu é que não iria despertá-la, vai
que acordasse manhosa ou com a corda toda, querendo brincar ou assistir desenhos. Eu
precisava descansar e dormir bem para o trabalho do dia seguinte.
Já era noite quando ouvi a porta de um carro batendo do lado de fora.
Aproximei-me da janela ao lado da minha sala e vi que era Anna chegando. Parecia
feliz, pois cantarolava uma música, com certeza a que devia estar tocando no rádio
quando chegou. Estampava um sorriso lindo nos lábios. Seu domingo devia ter sido
bom e prazeroso.
Não veio ver como estávamos e entrou direto em sua casa. Senti uma pontada de
decepção com sua atitude. Porém, não tinha problema, amanhã, ela, com certeza, viria
e, sem dúvida alguma, me repreenderia por não ter dado banho em minha filha. Assim,
começaríamos uma nova discussão, tentando nos conter por conta da trégua do nosso
acordo. Eu adorava ver Anna brava. Isso instigava ainda mais o meu desejo, aquele que
há alguns dias ela estava me obrigando a refrear.
Gabriel...
— Você chegou mais cedo. Segundo o nosso trato não devia estar na empresa?
— Anna me repreendeu assim que entrei pela porta da sala e foi logo me enchendo de
perguntas. — Por que não atendeu as minhas ligações? Aconteceu alguma coisa?
— Anna, nós precisamos conversar. — Aproximei-me alguns passos, encarando
minha filha que jogava os bracinhos em minha direção querendo colo, alheia a tudo.
— O exame deu negativo? — Aproximou-se, passando a criança para os meus
braços.
— Na-não — gaguejei, tentando disfarçar meu nervosismo.
— O que está acontecendo, Gabriel? — Bufou contrariada, com certeza já
prevendo o que eu iria dizer.
Ela era esperta e inteligente, devia estar desconfiada do que estava por vir.
Chacoalhei minha cabeça para mudar a direção dos meus pensamentos e não ceder,
voltando atrás na minha decisão que já estava tomada. O que eu havia feito era o melhor
para a minha filha, eu tinha absoluta certeza disso.
— Como nós imaginávamos, Maria Isabel é mesmo minha filha. — Coloquei a
criança no chão e pedi que fosse assistir TV, com a promessa de me juntar a ela depois.
— Eu pensei bem, nos prós e contras, e passei no orfanato “Cantinho do céu”,
conversei com os responsáveis e resolvi entregar Belinha para adoção. Ela vai ficar lá
com eles até que encontrem uma nova família para ela.
— Não acredito que vai fazer isso. — Piscou várias vezes e se empertigou. —
Você me prometeu.
— Eu prometi pensar melhor no assunto, Anna. E foi o que eu fiz.
— Você pensou em você, isso sim. Em momento algum pensou na sua filha.
Peguei em seu braço, praticamente a arrastei até a varanda e fechei a porta, para
que a garotinha não escutasse a nossa conversa, que, pelo jeito, não seria nada
amistosa.
— Olha bem para mim, Anna. Como você mesma vive dizendo, eu sou um
playboy farrista e mulherengo. — Admiti, mesmo sabendo que eu poderia e já estava
mudando. — Estou sentindo falta da minha velha vida e de sexo, ao ponto de querer
transar com a vizinha que me odeia. — Apontei em sua direção. — Até quando você
acha que vou aguentar isso? Seria justo expor minha filha a viver nesse ambiente que
estou acostumado? Porque é isso que vai acontecer. — Ela postou-se a minha frente,
tentando manter a compostura. — Eu não me sinto preparado para ser pai, isso me
assusta. Estou em pânico, que só piorou desde que tive a confirmação da paternidade.
Não dá para mim. Me desculpe!
— Mas estava indo tão bem, Gabriel. Até passaram um dia inteiro juntos sem a
minha presença. Deu tudo certo. — Tentou argumentar. — Acredite em mim. Você vai
ser um pai maravilhoso. Tem o maior jeito com crianças. Sua filha te ama. Estão
apegados um ao outro. Não há motivo para dar errado. Se o problema é precisar de
sexo, eu fico com ela todas as noites para você ir a suas festas e orgias.
— Já está resolvido, Anna. Eu assinei os papéis e dona Carmem, tutora do
abrigo, deve estar para chegar. Hoje mesmo ela leva Belinha para seu novo lar. —
Engoli em seco.
— Hoje? — Soltou o ar com força. — Então, só me resta ir para a minha casa.
Deu-me as costas e foi caminhando em direção a sua residência, sem olhar para
trás.
— Então é assim, Anna Ayala. No momento que eu mais preciso você vai me
abandonar? — gritei, enquanto ela se afastava. — Muito bem, abelhinha, parabéns para
você por fugir das suas responsabilidades.
— Minhas responsabilidades, Gabriel Montenegro Bittencourt? — Voltou-se
para mim com fúria e abriu os braços, bem no meio do jardim. — O maior responsável
por tudo o que está acontecendo é você, inclusive pela criança que está alheia a isso
tudo assistindo televisão na sala da sua casa. Eu não vou ser conivente com a maior
burrada que está fazendo na sua vida. Eu cresci sem meus pais, que faleceram quando
eu era ainda muito pequena, e sei muito bem o que é para uma criança crescer assim.
Mesmo que me pai fosse o pior filho da puta que existisse, o que graças a Deus, ele não
foi, eu preferia ter ele perto de mim do que ter enfrentado a vida sem ele. Mesmo com
minha avó ao meu lado.
Descontrolada, subiu as escadas de sua varanda e bateu à porta na minha cara.
— A tia naninha tá bava, papai?
Assim que entrei, encontrei Belinha assustada, encolhida no canto do sofá.
Havíamos nos exaltados no final de nossa conversa, fazendo-a se transformar em uma
fervorosa discussão que acabou assustando a criança.
— Os adultos as vezes brigam, meu amor. — Aproximei-me acariciando seus
cabelos loiros e finos, sentindo a maciez. — Agora vamos lá para o seu quarto que o
papai precisa arrumar suas malas.
— Nós vamo viajá, papai?
— Depois eu te explico tudo, minha linda. — Peguei-a no colo e segurei firme
em meus braços, sentindo um nó se formar em minha garganta.
Anna...
Entrei nervosa em casa. Irada, na verdade, ou seja lá o que for. A verdade é que
qualquer adjetivo existente na face da terra e que se referisse a alguém com muita raiva,
seria pouco para descrever como eu me sentia.
Eu já estava desconfiada de que algo estranho estava acontecendo com Gabriel
desde que ele começou a ignorar minhas ligações, mas não imaginava que ele fosse
chegar a tanto, nem que tomaria uma decisão tão drástica. Ele havia prometido pensar
melhor sobre entregar Belinha a adoção. Sei que, talvez, eu tenha subestimado sua
facilidade em fazer burradas e escolher caminhos errados, mas os dois estavam se
dando tão bem nos últimos dias, que pensei que ele poderia até já ter se esquecido
daquela besteira.
Depois da nossa discussão turbulenta, eu só conseguia andar de um lado para o
outro da sala de minha casa, quase abrindo um buraco no chão. Fiquei indignada com o
que ele me disse sobre eu estar fugindo das minhas responsabilidades, quando quem
estava fazendo isso era ele. Sempre fui muito responsável, por diversas vezes até
careta, por me dedicar tanto aos estudos e ao trabalho. A filha não era minha e os
encargos sobre ela eram únicos e exclusivos dele.
Ouvi barulho de porta de carro batendo do lado de fora e com o coração
batendo na boca, deixei o orgulho de lado e saí para a varanda da minha casa. Vi
quando uma senhora muito distinta e bem-vestida tocou a campainha da residência de
Gabriel, a porta foi aberta e ela entrou.
Eu queria ser uma mosquinha para saber o que estava acontecendo lá dentro.
Continuava sem conseguir acreditar que aquele playboy irresponsável teria mesmo
coragem de entregar Belinha para aquela mulher. Muito nervosa e estralando os dedos
das mãos, aguardei um tempo, rezando para que ele desistisse daquela infeliz ideia.
Assisti de camarote a tal dona Carmem, que Gabriel havia me falado o nome
quando discutimos, sair de dentro da casa com Belinha em prantos no seu colo. A
garotinha gritava por seu pai e estendia os bracinhos como se pedisse socorro. Meu
vizinho veio logo atrás com as malas. Minha vontade era de ir até lá e arrancar a
criança dos braços daquela mulher horrenda, que já não me parecia mais tão distinta
como à primeira vista.
Respirei fundo e me agarrei a um pilar da varanda. Como se percebesse a minha
presença, ele olhou na direção em que eu estava e pude ver seu semblante desesperado.
Fiquei incomodada com suas feições, mas não consegui ir até lá. Eu me sentia travada e
impotente diante de tal situação.
Foi quando ele me surpreendeu, colocou as malas de novo para dentro de casa,
caminhou em direção as duas, tomou Belinha em seus braços. Não me contive, engoli
meu orgulho e fui até eles. Os olhos de Gabriel brilhavam com a intensidade de quem
estava sofrendo muito com tudo.
— Mas o senhor já assinou os papéis...
— Esqueça essa papelada toda. — Manteve a sua postura, pegando o que estava
na mão da senhora e rasgou tudo. — Eu não quero mais entregar minha filha para
adoção. O lugar dela é aqui comigo.
Se tinha algo que me atraía nos homens era o fato de serem protetores. Tenho
que confessar que ver meu vizinho tomar sua filha nos braços, abraçando-a forte e
trazê-la de volta para casa, protegendo-a daquela mulher horrorosa, despertou um certo
desejo em mim, fazendo o meu rosto esquentar e o meu sexo formigar.
Assim que eles entraram na varanda, me juntei a eles em um abraço triplo,
desesperado e repleto de lágrimas.
— Está tudo bem, minha princesa. O papai está aqui e não vai deixar ninguém
levar você embora. — Ele a abraçou apertado e falou com voz mansa ao seu ouvido,
tentando acalmá-la.
— A tia Anna também está aqui para te proteger, meu amor. — Assegurei-a da
minha presença.
Dona Carmem, resmungando palavras desconexas, que mais pareciam
palavrões, entrou em seu carro e foi embora. Adentramos todos para o interior da casa,
ainda envolvidos em um único abraço.
Já dentro de casa, me afastei um pouco deles e fui pegar água com açúcar para
ambos, que choravam copiosamente abraçados no sofá da sala. Gabriel só saiu de perto
da filha depois que ela adormeceu e ele a levou para a cama. Quando voltou, parecia
absorto em seus próprios demônios. Sentou-se no sofá transparecendo nervosismo.
Parecia estar muito transtornado.
— Gabriel, você está bem? — Coloquei uma de minhas mãos em seu braço.
Com a mão do braço livre ele cobriu a minha e começou a desabafar.
— Foi horrível, Anna. Quando aquela senhora entrou aqui dentro de casa e eu
falei a Maria Isabel que ela iria embora com dona Carmem, meu coração se
despedaçou. Ela começou a chorar desesperada, subiu no meu colo e não queria me
soltar de jeito nenhum. A mulher usou de força para pegá-la, deixou até marca no
bracinho dela. E Belinha não parava de gritar por mim, jogando os bracinhos em minha
direção, foi ficando vermelha, os lábios arroxeando. Me deu um desespero tão grande.
Olhei bem dentro dos seus olhos castanhos escuros, me perdendo na escuridão
deles. Mostrando a ele que eu estava ali por ele... Por eles. Não pelo vizinho
insuportável, playboy e irresponsável, mas pelo homem que ele estava se tornando
desde que Belinha surgiu em sua vida.
— Não fica assim. O pior já passou. Procure se acalmar. — Sentei-me ao seu
lado no sofá. — Tem algo que eu possa fazer por você? — perguntei e ele balançou a
cabeça negando.
— Será que ela vai me odiar pelo que eu fiz hoje, Anna? — indagou e eu
coloquei minha mão livre sobre a dele, apertando-a com carinho, em demonstração de
apoio.
Tocá-lo daquela forma, despertou sensações inesperadas em mim.
— Claro que não. As crianças têm o coração puro. Amanhã ela vai acordar te
amando ainda mais.
— Quando ela foi deixada aqui na minha porta, eu achei que fosse uma grande
brincadeira de mau gosto de algum amigo meu. Depois quando vi a carta de Tábata,
desejei com todas as forças que fosse mentira e por isso fiz o exame de DNA. — Fitei
seus olhos e permaneci quieta, apenas o escutando. — Quando notei nossa semelhança,
eu fiquei com muito medo. Dentro de mim comecei a negar o inegável e alimentei uma
falsa esperança de o exame dar negativo. Quando vi o resultado hoje em minhas mãos,
entrei em pânico e surtei. — Olhou para mim e eu apenas balancei a cabeça para que
continuasse. Desabafar faria bem para ele. — Aí eu comecei a pensar um monte de
absurdos, alimentar os monstros que se formavam na minha cabeça e tomei a decisão
mais errada da minha vida. — Tracei círculos suaves com meu polegar em sua mão. —
Eu estou tão apegado a ela, Anna. Como uma criaturinha tão pequena pode fazer a gente
sentir um amor tão grande?
— Ela é apaixonante, não é mesmo? — Apertei sua mão com delicadeza. —
Vocês vão superar isso juntos. Tem se mostrado um pai maravilhoso, Gabriel. Só não se
deu conta disso ainda. Sei que não é fácil para um cara jovem, descobrir de repente que
é pai e ter que abdicar da sua vida, da liberdade que goza. Mas para tudo tem um jeito.
Vocês têm a mim e aos seus pais para ajudar. Podemos achar maneiras de conciliar as
suas necessidades com a paternidade. Tudo é questão de se conversar e organizar.
De repente, o clima começou a ficar meio estranho entre nós e eu me apressei
em me esquivar.
— Bom, acho melhor eu ir. — Desviei o meu olhar do dele. — Amanhã bem
cedo eu volto para ver como estão as coisas entre vocês e ficar com Belinha para que
possa ir trabalhar.
— Dorme aqui comigo, hoje... para me fazer companhia. Sem nenhum cunho
sexual, eu prometo. — Seu pedido mais se parecia com uma súplica.
— Ok! — Ele me olhou de um jeito assustado, estranhando por eu ter
concordado. — Mas antes eu preciso trancar a porta da minha casa, que deixei só
encostada, ou vou acabar sendo assaltada.
Voltei algum tempo depois de me certificar que estava tudo bem em minha
residência, que ninguém a havia invadido, pegar meu pijama, uma troca de roupa para o
dia seguinte e itens para a minha higiene pessoal e banho. Fui direto para o seu quarto e
quando abri a porta, senti um frio na boca do estômago, tipo aquela sensação de
borboletas batendo asas, Gabriel já estava deitado na sua cama, só de short, sem
camisa, lendo alguma coisa no celular, com uma pose bem sexy.
— Vamos dormir nós dois na cama? — indaguei, meio sem graça.
— Se quiser posso dormir no chão ou no sofá. Mas confesso que será um pouco
desconfortável para mim. O segundo é pequeno para a minha altura e o primeiro bem
duro.
— Não, por mim tudo bem, desde que cumpra sua promessa. — Cruzou os
dedos indicadores e levou aos lábios, beijando-os. Exatamente do jeito com que eu
fazia quando criança para prometer algo a outra pessoa.
Revirei os olhos, indo em direção ao banheiro para tomar um banho e me trocar.
Acabei tendo que usar a toalha dele, pois me esqueci de pedir uma outra emprestada.
Quando voltei, me dirigi ao meu lado na cama, afofei o travesseiro e me deitei ao seu
lado.
— Boa noite, Gabriel.
— Boa noite, Anna — respondeu, virando-se na minha direção.
Adormeci pouco tempo depois, exausta pelos acontecimentos do dia e envolta
pelo seu cheiro que estava por toda parte naquele quarto, inclusive no meu travesseiro,
sentindo-o bem próximo a mim.
Anna...
Depois daquele dia horrível tudo voltou ao normal na casa de Gabriel. Como eu
havia imaginado, Belinha não o odiou por conta do que fez, muito pelo contrário, estava
cada vez mais apegada a ele. Meu vizinho também parecia ter aprendido a lição. Estava
se dedicando com afinco a ser um bom pai. Dava para perceber que ainda tinha medos e
receios, mas já não falava mais naquela besteira de entregar a garotinha para adoção.
Quanto a mim e ele, tudo estava indo bem na medida do possível. Como havia
prometido, nossa noite juntos foi tranquila e sem qualquer cunho sexual. Enfim, acho
que havia compreendido que eu não queria me envolver com ele e resolveu respeitar
minha vontade e decisão. Na manhã seguinte ele me agradeceu muito por ter ficado ao
seu lado e um dos seus piores momentos. Nos dias seguintes à rotina de antes voltou a
imperar entre nós, apesar de parecermos estar mais cúmplices e unidos do que antes,
pelo bem de Belinha.
— Calma, já estou indo — gritei para a pessoa que tocava a campainha da
minha casa com insistência. — Oi! São vocês — falei surpresa ao abrir a porta.
— Simum. — Gabriel e Belinha, gritaram animados em uníssono. — Viemos te
fazer uma surpresa.
— Uma surpresa? — indaguei, curiosa.
— Vamos com você passar o domingo na casa da sua avó, com a sua família.
— Ah, não sei se é uma boa ideia. Minha avó é um amorzinho, mas minha tia
Laís e Suelen nem tanto.
— Mais um motivo para irmos, você terá mais companhias agradáveis para
alegrar o seu dia. Estamos tão animados, não vai cortar o nosso barato, não é mesmo,
Anna?
— Tia Naninha, tia Naninha... é muito feio itagá a suipesa dos zoto. — A
garotinha apontou o dedinho indicador em minha direção, como se estivesse me
repreendendo.
Não resisti a fofura da cena e acabei rindo.
— Sendo assim, está bem, então. Vocês podem ir comigo. — Acabei não
conseguindo negar aquilo a ela e concordei com que fossem.
Por sugestão de Gabriel, acabamos indo no carro dele, já que a cadeirinha que
comprou para transportar Belinha já estava instalada lá. Os vizinhos de vó Eugênia
piraram ao ver um luxuoso Lamborghini Aventador parando na frente da casa dela.
Assim que descemos, algumas pessoas da rua, nos encaram com curiosidade,
principalmente pelo fato de eu estar chegando acompanhada de um homem com uma
criança nos braços.
— Anna, minha querida, que bom que já chegou. — Minha avó caminhou
animada em nossa direção, com seus longos cabelos grisalhos presos em um coque.
— Oi, vozinha! Como está? — Sorri, inquieta.
Assisti de camarote a dona Eugênia medir Gabriel dos pés à cabeça e percebi
um sorriso sutil despontar na boca dele.
— Bom dia, minha senhora. Como vai? Sou Gabriel, vizinho e amigo de Anna.
— Bom dia, sou Eugênia, avó dela. — Os dois se cumprimentam
amistosamente. — Seja bem-vindo, rapaz.
— Obrigado. Sua neta tem me ajudado a cuidar da minha filha.
— E suponho que essa garotinha no seu colo seja ela. — Vovó ergueu os pés
para observá-la melhor, já que Gabriel era bem mais alto.
— Sô, sim, vó Gênia. Meu nome é Belinha e eu tenho dois anos. — Mostrou a
idade com dois dedinhos gorduchos.
— Que coisa mais linda. — Minha avó gargalhou. — E sua esposa, não veio
com vocês? — questionou, interessada.
— É uma longa história, dona Eugênia. Na verdade, não sou casado e a mãe de
Maria Isabel é um assunto meio delicado. Digamos que ela desistiu de criar a menina,
deixando-a comigo.
— Ah, eu te entendo. Muito triste isso.
— Bom, vó, já que se conheceram, podemos entrar?
— Claro, filha, que cabeça a minha. Entre e fiquem à vontade.
— Onde estão tia Laís, Rafael e Suelen? — Fiz cara de tédio adentrando a casa.
— Está de namorado novo, Anna? — Como que por encanto, minha tia se
materializou na sala. — Suelen vai adorar conhecê-lo.
— Laís! — Vó Eugênia ralhou com a filha.
— Gabriel é só um amigo, titia querida. — Mostrei a língua assim que ela se
virou de costas para mim na intenção de chamar a filha e o namorado, meu ex, que
estavam no vasto quintal de terra.
— Que interessante essa amizade. — Voltou a me provocar. — Anna nunca foi
de trazer amigos aqui antes.
— Sempre tem uma primeira vez — falei, incomodada.
— Olha só, Suelen. O bonitão amigo da sua prima. — Puxou a filha pela mão,
separando-a de Rafael, e quase a jogou em cima de Gabriel.
Já ia começar o show de horrores da minha prima dando em cima do meu
vizinho. Com certeza achavam que eu estava mentindo e que ele, na verdade, era meu
namorado. Pobre, Rafael! Em breve seria dispensado sem dó nem piedade para ser
trocado por Gabriel. Mas dessa vez, elas não conseguiriam me atingir, pois ele não era
nada meu. Nem amigos éramos, estávamos apenas em uma trégua por Belinha.
— Ei, eu estou aqui. — Meu ex retrucou do outro lado da cozinha.
— Não se preocupe, Rafael. — Foi a minha vez de provocar. — Quando ela
descobrir que ele não é meu namorado, vai perder o interesse.
— Ou não. — Minha prima disse com ar de quem estava desconfiada e tentava
decifrar algo.
— Suelen, chega de provocações. — Minha avó deu um fim rápido na conversa.
— Cumprimentem a garotinha, que por sinal é filha de Gabriel, e vamos para o quintal
saborear um delicioso churrasco, acompanhado de uma cerveja bem gelada.
Encarei minha prima, que não tirava os olhos do meu vizinho, com uma
sobrancelha erguida. Pelo jeito ela estava mesmo disposta a dar em cima de Gabriel e
mudar de namorado, mesmo ele não sendo nada meu. Também, pudera, o homem era
lindo, cheiroso, sexy, educado e rico. Não é à toa que conquistava tantos corações.
Seria até bom que ele transasse com ela e, quando estivesse certa de que o havia
conquistado, o playboy irresponsável lhe desse um pé na bunda, assim como faz com a
maioria, ou a transformasse só em um contatinho, como faz com algumas.
— Me desculpe pelo que aconteceu na cozinha, Gabriel, e, se possível, ignore
os comentários e investidas nada discretos da Suelen. Ela deve estar pensando que
temos alguma coisa um com o outro; o passatempo preferido dela e roubar meus
namorados. Agora, fique à vontade, que vou ajudar minha avó a preparar o vinagrete.
— Misericórdia, ele é lindo, priminha. — Suelen me abordou com mais
provocações. — Sabe que vai perde-lo essa tarde, não é mesmo?
— Fique à vontade. — Soltei com escárnio.
— Então, você tem ajudado ele com a criança? — Minha avó puxou assunto
assim que minha prima saiu de cena. — Esse não é o vizinho que você odeia?
— Ele mesmo, vó. — Tombei a cabeça para o lado observando a interação dele
com Belinha ser interrompida por minha prima, que se insinuava e tocava em seu peito,
despertando um certo ciúme inesperado em mim. — A mãe dela a abandonou na porta
da casa dele com um bilhete, revelando a paternidade. Ele ficou muito atordoado. A
princípio, eu não pretendia ajudá-lo porque o odeio, mas fiquei com dó da criança,
acabamos fazendo uma trégua em nossas brigas e cá estamos.
— Tem certeza de que você o odeia mesmo?
— Que pergunta boba, vó. A senhora, melhor do que ninguém, sabe de tudo o
que passei na mão dele. O cara é um playboy irresponsável, que só quer saber de
festas. Não respeita os vizinhos e, como só eu tenho coragem de enfrentar o poderoso
herdeiro dos Montenegro Bittencourt, travamos uma guerra continua.
Olhei na direção deles e meus olhos se cruzaram com os de Gabriel. Meio sem
jeito, coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, enquanto sentia um arrepio
percorrer todo o meu corpo e aquecê-lo.
— Eu não sabia que duas pessoas que se odeiam, trocavam esse tipo de olhar.
— Que olhar?
— Esse, que vocês estão trocando agora.
Só então me dei conta que estávamos nos encarando e disfarcei, desviando os
olhos.
— Deixe que eu termine tudo aqui e vá defender e cuidar do que é seu, Anna.
Esse homem não está nada interessado em sua prima. — Empurrou-me em direção a
Gabriel e Belinha.
— Mas, vó...
— Não discuta comigo, menina. — Fez sinal com a mão para que eu me
afastasse. — Vá e faça o que estou mandando.
Meio sem jeito me aproximei deles, mesmo minha prima estando junto. Belinha
correu em minha direção e me abraçou
— Senta ati, tia Naninha. — Bateu a mãozinha no banco ao lado do seu pai. —
O papai ali, tia Naninha ati e Belinha no meioooo. — Comemorou, escalando nossos
corpos e nos enchendo de beijos.
— E a tia Suelen, menina bonita? Posso sentar-me do outro lado do papai?
— Nãooo. Vochê é feia, chata e boba. Fica de pé.
— Maria Isabel...
Gabriel tentou ralhar com a filha, mas vendo que eu não me contive e soltei uma
gargalhada, não resistiu e começou a rir também. Acompanhamos aos risos minha prima
se afastar pisando fundo.
— Então quer dizer que sua prima rouba todos os seus namorados?
— Pois é. Na nossa família existe aquela antiga rixa “a bonita versus a
inteligente”. — Fiz sinal com as mãos apontado primeiro ela e depois a mim.
— Entãoooo... O babaca que está assistindo de longe a namorada dar em cima
de mim, é seu ex.
— Acertou em cheio.
— Você merece coisa muito melhor, Anna. — Caçoou de Rafael. — Mas é sério
que na sua família eles acham Suelen mais bonita que você? — indagou, incrédulo. —
De onde eles tiraram isso?
— Fala sério, Gabriel! É só olhar para ela e depois para mim.
— Eu te acho mais bonita do que ela. — Fixou os olhos nos meus. — Bonita,
inteligente, sensível... — Foi a vez de ele colocar uma mecha do meu cabelo atrás da
minha orelha. — Ela pode ter um corpo bonito e ser gostosa, mas sua indiscrição, falta
de tato e vergonha na cara, a tornam muito feia. — Umedeceu os lábios, encarando a
minha boca. — Eu escolheria você mil vezes se fosse preciso.
Sem fôlego com a intensidade do seu olhar e de suas palavras, recuei alguns
centímetros. Belinha nos observava atenta, com um sorriso encantador nos lábios. Não
sabia dizer o que acontecia entre nós, quando estávamos assim tão próximos. Só
entendia que era algo que não podia ser negado ou refreado.
O restante do dia, continuei junto aos dois. Minha avó se juntou a nós e
conversamos sobre vários assuntos aleatórios. Demos muitas risadas. Em contrapartida,
minha tia e prima nos observavam de longe, com cara de poucos amigos, e Rafael,
emburrado com a namorada, passou a tarde na churrasqueira. Foi um domingo
maravilhoso.
À noite, já deitada na minha cama, me lembrei das coisas que vovó me falou e
de como me senti bem e amparada ao lado de Gabriel e Belinha. Do olhar do meu
vizinho quando me disse coisas bonitas, das sensações que despertou e sempre
despertava em mim.
Será que a espertinha da vó Eugênia tinha razão em tudo o que disse?
Gabriel...
— Gabriel Montenegro Bittencourt, pensei que nunca mais fosse ter o prazer de
sua presença em nossas festas e na minha cama. — Provocou-me Rayssa assim que
adentramos um dos quartos da casa de Rodolfo.
Retirei meu blazer e joguei em uma poltrona próxima a porta. Ela se aproximou
mais, me fazendo sentir o seu perfume pronto para me impregnar. Por algum motivo
doido, quase travei, mas me forcei a continuar.
Que se dane Anna!
Não queria ficar comigo, eu iria foder até meu pau pedir chega naquela noite.
Removi minha camiseta e puxei minha amiga pela cintura com brutalidade e colei
nossas bocas.
Esperei meu membro reagir e nada... N.A.D.A.
Que porra é essa que está acontecendo comigo?
Meu “amigo” nunca me deixou na mão antes. Só podia estar de brincadeira
comigo. Desci minhas mãos até sua bunda gostosa, apertei com força e... NADA.
Interrompi nosso beijo e a vi, ofegante, respirando com dificuldade e com a boca aberta
e inchada.
Não era aquela pessoa que eu queria ali comigo, a textura da pele era muito
diferente, o sabor do beijo estava longe daquele que eu desejava. Rayssa, que não
costumava usar calcinhas enroscou as pernas em minha cintura, me fazendo sentir o
contato da sua bocetinha com a pele do meu abdômen. Mas não era ela com quem eu
desejava foder. A mulher gemia alto, implorando para que eu continuasse.
Estava longe de ser gotoso como das outras vezes, mesmo assim me forcei a
continuar. Desci meus lábios beijando seu colo e depois sugando seus seios. Não teve
jeito, aquela não era a garota que eu queria e nada faria meu pau subir sem a vontade
dele. Pensei em Anna e foi a gota d’agua.
Maldito traidor!
Onde já se viu me deixar na mão assim.
O que estava se passando comigo, afinal?
— Porra, Rayssa! Me desculpe, é melhor eu ir para a minha casa. — Afastei-me
desnorteado.
— O que está acontecendo com você, Gabriel? — Segurou em meu braço. —
Vai me deixar assim, com esse tesão todo?
É claro que ela estava louca de desejo, eu sabia muito bem como atiçar uma
mulher. Mas, ao contrário, eu estava mais frio que gelo. Nem o contato da sua bocetinha
molhada na minha pele foi capaz de me acender. Sacudi a cabeça de um lado para o
outro, tentando entender os meus sentimentos turbulentos.
— Você sabe, Rayssa, eu acabei de descobrir que sou pai e minha cabeça ainda
está confusa. É muita coisa para processar. Quando eu estiver com tudo em ordem eu te
procuro de novo. — Menti de forma descarada, enquanto vestia a minha camiseta, para
não ter que mirar seus olhos.
— Tem a ver com a sua vizinha empata-foda, não é? — Deduziu ela. — No dia
que você me ligou para marcar um encontro me contou que ela estava te ajudando com a
fedelha. Notei algo de diferente na forma com que falava dela. Mulher nunca se engana
quando outra entra em cena.
— Tem. — Assumi. — E, por favor, se quer continuar sendo minha amiga,
nunca mais se refira a minha filha dessa maneira.
Peguei meu blazer, abri a porta do quarto e saí em disparada. Fui embora da
festa sem me despedir de ninguém.
Já era tarde quando cheguei em casa. Não encontrei Anna na sala, fui até o
quarto de Belinha e nada, nem minha filha estava lá. Entrei em desespero. Será que
havia acontecido alguma coisa? Entrei em meu quarto correndo para ver se eu
encontrava algum bilhete ou algo do tipo e foi então que vi a cena mais linda do mundo.
As duas dormindo espalhadas na minha cama.
Peguei Maria Isabel no colo, com o maior cuidado e a coloquei para dormir em
sua caminha. Voltei na intenção de acordar Anna, já que era isso que tínhamos
combinado, mas não tive coragem. Estava tarde, chovendo e frio lá fora. E depois de
tudo o que havia acontecido comigo naquela noite, eu precisava de um pouco da minha
abelhinha. Necessitava senti-la próxima a mim.
Sem pensar duas vezes, fiz algo que a muito tempo eu sonhava em fazer e saber
como seria com ela, entrei debaixo das cobertas com todo o cuidado do mundo para não
a despertar, a abracei de conchinha e adormeci com ela em meus braços.
Anna...
Acordei de um sono tranquilo e contínuo. Algo que era raro acontecer comigo.
Desde que meus pais faleceram, eu costumava sonhar com eles sempre. Mas não era
algo apaziguador como poderíamos esperar de sonhar com seus entes queridos, na
maioria das vezes eram pesadelos. Mesmo não estando presente no dia do acidente,
meu subconsciente teimava em recriar imagens de como eu imaginava que teria sido.
Sempre acordava assustada e de pernas bambas.
A única noite que me lembro de não ter passado por isso, foi a que eu dormi ao
lado de Gabriel, aquela em que ele quase entregou Belinha para adoção. E por falar
nele, senti seu cheiro impregnado em meu travesseiro, na verdade estava por toda parte.
Abri os olhos, não reconheci meu quarto, senti um braço em torno da minha cintura e só
então me dei conta que alguém havia dormido de conchinha comigo. Gritei, sentei-me
assustada na cama e me deparei com o meu vizinho ainda mais assombrado do que eu.
— Que porra é essa que está acontecendo aqui?
Seus olhos encontraram os meus, aparentando confusão.
— Quer me matar de susto, Anna?
— O que pensa que está fazenda? Eu não pedi para me acordar assim que
chegasse para eu ir embora? Por que está abraçado comigo de conchinha?
Fez-se um silêncio constrangedor entre nós por alguns segundos. Senti meu
estômago revirar enquanto aguardava a sua resposta.
— Quando eu cheguei vocês duas estavam dormindo gostoso. Coloquei Belinha
na cama dela e vim te chamar, mas estava frio e chovendo lá fora. Achei que não tinha
necessidade de te acordar, afinal já dormimos juntos na mesma cama uma vez. Não
imaginei que ficaria tão brava.
Imagens da noite anterior invadiram minhas lembranças. Belinha não queria
dormir sem que o pai a colocasse na cama. Consegui convencê-la a deitar no quarto
dele para sentir seu cheiro e sua presença. Recordo-me de ela ter dormido e só. Com
certeza, devo ter pegado no sono também, logo depois dela.
— Está ficando doido, Gabriel? — Levantei-me da cama e saí em direção a
porta de entrada da casa, com ele me seguindo. — Você transa com outra mulher e vem
dormir de conchinha comigo e acha normal. E, pelo jeito, ainda não quer que eu reaja a
esse disparate. — Balancei a cabeça e as mãos, puta da vida.
O que ele pensava que eu era, afinal?
— Não foi bem assim que as coisas aconteceram.
— Jura? Já sei! Você tomou banho antes de se deitar. Tipo: “lavou, tá novo”. —
Usei de todo o meu deboche ao dizer aquelas palavras.
— Olha, Anna, aconteceram algumas coisas que saíram do meu controle na
festa, as quais não quero e acho que não preciso dar detalhes para você. O fato é que eu
passei por alguns perrengues e eu precisava da sua companhia — falou, parecendo
estressado com algo e sem coerência nenhuma. — Eu não imaginei que ficaria tão
brava.
— Pois deveria!
Aquela situação estava me levando ao meu limite, meu sangue fervia de raiva.
Abri a porta da casa e saí caminhando a passos largos até a minha, com Gabriel no meu
encalço.
— Olha, Anna, eu sei que não quer ficar comigo. — Segurou em meu braço, me
parando e me virando em sua direção. — Até aí tudo bem. Estou tentando respeitar,
assim como prometi. Entretanto, eu queria saber como era dormir de conchinha com
você, se era gostoso, sentir seu cheiro perto de mim e se eu ia dormir bem.... Sei lá, um
monte de coisas.
— Espera aí, deixa eu ver se entendi direito. Você sai de casa para transar com
outra mulher e quando volta sente desejo de saber como é dormir de conchinha...
COMIGO? — indaguei, revoltada.
— O que eu posso fazer se eu desejo você desde aquela maldita noite em que
quase ficamos juntos? — Assumiu, derrotado. — Agora mesmo, vendo-a brava desse
jeito, estou louco para transar com você e sinto que isso só vai passar depois que eu
conseguir. Ou seja, NUNCA, já que você não quer.
— Você prometeu que não ia mais tocar nesse assunto e nem forçar a barra.
— E estou cumprindo a promessa... a um preço caro, mas estou. Me desculpe! O
que aconteceu essa noite, não ocorrerá mais. Eu queria saber como era e saciei minha
curiosidade e pronto. Fim.
— Não sei se isso vai dar certo. É a segunda vez que você me pede desculpas
por motivos parecidos e promete que não vai acontecer de novo. Quantas vezes mais
serão necessárias?
— Sabe, Anna, para um homem sexualmente ativo como eu, é muito difícil ter
que me controlar, mas é pior ainda ter que me desculpar por duas vezes e quantas outras
forem necessárias por algo que foi muito bom. — Encarou-me de forma profunda, me
fazendo perder-me nos seus olhos castanhos. — Eu preciso ver se Belinha acordou.
Tome o seu tempo, te esperaremos em casa. Só peço que não demore muito, pois tenho
que ir trabalhar.
Virou as costas e retornou para a casa, me deixando ali, perplexa e surpresa,
com o que ele acabara de me dizer, assumir e confessar... o seu desejo por mim.
Gabriel...
— Não vamos entrar? — Anna indicou a porta, ao perceber que eu estava meio
sem reação dentro do meu carro, parado na porta da casa dos meus pais. — Eles devem
estar nos esperando.
— Claro. — Sorri, desconcertado. — Os meus pais.
— Fique tranquilo, vai dar tudo certo. Eles não têm motivos para te recriminar
ou não gostar de Belinha.
— Eu sei disso, mas é difícil não ficar ansioso.
— Para ser sincera, eu também estou um pouco.
Saímos do carro, peguei minha filha no colo, subimos a escadaria da entrada e
nos dirigimos a sala. Por instinto apertei minha filha nos braços, como se quisesse
protegê-la de alguma possível rejeição que, com certeza, não viria.
— Anna, você também por aqui, minha querida? — Meu pai, dobrou o jornal, se
levantou e veio até nós, estendendo a mão para ela com um largo sorriso.
— Como vai, doutor Roger? — respondeu, solícita.
— É um enorme prazer recebê-la em minha casa. Porém, confesso que é uma
grande surpresa vê-la aqui, ainda mais acompanhando meu filho. Achei que fosse
encontrá-la de novo só no final de suas férias.
— O prazer é meu em estar aqui. Na verdade, foi seu filho quem me pediu para
acompanhá-lo. Parece que ele tem algo importante a dizer para vocês.
— E quem é essa linda garotinha? — Foi a vez de minha mãe perguntar, após
adentrar a sala e cumprimentar minha vizinha. — Oi, tudo bem? Você é uma moça muito
bonita — falou manso, enquanto meu pai se aproximava um pouco mais e segurava na
mãozinha de Maria Isabel. — Se parece muito com... Gabriel. — Olhou em minha
direção, sustentando o olhar.
— Bigada, vovó Cola! — Sem jeito, puxou a mãozinha, escondendo atrás do
corpo.
— Gabriel! — falaram em uníssono e voltaram-se em minha direção.
— Oi. — Travei na hora de dizer algo e apenas os cumprimentei com timidez.
— Você tem algo para nos contar, filho? — inquiriu, dona Cora.
— Nós podemos nos sentar primeiro? — perguntei, alternando o olhar de um
para o outro.
— Claro, me desculpem! Fiquem à vontade. — Anna me encarou e sentou-se ao
meu lado, apertando minha mão em seguida, em sinal de apoio.
— Belinha é minha filha. — Revelei de uma só vez.
— E Anna é a mãe? — questionou meu pai.
— Não. Tábata deixou Maria Isabel na porta da minha casa há umas três
semanas atrás. Junto com um bilhete que dizia que ela era minha filha. — Comecei a
contar. — No princípio eu achei que fosse uma brincadeira de mau gosto de algum
amigo, mas logo percebi as semelhanças. Fiz o exame de DNA, que deu positivo. Anna
está me ajudando desde o início a cuidar dela. Tem me dado muito apoio e por isso está
aqui hoje.
Soltei tudo de uma só vez, ocultando a parte de que tentei entregá-la para
adoção. Tenho a ligeira impressão que se meus pais soubessem disso, me
repreenderiam com severidade.
— Uma neta, Gabriel. — Minha mãe se levantou e pegou minha filha em seus
braços. — Que alegria!
— Por que não nos contou antes, filho? — Meu pai também se aproximou das
duas e começou a fazer barulhos estranhos com a língua, fazendo a garotinha rir. —
Pelo menos uma coisa boa a destrambelhada da Tábata trouxe para sua vida.
— Ela é o motivo de eu ter voltado a empresa com responsabilidade, pai. —
Respirei fundo e continuei. — Como eu havia dito ao senhor, eu estava esperando por
uma confirmação, era o exame de DNA e ele só saiu semana passada. Achei melhor
esperar, porque no fundo eu ainda tinha a esperança de que desse negativo. Na verdade,
eu estava em pânico... ainda estou. Porém, me acostumando aos poucos.
— Ora, meu filho, venha cá. — Meu pai me puxou para um abraço quadruplo:
eu, ele, minha mãe e minha filha.
Antes de nos separarmos, puxei Anna, que se juntou a nós com certa relutância,
pela mão e a inclui aquele momento. Todos nós abraçados no meio da sala. Todas as
pessoas que me importavam estavam ali comigo e constatar isso, encheu meu coração
de paz.
— Bom, o almoço vai demorar um pouco para sair. Que tal se aproveitássemos
esse tempo para mostrarmos a casa para Anna e Belinha? Assim podemos conversar e
nos divertir um pouco mais. — Sugeriu minha mãe com a voz embargada de emoção.
Foi mais fácil do que imaginei. Eu já esperava por aquela reação amistosa dos
meus pais, que sempre me apoiaram muito, mas a verdade é que ainda estava muito
inseguro com tudo e, às vezes, criava certos monstros absurdos em minha cabeça.
Divertimo-nos muito durante o tour, infelizmente começou a chover e tivemos que
interromper antes de irmos até o jardim. Lembrei-me do quanto Anna gostava de rosas e
fiz uma anotação mental de levá-la até lá antes de irmos embora. Dentro de casa, minha
filha assistiu alguns desenhos sendo mimada pelos avós e conversamos amenidades.
Após nos alimentarmos, Belinha pegou no sono e meus pais estavam curtindo preguiça.
Aproveitei para ficar um pouco sozinho com Anna.
— Vem comigo? — Segurei em sua mão, sentindo a eletricidade percorrer todo
o meu corpo.
— Onde você vai me levar?
— Tem um jardim lindo nos fundos da casa que não deu tempo de minha mãe
incluir no tour por causa da chuva. Sei que você ama flores. Acho que vai gostar de
conhecer.
— Ah, tudo bem.
— Ótimo! — Com um sorriso estampado nos lábios, levei-a junto comigo.
Caminhamos na direção a parte de trás da casa, ainda de mãos dadas, descemos
para um local mais baixo do terreno, tomando muito cuidado para não escorregar, pois
as plantas que ornamentavam o caminho haviam sido regadas pela água da chuva e a
grama estava escorregadia.
— Aqui está. — Fiz sinal com as mãos.
— Nossa, é lindo! — Aproximou-se de uma roseira, sentindo o aroma das
flores.
— Obrigado, Anna! — Puxei-a pela cintura trazendo-a para perto de mim.
— Pelo quê? — Escorregou nas grama molhada, segurando em minha camisa
com medo de cair, nos aproximando ainda mais.
— Por tudo, desde o início. E por estar aqui comigo hoje.
O tempo parou naquele momento. Aproveitei que nossos rostos estavam tão
próximos e a encarei com desejo. Nossos peitos se moviam ofegantes, seguindo a
intensidade de nossas respirações. Meu Deus, ela estava correspondendo aos meus
sentimentos! Parecia querer me beijar tanto quanto eu desejava o mesmo. Olhei melhor
em seu rosto, só para constatar mais uma vez o quanto ela era linda. Curvei-me um
pouco e aproximei ainda mais os nossos lábios, com um desejo incomensurável de
enfiar minha língua em sua boca. Eu queria beijá-la com uma intensidade avassaladora.
— Acho melhor voltarmos, Belinha pode precisar de nós. — Empurrou-me,
afastou-se de repente, quebrando o encanto, e saiu caminhando em direção a casa.
— Anna! — Corri atrás dela.
— Vir aqui foi uma péssima ideia, Gabriel — disse, sem olhar para trás. — E
se não quer brigar comigo e ter que me pedir desculpas de novo, melhor fingirmos que
nada aconteceu.
Continuou andando e só parou quando entrou dentro de casa, se juntando aos
meus pais e Maria Isabel, que ainda dormia um sono tranquilo. Cheguei perto dela,
tentando tocá-la, porém Anna me repreendeu com o olhar. Suas ações não condiziam
com o que eu havia visto em suas feições quando estávamos quase nos beijando no
jardim. Eu conhecia bem as mulheres, tinha certeza de que ela queria aquele beijo tanto
quanto eu.
Êta, mulher difícil de entender e decifrar, meu Deus!
— Acho melhor irmos embora. Já está ficando tarde — falei desiludido.
— Mas vocês mal chegaram, filho.
— Voltamos em uma outra ocasião, mãe. Belinha tem toda uma rotina do qual já
é acostumada. Sair muito dela pode trazer problemas para mim e Anna. — Foi a
primeira desculpa esfarrapada que me veio à cabeça.
Eu estava chateado com a negativa de Anna. E se era para ela ficar daquele jeito
estranho comigo pelo resto do dia, eu preferia ir embora.
— Promete?
— Claro que sim, dona Cora. Não pretendo separar minha filha dos avós.
Despedimo-nos dos dois e seguimos para casa. O caminho foi todo feito em um
profundo silêncio, já que Maria Isabel ainda dormia e Anna não fazia muita questão de
falar comigo naquele momento. Quanto a mim, me perdi em pensamentos, tentando
decifrar o que passava na cabeça daquela mulher complicada, mas ao mesmo tempo
instigante, que estava do meu lado.
Anna...
Porcaria. Acordei na manhã seguinte passando muito mal. Vomitei até as tripas.
Deve ter sido alguma coisa que comi ontem. Só não sei se foi no almoço, ou se foi
aquela maldita lasanha vencida que estava no meu congelador há um tempão.
Quando chegamos da casa dos pais de Gabriel, fui direto para a minha. Estava
muito irritada e nervosa comigo mesma pela minha reação nos braços dele. Não era
para eu ter me sentido tão atraída daquele jeito por sua boca. Eu não queria me
apaixonar e nem me envolver por aquele playboy irresponsável, mas era justamente
isso que eu percebia que estava acontecendo.
Dessa vez eu não estava brava com ele, mas sim comigo mesma. O que era bem
pior. Na hora do jantar, me dei conta de que, na ânsia de fugir, eu havia esquecido
minha bolsa em seu carro. E eu não queria vê-lo. Precisava me manter distante para me
centrar e não cometer nenhuma loucura, ficando com ele, para depois ser abandonada na
rua da amargura.
Não teve outro jeito, sem ter como pedir comida pronta porque meu cartão de
crédito estava na bolsa e nem ter nada pronto em casa para esquentar no micro-ondas,
tive que comer uma lasanha, dessas de supermercado, que já vem prontas e é só levar
ao forno. Eu sempre tinha algo do tipo em casa para os dias que estava com preguiça de
cozinhar.
O único problema é que já fazia quase um mês que eu estava fazendo minhas
refeições na casa do meu vizinho, pois passava mais tempo lá do que aqui, cuidando de
Belinha. E a lasanha que se encontrava no meu congelador estava vencida há alguns
dias, uma semana para ser mais precisa. Entre encarar o olhar perturbador de Gabriel e
comer algo vencido, fui imprudente e escolhi a segunda opção. E hoje estou aqui,
passando muito mal.
Liguei para minha avó, expliquei o que estava acontecendo e que por isso não
iria a sua casa. Ela queria vir ficar comigo, mas a tranquilizei, dizendo que não
precisava, que era só uma indisposição e que logo eu estaria bem. Eu detestava dar
trabalho aos outros. Ledo engano. Liguei a televisão e me joguei no sofá, me sentindo
tonta e não conseguindo comer mais nada durante todo dia, o que só piorou ainda mais o
meu mal-estar.
No final da tarde ouvi a campainha de minha casa tocar com insistência. Em
seguida, meu vizinho começou a chamar pelo meu nome, Belinha se juntou a ele e eu
estava vendo a hora a vizinhança inteira vir também. Para evitar uma balburdia maior,
levantei-me do sofá, caminhando a passos lentos, quase me arrastando e abri a porta
para ele.
— Ei, Anna, o que é isso? — Segurou-me em seus braços, me impedindo de
cair e sua voz próxima ao meu ouvido, fez os pelos do meu braço arrepiarem.
Olhei para cima, tentando mirar seus olhos e ele me pegou no colo, levando-me
de volta ao sofá. Belinha se juntou a mim e ele puxou uma cadeira, sentando-se na
minha frente.
— O que você quer aqui? Domingo é meu dia de folga, sabia? — perguntei com
ironia.
— Domingo é dia de ir à sua avó, isso sim. Achei normal você não ter ido em
casa de manhã porque, para variar, estava nervosa comigo. Mas depois vi que não saiu
de casa o dia inteiro, fiquei preocupado. Juro que tentei não vir para não invadir sua
privacidade, mas minha ansiedade ficou grande que não consegui me segurar e resolvi
vir conferir se havia acontecido alguma coisa. E pelo jeito, acertei em estar aqui. Devia
ter vindo antes. O que você está sentindo?
— Não é nada demais. Acho que foi alguma coisa que eu comi — falei meio
mole.
— Deve ser o que você jantou, porque se fosse algo na comida da minha mãe,
todos nós estaríamos passando mal. O que você comeu, afinal?
— Eu... é... uma... uma lasanha vencida que estava no meu congelador. —
Gaguejei no início, até criar coragem de contar.
— Você está maluca, garota? Por que não me pediu ajuda? Nós vamos ao
médico, agora — falou, semicerrando os olhos.
Não contestei, estava cansada de me mostrar sempre inabalável e naquele
momento, eu estava precisando muito de alguém para cuidar de mim. Pegou-me no colo
e eu enlacei o seu pescoço, sentindo seus braços fortes me amparando.
— Vamos com o papai, Belinha — disse e a garotinha nos seguiu, assustada.
No hospital, descobrimos o que eu já sabia, eu estava com intoxicação
alimentar. O médico que me examinou disse que em dois ou três dias eu já estaria cem
por cento e na manhã seguinte, bem melhor. Ele receitou soro na veia com
medicamentos específicos, o que me segurou por mais tempo por lá. Gabriel e Belinha
ficaram ao meu lado em todo momento. Depois recebi alta e pudemos retornar para
casa, mas eu teria que continuar me tratando, tomando uma cápsula de carvão vegetal
por dois dias, bebendo muito líquido, fazendo repouso e alimentações leves.
Eu ainda me sentia fraca, meu vizinho ainda teve que me carregar até o carro e
assim que chegamos ao condomínio, me levou para dentro de sua casa, em seus braços
e me colocou em sua cama.
— Eu não quero ficar aqui, vou para a minha casa — falei e me levantei, ainda
vacilante.
Senti seus braços fortes me segurando pela cintura. Belinha o tempo todo nos
acompanhando de perto.
— De jeito nenhum eu vou te deixar sozinha lá. Vai ficar aqui com a gente e eu
vou cuidar de você.
— Eu não quero ficar na sua cama, ela tem seu cheiro. — Minha fala saiu meio
arrastada.
— Mais o chelo do papai é tão gotoso, tia Naninha. — A garotinha falou,
fazendo carinho em minha perna.
— Por isso mesmo. — Choraminguei e ele balançou a cabeça incrédulo.
— Vem, Belinha. Ela não quer ficar aqui, vamos levá-la para o sofá, meu amor.
Ele me deixou deitada na sala. Eu ainda me sentia muito fraca, mal conseguia
me manter sentada. Gabriel fez uma sopa para mim e me convenceu a dormir em sua
casa, pois queria estar por perto caso acontecesse algo. Eu não me achava em
condições de me opor, por isso acabei cedendo e adormeci no seu sofá.
Acordei no outro dia cheia de dores por ter dormido no sofá. Espreguicei-me e
quando abri os olhos, me deparei com um Gabriel, sentado no chão a minha frente. Vi
também que havia um lençol e um travesseiro sobre o tapete e ele estava com os
cabelos desalinhados, como se tivesse acabado de acordar.
— Você dormiu aí?
— Culpa sua, abelhinha. Não quis dormir na minha cama e eu não consegui ficar
lá, preocupado com você aqui sozinha. Aí deu nisso. Passei uma noite do cão nesse
chão duro e eu estou todo moído. E não adianta brigar comigo por causa do apelido,
depois de ontem, está em débito comigo.
— Eu também estou com dores. — Tentei endireitar o meu corpo todo dolorido.
— É bom para você aprender a não ser tão turrona. Onde já se viu, dispensar
uma cama confortável por causa do meu cheiro.
— Me desculpa por ontem? — Pedi envergonhada, ao me lembrar das coisas
que eu havia dito.
— Não tem do que se desculpar, Anna. Passar mal é algo que acontece. Só me
prometa que, por maior que seja a raiva que estiver de mim, nunca mais vai comer
coisas vencidas ou não me pedir ajuda.
— Prometo! — Cruzei os dedos nos lábios, beijando-os, do mesmo jeito que ele
havia feito para mim. — Eu não estava com raiva de você, era mais de mim. — Admiti.
— Juro que eu ainda vou aprender a te decifrar. — Sorriu torto, arqueando uma
sobrancelha. — Está bem? Se quiser, posso ligar na M.B. e dizer que não irei hoje e
ficar cuidando de você.
— Não precisa, eu estou bem. Pode ir trabalhar. — Garanti. — Cuidar de
Belinha não é muito cansativo. Vou colocar alguns desenhos e filminhos para
assistirmos juntas e assim consigo manter o repouso.
— Tem certeza disso? — assenti com a cabeça. — Então eu vou, mas se sentir
alguma coisa, me liga que eu venho na mesma hora. Sobrou sopa e eu guardei na
geladeira, acho melhor continuar com a alimentação leve. E não se esqueça de tomar o
remédio e beber bastante líquidos.
— Sim, senhor. — Bati continência para ele, fazendo-o rir.
Pouco tempo depois ele já estava pronto, se despediu de Belinha e de mim, com
um beijo roubado no canto da minha boca, me fazendo estremecer, e partiu para a
empresa. Eu precisava de um encontro urgente para tirar aquele homem gostoso da
minha cabeça.
Anna...
Para nossa sorte, Belinha não acordou nem com nossos barulhos e nem com o
despertador. Só saiu da cama depois que dona Arlete chegou e foi até o quarto vê-la. A
essa altura, eu e Anna já havíamos tomado banho juntos, o café da manhã e estávamos
prontos para nos despedirmos delas e irmos trabalhar.
Ela me pediu para não assumirmos nossa relação para as pessoas da empresa
ainda. Queria ir mais devagar, ver se daria certo primeiro. Eu não tinha dúvidas disso,
estava disposto e decidido a fazer dar. Confesso que não entendi muito o porquê de ela
pedir isso. Por mim sairia gritando aos quartos cantos que estava com ela e muito
apaixonado. Entretanto, achei melhor acatar e respeitar a sua decisão.
Na empresa, correu tudo às mil maravilhas, comigo dando algumas fugidas
estratégicas para a sua sala de vez em quando. Eu não queria ficar longe dela. Tinha
medo de que mudasse de ideia e voltasse atrás na sua decisão, não querendo ficar mais
comigo. Com a minha vizinha brigona tudo era possível. Ainda estava aprendendo e
desvendá-la e até isso acontecer por inteiro, acho que esse medo sempre rondaria a
minha cabeça.
Chegamos em casa no final da tarde. Após dispensarmos dona Arlete, pedimos
uma pizza e depois fomos assistir a um filme de super-heróis. Eu, Anna e Belinha, a
minha família dos sonhos.
Acordei no meio da noite com as duas mulheres da minha vida agarradas a mim,
uma de cada lado. Nem sei dizer em que momento adormecemos, só sei que eu não
consegui ver o final do filme. Acho que nem elas. Anna devia estar tão cansada quanto
eu depois de nossas transas matinais, e Maria Isabel costumava dormir cedo, não
aguentaria chegar até o fim.
Olhei emocionado para as duas e cheguei à conclusão, mais uma vez, que aquela
era a vida que eu queria para mim. Do meu lado esquerdo, minha abelhinha dormia com
a cabeça apoiada em meu peito, no exato lugar onde ficava o meu coração. Se estivesse
acordada, conseguiria ouvi-lo bater descompensado de alegria. Minha filha estava a
minha direita, agarrada em minha perna e com a cabecinha próxima a minha virilha.
Levantei-me com cuidado, levei Maria Isabel para o seu quarto e depois foi a
vez de Anna, que levei para a minha cama. Minha intenção não era acordá-la pois
estava num sono profundo. Apenas me deitei abraçado a ela e voltei a dormir. Deixaria
para me fartar dela e aplacar o meu desejo na manhã seguinte. Agora estávamos juntos,
não havia pressa. Tínhamos todo o tempo do mundo.
Anna...
— Onde a senhora pensa que vai? — Gabriel foi direto ao ponto ao me ver sair
do quarto de Belinha, após colocá-la para dormir e pegar minha bolsa para ir embora.
— Eu tenho uma casa, sabia? — respondi com um sorriso torto nos lábios.
— Por que não traz logo as suas coisas e se muda para cá? — Apoiou o
cotovelo sobre a mesa, me encarando. — Nós somos um casal e você passa mais tempo
aqui do que lá.
— Porque nós estamos começando um relacionamento, precisamos ter certeza
de que vai dar certo antes de tomarmos uma decisão tão importante, e também por que
gosto de ter meu canto. — Justifiquei-me. — Se brigarmos para onde eu vou?
Encarou-me, balançando a cabeça de um lado para o outro, inconformado.
Porém, não argumentou, com certeza evitando discutir comigo mais uma vez sobre
aquele assunto. Depois, me mediu de cima a baixo com um olhar de arrancar calcinhas,
percorrendo cada parte do meu corpo e eu devolvi o olhar na mesma medida,
aproveitando que estava sem camisa e eu poderia me deliciar com a visão, começando
no seu tronco, passei pelo abdômen e parei em seu sexo, percebendo que estava
excitado.
Meu namorado era um pervertido mesmo.
— É, depois de uma visão perfeita dessa, acho que minha casa terá que ficar
para outro dia mais uma vez.
Gabriel se apressou em me puxar pela mão, levando-me rapidamente para o
quarto. Assim que entramos e ele fechou a porta, pulei em seu colo, fazendo ele cair
sobre a cama, fazendo barulho.
— Xiu... Está querendo que Belinha acorde?
— E vai fazer o quê? Me amordaçar para não gemer ou gritar? — Provoquei,
colando em seguida nossas bocas uma na outra.
De repente, o desejo se tornou iminente, nos despimos um ao outro com
urgência. Gabriel me jogou na cama e cobriu meu corpo com o seu, colando nossas
bocas, me proporcionando sentir seu pau roçar em minha entrada, me fazendo salivar de
desejo. Parou de me beijar e ainda mantendo contato visual, inclinou o corpo para o
lado e pegou um preservativo na mesinha de cabeceira.
Vestiu a camisinha com rapidez, buscou pela minha boca mais uma vez e nos
envolvemos na luxuria de um beijo quente e muito envolvente. Posicionou o pau na
minha entrada e quando foi afundar gostoso...
— Papai... — Belinha chamou do seu quarto com voz sonolenta e um pouco
manhosa.
— Droga! Ela acordou.
— E agora? — Cobri o meu corpo com o lençol com medo de que a garotinha
entrasse e me visse nua na cama de seu pai.
Ela ainda não sabia que estávamos namorando. Na verdade, não havíamos
contado para ninguém ainda e estávamos procurando uma melhor maneira de dizer a
ela. Não sabíamos como iria reagir a isso por causa de sua mãe. E mesmo que
soubesse, não seria de bom tom e nem faria bem para a cabeça de uma criança de dois
anos pegar o pai e a namorada nus na cama. Acho que seria muita informação para
absorver.
— Eu vou ver o que está acontecendo e volto logo. — Vestiu a bermuda que
estava jogada em um canto no quarto. — Não se atreva a sair daqui e ir embora. —
Ameaçou-me em tom de brincadeira.
Respirei fundo com o banho de água fria que havíamos acabado de receber e o
aguardei. Algum tempo depois ele retornou e respirou fundo limpando os resquícios de
frustração do seu rosto. Seu membro não estava mais rígido como antes. Nem eu estava
com o mesmo fogo de algum tempo atrás.
— E então, como ela está? Voltou a dormir? — perguntei, ainda na cama, sem
roupas, embaixo do lençol.
— Não. Sinto muito! — disse, frustrado. — Ela teve um pesadelo com a mãe e
não está conseguindo pegar no sono. Quer vir dormir comigo. Acho que teremos que
adiar nossa diversão para outro dia. Falei a ela que vinha ajeitar tudo para passar a
noite ao meu lado e depois a buscaria no seu quarto. Isso deve dar tempo para que se
vista e se recomponha.
— Que pena! — Lamentei, descobrindo o meu corpo nu, começando a me
vestir. — Acho que vou para a minha casa, então. Retornarei ao meu plano original.
— Não quer ficar com a gente? Acho que Belinha vai gostar de ter a companhia
de nós dois.
— Prefiro ir. Eu tenho mesmo algumas coisas para fazer e resolver lá. —
Acariciei seu rosto dando-lhe um beijo casto. — A gente se vê amanhã.
— Vai ficar chateada comigo por causa disso? — indagou preocupado.
— De forma nenhuma. Eu entendo. Acredito que isso deva acontecer com todos
que tem crianças. — Assegurei. — Você acaba de ganhar mais pontos comigo
colocando sua filha em primeiro lugar. É isso que um bom e responsável pai faria.
— Você não existe, Anna Ayala. — Abraçou-me com carinho, beijando o topo
da minha cabeça. — Obrigado por ser tão compreensiva. Agora venha, vou te
acompanhar até a porta.
— Não tem o que agradecer. Eu já sabia que você tinha uma filha, não é como
se eu tivesse descoberto isso agora. E se estamos juntos hoje, é graças a ela. Foi
Belinha quem fez com que nos aproximássemos e nos conhecêssemos melhor.
— Sonha comigo e com o que ia acontecer no quarto. — Sugeriu, me abraçando
apertado, como se não quisesse me deixar ir.
— Pode deixar. Tenho certeza que será um sonho maravilhoso, amanhã te conto
ele com detalhes e a gente encena com perfeição.
Sem se controlar, Gabriel me puxou para junto de si e colou nossos lábios em
um beijo apaixonado. Ouvimos um barulho dentro da casa e olhamos para ver o que era
e nos deparamos com Belinha com a mãozinha na boca, dando risadinhas e apontando
com o dedinho para a gente.
— O papai e a tia Naninha tão namolandooooo!! Tia Naninha vai ser mamãe
nova de Belinhaaaa.
E voltou correndo para o quarto dando gritinhos eufóricos e nós nos
entreolhamos surpresos e sem saber o que fazer.
— Uma hora ela ia ter que saber. — Argumentou sorrindo. — Pelo menos a
reação foi boa.
Assenti com a cabeça, gargalhamos em uníssono e fui embora, rindo sozinha de
toda aquela situação inusitada que havíamos vivido naquela noite e que, com certeza,
viveríamos outras iguais.
Gabriel...
Mal entrei em minha casa e logo ouvi a campainha tocar. Era raro receber
visitas. Sempre era eu quem ia ver minha família, leia-se minha avó porque minha tia e
prima não dava para considerar como tal, aos domingos e também não tinha muitos
amigos, pelo menos, não do tipo que frequentavam a minha residência. Quem mais
costumava vir era Gabriel e Belinha, mas eu havia acabado de chegar de lá para
arrumar algumas coisas por aqui e os deixei assistindo desenho, portanto duvidava de
que fossem eles.
— Tábata, acho que errou de casa. — Provoquei. — A do Gabriel, onde sua
filha mora com o pai é ali ao lado.
Fingindo-se de desentendida ela forçou passagem e invadiu a minha residência.
— Isso é invasão de domicilio, sabia? É crime e posso chamar a polícia para te
tirar daqui a força, caso não saiba.
— Eu vou ser rápida, só tenho algumas coisinhas a dizer pra você.
— Que bom! Eu também tenho várias verdades para jogar na sua cara. Vai
querer encarar?
— Quem você pensa que é para falar desse jeito comigo? — respondeu arisca.
— Eu sou a atual namorada do seu ex. Aquela que tem mais consideração por
ele e pela sua filha do que você mesma. A mulher que viu um homem entrar em pânico,
mas mesmo assim mudar toda a sua vida por amor a uma garotinha, que foi abandonada
na porta da casa dele, sem que ele sequer fizesse ideia de que ela existia. Fui a primeira
a ouvir de Belinha que eu era boazinha porque a mãe dela era muito brava e batia nela.
Vi uma criança doce e especial ser totalmente carente porque era maltratada pela
mulher que devia cuidar e zelar por ela.
— Eu não sou obrigada a ouvir essas coisas. Vim aqui para falar e não para
ouvir desaforos. — Apontou o dedo em riste para mim.
— Eu só disse verdades. E tem mais para dizer. Quer que eu continue?
— Isso é ridículo! Não sei como Gabriel pode namorar uma mulherzinha baixa
como você. — Cruzou os braços.
— Ridículo é você invadir a minha casa para me provocar, aparecer do nada e
reivindicar o amor de um homem depois de tê-lo deixado por tanto tempo, se
explicando apenas com um bilhete, ter abandonado sua filha na porta dele da mesma
maneira e querê-la de volta. Aliás, o que você tem com bilhetes, afinal? É para causar?
Isso sim é ridículo!
— Você acha que vai se tornar mãe de Maria Isabel e esposa de Gabriel? Pois
saiba que eu não vou deixar. Eles são meus e eu voltei para reivindicar o meu lugar.
— Ora, Tábata, menos. Bem menos! — Adverti.
— Você não tinha nada que entrar na vida dos dois. Meu plano era perfeito. Eu
deixava a garotinha algum tempo com ele, que se apegaria a ela e depois eu voltava e
nos reconciliávamos. Eu não abandonei minha filha, eu a deixei com o pai para depois
retornar e reconstruir nossa família linda.
— Você é maluca, isso sim.
— Enfim, eu vim só para avisar, ou você sai da vida dos dois ou vai se ver
comigo. Não responderei pelos meus atos. — Ajeitou a bolsa no ombro.
— E o que vai fazer, me bater por acaso? — indaguei, curiosa.
— Se for preciso. Já viu nossa diferença de altura? — Ela era pouco mais que
um palmo maior que eu.
— Se eu fosse você, não faria isso, minha querida. — Usei de ironia. — Por
morar sozinha e ocupar um alto cargo na empresa do meu sogro, a M.B. Papel e
Celulose, fiz aula de defesa pessoal e nelas eu costumava treinar e bater em alguns
marmanjos bem maiores do que você.
— Não acredito nisso. Está falando da boca para fora.
— Arrisca para ver.
— Quer saber, meu recado está dado, “tia Naninha” — falou com desdém. — É
melhor ter cuidado comigo e fazer o que eu mandei.
— Eu não tenho medo de você, Tábata. Quem ladra não morde. E ninguém
manda em mim. — Encarei-a com determinação. — Agora, é melhor você sair da minha
casa. — Abri a porta e a empurrei com força para o lado de fora, fazendo-a virar o pé e
quase cair. — Antes que eu resolva realmente aplicar alguns golpes que aprendi em
você.
Bati a porta na sua cara e depois, pela janela, a observei caminhar mancado até
seu carro.
Eu hein, cada maluco que me aparece!
Gabriel...
Parecia que o que eu estava vivendo nos últimos dias era coisa de filme ou livro
de drama. Era inacreditável o que Tábata estava sendo capaz de fazer. Primeiro,
apareceu do nada na minha casa e disse que queria se reconciliar comigo e Maria
Isabel para formarmos uma família feliz. Depois foi até a casa de Anna e a ameaçou
com coisas absurdas. Nem parecia a mulher que um dia amei. E após ver que nada deu
certo, resolveu cumprir a pior de suas chantagens, entrou na justiça para reaver a guarda
de Belinha e separá-la de mim. O que mexeu muito comigo, pois eu já não conseguia
mais me ver sem minha filha e Anna ao meu lado.
Bem que eu já desconfiava que havia algo de estranho acontecendo para ela
resolver, do nada, deixar a criança comigo e me contar a verdade sobre a paternidade
depois de tanto tempo. Algo estava errado e eu precisava descobrir o que era. Sentia
que era essa coisa que me faria vencê-la no tribunal. Não me fiz de rogado e contratei
um detetive particular para segui-la e descobrir a veracidade por trás de todas as suas
ações, mas ele ainda não havia descoberto nada de significativo. E isso me preocupava
bastante.
— Não acredito que mesmo com você oferecendo ajuda, ela ainda vai manter
esse processo da guarda de Belinha.
Eu e Anna estávamos deitados na cama e ela massageava minhas costas, na
tentativa de me fazer relaxar. Enquanto isso eu contava a ela o resultado da conversa
que tive com Tábata pela manhã. Mesmo eu oferecendo auxilio para seja lá o que fosse
que tivesse acontecido, que ela estivesse precisando e que fez com que ela tomasse
aquela medida extrema, em troca de desistir do processo de guarda e deixar Maria
Isabel em definitivo comigo, ela havia resolvido que não voltaria atrás e que queria a
garotinha de volta. Só podia ser para me provocar.
— Ou ela tem um grande trunfo contra mim ou blefa muito bem.
— Depois das coisas que ela me falou lá em casa, acredito que a segunda
opção. O que ela poderia ter contra você?
— Não sei. Como ela mesma fez questão de me dizer hoje, meu passado de
playboy me condena, Anna. Ela pode usar dele para provar que eu não tenho condições
e nem moral para criar um filho, ainda mais sendo uma menina.
— Ei, o passado ficou para trás. Eu, seus pais, os funcionários da empresa e
seus amigos somos as provas vivas de que mudou para criar a sua filha. Você não é
mais aquela pessoa irresponsável. Se preciso for, podemos até depor a seu favor.
— Talvez você tenha razão, mas eu estou com muito medo de perder minha filha
para aquela doidivanas. Não vou me perdoar e nem suportar se isso ocorrer.
— Não vai acontecer. Você tem um bom advogado, um dos melhores do país. É
difícil ele perder uma causa. Quem sabe ela não te deu essa resposta da boca para fora
e depois pense melhor, mude de ideia e desista dessa loucura? Tudo pode acontecer.
Você ainda nem foi intimado. Está sofrendo por antecipação. Tábata pode estar fazendo
isso só para te torturar. — Acrescentou. — Venha cá! Você precisa é relaxar um pouco.
— Beijou o meu pescoço, fazendo um calor delicioso passear pelo meu corpo.
— Relaxar? — Virei minha cabeça e mordisquei o seu ombro. — Tem alguma
sugestão de como eu poderia fazer isso? — Dei o meu melhor sorriso sacana e em
seguida mordi o meu lábio inferior.
Selamos nossas bocas em um beijo intenso e caloroso, apertei-a em meus
braços e nos perdemos um no outro. Deslizei minha mão até a sua bunda firme,
pressionando-a contra a minha ereção, fazendo-a gemer. Aproveitei que nossos corpos
estavam colados e enfiei minhas mãos por baixo de sua camisola sexy, apalpando suas
cochas e brincando com sua calcinha minúscula. Anna soltou um gritinho agudo e
excitado.
— Que delica, abelhinha! — sussurrei no seu ouvido. — Essa sua bocetinha é a
minha perdição.
Trocamos uma mistura louca e bem-vinda de beijos quentes e carícias ousadas.
Levei minhas mãos até a barra de sua camisola e a retirei do seu corpo bem devagar.
Deslizei minhas mãos até chegar à calcinha, acariciando-a por cima da renda. Depois
apalpei mais uma vez a sua bunda gostosa e em seguida subi para os seios,
massageando, chupando e lambendo o biquinho. Distribuindo em seguida beijos
molhados pelo seu pescoço.
Então, comecei a descer, distribuindo beijocas pela sua barriga em direção a
pelve. Tirei a sua minúscula calcinha de forma lenta e torturante. Beijei sua boceta,
repetindo com mais fome e desejo. Brinquei com minha língua em seu clitóris,
deixando-a toda lambuzada, bem molhadinha para mim, enfiei dois dedos dentro dela e
comecei a fazer movimentos de vai e vem com eles, enquanto continuava chupando-a
cheio de vontade. Ela colocou a perna sobre o meu ombro, facilitando o meu acesso,
enquanto enfiava os dedos em meus cabelos, emaranhando-os.
— Goza para mim, abelhinha — falei rouco e ela choramingou.
— Ahhhhhh! — Gemeu alto, enquanto se desmanchava em minha boca.
Voltei a beijá-la sem pudor, fazendo com que sentisse o seu próprio gosto em
minha boca. Devorando-a sem reservas, chupando a língua e mordiscando os lábios.
Ela se afastou um pouco, removendo com destreza a minha cueca, única peça de roupa
que eu estava usando, já que estávamos prontos para dormir quando o desejo bateu.
Encostou-se em mim e rebolou no meu pau, acelerando os movimentos, me fazendo
gemer.
Abocanhei de novo os seus seios, mamando com vontade, alternando entre um e
outro, fazendo-a dizer palavras desconexas. Estiquei meu braço, peguei e, parando por
um breve instante, coloquei o preservativo, puxei-a em seguida pela cintura para mais
perto de mim, quase fundindo nossos corpos, penetrando-a com força, desferindo
estocadas potentes.
Nossos corpos se entrelaçaram em um ritmo extremamente erótico. Senti que eu
estava à beira de um colapso. Comecei a repetir seu nome várias vezes, sem me
controlar, como uma súplica. Senti que já estava pronta quando sua bocetinha me
apertou e, sem conseguir controlar meus espasmos, me derramei dentro dela, enquanto a
ouvia gritar pelo meu nome, como se estivesse caindo em um desfiladeiro, de tanto
prazer.
Só Anna mesmo para me acalmar em momentos como aquele. Tanta coisa
acontecendo em minha vida e me atormentando, a louca da minha ex querendo tomar
minha filha e mesmo assim eu conseguia encontrar a paz nos braços da minha abelhinha.
Anna...
Saímos do Fórum, passamos em casa para pegar Belinha e dona Arlete, depois
buscamos a minha avó, que pela primeira vez deixou minha tia e prima sozinhas, tendo
que se virar com o almoço, e fomos comemorar.
Maria Isabel estava toda eufórica e radiante por saber que ficaria com o seu pai,
apesar de sua mãe ter adquirido o direito a visitas, mas não sem antes passar por um
tratamento adequado e só então, depois de se livrar do vício, poderia vê-la. Dadas as
consequências do que havíamos ouvido no depoimento de Claudio Avelange,
suspeitávamos de que aquilo não iria acontecer tão cedo.
Virei minha cabeça para o lado e contemplei o homem lindo que ali estava.
Lábios perfeitos e bem desenhados, barba por fazer e seus incríveis olhos castanhos
cobertos pelos óculos escuros modernos e estilosos. Pronto para arrasar corações,
perfeito como sempre!
E era todo meu.
Ele percebeu que eu o estava observando e voltou-se em minha direção,
prendendo nossos olhares um no outro e a velha tensão sexual, sempre presente entre
nós, se instalou de novo. Para me provocar, ele passou a língua pelos lábios, me
deixando desejosa de um beijo seu. Sorrimos um para o outro com cumplicidade.
Assim que chegamos ao shopping, passeamos um pouco pelas lojas. Belinha se
encantou por uma loja de brinquedos e bichinhos de pelúcia. Gabriel logo se
encarregou de levá-la até lá e presenteá-la com tudo o que ela queria. Ele não sabia e
nem conseguia dizer não aquela criaturinha encantadora que conquistou nossos
corações. Confesso que nem eu.
Passamos um bom tempo dentro da loja. Vovó e dona Arlete se deram bem e não
pararam de conversar. A maior parte do tempo rasgando elogios para Gabriel. Acho
que o pai tinha o mesmo super poder da filha: o de conquistar todos os que se
aproximavam. Até eu, que tinha muita raiva e não podia nem o vê-lo na minha frente,
acabei caindo de amores. Enquanto as elas batiam papo e meus dois amores compravam
brinquedos, me encostei em um canto e fiquei encantada observando a interação entre
pai e filha.
Saímos de lá, algum tempo depois. Gabriel seguiu pelos corredores com
Belinha no colo e de braços dados com minha avó. Enquanto eu e dona Arlete
caminhávamos logo atrás, conversando amenidades. Dali fomos para a praça de
alimentação e almoçamos em um dos restaurantes mais requisitados do local, onde
conversamos, demos muitas risadas e comemoramos muito. Depois, uma última
passagem na área de recreação para Belinha se divertir nos brinquedos apropriados a
sua idade e voltamos para casa.
Emocionei-me com a ideia de que agora eu tinha uma família de verdade e feliz.
— Sua avó podia ter dormido aqui no quarto de Belinha, ou na sua casa aí do
lado. — Gabriel me falou assim que entrei no quarto, após tomar um banho.
— Já foi um bom começo ela ter passado o dia inteiro fora passeando com a
gente. — Ponderei. — Ela não gosta de deixar aquelas duas muito tempo sozinhas na
casa dela. Acho que tem medo de que aprontem alguma coisa.
— Vai perder o melhor da festa. — Arqueou uma sobrancelha.
— Como assim? — indaguei curiosa.
— Anna Ayala. — Ajoelhou-se aos meus pés. — Já faz algum tempo que
comprei esse anel e estava esperando o melhor momento para presenteá-la. —Retirou
uma pequena caixa de veludo do bolso e a abriu. — E acho que ele chegou. — Meus
olhos começaram a se encher de lágrimas com a emoção. — Depois de tudo o que a
gente passou e viveu nos últimos tempos, desde que Belinha chegou a minha vida, acho
que merecemos um pouco de paz e... Eu só consigo me sentir assim quando estou com
você. — Sorri, embasbacada. — Você aceita, deixar de ser teimosa, se mudar em
definitivo para a minha casa, se tornar a mãe dos meus filhos, incluindo Belinha, e se
casar comigo? — Colocou o anel em meu dedo.
— Aceito!
Não falamos mais nada, nos olhamos com profundidade e colamos nossos lábios
em um beijo quente. Nossas línguas se entrelaçando uma na outra. Gemi quando ele
interrompeu o beijo e mordiscou o meu pescoço. Levou as mãos até as minhas costas e
me puxou para junto de si, colando nossos corpos, como se quisesse nos fundir, me
fazendo sentir sua ereção gloriosa.
Voltamos a nos beijar, enquanto nos despíamos. Gabriel deitou-me sobre cama,
com seu olhar sustentando o meu, e sorriu. Virou-me de costas e mordeu meu traseiro
com desejo, fazendo-me gemer alto. Começou a distribuir beijos e pequenas mordidas
por todo o meu corpo, primeiro as pernas, depois as nádegas, as costas.... Pressionou
seu corpo junto ao meu, encostando o pau em minha bunda, enquanto mordia o meu
pescoço. Arfei.
Colocou as mãos entre mim e o colchão, segurando meus seios, acariciando os
mamilos enquanto continuava mordendo meu dorso. Vi quando pegou uma camisinha na
mesa de cabeceira e a vestiu. Colocou um travesseiro embaixo da minha barriga,
empinando minha bunda.
Passou um dedo pela minha bocetinha, que àquela altura do campeonato já
estava muito molhada, mordeu mais uma vez a minha bunda e se posicionando entre as
minhas pernas, arremeteu fundo dentro de mim. Gritei quando intensificou seus
movimentos, tornando-os mais fortes e rápidos.
Mordeu em meu ombro, me fazendo sentir o orgasmo se formando dentro de
mim, enquanto eu o apertava com minha bocetinha. Gozei, com minha visão se tornando
turva e Gabriel veio logo em seguida, chamando por meu nome e diminuindo a
intensidade dos movimentos até que seu corpo desabou sobre o meu.
Depois, nos amamos mais uma vez, até fecharmos os olhos exaustos e cairmos
em um sono profundo um nos braços do outro.
Gabriel...
Nervoso, olhei mais uma vez em direção a porta da igreja e respirei fundo.
Minhas mãos estavam suadas. Ajeitei minha gravata que parecia querer me sufocar.
Porque será que Anna estava demorando tanto? Será que iria desistir?
— Calma, filho! Ela já vai chegar. — Como se previsse como eu estava me
sentindo, meu pai se aproximou tentando me acalmar. — As noivas sempre demoram.
Ela nem está tão atrasada assim, algumas costumam demorar muito mais.
— Por Deus, pai! — Grunhi. — Para mim parece que já se passou uma
eternidade.
Ele não se conteve e deu uma gargalhada. Agora até meu velho estava se
divertindo às minhas custas.
Eu me sentia muito exposto com todas aquelas pessoas me olhando. Não sei
onde estava com minha cabeça quando convenci Anna a deixar minha mãe organizar o
nosso casamento. Queríamos algo mais simples e restrito, nas mãos de dona Cora, se
tornou o acontecimento do ano. A maioria dos presentes, eu nem sabia quem eram.
A família da minha noiva estava quase toda presente. Dona Eugênia, seus tios e
tias do lado paterno e muitos primos. Apenas Laís e Suelen que não. Apesar de já tê-las
perdoado, porque minha futura esposa tinha um coração enorme, ela não queria
continuar a conviver com pessoas tão más e amargas como elas. Preferia manter
distância, no que eu concordava, sem sombra de dúvidas.
— Chega logo, abelhinha — sussurrei comigo mesmo.
Olhei mais uma vez em direção a porta e... NADA.
Estava começando a cogitar o fato de Anna ter se arrependido e fugido como
naquele antigo filme com Julia Roberts, “Noiva em fuga”. Até que as portas da igreja se
abriram e uma música suave começou a tocar.
Primeiro aconteceu a entrada dos padrinhos, que eu acompanhei sem qualquer
interesse, ansioso pela entrada das minhas garotas. Depois foi a vez de Belinha, que eu
acompanhei todo bobo, trazendo uma cesta com pétalas de rosa e sorrindo, vez ou outra
fazendo gracinhas para alguns convidados que conhecia, que, diga-se de passagem,
eram bem poucos.
E então... veio a marcha nupcial. Anna apareceu na porta e eu fiquei em choque,
assombrado com sua beleza e perfeição. Fiquei quieto, enquanto acompanhava
emocionado a sua entrada. Seu vestido era lindo, assim como ela, simples e tentador.
Senti meu sangue ferver. Fechei minhas mãos junto ao corpo, admirando-a ansioso.
Selei meus olhos e senti a felicidade me inundar. Ela entrou com passos lentos,
me torturando aos poucos. Assim que chegou ao pé do altar, respirei fundo e fui até ela.
— Você está linda, abelhinha.
— Obrigada, playboy. — Brincou, olhando intensamente nos meus olhos.
Eu não conseguia parar de olhar para ela e por isso não prestei atenção em uma
palavra sequer que o padre disse. Repeti os votos no automático. Com as mãos trêmulas
coloquei a aliança em seu dedo e ela repetiu o meu gesto.
— Eu os declaro, marido e mulher. Pode beijar a noiva.
Eu não via a hora dele dizer isso para poder tomá-la em meus braços e beijá-la
profundamente. E foi o que eu fiz com toda a força do meu coração.
— Papai... tia Naninha... Belinha tamém qué beijo.
Minha filha gritou, cutucando nossas pernas e todos os convidados riram em
uníssono da sua reação.
Peguei ela no colo e saímos os três juntos da igreja, do mesmo jeito que nossa
história tinha começado. Com a certeza de que seríamos muito felizes. Nós três e os
outros bebês que viriam, para sempre e contra o mundo.
A Deus, por mais um livro terminado e pela inspiração que não me falta.
Ao meu querido marido, José Carlos, a minha amada mãe, Durvalina, a toda
minha família, amigos e incentivadores.
A Amandda Bennett, minha assessora, por mais uma capa e diagramação
maravilhosas!
A Ebervânia Maria (Bebel), pela revisão impecável. Ficou tudo perfeito como
sempre.
A turma do grupo #DesafioMariSales pelo incentivo e força que sempre.
As minhas parceiras maravilhosas: booktubers, bookinstagramers, tiktokers e
toda a galera da divulgação, que estão sempre ao meu lado, me ajudando muito a
alcançar o sucesso que almejo.
Em especial, aos meus queridos e amados leitores, que me dão a certeza de
estra no caminho certo.
A vocês todo o meu carinho e respeito.
Obrigada e um beijo no coração de todos,
Cris Barbosa.
Cris Barbosa, esposa dedicada, escorpiana, 50 anos, cirurgiã dentista há 27.
Formada na Faculdade de Odontologia da Fundação Educacional de Barretos.
Nascida no dia 8 de novembro de 1971, em Ituverava, interior de São Paulo e,
hoje, reside em Ribeirão Preto, no mesmo estado.
Escrever é sua maior paixão!
Exerce sua profissão como responsável técnico em uma clínica odontológica e
escreve nas horas vagas, mas pretende muito em breve dedicar-se apenas aos livros.
Seu primeiro livro, “Uma Incontrolável Atração”, foi publicado em e-book
independente em 2016 e em físico em 2017, pela Editora Pandorga, lançado na Bienal
Internacional do Livro do Rio de Janeiro e foi contemplado como o "Melhor Romance
de 2017" no Prêmio Melhores do Ano Nerd/Literário, realizado pelo portal No Meu
Mundo.
"O Último golpe do amor" é o seu segundo romance, com e-book e livro físico
publicados pela Editora Pandorga em 2018, lançado na Bienal Internacional do Livro
de São Paulo e foi contemplado com os Prêmios: Brasil entre Palavras, na categoria
“Melhor Livro Hot de 2018” e Melhores do Ano 2018 No Meu Mundo, na categoria
“Melhor Romance”.
Autora também dos contos “O dia do meu casamento”, publicado na Antologia
do IV FLAL, “Não sei quando vou voltar”, publicado na Antologia A Flor da Pele do
Engenho das Palavras, “Você em mim”, publicado na Antologia Apaixone-se pela
Qualis Editora, lançada na bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro de 2019 e
que em breve se tornará um livro completo, que já foi escrito e aguarda apenas a
publicação pela editora, “Paixão em um click”, na Antologia Permita-se publicada
também pela Qualis Editora, e “Refém da vaidade”, na Antologia 7 Pecados do Sexo +
3, publicado pela Assessoria Artessa.
De repente namorados, é o seu primeiro conto publicado de forma independente
na Amazon, que gerou a ideia para o livro “As Aparências Enganam”, que conta a
história completa dos protagonistas Bernardo e Valentina e que se tornou uma série.
Antes de lançar o segundo livro da série, a autora lançou o romance “Perdendo
o medo de Amar” e a segunda edição do e-book de “O Último Golpe do Amor”.
Os Opostos se Atraem é o segundo livro da série “De Repente Namorados”,
conta a história de Haroldo e Melissa, melhores amigos de Bernardo e Valentina,
protagonistas do primeiro livro.
Quem Desdenha Quer Comprar é o último livro da série De Repente namorados
e conta a conturbada história de Márcio e Laura, melhor amigo e prima respectivamente
de Bernardo, protagonista do primeiro livro, que vivem um romance cercado de
preconceito por todos os lados.
A série De Repente Namorados virou um Box incrível contendo o conto que deu
origem a série e os três livros dela. Também publicado em e-book de forma
independente na Amazon.
“O bebê de um ‘EX’ solteiro convicto” é o seu oitavo livro publicado, ficou
mais de três meses no ranking dos cem mais vendidos e já teve quase dois milhões de
páginas lidas na Amazon. Tem os primeiros capítulos dele disponíveis no final desse
livro, caso você se interesse em lê-lo.
Seu nono livro, “O Viúvo e eu – Uma chance para recomeçar”, também entrou
para o ranking dos cem mais vendidos, alcançando a nona posição, lá permaneceu por
quase dois meses e teve mais de um milhão e meio de páginas lidas. Também com
degustação no final desse e-book.
“Apenas por conveniência?” foi o seu décimo e “Subitamente Grávida: Uma
noite com o CEO” o décimo primeiro e-book, publicados de forma independente na
Amazon.
Nesse meio tempo, publicou o e-book “A força da paixão pela Qualis Editora.
Ele faz parte da segunda etapa do primeiro concurso de antologias da editora e conta a
história completa do casal Marcelo e Sofia do conto “Você em mim”.
“Pai Solo: a filha do meu vizinho” é o seu décimo terceiro livro. Publicado em
e-book de forma independente na Amazon.
ASSESSORIA ARTESSA
(21) 97045-2927
Amandda Bennett
Caro leitor,
Gostou da minha nova história?
Não esqueça de deixar seu feedback, através da sua avaliação sincera, porque
ele é muito importante para mim.
E não se esqueça de indicar a leitura para os seus amigos.
No final desse livro vocês vão encontrar as sinopses dos meus livros “O
viúvo e eu: Uma chance para recomeçar”, “O bebê de um ‘EX’ solteiro convicto”,
“Apenas por conveniência?”, além de alguns capítulos do meu lançamento anterior,
“Subitamente Grávida: Uma noite com o CEO”, que já teve mais de três milhões de
páginas lidas na Amazon, para vocês degustarem.
Aproveitem e divirtam-se com as leituras!
Beijos no coração,
Cris Barbosa.
Leia também:
Acordei toda manhosa me espreguiçando na cama. Um sorriso bobo não saía dos
meus lábios. A nossa noite havia sido incrível. Depois de fazermos amor selvagem na
sala, Daniel me levou para o quarto e fui a loucura em seus braços, na sua cama. Nossa
química foi perfeita e o que aconteceu entre nós abalou todas as minhas estruturas.
Passei a mão ao meu lado na cama e me surpreendi ao perceber que eu estava sozinha
nela.
— Daniel? — chamei.
Sem resposta, me enrolei no lençol e saí a sua procura. Não o encontrei em parte
alguma. O silêncio e o vazio indicavam que eu estava sozinha no apartamento. Onde ele
teria ido? Voltando para o quarto, encontrei na mesa de cabeceira um bilhete junto com
o arranjo de girassóis que ele havia ganho na noite anterior. Eu havia saído do quarto
tão atordoada para procurá-lo que nem havia notado o sinal.
Ps: deixe a chave na portaria, o porteiro saberá o que fazer com ela.
Li e reli aquele bilhete várias vezes, depois tomei um banho, coloquei minha roupa
que estava gentilmente dobrada sobre o sofá. Peguei meus girassóis, o bilhete, minha
bolsa e fui embora. Mas antes de sair, dei uma última olhada no nosso ninho de amor.
“Será que algum dia ele vai voltar?” Pensei em voz alta, fechei a porta atrás de
mim e parti, já com saudades e um pouco decepcionada por ele ter ido embora sem se
despedir, porém sem nenhum arrependimento.
Mal sabia eu que aquela noite mudaria toda a minha vida.
Isis
Um mês depois...
Saí de casa bem cedo naquele dia. Antes de ir para a faculdade, passei em uma
farmácia. Havia algo me incomodando e me deixando maluca, a minha menstruação, que
era sempre tão regular, estava atrasada, há alguns dias eu vinha sentindo enjoos e
passando mal, sentia muito sono e minhas mamas estavam sensíveis. Eu precisava me
certificar de que estava mesmo enganada, para tirar aquela dúvida de vez da minha
vida.
Assim que cheguei à faculdade, chamei minha amiga Carol para que me
acompanhasse até o banheiro. Entramos juntas em um mesmo compartimento, eu queria
que ela estivesse comigo quando visse o resultado e precisávamos conversar a respeito.
— Meu Deus, isso não pode ser verdade. — Proferi incrédula, após reler pela
terceira vez as instruções contidas na caixa.
— Isis, você está bem? Diga logo de uma vez como foi o resultado.
Olhei para o palito em minha mão e li a caixa mais uma vez. Não tinha como errar,
as explicações eram bem simples e nítidas: (-) = negativo / (+) = positivo. E era
exatamente o sinal de + que aparecia em meu resultado.
— Aqui diz que estou grávida de Daniel Leblanc.
Vi minha amiga perder a fala e não conseguir me dizer mais nada a respeito por
alguns momentos. Meu Deus, como isso foi acontecer? Foi então que me lembrei que na
nossa única noite juntos estávamos tão afoitos e desejosos um do outro que Daniel não
havia usado preservativo e que eu não tomava pílula anticoncepcional, pois sofria
muito com os efeitos colaterais e não havia conseguido acertar em nenhuma. Foi então
que entrei em pânico.
— Eu preciso ir ao médico. Esses exames de farmácia não são cem por cento
confiáveis. Tenho que fazer o exame de sangue. Eu não posso ser tão azarada assim ao
ponto de engravidar na primeira e única transa que tive com o cara. Ou posso?
Já tendo voltado a si, Carol começou a tentar me acalmar, enquanto eu tentava
digerir melhor o que estava acontecendo comigo.
— Preciso marcar um horário com a doutora Aline e fazer o exame de sangue o
mais rápido possível.
— Faça isso. Eu irei com você, não vou te deixar sozinha nesse momento.
— Tem alguém aí? — perguntei de imediato ao ter ouvido barulho de passos do
lado de fora.
Abrimos a porta e não encontramos ninguém. Devia ser paranoia da minha cabeça.
Ou, pelo menos, eu esperava que fosse, o que eu menos precisava nesse momento era de
alguém ouvindo nossa conversa por trás da porta e sair espalhando por aí a notícia da
minha possível e quase certa gravidez.
Apenas
por conveniência?
Casar-se não estava nos planos de Gael Walker, vocalista de uma famosa banda de
rock. Ele só queria curtir a vida e usufruir dos benefícios de ser uma celebridade. Até
que se envolve em um grande escândalo que pode acabar com a sua carreira e a única
maneira de abafar tudo é se casando.
Não querendo renunciar à sua liberdade, juntamente com a sua equipe, resolve
optar por um falso casamento. Um contrato assinado por tempo determinado,
conveniente para ambas as partes, e tudo estaria resolvido.
O que ele não esperava é que a linda, ingênua, simples, doce e forte Helena Alves
iria infiltrar em seu coração, fazendo-o se sentir muito atraído por ela e questionar se
seu casamento deveria continuar sendo apenas por conveniência.
[1]
Dados odontológicos coletados de uma pesquisa feita e publicada em 2018 no site agenciabrasil.ebc.com.br.
[2]
Dados sobre o exame de DNA coletados nos sites: blog.ramosmedicinadiagnostica.com.br, barela.com.br e
magscan.com.br