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Sumário

Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Epílogo
Prólogo

Concentrado nos dados do projeto, na tela a minha frente, não percebo


quando a porta se abre e minha cunhada, Manuela, entra. Só me dou de sua
presença quando ela joga uma pasta pesada sobre a minha mesa.
Faço uma careta e levanto meus olhos para ver meu irmão entrar se
colocar ao lado de sua esposa. Ela me encara como se pudesse me matar com
a força do pensamento. Eu amo a Manu, mas admito que não sei lidar com
mulheres que possuem personalidade forte. Agora, ela não está com a melhor
das expressões, mas isso não é de hoje. Faz algum tempo que ela não me quer
tão bem assim.
— Sua aparência não está das melhores, deixe-me adivinhar: você
passou o domingo em alguma playparty[1] fodendo e bebendo? — ela
pergunta sarcasticamente.
— Você prometeu, Manuela — Rodrigo fala, mostrando exasperação.
— Manu... — tento falar, mas ela levanta a mão e nos corta.
Manuela olha para o marido.
— Não vou agir como se nada tivesse acontecido.
Ele passa a mão pelos cabelos e olha para mim.
— Os males de uma empresa familiar.
Balanço a cabeça e volto a atenção para minha cunhada.
— Olha, não consigo entender os Alcântara e Castro. Eu sempre
soube que vocês têm problemas com compromissos, só não sabia que são
covardes — abro a minha boca para falar, mas não tenho chance. — Não
perca seu tempo explicando-se para mim, porque nada que sair da sua boca
vai me convencer. Você a perseguiu, seduziu e apresentou um mundo novo
só para tê-la como sua posse, quando as coisas complicaram você não teve a
decência de ficar ao lado dela — Manu se vira, caminha até a porta e volta-se
para mim antes de sair. — Ninguém espera que você se case com ela, porque
isso seria puni-la por ter se apaixonado por você, mas espero que você seja
homem o suficiente para assumir quaisquer responsabilidades que venha a
surgir.
— Sinto muito por te decepcionar — falo ironicamente.
O sorriso que ela dedica a mim gela meus ossos.
— Você ainda vai sentir, eu te garanto.
Fecho os olhos e respiro fundo. Não sou o melhor homem, na
verdade, não sou bom. Quando comecei com Maria Eduarda não pensei nas
consequências, tê-la em meus braços e sob mim era tudo o que importava.
— Sou seu irmão mais velho, sempre estive ao seu lado e não será
diferente agora. Mas, Arthur, a sua atitude foi covarde e mesquinha —
Rodrigo fala tranquilamente, muito diferente de sua esposa, que saiu daqui
marchando porta afora. — Conserte a situação com a Duda, por ela, por você
e pelo que acreditamos. Afinal, você é homem e tem que honrar as calças que
veste.
Apenas assinto e o assisto sair da minha sala. Viro a cadeira para ver
todo o conglomerado abaixo e pensar. Uma vez ouvi que temos que dar às
pessoas aquilo que temos de melhor, o problema é que não sei se tenho algo
melhor do que a minha canalhice.
Capítulo 01

Maria Eduarda
Que cidade quente! Mudar-me para o Rio de Janeiro não parece ter
sido uma boa ideia, pensar debaixo de um sol a quarenta graus não é fácil.
Depois de me formar em Administração de Empresas, resolvi tentar novos
rumos. Conversando com uma amiga, Ana Beatriz, resolvi juntar as minhas
coisas e vir, já que aqui é a terra das oportunidades, segundo ela. Sorrio
quando lembro de Bia, como gosta de ser chamada. Ela é um sopro de vida
de tão verdadeira que é.
Meu olhar passeia pela praia onde os homens jogam voleibol, outros,
futebol, as crianças e seus pais brincam à beira-mar. Um aperto no peito me
lembra que estou longe da minha família e o pensamento me tira um suspiro.
Passo a mão pelo meu colar delicado com as iniciais do meu nome, presente
de despedida da minha avó. Distraída, assusto-me quando o meu celular
começa a tocar.
— Oi, boa tarde. Tudo bem? — do outro lado da linha, a voz feminina
é suave.
— Olá. Tudo bem — respondo.
— Eu gostaria de falar com Maria Eduarda Moraes.
Acho que é a ligação que tenho esperado nos últimos dias.
— S-sim, sou eu.
— Sou Helen, da Construtora Alcântara e Castro. Espere na linha, por
favor.
Bia me indicou e me apresentou à Manuela, que é responsável pela
seleção. Bia é minha amiga há algum tempo, nos conhecemos pelas festas da
vida e conheci Manuela assim que cheguei à cidade, ambas foram me buscar
na rodoviária e me acolheram muito bem. Enquanto Bia é engraçada e tem
língua afiada, Manuela é do tipo mulher de negócios, elegante.
— Olá, Duda?
Reconheço a voz de Manuela.
— Oi, Manu. Tudo bem?
— Tudo bem, sim. Duda, lembra que conversamos sobre uma vaga
em uma construtora? Então, essa vaga é de secretária da presidência da
Construtora Alcântara e Castro. Sei que seu currículo a eleva, mas não vou
mentir, eles precisam de alguém de extrema confiança. Você será uma
secretária assistente bem remunerada. O que acha?
— Acho excelente!
— Que bom. Estava um pouco preocupada, achei que você não
aceitaria. Enfim, farei entrevistas hoje à tarde. Seria possível chegar na
empreiteira até umas duas horas? Gostaria de te entrevistar antes das outras.
— Claro. Sem problema algum.
— Enviarei o endereço por mensagem e te aguardo aqui para uma
conversa.
Sei que é somente uma primeira conversa, mas já uma grande, grande
coisa.
— Obrigada, Manuela.
— Vamos ver se me agradecerá depois da entrevista — percebo que
ela está sorrindo. — Estou grandes esperanças. Até mais, Duda.
Despeço-me e desligo, coloco o celular contra o peito e o aperto.
Agradeço a Deus silenciosamente. Não esperava me tornar executiva ou
qualquer coisa, secretária também não era algo que eu queria. Só que, no caso
dessa empresa em especial, é diferente. Eles têm planos de carreira e essa
chamada pode ser o meu passaporte para entrar em uma das empresas mais
concorridas do mercado.
Caminho pelas ruas arborizadas sorrindo, mesmo morrendo de calor.
Paro em uma praça e olho as crianças brincarem. Tudo é tão novo e isso me
enche de esperança. Disseram-me que o Rio de Janeiro é perigoso, que
deveria andar só quando necessário, pois o risco de assalto é muito grande. O
cordãozinho que está em meu pescoço, escondido sob a blusa, seria a minha
primeira perda. Sei que vim de uma cidade pequena, mas até aqui, nesses
poucos dias que estou na cidade, só tenho maravilhas para contar.
Saí da cidadezinha de Macacu, região serrana, direto para a capital. É
assustador e ao mesmo tempo empolgante. Já tinha vindo aqui algumas
vezes, Bia e eu começamos nossa amizade em um congresso da faculdade,
aqui na cidade. Eu estava olhando ao redor quando ouvi uma voz feminina,
indignada, tentando mostrar a um senhor que a sua nota estava errada. Bia
não estava desesperada, ela estava tão irritada que o homem, que dava dois
dela, acabou cedendo. Ele, sim, estava meio preocupado.
Todos que estavam ao redor acharam a situação muito engraçada e
constrangedora. Afinal, Bia parecia uma menina delicada, com traços finos e
bonita demais para sustentar uma língua tão ácida quanto aquela. Na minha
distração com a turma, acabamos nos trombando. Quando seus olhos irritados
encontraram os meus, eu me preparei para o pior. Mas, o inesperado
aconteceu. Ela abriu um sorriso lindo.
— Ops! Desculpa — Bia falou e, nesse momento, abriu a sua mochila
e tentou enfiar o papel para dento. — Estava convencendo aquele inútil de
que sou uma de suas melhores alunas e que seria uma vergonha para ele
rebaixar a minha nota daquela maneira — ela voltou a olhar para mim. —
Porra! Se você tem um excelente aluno e ele tira nota baixa do nada, com
certeza, o problema é do professor. Né, não?
Eu apenas assenti e sorri, morrendo de medo de que ela fizesse
comigo metade do que fez com o pobre professor. De jeito nenhum eu diria
que a culpa era do aluno.
— Meu nome é Ana Beatriz, mas gosto que me chamem de Bia — ela
estendeu a mão para mim.
— Sou Maria Eduarda, mas pode me chamar de Duda.
— Então, Duda, o que te trouxe até a cidade maravilhosa e a essa
universidade não tão maravilhosa?
Lembro de sentir alívio ao ver que ela só queria conversar e não
explodir. Rimos muito, tomamos um café e somos amigas há dois anos.
Tenho amigos e amigas em minha cidade, mas a Bia se tornou especial.
Então, estamos sempre em contato uma com a outra. Por isso, já estive no
Rio algumas vezes e participei de algumas festas de BDSM, que ela é super
envolvida. Foi em uma dessas festas que vi de longe o presidente da
construtora, Rodrigo Alcântara e Castro. Também foi por causa dessas festas
que fiquei curiosa com o sexo diferenciado, tentei mostrar ao meu namorado
e ele ficou horrorizado. Não é preciso dizer que a Bia não é sua pessoa
favorita no mundo. As pessoas podem não entender como duas mulheres tão
diferentes podem ser tão amigas, mas é justamente isso que nos aproximou,
ela é tudo o que eu não sou.
O fato de me despertar para outras coisas só me fez ver que eu
desejava mais da minha relação com o Roger. Somos namorados desde o
ensino médio e decidi cursar uma faculdade enquanto ele quis abrir o seu
próprio negócio. No início foi maravilhoso, estávamos lá para apoiar um ao
outro, então os anos foram passando e cada um se dedicou às suas próprias
coisas.
Caímos na comodidade e nem percebemos, não faz muita diferença se
estamos juntos ou não, já não tem aquela saudade que os apaixonados
sentem. Mas, apesar de tudo, estamos bem. Temos algo estável.
Quando decidi vir ao Rio, meu pai me apoiou ferrenhamente e, como
um bom professor, disse que eu deveria abrir minhas asas e voar. Com a
minha mãe não foi assim tão fácil, ela insistiu que eu poderia trabalhar no
negócio do meu namorado, que é praticamente meu marido. A ideia de que o
ápice da vida de uma mulher é casar e ter filhos não é para mim. Não tenho
nada contra quem quer isso para si, mas eu, Maria Eduarda, preciso de mais.
Assim que a Bia me falou que eu poderia ter uma chance na
empreiteira, não pensei duas vezes, arrumei as minhas malas e me joguei na
capital. Estou hospedada com a Bia em seu pequeno apartamento, em
Copacabana. Não trouxe muitas coisas, porque não adiantaria fazer uma
mudança se não arranjasse nada em tempo hábil. Tenho algum dinheiro
guardado, mas o custo de vida aqui é fora da minha realidade. Serei
cuidadosa com o pouco que tenho, pois, caso precise voltar para casa, terei
com o que contar.
Olho para o relógio e vejo que tenho tempo apenas para trocar de
roupa, fazer um lanche rápido e pegar um Uber até a construtora. Ainda
sorrindo, caminho em direção ao apartamento e chego em pouco minutos. É
um prédio antigo, em uma vizinhança antiga, todos se conhecem e são muito
receptivos. Passo pelo porteiro, que já é um senhor de idade e tem um sorriso
gentil, cumprimento e entro no elevador. Assim que a porta abre no andar,
saio e vou para o apartamento.
Coloco o meu celular para carregar e ligo uma música enquanto
preparo um lanche. A música “Paciência”, na voz de Lenine, enche o
ambiente.
(...) Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma. Até quando o
corpo pede um pouco mais de alma. A vida não para. Enquanto o tempo
acelera e pede pressa. Eu me recuso, faço hora, vou na valsa. A vida é tão
rara. Enquanto todo mundo espera a cura do mal e a loucura finge que isso
tudo é normal, eu finjo ter paciência (...)
Termino meu lanche, tomo um banho rápido e escolho a roupa mais
social que tenho. Opto pelo conjunto de calça e camisa de alfaiataria, pois
não tem erro. Em frente ao espelho, arrumo a minha camisa verde clara de
seda e a calça de cor preta. O corte é bem-feito e, como sou mais alta do que
a média das mulheres, a roupa me deixa elegante e não desengonçada.
Arrumo meus cachos meio rebeldes, apenas umedecendo para modelar da
maneira que gosto. Amo meus cachos, então procuro valorizá-los o máximo
que posso.
Vou até o celular e vejo que já está em cima da hora. Envio uma
mensagem à Bia, dizendo que estou indo até a construtora para a entrevista
com a Manuela. Peço um carro pelo aplicativo, alcanço a minha bolsa, olho
dentro para ver se tenho tudo o que preciso e saio.
Enquanto o elevador vai descendo, minha ansiedade vai subindo. Vou
repassando as falas e cumprimentos que farei assim que entrar na empresa,
ensaiando mesmo, pois estou nervosa demais e isso só tende a piorar. Saio do
prédio, entro no carro, confirmo o endereço e coloco os meus fones. Procuro
a minha playlist de tranquilidade e fecho os olhos.
Depois dos mais demorados minutos se passarem, o carro para em
frente ao conglomerado que sustenta a marca da Construtora Alcântara e
Castro. Olho para a fachada e meu coração, que já estava acelerado, aumenta
o ritmo. Caminho até a entrada, onde as portas se abrem, e entro em um
ambiente lindo, moderno e com muito verde. Provavelmente para mostrar
que eles trabalham com sustentabilidade. Tentando mostrar profissionalismo,
ajeito-me e sorrio para a recepcionista.
— Boa tarde. Meu nome é Maria Eduarda Moraes. Tenho uma hora
marcada com a Manuela Vasconcelos.
A moça me olha com pouca vontade e digita algo em seu computador.
— Você está alguns minutos atrasada e não sei se ela poderá lhe
atender, está muito atarefada hoje.
Enquanto a funcionária, com pouca ou nenhuma vontade, está ao
telefone com alguém, assisto um homem passar pelas portas e se aproximar,
falando ao telefone. Ele é alto, tem cabelos claros e suas costas são largas.
Quando o homem se vira, sou impactada com tamanha beleza. Deus! Que
homem lindo! Ele anda de um lado para outro com seu terno cinza-claro bem
ajustado ao corpo, mostrando que debaixo daquele tecido pode ter um
belíssimo corpo.
— Ela vai te receber — a moça a minha frente é muito bonita, com
seus cabelos negros presos em um rabo de cavalo, bem maquiada. Ela
combina perfeitamente com o ambiente, mas a sua expressão facial é de
desdém, o que a deixa menos bonita. Ela aponta na direção dos elevadores.
— Siga em frente e vá até o vigésimo primeiro andar.
— Obrigada.
Lembro da Bia me falando que haveria mudanças na empresa, uma
grande reestruturação, provavelmente a recepcionista está na lista negra.
Complicado. Distraída e de cabeça baixa, caminho para onde foi apontado e
acabo esbarrando em alguém. Mãos grandes me seguram, evitando a minha
queda. Olho para os olhos azuis mais lindos que já vi, em um rosto que
parece ter sido esculpido de tão perfeito, barba por fazer na mandíbula
quadrada. Deus!
— D-desculpe, estava distraída...
O homem abre um sorriso matador.
— E se eu lhe disser que fui o culpado? Gosto de esbarrar em moças
bonitas — o elevador abre as portas e ele aponta. — Uma pena que está
subindo, não terei a oportunidade de me desculpar como deveria — entro no
elevador e aperto o botão que indica o andar. Antes que as portas se fechem,
ele pisca. — Até mais.
Morri!
O que acabou de acontecer aqui? E de onde está vindo esse calor
todo? Que homem é aquele? Nossasinhora... O calor dessa cidade deve estar
fritando meu cérebro e a carência dos meus hormônios.
Não demora para o elevador chegar no vigésimo primeiro andar, saio
e encontro Manuela no hall. Ela está no telefone, mas, assim que percebe a
minha presença, desliga a chamada e vem em minha direção.
— Oi, Duda. Que bom que pôde vir — ela me abraça. — Venha,
acompanhe-me até a sala que estou ocupando — passamos pela mesa de
recepção, que está vazia, e seguimos pelo corredor até a segunda porta à
direita. — Sente-se, por favor. Gostaria de café, água?
— Não, obrigada.
Manuela é uma mulher muito bonita, sua pele negra é de dar inveja a
qualquer um. Ela não é muito alta, mas tem presença no ambiente, é o tipo de
pessoa que exala autoridade e propriedade no que faz. Ela é o tipo de parceria
de negócios que eu desejo trabalhar, pois tem muito a contribuir.
— Então, Duda, a vaga é para secretária, mas não qualquer secretária.
Eles precisam de uma pessoa que esteja aqui para assessorá-los com
competência, porque o que vi até aqui é de arrepiar — Manu finge um
arrepio. — Aqui na presidência é somente o Rodrigo e o Arthur, uma
assistente super qualificada viria a calhar. A atual secretária não é um grande
exemplo de eficiência e eles andam muito sobrecarregados.
Meu coração acelera.
Ela está me oferecendo a vaga?
— Você está me oferecendo a vaga de secretária?
Ela faz uma careta.
— Sei que você tem um currículo robusto para o secretariado, é que
aqui eles realmente precisam de alguém excelente para otimizar o trabalho de
ambos, mas entendo se você não...
Eu a corto.
— Eu aceito! Não quis parecer que era pouco. Desculpe se fiz
entender dessa forma.
Manu respira visivelmente aliviada.
— Graças a Deus. Duda, se tudo der certo e você ficar, farei um plano
de carreira e deixarei com o RH. Isso, pelo menos, posso te garantir.
— Ficarei muito grata. Esse emprego é a chance que eu preciso.
— Bom saber — ela sorri. — Outra coisa, eles são bonitos, solteiros e
poderosos. Constantemente, ambos são abordados e assediados por suas
funcionárias, isso incomoda principalmente o Rodrigo, que é muito exigente
e gosta que as coisas sejam para ontem. Às vezes ele ser um pouco
assustador. Não o conheço muito bem, mas as mulheres desta empresa podem
te passar uma ficha corrida de qualquer um dos dois, especialmente do irmão
mais novo, o Arthur. Eles precisam de alguém que seja leal, alguém em que
podem confiar, e eu preciso de alguém que seja imune ao Arthur... — Manu
levanta as mãos para o alto como se estivesse pedindo ao céu. — Aquele
homem tira qualquer mulher do sério!
Sorrio e me sento mais para frente, a fim de falar baixo.
— Senti algo rolando? — questiono.
— Com Arthur? Não — Manu sorri. — Poucos dias bastaram para
gostar demais daquele bastardo, mas sou imune aos seus encantos. Agora o
irmão mais velho... — ela faz uma careta de desgosto. — Bom, é isso. Ainda
está interessada depois de todo esse relatório?
Manuela é bem articulada, seria muito bom trabalhar com ela e, se
esses homens forem assim, será um ótimo trabalho.
— Sim, muito! Quanto a lealdade e confiança, visto a camisa da
empresa. Procuro ser sensata e reta em tudo o que faço. Quanto aos encantos,
bem, sou comprometida e sei o meu lugar. Farei de tudo para me manter o
mais discreta possível. Pode ficar tranquila quanto a isso.
— Alívio me define, senhorita Maria Eduarda comprometida. Então,
o horário é das nove às cinco, de segunda a sexta-feira. Quando exceder o
horário, será contado como hora extra. Se precisar vir ao final de semana,
também será hora extra e ouvi por aí que eles são muito generosos com
bônus. Até aqui, tudo bem?
Assinto.
— Sim. Realmente estou muito interessada, Manuela. E aqui é uma
excelente empresa, está entre as mais conceituadas na América Latina.
Trabalhar aqui será uma honra.
— Duda, assim que eu soube que você estava procurando emprego,
tive certeza de que seria a melhor para essa vaga. Tenho algumas meninas
para entrevistar, até porque preciso preencher mais duas vagas em outros
setores, mas peço para que aguarde na sala de espera, assim que o Rodrigo
chegar, conversaremos e acertaremos os detalhes.
— Tudo bem. Mais uma vez, obrigada, Manu.
Basicamente, serei assistente dos dois irmãos Alcântara e Castro.
Posso dar conta do recado e estou louca para começar. Sei que o Rodrigo é
lindo e dificilmente seu irmão será tão bonito quanto ele. A natureza não é
tão generosa assim para uma mesma família. Quando há um muito bonito,
provavelmente o outro é feio. O tal do Arthur deve ser o cara legal da dupla,
o chefe que dorme com as menininhas que, na verdade, sonham em
abocanhar o peixe maior.
Vou para sala de espera e aguardo por mais ou menos uma hora, uma
hora e meia, até que Manuela me convida para tomar um café na copa.
Caminhamos até o final do corredor, onde ela aponta algumas salas com
pessoas trabalhando concentradamente. Assim que chegamos no ambiente,
ela me apresenta à Dona Sônia, que é a copeira e um amor de pessoa. Ela nos
serve café com biscoitos e rimos de algumas de suas histórias na empresa.
Márcia, a secretária desdenhosa, vem nos avisar que o Rodrigo
chegou e já está de saída. Rapidamente, Manu me arrasta da copa, porque
quer que eu fale com ele antes de sua partida, para não atrapalhar a rotina
dele.
Manuela entra na sala com grandes portas duplas e pede que eu espere
o seu chamado. Minutos depois, ela volta para me levar ao que pode ser o
meu futuro chefe. Respiro fundo e entro na sala logo atrás de Manuela, que
me apresenta a ele.
— Maria Eduarda, esse é o senhor Rodrigo Alcântara e Castro,
presidente da empresa. Senhor, essa é a Maria Eduarda, a minha indicação.
O homem é másculo, tem uma aura de poder que domina o ambiente
e é muito bonito, elegante e de fino porte. Ele estende sua mão para mim.
— Prazer em conhecê-la, Maria Eduarda — Rodrigo dá a volta na
mesa, abre o seu terno e senta-se em sua cadeira. Ele aponta para a cadeira ao
meu lado. — Sente-se, por favor.
Faço como ordena.
— Prazer, senhor Castro. Obrigada por me receber.
— Geralmente, eu não faço as entrevistas, mas a senhorita
Vasconcelos faz questão da minha presença — não sei, mas acho que está
rolando alguma coisa por aqui. — Ela terminará a entrevista na minha
presença, assim, se tudo correr bem, sairá daqui com a vaga garantida.
Senhorita Vasconcelos, sente-se! — Passo os olhos de um para o outro e é
como se fossem um casal. Ele manda e ela obedece, mas os olhares, se eles
pudessem matar...
Manuela faz uma série de perguntas sobre o que estudei, minhas
experiências anteriores, o que espero do cargo e da empresa. Repassamos os
requisitos e o que esperam de mim para o cargo. Manuela é objetiva, mas me
deixa à vontade o tempo todo. Sou articulada e tento ficar o mais tranquila
possível.
— Maria Eduarda, como já havia falado, você será secretária da
presidência, atenderá ao senhor Castro e ao Arthur, o salário inicial é esse —
ela me passa um papel com números muito bons. — Também terá vale-
transporte e vale-alimentação. Depois dos três primeiros meses, que é a
experiência, o salário subirá. Caso você consiga se sobressair como
assistente, esse salário aumentará, terá plano de saúde e odontológico. A
empresa adotou a política de Participação de Lucros, então, no final de cada
ano, você receberá a PL. Alguma dúvida?
Isso só pode ser um sonho!
— Sim.
— Pode perguntar — dessa vez é Rodrigo quem fala.
Sorrindo, respondo:
— Quando começo?
Manuela sorri e acena para mim.
— Bom vê-la empolgada, Maria, sua contratação será efetivada assim
que você trouxer a documentação necessária, fazer os exames admissionais e
passar pela médica — ela me instrui.
— Podemos fazer melhor, Manuela — o senhor Rodrigo se levanta.
— Leve-a ao Departamento Pessoal e peça para que eles façam todo o
possível para que ela comece na segunda-feira. Acredita que consegue, Maria
Eduarda?
— Sim, senhor — respondo empolgada.
Ele vem até mim e estende a mão.
— Seja bem-vinda.
— Obrigada, senhor — ele acena e se retira da sala enquanto Manu e
eu o assistimos sair.
Basta conviver um pouco com os praticantes de BDSM que logo
reconhecemos um dominador. Eles têm uma característica que poucos
homens têm, poder e presença. Eles jamais passam desapercebidos por onde
quer que passem.
Assim que ele sai, Manuela me abraça e eu a agradeço por ter
pensado em mim para esse trabalho. Ela me fala que em breve conhecerei o
senhor Arthur, que está em visita a uma das obras em algum lugar do Rio. Ela
me leva até o RH e deixa-me lá para fazer todo o procedimento de
contratação.
Depois de mais de uma hora, saio do prédio cansada, mas muito feliz
porque as coisas estão dando certo. Uau... segunda eu começo. Dá para
acreditar? Alcanço meu telefone e ligo para Rogério, a fim de contar as boas
novas.
— Amor, eu consegui o emprego — falo entusiasmada.
— Oi, Duda. Então você conseguiu seu emprego bacana... que legal.
Seu tom de voz é tão distante que acho que ele nem se importou.
Assim como não se importou quando eu disse que havia essa oportunidade
para mim. Esse comportamento distante é o que vem me fazendo duvidar
dessa relação nos últimos meses.
— Você está bem com isso? — questiono.
— Se você está feliz, eu estou feliz. Agora tenho que ir — antes que
eu pudesse dizer “tchau”, o homem desliga na minha cara.
Acho que a ideia de me distanciar foi movida por esse sentimento de
frustração que anda me atingindo há algum tempo. Já não falamos a mesma
língua, não nos importamos com as mesmas coisas. Nós nos tornamos
distantes e, pelo jeito, agora também somos indiferentes.
Meu telefone toca, me tirando do estupor. Sorrio ao ver o nome de
Bia na tela.
— Oi, Duda. Fiquei sabendo que vai trabalhar para o meu irmãozão
— ouço a risada dela e meu coração aquece.
— Você pode acreditar nisso? Eu ainda estou em choque — falo. —
E o que faremos para comemorar no final de semana?
— Como a boa moça que é, achei que se jogaria no primeiro ônibus e
fosse comemorar com aquele seu namorado sem graça.
Meu sorriso se desfaz.
— Não. Não acho que ele queira comemorar nada comigo —
reclamo.
— Eu poderia dizer “ah, que pena”, mas não irei mentir. Não acho
que aquele cara esteja a sua altura, Duda.
— Eu sei... eu sei...
Por incrível que pareça, não é somente ela que pensa dessa maneira.
— Então, tenho um jantar na casa do Steban hoje. Quer ir? Manu
também vai.
— Deus, não. Não estou pronta para encarar o senhor delegado
federal agora — ouço a risada dela.
— Ele não é tão mal assim.
— Sei que não, mas vou descansar hoje. Amanhã farei exames e a
última coisa que preciso é beber com uns bonitões que praticam sexo
excêntrico. Deixaremos para o final de semana. Tudo bem?
— Ok, chefe. Nos vemos em casa. Beijos.
Peço um carro no aplicativo e, ao invés de pedir para me deixar em
casa, peço para que me deixe na orla. O trânsito está horrível e, enquanto
estamos presos, envio mensagens aos meus pais e algumas amigas, que ficam
superfelizes por mim. Sei que é nisso que tenho que me apegar.
Depois de algum tempo, o motorista me deixa no lugar pedido, em
frente à praia. Retiro os sapatos e caminho pela faixa de areia, olhando as
pessoas tomando sol, jogando, o mar calmo... as praias do Rio são lindas.
Olhando ao redor, não percebo alguém vindo em minha direção até
que acabo no chão. Estou tão indignada, afinal, a faixa de areia é enorme e o
caminhão que me atropelou deveria ter desviado.
— Ei! Não olha por onde anda, não? — o cara fala e a minha irritação
só aumenta.
Olho na direção da voz e.... Oh, Senhor poderoso! Aquele homem
lindo novamente, dessa vez sem terno, nem calça, apenas de sunga. É até
pecado um trem desse. Seu corpo é forte e definido, pele bronzeada e suada.
Pernas torneadas e firmes.
— Moça? Está tudo bem?
Fecho a boca e passo a mão pelos lábios para ter certeza de que não
estava babando e acabo por ter areia neles. Começo a cuspir e tentar limpar a
areia do meu rosto, parecendo a mais ridícula das pessoas.
— Não machuquei nada, apenas a minha dignidade.
Ele estende a mão e me ajuda a ficar de pé, alcança meus sapatos e
bolsa, entregando-me. Seus olhos percorrem o meu corpo enquanto eu o
devoro sem vergonha nenhuma. Ele umedece seu lábio inferior... que boca é
essa? Sim, ele é absolutamente lindo.
— Aparentemente, não machucou nada mesmo — ele fala. — Sente
tontura, mal-estar ou qualquer coisa do tipo?
Distraída, solto:
— Sinto... sinto tudo isso — não pela queda, mas por aquele espécime
que trombou comigo pela segunda vez nesta tarde.
Ele me dá o mesmo sorriso libertino de mais cedo.
— Talvez eu possa ajudá-la. Quer ir até o meu apartamento para que
eu possa checá-la direito?
Então, todo o deslumbramento que eu sentia foi substituído pela
irritação de antes. Que galinha! Ofendida, ajeito-me e levanto o queixo:
— Não sou esse tipo de mulher. Na próxima vez, olhe por onde anda
— dou mais uma checada no homem a minha frente e saio apressadamente.
Não vou mentir, fiquei instantaneamente atraída pelo homem, que é
bonito demais tanto vestido quanto sem roupa. Mulheres também podem
desejar algo só pela bela visão, não é? Nessas horas eu queria ser como a Bia,
que faria uma piada e flertaria, mas sou a tonta da Maria Eduarda, a
comprometida. Se é isso que o Rio de Janeiro tem a oferecer, estou muito
ferrada.
Capítulo 02

Arthur
Eu preciso de um assistente urgentemente... na verdade, preciso de
uma assistente que seja eficaz e gostosa. Tenho certeza de que Manuela fará
isso por mim. Procuro o documento que necessito entre vários outros papéis e
não encontro nada. Preciso falar com o Rodrigo, só que para isso preciso
desse material dos infernos. Merda! Cadê aquela papelada? Detesto bagunça,
mas ultimamente não tenho conseguido me organizar direito.
Passo pela mesa da secretária e dou de cara com a Márcia. Só de olhá-
la fico extremamente irritado. Entendo que teremos que aguardar a apuração
de todos os fatos para mandá-la embora, mas não consigo fingir. Não sei
como uma pessoa que dizia vestir a camisa da empresa pôde descer ao nível
mais baixo, roubando a empresa.
Entro na sala do Rodrigo sem bater e encontro a belíssima Manuela
sentada na cadeira do meu irmão, como se ali pertencesse.
— Ow, uau! Venho ver um homem feio e encontro uma linda mulher.
Essa empresa está ficando cada vez melhor.
Manuela é a consultora que veio fazer a auditoria e remanejamentos.
Não demorou muito para ficarmos próximos. A única coisa que lamento é
que a mulher não se deixa levar pelas minhas palavras bonitas, mas não
passou despercebido que reage as do meu irmão, não de uma forma boa,
ainda assim há uma reação.
— Bom dia, Arthur. E obrigada pelo “bonita” — seu sorriso não
alcança os olhos.
— Sinto seu desânimo, princesa. O que se passa?
— Nada, estou bem.
Nos últimos dias tenho visto que ela anda cansada, abatida. Logo que
chegou na empresa e começamos a conversar, soube que estava de licença
quando aceitou vir à construtora. Não cheguei a me aprofundar no assunto,
pois coisas mais preocupantes preenchiam nossas conversas. Acho que
chegou o momento de saber o que realmente acontece com ela.
— Sei que antes de vir para cá você estava de licença. Gostaria de
saber o porquê.
Elegantemente, ela cruza as mãos sobre a mesa.
— Estresse, tive complicações de saúde por causa disso.
Espero mais alguma informação, mas vejo que ela não está pronta
para compartilhar mais.
— Você deve se cuidar, princesa. É muito nova para isso.
— Eu sei — Manu sorri. — Estou me cuidando. Agora me fale, o que
posso fazer por...
Ela é interrompida por alguém que entra.
— Com licença, Manu. Oh, desculpe... não sabia que havia alguém
aqui, a Márcia não falou nada. — Olho para ver quem é e sou presenteado
pela bela mulher que tive o prazer de esbarrar duas vezes na semana passada.
Ela é ainda mais bonita do que eu me lembrava.
Vou até ela e pego sua mão que não está ocupada.
— Hoje deve ser meu dia de sorte, estou encontrando lindas mulheres
inesperadamente — beijo sua mão delicadamente. — Só que essa eu não
conhecia formalmente.
Dou meu sorriso mais encantador. Afinal, tenho uma reputação de
mulherengo a zelar e essa mulher é exatamente o meu número. Manuela se
aproxima, afasta-me dela e alcança a caneca que estava na outra mão da
moça.
— Deixa-a em paz, Arthur. Obrigada pelo café, eu realmente estou
precisando. Duda, este é o Arthur Alcântara e Castro. Arthur, essa é a sua
nova secretária e assistente, Maria Eduarda.
Assim que a informação de quem sou é absorvida, a mulher a minha
frente fica sem jeito e estende a mão em um cumprimento formal.
— Prazer, senhor Arthur.
— O prazer é todo meu, Maria Eduarda. — Tenho que me lembrar de
dar um presente para Manu. A mulher contratou alguém de respeito para me
assessorar. Salve, Manu! Viro-me para ela e enfrento aquela sobrancelha
levantada, nada satisfeita.
Acho que essa é a minha deixa para sair.
— Bom, deixarei as meninas trabalharem. Manu, se não estiver bem,
chame-me e a levarei para casa. Não quero você mal.
Sua expressão séria suaviza.
— Obrigada, Arthur. Sempre um gentleman.
O que eu posso fazer se elas me amam, não é?!
Despeço-me e saio da sala pensando sobre Manuela. Ela é muito nova
para ter problemas assim, mas também, trabalha demais e quanto mais
serviço tem mais quer. Mulheres, vai entender. Agora, a nova secretária fez a
minha alegria com aquelas pernas de fora. Que mulher deslumbrante! Posso
imaginar aquele par de pernas em torno da minha cintura enquanto delicio-
me em seu corpo. Sorrio ao lembrar do rosto de Manuela, se ela sonhar que já
quero pegar a secretária, terei uma morte prematura.
Sento-me em minha cadeira e começo a organizar tudo. Trabalhar na
construtora é a coisa que mais prezo na minha vida. Há pouco tempo meu
irmão me presenteou com uma parte das ações e minha função é
administrativa, já que ele prefere ficar com os projetos e execuções, até
porque é o engenheiro.
Não foi fácil até chegar aqui. Não posso reclamar da minha vida, fiz
tudo o que uma pessoa pode fazer. Talvez tenha feito mais em poucos anos
do que muitos fazem durante sua vida inteira. Meus pais eram, na melhor das
hipóteses, negligentes. Meu pai achou que eu seguiria seus passos e decidiu
toda a minha vida profissional por mim. Essa manipulação durou até o dia em
que ele me disse que Érica seria a minha futura esposa. Não mesmo! Ali,
naquele momento, vi que deveria dar o fora.
E assim começou a minha jornada de mochileiro, conhecendo vários
países, aprendendo alguns idiomas e culturas. Trabalhei nas mais variadas
coisas, simplesmente para continuar livre. Rodrigo me acolheu assim que
voltei ao Brasil, visto que meus pais não queriam nem olhar na minha cara.
Eles simplesmente me ignoraram, ao contrário do meu irmão mais velho, que
me obrigou a voltar para faculdade e terminar o curso de Administração. Foi
a melhor coisa que ele fez por mim, obrigou-me a encarar a vida de frente.
Trabalhava na construtora e estudava à noite, aos poucos fui
crescendo profissionalmente e prosperando. Todo o conhecimento que
adquiri enquanto viajava serviu para enriquecer a minha carreira. Hoje tenho
orgulho de ser um executivo bem-sucedido e enriquecer a nossa empresa.
Meu irmão e eu somos tão ricos quanto nosso pai, tudo por nosso mérito.
Queríamos mostrar ao nosso pai que somos melhores e o caminho que
trilhamos foi através do sucesso da construtora.
Hoje em dia eu me dou bem com os meus pais, desde que estejamos
em lugares separados. Saio com Érica para satisfazer minha mãe, também
porque ela é gostosa pra caralho. Então, levá-la para minha cama não é
esforço algum, o esforço vem quando temos que conversar. Por mais que
minha mãe insista, casar com Érica não está em meus planos. Não estou
pronto para ter uma família, sou egoísta demais para ter filhos e esposa. Um
dia tenho certeza de que acontecerá, mas não agora e muito menos com a
Érica.
Começo a arrumar as pastas sobre a minha mesa, determinado a
organizar a bagunça. Concentro-me e me deixo levar pelo trabalho, não me
dando conta de que as horas passam voando, ainda não almocei e estou longe
de terminar tudo o que tenho em minhas mãos. Olho para as pastas em minha
mesa e na mesa de reuniões, suspiro. Eu realmente, realmente preciso de
ajuda. Como é o nome da nova secretária mesmo? Maria o quê?
Alcanço o telefone e chamo-a.
— Oi. Poderia vir até minha sala e trazer algumas daquelas pastas
brancas para organizar alguns contratos, por favor?
Sua voz é suave:
— Levarei em um minuto, senhor Castro — essa mulher falando
“senhor Castro” a todo momento só aumenta o meu tesão. Imagens dela de
joelhos na minha frente, sorrindo e pedindo “mais, senhor Castro”,
preenchem a minha cabeça e acabo me distraindo. — Senhor? Senhor?
Limpo a garganta.
— Ok, obrigado. Outra coisa, poderia pedir à dona Sônia comprar
comida para mim? Ela sabe onde conseguir as minhas refeições.
— Sim, senhor. Há mais alguma coisa que posso fazer pelo senhor?
Tem sim, gatinha. Ah, se tem.
— Não. Obrigado.
Desligo o telefone e caminho pela sala na tentativa de relaxar por um
minuto. Passei grande parte do dia enfiado nesta sala, meus olhos chegam a
arder. De repente, ouço alguém falando alto e portas sendo batidas. Isso não é
costumeiro por aqui. A estranheza me faz sair da sala e acho que a nova
menina percebe a minha preocupação, pois aponta para a sala do Rodrigo.
Aceno e vou saber o que se passa com o homem. Entro em sua sala e o
encontro andando de um lado para outro, impaciente.
— Da minha sala parecia que alguém estava demolindo o prédio —
debocho.
— Arthur, agora não — Rodrigo não é o tipo de homem que se abala
por qualquer coisa. Ele é centrado, não deixa que as coisas ao redor
influenciem seu humor ou o seu foco. Isso até a Manuela aparecer. Todos
fingem que não percebem, mas ninguém é cego ou burro. Os dois se
encrencam o tempo todo e por motivo nenhum.
— O que houve? — pergunto.
— Nada — sua resposta sai rápida demais para quem diz não ter
nada.
Escoro-me em sua mesa.
— Porque quando não há nada a gente sai batendo tudo por aí —
continuo a implicar. — Agora, falando sério... qual é o problema, irmão?
Ele respira fundo e passa a mão pelos cabelos.
— Não sei. Eu... saí para o almoço com a Manuela...
— Ah, Manuela. Certo... — sorrio com a tentativa dele de se manter
tranquilo ao falar dela, mas, como falei antes, eles implicam com qualquer
coisa. Ela tem prazer em tirá-lo da zona de conforto. Olha, arrisco-me a dizer
que meu irmão está caído por ela.
Rodrigo me encara sério e levanta a mão.
— Pare com esse papo de que estou interessado nela. Nós apenas
saímos para almoçar e Greice chegou causando mal-estar. Do nada Manuela
saiu em disparada. Essa saída brusca me incomodou, senti-me afrontado.
— Pode ser algo mais...
Sou cortado com irritação.
— Mas não é, porra! Não comece com essa baboseira de que estou
interessado nela, porque não estou. Parte do tempo, nem aguentamos ficar
cinco minutos juntos sem trocarmos ironias.
— Calma — levanto as mãos. — Só estou tentando dizer que, talvez,
você esteja preocupado por não estarem se dando bem em relação ao
trabalho. Você é um cara legal, sabe que a saúde dela está delicada, talvez
seja só a preocupação pelo modo que ela saiu — essa é uma reação forte para
alguém que está só incomodado. Vou até a porta, abro-a e peço para trazerem
um café para ele. Caminho até a sua mesa e sento-me em uma das cadeiras.
— Sente-se e se acalme, homem.
— Isso! É isso... preocupação por uma amiga que não está bem — ele
repete muitas vezes, acreditando que se tornará verdade. Idiota!
A porta abre e o perfume da nova secretária chega até mim antes dela.
É um cheiro delicado, não muito doce, nem muito floral. É impossível não
olhar para ver aquela mulher alta de pernas lindas e olhar doce entrar. Ela
vem em minha direção.
— Seu café, senhor.
Tiro de suas mãos e entrego ao Rodrigo, que por fim decide se sentar.
— Obrigado.
Ela volta-se para o meu irmão.
— Manuela está na linha dois, senhor Rodrigo. E, senhor Arthur,
tenho o Régis do setor de compras a sua procura, com licença.
Levanto-me.
— Vou falar com o tapado do Régis. Qualquer coisa me chame,
irmão.
Rodrigo assente, saio de sua sala e passo pela mesa das secretárias.
— Márcia, localize o Régis e diga para vir até a minha sala, por favor.
Ela olha-me com desdém.
— Eu até poderia fazer isso, senhor Arthur Castro, mas, como estou
de aviso prévio e ela é a nova secretária, acredito que tenha que ordenar a ela
e não a mim.
Abro a boca para responder ao sarcasmo dessa mulherzinha quando
Maria começa a falar:
— Não se preocupe, senhor Arthur, logo ele estará em sua sala.
Assinto e vou para minha sala, espumando de raiva. Era para Márcia
estar atrás das grades, não aqui, tirando todo mundo do sério. Não entendo o
porquê o Rodrigo a faz cumprir o aviso, bastava fazer o acerto e pronto, já
que a denúncia só será feita após a conclusão da auditoria. Era preferível
pagar do que tê-la aqui com essa má vontade. Antes de chegar a minha sala,
trombo com uma gracinha de longos cabelos loiros.
— Oh, desculpe-me, senhor Castro — uma linda pequena mulher fala,
batendo os cílios para mim.
Olho para cima e, Deus, eu juro que tento ser um homem sério. Mas,
olha isso? Volto meu olhar para a pequena delícia.
— Você está bem, pequena?
— Estou sim. Nossa! Até parece que bati em uma parede de tijolos —
não contenho a risada. A menina que ostenta um crachá de treinamento está
flertando comigo sem pudores. Que malandrinha.
Passo o dedo pelo seu braço.
— Você é uma gracinha — olho o nome no crachá —, Thaisa. —
Acho que mereço um lanchinho da tarde e dou o meu melhor sorriso. — Que
tal você entrar na minha sala e me mostrar...
Neste momento, aparece quem não deveria estar aqui. Era para ela
estar bufando pelos corredores da construtora, xingando o meu irmão.
— O que pensa que está fazendo, Arthur? — ela se aproxima de nós e
olha para a menina com a maldita sobrancelha levantada, que é a marca
registrada da sua fúria feminina. — Thaisa, o que eu disse quando você foi
contratada?
Seus olhos correm até os meus a procura de ajuda, mas, infelizmente,
ela não encontra.
— N-não po-pode se envolver com os chefes.
— E ainda assim você está aqui? Essa eu deixarei passar, mas acredite
em mim, Thaisa, não haverá uma próxima — Manuela se vira para mim. — E
quanto a você, senhor garanhão, se controle! Já conversamos sobre isso,
Arthur, por favor, não saia mais com as funcionárias.
— Calma, Manu. Eu só estava sendo solidário, a menina quase caiu...
Ela me corta.
— Sei, tropeçou e quase caiu sobre você. Homens!
Não sei o porquê, mas acho a situação cômica.
— Há dois minutos você não estava em uma ligação com o Rodrigo?
O que faz aqui? — pergunto.
Manu revira os olhos.
— Segundo ele, há coisas que devem ser ditas pessoalmente.
Entro na minha sala, rindo. A Manuela é foda quando quer e sei
exatamente o que nela mexe com o meu irmão. Essa história ainda renderá
muito pano para manga. Isso será bom para mexer com o Rodrigo, o mundo
dele precisa ser mexido. Agora vamos aguardar o senhor Régis, porque nunca
vi tanta incompetência em uma pessoa só. depois disso, acredito que poderei
encerrar o meu dia. A corrida para o lançamento do novo empreendimento, as
reuniões, os projetos já em andamento estão me deixando sem tempo até para
dormir.
Capítulo 03

Arthur
As noites têm sido pequenas demais para mim. Assim que eu puder,
pegarei uns dias de folga. O lançamento do novo condomínio está deixando
todo mundo estressado, Rodrigo cobra o engenheiro-responsável, que cobra o
gerente de produção, que cobra o mestre, que cobra o encarregado, que cobra
os seus colaboradores e, quando se trata da burocracia, eu cobro Deus e o
mundo. É louco, estressante e muito gratificante, mas todo merecemos
descansar.
Estaciono o carro na garagem reservada à diretoria e subo até o último
andar. Na mesa da secretária não vejo Márcia, apenas a novata.
— Bom dia, senhor Arthur.
— Bom dia.
Vou para minha sala e lá me debruço sobre as planilhas que precisam
de aprovação. Investimos em um empreendimento arriscado, mas a
construção ficou extraordinária. Tenho certeza de que fecharemos muitos
negócios na noite de lançamento. Fomos audaciosos, mas dizem por aí que o
mundo é dos ousados. Alguém bate na porta e digo para entrar. Sem demora,
Maria entra e coloca uma caneca de café a minha frente.
Maria tem a pele branca, olhos verde-escuros, cabelos castanho-claros
todo cacheado. Ela é alta, por volta de um metro e setenta e cinco, belas
pernas e traços delicados. Hoje ela está com uma saia preta e uma camisa
rosa, botões perolados abertos o suficiente para não mostrar o que tanto quero
ver. Seus seios, que devem ser médios, são grandes o bastante para encher as
minhas mãos. A imagem evoca o desejo, abro e fecho a mão na expectativa
de senti-los. Manuela vai me pegar pelas bolas, caso eu fique assediando a
minha secretária direta.
— Podemos passar a sua agenda agora?
— Claro. Sente-se. Obrigado pelo café.
Ela sorri timidamente.
— Disponha.
Eu a assisto mexer no tablet, observando seu rosto lindo. Maria
começa a recitar meus compromissos, mas não consigo tirar os olhos de sua
boca. Admito ser promíscuo, não me importo com o que pensam, gosto de
mulheres, gosto de transar com elas. Se ser louco por mulheres é pecado, eu
sou o maior dos pecadores. Agora, pensando friamente, acho que Manuela
colocou essa mulher aqui para me testar. Se isso realmente for um teste, estou
muito encrencado.
— O senhor está me ouvindo?
Ela pergunta e meus olhos, que estavam em sua boca, voam para os
seus olhos.
— Sim, sim. Continue, por favor.
— O sistema da empresa é muito bom, acessar os computadores pelos
tablets, as centrais informatizadas em todos os corredores para que cada
colaborador acesse seu e-mail interno, é simplesmente fantástico.
Olho-a com mais intensidade, pois sob aquela beleza há uma
inteligência que a torna mais apetitosa. Realmente eu não irei passar no teste.
— Maria, Maria. Qual é o seu segundo nome mesmo?
Ela abre um lindo sorriso. Puta que pariu!
— Eduarda. Maria Eduarda.
— Você tem namorado, Maria Eduarda? Talvez um marido?
Seu sorriso se desfaz.
— Sou comprometida, senhor.
É no desconforto delas que eu ganho.
— Um homem sortudo. Ele está feliz com o seu novo emprego?
— S-sim, ele está.
Hum... acho que temos um problema aí. Agora ela deveria estar
sorrindo e balançando a cabeça ao contar sobre o quão incrível seu parceiro é.
Detectamos problemas no paraíso.
— Ele é daqui do Rio?
— Não, ele é de Macuco, cidade que eu vim.
Inclino-me sobre a mesa e cruzo minhas mãos.
— Por que um homem deixaria uma mulher como você vir para uma
cidade como essa sozinha?
Seus olhos encontram os meus e vejo que ela está ficando mais
desconfortável.
— Não entendi a sua pergunta, senhor Arthur.
Minha vez de sorrir.
— Vou deixá-la mais clara. Se eu fosse o seu namorado, não deixaria
que saísse do meu lado.
— O senhor não me entendeu. Eu não entendi a relevância do
assunto, porque a minha vida pessoal não deveria estar em questão aqui.
— Sua vida pessoal é importante para que eu conheça um pouco
sobre você — eu explico. — Então sim, tem muita relevância. Como você
está se saindo na cidade grande, Maria Eduarda?
Ela se ajeita na cadeira.
— Acredito que esteja me saindo muito bem. Moro com a Bia, já
tenho amigos e um emprego, acredito que estou bem.
Beatriz tem gostos bem peculiares e compartilhamos alguns deles.
Será que a recatada mulher a minha frente tem partilha de alguma delas?
Maria Eduarda está me deixando cada vez mais curioso.
— Bia é uma mulher diferente, ela é engraçada e muito sarcástica,
mas é uma boa pessoa — a mulher a minha frente assente. — Diga-me,
Maria Eduarda, você é como ela?
Sua postura fica rígida e posso sentir sua tensão de onde estou.
— Gostamos de sair, dançar e nos divertir. Não vejo nada de
diferente nisso, senhor.
Nós nos encaramos durante algum tempo e fico de pau duro com o
fato de ela estar lutando bravamente para não cair na minha.
— Já ouviu falar em BDSM[2]? — pergunto.
Maria me olha desconfiada, ela quer saber até onde essa conversa irá.
— Sim, já fui em algumas festas com a Bia e tenho algum
conhecimento. Sei que ela é uma submissa, assim como seu irmão é um
Mestre Dominador.
Assinto.
— E você sabe o que é um Mestre, Maria?
— O conceito exato eu não sei, senhor.
Levanto-me, dou a volta na mesa e me coloco a sua frente com as
mãos no bolso.
— Um Mestre Dominador, no BDSM, é aquele que ensina, guia o
submisso pelo caminho da busca pelo prazer.
— Entendi. E por essa conversa posso deduzir que o senhor faz parte
desse mundo?
Sorrio.
— Talvez — eu gostaria muito de inclinar-me e tocar seu rosto. Levar
minha mão até sua nuca e puxar sua boca para a minha.
Maria levanta-se.
— Para que o senhor saiba, a Manuela teve que viajar às pressas para
Fortaleza.
Observo-a de cima a baixo. Eu quero essa mulher.
— Sabe se ela volta para a noite do lançamento?
Maria olha para o tablet.
— Volta sim. Aliás, noventa por cento dos convidados já
confirmaram presença.
— Muito bom. Você é muito eficiente, Maria.
— Obrigada, senhor. Posso fazer mais alguma coisa por você?
Coloco-me ao lado dela, que tenta se afastar, mas apenas a seguro no
lugar e aponto para a tela.
— Essa é a lista de convidados?
— Sim.
Olho a lista e o fato de a Manu ter um acompanhante chama a minha
atenção.
— Quem é o acompanhante da Manu?
— Franz. — Nós nos olhamos por algum tempo. A distância entre nós
é curta, dando-me a oportunidade de inalar seu perfume delicado. Maria
Eduarda quebra o olhar e continua a falar: — Eles estão saindo há algum
tempo. Bia e eu torcemos para que dê certo.
Tenho certeza de que meu irmão torcerá, mas não para que dê certo.
— Manuela não parece querer uma relação séria — falo.
Ela se afasta.
— Manuela é muito sozinha e trabalha demais, quem sabe um amor
possa fazê-la viver mais e trabalhar menos.
— Entendo. Estou saindo para a reunião daqui a pouco e não voltarei
hoje. Envie a minha agenda por e-mail e o que eu puder fazer de casa, farei, o
restante pode remarcar.
— Sim, senhor.
Assisto a secretária gostosa sair e passo a mão pelos cabelos em
exasperação. Meu corpo pede para puxar o dela e pressioná-la contra mim.
Despir suas roupas e encurvá-la sobre a mesa, bater em sua bunda até ficar
com a marca rosada da minha mão. Ela é linda e proibida, o que me faz
desejá-la mais e mais. Cenas em que a tenho nua e de joelhos diante de mim,
pedindo para que eu a faça gozar, que a leve com força, que a chupe, que a
morda... ah, inferno!
Descobri o BDSM não muito tempo atrás. Fui em uma reunião com
Rodrigo e o Steban, gostei do que ouvi e comecei a participar de algumas
festas. Desde então, ambos vêm me orientando para que eu me descubra
nesse mundo. Ser dominador não é exercer força para que outro se submeta,
não, ser dominador é conquistar a confiança e despertar a submissão de outra
pessoa que, em sã consciência, queira jogar. O jogo deve ser prazeroso para
todos os envolvidos e é lei que seja consensual, caso contrário seria abuso.
Até aqui aprendi sobre a responsabilidade de cuidar de quem se
submeteu a mim. Eu já sentia a necessidade de fazer com que as minhas
parceiras gozassem antes, agora sinto prazer apenas ao ver a beleza da
submissão. Não, eu não estou preparado para ser Dono de ninguém, isso
requer responsabilidade emocional e não quero isso para mim. Rodrigo e
Steban são Mestres Dominadores, eles “adestram” — guiam e instruem os
submissos que fazem parte do grupo em que eles confraternizam. Eles têm
regras sérias e específicas para se envolver com qualquer um.
Eu prefiro ser um Dom — Dominador. Gosto dos jogos no quarto e
nas play parties, fora dali, gosto de sair com pessoas hedonistas como eu, que
saibam aproveitar o melhor do sexo excêntrico e baunilha. Apesar desse
último não me satisfazer mais. Tenho me dedicado ao ensino, aos ritos e a
liturgia, interesso-me pela origem das práticas e tudo o que cerca esse mundo.
É diferente, às vezes íntimo demais até para mim, mas gosto e me identifico.
Agora quero aquela mulher, quero que se submeta a mim. Merda! É
melhor me concentrar no trabalho e esquecer o tesão que venho alimentando
por ela. Temos o lançamento de um megaempreendimento e há muito que ver
ainda. Tenho reuniões dos projetos futuros, contas a fechar e coquetéis para
comparecer. A semana está cheia, assim como a minha agenda. Agora é foco
no que é importante, o trabalho e as subs que querem se submeter a mim.

***

A semana não passa, voa. Trabalhei exaustivamente, a ponto de não


ter tempo mais para nada. Acredito estar sentindo sintomas de gripe ou é a
morte chegando. Cheguei mais cedo no escritório a fim de sair mais cedo
também, eu necessito de longas horas de sono, talvez correr pela praia.
Neste momento, Maria Eduarda entra na minha sala e caminha até
mim com aquela calça preta social, que acredito que não era para ser justa
assim, a bunda dela é tão gostosa que qualquer calça a abraçaria muito bem.
Deus é muito bom com homens como eu, nos presenteia com coisas assim.
Venho fugindo da atração que sinto por mulheres bonitas, principalmente
essa mulher bonita, mas hoje estou disposto a apostar alto.
— Senhor Arthur, acabei de receber a contraproposta do Grupo
Angelis — ela coloca o envelope pardo sobre a minha mesa. — Deixarei aqui
para que olhe na segunda-feira.
— Ótimo! Estávamos no aguardo disso desde o início da semana —
recosto em minha cadeira e cruzo os braços. — Semana puxada — comento e
ela sorri.
— Foi intensa mesmo, mas gosto disso.
— Tudo certo com o coquetel do lançamento? — questiono.
Maria Eduarda olha seu tablet.
— Tudo certo. Temos as confirmações dos nomes importantes,
também da grande maioria dos convidados. A empresa que está organizando
também está tudo ok.
Enquanto segue concentrada em seu dispositivo, levanto-me da minha
cadeira e ando ao redor dela, analisando-a, vendo a melhor tática de me
aproximar. Ela é a minha próxima presa, não há mais dúvidas sobre isso e o
mundo que se foda. Quero Maria Eduarda me servindo, como uma doce e
educada submissa. Sempre tenho o que quero e não aceito que me neguem
meus desejos.
— Falta confirmar minha companhia, então. Você já confirmou a
sua?
Ela levanta o rosto e percebe que estou mais perto do que antes. Seus
olhos fixam nos meus e assim ficamos. Passo o polegar pelo meu lábio
inferior, gesto que faço sempre que estou pensando ou quero causar suspense.
Estou excitado com a caça, meu pau se contrai na expectativa de conquistá-la.
— Ainda não, senhor. Mas minha companhia não tem importância.
Coloco uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.
— Sua companhia é tão importante quanto a minha, pequena — ela
fica vermelha e baixa a cabeça, mas não se afasta. Eu, por fim, convido: —
Seja minha acompanhante.
No minuto em que as palavras saem da minha boca, ela se afasta e sua
expressão torna-se ríspida.
— Devemos ser estritamente profissionais. Além disso, sou
comprometida e você é meu chefe. Meu emprego aqui é importante demais
para colocar em risco.
Sem me dar por vencido, insisto:
— Se você não estivesse comprometida, daria uma chance para mim?
Não sei se foi para me provocar ou tirar uma com a minha cara, mas a
maldita mulher sorri sexualmente antes de responder:
— Talvez — ela sai da minha sala sem olhar para trás.
Inferno!
A porta mal fecha quando meu irmão entra tempestivamente em
minha sala.
— Onde está o incêndio, irmão? — pergunto.
— Estou apenas preocupado com o lançamento.
Ele sempre fica ansioso, mas não a esse nível. Somos bons no que
fazemos e já há filas à espera para adquirir as unidades que ainda não foram
vendidas.
— Maria acabou de sair daqui e disse que está tudo ok. Quando falei
com Manuela, no final de semana, ela disse que já havia deixado tudo
esquematizado.
Rodrigo continua a andar de um lado para outro. O homem tem
“ansiedade” estampado na testa.
— Não era hora de Manuela viajar, ela deveria estar aqui. Pior, nem
sabemos se ela chegará a tempo.
— Ela estará aqui — respondo rapidamente, sem pensar.
Ele me olha como se eu tivesse acabado de roubar seu doce.
— Você tem contato com a Manuela? — Rodrigo questiona de forma
hostil.
Ciúme é uma merda. É justamente por isso que não me envolvo com
ninguém.
— Nos falamos sempre que possível — digo. — Ela é uma boa
amiga, alguém que gosto de saber como está.
De frente para a janela e perdido em pensamentos, meu irmão olha a
vista. Sorrio ao constatar que o motivo tem nome, sobrenome e um sorriso
lindo. Depois de algum tempo, ele volta a atenção para mim parecendo um
pouco menos ansioso.
— Quem você levará ao lançamento? — ele me pergunta e dou de
ombros.
Eu queria levar a minha secretária, mas não tive sucesso,
infelizmente. Penso rapidamente em quem poderia me acompanhar e lembro
de Louise, que tem uma boca deliciosa.
— Louise — respondo.
— Louise é aquela que jogou com você naquele clube?
Sorrio.
— Essa mesma. E você?
— Eu ia levar a Bia, mas ela vai com alguém. Agora sabendo que
Manuela estará de volta, pode ser que eu a convide.
— Então, irmão, Manuela já tem acompanhante — eu o informo.
Posso ver o monstro do ciúme mostrar as garras novamente.
— Quem? — Rodrigo pergunta meio... rosnando?
— Segundo Maria Eduarda, o nome do cara é Franz e todos estão
torcendo para que dê certo.
— Não conheço nenhum Franz — pondera e seu olhar encontra o
meu. — É muito perigoso, Arthur. A Manuela é nova na cidade e não
conhece muitas pessoas, esse cara pode ser um imbecil tentando se aproveitar
dela.
Não consigo controlar a risada e logo estouro em uma gargalhada.
Rodrigo está ficando patético.
— Aproveitar de quem, Rodrigo? Da Manu? Daquela Manu? — volto
a rir sem controle.
Ele responde irritado:
— Sim, da Manuela. A nossa Manuela.
— Meu parceiro, devemos ficar preocupado com o bem-estar do cara.
A Manu é uma predadora, capaz de deixar a vítima sem saber o que
aconteceu.
— Não acho, mesmo assim, sei que tem razão.
Maria Eduarda escolhe este momento para entrar.
— Com licença, senhor Rodrigo. Desculpe incomodá-lo, mas o
pessoal da contabilidade precisa que assine alguns papéis com certa urgência.
— Claro. Eu já estava a espera — Rodrigo alcança a pasta, senta-se
na cadeira que está na frente da minha mesa e começa a analisar antes de
assinar. Maria Eduarda se curva ao lado dele para fazer alguns apontamentos
e sua bunda fica no ângulo quase perfeito para a minha apreciação. Assim
que meu irmão termina, pergunta a ela: — Manuela vai ao lançamento da
semana que vem com quem?
— Não o conheço. Eu o vi apenas uma vez e sei que seu nome é
Bernhardt Franz, um engenheiro alemão.
Rodrigo assente enquanto assisto Maria desfilar para fora da minha
sala. Não consigo tirar os olhos da bunda dessa mulher.
— Arthur?
Volto a minha atenção para meu irmão.
— Sim?
— É impressão minha ou você estava observando demais a Duda?
— Impressão.
Merda! Ele não vai deixar isso passar.
— Respondeu rápido demais para não ser nada — ele cruza os braços
e olha para mim, sério. Ah não! — Deixa eu te esclarecer algumas coisas:
Duda está comprometida, isso é sério e deve ser respeitado. Ela é doce e uma
excelente funcionária, a melhor por sinal, além de ser muito confiável. Então,
não fode tudo. E tem mais, se a Manuela desconfiar que você está interessado
nela, vai arrancar suas bolas sem direito a anestesia.
— Entendi o recado, Rodrigo.
Quer saber? Vou para casa.
Levanto e pego meu terno, que está no encosto da cadeira.
— Estou indo para casa, o dia foi cheio e estou cansado. — Rodrigo
continua a me encarar, a ponto de me deixar desconfortável. Como se eu
fosse aquele garoto que ele ainda tem que ensinar tudo. — Por que está me
olhando assim, Rodrigo?
— Nada — responde, mas não me convence.
De saco cheio, saio da sala mais do que irritado. Passo pela pequena
secretária e nem a olho, não vou correr o risco de alguém mais achar alguma
coisa. Minha semana está finalizada.
Capítulo 04

Maria Eduarda
Eu não darei conta de tudo isso!
Essa semana foi insana. A empresa está uma loucura porque tivemos
um contratempo no hall de entrada do novo condomínio. Os irmãos
Alcântara e Castro dizem que está tudo certo, mas não acredito. Eu acho até
que vi um eletricista chorando no canto do almoxarifado.
Quando cheguei aqui, na segunda, Rodrigo já estava aos berros com
alguém que deixou de colocar alguma coisa em algum lugar. Arthur chegou
mais tarde do que de costume e seu humor foi péssimo a semana inteira.
Na terça-feira, pensamos que tudo iria melhorar. Isso até o engenheiro
chegar para discutir sobre algum erro de execução no condomínio que está
prestes a ser lançado, então, mais uma vez o teto veio a baixo. Manuela
sempre liga para acompanhar toda a situação e ajudou-me com o organizador
do coquetel. Até a Bia se mostrou solidária. A única coisa que senti falta foi
do Arthur me cercando... eu sei, eu sei que não deveria gostar. Comprometi-
me que não gostaria, mas aquele homem... meu Deus! Que homem! Acho
que o estresse aumentou a minha carência, já que meu namorado parece não
sentir a minha falta. Enfim...
Quarta-feira mal tive tempo de respirar. Todos queriam alguma coisa
dos irmãos e a triagem ficou ao meu critério. Tive que aprender muita coisa
na raça, porque a infeliz da outra secretária já estava deixando tudo de lado.
Acho que essa semana consolidei meu papel de assistente. Eles precisam de
assistentes pessoais, que cuidem de suas coisas além do trabalho. Conversarei
com a Manuela sobre como poderemos resolver isso. Eu entendo que eles
querem ter tudo sob controle, mas a empresa é grande demais, demanda
tempo e fôlego que eles não têm. São sempre os primeiros a chegar e os
últimos a sair.
Hoje, quinta-feira, parece que o caos está por todo lado. Até eu
preciso de ajuda neste momento. Chamei a Thaisa, mas ela ainda é limitada.
Ligo para o escritório de RP e me pergunto o porquê uma empresa deste
tamanho não tem um aqui dentro, facilitaria a vida de todo mundo. Repasso
tudo com a relações públicas responsável pela construtora, acertamos as notas
e matérias que sairão nos próximos dias, como acertei com Arthur e Rodrigo.
Em seguida, falo com o organizador do coquetel para saber se tudo está
saindo conforme o combinado, segundo ele, sim.
Meu celular está tocando e não sei onde ele está. Socorro! Procuro
sob os papéis que estão sobre a minha mesa e o encontro debaixo do tablet.
Olho a tela e vejo o nome de Bia.
— Tem celular para que se não atende? Como você está?
Respiro fundo.
— Estou mergulhada no caos, trabalhando muito. Todos estamos
empenhados no evento de amanhã, aquele que eu espero que você vá.
— Eu não gosto desses eventos e até hoje tento entender o porquê
tenho que ir — empolgação zero.
— Porque é o sucesso do seu irmãozão. Eles precisam de amigos
nesse grande momento. Quem será seu acompanhante?
— Só por eles mesmo. Levarei o Marcos.
— O professor? — questiono-a, bem interessada.
— Sim. Marcos é uma excelente companhia e tem um pau grande que
eu espero me esbaldar depois da festinha.
— E o Steban? — pergunto.
— O que tem o Steban, Duda? — sua voz tem um tom exasperado.
— Bia, por que vocês não vão juntos? Eu sei que vocês se gostam —
todos sabem que há algo entre os dois, mas ambos são teimosos demais para
admitir. O que é uma pena.
— Não sei do que você está falando, nunca tivemos uma história e se
tivéssemos estaria no passado — percebo desconforto em sua voz.
Rapidamente ela muda de assunto: — E você, Duda, o Roger resolveu tirar a
cabeça da bunda e virá?
Esses dois nunca se darão bem?
Sorrio ao lembrar da ligação em que Roger disse que viria para ir ao
coquetel comigo.
— Sim, ele virá! Nós nos divertiremos nesse final de semana. Estou
torcendo para que a Manu esteja de volta em tempo hábil.
— Outra ingrata, só me liga às pressas e me dá poucas informações.
Mas disse que chegaria em tempo, até porque já tem companhia.
— Sim, ela vai levar o aquele alemão que conheceu no shopping.
Lembra?
— Pelo que a Manu falou, ele é lindo. Manuela tem aquela cara de
menina séria, mas é pegadora. Mal chegou na cidade e já está pegando os
homens com pedigree — Bia fala rindo. — Temos que fazer um cursinho
com ela para aprender a domar os bofes.
Rimos por mais algum tempo e nos despedimos. Volto às minhas
tarefas, saindo somente para fazer um lanche rápido na copa e retornando
para dar conta de todos os compromissos do dia. Meus pensamentos vão para
o Roger e sua falta de vontade de vir pelo menos me ver. Depois de muito
insistir, ele cedeu. Qual é o limite para uma namorada mendigar atenção e
carinho do seu namorado? Começo a me perguntar se realmente vale a pena
continuar assim. Estamos nesse marasmo há mais de um ano e estou
cansando.
Agora tem aquele homem loiro, alto, forte e com olhos intensos, que
não me deixa em paz. O diabo daquele homem tem aparecido até mesmo em
meus sonhos. Ele tem aquele jeito safado, playboy jogador e é tudo o que
deveria me fazer fugir. Aí vem a lembrança do perfume e aquele sorriso de
canto, maroto. Eu vou para o inferno. Prometi à Manu que eu não me
envolveria e tenho o compromisso comigo mesma de não me deixar
envolver, mas resistir a um homem excessivamente bonito e charmoso é um
sacrifício.
O pessoal que trabalha neste andar passa por mim se despedindo e
então me dou conta de que o expediente acabou. Antes de finalizar o dia,
confirmo se tudo está certo para o final de semana, separo o material da
primeira hora de segunda, antes de organizar a minha mesa. Cansaço é meu
nome do meio e só de pensar no deslocamento até em casa meu pé já protesta
nestes saltos. Pego minhas coisas e desço rapidamente, aliás, tudo será
rápido, já que ainda tenho medo de andar durante a noite por esta cidade.
Na frente do conglomerado, dou de cara com o deus grego do Arthur,
que está conversando muito de perto com uma das meninas novas da
contabilidade. Tenho que passar por eles, droga. Vou me aproximando e cada
vez a conversa fica mais clara, eu não quero ouvir, só que não vou tapar as
orelhas. Afinal, estamos na rua, lugar público.
— Calma, meu doce. Estamos fora da empresa. Aqui a Manuela não
pode fazer nada — contenho a minha vontade de rir. Isso é o que ele pensa,
pois quem conhece a fera sabe o que ela faz, não importa onde você esteja,
ela sempre vai adivinhar.
— Promete não contar nada? Estou louca para sair com você. — Aff!
Reviro os olhos com a afirmação da criatura. Todo mundo quer sair com ele.
Todo. Mundo.
Apresso meus passos, fingindo mexer no celular, até que alguém me
segura. Olho assustada para o dono da mão que está em meu braço e me
perco em seu olhar. Não sei descrever, mas é... intenso. É como se ele
quisesse me devorar.
— Aonde a minha secretária pensa que vai sozinha a uma hora
dessas?
— B-boa noite, seu Arthur — não é hora de gaguejar, Maria
Eduarda. Olho para a moça que estava em sua companhia. — Oi, Thaisa... —
mais sem jeito do que nunca, começo a me justificar: — Perdi a hora e vou
correr para ver se pego um ônibus.
— Não, eu te levarei — Arthur já vai me arrastando em direção ao
carro que está estacionado em frente à empresa.
Pelo olhar de Thaisa, ela não gostou nada, nada.
— Arthur, e eu? — não falei? Não gostou nada, nada.
Agora ela está fazendo bico? Meu Deus! A garota está com carinha de
adolescente triste, praticamente uma atriz. Detesto mulheres assim.
— Nós nos falaremos amanhã, meu doce. Não posso deixar a Maria
Eduarda andar por aí de ônibus uma hora dessas. Até amanhã.
Entramos em seu belo carro, que não faço ideia do nome, mas é um
tipo de caminhonete fechada, muito elegante. Acredito que seja importado.
Não demoro para me dar conta de que não falei nada, simplesmente o segui e
pronto.
Isso não é bom, Duda. Definitivamente, não é bom.
— Não precisa se dar ao trabalho... — começo a falar, mas ele me
corta.
— Nada de senhor, chame-me apenas de Arthur — ele sorri de canto
enquanto dá a partida. — Não é trabalho algum. Você mora com a Bia, não
é?
— Sim, isso.
Arthur dá a partida no carro e saímos para o trânsito pesado do Rio de
Janeiro. Ficamos em silêncio durante algum tempo e ele só foi quebrado
porque meu chefe ligou o rádio, que toca uma famosa música muito bonita e
antiga. Acredito que já ouvi em algum filme. Enfim, não imaginei que ele
fosse do tipo que gosta de rock, com essa cara de agroboy, pensei em
sertanejo.
(...) Garota, você me deu a mesma desculpa tantas vezes, parece que
me sentir mal está ficando legal. Esse tipo de amor faz um homem virar um
escravo. Esse tipo de amor manda um homem direto para o túmulo. Eu fico
louco, louco, baby, eu fico louco. Você me atiça e depois some[3] (...)
Olho-o de canto, tentando montar o quebra cabeça que é este homem.
Ele é bem-humorado, mas sério quando deve ser. Ele provoca, atiça, mas
recua para nos deixar confortáveis. Ele é um jogador, isso é um fato, só que
agora, aqui, parece disposto a me mostrar um homem confiável. Nem vamos
falar de sua beleza, que é até um crime ser bonito, charmoso e simpático,
tudo em uma embalagem só.
— Por que me olhas, Maria Eduarda? — Arthur pergunta sem tirar os
olhos do trânsito.
— Tentando te entender. Não imaginava que você fosse um garoto do
rock.
Ele sorri.
— Sou um homem de muitas faces, senhorita. Você se surpreenderia
— Arthur começa a cantarolar a música e mesmo ela sendo em inglês, parece
ser indecente. Só consigo entender a palavra “crazy”, que repete várias vezes.
O trânsito completamente parado, o perfume dele tomando conta do
ambiente, a música, a voz dele e-e eu ficando... excitada. Ele tem uma aura de
poder que faz qualquer uma se prostrar. Foca na árvore, Duda!
Geralmente não me convenço fácil, não me atraio fácil... eu não sei o
que acontece com esse homem, não sei se é o seu flerte ou sua beleza, pois
qualquer parte desse homem parece ter sido desenhada.
Meu celular toca, me tirando desse dilema infernal. Graças à Deus!
Procuro em minha bolsa e acabo atrapalhada, pois o bendito aparelho está em
minha mão. Olho no visor e vejo o nome do meu namorado. Isso deve ser um
sinal do céu de que estou no caminho do inferno.
— Oi.
— Oi, Duda — ouço a voz daquele que já me fez feliz e suspirar
tantas vezes, mas hoje... nada mais.
Em que altura desse relacionamento nós perdemos isso? A voz dele já
não tem aquele poder sobre mim. Eu o adoro apesar de não ter me apoiado
em nada, não ter me entendido. Isso tudo somado a um relacionamento gasto,
é o fim.
— Tudo bem, querido?
— Tudo bem e você?
— Muito bem. Então, a que horas você chega amanhã?
Ouço uma conversa ao fundo, Roger não está sozinho. Ele nunca está.
Seus amigos são peças presentes a todo momento.
— É por isso que estou te ligando, eu não irei. Surgiu um contratempo
e infelizmente não poderei sair daqui.
Preocupação e decepção me toma.
— Aconteceu alguma coisa com seus pais ou com alguém?
— Não, não aconteceu nada com ninguém. É algo de trabalho
mesmo.
Viro para a janela sem conseguir esconder do homem ao meu lado a
decepção que estou sentindo, mas mantenho a voz firme para não demonstrar
fraqueza.
— Estava ansiosa para estar com você.
— Se estivesse aqui, as coisas seriam diferentes. Mas você escolheu
morar longe, não há o que fazer.
Aí está. Eu desisto.
— Nem deve ser feito nada, querido. Obrigada por me avisar. Tchau.
Sinto-me decepciona, mas não consigo me sentir mal, apenas aliviada.
Sei que é errado, mas acho que já me conscientizei de que o fim era
inevitável. Suspiro ao constatar o fato, afinal, foram anos juntos e estávamos
apegados, acomodados.
Assusto-me ao sentir uma mão quente sobre a minha, que logo é
retirada.
— Desculpa, Maria, não queria assustá-la. Está tudo bem?
Balanço a cabeça e dou o meu melhor sorriso, que não é grande coisa
no momento.
— Está sim... tudo bem.
— Não é o que parece — sua voz é como uma calda quente e cremosa
que aquece.
— Nada demais, apenas meu namorado dizendo que não poderá me
acompanhar no coquetel.
— Cara idiota — Arthur fala. — Ele não te merece.
Rio sem humor.
— Ah, não? E o que leva a pensar isso? — eu o questiono.
— Posso estar enganado, mas você saiu da sua cidade porque queria
mais, queria crescer. Ele deveria lhe apoiar, independentemente da distância.
Afinal, o amor não supera tudo? Você é linda e inteligente, eu não permitiria
que você ficasse longe, nem que para isso eu precisasse mudar toda a minha
vida.
Olho para o Arthur, a fim de ver se o discurso é sério ou apenas parte
de seu flerte. Como o trânsito está parado, ele olha para mim e o que vejo é
apenas sinceridade.
— Não, você não mudaria. Duvido que algum homem faria isso —
respiro fundo. — Mas agradeço as palavras.
— Não, é sério. Se eu sei que a mulher que está ao meu lado vale a
pena, farei o possível e o impossível para mantê-la ao meu lado.
— E o que faria? Me acorrentaria? — pergunto debochadamente.
Seus olhos encontram os meus e surge aquele sorriso de canto que
mexe com qualquer mulher.
— Menina, eu não preciso amarrar ninguém para nada, mas acredite,
há quem queira ser amarrada e dominada por mim. E, Maria, se você
estivesse em minhas mãos, não seria diferente. Eu a teria só para mim.
Senhor amado!
Meu cérebro está derretendo juntamente com outras partes do meu
corpo e, antes que eu possa pensar, minha boca grande abre:
— Maria não, me chama de Duda — balanço a cabeça
desesperadamente. — Não, não, não me chame de Duda. Nada de intimidade.
Quer saber, já estou perto de casa, vou a pé.
— Não, está longe para ir a pé sozinha — ele contesta.
Só que eu não quero contestação porque essa merda vai acabar
comigo na cama dele. Quero espaço, quero ar puro, quero ficar longe de toda
tentação que tenho certeza ser do diabo.
— Eu sei, mas preciso caminhar e o ar fresco me ajuda a pensar.
— E o que você tem a pensar, Maria Eduarda?
Evitando seu olhar, abro a porta do carro.
— Tenho que pensar sobre a crise da água.
Saindo do carro, ouço ele dizer:
— Até amanhã, menina.
Ando pela calçada com a cabeça a mil. Rogério resolveu me deixar na
mão mesmo há tempos sem me ver e meu chefe não perde a oportunidade de
me azucrinar com esses flertes. Estou ferrada! Seguro a minha bolsa
firmemente contra o peito e ando a passos largos tentando dissipar as
palavras de Arthur, agora pouco dizendo que se me tivesse em suas mãos....
Merda! Eu não posso cair em suas mãos. Não posso.
Andar rápido e de salto alto não é uma boa combinação, tropeçando e
mancando por causa dos tropeços, chego no prédio. Entro no elevador e
aperto sem parar o botão do andar em que moro. Assim que o elevador abre,
saio como se minha vida estivesse em perigo. Entro no apartamento, fecho a
porta e me pressiono contra ela. Só assim respiro aliviada.
Deus, o que acontece comigo? Estou vendo o final da minha relação
de anos logo ali e ainda assim não estou triste, por quê? Agora me sinto
culpada, mesmo essa relação estando fracassada. Talvez se ele se importasse
com o que é importante para mim ou se importasse mais comigo.... Não sei.
Com a cabeça cheia, vou para o banheiro a fim de tomar um banho
demorado e tentar dormir ao final da noite. No momento, é só o que me resta.
Capítulo 05

Maria Eduarda
— Alguém está atrasada para o trabalho — ouço Bia falar no meu
ouvido.
Abro os olhos rapidamente só para ver a tela de um celular mostrando
o quanto estou atrasada.
— Ai, meu Deus! Perdi a hora. Por que não me acordou antes? —
reclamo enquanto saio da cama apressadamente e acabo tropeçando em meus
próprios pés.
Corro para o chuveiro, lavo-me e escovo os dentes ao mesmo tempo.
Seco-me e me visto em tempo recorde, deixando para tomar café na empresa.
Coloco um vestido branco e justo até o joelho, meus saltos pretos que são
mais confortáveis, pego meu tailleur azul e a minha bolsa. Chamo um carro
pelo aplicativo e saio em disparada, deixando para tomar café na empresa.
Espero o carro que já deveria estar me esperando. Olho o telefone e
vejo que chegarei atrasada de qualquer maneira. A gente não deve chegar
atrasado quando é novo no trabalho, isso causa uma péssima impressão. Se o
motorista não encostasse no próximo minuto, eu iria correndo como uma
maluca. Graças a Deus o trânsito está menos congestionado e em vinte e
poucos minutos sou deixada em frente à construtora.
Hoje o expediente promete, além de ser um dia cheio, ainda teremos o
coquetel de lançamento à noite. Passo pela minha mesa, deixo as minhas
bolsas e vou diretamente à copa para providenciar os cafés dos chefes CEOs
bonitões desta empresa.
— Bom dia, dona Sônia. Fala para mim que os seus meninos não
pediram café ainda — entro distraída e não percebo que dona Sônia não está
sozinha.
— A que meninos você se refere, Maria Eduarda? — dou de cara com
Rodrigo e Arthur sentados na bancada, tomando café. Ambos estão belos, de
ternos sob medida e olhando para mim, deixando-me mais vermelha do que
um tomate.
— Desculpem-me pelo atraso, eu não costumo...
— Tranquilo, menina. Já tomou café hoje? — o filho de uma boa mãe
do Arthur fala com um sorriso que permeou meus sonhos a noite toda.
Balanço a cabeça em negativa.
— Senta aqui, Duda, e tome seu café — Rodrigo fala. — Você tem
trabalhado demais, merece uma colher de chá de vez em quando — então, o
homem pisca para mim e entendo perfeitamente o porquê a Manu quer
distância. Rodrigo continua a falar: — Está tudo certo em relação ao
coquetel, Duda?
Dona Sônia me entrega uma caneca de café e coloca uma torrada na
minha frente. Eu a agradeço antes de responder ao chefe.
— Sim, senhor. Só irei ligar para o organizador e confirmar se ele
conseguiu resolver os últimos detalhes, já cuidei para que suas agendas
estejam livres hoje à tarde.
— Dona Sônia, o que faríamos sem essa linda menina? — Arthur
pergunta à senhora sem tirar os olhos de mim. Baixo a cabeça e fico na
minha.
A mulher anda ao redor servindo e ajeitando as coisas. Nunca pensei
em vê-los assim, tão relaxados com os funcionários. Percebe-se que eles têm
um carinho enorme pela senhora Sônia, mas enfim, quem não teria? A
mulher parece adivinhar o que precisamos.
— Vocês sem essas meninas não seriam nada — ela fala piscando
para mim e sorrio em agradecimento.
Pouco tempo depois, os dois saem da copa discutindo sobre o dia.
Sigo atrás de ambos porque não poderia me demorar também. Sento-me em
minha cadeira e me organizo antes de ir à sala de ambos para passarmos a
curta agenda. Eles saem e eu continuo a tomar meu café. Quando penso em
me levantar, o telefone toca.
— Presidência da Construtora Alcântara e Castro, bom dia.
— Passa para o Arthur.
Que mulher sem educação, até seu tom de voz é arrogante.
— Quem gostaria? — pergunto.
— Minha filha, só passa a ligação — uau! Somos grossas essa manhã.
— Mas, para sua informação, sou Érica.
— Um momento, por favor — disco o ramal da sala de Arthur e ele
atende no segundo toque. — Senhor Arthur, Érica na linha...
Sou cortada na hora.
— Diga que estou ocupado — desliga a ligação, me deixando para
lidar com uma mulher nada legal. Deve ser uma de suas namoradas, ninguém
profissional agiria assim.
— Ele está em outra ligação, gostaria de deixar recado?
A ligação é encerrada sem qualquer palavra dita. Que mulher
arrogante e sem educação. Deixo o assunto de lado, pego meu tablet e vou
até a sala do Rodrigo. Passamos seus compromissos rapidamente e ele pede
para que eu faça a ligação para o organizador, da sala dele, a fim de que ele
tome ciência de tudo. O fato de ele reclamar que Manuela é quem deveria
fazer tudo é até engraçado. Essa história é velha conhecida, jogo de gato e
rato, a diferença é que entre os dois pode rolar cordas e alguns tapas.
Passo pela minha mesa, atendo algumas ligações e vou para sala do
Arthur, que está em uma ligação nada boa com a sua mãe. Não é a primeira
vez que vejo um dos irmãos em conversas tensas com os pais. Bia me contou
a história deles e sei que a tensão é latente há anos. Sei também que Arthur se
rebelou e se tornou um mochileiro pelo mundo, quando voltou, o irmão o
acolheu e o ajudou a ser o homem que é hoje. Os pais são presentes, mas
antes não estivessem, essas são palavras de Beatriz.
Essa manhã foi tão agitada que não tive tempo para almoçar, belisquei
qualquer coisa e continuei na minha rotina. Lá pelas três da tarde, Rodrigo sai
da sua sala.
— Duda, estou indo. Assim que o Arthur sair você está dispensada.
Nós nos veremos hoje à noite.
— Ok. Até mais.
O telefone toca pela ducentésima vez nas últimas horas. Estou
realmente cansada e começando a sentir dor de cabeça, acho que a falta de
comida está mexendo com meu humor. Respiro fundo antes de atender o
telefone.
— Presidência da Construtora Alcântara e Castro, boa tarde.
— Quero falar com o Arthur e não me diga que ele não está, garota. A
mãe dele acabou de me dizer que ele ainda se encontra aí.
Essa mulher já ligou várias vezes para cá e começo a desconfiar que
eles têm alguma relação mais profunda.
— Passarei sua ligação — dessa vez ele não vai fugir. Disco seu
ramal e não dou chance de ele não atender a criatura arrogante que o espera
na linha. — Érica, senhor — desligo antes que ele possa responder.
Depois de alguns minutos, ele sai da sua sala com seu terno escuro na
mão. A ligação não foi demorada.
— Já estou indo, Maria — ele para em frente à minha mesa. — Tem
certeza de que não quer ser a minha acompanhante essa noite?
Agradecida por demais, mas não. Não mesmo. Não nesta vida. Não,
nem lascando. Não com esse tipo de mulher correndo atrás dele, pois
significa que esse é o tipo de mulher que ele gosta e isso não serve para mim.
— Fico lisonjeada, senhor Arthur, mas não.
Ele veste seu terno e o ajeita.
— Uma pena, menina. Até mais — ele pisca e sai.
Eu tenho mais algumas coisas para fazer, mas deixo para segunda.
Vou para casa descansar e me arrumar com calma, se eu me apressar dá
tempo de dormir um soninho antes do evento.

***

Como uma boa funcionária, chego mais cedo para saber se tudo está
saindo como o esperado. Manuela me mandou mensagem e eu estava
acompanhando tudo por telefone, mas precisava conferir com meus próprios
olhos. O novo condomínio é incrível por fora, o local que foi arrumado para o
coquetel é deslumbrante. Tiveram que abrir as grandes portas para que o
ambiente interno se integre com o externo, caso contrário, não caberiam
todos. Pelo que parece, todos os que foram convidados resolveram aparecer.
Vou ao banheiro para retocar a maquiagem, pois alguns convidados
já começaram a chegar. Olho-me no espelho a fim de ver se está tudo certo
com a minha roupa. Achei um pouco ousado demais, mas Bia insistiu que eu
deveria usá-lo. Beatriz é dois tamanhos menores que eu e disse que o vestido
fica grande nela. Vesti e me apaixonei, coube perfeitamente.
Ele é de um tecido elástico todo frisado, que fica justo no corpo e vai
até abaixo do joelho. Na frente o decote é canoa, super comportado, mas atrás
ele é aberto até o meio das costas, dando sensualidade a vestimenta. Nos pés,
uma sandália dourada de saltos altos e para completar uma bolsa preta com
detalhes em dourado. Meus acessórios se resumem ao meu colar, uma
pulseira, anel e um par de brincos que formam um conjunto. Meus cachos
estão soltos e com o volume que adoro, por fim, resolveram contribuir.
Assim que saio do banheiro, vejo que Rodrigo chegou e vou até ele.
Enquanto faço o meu caminho, percebo que está acompanhado.
— Boa noite, Duda — ele me olha de cima a baixo, mas não de um
jeito sexual, apenas por apreciação. — Você está muito bonita e o lugar está
excelente, muito obrigado por fazer isso acontecer da melhor maneira.
— Obrigada pelo elogio, Rodrigo. Tudo já estava encaminhado
quando cheguei, só acompanhei, mas fico feliz que tudo tenha saído como o
esperado.
A acompanhante dele não parece gostar de mim, o olhar de desdém
mostra exatamente isso. Fico desconfortável a ponto de minhas mãos
começarem a suar. Será que não estou bem o suficiente para estar aqui? Fiz
uma maquiagem leve para ficar mais próximo ao natural e não chamar tanta
atenção.
— Duda, essa é Paula, minha acompanhante — vulgo a boneca do
mal. — Seu namorado não vem?
— Não, ele não poderá comparecer — estendo minha mão para
cumprimentar a moça que o acompanha e dou o meu melhor sorriso. —
Prazer, Paula.
Com o sorriso falso, ela estende a mão e aperta a minha, fazendo uma
careta.
O que eu fiz?
— Prazer — ela responde secamente.
Preciso sair daqui rápido.
— Se me derem licença, tenho que ver algumas coisas com o
organizador...
Circulo entre os convidados, encontro um canto perto de um dos bares
montados para esta noite e fico a pensar na minha vida. Minha cabeça
ultimamente tem girado em volta de um par de olhos azuis que insistem em
não me deixar em paz. Deve ser carência. De repente, um arrepio percorre o
meu corpo. Essa sensação se intensifica quando eu o avisto, todo meu corpo
responde a um chamado. Ao seu chamado...
— Duda?
Assusto-me.
— O-oi, Bia.
Eu a abraço e ela fala em meu ouvido enquanto estou em seus braços:
— Que “oi” foi esse? Está tudo bem?
Saio de seu abraço e sorrio.
— Está tudo ótimo.
Bia me encara por alguns segundos, procurando algo errado. Sem
respostas, ela se vira para o seu acompanhante.
— Deixe-me apresentá-los, Marcos essa é uma das minhas melhores
amigas, Maria Eduarda.
Estendo a mão, mas ele segura meus braços e me dá dois beijos.
Gesto bem típico dos cariocas.
— Prazer, Maria Eduarda.
— Muito bom te conhecer, Marcos. Pode me chamar de Duda.
Chegaram há muito tempo? — pergunto.
— Acabamos de chegar — ela responde. — Cadê o Roger?
Faço uma careta.
— Não veio — agora é ela que faz uma careta.
Apesar de morarmos juntas, pouco nos vemos. Temos mais tempo no
final de semana, mas gastamos dormindo.
Bia passa seu braço pela minha cintura
— Você tem que resolver isso, baby.
— Eu sei...
Aquele arrepio volta a me percorrer e então ouço:
— Boa noite, meninas.
Viro-me para ele e me perco em seu sorriso. Será que algum dia vou
me acostumar com a sua beleza? Beatriz quebra o momento.
— Boa noite, Arthur.
Ele a beija no rosto.
— Oi, menina terrorista — Arthur vem e me beija no rosto, duas
vezes. Eu desmaio um pouquinho com a sua proximidade e seu perfume. Ele
fala em meu ouvido: — Olá, menina linda.
Eu preciso sair daqui... tipo agora.
— Olha o organizador me chamando — aponto para qualquer lugar.
— Vejo vocês mais tarde.
Vou para a parte externa, onde uma brisa refresca a minha pele.
Caminho até o bar instalado ali e peço água, nada de bebidas alcóolicas nesta
noite. Depois de me esconder por algum tempo, ando entre as pessoas e por
sorte encontro Manuela. Ela vem ao meu encontro e nos abraçamos. Como eu
senti falta dela. A empresa fica mais fácil quando ela está lá. Manu me
apresenta seu acompanhante, que é um homem muito bonito e
supersimpático. Essa mulher tem que me dizer onde ela encontra esses
homens.
Bia e Marcos se juntam ao grupo e conversamos animadamente.
Franz nos conta o que gosta na cidade, além de Manuela que parece ser o
novo vício do alemão. Ela é linda mesmo, sua pele cor de chocolate é
perfeita. Risadas e bebidas rolando, Rodrigo tenta matar o alemão com o
poder da mente, procuro por Arthur e não o encontro. Eu o vi uma vez,
andando pelo salão com uma moça, mas não sei se é sua acompanhante ou
não. Curiosa, peço licença a todos e saio à caça do homem. Eu sei que não
deveria... eu sei, mas... é mais forte que eu.
Vasculho no ambiente interno e não o encontro, então passeio pelo
externo e estou quase desistindo quando lembro das pequenas varandas que
os jardins formam aqui atrás. Discretamente passo por cada canto escuro a
procura dele, até ver um movimento estranho e, ao chegar perto, vejo a cena
mais quente da minha vida. Arthur segura os cabelos da mulher pela nuca
com força. Ele a beija com fome e ela geme em sua boca. As alças do vestido
estão para baixo enquanto ele apalpa os seios dela. O que me chama a
atenção é o poder que emana dele sobre ela... que vem até mim. Tenho
certeza de que ela pode gozar só com um comando dele.
A razão grita para sair correndo daqui, mas meu corpo excitado quer
estar no lugar dessa mulher. Arthur desce sua mão pela lateral da perna dela
até desaparecer, pelo gemido que ela acaba de dar, a mão deve ter ido para o
meio de suas pernas. Um calafrio passa pelo meu corpo, meus mamilos estão
tão duros que o roçar no tecido é dolorido. Devo ter chamado a atenção de
alguma maneira, pois seus olhos encontram os meus. Eu sei que deveria sair,
mas não posso. Arthur ordena que ela abra a sua calça e o toque, tudo isso
sem parar de me olhar.
Estou tão hipnotizada com a cena e com ele que, sem pensar, dou um
passo à frente e só então caio na real. A vergonha toma conta e vejo que estou
fazendo um papelão ao estar aqui, ao sentir prazer assistindo o sexo dos
outros. O que estou me tornando? Corro para o banheiro e me fecho em uma
das cabines. Sento-me no vaso, coloco o meu rosto entre as mãos e respiro
algumas vezes. O que eu fiz? A cena dos dois não sai da minha cabeça e
minha excitação não diminui nem mesmo com a vergonha que sinto. Como
olharei para ele novamente?
Preciso ir para casa, ficar longe por algum tempo, até segunda terá
que ser o suficiente. Então, levantarei a cabeça e irei para o trabalho como se
nada tivesse acontecido. Olharei para o senhor Arthur Alcântara e Castro e
pensarei nele assim, como o chefe e nada mais.
Saio da cabine, ajeito meus cabelos e o batom, passo a mão pelo
vestido e saio do banheiro. Deixei minha bolsa com o pessoal da organização
para que fosse guardada e agora tenho que encontrar alguém, discretamente,
para sair sem ser notada. Depois enviarei uma mensagem para as meninas.
— Duda?
Encontro Manu logo na porta. O plano já começou dando certo.
— Oi, Manu.
— Aconteceu alguma coisa? — ela me olha com sincera preocupação.
— Não, não. Nada demais.
— Duda, não vou insistir, mas você não parece tão bem quanto antes.
Neste momento, Arthur passa por mim me dá um sorriso de canto e
não consigo desviar meus olhos dele. Quando volto a olhar para Manu, vejo
que ela me observa atentamente.
— Manu, estou indo para casa. Vou pegar um táxi, tenho que resolver
a minha situação com o meu futuro ex.
— Tuuuudo bem, senhorita. Topa um café amanhã? — ela me
convida. — Papo de meninas e tal.
Eu a abraço.
— Amanhã à tarde no shopping, combinado. Boa noite, amiga. E
obrigada por se preocupar comigo — digo. — Pode avisar a Bia que eu
estava muito cansada e resolvi ir embora mais cedo?
— Claro! Vá com Deus e se cuide!
Saio correndo antes que qualquer outra pessoa, com quem eu não
devo cruzar, passe por mim e impeça a minha saída à francesa. Encontro a
assistente do organizador e ela rapidamente traz a minha bolsa, permitindo a
minha fuga.
Adeus evento!
Capítulo 06

Arthur
Começar a segunda-feira com uma reunião chata só pode significar
que a semana será desgastante. Estou aqui, sentado, ouvindo esse monte de
pataquada há uma hora e meia, slides e mais slides narrados pela voz rouca
de um cara que parece ter fumado durante uma vida inteira. Gosto de fatos e
estatísticas, mas não há gosto que resista a uma apresentação monótona.
Distraio-me mais uma vez e volto para a minha sexta à noite com
Louise. Ela é sempre uma boa companhia, pois não espera nada de mim, a
não ser sexo e dominação. Esse acerto é bom para os dois, entretanto, todo o
meu final de semana se resumiu a repassar a cena em que Maria Eduarda
apareceu onde eu e minha acompanhante estávamos.
Sempre fui exibicionista e para mim tanto faz se houver alguém
assistindo ou não, mas perceber que ela estava contemplando foi surreal.
Maria Eduarda não imagina que gemeu alto o suficiente para ser ouvida, só
que o fez. Eu não sei por quanto tempo ela ficou ali, mas o meu tesão apenas
aumentou com a presença dela.
Quando nossos olhos se encontraram, percebi que estava excitada e
que seus mamilos quase perfuravam o tecido de seu vestido justo, que
contornava seu corpo perfeitamente. O vestido deveria ser comportado, mas
naquele corpo, naquelas curvas, cintura fina, bunda grande e pernas bem
torneadas, ele a tornava no pecado em pessoa.
Meu pau, que já estava duro, ficou dolorido e ordenei que a menina
me tocasse. Maria Eduarda gemeu mais alto e tenho certeza de que sentiu o
meu comando puxando-a para mim. Ela responde ao meu comando, seu
corpo responde a mim e já estou de pau duro novamente.
Será que uma noite com a bela secretária seria o suficiente para acabar
com o desejo que venho alimentando dia a dia? Se Manuela sonhar com uma
coisa dessas, ela me castra. Mas a Manuela não precisa saber, não é? O
Rodrigo também não. Ninguém precisa saber.
Bom plano, Arthur. — Sorrio para mim mesmo. — Bom plano.
Rodrigo finaliza a reunião dizendo que as projeções são favoráveis,
mas que precisamos de números concretos para adquirir um empreendimento
que outra construtora deixou pela metade. Então, volto para minha sala e me
concentro no que realmente é importante, o meu trabalho.
Não sei quanto tempo passa, mas a minha concentração é
interrompida quando alguém bate à porta e digo para entrar.
— Bom dia, senhor Arthur — Maria Eduarda entra e deposita a minha
caneca sobre a mesa. — Aqui está o seu café. Podemos passar a agenda
agora? Infelizmente, não podemos postergar mais. Há coisas que precisam da
sua atenção com urgência.
— Obrigado pelo café. Sim, podemos. Sente-se e me dê um minuto
para finalizar a leitura deste documento.
Ela aguarda quieta e sentada à minha frente enquanto o seu perfume
suave toma conta de mim. Quando essa mulher está por perto, não consigo
me concentrar. Ela cruza as pernas e me faz imaginá-las em torno da minha
cintura.
Foco, Arthur.
Vendo que não terei um resultado satisfatório, largo o papel de lado e
dou minha atenção a ela:
— O que temos para hoje?
— O senhor me pediu para não agendar nada, para podermos
organizar aqueles arquivos do Empreendimento Constance. Além disso, tem
algumas ligações que acredito que sejam importantes. — Assinto e ela
continua a falar: — Além do COO[4] da Constance, tem cinco ligações da
Érica, uma da Louise e três da sua mãe.
— Certo. Mais alguma coisa?
— No momento, não. A documentação da Constance é a prioridade
dos próximos dias.
— Mande flores para Érica e Louise. Para a primeira, o cartão deve
estar escrito “estou com saudades” e para a segunda “Você foi fantástica”.
Com uma careta, ela questiona:
— E a sua mãe?
— Ligarei daqui a pouco. — Ela assente e começo a observá-la.
Maria Eduarda fica sem jeito com o meu olhar e silêncio, provavelmente
pensando sobre a noite em que foi minha voyeur. — Gostou do que viu?
Maria Eduarda se engasga e começa a tossir, ficando vermelha.
Levanto-me e vou até ela, dando-lhe batidinhas nas costas. Alcanço o
telefone e peço para Dona Sônia trazer água, coisa que ela rapidamente faz.
Depois do susto, dou-me a liberdade de sorrir.
É pouco profissional falar dessas coisas na empresa, mas admito que é
um fetiche meu.
— Tudo bem, Maria Eduarda? — pergunto.
— S-sim, senhor.
— Então, agora me responda: gostou do que viu naquela noite?
Ela começa a corar novamente.
— Humm... eu não sei do que o senhor está falando.
Maria Eduarda não olha para mim, por isso abaixo-me na frente dela e
acaricio o seu rosto, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.
— Pode falar, estamos somente nós dois aqui, Maria — insisto.
— Não é uma boa ideia, se....
Levanto seu rosto o suficiente para que seus olhos se alinhem aos
meus.
— Almoce comigo hoje, prometo não fazer nada que você não queira.
— Eu não acho que seja... — ela tenta argumentar, mas eu a corto.
— Só um almoço, Maria Eduarda. Um almoço em um restaurante
cheio de gente, para agradecer por todo trabalho que teve com o lançamento.
É o mínimo que posso fazer.
Posso ver a batalha entre o “sim” e o “não” em seus olhos, que são
muito transparentes, mostrando seus sentimentos como se fosse realmente a
janela da alma. Logo, ela abre um sorriso tímido e percebo que ganhei.
— Ok. Mas só um almoço profissional.
Levanto as mãos em rendição.
— Apenas um almoço de agradecimento. — Estou cada vez mais
encantado com ela. Mal vejo a hora de tê-la nua em minha cama, implorando
por mais. Agora que já consegui o que quero, vou atrás da outra pessoa com
quem preciso conversar. — Sabe onde encontro a Manuela?
— Ela está no Departamento Pessoal, mas não quer que o seu irmão
saiba.
Levanto-me e volto para minha cadeira.
— Esses dois vão acabar me dando sobrinhos — eles só não sabem
disso ainda. — Ache-a para mim, por favor, e diga que preciso falar com ela.
Maria se levanta.
— Sim, senhor. — Enquanto ela sai, contemplo sua bela bunda.
Quais são as chances de fazê-la me servir como uma doce menina?
Balanço a cabeça porque o meu desejo por essa mulher está indo
longe demais. Preciso acabar com essa coceira de uma vez, para que esse
tesão não tome uma proporção maior do que deveria.
Volto aos meus afazeres, ligo para minha mãe e respondo alguns e-
mails, até que Manu entra na minha sala.
— O que você fez, Arthur? Eu não posso ficar te salvando dessas
loucas que você insiste em foder por aí.
Não contenho a risada.
— Não é isso — digo e ela se senta no sofá, que fica no canto,
enquanto me sento a sua frente. — Quero que me conte quem foi o seu
acompanhante no final de semana.
Ela me olha seriamente antes de responder:
— Alguém que conheci recentemente e só.
— Podemos sair do profissional aqui? — pergunto e Manuela cruza
os braços.
— Nós saímos do profissional três horas depois que nos conhecemos.
Você deu em cima de mim o dia todo.
Sorrio.
— Mas você não caiu na minha — coloco a mão sobre o coração — e
isso machucou os meus sentimentos.
— Deixa de palhaçada, Arthur. O que você quer saber?
— Quando você chegou aqui, já tinha um Dono — digo e ela assente.
— Pode me falar um pouco sobre isso?
Ela me analisa e isso me deixa incomodado, sem jeito.
— Eu deveria ficar muito, muito preocupada por você abordar este
assunto agora, mas, enfim... Bom, como você deve saber, a coleira é como se
fosse a aliança de casamento. A finalidade dela é deixar claro que o Sub ou a
Sub pertence a alguém. A minha relação não era grande coisa, às vezes eu
tinha a impressão de que iria dominá-lo. O Dono deve despertar a mais doce
submissão, não apenas o sentimento de pertencimento, que é importante, mas
não é a prioridade.
— Eu acreditava que o sentimento de pertencimento fosse algo
essencial — afirmo. — Sou novo, não tenho tanto tempo no meio quanto
vocês. Nunca pensei em ser Dono e acreditava que esse sentimento
diferenciasse a relação D/S. Eu não sei se quero, mas há alguém que vem
despertando os meus instintos de dominação e estou buscando explicações
para isso.
Manuela pensa antes de responder:
— Bonitão, você é próximo dos dois melhores Dominadores que há
no Rio, converse com eles. Não há pessoas melhores para tirar suas dúvidas.
Agora, enquanto alguém que se submeteu à outra pessoa, posso falar por mim
e apenas por mim. Eu estava nisso porque gosto do jogo, da adrenalina e do
tesão, mas ele não foi tão longe assim. Eu não pertencia, talvez até quis
pertencer, mas não havia esse sentimento lá porque ele simplesmente não
despertava a minha submissão total. — Manu faz uma pausa dramática. —
Eu não sei o porquê você está me perguntando isso, mas quero lhe dizer algo:
espero que não esteja querendo aliciar uma certa funcionária desta empresa.
Ela ainda é proibida para você. Estamos entendidos, Arthur?
Depois do que ela acabou de falar, penso que é melhor não tocar no
assunto do almoço com a Maria Eduarda. Por isso, resolvo descontrair e bato
continência.
— Ridículo — ela fala e revira os olhos.
Gosto de provocá-la.
— Pedirei um café e chamarei o Rodrigo.
— Não! — Manuela dá um pulo do sofá.
Não me contenho e caio na risada.
— Calma, seu segredo está guardado.
Ela se levanta, vem até mim, beija o meu rosto e caminha em direção
à porta.
— De qualquer maneira, tenho uma reunião daqui a pouco na Ideal´s.
Beijos e se cuida!
— Se cuida você também, gatinha.
Manuela vira-se para mim e imita as garras de um felino.
— Miau.
Ela sai do escritório, deixando-me sozinho com os meus pensamentos
nada tranquilos. Olho para o relógio e vejo que está próximo das treze horas,
então, ligo para o bistrô italiano que há aqui perto da construtora e reservo
uma mesa, pois o bistrô serve uma deliciosa refeição e o ambiente é
agradável nesta época do ano.
Alcanço o meu terno e vou até a mesa em que Maria Eduarda está.
Assim que me vê, ela pega a bolsa e saímos.
— Se importa de caminhar por duas quadras? — pergunto enquanto
olho os saltos e as pernas dela.
— Por mim, tudo bem. Vamos indo?
Caminhamos sob o sol quente, conversando sobre trabalho e o evento
que ocorreu no final de semana. Em poucos minutos, chegamos ao bistrô e,
assim que entramos, somos recebidos pelo concierge, que nos leva até uma
mesa em frente a um belo jardim.
Como sou um cavalheiro, puxo a cadeira para que ela se sente.
— Espero que goste daqui.
— É difícil não gostar de comida italiana — Maria Eduarda gira a
mão, apontando o nosso redor. — E o ambiente é lindo, diferente do que
imaginei.
— E o que você imaginou, Maria?
Ela ri enquanto coloca o guardanapo de tecido no colo.
— Esperava um ambiente intimista, luzes baixas, música sugestiva e
sentaríamos em uma mesa reservada.
Não contenho a risada.
— Muito criativo, senhorita. Só não sei se fico lisonjeado ou
ofendido.
— Um pouco dos dois — ela fala, divertida.
Incentivo Maria Eduarda a provar a especialidade da casa quando
percebo que ela está em dúvida entre saladas e massas, pois, ao contrário do
que pensa, seu corpo não precisa perder peso. Por fim, fazemos nossos
pedidos assim que a atendente se aproxima.
Maria Eduarda tem belas curvas, pelo menos com roupa. Agora, estou
imaginando como ela é nua. Suas pernas longas e torneadas, seus seios que
devem ser cheios o suficiente para as minhas mãos. Porra! Já estou excitado e
tenho que mudar a posição na cadeira para aliviar a pressão entre as pernas.
Conversamos sobre política, economia e o que podemos esperar para
o futuro. Descubro que ela é engraçada, boa companhia e leal ao que acredita,
além de ser inteligente e bem-articulada.
Os pratos e as bebidas são servidos em meio as nossas conversas e
risadas. Há muito tempo não encontro uma mulher com senso de humor que
desperte a minha amizade antes do meu pau. Geralmente são bonitas, mas
não têm conteúdo, encontrar uma que engloba isso é demais.
— Obrigada pelo almoço, Arthur. Estava maravilhoso — Maria me
agradece enquanto nos levantamos para sair do restaurante. — Humm... acho
que você pode me chamar de Duda. Acredito que chegamos em um meio-
termo legal entre chefe e subordinada.
Sorrio com a sua colocação.
— O prazer foi todo meu, Duda. Espero que possamos repetir isso
mais vezes.
Eu não sei explicar o porquê nos encaramos, mas, de repente, o ar e o
tempo ao nosso redor param, nossos olhos travam um no outro... em um
impulso nada profissional entre chefe e subordinada, eu a puxo para perto e a
beijo.
Maria Eduarda resiste até que eu mordo seu lábio inferior, logo, passo
a língua e ela me dá passe livre para explorar sua boca, que tem um gosto
delicioso. Acredito que de início ela tenha ficado em choque, mas não
demora muito para ceder e responder o beijo com a mesma intensidade.
No entanto, da mesma maneira que tudo começou, o momento se
desfaz. A mulher me empurra para longe, chocada com o ocorrido.
— I-isso não poderia ter acontecido. Que merda, Arthur! Agora não
sei se te dou um tapa e saio ofendida ou se peço desculpas. Quer saber? Foda-
se! A culpa é totalmente sua, estou indo embora.
Ela sai em disparada, deixando-me como um idiota, mas um idiota
feliz porque o beijo foi muito bom. Não, não. Não foi apenas bom, foi
esplêndido. Maria Eduarda não sabe ainda, mas ela se submeterá aos meus
desejos e eu realizarei cada um dos dela.
Tendo isso em mente, saio do bistrô sorrindo e caminho assobiando
até a empresa, afinal, ganhei o meu dia. Hoje, não há nada que possa tirar a
minha satisfação.
Capítulo 07

Arthur
Não sei quanto a vocês, mas os dias têm passado rapidamente na
minha concepção. Um dia é segunda e quando nos damos conta estamos na
quinta, mal vemos os dias correrem, o tempo entre um Natal e outro parece
estar menor. Não acham?
Pode ser isso ou o excesso de trabalho. Eu amo o que faço, só que não
sou um workaholic [5]como meu irmão, gosto dos meus finais de semana
livres e férias anuais. Prefiro pegar pesado durante a semana, iniciando o dia
sem hora para finalizá-lo, assim, posso desfrutar de um bom descanso nos
finais de semana.
Chego na empresa mais tarde e começo o meu dia procurando por
Rodrigo, já que temos coisas importantes para resolver antes deste dia acabar.
Dou uma olhada na obra do Leblon, pensando nas reuniões que tenho com
dois bancos, já que me tomarão a manhã inteira.
— O Rodrigo está e pediu para que, assim que você chegasse, fosse
diretamente até a sala dele. Mas, no momento, ele está com a Manu.
Assinto.
— Avise-me assim que ela sair. Meu café e agenda podem ser agora
— falo enquanto caminho até a minha sala.
Depois de algumas ligações, agenda passada e dois cafés, ouço vozes
alteradas. Uma dessas vozes parece ser de Manuela. Merda! Levanto-me, saio
da minha sala rapidamente e encontro Maria Eduarda em pé, ao lado de sua
mesa, provavelmente pesando se deveria entrar na sala do CEO da empresa,
já que a gritaria está vindo daquela direção.
O que esperar de Rodrigo e Manuela? É como colocar dois pitbulls
revoltados no mesmo ambiente. Essa tensão sexual entre os dois está saindo
do controle.
Olho ao redor e vejo que outros funcionários do andar e clientes estão
olhando uns para os outros, querendo saber o que se passa. Decido que já
perdi tempo demais e entro na sala, me deparando com uma cena de novela
mexicana.
Manuela com seus lábios inchados, provavelmente de um beijo, e
Rodrigo parece chocado com alguma coisa, provavelmente com as...
lágrimas?
Porra....
— O que está acontecendo aqui? Enlouqueceram? Dá para ouvir os
gritos da minha sala, que é no final do corredor! — Vou até Manuela, que
está bravamente tentando disfarçar. — Por que você está chorando?
Ambos me olham surpresos e Manuela é a primeira a responder:
— Nada, Arthur. Eu perdi a paciência com o Rodrigo por uma
bobagem.
— Bobagem? — ele a corta, visivelmente irritado.
— Sim, bobagem. Se me derem licença, vou até o Departamento
Pessoal para fazer os remanejamentos. — Ela se vira e caminha em direção à
porta.
Antes que Manuela deixe o escritório, meu irmão a chama, sem
sucesso. Rodrigo passa a mão pelos cabelos, xingando baixinho:
— Essa mulher me tira do sério.
Bufo debochadamente.
— Ninguém percebeu. Está tudo bem? — pergunto e ele assente. —
Qualquer coisa, só me chamar.
Saio da sala balançando a cabeça, pensando que meu irmão está
perdendo a compostura facilmente. Se esses dois não se resolverem em breve,
todos nós estaremos ferrados.
Volto para minha sala e Maria Eduarda entra atrás de mim.
— O que houve lá?
— Acho que o Rodrigo beijou a Manuela e ela surtou.
Sua expressão, que estava séria, torna-se pensativa.
— E eu achando que os dois estavam se matando, literalmente.
— Isso tem nome, tensão sexual. — Pisco para ela e sorrio. Minha
vontade é de beijá-la novamente para sentir seu gosto.
Até penso em colocá-la sobre a minha mesa, só que a vida é injusta e
meu irmão entra na sala, impedindo os meus planos.
— Espero não estar interrompendo nada.
Claro que está, idiota.
— Não, irmão. A Maria Eduarda só está querendo saber se ambos
saíram ilesos depois da gritaria. — Volto-me para ela e aponto para o
homem. — Como você pode ver, ambos saíram ilesos.
Maria Eduarda olha para o meu irmão, seu chefe e CEO da empresa
na qual ela trabalha, com irritação. A mulher é corajosa, pois está colocando
seu lugar em cheque para defender a amiga.
Muito bom.
— Se me derem licença — Maria sai, fechando a porta.
Rodrigo fica olhando da porta, que acabou de ser fechada, para mim.
— Vou te avisar quantas vezes forem necessárias: não faça a nova
assistente se demitir ou eu mesmo vou tratar esse assunto com você.
— Sim, senhor — bato continência.

***

(...) Quem sabe por quanto tempo estou acordado agora? As sombras
na minha parede não dormem, elas continuam me chamando, acenando.
Quem sabe o que é certo? As linhas ficam cada vez mais finas. Minha idade
nunca me fez sábio, mas eu continuo empurrando mais e mais e mais.... Não
há mais nada a dizer agora, eu estou desistindo, desistindo, desistindo agora.
Não há mais nada a dizer agora [6](...)
A música está alta demais, mas preciso dela para me distrair. Todos
os dias são cheios, mas esses últimos dias estão de parabéns. Hoje não tive
tempo para nada, nem para almoçar. Ainda tenho que desvendar as contas do
Setor de Compras, porque algo não está certo lá.
Ando tão tenso que tenho tido dores de cabeça contínuas. Preciso
desestressar e não há melhor coisa do que ter uma mulher gemendo
deliciosamente sob as minhas mãos. Quem sabe a Thaisa, aquela loirinha
suculenta? Posso chamar a Érica também, com ela uno o útil ao agradável.
Ah sim, tem a moreninha que é a nova recepcionista. Aquela garota
mexe com o imaginário de qualquer homem. Ou aquela...
— ARTHUR!
Maria Eduarda entra desesperada na sala, fazendo um calafrio arrepiar
os pelos da minha nuca. Sinto que algo grave aconteceu e levanto-me, indo
ao seu encontro.
— O que aconteceu?
— A M-manu... — Seguro seus braços firmemente.
— Respire fundo, Duda. Isso.
— A Manuela foi assaltada e o Rodrigo quer que você o encontre no
carro, agora.
Inferno!
Pego a minha carteira, celular e o meu terno, viro-me e vejo que a
Maria Eduarda está com lágrimas nos olhos. Visto o terno e a abraço.
— Fique calma e firme, querida. Nós cuidaremos dela.
— Assim que vê-la, me dê notícias. Ok?
— Sim, Duda. Assim que eu colocar os meus olhos nela, ligarei para
você. Acalme-se, ok? — beijo sua testa e saio correndo até o estacionamento.
Chego no carro um pouco antes do Rodrigo. Sem perda de tempo,
entramos no carro e, assim que fechamos a porta, ele dispara para o trânsito
caótico da cidade. Passamos boa parte do caminho em silêncio, cada um
perdido em seus pensamentos. Só então reparo que ele está estranhamente
pálido e nervoso. Eu também estou agitado, mas com o meu irmão a coisa
parece mais intensa.
— O que aconteceu exatamente com a Manuela? — pergunto.
— Segundo a Bia, ela foi assaltada e agredida — meu irmão
responde, seu tom de voz está um pouco desesperado.
— Filhos de uma puta! — Só de pensar na Manu machucada, minha
vontade é de arrebentar um.
Seguimos em silêncio, cada um fazendo sua prece para que ela esteja
bem. A parte ruim é que a minha cabeça começa a montar todos os cenários
possíveis de como a encontraremos.
Eu sou contra a qualquer tipo de violência, só que a violência contra a
mulher e criança é ainda pior. Será que a mãe desses imbecis não os
ensinaram que em uma mulher não se bate nem com uma flor?
Adoro a Manuela e não suporto a ideia de vê-la machucada. Olho para
o Rodrigo e vejo que ele está tão absorto quanto eu. Ali o caso não é de
amizade, há algo rolando entre eles. Pena que os desatentos perdem mais
tempo se bicando do que se importando com o que realmente importa.
Chegamos ao hospital e fomos procurá-la, Rodrigo pede informações
para uma enfermeira, mas, antes que ela termine de falar, saímos
rapidamente. Entrando no quarto encontramos uma menina... isso, uma
menina frágil e de olhar perdido.
Oh, Manuela!
Deus tenha pena da alma daqueles bastardos quando eu os encontrar,
pois eu irei. Depois dos abraços e carinhos que trocamos, os policiais entram
e nos contam como foram incompetentes ao não prender os responsáveis.
Meu irmão questiona os policiais, falando que a mulher não tem
condições de nada agora, o que eu concordo plenamente, mas a própria
mulher, teimosa, insiste e começa a relatar.
Nesse meio-tempo, Rodrigo pede para que eu encontre o médico e o
traga. Manuela dá o seu depoimento e Rodrigo, indignado, por pouco não é
levado por desacato. O médico vem e passa todas as recomendações que ela
deve seguir.
O inferno vem abaixo quando o doutor pergunta quem cuidará dela,
pois ambos respondemos “eu” enquanto a moça atacada fala “ninguém”.
Assim, meu irmão quase tem um infarto. Sem uma resposta concreta,
Manuela discute até para sentar-se na cadeira de rodas, entretanto, o médico
diz que é o procedimento padrão, que se ela quiser sair daqui deverá seguir as
regras.
Não há mais discussão sobre o assunto.
Vai ser teimosa assim nos quintos dos infernos!
Como ela ficará sozinha depois de um ataque? E se ela tiver uma crise
de pânico ou qualquer coisa do tipo? Quem estará lá para ajudá-la?
Boa parte do trajeto fazemos em silêncio e pergunto uma coisa ou
outra ao Rodrigo para tentar quebrar o clima tenso, mas como evitar a tensão
se ela não quer ir para casa de alguém e também não quer que alguém fique
com ela? Tento persuadi-la com o meu charme, só que nem isso é eficaz.
Chegamos em seu condomínio e, enquanto meu irmão convence a
mulher sobre a insanidade de ficar sozinha, afasto-me para fazer uma ligação.
— Maria Eduarda.
— Ah, Arthur... eu estava tão aflita! Como ela está? Machucaram
muito? Ela terá que ficar no hospital muito tempo?
— Ela está bem, já está em casa. Tem alguns machucados, mas nada
sério. Acho que o Rodrigo e eu estamos mais feridos do que ela, é revoltante
vê-la dessa maneira e saber que não estamos seguros em lugar algum. O pior
de tudo é que ela não quer ir para casa de ninguém, quer ficar sozinha em
casa.
— Como assim? — seu tom incrédulo não passa despercebido. — Ela
não pode ficar sozinha.
A preocupação dela é comovente. Maria Eduarda começa a divagar
sobre sua amiga não estar pensando direito e comenta que falará com a Bia
sobre revezar durante as noites. Estou completamente perdido com a sua voz
melodiosa e sedutora, como o canto de uma sereia.
— Sua voz me faz imaginar como seria tê-la gemendo em meu
ouvido.
Ela fica por exatamente três segundos em silêncio antes de falar:
— N-não fale assim....
Eu a corto.
— Assim como, Maria Eduarda?
Ela geme e a imagino esfregando sua testa, gesto que faz quando está
estressada e/ou tentando não entrar em desespero.
— Falar assim, desse jeito... Não é certo. É errado, muito errado.
— Deixe-me decidir o que é certo, menina, e garanto que a viagem
será inesquecível.
Percebo que a sua respiração está acelerada.
Essa será minha logo, logo.
— Até mais, senhor Castro.
Duda desliga sem dar a chance de me despedir e isso me faz sorrir.
Quando viro, dou de cara com o olhar fuzilante da general Manuela e o olhar
debochado do meu irmão.
Porra! Caiu a casa.
— Algum problema? — pergunto e meu irmão me salva.
— Não. Já está na nossa hora — o homem fala visivelmente
aborrecido enquanto Manu nos olha com suavidade.
— Obrigada por tudo.
Rodrigo se aproxima dela.
— Me liga assim que acordar. Só vou me sentir melhor quando ouvir
sua voz e constatar que está bem. Permita-nos cuidar de você, Manuela.
Precisamos disso para ficarmos despreocupados.
— Prometo que farei, Rodrigo — ela o abraça e o beija no rosto.
Eu me aproximo dela e a puxo para os meus braços.
— Se cuida, gatinha. Qualquer coisa que precisar, independente da
hora, me ligue. Estarei a postos para socorrê-la.
Assistimos Manuela entrar no elevador e voltamos para o carro, mas
antes de passarmos pelos portões de seu condomínio, falo:
— Não acredito que estamos deixando a Manu sozinha, Rodrigo. Puta
que pariu, cara! A mulher acabou de ter uma experiência traumática e quer
ficar sozinha? Agora quem não dorme sou eu.
Meu irmão tão preocupado quanto eu, diz:
— Quando a Manuela acordar, Dona Sônia estará em sua porta,
pronta para cuidar dela. Sobre isso, não aceitarei discussão.
— Amém! — respondo.
— Por que você insiste em perturbar a Duda? — Rodrigo me
questiona.
— Estava acalmando-a — defendo-me e ele solta uma risada.
— Ela não é dessas meninas que você pega, usa e descarta.
Passo a mão pelo meu rosto.
— Eu sei. Eu sei, tudo bem? Só que não consigo tirá-la da cabeça e,
para deixar tudo pior, Maria desfila por meu escritório todo santo dia com seu
perfume e andar sexy. — Suspiro. — Esqueça. Tivemos um dia difícil e
preciso de uma sessão ou sexo para acabar com toda essa tensão.
— Somos dois.
— O que se passa entre você e a Manuela?
Ele sorri antes de questionar:
— O que se passa entre você e a Duda?
Touché.

***

Eu não sei o que colocaram na água desta empresa, ou talvez as


mulheres tenham resolvido marcar o dia da revolta... não sei. Maria Eduarda,
Manuela e algumas fêmeas deste lugar estão irritadiças. Penso que pode ser o
ciclo menstrual sincronizado, quando o diabo abre as portas do inferno e
dispara a lança da TPM em todas as direções. Essa época do mês deveria vir
com aviso prévio ou, pelo menos, poderia estar escrito na testa delas a
palavra “PERIGO”.
Maria acabou de sair desta sala e deixou para trás o seu desgosto. Para
colocar essa sensação de lado, vou até a copa para ver se descolo um café.
— Dona Sônia, será que consigo um cafezinho? — pergunto e ela
sorri.
Essa é uma senhora vivida que sabe controlar seu monstro.
— Para você, sempre tenho algo pronto — enquanto ela me serve
uma caneca de café, mexo em meu telefone e sorrio diante de uma mensagem
sacana que me enviaram.
Não percebo que coloquei o telefone sobre a mesa e que qualquer um
pode ver o que há na tela, como uma mulher nua em pose sensual.
— Você não toma vergonha, não é? Isso é coisa que se faça? Essa
mocinha é bem saidinha para te mandar essas fotos.
Dou risada e seguro a sua mão, beijando-a. Dona Sônia é a copeira da
empresa, na verdade, ela serve somente o andar da presidência. Para todos os
outros setores, há outras cozinhas e outros funcionários. Ela é uma senhora
com quase sessenta anos e cuida muito bem de nós. Tenho um carinho muito
especial por ela, que está sempre de bom humor, com um sorriso estampado
no rosto e distribuindo abraços.
— Dona Sônia, já falei para a senhora que enquanto não aceitar o meu
pedido de casamento ficarei atormentando as mulheres alheias.
Ela ri com gosto e isso já melhora o meu dia.
— Arthur, você precisa criar juízo.
Tomo meu café rapidamente e logo chega o aviso de que a reunião
está prestes a começar. Saio da copa e vou diretamente à sala de conferência,
aonde iremos nos reunir. Assim que entro na sala, encontro Maria Eduarda de
quatro no chão, juntando papéis.
Que visão deliciosa.
A saia justa moldando sua bunda não é curta o suficiente para me
mostrar entre suas penas, mas as minhas mãos formigam com a vontade de
dar algumas palmadas e deixar aquela pele branca, rosada, com a minha
marca.
— Acredito que essa seja a segunda vez que a vejo no chão, Maria
Eduarda.
Ela se assusta e, ao invés de se levantar, cai sentada enquanto tenta
manter as pernas fechadas.
— Ah, meu Deus! — Ajudo Maria a se levantar. — A sala está
pronta, senhor Arthur. Posso lhe ajudar em mais alguma coisa?
Aproximo-me dela.
— Pode sim, Maria — coloco um cacho de cabelo atrás de sua orelha.
— Pode sair comigo e acabar com a minha miséria.
A mulher fica corada e sua respiração está um pouco mais difícil do
que segundos atrás. Eu sei que a afeto da melhor maneira. Maria Eduarda só
tem que deixar se levar.
— Já falei que não sei se me ofendo ou não, mas fico tentada, às
vezes. — Seu olhar astuto encontra o meu e um sorriso de canto, que eu não
havia visto antes, brota em seus lábios. — Só que o problema aqui é a
carência, não encanto por você. Também não acho que seja certo.
Dou mais um passo à frente, coloco minhas mãos em sua cintura e a
puxo para mim antes que ela possa resistir. Passo meu nariz pelo seu pescoço
e sinto o seu arrepio. Seu perfume me deixa louco.
— Eu decido o que é certo — acaricio o seu pescoço até a nuca e
seguro seu cabelo firmemente, fazendo com que ela tenha que levantar o seu
rosto. Seus olhos encaram os meus e vejo fogo, desejo. Falo enquanto
acaricio seus lábios com os meus. — Posso te levar ao paraíso depois de te
apresentar o inferno cheio de prazeres carnais. Você não sabe o prazer que
posso lhe dar. — Beijo-a rudemente, com o mais puro e carnal dos beijos. Só
que a coisa toda não dura porque ouço passos no corredor e me separo dela
antes que alguém perceba alguma coisa.
Um dos funcionários da sala de cópia entra com os braços cheios de
pastas e Duda o ajuda. Ela pega as pastas e distribui pela mesa.
— Obrigada, Sandro — ela agradece o jovem e faço o mesmo quando
ele passa por mim. Assim que ele está fora de vista, aproximo-me dela
novamente, mas desta vez Maria se afasta de mim.
— Qual é o problema? — pergunto, pois a mudança de humor está
estampada em seu rosto.
Não falei que hoje essas mulheres estão volúveis? Seu olhar é frio,
seus lábios estão em uma linha fina, mostrando claramente a sua irritação.
— Acredito que os clientes já chegaram, vou trazê-los enquanto o
senhor se prepara. Com licença — diz e sai marchando corredor afora.
Vou até a porta para apreciar aquela bunda mais uma vez e a imagino
em uma lingerie vermelha, deitada em minha cama, gritando o meu nome
enquanto a fodo e seguro seus braços.
Olho para baixo e vejo meu pau duro retratado na calça. Fecho o terno
para disfarçar a evidência da minha mais nova obsessão: Maria Eduarda. Não
demora para ela escoltar o pessoal até a sala em que me encontro. Ela não me
olha, apenas vira-se e volta para sua mesa.
Agora é hora de desligar o modo tesão e ligar o de trabalho, até
porque é o melhor que faço neste momento.
Capítulo 08

Arthur
A semana passa voando, ando cansado e precisando de foda e folga.
Estou chegando no meu limite, quero uma sessão com uma bela submissa se
submetendo a mim, pedindo por mim e tudo o que eu posso dar a ela. Sessão
com música sexy, cordas, mordaça e um bom flogger[7].
Essa necessidade está cada vez mais inflamada dentro de mim, já é
questão de necessidade. O controle é um exercício diário e gosto dessa
disciplina. Não sou um dominador experiente, mas estou no caminho,
aperfeiçoando sempre que posso para dar mais prazer a quem se submete.
Maria Eduarda entra em minha sala, tirando-me dos meus
pensamentos mais sombrios e uma pergunta surge: será que ela se assustaria
com o jogo Dom/Sub? Ela coloca alguns papéis à minha frente para que eu os
assine.
— Esta é a última pasta de contratos revisados. Sua tarde está
tranquila hoje e sei que você anda cansado, então tomei a liberdade de limpar
a sua agenda e os poucos compromissos foram reagendados.
— Obrigado, Duda. Estou realmente cansado, mas a minha tarde
ficaria melhor se eu a tivesse aqui, em meu colo. — Levanto meus olhos,
encontrando os seus, e recosto-me na cadeira. — Quero você, Maria Eduarda.
— Não, você me quer porque não pode ter — ela fala sem vergonha
alguma. Maria é uma mulher decidida e gosto muito disso. — Isso é assédio
moral e sexual, essa situação traria tantas complicações para você — ela
continua a falar enquanto arruma a minha mesa e acho que ela nem percebe
que está fazendo isso, está absorta em seu sermão.
— Você acha que não sei? — retruco. — Mas o que posso fazer se
Deus me fez assim, sedento por mulheres bonitas e inteligentes? — coloco a
mão no peito com falsa mágoa. — Estou cansado de me masturbar em
homenagem a sua bunda.
Ela não se contém e começa a rir. A essa altura a mulher não só está
acostumada com as minhas investidas como também gosta deste joguinho.
— Se masturbar em homenagem à bundas? Isso é coisa de
adolescente entrando na puberdade.
Dou a volta na mesa e me coloco atrás dela, seguro sua cintura e
pressiono o seu corpo contra o meu para que ela sinta a minha ereção.
— Você sente algum adolescente por aqui, Maria Eduarda? —
encosto minha boca em seu ouvido. — Responda-me, menina. Isso parece
um adolescente para você?
Ela deita a sua cabeça em meu ombro, um pouco ofegante.
— Não... não, senhor — sua voz sussurrada me tira do prumo.
Viro-a de frente para mim, seguro seu rosto entre as minhas mãos e
tomo a sua boca em um beijo que começa lento e aos poucos se aprofunda até
se tornar um ato quase sexual. Maria geme em minha boca e me aproveito
disso para explorar mais dela.
Com muito custo, me afasto.
— Você tem tirado a minha paz, mulher — seguro seu olhar, que
demonstra o quanto está desejosa. — Sabe o que faz comigo cada vez que me
chama de senhor?
Ela tenta se afastar, só que não tem forças para isso. Passo as minhas
mãos pelo seu corpo escultural e aperto sua bunda, beijo seu pescoço e estou
prestes a levantar uma de suas pernas quando o caralho do telefone começa a
tocar.
Duda se assusta e tenta se desvencilhar de mim, mas não permito.
— Pode ser importante, Arthur.
Solto-a muito a contragosto e atendo enquanto juro matar o
interlocutor, se não for algo importante.
— Fale — é o máximo que consigo falar ao atender o telefone.
— Fico tocado pela sua simpatia, irmão. Quer almoçar? — Rodrigo
convida.
Olho para Maria, que está se ajeitando na minha frente, e peso a
minha decisão. Eu deveria ficar e ver até onde chegarei com essa mulher,
mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim grita para sair e deixá-la na
expectativa.
— Estou indo. — Desligo o telefone e olho para Duda, que já está
impecável novamente. — Estou saindo para almoçar com o meu irmão,
terminaremos essa conversa depois.
— Não teremos conversa. Eu tenho namorado e não quero perder o
meu emprego. Então, por favor, não faça mais isso — ela pede ainda
ofegante e eu a encaro.
— Você quer...
Irritada, Maria me corta.
— É claro que quero! Olhe para você... — ela aponta para mim. —
Você é o sonho de toda mulher. Quando a Manuela me advertiu sobre ficar
longe de você, não imaginava que seria tão difícil e... — ela ri sem humor. —
Nem sei dizer se isso é atração ou carência, Arthur, mas seja o que for, não
vai rolar.
— Somos adultos, podemos muito bem aproveitar o momento e
continuar trabalhando sem problema nenhum.
— Trabalho diretamente com você, assim que transar comigo pedirá a
minha cabeça. Não correrei esse risco.
Aproximo-me dela e a enlaço pela cintura.
— Isso é o que veremos, minha Duda.
Antes que ela possa esboçar qualquer resposta, dou um leve beijo em
seus lábios e saio para encontrar com o empata-foda do meu irmão. Ele e
Manuela se merecem, deveriam ganhar um prêmio por serem estraga-
prazeres no mesmo nível.

***

Voltamos do almoço e entramos direto na sala de Rodrigo, a fim de


continuarmos a conversa. Somos unidos, parceiros e melhores amigos, isso se
reflete na empresa. Orgulho-me de ter este cara como exemplo de vida, ele
me acolheu em um momento complicado e jamais terei como pagar tudo o
que fez por mim.
Enquanto falamos sobre a obra do Leblon, ouvimos um bater na porta
e logo a mais bela morena que conheço mostra seu lindo rosto.
— Oi, estou atrapalhando?
Manuela nos olha com carinho e sorri lindamente. Gosto muito desta
mulher e, olhando para meu irmão, tenho certeza de que não sou o único. A
diferença é que o sentimento dele não é nada fraternal.
— Boa tarde, general, como se sente? — Vou ao encontro dela e a
abraço.
— Estou bem, soldado bonitão.
— Como vai, senhorita Vasconcelos? Faz tempo que não nos vemos
— Rodrigo dá a volta em sua mesa e a abraça.
Assisto com interesse a interação dos dois.
— Estou bem, obrigada. Muito trabalho? Posso fazer alguma coisa?
Hoje o dia está... bom, por que não aproveitar? Estou feliz em ver
Manuela bem e mais feliz ainda porque terei Maria Eduarda mais tarde.
Então, tenho a ideia de fazer algo diferente do que estamos costumados.
— Vamos ao shopping para tomar alguma coisa? — convido.
— Sim! — o casal responde ao mesmo tempo.
Rodrigo pode não estar se dando conta do grande sorriso estampado
em seu rosto.
Ah, que lindo o amor.
Vamos ao shopping que fica ao lado da construtora. Não costumamos
sair assim e menos ainda ir ao shopping, só que precisamos relaxar e
Manuela também, é bom sair da rotina. Mesmo que seja só para tomar
alguma coisa e jogar conversa fora.
Nós nos sentamos em um dos restaurantes da praça de alimentação e
cada um faz o seu pedido. Não demora muito tempo e as nossas bebidas
chegam, continuamos a conversar e quando entramos em um embate político
ouvimos:
— Olha quem está aqui. — Não! Não! Não! Essa voz me dá calafrio.
— Arthur, Rodrigo... nossa! Vocês em um shopping às quatro da tarde, no
meio da semana.
Isso é hora de a Érica aparecer? Deus, me dê uma folga, por favor.
Não acredito que o Senhor esteja jogando no time da minha mãe.
— Ligarei para a Bárbara, ela vai adorar saber que você está aqui,
Rodrigo. Acabei de me encontrar com ela.
Uma louca chamando a outra, ninguém merece.
Érica e Bárbara foram escolhidas pela nossa mãe para ser nossas
esposas. Mas, no que depender de mim, isso se dará só daqui a três
reencarnações. Enquanto fico nessa divagação, encaro Rodrigo que
provavelmente está pensando o mesmo que eu. Só que meu irmão é um
gentleman. Ele se levanta para cumprimentar a menina com quem transo
casualmente, a fim de assegurar que a minha mãe não fique no meu pé,
forçando casamento.
— Érica, como está? Faz tempo que não nos vemos. Quero lhe
apresentar Manuela, uma amiga. — Ele aponta para Manu. — Manuela, esta
é Érica. Ela é ex-namorada do Arthur.
Manuela me olha e não consigo disfarçar o meu desgosto. Apresentá-
la assim não foi a melhor maneira. Admito que sou um cafajeste, tenho
encontros uma vez ou outra com a mulher, mas sempre fui sincero: não quero
compromisso.
— Prazer, Érica — Manu a cumprimenta, não muito feliz. Até acho
que a mulher fez a temperatura do lugar cair alguns graus.
Como se as coisas não pudessem piorar, algum tempo depois,
ouvimos a voz estridente que chega a me dar calafrios. Essa voz só pode
pertencer a uma pessoa, Bárbara, a cruz que o meu irmão deve carregar por
causa da minha mãe. Bárbara é intragável.
— Rodrigo — ela tenta fazer o papel de gatinha manhosa, mas falha
vergonhosamente. — Como vão, rapazes? Faz muito tempo que não nos
vemos.
As mulheres não se simpatizaram, o que já era esperado. Gosto da
Manuela porque com ela as coisas são simples, não tem expectativas ao que
podemos dar, ela apenas nos aceita como somos. E mais, Manuela é do tipo
de pessoa que não se importa com status ou quem seja, se é funcionário,
chefe, copeira ou se é o presidente, ela não se importa.
Érica e Bárbara não são assim, elas se importam com dinheiro e
posição social. São dondocas, filhinhas de papai que veem em nós um futuro
de luxo e status. Dispenso esse tipo de coisa e de pessoas.
Mesmo não sendo convidadas, elas se sentam e começam a falar de
amigos em comum, afinal, somos próximos desde sempre. É normal que, em
uma conversa entre amigos de infância, percamos tempo ao repassar a vida
de todos que merecem nossa atenção. Entretanto, Manuela fica
desconfortável e vai embora. Rodrigo tenta persuadi-la a ficar, mas ela não dá
atenção.
— Agora que a secretária foi embora, conte-nos... por que a boa ação
de sair com ela? — Bárbara arrota sua arrogância.
Respondo sem muita paciência:
— Manuela não é a nossa secretária, mas se assim fosse, isso não
importaria. Ela é alguém que queremos bem.
— Olha, Érica. Pelo jeito você tem uma forte concorrente...
Rodrigo a corta.
— Bárbara, não vá por este caminho. Manuela é nossa amiga, muito
querida por sinal. Nem vou entrar no detalhe de que ela é a nossa consultora.
Tenha respeito.
Bárbara acaricia o braço dele.
— Tudo bem, amor. Vamos combinar de fazer algo esta noite? Nós
quatro?
Respondo mais rápido do que o esperado.
— Não posso.
— Nem eu — Rodrigo fala.
Provavelmente, meu irmão vai atrás da Manuela, se arrastando por
perdão pelo que aconteceu aqui. Peço a conta sem perguntar se elas querem
alguma coisa, não vim aqui para entreter desocupadas.
Assim que pago, levanto-me.
— Vamos, Rodrigo? Temos mais algumas coisas para resolver antes
de ir embora — abaixo-me para beijar o rosto de Érica, mas a mulher vira
apressadamente e acaba me beijando na boca.
Ela me segura pelo terno.
— Arthur, meus pais estão nos convidando para ir à casa de campo,
no próximo final de semana. — Já estou pronto para recusar quando ela
complementa: — Seus pais também estarão lá.
Que merda!
Estou há muito tempo encenando esse teatro com Érica, só para
agradar os meus pais. Ainda há uma parte de mim que quer a aprovação dos
meus progenitores e é isso que me impulsiona a fazer esse papel com a
mulher que está ao meu lado.
Como falei antes, não é difícil. Érica é uma mulher muito bonita e nos
damos bem na cama, só que preciso de mais para encarar um relacionamento.
É por isso que dessa vez não dará para escapar.
Derrotado, respondo:
— Ok. Depois combinamos os detalhes. Tchau, Bárbara.
Rodrigo me acompanha até a empresa, me questionando sobre Érica,
e não deixo de jogar em sua cara a situação com Bárbara. As pessoas
acreditam que o dinheiro e o status social darão a liberdade para fazer tudo o
que quiserem, mas isso não é correto na vida real.
Temos uma vida desenhada por terceiros, com expectativas de
terceiros, para agradar a terceiros. Muitas vezes somos reféns da nossa
própria história ou sobrenome, como é no caso dos irmãos Alcântara e
Castro.
No momento, todas as minhas expectativas estão no encontro que
terei com a Maria Eduarda, nesta noite. O meu desejo desenfreado tem feito
com que eu pense em propostas, estou a poucas horas de propor um acordo a
ela.
Eu não sou um homem de compromissos, namoro ou casamento,
definitivamente não nasci para isso, mas posso propor uma sessão D/S uma
vez por semana, levando em consideração que posso tê-la no escritório todos
os dias.
Agora entendem o porquê as minhas expectativas estão altas?
Enfim, Rodrigo e eu voltamos à empresa no final da tarde e quando
passo pela mesa de Maria Eduarda noto que ela está vazia. Vou para a minha
sala e encontro um bilhete grudado em meu computador.

Senhor Arthur, peço para que de agora em diante nosso


relacionamento seja puramente profissional. Quero e preciso manter o meu
emprego, não quero arranjar problemas com ninguém, muito menos com a
sua namorada.
Maria Eduarda.

Inferno do caralho! De onde a maluca tirou a porra desse


pensamento? MANUELA. Não acredito que a Manu falou que a Érica é
minha namorada.
Jogo-me na cadeira, desanimado, pois voltei cheio de amor para dar e
agora tenho que me contentar com as minhas mãos em uma ode à bunda de
Maria Eduarda, mas ela me pagará caro... muito caro.
Capítulo 09

Maria Eduarda
Sempre que temos algum tempo, nós nos reunimos no apartamento da
Manuela, no Recreio dos Bandeirantes, um dos melhores bairros do Rio de
Janeiro. Sentada na varanda, penso em Arthur, o imbecil. Não acredito que
me deixei levar por ele, um galinha sem-vergonha, babaca, lindo, gostoso e
irritante. Não paro de pensar no seu cheiro, naquela boca, naquele beijo, em
suas mãos no meu corpo reacendendo o meu fogo....
Definitivamente, sou um caso perdido.
— Duda?
Eu não vi Manuela se aproximar.
— Oi, Manu.
— Quero te pedir desculpas pelo que falei naquele dia, sobre você e o
Arthur. Eu não tenho o direito de me meter na sua história. — Ela se senta na
cadeira ao meu lado. — Eu, mais do que ninguém, sei como aqueles homens
podem mexer com uma mulher. Às vezes tenho a impressão de que nem as
lésbicas escapariam de se apaixonar por eles.
Rimos.
Mal sabe ela que concordo em gênero, número e grau, mas suas
palavras ecoaram em minha cabeça durante horas. Manu havia voltado do
shopping naquela tarde, onde ela e os homens foram. Minha amiga estava
irritada e acabou falando o que eu não queria ouvir, só que foi muito
necessário:
— Vou dar um conselho a você, minha flor: eles são os donos disto
aqui, filhos de família rica, frequentadores da alta sociedade. Acha mesmo
que a família permitiria o caso de um deles com uma funcionária? Tenho
certeza de que você já ouviu que os pais já têm esposas escolhidas para seus
herdeiros. Elas estão com eles neste exato momento, são as escolhidas.
Afaste-se e preserve o seu coração. Só você tem a perder!
— Foi bom você ter aberto os meus olhos. Primeiro porque vacilei
com você, garanti que não aconteceria nada e me deixei levar. Ele é meu
chefe e essas histórias não dão certo na vida real, isso não é uma novela, onde
tudo pode acontecer. Nem vou mencionar o fato de ele ser comprometido.
— Prometido, não comprometido — ela me corrige.
— Que seja! Ainda assim, não é certo. E outra, eu preciso dar um fim
digno ao meu relacionamento com o Rogério. Quero viver e experimentar
outras coisas, Manu.
— Sabe o que é pior? — ela fala como se fosse para si mesma. — Os
filhos de uma boa mãe são sexys e sabem como usar isso ao seu favor.
— Fato — concordo totalmente.
Nós nos sentamos em sua varanda, ouvindo e rindo das proezas de
Bia. O final de semana acabou sendo tranquilo e, melhor ainda, com boas
companhias. Adoro essas meninas, Bia já morava em meu coração e Manuela
também conquistou seu espaço.
Tentei ao máximo afastar os meus pensamentos sobre Arthur, mas
eles são persistentes e insistentes. Posso sentir seu perfume somente com a
lembrança de sua presença.
Aproveito o meu domingo para chamar o Roger e conversar por
videochamadas, mas não fico surpresa ao vê-lo em uma festa, pois seus
amigos vêm sempre na frente. Entretanto, desta vez não fico brava ou
chateada, a nossa história acabou há muito tempo, eu que insistia em me
manter na zona de conforto, afinal, estávamos juntos há anos.
Assim que desligamos, ligo para minha mãe e conto, ela fica
indignada e diz que a minha vinda para cá virou a minha cabeça. Entendo a
minha mãe, teve uma vida tranquila e construiu sua família lá, eu queria o
mesmo para mim. Só que quero mais.
Quando Bia e eu voltamos ao apartamento, no domingo à noite, tomo
um banho e organizo as coisas para a semana. Penso muito no que Manuela
me falou sobre o Arthur ser prometido, mas também sei que, por mais que ela
disfarce, a Manu está tentando se manter longe do Rodrigo. Não sei como
vou controlar esse desejo impulsivo pelo meu chefe, mas o farei. Devo me
manter friamente profissional.
A minha noite foi bombardeada com um sonho erótico, no qual
aquele homem maravilhoso me coloca de joelhos e usa mordaça para me
submeter. Sei que Arthur é um Dominador no BDSM e exala uma aura de
poder, assim como o irmão. Isso somado ao seu jeito cafajeste de ser, é
explosivo.
Depois desse erotismo todo, chego na empresa com a ideia fixa de me
manter longe dele. Isso será bom para todos, principalmente para mim.
Melhor assim, eu acho.... Certo, admito, adoro quando ele me encurrala em
algum lugar e sinto seu corpo, seu cheiro, sua ere...
— Maria Eduarda?
Assusto-me com Rodrigo, que vem em minha direção, mostrando
verdadeira preocupação.
— Desculpe-me, s-senhor. — Começo a organizar os papéis da pasta
a minha frente. — Estava concentrada demais ao organizar os documentos —
e pensando no quanto desejo o seu irmão.
Merda, merda, merda, merda!
— Tudo bem mesmo? — ele insiste e dou o meu melhor sorriso para
disfarçar.
— Tudo bem.
As coisas estavam certas até que a fonte das minhas fantasias sexuais
entra em cena e vem saber o que está acontecendo.
— Bom dia — Arthur olha para mim e depois para seu irmão. —
Algum problema, Rodrigo?
— Nos últimos dias tenho prestado atenção, vejo a Maria Eduarda se
virar em duas para nos atender. Está sozinha como nossa secretária e
assistente, só que temos demandado muito dela e acho que anda
sobrecarregada. Falarei com a Manu para colocar uma pessoa para assessorá-
la. O que acha, Arthur?
— Boa ideia — ele acena e vai para sua sala.
Só? Nem um sorriso de canto? Nada?
Sim, sim. Eu lembro que falei da coisa de me manter longe e pelo
jeito ele também pensa da mesma maneira.
— Rodrigo, não há necessidade de outra pessoa... — começo a falar,
mas ele me interrompe.
— Sem discussão, Duda. Você já se tornou nossa assistente
indispensável, precisa de outra pessoa. Vou ver isso. Tem alguma notícia da
Manuela?
— Ainda não — respondo.
— Ok. Repassarei essa promoção ao RH, imediatamente.
Meu telefone toca e vejo que é da sala do Arthur.
— Sim?
— Maria Eduarda, traga a agenda e não esqueça do meu café — ele
desliga sem dizer mais nenhuma palavra.
Como a nova pensadora contemporânea Ludmilla diz: é hoje!
Corro até a copa, pego o café dele e vou para sua sala com o meu
tablet. Coloco a caneca na frente do Arthur e me assusto quando ele começa a
bater o mouse com força sobre a mesa.
— Posso ajudar, Arthur?
— Essa porra do caralho, não está funcionando — ele joga o pobre do
dispositivo em cima da mesa.
Dou a volta na mesa para olhar o problema mais de perto e vejo que o
mouse está trincado. Saio rapidamente, pego o mouse do meu notebook e
volto para sua sala. Plugo o dispositivo e, quando vou testar, me dou conta de
que estamos muito próximo.
Olho para ele e vejo que o infeliz está encarando a minha bunda. Lá
no fundo... bem no fundo, gosto disso, mas devo me manter fiel a minha
determinação.
— Prontinho! — sem pensar, vou saindo da sala.
— Sente-se, Maria Eduarda. — Estaco no lugar com a ordem e um
arrepio corre pelo meu corpo. — Você ainda tem que me dizer os meus
compromissos.
— Desculpe-me, senhor.
Só então me dou conta de que o meu corpo respondeu a sua ordem. O
seu olhar brilha e meu corpo aquece com a sua apreciação.
Esse homem tem o poder de me desconcertar. Será que é isso o que a
Manuela e a Bia sentem quando estão se submetendo?
Eu não consigo imaginar nenhuma das duas atendendo ordens e
satisfazendo outras pessoas que não sejam elas mesmas, mas a Bia me falou
que só devemos entrar no jogo se alguém conseguir despertar o nosso desejo
de comandar ou de se submeter. Entretanto, por mais que queiramos entrar
nesse mundo de fetiches, não é qualquer um que consegue despertar esses
sentimentos.
Deus que me perdoe, mas eu não me importo de ficar de joelhos
diante deste homem e atender cada perversão sua.
Volto a encontrar o seu olhar e vejo um sorriso de canto, que tem
estampado o perigo em cada detalhe de seu lindo rosto. Não sei por quanto
tempo fico hipnotizada por ele, mas volto a mim quando ele fala:
— Maria, antes de passarmos a agenda, tome nota de algumas coisas.
Darei uma festa em meu apartamento daqui dois dias. Já fiz algumas
ligações... — ele me entrega um papel com as anotações. — Acompanhe e
confirme tudo o que está na lista. Outra coisa, no final de semana vou à casa
de campo com a Érica. — Meu peito aperta e não preciso de muito para saber
que estou com ciúmes, pois eu o quero assim como ela o quer. — Pelo que
me lembro, tenho uma reunião na sexta-feira, então, programe minha agenda
para que a tarde esteja livre.
— Mais alguma coisa? — pergunto enquanto faço anotações no
tablet.
— Tem mais uma coisa, sim. Envie flores e um cartão para Érica com
a seguinte mensagem: Estou ansioso. Mal vejo a hora de tê-la novamente na
minha cama.
Não me contenho e o encaro. O filho da p... está sorrindo
maldosamente. O idiota está me provocando e estou caindo na sua armadilha,
mas dois podem jogar este jogo, não?
Faço as anotações devidas e percebo um movimento. Eu o assisto se
levantar, tirar o terno e, enquanto dobra as mangas da camisa, caminhar até
mim. Fico estática e pelo canto dos olhos o vejo passar por mim e colocar-se
às minhas costas. A desgraça do homem fala em meu ouvido:
— Pronta para começar, senhorita Maria?
— S-sim... — Deus me ajude.
— Então, vamos à agenda do dia.
Limpo a garganta, ajeito-me na cadeira e começo a citar os itens da
agenda. Ligações, reuniões e o que mais está marcado aqui. Aproveitamos
para deixar alguns compromissos agendados para os próximos dias,
reagendando alguns e cancelando outros. Isso fora toda a papelada que ele faz
questão de deixar comigo, para se manter dentro do cronograma.
Arthur é tão obcecado com organização quanto o seu irmão, deve ser
mal de família.
— Mais alguma coisa, Arthur?
— Sim. — Ele escora em sua mesa e fica de frente para mim.
Arthur me estuda de cima a baixo e vejo desejo em seus olhos.
Começo a me ajeitar para levantar e pergunto:
— O que deseja? Assim que eu sair daqui providenciarei.
— Quero saborear você, Maria Eduarda.
— Oi? — morro e desmorro agora.
Ele se aproxima como um animal que cerca sua presa, seus olhos
nunca deixando os meus. Seus dedos percorrem a minha pele exposta pela
camisa, por onde eles passam a minha pele queima. Arthur coloca uma
mecha do meu cabelo para trás da orelha, beija meu pescoço até alcançar o
lóbulo da minha orelha e diz com sua voz sexy:
— Quando terei você em minha cama, senhorita Maria? Quando
poderei te mostrar o quão bem as minhas meninas são tratadas? Quando te
colocarei de quatro e te mostrarei como um Dom de verdade fode?
Estou completamente envolvida e não consigo assimilar nada ao meu
redor. Minha cabeça monta toda a cena e me vejo pedindo por mais. Aperto
minhas pernas para disfarçar a minha excitação, que está umedecendo a
minha calcinha. Esse homem não é de Deus, não pode ser. Arthur faz com
que eu queira correr o risco de perder o meu trabalho, apenas para saber
como é estar com ele.
Como um homem pode mexer dessa maneira comigo?
Estou me embriagando com a sua luxúria quando a lucidez faz uma
rápida aparição e volto à realidade. Neste momento, toda as lembranças da
semana passada voltam, quando Manuela retornou do shopping falando que o
Arthur estava com a Érica, que, como todos sabem, ela é a escolhida para ser
sua esposa.
Arthur e seu irmão nem voltaram do almoço assim que a Manu
chegou, ficaram lá batendo papo com as suas prometidas. Como sou idiota! O
que aconteceu para eu deixar esse Don Juan de Madureira mexer comigo
desta maneira?
Afasto-me dele e o olho seriamente.
— Sabe quando? Quando você conseguir fazer a minha calcinha
molhar com apenas uma ordem e conquistar a minha submissão. Até lá, não
terá chances.
Ele fica a menos de um palmo de mim e sinto sua respiração em meu
rosto. Tenho vontade de tirar esse sorriso de seu rosto à tapas.
— Eu posso te surpreender, menina.
Reúno as minhas últimas forças e revido:
— Pago para ver — viro as costas e saio direto para o banheiro, a fim
de me refrescar.
Estou excitada demais para ficar perto dele. Se não pararmos com
isso, perderei esse jogo. E sabe o que é pior? Acho que quero perder só para
ter um gostinho dele.
Capítulo 10

Maria Eduarda
O Rodrigo não estava brincando quando disse que traria outra pessoa
para cá. O homem mandou duas e agora sou chefe da sala da frente. Não vou
reclamar, realmente estou precisando de ajuda. Em pouco tempo acumulei as
funções e Marcia, que já não era de muita ajuda, logo saiu.
Fiquei com receio de estar perto do Arthur, mas as minhas
preocupações acabaram quando outra garota passou a atendê-lo. Manuela foi
muito rápida na seleção e serei eternamente grata por isso.
O problema é que agora eu preciso falar com ele sobre a festa de hoje
à noite. Acompanhei tudo pessoalmente e não tem como enviar a Sara à cova
do leão se eu sou a responsável.
Faço uma preparação psicológica, respiro fundo algumas vezes, passo
a mão pela minha roupa, a fim de tirar alguma imperfeição, e repito meu
novo mantra:
— Eu posso. Eu posso. Eu posso — e repetindo essas palavras
mentalmente, pego meu tablet, vou e bato na porta. — Com licença, Arthur.
Eu posso! Eu posso! Não olhe para os olhos dele, Maria Eduarda.
— Sente-se, Duda. Está tudo certo para hoje à noite?
Eu posso. Eu posso...
— Sim, senhor. Todos os convidados confirmaram presença, com o
buffet está tudo certo também, a única alteração é que aumentei o número de
garçons.
— Algum problema, Maria Eduarda?
— Não — respondo sorrindo, só que sem contato visual.
Eu posso.
— Então, por que não está olhando para mim? — Eu posso! Eu
posso! Eu posso! — Olhe para mim, Maria Eduarda.
Eu posso! — Levanto a minha cabeça. — Eu posso. — Olho em seus
olhos. E-eu posso...
— Boa menina, melhor assim. Então, voltando a lista... — ele se
levanta, olha pela janela e volta-se para mim.
Provavelmente, Arthur está esperando que eu fale alguma coisa, mas
eu não posso, estou totalmente concentrada nessa bunda moldada pela calça
justa. — Você está muito encrencada, Duda. Eu acho que posso... ainda. —
Balanço a cabeça para limpar todo pensamento ruim que esteja permeando
minha cabeça pervertida.
— Você não especificou as bebidas, então, tomei a liberdade de
encomendar uma variedade bem equilibrada. Como sei que algumas
mulheres gostam de drinques, contratei um barman.
— Ótimo, obrigado. — Ele fica sério e seu olhar é penetrante. —
Quero você lá, Maria Eduarda. Isso não é um pedido, é uma ordem.
Arthur sorri e eu descubro que NÃO POSSO!
— Sim, senhor! — Nossa, Duda. Você é um caso perdido.
Saio da sala meio atordoada pelo efeito que ele tem sobre mim. Eu
não sei o que está acontecendo, mas o que era puramente sexual está se
tornando em algo mais. Só que eu não sei o que esse “mais” significa. Eu me
conheço e sei que isso vai me corroer, ficarei pensando e pensando nisso,
quando deveria evitar qualquer situação parecida. Preciso ligar para a Manu e
para Bia, avisá-las que serão o meu socorro nessa festa, pois onde as duas
estão é diversão na certa. Bem, no caso de Bia, se não for diversão será
barraco. Adoro!
Assim que me sento em minha cadeira, alcanço o celular e ligo para
Manuela.
— Oi, Duda.
— Oi, Manu. Está sabendo da festa do Arthur?
— Sim. Ele ficou todo “senhor de si” e ordenou que estejamos lá —
Manuela fala e percebo que está sorrindo. — Você deve estar me ligando
para falar que ele te quer lá.
Minha vez de sorrir, mesmo nervosa.
— Exatamente isso. Ah, Manu... estou tão confusa e frustrada por não
conseguir ser forte — lamento. — S-será que você e Bia podem ser as minhas
acompanhantes? Tipo aqueles companheiros de sobriedade do alcóolicos
anônimos, para me manter na linha.
— Oh, querida. Claro que vamos, não sei se serei a melhor
companheira de sobriedade, mas estaremos juntas. Precisamos de uma noite
de garotas novamente, nos arrumaremos e iremos juntas na festa. O que
acha?
— Perfeito. Obrigada, Manu. Obrigada por não me julgar.
— Minha querida, quem sou eu para julgar? Não sigo os meus
próprios conselhos.
Sei que ela está falando do Rodrigo.
— Vou ligar para a Bia e comunicá-la de que está comprometida hoje
à noite. —Manu fica em silêncio por alguns segundos, antes de perguntar: —
Duda, como o Rodrigo está?
— Ele está bem, eu acho. Aconteceu alguma coisa?
— Não, não. Só queria saber mesmo como ele está. Beijos.
A interação entre eles está ficando cada vez mais interessante. Ela é
toda pomposa e autoritária, mas parece uma menina quando está perto do
Rodrigo. Manu já está dominada, só falta assumir.
Depois de me despedir de Manu, ligo para Bia só para saber se ela
também recebeu o convite obrigatório de Arthur. Durante a tarde, checo
todos os detalhes da festinha do chefe e começo a dividir as funções da minha
nova equipe.
Achei que teria menos trabalho com elas aqui, mas a coisa só
aumentou. Não reclamarei, pois estou amando trabalhar aqui cada dia mais.
Os chefes resolveram sair mais cedo e isso facilita o meu trabalho para o dia.
Não é fácil assessorar os irmãos Alcântara e Castro, eles demandam demais.
Saio da empresa mais tarde do que deveria e corro para casa. Assim
que chego, Manuela chega atrás com duas garrafas de champanhe, a fim de
comemorar minha promoção. Enquanto nos arrumamos, já vamos nos
calibrando para a festa do senhor fodástico. Vestidinhas para matar...
velhinhos do asilo, saímos em direção ao apartamento chique do Arthur. A
essa altura, já estamos alegres demais.
Para esta noite quente de verão no Rio de Janeiro, escolhi uma saia
jeans bordada não muito curta e uma camisa de seda verde, para combinar
com meus olhos. Salto alto estilo Anabela, com tiras verdes, maquiagem
carregada, alguns acessórios e estou pronta para a noite.
Chegamos no apartamento do Arthur, que já está cheio e
movimentado por pessoas bonitas, aspirantes, atrizes e atores, jogadores de
futebol e empresários. Também há pessoas que eu não faço a menor ideia de
quem sejam e muitas... muitas periguetes.
Bem, o que esperar do Arthur?
Bia solta uma das suas famosas pérolas assim que caminhamos entre
as pessoas, rindo, logo damos de cara com o Rodrigo e o Steban, que apesar
de ser um pouco mais maduro do que os outros, é charmoso para caramba.
Ele é meio sisudo, o total oposto de Beatriz.
— Boa noite, meninas — como todo bom carioca, Rodrigo me
cumprimenta com dois beijos no rosto. — Chegaram animadas — é a vez de
ele cumprimentar a Bia. Logo, vira-se para Manuela e é como se o mundo ao
redor deles não existisse mais. — Como está, Manuela? — sua voz é mais
grave e baixa.
Os dois quase se devoram apenas com olhares. Bia, Steban e eu
trocamos olhares e sorrimos porque os dois estão tão mergulhados um no
outro que não veem nada. No entanto, uma mulher se aproxima e Rodrigo sai
com ela. O clima entre Manuela e ele simplesmente foi rasgado.
Bia diz para mim que é uma ex, submissa vadia, mas ainda assim a
atitude dele foi estranha. Manu vira-se para nós como se nada tivesse
acontecido e estou prestes a questioná-la quando avisto Arthur Alcântara e
Castro.
Ele está com uma calça jeans e camiseta preta, vestimentas bem
ajustadas ao corpo. Seu cabelo foi todo penteado para trás, deixando seu rosto
emoldurado da maneira mais bonita. O homem é lindo e sabe disso, a garota
com quem ele está falando, em seu ouvido, também sabe disso.
Minha divagação é interrompida pela voz de Bia, discutindo com
alguém.
— Dá um tempo, Steban. Você não manda em mim.
Não falei? Quando não há risos, há barraco.
— Isso é o que veremos, Ana Beatriz — Ow! Uau... ninguém a chama
assim, pois a Bia detesta ser chamada assim.
— Caralho! — Ela coloca a mão na boca rapidamente.
Steban se aproxima dela com um sorriso perverso. Ok, agora entendi
a atração que a Bia sente. O homem pode arrancar suspiros antes que você
perceba.
— Termine sua frase, Ana Beatriz. Faça a minha alegria.
— Eu não queria falar nada, Steban. Mas você insiste em me irritar....
Eu olho para Manuela, que olha para mim com uma sobrancelha
levantada. Então, todo o meu corpo se arrepia e entra em estado de alerta
assim que o ouço perto de mim.
— Boa noite, minhas meninas.
Manuela é a primeira a cair em seus braços.
— Boa noite, querido — ela o cumprimenta com beijos no rosto. — O
que estamos comemorando?
— Precisa de um motivo para festa, gatinha? — Arthur cumprimenta
Bia e me olha. — Não tenho um motivo, ainda. Você está muito bonita,
Duda.
Assim como Arthur apareceu do nada, ele se perde entre os seus
convidados. Um dos garçons passa por nós e pegamos nossas bebidas. Já que
é uma festa, vamos festejar. Percebo que Rodrigo e Steban são muito bem
relacionados, na verdade, descubro que Steban é delegado federal, o que é
muito legal. Também soube que a família dele é tão abastada e tradicional
quanto os Alcântara e Castro.
A noite está correndo agradavelmente, os caras me apresentam várias
pessoas legais e conheço personalidades. Adorei uma comediante com que
conversei e fiz novas amizades. Agora, ando pelo apartamento, que não é
pequeno, procurando por Manuela, mas não a encontro. No canto menos
movimentado vejo Steban e Bia em uma conversa acalorada, apenas passo
direto e sigo o meu caminho. Arthur mora em uma cobertura de frente para o
mar e é enorme. Não dá para ter uma visão bem detalhada, mas o bom-gosto
é evidente.
Entro em um corredor que está vazio e logo percebo que nem deveria
estar aqui. Algumas portas estão fechadas, só que ouço vozes e sigo nesta
direção. Procuro-o ansiosa e paro na frente do que me parece ser um
escritório, aproximando-me e percebo que a porta está entreaberta.
Um dia morrerei por causa da minha curiosidade, mas eu preciso
saber o que se passa aqui. É a voz de Arthur emitindo ordens em meio a uma
grande festa, em sua casa. Abro um pouco a porta com sutileza e mais uma
vez banco a voyeur do meu chefe.
Arthur está sentado em uma poltrona, com um copo de whisky na
mão, e a há uma loira de joelhos na sua frente, com a parte superior do
vestido abaixada. A loira está em posição de submissão, ela o está servindo e
meu coração acelera ao vê-lo passar a mão pelo rosto dela, que sorri.
— Boa menina. Feliz, pequena?
— Sim, senhor. Muito feliz.
— Levante-se e venha aqui. — Obedientemente, ela levanta e se
coloca diante dele, que puxa a corrente que liga os prendedores de mamilos.
A loira geme e Arthur a coloca em seu colo, mas de costas para si. Ela
apoia cada pé nas pernas dele e fica toda aberta para mim, que estou de frente
para eles enquanto espio pela porta. Arthur está se revelando um exibicionista
e fala palavras de comando carinhosamente no ouvido dela enquanto a
masturba.
— Linda, menina. Isso, geme para o seu Dono.
Dono? Ele disse “Dono”? Dono não é quando um Dominador pega
para si uma submissa para cuidar, orientar e satisfazer? Por que, em nome de
Deus, ele não falou que está com alguém?
Sem pensar, abro a porta com tudo. Posso estar bêbada? Com toda
certeza. Isso me impede de fazer besteira? Com certeza, não. A resposta está
neste maldito impulso de abrir a porta com toda a força.
— Dono?
A menina me olha assustada, mas não sai da posição. Tranquilamente,
Arthur volta a sua atenção para mim, mesmo sem parar de tocá-la. Sua voz é
aveludada, digno de quem está absoluto em seu controle.
— Não lhe ensinaram que se deve bater à porta antes, Maria Eduarda?
Sua atitude controlada me irrita ainda mais e, em tom de acusação,
falo:
— Desde quando você é Dono?
Arthur pacientemente ajuda a mulher a se levantar e arruma o seu
vestido. Beija a testa dela e ordena para que volte à sala, pois não pretende
demorar. Depois que a loira sai, ele se volta para mim.
— Eu lhe falei que poderia surpreendê-la. — Arthur volta a se sentar
na poltrona e me encara. — O que você quer, Duda?
— O que eu quero? De você eu não quero nada! Fica me cercando
enquanto carrega submissas por aí. — Rio sem humor. — Como sou idiota.
Eu sou apenas a foda do escritório.
Marcho furiosa em direção à porta e ele me alcança, pressionando-me
contra a parede.
— Diga-me o que quer, Maria Eduarda.
Meu corpo responde ao seu comando e minha cabeça segue o meu
corpo. Que Deus me ajude quando se trata deste homem.
— Eu não quero nada, apenas que me deixe ir.
— Você quer, senão, não teria entrado aqui dessa maneira. Deixe-me
adivinhar, você deseja estar no lugar dela, assim queria estar no lugar da
outra, na noite do coquetel. Acertei?
Acertou, idiota.
Empurro-o e ele se afasta de mim, saio de seu escritório sem olhar
para trás. Eu quero que o Arthur se foda, mas ele me segue, me chamando
discretamente para não chamar a atenção das pessoas, enquanto estou
completamente perdida nesta droga de apartamento.
— Duda, fale comigo.
Viro para enfrentá-lo e o movimento me dá tontura. Acho que bebi
mais do que deveria.
— Só me deixe, Arthur. Vá cuidar da sua submissa. — escoro-me em
uma parede. — E me deixe aqui sozinha, não estou bem....
Sinto suas mãos acariciarem os meus braços.
— Eu a levarei para casa.
Tento me afastar, mas não consigo, minha vista embaça e minha
cabeça fica leve. Eu, definitivamente, estou bêbada.
— N-não. Eu vim com a Bia e a Manu e com elas vou embora.
Droga! Bebida demais e a barriga está vazia, não foi uma combinação
inteligente. Além disso, a cena de Arthur com aquela mulher tão dedicada e
satisfeita mexeu com alguma coisa dentro de mim.
Arthur me ajuda a sentar em uma poltrona.
— Vou procurar a Manuela e já volto. — Ele se abaixa o suficiente
para ficarmos olhos nos olhos. — Você vai embora com elas, mas depois
conversará comigo querendo ou não, Duda.
Inclino-me para frente e coloco a cabeça entre as mãos. O que está
acontecendo comigo? Não sou assim, não gosto de provocar, não gosto de
jogos. Não sei se é a cidade ou esse homem que me deixa fora do meu
normal.
Arthur sai e pouco tempo depois Manuela volta sozinha, com evidente
preocupação em seus olhos.
— O que houve, Duda? O Arthur fez alguma coisa, não foi? Vou
matar aquele imbecil.
— Não, ele não fez nada. Eu que acabei fazendo cena, acho que bebi
demais e agora estou passando mal.
Manuela é inteligente demais para cair nessa, então, estuda-me por
algum tempo e, como não falo nada, acaba desistindo. Não contarei a ela o
que fiz, pelo menos, não agora.
— Deixarei passar essa, mocinha. Vem, vamos. — Ela me ajuda a
levantar.
— Temos que chamar a Bia... — falo e Manu me interrompe.
— Ela já foi com o Steban — Manuela balança a cabeça. — Quando
será que eles vão assumir que se amam?
Sorrio.
— Será no mesmo dia que você?
Ela me olha pronta para matar, mas abre um sorriso.
— Para quem está mal, a língua funciona muito bem.
Rio alto e minha cabeça lateja.
— Ai.... Aprendi com a melhor.
Manu me abraça e vamos embora juntas. Ela não me pergunta nada e
pouco conversamos no caminho de volta para casa. Passamos em um fast-
food e pegamos nossos pedidos, porque não comemos nada na festa. Para ser
sincera, acho que nem tinha muito o que para comer. Aqueles canapés com
gosto de papel pode alimentar as modelos que vivem de vento, não eu. Fui eu
que organizei o buffet, por que não coloquei umas coxinhas ou risoles? Agora
não adianta mais.
Manu me leva para o seu apê, dizendo que provavelmente Bia passará
a noite com Steban e que eu não devo ficar sozinha. Apenas fecho os olhos e
tento não vomitar no carro da minha amiga. O cheiro da comida que pegamos
no drive-thru não está ajudando. Não sei quanto tempo demora para
atravessarmos a cidade até o seu apartamento.
Assim que chegamos, ela me empresta roupas para dormir. Tomo um
banho, removo a maquiagem e prendo os cabelos. Não estou me sentindo
nova, mas estou no caminho. Sento-me no sofá ao lado da minha amiga, que
coloca uma bandeja em meu colo.
— Não te pressionarei sobre o Arthur, isso não é da minha conta. Sei
que há alguma coisa e, de coração, minha flor, torço para que dê certo. Não
escolhemos por quem nos apaixonar, acredito que a vida é uma safada que
conspira contra gente quando o assunto é coração — ela aperta a minha mão.
— Só quero que saiba que eu sempre estarei aqui. E se o Senhor Fudêncio te
machucar, eu o castro sem anestesia.
Sorrio para ela e meus olhos se enchem de lágrimas porque, primeiro,
ela está se tornando uma das minhas melhores amigas, não sei o que seria de
mim sem os conselhos da Manu. Segundo, por ela entender e não ficar brava
que falhei justo na exigência mais importante para trabalhar na construtora.
— Sei que falhei com você, Manuela. Eu não deveria ter me
envolvido com o Arthur, mas fui fraca. Deve ter sido carência, muito tempo
sem ninguém, uma relação desgastante que não me satisfazia, não sei. Mas
não há mais nada entre ele e eu, se é que algum dia teve.
— Seja o que for, Duda. Eu sempre estarei aqui, pois sei como
aqueles homens ferram com nossa cabeça.
— Obrigada.
Terminamos nossos lanches, tomamos sorvetes e vamos para cama.
Amanhã é um novo dia, um novo começo e vou procurar um novo homem.
Isso! Vou procurar alguém e parar de focar naquele idiota, lindo, imbecil,
gostoso, safado, delícia.
É isso aí, Maria Eduarda.

***

Festa em meio a semana não é uma coisa legal, ainda mais quando
bebemos demais. Na manhã seguinte, Manuela sai mais cedo só para
passarmos em meu apartamento, para que eu troque de roupa. Repito comigo
mesma que falta pouco para o sábado e que poderei dormir quantas horas eu
quiser.
No caminho, envio mensagem para Beatriz a fim de saber se está tudo
bem, já que não a encontrei em casa. A noite dela deve ter sido melhor do
que a minha. Manu me deixa na construtora e vai para o seu compromisso
enquanto vou diretamente à copa, para programar o café dos meninos com a
Dona Sônia.
Pensei bem e acredito que ela pode levar o café de ambos em horários
marcados, não precisa que uma das secretárias façam isso. Sei que eles
gostam de poupar a senhora, que é um amor, mas ela mesma reclamou que os
chefes a estão mimando demais.
Encaminho-me até a minha sala, com uma bela dose de chá de
camomila para acalmar o meu estômago, e passo os compromissos do dia
com as meninas. A tarefa de ver as agendas dos caras ainda é minha, já que
sou assistente de ambos. De qualquer maneira, prefiro assim, mantenho tudo
controlado da forma que cada um gosta.
Quando Rodrigo chega, estou na mesa de Sara e Daniela, que agora
carregam juntas o cargo de secretárias da presidência.
— Bom dia, meninas. Tudo certo?
Elas o cumprimentam e eu dou graças a Deus que o chefe esteja de
ótimo humor.
— Bom dia, Rodrigo. Em breve o seu café será servido e irei até você,
para passarmos sua agenda.
— Ok.
Volto para a minha sala e não vejo o Arthur chegar, fico sabendo por
uma das meninas, que me avisa que o outro chefe já está na empresa. Assim
que a Dona Sônia leva o café de Rodrigo, vou até ele a fim de passarmos a
sua agenda para o dia. Ele está de bom humor e até me conta algumas coisas
da festa que eu perdi, pergunta se estou bem e rimos de Steban e Bia. Agora,
tenho que ir até a sala do Arthur, ou Dom Arthur, esse pensamento me dá um
friozinho na barriga.
Bato em sua porta e entro, ele está em uma ligação e aponta para a
cadeira, sento-me e aguardo. Enquanto isso, mexo no tablet e envio
mensagens para não mostrar que estou ouvindo a sua conversa, mas estou e
odeio.
— Não se preocupe, Érica. Assim que a reunião terminar, vou direto
para sua casa. Já aviso que, se eu não conseguir sair até o final da tarde,
subiremos no sábado pela manhã. — Ele fica em silêncio, provavelmente
escutando a mulher. Não a conheço, mas ando alimentando ranço por ela. —
Se não for assim, então esqueça. Até mais. — Arthur desliga e nós nos
olhamos. Arthur está sério, no modo executivo que o deixa terrivelmente
irresistível. — Bom dia, Maria Eduarda.
— Bom dia. — Percebo que nos encaramos por mais tempo do que o
devido e desvio do seu olhar.
— Está melhor?
— Sim, estou bem. Obrigada por perguntar.
— E o que tem para mim hoje, senhorita Maria? — Ah... eu tenho
tantas coisas para você, mas infelizmente não posso dá-las.
Acho bonito quando as mulheres dizem que tem uma deusa interior
que baila quando o seu pretenso amado está por perto. Isso é elegância pura,
coisa que eu não tenho. Só tenho uma queda ferrada pelo meu chefe, que
desperta a pura depravação em mim. Nada elegante, eu sei.
— Olhando a sua agenda, vi que não tem como reagendar a reunião
de amanhã, para que você fique livre na parte da tarde e viaje com a Érica. —
Não ouso olhar para ele. — A assessoria do prefeito ligou para avisar que a
reunião, na hora do almoço, será em uma suíte do hotel. Devido todas as
manifestações e críticas, eles querem evitar ao máximo a mídia.
— Tudo bem. — Não consigo estar perto dele e não o olhar, o homem
é um colírio para os olhos. Perfumado, bem-vestido e muito, muito bonito.
Ele tem um jeito de cafajeste sério, executivo sem-vergonha, sei lá. Só sei
que imaginar esse homem com um chicote na mão faz com que o meu corpo
acorde e minha cabeça tenha muitos pensamentos impuros. — Gosta do que
vê, senhorita Maria?
Sim! Gostoso de uma figa.
— Se me der licença, tenho muitas coisas para fazer. — Levanto-me
tão rápido que fico meio tonta.
Vou em direção à porta e, quando coloco a mão na maçaneta, o sinto
atrás de mim, mantendo a porta fechada com uma mão e um braço em minha
cintura.
— Ainda há muito da agenda para conversarmos.
Não resisto e pressiono o meu corpo contra o seu. Arthur geme com
satisfação e beija o meu pescoço.
— Bom saber que a minha assistente é eficiente em todos os
momentos.
E o encanto acaba. Afinal, estou fazendo papel de biscate da empresa.
Nem posso culpar o chefe, já que me esfreguei nele. Tomo vergonha na
minha cara, empurro-o e saio sem dizer nada.
Parabéns, Maria Eduarda, poderíamos ir embora sem essa.
— Está tudo bem, Duda? — Que susto! Tento disfarçar, mas sinto o
meu rosto aquecer, entregando que nada está bem.
Dou meu melhor sorriso.
— E-está tudo bem, Rodrigo. Tudo em perfeita ordem.
— Certo. — Ele entra na sala de seu irmão e eu vou para a minha.
Sei que não é certo alimentar esse desejo e luto contra isso, mas cada
dia que passa, eu o desejo mais e mais. Quando o vi com a menina, desejei
com todo meu coração estar no lugar dela. Desejei ser dele. Gosto que ele me
persiga, me encurrale nos cantos, gosto dos seus olhares de apreciação, adoro
esse jogo de gato e rato, ele me faz rir e querer mais.
Esse é o meu grande problema, o “mais”, o que isso está significando
para mim? Arthur Alcântara e Castro pode ser meu por uma noite, por algum
tempo, mas nunca será meu para sempre. Só que eu quero um para sempre,
seja com quem for.
Capítulo 11

Arthur
Essa reunião me ocupou quase o dia todo, pelo menos fechamos
negócios. Foram dois dias de reuniões com a equipe da prefeitura e com o
prefeito para revitalizarmos parte da cidade. O Rio de Janeiro é lindo, mas
precisa estar em constante preservação e mudança. Somos a porta de entrada
do Brasil e devemos deixar esta cidade a mais bela possível, até porque
sediamos grandes eventos que recebem pessoas do mundo inteiro.
Olho para o relógio e vejo que são sete da noite, de uma sexta-feira.
Estou morto de cansaço e com fome. Não foi possível ir para Teresópolis
com a Érica hoje, liguei e avisei que amanhã cedo a pegarei em sua casa para
irmos. Como Deus é muito bom comigo, tive que voltar ao escritório para
deixar a pasta das propostas e dei de cara com a Sara, a recepcionista gostosa.
É claro, não resisti e dei um amasso nela. Sei o que estão pensando,
“que sem-vergonha!”, mas reflitam por um instante, eu estava lá e ela estava
lá também. Sara foi pegar as pastas e nossas mãos se encostaram, uma coisa
levou a outra e quando vi... já era, moleque!
Agora, a caminho de casa, ligo para o meu irmão.
— Oi, onde você está?
— Em casa. Por quê?
— Está a fim de jantar comigo?
— Achei que já havia ido para Teresópolis.
Respiro fundo, cansado.
— A reunião acabou tarde, ainda tive que passar no escritório e acabei
me enrolando por lá.
— Vem pra cá, Tarso e Steban estão aqui.
— Beleza. Passarei em casa para tomar um banho e já chego por aí.
— Ok.
Não muito tempo depois, chego ao meu prédio e estaciono o carro.
Entro no meu apartamento, tomo um banho rápido, coloco uma roupa
descontraída e penteio os cabelos. Dou aquela olhada no espelho para
conferir o produto e, satisfeito com o que vejo, passo perfume antes de pegar
o que preciso para ir ao apartamento do Rodrigo, que fica próximo ao meu.
Como vocês já devem ter percebido, sou vaidoso e gostoso, modéstia à parte.
Depois de uma semana agitada, nada melhor do que relaxar com os
amigos. Não caminho muito para chegar ao prédio de Rodrigo e, como os
porteiros já me conhecem, abrem o portão sem problema algum. Entro no
elevador e vou até o andar em que ele mora. Toco a campainha e é Steban
quem me recebe.
— Boa noite, irmão — ele me cumprimenta com um meio-abraço.
— Boa noite, cara. — Vou até o Tarso e meu irmão, a fim de
cumprimentá-los também.
Sento-me ao lado de Rodrigo que, já conhecendo a minha preferência,
me passa uma cerveja.
— Fugindo da Érica? — ele pergunta.
Balanço a cabeça e tomo um gole da minha bebida.
— Não. Está tarde e estou cansado para subir a Serra.
Steban bebe seu whisky e fala:
— Gostei de ver o que fez com aquela menina, na quarta à noite. Não
sabia que ela é submissa.
— E não é, mas ela estava disposta — respondo.
— Muito bom, irmão. A melhor maneira de testar as suas habilidades
é assim. E a Duda?
O fato do meu irmão ser direto demais, às vezes, é inconveniente.
— O que tem a Duda? — pergunto e Rodrigo olha no fundo dos meus
olhos, como se tivesse me lendo.
— Você está jogando. Quer que ela venha e se submeta.
— Maria Eduarda é uma mulher linda, gosto dela e gosto de provocá-
la. Quero sentir o gosto de dominar uma mulher tão determinada a não ceder.
Acredito que a conquista será mais saborosa — olho para o meu irmão e
sorrio. — Você me entende perfeitamente.
Ele apenas faz uma careta e todos rimos.
Manuela tem meu irmão em suas mãos. Ele é um grande Mestre
Dominador e Manu é uma mulher que não se dobra a qualquer um. Só que
entre os dois há mais do que o desejo Dom/Sub, há sentimentos e acredito
que os corações de ambos estão em xeque.
Boa conversa, boa companhia e Rodrigo pediu boa comida, perfeito
para finalizar uma semana cansativa e iniciar um final de semana de
aparências. Falamos sobre política, as crises que afetam o país, futebol,
enfim, coisas do dia a dia. Depois, a conversa gira em torno do BDSM que
agora faz parte da minha vida. Tarso vem com a ideia de me filiar ao clã que
eles confraternizam, coisa que me deixa empolgado. Gosto da ideia de ter um
grupo fixo para confraternizar.
Perco-me nas lembranças e volto lá atrás, quando tive uma conversa
com o Rodrigo. Esse não era um universo desconhecido, até porque tenho um
irmão e amigos que são Dominadores.
No entanto, eu achava que o sexo com alguns tapas e pegada forte já
era a prática. Depois, com estudo, entendi que estava à margem do que
realmente é o BDSM. Steban e Rodrigo têm livros e artigos sobre o assunto,
quanto mais eu me inteirava, mais à vontade ficava. Era como se eu
descobrisse algo em mim que eu não fazia ideia que existia.
Rodrigo foi enfático sobre a responsabilidade física e emocional que
esse estilo de vida envolve. O quanto os parceiros devem ser valorizados e
que nada é mais importante do que a entrega, pois significa pura confiança. O
parceiro confia em você o suficiente para deixá-lo amarrar, vendar e calar, é
algo extremamente sério.
— A arte de dominar não é para qualquer um. Se está entrando nessa
em busca de sexo fácil com mulheres dispostas a fazer perversões, está no
lugar errado.
— Eu sei.
— Antes de qualquer coisa, você deve descobrir se nasceu para isso.
Se assim for, o instinto de dominação ou submissão virá espontaneamente.
Lembro de Steban me questionar:
— Isso é para conquistar alguém?
Balancei a cabeça.
— Não — e realmente não era. — O estilo despertou algo em mim e
quero explorar.
Ele sorriu, algo que faz poucas vezes e o peso bateu em minhas
costas.
— Você será um excelente Top. Aconselho a se dedicar, pois o
autocontrole só vem com o tempo e com a prática.
Depois disso, a fim de aprender e me aperfeiçoar, tenho passado mais
tempo com eles. Pratico constantemente com chicote, flogger e bondage[8].
Fisicamente, tenho me cuidado mais e zelado pelos meus passos, policiando-
me. Sou e sempre fui seguro de mim e é realmente como falaram, flui
naturalmente.
Entendi que conquistar a submissão de uma parceira é mais do que a
seduzir, é despertar nela a vontade de servir ou ser servida. Já passei pela
experiência de me submeter e foi fantástico, mas só compreendi que os
papéis se inverteram quando gozamos enlouquecidamente.
Sei que nem sempre há sexo envolvido no BDSM, muitas pessoas
estão nessa para satisfazer os seus fetiches. Todos estão em busca do prazer e
como somos seres diferentes nossos gostos também são. Há homens que
comandam um exército, mas gostam de se submeter a um Top. Há mulheres
que são professoras do ensino infantil e dominam qualquer um com toda
delicadeza. Neste mundo não há tabus, mas há limites e consentimento, pois,
se não houvesse consentimento, seria abuso.
No encontro de amigos que aconteceu em meu apartamento, nesta
semana, dediquei-me àquela menina que não é submissa e a conquistei. Fui
muito claro e sincero sobre o que queria, ela aceitou e foi uma linda menina.
Gosto de ser exibicionista e gostei mais ainda quando vi a Maria
Eduarda diante da porta, nos olhando, pois aquilo me excitou mais do que o
normal. Ter a Duda me servindo está nos meus planos, mas quero que ela
venha até mim e se entregue sem reservas. Aquela mulher deve ser uma
deusa na cama e tenho passado horas a imaginando atada a minha cama.
Olho os homens que estão comigo nesta noite e vejo a referência do
cenário BDSM do Rio de Janeiro. Tarso é Grão-mestre[9] do grupo que
Rodrigo e Steban fazem parte. Todos eles são Mestres Dominadores, mas
possuem características diferentes.
Tarso está estabilizado com sua parceira de anos, Rodrigo não quer
uma submissa fixa enquanto Steban é reconhecidamente Dono. Até onde sei,
a história dele e da Bia começou assim; ela querendo ser slave[10] e ele
disposto a domesticá-la. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu, mas eles
ficaram juntos durante muito tempo e era possível ver o brilho nos olhos dela.
Era impressionante vê-los juntos, formavam um casal bonito e ambos
exalavam satisfação. Então, certo dia, Beatriz jogou tudo para cima e
encerrou a relação D/s.
Despeço-me dos caras e vou para casa, já que amanhã terei que
acordar cedo, vestir a fantasia do filho obediente ao levar uma amiga para sua
casa de campo. No momento, não posso fazer mais do que isso para conter a
ânsia dos meus pais, de me vincular a outro grande sobrenome.
Saí da casa dos meus pais para deixar de ser um peão nas mãos dos
dois e não estou disposto a voltar a ser um peão agora, mas quero continuar
perto deles e isso significa mantê-los satisfeitos com essas saídas com a
Érica.

***

Pela manhã, saio para buscar a Érica em seu apartamento, a fim de


subir até Teresópolis. Chego atrasado e ainda tenho que esperar a mulher
terminar de se arrumar por mais meia hora, mas a minha espera é
recompensada com um pequeno short branco e uma camisa azul que
evidencia os seus seios.
Érica é uma mulher muito bonita e até inteligente, mas prefere fazer o
tipo socialite desinteressada. Gosta de status, se desfaz de quem não pertence
ao nosso mundo e isso me cansa. A beleza se vai com o tempo e se não tiver
algo além disso e status, nada valerá a pena.
Ela passa parte da viagem batendo fotos e postando nas redes sociais,
quando fica sem sinal, puxa uma conversa ou outra. Érica é uma boa
companhia quando não está tentando impor a sua vontade ou reclamando de
tudo, gosto quando ri de qualquer coisa e fala besteiras despreocupadamente,
o problema é que essa mulher aparece raramente, não é dela ser descontraída
assim. O que é uma pena.
A viagem é tranquila, a paisagem é espetacular e a temperatura é
amena. Ao chegar na casa de campo, o café está a mesa e os pais dela estão
nos esperando para o desjejum.
O pai de Érica é movido a trabalho, raramente o encontramos em um
final de semana com a família. Na verdade, é raro encontrá-lo em algum
lugar que sua amante não esteja. Conversamos sobre negócios e as últimas
notícias políticas, afinal, a política está ligada diretamente as nossas
empresas. Enquanto isso, Érica conta a sua mãe as novidades de algum lugar
que ela foi e que estava cheio de gente que não conheço, fazendo alguma
coisa que, pelo jeito, não deveria.
Tudo estava bem até a mãe dela abrir a boca:
— Fico tão feliz em ver você e a Érica juntos, formam um lindo casal
— começamos cedo hoje. Ela e a minha mãe ainda não perderam as
esperanças de me casar com a garota, mesmo que eu repita que não
acontecerá. Mas vamos lá, de boa, só vim aproveitar o fim de semana para
descansar.
Depois do café, o pai dela me leva para ver seus cavalos e andar pela
propriedade que é muito bonita. Rodrigo e eu já conversamos seriamente em
termos um lugar assim, aqui na Serra. Gostamos da ideia de passeios a
cavalo, do frio que faz a noite e da vista deslumbrante. Talvez um lugar em
Itaipava ou Petrópolis seja uma boa.
Então, vou para o quarto a fim de descansar antes do almoço, afinal,
foi exatamente para isso que vim: para descansar. Érica tenta me levar à sala,
para conversar com as suas amigas que passaram para fazer uma visita, mas
elas são amigas dela e eu realmente quero dormir.
Fui para a cama tarde e acordei cedo para virmos o quanto antes.
Enquanto estou deitado, olhando para o teto, imagens de Maria Eduarda
desfilando pelo escritório passam em minha mente como um filme. É mais
forte do que eu, a necessidade de estar perto daquela mulher e tocá-la. Com
esse pensamento, caio no sono tão esperado.
Acordo meio atordoado e levo algum tempo para me lembrar onde
estou. Como as janelas e cortinas estão fechadas, não faço ideia se é dia ou
noite. Levanto-me e tomo um banho para despertar, pois a vontade de ficar na
cama é grande. Sinto que a temperatura caiu muito e coloco uma calça e um
suéter. Saio em busca de comida e encontro a família Bethancourt na sala, os
três conversando e tomando vinho.
Eles me veem e logo estou sentado, segurando uma taça de vinho.
Durante algum tempo, apenas ouço a troca entre eles. A mãe, Arlete, conta
entusiasmada sobre a viagem que fará para o sul do país enquanto sua filha e
eu deveríamos ficar naquele hotel.
Augusto, pai de Érica, não está nem aí para nada dessa conversa, mas
a filha está muito empolgada com a ideia, provavelmente pensando em como
me arrastar para lá. Sorrio e aceno para não alimentar os sonhos descabidos
de ninguém.
Pouco tempo depois, o jantar é anunciado, o que é ótimo porque estou
faminto. Pelo jeito passei o dia dormindo. Sentamos à mesa e
compartilhamos uma boa comida. Seja quem for a cozinheira, está de
parabéns por fazer uma refeição excelente. Massa com camarões para mim e
Augusto enquanto as mulheres ficam apenas com a salada. Assim que
terminamos, Érica me leva para ver a área de lazer que foi toda reformada.
Agora o lugar conta com piscina coberta e cozinha gourmet.
A piscina iluminada e com vapor subindo me dá uma boa ideia. Envio
a Érica para colocar uma roupa de banho e pegar toalhas enquanto eu me
dispo e entro nu. Pouco tempo depois, a mulher aparece com um biquíni que
não deixa nada escondido. Meu pau está pronto para a diversão e não me
preocupo com expectadores indesejados, já que seus pais desejam o nosso
envolvimento e nenhum empregado se arriscaria ao vir aqui.
Ela entra na piscina e a pressiono contra a escada sem perda de
tempo, segurando suas mãos no corrimão da escada.
— Deixe as mãos aí — coloco a parte de cima do biquíni para o lado,
deixando os seios à mostra.
Érica cobre os seios.
— Aqui não, Arthur.
— Vamos lá, gatinha. Dê-me o seu melhor — peço.
Beijo o seu pescoço e logo alcanço a sua boca, ela retorna o gesto
com o mesmo entusiasmo e acaricio os seus seios, mas ela me interrompe.
— Não acredito que você está nu — fala baixo e por um momento
acho que está gostando. Levo sua mão até meu pau, que está duro como uma
rocha. Érica tira a mão rapidamente e arruma o seu biquíni no lugar. — Não
acredito que você achou que transaríamos na piscina. Odeio quando você me
trata como uma prostituta.
Que porra está acontecendo? Já fizemos coisas muito mais
vergonhosas. No clube, essa mulher já tirou o meu pau para fora em pleno
carnaval, mas agora está fazendo a recatada? Puta que pariu! Se a Érica quer
fazer esse jogo, o problema é somente dela.
— Vou te dar duas opções e é bom pensar bem antes de responder,
Érica. Ou fodo você aqui e agora, ou não encosto em você pelo resto do final
de semana. Escolha — dou meu ultimato.
Como já era de se esperar, ela não gosta das opções e constato que
havia me esquecido do quanto Érica pode ser estridente quando não tem as
coisas a sua maneira.
— Sou uma mulher de respeito, Arthur. Você deveria me tratar
melhor, como a mãe de seus filhos e não como uma dessas vagabundas do
escritório.
Do que a Érica está falando? Mãe dos meus filhos? Vagabundas do
escritório? Minha paciência, que já era curta, simplesmente acaba. Saio da
piscina e alcanço uma das toalhas que ela trouxe.
— Escolha errada, Érica. Não sei que jogo é esse que você está
fazendo, mas aconselho a não ir por aí.
Saio sem olhar para trás e vou em direção ao quarto em que estou
hospedado. Logo que entro na suíte, Érica aparece e tranca a porta.
— Amor, não podemos mais fazer essas coisas. Sua mãe me disse que
devemos ser menos sexuais, guardar esses momentos só para o quarto. Somos
pessoas importantes, temos que ter algum senso.
Quanto mais ela fala, mais a minha irritação aumenta.
— Érica, me poupe, ok? Você já fez coisas muito piores para ficar
posando de moça recatada por causa de minha ou da sua mãe. Eu vou tomar
um banho.
— Espera! — ela vem em minha direção e se ajoelha, tira a minha
toalha e diz: — Vou te compensar — engole meu pau meio mole, que no
instante seguinte endurece.
A mulher sabe como usar a boca e não poupa esforços para isso.
Quando percebo, já estou com meus dedos entrelaçados em seus cabelos,
ditando o ritmo. Ouvi-la engasgar com meu pau em sua garganta deixa-me
louco. Tudo está indo muito bem, até que ela me empurra.
— Assim não! Eu não sou uma dessas putas, que você pode fazer
isso. Você deve me tratar com respeito.
Meu pau amolece na hora.
O que está acontecendo com essa mulher? Como estou faltando com
respeito? Até parece que ela não desfilou nua na frente dos meus amigos só
para me seduzir. Isso sem eu pedir nada, foi apenas para se exibir. Agora
estou faltando com respeito? Para mim já deu.
— Ok, Érica. Vou para o banho.
— Posso ir jun...
— Não — eu a corto e vou para o chuveiro.
Deixo a água quente cair sobre o meu corpo, Maria Eduarda vem em
minha cabeça e meu pau gosta da ideia de tê-la nisso. Imagino-a me
chupando, sua boca aveludada, sua língua atrevida passando pela cabeça do
meu pau.
Penso em seu corpo curvilíneo, seus seios balanço conforme ela me
toca e não preciso de muito mais para gozar. Com as pernas trêmulas, escoro-
me na parede fria e fecho os olhos, seu olhar destruidor vem em minha mente
e ela diz: “obrigada, Dono”.
Jogo-me na cama e fico olhando para o teto, pensando no quanto
Maria Eduarda vem me afetando. Não costumo pensar tanto em alguém,
muito menos em mulheres que trabalham comigo, pois duas vezes é o
máximo que fico com uma mulher. Não me apego, pois não pretendo ter um
relacionamento e sempre deixo isso claro, mas não consigo me conter quando
estou perto dela. Maria Eduarda desperta um desejo diferente em mim.
Fecho os olhos e respiro fundo. Preciso controlar o meu anseio por
Maria Eduarda, principalmente quando estamos na empresa. Manuela e o RH
já chamaram a minha atenção, pois qualquer hora alguém me acusará de
assédio sexual.
O engraçado é que nunca precisei perseguir ou coagir uma mulher
para que fique comigo, todas vieram mais do que felizes. Agora há uma que
me fará trabalhar por ela e no final é capaz de me processar mesmo.
O domingo passa sem novidades, acordo tarde, almoço e logo desço a
Serra com a Érica, que não para de narrar como devemos agir, afinal, somos
da alta sociedade e temos que ser elegantes.
Apenas faço o de sempre, desligo-me e me concentro na estrada a
minha frente. Gosto de dirigir, ainda mais nesta estrada que tem uma
paisagem deslumbrante. Estou relaxado e tranquilo, as últimas semanas têm
tomado muito de mim e este final de semana serviu para recarregar a minha
bateria.
Capítulo 12

Arthur
Gosto das segundas-feiras, é mais um ciclo que se inicia para
fazermos nossas metas serem cumpridas. Estaciono o meu carro e subo para o
andar da presidência, a fim de começar a semana da melhor maneira possível.
Passo pela recepção e vou direto à copa, onde Dona Sônia já deve ter
preparado o café. Assim que chego, vejo que Manuela e Duda estão tomando
café.
— Bom dia, mulheres da minha vida — abraço a senhora que nos
trata como filhos. — Quando a senhora pretende se render aos meus
encantos?
Ela ri e dá batidinhas em meu braço.
— Esse menino não tem jeito. Sente-se que já vou servir o seu café.
Beijo a Manu e cumprimento a Maria Eduarda.
— Bom dia, senhorita Maria.
— Bom dia, senhor Arthur — ela fala sem olhar para mim. — Algum
problema, Duda? Quer um beijo também? Mas já adianto que é na boca ou
nada.
Ela fica vermelha.
— Nenhum problema — Maria Eduarda sorri para as outras mulheres.
— Se vocês me derem licença, tenho que começar o meu expediente — diz e
sai sem dar a chance de alguém argumentar.
Neste momento, sinto dois olhares mortais em minha direção.
— O que foi? Por que estão me olhando assim? — questiono.
Manuela me repreende:
— Às vezes tenho vontade de te socar, sabia? Vamos começar pela
parte que você não pode falar assim com as funcionárias, essa menina... —
Manu aponta para a porta. — Ela pode marchar até o departamento pessoal e
fazer uma denúncia de assédio contra você. Maria Eduarda não é
deslumbrada pelo chefe gatão como as outras, que eu não sei o porquê ainda
não o denunciaram.
— Todas são conscientes, Manuela. Não fico pressionando ou
coagindo — argumento.
— Olha aqui, rapaz, essa menina é a melhor assistente que vocês
poderiam ter e uma mulher de valor. Pare de provocá-la — Dona Sônia
também sai em defesa dela.
Levanto as mãos em um gesto de rendição.
— Já entendi. Pode me dar o meu café, por favor?
Manuela encara-me e aponta o dedo para mim.
— Vocês não podem se dar ao luxo de perder a Maria Eduarda.
Então, por favor, controle-se.
— Me diz uma coisa, general, isso vale para a senhorita e meu irmão?
— digo e Manu me olha de canto. — Ele também não deveria se preocupar
com o assédio?
Ela sorri.
— Espertinho você, rapazinho. Mas saiba que, nesse caso, eu que
assedio.
Vou para a minha sala depois do café e, desde a primeira hora da
manhã, reúno-me com a equipe de desenvolvimento de projetos, que me
passa o orçamento prévio da obra da prefeitura. Acertando os valores, datas,
contratações terceirizadas e escalas, não vemos a hora passar.
A obra de revitalização do quadrante que pegamos é enorme e, o mais
importante, isso requer paciência, até porque qualquer obra pode fazer um
rombo no orçamento se não for bem calculada e controlada.
É um entra e sai, tantas ligações e discussões que não vemos a hora
passar. Uma dor de cabeça chata me faz olhar para o relógio e ver que
ficamos aqui a manhã inteira e parte da tarde. Dispenso todos para que
almocem e chamo uma das meninas, para que me traga um remédio.
Minutos depois, Maria Eduarda entra em minha sala com uma saia
mais justa do que o normal e uma camisa que faz a gente desejar àqueles
seios. Ela se aproxima com a mão estendida para mim, pego o comprimido e
o copo com água.
A proximidade dela me destoa e, sem pensar, puxo-a para o meu colo
e tomo posse da sua boca. Beijo como se a minha vida dependesse disso e ela
responde como a boa menina que é. Essa mulher é viciante, passo a mão pelo
seu corpo que é divinamente escultural, feita para o meu toque. Maria
Eduarda geme e eu devoro sua boca. O telefone toca e ela tenta se levantar,
mas não permito.
— Vire-se e atenda o telefone no meu colo — e ela assim o faz.
Atende o telefone, despacha quem quer que seja e se volta para mim. Passo
meus dedos pelo seu rosto. — Eu deveria me preocupar com a minha
empresa, com a minha posição... — seus olhos encontram os meus —, mas
quando se trata de você, não tenho controle. Se você me disser agora que não
quer mais que eu chegue perto de você, farei sem questionar. Mas, Duda, será
a porra de um sacrifício manter as mãos longe de você.
Maria Eduarda não me responde com palavras, mas com um beijo
devastador. Envolvido no momento, começo abrir sua camisa, então, alguém
bate à porta e logo Rodrigo entra, nos pegando em flagrante.
A mulher praticamente pula fora do meu colo e tenta se ajeitar da
melhor maneira possível, em vão, porque qualquer um que entrar saberá o
que estávamos fazendo.
— E-então, e-eu estou indo....
Ela sorri sem graça para o meu irmão enquanto passa por ele
rapidamente. Rodrigo apenas nos olha sem esboçar nenhuma reação.
— Isso não é uma boa ideia, Arthur.
Não estou a fim de falar sobre isso.
— Algum problema? — pergunto para mudar de assunto.
Meu irmão não é idiota, percebe que não quero falar e respeita.
— Sem problemas — ele fala enquanto se senta à minha frente. —
Quero saber como foi seu final de semana.
— Bom.
— Esse bom não foi muito convincente.
Faço uma careta.
— Essa coisa com a Érica não está indo por um bom caminho. Agora
a mulher fala como devemos nos comportar porque somos um casal da alta
sociedade. Já deixei claro para todos que não vou me casar tão cedo.
— Você acha que a Dona Rosita não ficará no seu pé?
Respiro fundo, exasperado.
— A ideia era ganhar tempo.
Neste momento, Manuela entra na sala como um furacão.
— Arthur, me diga, por que tenho que participar da reunião?
Antes que eu possa responder, Rodrigo se levanta e a beija na testa.
— Boa tarde, minha pequena. Como você está?
Assisto a rainha do gelo se derreter em uma poça.
— Bem. E você?
É bonito ver os dois assim, juntos. Eles passam a ideia de
cumplicidade, de que se falam pelo olhar. Pode ser coisa da minha cabeça,
mas ali há muito mais do que Dom/Sub.
Pigarreio para verem que estou aqui.
— Eles pediram sua presença, isso está ficando cada vez mais comum
— respondo a sua pergunta.
Meu irmão nem percebe que está segurando a Manu pela cintura, sua
mão no quadril dela, inconscientemente, mostra a sua posse.
Rodrigo a olha.
— Vou deixar vocês dois trabalharem. Depois nos falamos, Manuela?
— ele pergunta.
— Sim, senhor — Manu responde docemente e reviro os olhos.
Ele a beija e sai. Não contenho a piada e falo:
— Pois é, cunhada — e caio na risada.
— Bobão — ela fala sorrindo. — Agora me fale mais sobre o fato da
minha pessoa ser solicitada em reuniões da construtora.
— Os clientes e fornecedores ficaram encantados com o seu
profissionalismo, ou com o seu belo par de pernas — pisco. — Você é uma
excelente profissional e alguns preferem tratar diretamente com você. Admito
que gosto, assim poupa o Rodrigo e a mim, já não damos mais conta de
comandar tudo.
Conversamos por mais algum tempo sobre a sua posição provisória,
que quero tornar permanente. Manuela tem muito a acrescentar à nossa
organização, ainda mais por termos planos de abrir o capital da empresa e
expandi-la para o exterior.
Há um mercado gigante na América Latina e temos que explorar. Já
nos chamaram para fazer estudos de grandes obras e a construtora está pronta
para isso. Manu seria uma excelente adição.
Com a correria, não vejo a semana passar, sendo que nem estive no
escritório em boa parte dela. Tive muitas reuniões fora, estudo de campo e
encontros de negócios. Estou trabalhando com uma corretora para organizar a
abertura de capital da empresa.
As poucas oportunidades que tive de beijar a Duda, eu fiz sem
remorso algum. Estou há dias sem uma sessão ou sexo e isso está fazendo
falta, a ponto de fantasiar de olhos abertos em meio ao trabalho.
Na sexta-feira decido sair mais cedo, a fim de ir ao clube para jogar
tênis. Antes de sair, Rodrigo me chama em sua sala e encontro Hernan, o
argentino mais brasileiro que conheço. Já fizemos alguns trabalhos para ele e
nos tornamos bons amigos. É alguém que tenho em alta consideração.
Ele nos convida para uma degustação no seu novo restaurante e eu
aceito sem pestanejar, o problema é que o convite vem com acompanhante.
Olho para Rodrigo que simplesmente dá de ombros.
A história de que estamos comprometidos com Érica e Bárbara está
ficando cada vez mais forte. Tenho certeza de que a mamãe tem muito a ver
com isso. Ela vive na companhia das duas, repetindo aos quatro ventos para
as colunas sociais que é só uma questão de tempo, que logo sossegaremos e
casaremos.
Nada disso me incomoda, Rodrigo e eu somos convictos em nossas
decisões, apenas não desejamos desagradar a nossa mãe. Por pior que seja,
ela continua sendo a nossa mãe.
Assim que Hernan sai, volto-me para o meu irmão:
— Esta história está me cansando. A mãe está exagerando.
— Eu que o diga — Rodrigo fala, pesaroso. — Hernan tem boas
intenções e uma noite não nos mataria, mas você tem razão, a mãe está
exagerando.
— Vamos fazer o seguinte, vou com você... — meu celular toca e
vejo o nome de Érica na tela, no entanto, ignoro a ligação.
— Tarde demais — Rodrigo vira a tela de seu telefone para mim.
Daqui a única coisa que vejo é o nome de Bárbara como destinatária da
mensagem. — Podemos ir os quatro.
— Nos livramos de passar a noite com elas — complemento.
— Exatamente.
Com o plano pronto, saio da empresa diretamente para o clube. Jogo
tênis durante duas horas e volto para casa quando o cansaço é maior do que a
determinação de me exercitar. Depois do banho, peço comida e me deito no
sofá para ler meus e-mails. É nessas horas que vejo o quanto estou ficando
velho, acomodando-me.
Sou um cara de baladas e festas, gosto de estar em movimento entre
os amigos na noite carioca, mas o trabalho tem exigido ultimamente, assim
como a idade. Trinta e poucos anos não é velhice, eu sei, sou novo e estou no
auge da vida. Só que estou em um momento em que quero estar mais
tranquilo, focado naquilo que realmente me dá prazer.
A comida chega e ligo a televisão para ver um bom filme. Assim que
termino a minha refeição, deito-me no sofá e me desligo totalmente do que
está passando na tela. Faço planos de trazer a Maria Eduarda ao meu
apartamento e mantê-la entretida durante horas, mostrando o porquê vale a
pena ser a minha menina. Adormeço fantasiando uma sessão ao som de Way
Down We Go, do Kaleo.
No sábado, acordo no sofá de mal jeito e vou para a cama, onde passo
o dia longe do telefone, computador ou qualquer coisa do tipo. Já durante a
noite, Rodrigo passa em meu apartamento e depois vamos até a casa de
Bárbara e Érica, a fim de pegarmos ambas.
Rodrigo e eu somos muito amigos, assunto é o que não falta. Não é
um evento aberto, apenas uma degustação para poucos amigos, segundo
Hernan. Nós nos encontramos em frente ao bistrô do Hernan pouco tempo
depois e fico surpreso ao ver Steban com a Natasha. Essa maluca é prima da
Érica, mas sabemos que Natasha é bem peculiar até mesmo para nós. Steban
já passou um inferno na mão da mulher.
Somos recebidos na entrada pelo Hernan e o chefe da casa. Ao
entrarmos, cumprimentamos os poucos conhecidos que estão aqui. Enquanto
as mulheres são acomodadas, nós somos levados até o bar.
Hernan quer nos mostrar o resultado da obra, que ficou muito bonito.
— Não sabia que o Steban havia voltado com a gótica — comento
com o Rodrigo e ambos olhamos para o nosso amigo, que nos ignora.
— Nem eu. Depois de tudo o que ela fez, admira-me vê-los juntos.
Steban resolve se juntar a nós na conversa.
— Detesto quando conversam como se eu não tivesse aqui, bem na
frente de vocês. Preciso de um whisky duplo — ele pede à atendente.
— Por que a versão feminina do Ozzy Osbourne se faz presente entre
nós? — pergunto. — Achei que você havia aprendido a lição quando a vadia
quase te enlouqueceu.
Rodrigo começa a rir.
— Também não entendi.
Nosso amigo toma a sua bebida de uma vez só.
— Ela apareceu hoje à tarde, me pedindo ajuda. Disse que estava
desesperada e não sabia o que fazer, que estava pensando em se matar.
Conversa vai, conversa vem, acabou combinando de ficar com a Érica.
Depois do jantar, as duas vão juntas para casa.
— Então, cara, acho que ela te enrolou bonito porque a Érica e a
Bárbara estão conosco. Ela chegou em você de caso pensado, Steban.
Ele amaldiçoa e olhamos para a mulher em questão, logo simulo um
tremor.
— Essa mulher me assusta. Tem horas que parece a noiva do Chuck.
Rodrigo não se controla e cai na risada.
Neste instante, vozes na porta da frente chamam a nossa atenção.
Olhamos para a porta e vemos Hernan recepcionar Beatriz, Manuela e Maria
Eduarda. — Ah, merda! Isso não vai dar certo. — Bia aponta em nossa
direção e já sei que vem bomba. Apesar da carinha de anjo, a mulher é um
furacão.
Elas passam por nós e são acomodadas na mesma mesa que a nossa.
Que grande ironia do inferno, não? Nós nos sentamos logo em seguida e a
disposição da mesa não poderia ficar pior. Duda senta-se de frente para
Rodrigo, Bia está com cara de desgosto, porque ela não disfarça, e senta-se
de frente para o Steban enquanto a Manuela fica cara a cara com Bárbara.
Estudo o trio de mulheres a nossa frente, elas são lindas e
completamente diferentes umas das outras, mas são uma combinação
perfeita. Manuela, com sua pele perfeita de ébano, é muito elegante e gostosa
pra caralho, uma verdadeira general. Bia é uma força da natureza, linda,
loira, carinha de boneca e tem um jeito especial de ser, é sincera demais e
indelicada demais, ainda assim, não há como não gostar dessa menina. Maria
Eduarda é o equilíbrio entre as duas, uma menina doce que tem uma postura
impecável, é inteligente e leva a vida de uma forma leve.
Somos um trio de homens ignorados pelas mulheres a nossa frente,
por causa das mulheres ao nosso lado. Antes que o caos se instale, a comida é
servida em pratos com pequenas porções. As interações são vagas, a mesa
está bem polarizada e sinto certa tensão. Olho para a Maria Eduarda que me
ignora totalmente.
Depois de comermos muito bem e provarmos algumas sobremesas
estupendas, Bárbara me vem com uma conversa nada agradável.
— Então, meninas, como é frequentar o mesmo lugar que os chefes?
Que pergunta idiota é essa? Olho para o Rodrigo, esperando alguma
reação, mas nada vem dali. Manuela responde sem nenhum problema,
aparentemente.
— Olha, é a mesma coisa que frequentar os lugares que outras
pessoas frequentam. Nada demais.
Não contente, Bárbara insiste:
— Mariana, acho tão legal você trabalhar em um negócio tão
masculino. Porque o mundo dos negócios é cruel e as mulheres se esquecem
de si mesmas, vão pegando o jeito de homem.
Ela ganha a atenção de todos que dividem a mesma conosco e, mais
uma vez, penso que essa porra não vai certo. Conheço a Manuela e sei que
jamais seria deselegante, mas a Bia é a Bia. Rodrigo só piora.
— O nome dela é Manuela, não Mariana.
Manuela responde pausadamente e quem não a conhece pode pensar
que está sem palavras, mas não é bem assim.
— Barbie, desculpe-me... Bárbara. Tudo é muito relativo, você é
formada em quê?
— História da Arte.
— Então, linda Bárbara, acredito que tudo é relativo. Você acha que
ser uma executiva deixa as mulheres masculinizadas, em contrapartida, acho
que a licenciatura em História da Arte só serve para uma pessoa pedir cela
especial quando for presa.
Neste momento, não me contenho e caio na risada. Manuela sabe ser
cruel quando quer. Manu se levanta, Rodrigo, Steban e eu nos levantamos
também. Manu sai e as meninas a acompanham, não consigo alcançar a
Duda, mas seguro o braço de Beatriz.
— Para onde estão indo?
Bia me olha com cara feia.
— A noite está só começando e o circuito de casas noturnas do Rio é
longo.
O caralho que vão para alguma danceteria.
Elas vão em direção a porta e aproveito que meu irmão barrou a
Manuela, vou até a Duda e a puxo de lado.
— Quero que você passe a noite comigo — a mulher me olha sem
esboçar reação alguma. — Eu não quero que você vá à danceteria nenhuma,
Maria Eduarda. Me espera em seu apartamento que te pegarei lá mais tarde.
Só o tempo de sair daqui e pegar meu carro.
Ela ri.
— Você está no mesmo ambiente que a sua namora e está pedindo
para outra que o espere? Você é um babaca, Arthur. Peça a sua namorada,
noiva, seja o que for, para lhe esperar.
— Érica não é nada e você sabe muito bem disso. Eu quero você,
Maria Eduarda.
Ela olha por cima do meu ombro e acena para alguém, provavelmente
para alguma das meninas. Duda se aproxima, ficando muito próxima.
— Se você acha que pode brincar comigo como faz com as outras,
senhor Castro, muito se engana. Boa noite e passar bem.
Ela simplesmente vira as costas e sai. Essa mulher me tira do sério,
minha vontade é levá-la à força e fazê-la gozar até desmaiar. Vejo a Manuela
entrar no carro e percebo que meu irmão também não obteve êxito. Voltamos
para nos despedir de Hernan e Steban, que também já está de saco cheio.
— A cada dia admiro mais a Manuela — Steban fala.
— A cada dia tenho mais vontade de bater naquela bunda e puni-la —
Rodrigo responde, frustrado. — Vamos, Arthur. Para mim a noite acabou.
Nós nos despedimos de todos e cada um vai para sua casa, remoer a
ideia de que quem queremos não nos quer. Entretanto, a Maria Eduarda vai se
arrepender caso vá para alguma boate. Só de imaginar algum babaca tocando
nela a minha raiva cresce.
— Ela não seria louca, seria? — pergunto para o nada.
Capítulo 13

Arthur
Passei o domingo inteiro tentando falar com a Maria Eduarda e fui
absurdamente ignorado todas as vezes. Liguei para Beatriz e Manuela, elas
até atenderam, mas não passaram para a Duda. Estou me sentindo rejeitado e
ignorado da pior maneira possível.
Pode falar o que quiser de mim, mas não gosto de ser tratado dessa
maneira. Apesar dos pesares, sou um bom homem, mereço saber como ela
está. Eu quero a mulher... àquela mulher e a terei de todas as melhores
maneiras possíveis.
Segunda-feira passo a manhã longe do escritório, tive que ir a Itaboraí
para resolver algumas pendências na prefeitura e acabo retornando no período
da tarde. Maria Eduarda passou o dia me tratando com indiferença, por fim,
quando ela atendeu o telefone, respondeu apenas o necessário e desligou.
Sei que está chateada e entendo que não queira ser passada para trás,
só que todo mundo sabe e faço questão de deixar isso bem claro: não estou
com a Érica. Sim, estou em uma situação chata na qual fico ao lado de uma
amiga de infância enquanto ela e minha mãe espalham que nos casaremos.
No entanto, volto a reafirmar: não haverá casamento em meu futuro. Então,
Maria Eduarda não tem que ficar aborrecida com isso.
Depois de passar a manhã fora, volto ao escritório, passo pela sala de
Maria e não a vejo, então me volto para as meninas da recepção:
— Cadê a Duda?
— Ela foi levar algumas pastas na contabilidade — Sara responde.
— Localize-a e diga que estou aguardando em meu escritório, para
vermos a minha agenda. Providencie um café para mim, por favor.
Vou para minha sala mais irritado do que nunca. Quanto mais os dias
passam, mais mal-humorado fico. Jogo a minha pasta, carteira, celular e
chaves sobre a mesa, tiro o terno e o coloco no encosto da cadeira antes de
me sentar. Abro o jornal e o folheio, passando pelas notícias mais
importantes. Ouço uma batida na porta e logo a Maria Eduarda entra.
— Boa tarde, senhor Castro — ela coloca o café sobre a minha mesa
enquanto eu continuo a folhear o jornal, sem pressa.
— Boa tarde, Maria Eduarda. Obrigado pelo café.
Continuo sem olhar para ela, deixo o jornal de lado e abro os meus e-
mails. O garoto de quinze anos que vive em mim sente satisfação ao fazê-la
esperar. Depois de mais ou menos uns quinze minutos, quando a mulher já
está balançando a perna de tanta irritação, falo:
— O que tem para mim?
— O Rodrigo teve um imprevisto e perguntou se você pode ir naquela
obra em Niterói, para ver se o cronograma está sendo seguido.
Olho para o relógio a fim de ver a hora. Não dará tempo de voltar ao
escritório depois dessa visita.
— Eu vou — respondo.
Sem perda de tempo, Duda se levanta.
— Reagendarei duas pessoas marcadas para...
Eu a interrompo.
— Dê para Sara fazer isso, você irá comigo.
— Eu o quê? — dou meu melhor olhar “vai me questionar?” e Duda
fica sem jeito.
— Sairemos em dez minutos — não preciso ser um gênio para saber
que ela está furiosa.
Dez minutos depois, saímos do escritório em direção a Niterói e o
trânsito está praticamente parado. O Rio de Janeiro não comporta esse
número de carros e tem as obras de mobilidade que deveriam ajudar, mas,
como estão inacabadas, atrapalham a circulação de veículos.
Ligo o som, cantarolo as músicas e, pelo canto de olho, vejo que a
Maria Eduarda alterna entre mexer no celular e olhar pela janela. Meu
telefone toca e atendo pelo som do carro sem ver quem é.
— Oi.
— Oi, querido — Duda fica imóvel assim que ouve a voz da Érica. —
Preciso de um favor.
— Diga.
— Tenho um compromisso no Rotary e preciso que me leve lá porque
estou sem carro.
— Impossível, Érica.
— Ai, amor... se esforça por mim.
O dia já está cansativo e a minha cabeça cheia de problemas, não
preciso de mais nada.
— Érica, vamos esclarecer algumas coisas. Nós somos amigos há
muito tempo, não tenho problema em te ajudar quando precisa, só que não
estamos em um relacionamento. Você não pode me ligar e pedir para eu me
esforçar, porque estou na porra do trânsito indo a Niterói...
— ARTHUR! — ela me corta.
Minha irritação, que já não era pouca, aumenta.
— Se você gritar mais uma vez, vou desligar e não atenderei mais.
Estou a caminho de Niterói e não vou deixar meu trabalho de lado por um
capricho seu. Pegue o carro da sua mãe, do seu pai, das suas amigas ou um
táxi.
— Por que você insiste em dizer que não estamos juntos? — Érica
questiona. — Sua mãe e eu sempre fazemos planos para o nosso futuro. É a
mim que ela chama de nora.
— Para o seu bem, acho melhor não cair na história da Rosita. Agora,
tenho que desligar. Até mais — desligo o telefone e respiro fundo. — Nessas
horas nem eu me reconheço. Não é como se estivesse procurando a
aprovação dos meus pais, não preciso levar essa história mais longe do que já
foi.
Assusto-me ao sentir um toque no braço. Havia me esquecido
completamente que Maria Eduarda está ao meu lado.
— Você e o Rodrigo não querem aprovação, querem apenas agradar
os seus pais. Não se cobre tanto por isso.
Todos acreditam que sou um livro aberto, mas não sou. Agora a
mulher ao meu lado me mostra o quanto estou transparecendo os meus
problemas. Voltamos a ficar em silêncio por mais algum tempo e sinto que
ela me olha, mas estou tão absorto em meus pensamentos que não olho para o
lado, até que ela perde a paciência e pergunta:
— Por que você está me ignorando?
— Se eu estivesse te ignorando, você não estaria aqui.
— E por que, em nome de Deus, estou aqui com você?
— Porque você é minha assistente.
— E sou assistente do Rodrigo também. Nem por isso ele me carrega
para cima e para baixo — ela retruca, irritada.
— A perda é dele.
— Você é irritante. — Olho-a e sorrio.
Ela está aqui porque eu quero, porque a quero. Poucas pessoas têm
acesso a mim, não por deixarem de chegar perto, mas na parte de conhecer de
verdade. Poucos o fazem e Maria Eduarda chegou perto demais, o suficiente
para externar sua opinião. Por incrível que pareça, não me sinto incomodado.
Sei que ela me deseja tanto quanto eu a desejo e quero seja a minha menina.
Quero propor uma relação Dom/Sub em que jogaremos juntos e darei a ela o
que precisa para o seu prazer.
Estaciono no canteiro de obras e mal desço do carro e já quero matar
o filho da puta que assobiou. Colocamos os equipamentos de segurança e a
pego pela mão, mostrando cada parte do projeto. Vamos até o escritório
improvisado, onde o engenheiro-responsável e o mestre de obras nos colocam
a par de tudo. Rodrigo leva o cronograma muito a sério, por isso somos uma
forte empresa da construção civil. E com essa obra não está sendo diferente,
tudo está indo como o esperado.
Duda me impressiona pela facilidade com que agiliza as coisas.
Ajuda-me a repassar alguns números, faz algumas ligações e procura
aprender sobre o projeto que está a nossa frente. Ela está disposta a aprender
o que for necessário e isso me encanta ainda mais. Não é o tipo de
funcionário conformado que não procura acrescentar conhecimento e, o mais
importante, formamos uma boa parceria.
Maria Eduarda é uma forte candidata à executiva do grupo. Não tenho
dúvidas sobre isso.
No final da tarde, assim que entramos no carro, me dou conta de que
nem almocei hoje. Ligo o som e cantarolo a música que está tocando: Can’t
Stop Lovin’You, do Van Halen. Sinto Maria Eduarda me olhar e a encaro.
— Está com fome?
— Sim, morrendo de fome. Você comeu alguma coisa hoje? — ela
pergunta.
Voltamos para o Rio conversando sobre a obra que acabamos de
visitar. Maria Eduarda me faz perguntas e dá ideias para otimizar a troca de
informação entre o canteiro de obras e o escritório. Com o trânsito melhor,
quarenta minutos depois, estaciono em frente a um pequeno restaurante que
costumo frequentar em Copacabana.
O ambiente é reservado e a comida é muito boa, belo lugar para
relaxar. Desço do carro e dou a volta para abrir a porta para Maria Eduarda
que, quando sai, fica muito próxima a mim. O seu perfume chega até mim e
ela passa a língua pelos lábios enquanto me olha. Eu encaro o gesto como um
convite para beijá-la, então Duda segura as lapelas do meu terno, puxa-me
para si, me beija e eu correspondo com a mesma intensidade.
Sou desejoso e quero devorá-la, mas aqui não é o lugar ou hora
adequada. Maria Eduarda deve ser apreciada com tempo e em um lugar
apropriado. Afasto-me dela.
— Vamos comer antes que eu te coma, menina.
Ela faz uma mesura.
— Ao seu dispor, meu senhor.
Esta mulher será a minha morte.
Eu a beijo mais uma vez e entramos no restaurante.
Temos a sorte de ele estar vazio e somos conduzidos rapidamente à
mesa, onde somos atendidos. Conto para ela algumas coisas que aconteceram
comigo neste lugar, como ser confundido com um modelo e quando fui
assaltado assim que saí do estabelecimento durante uma noite.
Rimos, conversamos e degustamos uma boa comida. Quanto mais o
tempo passa, mais encantado e desejoso me torno. Mulher bonita, inteligente
e bem-humorada é uma combinação fatal.
Saímos do restaurante e, sem aviso prévio, mudo de direção para o
meu apartamento. A tensão sexual é densa e quase palpável, acaricio sua
perna enquanto ela sorri, desarmando-me. A viagem até a minha casa não é
demorada e fazemos todo o trajeto em silêncio. Assim que paro o carro em
frente ao meu prédio, dou tempo para que ela mude de ideia, mas a mulher
simplesmente abre a porta e sai.
Quando entramos em meu apartamento, fecho a porta e pressiono
Duda contra ela, ficando a um sopro de sua boca.
— Você me deixa louco, menina linda. Desde sábado que eu não
consigo ser racional, pensando sobre onde você estava e com quem estava —
roço meu nariz pelo seu pescoço para absorver o perfume que ela exala. —
Imaginar alguém com as mãos em você, que não seja eu, me deixa
transtornado — Duda está ofegante e dou pequenos beijos seguidos por
lambidas em seu queixo e pescoço, então mordo o lóbulo da sua orelha. —
Você é minha, Duda.
Pego-a em um beijo carnal, exprimindo todo o meu desejo por ela.
Passo as minhas mãos por seu corpo com reconhecida propriedade. Maria
Eduarda é deliciosamente sexy. Coloco a minha perna entre as suas, fazendo a
saia subir, e ela começa a cavalgar em minha perna.
Não tenho paciência para abrir todos os botões da sua camisa,
simplesmente rasgo-a em um puxão só, assim como a minha. Tiro seu sutiã e,
por alguns segundos, admiro a bela visão a minha frente. Acaricio seus
mamilos e os puxo, arrancando um gemido de Duda.
— Olhe para mim — ordeno e ela prontamente me atende. — Você
confia em mim para jogarmos?
Ela me estuda.
— Dominação? — pergunta.
— Sim — passo a mão pelo vale entre os seus seios. — Você confia
em mim para isso?
— Sim, senhor — ela diz e sorri. — Eu confio — Maria Eduarda me
surpreende ao tirar sua saia, calcinha e tudo o que poderia ficar em meu
caminho. Depois, ajoelha-se na minha frente, colocando as mãos sobre as
coxas. Seus olhos brilhantes encontram os meus. — Conheço o suficiente
para lhe agradar, senhor.
Abaixo-me e acaricio seu rosto, beijo-a docemente para agradecer sua
livre submissão. No entanto, antes de irmos mais longe, quero ter a certeza de
que ela está certa disso.
— Realmente está segura disso, Maria Eduarda?
— Sim, senhor.
Antes de me levantar, alcanço sua calcinha e seu sutiã que estão ao
seu lado, no chão. Sem olhá-la, viro e caminho em direção ao meu quarto.
— Venha comigo, menina.
Capítulo 14

Arthur
Não a vejo levantar, mas posso ouvir os seus movimentos. Abro a
porta do meu quarto e espero até que a Duda passe. Contemplo a beleza que é
a mulher nua, seus cachos moldando seu belo rosto, seios perfeitos pedindo
para serem chupados, suas pernas delineadas e grossas, cintura fina, bunda
ostentosa e a boceta completamente depilada, pronta para ser tocada.
Ela para no meio do ambiente como se fosse a estátua mais valiosa de
uma importante coleção de artes e ando ao redor, parando atrás dela. Minhas
mãos passeiam por sua pele e seguro os seus cabelos, deixando-os longe de
seu pescoço para que eu passe a minha língua. Desço pelas suas costas
fazendo uma trilha úmida, apreciando cada centímetro seu. Com uma das
mãos, seguro um de seus seios enquanto desço a outra para o meio de suas
pernas. Ao passar meus dedos pela sua boceta, sinto-a molhada e levo os
dedos aos meus lábios.
— Você não imagina o quanto sonhei com o momento de te
experimentar. Sente-se ali — aponto para a minha poltrona muito confortável
em frente à janela. — Sente-se na beirada, encoste suas costas no encosto,
abra suas pernas e as coloque sobre os braços da poltrona — Duda começa a
fazer o que ordeno sem falar nada e preciso da sua participação nisso.
Aproximo-me dela e belisco seus mamilos. — Quando eu falar com você,
quero que me responda: sim, senhor. Entendido?
— S-sim, senhor.
Contemplo a mulher sentada na posição desejada, toda aberta e
exposta para o nosso prazer. Maria Eduarda não está constrangida, mostra-se
bem à vontade com a situação. Ajoelho-me na frente dela e a beijo. Desço
pelo seu pescoço e delicio-me em um de seus seios, chupando com fome o
mamilo. Duda desperta o melhor e o pior em mim, ela desperta o meu desejo
voraz e a doçura da entrega.
— Você é perfeita — continuo a minha exploração ao seu corpo,
dando pequenas mordidas e lambidas em seus seios. Continuo a descer,
passando pela sua barriga e chegando ao centro do nosso prazer. Fico
encantando ao vê-la assim, entregue e brilhando de excitação. Passo dois
dedos por sua boceta. — Menina, você é alimento para paladares refinados
— sem tirar meus olhos dela, desço a minha boca em seu clitóris e a chupo
com gosto. Assim que sinto seu gosto, a fera que há em mim acorda.
— A-arthur — ela pede, ofegante.
Paro todo o movimento.
— Não, aqui não tem Arthur — enfio dois dedos em sua entrada
molhada e os tiro, arrancando um gemido de frustração dela.
— Mais, dê-me mais, senhor — Duda pede.
Volto a chupá-la, enfio dois dedos e ela grita. Eu quero mais, então
mordo, chupo e lambo, perdendo completamente a noção do tempo ao
devorá-la até sentir sua boceta se contrair.
— Goza para mim — ela solta um grito gutural quando goza em
minha boca. Continuo lambendo-a até que ouço apenas sua respiração
ofegante. Rapidamente tiro o restante da minha roupa e alcanço um
preservativo. Levo a Maria Eduarda até a minha cama, peço que fique de
quatro e falo em seu ouvido: — Você me enlouquece, Duda. Seu corpo
chama por mim — penetro-a devagar, centímetro por centímetro. Eu a sinto
apertada ao meu redor e me controlo ao máximo, simplesmente para não me
enterrar dentro dela de uma vez só.
Seus gemidos são combustível para mim, mas me controlo enquanto
sua maciez me recebe aos poucos. Ela tenta acelerar, empurrando a bunda
para trás, só que a paro com um tapa. A reação dela me faz sorrir, pois a
mulher é estimulada com a ardência em sua pele. Minha menina é incrível e
vai acabar comigo.
Estou tão fodido!
Quando estou todo dentro dela, puxo-a pelos cabelos até seu corpo
encostar no meu, viro para que sua boca alcance a minha e a beijo para
demonstrar a minha apreciação.
— Está gostando, Maria?
— S-sim.... — Dou um tapa em sua boceta e ela geme alto. —
Senhor. Sim, senhor.
Deito a sua parte superior na cama, fazendo com que a sua bunda
empine e que eu veja meu pau quase por inteiro dentro dela. A mulher grita
de prazer em cada estocada, empurrando sua bunda para trás, vindo de
encontro a mim. Eu a possuo enlouquecidamente como um homem faminto
em um banquete, mas quero mais e a tenho uma e outra vez, com meu pau,
com minha boca e com os meus dedos.
Maria Eduarda simplesmente se entrega e não tem medo de exigir
mais. Depois de horas de sexo caímos no sono, suados e destruídos,
enrolados um no outro.
Acordo com um barulho estridente, praguejando porque estou com a
impressão de ter acabado de fechar os olhos. Merda! O que é isso? Alarme de
incêndio? Duda se assusta ao meu lado e eu a beijo antes de alcançar o meu
celular.
— Calma, é o maldito telefone — atendo esperando que seja algo
realmente importante. — Alô.
— Onde diabos você se meteu? — meu irmão grita do outro lado do
telefone.
— Quem morreu, Rodrigo?
— Quem morreu? — Ele está irado com a minha pergunta. — Por
que você não está aqui para a reunião, seu idiota?
Reunião? Desde quando marcamos uma reunião de madrugada?
— Que horas são?
— Nove e meia.
CARALHO!
Passo a mão pelos cabelos.
— Eu perdi a hora. Chegarei aí o mais rápido possível.
— Venha logo e não esqueça de trazer a Maria Eduarda com você.
Rodrigo desliga sem me dar a chance de falar alguma coisa. Então,
penso que não achei que alguém adivinharia que ela está comigo. Mas, fazer
o quê? Temos que nos apressar e correr até a empresa.
Duda já está de pé, procurando alguma coisa, provavelmente as suas
roupas. Pego-a pela cintura e a arrasto para o banheiro.
— Estamos atrasados, Arthur. Nem sei como chegarei naquela
empresa com a mesma roupa que saí ontem.
— Vamos tomar um banho e depois....
Ela me corta.
— Nada de banho juntos, senão, não sairemos daqui em tempo.
Duda me empurra para fora e fecha a porta. Vou o closet, a fim de
pegar a roupa para o dia. Dou uma olhada nas roupas femininas que estão em
meu armário e rejeito a ideia de oferecer alguma para Maria Eduarda, com
certeza ela achará muito ofensivo, apesar de não ter nada demais. Coloco as
minhas roupas sobre a cama e espero Duda desocupar o banheiro para que eu
possa me arrumar.
Assim que a porta se abre, vejo a linda mulher que passou a noite
comigo com a pele úmida e meio corada por causa da água quente. Meu pau
endurece e toda a preocupação, de chegar o mais rápido possível na reunião,
desaparece. Aproximo-me dela, abaixo-me e cheiro entre suas pernas.
Duda tenta se afastar de mim, mas a seguro fortemente pelos quadris.
— Só um gosto, menina linda. Só um gosto para suportar o dia todo.
— Ar... — suas palavras se transformam em um gemido quando
passo a língua nos lábios de sua boceta. Sem muita resistência, ela abre-se
para mim.
— Duda, coloque as suas costas na parede, abra as pernas e abra a sua
boceta para mim, querida. — Ela o faz. — Doce menina essa minha.
Eu me delicio com a excitação que escorre pela minha língua, ela está
tão molhada que chega a descer pelo meu queixo. Chupo seu pequeno clitóris
e ela agarre-se aos meus cabelos. Não precisa de muito incentivo para que ela
comece a esfregar-se em mim, cavalgando a minha boca.
— Vai, Arthur... isso... Ah, droga... e-eu vou gozar.
Enfio dois dedos em sua abertura enquanto sugo seu nervo sensível.
Penetro com a língua e acaricio seu clitóris com o polegar. Quero sua
essência em minha boca, quero alimentar-me disso. Não demora muito e suas
paredes começam a se contrair em minha língua. Ela goza lindamente
gritando o meu nome e eu continuo a me deliciar para prolongar seu prazer.
Levanto-me e a beijo para que ela sinta o seu gosto. É a vez dela de
me devorar. Gosto de mulheres que não se importam de tomar o que querem,
na verdade, até me dá tesão. Enquanto nos beijamos, ela alcança o meu pau
duro e começa a bombeá-lo.
Duda se afasta e se ajoelha.
— Estou lhe agradando, senhor? — seu olhar é puro desafio. — É
assim que o meu Mestre gosta? — e sorri debochada, sabendo exatamente
que estou adorando.
Seguro firmemente em seus cabelos, mas não a ponto de machucá-la.
— A menina está com fome? Quer seu desjejum? Por isso está de
joelhos? — ela continua a me acariciar sem tirar os olhos de mim. — Abra a
boca e leve-me, Maria Eduarda.
Ela obedece como a menina perversa que é. Engana-se quem pensa
que isso é apenas para o prazer do dominante, a mulher ajoelhada diante de
mim está me controlando como uma marionete para o seu próprio prazer e,
no momento, não estou preocupado com isso. Assisti-la me chupar é um
filme da melhor qualidade, seus olhos brilham com o desafio de me fazer
gozar, assim como fiz antes com ela.
Suas mãos são tão habilidosas quanto a sua boca e enquanto uma me
masturba a outra mão explora as minhas bolas. Não sou superdotado, mas é
difícil encontrar uma mulher que consiga me levar inteiro. Duda não
consegue, mas compensa isso com sua língua inquieta e todos os seus toques.
— Se não quiser que eu goze em sua boca, melhor parar — aviso.
Já estou trêmulo, mas junto todas as minhas forças para não cair, pois
tenho a sensação de que fraquejarei a qualquer momento. Estar na boca dela é
o paraíso. Ela segura firme em minhas coxas e aumenta a intensidade da
sucção na cabeça do meu pau. Não demora muito para disparar a minha
semente em sua garganta, pois a mulher me levou até o fundo.
Maria Eduarda se levanta e limpa o canto da boca como se algo
tivesse escorrido, mas não escorreu, ela só queria me mostrar o que pode
fazer e que o faz bem. Minhas pernas estão trêmulas, tenho medo de dar um
passo e cair, penso que a mulher me esgotou. Puxo-a para mim e a beijo.
Quanto mais a tenho, mais a quero. neste momento, esse sentimento intenso
de posse me assusta. Afasto-me dela com sutileza e, pelo seu sorriso, não
acredito que ela tenha percebido.
— Espero que não se importe de eu dar uma olhada em seu armário e
providenciar uma roupa para mim.
— Não mesmo, vá em frente — falo enquanto vou para o banheiro.
Entro debaixo do chuveiro e uso a água gelada para conter meu desejo
por essa mulher. Não posso e não quero me envolver, quero-a apenas para me
servir, nada de coração na jogada. Quando isso acontece vejo um futuro, mas
meu futuro é no máximo até amanhã. No entanto, não posso deixá-la ir. Só de
pensar em outro cara com ela... Velho do céu, que merda.
Tomo um banho rápido, logo saio para me vestir e encontro a Maria
Eduarda com um vestido que contorna cada parte de seu corpo. Eu não sei de
onde saiu, mas tenho que mandar um presente para quem o deixou. Ela me vê
e dá uma volta.
— Estou bem?
Contenho-me para não ir até ela.
— Está muito bem, como sempre. — Visto-me rapidamente enquanto
Duda termina de se arrumar. — Nós nos atrasaremos ainda mais se pararmos
para o café, então pensei....
Ela levanta a mão, interrompendo-me.
— Tomaremos café na construtora. Combinei ontem com a Dona
Sônia, ela terá um brunch pronto para a reunião e poderemos comer lá.
Terminamos de nos arrumar, pegamos nossas coisas e saímos porta
afora o mais rápido possível. Descemos mexendo nos celulares e reparo que
ela, como eu, está adiantando o que pode, já que chegaremos mais do que
atrasados.
Entramos no carro e faço o melhor trajeto para o horário. Maria
Eduarda, como a mulher excepcional que é, mantém a conversa leve e isso
me deixa um pouco menos desconfortável. Admito querê-la próxima, mas
não muito perto. Isso não é um relacionamento, pelo menos, não será um
relacionamento convencional.
Estaciono o carro na garagem da construtora e saio do carro, mas
antes que eu possa abrir a porta do passageiro, Duda já desceu do carro e está
conversando no celular. Entramos no elevador e, sem pensar, puxo-a para
mim e a beijo.
— Obrigado pela noite, Maria Eduarda. Foi demais — beijo-a
novamente e ela sorri.
— O prazer foi todo meu, senhor Castro.
— Pensei em passarmos o final de semana juntos. O que acha?
Não é segredo que eu a quero para mim e que farei qualquer coisa, até
mesmo passar por cima das regras de distância. Quero propor uma relação
D/S, na qual ambos teremos muito a desfrutar.
A porta do elevador abre e encontramos ninguém menos do que a
rainha do gelo, que está com cara de poucos amigos.
— Olha quem resolveu aparecer? As pessoas que deveriam estar aqui
há duas horas. — Ela pega a minha pasta de couro e me entrega uma de
papel. — Material da reunião. Rodrigo está fazendo o que pode enquanto
espera a sua chegada. — Manu aponta para Maria Eduarda. — Quanto a
você, mocinha do vestido rosa-choque, vamos trocar de função. Eu já estava
na reunião e sei sobre o que estão falando, então farei as anotações. Na sua
sala você encontrará três pastas com algumas anotações, coisas que eu
deveria fazer.
Dou um beijo no rosto de Manuela.
— Obrigado, princesa.
— Vamos, aproveitador. Você tem uma reunião importante pelas
próximas horas — Manu me arrasta até a sala de reuniões.
Entretanto, antes de eu sair, Maria Eduarda pisca para mim e mostra o
quanto estou ferrado.
Capítulo 15

Arthur
Semana puxada, dias cansativos, reuniões extenuantes que foram
amenizadas pelos carinhos que dediquei a Duda, pelos corredores. Manuela
tem marcado seriamente sobre mim, mas, graças ao meu irmão, consigo fugir
da general que marcha pelas salas da construtora.
Enfim, chegamos na sexta-feira, o dia mais do que esperado. Desde
ontem venho pensando no final de semana especial que terei com Maria
Eduarda, pensei em um bom hotel na região dos lagos ou alugar uma casa pé
na areia, com todo o luxo e comodidade que eu gosto.
Tenho pouco tempo para organizar este final de semana especial.
Alcanço o telefone e faço algumas ligações. Quando temos contato e o
destino está a nosso favor, as coisas fluem rápidas e certeiras.
Vinte minutos depois, saio da minha sala para ir até a sala do meu
irmão, já que não o vejo desde ontem. Passo pela recepção e encontro as
meninas conversando ansiosamente.
— Oi, meninas. O Rodrigo está ocupado? — pergunto.
Duda responde.
— Estou preocupada, ele chegou não muito bem e está trancado há
horas. Quero entrar, mas estou com receio de incomodar. Tem mais uma
coisa — ela me entrega dois envelopes pretos.
— O que é isso? — questiono enquanto olho os nomes estampados
em uma das faces dos envelopes.
— Acredito que sejam convites. Já que vai entrar, entregue ao
Rodrigo — neste momento o telefone toca. Sabendo que é da sala de
Rodrigo, Maria Eduarda atende e faz anotações enquanto ouve. — Sim,
senhor. Mais alguma coisa? Ok! O senhor Arthur está entrando. Obrigada,
senhor. — Assim que desliga, ela abre um sorriso despreocupado, mas não
consigo detectar o que significa esse brilho estranho em seu olhar. — Acho
que as coisas não estão tão ruins. Pode entrar.
Pisco para ela e entro na sala, que está afundada na escuridão.
— Entrei na caverna do Batman — debocho e tateio a parede até
achar o interruptor. — Que escuridão é essa?
— Estava com uma enxaqueca brava, fechei tudo e me perdi no
tempo — vejo-o jogado no sofá.
Coloco o envelope dele sobre a mesa que está na sua frente e abro o
meu envelope.
— Chegaram os convites para a inauguração da boate do César, na
sexta que vem — falo. — Dê uma olhada em seu envelope.
Meu irmão se levanta e alcança o seu convite, ele lê e ri. Mostro o
meu para que ele veja que a besteira não foi somente com ele. Nos convites
está escrito: Rodrigo Alcântara e Castro e Bárbara Becker e Arthur
Alcântara e Castro e Érica Anne Bethancourt.
Eu até poderia dizer que é coisa da madrasta da Cinderela, mas é só a
minha mamãe que está pegando muito pesado.
— Estou vendo o dia em que chegarei na casa deles e terei um
casamento todo montado, só esperando o noivo.
— Você fala disso muito passivamente, Rodrigo — reclamo. — Estou
começando a me preocupar com esse empenho da senhora Alcântara e Castro
— deixo o envelope de lado. — Programei um final de semana especial e,
para que tudo saia como planejado, preciso me preparar — digo e vou em
direção à porta.
— Desde quando você planeja alguma coisa?
— Desde hoje, idiota.
— Imagino quem seja — ele me encara e balança o dedo. — É
melhor eu nem imaginar. De qualquer maneira, sou fã. Ela está colocando
você para fazer esforço e isso por si só já é um prêmio — o imbecil ri. — Boa
sorte.
Mostro o dedo do meio e saio para falar com a minha convidada
especial, mas não a encontro na recepção e vou até a sua sala.
— Duda, venha até a minha sala, por favor?
— Sim, senhor.
Será que todos os homens se excitam quando ouvem “sim, senhor”?
Porque, sinceramente, isso mexe comigo de uma forma intensa.
Entro em minha sala seguido por ela, vou até a minha cadeira e sento-
me para trás, mantendo o espaço perfeito para tê-la em meu colo.
— Vem aqui, menina linda.
— Eu não acho que devo, Arthur. Estamos na empresa e eu não me
sentiria bem.
Olho-a de cima a baixo, me deliciando com a visão a minha frente.
— Gosta de praia?
Os olhos dela brilham e sou presenteado com um sorriso encantador.
— Adoro!
— Então sairemos amanhã bem cedo para....
— Boa tarde, amor! — Érica entra como se mandasse no lugar,
passando e esbarrando em Maria Eduarda. O tipo de comportamento que
desaprovo, mas eu estou tão surpreso com sua aparição que não tenho
qualquer reação. Ela se senta em meu colo e me beija rapidamente nos lábios.
— Sua mãe nos convidou para jantar hoje à noite, daí pensei comigo, vou na
empresa e poderemos ir juntos. Assim teremos tempo para namorar um
pouquinho.
Maria Eduarda limpa garganta, chamando a atenção.
— Então, senhor Castro, como eu estava falando, não será possível o
acordo. Como o senhor pode constatar, uma das partes está indisponível e a
outra se desinteressou. Se me derem licença, já está na minha hora. Bom final
de semana e um bom jantar ao casal.
Ela sai tão rápido quanto Érica entrou.
— Tsc, tsc, tsc.... Essa secretariazinha nunca me desceu bem, sempre
foi grosseira no telefone comigo. Vocês deviam contratar outra.
Tiro Érica do meu colo e me levanto.
— Antes de qualquer coisa, você não pode chegar aqui e entrar sem
ser anunciada, você deveria ter, pelo menos um crachá, para chegar aqui em
cima. Isso foi falha de segurança e alguém será demitido por sua causa.
Ela ignora a minha irritação e senta-se em minha cadeira.
— Eles não queriam me deixar subir, mas falei que sou sua noiva e
que você iria demiti-los se não permitissem.
— Garota, cresce! Não temos compromisso nenhum e na próxima vez
que vier a minha empresa, passe pela segurança sem piar. Senão, não
permitirei a sua entrada. Aqui não é a casa da sua barbie, então, tenha
respeito.
— Que grosso, Arthur! — Érica se levanta e coloca a mão na cintura.
— Essa não é a maneira correta de tratar a sua namorada e, por sinal, nem a
maneira educada de tratar ninguém.
Já estou de saco cheio.
— Você e minha mãe não podem sair marcando compromissos sem
me consultar. Eu não poderei ir ao jantar, já tenho compromisso.
— Com quem?
Respiro fundo e peço calma aos céus.
— Não lhe interessa.
Fico impressionado que nada abala a fé desta mulher. Não entendo
como gosta de desempenhar o papel de prometida sabendo que ficará sem o
prêmio no final.
— Você é um idiota, burro, Arthur. Qualquer um agradeceria a Deus
por me ter tão disponível o tempo todo. Sabe quantos homens gostariam de
estar em seu lugar?
— Então, por que você não fica com um deles? Você merece mais do
que isso, Érica.
Ela me olha.
— Eu realmente deveria ouvir o seu conselho e nunca mais olhar para
você. Mas, que graça teria? Eu não teria você no final. Vou te esperar,
Arthur. Sei que você tem que amadurecer e estarei te esperando. — Érica vira
as costas e sai.
Fico chocado e estático durante algum tempo. Como assim vai me
esperar? Há mulheres que eu realmente não entendo. Assim que saio do meu
estado inerte, vou atrás de Maria Eduarda. Caminho em direção a minha sala
e dou de cara com a Sara.
— Sabe da Duda?
— Ela já foi e eu só estou aguardando a sua saída para ir também —
merda!
— Pode ir. Bom final de semana.
Sem perda de tempo, eu pego as minhas coisas e vou para o carro.
Ligo para Maria Eduarda várias vezes, só que ela não atende. Assim
complica, Deus. Não consigo esquecer a Duda dizendo que uma das partes se
desinteressou. Porra! A Érica tem alergia da empresa, que diabos ela queria
justo hoje? Aquela mulher nunca foi de fazer marcação pesada assim. Érica é
belíssima e não a desmereço como mulher, só que não é segredo para
ninguém que eu só saio com ela para que a minha mãe não me encha o saco.
Sou um homem de novidades e nunca escondi de ninguém que sou do
tipo cafajeste. Todas que foram para a cama comigo sabiam exatamente o que
estavam fazendo e como seria depois. Não levo fodas ocasionais para a
minha casa, não telefono no outro dia e compromisso é um termo que não
existe em meu vocabulário.
Vocês devem estar falando: Você é um sem-vergonha, Arthur. Sou
mesmo, um exemplar único de sem-vergonha que Deus fez e mandou à Terra
só para fazer mulheres como vocês felizes. Gostaram, não é? Pois é, quase
todas gostam.
Determinado a não deixar o meu final de semana ir por água abaixo,
corro para casa a fim de me arrumar. O trânsito é bem complicado neste
horário, o que me atrasa mais do que o esperado. Assim que chego, tomo um
banho e me visto com uma calça jeans e camiseta verde. Gosto de me
arrumar bem com roupas e sapatos de marca, pois o acabamento é bem-feito,
sem contar o conforto de ter um bom corte e bons tecidos.
Saio em sentido à casa dela e já penso nos meus próximos passos
durante o caminho. Maria Eduarda é teimosa e terei que convencê-la a
qualquer custo. Um jantar em um lugar badalado com artistas, jogadores,
personalidades; toda menina quer se sentir importante e eu posso
proporcionar isso. Particularmente, prefiro um lugar mais tranquilo, mas não
pouparei esforços para conquistar a quem desejo.
Chego em seu apartamento e uma ruivinha bem curvilínea me atende.
Esperava que fosse a Bia, não uma little girl pronta para ser consumida.
— Boa noite, a Maria Eduarda está?
Ela bate os cílios e mexe nos cabelos.
— Está sim — ela abre a porta e dou de cara com a Ana Beatriz, que
esboça uma careta de desgosto. — Bia, esse moço bonito está aqui para falar
com a Duda. Só com ela?
Ah, gracinha... bem que eu poderia fazer um lanchinho, mas estou
tentando ser um homem sério e me lembro disso assim que Beatriz se coloca
a minha frente.
— A conversa fiada dele é somente com ela.
A ruiva faz um beicinho.
— Que peninha.
— Pode entrar, Arthur. Ela está no quarto — Bia aponta para o
corredor. — Segunda porta à esquerda.
Beijo a Bia no rosto e vou atrás do motivo que me trouxe até aqui. Ao
chegar na frente da porta, levanto a mão para bater no mesmo instante em que
a Duda abre a porta.
— Ai que susto, Arthur! O que você está fazendo aqui?
Eu poderia justificar a minha vinda, explicar os meus motivos, falar...
falar.... Mas, qualquer coisa que eu fale, ela vai querer discutir e me expulsar,
porque as mulheres são assim, dramáticas.
Entro em seu quarto sem tirar os olhos dela, fecho a porta e tomo-a
em meus braços, deitando-nos na cama.
— Eu vim para isto. — Beijo-a com gosto e paro quando já estamos
sem fôlego. — E para te levar para jantar.
— Não... — enquanto Duda tenta falar, vou deslizando a minha mão
pelos seus seios, por cima da fina blusinha branca que ela usa.
— Não o quê, Maria Eduarda? — beijo seu pescoço, baixo as alças da
sua blusinha, tomo seu mamilo em minha boca e ela geme. Os gemidos dela
acabam comigo. Eu já estou pronto para tirar o seu short quando o celular
dela toca.
Duda alcança o aparelho e atende, quebrando o clima.
— Oi, mãe. Estou bem e você? — beijo sua barriga, desço para suas
coxas e, com voz trêmula, ela continua a conversar com a mãe. — B-bem. S-
sim... — percebo que seu corpo tensiona e eu paro. Algo não vai bem. — Irei
vê-lo assim que puder. Só espero que resista até lá. Diga que o amo. Beijos.
Ela se levanta e eu a sento em meu colo, de frente para mim.
— O que houve? — pergunto.
— Meu avô foi internado novamente. Ele é velhinho e seu coração
está fraco, não acreditam que durará muito tempo.
— Ele está onde, querida?
Maria Eduarda passa as mãos no rosto, visivelmente abalada.
— Ele está na minha cidade, na região serrana do Estado.
Levanto levando-a comigo e beijo seus lábios.
— Arrume as suas coisas. Farei alguns telefonemas para providenciar
a sua viagem.
— Não posso ir assim, sem falar com ninguém. E nã-não sei do que
adiantaria....
Eu a abraço.
— Vai adiantar o seu coração se despedir dele. Perdi meus avôs não
faz muito tempo e me culpo até hoje por não estar lá. Você tem a
oportunidade de se despedir, não desperdice. É melhor do que passar a vida
se sentindo mal por causa disso.
Ela encara-me.
— Você está certo. Pode me levar até a rodoviária?
— Enquanto você arruma as suas coisas, farei algumas ligações para
ver o que consigo.
Duda enlaça seus braços em meu pescoço.
— Serei eternamente grata, senhor Arthur. — Faz um caminho de
beijos pelo meu queixo e pescoço. Essa mulher vai acabar comigo.
— Pequena, vá se arrumar. Se continuar assim, você não irá a lugar
algum tão cedo. — Sento-me na beirada da cama e ligo para a pessoa que
pode resolver qualquer crise em tempo recorde. — Boa noite, princesa.
Duda fica tensa, mas não se vira para mim.
— Onde tenho que te resgatar, Arthur?
— Tenho algo em minhas mãos e não dou conta, preciso de você —
mesmo as mais duronas não resistem ser cortejadas.
— Não sei do que se trata, mas vai custar caro.
— Certo, eu te pago com juros. Preciso de um carro para levar a
Maria Eduarda até a cidade dela, o mais rápido possível.
— Ela está bem? Aconteceu alguma coisa? O que você fez com ela,
seu bastardo? — a mulher pergunta, irritada. — Se ela estiver indo embora
por sua causa, juro....
— Eita! Ela está bem. Não está indo embora... e eu não fiz nada. Pode
me ouvir, Manuela? O avô dela está muito mal e os médicos não sabem até
quando ele resistirá. Preciso de um carro para levá-la até lá e que a esperem
para trazê-la em segurança.
— Tenho um excelente serviço de táxi executivo para fazer isso. Vou
colocar na sua conta. Eu ia perguntar o porquê você não a leva, mas acho que
essa é uma péssima ideia. É capaz de voltar sem assistente nem nada.
— Mulher de pouca fé — brinco. — Obrigado, general.
Nós nos despedimos e desligamos.
— Não precisava incomodar a Manuela — Duda me repreende.
— Não precisava, mas ela é nossa amiga e tem os melhores contatos
entre nós.
Enquanto a Maria Eduarda anda de um lado para outro, arrumando as
suas coisas, deito-me em sua cama e envio mensagens para cancelar o final
de semana programado. As flores eu manterei, pedirei para que coloquem no
carro que virá para pegá-la.
— Manuela está em Petrópolis com o seu irmão.
Está aí uma coisa que eu não sabia, mas deveria imaginar. O casal
está em uma boa fase e só espero que não aconteça nada. Ambos merecem se
curtir e descansar Meu telefone toca e vejo o nome de Manu na tela.
— Oi. Está tudo certo. O carro a pegará no apartamento daqui vinte
minutos. O motorista ficará à disposição dela todo o tempo — Manuela diz.
— Ok. Mais uma vez, obrigado, Manu.
— Passa o telefone para Duda, por favor.
Estendo o braço para Maria Eduarda.
— Ela quer falar com você.
Duda pega o telefone e o atende.
— Oi, Manu. Está tudo bem. Eu sei. Obrigada por tudo, viu. Sim... —
seus olhos lacrimejam e me levanto para ir até ela, seguro seu rosto entre as
minhas mãos e seco a lágrima errante que está prestes a cair. Ela desliga e me
devolve o telefone.
— Nunca te falaram que mulheres bonitas não devem chorar? — Eu a
beijo — Já jantou? — ela nega com a cabeça. — Então, vamos comer.
O carro virá para buscá-la chega em vinte minutos e não dará tempo
de sair para um restaurante. Vamos até a sala e encontramos a Bia
trabalhando arduamente em seu trabalho da faculdade. Sentamos no sofá e
pedimos a refeição por aplicativo. Vinte minutos depois chega a comida e o
carro, o motorista já está em serviço e é gentil ao esperar o término da nossa
refeição. Tudo é corrido até a sua partida e não me despeço direito, mas o
importante aqui é o seu bem-estar.
De volta em meu apartamento, vejo que ainda é cedo e decido colocar
um short para correr na praia. Devido ao trabalho, fazer exercícios é um
hábito que tenho deixado cada vez mais de lado. Dou um mergulho, tomo
água de coco e jogo uma partida de futevôlei com amigos, coisas que há
tempos não fazia. Ao voltar para casa, pego o celular que deixei para trás
quando saí e vejo muitas ligações de Bia. Retorno rapidamente por pensar
que algo pode ter acontecido com a Duda.
— Oi, Bia.
— Graças a Deus alguém respondeu. Você sabe do Rô, Arthur? —
sua voz aguda mostra que ela está agitada.
— Ele está em Petrópolis com a Manuela. Por quê, Bia? O que
aconteceu? — questiono.
— Lembra-se da Greice, ex sub dele?
— Mais ou menos.
— Então, a maluca tentou se matar. Teve uma overdose
medicamentosa. Ainda bem que a irmã a viu em tempo.
Algo me diz que boa coisa não está vindo.
— E o que o Rodrigo tem a ver com isso? — pergunto.
— Greice deixou uma carta para ele, agora os pais dela querem saber
o que se passa entre os dois.
Ah, inferno.
— Você está onde?
— No hospital — ela responde.
— Steban está com você?
— Por que ele estaria comigo?
— Porque somos amigos e na falta do Rodrigo ele poderia se sentir na
responsabilidade, como sinto agora? Em que hospital estão? — Bia me passa
o endereço e nos despedimos.
Corro até o banheiro para me lavar, visto-me rapidamente a fim de
sair. Daqui até a Barra dará uns quarenta minutos. Enquanto isso, tento falar
com Rodrigo e Manuela, mas sem sucesso. Quando chego ao hospital,
encontro Beatriz com os pais e a irmã da garota. Depois dos cumprimentos,
procuro o médico responsável para me informar sobre o atual estado da
mulher.
Bia me contou que conseguiu falar com o Rodrigo e que ele já está a
caminho. O cara deve estar furioso. Meu irmão é a última pessoa que
conheço que se envolveria neste tipo de coisa, geralmente são as mulheres
com que saio que inventam de fazer essas loucuras. Para piorar, a menina foi
tentar se matar justamente no final de semana dele com a Manuela.
Complicado.
Fico sentado em um canto, mexendo no celular e respondendo e-
mails, também telefono para saber como a Maria Eduarda está e acabo
contando o que está acontecendo por aqui.
Não sei quanto tempo se passa até o Rodrigo chegar, mas ele se senta
para conversar com a família da ex após eu passar todas as informações sobre
o estado de saúde da mulher. Eu não vejo a Manuela em lugar algum.
Será que ela já ficou em casa?
Aproximo-me de Bia.
— Você viu a Manu?
— Não. Pela cara que o Senhor Fodão chegou, as coisas já não
estavam bem.
Assim que o Rodrigo sai da sala em que estavam, sozinho, vou ao seu
encontro.
— Como você está, irmão?
— Não estou bem. — Bom, não precisa ser gênio para perceber isso.
— Cadê a Manuela? — pergunto.
— Manuela ficou em Petrópolis, se recusou a fazer parte do drama.
— E você não faria a mesma coisa que ela?
Ele olha para o céu e ri sem humor.
— Não, eu não faria diferente. Mas ainda a quero aqui, quero seu
apoio.
— Quando ela voltar, vocês conversarão e tudo voltará para o seu
lugar.
Ele passa a mão pelos cabelos, isso é sinal de cansaço.
— Não sei.
Somos parceiros demais para ver um ao outro assim e virar as costas,
então passo meu braço pelo seu ombro.
— Vamos achar algum lugar que venda brigadeiro.
Ele me olha, rindo.
— Isso soa gay, cara.
— Certo, porque ser viciado em brigadeiro é coisa de homem.
— Isso é para eu me sentir melhor? Vou para casa.
Olho para o relógio e vejo que já são altas horas da madrugada.
Melhor hora para jogar, já que a quadra está vazia.
— A fim de uma partida de tênis? — convido.
— Só se for agora.
Capítulo 16

Maria Eduarda
— Bom dia, Manu.
— Bom dia, flor. Como está seu avô?
Meu coração aperta, já que me lembrar dele fraquinho, naquela cama
de hospital, deixa-me mal.
— Bem na medida do possível. Ele é bem velhinho e está fraquinho,
mas está sendo bem cuidado.
— Você poderia ter ficado mais, Duda. Daríamos um jeito por aqui.
— Não iria adiantar de nada ficar lá, mas foi muito bom poder me
despedir, vê-lo e dizer “eu te amo” mais uma vez — seguro sua mão e aperto.
— Obrigada por fazer isso por mim, vocês são os melhores amigos que
alguém poderia ter. — Alguém esbarra em mim e olho ao redor. — Manuela,
por que estamos no refeitório do segundo pavilhão e não na copa, no último
andar?
Ela faz uma careta.
— Porque não queremos cruzar com o Rodrigo.
Eu sei que ela está falando da mulher que teve uma overdose.
— Eu sei que a ex submissa do Rodrigo foi parar no hospital e
arrastou ele nisso.
— Segundo a Bia, ela soube que o Rodrigo está com outra e resolveu
fazer a besteira de tomar os remédios.
Que situação.
— O Rodrigo é reconhecidamente um Mestre cuidadoso, sente-se
responsável por todo mundo, com aquela mulher não seria diferente. — Ela
me dá um olhar matador, que chega a arrepiar os cabelos da minha nuca. —
O que foi, Manu? Eu sei que é uma situação complicada, mas você não pode
ficar chateada por uma coisa que ele não tem controle.
Manu deixa a sua caneca de lado.
— Eu sei e acho isso uma de suas melhores qualidades, mas se é o
preço para ficar com ele, infelizmente, não estou disposta a pagar. Bárbara,
Greice, Paula, sinceramente? Para mim não dá!
— Entendo, mas nada como uma conversa bem clara para que as
coisas voltem ao seu lugar e....
Ela me corta.
— Voltarão mesmo, até porque estou sozinha novamente.
Adoro conversar com a Manu, mas estamos longe do prédio principal
e vou acabar me atrasando se não acelerar o caminho de volta.
— Tenho que voltar. Qualquer coisa sabe onde me achar.
No caminho para o prédio, vou pensando em tudo o que tenho que
fazer. Depois de um final de semana atípico, preciso voltar à normalidade.
Não gosto de alterar a minha rotina, só que foi excepcional e tenho que
ocupar a minha cabeça com coisas que me edificam, porque venho remoendo
a minha frustração em relação ao Arthur. Durante o final de semana, ele me
ligou somente uma vez para saber se eu havia chegado bem e me contar o que
houve, depois disso nada.
Não pensei que ele estaria me esperando ontem à noite, quando o
carro estacionou em frente ao meu condomínio, só que eu esperava mais. Até
porque as flores dentro do carro, na sexta-feira, fez com que eu alimentasse
esperanças que não deveria. Sou ciente de que estou brincando com fogo,
pois o risco de me apaixonar por ele é alto. Além disso, não sei se estou
disposta a me arriscar, mas ele mexe com meu lado carnal e o domínio que
ele tem sobre mim é inacreditável. Eu não sei como evitar, se é possível.
Quando ele me olha daquela maneira, meu corpo reage.
Meu Deus! Quem disse que só os homens pensam com a cabeça de
baixo? Isso não vai dar certo e eu sairei muito machucada da situação, se é
que há alguma situação. Sou solteira, tenho um bom trabalho e estou
morando na cidade maravilhosa, o que eu quero mais da vida? Tenho que me
preocupar em curtir e ser feliz. Só tenho que me manter longe do Arthur e
focar no que é importante. Se eu conseguir essa proeza, tudo ficará bem... eu
acho.
Assim que entro em minha sala, ouço o telefone tocar e corro para
atendê-lo.
— Maria Eduarda, falando.
— Boa tarde, Duda — todo o meu corpo entra em alerta. — Venha a
minha sala, por favor.
— Sim, senhor. — Respiro fundo e vou até a sala do homem que há
pouco determinei que não iria me apegar. Assim que entro em sua sala,
deslumbro-me mais uma vez. Não sei o que acontece, vejo esse homem todo
o santo dia e não entendo por que me surpreendo com sua beleza toda vez
que o olho. Essa cara de cafajeste... lindo.... — Em que posso ser útil, senhor
Arthur?
— Primeiro de tudo, quero saber como seu avô está — esse jeito “eu
mando e você faz” me excita.
— Ele é um senhor de noventa e poucos anos, está bem na medida do
possível, mas fraquinho. Sei que sua partida acontecerá em breve.
— Sei que é difícil, mas ele descansará quando for.
Meus olhos se enchem de lágrimas e tento controlá-las.
— Eu sei e estou me preparando para esse momento. Quero agradecê-
lo por ter me proporcionado esse tempo com ele.
Arthur pisca para mim.
— Nosso objetivo é agradar, senhorita. Vamos ao que interessa.
Quero que você organize aquele novo arquivo, já está acostumada a fazer da
maneira que eu gosto, então será mais fácil você colocar ordem naquilo.
Ultimamente está sendo mais fácil eu ir pegar do que pedir a Sara. Vamos
fazer melhor, faça uma lista com o nome do cliente ou do contrato e coloque
ao lado o número da gaveta em que se encontra. Faça uma pasta
compartilhada para que eu tenha acesso.
— Sim, senhor. Mais alguma coisa?
— Sim.
— E o que seria?
— Você.
Encaro-o e percebo que foi um grande, grande erro. O homem está
lindo em um terno azul-marinho e camisa branca, aberta o suficiente para eu
querer passar a língua em sua pele. Os cabelos estão penteados para trás, o
olhar é profundo e o sorriso grita “perigo”. Neste momento, minhas
resoluções estão indo por água abaixo com a lembrança de seus beijos e tudo
o que ele pode fazer com essa boca bonita.
Será que vou para o inferno por ceder a esse pecado de homem?
A minha boca grande se abre antes que o cérebro cogite o que
responder:
— Então, pegue-me!
Arthur se move rápido em minha direção, enlaça-me em seus braços e
me leva até o sofá, sentando-se ao me colocar em seu colo, de frente para si.
— É difícil resistir a você, menina.
Suas mãos me seguram pela cintura.
— Mais ação e menos falação, senhor.
Sua mão, que antes estava em minha cintura, agora me segura
firmemente pela nuca. Arthur pressiona sua boca na minha, exigindo
passagem. Ele tem o poder de transformar um beijo em sexo, pois o que ele
está fazendo neste momento é sexo com a minha boca. Um beijo ansioso,
úmido e puramente carnal. Então o peso da realidade paira sobre mim e tento
sair de seu colo.
— Qual é o problema, Duda?
— Só acho que aqui não seja o melhor lugar, afinal, estamos no
trabalho.
Ele me pressiona contra o seu corpo e, mesmo separados por camadas
de tecido, posso sentir sua ereção. Empenho tudo de mim para não me mexer
e levar a coisa mais adiante. Porque eu sei o que esse homem pode fazer e
minhas partes de senhora despertam com as lembranças. Assim que saio de
seu colo, Arthur me dá um tapa na bunda.
— Você vai acabar me enlouquecendo, mulher.

***

Graças a Deus é sexta-feira. Essa semana foi intensa com as manobras


entre o Rodrigo, Senhor Fodão, e Manuela, Rainha do Gelo. Ambos nos
deixaram em uma sinuca de bico em várias situações. Também teve o Arthur
e meu impasse, se eu deveria ceder ao desejo carnal. Entretanto, sei que
preciso urgentemente mudar o rumo dessa história, por ele ser o meu chefe,
por pertencermos a mundos diferentes e, principalmente, por saber que isso
não dará em nada, só um coração arrebentado.
Apesar de tudo, hoje estou de ótimo humor, irradiando otimismo,
então aproveito para marcar um horário no salão de beleza a fim de dar uma
ajeitada no visual. Eu mereço.
Meu celular toca e vejo que é a Bia.
— Oi, Bia.
— Duda, amanhã um amigo meu dará uma festa de aniversário em
uma boate, está a fim de ir? Manuela também vai.
Tudo o que eu preciso, uma boa distração.
— Estou sim.
— Ótimo. Teremos uma noite de garotas, com bebidas e homens
bonitos para dançar — ela fala entusiasmada.
— Amanhã tenho horário no salão, quer ir comigo? Suas unhas
precisam de uma ajeitada — a convido.
— Vou sim. Amanhã à noite quero estar mais sexy do que nunca.
— Então combinado, belezinha loira. Até mais tarde.
Enfim, uma vida social digna para me distrair dos dramas da minha
realidade.

***

Olho-me no espelho a fim de admirar o meu traje para a noite das


meninas. Uma saia rosa-bebê curta, bem-marcada na cintura por um cinto de
laço. Para combinar, uma blusinha soltinha de alça em tom de marfim, para
levantar a postura escolhi um scarpin nude de saltos altos. Meus cachos estão
soltos, sedosos e com movimento. Victor realmente é muito bom, assim
como a Manuela havia dito. Além disso, estou usando brincos dourados como
acessório e uma make natural. Estou me achando muito, muito bela nesta
noite.
Bia entra em meu quarto com um vestido verde e sandália prata. Está
mais linda do que já é, mas Beatriz é um escândalo de mulher. Loira, olhos
verdes, um corpo magnífico, uma verdadeira boneca que vem com uma boca
suja que envergonharia qualquer marinheiro.
— Duda, você está comestível hoje. Não é a minha praia, mas te dava
“uns pegas” — ela fala e caímos na gargalhada.
— Você está absurdamente linda, Bia. É até injusto andar ao seu lado
— digo. — E a Manu, já chegou?
— Nós nos encontraremos lá. Iremos de Uber e voltaremos com ela.
Damos os últimos retoques no visual, pegamos nossas bolsas e
saímos. Vinte minutos depois, o carro para em frente a uma casa noturna
superlotada. Ao descermos, encontramos a Manuela na entrada. Entre nós
três, ela é a única mais ligada em moda, não segue tendências, mas a
elegância é inata. Manu está com um top peplum de cor turquesa e alças
largas, aberto nas costas, um short de renda e um de seus sapatos preferidos,
um louboutin azul.
— Demoraram — ela nos repreende.
Bia faz uma careta e reclama:
— Acha que é fácil ficar bonita?
— Dá um tempo, Bia. Você pode vir suja e rasgada, ainda assim será
a mais bonita entre nós três — digo em tom de deboche.
— Verdade. Tem dias que tenho raiva de você, garota — Manu fala.
— Vamos, vamos. A noite é nossa — Beatriz nos puxa para dentro.
Ela deu nossos nomes à hostess na porta e logo somos levadas até a
ala vip, com direito a pulseirinhas no braço. Encontramos o aniversariante e
cumprimentamos alguns de seus amigos, logo Beatriz e eu estamos
abastecidas com bebidas coloridas, já que Manuela é a motorista da vez.
Aonde quer que vamos, há uma atendente nos abastecendo com as
mais variadas bebidas. Tenho consciência de que estou bebendo de barriga
vazia, mas essas coisinhas coloridas são tão docinhas que nem parecem ter
álcool. Assim, continuamos a beber e festejar. Um momento depois, a música
Don´t Cha, de The Pussycat Dolls, começa a tocar e enlouquecemos, logo
caímos na pista para fazer o nosso número.
(...) Eu sei que você gosta de mim. Eu sei que gosta. É por isso que
toda vez que eu me aproximo, ela está dando em cima de você. Eu sei que
você quer isto, é fácil de ver e na sua cabeça sei que você deveria estar
comigo (...)
Gritamos, rebolamos e bebemos. Manuela, apesar de não estar
consumindo bebida alcoólica, também se joga na festa.
(...) Você não queria que sua namorada fosse gostosa como eu? Você
não queria que sua namorada fosse maluca como eu? Você não gostaria?
Você não queria que sua namorada fosse cruel como eu? Você não queria
que sua namorada fosse divertida como eu? Você não gostaria? (...)
Sinto-me tão leve e feliz que me permito corresponder a um dos caras
que estão nos cercando a todo momento. Não demora muito para ele e seu
amigo se aproximarem de Manu e eu. Bia já está agarrada ao seu boy magia,
fazendo algum tipo de dança do acasalamento.
A música muda e uma batida sexy ecoa pelo lugar, fazendo com que
os caras se aproximem ainda mais de nós. O cara que está comigo coloca as
suas mãos na minha cintura e pressiona o meu corpo contra o seu.
(...) Cale a boca, querido, e mostre a que veio. Mãos santas, elas me
tornarão uma pecadora? Como um rio, como um rio.... Cale a boca e me
percorra como um rio. Sufoque esse amor até as veias começarem a
estremecer. Um último suspiro até as lágrimas começarem a secar. Como um
rio, como um rio.... Cale a boca e me percorra como um rio. Contos de um
coração eterno. Amaldiçoado é o tolo que se dispõe. Não podemos mudar
nosso jeito[11] (...)
Estamos a um beijo de distância quando um calafrio me percorre.
Mau sinal. Mau sinal. Sacudo a cabeça para desanuviar, mas a sinto meio
leve e vejo que a bebida bateu. Volto a me concentrar na minha vítima desta
noite, mirando a sua boca para....
— O que você pensa que está fazendo? — ouço o Arthur Fodido
Castro rugindo em meu ouvido enquanto me arrasta para longe do cara. —
Você, protótipo de robocop, dê o fora. Ela é minha!
Wow.
Viro-me para ele.
— Eu não sou! — grito, mas Arthur não dá a menor bola para mim e
olha acima da minha cabeça.
— Não foi ainda por quê, imbecil? — O cara se afasta. Covarde. — E
você, senhorita Maria, vá para casa.
— Não vou — debato-me para sair de seu aperto, mas ele me arrasta
pelo braço.
Durante o caminho, Arthur pega a Manuela, que está agarrada a um
cara.
— Dona Manuela, o que pensa que está fazendo? — ele pergunta
assim que saímos da boate.
— Eu estava me divertindo. Quem você pensa que é para me arrastar
assim? — ela o questiona, mais irritada do que nunca.
Bufo.
— Estraga prazeres — a tontura bate e vejo que estou mais bêbada do
que imaginei, ainda assim, estou pronta para briga. — Ninguém... Hurg —
coloco a mão na boca.
Escoro-me na parede e respiro fundo algumas vezes.
Não, não, nada de vomitar no bonitão, é nojento. Vai por mim,
nenhum cara vai te beijar se você vomitar nele, eu não beijaria.
Manuela discute com ele incessantemente.
— Fiquem quietas — Arthur fala entredentes, pois já está puto.
— Não. Eu voltarei lá para dentro e... — Manu fala mais do que
irritada e eu tenho certeza de que ela está do meu lado, tenho que apoiá-la.
— É isssso aê — minha língua dá uma enrolada. — Manu, por que
você está girando?
Eu acho que Arthur está balançando a cabeça em negativa ou o
mundo está girando como um caleido... calidocorpio... calistocorpio... Não,
espera, ca-lei-do... di... foda-se.
Ouço a voz da Bia.
— Eu não vou!
— É o que veremos — reconheço essa voz grave.
Polícia na área.
Adoro o Steban, vou dar um abraço nele.
— Sssteban, bom que vocccê veio. Sabe, eu falei para Bia que ela
deveria ligar para você. Porra, vocês se amam, véio. Tem que ficar juntos.
Ele olha para mim e não sorri, apenas assente.
— Ok, menina Duda. Entendido, agora vamos para casa.
Beatriz e eu batemos continência e falamos ao mesmo tempo:
— Não, senhor!
Olho para a Bia que está meio embaçada e questiono algo importante:
— Será vossa excelência? Afinal, ele é uma autoridade.
Bia também tem essa dúvida.
— Vossa santidade, porque é todo ccertinho.
Rimos muito, ela é tão divertida.
Manuela está rindo demais e eu quero saber a piada, mas o senhor
“vá-para-casa” não para de reclamar juntamente com o tiozão ali.
— Genteee, Steban é tiozão mesmo, né?! Tipo... ele é o tiozzzão,
gostosssão... um DILF[12]. Oh, ssssimmm.
Bia começa a dançar e cantar do nada:
— (...) Vou rebolar só porque você não gosta. Se não quiser me
olhar, vira de costas. Você vai ter que aturar, porque eu vim pra te provocar
e para de falar “blá blá blá” [13](...)
Eu me empolgo ao ouvir e entro na jogada:
— Adorooooo! (...) Eu avisei que não ia mais te dar moral. A fila
andou e você foi pro final (...)
— Vamos parar com o show — Steban coloca a mão sobre a boca da
Bia.
— Casa, agora! — Arthur me pega pela cintura e vai me levando para
algum lugar.
— Hum, o senhor Castro tem uma pegada pesada. Fodão! — falo com
ironia.
A seguir, tudo se torna um borrão. Arthur, Manu, Steban, Bia, carros,
insistência, uma tremenda e vontade de dormir. Braços fortes me segurando,
mal-estar e, por fim, a escuridão.

***

Tento abrir os olhos, mas eles estão pesados. Minha boca está seca e
minha cabeça lateja.
— Aiiii... acho que não estou muito bem — gemo.
— Ressaca, querida. Consegue abrir os olhos? — Manu fala de algum
lugar perto de mim.
— Eu acho que sim.
Com muito custo, consigo abrir os meus olhos e minha cabeça lateja
ainda mais.
— Levante-se um pouco para tomar isso. — Assim que o faço, ela me
entrega dois comprimidos e um copo de suco.
— O que é isso? — pergunto e ela sorri.
— Segundo o Steban, isso é um kit antirressaca.
Volto a me deitar.
— Steban estava lá? Eu só lembro do Arthur chegando e... — arregalo
os olhos e abro a boca a ponto de deslocar a mandíbula quando imagens da
noite voltam em uma torrente. Encaro Manuela. — Me diz que eu não fiz
besteira.
Manuela tem uma crise de riso e Bia grita de algum lugar.
— Querem calar a boca? Não estão vendo que estou morrendo aqui?
Manuela, ainda rindo, diz:
— Qual parte você prefere ouvir? A que abraçou o Steban e o chamou
de véio ou a que as belezuras começaram cantar e dançar “Blá blá blá”, da
Anitta, na frente da plateia? Não, a melhor de todas foi você falar que Steban
é um DILF. — Manuela se joga para trás de tanto rir. — A Bia disse que ia
chupar o tiozão inteirinho. Eu nunca ri tanto na minha vida.
Jogo o braço sobre os olhos.
— Nunca mais olharei para ele. Que vergonha!
— Nunca mais beberei. Manuela, pare de rir — Bia reclama.
Meu Deus! O que mais aconteceu que eu não estou me lembrando?
Quais absurdos fiz enquanto estava bêbada? Eu estava ciente de que não
poderia beber muito. Que droga, Maria Eduarda! Bastou uma noite para
você piorar sua imagem. Ainda bem que o Rodrigo não estava, assim
evitamos um vexame ainda maior.
— Que horas são, Manu?
— Quatro horas — ela responde.
— Da tarde? — pergunto estridentemente.
— Da manhã seria quase impossível. Levantem-se e vão tomar um
banho. Vou preparar algo para vocês comerem antes de ir para casa.
Só então percebo que estamos em nosso apartamento. Manuela deve
ter dormido aqui para garantir que não morrêssemos enquanto dormíamos.
Levanto a coberta e vejo que ainda ostento a roupa da noite passada. Meu
rosto deve estar um caos, assim como o meu cabelo.
Com muito custo, levanto-me, dispo-me e vou até o banheiro para
tomar um banho morno e ver se desperto, se o mal-estar diminui. Assim que
me olho no espelho, confirmo a situação, estou horrorosa e com maquiagem
borrada como um panda, os cabelos parecendo um ninho de passarinho.
Antes de entrar no chuveiro, tiro a maquiagem. Assim que o faço, enfio-me
sob a ducha e deixo que a água lave todo o cansaço, já que a vergonha
continua intacta.
Quando saio, Beatriz entra parecendo que alguém a torturou a noite
toda. Então sento-me no sofá juntamente com a Manuela, deito a minha
cabeça em seu ombro e ela carinhosamente aperta a minha mão.
Sinto seu corpo tremer e sei que ela ainda está rindo das coisas que
fizemos e não controlo um gemido de constrangimento. Quando Bia se junta
a nós, Manu serve sanduíches e sucos para matar a nossa fome.
E o nosso domingo termina assim, Bia e eu na cama dormindo para
curar a nossa ressaca. Quando não é isso, conversamos para descobrir que
desculpa dar quando encontrar Arthur e Steban. Eu não sei com que cara vou
encarar o Arthur amanhã. Meu Deus, tudo está tão nebuloso na minha
cabeça! Fora as coisas que eu não me lembro.
Que vergonha, Duda. Que vergonha.
Capítulo 17

Maria Eduarda
Segunda-feira da vergonha. Ando pelos corredores da construtora de
cabeça baixa, evitando qualquer um que possa saber o que aconteceu naquele
clube. Vim à empresa pensando em todas as maneiras de evitar o chefe e a
primeira delas está bem na minha frente, neste momento.
— Bom dia, Sara. Poderia passar a agenda do Arthur hoje, por favor?
— digo e seus olhos brilham.
Outra fã do cara.
— Claro que sim. Tudo por uma colega.
— Vou providenciar algumas coisas e já volto.
Corro até a copa, pego o café do Arthur com a Dona Sônia e passo na
minha sala, a fim de buscar o tablet e fazer algumas anotações para que a
Sara se saia bem. Retorno e entrego tudo a ela, então vou para minha sala
com o intuito de resolver os itens do meu dia.
Enquanto Sara se ocupa com o Arthur, encaminho alguns e-mails e
meu telefone toca.
— Maria Eduarda, falando.
— Quero você aqui, agora! — Ah, merda! Pelo tom de voz e por ter
desligado na minha cara, a Sara deve ter feito uma merda muito grande.
Estou saindo da minha sala quando encontro a dita cuja indo para sua
mesa. Aproximo-me e pergunto:
— O que houve?
Sara dá de ombros, mas posso ver que está frustrada.
— Ele disse que a obrigação de repassar a agenda é sua, não minha.
— Ele brigou com você por isso? — eu a questiono e Sara abre um
sorriso largo demais para o meu gosto.
Pego o tablet de sua mão.
— Não — que “não” mais arrastado e sonhador.
— Você precisa de aparelho — irritada, saio sem dar chance para que
me responda.
Está certo que os dentes da menina são perfeitos, mas eu queria tirar
aquele sorrisinho de cocota do rosto dela. Inferno! Caminho até a sala do
Arthur como se estivesse no corredor da morte. Exagerada? Não depois das
barbaridades que falei. Nessas horas me dou conta de que preciso voltar a
rezar.
Bato em sua porta e entro, mas ele não tira os olhos do computador.
— Sente-se, Maria Eduarda — enquanto o espero, ele fala com o
Rodrigo por telefone e desliga, tudo isso sem tirar os olhos da tela. — Mesmo
que você tivesse feito um strip tease em cima da mesa de um circo e se
tornasse a vergonha da cidade, a agenda não deixaria de ser uma
responsabilidade sua.
Arthur se cala por mais de vinte minutos, me deixando mal e
impaciente.
— Senhor Arthur, tenho que voltar para minha mesa — ele não faz
nada, apenas continua a trabalhar no computador.
Não vou ficar aqui esperando ele arrefecer sua irritação de homem
mimado, tenho mais o que fazer. Com isso em mente, levanto-me para sair.
— Aonde você vai? — ele pergunta.
— Para minha me....
— Sente-se — Arthur me corta, ordenando.
Assim o faço porque ele é meu chefe e tenho contas a pagar, mas tudo
na vida tem limite. Sei que está me punindo por ter enviado a Sara, só que
tenho coisas demais para fazer, ao invés de ficar tomando sua birra. Levanto-
me e vou até ele, viro sua cadeira e ficamos cara a cara sem que o infeliz
esboce qualquer reação.
— Você está me punindo? — ele se ajeita na cadeira, coloca o dedo
indicador em frente a boca e me encara. — Responda, Arthur. Você está me
punindo por ter enviado a Sara?
— E por que eu estaria te punindo, senhorita Maria?
— Por ter enviado a Sara....
— Tente novamente, querida.
Sua condescendência é extremamente irritante.
— Está me punindo por causa de sábado à noite? Por beber demais,
por falar demais — ele continua a me olhar, deixando-me mais e mais sem
jeito.
— Ótimo. Agora que você já tem os motivos listados, pode se sentar
ali na cadeira e aguardar a minha ordem — sua voz é profunda e não sei o
que acontece comigo, mas estou ficando excitada.
Ajeito-me e passo a mão pela minha roupa para ocupá-las e não o
esganar. Volto à cadeira, mas me toco de uma coisa importante antes de me
sentar: ele não é meu namorado, Dono, não é nada meu. Não tenho por que
ser punida e nem receber isto dele.
Quando me viro a fim de falar isso, dou de cara com o Arthur logo
atrás de mim.
— Não quero outro homem tocando em você. Se eu souber que isso
aconteceu, vou atrás de quem quer que seja e providenciarei para que não
abrace mais ninguém — ele fala em um tom baixo e feroz.
Um arrepio passa pelo meu corpo.
— Você não tem direito sobre....
Arthur me pega pela cintura e pressiona o seu corpo contra o meu.
— Posso tudo o que eu quiser, menina — ele morde meu lábio
inferior sem dó e o chupa em seguida. — E é bom você levar o meu aviso a
sério.
Fico hipnotizada com seu olhar, desejando que o Arthur me toque, me
possua.
— Estou atrapalhando? — Rodrigo pergunta e tento sair do aperto
que Arthur me impõe, mas ele não permite.
Logo o constrangimento causado pela presença de Rodrigo me assola
e, vendo a minha situação, Arthur me libera.
— Não, irmão. Você não atrapalha. A Duda precisava de uma ajuda.
Sente-se, Maria.
Rodrigo olha entre seu irmão e eu.
— Algum problema? — ele sorri discretamente, fazendo-me pensar
no quanto a Manu é sortuda. Na próxima encarnação quero nascer nesta
família, pois é muita beleza para apenas dois homens.
— Conte a ele, Maria Eduarda.
Olho para Rodrigo que está focado em mim, esperando a minha
história.
— Sábado à noite nós fomos a uma festa e bebemos um pouquinho
demais.
Arthur me interrompe.
— Elas estavam se esfregando em caras que nunca vimos na vida.
Duda e Bia estavam bêbadas, a única sóbria era a Manuela, que é mais
teimosa do que uma mula. Maria Eduarda chamou o Steban de DILF.
Rodrigo cai na risada e ri mais ainda cada vez que olha para mim. —
Jesus amado. Eu não tenho que ficar ouvindo isso. — Enraivecida, levanto-
me e aponto para Arthur Fodido Castro.
— Anuncia no Jornal Nacional, senhor Castro. Com licença.
Quando estou prestes a passar pela porta, ele me chama.
— Maria Eduarda — apenas viro. — Não se esqueça do que falei.
Quem avisa amigo é.
Fechei a porta porque não aguento mais ouvir a risada do Rodrigo.
Que vergonha!

***

A semana vai passando sem grandes problemas. Expediente frenético


que amo, contratos importantes, negócios sendo fechados, obras iniciando.
Tudo indo como deve ser e eu fazendo parte disto.
Estou orgulhosa de mim mesma e posso dizer que nesta semana vim,
vi e venci. Rodrigo e Arthur fazem com que eu me sinta parte de tudo, dão
valor ao meu trabalho e as minhas ideias. Dou o meu melhor e é bom quando
nosso trabalho é reconhecido.
Estou passando pelo almoxarifado, voltando do setor de compras,
quando uma mão me agarra e me puxa para dentro. A porta se fecha e uma
voz grave e conhecida fala em meu ouvido:
— Você deveria ser proibida de desfilar pelos corredores com essa
saia justa. Não gostei de ver como te olham, não gosto de ver como eles
desejam o que é meu.
Meu corpo aquece não só com as suas palavras, mas com a
possessividade e sensualidade de toda esta situação. Não sei como fugir dele
e acho que nem quero saber. Ele me pressiona contra a parede e desliza suas
mãos pelo meu corpo.
— Você pode tentar fugir de mim — Arthur levanta a minha saia e
passa a mão pelas minhas coxas. — Você pode sair com outros — ele coloca
suas mãos em minha bunda e aperta, fazendo com que eu sinta sua ereção e
não contenho um gemido. — Você pode tentar achar em outros... — sua mão
começa a me atormentar entre as pernas — o que só encontrará em mim. —
Sua boca passeia pelo meu pescoço com beijos úmidos até chegar em minha
orelha, morder o lóbulo antes de falar em meu ouvido. — Mas eu sou o único
que pode lhe dar o que precisa.
Arthur acaricia o meu rosto com uma mão enquanto a outra continua
a esfregar minha boceta por cima da calcinha, deixando-me molhada. A mão
que estava em meu rosto segura o meu queixo e leva a minha boca para sua.
Sua boca encosta na minha e sua língua exige passagem, que eu alegremente
dou. O beijo é úmido e cheio de promessas de coisas perversas que ele fará
comigo. Não sei como o Arthur consegue sincronizar o movimento de seus
dedos, entre as minhas pernas, com os movimentos de sua língua.
Céus! Arthur me sobrecarrega, fazendo-me entrar em alerta. Cada
pedaço do meu corpo sabe o que ele pode fazer e ansiosamente espera por
isso. Ele se afasta e começa a abrir a minha camisa, assim que está aberta,
abaixa meu sutiã e expõe os meus seios. Ao vê-los, Arthur geme e me sinto
satisfeita.
Logo, sua boca suga um mamilo enquanto suas mãos me exploram.
Ele continua a me chupar e sua mão atrevida abaixa a minha calcinha, então
dedos grossos acariciam a fenda entre as minhas pernas e ele me penetra com
dois, fazendo-me gemer alto.
— Se te ouvirem gemer, virão aqui para ver o que está acontecendo,
menina má.
— Ah... sim... ah... — gemidos e lamentos saem de mim.
— Linda menina com seios perfeitos e boceta apertada. Lembra
quando transamos? De como sou grande e ainda assim coube perfeitamente
em você? — Arthur belisca os meus mamilos.
— S-sim... Oh, Deus... sim!
Ele me beija mais uma vez antes de pegar a minha calcinha e enfiar na
minha boca. Sem demora, sua boca pousa em meu pescoço, mordendo e
lambendo.
— Isso é para garantir que a minha menina má não grite.
Arthur fica de joelhos na minha frente, cheira entre as minhas pernas
e beija meu osso púbico. Então coloca uma de minhas pernas sobre o seu
ombro, expondo-me para sua degustação, antes de me lamber, sugar e morder
meu clitóris, manuseando conforme o seu desejo.
Seguro seus cabelos e cavalgo sua boca, que me fode lindamente.
Dois dedos entram em mim enquanto Arthur suga tão intensamente o meu
clitóris que chego a ver estrelas. Belisco meus mamilos fazendo mais prazer
percorrer pelo meu corpo.
— Você é gostosa para caralho, Duda. Eu poderia passar dias entre as
suas pernas, comendo esta boceta. Quer gozar, menina má? — Assinto, pois
estou desesperada por causa da construção do orgasmo em mim. Um terceiro
dedo se junta aos que estão dentro de mim e outro começa a acariciar a
entrada da minha bunda. — Um dia eu comerei esta bunda. Goze, Maria
Eduarda.
Um orgasmo libertador rasga e Arthur me segura, já que as minhas
pernas fraquejam. Ele retira a calcinha da minha boca e minha respiração é
irregular. Arthur beija cada seio e sobe pela minha garganta com beijos até
chegar em minha boca, onde seus lábios são mais vorazes.
Tento me manter coerente, mas ele faz com que tudo a nossa volta
desapareça, assim como o meu juízo. É como se meu corpo soubesse a quem
responder, como se pertencesse a ele e não a mim. Maldita hora para a
realidade bater em minha cara; estou seminua no almoxarifado da empresa
em que trabalho, com um dos meus chefes. É perigoso continuar com esses
joguinhos.
Começo a me arrumar sem olhar para ele.
— Realmente não sei o que acontece comigo, parece que não tenho
amor ao meu emprego. Por favor, Arthur, respeite a minha posição como sua
assistente. Eu realmente preciso desse trabalho.
Ele se mantém em silêncio, apenas me assistindo. Quando estou
arrumada novamente, caminho em direção à porta, mas sua mão segura o
meu braço.
— Não esqueça do aviso que te dei. Você é minha e se algum
bastardo colocar as mãos em você, cuidarei para que ele não coloque as mãos
em mais ninguém.
Este homem me desconcerta, mexe, remexe, constrói, destrói, são
tantas sensações e reações. O pior é que sinto a necessidade de me submeter
para ser recompensada com esses orgasmos. É mais forte do que eu, na
verdade, é mais forte do que qualquer coisa que já senti. O homem me
domina e acho que quero isso, já que vem acompanhado de orgasmos e beijos
intensos.

***
Parece que Arthur entendeu o meu recado, pois o restante da semana
transcorreu sem nenhum encontro furtivo. Pelo contrário, ele manteve uma
postura profissional o tempo todo. De vez em quando nos “esbarramos” e
ganhei suas piscadas sexys, mas pude me concentrar no meu trabalho, naquilo
que gosto e sou bem-paga para fazer. De vez em quando a minha cabeça ia lá
no almoxarifado, só que eu estava focada demais para me manter lá.
Final do expediente, final da semana, desço conversando com a Sara
e, ao chegarmos em frente ao prédio, ela para.
— Vou esperar a minha carona aqui. Bom final de semana, Duda —
diz e sorrio.
— Bom final de semana, querida.
Uma Range Rover preta, muito conhecida, para na nossa frente antes
que eu dê um passo adiante. A porta se abre e meu coração dá um salto
quando vejo o Arthur, mas é a Sara que se encaminha para o carro.
— Tchau, Duda.
Estou tão chocada que não tenho reação.
Como ele pode ser tão cara de pau? Ou como posso ser tão burra?
Quantas vezes tenho que ser lembrada da posição que ocupo? Arthur me faz
sentir importante para depois me lembrar do meu lugar. Quanto de
masoquismo tenho em mim? Somos duas idiotas, Sara e eu, não passamos de
“um bom tempo” para ele.
No fim, Arthur acabará se casando com a fodida da Érica e terão
lindos filhos da alta sociedade. Não sei o que sinto por ele e, sinceramente,
não sei se quero pensar sobre isso. Pelo menos não agora que estou tão ferida.
Minha mãe sempre diz: “quem procura, acha” e esse é o meu medo, achar
algo que eu não deveria.
Capítulo 18

Maria Eduarda
As meninas e eu combinamos de sair com o Victor para conhecermos
seu namorado. Victor é um dos melhores cabeleireiros da cidade, além de ser
lindo e um ótimo amigo. Eu o adoro, já fomos conhecer uma boate gay que
ele frequenta e amamos, ali também conheci alguns de seus amigos próximos
e imediatamente me conectei. Eles são muito divertidos, lindos e entendem
de mulher como ninguém. Combinação perfeita!
O lugar escolhido foi o Botequim Informal, aqui em Copacabana. Bia
e eu encontramos os rapazes em frente ao local e no meio da apresentação do
namorado de Victor, o lindo Enzo, Manu chega para completar o grupo. Já
entramos rindo porque, onde esses meninos estão, a festa é garantida. Além
de Victor, já conhecíamos o Mateus e o meu querido Jhon, que cuidou de dar
uma iluminada em meus cabelos, deixando-me mais bonita. Tivemos uma
identificação imediata assim que disse que adoro a Britney Spears.
Jhon e eu entramos de braços dados, rindo das pérolas da Bia, quando
do nada alguém vem para cima da gente e dá um soco no Jonas. Na ânsia de
ajudá-lo, não me dou conta de quem fez essa barbárie. Manuela insiste que
todos se sentem porque chamamos muita atenção e amanhã estaremos em
toda a internet. Então olho ao redor e descubro o culpado quando Manuela
fala alto:
— Vou perguntar mais uma vez, idiota. O que foi isso?
— Eu o vi abraçando a Duda e não sei.... Quando vi, já tinha socado
— Arthur se justifica.
— O nome disso é ciúme, animal — Bia diz em tom seco.
Balanço a cabeça negativamente.
Que idiota!
— Vou apresentá-los antes que eu mesma tenha que matar alguém —
Manuela aponta para os rapazes ao nosso lado. — Esse é Victor, namorado
do Enzo. Aquele que o metido a Chuck Norris socou é o Jonas, namorado do
Mateus.
Rodrigo é o primeiro a se desculpar, seguido de seu irmão. Noto que
há outros homens com eles, mas não os conheço. Minha atenção e raiva estão
direcionadas ao macho escroto que está na minha frente. Ele não pode sair
socando todo mundo só porque estão conversando comigo. O imbecil não
tem esse direito, não pode fazer da minha vida um inferno porque quer,
enquanto corre pela cidade fodendo tudo o que tem pernas.
Todos conversam civilizadamente e acho até que estão se dando bem
demais depois daquele tumulto. Deixo a mesa e vou ao banheiro, então dou
de cara com o Arthur assim que saio.
— Ah, não! Não quero lidar com você agora — reclamo e tento passar
por ele.
— Eu te falei o que aconteceria se alguém encostasse em você.
Minha irritação chega a níveis alarmantes. Coloco o dedo em seu
peito e falo entredentes:
— Cala essa boca, idiota. Cansei dos seus jogos, cansei de você
fodendo a minha cabeça e meus desejos. Você não pode me foder no
almoxarifado e depois levar outra para casa. Está fodendo com a Sara
também? Quantas mais andam frequentando o seu pau?
— Ela me pediu uma carona até a estação. Duda....
— Afinal, o que você quer de mim? — questiono.
— Eu quero você — ele dá um passo em minha direção, ficando
próximo demais.
— Não sou! — falo com determinação. — Não quero ser. Para mim
esse jogo acabou.
— Isso é o que vamos ver — Arthur vira as costas e sai, deixando-me
uma bagunça nervosa.
Imbecil! Idiota! Babaca! Gostoso! Que ódio!
Volto para a mesa e tento fazer o meu melhor para não o olhar. A
noite foi muito boa, brinquei, bebi, ri e flertei com um dos amigos dos irmãos
Alcântara e Castro, nada muito descarado, apenas leves flertes. Senti os olhos
de Arthur queimando em mim, mas fiz o meu melhor para ignorar, afinal, saí
para me divertir e não para passar raiva.
No final da noite, Manuela se despede de todos e vai embora com o
Rodrigo. É tão lindo vê-los juntos, pois são do tipo “casal de primeira página
da Forbes: poderosos”.
— Vamos, Bia? — eu a convido para partir também e ela se levanta.
— Poderíamos ir até a Lapa, o que acha?
Estou prestes a responder quando Arthur se levanta e começa a falar:
— Steban, você leva a Bia? Eu vou levar a Maria Eduarda.
— Não vai, não — digo apressadamente, mas os homens da caverna
aqui têm outros pensamentos.
Steban enlaça a Beatriz pela cintura e a leva com ele enquanto Arthur,
com aquele olhar devasso e o sorriso de canto, diz:
— Vamos, senhorita Maria.
Um arrepio passa por mim, pois seu tom de voz é rouco. O porque
isso mexe comigo está além da minha compreensão. Para não fazer uma cena
em frente aos seus amigos, deixo-me ser levada para fora.
— Eu não irei com você, Arthur.
Ele passa as mãos pelos cabelos em sinal de frustração.
— Olha, Duda, não fiquei com a Sara e nem com ninguém. Você tem
me consumido mais do que qualquer outra mulher. Vamos lá, menina linda,
me dê a chance de conversar com você.
— Conversar — repito e ele sorri.
— Conversar.
Balanço a cabeça em desgosto comigo mesma.
— Tudo bem, Arthur. Apenas mantenha suas mãos longe de mim.
Ele não fala nada e eu deveria ter me atentado a isso. Mas, enfim,
saímos dali para o apartamento dele, o que para mim é uma surpresa. Achei
que iríamos ao meu apartamento.
Assim que entramos, posso olhar o lugar sem ninguém para atrapalhar
a minha visão, como na festa. Estou em uma sala ampla com iluminação em
led branca e azul, sofás de couro preto, muito espaçosa. A varanda é um
espetáculo à parte, com sofás e cadeiras, a piscina está toda iluminada em
azul. Tudo isso de frente para o mar.
— Seu apartamento é de muito bom-gosto — elogio.
— Obrigado. Sente-se, por favor. Quer beber ou comer alguma coisa?
— Não, obrigada.
Caminho até a varanda e me sento em uma das cadeiras. A brisa
quente e o cheiro do mar me acalmam. Ele se senta ao meu lado.
— Desculpa pelo que aconteceu mais cedo. Foi mais forte do que eu.
— Foi desnecessário, Arthur. Estou irritada, mas se o Jonas te
perdoou, quem sou eu para não lhe desculpar?
— Eu quero você, Duda. Sou a porra de um egoísta e a quero só para
mim. Eu não posso lhe oferecer um compromisso, pois Deus sabe quantas
merdas farei quando estiver em um. Nem sei se nasci para isso. Só que,
mulher, todas as vezes que você está perto de mim, meu corpo deseja o seu.
Gosto de te perseguir na empresa, de a encurralar pelos cantos e ouvi-la
gemer. Só sei que a quero intensamente.
— Eu não entendo. Uma hora você faz com que eu me sinta bem e na
outra se distancia — digo em voz baixa.
— Eu não me distancio, mas acontecem coisas que acabam
atrapalhando, coisas que estão além do nosso controle. Olha, assumo não ser
o melhor homem. Gosto de sair e flertar, já fiz isso tanto que se tornou um
hábito. Mas não faço para ferir as pessoas, pelo menos, não propositalmente.
Duda, eu tenho algo novo, algo que tem me deixado mais centrado e
satisfeito, quero explorar isso com você.
— Está falando de BDSM? — pergunto e ele assente. — Tenho
ouvido comentários de que você tem se saído muito bem. Mas, sinceramente,
não sei se isso faz o meu tipo.
— Seremos duas pessoas em busca do prazer — sua voz é suave.
Arthur se levanta e entra na sala, não demora muito tempo para que a música
preencha o ambiente. Ele volta e estende a mão para mim. — Dance comigo.
(...) Vim para lhe encontrar, dizer que sinto muito. Você não sabe o
quão amável você é. Eu tive que te encontrar para dizer que preciso de você,
dizer que escolhi você. Conte-me seus segredos e faça-me suas perguntas.
Oh, vamos voltar para o começo [14](...)
Deus! Por que ele tem que ser tão irresistível? Suas palavras, sua
sinceridade, seu sorriso e bom humor contagiante. A combinação disso e
colocar uma música para apenas dançar. Isso mexe comigo e mais uma vez
ele fode com a minha cabeça. Sua boca está na curva do meu pescoço com
leves mordidas e beijos.
(...) Ninguém disse que era fácil. É uma pena nós nos separarmos.
Ninguém disse que era fácil e ninguém jamais disse que seria tão difícil
assim. Oh, me leve de volta ao começo. Eu só estava pensando em números e
figuras, rejeitando seus quebra-cabeças. Questões da ciência, ciência e
progresso. Não falam tão alto quanto meu coração. Diga-me que me ama,
volte e me assombre (...)
— E-eu realmente não posso jogar este jogo, Arthur.
— Então descubra comigo.
Minha cabeça está dando voltas.
— Se eu ceder a você agora, serei fraca — desabafo.
— Depende, se você ceder a mim será porque quer me agradar ou
será para agradar a si própria?
Lembranças de todos os nossos encontros, beijos roubados e o
almoxarifado enchem e nublam a minha mente.
— Por mim — respondo com convicção. Porque é por mim, pelo que
ele me faz sentir. — Será pelo prazer e orgasmos que você pode me
proporcionar.
Arthur se afasta o suficiente para que eu veja o seu sorriso de lobo.
— Não, você não é fraca, linda menina. Pelo contrário, é forte e está
em busca do que quer.
— E se eu não quiser ser sua submissa? — pergunto.
— Então, me afastarei.
— E se algo der errado? — sim, estou considerando. — Se der errado
e você me demitir?
Ele bufa.
— Quem manda naquela empresa é a Manuela, ela simplesmente vai
chutar a minha bunda e me remanejar de vice-presidente para auxiliar de
escritório.
Rimos.
— Sério. Se der errado, o que acontece?
Ele acaricia o meu rosto.
— Então a gente segue em frente. Somos amigos, Maria Eduarda, eu
sempre estarei aqui para você.
— Por que eu, Arthur?
— Porque você é linda e inteligente. Porque meu corpo quer o seu —
definitivamente, sou um caso perdido. — Não farei nada que você não queira
— ele baixa a alça do meu vestido e beija meu ombro. — Basta dizer que não
quer e paramos tudo —estou tão envolvida. Eu o quero tanto que dói. Arthur
continua seu caminho de beijos até meu seio. — Diga-me para parar, Maria
Eduarda.
Estou tentando dizer para ele parar, tentando com todas as forças, mas
a minha boca não obedece e meu corpo, esse traidor, já está entregue. Arthur
baixa a outra alça e meu vestido cai aos meus pés, deixando-me apenas de
calcinha em sua varanda, onde muitas pessoas podem nos ver e, de alguma
maneira, isso me excita ainda mais.
Esse é o problema, o efeito que o Arthur tem sobre mim. Sou recatada
e nunca pensei em ficar nua em lugares que outras pessoas possam me ver.
Mas aqui estou, sentindo prazer com o que esse diabo oferece.
Ele toma um seio em sua boca, suga até deixá-lo dolorido e vai para o
outro. A brisa bate em meu mamilo úmido e me arrepio. Arthur me leva para
dentro e me senta em seu sofá, antes que eu possa me sentar, ele se ajoelha e
tira a minha calcinha com reverência. Esse homem é o pecado que me levará
diretamente ao inferno. Sentada em seu sofá, nua e de pernas abertas, sou
contemplada por este homem. Eu vejo admiração em seus olhos e sinto-me a
mulher mais bonita do mundo.
Arthur acaricia meu pescoço, meus seios e minha barriga sem dizer
nada. Em absoluto silêncio, ele continua a descer por minhas coxas, pernas e
pés.
— Você é tão perfeita — estou entregue a ele, aguardando para ser
sua fonte de prazer. — Está pronta para mim, menina linda?
— Sim.
Como se tivesse ligado um interruptor, ele vem para cima e toma a
minha boca em um beijo cru, morde meu lábio e o chupa. Isso me acende
mais e Arthur se coloca entre as minhas pernas, beija a minha garganta, desce
pelos meus seios, lambendo cada mamilo no caminho, então vai para minha
barriga até chegar em minha boceta, me chupa com força.
— Ah... você faz maravilhas entre as minhas pernas, senhor Castro.
Ele me dá um tapa bem em cima do clitóris, fazendo-me gemer alto.
— Te darei tudo, sempre.
Arthur coloca as minhas pernas em seus ombros sem tirar seus olhos
de mim. Lambe, circula, chupa e enfia a língua. Estou tão perdida em meu
tesão que meus gemidos superam a música que toca ao fundo, enquanto ele
me ataca sem piedade e continua sua deliciosa tortura. Quando estou prestes a
explodir em um orgasmo, Arthur para.
Estou a ponto de xingá-lo quando ele fica em pé na minha frente, tira
a camiseta, abre a sua calça e abaixa o suficiente para que o seu pau fique
livre. Ele começa a se tocar e passo a língua pelos lábios, com fome do que
ele está me mostrando agora.
— Você quer experimentar, Duda?
— Sim.
Ele se aproxima com seu pau grande e grosso, com a cabeça rosa, sua
mão se move para cima e para baixo.
— Abra a boca — assim o faço e Arthur coloca seu pau em minha
boca. — Delicie-se, menina gulosa.
Seguro a base de seu pau enquanto chupo a ponta. Seu gemido gutural
é combustível para mim. Engulo mais e mais, mas não consigo chegar à base
porque ele é grande demais. Brinco com a minha língua em torno de seu pau,
o chupo intensamente enquanto minha mão o masturba.
O controle de Arthur está por um fio, ele segura os meus cabelos e
começa a foder a minha boca. Baba escorre pelo seu pau e pelo meu queixo,
pingando em meus seios. Acaricio suas bolas e seu gemido é mais alto desta
vez, mais feroz.
Sem aviso, ele sai da minha boca e me coloca no encosto do sofá,
deixando meu peito pressionado no móvel, minhas pernas esticadas e minha
bunda no ar, para seu deleite.
— Cruze as pernas, Maria Eduarda — assim o faço. Então ele esfrega
seu pau na minha bunda e depois o coloca entre as minhas pernas, roçando a
minha boceta e clitóris. Céus! Ele vai acabar comigo antes mesmo de entrar
em mim. Arthur abre a minha bunda e acaricia meu buraco com seu dedo. —
Toda vez que você passa por mim, com roupas justas, imagino-me comendo
este rabo gostoso.
— Você é tão sujo — falo ofegante, pois estou muito perto de gozar.
Seu dedo desaparece e logo o sinto novamente sondando a minha
bunda, só que desta vez sinto a umidade. Um tapa me acerta na nádega,
fazendo-me gritar.
— Se você for minha submissa, te mostrarei tanta coisa. Enfiarei um
plug anal em seu rabo e foderei sua boceta até que você grite. Depois enfiarei
meu pau em sua bunda e a foderei com um vibrador, meus dedos ou a minha
boca. O que acha, menina?
— Eu quero isso — minha cabeça está nublada pelo desejo.
— Você é suja, como eu. Quer que eu a foda amarrada em minha
cama? Prenderei os seus braços, chuparei essa linda boceta até estar pingando
e foderei sua bunda com a língua.
— E-eu vou gozar — digo, chegando cada vez mais perto do ápice.
Arthur me pega no colo, leva-me para sua cama e me coloca de
quatro. Ele sobe atrás de mim, penetrando-me com força, segurando firme o
meu quadril. Estamos gemendo tão alto que acredito que os vizinhos logo
baterão aqui. Suas mãos apertam os meus seios, que balançam a cada
estocada que ele dá. Seu pau é grande e me sinto preenchida a ponto de sentir
uma pontada de dor.
Sinto o orgasmo se formando dentro de mim e acredito que ele sinta
também, pois me adverte:
— Segura, menina gananciosa. Não goze ainda.
— E-eu não consigo segurar. — Ganho outro tapa na bunda, que me
faz gritar de prazer.
Um segundo depois, estou deitada de barriga para cima com ele ainda
dentro de mim.
— Goze olhando nos meus olhos, falando o nome de quem a fez
gozar. Entendeu, Maria Eduarda?
— S-sim... — ele aumenta o ritmo e a força das estocadas, leva sua
mão entre as minhas pernas e belisca o meu clitóris, isso basta para que o
meu orgasmo seja intenso. — ARTHUR... Arthur....
O homem aumenta o ritmo e a intensidade enquanto entra e sai de
dentro de mim. Levanta-se e abre as minhas pernas, expondo-me ainda mais.
Não demora muito para Arthur gozar, chamando o meu nome como um
mantra, então cai sobre mim.
— Vamos tomar um banho, depois iremos para a cama. Quando você
abrir os olhos amanhã, espero que responda a minha proposta de se aventurar
no BDSM comigo.
Arthur é honesto sobre o que quer e o que pode dar, não mentiu sobre
o quer comigo, não me seduziu com ilusão, ele quer jogar comigo e, pelo
pouco que conheço desse mundo, quero explorar. O fato de ser com ele é um
bônus. Se eu entrar nessa será pelo prazer, mas estou consciente de que há
alguma coisa lá no fundo do meu coração.
A grande questão é: será que consigo me aventurar sem me
apaixonar? Ouvi de Beatriz e Manuela que o Arthur é disputado entre as
submissas, que tem se saído tão bem que mulheres e homens com bastante
tempo no meio querem se submeter a ele. Além de ser bonito como um deus,
seu humor é contagiante e seu charme é um afrodisíaco.
Quero me submeter a ele, mas o que isso faz de mim? Não acho que
ter fetiches seja doença ou algo parecido, sei que é uma busca pelo prazer.
Manuela, em sua fortaleza, não tem problemas em se submeter ao Rodrigo.
Beatriz é uma incógnita, foi slave de Steban por puro prazer, mas é a pessoa
mais indisciplinada que conheço. Ambas gostam e se divertem, são felizes
nisso. Quero experimentar uma aventura também, quero me sentir desejada e
cuidada, como elas me dizem que se sentem.
Se tenho problema em chamar o Arthur de “senhor”, “dono” ou
qualquer coisa do tipo? Não. Tenho problema em me submeter aos seus
caprichos, que envolvem sexo e orgasmos? Não. Tenho receio de que alguém
saiba? Não, pois sou livre. Enfim, nada me impede, mas a minha
consciência... ah, essa sim está me dizendo para ter cuidado. Deus me ajude,
mas vou tentar. Quero ser dele e quero o que ele me ofereceu: prazer.
Assim foi o nosso domingo, Arthur me dominando e eu me
submetendo. Ele me possuindo e eu me entregando. Mesmo sabendo que isso
não vai longe, quero aproveitar ao máximo. Não são todos os dias que temos
um deus grego na cama. Dom Arthur não precisa de muito para me possuir,
basta ser ele mesmo.
Entretanto, a resposta para sua oferta virá somente na semana
seguinte. É bom esperar um pouquinho, é um modo de trabalhar a nossa
paciência. Então, não é somente eles que têm o poder. Na verdade, somos nós
que o temos e podemos desfrutá-lo de acordo com as nossas vontades.
Capítulo 19

Arthur
Não posso reclamar da minha vida, sou bonito, inteligente, bem-
sucedido, gostoso e muito bom no que faço, e como faço! Levo a vida numa
boa, tranquilo, porque o estresse do dia a dia envelhece e tenho muita mulher
para pegar antes de ficar velho e feio.
Trabalho no que gosto, a construtora é a menina dos meus olhos.
Tenho prazer em acordar todos os dias e sair para trabalhar, até porque dizem
que o trabalho dignifica o homem.
Respondendo os meus e-mails, sou interrompido pelo toque do
celular. Olho o visor e vejo que é a Érica.
— Oi, Érica.
— Boa tarde, querido. Saudades de você — não estou vendo, mas sei
que está fazendo o beicinho que tem me irritado.
— Como está?
— Melhor agora, falando com meu gatinho. Quer jantar comigo?
Depois podemos estender a noite no meu apartamento.
Pela primeira vez, não sinto a obrigação de sair com ela pesar. Érica é
um tesão, mas não estou a fim de sexo papai e mamãe, não quero relevar a
todo momento que a mulher fala que somos um casal. Quero uma menina que
se entregue a mim para o meu capricho, para o meu desejo.
— Hoje não, Érica.
— Por favor — ela insiste.
— Semana cheia. Outro dia combinamos alguma coisa.
— Chatinho, beijos.
— Beijos. — Érica é muito bonita, de boca fechada, também é uma
ótima transa.
Antes que vocês pensem que menosprezo as mulheres, saibam que é o
contrário, eu as amo! Quando Deus criou a mulher, ele estava muito
inspirado, só não entendo o porquê ele não criou uma para ele. Ainda assim,
cada mulher que fica comigo, me sinto na responsabilidade de fazer aquele
momento sexualmente especial. Ah sim, sou um romântico, como
perceberam. Tornar-me um Dominador só deixou isso mais forte.
Entretanto, a situação com uma mulher em especial não sai da minha
cabeça, Maria Eduarda. Ela é uma garota especial, tão subserviente e doce,
será uma perfeita submissa, caso aceite minha proposta, além de ser linda e
gostosa. Mas tenho consciência de que ela não é mulher para uma noite só,
com a Maria é de um relacionamento sério para um provável casamento,
coisa que está fora dos meus planos.
Duda tem algo que me puxa para ela. Eu mal posso vê-la que já fico
louco, sinto uma enorme necessidade de estar por perto. Fujo disso, porque
sei onde essas coisas vão parar. Também reconheço meus genes, não tenho
talento para ser monogâmico, meu negócio é ser de todas que eu quero, e
olha que não são poucas. Ainda assim, querendo distância de
relacionamentos, não consigo ficar longe dela, do corpo dela, daquelas
curvas, daqueles seios. A melhor saída é entrarmos em uma relação D/S onde
teremos nossos desejos satisfeitos.
No outro dia, na hora do almoço, ficamos presos aqui e tive a grata
surpresa de saber mais sobre ela. Gosto da sua inteligência e sagacidade, ela
pensa rápido, é bem-humorada e muito doce. Cativa as pessoas com aquele
jeito de menina, olhar sonhador. Maria vai longe e merece alguém que a
apoie, que a ame de verdade. Até lá, eu me encarregarei de cuidar dela para o
sortudo.
Voltando à realidade, vou até a sala do meu irmão a fim de convidá-lo
para sair hoje à noite. Não quero ficar em casa e meu irmão é uma boa
companhia. Passando pela mesa das meninas, pisco para Sara, que se derrete
em um sorriso. Entro na sala do Rodrigo.
— Rodrigo, está ocupado hoje à noite?
Ele sempre enterrado nesses projetos.
— Não, vou dormir. Ando cansado para caramba.
Sento-me na cadeira a sua frente.
— Pensei em ir naquele barzinho que a gente sempre ia, lembra?
Aquele das garçonetes gostosas.
Rodrigo ri.
— Aquele que você pegou todas as atendentes?
Estalo os dedos para ele.
— Esse mesmo! Servem ótimos aperitivos.
— Verdade. Vamos sim. Estou precisando dar uma relaxada.
Tiro o celular do bolso.
— Vou enviar uma mensagem para o Steban. Nós nos encontramos lá
às oito?
— Combinado.
Saio da sala e envio mensagem para que o nosso amigo nos encontre.
Assim, finalizo o meu dia de trabalho e vou para casa.
A vantagem de morar à beira-mar é poder dar um mergulho depois de
um dia exaustivo de trabalho. Uma corrida, água de coco, alongamento e
mais um mergulho no fim, para renovar as forças.
Volto ao meu apartamento, tomo um banho, visto-me com uma roupa
bacana e saio para me encontrar com os caras. Logo que entro no bar, uma
das atendentes, com aquele uniforme exibicionista, vem me cumprimentar.
— Olha quem resolveu aparecer! Nosso cliente preferido. — Dou um
beijo em seu rosto.
Admito ter frequentado bastante este pub.
— Você é minha atendente preferida, Jane. — Jane é uma loira com
seios fartos, cintura fina e faz coisas com aquela boca que enlouqueceria
qualquer homem.
— Diz isso para todas — ela bate em meu braço, mas seu sorriso não
se desfaz. — O gato do seu irmão e o gostoso do seu amigo já chegaram,
estão na mesa central.
— Obrigado, gatinha.
Eu me diverti muito neste lugar. Não é qualquer bar, é um pub bem
frequentado. Eles escolhem a dedo as meninas que trabalham aqui e todas são
treinadas para sair de situações constrangedoras com os clientes. Eu, com
meu charme, tive algumas na cama. Conheço do porteiro ao dono, todos são
meus amigos e as meninas são minhas amigas coloridas; umas ruivas, outras
loiras, algumas morenas.
Encontro a mesa, cumprimento ambos e me sento.
— Já pediram alguma coisa?
— Acabamos de pedir aperitivos e as nossas bebidas — Rodrigo
responde.
Steban passa a mão pelo rosto, sua expressão está cansada.
— Cara, eu ando com um cansaço fora do comum. Essas operações
especiais estão acabando comigo, virei setenta e duas horas direto, sem
descanso.
— Neste momento, a corregedoria não seria uma boa? — Rodrigo
pergunta.
— Não. Aquilo só quando faltar um ano para me aposentar.
Não perco a piada.
— Então já passou da hora.
— Idiota.
Steban é o mais velho entre nós três. Enquanto Rodrigo e eu estamos
na casa dos trinta e poucos, Steban está com quarenta e um anos. Ele não
aparenta a idade, sempre se cuidou muito e o resultado é muito bom. Meu
amigo é um homem bonito, do tipo calado, e essa coisa de misterioso faz com
que ele pegue mais mulheres do que eu, com o meu charme.
— Estou sabendo que o nosso novo Dom está arrasando corações, até
mesmo das submissas experientes — Steban fala.
Levanto o braço, uma atendente vem, faço meu pedido e me volto
para o Steban.
— Tive sessões com duas submissas do clã, a Sarita e a Caroline. Não
queria uma menina fixa, pelo menos, não agora. Ser Dono de alguém é muita
responsabilidade e não sei se queria isso para mim.
— Você expressou um desejo, mas no passado. Contraditório —
Rodrigo diz.
— Eu não queria uma submissa, mas me propus a apresentar o BDSM
à Maria Eduarda — passo a mão pelo cabelo. — Maria merece alguém
melhor do que eu, só que não consigo ficar longe dela, apesar de não poder
dar mais de mim.
Steban pede mais uma cerveja e noto que Rodrigo é o único que não
bebe qualquer tipo de bebida alcóolica.
— Ela é uma menina muito educada, tem uma postura impecável e
personalidade doce. Sorte de quem tê-la sob seus domínios.
Rodrigo resolve jogar sal na ferida.
— Maria Eduarda passeia pelas playparts com a Bia, conhece
algumas pessoas do nosso grupo. Não vai demorar para alguém fazer uma
proposta a ela. Você pode deixar para outro, já que diz que ela merece
alguém melhor.
Engasgo-me com a minha bebida.
— Que porra é essa, irmão?
Os dois riem de mim e fico mais irritado.
Só de pensar em algum infeliz atando-a e a possuindo, faz minha
raiva ferver. Ela é minha, nenhum outro a terá. O fato de eu não querer um
compromisso sério não significa que não posso tê-la só para mim, não é?
Steban interrompe minha divagação:
— Arthur, conversei com o clã e achamos uma boa ideia você se
integrar conosco. Coloquei a ideia e fizemos uma votação. O resultado foi
unânime. Caso você queira, será muito bem-vindo ao nosso meio.
Eu não esperava por isso. Não é fácil entrar em um grupo de BDSM,
geralmente eles são fechados com pessoas muito específicas, que querem
manter a discrição. O clã deles é formado por pessoas importantes, pessoas
conhecidas que querem desfrutar de suas vidas longe de qualquer escândalo.
Sei que pude circular pelas festas e encontros porque sou irmão do Rodrigo e
amigo do Steban, ambos me avaliaram para isso. Agora, fazer parte do grupo,
isso é grande.
Estendo a mão para ele, que retribui o toque.
— É uma honra, Steban. Obrigado, cara.
— Rodrigo fará a cerimônia de encoleiramento com a Manuela nesta
semana, aproveitarei para anunciar o novo membro.
— Ótimo — olho para o meu irmão. — Então, estão se entendendo
bem?
Ele passa a mão pelos cabelos.
— Tudo indica que sim e espero que continue assim por um bom
tempo.
— Ver a Manuela submissa não é para qualquer um. Para mim,
aquela mulher não tem nada de submissa, é uma dominatrix nata — Steban
diz.
— Eu também acho — concordo.
— Quando está servindo, Manuela é uma menina muito doce, a
entrega dela é total. O que me atrai nela é justamente a personalidade forte e
consigo lidar com isso muito bem. Mas, se eu bobear, serei eu o amarrado e
submetido.
— É muito interessante conviver com a contradição. Manuela é uma
executiva, está acostumada a mandar em todos, ainda assim se submete com
prazer. Beatriz, que eu acho não ter uma veia submissa, foi escrava de Steban
por dois anos. Ela se submetia assim como Manuela? — pergunto ao meu
amigo.
— Beatriz foi a slave mais complicada que tive. Ela é intensa e, se
não souber para onde olhar para captar os sinais, é fácil se perder. Bia gosta
de situações hard, a dor lhe dá prazer e ela procura por isso. Então havia dias
que estávamos no céu, ela era uma menina doce e obediente que só queria
vivenciar aquela experiência em seu limite. Em outros dias era um verdadeiro
inferno, porque a mulher me provocava até a minha paciência se esgotar e eu
a punir, justamente como ela queria. Nessas horas eu ficava mais em alerta,
prestando atenção em seu corpo e olhar. Temos sempre que ficar atentos aos
limites, nunca devemos ultrapassá-los, mesmo que o parceiro implore.
— Maria Eduarda é determinada, mas não é imune. Os novatos têm
tendência a se apegar muito rápido, por isso aconselhamos as sessões
individuais, como você fez. Responsabilidade emocional faz parte do pacote.
Prepare-se bem para lidar com isso, para não a machucar.
— Entendido, Mestre.
Conversamos mais um pouco sobre o meu ingresso no clã, sobre
algumas práticas, também conversamos sobre a construtora, já que é proibido
falar das operações que Steban está envolvido. Bebemos mais, a conversa
gira em torno do que anda acontecendo pelo mundo e as teorias de
conspirações que surgem do nada. Falamos sobre tudo e sobre nada,
combinamos um jogo de tênis e talvez um passeio com as nossas meninas.
— Podemos ir à chácara no próximo feriado — lanço a ideia.
— Uma boa. Acredito que todos precisamos descansar, Manuela anda
estressada, aquela dor de cabeça que não a deixa nunca. Será bom para todos
— Rodrigo diz.
— Sair alguns dias daqui será bom — Steban concorda.
Beber demais faz com que frequentemos o banheiro mais do que
gostaríamos. Saindo do banheiro, de uma das idas, encontro a Jane na porta.
— Podemos conversar um pouquinho, Arthur?
— Claro. Em que posso ser útil, gatinha?
Ela sorri.
— Vem comigo — Jane me leva até o depósito, em um canto isolado.
— Eu quero você — sinto sua mão em meu pau. — Quero seu gosto na
minha boca.
Ow.... Uau! A esta altura meu pau já está duro, afinal, eu não sou de
ferro. Mas paro sua mão, que já está abrindo o fecho da minha calça.
— Calma aí, gatinha — seguro suas mãos e falo em seu ouvido. —
Para sentir meu gosto, terá que merecer.
Seus olhos brilham.
— Faço qualquer coisa.
— Estamos começando bem. — Sento-me em uma cadeira velha,
olho no fundo dos seus olhos e digo o que quero: — Lhe darei um belo
orgasmo. O que acha?
— Sim, mas também quero sentir você — a mulher umedece os
lábios.
— Acredite em mim, você sentirá. — Puxo-a para o meu colo e ela se
senta com as pernas abertas, fazendo sua saia, que já era pequena, subir ainda
mais ao sentar.
Passo as mãos pelas suas pernas e as aperto. Levo uma das mãos para
acariciar seus grandes seios enquanto a outra permanece no meio de suas
pernas. Passo os dedos por sua fenda, que umedece sem demora o tecido que
a cobre. Belisco seus mamilos, excitando-a ainda mais, coloco sua calcinha
de lado e esfrego a sua boceta já molhada. A mulher em meu colo começa a
rebolar.
— Mais, me dê mais — ela pede.
— Olhe para mim, menina — Jane olha com olhos semicerrados. —
Não tire seus olhos dos meus, gostosa — começo a circular seu clitóris com o
polegar, ela perde o controle e geme mais alto. — Gosto de ouvir uma boa
cadelinha gemer. Aperte seu seio, Jane, aperte forte até sentir dor. —
Enquanto executa a minha ordem, acrescento mais um dedo, aumentando o
ritmo e fazendo com que perca completamente a noção de onde estamos,
então ela começa a gritar. Pela força com que contrai os meus dedos, sei que
está perto de gozar. Tiro-os de dentro dela e dou um tapa em seu clitóris,
penetrando-a com força novamente. — Goze, menina.
Assim que belisco o seu clitóris, Jane desmorona sobre mim, gritando
meu nome em seu orgasmo. Enquanto ela se retorce, continuo a movimentar
os dedos para prolongar o seu prazer. Depois de algum tempo, tiro os meus
dedos e falo em seu ouvido:
— Abra a boca, querida, e chupe meus dedos. Sinta o seu gosto em
mim. — A mulher mal tem forças para abrir os olhos, mas faz assim como foi
ordenado. — Sentiu seu gosto? — Jane balança a cabeça afirmativamente. —
Viu como você é doce? — Ela balança a cabeça mais uma vez. — Boa
menina.
Dou um beijo em sua testa, antes de ajudá-la a se recompor. Saímos
do depósito, ela seguindo em direção a área dos funcionários enquanto volto
para a mesa. Assim que me sento, os idiotas olham para mim e riem.
— Por que as comadres estão rindo? — pergunto.
Vermelho de tanto dar risada, Steban diz:
— Ouvimos a garota gritar seu nome daqui.
— Aliás, o bar inteiro ouviu. Eu não acredito que você nos chama
para beber e vai transar — Rodrigo completa.
Balanço a cabeça e peço mais uma bebida à atendente que está
passando no momento.
— Não transei com ela e você nem bebe.
— Os gritos que ouvimos não pareciam de um ataque cardíaco —
Rodrigo não perde a chance de falar.
— Eu não transei, só dei um bom momento para que ela recorde com
carinho.
Eles me infernizam sobre o assunto, riem e me enchem o saco sobre o
acontecido. Sobre ser um prostituto mal indenizado por seus serviços e que
esse estilo de vida me levará a muitos problemas.
Idiotas.
Rodrigo muda de assunto.
— Posso preparar e confirmar a nossa ida à chácara, no feriado?
— Vou, desde que as meninas não sejam Érica e companhia.
Rodrigo faz uma careta.
— Não. Dessas quero distância! Vou chamar a Manuela, Duda e a
Bia.
— Bia — Steban pega seu copo e fica girando-o.
Rodrigo e eu nos olhamos, sem entender.
— Qual é o problema? O que a Bia fez desta vez? — questiono.
— Aquela garota vai me enlouquecer a qualquer hora.
Meu irmão bate no ombro dele.
— Bem-vindo ao clube dos homens que não têm qualquer controle,
quando se trata de suas mulheres.
Controle é o que preciso ter se quiser que a relação com a Maria
Eduarda seja bem-sucedida. Não estamos falando de namoro, o único
compromisso que nos ligará será de Dominador/Submissa, nossas vidas
secundárias estarão totalmente a par disso. Ela será livre para fazer o que
quiser, até que esteja comigo.
Essa possessividade que tenho em relação a ela terá que diminuir,
terei que trabalhar esse equilíbrio o quanto antes, caso ela aceite. Entraremos
em um jogo onde a linha dos sentimentos é tênue, terei que ser cuidadoso,
deixando claro que, como Dono/Dominador, não serei seu namorado e nem
nada do tipo.
As pessoas têm uma visão um pouco distorcida sobre o que é ser um
Dominador no BDSM, acham que é apenas um cara batendo em uma mulher
por prazer. Ser um Dominador não é apenas pegar uma mulher, amarrá-la,
usá-la e bater. Ser um Dominador é reconhecer que a mulher, que se
entregou, é a pessoa mais importante do mundo.
Por vontade própria, ela se dispõe de quem é para ser o que eu quero
que seja em nosso jogo. É conhecê-la para saber seus desejos e seus limites, é
fazê-la se orgulhar de ter se entregado a alguém. Não é uma coisa fácil, é uma
jornada delicada, tem que haver muita dedicação, até porque há outra pessoa
em jogo. Maturidade e responsabilidades são coisas essenciais para estar
nisso, saber que cada um tem limites e reconhecê-los é fundamental.
— Arthur? — meus pensamentos são interrompidos por Steban.
Passo as mãos pelo rosto.
— Estou cansado. Hora de ir para casa.
Nós nos despedimos e volto ao meu apartamento. Não será difícil
pegar no sono com o cansaço que me toma. Assim que chego em casa,
apenas tiro a roupa e caio na cama, não demora muito para que o sono me
leve.
Estou em um quarto que não reconheço, uma cama redonda, lençóis
vermelhos... lembra um motel. Uma ruiva escultural completamente nua vem
em minha direção.
— Pronta para o seu uso, senhor.
— Linda menina — ela fica na minha frente. — Você está pronta para
mim, sub?
— Sim, senhor — a mulher passa a língua pelos lábios, umedecendo-
os.
Ela se deita na cama e estica os braços acima da cabeça. Eu a sigo e
coloco as restrições em seus pulsos. Passo minhas mãos pelo seu belo corpo,
por cada curva, cada nuance. Afasto-me, pego o flogger e o deslizo pelos
seus seios, sua barriga e continuo a descer. Cada açoite, um toque das
minhas mãos. Cada beijo das rosas que permeiam o flogger, um beijo meu.
— Tão entregue.
Subo na cama e me coloco ao seu lado, sugo seus mamilos rosas até
ficarem vermelhos. Sua pele branca é maculada com picadas avermelhadas,
deixando-a simplesmente perfeita. Estou excitado, mas não tanto quanto
gostaria. Desato as restrições de seus pulsos com a intenção de liberá-la,
viro-a de costas e ouço uma voz melodiosa, que escorre em mim como
chocolate quente.
— Fiz alguma coisa errada, meu senhor?
Viro-me rapidamente e vejo Maria Eduarda ajoelhada sobre a cama,
nua. Com as picadas avermelhadas, mamilos rijos e vermelhos.
Imediatamente meu pau dá sinal de vida, vou em sua direção e tomo sua
boca doce.
— Você é tudo o que desejo, menina.
— Então, usa-me, meu senhor. Faça-me sua.
Assusto-me com o barulho que vem de fora e me dou conta de que
tudo não passou de um sonho. Só que o meu pau continua duro. Inferno!
Levanto-me e paro diante da janela, que me presenteia com a visão do mar.
Mais uma vez perco-me em pensamentos, com imagens das transas que tive
com a Maria Eduarda. Não sei o que a faz ser tão atraente, a ponto de eu
sonhar com ela. Não sei o que inferno essa mulher tem que me tira a
sobriedade. Basta colocar meus olhos nela que meus instintos ficam em
alerta, fico possessivo, excitado. Preciso de um banho frio para amenizar essa
noite quente. Estava tão cansado que nem liguei o ar-condicionado.
Olho o relógio e vejo que ainda são cinco horas da manhã. Vou em
direção a minha pequena academia adaptada, que consegui montar em um
cômodo do apartamento. Programo a esteira para uma corrida e começo meus
exercícios. Esse é o tempo que tiro para aliviar meu estresse, colocar meus
pensamentos em ordem. E meus pensamentos estão na porra do sonho que a
Duda invadiu. Preciso colocar tudo em perspectiva, porque a partir de
amanhã, as coisas serão diferentes. A quero se submetendo a mim e darei um
inferno de orgasmos a ela.
Capítulo 20

Maria Eduarda
Estou concentrada em um memorando que deve ser enviado ao chefe
em pouco tempo, mas minha concentração é perdida quando Manu e Bia
entram em minha sala, rindo.
— Viemos te buscar para comprar um pedaço de tecido. Manuela
resolveu usar uma túnica na cerimônia na quinta-feira.
Olho para minha agenda e vejo que posso reorganizar o horário para
sair com elas. Peço dez minutos as minhas amigas e finalizo o bendito
memorando, em seguida levo para que o Rodrigo assine, depois levo para
uma das secretárias da presidência, a fim de que seja entregue na empresa
enquanto faço o envio digital. Sem perda de tempo, digo a Sara que chegarei
mais tarde do almoço e saio para encontrar Beatriz e Manuela.
Assim que as encontro, saímos para comprar o tecido para a tal
cerimônia. Estou ansiosa para o acontecimento, pelo que dizem é algo bonito
e raro hoje em dia. Parece que o Mestre Rodrigo Alcântara e Castro é
tradicional, gosta dos ritos BDSM que seu grupo segue.
Na loja, ela escolhe a seda preta para a túnica e vermelha para a faixa
que fechará a peça em sua cintura. Entramos em uma discussão séria sobre
quantos metros devemos comprar, a vendedora não foi de muita ajuda; ali
vimos que não temos noção nenhuma de metros e espaço. Por fim, a gerente,
uma senhora sem muita paciência, resolveu o dilema para nós.
Saímos da loja satisfeitas e paramos em um restaurante, que tem um
jardim muito bonito. O recepcionista nos leva até uma mesa ao ar livre e nos
sentamos para desfrutar de um bom almoço.
— Manu, quem vai costurar isso? Não me diga que vai alinhavar —
provoco a madame Chanel.
A cara da Manu é hilária.
— Se dependermos de costura para nos alimentar, todas morreremos
de fome.
— Minha mãe vai alinhavar — Bia fala e pisca para mim.
Manuela a olha horrorizada e depois estreita o olhar para Bia, sabendo
que estamos brincando com ela.
— Nem brinca com uma coisa dessas, Ana Beatriz. Estou ansiosa,
pensando e repensando se essa cerimônia é uma boa ideia.
Alcanço a sua mão e coloco entre as minhas.
— Manu, é apenas um ato simbólico e não um casamento. — A careta
dela não passa desapercebida. Olho para a amiga a nossa frente. — Bia, fale
alguma coisa.
— Falar o quê? “Florzinha da Bia, você caminhará até o Senhor
Fodão seminua e ele vai te encoleirar. Será rápido e indolor, nem sentirá
nada”.
Manuela olha para longe, gesto muito diferente da mulher que ela é.
— Insegurança não combina com você — falo em voz baixa e ela
aperta a minha mão.
— Obrigada por estar comigo. — Ela olha para Bia com cara feia. —
Porque a mocinha aqui não está me ajudando muito.
— Mulher, não reclama. Eu poderia estar convencendo um boy magia
a me dar. Mas não... estou aqui com vocês. Então, menos drama. — Bia e
suas palavras de conforto.
Entre nossas bebidas e pedidos, conversamos sobre a cerimônia e elas
me explicam em detalhes o motivo e como será. Minha imaginação corre
solta e acho delicado o rito. Sempre achei que Rodrigo e Manuela sentiam
mais do que desejo um pelo outro, a dedicação dele para fazer isso só reforça
que ele a ama.
Será que esse é o momento em que eles se darão conta disso? — Meu
pensamento sobre Rodrigo e Manuela é rasgado pela imagem do Arthur,
propondo que eu seja sua submissa. Ainda não respondi e não sei quando o
farei.
Arthur vem trabalhando muito, joga suas piscadas aqui e ali para
mim, mas não me pressiona contra nenhuma parede ou me puxa para o seu
colo. Ele continua encantador, mas o seu lado cafajeste está ausente nos
últimos dias. Como também estou submersa no trabalho, não parei para
pensar muito nisso. Será que está acontecendo alguma coisa com ele? Arthur
não é tão aberto quanto aparenta ser com o seu charme e bom humor, ele
guarda muita coisa sob essa fachada.
O almoço passou mais rápido do que eu gostaria, então nós nos
despedimos de Bia e voltamos à empresa. Assim que chegamos, Manuela vai
para sua reunião e eu para minha sala. Mal me sento e meu telefone toca,
atendo e Rodrigo começa a falar sobre os cálculos de um projeto, que ele
pediu à equipe de estagiários para fazer e que ainda não foi entregue. Fala
também sobre a sua viagem nesta semana e, no final da ligação, pergunta se
eu sei sobre o seu irmão. Respondo que não e desligamos.
Guardo a minha bolsa e a curiosidade, sobre o que anda acontecendo
com o Arthur, ganha. Levanto-me e vou até a sua sala, bato na porta antes de
entrar. Ele está concentrado em seu computador, completamente distraído.
Nisso, Sara entra trazendo um envelope e para ao meu lado. Olhamos para o
homem a nossa frente e ele ainda não se deu conta da nossa presença. Ela se
aproxima de mim e fala baixo, para que só eu a ouça:
— Deus não economizou em qualidade e beleza nesse homem —
aponta para ele. — Arthur é um sonho. Um grande sonho, se é que você me
entende.
O monstro da irritação toma conta de mim. Arranco de suas mãos o
envelope que Sara carrega e a enxoto da sala em que estamos. Eu sei que eles
saíram, só não preciso ter isso esfregado na minha cara. Canalizo a minha
irritação, lembrando de tudo o que tenho visto de desfavorável nele:
mulherengo, sem-vergonha, safado, sem noção. Penso nele saindo com Sara,
com Érica e (sem dúvida nenhuma) com todas as outras que trabalham aqui.
Caminho até a sua mesa e bato o envelope sobre ela.
— Correspondência — falo entredentes e sua atenção vem para mim.
— Estava vendo quanto tempo você levaria para falar comigo. — Um
sorriso de canto surge em seus lábios.
— O Rodrigo está a sua procura. — Viro as costas e vou até a porta,
de onde eu nem deveria ter passado.
— Duda — sua voz grave é como uma carícia em minha pele —,
você já tem uma resposta para mim?
Olho para ele e me faço de desentendida.
— R-resposta? Que resposta?
Tento o meu melhor sorriso, mas, pela sua expressão, não saiu como
deveria. Arthur vem até mim, pega a minha mão e me leva até a cadeira, na
frente da mesa, onde se escora.
— Resposta a proposta de ser minha submissa.
— Tenho pensado sobre isso — arrumo os meus cabelos para ocupar
as minhas mãos. — Pensado bem, na verdade....
Arthur cruza os braços, seus músculos marcam a camisa azul que
veste hoje. Continuo a descer o meu olhar pela sua calça bem ajustada, que
marca o seu mem....
— Olha, Duda, quero muito que você aceite. Eu a desejo demais.
— Não sei aonde isso me levará, Arthur. Sei que me submeterei a
você em determinados dias e em determinadas horas, mas e depois? Sairemos
juntos, cinema, restaurante, ou tudo será restrito ao quarto, nos dias
combinados? Estamos autorizados a ver outras pessoas? Você terá outras
mulheres ou submissas?
Ele me olha seriamente e sei que está pesando em suas próximas
palavras, antes de responder as minhas perguntas.
— Isso não é um namoro, mas não vejo problema nenhum em sairmos
juntos, afinal, somos amigos. Poderemos jantar, dançar, o que quisermos,
também poderemos ver outras pessoas. E sim, Maria Eduarda, se for algo que
eu desejar, terei outras, assim como você é livre para ter quem quiser. Apenas
não outro....
Ele parece ter dificuldade para pronunciar a palavra. Suas palavras
mexem comigo de uma forma estranha e estou ansiosa para ouvir o que ele
dirá.
— Outro? — insisto.
— Eu ia falar Dono, mas não acho que seja a coisa certa. Não quero
ser Dono, o que a deixa livre para sair com outros Dominadores, mas quero
muito que fique apenas comigo, por escolha própria.
— Não será como Rodrigo e Manuela — afirmo.
Ele se abaixa na minha frente.
— Não, Rodrigo quer ser Dono de Manuela por completo. Ele não
aceita compartilhá-la com ninguém. Eu não sou como ele, tenho receio de me
colocar nesse papel e ser ruim para você. O que é ridículo, já que me sinto
possessivo em relação a você. Duda, eu sou do tipo hedonista, gosto das
coisas pelo prazer que me causa. Isso faz com que eu tenha o que desejo.
— Então, você está dizendo que me quer, mas que ficará com outra
que lhe dê mais prazer. É isso?
— Não. Eu quero você e enquanto você me querer nessa relação, me
terá. Não sei se já me senti assim por alguém, você tem se tornado quase que
uma obsessão e....
Eu o corto.
— Mas se aparecer alguém que você julgue que lhe dará tanto prazer
quanto me ter, não pensará duas vezes em sair com ela.
Seus ombros caem.
— Sim, é isso.
Cruzo as minhas pernas e não perco o seu olhar de desejo.
— Vamos lá, Arthur. Teremos uma relação que envolverá muito sexo
sujo e selvagem, mas seremos livres para fazer o que quisermos?
— Sim — sua resposta não é animada.
— Então, poderei ter sessões com outros Dominadores, se eu quiser?
Posso ver o seu descontentamento e desfruto disso.
— Sim.
— Como seriam as sessões? — pergunto.
— Chegaremos a um acordo de dias e horas que sejam melhores para
nós.
Estou gostando de vê-lo desconfortável. Até onde ele está disposto a
ir para me ter?
— Quero saber sobre as práticas. O que você fará?
Seu olhar encontra o meu e posso ver luxúria em seus olhos.
— Vou te conter com cordas ou dispositivos, usarei chicote, plugs,
vendas e mordaças. Se houver alguma coisa ou cena que você queira
experimentar, farei com prazer.
Finjo pensar para deixar o ar mais carregado, pois sei que estou sobre
uma corda fina aqui e estou desfrutando disso.
— Se eu quiser realizar uma das minhas fantasias, é só pedir? — ele
assente. — Então, se eu quiser uma cena em que sou uma secretária
pervertida, que quer chupar o pau do chefe sob a mesa do escritório, você
faria?
Arthur engole em seco.
— Sim, faria.
— Oh! Se eu quiser ser uma menina virgem que cometeu um crime
enquanto você é um policial bruto que usa de força para me conter e acaba se
aproveitando de mim, você realizará?
Ele se levanta e anda para longe de mim. Percebo quando ajeita sua
calça porque está de pau duro. Gosto de provocá-lo e estou muito, muito
inclinada a entrar nisso. Quero ter as minhas fantasias sexuais realizadas e se
o preço é me submeter aos caprichos de um homem bonito, que sabe usar
muito bem seu pau grande para me satisfazer, pagarei com prazer. A grande
questão é manter o coração fora disso.
— Duda...
Eu o corto.
— Eu aceito sua proposta.
Ele me estuda por algum tempo, provavelmente analisando se estou
confortável com isso.
— Eu queria apenas comemorar te beijando, mas tenho que perguntar:
por que você aceitou?
Entendo o seu ponto. Ele quer garantir que não estou nesta por ele,
por estar apaixonada. Estou muito atraída pelo Arthur, meu corpo pede por
ele e meu coração acelera quando estamos juntos, mas acredito que isso seja
mais pelo encantamento de ter um chefe bonito que flerta descaradamente.
Com as sessões e todas as regras, o deslumbramento passará.
Levanto e caminho até ele, parando em frente a uma grande janela.
— Aceitei porque me imaginar contida, com a sua boca entre as
minhas pernas, me excita.
— Eu darei ordens para você cumprir e se não as cumprir, eu a
punirei — ele avisa.
Dou mais um passo e ficamos muito próximos.
— Sei e talvez eu não goste, só que depois da punição você me
presenteará porque fui uma boa menina, não é? — passo a mão pela frente de
sua camisa. — Você mostrará o lado ruim e o lado bom para mim, não é, meu
senhor?
Ele se afasta e passa a mão pelos cabelos bagunçados.
— Puta que pariu! Darei qualquer coisa que quiser, Maria Eduarda.
Qualquer coisa. Serei muito criativo nas minhas punições, menina linda.
Trocamos olhares e sorrisos.
— É por isso que estou nesta — respondo.
— Perfeito, Duda. Garanto que será muito prazeroso. Agora que já
resolvemos isso, você consegue puxar aquele arquivo da Towers por aqui? —
ele aponta para o seu computador.
Fico sem jeito, porque imaginei que ele me agarraria e daria um
daqueles beijos que tiram o fôlego. Mas, provavelmente, ele está desenhando
uma linha onde a empresa será um lugar neutro, sem avanços. Vou até o seu
computador e começo a fazer o que me pediu.
— Esse arquivo está incompleto, falta a cópia das licenças que não
vieram para cá — começo a explicar, mas o sinto atrás de mim e logo suas
mãos estão em meus quadris. — J-já liguei para o escritório do canteiro
algumas vezes, eles sempre prometem, mas nunca enviam.
— Resolverei isso. — Levanto-me e minhas costas estão em seu
peito. Suas mãos vão para minha cintura e ele me puxa contra si. — Obrigado
pelo presente, minha menina.
Eu que agradeço.
O telefone sobre a mesa do Arthur toca e o alcanço para atender,
esfregando minha bunda em seu pau no processo.
— Sala do Arthur Alcântara e Castro, Maria Eduarda falando.
— Duda, meu irmão está?
— Sim, Rodrigo, ele está aqui.
— Vocês dois podem vir aqui, por favor?
— Estamos indo.
Antes de desligar, ele me pede para providenciar café. Assim que
desligo, ligo para a copa e peço para que Dona Sônia sirva. Ao desligar, viro-
me para o Arthur, que agora me pressiona contra si com as mãos em minha
bunda. Ele pergunta enquanto beija o meu pescoço.
— O que ele quer?
Suspiro antes de responder.
— Nos quer na sala dele — coloco minha mão entre nós e aperto o
seu pau. — Agora.
Desvencilho-me dele e saio em direção à sala do seu irmão. Arthur
vem atrás de mim, xingando sem parar. Apenas sorrio, pois sou uma boa
menina, uma boa menina má.
Puna-me, meu senhor.
Quando chegamos à sala do Rodrigo, nós o encontramos com um
senhor que não conheço, mas Arthur sim. Os homens parecem se conhecer de
longa data. A mesa a nossa frente está coberta com joias, mas não com
qualquer joia, são as mais belas e delicadas que eu já vi. Não sou
conhecedora de pedras e metais preciosos, mas nada aqui indica bijuteria ou
folheado, essas são joias caríssimas. O senhor deve ser um joalheiro e
Rodrigo está escolhendo uma joia para quem? Há anéis, colares, pulseiras,
uma peça mais bonita do que a outra.
Como se pudesse ler os meus pensamentos, Rodrigo levanta um
estojo azul que abriga um bracelete de pedras ou diamantes, não sei, ele é
todo trabalhado e parece ser trançado. Uma peça delicada e discreta.
Aproximo-me mais para ver o que está escrito em seu interior: Mestre
Rodrigo. Será um presente para Manuela, por causa da cerimônia?
— O que acha, Duda? — Rodrigo pergunta.
— É maravilhosa. Quem a receber ficará muito feliz.
Ele abre um lindo sorriso e olha para a peça com orgulho.
— É a coleira de Manuela — isso me surpreende, porque achei que a
coleira seria no sentido literal da coisa. Até imaginei um colar ou gargantilha
com o nome dele gravado, tipo Luma Oliveira no carnaval, com a coleira
escrita “Eike”. Rodrigo deve perceber minha reflexão e responde aquilo que
nem perguntei. — Falamos coleira porque leva o nome do Dono, mas pode
ser um anel, uma pulseira, qualquer coisa que traga esse significado. Minha
menina é requintada, espero ter escolhido a peça certa.
— Rodrigo, ela gostará de qualquer coisa vindo de você. Não se
preocupe, a peça é linda.
— Obrigado.
Peço licença e me despeço, pois tenho muito trabalho a fazer. O
BDSM está me deixando cada vez mais intrigada. Rodrigo tem quase uma
devoção pela Manuela, é lindo de ver. Sei que não terei uma coleira, já que o
Arthur deixou claro que não quer ser Dono e eu também não sei como me
sentiria. Vendo uma história de fora, é lindo de contemplar, mas quando
somos protagonistas, a beleza é a mesma? Enfim... esperemos.

***

Manuela está contemplativa em frente ao espelho. Ela está muito


bonita, com a sua túnica preta e faixa vermelha na cintura para fechar a maior
parte de suas laterais.
Bia toca no braço de Manu, tirando-a de seus pensamentos.
— Está tudo bem? — Ela assente. — Está tudo pronto, Manu. Só
falta você.
Ela nos olha e respira fundo.
— Vamos.
A cerimônia toda é emocionante, o rito, as palavras, as promessas
trocadas, jamais pensei que fosse algo tão bonito. E o que vemos entre os
dois aquece o coração. Cumplicidade, admiração, orgulho e sinto amor. Até
Bia está visivelmente emocionada, logo ela que se orgulha de não se abalar
por qualquer coisa, enquanto me fala que as cerimônias de encoleiramento
são mais simples. Alguns Donos preferem a intimidade para entregar sua
marca à menina e prosseguir com uma sessão. É um momento muito
marcante para uma submissa, ter a honra de receber a marca do Dono é um
privilégio, você foi eleita, a escolhida, é emocionante.
Logo após os cumprimentos, Steban pede a atenção de todos.
— Pessoal, depois dessa linda cerimônia de vínculo, quero lhes
informar que temos um novo membro no clã. Por enquanto, ele é um
iniciante e virá aos encontros para aprender com os Mestres nas suas
especialidades. Ele só foi admitido depois de todos os dominadores terem
votado, o que foi unanime. Arthur Alcântara e Castro, seja bem-vindo! Que
sua nova jornada seja de muito sucesso.
Fico surpresa com a notícia e pela cara das meninas, elas também não
faziam ideia. A diferença de postura foi notável, ao que parece, ele tem se
dedicado. Arthur é um jogador, por mais que seja mulherengo, sempre foi
sincero ao dizer o que quer e para não esperar nada dele. Agora, imaginar um
homem desses me amordaçando e batendo em minha bunda enquanto
pergunta se sou uma boa menina, isso me excita.
Olho para o lado e vejo Manuela me observando com aquela maldita
sobrancelha arqueada. Sei que terá muito o que falar sobre isso. Rodrigo se
aproxima dela, tirando sua atenção sobre mim.
Ufa!
Ando entre as pessoas, procurando por Beatriz, mas não a encontro e
busco algo para beber. Em minha caminhada, vejo um grupo com algumas
mulheres risonhas, entre elas está o mais novo Dominador do clã. Cheiro de
carne nova eriça os gaviões ao redor. Um bar foi montado em um canto
discreto do jardim e me encaminho para lá. Uma taça de vinho branco me
fará bem. Encosto-me no bar, cumprimento algumas pessoas e me distraio
com a minha bebida gelada.
Uma conhecida voz atrapalha a minha solidão.
— Linda cerimônia.
— Muito bonita — respondo.
— Não deixei de notar que você ficou surpresa com o anúncio da
minha entrada no clã.
Levanto minha taça.
— Vamos brindar a isso?
Ele pede uma água e, assim que lhe entregam, encosta sua garrafa em
minha taça.
— Um brinde às novas adições e aquisições — ele fala e pisca para
mim.
Eu sou a aquisição e sua entrada ao clã é a adição.
— Um brinde às novas adições e aquisições — eu o acompanho.
— Se não fosse pela confraternização do clã, eu a levaria para minha
casa, a amarraria na cama e a possuiria por toda a noite. Deslizaria meu
chicote pelo seu belo corpo, marcá-lo com meu tesão e fazê-la desmaiar de
tanto gozar. Mas, infelizmente, não será possível.
O homem é sujo e adoro isso.
— Vai confraternizar com as meninas que estão lhe rodeando? — é
uma provocação, mas não deixa de ter um pouco de veneno em minhas
palavras.
— Talvez. Algum problema? — ele me desafia.
Não gosto do seu sorriso ordinário, que diz que ele está para o jogo.
Eu não quero que ele esteja para o jogo de ninguém. Arthur beija o canto da
minha boca, pisca e se afasta, não demora muito e uma das mulheres já está
com o seu braço no dele.
— Idiota, bastardo, cretino, filho da p....
— Olha, nossa boa moça, o exemplo da doçura, está com a boquinha
suja. O que houve, Duda? — Bia pergunta.
— Nada. Só um idiota que esbarrou em mim.
— O idiota é aquele gostoso ali? — ela aponta para o Arthur. — E o
esbarrão foi um beijo no canto da boca com palavras sujas?
— Você viu?
Ela ri.
— Acho que todos viram.
Bebo o restante da minha bebida.
— Quero vergonha. O que pensarão de mim? — meu rosto esquenta a
ponto de arder, devo estar como um pimentão.
— Tem mais que aproveitar mesmo, mas olha só — sua expressão
está séria. — Só aproveitar, Duda. Esse não tem a intenção de ter um
relacionamento e todos sabemos que ele não presta. Vai com calma.
— Arthur me propôs uma relação Dom/Sub — conto a ela, que se
engasga com a bebida que estava tomando.
— Arthur quer você como submissa?
— Sim, ele quer e eu aceitei.
Dessa vez seu engasgo é mais violento e dou tapinhas em suas costas.
— Quando aquele maníaco te seduziu a ponto de te tornar a submissa
dele?
Antes que eu possa responder, Beatriz me arrasta de canto.
— Estou indo para casa, para mim já deu.
Olho ao nosso redor e noto que ela está fugindo.
— Qual é o problema, Bia?
— Acho que fui um pouco indelicada com a pretendente a submissa
do Steban. — Ela faz uma careta. — Vou antes que ele me alcance.
— E a Manu? — pergunto, pois não a vejo há algum tempo.
— Rodrigo a levou para algum lugar. — Ele está vindo. Fugindo
agora.
De longe, vejo o Steban procurando pela menina ao meu lado e a
inquietude dela me faz rir demais.
— Vou junto com você — e saio me matando de rir com a minha
amiga.
Capítulo 21

Maria Eduarda
Final de semana de sol e calor pede uma praia, para refrescar e
relaxar. Bia e eu resolvemos ir à praia, para torrar ao sol. Praia movimentada,
muita gente caminhando, curtindo, jogando e com famílias inteiras se
divertindo. Aqui me sinto em casa, nasci para morar em um lugar assim, com
sol, praia, calor e liberdade. Sob o nosso sombreiro, conversamos sobre a
nossa semana e a cerimônia.
— Tem notícias da Manu? — Bia pergunta. — Tentei falar com ela
hoje de manhã, mas não consegui.
— Ouvi que a Manu iria jantar na casa dos pais de Rodrigo ontem.
Também não falei com ela, deve estar com o Rodrigo.
— Devem estar curtindo a lua de mel. Sinceramente, não lembro de
um encoleiramento ser tão emocionante, essas cerimônias são simples.
Bia fala e concordo plenamente, mesmo não sendo perita no assunto.
— Rodrigo e Manuela estão além do D/S, ambos estão se submetendo
a um sentimento maior — digo.
— Estou doida para ouvir sobre a proposta do Arthur e o porquê você
aceitou. — Ela questiona e respondo sem graça.
— Arthur e eu estávamos em um jogo de gato e rato, mas o rato
queria cair nas armadilhas do gato. Ele disse que não terá outra relação além
de Dom/Sub e que me deseja demais.
— Arthur é lindo e um idiota gostoso. Sei que ele vem se dando bem
no BDSM, que está muito empenhado em ser melhor, mas isso não diminui o
quanto ele é um bastardo. — Bia olha para o mar. — Ele deve ter um pau
enorme.
Não contenho a risada.
— Arthur é muito bonito mesmo e aquele ar cafajeste o deixa ainda
mais atraente. É difícil não se deixar seduzir por ele.
— Eu consegui e a Manu também — ela fala, sarcástica.
— Manu está concentrada demais no Rodrigo e você ainda tem uma
história inacabada com o Steban.
— Seja sincera comigo, Duda. Você entrou nesta porque tem
sentimentos fortes pelo Arthur?
— Entrei por curiosidade, pela aventura e pelas promessas de
orgasmos com vendas e chicotes — digo sorrindo e minha amiga também
sorri.
— Você sabe que nesse tipo de relação há mais do que isso, não é?
Que a relação é íntima demais, a ponto de ser fácil desenvolver sentimentos
que farão a relação desmoronar.
— Estou ciente e ficarei atenta.
— Seja como for, apenas aproveite. Só não envolva o coração. Toda
vez que a gente envolve o infeliz, nos damos mal.
Não sei se está falando para mim ou para si mesma.
— Você e Steban continuarão nessa queda de braço até quando? —
minha vez de questioná-la.
— Que queda de braço?
— Ana Beatriz....
Ela mostra a língua.
— Foi uma história que não deu certo e acabou. Somos amigos e nos
damos bem, estamos sempre dispostos a ajudar um ao outro...
— Com muito sexo — completo sua fala.
— Não! Estou falando de ajuda. É isso o que amigos fazem, não é? —
ela tenta firmar seu argumento fraco.
— Não sei, é? Amigos tem sessões? — eu a provoco.
— Quando a gente manda alguém à puta que pariu, nos chamam de
sem educação, boca suja e tudo mais, mas tem gente que pede. — Ela levanta
esses lindos olhos verdes. — Eu fodo mesmo! Ele é gostoso demais.
Rio de seu desabafo e fico estudando-a enquanto se deita para cortar o
assunto. Muito Bia. Ela é muito fechada quanto a isso, mas a conheço o
suficiente para saber que algumas das marcas vermelhas que ela carrega, de
vez em quando, vêm de sessões com o Steban. Ela não confia em muitas
pessoas e ainda não é capaz de confiar em outro Dominador, que não seja
Steban, para uma sessão. Beatriz sai com outros homens, transa e volta para
casa satisfeita, mas essas relações são superficiais, nas quais tem pleno
controle.
Nossos domingos são resumidos a dormir até tarde, lavar roupa e
comer. Enquanto estou concentrada organizando o meu quarto, pensando na
minha vida, lembro que preciso ligar para minha mãe e saber como estão as
coisas por lá. Além disso, tenho que lembrar de organizar uma agenda para
Manuela na Construtora, ela vem acumulando funções demais e, com a
viagem do Rodrigo essa semana, ficará sobrecarregada. Tenho que repassar
àquele contrato da Tijuca com o Arthur e voltar ao assunto da Towers.
Falando no senhor Dominador, não consigo tirar esse homem da
minha cabeça e todas aquelas palavras sussurradas, toques inapropriados e
aquela boca perversa. Preciso ter em mente que é apenas sexo, amigos que
estão aproveitando uma fase da vida juntos. Não sei se será fácil separar uma
coisa da outra, sendo que tudo em mim pede por ele, mas todos têm razão, o
coração não pode estar envolvido.
Termino meu afazer e me sento, a fim de ligar para minha mãe, que
atende no segundo toque.
— Oi, mãe.
— Oi, querida. Estamos com saudades — ouvir sua voz aperta meu
coração e forma um nó na garganta. Sinto falta de casa.
— Como está a senhora? E todos, como estão? Vovô ainda está no
hospital?
— Estamos todos bem, graças a Deus. Seu avô sairá em breve, o
médico acredita que o dia está chegando e é melhor ele estar em casa com a
família — meus olhos umedecem com a notícia e a saudade. Ah, vovô.... — E
você, como está, minha filha?
— Muito feliz com o meu trabalho, minha vida no geral. — Minha
mãe não aprova as decisões que tomei até chegar aqui, então evito falar
muito. — E papai, onde está?
— Seu pai está bem, foi pescar com seu tio. Seus irmãos também
estão bem, todos com saudades de você. Quando virá nos visitar?
— Ainda não sei, mas irei assim que puder. Só liguei para matar um
pouquinho da saudade.
— Ligue sempre, minha filha. Sentimos muito sua falta. Sei que não
fui muito legal quando você decidiu partir, mas quero que saiba que te amo e
quero o melhor para você.
Suas palavras mexem comigo.
— Eu sei, mãe.
— Estou aqui para o que precisar, Duda.
— Obrigada, mãe. Mande beijos a todos.
— Beijos, minha filha.
Mal desligo o telefone e ele começa a tocar, olho o visor e vejo o
nome de Manuela.
— Oi, sumida — eu a cumprimento. — Onde você se meteu?
Tentamos falar com você, para ir à praia conosco.
— Desde quando gosto de praia?
Sorrio.
— Sabemos que não gosta, mas o que importa é a companhia. Agora
me diz, onde você estava? Bia queria falar com você.
— Estava dormindo e desligada do mundo, digerindo aquele jantar —
sua voz é baixa e cansada.
Para levantar o seu astral, eu a provoco.
— Estava com o Senhor Fodão? Isso vai acabar em casamento.
— Deus me defenda! O jantar foi um inferno, os pais de Rodrigo são
condescendentes demais, a ponto de me irritar. Ter uma sogra daquela é
pagar penitência por uma encarnação inteira. As Barbies estavam lá e você
não acreditará no que a senhora Alcântara e Castro me disse.... Ela disse que
eu deveria ajudar a convencer o Rodrigo a se casar com a Bárbara, segundo a
vovó, isso beneficiaria os negócios do filho.
Rodrigo tem se empenhado para inserir a Manuela em todas as partes
de sua vida. Será que eles não percebem que já ultrapassaram qualquer linha
que foi desenhada?
— Eu não a conheço, mas se for parecida com o pai deles, é barra.
— Nem me fala. Tentei falar com a Bia, mas o seu celular está
desligado. Como foi na praia?
— A praia estava ótima. Chegamos cansadas e ela deve estar
dormindo.
— Vou deixar você descansar, flor. Nós nos veremos amanhã.
— Manu? — sinto a necessidade de dizer algo que a conforte.
— Sim.
— Você é a melhor escolha para qualquer um.
— Obrigada, Duda.
Nós nos despedimos e fico preocupada com a minha amiga. O jantar
afetou a Manuela... aliás, tudo o que envolve o Rodrigo a afeta muito. Enfim,
amanhã conversaremos. Espero que ela tenha digerido da melhor maneira
possível. Vamos nos preparar para mais uma semana de trabalho.
***

A semana começa tranquila, com o Rodrigo viajando e Arthur tendo


algumas reuniões fora da empresa. Tiro o dia para organizar as agendas,
repassar as papeladas acumuladas aos outros setores e atender a Manuela, que
segura a barra dos meninos quando não estão. Esta segunda-feira está sendo
muito calma para o meu gosto, estou tão acostumada com pepinos que já
acho um mau sinal quando não há nenhum.
No final da tarde recebo uma encomenda. Uma das meninas me traz
uma caixa branca com laço vermelho. Espero a curiosa sair e, assim que fico
sozinha, desfaço o laço e abro a caixa. Dentro encontro um envelope com um
bilhete:

Maria Eduarda, tenho grandes planos para sua iniciação.


Vista o meu presente e me encontre nesse endereço às 20:00 horas.
Arthur.

Coloco o bilhete de lado e termino de abrir o embrulho, expondo o


presente. Tiro a primeira peça da caixa, um lindo sutiã de renda preto, muito
delicado e de bom-gosto. A próxima peça é uma calcinha minúscula, com a
mesma renda do sutiã, nenhuma das peças há forro, apenas a renda. Ainda há
mais na caixa, essa peça é uma cinta liga de couro, acredito que é presa na
cintura e nas coxas, onde há duas argolas douradas. Perversão e luxúria,
combinação perfeita e nada vulgar.
Devolvo tudo na caixa e a fecho, então meu corpo aquece com a
expectativa desta noite. Se a ideia do Arthur era me surpreender, ele
conseguiu. Alcanço o meu celular e envio uma mensagem a ele.

Eu: Presente recebido.

Ele não responde de imediato, deve estar ocupado. Enquanto isso,


trabalho na minha agenda de amanhã e separo alguns papéis para levar à
Manuela. Assim que ouço a notificação, ansiosamente pego o telefone e vejo
que é uma mensagem de Arthur.

Arthur A.C: Ansioso para vê-la esta noite.


Eu: Devo chamar de Senhor ou Mestre?
Arthur A.C: Senhor. Quando estivermos jogando, chame-me de
senhor.
Eu: Ok.
Arthur A.C: Te vejo à noite, menina linda.
Eu: Até mais.

Graças a Deus pela depilação e manicure em dia. É nessas horas que


me orgulho da minha vaidade. Penso o que colocarei sobre essa lingerie,
preciso de um vestido bonito e fácil de tirar, para fazer uma entrada
dramática, como a cena pede. Se o Rio não fosse tão quente, colocaria um
casaco como nos filmes. Não tenho nada para vestir nesse estilo submission.
Bia pode me ajudar, então envio uma mensagem a ela, que deve estar
na faculdade.

Eu: Preciso de ajuda.


Bia: Quem temos que matar?

Sorrio com a sua resposta.

Eu: Preciso de um vestido que cubra uma lingerie submission e que


seja sexy.
Bia: Há uma loja especializada, onde os membros do clã compram.
Acho que eles atendem em domicílio. Verei isso e te falo.
Eu: Preciso disso para hoje à noite.
Bia: Aí você me fode, querida.
Bia sendo Bia.
Eu: Me ajude. Por favor.
Bia: Verei o que consigo.
Eu: Obrigada ��

Enquanto Bia vê o que consegue, eu me concentro no meu trabalho.


Faço a solicitação das licenças ao departamento responsável, envio alguns e-
mails para colaboradores e fornecedores. Acho que a assistente precisa de um
assistente. O restante da manhã passa voando. Saio para o almoço, que a
Dona Sônia fez a gentileza de deixar na copa para que eu não tenha que ir até
o refeitório.
Assim que entro em minha sala, meu telefone começa a notificar
várias mensagens. Bia me manda muitas fotos de roupas extravagantes e ela
me liga antes que eu possa ver todas.
— Oi.
— Duda, eles vão te atender. Escolha as peças que quer experimentar
e eles entregarão na empresa até o final da tarde.
Que incrível.
— Bia, estou muito agradecida, mas como você conseguiu e quanto
vai custar? — pergunto, preocupada.
— Joguei minha carta coringa. Há nomes que abrem portas, é
impressionante.
— Quais nomes, Beatriz?
Ela ri.
— Eles me conhecem e sabem que já estive com Steban. Falei para
eles que a nova menina do Arthur Alcântara e Castro está à procura de um
traje para seu Mestre. Eles se prontificaram a te atender. De nada, Maria
Eduarda.
Isso não diminui a minha preocupação em nada.
— Beatriz....
— Maria Eduarda, é responsabilidade do Arthur fornecer aquilo que
você precisa para as sessões. Você precisa nesse momento e será enviada
uma fatura a ele, não se preocupe, cuidei de tudo.
Passo a mão pela minha testa.
— Bia, não. Arthur não pediu que eu comprasse um vestido....
Ela me interrompe.
— Tudo bem, tudo bem, entendi. Apenas escolha as peças e me passe,
eu resolverei tudo. Parcelarei em cinquenta vezes se for necessário.
Fico aliviada, pois confio que ela resolverá da melhor forma. Bia não
é irresponsável, posso confiar nela. Nós nos despedimos e desligamos, então
abro as imagens para ver qual traje me agrada mais. Fico encantada e chocada
com a variedade de roupa de couro e látex, com e sem buracos e zíperes. Por
mais que os macacões pareçam muito sexys, opto pelos vestidos de fácil
manuseio. A ideia é ficar nua bem rápido, sendo assim, os zíperes que corta a
peça de ponta a ponta são os escolhidos.
Apesar de achar todos muito bonitos, devem custar um rim, escolho
três. O primeiro é formal, todo fechado com recortes que moldam a cintura.
Esse faz o estilo da Manuela, simples e elegante. O outro é mais ousado, todo
fechado, mas há um zíper dourado que cruza a frente e aberto dá para ver a
parte de cima dos meus seios. O terceiro é lindo e ousado, com um zíper na
frente de cima a baixo. A parte superior, ombros e clavícula é de renda e todo
restante da peça é em couro. Ele começa justo, marca bem a minha cintura e
depois abre em uma saia godê.
Não sei se algum deles ficará bem em mim, pois a dificuldade é
grande devido a minha altura. A ideia é que seja sexy sem ser vulgar. Chegar
em algum lugar parecendo uma garota de programa não é a imagem que
quero passar.
Envio as minhas escolhas para Beatriz e reforço a coisa do
pagamento, para que envie o boleto para mim. Estou rezando que seja couro
ecológico sem grife, caso contrário, minhas finanças estarão bem
comprometidas. Ganho bem na empresa, não posso reclamar, mas divido o
aluguel com a Bia, também dividimos as despesas. O Rio é uma cidade cara,
Copacabana é um bairro caro. Então, qualquer saidinha é de valor expressivo.
Não estou reclamando, mas é a realidade.
Deixo o telefone de lado e consulto na internet o endereço que está no
bilhete. Não me surpreendo com um hotel de luxo de frente para o mar, em
Copacabana. Bia me disse o que esperar e no que devo prestar atenção.
Preciso de uma palavra segura que acabará com a sessão e esclarecer os meus
limites antes de qualquer coisa, o que estou disposta a fazer ou não. As
práticas que ela descreveu não me assustam, o que me deixa apreensiva é a
coisa da obediência. Arthur é sacana o suficiente para ordenar coisas
estranhas. Chamá-lo de “meu senhor” é fácil e até sexy, pois tenho o fetiche
de ser amordaçada e restrita, isso me excita.
Quais são os meus limites?
Nada de agulhas, cortes e nada que envolva sangue. Vi coisas na
internet que me deixaram meio apavorada e enojada, como chuvas de certas
coisas que não deveriam chover. Isso definitivamente está fora. Penso em
tapas no rosto e xingamentos, isso me excita, assim como uma cena em que
fingimos que ele me força a me submeter. Não me acho doente e nem nada
disso, sou uma mulher com desejos e fantasias um pouco excêntricas.
O telefone em minha mesa toca, tirando-me dos meus pensamentos.
Depois de desligar, foco em me organizar para sair mais cedo. Vou até a
Manu e repasso algumas coisas que o Rodrigo pediu, retorno as ligações em
nome dele e de Arthur. Estou ansiosa demais e mal consigo me concentrar
em alguma coisa, mas me forço mesmo assim.
Mais tarde, perto da hora de sair, chega a encomenda. Uma sacola
personalizada, de cara já vejo que é uma grife. Mas, eu deveria ter percebido
quando a Bia disse que atende ao clã, pois são pessoas que têm dinheiro.
Enfim, entre pensamentos impuros e excitação, finalizo meu dia. Pego
a sacola com os vestidos e a caixa que ganhei mais cedo, e vou para casa.
Capítulo 22

Maria Eduarda
A viagem até o apartamento leva o tempo de sempre, mas passaram-
se horas para mim. Minha ansiedade aumenta a cada minuto que passa. Sou o
tipo de mulher que gosta de comer bem, então, dificilmente pulo uma
refeição. Mas agora, não tenho fome alguma. Tomo um banho demorado para
tentar relaxar. Seco-me e hidrato a minha pele para ficar macia e cheirosa.
Volto para o quarto e retiro as peças da caixa e os vestidos da sacola.
Pacientemente, coloco a calcinha e sutiã, levando mais tempo para
colocar a cinta-liga. Tudo fica perfeitamente encaixado em meu corpo e sei
que fiquei sexy pra caramba. O homem tem muito bom-gosto e a maciez da
lingerie grita excelente qualidade. Sinto falta de meia-calça, pois na minha
cabeça esses conjuntos só estão completos com as meias. Entretanto, como
aqui é muito quente, usaria apenas para chegar suada ao meu destino.
Coloco o primeiro vestido, o elegante, mas ele não fica bem.
Infelizmente é curto demais, aparece a liga da cinta com as argolas na parte
de trás das coxas. Chamo a Bia para ver e desfilo pela nossa pequena sala.
— Sabe, esse vestido é perfeito para uma playparty — ela diz. —
Você faria sucesso e o Arthur provavelmente seria expulso por socar alguém.
— Besteira. Este está curto demais. Talvez para uma das festas, quem
sabe, mas não para hoje.
Visto o segundo e parece que meus seios sairão pela abertura a
qualquer momento. Além disso, eu não tinha percebido que há uma fenda na
coxa, que quase chega na minha virilha.
— Acho que posso ver seu mamilo — ela fala, rindo.
— Palhaça! Esse não — falo, já indo para o terceiro.
Vou para o penúltimo torcendo para que esse fique pelo menos bom.
Os outros dois são lindos, mas não encaixaram. Visto e, antes mesmo de
terminar de fechar o zíper, sei que esse será o escolhido. Ele fica justo no
corpo, mas não marca a lingerie e a cinta-liga. Posso controlar o decote com o
zíper, já que ele fecha de baixo para cima. Que vestido lindo e como fiquei
linda! Em vez de escolher um sapato fechado, opto por uma sandália dourada
de tiras e salto fino.
Bia entra no quarto e assobia.
— Perfeito! Espera, vamos bater uma foto e enviar para a Manu.
Faço uma pose para que ela envie uma foto bonita para Manuela e Bia
sai logo que faz isso, deixando-me sozinha para terminar de me arrumar.
Decido olhar as etiquetas dos vestidos e quase tenho um mini infarto por
causa do preço da peça que escolhi. Terei que parcelar em, pelo menos, cinco
vezes. CINCO. Isso para não parecer que sou completamente desprovida de
dinheiro, vou comprometer uma boa parte do limite do cartão. Por isso as
cinco vezes, mesmo achando melhor parcelar em dez.
Prendo os cabelos em um coque bagunçado, deixando alguns cachos
soltos. Não faço penteados muito elaborados porque gosto de soltar os
cabelos para que os cachos se mantenham bonitos, então não posso apertar
demais quando os prender. Vou até o espelho a fim de fazer a minha
maquiagem, nada muito marcante, apenas uma corzinha nos lábios e todo o
resto mais leve, natural. Fico feliz com o resultado. Acho que estou pronta.
Olho a hora e vejo que estou com tempo sobrando.
Visualizo a mensagem de Manuela.
Manu: Você está LINDA! Aonde vai dessa maneira? Quem é o
sortudo?
Meu coração acelera. Sim, eu me importo com a opinião das minhas
amigas. Ainda mais quando elas têm mais experiencia do que eu.

Eu: Minha primeira sessão com o Senhor Arthur Alcântara e Castro.

Vejo os pontinhos na tela e fico apreensiva pela sua resposta.

Manu: Infeliz sortudo! Você está linda. Boa sorte em sua primeira
sessão.
Manu: Se ele fizer alguma coisa que você não goste ou queira, saia
sem olhar para trás. Ou me ligue.
Eu: Tenho que me preocupar?

Parte da pergunta não é brincadeira. Eu realmente quero saber se


preciso me preocupar.

Manu: Não, não precisa se preocupar. Arthur é um safado da pior


espécie, mas não vai te machucar. Acredito que ele se sairá muito bem.
Eu: Estou ansiosa.
Manu: Sempre ficamos, mas relaxa. Será incrível, você verá. Se não
for, Bia e eu estaremos aqui, só esperando para acabarmos com a raça dele.
Eu: Obrigada.
Manu: Se divirta. Beijos.
Eu: Beijos.

Pego a minha bolsa e saio do quarto, encontro a Bia teclando


furiosamente no celular.
— Algum problema? — pergunto.
— Não mais — ela deixa o telefone de lado e sorri para mim. —
Pronta para ir?
Antes que eu possa falar, seu celular começa a tocar e ela ignora a
ligação.
— Estou pronta, mas acho que é ce... — o celular volta a tocar e Bia a
ignorar. — Acho que está cedo.
Seu telefone toca sem parar e ela ignora todas as vezes. Não sei o que
a mocinha está aprontando, mas, seja quem for, a pessoa está desesperada ou
cheio de raiva. O sorriso de Beatriz aumenta a cada ligação que ignora e,
depois de algum tempo, é meu celular que toca. Tiro-o de dentro da bolsa e
vejo o nome do Steban na tela. Um presságio.
Será que ele achou ruim que a Bia usou seu nome na loja? Olho para
ela, que continua sorrindo para mim. A mulher é bonita, mas quando tira para
infernizar, Deus nos ajude.
— Oi, Steban. Tudo bem?
— Tudo bem, Duda. E você?
— Estou bem. Você deve estar ligando por causa da loja. Desculpa, é
minha culpa. A Bia só estava....
Ele me interrompe.
— Do que está falando, Duda?
Olho para Beatriz, que está com um sorriso ainda mais largo. Minha
vontade é sufocá-la.
— Eu pedi ajuda para Bia porque precisava de um traje para a minha
sessão. Então ela entrou em contato com o lugar que fornece roupas ao clã e
usou seu nome para que enviassem algumas peças, para que eu
experimentasse. Me perdoa, Steban, na hora que ela me falou não vi
problema e....
— Calma, menina. Não há problema algum. Sempre que precisar,
pode usar o meu nome sem problemas. Deve ser o ateliê Veihard, eles são
excelentes.
— São sim. Obrigada, Steban. E mais uma vez, me desculpe.
— Já falei que não é um problema. Mudando de assunto... — sua voz
é baixa e não do tipo romântico. — A Beatriz está com você? — tenho a
impressão de que está falando entredentes, com raiva borbulhante.
— Ela está sim — Bia faz sinal de “não”, mas não entrarei no meio
dessa briga. — Estou passando para ela.
Estendo o aparelho.
— Não mesmo, não vou atender.
— Vai sim — falo, soando um pouco grosseira.
— Você é mandona. Seu Dono sabe que está levando um pinscher no
corpo de um labrador?
Sorrio.
— Ele saberá no momento certo. Agora, atenda essa ligação.
A muito contragosto, ela pega o celular e fala com o homem irritado.
Não fico perto para saber o que estão falando, mas da cozinha posso ver que
estão discutindo. Assim que termina a ligação, Bia devolve o celular para
mim.
— Eu tenho que me afastar dele — ela fala de um modo tão triste que
toca meu coração.
Bia se senta na cadeira ao meu lado.
— Por que você acha isso? — pergunto e ela suspira.
— Porque está ficando cansativo. Eu gosto dele mais do que deveria e
eu não deveria.
— Bia, o Steban fez alguma coisa que te machucou? Por isso você o
deixou?
Ela balança a cabeça.
— Eu me apaixonei e isso é complicado quando se trata do Steban.
Ele é o Grão-mestre do clã, treina submissas, domme, dominatrix e muitas
vezes envolve sexo. Isso é esperado de sua função e é assim que ele leva a
vida desde que entrou para o BDSM. Steban não mudaria as regras por mim e
eu não sou masoquista sentimental, não me humilharia por um homem que
gravou uma linha entre nós. Então, eu o deixei.
— Você era slave dele. Como? — aponto para ela. — Você é a Bia!
Desbocada, sem paciência, não tem nada de submissa. Aí entrou nesse
mundo e foi direto ser uma escrava. Como?
Ela ri e seus olhos fixam em nada, como se estivesse mergulhada em
pensamentos.
— Uma conhecida da faculdade frequentava as festas do clã e me
convidou para ir, fui liberada e comecei a frequentar. Sempre me achei um
pouco pervertida com as pornografias que assistia, de repente comecei a
frequentar um lugar onde todos têm aqueles fetiches. Eu me senti em casa.
Demorei para me enturmar, no entanto, as primeiras vezes que tentei com um
Dominador foram ruins, não senti nada. E foi assim com outros dois. Então o
Rodrigo se aproximou e começou a conversar comigo. Contei a ele que
queria muito aquilo, mas que não estava encontrando o que procurava. Na
verdade, nem sabia o que estava procurando.
— Você teve sessões com o Rodrigo? — pergunto curiosa.
— Não. Ele se colocou no papel de protetor e me levou até um dos
Mestres mais antigos, foi quando comecei a entender que eu preciso de mais
para sentir o prazer que tanto queria. Então veio a doença, fui diagnosticada
na fase inicial do câncer. Mesmo sem me conhecerem direito, Rodrigo me
acolheu, alguns membros que souberam também foram solidários e Steban
estava entre eles.
Alcanço a sua mão e a aperto.
— Você é muito valente, menina bonita — digo com orgulho.
— Sou mesmo. Enquanto eu vivia na negação, fazia o tratamento,
mas eu me negava a me entregar. Rodrigo, Steban e parte do tempo Arthur
estiveram comigo nessa fase. Quando tudo passou e eu estava recuperada,
Steban se tornou o meu orientador e ali eu já me sentia confortável para dizer
que queria ser escrava dele — Bia ri. — Você precisava ver a cara dele. Meu
Deus! Parecia que estava prestes a entrar em pânico a qualquer momento... —
ela faz uma pausa e seu olhar suaviza. Seus olhos encontram os meus. — Eu
disse que pediria a outro, então ele ficou bravo e começou a esbravejar um
monte de regras. Foram dois anos morando juntos sob suas regras e não
lembro de ter sido mais feliz. Steban me dava o que eu precisava e eu me
dava em troca. Até o dia em que me dei conta de que eu não queria mais
compartilhá-lo com ninguém.
— Você se apaixonou — afirmo.
— Sim. Por isso te disse para não envolver o coração. Arthur é uma
pessoa maravilhosa, mas veio de uma família que pensa mais no brasão do
que em sua prole. Eles foram criados para se casarem com pessoas iguais a
eles, mas ambos estão dispostos a não se casarem para desafiar os pais.
Então, por favor, curta a aventura, transe bastante, seja punida bastante
porque, acredite em mim, eles sabem como fazer isso da melhor maneira
possível. Só não entregue o seu coração.
— Conselho anotado.
Eu me levanto e abraço a minha amiga, que raramente se abre desta
maneira. Sou muito feliz por ela confiar em mim o suficiente para contar a
sua história com Steban.
— Você está bem atrasada — Bia fala, quebrando nosso momento.
Encaro-a.
— Valeu a pena.
Antes de descer, peço um carro por aplicativo. Assim que o faço, eu
pego as minhas coisas e desço. Não demora muito para o carro encostar em
frente ao prédio. Meu nível de ansiedade está subindo novamente. Pego meu
telefone, os fones de ouvido e ativo uma playlist. Enquanto o carro desliza
pelo trânsito, fecho os olhos e ouço Sia cantando Dressed In Black.
(...) Eu tinha desistido, não sabia em quem confiar. Então criei uma
concha para me manter longe do céu e do inferno. Sim, eu atingi o amor. Era
tudo que eu me deixei saber, sim. Sim, bloqueei meu coração e estava presa
pela escuridão. Você me encontrou vestida de preto, escondendo-se no
caminho de volta. A vida partiu meu coração em pedaços. Você pegou a
minha mão na sua, começou a quebrar as minhas paredes e cobriu meu
coração com beijos. Achei que a vida havia me passado, minhas lágrimas
perdidas, meus choros ignorados. A vida partiu meu coração, meu espírito e
então você cruzou meu caminho, reprimiu meus medos, me fez rir. Então
você cobriu meu coração com beijos (...)
O carro para e abro os olhos, dando-me conta de que já chegamos.
Meu coração dispara e minha respiração acelera. A ansiedade me domina e,
assim que saio do carro, congelo na entrada do hotel. Será que estou bem?
Não quero passar vergonha. E se ele achar demais? Estou insegura, não teria
como ser diferente, não é? Hoje estou embarcando oficialmente nesta
aventura com Arthur Alcântara e Castro. Tenho motivos mais do que
suficientes para continuar congelada aqui, neste lugar.
Um homem uniformizado se aproxima.
— Está tudo bem, senhora?
Tento dar um sorriso bonito e devo ter conseguido, pois ele sorri de
volta.
— Está tudo ótimo. Com licença — entro e caminho até a recepção. O
atendente, muito simpático, cumprimenta-me e meu nervoso só aumenta. —
Boa noite. Estou aqui por Arthur Alcântara e Castro.
Ele consulta o computador.
— Ah, sim. A senhora é aguardada na suíte presidencial. Chamarei o
concierge que a acompanhará até o seu destino. A senhora tem algum pedido
em especial para providenciarmos?
— N-não. Obrigada.
Logo um senhor se apresenta como o concierge que me conduzirá até
a suíte em que me esperam. Não esperava nada suntuoso, especial... sim, mas
assim, não. Fico lisonjeada e nervosa ao mesmo tempo. Entrei nesta por mim,
mas será que corresponderei ao que ele tanto deseja? Só saberemos com o
tempo.
Entramos no elevador e o senhor ao meu lado usa um cartão para
digitar no painel de andares. Ele me fala que o andar das suítes presidenciais
não é acessível, somente pessoas autorizadas têm acesso, para garantir a
privacidade dos ocupantes. Não demora muito e a porta do elevador se abre.
Saímos e ele me conduz até a porta dupla, no final do corredor. O senhor toca
a campainha, despede-se e sai, deixando-me sozinha. Antes que eu processe
qualquer ideia absurda de desistência e fuga, a porta abre e sou presenteada
por um dos homens mais bonitos deste lugar.
Um sorriso perverso estampa seu rosto e seus olhos brilham com o
perigo. Um arrepio de antecipação percorre o meu corpo. Arthur abre mais a
porta e posso me deliciar com a sua visão por inteiro. Calça e camisa em cor
preta, tudo bem-ajustado, como se tivesse sido costurado em seu corpo. Sua
camisa está aberta o suficiente para eu ver seu pescoço e parte de seu peito.
Não tem como não desejar este homem, pois nem a mulher mais santa
resistiria a ele.
— Olá, Maria Eduarda. Bem-vinda ao meu mundo.
Capítulo 23

Maria Eduarda
Assim que entro, olho ao redor e fico muito impressionada com a
beleza do lugar. Acredito que aqui seja a sala de estar da suíte. Tudo é bem
decorado e, daqui onde estou, posso ver o mar pelas portas francesas que dão
aceso à varanda.
— Você está linda.
Viro-me para ele.
— Obrigada. Você está muito bem também.
Arthur vem até mim e alcança a minha bolsa, que seguro com força.
— Vamos deixar isso aqui — ele a joga sobre um dos sofás e pega a
minha mão. — Vamos nos sentar e conversar, antes de fazermos qualquer
coisa.
Eu toda pronta para fazer outra coisa, sem conversa.
— Tudo bem.
Ele me leva até o sofá, então se senta e me puxa para que eu fique ao
seu lado.
— Duda, preciso saber quais são os seus limites. O que você não quer
e o que não gosta, assim saberei o que fazer.
— Para ser sincera, não sei até onde vai o meu limite. Andei olhando
algumas coisas na internet; práticas que envolvem objetos cortantes, sangue e
as chuvas de qualquer coisa, é o limite.
— Ótimo! Porque são práticas que não tenho em meu repertório. O
que mais, Maria? Preciso que você seja totalmente honesta comigo, conheço
você e seu corpo, é mais fácil determinar o que é confortável ou não, mas
devemos desenhar uma linha para que ambos não cometam erros. Se algo
durante a sessão não lhe agradar, preciso que me fale, se você se sentir mal
com alguma coisa, deve me falar imediatamente. Então, Duda, o que mais é
um limite para você?
Impaciente, levanto-me e começo a andar pelo lugar.
— Não conheço os meus limites, precisarei de ajuda nisso. Acredito
que posso experimentar e dizer se gosto ou não.
— É um bom começo. Posso trabalhar com isso. Gosto de chamar as
minhas meninas com palavras de baixo calão, algum problema? Algum
problema em, no meio da sessão, ser chamada de puta, cadela ou qualquer
outro nome assim?
Eu deveria ter, isso deveria ser um limite, só que a coisa me excita
mais e mais.
— Não, nenhum problema.
— Você sabe que precisa de uma palavra segura?
— Sei sim. A minha será “carnaval”.
— Espero que você nunca tenha que usá-la.
Ele passa sua mão pelo meu braço, provocando um arrepio gostoso e
aumentando a minha antecipação. Levanto-me e vou até a porta da varanda,
pois preciso diminuir minha ansiedade. Ele se coloca ao meu lado.
— Não faremos nada que você não queira, Duda. Não se sinta
pressionada.
Resolvo ser sincera com ele:
— Eu quero... muito. Mas estou ansiosa, nervosa e... e se eu não
corresponder as suas expectativas? O que acontecerá?
Ele me vira para ficarmos frente a frente.
— Você corresponde as minhas expectativas sendo quem é, Maria
Eduarda. Isso nem deveria ser sua preocupação — Arthur se aproxime e
encosta seus lábios nos meus, puxando meu lábio inferior com os dentes.
Quando o solta, passa a língua para aliviar. Ele leva a minha mão até seu pau,
que está duro. — Eu a quero muito, como você pode constatar. Vou pedir
algo para jantarmos e depois veremos o que fazer. Tudo bem?
Como não desejar esse homem?
Neste momento, não importa se ele está apenas me seduzindo ou
iludindo, eu o quero, o desejo. E com a coragem que brotou de algum lugar,
puxo-o pela mão e faço com que se sente no sofá, onde estava sentado
anteriormente. Não sei se posso fazer qualquer coisa, mas neste momento
farei o que quero.
Vou até minha bolsa, alcanço o celular e vasculho a playlist, atrás da
música que preciso. Assim que acho e a música começa a tocar, deixo o
aparelho de lado e me coloco na frente de Arthur, dançando conforme a
batida.
(...) Como nos apaixonamos mais intensamente do que uma bala
poderia te atingir? Como desmoronamos mais rápido do que um grampo
cai? Não ouse dizer, não ouse dizer. Não diga, não ouse dizer. Uma simples
respiração vai quebrá-lo. Então cale a boca e me percorra como um rio [15]
(...)
Abro o zíper até o final e exponho a lingerie que me foi enviada por
ele. Seus olhos me percorrem de cima a baixo, devorando-me, desejando-me
e isso me deixa mais ousada. Retiro o vestido, jogo-o na cadeira ao meu lado,
afinal, a roupa custou muito caro para ser jogada no chão.
(...) Cale a boca, querido, e mostre a que veio. Mãos santas, elas me
tornarão uma pecadora? Como um rio, como um rio. Cale a boca e me
percorra como um rio. Sufoque esse amor até as veias começarem a
estremecer. Um último suspiro até as lágrimas começarem a secar. Como um
rio, como um rio. Cale a boca e me percorra como um rio (...)
Arthur se levanta e vem até mim, sua expressão é séria e seu olhar é
intenso, cheio de promessas perigosas. Neste momento, não vejo problema
algum em mergulhar nesta tempestade perigosa que é o Arthur Alcântara e
Castro.
Uma de suas mãos vai até o meu cabelo e solto o prendedor que
segura o meu coque.
— Gosto de seus cabelos soltos — ele os cheira. — Você é linda,
menina Duda. E muito apetitosa.
— Obrigada, senhor.
Ele geme.
— Você não imagina o quanto isso é sexy — suas mãos seguram o
meu pescoço com delicadeza. — Vou consumi-la por inteiro, Maria Eduarda.
Farei com que esqueça tudo e apenas sinta o prazer que estou lhe dando.
Arthur me beija ferozmente até não conseguirmos mais respirar. Sua
boca deixa a minha trilhando meu queixo e meu pescoço com beijos úmidos,
até chegar em um dos meus seios. Meus mamilos estão duros, eriçados pela
expectativa de serem o próximo alvo a ser devorado, e o homem não
decepciona.
Suga meus mamilos por cima da renda, mas posso sentir sua língua e
seus dentes me causando dor e prazer. Primeiro em um e depois em outro,
dando igualdade a ambos. Ele continuar a descer com seus beijos pelo meu
estômago, enfiando sua língua em meu umbigo, beijando minha barriga e
enfiando o seu nariz no “v” entre minhas pernas logo em seguida.
— Arthur....
Ele se afasta o suficiente para me olhar.
— Não, menina. Não somos mais Arthur e Maria Eduarda. Aqui e
agora, somos Senhor e sua menina. Entende?
— S-sim, senhor — minha voz não passa de um sussurro ofegante.
Suas mãos acariciam meus tornozelos, joelhos e param nas argolas
atrás das minhas coxas, que gentilmente são beijadas.
— Logo mais saberá a função dessas argolas. Você ficou incrível
nesta lingerie e seu vestido era de tirar o fôlego. Bia tinha razão ao me dizer
que a roupa vale cada centavo quando você a veste.
Por um instante a luxúria dá lugar à lucidez.
— Como assim a Bia disse?
Arthur se levanta e me encara seriamente.
— Maria Eduarda, não se apegue a detalhes, menina linda. Deixe-me
cuidar de tudo, cuidar de você — o sacana segura meus cabelos da nuca e
vira a minha cabeça o suficiente para deixar meu pescoço a sua disposição.
— Tudo o que desejar enquanto estiver comigo, será seu.
Quase tudo penso comigo quase tudo.
— N-não é certo....
— E o que é certo entre nós, Maria Eduarda? Sou um doente, um
pervertido que lhe seduziu para que entrasse em meu mundo de taras e
fetiches. Faremos o que é certo para nós. Agora, beije-me, menina linda.
Assim o faço. Seguro-me em sua camisa e o beijo com todo o tesão
que há em mim. suas mãos nervosas seguram a minha bunda e me
pressionam contra si. Gemo em sua boca sem cortar o nosso beijo úmido e
carnal. Meu corpo está em chamas, sedento pelos seus toques, mordidas e
apertões. Tenho fome dele, de seu gosto... Arthur realmente irá me consumir.
Ele se afasta.
— Tire minha roupa, Maria Eduarda.
— Sim, senhor.
Trêmula, começo a minha tarefa. Abro todos os botões de sua camisa,
não perdendo a oportunidade de acariciar seus músculos. Empurro a camisa
pelos seus ombros até tirá-la por completo, jogando a peça de lado. Ajoelho-
me para tirar os seus sapatos e meias, a seguir, abro o seu cinto e a sua calça.
— Por enquanto é o suficiente, querida. Levante-se e vá até a porta da
varanda — estranho a sua ordem, mas faço como foi ordenado. Ele puxa uma
corda que eu não havia visto até agora. Ela está amarrada na barra que corre a
cortina. Arthur tira duas pulseiras largas de couro e coloca em cada pulso
meu, unindo-as por uma argola dourada. — Levante seus braços.
Ele ata a corda na algema e fico esticada, com meus braços contidos.
A porta está aberta e estou seminua para me verem.
— E se alguém nos ver? — exteriorizo a minha preocupação.
Percebo que Arthur gosta de olhar em meus olhos enquanto responde
as minhas perguntas. Acredito que ele quer que eu saiba que todas as minhas
questões são importantes. Seus olhos verdes são como piscinas marítimas,
algo lindo e bruto ao mesmo tempo.
— Se nos verem, ficarão com inveja. Quem não quer uma mulher
linda a sua mercê? Até as mulheres quererão estar em meu lugar. Ninguém
resiste a minha linda menina — seus lábios estão nos meus novamente,
provando ser verdade cada palavra que proferiu. Ele se afasta e volta a me
encarar. — Tudo bem até aqui?
— Sim, senhor.
— Duda, posso confiar que você me dirá quando for demais?
— Sim, senhor.
Ele sorri lindamente.
— Boa menina.
Arthur acaricia meus braços, baixa as taças do sutiã e vai para os
meus seios, expondo-os. Ele os aperta e massageia, mostrando seu
contentamento. Então puxa um mamilo entre os dentes, dando-me uma
picada de dor antes de lamber o meu mamilo. O gesto é decadente, meus
gemidos são tão decadentes que fazem o meu tesão aumentar mais e mais.
Arthur morde e lambe a parte macia do meu seio, deixando suas marcas. E eu
adoro cada uma delas.
Suas mãos vagam pela minha barriga delicadamente, como se tivesse
medo de me machucar. Arthur se coloca atrás de mim e sinto sua boca em
uma das minhas nádegas enquanto suas mãos me apertam. Ele puxa a
calcinha até que esteja completamente entre a minha bunda. Em seguida,
vira-me para ficar de frente a ele, à mostra para quem conseguir enxergar.
Eu deveria estar nervosa e até indignada com isso, mas só sinto
desejo. Não me importo se alguém está vendo, só quero que o homem a
minha frente me coma. Meu cérebro já está completamente à mercê da
luxúria. Arthur passa a mão entre as minhas coxas e esfrega a mão em minha
boceta.
— Está tão excitada que molhou toda a calcinha, garota má. Esse seu
jeito de mulher doce é apenas uma fachada, por baixo há uma mulher que
adora coisas sujas, não é? — ele intensifica seu toque sobre o meu clitóris.
Por que ele apenas não me come? Que inferno é esse que me meti?
— Sim, senhor — respondo, irritada.
— Está com raiva, Maria Eduarda?
O maldito homem puxa a calcinha até que ela esteja enterrada na
minha boceta, então, fica movimentando para que o tecido estimule meu
clitóris. Meu corpo está trêmulo, fraco, à mercê dos caprichos deste homem.
— E-eu quero gozar — digo. — Me foda e minha raiva passará.
Ele ri. Arthur Porra Castro apenas ri. Não satisfeito, ele segura
fechado os lábios externos da minha boceta, fazendo com que a calcinha
fique ainda mais firme contra meu clitóris que já está implorando por
libertação.
— Mas aqui não seguimos os seus desejos, menina. Não se preocupe,
logo terá o que deseja, se for uma boa garota má — ele ri e me beija.
Minha vontade é mordê-lo e arrancar sangue dele.
Arthur vai em direção ao quarto e volta com um chicote, que tem
várias tiras de couro e há pequenas rosas vermelhas nas pontas das
incontáveis tiras, também em couro.
Ele para na minha frente e me mostra o objeto.
— O nome disso é flogger. Gosto dele porque você sentirá leves
picadas ardidas quando atingir sua pele. Nada insuportavelmente doloroso,
também não marca a pele. Tudo bem, até aqui, querida?
— S-sim.
Ele me beija, invadindo minha boca com a sua língua perversa. O
beijo é uma mistura de um tipo de dança obscura com sexo, onde ele exige e
eu simplesmente cedo.
— Eu a foderei com tanta força que você me sentirá por dias.
Não contenho meu gemido e grito em seguida, mais pelo susto do que
pela dor e picadas que o flogger causam. Um golpe atrás do outro, tirando
gemidos altos de mim. Se eu não tivesse tão excitada, tenho certeza de que
repensaria a coisa toda. Mas meu corpo está sobrecarregado por sensações
que ele despertou. Este chicote vai me dando uma descarga sensorial, fazendo
com que eu tenha consciência de cada milímetro do meu corpo.
Suas mãos percorrem onde as tiras me acertaram e meus gemidos se
transformam em lamentos. Arthur que está na minha frente quando baixa sua
calça e cueca, expondo seu pau duro. Ele se acaricia enquanto eu me desfaço,
vendo sua mão grande fechada em torno de seu pau bonito, subindo e
descendo com força da maneira que eu quero que ele me pegue.
O homem vem em minha direção, segurando o chicote com uma mão
e se masturbando com a outra. Como se lesse meus pensamentos, Arthur se
aproxima até ficarmos peito a peito. Estou suada, ofegante e pingando de
desejo. Estou a um passo de implorar por mais, acho que me apagarei a
qualquer momento.
Arthur passa a sua língua em meu pescoço e morde a curva que se
encontra com o ombro, fazendo-me estremecer. Ele coloca seu pau entre as
minhas pernas e o esfrega em minha abertura, atingido meu clitóris.
— Cruze as pernas, querida. — Faço como pedido enquanto ele
segura o meu quadril e desliza para frente e para trás. — Você está tão
molhada que nem precisamos de lubrificante. Vamos tirar essa calcinha —
Arthur simplesmente a arranca do meu corpo e esfrega seus dedos em minha
entrada, enfiando dois dedos e me fazendo gritar alto. — Vamos para a cama
— ele me tira da corda e solta a argola que liga as algemas.
— Sim, senhor.
Caminhamos até o quarto, que é tão amplo e luxuoso quanto a sala de
estar. Arthur vem até mim e entrega uma garrafa de água e, enquanto eu
bebo, ele tira o meu sutiã e beija o meu ombro.
— Sente-se na beirada da cama, menina, e se abra para mim. — Faço
como ordenado e abro as pernas. Ele se ajoelha diante de mim e coloca
minhas duas pernas na cama, fazendo com que eu fique bem exposta. —
Gosto da sua boceta doce e o cheiro da sua excitação é inebriante, Maria
Eduarda.
Arthur passa a língua pela minha entrada, em seguida, usa as mãos
para abrir minha boceta e expor meu clitóris dolorido. Sua boca perversa
chupa meu nervo sensível e não contenho o gemido alto. Ele beija a minha
boceta como se estivesse beijando a minha boca e sua língua me explora, me
invade, tomando conta de tudo. Estou completamente perdida em desejo e
excitação.
— V-vou gozar — aviso e, com mais uma lambida, ele para. — Não,
não pare — choro.
O maldito sorri antes de tirar o restante de sua roupa, ficando
completamente nu. Seu pau imponentemente duro me dá água na boca. Ele se
aproxima, entrelaça seus dedos em meus cabelos e os segura firme, mas sem
machucar.
— Abra a boca, putinha. Está na hora de chupar o seu senhor. Você
quer? — assinto e Arthur passa o seu dedo pelo meu lábio inferior. — Tem
que falar, menina.
— Quero te chupar.
Ele me beija ferozmente, a ponto de inchar meus lábios.
— Quer me chupar como a boa putinha que é?
Arthur me beija novamente.
— Quero, meu senhor.
— Abra a boca — ordena e eu obedeço, então Arthur enfia a cabeça
de seu pau em minha boca. — Segure na base e leve na boca até onde der.
Ele é grande e não consigo levar tudo, mas hoje estou disposta a
tentar a coisa da garganta profunda. Andei pesquisando e, ao que parece,
basta relaxar a garganta. Tento uma vez e me engasgo feio, mas o homem
gosta. Tento a segunda e tenho algum sucesso, antes de engasgar novamente.
Eu me dedico a levá-lo por inteiro enquanto o masturbo e me toco. Estou tão
excitada.
Eu o seguro firme, levanto o seu pau e chupo suas bolas. Seu aperto
em meu cabelo intensifica ao passo que ele fala o quanto sou puta por chupar
seu pau tão bem. Que sou uma cadelinha pronta para servir, como ele gosta.
E, céus! Eu adoro cada palavra suja que sai de sua boca.
Chupo a cabeça de seu pau enquanto acaricio as suas bolas, só para
ouvi-lo amaldiçoar e me xingar. Arthur se afasta e vejo o quanto ele está
suado e ofegante, assim como eu. Sorrio, pois ele está quase perdendo o
controle por minha causa e gosto disso... muito.
Arthur vai até o seu closet e volta com tiras de couro.
— Fique de joelhos sobre a cama, empine a bunda e coloque o rosto
no colchão. — Faço como ele manda. — Coloque os braços de cada lado,
para trás — Arthur coloca algemas em meus tornozelos, iguais aos dos
pulsos, depois as liga com as tiras. Ele se afasta. — Absurdamente linda.
Arthur acaricia as minhas costas e dá um tapa em minha bunda. Sinto
o colchão baixar e logo estou gemendo, com sua boca em minha boceta. Ele
abre a minha bunda e sonda a minha entrada com a sua língua.
Deus me ajude.
— Em breve colocarei um plug anal nesta bunda, que venho
sonhando em possuir. O que acha, minha menina linda?
— Acho bom, meu senhor.
Sou recompensada com sua língua em minha boceta novamente,
fodendo-me sem parar. Seus dedos entram na jogada, fazendo-me gemer cada
vez mais alto. Meu orgasmo, que vem sendo construído, explode sem aviso e
subo tão alto que vejo estrelas. Antes que eu possa voltar a mim, Arthur me
penetra com seu pau, bombeando com força. Ele me cobre com seu corpo,
uma de suas mãos aperta o meu seio e a outra estimula o meu clitóris. Não
demoro muito para sentir um novo orgasmo se formando.
Enquanto ele me fode, fala coisas sujas em meu ouvido. Diz que
adora foder minha boceta, que ela é apertada a ponto de sugar seu pau.
Afirma que em breve foderá meus seios e meu rabo, que sou a porra de uma
menina má que faz seu senhor perder o controle.
Ele bate em minha bunda e um dedo errante estimula a entrada da
minha bunda, levando-me à beira de um precipício.
— Goze, Maria Eduarda. Goze para mim. — E eu gozo ficando sem
força alguma.
Depois de mais algumas estocadas, Arthur goza falando meu nome
como um mantra. Sem demora, ele desata a tira, retirando as algemas dos
meus tornozelos e pulsos, logo, deita e me leva com ele.
Deito em seu peito e Arthur acaricia as minhas costas. Ambos
esgotados, suados, ofegantes e satisfeitos. Minha barriga ronca, mostrando o
quanto estou faminta, fazendo-me passar vergonha.
— Pedirei o nosso jantar. Alguma pedido em especial? — Arthur fala,
já saindo da cama.
— Não. O que você pedir está bom para mim.
Arthur faz o pedido e desliga o telefone. Beija meus lábios
suavemente e vai até o banheiro sem me chamar. Sei que ele quer que eu veja
a linha que foi desenhada nesta relação. Não gosto, mas estou satisfeita,
faminta e cansada demais para colocar a minha cabeça nisso.
Com esse pensamento, adormeço com um sorriso no rosto.
Capítulo 24

Maria Eduarda
— Não me importa se vocês terão que escavar a cidade inteira para
arrumar a porra dos cabos de fibra. Toda a empresa está parada porque
estamos sem internet, estamos perdendo negócios a cada minuto que ficamos
desconectados.
Arthur esbraveja com a equipe técnica, que está tentando dar um jeito
de fazer a internet voltar. Esta pode ser considerada a semana infernal nesta
empresa, Arthur e Rodrigo estão insuportáveis. Eu entendo, eles estão
correndo contra o tempo em alguns empreendimentos e as coisas não estão
saindo como eles querem. Hoje, o problema da internet veio para azedar
ainda mais o dia deles. Nunca vi os irmãos gritarem com ninguém, mas até
aqui já contabilizamos dois funcionários chorando e um técnico à beira de um
colapso nervoso.
Vou até a copa e pego um café para Rodrigo e Arthur, a fim de
amenizar a irritação deles. Minha primeira parada é a sala do Rodrigo, que
nem levanta a cabeça de sua prancheta. Apenas me agradece e diz para avisá-
lo quando a internet for reestabelecida. A próxima parada é a sala do Arthur,
que tem levado a sério a ideia de se manter distante.
Entro em sua sala e o encontro de olhos fechados, respirando fundo.
— Tudo bem? — pergunto enquanto coloco o café sobre a sua mesa.
— Trouxe um café.
— Obrigado. Estou exausto, essa semana está se arrastando e os
problemas não param de chegar.
— O importante é manter a calma, Arthur. Caso contrário, você e
Rodrigo terão um infarto.
— É difícil não ficar nervoso, mas você tem razão. Precisamos manter
a calma.
Neste momento, o seu celular toca e ele atende no viva-voz:
— Alô.
— Oi, amor. Por onde o meu gato anda, que não o vejo há tempos? —
Nada é tão ruim que não possa piorar. Érica tem um timing perfeito para má
hora. — Estou com saudades de você.
Nossos olhares se encontram e os olhos dele são insondáveis.
— Oi, Érica. Ando trabalhando demais.
Não ficarei aqui, é uma conversa particular e não quero participar.
Não gosto dessa mulher, não gosto do fato de que estão pressionando o
Arthur a se casar com ela, não gosto de estar ciente de que esse casamente
acontecerá. O melhor é manter distância mesmo.
Quando estou saindo da sala, ele me chama. No entanto, saio
apressadamente sem olhar para trás. Admito já ter sido fraca com essas
situações que envolvem o Arthur, mas não agora, não mais. Sou eu que
manda flores para essas garotas, sou que as atendo e repasso seus recados,
sou eu que desmarca encontros, sou eu que ouve os ataques de pelancas
quando o Arthur termina com elas. Gostar dele é a pior coisa que pode
acontecer com uma mulher, mesmo que o corpo o queira a cada olhar e toque
dele.
Volto para minha sala e assim que sento, Arthur aparece.
— Duda...
Dou o meu melhor sorriso e olhar de quem está bem, mesmo não
estando.
— Oi.
— Por que saiu daquela maneira?
— Porque não costumo ouvir conversas privadas dos chefes, Arthur.
Eu não tinha mais nada para fazer lá, fui apenas levar um café para você.
Fico orgulhosa de mim mesma, sou forte e corajosa.
— Você me conhece e sabe como sou...
Eu o interrompo, pois não quero ouvir esse papo mais uma vez.
— Arthur, não se preocupe. Está tudo bem.
Ele debate se tudo está bem mesmo, mas o cansaço leva a melhor e
Arthur desiste de falar comigo. Meu peito aperta, mas é o melhor a fazer.
Resumir a nossa relação às sessões é a coisa certa a fazer. A primeira foi
maravilhosa, depois que terminou, ele me acordou para jantar, tomei meu
banho e saí mais relaxada do que nunca.
Tivemos uma conversa fluída sobre a empresa, que é algo em comum
que não gera discussões que não queremos ter. Ele me pediu para passar a
noite, já que estava muito tarde, mas neguei e fui para a minha casa. A noite
terminou bem e é assim que deve ser.
Concentro-me no trabalho e, assim que termino um relatório, vou até
a recepção a fim de entregar às meninas, para que tirem cópias e coloquem
nas pastas devidas. Estou de costas para a entrada quando ouço uma voz
grave, viro-me imediatamente e dou de cara com um negro alto e lindo
demais, com um terno tão bem alinhado que dá para imaginar as dimensões
dele. Seu sorriso é perfeito, assim como ele parece ser.
— Boa tarde, em que posso ajudá-los? — pergunto.
Esqueci de mencionar que há outro homem o acompanhando, mas
quem se importa com o outro?
— Temos uma reunião com a Manuela Vasconcelos — o outro diz.
Desde que comecei a trabalhar aqui, o tablet tem sido uma parte de
mim. Mesmo quando saio para ir ao banheiro, eu o carrego comigo. É nessas
horas que vejo o benefício. Rapidamente, consulto a agenda da Manu e vejo
que há um horário para Fischers.
— Ah, sim. Um minuto, por favor. Vocês desejam café, água?
Ambos respondem que estão bem e não querem nada por enquanto.
Olho para Sara e Daniela, que estão tão encantadas quanto eu.
— Manuela está na sala de reuniões? — pergunto e ambas assentem.
Volto a atenção para os homens. — A quem anuncio?
— Heitor Andrade e Bruno Fischer, da Fischers Medical — o outro
responde sem apontar quem é Heitor e quem é Bruno, deixando-nos na
expectativa.
Poderíamos interfonar e apenas acompanhá-los, mas quero ter um
papo com ela.
— Vou anunciá-los.
Ando até a sala de reunião e entro sem bater, pegando a minha amiga
de surpresa.
— Que susto, Duda!
— Desculpe. Eu ia interfonar, mas queria anunciar pessoalmente dois
homens, um deles é incrivelmente bonito e tem um sorriso deslumbrante.
Ela me olha com curiosidade.
— O Bruno Fischer? Ele nem é tão bonito assim.
— Não, não é o Bruno, o outro que veio com ele, Heitor — digo.
— Estou curiosa para ver esse homem — ela fala, sorrindo. — Peça
para entrar, vamos analisar o material. — Viro-me para sair e ela me chama.
— As coisas nesta empresa andam complicadas, acabei esquecendo de te
falar algo. O Rodrigo nos convidou para passar o feriado na chácara em
Guaratiba. Acabei de falar com a Bia, que aceitou. Vamos? Ele me disse que
lá é lindo e um ótimo lugar para descansar. Acho que todos precisamos de um
tempo tranquilo.
— Não quero ser chata, Manu, mas quem vai? Serei bem sincera, não
quero trombar com ninguém da família dele, nem com as mulheres
prometidas — falo com deboche.
— Rodrigo me disse que seremos nós três; ele, Arthur e Steban.
Todos precisam de uma pausa.
— Iremos no sábado e voltaremos no domingo?
Preciso de informações para arrumar as minhas coisas.
— Para ir no sábado e voltar na terça-feira. Eles decidiram emendar o
feriado na empresa.
— Que maravilha. Aceito o convite.
— Ótimo. Pensei em irmos no mesmo carro. O que acha?
— Perfeito. Assim chegamos no covil com o apoio das amigas.
Ela ri.
— Passo às oito da manhã de sábado para pegar vocês. Não se
esqueça de levar um biquíni.
— Anotado. Agora, vou buscar os clientes.
Vou até a sala de espera, peço para que me acompanhem e eles vêm
atrás de mim. Vamos à sala de reunião e bato antes de entrar. Ao abrir a
porta, Manuela já está vindo em nossa direção. Manu estende sua mão para
cumprimentá-los.
— Boa tarde, Bruno. Como está? — Manu cumprimenta o loiro e ele
a puxa para dar dois beijos no rosto.
Ousadia total.
— É sempre um prazer encontrá-la, Manuela — o homem não é
brasileiro, só agora percebo um leve sotaque. Será outro alemão? Manu tem
um imã para gringo. O homem em questão aponta para o lindo. — Este é o
meu advogado, Heitor Andrade.
Ela se dirige ao gostosão:
— Prazer, Manuela Vasconcelos.
Ele aperta sua mão.
— Heitor Andrade, as suas ordens. Devo dizer que os irmãos Castro
estão de parabéns. — Ele olha entre Manuela e eu. — Tem belíssimas
colaboradoras.
Manuela não se deixa levar pelo elogio, apenas mantém seu sorriso de
negócios antes de apontar para mim.
— Esta é Maria Eduarda Moraes, assistente executiva da presidência.
Eles fazem questão de apertar a minha mão e faço questão de
continuar segurando a mão desse advogado lindo. Mas, não posso. Mantenho
o decoro enquanto Manuela aponta às cadeiras e pede para que se sentem.
Como boa funcionária que sou e belíssima, segundo as visitas, volto a
oferecer café.
— Vocês aceitam um café, água, chá?
Heitor me olha e diz:
— Agora aceito, sim. Um café, por favor. — Manuela e Bruno
também pedem o mesmo.
— Duda, peça para que a Dona Sônia traga, por favor. Não queremos
que o Heitor se distraia das suas funções, não é, doutor? — Manuela não
perdoa e o advogado fica sem jeito.
Saio da sala e vou até a recepção, a fim de ligar para a copa. Encontro
Sara e Daniela falando do bendito homem.
— Gente, que homem é aquele? — Daniela fala, abanando-se. — O
nome dele é Bruno ou Heitor?
— Heitor — respondo e faço a ligação para Dona Sônia, que já está
providenciando o café.
— Se um homem daquele cai na minha mão, não sobra nada — Sara
fala. Por muito pouco não digo que sabemos. Mas, vamos manter a política
da boa vizinhança.
Vou até a minha sala para trabalhar e o tempo passa rápido. Passo
pela recepção em direção à copa para tentar descolar alguns biscoitos, mas
acabo encontrando a Manuela com Bruno e Heitor.
— Qualquer problema, Bruno, basta me ligar.
Enquanto Manuela conversa com o senhor Fischer, o advogado vem
até mim, estende sua mão e eu coloco a minha sobre a dele.
— Foi um prazer te conhecer, Maria Eduarda.
Dou o meu melhor sorriso.
— O prazer foi todo meu, doutor Heitor.
— Nada de doutor, apenas Heitor. — Ele morde seu lábio inferior e
estou tão hipnotizada que me distraio completamente. — Você fica
encantadora quando cora. Espero vê-la em breve.
Então...
— Eu também — digo.
E como a vida é uma droga de fada madrinha, Arthur aparece e
quebra o meu encanto.
— Bruno, como vai? Heitor, cara, quanto tempo!
Os homens se cumprimentam como velhos amigos.
— Estou bem, mas não tão bem quanto os príncipes Alcântara e
Castro. Rodrigo está bem? Faz tempo que não o vejo — Bruno fala.
— Não somos príncipes, somos os vilões — Arthur fala, divertido.
— Castro, onde você encontra suas colaboradoras? — ele olha para
Manuela e para mim.
Só pelo tom de voz, percebo que Arthur fica tenso.
— Por quê? Algum problema?
Bruno entra na conversa.
— Muito pelo contrário. São lindas e estou tentando roubar a
Manuela para mim.
Arthur começa a rir.
— Nossas colaboradoras não são contratadas por sua beleza, mas sim
por sua competência. Quanto a Manuela... — ele levanta o braço com a
coleira. — Essa pulseirinha linda e cara diz que ela já está comprometida.
— E você, Maria Eduarda, está comprometida? — Heitor pergunta
para mim. Deve ter sido uma bela cena, porque Manu está me olhando de
boca aberta.
— E-eu não — minha voz não passa de um sussurro.
Ele sorri, eu sorrio, nós sorrimos e eles... bem, Manu continua com a
expressão chocada, Bruno está de olho nela mais do que deveria e Arthur está
com cara de poucos amigos.
Bruno corta o clima.
— Manuela nos explicou todos os trâmites e como será a execução.
Os três embarcam na conversam, falando do projeto, e aproveito a
deixa para correr até a copa. Escondo-me por algum tempo e aproveito para
falar com a Dona Sônia sobre o homem bonito que me fez passar vergonha
na frente do meu chefe. Volto para a minha sala e vejo que não há ninguém
está por perto para criar clima.
Satisfeita, sento-me em minha cadeira, concentro-me na tela do meu
computador e me perco em trabalho. Tenho muita coisa para dar conta e a
semana está chegando ao fim. Preciso conferir a pasta da Towers, falar com o
Arthur sobre esses documentos em questão, repassar os documentos da
prefeitura para o Rodrigo analisar e checar alguns números com a Manuela.
Também tenho que começar a minha agenda para a semana que vem.
Arthur entra em minha sala seguido por Manuela, que não está com
uma expressão boa. Fico em pé para ajudar no que quer que esteja
acontecendo.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto preocupada.
— Aconteceu — Arthur fala, mas é cortado por Manuela.
— Não aconteceu.
Ele a olha irritado.
— Ah, sim, aconteceu e direi ao Rodrigo que ambas estavam flertando
com clientes.
Manuela e eu nos olhamos, depois caímos na risada.
— Que ridículo — debocho e volto a me sentar. — Ninguém estava
flertando.
— Pelo amor de Deus! Eu não sou cego. Eles se insinuaram para
vocês e nenhuma das duas fez nada para cortar os avanços.
Começo a organizar as minhas coisas, pois estamos nos aproximando
do final do expediente.
— Eu realmente não sei qual o seu problema, Arthur. Nada
aconteceu, você está vendo coisas onde não tem — digo.
— Escutem bem, vocês duas — ambas olhamos para o homem que
está a um fio de perder a paciência. — Não admitirei comportamentos
inapropriados com clientes, acabou os flertes, amizades e qualquer coisa do
tipo. Entenderam?
Respondemos em uníssono:
— Sim, senhor.
O homem sai da minha sala, Manu e eu caímos na risada. Arthur deve
estar fora da casinha mesmo. Isso não é hora de ser hipócrita. A semana não
foi feliz para ninguém, então darei esse desconto. Manuela se despede e sai,
até porque já está no final do expediente e mais um dia de trabalho está pago.
Pego as minhas coisas e saio da empresa, me despedindo de todos que
encontro pelo caminho. Assim que saio do prédio, pego o telefone na bolsa
para chamar um carro pelo aplicativo, mas sinto alguém se aproximar e
levanto os olhos para encontrar o Heitor caminhando em minha direção.
Não sei se é imaginação, mas ele está andando em câmera lenta?
Assisto extasiada àquele homem lindo, da cor do pecado, elegante, olhar
penetrante, lábios carnudos que pedem para serem mordidos. Heitor parece
aqueles modelos perfeitos que vemos nas redes sociais.
O terno aberto, a camisa com os primeiros botões abertos, sem
gravata e com a mão no bolso daquela calça justa, que cobre suas pernas
musculosas. Estou encantada com o homem.
— Maria Eduarda, espero que você não me ache um perseguidor.
Sorrio.
— E deveria?
Ele morde o lábio inferior e balança a cabeça.
— Não, não deve. Ia pedir seu telefone lá em cima — ele aponta e
olha para o prédio —, mas acredito que o Arthur não iria gostar. Então,
resolvi te esperar para ver se a convenço de tomar alguma coisa comigo.
— Não sei... — deveria ir para casa, Duda. Descansar. Ficar longe de
homens bonitos que geralmente são complicados.
Vejo sua decepção.
— Tudo bem — seu sorriso não alcança os olhos. Ele está sem jeito.
— Acho que entendi tudo errado. Desculpe-me.
— Não tem que pedir desculpa, eu só não quero complicar as coisas.
Você é cliente da empresa em que trabalho e....
— Bruno é meu cliente e ele é o cliente da construtora — Heitor sorri.
— Não estou aqui para forçar a barra.
Por que, em nome de Deus, estou dizendo “não”? Sou solteira, estou
envolvida em uma relação sexual fetichista sem compromisso, com um cara
que provavelmente tem um compromisso que não quer assumir. Pode ser
legal conhecer outro homem.
— Diga-me, Heitor, você tem namorada, esposa ou está prometido
com alguém?
— Não.
— Quer saber? Aceito aquela bebida.
Seu sorriso volta e me faz sorrir também. Falo sobre um barzinho
perto de onde estamos e caminhamos até lá. No caminho, descubro que ele
tem trinta e cinco anos, tem uma irmã mais nova que está se formando em
medicina, seus pais moram no bairro Campo Grande, aqui no Rio. Quando
nos sentamos no bar, tenho certeza de que tomei a decisão correta. Heitor
pode ser a descomplicação que falta em minha vida.
Capítulo 25

Maria Eduarda
Sextou, meu povo! E até agora nada estragou a minha manhã.
Cheguei na empresa atrasada, mas valeu a pena. Heitor e eu ficamos
até tarde conversando e então me dei conta do quanto gostei de fazer novos
amigos. Ele é um frescor em meio à turbulência ao meu redor. Passo pela
copa para pegar café e, no caminho para a minha sala, as meninas da
recepção me param.
— Quero te mostrar isso, Duda — Daniela diz enquanto vira o jornal
aberto para mim.
Vejo que está na página da coluna social e leio a matéria de duas
páginas que estampa a edição de hoje. Segundo o colunista, o Rodrigo
assumiu seu compromisso com a Bárbara ontem à noite, em um jantar dado
pelos pais dele. Pelo visto a data já está quase acertada. Também diz que o
namoro de Arthur e Érica vai de vento em popa.
A notícia amarga a minha boca. Primeiro por Manuela, já que estive
naquela bendita cerimônia e até agora juraria que vi devoção nos olhos do
homem, mas tudo não passou de ilusão. A Manu ficará arrasada ao ler isso,
porque sabemos que ela tem sentimentos fortes pelo Rodrigo.
Entretanto, o que me deixa pior é ler sobre o Arthur. Mesmo que tudo
isso seja coisa de sua mãe, ele é adulto o suficiente para cortar essas
situações. Mas eles, tanto Rodrigo quanto Arthur, preferem magoar todos ao
redor do que contrariar seus pais, que os fizeram sofrer.
Não vou mentir, se não fosse pela posição de Arthur, em não querer
compromisso, eu estaria com ele. Gosto dele, o homem mexe comigo. Só que
aprendi que é melhor manter certa distância, tenho seu corpo e sexo de vez
em quando, isso terá que bastar.
Olho ambas e sorrio.
— Teremos casamentos em breve. Vamos torcer para que eles
convidem os funcionários. Posso levar? — antes que elas possam responder,
pego o jornal e saio.
Vou para a minha sala e tomo café enquanto organizo as minhas
coisas, tentando digerir a notícia do jornal. Se eu pudesse, pediria às meninas
para lidarem com os irmãos Castro, mas infelizmente essa é a minha função e
tenho que executar da melhor maneira possível. O problema é que hoje não
sinto obrigação nenhuma de disfarçar o meu desgosto.
Assim que as minhas coisas estão em ordem e as agendas alinhadas,
ligo para a copa e peço para que a Dona Sônia sirva o café de Arthur. Sei que
ela ama fazer isso, trata aqueles marmanjos como duas crianças. Alcanço
meu tablet e vou à sala de Arthur, já que o Rodrigo não virá hoje.
Bato em sua porta antes de entrar.
— Bom dia, Duda.
— Bom dia — respondo sem me dar ao trabalho de tirar os meus
olhos do dispositivo em minha mão. — Como venho organizando os
compromissos para diminuir a sua carga horária nas sextas-feiras, a agenda
de hoje é tranquila. Sendo assim, hoje você tem apenas dois com....
— Qual é o problema, Maria Eduarda?
Continuo a mexer no tablet.
— Não há problema algum, Arthur. Você tem poucos compromissos
hoje, quanto antes eu puder falar, mais cedo finalizará o seu dia.
Dona Sônia escolhe este momento para entrar e servir o café dele com
pão doce. Adoro esse pão doce que ela traz de vez em quando. Sei que é de
uma das padarias da redondeza, mas ainda não descobri qual. Quando ela sai,
Arthur se levanta e vem até mim.
— Você nem consegue olhar para mim. Que porra aconteceu para
você estar assim? É por causa de ontem? Quando falei sobre os idiotas que
estavam dando em cima de vocês?
Minha paciência está se esgotando em um nível acelerado.
— Não há problema algum.
— Porra, Duda! Sabe o quanto é frustrante quando você se fecha para
mim?
Uma das primeiras coisas que os pais deveriam ensinar para seus
filhos deveria ser: nunca insista quando uma mulher não quer.
Arthur me pegou no dia errado, então me levanto e o encaro. Sim, eu
estou ressentida.
— Qual é o problema pergunto eu, Arthur. Você desenhou a merda de
uma linha e repetiu sem parar sobre não a ultrapassar. Respeitei e ajo
conforme acredito ser o melhor para ambos. Então, me perdoe se não fiz as
coisas à altura do príncipe Alcântara e Castro. Você tem dois compromissos
agora pela manhã, uma entrevista com o candidato à vaga de gerente de
aquisição e uma videoconferência com os suecos, para fala do projeto que
eles querem que a Construtora execute.
— Duda, eu não quero que você se afaste.
Sorrio brilhantemente para ele.
Eu quero tantas coisas; quero ser magra e ser rica, mas, como
sabemos, querer nem sempre é poder.
— Você leu o jornal hoje? — caminho em direção à porta. —
Aconselho a ler, há notícias interessantes e uma delas até cita seu nome. —
Quando paro diante da porta, volto a minha atenção ao homem estressado,
que está atrás de mim. — A propósito, parabéns pelo compromisso.
Saio da sala do meu chefe muito satisfeita comigo mesma. Ele não
pode decidir uma coisa e depois mudar conforme seus desejos. É injusto
comigo e, às vezes, não dá para levar desaforo para casa.
Volto para a minha sala e me dedico as minhas tarefas. Eu, como
todos que sairão para o feriado, quero sair mais cedo para me preparar.
Recupero o meu bom humor quando recebo uma mensagem de Heitor,
dizendo que espera que possamos repetir a dose qualquer dia desses. Enfim,
sexta-feira é o dia internacional da felicidade.
Tendo que passar algumas coisas para as meninas da recepção, pego
meu tablet e me dirijo até lá. Estou distraída quando o Rodrigo nos
cumprimenta e vai direto para sua sala. Não o esperávamos aqui hoje, depois
das notícias que li, não esperava e nem queria que ele viesse.
Ligo para a copa e peço que a Dona Sônia entregue o café dele,
enquanto isso, vou atrás do homem para ver se precisa de alguma coisa.
— Não o esperávamos aqui hoje.
Ele dobra as mangas da camisa e se senta em frente à prancheta.
— Resolvi vir. Tenho este projeto para finalizar, meu prazo está
acabando e não estou nem perto de terminá-lo.
Abro sua agenda em meu tablet e não há nada a ser feito. Dona Sônia
aparece com o café e pão doce para mimar o homem ainda mais.
— Então, vou deixá-lo para que se concentre, já que não há nada mais
para ser feito hoje.
— Duda, por favor, ligue para a chácara e veja se está tudo em ordem,
como pedi. Localize a Manuela, estou tentando alcançá-la o dia inteiro e não
consigo, preciso falar com ela. Também ligue para os outros e confirme o
final de semana.
Agora lembra da Manuela.
— Sim, senhor.
Ele olha para mim estranhamente. Então me dou conta de que o
chamei de “senhor”, coisa que não faço há muito tempo.
— Algum problema, Duda?
— Está tudo bem — respondo com o meu melhor sorriso. — Viu as
fotos do jantar que saíram no jornal?
Eu não iria perder a oportunidade.
— Não, nem sabia que havia saído — ele responde seriamente.
Levanto o dedo e peço um minuto.
Corro até a minha sala, pego o jornal e volto à sala de Rodrigo. Faço
questão de abrir o exemplar e virar para que ele veja, mas acho que não fiz
isso de um jeito delicado, já que ele continua a me olhar, de boca aberta.
Assim que o material está da maneira que quero, peço licença e me
retiro. De vez em quando os homens precisam de um choque para caírem de
volta na realidade. Ao me sentar na cadeira, em minha sala, faço a ligação
mais importante: Manuela.
Torço para que ela não tenha visto a notícia, pois sei que vai
machucá-la.
— Oi, Duda. Tudo certinho? — seu tom de voz é justamente o que eu
não queria ouvir, desanimado.
— Por aqui tudo certo. E com você?
Ela demora para responder e tenta disfarçar quando o faz.
— Estou bem.
Tenho que perguntar:
— Você soube, não é? — não preciso falar mais nada, ela sabe sobre
o que pergunto.
— Sei. Mostraram-me em um site de fofocas, mas, por favor, vamos
deixar isso para lá.
— Já está no mar do esquecimento — falo divertida. — Rodrigo está
a sua procura há um bom tempo, disse que não consegue falar com você. Ele
pediu para confirmar a sua presença no final de semana.
— Diga a ele que estou em reunião, por isso não posso atendê-lo —
ela respira fundo. — Eu irei, até porque foi uma ordem. Tenho duas reuniões
amanhã, não sei a hora que estarei livre para ir. Já falei com a Bia, ela pegará
o carro da mãe para vocês irem.
— Tudo bem. — Ela pediu para não falar mais sobre o assunto, mas
quero que saiba que estou aqui. — Manu, eu só não quero você assim, triste.
— Não estou triste, só surpresa. Vai passar, Duda.
Eu sabia que ela não reagiria bem, Manu pode negar o quanto quiser,
mas sei que o ama. Ainda acredito que o Rodrigo sinta o mesmo por ela, mas
seu dever com os pais parece falar mais alto do que seu coração. Se a
Manuela quisesse, poderia adiar essas reuniões para outro dia. Só que um
coração “surpreso”, quer distância. Entendo perfeitamente.
— Se cuida, minha amiga. Beijos e até amanhã.
— Beijos, menina Duda — percebo que ela está sorrindo com meu
novo título.
Ligo para o sítio, garantindo que tudo está da maneira que Rodrigo
ordenou. Ligo para o Steban em seguida, que confirma a presença, assim
como Bia e Arthur. Vou até a sala de Rodrigo e repasso tudo. Ele me
pergunta se seu irmão está na empresa e, sem muitas palavras, levanta-se e
vai direto à sala do Arthur.
Será que as peruas estarão no sítio e o que seria um descanso virará
uma festa? Eles não seriam loucos, não é? Rodrigo sabe que a Manuela não
pode se estressar e que, caso isso aconteça, incidentes envolvendo sangue
podem acontecer.
Acidentes domésticos são bem comuns.
Capítulo 26

Arthur
Respiro fundo e posso sentir o ar puro enchendo os meus pulmões.
Como é bom estar aqui, esta chácara me traz boas lembranças.
Rodrigo e eu sempre vínhamos para cá com nossos avós, eles fizeram o
possível para que a nossa infância fosse marcada por boas lembranças. Meu
avô nos deixou esta chácara de herança, ele sabia o quanto este lugar é
especial para nós. A beleza está nas matas e montanhas que cercam este
lugar, Barra de Guaratiba fica a uma ou duas horas do Rio. Fazia tempo que
eu não vinha e, agora que estou aqui, vejo o quanto senti falta.
Enquanto a Dona Bete serve o nosso jantar, Steban nos conta como as
coisas andam corridas na Polícia Federal, com essas operações especiais.
Tem pessoas que nascem com dom para ensinar, outros para escrever e
alguns vieram com a coragem suficiente para entrar na polícia e trabalhar
para fazer a diferença no mundo, só que armado e com distintivo.
— Mudando de assunto... — Steban continua: — Eu não sabia que
você iria adiante com o relacionamento com a Bárbara.
— E não vou — meu irmão responde.
— Isso foi coisa da Dona Rosita, que anda exagerando — falo e me
levanto da mesa. — Ela não vai desistir enquanto não casar os dois.
— Vocês precisam dar um basta nisso. Quanto mais empurram com a
barriga, mais a situação irá se agravar. Chegará uma hora em que a única
solução será fazer o que ela quer — Steban aponta para Rodrigo. — Aquele
dia, no jantar, sua mãe pediu para Manuela te convencer a casar com a
Bárbara. Ela não se sentiu como sua submissa, mas como sua amante, a
mulher que ninguém pode saber que existe.
Rodrigo faz uma careta.
— Não escondo que a Manuela é minha. Pelo contrário, por mim
todos saberiam. Minha mãe tem exagerado nisso tudo, mas logo ela se
cansará.
Eu não acho isso, até porque minha mãe é desocupada.
— Eu não contaria com isso, irmão.
— Você também, Arthur. A Duda pode não estar tão envolvida com
você quanto a Manuela está com o Rodrigo, mas se não cortar essa besteira,
você terá que abrir mão de tudo para se casar com a Érica.
— E você, Steban? Faz tempo que está sozinho, ficamos sabendo que
a pretensa submissa foi dispensada. O que anda acontecendo? — Rodrigo
pergunta.
— Ando sem tempo e a Bia falou qualquer coisa para garota, que
surtou e começou a fazer cobranças e dar chiliques. Preferi parar com toda a
negociação.
Rodrigo e eu rimos.
Bia sendo Bia.
— Bia, quando quer ser cruel, não economiza palavras. Lembro
quando vocês estavam juntos, ela nunca deixou de ser como é. Ainda assim
você aturou cada cobrança e chilique dela — digo. — Não era complicado
lidar com o jeito Bia de ser?
Steban abre um sorriso, o que é raro se tratando dele.
— Ana Beatriz tem uma coisa que faz toda a diferença, ela é muito
transparente. Quando se entrega é para valer e tudo o que você precisa saber
dela, está em seus olhos. O jeito Bia de ser talvez seja o motivo do
relacionamento ter durado tanto.
— Dois anos — Rodrigo complementa.
— Sim, dois anos — ele coça o queixo. — Bia era dedicada. Ela
realmente queria ser uma boa slave e acabava por ser um refresco no caos em
que vivo. Ela não esperava nada em troca, estava ali e se dedicava porque
queria viver a vida, viver a experiência.
— Quando as coisas começaram a dar errado? — pergunto, curioso.
Ninguém realmente sabe o que se passou entre eles.
— Ela desistiu e não tive a chance de argumentar — Steban fala
olhando para o nada. — Um dia cheguei em casa, depois de uma reunião do
clã, e Bia estava com as suas coisas arrumadas, dizendo que a vida é curta
demais para ficarmos travando a vida um do outro. Não entendi, mas
respeitei. Nesse tipo de relação não é aconselhável insistir que o seu parceiro
fique, porque o espaço dele precisa ser respeitado, foi o que fiz. Antes de sair,
consegui fazê-la prometer que não se jogaria em outra relação como essa, por
ser perigoso. Por mais que ela aparente ser durona, é delicada.
Emocionalmente delicada.
Rodrigo e eu trocamos olhares, impressionados. Nós nos conhecemos
por boa parte de nossas vidas e ele sempre foi o durão de pouca conversa e
sorriso, mas sempre que fala da Beatriz o homem se torna... como ele falou?
Ah sim, emocionalmente delicado. É amor!
— Por que estão me olhando assim? — nosso amigo pergunta.
Respondemos ao mesmo tempo:
— Nada!
— Idiotas.
Rodrigo solta:
— Isso é amor, cara.
Steban não deixa barato.
— Aquilo que você sente por Manuela? Até pode ser.
— Eu não a amo, mas a adoro e nunca escondi isso.
Falo rindo:
— Sabemos. — Peso as minhas próximas palavras, antes de
questionar o Steban. — Já parou para pensar que a Bia queria que você fosse
atrás dela? Talvez até que insistisse para que ficasse?
— Não é assim que funciona em nosso mundo — ele responde e
balanço a cabeça.
— Talvez o seu tradicionalismo não permita que você viva além da
liturgia.
Ele me encara.
— Talvez seja, mas vivi muito bem assim e não vejo necessidade de
mudar.
São cegos e burros. Assumo, todos nós temos dificuldades com
compromissos. Mas, porra, Steban e Bia viveram sob o mesmo teto por dois
anos. Se isso não foi um casamento em que eram felizes... e acreditem em
mim, eles eram, então não sei o que foi.
Eles merecem ser felizes juntos, caso contrário, a Bia ressentida
encontrará alguém e Steban será amargo. Rodrigo é outra história, sei que ele
sente mais do que adoração por Manuela, mas ele vem de onde eu venho,
carregamos traumas de compromissos.
Nossa conversa não rende muito mais, então nos deitamos para
dormir, até porque estamos cansados. Fui para o quarto, tomei um banho para
relaxar e acabei na cama completamente nu. Deitado e relaxado, penso em
nossa conversa e vejo o quanto estamos fodidos. Não temos compromissos,
mas também não queremos deixá-las ir. Eu queria ser tão conciso quanto
Steban, que simplesmente deixou a Bia partir. Só que sou egoísta e quero
viver o momento com a Maria Eduarda.
Não consigo dormir, então me levanto, coloco uma boxer, pego meu
celular, fones e vou para a varanda. Deito-me na rede e começo a remexer
inquieto, aciono a playlist para me ajudar a relaxar e a minha cabeça vai à
lugares em mim que não gosto de passear: meus sentimentos.
Eu não amo ninguém, sou egocêntrico demais para isso. Acredito que
na vida haja pessoas que nasceram para amar e serem amadas, outras
nasceram para fazer amor e é desnecessário dizer que me enquadro no
segundo grupo. Não sou bom com relacionamentos, por isso não vejo
necessidade de permitir que alguém chegue tão perto e comece a fantasiar
coisas onde não existe.
Maria Eduarda é mulher para casar, ter filhos, morar em uma casa
bonita, ser fiel a ela e ao amor. Tudo o que não posso oferecer. Casamento é
o sonho de todas as mulheres, constituir família, ter um companheiro,
provedor e leal. Eu não seria um bom marido, não mesmo. Não sei se tenho
amor o suficiente para dar a alguém e um casamento sem amor é a receita
para o desastre.
Tenho muita coisa para dar e seria um desperdício dar a uma só, então
prefiro distribuir em pequenas porções e fazer muitas mulheres felizes. Sou
do tipo cafajeste, porém, realista. Sou daqueles homens que Deus criou para
uma boa foda, nós não fomos criados para sermos maridos. Assim é o que diz
a minha bíblia.
(...) A segundos do meu coração, uma bala no escuro. Desamparado,
eu me rendo. Algemado por seu amor, me segurando desse jeito com veneno
nos seus lábios. Só quando acaba, o silêncio bate com tanta força. Porque foi
quase amor, foi quase amor. Foi quase amor, foi quase amor. Quando
escutei aquele som de paredes caindo, eu estava pensando em você... em
você. Quando minha pele envelhecer, quando minha respiração esfriar, eu
estarei pensando em você... em você. Quando fico sem ar para respirar, é seu
fantasma que eu vejo. Estarei pensando em você... em você. Porque foi quase
amor, foi quase (...)[16]
Mesmo sabendo que Duda é demais para o meu caminhãozinho, não
consigo desistir de tê-la. A mulher desperta o que há de bom e o mau em
mim, é quase um vício. Quando vi Bruno e Heitor flertando descaradamente,
raiva irradiou de mim. Fiquei tão nervoso que não me controlei quando fui
falar com elas. Sei que fui um idiota, só que naquele momento era impossível
não ser. A semana foi um verdadeiro inferno, tudo o que poderia dar errado,
deu.
Não sei se cochilei ou se estava tão absorto em meus pensamentos
que vejo os primeiros sinais do amanhecer. Melhor voltar para o quarto.
Levanto-me e caminho pela casa até chegar ao meu quarto, jogo-me na cama
e adormeço sem demora.

***

— Boa tarde, Arthur — sou cumprimentado por Steban.


Ando desanimado e me sento à mesa com Rodrigo e Steban, que não
estão com a cara melhor do que a minha. Pelo sol brilhante e feliz, com
certeza já passou do meio-dia.
— Que cara é essa? — meu irmão pergunta.
— Cara de quem não dormiu direito. Sono inquieto, sonhos estranhos
— aponto para ambos. — Só que vocês não estão melhores do que eu.
— Pela sua cara, não parece que foram sonhos, mas sim pesadelos —
comenta Rodrigo e faço uma careta.
— Pior.
— O que pode ser pior? — meu irmão insiste.
— Casamento, relacionamento.
— Se tratando de você, isso é bem pior mesmo, pode até ser indício
de doença — Steban fala, rindo.
Mostro o dedo do meio como o garoto de quinta série que sou.
— Desde quando o delegado virou piadista? — provoco Steban, mas
nossa conversa é interrompida.
— Boa tarde, meu povo! Cruz credo, que caras são essas? — Beatriz
pergunta.
Rodrigo se levanta e vai até ela, abraçando-a antes de beijar a Duda
no rosto.
— Boa tarde, senhoritas. Melhorou o mau humor, Maria Eduarda?
Ela é linda quando sorri. Tenho grandes planos para Duda, neste final
de semana.
— Quem? Eu? Não estava de mau humor.
— Um conselho, senhores. Não cheguem perto dela quando estiver
chateada. Fiquei feliz que aquele jornal não era uma faca. Ela o manipulou
com a intenção de me fazer engolir. — Começamos a rir e as meninas vêm
nos cumprimentar.
Não era para Manuela estar com elas? Será que aconteceu alguma
coisa?
Bia se senta ao meu lado e Duda ao lado de Steban.
— Vocês não iam vir com a Manu? — pergunto.
Uma olha para outra antes de alguém responder. Isso não é um bom
presságio. Duda responde:
— Ela tem reuniões marcadas para hoje. Provavelmente chegará no
final da tarde — essas mulheres não sabem disfarçar o desconforto.
Manuela não veio por causa da maldita matéria que saiu no jornal.
Não precisa ser um gênio para adivinhar que ela está se distanciando. Pelo
nível que ambos estão envolvidos, é um milagre que ela não tenha feito o
Rodrigo engolir a pulseira que ela ostenta no pulso. Meu irmão precisa dar
um basta na loucura da nossa mãe, ou ele perderá a Manuela por causa dessa
obsessão que a senhorinha tem em nos casar.
Todos nos cobram sobre a situação, mas isso não nos incomodava até
pouco tempo. Estávamos absortos na empresa, que não é uma construtora
local. Nos últimos anos, nós nos afundamos em trabalho para transformar a
construtora em um conglomerado da construção civil. Estamos perto de abrir
o capital da empresa e poderemos vender as nossas primeiras ações na bolsa
de Nova York em dois anos. Então, como não tínhamos vida pessoal, não
ligávamos para o que a nossa mãe fazia ou deixava de fazer, mas agora...
agora isso pode ser uma bomba que está prestes a estourar em nosso rosto.
Logo após o nosso café, eu as levo pela casa para mostrar os quartos
disponíveis. A casa tem cinco suítes, espaço de sobra, mas não faz sentido
ocupar tudo, não é? Até porque a Manuela ficará com o Rodrigo, Beatriz com
o Steban e a Maria Eduarda comigo. Fazemos um tour pela casa da chácara,
mostrando cada cantinho, que possui uma história digna de ser contada.
Quando voltamos para o corredor dos quartos, encontramos Steban e Rodrigo
com as bagagens delas, querendo saber aonde colocarão.
— Acho melhor dividirmos essa suíte, Duda — Bia fala, apontando
para o quarto que fica ao lado do Rodrigo.
Não mesmo.
— Está ótimo. Aliás, toda a casa é incrível e os quartos parecem ser
de revistas. Vocês fizeram um belo trabalho.
— Obrigado — meu irmão responde.
Ainda estou tentando absorver o porquê elas dividirão o mesmo
quarto, sendo que ficarão conosco.
— Vocês dividirão o quarto? — isso sai de mim por impulso e Bia
sorri.
— Há cinco quartos, querido. Vocês ocuparam três, Manuela ocupará
um, então nós duas teremos que dormir juntas.
— Manuela ficará comigo — meu irmão fala mais rápido do que
deveria.
— Eu não confiaria nisso — Beatriz diz com deboche. — Você
confia, Duda?
Maria Eduarda balança a cabeça.
Alguma coisa se passa entre elas, não sei se o Rodrigo enxerga, mas
elas não estão brincando. Neste momento, Bia está debochando e tenho a
confirmação de que a Manuela deve estar contrariada. Espero que ela venha,
gosto de sua companhia e quero que a Manu descanse. Sou protetor com
essas mulheres, elas são nossas amigas, é nosso dever cuidar e ser presentes.
As coisas delas são colocados no lugar escolhido e cada um vai para o
seu lado. Eu, por minha vez, vou até o meu quarto, visto a minha sunga e vou
para a piscina. Rodrigo sai com Seu João, a fim de dar uma olhada na
propriedade. Assim que me estabeleço em uma das cadeiras sob o sombreiro,
Duda e Beatriz desfilam em direção à piscina, em seus pequenos biquínis.
Senhor, eu juro que tento ser um homem direito, reto, com
pensamentos puros, mas mandar a Maria Eduarda para a piscina com esse
biquininho azul é para desvirtuar qualquer sacerdote.
Ela e Bia se deitam nas espreguiçadeiras para se bronzearem.
Embebedo-me com a visão da mulher a minha frente, com sua
minúscula roupa de banho. A parte superior é dois pedaços de pano que não
cobrem o suficiente de seus seios. Estou a um passo de trazê-la para o meu
colo e lamber as partes que não estão cobertas. A calcinha chega a ser uma
afronta à moral e bons costumes. Na frente cobre sua boceta suculenta e atrás
está enterrada naquela bunda perfeita.
Vontade de curvá-la sobre essa mesa, colocar o biquíni de lado e
enterrar minha língua naquela bunda.
Meu pau está completamente duro. Merda! Terei que pular na piscina
para não dar um show à plateia. Levanto-me e fico de costas para elas, então
levo um susto quando vejo o Steban, que em algum momento se estabeleceu
ao meu lado, babando, provavelmente em Bia, que está com um biquíni rosa-
pink.
Outro pobre coitado, vítima das mulheres. Tão impressionado e
extasiado quanto eu. Bia é uma loira espetacular, sem comentários, porque
elogiar demais levaria à cobiça, e cobiçar a mulher do próximo não é legal. A
não ser que o próximo não seja tão próximo, mas Steban é meu “parça”, meu
irmão, enquanto Bia é minha irmã caçula por consideração.
Pulo na piscina e logo vejo que o Steban faz o mesmo. A água fria
não faz muita coisa para me ajudar. A coisa certa a fazer seria parar de olhar
para Maria Eduarda, mas é mais forte do que eu. Steban e eu nadamos e
depois nos colocamos no canto da piscina, longe dos ouvidos das mulheres,
que estão deitadas na nossa frente.
— Você está praticamente babando em cima da Maria Eduarda.
— Ha-ha, idiota. É porque não vi você quase cair dentro do biquíni da
Bia.
— Porra! Quem deixou elas usarem aquilo? — falo exasperado.
— Você não é Dono da Duda? Ordene que ela o troque — volto meu
olhar para ele e vejo que o imbecil está sorrindo. O cara, meu amigo, está
tirando uma com a minha cara. — Sentir atração é normal nas relações que
temos, mas tenho a impressão de que entre vocês há mais.
— Não há. Não vou mentir, eu a desejo demais. Foi por isso que
propus o acordo a ela, mas é somente isso. Atração.
— Muito bom. Eu a vi com o Heitor Andrade na noite de quinta-feira.
Eles pareciam bem entrosados, riam e bebiam como velhos amigos. Para uma
nova sub, Duda é muito madura, está levando sua vida secular paralelamente
sem qualquer problema.
Puta que pariu! Será que ninguém me ouve? Eu não disse a ela para
ficar longe dele? O que, caralho, Maria Eduarda estava fazendo com Heitor
quando me mostrei claramente descontente?
— Não acredito que ela saiu com aquele filho da puta — ambos
voltamos a olhá-las. — Heitor é advogado do Bruno Fischer, estiveram na
empresa na quinta e deram em cima dela e de Manuela. Ao que parece, ela
está levando isso muito bem.
— Ao que parece, ela está levando isso melhor do que você.
Parece que sim.
Capítulo 27

Arthur
Nós as assistimos se jogarem na piscina, rindo. Elas mergulham,
nadam e param perto de nós. Bia insiste para que cronometrem o quanto ela
consegue ficar debaixo da água e aproveito a deixa para puxar a Duda de
lado. Levo-a até o outro lado da piscina e a pressiono contra a parede.
— Por que você está me ignorando? — pergunto.
— Não estou ignorando, Arthur. Estou aqui falando com você, não
estou?
Passo um dedo pelo contorno de seu biquíni.
— Tenho grandes planos para nós neste final de semana, só preciso
saber se você topa.
Seus olhos estão trancados nos meus.
— Eu topo, mas eu quero dormir com a Bia.
Acaricio seu pescoço e, ao chegar a nuca, seguro-a firmemente,
ficando a um sopro de seus lábios.
— Por que não quer ficar comigo, Maria Eduarda? Por que não quer
ficar com o seu Dono?
Pressiono ainda mais o meu corpo no dela, fazendo com que sinta a
minha ereção.
— Você não é meu Dono, Arthur. E ambos sabemos que é o melhor.
Passo meu nariz pelo seu pescoço e sinto-a estremecer.
— Soube que você se encontrou com o Heitor.
Maria Eduarda coloca suas mãos em meu peito e acaricia, antes de me
empurrar.
— Pergunto a você sobre a Érica? Fico tomando nota de cada passo
que você dá?
— Não — sua audácia me irrita e me excita ao mesmo tempo.
— Então, vamos jogar limpo e com paridade. Ok? Sem perguntas
sobre com quem eu saio e me mantenho longe da sua vida. Quero ser sua
submissa, quero viver isso, Arthur. Só que você fez questão de deixar claro
que não nos envolveremos e eu quero mais. Isso que há entre nós não durará
para sempre.
Não gosto do que Maria falou, só que ela tem toda razão. Fui muito
claro ao afirmar que nossa a relação não passaria de sessões, que eu não sou
seu Dono. No entanto, isso não significa que me sinto bem com ela tendo
encontros, saindo com outros homens. Teremos que conversar sério sobre as
relações sexuais que ela terá com outros. Não me agrada, mas temos que
levar o cuidado com a nossa saúde a sério.
— Você está certa. Ainda assim, não é fácil guardar a minha
possessividade no bolso — mordo seu queixo de leve. — Você ainda será
minha, toda minha.
Bia e Steban se juntam a nós, então me distancio da mulher em meus
braços para dar atenção aos outros. Falamos sobre o quão lindo é o lugar e o
quanto está bem cuidado. Assim que o sol já não está mais sobre a piscina,
sentimos frio e resolvemos sair. No banho, ainda de pau duro, toco-me
pensando em Duda, naquele pequeno biquíni. Gozo ao imaginar sua boca em
meu pau. Sei o quanto ela é talentosa e dedicada a dar prazer quando quer. E
eu a quero assim, sendo uma boa menina má.
Mais tarde, depois do banho e de uma luta de cinco contra um
debaixo do chuveiro. Deito-me no sofá da sala, perto de Bia e Steban, por
último aparece Maria Eduarda. Aproveito para perguntar o que vem atiçando
a minha curiosidade:
— Vamos aproveitar que o Rodrigo não está por aqui, compartilhem
o porquê a Manuela não apareceu ainda.
Bia responde sem tirar os olhos da televisão, jogando videogame. Ela
é viciada.
— Ainda pergunta? A Manu não falou com todas as palavras, mas
para bom um entendedor, meia palavra basta. Ela está se recuperando do
choque do jantar. Eu conheço vocês dois e seus pais há anos, sei que aquilo é
a cara da Rosita. Mas a Duda e, principalmente, a Manuela não sabem. Logo
ela se recuperará e aparecerá aqui para servir seu irmão. Convenhamos que
aquela lá está caída de amores pelo Senhor Fodão. Porra, morri! Que merda,
Steban, joga como homem.
— Cuidado com as suas palavras, Ana Beatriz — meu amigo a
adverte.
Mas Bia, sendo Bia, mostra a língua e volta a sua concentração ao
jogo. Sobre a Manuela todos nós sabemos. Agora, será que o meu irmão
enxergou isso? Às vezes temos dificuldades para enxergar o óbvio.
No final da tarde, o celular de Duda toca e ela pede licença antes de
sair. Pergunto-me se é o Heitor, querendo convidá-la para um encontro.
Contudo, para o seu desgosto, ela está comigo. Duda volta em seguida e
cochicha alguma com Beatriz, que faz uma careta.
Depois de uma tarde divertida, nós nos reunimos para jantar na
grande mesa, que fica na cozinha gourmet que Rodrigo recentemente
adicionou à casa. Por falar nele, sua expressão de “poucos amigos” impede
que o provoquemos. Ele se senta na cabeceira da mesa como um lorde em seu
castelo e pergunta:
— Nada da Manuela ainda?
Duda responde:
— Manu ligou mais cedo, disse que tentou falar com você e não
conseguiu, por isso me ligou. As reuniões tomaram mais tempo do que
deveriam e, como ela está com muita dor de cabeça, virá amanhã.
Isso deve ter mexido com ela mais do que deveria. Se apaixonar por
qualquer Alcântara e Castro pode ser nocivo. Ele sai, voltando em seguida
com o celular no ouvido.
— Ligarei para ela e perguntarei se quer que eu a busque — todos nós
nos olhamos. Sabemos que o motivo não é a dor de cabeça. Bem, do jeito que
o cara é possessivo, deve estar surtando sob a fachada controlada.
— Ela sofre com muitas dores de cabeça, alguém sabe a causa? —
Steban pergunta.
— Pressão alta é uma das causas, mas o que mais pesa é o estresse.
Ela não para, se parar é capaz de morrer com depressão — Duda explica.
Bia continua:
— Manuela sempre foi exigente consigo mesma. Tudo tem que ser
perfeito, menos do que isso, para ela, não serve. Toma a frente de tudo, isso
quando não faz tudo. Faz mil coisas ao mesmo tempo e esquece de comer,
não dorme direito. Tudo isso, durante muito tempo, reflete na saúde. É o que
vem acontecendo com ela.
— Não é à toa que ela é boa no que faz — digo.
Bia levanta o dedo indicador.
— Jamais diga “boa no que faz” para ela, cara. Você ficará sem
pescoço. Ela é a melhor.
— Mas ela é nova demais para passar por isso. Quantos anos ela tem?
Vinte e seis, vinte e sete anos? — Steban volta a perguntar.
— Trinta e um — Rodrigo responde.
Steban continua:
— Com aquela carinha?
Sorrio.
— Com aquela carinha e aquele corpinho — pisco para o meu irmão,
que faz uma careta. — Calma, homem. Só estou elogiando a Manu. Esse é o
olhar de morte que você tem que dar ao Bruno Fischer e ao Heitor Andrade,
que estavam de olho nela. — Rodrigo simplesmente balança a cabeça, mas
todos nós o conhecemos, ele matará os caras na hora em que encontrá-los. De
quebra, fará um favor para mim.
Bia dá uma risadinha e solta:
— O advogado não está interessado na Manu. A intenção dele é com
a outra — tento manter a animação, mas não sei se consigo.
Sei que a Duda é livre para sair com ele, mas é difícil de aceitar que
não sou o único em sua vida.
Sou o primeiro a terminar o jantar e me retirar ao quarto. Viemos para
descansar e, como a noite passada foi agitada, resolvi adiantar o sono. Pego
meu celular, meus fones, tiro a roupa e me deito. Aciono a playlist, tentando
me distrair com as músicas e batidas em meus ouvidos, leio meus e-mails e
respondo mensagens, mas a mulher que está no quarto ao lado me tira a paz
em cada brecha de tempo.
Ela não quer estar comigo e não insistirei para que fique, respeitarei
sua vontade... por hoje. Desisto de ficar na cama, levanto-me, visto uma
bermuda e vou até a rede que fica na varanda.
A casa está em silêncio e longe do ar-condicionado a temperatura está
alta. Um mergulho em uma noite quente é bom demais. Tiro a minha
bermuda e mergulho na piscina. Nado de um lado para outro até me cansar,
então saio e mesmo de costas sei que não estou sozinho. Viro-me para o lado
e dou de cara com a Maria Eduarda, que me olha de cima a baixo com os
olhos cheios de admiração e desejo.
— Gosta do que vê, Maria?
Seu olhar encontra o meu e vejo-a corar, absolutamente linda. Ela vira
o rosto e tenta disfarçar.
— Não acho que se jogar na piscina, de cueca branca, seja uma boa
ideia.
— Preferia que eu fizesse isso nu? Posso tirar a cueca sem nenhum
problema.
Ela ri.
— Não precisa, pode-se ver tudo mesmo usando a cueca.
Maria se afasta e eu a seguro.
— Aonde você vai? — pergunto.
— Para o meu quarto.
— Fique comigo mais um pouco, enquanto me seco com o calor, já
que não trouxe a toalha.
— Tudo bem.
Calço meu chinelo e a levo até o jardim, onde há pouca iluminação,
mesmo assim é bonito e há um banco para nos sentarmos. Duda olha para a
lua enquanto eu a olho, admirando-a. Sem olhar para mim, ela diz:
— Achei que você traria a sua namorada.
— Não tenho namorada, mas tenho uma menina linda que me dá o
prazer de dividir seu corpo comigo, para o nosso prazer.
Duda volta a olhar para mim.
— Você acabará se casando com a Érica, por que continua adiando
assumir o compromisso? Olha o que está acontecendo com Rodrigo e
Manuela, minha amiga está se machucando porque gosta dele, mas ele não a
deixa ir por algum motivo.
— Duda, eu não tenho compromisso com ninguém. O Rodrigo gosta
da Manu e de ninguém mais. Ele não a deixará ir embora nunca — eu
explico.
— Tento entender o motivo de vocês serem assim, mas não consigo a
chegar à conclusão alguma. Mas enfim, não tenho nada a ver com isso.
Seguro sua mão e beijo a sua palma.
— Não perca tempo pensando nisso, pense somente no que eu te dei e
posso lhe dar ainda mais — peço e a sinto estremecer.
Ela se levanta e eu a seguro, puxando-a para o meu colo. Acaricio seu
rosto, puxo um de seus cachos para cheirar e coloco atrás de sua orelha.
Desço minha mão até sua nuca e a seguro firmemente. Beijo a base de seu
pescoço e ela deita sua cabeça, dando-me mais acesso. Deslizo minha língua
pelo seu pescoço e lhe dou beijos molhados. Maria Eduarda geme e segura o
meu cabelo, puxando-os até que nossas bocas fiquem coladas uma na outra. É
a minha vez de estremecer.
Passo as mãos pelas suas lindas coxas torneadas e bronzeadas, aperto
sua bunda, fazendo sua boceta roçar em meu pau duro. Não lembro de ter
tanta ereção assim desde a minha adolescência. Na presença ou na lembrança,
essa mulher me excita apenas por estar por perto. Maria Eduarda começa a
rebolar em meu colo enquanto me beija ferozmente. Língua dançando com
língua, um encontro obsceno de bocas.
— Você é um cafajeste, um cafajeste que beija muito, muito bem —
ela fala em meus lábios.
Levanto-me com Duda em meu colo e a levo até a varanda, coloco-a
no chão e tiro a rede do gancho. Com agilidade, puxo a cordinha do seu
shortinho, que cai e me deixa maravilhado com a visão de uma calcinha
branca. Peço para que ela me dê seus pulsos, então os amarro e prendo-os no
gancho.
Quem diria que os nós que aprendi nos escoteiros me ajudariam
algum dia?
Ela está com uma blusinha branca de alças e seus mamilos duros
estão apontando para mim. É uma bela visão, uma mulher linda e corada com
uma blusinha transparente, com uma pequena calcinha, braços erguidos e
pulsos atados ao gancho da rede.
— Você é a visão do paraíso, menina linda.
Viro as costas enquanto vou em direção à cadeira.
— Você não pode me deixar aqui assim, Arthur.
Abro um sorriso largo, sento-me e fico contemplando-a. Maria
Eduarda é uma das mulheres mais lindas que já vi na vida, ela é perfeita em
tudo.
— Vamos melhorar esta visão.
Caminho de volta para ela.
— O que você vai fazer? — Duda pergunta, ofegante.
Abaixo a blusa até que seus seios pulem para fora. O decote fica bem
embaixo dos seios, empinando-os ainda mais.
— Muito melhor.
— Me tire daqui, Arthur, ou gritarei — ela me ameaça.
Aproximo-me dela, passo as minhas mãos pelo seu corpo, volto aos
seios e aperto-os, belisco seus mamilos e eles respondem, ficando ainda mais
duros.
— Eu queria muito jogar com você, chupá-la, mordê-la e arrancar
orgasmos de seu corpo — ela fecha os olhos e sei que está em guerra consigo
mesma. — Mas, caso não queira, eu a desatarei e deixarei ir.
— Por favor, não... — suas palavras não são firmes, soam mais como
um lamento.
— Olhe para mim, Maria Eduarda — ordeno e ela abre seus olhos
obedientemente. — Diga-me que não quer e eu paro agora, desamarro-a e
cada um vai para o seu quarto.
Passo a mão por cima da sua calcinha, que está molhada, enquanto ela
me olha. Ela me quer, mas luta contra isso, posso ver em seus olhos.
— Não... — Duda está ofegante.
— Não o quê, menina linda? — pressiono um dedo sobre o seu
clitóris e ela respira fundo, desviando o olhar.
— Eu não o quero.
E assim, todo o tesão e satisfação que sinto são levados pelo gelo, que
começa a correr em minhas veias. Duda está no direito de falar “não”, é nisso
que uma relação BDSM é baseada, na confiança de poder dizer “não” para o
Dominador, que não é seu Dono, quando quiser.
— Eu não quero, Arthur.
Eu poderia mantê-la atada e questioná-la, poderia fazê-la mudar de
ideia, mas não vale a pena. Sei que ela me quer, quer o nosso jogo, mas não
insistirei. Duda escolheu e assim será. Dormirá excitada e sozinha, apenas
com seus dedos para aliviar o desejo que alimenta agora. Mas sabemos que
dedos jamais substituirá um pau.
— Ok.
Desamarro-a, coloco sua blusa no lugar e devolvo o short. Não nos
olhamos, não nos tocamos e nem falamos. O Polo Norte acabou de atracar
aqui, frio é quente demais para descrever o clima que ficou. Assim que vejo
que ela está bem e vestida, viro-me e vou em direção à piscina.
Maria Eduarda me chama antes que eu chegue, fazendo-me parar.
— Podemos ser só amigos neste final de semana? — ela pergunta.
De costas, respondo:
— Sempre fomos e nada vai mudar.
— Obrigada, Arthur.
— Sempre à disposição, Duda.
Capítulo 28

Arthur
Frustração me descreve neste momento.
Sou experiente o suficiente para saber que ela estava tão excitada
quanto eu. Duda sempre respondeu a mim com entusiasmo e um tesão louco.
Mas, como dizem: a vida é uma caixinha de surpresas. Maria Eduarda quer
mostrar que tem controle, mesmo seu corpo respondendo a mim como um
instrumento bem-tocado. Eu a respeito por isso, mas não deixo de ficar
frustrado. O que me resta para esta noite é dar mais um mergulho, a fim de
acalmar a excitação antes de ir para a cama.
É o que temos para esta noite.
Ainda molhado do mergulho, entro em meu quarto e não me dou ao
trabalho de acender a luz. Vou em direção ao banheiro, mas, antes que eu
chegue ao meu destino, sinto que não estou sozinho. Volto para acender a luz
e encontro Maria Eduarda em minha cama, vestida apenas com a calcinha
branca.
Ela sorri ao ver que fiquei surpreso com a sua presença. Então,
aproveita o momento e fica de joelhos no meio da cama, coloca a mão sobre
as coxas, gesto de uma submissa que está à disposição de seu Dominador.
Eu a estudo com atenção, querendo descobrir o motivo de ela estar
aqui, sendo que me rejeitou mais cedo. Duda mantém seu lindo sorriso, seus
seios imponentes que chegam a dar água na boca, está de joelhos, seus olhos
não deixam os meus. Sorrio para ela e vou até o banheiro, tomar um banho.
Quero ver se ela ficará lá, esperando-me.
Levo mais tempo do que o necessário no banho e não me dou ao
trabalho de procurar uma roupa quando saio. Volto ao quarto com a tolha
presa na cintura e noto que a mulher continua na mesma posição, com o
mesmo olhar.
Caminho até ela, acaricio o seu lindo rosto e passo o polegar pelos
seus lábios, o movimento a incita a abrir sua boca. Sem hesitação, Maria
Eduarda passa a língua pelo meu dedo e o chupa. Não contenho o gemido.
Passo o dedo úmido pelo seu mamilo, fazendo-o endurecer ainda mais.
Quando estou satisfeito com um, coloco o dedo em sua boca para umedecê-lo
novamente, a fim de dar atenção ao outro mamilo. A mulher geme e me
contenho para não pular sobre ela, rasgar sua bonita calcinha de boa garota,
fodê-la como se nossas vidas dependessem disso.
— O que você quer, Maria Eduarda? — pergunto em voz baixa.
— Quero jogar, senhor.
Um arrepio de excitação percorre meu corpo.
— Tem certeza? Porque não quero que faça nada que não seja
exclusivamente da sua vontade.
Ela sorri.
— Eu quero. Eu o quero.
— O que você está disposta a fazer, menina linda? Até onde posso ir
com o seu corpo?
— Eu sou toda sua, use-me.
A confiança da mulher a minha frente é tão pura que aquece o meu
coração.
— Tire sua calcinha, sente-se de frente para mim com as pernas
abertas. Com uma mão você abrirá a sua boceta e com a outra se tocará.
Enquanto ela se arruma, escoro-me no armário que fica de frente para
a cama, tiro a toalha e começo a me tocar. Meu pau que está semiduro,
começa a endurecer totalmente ao ver a bela mulher com as pernas abertas.
Ela está com os olhos fechados, boca ligeiramente aberta, seus dedos
dedilhando sua boceta molhada, vejo daqui que seus dedos estão ficando
molhados por causa de sua excitação. Duda abre os olhos que brilham de
luxúria e fecham nos meus.
— Assim, meu senhor?
Porra! Essa mulher será a minha morte.
— Continue assim — vou até a minha bolsa e tiro o presente que
trouxe a ela, juntamente com uma garrafa com lubrificante. Aproximo-me
dela, coloco a caixa na sua frente enquanto Duda continua a se tocar, abro seu
presente. — Não pare de se tocar, querida. — De dentro, retiro um plug anal
dourado com cauda, na cor branca. — Sabe o que é isso, gatinha? — ela
assente. — Um plug para preparar a sua linda bunda para o meu pau. Você
ficará tão linda com ele, como uma gatinha no cio quando meu pau estiver
enterrado em sua buceta, você rebolando, balançando a cauda.
Alcanço seus dedos que trabalham incansavelmente e os levo à boca,
chupando cada um deles. Coloco a sua mão de lado e passo dois dedos pela
sua abertura molhada. Ela geme. Enfio dois dedos e esfrego seu clitóris com
o polegar, lentamente.
— V-vou gozar...
Retiro os meus dedos dela e, desta vez, coloco meus dedos úmidos em
sua boca.
— Prove-se, menina linda. Sinta como é doce — passo meu polegar
pelo seu lábio inferior. — Quer ser minha pet de estimação esta noite, Maria
Eduarda?
— Sim. Quero sim.
Levanto-me e vou até a minha bolsa novamente, desta vez pego a
coleira branca com argolas douradas e a correia é uma corrente fina, muito
resistente, também dourada. Impressionante o que as grifes produzem hoje,
ninguém jamais diria que uma famosa Maison francesa faria peças
interessantes aos seus clientes fetichistas. Pego meu celular e aciono minha
playlist para o momento. Volto para Maria Eduarda, que olha com
expectativa para a peça em minhas mãos.
(...) Eu sei que ela será a causa da minha morte. Pelo menos nós dois
ficaremos anestesiados e ela sempre terá o melhor de mim. O pior ainda está
por vir, mas ao menos nós dois seremos belos e ficaremos jovens para
sempre. Isso eu sei, sim, isso eu sei. Ela me disse “Não se preocupe com
isso”. Ela diz: “Não se preocupe mais”. Nós dois sabemos que não podemos
seguir sem isso, mas ela me disse: “Você nunca estará sozinho” (...)[17]
A música não está muito alta, mas será o bastante para disfarçar os
gemidos de Maria Eduarda.
— Fique de quatro, com os peitos na cama e bunda empinada —
ordeno e ela obedece. A visão que tenho é do paraíso. Sem perda de tempo,
traço a sua boceta com a língua até chegar em seu rabo. Sua entrada é tão
apertada que, quando meu pau entrar, terei que me segurar para não gozar
trinta segundos depois. Penetro um dedo em sua boceta e outro em sua bunda.
Duda geme alto. — Silêncio, menina. Mesmo com a música, eles podem nos
ouvir. Você quer que eles te ouçam?
Ela vira seu rosto para mim e sorri.
— E se eu falar que “sim”?
Dou um tapa em sua bunda, ainda a penetrando.
— Você é uma garota suja, Maria. Mas, se esse é seu desejo, será um
prazer realizá-lo. Sente-se em meu colo com as pernas abertas.
Sento-me na beirada da cama e ela vem por cima. Abro as minhas
pernas para que as pernas dela também abram. Seguro-a pelo quadril e a outra
mão enrolo seus cabelos, trazendo sua boca para a minha. O beijo é
selvagem, assim como o nosso tesão. Aperto a sua bunda e sua boceta se
esfrega sobre o meu pau, ambos gememos. Alcanço a garrafa de lubrificante
e despejo uma dose considerável sobre a minha mão. Duda aumenta a
velocidade do rebolado em meu colo, ela está prestes a gozar, só que ainda
não é o melhor momento.
— Deixe-me gozar, senhor.
— Ainda não, menina. — Seguro-a com força para pararmos os
movimentos, apenas o suficiente para o orgasmo dela recuar. Enquanto isso,
a beijo docemente, como se estivesse fazendo amor com a sua boca. Volto a
incitá-la a rebolar sobre o meu pau, esfrego seu clitóris e logo seus gemidos
começam a ficar cada vez mais altos. Com os dedos lubrificados, sondo a
entrada da sua linda bunda. Assim que tento enfiar o primeiro dedo, ela se
contrai. Eu a beijo novamente e acaricio as suas costas. — Relaxe e abra-se
para mim.
Enquanto eu a beijo, ela vai relaxando e meu dedo bem lubrificado
desliza dentro de seu buraco apertado. Seus movimentos e gemidos
aumentam conforme meu dedo entra e sai de seu corpo. Em seguida, enfio
mais um dedo, ela se contrai, mas não para de se esfregar em mim.
— É uma sensação estranha, mas muito prazerosa — ela abre os olhos
e me encara. — Parece ser uma coisa proibida e suja.
Sorrio.
— O melhor sexo é o sujo e proibido, querida. — Dou um tapa em
sua bunda. — Fique de quatro na cama, vou colocar o plug nesta bunda linda.
Alcanço o frasco com lubrificante e unto a peça em minha mão.
Depois, passo mais lubrificante em sua entrada para aliviar a queimação da
intrusão. Quando fico satisfeito, beijo a base de sua coluna e começo a
estimular seu clitóris, não demora muito para que volte a gemer.
Escolhi o plug médio e colocarei um maior para prepará-la em breve,
não quero que o sexo anal seja tortuoso para ela, quero dar a melhor
experiência possível. Lentamente, começo a penetrar sua entrada com o plug,
movimentando dentro e fora enquanto continuo a estimular seu fecho de
nervos sensíveis.
— Preciso go-gozar, por favor... — ela implora.
— Aguente mais um pouco, querida. Estamos quase lá — assim que o
dispositivo está dentro, confiro se está bem encaixado. — Como se sente,
Duda?
— Bem. É normal ficar excitada com isso onde está?
Ajudo Duda a se levantar.
— Quando você está bem estimulada sexualmente, é normal, sim —
respondo. — Vire de costas para que eu veja como você ficou. — Fico
deslumbrado com a cauda saindo do meio de sua bunda.
A pele de Maria Eduarda é imaculada, cremosa e cheirosa. Este plug
com cauda branca só realça a perfeita sensualidade da mulher. Junto seu lindo
cabelo e peço para que ela o segure enquanto coloco a coleira com cuidado,
completando o figurino. Afasto-me e me sento na cama a fim de apreciar a
vista, deslumbrado com toda a cena. A mulher sabe que mexe comigo e
aproveita o momento para me provocar, colocando-se de quatro e me
encarando em seguida.
— Mi-au — provocadora.
Adoro a menina que está na minha frente, mas adoro ainda mais a
Maria Eduarda a minha frente. Nenhuma outra já me deu tanta satisfação
assim.
— Venha aqui, gatinha. — Ela vem. — Deixe-me acariciá-la.
Linda, manhosa, engatinhando lentamente, sexy pra caramba e o mais
importante; toda minha. Quando se próxima de mim, passa a língua pelos
lábios, umedecendo-os. Ajoelhada na minha frente, ela fala:
— Algo dentro de mim diz que eu não deveria me sentir tão bem
desempenhando este papel — Maria Eduarda desabafa, surpreendendo-me.
— Só que me sinto tão sexy, excitada.
Coloco a guia dourada na argola de sua coleira e a puxo para mim,
minha boca acariciando a dela.
— Errado seria se não fosse consentido, se você se sentisse
menosprezada, isso seria errado. Mas você é uma deusa que, mesmo com
uma coleira em seu pescoço, hipnotiza os piores tipos de homens. Como eu.
Eu a beijo vorazmente, invadindo sua boca com a minha língua,
dominando-a, exigindo tudo dela. Excita-me que a mulher a minha frente não
tenha medo de seus desejos, ela é determinada. Fico a um fio de me tornar
escravo de seus prazeres, assim como já me tornei escravo de seus gemidos.
— Até aqui você foi delicado, agora quero o vilão — Duda pede.
— Você não sabe o que está dizendo, menina linda — sua mão enrola
em torno do meu pau e começa a me masturbar. Pelo seu olhar, sei que quer
me desafiar, quer que as coisas fiquem mais duras. Se é o que ela quer, terá.
Afasto sua mão e ela resmunga. Enrolo a correia dourada em minha mão até
ficar perto de seu rosto. — Você quer lamber meu pau, como uma boa
cadelinha que é?
Ela sorri.
— S-sim.
— Abra a boca — coloco a cabeça do meu pau entre seus lábios. —
Chupe a cabeça, passe a língua pelo meu buraco. Leve todo o meu pau,
putinha, lambuze-o para que eu foda essa sua boceta apertada.
Seguro seus cabelos e dito o ritmo que Duda me chupa. Sua língua faz
um excelente trabalho e fico cada vez mais excitado quando ela se sufoca
com meu pau. Quando eu o retiro de sua boca, ele está pingando com a sua
saliva. Beijo sua boca molhada e saliva escorre pelo queixo. Enfio novamente
meu pau em sua boca e a fodo, sufocando-a, fazendo com que lágrimas
corram de seus olhos.
Afasto-me dela o suficiente para que se coloque na posição que quero.
— Levante-se — ainda sentado na beira da cama, brinco com seus
seios, chupando cada mamilo, até que fiquem vermelhos e duros. Mordo a
parte carnuda de seus peitos e depois passo a minha língua para acalmar as
marcas. Delicio-me em seu corpo. — Suba na cama e fique de quatro.
Eu a ajudo a ficar na posição que quero, na beira da cama com a
bunda empinada, deixando exposta a sua boceta encharcada e seu rabo
preenchido com o plug. Abro os lábios de sua boceta e enfio a língua,
fazendo com que seu gosto se espalhe pela minha boca. Penetro-a com a
minha língua, fodendo sua entrada enquanto ela se esfrega em meu rosto. Eu
amo isso. Amo o quanto está entregue, o quanto ela quer isso. Enquanto a
fodo com a língua, movimento o plug em sua bunda. Duda geme alto e não
há possibilidade de alguém não ter ouvido.
— Nã-não pare... p-por favor, não pare — implora.
Sinto suas paredes se contraírem. Seu corpo está sobrecarregado
porque venho trabalhando seu orgasmo há algum tempo. Sem demorar muito,
a tortura que seria de prazer, se tornará um desconforto.
Abro sua boceta e encaixo meu pau entre seus lábios, movimento para
que a glande estimule seu clitóris. Ambos estamos molhados, tornando o
deslizar mais prazeroso. Duda geme alto, não se importando de ser ouvida ou
não, traz seu corpo de encontro ao meu, tirando parte do prazer que tanto
quer. Seguro seu quadril para que paremos o movimento e a mulher faz o que
todo Dominador deseja.
— Puta que pariu! Não pare, bastardo do caralho — ela baixa o tom
de voz. — Eu o odeio... odeio. Estava quase....
Sua bravata foi interrompida com um tapa em sua bunda. Seguro seu
cabelo e a puxo até que seu rosto esteja virado o suficiente para me olhar.
— Aqui, menina, sou eu quem manda. Se é para xingar, eu xingarei,
não você — sorrio e ela percebe onde estamos indo. — Estava me
perguntando quando chegaria o dia em que eu a puniria. Para a minha
satisfação, esse dia é hoje.
Não há medo em seus olhos, há desafio e determinação.
— Sim, senhor — Duda diz, mas tenho certeza de que ela queria me
dizer: faça o seu melhor.
Vou até a minha mala e vasculho até achar um dos dispositivos que
mais gosto, o vibrador de clitóris. Ele é pequeno, intenso e perfeito para uma
punição prazerosa. Volto até ela e encaixo o dispositivo em meu dedo. Gosto
de ver a expectativa em seus olhos, a espera pelo desconhecido.
Penetro-a com dois dedos e, quando ela está perdida em prazer,
aproximo o vibrador de seu clitóris sensível. Como Duda está hiper
estimulada, não demora para eu sentir suas paredes vaginais se contraírem
em meus dedos. Afasto o pequeno dispositivo e tiro meus dedos.
Ela grita de frustração e ganha mais um tapa na bunda.
— E você achando que sua punição seriam tapas — provoco-a. —
Vai aprender a não ser uma menina impertinente.
— Eu quero... não! Preciso gozar. Por favor — ela lamenta.
— Não sei se quero que você goze. Afinal, me chamou de bastardo do
caralho e disse que me odeia. Isso não te faz merecedora de orgasmos, não
acha?
Coloco o vibrador em seu clitóris novamente e, quando a vejo
tensionar, o retiro.
— P-por favor....
— Por favor o quê, Maria Eduarda?
— Deixe-me gozar.
Volto a penetrá-la com dois dedos lentamente.
— Seja uma boa menina e te deixarei gozar.
Ela geme.
— Si-sim, serei uma boa menina.
Sorrio.
— Vai me xingar novamente? — pergunto.
— Não, s-senhor....
— Boa menina.
Substituo os dedos pelo meu pau e fodo com força. Enquanto a
cavalgo, retiro o plug de seu rabo apertado e ela goza descontroladamente.
Coloco o pequeno vibrador em seu clitóris e continuo a meter com força, em
busca do meu orgasmo. Maria Eduarda goza uma e outra vez, então meu
orgasmo não demora a explodir.
Retiro meu pau de dentro dela e gozo na entrada de sua linda bunda.
Foi intenso e louco, uma construção do prazer que terminou como
uma avalanche para nós dois, que agora estamos jogados na cama, cobertos
de suor, ofegantes e satisfeitos. Deitado com ela em meus braços, retiro o
vibrador do meu dedo e o jogo de lado. Ajeito a Duda em meu peito e,
acariciando os seus cabelos, adormeço.
Capítulo 29

Arthur
Acordo com risadas altas ao longe, e a lembrança da noite passada faz
com que eu abra um sorriso satisfeito. Tateio a cama, mas não encontro o
corpo quente com o qual me deliciei por toda a noite. Meu sorriso se desfaz
por um momento, mas temos que tirar o melhor de tudo. Maria Eduarda me
surpreendeu da melhor maneira possível, submeteu-se aos meus caprichos e
se entregou a sua luxúria. Foi perfeito. Claro, seria melhor se ela estivesse
aqui, agora, para iniciarmos o dia da melhor maneira possível.
Levanto-me e vou até o banheiro, a fim de tomar um banho merecido.
Estou com cheiro de sexo, suor e o perfume de Maria Eduarda. Abro o
chuveiro e deixo a água percorrer meu corpo, limpando os resquícios de
prazer, de uma das noites mais prazerosas da minha vida. Tenho que
reconhecer que há muito não sentia tal satisfação.
Após o banho, visto-me e sigo na direção das vozes. Quando me
aproximo da mesa de café, percebo que a Manuela chegou, mas já está saindo
com o Rodrigo. Aproveito para cumprimentá-la com um abraço e beijos, até
ela se irritar e meu irmão intervir com seu ciúme descontrolado.
A única cadeira sobrando está ao lado de Maria Eduarda, que me
cumprimenta com um de seus lindos sorrisos. Esse sorriso não é destinado a
todos, é para pessoas que ela gosta, para todos os outros é apenas um meio-
sorriso educado. Noto que todos estão no final de sua refeição, mas
continuam à mesa, conversando e me fazendo companhia enquanto tomo o
meu café da manhã, como bons amigos. Rimos muito, conversamos e
fizemos piadas uns com os outros. É muito bom estar entre amigos e esse
descanso veio em boa hora. É a melhor coisa que fiz nos últimos tempos.
Mais tarde, todos vamos para a piscina. Maria Eduarda e Bia se
deitam no chão, em cima das tolhas e sob o sol quente, para se bronzearem.
Rodrigo e Steban estão nas cadeiras, debaixo de um dos sombreiros,
enquanto estou dentro da piscina. Algum tempo depois, Manuela aparece
com uma saída de banho mais fechada que hábito das freiras. Tempos atrás,
Rodrigo comentou comigo que ela tem vergonha do corpo, se acha gorda.
Bem, eu não disse isso a ele, mas ela é gostosa pra caramba de roupa. É
desnecessário sentir vergonha do corpo, há beleza em cada um.
Ela vai para se sentar ao lado do Rodrigo, mas meu irmão a puxa para
seu colo, os dois trocam beijos e carícias. Desvio o olhar porque não quero
parecer um tarado, mas o casal prendeu a atenção de todos. Afinal, estávamos
na expectativa de sua chegada e como seria. Agora temos a resposta.
Por fim, depois da sessão de amasso, Manu retira aquela cobertura
horrenda e revela um corpo deslumbrante. O filho da puta está muito bem-
servido, pois Manuela é linda. No entanto, começo a questionar sua lucidez
quando ela entra na piscina de óculos escuros e abre uma sombrinha.
Não contenho a risada, a cena é hilária.
— O que é isso, Manu? — pergunto, ainda rindo.
— De alguma maneira, isso está te incomodando, Arthur? — ela
retruca.
— Não, mas é engraçado. É como se tivesse um problema sério com o
sol.
Ela faz uma careta.
— Só não nos damos bem.
Em meio às risadas, Rodrigo afirma:
— Manuela, iremos caminhar na praia assim que voltarmos.
Manu faz outra careta.
— Nem pensar! Você sabe muito bem que não farei nada debaixo de
um sol de cinquenta graus. Não gosto de praia, não gosto de sol e estou
começando a não gostar de você — ela aponta para mim.
— E mora no Rio de Janeiro — debocho.
— A vida nem sempre é justa... — Manuela responde.
Rodrigo a provoca:
— Mas se você não tivesse vindo, não teria nos conhecido.
A mulher tem resposta para tudo e desta vez não é diferente.
— Como falei, nem sempre a vida é justa.
— Você é cruel, mulher.
Saio da piscina e me junto aos caras, para conversarmos, logo as
meninas se juntam a Manuela na piscina. Acho que até dei uma cochilada
entre as conversas, já que me assusto quando Rodrigo pede licença e se retira.
Manuela também sai em seguida, o que é a nossa deixa para nos dispersar.
Combinamos de nos encontrar mais tarde, antes do jantar, para jogarmos
cartas.
Depois do banho tomado e já relaxado, vou para a sala. Assim que me
sento, Bia entra enraivecida. Ela é uma mulher muito bonita e seus olhos
verdes são realçados com o bronzeado de sua pele. Na verdade, está mais
para camarão... um camarão rosado e meio tostado. Só que a mulher é bonita
mesmo assim.
Dou batidinhas ao meu lado, no sofá, pois quero saber o que a está
deixando chateada. Beatriz se senta e cruza os braços, em sinal de total
rebeldia.
— O que está pegando, Bia?
— Nada.
Seu pé está inquieto demais para não ser nada.
— Vai, Bia, conte-me o que aconteceu — insisto.
— Steban é irritante, acha que pode ficar me dizendo o que fazer a
todo momento.
Só podia envolver Steban.
— Ele só quer o seu bem. Aliás, todos nós só queremos o seu bem.
Ana Beatriz já passou por um momento bem tenso na vida, todos nos
sentimos protetores com a sua saúde.
— Eu sei que isso é irritante, porque parecem estar cuidando de uma
criança e não de uma mulher que é perfeitamente consciente e capaz de
cuidar de si mesma. Mas o Steban... esse ultrapassa qualquer limite. Lembra
como era ter todos a sua volta, cobrando para que você amadurecesse? Ser
responsável?
Ela traz o meu passado à tona.
— Lembro disso quase todos os dias. Em alguns momentos me
enterro no trabalho só para mostrar que estou no caminho certo — digo.
— Arthur, às vezes acho que o Rodrigo e o Steban me acham
inconsequente. Principalmente o Steban.
— Nós somos inconsequentes, moça bonita. — Puxo uma mecha de
seu cabelo loiro. — Eu era o único que cedia aos seus caprichos, mesmo
sendo proibidos.
Ela sorri.
— Você foi o meu herói ao me levar aqueles doces.
Meu sorriso se desfaz com a lembrança da consequência.
— Mas você passou muito mal em um daqueles dias, eu quase
enlouqueci ao te ver com dores. — Meus olhos encontram os dela. — Nós
somos os inconsequentes deste grupo, o Steban foi seu herói.
— Vocês foram meus heróis em tempos diferentes, querido.
Ajudaram-me em tempos diferentes, só isso. Cada dor que senti depois de um
doce valeu a pena, Arthur. Era naqueles momentos que estava tudo normal
em meu mundo escuro.
Emociono-me com suas palavras, pois sempre me culpei por cada dor
que ela sentiu depois dos meus presentes nada adequados.
— Você é forte e tenho muito orgulho de você — digo com toda
sinceridade. — Porém, foi mais traumatizante para alguns de nós. Ele só quer
o seu bem.
Bia sabe que falo de Steban.
— Eu sei, Arthur. Eu sei... só queria que ele não se sentisse na
obrigação de cuidar de mim. Na maior parte do tempo, penso que se não
fosse por isso, ele já não estaria mais por perto.
— É isso o que você quer? Que ele se afaste?
Bia sorri timidamente.
— Ele já saiu de onde era mais importante.
— Do seu coração? — questiono.
— Da minha calcinha — ela sustenta um brilho travesso no olhar e
cai na risada, quebrando todo o clima.
— Fedelha — eu a provoco.
Essa é a Bia sendo Bia. Neste momento, Duda aparece com o baralho
na mão e me delicio com a visão da mulher a minha frente.
— Vamos jogar? — ela pergunta.
Beatriz é a primeira a saltar do sofá, indo na direção da sua amiga.
Pisco para Maria Eduarda e as sigo até a mesa da varanda, onde encontramos
Steban e Rodrigo, que está de cara feia. Ao nos sentarmos, começamos a
discutir o que jogaremos. Steban e eu queremos poker, mas o Rodrigo — que
não sabe porra nenhuma — fica ao lado de Bia e Duda, que praticamente
exigem cacheta. Não preciso nem dizer que o trio consegue o que quer.
Pergunto sobre Manuela e sou informado de que ela está com dor de cabeça e
irá descansar. Isso justifica o desgosto do meu irmão.
Não demoro muito para perceber que o Rodrigo não joga e não se
importa. Duda só ri de seus erros, Bia xinga a cada carta errada de Maria
Eduarda. Steban está fingindo que nada é com ele, ninguém está jogando para
valer. Beatriz é amiga de Manuela porque são insanamente competitivas.
Devemos ensiná-las a jogar poker, para ver até onde iriam com seus blefes.
Minha opinião é que ambas levariam as apostas em um nível bem acima do
que costumamos.
— DESISTO! — meu irmão joga suas cartas na mesa e se levanta. —
É insuportável jogar com você.
— Bundão — Beatriz diz enquanto arruma suas cartas na mão. —
Manuela tem que devolver as suas bolas.
Todos disfarçamos a risada miseravelmente.
— Insana — ele volta a retrucar.
— GANHEI! — Steban diz e baixa suas cartas.
— Você não pode ganhar sem comprar — eu explico.
Ele olha-me com cara de falsa inocência.
— Eu comprei e ganhei a rodada.
Realmente havia uma carta na mesa, mas eu não o vi comprar.
— Ele roubou! — Bia joga suas cartas na mesa e cruza os braços. —
O filho da puta roubou bem na nossa cara.
— Eu o vi comprando e não vi nada de errado — Maria Eduarda fala
calmamente, o que deixa Beatriz ainda mais irritada.
— Como você pode ser um delegado renomado se trapaceia todo
mundo? —Steban sorri.
O bastardo gosta de provocá-la.
— Você sempre foi uma péssima perdedora, Ana Beatriz.
Dona Bete aparece e anuncia que serviu o jantar na sala interior, que é
pouco frequentada. Sentamo-nos em torno da mesa, com Beatriz reclamando
que Steban roubou e fomos coniventes ou cegos. Enquanto todos conversam,
olho ao redor e noto que meu irmão está pensativo, sei que está insatisfeito e
preocupado. Qualquer um ficaria, mas não ao ponto que ele está neste
momento.
Ali há mais sentimentos do que eles imaginam. Manu não fica atrás,
há um sorriso que só é dirigido a ele. Sinto que estou sendo observado e não
preciso procurar muito para ver que Maria Eduarda me olha, sorridente.
Ela está feliz e por algum motivo inexplicável isso me deixa
satisfeito. Penso se eu seria capaz de ter um relacionamento com essa mulher
sem a ferir. Neste momento, eu gostaria muito de ser capaz disso. Mas eu sei,
com todas as fibras do meu ser, que por mais que eu tente, foderei com tudo
na primeira oportunidade.
Entendo o conceito de fidelidade, o problema é que não consigo
colocar esse entendimento em prática. Já tentei ter um relacionamento e
resultado não foi nada bom. Está em nosso sangue fazer besteira e magoar o
parceiro.
Rodrigo pensa o mesmo, por isso ainda se segura em relação a
Manuela, mas eu sei que, apesar de tudo, ele pode se sair muito bem. Dizem
que amar é o suficiente, mas acreditem, não é. Com o tempo, nem mesmo o
amor suporta certas coisas. Então, por que eu continuaria tentando senão para
deixar um rastro de destruição em meu caminho? Não.
Prefiro ser o cafajeste que não ligou no outro dia, pois o fardo é mais
leve. Ainda assim, imagino como seria namorar a Maria Eduarda, mas ela
sairia ferida na melhor das hipóteses. Mesmo em meus devaneios.
Retribuo seu sorriso e pisco. Duda merece alguém que lhe ofereça o
mundo, não quem possa atender um ou outro de seus sonhos. Assim como
Manuela e Bia, todas merecem o melhor. Deus sabe que não acredito que o
Rodrigo seja o melhor para Manu, mas é como ela mesma diz: a vida não é
justa.
É o contrário no caso de Bia e Steban. Ele daria o mundo por ela, que
sairia correndo no primeiro tropeço de qualquer uma das partes.
Relacionamentos são complicados e toda a construção pode vir abaixo
quando você não tem a estrutura necessária.
Depois do jantar, voltamos à mesa do jogo sem o Rodrigo. Bia deixa
de reclamar para provocar o Steban. Maria Eduarda se aproxima, despedindo-
se de alguém no celular. Assim que se senta, distribuo as cartas e
comentamos sobre o clima que se instalou no lugar com a mudança de
Manuela, que simplesmente se isolou e nos deixou de fora. Enfim, esse não é
um problema nosso, mas estamos aqui como amigos para o que precisar.
Na manhã seguinte, todos nós nos sentamos à mesa para o café da
manhã, mesmo Manu e Rodrigo. Não presto muita atenção, desde ontem
estou pensativo quanto a relacionamentos. Ainda estou debatendo se eu
deveria dar um passo adiante com a Duda, mesmo com o histórico que tenho.
Não sei, mas é algo que está me fazendo pensar muito.
Não há outra mulher com quem eu me envolveria além da Maria
Eduarda. Gosto da mulher, gosto de sua companhia, seus gemidos e risos são
preciosos. O outro lado da balança pesa quando aparecem coisas como: amor,
fidelidade e compromisso.
Sei que a pergunta a ser feita é: quero e estou pronto para me
comprometer com alguém que não seja eu mesmo? Não sei. Realmente não
sei. Já tentei e não foi bonito, tenho provas o suficiente para saber que nem
todos nasceram para isso. Realmente não sei se quero ter uma família e
filhos. Se isso vier, quando será? Mas a possessividade que cresce em mim, a
cada dia, faz com que eu deseje algo mais, mesmo sabendo que não serei a
melhor pessoa em seu mundo.
Isso não tem a ver com amor, mas sim com desejo.
— Arthur? — olho para Manuela, que me encara. — Está tudo bem?
Sorrio.
— Está tudo bem.
— Manuela irá embora em breve — meu irmão fala, desgostoso.
Todos olhamos para ela, que se mantém calada.
— Por quê?
Ela respira fundo.
— Tenho documentos importantes a serem enviados.
— Não podem ser enviados amanhã? — Steban pergunta.
Ela balança a cabeça.
— Não, doutor delegado. Há coisas que não podemos deixar para
outro dia.
— Nós também iremos para casa hoje — Bia anuncia.
Olho para Maria Eduarda, que está pacientemente passando manteiga
no pão.
— Não queremos pegar o trânsito pesado de amanhã.
A notícia não é bem digerida por nós, posso comprovar isso pelas
expressões dos meus companheiros.
Logo após o café, Rodrigo e Manuela saem juntos. Bia também sai,
dizendo que está indo arrumar as coisas, e intercepto a Maria Eduarda em seu
caminho. Eu a levo para o meu quarto e fecho a porta. Aproximo-me demais
da mulher que seguro, querendo sentir mais dela, embriagar-me com seu
perfume.
Tento me manter longe dela, mas algo sempre me traz de volta.
— Já que vai embora, quero lhe dar algo — digo e seus olhos
brilham.
Ela passa a língua em seus lábios, umedecendo-os.
— Dê-me.
Desço minha boca sobre a dela e tento ser o mais doce possível, mas
assim que sinto sua língua duelando com a minha, minha fome cresce e a
intensidade do beijo também. Eu a devoro, assim como ela faz comigo.
Minhas mãos correm pelo seu corpo, trazendo-o para mais perto do meu.
Aperto sua bunda e pressiono sua boceta contra a minha ereção. Duda segura
meu cabelo, esfrega-se em mim e me consome vorazmente. A mulher mexe
com a porra da minha cabeça... com a de cima e a de baixo. Inferno!
Com muito custo, afasto-me.
— Não vá embora.
— É uma ordem? — ela pergunta.
— Não. É um pedido. — Ela sorri.
— Então, não. — Minha vez de sorrir.
— E se eu ordenar?
— Ainda será um “não”, senhor.
Meu sorriso se desfaz.
Que mulher frustrante, não faz mais do que isso desde que chegou.
— Tudo bem.
Afasto-me ainda mais, para dar espaço a ela. Quando estou de costas,
sinto suas mãos percorrerem as minhas costas e ela morde meu pescoço.
— É melhor assim e sabemos disso — Duda beija onde mordeu. —
Quando estamos muito próximos, más ideias acontecem.
— Eu sei — falo, resignado.
Duda se coloca na minha frente, abraçando-me.
— Temos nossas sessões, onde podemos saciar o desejo.
— Sim, temos.
— É melhor assim — ela diz.
— Talvez seja.
Maria Eduarda me beija mais uma vez e sai, deixando-me com tesão e
maravilhado. Ela floresceu muito desde que a conheci, não é mais aquela
menina deslumbrada que ficava me encarando. Hoje ela já não permite que o
deslumbramento a afete e isso é ruim para mim, pois era a minha arma
secreta.
Inferno! Essa mulher me enlouquecerá a qualquer momento.
Capítulo 30

Arthur
— Se você não sabe o que fazer, então não há lugar para você aqui.
Ouço a voz alterada de Rodrigo e saio da sala para ver o que está
acontecendo. Não acredito em inferno-astral, mas o meu irmão está fazendo
com que eu comece a acreditar. Ele não ficou feliz quando sua menina o
deixou na chácara, com a desculpa de que tinha trabalho. Voltamos na terça
passada com o trânsito dos infernos e na quarta-feira ele ficou sabendo que a
Manuela viajará para o Sul. Desde então, uma nuvem negra estacionou sobre
este prédio.
Admito que nos tornamos muito dependentes da Manu e da Duda,
elas deveriam se ausentar por dois dias, no máximo. Mais do que isso, nosso
mundo desmorona. Manu chegou a nós em um momento em que as coisas
estavam difíceis, a mulher simplesmente colocou tudo no lugar. Não
perguntou se poderia ou como fazer, simplesmente fez. Depois contratou a
Maria Eduarda, que se tornou mais do que a nossa assistente, pois ela
consegue prever as nossas necessidades.
A eficiência dessas mulheres é desconcertante.
Vou de encontro ao meu irmão e vejo a Maria tentando contornar a
situação de outro funcionário. Ao que parece, não está tendo muito sucesso.
O homem está impossível! Quase tive um infarto quando ele perdeu a
paciência em uma reunião, na qual negociávamos um contrato que estava em
aberto há mais de um mês.
Ele simplesmente falou:
— Não faremos proposta nenhuma, até porque nossa paciência se
esgotou. Se quiser, terá que ser assim e pronto. E é bom decidir isso agora,
porque se levantarmos desta mesa, a reunião estará encerrada e o projeto
cancelado — todos ficamos chocados, mas deu resultado. As pessoas
sentadas ali, agitaram-se e concordaram com a proposta original.
Mas o inferno dele se estendeu a todos e só piorou na semana que
entrou, instalando o caos total. O pessoal do financeiro esqueceu de repassar
as participações de lucro e a maioria dos nossos colaboradores nas obras
pararam. Afinal, a empresa prometeu e não cumpriu. Fui pessoalmente ao
banco para resolver a questão, porque corremos o risco de nossos
cronogramas não serem cumpridos.
Saio da sala do Rodrigo e vou até a sala de Maria Eduarda, para ver
com ela se está tudo caminhando conforme deveria. Ao chegar em sua porta,
vejo que há flores, mas há flores na recepção inteira há algum tempo. Uma
das meninas deve ter um admirador muito empolgado, a ponto de querer
florir a empresa em que sua querida trabalha.
Assim que entro na sala de Duda, vejo que as flores também
chegaram aqui. Para a minha surpresa, não encontro a Maria Eduarda, mas
sim a Ana Beatriz. Eu a beijo no rosto e me sento ao lado dela.
— O que te traz aqui a esta hora? — pergunto.
— Deram-me uns dias de folga e não tenho como preencher o meu
tempo.
— Quer trabalhar aqui? Pode ser a assistente do seu irmãozão —
digo.
Ela balança a cabeça.
— Duda já me fez a mesma proposta e eu me recuso da mesma
maneira. Sei como ele fica quando não está perto da Manuela e não arriscarei
a minha pele.
— Eu também não arriscaria.
— Está na hora do almoço, quer comer comigo? — ela convida. —
Infelizmente, a Duda não pode.
Maria Eduarda provavelmente não quer que a ira do chefe caia sobre
ela. Envio-lhe uma mensagem para que se una a nós, mas ela responde que
não será possível. Insisto, dizendo que não terá problemas no horário do
almoço, então Duda diz que podemos ir sem problemas.
Sem demora, Bia e eu saímos da empresa em direção ao pequeno
restaurante italiano, nas proximidades. Assim que entramos no lugar, somos
conduzidos até uma das mesas que ficam perto das janelas. Encontro Heitor
no caminho, com quem não ando simpatizando muito ultimamente. Mesmo
assim, como o homem educado que sou, vou até ele e o cumprimento:
— Heitor, como vai?
Ele se levanta para nos cumprimentar.
— Estou bem e vocês?
— Muito bem — respondo. — Esta é Ana Beatriz. Bia, este é Heitor
Andrade...
Ela me corta, já estendo a mão.
— O advogado. Estava muito curiosa a seu respeito e vejo que não
exageraram em nada. — Ele sorri.
— Espero que tenham dito coisas boas.
— Ah é, acredite, são muito boas.
Sinceramente, nem quero saber o que essas mulheres conversam.
Dizem que os homens avaliam as mulheres como se fossem carnes em
exposição em açougues, mas já viram a conversa delas? Nós, homens, não
passamos de cavalos expostos em uma feira agropecuária.
— Gostaria de sentar conosco? — Bia o convida.
— Agradeço, mas estou esperando alguém.
— Então, tenha um excelente almoço — digo, já arrastando Bia para
longe.
Nossa mesa não é muito longe da dele, na verdade, é mais próxima do
que eu gostaria. Não demora muito para um atendente aparecer, a fim de
pegar nossos pedidos. Infelizmente, estamos no meio do dia e não posso
beber nada alcóolico, sendo assim, pedimos nossa refeição.
Ambos caprichamos em nossos pedidos, como se estivéssemos há
dias sem comer. Bia é uma daquelas pessoas que comem muito e não
engordam, enquanto eu tenho que queimar cada caloria adquirida.
— Como está o seu lance com a Maria Eduarda?
— Meu lance vai muito bem. E você? Está vendo alguém?
— Vejo muitas pessoas, converso com algumas e beijo menos do que
deveria — Bia fala, rindo. — Mas, sobre jogos, prefiro me satisfazer de vez
em quando com alguém específico.
Sim, todos sabemos quem.
Quando abro a boca para responder exatamente o que estou pensando,
algo muda e olho em torno, a fim de ver o que trouxe essa sensação, então
vejo a Duda no restaurante, caminhando em nossa direção. Não consigo me
conter e abro um sorriso, pois ela queria nos surpreender. Só que a mulher
nem olha para o lado, vai direto até a mesa em que Heitor está e o beija com
muita intimidade para quem é somente amigo.
Não gosto do que vejo, muito menos do que estou pressentindo. Olho
para Bia, que está me encarando com aqueles grandes olhos verdes.
— O que foi, Bia?
— Nada. Estou cronometrando o tempo que levará até você surtar.
O garçom chega com nossos pedidos e nos serve antes de se retirar.
— Por que eu surtaria?
Ela dá de ombros.
— Eu poderia iniciar uma vasta lista, mas vou ficar com o principal:
você é possessivo, Arthur. Mas, independentemente de qualquer coisa, Duda
merece uma chance de ser feliz e esse cara tem feito muito bem a ela.
— Ela deveria se guardar.
Bia balança a cabeça em negativa.
— Não, neste caso ela não deveria.
Volto o meu olhar para Bia.
— Por que não?
— Porque você só a quer para jogar, não pensa em um
relacionamento baunilha a longo prazo, somente BDSM enquanto o tesão de
vocês durarem. Você vive cantando aos quatro ventos que não quer um
relacionamento, que nasceu para ser livre. Ela, como noventa e nove por
cento das mulheres, quer um relacionamento, gênio.
Volto a comer em silêncio.
— Não acredito que esse bastardo foi atrás dela — resmungo.
Bia vira meu rosto para ela.
— Primeiro, estou na sua frente, não há necessidade de ficar olhando
para a mesa deles. — Não tinha me dado conta de que estou descaradamente
observando-os. — Segundo, Duda tem motivos para não se envolver com
ele? O cara é ruim, perigoso ou alguma coisa do tipo?
— Não é isso — tento explicar. — Maria Eduarda não parece ser o
tipo de mulher que tem duas relações simultaneamente.
— E não é — Beatriz diz —, mas estamos falando de BDSM, uma
relação que não é vinculativa emocionalmente. Muitos praticantes têm suas
vidas baunilhas/seculares separadas do BDSM. Todos sabemos disso. Duda
está explorando sua tentativa de futuro enquanto curte o seu “por enquanto”.
Voltamos a ficar em silêncio, me afundo em meus pensamentos e
noto que Bia está me estudando, provavelmente esperando a minha explosão.
— Estou ouvindo seus pensamentos, bonitão — ela volta a falar. —
Não adianta ficar mastigando isso. Lembre-se de que o que nos trouxe aqui
foi o seu pavor por compromissos. Caso contrário, as coisas seriam diferentes
e....
— E nada! — falo mais alto do que deveria e solto os talheres que
caem contra a louça, chamando a atenção de todos em volta.
— Perfeito! Agora ela sabe que você está aqui. Aff! — Bia resmunga,
mal-humorada. — Sabe aquela coisa da Manuela, que descreve a gente
perfeitamente? — Ela levanta o dedo indicador. — Só para constar, coisa que
odeio! Porque já não bastava seu irmão, agora temos a Manu, que vive nos
analisando. E odeio ainda mais quando ela está certa. Bom, voltando ao
assunto. Ela disse que vocês têm problemas em lidar com relacionamentos
por causa do seu pai. Inconscientemente, você e Rodrigo não querem repetir
os erros que ele cometeu com sua mãe.
Ótimo. Agora somos assunto de análise.
— Talvez isso....
— A vida de vocês seria mais fácil se simplesmente se deixassem
levar, sabe?! Por que não deixa as coisas rolarem e peça a ela para ser sua?
Olho no fundo daqueles olhos lindos.
— Por que você não diz ao Steban que o ama e pede para ser dele?
Agora foi a vez dela de fazer barulho com os talheres, mas no caso de
Bia, ela os jogou. Sei que o golpe foi baixo, mas o instinto de proteção fala
mais alto nesses momentos.
— Estamos falando da porra da sua vida, não da minha. Não mude de
assunto, mocinho. Ele não me ama, por que eu iria dizer isso a ele já sabendo
a resposta?
— Você pode se surpreender, mocinha. E o que você disse à garota
que estava negociando com ele, que a fez surtar?
Ela dá de ombros.
— A garota perguntou e eu só respondi — fico olhando, esperando o
resto da resposta. Bia respira fundo e continua: — Na noite da cerimônia do
Rô, ela veio me dizer que estava em negociação com o Steban, então
perguntou se eu tinha algum conselho e eu dei.
— Tenho até medo de perguntar, mas a curiosidade é maior: o que
você falou, Ana Beatriz?
— Disse que eu me encontrava com ele pelo menos uma vez por
semana. Sendo assim, seria sensato deixarmos nossas agendas sincronizadas
nesses dias, para não cansá-lo, porque sou prioridade. Usucapião.
Engasgo-me com a água.
— Você é louca — digo.
— Quem, em sã consciência, vem pedir um conselho sobre o meu ex?
— Bia, por que você entregou a coleira? Eu sei que foi você que
entregou por livre espontânea vontade.
Ela faz uma careta.
— Posso pedir a sobremesa primeiro?
— Claro.
Fazemos nossos pedidos e ela começa:
— Não acredito que direi isso em voz alta — ela me dá um olhar
mortal. — Arthur Alcântara e Castro, se eu souber que essa conversa saiu
daqui, você será um homem capado! Entendeu?
Levanto minhas mãos em sinal de rendição.
— Entendido, comandante.
— Então... entreguei a coleira porque os sentimentos estavam ficando
fora de controle. — Estou abrindo a boca para fazer a bendita pergunta
quando ela levanta um dedo. — Deixe-me continuar. Eu sempre gostei de ser
submissa, adorava quando tinha outra menina em sessão com a gente, era
demais e eu usufruía desses momentos. Eu não tinha problemas com irmãs de
coleira, slaves ou qualquer uma. A relação era boa demais, até que me
apaixonei e tudo mudou. O amor traz com ele a possessividade e o egoísmo.
Comecei a detestar ter que dividir, não gostava mais de imaginar que outras o
tocariam, ver começou a doer. Isso foi me desgastando porque o Steban
sempre deixou claro, assim como você, que não era para se apaixonar, pois
não teria retorno. Antes que tudo viesse à tona, entreguei a coleira e saí.
— Bia, já parou para pensar que pode ser recíproco? Que ele pode
sentir o mesmo por você?
Ela toma mais um gole de suco.
— Steban gosta de mim, eu sei disso. Mas o gostar dele não é o amor
de um homem por uma mulher, mas sim a reciprocidade que eu lhe dava na
nossa relação D/S — a sobremesa chega. — Sempre fui a pupila mais afiada,
a iniciante mais ousada e a submissa mais devota, ele ama o fruto da criação
dele. Sou a slave que qualquer Dono sonha ter. Também tem o fato de que ele
é superprotetor com a minha saúde.
Olho para o lado no momento em que Heitor beija a mão de Duda e
ela lhe dá aquele sorriso que é guardado para poucos. Isso me incomoda mais
do que eu gostaria.
— Não é uma situação fácil.
— Não é. Que tal falar de pessoas que não teve um caso amoroso
conosco?
Começo a rir e desvio o olhar do casal.
— Manuela e Rodrigo?
— Se bem conheço o seu irmão, ele está surtando. Eu achava que nem
permitiria que ela viajasse.
Assinto.
— O Rodrigo está insuportável, o que me lembra de deixar anotado
para nunca mais permitir que a Manu viaje.
Bia levanta o copo.
— Um brinde à porra dos sentimentos.
Levanto o meu.
— Aos sentimentos — neste momento, ocorre-me uma ideia. — Bia,
como faço para enviar somente o áudio de um vídeo?
— Tem o vídeo aí? — assinto e entrego o telefone para ela. — Deixe-
me trabalhar nisso.
Assim que Bia vê o que quero enviar, olha-me seriamente. Minutos
depois, ela me devolve o aparelho. Abro o aplicativo de mensagens e envio
para o destinatário. Não demora muito para chegar aonde queria. Para minha
satisfação, o fone dela não está bem conectado e todos ao redor ouve parte do
áudio.
(...) É que com ele você tenta, comigo 'cê chega e senta. 'Tá com
saudade de mim porque ele não aguenta. Sabe que comigo até o tapa é
diferente, deixa marca na sua bunda e o seu corpo quente (...)[18]
Maria Eduarda desliga rapidamente e daqui posso ver seu rosto
vermelho. Bia está com a mão na boca, estarrecida, enquanto continuo a
desfrutar da minha sobremesa como se nada tivesse acontecido. Pergunto se
Beatriz quer mais alguma coisa e ela diz que não, então peço a conta.
— O que tinha naquele tiramisu? Maconha? Por que fez isso?
Dou de ombros.
— Fiz o quê, Ana Beatriz?
Ela balança a cabeça.
— Você é um provocador, seu bastardo. Como posso te repreender
quando sou assim? Vamos sair daqui antes que isso se torne um circo.
Passamos pela mesa deles e minha intenção era seguir em frente, mas
não é possível, algo dentro de mim me faz parar.
— Heitor, foi um prazer te ver novamente — aceno para Duda. —
Maria Eduarda, até mais.
— Até... — ela responde, sem graça.
Bia se despede e pega um táxi para casa. Volto para a empresa
caminhando, pensando sobre Duda estar com Heitor e como agir em frente a
isso. É verdade que muitos praticantes levam as vidas separadas, até porque
alguns têm que manter seu lado fetichista oculto. Nunca me incomodei com a
ideia, porque na minha concepção é viável desde que a pessoa seja sincera
com todos que estão envolvidos. Não sei por que me surpreendi ao ver a
Maria Eduarda com Heitor, já deveria ter este sentimento de posse sob
controle. Tenho que trabalhar isso em mim, se a quero nesses termos, tenho
que começar a seguir o que eu mesmo propus a ela.
Chego na empresa e cumprimento todos os colaboradores no caminho
para minha sala. Conheço as vidas e famílias de muitos, outros são novos e
eu não tinha visto pelos corredores ainda. Acho importante interagir, até
porque precisamos de conhecimento para sermos justos. Assim que entro em
minha sala, Daniela me segue para passar algumas coisas. Maria Eduarda
deve ter feito planos para um almoço tardio. Ainda bem que ela teve a boa
ideia de mandar a Daniela ao invés da Sara, que perde o foco rápido demais.
— Vim para te lembrar sobre o compromisso do final de semana. Há
uma observação que deveríamos fazer hoje, caso o senhor ainda não tenha
acompanhante e queira convidar alguém.
Puxo pelas gavetas de minha memória e não encontro nada que
deveria lembrar para o final de semana.
— De que compromisso estamos falando, Daniela?
— Um jantar beneficente no Jockey Club.
— Ah, sim — recordo-me. É algo dos meus pais, do meu pai mais
especificamente. — Obrigado. Traga um café para mim, por favor.
— Sim, senhor. Só um momento.
Abro a pasta que está na minha frente e analiso a papelada. Alguém
limpa a garganta, ganhando a minha atenção.
— Em que posso ajudá-la? — a mulher está corada e tímida, coisas
muito diferentes dela. Será que está passando mal? — Algum problema,
Sara?
— Não, não! Estou bem, não se preocupe. É que... e-eu estava
pensando que se o senhor não tiver companhia para o final de semana, eu
ficaria muito feliz em ir. Somos íntimos... j-já tivemos intimidades e você....
Esse é um dos problemas de se envolver com funcionários. A culpa é
totalmente minha, eu não fui claro o suficiente.
— Sente-se, Sara — a outra secretária entra e seus olhos arregalam ao
ver sua colega vermelha como um tomate. Sabiamente, ela deixa o meu café,
pede licença e sai. — Saímos uma vez e foi legal, porém, foi somente isso,
uma saída. Lembra quando eu disse que é um erro esse tipo de interação e
que não deveríamos nos apegar? — ela assente. — É justamente para evitar
este tipo de situação. Sou muito grato por você se importar o suficiente para
ir comigo no evento, mas alimentarei uma esperança em vão se formos. Não
seria justo com você.
— Não se preocupe com a minha esperança, senhor. Não é com o
meu coração que deve se preocupar — ela passa a língua pelo seu lábio
inferior. Admito que a mulher é uma pequena bruxinha sexy. — Caso o
senhor não tenha outra opção para levar, estou disponível.
Sorrio.
— Terei isso em mente, Sara. Obrigado — pisco para ela antes de
voltar a minha atenção à papelada que está na minha frente.
Perco a noção do tempo trabalhando, afundado nos novos contratos e
recálculos. Neste momento de crise, em que tantos se perdem por ganância,
nós nos orgulhamos de sermos corretos em nossas prestações de contas.
Minha cabeça lateja a cada ligação que tenho que fazer e atender. Procuro nas
gavetas por um comprimido, mas não tenho sucesso, não encontro nada.
Quando o pessoal da vistoria entra na sala, para uma reunião de
última hora, minha dor piora. Passo as próximas horas acenando em
concordância e fazendo comentários curtos. Rodrigo percebe que não estou
bem e se controla para o meu benefício. Duda também me ajuda o máximo
que pode, auxiliando-me com suas perguntas e comentários, anotando os
pontos mais importantes. Depois de finalizar a reunião, ainda repasso
algumas coisas com o gerente financeiro.
Olho pela janela e vejo que já está escuro. Desligo meu computador,
pego meu terno e saio. Desço pelo elevador com o código que vai do nosso
andar até a garagem, sem paradas. Ao projetar o prédio, Rodrigo pensou na
privacidade e na segurança. Raramente usamos o código, mas ele tem suas
vantagens, como não encontrar ninguém no final de um expediente cansativo.
Assim que as portas se abrem na garagem, dou de cara com a Maria Eduarda.
— Duda? Algum problema?
Ela coloca a mão no peito.
— Que susto! Está caindo o maior temporal e tive a brilhante ideia de
pedir um táxi aqui na garagem, o problema é que só tenho o número do táxi
na agenda que está na minha mesa. Por isso estou esperando o elevador.
A garagem está vazia e mal iluminada. Teremos que arrumar isso o
quanto antes.
— Vamos. Eu te dou uma carona.
Ela sorri.
— Não, obrigada. O dia foi tenso e você não está bem, não vou tirá-lo
do seu caminho.
Passo a mão pela minha cabeça, que está doendo.
— Eu gostaria de conversar com você ainda hoje, se possível. Quer
jantar?
— Não acha melhor ir direto para casa? Você está cansado....
— Passarei em uma farmácia, compro um analgésico e ficará tudo
bem. Olha, Maria, você tem todo o direito de não querer estar comigo.
Ela me estuda por um momento.
— Vamos. Pare naquela farmácia da esquina e compro um
medicamento para você.
Caminhamos até o carro e abro a porta para ela entrar. Passo na
farmácia, Duda desce rapidamente, traz analgésico e água. Tomo dois
comprimidos de uma vez para aliviar a dor que me aflige. Sei que irá piorar
depois da besteira que estou prestes a fazer.
No fim, se não der certo, pelo menos irei capotar no sono e
provavelmente sonhar com pequenos unicórnios vomitando arco-íris.
Pergunto a ela se tem alguma sugestão de lugar, pois no momento não estou
conseguindo pensar muito bem.
— Será uma conversa entre amigos? Sem sessão ou sexo? — ela
pergunta.
— Por mais que eu deseje sexo e sessão com você, duvido muito que
conseguiria hoje. Quero conversar, apenas conversar.
Ela assente.
— Então faremos o seguinte, vamos para o seu apartamento, que é
mais próximo. Enquanto você toma um banho e o remédio faz efeito, eu peço
uma comida gostosa para nós.
Só consigo balançar a cabeça em concordância.
Não lembro da última vez que alguém cuidou de mim, o que ela está
fazendo puxa uma corda do meu peito. Isso tem tudo para dar errado, mas
serei maldito se não aproveitar cada minuto. Vou para o meu condomínio,
estaciono o carro em uma das minhas vagas de garagem e subimos. Minha
cabeça está começando a dar sinais de melhora, só espero não desmaiar antes
de conversar com ela.
Abro a porta do apartamento, acendo a luz e dou um passo para o
lado, para que Duda entre. Ela vai até a sala, deixa sua bolsa de lado, tira os
sapatos e se senta, bem à vontade. Assim que está acomodada, entrego-lhe o
celular e o cartão para que faça o pedido de comida. Digo-lhe para ficar à
vontade e vou até o meu quarto, a fim de tomar um merecido banho. Tiro a
roupa e me enfio sob a ducha de água morna, deixando que a água caia para
relaxar os meus músculos.
Não sei quanto tempo demoro, estou mais relaxado. A dor não foi
embora, mas está amena. Visto-me com uma calça de pijama, penteio o
cabelo e volto para a sala. Encontro Duda sentada com as pernas cruzadas
sobre o sofá, lendo uma revista.
Ela levanta aqueles lindos olhos.
— Está melhor?
— Estou sim — sento-me na poltrona, em frente a ela. — Que
semana tensa.
Deito a minha cabeça para trás.
— Nem me fala. Seu irmão está no limite e não sabemos mais o que
fazer. Comecei a rezar para a Manu voltar.
Sorrio.
— Todos nós estamos rezando — digo.
— Arthur, por que você me mandou aquele áudio no almoço?
Levanto a cabeça e a encaro.
— Porque eu sou um idiota — respiro fundo. — Você é linda,
inteligente, uma ótima companhia. Você é perfeita. Perfeita demais para mim.
Heitor é um cavalheiro, se existe o cara certo, ele é o cara para qualquer
mulher. Eu sou um bastardo egoísta que a quer só para si, mesmo não tendo
direito algum. — Ela ri.
Deus! A mulher é linda até quando está cansada.
— Quis morrer quando a música começou a tocar para que todos
ouvissem. Adoro o seu bom humor, Arthur. Mesmo em algo ridículo, você
tira o melhor de mim. Mas esse é o limite. Não há problemas em mandarmos
vídeos e músicas um para o outro, somos amigos.
Passo a mão pelos meus cabelos, resignado.
— Nós estamos trilhando uma linha tênue — olho-a e falo com
sinceridade. —Tentarei fazer o meu melhor, Duda. Só que, independente de
qualquer coisa, somos amigos e sempre estarei aqui para você e por você.
— Eu também estarei aqui.
— Eu gostaria de lhe convidar para ir a um evento no Jockey Club, no
final de semana. Sei que é egoísmo da minha parte e não tenho nenhum
direito de te pedir isso. Também tem o seu namorado....
— Irei com você ao evento, será um prazer. Só me responda uma
coisa: algum problema em eu sair com o Heitor?
Minha vez de rir, mas não há humor.
— Nenhum problema. Na verdade, ele é perfeito para você.
— Então qual é o problema, Arthur? Porque eu te conheço bem o
suficiente para saber que você não está de acordo com isso.
— Não há problema algum, Maria Eduarda. É difícil lidar com o
sentimento de perda, mesmo que você não seja minha. Não quero disputar ou
brigar, apenas que você não se afaste de mim. Não sei se você está
entendendo, deve me achar um louco.
Levanto-me, vou até as portas que levam ao terraço e cruzo os braços
para assistir o temporal lá fora. Acho que a minha dor de cabeça está
voltando. Sinto a Duda ao meu lado.
— Olha, eu não sei exatamente o que está me pedindo, a única coisa
que sei é que eu quero você próximo também. Quero nossa amizade e nossas
sessões, quero a aventura que você me prometeu — ela passa seu braço,
segurando o meu. — Vou continuar a sair com pessoas que acho interessantes
e, neste momento, Heitor é quem eu quero por perto.
Estamos tão próximos, nossas bocas tão próximas, posso sentir seu
respirar.
— Neste momento, eu não quero estar na companhia de outra pessoa
que não seja você.
O clima é rompido quando o interfone toca. Duda se afasta
rapidamente e vou até o interfone, que não para de tocar. Eu o atendo e peço
para colocarem a comida no elevador, pois a pegarei aqui em cima. Não me
dou ao trabalho de colocar uma camisa, para pegar a comida. Sem demora o
elevador chega e retiro o nosso pedido. Coloco as sacolas sobre a bancada da
cozinha e volto a minha atenção à mulher que divide o cômodo comigo. Ela
olha meu corpo com desejo, como se quisesse me devorar. Basta uma palavra
dela e a deitarei sobre esta bancada.
— Duda?
Como por encanto, ela sai de seu transe.
— Vamos comer! — Clima é quebrado mais uma vez.
Começo a tirar as coisas das sacolas e fico surpreso que ela tenha
pedido comida que eu gosto muito. Sentamos na sala, em frente a televisão,
então Duda coloca em um streaming[19] para ver uma série que está
acompanhando. Conversamos sobre a semana cruel sem a Manuela e sobre
suas ideias para a empresa.
Uma me chamou a atenção em especial, sobre montar um
Departamento de Relações Públicas na Construtora. Teríamos alguns
benefícios, além da viabilidade, e acredito que facilitaria muito ter os eventos
da empresa concebidos e concretizados ali mesmo, fora o custo-benefício.
Tenho que lembrar de falar com Rodrigo sobre isso.
Depois de levarmos as nossas coisas para a cozinha, nós nos sentamos
no grandioso sofá da minha sala, para terminarmos de assistir a série que é
cheia de cenas eróticas. Devo passar mais tempo nesses streamings. Não
demora muito para o dia cansativo e os analgésicos me derrubarem. Acordo
às quatro da manhã, deitado de um lado do sofá e a Duda de outro. Vou ao
quarto de hóspedes, arrumo a cama e a coloco lá. Enquanto tiro seus sapatos,
corro meus dedos por suas pernas.
Minhas mãos coçam para levantar sua saia e enterrar o rosto entre
suas pernas. Acordá-la com doces e lentas lambidas em sua boceta. Meu pau
começa a ficar duro e o desejo cada vez mais intenso. É melhor sair daqui
antes de fazer alguma besteira. Eu a cubro e saio. Programo meu celular para
despertar uma hora mais cedo do que o habitual, para que a linda menina, que
está no quarto ao lado, tenha tempo de ir em casa para trocar de roupa antes
de trabalhar.
Capítulo 31

Arthur
Sábado pela manhã estou mais abatido do que imaginava. A semana
não cooperou e tive duas crises de enxaqueca. O inferno de Rodrigo se
alastrou sobre todos, sufocando cada um que cruzou seu caminho. Assim que
acordo, decido correr, pois isso ajudará a me distrair, oxigenar meu cérebro e
revitalizar meu corpo. Hoje à noite será o jantar no Jockey Club, onde nossos
pais venderão a imagem de família perfeita. Geralmente me recuso, mas
dessa vez foi impossível.
Ainda bem que a Maria Eduarda aceitou ir comigo, pelo menos terei
uma boa companhia garantida. Para melhorar a noite, meu irmão me disse
que a Manuela já está na cidade. Depois de dar um mergulho, caminho de
volta para a orla e sou parado por uma bela morena de pele clara, cabelos
longos e escuros.
— Você é o Arthur Alcântara e Castro, não é?
Eu não a reconheço.
— Sim e você é...?
Ela estende sua mão.
— Meu nome é Paula, nós nos vimos no coquetel de um dos
condomínios. Fui submissa do seu irmão, o Mestre Rodrigo.
— Ah sim. Desculpe-me por não a reconhecer.
Ela sorri.
— Imagina. Como está seu irmão?
— Está bem. E você, como está?
— Estou bem. Eu soube sobre a louca da Greice, o Mestre Rodrigo
deve ter se incomodado muito. Sinto muito por não estar ao lado dele nessa
hora, mas sei que ele está muito satisfeito com a sua atual submissa.
Rodrigo e seu fã clube. Admiro meu irmão por ele ser um excelente
Mestre BDSM, seu trabalho com as meninas é de se orgulhar. Só que ficar
trocando figurinha com elas não é um passatempo que eu gostaria.
— Manuela e Rodrigo se entendem muito bem.
O sorriso deslumbrante dá lugar à seriedade.
— Manuela, a consultora?
Alguma coisa me diz que a mocinha não gostou da notícia.
— Sim, essa Manuela.
Agora seu belo rosto está distorcido pela raiva que emana.
— Eu sabia que estava acontecendo alguma coisa entre os dois.
Aquela desgraçada estragou o que eu....
Eu a interrompo.
— Gatinha, essa história não me pertence. Se ficou algo mal resolvido
entre vocês, procure-o e resolva.
Ela parece envergonhada, mas não me engana. Essa mulher é do tipo
possessiva, sem limites, e isso não é bom. Já tive experiências o suficiente
para saber que isso é um péssimo sinal.
— Desculpa, não queria perder o controle — apenas assinto e ela tem
sua deixa para continuar a falar, enquanto se aproxima de mim. — Eu soube
que você agora é um Dominador, dizem por aí que está se tornando um
excelente Senhor, tanto quanto o seu irmão.
Eu dou risada.
— As pessoas falam demais.
Ela me olha com fome.
— Um lindo Dominador, por sinal — Paula se aproxima ainda mais.
— Se quiser uma sessão hard é só me ligar.
Aceno e vou me afastando.
— Terei isso em mente. Até qualquer dia.
— Até qualquer dia, senhor.
Volto a correr para me afastar do prenúncio de problemas que aquela
garota tem estampado na testa. Ela é linda, só que não se deixem enganar,
seus olhos mostram o quanto ela pode ser perversa. Corro de volta para casa,
mas acho que fiz esforço demais, o médico me disse que pegar pesado neste
momento faria a dor voltar. Já sinto pontadas em minhas têmporas e, se quero
estar bem hoje à noite, devo me deitar para descansar. Ao entrar em meu
apartamento, vou direto para o banho.
Assim que saio, seco-me, enrolo a toalha em volta da minha cintura e
vou para a cozinha, a fim de comer. Alimentado, tomo o remédio prescrito e
volto para o quarto, jogo a tolha de lado e me deito. Tenho que estar em
minha melhor forma nesta noite, pois Duda enfrentará a alta sociedade
carioca e, na maioria das vezes, a primeira experiência não é boa. É uma
classe muito seletiva, se importam mais com os sobrenomes do que com o
caráter. Meus pais são desse tipo, o que lhes importa é o brasão sobre o berço
em que a pessoa nasceu. Isso me enoja, só que família a gente não escolhe,
infelizmente.
Não sei em que momento adormeci, só que agora estou em um quarto
diferente, não no meu. O ambiente é todo branco e desconhecido. Onde
estou? Olho para minhas roupas, só que eu não estava vestido até há pouco.
Estranho, pois não costumo usar couro, mas estou usando calça de couro e
uma camisa aberta, ambas as peças na cor preta. Sinto-me um cigano ou
posso ser tranquilamente confundido com cantor de lambada.
— Meu senhor — viro-me em direção a voz e vejo Paula, nua, atada
na cama com aquele olhar de desejo que vi mais cedo.
Que porra está acontecendo?
Antes que eu possa abrir a boca para perguntar, ouço alguém
choramingar. Olho ao redor e não vejo nada, mas o choro é incessante.
Enquanto ando pelo lugar, pergunto:
— Quem está aí?
Paula começa a se remexer sem parar, tentando se soltar.
— Venha aqui, senhor! Ela não é boa para você, lembra?
Ela quem?
Procuro no grande quarto e vou em direção às poltronas que estão
sob a janela. Lá encontro Manuela agachada no canto do quarto, chorando.
Fico enfurecido ao ver aquilo e corro de encontro a ela, abaixo-me e seco
suas lágrimas.
— O que houve, pequena? Quem a fez chorar? Matarei o filho da
puta que a faz sofrer.
— Vo-você me mandou embora. Disse que ela — aponta para Paula,
que está com um sorriso maligno nos lábios. — Ela é sua vida agora. M-mas
e-eu te amo, Rodrigo....
Rodrigo?
— Não, Manu. Sou eu, Arthur — corro para ficar na frente do
espelho e vejo a imagem do meu irmão refletida. — O que está acontecendo?
Toda a cena muda. Não é mais a Manuela que está chorando no
canto, é a Maria Eduarda. Olho-me no espelho novamente e agora vejo
minha imagem, volto-me para cama e é Érica quem está ao lado do móvel,
vestida de noiva.
Que loucura é essa?
— Ele é um homem casado agora e na nossa relação não tem lugar
para vagabundas, querida. Saia, deixe-nos em paz.
Vou em direção a Maria Eduarda.
— Ela não é vagabunda — Duda se levanta e sai correndo. Vou atrás
dela e a pego pelo braço. — Espera....
— Como você pôde se casar e não me contar nada? Eu não serei sua
amante.
Ela tenta se desvencilhar dos meus braços.
— Não, você não é minha amante. Você é minha mulher, cacete!
Acha que eu fiz isso tudo para quê?
Ela fala entredentes e meu coração quebra ao ver suas lágrimas.
— Responda, senhor Castro. Para quê?
— Por você, para ser minha. Eu te a....
Acordo assustado e ofegante. Esfrego o rosto e vejo o quanto estou
suado. O cansaço e esses malditos remédios estão fazendo com que eu tenha
esses sonhos loucos. Vou até o banheiro e lavo meu rosto, para espantar os
resquícios desse sonho estranho que mais pareceu um pesadelo. Vou à
cozinha para tomar água e me dirijo à varanda, que fica de frente para o mar.
Assim que abro a porta, o ar fresco do final de tarde e aquele cheiro de
maresia vem ao meu nariz. Isso é o que conheço por lar, é aqui que me sinto
bem, seguro.
Não sei por que esse assunto tem me atormentado tanto nos últimos
tempos, já que venho reafirmando que não sou um bom homem, mas tenho
boas intenções. Só que de boas intenções o inferno está cheio, já dizia a
minha avó. Homem de verdade não ilude, não machuca. Homem que é
homem encara suas besteiras, aguenta as consequências e tenta fazer direito.
Por isso eu sou sincero com todas, não sirvo para ser marido de ninguém, não
nasci para cuidar e zelar por um amor, porque não nasci para o amor e o amor
não foi feito para mim.
As palavras de Bia voltam:
“Ela disse que vocês têm problemas em lidar com relacionamentos
por causa do seu pai. Inconscientemente, você e Rodrigo não querem repetir
os erros que ele cometeu com sua mãe”.
Eu nunca entendi o porquê minha mãe não questiona meu pai, nunca a
vimos chorar ou perder a pose quando alguém, por descuido, comentava
sobre o assunto. Só que isso me machucava porque, no fundo, eu sabia que
ela sofria.
Quando tive a minha primeira namoradinha, fiquei com todas as
amigas gostosas dela. Era algo mais forte do que eu, elas chegavam
sorridentes, sainhas curtas, blusinhas amarradas logo abaixo dos seios,
algumas davam um jeito de esbarrar em mim, outras se esfregavam na cara
dura e eu, como um adolescente com hormônios à flor da pele, traçava todas.
Até o dia em que a namoradinha pegou sua amiguinha ajoelhada, no chão da
biblioteca, me chupando.
Imagina o drama que sucedeu, foi o acontecimento da escola e todas
as meninas viravam a cara quando eu passava, mas os caras me
cumprimentavam como uma celebridade. Só para constar, a maioria das
carinhas viradas também viraram os olhinhos quando caíram na minha cama,
algumas não esperaram nem vinte quatro horas após o acontecimento para me
ligar, outras bateram na porta da minha casa.
Pego-me sorrindo, pois foi um tempo muito bom. Rodrigo, Tarso,
Cleiton e eu éramos inseparáveis e essa época foi a nossa era de ouro.
Pegávamos quem queríamos, Cleiton e eu fizemos várias parcerias,
lanchando a mesma gatinha. Antigamente isso era conhecido como
sanduíche, hoje as coisas evoluíram para um ménage à trois.
Já fui muito julgado por ser assim, os pais me acusavam de usar suas
pequenas princesas e abandoná-las, mas a verdade é que todas, absolutamente
todas, sabiam que não iria existir uma próxima vez. Não costumo iludir
ninguém, não prometo nada, porque sei que não vou cumprir. Não gosto da
minha fama de garanhão, no começo foi legal, mas crescemos e o que era um
título divertido agora é um status desconfortável. Grande parte das mulheres
querem só cavalgar em mim, para saber se faço jus ao título.
Volto para dentro e vou atrás do meu celular. Quando eu o acho, vejo
que há uma mensagem de Maria Eduarda, dizendo que está se arrumando na
casa de Manuela e que é lá que eu devo buscá-la. Daria tudo para fugir desse
evento, mas é melhor mantê-los satisfeitos para que fiquem longe da minha
vida. É um pequeno preço a pagar. Caminho em direção ao closet, a fim de
começar a me montar com aquele smoking, encenar o papel do bom filho
caçula.
Entro no carro e ligo o som, que toca uma das minhas músicas
favoritas: Have You Ever Seen The Rain?[20], do Creedence Clearwater
Revival[21]. Sou um entusiasta do rock dos anos setenta.
Distraio-me, cantarolando enquanto atravesso a cidade para buscar a
Maria Eduarda.
(...) Alguém me disse tempos atrás que há uma calmaria antes da
tempestade. Eu sei. Já vem chegando há algum tempo. Quando estiver
terminado eles dirão que choverá num dia ensolarado. Eu sei. Brilhando
como a água. E eu quero saber: Você já viu a chuva? Eu quero saber: Você
já viu a chuva caindo em um dia ensolarado? Ontem e nos dias anteriores, o
sol fica frio e a chuva forte. Eu sei, foi assim a minha vida inteira (...)
Estaciono em frente ao condomínio em que Manuela mora e dou de
cara com o meu irmão assim que desço do carro.
— Muito elegante, Rodrigo.
Ele passa o dedo pela gola da camisa do smoking.
— Estou morrendo de calor e agoniado. Isso está me sufocando.
Dou risada.
— É o preço de ter que frequentar esses eventos, um dos motivos
pelos quais dispenso ir.
Nós nos dirigimos à portaria e o porteiro, Seu Ricardo, logo nos
reconhece.
— Boa noite, cavalheiros. Aonde vão com tanta elegância?
Rodrigo faz uma careta.
— Boa noite, Seu Ricardo. Esse é o preço que pago por querer
impressionar as mulheres.
— Boa noite — eu o cumprimento. — E aí, Seu Ricardo, o senhor
acha que tenho chances de pegar alguém vestido assim? — sorrio para ele,
que me devolve a simpatia.
— Estou vendo que vão fazer a limpa no salão hoje. Vou anunciá-los
— ele interfona para Manuela, que diz que já está descendo. Enquanto isso,
continuamos em um papo com o senhor.
Depois de algum tempo, as duas beldades aparecem, deixando-nos
impressionados. Maria Eduarda está elegante, em um vestido azul, tomara
que caia, bem ajustado ao seu corpo e deixando parte de sua pele exposta.
Manuela está com um vestido ousado que deixa suas pernas à mostra. Dou
um beijo na Manu e abraço a Maria Eduarda em um impulso. Ela está
absurdamente linda, o vestido parece que foi costurado em seu corpo.
— Você está simplesmente maravilhosa — eu a elogio.
— Acha mesmo que é uma boa ideia me levar nesse jantar? — Duda
pergunta e percebo uma pontada de insegurança em seu tom de voz.
Paro, olho no fundo dos seus olhos e acaricio seu rosto belamente
desenhado.
— Foi a melhor ideia que tive em anos — eu a beijo levemente nos
lábios.
Abro a porta do carro para ela entrar e uma sensação de certeza passa
por mim. É como se toda essa situação fosse correta, natural. A leveza é tão
agradável que não consigo conter um sorriso, estou feliz e isso é o que
importa. Ligo o carro e o som de uma das músicas se espalha pelo carro em
seguida. Olho-a de canto e a vejo tão absorta em seus pensamentos, na
paisagem que passa lá fora, que não tenho coragem de interromper seu
devaneio para puxar conversa.
Ela é linda.
Volto minha atenção à estrada e cantarolo “Wonderwal”, do Oasis.
— Você canta muito bem e seu inglês é perfeito — Duda fala e o
sorriso que me dá a seguir é tão perturbador que desvio o meu olhar.
— Tive a oportunidade de aperfeiçoar o inglês e mais três idiomas
quando fui um mochileiro pelo mundo — percebo que ela não para de mexer
as mãos, por isso coloco a minha sobre a dela. — Está nervosa?
— Sim. É um ambiente que não estou acostumada e não sei como
será. Isso me deixa desconfortável.
Aperto sua mão.
— Será uma noite agradável, com um bom jantar e boa música. Além
disso, você tem o melhor acompanhante desta cidade ao seu lado — ela ri,
mas continua tensa. — Sério, basta ser você e encantará a todos, assim como
fez comigo — trago uma de suas mãos aos lábios, beijando-a. — Manuela
estará lá também, você não ficará sozinha em momento algum.
Duda aperta minha mão.
— Obrigada, Arthur.
— Eu que agradeço por você aceitar vir comigo.
Capítulo 32

Arthur
Estaciono em frente ao manobrista do Jockey, então ele abre a porta
para mim e para a Maria Eduarda. Assim que saímos do carro, fotógrafos
começam com aquelas sessões de fotos desnecessárias, deixando-nos quase
cegos. Passo meu braço pela sua cintura e falo em seu ouvido:
— Só sorria, não foque ninguém em especial. Se o fizer, foque em
mim.
Ela me olha com insegurança e fala:
— Sua vida é sempre assim?
Balanço a cabeça.
— Nem sempre — ouvimos uma grande agitação e olhamos para trás,
a fim de ver a entrada do meu irmão com a sua acompanhante. De onde
estamos, podemos ver sua cara de desgosto. Este é o preço de ser um
Alcântara e Castro. — O Rodrigo adora isso tanto quanto eu.
O lugar está impecável e tem muita gente conhecida: artistas,
jogadores e muitos, muitos políticos. Rodrigo e Manuela se juntam a nós,
noto que ele está passando a mão pela garganta como se a gravata estivesse
lhe sufocando. Logo, Manuela mexe em sua camisa e gravata.
— Melhor?
Rodrigo olha para ela, sorrindo.
— Muito melhor, pequena.
Cumprimentamos amigos e alguns meros conhecidos, passamos por
algumas mesas e somos chamados para cumprimentar pessoas que nunca
vimos na vida, só então alcançamos o bar. Pegamos bebidas, entregamos para
as meninas e meu pai se aproxima. Infelizmente, não viemos pelo passeio.
— Boa noite, meus filhos.
— Boa noite, pai — respondemos juntos.
Ele cumprimenta as meninas e diz:
— Nisso vocês puxaram seu pai, o bom-gosto para companhias.
A fala embrulha meu estômago.
— Para mim, isso não é elogio.
Rodrigo beija a cabeça da Manuela e diz:
— Sem comentários.
— Gostaria de apresentá-los à algumas pessoas. Claro, se as meninas
cederem vocês por alguns minutos — ele coloca a mão no peito, como
sempre, é um político nato e condescendente —, serei muito grato.
Manuela abre seu melhor sorriso sarcástico.
— São seus filhos, senhor Castro, fique à vontade. Duda e eu daremos
uma circulada. Com licença — ela sai, levando minha companhia consigo.
Rodrigo e eu nos olhamos e seguimos nosso progenitor. A política do
país anda tão malvista e suja que acho besteira esse homem, chegando aos
setenta anos, dar a cara a tapa ao afirmar que é a renovação. Sabemos que ele
é a velha política, onde os empresários e herdeiros ditam os rumos do país
conforme suas vontades. Somos apresentados aos presidentes de partidos
políticos, senadores, assessores e articuladores, então percebo que Rodrigo
está mais incomodado do que eu, enquanto nosso pai está posando como o
todo-poderoso da Construtora.
Acotovelo o meu irmão e aponto para o nosso pai.
— Seu pai acha que é dono da nossa empresa.
Rodrigo me olha e ri.
— Meu pai? Seu pai! Às vezes tenho a esperança de ser adotado.
— Se você não fosse a cópia dele....
Rodrigo estica o pescoço sobre as pessoas.
— Está vendo as meninas por aí?
— Estou procurando há algum tempo, mas não as vi ainda.
Meu pai sorri com escárnio.
— Elas devem estar fazendo a social. Aqui há muitas pessoas
importantes que chamam a atenção.
Suas palavras não teriam efeito se não o conhecêssemos. Ele quis
dizer que as meninas estão aproveitando o momento para flertar com outros
homens, mas papai não pensaria diferente, já que acha que todos agem como
ele.
Respiro fundo para não desrespeitar o meu progenitor.
— Nem todos são como você, pai — Rodrigo fala exatamente o que
pensei.
— Vou procurá-las e tentar fazer desta noite, uma boa noite. — Saio
com o meu irmão à caça das nossas acompanhantes.
Nós as vemos na parte exterior do salão, provavelmente estão
tomando um ar para não ficarem no meio de tantos desconhecidos. No
caminho, alguns dos nossos amigos nos param para conversar, mas eu me
distraio com a visão de Maria Eduarda sob o luar, que realça sua pele branca
em contraste ao azul de seu vestido.
Neste momento, bate um vento forte e as fendas do vestido da
Manuela expõem suas pernas até as coxas. Logo, os homens ao nosso redor
exageram nas falas e fazem elogios indevidos.
Rodrigo rosna e coloco a mão no seu braço.
— Calma, Romeu. Como não elogiar a sua menina? Ela é linda.
Quanto a vocês... — aponto para os caras. — Cuidado, o cara aqui é
possessivo! Contenham-se ao se referir a qualquer mulher dessa forma.
Eles debocham do eu que falo:
— Ah, para, Arthur. Entre nós, você é o mais devasso. Vai bancar o
santo agora?
— Não, longe de ser santo. Só estou tentando fazer com que você não
perca seus dentes.
— Você nos dará o telefone daquela deusa que veio como sua
acompanhante, Arthur?
Olho para o imbecil e falo entredentes, descontente:
— Ela não é para o seu bico.
É a vez de Rodrigo me barrar:
— Calma, Rambo.
Richard coloca as mãos para cima.
— Calma, cara. Você está....
Eu o corto.
— Não estou nada. Se a virem vindo na direção de vocês, aconselho a
mudar o caminho para não cruzar com ela.
Saio para não ouvir outro comentário idiota e acabar perdendo o
controle. Vou em direção a elas e, quando estou perto o suficiente, enlaço
Duda pela cintura. Ela me olha com atenção.
— O que houve, Arthur?
— Nada — respondo mais rápido do que deveria e isso não passa
despercebido por Manuela.
— Não é o que parece, bonitão.
Rodrigo aparece e abraça Manuela.
— Ele só ia partir a cara do Richard em duas.
As meninas olham para mim e aponto para o meu irmão.
— Foi pelo mesmo motivo que você tentou sufocá-lo com as mãos.
Manuela o olha e levanta aquela sobrancelha do mal. Se continuar
com isso, ela acabará com marcas de expressão em breve.
— Deixe-me adivinhar, Richard elogiou a Duda... — ela aponta para
mim — e você quis matá-lo. Deus! Vocês, homens, são tão previsíveis. Os
Alcântara e Castro têm sérios problemas territoriais. Eu recomendaria um
profissional....
Rodrigo a beija inesperadamente, arrancando risos dela. Acho que o
infeliz tem fixação na mulher mandona. Depois da demonstração de carinho
explícito, ele diz:
— Com licença, vou circular com a minha menina e abusar um pouco
dela. Se não nos vermos mais, tenham uma excelente noite! Divirtam-se e
não esqueçam; juízo!
O casal nos deixa, perdendo-se entre as pessoas que enchem o lugar.
Volto a olhar para Duda, que está com aquele sorriso lindo estampado no
rosto, não me contenho e retribuo.
— Quer dançar, menina linda?
— Oh, sim. Sim, senhor. Posso pedir uma coisinha? — ela diz com
jeitinho de menina.
Como negar?
— Tudo o que quiser.
— Eu queria conhecer àquele ator que está fazendo a novela das nove
— ela aponta na direção em que a pessoa está. — Aquele bonitão ali — seus
brilham enquanto olha o homem. — Causarei inveja em todo mundo na
segunda-feira.
Sorrio.
— Vamos lá, Cinderela. Eu te apresentarei ao galã no caminho para a
pista de dança. — E assim eu faço.
Passo pelo grupo de pessoas, que estão ouvindo alguma história
frívola da acompanhante do galã. Eu não a conheço, mas sei que é uma das
amigas de Érica. Ela e eu já nos encontramos algumas vezes, pois temos
amigos em comum. Não foi difícil me aproximar e apresentar Maria Eduarda
a todos.
Não preciso dizer que, em pouco tempo, ela encantou a maior parte da
audiência. Papo animado e selfies, tudo bem, mas quando começa os toques,
vejo a minha deixa para arrastá-la para longe do grupo, que está fazendo a
situação ficar fora de controle.
Quando chegamos na pista de dança, a banda no palco começa a tocar
Take My Breath Alway[22], do Berlin. Um clássico dos anos oitenta que não
está na minha playlist, pois o Tom Cruise fez o favor de elevar o romantismo
a um nível muito alto para nós, pobres mortais.
— Essa música me traz boas lembranças! Adoro esse filme, o Tom
Cruise era o meu crush — ela ri. Viram o que falei? A porra do Tom Cruise
acabou com a música. — Gostaria que meu inglês fosse apurado para
entender na hora o que está sendo dito.
— Só praticar mais o idioma — puxo Duda contra o meu corpo e falo
em seu ouvido: — Traduzirei enquanto dançamos. Tire meu fôlego — beijo
abaixo de sua orelha.
Ela me olha e diz:
— Por que você faz isso?
— Isso o quê?
— Dizer e fazer essas coisas.
— Calma, mulher — eu a afasto e faço com que ela rode, voltando
para mim em seguida. — É o nome da música é “Tire meu fôlego”. — Duda
encosta seu rosto no meu, passo o nariz pelo seu pescoço e ela se arrepia. A
certa altura da música, falo em seu ouvido: — Observando cada movimento
neste tolo jogo de amantes, assombrado por uma noção de que em algum
lugar há um amor em chamas. Virando e retornando há algum lugar secreto
por dentro — encaro seus lindos olhos verdes. Observo em câmera lenta,
enquanto você se vira e diz: tire meu fôlego, amor.
Todo meu corpo entra em alerta, eu a quero com tanta intensidade que
chega a me dar medo. Nós nos encaramos, fazendo com que todas as pessoas
e músicas desapareçam ao nosso redor. Só que o clima acaba quando nos
damos conta de onde estamos. Mesmo com muita dificuldade, nós nos
recompomos e olho ao redor.
Um casal de idosos, que estão em torno dos seus setenta anos, nos
olha e sorri, sorrio de volta e a senhora diz:
— Lembra de quando éramos assim, Astolfo? Ai, ai, que saudade.
Bons tempos aqueles.
O senhor responde a sua esposa:
— Lembro, minha velha — ele olha para mim. — Aproveite, rapaz. A
juventude não dura para sempre. — Duda e eu nos entreolhamos e rimos,
então o senhor estende sua mão para ela. — A linda senhorita me dá a honra
dessa dança? Se o cavalheiro permitir, é claro.
Sorridente, Maria Eduarda coloca sua mão sobre a dele e faz uma
reverência.
— Será um prazer.
Estendo minha mão para a senhora.
— E a senhora, me daria essa honra?
Ela coloca a mão no rosto.
— Como posso dizer “não” a um homem tão bonito? — volto-me
para o senhorzinho. — E o senhor, cuidado. Nada de testar se a sua virilidade
ainda funciona com a minha mulher. Esse brilho no olhar não esconde que já
foi um grande galanteador, como eu.
A banda começa a tocar Close To You, do The Carpenters, e rodopio
com a senhora pelo salão. Fazia muito tempo que não me divertia tanto em
um evento como esse. Na verdade, não lembro quando me diverti nessas
coisas.
Mais adiante, no centro do salão, Rodrigo e Manuela dominam a
atenção. A senhora me tira do devaneio:
— Você conhece aquele casal?
— Sim, é meu irmão e uma de nossas melhores amigas.
Ela olha os dois com atenção, assim como eu.
— Ali há amor.
Olho para esses olhos azuis, que dizem que essa mulher já viveu
muito.
— A senhora está coberta de razão. Agora, vamos torcer para que eles
descubram isso rápido.
— Vocês também são um casal lindo. Sua esposa é muito bonita, tem
uma aura de paz, transmite amor e confiança.
— Ela não é minha esposa — digo e a senhora me dá um tapinha no
braço.
— E está esperando o que para pedi-la em casamento?
Olho para a mulher mais linda do salão, dançando e rindo com o
senhor garanhão da terceira idade. Não tenho dúvidas de que ela será uma
boa esposa, que seus filhos terão uma supermãe e que seu marido será o
idiota mais sortudo do mundo.
— Somos apenas amigos, senhora. Não acho que nasci para fazer
alguém feliz, mas concordo com a senhora, ela é especial.
— Meu jovem, ouça o conselho dessa velha que viveu muito mais do
que deveria viver e que sabe mais do mundo do que deveria saber. Você tem
o poder de mudar qualquer coisa, tem o poder de fazer qualquer uma feliz,
basta querer. Hoje você pode pensar assim, mas quando chegar na minha
idade, verá que oportunidades como essa só acontecem uma vez na vida.
— A senhora soube quando a oportunidade se apresentou? —
pergunto curioso.
Ela sorri e toda sua experiência de vida é contada por suas marcas de
expressão.
— Minha oportunidade era um safado que pegava todas, mas no
momento em que ele me olhou, eu soube... era meu! Agora a minha
oportunidade está dançando com uma linda mulher de azul, com o mesmo
brilho no olhar que eu tinha cinquenta anos atrás.
— Isso é incrível! — Neste momento o casal vinte, Rodrigo e
Manuela, passa por mim e os paro. — Onde vocês pensam que vão?
— Para casa. Eu te aconselho a fazer o mesmo, pois suas
demonstrações de afeto estão cheirando longe e sua mãe deve estar à caça —
ele se vira para a senhora que dança comigo. — Tenha uma boa noite, bela
senhora.
O casal vai embora no exato momento em que a música acaba.
Estamos nos despedindo dos nossos pares quando Heitor se aproxima.
— Duda.
Ela o abraça toda sorridente.
— Heitor, que bom vê-lo nesta noite.
Ele a olha de cima a baixo.
— Você está deslumbrante. Linda.
Maria Eduarda cora.
— Obrigada. Você está muito bem também.
Heitor vem até mim e estende a mão.
— Boa noite, Arthur.
— Boa noite — retribuo o cumprimento.
— Você é um cara de sorte, Castro. A Maria Eduarda não aceitou o
convite de me acompanhar, pois já estava comprometida com você —
impaciente, eu o assisto colocar o braço na cintura de Duda e ela permanecer
confortável.
— Sou muito grato a ela por isso.
Heitor volta sua atenção à mulher em seu braço.
— Dança comigo?
— Claro — ela se vira para mim. — Com licença.
Os dois vão para a pista de dança e saio em direção ao bar, a fim de
pegar uma bebida forte. Não estou confortável com o Heitor aqui perto dela.
A noite deveria ser apenas nossa, sem terceiros para atrapalhar. Assim que eu
pego o uísque, viro-me e acompanho o casal de longe. Maria Eduarda é toda
risos e sorrisos na companhia do advogado. Distraído, não percebo a
aproximação da minha mãe, que está acompanhada por Érica.
Era só o que me faltava.
— Boa noite, meu filho.
Eu a beijo no rosto.
— Mãe... Érica, como estão?
Érica vem até mim e beija meu rosto com dois longos beijos.
— Que bom vê-lo, querido. Estava com saudades.
A mulher está me dando nos nervos ultimamente, mas tenho que
admitir que ela é muito bonita. Quando está assim, sem tentar me envolver de
alguma maneira, ela é boa companhia.
— Por que não a leva para dançar?
— Estava demorando — resmungo enquanto peço outra bebida ao
barman.
Minha mãe coloca a mão na cintura, pronta para iniciar uma
discussão.
— Qual é o seu problema? — ela pergunta, irritada.
— O meu problema é sair para dançar com ela e voltar casado.
— Que exagero — Érica fala, sorrindo.
Quando a encaro, ela tem a decência de se mostrar envergonhada.
Elas agem como se eu não conhecesse ambas.
— Érica é sua amiga de infância, é seu dever dançar com ela.
Isso vai longe.
— Danço com você, Érica, mas não quero fotógrafo, colunista e nem
nada disso me cercando — olho para minha mãe. — Se acontecer alguma
coisa, deixarei a preciosa amiga de infância sozinha, no meio do salão, e darei
declarações que não ajudarão em nada a carreira política do papai.
Minha mãe bufa, coisa que raramente faz.
— Quem te ouve falando, acha que sou dessas pessoas que planejam
coisas contra a vontade dos outros.
— A senhora é exatamente esse tipo de pessoa. Tenho sua garantia de
que não teremos circo? — ela assente e estendo a mão para Érica. — Vamos
dançar, amiga de infância.
A ideia é não chamar a atenção de ninguém, sendo assim, mantenho-
nos às margens da pista de dança. Procuro por Duda e Heitor entre as pessoas
que dançam, não demora muito para eu ver o casal rodopiando pelo lugar.
— Sua acompanhante parece estar bem entretida com o Heitor
Andrade — Érica fala, puxando a minha atenção para si.
— É o que parece. Conte-me, como você está? — peço e ela sorri.
— Estou pensando em fazer uma viagem para a Europa, passar alguns
dias em Portugal e na Itália. Ter uns dias de descanso depois dessa maratona
de eventos e caridade.
— Ah, sim.... Descansar — falo com ironia.
Se eu me casasse com a Érica, minha vida seria como a vida dos meus
pais. Não é isso o que quero para mim. Não há problema em ter uma mulher
que compareça a eventos e faça caridades, se entre o casal estiver tudo bem,
isso não se torna um problema. Mas, para mim, preciso de uma mulher que
me desafie, caso contrário a monotonia virá e com ela a insatisfação.
Meu pai é esse homem, pois minha mãe (com suas caridades) não
bastava. No entanto, ele não teve coragem o suficiente para mudar alguma
coisa. Simplesmente se diverte por fora enquanto minha mãe não passa de
uma esposa-troféu, que foi colocada em um pedestal e está lá até hoje,
acumulando poeira.
— Por que você não vem comigo, Arthur? Teríamos dias animados na
Toscana. — Érica me tira da divagação.
— Não posso viajar neste momento. Temos acordos em andamento
que merecem a minha atenção.
Ela passa suas mãos pela frente do meu smoking.
— Você é um dos donos, pode fazer o que quiser — a mulher faz
biquinho.
— Não é bem assim que as coisas funcionam, querida. Tenho muito a
fazer.
A música acaba e levo Érica para fora da pista. Assim que a deixo na
companhia de suas amigas, vou em busca da minha acompanhante.
Entretanto, não a encontro no salão e começo as buscas pela área externa.
Acabaram de anunciar que o jantar será servido em breve, mas estou
pensando seriamente em levar a Duda para comer em outro lugar e finalizar a
noite em minha cama.
Já estou começando a ficar preocupado com o sumiço dela quando a
encontro em uma das varandas, aos beijos com Heitor. Meu primeiro
pensamento é ir lá e quebrar a cara dele, tirá-la de seus braços e levá-la para
longe, mas não é o que ela quer. Maria Eduarda deseja aquele homem e seria
um erro me intrometer.
Propus uma relação D/S, entre quatro paredes. A Duda queria mais,
só que eu não dei. Agora ela encontrou o seu “mais” e não é comigo.
Contudo, essa era a ideia desde sempre, não era? Não tenho o direito de me
sentir ofendido. Como a vida é irônica, o homem que sempre dispensou as
mulheres agora é dispensado de uma maneira não muito legal.
Envio mensagem a Duda, dizendo que tive um imprevisto e que não a
encontrei, também envio uma mensagem ao Heitor, dizendo para acompanhá-
la pelo restante da noite e levá-la para casa depois. Então saio discretamente
pela lateral, evitando todo o salão.
O manobrista não demora para trazer o meu carro. Eu poderia ligar
para alguém ou ir aos clubes noturnos, mas minha dor de cabeça está
chegando, o que não é um bom sinal. A noite já está mais do que finalizada
para mim, está na hora de reconhecer a derrota e tirar o time de campo.
Capítulo 33

Maria Eduarda
Os últimos dias têm sido caóticos, estou tendo que tomar decisões
rápidas e não errar em nenhuma. Mesmo sob pressão, não paro de pensar em
sexo. Não qualquer sexo, mas um sexo selvagem com palavras sujas, muito
intenso. Tive encontros maravilhosos com o Heitor, que é um doce de pessoa
e me trata com muito carinho. Gosto de sair com ele, de estar em sua
companhia, só que sinto falta das sessões, dos “pega” com um certo COO.
Eu deveria estar preparando alguns documentos para enviar a
Manuela, mas nããããooo... estou aqui, pensando em transar loucamente com o
meu chefe. Está tudo errado. Isso é errado, não é? Eu deveria estar cem por
cento focada em fazer as coisas desta empresa andarem de acordo com o
esperado, não imaginando uma cena com Arthur, amarrando-me para foder
comigo.
Que bagunça, Maria Eduarda!
Na semana que sucedeu o evento do Jockey Clube, tivemos a incrível
notícia de que um dos projetos de Rodrigo foi aprovado em Miami, então ele
teve que correr para lá. Arthur também tinha compromissos fora do Estado e
passou alguns dias fora. Nesse meio-tempo, o Senhor Eduardo, pai dos
chefes, esteve na empresa e confrontou a Manu, por ter ficado na presidência
enquanto Rodrigo e Arthur estavam fora. Ela saiu aborrecida da empresa e
não tivemos sinal dela por três longos dias.
Bia e eu fomos as primeiras a surtar com o sumiço da nossa amiga,
depois o Steban começou a procurá-la também. Não havia ninguém em seu
apartamento e os funcionários do condomínio em que ela mora não a viram,
seu celular estava desligado e o telefone de sua casa chamava até cair,
ninguém sabia dela na Ideal’s e não tive coragem de ligar para seus pais para
perguntar, pois eles ficariam super preocupados se não soubessem. Também
não contei ao Rodrigo, mas na primeira oportunidade chorei no telefone com
Arthur, que estava se apressando para voltar ao Rio.
Manuela foi internada em uma sexta-feira e só tive notícias na
segunda, quando me ligou para pedir que eu levasse algumas coisas para ela
no hospital. No HOSPITAL. Minha amiga passou três dias internada na UTI
por causa de sua pressão alta. Nosso coração quebrou quando descobrimos.
Não sei quem chorava mais, Bia ou eu.
Os dias seguintes não foram os melhores, já que Manuela se isolou.
Ela até tenta aparentar que está bem, mas não está. Quando o Arthur retornou,
achou melhor contar ao Rodrigo o que aconteceu, então o homem adiantou a
data do seu retorno. Acreditamos que ele pode tirar a Manu desse buraco.
Enquanto isso, tenho ajudado o Arthur em tudo. Manuela faz seu
trabalho remotamente, mas achei melhor não abarrotá-la de serviço. Ela até
veio à empresa, queria se enterrar no trabalho, mas proibi a todos de repassar
as demandas. Sei que ela fica chateada, mas temos que livrar nossos amigos
deles mesmo às vezes. Ainda assim, com a cabeça cheia de coisa, não
consigo parar de pensar naquilo que não deveria. Bem, disseram-me que
quando algumas pessoas estão sob forte pressão, o sexo pode ser um modo de
liberar parte do estresse. Talvez seja o meu caso.
Por pensar muito, pego meu tablet e vou até a sala de Arthur. Bato na
porta, entro e reparo que ele está em uma videochamada. Cogito voltar
depois, mas já que estou aqui.... Ele está no meio de uma explicação e eu o
admiro por alguns minutos. O homem é puro pecado quando está em modo
executivo. Arthur para de falar e volta-se para mim.
— Aconteceu alguma coisa? — ele pergunta.
— Eles estão te ouvindo?
— Não, desliguei o microfone.
Arthur me olha com estranheza.
— Hummum... na tela, pega o seu rosto, peito...
— Até os ombros, Duda. Por que todas essas perguntas? — ele me
questiona.
Vou até a porta e a tranco, caminho de volta até ficar de frente para
ele. Olho para sua tela e vejo que não apareço. Ajoelho-me e chego até sua
calça, abro o cinto, o fecho e o zíper, então afasto sua cueca e retiro seu pau,
que está flácido.
— Eu quero jogar, essa é a resposta para todas as perguntas.
Começo a masturbá-lo e Arthur não precisa de muito tempo para
endurecer.
— Assim você não me ajuda, Maria Eduarda — ele olha para a tela.
— Senhores, continuem a conversa, estou tendo um problema com a câmera.
— Arthur desliga a câmera, emudece o microfone novamente e tira os fones.
Logo, as vozes das pessoas enchem a sala. — Se é para jogar, então vamos
fazer direito. Levante-se, abra sua camisa, tire sua calça e calcinha.
— Acho que isso já é exage....
Ele me corta.
— Você veio para jogar e faremos isso conforme as minhas regras. —
Arthur deve perceber que me excito quando ele ordena, pois prossegue. —
Tire a porra da roupa, Maria Eduarda, depois venha até mim de quatro como
uma boa menina.
Faço conforme Arthur ordena e ele se toca enquanto eu tiro a roupa,
ficando cada vez maior e mais duro. Estou tão excitada que sinto a umidade
entre as minhas pernas. Assim que estou parcialmente nua, arrasto-me até ele
e fico entre as suas pernas. Arthur acaricia meu rosto e meus cabelos,
segurando-os firme e levantando o meu rosto para ver o dele.
— Você me chupará enquanto participo desta reunião. Sem barulho,
querida, senão eu virarei a câmera e mostrarei a linda mulher que tenho,
chupando meu pau. Entendeu? — Assinto. — Palavras, querida. Quero
palavras. Entendeu o que falei, Duda?
— Sim, senhor.
— O quanto você quer o meu pau, linda menina?
— Muito, senhor.
— Então, delicie-se enquanto trabalhamos.
Arthur liga a câmera e o microfone para voltar à conversa, enquanto
isso, seguro o seu pau e beijo sua glande. Passo a língua por seu
comprimento, abocanhando seu membro com toda a fome que sinto. Ele não
se contém e geme descaradamente. As pessoas na reunião perguntam se está
bem e Arthur diz que sim, o que só me estimula a chupá-lo com mais avidez,
pois quero que perca sua compostura.
Sei que a minha bravata renderá punição, só que eu a quero de forma
suja e dolorida. Quero que Arthur me coloque em seu colo e bata na minha
bunda, desejo que me xingue e puxe meus cabelos. Estou há tantos dias com
tesão que me perco em minhas próprias fantasias. Estou levando meus limites
a outro nível e Deus me perdoe, mas quero cada coisa que Arthur possa fazer
comigo.
Sugo seu pau como o mais delicioso dos picolés e acaricio suas bolas,
chupando-as de vez em quando. Para brincar, passo a língua na entrada da
cabeça de seu membro e mais uma vez ele geme alto. Arthur limpa a garganta
para disfarçar, mas não é bem-sucedido. Ele olha para mim com cara feia e
sorrio. É exatamente o que quero, deixá-lo bravo.
Masturbo-o enquanto minha língua trabalha habilmente em seu pau,
fazendo-o se remexer e segurar meus cabelos com mais força. O seu membro
incha e sei que está prestes a gozar. Ele tenta se afastar, mas eu não deixo,
apenas intensifico a chupada e a velocidade.
Arthur começa a se remexer até que não se controla mais.
— Porra! Só pare.
— Sei que isso é ousado, mas, conhecendo a empresa, pensei que
seria uma boa ideia — um dos participantes da reunião fala.
Arthur puxa meus cabelos com mais força e eu o deixo ir. Fico ali ao
lado de seus pés, me tocando, excitada demais para parar.
— A ideia é ótima. Só me deem um minuto, por favor. — As vozes
param de falar e Arthur se levanta, deve ter desligado o microfone e a
câmera. Ele rapidamente se coloca atrás de mim. — Levante-se e pare de se
tocar.
— Sim, senhor — faço como me ordena.
Arthur me puxa para sua mesa e vejo que a câmera não está desligada,
todos continuam conversando, mas suas vozes não são ouvidas. Eles podem
ver o que se passa aqui, sem problemas. Logo, Arthur me incita a debruçar
sobre a mesa, ao lado do computador, deixando minha bunda empinada para
seu fácil acesso.
— Achou que poderia liderar o nosso jogo, princesa? E se eu virar a
câmera para que eles assistam enquanto eu te puno? O que acha? — ele enfia
o dedo em minha entrada. — Ah, garota pervertida, sua boceta me diz que
gostou da ideia. Darei algumas cintadas para macular essa pele cremosa, as
marcas a lembrará do que seu Dono é capaz quando é incitado. Não se mexa.
Arthur vai até a minha calça, que foi deixada no chão, tira o cinto e
volta para mim. Sinto sua mão acariciar a minha bunda e seus dedos me
penetrarem, tirando um gemido meu. Eu não estava preparada para a primeira
cintada, grito, pois fui pega de surpresa. Sua mão traça o lugar delicadamente.
— Você não faz ideia do quanto é linda, Maria Eduarda. Abra sua
bunda para que eu esfregue o cinto em sua boceta molhada e use seus sucos
para marcá-la.
Faço como ordenado, abro-me para que enfie um de seus dedos em
minha boceta enquanto esfrega o cinto na entrada da minha bunda. Não
consigo conter os gemidos, então Arthur pega a minha calcinha e enfia em
minha boca. Isso é tão errado! A empresa toda está do outro lado da porta e
eu aqui, exposta para qualquer um ver, até mesmo as pessoas da
videochamada. Agora sinto o couro ser esfregado contra as minhas dobras
molhadas. Por que isso é tão erótico?
Tiro a calcinha da boca.
— Foda-me, por favor — peço, quase implorando.
Arthur enfia a calcinha novamente em minha boca, calando-me.
— Não, até que eu me sinta satisfeito com a sua punição. Segure-se
na mesa, Duda.
Quando estou colocando a mão na beirada, outra cintada e outra... e
outra... e outra, todas em lugares diferentes; nas nádegas, nas coxas, na dobra
entre a coxa e a bunda. Está ardendo pra cacete e começo a me perder na
sobrecarga de sensações que circulam pelo meu corpo. A última batida me
leva para um lugar em que nunca estive, quando o couro acerta entre as
minhas pernas, algo dentro de mim se rompe. Não sei descrever, mas a
ardência e a excitação se misturam à irritação. Lágrimas começam a escorrer,
minha vontade é de gritar e estapeá-lo até que ele acabe com essa agonia.
Como se pudesse ler meus pensamentos, ouço o cinto cair no chão e
seu pau entrar abruptamente. Arthur me segura pelo quadril e estoca em mim
com força. Seus dedos encontram meu clitóris e me estimulam, levando-me
cada vez mais perto do abismo. Sinto seu dedo penetrando a minha bunda e é
aí que me perco totalmente. Um forte orgasmo explode e eu me desfaço, mal
conseguindo ficar de pé.
Arthur me segura e continua a me foder até eu sentir sua porra
escorrer dentro de mim. Ele tira a calcinha da minha boca e beija meu
pescoço, descendo pelas costas. Então sai de dentro de mim, carrega-me até o
sofá e se senta antes de me colocar em seu colo. Ambos estamos cansados,
suados e bagunçados. A sala cheira a sexo e meus sentidos estão muito
apurados, sobrecarregando-me novamente.
As malditas lágrimas saem dos meus olhos sem permissão, elas
simplesmente correm. Não sei o que está acontecendo, mas ele deve saber,
pois acaricia os meus cabelos e diz coisas bonitas, o que me faz chorar ainda
mais.
— Calma, menina linda. Estou aqui com você — Arthur beija minha
testa. — Você não imagina o quanto estou orgulhoso, minha querida. Você é
tão forte e determinada, é magnífica, Duda.
Entre soluços, tento falar:
— P-por que estou cho-chorando?
— Você deve ter tido uma sobrecarga sensorial, sentiu-se
sobrecarregada com a dor e o prazer em grande dose. Quando a sensação de
prazer e dor é intensa, é gerada uma resposta do sistema nervoso, que causa a
liberação de epinefrina, uma descarga de endorfinas e encefalinas. Seu
cérebro entende como euforia e sentimentos represados vêm à tona, fazendo
as pessoas rirem exageradamente, chorar na mesma intensidade e, em alguns
casos, ficarem como se estivessem dopadas. Alguns Mestres chamam de
subspace — ele continua me acariciando. — Respire fundo, minha querida.
Mais calma, volto a questionar:
— Já ouvi a Bia falar que, para gozar, ela precisa sentir dor. Por que
sinto que preciso de algo assim para ter satisfação completa? — levanto meu
rosto até encontrar seus olhos. — Eu sei que não é doença ter fetiches, mas,
por que eu desejo tanto o que me deixa nesse estado?
Seu rosto é terno e suave.
— Somos pessoas que gostam de coisas mais intensas, Duda. Não há
explicação, é desejo. Não há nada de errado em sentir isso, a não ser que te
prejudique, aí sim se torna um grande problema. Caso contrário, é somente
um modo mais eficaz de ter um prazer intenso.
— Nunca tive problema em gozar, só que eu preciso me estimular
com beliscão nos mamilos ou mesmo no clitóris, na maioria das vezes. Você
me dá a picada de dor que preciso, que eu quero. Mas, o que farei quando
tudo isso acabar?
Arthur beija os meus lábios delicadamente.
— Você dirá ao seu parceiro o que quer, caso ele não consiga lhe dar
isso, faça da maneira que sempre fez, estimule-se.
— E se isso não bastar? — não sei se perguntei a ele ou a mim
mesma.
E se não bastar?
— Se os sentimentos que estarão envolvidos nessa relação não forem
fortes o suficiente para bastar, então você deve seguir em frente e achar
alguém que lhe baste, não só no sexo, mas em todas as outras coisas.
— E para você, basta? — pergunto curiosa.
Arthur fica algum tempo em silêncio, com o olhar perdido, e
estremeço com a ideia do que ele está pensando neste momento. Isso o faz
voltar para o agora.
— Não sei, Duda. Não sei se está bastando.
Arthur se levanta e me deixa deitada no sofá. Ele vai ao banheiro e
volta com uma toalha de rosto umedecida. Estou muito consciente do que
está acontecendo e isso me deixa sem jeito.
— Eu posso me limpar, Arthur.
Ele balança a cabeça.
— Eu sei que pode, menina, mas ficarei completamente satisfeito se
puder cuidar de você a minha maneira. Tudo bem? — Assinto. — Em
nenhum momento conversamos sobre isso, mas você toma anticoncepcional?
Já transamos muitas vezes sem preservativo e também não falei que estou
limpo, sem nenhum tipo de doença, vício em drogas ou algo do tipo. Ao que
parece, só sei ser irresponsável com você, porque não lembro de transar com
outra pessoa sem preservativo.
Sorrio.
— Não se preocupe. Sei que você e seu irmão fazem check-up a cada
seis meses. Eu sempre pego os resultados para entregar ao médico, já que
vocês se recusam a ir até o consultório. Uso anticoncepcional e também estou
limpa.
— Disso eu não tenho dúvidas — Arthur começa a caminhar em
direção ao banheiro, mas para no meio do caminho e se vira para mim. — O
Heitor sabe sobre o nosso acordo?
— Não, ainda não é a hora de contar. — Ele assente e sai.
Por um instante, pensei ter visto decepção em seu olhar, mas isso é
impossível. Deixo a questão de lado e começo a me vestir. O jeans roça na
minha pele sensível e me arrepio com a sensação. Vou até o banheiro, onde
Arthur está se arrumando, e divido com ele o espelho. Vejo que meus olhos
estão inchados e meu nariz está vermelho. Lavo o rosto e o homem ao meu
lado estende uma toalha para que eu me seque. Nós nos olhamos pelo espelho
durante algum tempo, mas somos interrompidos pela batida na porta de sua
sala.
— Você é linda — ele beija o meu pescoço e sai, fechando a porta do
banheiro para me dar privacidade.
Fico me olhando no espelho por um longo tempo, remoendo o fato de
que invadi a sala do meu chefe para foder enquanto ele participava de uma
reunião. O que aconteceu com a Maria Eduarda recatada? Aquela Maria que
teve apenas um namorado na maior parte da sua vida, cujo sonho era ser uma
executiva, onde ela se perdeu nesse caminho?
Ainda quero ser executiva nesta empresa, pois sei que tenho muito a
acrescentar, isso não mudou. Agora, aquela Maria Eduarda, de um namorado
só, está adormecida. Surgiu outra que quer viver ao máximo, mesmo que ela
tenha que sair com dois homens ao mesmo tempo.
Capítulo 34

Maria Eduarda
Rodrigo teve a ideia de nos reunirmos em um restaurante para nos
encontrarmos com a Manu, que não está nos melhores dias. Ele achou melhor
tirá-la de casa por algumas horas, assim que Manu desembarcou. Então
Rodrigo ligou para o Arthur, que me convidou. Bia não está em casa, nem
conseguimos alcançá-la pelo celular. Por isso, Arthur me pegou em meu
apartamento e me trouxe para este lindo restaurante. Uma refeição neste lugar
não é nada, nada barato e penso que Bia e eu estamos tendo gastos pesados
com as saidinhas que damos de vez em quando.
No caminho para o restaurante, Steban ligou para o Arthur, a fim de
ter notícias de Rodrigo. Quando soube que iríamos nos encontrar com eles,
disse que também iria. O que é ótimo, na minha opinião. Neste momento, a
Manu precisa de todos que a amam ao seu redor.
Liguei para Bia várias vezes, mas não tive resposta em nenhuma
chamada. Onde essa mulher se meteu? Saiu dizendo que iria dar uma volta e
não apareceu mais. Enfim, estamos tomando um drinque quando Steban
aparece.
— Beatriz ainda não chegou? — ele pergunta.
— Não. Na verdade, Bia nem sabe que viemos. Estou tentando falar
com ela há algum tempo, mas ela não responde.
Steban pega o celular e faz uma chamada rapidamente, pedindo a
alguém para que avise a Bia onde a esperamos. Abro a boca para perguntar
quem é e como a pessoa tem acesso a minha amiga, mas Arthur dá um aperto
em minha perna e balança a cabeça. Esse é o código que diz “não pergunte
nada”, e assim o faço. Entretanto, depois a mocinha me explicará o que foi
isso.
Exatos quarenta minutos se passaram quando Beatriz dá o ar da graça.
O que eu não contava é que, logo atrás dela, chegariam os pais de Rodrigo e
Arthur, além de Bárbara e Érica. O cenário não está ficando bom e os homens
também percebem isso.
Arthur questiona o motivo de estarem aqui e Dona Rosita, sua mãe,
prontamente responde:
— Soubemos que seu irmão desembarcou recentemente e que viria
para se encontrar com os amigos. Achei de bom tom convidar as meninas,
afinal, essa é uma reunião de amigos e vocês são todos amigos.
— Vocês dão pouco crédito a Rosita, essa mulher vai enfiar uma
aliança no pau de vocês dois assim que dormirem — Bia fala, deixando todos
ainda mais desconfortáveis.
— Suas maneiras não melhoraram em nada, Ana Beatriz — a senhora
fala e minha amiga sorri.
— Melhoraram muito, Rosita. Nem ofendi ninguém ainda. Lembra do
que eu fiz quando encontrei a Débora? — a senhora assente. — Pois é, ainda
não afligi ninguém da mesa — Bia fala olhando para Bárbara, que estremece.
— O que aconteceu com a tal Débora? — Érica pergunta e Beatriz a
encara, sorrindo.
— Quebrei a cara dela no meio do shopping.
Alguém limpa a garganta e Steban fala:
— Estamos aqui por causa da Manuela, ela não está bem e o Rodrigo
achou que seria bom reunir os amigos para animá-la. Então, contenham-se.
— Não sei por que estão olhando para mim — Bárbara fala dando de
ombros.
Arthur não perde a oportunidade.
— Porque, de todos aqui, você é a mais tendenciosa à confusão
quando se trata do Rodrigo. Mas o Steban está certo, eles já estão chegando e
não queremos hostilidade.
— Olá, senhor Arthur, Mestre Steban. Que bom vê-los por aqui.
Todos os rostos se voltam para a bela mulher atrás de mim, que está
com os olhos brilhantes para o senhor e o mestre. Ela não é estranha, mas não
consigo lembrar quem é.
Bia bufa e revira os olhos.
— Isso aqui está ficando cada vez melhor.
— Olá, Paula. Como vai? — Steban a cumprimenta educadamente, de
longe.
— Muito bem e vocês? — ela não espera a resposta. — Por que todos
estão reunidos aqui?
O pai de Arthur, que não para de secar a mulher, prontamente
responde com um sorriso nada agradável.
— Estamos esperando o meu filho, Rodrigo. E você, quem é?
Ela sorri brilhantemente.
— Sou Paula. Fui uma das meninas do Mestre Rodrigo.
O homem mais velho estufa o peito.
— Meus filhos sempre tiveram bom-gosto para mulheres — ele diz e
é a minha vez de revirar os olhos. — Por que não está mais com ele, posso
saber?
Paula faz cara de triste.
— Ele me trocou pela nova menina — Paula olha para Arthur —, mas
algo me diz que voltarei aos Alcântara e Castro.
Olho para Arthur, mas ele está tão espantado quanto qualquer um à
mesa.

— Sente-se conosco, Paula — o patriarca da família convida e a


intrusa aceita, mais do que feliz.
Poucos minutos depois, Rodrigo e Manuela aparecem, mas ambos não
entendem nada. Bom, que sejam bem-vindos ao clube. O que deveria ser um
encontro de amigos se tornou um problema dos grandes. Arthur se levanta e
vai de encontro a eles. Minha amiga está muito bonita, apesar de estar
abatida. Bia e eu também vamos de encontro a eles, a fim de abraçá-la. Isso
enquanto Bárbara se apressa para agarrar o Rodrigo e o beijar na boca,
mesmo ele estando de mãos dadas com a Manuela.
Não falei que é um grande problema?
E o circo só piora. Dona Rosita domina a conversa e dá todas as
indiretas-diretas possíveis sobre os filhos com as duas mulheres que
chegaram com ela. Se mostra descontente que seus meninos não pensem em
sossegar. Ao mesmo tempo, o Senhor Eduardo mantém olhos e ouvidos em
Paula, mesmo estando distante dela na mesa. Bia está quieta por todo esse
tempo, apesar da sua veia do pescoço parecer que vai estourar a qualquer
momento.
Eu me concentro na Manu, querendo saber como ela está, contando
sobre a empresa e como anda a minha vida, até que meu celular vibra no
bolso e eu o tiro para conferir.
Há uma mensagem de Heitor e abro-a para ler.

Heitor: Oi, moça bonita. Está tudo bem?


Eu: Olá. Tudo ok por aqui. E você está bem?
Heitor: Gostaria de te convidar para vir ao meu apartamento.
Prometo fazer um jantar delicioso para nós. O que acha?
Eu: Acho uma excelente ideia. A que horas eu devo estar aí?
Heitor: Por volta das 19 horas. Enviarei a localização.
Eu: Ótimo. Nós nos vemos mais tarde.
Heitor: Estou ansioso.
Eu: Beijos ��

— Com quem você está falando? — Bia pergunta alto.


— Com ninguém — tento desconversar, mas a pessoa ao meu lado,
com seus olhos de águia, viu com quem estava falando.
Arthur não fala nada, mas também não parece satisfeito. Só que ele
não tem nada a ver com isso, essa é a parte da minha vida em que ele não
pode interferir. Volto a minha atenção as minhas amigas e tentamos
bravamente ignorar o restante da mesa. Bárbara, Érica e dona Rosita também
estão fechadas em seu mundo pitoresco enquanto Paula conversa com o
Steban como se fossem velhos amigos, o que deixa a Beatriz raivosa. Ela não
fala nada, mas se olhares matassem, Paula já estaria a morta e enterrada.
No final da tarde, eu já estou cansada e resolvo ir embora. Manuela,
que veio com o Rodrigo, está de saída com a Beatriz por um motivo chamado
“Rosita”. Deus tenha piedade das mulheres que se casarem com esses
homens, pois Rosita trata o Rodrigo como se fosse o menino de ouro e Arthur
como o caçula mimado. Por fim, as meninas pedem para que eu vá junto, mas
prefiro ir diretamente para casa, até porque tenho que me arrumar para
encontrar o Heitor.
Aproveito o momento em que elas saem e me despeço também. Então
Arthur se aproxima.
— Já vai embora?
— Sim.
— Vou me despedir e partiremos.
Seguro seu braço.
— Não, Arthur. Você e seu irmão devem ficar, até porque seus pais
estão aqui.
— Você veio comigo e voltará também — ele insiste.
— Arthur, o Rodrigo acabou de chegar de viagem, ele precisa de você
para o colocar a par de tudo. Seus pais irão sobrecarregá-lo, seu irmão precisa
de você.
Ele não gosta, mas sabe que eu falo a verdade. Arthur me acompanha
até a frente do restaurante, pede um táxi para mim e fica ao meu lado até que
o motorista chegue. Despeço-me e parto.

***

Quero estar sexy para o Heitor, quero ver até o homem irá comigo.
Ele é delicado e atencioso, aquele tipo que beija lentamente, que mantém as
mãos nas costas, não é afoito ou passional. Heitor é um gentleman em todos
os momentos e hoje quero testar seus limites, para saber se ele levará as
coisas adiante, se me jogará na cama e fará bom uso do meu corpo.
Olho-me no espelho e passo a mão pelo pequeno vestido verde, que se
adere ao meu corpo perfeitamente. O decote é recatado e não há mangas,
minhas pernas bronzeadas ficaram linda em contraste com a cor da peça.
Escolho uma sandália branca com salto tipo Anabela. Um look romântico
para uma mulher que está em busca de aventura. Fiz uma make natural e
soltei meus cachos, que resolveram contribuir. Passo o perfume adocicado
que amo, coloco um par de argolas douradas, uma pulseira também dourada e
um anel delicado.
Pronta, envio uma mensagem ao Heitor dizendo que já estou indo,
pego a localização e peço um Uber antes de sair do apartamento. Enquanto
desço, envio mensagens para Bia e Manu. Beatriz me responde prontamente,
dizendo que ficará mais algum tempo com a nossa amiga, o que eu acho
ótimo. Embarco no carro, que já estava a minha espera, e vou para Botafogo.
Não demora para o carro estacionar em frente ao prédio de Heitor.
Estou com expectativas, mas não ansiosa. Não há aquele friozinho na barriga
ou o nervosismo da antecipação. Há apenas afeto, sinto-me bem em estar
com ele, gosto da sua companhia e hoje quero que as coisas cheguem em
outro nível. Quero me sentir ansiosa para encontrá-lo, não sabendo o que virá
pela frente. Sou uma mulher de carinho, mas descobri recentemente que
tenho um lado aventureiro, que anseia por uma vida sexual cheia de luxúria.
Olho mais uma vez para o celular, a fim de confirmar se estou no
local certo. Confirmado, envio uma mensagem dizendo que estou na portaria,
já que não há porteiro. Alguns minutos depois, Heitor aparece na porta para
me receber. Ele está com uma bermuda branca e camiseta azul, muito lindo e
apetitoso.
Ele me beija na boca docemente e me leva para seu apartamento, no
quarto andar. O lugar é bonito e muito agradável. O imóvel carrega o charme
da cidade antiga, mas a decoração é moderna, um contraste muito bem
pensado.
— Você está linda. — Ele me leva até o sofá e sentamos.
— Obrigada. Você também está muito bem.
Heitor mexe em meu cabelo.
— Como foi seu dia? — pergunta.
— Foi tranquilo. Nosso grupo de amigos se encontrou para animar a
Manuela, que está passando por tempos difíceis.
— Que coisa! A Manuela é uma mulher e uma profissional admirável,
espero que ela se reestabeleça o quanto antes.
— Assim esperamos — digo.
Heitor se aproxima de mim, acaricia meu rosto e me beija. Seus lábios
são macios, pacientes em sua exploração. Sua mão continua em meu joelho e
a outra em meu ombro, como se eu fosse uma donzela que se ofenderia por
qualquer avanço. Intensifico o beijo usando a minha língua e acaricio sua
coxa forte, descaradamente. Sua mão começa a subir pela minha coxa e ele
responde ao meu beijo. Heitor beija bem, muito bem, mas ele não é atrevido,
o que faz falta. Com o Arthur, a essa altura, meu vestido já estaria pela
cintura e seus dedos me penetrando.
Com esse pensamento, acabo gemendo e quebrando o clima. Tudo o
que eu não preciso é ter aquele maldito homem em meus pensamentos agora.
Limpo a garganta e me afasto mais um pouco. Tenho ficado incomodada por
não contar ao Heitor sobre a relação BDSM que tenho com o Arthur. Poucas
pessoas entendem e o homem a minha frente pode ser um deles. Eu devo
contar, pois o Heitor precisa saber que há outra pessoa e que estou nessa
jornada louca.
Outra questão vem me atormentando: o que tenho com o Arthur é
maior do que posso ter com o Heitor? Sexo é tão importante assim para mim?
E se o homem sentado na minha frente tiver alguns fetiches, ele conseguirá
satisfazer o meu? É uma possibilidade e uma boa saída.
— Duda? Ainda está comigo?
Sorrio sem jeito.
— Estou sim. Heitor, eu quero falar....
Ele se levanta, interrompendo-me.
— Pode esperar até depois do jantar? Qualquer conversa fica melhor
quando estamos satisfeitos, não é?
— É sim — respondo e ele caminha em direção à cozinha, então vou
atrás dele. — Quer ajuda?
O ambiente é pequeno e muito bem planejado. Os pratos, talheres e
taças já estão postos na bancada de mármore que divide a cozinha. Heitor
aponta para uma das banquetas.
— Apenas sente-se, vou nos servir. Espero que você goste de peixe
— ele faz uma careta. — A pessoa aqui esqueceu de perguntar se você tem
preferência ou alergia a alguma coisa. Desculpe.
Sorrio.
— Gosto de peixe e não sou alérgica a nada, eu acho.
Poucos minutos depois, Heitor coloca na minha frente um prato muito
bonito.
— Salmão ao molho de laranja e mix de folhas.
— O cheiro está incrível — elogio.
Heitor abre uma garrafa de vinho branco, serve as nossas taças, senta-
se ao meu lado e levanta sua taça, esperando que eu faça a mesma coisa com
a minha.
Assim o faço.
— Que este seja o primeiro de muitos jantares — ele brinda.
— Que assim seja — tocamos nossas taças uma na outra e bebemos
em seguida.
O jantar é excelente, o peixe e a salada estão muito bons. A
sobremesa é um sorvete caseiro com frutas, algo leve e muito gostoso. Heitor
é um cara de conversa leve, gosta de contar histórias e falar sobre seu
trabalho. O tempo passa rapidamente, ambos trocamos informações sobre a
vida um do outro, o que se passa nas empresas e o que esperamos para as
nossas carreiras. Somos parecidos, duas pessoas tranquilas que trabalham
muito para chegar aonde querem.
Voltamos para a sala com nossas taças de vinho e sentamos no sofá
para continuarmos a conversa. Já cheguei em sua casa com más intenções e a
bebida é apenas combustível para o fogo. Fico mais próxima a ele, tocando-o
sempre que posso, até cruzo as pernas para que o meu vestido, que é curto,
suba um pouquinho mais. Estou buscando uma reação deste homem lindo,
mas como não consigo nada além de uma carícia, tomo atitude.
Deixo a taça de lado e o beijo. Heitor se afasta para deixar a sua taça
de lado também e volta a me beijar. Coloco uma mão em seu peito,
estimulando-o a avançar mais. O beijo que começou doce vai ficando mais
intenso, uma de suas mãos escorrega até a minha cintura e espero o momento
em que ele me jogará em seu colo. Fico excitada só de pensar. Minha mão
nervosa desce até ficar próxima do seu pau. O clima está esquentando, só que
preciso de mais. Subo em seu colo e seguro o seu rosto entre as minhas mãos,
trazendo-o mais para mim.
Suas mãos estão em meu quadril e não preciso de incentivo para
começar a me mexer em seu colo. Ambos gememos e posso sentir seu
membro endurecido entre as minhas pernas. Sim, estamos no caminho certo e
só melhora quando as suas mãos vão para a minha bunda, apertando-a.
Afasto minha boca da dele o suficiente para pedir mais. Então, Heitor
nos deita no sofá, deixando-me sob seu corpo. Abro as minhas pernas para
que ele fique entre elas. Tudo isso sem deixarmos de nos beijar.
Heitor se mexe, mas não o suficiente para fazer o atrito que quero.
Sua mão vem até o meu seio e apenas fica ali, por isso coloco minha mão
sobre a dele, para incentivá-lo a apertar ou massagear o meu seio, beliscar o
meu mamilo, qualquer coisa. Ficamos assim por algum tempo e somos
interrompidos pelo seu celular. Ele pede desculpas, sai de cima de mim e vai
à procura de seu telefone.
Quando Heitor volta para a sala falando ao celular com alguém,
passando instrução sobre alguma documentação, toda a minha ousadia se vai
como o ar de um balão furado. Acredito que a ligação seja importante e que
não poderia ser feita em outro momento, ainda assim, esperava algo diferente
para um sábado à noite.
Alcanço a taça que está ao meu lado e viro a bebida de uma vez. Não
sendo o suficiente, pego a taça que ele estava bebendo e a finalizo também.
Quando Heitor finaliza a chamada, já não estou no mesmo pique, algo em
mim esvaziou. Sei que isso não é um problema com ele, é apenas expectativa
alta, coisa que devemos evitar sempre que pudermos para viver bem.
— Desculpe-me, Duda, eu tinha que atender essa chamada. A Claudia
é uma jovem estagiária e precisa de auxílio.
Oi? Não é nenhum caso importante em que o cliente possa ser preso?
Ou alguma documentação com prazo apertado? É apenas uma mulher ligando
no sábado à noite? Preciso de mais vinho.
— Sem problemas. Pode me servir mais vinho, por favor? — peço e
ele me atende, indo à cozinha e voltando com a garrafa, então enche a minha
taça e se senta ao meu lado. — Obrigada.
— Antes do jantar, você queria falar algo.
Assinto.
— Ainda quero.
Ele me puxa para ficarmos bem próximos.
— Vá em frente, querida.
Limpo a garganta.
— Já ouviu falar sobre BDSM? — pergunto.
— Algo sobre sadomasoquismo, eu acho.
Balanço a cabeça.
— Sim, algo como isso. Mas, no meu caso, é sobre dominação, me
submeter a alguém que sabe manusear o meu corpo para que eu tenha prazer.
Posso ver curiosidade em seus olhos.
— No seu caso? — ele me questiona. — Você é masoquista?
— Não sou masoquista, apesar de gostar de uma picada de dor na
hora certa para chegar ao ápice.
— Interessante.
— Eu me encontro com alguém para jogar sempre que podemos —
seus olhos não deixam os meus e não fraquejo, pois estamos falando dos
meus desejos. — Antes de qualquer julgamento, deixe-me dizer que esse é
um estilo de vida que respeito muito. Eu me inseri nele para viver da melhor
maneira possível. Quero explorar muita coisa que esse mundo oferece e isso
começou antes mesmo de te conhecer.
— Não vou julgar, Duda. Acho que você tem o direito de explorar o
que desejar.
— Mas? — pergunto e ele sorri.
— Não sei se ficarei confortável com algo assim. Não sou o tipo de
cara que gosta dessas coisas e não saberia lidar com isso — ele me encara. —
Por que você está me contando?
Decepção toma conta de mim, mas tudo na vida tem seu preço.
— Quero ser honesta. Gosto de você, gosto de sair com você... —
sorrio sem jeito. — Estou interessada em você. Sendo assim, precisa saber
como é a minha vida. Entendo sua posição, em outros tempos esse seria o
meu posicionamento também. Mas essa sou eu, vivendo o agora. Acho
melhor ir para casa.
Levanto-me e pego a minha bolsa antes de ir em direção à porta.
— Duda... olha, tenho que digerir tudo isso e...
Vou até ele e seguro seu braço.
— Não se preocupe, Heitor. Está tudo bem.
Ele me beija ternamente na boca.
— Nós nos falamos depois? — Heitor pergunta.
Antes de responder essa pergunta, que está carregada de dúvidas,
estudo-o.
— Claro. Afinal, somos amigos, não é?
Ele sorri e assente.
— Sim, somos. Eu também estou muito interessado em você, Maria
Eduarda.
Assim me despeço de Heitor e vou para casa, a fim de refletir sobre o
que fiz hoje. Declarei em voz alta que estou disposta a pagar o preço que for
para viver o que quero e como eu quero. Parabéns, Duda.
Capítulo 35

Maria Eduarda
Um mês depois...

— Como o Rodrigo está?


Arthur respira fundo.
— Está bem. Deus que me perdoe, mas está melhor do que deveria.
— Não fale assim — digo e ele passa a mão pelos cabelos.
— Eu sei que não devo falar assim. Amo meu irmão, mas está difícil
aturá-lo.
— Como as coisas desandaram desta maneira? Não faz muito tempo
que estávamos todos bem, então o mundo desmoronou. O acidente, o
afastamento de Manuela e Rodrigo, agora a partida dela. Ele realmente está
disposto a casar com a Bárbara? — questiono.
— Sabe o que não entendo? Como ele pôde fazer aquilo com a
Manuela lá, cuidando dele. Se eu não visse a cena, diria que não aconteceu,
pois é o tipo de coisa que o Rodrigo abomina. Enfim, não tenho paciência e
nem vontade de lidar com ele.
— Ninguém tem.
Volto para minha sala e fecho a porta, abro todas as janelas e desligo
o ar-condicionado. Preciso respirar, pois tenho me sentido sufocada nos
últimos dias. Manuela e Rodrigo terminaram porque o chefe resolveu surtar
de ciúmes e fazer a Manu passar vergonha na frente dos amigos dela. Ela
apareceu aqui na empresa no dia seguinte, gritou a plenos pulmões com ele,
bateu a porta e saiu. Sabem o quanto é difícil organizar a agenda dos dois
para que não se encontrem? Pois é, eu sei.
Como se não bastasse, o idiota do meu chefe, Rodrigo, sofreu um
acidente. Manuela passou a noite ao lado dele, visto que Arthur e eu agimos
por impulso e acabamos em seu apartamento, com nossos jogos. Deus! Meu
corpo arrepia só de lembrar o que aconteceu. Eu precisava tirar uma dúvida
sobre aquele encontro com o Heitor, então tive a brilhante ideia de me
oferecer para jantar em seu apartamento, usei a mesma roupa e acessórios.
Tirando a parte em que Arthur não cozinha um ovo, tudo foi incrível.
Arthur pediu comida japonesa de um restaurante em que já estivemos,
pois sabe que gostei muito. Conversamos, rimos e eu bebi, mas ele apenas se
manteve na água. Depois do jantar, estávamos na varanda quando se
aproximou com palavras e toques indecentes. Então Arthur me levou ao seu
quarto, tirou a minha roupa e me apresentou aos grampos.
Ele me colocou ajoelhada sobre a cama e pacientemente colocou os
grampos em meus mamilos, grampos esses que eram ligados por uma
corrente e uma argola no meio, que segurava as três correntes, duas para os
mamilos e uma para o clitóris. Não doem, é apenas uma pressão intensa, na
qual qualquer movimento pode se transformar em dor. Acho que é isso que
deixa o jogo mais excitante.
Arthur passou suas mãos por todo o meu corpo enquanto dizia o
quanto sou linda e que não conseguia tirar nossos encontros da cabeça. Disse
que ama a minha entrega, força e inteligência. Beijos avassaladores nos
deixavam ofegantes, tanto na minha boca quanto em outros lugares. O
homem me atormentava cada vez que puxava a argola que ligava as
correntes, pois todos os grampos pressionavam e eu ficava cada vez mais
excitada. Eu não podia mudar de posição ou mesmo tentar qualquer
movimento.
Eu adorei quando ele falou:
— Quer meu pau, menina má? Quer que eu a foda, cadela? Você é
uma putinha gananciosa — fiquei molhada e fora de mim, implorando para
que me desse cada vez mais. — Vou foder essa boceta e esse rabo. Meu pau
é grande e você me sentirá por dias.
Eu sou pervertida e gosto de ser. Se isso me faz uma pessoa doente ou
má, estou muito lascada e nem um pouco preocupada. Afinal, a vida é minha.
Depois de me torturar até me deixar chorosa, Arthur se ajoelhou atrás
de mim, levantou meu quadril e me empalou. Segurava-me na cabeceira
enquanto ele socava em mim, fazendo tudo sacudir. Eu já estava muito perto
da ruptura quando me deitou e tirou um dos grampos do mamilo. Na hora que
o sangue voltou a circular normalmente, um formigamento dolorido
apareceu, mas Arthur sugou levemente e lambeu meu mamilo, transformando
aquele formigamento em tesão.
Ele fez o mesmo com o outro mamilo enquanto eu me contorcia,
implorando para que voltasse a me foder, para que eu tivesse mais um
orgasmo. Entretanto, o homem trabalhava com a ideia de compensação
tardia, ou seja, iria me torturar até que eu não aguentasse mais, só depois me
levaria ao orgasmo.
Dada atenção aos meus seios, ele desceu beijando o meu estômago,
meu umbigo, minha barriga até chegar entre as minhas pernas. Ainda com o
grampo, ele abriu os lábios da minha boceta e enfiou sua língua, fodendo-me
enquanto eu já via estrelas.
É possível chorar de prazer e Arthur consegue fazer isso comigo
sempre que quer. O homem conhece o meu corpo e sabe o que desejo, o que
preciso. Ele conhece as minhas necessidades e perversão sexual. É nessa hora
que é difícil não me apaixonar por ele, coisa que não consegui evitar.
Meu coração é desse homem lindo e gostoso, um modelo da Armani
que fode como um deus do sexo. Para piorar, Arthur é um executivo sagaz,
tem bom humor, é muito atencioso e cuidadoso. Ele tem estado ao lado de
Manuela, mesmo que para isso tenha que ficar contra o seu irmão.
Voltando a nossa noite, quando ele tirou o grampo do meu clitóris,
aquele formigamento retornou, mas foi aplacado com a habilidade de sua
língua, que beijava a minha boceta como se fosse a minha boca. Quando eu
estava a um segundo de explodir em um orgasmo, Arthur parou e levou para
o jogo um vibrador que parecia um microfone, muito potente.
Ajoelhado entre as minhas pernas, esfregou seu pau entre os lábios da
minha boceta enquanto eu me contorcia. Logo foi me penetrando lentamente,
sorrindo com as minhas súplicas. Quando já estava dentro de mim por
completo, ligou aquele maldito vibrador e tudo foi demais. Não suportei e
quebrei em múltiplos orgasmos. Ao passo que me fodia em busca de seu
próprio gozo, eu ia tendo incontáveis mini orgasmos.
Não sei em que momento tudo parou. Só lembro de ser acordada pelo
celular dele, na manhã seguinte. Arthur andava de um lado para outro,
desesperado depois de ouvir sobre o acidente de seu irmão. Ele me abraçou
tão forte e desamparado que meu coração apertou. Foi a minha vez de dizer
palavras encorajadoras.
Arthur queria que eu o acompanhasse, mas depois de ligar para os
seus pais, que ficaram tão desesperados quanto ele, achei melhor me manter
longe. Tinha que me preparar para estar ao lado de Manuela, se o pior
acontecesse. Enfim, enquanto ele tomava banho, fiz um café e me vesti.
Arthur apareceu na cozinha, bebeu o café que coloquei para ele e partiu
dizendo que eu deveria ficar e descansar, que ele voltaria para mim assim que
pudesse.
Não esperei, é claro. Liguei para Bia, que não atendeu, então fui para
casa. Quando cheguei em nosso apartamento e abri a porta do quarto da
minha amiga, eu a encontrei enroscada no Steban, que estava desmaiado.
Pela bagunça ao redor, presumi que a noite foi tão agitada quanto a minha.
Infelizmente, tive que acordá-los e não passou despercebido que ambos não
ficaram nem um pouco sem jeito. Steban levantou e ligou para Arthur, que já
havia chegado no hospital e disse que estava tudo bem, mas Manuela foi pega
de surpresa com algo que aconteceu e saiu do hospital desolada.
Bia e eu trocamos de roupa e fomos para a casa de Manuela, enquanto
Steban seguia para o hospital. Demorou mais do que queríamos para chegar
na casa da nossa amiga, que estava chorando descontroladamente. Sua dor
era tão palpável que doía em nós. Fizemos o que toda boa amiga faz,
sentamos e choramos juntas. Quando ela se acalmou, contou o que aconteceu
e, como boas amigas, passamos a detestar o Rodrigo.
Como ele pôde fazer isso com ela?
Manu ainda se culpa pelo acidente do Rodrigo, ela disse que evitou
todas as suas ligações e que saiu para se encontrar com o Doutor Júlio César,
que também é um dominador. Segundo Bia, ele é um péssimo ser humano.
Manuela já estava com o médico em algum lugar quando seu telefone tocou e
avisaram que o Rodrigo deu entrada no hospital por causa do acidente que
sofreu.
Desesperada, Manu correu para o hospital e se colocou ao lado do
ingrato desde aquele momento até ele acordar. Quando acordou, Rodrigo fez
um belo anúncio: se casará com a Bárbara. A Manu ainda chora por isso,
acha que ele fez por vingança e nós, como boas amigas, também achamos.
Ninguém ficou ao lado dele, nem mesmo o seu irmão. Os únicos que
acharam uma boa ideia foram os seus pais. O que já era de se esperar. Dona
Rosita, enfim, conseguiu o que queria. O Senhor Eduardo não é tão ligado em
berço quanto a sua esposa, para ele qualquer uma que caiba em sua causa está
de bom tom. Só não entendo o porquê Rodrigo se prestou a isso, não faz o
tipo dele ferir as pessoas desta maneira.
Sei que quando se trata de Manuela, Rodrigo fica cego, mas não a este
nível. Aquele dia foi difícil para todos, porque estávamos super preocupados
com ele, por mais que também estivéssemos ao lado da Manu.
Rodrigo teve alta e os dias se passaram, entretanto, nós não entramos
no clima do novo casal. Ele age como se nada tivesse acontecido e isso me
deixa furiosa. Várias vezes tive que me controlar para não falar algumas
verdades na cara dele. Nesse meio-tempo, Arthur e eu ficamos mais
próximos. Estou cada vez mais apaixonada e inserida no cenário BDSM,
estou curtindo cada minuto.
Aprendi gestos e posições de submissão, ando estudando bastante
sobre o assunto. Heitor também está mais próximo, mas é só amizade. Ele
não conseguiu administrar o que quero, então chegamos à conclusão de que
seríamos melhores como amigos, e assim o é. Sempre nos encontramos para
colocar o papo em dia ou para dançar.
— Duda, pode analisar esses números para mim, por favor? —
Rodrigo entra em minha sala, tirando-me dos meus pensamentos. Ele olha
para mim com cuidado. — Está tudo bem? — assinto e volto a me sentar em
minha cadeira quando Rodrigo coloca os papéis sobre a minha mesa. Nos
últimos dias, o olhar dele age como se estivesse perdido. — Olha, Duda, sei
que vocês estão me ignorando por causa da Bárbara e...
Levanto a mão, interrompendo-o.
— Não estamos te ignorando, Rodrigo. Você está agindo diferente e
nós reagimos ao seu comportamento.
Ele passa a mão pelos cabelos.
— Como a Manuela está?
Sorrio sem humor algum. Minha amiga está juntando os pedaços de
seu coração e se mudando para longe, para tentar curá-lo.
— Não será de mim que obterá essa resposta. Desculpe.
Alcanço o papel que ele trouxe e começo a olhar os números.
— Soube que ela embarcará para Nova York em poucos dias.
— Sim, a Manu está nos deixando. Já detectei algumas discordâncias,
mas farei uma análise completa e lhe entregarei assim que terminar.
Rodrigo apenas assente e, quando está saindo da sala, Arthur entra.
Ele fala alguma coisa para seu irmão enquanto eu o analiso. Essa não é a
atitude de alguém que está certo de sua decisão. Não, muito pelo contrário. É
como se o Rodrigo tivesse fracassado em algum momento. Ele anda triste e
não o vemos sorrir, está apenas sobrevivendo.
Sei que o Rodrigo terá que lidar com as consequências, mas gosto
muito dele e não tem como ser diferente. Ele é quem tem o poder de mudar
tudo.
— Você acha que dá conta disso, Duda? — mais uma vez, Rodrigo
interrompe meus pensamentos.
Ambos os homens olham para mim.
— Desculpem-me, estava longe. O que perguntaram?
Arthur se senta na beirada da minha mesa.
— Rodrigo e eu andamos conversando sobre aderir um departamento
de relações públicas. Na verdade, falei de todas as suas ideias e ele gostou
muito, agora queremos implementar.
Sorrio.
— Que bom que resolveram isso, posso garantir que, mesmo os
profissionais caros que contratarão, valerá a pena o investimento. O retorno
não será demorado e o departamento poderá lidar com mais atividades.
— Nós queremos que você gerencie o departamento — Rodrigo fala e
mal consigo me conter.
— Vocês têm certeza? Minha formação é outra e....
Arthur sorri.
— Você será responsável pela formação da equipe e estruturação do
departamento. Sei que você trabalhou de perto com a Manuela e certamente
aprendeu como encontrar os melhores profissionais — ele diz.
— E-eu não acredito...
— A Manuela falará... — Rodrigo fecha a boca antes de terminar a
frase, limpando a garganta em seguida. — Você tem total liberdade para
começar a trabalhar na estruturação da equipe, Maria Eduarda.
Parte o meu coração vê-lo assim. Sei que o Rodrigo estava prestes a
dizer que ela tomaria as providências, porque todos nós somos dependentes
dela. Logo, Rodrigo sai da sala, deixando-nos sozinhos.
— A Manu disse para trazermos pelo menos um assistente direto para
você, além de um aprendiz para assumir o seu lugar aqui na presidência. O
que acha?
— Por enquanto pode ser um assistente para me ajudar nesta nova
etapa, mas não é hora de deixar a presidência.
Arthur esfrega sua testa.
— Realmente, não sei o que faremos sem você e a Manuela.
Sorrio.
— Uma coisa de cada vez. Farei um planejamento e sentaremos para
conversar, se vocês concordarem, darei andamento. Combinado? — dou a
volta na mesa e o abraço. — Será que serei capaz?
Ele beija meu rosto.
— Você se sairá muito bem, menina linda.
Neste momento, meu telefone toca e Sara diz que tem uma entrega
para mim. Saio da minha sala curiosa, a fim de saber o que é tão importante
para que ela me faça vir até sua mesa, com Arthur em meu encalço.
Chegando, vejo o Heitor bem-vestido, como sempre, com um lindo sorriso no
rosto enquanto segura um buquê de flores. Vou até ele e o abraço, beijando
seu rosto.
— O que o traz aqui, com essas flores lindas? — pergunto.
— Lembra daquele caso que conversamos na outra semana?
— Claro! Sobre o contrato da Secretária de Educação da cidade —
digo.
— As discrepâncias que você apontou foram determinantes na
perícia. Estou aqui para lhe agradecer — ele me entrega o lindo buquê de
girassóis.
Eu as admiro e mostro para as meninas, que falam o quanto o arranjo
é lindo. Arthur dá um passo à frente e cumprimenta o Heitor, que retribui o
gesto. Ambos ficam se encarando, acho que esse é um daqueles momentos
em que eles querem marcar seu território. Homens!
— Heitor, quer um café, chá ou alguma outra coisa? — ofereço, mas
ele balança a cabeça e me olha.
— Não, querida. Só vim para lhe agradecer mesmo. Tenho alguns
compromissos ainda hoje e não posso me atrasar — ele se aproxima e me
beija no rosto. — Nós nos veremos em nosso encontro?
Ele está agindo de forma estranha, Heitor não é desses de passar a
impressão errada aos outros.
— Sim, nós nos veremos em breve.
Heitor se despede de todos e se vai. Logo Arthur tira o arranjo das
minhas mãos e entrega às meninas da recepção, antes de me arrastar dali. Só
tenho tempo de pedir que levem o arranjo para Dona Sônia, que saberá
exatamente o que fazer. Entramos na sala dele e a porta é fechada em um
estrondo, sou empurrada contra ela e lábios exigentes caem sobre os meus.
Quando mal conseguimos respirar, Arthur se afasta.
— Você é minha — ele fala entredentes e me beija tão ferozmente
que machuca os meus lábios. — Não quero você com aquele idiota. Quem ele
pensa que é?
— Heitor é um amigo muito querido. Você não está na posição de
exigir nada de mim, senhor Castro.
Nós nos encaramos por algum tempo.
— Por que você é tão difícil, Maria Eduarda? Por quê?
Ele se afasta.
— Não sou difícil, tigre.
— Não quero que saia com ele — seus olhos brilham.
Eu queria satisfazer seu ego, mas não irei. Isso não será bom para
nenhum de nós.
— Arthur, não iremos por esse caminho. Ok?
Ele respira fundo e se volta para mim.
— Quer me acompanhar na festa de aniversário do Rodrigo, no final
de semana?
Faço uma careta.
— Tenho que ir mesmo?
Ele ri e me beija.
— Tem, menina linda. Você tem que ir.
Capítulo 36

Arthur
— Você deve fazer como o seu irmão, Arthur. Assumir o
compromisso com a Érica e sossegar.
Observo meu irmão de longe e posso ver a tristeza daqui. Ele não é
mais o mesmo desde o acidente e só piora a cada dia que passa. Nada de mau
humor ou irritação, apenas tristeza. Não quero isso para mim.
— Agradeço, mas passo a oferta, Dona Rosita.
— Uma hora você terá que fazer isso, meu filho. É inevitável — ela
diz e olho o lugar cheio.
Todos estão aqui para comemorar o aniversário do menino de ouro da
alta sociedade carioca. Meus pais gostam de um circo, mas neste a minha
mãe se superou. Há pessoas aqui que nunca vi na vida e, pelo jeito, nem o
aniversariante. Encontro a Duda rindo com Beatriz, ambas estão distraídas,
não se dando conta de que chamam a atenção dos homens que estão ao redor.
— Quando essa hora chegar, tomarei as devidas providências. Até lá,
mantenha-me longe do seu radar. Eu não sou o Rodrigo.
Caminho entre os convidados, cumprimentando e fazendo o papel do
filho caçula dos Alcântara e Castro. Encontro Steban em um canto e me junto
a ele.
— Sua mãe caprichou na comemoração — meu amigo fala.
— Exagero é o seu nome do meio. Não sei como ele está tolerando
tudo isso — reclamo.
Rodrigo, que se mantém alheio a tudo, aproxima-se e se coloca ao
meu lado.
— Estou gostando de ver a sua animação — Steban debocha e meu
irmão faz uma careta.
— Estou pensando na melhor maneira de ir embora, sem chamar a
atenção.
— A festa é sua — digo e ele balança a cabeça, apontando ao redor.
— Não, a festa é da mãe. Eu só quero tranquilidade.
Beatriz se junta a nós e Steban a beija, deixando claro a todos que eles
estão bem.
— Muitas novidades essa semana? — Rodrigo questiona. —
Pretendiam me contar quando?
Bia coloca a mão na cintura, posição que indica que está pronta para a
guerra.
— Contar para quê, Rô? Desde o bendito acidente, você não é mais o
mesmo. Não nos procura, só quer saber da biscate ali.
— Bia, eu realmente preciso do apoio de vocês. Estou perdido durante
todo esse tempo, tentando entender o porquê vocês me viraram as costas. O
meu irmão trabalha comigo, mas mal olha na minha cara.
— Olha, cara, pode sempre contar comigo. Só não acho certo abrir
mão de quem você é para satisfazer os caprichos da sua mãe — Steban diz.
Bia retruca.
— Comigo você não vai contar. Até porque a sua futura esposa não
vai permitir a nossa amizade.
— Vocês têm notícia da Manuela? — Nós poderíamos contar ao
Rodrigo que ela está aqui, apenas fugindo da imagem dele com a Bárbara.
— A única coisa que sabemos é que ela embarcará amanhã, no início
da noite — Beatriz fala emocionada e Rodrigo a abraça.
— O que está acontecendo aqui? — Bárbara aparece do nada e Steban
puxa Bia para o lado dele, longe da recém-chegada.
— Estou chorando a morte do meu irmão e dando meus pêsames ao
senhor Rodrigo.
— Prometo que cuidarei bem dele, Ana Beatriz — Bárbara a provoca.
Neste ponto, já não ouço a conversa direito. Steban começa a levar
Bia para longe, mas ela fala alto o suficiente para que todos a nossa volta
ouçam:
— Diga-me uma coisa, Bárbara, não te ensinaram a diferença entre se
maquiar para uma festa e para um circo?
Deus nos ajude!
Ouço a Maria Eduarda enquanto nos afastamos do casal, que não é
bem-vindo entre nós. Paramos em um canto onde algumas pessoas se
aproximam para nos cumprimentar. De repente, sinto alguém me abraçar por
trás e eu rapidamente me afasto por instinto, pronto para me colocar em
frente a Duda. No entanto, ao me virar, vejo Manuela espantada com a minha
reação. Eu a abraço e beijo sua testa, todos do grupo também a
cumprimentam. Ela fica mais no canto para não correr o risco de Rodrigo a
ver, assim ela diz.
Ficamos em nossa bolha, conversando, rindo e curtindo a Manuela,
pois amanhã ela embarcará para o exterior sem data para voltar. Logo depois,
Manu decide ir embora, dizendo que há muito o que arrumar para sua
viagem. Assim que ela se vai, começamos a conversar sobre a nossa saída
também.
Eu os convido para ir em um barzinho, para fechar o sábado, mas
Steban fala sobre uma playparty que um dos membros do clã organizou para
esta noite. Bia e Duda ficam animadas com a ideia e estou a um passo de me
despedir de meu pai quando sinto meu celular vibrar no bolso.
— Oi, Manu — atendo preocupado.
— Sou eu, Arthur. Estou indo para casa.
Rodrigo? Que porra ele está fazendo? Olho ao redor e não o vejo em
lugar algum.
— Por que você está com o telefone da Manuela?
— Ela está indo para casa comigo.
Seu tom de voz é sério, mas animado. Essa situação me deixa feliz e
preocupado ao mesmo tempo.
— Você está bem, Rodrigo? — pergunto.
— Muito bem, irmão.
Com certeza esse será o plot twist[23] da vida dele.
— Divirta-se. Deixe as coisas por minha conta.
Ele desliga o telefone sem se despedir. O homem deve estar com
pressa de chegar em casa. Meu pai está me encarando sem entender nada e,
neste exato momento, minha mãe silencia o salão para brindar o
aniversariante. Não me contenho e começo a rir. Caminho até ficar ao lado
dela e dou aos convidados o meu melhor sorriso, pois vou precisar.
— Estamos reunidos para comemorar mais um ano de vida do nosso
garoto de ouro.
Minha mãe me dá uma cotovelada na costela.
— O que está acontecendo? — ela pergunta entredentes enquanto
fingi sorrir.
— Estou brindando.
Seu olhar raivoso é de gelar a alma, só que quem lidará com isso será
o irmão mais velho, não eu.
— Cadê o Rodrigo? — ela questiona e limpo a garganta.
— Estamos reunidos... — minha mãe me belisca e eu engasgo.
Afasto-me dela. — Onde estava mesmo?
— Reunidos pelo garoto de ouro e tal... — alguém fala.
— Ah, sim. Obrigado. Como queremos que o Rodrigo tenha um ano
cheio de saúde, paz e amor, entenderemos sua ausência — burburinhos soam
entre os convidados. — Meu irmão teve que sair para resolver algo
importante de sua vida, mas deixou o seguinte recado: bebam a mim e por
mim! Então, um brinde ao cara generoso e incrível que o Rodrigo Alcântara e
Castro é. Irmão, onde quer que você esteja, seja feliz.
Todos levantam seus copos e gritam em uníssono:
— Seja feliz. — E bebemos.
Minha mãe está lívida e meu pai se aproxima com cara de poucos
amigos.
— Onde seu irmão se meteu?
— Isso vocês terão que resolver com ele.
Afasto-me rapidamente, antes que algum deles e me siga e exija
explicações sobre a fuga de Rodrigo. Como se lessem os meus pensamentos,
Steban e as meninas me encontram na porta. Saímos e pedimos nossos carros,
enquanto esperamos, eles me questionam quanto ao sumiço de Rodrigo.
Olho ao redor antes de responder:
— Não me perguntem como, mas ele está com a Manu. Rodrigo me
ligou segundos antes do brinde, avisando-me que havia saído.
— Tem certeza? — Duda pergunta.
— Absoluta. Ele me ligou do celular dela.
Bia sorri.
— Será que eles ficarão juntos e ela desistirá de viajar?
Steban, pragmático como sempre, diz:
— Duvido muito. Estamos falando da Manuela, já a viu desistir de
algo?
— Mas... tudo pode acontecer, não é? — Bia, que tem esperança
estampada na testa, pergunta e Steban a olha.
Nem o coração mais duro resistiria a essa expressão. Meu amigo a
beija antes de responder:
— Sim, pequena. Tudo pode acontecer. — Ele se volta para nós. — A
playparty será na casa do Jean Paul....
Bia geme.
— Ah, não. Podemos desistir?
Entendo o desgosto dela.
— Qual é o problema? — Duda pergunta.
— Jean Paul Goësbriand é um velho francês que exige que todos
cumpram suas regras estúpidas.
— Beatriz... — Steban a adverte.
Neste momento, os carros chegam e fico de seguir o Steban pelo
percurso até a casa de Jean Paul. No caminho, Maria Eduarda começa a ficar
ansiosa e seguro sua mão. O anfitrião é exatamente como a Bia descreveu, só
que não deixarei a Duda ainda mais tensa ao colocar lenha fogueira.
— Não precisa ficar nervosa. Jean Paul é conservador e gosta que
todos sigam as regras do jogo, o que não será ruim para nós. Ele é um dos
fundadores do clã, mas não é um Mestre, então não pode ser o Grão-mestre.
Só que seu apoio é essencial para os líderes.
— Ele é uma boa pessoa? — ela pergunta insegura e eu aperto sua
mão.
— Jean e sua esposa, Lucille, são boas pessoas. Eles são de família
rica, ou seja, vieram de dinheiro velho e tradições.
— Devo me preocupar?
— Não, menina linda. Não precisa se preocupar, mesmo se não
estivesse comigo. Nesta noite você será minha menina e eu serei seu Dono.
— Já não somos assim? — É a vez dela de apertar a minha mão.
Viro-me rapidamente para olhar a Duda e noto que ela está sorrindo.
— Parece que sim — respondo também sorrindo.
O casal francês mora em uma mansão vitoriana no Jardim Botânico.
Assim que chegamos, um manobrista uniformizado abre as portas para que
saiamos, antes de levar o carro. Steban e Bia nos esperam ao lado da entrada
da bela mansão. Beatriz, que estava de saia e blusa, saltos e cabelos soltos,
agora está descalça, tem os cabelos presos em um rabo de cavalo, usa saia
curta e sutiã. Como submissa, ela não pode estar mais vestida do que o seu
Dono. Como foi falado anteriormente, Jean Paul leva as regras regiamente.
— Por que você está sem roupa e sapatos? — Duda pergunta para sua
amiga.
— Steban insistiu que fosse assim — ela fala sem humor e Steban
passa a mão no rosto.
— Você queria entrar apenas de calcinha....
Olhamos para Beatriz, que dá de ombros.
— Nunca tive problemas em andar nua — ela aponta para Maria
Eduarda. — Você sabe disso. Eu não tenho problema com nudez.
— Bia, lembre-se que está entrando como minha menina.
— Sim, sim, eu sei. A submissa leal e discreta do todo-poderoso —
ela debocha.
Duda e eu rimos, então Steban aponta para a minha menina.
— Você também precisa melhorar isso.
Dou uma olhada em Maria Eduarda e vejo o que podemos fazer. Seu
vestido não nos deixa muita opção, então, tiro a minha camisa e estendo para
ela.
— Nós entraremos e iremos diretamente ao lavabo, você fará a
mudança de roupa e trançará os seus cabelos, não forte, pois pretendo
desamarrá-los assim que possível.
— Por que tudo isso?
— Você verá em breve — Bia diz.
Logo que entramos, peço a um dos empregados para que nos conduza
ao banheiro. Já estive aqui em playparties e jantares, a casa é luxuosa, toda a
decoração parece ser do século dezenove. Há muito mogno, vermelho-escuro
e dourado, tudo de muito bom-gosto. O banheiro a que somos conduzidos
não é diferente do restante da casa. Coloco a Duda em frente ao espelho e
abro o zíper lateral de seu vestido. Conforme ele abre, expondo sua pele
cremosa, vou me excitando.
Nossos olhos se encontram no espelho, seus lindos olhos brilham com
luxúria, assim como os meus. Quando termino de abrir o fecho, acaricio suas
costas e empurro o vestido até que ele caia aos seus pés. Seu corpo é
espetacular, seus seios exuberantes, cintura fina e pernas grossas. Pressiono
meu corpo contra o dela e seguro seus seios, apertando-os, logo puxo seus
mamilos até ela gemer.
— Menina linda.
Duda tomba sua cabeça em meu ombro e se deixa levar pelas carícias
de minhas mãos em seu corpo. Coloco sua calcinha de lado e dedilho sua
entrada, que começa a ficar úmida. Beijo seu belo pescoço e ombro enquanto
ela monta a minha mão, gemendo alto, entregando-se para mim. Quando
penso em abrir a minha calça, somos interrompidos por batidas na porta.
— Parem de foder e saiam daí de uma vez — só poderia ser a Ana
Beatriz.
— Já vamos — digo.
Ajudo Maria Eduarda a colocar a camisa, fechando apenas um botão
abaixo dos seios. Ela trança seus cabelos e tira um amarrador da bolsa para
prendê-los. Duda está corada, ofegante, pronta para ser levada contra a pia.
Este desejo e possessividade que sinto em relação a ela nunca passará. Já
estamos nesta relação há algum tempo e não tenho o suficiente dela.
Trabalharmos no mesmo lugar, para o mesmo fim, só faz a parceria se
fortalecer, tornando difícil não me comprometer.
Cada dia que passa, estou cada vez mais envolvido com essa linda
mulher, que não tem medo de nada e quando quer alguma coisa, luta e
conquista. Ela está cada dia mais sob a minha pele e às vezes me pego
lutando contra tudo isso. Combatendo a ideia de sermos um casal, eu a evito
para frear todos esses sentimentos, mas não sou bom nisso. Não sou bom para
ela, mas não pretendo ficar distante. Não posso. É como se tudo o que eu
fizesse me levasse até ela, é algo inexplicável... uma louca fixação que nunca
senti por ninguém.
Beijo-a antes de sairmos do banheiro e logo temos a Bia apontando
um dedo em nossos narizes.
— Não falei que os coelhos estavam acasalando? Olha o rosto dela,
está corado de fo....
Steban tapa a boca dela.
— Você prometeu se comportar. Não ficaremos aqui por muito
tempo, então, se comporte pelo tempo necessário, querida. Você precisa
colocar a Duda a par de tudo, já que Arthur e eu andaremos na frente.
Convenções.
Caminhamos um passo à frente das meninas e o silêncio me ajuda a
escutar toda explicação de Beatriz.
— Jean Paul e Lucille são pessoas antiquadas em relação às regras e
ritos, porém, são abertos a qualquer experiência que chame a atenção. Eles
transitam pelo BDSM e Swing sem chamar a atenção da sociedade. Então,
eles gostam que os papéis sejam bem distintos. A submissa realmente deve se
submeter em todos os momentos que estiver com seu Dono e o Dominador
deve se portar como tal. Eles acharam a cerimônia do Rô e da Manu quase
perfeita, se não fosse pela paixão descaradamente mostrada pelos dois.
— Por isso temos que andar dois passos atrás deles? — Duda
pergunta.
— Sim. Nosso papel é estarmos prontas e atentas para servir aos
Donos. Quando chegarmos onde está rolando a festa, sente-se aos pés de
Arthur. Nunca, em hipótese alguma, fale sem a permissão dele. Quando
quiser falar, belisque a perna dele, então o Arthur se curvará e todos verão
que ele espera uma resposta sua.
Paramos em frente as portas duplas e Steban fala:
— Duda, esta é uma festa tradicional do nosso meio. A ideia é
desfrutar uma noite conforme as nossas regras. Sei que já foi em algumas
festas, mas acredite, nada comparado a isso — ele olha para mim. — Acho
que hoje ele testará você, então fique ligado. Somos modernistas, mas não
podemos escancarar isso na casa do Jean.
As portas se abrem e entramos em outro universo, onde há cruzes de
Santo André, balanços e cadeiras eróticas. Ganchos para apresentação de
bondage, mesas, cadeiras e almofadas pelo chão. Há pessoas bem-vestidas e
outras completamente nuas, casais transando e outros apenas conversando.
Todos compartilhando deste universo, que me faz sentir em casa. Pela
expressão de deslumbramento de Maria Eduarda, ela também sente. O que
nos faz ser um belo par, perfeitos um para o outro, e isso me assusta pra
caralho.
Capítulo 37

Maria Eduarda
Dois meses depois...

— Sala da Maria Eduarda Moraes, Virginia falando. No momento ela


não pode atender, gostaria de deixar recado? Manuela, qual o seu sobrenome?
— vejo a moça empalidecer. — O-oi, senhorita Vasconcelos. Tudo bem?
Perdoe-me, não reconheci sua voz.
Vou até a mesa e Virginia me entrega o telefone, agradeço e digo que
ela pode tomar um café.
— Fala, senhorita Vasconcelos.
— Que orgulho da minha amiga, que agora está rodeada por
assistentes. Espero que você tenha escolhido os melhores — ela fala.
— Acho que acertei. Como você está, Manu? — sinto um aperto no
peito. — Já passou todo esse tempo e não me conformo com a sua partida. —
Ela respira fundo e fica em silêncio, preocupando-me. — O que aconteceu,
Manu? Sei que está acontecendo alguma coisa....
— Estou voltando para casa.
Agora é a minha vez de ficar em silêncio por algum tempo.
— Está voltando para casa, aí na cidade, ou está voltando....
— Para o Brasil, Duda.
A minha ideia era dizer o quanto estou feliz, mas pulo da cadeira e
grito:
— AH, MEU DEUS! AH, ME DEUS! QUE MARAVILHA!
Ela ri.
— Vou diretamente para a casa dos meus pais, no Sul, depois voltarei
para o Rio.
Fungo no telefone como uma criança.
— Não acredito! Já estou ansiosa para te ver, Manu.
— Em breve, querida. Ligarei para Bia e espero que ela não grite
como você, a ponto de deixar meu ouvindo zunindo. Se cuida, Duda. Beijos.
Ao desligar, corro até a sala do Arthur e eu o encontro com Rodrigo.
Por mais que eu queira compartilhar as boas novas, sei que não devo. Se a
Manuela quisesse que o Rodrigo tomasse conhecimento, ligaria diretamente
para ele.
Os homens me olham curiosos por causa da minha entrada repentina.
— Algum problema, Duda? — Arthur pergunta.
— Nã-não... eu só queria te contar algumas novidades do novo
departamento.
Rodrigo olha entre nós dois, fecha a pasta que está em as mãos e se
levanta.
— Deixarei vocês dois. Com licença.
Rodrigo sai e fecho a porta assim que ele passa. Eu me sinto um
pouquinho mal por ele... mas só um pouquinho. Arthur se aproxima e me
pressiona contra a porta, antes de beijar o meu pescoço.
— Você tirou o Rodrigo daqui para ter um bom tempo comigo?
Coloco as mãos em seu peito e empurro, sorrindo.
— Não, seu pervertido. Tenho um segredo e você precisa me
prometer que não contará a ninguém.
— Se você me der um beijo, posso guardar um segredo. Agora me
conte, é algo sujo e selvagem? — Arthur balança as sobrancelhas. — Sei que
a minha menina gosta de selvageria.
Rio.
— Pare, seu pervertido. A Manu está voltando para o Brasil.
Ele fica em silêncio e me olha, visivelmente confuso. Demora algum
tempo para a ficha do homem, que está na minha frente, cair.
— Manu está voltando para casa. Ela está bem?
— Aparentemente, sim. Só saberemos quando a Manu chegar — coço
a cabeça. — Até porque eu esqueci de perguntar quando ela chegará. Sei que
irá direto para o Sul, para passar alguns dias com a família.
Arthur me puxa e nós nos sentamos no sofá, ele passa o braço pelos
meus ombros e deito a cabeça em seu ombro. Ele começa a acariciar os meus
cabelos e eu a passar a mão pelo seu peito. Não me perguntem por que
fazemos isso, só que, de uns tempos para cá, é assim que Arthur vem agindo.
No entanto, não estou muito confortável com essa aproximação. Isso
resultará em um coração esmigalhado, porque o homem ao meu lado não faz
e nem fala nada além disso. Não preciso ser um gênio para saber que estamos
íntimos, apreciando um bom momento.
Por que continuo levando isso em frente sabendo o resultado?
Levanto-me e caminho pela sala, falando sobre o planejamento do
novo departamento, sobre como é desgastante treinar assistentes em uma
coisa que a gente nem tem certeza se sabe. Arthur ouve e tece comentários
para me ajudar, somos bons parceiros, bons amigos e excelentes amantes. Só
de estar perto dele, meu corpo entra em alerta, querendo ser tocado,
subjugado e marcado. Balanço a cabeça para me livrar desses pensamentos e
alguém bate na porta.
Graças a Deus.
Daniela anuncia que o Heitor está aqui e lembro que marcamos de
almoçar juntos. Peço para que ela o leve até a minha sala e, quando olho para
Arthur, noto que o sorriso dele se foi e que sua expressão austera está
presente. Ele se senta em sua cadeira e começa a maltratar o teclado,
digitando com tanta força que chega a doer em mim. Não sei o que causou a
mudança repentina de seu humor ou o porquê ele está agindo assim, nem sei
se quero saber.
— Estou saindo...
— Com o paspalho do Heitor, eu sei — Arthur resmunga.
Então me dou conta do que causou seu mau humor repentino.
— Paspalho, Arthur? Sério?
— Que seja, Maria Eduarda. Vá para o seu almoço.
Penso em ir até ele e arrancar esse humor de merda, mas o Arthur não
é mais uma criança para agir assim, também não sou sua babá. Saio da sala
dele para encontrar o meu amigo, antes de sair para o almoço. Estou feliz,
quero comemorar a volta da minha amiga e ter um bom tempo para relaxar
em meio ao caos que anda a minha vida. Quando entro na sala, sou
arrebatada em um abraço dado por um dos homens mais bonito que já
conheci. Heitor é um bom amigo e nossa amizade está ficando mais sólida
com o passar do tempo.
Alcanço a minha bolsa e meu telefone, passo algumas coisas para
Virginia e saio com Heitor para o almoço. Hoje ele escolheu um restaurante
que só serve salada, mas eu não sou uma mulher só de saladas. Heitor está em
uma vibe de reeducação alimentar, com restrição de alimentos. Ao que
parece, tenho que apoiá-lo como amiga. Mesmo que a amiga aqui possa
comer um boi pela perna. Eu queria parabenizar todas as pessoas que têm a
consciência alimentícia bem apurada, a ponto de abrir mão de carnes, ovos e
leite.
Conto ao Heitor sobre a volta de Manu e ele me fala sobre a garota
que o tem cercado todos os dias. Lembra da estagiária que ligou em um
sábado à noite? Sim, eu sabia que tinha coisa ali. Como o profissional que é,
Heitor está fugindo dela como o diabo foge da cruz. No entanto, a fuga não
durará muito tempo, já que ele está cada vez mais caído por ela.
Pela foto, é uma moça linda e tem cara de predadora. Se ele não tomar
cuidado, será a sobremesa dela. Neste momento de brincadeira, Heitor segura
a minha mão sobre a mesa, a fim de mostrar o que aconteceu com a
estagiária, então Arthur Alcântara e Castro aparece com um cara
desconhecido e demonstra seu desgosto sem nem ao menos chegar perto.
Não vou lidar com isso, pelo menos, não agora. Para Arthur ter direito
a dar opinião no que faço, ele tem que fazer parte da minha vida. Não é isso o
que acontece, então não perderei mais o meu tempo pensando em “e se”. Não
tenho mais idade para ilusões e, por mais que eu esteja atraída pelo homem,
tento me manter ligada para não me afundar ainda mais.
Depois do almoço, volto para a empresa e me concentro no trabalho.
Não sei quanto tempo passa, mas ouço a porta ser fechada com mais força do
que deveria. Levanto a cabeça e vejo um dos meus chefes caminhando em
minha direção, determinado a fazer alguma coisa.
Recosto-me na minha nova cadeira executiva grande e confortável,
para ver o que acontecerá a seguir. Arthur dá a volta na mesa e empurra
minha cadeira para trás, coloca suas mãos em cada lado dela. Posso ver a veia
em pescoço pulsar, o homem está muito irritado.
— Vocês pareciam muito íntimos no restaurante. Amigos não agem
daquela maneira, senhorita Moraes.
— Amigos também não amarram uns aos outros e os fodem, senhor
Castro — respondo irônica. — Qual é o seu problema, Arthur?
— Vou te mostrar qual é o meu problema.
Ele vai até a porta e a tranca, volta para mim e se ajoelha na minha
frente, abrindo as minhas pernas. Isso faz com que a minha saia suba demais,
expondo a minha calcinha de renda branca. Suas mãos acariciam minhas
pernas, elevando a minha saia ainda mais. Arthur desliza pelas minhas coxas
com a sua boca úmida até chegar entre as minhas pernas. Seus olhos
encontram os meus.
— Só de imaginar que outro homem colocou a mão em você... a boca
em você, faz com que eu perca qualquer fio de razão.
— E-e por isso você invade minha sala e... aahh, meu Deus!
Sou interrompida pela sua boca perversa, que agora me lambe e chupa
como se fosse o melhor dos sorvetes. Este homem deveria ser preso pelo faz
com essa boa... e com as mãos. Sento-me mais na beirada da cadeira e seguro
seu cabelo, para que eu não saia do lugar. Arthur me abre, expõe o meu
clitóris e o segura entre os dentes, dando-me aquela picada de dor que eu
tanto preciso. Em seguida, ele me penetra com a língua nas duas entradas,
fazendo-me gemer tão alto que talvez todos ao redor possam ouvir. Gozo em
sua boca e ele não para de me lamber até que o último dos meus tremores
passe.
Neste instante, o telefone sobre a minha mesa toca e eu atendo
rapidamente.
— O-oi.
— Eu não quero ser indelicado, mas acabei de passar pela sua sala e
ouvi....
Eu o corto.
— Ah, meu Deus! — ofego. — Diga-me que estava sozinho.
— Eu queria dizer, mas....
— Ok, ok, ok. Não aconteceu nada, só um problema que me
ajudaram a resolver.
Me mata, Deus!
— Até mais, Duda.
Desligo o telefone sem nem mesmo me despedir, minha educação foi
dar um passeio junto com a minha cara. As coisas entre nós estão ficando
cada vez mais descontrolada e não sei como frear.
Arthur tira as minhas mãos do meu rosto, levantando-o para beijar. A
sua irritação e ciúme descabido já se foram, deixando o Don Juan para trás.
Estamos em um jogo perigoso aqui, o que antes era levado para fora da
empresa, em alguns dias, está a qualquer momento e qualquer lugar. Estamos
muito confortáveis um com o outro e ele ainda não percebeu que está em um
compromisso descompromissado. Na hora que isso acontecer, as coisas não
ficarão bonitas. Arthur e Rodrigo se autossabotam e não quero ser pega no
meio do furacão, como a Manuela foi.
Eu me levanto e arrumo a minha roupa. A sala cheira a sexo, eu
cheiro a sexo, o maldito homem lindo, a minha frente, cheira a sexo. Tudo
isso se repete cada vez mais e está saindo totalmente do controle.

***

— Grávida?
— Ela disse “grávida”?
— Tipo, com uma criança na barriga?
E assim que a nossa ficha cai, voamos para cima de Manuela e a
abraçamos. Minha amiga será MÃE e agora a mãezinha está chorando
copiosamente nos meus braços.
— Serei um tio? — Arthur pergunta, ainda chocado. Manu assente e
seu choro se intensifica, como se isso fosse possível.
Ele se aproxima e faz perguntas a Manu, que sente prazer em
responder, mesmo chorando. Sei que grávidas são sensíveis, mas ver a Manu
assim é impressionante. A história dos hormônios realmente é verdade.
Enquanto Arthur e Steban conversam com uma Manuela chorosa, Bia e eu
olhamos o aplicativo de delivery, a fim de pedirmos comida. Nós nos
sentamos a sua volta novamente para discutir quem ficará com ela e quando,
mas a mulher reluta a cada tópico e diz que gravidez não é doença, que
voltará ao trabalho em breve.
Manu também diz que irá a um obstetra em breve, mas no estado em
que está, demorará uma eternidade para escolher um. Faço uma busca rápida
pela internet e organizo uma pequena lista para que ela escolha um nome,
assim que aponta, já envio uma mensagem para o celular de Virginia e peço
que a consulta seja agendada o mais breve possível. Enquanto eu me sento
entre as pernas de Arthur, envio uma mensagem sorrateira. Sei que não
deveria, mas ele anda tão arrasado. Na hora em que estou digitando a
mensagem, Manu pergunta se estamos bem e Arthur acaricia os meus
cabelos. Sei que ele tem plena visão do meu telefone, então quando percebe o
que estou fazendo, diz:
— Nós estamos muito bem.
Envio:

Eu: Manuela está de volta em seu apartamento, na cidade.


Eu: Não fui eu que contei.
Eu: Essa mensagem se autodestruirá em 3... 2... 1... BOOM!

Deus me ajude se a Manuela descobrir que eu a deletei ao Rodrigo,


mas o homem merece saber que seu grande amor está por aqui, grávida de
seu filho ou filha. Colocamos a conversa em dia, alimentamos a futura
mamãe e limpamos tudo antes de sair. Precisamos descansar, tanto Manu
quanto nós.
No caminho para casa, vou pensando que tudo está prestes a mudar.
Meu peito se aperta ao pensar qual será a recepção dos pais do Rodrigo,
quando souberem da gravidez dela. O Rodrigo afastou a Manuela dizendo
que assumiria um compromisso com a Bárbara, mas isso não aconteceu e
pelo jeito nem acontecerá. Assim que ele souber da gravidez da Manu, se
renderá completamente. Disso não tenho dúvidas. Porém, existe seus pais,
Dona Rosita mais especificamente, que não aceitará de bom grado.
Penso em Arthur e sua aversão por compromisso. Ele, ao contrário de
Rodrigo, não se renderia. Arthur não só acredita que o casamento não é uma
instituição sagrada como pensa que não será um bom pai. Ele não tem medo
de repetir as façanhas de seu genitor, não.... Arthur não quer machucar, não
quer que sua esposa se transforme em sua mãe, que finge não enxergar o que
acontece e é rancorosa. Arthur está decidido a não fazer outra mulher passar
por todas as humilhações que sua mãe já passou. O homem crê nisso com
tanta força que se autossabota, não enxergando a possibilidade de ser feliz
com uma companheira.
Eu quero? Sim. Estou disposta a esperar por ele até o dia em que
acordará e, por um passe de mágica, dirá que ama? Não. Porque esse dia pode
nunca vir a acontecer. Por mais que eu o queira — acredite, eu o quero —,
acho que o amor não é o suficiente para suportar ou lutar por alguém que está
decidido a não se render. Se eu entrar nessa, abrirei mão de quem sou por
alguém que nunca será o que eu preciso.
Capítulo 38

Arthur
Seis meses depois...

Por isso mantenho a minha vida sob controle, longe de


relacionamentos amorosos. Envolver o coração nunca é saudável, nunca!
Alguém sempre sairá estraçalhado. O maior exemplo de todos é o homem
que está na sala ao lado. O Rodrigo teve seu coração partido por causa de
uma trama ardilosa de nossa mãe. Não tenho dúvidas de que a ideia de
Manuela flagrar Rodrigo e Bárbara juntos, há algum tempo, foi de Rosita
Alcântara e Castro. Tem a marca dela nisso, só que a Manu não quer lidar
com as tramoias da minha família, então decidiu se afastar e manter meu
irmão longe de si.
O homem está destruído, pois deu a sua marca, sua devoração e seu
coração para alguém que não será sua. Pelo menos, não enquanto ele não
parar a minha mãe, que tem todos os seus esforços voltados para o Rodrigo.
Meus pais aprenderam muito cedo que sairei de cena em um piscar de olhos
se me pressionarem. Muito diferente do menino de ouro, Rodrigo Alcântara e
Castro, que agora definha por um coração partido, pela mulher que carrega
seu filho.
Sempre que penso em colocar uma coleira em Maria Eduarda, alguma
coisa acontece e me mostra que a vida não é essa casquinha de sorvete. Deus
sabe o quanto estou ficando confortável com a nossa relação. A única coisa
que me incomoda é aquele maldito advogado que não some. Dizem que são
amigos, mas, porra! Eu sou amigo dela também e olha onde estamos. Duda é
uma linda feiticeira de paus, a mulher não se deu conta ainda de que pode ter
qualquer homem aos seus pés.
Se eu disser que me permiti ficar tão próximo a ela
inconscientemente, estarei mentindo. Eu a quero, cada dia que passa eu a
quero mais, então mantenho-me em alerta, dando a ela o que precisa em
termos claros. Assim, consigo controlar o que pode ou não acontecer. Não
faço perguntas sobre o Heitor, mantenho nossa relação BDSM longe de sua
relação secular ou baunilha, como queiram chamar, mas admito que nos
últimos meses tenho exigido mais de seu tempo e que ela tem me cedido sem
hesitar.
Nossa relação é íntima demais para ser platônica. Somos parceiros,
companheiros, amantes e amigos. Essa é a receita para ter sucesso, uma boa
relação, basta não se comprometer. Estamos bem e é melhor não estragarmos.
A única coisa que me incomoda é aquele maldito advogado dos infernos, que
mais parece um modelo do que um advogado idiota.
Tento não pensar muito que ela, quando não está comigo, está com o
Heitor. Todas as vezes que me permito pensar nisso, quebro alguma coisa.
Sei que tenho sentimentos fortes por Maria Eduarda, que a qualquer
momento as coisas podem sair do controle, como eu surtar e querer matar o
seu namoradinho de merda. Estou fazendo o meu melhor, até quando isso
durará, só Deus sabe.
Maria Eduarda entra em minha sala como se lesse os meus
pensamentos. Ela agora é uma executiva da construtora, comandando o novo
departamento de Relações Públicas, mas ainda não abriu mão de auxiliar
Rodrigo e eu. Duda faz questão de orientar os assistentes para que cada um
de nós seja bem-atendido. No entanto, quando se trata de assuntos pessoais,
ela mesma toma conta. Manuela também é uma adição preciosa. O problema
é que precisamos organizar tudo para que ela não esbarre no Rodrigo pelos
corredores, o que é ridículo, já que ele a observa de longe.
— Nós precisamos fazer alguma coisa — Duda fala enquanto anda de
um lado para outro. — Olha, a gente nem sabe se ele está tomando banho.
Ele está perdendo peso, não se concentra direito, atormenta a vida das
pessoas ao redor. Uma das minhas assistentes teve uma crise nervosa —
Duda me encara. — Ele fez um homem de quase trinta anos chorar como
uma menina!
Ela está falando do meu irmão.
— A Bia acha melhor fazermos uma intervenção, ela e Steban estão
vindo para cá — digo.
Duda balança a cabeça e levanta a mão.
— Tudo o que não precisamos agora é do “casal mau humor”
discutindo.
Afasto a minha cadeira.
— Vem aqui, menina linda — Duda nem percebe que seu corpo
atende as minhas ordens. Ela se senta em meu colo. — Você está estressada,
precisa desacelerar.
Maria Eduarda começa a relaxar.
— Por que nossos amigos não podem ser simples, como nós? —
questiona. — Agora seremos tios, mas os pais da criança nem se falam.
Batidas na porta fazem a Maria Eduarda saltar do meu colo e cruzar a
sala para atender. Uma das meninas da recepção aparece, anunciando que o
Heitor Andrade está aguardando por ela na sala de espera. Antes que consiga
sair, eu a seguro.
— Você não vai nos deixar por ele, não é?
Seu sorriso se desfaz.
— Do que você está falando, Arthur?
— Hoje vamos tratar do assunto Rodrigo e Manuela, não há espaços
para o advogado de foda. Aliás, nem sei por que você continua saindo com
ele. Heitor não lida muito bem com a relação que temos.
Maria Eduarda me encara.
— Heitor não está preocupado com a nossa relação. No entanto,
ultimamente você anda falando muito nisso, o que me leva a pensar que você
está com ciúme, senhor Castro.
Minha vez de sorrir. Jesus Cristo! Estou agindo feito um lunático.
Respiro fundo e passo a mão pelos cabelos.
— Não é ciúme, só que esse momento é importante e não cabe o
Heitor no cronograma.
— Arthur, pare com o drama.
Abro a porta para Duda sair e caminho ao lado dela até estarmos
próximo à sala de espera. Heitor está na porta, distraído enquanto fala ao
celular. Não sei o que me deu, eu simplesmente agi. Puxo o braço da Duda e
a beijo contra a parede, dando um espetáculo para todos verem. Sim, eu sou
um troglodita que por um maldito instinto quer marcá-la. Afasto-me de
repente como se a mulher a minha frente tivesse criado duas cabeças.
Que merda estou fazendo?
Olho para os lados e não há ninguém, ainda bem.
— Duda? — viramos na direção da voz e lá está Heitor, que olha
entre nós.
Ela sorri como se nada tivesse acontecido.
— Heitor — Duda vai para os braços dele —, como está?
— Estou bem e, pelo que vejo, você também. — Ele vem até mim e
estende a sua mão. — Como está, Arthur?
— Estou melhor do que mereço. Se me derem li...
Steban e Bia saem do elevador discutindo. Assim que nos veem,
aproximam-se.
— Podemos fazer isso de uma vez? Tenho um encontro e não quero
me atrasar — Bia fala, impaciente.
— Encontro em horário comercial? — Steban a questiona.
— Encontro em qualquer horário que eu quiser — ela retruca. —
Maria Eduarda também está em um encontro, por que não mira sua
superproteção nela?
Todos olhamos para a mulher em questão, que levanta as mãos em
sinal de rendição.
— Não estou em encontro algum, não mudem de assunto. Estamos
falando de Beatriz.
Bia aponta para Heitor.
— Então, o que ele está fazendo aqui? — Somos dois querendo saber.
Os olhares de todos se voltam para ele.
— Estava aqui perto e vim dar um “oi”. Algum problema?
— Não, nenhum problema, querido — Duda fala. — É que estamos
para entrar em uma reunião e, como você pode ver, eles já estão com os
ânimos agitados. Não leve para o lado pessoal.
— Nós nos falamos depois — Heitor beija o canto da boca de Duda e,
pela expressão em seu rosto, ela foi pega de surpresa. O inútil quer marcar o
território.
Heitor se despede e vai embora.
— Vamos fazer isso de uma vez — digo, já caminhando em direção à
sala de Rodrigo.
Abro a porta para que todos entrem e, quando o fazem, meu irmão
nem percebe que estamos aqui. Maria Eduarda limpa a garganta e ele levanta
o rosto, percebendo a nossa presença. O homem está o rascunho do que era,
há manchas escuras sob seus olhos, barba por fazer, até a roupa parece estar
amassada. Imagem muito longe da pessoa que ele é, sempre limpo e bem-
arrumado.
— O que é isso? Uma intervenção? — Rodrigo questiona.
— Chame do que quiser. Estamos preocupados com você — digo.
Ele nos olha com cara de poucos amigos.
— Como vocês estão vendo, estou muito bem — Rodrigo aponta para
a porta. — Se me derem licença, tenho coisas para terminar.
A meninas se sentam enquanto Steban e eu continuamos em pé.
Nosso amigo é o primeiro a perder a paciência, que já chegou curta graças a
Beatriz.
— Olha aqui, seu imbecil, bem que eu queria virar as costas para você
e ir embora, mas não posso. Então, preste atenção nesta conversa, bastardo
dos infernos.
— Certo. O que vocês têm a me dizer? — Rodrigo pergunta com falsa
paciência.
Bia fala gentilmente.
— Rô, estamos muito preocupados com você. O que aconteceu entre
vocês foi há um mês e você está cada vez pior, ao invés de superar.
— Eu estou bem — ele começa a falar, só que Maria Eduarda o corta
sem gentileza alguma.
— Não, não está bem! Você fez seu assistente de vinte e oito anos
chorar como uma menina. Todos estão com medo de cruzar o seu caminho,
alguns clientes estão reclamando que não conseguem ter uma conversa bem-
sucedida com você.
— Você se isolou, não sai para nada, a não ser para trabalhar,
emagreceu para caralho. Há quanto tempo você não tem uma boa noite de
sono? — eu o questiono. — Você tem que superar, irmão.
Rodrigo se levanta, irado, e fala:
— Superar? Acham que quero superar a perda da mulher que amo?
Acham mesmo que quero superar e não poder acompanhar a gravidez? Vocês
não sabem de nada! Enquanto vocês ficam brincando de gato e rato com
esses joguinhos, perdem tempo em não estar juntos. Perdem a oportunidade
de serem felizes com alguém. Eu tive e perdi, o pior disso tudo é que eu não
tive culpa. — Rodrigo passa as mãos pelos cabelos, que parecem que ver um
pente há algum tempo. — Eu a amo tanto. Não me conformo de acordar e
não a ter. Não fazem ideia do quanto dói.
Beatriz se levanta e vai até ele.
— Nós sabemos que você não tem culpa, a cadela deve ter armado
tudo, mas você tem que reagir, bonitão. Se quer reconquistá-la, pelo menos,
tem que estar apresentável.
— Ela não quer saber que eu existo — Rodrigo reclama.
— Mas também, com a mãe que vocês têm nem... — Duda leva a
mão à boca, arrependida do que começou a falar.
Rodrigo percebe que há mais coisa ali.
— O que tem minha mãe, Duda?
Agora não adianta recuar, ele precisa saber. Coloco a mão no ombro
dela, encorajando. Então, ela começa a contar o que Manu compartilhou com
ela e Bia, mais tarde Duda achou melhor que eu soubesse.
— Há alguns meses, sua mãe foi falar com ela em seu apartamento e
ofereceu dinheiro para Manuela o deixar. Manu respondeu que ela o deixaria
no dia em que você se cansasse. Antes disso, não haveria dinheiro no mundo
que a fizesse te deixar. Então, sua mãe apelou ao dizer que, se ela o ama, iria
deixá-lo ir porque Bárbara é a mulher certa e todos sabem disso.
Bia continua:
— Fora a história da louca da Greice, todas as idas e vindas de vocês,
ela cansou. Qualquer uma cansaria, garanhão.
— Eu sei — ele fala quase desesperado.
— Rodrigo, se de alguma maneira isso o conforta, ela acredita que
você não a traiu — Duda diz.
— Se a Manu acredita, Duda, por que não volta para mim?
— Porque ela está cansada e acredita que toda a vida de vocês será
assim — ela fala gentilmente.
Agora é hora de levar meu papel de irmão a sério.
— Vocês podem nos dar licença? Preciso conversar com o meu irmão
em particular. — Elas assentem e saem. — Não contei nada sobre a mãe
porque só soube disso há pouco tempo. Você tem que dar um jeito de pará-la,
Rodrigo. Você não pode ficar empurrando essa situação com a barriga. Olha
a proporção que isso tomou?
— Eu sei, eu sei.... Como ela está, Arthur? — ele me pergunta.
— Está bem. Assustada com o tamanho da barriga... — aponto para
ele — mas levando em consideração o tamanho do pai, está tudo certo. Ela
ainda não fez a ultrassonografia para saber o sexo, diz que não está
preparada.
— Eu a tenho visto de longe, sei que ainda vai ao Ideal’s. Sempre que
posso, acompanho-a de longe para ver se chegou bem. Manu parece cansada,
e a barriga está grande mesmo. Ela está linda — meu irmão sorri tristemente.
— Sim, está. Com um mau humor do caralho também. Tenho pena de
quem cruza o caminho dela. Só melhora quando toma sorvete, está viciada.
— Sério? Bem o jeito dela mesmo — seu sorriso aumenta.
— Na última vez, levei para ela um pote de sorvete sabor creme. É o
sabor preferido do momento.
Como se tivesse acordado de um transe, Rodrigo alcança o telefone
sobre a sua mesa e chama alguém.
— Localize o Ernesto para mim e peça para que venha até a minha
sala imediatamente, por favor. Mais uma coisa, lembra daquele rapaz do
escritório de decoração de interiores, que veio fechar parceria conosco? Ligue
e agende um horário com ele, o mais rápido possível. Obrigado.
Curioso, pergunto.
— O que você fará?
— Só dormirei tranquilo quando souber que a Manu está segura.
Além disso, começarei a arrumar o quarto do meu filho.
— Ela dispensou o Ernesto — afirmo o óbvio.
— Manu não precisa saber. Desde aquele assalto, ando meio
paranoico. A segurança dela e do bebê é muito importante para mim.
Assisto o meu irmão voltar à vida, planejando e tomando decisões
sobre seu filho e a mãe dele. Essa era a nossa intenção, que o Rodrigo
retornasse à realidade e lutasse por aquilo que quer. Acho que meu papel aqui
já foi feito e está na hora de cuidar da minha vida, meus planejamentos e
decisões.
Saio da sala do meu irmão diretamente para a minha, onde encontro a
Maria Eduarda, que está sentada em minha cadeira enquanto digita em seu
laptop. Ela para de trabalhar assim que percebe a minha presença. Sua
expressão séria me diz que a conversa não será boa. Então, como bom
cafajeste que sou, vou até ela e me aproximo para beijá-la, mas antes que eu
alcance o meu objetivo, ela me para.
— Eu sei o que você quis fazer hoje, Arthur, e não gostei nada, nada.
Você não é do tipo que precisa marcar território, sempre deixou seu ponto
bem claro. Só que, hoje, você passou de qualquer limite.
Sento-me em uma das cadeiras que estão na frente da mesa.
— Não sei do que está falando, Duda.
Ela se levanta e começa a andar de um lado para outro, gesticulando
com as mãos sem parar.
— Você me beijou no corredor para o Heitor ver, só respondi ao seu
beijo porque vi que ele não estava por perto. Porque isso, Arthur, é feio para
mim e não para você. No mundo, serei a julgada por ter me deixado beijar
pelo chefe e não ao contrário. Luto todos os dias para ser boa no que faço,
para não correr o risco de ser mandada embora. Estamos há meses nesta
relação e todo santo dia coloco um tijolo no muro para manter tudo separado.
Mas você não fica satisfeito, você se autossabota e me sabota também.
Suas palavras mexem comigo. Não me saboto, não sei de onde ela
tirou essa ideia ridícula.
— Você está com um discurso muito forte. Ninguém está sabotando
ninguém.
A mulher fica de frente para mim e grita:
— COMO NÃO? Como você não enxerga a besteira que faz quando
se sente ameaçado? Você, Arthur, está me arrastando para baixo e não vou
permitir que isso aconteça.
Levanto-me e ficamos em pé, no meio da minha sala, encarando um
ao outro. Sua irritação é tão grande que quase chega a ser palpável. Sei para
onde isso está indo e meu peito aperta.
— Você está me acusando de boicote? Está querendo dizer que quero
seu fracasso?
— Não propositalmente.
Suas palavras machucam um lugar dentro de mim que há muito estava
intocado.
— O que eu fiz para você pensar isso, Maria Eduarda? Sempre falei
que você é uma das mulheres mais inteligentes e competentes com quem já
tive o prazer de trabalhar. Sempre te valorizei, extraindo o que há de melhor
entre nós dois — passo as costas da minha mão em seu rosto tão lindo. — Em
que momento isso mudou e eu não percebi?
Seus olhos umedecem e uma lágrima solitária corre por seu rosto, até
que ela a seca. Maria Eduarda é orgulhosa demais para mostrar
vulnerabilidade agora que assumiu uma postura de guerra. Nos negócios, isso
é um trunfo. Na vida, nem tanto.
— Você trabalhou duro para me mostrar o que realmente sou, por isso
serei eternamente agradecida. Você me mostrou que sou boa em tudo o que
eu quiser fazer, mostrou que sou extremamente competente a ponto de me
elevar à executiva de sua empresa. Como mulher, você me mostrou que sou
linda, que não é errado ter desejos, por mais estranhos que sejam, também
que mereço ser satisfeita sempre — ela sorri. — Você foi uma parte
importante no meu crescimento como mulher, príncipe — Duda passa sua
mão pelo meu rosto. — Você é tão lindo por dentro e por fora, tem muito a
dar, mais do que se dá o crédito. É uma pena que não enxergue isso. Estou
apaixonada por você, Arthur, mas meu coração está frágil demais para me
manter na relação que temos.
Eu sou louco por ela, as palavras só não saem. Tento, mas parece que
estou paralisado. Ela sorri sem humor.
— Você ficou tão desesperado que até paralisou.
— Duda....
Ela coloca os dedos em meus lábios.
— Não precisa falar nada, porque o que eu quero ouvir, você não
pode falar. Nem tenho uma coleira ou pulseira, não tenho sua marca para lhe
devolver. Encerramos nossa relação Dom/Sub aqui, senhor Castro.
— E se eu não permitir que isso acabe?
— Você não me obrigaria a ficar, querido.
— Eu poderia....
Ela me corta.
— Poderia sim, mas não vai. Porque, no momento em que você se der
conta do que fez, vai se afastar e nos sabotar com a desculpa de que não quer
que eu sofra.
Ela vê mais do que deveria, Maria Eduarda pode me ler como
ninguém. Sabe que há uma parte em mim que não consegue se conectar.
Inferno! A mulher sabe exatamente o que farei, como já fiz várias vezes com
a justificativa de não fazer ninguém sofrer. Está me rasgando ter que abrir
mão dela, mas é o melhor. Duda merece um cara como o Heitor, alguém que
pode dar a ela tudo o que vale a pena, porque a mulher parada na minha
frente vale a pena.
Puxo-a para mim e a beijo desesperadamente, bebendo todo o prazer
que ela pode me dar neste momento... neste último momento. Não a terei
mais em minha cama, não acordarei envolto por um corpo lindo e por uma
boca pecaminosa. Sem mais olhares brilhantes quando está excitada, sem
seus gemidos incessantes quando está prestes a gozar. Sem mais a menina
linda e má que Duda se tornou. Sinto, pela última vez, o gosto de sua boca
doce e macia como seu corpo.
Afasto-me dela.
— Você merece ser feliz — digo com um peso enorme no peito e ela
sorri, triste.
— Você também. Amigos? — Duda pergunta.
— Sempre fomos e nada vai mudar.
— Obrigada, Arthur.
— Sempre à disposição, Duda.
E assim termina uma história que não tinha nada para dar certo. Algo
dentro de mim se quebra e meu peito aperta, preciso sair daqui o mais
depressa possível. Peço licença e saio da minha sala. Não sei se algum dia
tive um relacionamento de verdade, mas nunca senti nada parecido com isso,
nunca sentir dor latente como se alguém importante tivesse partido, como
meus avós.
Um Dominador sob controle não sentiria nada por causa de um
rompimento. Neste meio é muito comum, assina-se tratos e há destratos entre
Dom e submissas todos os dias. Por mais que eu tente negar, com a Maria
Eduarda sempre foi algo a mais. É justamente por isso que eu deveria ter me
mantido longe. Só que, como uma sereia, a mulher me deixa cego e surdo,
atraindo-me com seus olhos verdes e boca rosa para o fundo do poço.
Preciso limpar a cabeça e colocar tudo no lugar, afinal, trabalhamos
na mesma empresa. Talvez seja melhor passar algum tempo longe. Tenho
assuntos pendentes com empresas fora do Rio, posso muito bem usar o tempo
para organizar a minha cabeça e voltar a ser o Arthur de sempre, se é que um
dia ele voltará.
Capítulo 39

Maria Eduarda
Ninguém nesta sala de espera estava pronto para o nascimento das
gêmeas. Todos fomos pego de surpresa com a ligação desesperada de
Rodrigo, mandando-nos vir urgentemente para a maternidade, pois suas filhas
viriam ao mundo. Ontem mesmo estávamos na intervenção de Rodrigo, hoje
pela manhã estávamos com a Manuela durante o seu ultrassom, onde
descobrimos que havia duas meninas em sua barriga. Agora estamos todos
aqui, ansiosos por causa do parto das gêmeas, que estão vindo ao mundo um
pouquinho antes da hora.
Olho ao redor e vejo Steban acariciando as costas de Bia, que está ao
meu lado e segura a minha mão. Arthur está do outro lado da sala com o
braço sobre o ombro de sua mãe, que está desesperada e repetindo sem parar
que ela é a culpada pelo parto prematuro das netas. Não sei como as coisas
mudaram tanto em menos de vinte e quatro horas. Estou lutando para não
ficar encarando o homem lindo, parado no outro lado da sala, que não tira os
olhos de seu celular. Sei que a decisão tomada ontem foi a melhor opção, só
que isso não significa que esteja doendo menos.
As coisas na minha cabeça andam uma bagunça, mal tenho dormido
ou comido. Venho pensando no que pode ter me acometido, mas as respostas
não são promissoras. A empresa e o novo departamento estão indo bem,
minha carreira, no geral, está indo muito bem, minha vida pessoal é o que
está me pegando de jeito. Talvez as coisas possam piorar um pouquinho
mais, infelizmente. Entretanto, o importante é que temos saúde para correr
atrás daquilo que precisamos e, no momento, o mais importante é o parto
demorado de Manuela.
— Não a deixem morrer! Pelo amor de Deus, não deixem partir! —
Rodrigo grita histericamente quando é escoltado por um enfermeiro para fora
do centro cirúrgico.
Todos corremos até o Rodrigo, querendo saber o que aconteceu. Entre
o desespero e o choro, ele nos conta que Manuela passou mal logo depois que
as meninas foram tiradas, que ela apagou e os médicos disseram que a
estavam perdendo. Nosso amigo perdeu tudo com aquelas palavras. Todos
estamos visivelmente abalados com a situação, pois agora a nossa amiga está
lutando para sobreviver. Arthur leva o irmão para um lugar mais afastado e
conversa baixo com ele, que tenta controlar o desespero.
Deus, não leve a nossa amiga. Ela tem duas crianças que precisam de
uma mãe, além de ter a nós para colocar na linha. Senhor Deus, sei que não
estou muito perto de Ti, mas também sei que sempre ouve as nossas orações.
Então, por favor, salve a Manuela e a traga para as meninas, para o homem
que a ama mais do que tudo.
Distraio-me mexendo em meu telefone, olhando os e-mails e
respondendo algumas mensagens.
— Por que Heitor quer saber se você melhorou? — Bia pergunta
enquanto invade a minha privacidade, por cima do meu ombro.
— Hoje nos encontramos e acabei tendo um desconforto estomacal.
Ele ficou preocupado.
Bia se senta ao meu lado e segura a minha mão.
— Seu desconforto tem a ver com o término?
— Tem a ver com tudo o que está acontecendo ao mesmo tempo. Não
tenho me alimentado direito e você sabe o quanto a alimentação é importante
para mim.
Ela aperta a minha mão.
— Eu sei. Todos estamos à flor da pele ultimamente.
Dona Rosita fala alto, chamando a atenção de todos:
— Você não pode ir a lugar algum. Agora, mais do que nunca, seu
irmão precisará de você.
— Mãe, estamos em um hospital. Por favor, fale mais baixo — Arthur
a repreende.
Rodrigo olha para o seu irmão, esperando uma explicação pelo que
sua mãe acabou de soltar. Na verdade, todos nós queremos saber.
— Tenho adiado reuniões fora da cidade e me programei para fazer
isso nas próximas semanas. Não imaginava que a Manuela entraria em
trabalho de parto hoje.
Steban fala antes que o Rodrigo estoure. O homem está desesperado e
não precisa disso agora:
— Seja o que for, pode esperar. Não estou falando isso pelo seu irmão
ou pela empresa, mas por Manuela e pelas meninas. Elas precisarão de todos
nós.
— Eu sei, eu sei.
Machuca saber que o Arthur quer se afastar, mas entendo que seja
necessário. Só que não irei a lugar nenhum, priorizei a minha carreira e assim
será. Se o Arthur tem problemas em trabalhar comigo, é melhor que ele se
resolva logo. Se envolver com o chefe nunca dá certo, é impressionante como
as possibilidades de tudo dar errado são altas. Também não me culparei por
isso, somos adultos e ambos sabíamos os riscos que estavam envolvidos. No
momento, tenho coisas mais importantes para me desesperar do que os
caprichos de Arthur.
Passam-se quase duas horas até o médico vir dar notícias de Manuela,
diz que ela está estável, que teve um quadro de eclâmpsia. Tiveram que sedá-
la e ficará assim até que todos os exames estejam concluídos. Pelo que o
médico explicou, ela teve convulsões logo depois do parto e poderá ficar com
sequelas se não for bem cuidada. O risco de morte é pequeno, mas as chances
de ter sequelas importantes são bem grandes. Rodrigo desaba, levando-nos
junto. Todos estamos arrasados, mas também felizes que as meninas estejam
bem e que poderemos vê-las em breve.
Só Rodrigo está autorizado a entrar e ver a Manu. Nós continuaremos
aqui até sermos chamados para ver as meninas. Continuo de canto, de cabeça
baixa, presa na teia dos meus problemas. Alguém me toca e levanto a cabeça
para ver a mãe de Arthur, parada ao meu lado.
— Desculpe te incomodar, Maria Eduarda — a mulher me tratando
com educação é novidade.
— Não incomoda, Dona Rosita. Em que posso ajudá-la?
— Sei que este não é o momento, mas quero te pedir desculpas pelo
meu comportamento. E-eu achava que estava fazendo o melhor pelos meus
filhos — ela seca seus olhos molhados com um lenço de linho. — Achei que
sabia o que é melhor para eles, porque os pais agiam assim na minha época e
estou tendo dificuldade agora.
A mulher está desabafando logo comigo? Ela quer que eu a perdoe
pela Manu? Se for, veio ao lugar errado. A minha parte posso fazer, agora,
pelos outros ela terá que rebolar.
— Entendo perfeitamente, senhora. Não precisa se preocupar comigo,
não sou tão importante....
Ela me interrompe.
— Você é importante para o meu filho — aponta para Arthur. —
Agora é importante para mim também, assim como a Manuela e as minhas
netas.
Do que ela está falando? Sou uma importante funcionária para o
Arthur, nada mais.
— Obrigada, Dona Rosita. Como falei, não se preocupe. Da minha
parte, tudo está resolvido. — A senhora respira fundo e posso ver que está
cansada. Sei que ela já passou por muita coisa, que focou sua vida no que
acha ser importante. — Se é de alguma forma confortante, acredito que é
papel dos pais fazerem o que acham melhor pelos filhos. Muitas vezes a
nossa imaturidade nos deixa cegos e nossos pais podem ser de grande ajuda.
Seus olhos brilham e vejo que Arthur tem muito dela.
— Você realmente acha isso? — ela me pergunta, esperançosa.
— Sim, acho. O que não concordo é o modo que a senhora fez, acho
que esses meninos... seus filhos, já construíram muita coisa e merecem mais
apoio do que imposição. A história de Rodrigo e Manuela poderia ser
diferente se....
Ela coloca a mão no peito e mais lágrimas abundantes caem.
— Não sou uma pessoa má, pelo menos, achava que não era. Só que o
mundo sempre foi difícil e, em algum momento, Eduardo e eu nos perdemos.
Seguro sua mão entre as minhas.
— Nunca é tarde para mudar e mostrar aos seus filhos que eles são
mais importantes do que tudo. Agora a senhora tem duas netas que precisarão
de uma vó para lhes mostrar como se comportar no Rotary.
Ela sorri.
— Posso ensinar mais do que isso.
— Pode sim e vai — afirmo.
— Serei uma pessoa melhor, Maria Eduarda. Quero que saiba que
darei o melhor de mim. Sei que vocês dois estão com problemas....
Fico tão surpresa que engasgo.
— Não temos problemas.
Ela me olha com conhecimento de causa.
— Quando o Arthur está com você, os olhos brilham e seu sorriso,
que já é bonito, torna-se verdadeiro. Agora olhe, ele está triste e não é só por
causa da Manuela. Meu filho está querendo fugir para não ter que lidar com a
situação.
Olho para o Arthur, que nos encara. O seu charme habitual não está
presente, nem seu bom humor. Duvido ser por minha causa.
— Seja o que for, vocês conseguirão superar. Só não o deixe, ele
merece ser feliz.
— Todos nós merecemos, não? — eu a questiono e a senhora sorri.
— Merecemos sim, principalmente vocês.
Bia se aproxima.
— Duda, pisque uma vez se ela estiver te fazendo de refém.
Não contenho o riso, pois Beatriz não tem jeito.
— Está tudo bem, Bia. Dona Rosita só está falando o quanto está
nervosa com a situação.
Minha amiga cruza os braços e sei que lá vem bomba.
— Muito engraçado isso, não é, Rosita? Pena que você não teve essa
empatia quando foi até a casa dela, para pedir que deixasse seu filho em paz.
— Bia... — tento interromper, mas a senhora balança a cabeça.
— Deixe que ela fale, há coisas que devem voltar para gente quando
lançadas ao vento.
— Sinto muito por tudo, Ana Beatriz. Sei que errei feio com os meus
filhos, seus relacionamentos e seus amigos. Arrependo-me amargamente de
tudo o que fiz e me dói na alma saber que sou culpada pela mãe das minhas
netas estar em coma. Não sei se este remorso que sinto é uma penitência, mas
garante que o levarei pela vida.
Bia estreita os olhos na direção de Dona Rosita.
— Qual é o truque, Rosita?
E lá vamos nós de choro novamente. O lenço chique, de linho, já deu
perda total. Tiro lenços de papel da minha bolsa e entrego à senhora.
— Não há truque, há apenas arrependimento — ela diz e isso desarma
a minha amiga.
Seu Eduardo se aproxima de onde estamos e senta-se ao lado de sua
esposa, abraçando-a. Neste momento me dou conta de que eles tiveram um
começo difícil também, casaram-se por conveniência dos pais e pagam por
isso até hoje. Talvez precisem encontrar o caminho de volta, para se
encontrarem como pessoas e como um casal. Dinheiro não faz a vida ser boa,
somente facilita essa busca e no meio da jornada, podemos nos perder.
Algum tempo depois, levam os pais do Rodrigo para conhecerem as
netas, antes de sermos liberados para vê-las. Elas são adoráveis e é a minha
vez de chorar descontroladamente. Manu tem que acordar bem para cuidar de
suas filhas. Não me toquei que falei em voz alta, até que Rodrigo me
responde que ela acordará, abraçando-me forte. Eu preciso da minha amiga
aqui, para me dar conselhos relevantes e me falar que tudo ficará bem. Manu
não pode nos deixar assim... não pode.
Assim que saímos do berçário, vou diretamente para o banheiro.
Fecho-me em uma das cabines, baixo a tampa do sanitário e me sento.
Abraço a minha bolsa como se minha vida dependesse disso. Abro-a, tiro o
teste da caixa e leio as instruções rapidamente. Pelo que entendi, tenho que
tirar a tampa do bastão, fazer xixi na ponta desse bastão e esperar por cinco
minutos. Se aparecer uma listra, o resultado é negativo. Se aparecerem duas...
serei mãe. Deus me ajude! Executo a tarefa como descrito na instrução e
fecho a tampa do bastão. Dou descarga e saio da cabine para lavar as mãos.
Estou terminando de secar minhas mãos quando a porta se abre, por
reflexo, jogo o teste dentro da bolsa. Ainda bem que pensei rápido, pois quem
entrou foi Dona Rosita. Sorrio para disfarçar que quase fui pega em flagrante,
mas ela percebe que não estou no meu normal.
Também não posso me preocupar com isso agora. Assim que ela entra
em uma das cabines, eu pego a bolsa e dou um passo em direção à porta, que
se abre e bate em mim, que deixo cair a bolsa. O bastão do teste rola até os
pés da recém-chegada e ela o pega, olha o que tem na mão e me encara:
— Então serei tia novamente — Bia me dá seu melhor sorriso e eu
congelo.
Demoro para reagir e, assim que o faço, tomo o bastão da mão de
Beatriz e o olho. Há duas listras bem vermelhas, gritando que estou bem
grávida, muito grávida, excessivamente grávida de Arthur Alcântara e Castro.
— Você está grávida do Arthur — isso não é uma pergunta, mas sim
uma afirmação que vem da última pessoa que eu queria que soubesse; a avó
do meu filho ou filha.
Viro-me, já com olhos cheios de lágrimas.
— Por favor... por favor, não contem para ninguém.
— Mas ele precisa saber — Rosita fala e seguro seus ombros.
— Não agora. A Manuela está em coma e as meninas precisam de
toda a atenção — olho para as duas. — Eu prometo que contarei assim que a
Manuela acordar e todas forem para casa. Pode ser? Eu prometo.
Elas se mantêm em silêncio enquanto entro em desespero. Quando
estou prestes a quebrar, a mulher que detestei por tanto tempo me ampara e
diz que ficará tudo bem, que estará aqui para mim e meu filho. Bia se junta ao
coro de consolação, acaricia meus cabelos e diz que mimará o meu bebê, que
ele e as meninas da Manu crescerão juntos, felizes.
Assim que me recomponho e as duas prometerem que não contarão
nada por enquanto, voltamos para a sala de espera. Concordamos que alguns
de nós devem ir para casa, descansar um pouco e depois voltar para revezar
com quem ficou. Dona Rosita se recusa a deixar o hospital, assim como o
Rodrigo. Agora está na hora de ir para casa, pois os próximos dias serão
agitados entre o hospital e o trabalho. Mais tarde, quando tudo for resolvido,
pensarei em como contar ao pai da criança.
Capítulo 40

Maria Eduarda
Vinte dias depois...

— É a segunda vez que ela cochila. Está cansada demais. Deus os


ajude se vocês estiverem explorando a Maria Eduarda na empresa.
— Manuela, estamos fazendo o nosso melhor para não depender tanto
da Duda, mas ela é nosso braço direito — Rodrigo fala calmamente.
— Há um monte de assistentes naquele lugar, para atender cada
ínfimo pedido de vocês. Voltarei ao trabalho na semana que vem e....
— Não! — eu estava ouvindo quieta até agora, mas frente a isso não
posso me manter calada, por mais que esteja gostando da conversa. — Não
irá para lugar algum. Venho trabalhar com você duas vezes por semana,
muito a contragosto. Você deveria repousar e olhar as meninas.
Manu coloca a mão na cintura e arqueia sua sobrancelha esquerda.
— As meninas têm babás maravilhosas e avós que as mimam mais do
que deveriam. Posso trabalhar home office e um dia na empresa. Ninguém
morrerá por causa disso.
Rodrigo se aproxima de sua mulher, acaricia sua nuca e a beija
docemente.
— Admiro sua força, pequena, mas a Duda tem razão. Ainda é cedo
para começar uma rotina pesada de trabalho. Pense nas meninas, elas
precisam de você.
Minha amiga se derrete ao ouvir sobre as gêmeas, mas ela muda
rapidamente de postura.
— Por falar em trabalho, o senhor não deveria estar na empresa?
— Estou saindo mais ce....
— Ontem você nem foi trabalhar, Rodrigo. É por isso que a Maria
Eduarda anda exausta assim. Arthur e você andam com a desculpa de terem
que me ajudar com as meninas e não trabalham.
Ele sorri e me olha.
— Desculpa, Duda.
Sorrio.
— Não é nada. Você está certo, eu faria o mesmo.
— Não faria não — Manu nos corta. — Por que você não vai dar uma
olhada em suas filhas? Ouvi sua mãe dizer que estava indo comprar alguma
coisa.
Rodrigo não espera a Manu terminar de falar e sai. Desde que as
gêmeas vieram ao mundo, Dona Rosita e seu marido não deixam de nos
surpreender com tanto amor e zelo. A mulher é uma máquina de compra,
Rafaela e Isabela já têm tudo o que se possa imaginar, desde roupa a
brinquedos que demorarão alguns anos para serem usados. Ela liga para mim
todos os dias, para saber como estou, mas não me pressiona ou toca no
assunto de contar ao Arthur sobre a criança. A mulher mudou, posso dizer
isso porque ela não ficou somente em palavras, sua atitude é outra.
Assim que Rodrigo sai da sala em que estamos, Manuela se senta ao
meu lado. Só então me dou conta de que há um lençol sobre mim e que meus
sapatos foram retirados. Ela me estuda de cima a baixo, sei que está
procurando alguma coisa que me delate, mas não há como encontrar, não
aparece nada ainda.
— Tudo bem, Manu? — pergunto, incomodada com a sua análise.
— Eu estou bem e você, Duda, como está? — seu tom de voz é
falsamente doce. Sabe quando nossa mãe pergunta algo já sabendo a resposta,
mas quer apenas nos testar? Essa é Manuela agora.
— E-eu estou bem, apenas cansada como pode ver — dou meu
melhor sorriso, ou pelo menos tento. Seus olhos voltam a me estudar e um
arrepio corre pelo meu corpo. Meu sorriso desaparece.
Ela sabe...
— O que você e Beatriz não estão me contando, Duda?
Bem, ela ainda não sabe, mas desconfia.
— Nada. Nós te contamos tudo.
— Todos vocês estão me poupando de tudo e sou grata por isso, mas
vocês me poupam tanto que baixam a guarda quando estão comigo. Sei que
Arthur está uma merda e vocês mal se falam. Deduzo que terminaram? —
assinto. — Veja bem, nos últimos dias a minha amiga, que é superativa, anda
dormindo em qualquer lugar. Poderíamos achar que é normal porque ela está
trabalhando por três, porém, ela tem comido por dois e bebido por nenhum.
Então, perguntarei novamente: como você está, Duda?
Estou com dificuldade de controlar as minhas lágrimas e acho que
ainda nem são os hormônios. Ela alcança a minha mão e segura entre as suas.
Manuela espera em silêncio até que crio coragem. Parece que, ao contar para
ela, terei que encarar o pesa da realidade. Estou grávida do Arthur, o cara que
não quer compromisso. Tenho medo de qual será sua reação quando eu
contar, medo de que ele rejeite a criança. Se isso acontecer, infelizmente,
nenhum deles colocará os olhos na criança.
— E-estou grávida.
Meus olhos encontram os dela, que estão cintilando amor. Eu a abraço
forte e deixo que todas as lágrimas, que venho guardando há algum tempo,
corram para fora de mim. Manu passa a mão nas minhas costas, em um gesto
de conforto. Assim que me afasto, ela seca as minhas lágrimas com lenço de
papel que brotou de algum lugar.
— Sei o quanto estar grávida de um Alcântara e Castro pode ser
aterrador. Mas, querida, não precisa passar por isso sozinha. Estamos aqui
com você, deixe-nos cuidar de você. Arthur já sabe?
— Como sabe que é dele? — eu a questiono e ela sorri.
— E seria de quem? Você só saia com ele.
— E o Heitor — digo e Manu balança a mão no ar.
— Heitor é amigo, não rola nada entre vocês há muito tempo. Por que
você e Arthur não estão mais juntos?
Respiro fundo.
— Porque o Arthur é um idiota — Manu assente sorrindo e eu
continuo: — Ele age como um louco, enxerga ameaça em qualquer lugar e
depois recua como se nada tivesse acontecido. Esse estica e puxa me deixou
à flor da pele. Ele não me quer, mas também não quer que outros me tenham.
O Heitor esteve na empresa e o Arthur achou que ele estava por perto, então
me beijou no corredor para que o Heitor nos visse. Só que ele é um idiota,
acabou se arrependendo mesmo antes de terminar o beijo.
— Eles têm a idiotice no DNA, acho que herdaram do pai.
Começo a rir.
— Estou apaixonada por um homem que não quer e nem acredita em
compromisso.
— Você está apaixonada por um homem que acredita que a fará
sofrer. Arthur não pensa no compromisso, ele pensa em você, o que pode
fazer para você, Maria Eduarda. Nisso o Rodrigo é menos inflexível do que o
Arthur. O olhar dele é tão triste e vazio, ele age como se as coisas não
tivessem mais sentido. Aquele homem lindo e inteligente está com um
coração partido e não se deu conta disso ainda.
— Manu, eu não vou ficar com uma pessoa que não se abre para o
futuro. Não acredito na tese de que amar pelos dois é o suficiente. Há coisas
que nem o amor remenda.
— Concordo com você, há coisas que nem o amor supera. Se o Arthur
não abrir os olhos, perderá você e o filho.
— Dona Rosita sabe — conto para Manu. — E-ela estava no banheiro
quando fiz o teste e Bia entrou como um furacão, fazendo com que o bastão
do teste caísse no chão. A mãe dele estava em uma das cabines e acabou
ouvindo a Bia me questionar.
— A sogra tem se esforçado bastante, não é?
Nós nos olhamos e rimos alto.
— Ela está, sim — respondo. — Dona Rosita me liga todos os dias
para saber como estou.
Manuela dá batidinhas na minha mão.
— Quem diria que a mulher que não queria nos ver nem pintadas de
ouro estaria se esforçando para se aproximar de nós. Onde fomos amarrar
nossas cabritas, Duda? — depois do silêncio prolongado, Manu pergunta: —
Você pretende contar a ele?
Levanto-me e começo a andar de um lado para outro.
— Eu não queria, mas vou. Estou com medo da reação dele, Manu. Se
o Arthur questionar a paternidade ou falar qualquer coisa contra essa
gravidez, ninguém dessa família nos verá nunca mais.
— Duda, minhas filhas terão um primo ou uma prima... bem, elas
podem ter primos ou primas de uma vez só. Eu, Manuela Vasconcelos, não
permitirei que eles não sejam amigos. E mais, não permitirei que a minha
amiga fique longe de mim. Agora, sente-se e me conte como foi no médico e
de quanto tempo está.
— Ainda não fui ao médico — falo com vergonha e Manuela
empalidece.
— Você não ao médico por minha causa. Vocês estão se
negligenciando por nossa causa.
Sento-me ao lado dela e é a minha vez de segurar sua mão. Manu
acabou de passar por uma experiência aterrorizante. Até poucos dias atrás ela
estava em coma, cheia de aparelhos, foi conhecer suas filhas oito dias depois
de nascerem.
— Não, não, não! Eu tenho contato com o seu obstetra, também
poderia ter ido em outro, mas não encontrei coragem para ir. Nunca pensei
que fosse covarde.
— Marque para amanhã. Irei com você.
— Não vai, não — Beatriz entra na sala, cortando o nosso papo. —
Eu a levarei. Ainda não está na hora de sair, Manuela.
— Eu levarei todas vocês. Manuela precisa sair um pouco e Maria
precisa do médico, então iremos todas juntas — Dona Rosita invade também,
participando da reunião que, pelo jeito, todas ouviram.
— E Beatriz tem que sair por quê? — Manu pergunta.
— Para segurar a bolsa de Rosita — nossa amiga responde.
Como as coisas mudaram. Nunca imaginei que algum dia veria a Bia
e Dona Rosita próximas e, acreditem, elas são.
Observo a matriarca da família organizando a saída de sua nora
querida e o cuidado das netas. Sua preocupação se estende a mim e a Beatriz,
o que toca meu coração. Assisto com satisfação as mulheres ao meu redor
conversando e rindo, felizes por mim, estão aqui para mim. Mesmo com o
coração quebrado, encontro forças para viver e sorrir.

***

Tenho evitado o Arthur como o diabo foge da cruz, mas nem sempre
é possível fugir, infelizmente. Afinal, trabalhamos juntos e nós dois temos
muita coisa para resolver aqui, já que o Rodrigo está em home office. Agora
é um desses momentos. Vou até a sua sala e ele não se dá conta de que
alguém entrou.
O que Manu falou, alguns dias atrás, realmente é verdade; Arthur está
diferente e já não sorri tanto, quando o faz, não é verdadeiro. Não acho que
seja por minha causa, Arthur deve ter confrontado a verdade, o fato de que
ele passou uma vida inteira correndo.
— Arthur? — ele olha para mim e meu coração acelera. Acho que
meu deslumbramento por esse homem nunca cessará. — Tudo bem?
— Tudo bem.
Vou até ele e coloco alguns papéis na sua frente, para que sejam
assinados. Sinto o seu perfume assim que me aproximo e meu corpo entra em
alerta com sua proximidade.
— Esses são os laudos que foram exigidos para a licença da obra no
Rio Branco.
Seus dedos tocam os meus e nossos olhos se encontram. Não
precisamos de palavras, meu olhar de fome e desejo é espelhado pelos seu.
Arthur afasta a cadeira e me puxa para seu colo, enterrando seu rosto em meu
pescoço.
— Sinto falta do seu cheiro, do seu corpo — ele segura meu rosto
entre suas mãos. — Sinto falta de você.
— Estou bem aqui, senhor Castro. O que você fará quanto a isso?
Suas mãos acariciam as minhas coxas, que estão nuas, já que o
vestido subiu mais do que deveria.
— Vamos sair daqui.
Arthur se levanta e me coloca no chão, puxa-me pela cintura até que
nossos corpos estejam pressionados um no outro. Passo minhas mãos pelo
seu peito e sinto cada músculo tonificado. Nossas bocas se encontram em um
beijo erótico em que nossas línguas dançam obscenamente, fazendo-nos
gemer. Tinha esquecido o quanto Arthur beija bem, o quanto sua boca bonita
é deliciosa.
Ele se afasta de mim e pega suas coisas para sairmos. No caminho,
pego minha bolsa e telefone. Somos levados diretamente à garagem e ele me
puxa até seu carro. Sem palavras, apenas olhares e sorrisos furtivos. Estou me
sentindo uma adolescente, namorando escondido com seu namoradinho da
escola. Senti falta desse friozinho na barriga que Arthur me dá com sua
imprevisibilidade. Ele vai por um caminho desconhecido para mim, mas sei
que não estamos indo para casa de nenhum dos dois, mas sim para um lugar
mais próximo da praia.
Arthur para em frente a um hotel à beira-mar, entrega o carro para o
manobrista e me leva para dentro. O saguão é lindo. Ele me deixa sentada e
vai até a recepção, volta com a chave minutos depois. O brilho de seus olhos
e seu sorriso são todo o incentivo que preciso para segui-lo até o elevador
durante uma tarde, no meio do expediente. Assim que a porta se abre, no
décimo segundo andar, Arthur me escolta até uma suíte luxuosa. A porta é
fechada e, ao contrário do que sempre acontece, não sou pressionada contra
ela.
Arthur me leva até o meio do quarto e, com gentileza, remove cada
peça de roupa minha, deixando-me completamente nua. Não satisfeito, ele
abre a cortina e o sol bate diretamente em mim. Arthur anda ao meu redor e
posso ver seus olhos brilharem.
— Você é linda — ele passa as mãos pelas minhas costas e bunda. —
Sua pele é perfeita — seus dedos acariciam minha barriga e todo o meu corpo
arrepia. Se ele soubesse.... — Tudo em você é perfeito, Maria Eduarda. Tudo.
Ele se aproxima e passa seu nariz pelo meu pescoço, depois me beija
na curva entre o ombro e o pescoço.
— Preciso de você — minha voz é rouca. Eu o quero dentro de mim e
sobre mim.
Quando ele fica na minha frente, começo a desabotoar sua camisa e,
assim que eu a tiro, beijo seu pescoço e desço até seu peito perfeito. Passo a
língua e mordo cada mamilo, arrancando gemidos do lindo homem. Abro seu
cinto e sua calça, ajoelho-me e tiro tudo até que ele esteja completamente nu.
Seguro seu membro e o masturbo, então assisto de camarote o Arthur arquear
suas costas em minha direção. Michelangelo poderia ter esculpido este
homem. É por isso que as mulheres caem aos seus pés.
Sugo a cabeça de seu pau enquanto continuo a masturbá-lo. Delicio-
me com todo o seu comprimento, lubrificando-o com prazer. Arthur está se
entregando, deixando-se levar, e não há nada mais gratificante do que isso no
momento. Ele me levanta e me beija enquanto me leva para a cama. Sento-
me na beirada da cama e Arthur coloca as minhas pernas para cima, deixando
minha boceta exposta. Ele se ajoelha diante de mim e traça a minha abertura
com a língua, para cima e para baixo, lentamente. Contorço-me e ele me
imobiliza, segurando as minhas pernas.
— A-arthur... vou gozar.
— Goze.
O homem me penetra primeiro com sua língua e depois com seus
dedos, sugando meu clitóris, puxando-o com os dentes e lambendo em
seguida. Ele faz isso com maestria e em um ritmo constante, que está me
deixando louca. Não demora muito para que eu goze, mas Arthur continua a
me foder com a sua boca até que meus tremores cessem. Caio para trás e logo
seu corpo cobre o meu, sua boca cobre a minha. Posso sentir o meu gosto
nele, tornando o momento erótico e luxurioso.
Arthur me vira de bunda para cima e me puxa para os joelhos. Ele
abre a minha bunda e boceta, voltando a me chupar. Seu dedo esfrega as
minhas entradas, transferindo a lubrificação de uma para outra. Mal me
contenho de tanta excitação.
— Estou preparando sua bunda para o meu deleite, menina. Enquanto
isso, quero que você goze incontavelmente — neste momento, seu dedo acha
aquele ponto certeiro dentro de mim e o estimula até que eu goze novamente.
Arthur me vira de barriga para cima e me coloca no meio da cama,
cobre o meu corpo com o seu e nivela a cabeça do seu pau na minha entrada,
sem tirar os olhos de mim. Ele me penetra lentamente, torturando-me da
melhor maneira possível. Quando está todo dentro de mim, beija-me
docemente. Arthur não sabe, mas ele está fazendo amor comigo e eu gostaria
de me perder na fantasia que este momento é.
O homem desfruta enquanto me consome. Ele se dedica a me fazer
gemer mais alto a cada estocada. Posso senti-lo por todo o meu corpo. Seu
corpo sobre o meu, sua boca em meus seios e suas mãos por todos os lugares.
O que era lento e doce vai se tornando desenfreado e selvagem. Ele segura
meus braços acima da minha cabeça com uma mão ao passo que me fode
com força. Logo morde os meus seios, marcando-me para depois acariciar a
marca com sua língua.
Seus olhos encontram os meus enquanto ele entra e sai de dentro de
mim, mostrando-me um brilho desconhecido, uma emoção que não consigo
identificar. Meu coração grita que o ama, meu corpo diz que o quer e eu sei
que, por mais que eu o deseje, nunca o terei. Antes que ele possa ver mais
coisas do que deve, viro-me e fico de quatro.
— Eu te machuquei? — ele pergunta preocupado.
— Não. Apenas me foda com força, Arthur. Faça isso ser gostoso
para nós dois.
Ele não precisa de muito estímulo para intensificar a cena toda. A
cada estocada ganho um tapa na bunda, que inicia a construção de outro
orgasmo.
— Você faz ideia do quanto é gostosa? Do quanto sua boceta apertada
é perfeita? — Arthur puxa os meus cabelos enquanto me cavalga. — Você é
uma menina pervertida, Maria Eduarda. Gosta quando fala coisas sujas, não
é? Gosta que eu a trate na cama como a boa puta que é.
Suas palavras me levam à beira do abismo.
— Sim! Sim!
Ele beija a minha nuca, intensifica as estocadas e morde meu ombro
com força. Essa mistura de dor e prazer faz com que mais um orgasmo
exploda em mim, a ponto de ver milhares de estrelas. Insatisfeito com a
posição, Arthur me vira-me e novamente estamos olho no olho.
— Goze comigo, Duda.
— A-acho que não consigo fazer isso mais uma vez.
Ele abre um sorriso malignamente lindo.
— Desafio aceito — sua boca começa a sugar um dos meus seios, que
estão supersensíveis, e sua mão vai para o meu clitóris. Não sei como ele
consegue, mas sincroniza a boca com os dedos e seu pau. — Sua boceta
gananciosa suga o meu pau tão forte quanto a sua boca, querida. Goze
comigo, Maria Eduarda.
Gosto quando ele fica no comando e ordena, gosto quando me
subjuga no sexo, quando me torture com seu pau grande, fodendo-me com
força. Gosto quando me olha como a coisa mais linda que já viu e me usa
como se eu fosse o melhor dos brinquedos. Gosto do homem safado e do
carinhoso, do inteligente e do intransigente. Ele ama me ter e eu amo ser dele.
Pena que isso só é destinado para o aqui e agora, porque tudo voltará ao
normal quando sairmos deste quarto. Ele no seu mundo e eu no meu, ambos
destinados a estar perto e longe ao mesmo tempo.
Gozamos repetindo o nome um do outro, como se fosse uma reza. Ele
se deita ao meu lado e me puxa de encontro ao seu corpo. Estou bem
aconchegada e a brisa que vem do mar refresca o meu corpo, Arthur acaricia
os meus cabelos e eu fico cada vez mais relaxada. Será que é um bom
momento para contar que ele será pai?
Este nosso encontro me dá esperança de que ele não surtará. Arthur
será um pai maravilhoso, pude vê-lo com as meninas do Rodrigo. Ele será o
tio engraçado que acobertará aquelas lindezas quando precisar. Com esses
pensamentos, adormeço prometendo a mim mesma que contarei a ele sobre a
gravidez.
Acordo algumas horas depois em uma cama fria e vazia. Arthur em
seu modus operandi, já era de se esperar. Esperança e expectativa são uma
merda. Saio da cama e vou até a minha bolsa, ao lado das minhas roupas, que
estão arrumadas sobre uma poltrona. Pego meu celular e vejo a hora, já
passam das sete da noite.
Há um bilhete sobre a mesa, ao lado da poltrona, alcanço a nota que
diz:

Você é uma das pessoas mais lindas que já conheci,


e sinto muito por não ser merecedor dessa beleza.
Seja feliz.
Arthur.

Arthur é um idiota e eu sou uma idiota por desejar esse idiota. Não me
arrependo dessa tarde maravilhosa, mas sinto muito por ter sido com ele.
Preciso de alguém forte ao meu lado, não de um homem que tem a
mentalidade ultrapassada e que acredita que as pessoas são iguais porque
carregam o mesmo sangue.
Ele não é igual ao seu pai, a prova disso é que Arthur tem consciência
do quanto seus pais erraram. Mas, enfim, não sou a babá dele para ficar
apontando o óbvio.
Que ele seja feliz, porque eu serei.
Capítulo 41

Arthur
— Bom dia, Arthur. Você assinou aquela papelada que deixei aqui
ontem?
Maria Eduarda desfila para dentro da minha sala, linda como sempre.
Fui um idiota por deixá-la sozinha naquele hotel, mas enquanto ela dormia
em meus braços, eu me dei conta do quanto estou apaixonado por ela. As
últimas semanas estão sendo um verdadeiro inferno sem a minha linda
menina. Ela é muito profissional e não se deixou abater, em compensação,
tornei-me um adolescente que teve o coração partido pelo seu primeiro amor.
Duda estava linda, totalmente relaxada em meus braços, sua pele
macia, seu perfume trazendo lembranças do nosso tempo juntos. No
momento em que ela sorriu, em seu sono, percebi que estou completa e
irrevogavelmente apaixonado pela mulher. Então, como o covarde que sou,
fugi.
Maria Eduarda merece mais do que um cara como eu, ela merece o
melhor. Uma dor física brota em meu peito ao imaginar a possibilidade de
atingi-la com as merdas que costumam acontecer comigo.
— Arthur? — ela me chama novamente e volto para o agora.
— Os papéis... — vasculho entre a bagunça que está sobre a minha
mesa. — Eles estão por aqui.
— Tudo bem. Pedirei para Virginia vir organizar sua mesa assim que
você sair para o almoço — Duda diz e eu a encaro.
Daria todo o meu dinheiro para saber o que se passa na cabeça dela. A
mulher está toda negócios na minha frente e até com sorriso. Em
compensação, estou quebrado e demonstrando exatamente isso.
— Duda, sobre ontem....
Ela me corta.
— O que aconteceu ontem? — pergunta com falsa inocência.
Admito merecer isso.
— No hotel, eu não...
Ela sorri.
— Seja o que tenha acontecido, Arthur, aconteceu e está no passado.
Maria Eduarda sai da minha sala, deixando-me chocado com o seu
cinismo. Inferno! Quem age assim sou eu, não aquela mulher doce. Eu sou o
cafajeste aqui. É justamente isso que eu queria evitar, que ela se tornasse uma
pessoa rancorosa e cínica. Foi por isso que me mantive longe, para que ela
não ficasse desta maneira. Ao que parece, todos os meus esforços foram em
vão.
Quando estou prestes a me levantar e ir atrás dela, meu irmão entra.
Rodrigo fecha a porta e senta-se em uma das cadeiras, na frente da mesa.
Ambos nos olhamos por algum tempo e sei que ele está escolhendo as
palavras certas para falar comigo. Sempre foi assim, desde que éramos
adolescentes e ele queria me orientar.
— Pode falar — digo resoluto.
— O que anda acontecendo com você? Eu sei a resposta, mas quero
ouvir de você. E, Arthur, quero a resposta certa e completa.
Fico agitado, meu peito dói e sei que esse é um ótimo momento para
desabafar com alguém. Ninguém melhor do que o meu irmão mais velho, a
pessoa que mais confio na vida. O problema é que me abrir assim não é fácil,
pois deixa-me desconfortável.
— Não consigo superar a Maria Eduarda — Rodrigo assente e espera
pacientemente, ele sabe que preciso desabafar. — Ontem corremos para um
hotel e fodemos até não aguentarmos mais. Quando a Duda adormeceu,
fiquei assistindo o seu sono e me dei conta de que meus sentimentos por ela
são maiores do que eu gostaria que fossem. Nunca me senti assim por
ninguém. Isso me assustou e saí correndo.
— Nós sempre acreditamos que tínhamos problemas com
compromisso, só que não é verdade. Nós dois temos problemas em assumir o
que sentimos, porque, quando isso acontece, temos o pensamento de que
vamos fazer besteira e submeter outra pessoa ao sofrimento. Eu sempre disse
a mim mesmo que sou responsável pelo emocional dos outros, mas descobri
que não é verdade. Se fosse assim, eu não agiria como um doente cada vez
que tive uma crise de ciúmes. Minha história com a Manuela poderia ter sido
muito diferente se eu tivesse agido de outra forma. A minha mulher teria
sofrido menos se eu não tentasse não fazê-la sofrer.
— Não vou dizer que somos fodidos da cabeça e que temos traumas,
mas nosso passado não foi dos melhores, temos bagagem e é isso que está
fodendo as coisas. Não vou mentir, tenho medo de fazer o que o nosso pai fez
com a mãe. Você estava lá e viu quantas vezes ela se humilhou por atenção,
ou quando ele aparecia com seus casos. Assistimos nossa mãe passar de doce
para rancorosa e cínica, depois ela o esqueceu e se voltou para nós. Não
quero isso para mim, nem para ninguém, menos ainda para os meus filhos.
Meu irmão balança a cabeça.
— Arthur, aprendi recentemente que somos responsáveis pela nossa
história. Culpar nossos pais pelas nossas escolhas não é certo, olha onde isso
me colocou. Quase perdi a mulher que amo e minhas filhas. As pessoas
podem não entender os nossos receios, mas elas não viveram o que nós
vivemos. Sim, temos bagagem. Só que está na hora de nos livrarmos dela. Se
a Maria Eduarda o faz feliz, então lute por ela e por você.
— Eu... não consigo — encaro-o. — Ao contrário de você, nunca
alimentei a esperança de ter família ou filhos. Não me preocupei em deixar
legado para ninguém, eu só queria viver e estava tudo bem até ela aparecer.
Não sei como fazer para mudar isso e ainda estou na dúvida se quero mudar.
— Então responda-me, irmão, como você se sente em relação a
Duda? Seja sincero e nada de meias-palavras.
Penso por um momento.
— Quando estou perto dela é como se tudo estivesse certo. Quando
ela está em meus braços, sinto que pertenço a Duda e ela a mim. Maria
Eduarda vê o melhor em mim, mesmo quando todos dizem o contrário. Ela
não tem vergonha do seu deslumbramento por mim, pelo contrário, Duda se
agarra a isso e me faz vê-la como uma pessoa forte. Sabe o que é engraçado e
irônico de certo modo? — encaro meu irmão. — É que sou completamente
encantado por ela, são tão deslumbrado com a mulher que chega a ser
vergonhoso.
— Você sente que ela vale a pena?
Assinto.
— Sinto que ela nasceu para ser minha.
Rodrigo se levanta, vem até mim e coloca a mão no meu ombro.
— Você tem a resposta para os questionamentos que vêm tirando o
seu sono e sua felicidade. A mulher da sua vida está na porta ao lado, não
espere perder para depois acordar e descobrir que não tem mais chances.
Baixo a cabeça.
— Acho que a perdi ontem, quando a deixei sozinha.
— Irmão, o jogo só acaba quando termina.
Rodrigo sai e me deixa com os meus pensamentos perturbadores e,
pela primeira vez, dou vida à imagens em que estou com a Maria Eduarda e
ela está grávida, ou com uma criança minha em seus braços. Seus sorrisos
calorosos enquanto está na minha sala, andando descalça. Quero isso? E
descubro que quero com todas as minhas forças. Quero essa loucura que a
vida do meu irmão se tornou, mas quero com ela. Céus! Quero amarrá-la e
fazer amor com a minha menina, quero que seja minha para sempre. Quero
continuar no BDSM com ela, com outra mulher não teria sentido.
Ainda assim, mesmo com todos esses pensamentos, não consigo me
levantar da cadeira e me arrastar, implorando o seu perdão, suplicando que
volte para mim. Não consigo transpassar essa barreira que construí durante a
minha vida inteira. Será que o amor será o suficiente para fazê-la feliz e me
perdoar quando as merdas virem para nos atrapalhar? Ela será feliz com um
cara como eu? Será que sou o suficiente para ser o homem da sua vida? A
resposta para isso é “não”. Não serei o suficiente, mas para o inferno se não
quero passar o resto da minha vida tentando.
Decidido, saio da minha sala e vou até a sala dela. A porta está
fechada e eu a abro devagar, para não correr o risco de assustá-la e ela ficar
ainda mais brava. O que eu não esperava era ouvir a conversa enquanto a
Maria Eduarda segura a mão de outro. O maldito advogado fala
apaixonadamente:
— Case-se comigo e teremos essa criança juntos. Posso ser muito
mais do que um amigo, Duda.
Ela está grávida?
— Não sei, Heitor — ela limpa a lágrima de seu rosto. — Estou
perdida com essa gravidez, sabe?!
Ela transou comigo estando grávida de outro?
Invado a sala por impulso e olho para sua barriga. Maria Eduarda tem
culpa brilhando em seus olhos.
— Você está grávida — afirmo como um idiota e ela assente. —
Você terá um filho dele e ainda assim esteve comigo ontem?
A risada que ela dá é tão desgostosa que chega a gelar os meus ossos.
— E quem você pensa que é para entrar assim e me julgar? — como
não respondo, ela continua: — Você não é ninguém, Arthur. Pelo menos não
para mim, não agora. Quando você teve a oportunidade, preferiu se afastar.
Agora invade a minha sala falando alto e me questionando? Cresça, Arthur!
Sou uma mulher adulta e bem-resolvida, se eu quiser dar para qualquer um,
eu darei. A boceta é minha. — Fico chocado com sua atitude e suas palavras.
Foi nisso que eu a transformei?
— É exatamente por isso que eu me afastei, para que você não se
tornasse essa pessoa....
Ela se aproxima, exalando raiva.
— Que pessoa? Diga-me, Arthur, que pessoa você me tornou? O
interessante é que você se acha importante a ponto de mudar uma pessoa.
Você não me transformou em nada, apenas me fez mais forte, nisso não há o
que discutir. O cinismo vem de fábrica, querido, não se preocupe.
É normal ficar com tesão agora? Vê-la raivosa me faz querê-la ainda
mais. Amo todos os seus lados e sou apaixonado por sua doçura, mas sua
raiva me deixa duro. Só que não é hora de dizer isso. Maria Eduarda está
grávida e meu coração dói ainda mais por ela ter que ficar com o Heitor, pois
toda criança deve ter a chance de ter os seus pais juntos e construir um lar.
Não há competição, mas há perda... a minha perda.
Volto a minha atenção ao homem em questão.
— Você tanto fez que conseguiu, não é, Heitor? Desde que colocou
os olhos nela, não ficou satisfeito enquanto não a teve por inteiro.
Ele se aproxima.
— Se fosse assim, eu não teria permitido que você a arrastasse para o
seu mundinho de jogos pervertidos.
— Então você admite que a quer e que o modo mais prático é
engravidá-la — minha vez de rir sem humor. — Você é um idiota se pensa
que pode arrastá-la para alguma coisa. Maria Eduarda não é influenciável, ela
decide o que quer e vai buscar.
Heitor aponta o dedo para meu rosto.
— O idiota aqui é você!
Sem pensar, voo para cima dele, pegando-o pelo colarinho de sua
camisa e o chacoalhando com toda a minha força. Eu quero matá-lo, arrancar
sua cabeça grande de seu corpo e arrastá-la pela empresa inteira. Gritos
enchem a sala e o idiota desfere um soco, que atinge minha mandíbula, no
momento que alguém me segura e tenta me puxar para longe. O que era raiva
passa a ser ódio e consigo me desvencilhar. Vou para cima dele e agora não
poupo esforços, começo a socá-lo sem olhar onde.
Quando estou sentado em cima do infeliz, sinto braços me puxarem
para longe dele. Permito que isso aconteça, mas com resistência. Maria
Eduarda corre até ele e o ajuda a se levantar. Sorrio com o estrago que fiz,
sua camisa rasgada e sua boca sangrando mostram que atingi o meu objetivo.
Ela olha para mim e fala:
— Saia daqui — sinto a primeira facada em meu peito. — Você é um
covarde, Arthur. Se em algum momento pensei que você seria um bom pai
para o meu filho, agora tenho a certeza de que não será. Parou para pensar
que essa criança poderia ser sua? — abro a boca para responder, mas ela
levanta a mão, parando-me. — Deixe que eu respondo: não, você não pensou.
Chegou aqui tirando conclusões e me ofendeu pelo caminho.
— O filho é meu? — pergunto.
— Não — Duda coloca a mão na barriga. — O filho é meu.
Então sinto a segunda facada.
— P-por que você não me contou? — eu a questiono.
Ela seca as lágrimas bravamente.
— Porque não sabia qual seria sua reação e não queria correr o risco
de ter que privar o meu filho da convivência com seus avós e primas.
Desvencilho-me de quem está me segurando e vejo que é o meu
irmão.
— Eu serei p-pai — digo a ele com medo vibrando em minha voz. —
Serei pai de uma criança.
Ele sorri.
— Parabéns!
— Você não será nada dessa criança, Arthur — Duda crava outra
facada. — De você queremos só o que é de direito. Nada mais — ela fala
com o meu irmão: — Entendo se quiser me ver longe da empresa.
Ela se cala quando o Rodrigo a puxa para um abraço.
— Você não irá a lugar nenhum. Primeiro, porque você é uma
excelente profissional, a melhor executiva que temos. Segundo, porque está
esperando o meu sobrinho e eu a quero por perto, quero que fique perto de
quem a ama e amará essa criança.
Emocionada, Duda agradece e fala a seguir, arrasando-me de vez.
— Até que meu filho nasça....
Interrompo como um bobo.
— Pode ser uma menina, ou duas, ou ainda dois meninos, também
tem a possibilidade de ser um menino e uma menina.
— Até que essa criança nasça, não precisarei de você para nada.
Então, mantenha-se distante de mim.
Heitor se coloca ao lado dela e a abraça. Isso me derruba e sou
derrotado por nocaute. Saio de sua sala e vou direto para um bar, distante de
todos. Não quero pensar em nada, só quero que meu peito pare de doer. Nada
melhor do que uma bebida para adormecer a dor e, de quebra, esquecer do
mundo ao meu redor. Entro no carro e saio em disparada para o trânsito
infernal desta cidade, não tenho caminho certo e nem sei em que bar ir, mas
tenho que chegar em algum lugar que tenha bebidas fortes.
Enquanto percorro para chegar no destino desconhecido, penso na
mulher que amo falando que teremos um filho, mas que não estarei por perto
para acompanhar sua gravidez. Não poderei construir um lar com ela para
criarmos nossos filhos juntos. Passo a mão pelo meu peito, onde dói demais.
Imagino uma menina de cabelos cacheados e olhos azuis, linda como sua
mãe, e um menino de cabelos lisos e olhos verdes. Ambos com a beleza e
força de sua mãe. O quão maravilhosa Duda será como mãe, mas não estarei
lá para segurar sua mão ou mimar nossos filhos.
A culpa é minha, admito sem vergonha alguma. Mereço ser punido
pela estupidez, mas deixar-me longe deles é uma penitência para a vida
inteira. Eu poderia voltar lá e obrigá-la a me querer, mas Duda me odiaria
ainda mais e as chances de ficar perto da criança seriam ainda menores. Posso
lutar por ela e pela família que nem sabia que desejo, farei isso depois e
encher a cara. Irei ao apartamento dela e gritarei para todos ouvirem que ela é
minha, que está grávida do meu filho ou filha, que Heitor terá que se afastar,
para muito, muito longe da minha família.
Em algum lugar entre Copacabana e Ipanema, faço uma curva errada
e acabo entrando em uma comunidade. Não percorro muito até ser parado por
homens armados, uma recepção inesperada. Um deles faz gesto para que eu
desça e assim o faço. Eles me olham de cima a baixo, sabem que sou algum
merdinha rico. Pelo menos foi o que ouvi em minhas costas, antes de sentir
uma dor lancinante e apagar.
Capítulo 42

Arthur
Que dor de cabeça dos infernos!
Viro de barriga para cima com dificuldade, respiro fundo e todo o
meu corpo grita de dor. Leva algumas tentativas doloridas até eu conseguir
me sentar e ver que estou na areia de alguma praia. Merda! O que aconteceu?
Por que estou aqui? Ao meu redor está vazio, não há ninguém. Está escuro e
o lugar está ermo demais para o meu gosto. Nesta cidade, temos que tomar
cuidado.
Ficar em pé é uma tarefa ainda mais árdua. Assim que tenho êxito,
começo a caminhar em direção às luzes do calçadão. No meio da jornada,
uma avalanche de imagens vêm em minha cabeça, deixando-me tonto. Maria
Eduarda falando que está grávida e que o filho é meu. Ela gritando que me
quer longe. Heitor no chão sangrando, ela ao lado dele. Rodrigo me
segurando e eu lhe dizendo que serei pai. Então estou no carro, passando por
sinais vermelhos e buzinas enchendo meus ouvidos, uma curva sem sentido,
homens armados e a escuridão.
Apalpo minha roupa e noto que estou com a camisa rasgada e suja de
sangue. Minha cabeça lateja e, quando levo minha mão na parte de trás, sinto
um grande galo úmido. Não precisa ser um gênio para saber que é sangue.
Procuro alguma coisa em meus bolsos, mas estão vazios. Minhas costelas
doem, não tanto quanto a minha cabeça. Ainda assim estou no lucro, estou
vivo e sem nenhum tiro. Acho que Deus joga no meu time em alguns
momentos.
Assim que chego na calçada, reconheço onde estou. É uma parte
tranquila e mal-iluminada entre a Barra da Tijuca e o Recreio. Eles tiveram
um grande trabalho ao me tirarem da Zona Sul e me trazerem à Zona Oeste,
ainda assim agradeço, pois poderia estar em uma vala qualquer. Ninguém
encontraria o meu corpo e meu filho seria órfão. Obrigado, Deus.
Ando por algum tempo a procura de um orelhão, sei que ainda
restaram alguns, mas não consigo ir muito longe. As dores em meu corpo não
permitem. Sento-me em um banco à beira-mar e olho para o céu. Faz algum
tempo que não contemplo o céu, vejo o quão grandioso ele é. Assim como o
mar a minha frente. Ambos se encontram no infinito escuro, fazendo da noite
um espetáculo.
Crio coragem e ando mais um pouco, mas tenho que parar novamente.
Aqui já há sinal de vida. Algumas pessoas passam por mim, olham-me com
estranheza e apressam o passo. Devo estar monstruoso. Mais uma vez levanto
e caminho até não aguentar mais. Quando me sento, um homem com seu
carrinho cheio de papelão para e vem ao meu encontro.
— Está bem, companheiro?
Balanço a cabeça e a dor me rasga a ponto de me deixar tonto.
— Fui assaltado e me deixaram por aqui.
— A criminalidade está cada vez pior. O que posso fazer para te
ajudar?
Olho-o de perto. É um senhor com barba grande e um sorriso largo.
Há bondade em seus olhos, que demonstram que já viram muita coisa.
— Tem um telefone para que eu possa contatar alguém? — peço.
Ele assente, vai até seu carrinho, tira o aparelho de dentro de uma
bolsa e, quando se senta ao meu lado, entrega-me o aparelho.
— Não tenho crédito, terá que ser a cobrar.
Assinto e penso para quem posso ligar. Tenho poucos números
decorados e estão resumidos a dois, Steban e Rodrigo. Meu irmão já tem
preocupações demais para largar tudo e vir me resgatar mais uma vez. Parece
que a nossa relação é sempre assim, eu fazendo besteira e ele me resgatando.
O homem vê que estou com dificuldade de fazer a ligação e me ajuda.
O telefone começa a chamar e dois toques depois é atendido.
— Arthur? — Steban pergunta, ansioso.
— Sim.
— Onde você se meteu? Estamos te procurando há horas. Coloquei
meus homens na rua, em sua busca, e acharam o seu carro em uma
comunidade. Estávamos pensando no pior.
— Eles me deixaram aqui, na praia da Barra. Pode vir me buscar?
— Em que lugar você está?
Olho para o senhor ao meu lado.
— Onde estamos?
— No quiosque Point do Barra Bali.
— Ouvi e já estou indo — meu amigo fala apressadamente. — Diga
para quem estiver com você se manter aí. Ligarei de tempos em tempos até
chegar.
— Tudo bem — desligo e entrego o aparelho para o homem. —
Obrigado pela ajuda. Se não for pedir muito, pode ficar aqui por algum
tempo?
— Sem problema nenhum. A noite é minha companheira de trabalho
e é bom descansar de vez em quando. Algo me diz que o que te trouxe até
aqui não foi somente o assalto.
Olho para ele, espantado.
— Como sabe?
Ele olha para o céu.
— Se fosse só o assalto, você estaria desesperado, até porque acordou
em um lugar estranho. Você não está desesperado, está triste e quase resoluto
de que era seu destino.
Eu não queria dizer isso, mas estou impressionado, não somente com
sua conclusão, mas também com o seu vocabulário.
— Você tem razão — digo. — Conheci a mulher mais linda que já vi,
ela gostou de mim também. Então começamos a sair e eu a queria cada vez
mais. Só que não sou o genro que uma mãe quer. Egoísta, eu a queria só para
mim, mas não tinha coragem de assumir um compromisso — rio sem humor.
— Acabei fodendo o meu coração. Hoje descobri que ela está grávida de um
filho meu, só que ela deixou bem claro que não me quer por perto. Saí sem
destino, fiz uma curva errada e aqui estou.
Ele ri.
— Um coração partido e a notícia de que será pai. Parabéns!
— Pelo coração partido? — debocho e ele assente.
— Pelos dois. Se ele partiu é porque você ainda sente. Isso me diz que
você é um bom homem, só que tomou decisões erradas. E claro, parabenizo
pelo filho.
Neste instante, seu telefone toca e ele atende.
— Oi, ele está aqui sim — o homem me olha de cima a baixo. — Pelo
estado em que está, não pode ir muito longe. Ficarei aqui, fique tranquilo.
Pode me chamar de Zezé. Até mais — ele desliga e volta a me olhar. — Seu
amigo está a caminho.
Estendo a minha mão e vejo que está suja de sangue, tento limpá-la na
camisa, mas não sai muita coisa. Volto a estendê-la para o senhor que está me
ajudando.
— Meu nome é Arthur.
Ele retribui o gesto.
— Pode me chamar de Zezé, Arthur. Voltando a sua história, o que
você fez para que ela não o queira por perto?
— Não assumi um compromisso e claramente agi possesivamente
sobre ela. Soquei a cara do homem que queria se casar com ela e assumir
meu filho... ou filha. Não consegui dizer que a amo e ela não acredita no que
sinto.
— Se ela pensa assim é porque você é mulherengo.
Sorrio com a sua conclusão.
— E por que o senhor pensa isso? — eu o questiono.
— Menino, já trilhei um caminho mais longo do que o seu. Já tive
uma vida melhor do que a vida que tenho agora, uma mulher incrível que me
aguentou nos momentos mais difíceis. Mesmo quando decidi largar tudo e
sair sem destino, ela me encontrava e me levava de volta. Eu voltava porque
o amor dela me fazia um homem melhor. Só que o vício é complicado e o
álcool está por todo lugar. Nessas horas, pensava que ela estaria melhor sem
mim e saia novamente. Eu dizia que a amava, só que falava nos momentos
errados, quando estava bêbado demais. Um dia ela cansou e não voltou para
me resgatar. Bêbados não têm problema em falar de sentimentos, o problema
é que falamos no momento errado. Agora, no seu caso, você está tão fechado
em si que não quer que ninguém saiba que você ama. Ela não sabe por que
você passou todo esse tempo escondendo e seu histórico nunca foi bom. Isso
contribui para conclusões erradas.
— O senhor tem razão, meu histórico não ajuda em nada.
— Você recebeu uma segunda chance, homem. Não a desperdice.
Nós dois sabemos que não era para você estar aqui, mas acho que o Homem
lá de cima tem uma quedinha por você — assinto e ele continua: — Se rasteje
até que a mulher te aceite de volta e faça de tudo para que ela acredite que
você a ama.
Baixo a cabeça.
— Não sei se é a melhor saída. Ela está decidida a me querer longe.
Não quero transformar sua gravidez em um inferno, quero que ela leve de
forma leve.
— Você é um bom homem — o telefone dele volta a tocar, Zezé
atende, fala que está tudo bem e desliga. — As pessoas gostam de você, a
prova disso é que estão vindo para te resgatar. Um conselho: faça o certo para
que ninguém tenha que vir te resgatar sempre, porque um dia ninguém
voltará.
Ele vai até o seu carrinho, volta com uma garrafa de água e me
entrega. Tomo toda a água que há e vejo que a minha educação ficou para
trás. Acabei com a água do homem sem perguntar se podia ou não.
— Trarei mais água para o senhor e o compensarei por ficar aqui. Sei
que precisa trabalhar e...
Ele bate nas minhas costas.
— Fique tranquilo, jovem. Estamos nesta Terra para ajudar quem
precisa.
Pouco depois, o carro de Steban para e ele vem correndo ao meu
encontro.
— Que porra aconteceu com você, irmão? — ele me segura e estuda o
meu estado.
— Entrei em uma viela que não deveria, acertaram-me e apaguei.
Acordei por aqui, mas acho que eles me fizeram de saco de pancadas
enquanto me transportavam. Tudo em mim dói.
— Pelo menos você está vivo — Steban fala com emoção e se vira
para o senhor ao nosso lado. — Você deve ser o Zezé.
— Sim, senhor. Sou eu mesmo.
— Você tem água no carro? — pergunto. — Acabei bebendo a dele e
agora está sem.
Steban corre no carro e volta com a garrafa de um litro e meio que ele
vive carregando por aí, então entrega para o senhor.
— Obrigado, senhor. Agora vou indo, tenho muito a fazer.
Steban pega a carteira e tira uma boa quantia em dinheiro. Seu Zezé
levanta a mão e recusa, dizendo que cuidar do próximo não tem preço. No
entanto, Steban insiste.
— Concordo com o senhor e fico feliz que existam pessoas que
pensam desta maneira. Mas precisamos descansar de vez em quando e hoje é
o seu dia, Zezé. Vá descansar e amanhã você volta a batalhar.
Relutante, o homem aceita e guarda o dinheiro na meia em seu pé.
Peço a ele seu telefone e coloco o meu nome e telefone assim que me entrega.
— Se um dia o senhor precisar de qualquer coisa, qualquer coisa
mesmo, ligue-me. Serei eternamente grato pelo seu socorro e sua companhia.
Steban também o agradece e saímos em direção ao meu apartamento.
No caminho, Steban me dá o telefone para que eu ligue para o meu irmão,
que está desesperado juntamente com a Manuela. Ele se encarrega de avisar a
Bia e pede para que ela fale com a Duda.
Apago no meio do caminho e acordo quando Steban está ao meu lado
com a porta aberta, em frente ao hospital. Um enfermeiro já me esperava com
uma cadeira de rodas. Falo que é desnecessário, mas não tem conversa.
Dou entrada no hospital e me levam para um quarto, onde me
examinam e colhem meu sangue para exames. Pedem para que eu tire a
minha roupa suja e coloque uma camisola do hospital. Passo boa parte da
noite em observação e o médico confirma uma concussão quando os exames
chegam. Acabo tendo que ficar mais tempo no hospital, para continuar a
observação. Se tudo correr bem e eu não apresentar nada nas próximas horas,
serei liberado.
Adormeço em algum momento e sinto alguém segurar a minha mão
quando acordo. Abro os olhos e descubro que Manuela está aqui, juntamente
com o meu irmão.
— Ele acordou — Rodrigo fala e Manuela me olha com atenção.
Percebo que seus olhos estão inchados porque chorou.
— Está tudo bem? — Manu pergunta.
— Tirando a dor de cabeça e o fato de que parece que fui atropelado
por um trem, está tudo certo.
— Ele está bem — Manu fala para o meu irmão. Então volta sua
atenção para mim. — Eu te amo, você é minha família e quase tive um
infarto quando você desapareceu. Só que agora também te detesto porque fez
a minha amiga sofrer e fugiu como um moleque, nos deixando desesperados.
Por Deus, Arthur, espero que você tenha aprendido alguma coisa com isso,
porque a minha vontade é de te esganar — ela fala a última palavra
entredentes.
Rodrigo a afasta.
— Ela está nervosa. Falei com o médico e ele disse que você está
bem, com alguma contusão aqui e ali, mas está inteiro no geral e vivo —
Rodrigo segura o meu braço. — Você e Manuela têm que entender que não
sou jovem, não posso ter esses sustos sempre.
Tento rir, mas a dor me faz parar.
— Não esperava que algo assim acontecesse....
— Ninguém espera, gênio. Mas se tivesse agido como um homem,
não teria saído daquele jeito, colocando sua vida em risco — Manuela fala,
irritada.
— Manuela, você não pode se alterar.
Ela aponta para mim.
— Diga isso ao seu irmão.
Levanto as mãos em rendição.
— Peço desculpas, senhora Castro.
O médico entra e me examina.
— Assinarei a sua alta e depois venho para passar algumas
recomendações.
Manuela o barra na porta.
— Ele realmente está bem? Arthur teve uma concussão, já pode
liberar mesmo?
— Ele está bem, basta descansar e tomar o medicamento para dor. Em
poucos dias estará novo em folha.
Manu assente e o deixa passar. Meu coração aquece com a sua
preocupação, mesmo estando com raiva de mim.
— Já pedi que arrumassem o quarto de hóspedes — ela fala ao
Rodrigo. — O Arthur ficará conosco até...
Eu a corto.
— Nem pensar. Irei para o meu apartamento.
— Você não deve ficar sozinho — meu irmão fala.
— Está tudo bem, irmão. Prometo que, qualquer coisa, eu o chamarei.
O médico retorna trazendo a papelada da alta e me faz poucas
recomendações, a mais importante é descansar. A caminho do hospital,
Rodrigo passou em meu apartamento e pegou roupas para mim. Ainda bem
que não sairei com a roupa que entrei, ou com a camisola que deixa a minha
bunda de fora.
Decido ir de carona com o Steban, pois tenho que passar na delegacia
e fazer o boletim de ocorrência. Uma hora e quarenta minutos depois, chego
em casa com uma puta dor de cabeça. Pego o remédio que comprei no
caminho para casa e tomo dois. Vou até o banheiro, tomo banho e me jogo na
cama. Minutos depois já estou fora.
Capítulo 43

Arthur
Alguns dias se passaram desde que saí do hospital, mas ainda tenho
que tomar o remédio para aliviar a dor de cabeça. Cansado de ficar em casa,
decidi vir para empresa mesmo contra a vontade de todos. Não estava
aguentando mais ficar fechado em casa, sendo atormentado pelas lembranças.
Precisava sair e só uma caminhada não resolveria, necessitava encher a minha
cabeça com coisas do trabalho.
Quando apareci, todos queriam saber como eu estava e dizer que
oraram por mim. Agradeci a todos, pois é bom saber que as pessoas ao meu
redor me querem bem. Estava aguardando que uma pessoa em especial
viesse, sei que ela não deveria vir, mas Maria Eduarda é educada demais para
deixar algo assim passar.
Quando a procissão na minha sala acaba, ela aparece. Está abatida,
triste, e isso me quebra. Minha vontade é dar a volta na mesa e abraçá-la, só
que seria um erro, já que ela me rechaçaria.
— Fico feliz em te ver bem.
— Obrigado. Fico feliz por você vir me ver — digo, inseguro.
Ela dá um pequeno sorriso sem emoção.
— Você é pai do meu filho, Arthur. É claro que quero te ver bem.
— Duda, eu....
Maria Eduarda me corta.
— Nós nos falamos depois, tudo bem? Logo trarão o seu novo
telefone e seus novos documentos. Você já está ciente dos procedimentos
sobre o carro? — assinto. — Ótimo. Então, tudo resolvido. Com licença.
Ela sai fechando a porta e me deixa sozinho com o coração apertado
de tristeza. Duda mal suporta ficar na minha presença, como farei para me
aproximar? Estou disposto a tentar mesmo assim, só preciso de tempo para
fazer um plano e executar de forma que não a deixe mais nervosa.
Acompanhei a gravidez de Manuela e sei o quanto o estresse pode ser
maligno nesta fase. Quero evitar que Maria Eduarda passe por qualquer coisa
parecida.
Dias se passam e ao invés de correr atrás do prejuízo, vou me
afundando cada vez mais. Heitor circula pelos corredores da Construtora,
acompanhando Duda para todos os lados. No começo achei legal que, mesmo
com o meu ataque, ele não se deixou intimidar e continuou sendo amigo dela.
Depois passei a ter raiva, porque ele simplesmente não dá espaço para Duda
respirar. Tentei conversar com ela sobre isso e convencê-la de que seria
melhor eu estar por perto, não ele. Como devem imaginar, não fui bem-
sucedido.
Irritado, acabei falando com Steban sobre voltar a ter sessões em uma
playparty, que acontecerá no final de semana, perto de Duda e Manuela. A
ideia era que despertasse sua raiva e ciúmes, mas consegui despertar só a
raiva... de Manuela. O final de semana vem e vai, mas não tenho coragem de
sair de casa para ir a qualquer lugar.
Não vou mentir, estou perdendo o controle. Não sei como agir em
momentos assim, nunca me apaixonei por ninguém, nunca tive que
reconquistar alguém. Inferno! Nunca estive na posição que estou hoje,
quebrado e sem saber o que fazer, ou para onde ir.
Concentrado nos dados do projeto, na tela a minha frente, não percebo
quando a porta se abre e minha cunhada, Manuela, entra. Só me dou de sua
presença quando ela joga uma pasta pesada sobre a minha mesa.
Faço uma careta e levanto meus olhos para ver meu irmão entrar se
colocar ao lado de sua esposa. Ela me encara como se pudesse me matar com
a força do pensamento. Eu amo a Manu, mas admito que não sei lidar com
mulheres que possuem personalidade forte. Agora, ela não está com a melhor
das expressões, mas isso não é de hoje. Faz algum tempo que ela não me quer
tão bem assim.
— Sua aparência não está das melhores, deixe-me adivinhar: você
passou o domingo em alguma playparty fodendo e bebendo? — ela pergunta
sarcasticamente.
— Você prometeu, Manuela — Rodrigo fala, mostrando exasperação.
— Manu... — tento falar, mas ela levanta a mão e nos corta.
Manuela olha para o marido.
— Não vou agir como se nada tivesse acontecido.
Ele passa a mão pelos cabelos e olha para mim.
— Os males de uma empresa familiar.
Balanço a cabeça e volto a atenção para minha cunhada.
— Olha, não consigo entender os Alcântara e Castro. Eu sempre
soube que vocês têm problemas com compromissos, só não sabia que são
covardes — abro a minha boca para falar, mas não tenho chance. — Não
perca seu tempo explicando-se para mim, porque nada do que sair da sua
boca vai me convencer. Você a perseguiu, seduziu e apresentou um mundo
novo só para tê-la como sua posse, quando as coisas complicaram você não
teve a decência de ficar ao lado dela — Manu se vira, caminha até a porta e
volta-se para mim antes de sair. — Ninguém espera que você se case com
ela, porque isso seria puni-la por ter se apaixonado por você, mas espero que
seja homem o suficiente para assumir quaisquer responsabilidades que
venham a surgir.
— Sinto muito por te decepcionar — falo ironicamente e o sorriso
que ela dedica a mim gela meus ossos.
— Você ainda vai sentir, eu te garanto.
Fecho os olhos e respiro fundo. Não sou o melhor homem, na
verdade, não sou bom. Quando comecei com Maria Eduarda não pensei nas
consequências, tê-la em meus braços e sob mim era tudo o que importava.
— Sou seu irmão mais velho, sempre estive ao seu lado e não será
diferente agora. Mas, Arthur, a sua atitude foi covarde e mesquinha —
Rodrigo fala tranquilamente, muito diferente de sua esposa, que saiu daqui
marchando porta afora. — Conserte a situação com a Duda, por ela, por você
e pelo que acreditamos. Afinal, você é homem e tem que honrar as calças que
veste.
Apenas assinto e o assisto sair da minha sala. Viro a cadeira para ver
todo o conglomerado abaixo e pensar. Uma vez ouvi que temos que dar às
pessoas aquilo que temos de melhor, o problema é que não sei se tenho algo
melhor do que a minha canalhice.
Bem... não adianta ficar parado aqui, pensando no que tenho a
oferecer, porque não tenho nada de bom. Entretanto, quero a porra daquela
mulher na minha vida e não deixarei qualquer imbecil atravessar o meu
caminho, mesmo que a Maria Eduarda esperneie. Sempre fui um cara de
exageros, tenho me controlado tanto para não ferir a Duda que acabei
mudando, o que não me trouxe resultado algum. Está na hora de uma última
tentativa, se depois disso ela ainda não me quiser, seguirei em frente e
teremos nosso filho, separados.
Vou até a sala do meu irmão, onde digo a ele e Manuela o que
pretendo fazer. Preciso de apoio e de cúmplices. Ligo para Steban e peço que
nos encontre, depois telefono para a Bia e peço que me traga algo. Também
ligo para um conhecido, que possui uma das casas de festas mais bonitas do
Rio de Janeiro, vejo se está vago para hoje à noite. Para a minha felicidade,
está.
Terei que pagar uma boa taxa adicional para que ele chame a sua
equipe e deixe o local preparado. O gramado tem vista panorâmica para o Pão
de Açúcar, é lá que quero que o momento aconteça. Então, assim que Bia se
junta a nós, eu explico para ambas a minha ideia.
Elas gostam e aprovam. Manuela começa a fazer ligações para ver se
consegue todas as flores que desejo para enfeitar o local. Sei que não precisa
de muito, porque o lugar é lindo, mas sou exagerado, como falei antes. As
meninas também têm que providenciar uma roupa para Maria Eduarda. Para
meu irmão e Steban, pedi que se preocupassem com os convidados, disse a
eles quem deveria estar presentes para compartilhar esse momento especial.
Há muita coisa a ser feita, porque quero isso para hoje. Onde eles
encontrarão um buffet que aceitará algo assim, em cima da hora, eu não sei,
mas gastarei todo o meu dinheiro para fazer acontecer. Três horas depois,
estamos com quase tudo organizado, falta a parte mais importante, a joia. Sei
exatamente o que quero para a minha menina, então pedi ao Rodrigo para que
traga o joalheiro que fez o bracelete de Manuela. Enquanto isso, as meninas
saíram para buscar a roupa especial. Maria Eduarda percebeu que alguma
coisa está acontecendo, mas como tem preferido se manter longe, não é difícil
guardar segredo.
Assim que o joalheiro chega, ele me mostra sua coleção, que é
extraordinária. Bia e Manuela se juntam a mim para escolher a joia perfeita.
Ele me mostra um solitário que ostenta uma pedra de diamante de três
quilates e o aro de ouro branco, que é cravejado de pequenos diamantes. É
simplesmente perfeito, delicado e resistente como a mulher que o possuirá.
Para não errar no tamanho, pedi a Bia para que trouxesse um anel de Duda. E
eu se puder, escolherei um menor para que nunca saia de seu dedo.
Durante todo o tempo, questiono-me se é uma boa ideia, só que já
mobilizei gente demais para voltar atrás. Estou determinado demais nesta
loucura para voltar atrás. Assim que bate o desespero, por não encontrar um
buffet, minha mãe entra na sala com o carrinho de bebê duplo das minhas
sobrinhas. Levanto-me e vou até elas, beijo minha mãe e as meninas. Rodrigo
e Manuela são bonitos, mas estão de parabéns por terem feito essas
preciosidades.
— Soube que meu filho caçula está organizando uma festa.
— Como a senhora sabe? — pergunto na defensiva e neste momento
a Manu entra.
— Houston, temos um problema. Aahh, meus bebês estão aqui! —
Manu tira cada menina do carrinho e as beija sem parar. — Tenho que
amamentá-las. Obrigada por cuidar delas para mim, Rosita. As babás vieram
junto?
Minha mãe dá de ombros.
— Não preciso de babás, querida, posso dar conta das minhas netas.
Manu olha para mim e sorri.
— Eu sei, vovó, nunca duvidei disso.
— Então, aquelas mulheres não eram boas o suficiente para cuidar
das meninas. Uma delas deixou a Isabela chorando sem parar, dizendo que é
normal, para que ela não se acostumasse no colo — minha mãe bufa. —
Como se eu me importasse com isso. Se minha neta quer colo, colo ela terá.
Mas não se preocupe, Manu, teremos algumas babás para entrevistar amanhã.
Já está tudo organizado.
— Obrigada, Rosita. Não sei o que faria sem você.
Minha mãe tem se esforçado bastante com todos nós e está se saindo
muito bem com as netas. Não sei como ela reagirá quando souber da gravidez
de Maria Eduarda, mas uma coisa é certa: não deixarei que suas loucuras
alcancem a minha mulher, como fez com a Manu.
— Manu, qual é o problema?
Ela me olha perdida por algum tempo, depois fala desesperadamente:
— Meu Deus, Arthur. Não estamos encontrando nenhum buffet que
aceite trabalhar ainda hoje.
Puta que pariu! Quero que tenha comida e bebida, afinal, é uma festa.
— Por que não estou sabendo de nada sobre essa festa? — minha mãe
pergunta.
Antes que eu possa abrir a boca, Manuela me atravessa.
— Ah, Rosita, seu filho pedirá a Duda em casamento.
A mulher que me gerou olha para mim, triste.
— Não sou bem-vinda, meu filho? — sua voz é tão vulnerável que
me comove.
— Mãe, Maria Eduarda é a mulher que amo e está esperando um filho
meu. Sei que a senhora tinha outros planos para mim, mas, como pode ver,
estou empenhando em fazer isso dar certo.
— Você soube? Parabéns, meu filho — ela vem e me abraça. —
Teremos mais crianças lindas nesta família.
— A senhora já sabia? — pergunto consternado.
— Eu estava lá quando ela descobriu, foi no dia que as gêmeas
nasceram.
— Todos sabiam, menos eu?
Manuela dá de ombros.
— Culpa sua! Mas, Romeu, não está se esquecendo de nada não?
Ainda não temos um buffet.
— Puta que pariu! — passo a mão pelos cabelos. — O que faremos?
Neste momento, a mulher da minha vida entra na sala.
— Desculpem por atrapalhar, mas tinha que trazer este documento
para o Arthur assinar.
— Não incomoda, querida — minha mãe vai até a Duda e a abraça,
para a minha surpresa, Maria Eduarda retribui com um sorriso.
— Que bom vê-la aqui.
— Duda, ajude-me com as meninas, por favor? — Manuela, que está
amamentando uma das meninas, pede. — Tenho que ir até a sala do Rodrigo
e Rosita tem que ajudar o Arthur.
Elas saem com as crianças, deixando-me com a minha mãe, que tira o
celular da bolsa.
— Acho que posso ajudar com isso, meu filho. Quantas pessoas são
esperadas?
Fico calado, sem saber como reagir, pois não esperava que ela
aceitasse a ideia sem lutar.
— Mais ou menos, trinta pessoas.
— Pode deixar isso comigo, querido. Vá resolver as outras coisas.
— Já está tudo encaminhado, mãe.
Ela balança a cabeça em entendimento.
— E a sua roupa? Já sabe o que usará? — pela minha cara, ela tem a
resposta. — Sente-se aqui, conte para sua mãe como será a festa e lhe
ajudarei com a roupa.
Passo a próxima hora explicando tudo a minha mãe. O que me trouxe
até aqui e por que quero fazer isso hoje. Acabo desabafando sobre os meus
sentimentos e o porquê os alimentei durante tantos anos. Ela se emociona ao
ouvir o meu relato e fica em silêncio por um tempo preocupante.
— Mãe, desculpe-me por jogar tudo em você. Passei tanto tempo
repetindo para mim mesmo que vocês não foram os melhores exemplos que
deixei de lado que vocês também tiveram que lidar com muita coisa quando
ficaram juntos. Foi errado culpá-los pelos meus erros com a Maria Eduarda.
Ela segura minha mão.
— O meu casamento foi decidido pelo seu avô. Para ele, uma mulher
servia para fechar acordos que seriam benéficos à família, mas gostei do seu
pai logo de cara. Ele era tão bonito e encantador, eu sabia que seria um bom
pai e marido. Seu pai precisou de mais tempo para se adaptar ao casamento e,
nesse meio-tempo, nós nos perdemos um do outro. Nós erramos muito com
vocês, queríamos dar continuidade às tradições da família. Para nós, Arthur,
felicidade e amor não passavam de palavras.
— Vovô não teria obrigado o pai a se casar, ele nos ensinou a buscar
aquilo que queremos....
— O seu avô, pai do seu pai, era um bom homem. As coisas não
foram piores porque ele interferia sempre que podia. Ele não obrigou seu pai
a se casar comigo, deixou-o livre para decidir. Como Eduardo era mais
parecido com o meu pai, a história acabou em casamento. Meu filho, use o
nosso exemplo para fazer diferente. Peço perdão por forçar vocês a viverem
como queríamos, ao invés de deixar que escolhessem o que fariam vocês
felizes.
Beijo sua mão.
— Por isso estou fazendo esta loucura — sorrio. — Eu amo aquela
mulher, mãe. Quero uma família com ela.
Seus olhos umedecem.
— Então vá em frente, seu pai e eu estaremos aqui sempre que
precisarem.
Abraço a minha mãe como não fazia desde criança e um pedaço do
meu coração parece se regenerar. Assim sei que estou no caminho certo.
Capítulo 44

Maria Eduarda
Desde de manhã há uma movimentação estranha na empresa. Rodrigo
mal parou aqui e estava no telefone quando o fez. Manuela também passou a
tarde por aqui, até que a Rosita apareceu com as meninas. Decidi não tomar
conhecimento de nada, pois estou determinada a focar só no meu trabalho.
Desde que o Arthur teve aquela briga horrível e desapareceu em seguida,
tenho mantido distância. Naquele dia quase perdi a cabeça quando ouvi a Bia
falar que encontraram o carro dele em uma comunidade. Rezei tanto para que
o pior não tivesse acontecido que acho que Deus me atendeu.
Quando o vi na empresa, dias depois, ele ainda carregava algumas
contusões e meu coração apertou. Sei que deveria vê-lo, mas o certo era me
manter longe. Meu coração não aguentaria outro baque. Arthur tentou se
aproximar depois disso, sempre receoso e inseguro, muito diferente do
homem que ele é. Neste momento, preciso de alguém que seja forte por mim
e que não me faça trabalhar por isso. Heitor até tentou se aproximar mais,
mas não é correto, já que meu coração está em outro lugar.
Graças a Deus chegamos no final do expediente, o dia foi longo e
quero ir para casa, tomar um banho e descansar. Pego a minha bolsa e vou
saindo quando Beatriz aparece na porta, assustando-me.
— Aonde vai?
— Para casa — respondo. — O que você está fazendo aqui?
Bia sorri e descubro que ela está tramando alguma coisa.
— Estou te raptando — Bia segura o meu braço. — Vamos, doçura,
vamos nos divertir.
— Nãããooo... estou cansada.
Enquanto andamos para fora do prédio, ela fala:
— Tenho o Victor te esperando para dar um trato nesse cabelo, que
não está bonito como de costume, além disso, um massagista para deixá-la
relaxada, manicure e pedicure.
— Não, Bia — lamento. — Quero minha cama.
Antes de entrarmos no carro, ela para e segura as minhas mãos.
— Prometo que a levarei para casa assim que terminar, mas, Duda,
você tem se dedicado tanto na empresa que acabou se esquecendo de se
cuidar. Você não se arruma mais. Suas unhas, que sempre foram bem-feitas,
agora estão descascando.
— Eu sei.
— Vamos ao salão e depois vamos jantar em um bom lugar. O que
acha?
Ela está certa, eu mereço ser mimada, mereço comida boa para mim e
meu neném.
— Então, leve-me.
Entramos no carro e vamos direto para o salão de Victor, que
realmente estava me esperando. O bônus é que o lugar está vazio, apenas com
os profissionais nos esperando. Sou levada até uma mesa que foi preparada
com vários lanchinhos; bolos, sucos e chás. Depois que me alimento, Victor
me leva até o lavatório e aplica uma hidratação. Em seguida, duas meninas
me colocam em uma poltrona superconfortável, uma faz as minhas unhas das
mãos e a outra faz as unhas dos pés. Estou ficando cada vez mais relaxada.
Beatriz também se rende aos cuidados, ela e Victor falam sem parar
sobre as fofocas da alta sociedade, fazendo-me dar boas gargalhadas. Com as
unhas prontas, dispo-me das roupas e vou até a massagista, onde uma mulher
muito bonita pede para eu me deitar, a fim de iniciar a massagem, então faço
como pediu. No início dói, estou tensa e isso só piora.
— Gosta de música? — ela pergunta.
— Amo.
— Então, diga-me uma e colocarei para que você tente relaxar.
Peço Minefields[24], da Faouzia[25], e a moça coloca. Não demora
muito para começar a me relaxar verdadeiramente. A letra dessa música é
linda e me toca profundamente. Deixo-me levar pela melodia enquanto sou
massageada.
(...) Agora, isso deve ser um erro, estar te ligando a essa hora. Mas
esses sonhos que eu tenho com você não são reais o suficiente. Começou
reavivando o passado, como as coisas que você ama não duram, mesmo que
isso não seja justo com nenhum de nós. Talvez eu seja uma tola, só que ainda
pertenço a você. Em qualquer lugar, qualquer lugar que você estiver. Esses
campos minados pelos quais eu ando. O que eu não arrisco para ficar perto
de você? Esses campos minados me mantendo longe de você. O que eu não
arrisco para ficar perto de você? (...)
Acho que adormeço em algum momento, pois acordo com a Bia me
chamando. Saio da mesa e ela me acompanha até um banheiro luxuoso, que
eu não sabia que existe no salão. Victor me fala que é dedicado às noivas que
se arrumam em seu salão e isso faz todo sentido. Ele me aponta uma banheira
que está cheia e pronta para ser usada.
— Querida, fique à vontade. Mas não relaxe demais para que a pele
não fique enrugada.
— Obrigada, Vic.
Dispo-me e entro na banheira vitoriana. Deito-me e fecho os olhos.
Eu realmente merecia um tempo tranquilizante para me recuperar de tudo o
que vem acontecendo. Alcanço o sabonete e me lavo lentamente,
aproveitando cada minuto. Depois de uns dez ou quinze minutos, saio e seco-
me. Volto para a sala principal e Victor me leva até o lavatório, onde retira a
hidratação e lava os meus cabelos. Depois, ele faz um corte e os secam,
valorizando os meus cachos. Meus cabelos realmente precisavam de
cuidados.
Bia aparece com um vestido lindíssimo no cabide. Ela me entrega e
diz que devo me vestir, porque vamos a um restaurante chique. O vestido não
foi feito para ser usado com lingerie, pois qualquer coisa o marcaria. Ela me
acompanha até o banheiro das noivas e me ajuda a colocá-lo. Na frente a peça
é fechada, nas costas há duas tiras largas que se cruzam, deixando todo o
restante aberto. Ele é longo e há uma fenda atrás. O vestido é deslumbrante e
combinou perfeitamente comigo. Não sou muito extravagante, mas acho que
precisava me sentir assim... linda.
Para os pés, Bia me entrega uma sandália dourada de tiras e saltos
altos. Já estava me sentindo linda com o conjunto, mas depois da maquiagem
que Vic insistiu em fazer, fiquei extraordinária. Estou tão absorta nesse
tempo de mimos que não pensei no motivo disso tudo acontecer. Bia é uma
amiga cuidadosa, mas nunca fez algo assim. Eu deveria estar estranhando,
não curtindo. Seja lá onde será o jantar, já estou gostando dessa saída. Só
espero que a maluca não me leve a um carrinho de cachorro-quente.
Quando pergunto quanto a minha conta ficou, Vic diz que é por conta
da casa, que estou merecendo um tempo bom, principalmente porque estou
gerando um pequeno ser. Abraço-o com carinho, pois ele é um bom amigo.
Nós nos despedimos e partimos em direção ao restaurante luxuoso e
desconhecido.
Não posso deixar de mencionar que a Beatriz está lindíssima em um
vestido tomara que caia, vermelho-escuro. Seus cabelos foram presos de um
lado e cacheados nas pontas.
O que me leva a perguntar:
— Onde você arrumou esses vestidos?
— Na loja.
— Haha, engraçadinha. Abra o jogo, Beatriz — insisto.
— A amiga de Manuela, que é estilista, nos emprestou.
— Sem cobrar nada?
Ela assente.
— Sem cobranças.
Que estranho! Que estilista empresta um vestido ao invés de alugar?
Tomara que não seja um dos truques desta menina. Deus sabe que não tenho
psicológico para lidar com isso agora. Então, é melhor curtir o passeio e
deixar todas as preocupações para depois. Como se soubesse que meus
pensamentos estão indo para esse lado, Bia coloca uma música alta e começa
a cantar. Conversamos sobre o dia estranho na empresa, conto a ela que todos
estavam fazendo alguma coisa e ninguém se aproximou de mim para
comentar.
Depois do que parece horas, mas provavelmente foram uns quarenta
minutos, entramos por um caminho que está ladeado por tochas acesas, ao
final, o prédio está todo iluminado. Que lugar lindo! Vemos alguns carros,
mas Bia continua e, mais ao longe, vejo outro caminho de tochas em um
jardim.
— Que lugar é este? — pergunto.
— É chamado de “Mansão de Santa Teresa” — ela responde.
Bia para bem próxima ao que penso ser um jardim, mas o lugar está
decorado com flores... centenas de flores e tochas. Há um caminho que leva
até um arco de flor. Será que é um casamento? Antes que eu possa abrir a
porta, alguém uniformizado a abre. Quando saio do carro, encontro Manuela
e Dona Rosita, ambas tão bonitas e elegantes quanto nós. Se eu achava que
tudo estava estranho antes, agora tenho certeza de que algo acontecerá.
Elas me abraçam e repetem o quanto estou linda, e estou mesmo!
Concordo com elas. As mulheres me escoltam em direção ao jardim e lá
encontro um monte de pessoas conhecidas. Nas cadeiras há pessoas do clã
que os meninos fazem parte. Lucille Goësbriand até acena para mim. Lá na
frente vejo Rodrigo, Steban, seu Eduardo e Arthur, todos bem-vestidos em
seus ternos claros.
O que está acontecendo?
Acho que perguntei em voz alta, porque Manuela me responde:
— Arthur queria fazer algo especial para você e acho que ele
conseguiu.
— Manu...
Ela segura o meu braço antes de se virar para Beatriz e Dona Rosita.
— Vocês podem ir na frente, acompanharei a Duda um passo atrás.
As mulheres seguem e nos deixam para trás.
— E-eu não sei o que está acontecendo e isso me deixa um pouco
desconfortável.
Ela coloca meu braço no dela.
— Arthur organizou tudo isso com a nossa ajuda, é claro, para te
mostrar alguma coisa. Não estou falando para você voltar para ele, Duda, mas
dê ao homem uma chance de falar.
— Estou com medo.
Ela me para e nos vira até ficarmos frente a frente, suas mãos seguram
as minhas.
— Não importa o que aconteça, independente da sua resposta, nós
estaremos aqui para você. Se quiser fugir, grite e nós a levaremos daqui. Se
quiser apenas jantar, todos jantaremos. Não importa, se não se sentir bem,
basta nos avisar e tomaremos todas as providências. Entendeu?
— Sim.
— Então, vamos até o homem que está impaciente, esperando.
Quatro mulheres surgem na minha frente, cantando uma música linda
da Enya, Orinoco Flow[26], acompanhadas por uma flauta e violinos. A
música é bem conhecida e acho que combina perfeitamente com o momento.
Deus! O que esse homem fez? Há uma fortuna de rosas brancas, lilases e
amarelas. Há girassóis, orquídeas, lírios e folhas de variedades infinitas.
Todos muito bem-arrumados, sorrindo em minha direção. Meu coração
acelera na batida das notas da flauta.
(...) Deixe-me navegar, deixe-me navegar, deixe o Orinoco fluir.
Deixe-me alcançar, deixe-me encalhar nas praias de Tripoli. Deixe-me
navegar, deixe-me navegar e me deixe quebrar em sua margem. Deixe-me
alcançar, deixe-me encalhar muito além do Mar Amarelo (...)
Arthur vem de encontro a mim e, quando está próximo o suficiente,
vejo que está inseguro. É um crime um homem tão bonito como ele se sentir
inseguro. Nem combina. Estou nervosa demais para sorrir, meu coração
parece que saltará do peito a qualquer momento. Manuela coloca a minha
mão sobre a dele e vai de encontro ao seu marido. Achei que Arthur me
conduziria adiante, mas ele para e fica de frente para mim.
— Você é linda, sempre foi, mas hoje você está extraordinária. Tenho
que parabenizar a estilista que as vestem — ele esfrega as mãos uma na outra
e ri nervosamente. — Não quero constrangê-la na frente de todos, nem fazer
nada errado. Não lembro de me sentir tão nervoso assim. Enfim, Duda, e-eu
queria fazer um grande gesto para que você saiba o quanto me importo com
você. Se você não quiser ouvir o que tenho a dizer e não puder abrir seu
coração para mim, entenderei perfeitamente. Uma das meninas a levará para
longe e prometo me aproximar somente quando você estiver à vontade.
Tenho todos os motivos do mundo para sair, mas meu coração
bandido quer saber o que ele tem a dizer. Não aceitarei nada menos do que
“eu te amo de verdade”. Sei que é um risco grande que estou assumindo, mas
se o Arthur teve todo esse trabalho, alguma coisa de bom ele tem para me
entregar, não?
— Só me responda uma coisa: é um daqueles casamentos surpresa?
Aquele sorriso de canto que amo aparece.
— Só saberá se prosseguir.
— Então, leve-me, senhor Castro.
Arthur estende sua mão e coloco a minha sobre a dele. Caminhamos
até a frente, onde Rodrigo e Manuela, Steban e Bia, Dona Rosita e seu
Eduardo nos esperam. Há um microfone ao nosso lado, que captará toda as
falas. Ficamos um de frente para o outro e Arthur começa o seu discurso.
— Durante muito tempo, eu me convenci de que não teria um
relacionamento porque faria minha parceira sofrer. Na minha concepção, o
amor era errante e causava mais sofrimento do que felicidade. Nunca quis um
“mais” para mim, não fazia sentido ter alguém se fosse sofrer por minha
causa. Então eu te conheci e sentimentos contraditórios começaram a fazer
parte do meu dia a dia. Fui um tolo por todo esse tempo....
— Foi mesmo — Bia fala e todos riem.
— Eu a quis desde o primeiro dia que a vi na empresa e depois na
praia. Eu a quis quando ficava te olhando achando que não estava vendo. Eu
a quis ainda mais quando se entregou a mim sem reservas e me apaixonei
quando você se tornou a minha menina — ele acaricia o meu rosto. — Nunca
cansarei de dizer o quanto é linda, o quanto te admiro. Você é inteligente e
forte, tenho orgulho de você em tudo o que faz. Se eu já te amava antes,
agora esse amor foi duplicado pela notícia do nosso filho...
Arthur é interrompido novamente, agora pelo seu pai:
— Ou filha, ou filhos, ou filhas.
Todos riem novamente.
— Isso, pai. Ou todos esses, não importa. Maria Eduarda, eu a amarei
mais a cada vida que trouxermos ao mundo. Quero que todos ouçam o quanto
te amo, também quero que eles sejam testemunhas do meu amor. Duda, errei
tantas vezes e quero pedir o seu perdão por cada um deles. Se você for capaz
de me perdoar, aceite ser minha parceira e minha menina, minha mulher e
amante, aceite estar comigo na alegria e na tristeza, nos erros e acertos —
Arthur tira uma caixa do bolso e se ajoelha diante de mim. Ele abre a caixa e
vejo o anel deslumbrante que carrega. — Eu te amo, mulher, amo como
nunca amei ninguém antes. Então preciso que aceite ser minha, pois você
nasceu para isso, para ser minha.
A esta altura, já não consigo controlar as lágrimas e nem quero
resistir. Minha racionalidade me diz para pensar direito, mas meu coração
acredita nos romances, acredita no amor. Seco as minhas lágrimas da melhor
maneira que posso e passo a mão em seu rosto.
— Você é o homem mais bonito que já conheci. Desde o começo
fiquei encantada, não só com a sua beleza, mas com seu bom humor. Você
sempre dá um jeito de deixar o clima mais leve. Você é um homem incrível e,
em todo o tempo que estivemos juntos, sempre me colocou para cima.
Ajudou-me a florescer e apoiou o meu crescimento profissional. Você foi um
tolo, mas no amor todos não somos? Arthur Alcântara e Castro, aceito ser sua
mulher e sua amante, sua parceira e sua menina. Eu te amo... amo você por
inteiro, suas qualidades e seus defeitos. Amo tudo em você. — Ele fica de pé
e coloca o anel em meu dedo.
Arthur puxa-me contra si e me beija apaixonadamente. Todos ao
nosso redor aplaudem e assisto encantada os balões brancos subirem aos
céus. Olho para o homem em meus braços e encontro em seus olhos tudo o
que desejo, seu amor brilhando como um farol para o meu coração.
Capítulo 45

Arthur
Um ano depois...

— Não acredito que você está aqui novamente, Arthur.


A mulher dos meus sonhos entra na sala em que estou com Rodrigo.
— Estamos em reunião — digo.
A cena ao nosso redor é linda. As meninas de Rodrigo brincam aos
pés de seu pai enquanto seguro o Theo, meu filho de poucos meses, que
dorme serenamente em meu colo.
— Vocês estão em reunião na frente da televisão em que está
passando o NBA? Interessante. E vão construir o quê? Um vestiário para os
Giants? Estão vendo o tamanho dos jogadores para decidir quantos metros
serão necessários?
Rodrigo me olha surpreso com a explosão de Maria Eduarda.
Levanto-me e vou até ela. Assim que me aproximo, beijo seu rosto e ela beija
a cabecinha do nosso filho.
— Querida, você precisa descansar. Por que não aproveita o tempo
para dormir?
Ela revira os olhos e sai.
— O que está acontecendo com a Duda? — meu irmão pergunta.
— O pequeno guloso aqui a acorda para mamar a cada três horas,
além disso, a obra da casa não termina nunca e está deixando a Duda neste
estado. Acho que a falta de sexo também.
— Vocês não transaram depois do parto?
Cada vez que penso no parto de Maria Eduarda, um calafrio percorre
o meu corpo. Ela não teve uma gravidez difícil, dormia muito, comia bem e
tinha disposição para se exercitar, além de trabalhar. Mas antes do Theo
nascer, Maria estava morando comigo no apartamento em Copacabana e,
quando começou a sentir as contrações, no início da manhã em que estava
verificando a reforma da nossa nova casa, que fica a duas casas de Rodrigo e
Manuela, também próxima da casa dos meus pais, Érica invadiu o lugar e
ameaçou a minha mulher, dizendo que sumiria com ela e o bastardo que
esperava.
Graças a Deus, naquele dia, decidi sair mais cedo da empresa para
vermos a reforma da casa que compramos. Cheguei no momento em que
Érica ria histericamente, irreconhecível. Não pensei duas vezes e chamei a
polícia, que a levou. Fiz questão de prestar queixa, pois as pessoas têm que
entender que não podem agir como querem sem consequências. Meus pais
vieram e tomaram a frente do caso, então não tivemos que nos preocupar
mais com isso.
Como a casa estava no início da reforma e não havia como nos
mudarmos, depois do nascimento do nosso filho, meus pais insistiram para
que passássemos uma temporada em sua casa, já que a propriedade deles é
enorme e podemos ficar dias sem nos cruzarmos. Não fui a favor no início,
mas depois que Érica acessou nosso apartamento sem problemas, não tive
dúvidas do que fazer, aceitamos o convite e nos mudamos para lá.
Desde então, meus pais têm se desdobrado entre nós e a família do
meu irmão. Hoje somos uma família unida, não nos importamos com o que as
pessoas pensam ou falam, apenas nos apoiamos. Meu pai desistiu de
concorrer a uma vaga de deputado, já que foi convidado para presidir uma
instituição que representa a indústria e ele tem se saído muito bem.
Nunca pensei que diria isso, mas estou gostando dessa proximidade
com os meus pais, vemos que eles se esforçam todos os dias para nos dar o
que nunca deram. Também não imaginava que fosse gostar de estar em um
casamento, de dar satisfação de cada passo que dou. Estou completo e
irrevogavelmente louco de amor pela minha esposa, pela família que estamos
formando. Tenho orgulho de quem sou hoje, do homem que sou hoje. Não
tenho vergonha em dizer que luto e morro pela minha mulher e meu filho.
Desde que Theo nasceu, tenho deixado a Maria Eduarda muito à
vontade sobre sexo. Estou subindo pelas paredes, há dias que me masturbo
uma ou duas vezes. Estou me tornando pervertido em um nível preocupante.
Algumas vezes, quando a vejo amamentar nossa criança, imagino estar no
lugar do meu filho. Eu não tenho culpa de desejá-la tanto, mas o meu tempo
não é o tempo dela e respeito isso. Teve dias que ela se aproximou, esfregou
e pediu para que eu lhe desse um orgasmo. Eu dei vários deles, com a boca e
com os dedos.
Maria Eduarda e Manuela formam uma dupla dinâmica. Elas acham
que podem fazer tudo, só que não podem, andam cansadas e estressadas.
Querem estar na empresa, com as crianças e resolvendo as coisas de casa. Há
babás, há funcionários em cada lugar para que ambas descansem, mas é a
mesma coisa que falar com as paredes. Tenho conversado com a Duda sobre
a sua rotina, como agora tenho assistentes, venho para casa mais cedo e estou
trabalhando mais vezes em home office, para ajudá-la com o Theo. Ontem a
minha mãe trouxe algumas pessoas para que a Maria Eduarda entrevistasse e
escolhesse a babá do nosso filho. Segundo a vovó, a mamãe precisa de ajuda
e ninguém diz “não” para a vovó.
Nos últimos dias, Duda passou de cansada a irritada. Tudo,
absolutamente tudo é motivo para ela esbravejar. Como todo bom “pau
mandado”, apenas absorvo e tento acalmar a fera com beijos e palavras
bonitas. Nós dois precisamos de sexo com urgência, tenho certeza de que
parte de seu estresse acabaria e minhas mãos teriam descanso. Só que não
quero forçá-la a nada, tenho até receio de seduzi-la e depois ela se
arrepender. Não sei como funciona depois do parto, quando perguntei ao
médico sobre o tempo que levaria, Maria quase teve uma síncope.
— Não precisa responder se não quiser — Rodrigo volta a falar e saio
do meu devaneio.
— Eu me distrai. Não, não transamos depois do parto. Um dia antes
ela queria me devorar e depois demos uns amassos, nada muito selvagem.
— Então sabemos o porquê a cunhada está neste estado. Vá lá e tire
um tempo com ela, a Duda merece.
— Já convidei para sair, mas ela alega que não quer incomodar
ninguém. Nós somos os pais da criança, então temos que cuidar.
Ele balança a cabeça.
— Com a Manuela foi parecido, o que resolveu não foi um convite,
mas sim uma ordem. Naquele momento a minha menina precisava de seu
Dono, não do seu marido carinhoso.
— Não quero forçar, talvez ela não esteja preparada — digo
pensativo.
— Ela já deu algum indício, como uma esfregada ou apalpada?
Sorrio.
— Já sim.
— Acredite, ela quer, só que a cabeça dela está focada em outra coisa.
Duda tira leite para deixar, caso precise sair? — assinto. — Faça o seguinte,
ordene que ela se arrume e, enquanto isso, prepare as coisas do Theo. Leve-a
para jantar e depois para um hotel. Deixe o Theo conosco e seja o Dono que
sua menina precisa.
— Gosto da ideia, mas não significa que seja uma boa ideia. De
qualquer forma, levarei adiante, pois acho que nós dois precisamos disso.
Levanto-me e ajeito meu filho em seu canguru, para sairmos em
busca de sua mamãe gostosa. Não demoro muito para encontrá-la, está no
escritório com a Manuela, falando sei lá sobre o quê. Aproximo-me com
cuidado porque estou entrando em terreno hostil. Manuela vem até mim e
beija a cabeça do meu filho.
— O príncipe da titia está tão lindo — ela me olha. — Theo está
ficando muito parecido com você, Arthur.
— Lindo como o pai, você quer dizer.
Ela balança a cabeça.
— Que família modesta.
— Vamos, Duda? — eu a chamo.
Estendo a minha mão para ela, que a segura. Então nos despedimos de
Manu e caminhamos para casa. Chegando, coloco Theo em seu berço e
abraço a minha esposa. Preciso ter certeza de que não estou indo com uma
ideia ruim. Beijo seu pescoço, seu queixo, mordo seu lábio inferior e depois o
sugo. Ela geme e me beija febrilmente, esfregando-se em mim. É tudo o que
preciso para levar meu plano adiante. Seguro seus cabelos da nuca e os puxo
até que nossos olhos se encontrem.
— Quero que você se arrume, menina linda. Hoje nós dois teremos
um bom tempo.
Ela tenta se afastar, mas seguro-a mais forte e a beijo novamente.
— Não podemos — ela fala ofegante. — Temos que cuidar do Theo.
Beijo-a mais uma vez e seus lindos olhos voltam a ter aquele brilho
especial.
— Theo ficará com seus tios, já que os avós têm compromisso —
passo os polegares pelos seus mamilos. — Enquanto você se arruma,
organizarei o nosso passeio.
— S-sim....
— Então vá, minha menina. Arrume-se.
Saio do quarto e vou em direção ao escritório do meu pai, que
atualmente estou dividindo com ele. Ligo para o hotel mais conhecido da
cidade e reservo a suíte presidencial, também peço para que providenciem
uma mesa no restaurante do mesmo hotel, que tem um excelente chef. Envio
uma mensagem ao Rodrigo, dizendo que está tudo encaminhado e que em
breve passarei lá para deixar o meu filho.
Uma ideia surge e corro até a suíte que ocupamos, vasculho entre as
minhas coisas e encontro a caixa que guardo lembranças especiais. Entre
essas coisas, encontro uma corrente de ouro com um pingente com as letras A
e C entrelaçadas. Minha avó queria algo especial para meu irmão e para mim,
então acabou nos presenteando com essas joias de família. É perfeito para o
que preciso. Coloco-o no estojo a que pertence e guardo no bolso do terno
que usarei.
Depois que Maria Eduarda desocupa o banheiro, tomo um banho,
seco-me e visto as roupas que escolhi para esta noite. Um terno azul-marinho
e uma camisa lilás, nada de gravatas. Saio do quarto à procura da minha
mulher e a encontro na sala, amamentando Theo. É uma imagem incrível que
guardarei por toda a minha vida. Ela olha para mim e sorri, é nessas horas
que confirmo que sou um dos homens mais felizes da Terra. Ainda me
pergunto por que demorei tanto tempo para acordar. A felicidade estava bem
na minha cara e eu, idiota, estava deixando passar.
Após algum tempo, Duda avisa que estamos prontos para sair.
Entramos no carro e paramos uma quadra depois, em frente à casa do meu
irmão. Ajudo Maria Eduarda, que segura nosso filho, a descer e entramos na
casa do Rodrigo. Manuela vem ao nosso encontro e já vai tirando o Theo do
colo de sua mãe, que está entrando em pânico com a ideia de deixar a cria.
— Duda, ele está com a tia, o tio e com ajudantes. Vá e divirta-se.
Os olhos de Maria Eduarda umedecem.
— Quem sabe deixamos esse passeio para outro dia.
Manu entrega meu filho para seu marido e se aproxima de Duda,
segurando a sua mão.
— Sei o quanto é difícil deixar nossos pequenos, mas, querida, para
você ser uma boa mãe, precisa de um tempinho para você e para seu marido.
Vai por mim, na volta entenderá o que falei. Seu filho estará bem-cuidado e,
se precisarmos de socorro, ligaremos para você.
— Promete? — ela pede.
— Prometo. Agora vá e se divirta.
Beijo Manuela na testa, aceno para o meu irmão, pego a mão da
minha mulher e saímos em direção a nossa noite. No caminho, Maria
Eduarda está tensa e calada, sei que está triste por deixar o Theo para trás, só
que nós dois precisamos deste tempo sozinhos. Espero que esta noite saia
como o esperado. Depois de algum tempo, estaciono em frente ao
Copacabana Palace e entrego o carro ao manobrista. O concierge, que é um
velho conhecido, nos recebe na porta e nos conduz até o restaurante.
Como Maria gosta de massas, pedi que fizessem a reserva no
Cipriani. Somos deixados na companhia do maître, que nos leva até a mesa.
Logo um atendente vem colher nossos pedidos e penso que ainda não
consegui arrancar um sorriso de Duda. Coloco minha mão sobre a mesa e ela
coloca a dela sobre a minha.
— Pode tentar se divertir?
— Não paro de pensar em Theo, desculpe.
— Não precisa se desculpar, amor. Sei o quanto deve ser difícil para
você, mas serão apenas algumas horas.
Ela assente.
Começo a contar sobre os novos projetos que estamos estudando, falo
sobre as ideias que ela teve e também que nos sentaremos para discutir os
orçamentos. Ela ri quando conto que Sara está dando em cima do novo
estagiário de Rodrigo, que acredito ser virgem aos trinta anos. O coitado não
tem um dia de paz. Discutimos sobre a ideia de Manuela, sobre abrirmos um
berçário na Construtora e como devemos nos revezar no home office. Quero
passar mais tempo em casa, com ela e Theo.
O jantar, que começou tenso, vai ficando mais leve e ela está feliz e
falante no final. Subimos para a suíte logo após, que está decorada com flores
e velas. Agora somos apenas ela, eu e meu desejo de consumi-la por inteiro.
Beijo-a docemente e abro a sua camisa, empurrando-a pelos ombros até que
caia. Enquanto isso, beijo cada pedacinho de sua pele perfeita. Abro o fecho
de sua calça, ajoelho-me diante dela para retirar as peças e seus sapatos.
— Todos os dias eu me pergunto o que fiz de bom nesta vida para ter
você comigo — declaro.
— Fez tudo errado — ela ri. — Você é um bom homem, Arthur. Não
se menospreze, amor. Você não merece.
Dispo-me rapidamente e tiro do bolso do terno o pequeno estojo.
Abro-o e mostro o colar para minha mulher.
— Isso deveria acontecer em frente ao clã ou na presença de algum
Mestre. A cerimônia do encoleiramento deveria ter sido celebrado quando
coloquei minhas garras em você — rimos e nos encaramos. — É importante
para mim que você me considere seu Dono no BDSM, quero que leve a
minha marca.
Ela levanta a mão com o solitário.
— Já carrego a sua marca, meu senhor.
— Não, querida, você carrega meu pedido de casamento. Quero mais,
menina linda, quero você por inteira. Aceita fazer essa cerimônia aqui e
agora?
Maria Eduarda acaricia meu rosto e beijo a palma de sua mão.
— É claro que aceito, só não sei o que dizer. A cerimônia de Manu e
Rodrigo foi tão perfeita, as falas...
— Amor, apenas diga o que sente em seu coração — instruo.
Ela se coloca na posição de submissão, ajoelhada e com as mãos
abertas para cima, sobre as coxas.
— Eu, Maria Eduarda, entrego-me a você, Senhor Arthur. Dou-lhe
toda a minha devoção, submissão e amor. Quero ser sua de todas as formas,
sua posse, sua menina e destinatária de seus caprichos. Darei o meu melhor
para você e por você, sempre. Carregarei sua marca com orgulho, para que
todos saibam a quem meu coração, minha alma e meu corpo pertencem.
Tento controlar as lágrimas que descobri ser impossível segurar, no
nascimento do meu filho. Pego o colar e deixo o estojo de lado, ajoelho-me
de frente para Duda e coloco a joia em seu pescoço.
— De hoje em diante, você é a minha menina linda, minha posse e
destinatária dos meus caprichos e desejos. Cuidarei de você, orientarei em
todos os momentos e a farei feliz. Você é meu orgulho, meu coração, minha
alma e meu corpo também pertencem a você. A partir de agora, minha marca
te acompanhará até o fim de nossos dias, porque você nasceu para ser minha.
Nós nos levantamos e aciono a música que preparei para este
momento, logo a melodia enche o lugar e eu a puxo para mim, embalando-a
no ritmo da canção.
(...) Lá vai o meu coração batendo. Porque você é o motivo de estar
perdendo o sono. Por favor, volte agora. Lá vai a minha mente correndo,
pois você ainda é o motivo de eu estar respirando. Estou sem esperança
agora, mas escalaria todas as montanhas e nadaria todos os oceanos apenas
para estar com você. Eu arrumaria o que quebrei, porque preciso que veja
que você é o motivo. Lá vão as minhas mãos tremendo, pois você é o motivo
pelo qual meu coração continua sangrando. Eu preciso de você agora. Se
pudesse voltar no tempo, eu me certificaria de que a luz derrotou a
escuridão. Passaria cada hora, de cada dia, mantendo você segura[27] (...)
— Eu te amo, minha menina linda.
Beijo-a apaixonadamente.
— Eu te amo, meu Dono amado.

FIM.
Epílogo
Entrevista com o Senhor Dominador Arthur Alcântara e Castro

A autora Katherine Laccom’t foi recebida por Arthur na casa em que


atualmente reside com sua esposa e filho. Eles proporcionaram um bate-papo
bem animado e fascinante.

Katherine: Antes de qualquer coisa, agradeço por me receber.


Arthur: O prazer é todo meu, querida.
Katherine: Quando a Duda falava do seu sorriso, ela não estava
exagerando.
Arthur: Tenho meus encantos.
Katherine: Maria Eduarda e Theo estão bem?

Arthur: Estão muito bem, obrigado por perguntar. Ela te mandou um


beijo.
Arthur se levanta e beija a autora no rosto, pegando a todos de
surpresa.
Arthur: É um gesto de agradecimento, por ter contado a minha
história de maneira brilhante. Obrigado por me agraciar com uma esposa
extraordinária.
Katherine: Então... não há de quê.
A autora limpa a garganta e tenta se recompor.

Katherine: Vimos que seu início no BDSM foi diferente do início de


seu irmão. Você entrou neste mundo deixando bem claro que foi pelo sexo.
Pode nos falar um pouco sobre isso?
Arthur: o BDSM é um estilo de vida que chama muita atenção,
principalmente quando se trata de sexo. Mas, ao entrar, percebemos que sexo
é somente uma pequena parte do que compõe todo o resto deste universo. Ter
um lugar e pessoas que comungam dos mesmos gostos excêntricos é
libertador. Foi aí que me encontrei.

Katherine: Qual é a diferença entre Dominador, Dono e Mestre?


Arthur: Dominador é aquele que comanda e subjuga para obter do
parceiro, ou parceira, a obediência e dedicação que almeja, além da entrega
de seu corpo. Ele detém características que lhe permitem dominar de maneira
eficaz a mente e o físico de sua submissa, fazendo com que ambos se
satisfaçam. O Dono não só domina, ele educa, disciplina e possui sua
submissa, que abriu mão de si para pertencer a outro. Mestre é aquele que
educa, ensina, orienta e mostra os caminhos do BDSM, ajudando o praticante
a evoluir e se descobrir neste universo. Sendo assim, podemos dizer que nem
todo Mestre Dominador é um Dono, mas todo Dono é um Mestre
Dominador.

Katherine: Por que você resistiu tanto à ideia de ser Dono?


Arthur: Porque ter alguém sob seus cuidados é algo delicado. Nesse
âmbito, não estamos falando apenas de satisfação sexual, estamos falando
sobre plenitude. O Dono tem responsabilidade com a vida de quem se
entregou a ele. Eu não estava pronto para essa responsabilidade, mas tudo
mudou com Maria Eduarda. Hoje sinto orgulho de ter uma mulher tão
excepcional sob os meus cuidados. Ela é minha joia preciosa.
Katherine: Quais são as dificuldades de um praticante iniciante?
Arthur: A primeira dificuldade é entender qual é o seu papel no
BDSM. Pode demorar algum tempo até compreender onde se encaixa, depois
deve se preocupar em aprender seu papel e a história do BDSM. Lembrando
sempre de que a informação é a arma necessária para não cair em armadilhas.
Ser Dominador não é apenas ordenar, é muito mais. É preciso conhecer
conceitos comportamentais e psicológicos, para que nenhum detalhe passe
despercebido no jogo.

Katherine: O que acontece em uma playparty?


Arthur: Playparty é um encontro de praticantes de BDSM.
Acontecem demonstrações de práticas nessas confraternizações, também
pode acontecer workshops. Muitos vão para interagir e assistir as
apresentações. Particularmente, gosto desses encontros, pois é onde podemos
viver abertamente o BDSM.
Katherine: Parece ser bem interessante.
Arthur: E é. Se um dia tiver a oportunidade, aconselho que vá. Hoje
em dia é mais fácil, já que há eventos abertos.
Katherine: Pode nos falar um pouquinho da origem do BDSM?
Arthur: Dizem que surgiu em torno dos anos cinquenta, mas não é
verdade. Há relatos da prática de flagelação no século IX, A.C. Também há
registros de contos que narram pessoas sendo amarradas ou chicoteadas,
como um prelúdio de sexo, durante o século XIV, D.C. Podemos citar o
Kama Sutra que, escrito no século III, fala de quatro lugares diferentes do
corpo humano onde se pode bater durante o sexo. Os termos sadismo e
masoquismo tornaram-se conhecidos por volta de 1886, através dos estudos
do psiquiatra Richard Freiherr Von Krafft-Ebing, sendo que o sadismo está
ligado ao Marquês de Sade enquanto masoquismo vem de Sacher-Masosh.
Durante anos, o sadomasoquismo foi tratado como doença e desvio de
personalidade. Foi a partir dos anos noventa que o BDSM começou a ser
visto com outros olhos, de lá para cá estamos em plena evolução.
Katherine: Uau! Não imaginava nada disso. Obrigada por essa
história informativa.
Arthur: Se formos falar da história completa, você escreverá outro
livro.

Katherine: Muitas pessoas entram no BDSM em busca de amor e


relacionamento. O que você acha disso?
Arthur: É um erro. Amor e relacionamento devem ser buscados, mas
não em meio a essa jornada, no BDSM, onde é fácil confundir cuidado com
amor. Pode acontecer? Pode! Todos estamos sujeitos a nos apaixonar a
qualquer momento, em qualquer lugar, por qualquer pessoa. Precisamos estar
cientes de que sentimentos são facilmente confundidos, então devemos
sempre ficar atentos.

Katherine: É verdade que nem sempre há sexo em uma relação D/S?


Arthur: Verdade. Há pessoas que não se interessam pelo sexo, só
querem ser submetidos e comandados para chegar ao ápice. Tudo depende da
necessidade de cada um. No exterior, é muito comum Dominadores e
Dominatrix serem profissionais que cobram por hora para satisfazer a
necessidade do cliente. Nesses casos, sexo não é negociável.

Katherine: Existe a submissa ou submisso perfeito?


Arthur: Todos os participantes são perfeitos quando encontram
pessoas que têm os mesmos ideais e desejos. Cada Dominador tem seus
requisitos, se encontrar um parceiro que as tem, será perfeito e vice-versa.
Não é somente o Dominador que escolhe, o submisso pode propor uma
relação também. Nesse jogo, quem coloca os limites é quem se submete, não
o contrário.

Katherine: Um conselho para quem quer se aventurar nesse universo.


Arthur: Cuidado. Tenham cuidado com quem conversam, fiquem
atentos para não caírem em armadilhas e se informem para que consigam
discernir o real do falso. Aproveite o melhor do mundo dos fetiches, mas
tenha consciência dos limites.

Katherine: Obrigada, Arthur. Foi incrível contar a sua história e da


Maria Eduarda. Desejo toda a felicidade para sua linda família.
Arthur: Nós que somos gratos, Katherine.

[1] Playparty: festa, na qual os participantes socializam com pessoas que pensam da
mesma forma e se envolvem em atividades BDSM.
[2] BDSM: conjunto de práticas consensuais, fetiches, envolvendo bondage e
disciplina, dominação e submissão, sadomasoquismo que pode ou não envolver
relações sexuais.
[3] Música: Crazy. Intérprete: Aerosmith. Álbum: Get a Grip. USA, 1993.
[4] COO: sigla do cargo de Diretor de Operações.
[5] Workaholic: adjetivo que indica uma pessoa viciada em trabalho.
[6] Música: Nothing Left To Say. Intérprete: Imagine Dragons. Álbum: Night Visions.
USA, 2012.
[7] Flogger: chicote com várias tiras.
[8] Bondage: prática BDSM que consiste em prender, amarrar e/ou restringir
consensualmente um parceiro para fins estéticos, eróticos e/ou sensoriais. Usa-se
corda, algemas, vendas, coleiras, fita adesiva, mordaça, grilhão, entre outros. No
bondage nem sempre há prática sexual, também pode ou não ter ligação com outras
práticas BDSM, como a dominação e submissão.
[9] Título de Grão-mestre é o mais alto grau em ordens honoríficas ou de mérito, isto
é, título dada a máxima autoridade de uma ordem, tem poder quase absoluto.
[10] Slave: significa escravo(a), dentro do BDSM o termo é usado quando um
indivíduo serve a outro em uma relação estruturada de troca de autoridade, totalmente
consensual, para pertencer a um Dono.
[11] Música: River. Intérprete: Bishop Briggs. Álbum: Scream: Music From Season 2.
USA, 2017.
[12] DILF: sigla em inglês que significa “Daddy I'd like to fuck” — Pai que eu
gostaria de foder —, e é usada para definir parceiros tem uma substancial diferença de
idade.
[13] Música: blá blá blá. Intérprete: Anitta. Álbum: Meu Lugar. Brasil, 2014.
[14] Música: The Scientist. Intérprete: Coldplay. Álbum: A Rush of Blood to the
Head. USA, 2002.
[15] Música River. Intérprete: Bishop Briggs. Álbum: Scream: Music From Season 2.
USA, 2016.
[16] Música Skin. Intérprete: Rag'n'Bone Man. Álbum: Human. USA, 2017.
[17] Música: Can’t Feel My Face. Intérprete: The Weeknd. Álbum: Beauty Behind the
Madness. USA, 2015.
[18] Música: Chega E Senta. Intérprete: John Amplificado. Álbum: Chega E Senta
(Ao Vivo). BR, 2021.
[19] Streaming: forma de distribuição digital, em oposição à descarga de dados. A
difusão de dados, geralmente em uma rede através de pacotes, é frequentemente
utilizada para distribuir conteúdo multimídia através da Internet.
[20] Música: Have You Ever Seen The Rain? Intérprete: Creedence Clearwater
Revival. Álbum: Pendulum. USA, 1971.
[21] Creedence Clearwater Revival: foi uma banda de rock californiana formada por
John Fogerty, Tom Fogerty, Stu Cook e Doug Clifford.
[22] Música: Take My Breath Always. Intérprete: Berlin. Álbum: Count Three & Pray.
USA, 1986.
[23] Plot twist: é uma reviravolta inesperada no enredo de um livro, filme ou série,
algo que muda completamente o resultado final de uma história ficcional.
[24] Música: Minefields. Intérprete: Faouzia. Álbum: Minefields. USA, 2020.
[25] Faouzia Ouihya: cantora e compositora marroquina-canadense.
[26] Música: Orinoco Flow. Intérprete: Enya. Álbum: Watermark. Warner Music;
USA, 1988.
[27] Música: You Are The Reason. Intérprete: Calum Scott. Álbum: Only Human.
USA, 2018.

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