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Direitos Autorais

Copyright© 2019VIVY KEURY


Capa: Assucenna Nunes
Mentoria: Jéssica Milato – Venha Fazer Hitória
Revisão: Sara Ester
Diagramação Digital: Vivy Keury

1ª Edição

Essa é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança
com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Essa obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. Todos os direitos reservados. São proibidos o
armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora. Criado no Brasil.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Dedicatória
Dedico este livro a todas as minhas leitoras, por
sempre abraçarem cada obra minha.
Sinopse

O que uma pessoa é capaz de fazer por amor?

João Paulo

Minha vida fugiu do meu controle e para um homem pragmático, eu


poderia dizer que estava vivendo no inferno. Sempre me considerei um
homem inteligente, até cair em uma armação e ser obrigado a me casar para
não perder tudo o que conquistei com muito suor e trabalho árduo.
Fui abrigado a abrir mão da minha liberdade para satisfazer as
vontades de uma mulher egoísta e mimada, que achou que essa era a única
forma de me conquistar. Grande erro. Eu a odiava ainda mais pelo que me
fez.
Mas quem disse que as coisas não poderiam piorar?
Daniela chegou para tumultuar o que já estava uma tremenda
bagunça. Um convite sexy e descarado ao pecado. O perigo mais profano. A
promessa de uma viagem sem volta ao mais puro prazer.
Não era amor; não era paixão. Era luxúria da mais crua e decadente.
Era um risco que eu estava disposto a correr.
Era a mais doce tentação que eu poderia ter...

Daniela

Não foi difícil permitir que ele se aproximasse de mansinho.


Não foi difícil acreditar em suas palavras mentirosas.
Não foi difícil ceder ao desejo que me consumia cada vez mais.
Não foi difícil entregar meu coração em uma bandeja.
Pois é, eu me apaixonei por ELE.
Permiti, acreditei, cedi e, infelizmente, estava sofrendo as
consequências.
Perdi o controle da minha vida, meu emprego e, de quebra, boa parte
da minha dignidade. Aprendi a lição e decidi seguir em frente.
Mas quem disse que as coisas não poderiam piorar?
João Paulo voltou para tumultuar o que já estava uma tremenda
bagunça. O homem que me viu do avesso, conheceu minha alma e tomou
posse do meu corpo.
Não era tesão, não era um simples desejo. Era amor.
Era a perigosa tentação que me levou ao céu e me apresentou ao
inferno.

Uma história sobre segredos, mentiras, traições e descobertas que


promete ao leitor emoções avassaladoras. Está preparada para cair em
tentação?
Prólogo

Quatro anos antes...

João Paulo

— Quando vai me assumir para a sua família? — Ingrid indagou,


fazendo-me parar de abotoar a minha calça e encará-la com o cenho franzido.
Há pouco mais de seis meses, vínhamos nos encontrando sempre que
eu tinha um tempo livre da empresa que havia acabado de abrir. Tinha
recebido investimento de um senhor de origem chinesa. O conheci em um
jantar beneficente que fui com o meu amigo Matheus, que já era dono de um
luxuoso hotel na época. Como meu negócio era novo, eu ainda não era
conhecido por muitas pessoas.
Entre uma conversa e outra, ele se interessou; até pela minha empresa
ser de Marketing, ou seja, prestávamos os nossos serviços com o propósito de
fazer com que os nossos clientes aumentassem as suas vendas virtualmente.
Ele acabou aplicando uma quantia de dinheiro considerável para que
pudéssemos investir em propagandas e, assim, conseguir conquistar mais
clientes.
— Você sabe que isso não vai acontecer, afinal, deixamos bem claro
um ao outro, que sairíamos sem qualquer compromisso. Não tenho e muito
menos preciso de um relacionamento agora em minha vida. Já tenho minha
empresa para me preocupar. — Fui taxativo, tentando enfiar isso em sua
cabeça de uma vez por todas.
Ela riu, enrolada em um lençol e, em seguida, caminhou em minha
direção, pousando seus braços ao redor do meu pescoço.
— Acha que vou esperar minha vida toda para que você tome uma
decisão, João Paulo? — Ingrid me encarou com afinco.
Soltei um riso de lado e terminei de fechar o zíper da minha calça.
— Não preciso que me espere, você sabe disso. — Peguei em seu
queixo e pisquei, de modo maroto.
Ela então desviou o olhar, parecendo chateada, e se afastou.
Entretanto, não me importei. Eu tinha mais com o quê me preocupar.
Terminei de me arrumar e deixei o quarto de hotel onde havíamos
passado a noite. Verifiquei o horário e vi que me atrasaria para a festa de
aniversário da minha mãe. Porra! Peguei o carro na saída do hotel com o
manobrista e saí cantando pneu.

ALGUNS DIAS DEPOIS…

— Tenho uma reunião com o Jin Yang daqui a alguns minutos, não
posso me atrasar — falei para a minha mãe ao telefone e depois de nos
despedir, deixei o meu apartamento.
Durante o percurso, verifiquei em meu celular o trajeto que o GPS
apontava e notei que estava indo ao lugar certo. Jin Yang era um chinês que
exigia profissionalismo e pontualidade. Ele havia marcado essa reunião de
última hora e estranhei o fato de ser no escritório da sua própria casa, porém
sequer perguntei sobre o assunto que trataríamos.
Quando cheguei ao lugar indicado, notei o quão poderoso o lugar era.
Ele não tinha uma casa, não! Era uma grande mansão, rodeada de seguranças
mal-encarados. Aproximei-me dos grandes portões e me identifiquei, só
depois de verificarem minhas informações, que a minha entrada foi liberada.
Fui recepcionado na porta de entrada por uma das empregadas da casa
e, ela me conduziu até o escritório dele. Tudo ali esbanjava luxo e poder.
Realmente fiquei impressionado.
As portas de madeira maciça foram abertas e avistei o Jin Yang
sentado em sua poltrona, atrás de uma mesa de vidro. Seus olhos puxados me
encararam e notei seu cabelo amarrado na parte de trás da cabeça. Ele fumava
um dos seus charutos que imaginei ser caríssimo.
— Como vai, João Paulo? — Seus olhos se repuxaram ainda mais
quando sorriu, quase se fechando.
— Vou bem, senhor Yang. — Demos um aperto de mão. —
Obrigado. — Agradeci quando me apontou a cadeira a frente da sua mesa
para que eu pudesse me sentar e, voltou para a sua poltrona.
— Está confortável? — Estranhei sua pergunta, mas eu ri
descontraidamente.
— Sim. — Afirmei e, ele se recostou na poltrona, parecia me analisar
enquanto soltava a fumaça no ar, sem desviar seus olhos dos meus. — Afinal,
do que se trata essa reunião? Há algo errado? — Fui direto ao ponto.
Ele soltou um riso amargo e, em seguida, pegou um controle sobre a
mesa. Franzi o cenho, sem entender.
— Vamos assistir a um vídeo juntos — concordei, e então ele apontou
o controle para o telão que tinha a nossa frente, aumentando o volume assim
que deu play.
Meus olhos faltaram saltar das órbitas quando me dei conta da mulher
que estava naquele vídeo. Ingrid se encontrava seminua, acuada em um
canto, iluminada apenas por uma fraca luz. Seu choro era audível e o
desespero era evidente ao vê-la naquele estado.
Seus olhos estavam vermelhos pelo choro. A face avermelhada dava a
entender que havia sido esbofeteada em ambos os lados do rosto.
— Pai, eu fui abusada e… — ela fungou, derramando-se em lágrimas
— O João Paulo é o responsável por eu estar neste estado. — Meus olhos
tomaram uma proporção maior ainda ao ouvi-la chamando-o de pai. Como
assim? Sequer tinham qualquer semelhança um com o outro. — E-ele é um
homem sem escrúpulos; completamente desumano! Não pode deixá-lo
impune. Olhe só o meu estado! — explicou, clamando por justiça.
— Quanto absurdo! Eu jamais faria isso! — Levantei-me do meu
assento, passando meus dedos furiosamente entre os fios do meu cabelo, sem
conseguir assimilar tudo aquilo. — Sequer tinha o conhecimento que ela era a
sua filha — me defendi.
— Então confessa que a conhece? — Olhei-o a tempo de vê-lo
abandonando seu charuto após apagá-lo sobre um cinzeiro.
— Eu a conheço, mas não significa que abusei dela. Sempre tivemos
sexo consensual. Nunca a tomaria à força! — O desespero era evidente em
minha voz, não queria ser preso por algo que não tinha culpa. Estava sendo
injustiçado ali.
Ele não disse nada, apenas apertou um botão que continha em sua
mesa e, em seguida, ouvi o barulho de uma porta se abrindo ao fundo do
cômodo. Ingrid entrou, toda trabalhada em sua beleza e batendo seus saltos
contra o piso. Coloquei uma mão na cintura, exasperado com tudo o que
estava acontecendo. Ela estava jogando comigo, não tive dúvida.
— Ingrid, eu exijo que me tire dessa enrascada que fez questão de me
enfiar. Desminta agora mesmo essa mentira descabida ao seu pai! — bradei,
extremamente apavorado.
Ela cruzou os braços e ficou próxima ao seu pai, que também estava
de pé.
— Você sabe que não é mentira, João Paulo. — Mirei meus olhos em
seu rosto, sentindo-me apático. Não estava acreditando que ela levaria aquele
absurdo adiante. Minha vontade era de esganá-la. — Mas eu tenho uma
proposta a te fazer. — Ela então caminhou até mim e parou em minha frente
com o nariz arrebitado.
— Proposta? — Minha pergunta saiu carregada de ironia. — Que
proposta teria para me fazer se não tenho culpa alguma do que alega que fiz?
— retruquei, impaciente com todo aquele jogo.
Ela soltou um riso de lado, não dando a mínima para as minhas
palavras.
— Eu não darei queixa de você, mas em troca, terá que se casar
comigo. — Deu sua cartada final.
Gargalhei alto, entretanto, assim que voltei o meu olhar para o seu
pai, percebi que ele me encarava com um semblante fechado. Ajustei minha
postura e alinhei o terno ao meu corpo.
— Está de acordo, pai? — Ela direcionou sua pergunta a ele.
Não era possível que ele aceitaria um absurdo desses!
— Se é o que deseja, eu estou de comum acordo, filha. — Ouvir
aquilo foi como uma sentença de morte para mim. Como ele aceitava sua
própria filha casar-se com seu suposto estuprador? Aquilo era insano demais.
— E então, o que me diz? — Ingrid agarrou-se ao meu pescoço e me
encarou com intensidade. Havia expectativa em seu olhar.
Mil vezes maldita!
— Tudo bem, eu aceito. — Ela riu, satisfeita, e beijou meus lábios
rapidamente. Seu pai esbanjou um sorriso não muito satisfeito, mas balançou
a cabeça em afirmativa.
Aceitar sua proposta foi como sentir uma faca sendo cravada em meu
peito, entretanto, não tive outra opção. Estava certo de que jamais perdoaria a
Ingrid por isso. Por ter destruído completamente a minha vida.
Capítulo 1

Três anos e meio antes…

Daniela

— É melhor termos essa conversa depois, Samuel — insisti mais uma


vez, enquanto ajustava a bolsa em meu ombro.
— Tudo bem, Daniela — ouvi seu suspiro cansado do outro lado da
linha e senti um aperto no coração. — Pode ao menos me esperar acordada
para que possamos conversar direito? — questionou no exato momento em
que as portas do elevador se abriram e dei de cara com o João Paulo.
Forcei um sorriso enquanto entrava e ele moveu a cabeça minimamente
em um cumprimento. Apertei o botão correspondente ao andar que ficava o
setor de marketing e fiquei de costas para ele.
— Eu não prometo que conseguirei, entretanto, posso tentar. — Eu era
uma tremenda mentirosa e certamente Samuel percebia isso.
— Olha, Dani… — tentou argumentar e o interrompi:
— Vou ter que desligar. Beijos! — Não esperei que se pronunciasse e
encerrei a ligação.
Soltei o ar que nem havia percebido que segurava, sentindo-me uma
completa covarde. Havia alguns dias que estava evitando ficar acordada à
espera do Samuel. Eu sempre chegava mais cedo que ele e quando via que se
aproximava do horário de sua chegada, corria para a cama e fingia estar
dormindo. No dia seguinte, pela manhã, deparava-me com ele questionando
se eu me encontrava bem e, eu argumentava que, ultimamente, o trabalho
andava me deixando completamente exausta e por isso apagava depois de
deixar o jantar pronto.
Estávamos morando juntos há seis meses, e eu gostava dele, tanto que
sempre tentei ser a namorada ideal, mas isso mudou há alguns dias, pelo fato
de ele ter mencionado que teria que fazer uma viagem para tentar a todo custo
que o dono de uma famosa e bem antiga vinícola, assinasse o contrato de
venda para a empresa em que trabalhava e, caso obtivesse sucesso, teria que
ficar por lá durante quase um ano. Saber disso me desestruturou, pois jamais
ficaria em seu caminho o impedindo de fazer o necessário para ter o cargo
que tanto almejava desde que o conheci. Não sabia ao certo se teria vocação
para manter um relacionamento à distância. Por mais que ele tivesse me
proposto a ir junto, eu não podia; tinha uma vida e um trabalho.
Bufei ao fitar o painel, onde mostrava que meu andar se aproximava e
senti certa tristeza ao constatar que, talvez, a única solução seria dar um
tempo em nosso relacionamento, assim ele não precisaria se preocupar
comigo e teria a sua mente livre, para articular várias maneiras de conseguir
realizar o seu objetivo. Nós éramos perfeitos juntos, só que depois que ele me
contou sobre a possível viagem com volta dentro de quase um ano, nosso
namoro esfriou. Na verdade, eu me sentia confusa; sem saber realmente o que
fazer.
Respirei fundo e soltei o ar rapidamente.
Ao abrir minhas pálpebras, encarei a lateral espelhada do elevador e só
então me dei conta da figura ereta do João Paulo atrás de mim, que por
alguns instantes, até acabei me esquecendo que se encontrava ali.
Assim que ele notou que eu olhava o seu reflexo, uma de suas
sobrancelhas se arqueou e encostei-me à lateral, ficando de lado.
— Problemas? — ouvi sua pergunta inesperada e comprimi os lábios em
um sorriso ameno.
— É, acho que sim. — Dei de ombros e o observei. De repente, minha
testa enrugou-se, pois havia me tocado de que aquele não era o seu elevador,
já que tinha um privativo na empresa, apenas para o seu uso. — Desculpe
perguntar, mas… acaso não pegou o elevador errado? — Não contive a
minha curiosidade.
Ele soltou um riso de canto com suas mãos descansando nos bolsos
dianteiros de sua calça.
— Não. Estou no elevador correto. — Foi somente o que respondeu e
decidi não o importunar mais com minhas perguntas, afinal, eu não tinha
nada a ver se ele estava no elevador errado ou não.
Naquele momento, o elevador parou no meu andar e saí sem olhar para
trás.
Empurrei a porta de vidro e coloquei a minha bolsa sobre o tampo da
mesa, tomando o meu assento em seguida. Thiago ainda não tinha chegado e
comecei a olhar alguns papéis que haviam sido deixados para mim.
Encontrava-me concentrada, há poucos minutos, em meus afazeres,
quando alguém entrou na sala e vi que se tratava do João Paulo. Já era a
segunda vez que eu ficava surpresa ao vê-lo no mesmo dia, por atos que não
eram costumeiros da sua parte, entretanto, tentei ao máximo não demonstrar
meu espanto.
— Posso ajudá-lo, senhor? — indaguei, olhando-o, mas ainda sentada.
— Eu queria falar com o Thiago, no entanto, parece que ele ainda não
chegou — frisou, encarando-me demoradamente.
— Eu posso avisá-lo quando ele chegar para ir até a sua sala, caso
prefira — pontuei.
Seu olhar desviou-se do meu e fitou o chão, atitude essa que durou
poucos segundos.
— Hum… não será preciso, até pela sua função não ser essa. — Diante
de sua declaração, preferi ficar calada e ele me encarou com afinco. — Mas
vou pedir que a minha secretária entre em contato com ele assim que chegar
— informou e saiu.
Mesmo achando estranho sua aparição repentina ali, não pude deixar de
notar seu tom grosseiro. Entretanto, não dei muita importância, afinal, eu
tinha trabalho a fazer.
∞∞∞
O restante da semana passou rápido e, o auge, foi receber convites do
próprio João Paulo para almoçar com ele. No primeiro dia que o meu ramal
tocou, eu tive que segurar firme no apoio da minha cadeira, tamanho foi a
surpresa quando o ouvi se identificar do outro lado da linha. A verdade é que,
momentaneamente, fiquei sem voz e, ao questioná-lo sobre o que desejava,
foi bem direto: — Quero que almoce comigo, o que me diz?
Não houve enrolações, o que me deixou atônita. Claro que eu recusei,
não só esse, mas os seguintes também, já que nos outros dias isso se repetiu.
Apesar de o meu relacionamento com o Samuel ter dado uma murchada, isso
não me dava o direito de enganá-lo, além do mais, ele podia ser lindo de
morrer, porém, era casado e, eu tinha plena consciência de que deveria me
manter o mais distante possível. Já tinha preocupações o suficiente e não
precisava de mais uma em minha vida.
Enfim, enquanto a minha mente traidora pensava nos inúmeros “nãos”
que eu tinha dado durante a semana, ao homem lindo e proibido do meu
chefe, deixei de lado os papéis que estavam em minhas mãos sobre a mesa,
pois não consegui me concentrar em mais nada. Minhas divagações se
dissiparam ao avistar Thiago entrando na sala. Ajustei minha postura, para
então, voltar ao trabalho, entretanto, sua voz me parou.
— Terminou de fazer as anotações do projeto que te pedi, querida?
— Quase terminando — avisei.
— Ótimo! Assim que finalizar, está dispensada. — Abri um amplo
sorriso e tratei de agilizar o meu trabalho.
Pouco tempo depois, peguei minha bolsa e, ao agradecer o Thiago pela
gentileza de me dispensar mais cedo, saí da sala e trilhei até parar de frente ao
elevador. Ouvi algumas vozes e quando olhei para trás, João Paulo
conversava com dois homens tão lindos e sérios quanto ele. Voltei minha
atenção para as portas do elevador que logo se abriram e agradeci
mentalmente, pois estava evitando me encontrar com ele pela empresa. Eu
sabia que isso não funcionaria por muito tempo, já que o próprio sabia onde
me encontrar.
Acionei o botão que me levaria ao estacionamento e sorri, alegre, uma
vez que, eu faria uma surpresa ao Samuel. Ele havia me avisado que também
chegaria antes do horário que costumava chegar, já que na segunda-feira
viajaria. Tinha decidido que o esperaria retornar. Lógico que havia sido
difícil tomar essa decisão, mas compartilharia isso com ele quando chegasse
no apartamento.
Deixei o elevador, assim que as portas se abriram e caminhei até entrar
em meu carro. Confiante, joguei a bolsa sobre o banco do carona e girei a
chave na ignição, dando partida no carro. Coloquei o veículo em movimento
e saí do estacionamento da empresa, pegando a estrada.
Para uma sexta-feira, até que o trânsito estava calmo, e dentro de pouco
tempo cheguei até o condomínio que morava. Depois de deixar o
estacionamento e pegar o elevador, logo me vi caminhando até a porta do
apartamento.
Respirei fundo ao entrar e fechei a porta, silenciosamente. Notei que a
pasta do Samuel se encontrava sobre o sofá e coloquei minha bolsa ali
também. Tirei meus saltos com a intenção de não fazer barulho. Segurando-
os em uma de minhas mãos, caminhei pelo corredor até chegar em nosso
quarto a fim de surpreendê-lo, mas fui eu a surpreendida, quando o vi apenas
com uma toalha envolta de sua cintura.
Aproveitei sua distração enquanto encontrava-se de costas, e entrei no
cômodo depositando meus saltos, próximo a porta com extremo cuidado. Em
seguida, caminhei até ele, abraçando-o por trás e espalmei minhas mãos em
seu peitoral.
— Oi, lindão! — Assim que me pronunciei, Samuel virou-se
rapidamente e, eu notei seus olhos assustados.
— Daniela? O que faz aqui tão cedo? — Afastei-me, minimamente, e
não pude deixar de notar o seu nervosismo.
Franzi o cenho, sem entender sua reação.
— Eu saí mais cedo do trabalho. Isso é um problema pra... — não tive
tempo para concluir a minha pergunta, pois minha atenção foi tomada pelo
barulho da porta do banheiro se abrindo e identifiquei a figura da melhor
amiga dele, a Vanessa, saindo dali. Seus cabelos estavam molhados e ela
usava uma de suas camisas.
— Que merda! — Samuel xingou.
Soltei um riso amargo.
— Agora está explicado o porquê de ter ficado tão apavorado com a
minha aparição repentina, não é mesmo? — inquiri, mesmo com a resposta
sendo esfregada em minha cara. Um nó se fez presente em minha garganta,
dificultando-me de engolir a saliva.
— Daniela, me deixa explicar — pediu e caminhou em minha direção,
mas me afastei, assim que tentou me tocar.
Sentia-me magoada com o que estava presenciando.
— Eu acho que já vi o suficiente, não necessito de mais explicações, se
é que exista algo plausível para isso. — Gesticulei entre eles.
— Dani... — Vanessa tentou falar, mas a impedi de continuar:
— Olha, faça um favor para mim: não me dirija a palavra. — A verdade
é que eu queria grudar no pescoço dela e no do Samuel, porém, não me
sujeitaria àquele despeito.
Caminhei até a porta e após recolher meus saltos, saí do quarto,
entretanto, logo fui parada, pois Samuel segurou acima do meu cotovelo,
forçando-me a ir de encontro ao seu corpo.
— Daniela, por favor…
Puxei meu braço do seu agarre e mantive uma distância segura entre nós
dois. Lágrimas inundaram os meus olhos e algumas escorreram pelo meu
rosto.
— Eu cometi o erro de tê-lo aceitado tão rápido em minha vida, mal
sabendo que seria isso que ganharia de você, Samuel, contudo, isso acaba
aqui. — Alcancei a aliança de compromisso em meu dedo e joguei contra ele.
— Aproveita e coloque no dedo dela. Vocês se merecem!
Samuel abaixou a cabeça em sinal de lamento e aproveitei para sumir dali
o mais rápido que conseguisse.
Ao passar pela sala, peguei a minha bolsa e abri a porta, deixando o
molho de chaves que me pertencia ali mesmo. Não precisava mais delas,
sequer pegaria as minhas coisas.
Não queria me lembrar que Samuel havia existido, muito menos desse
dia trevoso em minha vida.
Entrei no elevador e o vi parado na porta do apartamento. Tristeza
estampava o seu olhar, enquanto balançava a cabeça em negativo, mas fingi
indiferença, até tentou argumentar mais alguma coisa, só que não deu tempo,
pois as portas se fecharam e me permiti chorar copiosamente. Tamanho era a
minha decepção.
Tentei conter as lágrimas e logo que entrei em meu carro, disquei o
número da única pessoa que poderia ser o meu refúgio naquele momento.
— Oi, amiga. — falei, assim que Amanda atendeu. — Preciso de um
ombro para chorar. — Funguei em meio a um riso sem graça. — E saber se
me aceita de volta no apartamento. — Amanda e eu dividíamos um
apartamento, desde que viramos melhores amigas após nos conhecermos na
faculdade, mas saí de lá, quando decidi aceitar a proposta repentina do
Samuel para morarmos juntos, mesmo com apenas algumas semanas de
namoro na época.
— Ai, Dani! Como assim um ombro para chorar? Espera! Voltar para o
apartamento? — inquiriu, preocupada.
— Eu te explico quando nos encontrarmos. Já saiu do hotel? — Olhei no
retrovisor e limpei os rastros das minhas lágrimas, conseguindo contê-las
minimamente.
— Acabei de sair — informou.
— Já pegou um táxi?
— Ainda não.
— Me espera que já chego aí. — Ela respondeu com um “ok” e deixei o
prédio em seguida.
Saí dali, sentindo-me completamente desolada com o que tinha
acontecido. Jamais teria previsto que Samuel me enganaria dessa forma.
Enquanto fazia o percurso, cheguei à conclusão de que eu devia me manter
longe de homens, pelo menos, por um tempo.
Capítulo 2

Daniela

— Outro pote de sorvete? — Amanda perguntou ao passar pela


sala e ir em direção a cozinha. — Não seria mais fácil aceitar uma das
ligações dele e ouvir o que tem a dizer? — gritou de dentro do cômodo.
Dei mais uma colherada, levando-a a boca e ignorei seus
questionamentos. Era noite de domingo e, eu só queria apagar de uma vez por
todas, para acordar no dia seguinte e ir trabalhar, já que mal preguei os olhos
noite passada. Fiquei repassando toda a cena que presenciei do Samuel com a
Vanessa em minha mente, tentando achar algo que me fizesse acreditar que a
minha atitude tivesse sido completamente precipitada, como a Amanda
supôs, assim que contei para ela, entretanto, não encontrei.
— Dani! — Amanda proferiu meu nome de modo repreensivo.
Continuei fingindo não ouvir. — Olha, pensa bem. — Ela sentou-se ao meu
lado no sofá e, eu a olhei de soslaio. — O Samuel estará viajando amanhã,
ficará quase um ano fora, não acha que deveria tirar suas dúvidas antes de ele
partir? Prefere mesmo ficar no escuro, sem saber ao certo o que de fato
aconteceu entre ele e a amiga dele? Se é que realmente tenha tido algo entre
os dois — inquiriu, fazendo-me encará-la em seguida.
— Sério que tá me falando isso? O fato de ele estar de toalha e ela
deixar o banheiro vestindo apenas uma de suas camisas não quer dizer nada
para você? — indaguei, irritada.
— Tá legal! Claro que isso já é comprometedor, mas pode ser que…
— tentou opinar, porém, a interrompi.
— Não erámos para dar certo, apenas isso. Aliás, já está na hora de eu
me deitar. — Amanda soltou um longo suspiro ao ouvir minha desculpa para
fugir daquele assunto e levantei do sofá, indo até a cozinha descartar o pote
de sorvete que eu havia secado e fiz o percurso de volta, seguindo para o meu
quarto.
— Espero que tenha uma boa noite, Dani. — A ouvi gritar da sala
assim que entrei no meu quarto, trancando a porta.
Deitei em minha cama e peguei o celular sobre a mesinha de
cabeceira. Meu coração batia acelerado e meus olhos umedeceram ao ver na
tela, diversas chamadas perdidas do Samuel. Segurei o aparelho apertando-o
em meu peito e fechei meus olhos, comprimindo meus lábios em sinal de
tristeza.
Eu queria muito ir atrás dele e deixá-lo se explicar, mas não via muito
sentido nisso. Já estava magoada o suficiente e, ir ao seu encontro para ouvi-
lo confessar que realmente tinha me traído, me machucaria ainda mais. Abri
meus olhos ao pensar sobre isso e tomei uma decisão. Olhei o celular e ao
abrir os contatos, bloqueei o número dele e o excluí em seguida.
Naquele momento, me pareceu o certo a ser feito. Em seguida, sem
me dar o trabalho de ler suas mensagens, as selecionei e excluí. Não foi uma
decisão fácil a ser tomada, considerando que eu gostava muito do Samuel.
Entretanto, ter minha mente livre de pensamentos dolorosos e poupar o meu
coração de mais feridas desnecessárias era o mais sensato.
Mesmo com meus olhos nublados pelas lágrimas não derramadas,
coloquei o aparelho de volta onde estava e me cobri com um lençol fino.
Jurei a mim mesma que não choraria e foi o que eu fiz. Segurei o choro até
ser tomada pelo sono profundo.
∞∞∞

— Tudo que eu desejava, um belo dia de chuva — reclamei ao entrar


na cozinha.
Amanda riu.
— Eu acharia ruim, caso tivesse que sair na chuva para pegar um táxi
e ir para o trabalho, mas como você vai me deixar lá, não tenho do que
reclamar. — Ela argumentou, dando de ombros ao finalizar.
— Não me lembro de ter te oferecido carona. — Me fiz de
desentendida.
— Você ofereceu, acredite — brincou e rimos.
Terminamos de tomar café e logo deixamos o apartamento. Por causa
da chuva intensa, o trânsito não estava ao nosso favor. Deixei Amanda em
frente ao hotel e segui para o meu trabalho, que ficava há poucos minutos
dali.
Assim que estacionei o carro, peguei minha bolsa e corri para dentro
do prédio. Cruzei o hall a tempo de entrar no elevador que estava de portas
abertas. Meu celular começou a tocar e assim que identifiquei o nome do meu
pai na tela, atendi rapidamente.
— Oi, pai! — o saudei.
— Oi, filha! Como vão as coisas? — indagou. Apesar de o meu pai
ser um senhor carrancudo, tínhamos uma boa relação.
— Não estão indo conforme o planejado, mas vou ficar bem —
mencionei, lembrando-me do meu término com o Samuel.
— Hum… estou notando certa tristeza em seu tom de voz. — Não era
uma pergunta. Meu pai sentia quando eu estava uma completa bagunça.
Saí do elevador e assim que entrei na sala, Thiago mirou seus olhos
em mim e dei um riso sem graça, pois eu estava alguns minutos atrasada.
— Agora não vai dar para explicar, pai. Tenho que trabalhar, mais
tarde nos falamos. Dê um beijo na mamãe, tchau! — Ele se despediu
rapidamente e liguei meu computador.
— Bom dia, Dani. Analisei as anotações que fez como sugestões para
o melhoramento do projeto que fez na sexta-feira e, eu gostei, mas ainda
temos que discutir alguns pontos. Quero que esse novo projeto de marketing
para o site da empresa saia perfeito! — pediu.
— Tudo bem — respondi, satisfeita por ele ter gostado das minhas
sugestões.
Thiago era um ótimo chefe, a não ser quando se desentendia com o
seu companheiro, o Bruno. Geralmente quando isso acontecia, ele chegava
dando ordens pelos cotovelos, algo que me esgotava fisicamente e
mentalmente. Não podia me esquecer do fato de ele querer sempre levar o
crédito em cima de todos os projetos de marketing da empresa que eu o
ajudava a criar, porém, não me importava muito, já que amava o meu
trabalho.
Enquanto discutíamos sobre os melhoramentos a serem feitos em um
ponto ou outro que rabiscamos sobre o projeto, sequer vi as horas passarem,
quando nos demos conta, já era hora de almoço. Sendo assim, deixamos tudo
de lado e tratamos de ir almoçar. Seguimos caminhos diferentes ao sair do
prédio e, eu entrei em um restaurante que ficava próximo dali; fui
caminhando mesmo, pois aproveitei que a chuva tinha dado uma trégua e
também precisava espairecer.
Como o trabalho acabou preenchendo a minha mente durante toda a
manhã, nem mesmo tive tempo para pensar no Samuel. Entrei no restaurante
e tomei um dos assentos. A comida cheirava bem e logo fiz o meu pedido.
Durante a minha espera, peguei o celular e disquei o número do meu pai, com
a intenção de contar a ele sobre o fim de mais um dos meus relacionamentos
fracassados.

∞∞∞

Depois de ter conversado com o meu pai — que acabou passando a


ligação para a mamãe a fim de me acalentar — eu terminei o meu almoço e
voltei para o trabalho. Assim que parei em frente às portas do elevador, eu
cruzei os braços e a imagem dos olhos verdes intensos do Samuel preencheu
a minha mente, ao mesmo tempo em que senti um aperto forte em meu
coração. Questionei-me se ele realmente havia ido em sua viagem, mas logo
me dei conta de que meu cérebro não deveria estar processando sobre o meu
ex.
Espantei meus pensamentos e olhei para os lados, a fim de mudar o
foco, só que acabei avistando o João Paulo conversando com alguns homens.
Para a minha sorte, o elevador parou e suas portas abriram, salvando-me de
ver vista por ele, pois estava de costas e tratei de entrar logo no mesmo.
Quando cheguei em minha sala, Thiago já se encontrava à minha espera para
continuarmos de onde havíamos parado.
As horas que sucederam entre uma sugestão ou outra para o projeto
acabaram me fazendo esquecer da minha vida pessoal. Quando deu por volta
das 18hs, Thiago havia conseguido juntar todas as ideias para, enfim,
transformar em seu melhor trabalho. Quando deu nossa jornada do dia como
encerrada, deixou a sala quase saltitante, de tão entusiasmado para preparar
tudo o mais rápido possível e mostrar ao nosso chefe, o João Paulo.
Para o meu total azar, mais uma vez a chuva estava a todo vapor do
lado de fora. Bufei, contrariada, uma vez que, já sabia que enfrentaria um
trânsito caótico para casa.
Assim que cheguei ao estacionamento, peguei minhas chaves e abri a
porta do carro. Entrei em seu interior jogando a bolsa sobre o banco do
carona. Passei o cinto de segurança e girei a chave na ignição, mas para
completar o dia, simplesmente, o bendito não ligou. Tentei mais algumas
vezes somente para me irritar e ficar um pouco mais apavorada do que já me
encontrava.
— Que grande merda! — Saí do carro, batendo a porta com força,
demonstrando o grau da minha irritação. — Não basta a minha vida estar
uma grande droga, o carro também tem que dar problema só para esfregar na
minha cara que nada está tão ruim que não pode piorar! — frisei, jogando as
mãos no ar. Abri o capô do bendito para ver se eu conseguiria identificar o
que estava acontecendo.
— Algum problema? — Girei, rapidamente, em meus calcanhares ao
ouvir a voz do João Paulo, que me encarava com afinco.
— Parece que sim. — Dei um meio sorriso e voltei o meu foco ao
carro.
— Me deixa ajudá-la. — Quando o olhei novamente, ele já havia
depositado sua pasta sobre o capô do carro ao lado e também se desfez do seu
paletó, colocando-o junto. Em seguida, dobrou as mangas de sua camisa
social até os cotovelos. O assisti, boquiaberta, mas claro que dei uma
disfarçada para não ser pega em flagrante.
— Não precisa se incomodar, eu dou…
— Só me diz o que aconteceu com o carro. — Ele me interrompeu,
pondo-se ao meu lado e descansando suas mãos na beirada do capô do
veículo.
Respirei fundo e o respondi:
— Não quer pegar. Girei a chave várias vezes, mas não pegou —
expliquei.
— Hum… — foi apenas o que resmungou e apertou alguns cabos.
Observei-o mais do que o normal e, ao me dar conta disso, desviei
minha atenção dele e encostei-me no carro, aguardando alguma notícia.
— Tenta dar partida para ver se vai pegar — sugeriu e entrei no carro,
fazendo exatamente o que falou e o motor ganhou vida.
Um sorriso tomou conta do rosto dele, que fechou a tampa do capô.
— O que você fez? — indaguei, curiosa e feliz por ele ter feito o
veículo funcionar. Saí do carro e o encarei, encostada na parte da frente do
carro.
— Parece que alguns cabos da parte elétrica estavam meio folgados.
Aconselho que leve seu veículo para uma avaliação em uma mecânica. Evita
que problemas maiores possam acontecer como, por exemplo, você acabar
ficando no “prego” em alguma estrada deserta — proferiu, enquanto
arrumava as mangas de sua camisa e vestia seu paletó.
— Bom saber. — Comprimi meus lábios em um gesto de gratidão. —
Obrigada pela ajuda.
Quando me virei para entrar no carro, meu pulso foi tomado por uma
de suas mãos.
— Espere! — pediu e o fitei com o cenho franzido. — Por que nunca
aceita os meus convites para um almoço? — Por um momento, eu sorri,
pensando que aquilo pudesse ser uma piada, mas seu semblante tornou-se
sério e soltou o meu pulso.
— Eu nem sei o porquê de estar me questionando isso, mas a resposta
para a sua pergunta, já é meio óbvia, não acha? Afinal, você é um homem
casado! — frisei.
Ele desviou seu olhar do meu e soltou um riso amargo, voltando a me
encarar em seguida.
— É apenas um almoço — insistiu.
— Não é uma boa ideia — dei a minha opinião.
Ele mordeu o lábio inferior e se aproximou ainda mais, fitando-me e,
eu acabei engolindo em seco.
— Poderíamos ser bons amigos, o que acha? — Sua sobrancelha
arqueou-se em sinal de desafio e, eu ri.
— Primeiro, você é o meu chefe e, geralmente não costumo ter
amizades com chefes. Segundo, é um homem casado, o que piora ainda mais
a situação para sermos amigos. Terceiro e último, isso não é certo. — Fui
sincera, achando toda aquela conversa bem estranha.
— Ok. Acho que não consegui te convencer — pontuou e, eu afirmei,
acenando com a cabeça. — De qualquer forma, me deve um almoço pela
minha ajuda.
Gargalhei.
— Muito persuasivo, mas não vai rolar. — Ele então se afastou e deu
um longo suspiro.
Entrei no carro e dei partida no veículo.
— Um dia conseguirei te convencer a sair comigo, garota difícil —
disse ao se aproximar da janela.
— Até mais, chefe. — Dei uma piscadela e, ele riu.
Saí dali o mais rápido que pude. Afinal, o que tinha acontecido ali?
Não era para a minha boca estar seca, muito menos estar com um sorriso
idiota nos lábios. João Paulo pertencia à outra mulher. E, eu?
Definitivamente, tinha que me manter o mais distante possível. Ele não era
homem para mim.
Capítulo 3

João Paulo

Depois de, literalmente, ter levado mais um fora da Daniela, peguei


o meu carro e fiz o percurso até o meu apartamento, lugar aonde vinha
passando alguns dias, a fim de resgatar o homem que fui no passado, antes de
toda essa merda de casamento acontecer. A chuva estava mais forte e o
trânsito era lento. Coloquei numa estação de rádio qualquer e uma música
romântica começou a tocar.
Soltei o ar, incomodado, e o desliguei, deixando apenas o silêncio
como minha única companhia. Depois de meia hora num engarrafamento,
entrei no estacionamento do prédio e deixei o meu carro ao me apossar da
minha pasta. Subi alguns degraus antes de chegar à portaria e xinguei
mentalmente ao me deparar com a Ingrid parada ali.
— Não errou de endereço? — Passei por ela e fui direto para o
elevador.
— Acabei de chegar de viagem, meu coala. — Eu odiava aquele
apelido. Ela começou a me chamar dessa forma, porque esse tipo de animal
amava viver sozinho e tinha hábitos noturnos, assim como eu.
— Já falei para não me chamar assim, porra! — vociferei.
— O que foi? Coala é o meu animal favorito, você sabe disso —
zombou.
Olhei-a de soslaio vendo-a esbanjar um sorriso debochado. Fechei
uma de minhas mãos em forma de punho, tentando controlar a minha ira
diante do modo que se referia a mim. Permaneci na minha, uma vez que, não
queria dar atenção a ela.
Perante o meu silêncio, voltou a me importunar:
— Aliás, eu creio que merecia ser recebida um pouco melhor, não
acha? — Entrei no elevador e ouvi o barulho das rodinhas da sua mala,
enquanto ela a arrastava para dentro. — Também deveria me ajudar com essa
mala, está pesada! — reclamou.
Olhei-a ao me posicionar dentro do elevador e não me movi para
ajudá-la. Ela que se virasse!
— Se te trato tão mal, por que não foi direto para a sua humilde
residência? Ou melhor, por que não me dá logo o divórcio que anseio há
anos? Garanto que se fizesse isso, nunca mais precisaria ser destratada por
mim, fato que ama frisar. — Não medi palavras. Queria mesmo que ela
sentisse o quanto eu desejava ser livre; ter a minha vida de volta.
Acionei o botão que nos levaria até o meu andar e começamos a subir.
— Eu pensei que após chegar de viagem, seria recebida com mais
afeto. Não posso acreditar que mesmo tendo se passado quatro anos desde
que nos casamos, e mesmo depois do fato ocorrido há três anos, você não
tenha nutrido nenhum sentimento por mim, a ponto de não se importar com
nada que eu faça da minha vida, João Paulo! — As portas metálicas se
abriram, salvando-me de ter que ouvir mais de suas ladainhas.
Caminhei, escutando Ingrid vir ao meu encalço e parei de frente a
minha porta. Peguei as chaves em um dos bolsos internos do meu paletó e a
destranquei, entrando sem me importar com ela. Aproveitei para ir
afrouxando a gravata e deixei minha pasta sobre a mesa de canto que havia
na sala.
— Eu pensei que pudéssemos relembrar os velhos tempos. — Ingrid
passou suas mãos pela minha cintura e as espalmou sobre o meu peitoral por
cima do tecido da camisa que eu usava por baixo do paletó, que se encontrava
aberto.
Admirava-me o fato de eu sempre tratá-la com ignorância, mas que
ela sequer se importava. Era como se nada do que eu falasse ou fizesse, fosse
levado em consideração. Ingrid sabia demonstrar completa indiferença
quanto aos meus destratos a ela.
— Não força, Ingrid. Você sabe que nunca mais terá isso de mim —
pontuei, afastando suas mãos. Em seguida, caminhei até a cozinha. Precisava
de algo para umedecer a minha garganta. Ter ela tão perto era como um
verdadeiro pesadelo.
— Eu estava pensando... Talvez se aquele incidente não tivesse
acontecido três anos atrás, a gente poderia ter tido um casamento diferente.
Estaríamos sendo felizes — frisou e a ouvi, enquanto ingeria um pouco de
água.
Recostei na pia e a encarei, vendo-a encostada no batente da porta
com os braços cruzados e a cabeça erguida.
— É, tem razão. Se aquele incidente não tivesse acontecido, eu teria
outra vida. Não estaria num casamento que nunca desejei. Talvez eu estivesse
casado, mas com alguma mulher que eu realmente amasse e que jamais
precisaria usar chantagem para me manter ao seu lado.
Ingrid me fitou com certa fúria.
— Tudo aquilo aconteceu por sua causa, não sabe? Você foi o
culpado! — acusou-me, convicta sobre suas palavras.
— Talvez seja por isso que ainda te suporto, apenas por realmente me
sentir culpado — soei gélido.
— Olha aqui… — ela deu alguns passos em minha direção,
demonstrando irritação e tratei de interrompê-la:
— É melhor ir embora. Não tem nada que possa estar fazendo aqui.
—Fui rude.
Terminei de tomar a água e deixei o copo dentro da pia. Cruzei o
cômodo e antes de passar pela porta, Ingrid agarrou o meu braço.
— Será que realmente não sente nada por mim? — Nossos olhares
estavam fixos, um no outro e o canto da minha boca repuxou-se em um riso
amargo.
Aproximei-me ainda mais dela, vendo seus olhos ganharem certo
brilho, e após deixar nossos rostos bem próximos, acariciei sua bochecha com
o dorso dos meus dedos, assistindo-a fechar suas pálpebras, como se
absorvesse o meu toque.
— Na verdade, eu sinto algo por você… — ponderei, voltando a ter
seus olhos mirando os meus — ódio! — Após dizer isso, seu semblante se
fechou. — Agora, faça o favor de sair daqui — ditei, caminhando para longe
dela.
— Ainda o verei apaixonado por mim, João Paulo, pode ter certeza
disso. — Ingrid bradou, enquanto segui pelo corredor em direção ao meu
quarto.
A porta foi batida com mais força do que o necessário. Tirei meu
paletó e gravata, jogando-os sobre a cama e cruzei o cômodo, abrindo a
cortina que cobria a parede de vidro que existia ali. Prostrei-me diante da
mesma, admirando a vista privilegiada que eu tinha dali de cima.
Observei que a chuva continuava intensa; e descansei uma de minhas
mãos no bolso dianteiro da minha calça social. Sentia certa angústia, como se
algo pesasse em meu peito. Não demorou até que lembranças de três anos
atrás tomassem a minha mente.
A noite se encontrava estrelada, enquanto eu atravessava os portões
da residência do senhor Jin Yang. Ingrid havia feito questão que nos
reuníssemos em um jantar na casa do seu pai, pois segundo ela, teria uma
notícia para nos dar. A verdade é que eu aceitei de imediato, pois tinha a
intenção de lhe falar algo; tratava-se de uma decisão tomada por mim e
seria bom ter a família reunida para isso.
Estacionei próximo à entrada da casa e, ao sair do carro, vi um dos
seguranças abrindo a porta para a minha mãe que me acompanhava, já que
Ingrid preferiu vir antes. O agradeci quando os alcancei e minha mãe
entrelaçou seu braço ao meu. Subimos alguns degraus e fomos
recepcionados pela governanta.
Assim que Ingrid me avistou, veio ao meu encontro e depositou um
selinho rápido sobre os meus lábios, algo que eu permitia quando o bom
humor me acompanhava, o que era o caso dessa noite. Fomos levados até a
sala de jantar, onde a mesa já estava posta. Não me passou despercebido que
a quantidade de comida que tinha ali, daria para muito mais pessoas do que
as poucas que estavam presentes, afinal, era somente eu, minha mãe, Ingrid,
seu pai e alguns amigos próximos.
Cumprimentei o seu pai com um leve aceno de cabeça. Não éramos
um sogro e genro invejáveis. As poucas vezes em que nos sentávamos para
conversar, resumiam-se somente a empresa e nada mais.
Todos se acomodaram em seus lugares à mesa. Minha mãe sentou-se
ao meu lado direito, enquanto Ingrid, no esquerdo. Nos servimos e entre uma
conversa e outra que os convidados tinham, acabamos de jantar e antes de
servirem a sobremesa, Ingrid se levantou, chamando a atenção dos demais.
Não podia mentir e dizer que não estava intrigado para saber do que
se tratava o seu pronunciamento, mas admito que ansiava muito que ela
dissesse logo para que eu pudesse, finalmente, anunciar que estaria entrando
com o pedido de divórcio. Via-me cada vez mais eufórico para este
acontecimento, mal cabia em mim por saber que, brevemente, voltaria a ser
solteiro e teria minha vida de volta, sem toda essa palhaçada que me submeti
a viver, há um ano, por causa de uma chantagem estúpida. Entretanto, se
não tivesse aceitado, poderia ter acabado não só com o meu negócio — que
havia dado um duro danado para que desse certo — mas também com o meu
nome; e é certo que se isso acontecesse, eu jamais conseguiria me reerguer.
Ingrid começou a falar:
— Como sabem, convidei todos vocês para dar uma notícia do que
descobri recentemente. Já estava eufórica por essa noite. — Ela sorria
imensamente quando seu olhar se fixou ao meu, era como se estivesse quase
explodindo de tanta felicidade.
Franzi o cenho, mas sem demonstrar o quanto sua felicidade exposta
estava me deixando duvidoso. Peguei a taça de champanhe e levei até a
boca, sorvendo um pouco da bebida, mas não tinha me preparado para o que
ouvi a seguir:
— João Paulo, eu estou grávida. Vamos ter um bebê! — Cuspi a
bebida sem ter certeza sobre o que ela tinha acabado de revelar.
Grávida? Que porra era essa?
— Está tudo bem, querido? — Minha mãe perguntou, enquanto
afagava as minhas costas.
— Eu… — tossi algumas vezes, mas a respondi quando consegui me
recompor — estou bem, mãe. Obrigado. — Comprimi meus lábios em um
sorriso ameno e, ela sorriu de volta.
Então, Ingrid pegou em minha mão, me fazendo ficar de pé e ficamos
frente a frente.
— Não é fantástico, meu amor? — Eu queria dizer a ela que era a
pior notícia da minha vida, contudo, não podia, porque, infelizmente, se ela
havia conseguido a proeza de engravidar, não era somente sua culpa. Eu
poderia dizer ali, naquele momento, que pretendia pedir o divórcio e tirar de
uma vez por todas o sorriso amplo que esbanjava nos lábios, entretanto,
estaria agindo feito um cretino a fazer algo assim, afinal, mantivemos
relações sexuais durante esse tempo. Como não o faria? Ingrid, apesar de ter
me feito odiá-la por ter me forçado a casar com base em uma chantagem,
ainda assim, era uma mulher bonita, e eu? Um homem que tinha suas
necessidades carnais. Não conseguia me manter indiferente quando a
encontrava nua debaixo dos lençóis da cama em que compartilhamos,
porque até a isso me submeti; ou com alguma lingerie sexy me aguardando
no momento em que eu chegava cansado da empresa e só desejava relaxar.
Então me vi respondendo:
— Sim, é fantástico. — Enquanto proferi aquelas palavras, pude
sentir meu coração se estraçalhando em milhares de pedaços. Minha
frustração era tão grande, que sequer pude sorrir direito e creio que os
convidados devem ter percebido.
Ingrid me abraçou com extrema felicidade, beijando-me
demoradamente em seguida. Todos os convidados nos parabenizaram e
minha mãe não escondeu o quão contente se encontrava com a notícia. Mal
sabia ela que eu estava nesse casamento apenas por conta de uma
chantagem, pois durante todo esse tempo, não tive coragem de contar.
Lembrava-me que, aquela noite foi um belo desastre. Destruiu
completamente os planos, totalmente opostos, que eu tinha planejado e, que a
deixaria ciente naquele jantar. Ingrid, pela segunda vez, me fez perder as
esperanças de um dia poder conseguir me livrar de sua figura desprezível.
Dois meses se passaram desde aquela notícia e eu tive que aguentá-la
falando sobre o bebê e tudo o que deveríamos fazer pensando nele ou nela, já
que era cedo para sabermos o sexo, pois estava com apenas um mês de
gestação. Seria até legal poder planejar algo em sua companhia, se não fosse
o fato de odiá-la.
Certa noite, eu cheguei em casa e ela estava acuada no sofá, parecia
extremamente triste.
Aproximei-me e a questionei se estava tudo bem e ela começou a
chorar copiosamente. Sentei-me ao seu lado e assim que tentei trazê-la para
os meus braços, a fim de descobrir o que estava acontecendo, fui empurrado
e Ingrid se colocou de pé, limpando suas lágrimas.
— Eu perdi o nosso bebê, está feliz? — Ainda sentado, olhei-a com
incredulidade. Apesar de não ter desejado aquela criança, jamais ficaria
feliz com a notícia que havia acabado de me dar.
— Como assim perdeu? Você estava bem…
Ela me interrompeu:
— Não se faça de bobo. — repreendeu-me, fungando em seguida. —
Não finja que se importa, porque eu sempre soube que nunca quis essa
criança — disse com pesar.
Abaixei minha cabeça e soltei um longo suspiro.
— Não é porque nunca desejei a sua gravidez que eu desejava que
isso tivesse acontecido, Ingrid. — Fui sincero e a mirei.
Ela soltou um riso amargo.
— Pois é! Parece que sua vontade se concretizou, porque não terá
mais bebê algum — proferiu, claramente indignada e mais lágrimas
deixaram seus olhos.
— Ingrid…
Mais uma vez fui interceptado:
— Aproveita para agradecer, sei que neste exato momento, essa é a
sua vontade. — Dito isso, virou as costas, chorando ainda mais alto e
caminhou em direção as escadas, mas fui rápido e tomei seu pulso ao
alcançá-la no primeiro degrau, fazendo-a se voltar para mim.
— Eu sinto muito. — Foram as únicas palavras que consegui proferir
naquele momento. Eram sinceras.
Seu pulso foi puxado e o soltei de imediato.
— Você sente muito? — Soltou um riso debochado em meio às
lágrimas. — Isso é sério? Porque eu não acredito! — Fiquei em silêncio por
alguns segundos, tentando assimilar tudo o que estava acontecendo, até
voltar a ouvi-la. — Quer saber?! — Ela apontou o dedo em riste em minha
direção. — Você não sente nada! Me ouviu? Nada! É incapaz de sentir
alguma coisa, porque tudo isso aconteceu por sua causa. O único culpado
aqui por eu ter perdido o meu bebê é você! Sua culpa! Aceite isso — acusou-
me com veemência e subiu as escadas rapidamente, ainda soluçando pelo
choro intenso.
Murchei minha postura que, até aquele momento, havia feito questão
de manter ereta, pois não consegui demonstrar indiferença quanto a sua
acusação. Suas palavras, definitivamente, tinham me atingido em cheio,
fazendo-me realmente me sentir culpado, pois havíamos discutido pela
manhã, antes que eu saísse para o trabalho, algo que deveria ter contribuído
para a perda do bebê.
Desde aquele ocorrido, aceitei que eu havia sido o culpado e decidi
carregar isso durante todos esses anos. Obrigando-me a suportar a Ingrid
como uma punição a mim mesmo. Acabei deixando a ideia do divórcio de
lado, aguardando que um dia, ela o desse por livre e espontânea vontade.
A verdade é que, analisando com calma, percebi que a Ingrid jamais
faria isso, até por eu vir evitando-a durante os três anos que se passaram, pois
cortei de uma vez por todas qualquer relação sexual que tínhamos.
Hoje em dia, quando eu queria sexo, saía à noite e transava com
alguma mulher sem ter que manter qualquer contato depois. Afinal, Ingrid
arruinou qualquer confiança que eu pudesse depositar em uma mulher. Mas
algo inusitado aconteceu.
Por algum motivo, sentia-me atraído pela Daniela, a assistente da área
de Marketing, desde o dia em que ela entrou na empresa e, eu a vi. Nunca me
aproximei por saber que era comprometida e o tempo passou, mas soube que
estava solteira e decidi investir; jogar o meu charme pra cima dela, o que,
consequentemente, não funcionou. Mesmo que tivesse levado alguns foras
dela, ainda assim, eu estava disposto a dar tempo ao tempo. Uma hora, ela
iria ceder.
Capítulo 4

Seis meses depois...

Daniela

Mais uma semana se iniciava e, consequentemente, mais um dia de


trabalho também. Seis meses se passaram desde a última vez que vi o Samuel
e cortei qualquer meio de comunicação entre nós. Lá no fundo, ainda
permanecia aquela dúvida traiçoeira: Ele havia me traído ou não?
Balancei minha cabeça, querendo espantar aqueles pensamentos. Não
tinha motivo para estar remoendo algo que eu mesma tinha feito o possível
para me esquecer durante o tempo que se passou. Afinal, foi difícil ter que
me convencer de que havia sido traída daquela forma; debaixo do mesmo teto
e na cama que compartilhávamos, pior ainda, com sua melhor amiga, coisa
que imaginava ser apenas amizade.
Detestava admitir, mas certamente fui muito ingênua nesse ponto.
— O que essa cabecinha tanto pensa, hum?! — Fui tirada dos meus
devaneios ao ouvir a voz do Thiago, que entrou na sala de repente, pois
sequer o notei empurrar a porta de vidro.
— Só bobagens. — Tentei convencê-lo.
— Tem certeza? Nem mesmo me ouviu abrindo a porta — pontuou,
fazendo-me rir, meio sem jeito.
— Não é nada demais. Apenas remoendo assuntos passados. Nada
realmente que deva se preocupar. — O tranquilizei.
— Hum, sendo assim, eu vou acreditar. — Ele então sentou-se à sua
mesa e o telefone tocou. Quando atendeu, ele cumprimentou a Juliana,
ninguém menos que a secretária do João Paulo e, disfarçadamente, prestei
atenção ao máximo no que respondia, até que encerrou a ligação.
Abaixei meu olhar com a intenção de não demonstrar a minha
curiosidade sobre o que ela queria ao telefone, mas logo fui chamada.
— Dani, eu preciso que leve esse envelope para a Juliana, o João
Paulo solicitou. São relatórios referentes aos acessos que o site teve nos
últimos três meses — explicou.
— Claro, levo sim. — Deixei minha mesa e a contornei. Assim que
parei de frente para a mesa dele, estendeu o envelope para mim e o peguei.
— Acredito que na reunião de amanhã, eu serei parabenizado pelo
novo site. Os números aumentaram consideravelmente, desde que foi ao ar —
frisou, entusiasmado, sem se preocupar em me agradecer por tê-lo ajudado.
Ingrato!
— Parabéns por isso. — O parabenizei, forçando um meio sorriso.
— Obrigado, querida. Afinal, me dediquei muito para alcançar esses
resultados. Enfim, amanhã será um grande dia. — Seu tom era convencido e,
eu quis cobrar dele o reconhecimento por tê-lo ajudado, só que preferi deixar
isso de lado.
Saí dali, pensativa, pois Thiago sempre teve a péssima mania de
querer os méritos apenas para si, como se fizesse tudo sozinho. Mas é claro!
Eu não passava de uma simples assistente, só servia para ser usada por causa
das minhas ideias que, diga-se de passagem, eram estupendas, só que nada
disso era levado em consideração quando tudo estava pronto e tendo boas
colheitas. Nem mesmo um simples “obrigada”, eu recebia.
Parei de pensar sobre isso ao parar de frente para a mesa de Juliana.
— Como vai, Dani? — Ela ajustou seus óculos de grau ao levantar
sua cabeça e me encarar.
— Vou bem, obrigada. — Sorri, agradecida. — O Thiago pediu que
eu trouxesse isso. — Entreguei a ela o envelope.
— Ótimo. Vou só esperar…
Antes que ela pudesse concluir, o barulho de um salto batendo contra
o piso foi ouvido e, curiosa, girei meu rosto na direção daquele som, ficando
surpresa ao me deparar com uma mulher linda saindo da sala do João Paulo.
Ela era alta, tinha a pele alva, cabelos negros e ondulados, sem mencionar
que seus olhos eram puxados. Nem mesmo direcionou o seu olhar para mim
ou a Juliana quando passou por nós. Automaticamente, identifiquei que
continha um ar arrogante.
— Quem é ela? — questionei.
Juliana me encarou, duvidosa. Fez uma careta antes de me responder:
— Não sabe? — devolveu-me a pergunta e dei de ombros, negando.
— Trabalha aqui há alguns anos e não conhece aquela figura? — indagou,
incrédula.
Franzi o cenho sem entender o porquê de ela se direcionar àquela
mulher dessa forma.
— Eu sou assistente na área de marketing, como eu poderia saber
quem ela é? Afinal, não é como se eu vivesse perambulando por aqui, a fim
de dar nota de tudo e todos que visitam a empresa — ressaltei, não
entendendo sua dúvida quanto à minha negação.
— É, você tem razão, não teria mesmo como saber. Raramente te vejo
por aqui. — Enfim, reconheceu. — É a nojen… — ela parou de falar e
limpou a garganta, forçando um sorriso falso e voltou a empurrar seus óculos
de grau a fim de ajustá-lo em seu rosto. — É a Ingrid, esposa do senhor João
Paulo.
Foi impossível impedir que minha boca se abrisse em um “O”,
tamanho a minha surpresa. Definitivamente, tinha que admitir o quão linda e
elegante a mulher era. Vê-la me fez ter ainda mais certeza de que deveria
continuar desviando-me das investidas do meu chefe.
Durante os meses que se passaram, acabamos nos aproximando;
quando nos encontrávamos no estacionamento da empresa ao sair. Eram
assuntos bobos, como perguntar se o dia havia sido produtivo, onde ríamos
um do outro ao contar sobre as frustrações do dia, algo que vinha sendo
bastante agradável e fazendo meu coração amolecer cada vez mais pela
pessoa espontânea que ele vinha demonstrando ser.
E, não! Eu não havia aceitado almoçar com ele, mas confesso que
estava prestes a ceder, só que isso mudou ao avistar sua esposa. Seria
imprudente da minha parte, aceitar. Também existia o fato de eu ter sido
traída pelo Samuel e isso, de certa forma, pesava na minha consciência.
— Ela costuma vir sempre aqui? — Não consegui conter a minha
curiosidade.
— Não. É muito raro. — Sua informação me deixou um pouco mais
tranquila, só não entendi o porquê.
— Bom, vou indo então. — avisei.
Quando dei um passo a fim de sair dali, meu nome foi chamado:
— Daniela, pode vir até a minha sala? — pediu.
Estanquei no mesmo lugar e fechei meus olhos fazendo uma careta.
Não era para ele ter me visto ali. Droga!
Engoli em seco e me virei. Encontrei-o altivo e lindo diante de sua
porta. Não pude ignorar o quanto meu coração batia frenético no peito.
Respirei fundo e comprimi meus lábios ao acenar positivo com a
cabeça. Forcei minhas pernas a caminharem e, ao me aproximar, ele deu um
passo para o lado para que eu entrasse. Senti-me um pouco zonza ao inalar
seu perfume, que se encontrava impregnado ali dentro.
Recuperei-me assim que a porta foi fechada e, ao me virar, fui pega
desprevenida. João Paulo encontrava-se perto demais; o bastante para minhas
mãos formigarem a ponto de quererem se espalmar sobre seu peitoral por
cima da camisa social que usava embaixo do paletó que detinha aberto.
Consegui conter aquela vontade e tentei manter minha mente sã.
— O que deseja, chefe? — Tentei me manter concentrada, e o mais
profissional possível.
Ele me encarou por algum tempo e mordeu seu lábio inferior,
movimento que sempre me deixava fascinada.
— Um beijo, apenas isso — proferiu, sem rodeios.
Dei um passo para trás, talvez pela intensidade de suas palavras, ou
por jamais esperar aquela resposta.
— Quê? — Soltei um riso de canto, divertida.
— Você ouviu — disse, olhando-me com afinco e deu um passo à
frente.
— Espera. — Estiquei meu braço fazendo-o parar e manter uma
distância considerável entre nós, a fim de entender o que ele pretendia com
aquilo.
— Esperar o quê, hum? Vamos ser francos aqui. Há meses viemos
nos conhecendo melhor e nunca escondi o meu desejo por você.
Convenhamos que não sou somente eu a me sentir dessa forma, sei que
também deseja o mesmo. Sentimos atração um pelo outro, ou estou
enganado? — inquiriu.
Suas palavras me deixaram atônita.
— Tudo bem, não está errado, porém, esqueceu-se do fato de eu ser
livre e desimpedida, ao contrário de você? — ressaltei. — Aliás, eu vi ela
saindo daqui. É muito bonita, parabéns! — mencionei, o parabenizando em
seguida, algo que não era realmente o que eu queria dizer.
— Ela quem? — questionou.
— A sua esposa, Ingrid.
João Paulo descansava uma de suas mãos dentro de um dos bolsos
dianteiros de sua calça social e a outra estava livre, ao lado do seu corpo e
notei que ele a fechou em forma de punho, colocando mais força do que o
normal.
— É só isso que ainda te impede de ficar comigo? — indagou.
— E não é o bastante? — rebati.
Ele abaixou a cabeça e soltou um longo suspiro.
— E se eu disser que ela veio até aqui para acertarmos a papelada do
nosso divórcio, isso te deixaria mais tranquila? — Sua pergunta me pegou de
surpresa e, por um instante, até fiquei muda.
— Não vou mentir que não deixaria, mas isso é realmente verdade?
— Antes que ele pudesse responder, o interrompi: — Seja sincero, por favor
— pedi, fitando seus olhos.
— Sim, é verdade. — Soltou de uma só vez e tentei encontrar
qualquer indício de que aquilo fosse mentira, só que não obtive sucesso.
E então, ele deu mais alguns passos em minha direção e meu coração
saltou dentro do peito ao ter suas mãos envolvendo a minha cintura. Nossas
respirações se tornaram pesadas, como se nos encontrássemos ansiosos por
aquilo. Na verdade, eu estava.
Uma de suas mãos foi espalmada no meio das minhas costas,
enquanto a outra foi levada até o meu rosto e deslizou seu dedo indicador
pela minha bochecha, fazendo-me aquecer por dentro. Seus olhos fixaram-se
nos meus, como se quisesse ter certeza que eu o permitiria me beijar. Não o
respondi, apenas envolvi meus braços em torno do seu pescoço e fechei meus
olhos.
Primeiro o senti morder meu lábio inferior, ato que me causou ainda
mais euforia. Pensei em abrir os meus olhos, querendo ver o que ele pretendia
com esse tipo de provocação, só que não deu tempo, pois minha boca foi
tomada em um beijo ávido, roubando qualquer raciocínio lógico que ainda
pudesse existir em mim. Também fui incapaz de aplacar o gemido que se
rompeu pela minha garganta e sua língua invadiu o seu vão, chocando-se com
a minha.
Certa eletricidade percorreu todo o meu corpo, deixando-me de
pernas bambas e a mão que se encontrava espalmada no meio de minhas
costas, moveu-se até a minha cintura, apertando-a com força, eriçando todos
os pelos existentes em mim. Notei que minha respiração estava mais rápida
do que o normal e um calor descomunal havia me tomado por completo,
chegando ao ponto de me fazer suar. Logo minha boca foi abandonada e seus
lábios escorregaram para a lateral do meu pescoço, dando pequenas
mordidas.
— É melhor eu sair daqui — frisei, ainda de olhos fechados,
mantendo meus dedos atrelados entre os fios do seu cabelo curto e macio.
Sentia-me inebriada diante das sensações que estavam sendo causadas em
mim.
— Porra! — xingou e meus lábios repuxaram em um sorriso
satisfeito. — Por que tinha que ser essa tentação? — especulou, enquanto sua
boca continuava explorando o meu pescoço.
— É sério. É... melhor eu ir. — Mesmo a contragosto, me afastei dele
e puxei o ar com força, com o intuito de oxigenar os meus pulmões.
Encontrava-me com a respiração entrecortada.
João Paulo manteve-se em minha frente e passou seus dedos de modo
furioso entre os fios do seu cabelo, tomando por completo a minha atenção, já
que fiquei admirando o seu movimento; que o deixava ainda mais belo.
— Tem razão — proferiu, sem olhar em meus olhos e caminhou até
sua mesa, sentando-se em sua cadeira.
Assim que me movi em direção à porta, sua voz me parou:
— Esteja amanhã na reunião, será às 10hs — ditou.
Voltei-me para ele e o observei.
— Mas…
Fui impedida de continuar:
— Só esteja presente, amanhã, às 10hs. Não se esqueça — ordenou.
Eu queria questionar o porquê, mas contive minha curiosidade e após
confirmar com um balançar de cabeça, ajustei minha postura e saí dali.
Passei por Juliana, que me direcionou um meio sorriso e caminhei em
direção a minha sala. Ainda sentia-me um pouco zonza pelo beijo, mas tinha
que voltar ao trabalho. Não sabia o motivo de o João Paulo ter me convocado
para a reunião do dia seguinte, porém, só me restava aguardar para descobrir.
Capítulo 5

João Paulo

No momento que Daniela saiu da minha sala, soltei um longo


suspiro, tornando-me cabisbaixo e massageei a minha têmpora no processo.
Minha ereção pulsava dentro da cueca, deixando-me ciente do quanto
encontrava-me ferrado. Definitivamente, havia pensado que apenas beijando-
a, saciaria a tremenda vontade que tinha de provar seus lábios, mas acontece
que tudo isso piorou.
Sentir a textura deles fez-me desejá-la ainda mais. Queria poder me
deleitar com o seu corpo esguio e perfeito. Acreditava que após isso,
conseguiria deixá-la em paz e seguiríamos com nossas vidas.
Também não podia me esquecer que fui um tremendo mentiroso. Não
existia qualquer papelada que estivesse preparando junto a Ingrid. E ainda
afirmei que estava sendo sincero.
Que porra!
Eu era um completo fodido. Toda a minha vida se resumia a mentiras.
Sequer conseguia me impor perante a mulher que me prendeu ao seu lado por
conta de uma chantagem absurda.
Há quatro anos, eu vinha me sujeitando a uma vida que jamais
escolhi. Há quatro anos que meu verdadeiro eu, se perdeu no tempo, porque
aquele João Paulo sonhador, que almejava e corria atrás deles, simplesmente
não existia mais. Em pensar que aceitei tudo isso por conta de um simples
sentimento: medo.
Medo de dizer não, e tudo que levei anos para conseguir ser
aniquilado e eu ser incapaz de conseguir erguê-lo novamente. Medo de dizer
não e tentar provar que era inocente e não obter sucesso, tendo que carregar
uma imagem manchada pelo resto da vida. Medo de dizer não e…
Bati meu punho fechado com extrema força sobre a mesa e senti meus
olhos umedecerem. Me negava a acreditar que ainda mantinha uma vida
miserável como a minha. Nem mesmo podia ter a minha liberdade, já que me
encontrava preso a uma pessoa desprezível pelo simples fato de ainda
carregar a culpa de ela ter perdido o bebê há três anos.
Eu sabia muito bem que tinha que dar um jeito nisso, tanto que Ingrid
tinha estado ali para exigir que eu voltasse para a “nossa casa”. Soltei um riso
debochado ao me recordar da cena. Se fosse algum tempo atrás, talvez ela
houvesse conseguido ter-me de volta sob o mesmo teto, mas, hoje, não mais.
Não foi à toa que há alguns meses, eu tinha tomado uma decisão e
segui adiante, onde mudei-me para o Apê que eu mantinha para usar como
uma válvula de escape. Conviver com a Ingrid, odiando-a mais e mais a cada
dia que se passava, era como ter uma corda no meu pescoço que ia se
apertando pouco a pouco. Podia ter demorado a enxergar isso, mas a verdade
é que passei todos esses anos com a ilusão de que, em algum momento,
receberia minha liberdade de volta; por livre e espontânea vontade.
Entretanto, percebi que só estive contribuindo para um possível suicídio,
porque era isso que iria acontecer, caso não tivesse saído daquela casa.
Precisava admitir e reconhecer que eu mesmo estava me matando aos
poucos.
Sua aparição ali na empresa deixou-me ainda mais convicto sobre a
minha decisão. E, o fato de ela nunca ter concordado com isso e,
constantemente, vir infernizando a minha vida, fosse me procurando no
apartamento ou na empresa, não me faria ceder. Não mesmo. Só precisava
encontrar uma forma de ter o divórcio por definitivo, aí sim estaria livre para
finalmente viver a minha vida, depois de anos perdidos ao lado de uma
mulher tão deplorável.
Ingrid sempre foi mimada, mesquinha e egoísta. Jamais se preocupou
comigo; em como eu me sentia com toda essa palhaçada de casamento
forçado. Ainda dizia me amar. Ela sequer sabia o que era isso.
Amor não se força. Amor não se prende, muito pelo contrário. Quem
ama de verdade, não sente insegurança em relação ao outro, tanto que o deixa
livre para fazer suas próprias escolhas.
Soltei uma baforada de ar, contrariado comigo mesmo, mas decidido
a correr atrás da minha tão sonhada liberdade. Automaticamente, meus
pensamentos voaram até o instante em que Daniela entregou-se ao beijo que
tivemos e que quase se desmanchou em meus braços. Abri um sorriso
preguiçoso, porém satisfeito por saber que eu não havia sido o único afetado
ali.
Comecei a pensar em um modo de tê-la por completo. Queria provar
o seu corpo, preferencialmente, parte por parte. Não demorou até que uma
ideia me surgisse e comemorei mentalmente, ansioso para a chegada do dia
seguinte, onde iria executá-la com bastante êxito.
Certo sobre isso, dei continuidade ao meu trabalho.

∞∞∞

O dia na empresa tinha sido exaustivo, até pelo fato de ter ficado
quase a tarde toda, trancafiado em minha sala, repassando com Juliana, as
pautas que seriam discutidas na reunião logo cedo. Quando deu por volta das
18hs, a dispensei e continuei por ali, querendo finalizar a assinatura de alguns
papéis que me foram solicitados pelo financeiro. Assim que dei o meu dia por
encerrado, saí dali e parti em direção ao meu Apê.
Cheguei e tomei um banho que contribuiu para o relaxamento dos
meus músculos. A tensão que existia em meu corpo se dissipou
gradativamente e agradeci por isso. Sentia-me tranquilo e após vestir apenas
uma calça de moletom, deixei o meu quarto ao ouvir o som da campainha.
Passei meus dedos entre os fios molhados do meu cabelo e soltei o ar
com força enquanto cruzava o corredor, imaginando que pudesse ser a Ingrid.
Caminhei, cuidadosamente, até olhar através do olho mágico, pois se
constatasse a sua figura prostrada ali, a deixaria plantada. Não estava com
paciência para aturá-la por mais de uma vez no mesmo dia.
Fiquei aliviado ao verificar que se tratava da minha mãe, então abri a
porta, sorrindo amplamente. Tinha alguns dias que não nos víamos, até pela
minha correria no trabalho.
— Vai ficar nesse apartamento até quando? — Minha mãe, indagou,
assim que atravessou a porta.
No dia em que me mudei, fiz questão de chamá-la para contar tudo
que a Ingrid tinha feito para manter-me ao seu lado; aprisionando-me em um
matrimônio sem amor algum da minha parte.
— Boa noite para a senhora também, dona Paloma — disse em tom
de brincadeira e assim que fechei a porta, olhei-a de pé no meio da sala,
fitando-me com uma feição séria. Mordi meu lábio inferior e cruzei os braços
à frente do meu corpo. — Não começa, mãe — pedi, já imaginando seu
próximo sermão.
— Não começa? João Paulo, eu sou a sua mãe e me sinto uma
tremenda covarde por vê-lo se definhando dessa forma. Nem mesmo consigo
enxergar o seu velho eu! — pontuou, deixando-me pensativo. — Você disse
que encontraria uma forma de se livrar daquela louca. Meses se passaram e,
eu não o estou vendo tomar atitude alguma — completou.
Caminhei até ela e peguei em suas mãos. Antes, olhei-a nos olhos,
idênticos aos meus, e vi tristeza acumulada ali. Senti um aperto no peito por
ainda não ter feito o possível para conseguir o divórcio e a abracei, tentando
confortá-la.
— Eu vou dar um jeito, mãe. Só preciso de mais tempo. Confia em
mim, hum?! — Afastei-me minimamente para encará-la e, com um meio
sorriso, ela balançou a cabeça em concordância.
— Essa mulher é uma víbora por ter te prendido ao lado dela, e pior,
com base em uma acusação tão grave. A minha vontade, toda vez que a vejo,
é de dar um murro naquela cara cínica dela, mas esse dia vai chegar. Uma
hora, tudo isso terá que acabar — disse, afagando o meu rosto e voltamos a
nos abraçar com força.
Desejava ardentemente que todo aquele pesadelo realmente acabasse
algum dia. Sabia que eu devia correr contra o tempo para isso. Só teria que ir
com calma, uma vez que, Ingrid era perigosa e poderia muito bem bolar mais
alguma coisa para me ferrar novamente e continuar me tendo como um rato
indefeso ao seu lado.
De repente, minha mãe deixou meus braços e abaixou a cabeça,
parecia pensativa.
— Eu pensei em algo… — comunicou.
— Não. Se for me dizer que tentará arrancar a verdade dela, já adianto
que não aceito. — Fui taxativo.
— Eu posso estar velha, mas não fiquei louca ainda, meu filho! —
disse em tom de repreensão e, eu ri, foi inevitável.
— Então o que pensou? — Encontrava-me curioso para ouvi-la.
Sentamos no sofá e após depositar sua bolsa ao lado, ela virou-se em
minha direção e segurou minhas mãos, mirando meus olhos.
— Já que seu medo é jamais conseguir provar a sua inocência perante
a acusação que a Ingrid fez e, com base nisso, tê-la que aguentar por sabe
Deus quanto tempo mais, pensei que você, talvez pudesse chamar seu sogro
para uma conversa particular e tentar convencê-lo a te dar uma chance, a
ponto que junte provas concretas de que é inocente da acusação de estupro.
— Comprimi meus lábios em completo lamento e neguei com a cabeça.
— Acha mesmo que ele me ouviria? Ele é poderoso, mãe!
Extremamente rico. Jin Yang não acreditaria em mim, sequer me daria uma
mísera chance para tentar mostrar que eu não sou culpado de nada que a filha
dele tenha mostrado naquele vídeo. — Levantei-me, consternado com tudo
aquilo. Parecia um beco sem saída.
— Tem que tentar, meu filho! Ou prefere morrer ao lado daquela
mulher intragável? Já não basta ter perdido longos quatro anos por causa
disso? Ainda bem que ela perdeu aquela criança — comemorou.
— Mãe! — adverti, voltando a mirá-la.
— Olha só, Deus sabe que não sou uma pessoa ruim, portanto, não
vai me condenar por achar um alívio que aquela chantagista desprezível não
tenha conseguido levar adiante a gestação de um filho seu. Já pensou o quão
pior a sua vida poderia estar? Uma criança precisa crescer em um lar que
contenha amor e, principalmente, livre de mentiras, o que não seria possível
no caso de vocês dois — esclareceu.
Tombei minha cabeça para trás e fitei o teto, pensativo.
— Prometa-me que vai ao menos tentar fazê-lo te ouvir, meu filho —
insistiu.
Respirei fundo e ajustei minha postura, tendo seus olhos fixos aos
meus.
— E se eu não conseguir? — Levantei aquela hipótese.
— Eu te ajudo a pensar num plano B. — Seu olhar demonstrava certa
esperança.
— Ai, mãe! — Ela sabia que significava um sim e, sorriu, abraçando-
me em seguida.
— É sempre bom ouvir a sua mãe. Pressinto que ele vai sim te dar
uma chance e, de quebra, assim que tudo for esclarecido, ele pode até querer
manter o investimento que há anos vem fazendo em sua empresa. Tenha fé
— garantiu.
Logo se despediu, dizendo que havia ido até ali apenas para me ver,
pois tinha um encontro com algumas amigas para irem ao cinema. Minha
mãe era uma mulher de 58 anos. Meu pai havia falecido um ano antes de eu
concluir a faculdade. Perdê-lo para um câncer no estômago foi muito
doloroso; fez uma grande falta. Uma doença que após ser descoberta e, em
estado avançado, o levou em poucos meses.
Senhor Charles era um grande homem. Sempre vibrava com cada
conquista minha. Depois de sua morte, minha mãe continuou dando suas
aulas no colégio e também fazia um extra, dando aulas particulares. Ela
preferiu não se entregar ao luto, por mais difícil que tivesse sido. Eu a
admirava muito por sua persistência.
Assim que comi alguma coisa, decidi me deitar. Sobre a cama,
repassei em minha mente o conselho da minha mãe e senti que ela pudesse
ter razão. Só precisava acumular coragem o suficiente para ter essa conversa
com o Jin Yang, afinal, não seria nada fácil.

∞∞∞

Minha noite havia sido tranquila, mesmo depois de tanto pensar sobre
o que minha mãe tinha me sugerido. Saí do apartamento com o propósito de
chegar bem antes da Daniela. Eu queria fazê-la um convite.
Dirigi até a empresa e após estacionar, saí do meu veículo com minha
pasta em mãos e caminhei até onde ela costumava parar. Encostei-me a um
dos veículos e aguardei por um bom tempo, até identificá-la chegando. Notei
sua expressão de surpresa ao me fitar ali, de prontidão.
— Fazendo hora extra, chefe? — falou, enquanto fechava a janela do
carro.
Daniela sempre tinha alguma piadinha para fazer e confesso que seu
jeito descontraído me fazia sorrir, verdadeiramente. Antes que ela saísse de
dentro do veículo, dei a volta e entrei, tomando o banco do carona. Ela deu
um gritinho, assustada ao me ver ali.
— Está louco? O que…
Inclinei meu corpo em sua direção e envolvi uma de minhas mãos em
sua nuca, tomando sua boca em seguida, impedindo-a de completar a sua
fala. Ela tentou se afastar, mas aprofundei o beijo, fazendo-a se entregar aos
poucos. Nossas respirações se misturaram e de um modo desajeitado,
consegui que viesse para o meu lado, sentando-se sobre mim.
Rapidamente deixei os seus lábios e movi a minha boca até o seu
queixo, escorregando-a em direção ao seu colo, depositando pequenas
mordidas.
— Você está me deixando louco, garota tentação — disse contra a sua
pele e ouvi seu sorriso. — Me diz como posso resolver isso. — Peguei uma
de suas mãos, que tinha seus dedos atrelados aos fios do meu cabelo, e levei
até a minha ereção.
— Não sei. — Olhei-a ao ouvir sua resposta e a encontrei rindo.
— Não? — Ela negou, se divertindo com minha pergunta. — Tudo
bem, então vou simplificar para você. — Daniela deu um selinho em meus
lábios e segurei sua nuca com um pouco mais de força, tendo seu olhar fixo
ao meu. — O que vai fazer no seu horário de almoço? — inquiri.
— Almoçar — respondeu o óbvio.
— Hum… podemos ir a algum lugar mais reservado, o que me diz?
— Subi minha mão por sua coxa que tinha pouca pele exposta por causa do
vestido que usava e a assisti fechar os olhos, como se apreciasse o meu toque.
— Eu diria que é algo arriscado.
— Mas eu quero isso e você também — ressaltei.
— Tudo bem. Eu aceito. — Satisfeito com sua resposta, beijei-a mais
uma vez e ao nos recompor, saímos do carro.
— Me dê seu número. — Eu poderia muito bem pedir no RH da
empresa, depois de inventar alguma desculpa, mas preferi pedir a ela, que
logo o ditou para mim. — Vou te mandar mensagem para me encontrar fora
do prédio da empresa. Fique atenta — avisei ao terminar de gravar seu
número na minha agenda.
Dei uma piscadela em sua direção e ela mordeu seu lábio inferior,
rindo em seguida. Saí dali e caminhei em direção ao elevador privativo, não
via a hora de chegar o momento de finalmente me enterrar dentro dela.
Daniela era uma completa tentação.
Capítulo 6

Daniela

Enquanto permaneci ali, parada, olhando-o se afastar em sua pose de


homem poderoso, fechei meus olhos por alguns instantes e me perguntei se
tinha sido certo ter aceitado sua proposta. Passei a mão pelo meu pescoço e
assim que cheguei a uma conclusão, dei os primeiros passos, seguindo em
direção ao elevador. De repente, senti meu celular vibrar dentro da bolsa.
Ao tê-lo em mãos, identifiquei uma mensagem de um número que não
havia sido salvo na minha agenda.
“Salva o meu número, garota tentação. JP.”
Esbocei um sorriso bobo ao lê-la e soube pelas iniciais que se tratava
do João Paulo. Voltei a pensar e digitei uma resposta:
“Sobre a sua proposta de irmos a um lugar mais reservado no
horário de almoço, eu pensei bem e acho melhor não fazermos isso.
Como tinha mencionado antes, é arriscado.”
Cliquei em enviar e parei em frente ao elevador. Aguardei que ele me
ligasse ou mandasse uma mensagem, enfurecido ou mesmo com outro
argumento, mas não aconteceu. As portas metálicas se abriram e soltei uma
baforada de ar, talvez chateada por eu não ter obtido alguma resposta.
O elevador começou a subir após acionar o botão para o andar que
iria. Olhei o celular mais algumas vezes e vi que não tinha nada. Suspirei por
conta da frustração, entendendo que pudesse ser um sinal, de que eu não
devesse mesmo fazer isso; que era errado.
Entretanto, todos os meus pensamentos se dissiparam no instante em
que as portas do elevador se abriram e, João Paulo, em sua postura
extremamente bela e altiva — descansando uma de suas mãos dentro de um
dos bolsos dianteiros da sua calça social — ergueu sua cabeça e mirou seus
olhos nos meus.
— Na minha sala. — Essas foram as únicas palavras que proferiu
antes de me virar as costas, indo em direção a sua sala.
Engoli em seco.
— Eu posso… — tentei contestá-lo, mas fui impedida.
— Agora, Daniela — ditou.
Que merda!
Verifiquei, ao passar pela mesa de sua secretária, que Juliana ainda
não havia chegado. Senti certo alívio ao me certificar disso e apressei meus
passos, até entrar em sua sala e fechar a porta. Antes de me virar, eu senti
suas mãos tomarem posse da minha cintura.
Automaticamente, meus batimentos cardíacos aceleraram.
— Tentando fugir de mim, garota tentação? — Sua pergunta foi
proferida contra o meu ouvido, em tom sensual, algo que me causou arrepios
e superaqueceu o meu interior.
Abri a boca algumas vezes para falar e falhei, pois suas mãos
apertando-me não estavam ajudando em nada, muito pelo contrário.
— Já disse que é muito arriscado — ressaltei.
Num rompante, João girou meu corpo, colocando-me de frente para
seu corpo e fixou o olhar ao meu.
— Escuta… eu quero muito isso. Não me canso de pensar no beijo
que demos ontem, aqui, nesta sala. — Senti minha respiração aumentar, no
momento em que se pronunciou e, em seguida, uma de suas mãos subiu pela
lateral do meu corpo, firmando-se por trás da minha nuca, a fim de me
impedir de desviar a atenção da sua. — Desejo senti-la por inteira; explorar
cada centímetro do seu corpo; te dar prazer. Anseio pelo momento em que
finalmente irei me enterrar dentro de você; bem fundo e forte. Sem
complicações ou sentimentos desnecessários, Daniela. Apenas duas pessoas
compartilhando de um desejo mútuo — avisou, causando certo
estremecimento em meu ventre. — O que me diz, hum?! — inquiriu.
De repente, seus olhos recaíram sobre os meus lábios e seu dedo
indicador o contornou, em uma carícia provocante. Senti-me obrigada a
umedecê-los, de tão secos que ficaram perante a sua inspeção. Então o
respondi:
— Tudo bem — soltei de uma vez, não permitindo que houvesse
chances para arrependimentos quanto a minha decisão.
O assisti dar um meio sorriso, como se não estivesse certo da minha
resposta.
— Posso confiar? Ou corro o risco de deixá-la sair por essa porta e
receber mais uma mensagem comunicando-me da sua desistência? —
proferiu com sua boca bem próxima a minha; deu para sentir seu hálito
quente.
Voltamos a nos olhar e pude identificar volúpia presente em seus
olhos.
— Eu… — comecei a falar, porém minha voz falhou. Limpei a
garganta e prossegui: — Pode confiar — soei sincera.
Ele se demorou fitando-me por mais algum tempo e mordeu seu lábio
inferior, pressionando minha cintura com malícia, tornando o meu corpo
refém do seu toque, já que minha mente traidora pedia por mais.
— Ótimo. — Quando pensei que me beijaria, simplesmente se afastou
e caminhou até sua mesa, tomando seu assento. — Te aguardo na reunião —
finalizou.
Um pouco sem graça, apenas comprimi os lábios ao assentir e saí da
sala. Havia um misto de emoções em meu interior, pois não sabia se tinha
tomado a decisão certa, contudo deixei meus conflitos internos de lado.
Respirei fundo e fui direto para a minha sala.

∞∞∞
Assim que chegou o horário da reunião, deixei que o Thiago fosse
primeiro e após dar um tempo, fiz o percurso até a sala de reuniões, afinal, ele
sequer imaginava que eu também tinha sido solicitada e, pior, pelo nosso
chefe. Notei que assim que passei pela porta, Thiago enrugou a testa quando
me lançou um olhar reprovador, o qual, eu não me importei. Segui até uma
cadeira do outro lado da mesa, a fim de ficar longe dele e, de soslaio, pude
identificar que ainda me olhava.
E então, João Paulo entrou na sala e os que se encontravam de pé,
foram aconselhados pelo mesmo, a se sentar.
— Obrigado pela presença de todos e…
— Desculpe-me, senhor, mas eu gostaria de fazer uma observação. —
Thiago se pronunciou e, eu quis correr dali, entretanto, mantive minha
expressão impassível.
— Pois não? — João Paulo deu seu aval para que Thiago
prosseguisse.
— Creio eu, que aquela mocinha não deveria estar aqui. Ou, eu estou
enganado? — Apontou seu dedo em minha direção e, eu o encarei.
Que desgraçado! Minha vontade era de unhar aquela cara bonita dele.
Vi o exato momento em que João Paulo sorriu de lado.
— Não vejo motivos para a sua observação, Thiago. Já deveria estar
ciente de que, qualquer pessoa para entrar nesta sala, tem que ter sido
convocado por mim, e com a senhorita Daniela, não foi diferente — frisou e
não pude deixar de fazer minha dancinha da vitória internamente. — Posso
continuar ou você tem mais alguma observação a fazer? — inquiriu com
certo sarcasmo.
Eu queria sorrir, mas me contive.
— Não, senhor. Pode dar seguimento. — Thiago comunicou um tanto
sem graça e até murchou sua postura, voltando a ajeitar-se sobre o seu
assento.
Ao dar início à primeira pauta da reunião, percebi que Thiago limitou-
se a olhar em minha direção. Talvez estivesse chateado comigo por não ter
falado que também estaria ali ou, simplesmente, quisesse me esgoelar. Enfim,
algumas pautas foram discutidas em relação ao aumento da procura pelos
serviços da empresa.
Um gráfico foi mostrado, deixando-nos cientes sobre os números
consideráveis que havia tido nos últimos meses. Não demorou até chegarmos
à pauta sobre o fato de o projeto do novo marketing do site estar sendo muito
bem acessado e atraindo cada vez mais visibilidade, tanto que a maioria dos
clientes que entraram em contato para serem orientados sobre os serviços que
a empresa oferecia, surgiram através dele.
— Com base nessas informações, eu gostaria de parabenizar ao
Thiago que, meses atrás quando informei que não estava satisfeito com a
queda nos acessos que o site vinha apresentando, ele se dispôs a nos trazer
esse novo projeto. — Thiago foi aplaudido pelos demais e vi que lançou um
olhar convencido. João Paulo continuou: — Contudo, o mérito não é só dele.
Soube que a sua assistente, Daniela, foi a responsável pelas ideias cruciais
para o desenvolvimento do mesmo que, hoje, nos trouxe esses números, que
considero um grande sucesso. Parabéns! — Me parabenizou ao fitar-me, algo
que até então, eu estava evitando.
Quando o ouvi falar o meu nome, eu fiquei atônita com o que estava
ouvindo. Jamais imaginei que minha presença na reunião, fosse para ter o
meu trabalho e esforço reconhecido, coisa que sempre esperei do Thiago, só
que nunca o tive. Recebi uma salva de palmas e, assim que silenciaram,
agradeci, envergonhada.
Eu tinha certeza que meu rosto se encontrava avermelhado, afinal,
tinha sido pega totalmente desprevenida. A reunião continuou e fiquei ali,
prestando atenção em cada assunto abordado. Próximo ao horário de almoço,
João Paulo a deu por encerrada e, eu vibrei mentalmente, uma vez que senti o
meu cérebro querendo dar um nó diante de tanta informação. Não sabia como
ele aguentava reuniões como aquela todos os dias.
Saí da sala depois de algumas pessoas e, em seguida, retornei para a
minha. Peguei a bolsa o mais rápido que consegui, pois não queria ter que me
encontrar com o Thiago. Sabia muito bem que ele viria pra cima de mim com
seu discurso raivoso e, eu não me sentia preparada. Não naquele momento.
Enfiei-me dentro do banheiro da empresa e encarei o meu reflexo no
espelho, podendo ver ansiedade atravessada em meu olhar. Logo me
encontraria com o João Paulo e… suspirei, incerta sobre a minha decisão, só
que não podia voltar atrás, porque eu desejava o mesmo que ele.
Antes que eu pudesse alcançar o meu celular dentro da bolsa, o senti
vibrar. Peguei-o em mãos e li sua mensagem.
“Cadê você? Assim que deixar a empresa, atravesse para o outro
lado da rua, estarei com o meu carro estacionado. Te aguardo. JP.”
Digitei uma resposta:
“Ok. Estou indo. ”
Guardei o aparelho e caminhei para fora, indo em direção ao elevador.
Entrei no mesmo e não demorei a sair dali.
Enquanto eu dava passadas em direção ao local em que ele se
encontrava, meu coração palpitava mais forte. Parei para ver se avistava o seu
veículo e o identifiquei mais adiante. No momento em que me aproximei e
entrei, tomando o banco do carona, travei meu cinto de segurança e encontrei
o João sorrindo, mirando-me.
— O que foi? — inquiri, achando estranha a sua postura.
— Tinha certeza de que me daria um “bolo” — brincou e, eu ri.
— Vontade não me faltou. — Dei de ombros, desviando minha
atenção e olhei através do para-brisa. O dia estava ensolarado.
Senti uma mão apertar a minha coxa e, ao girar meu pescoço, deparei-
me com ele, olhando-me com afinco e mordendo seu lábio inferior.
— Sério? Porque eu poderia dizer que ainda está em tempo de mudar
a sua decisão, porém, eu sei muito bem que não quer ouvir isso de mim —
revelou um tanto convencido.
— E o que te faz pensar isso? — Arqueei uma sobrancelha, o
desafiando.
— Está aqui, não está? — devolveu-me a pergunta, me desarmando.
— Sim, estou — confirmei, dando a ele a certeza sobre a minha
decisão.
Ele riu, satisfeito, e após dar mais um aperto em minha coxa,
causando um calor exorbitante no meio das pernas, afastou-se, colocando seu
cinto de segurança.
— Obrigada por ter feito aquilo na reunião — mencionei.
— O que eu fiz? — questionou, dando uma de desentendido enquanto
dava partida no carro. Pegamos a rodovia para algum lugar.
— Você sabe! Enfim, reconheceu o meu trabalho na frente de todos.
Isso… foi muito importante para mim. — Deixei-o ciente.
Por um momento, ele ficou emudecido e quando pensei que não
falaria nada, fui surpreendida:
— Não foi nada demais. Mas se foi tão importante assim para você,
disponha. — Olhou-me rapidamente e voltou sua atenção para a estrada.
Não demorou até que João Paulo entrasse num subsolo de um prédio
e estacionasse. Pela fachada, antes de entrarmos, vi que era um motel de luxo.
E, após me dar conta do que estava prestes a acontecer entre nós, passei a
mão pelo meu pescoço com o intuito de aplacar o calor que me tomou por
dentro.
Acompanhei o exato momento em que ele deixou o interior do
veículo e o contornou, abrindo minha porta em seguida. Peguei a minha bolsa
e assim que saí, fui encurralada contra a lataria do carro.
— Agora você será minha, garota tentação. — Nem mesmo tive
tempo de assimilar o que disse, pois segurou firme em minha cintura e
beijou-me de forma avassaladora, roubando todo o meu ar, deixando-me
eufórica para saber que tipo de prazer seria proporcionado a mim dentro do
quarto.
Sendo bem sincera, encontrava-me ansiosa para descobrir.
Capítulo 7

João Paulo

Enquanto caminhávamos em direção a suíte do motel, que eu já


havia reservado mais cedo para nós, uma de minhas mãos encontrava-se
pousada no meio das costas de Daniela. Ao pararmos perante a porta, peguei
as chaves que me deram na recepção e fiz sinal para que ela entrasse
primeiro. Notei que observou minuciosamente o local.
— Hum… nada mal — opinou e, eu ri.
— Posso pedir o almoço, se quiser. — Ofereci e logo tive sua atenção
em mim.
— Acho que não temos tempo para isso, concorda? — comentou.
Soltei um riso de canto e fui tomado pela visão dela, deixando sua
bolsa sobre a mesa de canto e posicionando-se próximo ao pé da cama.
Acompanhei seus movimentos, enquanto levava suas mãos até a lateral do
vestido para abrir o zíper, livrando seus ombros. A peça caiu sobre os seus
pés, e ela deu um passo para fora na sequência, chutando para o lado.
Porra de mulher tentadora! — xinguei mentalmente, indo em sua
direção para envolver sua cintura.
— Tem razão, não temos tempo para perder. — Levei minha boca até
o seu pescoço e dei várias mordidas, descendo meus lábios até o seu colo,
intensificando o aperto em sua cintura.
— João Paulo… — ouvi-la me chamando dessa forma, tão formal, me
deixou cismado e a encarei.
— Você pode me chamar de JP, gostosa. Não precisa de formalidade,
porque já passamos dessa etapa, não acha? — sugeri.
Ela deu uma risadinha.
— Gosto do seu nome — frisou. — É um nome agradável aos meus
ouvidos. João Paulo — pronunciou de modo sensual.
— Puta que pariu, mulher! Nunca mais vou ouvir meu nome do
mesmo jeito. Pode repetir?
— João Paulo — reiterou, dando mais ênfase, causando-me mais
tesão.
— Conseguiu me deixar ainda mais duro — confessei.
— Ah, é? — questionou com um timbre sedutor, envolvendo-me cada
vez mais. — Que delícia!
Assenti, sugando seu lábio superior.
— Quero ouvi-la me chamar assim quando eu socar o meu pau na sua
boceta. — Envolvi uma de minhas mãos em sua nuca e enfiei meus dedos
entre os fios do seu cabelo, firmando-os, não permitindo que movesse a
cabeça. A outra foi parar no meio de suas pernas onde a massageei por cima
do tecido da calcinha.
Enquanto a torturava, Daniela abriu e fechou sua boca minimamente.
Seus olhos demonstraram excitação. Consegui mover parte do pano para o
lado e passei dois dos meus dedos em sua abertura, constatando que se
encontrava lubrificada; pronta para mim.
— Delícia de boceta encharcada. — Meus dedos encontraram seu
clitóris e concentrei meus movimentos ali. — Sente-se! — ordenei e ela
sentou-se na ponta da cama.
Afastei-me o suficiente para me desfazer do paletó e da camisa, sendo
monitorado por seus olhos famintos. Tirei meus sapatos e também a calça
social junto com a cueca, e assisti o exato momento em que sua atenção se
concentrou no meu pênis extremamente duro. Percebi quando passou a língua
entre seus lábios, denunciando que estava gostando do que via.
Diante do seu gesto, não me restou dúvidas do que queria. Movi-me
até ela, não abandonando seu olhar e fui surpreendido ao vê-la se levantar e
ficar de costas para mim. Voltei a grudar minhas mãos em seu quadril e
friccionei meu membro contra suas nádegas, a fim de que sentisse o tamanho
da minha excitação, entretanto, eu a escutei resfolegar.
— Abre. — Referiu-se ao fecho do sutiã que ainda usava e fiz como
pediu.
Daniela se virou em seguida, e quando minha boca atacou a sua, eu
segurei um dos seus seios com uma de minhas mãos, apertando-o com
sutileza, recebendo seus gemidos abafados contra os meus lábios. Fiz o
mesmo com o outro seio. Cessei nosso beijo e tomei um dos seus mamilos
em minha boca, contornando seu bico rijo com a minha língua, repetindo o
mesmo no outro. Quanto mais a provocava, mais os seus gemidos prazerosos
preenchiam meus ouvidos e seus dedos moviam-se entre os fios do meu
cabelo, hora ou outra, puxando-os com força. Poderia dizer que meu couro
cabeludo ficaria dolorido, só que eu estava gostando; excitava-me.
Abandonei-os em seguida.
— Agora eu quero que se deite no meio da cama e abra bem essas
pernas, pois quero te chupar bem gostoso — ditei, próximo ao seu ouvido e
assim que a encarei, Daniela esboçou um meio sorriso, mordendo seu lábio
inferior.
A safada ficou de costas e abaixou-se na minha frente, empinando a
sua bunda gostosa e redonda, tirando sua calcinha. Senti meu sangue
bombear mais rápido do que o normal em minhas veias, deixando meu pênis
ainda mais rochoso.
— Gostosa! — Elogiei, estalando um tapa em uma de suas nádegas.
A ouvi suspirar, após o meu gesto. Fiquei ali, como se estivesse
hipnotizado, assistindo-a se sentar para retirar a sua sandália, de salto médio e
subir sobre a cama de joelhos, dando-me uma visão privilegiada do seu sexo,
contribuindo para que eu perdesse de vez a minha compostura. Mal esperei
que abrisse suas pernas e me posicionei no meio delas, tomando seu sexo em
minha boca, contornando-o com minha língua.
Enquanto a saboreava, minhas mãos subiram por sua barriga plana
para tomar seus seios, espremendo-os, demonstrando o grau da minha
excitação. Aumentei o meu ato contra sua carne inchada ao mesmo tempo em
que explorava seus mamilos intumescidos e a tive impulsionando seu quadril
com veemência contra os meus lábios, ação que me fez gemer de
contentamento.
— Isso! Mais rápido, João Paulo — murmurou em meio ao prazer que
eu estava proporcionando ao seu corpo.
Parei meus movimentos e subi, posicionando meu tronco acima do
seu, mas tendo o cuidado de manter parte do meu peso sobre um dos meus
antebraços.
— O que pensa que está fazendo? Não temos muito tempo e… — a
impedi de continuar reclamando ao reivindicar seus lábios e nossas
respirações aceleradas se misturaram em meio ao beijo intenso e urgente. Tão
logo me afastei, deixando nossos rostos bem próximos.
— Vou pegar a camisinha. Quero que goze quando eu estiver dentro
de você — adverti, contemplando seus olhos de tom castanho, só que mais
claros que os meus.
Daniela meneou a cabeça em concordância e saí de cima dela, indo
até o bolso da minha calça, onde me apossei da carteira e peguei um
preservativo. Rapidamente voltei para a cama e assim que me posicionei e
rasguei a embalagem, eu fui parado por suas mãos delicadas. A encarei em
seguida.
— Eu coloco. — Seu olhar era arrebatador e jamais iria contra a sua
vontade.
Entreguei a ela e ajustei minha postura no meio da cama, assim que
me deu espaço para deitar e abri meus braços, cruzando minhas mãos atrás da
cabeça. Meus olhos acompanharam o exato instante em que seus dedos
macios tomaram delicadamente meus testículos. Massageou-os com cuidado
enquanto eu tentava não gozar apenas com o seu toque. Concentrada, Daniela
segurou na base do meu cacete e seguiu até a cabeça, pressionando-o num
movimento de sobe e desce, me fazendo pirar.
— Porra! Anda logo com isso — praguejei, assistindo-a rir da minha
explosão.
Assim que ela terminou, não aguentei esperar nem mais um segundo e
me levantei, instruindo-a para se deitar na cama. Encarei seus olhos cheios de
faíscas, não muito diferente do tipo de sentimento que também poderia ser
encontrado nos meus, e após agarrar o meu pau e pincelar em sua entrada,
enfiei-o de uma vez, até minhas bolas baterem contra sua bunda. Nós dois
grunhimos de tesão.
A vi fechar os olhos ao abrir a boca e arranhar minhas costas com
suas unhas afiadas. Retirei-me de dentro dela e arremeti com mais precisão,
intensificando minhas estocadas em sua entrada. Nossos gemidos se
misturaram em meio ao cômodo e continuei metendo em sua boceta,
querendo cumprir a promessa que tinha feito, onde a deixei ciente de que lhe
daria prazer, entretanto, sequer imaginava para quem de nós dois estava
sendo mais satisfatório aquele momento.
Senti suas mãos deslizarem pelas minhas costas e se deterem em
minha bunda, fincando suas unhas nela e fazendo minha excitação aumentar
ainda mais. Grudei meus dentes na lateral do seu pescoço, mordiscando
levemente. Nossos gemidos ampliaram-se ao mesmo tempo em que meus
movimentos também.
— João Paulo… eu… — a escutei pronunciar, só que parou, deixando
a frase suspensa no ar. Não precisou que terminasse, pois eu entendi que
estava próxima de gozar.
— Goza no meu pau, vai, sua gostosa! — pedi com minha voz
carregada de luxúria.
Bati mais fundo dentro dela e quando menos esperei, ela cravou suas
unhas com mais força do que o normal, deixando-me ciente que tinha
chegado ao ápice e, por causa da sua reação, eu não consegui me conter por
mais tempo e ejaculei dentro dela, rosnando alto, feito um selvagem.
Joguei-me ao seu lado e arfei, sentindo os efeitos do gozo trespassar
pelo meu corpo, tendo o poder de me fazer relaxar. Ouvi a respiração pesada
de Daniela, e sorri, virando meu rosto para o lado e sendo atingido pelo seu
sorriso de volta. Ela demonstrava todo o seu contentamento, juntamente com
o seu olhar avassalador. De repente, moveu-se até descansar seus antebraços
em cima do meu peitoral, mordendo seu lábio inferior.
— Nada mal, João Paulo — brincou e esbocei um riso de canto,
levando uma de minhas mãos ao seu rosto apenas para deslizar meu polegar
por sua bochecha, notando meu pau ganhar vida outra vez.
— Se continuar proferindo meu nome de forma tão lasciva, eu vou
voltar a te atacar e é arriscado chegarmos depois do nosso horário, e isso
poderá causar especulações entre os funcionários da empresa. — A repreendi,
contornando seus lábios com meu dedo.
— Tem razão, precisamos ir. Caramba! Nem ao menos almoçamos —
pontuou e, quando fez menção de sair da cama, eu a interceptei.
— Que tal uma ducha juntos? — soprei com malícia.
Daniela negou.
— Não acho uma boa ideia — ressaltou, olhando em direção ao meu
membro semi ereto e deixou a cama.
Fiquei deitado, olhando-a pegar suas roupas para em seguida entrar no
banheiro. Sentei-me na cama e sorri, feliz por ter conseguido que ela
transasse comigo, o que foi muito prazeroso. Queria mais, claro, mas
devíamos voltar o quanto antes para a empresa.

∞∞∞

Depois que saímos do motel, estacionei em uma panificadora e


comprei um salgado e suco para nós dois, apenas para enganar o estômago e
conseguirmos trabalhar o restante da tarde sem contratempos. Ao me
aproximar da empresa, estacionei o carro do outro lado da rua e a fitei.
— É melhor que desça aqui, para não levantarmos suspeitas. Eu ainda
estou em processo de divórcio, então não seria legal — expliquei e, ela
assentiu.
— Sim, também acho melhor. — Comprimiu seus lábios em um meio
sorriso.
Retirei meu cinto de segurança e inclinei meu corpo em sua direção,
segurando seu queixo com uma de minhas mãos. Não foi preciso que
disséssemos nada. Beijei sua boca com extremo desejo e após cessá-lo, a vi
se afastar.
— Nos vemos por aí, então, chefe? — disse, divertida.
Depois de pegar sua bolsa, destravou a porta e saiu, deixando-me ali
dentro com um sorriso bobo, contudo, satisfeito. Certifiquei-me de que ela
tivesse entrado no prédio ao atravessar a rua e saí dali. Dirigi até estacionar
no mesmo lugar de sempre.
Abandonei o veículo com minha pasta em mãos e peguei o elevador
privativo. Não demorou até chegar ao meu andar e segui para a minha sala.
Mal deu tempo de sentar em minha cadeira e o meu celular começou a tocar.
Ao pegá-lo, vi que se tratava da Ingrid e, prontamente, ignorei a
ligação, que se repetiram e, eu silenciei o aparelho, jogando-o dentro da
primeira gaveta da minha mesa. Não queria estragar o meu bom humor.
O ramal sobre a minha mesa começou a tocar e, eu atendi:
— Senhor, a sua esposa… — soltei um longo suspiro e a interrompi,
antes que terminasse de falar.
— Diga que estou ocupado. Não posso atendê-la.
— Ok, senhor — respondeu e encerrei em seguida.
Recostei em minha cadeira e passei a mão pelo meu rosto, pensando
em ligar para o Jin Yang e marcar logo para conversarmos. Minha atenção foi
tomada pelo som do computador, indicando uma nova mensagem recebida
em meu e-mail. Mexi no mouse e a tela brilhou, pois estava em modo de
descanso.
Abri o e-mail e ao ver que se tratava de uma mensagem da Ingrid,
bufei com irritação. Mesmo a contragosto, cliquei e, ao ver o conteúdo,
passei a mão pelo meu rosto, extremamente frustrado. Eram fotos minhas
com a Daniela, de quando ela entrou no meu carro ao sairmos da empresa e
entrando no estacionamento do motel. Até quando retornamos, nós fomos
fotografados nos beijando.
Que porra!
Alcancei meu celular dentro da gaveta e disquei o número da Ingrid,
que atendeu no primeiro toque.
— Meu coala finalmente se desocupou para, enfim, falar com a sua
esposa? — Suas palavras saíram carregadas de puro deboche.
— Onde conseguiu essas fotos, Ingrid? — bradei. Estava farto dela e
de todos os seus joguinhos. — Colocou alguém para me vigiar? O quão
doente você é, hum? Me diz! — exigi.
Escutei ela explodir em uma gargalhada, gesto que me fez trincar os
dentes, a fim de conter a minha ira.
— Não era esse tipo de pergunta que eu pretendia ouvir. É sério que
deu para sair com funcionariazinhas sem graça feito ela? Está regredindo,
querido. Enfim, eu quero que a demita até o final do dia — ditou.
Sorri com sarcasmo.
— Por que eu faria isso? — inquiri com ironia.
— É simples, meu coala. Você a demite até o final do dia, ou… vou
pegar essas fotos, levar ao meu pai, seu maior investidor na empresa, e o
convencerei a parar de investir no seu negócio. Entendeu?
— Sua desgraçada! Escreve o que eu vou te falar, Ingrid… um dia
você pagará por todo esse inferno que vem causando na minha vida. Maldito
foi o dia em que te conheci! — Finalizei a chamada e apertei o aparelho com
extrema força.
Levantei e dei a volta pela minha sala, passando meus dedos
furiosamente entre os fios do meu cabelo e pensando numa forma de reverter
essa exigência. Parei no meio da sala e mordi minha mão, fechada em punho,
furioso comigo mesmo por não ter ouvido a Daniela quando a chamei para
sairmos e ela comentou que seria arriscado. Flashes do momento em que
tivemos no motel pipocaram em minha mente e espalmei minhas mãos sobre
o tampo de mesa.
Eu não queria que fosse assim. Não podia me prestar a algo tão sujo!
Inconformado, voltei ao trabalho e uma hora se passou, desde minha
conversa com a Ingrid. Meu cérebro faltou sair faíscas de tanto que matutei
em busca de qualquer saída que fosse para não concretizar o que me intimou
a concluir. Eu poderia confrontá-la e deixar bem claro que não faria o que,
praticamente, me ordenou, porém, acabaria sendo perigoso, não só para mim,
mas para Daniela também, uma vez que Ingrid sempre demonstrou ter
problemas de personalidade. Só pelo fato de ainda insistir em infernizar a
minha vida, não me restava dúvidas de que tivesse coragem de ferir qualquer
outra pessoa que ficasse em seu caminho.
Sem outra alternativa, disquei o número do ramal do RH e com uma
imensa tristeza, solicitei a demissão sem justa causa da Daniela. Eu sabia que
estava sendo um completo covarde. E, era hora de arranjar um jeito de
convencer o meu “sogro” a me dar uma chance de defesa.
A Ingrid que me aguardasse, pois isso não ficaria assim. Não mesmo.
Teria volta.
Capítulo 8

Daniela

Saí do elevador, ainda sentindo as sensações de cada toque, beijo e


mordida que João Paulo havia distribuído pelo meu corpo. Todos os meus
pelos se eriçaram ao me recordar da sua boca cobrindo o meu sexo. Sorri,
sentindo-me inebriada com as lembranças e passei a mão em minha nuca,
tentando aplacar a chama que voltava a se acender em meu íntimo.
Empurrei a porta de vidro ao entrar em minha sala e percebi que
Thiago ainda não tinha retornado. Sentei em minha cadeira e, com o intuito
de espantar cada recordação do sexo maravilhoso que acabara de ter, eu
acabei pegando alguns papéis que se encontravam ali em cima e comecei a
lê-los. Foi ótimo, porque realmente acabei me distraindo e relaxando um
pouco, mas minha paz foi tirada ao ter a atenção direcionada para a figura
que fez questão de se prostrar do outro lado da mesa que eu usava.
— Pois não? — indaguei, numa tentativa falha de iniciar uma
conversa saudável, porém seu olhar repugnado, foi capaz de me deixar ciente
que isso não iria acontecer.
— Acha que sou idiota ou o quê, Daniela? — Ele espalmou suas
mãos sobre a mesa e me encarou com afinco.
Antes de respondê-lo, puxei o ar e o soltei aos poucos.
— Eu acho que não entendi. — Tentei soar sincera, mas ele soltou um
riso amargo.
— Não se faça de sonsa pra cima de mim, querida. Se tem uma coisa
que eu conheço bem, são funcionárias feito você! — advertiu.
Franzi o cenho.
— Olha, se o fato de você estar aqui, me falando essas coisas, diria
que até ofensivas, seja por eu ter ido a reunião…
E, então, fui interrompida:
— Imagino que deve ter mexido os seus pauzinhos para conseguir que
o nosso chefe te convidasse para aquela reunião e não pense que não sei qual
foi o seu propósito ao armar tudo isso. — Continuou me acusando.
— Sabe? — Ele arqueou a sobrancelha e confirmou. — Então me
diga qual é. — Naquela altura, eu já não estava ligando para o que Thiago
pensava de mim. Tinha a minha consciência tranquila.
— Dani, Dani… mulheres bonitas como você, sabem muito bem
como manipular as pessoas. A verdade, é que tenho experiência o suficiente
para reconhecer quando certo alguém quer tomar o meu lugar — frisou,
convicto sobre o que dizia.
Não consegui segurar a minha risada, que logo consegui conter, o que
o deixou ainda mais irritado.
— Thiago, olha só… — ponderei, ajustando minha postura sobre a
cadeira e respirando fundo. Voltei a fitar seus olhos nublados pela raiva. —
Eu nunca pensei em tomar o seu lugar, muito pelo contrário. Durante esses
anos em que trabalho aqui, sempre o ajudei a desenvolver cada trabalho
referente ao site, algo que eu realmente amo fazer, entretanto, você vem
deixando a desejar como chefe, pois nenhuma das vezes em que o auxiliei
com minhas ideias, você se preocupou em dizer um simples obrigada, a fim
de reconhecer os meus esforços. Foi preciso que o senhor João Paulo fizesse
isso perante a uma reunião. E agora, eu estou aqui, ouvindo essas acusações
absurdas da sua parte — pontuei, claramente indignada pelo que havia me
dito.
O vi erguer seu tronco e desviar o olhar do meu, pensativo.
— De qualquer forma, não estou falando nada disso para que ocorra
uma briga entre nós dois, não me entende mal. Apenas quis esclarecer os
fatos — ressaltei.
— O pior de escutar tudo o que me disse, é saber que está
completamente certa, Dani. — Para o meu completo espanto, admitiu.
Coloquei a mão sobre o meu coração e respirei aliviada.
— Que bom que disse isso, até me senti mais leve agora — confessei
e, ele riu.
— Vem cá, me dê um abraço para selar as pazes. — Feliz, deixei
minha cadeira e contornei a mesa, indo ao seu encontro e fui envolvida pelos
seus braços. — Desculpe-me por ter sido um péssimo chefe, contudo, eu
prometo que vou melhorar. — Rimos juntos e logo me afastei.
— Claro que eu te desculpo. E olha que vou cobrar essa promessa,
hein?! — informei em tom divertido.
— Conto com isso. — Suas palavras soaram verdadeiras e fiquei
ainda mais contente em identificar isso.

∞∞∞

Depois que Thiago e eu fizemos as pazes, dei seguimento ao meu


trabalho. Pouco tempo depois, recebi uma ligação da minha mãe e fui até o
banheiro para atendê-la, onde me informou que estaria chegando na semana
seguinte, pois viria para o meu aniversário. Quando encerrei a chamada,
enviei uma mensagem para a Amanda, dizendo que precisava conversar com
ela ao chegar em casa. Pretendia contar sobre o João Paulo e a chegada da
minha mãe.
Retornei para a sala e o restante da tarde passou rápido; sequer tive
tempo para sair novamente da minha mesa. Em um determinado momento, o
telefone tocou e fui eu quem atendi, já que Thiago se encontrava concentrado,
lendo alguns papéis que tinha em mãos.
— Daniela falando. — Me pronunciei ao pegar o aparelho.
— Olá, Daniela. Sou a Bianca, gerente do RH. Você pode vir até a
minha sala, por favor? — Minha testa enrugou, pois estranhei sua solicitação.
— Claro. Precisa ser agora? — Olhei no relógio e constatei que
faltavam poucos minutos para encerrar o expediente.
— Sim. — confirmou.
— Tudo bem, eu estou indo — respondi e finalizei a chamada.
Fiquei pensativa por pouco tempo, até ouvir Thiago.
— Quem era? — inquiriu, olhando-me com uma expressão
preocupada.
— A gerente do RH — anunciei.
— A Bianca? — questionou em tom surpreso e balancei a cabeça,
assentindo. — O que ela queria? Ou melhor, por que está pálida? — Eu ri,
querendo que minhas desconfianças se dissipassem.
— Não estou pálida! — neguei, claramente mentindo. — Ela me
pediu para ir até sua sala — completei.
— Que estranho — murmurou.
— Muito. Enfim, vou lá saber o que ela deseja. — Tentei me manter
autoconfiante e acreditar que minha ida até lá não fosse nada demais. Depois
de deixar minha mesa arrumada, eu saí da sala tendo o olhar do Thiago sobre
mim.
Com passos firmes, eu fiz o percurso até o elevador e segui para o
andar de cima. Deixei o mesmo assim que suas portas se abriram e trilhei até
chegar perante a porta da sala do RH, que também era de vidro. Antes que
pudesse bater, eu tive o olhar da gerente voltado para onde eu estava e, ela
acenou, convidando-me a entrar.
— Sente-se, por favor. — Ofereceu-me a cadeira diante de sua mesa
e, eu me acomodei.
— Então, por que me chamou aqui? — Fui direto ao assunto,
enquanto ela retirava alguns papéis de dentro do envelope pardo.
— Eu preciso que assine a sua rescisão, Daniela. — Senti meu
coração gelar ao ouvir aquilo.
— O-o quê? Rescisão? Do que está falando? — Eu sabia muito bem o
que aquela palavra significava, mesmo assim, queria entender o motivo de
estar sendo demitida.
Ela descansou suas mãos sobre a mesa e, enfim me olhou.
— Você está sendo demitida, mas não se preocupe, é uma dispensa
sem justa causa — explicou e, eu ri amargamente.
— Quem fez esse pedido? — indaguei, curiosa.
— Olha, a empresa só está passando por algumas mudanças. —
Tentou me convencer.
Eu não era boba, sabia que isso tinha dedo do João Paulo.
— Ah, claro! — exclamei, convencida do porquê de ele ter feito isso.
Na certa, quis apenas me “comer” e estava me descartando. Provavelmente
fui só mais uma funcionária idiota que caiu em sua lábia, que agora, não tinha
mais serventia, afinal, ele já havia conseguido o que queria.
Que burra!
Assinei os papéis o mais ágil que consegui, pegando os que ficariam
comigo e deixei a sala com um nó atravessado em minha garganta. Pensei em
ir à sala dele e dar um belo tapa naquela cara de cafajeste, entretanto, não me
sujeitaria a isso. Ele sequer merecia olhar na minha cara outra vez.
No caminho de volta para a sala que, a partir daquele momento, não
faria mais parte do meu dia a dia, eu ainda olhei em direção a porta da sua
sala. Vontade de ir até lá não me faltou, contudo, eu desisti. Continuei o meu
percurso e, ao entrar na sala, não encontrei o Thiago, o que agradeci, pois não
conseguiria falar que havia sido demitida sem chorar. Recolhi a minha bolsa
e deixei a empresa.
Logo que entrei em meu carro, descansei minha testa contra o volante
e, finalmente, me permiti chorar. As lágrimas correram livres pelo meu rosto,
tamanho era a minha tristeza misturada à frustração. Não acreditava no que
estivesse acontecendo, por um instante, desejei que tudo aquilo não passasse
de um pesadelo, só que eu sabia que era a mais nua e crua realidade.
Convencida, eu limpei meu rosto, tentando conter o choro, e quando
consegui, eu dei partida no veículo e dirigi para fora dali. Peguei a rodovia
que me levaria até meu apartamento e durante o percurso, condenei-me por
diversas vezes, não acreditando no quão imbecil eu havia sido ao me deixar
levar pela conversa fiada do meu chefe.
Lembrei-me de mais cedo, antes de ir ao trabalho, o quanto Amanda
me avisou para manter distância dele, só que errei em não ter dado ouvidos a
ela. Agora estava sentindo na pele o que era ser tratada como uma vadia
qualquer, porque era assim que me via no momento. Mas qual foi minha
surpresa perante a atitude do João Paulo? Afinal, um homem lindo e CEO
ainda por cima, não precisava se apegar a qualquer mulher, muito menos a
uma mera funcionária como eu.
Além de tudo isso, ainda era casado. Pensativa, enquanto estacionava
o carro, pensei na possibilidade de ele também ter mentido sobre o divórcio.
Na certa, inventou aquela história apenas para me levar para a cama e, eu caí
feito uma pata.
Bati a mão contra a minha testa ao me dar conta disso e logo me vi
diante do elevador, entrando no mesmo em seguida. Ajustei a bolsa em um
dos meus ombros e segurei a imensa vontade que sentia de chorar outra vez.
As portas se abriram no meu andar e caminhei até parar de frente a porta do
apartamento e a destravei ao girar a chave na fechadura, fechando-a com
mais força do que o normal.
Cruzei a sala, alcançando o corredor e, rapidamente, entrei em meu
quarto. Joguei a bolsa no chão e deitei de bruços na cama, chorando
copiosamente contra o travesseiro que abracei. Encontrava-me desolada.
Não demorou até que minha amiga entrasse ali e me distraísse por
algum tempo. Contive meu choro quando notei que ela estava usando
muletas. Depois de ter me explicado e me tranquilizado sobre o que tinha lhe
acontecido, foi a minha vez de desabafar. Contei que tinha sido demitida e
também sobre a minha loucura de ter transado com meu chefe.
Claro que Amanda ficou furiosa, xingando-o de cachorro, safado e
pilantra, comunicando que queria ir até ele lhe falar poucas e boas. Tratei de
me manter calma e a tranquilizei, deixando claro que não valia a pena se ater
a isso; que João Paulo só havia sido mais uma decepção em minha vida,
assim como todos os outros com quem me deixei enganar.
— A culpa é minha e de mais ninguém — reconheci.
— Eu sinto muito por isso — disse, pesarosa.
— Eu também. — Comprimi meus lábios numa vã tentativa de
demonstrar que logo estaria bem, mas era certo que isso demoraria a
acontecer.
Sentia-me extremamente magoada com os acontecimentos recentes.
Permanecemos algum tempo ali, onde falei que no dia seguinte teria
que retornar à empresa para pegar os meus pertences, já que saí de lá tão
desnorteada ao ser comunicada sobre minha demissão. Então a Amanda me
sugeriu um banho quente, que com certeza me relaxaria e foi o que fiz.
Rapidamente entrei no banheiro e, ao me despir, movi-me até o Box e liguei
o chuveiro.
Enquanto a água quente caía sobre a minha cabeça, molhando os
meus cabelos e misturando-se às lágrimas que deixavam os meus olhos,
esfregava a bucha com força contra a minha pele, querendo apagar qualquer
vestígio do toque do João Paulo. Flashes do momento em que passamos
voltaram a me atormentar e fechei meus olhos com força. A verdade é que ele
obteve bastante êxito em me ludibriar; eu só precisava de tempo para
esquecer tudo e voltar a seguir com minha vida.
Capítulo 9

João Paulo

Em consequência da noite mal dormida, acabei acordando com uma


leve dor de cabeça. Sentei-me na cama e massageei minha têmpora, a fim de
aplacá-la, mas não serviu de nada. Alcancei um analgésico na gaveta da
mesinha de cabeceira e bebi um pouco da água que continha no copo que
deixei ali horas atrás, antes de conseguir pregar os olhos.
O gosto amargo ficou impregnado em meu paladar e fiz uma careta,
devolvendo o copo onde estava. Passei minhas mãos em meu rosto, querendo
de alguma forma espantar a culpa que estava sentindo por ter demitido a
Daniela. Não obtive êxito e resolvi tomar um banho.
Enfiei-me no banheiro e me livrei da calça de moletom que usava.
Deixei a temperatura fria e após ligar o chuveiro, fiquei ali, com os olhos
fechados, sentindo meu coração comprimido e, ao mesmo tempo,
descompassado dentro do peito. Descansei meus antebraços contra a parede
de azulejos, sentindo-os gelados e, com minhas pálpebras baixas, recordei-me
do sexo prazeroso que tive com Daniela. Lembrar-me de sua entrega, me
causou uma ereção.
Querendo acalmá-lo, levei uma de minhas mãos até o meu pau e o
agarrei, massageando-o num movimento lento de sobe e desce, gesto que me
trouxe à memória a tortura que foi ter aquelas mãos macias e delicadas me
apalpando, dando-me um prazer delirante. Intensifiquei meus movimentos e
ainda com a ducha ligada, levantei minha cabeça pressionando minhas
pálpebras com mais força, sentindo um calor crescente em meu interior,
denunciando o aumento gradativamente do meu tesão. Meu cacete inchou
entre meus dedos e urrei, assim que meu gozo explodiu.
Porra!
Praguejei ao me dar conta do que tinha acontecido ali. Não podia
enganar a mim mesmo; eu a queria novamente.
Era errado desejá-la com tanto afinco, quando eu deveria me manter o
mais distante possível, até para poupá-la de Ingrid. Não bastasse isso,
também tinha o fato de ter inventado a mentira do divórcio para tê-la em
meus braços e usufruir do seu corpo tentador. O plano não era esse! Imaginei
que transando com ela somente uma vez, seria o suficiente para sanar a
excitação que me aplacava sempre que a via na empresa e depois seguiríamos
com nossas vidas, porém, eu me enganei feio.
Desde o dia anterior, depois de deleitarmos naquele sexo avassalador,
Daniela acabou virando algum tipo de droga para mim. Parecia ter invadido
os meus vasos sanguíneos, me tornando completamente dependente.
Honestamente, precisava admitir que se tornou o meu melhor vício, até então.
Suspirei, entristecido por termos nos conhecido em meio ao caos que
minha vida tinha se tornado. Sonhava em um dia voltar a ter a liberdade que
me foi arrancada. Era hora de tomar alguma atitude; já havia perdido tempo
demais.
Certo sobre isso, eu me lavei rapidamente e finalizei o banho. Só
depois de sair do banheiro, notei que a dor em minha cabeça, latejava
minimamente, fato que já não me incomodava tanto, diferente de quando
havia acordado. Escolhi uma roupa no estilo tradicional; um jeans escuro de
corte reto, camiseta polo de cor branca e sapato social preto. Olhei-me no
espelho e, ao terminar de passar o pente pelo cabelo, eu peguei meu celular e
sentei-me na beirada da minha cama.
Primeiro disquei o número da minha empresa e assim que fui
transferido para falar com a minha secretária, informei que não compareceria
e que era para ela cancelar toda a minha agenda do dia. Era o certo a ser feito,
uma vez que queria evitar me encontrar com a Daniela. Se isso acontecesse,
eu não saberia o que dizer ou como me explicar com precisão, sem contar
que, antes que eu conseguisse abrir a boca, tinha a grande hipótese de ter meu
rosto marcado pelos seus cinco dedos da mão. Não descartava isso.
Em seguida, movi meu dedo pela tela do celular, procurando outro
contato e o achei; o número do meu sogro. Coloquei para chamar e não
demorou até ouvir a sua voz do outro lado da linha:
— Como vai, meu genro? — cumprimentou-me de modo cordial, ao
atender.
— Não da forma que eu queria estar, mas uma hora as coisas
melhoram — pontuei, sendo sincero.
— Tem razão, mas confesso que estou surpreso com a sua ligação.
Afinal, somos sogro e genro há alguns anos e isso não é comum da sua parte,
a não ser quando se trata de negócios. — Foi claro.
Eu ri, porque me soou como uma piada.
— Não sou seu genro por escolha minha, sabe muito bem disso —
proferi, talvez um pouco rude demais.
Ouvi-o limpar a garganta.
— Devo concordar que não somos um sogro e genro invejáveis.
Enfim, fale qual o motivo de ter me ligado — pediu.
— Precisamos conversar… — ponderei, procurando a palavra correta
— seriamente — completei.
— Quando? — perguntou em seguida.
— Prefiro que seja hoje. O mais breve possível, para ser mais exato.
— Fui taxativo.
— Se quiser vir, eu estarei a sua espera, já que passarei o dia no
escritório aqui de casa — concluiu.
— Obrigado, logo chegarei por aí. — Agradeci e desliguei.
Mordi meu lábio inferior enquanto passava uma de minhas mãos em
meu queixo, sentindo os pelos da minha barba começando a apontar.
Suspirei, irritado, consequência da noite mal dormida. E para piorar, o
péssimo humor me acompanhava. Grande merda!
Inspirei o ar pesadamente e o soltei aos poucos, tentando me manter
sereno. Não demorou até que meu celular começasse a tocar e vi que era a
minha mãe.
Com o aparelho ainda em mãos, eu atendi:
— Oi, meu filho! — ouvi sua voz, que saiu carregada de carinho.
De alguma maneira, ela parecia ter lido os meus pensamentos, pois o
que mais precisava neste exato momento, era realmente ouvi-la.
— Oi, mãe — falei com a voz branda, tentando demonstrar que me
encontrava bem, o que não era verdade.
— Está tudo bem? — Ela devia pressentir minhas reais emoções, só
isso explicaria sua pergunta repentina.
— Sim, está — menti e, eu sabia que não conseguiria enganá-la, no
entanto, não custava tentar.
— Sabe muito bem que não adianta querer me enganar, não sabe? —
inquiriu, arrancando de mim um riso ameno.
Meu coração superaqueceu dentro do peito. Saber que tinha uma mãe
tão preocupada e carinhosa me fazia crer no quão sortudo eu era por tê-la.
— Eu sei, mãe — confirmei. — Combinei de ir até a casa do senhor
Jin Yang para, enfim, colocar o que me sugeriu em curso — contei.
— Que maravilha, meu filho! Espero, sinceramente, que ele te dê uma
chance, apesar de ser um pouco difícil — ressaltou.
— É verdade — concordei.
— Bom, faltam poucas horas para o horário do almoço, mas liguei
para te convidar a vir almoçar comigo, ou o fará com o seu sogro? —
levantou aquela hipótese em um tom divertido.
— Claro que não, mãe. Só vou lá para falar com ele — informei.
— Então você vem?
— Sim.
— Ótimo! Vou colocar mais um prato na mesa. — Soltei um riso
contente pelo seu bom humor.
— Eu te amo, mãe — declarei, de repente.
— Eu também — frisou e logo nos despedimos.
Depois do seu telefonema, eu tinha que admitir que me senti um
pouco melhor.
Deixei meu apartamento, após pegar minhas chaves e carteira, em
seguida, peguei o elevador, que não demorou a descer ao estacionamento.
Suas portas se abriram e caminhei a passos precisos até o meu carro;
destravei-o e tomei meu assento atrás do volante. Saí, pegando a estrada em
direção a residência do pai da Ingrid.
Como ainda era cedo — antes do horário de almoço — o trânsito fluía
bem. Não demorei a chegar, visto que o condomínio em que ele morava,
ficava a poucos minutos de onde eu residia. Parei diante dos portões e quando
os seguranças liberaram a minha entrada, estacionei próximo ao jardim, já
que minha intenção era ter aquela conversa e ir embora o mais rápido que
conseguisse.
Subi os degraus e, rapidamente fui recepcionado pela governanta da
casa, sendo conduzido até o escritório, o que agradeci, porque tinha pressa.
Atravessei a porta de madeira maciça e o encontrei sentado atrás de
sua mesa. Querendo ou não, sempre que eu me submetia a estar ali, flashes
do dia em que fui coagido nesta mesma sala pela Ingrid, tomavam a minha
memória e certa tristeza preenchia o meu interior. Maldito foi aquele dia.
— Como vai, senhor Yang? — saudei-o formalmente, e ele se
levantou de sua cadeira, dando-me um aperto de mão.
— Sem formalidades, sabe muito bem disso — pediu, sério e, eu
assenti. — Mas vou bem. Sente-se. — Apontou a cadeira ao meu lado
perante sua mesa e aceitei, acomodando-me nela. — O queria falar comigo?
— questionou, olhando-me ao recostar em sua cadeira.
— Eu quero falar sobre a… — não pude concluir, uma vez que, a
porta do escritório foi rompida e um barulho de salto alto batendo contra o
piso misturando-se a voz da Ingrid, ecoou pelo cômodo.
— Hum… Que cena mais linda! Genro e sogro juntos. — Sua menção
saiu carregada de puro deboche fazendo-me comprimir os olhos ao mesmo
tempo em que fechava uma de minhas mãos em forma de punho, vendo-a
ficar branca.
Mil vezes maldita!
Xinguei, mentalmente, não acreditando que ela realmente estivesse ali
e, pior, me atrapalhando num momento que me era crucial. Impaciente com
sua presença indesejada, eu a observei dar a volta na mesa. Depois de beijar o
rosto do seu pai num cumprimento, ela veio até mim, ficando atrás da cadeira
e pousando suas mãos em meus ombros, massageando-os, gesto que ao invés
de me trazer paz, teve o efeito contrário.
— Não avisou que viria, filha. — Seu pai comentou, encarando-a.
— Era preciso? Pensei que eu fosse bem-vinda a qualquer momento
nesta casa — dramatizou e seu pai riu.
— Sempre dramática — reconheceu.
— E então, do estavam falando? — quis saber.
Olhei para Yang e suspirei, deixando claro o meu descontentamento.
Abri a boca para responder, mas ele tomou a frente:
— Apenas negócios — simplificou e, eu respirei com alívio.
Acompanhei o momento em que seu celular começou a tocar e, ele
pediu licença, dizendo que tinha que atender, deixando-nos à sós. Tudo que
eu não precisava. Com a intenção de fugir do seu toque, levantei de onde me
encontrava sentado, no entanto, fui parado pela sua figura que se prostrou em
minha frente.
— O que foi? Acaso está com pressa, meu coala? — pronunciou com
ironia; era visível o seu olhar divertido.
— Não se faça de cínica, Ingrid. Não combina com você. Aliás, como
soube que eu estaria aqui? — Soltei de uma vez, farto dos seus joguinhos
baratos.
Então, ela jogou seus braços sobre os meus ombros e os envolveu ao
redor do meu pescoço, encarando-me no processo.
— Eu não sabia — proferiu com sua boca próxima a minha. — Mas
já que te encontrei… — ponderou — Eu quero que volte para casa; o nosso
ninho de amor. — Mirei seus olhos no exato momento em que esbocei um
riso amargo, incrédulo com o que, mais uma vez, estava me pedindo.
Exausto, preferi não a responder e me livrei do seu agarre. Caminhei
em direção a porta, mas fui parado pelo o que ela disse a seguir:
— É melhor voltar para casa, ou mostrarei aquelas fotos ao meu pai.
— Mais uma vez estava me chantageando.
Virei-me e a vi em sua pose altiva, convencida de que me teria de
volta, mesmo que fosse por causa de mais uma coação. Por fim, balancei a
cabeça em negativa e saí da sala. Logo encontrei Jin Yang e disfarcei,
dizendo que tinha surgido algo de urgência para resolver e o avisei que
voltaria a entrar em contato para termos a tal conversa que, infelizmente,
ficou pendente.
Ele concordou e nos despedimos. Ao entrar no meu carro, olhei em
meu celular e havia uma mensagem. Franzi o cenho ao ver que era da
Daniela:
“Você, além de cafajeste, mostrou ser um grande covarde ao ter
evitado ir até a empresa, mas não o culpo totalmente, porque a burra fui
eu de ter me deixado levar pela sua lábia barata. Obrigada pela
demissão. Até nunca mais. Seu cretino!”
Apesar de ela ter digitado aquilo para me ofender, eu ri. Daniela
estava enganada sobre o seu “adeus”. Eu a queria e a teria novamente,
entretanto, necessitava me organizar primeiro e decidir o que faria para me
livrar do casamento de fachada que ainda mantinha com a Ingrid.
Pensando sobre isso, dirigi até a casa do meu melhor amigo, o
Matheus Gentile. Precisava desabafar sobre a Daniela. Acreditava que ele
poderia me dar algum conselho produtivo.
Capítulo 10

Daniela

Como tinha sido demitida, poderia dormir até mais tarde, algo que só
não o fazia por causa das minhas responsabilidades com o trabalho,
entretanto, esse desejo ficaria para os próximos dias, já que eu teria de ir a
empresa para recolher os meus pertences. Sentei-me na cama e bufei, levando
minhas mãos ao meu rosto, sentindo a tristeza querendo me sucumbir, mas
engoli o nó que acabou se formando em minha garganta e tratei de me
colocar de pé, indo até o banheiro. Minutos depois, escolhi o que iria vestir e,
rapidamente me arrumei.
Ao terminar, olhei-me uma última vez no espelho e sorri, satisfeita. O
vestido de cor vinho demarcava bem as minhas curvas e, no fundo, amei o
resultado. Nos pés, optei por um scarpin preto.
O modo que eu estava vestida deixava claro o quanto queria ser
provocante e, realmente era isso que eu almejava mostrar ao João Paulo; ele
iria sentir na pele o que tinha perdido. Óbvio que não deveria pensar dessa
forma, mas era consequência da grande mágoa que adquiri pelo que ele havia
me causado.
Por mais que quisesse, eu não conseguia esquecê-lo, mesmo perante a
imensa decepção que me preenchia por dentro por ele ter me demitido logo
depois de termos transado, pois foi um golpe muito baixo, e no sentido mais
abrangente da palavra. Havia também o fato de a gerente do RH não ter
confessado que havia sido o João Paulo o responsável pelo pedido da minha
demissão, entretanto, me negava a pensar que pudesse ter sido o Thiago.
Não! Havíamos feito as pazes e, por mais injusto que ele pudesse ter sido por
ter demorado tantos anos para reconhecer a minha ajuda, levando todo o
privilégio por isso, mesmo assim, acreditava que ele não faria algo do tipo.
Mas o João Paulo sim! Ele tinha motivos.
Fitando o meu reflexo, respirei fundo, após passar o batom em meus
lábios e soltei o ar, rapidamente, mantendo minha cabeça erguida. Não me
rebaixaria por um homem sem escrúpulos. O pior de tudo isso era ter que
admitir para mim mesma, que parte do que estava acontecendo também era
culpa minha.
Após jogar tudo que eu precisava dentro da minha bolsa, saí do quarto
segurando-a em uma de minhas mãos e o aroma do café recém coado
contemplou as minhas narinas. Automaticamente, eu senti certa alegria por
saber que, mesmo diante daquela tristeza ainda tinha a minha melhor amiga;
que me amava verdadeiramente e poderia contar sempre que precisasse. Com
essa certeza, entrei na cozinha. Amanda se encontrava sentada à mesa,
servida de uma xícara de café.
— Pensei que acordaria tarde. — Ela não perdeu a oportunidade de
comentar isso, pois sabia que eu amava acordar tarde. Também não me
passou despercebido o seu olhar, que me inspecionava da cabeça aos pés. —
Aliás, está muito bonita — elogiou em seguida.
Pegou uma xícara sobre o mármore da pia e, eu a encarei com um
sorriso.
— Eu vou até a empresa pegar os meus pertences, esqueceu que te
falei isso ontem? — indaguei e ela meneou a cabeça em negativo. — Então,
só por isso não me dei ao luxo de dormir até mais tarde — expliquei.
— E toda essa elegância é para quê? — inquiriu, olhando-me com um
ar desconfiado e resolvi ser sincera.
— João Paulo vai se arrepender de ter me demitido, fiz questão de me
arrumar para mostrar a ele o que perdeu — proferi, divertida e terminei de
tomar o café.
Amanda riu, de modo reprovador.
— Você sabe que não concordo com isso. Deveria se vestir assim só
para elevar sua autoestima e não para mostrar nada àquele cafajeste. —
Deixou claro o que pensava a respeito.
— Minha autoestima sempre foi alta, amiga. — Pisquei, marota e
recolhi minha bolsa sobre a mesa. — Vou indo. — Joguei um beijo e deixei o
cômodo.
Não queria me demorar ali, uma vez que, minha intenção era a de
encontrar o João Paulo na empresa. Queria ter o prazer de dizer a ele poucas e
boas.
Antes que conseguisse deixar o apartamento, a campainha foi tocada e
um rapaz se apresentou, procurando pela minha amiga.
O conduzi até onde ela se encontrava e, pouco tempo depois, os
deixei a sós, finalmente fazendo o meu percurso para fora. Peguei o elevador
e desci até o estacionamento. Ao abandonar seu interior, alcancei o meu carro
e o adentrei.
Peguei a rodovia em direção ao meu local de destino. Verifiquei que
ainda era cedo e o trânsito estava tranquilo. Não demorei a chegar na JP
Marketing.
Estacionei o veículo em um dos estacionamentos que tinha ao lado da
empresa, pois não me deixaram entrar no de lá, até por eu não ser mais uma
funcionária dali. Contrariada, peguei a minha bolsa. Ajustei-a em meu ombro
e caminhei até a entrada.
Atravessei o hall e logo me foi informado que eu precisaria me
identificar na recepção. Apresentei meu documento de identificação e
expliquei que havia ido buscar os meus pertences, mesmo assim, ligaram para
o Thiago, que era o gerente do setor de marketing para confirmar, só então,
eu fui liberada para subir.
Naquela altura, o ódio já me acompanhava, porque, pelo visto, João
Paulo havia sido bem cuidadoso ao me mandar embora, ao ponto de dificultar
o meu retorno até ali. Fala sério! Se eu topasse com ele, iria grudar no seu
pescoço e o esgoelar. Cretino!
Peguei o elevador e cheguei rapidamente ao meu andar de destino.
Avistei Juliana e após acenar para ela, eu fiz o percurso até a sala do Thiago.
Desferi duas batidinhas na porta de vidro entreaberta e, ao erguer sua cabeça
os seus olhos miraram-me ao mesmo tempo em que sorriu amplamente.
— Eu ainda não acredito que foi demitida — lamentou, assim que
entrei, e ele contornou a mesa, abraçando-me em seguida. Parecia ser sincero,
deu para notar em seu timbre de voz.
— Nem eu — menti, porque, na verdade, eu tinha quase certeza do
porquê e de quem havia sido o responsável por isso. De repente, me vi
perguntando: — Tem certeza de que não teve nada a ver com isso? — Minha
intenção era apenas ter certeza de que ele realmente não tivesse culpa. Thiago
soltou um riso de canto.
— É sério que está me fazendo essa pergunta? — Não o respondi,
apenas arqueei uma das minhas sobrancelhas. — Querida, eu posso ter
odiado ter passado aquela imensa vergonha na sala de reunião na frente de
todos quando fui infeliz ao fazer tal observação a respeito da sua presença
inesperada, mas não ao ponto de solicitar a sua demissão. Você sempre foi
uma ótima funcionária. Seria até antiético da minha parte, tomar uma atitude
dessas e por conta disso.
Soltei o ar, me sentindo injusta ao ter lhe questionado.
— Me desculpa. Eu não deveria… — comecei a me desculpar,
entretanto, ele me interrompeu:
— Não tem que se desculpar, eu super entendo a sua desconfiança. Se
fosse o contrário, também não te pouparia dessa pergunta. — Ele segurou em
minhas mãos e deu um aperto firme.
— Obrigada pela sinceridade. — Agradeci. — Apesar dos pesares,
vou sentir sua falta.
— Eu já estou sentindo a sua, acredite. — Em seu olhar, havia um
traço de tristeza atravessado.
Notei que meus olhos umedeceram, no entanto, respirei fundo e me
contive.
— Não quer se sentar? — indagou, após soltar minhas mãos.
— Ah, não. Eu agradeço. Vim apenas recolher as minhas coisas —
ressaltei e fui até o armário no canto da sala. Encontrei minha caixa
organizadora de tamanho médio e a peguei, colocando-a sobre a mesa, junto
com a minha bolsa.
Comecei a pegar tudo o que me pertencia ali dentro e vi, de soslaio,
que Thiago me observava.
— O que foi? — inquiri ao terminar.
— O convite para a sua festa de aniversário ainda está de pé? Eu
adoraria ir. — Eu ri e me aproximei de sua mesa.
— Claro que está. Com o dinheiro da rescisão, eu vou poder quitar o
bufê que encomendei há algum tempo — mencionei.
Faltava menos de duas semanas para o meu aniversário e, eu tinha
decidido alguns meses atrás, que comemoraria em grande estilo. Já havia
solicitado os “comes e bebes”, além de ter alugado o espaço em que o mesmo
seria realizado. Poderia muito bem ficar chorando pelos cantos e cancelar
tudo, só que essa não seria eu se fizesse isso. Por hora, iria me concentrar nos
detalhes que ainda faltavam para deixar tudo conforme desejava.
— Ai, que maravilha! Só não se esquece de me mandar o convite —
salientou.
— Vou providenciar ainda essa semana e te envio — informei. —
Bom, eu já acabei. É melhor e ir. — Coloquei a alça da bolsa em um dos
meus ombros e segurei a caixa.
— Eu realmente sinto muito, querida. Te desejo sorte, porém, sei que
logo ocupará uma vaga em outra empresa. Talento você tem de sobra. — Eu
sorri, agradecida perante o seu elogio.
— Obrigada, Thiago, de verdade. Nos vemos na minha festa de
aniversário então — comuniquei e logo saí da sala.
De queixo erguido, fiz meu caminho de volta e assim que passei pela
mesa da secretária do João Paulo, ela não estava. Olhei ao redor para me
certificar de que não se encontrava à vista. Com passos largos, eu segui até a
porta da sala dele a fim de encontrá-lo por ali, mas ao girar a maçaneta, eu me
frustrei ao ver que não tinha ninguém ali. Ia fechando a porta quando meu
olhar mirou dois envelopes sobre a mesa.
Voltei a olhar na direção em que Juliana ficava, mas ela ainda não
havia retornado, o que agradeci, pois entrei no cômodo. Depositei a caixa em
cima do tampo, abri um dos envelopes e vi que se tratava de convites para a
festa de aniversário de um dos Advogados mais requisitados: Felipe Gentile,
pai do CEO Matheus Gentile, o chefe da minha amiga, Amanda. Uma ideia
me surgiu e os peguei, sorrindo. Em seguida, saí dali.
Para a minha sorte, assim que me aproximei da mesa da Juliana, ela
chegou.
— Oi, Dani. — Me cumprimentou, sorrindo e sentou-se.
— Oi — respondi, disfarçando por quase ter sido pega. — Então, o
senhor João Paulo já chegou? — perguntei, extremamente formal.
— Ah, não. Sinto muito informar, mas ele ligou mais cedo e pediu
que eu cancelasse todos os compromissos do dia, pois não viria hoje —
mencionou.
— É claro que ele não viria. — Era para ter saído como um cochicho,
só que falei mais alto do que pretendia, já que fui surpreendida pela voz de
Juliana:
— O que disse?
Que droga! — xinguei, mentalmente.
— Não disse nada. — Forcei um sorriso.
— Pode tentar falar com ele amanhã, com… — não esperei que ela
continuasse. Na certa, não sabia que eu tinha sido demitida.
— Não será possível. Eu fui demitida, mas não era nada de
importante o que eu tinha para falar com ele — pontuei, fingindo serenidade.
— Eu não sabia. Sinto muito — disse, pesarosa.
— Eu também. Bom, vou indo. Obrigada. — Agradeci e saí logo dali.
Não estava suportando ouvir a expressão “sinto muito” por causa da
minha demissão. Só queria sair dali o quanto antes e sequer me lembrar que o
João Paulo tinha sido tão filho da puta a ponto de ter fugido de mim; por ter
optado em não comparecer a empresa justo naquele dia. Além de cretino,
também era um grande covarde de merda!
Em questão de pouco tempo, e me vi fora daquele lugar e respirei o ar
puro. Por mais que estivesse triste, também havia o fato de que, talvez,
tivesse sido o melhor a acontecer. Com isso em mente, cruzei a rua até onde o
meu carro estava estacionado e coloquei a caixa dentro do porta-malas.
Logo entrei em seu interior e vasculhei dentro da bolsa, atrás do meu
celular. Assim que o peguei, eu joguei a bolsa sobre o banco do carona.
Pensei por um instante e decidi que mandaria uma mensagem para o João
Paulo. Não devia, só que minha emoção sobressaiu a razão e comecei a
digitar:
“Você, além de cafajeste, mostrou ser um grande covarde ao ter
evitado ir até a empresa, mas não o culpo totalmente, porque a burra fui
eu de ter me deixado levar pela sua lábia barata. Obrigada pela
demissão. Até nunca mais. Seu cretino!”
Ao finalizar, cliquei em enviar e confesso que a minha vontade era de
chorar. Afinal, não havia planejado nada disso, muito menos previsto que
minha vida seria afetada da forma que foi, ainda mais por conta desses
últimos acontecimentos de merda. Era triste ter que admitir, no entanto, eu
tinha tomado decisões erradas e a vida cobrava seu preço. Essa era a verdade.
Girei a chave na ignição, ligando o carro e, ao olhar uma última vez
para a fachada da JP Marketing, lamentei profundamente, e parti dali.
Capítulo 11

João Paulo

Enquanto me arrumava para mais um dia de trabalho, balancei a


cabeça em completo lamento por saber que não teria mais a Daniela na
empresa. Nem mesmo respondi a sua mensagem. Não tinha o que falar.
Afinal, menti descaradamente a respeito da minha separação com a Ingrid,
coisa que ela já devia ter desconfiado.
Era certo que uma decisão haveria de ser tomada. Só não me decidi
ainda o que fazer primeiro. Tentaria convencê-la a se encontrar comigo em
um local seguro e o mais distante possível para que não fôssemos vistos, e lhe
contaria toda a verdade sobre o meu casamento de fachada. Ou deveria deixá-
la quieta, ao menos por enquanto, a fim de esperar que a raiva que estivesse
nutrindo por mim amenizasse?
Pensativo, terminei de fechar os botões do meu paletó e passei ambas
as mãos pelo meu rosto, sentindo-me completamente perdido. Para piorar, a
conversa que tive com o meu melhor amigo Matheus, não me ajudou em
nada, já que ele jogou na minha cara que jamais se envolveria com uma
funcionária e com base nisso, não poderia me aconselhar. Eu ri dele, claro!
Algo me dizia que ele logo descobriria o quão precipitado foi ao me afirmar
isso com tanta convicção.
Deixei meus pensamentos de lado quando peguei minha pasta, celular
e chaves e saí do meu quarto. Cheguei à cozinha e encontrei a Suzana
fazendo a faxina. Ela vinha duas vezes por semana, pois eu não conseguiria
manter meu apê arrumado e limpo por muito tempo, até pela correria que era
o meu cotidiano.
Assim que a cumprimentei, ela sorriu em resposta e atravessei a porta,
saindo dali. Peguei o elevador e acionei o botão para o estacionamento. Não
demorou até que suas portas se abrissem e rumei em direção ao meu carro.
Ao tomar o assento atrás do volante, joguei a pasta sobre o banco do
carona e dei partida, colocando o veículo em movimento e parti rumo ao meu
destino. Enquanto dirigia, flashes do rosto perfeito da Daniela refletiram em
minha mente, fazendo-me fechar os olhos e abri-los rapidamente.
A culpa me consumia. A verdade é que eu não sabia se era somente
pelo fato de ter mentido e logo depois a demitido de modo tão covarde, ou
pela confusão de sentimentos que se instaurou inesperadamente em meu
interior, que ocorreu após me dar conta de que a queria novamente e em
muitas vezes. Minha intenção era tê-la apenas uma vez e a tive, mas
certamente que isso fugiu completamente do meu controle.
Contudo, desejava que tudo isso fosse apenas uma questão de tempo.
Tinha esperanças de que obteria organização em minha vida — dando uma
basta por definitivo na Ingrid — e depois de expor toda a minha fatídica vida
e seus acontecimentos sórdidos a Dani, talvez pudesse voltar a tê-la
trabalhando de para mim. Mas, no momento, ansiava tê-la em meus braços
por mais uma ou duas vezes, algo que poderia ajudar a esclarecer essa minha
confusão.
Com essa certeza em mente, abandonei meu carro no estacionamento
e não demorou até que eu chegasse ao meu andar. Passei pela mesa de Juliana
e a saudei, recebendo seu rotineiro bom dia. Rompi a porta da minha sala e só
então a percebi em meu encalço.
Fechei-a e assim que depositei a minha pasta sobre a mesa, tomei o
meu assento.
— Pode repassar a minha agenda de hoje — pedi enquanto ela
acomodava-se em uma das cadeiras a frente da minha mesa. Ouvi
atentamente tudo o que ditava, até que terminou. Ao arrumar seus óculos de
grau no rosto, olhou sobre a mesa e a vi ficar pálida. — Há algo que eu tenha
que me preocupar? — inquiri, olhando-a com afinco.
Ela engoliu em seco.
— Não, senhor. — Sua resposta não me soou convincente, então
arqueei uma de minhas sobrancelhas enquanto me fitava e a vi soltar o ar
pesadamente. — E-eu tinha deixado os convites que chegaram aqui, sobre a
sua mesa, mas não faço ideia de onde foram parar — gaguejou ao explicar e
gesticulou. — Pensei que ninguém fosse entrar aqui, pelo menos, não ao
ponto de pegá-los — soou culpada.
Mirei sobre o tampo e vi que realmente estava limpo.
— Que convites? — indaguei sem saber do que se tratavam.
— Não sei, senhor. Não abri o envelope; só vi que no papel tinha o
nome do senhor Felipe Gentile como remetente — informou.
— Hum… — murmurei.
— Alguém da limpeza pode ter pegado, eu acho. — Juliana
mencionou.
Passei o dedo indicador pelo meu queixo, ponderando sua suspeita.
— Bom, não acredito que poderiam pegar algo aqui, ainda mais na
minha sala. Ninguém daqui seria tão atrevido a esse ponto — salientei e ela
concordou.
— Tem razão. — Seu timbre saiu carregado de preocupação.
— Nenhuma outra pessoa esteve na minha sala, além do pessoal da
limpeza? — Levantei aquela hipótese.
A assisti negar com um balançar de cabeça.
— Não, senhor. Somente a Daniela esteve aqui a sua procura,
entretanto, sequer chegou próximo a essa porta — comunicou.
— Tudo bem. — Tentei tranquilizá-la. Desconfiei que Daniela não
somente havia entrado em minha sala, mas que também pegou os convites,
talvez como uma forma de se vingar de mim.
Em seguida, eu a dispensei e comecei o meu trabalho. Felizmente,
não tinha nenhuma reunião marcada. Em um determinado momento, meu
telefone começou a tocar e vi que era Juliana, informando que Thiago, o
gerente do setor de marketing, gostaria de falar comigo. Permiti que entrasse.
Quando entrou em minha sala, fechou a porta e me levantei, dando-
lhe um aperto de mão. Não imaginava qual assunto teria para tratar comigo.
— O que deseja? — Fui direto ao ponto e me sentei.
Ele desviou seu olhar do meu e comprimiu os lábios; parecia indeciso,
porém, tão logo se pronunciou:
— Olha, não estou querendo ser audacioso, até por que, o chefe aqui é
o senhor, mas já sendo, gostaria de saber o motivo da demissão da Daniela
e… — sequer permiti que terminasse:
Fui incapaz de segurar minha risada amarga e ele me encarou,
engolindo em seco.
— Como frisou, o chefe aqui sou eu, certamente, não devo satisfações
a qualquer funcionário dessa empresa. Assuntos do tipo só dizem respeito a
mim e mais ninguém. Aliás, muito me admira tê-lo aqui, em minha sala,
questionando sobre uma funcionária que nunca se importou de verdade ao
ponto de reconhecer seus meros esforços. — Podia ter soado um pouco
grosseiro, só que o fato dele ter vindo me cobrar uma explicação sobre a
demissão da Daniela foi um gesto muito atrevido, além de eu não ter
enxergado sua preocupação com bons olhos.
— Tudo bem, eu merecia ouvir isso — salientou, conformado. — De
qualquer forma, desculpe a minha audácia — ressaltou e não o respondi,
vendo-o ficar mudo. — Posso ao menos saber quando terei uma nova
assistente? — indagou, olhando-me.
— Não se preocupe. O RH já deve estar cuidando disso e acredito que
o mais breve possível você terá outra pessoa para ajudá-lo. Agora, se não se
importa, eu tenho muito trabalho a fazer — mencionei, apontando em direção
a porta, sem ao menos me importar de levantar do meu assento. Ele apenas se
limitou a despedir de mim. Se colocou de pé e rapidamente saiu dali.
No instante em que a porta foi fechada, eu bufei, contrariado e me
joguei contra o encosto da cadeira, pressionando minha têmpera.
Momentaneamente, algumas questões começaram a rondar a minha mente,
como por exemplo: Por que o Thiago teria tanta curiosidade em saber o
motivo pelo qual a Daniela havia sido demitida? Será que ele desconfiava que
nós dois tínhamos nos envolvido ou, simplesmente, estaria interessado nela?
Enquanto tentava chegar a uma conclusão, eu também tentava
procurar aquietar as batidas desenfreadas do meu coração. Era como se ao
imaginar tais possibilidades, um incômodo incomum me abatesse. Algo
muito engraçado, porque, de fato, aquilo não deveria estar acontecendo.
De repente, uma incerteza inundou a minha cabeça: E se ficássemos
uma ou mais vezes e não fosse o suficiente? Como faria para tirá-la da minha
cabeça por definitivo? É claro que isso não passava de apenas suposições,
afinal, seria impossível amar uma mulher depois de a Ingrid ter me feito
perder completamente a esperança no quesito amor, ainda mais em se
tratando da Daniela; uma mulher linda, inteligente e muito sensual.
Não, não. Era certo que ela merecia algo melhor do que um homem
fodido como eu em sua vida. Para dizer a verdade, eu nem devia estar
supondo essas coisas. Não iriam se concretizar, isso era um fato.
Espantei-os para longe e voltei ao trabalho. As horas praticamente se
arrastaram, o que me causou tédio. Em certo momento, eu me lembrei dos
convites que Juliana tinha falado mais cedo. Tirei o telefone do gancho e
disquei o número do escritório do senhor Felipe, sendo atendido por sua
secretária que não demorou a passar a minha ligação a ele.
— João Paulo. Como vai, meu rapaz? — quis saber ao me atender.
— Eu vou bem, e o senhor? — inquiri.
— Ótimo. Os anos estão realmente me fazendo muito bem —
salientou de modo descontraído, fazendo-me rir.
— Isso é bom — proferi. — Então, a minha secretária falou sobre uns
convites que o senhor havia me mandado, mas parece que ela não sabe onde
os colocou, logo, não tive como saber do que se tratavam — expliquei.
— Ah, sim. Os convites são para convidá-lo a comparecer na festa do
meu aniversário que acontecerá no sábado em Aquiraz-CE, na minha casa de
praia. Já deve ter ouvido o meu filho falar — contou, deixando-me a par do
assunto.
— É, o Matheus já comentou comigo — confirmei.
— Espero que eu possa contar com a sua presença e a da sua esposa,
até por você ser um dos melhores amigos do meu filho. Seria muito bom
recebê-los — soou entusiasmado, mas o fato de ele ter mencionado “esposa”,
não me agradou, muito pelo contrário.
Esbocei uma careta descontente diante de sua observação e agradeci
mentalmente por ele não estar em minha frente para presenciar.
— Jamais deixaria de comparecer numa festividade tão importante.
Pode contar com a minha presença e agradeço pelo convite. —
Verdadeiramente, me sentia grato por ele ter me chamado. — Só não terei os
convi…
Ele nem mesmo me permitiu concluir.
— Não se preocupe com isso. Seu nome estará na lista de convidados.
A festa será neste final de semana, no sábado, e estaremos te aguardando —
esclareceu.
— Tudo bem. Obrigado! — Agradeci e nos despedimos em seguida.
Encerrado o telefonema, soltei um riso e neguei veemente para mim
mesmo que nem em um milhão de anos me sujeitaria a levar a Ingrid como
minha acompanhante. Na verdade, estava torcendo ardentemente que ela
nunca soubesse dessa festa. Não precisava dela em meu encalço e muito
menos, daria esse gostinho a ela, que iria amar, com toda certeza.
Também havia a minha desconfiança quanto a Daniela ter entrado na
minha sala e pegado os convites. Era mais provável que não fosse, uma vez
que era uma comemoração apenas para pessoas mais íntimas, no entanto, não
iria descartar a possibilidade de ela comparecer por lá.
Ir sozinho me soava muito bem, pois dessa forma, eu teria a
oportunidade de abordá-la e tentar convencê-la a conversar comigo. De longe
seria uma tarefa fácil, tinha plena consciência disso, até por simplesmente ter
sumido após demiti-la. Todavia, a palavra desistir não fazia parte do meu
vocabulário.
Eu tinha que fazê-la me ouvir de qualquer jeito.
Capítulo 12

Daniela

Depois de passar o batom rosado em meus lábios, sentei-me na cama


e calcei um salto de tamanho médio, que seria ideal. Coloquei-me de pé e
caminhei até ficar de frente para a porta do meio do meu guarda-roupa, pois
ali tinha um amplo espelho, onde eu poderia me observar melhor; da cabeça
aos pés. Com minha postura ereta e nariz empinado, passei as mãos pelo
tecido sedoso do vestido, alinhando-o ao meu corpo.
Sua cor era de um rosa claro e combinou bem comigo. Tinha alças
finas e um corte que ia do meio dos meus seios até um pouco acima do meu
umbigo, que era coberto por um tule, um detalhe que foi fundamental na hora
da escolha. Também havia uma fenda na perna esquerda, nada exagerado, no
entanto, não deixava de ser sensual.
Sorri, satisfeita com o que via refletido no espelho e depois de colocar
meu celular e dinheiro na minha bolsinha, saí do meu quarto indo em direção
ao de Amanda. Apesar de ela estar usando uma bota imobilizadora, nada
disso aplacou a sua beleza. Depois de elogiá-la, deixamos o apartamento em
direção ao elevador e dentro de poucos segundos, chegamos até o meu carro.
— Só espero que não nos reconheçam a ponto de nos enxotar para
fora daquela festa, Daniela. Reza para isso não acontecer ou será uma mulher
morta. — Amanda decretou quando coloquei o carro em movimento.
Não consegui segurar uma gargalhada.
— Espera aí! Está me ameaçando? — brinquei e a olhei rapidamente,
notando certo nervosismo em sua feição.
— Pense como quiser — disse séria, entretanto, isso não me fez parar
de rir.
— Olha, nada disso vai acontecer, tá legal?! Além disso, eu sinto que
você vai me agradecer por essa noite, tenho quase certeza sobre isso — frisei
descontraidamente.
— Acho bom mesmo que eu não me arrependa de estar sendo sua
cúmplice nessa loucura. Enfim, que Deus nos ajude. — Sua observação me
arrancou mais uma risada alta e ela também se rendeu, rindo suavemente.
O percurso seria um pouco demorado e foi feito em silêncio. Amanda
parecia pensativa em seu banco, enquanto eu comecei a ponderar sobre
minha desastrosa vida amorosa. Suspirei, sabendo que jamais conseguiria
enganar a mim mesma, pois tinha ciência do motivo de estar indo àquela
festa.
Minha amiga tinha toda razão em reafirmar sobre o que estávamos
fazendo era uma grande loucura. Precisava admitir que nos coloquei nisso
por um simples motivo, que se chamava: João Paulo. Um cretino que nem
mesmo teve a decência de responder a mensagem que lhe enviei na quarta-
feira passada quanto mais me ligar.
Suspirei, sabendo que aquilo seria mais uma burrice da minha parte,
somada a várias outras que eu vinha colecionando durante os meus 28 anos
de idade. Não que eu fosse fazer as pazes com ele, não mesmo. Considerando
que ele nem mesmo merecia olhar na minha cara outra vez, ainda assim, eu
queria ouvir uma explicação pelo que tinha feito comigo; enganou-me de
forma tão deplorável e eu ainda suspeitava sobre ele ter mentido a respeito do
divórcio. Na certa era mentira, senão, que motivo usaria para ter me
dispensado logo depois de termos transado?
Segurei o volante com mais força ao sentir um nó se formando em
minha garganta. Meus olhos umedeceram, só que não iria chorar por conta de
um covarde feito ele. Negava-me a isso.
Respirei fundo e me mantive concentrada na estrada que, dado o
horário que estávamos trafegando, o trânsito era tranquilo. Assim que me
aproximei do endereço que havia no envelope, olhei as coordenadas no GPS
do meu celular e diminuí a velocidade, a procura da casa, algo que não
demorei a encontrar, pois a rua encontrava-se cheia de carros. Por sorte, achei
uma vaga para estacionar bem perto da entrada.
— Uau! — Amanda admirou-se ao verificar o local.
— Muito elegante mesmo. Sorte a nossa que vamos conferir tudo isso
de perto — comentei em tom brincalhão e ela me encarou com um semblante
preocupado, como se estivesse pensando que me faltava algum parafuso na
cachola.
— Sério! Eu não sei como me meto nessas suas ideias mirabolantes.
— Eu ri do seu comentário. — Enfim, vamos logo com isso, porque o quanto
antes entrarmos naquela casa, mais cedo nós sairemos dela, que será de
grande alívio — frisou, abrindo a porta e deixando o interior do veículo.
O abandonei em seguida e segurando a minha bolsinha, caminhei
junto a ela em direção a portaria. Amanda me parecia aflita e a cutuquei
levemente para demonstrar mais naturalidade ou então ela nos entregaria. Ela
assentiu e fomos paradas por um dos seguranças, que solicitou nossos
convites e lhe mostramos.
Rapidamente fomos liberadas para entrar e tanto eu quanto minha
amiga soltamos um suspiro de puro alívio. Trilhamos pelo caminho
iluminado do local, observando. A casa era uma verdadeira mansão; muito
bonita.
Uma música calma tocava ao fundo e fomos em direção de onde ela
vinha, tomando o máximo de cuidado possível para não sermos reconhecidas
por alguém que nos conhecesse de onde fosse. Alguns casais dançavam no
salão onde um pequeno palco foi armado. Olhei ao redor com o intuito de
avistar o João Paulo, só não obtive sucesso.
— Eu vou dar uma volta. Quer vir comigo? — perguntei próximo ao
seu ouvido, até por causa da música. No mesmo instante, ela negou.
— Você sabe que não me engana, não é mesmo, Daniela? — Dado o
fato de ela estar me chamando pelo nome, já não era um bom sinal.
— Relaxa, amiga. — Tentei fazê-la parar de ficar me repreendendo,
uma vez que eu sabia me cuidar sozinha. — Nos encontramos daqui a pouco
— informei e tendo o seu olhar reprovador sobre mim, esbocei um riso e
pisquei marotamente, saindo de sua companhia no processo.
Passei por algumas pessoas e continuei inspecionando o local a
procura dele e depois de constatar que não estava por ali, um garçom passou
por mim e peguei uma taça do champanhe que estava sendo servindo. Sorvi
um pouco da bebida sentindo-a gélida; o líquido tinha um sabor concentrado,
muito saboroso, para ser mais exata. Caminhei por um pequeno percurso que
me levou até alguns degraus e os desci.
Havia uma piscina grande e mais adiante, uma espécie de cerca.
Aproximei-me dela, tendo a visão da prainha adiante. Se eu atravessasse a
portinha que existia ali, sairia para a areia em direção a praia.
Uma brisa sacudiu os meus cabelos, fazendo meus pelos eriçarem.
Fechei meus olhos e me abracei por conta da rajada de vento frio que me
atingiu, que, felizmente, passou rápido.
— Você fica ainda mais linda sob a luz do luar, sabia? — Uma voz
soprou próxima ao meu ouvido. Era ele... João Paulo.
Parado atrás de mim segurou em ambos os meus braços acima do meu
cotovelo e seu gesto me fez fechar os olhos momentaneamente, ao mesmo
tempo em que minha respiração vacilou, tornando-se pesada; meus
batimentos cardíacos aceleraram, algo incomum e que não havia gostado nem
um pouco. Afinal, o que estava acontecendo comigo? Era para odiá-lo,
apenas isso.
Num rompante, me livrei do seu toque e me afastei. Agora, olhando-o
firmemente e a uma distância segura, cruzei meus braços e ri de modo
amargo.
— Eu tinha quase certeza que a encontraria nessa festa. — afirmou e
descansou uma de suas mãos no bolso dianteiro da sua calça social. Não me
passou despercebido o quanto seu traje era elegante e, confesso que estava
mais lindo do que o habitual. Novamente um bolo formou-se em minha
garganta e preferi me manter calada; o que eu não precisava era demonstrar
fraqueza em sua presença. — Daniela, eu preciso que me escute, é só isso que
te peço. Um pouco de atenção — suplicou.
Respirei fundo e, finalmente me pronunciei:
— Você poderia ter me procurado no dia seguinte a minha demissão
para conversar, mas preferiu fugir feito um verdadeiro covarde, porque é só
isso que consigo enxergar em um homem que nem mesmo teve a decência de
ao menos olhar na cara e tentar se explicar. Aliás, nem sei se existe alguma
explicação convincente para o que fez comigo — expus minha indignação.
Ele sacudiu a cabeça em negativa, desviando seu olhar do meu.
— Eu sei que errei… — o interceptei.
— Errou? Você foi um tremendo filho da puta comigo e acha mesmo
que apenas errou? — vociferei, aproveitando que o som estava alto e
ninguém poderia ouvir a nossa conversa; estávamos a sós ali.
— Se puder me ouvir, vai entender o porquê fui tão filho da puta
como acabou de dizer. — Seu tom era calmo e tentou se aproximar.
— Não se aproxime. — Ele cessou seus passos e assentiu.
— Tudo bem — mencionou, parecia conformado. — Eu mereço o seu
desprezo pelo que te fiz — completou.
Outra vez uma brisa fria me atingiu e me abracei, só então me dei
conta de que uma lágrima involuntária tinha deixado os meus olhos,
escorrendo pelo meu rosto. Tratei de limpá-la.
— Você deve me achar muito fácil, não é? E muito burra também, já
que conseguiu me ludibriar a ponto de me levar para a cama e, olha só, nem
precisou de muito esforço para que isso acontecesse — bradei, demonstrando
o quão magoada me encontrava.
— Daniela, eu sei que fui um covarde por tê-la demitido depois do
que houve entre nós, mas acredite, não foi pelo o que está pensando. — Era
certo que mais uma vez queria me enganar.
— Ah, não? — inquiri, incrédula.
— Não — refutou.
— Então me fala! Estou te dando a oportunidade para me explicar.
Diga! — incitei.
Quando ele abriu a boca para falar, uma voz feminina tomou a nossa
atenção:
— Que cena interessante. — Era a Ingrid, sua esposa.
Ao identificá-la ali, minhas suspeitas se confirmaram.
— Então o divórcio nunca existiu, é isso? — indaguei, sentindo
minha raiva aflorar-se cada vez mais.
— Divórcio? Do que ela está falando, querido? — Ela se aproximou
dele e quando tentou tocá-lo, ele veio em minha direção, alcançando-me
antes mesmo de eu tentar impedi-lo e agarrou o meu braço.
— Daniela, me escuta. Eu não… — dei um passo para trás, livrando-
me do seu agarre. Com toda a minha indignação por ter sido feita de otária,
atingi o seu rosto com a minha mão.
— Nunca mais ouse me tocar, você não tem esse direito. — Fui
taxativa, tendo meus olhos nublados pelas lágrimas não derramadas, mas as
contive.
— Porra! Será que… — Ingrid o interrompeu.
— É melhor que você saia daqui, ou farei um escândalo perante os
convidados e, consequentemente, pedirei aos seguranças que a jogue para
fora dos portões, de preferência, no meio da rua, que é onde uma verdadeira
cadela feito você merece estar por ir para a cama com o marido alheio! —
destilou sua ofensa a mim, olhando-me com desprezo.
Direcionei meu olhar ao João Paulo num claro questionamento: Como
ela sabia sobre nós dois?
— Cala essa maldita boca, Ingrid! — João Paulo a repreendeu,
evitando me olhar.
Com o resto de dignidade que ainda me sobrou, caminhei até ela e a
mirei nos olhos, mantendo meu sorriso cínico.
— Sabe, Ingrid, se quiser eu posso te dar algumas aulas, para que ao
menos consiga manter o seu marido em casa e na sua companhia, sem que ele
precise sair na rua ou na própria empresa a procura de, como disse mesmo?
Cadelas feito eu — provoquei, recebendo seu olhar repleto de faíscas.
Eu ri, feliz por ter conseguido desestabilizá-la.
— Sua…
— Chega, Ingrid! — Ele a parou.
— E, não se preocupe, faço questão de sair daqui — Devolvi-lhe um
olhar de repulsa e saí dali.
— Dan… — assim que o notei em meu encalço, parei e me voltei
para ele.
— Apenas pare. Você já conseguiu o queria; me feriu o bastante. Não
preciso de suas explicações. Volte para a sua esposa e me deixe em paz —
ditei, cansada daquilo e não esperei que dissesse nada.
Subi os degraus apressadamente e em questão de segundos, entrei na
casa com o intuito de achar Amanda. Estava com uma imensa vontade de
chorar, mas me segurei. Não me daria àquele despeito.
Fingi que estava tudo bem quando a encontrei descendo as escadas e a
repreendi, mentindo que a estava procurando há algum tempo. Depois de ela
ter jogado na minha cara que eu havia ido atrás do João Paulo, como se
estivesse me chamando de burra, aquilo realmente doeu, porque, naquele
momento, eu sabia que aquele título me cabia bem. Todavia, descobrir que
aquela história de divórcio era totalmente mentira acabou comigo, deixando-
me duvidosa sobre o verdadeiro caráter do João Paulo.
Não nos demoramos a ir embora, o que agradeci. Por fora, eu podia
sorrir, mas já por dentro, era o contrário, encontrava-me desmoronando
gradativamente. Ansiava que fosse apenas uma fase; logo passaria.
Capítulo 13

João Paulo

Continuei ali parado e olhando Daniela se afastar de mim sem ter a


mínima possibilidade de tentar contornar toda aquela situação desagradável
que surgiu entre nós, pois decidi respeitar a sua vontade de não querer a
minha aproximação; passei os dedos furiosamente entre os fios do meu
cabelo e xinguei mentalmente. Era hora de tomar as rédeas da minha vida.
Chega de ser domado por alguém sem escrúpulos feito a Ingrid.
Puxei o ar para oxigenar os meus pulmões e me virei, caminhando na
direção onde a mesma se encontrava.
— Como pôde trazer aquela vadia para algo destinado apenas aos
mais próximos? Eu que sou a sua esposa e você sequer me comunicou sobre
essa festa. Sério que agora deu para manter contato com as vagabundas que
costuma trepar? — Tê-la se referindo a Daniela daquela forma, me fez ver
vermelho; não entendi o motivo de ela estar tão incomodada com quem eu
resolvia sair.
Mordi meu lábio inferior a fim de me conter e dei mais um passo a
frente, deixando nossos corpos próximos um do outro.
— Para começo de conversa, se não te comuniquei, você nem deveria
estar aqui. Além disso, peço que não se refira a Daniela dessa forma, pois
você não tem esse direito e sequer a conhece! — ditei, enraivecido.
— Então você a conhece muito bem ao ponto de defendê-la? Eu não
sabia que criava laços com seus casos de uma transa só! — provocou,
deixando claro que não estava nem um pouco feliz com a minha postura em
ir contra o que dizia sobre a Daniela.
— Isso não é da sua conta — soltei de uma vez, inconformado com
sua implicância repentina. — Que eu saiba, não me casei contigo por amá-la,
você me forçou a isso. Sugiro que não me cobre nada. Absolutamente nada!
— impus, mirando firmemente os seus olhos.
— Se pensa que te darei o divórcio, está muito enganado! —
devolveu-me um olhar enfurecido. — Não mantive nosso casamento durante
esses quatro anos para que eu desista de nós tão facilmente. E, pelo visto,
você já tem um rabo de saia como alvo, por isso vem insistindo em me deixar
durante os últimos meses — sentenciou.
Eu ri e passei a mão pelo meu queixo, muito frustrado com tudo que
estava ouvindo.
— Eu me recuso a acreditar em como você pode ser tão baixa! Não
percebe o que vem causando a nós dois durante todos esses anos? Nem
mesmo nos amamos para estar em algo tão sério. Seria muito mais fácil
resolver isso de modo amigável, com você me dando o divórcio. Podemos
parar de nos machucar dessa forma. Você é uma mulher bonita, não precisa
se humilhar assim, coisa que vem fazendo durante todo esse tempo —
expliquei, tentando convencê-la a desistir de me manter preso ao seu lado.
— Não adianta, não vou deixá-lo livre. Ao contrário do que disse, eu
te amo e não vou abrir mão disso — Manteve sua decisão.
— Isso é sério? Você só pode ter algum distúrbio mental para insistir
em se submeter a um casamento assim — acusei.
— Eu não me importo que ache isso. Prometi a mim mesma que o
faria se apaixonar por mim e não vou desistir até que consiga e que tenhamos
uma relação saudável e cheia de amor. — Fitei-a, incrédulo com tudo o que
tinha ouvido.
Que porra ela tinha na cabeça? E o pior era que eu parecia ter sido
infectado pela mesma doença também, seja ela qual fosse, porque só isso
explicaria a minha permanência durante todos esses anos ao seu lado, sendo
um completo idiota.
— Deveria rever esse seu modo de pensar, isso não está certo. É
insano demais — sugeri, finalmente me dando conta daquilo.
— Está equivocado. O que eu preciso mesmo, é de você. — Se
aproximou, dando um meio sorriso.
— Só pode estar de brincadeira — rebati.
— Sabe o que acho? — perguntou e aguardei que continuasse. —
Você tem que voltar para casa, porque quando estava lá, não tinha esses
pensamentos. Estávamos bem. — Passou seu dedo indicador pelo meu
peitoral, por cima do tecido da camisa de manga comprida que eu usava,
aproveitando que os botões do meu paletó se encontravam abertos.
Olhei para o céu escuro, completamente limpo; sem nenhuma estrela
e confesso que tudo aquilo pesou sobre os meus ombros, causando-me uma
imensa exaustão. Ponderei por alguns instantes, aproveitando o pouco tempo
de paz que Ingrid havia me permitido sem ser obrigado a ouvir a sua voz. De
repente, tomei uma decisão.
— O que meu coala tanto pensa? — Voltei meu olhar a ela, depois de
escutá-la.
Eu odiava o seu cinismo com todas as minhas forças e a maneira
como ela amava me provocar, chamando-me por aquele apelido que chegava
ao ponto de me deixar irado. Só que já tinha sacado o seu jogo e sentia-me
cansado demais para entrar em um embate. Se ela queria jogar, era isso que
eu faria também.
— Pode ter razão — Suavizei o tom de modo a convencê-la, porém,
ela me encarou com desconfiança.
Sua risada ameaçou desarmar minha postura, mas permaneci firme.
— Você só pode estar achando que sou otária, né, João Paulo? —
cismou, furiosa. — Quer mesmo me fazer acreditar que quer voltar para mim
quando instantes atrás estava defendendo aquela vagabunda?
— Fala baixo, porra! — vociferei. — Eu não estou querendo
convencê-la de nada; apenas estou assumindo a minha penitência: você! —
Deixei claro.
Sua testa franziu, incomodada com minhas palavras.
— Meu amor não deveria ser considerado uma penitência, João, mas
uma dádiva.
— Dádiva? — Foi minha vez de rir. — Quando não tenho uma
escolha? Não, Ingrid, você não sabe o significado desta palavra, muito menos
da palavra amor — salientei de modo seco.
— Então me deixe mostrar — disse, rapidamente, tomando minha
mão nas suas. — Dê-me a chance de provar que o que sinto é o mais belo e
puro amor — implorou. — Ninguém o amará mais do que eu.
Fiquei olhando para ela, absorvendo todas as informações e
esforçando-me para não a mandar ir se foder com seu amor e tudo mais. No
fim das contas, eu decidi pensar friamente.
— Eu sei que posso fazê-lo se apaixonar por mim — insistiu, vendo
meu silêncio. — Volte para casa. Volte para mim.
— E se eu não conseguir amá-la? — contestei.
Sorrindo, ela envolveu meu pescoço com seus braços. Não a afastei.
— Isso não vai acontecer — proferiu, olhando os meus lábios.
— Hum… pode ser. Vamos ver no que vai dar — soprei.
— Tem certeza? — hesitou.
— Claro. — confirmei, pois faria o possível para que ela acreditasse
em mim. — Enfim, como soube que eu estava aqui? — Queria começar a
arrancar informações dela.
— Que esposa eu seria se não soubesse de cada passo do meu marido,
hum?
Franzi o cenho, tentando entender o que ela quis dizer com o que
tinha acabado de falar.
— Como assim?
— Digamos que tenho alguns truques — Limitou-se a falar e livrou
meu pescoço, espalmando meu peitoral. — E então? Quando voltará para a
nossa casa? — inquiriu, olhando-me com expectativa.
Soltei um riso de canto e disse o que ela queria ouvir:
— Em breve. — Seu olhar brilhou ao ter minha resposta, a que tanto
desejava, e não perdeu tempo em envolver seus braços ao redor do meu torso,
grudando-se a mim e me causando desconforto, entretanto, mantive
indiferença quanto a sua aproximação indesejada.
— Em breve, quando? Tipo, amanhã? — questionou entusiasmada,
quase saltitando.
— Daqui a algumas semanas. Ainda terei que ver algumas coisas
antes de me dedicar ao nosso casamento, dessa vez, todo repaginado —
Alimentei suas esperanças. Não era bom fazer isso, no entanto, seria
divertido, já que ela amava brincar comigo também.
Agora seria assim: olho por olho e dente por dente!
— Algumas semanas? Isso vai demorar demais, pensei que estaria se
mudando amanhã mesmo — chiou, como se estivesse carente, fazendo uma
carinha entristecida, que inclusive não combinava em nada com ela; estava
mais para o diabo em pessoa.
— Tenha mais um pouco de paciência, tudo bem? Prometo que
quando menos imaginar, eu já estarei lá, sendo todo seu, assim como deseja
— continuei ludibriando-a, o que parecia estar funcionando.
Então vi sua feição suavizar e ela sorriu alegre.
— Sendo assim, está ótimo! Eu mal posso esperar que volte para o
nosso lar, de onde nunca deveria ter saído. Fico feliz que finalmente tenha se
dado conta que o seu lugar é ao meu lado — salientou, estonteante.
Ela não fazia ideia do quanto realmente seria ótimo. — pensei,
mantendo um sorriso nos lábios. Ela que me aguardasse, uma vez que
pretendia desmascará-la a fim de ter o divórcio sem grandes problemas. Para
isso, tinha que marcar o quanto antes com o seu pai, a fim de fazê-lo me
ouvir.
Precisava ver logo sobre isso.
Na sequência, tive que suportá-la agarrada no meu braço enquanto
saímos dali e começamos a rondar pela festa; quem nos via poderia até pensar
que realmente fôssemos um casal feliz. A verdade é que eu desejava que
Ingrid continuasse pensando dessa forma, imaginando que finalmente me
teria de volta como uma perfeita marionete em suas mãos. Tinha acabado de
começar a colocar o meu plano em ação e me sentia muito bem em relação a
isso.
Entre uma atração e outra durante o evento, Ingrid tentou de todas as
formas que eu a beijasse verdadeiramente, porém, evitei, inventando qualquer
coisa. Em certo momento, senti-me realmente entediado e com ela em meu
encalço, aleguei que iria embora. Claro que a mesma praticamente sapateou
quando mencionei que não a levaria para o meu Apê, pois tinha que organizar
algumas coisas antes de retornar para o nosso ninho de amor. Sim, eu falei
essa merda, só no intuito de me livrar logo da sua presença e convencê-la de
que estava sendo verdadeiro.
Eu ainda tive que aguentar sua figura dentro do meu carro, alisando-
me. Aquilo me deixou extremamente irritado, só que fingia estar curtindo.
Quando cheguei aos portões da casa dela, onde dentro de algumas semanas
eu prometi que estaria retornando para morar — o que não era verdade,
porque eu pretendia me livrar dela antes disso — Ingrid se livrou do cinto de
segurança e após inclinar o seu corpo em minha direção, mantive-me de
frente para o volante, sem me mover; não queria que ela me beijasse.
— Algum problema? — Fui obrigado a olhá-la.
— Não. Só me deu uma nostalgia. Vindo aqui, me veio à memória
algumas lembranças de quando vivemos bons momentos — menti, vendo-a
esboçar um sorriso contente; levou sua mão ao meu rosto, acarinhando-o. —
Mas aí me recordo de quando me deu a notícia da perda do nosso bebê. —
Rapidamente recolheu a sua mão, livrando-me do seu toque, o que agradeci
internamente e a vi querendo sair logo do veículo.
— Hum… eu acho melhor ir entrando. — Deu-me um selinho rápido
e destravou a porta.
Segurei seu pulso, impedindo-a de sair.
— Espera, não quer falar sobre essa parte? Seria bom eu saber como
perdeu… — Interrompeu-me.
— Podemos conversar sobre isso outra hora? Quem sabe quando
voltar para casa, não é mesmo? Assim teríamos bastante tempo para
esclarecer o que quer que seja, porque agora, confesso que me sinto muito
cansada e com sono — Analisei sua feição e percebi que poderia estar
mentindo para fugir da minha pergunta.
Ela puxou seu braço e não insisti.
— Tudo bem — informei.
Ela agradeceu a minha compreensão e saiu, entrando na casa em
seguida. Mesmo pensativo, movi o veículo para longe dali e comecei a
maquinar sobre sua fuga inesperada. O que ela escondia?
Sem respostas, continuei o meu percurso até chegar em casa. Já era
madrugada quando estacionei na minha vaga de sempre. Abandonei o seu
interior e saí andando, até entrar no elevador. Ali dentro, olhei meu reflexo no
espelho e vendo minha imagem, eu pude concluir que me encontrava uma
bagunça, não só fisicamente, pelo meu cabelo estar com os fios
desordenados, mas também, por dentro. Me desfiz da gravata, abrindo os
primeiros botões da minha camisa.
Chegando ao meu andar, deixei o mesmo e assim que alcancei a
minha porta e a destranquei, entrei rapidamente fechando-a atrás de mim e
segui até o meu quarto.
Já no cômodo, me livrei dos meus sapatos e do paletó. No processo,
fui terminando de desabotoar a minha camisa e me livrei dela, jogando-a
sobre a cama. Tirei o cinto da calça e abri seu botão, fazendo o mesmo com o
zíper em seguida. Depois de me livrar dela mantendo-me apenas com a cueca
boxer, sentei-me na beirada da cama e, sentindo-me perdido, descansei meus
cotovelos sobre minhas coxas e aproveitei aquele momento para refletir sobre
os acontecimentos desta noite desastrosa.
Tudo que Daniela me falou veio a minha cabeça e soltei um longo
suspiro. Peguei a calça no chão e dentro de um dos seus bolsos dianteiros,
peguei o meu celular. Abri os contatos e cliquei sobre o seu número, com o
intuito de ligar para ela, a fim de fazê-la me escutar, mas sequer chamou,
indo direto para a caixa de mensagens.
Que porra!
Xinguei em meu subconsciente e tentei outra vez, acontecendo a
mesma coisa. Suspirei, sabendo que seria difícil fazê-la me ouvir. No entanto,
não desistiria. Eu ainda pretendia me explicar e, talvez, ela pudesse me
entender.
Joguei o aparelho sobre a mesinha de cabeceira e resolvi tomar um
banho. Precisava de uma ducha fria para tentar apaziguar os meus
pensamentos. Segui para o banheiro, torcendo para que ao menos pudesse
desfrutar de uma noite de sono tranquilo.
Capítulo 14

Daniela

Durante a volta para o apartamento, o silêncio reinou dentro do


veículo. Preferi ficar na minha, calada, curtindo o maldito desastre que vinha
sendo a minha vida. Amanda ficou quieta também, até que começamos a
conversar e revelei o motivo da minha tristeza.
Fui repreendida, sendo lembrada das vezes em que ela me aconselhou
a manter distância de homens como o João Paulo. Enfim, tive que reconhecer
que ela estava coberta de razão. Dei seguimento ao percurso e voltamos a
ficar em silêncio, cada uma refletindo sobre os próprios problemas.
Depois que chegamos em casa, subimos até o nosso andar e cada uma
seguiu para o seu quarto. Retirei meu vestido e me submeti a um banho
morno. Não me demorei no banheiro, já que não queria dar espaço a mais
reflexões sobre o meu terrível encontro com o João Paulo.
Não precisava ficar remoendo aquilo. A ferida já havia sido feita,
agora era dar um tempo até que se curasse. Mais uma para a conta, depois do
Samuel.
Soltei o ar pesadamente enquanto terminava de vestir uma camisola;
saí dali em direção a cozinha à procura de algo para comer, apesar do horário.
Encontrei Amanda na frente da pia e a questionei se não se comeria nada. Ela
voltou-se para mim e então notei que estava tomando os remédios que o
médico havia receitado para o tratamento da sua fratura na tíbia.
Informou-me estar sem fome e engatamos em uma conversa; eu a
questionei sobre o que tinha ficado fazendo quando a deixei, sozinha, na
festa. De fato, a noite dela também não foi nada tranquila, embora um flerte
junto a um beijo rolou entre ela e seu chefe. Amanda não conseguia enxergar
o quanto estava sendo sortuda, pois se quisesse realmente se envolver com
ele, nada os impediria.
— O senhor Gentile é completamente diferente do João Paulo, Amanda.
A começar pelo fato de ele ser um solteirão muito lindo e gostoso. Aqueles
olhos... — fiz uma observação e, rapidamente, fui interrompida.
— Eu vou dormir. Sinto-me cansada. — Ela empurrou a cadeira e se
levantou.
Comecei a gargalhar, sabendo exatamente o que ela pretendia com sua
saída repentina.
— Pode fugir o quanto quiser, amiga, mas eu duvido que conseguirá
por muito tempo. — A vi revirar os olhos em sinal de impaciência e saiu indo
na direção do seu quarto.
Ainda sentada na mesa, meneei a cabeça em negativo e sorri. De certa
forma, tê-la me entretendo me distraiu e me senti grata por isso. Só assim não
precisava ficar martelando sobre outras coisas. Abri a geladeira e resolvi
tomar um iogurte.
Ao terminar, peguei uma banana e depois de descascá-la, também fui
para o meu quarto. Deitei em minha cama e aquele silêncio não estava me
fazendo bem. Mirando o teto, comi o último pedaço da fruta e a tristeza
profunda que já sentia, se intensificou.
Movi-me sobre a mesma ficando de lado e me estiquei, pegando o
meu celular sobre a mesinha de cabeceira. Fiquei olhando para a tela por um
tempo, ponderando sobre ligar ou não para os meus pais e, no fim, desisti.
Não iria levar meus problemas a eles, só os faria se preocuparem à toa, já que
eu era grande o suficiente para resolvê-los sozinha.
Desliguei o aparelho e o coloquei de volta onde se encontrava antes.
Minha garganta estava seca, devido a vontade de chorar que vinha me
consumindo. Não pude continuar me fazendo de forte; não queria, então me
permiti derramar em lágrimas, sentindo todo o peso do ocorrido com o João
Paulo.
Permaneci chorando copiosamente por um tempo. Vi que não
precisava ser forte o tempo todo. O choro muitas vezes era uma forma de
alívio, não de fraqueza, como muitas pessoas tentavam passar para nós. Nem
mesmo sabia dizer em que instante o sono me venceu.
Acordei tarde no dia seguinte, com uma leve dor de cabeça. Peguei
meu celular e só então me lembrei que o tinha desligado. Tratei de ligá-lo e
assim que o fiz, apareceu uma mensagem dizendo que um número teria me
contatado quando o aparelho se encontrava desativado.
Imaginei que pudesse ter sido os meus pais, mas ao conferir o
número, vi que me enganei, afinal, se tratava do João Paulo. Mesmo tendo
minha razão e emoção num duelo imbatível, não me dei ao trabalho de
retornar seu telefonema. Acabei fazendo o que sempre me ajudava a deixar
acontecimentos desagradáveis para trás: bloqueei seu número, tanto para
mensagens quanto para ligações.
Era o melhor a ser feito, depois de ter descoberto sua mentira e ter
sido mais uma vez enganada por ele em tão pouco tempo. Levantei, decidida
a não me deixar abater. A vida precisava seguir.
O dia passou rápido, já que resolvi fazer faxina no apartamento, o que
tomou completamente o meu tempo e pensamentos, além da companhia da
minha amiga, que não pôde me ajudar. Confesso que me serviu como uma
espécie de terapia. Na parte da noite, fizemos o que amávamos fazer:
comemos uma pizza com direito a refrigerante enquanto assistíamos uma
comédia romântica.

∞∞∞

Era dia de segunda-feira e por conta de ter ido dormir cedo na noite
passada, acabei acordando bem cedo, algo que não me era de costume.
Abandonei a minha cama e segui para o banheiro. Momentos depois, eu saí
do cômodo e cruzei o corredor até a cozinha, encontrando Amanda
terminando de arrumar a mesa com nosso café da manhã.
— Caiu da cama, Amanda? — indaguei e bocejei em seguida.
— Só dormi bem, apenas isso. — Ela abriu um sorriso e a fitei com
desconfiança, enquanto arrastava uma cadeira para me sentar.
— Tem certeza? — perguntei, duvidosa. Ela confirmou com um
balançar de cabeça, mantendo seu sorriso.
Fiquei mais tranquila com a sua resposta e começamos a tomar o
nosso desjejum.
— Quando seus pais chegam? — Amanda questionou, parecia ansiosa
para vê-los.
— Eles me ligaram na sexta-feira e disseram que talvez viessem hoje,
mas não deram certeza. Vou ligar daqui a pouco para saber direitinho —
comentei.
— Faça isso então — sugeriu.
Pensei por um instante.
— Aliás, vou ter que sair daqui a pouco para resolver algumas coisas,
referente ao meu aniversário — informei, alegre. — Sábado está logo aí —
Completei, contendo o meu sorriso enorme.
— Acredita que já estava me esquecendo que seria nesse final de
semana? — Ela revelou, e a encarei, desacreditada.
— Bela amiga que você é, Amanda. — Dei de ombros, fingindo
tristeza e a vi gargalhar alto.
— Estou brincando, Dani! Você sabe que jamais me esqueceria do
aniversário da minha melhor amiga — falou divertida.
— Melhor e única amiga, não se esqueça disso também — frisei.
— Nem é ciumenta — brincou e sorri.
Terminamos nosso café da manhã e me ofereci para lavar o que
tínhamos sujado. Amanda saiu dali e pouco tempo depois, a campainha
tocou. Ia parar o que estava fazendo quando a ouvi gritando de algum lugar
do apartamento que iria atender a porta.
Logo que acabei, fui para o meu quarto e comecei a me arrumar para
ir resolver o restante dos detalhes que faltavam para a festa do meu
aniversário. Escolhi um vestido de alcinhas, com a saia rodada e floral, uma
roupa leve, devido ao calor que estava fazendo. Depois de vesti-lo, sentei-me
na cama em posse da minha bolsinha de maquiagem e assim que dei início a
minha produção, meu celular começou a tocar.
Parei e me estiquei até alcançá-lo sobre cama, onde havia deixado
antes de sair do quarto mais cedo. Identifiquei ser um número desconhecido,
mas o DDD era o mesmo da cidade. Atendi em seguida.
— Alô! — me pronunciei, porém, quem quer que fosse do outro lado
da linha, permaneceu em silêncio. Ainda assim, era possível ouvir a sua
respiração pesada. — Alô! — tentei mais uma vez. Decidida a encerrar a
ligação, finalmente escutei a sua voz.
— Não desliga, Daniela. Sou eu, João Paulo. — Comprimi meus
lábios ao saber de quem se tratava e engoli em seco. Por mais raiva que
estivesse sentindo dele, o meu coração traiçoeiro ainda conseguia bater
descompassadamente apenas por ouvir seu timbre de voz.
— Não temos nada para conversar — Fui gélida.
— Está enganada, temos muito que conversar. Preciso que me ouça
— Suas palavras não me convenceram e, tão cedo, acho que não obteria isso.
— Você teve sua chance. Além do mais, a sua esposa sabe que está
me ligando? — o repreendi, sentindo um gosto amargo em minha boca.
Talvez por conta da imensa decepção que estava sentindo dele.
— Será que dá para esquecer a Ingrid e me escutar, porra?! —
Pareceu um pouco nervoso.
Soltei um riso amargo e movi minha cabeça em negativo, mesmo que
ele não pudesse me ver.
— Volte para os braços da sua esposa, pois lá é o seu lugar. E faça o
favor de não me ligar mais — ditei, finalizando o telefonema.
Fechei meus olhos sentindo o meu coração se comprimir no peito.
Coloquei o celular no silencioso e o joguei atrás de mim sobre a cama. Me
foquei em terminar de me arrumar e caminhei para fora, colocando meus
brincos.
Ao atravessar o corredor e chegar à sala, encontrei Amanda fechando
a porta. Questionei-a querendo saber quem tinha ido ali e ela me comunicou
que era o Breno, seu fisioterapeuta. Achando estranho, perguntei se não
haveria sessão de fisioterapia e, então, fui atingida pela sua resposta, onde me
falou que não teria mais sessões, já que tinha o dispensado.
Impaciente, briguei com ela por ter feito aquilo e quando me falou
que sabia o que estava fazendo, como um pedido para que eu não me
metesse, simplesmente lavei minhas mãos e a deixei ciente que não opinaria
mais em suas decisões. Querendo mudar de assunto, sondei se iria precisar
que trouxesse algo da rua, uma vez que estaria saindo em poucos minutos.
Amanda agradeceu e disse que não.
Voltei para o meu quarto e peguei a minha bolsa, despedi-me dela.
Em seguida saí do apartamento.

∞∞∞

Quando finalmente consegui concluir tudo referente ao que faltava


para a minha comemoração, resolvi ir almoçar no shopping da cidade, pois já
beirava o horário de almoço; havia demorado mais do que imaginei.
Enquanto olhava uma vitrine ou outra, admirando roupas lindas de algumas
lojas, inesperadamente, senti uma mão pousar no meio das minhas costas.
Assustada, virei-me agilmente para ver de quem se tratava e quase não
acreditei no que meus olhos viram; ele estava ali, diante de mim.
— Samuel! — exclamei, chamando seu nome em completa surpresa
por encontrá-lo ali. Nem em mil anos imaginaria vê-lo outra vez, dado a
forma que terminamos também. Ele riu lindamente e notei que parecia ainda
mais belo do que me lembrava. — Uau! Você está diferente. — Não consegui
conter minha língua.
— Mais bonito? — brincou, me arrancando uma risada involuntária
— Porque você está tão maravilhosa como eu me lembrava. — Inspecionou-
me da cabeça aos pés.
Salientou, claramente surpreso pelo nosso reencontro, assim como eu.
— Eu não pensei que voltaria a vê-la novamente. — Manteve sua mão no
meio das minhas costas; não imaginei seu ato seguinte, quando inclinou em
minha direção e deu um beijo em um lado do meu rosto. Aquilo me deixou
desconcertada e logo se afastou, descansando uma de suas mãos num dos
bolsos dianteiros da calça social que usava.
— Não sei… talvez, mais elegante. — Ele soltou um riso de canto,
gesto que eu amava nele na época em que estávamos juntos.
— E você, como eu já mencionei antes: está a cada dia mais bonita —
elogiou.
Confesso que não me preparei para ouvir aquilo, que, de certa forma,
mexeu comigo, alimentando o meu ego.
Sinceramente, estava necessitando ouvir algo positivo sobre mim,
ainda mais depois de ter sido taxada como cadela pela esposa do João Paulo
na noite anterior. Em contrapartida, existia o fato de ele também ter me
traído.
— Bonita… — repeti — mas não o suficiente para que não me traísse
com aquela sua amiga — completei com tom de ironia.
O vi comprimir seus lábios em linha reta e mirar o chão, voltando a
me fitar logo depois.
— Sobre isso, acho que devemos conversar — impôs e me mantive
calada, pensativa. Samuel continuou ali, aguardando pacientemente a minha
resposta.
— É, acredito que já esteja mais do que na hora de esclarecermos esse
fato, por mais que tenha acontecido meses atrás — respondi afirmativamente.
— Que bom que pensa assim — soou sincero.
— Eu estava indo almoçar na praça de alimentação. Se não tiver outro
compromisso e quiser me acompanhar, podemos sentar para conversar —
sugeri.
— Não tenho outro compromisso e adoraria acompanhá-la — disse de
modo galanteador e estendeu seu braço para mim.
Sorri um pouco sem jeito e o segurei, indo em direção às escadas
rolantes. Honestamente, eu não fazia ideia do que me seria revelado,
entretanto, era melhor sanar minhas dúvidas de uma vez. Depois disso,
poderíamos seguir nossas vidas tranquilamente, assim como vínhamos
fazendo.
Capítulo 15

João Paulo

Desde que havia chegado à empresa, eu fui engolido pela correria,


onde participei de uma reunião com os gerentes de algumas áreas da empresa,
que não demorou muito e vibrei mentalmente por isso. Assim que me vi de
volta à minha sala, joguei-me sobre minha cadeira e com a cabeça tombada
para trás, apoiada em seu encosto, fitei o teto de modo pensativo. A falta de
dormir direito há alguns dias, vinha cobrando o seu preço, uma vez que não
conseguia concentrar-me direito em meu trabalho; tudo por conta do fato de
não conseguir de modo algum convencer a Daniela a me ouvir.
Porra!
Nem mesmo sabia o porquê de continuar atrás dela. Eu ficava batendo
na mesma tecla de que lhe devia uma explicação, mas sequer tive chances
para isso. Então, por que eu permanecia indo atrás? Tentando fazê-la me
ouvir, quando ela mesma me pediu para deixá-la em paz?
Soltei um longo suspiro.
Se não me bastasse isso, ainda me surgiu outra coisa… No dia
anterior, eu levei meu carro para uma revisão mensal e o deixei lá para ser
analisado. Qual foi a minha surpresa quando fui buscá-lo logo cedo pela
manhã? Isso mesmo, eu acabei descobrindo que Ingrid havia implantado um
rastreador no meu veículo. Era certo que eu já desconfiava que ela tivesse
aprontado alguma coisa para estar sempre na mesma hora e lugar onde eu me
encontrava, contudo, nada me preparou para aquela descoberta.
No instante em que o mecânico me chamou para uma conversa e
mostrou o pequeno objeto, admito que isso me pegou totalmente de surpresa.
Jamais imaginei que minhas suspeitas iriam se concretizar dessa forma. Se
ela foi capaz de instalar aquela peça ali, o que mais teria coragem de fazer?
Independente do que desvendei, eu deveria manter o foco e seguir
com o plano. Estava disposto a fazê-la confiar em mim e não podia me dar o
luxo de confrontá-la com essa prova. Como ela não era boba, logo veria que
já não tinha mais poder algum sobre aquele seu “joguinho” e, é claro, não iria
falar nada, não por enquanto. Guardaria para quando, finalmente, a
desmascarasse e, caso fosse preciso, o usaria para contestá-la.
Enquanto esse dia não chegasse, eu teria que aguentá-la, mesmo não a
suportando tão próximo a mim. A parte que mais odiava era a de ter que
beijá-la. Me dava asco. Mas era obrigado a manter minha encenação sem
vacilar.
Ajustei minha postura na cadeira e descansei minhas mãos sobre o
tampo da mesa. O que eu poderia fazer para que ela realmente visse que eu
estava sendo sincero e começasse a depositar sua confiança em mim sem
nenhuma dúvida? Mordi o lábio tentando cogitar algo e não demorou até que
meus lábios se curvassem em um sorriso.
Relaxei minha postura sobre o assento e voltei ao trabalho. As horas
passaram voando e quando me dei conta, já beirava o horário do almoço.
Peguei o meu celular e verifiquei se Daniela pudesse ter mudado de ideia;
talvez houvesse uma ligação perdida ou uma nova mensagem dela, só que
não tinha nada disso. Não havia absolutamente nada ali.
Um pouco chateado, abandonei a minha sala. Ao passar pela mesa da
Juliana, a encontrei se preparando para ir almoçar também. Informei que eu
poderia demorar a chegar do meu horário de almoço e ela assentiu. Depois de
pegar o elevador, disquei o botão correspondente ao estacionamento e o
mesmo começou a descer. Apressei-me em direção ao meu carro quando as
portas se abriram.
Destravei-o e tomei o banco do motorista, dando partida e fiz o meu
percurso para fora dali. Decidi que, primeiro iria até o shopping e depois faria
o possível para almoçar em algum restaurante de costume, ou, talvez
almoçasse num local da praça de alimentação do shopping mesmo.
Em meio ao trânsito que se encontrava mais lento do que o normal, eu
tentei me manter paciente e momentos mais tarde, consegui chegar ao meu
destino. Dentro do shopping, andei calmamente por algumas lojas à procura
de uma joia esplendorosa para Ingrid, pois se tinha uma coisa que ela amava
e eu bem me lembrava, era disso. Com toda a certeza, dando-lhe esse tipo de
presente, faria com que sua guarda abaixasse, tornando-se mais confiante
diante da minha intenção em tentarmos um relacionamento saudável, até que
eu caísse perdidamente apaixonado por ela, o que não passava de uma grande
mentira. Não achei nada que enchesse os olhos por ali e peguei a escada
rolante, indo para o segundo andar.
Mais uma vez saí inspecionando em outras lojas e quando estava
quase desistindo, eu entrei numa última, procurando e, finalmente encontrei o
colar perfeito; seu pingente era uma pedra de rubi em formato de coração,
contendo micro zircônicas brancas cravejadas ao seu redor. Não me restava
dúvidas de que ela iria amar. Estava confiante sobre isso.
Pedi à vendedora que embrulhasse para presente e depois de ela fazer
o que pedi, passei pelo caixa e ao efetuar o pagamento, parti para fora.
Cansado, resolvi ir até a praça de alimentação dali mesmo. Novamente subi
pela escada rolante e, em meio à praça, varri o local com meu olhar, parando-
o numa cena a qual jamais desejei ver.
Daniela sorria abertamente, sentada a uma das mesas e acompanhada
por um homem, que, de longe, não me agradou. Nunca o tinha visto, quem
poderia ser? — questionei-me internamente.
Que porra!
Praguejei e tentando conter a sensação estranha que estava sentindo,
ajustei minha gravata com uma das mãos e segurando firmemente a sacola,
segui para onde estavam. Aproximei-me no exato momento em que o cara
alcançou a sua mão sobre a mesa, envolvendo-a com as suas e aquilo me
causou um desconforto imensurável. Que porra ele pensava estar fazendo?
— Daniela, nós precisamos conversar. — Fui direto ao ponto,
impondo a minha presença de repente, atrapalhando sabe-se lá o que
estivessem tendo. Não me importava; eu só queria que ele não a tocasse e
funcionou, pois, ambos pararam de sorrir e ela recolheu sua mão.
Enquanto recebi um olhar interrogativo dele, Daniela lançou-me o seu
carregado de mágoa. De certo modo, detectar aquele tipo de emoção
atravessado em seus olhos fez-me encolher internamente, pois acreditava que
ela tinha uma visão completamente deturpada sobre o meu caráter, o que
pesava muito para que não quisesse me ouvir.
Por pior que pudesse parecer, não tinha como culpá-la, afinal, todas as
vezes em que nos vimos depois de tê-la demitido da empresa, só teve motivos
aparentes e suficientes para acreditar que eu não passava de um covarde e
cretino, assim como vinha me intitulando. O fato de eu não conseguir me
explicar como deveria, contribuiu e muito. Entretanto, ainda me restavam
esperanças de que uma hora ou outra, ela pararia para me escutar.
Apesar do clima não estar ao meu favor, ela soltou um riso amargo ao
mesmo tempo em que me fitou.
— Será que você não tem nada melhor para fazer do que ficar me
seguindo? — Me confrontou.
Diante de sua afronta, senti um enorme desejo de jogá-la sobre o meu
ombro e levá-la a algum lugar, preferencialmente, o mais distante possível,
com a pretensão de não lhe restar nenhuma chance para escapatória, sendo
obrigada a me ouvir de qualquer maneira. No entanto, mantive o foco que,
naquele instante, resumia-se ao fato de querer ardentemente que aquele cara
sumisse das minhas vistas. Não pude deixar de observar que ele me olhava
com curiosidade.
Quando resolvi me pronunciar, ouvi o seu disparate:
— Ele está te incomodando, Daniela? Se precisar de ajuda… —
aquilo só me enfureceu ainda mais.
Virei-me em sua direção e o mirei com afinco, sorrindo de canto.
— Creio que quem vai precisar de ajuda aqui não será ela, mas, sim,
você. Babaca! — ditei entredentes.
Vi o exato momento em que trincou seu maxilar e levantou do seu
assento, num claro sinal de intimidação. Ao contrário do que ele pôde ter
pensado sobre mim, não me movi dali, muito menos desviei a minha atenção
da sua.
— Será que dá para vocês dois pararem com isso? É ridículo! —
Daniela nos repreendeu em tom ameno.
Vi que algumas pessoas nos olhavam curiosas para saber o que estava
rolando ali.
— É sério, Daniela. Preciso que me ouça. — Praticamente implorei.
— Eu vou indo. — O homem que a acompanhava, quebrou o silêncio
que pairava. — Depois a gente se fala. Seu número continua o mesmo? —
Ele iniciou uma conversa, ignorando totalmente a minha presença, e ela
assentiu, respondendo sua pergunta. — Ótimo. — Olhando-me de modo
desafiador, o assisti despedir-se dela dando-lhe um beijo demorado no rosto.
Fechei minha mão livre em forma de punho ao lado do meu corpo e
cerrei meus dentes. Eu queria socar a cara daquele maldito!
Foi embora em seguida e Daniela em posse da sua bolsa, indicou um
canto longe dali, com menos movimentação para que pudéssemos ter aquela
conversa e saindo na frente, mantendo-me em seu encalço. Não deixei de
observar o quão linda se encontrava com aquele vestido rodado.
Automaticamente, meus pensamentos voltaram no tempo, lembrando do dia
em que a tive prazerosamente em meus braços.
Fui obrigado a cessá-los, assim que se pronunciou:
— Pode falar.
— Quem era ele? — Sua testa enrugou e esboçou um riso debochado.
— Que eu saiba, sou livre e desimpedida, portanto, não te devo
qualquer satisfação. — Foi ousada ao me responder. — Se puder adiantar
logo o que tanto anseia me dizer, eu agradeço. — Cruzou os braços em um
gesto de impaciência.
— Tudo bem. — Mantive minha postura ereta e respirei fundo antes
de começar, pois não podia perder a oportunidade que ela estava me dando
para me explicar — Meu casamento é uma farsa. — Como eu suspeitava,
Daniela explodiu em uma gargalhada, antes mesmo que eu pudesse
continuar.
— Ah, por favor! Acha mesmo que vou cair nessa conversa? —
caçoou.
— É a verdade, acredite em mim — pedi.
Em seguida, seu olhar recaiu sobre a sacola que eu segurava.
— Se é verdade, o que tem aí? — quis saber e engoli em seco, sem
saber como me esquivar de sua pergunta sem ter que mentir, porque o nome
da loja estava evidente e deixava claro que se tratava de uma joalheria.
No fim, minha sinceridade sobressaiu:
— Apenas um presente — soei indiferente, querendo mostrar a ela
que aquilo não era nada demais.
— Para…? — incitou-me a continuar.
Olhei ao redor e xinguei mentalmente. Daniela não era boba e isso eu
já sabia.
— Não é o que está pensando. — Tentei contornar aquela situação,
que parecia, mais uma vez, ter se voltado contra mim.
— Me deixa ver se entendi… Seu casamento não passa de uma farsa,
mas está aqui, comprando presente para a sua mulher e correndo atrás de
mim? — pontuou e percebi que seu grau de irritação tinha aumentado.
Com a intenção de deixá-la calma e fazê-la me escutar direito, eu
aproveitei que estávamos a uma distância considerável e dei um passo à
frente, querendo alcançar sua cintura e trazer seu corpo para junto do meu.
Mas antes que conseguisse tal proeza, abruptadamente, tive o meu rosto
atingido por um tapa.
— Canalha! — Seu olhar brilhava por causa das lágrimas
acumuladas. Cobri o local onde tinha sido esbofeteado em cheio, pois estava
sentindo certo formigamento, em consequência da força que tinha usado para
me bater.
— Eu não merecia isso, Daniela. Está se deixando levar pela raiva, a
ponto de não me ouvir direito — Me defendi, olhando-a firmemente.
— Não importa. — Ela deu um passo para sair dali e tentei impedi-la.
— É melhor me deixar em paz e se vir atrás de mim, vou gritar a plenos
pulmões que está me perseguindo — advertiu, fazendo-me afastar dela.
— Dan… — não tive chances, uma vez que meu chamado se perdeu
no ar, pois ela praticamente correu para longe de mim.
Porra!
Mais uma vez lhe dei outra razão para me odiar. Sinceramente, eu já
não sabia como fazê-la me escutar sem antes tirar conclusões precipitadas.
Segui no mesmo rumo que ela e ao chegar no estacionamento, procurei pelo
seu carro que logo passou pelas minhas vistas, cantando pneu.
Lamentei por aquele episódio. Toda vez que nos encontrávamos as
coisas se complicavam ainda mais. Não era possível!
Contrariado, retornei para a empresa e dentro da minha sala, sentado
no sofá que tinha no canto, cogitei por bons minutos alcançar o meu celular e
discar o número do Jin Yang. No fim das contas, eu fui vencido por minha
vontade e liguei:
— João Paulo, como vai? — saudou-me, educadamente ao atender.
— Vou bem, agradeço por perguntar — respondi de modo cordial.
— Que ótimo!
— Tem razão, mas não liguei para isso — Deixei claro.
— Quer ter aquela conversa que ficou pendente na semana passada?
— Foi direto.
— Sim, no entanto, não na sua casa — Fui taxativo.
— Como quiser. Onde sugere então?
— No meu apartamento. — sugeri.
— Ótimo. É só me dizer o dia e horário. Só não poderei amanhã,
porque terei uma reunião de negócios — avisou.
— Na quarta-feira então, pela manhã — Marquei.
— Combinado. — Agradeci pelo modo fácil de marcar compromissos
com ele, sinal que prezava os seus deveres.
Desliguei o telefone e passei a mão pelo meu queixo. Tinha
esperanças que ele fosse me dar o direito da dúvida e a chance de provar a
minha inocência. Finalmente depois de longos quatro anos preso a uma
pessoa por conta de uma chantagem absurda, eu iria juntar a prova crucial
para a minha libertação.
De certo modo, havia aberto meus olhos depois de me aproximar da
Daniela, porque quando me casei, mesmo que houvesse sido por obrigação,
simplesmente me acomodei. Não corri atrás de nada, pois já não me existia
expectativa alguma para a minha vida desastrosa, simplesmente aceitei que
aquele era o meu cruel e indesejado destino, mesmo que desejasse ver-me
livre da Ingrid em um dado momento.
A coragem que surgiu para me livrar daquela acusação, dava-se ao
fato de estar ansiando que Daniela me perdoasse e, só assim, cogitaria a
hipótese de tê-la novamente em meus braços; apenas para mim.
Desejava por isso, ardentemente. Não via a hora de isso acontecer.
Por enquanto tinha que continuar encenando a boa pose de marido para a
Ingrid.
O que me confortava era saber que se tudo desse certo, tão logo me
veria livre dela e, confesso que não estava me contendo de tanta ansiedade
para que isso se concretizasse o quanto antes.
Capítulo 16

Daniela

Quando sugeri ao Samuel que fôssemos almoçar na praça de


alimentação do shopping, de longe imaginei que me sentiria tão
desconcertada ao estar em sua presença. Mesmo que momentos felizes de
quando estávamos juntos passassem pela minha cabeça, ainda assim, o fato
de que ele poderia sim, ter me traído com sua amiga, deixava-me encabulada,
sobressaindo a qualquer outro momento bom que tivéssemos tido. Saber que
essa dúvida cruel e que carregava desde que terminamos há mais de seis
meses, finalmente, seria esclarecida, fez com que certa ansiedade me
preenchesse por dentro.
Depois de nós termos decidido aonde comeríamos, ficamos na fila
para escolhermos os pratos. Assim que chegou a nossa vez, fizemos nosso
pedido e mesmo perante os meus resmungos por querer dividir a conta, ele
não cedeu. Deixei que pagasse, já que fazia tanta questão e após recebermos
um dispositivo que tinha uma luz vermelha, onde mudaria para a verde,
avisando-nos que era o momento de ir buscá-los, nós caminhamos até uma
mesa de nossa preferência.
Samuel puxou a cadeira para que eu me sentasse e o agradeci. Um
gesto que era bastante comum quando namorávamos, algo que notei não ter
mudado. Podia ser que ele fosse um grande traidor, mas eu não podia negar a
mim mesma o quanto era cavalheiro.
— E então… — pronunciei, após vê-lo sentar-se do outro lado da
mesa. Eu queria discutir logo aquele assunto.
Samuel descansou ambas as mãos sobre o tampo e entrelaçou seus
dedos, olhando-os, para em seguida, mirar os olhos nos meus.
— Você deve se lembrar que naquele dia chovia muito e eu ia sair
mais cedo do que meu horário de costume no trabalho, assim como havia te
avisado naquela manhã. — Meneei minha cabeça em concordância, enquanto
o ouvia. — Pois bem… Assim que saí da empresa, entrei em meu carro e
dirigi até parar em um semáforo próximo dali. Enquanto o mesmo
permaneceu fechado, tive tempo o suficiente para ver a Vanessa debaixo
daquela chuva na companhia do seu namorado. Não pude ignorar o fato de
que estavam em uma discussão acalorada; até pensei em seguir adiante
quando a passagem foi liberada, entretanto, após colocar o carro em
movimento outra vez, vi o exato momento em que ele a agarrou
possessivamente pelo braço e a sacudiu. — Confesso que minha boca se
abriu em completa surpresa ao tomar ciência sobre aquilo. Permaneci quieta,
dando espaço para que prosseguisse. — Como sou completamente avesso a
agressão, quanto mais a uma mulher, eu fiz o retorno mais próximo e
estacionei do lado da calçada, onde ainda se encontravam. Recordo-me que
saí gritando de dentro do veículo para que ele a soltasse e, por mais
inacreditável que possa parecer, o cara simplesmente a largou, xingando-a de
vários nomes horríveis que nem vale à pena mencionar. Enfim, com tudo
isso, nós acabamos ficando encharcados e como ela se encontrava chorosa e
muito abalada com a briga, tentei acalmá-la e achei melhor levá-la ao
apartamento que morávamos — explicou e eu franzi o cenho, ainda confusa.
Quando fui contestá-lo, o dispositivo vibrou sobre a mesa e
detectamos a luz verde.
— Pode deixar que eu vou buscar. — Me impediu ao tocar a minha
mão, que, naquela altura, também estava descansando sobre a mesa.
Samuel deu duas viagens ao balcão, visto que as bandejas eram
grandes para que fossem pegas de uma só vez. Então pegou a minha e me
entregou, indo em seguida pegar a sua, juntando-se a mim ao retornar.
Começamos a comer e a comida estava saborosa.
Passados alguns minutos, resolvi questioná-lo.
— Ok, mas, e o fato de vocês dois estarem quase seminus e no quarto
que compartilhávamos quando os flagrei? Como me explica aquela cena?
Não esquecendo também que você ficou extremamente nervoso com a minha
aparição repentina, o que me deu a entender que realmente estava me traindo
com ela — enfatizei.
— Quando chegamos ao apartamento, Vanessa já estava mais calma e
não chorava. Foi então que lhe sugeri que tomasse um banho, até para que
relaxasse um pouco. Ela ainda mencionou que não tinha roupa para substituir
as suas peças molhadas, e eu ofereci uma toalha junto com uma das minhas
camisetas — salientou.
— Até aí eu entendi. Só não sei o porquê de não ter oferecido a ela
uma das minhas roupas ao invés da sua — supus.
Samuel riu, divertido.
— Daniela, eu te conhecia muito bem a ponto de não pegar qualquer
peça sua e chegar a oferecer à Vanessa. Se eu tivesse feito isso e você a visse
usando uma de suas roupas, acho que eu não estaria aqui tendo essa conversa
com você. — Inclinei a minha cabeça para o lado e concordei, porque ele
tinha razão.
— Não deixa de ser verdade — Dei-lhe razão e rimos em uníssono.
— E como define o instante em que cheguei lá e o encontrei apenas com uma
toalha enrolada na cintura? — inquiri, arqueando uma das minhas
sobrancelhas e bebi um pouco do meu refrigerante.
— Eu tinha me despido no outro quarto e acabei me lembrando que
havia me esquecido de te avisar da minha chegada. Então me enrolei numa
toalha e aproveitei que Vanessa ainda estava no banho para ir até a mesinha
pegar o celular com a intenção de te ligar. Foi quando fui surpreendido ao ter
suas mãos em torno do meu torso, foi o único motivo de eu ter ficado
extremamente nervoso, diria até, que me encontrava, verdadeiramente,
apavorado. Não tinha como saber que chegaria exatamente naquela hora e,
analisando todo aquele cenário, era claro que imaginaria que eu estivesse te
traindo. — Ter seu esclarecimento sobre aquele dia, me fez ficar atônita.
— E-eu… — sequer tinha palavras para ao me desculpar pela
confusão que fui capaz de fazer. Samuel sempre foi inocente; eu que me
precipitei ao sair de lá sem lhe dar o direito da dúvida, acabando com um
relacionamento que tinha um futuro promissor pela frente.
Para ser bem sincera, não sabia definir com exatidão a forma que
estava me sentindo ao saber da verdade, que nem em um milhão de anos
imaginei que teria sido daquele jeito.
— Nem sei o que dizer. — Comprimi meus lábios em um sorriso sem
graça, tamanho era a vergonha que sentia por ter pensado tão mal dele. —
Muito menos, como me desculpar. De verdade — ressaltei, sentindo-me
péssima.
— Relaxa, já passou. — Tentou me tranquilizar. — Acho que
nenhum de nós dois queria que nosso relacionamento tivesse acabado
daquela maneira — completou.
— Mas eu fui precipitada. Nem mesmo lhe dei o direito de defesa —
frisei, chateada comigo mesma.
— Sabe, eu não te culpo totalmente. Terminar comigo de modo tão
abrupto me deixou extremamente magoado, no entanto, creio que foi o
melhor para nós dois. — Encarei-o, incrédula pelo que estava falando.
— Mesmo? — perguntei, querendo entendê-lo.
— Mesmo — confirmou. — Depois que viajei e comecei a trabalhar
lá, correndo atrás para que aquele contrato fosse assinado, eu caí em mim e
acabei chegando à conclusão de que, eu teria sido muito egoísta ao ir viajar,
sabendo que ficaria meses fora e imposto que você me esperasse. Não seria
justo com você, por mais que me amasse. — Olhei-o de um jeito carinhoso e
sorri.
— Você não existe, não é possível! — brinquei, rindo alegremente.
Foi então, que ele tomou uma das minhas mãos na sua, acarinhando-a,
enquanto me olhava profundamente, também sorrindo. Esperei que ele
dissesse alguma coisa e quando sua boca se abriu, fomos interrompidos pela
presença repentina do João Paulo, dizendo que precisava falar comigo, algo
que não esperei que pudesse acontecer.
Tê-lo ali em meu encalço me fez perceber que, talvez, eu não tivesse
sido somente uma transa qualquer. Por outro lado, independentemente de
pensar isso, a mágoa ainda era evidente. Não podia me esquecer das suas
mentiras e que continuava casado.
Soltei um riso amargo e o confrontei, acusando-o de estar me
seguindo. Notando nossa troca de farpas, Samuel interveio, se oferecendo
para me ajudar, caso o João Paulo estivesse me incomodando. O olhar mortal
que João Paulo o direcionou ao ouvir aquilo, fez-me pensar que ele estivesse
com ciúmes por nos ver juntos, mas, rapidamente tirei aquela sensação da
minha cabeça, pois não tinha razão para isso. Afinal, ele era casado e, eu?
Livre para fazer o que bem quisesse e me relacionar com quem quer que
fosse.
Em sequência a toda aquela tensão, Samuel despediu-se, deixando
claro que iríamos nos falar depois. Concordei e ele foi embora.
Dei alguns minutos da minha atenção ao João Paulo a fim de
realmente escutá-lo, mas só ouvi um absurdo atrás do outro, até, novamente,
deparar-me com mais uma mentira. Num momento de pura ira, cheguei a
acertar o seu rosto e depois de discutirmos, praticamente corri dali, deixando-
o para trás. Era certo que tínhamos que esquecer um ao outro, por mais que
eu estivesse nutrindo um sentimento diferente por ele em meu coração.
Não se tratava de raiva ou decepção. Eu estava gostando de um
homem que não me merecia. Tudo que vinha acontecendo só evidenciava
isso.
No estacionamento, entrei em meu carro e dei partida, saindo
rapidamente dali. Ouvi o toque do meu celular de dentro da bolsa que estava
sobre o banco do carona e o alcancei dentro dela, O nome de Amanda
brilhava na tela e atendi, por mais que não fosse o indicado, já que dirigia.
— Oi, amiga! Ia agora mesmo te ligar — menti, fingindo uma alegria
que não fazia parte de mim, ao menos, não naquele momento.
— Sério? E posso saber onde se meteu? — percebi que sua pergunta
foi feita em tom irônico e sorri, tentando despistá-la, já que não queria entrar
em detalhes sobre ter encontrado o João Paulo.
— Eu fui resolver os últimos ajustes da minha festa de aniversário e,
devo ressaltar que está tudo muito lindo, pena que não pôde me acompanhar
em cada detalhe — encenei.
— Hum... e demorou tanto assim para resolver somente alguns
detalhes que faltavam? — Notei que estava desconfiando da minha
explicação, uma vez que não havia lhe convencido.
Limpei a garganta.
— Na verdade, foi até rápido e resolvi dar uma volta no shopping.
Inclusive, estou saindo agora mesmo daqui — menti, porque omiti a parte de
já ter saído de lá e estar falando com ela enquanto me mantinha ao volante.
— Quer que eu leve algo? — quis mudar de assunto.
— Não, Dani. Falei que não queria nada quando saiu daqui, lembra-
se? — relembrou-me.
— Ah, é verdade. Então até daqui a pouco. — Me apressei para
desligar.
— Beijos! — Despedimo-nos.
Depois de encerrar a ligação, puxei o ar profundamente, a fim de
oxigenar os meus pulmões. E, enquanto fazia o percurso de volta para casa,
senti que uma grande tristeza me assolava por dentro. Pensei no quanto meu
destino se resumia a merda atrás de merda, ainda mais depois de descobrir
que Samuel não tinha me traído.
Um longo suspiro deixou os meus lábios ao constatar que poderíamos
estar vivendo como um casal feliz e nos amando ainda mais, mesmo que o
estivesse esperando de sua viagem. Durante a nossa conversa, ficou claro que
ainda parecia nutrir algum sentimento por mim. Balancei a cabeça
espantando tais pensamentos.
Não começaria tudo de novo; não quando tinha ciência do quanto
havia destroçado o seu coração com o meu ato precipitado ao ter terminado
com ele. Também não tinha como pensar positivo em relação ao João Paulo,
sendo que, mais uma vez, o peguei mentindo descaradamente para mim.
Mediante esses pensamentos, cheguei à conclusão de que, talvez, o
meu destino fosse ficar sozinha. Certa sobre isso, prometi a mim mesma que
não voltaria a ver e muito menos envolver-me com o João Paulo. Havia
decidido e ponto final.
Capítulo 17

João Paulo

Era dia de quarta-feira e estava à espera do Jin Yang. Caminhando de


um lado para o outro, meu nervosismo era evidente. Não queria continuar
cogitando como seria a nossa conversa ou se ele me daria o direito de provar
minha inocência, porque, certamente só saberia depois de conversarmos.
O que me deixava ainda mais encabulado era o porquê de ele ter
aceitado que a Ingrid se casasse com o seu suposto estuprador, que no caso,
se tratava de mim. Nunca o questionei sobre isso e nem o faria, não por
agora. Quem sabe quando fosse lhe mostrar a prova concreta da injustiça que
havia sofrido por sua filha?
Enquanto o aguardava, sentado em um dos sofás na sala, tomei uma
dose do uísque que continha em meu copo e passei a mão entre os fios do
meu cabelo, tentando relaxar, algo que não estava funcionando muito bem.
Pensativo, lembrei-me da noite anterior, quando cheguei da empresa e fui
surpreendido pela presença da Ingrid, aguardando na portaria do prédio.
Subi em sua companhia, fingindo ter amado sua surpresa. No entanto,
quando fechei a porta, me vi estático ao encontrá-la abrindo seu sobretudo.
Pedi que não fizesse aquilo e ela deixou a peça cair no chão, ao redor dos
seus pés, revelando sua nudez.
Meu subconsciente não conseguia acreditar no quão depravada ela
podia ser. Tá certo que ela fazia aquilo pelo título que recebia, sendo a minha
esposa e isso lhe dava a certeza de que me deixaria louco com surpresas do
tipo. Um homem que se preze, realmente agradeceria por algo assim, o que
não era o meu caso, já que vinha mentindo e a suportando somente para
ganhar a sua confiança.
Se fosse em outros tempos, eu pediria que ela se vestisse e a
expulsaria dali. Mas por enquanto, eu não podia me comportar de tal maneira,
e era obrigado a me manter em sua presença. Então me aproximei, olhando-a
dos pés a cabeça, fingindo malícia.
Tomei seu queixo delicadamente com uma de minhas mãos e,
mirando seus olhos profundamente, deixei claro que não queria o nosso
momento de reconciliação daquela forma. Ela riu ao me ouvir, talvez
desconfiada das minhas palavras; só que fui enfático ao garantir que ansiava
por uma noite romântica, onde poderíamos dar prazer um ao outro, além de
reiterar que tinha comprado algo para presenteá-la. Aquela menção a fez
morder o lábio inferior, ao mesmo tempo em que seu olhar foi tomado por
faíscas, demonstrando que aquilo havia lhe interessado e, então, enlaçou
minha cintura com suas mãos.
Torci mentalmente para que ela acreditasse em mim e concordasse.
Logo, desci meus lábios nos seus, dando-lhe um beijo que não demorou, pois
apenas queria que não restassem dúvidas do meu querer. Confesso que foi
uma cartada de mestre, pois ela aceitou. Em seguida, ela sugeriu o dia, mas
lhe contive, dizendo que veria direitinho e avisaria.
Convencida, eu peguei o seu sobretudo e a entreguei, cobrindo-a
novamente. Ainda fez menção de querer apenas dormir comigo, mas
consegui me esquivar, dizendo que estava cansado e seria melhor esperarmos
a noite onde dormiríamos juntos, pois eu faria ser muito especial e
inesquecível. Ingrid saiu do meu apartamento quase saltitante, após me beijar
intensamente. Fechei a porta já passando a mão por meus lábios, limpando-
os. Não suportava ter que beijá-la, contudo tinha que aguentar só mais um
pouco.
Saí do meu torpor ao ouvir o toque da campainha. Finalizei minha
bebida e abandonei o copo sobre a mesinha ao lado do sofá. Levantei-me e
segui em direção a porta.
— Como vai, meu genro? — Tratou-me da mesma forma de sempre e
demos um aperto de mão.
— Na medida do possível. Entre — pedi e afastei-me, dando um
passo para o lado e ele passou por mim, analisando o espaço. — Sei que nada
aqui se compara a sua luxuosa mansão, mas prefiro a simplicidade das coisas,
fui criado assim — pontuei.
Indiquei que se sentasse, e assim o fez, após abrir o único botão
existente em seu paletó.
— Deu para notar — expôs seu ponto de vista.
— Aceita alguma coisa? Uma bebida? — inquiri, ainda de pé e ele
recostou-se no sofá, mantendo seus braços abertos, como se estivesse
realmente à vontade.
— Não quero nada. — Negou e logo me sentei no sofá que ficava de
frente para onde se encontrava. — O que tem para conversar comigo? — Seu
olhar repuxado se fixou em mim e respirei fundo, tomando ar suficiente para
iniciar aquele assunto.
— Eu quero que me dê uma chance para colher uma prova concreta
da minha inocência referente à acusação de estupro que a Ingrid fez contra
mim há quatro anos; quando ela me fez aquela chantagem, praticamente,
obrigando-me a me casar com ela — Fui direto ao ponto; sem rodeios.
Inspecionou-me por algum tempo, preservando o seu silêncio.
— Por que agora, depois de longos quatro anos? Não te soa estranho
querer me provar algo depois de tanto tempo? — enfatizou.
— Eu sei que é estranho, mas antes, quando me casei com sua filha,
mesmo por obrigação, foi como lavar minhas mãos. Eu amaldiçoei o meu
destino por ter sido tão desgraçado comigo. Para mim, Ingrid era como uma
sentença de morte. Para ser mais exato, no momento em que a nomeei minha
esposa perante aquele juiz, no escritório da sua casa, foi como se estivesse
velando o meu corpo, pois minha vida perdeu todo o sentido naquele
acontecimento fatídico — Fui sincero.
— Se tem tanta convicção de suas palavras, por que se relacionou
com ela no primeiro ano do matrimônio de vocês? — quis entender.
— Enxergando-a como uma sentença de morte, cheguei a cogitar a
possibilidade de reverter todo aquele ódio que havia adquirido por ela em um
sentimento casto; o amor. Entretanto, não poderia estar mais enganado ao ter
tentado aquilo, pois só o que consegui foi odiá-la ainda mais — revelei e sua
testa se enrugou.
— Mas chegaram a quase ter um bebê. Nem mesmo isso teria ajudado
no processo para que pudesse amar a minha filha? — Sua curiosidade me
deixou pensativo.
— Sinceramente, mesmo depois de saber que teríamos uma criança,
nada mudou. Para dizer a verdade, só continuei com ela depois de sabermos
da gravidez, pois meus planos eram outros — confessei, tornando-o ciente
sobre aquilo.
— E quais eram eles? — Não escondeu seu interesse em saber.
— Na noite em que Ingrid revelou sobre a gestação, eu tinha
planejado comunicar a todos que estavam ali, que entraria com o pedido de
divórcio — Soltei de uma vez, antes que perdesse a coragem.
— Com base em suas revelações, não me resta outra coisa a fazer, a
não ser, dar-lhe a chance que tanto deseja — decretou.
— Muito obrigado! — Agradeci e ele se levantou, fechando o botão
do seu paletó.
— Creio que era somente isso que tínhamos para tratar, não é
verdade? — supôs.
— Sim, somente isso — confirmei.
— Ótimo. Preciso ir agora — avisou e deixei o meu assento, indo até
a porta.
— Estarei aguardando pela prova. — Assenti no mesmo instante que
apertei sua mão. — Até breve. — despediu-se e saiu rumo às portas do
elevador.
Entrei no apê e dei um soco no ar, vibrando por Jin Yang ter me dado
o direito da dúvida. Com certeza, eu não iria desperdiçá-la. Sorri, feliz com
aquele pensamento.

∞∞∞

O restante da semana passou rapidamente, e o auge foi escutar o


Thiago — de modo inesperado, porque ouvi enquanto ele conversava com
outra funcionária da empresa — que aconteceria a festa de aniversário da
Daniela. Aquela informação me pegou completamente desprevenido, pois
lamentei que ainda não tivéssemos conseguido conversar de modo civilizado,
afinal, ela insistia em tirar conclusões precipitadas, antes mesmo que eu
pudesse explicar qualquer coisa. Isso dificultava para que pudéssemos estar
bem e, juntos, além de eu ser bem-vindo para compartilhar aquele momento
com ela. Sim, eu andei pensando demais por esses dias e cheguei a conclusão
que o motivo de eu sempre querê-la tão perto; sentir sua falta e tentar contatá-
la a todo instante, mesmo não conseguindo, resumia-se a uma única coisa:
paixão.
Estava mais do que claro que eu me encontrava apaixonado por ela e
queria que nos resolvêssemos de alguma maneira. Enfim, eu quis saber mais
detalhes daquela comemoração, como, por exemplo, o dia e o endereço de
onde seria realizado. Fui a sala do Thiago e inventei uma desculpa qualquer,
dizendo que tinha apagado o e-mail que havia recebido com o convite dela,
onde me deixava ciente sobre. Ainda bem que ele não suspeitou de nada, ao
menos, não percebi, e cooperou anotando o que pedi numa folha do seu
pequeno bloco de papel, entregando-me em seguida e o agradeci.
Havia tentado contato durante esses dias e nem mesmo chegou a
chamar. Obviamente que ela deveria ter bloqueado o meu outro número.
Aquilo já estava me irritando e hoje ela não me escaparia, uma vez que a faria
me ouvir de qualquer jeito; querendo ou não. Além disso, tinha que
convencê-la a participar da minha encenação com a Ingrid, na noite seguinte.
Terminei de dobrar ambas as mangas da minha camisa até os
cotovelos e depois de passar a mão pelo meu cabelo, olhei-me novamente no
espelho e, pronto, segui até o meu closet, pegando ali dentro, o presente que
tinha comprado pela manhã para a Daniela. Sentei-me na beirada da minha
cama com a sacola que carregava a caixinha, e ao pegá-la, abri, olhando para
o conjunto de brincos e o colar de pérolas. O canto da minha boca repuxou
em um sorriso bobo, imaginando como ela ficaria linda com aquela joia, e se
ela iria gostar.
Voltei a colocar o objeto na sacola e verifiquei o horário em meu
celular, vendo que a comemoração já havia iniciado. Recolhi minhas chaves e
carteira e saí do meu quarto. Peguei o elevador ao deixar o apê e quando
cheguei ao estacionamento, cruzei-o indo ao meu carro e entrei, depositando
a mesma sobre o banco do carona.
Depois de colocar o endereço no GPS — do espaço onde seria a
comemoração do aniversário da Daniela — coloquei o carro em movimento e
peguei a rodovia, seguindo suas coordenadas. Pouco tempo depois, parei em
frente ao local. Notei que tinha um segurança na entrada, conferindo a
entrada dos convidados.
Que porra! Como eu faria para entrar ali? Obviamente que meu nome
não estava na lista, isso era certo.
Já tinha estacionado o veículo e continuei em seu interior, pensando
numa forma de entrar sem ser barrado. Saí dali de dentro com a sacola em
mãos e aguardei que o segurança se distraísse ou desse uma saída.
Impaciente, permaneci esperando e momentos depois, eu o vi saindo e entrei
apressadamente torcendo para que não fosse notado. Longe da entrada, olhei
disfarçadamente e o encontrei voltando para o seu posto naquele exato
momento.
Respirei, aliviado e ao varrer o local, identifiquei Matheus sentado à
mesa em companhia de uma mulher muito bonita, por sinal, juntamente com
outro casal. Aproximei-me e os cumprimentei, sendo apresentado à sua
companheira. Quando fui questionado pelo meu amigo sobre o que fazia ali,
menti falando que tinha sido convidado pela aniversariante. Notei que a
mulher que estava com ele, não me encarava com um semblante amigável,
muito pelo contrário.
Logo me despedi e saí à procura do meu alvo.
Numa espécie de cozinha, onde ficavam os comes e bebes e um
garçom ou outro caminhava apressadamente com suas bandejas; meu olhar a
encontrou, conversando com uma mulher bem apresentável, talvez fosse a
chefe de cozinha, responsável por manter tudo funcionando, preocupando-se
com o fato de os convidados serem bem servidos. Entrei e encostei em um
canto, aguardando que Daniela me visse. Meu desejo logo se concretizou e a
mirei da cabeça aos pés, admirando o quanto estava maravilhosa; esbanjando
sensualidade naquele vestido longo que delineava suas curvas com extrema
perfeição.
Perante aquela constatação, senti meu pau ganhar vida dentro da
minha cueca e me remexi, passando minha mão livre pelo queixo, sentindo-
me frustrado, pois aquele não era o lugar, muito menos o momento
apropriado. Ela logo caminhou em minha direção, mantendo sua feição séria,
postura que me deixou ainda mais duro. Não era exatamente isso que cogitei
acontecer, mas, dado ao fato de que não tinha ficado com nenhuma outra
mulher depois de tê-la tido em meus braços era o esperado.
— Como soube dessa festa? Ou melhor, como conseguiu entrar aqui?
Não me lembro de ter colocado o seu nome na lista de convidados —
enfatizou, parecia irritada.
Eu ri, porque ela ficava ainda mais bonita estando brava.
— Tenho minhas artimanhas. — Dei de ombros.
Ela soltou um riso amargo.
— Só pode ser brincadeira — debochou.
Aproximei-me com cautela para que ela não se afastasse e após
mantermos nossos rostos bem próximos, sendo capazes de sentir a respiração
quente um do outro contra a nossa pele, encarei-a com firmeza.
— Podemos ir a um canto com menos barulho? — Desviou seu olhar
do meu, mordendo seu lábio inferior.
— E por que eu faria isso? Eu disse para me deixar em paz —
proferiu com irritação.
Levantei minhas mãos ao alto e ela olhou a sacola.
— Vim em sinal de paz. Chega de discussões. Além disso, quero
entregar o seu presente e me certificar de que gostou — murmurei com minha
boca a poucos centímetros do seu ouvido e notei seus pelos se eriçarem.
A vi engolir em seco e sua postura altiva vacilou.
— Que seja rápido. — Sorri vitorioso por ela ter aceitado ,e saí
daquele cômodo, indo atrás dela.
Capítulo 18

Daniela

Depois que, finalmente minha amiga chegou à festa, eu fiquei


aliviada e, muito feliz. Também não pude ignorar o fato de que havia trazido
companhia. Era bom vê-la tentando amar alguém, algo que estava mais que
evidente entre os dois; bastava olhar os sorrisos e olhares que trocavam, além
de formarem um lindo casal.
Deixei meus pais em suas companhias e fui até a cozinha. Conversei
com a chefe a fim de saber se estava tudo conforme o planejado. Ela me
deixou ciente de que não precisava me preocupar, mas, visto que a festa era
minha, claramente queria que nada fugisse do planejado.
Finalizando a nossa conversa, olhei adiante e fui atingida por um
olhar castanho, que me encarava fixamente e com bastante intensidade.
Admito que ver o João Paulo me deixou feliz, porque, desde a última vez que
nos encontramos, que foi no shopping, dia de segunda-feira, não havíamos
tido mais contato algum. Um pedido meu, pois preferi nos mantermos longe
e, vendo-o ali ficou claro que mesmo tendo bloqueado os dois números, os
quais usou para tentar me contatar, pensei que seria o suficiente para esquecê-
lo, contudo de longe funcionou.
Após agradecer a chefe de cozinha, caminhei em direção ao João
Paulo e mantive minha postura altiva, não demonstrando qualquer
estremecimento em meu corpo, perante a sua presença. Analisei que vestia
um traje mais despojado; uma camisa de manga comprida, tendo-as dobradas
até seus cotovelos e com os dois primeiros botões abertos, o que, de certo
modo, chamou a minha atenção, dando margem à minha imaginação, pois
seu peitoral sarado ficava evidente, mesmo que por baixo daquele tecido. Nos
pés, calçava um sapato social, que combinava bem com o estilo que escolheu.
Logo o confrontei, querendo entender como ele tinha ficado sabendo
do meu aniversário e, também, por onde teria entrado, já que havia um
segurança na entrada daquele local, justamente para impedir que pessoas
indesejadas entrassem. João Paulo fazia parte dos não convidados. Teve a
audácia de me revelar que tinha suas artimanhas.
Enfim, depois de muito insistir, resolvi dar a ele um pouco do meu
tempo, até pela curiosidade de saber qual era o presente que tinha trazido para
mim. Tomei a frente, indo em direção ao jardim que ficava na parte de trás,
onde teríamos um pouco mais de silêncio, já que as músicas que o DJ tocava,
ecoavam pela pista de dança, animando os convidados. Passamos por ali,
desviando de algumas pessoas e assim que atravessamos, chegando à outra
extremidade, fui parada por alguém que segurou acima do meu cotovelo,
fazendo-me cessar os passos. Na hora que me voltei para saber quem me
tocava, deparei-me com Samuel.
— Será que pode me acompanhar? — Fiz menção de respondê-lo,
mas ele me impediu. — Coisa rápida, já que estou indo viajar — completou e
olhei rapidamente para o João Paulo, que estava bem próximo de nós,
ouvindo nossa conversa. Deu para perceber sua expressão irritada.
— Claro — concordei e vi o exato momento em que João Paulo
mordeu sua mão fechada em punho.
Confesso que me diverti internamente ao ver seu gesto, mesmo assim,
acompanhei o Samuel, que depositou uma mão no meio das minhas costas,
conduzindo-me até chegarmos à saída do local.
Depois do episódio entre ele e o João Paulo no shopping, recebi várias
ligações dele, onde conversamos muito, colocando o papo em dia. Samuel foi
sincero ao me deixar ciente que tinha voltado para saber se, depois que
conseguisse me esclarecer o fato de que nunca havia me traído, ainda
poderíamos ser amigos sem ressentimentos. Eu disse que sim e entre uma
curiosidade ou outra do que havíamos feito durante os meses que se
passaram, confessei que tinha conhecido outro alguém e, automaticamente,
deduziu ser “aquele cara que nos atrapalhou no shopping”.
Eu ri do modo descontraído pelo qual se referiu ao João Paulo e,
mesmo triste por conta de suas mentiras e enganações, admiti estar gostando
dele, o que o fez tirar seu time de campo. E na última ligação que me fez,
avisou que estaria voltando para o Rio Grande do Sul, onde ficou por pouco
mais de seis meses e recebeu a proposta de ser o vice-presidente da empresa
de lá, tendo que se mudar de vez da cidade.
— Tinha me falado que não poderia vir — salientei ao pararmos
próximo a entrada.
— Eu sei. — Esboçou um riso ameno e mirou o chão por algum
tempo, até voltar a me encarar. — A verdade é que não podia ir embora sem
antes me despedir de você, ainda mais agora, depois de ter resolvido nossas
pendências — esclareceu.
— Agradeço por ter se preocupado em vir. Foi muito gentil da sua
parte. — Agradeci, realmente feliz pela sua presença inesperada.
— Feliz aniversário. — desejou-me e me abraçou em seguida. Seu
abraço era apertado.
— Obrigada. — Fui grata enquanto me mantinha entre seus braços,
logo se afastou.
— Não trouxe presente, porque decidi vir em cima da hora —
desculpou-se, sem graça.
— Não se preocupe com isso, só o fato de estar aqui, já é de grande
importância. — Era pura verdade.
— E ele? Já se entenderam? — Entendi sua pergunta, a qual se referia
ao João Paulo.
Comprimi meus lábios.
— Não. É complicado — justifiquei.
— Hum… por quê? — Quis saber.
— Eu prefiro não entrar em detalhes, se não se importa —
desconversei.
— Ele parece ter ficado com ciúmes. — Seu comentário me arrancou
uma risada alta.
— Não, não. Ele não teria motivos para isso, já que… — balancei a
cabeça, parando de falar, pois não dividiria a informação de que João Paulo
era casado. Poderia ser mal interpretada. — Deixa pra lá. — Fiz pouco caso.
— Sei que estou sendo curioso demais, desculpe por isso — pediu.
— Tá tudo bem. — O tranquilizei.
— Eu vou indo então — despediu-se. — Foi bom tê-la visto
novamente. Te desejo felicidades. Qualquer hora nos encontraremos outra
vez — disse sutilmente.
— Que faça uma ótima viagem — desejei. — E que a felicidade
também o encontre. Você merece! — disse em forma de elogio.
Nos despedimos com outro abraço e ele beijou minha bochecha
demoradamente. Antes que pudesse se afastar, olhei para dentro e encontrei o
João Paulo nos olhando em uma postura rígida. Não parecia nada confortável
em nos ver daquela maneira.
Quando nos afastamos, ele riu timidamente e saiu da minha presença,
entrando em seu carro no momento que o alcançou. Vi o instante em que
dirigiu para longe dali e após soltar um longo suspiro, eu atravessei a entrada,
sabendo que seria bombardeada pelo João Paulo, que nada tinha a ver com o
que eu fazia da minha vida. Tentei passar por ele, demonstrando indiferença,
mas fui parada de forma abrupta ao ter meu braço preso ao seu agarre,
voltando-me para si, atitude que quase me fez bater contra o seu peitoral.
— Quem era aquele cara? Hum? Por acaso está saindo com ele? —
encarei seus olhos firmemente e lutei para me livrar do seu toque, que de
nada adiantou, visto que ele tinha muito mais força do que eu.
— Se quer mesmo que eu me preste ao papel de lhe dar poucos
minutos da minha atenção, sugiro que me solte — exigi com veemência.
Depois de alguns segundos, se deu por vencido e me largou. Passei a mão
pelo meu cabelo, a fim de arrumá-lo sobre o meu ombro.
Então comecei a caminhar, tendo-o atrás de mim, em completo
silêncio. Trilhei por um caminho de pedras até chegarmos ao jardim que
ficava numa distância considerável de onde o DJ tocava. Mesmo mexida com
a figura dele em meu encalço, observei o espaço que nos proporcionou um
pouco de tranquilidade, já que nos encontrávamos a sós. O som ali, já não era
capaz de nos atrapalhar.
— Pode ir em frente, diga o que deseja. — Parei e cruzei os meus
braços.
Assisti passar a mão livre em seu cabelo, de modo exasperado.
— Daniela, não é possível que ainda esteja tão irredutível. Eu já pedi
desculpas pelo que te causei. Sei que a feri, mas você me julgou mal naquele
dia no shopping nem mesmo me permitiu explicar — comentou. Confesso
que ao parar e pensar um pouco, concluí que ele tinha razão. Foi com base
nisso que baixei minha guarda.
— Tudo bem, João Paulo. Eu vou te ouvir calada e espero que não me
arrependa disso — avisei.
— Ufa! Até que em fim! — exclamou em tom de alívio e lancei a ele
um olhar desaprovador. — Ok. Não quero confusão outra vez — falou em
sinal claro de paz.
Havia um enorme banco de madeira por ali e resolvi me sentar. Ele
fez o mesmo, sentando-se perto demais ao depositar sua sacola sobre o
assento. Eu me afastei, querendo garantir que minha consciência se manteria
intacta, caso eu precisasse agir com a razão, deixando as emoções de lado.
Por alguns segundos, o silêncio reinou, mas logo iniciou:
— Há pouco mais de quatro anos, eu era um homem que prezava
muito pela minha liberdade, até por ter dado um passo importantíssimo em
minha vida, iniciando um negócio que sempre idealizei, no caso, a JP
Marketing. Acabei conhecendo a Ingrid na época e como eu não queria me
apegar a ninguém, impus que fizéssemos sexo, mas sem envolver qualquer
sentimento, algo que ela concordou de imediato. Depois de seis meses nisso,
ela começou a me cobrar constantemente que eu a apresentasse à minha
família. Fui obrigado a deixar bem claro que não faria aquilo, pois não queria
e muito menos tinha tempo para um relacionamento sério. Claro que ela ficou
furiosa e as consequências surgiram uma semana depois, quando fui
submetido a assistir um vídeo dela em companhia do seu pai, que dava a
entender que tinha sido violentada; estuprada, para ser mais exato. — O
escutava atentamente quando me vi chocada com aquela informação.
Mantive-me quieta, aguardando que prosseguisse. — Pegou-me ainda mais
de surpresa quando propôs que eu me casasse com ela e, em troca, não me
denunciaria à polícia.
— Por essa eu não esperava. Que louca! — proferi, sem ter como me
manter quieta, porque o que a tal Ingrid fez dava a entender que sofria de
sérios problemas mentais.
— Exatamente. Se não bastasse isso, seu pai era um dos meus
maiores investidores e ela também se aproveitou disso para me fazer mais
chantagens, como, por exemplo, demitir você da empresa, ou faria com que
ele parasse de investir no meu negócio, levando-o a decair em meio aos
negócios. Venho todos esses anos sendo uma marionete nas mãos dela,
porque fazia e faço tudo o que me é imposto por ela. — Admito que estava
perplexa com a sua confissão. Jamais imaginei algo como o que ele tinha
acabado de me revelar.
— Mas como ela soube de nós dois? — Queria entender aquilo.
— O pior que ainda não sei — bufou, parecia se sentir cansado. —
Quer dizer, eu descobri dias atrás, que ela havia implantado um rastreador no
meu carro, então, ela pode ter me seguido naquele dia e registrou várias fotos
de nós dois, as quais, usou para me chantagear e me fazendo assim, demiti-la
— argumentou e comecei a entender suas atitudes deploráveis.
— Agora eu entendo o motivo de ter me falado no shopping que seu
casamento não passava de uma farsa — Lembrei, sentindo-me péssima por
realmente ter me precipitado ao julgá-lo erroneamente. — Sinto muito por
toda essa situação. Estar casado com alguém que não ama… sei lá, deve ser
muito difícil — lamentei por ele se encontrar naquela situação.
— E é, acredite. — João Paulo recostou-se no banco e soltou o ar com
alívio. — Juro que, mesmo odiando-a por me obrigar a casar com ela, ainda
assim, no primeiro ano de casados, eu tentei fazer dar certo e me aproximei
dela a fim de conhecê-la melhor; eu queria mudar todo aquele sentimento de
rancor e ódio para uma paixão, só que falhei miseravelmente — Seu tom era
triste.
— E nunca tentou se separar ou pedir isso a ela? — Ele sorriu com
escárnio, antes de me responder.
— Eu tentei, tanto que um ano depois, visto que não consegui
arrancar toda aquela raiva que nutria por ela em meu coração, decidi que me
separaria, mas o inesperado aconteceu… Ingrid anunciou que estava grávida.
— Cobri minha boca, espantada.
— E onde está o filho de vocês agora?
— Ela o perdeu, bem no início da gestação. — De certa forma, ouvir
isso me deixou mais tranquila.
— Eu sinto muito. — Realmente sentia e ele cerrou seus lábios em
linha reta, olhando para um ponto qualquer.
— Ingrid me acusou de ter sido o culpado pela perda do bebê, até por
nunca ter demonstrado interesse em ajudá-la com os detalhes para a chegada
da criança. — Em sua voz era possível sentir o peso da culpa que carregava.
— E então, você realmente se convenceu disso e continuou ao lado
dela, carregando uma culpa que, a meu ver, nunca foi sua... — Não foi
exatamente uma pergunta, mas uma conclusão.
— Infelizmente, sim. — soltou com pesar.
Permanecemos emudecidos por algum tempo, até que me surgiu uma
dúvida.
— Mas, espera… disse que você foi submetido a assistir o vídeo dela
na companhia do próprio pai… Como ele pôde ter concordado que a filha se
casasse com seu suposto estuprador? Isso não parece insano demais? — O
enchi de perguntas, querendo arranjar respostas.
— Eu também nunca entendi essa parte.
— Nunca te ocorreu de perguntar a ele? — continuei.
— Sim, só que, de fato, nunca o questionei. Digamos que eu evitava
conversar com meu sogro, até pela raiva que também jazia por ele por ter
concordado com toda aquela palhaçada de sua filha.
— Hum… entendi — frisei.
— Entretanto, eu tenho um plano para desmascarar a Ingrid e ter a
minha liberdade de volta. Quem sabe quando eu apresentar ao pai dela, a
prova de que nunca a estuprei, ele resolva ser sincero comigo? — Expressou
seu querer.
— E que plano é esse? — A curiosidade me atingiu.
João Paulo me ofereceu um meio sorriso.
— Vou dar um jeito de atraí-la para o meu apê. Talvez eu invente que
preparei uma noite romântica para nós dois e consiga filmá-la falando a
verdade — Dividiu comigo.
— É um bom plano — reconheci.
— Que bom que concorda. — Olhei-o com admiração, por ao menos
estar tentando concertar as coisas; sua vida. — Eu quero que esteja lá quando
isso acontecer. — Até me assustei com suas palavras, uma vez que não previ
por aquilo.
— Eu? Acho uma péssima ideia — recusei.
— Por favor. — Seu olhar de cachorro abandonado me fez desviar a
atenção dão seu rosto, não querendo me importar.
— Eu não vejo um motivo plausível para aceitar fazer parte disso,
afinal, é sobre a sua vida, não a minha — Deixei explícito.
Me vi mexida ao vê-lo arrastar-se sobre o assento até ficar grudado ao
meu corpo. Em seguida tomou minhas mãos nas suas, causando-me certo
aquecimento em meu coração.
— Se ainda não percebeu, estou fazendo tudo isso para ficar livre e
poder, quem sabe, conquistá-la da maneira certa, já que começamos as coisas
de um jeito errado. — Seu olhar não me abandonou por um só segundo.
— Eu não sei. — Incerteza me assolava.
— Só… aceita, vai!
Sem saber exatamente o que responder, levantei-me do assento e
fiquei de pé. Precisava de uma distância considerável para tomar uma
decisão.
Capítulo 19

João Paulo

Vê-la se afastando me fez perceber que, talvez, a tivesse magoado


demais para que aceitasse o meu pedido. E para ser bem honesto, nunca quis
feri-la da maneira que acabei fazendo, mesmo que tivesse sido por conta das
chantagens da Ingrid. Analisando bem agora, a Ingrid nunca me fez de
marionete, eu que simplesmente me comportei dessa forma, deixando-a me
ter em suas mãos e me manipular como bem entendesse.
O pior de reconhecer tal fato foi saber que minha covardia respingou
em quem nunca mereceu. Daniela havia sido tão vítima quanto e, eu não
tinha o porquê culpá-la, caso não concordasse em participar do que a propus.
Também entenderia se quisesse colocar tudo que tínhamos começado a sentir
um pelo outro, debaixo de uma enorme pedra, afastando-me por definitivo da
sua vida.
Visto que já tinha me dado conta de que estava me apaixonando por
ela, se viesse a tomar aquela decisão, querendo ou não, sabia muito bem que
iria doer num grau altíssimo e que me causaria certo estarrecimento.
Impaciente por conta do seu silêncio, eu também me levantei e me posicionei
atrás dela. Com cautela, segurei em sua cintura em ambos os lados e foi
possível sentir seu corpo estremecer perante o meu toque.
— João… — pressionei sua cintura a fim de impedi-la de continuar
falando, o que funcionou e me aproximei um pouco mais, pressionando suas
costas contra o meu torso e o contato me causou outra ereção.
— Shiii… — cochichei em seu ouvido, mordendo o lóbulo da sua
orelha no processo. — Está a muito tempo pensando. Tem alguma coisa a ver
com aquele cara? — Sentia-me intrigado por saber se ele significava algo
para ela.
Não tive sua resposta de imediato e desci minha boca pelo seu
pescoço, mordiscando sua pele exposta, detectando o quão acelerada sua
respiração estava. Então pude ter certeza que não era o único afetado ali. O
tesão se fazia presente de ambas as partes.
— Isso na-não tem nada a ver com o Samuel, eu só… — ponderou ao
levar sua mão por trás da minha nuca e afundou seus dedos entre os fios do
meu cabelo, arranhando levemente o meu couro cabeludo.
Agora eu sabia o nome dele.
— Ele significa algo para você? — proferi contra a sua pele,
mantendo a minha tortura em morder e chupar o seu pescoço.
— É melhor pararmos com… — Tratei de interrompê-la.
— Você não me respondeu — enfatizei, friccionando minha ereção
contra o seu bumbum.
— Ele é o meu ex, apenas isso! Logo, não significa nada para mim,
não da forma que está pensando. Digamos que ele é apenas um amigo —
esclareceu e alívio tomou conta de mim.
— Que ótimo, porque eu preciso de você agora. Não dá para esperar
por mais tempo — avisei, girando-a para mim, sendo atingido pelo seu olhar,
que demonstrava sua excitação, algo que eu já suspeitava e que apenas se
confirmou. — Que porra! — praguejei, pois estava doido para provar sua
boca novamente e foi o que fiz, antes que ela pudesse me parar.
Tomei seus lábios com sofreguidão e fui agraciado com seu gemido
rouco, causando certo alvoroço em meu interior. A mão que detinha sua nuca
com precisão, garantindo que não se afastasse, foi levada até os seus cabelos
para entrelaçar meus dedos em seus fios sedosos, segurando firmemente. A
outra que se encontrava em sua cintura, levei para o meio das suas costas,
grudando-a mais ao meu corpo, não deixando nenhuma brecha, pois
necessitava do seu calor corporal.
Em meio ao nosso beijo acalorado, sua língua adentrou ao vão da
minha boca e a aprisionei, chupando como se fosse um verdadeiro doce; o
qual estava perdidamente viciado. Meu gesto a fez ronronar baixinho e a senti
mole em meus braços. Mesmo a contragosto, eu fui obrigado a afastar nossos
lábios; descansei minha testa na sua, arfando por conta da intensidade do
nosso ato.
— Vem comigo. — Segurei em uma de suas mãos e, finalmente, fitei
seus olhos, que estavam completamente tomados pela luxúria.
— Espera… Aonde vamos? Não posso sair daqui! — enfatizou,
preocupada.
— Vamos até o meu carro, só para termos mais privacidade. Prometo
te liberar logo. — Suspendi seu queixo em um gesto carinhoso e ela mordeu
seu lábio inferior, dando corda à minha imaginação. Em seguida, meneou a
cabeça em afirmativa.
Recolhi a sacola de cima do banco de madeira que estávamos
sentados e seguimos em direção a saída. Já havia escurecido e o céu se
encontrava estrelado. Rapidamente chegamos ao carro e destravei as suas
portas traseiras, deixando que Daniela entrasse primeiro e fui em seguida.
Joguei a bendita sacola em cima do banco do carona e me admirei ao ver
Daniela subindo em meu colo.
— Caralho, que gostosa! — xinguei no exato momento em que ela
rebolou sobre o meu colo e preenchi minhas mãos com seus seios,
massageando-os por cima do traje que usava.
Logo achei o zíper do seu vestido, que ficava na parte traseira e ela
beijou meus lábios de modo suave, mordendo-os com malícia no processo,
deixando-me ainda mais louco para tê-la.
— Abra! Eu quero isso tanto quanto você. Dê-me prazer, João Paulo
— proferiu roucamente contra a minha boca, elevando ainda mais o meu
tesão.
— Seu pedido é uma ordem. — Deslizei o zíper com louvor. Depois
de ajudá-la a se livrar dele, eu o coloquei sobre o encosto do banco do carona
a frente, até para que não fosse amassado.
Em seguida, tomei seus mamilos em minhas mãos e dei atenção a um
deles primeiro, fazendo o mesmo com o outro na sequência. Daniela
embrenhou seus dedos nos fios do meu cabelo enquanto remexia-se sobre
mim. Enfiei uma das minhas mãos entre nós, no meio de suas pernas e alisei
seu sexo sobre a calcinha.
— Por que tinha que ser tão gostosa, hum? Uma verdadeira tentação
de mulher. Porra! — reclamei, assim que ela riu e abriu o botão da minha
calça, empurrando a cueca para baixo, alisando apenas a cabeça do meu pau,
que nem precisei olhar para saber que se encontrava lubrificado pelo líquido
pré-ejaculatório, tamanho era o tesão que me tomava no momento.
Peguei na barra da minha camisa e dobrei-a até metade do meu
abdômen. Tateei o bolso da calça a procura da minha carteira e quando a tive
em mãos, eu retirei uma camisinha de dentro e joguei sobre o banco ao nosso
lado. Apressadamente, suspendi meu quadril e abaixei-a junto com a cueca,
dando liberdade ao meu pênis rochoso.
Daniela não perdeu tempo em me torturar ao pegá-lo em uma de suas
mãos e começar a massageá-lo num lento sobe e desce, fazendo com que a
nossa “rapidinha” fosse muito prazerosa. Não demorou até que encapei o
meu pau e ela o empurrou para dentro da sua entrada, encaixando-o
totalmente até sua base bater contra sua vagina. Em questão de segundos, ela
começou a pular sobre mim, causando-me quase uma parada cardíaca pelo
imenso prazer que estava me proporcionando ao ter sua boceta quente e
acolhedora ao redor do meu membro.
— Isso, gostosa. Senta com força no meu pau, rebola esse rabo
delicioso. — Ela riu, soltando um grunhido rouco e baixo ao realizar o meu
pedido.
Bati contra suas nádegas e ela gritou. Rapidamente colei nossos
lábios, querendo seus gemidos apenas para mim. Entre uma estocada e outra,
um calor abrasador formou-se em meu íntimo, deixando-me ciente que logo
me derramaria e, estimulando seu clitóris, não demorou até que estivesse
gozando no meu cacete. E vê-la se desmanchando daquela forma fez com que
eu chegasse ao clímax também.
Permanecemos quietos por algum tempo, tentando controlar nossas
próprias respirações; Daniela envolveu meu pescoço com seus braços,
olhando firmemente em meus olhos.
— Eu não sei como iremos levar isso, mas durante o tempo que nós
estivemos distantes, percebi que meus sentimentos mudaram. Eu estou
gostando verdadeiramente de você, João Paulo — confessou e beijei seus
lábios com ferocidade.
— Eu também estou sentindo o mesmo por você, Daniela. É uma
mulher estonteante — Deixei-a ciente sobre o que pensava a respeito dela.
— É melhor nos recompormos. Preciso voltar logo para a festa, ou
vão desconfiar da minha demora — salientou.
— Tem razão — concordei e depois de nos vestirmos, saímos do
interior do veículo. — Quase ia me esquecendo do seu presente. — Tinha a
sacola em mãos e lhe entreguei.
Com um olhar curioso, Daniela rasgou o papel de embrulho quando
se livrou da sacola e deparou-se com uma caixinha preta aveludada,
encontrando dentro dela um conjunto de brincos e um colar de pérolas.
— Uau! Que lindo! Eu… não esperava por isso. — Agradeceu. Deu
para perceber que tinha amado.
— Sempre o melhor para você, minha garota tentação. — Puxei-a
pela cintura, colando-a ao meu corpo e tendo seu sorriso satisfeito.
— Esse é o mesmo que comprou no shopping aquele dia? — Tornei-
me sério.
— Não. O que comprei foi para fazer parte do meu plano para atrair a
Ingrid a uma suposta noite romântica. Quero tentar gravá-la confessando seus
malfeitos — soei verdadeiro.
Recebi seu olhar atravessado.
— Tem certeza que não sente nada por ela? — expôs sua dúvida.
— Tenho sim. A única que vem povoando meus pensamentos
ultimamente é você — Queria que ela entendesse isso de uma vez por todas.
— Hum… se está me falando, eu vou acreditar, mesmo que não
mereça, pois já mentiu diversas vezes para mim — pontuou.
— Eu prometo que não haverá mais mentiras. Juro — prometi e ela
assentiu.
— Já que está me garantindo isso, eu vou aceitar participar do
momento em que irá desmascará-la. Quero ouvir a confissão da megera. —
Sorri, contente por sua aceitação.
— Isso me deixa muito feliz, sério mesmo! Obrigado. — Depositei
um selinho em seus lábios.
Em um dado momento, Daniela retirou os brincos que usava,
substituindo pelos que eu havia lhe presenteado.
— Como estou? — Piscou os olhos, movendo seu rosto de um lado ao
outro para que eu opinasse.
— Você fica linda com qualquer coisa. — Tentei soar convincente e
ela riu.
— Me ajuda aqui — solicitou e virou-se.
Fechei o colar em seu pescoço e quando se voltou para mim, vi que se
encontrava ainda mais bela.
— Muito bela — agradeceu pelo elogio e depois de se despedir com
um beijo, pedi que desbloqueasse o meu número, pois iria ligar para ela e
combinar a sua ida para o meu apartamento no dia seguinte.
Ao confirmar que faria como pedido, ela saiu da minha presença e
caminhou para longe, deixando-me com uma sensação de vazio no peito.
Daniela mexia comigo de uma forma que nenhuma mulher jamais conseguiu.
Dando-me conta disso, abri a porta do carro e mantive um sorriso bobo nos
lábios.
Era certo que me encontrava perdidamente apaixonado por ela.
Capítulo 20

João Paulo

Já era noite de domingo; beirava às 20hs e o grande momento de


desmascarar a Ingrid estava cada vez mais próximo. Olhei em meu celular;
tinha recebido sua ligação alguns minutos atrás, avisando-me que sairia de
casa rumo ao meu apê e, confesso que ao encerrar a ligação certa aflição me
tomou por dentro. Entretanto, eu não tinha motivos para sentir medo, até
porque, Daniela veio, assim como pedi e, naquele instante, se encontrava
dentro do banheiro.
Aproximei-me da porta e dei algumas batidinhas.
— Ingrid chegará dentro de poucos minutos — avisei.
— Tudo bem. Já estou saindo — Sua voz se perdeu no ar quando
abriu a porta. Ser contemplado com a visão dela tendo o cabelo úmido pelo
banho que havia acabado de tomar, e se não bastasse isso, vestindo uma de
minhas camisetas que não cobria muito de suas pernas, me fez encará-la com
afinco e mordi meu lábio inferior, querendo aplacar o desejo de tomá-la ali
mesmo. — Algo errado? — Olhou para baixo a procura de qualquer defeito.
Segurei na sua cintura, trazendo-a para a parede ao lado do banheiro.
Descansei meu antebraço contra a mesma, próximo a sua cabeça e seu olhar
me acompanhou.
— Tem muita coisa errada aqui — Mencionei próximo aos seus
lábios, provocando-a e ela riu.
— Para de palhaçada, seu cretino! — Tentou me afastar com suas
mãos macias ao empurrá-las contra o meu peitoral que, por sua vez, estava
desnudo. Tudo fazia parte do plano para ludibriar ainda mais a Ingrid. Queria
que ela acreditasse em tudo.
Eu ri do modo que ela me chamou e tomei seus lábios nos meus.
Queria mesmo era mandar a Ingrid ir para a casa do caralho e aproveitar a
noite em companhia da Daniela, dando-lhe prazer, de preferência, enquanto
iríamos testando vários cômodos desse apartamento, além do meu quarto.
Diante de tais pensamentos nem parecia que havíamos transado mais
cedo, antes de começar a ornamentar tudo para a chegada da Ingrid.
Impressionava-me o fato de tê-la de modo tão selvagem, onde sempre nos
entregávamos completamente ao outro e de nada parecia surtir efeito. Não
conseguia sentir-me saciado, apenas momentaneamente, pois ficava aquela
vontade de ansiar constantemente por mais e mais.
Logo me fez parar o beijo, respirando de modo desordenado, assim
como eu.
— É melhor eu me esconder logo. — Dei um selinho em seus lábios e
concordei ao assentir. — Já checou se a câmera está funcionando? — Mirei
seus olhos diante de sua pergunta.
— Sim, assim que você entrou no banheiro, antes de ela me ligar
avisando da sua vinda — respondi.
Havia instalado a câmera apenas no meu quarto, por sugestão da
Daniela. Ela acreditava que se levasse a Ingrid para lá, com certeza não iria
querer sair dali, já que tínhamos jogado pétalas de rosas vermelhas por todo o
cômodo; pelo chão e sobre a cama. Por esse motivo, tínhamos transado no
outro quarto, que era mais para visitas e foi difícil não cair daquela cama de
solteiro, uma vez que era bastante estreita.
— Ótimo. Agora vou me esconder. Boa sorte — cochichou
roucamente com sua boca grudada ao meu ouvido, sendo capaz de fazer meus
pelos eriçarem e eu ri de sua provocação.
— Não pode me provocar quando sabe que logo estarei em
companhia de outra mulher — insinuei e arqueei uma sobrancelha.
Fui pego desprevenido, pois no mesmo instante ela agarrou minhas
bolas por cima da calça de moletom que eu usava apertando-as e me encolhi,
reclamando de estar doendo e realmente estava.
— Eu acho bom que mantenha esse seu pau dentro da cueca, ou eu
poderei arrancá-lo quando sair daquele esconderijo — ameaçou, olhando em
direção a porta do meu closet, onde ficaria à espreita para ouvir tudo o que a
Ingrid fosse falar. — Entendeu bem? — Mesmo fazendo uma careta, agitei a
cabeça, afirmando que tinha entendido.
Respirei, aliviado quando ela livrou meu pau do seu agarre. Que
porra! Eu realmente não esperava que ela fosse ter uma postura ciumenta
logo agora.
— Isso vai ter volta — garanti e ela riu, divertida.
Deu de ombros e saiu rebolando sua bunda — com parte dela à
mostra — já que minha camisa não estava cobrindo muita coisa, não em se
tratando das suas partes baixas. Ajustei meu pau dentro da cueca, tentando
acalmá-lo para não levantar suspeitas da Ingrid. A porta do closet foi fechada
em seguida.
Verifiquei se não havia nada da Dani no banheiro que fosse capaz de
acionar a desconfiança da Ingrid, e depois de detectar que tudo estava em
perfeita ordem, sem nada fora do lugar, saí do quarto e caminhei pelo
corredor, indo até a cozinha. Parei rente a mesa bem ornamentada, que tive
ajuda da Dani para realizar, e avistei a travessa de vidro tampada; meu
estômago embrulhou. Tratava-se de um risoto de frutos do mar, prato que a
Ingrid, com seu jeito esnobe e fútil, amava comer; fiz questão de encomendar
num restaurante.
Eu odiava aquela receita. E era uma das poucas coisas que eu me
lembrava que ela gostava, então usei para evidenciar ainda mais o teatro que
tinha armado pra ela. Logo a campainha tocou e não foi preciso que o
porteiro me avisasse, já que tinha informado mais cedo sobre a visita dela e
que era para liberá-la.
Nervoso e, ansioso ao mesmo tempo, segui até a porta; assim que a
abri, visualizei a Ingrid, que estava devidamente maquiada e, com um vestido
vermelho sangue bem justo ao corpo, modelando-o. Ela era uma mulher
bonita, mas sua beleza, jamais conseguiria sobressair-se ao seu mau-
caratismo, infelizmente. Vi o exato momento em que seus lábios arquearam
em um sorriso promissor, encarando-me dos pés a cabeça.
— Que recepção gloriosa, meu… — percebi que me chamaria pelo
maldito apelido, mas parou e depois voltou a falar: — Hum… meu querido.
Sim, será assim que o chamarei de agora em diante, já que estamos
caminhando para um relacionamento saudável, assim como intitulou. —
Entrou, aproximando-se de mim. Para fazê-la ter certeza que eu tinha entrado
na dela, ansiando realmente tê-la como esposa, envolvi sua cintura e apertei
com força.
— Gostou? — Ela riu, jogando sua cabeça para trás ao descansar suas
mãos em meus ombros e me encarou em seguida.
— Acho que já podemos ir direto para nosso momento de prazer. —
Mordeu seu lábio inferior e fez círculos com seu indicador sobre o meu
peitoral.
Aproximei meu rosto do seu e passei meu nariz pela lateral do
mesmo, aspirando seu cheiro, adocicado demais, mas fingi estar amando. Em
seguida, movi minha boca, deixando-a próximo ao seu ouvido.
— Não tem noção do que preparei para a nossa noite. — Minha voz
saiu rouca, dando a entender que a faria ver estrelas, mas não exatamente da
forma que ela estava imaginando.
— Uau! Está me deixando ainda mais excitada com todo esse
suspense. Espero mesmo que me dê todo o prazer que mereço, até por eu ter
tolerado suas traições durantes todos esses anos, que não vem ao caso agora
— sentenciou.
— Juro que não vai se arrepender. — Minha promessa estava mais
para “eu vou te foder essa noite, mas não a sua boceta e, sim, a sua vida”.
— Que ótimo. — Sem que eu pudesse prever, ela beijou meus lábios
e fui obrigado a devolver o beijo, já que não queria estragar os planos. Era
uma puta sacanagem com a Dani, eu sabia disso. Tinha ciência que ela me
entenderia; assim esperava.
Logo cessei nosso beijo, dando a desculpa de que tínhamos que jantar
logo, pois eu a queria como sobremesa na minha cama. Eufórica, ela aceitou
e quando sentamos à mesa, puxei a cadeira para que se acomodasse,
servindo-a de um prato com o risoto de frutos do mar. Quando se deu conta
de que era um dos seus pratos prediletos, fez uma expressão de surpresa e,
agradecida, disse que eu estava saindo melhor do que a encomenda.
Ela não tinha ideia do quanto, entretanto, logo descobriria.
Consegui contorná-la ao inventar que não sentia fome e, mesmo que
ela tivesse insistido com o intuito de me ver comendo aquilo, permaneci
irredutível. A assisti saboreando-o com tanta vontade, que eu quis vomitar ali
mesmo, mas engoli em seco e me contive. A ofereci vinho, e ela aceitou,
então coloquei em sua taça.
Queria mesmo partir para o próximo passo, onde arrancaria dela as
informações que necessitava, mas precisava ser paciente.
— Tem certeza que não quer? Está delicioso — disse ao comer mais
um pouco. Passou a língua pelos lábios numa forma de me seduzir.
— Não quero. Eu realmente estou bem — persisti negando, doido
para foder de uma vez por todas a vida dela, assim como vinha fodendo a
minha há anos.
Peguei a garrafa de vinho e coloquei mais um copo para ela; claro que
estava bebericando aos poucos também, até para não levantar suspeitas. Eu
tinha que ser extremamente cauteloso, já que Ingrid era muito ardilosa e fazia
questão de sempre estar um passo a minha frente. Dessa vez seria diferente,
porque eu fiz questão de tomar o seu lugar.
Logo que ela terminou, deixei tudo como estava e peguei em sua mão,
levando-a em direção ao quarto.
— Hum… apressado! É assim que eu gosto! — evidenciou e um
sorriso satisfeito me acompanhou.
Chegando até a porta, que estava fechada, eu a parei antes de abri-la.
— Eu tenho uma surpresa, espero que goste. Fiz tudo pensando numa
forma de termos uma noite memorável. — E realmente seria, só que não do
jeito que ela devia estar imaginando que seria.
Aproximou-se, rodeando minha cintura, contudo, eu a coloquei na
minha frente e com minha mão sobre a sua, levei-as até a maçaneta da porta e
ela fez questão de frisar antes que a mesma fosse aberta:
— Estou gostando de ver o seu empenho em me seduzir e fazer com
que nosso casamento dê certo. Eu sabia que um dia o veria dessa forma: aos
meus pés, fazendo de um tudo por mim. Confesso que valeu a pena ter
esperado por todos esses anos. — Ela não poderia estar mais errada, porém,
logo tomaria conhecimento disso.
Com um sorriso satisfeito, finalmente abri a porta, acendendo a luz
em seguida; eu a vi maravilhada quando se deparou com o cômodo coberto
por pétalas de rosas. Presenciar toda aquela decoração, realmente a impressão
era a de que a noite seria prazerosa pelo ambiente romântico.
— Nossa! — Admirou-se. — Pensou até nos mínimos detalhes. —
Voltou-se para mim e jogou a sua bolsinha para o lado, caindo em qualquer
canto por ali.
Sabendo que Daniela poderia ver tudo do seu esconderijo, antes que
Ingrid pudesse me beijar, deixei-a de costas para mim e segurei a sua cintura
de um jeito forte. Em seguida, desci minha mão pela lateral do seu corpo,
alcançando a barra do seu vestido no meio de suas coxas e o subi um pouco,
alisando sua pele exposta. Eu era obrigado a encenar com perfeição, mas
ansiava que tudo aquilo acabasse logo. Segurando em seus cabelos que
estavam soltos, puxei-os levemente, fazendo-a inclinar a cabeça para o lado,
dando total acesso ao seu pescoço.
— Eu quero que sinta toda a eletricidade que causa no meu corpo,
Ingrid — Insinuei numa tentativa de envolvê-la até que começasse a fazê-la ir
confessando suas armações.
— Estou sentindo. — Ela mencionou com a voz embargada pelo
tesão enquanto eu mordiscava seu pescoço com maestria.
— Eu pensei por esses dias e me dei conta do quão inteligente você
foi ao armar aquele vídeo para me coagir a casar com você. — Deslizei
minha língua por sua pele, dando-me conta da sua respiração acelerada e seus
pelos completamente eriçados.
— Foi, não é mesmo? Sempre consigo o que quero e com você não
seria diferente, tanto que está aqui, fazendo-me a mulher mais feliz por estar
em seus braços e saber que fiz o certo — revelou e eu sorri, contente que
estivesse se abrindo.
— Eu tenho certeza que não seria tão genial quanto você. — Fui
elogiando, querendo saber mais.
— Agora para de falar, hum?! Eu preciso de mais — pediu e tentou se
virar para mim, só que foi em vão, pois não permiti. Firmei minhas mãos em
seu quadril com mais precisão.
— Ainda não. — Chupei o lóbulo da sua orelha e subi minhas mãos
pela sua barriga, tomando seus seios sobre o tecido do vestido e os
massageei.
Tinha que me manter instigando-a para que colhesse mais alguma
confissão e também tinha o fato de estar levemente alterada por conta do
vinho que tomou, minutos atrás.
— Presumo que arquitetar aquele vídeo tenha sido muito difícil, mas
serviu para me ter ao seu lado. Sou grato pelo que fez. — Agradeci,
continuando a minha sessão de torturas enquanto espremia seus mamilos em
meus dedos.
— Aí, querido... você me estimulando assim está me deixando cada
vez mais louca. — Por dentro, me senti feliz por saber disso. — E, não! Não
foi nada difícil fazer aquele vídeo. Afinal, não faço nada em vão; as aulas de
teatro serviram justamente para que eu pudesse atuar com perfeição. Ou
esqueceu-se disso? — confessou e foi quando me toquei que nunca havia
levantado aquela questão. — Sei controlar muito bem as minhas emoções e,
chorar, fazendo-me de pobre vítima de estupro naquele vídeo foi fichinha —
completou, deixando-me perplexo. Empinou seu bumbum, esfregando-se em
mim, só que me afastei minimamente, evitando que ela percebesse a minha
falta de ereção.
Chocado demais com o que ouvi, retirei minhas mãos dela e ia dar por
encerrado toda aquela papelada, só que Ingrid virou-se para mim e me olhou
intensamente. Antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, ela
manteve-se um pouco afastada e segurou na barra do seu vestido.
— Ingrid, é melhor n… — não tive tempo de concluir, pois ela tirou o
vestido ficando completamente nua e percebi que nem mesmo estava usando
calcinha.
Que porra! Definitivamente, isso não iria prestar.
— É melhor se vestir — pedi e ela riu, segurando em minha mão, mas
evitei olhar diretamente para ela.
— Ah, qual é? Vamos logo com isso, não tem o porquê adiar. Esperei
a semana toda por isso — falou, ignorando meu pedido. E como eu havia
previsto, a porta do closet foi aberta, chamando a minha atenção, enquanto
Ingrid tentava se cobrir com suas mãos, assustada quando a Daniela se
colocou para fora e lançou-me um olhar nada contente.
Admito que seu gesto me deixou bastante preocupado.
Capítulo 21

Daniela

Permanecer ali dentro daquele espaço por sabe Deus quanto tempo,
estava me deixando louca!
Já havia se passado um bom tempo desde que entrei ali e João Paulo
saiu do quarto ao apagar a luz. Entediada, saí caminhando por sua extensão,
admirando algumas peças de roupas que eu nunca o tinha visto usar, mas
consegui imaginá-lo dentro delas, apesar de preferi-lo trajando seus paletós
sob medidas, pois passava uma imagem de CEO workaholic. João Paulo
parecia ser extremamente dedicado ao trabalho, do tipo que deixava seus
afazeres o consumir até a exaustão, privando até a si mesmo de poder
explorar outras coisas boas da vida.
Aliás, tá aí uma boa questão: eu nem mesmo sabia se ele era dessa
forma. Tá certo que sempre o via na empresa, isso era óbvio, até por ser o
dono de tudo aquilo, entretanto, não tinha certeza se ele não tirava algum
tempo para aproveitar com familiares ou alguma forma de lazer.
Cheguei na parte onde ficavam alguns relógios e franzi o cenho,
constatando que nunca o vi usando qualquer um deles. Ou, talvez eu não
tivesse realmente reparado. Olhei ao lado em seguida e vi a mesma sacola
que João Paulo carregava consigo no dia do shopping.
Não queria me submeter a minha curiosidade, mas fui vencida e a
peguei. Tirei de dentro uma caixinha quadrada e aveludada. Curiosa, abri e
fiquei boquiaberta com o colar de rubi em formato de coração, contendo
algumas pedrinhas brancas cravejadas ao seu redor. Ele tinha me falado que
queria impressioná-la e aquele presente faria muito mais que isso, tinha
certeza.
Ouvi um barulho de vozes. Infelizmente, não pude abrir nem uma
fresta na porta, pois poderia ser descoberta ali. Então, fiquei próximo a
mesma e pressionei meu ouvido contra a sua madeira, tentando escutar o
máximo que conseguisse.
Não me senti confortável quando a ouvi dizendo que ele a estava
deixando mais louca ao estimulá-la. Que droga era aquilo? Enraivecida,
rosnei baixo e, irritada até comigo mesma por ter aceitado vir para ficar ali
quando ele estaria tentando seduzi-la a fim de arrancar-lhe a verdade.
Eu só podia estar muito chapada quando isso aconteceu, só isso
explicaria minha decisão. Naquele instante, a minha vontade era de sair dali
feito uma bala e pegar a Ingrid pelos cabelos, só que meditei, fazendo uma
contagem até o número dez e, felizmente, consegui conter as minhas
emoções; não queria estragar o plano, pois a encenação do João Paulo estava
dando certo. Ele se prestou a tudo isso apenas com o intuito de adquirir uma
prova para poder ter a sua liberdade de volta, ficando assim, livre para mim.
Voltei a me concentrar no que falavam, porém ouvia uma coisa ou
outra, dado ao fato de algumas partes serem proferidas num tom mais baixo
do que o normal. Entretanto, fiquei surpresa ao escutá-la confessando que
sabia atuar muito bem por ter feito aulas de teatro. Para ser bem sincera, por
essa eu não esperava.
Se não bastasse isso, o que veio a seguir deixou-me completamente
fora de órbita.
— É melhor se vestir. — João Paulo falou.
Como assim se vestir? Inquiri a mim mesma procurando por uma
resposta. Com bastante cuidado, abri uma pequena fresta ao empurrar a porta
e não acreditei no que enxerguei a seguir. Aquela vaca estava nua? Meu
questionamento foi parado quando ela salientou, segurando-o pela mão e foi
se aproximando.
Nem sonhando que ela se encostaria pelada nele. Não mesmo!
— Ah, qual é? Vamos logo com isso, não tem o porquê adiar. Esperei
a semana toda por esse encontro — foi o estopim.
Num rompante, empurrei a porta, abrindo-a completamente e, mesmo
sabendo que o João Paulo não tinha culpa totalmente daquilo, eu o lancei um
olhar mortal e notei que engoliu em seco, preocupado. Eu queria mesmo que
sentisse isso, porque minha vontade era de espremer suas bolas novamente
em minhas mãos. Depois teríamos tempo pra isso.
— Que cena interessante — pronunciei, tentando manter uma calma
que, absolutamente, não fazia parte de mim.
Assisti seu olhar assustado, enquanto tentava cobrir seus seios com as
mãos. Ela me encarou com um ódio explícito em seu olhar.
— O que essa cadela faz aqui? Por que… — ela ponderou e se
abaixou, recolhendo seu vestido. — Você armou para mim, é isso? Ou vai me
dizer que quer fazer uma espécie de ménage com nós duas? — Suas
perguntas saíram carregadas de fúria, olhando para o João Paulo. Terminou
de se cobrir.
— Como pode ver, não é só você que sabe ser bem convincente em se
tratando de armação, não é mesmo? Acabei aprendendo com a melhor. — Ele
revelou, abrindo os braços e vindo em minha direção, querendo me beijar,
mas me esquivei do beijo, aceitando apenas que me abraçasse por trás.
— Não vai me beijar, pois estava fazendo isso nessa vaca. Quem sabe
depois de lavar sua boca com bastante desinfetante — frisei, atiçando ainda
mais a sua raiva.
— Está me trocando por essa cadela songamonga? O que exatamente
ela tem que você não viu em mim? — Eu não queria partir para uma briga,
mas ela realmente estava querendo isso.
— Daniela tem tudo que você não tem, Ingrid, ou melhor, que nunca
teve. Além do mais, para fisgar o coração de um homem, não é preciso ser
linda, mas é indispensável ter um bom caráter, coisa que nunca teve e eu
duvido muito que tenha algum dia. — Ele respondeu, saindo em minha
defesa e isso aqueceu meu coração, confirmando-me que havia valido a pena
ter lhe dado mais uma chance.
Ingrid soltou uma gargalhada debochada.
— Acontece que está casado comigo e eu nunca vou te dar o divórcio.
Jamais o deixarei livre para essa mulherzinha ridícula. — Minha raiva voltou
a aflorar. — Uma verdadeira puta de quinta categoria. — Depois de ouvir
tamanha afronta, saí dos braços do João e só me dei conta de que havia
socado o nariz dela com força, quando a mesma se desequilibrou sobre o seu
salto e caiu no chão.
— Nunca mais me chame dessa forma, sua vaca! Ao contrário de
você, eu não precisei usar chantagem alguma para tê-lo, se teve alguém aqui
que correu incansavelmente atrás de mim, foi ele! Sinal que não sou tão puta
assim como me intitulou — bradei. Eu quis pular em cima dela e enchê-la de
tapas, porém, antes que conseguisse colocar minha vontade em prática, João
Paulo me segurou pela cintura.
— Calma, não faça mais nada. A Ingrid já está de saída — decretou e
assim que ela me encarou, pude ver que seu nariz sangrava.
Não consegui sentir um pingo pena ou remorso. Ainda queria
estraçalhar aquela carinha bonitinha dela. Merda!
— Isso não vai ficar assim — gritou, olhando sua mão suja de sangue
antes de me direcionar um olhar enfurecido.
— Ingrid é melhor ir logo. Não piore a situação. — Ele a aconselhou,
pois tinha percebido que eu não demoraria a querer brigar de novo.
— Ela me machucou! Não está vendo que estou sangrando? —
dramatizou, porque nem estava sangrando tanto assim.
O vi soltar uma baforada de ar, como se não estivesse suportando
aquela cena desnecessária.
— Não vai mesmo fazer nada? — Ela voltou a cobrar uma solução
dele.
Farta daquilo, eu bufei contrariada e João Paulo me liberou.
— Fica tranquila, pois eu mesma vou fazer, querida — falei
calmamente e a peguei pelo braço.
— Me solte! — gritou, tentando me estapear, mas fui mais ágil em
fazê-la ficar de pé e, praticamente saí arrastando-a, deixando o quarto. Cruzei
o corredor e cheguei rapidamente até a sala. Alcançando a maçaneta da porta
de saída, eu a joguei para fora do apartamento.
— Prontinho. A porta da rua é a serventia da casa — frisei com um
sorriso satisfeito, fazendo um gesto como se estivesse limpando as minhas
mãos.
— Sua ordinária! — xingou-me, mas isso realmente não me afetou.
Sentia-me alegre demais para que um mero detalhe tirasse a minha alegria
por ter me vingado dela, por tudo que tinha me feito.
— Segura aí! — João Paulo apareceu de repente e jogou a bolsinha
dela em sua direção.
Confesso que eu ri.
— Podem rir, seus idiotas. Não assinarei divórcio algum. Nunca será
livre para se casar com essa… — antes que ela pudesse concluir, ameacei sair
dali pra cima dela outra vez e ela pegou sua bolsa, saindo a passos
acelerados.
Ainda a ouvi reclamar por pisar em falso, mas olhou para trás e entrou
no elevador que, por sorte, abriu suas portas naquele mesmo instante. Caí na
gargalhada juntamente com o João Paulo ao voltarmos para dentro. Fui
surpreendida ao ser pega em seus braços; dei um gritinho ao me agarrar ao
seu pescoço.
— Parece que você obteve o que queria. Parabéns! — O parabenizei,
realmente alegre por ele.
— Nós conseguimos. — Neguei veemente ao balançar a cabeça. —
Sim, porque não se esqueça que só tomei coragem para ter de volta as rédeas
da minha vida, depois que nos envolvemos — Fez questão de deixar claro,
fazendo as batidas do meu coração aumentarem consideravelmente.
— Tudo bem que eu posso ter dado uma ajudinha, mas foi você que
caiu em si e decidiu que era hora de tomar essa atitude. Para ser bem sincera,
já adiantando que não quero ofendê-lo, demorou até demais. Quatro anos ao
lado de uma pessoa por conta de uma chantagem atrás da outra, não é para
qualquer um — mencionei e ele comprimiu seus lábios.
— Tem razão. No entanto, creio que a minha falta de atitude esteve
ligada à minha falta de expectativa também. Pensei que Ingrid tivesse
acabado com qualquer chance existente em mim de me interessar
verdadeiramente por uma mulher, assim como aconteceu quando a tive pela
primeira vez em meus braços. Confesso que desejava uma única vez com a
intenção de não nos ver mais. Então estarmos aqui e agora só me faz perceber
que estava redondamente enganado. — Mais uma vez me deixou abobalhada.
Estava amando conhecê-lo melhor.
— É muito bom saber disso — pontuei.
— Agora vamos mudar de assunto. — Riu e inclinou seu rosto em
minha direção, numa clara tentativa de beijo, porém, o parei.
— Já falei que não vai me beijar até que tenha lavado bem essa sua
boquinha linda. E muito bem lavada por sinal. — João Paulo arqueou uma
sobrancelha e rumou comigo em seus braços de volta para os seus aposentos,
jogando-me sobre a cama.
Seu gesto inesperado me arrancou uma risada alta.
— Fique aqui, eu já volto — ditou e assenti com um aceno de cabeça,
contendo meu riso.
Ele sumiu dentro do banheiro e retornou poucos minutos depois.
Estava totalmente nu e eu contemplei seu corpo másculo até parar o meu
olhar em seu pau semiereto. Logo subiu na cama de joelhos.
— Acha mesmo que vamos transar depois de ter estimulado aquela
vaca? Se estiver pensando nisso, pode esquecer! — reclamei e ele riu.
— Eu não a toquei intimamente, se é isso que está insinuando. — Não
sabia ao certo se sua informação era verídica, no entanto, havia me deixado
mais aliviada, então resolvi confiar em suas palavras.
— Eu não estou pensando em transar com você — falou, olhando
intensamente em meus olhos e deu para perceber uma chama crescendo ali
dentro.
— Ah, não?! — De certo modo, sua resposta não havia me
convencido.
Mordendo seu lábio inferior, ele se ajoelhou entre as minhas pernas
enquanto mantive-me sentada no meio de sua cama ampla. João Paulo tomou
meu rosto entre suas mãos, fazendo-me arquear a cabeça para trás, mirando
seu rosto. Engoli em seco ao levar minha mão até o seu cacete e constatar que
se encontrava completamente duro. Meu clitóris pulsava entre minhas pernas.
— Não, eu vou te foder com força, enfiando o meu pau nessa sua
boceta quente e escorregadia até sentir as minhas bolas batendo contra a sua
bunda deliciosa — proferiu com sua voz rouca, mantendo sua boca grudada
no meu ouvido.
Sua promessa causou um reboliço em meu ventre, aquecendo ainda
mais o meu sexo. Pude sentir que já me encontrava lubrificada.
— Então cumpra com o que disse — murmurei em tom de
provocação e um grunhido rompeu pela sua garganta.
Sua boca cobriu a minha com maestria, fazendo todo o meu corpo
estremecer e nossas respirações misturaram-se em meio ao beijo. Cada vez
que transávamos era como se fosse ainda mais intenso e prazeroso. Para dizer
a verdade, não sabia o que nos aguardava mais adiante, no entanto, eu só
queria aproveitar um dia de cada vez.
Capítulo 22

João Paulo

Depois de ter me enterrado profundamente em Daniela e termos nos


deleitado de prazer com o corpo um do outro, mais tarde, naquele mesmo dia,
conferimos a gravação a respeito da confissão da Ingrid e Daniela me
confidenciou que jamais poderia ter imaginado que a mesma havia feito aulas
de teatro. Para ser bem sincero, sequer tinha ligado os fatos. Apesar de ela se
mostrar tão apaixonada por mim, não me era um livro aberto. Não, não. Ela
se mantinha fechada em vários aspectos da sua vida, um exemplo, era sobre a
própria mãe, que eu não fazia ideia se ainda viva.
Minha relação com meu sogro sempre fora péssima, por motivos
óbvios; éramos como dois estranhos quando estávamos no mesmo ambiente e
também não me sentia confortável em especular sobre a mãe de sua filha.
Podia parecer besteira da minha parte, só não conseguia aplacar meu
pensamento diante de tal assunto. Até tinha tentado puxar assunto com a
Ingrid por diversas vezes, mas não obtive sucesso.
Sempre que tentava tirar informações dela, percebia claramente que a
sua feição mudava completamente, assim como os seus olhos que se
tornavam opacos, detalhes que nunca compreendi. Então evitava ao máximo
questioná-la, porque pensei que uma hora ou outra iria me revelar, o que não
aconteceu.
Parecia querer manter oculta aquela parte da sua história.
E então, certa vez questionei o Yang, argumentando que queria mais
informações referentes à Ingrid, porque eu merecia saber, até pelo fato de ter
sido submetido a um matrimônio a força com ela. Ele não hesitou e foi até
amigável ao começar me falando que a filha havia feito aulas de teatro,
entretanto, resolveu abandonar o curso pela metade e o deixou de lado, não
demonstrando mais interesse em retornar para concluir sua graduação.
Evidentemente, a sua falta de interesse nada mais era pelo fato de Ingrid ser
uma mulher mimada e egoísta, pior ainda pelo fato de o pai ser extremamente
rico e proporcioná-la uma vida cheia de regalias, tornando-a uma pessoa fútil
e esnobe.
Em seguida, finalmente, decidi interrogá-lo a respeito da mãe de sua
filha, e lembrava-me muito bem daquela conversa tida há alguns anos; para
ser mais exato, no primeiro ano de casamento, onde após alguns meses que
passei a odiando e me esquivando de suas investidas, decidi por mim mesmo
dar a ela uma chance e ver se poderíamos tornar aquele relacionamento
indesejado, em algo completamente diferente e agradável para ambos, o que
não deu muito certo.
— Alice e eu nos separamos há muito tempo. Muito tempo mesmo —
enfatizou, tragando o seu charuto em seguida. Ele olhava um ponto qualquer
na sala da sua casa, onde estávamos sentados em sofás de frente um para o
outro.
Hum… então o nome dela era Alice — pensei.
Limpei a garganta antes de dar seguimento:
— E onde ela está? A Ingrid… — interrompeu-me.
— Se não se importa, eu prefiro não comentar sobre isso. Não é um
assunto que eu goste de tratar — frisou e diante de sua ressalva, me senti um
pouco invasivo, mesmo assim, eu me vi insistindo:
— Eu só quero entender um pouco mais… — entretanto, não pude
concluir.
— Então sugiro que continue tentando fazer com que minha filha se
abra com você. — Cansado de todo aquele mistério, apenas dei de ombros e
resolvi não tocar mais no assunto. Se não queriam falar nada, tudo bem.
Depois desse dia, eu realmente não entrei mais em detalhes sobre
minha curiosidade. Mas pensando melhor agora, não entrava na minha
cabeça o porquê de todo esse suspense. O que teria acontecido?
Questionei a mim mesmo internamente e não encontrei qualquer
explicação que fosse para eles serem tão ressentidos. De fato, apesar de Yang
ser um homem bastante centrado em seus negócios e sendo muito rico por
conta da sua dedicação, ainda assim, seu passado parecia ter sido muito
conturbado, tanto que não gostava de dividir seus acontecimentos, ao menos,
não na parte que envolvia a Alice, sua ex.
Após minha conversa com Daniela, nós dormimos abraçados, o que
eu confesso ter gostado muito, pois ter o seu corpo quente e convidativo
grudado ao meu me fez desfrutar de um sono tranquilo e profundo. No dia
seguinte, tomamos café da manhã juntos e nos despedimos no
estacionamento do meu prédio. Vê-la partindo, me deixou com um incômodo
no peito, talvez eu não quisesse que verdadeiramente fosse embora.
Tínhamos uma atração enigmática um pelo outro e o tesão que
sentíamos era algo explosivo quando nos encontrávamos, mas ainda assim,
estávamos nos conhecendo; indo devagar, assim como ela me sugeriu.
Contudo, achava cedo demais sentir falta de sua presença com tanto afinco,
assim como também sentia ser muito precipitado perceber que não desejava
que ela fosse embora do meu apartamento.
Era algo insano, a meu ver, já que passamos o dia e a noite anterior
juntos. Apaixonado, eu já sabia que estava, tanto que apreciava muito a sua
companhia, porém foi muito assustador me dar conta do quão rápido os meus
sentimentos por ela vinham se intensificando.
Depois de acomodado no interior do meu veículo, rumei para a
empresa. Como sempre, assim que cheguei até a mesma e entrei em minha
sala, o trabalho me aguardava.
Tentei ao máximo adiantar meus afazeres do dia e quando estava
próximo ao horário de almoço, liguei para Jin Yang, mas chamou até cair na
caixa de mensagens.
Que porra!
Praguejei e tentei ligar mais uma vez, porém também não foi
atendida. Passei as mãos pelo meu cabelo de modo frustrado. Queria o quanto
antes mostrar a ele a gravação onde Ingrid confessava ter forjado o vídeo que
me incriminava, acusando-me de tê-la violentado. Perante a minha irritação,
tornei-me pensativo e meu telefone tocou.
Tratava-se de minha mãe, convidando-me para almoçar, já que tinha
alguns dias que não nos víamos. Nem mesmo tinha lhe contado sobre ter
pegado a Ingrid com minha armação. Avisei que não poderia ir até lá, pois
tinha assuntos importantes para resolver e depois combinaria com ela um
momento mais propício para nos vermos. Como uma boa mãe e muito
compreensiva, ela entendeu perfeitamente e isso me deixou mais tranquilo.
Ainda a questionei se estava bem, pergunta a qual fui respondido que
sim. Em seguida, nos despedimos e encerrei a ligação. Preocupado, recostei-
me em minha cadeira e mirei o teto.
Mais uma vez meus pensamentos foram interrompidos por outro
telefonema e quase pulei da cadeira de tanta alegria. Era o Yang.
— Alô! — disfarcei.
— João Paulo, como vai? Vi que me ligou — indagou.
— Eu vou bem, espero que esteja também — salientei, preocupado da
Ingrid já ter ido procurá-lo. Então continuei: — É, eu liguei… creio que
devemos conversar — supus.
— Desculpe não tê-lo atendido antes, mas estava em uma reunião —
desculpou-se.
— Sem problemas — O tranquilizei.
— Conseguiu as provas? — questionou-me.
— Sim, é por isso que preciso encontrá-lo — ressaltei.
— Ótimo. Prefiro que seja na minha casa, em meu escritório —
sugeriu.
— Problema algum — pontuei. — Se pudermos falar hoje, seria
melhor ainda — salientei.
— Estou indo almoçar, mas não irei me demorar. Daqui há uma hora
te encontro na minha casa, combinado? — marcou.
— Combinado. — Agradecido, nos despedimos e logo encerramos a
ligação.

∞∞∞
Depois de finalizar a ligação, eu resolvi retornar o contato da minha
mãe e dizer que havia mudado de ideia e iria aproveitar para vê-la. Seu
entusiasmo durante a ligação me deixou um pouco triste comigo mesmo,
porque eu acabava me dedicando tanto ao trabalho e meus problemas, que no
final das contas, me esquecia de fazer o primordial: viver; aproveitar cada
segundo ao lado de quem amava para não acontecer como foi com o meu pai.
Nós o perdemos de forma bem repentina, o que me fazia ficar pensando em
como tudo poderia ter sido diferente, mas sabia que nunca teríamos o poder
de recuperar o tempo perdido.
Certo sobre isso, saí da empresa e informei a Juliana que não
retornaria mais; ordenei que cancelasse todos os outros compromissos que eu
teria naquela tarde. Ela assentiu e lhe agradeci, saindo dali.
Assim que peguei o meu carro, demorou pouco tempo até chegar à
casa da minha mãe. Eu a abracei veemente e me desculpei por deixá-la de
lado por conta do trabalho. Ela me deu um aperto na bochecha e pediu que
isso nunca mais voltasse a se repetir, rimos em uníssono, porque fingiu um
tom enraivecido, que de longe seria verdadeiro. Enfim, eu comentei sobre a
Daniela e ela me disse que tinha percebido um brilho diferente em meu olhar
desde o instante que tinha colocado os olhos em mim.
Ter em mente que sabia me ler como a palma da sua mão, me deixava
assustado por não saber como isso podia ser possível, entretanto, uma mãe
sempre conhecerá o filho até melhor do que ele mesmo, por isso não adianta
querer esconder nada. Enquanto eu saboreava sua comida deliciosa — porque
ela já tinha comido —, acabei contando que tinha colhido a prova contra a
Ingrid, que serviria para me absolver de sua acusação. Minha mãe mal
acreditou.
Primeiro, ela brigou por não ter sido a primeira a saber, depois
envolveu uma de minhas mãos nas suas sobre a mesa e seus olhos
umedeceram com lágrimas não derramadas. A ouvi dizer que eu deveria ir
logo ao meu “sogro” para mostrar o tal vídeo e fiquei muito contente. Saí da
sua casa quando deu o tempo que Yang tinha falado que estaria de volta.
Neste instante, atravessei os portões de sua residência e estacionei
próximo à entrada. Deixei o interior do veículo rapidamente e ao caminhar
para a porta, logo fui recepcionado pela mesma governanta de todas as vezes
em que estive ali.
— Sinta-se à vontade, que logo o senhor Yang chegará — falou ao
empurrar as portas de madeira maciça e entrarmos no escritório dele. Tratou
de apontar uma cadeira que ficava de frente para a mesa, gesto que agradeci.
Sentei-me e enquanto aguardava, olhei tudo ao redor, entretanto, o
barulho da porta sendo rompida me fez virar e conferir sua figura adentrando
a sala. Fiquei de pé a fim de cumprimentá-lo com um aperto de mão, mas fui
surpreendido ao levar um soco no rosto. Por sorte, apoiei-me segurando a
beirada da mesa e pisquei a fim de manter o foco, além de movimentar meu
maxilar de um lado ao outro.
Havia sido um soco bem filho da puta! Doeu pra caralho!
— Você agrediu a minha filha?! Como teve essa ousadia? — Notei
que se encontrava enfurecido e desferiu tais perguntas, agarrando meu
colarinho na sequência. Seus olhos estavam fixos nos meus.
— Do que está falando? — Ainda meio zonzo pelo seu golpe,
consegui proferir.
Seu sorriso quase fez com que seus olhos sumissem, até por serem
pequenos por conta de serem puxadinhos. Não pude ignorar que aquela
postura fez minha espinha gelar.
— Estava a caminho de casa quando a minha filha me ligou e falou
que você a agrediu. — Finalmente revelou e eu não acreditei que aquela
miserável continuaria tentando virar o jogo contra mim.
— Eu jamais faria isso! — Fui enfático e tentei me livrar do seu
agarre em meu colarinho, só que ele firmou ainda mais suas mãos, mirando-
me com indignação estampada em seu olhar. — Solte-me e explicarei tudo,
vai ver que estou falando a verdade — Quis fazê-lo entender.
Seus lábios abriram e fecharam rapidamente. Permaneci aguardando
uma decisão de sua parte. Eu já estava farto de tudo isso e não arredaria o pé
dali sem provar todo o meu propósito por estar naquela casa e em sua
presença.
— Qual é? Acha mesmo que eu viria até a toca do leão se tivesse feito
o que sua amada filha faz questão de me acusar? — Comecei a falar ao ver
que se encontrava irredutível. — É só colocar na balança, Jin Yang. Afinal,
você como um homem de negócios e muito bem-sucedido, deve ser
inteligente o suficiente a ponto de saber ler a expressão de uma pessoa para
notar quando a mesma está mentindo, o que não é o meu caso, pois estou
sendo totalmente sincero.
— Eu acho bom que realmente não tenha feito o que ela disse. Ou
sairá daqui dentro de um saco preto; eu mandarei jogar o seu corpo em
qualquer canto isolado e de difícil acesso para não ser achado com facilidade.
— Engoli em seco perante a sua ameaça, mas me mantive impassível, não
deixando que ele fosse capaz de detectar o medo existente em meu olhar ou
postura.
— Não vai precisar disso — afirmei com veemência, o que o fez me
soltar. Respirei aliviado.
Era hora de ter a minha tão sonhada liberdade de volta.
Capítulo 23

João Paulo

Enquanto arrumava meu colarinho, assisti Jin Yang dar a volta na


mesa e sentar-se na cadeira com um semblante fechado e completamente
ameaçador como se fosse um verdadeiro leão avisando para que a sua presa
não desse nenhum passo em falso. E para ser bem sincero era exatamente
assim que eu me sentia no momento: como uma verdadeira presa, acuado,.
Todavia, necessitava mudar o rumo de tudo aquilo, porque por incrível que
pudesse parecer Ingrid sempre conseguia um jeito de fazer com que tudo que
eu ousasse dizer ou pensar fosse colocado contra mim.
Confesso que não havia esperado por aquele golpe tão baixo. Se
tratando dela, eu deveria ter me preparado; previsto que ela tentaria usar mais
uma cartada contra mim, entretanto me deixei levar, pensando que a teria
amedrontado pelo fato de possuir a gravação de sua confissão. Certamente,
havia sido pego completamente desprevenido. Ingrid agia ardilosamente
como uma perfeita cobra.
— Comece a se explicar então, pois se demorar mais um pouco, eu
farei questão de pedir a um dos meus seguranças para jogá-lo para fora daqui,
mas não antes de fazer a minha filha ir à delegacia prestar uma queixa contra
você. — Exausto, passei a mão pela minha testa e suspirei, apalpando o bolso
interno do meu paletó. Retirei de dentro dele o pen drive que continha o
vídeo salvo.
— Creio que você deva assistir isso antes. — Joguei o pequeno objeto
sobre a sua mesa, em sua direção e evitei me sentar.
Com seu olhar inspecionador, ele o pegou sobre o tampo, analisando.
— O que tem aqui? — questionou com um ar curioso, não deixando
de me encarar.
— Um vídeo promissor. Sugiro que o assista, daí poderá tirar as suas
próprias conclusões — aconselhei.
Com um acenar de cabeça, o conectou ao notebook que estava sobre a
sua mesa e virou a tela para que nós dois pudéssemos assistir. As imagens
foram passando e a conversa sendo ouvida. Em um determinado momento,
resolvi me sentar e foi quando surgiu a parte em que Daniela socou o nariz da
Ingrid.
Por curiosidade, eu mirei meu olhar nele, que continuava com seu
semblante impassível, sem qualquer chance de ser decifrado. Eu queria que
ele dissesse algo logo, porque toda aquela sua impassibilidade estava me
deixando aflito. Enfim, o vídeo chegou ao fim e ele me fitou, desviando seus
olhos dos meus, depois de notar o meu olhar veemente.
Parecia não saber como proceder com isso. Ou, simplesmente não
esperava que eu realmente tivesse colhido uma prova crucial para, enfim,
provar a minha inocência e ter a minha liberdade de volta. De repente, ouvi a
sua voz:
— Ela confessou… — disse e soltou um riso nervoso.
Franzi o cenho sem entender suas palavras.
— Sim, ela o fez. Eu disse que conseguiria provas concretas —
mencionei, sem permitir que meu tom vacilasse.
— Que ótimo. Fez um belo trabalho então — comentou sem muita
emoção e aquilo me causou intriga.
— Por que estou achando estranho você estar com sua postura tão
tranquila? Não te comove o fato de a sua filha ter mentido e continuar
inventando uma história atrás da outra para te ludibriar? — queria entendê-lo.
Ele riu e balançou a cabeça em negativo.
— Engana-se ao pensar que minha própria filha tenha me enganado.
Desde o começo, quando ela usou aquela chantagem estúpida para que você
não tivesse saída alguma, restando-lhe apenas a opção de aceitar sua proposta
de matrimônio, eu já me encontrava ciente ou acha mesmo que se eu não
soubesse da verdade por trás de toda aquela encenação da parte dela, eu teria
concordado que se casassem? — Sua revelação me deixou apático.
— Agora eu entendo o fato de você nunca ter impedido a loucura da
sua filha — comentei, lembrando-me claramente do dia.
— Eu posso estar ficando velho, mas não louco, João Paulo. Não ao
ponto de permitir que a minha própria filha, a qual, eu criei com tanto amor,
se casasse com seu suposto estuprador. Se, porventura, eu desconfiasse que
realmente tivesse a violentado como ela ousou mencionar naquele vídeo, eu
mesmo o teria matado com minhas próprias mãos. — Afrouxei a minha
gravata ao engolir em seco perante seu argumento, sentindo-me até
desnorteado.
— Ainda não acredito que sabia de tudo. — Passei a mão pelo meu
rosto, confuso.
— Sim, eu sabia. Ingrid me procurou mais cedo naquele mesmo dia e
me falou que te amava muito e que tinha um plano infalível para fazê-lo ficar
sem saída, o que o obrigaria a se casar com ela. Claro que fiquei receoso em
concordar, porém sempre tentei ao máximo fazer tudo o que estivesse ao meu
alcance em prol da felicidade dela. Então, se minha filha achasse que seria
feliz daquela forma ou com determinada pessoa, simplesmente concordava,
apenas com o intuito de fazer a sua vontade. — Atento ao que dizia, resolvi
contestá-lo.
— Mas não faz sentido. Nunca te incomodou o fato de eu ter me
casado com sua filha sem amá-la e tê-la feito sofrer em todos esses anos?
Sempre ficou bem evidente que o único sentimento que eu nutria por ela se
resumia ao ódio, até por ter sido forçado a entrar em um matrimônio por
conta de uma acusação muito grave. Eu só aceitei pelo medo de perder o meu
negócio, algo que levei muito tempo planejando e não queria vê-lo ruir da
noite para o dia — pontuei.
— Entendo a sua confusão. Contudo, Ingrid já tinha idade o suficiente
para decidir por si só se preferia continuar com toda essa presepada de
casamento forçado ou ser livre e tentar encontrar um homem que realmente a
amasse. Não foi somente uma vez que a aconselhei a acabar com tudo isso,
chegando a mencionar o divórcio, porém sempre foi irredutível quanto a isso
— explicou, tentando me fazer compreendê-lo.
— Ao menos agora sabe que também não a agredi. Jamais faria algo
do tipo — me defendi.
— Sim e peço desculpas por tê-lo agredido. Acabei agindo por
impulso — lamentou.
— Tudo bem. Sei que só estava tentando defender a sua cria. — Ele
comprimiu seus lábios em um riso ameno e assentiu.
Pensativo, tornei-me silencioso.
— Sabe, uma vez me questionou sobre a Alice, mãe da Ingrid, e eu
evitei falar sobre o assunto — começou a falar e foquei minha atenção nele.
— Me lembro bem — frisei.
O vi recostar-se em sua cadeira e seu olhar adquiriu um ar de tristeza.
— Depois que ela deu à luz a Ingrid, estava tudo uma maravilha, mas
depois de um mês do nascimento da nossa filha, Alice teve uma psicose pós-
parto e começou a ter delírios, falando coisas do tipo que ia morrer; que
queria ir embora de casa. Ela passou por uma psicóloga que achou melhor
que procurássemos uma ajuda mais específica para o quadro dela. Então
fomos a uma clínica psiquiátrica e lá fizeram todos os exames possíveis para
chegarem a esse resultado. Alice foi medicada e liberada para retornar para
casa. No dia seguinte, lembro-me que era noite, ela acabou tendo um surto e
novamente seguimos para a clínica, onde foi submetida a uma internação que
durou por três semanas. Foram os piores dias da minha vida, acredite. Não só
pelo fato de eu ter tido que lidar com uma bebê recém-nascida, mesmo tendo
ajuda de uma babá, mas também porque nossa pequena ficou longe da mãe
— soprou com pesar. — Enfim, passado todo esse quadro e o tratamento,
pensei que Alice finalmente voltaria a ser a mulher amável de antes, porque
era isso que o psiquiatra responsável pelo caso dela dizia; foi o que aconteceu
com várias mulheres que fizeram o mesmo tratamento, porém infelizmente
não foi bem o que ocorreu… — permaneci silencioso, aguardando que
concluísse. — Por conta desse problema que ela teve, eu fiquei dias sem
resolver as coisas do trabalho, já que não tinha cabeça para isso. Enfim, um
mês depois da alta dela, eu a deixei em companhia da babá e nossa filha; no
final do dia, eu recebi um telefonema da babá dizendo que Alice tinha ido
embora e deixado a nossa filha. — Soltou um suspiro doloroso. — Eu não
entendi nada, porque ela estava bem, aparentemente. Então a procurei até
encontrá-la na casa da tia no Rio de Janeiro. Quis convencê-la a voltar, mas
ela não aceitou, afirmando que não seria capaz de ser uma boa mãe e que era
melhor se manter distante de nós; ela disse que seria seguro para nós dois tê-
la longe, pois ela poderia voltar a ter surtos psicóticos. Deixou claro que sua
mente estava confusa e que pensava em pegar a nossa filha e se jogar com ela
na frente de um carro para matá-las, deixando-me só. — Era notável o seu
sofrimento ao relatar isso, e eu finalmente entendi o fato de ele não ter
contado a história quando o questionei alguns anos atrás.
— E-eu sinto muito. Jamais me passou pela cabeça que tivesse lidado
com algo assim — Fui sincero.
— É, eu sei. Não gosto de falar sobre o assunto, mas de certo modo,
quis me abrir com você — salientou.
— Agradeço por isso. — Apertou seus lábios em linha reta. — A
Ingrid sabe disso?
— Sim. Não tenho segredos com ela — Deixou claro.
— Ela nunca procurou a mãe, ou a Alice veio atrás dela? — inquiri.
— Ingrid cresceu ressentida pela ausência da mãe, tanto que Alice a
procurou por diversas vezes, mas ela nunca deu confiança. De certo modo, eu
não a culpo. Alice fez a escolha dela e está colhendo as consequências disso.
— Concordei com um meneio de cabeça. — Depois que Alice nos deixou, eu
não quis me envolver seriamente com outra pessoa, talvez pelo fato de ter
sido abandonado, pois isso ainda pesava bastante no meu psicológico e
coração. Claro que fico com uma ou outra mulher, entretanto nada focado em
relacionamentos sérios — ressaltou.
— Compreendo perfeitamente — Tentei consolá-lo.
Logo a porta do escritório foi aberta e não foi preciso me virar para
saber de quem se tratava.
— Papai, eu exijo que coloque esse homem para fora daqui. Como eu
te disse na ligação, ele me agrediu! Olha o meu estado! — dramatizou e Jin
Yang a encarou.
Curioso, me virei a fim de olhá-la e ela caminhou até parar ao lado da
mesa do pai. Vi que seu nariz estava roxo e inchado. Seu olhar direcionado a
mim era cheio de fúria.
— Não está em condições de exigir nada aqui, filha. João Paulo já me
mostrou um vídeo, que gravou no próprio apartamento, onde você confessa
tudo o que fez para chantageá-lo no passado. Também sei que quem a
agrediu foi a… — ele me encarou, sem saber como nomear a Daniela.
— Minha namorada. — Eu ainda não tinha lhe pedido em namoro,
mas já a considerava dessa forma. Também usei isso para provocar a Ingrid.
— Não se tem namorada quando é um homem casado — insistiu com
o mesmo assunto.
Eu ri.
— Ingrid, você não cansa de ser ridícula? — continuei minha
provocação e sua raiva se intensificou.
Vi o exato momento em que ela tentou avançar em minha direção, só
que Yang entreviu, segurando-a pelo braço.
— Já chega! — gritou, fazendo-a parar. — Quanto ao divórcio, não se
preocupe, João Paulo, nada mais justo do que eu acionar os meus advogados
para ajeitar tudo e vocês assinarem o mais rápido possível. — Seu anúncio
me deixou quase em êxtase.
— Vai mesmo fazer isso? — Ela bradou, inconformada.
— Não adianta falar nada, já está decidido — disse, não dando
brechas para que ela pudesse contestá-lo.
— Eu não vou assinar — ditou.
— É o que veremos. — Seu pai a respondeu.
— Não pode me obrigar — continuou falando.
Parecia uma garotinha mimada e infantil.
— Deveria agradecer ao seu pai, pois assim poderá encontrar um
homem que a ame de verdade, já que nunca nutri amor por você, apenas ódio
— sugeri.
— Sabe, João Paulo, você também deveria me agradecer… —
ponderou, fixando seus olhos nos meus.
— E posso saber por quê? Que eu saiba, não tenho motivos para
agradecê-la, somente para me manter o mais distante de possível da sua
loucura — evidenciei.
— Se hoje não está condenado a passar o resto da sua vida ao meu
lado, foi porque eu abortei aquele bebê. — Automaticamente, uma dor aguda
me tomou, pois não estava acreditando no que realmente estava ouvindo.
— Só pode estar brincando. — Me negava a acreditar que ela tivesse
sido tão desumana.
Ela riu.
— Acha mesmo que eu teria um bebê que você não desejava? Jamais
me sujeitaria ao papel de ser mãe solteira, assim como o papai foi — tentou
usar o caso do pai como desculpa para o seu ato de crueldade.
— Como é que é? Como pôde ter feito algo tão cruel, Ingrid? —
Yang a repreendeu, ainda a segurando pelo braço.
— Não fui cruel, apenas me livrei de um fardo que teria que carregar
para o resto da vida se o João Paulo se separasse de mim e, pelo visto, eu
estava certa. — Olhei-a com os olhos arregalados. Não entendia como
conseguia narrar tudo aquilo com tanta frieza.
— Meu Deus! Você é uma louca! — Aproximei-me e ela se livrou do
agarre do pai, caminhando em direção a porta.
— Louca eu seria se tivesse mantido aquela criança; eu apenas acabei
com o sofrimento dela antes de vir ao mundo. — De certo modo, isso me
entristeceu ainda mais. — Foi coisa simples, me direcionei a uma clínica e o
procedimento foi rápido e indolor. Pensei que seria um bicho de sete cabeças
como as pessoas pregam, mas não vi nada de mais — Prosseguiu falando
enquanto segurava no trinco da porta. — Foi fácil fazê-lo se sentir culpado
pela perda do bebê, todavia, não o isenta de ter sido o culpado pela minha
decisão de abortar. — Piscou marotamente e abriu a porta. — Até a
assinatura do nosso divórcio, meu coala — debochou e saiu dali.
Passei a mão pela minha nuca, sentindo raiva de mim mesmo por não
ter sido mais atencioso com a Ingrid, a ponto de ela ter conseguido realizar
tudo isso e ainda relatar a história de maneira tão gélida. Meu coração
comprimiu-se no peito e algo parecia querer me sufocar. Ingrid nem mesmo
deveria ter um coração; ao contrário, certamente tinha um grande oco no
lugar.
— Eu sinto muito pelo que ouviu. Nem sei como me desculpar. Me
sinto tão culpado agora. — Yang soltou o ar com força. — Vou tentar
encaminhá-la a algum psicólogo, porque esse tipo de pensamento que ela tem
não pode ser normal — comentou.
— Não mesmo. — Estava certo sobre isso.
Logo nos despedimos e ele me pediu para aguardar o seu telefonema,
pois seus advogados seriam ágeis. Chegando em casa, liguei para a Daniela e
depois de conversarmos e eu falar tudo sobre o que tinha acontecido na casa
do Jin Yang, ela também lamentou sobre a confissão da Ingrid referente a ter
abortado o bebê. Como ainda era dia, resolvi tomar um banho para apaziguar
o sentimento de tristeza que me tomava por dentro.
Retornando ao quarto, eu fui surpreendido pelo meu celular tocando;
era o Jin Yang.
— Tão rápido, me ligando? — tentei brincar, mas ele parecia não ter
curtido.
— Não trago boas notícias… — emudeceu por alguns segundos. — A
Ingrid fugiu, João Paulo, sinto muito. — Nem em um milhão de anos, eu me
preparei para essa surpresa. Sempre que eu pensava ter ganhado o jogo, ela
arranjava um jeito de ter uma saída. Que porra!
— Como assim fugiu? — Queria ser esclarecido.
— Parece que ela viajou, ao menos foi o que disse para a empregada
dela. — Respirei fundo, exasperado.
— Não tem um jeito de encontrá-la? — perguntei, movido a
esperanças.
Ela não podia sumir assim. Eu queria muito o divórcio, mas se ela não
cooperasse demoraria uma eternidade para minha liberdade chegar e isso já
tinha levado tempo demais.
— Vou tentar. Fique tranquilo — salientou e encerrei a ligação em
seguida.
Passei ambas as mãos pelo meu rosto. Nada parecia dar certo para
mim.
Capítulo 24

Um mês depois...

Daniela

Um mês havia se passado desde que a Ingrid havia resolvido sumir


do mapa. No dia em que eu soube que aquela vaca vadia tinha inventado uma
viagem de última hora com o propósito de fugir fazendo valer o que tinha
falado, referente a não dar o divórcio ao João Paulo, eu fiquei no chão e com
muita raiva dela. Quando pensamos que tudo finalmente se resolveria, ela
simplesmente nos deu uma rasteira, deixando bem claro que sabia jogar, e
muito bem, por sinal.
Até por medo de ela chegar a tentar algo contra mim ou com o João
Paulo, estávamos sendo cautelosos em nossos encontros. Nos víamos todos
os finais de semana em seu apê. Não o trouxe ainda em meu apartamento, até
por Amanda não saber de toda a história por trás do casamento dele.
Eu estava esperando que o divórcio saísse logo para então contar tudo
a ela, daí quem sabe a minha amiga pudesse me entender, não é mesmo?
Ultimamente, a única coisa que escutava dela era que “eu não tenho vergonha
na cara”. Claro que não falava exatamente com essas palavras, mas era o que
dava a entender toda vez que mencionava o fato de não compreender o
porquê de eu continuar me sujeitando a encontrar-me com o João Paulo “às
escondidas”.
Enfim, o pai da Ingrid colocou investigadores atrás da filha desde que
a mesma viajou, mas só descobriu que ela tinha feito um saque de uma
quantia bem alta de sua conta no banco, além de ficar sabendo que a mesma
se encontrava em alguma parte da Espanha.
Ela era ardilosa, pois nem mesmo os cartões de crédito que o pai
bancava, estava usando, ou seja, não queria ser encontrada. E, infelizmente,
fazendo tudo isso, ela continuava mantendo o João Paulo preso a si. Era
cansativo ter que lidar com essas coisas, mas eu tinha prometido a ele que
teria paciência até as coisas serem resolvidas.
Além disso, João Paulo ficou muito mal depois que descobriu que a
megera havia abortado o bebê em uma clínica. Eu realmente não podia pensar
que essa louca era normal. Como ela podia ter feito algo assim e ainda
conseguir dormir tranquilamente todas as noites?
O bebê, de fato, nunca teria culpa se ela, um dia, fosse mãe solteira ou
não, até porque, foi ela quem forçou um casamento sem qualquer sentimento
de amor, ao menos, não da parte do João Paulo. O que ela esperava? Que
seria como em vários livros de ficção, onde o mocinho obriga a mocinha a se
casar — com a diferença de ali ser a mocinha obrigando o mocinho — e com
o tempo os dois se apaixonam perdidamente um pelo outro e acabam
assumindo verdadeiramente o matrimônio de fachada? Fala sério!
Mesmo com toda essa dor de cabeça que a Ingrid estava nos
causando, ainda assim, eu tinha novidades… Amanda finalmente estava
curada da fratura que tinha tido na tíbia, ocorrida pelo acidente que teve em
seu trabalho há pouco mais de um mês; também retornou ao trabalho. Seu
relacionamento com o Matheus não poderia estar mais firme e forte. Tinha
momentos que os invejava por serem tão intensos e demonstrarem todo o
amor e carinho que nutriam um pelo outro.
Não que eu e o João Paulo não tivéssemos isso, entretanto, era
diferente. Amanda e o Matheus namoravam, ao contrário de nós dois, porque
apesar de ele ter me intitulado como sua namorada, nem mesmo colocou uma
aliança de compromisso em meu dedo. Talvez estivesse esperando o
momento certo ou… o que seria ainda mais triste: aguardando apenas o
divórcio para me dar um pé na bunda.
Querendo deixar aqueles pensamentos nada bons de lado, eu me
foquei em terminar de vestir o meu uniforme. Sim, finalmente tinha
conseguido um emprego novo. Não era na minha área, relacionado ao
marketing, mas estava feliz por pelo menos voltar a ter um salário bom para
bancar as minhas despesas, porque se tinha uma coisa que eu amava era ser
uma mulher independente.
Assim que terminei, eu peguei a minha bolsa e saí do quarto. Passei
pela sala notando que Amanda não estava por ali ainda, então segui para a
cozinha e depois de me desfazer da bolsa, preparei o café e em seguida,
coloquei a garrafa sobre a mesa. Arranjei um pacote de biscoito no armário e
o despejei em uma tigela.
Comecei a fazer o meu desjejum e Amanda apareceu, toda elegante.
Eu não me cansava de dizer o quanto ela era bonita, algo que ela mesma nem
percebia. Contudo, eu sabia bem o porquê de toda essa arrumação.
— Já sei que não retornará para casa hoje, acertei? — Semicerrei
meus olhos, aguardando sua resposta, apesar de já saber qual seria. Ela
também colocou sua bolsa sobre a mesa.
— Acertou. — Enfim, afirmou e riu.
— Eu não tinha ideia que fosse me abandonar aos finais de semana
quando se envolveu com o Matheus. Já é a segunda vez que vai me
abandonar para ficar com ele — fingi estar chateada e seu riso aumentou.
— Deixa de encenação, Dani. Acaso não anda se encontrando com o
cretino e cafajeste do João Paulo? — Desviei o meu olhar do dela, já sabendo
que vinha a ladainha de sempre e resolvi ficar calada. A ouvi bufar,
contrariada. — Até quando você acha que vão conseguir esconder esses
encontros às escondidas? Uma hora a esposa dele…
Farta daquele falatório, eu a interrompi:
— Ele está tentando se separar, amiga. Enquanto isso, nós nos
encontramos poucas vezes, até para não levantar suspeitas. A esposa dele
também não facilita, o que piora muito a nossa situação. Enfim, eu terei
paciência — expliquei pela milésima vez e a vi revirar os olhos com
impaciência.
— Eu não sei como pode aceitar viver em um relacionamento assim.
Não tinha me falado que ia seguir a sua vida e que ele havia sido um erro?
Mudou rapidamente de ideia, foi? — Amanda não me compreendia, ou
melhor, não aceitava o fato de eu estar com o João Paulo. Eu entendia o seu
lado protetor.
— Amanda, eu agradeço que esteja preocupada com tudo isso, mas eu
já te expliquei que o João Paulo me procurou e explicou sua situação com a
esposa, que está tentando fazê-la aceitar o divórcio sem brigas desnecessárias.
Só me pediu que tivesse paciência e eu gosto dele, por isso aceitei isso —
continuei com a mesma conversa, sem contar a verdade por trás de tudo isso.
Uma hora a Ingrid apareceria, assinaria o divórcio e eu contaria a ela.
Acontece que Amanda era daquelas pessoas que “a primeira impressão é a
que fica” e foi o fato de ele ter transado comigo e me demitido em seguida
que a fez manter essa imagem de cretino e cafajeste do João Paulo. Então, eu
sabia que se chegasse a mencionar que o casamento dele era de mentira, ela
simplesmente iria rir da minha cara e não acreditaria, assim como foi comigo
quando o próprio me contou.
— Só acho que não deveria estar se sujeitando a isso, entretanto, já
que aceitou, daí é um problema seu — disse ao bebericar seu café.
— Entendo a sua chateação, mas quero ver aonde tudo isso vai me
levar. Tenho a esperança de que vamos contornar toda essa situação. — E eu
realmente tinha esperanças de que a Ingrid retornaria para assinar o divórcio.
Amanda parou de opinar, o que eu agradeci. E assim que terminamos,
recolhemos nossas bolsas e saímos do apartamento. Mais um dia de trabalho
nos aguardava, com a diferença de ser sexta-feira. No final de semana, eu
poderia descansar.

∞∞∞

Ao final do dia, Amanda me falou que iria para a casa do Matheus de


táxi, porque ele teria que ficar até mais tarde em uma reunião; ofereci carona
para a ela, mas a mesma não aceitou, alegando que eu teria que ir no sentido
contrário ao nosso apartamento. Muitas vezes minha amiga era extremamente
teimosa. Então eu segui para o nosso apartamento.
O trânsito não ajudou muito, porque estava lento e meu desejo era me
jogar no sofá e descansar minhas pernas. Apesar de estar trabalhando como
secretária no hotel do Matheus, ainda assim, estava gostando dessa função.
Em alguns pontos era cansativo, no entanto, não podia reclamar.
Quando eu, enfim cheguei ao apartamento, estacionei o carro e deixei
o seu interior quando peguei minha bolsa. De repente, fui surpreendida ao
sentir uma mão segurar firmemente em minha cintura por trás e me virei
instantaneamente, deparando-me com o João Paulo ali. Ele segurava um
buquê de rosas e sorria amplamente.
— Seu palhaço! Quer me matar de susto? Não falou que viria até
aqui. — O repreendi e ele gargalhou alto, puxando-me para junto de seu
corpo. Espalmei o seu peitoral com uma de minhas mãos.
— Matar de susto não faz bem o meu tipo, quem sabe matá-la de
outra forma? — propôs, arqueando uma de suas sobrancelhas de modo
malicioso e mordi meu lábio inferior.
— Se eu não estivesse tão cansada, poderia até aceitar a sua proposta
— fingi desinteresse e ele me encarou com incredulidade, fazendo-me
gargalhar. — E essas flores? — indaguei, mudando o foco da nossa conversa.
— São para você, minha garota tentação — anunciou e meu coração
bateu forte no peito.
Peguei o buquê e depois de olhá-las com admiração, o agradeci.
— Obrigada! São lindas! — Meus olhos estavam umedecidos pela
surpresa em tê-lo ali e me presenteando, algo que nunca tinha feito antes.
— Eu também tenho uma novidade e um pedido para lhe fazer. —
Franzi o cenho, tentando decifrar o que teria para falar comigo.
— E o que é? — inquiri, curiosa.
Ele riu e segurou em meu queixo com uma de suas mãos.
— Que tal subirmos para o seu apartamento antes de eu revelar, hum?
— sugeriu, olhando profundamente em meus olhos; notei um brilho diferente
nos seus.
— Tudo bem. A Amanda não está aqui hoje, vai dormir com o seu
amigo — informei.
— Que ótimo! Assim teremos bastante tempo para nós dois. —
Depositou um beijo singelo em meus lábios, mas que foi capaz de aquecer-
me tudo por dentro. De mãos dadas, nós seguimos para o elevador.
Depois de alguns minutos, entramos no apartamento e segui direto
para a cozinha. Enchi um jarro grande com água e coloquei as flores dentro.
Queria que elas durassem alguns dias para eu ficar admirando a beleza delas.
Mais uma vez, fui abraçada por trás e no processo, meus cabelos que
estavam presos, foram libertos, caindo sobre os meus ombros. Fechei meus
olhos, sentindo minha respiração aumentando gradativamente, ao mesmo
tempo em que ele juntou seus fios entre os dedos para puxá-los levemente,
fazendo com que eu inclinasse minha cabeça para o lado. Sua boca distribuiu
beijos por sua extensão, deixando-me ainda mais excitada.
— O que queria me contar? — Não queria quebrar o clima, contudo,
não contive a minha curiosidade.
— A Ingrid assinou o divórcio. — Meus olhos se arregalaram no
mesmo instante, sentia-me incrédula, então me virei para ele.
— Jura que não está brincando? — indaguei, pois era bom demais
para acreditar. — Como foi isso? Acharam ela?
Ele riu, mordendo seu lábio inferior no processo e me pressionou
contra a bancada da pia, sendo possível sentir a sua ereção bem evidente.
— Juro — afirmou, causando-me uma imensa alegria. — Jin Yang
me ligou no período da tarde e falou que finalmente seus detetives a
encontraram numa vila charmosa da Espanha, chamada Albarracin. Eu
confesso que fiquei mudo quando ele me comunicou e pediu que eu me
dirigisse para o seu escritório o quanto antes para assinar os papéis do
divórcio. Não sei como ele conseguiu fazê-la assinar em comum acordo, mas
assim o fez. Claro que eu não perdi tempo e fui até lá. Depois segui para o
meu apartamento, doido para te ligar e contar, no entanto, comprei o buquê e
quis vir pessoalmente. Esse acontecimento merecia uma comemoração
especial — explanou, sorrindo.
— Eu estou tão feliz por você! — proferi, quase saltitante e o abracei
forte, mostrando-lhe o quanto me encontrava contente.
Logo nos afastamos.
— Também estou. Não só feliz por mim, mas por nós dois.
Finalmente estou livre para tê-la para mim; agora sou totalmente seu —
declarou, fazendo-me estremecer de felicidade.
Pegou uma das minhas mãos e colocou sobre o seu peito, me fazendo
olhá-lo com seriedade.
— Meu coração te pertence, Daniela. Não a partir de hoje, pois me
dei conta de que você o tomou completamente no dia em que negou o meu
primeiro convite de almoço, e que virou uma sucessão do mesmo, todos
sendo recusados. Isso claramente me fez correr incansavelmente atrás de
você, até ouvir o seu sim, mesmo que eu tenha mentido para consegui-lo —
comentou, arrancando de mim um riso satisfeito. E concordei, balançando a
cabeça. — E aproveitando o momento — apalpou o bolso interno do seu
paletó e tirou uma caixinha dali de dentro. Meus olhos faltaram saltar de suas
órbitas quando visualizei as alianças de cor prata que tinham em seu interior.
— Já te considero a minha namorada, mas você aceita, oficialmente, ser a
minha namorada? — Havia expectativa em seu olhar.
— É claro que eu aceito, seu bobo! — Meus olhos umedeceram pelas
lágrimas não derramadas e depois de beijar os meus lábios com certa
urgência, encaixou a aliança em meu dedo anelar da mão direita. Eu fiz o
mesmo com ele, em seguida.
Ficou claro como água que nossos destinos haviam sido traçados
antes mesmo que pudéssemos nos dar conta. O que começou como um
grande erro e várias decepções, levando-nos a machucar um ao outro, acabou
por nos mostrar que, por certas coisas, valia à pena lutar. E nós dois lutamos;
lutamos até conseguir provar que éramos dignos um do outro. E era certo
dizer que nos amávamos, porque só o amor é capaz de vencer barreiras
inimagináveis.
Capítulo 25

Cinco meses depois...

Daniela

— E então, como estou? — Entrei no quarto naquele mesmo


instante e me deparei com minha amiga arrumada para o seu casamento.
Seu vestido branco abraçava bem o seu busto; também delineava bem
a sua cintura e sua saia era soltinha, pegando acima do seu joelho e a
deixando com um ar mais charmoso e sensual. A maquiagem era mais neutra,
tendo os olhos perfeitamente demarcados e apenas o seu batom rosa era o
mais evidente. Amanda encontrava-se estonteante.
Vê-la tão serena e vestida dessa forma, me deixou emocionada.
Caminhei até ela e a abracei, depositando todas as minhas forças naquele
abraço. Lágrimas escorriam pelo meu rosto, apesar de saber que não podia,
porque ia borrar a minha maquiagem recém feita, entretanto foi impossível
não me sentir emocionada por tudo o que ela tinha enfrentando ao longo
desses cinco meses, desde que se acidentou e teve que aprender a conviver
com outra realidade.
Além disso, era o seu grande momento no cartório, algo simples, mas
tão importante quanto se fosse uma celebração na igreja.
— Ainda não acredito que logo se casará com o chefão e se tornará a
senhora Amanda Gentile — brinquei e rimos.
Em seguida, funguei tentando de algum jeito aplacar o meu choro e
ela se afastou, evitando ao máximo chorar, enquanto eu já havia me
debulhado em lágrimas. Seus olhos encontravam-se apenas úmidos.
— Inacreditável, não é mesmo? Eu que tanto te aconselhei a não cair
na conversa fiada de CEO’s gélidos, como o Matheus demonstrava ser no
início, e acabei pagando com a própria língua. — Rimos ainda mais e segurei
em suas mãos, encarando-a e admirando o quanto estava divina. — No final
das contas, você também se envolveu com o seu chefe, e foi brutalmente
julgada por mim e nem merecia. Devo reconhecer que fui uma péssima amiga
nesse quesito. Sei que já me desculpei por isso, mas…
A interrompi, balançando a cabeça em negativo e dando um aperto
firme em suas mãos. Naquela altura, o meu choro já não existia mais.
— Eu não quero que se preocupe com isso. Você não foi uma péssima
amiga, pois não tinha como saber, já que omiti a verdade sobre o casamento
do João Paulo que era de fachada. Você sempre me repreendia, mas era para
o meu bem. Sei que só desejava que eu me livrasse daquele “cretino
cafajeste” e arranjasse alguém digno — falei, compreensiva e Amanda
comprimiu os lábios em um sorriso contente.
— E como tá sendo voltar a trabalhar com ele de novo, mas agora
com a diferença de ser a gerente de marketing? — quis saber.
Há um mês, Thiago pediu demissão do cargo, visto que tinha recebido
uma proposta de emprego na mesma área, mas muito melhor e em uma
empresa concorrente. João Paulo me confidenciou que não achou de todo
ruim a sua saída, já que me tinha como uma profissional que havia sido
exemplar quando trabalhei como assistente de marketing e, não só por isso,
também pelo fato de ser sua namorada e extremamente confiável. Ainda
estava trabalhando no DueFratelli Hotel quando me fez a proposta e, apesar
de estar há alguns meses naquela função e ter aprendido a gostar, resolvi
aceitar voltar para a JP Marketing e exercer a função que eu amava, só que,
com uma responsabilidade ainda maior.
— Estamos nos entendendo. Hora ou outra temos opiniões
divergentes quanto a algum projeto que ele tenha em mente e eu elabore o
contrário, mas estamos lidando bem com isso — revelei, sorridente.
— Você não facilita, eu imagino. — Ela me acusou, semicerrando os
olhos para mim.
— Você sabe que seu comentário não procede, visto que sou uma
pessoa maravilhosa de se lidar. — Sem que eu esperasse, Amanda soltou uma
gargalhada alta e eu a acompanhei. — Ok. Pode ser que eu seja difícil em
alguns momentos.
— Ah, com certeza em todos os momentos — evidenciou.
— Cala a boca! — adverti e ela continuou rindo.
— E vocês dois, quando vão se casar? — Inquiriu, curiosa.
— Digamos que não conversamos sobre isso ainda, também pelo fato
de eu não querer forçar nada, afinal, faz pouco tempo que ele saiu de um
casamento traumático — pontuei.
Amanda revirou os olhos com impaciência, típico dela e, eu ri.
— Deixa de comparação besta, né, Dani! Ao contrário do que foi com
a Ingrid, você não está usando chantagem alguma para tê-lo ao seu lado. Se
João Paulo permanece com você, é pelo simples motivo de amá-la, somente
isso. Portanto, não me venha com essa conversa tola. Não tem cabimento
algum. — Amanda me repreendeu.
— Ok. — Soltei suas mãos e as levei ao alto em sinal de paz, vendo-a
sorrir. — Agora me diz, como está se sentindo? — especulei.
Ela olhou para as suas mãos e moveu-se até a cama, sentando-se em
sua beirada.
— É difícil colocar em palavras o que exatamente estou sentindo,
entretanto, posso afirmar que é o melhor dia da minha vida. — Seus olhos
umedeceram novamente. — Eu queria muito que a minha mãe estivesse aqui,
viva, para poder me abraçar forte e me elogiar também. — Dessa vez,
lágrimas escorreram pelo seu rosto e a fiz olhar para mim.
— Nada de choro, hein?! Eu te proíbo. — Consegui ao menos fazê-la
rir. — Saiba que sua mãe está em algum lugar vibrando por você e muito
orgulhosa pela mulher guerreira que se tornou, e também pelo homem
maravilhoso que escolheu para a sua vida. Além disso, sua tia não está
presente, mas está em Manaus, muito feliz por você. Então, vai logo se
recompondo, porque já devem estar vindo te chamar para irmos para ao
cartório.
Amanda assentiu e mal terminei de falar quando ouvimos umas
batidinhas na porta.
— Amanda, está pronta? Já está na hora de irmos ou vamos nos
atrasar. — Medivânia colocou a cabeça para dentro ao abrir a porta e entrou
falando.
— Eu bem disse — salientei e ela riu.
Logo deixamos o quarto e ela apertou a minha mão, demonstrando
nervosismo.

JOÃO PAULO

Participar desse casamento, um momento tão importante para o meu


amigo que não cabia dentro de si de tão nervoso desde a hora em que me
coloquei ao seu lado em sua casa, antes mesmo de nos direcionarmos ao
cartório, foi muito engraçado e gratificante, ao mesmo tempo em que
presenciar tudo isso deixou claro que eu também queria muito um
acontecimento desses em minha vida. Eu queria Daniela para sempre comigo,
tanto que o que planejei iria pôr em prática na festa dos nossos amigos. Sabia
que ela iria gostar, já que passei uma semana ensaiando sobre o que a falaria.
— Quem diria, hum?! — Cutuquei Matheus levemente em seu braço
enquanto estávamos em pé, próximos ao salão onde os poucos convidados
dançavam depois do almoço simples e em família, que fizeram questão de
reunir apenas os mais íntimos. Amanda era rodopiada no centro pelo seu pai
que havia lhe tirado para dançar. — Como foi que me falou naquele dia
mesmo? — ponderei e Matheus riu.
— Cala sua boca, idiota! — Comecei a rir, me divertindo por
provocá-lo.
— Ah, me lembrei! Eu jamais me envolveria com uma funcionária —
falei em um tom grosso, tentando imitar a sua voz e ele deu um soco no meu
braço. — Porra! Essa doeu! — reclamei, massageando o local.
— Eu disse pra ficar calado! — advertiu, sorrindo e logo bebericou
do seu uísque.
— Reconheça que foi engraçado, além disso, eu falei que iria jogar
isso na sua cara, então aceita que dói menos. — Vi que me olhou de soslaio e
permaneceu calado.
— Pior foi você dizendo que a Ingrid não te satisfazia na cama, sendo
que ao menos compartilhavam uma, nem mesmo eram casados pra valer —
enfatizou. — Por que nunca me falou nada? Eu poderia ter feito alguma coisa
para ajudá-lo. — Dessa vez, tive sua atenção voltada para mim e fui eu que
evitei olhá-lo.
— Talvez porque era covarde demais para me impor, ou,
simplesmente, pela vergonha de confessar que me deixei ser manipulado
como uma marionete nas mãos de uma mulher completamente fora de si. —
Dei de ombros, não sabendo realmente o porquê do seu questionamento.
— O bom que já passou e agora tem a sua garota. — Ele olhou em
direção a Daniela, em companhia dos seus pais que fizeram questão de
participar desse momento tão especial para a Amanda que era melhor amiga
de sua filha.
— Sim, agora tenho a minha garota tentação — ressaltei, piscando
para ela ao me olhar e sorriu.
— É assim que a chama? — Me encarou com o semblante franzido.
— Sim! Algum problema? — perguntei.
— Que brega, meu caro! — gargalhei alto, olhando-a com cara de
poucos amigos em seguida.
— Cala a merda da boca, Matheus! — O soquei de volta e ele riu alto.
— Está na hora do show, não acha? — questionou a mim e meneei a
cabeça em concordância.
Como combinamos alguns dias atrás, Matheus pegou o microfone
sobre a mesa próxima ao salão e começou a falar.
— Desculpa pausar o divertimento de todos os familiares e amigos
que aqui estão, mas meu amigo João Paulo quer dar uma palavrinha —
mencionou. — Daniela, pode se aproximar, por favor? — De onde ela estava,
assentiu, mesmo esboçando uma reação de surpresa e logo parou na minha
frente, pois meu amigo já havia me passado o microfone.
— O que está fazendo? — Daniela cochichou apenas para mim e dei
um riso de canto, pegando uma de suas mãos na minha.
— Eu te disse há alguns meses, que você roubou o meu coração antes
mesmo que eu pudesse ter me dado conta disso. Vendo nossos amigos se
casando hoje, só me causou ainda mais euforia para quando fôssemos realizar
o nosso matrimônio. Nossos mundos se colidiram de uma maneira
impressionante. Nos envolvemos num momento que tudo parecia ser errado,
mas não era. Tudo aconteceu exatamente como deveria ter sido. E eu quero
deixar bem claro, Daniela, que te namorar durante esses meses, tendo o
privilégio de desfrutar da sua companhia e ainda poder conhecê-la de tal
maneira que nenhum outro conseguiu, só me fez perceber com clareza que
não sou apenas apaixonado por você, eu te amo! — revelei, vendo-a chorar,
emocionada. — E quero aproveitar que seus pais estão presentes e te fazer a
pergunta: Daniela, aceita ser a minha esposa?
Também emocionado, fui envolvido pelo seu abraço e ela me apertou
forte.
— Sim, eu aceito! — Com seu rosto banhado em lágrimas, ela
respondeu ao se afastar.
Beijei os rastros das suas lágrimas calmamente.
— Eu prometo que a amarei até o meu último suspiro.
Ali, eu me entreguei completamente para ela; de corpo, alma e
coração. Tornando-me o homem mais feliz de toda a minha vida. Eu queria
dar a porra do mundo para ela e o faria.

FIM!
Epílogo

Cinco anos depois...

Daniela

— Não qué. — Tentava a todo custo fazer com que a Ágata


comesse, mas a pequena garotinha de dois anos não facilitava.
— Filha… — quando comecei a falar, a porta foi rompida e João
Paulo surgiu em meu campo de visão.
— Cheguei, mulherada! — Eu ri, porque ele sempre chegava
brincalhão.
— Papai, papai! — Ágata correu em sua direção com seus bracinhos
estendidos e ele a pegou no colo, fazendo-a rir.
— Como foi a reunião? — Era tarde de sábado, mas João Paulo
resolveu ir a uma reunião com o proprietário de um prédio que ele tinha a
intenção de comprar para abrir uma nova filial da JP Marketing.
Depois de sua separação com a Ingrid, a única coisa que ficou para
ela foi a casa que tinham comprado quando se casaram; isso porque Jin Yang
não queria ser processado pela burrada da filha por ter chantageado o João
com algo grave para forçá-lo a se casar. Além disso, deu uma boa grana para
meu marido e ainda reduziu a sua porcentagem na empresa, passando de
investidor para acionista, ficando apenas com a metade das ações da empresa.
Com o dinheiro que meu João Paulo recebeu, acabou decidindo abrir a sua
primeira filial no Rio de Janeiro, onde havia sido um bom investimento, já
que vinha rendendo bons frutos.
— Foi bem, parece que o negócio já está fechado, mas preciso
aguardar uma ligação do proprietário confirmando isso — respondeu.
Deu um beijo na cabeça da nossa filha e a colocou no chão.
— Acho que a tia Suzana fez bolo, hum?! — João Paulo comentou e
ela arregalou os olhos saindo rapidamente dali. Naquela altura, já tinha
desistido de fazê-la comer sua comida.
Ele se aproximou e me puxou para si tomando meus lábios nos seus.
Havia urgência contida ali e confesso que gemi ao senti-lo friccionando seu
pau acima da minha pélvis, até pela nossa diferença de tamanho.
— Eu planejei algo pra nós hoje à noite, só precisamos deixar a Ágata
com alguém — sugeriu ao abandonar os meus lábios, olhando-me com
intensidade.
— Posso deixá-la com a Amanda. Ágata adora brincar com o Lucas e
a Ester — comentei.
Amanda havia tido um casal de gêmeos, que estavam com quatro
anos. Eram lindos. Eu ainda não quis me arriscar a ter um segundo filho, pois
Ágata já dava trabalho o suficiente; fora que muitas vezes eu e João Paulo
ficávamos atolados de trabalho e nem sempre podíamos nos dedicar
integralmente a ela. Por enquanto o plano de um segundo filho estava em
pausa.
Subi para o quarto e liguei para a minha amiga que se prontificou a
cuidar da nossa filha. Depois de encerrar a ligação, fiquei pensativa, curiosa
para saber onde João Paulo me levaria, mas não questionei nada, pois amava
surpresas.
Anoiteceu e logo chegou o momento de sairmos. Amanda veio um
pouco mais cedo para buscar a Ágata, que foi sem pestanejar, porque ela
amava outras crianças. E então, João Paulo colocou o carro em movimento,
pegando a rodovia ao destino que nos levaria.
Em determinado momento, ele segurou em uma das minhas mãos e
levou aos lábios, gesto que me fez estremecer por dentro. Já havia algum
tempo que não saíamos sozinhos, sem preocupações, até por conta da nossa
filha pequena.
Depois de algum tempo, chegamos ao local e entramos no subsolo
onde ficava o estacionamento. Eu reconheci o lugar. Aguardei que ele parasse
o carro e o encarei.
— Aqui foi onde…
Ele nem mesmo me deixou concluir.
— Onde tudo começou e transamos pela primeira vez. — Ele tirou
seu cinto de segurança e inclinou o corpo em minha direção, segurando o
meu queixo firmemente. — Vamos?
Por conta do seu olhar em chamas, engoli em seco, já imaginando o
que nos aguardava entre quatro paredes. Assim que abandonamos o carro e
João Paulo conseguiu a chave para um dos quartos, seguimos de mãos dadas
até chegar na porta. Após destravá-la, nós adentramos o cômodo.
Observei que não tinha mudado muita coisa, apenas um detalhe ou
outro. O ambiente continuava luxuoso. Flashes do passado invadiram a
minha mente, mas logo foram afastados ao ter João Paulo apalpando meus
seios sobre o vestido preto que eu tinha escolhido para a nossa saída.
— Gostou? — Assenti com a cabeça, perdida nas sensações que era
ter a sua mão puxando o tecido do vestido para baixo; seus dedos logo se
fecharam ao redor dos seus bicos rijos. — Eu quero relembrar os velhos
tempos, mas vamos por partes, tudo bem? — pronunciou contra o meu
ouvido, causando um reboliço em meu íntimo e mordiscou o lóbulo da minha
orelha.
Resfoleguei.
Suas mãos continuaram brincando com os meus seios, tornando-me
ainda mais acesa e logo as desceu pela minha barriga para alcançar a barra do
vestido, subindo o mesmo com sua mão e raspando a minha pele, chegando
até o meio das minhas pernas. Tombei minha cabeça para trás, sendo
amparada pelo seu peitoral, pois ele ainda estava atrás de mim. De repente,
seu dedo indicador invadiu a minha calcinha procurando pelo meu clitóris; ao
encontrá-lo, começou a estimulá-lo, fazendo-me lubrificar mais do que já
estava.
— João Paulo… — falei com a voz rouca pelo tesão delirante que ele
estava me causando naquele instante.
— Caralho! Preciso me enterrar logo dentro de você ou ficarei louco!
— dito isso, virou-me para si e beijou-me com sofreguidão. — Eu te quero
debaixo do chuveiro — disse ainda com sua boca grudada na minha; meneei
a cabeça em concordância.
Seguimos para o banheiro e ele se desfez de suas roupas antes mesmo
de entrar no espaço. Lá dentro, fiquei completamente nua e entrei no box,
aguardando-o. Meu clitóris piscava frenético por conta do tesão que me
acompanhava.
Ele logo surgiu em meu campo de visão e abriu a saída de água que se
encontrava morna. Subitamente, minhas costas foram batidas contra o azulejo
gelado e sua mão foi parar no meio das minhas pernas, introduzindo um dedo
no meu canal, enquanto a outra segurava com força o meu pescoço; sua boca
explorava a minha num beijo voraz.
— Gostosa! — proferiu contra os meus lábios e os abandonou em
seguida.
Sem aviso prévio, ele me suspendeu fazendo com que eu envolvesse
minhas pernas ao redor de sua cintura e com cuidado, posicionou o seu pênis
em minha entrada. Grunhimos em uníssono quando eu fui preenchida pelo
seu comprimento; então João começou a se movimentar mais rápido. Suas
investidas se intensificaram, enquanto sua boca mordiscava a lateral do meu
pescoço.
Encontrava-me zonza de tesão. Durante os anos que estávamos juntos,
João Paulo sempre soube como me dar prazer; e se tinha uma coisa que ele
gostava de fazer era se preocupar em estar fazendo algo diferente para nos
satisfazer sexualmente; não nos deixando cair na rotina a ponto de a chama se
apagar. Senti seu dedo indicador sobre minha carne inchada, me instigando
ao mesmo tempo em que seu pau entrava e saía do meu canal.
Não demorou até eu me desmanchar em seus braços. E ele gozou em
seguida. Esperamos até que nossas respirações se normalizassem e ele me
colocou no chão, beijando suavemente os meus lábios.
— Não pense que já acabou. Ainda temos a noite inteira, garota
tentação — avisou com seu olhar carregado de luxúria.
Eu ri e acariciei o seu rosto, mantendo uma de minhas mãos
espalmada em seu peitoral.
— Eu te amo muito. — frisei, tendo seu olhar fixo ao meu e seus
lábios arquearam em um sorriso, ao mesmo tempo que mordeu seu lábio
inferior.
— Eu também te amo. Pegou o meu rosto entre suas mãos e voltou a
grudar nossas bocas em um beijo carregado de promessas, enquanto a água
continuava caindo sobre nós dois, deixando tudo ainda mais intenso.
João Paulo era um homem extraordinário. Cada dia que se passava eu
conhecia um lado seu; ainda mais admirável. Além de um marido
maravilhoso, ele também era um pai que fazia de tudo para estar presente no
que fazíamos diariamente.
Se eu tivesse que voltar no tempo, certamente escolheria passar por
todas as decepções e provações que enfrentei até finalmente conseguirmos
ficar juntos. Por ele valia à pena lutar, porque me provou ser um homem
digno. Nossos corações pertenciam um ao outro; cada batida.
Eu o amava fervorosamente. Amava ainda mais a família que
construímos juntos. Eu era completamente feliz.
Ter a certeza disso, só deixou claro o quanto a minha escolha foi a
mais correta possível e, nada seria capaz de mudar isso.

FIM!!!
Próximo Lançamento:

RENASCIDA PELO AMOR (Livro Único)

História da Larissa e Benício.


Previsto para Junho/Julho de 2020.

Sinopse:

O que você faria se perdesse não só um, mas os dois maiores amores
que a vida poderia ter lhe presenteado? Seria capaz de se reerguer e seguir em
frente?
Sabemos perfeitamente bem que uma dor jamais pode substituir outra.
E um amor? Seria possível?
Larissa sabia exatamente a resposta para tais questionamentos e há
alguns meses, convivia com isso.
Sua juventude foi regada por sonhos e realizações. Teve sua tão
sonhada primeira vez com o homem da sua vida, assim como o casamento
perfeito.
Entretanto, tudo foi arrancado de sua vida em um piscar de olhos; algo
pelo qual jamais imaginou passar.
De um dia para o outro, Larissa se viu sem rumo, sem perspectivas e
sem razões para viver.
Ela apenas sobrevivia dia após dia.
Obviamente que um amor não substitui outro, mas um novo pode ser
construído.
Prólogo

SETE MESES ANTES...

LARISSA

Caminhei pelo corredor até parar diante da porta do quarto e observei


o Daniel. Tomei o cuidado de não fazer barulho enquanto me recostava no
batente, vendo-o reclamar por não estar encontrando algo que estava
procurando. Pressionei meus lábios, me divertindo com a cena, mas ao
mesmo tempo, sentindo meu coração acelerado em consequência do enorme
sentimento que nutria por ele, Amor.
— Está se divertindo? — Ainda de costas para mim, Daniel
questionou. Gargalhei alto por ter sido pega no flagra.
Caminhei até ele assim que se virou para mim com um sorriso imenso
nos lábios. Eu o amava tanto.
— Confesso que me diverti um pouco — mencionei, ainda sorrindo e
envolvi meus braços em torno do seu pescoço.
Daniel segurou firme em ambos os lados da minha cintura, gesto que
me fez morder meu lábio inferior. De certo modo havia aflorado os meus
hormônios.
— É uma pena que está ficando tarde, senão, eu lhe jogaria sobre a
nossa cama e te teria novamente em um sexo maravilhoso. — Sorri divertida
e olhei-o profundamente.
Daniel não desviou seus olhos cor de caramelo dos meus e pude
identificar uma chama crescente neles. Ambos nos tornamos sérios e quando
menos previmos, nossos lábios se encontraram em um beijo avassalador,
como se dependêssemos dele para sobreviver. Como se... Meus pensamentos
foram interrompidos subitamente quando um arrepio trespassou todo o meu
corpo, eriçando os pelos existentes no mesmo e eu não consegui entender o
que significava.
Logo cessei o nosso beijo, sentindo-me um pouco confusa.
— O que foi? É o bebê? Está sentindo algo? — Daniel perguntou,
preocupado. Rapidamente colocou a mão sobre a minha barriga saliente por
cima do vestido que eu usava. Estava de quatro meses de gestação. Ainda não
sabíamos o sexo. Parecia que nosso bebê não queria ser descoberto, não por
enquanto.
— Não, foi só... um arrepio que senti. — Daniel acarinhou minha
bochecha com uma de suas mãos, enquanto mantinha nossos olhares fixos.
— Não deve ser nada. Pensei que tivesse sido algo com o bebê. —
Sorri de modo ameno para tranquilizá-lo.
— Eu acho melhor aproveitar a pouca luz do sol que ainda nos resta até
o anoitecer. — Daniel concordou e se afastou.
— Nossas malas já estão no carro. O Sebastião já as levou —
anunciou. Sebastião era o nosso motorista, mas iríamos fazer uma pequena
viagem até Búzios para aproveitarmos a semana de folga que Daniel tirou na
empresa. Éramos os donos de uma fábrica de chinelos. Havíamos usado
nossas economias logo quando nos casamos, há três anos e foi algo que deu
certo, tanto que vinha nos rendendo uma vida confortável.
Seguimos para fora do nosso quarto com as mãos entrelaçadas. Assim
que nos acomodamos em nosso carro, voltei a segurar firme na mão do
Daniel que detinha o câmbio de marcha e ele me olhou de volta. Inclinou-se
para o meu lado e me deu um selinho demorado. Logo se afastou e proferiu
um, eu te amo.
Voltou a se acomodar atrás do volante, já que havia preferido ir
dirigindo sem ter a necessidade de o Sebastião nos acompanhar. Daniel
queria que nossa viagem fosse inesquecível. Deu a partida no carro e logo
saímos do condomínio que morávamos.
Nossa viagem não demoraria mais de três horas. Logo seria noite, já
que era por volta das dezessete horas. Enquanto observava fora da janela por
onde passávamos naquele exato momento, pedi a Deus que nos levasse e
trouxesse em segurança.

∞∞∞
Abri meus olhos e a luz forte que os atingiu me fez fechá-los
rapidamente. Tentei me mover, mas meu corpo estava dolorido. Gemi pela
dor que senti naquele momento.
Mais uma vez, forcei meus olhos a se abrirem e senti minha boca seca.
Consegui abrir meus olhos depois de algum tempo, após me acostumar com a
claridade e observei uma agulha enfiada em minha veia. Lágrimas vieram aos
meus olhos assim que flashes do que havia acontecido pipocaram em minha
mente.
— Não! Não é verdade! — gritei não querendo acreditar em tudo
aquilo. — Daniel? — Olhei ao redor do quarto, percebendo que estava
sozinha em uma cama e rapidamente a porta foi aberta.
Uma enfermeira entrou e atrás dela veio a minha mãe. Logo, a
enfermeira me informou que faria algumas perguntas. Depois que eu respondi
todas, ela me deixou a sós com a minha mãe dizendo que chamaria o médico.
Naquele momento, encontrava-me sentada na cama após a enfermeira ter me
ajudado.
Olhei para a dona Francisca quando a mesma se colocou ao meu lado e
seus olhos denunciavam uma tristeza profunda. Ela alcançou uma de minhas
mãos e a colocou entre as suas. Percebi que abaixou seu olhar e apertou os
lábios, como se evitasse chorar.
— Mãe, não foi um pesadelo? — questionei ao tentar encará-la, mas
foi em vão, pois continuava evitando me olhar nos olhos.
Minha mãe não respondeu, apenas a vi balançar a cabeça de modo
negativo. As lágrimas acumuladas em meus olhos deslizaram livres naquele
instante.
— Mãe... por favor, me conta. Onde está o Daniel? Ele está bem, não
está? E... e o meu bebê? — Passei a mão pelo meu ventre por cima da
camisola hospitalar que usava.
Um silêncio sepulcral tomou conta do ambiente e eu só pedia
mentalmente aos céus para que Daniel e meu bebê estivessem bem, mesmo
que a postura da minha mãe denunciasse o contrário. De repente, ouvi a
resposta dela:
— O Daniel e... o bebê... não sobreviveram, minha filha. Apenas você.
— Ao revelar-me isso, finalmente olhou em meus olhos e pude ver o quanto
estava triste. Seu rosto estava banhado em lágrimas, já que chorou em
silêncio enquanto estava calada.
Meu cérebro ainda tentava entender a imensidão da dor que me tomou
ao ter conhecimento sobre aquela informação horrenda. Foi quando o médico
entrou pela porta e ainda estática, sequer consegui pronunciar uma palavra.
Nem mesmo ouvia direito o que ele dizia.
Apenas sentia uma dor intensa em meu interior. Como se meu coração
estivesse sangrando. Era capaz de sentir o tamanho do buraco que havia
acabado de ser feito em meu coração.
Mentalmente, eu questionava a Deus o porquê de eu ter sobrevivido.
Eu não seria capaz de suportar aquela dor, não seria forte o suficiente para
isso. Naquele momento, eu desejava, ardentemente, uma única coisa: A
morte.
Agradecimentos:

Primeiro, gostaria de agradecer a Deus por ter me proporcionado fazer


o que amo, que é escrever.
Agradeço também a Sara Ester por ter me aturado em seu privado
todos os dias e me ajudado com ideias na construção desta história.
Eternamente grata. Obrigada.
A Jéssica Milato também, que fez a mentoria desta história, me
acompanhando desde o início. Sua ajuda foi de suma importância.
Um agradecimento especial a autora Marta Vianna, por sempre me
motivar a não desistir. Te Love, amore.
Grata pelas minhas leitoras que me motivam dia após dia a não parar
de entretê-las com minhas histórias.
Meu CEO foi um grande sucesso e esse Spin Off foi um grande
presente.
Agradeço também a você, que chegou até aqui, dando uma
oportunidade a uma das minhas obras. Gratidão!
Se possível, deixe a sua avaliação, pois é de grande importância para
mim. Obrigada!
Confira minhas outras obras:
✺BOX (3em1) SÉRIE MINHA DOCE:

✺MINHA DOCE PROTEÇÃO (Livro 1- Duologia Minha doce):


✺MINHA DOCE SALVAÇÃO (Livro 2- Duologia Minha Doce):
✺AROMA DA LIBERDADE (Spin off da Duologia Minha doce):
✺SUBITAMENTE SUA (Livro único):
✺MILAGRE INESPERADO (Livro único):
✺SÚBITA ATRAÇÃO (Conto Hot parceria com a autora Geysielle
Patrícia):
✺NÃO ABRIREI MÃO DE VOCÊ (Conto):
✺QUERO MINHA FAMÍLIA DE VOLTA (Conto):
✺NOS BRAÇOS DO PECADO (Conto Hot +18):
✺UMA SURPRESA NATALINA (Conto)
✺BOX: Coletânea de Romances (5 contos em 1)- Volume 1:
✺BOX: Coletânea de Romances (2 CONTOS EM 1) - Volume 2:
✺ANJO MEU (Conto):
✺ SURPRESA DE AMOR (Conto):
✺ADORMECIDO - LIVRO ÚNICO
✺MEU CEO - LIVRO ÚNICO
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