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1º Edição
Maio de 2021
Por você, bebê começa exatamente onde A filha do CEO terminou. São
livros individuais, porém os personagens transitam no mesmo universo. Para
uma melhor leitura, a filha do CEO deve ser lido primeiro.
Por favor, esteja ciente de que em Por você, bebê contém cenas
maduras, para maiores de dezoito anos.
Abraços, Pry
Nota da Autora
Sinopse
Playlist
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capitulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Epílogo 01
Epílogo 02
Agradecimentos
Lançamento mais próximo
Sobre a Autora
”Viúvo, um bilionário recluso, dedica sua vida aos dois filhos e aos
números, sua válvula de escape.”
Ou clique aqui
São Paulo
— Sai! — A encurralei.
Minha criança sentia aquela falta. Vê-lo esperar tanto da mulher que o
ignorou nos primeiros dias de vida partiu o meu peito ao meio. Por isso, só
por isso, recuei. Eu morreria antes de ver meus filhos sofrerem.
— Pai, fica calmo. É a mãe dele. O bebê gosta quando ela aparece.
— Não, meu cabelo não, criança. — Taila fingiu dar três tapinhas na
mão no bebê. — Vou colocar você de castigo. — Apontou a unha comprida
no rostinho do meu filho, depois apertou polegar e indicador em sua pequena
bochecha. — Filhotinho de Ogro, lindo.
— Não sei que inferno você veio fazer aqui, mulher, mas não vai usar
essa criança!
— Tia Taila, devolve meu irmão. Não complica as coisas. O pai já está
nervoso. — Thiago lutou contra o peso do meu corpo. — Não, pai, se
acalma, por favor.
— Pai, vai o senhor. Me deixa resolver isso. Eu ligo para minha avó e
peço para ela vir aqui...
— Vai, filho. — Peguei a toalha do chão e enrolei no meu quadril. —
Vai.
— Tia Taila, não provoque meu pai, por favor — Thiago pediu em tom
compreensivo. — Eu confio em você, pai. Não me decepciona, tá? —
suplicou, com os olhos em mim. Apreensivo, ele só se afastou para o fim do
corredor.
— Otávio, não nos sentamos para conversar... Por favor, vamos fazer
isso sem brigas, advogados ou família — implorou e em um único impulso
fechei os braços em suas pernas, joguei o corpo esguio sobre meu ombro e
levei escada abaixo. — Sou mãe do seu filho, estúpido!
Os gritos finos espancaram meus ouvidos, murros em minhas costas e
pontapés em minhas coxas.
— Otávio... seu irmão está dormindo fora e me tratando muito mal. Não
me respeita, aposto que está com outra. — A traidora se levantou,
explicando o real motivo de estar ali.
Seu tom de voz soou tão humilhante, que por um milésimo de segundo
meu ego quis tripudiar, diminuí-la e gargalhar até perder o fôlego. No
entanto, ser covarde não fazia parte das minhas ambições. Apenas ignorei a
informação e lamentei o fato dela ser tão burra ao ponto de procurar aquela
situação.
— Não tenho garantias, mas agradeça todos os dias por eu amá-lo com
todo o meu coração. Só por isso, você... — Engoli o restante das palavras e
larguei a mulher. — Vai, sai logo daqui.
— Me deixa ficar.
— Veja se a chave está no painel, liga o carro e coloca fora dos muros.
— Me afastei da mulher.
— Foi besteira deixar minha casa e meu filho. Nossa família. — Deu
um sopapo no segurança e tentou abraçar meu corpo. — Seu irmão é um
dissimulado, um falso moralista. — Liberou algumas lágrimas. — Você é
brutamontes, mas é leal. Cuida de mim outra vez. Prometo fazer diferente.
Me perdoa.
— Toda vez que a tia Taila aparece você fica assim. Esquece ela, pai.
— Isso não é assunto para você. — Passei a mão por seu ombro. —
Esquece essa merda. — Esfreguei meus dedos nos cachos ensopados e
larguei um beijo no meio da testa.
— Para, cara! — Sacudiu-se, tentando fugir do carinho. — É sério, pai.
O bebê não é forte como a gente. É todo sentimental. Acho que ele sente falta
de uma mãe de verdade.
— Você era menos bravo quando a mãe de Noah morava aqui e dormia
no quarto.
— E aquela moça coreana que tem umas tatuagens bacanas? Ela nos
ajudou na última vez que o senhor mandou o tio JP para o pronto-socorro. O
bebê gostou dela.
— É, fomos pai e mãe uma da outra. Ainda é difícil de acreditar que ela
encontrou você.
— Fiz uma filha aos 14 anos. — Ele sorriu e tamborilou com os dedos
no volante. — Se os meus pais estivessem vivos, não lidariam com isso
facilmente.
— Nem consigo imaginar. Estou com vinte e cinco e até hoje tenho
medo de engravidar na adolescência — comentei, soltando meus longos
cachos e modelando-os com a ponta dos dedos.
O homem fez uma pausa apenas por tempo suficiente para gargalhar no
volante. Uma gargalhada gostosa e discreta, bem diferente da minha.
— Gostei muito de ti. És uma espécie de mulher que eu levaria para
tomar vinho verde e dançar até o nascer do sol. — Ele ajeitou o vidro
frontal e me olhou através dele. — Sem segundas intenções.
— Você pode ter total razão. Mas, ainda assim, não é o melhor
caminho. É perigoso e instável. Fico aliviado por estar casando a minha
Madalena.
— Não, ninguém. Minha mãe partiu quando nasci, meu pai antes disso.
Fiquei com vovó, mas ela não me protegeu como deveria e precisei fugir de
casa aos treze anos. — Sorri para cortar qualquer brilho de lágrima. — Ela
faleceu há seis anos. Já não tínhamos muito contato.
Depois de uma boa respirada, não perdi tempo. Busquei a bola e duas
embaixadinhas foram suficientes para apará-la dentro de minhas mãos.
— Será que tenho uma irmã puritana perdida por aí? — Em um gesto
automático, estiquei o tecido de malha do meu pequeno macacão.
— Acho um pouco difícil. Mamãe era filha única e meus avós são
franceses. — O olhar tristonho respondeu à pergunta que veio em minha
mente e lamentei por ele. No momento seguinte meus dedos foram carinhosos
até os cachos compridos e amarrados no estilo samurai. — Ela se foi quando
eu tinha dois anos e meio.
— Ela era muito linda, mas eu pareço mesmo é com o meu pai. Da
mamãe só herdei os cachos e a melanina.
— Uma bela herança — falei, meio curvada, totalmente encantada com
o nível elevado de beleza. O verde dos olhos era tão intenso que mais
parecia uma ilustração no contraste da pele negra. — Lamento por sua perda,
docinho.
— Tudo bem. Já faz muito tempo. Ela está guardada na minha memória
e tenho bastante fotografias. — Virou o rosto e bateu nele com o indicador.
— Você pode beijar o outro lado? Só para eu lembrar mais um pouco dela.
Sem pensar duas vezes beijei seu outro lado, já tentada a convidá-lo
para uma volta de patins.
— Ah, não, nem tão estressado assim. Ele também malha quando está
tranquilo. Meu pai é super calmo. As pessoas até comentam "que homem
calmo".
— Sim, e o bebê é meu irmão Noah. Nossos olhos são iguais, mas as
pessoas ainda perguntam se sou filho biológico dele.
Naquele exato momento, o bebê olhou para trás e exibiu dois pequenos
dentes em um sorriso largo e contagiante. Ele possuía uma mistura mais
diferenciada, tão linda quanto a do mais velho. Embora seus cabelos fossem
castanhos com reflexos loiros e a pele em um dourado mais claro, como a
minha, os traços esculpidos indicavam que algum parente próximo, talvez a
mãe, carregava os traços da minha negritude.
— Meu pai não responde. Ele é muito bom em afastar pessoas só com o
olhar.
— Ela fica sempre no meu pé, pegando no meu cabelo. É uma enxerida
e não entendo nada do que fala — o pequeno resmungou, o rosto bem
elevado em posição de enfrentamento.
— Ah, não pense assim, meu amor. — Sorri contida. — Belinha tem
três anos. Apesar do pequeno atraso na fala, é inteligente e esperta. Você
também já esteve nessa fase.
— Seu pai deve ter um orgulho danado de ter um filho tão protetor —
expressei, surpreendida com o fato de a criança ter uma dicção melhor que a
minha, grata por ele ser tão esperto ao ponto de proteger minha pequena
afilhada. — Vou roubar você para ser meu protetor particular, bebê. —
Toquei com o indicador no pequeno nariz e virei para a porta que foi aberta.
— Amiga...
Madá olhou de viés para o pai. As bochechas coradas eram a sua marca
registrada.
— Menino bavo. Ele disse assim... "Não pega meu tabelo, Zabela".
Beinha munto tliste, bincou sozinha — dramatizou, deixando a mãozinha em
formato de concha.
— Belinha está sempre disposta a socializar, mas nem todas as crianças
sabem lidar com a espontaneidade dela. — Madalena sorriu, orgulhosa da
filha.
— Menino não dosta de bincar... Ele bigou com mim. Beinha cholou
de lábigas[2].
— Roberto tentou se redimir da parte dele. Comprou uma casa para ela
e o menino. Mas além de devolver, a garota esculhambou e o mandou enfiar
a casa naquele lugar. — Percebi minha amiga prender o riso.
— Recusou?
A sensação em meu peito era tão ruim que dificultava a passagem de ar.
Eu não gostava nenhum pouco daquele sentimento de impotência. A terapia
cumpriu seu papel por anos, eu deveria estar mais forte agora.
De olhos fechados e esfregando a mão no peito, inspirei e expirei
lentamente, soltando o ar pela boca, repetindo mais vezes, como me
instruíram no passado.
— Conheço você? — Ele olhou para os dois lados e voltou para mim.
— Me soltaaaa!
— Merece ficar sem isso aí. — Me sentei sobre ele, tomei impulso e
pulei da montanha de músculos. — Porco, covarde!
Deflagrei mais três socos e saí dali sem olhar para trás.
— Que ódio, Madalena! Por que não deixou aquele cara fora dessa
viagem? Nem comi direito hoje, sequer arrumei minhas coisas em São Paulo.
Estou cansada pra caramba. Eu não tenho que passar por isso aqui.
— Como é? — Me apartei dela. — Você sabe que fiz terapia, que odeio
me sentir acuada, que aquela merda me afetou diretamente. Por que não
brigou com seu marido para deixar o amigo fora dessa?
— Ana, comentei com Roberto, falei tudo o que aconteceu, que o amigo
dele te drogou naquela festa e invalidou suas escolhas...
— Não vou ao seu casamento. Mais tarde pego um bote e volto para o
porto — declarei, determinada.
— Vou pegar minha mala e levar para o bote. Não me procure pelos
próximos 100 anos. Acabou, Madalena. Acabou tudo.
— Sim. Lembra do cara que estava no seu pé, te cercando a noite toda?
— Ele se aproximou e elogiou o meu cabelo... — Repassei as cenas,
procurando por lacunas.
— Ele foi gentil, me chamou para dar uma volta e aceitei. Ficou por
perto, me esperou finalizar a maquiagem das clientes. Quando finalizei,
fomos para a proa. Tinha uma garrafa de vodka. Tomei algumas doses e vi
tudo rodar...
— Lembro que ele saiu para pegar um café forte e fiquei deitada no...
em algum lugar. Voltou sem camisa e com um suco de melancia nas mãos.
Aquele suco estava com um gosto estranho, mas pensei ser o álcool da minha
boca.
— Amor, não tem como você derrubar um homem daquele tamanho sem
que ele permita — Madalena contestou com cautela. — Você tem um metro e
cinquenta e oito, é meio que impossível...
Fui na direção da minha mala e procurei por uma peça discreta. Joguei
o vestido que eu usaria na festa de qualquer jeito e Madalena o aparou antes
que alcançasse o tapete.
— Sou mesmo.
— Será uma honra para a Venturelli. Roberto até lançou uma linha nova
para cabelos crespos e cacheados.
— Mera coincidência.
— Empresários marqueteiros têm astúcia — insisti.
— Acho justo. Ele cuidou de você naquela noite. — Madá beijou meu
rosto e minha testa.
Sim, o sobrenome era o mesmo. Não me atentei antes, mas agora tudo
se encaixava. Otávio Parisotto, herdeiro da Pinhos Parisotto, era o pai das
duas crianças.
Cheirei a bebida da taça com o olhar investigativo. Ele aparentava ser
um bom pai para as crianças, talvez seu coração fosse gentil o suficiente
para aceitar minhas sinceras desculpas sem grandes ressentimentos.
Com a verdade clara, não era inteligente brigar com o diretor financeiro
da Venturelli.
— É uma das razões pelas quais escolhi ser apenas dinda. — Sorri um
pouco alarmada com o desespero da criança. — Não teria estrutura para
lidar com esses lindinhos todos os dias. Eu acabaria competindo o choro e
exigindo um colo como recompensa.
— Acho que foi o cabelo e a pele. O seu está preso, a mãe dele usa
assim — explicou e olhei assustada para o bebê, que tentava a todo custo
alcançar meus braços.
— Acho que sua mãe não vai gostar de saber que o neném dela está de
olho em outra tetina. — Tirei a mãozinha de dentro do meu decote e usei a
bainha da camisa pequena para enxugar as lágrimas e secreção nasal.
— Não tem jeito. Noah não vai soltar você agora. — Thiago se sentou
na cama. — Entra.
— Docinho, não faça isso comigo. — Olhei para a porta aberta antes de
me ajoelhar ao pé da cama.
— Ele já vai dormir para liberar você. Noah ainda não tem dois anos e
meio para entender as coisas da vida — disse o menino, me lembrando de
antes, quando revelou que nessa idade ficou órfão de mãe.
Soltei o ar pela boca, sem saber lidar com a mistura de sensações que
atingiu meu peito. Aflição, medo e algo mais sublime.
— Ele está... ele está mais calmo, Thiago — consegui dizer, olhando
para ele por cima do ombro. — Vou sair.
Levantei-me e nem precisei mudar o passo para o bebê se manifestar,
batendo os pés no ar, rolando na cama a ponto de se jogar e ser amparado
por quatro mãos. Minhas e de seu pai, que me olhou nos olhos e se afastou
com o filho nos braços.
Eu nem toquei nele. Voltei para a cama, recebi a mamadeira das mãos
de Thiago e coloquei na boca do bebê, que se encolheu no meu colo e fitou
meus olhos a cada tragada que o bico de borracha recebia.
Eu ri indignada.
Isso fez o homem olhar para o meu colo. Ele observou o filho por mais
de cinco segundos, depois abriu a porta novamente e saiu da sala.
Ele uniu os pezinhos no ar, colou os longos cílios e rolou a língua sobre
o bico da mamadeira. De repente, ficou sonolento.
Eu nem olhei para trás. Segui meu caminho e voltei para a festa.
Nós nos encontramos no salão novamente, mas ele não me olhou no
rosto. No dia seguinte, quando acordei, ele não estava mais na embarcação.
Aliviada, fiz minha oração e desejei não ter problemas com ele em minha
nova empreitada.
— Mermelho?
— Isso. Vamos brincar muito. Sua mãe volta hoje e mais tarde vai
querer roubar você de mim.
— Hoje você abraça seus pais bem forte, amor da minha vida. —
Entrei no banheiro com ela.
— Nada de macho para Penélope agora. Ela precisa curtir a vida boa
antes de encher a casa de filhos. — Gargalhei daquela loucura toda. —
Fecha o olho e levanta a cabeça. Hoje é dia de tirar o grude do cabelo —
orientei e auxiliei também.
— Ai, tolicença[6]...
— Ele lá na valanda.
— Ele mora com alguém. Precisa voltar para casa, docinho. — Voltei
para dentro do apartamento e levei o gato.
— Ele disse... Não tem mamãe, não tem papai, não tem vozão, não tem
Nana. Dabiga de vento, bumbum fedolento, chujo todo...
Enquanto Belinha tentava me convencer a ficar com o invasor, peguei
leite na geladeira, despejei em uma tigela e coloquei no chão. Rapidamente o
gato atacou o líquido.
— Miau...
Os filhos do lobisomem.
— O quê, menino?
— Ahhhhh!
— Belinha! Chega!
— Um e o dois.
— Tudo bem. — Ele olhou torto para meu saco de pão e foi até o
banheiro.
— Inha...
— Pai, me escuta...
Ignorei o pedido. Só queria ver meus filhos. Não estava com paciência
para ninguém.
Ela não estava preparada, nem era obrigada a lidar com meus excessos.
Deixei que ditasse seus insultos e foquei no bebê, que agarrado a ela,
gargalhava, soltando gritos fanfarrões, divertindo-se com a situação.
— Não tenho medo de você, com todos esses músculos e dinheiro. Não
tenho medo de ninguém — disse, fazendo-me olhar rapidamente para o teto e
revirar os olhos sem paciência.
Ela não tinha aquele nariz. Lembrar desse detalhe me fez olhá-la com
mais atenção.
— ... vai?
Ela não usava absolutamente nada por baixo da malha branca. Não
conseguia nem me lembrar da última vez que tive uma visão daquela no meio
da manhã.
Porra!
Porra. Salivei.
Eu não deveria ter ficado tão preso naquela imagem, mas olhei com
tanta força que a mulher puxou o cardigã e cobriu o ombro. Cobriu tudo.
Puta merda, ela já estava traumatizada com meu rosto e eu ainda a fitei
daquele jeito.
— Pai, está tudo bem. Vem aqui. — Meu filho se aproximou da porta.
— Não tenho tempo para isso. Saí no meio do expediente e estou cheio
de trabalho.
— Pai, ela não alcança. Nem vai te custar nada, cara.
— Isso munto de feio, hein? Mamãe bigou com papai de mim. — Ouvi
a reclamação infantil e desci os olhos, dando de cara com a filha do meu
amigo e seus dois dedos em riste.
— Tudo bem. Preciso muito e não tenho escada — concordou ela, sem
olhar para mim. — Tem um alicate e arame na caixa do armário. — Ela me
mediu da cabeça aos pés e olhou para Noah. — Acho que você não precisa
do banquinho.
— Pai...
— Sim, pai.
— Quando teve a ideia de me desobedecer, de colocar você e a vida do
seu irmão em perigo, Thiago?
— Sua mãe não era tão anã, nem encorpada. Não usava esse estilo de
roupa e nunca me ameaçou com uma panela.
— Eu gosto muito dela. Só não gosto deste lugar pequeno. Ainda tem
um gato, pai. Ele fica no sofá. Chama ela para morar lá em casa, por favor.
— Thiago...
— Sou mais velho, pai. Não posso deixar essa garota que nem sabe
falar direito dar a volta em mim.
— Se você continuar com essa implicância, o pai dela vai querer capar
suas bolas mais cedo ou mais tarde. E terei que permitir, em nome da honra
dos pais.
— Não me sinto bem quando estou com você — ela revelou o que já
estava claro.
— O cara que mexeu com você não tem o nome dos meus filhos
tatuados no antebraço esquerdo, nem os pés deles nas costas. Atente-se a
isso. — Achei necessário esclarecer.
— Agradeço se evitar.
— Perigo?
— Acredito que você entenda a insegurança e a responsabilidade que é
ter dois herdeiros milionários dentro do seu carro.
— E o que você sabe sobre isso? — Sequei minhas mãos por mais
tempo do que o necessário.
Não entendi o que quis dizer. Joguei o pano sobre a máquina de lavar e
fui atrás.
Meu filho olhava com receio para a comida no prato. Só por isso fiz
questão de me aproximar da mesa e sentar-me na quarta cadeira, que estava
vazia ao lado dele.
— Foi o suficiente.
— Você come muito, pai. Fique com o meu. — Thiago ofereceu e mais
uma vez olhei para ele. — Pensando bem, está gostoso demais para dividir.
— Deu uma segunda mordida no alimento.
— Você tem jeito com crianças — comentei para quebrar aquela tensão
estranha que pairava no ar.
Eu ainda veria a mulher por aqueles dias. Seu contrato de parceria com
a Venturelli estava em minhas mãos e precisava de uma nova revisão antes
de chegar a Roberto.
No início da tarde daquela segunda-feira, precisei deixar o escritório às pressas para levar meu
filho ao pronto-socorro. Há quarenta e oito horas, Noah não evacuava e, naquele momento do dia,
chegou a notícia de uma crise de choro acompanhada de febre alta e inquietação.
Peguei o carro e saí sem olhar o que vinha na frente. Considerei uma apendicite aguda e me
culpei por não identificar os sinais.
A centelha de alívio veio com o resultado do exame de imagem. Não passou de uma crise de
constipação. Algo menos preocupante, mas ainda perigoso a longo prazo.
— Oi, Beto? — sussurrei, equilibrando o celular entre o ombro direito e a orelha, enquanto
passava a pomada nas dobras da coxa do bebê. Minutos antes, ele estava cochilando no meu peito
quando a merda vazou pelas laterais da fralda descartável e fez um estrago em nós dois. — Roberto?
— A barriga não está mais inchada. Agora ele vai dormir melhor.
— Vou colocar Noah no berço e cair na cama. Não perdi nada na rua.
— Mergulhei a blusa do pijama na cabeça loira do meu filho e ajustei os
bracinhos na peça.
— Querida, isso foi há quase dois anos. Não tínhamos uma história...
eu não sabia sobre a Isabela ...
— Preciso desligar.
— Espera, Otávio! Ainda são dez da noite. Estaremos no mesmo
camarote de sempre...
Eles dormiam juntos. Um estava lá para o outro, tinha que ser assim. Eu
estimulava o instinto protetor neles. Seria diferente com meus filhos.
— Meu irmão...
— ... bom que ele fez de novo. Boa noite, papai — ele sussurrou com
os olhos fechados, me fazendo sorrir.
Thiago raramente me chamava pela forma duplicada. Aos oito anos, não
encontrava conforto na linguagem infantil. Além de ler muitos livros
específicos, ele havia herdado a minha personalidade, especialmente a
autossuficiência. O resto me preocupava, por isso eu o monitorava.
Virei na cama. Agora era José, meu outro amigo. Casado desde os
dezoito anos, era o mais velho do nosso trio.
Segundos depois, pensei na maldita possibilidade. Uma hora de corpo quente não era suficiente
para atingir um coração categoricamente frio.
Sentei-me na cama e ajustei meu topete com os dedos. Olhos fixos na parede transparente do
quarto, vento gélido da noite paulistana batendo no meu rosto, o aroma do meu jardim tomando conta de
tudo.
Eu não era adepto, mas já havia recorrido aos serviços antes. Sabia onde encontrar as melhores
garotas de luxo dispostas a compartilhar sexo por dinheiro. Uma troca justa.
Precisando de uma pausa, levantei-me da cama, olhei para os estabilizadores de humor no armário
e voltei para o aparador de bebidas. Tomei duas doses de uísque e fui até o closet do quarto.
Gastei sete minutos do Ibirapuera até a opulenta boate no Itaim Bibi. Entrei ao som de uma música
trepidante e sob a modulação de luzes que davam uma atmosfera apropriada.
Na pista principal, tranquila em comparação a outros dias da semana, casais dançavam; no bar,
grupos de mulheres, sozinhas e acompanhadas, divertiam-se entre os drinks mais caros da noite.
Meus olhos pragmáticos não perderam tempo. Passearam ali, fazendo uma seleção rápida entre
aquelas que se adequavam à minha necessidade.
Duas loiras se destacaram no balcão. Uma delas ergueu a bebida, fazendo um convite claro. Tive
quase certeza de ter visto aqueles rostos em algum lugar. Acreditei serem filhas de uma amiga da minha
mãe. Apesar de tentadoras, já não serviam para o que eu precisava.
Sem grandes expectativas ou sinais de emoção, mirei na outra ponta do balcão. E naquele
momento, sem que eu esperasse, uma pequena avalanche atingiu meus olhos com força, mantendo-os
vidrados, precipitando estímulos, ofuscando tudo.
Porra!
Sozinha, sustentando um drink colorido na mão, ela movia os quadris preguiçosamente. No corpo,
mangas compridas para equilibrar o decote generoso. Nos pés, botas acima do calcanhar. A cascata de
cachos abundantes descia até a cintura, e meus olhos seguiram aquele caminho, até alcançar a elegante
curva, estupidamente favorecida pelo corte da minissaia de couro.
Uma possibilidade sacana cruzou minha mente, mas eu a descartei no momento seguinte. Nosso
histórico corrompido não permitia aproximação. Era tóxico querer lidar com isso.
Soltando uma lufada pelo nariz, olhei para o segundo andar, disposto a procurar melhor lá de
cima. Fui ali em busca de foda, aquela mulher não me oferecia isso, tampouco ocuparia o meu tempo.
Não foram três segundos de relutância e um cabresto puxou meus olhos de volta. Agora a mulher
caminhava em direção à escada com passos firmes e confiantes.
Atordoado com a bela visão, antes de seguir meu caminho, deixei que ela ganhasse distância. Mas
algo caiu de sua bolsa naquele percurso e tive que acelerar os passos para alertá-la do descuido.
— Estou com ela. — Preciso avisar quando um cara se abaixou para pegar o objeto no chão. —
Isso fica comigo.
O sujeito olhou para mim, mas escolheu ser sábio. Entregou a carteira de couro na minha mão e
desapareceu com os amigos.
— Ei! — gritei, tentando sobressair ao som da música. Ela tinha deixado cair a carteira,
possivelmente com documentos, no salão de uma boate e, consentindo ou não, agora me olharia na cara.
— Juliana! — Virou ao chamado. Olhos alargados, sobrancelhas curvadas e lábios comprimidos com
firmeza. — Tudo bem. Sou eu. — Suspendi meu antebraço esquerdo e revelei o nome dos meus filhos.
— Você deixou cair. — Estendi a carteira de longe.
A mulher veio furiosa. Puxou meu braço e raspou a longa unha no contorno da tatuagem. Foi
instantâneo. Calor irradiou pelo meu sistema nervoso e um curto-circuito deu pane no meu cérebro.
Achando pouco, ela mergulhou o dedo na bebida e esfregou o desenho, em toda a extensão visível.
O toque, o cheiro, a ousadia, aquele cabelo perfeito e as curvas arredondadas... Caramba, como
da primeira vez, fez meu sangue descer muito rápido.
— Não vi cair. — Sem me olhar no olho, resgatou a carteira e colocou-a na pequena bolsa
transversal.
— Acontece.
Subitamente desambientado, fui em frente e subi os primeiros degraus. Todos os meus sentidos se
conectando e minhas veias latejando em busca de alívio.
O álcool ingerido, minutos antes, assumia sua cota de responsabilidade, porém, seria covardia não
admitir a potente tensão sensual que me envolvia em nossas pequenas interações.
— Veio ver seu amigo? — indagou ela pelas minhas costas, fazendo meu pescoço ouriçar. —
Madalena também me ligou.
— Estou apenas de passagem. Não vou estragar sua noite. — Usei um tom impessoal. Meu tom
natural.
— Você vê o fodido toda vez que olha para mim — completei o que ela hesitou em dizer.
— Não.
— Para pessoas com poucos dígitos na conta? Você nem teria muito trabalho.
— Não.
— Não.
— Viu, então — murmurou em tom resignado e parou na minha frente, de costas, atrasando meus
passos.
— Não foi aumento — pontuei. — Apenas reajustei o valor final. Deu no mesmo. Depois você
calcula com calma — emendei, esperando que acreditasse.
— Ah, entendi. Até porque, você não tem motivo para me dar um aumento, não é? — Soltou uma
risadinha nervosa, um som incomum, semelhante ao grunhido de um porquinho. Quando percebeu meus
olhos curiosos, ela se recompôs e levou o canudo aos lábios. — Então, encerrou aqui. Este foi,
definitivamente, nosso último contato.
Ela chegou depois e cochichou no ouvido da mulher de Beto, que se afastou do marido para ficar
ao lado da amiga, no sofá da frente.
— Você parece tão exausto, Otávio. Por que não antecipa suas férias?
Vai viajar com as crianças.
— Foda-se!
Abandonei o copo na mesa de centro e fui para o parapeito de aço inox.
Apoiei meus braços ali e apreciei a vista ampla.
Dois minutos depois, ainda não havia encontrado nada, mas decidi agir.
Seguindo o corrimão, caminhei em direção à escada. Só não esperava parar
abruptamente e quase derrubar a pequena avalanche escada abaixo.
— Cuidado! — alertei, as mãos cravadas em sua cintura. Tão perto que
pude sentir o cheiro fresco exalando pela pele aveludada.
— Quem não pode com o pote, não pega na rudia[10], né, bebê? — Bateu
os cílios lentamente. O mínimo entendimento daquela frase fez minha
garganta secar de ansiedade. — Você já pode me soltar agora. — Me olhou
lá de baixo, enquanto eu traçava um contorno imaginário sobre os lábios
carnudos e levemente rosados. — Me solta cara, vou paquerar na pista.
— Psiu! — Uma mão agarrou meu abdome por trás e estremeci sob
aquele simples toque. — Que sensível... Posso acreditar que fui a última? —
a voz feminina sussurrou em meu ouvido e a reconheci imediatamente.
— Meu irmão está aí. Você está pronta para esse maldito encontro?
Ela olhou para aquele contato, então eu a puxei para fora e ouvi um
grito de protesto escapar de sua boca.
Ela era uma complicação, que eu não precisava, mas sem pensar duas
vezes, fui em frente, capturei a mão pequena outra vez e ignorei qualquer
relutância.
— Coloca o cinto.
— Dormindo.
— Sim. — Peguei uma água mineral que estava ali por perto. — Mas já
está tudo bem. A médica passou uma nova dieta e alguns remédios.
Você foi a primeira a chamar minha atenção após três anos de luto,
como esqueceria?, comentei secretamente e afrouxei as mãos que prendiam
seus braços.
— Tente evitar meu irmão, principalmente se estiver sozinha. — Minha
mão roçou a ponta de um de seus cachos e meus dedos coçaram para saciar o
desejo de uma velha mania. — Você conhece seus limites psicológicos,
certo?
Havia um leve tom de tristeza em sua voz quando ela disse essas
palavras. E esse sentimento cutucou um lugar específico dentro de mim. Um
espaço vulnerável e doente. Juliana era tão forte quanto se mostrava, porque
é isso que fissuras profundas nos obrigam a ser: fortes, corajosos. E não
precisei conhecê-la tão bem para identificar que ela usava o riso para
afugentar o peso do passado.
— Não. Nem pense nisso. — Ela deu dois passos para trás.
— Você está tonta.
— Não! Me devolve!
Ela saltou e, insatisfeita por não ter atingido seu objetivo, foi rápida no
jogo baixo.
— Me devolva, Otávio!
Senti a forte presença atrás de mim e meu peito tremeu quando o som de
uma buzina atingiu a membrana dos meus tímpanos. Em um intervalo de
segundos, agarrei a cintura de Juliana, virei seu pequeno corpo e senti um
carro passar por minhas costas.
— Tomei uma decisão melhor. Você vai entrar no meu carro. Depois
volto com um segurança e pegamos seu carro. Amanhã sua chave estará nas
mãos daquele velho de bigode preto.
— Você disse que não estava. — Meus dedos acariciaram seu couro
cabeludo por trás.
— Me leve logo, cara. Não me mime tanto. Não estou acostumada e
posso querer enfeitiçá-lo para ser meu escravo.
— Você fica muito estranho quando tenta ser aleatório. — Ela apontou
o dedo na minha cara. — Mas seus filhos são fofos.
— Traga meu carro. Não tente roubá-lo de mim... — disse ela, puxando
a alça da bolsa para fora da cabeça e deixando o acessório cair no chão.
— O quê?
— Tome um café forte e não abra a porta enquanto não estiver bem. —
Lutando contra o magnetismo perigoso e difícil de ignorar, respirei pelo
nariz e me afastei.
— Onde está seu casaco? — Foi a primeira coisa que saiu da sua boca
quando me alcançou e testou a temperatura dos meus braços.
— Desculpe ter vindo tão tarde, mãe. — Deixei uma sombra de sorriso
escapar. Sua voz suave e seu cheiro bom aqueceram meu peito e fechei meus
braços em volta dela. — Eu precisava ver você.
— Seu marido está aí? — perguntei, olhando por cima da cabeça dela,
percebendo que o segurança fixo da casa estava lá, me avaliando com
cautela, com todas as malditas ordens claras.
— Não aguento mais ter você longe de mim, Otávio. Seu pai quer ver
os netos com mais frequência. Quer passar o final de semana com eles,
viajar com eles...
— Ele me odeia — a interrompi. — Eu não quero meus filhos perto
dele.
— Otávio!
— O bebê veio para unir vocês, Otávio. Por que não dá uma chance ao
seu irmão? Ele quer conviver com você. Sempre quis o seu bem.
Não queria deixá-la mais triste. Nem era digno de estar na presença
dela.
— Eu daria tudo o que tenho para ter vocês unidos outra vez. — A
lágrima escorreu de seus olhos e a culpa me deu um soco no estômago.
— Não chore, mãe. Por tudo o que é mais sagrado, não chore. Eu fiz
uma promessa da última vez e pretendo cumpri-la. Por você. Ele só precisa
não se aproximar do que me pertence.
— Juliana.
— Sim, ela é.
— Gostosona?
— Quero conhecê-la.
—Você não tem motivo para conhecê-la. É apenas uma amiga da mulher
de Beto. Não está acontecendo nada.
— Você teve períodos de devassidão, depois disso só me falou da Dani
e da Tailana. As duas que colocaram aliança no dedo.
— Entra, mãe.
Ela soprou um beijo no ar e caminhou rapidamente em direção à porta
estreita. Passou pelo segurança e desapareceu da minha vista.
Fui direto para o quarto dos meninos. Abri a porta com cuidado e
entrei. Eles estavam dormindo na mesma posição que eu havia deixado.
Apenas arrumei o cobertor do Thiago e fui para minha suíte.
Exausto, com a água batendo nas minhas costas, dobrei meu braço sobre
o azulejo e inclinei minha cabeça sobre ele. Meus olhos desceram para o
músculo rígido com veias latejantes e a intensidade dos meus pensamentos
por Juliana aumentou.
Suas curvas, seu cheiro, sua voz, o toque da pele perfeita... A cabeça do
meu pau até brilhava, implorando por um aperto quente. Droga, eu estava
uma bagunça.
Juliana era luz, o oposto de mim, mas carregava alguns traumas. Outros
traumas que eu não conhecia. Uma alma ferida facilmente reconhece outra e
logo cria afinidade. Um sentimento ruim para quem não tem saúde.
Respirei fundo cerca de três vezes e, com o peso de uma mão apertando
meu peito, escorreguei para o tapete do quarto. Minhas costas descansaram
ao lado da cama de Thiago e meus olhos piscaram entre ele e seu
irmãozinho.
Minhas mãos deixaram seus cabelos e deslizaram para a roupa de cama. Minha coxa direita
tremeu sobre seu ombro, a outra amoleceu contra o colchão.
Com sua cabeça entre minhas pernas e meu nervo endurecido sendo sugado, ele deslizou a palma
da mão pelos meus seios e pressionou o mamilo na ponta dos dedos, fazendo-me arquear sobre o
colchão e roçar meus quadris em sua boca, seguindo um movimento contínuo. Para frente e para trás.
Acelerando à medida que ele me levava para a segunda explosão. E aquilo me deixou completamente
sem ar, me contraindo toda na cama.
E nos segundos que lutei para recuperar o controle da mente, sua língua quente deslizou para cima
e para baixo, acariciando toda a extensão sensível. Delicadamente, colheu tudo o que tinha direito.
Então, moveu os lábios pela minha barriga, entre os meus seios, até alcançar o meu sorriso e roubar o
resto do meu fôlego com um longo beijo de língua.
Sem forças, depois das ondas orgásticas, só consegui levantar as mãos e deixar meus dedos
acariciarem seu rosto de forma íntima e afetuosa. E naquele momento, com a sombra de um lindo
sorriso, ele desapareceu, como se fosse um infeliz truque de mágica.
Sonolenta, abri meus olhos que insistiam em permanecer fechados e repassei os flashs de
memória projetados em minha mente.
O bem-estar do prazer alcançado fluía pelos meus músculos, por toda a minha região pélvica, mas
tinha sido apenas um delírio. O terceiro naquela semana. Com ele. Otávio Parisotto.
O homem vinha gostoso nos meus sonhos, só me agradava. Eu me perguntava se, daquele jeito
grosseiro, ele poderia ser atencioso entre quatro paredes.
Mas, não era bom pensar nele. Para o bem da minha segurança emocional, eu deveria esquecer
aqueles olhos verdes obscuros e a pontada de interesse que vi correndo dentro deles em nosso último
encontro. Desde o início, a vida nos afastou e eu precisava entender isso como um propósito de
proteção.
Talvez fosse melhor retomar minhas consultas na psicóloga. Eu não tinha como saber se era
normal ter sonhos eróticos com um cara cujo rosto eu precisava esquecer.
Um dos meus cachos rolou sobre meu rosto, então percebi quem me acordou. O gato amarelo
estava ali no travesseiro, com suas duas patas habilidosas afofando meu cabelo em uma massagem
habitual.
Gusmão me acordava na mesma hora todos os dias, e se eu não saísse da cama para encher sua
tigela de comida, ele fazia uma grande cena de escândalo no apartamento.
— Bom dia para você também... — murmurei e coloquei minha bochecha no travesseiro. — Não
vou conseguir sustentar as exigências da sua pança, amiguinho. — Fechei meus olhos. — Vou procurar
um trabalho decente para você se sustentar e ajudar em casa.
— Miau...
— Sim.
— Miau...
Afastei o lençol e deslizei para fora da cama. Inspecionei rapidamente e não encontrei nenhum
sinal de cocô ou urina.
Gusmão era um gato treinado e fazia suas necessidades na caixa de areia, na área do fundo. Ele
era tão esperto que pegava a comida com a pata e colocava na boca. Fazia o mesmo com a água para
não molhar o bigode. Uma coisa curiosa que eu nunca tinha ouvido falar.
Augustinho, o porteiro, ajudou-me nas buscas pelo tutor, mas não tivemos sucesso, nem vimos
manifestação nos quarteirões vizinhos.
A ideia de colar cartazes no bairro passava pela minha cabeça, mas eu temia encontrar
oportunistas e pessoas maldosas. Persa de raça pura, certamente, o gatinho tinha pedigree e valia muito
dinheiro.
— Miau... — o safado exigiu, esfregou-se nos meus pés e eu corri para pegar sua primeira
refeição do dia.
Em uma hora, eu estava pronta para começar meu dia de trabalho. Precisava fazer algumas
edições e agendar postagens no Instagram, que agora era minha nova fonte de renda.
Gusmão, já escovado e na coleirinha, brincava com uma caixa de sapato ao lado da porta. Naquela
manhã, se tudo corresse bem, ele conseguiria seu primeiro emprego.
Eu tinha acabado de subir uma foto dele no meu perfil do Instagram. Escrevi duas linhas sobre sua
chegada repentina à minha casa, e fiquei impressionada com a quantidade de curtidas e comentários
fofos que o safado recebeu. Ele era bom, tinha um grande futuro pela frente.
— Vamos ali fechar negócios, amiguinho. — Eu o coloquei no meu colo e destranquei a porta para
sair do apartamento.
Dirigi meu golzinho pelas ruas do bairro e em poucos minutos entrei em um famoso pet shop nos
arredores de Vila Formosa.
Com Gusmão na minha frente, fui até o balconista, que me levou até o dono, um homem alto, de
cabelos grisalhos e óculos de aro redondo no rosto. Arnaldo, me disseram que esse era o seu nome.
— Esse garotão é o Gusmão, seu Arnaldo. — Inclinei-me, coloquei o bichano no colo e juntos
entregamos nosso melhor olhar persuasivo.
— Ele é muito fotogênico, e sua tutora, também conhecida como eu, alcançou 800 mil
seguidores no Instagram. Acredito que uma parceria entre sua empresa e nosso marketing digital seria
muito promissora. — Fui direto ao assunto.
— No momento...
— Tenho uma bela proposta de parceria, garanto — interrompi ao perceber que levaria um
decepcionante "não". — Sou blogueira antiga, agora influenciadora digital. Trabalho com beleza e meu
público-alvo é quase 100% feminino. A maioria delas são tutoras de animais domésticos.
Nunca fiz aquela análise entre meus seguidores, mas joguei de acordo com os comentários da foto.
Para fortalecer minha palavra, tirei o celular da bolsa e abri na imagem postada recentemente.
— Veja os dados de uma única postagem do Gusmão. — Cliquei nos insights e coloquei o aparelho
na frente dos olhos do homem. Ele aparentemente não entendeu o significado dos dados, porém, achei
que os números altos fizeram diferença. E, claro, não perdi tempo. — Vamos começar por meio de
permuta. Sua empresa oferece todos os produtos e serviços para o Gusmão, incluindo clínica e
alimentação, e retribuiremos com tour mensal pela loja e avaliação dos recebidos no Instagram.
O empresário raspou seus dedos no cavanhaque branco, avaliou minhas palavras e perguntou:
— Não nos primeiros seis meses, porque depois vai chover patrocínio e o Gusmão vai poder
escolher com quem quer trabalhar.
— É minha filha quem cuida dessa parte. E já tem gente famosa trabalhando conosco — ele quis
rebater.
— Vou mandar as métricas para o e-mail dela, para ela avaliar. Mas já garanto que minhas ações
são as mais incríveis — acrescentei —, veja este perfil. — Virei a cara do gato. — Não há outro mais
carismático em São Paulo, Senhor Arnaldo. Gusmão é um artista nato. Vai chover clientes aqui e nas
filiais da sua empresa.
E assim, duas horas depois, saí da clínica veterinária de seu Arnaldo, com um novo influenciador
digital nos braços. Gusmão fez uma série de exames e os resultados foram satisfatórios. O veterinário
avaliou sua idade, disse que ele deveria ter entre dois ou três anos, quase 25 anos, em comparação com
a idade humana. Ele também me orientou sobre os cuidados e esclareceu dúvidas de comportamento.
Só esperava que o gatinho nunca inventasse de trazer ratos para dentro de casa, pois não teria
maturidade para aceitar isso como um presente de amor, como o médico me fez acreditar.
— Não tenho dinheiro sobrando, Gusmão, mas a sua fartura e cuidados médicos estão garantidos
— eu disse enquanto acariciava seu pelo.
O telefone tocou em minha bolsa transversal e só dei atenção quando coloquei o gato no banco do
passageiro do carro e me sentei na frente do volante.
— Oxente, número desconhecido? — Achei estranho, mas como o prefixo era de São Paulo,
recebi a ligação e coloquei o cinto de segurança para pegar a estrada. — Oi, bom dia?
— Não, não desligue! Meu filho me falou sobre você. O Otávio — informou essas palavras e eu
paralisei por dois segundos.
Coloquei o aparelho diante dos meus olhos e pensei naquela possibilidade. Era mesmo a
mandachuva falando comigo?
— Você é a mãe do lobisomem? — perguntei com o celular na frente da boca, vendo meus
grandes olhos pelo retrovisor do veículo.
— Mulher, você é aquela loirona que aparece na televisão? Você é a dona da Pinhos Parisotto?
— Levei o telefone ao ouvido novamente e cobri minha testa com a outra mão.
— Isso, querida. Mudei uma programação inteirinha para conseguir um horário para você.
Podemos nos encontrar hoje?
— O quê? — Coloquei o celular no viva-voz, liguei o carro e manobrei para fora da vaga.
— Você está com horário livre? Estou animada para conhecer minha nora.
— Só Adriana, por favor. — A voz da loira soou risonha. — Otávio não me disse que você era
tão espirituosa.
— Tudo bem, talvez você tenha algo a me dizer que ainda não sei. Vamos conversar. — Joguei o
carro em outra vaga para dar atenção à mulher que me chamava de nora.
No centro de uma delicatesse luxuosa e quase vazia, no Jardim Europa,
após uma busca rápida, localizei a mulher sentada à mesa no canto mais
discreto.
Até abstrair o fato de que ela era a mãe daquele cara que me fez mal.
Pensar em tudo isso fazia meu peito queimar de angústia, mas eu não podia
deixar o medo me dominar. Episódios ruins do passado não interviriam na
minha vida.
— Você é pequena para ele — foi a primeira coisa que a mulher disse.
— Mas nós mulheres podemos cuidar de tudo, certo? Estou casada há 38
anos e só reclamei no início, quando não entendia que podia usar tudo a meu
favor. Veja como minha pele e meu cabelo estão brilhantes aos 57 anos.
Sim, ela era estupidamente bonita. Por procedimentos ou não, ela nem
parecia ser mãe de dois marmanjos.
— Senhora, o gato...
— Otávio tem suas peculiaridades. Ele não diz o que pensa, mas se
você olhar nos olhos dele, poderá encontrar todas as respostas. E eu
encontrei um novo brilho lá quando me revelou que o cheiro de frutas
cítricas era de uma mulher do passado que esteve com ele naquela noite.
Mas eu não poderia agradar seu ego pessoal com mentiras e negar a
mim mesma.
— Não, tudo bem. Fiquei muito tempo na terapia. Nada sobre meu
passado, por mais impertinente que seja, não me define. Eu me preocupo em
como você vai receber o que tenho a dizer — continuei com o mesmo tom
didático e vi os olhos da mulher vacilarem confusos. — Conheci o Otávio no
iate do marido da Madalena, Roberto Venturelli.
— Tudo sob controle — disse ela, enquanto tirava sua mão da minha.
— Otávio é gêmeo, mas não tem uma boa relação com o irmão. São bons
para mim e, ao mesmo tempo, movem o ponto mais fraco que carrego no
peito. Por favor, nunca se aproxime de João Paulo, meu outro filho. Você não
vai confundi-los na aparência. Hoje, Otávio é dois em relação ao biótipo
corporal do irmão. — A loira fungou o nariz e eu permaneci calada,
avaliando tudo. — É um alerta precoce, que pode assustar, mas já aconteceu
com a primeira mulher, e recentemente, a história se repetiu com a outra. A
mãe do bebê veio destruir a esperança que eu ainda tinha dentro de mim...
Desculpe, você pode continuar.
— Não posso, o gato está com fome. — Sacolejei o bichano para fazê-
lo miar. Ele nem mesmo se moveu.
— Dona Adriana...
— Tudo bem que você não tenha nada com meu filho, mas vamos sair
esta tarde com as crianças. — Ela também se levantou, sorrindo
esperançosa.
— Dona Adriana...
— Por favor...
Seja o que for, ele vai esperar até que eu esteja disponível,
determinei, mas pouco mais de quarenta segundos, houve uma batida na porta
da sala, me fazendo praguejar enquanto tombava a calculadora científica na
mesa.
— Você está bem, amigo? — A voz cautelosa de Roberto veio do outro
lado da sala.
— Quando ela tiver dezoito anos, você vai ser um velho com uma porra
de um novelo branco na cabeça e uma bengala na mão. Não poderá fazer
muita coisa — concluí, deixando-o de narinas infladas.
— Ah, Otávio, recebi uma ligação importante mais cedo — disse Beto
enquanto eu saboreava o chá com gosto de camomila. — Era a tia Adriana
querendo o contato da nora.
A informação inesperada chegou aos meus ouvidos e o líquido que
estava na minha boca foi expelido, molhando parte da mesa, até o Zé, que me
xingou de boca cheia.
— Vou sair. — Olhei para o Rolex no meu pulso que marcava 15h40.
— Não volto mais hoje.
Inclinei-me para beijar o cabelo da menininha e corri para fora da sala,
deixando-a tagarelando e exigindo que eu voltasse para a mesa.
— Sua avó está falando com ela, filho? — Selecionei o térreo no painel
e encostei minhas costas na parede de aço.
— Elas estão rindo juntas. Minha avó também gostou dela. Só falta
você aqui.
— Minha avó disse a eles para ficarem por perto. Ela nunca vem, pai, e
agora ela está aqui — meu filho falou empolgado e avaliei a repercussão
daquele encontro para o psicológico de Juliana.
— Tchau, pai.
Ele nasceu com a cabeça sã, desde cedo foi amado pela família, teve o
reconhecimento de quem nunca me atrevi a querer e ainda tentava reter o que
me pertencia. Mesmo meus filhos, ele tentou usurpar.
Depois da frustração de nunca ter Danielle, sua maior raiva era não
poder provar que Noah era seu filho.
Tailana alegou que o bebê era meu, mas sua palavra não valia nada, era
puro interesse. Se ela ousasse beneficiar o amante perante um juiz, perderia
os pequenos benefícios garantidos no maldito contrato pré-nupcial, pois era
necessário revelar sua infidelidade. Ela era estúpida, mas temia voltar à
miséria.
No início do ano passado, depois que minha mãe precisou correr para o
hospital com uma súbita inflamação no pâncreas e ficou dias na UTI, João
Paulo veio propor uma trégua. Isso tinha que acontecer naquele momento e
eu me vi engolindo toda a minha dor por ela.
A falsa paz ruiu quando percebi que Taila se preparava para apunhalar
minhas costas e esperei ver o quão longe eles iriam para dar um pouco mais
do que João Paulo merecia. Aqueles dois me fizeram experimentar um grau
de fúria da qual não estava disposto a me lembrar.
— Nem mais um passo — ela disse, trazendo o algodão doce para meu
peito, como se fosse uma espada.
— Você vai ter que me dar algo valioso. — Ela parou na minha frente,
deu um passo ruim e agarrou minha gravata, se não fosse por isso ela teria
caído no chão. — Trabalha sempre assim? — indagou, demonstrando uma
boa dose de presunção, seus olhos escorregando sobre a camisa social que
cobria meu peito. — Nada mal.
— Não grita comigo não, bebê. Nunca te dei ousadia para isso. —
Segurou meu maxilar e deslizou os dedos nos pelos curtos da minha barba.
— Ficou um pouquinho de açúcar aqui.
— Não é porque você vive carrancudo que sou obrigado a ser — ela
murmurou, enquanto puxava minha gravata sutilmente, fazendo meu pescoço
cair sobre seu tamanho. — Você errou quando me envolveu nessa situação.
Agora sua mãe não para de me chamar de nora. E o bebê, que já me chamava
de mãe, acredita fielmente que tenho leite nas tetas. Eu deveria estar virada
no setenta com você, disgramado!
Ela agarrou minha gravata com mais firmeza, só para ganhar impulso e
empurrar meu peito.
— Vai dar calundu, agora? Você me deve e vai pagar com um daddy,
amigo seu, de preferência que saiba sorrir alegremente.
Uma porra!
Inferno!
— Prefere se prostituir?
Ouvi a voz do meu filho e dei um passo para longe da mulher. Thiago
estava ali na nossa frente, com um olhar cauteloso, um pé no pedal da
pequena bicicleta e o outro apoiado no chão em busca do equilíbrio
— O que aconteceu com você, mãe? — Alisei minha mão nas costas do
bebê e beijei sua cabeça, mas ele continuou se jogando, sua mãozinha
abrindo e fechando e o choro contínuo intensificando. — Por que fez isso?
Nunca se importou com isso.
— Ela pode ficar em nossa casa agora e esperar até sexta-feira, pai?
Por favor — Thiago sussurrou ao meu lado, discreto o suficiente para fazer
Juliana ouvir e arregalar os olhos com uma evidente recusa dentro deles.
— Você não vai dormir agora, neném, vai chorar, mas eu tenho que ir,
amor. — Juliana tentou afastá-lo, mas Noah enfiou as mãos nas roupas dela e
as pernas ficaram presas na circunferência das costelas. — Noah, pequenino,
por favor.
— Eu fico com ele. — Dona Adriana foi com jeito. O bebê olhou para
ela, sorriu e não se importou em mudar de colo. — Vovó vai cuidar de você
para o papai namorar.
E assim se afastou com o neto, disfarçando para que ele não visse a
saída de Juliana.
— Você fez tudo errado... Tudo errado! — Thiago reclamou com a voz
embargada e pedalou até onde estava sua avó.
Fiquei dois dias sem sair de casa, cuidando das minhas coisas,
limpando o apartamento, organizando e otimizando meu perfil do Instagram.
— ... você não queria fazer mais nada na vida. Madalena, por que você
é assim, hein? — Tomei um gole do meu chá e minha amiga bufou entre as
bochechas, quase se engasgando com a bebida quente, sustentando a pose
elegante que tinha desde a infância e só se destacou ainda mais com os
treinamentos de sua primeira profissão na aviação. — Acho que aquele
bichão de borracha foi o meu presente de aniversário que você mais gostou.
— Fala baixo, Roberto tem ouvido biônico e vai ouvir essa besteira. —
Ela enxugou o líquido que escorria pelo queixo e deu outro gole no chá. —
Esqueça isso. Sou uma mãe de família agora.
Essa era a minha melhor amiga, Madalena Bianca. Altruísta, linda como
uma pintura feita a mão e safada. A safada mais chorona que já conheci.
— Ah, não, docinho. Melhor mudar de assunto antes que você inunde
sua cobertura duplex. Vamos falar de negócios — sugeri para acabar com o
chororô. — Você acha que seu marido pode me conseguir
um daddy bilionário?
— O quê? — Madalena deixou a xícara na mesinha de centro. — Logo
você que tem pavor de relacionamentos, Ana. Por que isso agora?
A mãe dela era uma das mulheres mais tóxicas que eu conhecia, mas
Madá tinha o coração bondoso demais para lidar com isso.
— Adriana Parisotto deixou escapar sobre as mulheres que seu amigo
teve e até me disse para ficar longe do agressor que ela chama de filho —
recuperei o assunto, pois fiquei comovida com o relato de Madá.
— Sim. Otávio só não matou o irmão de uma vez, porque tia Adriana
entrou na frente e implorou. Foi uma verdadeira tragédia que nem vale a
pena lembrar. João Paulo passou dias em coma induzido para evitar maiores
danos ao cérebro.
Misericórdia!
Senti um tremor correr pela minha espinha e rasgar todos os poros do
meu corpo.
— Vá em frente — encorajei-o.
Meu Deus, eu não deveria estar tão curiosa. Era uma história triste
que não me pertencia e me assustava.
Roberto fez uma pausa, então fechei os olhos por alguns segundos e
pensei nas crianças.
— Ele...
Olhei para minha amiga e encontrei seus dois grandes olhos azuis. Ela
estava tão abalada quanto eu. Certamente pensando nas crianças.
Lembrei que interagi tão pouco com Thiago e ele sempre foi atencioso,
silenciosamente clamando por carinho, ao contrário do bebê que chorava
para estar em meus braços.
— Então, ele está enfrentando o auge da doença agora — fiz uma rápida
reflexão.
— Não, amiga. Vai cair uma chuva forte, minhas coisas estão todas
conectadas e você sabe como é o sistema elétrico maluco daquele prédio. —
Abaixei-me para colocar Gusmão no colo. — Depois terminamos a
conversa, Roberto. Agora não paro de pensar nas crianças.
— Espero que você seja sábia com as informações que lhe dei — disse
o homem ao abrir o elevador.
Droga!
Algo deu errado com o veículo, tive certeza quando senti os pneus
dianteiros rolarem de forma diferente no asfalto e o carro tremer.
Merda, o que há de errado comigo? Por que estou ficando cada vez
mais íntima de todas essas criaturas que de repente entraram em minha
vida?
Eu não deveria ter saído de casa esta noite, lamentei e ouvi um motor
batendo na pista, me forçando a levantar para ver a grande moto chegando,
soando a buzina duas vezes antes de o capacete ser removido da cabeça do
piloto e a familiaridade de seu rosto me congelar completamente.
— Não! Não! Não! — exclamei olhando para os lados e quando voltei
para o piloto na moto, vi tatuagens familiares, e da mesma forma, o alívio
não chegou. — Você quase me matou de susto! — blefei sobre o passado do
verbo.
Certo, Otávio Parisotto estava na minha frente, todo gost... ogro, no seu
jeito suave, e eu não tinha escolha a não ser aceitar sua ajuda. Poderia ser
pior, poderia ser o irmão dele.
— Só um minuto... — Abri a porta do veículo e encontrei Gusmão todo
ouriçado. — Shh, fica quietinho, amor, pelo menos ele é o pai das crianças.
Não temos escolhas. Precisamos acreditar que tudo ficará bem.
Ele reconhece o medo nos olhos das pessoas, não tem que lidar com
os meus.
Pela viseira do capacete, pude ver sua expressão incrédula sobre o que
estava acontecendo, mas não houve reclamações e silenciosamente agradeci
a ele. Eu não queria vê-lo nervoso à toa.
Ele olhou para mim daquele jeito fugaz, colocou a mochila na bunda de
Gusmão e sacudiu para que eu o soltasse. Fiz o que ele silenciosamente
instruiu e joguei minha bolsa lá também, então ele fechou o zíper, deixando
apenas uma pequena abertura lateral, antes de levar de volta para as costas e
prender as alças em seu corpo.
Pedi mais um pouco, mas depois calei a boca. Tive medo de que ele
perdesse o foco na pista por minha causa. Já bastava estar passando por
aquela situação.
Porém, lá na frente ele diminuiu a velocidade, colocou o pé na pista,
esperou que três carros passassem e manobrou novamente, agora em direção
ao meu bairro.
— Dona Juliana, seu namorado tem sido intransigente cada vez que
aparece aqui. O prédio tem regras e ele precisa respeitá-las — disse
Augustinho, nervoso, olhando para a porta. — O síndico mandou desligar a
energia elétrica para evitar mais estragos. Somente as externas conectadas
ao gerador permanecerão acesas. Seu namorado precisa tirar o veículo daqui
antes que ele me coloque em apuros.
Ele não disse nada, apenas contraiu a mandíbula de uma forma estranha
e subiu empurrando o punho contra as paredes da escada.
Ao chegarmos no corredor, aproveitei o fato de que meus passos
vacilaram para encostar minha cabeça nele. Estranho admitir, mas ali desejei
saber mais sobre suas reações.
— Esse gato ainda tem de três a quatro vidas, deixe ele na toalha e
cuide da sua — disse o homem, vindo ficar ao meu lado.
— Já vou... — Ergui a cabeça e peguei olhos verdes fixo no meu busto,
minha jaqueta aberta, mostrando a blusa fina que me cobria por dentro.
Engoli em seco.
— Vou ficar aqui esta noite — o homem rosnou aquelas palavras com
desgosto. — Até amanhã eu te convenço a ser minha.
— Não sou os seus paqueras, pequena. Mas se você não tirar esses
peitos perfeitos da minha cara, vou entrar naquele banheiro com você,
colocar os dois na minha boca e me banquetear com eles, enquanto você
geme mais alto do que esses malditos trovões. Você pode me obedecer antes
que isso aconteça? Antes que eu ignore cada merda que existe entre nós e me
impede de seguir em frente?
Contrair, foi inevitável!
Abalada com cada palavra, com cada nota daquela voz bruta, eu virei
minhas costas, fui até o guarda-roupa, peguei o primeiro conjunto de pijama
e, descuidadamente, deixei cair uma caixa. Uma caixa de objetos indecentes,
que planejei usar naquela madrugada, logo após meus sonhos habituais com
o homem que agora adornava meu quarto.
— Quer ajuda?
— Não! Fique aí — gritei, recolhendo tudo, de costas para ele.
— V-vou precisar do celular? — ela gaguejou do outro lado, o som de seus dentes batendo,
revelando a condição de seu corpo.
— Você quer ajuda? — perguntei, enquanto ela abria a porta e ficava em frente a uma abertura
limitada.
— Só preciso saber onde pisar. — Puxou o celular da minha mão. — Madalena mandou
mensagem... — Ela olhou para a tela do aparelho e acendeu a lanterna. — Vou deixar a porta aberta,
viu? Estou com medo, Madá não está aqui para me proteger e preciso confiar em alguém. — Sem que
eu esperasse, cutucou meu peito com o dedo indicador e deslizou até meu umbigo, fazendo-me contrair
sob aquele toque.
— Shh, eu escolho o gato. Gatinho, me ataque se algo sair do controle. Não eu, ele. Ataque-o,
Gusmão. — Puxou a mão e desapareceu da minha vista, me fazendo sorrir na sombra da porta.
Aqueles lampejos de euforia, o jeito hesitante de me olhar... uma combinação de cautela, ousadia,
charme e desejo... Ah, pequena, você é capaz de me desarmar totalmente, como só uma mulher
conseguiu. Isso me fascina, mas desaconselho este caminho complicado.
Afastei-me da porta e andei no cubículo escuro, até o vidro por onde vinham os flashes. Era a
porta de correr que dava para a área externa, onde fiz os reparos na primeira visita. Destravada, ela
deslizava lentamente sobre o trilho. Eu fui lá e fechei. Voltei e me encostei na pia da cozinha.
Poucos minutos depois, Juliana saiu do banheiro toda agasalhada e descalça, com uma toalha
branca nos cabelos e as roupas molhadas na mão.
— Ahhh! — ela gritou de uma forma escandalosa quando me viu no escuro. — Fale com os
meninos agora mesmo e pare de me assustar! — Usou sua doce autoridade, me entregando o celular.
— Você molhou meu apartamento inteiro, véi — reclamou, abrindo a porta da área, saindo e voltando
com panos para usar no chão e mais reclamações.
Achei melhor não interromper as impertinências. Entrei no banheiro calado, levando o celular
comigo. Não abri o aplicativo de mensagens, liguei diretamente para um dos meus seguranças de
plantão e tentei ser rápido com as informações necessárias. Os funcionários estavam em casa. Não
havia perigo ali com a violência da tempestade. Meus meninos dormiam, a babá olhava tudo, como
sempre. Fiquei aliviado.
Não demorei naquele banheiro, só o tempo suficiente para tirar a água suja do corpo e o excesso
do sabonete perfumado da Juliana.
Quando saí do banheiro, encontrei-a na frente da pia. Linda, sendo moldada pelas luzes de três
velas espalhadas pela sala. Chinelos nos pés, toalha na cabeça e pijama quente. Toda coberta, como
precisava estar.
— Falou com eles? — perguntou de costas, lavando a mão na pia antes de levantar uma
assadeira pequena e levar para o forno. — Ligou ou não, homi?
Ela se virou em uma fração de segundo e olhou para mim por um tempo. Meu corpo estava
coberto apenas por uma de suas toalhas, a maior que encontrei.
— Sim, deixei.
— Só com a sua toalha — respondi, reforçando o ajuste da toalha na curva do meu quadril.
Na penumbra, vi quando ela mordeu a ponta do lábio inferior. Preferi acreditar que fosse uma de
suas travessuras, trabalhei isso na mente. Só não deu para controlar a violência do sangue que desceu
em desespero até o ponto certo.
— Tem chocolate quente. Quer? — indagou após o silêncio. Tirando os olhos de mim, pegando
uma das três velas e colocando-a em um prato no tapete. — Estou gastando minhas velas
perfumadas que comprei para relaxar com meu daddy bilionário.
Ela riu ironicamente e voltou para a pia, tão farta das curvas que uma capa de chuva a deixaria
sexy.
— Já está tudo certo, não está sabendo? Seu amigo está me ajudando, cumprindo a sua obrigação.
Você ainda me deve algo valioso, não pense que esqueci. — Enquanto eu rosnava ela descansou um pé
no outro e lavou algo na pia. — O daddy é idoso, mas ainda vai dar um bom caldo.
Caldo bom e grosso é o do meu pau!, sem nenhuma intimidade ou razão para mostrar minha
indignação, deixei escapar um pensamento. Roberto do caralho! É bom que você não esteja levando
isso a sério.
— Nome e sobrenome bilionário. — Ela se sacudiu, indo até a geladeira e tirando uma garrafa, de
onde bebeu água do gargalo.
Acreditei ser água. E, a julgar pela maneira como ela estava ingerindo, estava com sede.
Ela me enfeitiçou há quatro anos e estava fazendo o mesmo agora. Cheia de traumas que
limitavam meus passos e uma maldita conversa infame.
— Hum... — Ela tirou a garrafa da boca. — Por enquanto é confidencial. Faz parte do contrato.
— Você é perfeita demais para estar com um pau mole. Consegue entender isso? — Segurei a
ponta de seu queixo suavemente e observei seu rosto se mover em confirmação. — Por que você está
tremendo?
— T-tô, não.
— Vá se aquecer naquela cama e esqueça essa merda de velho tarado. Porque eu nem sei
quem ele é, mas já planejei mandá-lo para o inferno com o contrato e todas as perversões que ele está
planejando enfiado no rabo.
— Vai deitar.
— Estou fazendo comida. Você estava treinando. Os braços, socos e pontapés... — Pigarreou. —
Você deve estar com fome.
— A fome irrita as pessoas, eu falo por mim. É melhor que você esteja bem alimentado.
— Pequena, você não está me bajulando, está? — perguntei, meu corpo parado na frente dela.
— Não, por que eu faria isso? — Forçou um sorriso. — O único macho que agrado é a bolota de
pelo no meu sofá.
— Gosto da sua naturalidade e atrevimento, Juliana. É irritante, mas me aquece, então não pense
em agir com cautela, como todo mundo faz. Eu nunca te dei razões para isso. E pare de me olhar assim.
Não vou te atacar.
Afastei-me dela e sentei-me no tapete, as costas firmes no sofá, os olhos fixos nos seus passos,
que se dirigiram silenciosamente até o guarda-roupa e ali ficou por um longo tempo, escondidos atrás de
uma porta.
— Está frio... — Ela voltou com um pano na mão, olhou para o meu rosto e eu tive que desviar
rapidamente da conexão. — Olha no meu olho, bebê — pediu com aquele merda de apelido que eu
odiava. — Veja, não tenho medo. — Se abaixou ao meu lado.
— Eu entendo você, Juliana. Mas eu não sou o João Paulo. Tente resolver isso em sua cabeça.
— Sim, você não é ele e eu não tenho medo de você. Caso contrário, não teria aberto minha porta
e colocado você aqui dentro.
Desdobrou o pano e veio jogando nas minhas costas, era um cobertor. Ela estava cuidando de
mim.
— Eu não vou te machucar — afirmei, afastando-me do sofá para que o pano caísse nas minhas
costas. Ela estava bem na minha frente, seu cheiro bom entrava em minhas vias respiratórias.
— Não vai. — Ajeitou aquele pano quente em mim, exagerando na tarefa, deixando apenas minha
cabeça exposta. — Eu te daria um abraço forte, mas, assim, com os balangandãs de fora, fico sem
jeito. Sou uma moça pura e prezo por minha honra.
Porra! De duas uma: ou aquela pequena começou a delirar depois da chuva, ou então estava
querendo atear fogo em um barril cheio de pólvora.
— Você vai trabalhar para mim, Juliana? — perguntei quando ela se levantou.
— Já te dei minha resposta. Não vou negociar o amor de mãe. Nunca experimentei, mas sei o que
é não o ter e posso imaginar como seria frustrante colocar expectativas em um sentimento com prazo
de validade.
As palavras escaparam de sua boca em um triste desabafo e me perguntei qual seria sua história.
Fiquei curioso, queria perguntar. No entanto, nunca gostei de ouvir esse tipo de pergunta, então hesitei.
Talvez um dia ela me contasse, e não seria tão triste quanto minha mente doentia presumia.
Juliana era leve, tinha uma presença forte e um olhar determinado, mas gente forte também sentia,
sentia muito e se acostumava a engolir a dor. Eu tinha domínio para pensar sobre isso.
Fiquei lá por alguns minutos, olhando para sua silhueta na escuridão. Ela mexeu em tudo naquele
espaço, enquanto um cheiro bom de comida tomou conta do lugar e me deu água na boca. O gato
também sentiu, então saltou do sofá e se atreveu a se enroscar entre as pernas de sua dona.
Depois de conversar com ele, Juliana encheu uma tigela pequena com porções do que tirou do
forno e soprou longamente, enquanto deslizava os dedos dos pés na barriga do peludo. Aquele filho da
mãe foi o primeiro a receber comida e até coçadinhas de cortesia.
— Vai sobrar alguma coisa para mim? — chamei a atenção dela e isso a fez sorrir.
Sorriso maravilhoso!
— Vivemos no mesmo planeta, Juliana. Não se esforce tanto. — Levantei o garfo e provei a
comida.
— Tem chocolate quente na caneca. Para você tomar depois. — Cruzou as pernas em posição de
lótus e me observou comer. — Essa receita é no micro-ondas, tive que adaptá-la.
— Está muito bom. Difícil existir outro prato mais saboroso — elogiei e coloquei outra porção na
boca. Estava realmente delicioso.
— E os meninos?
— Se ele está bem, dorme a noite toda. Tem sido assim desde o nascimento. A babá dele fica no
quarto ao lado, na verdade, as duas babás. Tem uma velhinha que, mesmo aposentada, controla tudo e
Noah a ama.
— É sua avó?
— Não. Mas ela trocou minhas fraldas quando eu era criança e eu a chamo de Bah.
— Sua babá mora com você, Otávio? — perguntou a pequena, deixando escapar um suspiro
franco e afetuoso.
— Ela é sozinha e cuidou de mim por muito tempo. Daqui a alguns anos trocarei as fraldas dela.
— Essa foi a coisa mais fofa e improvável que eu já ouvi de um cara marrento e pelado — disse
entre uma risada, conseguindo me dobrar com sua simpatia natural. — Você tem um sorriso tão lindo,
Otávio, deveria fazer isso com mais frequência.
— O que é, Gusmão? — Ela acariciou o gato que se aninhava entre suas pernas. — Hoje você vai
dormir no tapete. Esse homem ficará com o sofá.
Ela puxou a toalha da cabeça, deixou o cabelo longo e pesado cair na frente de seu ombro direito e
começou a pentear com os dedos. Era estranho vê-la sem o volume dos cachos e isso me fez entrar em
conflito interno para decidir qual estilo a deixava mais bonita.
Procurei comida no prato e vi que já tinha devorado tudo, então, sem tirar os olhos dela, bebi o
chocolate da caneca.
— Você vai no aniversário de Noah? — indaguei logo depois de devorar alguns goles do líquido
quente.
— Decidi não ir. É uma data notável, haverá fotos para ele ver na idade adulta. Não quero
continuar alimentando o apego agora. Noah é pequenininho, vai sofrer em algum momento.
Não insisti, mas desanimei por causa do meu pequeno. Ele não entendia nada, mas ficaria feliz
com a presença dela.
— Além disso, a mãe dele não vai gostar da minha presença. Seu filho fica me chamando de mãe
sem parar...
— Como não?
— Mas... É a mãe do seu filho. Independentemente de tudo, sempre será a mãe. Você não pode
proibi-la de ir ao aniversário do menino, Otávio.
— Juliana, não fale de algo que você não conhece. — Afastei o prato vazio e coloquei a caneca
dentro.
— Você não acha que o bebê sofre com isso? — perguntou, e segurei a resposta, querendo não
a envolver naquela podridão. — Noah vai fazer um ano, então a separação não foi há muito tempo. Ela
ainda estava amamentando, não estava?
— Tailana nunca deu uma amamentação completa ao filho, Juliana. Na maternidade, ela nem
olhou para o rosto do menino. Noah já saiu de lá comigo.
Minhas palavras a deixou pensativa. Silenciosamente, ela dedilhou os cabelos e tive certeza de que
estavam bem cuidados e macios. Dani sempre visitava o salão de beleza e comprava incontáveis
produtos importados. Juliana, certamente, fazia a mesma coisa. Seus cachos eram muito perfeitos.
— Que mulher desnaturada você foi engravidar, hein? — Juliana comentou, se mostrando
comovida.
Fiquei até com vergonha quando nossos olhos se encontraram naquela sombra de luz.
— Esse casamento foi meu pior investimento — admiti, mas me segurei nessas palavras.
Casei-me com Tailana em um pulo de meses. Ela era gostosa, linda e aceitou minhas condições.
Eu precisava de estabilidade para fugir da depravação em que me encontrava na época, ela queria luxo.
Foi sem amor, apenas tesão e uma esperança de dar certo. Maldita decisão sem planejamento.
— Que bom que Noah tem você — Juliana comentou e aqueceu meu peito. — Imagino que seja
difícil enfrentar isso sozinho. Madalena e eu tivemos muita dificuldade no primeiro ano da nossa Belinha,
quando não sabíamos que ela era diabética.
— Isso explica muita coisa, Otávio. É por isso que ele é um bebê viciado em peitos. Me diz se
não é verdade?
— Noah gosta de você, Juliana. Thiago também. Você é toda perfeita com eles.
— Você é um pai rendido. É isso. Não é nada contra sua honra de machão.
Ela se aproximou de mim e eu congelei. Nem vi, só senti seus lábios tocando meu esterno.
— Porra, Juliana. — Suspirei, ofegante, e todo o meu controle se foi. Coloquei as duas mãos em
sua cintura e não a deixei voltar. — Você sabe exatamente o que está fazendo quando mexe comigo,
não sabe? — inquiri, mas não houve resposta, só ficou me encarando, cheia de vontade. — Quer sentar
aqui?
— É confortável e espaçosa, como presumi. — Ela foi deslizando até ficar de costas para mim. —
Estou apenas testando outras posições. Sem compromisso. Não tenho grana para levar hoje.
— Juro que nunca conheci outra mulher tão espirituosa quanto você, Juliana. — Deixei minha
boca encontrar a sua nuca, deslizei meus lábios por lá e engoli seu cheiro. Ela estava me deixando
louco. — Para você, é mais confortável de lado, mas é possível testar todas as posições possíveis se me
der liberdade... — Usei minha língua contra sua pele e seu corpo estremeceu.
Ele não faz mal às pessoas...
Não tive certeza se, naquele grau de excitação, queria ouvi-lo falar
sobre a única mulher que amava e que foi o sol que o iluminou, como seu
amigo me revelou.
— Ela era poderosa. É tão difícil encontrar fidelidade nos homens
quando estamos vivas... — comentei, tentando ignorar o sinal de alerta, a
ameaça de desvantagem.
— Ela era linda, né? Seu filho tem uma beleza absurda — perguntei,
tentando soar desafetada.
Dei de ombros mentalmente. Era bom não ter nada a ver com ele. Eu
nem sabia por que ele estava me abraçando. Poltrona muito dura. Cruzei
meus braços e comentei:
— Danielle. Belo nome.
— Você acredita que seria assim tão fácil, bebê? E se eu não quisesse
ir com você? — brinquei para esconder minha satisfação e virei a cabeça,
levando meu nariz até sua garganta, engolindo o cheiro bom de seus poros.
Ele estava excitado. Pude confirmar pelo cheiro, mas desejei sentir a
ereção, então me movi contra ele e verifiquei o estrago.
— Minha situação não está fácil, amigo. Vou pegar um lençol para
cobrir o sofá e já volto. — Tentei sair dali, porém, o beijo que tocou minhas
costas e a mão grande que parou na minha cintura, me fez recuar.
— Não, claro que não, Otávio. Nós nem nos conhecemos direito.
Respirei fundo e fiz o que ele pediu. Coloquei meus joelhos no chão e
deslizei Gusmão no tapete.
Senti-me criando uma enorme empatia por ele. Certamente, essa foi a
razão para a pulsação exacerbada que me atingiu por dentro.
Deixei seu peito livre para mim e levei as mãos até seu rosto,
acariciando seus traços marcantes com a ponta dos dedos. Lábios,
sobrancelhas, queixo, aquela barba baixa e bem-feita... Havia uma beleza
absurda em sua alma quebrada.
Otávio recebeu minhas carícias e veio beijando meu queixo com toques
superficiais. Ficamos coxas com coxas, quadril com quadril... Uma
correspondência mútua, invasiva e deliciosa.
Foi o suficiente.
Dei um pouco mais e ele recuou com um rugido. Deslizou sua boca
exuberante pelo meu pescoço e ofegou contra a depressão da minha garganta.
Seus lábios, sua respiração e suas mãos estavam em mim. Braços fortes se
fecharam em torno de minhas costelas, me esmagando no desejo de me ter,
querendo fundir nossos corpos a todo custo, até que uma luz vermelha
alertou minha cabeça.
Parei de esfregá-lo.
Ficou desconfortável.
Palavras sujas escaparam dele quando baixou a boca nos meus seios.
Empurrei meus quadris, deliciando-me com a sensação agradável de sua
língua em minha carne, seus dentes raspando ocasionalmente em sua maneira
madura de fornecer uma mamada.
De repente, ele soltou meu mamilo, desceu para minha barriga e foi até
as coxas, beijando o tecido do pijama em uma tortura deliciosa que atingiu
minha virilha, a parte que cobria minha vagina. Lá eu ondulei contra ele,
desejando mais, desejando tudo.
Eu não usava a segunda peça, dava para ele sentir tudo. Estava inchada,
molhada, pulsante, querendo mais dele. Otávio apalpou meus detalhes,
rosnou contra minha pele e moveu os dedos em giro, me masturbando
levemente. Estremeci. Senti meu coração pular uma batida e fui abafada por
meus próprios gemidos.
Habilmente, ele puxou minhas calças até os joelhos, rolou para longe
dos meus pés e espalhou minhas pernas nuas sobre o sofá. Alguns beijos
úmidos foram dados na minha pele e sua cabeça foi parar no meu centro. A
língua chegou quente, massageando o botão duro lentamente, levando-me às
alturas. Eu choraminguei seu nome, ouvindo-o suspirar como um selvagem,
esfregando o nariz em mim e, em seguida, chupando meus lábios bem
gostoso.
Lânguida, levantei minha cabeça para vê-lo glorioso, mas peguei outra
coisa no escuro.
— Gusmão, ele não pode ver essas coisas. — Respirei fundo e escondi
o rosto no peito de Otávio. — Que vergonha, sempre o coloco no banheiro.
— Oi?
— Vou entrar com você, está tão duro que não se aguenta sozinho.
Pior, depois que voltei ao Brasil minhas companhias não eram nada
mais do que vibradores e sonhos com aquele indivíduo.
Muito livre.
Minutos depois, a porta do banheiro rangeu. Sentei-me na cama e vi a
grande sombra nua movendo-se pelo apartamento. Meus olhos logo
perceberam que ele não estava mais excitado.
Ele foi até o sofá, olhou rapidamente e veio em direção à cama. Deitou-
se ali, com o rosto para cima, e me puxou sem avisar.
Sempre lutei pela estabilidade do meu canto, pois precisava viver bem
e com as pessoas certas, sem riscos, ansiedade ou os danos que alimentavam
meu lado selvagem. A ideia de ter Juliana comigo todos os dias, ao lado dos
meus filhos, que era o meu bem mais precioso e a minha motivação diária,
me trazia uma agradável sensação de plenitude.
Eu odiava aquela doença fodida que ferrava minha cabeça e arruinava
o curso da minha vida.
O dia estava perfeito. Fazia um ano desde que vi meu bebezinho pela
primeira vez. Eu logo iria para casa e o encheria de carinho.
Tracejei o tecido que cobria seu braço com a ponta do meu indicador e
um sorriso começou a dançar no canto de seus lábios. Aquilo fez meu corpo
acordar imediatamente.
O dedo experiente vagou pelo nervo certo e mordi o meu lábio inferior
para manter a boca fechada. Puta merda! Tive que usar toda a minha força de
vontade para não a jogar de costas e deslizar para dentro da boceta
acolhedora que ela escondia entre as pernas.
— Calma, não levanta agora, está frio. Fico com suas chaves e cuido de
tudo. Vou precisar do documento para resolver com o reboque.
— Não vou mais te oferecer esse emprego, Juliana. Você vem para
minha vida de outra maneira. — Deixei bem claro e ela olhou para mim por
alguns segundos antes de levantar o indicador e movê-lo em negação.
Não, Roberto não seria capaz de expor minha vida sem minha
permissão, pensei ao sentir os dedos da mulher correrem pela minha barba e
sua boca voltando a se mover sobre a minha. Não, Juliana teria fugido. A
situação era complicada demais para ser recebida sem medo. Até Tailana,
que só queria meu dinheiro, voltou depois de um mês de reflexão.
— Não vou dormir lá, mas venha aqui amanhã — ela disse, puxando
seu quadril para longe da porta. — Sem compromisso, só pra gente
conversar e assistir uma série na Netflix. Jogar uma conversa fora, uma
conversa dentro... Comendo mandioca com linguiça frita... Você gosta?
Idiota!
Eu estava ferrada. Se ao menos João Paulo me deixasse ir, mas não, ele
sempre conseguia me manter em suas mãos.
— Está tudo bem, princesa? — A voz soou do outro lado da porta e
minha cabeça começou a latejar. Ele chegou no meio da noite, meio bêbado,
depois de uma festa que eu sabia que não tinha nada a ver com negócios. —
Taila?
— Quer um chá?
— Certo, você não saiu sem mim, não chegou bêbado e não me chamou
pelo nome da maldita Danielle, duas vezes, em uma única madrugada. Sim,
estou delirando... — comentei, sem forças para iniciar outra discussão. —
Vá tomar seu café e me deixe em paz.
— Taila, Taila, Taila ... Por que você é tão imprudente, princesa? Você
sabe que toda paciência tem limite, não sabe? — Ele veio, parou na minha
frente e sentou-se nos calcanhares.
— Não vou levar você para ver o filho do SEU IRMÃO! Não vou ao
tribunal revelar que o traí e que o filho dele é seu. Você não vai criar aquela
criança, seu desgraçado, doente, ordinário! Você pode ter tirado tudo dele
para saciar seu ego fraco, mas as crianças... — Eu me calei quando dedos
firmes se fecharam em minha garganta. — S-sol-ta ...
— Você... Me machucou...
— Á-gua...
— Vamos ver um psiquiatra para testar sua sanidade. Se nada resolver,
seu destino será a fazenda. Você precisa viver isolada por um tempo para
valorizar os sentimentos verdadeiros.
— Queria ter força para voltar e fazer tudo diferente. Otávio nunca me
maltratou, nem mesmo quando pegou nossa traição — falei e sua mão
apertou meu cabelo, puxando o aplique com força, tirando alguns pedaços do
lugar. — Noah é filho do seu irmão! Do seu irmão! — gritei entre um gemido
de dor.
Ela tinha chegado com a Belinha no início da tarde, para me levar até a
casa dela, de lá íamos para o aniversário do bebê de Otávio.
— Mas como vai ser? Beijo e tchau, como sempre foi? Amiga, pelo
pouco que Roberto me contou, esse homem vai querer colocar você nas
costas e levar para a caverna dele.
— Tudo vai ficar bem. Você é a mãe mais perfeita que conheço. Mal
posso esperar para pegar este pacote em meus braços. Você já pensou, se
vier um garotinho?
— Meu Deus, amiga, não me faça chorar antes da hora. — Ela apontou
para as lágrimas em seus olhos.
— Você é uma safada, Juliana. Uma safada que está se apaixonando por
um pai solo e só vai perceber isso quando for chamada de “minha mulher”.
— Oh... Ma... Ma... — Noah riu, deixando a cabeça cair para o lado,
soltando aqueles gritinhos fanfarrões que eu já conhecia.
— Ele deu os dois primeiros passos hoje cedo e está assim, mais
arteiro que de costume — disse a avó, enquanto eu usava uma linguagem
infantil para brincar com o pequeno.
Segundo o segurança, João Paulo estava lá fora e queria ver meu filho,
como se tivesse algum direito sobre ele, como se ele não fosse um invejoso
infeliz, inconformado por não ter tudo que construí com minha cabeça
ferrada.
Roberto seguiu meus passos, mas não disse nada. Ele sabia como lidar
comigo e estava lá para me proteger de mim mesmo.
Meu amigo passou pelo portão primeiro. E então eu vi meu irmão
gêmeo. Agitado. Andando na frente de seu carro de luxo. Ele parou quando
me viu e transferiu uma expressão mortificada. Evidentemente irritado, sem a
cara de puta ardilosa que costumava convencer as pessoas. Preferia vê-lo
assim, bem exposto, com nossos sentimentos compatíveis.
O meu olhar fixou-se no de João Paulo, deixando claro que não queria
conflito, não na frente da nossa mãe. Eu nasci doente da cabeça, ele
desenvolveu um desvio de caráter, mas tínhamos algo em comum que nos
ligava apesar de toda a merda da nossa existência. Cada vez que tentávamos
uma trégua, estávamos pensando nela.
— Mãe, entre! — instruí com cuidado, usando um tom muito calmo para
tranquilizá-la. Ela negou, movendo seu rosto contra meu peito, me apoiando
com sua força de passarinho. — Entre, minha mãe. — Suspirei, coloquei
minha mão em seus cabelos e vi a indignação ascender nos olhos de João
Paulo.
— Caramba, mulher, você está bem de saúde, ordinária? Onde foi parar
a cor de seus lábios? Dane-se, não é mais da minha conta.
— Me deixa ficar, Otávio. — Ela me agarrou pelo meio e pude ver uns
buracos no centro de seu cabelo.
— O que ele está fazendo com você, Taila? — perguntei, mas forcei
seus braços para longe de mim. — Onde sua vaidade foi parar?
— Você não vai voltar, mulher. Pare de se humilhar e fuja dele enquanto
há tempo.
— Seu irmão quer que eu entre com uma ação contra você ... — Ela
cruzou os braços e se fixou em um ponto atrás de mim. — Quem é ela?
Virei minha cabeça bruscamente, cerrando os punhos em uma ação
instintiva de proteção.
Voltei para a frente, pegando João Paulo parado ao lado de nossa mãe,
sustentando uma curiosidade evidente no rosto, seus olhos brilhando,
desenvolvendo um novo frenesi pelo que me pertencia.
Eu não estava preparada para vê-lo naquele surto desenfreado. Esse ser
violento não era o meu Otávio. Queria ir lá trazê-lo de volta, mas o medo me
encheu de angústia, meu estômago revirou e me esforcei para não vomitar,
como sua ex-mulher fazia perto da parede da casa.
Ouvi uma voz baixa e fraca quando atravessei o portão e decidi voltar.
A negra, de corpo esguio e magro, tinha uma das mãos na parede. Meio
curvada, ela tossia muito sobre uma poça de vômito.
Noah olhou para mim e olhou para ela, então olhou para mim
novamente e empurrou o bico que estava em sua boca deixando-o pendurado
na corrente. Ele parecia tão confuso, coitadinho.
— Não vou deixá-los, Madá. — Olhei para o bebê que dormia no meu
colo, com a cabeça encaixada na curva do meu pescoço. — Como está seu
amigo, Roberto?
— Medicado... Quer mesmo ficar aqui esta noite? — Roberto perguntou
e eu assenti.
— Eu entendo e fico triste por ele estar tão crescido em sua pouca
idade. — Funguei, sentindo minha alma sofrer por todos eles.
— Ela está vigiando o sono do filho. Não vai descer tão cedo... — Bah
comentou, de costas para mim, afastando-se lentamente.
Subi as escadas com o bebê e parei na frente de Thiago, que estava no
chão, com os braços cruzados sobre os joelhos.
— Meu irmão gosta do Tricerátops. Ele sempre dorme com esse aqui.
— Ajeitou o berço e segurou um pequeno dinossauro. — Ele é herbívoro e
suas principais armas de combate são esses três chifres aqui. Essa espécie
viveu durante o fim do período Cretáceo, principalmente na região que é
hoje a América do Norte. Você gosta de dinossauros, Juliana?
— Tento saber um pouco de tudo, Ju, mas tem tanta coisa que ainda não
descobri. Meu pai diz que preciso ir com calma, mas gosto de aprender.
Assim mantenho minha cabeça ocupada.
— Você vai me fazer comer, não é? — disse ele, o rosto relaxando num
sorriso suave.
— Fui lá, vi que você ficou com os meninos. Eu estava descendo para
pegar água, mas resolvi voltar para acomodá-la em outro quarto mais
confortável. — Ela liberou um suspiro cansado.
— Seu filho...
Eu a interrompi:
— Sabe. Mas não quer ver ninguém. É assim mesmo, querida. Depois
da fúria, vem um profundo estado de vergonha e tristeza. Roberto te contou
sobre a TEI, certo?
— Sim, mas quero saber mais sobre ele. Estou me envolvendo com o
seu filho e com as crianças. Quero saber tudo.
— Vamos.
Parte das luzes estavam acesas e não havia nenhum funcionário lá.
Quando nos sentamos à mesa, uma ao lado da outra, Adriana finalmente
começou explicar:
— Não, não, Adriana. Nem pensar. Estou supersatisfeita com esse meu
vestidinho. — Me levantei, segurando a mão dela. — Por falar em Tailana...
Ela estava desorientada hoje ou aquele é o normal dela?
— Ela não estava em um bom dia. Por isso pedi ao Beto que a levasse
para um lugar seguro.
— Vou falar com ela quando puder. Não sairei daqui até que Otávio
esteja bem. Já cancelei todos os compromissos importantes para os
próximos dois dias.
— E o pai dele... Ele não vem aqui para ver o filho? — inquiri em um
tom errado e limpei a garganta procurando minha voz mais delicada. — Eles
não se dão bem, é isso?
— Eles não...
Adriana suspirou.
Estava decidido.
May be in magazines
But you'll still be my star
Baby, ‘cause in the dark
Because
When the sun shine, we shine together
Told you I'll be here forever
Under my umbrella
Ella, ella, eh, eh, eh
Under my umbrella
Ella, ella, eh, eh, eh, eh, eh, eh
Ele fechou os olhos, sentiu todo o meu carinho e, calado, desceu a mão
na lateral da minha coxa e subiu o tecido fino do meu vestido. Eu o ajudei a
fazer aquilo, sentei e me livrei da peça. Nós olhamos por um intervalo de
segundos e ele segurou firme em minha cintura e sua força me levou de
encontro ao peito musculoso.
Fui levado pela cegueira da raiva, virei bicho e fiz toda a merda na
frente da Juliana.
O riso doce do meu bebê e a fala infantil dela interagindo com ele
chegaram aos meus ouvidos e eu sorri com avidez. Ela estava no quarto das
crianças, brincando com elas, enchendo-as de amor e esperança.
Ela estava entretida com Thiago, então sentei-me ao lado dele, na cama,
beijei sua testa e olhei nos olhos da pequena.
— Ótimo, filho. Sua avó ficará com você agora e almoçaremos todos
juntos na mesa.
— Obrigado por trazê-la, pai! — Meu filho levantou e apertou minha
cintura em um abraço repentino. — A Ju dormiu no seu quarto e você ficou
calmo rápido.
Longos minutos se passaram até que ela chegou. Veio quietinha, trancou
a porta e se juntou a mim na cama. Cada curva farta agora estava colada no
meu corpo, sua cabeça cheirosa descansando no meu peito.
Tê-la estreitada com a força dos meus braços naquela cama era estar no
paraíso.
— Sou assim, Juliana. Não queria que você visse nada daquilo. Eu
falaria com você em breve. Só não tinha certeza ainda.
— Tudo bem, estou aqui, não estou? — Beijou meu peito e entrelaçou
sua perna em mim.
O rosto dela tremeu e sua pélvis empurrou duas vezes contra minha
perna.
Suas mãos estavam habilidosas indo e vindo no meu peito, até que a
danada passou a circular um dos mamilos. Uma travessura boa.
Traguei saliva, e quase rosnei ao sentir a ponta do dedo brincando, e eu
riria da sua ousadia se alguma coisa já não estivesse doendo de tão inchada.
Porra, Juliana....
Não dava mais para ficar ali naquela posição. Minhas mãos foram para
seu quadril, e a girei na cama num movimento hábil.
Juliana deu um gritinho de surpresa que fez queimar cada célula minha.
Era um sim.
Minha! Ela queria ser minha!
— Misericórdia!
Ela deu uma pequena gargalhada, muito breve, porque estava excitado
demais para não a calar com um beijo.
Minha língua entrou profundamente, como se fosse outra coisa dura que
queria entrar dentro dela. Meu corpo se colava mais ao seu. Ela era pequena,
macia e voluptuosa debaixo de mim. Beijava-a ardentemente, entorpecido de
prazer.
E sua boca estava doce. Muito doce e sua língua brincava com a minha.
Provocativa e sinuosa. E seu corpo estava rendido ao meu.
Juliana sorriu.
Soltei suas mãos, e, para minha mais agradável surpresa, Juliana me
envolveu com seus braços, e sorriu largamente parecendo muito satisfeita.
Olhei-a, maravilhado. Sorri ao sentir que ela estava ali comigo. Minha
tristeza ia embora quando ela me beijava. Parecia que seu sorriso levava
embora tudo de ruim. Me dava esperança.
Ela desceu em seguida suas palmas para minha bunda, e ela a apertou
com selvageria. Não pude deixar de dar uma risada rouca.
— Juliana...
— Sim. Quero tudo o que você tem — ela murmurou, depois levou suas
mãos até meus ombros, até segurar meu rosto e me fazer encará-la. — Lento
e quente...
Minhas mãos deslizaram por seu corpo voluptuoso. Ela usava uma das
minhas cuecas e, porra, ficou tão sexy nela.
Olhei para a barriga que respirava com lentidão, para a cintura bem
torneada, para a beleza dos quadris largos, o sexo gostoso entre as pernas
que dava vontade de lamber sem parar, até meus olhos pousarem no busto
alto e convidativo.
Eles estavam macios ao meu toque, lindos de ver, com os bicos bem
empinados, e rapidamente os abocanhei para meu deleite.
Juliana quase gritava, apertando suas pernas uma na outra. Eu sabia que
ela estava com um tesão louco, como eu.
Depositei beijos em seu pescoço, sua boca, e fui até sua orelha, para
mordê-la. Ficou arfante e rendida. Minhas mãos continuavam a apertar a
bunda gostosa.
Meu pau doía de tão duro, longo e teso, repousado em sua coxa.
A resposta dela foi ir com sua mão até meu pau e circundá-lo em um
toque erótico. A mão dela se encheu com ele e latejei.
— Grosso, imenso e quente... — falou baixinho, e quase gozei, quando
senti que sua mão rodopiava sobre meu pau, indo e vindo.
Sabendo que estava muito perto de gozar, tirei delicadamente sua mão,
e vim fazendo uma trilha de beijos quentes na pele suave de sua barriga até
chegar na parte que eu queria.
Estava muito pronta pra mim, muito úmida e inchada. Passei a língua
nas dobras, dentro da abertura, depois chupando com gosto. Juliana estava
com as pernas tremendo, e as segurei para melhor me deleitar.
Parei antes que ela gozasse. Dessa vez, ela ia gozar com meu pau.
Ergui-me
Respirando como um selvagem, com o gosto bom de Juliana em minha
boca, sabia que era a hora de chicoteá-la de prazer com meu pau.
Ai, caramba!
Não sabia que eu podia ser tão feliz outra vez, como naquele momento.
Rocei meus lábios nos dela, cheio de ternura. O prazer foi absurdo
quando suas mãos entrelaçaram meu pescoço.
Foi quando olhei para meu pênis e me deparei com uma visão que me
fez fazer uma careta.
Arregalei os olhos e Juliana percebeu. Seu olhar foi direto para o meu
quadril. As mãos na boca, em uma expressão completamente consternada.
Ouvi o barulho do chuveiro sendo ligado, ainda sem saber o que fazer
para ajudá-la.
De vez em quando eu a ouvia falar com voz aflita: “Pai do céu, me
ajude” e “Misericórdia”. Quase sempre nessa ordem.
Sentei-me na cama.
— Tá bem, tá bem, estou indo. Desculpe, pequena. Não sei o que deu
em mim. Acho que estou em choque.
— Achou?
— Quero que faça seus exames de sangue para ter certeza da minha
palavra, mas garanto que não tenho doença... Não além do que você
descobriu e está aqui. — Acertei o indicador na minha têmpora.
— Quando foi a última vez que você fez sexo? — ela perguntou
enquanto tirava o copo da boca.
— Bem... — Fui alargar a gola, mas percebi que meu peito estava nu.
— Tem um bom tempo, fique tranquila.
— Quanto, Otávio?
— Claro que vai. Tudo vai ficar bem e tudo vai dar certo.
Meu papel era confortá-la. Com bebê ou sem bebê, eu estaria ao seu
lado e providenciaria que tudo ocorresse sempre bem. Papel do homem era
esse: cuidar e amparar.
Você quer sentir algo novo e sublime com essas crianças, quer formar
uma família com o Otávio?
Pense com calma. Use seu coração e sua mente. Só você pode decidir.
Olhei para Otávio e avaliei seu rosto. Algo nas palavras de sua mãe o
desagradou, porque ele ficou mais carrancudo do que o normal.
— Por que o avô não entra na casa? — perguntei, mas todos ficaram em
silêncio. — Oxe, qual é o problema, minha gente? — Mais silêncio. —
Você! — Apontei para o segurança de terno preto que segurava fitas com
balões de festa. — Me diga o motivo.
— Eu...? — O homem olhou para o patrão e seu pomo-de-adão subiu e
desceu. — Só vim pelo bolo, senhora. Com todo respeito, não sei de nada.
— Você pode curar essa raiva deles? — perguntou Thiago e eu fiz uma
careta.
— Docinho, ninguém pode curar nossas feridas, a não ser nós mesmos.
— Mas você fez meu pai sair rápido do quarto e sempre o deixa
sorrindo. Eu vejo os olhos dele com muito sentimento quando você está
perto.
Arfei, encantada com tanta fofura e afeto. Tão comovida, senti meu
coração pular uma batida a cada palavra dita pelo pequeno.
— Seu pai é um homem apaixonado e motivado, Thi, por isso ele está
trabalhando duro nisso... Seu avô? — perguntei do portão, vendo o homem
alto, forte e de cabelos grisalhos, que estava encostado em um carrão,
recebeu Noah dos braços de Adriana e começou a mimá-lo.
Adriana pegou Noah e o homem tirou o prato das minhas mãos. Com os
olhos semicerrados, ele me avaliou.
— Ela é piloto agora. Er... ela já era piloto, mas agora está exercendo a
profissão.
Ele me interrompeu:
— Otávio teve uma crise ontem, não vou agitá-lo. Mas podemos
combinar um jantar com você e as crianças, lá em casa. — Me devolveu o
prato vazio e virou para o neto. — Agora vem com o vovô, Noah. — Ele
recuperou a criança e começou a brincar com ela e se abaixou para ficar na
altura de Thiago.
— Sei que está curiosa, mas vou deixar Otávio conversar com você, no
momento dele. Ajude-o a ser gentil consigo mesmo quando decidir expor o
passado — disse Adriana, olhando para mim. — Enquanto isso, farei com
que tudo seja feito para você explodir na internet. Ferdinando é exigente e
encontrou uma nova forma de agradar ao filho — sussurrou a última frase. —
Espere o melhor.
— Se você não tinha família, agora você tem uma muito intensa. Essa
explosão de espontaneidade e boa dose de bagunça é tudo que meu filho
precisa para ser feliz de novo, dentro de sua zona de conforto, longe dos
gatilhos do mundo lá fora. Se o aceitar com sinceridade, terá a gratidão
eterna do seu sogro e a minha também, Juliana.
— Otávio... Quero perguntar uma coisa, mas não quero que me evite,
por tocar no assunto. Só não responda e estará tudo bem. — Continuei
hidratando minhas pernas e ele começou a enrolar meus cachos soltos na
ponta do dedo.
Eu suspirei frustrada.
Disse tudo sem olhar nos meus olhos e parei por um momento,
refletindo suas palavras. Não era isso que eu queria saber, mas senti o
impacto de sua tristeza.
— Entendo sua tristeza toda vez que fala sobre ela. Sinto muito que
tenha sido assim. — Peguei sua mão esquerda e beijei demoradamente,
atraindo sua atenção para mim. Suspirando devagar, acrescentei: — Vou
cuidar para que Thiago cresça sabendo que ela era uma mulher generosa e
carinhosa, que amou vocês com tudo que ela tinha.
Otávio beijou minha mão e me chamou para mais perto, depois beijou
meu rosto e selou os lábios na minha boca.
Ele me afastou com cuidado, seu olhar fixo no meu, como se estivesse
tentando desvendar meus pensamentos.
— Seu Ferdinando foi muito gentil comigo, Otávio. Ele não me olhou
torto por causa da minha pele e status social. Não me abalo, mas vi pessoas
serem cruéis por tão pouco, especialmente algumas madames que visitavam
o salão... Me sinto no paraíso com todos vocês. Seus pais o educaram a esse
respeito e, certamente, também tiveram uma educação adequada. Eu preciso
pisar em ovos com ele? Preciso ter cuidado? Diga-me antes de me apegar.
Porque eu já te respeito muito.
“João Paulo estava comigo o tempo todo, dizia que eu precisava relaxar
para que a mamãe não perdesse o bebê. Fiquei triste por mamãe, mas feliz
por ele não estar mais me provocando. Então, ele trouxe alguns cigarros e
fumamos juntos no jardim. No dia seguinte, ele me trouxe bebida e maconha,
e... Eu surtei, Juliana. A mistura de drogas e remédios me fez quebrar toda a
casa. Não tenho essa consciência, mas eles dizem que ninguém poderia me
segurar. — Otávio respirou fundo e, em silêncio, sequei seus olhos com os
polegares. Quando juntei nossas mãos, ele continuou: — Eu caí no chão. Eu
me lembro disso. Pela minha visão periférica, vi minha mãe descendo as
escadas, muito fraca, tropeçando nos últimos degraus... Ela caiu Juliana, mas
já estava perdendo o bebê. Eu já tinha acabado com a vida dele. Lembro que
meu pai chegou na sala com o João Paulo, viu minha mãe sendo levada pelos
funcionários, olhou para mim no chão e avançou com tudo. Ele nunca
levantou a voz para mim, ele me protegeu de tudo, ele era meu melhor amigo.
Mas ele me atacou como se eu fosse um saco de boxe e me quebrou inteiro.
Por fora e principalmente por dentro. Fui levado ao hospital inconsciente,
passei quinze dias em observação e quase um ano sem dizer uma palavra. Eu
não voltei para a casa deles. Fui morar sozinho com alguns funcionários
separados pela minha mãe. Ela cuidou de tudo enquanto eu estava na
faculdade. Aí o Roberto fez a empresa decolar e eu fui trabalhar com ele.
Nunca mais precisei do meu pai, nunca o aceitei perto de mim. Proibi de me
mencionar como filho por aí. Eu não queria me envolver em nada sobre ele.
João Paulo disse que eu tinha empurrado a mamãe da escada, ele acreditou,
me bateu com muita raiva e veio me pedir perdão no hospital, mas eu não o
perdoei. Ele tentou muitas vezes, mas nunca vou perdoar, assim como não me
perdoou pela vida do meu irmão bebê... É isso. Foi o que aconteceu. Agora
você sabe.”
— Minha mãe nunca pôde dar à luz outra criança. Ela não teve o prazer
de ter um filho saudável, sem problemas. Teve que se contentar com um filho
doente e um psicopata.
— Shhhh... Não se torture tanto, querido, não faça isso. Sua mãe te ama
do jeito que você é. Ela tem tanto orgulho de você, dos lindos netos, do
homem forte e poderoso que se tornou. — Beijei seu rosto inúmeras vezes e
esperei sua respiração parar para descansar minha cabeça em seu coração.
— Você não precisa ter medo. Ele não vai machucar você. Ele está te
bajulando para chegar até a mim.
— Ter você aqui significa muito para minha cabeça, corpo e coração...
— Sem sexo?
Alguns dias desde que ele foi buscar minhas coisas e as coisas de Gusmão
no apartamento.
Acolhida e amada, foi assim que me senti com cada olhar de esperança que
recebia, seja do Otávio, dos filhos ou mesmo dos funcionários.
Sentia-me feliz por ter perdido minhas frágeis convicções com Otávio.
Tudo parecia mais sólido agora.
— ... sim, tão gostoso que dói. — Ofegante e suada, respondi à ousada
pergunta que Otávio me fez.
Ele estava sentado na beira da cama, com minhas costas contra o peito, todo
entalado dentro de mim e pulsando forte. A palma da sua mão esquerda estava na
minha garganta, os dedos da outra mão brincavam com o meu clitóris num
carinho caloroso, após uma sessão de prazer mais intenso.
Otávio gemeu contra a minha nuca e caiu de costas na cama, então juntei os
joelhos, rebolei devagar e quiquei forte, comprimindo-o para gozar novamente.
Ele veio com tudo. Me segurou com as duas mãos e levantou meu corpo, alto o
suficiente para me chicotear profundamente, soltando um uivo alto e animalesco.
Fiquei tão tonta que tombei, e só não caí no chão, porque seu braço forte cruzou
minha cintura e puxou para trás.
Otávio me evitou e entrou no banheiro, então o segui até o box. Foi quando
ele socou a parede de azulejo com tanta força que tive certeza de que seus dedos
haviam se quebrado.
Talvez ele o amasse de alguma forma no meio de tanta dor, ou talvez fosse a
conexão profunda de seu sangue falando mais alto.
— Eu perguntei tanto, tanto. Ela disse que estava tudo bem, que só
precisava de um tempo... — Adriana lamentou, soluçando aos prantos. — Meu
filho nunca machucou uma mulher antes... — Continuou clamando e eu abaixei a
cabeça, sentindo os olhos de Otávio queimar em meu corpo.
— Meu irmão ... A lesão atingiu o nível da coluna cervical. Está com perda
total dos movimentos dos quatro membros e esse médico está dizendo à minha
mãe que é irreversível... Juliana? Pequena o que você tem? Porra!
Eu não tinha desmaiado todo esse tempo. Otávio ficou muitas horas comigo
no hospital, esperando o resultado dos exames de sangue. A grande quantidade
de soro que injetaram em minha veia me deixou lenta e com muito sono, então
adormeci na confortável cadeira de couro.
— Posso cuidar da minha família. Vá ficar com a mãe. Ela está precisando
de você agora. — A voz veio do meu Otávio. Totalmente arisco, ele discutia
com seu pai.
Sim, seria um longo caminho para eles, mas aquele episódio difícil serviu
para fazer com que se olhassem nos olhos. Não era um bom relacionamento, mas
agora havia discussões, pelo menos.
— Inferno de intromissão!
— Perdão, filho, perdão, estou agitado. O dia não está sendo fácil!
Havia tanta informação na minha cabeça... Minha vida, que nunca foi
tranquila, no bom sentido, foi se transformando em uma intensidade infinita.
— Otávio... — murmurei baixinho, e vi sua cabeça erguer-se e seus olhos
aquecerem os meus.
— Pequena, pílula do dia seguinte é uma furada — foi a primeira coisa que
ele me disse e eu segurei o soluço na garganta. — Não, não chore. Estamos
juntos e tudo vai ficar bem.
— Não fique, eu cuido de tudo. — Ele beijou meus dedos entrelaçados com
sua mão. — Não vai interferir na sua vida, nas suas coisas. Eu cuido dele. Eu sei
como cuidar.
— Não. Não vou deixar meu bebê por nada... Eu vou cuidar dele. — Essa
foi a certeza mais vívida em minha mente agitada.
— Vamos cuidar dele juntos, Juliana. Eu, você e nossos três filhos para
sempre. — Otávio beijou minha mão novamente e vi lágrimas em seus olhos. —
Ele terá um nome bíblico, assim como Thiago e Noah. E quero você
oficialmente. Com testemunhas, bênçãos e tudo a que temos direito.
— Sim... aceito casar com o pai dos meus filhos. Aceito levar nossa família
adiante, aceito a felicidade ao seu lado.
O silêncio reinou por um momento, então ele sorriu e trouxe seus lábios
quentes aos meus, dando-me a certeza de que seríamos felizes pelo resto de
nossas vidas.
Um ano e meio depois
Minhoca, minhoca,
me dá uma beijoca...
Minhoco, minhoco...
Sorri feliz com a iniciativa. Eu sabia o quão difícil era para ele ter que
desistir de suas viagens por medo de ter crises em um novo ambiente.
— Você está com muito sono? — ele perguntou, puxando minha camisa
e tirando-a do meu pescoço.
Otávio me amou.
Eu o amei.
Há dois anos e meio, aos dezoito anos, ele foi estudar economia em
uma universidade gaúcha. Desde então, vimo-nos muito pouco e, para falar a
verdade, evitei-o na maior parte das vezes que visitava São Paulo. Eu
odiava ser chamada de pirralha e ele parecia não saber que eu tinha um
nome.
Sim, ele ficava mais perfeito a cada respiração, e estar tão apaixonada
me deixava com raiva, especialmente naquele momento.
— Vai ser rápido. Fique com a mamãe, Vivi. Nosso pai está tão
envolvido com o evento que nem notará — Beijei o rosto da minha boneca
de porcelana de 10 anos. — Só vou respirar um pouco. Volto antes que eles
percebam.
— Só vou poder ficar quieta até eles perguntarem, então volte antes
disso, tá bem?
— Um amigo — blefei.
O calor tomou conta do meu rosto quando terminei aquela frase, tudo
piorou quando ele olhou na direção do meu busto e franziu o cenho.
— Isabela ... Você vem comigo! — Ele pegou minha mão em uma
rajada. — O seu lugar é ao lado da sua mãe, irmã e crianças da festa!
Olhei para aquela mão grande, para o homem tão crescido, que dava
dois de mim, apesar de apenas cinco anos de diferença, e uma ansiedade
quente explodiu em meu estômago.
— É... Vou morar com meu avô. Já estou matriculada em alguns cursos
em Lisboa e em breve serei aluna da Faculdade de Belas-Artes. É uma
experiência cultural única, Thiago, e estou querendo aprender mais...
— Seu pai concorda com isso? Ele vivia dizendo que você seria a
futura CEO da Venturelli...
— Não tentou impedir você por ser tão novinha? — Fez uma careta de
desgosto.
— Não sou mais criança, Thiago. Só você que não vê. Cresci quando
você estava longe, agora vou virar uma mulher adulta, independente e
profissional lá fora.
— Não sei se volto, vai depender de como as coisas correrem por lá.
— Vou ficar muito tempo longe, Thi, algumas das minhas primeiras
experiências vão acontecer lá. Certamente vou me apaixonar e...
— Porra nenhuma!
— Escute, Thi ... Você pode me ajudar com algo? Você pode beijar
minha boca pela primeira vez? Assim eu posso lembrar que foi com carinho
e... Com o cara que eu queria que acontecesse.
Ele pegou minha mão e se levantou, levando-me dali, para uma espécie
de labirinto que enfeitava o meio do jardim, e em poucos segundos minhas
costas estavam encostadas na parede gramada daquele lugar.
Quando voltei, anos depois, Thiago não era mais o mesmo homem,
assim como eu não era mais a mesma garota que ele chamava de pirralha. No
entanto, a chama daquele momento mágico em nosso passado, que estava
adormecida em nós, reacendeu, e veio amadurecida, profunda e
transformadora.
Minha enorme gratidão a: Christine King e Crys Carvalho, por todo
amor, carinho e apoio e por segurar minha mão em situações que me deixam
ansiosa; Lidiane Mastello por ser parceira e por se apaixonar por Belinha,
Noah e Thiago; Jack, por finalizar o arquivo com um tempinho tão curto;
minhas queridas leitoras que foram pacientes e esperaram seis meses, e
respeitaram todos os meus momentos, vocês são maravilhosas, meninas; e,
por fim, Otávio, Juliana, Noah, Thiago, Gusmão, Belinha, Madalena e
Roberto. Espero encontrar todos vocês em breve!
Um pai para o meu bebê
SINOPSE
Joshua Torrente, criador de porcos e responsável pelo comércio
intensivo para países da América Latina, é um homem solitário, ríspido no
trato e extremamente prático. Para receber uma herança a qual lhe é de
direito, Joshua precisa encontrar uma esposa urgente. Serve qualquer uma,
desde que não se enfie em sua cama, seja discreta e mantenha distância dos
seus negócios.
Autor desconhecido.
Não que fosse uma justificativa madura para ter quebrado o nariz do
meu funcionário, mas acontece que os dias turvos estavam me fazendo perder
o controle diante de situações rotineiras e isso mexia com o ego foda que
construí ao longo de trinta e seis anos.
Era difícil de acreditar que há alguns meses ela estava ali, exercitando-
se, rindo, abraçando os empregados e dançando com eles, sem saber que
dentro dela existia um tic tac devastador.
Suspirei sem paciência, ciente de que do outro lado estava uma mulher
sensível e tão competente que eu tinha delegado a ela uma estreita brecha da
minha vida pessoal.
— Ah, merda!
— Ei, como veio parar aqui, menina? — Consegui dizer antes de virá-
la e ser atingido por um choque de surpresa que estremeceu cada parte do
meu corpo.
Que porra era aquela?
Não era possível ser minha, mas qual outra explicação para ter uma
pequena cópia da minha mãe diante dos meus olhos? Reencarnação?
Me… médio?
Era bom não ser uma pista, porque eu não fazia ideia do que se tratava.
— Oi, bebê. — Ela tinha muitos dentes na boca para ser considerada
uma bebê, mas foda-se, pois segundo o processamento do meu cérebro, o
bolinho choroso não passava de uma bebezinha recém-chegada.
Era minha!
— Onde está a sua mãe? — Passei meus polegares nos olhos da menina
e afastei mais da umidade excessiva. — Quem trouxe você?
— O quê, menina?
— Não, bebê. Não vou pegar sua mochila. Só quero ver o conteúdo, o
que tem aí dentro. Pistas sobre você, entende?
A Roberto Venturelli
Você não se lembra de mim, pois fui apenas uma distração casual,
mas acredite, sou a mãe da sua filha.
Não procurei você antes, pois sou muito orgulhosa e acredito
fielmente nos meus poderes de Mulher-Maravilha. Mas quer saber? Não
dá mais para segurar tudo sozinha. Isabela tem um pai e ele precisa
assumir responsabilidades.
Por enquanto, você só precisa ficar com a menina por alguns dias.
Vou buscá-la a qualquer momento e esteja pronto para cumprir suas
obrigações financeiras.
Isabela é saudável, mas a deixe longe de gelados e doces.
PREPARE O BOLSO!
Atenciosamente, Madalena Bianca, mãe de Isabela, sua filha.
Isabela?
Brucutus
Uma parte do meu cérebro dizia para não me importar com a origem de
Isabela e denunciar a genitora por abandono de incapaz; a outra, alertava-me
sobre os riscos de levar o assunto adiante sem saber exatamente com quem
estava lidando.
Cheguei sem fôlego, com o coração pulando, e não senti muito alívio
quando encontrei a criança encolhida no canto do sofá, observando os cacos
de uma rara porcelana chinesa espalhados no assoalho.
— Beinha é quiança.
Porra! Era só uma bebê! Uma com grandes chances de carregar o DNA
Venturelli.
— Está tudo bem. Foi só um vaso de… cem mil dólares. Vou lá dentro
pegar a vassoura para limpar essa sujeira. Não se levante daí, certo? Não
pode sair do sofá, entendeu? Não estou bravo com você.
Não entendi o que quis dizer, mas fiquei hipnotizado com a força do
olhar expressivo.
— Um, dos, tês… — Ela fez a conta nos dedos e ergueu-os na minha
direção.
Fascinante e esperta.
— Monita.
— Bonita?
— Cheirosa?
— Beto, você não está bem, pode ser impressão sua. Sua cabeça está
recriando a imagem da sua mãe. Por que não entra em contato com a
agência lá na Ucrânia e inicia o processo da gestação por substituição, do
jeito que você planejou, sem genitora por perto? Ter um filho, alguém para
se apegar, vai te fortalecer.
— Tem papá?
— Menina, vamos combinar assim: eu não sei quem você é, mas por
alguma razão que ainda desconheço, não temos apenas olhos idênticos. Vou
cuidar do seu joelho, limpar essa desordem e tentar descobrir a sua origem.
Enquanto isso, fique sentada aqui e não toque em nada. Quietinha, estamos
entendidos? — Tentei uma negociação clara.
— Pão?
Minha… filha.
— Santo Deus!
— Nada, irmão.
— Contou a ela?
Uma porra!
— Você não faz ideia, bebê. Será complicado lidar com mais um vazio
se isso não passar de um golpe para ferrar com minha vida.
Deixei outro beijo nos cabelos dela, rindo da minha patética carência
afetiva.
— Goope é munto legal — a bebê afirmou, como se estivesse saindo
de uma silenciosa análise.
Minha filha.
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[1]
Você demorou, querida.
[2]
Lágrimas.
[3]
Pescoço.
[4]
Cansada.
[5]
Gíria do interior baiano — Pessoa com um olho parecido com uma bola de gude. Pode ser pela
coloração, por ser um olho grande, ou por ser um olho bonito, com aparência de vidro colorido.
[6]
Com licença.
[7]
Comigo.
[8]
Gostoso.
[9]
Bravinho.
[10]
Ditado Baiano
Pote de água de barro
Rudia é uma corda, pano ou almofada em círculo, que a pessoa coloca na cabeça para acomodar o peso
que se carrega.
— Se você não aguenta carregar o pote de água, nem adianta colocar a rudia na cabeça.
[11]
Linguagem baianês: Vai pra porra!
[12]
Linguagem baianês: fique longe disso
[13]
É uma pessoa que tudo que vê quer.
[14]
Encaracolada.
[15]
A Marvel Comics é uma editora norte-americana de mídias relacionadas. Hoje a Marvel Comics é
considerada a maior editora de histórias em quadrinhos do mundo. Em 2009, a The Walt Disney
Company, adquiriu a Marvel Entertainment, a empresa mãe da Marvel.
[16]
Discaradinho.
[17]
Comeu.
[18]
Coitada.
[19]
Também conhecida como Cordilheira do Jura, a região faz fronteira com França, Suíça e Alemanha.
Atualmente a região do Jura possui cerca de 80 mil habitantes, que se dividem entre 122 pequenas
cidades. A paisagem é repleta de fazendas que formam cenários únicos. Ao todo, são cerca de 1.800
quilômetros quadrados para serem apreciados. Essa é a região que inspirou o clássico “Jurassic Park” e
atrai visitantes em todas as estações do ano com as suas incríveis particularidades.
[20]
O diagnóstico da TEI ainda é puramente clínico.
[21]
Trecho da música Umbrella da cantora Rihanna (feat. Jay-Z)
Tradução:
Porque
Quando o sol brilha, nós brilhamos juntos
Te disse que estaria aqui para sempre
Disse que sempre seria sua amiga
E o que eu jurei eu vou cumprir até o fim
Agora que está chovendo mais do que nunca
Saiba que ainda teremos um ao outro
Você pode ficar debaixo do meu guarda-chuva.”
Você pode ficar debaixo do meu guarda-chuva
[22]
A mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
[23]
Música “Minhoca” Versão adaptada pela autora do livro.
[24]
“Atividade”. Para algumas crianças, na primeira fase escolar, todo papel rabiscado vira uma
atividade.
[25]
“Estou com fome”.
[26]
“Que tenso”. Gíria baiana.
[27]
Carrara é um mármore italiano, muito usado para fazer estátuas e bustos. Estas esculturas ficavam
muito parecidas com a pessoa em questão. Por isso, quando duas pessoas eram muito parecidas, dizia-
se que uma parecia ter sido “esculpida em carrara”.
[28]
Transou sem camisinha.