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Meu Viúvo
1º EDIÇÃO
- 2021 -
— O quê? Por quê? Que absurdo! Eu ser mãe não me faz uma
profissional pior, pelo contrário...
— Quem é Carina?
— Por quê?
— Durante a tarde.
— Bom dia, Helena. Por que você ainda não está pronta? —
Vic questiona logo que abro a porta e tira seus óculos escuros.
— Bom, vai acontecer. Hugo está voltando hoje e ele pode ser
um pouquinho difícil. Nessa última semana eu deveria ter ficado para
te instruir melhor a respeito dele, mas, bem, obviamente eu não
pude. — Ela fala rapidamente como se nem precisasse respirar. —
Você sabe as regras e eu confio em você. Hugo está chegando e eu
preciso que você as siga à risca. Onde está o Leo?
♡
Enquanto a cozinha é revirada por dois cozinheiros que preparam
uma refeição digna de reis, a piscina é limpa, assim como o jardim, e
algumas moças lustram as escadas. Um jardineiro tira a maioria das
plantas que estão mortas e adiciona algumas poucas.
Todos parecem saber bem o que fazer e, com a casa com mais
funcionários, pela primeira vez desde que eu me mudei sinto-me
completamente desnorteada.
— Não entendi...
— Eu abri a porta.
— Desculpa, Helena!
— Por quê?
— Não, Gertrudes, não diz sim pra ele! Ele está dormindo com a
sua irmã! — reclamo para a mocinha da novela que está prestes a
dizer “sim” para o vilão no altar, mas não antes do fim do capítulo.
— ... Então foi para isso que você insistiu em uma nova
empregada, Victoria? — Uma voz atrás de mim causa-me arrepio,
me assustando e fazendo o controle do aparelho cair da minha mão.
— Pagar para ela ficar assistindo TV no horário de serviço?
— Enfim, vou subir para falar com aquele cabeça dura e ele vai
descer pra te pedir desculpas, pode ficar tranquila.
Céus, como uma mulher tão boa e gentil foi capaz de casar-se
com um mal educado e grosseiro como ele?
— Mando sim.
— Para com isso, Helena. Você não tem nada a ver com a
vida dos patrões — resmungo comigo mesma.
— Ai, merda!
— Como está?
— A camisa do senhor está do lado avesso — aviso.
— O quê?
— Você não tem que se preocupar com isso. Como está a perna?
— Ele avança um sinal vermelho.
Meu Deus, por que colocar uma tentação dessa tão próxima a
mim?
— Mas...
Optei por voltar para casa com o senhor Victor Hugo. Ele se
mostrou disposto e, dessa vez, não me carregou no colo; o
enfermeiro que auxiliou Vic, Roberto, levou-me em uma cadeira de
rodas e me ajudou a entrar no carro.
— Eu...
— Helena...
— Eu?
Após deixar tudo limpo, decidi ir até Carina levando-lhe uma torta
de limão, aproveitando que Léo ainda estava em aula. Eu já havia
agradecido a ela, mas nunca custava agradecer mais uma vez,
principalmente estando acompanhada de uma boa sobremesa.
— Bom, se você acha isso, tudo bem. A sinhá aqui vai fazer o
que o Hugo pediu.
— Vic... Eu...
— Não vou mentir, Vic. Desde que o Mauro se foi, não tive tanta
ajuda quanto precisei. E, de certa forma, tornei-me um pouco cética.
Não é que eu não acredite em você ou nas suas intenções, eu só...
Bom, eu...
— Ah, merda!
Capítulo 08
Já passava de oito horas da noite quando finalmente
chegamos à escola, depois do fatídico trânsito de São Paulo, e
encontramos uma furiosa diretora com meu filho junto. De imediato
Leo tentou vir até mim, mas foi impedido por ela.
A maior demora foi Vic falando sobre Victor Hugo para a diretora.
Descobri coisas sobre ele que eu nem mesmo imaginava, como por
exemplo, que ele trabalha com moda; para ser mais exato, tem
diversas fábricas e lojas espalhadas pelo Brasil. Mas, por mais que
eu tenha ficado interessada, ninguém estava mais interessado que a
própria professora Gardênia. Uma pena que não foi o suficiente para
ela esquecer o episódio e fez-me assinar uma espécie de
advertência antes de finalmente nos liberar.
Tão logo coloquei Léo na cama e voltei para a sala, Vic abriu sua
bolsa e me entregou a caixa que havia tentado me entregar junto
com o presente que havia trazido ao meu filho dias antes.
— Olha, eu sei que você é orgulhosa, cabeça dura, mas isso não
é só por você, isso é pelo Léo. — A caixa é pequena e está
embrulhada com um papel de presente dourado.
— Sei que você passou por coisas demais. Coisas que você
nunca deveria ter passado. Ser humano nenhum, na verdade... Eu
também sei, Helena, do seu caráter. O pouco que nos conhecemos
já me mostrou isso.
♡
Capítulo 09
Estranho é pouco para definir a cena protagonizada por mim e
pelo meu patrão. O mais rápido que pude, coloquei a mesa e tentei
evitar qualquer tipo de contato com ele.
— Eu?
— Sim, a não ser que tenha algo mais importante para fazer. Ou
não queira. — Seus olhos estão fixos em mim e minha respiração
começa a ficar mais pesada. — É um compromisso de negócios e...
— Isso nunca fez, nem fará parte das minhas funções, senhor
Victor Hugo. — Vou em direção à porta.
Idiota!
— Mas ele...
— Saiba que isso não é mais que um favor para uma boa
amiga. O que eu preciso vestir, senhor?
— Ela vai acompanhá-lo, não casar com ele. — Túlio diz antes de
pôr também em minha frente um vestido preto com um enorme
decote na frente e nas costas, além de uma fenda na perna.
— Vocês dois só podem estar de brincadeira com a minha cara.
— Cláudia segura minha mão. — Terminem a arrumação, eu mesma
irei vestir a Helena.
— Obrigada.
— Vic passou aqui e disse que você não podia ir comigo sem
esse colar. — Fecha e viro-me para ele.
— Você está pronta? — Dou uma última olhada nas ondas que
Iago fez em meu cabelo e pego a pequena bolsa que Cláudia havia
colocado junto com o vestido e o sapato.
— Rosa, vem aqui! — chama uma mulher que mais parece uma
modelo de passarela de tão alta, magra e bonita que é, com um
cabelo cacheado com penteado black lindíssimo. — Essa aqui é
minha namorada, Rosa! Esse é Victor Hugo Mendes e a amiga —
fala ironicamente quando se refere a mim — Helena.
— A mim?
— O quê?
— Pode até não ser. Mas vai ser muito burra se nem ao menos
pensar nessa possibilidade. — Entra no banheiro deixando-me
sozinha.
— Eu estava te procurando. — Escuto a voz de Victor Hugo e,
imediatamente, escondo o cartão na minha bolsa, envergonhada e
enojada com a proposta que acabo de receber.
— Uma água.
— Victor Hugo!
Nosso namoro durou apenas dois meses, que foi tempo suficiente
para planejar o nosso casamento. E hoje estamos completando
nosso sexto mês de casados. Tive que, literalmente, atravessar o
continente para estar com ela hoje, já que Jaque ficou doente e não
conseguiu viajar para a Austrália como combinamos para
comemorarmos.
Helena, com toda a educação que não estou tendo com ela
explica-me e, antes que possa concluir, a interrompo mandando que
peça para minha irmã subir quando chegar.
— Victoria!
— Lembrando dela?
— Diz alguma coisa, Hugo. — Minha irmã, mais uma vez, me traz
de volta à realidade.
— Parabéns, Vic. — A abraço. Não estou irritado, estou feliz por
ela, assim como ela ficou por mim quando contei que seria pai. Mas,
diferente da minha irmã, não consigo demonstrar.
— Eu...
— Não, Gertrudes, não diz sim pra ele! Ele está dormindo com
a sua irmã! — A voz que me recepcionou em casa resmunga e
outras vozes se fazem presentes na minha cozinha.
Com o meu escritório da loja sede cada vez mais tomado por
meu time de terroristas, Cláudia, Stella e Túlio, decidi tomar a sexta-
feira de folga. Helena claramente não ficou muito confortável.
Diariamente ela assistia o raio da novela e até mesmo conseguiu me
deixar interessado. A velha câmera da cozinha me ajudou a
descobrir qual o canal e, todos os dias, no serviço, eu também
assistia.
No fim, após minha irmã informar que ela tem plano de saúde
pago por mim, finalmente Helena aceita o exame e tratamento. Me
surpreendo vendo o carinho e amizade que uma desenvolveu pela
outra.
— Tá tudo bem.
Depois que minha irmã vai embora, decido que é hora de tentar
encarar a cozinha novamente, ou ao menos comer alguns biscoitos.
Acabo encontrando Helena na cozinha. Teimosa.
Meu pai sempre teve um fraco por mulheres mais jovens, mas
desde o início vimos que ela realmente gostava dele, apesar da
diferença de vinte anos que os separava.
Roberta continuava bonita como quando se casou. Alta, de
olhos claros, cabelos loiros e uma educação impecável. Sua família
era de classe média e foi totalmente contra seu relacionamento
desde o início, até retirando qualquer dinheiro a que ela tivesse
direito quando se casou com Vitório Mendes.
— Sem problemas.
Já havia passado pela minha cabeça que Helena não era solteira.
Uma mulher claramente muito bonita, inteligente e ouso dizer que até
mesmo engraçada como ela, não ficaria sem alguém. Mas não tinha
visto aliança em seu dedo e ela me disse ser viúva. Não havia
qualquer real sinal de compromisso, até que cheguei em casa e a vi
se esgueirando tentando entrar.
— Isso é desculpa de grávida para não fazer o que tem que fazer,
Vic. — Tento argumentar.
— Vou fingir que você não falou isso. — Sua voz é irritada. Os
hormônios transformaram minha doce e amada irmã em um
monstrinho.
♡
Capítulo 16
HELENA
— O quê? Irmã?
— Me dá as chaves.
— Um...
— Prometo que faço pra você quando voltar da escola, meu amor
— asseguro-lhe e recebo um sorriso.
— Eu sei.
— O quê?
— Ah, não.
— Se não for por ele, por mim. Léo e eu nos divertimos muito,
fico muito sozinha quando o meu marido está viajando e não tenho
disposição para eventos — enumera.
— Foi algo de uma vez só, Vic. Léo, vamos. — chamo meu filho,
que está na frente da TV. — Deixei o seu colar em casa. Pareceu
valioso e não quis arriscar no transporte público.
— Helena!
— Sim, senhor?
— Eu te vi nua, por que deveria continuar a me chamar de
senhor? — Não é algo comum, mas tenho certeza de que fiquei mais
vermelha do que um tomate maduro.
— Eu... deveríamos...
— Senhor...
— Não ousaria! — Tento sair dos seus braços, mas cada vez que
me mexo, ele apenas me aperta mais, causando as mais variadas
sensações em minha mente e corpo.
— Experimenta!
— Eu acho que...
Leo é como uma cópia do pai. Com quase sete anos, lembro de
quando ele nasceu. Com seus grandes olhos cor de mel, pele mais
escura que a minha e uma pequena pinta perto do queixo que Mauro
também tinha. Desde o primeiro dia meu marido se apaixonou por
ele. E eu também.
Porém, não foi muito o tempo que meu marido teve com nosso
filho. Pouco depois do aniversário de três anos de Léo ele sofreu o
acidente e, infelizmente, nos deixou.
— Ei!
— Helena!
— Mesmo? Essa casa vai ficar ainda mais bonita com o jardim
bem cuidado — comemoro.
Eu mesma já havia tentado cuidar do jardim, mas minhas
habilidades com a terra são pouquíssimas, para não dizer nulas. O
lugar realmente precisava de certa atenção e me deixa
extremamente feliz que Victor Hugo tenha decidido contratar alguém
que possa fazer isso.
— Helena...
— Não eu...
Refiz toda a faxina que havia feito no dia anterior e quando deu
quatro horas da tarde ele ainda não havia voltado. Vic chegou pouco
depois que terminei de secar o chão e, com a barriga já começando
a aparecer, colocou os pés apoiados no pufe da sala e sentou na
poltrona.
— Hugo está um porre hoje! — diz após desligar a ligação que
recebeu dele.
— Victoria!
— Victoria!!!
Mais uma vez ele está sentado atrás da mesa usando óculos e
completamente focado nos papéis na sua frente.
Pelo menos isso não foi longe demais. Não me envolvi a ponto de
sofrer. Ainda bem que mantive em mente que ele era meu patrão e
que eu nunca passaria de sua empregada.
Passando pelo jardim, vejo Luís todo sujo de terra usando uma
calça jeans velha e uma regata que um dia foi branca. O sol ainda
está forte e parece que ele está longe de terminar.
— Um suco, Luís?
— Imagino que sim. Até tentei mexer um pouco, mas acho que as
plantas não gostam muito de mim.
— Tá. Vou pegar ele. — E assim faz. — Agora você vai abrir um
buraco para colocarmos ele. — Me entrega uma pequena pá.
— Em qualquer lugar? — Ele nega dessa vez.
— Viu como é fácil? — Ele pisca para mim e aproxima sua mão
do meu rosto, afastando meu cabelo.
— Você está com fome? Quer que eu prepare algo? — Vou até a
pia da lavanderia, lavando minhas mãos.
— Não que seja da sua conta o que faço fora do meu horário de
serviço, mas irei jantar com o Luís. — Dou de ombros e olho meu
relógio de pulso. — O meu horário de trabalho acabou, inclusive.
— Helena...
— Qualquer coisa, tem comida pronta e congelada no
congelador. Demais necessidades, estarei de volta na segunda-feira
— aviso saindo da casa.
— Helena...
— Então fala.
— Que não seja ele. Que seja ele — sussurro para mim mesma
sem saber ao certo se quero que seja ou não Victor Hugo na minha
cama e, devagar, abro meus olhos encarando um abdômen feliz ou
infelizmente já conhecido por mim com uma linha de pelos que leva
até... — Por que essas coisas tem de acontecer comigo?
— O que aconteceu?
— Não lembra?
— Por quê? Foi fofo. E engraçado. — Ele me puxa para fora das
cobertas. — De qualquer forma, você não conseguiu me seduzir.
— Eu...
— A dança.
— É bem... despretensiosa.
— Eu me importo.
— Eu quero, mas...
— Mas...
— Você é incrível. Não sei o que fiz para que alguém como
você aparecesse na minha vida.
— Isso é novidade!
— Posso te levar...
— Não me desafie.
♡
Antes das nove horas da manhã Helena me expulsou da sua
casa, prometendo que logo me passaria a data de quando finalmente
sairíamos. Eu estava me sentindo simplesmente um adolescente
imaturo e ansioso.
— Para quando?
Durante o fim de semana Léo não estava muito bem e, após pedir
ajuda de Vic, minha amiga constatou que meu pequeno estava
apenas com uma infecção de estômago por conta da festinha da
sexta-feira.
Seria! Pois antes mesmo das dez horas da manhã escuto Victor
Hugo entrando em casa, ruidosamente e irritado, junto com alguém.
Uma gritaria se faz presente, nunca o vi assim antes e quando
finalmente é cessada, escondo Léo rapidamente na dispensa.
— Hum... Agora?
— De preferência.
— Mas...
— Está bem, mas você tem de ficar quietinho no mesmo lugar até
eu voltar, tá? — Meu filho acena pela fresta da porta e Victor Hugo
parece não entender.
— Ei, você aí!!! — Escuto Victor Hugo gritar e deixo a caixa cair
no chão antes de correr de volta para a cozinha. — Merda!!!
— O que houve?
— Você tem certeza que viu alguém por aqui? Estou trabalhando
aqui há meses e nunca nenhuma criança invadiu a casa...
— Tenho certeza, Helena. Ele devia ter uns oito ou sete anos.
— O...?
— Você sabe!
— Ora, Victor Hugo, deve ter sido o filho da vizinha. Sabe como
são crianças...
— Não, mas...
— Acho que não. — Ele parece mais curioso que irritado. — Quer
ir comigo, Helena?
— E a caixa?
Tão logo entro na mansão, Victor Hugo vem até mim preocupado.
— Me desculpe.
— Helena...
— Está tudo bem, Helena? Ele fez ou disse algo para você?
— O quê?
— Tá bom — resfolego.
— Tá bom.
Victor Hugo não especificou quantos dias ficaria fora, mas desde
o momento em que deixou a casa, começou a me mandar
mensagens no celular. Obriguei-me a não o responder durante o
horário de serviço. Não queria que ele achasse que só porque não
está em casa eu não estaria trabalhando. Também não perguntei
quando ele voltaria, por mais que eu quisesse.
— Por favor!!!
— Tchau, Vic.
— Não, Vic...
— Não discute, Helena. Eu sei que você ama o Léo mais do que
a si mesma, mas precisa cuidar de si também. Já te disse isso e vou
repetir: você é linda, jovem e não precisa morrer porque isso
aconteceu com o seu marido. — Suas palavras são fortes, mas em
nenhum momento Vic é desrespeitosa. — Não siga o exemplo do
meu irmão de se fechar para a felicidade.
Após ter deixado Léo com Victoria, voltei para casa ansiosa para
me aprontar, utilizando um pouco do que o maquiador que me
produziu para o evento em que fui com Victor Hugo me ensinou.
— Eu... Uau!
— Você escolheu?
Após Victor Hugo abrir a porta do carro para mim e esperar que
eu me acomodasse, rapidamente ele entrou no lado do motorista.
— Aonde iremos?
♡
Fiquei surpresa quando Victor Hugo parou o carro em uma
charmosa rua no centro de São Paulo com duas fontes majestosas e
lindas luzes coloridas por toda sua extensão.
— Mas é importante...
Quando nos afastamos, percebo por que até então não havíamos
nos beijado. Victor Hugo está parecendo um palhaço com borrões
vermelhos em seu rosto. E é impossível segurar minha risada.
Sinto suas mãos voltarem ao meu corpo quando ele segura meus
tornozelos, tirando meus sapatos e deixando-os cair no chão. Não
apenas minha respiração está alta, a dele também. Victor Hugo traça
uma trilha de beijos pela parte interna das minhas pernas até
encontrar minha calcinha.
— Você não ronca, nem fala enquanto dorme. — Sua voz rouca
mostra que ele acordou há pouco. — Também não se mexe muito.
Qual o seu defeito?
— Hugo...
— Sente?
— Vai, Hugo!!!
— Você não podia esperar até amanhã? Sua irmã está aqui e...
Por que o raio da janela tem que ser tão grande e baixa? Com
certeza ele consegue entrar se quiser. Mas eu quero isso? Sim!
— O que eu sinto?
— Vamos, surda eu sei que você não é. Diga assim: “Victor Hugo,
eu te amo...” — Ouvir aquelas palavras saírem da boca dele fazem
meu coração se aquecer e um sorriso inevitavelmente toma conta de
mim. — “... Estou louquinha para pular no seu colo e...” — Coloco a
mão em sua boca o impedindo de continuar e ele levanta suas
sobrancelhas ironicamente, me desafiando enquanto suas mãos
cruzam por trás da minha cintura.
♡
Acabei convidando Vic para dormir em casa. Sabia que ela não
estava bem e que o que ela precisava não era de um lugar
requintado, como a própria casa, mas de atenção e carinho.
— Você não pode fazer algo como o que fez — reclamo, mas ele
ignora tirando o prato e a carteira da minha mão, me beijando em
seguida.
— Eu não ligo para isso, Helena. Não ligo para nada disso, mas
eu realmente me arrependo das coisas que te disse. Fui tão
grosseiro e sem a menor necessidade. — Dessa vez ele que ajeita o
meu cabelo. — Quando eu disse antes que nada que você possa
dizer vai diminuir meus sentimentos por você...
— Conheço o suficiente.
— Eu... Eu minto, sabe? — Ele sorri.
— Todos mentimos.
— E...?
— E você!
— E decidiu me espionar.
— Você me viciou em “Amor à Segunda Vista” — comenta sobre
a novela que assisto toda as tardes e que passamos a ver muitas
vezes juntos. — Me desculpa pelas câmeras — fala
aparentemente sincero. — Estou te mostrando isso porque quero
que saiba que não há nada que possa dizer que faça meus
sentimentos por você mud...
Léo, seu filho, me ajudou. Pedi a ele que não contasse à mãe que
eu já sabia quem ele era. Foi por acaso que eu o encontrei.
Enquanto insisti que Helena buscasse seu presente no meu carro,
aproveitei para procurar meus biscoitos na dispensa.
Eu estava comendo menos, me sentia menos nervoso e
ansioso, mesmo que ela me fizesse sentir esse frio estranho na
barriga. Sentado no canto escuro, Léo mastigava devagar o último
biscoito do pacote e de boca cheia, quase chorando, pediu para eu
não contar para a sua mãe.
Concordei e disse para ele voltar para casa que logo sua mãe iria
atrás. Dei um grito para fazê-la voltar mais depressa e imaginando
que logo ela me contaria a verdade, mas não foi o que aconteceu.
Não foi difícil conseguir a permissão dela para ver o Léo. Uma
ligação rápida perguntando se eu podia ir e ela aceitou. De certa
forma, fiquei preocupado. Como ela permitia que uma pessoa tirasse
um aluno da sala de aula sem que seu pai ou mãe autorizasse?
Disse a mim mesmo que não passava de um caso isolado e que
quando conversasse com Helena iria expor isso, colocando todas as
cartas na mesa.
Por mais irritado que eu tenha ficado por Helena ter escondido
Léo, eu consegui entendê-la. A vida dela claramente não era fácil e
ela não ficava feliz em esconder o filho. Tinha a certeza de que era
assustador não apenas para ele, mas para ela também, viver dessa
forma, com medo de que tudo possa ser descoberto e dar errado a
qualquer momento.
— Helena...
— Como?
— Ele é.
— Ele pediu?
— Não foi difícil, Helena. Era óbvio que minha irmã estava
envolvida. E se a Vic estava envolvida, ele só podia estar estudando
na escola da Gardênia. — Dá de ombros e nem consigo falar ou me
mexer. — Nós conversamos bastante. Eu ia falar com você, mas o
Léo me pediu para não te contar e eu não quis contrariá-lo. Não se
pode trair a confiança de uma criança.
— Que tal por mentir para mim esse tempo todo? — Ele grita.
— Você é?
— Helena, acho que agora você não tem mais escolha. — Victor
Hugo constata e, vencida, começo a falar.
— Estamos namorando.
— Você sabe que são quase três horas da manhã, não sabe? —
Victor Hugo pergunta e recebe um dedo do meio como resposta.
— Espero que sim. — Ele diz e o fuzilo com o olhar enquanto ele
ri incontrolavelmente.
Explicar tudo para Vic foi mais fácil do que pensei. Ela, assim
como eu, ficou surpresa com o fato de Victor Hugo não só já saber
do Léo, como também por ele não ter feito disso uma grande
tempestade e feito amizade com meu pequeno.
Ela também disse que foi na casa de Victor Hugo porque não me
encontrou e, vendo as luzes da mansão acesas, pensou que o irmão
estava sendo um carrasco, me fazendo trabalhar na madrugada.
— Então o que você está fazendo aqui? Nem acredito que vou
dizer isso, mas... Por que você não está lá, dando pro meu irmão?
— Victoria!
— Eu sei que estraguei o seu fim de semana, mas agora que sei
que é com o meu irmão, fico feliz. Acho que vocês fazem muito bem
um ao outro. — Me abraça. — Vai lá, eu e o Léo ficaremos bem.
— Certeza?
O assegurei que estava tudo bem, que eu não estava brava e que
eu nunca poderia me zangar com ele. Animado após toda a
conversa, Léo me deixou de lado para conversar com o “tio” já que,
segundo ele, não conversavam fazia tempo e me expulsaram
pedindo café da manhã. Se já não fosse o meu trabalho, e meu filho
não estivesse tão feliz, eu até ficaria irritada.
— Uma pena que você não tem querer, não é mesmo? — Dou
um beijo no topo da sua cabeça e pego sua mochila. — Vem, Léo.
— Eu posso levar ele. — Victor Hugo avisa terminando de
tomar uma xícara de café.
A vida da minha família não era ruim, mas nunca foram ricos.
Apenas vivíamos bem. Diferente da família de Mauro, que tinha
dinheiro suficiente para que os filhos, netos e talvez os bisnetos
nunca precisassem trabalhar, o que não era o caso. De qualquer
forma, as duas famílias nos viraram as costas.
Todos os dias, após Léo dormir, eu aviso Hugo e ele vem. Todos
os dias, antes de Léo acordar, faço Hugo ir embora. É apenas a
minha decisão para não bagunçar a cabeça do meu bebê.
— Hugo...
Droga!
Capítulo 31
Léo estava incontrolável na noite anterior ao seu aniversário e só
dormiu após a meia-noite, quando era oficialmente o dia do seu
aniversário.
Me senti um pouco mal por não dar a ele o videogame que tanto
queria, mas dei um lançamento anterior e ainda assim ele ficou
extremamente feliz.
♡
Léo até queria esperar por Victor Hugo para cantar os parabéns,
mas não consegui falar com ele e não tinha certeza de que chegaria
para a festa e, mesmo um pouco decepcionado, meu bebê se
divertiu, principalmente após a chegada de Carina.
— “Amor”?
— Eu sei disso, mas, Helena, Vic não sabe sobre meu... Meu
primeiro casamento e...
♡
Léo não soube explicar o que aconteceu de fato, estava muito
assustado quando finalmente acordou, cercado de profissionais, e só
sabia chorar pela mãe. A única pessoa que não saiu de perto até que
eu chegasse foi Vic, que acariciava seus cabelos e lhe garantia que
eu já estava a caminho.
— Meu amor, por favor, faz isso pela mamãe. Eu prometo que
não vou deixar nada de ruim acontecer.
— Meu Deus, como esse lugar está lindo! — Victor Hugo não
me deixou trabalhar nos três dias que Léo ficou em casa, foi uma das
formas de eles me convencerem, então eu mal tinha colocado meus
pés para fora de casa desde que voltara no domingo à noite.
O jardim está completamente transformado. Com flores para
todos os lados, plantas trepadeiras contornando boa parte da casa e
também grama por toda a parte, perfeitamente aparada, assim como
os arbustos.
— Claro que pode. — Não consigo tirar minha atenção das flores.
— Foi por causa dele que não voltamos a sair? Quer dizer, você
se divertiu, não se divertiu?
— Como assim?
— Você já o chama por “Hugo”, Helena. Nem mesmo se eu
tivesse tido chance, não teria mais...
— Como amigo.
— Sim.
— Como? O quê?
— Sinto muito por ter feito você achar que sim, Luís, mas entre
nós, só irá existir a amizade — aviso e ele parece aceitar.
— Por que você é tão fofo depois de ser tão carrasco? — brinco
levantando meu rosto em direção ao seu com um sorriso.
— Quem gostaria?
— Para o seu bem, eu espero que o meu filho esteja tão bem
quanto quando saiu de casa! — aviso apontando o dedo no seu rosto
e entro no carro, dessa vez do lado do motorista. Hugo não
questiona, apenas entra no banco do passageiro enquanto dou
partida no veículo.
— Você fez com que todos acreditassem que Léo não era filho
dele para que não tivéssemos direito a nada.
— Por favor, entenda. — Seus olhos ficam marejados. — Eu o
amava. Sei que não foi certo o que eu fiz...
— Eu...
— Joelma...
— Eu preciso pensar.
Não tenho hábito de brigar com meu filho, nunca precisei, mas
depois de fazê-lo se apressar ao se despedir da minha ex-sogra, ao
chegar em casa até mesmo me ignorando ele estava.
— E você?
— Ela e toda a família virou as costas quando eu mais precisava,
Hugo — suspiro sem saber o que fazer. — Perdemos nossa casa,
sabe? Leo e eu literalmente ficamos sem um teto sobre a nossa
cabeça... O que eu estou fazendo? Desculpa te encher com essas
coisas que não tem nada a ver com você. — Envergonhada, saio de
dentro do carro rapidamente e Hugo faz o mesmo.
— Está tudo bem. — Seu abraço fica mais apertado enquanto ele
sussurra para mim: — Está tudo bem.
Demorou até que a porta foi atendida pelo dito cujo, que parecia
ter visto um fantasma ao me notar.
— Lógico que é!
— Me solta!
— Não se meta comigo. Não sabe do que sou capaz, Helena.
— E realmente é!
— Eu...
— Tão logo a Vic melhorar você vai contar para ela a verdade,
porque, se não o fizer, eu farei — afirmo logo que chegamos à porta
da frente.
— Imagino que você saiba por que pedi para você vir até a minha
sala, Helena. Eu ia mandar um recado pela agenda, mas já que está
aqui, podemos conversar, certo? — aponta-me uma cadeira na
frente, próxima à mesa.
— Mas...
— Pergunte a ele...
— Não acredito que ela disse isso, é ridículo. Eu não... Nós não...
Foi só algumas vezes e... Ela não deveria estar te falando esse tipo
de coisa. Já faz muito tempo. Eu sequer tinha me casado...
— Mas?
— Hugo, eu...
— Não precisa fazer ou dizer nada que não esteja pronto, ok? —
confirmo com a cabeça. — Você é uma mulher incrível e faço
questão de te conquistar um pouco mais a cada dia. Agora vou em
casa escovar os dentes para poder te beijar da forma que você
merece.
— Tenho certeza que sim. Vocês dois são muito bons em guardar
segredos de mim — brinco relembrando como eles me esconderam
que Hugo já sabia da existência de Léo.
— Ninguém é perfeito.
— Eu sei que não digo isso com frequência, mas sou muito grata
por te ter na nossa vida, Hugo. — Sinto seu braço me acolhendo e
mais uma vez ele me beija, dessa vez no topo da cabeça. — O Léo
gosta muito de você e eu... Bem, acho que nem sou capaz de dizer o
quanto.
Sei que Hugo anseia por ouvir essas palavras, assim como eu
anseio por dizê-las, mas algo ainda me impede. Me assusta. Não
ele, mas esses sentimentos. Não tenho certeza de que já me senti
assim algum dia.
A televisão não tinha sido fiel a tal beleza. Com o vento atípico, a
água que subiu por diversos metros salpicou praticamente todas as
pessoas que estavam ali. Com centenas de pessoas assistindo e
filmando o show, me agarrei um pouco mais a Victor Hugo.
— Leonardo!
— Ele correu e disse que viu você e... Ai, meu Deus, cadê o
meu filho? — começo a procurá-lo e mostrar sua foto para todos que
consigo, perguntando se o viram. Victor Hugo também faz o mesmo,
mas sem sucesso.
Sem pensar duas vezes tiro meu filho dos braços de Joelma.
Com o mesmo olhar que ela me deu quando descobriu que eu
estava grávida, ela me encara agora.
— Bom dia.
Seus lábios encontram os meus logo que tal frase sai de mim. É
notável o seu sorriso enquanto ele me beija. Um beijo doce e
carinhoso. Sei o quanto ele queria ouvir eu dizer que o amo. Sei o
quanto eu queria dizer. E agora... Estamos aqui.
— Meu amor...
— Sinto muito que você tenha passado por isso, meu amor. — O
puxo para meus braços e ele começa a choramingar em meu colo.
— Não precisa ter medo, agora você está com a mamãe.
Minha primeira opção era pedir a Carina para ficar com o Léo
para que eu fosse falar com Joelma, apenas nós duas, mas não quis
incomodá-la em um domingo, muito menos tão cedo.
A segunda opção era pedir para Hugo ficar com ele, mas não me
senti confortável para isso.
A terceira opção eu não precisei fazer muito. Logo que Léo foi
escolher as roupas para colocar após o banho, Hugo se ofereceu
para ir conosco até a casa da minha sogra e não demorei a aceitar.
Fazia anos que eu não colocava meus pés naquela casa e sabia que
não seria fácil, mas com Hugo seria menos difícil, com certeza.
— Promete que não vai ficar com raiva de mim e nem dela?
— Ignora — pede.
Claro que por ele ser importante para Helena, conseguiu entrar
na minha vida mais facilmente, mas hoje é difícil me imaginar sem os
dois. Léo é o filho que sempre quis ter e que não me foi permitido.
Isso não significa que eu queira tomar do verdadeiro pai o seu lugar.
Logo que Hugo saiu, Léo voltou do quarto com uma camisa
branca de super-heróis, uma cueca e um short jeans em mãos. E
tentou argumentar que poderia tomar banho sozinho.
— Mas mamãe...
— Não, Leo, esse não é o nome dela e não a chame assim, ok?
— peço e ele confirma com a cabeça antes de acompanhá-la para
dentro da casa.
— Se importando com frivolidades, me desafiando... Você não
mudou, Helena. Apenas mirou em outro alvo, já que o meu filho se
foi. — Joelma afirma adentrando a casa e a sigo.
— Isso não significa que não o criei, pelo contrário. Dei a ele tudo
o que precisava e todas as chances para tornar-se o homem
maravilhoso que ele foi. Só quero ter a chance de fazer o mesmo
pelo meu neto.
— Então, o que você quer é que eu abra mão do meu filho para
que você o mande para um colégio interno apenas para apaziguar
sua culpa?
— Culpa?
— O meu filho...
♡
Foi estranho acordar em uma cama de hospital com Victor Hugo
parado ao meu lado, extremamente preocupado. Já havíamos
passado por algo semelhante, quando derrubei a água na minha
perna, mas eu estava acordada a todo momento. Agora, eu me
sentia completamente desnorteada, porém, ainda assim, eu só tinha
uma preocupação.
— O meu filho, Victor Hugo. Cadê o Léo? Me diz que você tirou
ele daquele lugar!
— Deve ser...
— Ele contou?
— Vic...
— Eu liguei para informar vocês que iremos passar alguns meses
fora. O Lu tirou uma licença do serviço e iremos viajar. Como nunca
consigo falar com o meu digníssimo irmão...
— Tchau, Helena.
Será que afinal a Vic falou com ele e disse que estava indo
viajar?
— Eu preciso que você resolva isso. Minha vida não pode ser
destruída dessa maneira de novo, está me entendendo? — Sua voz
é baixa, mas autoritária.
— A Vic me ligou...
— Está tudo bem com ela e com o bebê? — Se afasta
brevemente
— Me ligou para avisar que vai viajar com o Luciano. Não faço
ideia do que está acontecendo, ela está tão estranha.
Tento ligar algumas vezes para Vic, mas apenas cai direto na
caixa postal. Hugo idem. A falta de notícias me deixa ainda mais
nervosa.
— Ele?
— Eu sei, é que...
— Paloma...
— Promete.
— Ok, eu prometo.
— E...?
— Ela sabe a verdade. Ele contou. Disse que vai viajar porque a
notícia abalou o casamento e... Com a gravidez, ela quer fazer o
relacionamento dar certo.
— A Vic pediu para você parar de ligar para ela. Minha irmã está
muito magoada por você ter escondido essas informações dela.
— Hugo...
— Hugo...
— Fala baixo.
— Eu... É difícil.
— Certo...
— Tem certeza?
— O quarto do bebê...
— Amor...
— Ela não era uma pessoa ruim. Estava doente e não cuidei
dela. Eu podia ter feito, mas não fiz. Mantive tudo isso, talvez, como
forma de me punir. Ver todos os dias o que eu perdi.
— Como assim?
— E a reforma?
— Uma vez, você comentou que não conhecia esse lugar, por
isso não poderia vir com Léo. — Minhas mãos começam a tremer. —
Eu amo aquele garoto. Amo você. Tudo o que eu mais quero é fazê-
los felizes. Então, eu tenho uma proposta.
— Hugo, é isso o que você quer? Fazer essa reforma, morar com
a gente...? — Ele acena positivamente. — Tem certeza?
Jamais poderia dizer não a ele. Hugo tinha um jeito que me fazia
derreter e aceitar até suas propostas mais indecentes. Meu coração
pulou e acelerou meu corpo inteiro. Descemos as escadas
rapidamente, estava claro que apesar de ter me apresentado o lugar,
Hugo não se sentia confortável, talvez a reforma realmente fosse a
solução.
— Eu quero te agradecer.
— Você jura?
— Sim.
— Agora você pode, por favor, me explicar por que não quis
denunciar aquela jararaca?
— Como assim?
— Mas, meu amor, quero que saiba que você e o Léo, para
mim, são o pacote completo. — Seu sorriso é grande e verdadeiro.
— Quero os dois e tenho como meta cuidar de vocês da melhor
forma possível. Farei tudo ao meu alcance para mantê-la longe de
vocês.
— E a sua amiga?
— Vou ser sincera com você. Tenho muito carinho pelo Victor
Hugo, ele é um homem incrível e seja lá o que você estava
pensando quando aceitou isso... — Rapidamente pega a bolsa que
usei para ir ao evento onde Hugo e eu demos o nosso primeiro beijo
e a abre, tirando um cartão de visita antes de me entregar. — Espero
que tenha repensado.
— E por que não jogou fora? Sei que mal nos conhecemos, mas
a impressão que tive de você... A forma como Victor Hugo fala de
você, Helena.
— Eu ia jogar fora, mas Hugo chegou na hora. Ele estava bêbado
e tinha certeza de que faria uma cena se soubesse. — Ela anda por
diversas áreas do cômodo mexendo em uma coisa e outra e vou
atrás dela me explicando. — Ele fez uma cena por menos... Eu
nunca aceitaria ter qualquer tipo de envolvimento com um homem
nojento como ele.
— Você...
— Então simplesmente me diga... — Levanta e me vira para a
frente do espelho, abaixando os meus braços que estavam cruzados
na frente dos meus seios. — Você gostou?
— Revigorante?
— Obrigada. — A abraço.
No fim do dia, eu tinha mais calças do que podia usar e nem vou
falar sobre as blusas, vestidos e demais peças, além, claro, de
muitos, mas muitos sapatos mesmo. E algumas lingeries.
Felizmente falta pouco para ele tirar o gesso. Não que eu não
goste de ajudá-lo, mas porque sei que ele gosta da sua
independência de sempre e sinto falta do meu menino traquina cem
por cento ele mesmo.
— Amor...
— Hugo...
— Me desculpa.
— Isso é ridículo!
— Isso é chantagem!
— E...?
— Eu...
— Eu sei que não, mas é que você está contando tão séria
e...
— Ele não sabia que ela estava grávida — argumento para Hugo,
que não perdoa Saulo de forma alguma.
— Ele precisou ir, mas quando voltou ela já estava casada com
aquele... coisa ruim! — Mostro o óbvio.
Assim como da última vez, Iago deixou o meu cabelo solto, com
ondas bem destacadas. A maquiagem simples e discreta pareceu
complementar o look mais natural. Minhas unhas foram pintadas com
um nude que deixou tudo a minha cara.
Por um tempo sou torturada por ele, que nunca atinge o ponto
que mais almejo. Até que finalmente seus lábios se fecham em meu
clitóris sugando-o com habilidade. É impossível segurar meus
gemidos.
— Você não deveria usar o nome Dele numa frase como essa. —
Sorrio enquanto vibro com tanta vontade quanto ele.
— Meu Deus, quanta merda uma pessoa pode falar em tão pouco
tempo?
— Me solta.
— O quê?
Hugo e eu não nos falamos por alguns dias. Vic substituiu seu
lugar na cama e ele comprou a beliche que Léo tanto queria,
tornando-se o mais novo colega de quarto do meu filho.
Ela também pediu desculpas a Hugo dizendo que não tinha ideia
do que os funcionários poderiam fazer naquele lugar e que, quando
tinha visitado, após perceber que Jaqueline realmente estava doente,
pareceu-lhe um bom lugar onde ela poderia até mesmo continuar a
praticar pintura, como gostava.
SEMANAS DEPOIS
— Hugo...
— Helena...
— Por favor...
— Eu sei. Também sei que você me ama. Assim como você sabe
que eu te amo, mas o que você ainda não sabe e quero que saiba
agora que o único motivo pelo qual continuarei aqui... — Paro um
instante para respirar. — É porque descobri pela manhã que estou
grávida. — Tiro o teste de farmácia do bolso do meu short e coloco
em cima do sofá, na sua frente. — Parabéns, você vai ser papai.
Gardênia decidiu que seria uma boa ideia irritar uma grávida,
mesmo que não soubesse que eu estava nesse estado e, por meio
de sua secretária, descobri que não só as notas do Léo eram
excelentes e ele tinha a admiração de seus professores, como
também que ela pessoalmente estava alterando as notas do meu
filho.
— Eu vou matar ele! — Minha amiga grita. — Quem ele acha que
é?
— Vic...
— Amiga...
— Vai por mim, isso é uma merda. Elas pisam no seu coração
sem perder a pose. — Paloma avisa entregando a Vic uma xícara de
chá. — Desculpa me meter, mas essa é a verdade. O que você
precisa, com todo respeito, é de si mesma.
— Não, Vic, sem “mas”. Ele não teve um pingo de pena de você
em momento nenhum. Mentiu, enganou, como você mesma citou, te
prendeu em um manicômio. Nada impediria ele de fazer tudo isso
novamente.
— Ele não merece sua pena. Não merece nem o seu desprezo. A
única coisa que ele merece é ir para a cadeia. — Paloma dá de
ombros. — Sabe, até onde me lembro, bigamia no Brasil é crime.
Capítulo 53
Hugo não ficou feliz quando soube da nova confusão de Luciano.
Ele queria ir atrás dele, mas ao saber da decisão de Vic de
finalmente denunciá-lo, se contentou em que a sua destruição fosse
através da justiça.
— Isso foi fofo, mas você não pode me assustar assim, Hugo.
— Mesmo assim não custa nada saber se ele está bem, certo? —
concordo com a cabeça.
— Vamos lá então.
— E... Quem sabe... O tio Hugo pode ser meu novo papai — diz
receoso sem olhar diretamente para o Hugo.
— Meritíssima...
— Mas...
Mentira.
— Você sabe muito bem que tudo isso é mentira! — Saio dos
braços de Hugo logo que vejo a minha ex sogra e paro perto do seu
rosto. — Eu nunca planejei engravidar do Mauro, assim como nunca
tive um caso com o Luciano e eu nunca, jamais, faria o que vocês
disseram que eu faria com o Hugo. — Sinto as mãos do meu
namorado tentando me afastar dela.
— Por que eu iria tolerar isso depois que você acabou com a vida
do meu filho? — A casca dela começa a quebrar. Seu advogado
tenta afastá-la, mas ela não permite. — Você é a responsável por eu
perder o meu menino. Por que eu permitiria que você mantivesse o
seu sendo feliz? O maior objetivo da minha vida, Helena, é e sempre
será destruir a sua.
— Como assim?
— Não, amor, ela está! — afirma abrindo a pasta que tirei dele. —
Joelma e Luciano se encontraram algumas vezes na semana
anterior e também no dia do acidente. Antes de tudo, ela depositou
uma grande quantia para ele e nem se deu ao trabalho de esconder
que estava fazendo isso.
— Mas...
MESES DEPOIS
Felizmente, Luciano não teve a mesma sorte. Ele até tentou fugir,
mas tão logo minha ex-sogra foi solta, Luciano foi capturado. Sua
pose de machão murchou no momento em que começou o
interrogatório e ele contou até mesmo coisas que não tínhamos
imaginado, como o fato de que minha ex-sogra estava praticamente
falida e precisava da guarda do Léo para conseguir ter acesso a uma
conta no nome do meu filho, que Mauro havia deixado para garantir
o futuro do meu bebê.
— Não. Quero que seja uma surpresa. Mas tenho quase certeza
que é uma menina — diz com um sorriso alisando a barriga. —
Quando você e o Hugo me providenciarão outro sobrinho, afinal?
— Outro?
— Eu sei, mas...
— Amor, tenho certeza de que fez tudo o que foi possível naquele
momento. — Eu entro no abraço. — Agora vem, precisamos
almoçar. Fiz frango assado com batatas.
— Ai, meu Deus, isso não é xixi, Hugo! — grito. — Vic, a sua
bolsa estourou!
— Merda, bebê, você não podia esperar até amanhã para ser
sagitariano igual a mamãe? — questiona pegando mais coxas de
frango. — Se vamos para o hospital, preciso de um lanchinho. —
Nos avisa enquanto a encaramos, totalmente calma com a comida.
Capítulo 56
A pessoa mais tranquila no carro, com certeza, era a Vic. Mesmo
com contrações, ela apenas comunicava enquanto devorava mais
um pedaço de frango. Hugo dirigia rapidamente para o hospital
enquanto eu ligava para avisar que estávamos a caminho.
— Não, não é.
SEMANAS DEPOIS
Vic até tentou fingir que estava magoada quando contei a ela
sobre a gravidez, mas a sua felicidade com o nascimento da Gigi e o
seu namoro com Luís, que ela explicou como começou, era muito
maior.
Vic estava pronta para nos contar sobre isso quando sua bolsa
estourou e depois nós vimos com nossos próprios olhos o que
aconteceu.
— Como eu dizia, não sei ser paciente. Planejei essa noite com
muito cuidado, mas que se foda tudo, Helena. Tudo o que eu quero,
é estar com você. Em todos os jeitos, em todos os momentos. Eu
sou completamente seu e quero que você seja completamente
minha.
— Eu sou...
— Não legalmente. — Ele abre a caixinha. — Casa comigo, meu
amor?
SEMANAS DEPOIS
A cerimônia foi linda de uma forma que jamais imaginei que seria.
Aproveitamos a luz do dia e demos o nosso primeiro beijo como
marido e mulher ao pôr do sol. De convidados, apenas aqueles que
eram próximos de nós. De comida optamos por chamar o bom e
velho Chicão. Parecia o mais acertado, em consideração aos nossos
gostos.
Mas tinha certeza que agora que a sentença dela havia sido
decretada, poderia voltar a dormir tranquilamente, sabendo que ao
acordar agarraria Léo e o beijaria muito.
— Puta que pariu! — grito em alto e bom som quando sinto uma
contração, atraindo a atenção de todos.
— Acho que alguém vai ser uma mãe que vai ficar para a história
do hospital! — Vic afirma rindo da minha dor, já no elevador.
MESES DEPOIS
Tive medo de que, com a chegada de Luísa, Leonardo se
sentisse excluído, mas o fã número um da minha menininha é ele.
Desde ninar ela a trocar sua fralda, sob nossa supervisão, Léo está
incluso. Sem contar que ele e Hugo criaram um momento só para os
dois, no qual saíam cedo e voltavam bem tarde, ou se enfurnavam
no quarto de Léo jogando videogame e comendo bobagens. Além de
que Léo simplesmente começou a copiar o corte de cabelo de Hugo
e vive dizendo que irá usar barba da mesma forma.
Ver como Hugo cuida dele é incrível. Ele é um pai babão e bobão
para os dois e sempre que precisa dar bronca em Léo, pede que eu
o faça e depois ainda fica do lado dele, agradecendo pelas costas
por eu ser a carrasca.
— Não, nada disso! Da última vez que alguém dessa família fez
xixi nas calças, a Lulu nasceu. — Hugo brinca e até Luísa, sem
entender, começa a rir, achando graça dos dois.
A minha vida é ótima, não tenho do que reclamar, mas não posso
dizer que sou totalmente sincero. Talvez seja de família. Em alguns
dos nossos almoços de domingo, quando começam a conversar
sobre o passado, a tia Vic e o meu pai gostam de importunar minha
mãe falando sobre como ela me escondeu por medo de perder o seu
emprego.
— A tia Vic disse que tenho uma alma sábia — diz orgulhosa. —
E eu sempre estou certa!
— Claro que pode. Liga e chama, tá? — afaga meu rosto e beija
rapidamente minha testa. — Mais tarde conversamos sobre isso
então.
— Mamãe...
— Eu...
— Eu sou gay!
Logo meu pai faz a mesma coisa, assim como meus irmãos.
— Te amo, Lulu.
FIM.
Agradecimentos
Muito obrigada a absolutamente todos que estiveram junto
comigo nessa jornada que foi escrever “Meu Viúvo”. Esse é o meu
retorno depois de muito perrengue e, mesmo que algumas coisas
continuem iguais, sou incapaz de não ficar feliz por ter chegado a
esse momento.
Beijos purpurinados,
Kamila ♡
Sobre a Autora
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