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Copyright © 2021, Joane Silva

Revisão: Margareth Antequera

Diagramação digital: Joane Silva

Capa: Mellody Ryu

Silva, Joane

A entrega de Logan

1ª Ed.
Brasília - DF, 2021

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da

Língua Portuguesa. Todos os direitos reservados.

É proibida a reprodução total e parcial desta

obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico,

mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos,


incluindo ainda o uso da internet, sem permissão de seu

editor.

A violação de direitos autorais é crime previsto

na lei nº. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.

Esta é uma obra de ficção. Nomes,

personagens, lugares e acontecimentos descritos são

produtos da imaginação do autor, qualquer semelhança

com acontecimentos reais é mera coincidência. Todos os

direitos desta edição reservados pela autora.


Sinopse

E se o amor surgisse no momento certo, pela

pessoa errada?

Diretor-Presidente de uma agência de


publicidade bem-sucedida, Logan Ramirez de Castro é um

homem pragmático, pai solteiro, e cínico para o amor.

Depois de ser duplamente traído, ele começa a acreditar

que a vida é muito mais fácil, para quem não se permite

sentir e, fecha o coração para toda forma de afeto que não

venha de Emmy, a sua filha de quatro anos.

Sem que esteja esperando, vê sua vida ser

invadida pela cunhada Mirella. Ele a encontrou apenas

uma vez, mas não se lembra de ter tido opiniões lisonjeiras

a respeito da mulher na ocasião, assim como não espera

que tenham um bom relacionamento agora que viverão sob

o mesmo teto.
Tendo passado da idade de fazer tudo o que os

outros esperam dela, Mirella decide perseguir mais um dos

seus sonhos ao sair da cidade do interior para uma grande

metrópole. Prestes a entrar na faculdade, ela busca abrigo

na casa do marido da sua irmã, um homem que parece não

ter aprendido a sorrir, e que não faz questão de esconder

que não a suporta.

Mais do que ter um teto confortável sobre a

cabeça, Mirella deseja ficar perto da sobrinha, mesmo que

para isso tenha de suportar Logan e o seu coração de

pedra.

Ela fará o que for necessário para não ter seus

planos frustrados, embora a atração que sente pelo homem


errado a faça questionar até quando será capaz de resistir.

Um romance intenso e proibido. Uma paixão

que desafia os limites do que é certo e errado.


Aviso
Este livro possui linguagem crua e cenas de teor

sexual. Não recomendado para menores de 18 anos.


Prefácio

Que a felicidade não dependa do tempo, nem

da paisagem, nem da sorte, nem do dinheiro. Que ela

possa vir com toda simplicidade, de dentro para fora, de

cada um para todos. Que as pessoas saibam falar, calar, e

acima de tudo ouvir. Que tenham amor ou então sintam


falta de não tê-lo. Que tenham ideais e medo de perdê-lo.

Que amem ao próximo e respeitem sua dor. Para que

tenhamos certeza de que: “Ser feliz sem motivo é a mais

autêntica forma de felicidade”.

Carlos Drummond de Andrade


Sumário
Prólogo
Tempestade
A busca
Princesa
Lingerie
Convite
Tensão
A chave
O jantar
Ofegante
Ressaca
Refeição
Terapia
Cansaço
Beijos
Vocalista
Morno
Pele
Sensível
Castelo
Apaixonados
Nos seus braços
Através da janela
Desejo de viver
De vidro
Fantasias
Figura materna
Ajuste e saias justas
Hostilidade
O que não te pertence
Entrega total
Visita surpresa
Omissões
Temores
Declarações
Em nome do amor
Convite
Reencontro
Erros
A mentira
Acerto de contas
Fim de jogo
Decisões
Despedidas
Saudade
O pedido
Presente inesperado
De volta ao amor
Epílogo
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Redes Sociais
Prólogo

Cinco anos antes


— É, meu caro, você me surpreendeu de

verdade dessa vez. Eu nunca imaginei que esse dia

chegaria — Eduardo comenta, aproveitando para fazer um

brinde comigo.

— A surpresa não é somente sua, acredite —

rebato, enquanto permito-me analisar o ambiente em volta

com maior atenção.

Quando eu tinha dezoito anos, jurei para mim e,

para todos os meus amigos da faculdade, que nunca seria

do tipo que namoraria sério, afinal, para que namorar se


minha beleza, charme e riqueza me permitem ter quantas

garotas eu quiser, na hora que desejar?


Aos vinte anos, já no segundo ano da faculdade

de publicidade e propaganda, conheci Isabella, uma

morena linda e gentil, que tinha acabado de chegar à

cidade, vinda do interior de Minas. Além do seu charme e

jeito doce, que não combinava comigo, e talvez isso tenha

me encantado, o fato de ela também ter chamado a

atenção de todos os meus amigos, e dos que não eram tão

amigos, a tornou ainda mais atraente aos meus olhos. Eu

simplesmente não podia resistir a ideia de vencer a disputa


por uma garota.

Mas, é claro que logo se tornou mais. Depois do


primeiro beijo, que a conheci melhor e vi que não era

apenas um rosto e um corpo bonito, tomei a decisão que ia


contra tudo o que gritava aos quatro ventos: comecei a

namorar. O que parecia que não seria sério me trouxe à


noite de hoje: o meu casamento.

Depois de sete anos de namoro, com vinte e


sete anos de idade, tendo me formado e já conquistado
uma boa posição dentro da R de Castro Publicidades,
estou dando o último passo na direção de uma vida calma,

tranquila e cheia de responsabilidades que nunca quis e


que, na pior das hipóteses, não pensei que fosse chegar

tão cedo.

Não quer dizer que eu não seja feliz, muito pelo


contrário. Pelo pouco que entendo do amor, tendo

convivido com pais divorciados desde a infância, acredito


que amo Isabella. Gosto de pensar que dou a ela todo o

amor que sou capaz de oferecer a alguém, que não seja a


mim mesmo. Dou tudo o que merece, porque ela com a

sua bondade, leveza e doçura, não me deu mais do que o


seu amor sincero.

Nem posso dizer que o fato de termos

descoberto que está grávida há algumas semanas tenha


apressado o meu pedido de casamento. Bom, talvez até

tenha, mas o que importa quando aconteceria se, no fim,


eu acabaria a pedindo em casamento de qualquer forma?
— E eu posso saber onde está a sua esposa?
— A voz do meu amigo, e principal criativo da agência,

chama a minha atenção para o fato de que ainda está ao

meu lado. Eu pensando demais, ele com os olhos de


gavião em busca de uma presa, para o fim de sua noite no
meio das convidadas.

— Aposto que está dando atenção para os


parentes pobres. Até onde eu pude ver e me importar,
vieram de bando para o casamento — comento.

— É isso que dá ter escolhido alguém de classe

social inferior — diz.

Ele não está de todo errado, pois de onde


estamos, na lateral do grande salão do hotel 5 estrelas,

posso apontar sem medo de errar quais são os meus


convidados e, principalmente, aqueles que não são.

— Eles são parentes da minha esposa. Terá que


se acostumar — brinco.
Eduardo é um cara legal, e tem mulheres de
todos os tipos aos seus pés, mas não esconde o quanto se
pauta por aparências, e antes de perguntar o nome de uma

mulher, ele descobre o sobrenome da família que ela


pertence.

— Não mais do que você — rebate.

Ele tem razão. Tenho tido doses homeopáticas


da família da Isabella na última semana, mas nada que
chegue aos pés da sensação de que já conheço a irmã
que, em sete anos de relacionamento, não cheguei a ver

pessoalmente. Devo ter visto a família toda em algum


momento no decorrer dos anos, menos a escorregadia
Mirella.

A verdade é que a minha mulher tem uma


estranha fascinação pela irmã, mas nada do que ela fala
sorrindo consegue causar boa impressão em mim. A
imagem que tenho da minha cunhada me faz agradecer

por nunca ter precisado estar no mesmo ambiente que ela.


Talvez não tenha como evitar hoje, mas torço para que não
seja tão desagradável quanto parece irritante com a sua

rebeldia fora de propósito para uma mulher de dezoito


anos.

— Vá tirar a sua mulher para dançar. As

pessoas já pensam que a gente é um casal, se ficar na


minha cola no dia do seu casamento, terão mais certeza
ainda de que você é gay. — Eu não queria, mas sou
obrigado a dar risada do seu comentário.

Levemente embriagado, saio em busca da

minha esposa, que da última vez estava na pista de dança


entre os parentes. Como não a encontro em canto algum,
opto por ir até o quarto que reservei para, pelo menos,
afrouxar o nó da gravata, que faz com que eu me sinta

sufocado. Nenhuma peça diferente das que costumo usar


no dia a dia da agência. Tudo porque o meu pai não
evoluiu com o tempo. Ele acredita que terno e gravata são
sinônimos de trabalho bem feito.
No corredor, quase ao lado da porta, tiro os
olhos do celular, onde conferia o e-mail de um cliente e me

deparo com uma cena deprimente. Ao lado da porta tem


um casal quase transando. A menina, que está jogada
contra a parede, tem as pontas dos cabelos azuis e rosas.
A juba está assanhada, provavelmente por ter permitido
que o namorado passasse a mão à vontade pelos fios.

A menina tem as pernas em volta da cintura do

cara, e eu não poderia me importar menos com esses


idiotas de quem nunca ouvi falar, se eles não estivessem

no meu caminho.

— Se querem transar, deveriam procurar um


quarto. Se bem que já estão ao lado de um, não é? Do

meu quarto! — O som de minha voz os assusta, de uma


forma que os meus passos não fizeram. Eles nem

perceberam que eu estava os vendo até esse momento.

Rápida como um raio, a garota afasta o cara


para longe e, com a ponta dos dedos finos, começa a
limpar a boca. O gesto chama a minha atenção para ela. É

uma menina que talvez um dia seja uma mulher bonita,


mas até o momento, eu só vejo uma magrela com

tendências rebeldes, vide os cabelos coloridos. É brega

também, porque o vestido amarelo berrante e os brincos,


que parecem dois aros de bicicleta, não têm nada a ver

com o evento para o qual compareceu.

Será que eles estão no lugar errado? Só pode


ser isso.

— O gato comeu as suas línguas, ou talvez


tenham as engolido? — pergunto sem paciência.

Porra! Hoje é o dia do meu casamento. Eu não

deveria estar mais feliz?

— E no que isso te diz respeito? — a garota fala

com o nariz em pé. E agora que olho bem para o seu rosto,

vejo que não está nem um pouco envergonhada, por ter


sido pega nessa situação. — Cuida da sua vida!
— Mi, por favor... — O garoto, mais sensato do
que ela, tenta, mas parece impossível que tenha bom

senso.

— Até onde eu sei, essa festa, para a qual eu


tenho certeza de que você não foi convidada, garota chata,

é minha. Eu paguei por tudo aqui, para um evento em que

pessoas como você não são bem-vindas.

Eu, que sempre me orgulhei da minha calma,

nunca saí do sério tão rápido quanto agora. E tudo por


causa de uma criança que não sabe o seu lugar.

— Pessoas como eu? O que quer dizer com

isso?! — A garota magrela vem para cima de mim, apesar


da tentativa do seu namoradinho de impedir.

— Eu não vou mesmo perder o meu tempo com

você. E se eu ainda tiver o desprazer de te ver na festa,


fique avisada que a primeira coisa que farei será chamar os
seguranças para te colocarem para fora. Não quero ser

associado a menininhas mal educadas como você.

Sem muita sutileza, pego na sua cintura fina e a


empurro levemente para o lado, assim tirando-a da minha

frente. Mas ela não desiste, vem atrás de mim e fecha a


porta do quarto.

— Você é louca, porra?! — Sem a paciência de

Jó que os anos de terapia me ajudaram a cultivar, a pego


pelo braço e a trago para perto. Ela se desvencilha, dá um

passo para longe e esbofeteia o meu rosto.

— Você não pode me humilhar! — Vira-me as


costas, pensando que pode levantar a mão para mim e

fugir.

— Eu posso fazer o que quiser! — Seguro sua


cintura por trás e a viro de frente para mim. — Eu sou

Logan Ramirez de Castro, você é apenas uma...

— Cale essa boca!


— Porra! — Xingo, sem acreditar que ela foi
capaz de arranhar todo o lado esquerdo do meu rosto com

suas garras afiadas.

Eu poderia ter feito qualquer outra coisa,


inclusive, a enxotado para fora do meu quarto no mesmo

instante, mas faço a pior escolha quando a puxo

novamente para mim e beijo sua boca.

É para ser uma briga, tanto que ela morde o

meu lábio superior, ao invés de tentar fugir. Eu também


mordisco os seus lábios com força suficiente para que não

seja um carinho. Mas a guerra logo acaba, porque agora

posso sentir a maciez dos seus lábios, o calor do corpo


magro, e a língua que timidamente flerta com a minha.

Eu não penso que estou no meu casamento,

menos ainda que essa garota é uma desconhecida quando


tiro uma das mãos de sua cintura e a levo para a nuca.

Beijo-a com vontade, envolvendo seus lábios e língua com

os meus, deixando que faça o mesmo. Permito que uma


onda de desejo inexplicável atravesse o meu corpo, que

minhas mãos ensaiem puxá-la para a cama, mas,


aparentemente, ela tem mais juízo que eu.

Desconcertada, com os olhos faiscando de

raiva, ela se separa de mim e seca a boca úmida com as


costas das mãos. De costas para a porta, e me olhando

sem dizer uma palavra, a doida a alcança e simplesmente

sai.

— Que loucura foi essa? Que beijo foi esse? —

Levo a mão até a minha boca, abismado com tudo o que

aconteceu, com o que ela me fez sentir. Como me levou da


raiva a uma faísca de vontade em questão de segundos.

O mais grave é que tudo acaba de acontecer no

auge da recepção do meu casamento, um detalhe que


pouco passou pela minha mente, minutos atrás. Eu beijei

outra, traí a Isabela no dia mais importante para nós dois,


algo que deixei de fazer quando percebi que gostava dela o

suficiente para querer uma relação mais séria.


— Se acalme, Logan — digo na frente do
espelho, enquanto abro alguns botões da minha camisa. —

Era só uma desconhecida, que você nunca mais verá na

sua frente.

Falo para mim mesmo o mantra por alguns

minutos, mas a pontinha de culpa por ter beijado a menina,

e não importa a motivação, me persegue. É ela, e a culpa,


que me fazem voltar ao plano original de procurar a minha

esposa. Preciso contar para ela o que aconteceu, só assim


a minha cabeça voltará para o lugar.

Do alto da escada, observo o salão. A minha


cabeça me diz que estou procurando a minha esposa, mas

meus olhos têm gravadas as imagens de um vestido

amarelo, cabelos escuros, azuis e rosas nas pontas.

Pensar nela traz a sensação de que não estou

conseguindo respirar direito, é como se o ar não estivesse


circulando por aqui. Então, antes de descer para cumprir o
meu papel com os convidados, decido tomar um ar na

varanda.

O meu passo apressado é interrompido pelo

som de vozes. Vozes que eu conheço muito bem.

— Eu já falei que aqui não, Eduardo! — A voz

da minha esposa me faz sair das sombras, o suficiente

para vê-los, mas não para que me vejam.

Estranho que estejam juntos, porque apesar de

eles conviverem bem, os dois nunca foram tão próximos.

— Você está linda, sabia? — ele fala, a abraça e


beija seu pescoço com a intimidade de quem já fez o gesto

muitas vezes. — Poderia me mostrar o que tem por

debaixo desse monte de tecido branco.

— Mais tarde, no nosso apartamento — Isabella

fala.

Nosso apartamento? Que merda está

acontecendo aqui?
— Eu não acredito que você dará um jeito de

trair o Logan até no dia do casamento de vocês. Isso é

baixo demais até para você, Belinha. — Por mais que eu

esteja vendo e ouvindo, tenho dificuldade de acreditar em

tamanha traição, vinda das duas pessoas que eu mais


confiava.

— Não toque no nome dele — pede.

— Mas olha só quem decidiu que tem


consciência — ele debocha. Eu saio das sombras.

— Eu não quero atrapalhar, mas vim fazer um

brinde com o casal — falo de maneira debochada. Eles me

olham como se estivessem vendo um fantasma.

Encaro fixamente cada um deles. O homem que

conheço desde a faculdade, quem coloquei dentro da

empresa da minha família e vi crescer lá dentro, não só por

ser um ótimo profissional, mas por ser meu amigo, pela

total confiança que lhe dei. A mulher que eu sempre


enxerguei como uma pessoa doce, incapaz agir de modo
tão baixo, era uma farsa. Os dois eram farsas.

Agora, enquanto os vejo com os rostos sem cor,

não pelo que estavam fazendo, mas por terem sido pegos,

compreendo que não vale a pena confiar, que o amor é

uma farsa inventada por pessoas fracas. Eu, com o meu

orgulho ferido, terei que mostrar para eles quais as


consequências de brincar com Logan Ramirez de Castro.

Os farei conhecer um lado meu que sempre

mantive escondido. Sem coração, sem piedade.


Tempestade

Logan
— Porra, Noah! Que incompetência é essa?

Você sabe que o pessoal da Class Mídia rirá da nossa cara

se aparecermos com uma frase de campanha boba como

essa, não é? — questiono um dos criativos da empresa. O

mais talentoso de todos, que decidiu não cooperar logo


hoje.

— Você está insuportável, cara. Deveria fazer

algo sobre essa frustração. Só hoje eu já vi sua secretária

e a recepcionista chorando e ainda não chegamos à

metade do dia — comenta. Folgado e aberto para falar

comigo de uma forma que poucos ousam, Noah coloca os

dois pés em cima da minha mesa.


Ele chegou na R de Castro Publicidades, depois

de uma árdua batalha para conseguirmos fechar parceria

com um profissional tão alto nível quanto ele, porque a

disputa entre as empresas era grande. Está conosco há

três anos, não posso dizer que somos amigos, porque essa

palavra não faz mais parte do meu dicionário, mas,

certamente, é a pessoa que ouve mais do que meias

palavras da minha parte.

— E o que me importa se elas estão rindo ou

chorando? Se não são capazes de ouvir quando não fazem

uma tarefa como deveriam, podem simplesmente passar


no RH e protocolar o pedido de demissão — falo. Estou

exasperado por estar aqui ouvindo problemas pequenos,


quando tenho trabalho para fazer, inclusive, o do defensor

dos pobres e oprimidos, que ficou uma merda.

— Ficou tão ruim assim? — Volta o seu olhar

para o tablet. — É, não tem muito apelo, mas você não


precisa ficar tão agitado. Estamos dentro do prazo.
— Você tem dois dias para me trazer algo
melhor do que isso, Noah. Se não fizer, estará no olho da

rua — aviso, ele ri.

— Você sabe que não vive sem mim, Logan. —


Debocha, levanta e se dirige para a porta. — Quer um

conselho? — Balanço a cabeça dizendo que não. — Vá


transar. É disso que você está precisando para ver se

melhora esse humor azedo. — Eu jogo um grampeador na


sua direção, mas o cara bate a porta antes.

É claro que Noah não me conhece tanto assim,


se fosse o caso, saberia que o meu problema não se
resolveria com um corpo quente na minha cama, porque

tenho tido muitas mulheres nos últimos anos. Namoros


curtos, que já começaram com datas marcadas para

terminar.

O que me consome, principalmente no dia de

hoje, não tem cura. Uma alma podre e um coração em


ruínas, não podem ser consertados com o calor de uma
boceta. Quem me dera se fosse.

Hoje faz três anos que ela se foi, do dia em que

eu tive que tomar a decisão mais difícil da minha vida,


porque os dois anos anteriores haviam sido insuportáveis.
Eu havia atingido o ápice de ódio e maldade, de uma frieza

que não fazia bem a ninguém, sobretudo, para a minha


filha, que era a única inocente em toda a rede de mentira
que foi tecida em volta das vidas de sua família.

Tentar cortar o mal pela raiz da pior forma

possível foi o suficiente para fazer algo pela única pessoa


que sou capaz de amar sem reservas, mas não para
expurgar minha culpa, para consertar erros por escolhas
que fiz de forma consciente. Fui eu que escolhi meu

destino. Sou eu que tenho que olhar para a minha filha


todos os dias sabendo que minto para ela, que tirei da sua
vida uma pessoa que, apesar de tudo, era a sua mãe. A
figura feminina que precisava.
O dia transcorre com a minha atenção
parcialmente no trabalho, já que uma parte do meu cérebro
está em casa. Na minha filha com sua babá. Eu sei que

está tudo bem, como tem estado nos últimos três anos, em
que a mulher de quarenta e cinco anos cuida da Emmy,
mas o meu coração sempre fica apertado quando penso
que ela merecia passar os seus dias com uma pessoa que

não fosse paga para lhe dar atenção.

— Boa noite, senhorita. Eu quero a lista que


mandei no seu e-mail atualizada em cima da minha mesa

quando chegar amanhã — aviso, ela não protesta. Na


verdade, a secretária nem ousa levantar o olhar para mim.

Como comprei uma casa bem localizada,


próxima à empresa, não demoro mais do que dez minutos

para colocar o carro na garagem. Apresso meus passos,


pois ainda tenho que tomar um banho rápido antes de ir até
o quarto da Emmy para dispensar a babá. Além do mais,
os trovões e relâmpagos prometem uma forte tempestade.
Como a pequenina tem medo de tempestades,
hoje é dia de ela dormir comigo, algo que gosto muito, mas

não deixo que venha com frequência, para não a


acostumar mal.

Embora eu seja rico o suficiente para ter uma

casa maior, quando escolhi essa, pensei mais no conforto,


e no fato de que seria apenas para nós dois, a babá que
não dorme aqui, e uma funcionária para cuidar dos
serviços domésticos. Os meus pais, apesar de terem se

separado quando eu era criança por causa de suas


diferenças gritantes, são iguais no valor que dão ao luxo e
a qualquer coisa que valha dinheiro.

Eles protestaram pela escolha da residência de


três quartos, pela piscina que acharam pequena e pelo

jardim que poderia ser maior para receber visitas de


negócios. Eu não os rebati, mas sei quais foram as minhas
motivações quando decidi vender a casa que morava antes
de o meu casamento acabar.
— Como ela está, já dormiu? — De banho
tomado, vestindo calça de moletom e uma camiseta gasta,

encontro com Lídia na porta do quarto da minha filha, que


fica à frente do meu.

— Ela passou o dia perguntando quando o

senhor iria chegar, mas também brincou bastante, e agora


está assistindo televisão.

— Emmy jantou? — Nunca esqueço de

perguntar, porque a menina está na fase em que as


crianças têm certa resistência para se alimentarem.

— Hoje ela comeu bem, mas só porque prometi


contar uma história depois. Fiz do jeito que o senhor

recomendou: uma coisa por outra até ela se acostumar.


— Obrigada, Lídia. Você já pode ir. E vá logo,

porque parece que vai começar a chover. — Recomendo,


em seguida entro no quarto da minha pequena.

— Como está a minha princesa?

— Papai! Eu não acredito que o senhor chegou.


Demorou demais hoje — reclama. Ela se joga nos meus

braços e, abraçando-a apertado, sento-me na sua cama.

— Não demorei. Foi a saudade que ficou maior


e fez você acreditar que demorei. Mas estou aqui agora —

falo, mais para mim do que para ela.

Sempre que estou com ela me sinto bem.


Lembro de como amar, de como sorrir sem que pareça

difícil demais. Com a minha filha, me dou conta de que não


sou um robô sem vida.

— Já pensou no que a gente vai fazer agora,

Lolo?
No início eu tentei ensiná-la a não me chamar
dessa forma, mas era pequena demais, então deixei. Hoje

eu fico bobo quando ela fala, embora Noah já tenha ouvido


o apelido e o use para me provocar.

— Pensei que a gente pudesse assistir a um

filme no meu quarto. O que acha?

— Eu quelo!

— Se diz, eu quero, meu amor — corrijo, porque

apesar de falar muito bem, ela ainda tem dificuldade com

algumas palavras.

— Eu quero ver filme com o senhor, mas vou

escolher. — Aceno positivamente, mas estou chorando por


dentro de ter que assistir pela quinta vez Barbie e o Castelo

de Diamante.

— E posso saber qual filme essa princesa quer


ver? — Posso jurar que estou prendendo a respiração.
— Barbie e o Castelo de Diamante — diz, desce

do meu colo e sai correndo para o meu quarto, cantando a


música que já decorei a letra:

“Pra sempre unidas, pra vida

Contigo quero estar

Não importa o lugar”

Cansada depois do dia dividido entre ir para a

escolinha na parte da manhã e, as brincadeiras com Lídia,


Emmy não resiste a mais do que metade do filme. Ela se

ajeita deitada de lado, com a mãozinha debaixo da cabeça,

da mesma forma que a sua mãe costumava dormir.

Tenho vontade de só me virar e dormir também,

mas preciso me levantar para tomar uma bebida alcoólica

bem forte. Apenas um gole. Não para me embriagar, só o


suficiente para me fazer atravessar essa noite difícil e cheia

de lembranças ruins.
— Papai já volta, filha. — Beijo sua testa e saio
do quarto. Preciso ser rápido, pois começou a chuviscar, e

quero estar ao seu lado quando a prometida tempestade

cair.

Sentado no sofá, com os olhos fixados no porta-

retratos, cujas expressões de nós três é de felicidade, me

questiono se existiu mesmo algum dia de alegria nos


últimos cinco anos, depois da traição, que foi muito maior

do que saber que o meu amigo e minha esposa estavam


transando pelas minhas costas, desde o início do meu

relacionamento com ela. O sorriso da foto foi dado única e

exclusivamente por causa da minha filha.

Quando começo a ouvir o barulho dos pingos de

água batendo na janela, permito que a minha mente viaje

por caminhos mais calmos, mas não menos perturbadores.


É sempre assim que acontece ano após ano, quando se

torna difícil demais. Volto para o salão do hotel, e me vejo


insatisfeito com o meu traje de noivo. Depois, na porta do

quarto discutindo com um casal de desconhecidos.

A discussão que terminou em um beijo que eu


nunca fui capaz de esquecer. Não por ter gostado muito,

talvez tenha mesmo gostado, mas por ter me perturbado,


por ter me tirado do eixo quando, nem a minha até então

esposa, tinha conseguido fazer.

Eu não entendo o porquê, mas não consigo


colocar o encontro com aquela maluca no rol de

acontecimentos ruins daquela noite. Quanto mais o tempo

vai passando, mais a lembrança dela fica nítida na minha


cabeça, quando deveria ser o contrário.

Uma garota estranha que deixou uma quase

invisível cicatriz de suas unhas no lado esquerdo do meu


rosto. Um beijo que significou alguma coisa, quando não

deveria ter significado nada. Um beijo que não importa


depois de tanto tempo, pois eu não faço a menor ideia de

quem seja aquela mulher. Nunca mais a vi e não fiz o


menor movimento para procurá-la, afinal, por qual motivo
eu faria isso?

Tudo bem que penso na maluca às vezes, mas

não esqueci o quanto a achei insuportável, brega que nem


se nascesse de novo viria com bom gosto. O que eu faria

com ela, cuja única prova de que não foi um delírio da

minha cabeça, causado por meia taça de champanhe, é a


marca esbranquiçada que as suas garras deixaram no meu

rosto?

— Chega disso, Logan! — Deixo de lado o copo

com bebida pela metade, levanto-me na intenção de ir para


o quarto, mas penso ter ouvido o som de palmas do lado

de fora. Cogito ignorar, mas acabo indo até a porta.

Tem mesmo uma pessoa no portão. Até onde

posso ver, ela está completamente encharcada, e minha

única reação é ir até o portão para ver o que a pessoa faz


aqui em meio a uma tempestade. A chuva, que engrossou
de repente não me deixa ver quem é a pessoa, mas não

resta dúvida de que se trata de uma mulher.

— Caramba, como você é lerdo. Pensei que não

fosse abrir esse portão — a mulher diz. O som da sua voz


não é estranho para mim.

Ela pega uma mala enorme, que não tinha

percebido, me afasta da sua frente e sai a empurrando


para dentro da minha residência.

— Ei, volte aqui, sua doida. Eu vou chamar a

polícia para te prender por invasão de propriedade.

Corro atrás dela, e a alcanço perto da porta.

Seguro sua mão, ela tenta se soltar, mas a viro de frente

para mim. Se estou à mercê de uma pessoa perigosa,

preciso ao menos ver seu rosto antes de tomar uma

atitude.

Quando ela levanta a cabeça, ainda não


consigo vê-la direito, já que tem os cabelos molhados
colados no rosto. Sem paciência, levanto as mãos e eu

mesmo os afasto, revelando a invasora por inteiro.

— Você?

E aqui está ela. O corpo, ainda magro, mas

cheio de curvas, os cabelos pretos, agora sem mecha

colorida. O rosto em formato de coração e os olhos

castanhos escuros. A mulher que eu não pude esquecer

em cinco anos. Não poderia em mil anos, porque só agora


eu percebo o que não vi anos atrás.

Ela é uma cópia mais jovem da mãe da minha

filha. Só pode ser um fantasma que veio para tirar a minha

paz.
A busca

Mirella

Dois dias antes...


— Artes, letras, história e agora música. Toda

vez a mesma coisa e você nunca segue em frente com

nada, Mirella. Será que não se cansa? — Enquanto tudo o

que eu queria era ter um momento de silêncio para fazer as


minhas malas, tenho que ouvir mamãe me passando o

mesmo sermão de sempre.

Sei de cor, não acho que esteja errada, afinal,

ela é mãe e se preocupa comigo. Mas, também não posso


e jamais irei abrir mão das minhas vontades, mesmo que

signifique ir embora para iniciar o 4º curso em cinco anos.

Estou tentando desde os dezoito, mas dessa vez eu


acredito que vai ser para valer, afinal estou prestes a dar o

primeiro passo para a realização de um sonho.

A minha sorte é que sou inteligente. E enquanto

fazia o que não gostava, tentava uma vaga no curso de

música da federal do Rio de Janeiro. Podia ser em

qualquer outro lugar, mas eu pensei que poderia ficar perto

da minha irmã. É uma pena que as coisas não aconteçam

como a gente quer.

— Não me ignore quando estou falando com

você, menina! — Carla tira a peça de roupa da minha mão

e a joga sobre a cama. — Eu estou preocupada, você não


tem juízo. Nunca teve.

— Eu vou ficar bem, mãe. Não precisa ficar


assim. — Tento acalmá-la. No fundo, me perguntando se
ela não tem razão. E se não ficar tudo bem?

Misericórdia! Fora pessimismo e insegurança.


— Vai ficar bem onde? Não me falou até agora
— comenta, não pela primeira vez. Não que haja um

segredo grandioso que eu queira esconder. Só não disse


que pretendo ir até a casa da Isabella, que sempre foi a

sua filha preferida, mas que anda pisando na bola há um


tempo.

Minha mãe teve apenas duas filhas, uma muito

diferente da outra, e apesar da nossa diferença de idade


ser de oito anos, sempre foi nítido a preferência de mamãe

pela mais velha.

— Eu vou ficar em um hotel perto da


universidade. Mas será só por uns dias. Depois vou

procurar uma colega para dividir o aluguel de um


apartamento... — A cada palavra dita, mais aterrorizada

fica a expressão da minha velha. — E não se preocupe


com o dinheiro, a senhora sabe que tenho uma reserva

guardada. E antes que esse dinheiro acabe, terei


encontrado um trabalho de meio período.
— O que me consola é que aquele seu
namorado vai ficar aqui. Sabe que eu não gosto daquele

moço, e deve ser por isso que está com ele há quase seis

anos — fala. Sem paciência comigo, ela sai do quarto


batendo a porta.

Não que mamãe tenha sido sinônimo de

paciência algum dia, mas quando se trata de mim e de


todas as minhas escolhas, ela fica um pouquinho pior. De
tudo o que não gosta em mim, o meu namoro com o Tadeu
merece uma menção honrosa, pois, segundo ela, o garoto

me deixa mais incontrolável do que já sou. Mas ela está


errada, porque em questão de má influência, a má
influência sou eu, segundo opiniões das mães das minhas
amigas.

Eu tenho vinte e três anos e sigo a filosofia de


que só se vive uma vez. O que minha mãe chama de
imaturidade e inconsequência, eu chamo de ser eu mesma,
de não deixar de fazer tudo o que desejo por medo de
julgamentos. E desde que não seja errado ou não esteja
ferindo a ninguém, não existe nada que me prive de viver
por medo.

Namorar o Tadeu sempre foi fácil demais. Filho


dos nossos vizinhos, e um pouco acomodado, eu o vejo

como a minha versão de calças e, por isso, nunca houve


estresse na nossa relação. Mesmo saindo juntos há anos,
não negando para ninguém o rótulo de namorados, somos
pessoas livres.

Ele é um rapaz muito bonito e carinhoso do seu

jeito, e apesar de termos perdido a virgindade um com o


outro, não romantizamos o ato, como a maioria das
pessoas costumam fazer. Continuamos a sair juntos até
hoje porque não havia motivos para não continuarmos,

mas nunca houve um acordo de fidelidade entre nós. Ele


sai com outras garotas quando tem vontade, e até me
conta alguns casinhos, assim como tenho liberdade para
sair com quem eu quiser.
Acredito que somos tão bem resolvidos porque
apesar de nos sentirmos atraídos por outras pessoas, nós

sabemos que temos um ao outro. Que não importa o nome


que se dê ao que temos como homem e mulher, somos
amigos acima de tudo. Nós não somos apaixonados, mas
eu até prefiro que seja assim, pois já tive provas de que a
paixão cega as pessoas, as faz cometer erros

imperdoáveis.

Em nome do tal de amor, a minha irmã mais

velha, de quem me lembro de um dia ter admirado, tirou o


brilho do olhar de nossa mãe, que sempre a amou
incondicionalmente e só recebeu ingratidão de volta. Para
mim, dona Carla deu todo o amor que foi capaz, afinal, eu
nunca fui a filha comportada e obediente. A mais bonita, a

que fala bem. Menos ainda a inteligente que foi estudar na


capital, assim que saiu do colegial. E, apesar de tudo,
nunca me faltou amor. Um amor preocupado e sem
confiança, mas, ainda assim, amor.
Mesmo dedicando sua vida a se preocupar com
a minha, sei que a minha mãe me queria embaixo de suas

asas, que está se sentindo abandonada, mas vai ficar tudo


bem. Será melhor assim, pois eu não a deixaria se não
soubesse que minhas tias e tios moram na mesma rua.
Eles não a deixarão se sentir só. E apesar de ela estar
dizendo para os vizinhos que vou abandoná-la, pretendo

dar o meu melhor para conseguir me formar dessa vez, me


estabelecer financeiramente e levá-la para morar comigo.

Do futuro só tenho certeza de uma coisa: não

volto mais para esta cidade. Aqui já deu o que tinha de dar.

Agora, quero ganhar o mundo com a minha música.


— Como é que vou sobreviver sem a minha fiel

companheira? — Tadeu questiona. Ele está abraçado


comigo desde que chegamos ao aeroporto. Mamãe não

veio porque não gosta de despedidas.

— Amanhã mesmo você encontra alguém que


te console — brinco. — Hoje, não, você tem que respeitar o

luto.

— Dá um tempo, Mirella! Você não leva a sério


nada do que eu digo. — É, ele está certo. Todo sensível

aqui e eu fazendo piadas. Eu prefiro não demonstrar, mas


também estou mexida por ser a primeira vez que nos

afastamos por tanto tempo.

— Deixe de drama, Tatá. São apenas algumas


horas de distância, e você pode me visitar. Mas, não

esqueça da moto, porque se for para ir sem ela, não

precisa nem sair de casa — assevero, o garoto balança a


cabeça de um lado para o outro, desistindo de mim.
Ele não diz mais nada, apenas puxa a minha
cabeça e me beija. Não nos falamos muito até o momento

em que soa o aviso de embarque, e quando me afasto,


ouço a sua promessa de que irá me visitar quando a

saudade apertar. A reação de Tadeu com essa despedida,

e na noite de ontem quando dormi na sua casa, deixou-me


com uma pulga atrás da orelha. Tadeu me fez questionar,

no momento mais inoportuno, a intensidade dos seus

sentimentos por mim.

Enquanto observo as nuvens pela janela,

repasso na minha mente tudo o que tenho planejado para

quando chegar. Mas são tantas coisas que nem sei por
onde começar. Óbvio que a prioridade é efetivar o quanto

antes a minha matrícula, mas tenho que encontrar um lugar


para ficar. Fiz uma lista com hotéis, pensões e até quartos

sendo alugados por famílias que moram perto do Campus.

Com o dinheiro que tenho disponível na conta,


sobraram as impressionantes duas opções: uma pensão e
um hotel, ambas serão as minhas primeiras paradas na

Cidade Maravilhosa.

Bom, a primeira opção logo é descartada. Não


sei por que não se dão ao trabalho de tirarem a oferta, mas

o dono do lugar me recebe na porta com o aviso de que a


casa está em obras, por isso não estão hospedando

ninguém. Se bem que ele me olha de um jeito que me faz

pensar que, eu não teria um teto mesmo se todos os


quartos estivessem livres.

Por um momento, penso em agir como uma

criança e dar língua para ele, mas me poupo dessa


vergonha. O senhorzinho nem tem culpa, ele me olha como

olha a maioria das pessoas. Não sei qual o problema de


usar roupas coloridas. A minha calça amarela, que uso

tanto, que na cidade me chamam de Mirella da calça

amarela, é linda. A blusa estilo cigana nos tons de roxo e


verde, que deixa a minha barriga seca à mostra, também é
linda. O problema é que ela chama mais atenção do que
um pedaço de pele.

Para fechar o look com grande estilo, calcei a

bota de cano alto verde lodo. Dizem que não está mais na
moda, mas a minha moda sou eu quem faço. Não conto as

diversas pulseiras em cada braço e nem os brincos de

argolas, porque são apenas detalhes. Para não chocar os


olhos dos cidadãos de bem, decidi não colocar o aplique

com mechas coloridas, mas minhas bebês estão


guardadas na mala.

A saga da segunda e última opção começa

bem, e a trilha sonora são os trovões em cima da minha


cabeça. Não que eu seja de açúcar ou nada parecido, mas

não posso me dar ao luxo de perder o violão que carrego

nas costas. Demorei para pagar as prestações e não


pretendo assumir outro carnê tão cedo, a menos que seja

preciso.
No hotel, tenho que segurar o meu choro na

frente da recepcionista e da moça que chegou a um passo


antes de mim. Sim, ela: a destruidora dos meus sonhos.

Quem fica com o último quarto da espelunca, que eu

trataria como se fosse um 5 estrelas. Cansada, olho para


as chaves na mão da moça, penso em pegar e sair

correndo. Se eu for rápida com as minhas pernas longas,

talvez consiga chegar ao quarto e me trancar dentro dele.

Até começo a estender a mão, mas a mulher

vira as costas e sai com o seu andar vitorioso.

Eu a odeio!

— Não tem um parente aqui na cidade que

possa te abrigar?

— Tenho sim, moça. É por isso que eu estava


tão desesperada por um quarto nesse belíssimo hotel —

falo com ironia, preocupada demais para ser gentil, com


quem faz perguntas sem sentido.
Mas ela bem que me deu uma ideia. Uma
hipótese que até então não tinha passado pela minha

cabeça, pelo menos, não hoje.

Ela me falou o endereço apenas uma vez há


alguns anos. Eu não o anotei em nenhum lugar, mas o

guardei na minha memória. Guardei porque nunca deixei

de pensar nela. Sempre imaginei que um dia iria deixar a


vergonha pelo que fiz de lado para vir conversar. Nós

temos muitas contas para acertar, mas não pensei que a


veria dessa forma. Sempre tive a ilusão de que seria

possível conversar com a minha irmã sem precisar rever o

inominável.

— Leve-me para esse endereço, por favor —

peço ao dar o papel que anotei para o taxista. Temo que

ele vá dizer que o lugar não existe, respiro aliviada quando

coloca o carro em movimento.

No lugar, um senhor nos atende e diz que os

Ramirez de Castro venderam a propriedade há alguns


anos. Não consigo esconder a minha tristeza com a notícia,

o senhor fica com dó e me chama para entrar.

O café quente e o novo endereço da casa da

Isabela era tudo o que eu precisava. Antes de sair, o casal


de idosos me pediu para não deixar de visitá-los, pois

gostaram de mim. Que bom, são os primeiros até o

momento.

Quando chamo o táxi de volta já está chovendo,

mas a chuva engrossa de verdade nos dez passos entre o

carro e o portão do endereço dado pelo casal. Tremendo

de frio, e encharcada como um pinto molhado, bato

palmas, mas parece que leva uma vida até que a pessoa
venha até mim. Ajeito o violão nas minhas costas, puxo a

mala de rodinhas para mais perto e dispenso o táxi.

— Caramba, como você é lerdo. Pensei que não

fosse abrir esse portão — falo batendo os dentes de frio,

sentindo que esse banho de chuva trará consequências. O

guarda-chuva não me permite ver o rosto da pessoa direito,


mas isso não importa no momento. Só preciso de um lugar

quentinho, por isso pego a mala e entro. O meu foco é a

porta. Sinto as minhas pernas sem forças, a visão

embaçada, preciso de um lugar para me apoiar.

— Ei, volte aqui, sua doida. Eu vou chamar a

polícia para te prender por invasão de propriedade. —


Ouço-o de longe. A voz que nunca saiu da minha cabeça.

Ela, com todo o resto, me faz sentir como a pior pessoa do

mundo.

Sinto que cheguei ao fim da linha, depois de

uma saga que durou mais tempo do que eu gostaria. Estou

a um passo do paraíso quando ele segura a minha mão.

Sei que é ele, porque além de ser a mesma voz que

assombra os meus sonhos há anos, foi o único capaz de


fazer o meu corpo reagir de forma instantânea. Os ossos,

antes congelados, se revertem de calor. Assusto-me com a

reação, tento me soltar, mas o homem me faz encará-lo.

Tudo o que eu não queria.


Fico com a cabeça abaixada, protelando o
momento de enfrentar o passado, mas estou vulnerável

demais para fugir. Levanto a cabeça, mas não consigo

focar no seu rosto, que o tempo não foi capaz de apagar

por completo da minha lembrança. Na verdade, são dois

ruivos me fitando com a cara aborrecida. Quatro mãos

tocando no meu rosto para afastar os fios grudados.


Incontáveis pontos no meu corpo que sentem o seu toque.

— Você? — Tenho a sensação de ter ouvido o

som de sua voz, mas não tenho certeza, está distante

demais.

Sou eu mesma, digo em pensamentos. E você

ainda é o homem que me beijou há mais de cinco anos.

Quem me enfureceu, para depois tocar fogo no meu

sangue. O homem que me fez querer subir novamente


para testar se o beijo havia sido tão bom como havia

parecido, para depois de minutos me fazer sentir vergonha

de mim mesma.
Por alguns minutos, eu desejei o marido da

minha própria irmã, porque nunca estive presente durante

os sete anos que namoraram. Porque estava tão


deslumbrada com a cidade, que preferi explorá-la com o

Tadeu a comparecer à cerimônia religiosa.

Tentei me livrar da culpa, afinal, eu não sabia

quem ele era. Mas, como justificar o que veio depois? Não

há desculpas pelos sonhos no primeiro ano, pelas

memórias vividas. Sobretudo, pela vontade de vir até aqui


que me perseguiu nos últimos anos. E por mais que eu

dissesse a mim que era só para confrontar o abandono de

Isabella, no fundo sabia que era mais.

Queria revê-lo. Entender por que um simples

beijo mexeu tanto comigo.

— Você está pálida, menina... — a voz é um

eco. A sua imagem se torna um borrão quando a minha

visão escurece.
Princesa

Logan
Eu não tenho tempo de digerir o fato de estar na

frente da garota que beijei depois de uma discussão no dia

do meu casamento. A mesma mulher que, sem sombra de

dúvida, é a irmã da Isabella que nunca cheguei a conhecer.

— Você está pálida, menina… — não tenho

tempo de terminar a frase porque ela começa a perder os

sentidos. O seu corpo titubeia e encontra pouso nos meus

braços. Ao envolvê-la, noto que tem um violão preso às

suas costas. Então, fazendo malabarismos, abro o velcro

adesivo da capa e, com uma mão, coloco o instrumento ao

lado da porta, enquanto com a outra a seguro firme.

Ela está toda molhada e se não for aquecida o

mais rápido possível, correrá o risco de ficar doente. Bom,


levando em conta o desmaio, aposto que já está. Cinco

anos se passaram, mas ela não mudou, continua me

contrariando. Apesar de o desmaio não ter sido voluntário,

a garota não me deixou ao menos perguntar o que

pretende com mala e tudo na minha casa.

— Vamos entrar, breguinha — falo, a pegando

em meus braços e deixando que os meus olhos passeiem

pelo seu corpo de cima a baixo.

Têm coisas que realmente não mudam, e a

moda continua não sendo o forte dela. Já de beleza não

pode reclamar, é estranha, mas é linda. Não tem como ser


diferente, já que se parece tanto com a irmã.

Nos poucos segundos que tenho para pensar,


enquanto caminho com ela pela casa, recordo-me que não
posso colocá-la no meu quarto, porque Emmy está

dormindo lá. O de hóspedes também não, porque não


tenho certeza se está habitável no momento. Resta o da
pequena, mas não levaria essa desconhecida para lá,
ainda que ela tenha o seu sangue.

— Acho que você pode ficar aqui. — Volto-me

para o sofá e a coloco deitada. Ela resmunga baixinho, e


se mexe agitada. Deve ser as roupas molhadas.

O que se faz com uma pessoa que sofreu um


desmaio, deixo que acorde sozinha?

Se não for o caso, como se acordar alguém

nessa situação.

— Ei, garotinha, você pode acordar, não é? —

ela resmunga mais uma vez, mas não desperta, então


decido tentar algo. No nosso último e único encontro, eu

bem que a fiz reagir.

— Sabia que você está ótima? Muito linda com


essa calça amarela, essas botas verdes... Puta que pariu!

Que horror. Para completar o circo de horrores só falta as


mechas coloridas. — A menina volta a se mexer, mover as
pálpebras, mas não desperta por completo.

— Eu estou com frio... — não foi mais do que

um sussurro, mas entendi perfeitamente.

— As suas malas... Ah! Esquece. — Levanto-


me e vou apressado até o meu quarto. Abro o closet, pego

uma das minhas camisas, uma toalha e um cobertor.

Quando volto para a sala, ela está com o corpo


em posição fetal e batendo os dentes.

— Garota, pode se sentar, por gentileza? — É


óbvio que ela não obedece. Os olhos estão semicerrados,
mas desfocados.

— Caramba, você é um grande gato. Minha


irmã é uma mulher de sorte, por poder se deleitar com esse
parque de diversão... — cada palavra é dita de maneira
compassada, mas ela consegue me deixar com a boca

seca depois que termina. Eu não esperava nada disso


vindo dela neste momento — em momento nenhum —, a
menos que...

Coloco a mão na sua testa e tenho a


confirmação: a garota está com febre. Na verdade, ardendo
em febre e começando a delirar.

— Você tem que colaborar agora, criança —

aviso ao colocá-la sentada, mas seu corpo pende para o


lado. — Quanto mais rápido eu terminar, melhor será para
nós dois, então colabora, porra.

De joelhos diante dela, tiro as botas e as meias,


depois fico indeciso entre a blusa e a calça amarela. Não
sei o que é mais inapropriado: ver o seu sutiã ou a sua
calcinha. Ambos devem ser bregas, ambos devem

esconder o paraíso... para qualquer outra pessoa, não para


mim.

Para mim, ela não passa de um inconveniente.


Decidido, seguro o seu tronco, puxo a camisa e
tento não olhar para os seus peitos por baixo do sutiã, que

não dou a devida atenção.

— Hum... — a garota resmunga, sobe as mãos


e enfia os dedos dentro do meu cabelo. Por um milésimo

de segundo o toque quente me balança, mas me lembro


que é porque ela está com febre.

— Eu pedi para você me ajudar, menina chata,


não para atrapalhar! — Solto o seu tronco, que escorrega
para o encosto do sofá. Analiso a calça feia, avisto o botão,

o abro e abaixo o zíper de uma vez. — Consegue levantar


o quadril? — O balançar da sua cabeça é lento, o que
significa que está apagando novamente, mas dessa vez ela
quer dormir.

Eu não sei o que passou no dia de hoje — não


me importo —, mas parece ter sido algo que a esgotou.
Quando ela levanta o quadril, os meus olhos
batem direto onde não devem, então eu puxo a sua calça

na velocidade da luz, tão rápido e desajeitado que acabo


despertando-a um pouco. Mas, essa menina vai pagar caro
por estar me fazendo passar por essa situação.

Eu queria ser mais forte, mas não posso não


olhar para o seu corpo vestindo apenas peças íntimas. A

minha surpresa maior é perceber que as peças são lindas

e sensuais, nada como pensei que seriam. Nada como as


suas roupas.

Ainda bem que, pelo menos para alguma coisa

ela tem bom gosto.

— Vou colocar essa camisa em você, está bem?

— ela acena, mas diz:

— Estão molhadas, não vou ficar com elas...

— Não faça isso! — Tento impedir, mas as mãos

vão para trás, e ela abre um sorriso frouxo — de bêbada —


quando tira o sutiã e o joga aos meus pés. Não creio que

tenha feito de propósito, já que está em delírio, alternando


a consciência e a inconsciência.

Os peitos são bonitos? Puta que pariu! Um dos

melhores que já vi, mas já vi muitos por aí, nada que seja
novidade. E, não, o meu pau não está sendo atingido por

essa visão. Não mesmo. O soldado continua abatido.

— Você não teria essa corag... — não sei como


os seus movimentos podem ser tão rápidos, mas eu mal

chego à metade da frase quando a garota passa a calcinha


pequena pelas pernas. Obviamente, não tem forças para ir

até o fim e cai de novo contra o sofá. Dessa vez ela dorme

profundamente.

Por que eu pensei nessa pessoa nos últimos

anos? Não é como se não tivesse me levado ao limite da

irritação. Anos depois, ela continua testando os meus


limites. O problema é que eu mudei, e não foi para melhor.
E se veio até aqui, ela descobrirá muito em breve que não
pode me colocar nessa situação.

Tenho que me curvar, pegar nos lados da

lingerie e passar pelas suas pernas. Falho na tentativa de


não olhar, porque o calor do seu sexo, muito próximo de

mim, me chama. Eu passo os olhos pela sua boceta, e,

dessa vez, não posso nem mesmo fingir que não me


atinge, porque estou duro pra caralho.

Não tem como não ficar com uma garota


irritante de tão linda nua na minha frente.

— Garota idiota. É isso que você é — digo

quando decido ignorar meus hormônios, pego a camisa do


braço do sofá e visto nela. — Não sei o que veio fazer aqui,

mas amanhã quero você fora da minha casa e da minha

vida.

Depois que a visto, ajeito seu corpo em uma

posição que julgo mais confortável. Pego o cobertor e a


cubro, deixando apenas a cabeça de fora. Os cabelos

ainda estão muito molhados, mas nem ferrando que vou


chegar tão perto novamente para secá-los.

Acreditando que já fiz demais por alguém que

não é nada para mim, que não passa de uma intrusa, saio
da sala sem dar a ela um segundo olhar.

Entro com cuidado para não despertar minha

filha, que dessa vez não acordou assustada com a chuva.


Levo um tempo perto da janela para acalmar os meus

ânimos, fazendo de tudo para esquecer que deixei uma

mulher febril, por conta própria na minha sala. Quando me


deito, ainda estou tentando me convencer que fiz até

demais por ela.

Mas, aparentemente, sou mais fraco do que


julgo ser, menos monstro que as minhas atitudes fazem

parecer, pois se passam dez, vinte e trinta minutos.


Quando chega nos quarenta, eu já estou me levantando e

voltando para a sala.


Curvo-me sobre a menina, toco na sua testa
novamente e constato que ela continua ardendo de febre.

Sem saber ao certo se vai resolver, diluo o remédio que

dou para Emmy na água e volto para ela.

— Acorde, garota. — Sacudo-a, ela me olha

confusa, faz uma careta, mas abre os olhos.

— Eu quero dormir, por favor. Estou cansada...

— Tome isso. Não quero que fique doente na

minha casa. — Sem paciência, julgando-me fraco por ter

voltado por ela, coloco o copo na sua boca.

— Que coisa terrível! — reclama, parecendo a

minha filha de quatro anos. Não, até Emmy parece mais


madura.

— Se remédio fosse bom, não seria chamado

de remédio.

— Você está exatamente como eu me lembrava:

chato!
— A recíproca é verdadeira, moça. Mas, não

pretendo ficar a noite toda aqui com você. Vou te levar para
a cama.

— Sem nem um beijinho antes?

É impressionante, ela está queimando de febre,


exausta, mas não deixa de me provocar.

— Cale a maldita boca! — Pego-a em meus

braços e levo para o quarto. Com cuidado, coloco-a do lado

vazio, afasto minha pequena para o centro da cama, que é


grande o suficiente para nós três. Ela voltou a dormir logo

depois de ter me provocado, mas bem que poderia ter feito


isso antes de abrir a boca.

Quando me deito, depois de assegurar que a

garota está bem coberta, me questiono o que foi tudo isso


que aconteceu.

Do nada, logo depois de eu ter pensado na

mulher, ela apareceu na minha porta. Veio como uma


assombração para jogar na minha cara os meus erros,
para me fazer lembrar de cada um deles. Ela reviveu na

minha memória o quanto mexeu comigo, na noite do meu

casamento, mas também trouxe consigo algo muito pior: a


lembrança da pessoa que fez de mim quem sou. Alguém

que tirei da minha vida, mas está estampada no seu rosto.

Eu tirei uma da minha vida, e embora acredite


que tenha sido de forma definitiva, todos os dias tenho

medo de os meus planos darem errado. Não pretendo ter


uma cópia mais jovem por perto. E mesmo que tenha vindo

parar na minha cama, sinto que as horas, até poder me

livrar dela amanhã cedo, passarão de maneira arrastada.

Com a mesma certeza que tenho de que a

quero longe da minha casa, tenho de que não vou

conseguir dormir hoje. Não consigo parar de checar se a

febre da garota baixou, porque, para o meu espanto, estou


preocupado com ela. Mas o que não causa qualquer

surpresa é a atração que sinto. Como poderia ser diferente


se me senti da mesma forma há cinco anos? Eu a odiei por

me desafiar, mas a quis com a mesma intensidade pelo

tempo que durou a nossa interação.

Foi muito rápido, eu quis dar pouca importância,


mas os dias, meses e anos foram passando e me

mostrando que eu não saí imune daquele embate. Também

não estou agora, por isso desejo que o dia amanheça

como há tempos não quero algo.

Quando desperto com o sol atravessando a

cortina, percebo que estava enganado quando pensei que

não iria conseguir dormir. Foi pouco, o dia já estava quase

amanhecendo quando me convenci que a febre da garota


— que não lembro do nome — havia baixado com o

remédio. Foram poucas horas de descanso, mas o

suficiente.

— Lolo sempre me disse que contos de fadas

não são reais, mas acho que ele não sabe de nada — ouço

o sussurro da Emmy. Ela deve estar tentando acordar a


gente.

Mas que merda é essa de conto de fadas? Essa


criança aparece com cada ideia...

— Bom dia, querida.

— Desculpa ter te acordado, pai.

— Não acordou, amor — garanto, ela sorri e


volta a olhar para a tia. Não tinha parado para pensar, mas

essa mulher é a tia da minha filha.

— Pai, será que ainda estou sonhando? Porque

a Branca de Neve está dormindo do meu lado. Ela é igual a

que eu tinha criado na minha imaginação. — A sua fala me


preocupa. Talvez seja só uma fala inocente, mas também
pode ser ela dizendo que sente falta da mãe, que se

parece com a moça que dorme. Porque embora fosse

praticamente um bebê quando ela se foi, no seu quarto tem

um porta-retrato com a foto da Isabella.

Deixei para que se lembre da mulher que a

colocou no mundo.

— Ela não é a Branca de Neve, filha. O que o

papai te falou sobre os contos de fadas?

— Que não são de verdade. Mas eu acho que


esse pode ser. Olha como ela está deitada. — Ela se deita

de costas e coloca uma mão em cima da outra sobre a

barriga. — A pele dela é blanca como a neve. — Nesse

ponto Emmy está certa, a palidez por ter adoecido também

contribui. — Os cabelos são muito escuros, e está


enfeitiçada.

— Emily...
— Por que o senhor não a beija? Talvez seja o

príncipe dela, Lolo. Beija a princesa, papai.


Passado
Mirella
— Beija a princesa, papai. — Ouço ao longe,

mas acredito estar sonhando. Uma realidade paralela onde


princesas existem de verdade.

Na verdade, eu não sei onde estou, só que tem

uma cama bem macia debaixo do meu corpo. Por falar em

corpo, sinto meus ossos doloridos como se tivesse


apanhado. A minha garganta está seca como se eu tivesse

participado da corrida de São Silvestre no deserto do

Saara.

— Eu não vou beijar ninguém, Emmy. E ela não

está enfeitiçada. Só é uma preguiçosa, que roncou a noite

inteira. — A voz masculina ficou três tons mais alto quando

falou os insultos.
Espera um pouco! Eu já ouvi essa voz. E só

uma pessoa me insultaria com tanto prazer. O ruivo dos

infernos! Agora eu me lembro de tudo o que aconteceu.

Ontem não foi o meu dia de sorte, porque não encontrei um

lugar para ficar. Vim a casa da minha irmã e fui recebida

pelo diabo em pessoa. O resto está um pouco nublado,

mas não tem importância, pois não sei se quero lembrar de

nada que envolva nós dois interagindo.

Na verdade, quero enfiar a minha cabeça em

um buraco neste exato momento. Ou melhor, vou fingir que

estou dormindo até que ele saia do... seja lá para onde
tiver me trazido. Depois que o homem me deixar sozinha,

pulo pela janela e finjo que esse encontro nunca


aconteceu.

É isso! Penso comigo mesma, pasma com a


minha inteligência.

— Lolo, olha! Ela está sorrindo, não está? —

Tem uma criança aqui?


Tudo bem, talvez eu não seja tão inteligente
assim. Se fosse, não teria sorrido.

— Está, sim, filha. Acho que a sua Branca de

Neve está mais acordada do que nós dois juntos — o


homem comenta com ironia. Tenho vontade de chutar sua

canela, mas tem uma criança com a gente.

Além do mais, eu tenho que me recompor,

entender como foi que vim parar nessa situação.

— Então, por que ela não abre os olhos? —


indaga. Eu ainda protelava se continuaria fingindo até ficar

sozinha, mas a escolha é tirada das minhas mãos.

Um corpinho sobe em cima da minha cintura,

uma mão pequena toca no meu rosto, mas o toque é tão


leve que não consigo segurar o espirro. Viro a cabeça para

o lado na hora, e espero ter deixado uns respingos de


presente para o meu querido cunhado.

— Abra esses olhos, menina. Já chega!


— Eu, papai? — É claro, minha sobrinha. Como
pude ter esquecido dela? O fato de eu nunca ter podido

ficar perto é mais um dos motivos para o meu

arrependimento.

— Estou falando com a mais velha. Você,


mocinha, quero que saia de cima dela.

— Tudo bem — obediente, a menina, que pelas


minhas contas deve ter por volta de quatro anos, diz. Ela
sai de cima de mim, mas não se afasta muito, já que ainda
posso sentir o calor do seu corpo perto do meu.

E por mais que eu tenha tido um ótimo plano


para fugir desse confronto, a minha curiosidade, e o
coração acelerado desde que me dei conta de que estou

perto da minha sobrinha, me fazem mudar de ideia. Abro


um olho só, a primeira imagem que tenho é do ruivo em pé
com os braços cruzados. Ele parece irritado enquanto me
olha. Nenhuma surpresa até o momento, considerando que

o homem nunca me olhou de outra forma.


Quando viro a cabeça, os dois, não só um,
meus dois olhos se arregalam para a garotinha que me
olha com curiosidade. Ela é a criança mais linda que já vi.

Os olhinhos são escuros e espertos, a pele clara como a


do pai. Os cabelos acobreados, longos e ondulados fazem
dela uma criança única. Meu coração erra a batida e se
enche de carinho, porque, pela primeira vez, estou tão

perto da minha sobrinha.

— Você vai ficar brincando de estátua? — O


ruivão de braços fortes e peito definido pergunta, mas só

consigo pensar no quanto ele me irrita. Até o meu


momento de emoção ele consegue estragar. E não importa
se eu estou esparramada na sua cama.

— Eu gosto de brincar de estátua, Branca de

Neve — a ruivinha fala, então se aproxima um pouco mais


para pegar algumas mechas do meu cabelo. Ela parece
fascinada, mas é só um cabelo preto, ondulado e comum.

— Ela não é a Branca de Neve — ele insiste.


— Não? — indaga.

— Não. Eu não sou, mas você pode me chamar


de Mirella — falo e, finalmente, me sento.

Faço uma careta pelo esforço, pois meu corpo


está mais debilitado do que parecia, toco na minha testa e

constato que estou um pouco febril.

— Gostei. Mas palece o nome das bruxas


malvadas dos contos de fadas. Você é uma princesa, não

é? — quando ela diz que meu nome é de bruxa, o pai dela


me olha com o cenho franzido, como se concordasse.

— Sou o que você quiser, meu amor — digo, me


aproximando e beijo a sua bochecha. De uma forma que

eu não esperava, ela me abraça pelo pescoço. Levanto o


olhar para o ruivo, o seu rosto é pura preocupação.

— Filha, vá para o seu quarto e escove os

dentes do jeito que o pai te ensinou. — Ela acena. —


Depois você passa o pente nos cabelos e vem até aqui
para irmos tomar o café da manhã.

— Você me espera aqui? Eu prometo que não


demoro — fala. Eu digo que sim, pois duvido que alguém
consiga dizer não para essa garotinha.

Quando ela sai, o pai dela e eu ficamos nos


olhando. Não sei bem o que fazer, pois a situação é tão

constrangedora que me rouba o fôlego. Eu estou na sua

casa, na sua cama. A mesma que deve dividir com a minha


irmã, a quem traí no dia do seu casamento.

Quando a compreensão bate os meus ombros,

levanto-me da cama como se ela tivesse espinhos. Com os


passos incertos, aproximo-me dele, que levanta a mão com

a intenção de me tocar, mas recuo.

— Banheiro? — Logan aponta para uma porta


que está atrás de mim. Que bom que é aqui dentro, assim

não tenho que passear ainda mais por essa casa.


Foi um erro ter vindo até aqui. Tudo bem que eu

iria conversar com a Isabella de qualquer forma em algum


momento, mas além de ainda não a ter encontrado, vim

parar na sua cama. Do lado do seu marido e filha. Devo ser

a pior pessoa do mundo.

A minha mãe é quem tem razão quando diz que

sempre meto os pés pelas mãos, porque mesmo quando

não tenho nenhuma intenção, faço tudo errado. E erro mais


grave do que me enfiar na cama do homem que

secretamente desejei, mesmo depois de descobrir que era


o meu próprio cunhado, não existe.

Na frente do espelho, vejo que a minha cara não

está muito boa. Estou mais pálida do que o normal, porque


nada é tão ruim que não possa piorar, então fiquei doente.

Sem fazer cerimônia, mexo nos armários até

encontrar uma escova nova. Cheia de pressa, lavo o rosto,


escovo os dentes e prendo o meu cabelo no alto da

cabeça. Os brincos enormes agora parecem zombar da


minha cara. Quando está tudo O.k. com o meu rosto, desço
o olhar para o meu corpo, e o grito que me escapa pode ter

acordado quem ainda dormia a um raio de 100 quilômetros.

— Você está bem? — No mesmo instante o


ruivo aparece. A preocupação em seu rosto é genuína.

Ele olha para o meu corpo, que veste uma

camisa que não é minha, e eu não preciso dizer nada para


que entenda o motivo do meu grito.

— Você estava com febre e toda molhada —

explica.

— Eu estou sem calcinha e sutiã.

— Eu iria deixá-los onde estavam, mas você fez

questão de tirar na minha frente. Disse que estavam


incomodando. — Começa a explicar. — A única coisa que

fiz, foi colocar a blusa em você, que já não conseguia


manter os olhos abertos. — Por mais que esteja falando
como um homem calmo, posso sentir o quanto está

exasperado. Não o culpo, porque eu também estou.

— Você viu os... — aponto para os meus seios.


— E também a... — Não posso apontar para a minha

vagina.

— Os seus peitos e sua boceta? É óbvio que vi

— ele fala como se não fosse nada, como se tivesse

acostumado a ver peitos que não sejam os da esposa. — E


não se preocupe, não foi nada. Já vi bem melhores,

acredite.

— Idiota! — O xingo estressada. Não que eu


quisesse que ele ficasse impressionado com os meus

atributos, mas também não precisava falar com tanto

desdém.

— Eu trouxe sua mala. Vista-se e venha para a

sala, a gente precisa conversar.


— Mas... — ele sai antes que eu complete a
frase.

Voltando-me para o espelho, vejo uma mulher

de vinte e três anos com o rosto corado de vergonha. Não


tenho muitos pudores, e mais homens já viram meus peitos

do que a minha mãe gostaria de saber, mas ele é o marido

da minha irmã. O pai da minha sobrinha, que agiu como se


eu fosse uma amante qualquer. Não ficou nem um pouco

envergonhado.

Mais uma vez, como faço há anos, lembro-me

de tudo. Do beijo, da forma como o meu coração batia

acelerado e minha boca formigava quando o deixei naquele


quarto do hotel. Um sorriso bobo se abriu na minha boca

enquanto eu tocava os lábios sensíveis. Eu tinha apenas

dezoito anos, nem tinha perdido minha virgindade ainda,


então potencializei o significado de um único beijo, dado

como forma de punição da parte dele depois da discussão


que tivemos.
Embora não tenha feito questão de comparecer

à cerimônia, estava naquela recepção e tinha certeza de


que iria encontrar novamente o homem, que claramente

era mais velho do que eu. Lindo, apesar de não ter

admitido no momento da raiva.

O chão embaixo dos meus pés deixou de existir

quando os noivos foram chamados para a primeira dança

de casados no centro do salão. Era o homem que eu tinha


beijado, mas também era o marido da minha irmã. Foi a

cena deles juntos que fez tudo mudar, que me mostrou que

eu era pior do que muitas pessoas da cidade julgavam.


Não que eles tivessem motivos, mas, sem saber, me

rotulavam do jeito certo: maluca e inconsequente.

Percebi que não prestava quando não

conseguia esquecer por completo, quando me vi fugindo

sem ser apresentada formalmente ao noivo, algo que não


havia acontecido durante os sete anos de namoro. Nos
primeiros anos eu era criança demais para me importar
com quem era o namorado da minha irmã mais velha.

Quando fui ficando adolescente, as visitas que o

casal fazia ficaram mais escassas. O homem nunca ficava


hospedado na casa da minha mãe. Em uma das visitas,

que durou um final de semana inteiro, eu estava viajando.

Quando mamãe e eu viemos para a cidade vê-la,


ficávamos no apartamento da Isabella, e não me recordo

de ele ter visitado alguma vez, enquanto eu estava


presente.

Em algum momento devo ter visto fotos deles


juntos, mas, nem por um momento, suspeitei que ele

pudesse ser o noivo.

Fugi no dia do casamento para que o marido da

minha irmã não me visse e se desse conta de que havia

beijado a cunhada. Fugi da oportunidade de vê-lo durante


cinco anos, mas não consegui fugir da culpa e nem das

minhas lembranças. Essas eu vou carregar para sempre.


Ter acordado na cama deles foi como um soco

na minha cara. Saber que ele me viu nua me deixou sem

palavras. No meio de tudo o que está errado, tem a minha

sobrinha, que não vejo há mais de três anos. Faz tanto


tempo que ela nem se lembra de mim, mas me recordo de

como foi brincar com Emmy quando ainda era uma bebê.

Foi a última vez que Isabella foi à cidade. Depois disso, ela

se afastou, e só sabemos que ainda está viva por causa

das curtas ligações que faz para a minha mãe de mês em


mês.

Ela nunca esteve muito presente, mas era o

suficiente para deixar a nossa mãe com o coração

tranquilo. Então, eu não entendo o que possa ter

acontecido para Isabella ter se afastado ainda mais da

família. Muitas vezes cheguei a pensar que o marido


contou do beijo e, por isso, se afastou da nossa casa para

me punir. Foram anos com esse peso nos meus ombros,

mas não o suficiente para me fazer ter coragem de olhar


nos seus olhos e falar sobre o que aconteceu, sobre o que

senti e o que ainda sinto pelo seu marido.

Foi só depois que passei no curso de música

aqui no Rio, dentre todos os outros estados que eu havia

tentado a vaga, que decidi que o momento havia chegado,

que eu teria coragem para acabar com o sofrimento da


minha mãe, por causa do afastamento da sua filha

preferida.

Já comecei mal, porque duvido muito que ela vá

gostar de saber que dormi na sua cama, que o marido me

viu como vim ao mundo. E o fato de ele ter desdenhado de

mim não ajuda a melhorar a situação.

— Mas que babaca... — penso alto quando saio

do banheiro e encontro minha mala em cima da cama.

Eu a abro, pego um vestido solto, florido e de

alças finas. O visto com pressa, porque tudo o que mais

quero é acabar de vez com esse rolo que eu mesma criei,


quando imaginei que vir até aqui sem pensar no que fazer,
ou dizer, seria uma boa ideia.

Quando saio para encontrar pai e filha, torcendo

para que a minha irmã esteja em algum lugar, encontro-os

sentados à mesa tomando café.

— Senta com a gente, Mimi. Hoje eu não tenho

escola, então você pode ficar aqui para brincar comigo.

— Filha, a Mimi — ele faz uma careta quando

fala o apelido que a filha me deu — tem coisas para fazer,

não é, Mimi? — Balanço a cabeça, porque tenho mesmo.

— Mas, Lolo...

— Lolo? — digo, e não seguro o riso. Ele me

olha como se fosse me jogar pela janela a qualquer


momento.

— O nome dele é Logan, mas você já sabe.

— Sei — digo. Na verdade, assim que descobri


quem havia beijado e estapeado, tratei logo de fazer um
dossiê a seu respeito.

— Mimi é a namorada do Lolo — a garotinha

fala quando eu levo a xícara de café com leite até à boca,


líquido esse que cuspo direto na blusa branca do Lolo,

tamanha a minha surpresa.


Lingerie

Logan
Todo babado e sem palavras, fico olhando para

a causadora da confusão. Ela está tão constrangida e

surpresa quanto eu, porque não esperava que Emmy

dissesse tamanha barbaridade.

Tudo o que aconteceu depois que ela apareceu

no portão culminou nessa situação, que só não é pior do

que o pedido da criança para que eu a beije. Mas, tenho

que confessar que senti um prazer bizarro em ver seu rosto

ruborizado quando disse que vi seu corpo despido, e menti

que já tinha visto muitos melhores. Tudo bem, não foram

tantos assim, talvez nenhum. Infelizmente para mim, a

garota faz o meu tipo. Uma informação que ela nunca vai

saber.
— Filha, ela não é a minha namorada. Papai já

disse que não namora — falo com ela, enquanto tento me

limpar do banho de café com leite. Enquanto isso, a garota

me olha como se tivesse nascido um terceiro olho na

minha cara.

— Eu sei, mas o senhor nunca tlouxe uma

amiga para casa, por isso pensei...

— É isso, Mimi é amiga do papai. Não

namorada. — Minto, pois não posso simplesmente dizer

que é a sua tia. Uma pessoa de quem nem deve se

lembrar.

— Eba! Então a Mimi vai poder vir brincar

comigo, não é, Mimi?

— Sempre que você quiser, meu anjo. — Ela


promete, estou balançando a cabeça negativamente, mas

Mirella não olha para mim.


— Tome o seu café da manhã, Emmy. Daqui a
pouco a sua avó virá te buscar para passar o dia com ela.

Depois você vai dormir com o vovô e a namorada dele,


está bem? — Ela acena e começa a comer. A conheço e

sei que ela quer continuar fazendo perguntas para a


mulher, mas é obediente.

O momento de desconforto passa um pouco,

nós três nos ocupamos com a comida. Alguns minutos


depois, quando desocupa a boca, minha filha começa a

conversar com a tia, dessa vez sem fazer perguntas


constrangedoras. Pela forma como ela olha para a garota,

penso que sente carinho por ela, mas não sei se posso
confiar nos meus sentidos, pois Isabella parecia ser uma
santa, mas depois mostrou quem era e o quanto eu estava

errado.

Essa não deve ser muito diferente, apesar de eu

nunca ter pensado nela da mesma forma que a sua irmã.


Para mim, Mirella sempre foi uma peste. Fico pensando em
arrumar uma brecha para afastar as duas, acabar com a
conversa e ficar sozinho com a minha cunhada. Preciso

saber o que a trouxe até aqui, para só assim mandá-la

embora de uma vez por todas.

Apesar do choque de entender que a minha


traição foi maior do que eu supunha quando me deparei

com a irmã da Isabella, um lado meu ficou satisfeito por ter


tido a oportunidade de reencontrá-la, de confrontar a
idealização que fiz daquele embate e do beijo na minha
cabeça. Três coisas ficaram claras:

1 – Ela continua sendo uma coisinha irritante.

2 – Se tornou uma linda mulher, apesar do gosto


peculiar para roupas, e ainda é capaz de mexer comigo,

seja para me irritar, seja para fazer o meu corpo despertar.

3 – Tê-la por perto seria um perigo, uma


complicação que não quero para a minha vida.
O problema é que minha filha, sempre tão
aberta, gruda na garota como um carrapato.

Depois que elas terminam o café da manhã,


Emmy a leva para o quarto e começa a mostrar todas as
suas bonecas. Fala o nome de uma por uma, Mirella dá

toda a atenção do mundo, então me vejo obrigado a me


afastar até que a oportunidade de ficar sozinho com ela
surja. Em cima do sofá está o seu violão, olho de longe
como se fosse um elefante no meio da sala.

Ouço o meu celular tocando, o pego do bolso e

vejo uma notificação de mensagem do Noah.

Estou aqui do lado de fora. Abra o portão da


garagem, cara.

Hoje é sábado. Por que eu tenho que olhar


para a sua cara feia? Envio.

Para de ser pau no cu, Logan. Você encheu a


porra do meu saco por causa do slogan, mas esqueceu
de me entregar o pendrive com as exigências dos
contratantes. Eu tive que sair da minha casa e vir até

aqui, então, abra o portão.

Ele está certo. Trabalho é trabalho. Noah vai só


pegar o objeto e irá embora em seguida. Sem qualquer

chance de tornar o dia que mal começou, ainda mais difícil.

— E essa chuva que não passa? — indaga


quando entra batendo os pés molhados. Eu o ignoro, saio
para pegar o bendito pendrive na minha pasta no quarto.

Quando volto, me deparo com Noah muito


compenetrado com algo entre os seus dedos. Assim que
me vê, ele mostra um sorriso que conheço muito bem. Só o

usa quando vai tentar me sacanear. A única pessoa que


ainda faz isso sem que seja mandado para a puta que o
pariu.

— Era por isso que não queria que eu entrasse?


— Quando ele abre a mão para que eu veja do que se
trata, no mesmo instante sinto como se o sangue estivesse
fugindo do meu corpo. Perco o fôlego e a fala quando vou

até ele e tomo a calcinha preta e pequena de sua mão.

Porra! Como fui dar um mole desses?

— O clima estava tão quente que não deu

tempo de chegar até o quarto? — Ele dá um passo para


trás e pisa em cima do sutiã, que eu estava torcendo para

que não visse.

— Eu não transei ontem à noite — afirmo, mas


lembro que vi um corpo gostoso nu.

— Você não precisa ficar se explicando para

mim como se eu fosse uma esposa traída com ciúme,


Logan. Só estranhei porque você se diz muito discreto com

os seus casos de uma noite só. E até onde sei, não traz

mulheres para casa em respeito à sua filha. — Ele não está


querendo jogar fatos na minha cara, apenas relembrar o

que venho pregando há anos.


— Ela não...

— Se for tão gostosa quanto é cheirosa, deve

ser a mulher mais gostosa do mundo — comenta, aproxima


a peça do nariz e chega a fechar os olhos em delírio. Como

fiz com a calcinha, arranco a segunda peça da sua mão.

— Não seja ciumento, Lolo — Noah debocha,

mas só porque ainda não sabe de nada. Nem vai saber,

porque quando eu me livrar da garota não fará diferença


nenhuma se cheirou a sua calcinha.

Será que ele cheirou mesmo a calcinha da

garota? Capaz eu sei que o homem seria.

Só a ideia faz os meus punhos se fecharem

automaticamente, dou um passo na sua direção, sem


entender por que estou tão furioso com uma hipótese, mas

sou freado pela chegada do furacão Emmy, que entra

correndo e gritando pela sala. Ela ficou sozinha por dez


minutos com a Mirella, e voltou de meia-calça e vestido. O
problema é a saia por cima do vestido, um sapato de cada
cor e os cabelos presos de maneira irregular.

A menina está tão brega quanto a tia. A visão é

de doer os olhos de quem tem o mínimo de bom gosto.

— Tio Noah, eu estou bonita? — Bonita não é

bem a palavra, mas ela está feliz com a companhia da sua

Branca de Neve do Brejo.

— Está linda, meu amor. Aliás, você está linda

todos os dias. — O negro de quase 2 metros de altura leva

jeito com criança, é por isso que a minha ruiva o adora.

— Eu e a Mimi estávamos brincando de se

arrumar. Ela disse que gosta muito de moda. — Quando a


menina fala eu tenho um acesso de tosse que surpreende

até o Noah. Se ele tivesse a visto como eu a vi, iria

concordar que ela pode até gostar de moda, mas a moda


não gosta dela.
— Está tudo bem, papai? — Aceno com a

cabeça, ainda tentando me controlar.

— Quem é a Mimi, está trocando o tio?

— Não estou tlocando... trocando. — Ela olha

para mim e conserta. — Mimi é amiga do papai. Ela dormiu


na cama com a gente ontem à noite. Quando acordou eu

pensei que fosse uma princesa, mas papai não quis beijar.

Então ela foi esperta e acordou sozinha, não foi, Lolo? —


Noah me encara com a sobrancelha arqueada, como se

tivesse me flagrado mentindo para a minha filha.

— Isso mesmo, amor. — Ela desce do colo do


Noah e vem para perto de mim. — E onde está a sua

amiguinha que gosta de moda?

— Emmy, cadê você, sua menina fug...

A entrada da garota causa diversas reações. A

da minha filha, que a adora e corre para perto dela. A

minha quando vejo as mechas azuis e roxas, que a deixam


com cara de adolescente, quando já deve ter mais de vinte
anos. A maquiagem no rosto dá a entender que vai pular

carnaval fora de época. As pulseiras são tantas que fazem

um tilintar irritante, a cada pequeno movimento dos seus


braços. Por incrível que pareça, o vestido é o mais normal,

e minha pequena nem parece tão ruim, se comparada a


ela.

A reação do Noah é a melhor — ou pior,

dependendo do ponto de vista.

— Isabella? — fala baixo, mas não o suficiente

para não ser ouvido. Ele fica surpreso, mas é passageiro. A

sua expressão muda. Ele a olha da cabeça aos pés, para


por mais tempo nos seus seios e, eu noto quando chega à

conclusão de que as peças íntimas são dela.

— Mirella. — Estende a mão, ele a segura por


mais tempo do que deveria.
— Prazer, Noah. Você deve ser irmã da Isabella.

A semelhança é tanta que não dá para negar — afirma.


Isso porque não a viu mais do que duas vezes antes de o

meu casamento acabar. Se tivesse convivido mais veria

que nem parecem tanto assim.

Ou, talvez, pareça mesmo, mas já notei

diferenças no jeito de ser entre uma e outra suficientes

para mudar de ideia quanto a semelhança física entre elas.


Mirella é muito bonita, mas enquanto a da Isabella era uma

beleza felina, a da mais jovem é angelical, fazendo com

que eu mal a veja como mais do que uma menina.

— Aqui está o seu pendrive, Noah. Acho que já

está na hora de você ir — digo, antes que essa conversa


se estenda ainda mais. Não quero adiar por mais nem um

minuto, o que já deveria ter feito.

— O tio tem que ir, princesa. — Para o meu


completo alívio, Noah não dificulta a situação. Ele se
abaixa, beija o rosto da pequena e depois chega perto da
Mirella.

— Foi um prazer conhecer você, Mirella. —

Pega sua mão, a beija e nos vira as costas.

Fico sozinho com as duas, cansado de ter que

lidar com essa garota desde ontem. Com ela e, tudo que

sua estadia aqui acarreta. Peço para a ruivinha ir brincar


com as suas bonecas no quarto, porque tenho que ter uma

conversa de adultos com a Mirella. Quando digo conversa


de adultos, ela já entende que é algo que criança não pode

ouvir e, por isso, não protesta.

Enfim, nós estamos a sós, mas é difícil levar

alguém a sério com essa maquiagem berrante. Eu queria

acreditar que só a colocou para brincar, mas não tenho

dúvidas de que seria capaz de sair na rua com essa cara.

A imagem do vestido que usou no casamento da própria


irmã, ainda está viva na minha memória.
— Por que está olhando para mim dessa forma?

A minha maquiagem está borrada? Tem batom no meu

dente, é isso?

— Você é um perigo para a sociedade com esse


ótimo gosto — digo, esquecendo por um momento que não

era sobre isso que eu queria falar.

— Você já vai começar a me ofender? —


indaga, colocando a mão na cintura, preparada para um

embate, mas eu estou farto disso. Dela e de sua irmã, que

eu queria ter o prazer de não ter conhecido. A pessoa cuja

única coisa boa que me deu foi a minha filha.

— Não. Não vou brigar, só quero que vá embora

e não volte nunca mais — falo com veemência,


aproximando-me do seu corpo.

— Mas eu nem... — Mirella também caminha na


minha direção. Ela fica a um centímetro de distância de

mim.
— Vá embora, menina. Diga para a sua irmã

que seja qual for o plano, eu não vou cair nos joguinhos

dela.

— Minha irmã? Onde está...

— Confesso que até agora eu não tinha parado

para raciocinar, mas estando tão perto assim de você... —

Para ficarmos ainda mais perto, para que entenda bem o

que estou prestes a dizer, a pego pela cintura e a puxo


para mim. — Foi ela quem te mandou aqui, não foi? Deve

ter armado um planinho sórdido com aquela mente

pequena. Só se esqueceu com quem está lidando.

— Eu não sei do que você está falando... — fala

sem desviar o olhar do meu. Quase quero acreditar, mas já

fui feito de idiota demais, para ainda cair nesse jogo.

— Sabe, é claro que você sabe, menina.

Inclusive, deve ter se divertido quando tirou a calcinha na

minha frente. Uma tentativa pífia de sedução, que nunca


daria certo, porque eu não gosto de meninas, e menos
ainda de pistoleiras. — Quando termino, só ouço o som e a

ardência do tapa que a cadela dá no meu rosto.

Ela se aproveita para se desvencilhar de mim e

correr para o mais longe que consegue.

— Sou eu quem não quer mais ficar um

segundo sequer perto de um louco como você. — Mirella

vai para o quarto, provavelmente pegar a mala, e eu vou

atrás, porque não confio nela sozinha nos meus aposentos.

— Não devia ter vindo.

— Por que veio? — Sou sarcástico, mas quero

ver o seu nível de atuação.

— Vim dar um golpe no grande milionário. Um


plano da minha irmã que não vejo há mais de três anos —

fala com ironia, mas vejo que está com ódio de mim. —

Seria até engraçado se não fosse ridículo.


Mirella passa por mim batendo os pés e

puxando a mala, que deve pesar mais do que ela. Quando

chega na sala, pega o violão e prende o velcro da capa de


couro atravessada no seu corpo. Ela caminha para a porta,

mas antes se volta e espicha o olhar na direção do quarto.

— Fala para a ruivinha que eu adorei conhecer

ela. Que nunca vou esquecê-la.

— Pode deixar — falo, e tenho toda a intenção

de cumprir, isso depois de explicar o porquê de ela ter

partido e, de não poder mais voltar a vê-la. — Mirella —

chamo, ela se vira para mim segurando a porta aberta —,


eu não quero mais voltar a te ver.

— Gostaria de não ter te beijado — fala e sai.

Quanto ao beijo, não posso dizer o mesmo, pois mesmo

com a confusão que traz, é uma das melhores lembranças

que guardo dentre tantas ruins.


Mirella mal dá dois passos no jardim quando é

abordada pela última pessoa que poderia aparecer nesse

momento.
Convite

Mirella
Eu estou soltando fogos pelas ventas enquanto,

humilhada, mas me segurando para não chorar, puxo a

mala de rodinhas pelo jardim da casa do babaca.

Já sabia que era um idiota, porque agiu como


um, desde o momento zero. Porém, ele acaba de falar

tantos absurdos que a minha vontade é de voltar atrás para

confrontá-lo, para fazer com que me diga de onde ele tirou

que existe um plano entre mim e Isabella. Ficou bem claro

que eles não são mais um casal, mas não sei os motivos

para ter acabado, depois de tantos anos. Parecia o casal

perfeito.

Mas não posso voltar, não depois de ele ter me

expulsado de sua casa como fez. Não posso obrigá-lo a


falar comigo, quando está na cara que não quer me ver,

nem pintada de ouro, na sua frente.

O problema é que as suas palavras estão

martelando na minha cabeça, principalmente, a

preocupação sobre o paradeiro da minha irmã. Até então,

estava tudo relativamente bem com o seu sumiço de

nossas vidas, afinal, acreditávamos que Isabella estava

feliz com a sua vida de casada, feliz com a maternidade.

Não que algo justifique o que ela fez, mas, pelo menos,

tínhamos a certeza de que estava bem. Agora não sei mais

de nada e não confio nele de forma nenhuma.

Se eu estivesse com pressa e certa do que

fazer depois da discussão que acabamos de ter, teria saído


correndo até o portão, mas ainda estou na metade do

caminho, sendo observada pelo dono da casa, que deve


estar querendo garantir que estou mesmo indo embora.

A minha atenção é atraída por um carro

entrando na garagem lateral. Pelo pouco que posso ver de


longe, a mulher de cabelos loiros tem por volta de
cinquenta anos, e é muito elegante.

— Eu poderia até pensar que você é a Isabella,

mas duvido muito que exista qualquer chance de ela


retornar — diz.

Retornar de onde?

— Eu sou Mirella, a irmã mais nova.

— Eu sou a Teresa Ramirez, mãe daquele

cabeça dura que está na porta. Você estava indo embora?

— Sim. Tenho algumas coisas para fazer —


afirmo para não falar que ela criou muito mal o filho, porque

ele é um grosseirão.

— Nada disso. Venha comigo, algo me diz que

você tem uma boa história para contar, pois não consigo
imaginar o que a irmã da minha nora veio buscar aqui. —

Conforme a mulher vai falando, ela me puxa pela mão para


que a acompanhe. Fico me perguntando se a intenção é
mesmo conversar comigo, ou se tenta me insultar de
maneira sutil.

Eu poderia dizer não e dar o fora daqui, mas

não posso fazer isso. Não sem agarrar a oportunidade de


tentar entender o que está acontecendo, o porquê de o
Logan estar pensando que me uni a minha irmã para um

plano maligno. Sobretudo, tenho que descobrir o seu


paradeiro.

Por que não estão mais juntos?

Se ela quis ir embora, por que não levou a filha?

— Bom dia, filho. Vim buscar a minha neta para


um passeio, e encontrei essa mocinha tentando fugir.

O ruivo até tenta se explicar quanto a minha


presença, mas a senhora Teresa passa por ele me
direcionando novamente para a cozinha. Nós nos
sentamos à mesa, ela me serve uma xícara de café e

começa a fazer perguntas. A essa altura, Logan já sumiu


das nossas vistas. Deve estar furioso por ainda não ter
conseguido se livrar de mim, mas ele que lute contra a sua
mãe, que parece ser uma mulher bastante determinada.

— Você já pode começar a me contar o que te


trouxe, mocinha.

A história até que é boa para quem está

ouvindo, mas não sei se ela vai pensar o mesmo. Por outro
lado, as desventuras de pobres devem ser mais divertidas
do que os seus problemas para escolher o sapato que
combina com o look do dia.

Sem julgamentos, Mirella!

— Nem sei por onde começar — digo numa


tentativa de me fazer de difícil. Amo atiçar a curiosidade

das pessoas, deve ser um dom. É inútil? É. Mas é um dom.

— Começa falando por onde esteve durante os

quase cinquenta anos de relacionamento do Logan com a


sua irmã, para eu nunca ter te conhecido. Na verdade,
acredito que ninguém do nosso meio de convívio. No
fundo, as pessoas, e nisso incluo a mim também, estavam

começando a se perguntar se a tal irmã mais nova era


mais uma das mentiras da Isabella.

— Mais uma? — pergunto, ela fica

desconfortável.

— Modo de dizer. — Ela se apressa em


consertar.

Eu não acredito, mas deixo passar.

A questão agora é como dizer que nos meus


anos de infância, e durante a adolescência de rebelde sem
causa, eu não estava interessada em conhecer os ricos

com quem Isabella convivia. Depois, quando virei adulta o


suficiente para beijar o marido de outra mulher, me escondi
de vergonha de todos, e de mim mesma.

Como não tenho mais tanta pressa de sair


correndo, agora que tenho uma pessoa de quem posso
tirar algumas informações sobre o que aconteceu com essa
família, começo a contar minha história. O seu bocejo diz

que não está interessada nos detalhes de como foi o meu


nascimento. Dou uma pincelada nos anos escolares, revelo
que fui expulsa da escola duas vezes, nessa hora ela
começa a lixar as unhas. Quando chego à adolescência, a
sogra da minha irmã já está quase revirando os olhos. Fico

com vontade de rir, porque estou conseguindo o que quero.

Se estiver cansada do meu falatório, talvez se


sinta disposta a dizer o que quero ouvir. Não que eu queira

fazer fofoca nem nada, nem gosto disso... tudo bem, eu

amo uma fofoca, mas o que se sobressai aqui é o desejo


de saber a verdade. O porquê de, segundo Logan, eu estar

fazendo parte de uma conspiração contra ele.

É só quando chega ao dia de hoje das minhas

desventuras que a mulher me dá atenção total. Não sei o

que tem de tão engraçado com o fato de eu ter dado com a


cara na porta duas vezes até chegar a esta casa, mas a
mulher se diverte. Será que ela daria risadas se soubesse

que dormi na cama do seu filho, e que ele me viu como vim
ao mundo?

Para piorar, não lembro se está tudo em dia com

a depilação das pernas e nem a da...

Foco, Mirella! O que importa se ele viu ou não a

floresta amazônica?

— Resumindo, foi isso. Agora eu tenho que


correr até a faculdade para efetivar a minha matrícula.

Depois vou bater perna atrás de um lugar para ficar, até

arrumar uma amiga com quem possa dividir o aluguel de


um apartamento. Isso se a chuva deixar, é claro.

Sim, ainda está chovendo, o que eu não acho


tão ruim, pois a chuva esconderá as minhas lágrimas, caso

eu fique sem teto, ao relento e sem nada para comer,

enquanto torço para que os meus companheiros de rua


sejam legais para dividir um pedaço de pão velho comigo.
O prêmio de Maria do Bairro vai para: Mirella
Maris.

— Ei, você ainda está aqui?

— Sim, desculpa, estava pensando em umas


coisas importantes. — Minto.

— Então você quer ser cantora? — pergunta, eu

vejo que a sua curiosidade é genuína. Parece estar


fascinada, como se não conhecesse ninguém que queira

ser, ou que já seja cantora.

— É o meu maior sonho. Quero ser livre.


Conhecer o mundo atrás da minha música — confesso.

— Tenho uma ótima ideia. — A mulher, apesar

de exalar futilidade pelos poros, é gentil e até mesmo


divertida.

— Você pode cantar em bares e restaurantes no


seu tempo livre. Os lugares que frequento sempre têm

música ao vivo — comenta. — Se quiser, falo com alguns


amigos próximos para te dar uma força — sugere, penso

que é bom demais para ser verdade.

Vim com uma reserva singela, já sabendo que


não duraria mais do que dois meses e, que precisaria

arrumar um trabalho, fosse ele qual fosse. Mas, nem nos


meus melhores sonhos imaginei trabalhar com o que eu

amo tão cedo. Cantar e tocar o meu violão para pessoas

que queiram me ouvir.

— Por que a senhora faria isso por mim? —

questiono. Não quero ficar na defensiva, mas no mundo é

difícil encontrar pessoas que ajudem as outras sem querer


nada em troca.

— Eu gostei de você. Não sei o que é, mas você

me passa confiança — afirma, parece querer dizer algo a


mais, mas não fala.

Eu também não digo que estava querendo usá-


la para obter respostas.
— Serei muito grata a senhora se puder
trabalhar com o que gosto — afirmo, já criando ilusões na

minha cabeça.

— Oi, vovó, eu estava com saudade de você. —


A ruivinha entra toda saltitante na cozinha. Ela veste um

vestido lilás, e os cabelos estão presos no alto da cabeça.

O pai não gostou muito de ver a criança vestida como eu,


com bom gosto.

— Eu disse que viria, não disse? — A senhora


pega a menina e a senta em suas pernas.

— Disse, mas estava demorando. Eu brinquei

com a Mimi de montar figulino.

— Figurino — Logan corrige. Ele está em pé na

minha frente com os braços cruzados no peito. Alto, muito

alto, até mesmo para mim que tenho 1,70m de altura.

— Filho, eu estava aqui conversando com a

Mirella e ela me disse que não tem onde ficar, então


imaginei que poderia ficar aqui por uns dias. Pelo menos

até encontrar alguém com quem dividir as despesas. —


Teresa, a santa Teresinha, acaba de me pegar de surpresa.

— Mamãe...

— Senhora...

Nós dois falamos ao mesmo tempo, sem,


contudo, nos olharmos.

— Qual o problema com vocês dois? — ela

pergunta, ficamos em silêncio. Não estou olhando para o


cara, mas ele deve estar me odiando, imaginando que

conduzi a sua mãe a isso.

Existe um problema muito grande entre nós


dois. Maior do que uma manada de elefante. Se ela

soubesse, não estaria cogitando a hipótese de nos juntar


no mesmo ambiente e esperar que sobrevivamos.

Eu também não deveria, pois tem tudo para dar

muito errado, mas não sei se consigo resistir à ideia de


saber mais da vida dessa família — família da minha irmã,
cuja ausência está começando a me deixar preocupada.

O que vou dizer para a minha velha?

Não sei se consigo resistir à ideia de ficar por


um tempo perto da minha sobrinha. Para conhecê-la de

uma forma que não pude em todos esses anos. Ficar perto

desse homem lindo. Não para alimentar seja qual for o


nome da doença que me faz olhar para ele e achá-lo o

homem mais lindo e sexy que meus olhos já viram, mas


para exorcizar da minha mente e corpo tudo o que Logan

despertou há anos.

— Ela não pode ficar aqui, mãe. Estava indo

embora quando a senhora chegou, não é, Mirella? —

Dessa vez os nossos olhares se encontram, os seus estão

incinerando o meu corpo, me obrigando sem palavras a

negar o convite.

— Eu... — o que eu digo?


— Deixem de bobagem! Está decidido. Aqui tem

um quarto sobrando e ele é perfeito para a Mirella ocupar

até que encontre um lugar para ficar — fala, porque na

cabeça dela é tudo muito simples. — E você, meu filho,


não precisa ficar assim, vai ser como se a moça não

estivesse aqui, já que você trabalha o dia todo. À noite,

quando chegar, ela estará trabalhando. — Ao invés de

bater o pé negando a minha presença, Logan nos vira as

costas, deixando a cozinha.

— Ele não é assim o tempo todo — justifica,


mas eu sei que é. Pelo menos comigo sempre foi. — Você

quer ficar aqui?

— Quero — admito.

Além de todos os motivos mais importantes,

ainda terei a oportunidade de economizar um pouco, até

ver como será quando tiver um trabalho. Talvez consiga

pagar um lugar para morar sozinha.


— Então, está tudo certo. Você fica aqui com o

Logan e minha neta.

Depois de tentar arrumar a minha vida, desde

trabalho a um teto sobre a minha cabeça, a senhora é

levada para o quarto da neta. Fico sentada sozinha,

enquanto uma única frase fica martelando na minha mente.

Você fica aqui com o Logan

Você fica aqui com o Logan

O problema é que Logan não quer que eu fique

com ele. Na verdade, ele quer mais é que eu vá com Deus.

Agora Teresinha vai levar a minha sobrinha e

nós vamos ficar sozinhos nesta casa, que começou a


parecer pequena demais.

Acho que estou ficando com dor de barriga.


Tensão

Logan
Trancado no meu quarto, continuo tenso. Não, é

mais do que isso. Estou furioso com a minha mãe, com a

garota e comigo mesmo. Se eu tivesse a deixado na chuva,

sem me importar com o que fosse acontecer, ela não seria

convidada pela minha mãe, para ficar aqui em casa.

Está acontecendo tudo o que eu não quero no

dia de hoje. A minha mente e coração estão em conflito,

porque sei o que quero, mas estou ciente do que não

posso fazer. Preciso que essa moça suma de vez da minha

vida, principalmente da vida da minha filha, mas também

não posso enfrentar a minha mãe.

Não posso descer e insistir que quero a Mirella

bem longe de minha vida, porque além de ela ser teimosa


como uma mula, o que quer dizer que não aceitaria a

mínima negativa em abrigar uma pessoa sem ter um

motivo plausível, seria mais difícil falar que eu tenho, sim,

motivos para a querer longe.

O pior de tudo é que ela sabe que existem

motivos suficientes para eu não querer nenhum membro da

maldita família na minha frente, então só posso imaginar

que a safada da Mirella fez, ou disse alguma coisa para

levar mamãe a pensar que ela precisa da nossa ajuda.

Além de tudo o que Isabella e eu fizemos um para o outro,

minha mãe não imagina que a irmã mais nova e eu nos


pegamos anos atrás. Ela não imagina que o meu passado

com a minha ex-esposa chega a ser um motivo pequeno


perto do medo que tenho de mim mesmo perto de Mirella

Um medo que não tem relação apenas com o


fato de eu querer esganá-la sempre que abre a boca para

dizer bobagens. O que vem depois das minhas reações a


ela é muito mais perigoso. São as complicações que o fato
de estarmos nos mesmos ambientes podem trazer.

São muitos erros e segredos que prefiro manter

guardados para mim. Um desejo reprimido bem lá no


fundo, que não faço ideia de onde surgiu. A vontade de

manter tudo como era quando eu não sabia quem era a


garota cujo beijo fez mais por mim do que muitas noites de

sexo com mulheres que eu sentia desejo, mulheres que


não invadiam minha vida com suas roupas coloridas e

bijuterias baratas.

Cansado de contar os passos, decidido a não ir


até o quarto e dizer que a Mirella não pode ficar aqui

porque nós nos beijamos anos atrás, e que vê-la nua


ontem me deixou excitado, me aproximo da janela. Com os

pensamentos longe, fico vendo a chuva cair mais devagar.

No fundo, tenho esperanças de que ela tenha

um pouco de bom senso e não aceite o convite, que


entenda que só não disse nada porque estava na presença
da minha mãe e da minha filha, mas que não a quero aqui
em casa. A melhor solução é ela voltar para o buraco de

onde saiu.

Depois de alguns minutos, vejo as esperanças


indo para o ralo quando a senhora Ramirez de Castro
atravessa o jardim segurando a mão da neta. Emmy

carrega uma mochila com tudo o que precisa para passar o


fim de semana com os avós. Antes de entrar no carro,
ambas olham para trás e me dão adeus fazendo
movimentos com as mãos. A criança manda beijo, eu

mando outro de volta.

Passa mais dez, vinte... quarenta e cinco


minutos. Uma hora se passa e eu continuo esperando que
Mirella vá embora, mas ninguém caminha pelo jardim,

assim como não se ouve um único som pela casa. É como


se não tivesse ninguém aqui, além de mim. Mas, a garota
não foi embora, a menos, é claro, que ela seja invisível e
tenha saído sem que eu tenha percebido.
Não estou com humor para ter mais um embate,
pois mais cedo disse tudo o que queria e deveria dizer. Na
verdade, disse mais do que queria, porque apesar de

suspeitar das suas motivações para ter aparecido do nada


na minha vida, não tem como culpá-la pelo resto.

Por mais que me custe admitir, estava com


febre, cansada e delirando demais quando estava nua na
minha frente. Talvez ela nem se sinta levemente atraída,
como eu me sinto. Por alguma razão, pensar nisso me
causa incômodo.

— Já chega! — falo em voz alta e saio do


quarto. A casa ainda continua em total silêncio. De onde
estou não vejo nenhum movimento. Checo nos quartos,
depois na cozinha, e nada.

Ao entrar de fato na sala, me aproximo dos


sofás e a flagro deitada. Por isso estava tão silencioso.
Chego perto dela, analiso o rosto pequeno e constato que

dorme profundamente. Com cuidado para não a acordar,


embora a queira fora, toco na sua pele, que está mais
quente que o normal. É óbvio que Mirella ainda não está

100% curada, o que me deixa mais exasperado.

Hoje é sábado. Eu poderia estar fazendo


qualquer outra coisa para ocupar o dia sem a minha filha,

mas estou aqui, sentado no sofá, olhando para uma garota


dormir. O nariz pequeno está tão entupido que ela ronca
baixinho, se mexe de um lado para o outro e não demora
mais do que alguns minutos para despertar. Mirella se vira

de frente para mim, os seus globos oculares quase caem


em cima do tapete quando me vê sentado, a olhando
fixamente.

— Desculpa, eu não deveria ter dormido assim


— fala ao se sentar ereta, passando as mãos pelos

cabelos e depois cutucando os cantos dos olhos sem


qualquer constrangimento por estar na minha frente.

Das duas uma: ela é muito diferente das outras

mulheres, ou eu não a afeto de forma nenhuma.


Nem sei qual a pior opção, embora a segunda
desperte a vontade de fazer algo que a deixe

desconcertada e prove um ponto.

— Existe uma lista enorme do que você não


deveria ter feito, a partir do momento que bateu no meu

portão. Inclusive, esse foi o seu primeiro grande erro —


falo, saio de onde estou e me sento do seu lado. Os

nossos corpos estão muito próximos.

— Não fale assim. — Apesar da fragilidade do


corpo, a sua voz é firme. Mirella está debilitada, mas não

abaixa o olhar para mim, o que me faz ficar excitado de

formas que vão além do desejo físico, que ainda está


controlado, pela lembrança de quem ela é e, do que causa

em mim.

— Falo porque esta é a minha casa, que você


está contra a minha vontade. Aposto que aceitou o convite

da minha mãe, quando deveria ter recusado.


— Um cobertor quente e um prato de comida

não se nega a ninguém — fala em uma tentativa tosca de


brincar comigo. — E você está invadindo o meu espaço

pessoal.

— O meu espaço. É isso que você não entende.


— A cada frase solta, mas perto as nossas bocas ficam.

Estou quase curvado em cima dela. O coração aos trancos

dentro do peito, mas prefiro pensar que é de ódio dessa


menina, não tesão.

— Queria economizar um pouco, mas não


espero que entenda. — Mudando de tática, Mirella faz uma

voz mais infantil do que a da minha filha. A boca faz um

biquinho, que não resisto e acabo olhando.

Ela quer me manipular, mas não vai conseguir...

Que boca bonita que essa garota tem. Imagina

como deve ficar em volta de um pau.

Não! Se controla, porra!


— Tudo bem, eu desisto — digo quando
percebo que tenho que mudar de tática — Vai economizar,

garota, mas também vai se arrepender do dia que tomou


essa decisão equivocada — assevero com firmeza.

— Vai fazer o que, me beijar? — fala olhando

para a minha boca.

— Bem que você queria, não é? — devolvo.


Agora, sim, as nossas bocas estão unidas, assim como os

nossos olhares.

— Foi você quem me beijou da outra vez. Se


tiver uma próxima, partirá de você novamente — afirma.

Ela olha para pequena cicatriz no meu rosto, mas não


pergunta se foi obra sua.

— Eu sou o marido da sua irmã — aviso para

feri-la de alguma forma. Sei que está tão irritada que não
estava lembrando deste fato.
A minha fala faz com que Mirella empurre o

meu peito e saia com as pernas levemente trôpegas pela


sala. Vira-me as costas. A intenção é não olhar para a

minha cara, mas consegue com que eu olhe para o seu

corpo por baixo do vestido curto e barato.

— Vou ficar por uns dias. Só o suficiente para

conseguir me estabelecer aqui na cidade. Depois que eu

sair por essa porta, você não precisa se preocupar se vai


voltar a me ver — afirma. — E até lá, vou tentar ficar fora

do seu caminho. Nem perceberá que estou aqui.

A tentativa de economizar e ganhar tempo para


se estabelecer é apenas o que sai da sua boca, mas não

acredito nem por um instante que seja apenas essa a sua


motivação. Tem também o que ela não verbaliza. Algo

muito maior que a faz querer ficar, quando sabe que não

nos damos bem, que não a quero aqui. A garota não seria
tão sem noção.
— Não precisa se preocupar que não esqueci e
nunca vou esquecer que você é o marido da minha irmã,

embora eu ainda não tenha visto a Isabella aqui.

Mirella não espera para saber se tenho algo


para dizer, ela apenas pega mala e o violão e anda na

direção do único quarto desocupado da casa.

A sua afirmação de que nunca vai esquecer de


que sou o marido da sua irmã, apesar de não ser há muito

tempo, fica na minha cabeça. Despertou a minha atenção a


forma como a garota apontou a ausência da irmã.

Antes, ela não tinha tocado no assunto. Parecia

que não via nada de errado. Agora eu sei o que pensa,


assim como começo a desconfiar de que não sabe do que

aconteceu nos últimos anos. O que é muito pior para mim,

porque, talvez, a curiosidade seja o motivo da sua vontade


de ficar, quando não é bem-vinda.
Ter a irmã da Isabella por perto, uma garota

bonita e sexy demais para o seu próprio bem, era tudo o


que eu não precisava. Uma pedra no meu sapato que não

hesitarei de tirar.

Mentalmente exausto por tudo o que aconteceu


em tão pouco tempo, saio de casa e faço uma corrida pelo

bairro. Começo com passos mais leves, mas os meus

pensamentos estão agitados demais. E quanto mais a


minha cabeça gira, mais rápida fica a minha corrida.

Ela está sozinha na minha casa, desfazendo as

malas no quarto que fica ao lado do meu.

Ela me perturba, muito mais do que veio

fazendo durante todos esses anos. Traz consigo

lembranças que tento esquecer, embora não consiga


quase todas as noites quando deito a minha cabeça no

travesseiro. A minha vida estava indo bem, pelo menos,


bem o suficiente para não deixar que a pequena

percebesse os escombros a sua volta.


Depois do casamento, foram dois anos vivendo
em um inferno por escolha minha. Eu quis morar no inferno

com a pessoa que me fazia mal. Fiz por causa da Emmy,

cujo meu maior medo, depois que descobri da traição, foi


saber que não era de fato minha filha. Mas ela é. Minha

pequena Emily. Por ela eu sofri, mas também fiz sofrer. Por
ela cometi erros, e estou disposto a fazer muito mais para

garantir a sua felicidade.

Mesmo que tenha acontecido tanta coisa, e do


meu mundo está de ponta cabeça, faz somente algumas

horas que Mirella voltou para a minha vida. Sim, ela está

voltando, mesmo que nunca tenha ido de verdade, porque

apesar de terem sido alguns minutos de puro estresse,


seguido por um súbito desejo físico, ficou marcada na

minha alma como a cicatriz no meu rosto.

Foram necessárias apenas algumas horas,


algumas falas insolentes e um corpo nu, não posso

esquecer dos seus peitos impressionantes, para conseguir


fazer com que eu me sinta com a alma despida. Sinto

como se estivesse sem cobertor em uma noite fria. Ela

desnuda não só o que é feio, o que tento manter só para

mim, mas também o lado que ainda é capaz de pulsar e de


sentir calor. É por isso que a garota precisa partir.
A chave

Mirella
Eu pensei que fosse um quarto da bagunça,

porque é assim que fazem nas casas dos reles mortais.

Mas, não, o quarto vazio está limpo, como se estivesse

esperando por um ocupante a qualquer momento.

Agora as minhas roupas e violão estão sobre a

cama, mas os meus pensamentos estão em outro lugar. Eu

sempre soube que Logan me detestava, que não me queria

aqui, e não sou tão folgada a ponto de impor minha

presença só porque quero poupar dinheiro, apesar de ser

uma ótima ideia. As suas acusações e a ausência

misteriosa da Isabella são os meus combustíveis para ficar,

mesmo que queira tanto quanto ele em manter a distância.


Ficar aqui, nem que seja só por alguns dias, me

proporcionará oportunidades para conversar com Logan,

para ouvir o que pode me dizer, porque em algum

momento terei que mandar mais do que mensagens para a

minha mãe, avisando que cheguei bem. Terei que ligar, ela

perguntará pela minha irmã e eu não sei se poderei mentir

por muito tempo. Se tentar, a dona Carla, que me conhece

bem demais, vai me desmascarar em questão de

segundos. Já fiz isso demais quando era mais jovem, o que


me rendeu muitas broncas e castigos.

Só preciso esperar que Logan se acalme para


tentar conversar sem que acabe em briga. Sem que ele

jogue na minha cara que é casado. Antes de sair, o ruivo


conseguiu me deixar envergonhada e culpada com uma

única frase.

Eu não queria que ele me beijasse, estava

furiosa demais para isso. Foi apenas a minha reação, muito


inapropriada, que me mostrou que ele não é como as
outras pessoas. O marido da minha irmã me faz entender
que suas reações a mim podem ferir fundo. Pode trazer à

tona o que de pior há em mim, desencadear reações cujas


consequências nenhum de nós dois poderia suportar.

Eu me encantei pela minha sobrinha, não teria

como ser diferente quando ela é tão fofa e educada, mas


nem o meu carinho por ela me faria brincar com o fogo,

como estou fazendo com a decisão de aceitar o convite da


sogra da Isabella.

— Merda! — Confusa de um modo que somente


esse homem e tudo o que ele envolve me deixa, começo a
colocar novamente todas as minhas roupas dentro da

mala. Não me dou ao trabalho de dobrar nada, porque


estou sem paciência para isso.

— Você não vai ficar por tempo suficiente para


que seja necessário — digo a mim mesma depois de tirar

apenas duas peças de roupa, um par de sapatos e depois


colocar a mala debaixo da cama.
Sentada sobre a king size, pego meu violão e
começo a dedilhar, porque tocar é a única coisa capaz de

me acalmar neste momento. Toco uma melodia agitada,

enquanto cantarolo. Em algum momento tenho a


impressão de ver a sombra de uma pessoa perto da porta,
mas basta um piscar de olhos para que ela desapareça.

Só posso estar ficando louca mesmo.

Quando sinto que estou novamente no meu


melhor estado de espírito, quando não ouço nenhum som
que não seja dos passarinhos cantando pela janela do lado

de fora, vou para o banheiro, coloco o meu aplique de


mechas coloridas e passo os dedos pelos fios, deixando
meus cabelos com ondas perfeitas. O rosto está
apresentável sem o reboco de sempre, assim como o

vestido curto, porém solto. O look é perfeito para ir resolver


burocracias na universidade, um evento que não me anima
nem um pouco, mas necessário se quero um futuro melhor.
O fato de o meu coração estar acelerado pelo
temor de encontrar Logan diz muito sobre a minha curta
estadia nesta casa. Felizmente, está tudo em silêncio, eu

faço menos barulho ainda quando caminho na ponta dos


pés até o portão. O carro de aplicativo está me esperando
quando saio. Entro nele como se estivesse fugindo da
polícia.

Antes que saia, olho pelo vidro, e posso jurar


que Logan está na janela me observando, o que quer dizer
que talvez ele fosse a sombra na porta enquanto eu

cantava e tocava. Ou, então, estou ficando paranoica.

O tamanho da Universidade Federal me


impressiona o suficiente para me fazer pensar que posso
me perder aqui dentro. Uma preocupação sem propósito,

porque os garotos daqui vêm praticamente correndo ao


meu socorro quando percebem que estou um pouco
perdida. Sou instruída para onde ir e o que devo fazer para,
enfim, fazer a minha matrícula.
Como todo sofrimento para pobre é pouco, sou
informada pela moça da secretaria que tenho que tirar

xerox de alguns documentos, o que me leva a fazer


algumas caminhadas, pois não tenho a sorte de ser
atendida pela mesma pessoa em nenhuma das quatro
tentativas. É como se elas tivessem feito treinamentos
diferentes, pois cada uma dá uma informação contrária à

anterior. Para o enorme alívio dos meus cambitos judiados,


a última é uma fofa, que não só afirma que está tudo certo
com a minha documentação, como me deixa mudar de
turno.

Eu tinha conseguido a vaga no período noturno,


mas agora poderei frequentar as aulas pela manhã, ficando
livre para cantar à noite. Isso se a mãe gentil do Logan

conseguir arrumar algo para mim. Ainda terei as tardes


livres para preencher com mais um emprego.

Como consequência de ser atendida quatro


vezes até conseguir resolver os meus problemas com a
documentação, perco metade do meu dia, algo que não é
de todo ruim, porque fico o máximo de tempo possível

longe do ruivo, tendo espaço para pensar em uma forma


de conversar sem brigar. Sobretudo, sem deixar que ele
saia com a última palavra.

Foi muita audácia me lembrar que é marido da


minha irmã. Ele não precisa ficar repetindo, porque se tem

algo que eu nunca vou esquecer em toda a minha

existência, é que Logan Ramirez de Castro é da Isabella.


Nunca foi e nunca será nada para mim. Nem se eu

quisesse seria diferente, e, felizmente, não quero que seja.

É só quando saio do táxi no fim da tarde que


percebo que corri o risco de encontrar a minha mala no

meio da rua. Pior, que Logan tenha trancado o portão para


que eu não entre, sem a chance de ao menos pegar os

meus pertences. Por não duvidar que ele seria

perfeitamente capaz, sinto que as minhas mãos estão


tremendo quando tento destravar o portão, que é comum
demais para alguém que, até onde o mundo sabe, esbanja

dinheiro.

Toda a residência é menos do que eu esperava.


Já quis perguntar para o ruivo se é algum tipo de

penitenciária, ou se é apenas uma excentricidade de rico.


Quando o portão se abre, imagino se ficarei tão

emocionada quando os portões do céu se abrirem para

mim. Não tenho a menor dúvida de que é para lá que irei


algum dia.

O ruivo está sentado no sofá, tem um notebook


nas pernas e a televisão ligada. Ele me olha por um

milésimo de segundo, antes de voltar a sua atenção para o

que fazia antes. Eu, por outro lado, não deixo de notar que
os seus pés descalços descansam na mesa de centro. Pés

grandes...

O que é mesmo que dizem sobre os homens


que têm pés grandes?
Não pense nisso, Mirella!

Não pense nisso!

Eu definitivamente não vou para o céu, porque

estou infligindo o mandamento que diz para não cobiçar o


homem da próxima. Se a próxima for do mesmo sangue,

pior ainda. A minha listinha de boas ações deve estar com

saldo negativo.

— Eu ainda estou aqui, garota — fala, porque,

para o mico ser maior, ele me flagra olhando para os seus

braços musculosos e peitoral sarado. Contei cinco gomos


na sua barriga. Uma Brastemp para o uso particular de

Isabella. — Isso! só mais um pouquinho. Levante esse


olhar e não terá muita dificuldade de encontrar o meu rosto.

Se eu parar para advogar em minha defesa,

devo concluir que não perdi vaga no andar de cima, já que


estou apenas olhando, não cobiçando. Olhar e cobiçar são

coisas completamente diferentes. É isso!


Que alívio que estou sentindo agora!

— Eu... Estava na universidade. — Não sei de

onde saiu a satisfação que acabo de dar para ele.

— E por que está me dando explicações? Não

me importo, Mirella — avisa. — Deixei a chave reserva na


bancada da cozinha. Pegue para você, assim não tenho

que deixar o portão aberto à sua espera. — Completa, logo

depois de ter falado que não se importa comigo.

— Obrigada — falo para o nada, porque Logan

está me ignorando novamente. — Eu posso... — sei que

vou me arrepender de perguntar, mas não consigo manter


os dentes dentro da boca — fazer o jantar para a gente.

Que horas que a Emmy chega?

— Ela só vem amanhã na parte da tarde —


responde, enquanto os seus dedos batem freneticamente

no teclado do notebook.
— Tudo bem — digo e saio apressada. Só
percebo que ele não me respondeu quanto a proposta de

fazer o jantar para a gente quando já estou tirando a roupa.

Bom, quem cala consente. Farei o jantar e


Logan poderá comer se quiser. Antes, preciso tomar um

bom banho para ter a sensação de que a pele limpa e

cheirosa tenha tirado pelo menos metade de todo o meu


cansaço.

Fico indecisa sobre o que vestir, não porque


quero impressionar o marido da minha irmã, e sim para não

correr o risco de ele tomar as chaves de volta antes da

hora. Por fim, acabo colocando uma calcinha que cobre


metade da minha bunda e um sutiã bege. Por cima jogo

uma blusa que cabe duas de mim, e um short que é curto,

mas não agarrado ao corpo. O look perfeito que não passa


a mensagem de que quero seduzir um homem.

Do jeito que Logan é, capaz de reclamar de

desleixo, pois ainda não nasceu um homem tão ligado à


moda que não seja por trabalhar diretamente com ela.

Ainda lembro do seu olhar de assombro há cinco anos.


Parecia que estava vendo de perto um acidente de trem,

enquanto eu estava me achando linda como nunca.

Ele não está pela casa quando saio do quarto, o


que é muito bom, pois me sentirei mais à vontade para

preparar a nossa janta. Com os fones nos ouvidos, começo

a cantarolar distraída, até que fico completamente alheia


ao mundo à minha volta. Quando me viro para pegar uma

lata de atum, quase caio para trás ao esbarrar no ruivo. Ele

me segura pelos braços, e tem um sorriso no canto dos


lábios.

— Eu não tinha te visto — aviso o óbvio, já que


não tenho olhos nas costas. Nervosa com o toque, arranco

os fones das minhas orelhas. — Vai comer?

— Eu não pretendia, mas está cheirando muito


bem, então decidi experimentar a sua comida — elogia,

sem tirar as mãos de mim. A forma como fala faz parecer


que não está se referindo apenas à comida. — Só espero
que você não tenha colocado um pouquinho de veneno —

o homem fala no meu ouvido a última parte. O meu corpo

sofre tremores, mais parecidos com choques elétricos.

— D-Daqui a dez mi-minutos estará pronto. —

Levo um minuto completo para terminar a frase que levaria

meio segundo.

Logan acena levemente, joga mais um sorriso

cheio de péssimas intenções e sai, sem se importar com o


estado em que me deixou com a sua aproximação

repentina e mudança de atitude.

Não sei como respirar. Não sei onde colocar as

minhas mãos. A sua proximidade, e as palavras

sussurradas perto da minha orelha me deixaram com o

corpo aceso.

Isabella

Isabella.
Você está aqui pela Isabella, repito sem parar

como uma prece, porque é tudo o que tenho que deixar

gravado na minha mente. Não importa o que aconteceu no

passado, e nem como o meu corpo traidor quer reagir.


Esse não é um homem qualquer, por quem possa me sentir

atraída.

Tenho certeza de que o Logan mudou de atitude

de caso pensado. Ele disse com todas as letras que faria

com que eu me arrependesse de ter aceitado ficar e,

provavelmente, deve acreditar que o meu desejo será o


suficiente para me fazer sair correndo como uma menina

assustada.

Mas, Logan não sabe com quem está lidando.

Posso ser o seu pior pesadelo, e não pretendo ir embora

até ter as minhas respostas. O jantar, que era uma maneira

de tentar levantar a bandeira da paz, talvez se torne o

nosso primeiro campo de batalha.


O jantar

Logan
O problema de brincar com o fogo é o risco de

acabar se queimando. Foi o que acabei de fazer na

cozinha quando me aproximei mais do que deveria, da

garota cheirosa.

Depois que ela saiu e ficou a tarde inteira fora,

não devia, mas fiquei me perguntando para onde ela tinha

ido, não consegui me concentrar em nada. Tentei fazer

algum planejamento para a semana na agência. Li alguns

e-mails mais urgentes, mas nada foi capaz de captar

totalmente a minha atenção.

No fim das contas, me entendi comigo mesmo e

fiz uma escolha que me leva a situações de perigo, como

essa que acaba de ocorrer na cozinha. Vou deixar que ela


fique pelo tempo que precisar, sem estar o tempo todo

brigando, porque já percebi que as nossas discussões são

combustíveis para o interesse sem propósito que

possivelmente possa existir entre nós.

Evitarei as brigas, uma tarefa difícil quando ela é

tão insuportável, mas a farei se lembrar todos os dias que

está aqui de passagem. A farei desejar encontrar outro

lugar para se abrigar o mais rápido possível, assim, a

minha vida voltará a ter um pouco de paz.

Sussurrar no seu ouvido não foi planejado,

antes fosse. Só queria provar o meu ponto, porque não


queria acreditar que eu era o único louco por causa da

minha cunhada, enquanto ela cozinhava e cantarolava


como se eu não tivesse falado palavras duras para ela,

como se não soubesse que quero vê-la pelas costas. E


apesar de ter me afetado também, obtive a minha resposta

quando o seu corpo tremeu embaixo dos meus dedos.


A breguinha ofegou, ficou trêmula e gaguejou, e
tenho certeza de que todas as reações tiveram pouca

relação com o medo, porque se tem uma coisa que Mirella


não tem é medo de brincar com o fogo. Nós dois estamos

brincando, o problema são as queimaduras que vêm


depois. Elas são dolorosas e deixam cicatrizes, algumas
que não podem desaparecer com o tempo.

Ainda afetado, fico na área externa da


residência mexendo no meu smartphone, pensando no que

deu na minha cabeça, quando permiti que ela fizesse o


jantar para nós dois. Fazer uma refeição com essa garota é

muito íntimo. Tudo o que não precisamos. Tudo o que não


devemos fazer.

Por outro lado, nesse jantar, que farei de tudo

para não rosnar com um cão bravo a cada merda que falar,
posso ter a chance de entender o que a garota pretende

ficando aqui, porque estou começando a pensar que não


tem nenhuma tramoia com a irmã, que é mais provável que
Mirella nem saiba do paradeiro da Isabella.

A hipótese chega a ser absurda e

desconcertante, porque para ter certeza eu teria que


revelar o que aconteceu dentro dessa casa nos anos
anteriores e não estou disposto a relembrar o passado.

Não com uma estranha em quem não confio nem um


pouco.

— Logan. — Ouço-a gritar da cozinha, igual a


minha babá fazia quando eu era criança. — O jantar está

na mesa. Venha antes que esfrie. — A sua voz foi


morrendo no decorrer da frase, como se estivesse
perdendo a confiança.

Que bom, porque o seu jeito me irrita


profundamente.

Quando adentro a cozinha, o cheiro delicioso de


comida caseira invade o meu nariz. Ela foi caprichosa e
organizou a louça na mesa como se estivéssemos em um
restaurante. Provavelmente, deve ter trabalhado em algum
momento da sua vida.

— Eu espero que tenha ficado bom — diz,


tentando demonstrar modéstia, quando o orgulho pelo

trabalho que fez está estampado no seu rosto. Não digo


nada, mas coloco em prática a educação que recebi da
minha mãe quando puxo a cadeira para ela se sentar. Faço
o mesmo e percebo o ridículo da situação.

Se a nossa vida fosse um filme, ele se chamaria

“jantando com o inimigo”.

— Está rindo de mim? — ela pergunta, engulo


em seco, pois não tinha notado o sorriso na minha boca.

Na verdade, é um milagre que eu esteja sorrindo para algo


que não tenha qualquer relação com a minha Emmy.

— Eu não estou sorrindo. — Minto.

— E eu sou louca.
— Você é, sim — rebato, ela faz menção de se
levantar, eu seguro seu pulso em cima da mesa.

— Fique e jante — ela arqueia a sobrancelha


—, por favor. — O pedido escorre como veneno da minha
boca.

Mirella se senta, mas a expressão de quem


chupou limão continua. Eu não preciso nem ser vidente
para saber qual será o clima desse maravilhoso jantar a
dois. A parte do jantar maravilhoso está livre de qualquer
ironia, pois a garota sabe mesmo como usar um fogão.

Esse é mais um ponto em que ela é o oposto da Isabella,


que se sabia para que servia o eletrodoméstico, guardou a
informação a 7 chaves.

— Você cozinha muito bem — falo, rápido


demais.

— Está se sentindo bem?

— Não pareço bem?


Ah, esse jogo de palavras, ele me excita.
Deveria sentir apenas irritação, mas a forma como essa

menina rebate cada uma de minhas palavras...

— Você não tem feito nada além de me criticar,


e não é de hoje — fala.

— Não vou me desculpar por isso. Você


consegue me tirar do sério — confesso. Não que ela já não

soubesse.

— A recíproca é verdadeira. — Assim nos


entendemos, e o jantar transcorre menos tenso do que eu

imaginei que seria. Ficamos em silêncio, vez ou outra nos

olhando.

Sempre que levanto o olhar para Mirella ela está

olhando para mim, mas abaixa a cabeça quando é pega no

flagra. Não a conheço, mas posso dizer que está querendo


me dizer alguma coisa. Só não sabe como abordar o

assunto, seja ele qual for.


— Se quer dizer alguma coisa, é só começar,

garota — aviso quando a minha paciência para os seus


olhares especulativos chega ao fim.

— Já que está aqui e, aparentemente, disposto

a conversar comigo, queria que me dissesse por que a


minha irmã mais velha não está aqui nessa casa com você

e a filha. Eu sei que acredita que tenho um plano maligno

contra você, e tem todo o direito, porque cada doido tem a


sua mania, mas não tem nenhum. Na verdade, estou

preocupada, porque cheguei há mais de vinte horas a essa


casa e não vi o rastro de quem deveria estar aqui. O que

você fez com a minha irmã, Logan Ramirez de Castro?

— O que eu fiz com a sua irmã? — digo,


mordaz. Os meus punhos estão cerrados sobre a mesa,

onde faço um esforço muito grande para não ir até a

parede mais próxima e socá-la até a minha mão sangrar.

Mas, não posso fazer isso. Estou há anos

fazendo terapia para o controle da raiva, e não será uma


garota estúpida quem colocará tudo a perder. Não vou
deixar isso acontecer.

— Talvez eu tenha feito a pergunta errada...

— É por isso que está aqui, para saber de


assuntos que não te dizem respeito? — pergunto.

Felizmente, nós já havíamos terminado o jantar.

— Eu não sei se você se esqueceu, mas a


Isabella é a minha irmã, então eu não só tenho direito,

como devo saber o que acontece com ela. Deixei uma

senhora preocupada no interior. A Isabella é uma ingrata


que, quando muito, liga uma vez a cada mês, mas a minha

mãe sente a falta dela e não entende os motivos que a


levaram a desaparecer por três anos. Quando sugeria vir

até aqui fazer uma visita, Isabella sempre arrumava uma

desculpa. Eu acreditava que ela estava sendo apenas


egoísta, levando sua vidinha feliz ao lado do marido rico e

da filha, mas estava enganada, não é? A minha irmã não


está aqui.
— Você fala demais — afirmo, ainda

absorvendo tudo o que ouvi dela. Além de tudo, a garota é


uma grande tagarela. — Fiquei com dor de cabeça. — Com

calma, limpo a minha boca com o guardanapo, o coloco em

cima da mesa novamente e me levanto. Abismada, Mirella


faz a mesma coisa e vem no meu encalço.

— Vocês se separaram?

— Já chega!

— Por que ela não levou a filha?

— Eu disse: Já chega! — Seguro-a pelos dois

braços, me dou conta de que mais uma vez ela me deixou


na borda, então me afasto o máximo que posso, sem que

tenha que fugir da conversa.

— A sua irmã saiu de casa há mais de três


anos. Nunca mais a vi e ela não voltou em todo esse tempo

para ver a filha.


Não voltou porque não podia, porque não
queria, e também porque dei um jeito de garantir que ela

nunca mais usaria a nossa filha contra mim.

— Vocês se separaram?

— Eu não vou responder a uma pergunta tão

idiota quanto essa — aviso, a ponto de sair para não ter

que ouvir mais nada. Essa garota não me faz bem. É como
uma droga que não posso ingerir, porque seria o meu fim.

— Você tem razão, foi uma pergunta idiota. Três

anos não são três dias... — concluí.

Que menina inteligente!

— E três dias não são três anos —

complemento, querendo mostrar que também sou


inteligente.

— Está debochando de mim?

— Jamais — nego, mas estava sim. Debochar


distrai a minha mente. Melhor do que fazer a estupidez de
calar a sua boca com um beijo novamente, quando o

assunto é a sua irmã ordinária, que, por um acaso, foi


minha mulher.

— Para onde ela foi?

— Eu não sei, e espero nunca saber — digo


uma mentira.

— Por que vocês se separaram? Ela parecia tão

apaixonada por você, principalmente depois que se

casaram. — A minha risada é amarga, Mirella fica me


olhando como se eu fosse um extraterrestre.

— Você faz perguntas demais. Não sabe do


paradeiro da sua irmã, não sabia que ela não estava mais

comigo, não sabia que nós fomos extremamente infelizes

pelo tempo que o casamento durou. E, acredite, ele durou


muito.

— Mas...
— Eu já te falei o suficiente sobre esse assunto.
Não espere que te diga mais nada. Não toque no nome

daquela mulher na minha frente, e se era só por causa dela

que queria ficar, creio que você não tem mais nada para
fazer aqui. — Sou firme nas minhas palavras. Tem que ser

assim para que entenda, porque eu não suportaria ter


alguém como ela por perto, sempre me lembrando do que

quero esquecer.

— O que vou dizer para a minha mãe? — fala


para si mesma.

— Diga que não foi exatamente um conto de


fadas que encontrou aqui no Rio de Janeiro. Mas, se serve

de consolo, ela deve estar bem, se não estivesse não

estaria ligando para vocês, mesmo que seja menos do que

gostariam — afirmo, mas não revelo que sei o paradeiro da

Isabella e do seu amante.

Sei até mesmo com o que gasta todo o dinheiro

que tirou de mim, embora os relatórios estejam um pouco


imprecisos, algo que eu deveria ter averiguado melhor, se

não fosse a chegada de outro membro da família Maris na

minha vida. A diferença é que essa é mais... É tudo mais

do que a outra.

— Eu deveria dizer que sinto muito pelo fim do

casamento? — De tudo o que poderia falar, Mirella escolhe

o pior.

— Deveria me dar os parabéns — falo com

acidez.

— Nós estamos falando da minha irmã — avisa.

— Então, não fale mais da sua querida irmã,

que eu também não vou falar.

— Tudo bem, vou tentar... vou conseguir, porque

estou na sua casa. — Corrige-se, mas duvido muito que vá

cumprir. — E espero que tenha se convencido de que não

tenho nenhum envolvimento com a minha irmã. E seja lá o


que te leve a pensar que ela seria capaz de tramar contra
você, não sei de nada. Na verdade, estou surpresa com

tudo o que vem acontecendo desde ontem.

Acredito na sua inocência quanto a esse

assunto, não porque a sua palavra valha alguma coisa para

mim, e sim porque eu saberia se estivesse envolvida com a

Isabella de alguma forma. Todas as acusações anteriores


foram causadas pela raiva que ela mesma desencadeou.

Se estivesse pensando com clareza, teria enxergado o

óbvio.

Essa garota parece incapaz de ferir algo que

não seja a moda.

— Fez tudo o que fez nas últimas horas para

isso? Poderia ter apenas perguntado.

— Em que momento entre todas as nossas

conversas civilizadas? — fala com ironia. — Queria saber

da minha irmã, mas ainda estou precisando de um teto, até

conseguir encontrar alguém com quem dividir um


apartamento. Se você puder deixar que eu fique por pelo
menos uma semana... — a voz dela está tão mansa, é a

primeira vez que fala com tanta humildade.

— Como você pagaria pela hospedagem? —

questiono, e me aproximo dela para provocar, porque,

apesar de tudo, ainda quero que Mirella se afaste da minha

vida.

— Não tenho dinheiro — avisa.

— Posso pensar em uma e outra forma de te

cobrar — insinuo, olhando o seu corpo de cima a baixo.


Tanto o short quanto a blusa são folgados, mas não me

impedem de pensar no que tem por debaixo de tanto pano.

Não preciso nem imaginar, pois já tive o prazer de ver.

— Você não está querendo...

— Se você estiver disposta, eu não tenho

nenhum problema de moral.


Os seus olhos se arregalam. A sua boca se abre

levemente em formato de “O”. Ela sai completamente

desconcertada, por duas vezes batendo nos móveis no seu


caminho.

O riso alto que escapa da minha boca, faz o

meu coração bater acelerado. Fico surpreso por cada

pequena mudança, cada pequena reação a ela, porque

brincar com o fogo é perigoso, mas também é irresistível.


Ofegante

Mirella
O som da porta do quarto sendo batida atrás de

mim, deve ter sido tão alto quanto as batidas do meu

coração nesse momento. A minha respiração está

ofegante, não pela rápida caminhada até aqui, mas pelo

que acaba de acontecer na sala. Sinto o pulsar entre as


minhas pernas, um desejo súbito latejante, logo depois de

ter tido uma conversa importante.

— Idiota! — O xingamento sai do fundo da

minha alma, enquanto caminho para o banheiro, ligo a

torneira e jogo água no meu rosto. Quem sabe assim

apaga o incêndio no meu sangue, e o calor entre as

minhas pernas.

Que tipo de doente eu sou?


É a pergunta que me faço quando a água fria na

cara de madeira não serve de muita coisa, então sou

obrigada a ir para a janela tomar um vento frio.

Primeiro o Logan jogou informações sem

qualquer cuidado, como se não significasse nada eu estar

sabendo por ele que o casamento subiu no telhado há

anos. Como se eu não tivesse que me preocupar com o

fato de a minha irmã estar agindo de um jeito estranho.

Antes parecia apenas egoísmo. Agora, o seu sumiço ainda

parece egoísmo, misturado a uma falta de amor pela filha,

pois não dá para entender como pôde deixá-la e, para


piorar, ficar tantos anos sem ao menos querer saber da

menina.

Por outro lado, quem disse que tenho que

confiar em tudo o que Logan falou? Sobretudo, no que ele


não falou. Eu não sei de quase nada, então não posso

condenar a minha irmã e acreditar em um homem que


acaba de...
Talvez, ela tenha desaparecido por culpa dele.
Pode ser que não veio visitar a filha porque Logan não

permitiu.

Está saindo fumaça da minha cabeça, não sei o


que pensar, não que tenha sabido em algum momento.

Não sei mais o que devo fazer.

Depois das revelações, quando pensei que

poderia me esconder no quarto para surtar em paz, o ruivo


alto e forte, e ex-marido da minha irmã mais velha, se

aproximou e insinuou que eu poderia pagar pelo teto sobre


a minha cabeça com sexo.

Foi isso, não foi? Ele quis barganhar um corpo

na sua cama em troca de moradia de graça, como se eu


tivesse coragem de fazer algo assim. Ainda mais com ele,

que não faz nem um pouco o meu tipo.

Não gosto de ruivos altos, lindos e arrogantes.

Se for o pai da minha sobrinha então...


Na minha versão sincera, diria que seria capaz
de dar até de graça, para o homem que está a alguns

metros de distância. Não posso mais negar isso para mim

mesma, senão vou acabar engasgada com o veneno de


muitos anos acumulado. Porque embora tenha sentido
culpa e vergonha, nunca deixei de pensar no que poderia
ter acontecido se Logan não tivesse entrado para a minha

família. Não deixei de sonhar com o beijo, nem de desejar


sentir a sua dureza na minha barriga como aconteceu anos
atrás.

Para o meu completo horror, venho o querendo


em todos esses anos. Ele é a pergunta do que poderia ter
sido. Logan é o meu “e se”, que não me permite seguir o
meu caminho como uma garota comum. Tive casos, tive o

Tadeu e fiz muito sexo bom, mas sempre me acompanhou


a sensação do que poderia ter sido se a vida não fosse
uma cretina.
Não foi nada parecido com amor à primeira
vista, ou uma paixão fulminante e cega. Não sou doida e
nem doente a esse ponto. Logan é uma coceira que não

posso coçar. Uma promessa que não se cumpriu. Uma


doença que muito provavelmente só exista da minha parte,
porque agora ele deve estar rindo da brincadeira idiota que
fez, porque é óbvio que Logan Ramirez de Castro jamais

desejaria algo tão errado. Ele demonstrou uma mágoa


muito grande da ex-mulher, para pensar na hipótese de se
envolver com a irmã dela.

Além do mais, deve ter uma fila de mulheres na


sua porta, doidas para abaixarem as suas calcinhas, assim
como eu estou com vontade de fazer nesse momento, só
por ter ouvido a sua voz grossa sugerindo algo relacionado

a sexo.

Por que eu estou pirando tanto?

Será que era algum tipo de fetiche ser chamada

de prostituta, ser tratada como uma?


Sem saber ao certo em que momento os meus
pés me levam para a cama, considerando toda a confusão

entre pensamentos e desejos, depois de ter admitido para


mim mesma tudo o que consegui impedir em todos esses
anos, tento dormir, mas é em vão.

Se ao menos o Tadeu estivesse aqui...

Mas, ele não está, e isso significa que não terei


quem me alivie depois de uma noite cujo sonho consiste
em um ruivo fazendo mais do que me beijar em um quarto
de hotel. Estar longe do Tadeu significa ter que lutar

sozinha contra palavras sussurradas nos meus ouvidos, e


insinuações que coloquem a nós dois e sexo na mesma
frase.

Eu poderia acabar com o tormento pegando a


minha mala e indo embora, mas não vou fazer nada disso.
Não vou fugir como uma garota assustada sem ter o que
quero. Não sem antes ter uma resposta mais convincente

para mim e, sobretudo, para a dona Carla. Ele vai ter que
lidar com o fato de que posso dar o troco na mesma
moeda.

Eu sei que Logan me provoca sem ter a menor


intenção de fazer algo a respeito, porque ele nem ao
menos me deseja. Mas, nada me impede de dar o troco, de

fazê-lo arder de vontade de me tocar, sabendo que jamais


poderá fazer isso. Será uma prova para mim também, pois

só eu sei o quanto será difícil, mas duvido muito que algum

de nós dois vá esquecer o porquê de ser impossível


sucumbir o mínimo que seja.

Será apenas por uma semana, mas a tornarei

tão difícil para Logan quanto ele parece disposto a torná-la


para mim. No fim, quando eu tiver certeza de que Isabella

está bem, de que é essa mãe egoísta que aparenta, partirei


com o carinho da minha sobrinha, mas também livre da

presença do Logan da minha vida e da minha mente.

— Eu o odeio! — esbravejo, socando o


travesseiro sobre a minha perna.
Logan me faz sentir suja, inadequada, culpada e

errada. Ele desperta o pior em mim, e não consigo deixar


de pensar que deve estar muito satisfeito agora, sabendo

que me deixou nesse estado, que tudo o que planejou para

me colocar para correr está saindo como deseja.


Impetuosa demais para o meu próprio bem, saio do quarto

batendo os pés, sem ter como saber se estou mais furiosa


com ele ou comigo mesma.

Eu o encontro na sala, perto da janela tomando

o que parece ser vinho tinto. Ele me olha de soslaio, para


em seguida voltar a sua atenção para seja lá o que o

prenda do lado de fora. Provavelmente só está querendo

me ignorar. Sem aceitar o fato, encurto a nossa distância,


pego o copo de sua mão e tomo um enorme gole da

bebida, que me faz tossir como uma condenada.

Sofisticada demais para o meu paladar.

Sem fazer qualquer movimento para me ajudar,

além de segurar o riso, o ruivo pega o copo da minha mão


e toma o restinho que sobrou. Depois deposita a taça no
vão da janela.

Logan finalmente volta para me encarar. Eu o

encaro de volta, me pergunto como foi que essa noite


desandou tanto. Estava tudo bem quando pensei em fazer

um jantar. Nós dois comemos como duas pessoas

civilizadas. Agora isso, que não sei nem por onde começar
a definir.

— Por que você está aqui, me olhando desse


jeito? Será que pensou na minha proposta? — Por um

breve segundo, cheguei a pensar que eu estava

supervalorizando uma frase que poderia ser interpretada


de outra maneira, mas aqui está ele, falando da mesma

forma. Tentando fazer com que eu atravesse um limite que


depois não poderei voltar atrás.

— Você está querendo que eu transe com você

para me deixar ficar na sua casa, ou disse só para me


atormentar? — indago, pronta para mais um gole de uma

bebida bem forte.

— O que você acha? — ele devolve, não parece


nem 2% descontrolado quanto eu estou, o que me faz

querer esbofetear a sua cara lisa.

— Acho que você não quer isso. Que não me

deseja como amante, que nem gosta de mim. Fala essas

coisas para me tirar do sério, porque não tem coragem de


enfrentar a sua mamãe e me colocar para fora da sua casa

e, da sua vida, à pontapés, então quer encontrar uma

forma de me fazer querer sair correndo como uma


garotinha assustada.

— Você nunca falou tanta besteira em uma

única frase. E olha que de falar bobagem entende bem —


afirma, tão tranquilo que tem as duas mãos escondidas nos

bolsos da calça. — Acredite, se você fosse um incômodo


tão grande, não estaria aqui me fazendo te ouvir.
— Você não quer que eu vá embora? — A
minha voz está irreconhecível nessa frase. Basta Logan

abrir a boca para eu me tornar uma boba sensível.

— Quero, mas quero que saia por conta própria,


não por medo, ou raiva de mim — assevera, não sei se

está sendo sincero.

Prefiro acreditar que tenta me enganar, porque


só sobra mais uma opção...

— Então, estava falando sério quando insinuou

que eu poderia transar com você para... para... — até as


palavras estão fugindo da minha boca.

Eu não sou assim, essa menina boba, confusa e


insegura. É ele quem está fazendo isso comigo. Sempre

ele.

— O que você acha? — Dá um passo à frente,


mais uma vez nos deixando a um centímetro de distância,

porque parece que ele não conhece outra forma de se


comunicar, que não seja estando praticamente em cima de

mim.

— Acho que se você quis dizer o que disse,


também supôs que eu posso me prostituir, e embora seja

uma profissão digna, porque cada um faz o que quiser com


o seu corpo, não trabalho no ramo. Ainda — completo.

— Ainda? — indaga. De repente, o sorriso de

Dick Vigarista dá lugar para a máscara de quem chupou


limão.

— Como eu disse, cada um faz o que quiser

com o corpo. Inclusive eu. Posso querer dar de graça para


qualquer um, assim como posso dar em troca de algumas

notas...

— Não seja vulgar.

— ... e você não teria nada com isso.

— Você fala demais — diz.


— E não posso nem dizer que foi o vinho. Foi só
um golinho. — Na verdade, o gole foi grande o suficiente

para deixar a minha cabeça rodando como o pião do Baú

da Felicidade. — E mesmo se fosse o caso, eu não


transaria com você nem por 1 bilhão... não, também não

vou garantir que 1 bilhão não me compraria. Por esse tanto


de dinheiro eu dormiria até do lado do capeta.

— Eu não posso acreditar que você está assim

com um gole de vinho, menina.

— Você está igual o meme...

— Meme? — Tenho o meu raciocínio


interrompido, mas, como diria a minha mãe, não perco o fio

da meada.

— Você tem quantos anos, setenta? Eu só


acredito vendo. Eu vendo — faço uma expressão de

surpresa ao arregalar os olhos e cobrir a boca com a mão

—, não acredito! — concluo com uma risada, ele, com os


seus mais de setenta anos, não entende a piada, e

permanece sério.

— Você deveria estar na cama — avisa, meio

passo mais perto de mim. Pelo canto do olho, percebo que


Logan ia levantar a mão para tocar no meu braço, mas

desistiu antes.

— Na sua cama, para pagar pela minha estadia


nesse 5 estrelas, ou na minha, dormindo como um anjinho?

— provoco.

— Só se você quiser muito pagar. Talvez eu

também esteja disposto a fazer esse sacrifício — sussurra,

bem pertinho do meu ouvido. O meu corpo ganha vida,

então começo a não achar mais a brincadeira tão divertida.


Não que em algum momento tenha sido. É tudo obra do

gole de vinho.

— Por que você é assim? — pergunto, porque

não pensei em nada melhor para dizer. Os sons altos do


meu coração acelerado não me deixam pensar.

— Assim como? Um homem que precisa pagar

para ter sexo? Pior, para fazer sexo com a cunhada?

— Você não é meu cunhado.

— Sempre serei — assevera.

— Acho que você é muito cruel, Logan ruivo.

— E por que chegou a essa conclusão tão


acertada? Será que foi pela forma maravilhosa como foi

recebida na minha residência?

— Uma excelente recepção. Não tenho do que

reclamar — digo com ironia.

— Então me diga, por que está dizendo que sou

cruel? Você ao menos sabe o significado de crueldade? —

Ele nem me deixa abrir a boca antes de prosseguir. —

Acredite, Mirella Maris, eu não ajo com crueldade, pelo


contrário, estou sendo muito benevolente, sendo você

quem é — dá o meio passo que faltava, a nossa distância é


de uma respiração, ou seja, estamos juntos a ponto de
compartilharmos o mesmo ar.

— Poderia fazer uma lista, mas vou focar no

fato de você ficar falando de sexo entre a gente. Ainda por

cima, sexo pago. Provoca com um assunto que nem

deveria ser pensado, muito menos discutido entre a gente

de tão errado que é. E você nem mesmo me deseja.

— De todo esse discurso, o que mais te

incomoda é o fato de eu falar da boca para fora, não é?

Não te desejar como mulher — diz, a voz assumindo um


tom de rouquidão.

— Eu não... você é... — ele acaba de roubar o

chão debaixo dos meus pés. — Não é verdade. Você está

completamente equivocado.

— Você não sabe nada dos meus desejos,

garota. Sugiro que vá dormir, antes que eu te mostre


exatamente como me sinto. Você não quer fazer nada que

vá se arrepender amanhã.

— Então, quer dizer que você...

— Saia da minha frente, Mirella!

Como uma garota obediente, eu vou. Meu

coração está apertado, meus olhos ardendo. Eu não


deveria ter saído do quarto. Não ter falado o que falei. Não

ter ouvido o que ouvi. Não ter entendido o que entendi

antes de deixá-lo.

Quando enfim durmo, depois de horas virando

de um lado para o outro na cama, rogo para todos os

Santos para que ele esteja alegrinho o suficiente para não

lembrar dessa conversa, sobretudo, rogo para que eu

mesma não lembre que Logan não é imune a mim.


Ressaca

Logan
Há quanto tempo que não venho nesse hotel?

Cinco anos? Desde o dia em que a minha vida tomou um

rumo diferente do que eu havia planejado?

É engraçado como os anos fazem diferença.


Aqui, que sempre foi tão movimentado e bem frequentado,

não tem ninguém. É estranho como nem mesmo a

recepcionista está no lugar em que deveria, um bom sinal

para mim, assim posso subir para o quarto sem ser

incomodado por ninguém. Não sei o que deu em mim para

tomar tal decisão, depois de ter feito questão de não

passar nem perto desse lugar.

Não olho muito para o salão que um dia foi

palco de um circo. Subo as escadas de dois em dois


degraus, sabendo exatamente qual será o destino. Porque

eu tinha que vir até aqui, lembrar os motivos de ter cada

detalhe daquela cena gravada na minha memória, mesmo

depois de cinco anos.

No corredor, é como se estivesse vendo-a se

agarrando com o garoto. Ela era uma menina ainda, não

mais do que dezoito anos, mas na época não prestei

atenção nesse fato. Os meus punhos se fecham com a

cena, a raiva é causada pelo ciúme, totalmente diferente de

quando só queria entrar no quarto para afrouxar o nó da

gravata e me deparei com um casal de adolescentes sem


noção.

Assim como aparecem, eles desaparecem como


fumaça no ar, então sigo em frente e abro a porta com o

cartão magnético. Dessa vez não tem Mirella me seguindo


e falando como um disco arranhado.

Na verdade, ela está me esperando dentro do

quarto sentada na cama. Nua da cabeça aos pés, a garota


cobre as partes mais interessantes do corpo com um
violão. Ela está mudada, não é mais como eu me

lembrava. Do passado, restou apenas as mechas rosas e


azuis na parte de dentro do cabelo.

Hipnotizado pela imagem dela com as pernas

cruzadas, dedilhando as cordas do instrumento, me sento


na poltrona que fica na frente da cama, a alguns metros de

distância. Não longe demais para me fazer perder alguns


detalhes da visão maravilhosa. Uma mulher nua e um

violão, nada pode superar isso.

Olhando-me quase sem piscar, como se


quisesse garantir que tem toda a minha atenção, Mirella

começa a tocar uma música, que junto com a sua voz


maravilhosa, se torna sensual. Não consigo prestar

atenção na letra, apenas na voz e nos dedos que tocam o


violão, como eu queria que tocassem o meu corpo.

Na verdade, eu sinto como se Mirella estivesse


fazendo exatamente isso. O seu canto invade o meu corpo,
o seu talento com o instrumento musical me faz querer
passar o resto da minha vida aqui com ela, sentindo a

minha alma ser despida. Com a sua música nos

aproximando como nada mais seria capaz de fazer.


Fazendo-me desejá-la como nunca desejei outra pessoa.

É mais do que pele. É um querer que me faz

não desejar somente o seu corpo, mas a sua alma


desnudada para os meus olhos.

— Continue — sussurro quando termina a


primeira canção. — Não pare nunca.

Mirella continua, mas tira a atenção do meu


rosto para o meu colo. Como não poderia deixar de ser,
estou completamente excitado. Duro de desejo por toda

ela. Pelo seu corpo, por sua voz, e por sua música.

— Continue a cantar, Mirella — digo para mim


mesmo, porque ela não havia parado. — Cante para mim.
— Levanto-me da cadeira e me aproximo da cama. A
mesma cama, com os mesmos cobertores de anos atrás. A
mesma atmosfera, que é pura eletricidade entre os nossos
corpos.

Na sua frente, coloco a mão em cima da sua,


impedindo-a de continuar a tocar, embora sinalize para que

me deixe continuar ouvindo o seu canto de sereia. Mirella é


como uma sereia que está me levando com os seus
encantos para o fundo do mar, onde é a sua casa.

Sem deixar de olhar os seus lábios se movendo,


começo a tirar a minha roupa, e não paro até ficar tão

pelado quanto ela está. E por mais que queira continuar,


sinto sua voz falhando quando desce o olhar e,
literalmente, vê o tamanho do meu desejo por ela.

Sem dizer uma palavra, afasta as pernas o


suficiente para me colocar entre elas. Hipnotizado com os
lábios rosados e carnudos, fito a sua boca. Com as pontas
dos dedos, toco a parte que mais me tenta do seu corpo

nesse momento. Ela está molhada para mim,


definitivamente pronta para me receber. Quando começo
de fato a foder a sua boceta com os dedos, Mirella erra a

letra da música. Esquece em que parte estava e precisa


recomeçar.

Quando deito o seu corpo de costas na cama,

me colocando entre as pernas macias, a sua música se


torna gemidos, que são tão encantadores quanto as notas
musicais.

Cheio de tesão, e sentindo o calor do corpo da


única mulher que me fez desejá-la a ponto de perder o

controle, entendo a necessidade que tinha de voltar a esse


lugar. Eu precisava vê-la só mais uma vez. Amar cada
parte dela e tomar todos os seus beijos para mim.

O gosto do beijo é o mesmo, o prazer de estar


com o corpo em cima do seu é inédito, assim como o olhar
quente que me implora para torná-la minha, de todas as
formas que possam existir.
— Eu vou transar com você agora, Mirella —
falo no seu ouvido, como uma promessa. Os nossos sexos

estão em contato direto, a cabeça do meu pau indo e vindo


na sua abertura quente e escorregadia.

— Eu quero muito dar para você, cunhado. Mas,

tem que me prometer que vai me deixar ficar. Porque só


assim para você conseguir me levar para a cama. Sei que

está louco por mim, mas não sinto o mesmo. Vai meter na

minha boceta como sempre quis, mas fará sabendo que


faço isso por puro interesse, que nunca vou desejar o

marido da minha própria irmã. Pode me comer agora,

Logan.

Pode me comer agora, Logan...

Ela me deixou em choque com sua confissão,

mas não o suficiente para me fazer desistir. Por interesse


ou não, a garota está na minha cama, nua debaixo de mim.

Quando meto na sua boceta apertada, tudo deixa de existir.


— Porra, Mirella... está acabando comigo. Eu

não vou mais conseguir ficar longe de você.

— Aproveita, cunhado, pois essa será a primeira


e última vez — afirma, parece que até a voz doce mudou,

mas não deixa de envolver as pernas na minha cintura,


fazendo-me ir o mais profundo que consigo. Eu fico dentro

dela até não poder ir mais fundo.

— Gostosa. Você é um tesão, Mirella...

Você é um tesão...

O som do meu delírio febril se mistura com o

irritante de um alarme. Tento ignorar e continuar com a


nossa transa, mas só consigo por um tempo. Só até o som

se tornar mais alto do que o dos nossos corpos colidindo e


os gemidos que escapam de nós dois.

— Merda! Merda! Merda!

Sento-me assustado, suado, ofegante e


dolorosamente excitado. Pego o alarme e o jogo contra a
parede. Sempre lembro de desativá-lo nos dias em que
não tenho que ir para a empresa, mas ontem estava

afetado demais para que pudesse fazer isso. O dia nem


amanheceu ainda, mas está claro que paz, será um item

de luxo neste domingo.

Talvez Noah tenha razão. Estou mesmo

precisando transar com alguém. Quando foi a última vez


que estive com uma mulher?

Uma semana?

Um mês?

Só mesmo a falta de sexo justifica o estado em

que estou depois de ter tido um sonho erótico, que durou a


noite toda, com a garota. Sexo e música, tudo porque fiquei

realmente impressionado com o seu talento na única

oportunidade que tive de ouvi-la cantando e tocando.

Joguei com ela quando voltou para discutir a

minha frase, que insinuava que poderíamos trepar como


forma de retribuição da sua parte. O problema é que caí no

meu próprio jogo. Nunca cheguei a pensar que ela seria


capaz de transar comigo por interesse, por isso sugeri. Fiz

porque imaginei que Mirella não fosse deixar por baixo.

Como previ, Mirella voltou para me enfrentar.


Tomou um grande gole de vinho e ficou com a língua

ridiculamente solta. Disse tudo o que eu queria ouvir, além

de ter deixado ainda mais claro a atração que sente por


mim. Mas, também ouvi o que não queria, porque Mimi é

mais sensata do que eu nesse ponto, e deixou bem claro

que nunca vai acontecer nada entre a gente. Eu deveria ter


ficado feliz com isso, não deveria?

A irmã dela foi um erro na minha vida. Sentir


qualquer coisa pela sua versão mais jovem, seria como

errar ao quadrado. Um erro consciente. Abraçar o capeta e

tomar champanhe com ele.

Da loucura que foi a noite passada, nada foi

mais grave do que tê-la deixado saber que me sinto tão


atraído, quanto se sente por mim. Eu dei poder nas mãos
de uma garota volúvel como Mirella. Está tudo

acontecendo rápido demais, porque com a mesma rapidez

que decidi jogar com ela, estou percebendo que não é mais
só um jogo para a afugentar. A garota é teimosa demais

para recuar, assim como sou o suficiente para não fugir da


tentação que sempre foi para mim, mesmo nos anos em

que vivia apenas na minha lembrança.

Mirella Maris, a única mulher que eu não deveria


sequer olhar, tem rapidamente se tornado o meu Calcanhar

de Aquiles. Ela vai ficar, e eu corro o risco de acrescentar

na minha lista mais um item de coisas que fiz e me


arrependi.

Recusando-me a me masturbar em homenagem

a ela, entro no banheiro e fico por vários minutos pensando


em coisas desagradáveis até meu pau amolecer. Depois

tomo um banho, visto tênis e roupas de corrida. Saio de


casa antes do sol nascer, e corro pelo bairro até que a
minha mente fique limpa. Até que o cansaço traga de volta

o controle que tenho perdido tão facilmente.

Antes de voltar, vou até o hipermercado que fica


perto de casa. Compro pães doces e salgados, pois não

sei do que ela gosta. Deveria deixá-la se preocupar com o


próprio café da manhã, mas prefiro levantar a bandeira

branca, porque hoje é domingo, não tenho a minha Emmy

para dedicar a minha atenção, e prefiro ter um pouco de


paz.

O sonho dura pouco, pois quando chego a casa,

dou de cara com a gost... com a garota. Mirella não faz de


propósito, já que não me viu chegando. Ela é a visão

perfeita de uma atriz pornô no início dos filmes para


adultos.

Eu sou o cara que chega a casa com o café da

manhã. Podem ser apenas pães, ou talvez venha com um


pau bem grosso, grande e duro, se a gente ainda estiver se
referindo aos filmes. Ela é a gostosa que está com a bunda
para cima, coberta por um short minúsculo.

Ela está procurando algo na parte de baixo do

armário. Para ser o início de um o pornô, bastava que


estivesse somente de sutiã na parte superior do corpo.

Pigarreio para chamar a sua atenção. Mirella se assusta,

grita e me faz deixar o saco com pães cair no chão.

Será agora que começa a cena em que a pego

nos braços, coloco em cima da pia e transo com ela até


fazermos as paredes balançarem? Se for, devo admitir que

estou mais do que pronto.


Refeição

Mirella
Sabe aquelas histórias de filmes e novelas que

sempre têm uma notícia boa e uma ruim? Então, eu

também tenho. Ou, pelo menos, inventei que tenho para

mim mesma, porque a vida sendo como ela é, me obrigou

a isso. Eu poderia dizer que a vida é a madrasta má da


Cinderela. Não diria que sou a Gata Borralheira, porque

seria preciso um príncipe, e todos os homens que

passaram pela minha vida estão mais para sapos.

Bom, a má notícia é que eu não acordei com

amnésia, depois de um gole ridículo de vinho. Tudo bem

que estou acostumada a beber, mas aquela coisa era muito

forte para o meu paladar. Ainda me lembro da conversa, da

tensão, do tesão...
Porra, Mirella! Você só pode ainda estar

bêbada. Não pode e não vai desejar o Logan. Não importa

quantos anos têm que a sua irmã não coloca os pés dentro

desta casa, ele sempre será seu cunhado. Além do mais, o

homem deve ter uma namorada, porque o fato de desejá-la

não significa nada, não para homens de modo geral.

A boa notícia é que saí do quarto e não o

encontrei em canto nenhum. O silêncio e a paz me

recebem, e eu até me animo para preparar o café da

manhã. Hoje é domingo e, obviamente, o incrível Logan

Ramirez de Castro tinha o compromisso. Incomoda-me


pensar que pode ser com uma namorada, e vai ficar o dia

todo fora de casa.

O bom de cozinhar é que a atividade acaba

distraindo os meus pensamentos e, eu foco apenas na


missão. Fico feliz de ele ser quem é, porque significa que

na sua cozinha tem tudo o que preciso para bater um bolo.


Desde utensílios e mantimentos, a cozinha de Logan faria
inveja a da Ana Maria Braga.

Quando estou de costas em busca de uma

espátula, ouço um pigarro e, em questão de segundos,


imagino um monte de merda. Um assalto? Provavelmente,

já que essa casa é a mais bonita do bairro e todo mundo


sabe que pertence a um Ramirez de Castro. Um tarado?

Meu sangue gela, porque, assim como na primeira opção,


algumas pessoas devem saber que tem uma grande

gostosa hospedada com o ruivo e sua filha.

O meu coração está igual a bateria da escola de


samba da Mangueira, minhas entranhas estão se virando,

o nervosismo me deixando com vontade de fazer o número


2. Quem nunca?

Mas, eu sou guerreira, então me viro de frente


para ver um saco de pão caindo no chão.
Respiro aliviada, o problema é que havia uma
terceira hipótese, que só não consegue ser pior do que as

duas primeiras. Logan está na minha frente, olhando-me

lentamente da cabeça aos pés. Com o rosto úmido de suor,


e a frente da camisa regata toda molhada, ele exala
testosterona. Sinto-me tão atingida, que preciso me apoiar
no balcão para segurar a emoção.

Todas as reações de antes continuam, mas os


motivos são completamente diferentes. Esse homem me
excita de uma forma que não posso controlar. Não sei se é

a sua arrogância, o poder que exala pelos poros, a beleza


ou o fato de ser proibido para mim, mas Logan só precisa
respirar para me deixar subindo pelas paredes. Em plena
8h de um domingo. Já consigo até me ver na fila para

entrar no andar de baixo.

Mas é só hoje. Esse dia vai passar e tudo vai


ficar bem, penso comigo mesma. Amanhã não nos
encontraremos. Os nossos horários são muito diferentes,
mas espero que não afete o tempo que terei com a Emmy,
porque apesar do que está acontecendo aqui, estou muito
feliz por poder conhecer melhor e conviver com a minha

sobrinha.

— Vai ficar o dia todo me olhando, Mirella? —

Logan quebra o silêncio com o seu tom de voz gentil,


quando se abaixa e pega o saco de pães. Ele é grande o
suficiente para me fazer acreditar que mais vinte pessoas
virão fazer o desjejum nesta casa.

— Você também estava!

Por que me comporto como uma adolescente na


frente dele? Tenho que pesquisar no Google.

— Sim, eu estava me perguntando por que você

saiu do quarto sem se vestir. — Logan está encostando no


meu braço, e a cozinha não é pequena a esse ponto.

— Como assim? Eu estou usando um short.


Você está cego? — Só para comprovar, olho para o meu
corpo, vai que eu saí mesmo só de calcinha. Seria
perfeitamente capaz no meio dessa maluquice em que me

meti.

— Eu enxergo perfeitamente bem, inclusive, não


estou nem mesmo reclamando. Você pode e deve

continuar usando esse tipo de roupa. Está bonita. Eu diria


gostosa, mas não sei se é apropriado — sussurra, tirando
sarro de mim. — É a primeira vez que não atenta contra o
bom gosto. Parabéns, estou orgulhoso — provoca.

Quando o ruivo despeja os pães em uma

travessa, vejo que ele fez questão de comprar de vários


tamanhos, formas e sabores. O gesto me deixa confusa,
porque me fez perguntar, e até mesmo desejar, que tenha
agido dessa forma para me agradar.

— Que bom que as minhas roupas te agradam,


Logan! Você acredita que eu não tinha nem conseguido
dormir de tanta preocupação se você aprova, ou não a
forma como me visto? Se quiser, pode até me ajudar a
escolher, o que acha?

— Quer que eu te ajude no banho? — Passa


por trás e fala no meu ouvido. Meu corpo fica tenso, nos
olhamos por alguns segundos.

— Não. Eu sei tomar banho sozinha — a forma


como falo quebra o nosso olhar e o clima, que estava

começando a aquecer, apesar do tom de provocação entre

a gente.

Logan e eu estávamos flertando?

Como foi que as coisas mudaram tanto de um

dia para o outro? A minha interação com ele vai de um


extremo a outro. Os meus sentimentos são como um rolo

compressor que, se eu não fizer nada para impedir,

passará por cima de mim com tudo.

— Eu trouxe isso de vários tipos, doces e

salgados, porque não sabia de qual você gostava — ele


fala apontando para os pães.

— Obrigada. — Agradeço, confirmando a minha

suspeita. A sua gentileza, quando não mereço, mexe mais


comigo do que o seu peitoral forte, colado na camisa

molhada de suor.

Tudo bem, talvez eu esteja exagerando. Nada

pode superar esse peitoral e braços fortes, esculpidos

pelos deuses da malhação.

— Fiz café — aviso, pela primeira vez na vida,

me questionando se aprendi do jeito certo. Se não coloquei

sal ao invés de açúcar. — O bolo vai para o forno agora,


mas pensei em confeitá-lo com chantili para quando a

pequena chegar. Se você permitir, é claro.

— Ela vai adorar — diz, e toma o café. O fato de

não ter cuspido já é um bom sinal.

— Quando ela volta?

— Hoje, mais para o final da tarde.


— Que bom. Assim terei um pouco de tempo
para brincar com ela. A partir de amanhã o meu dia será

mais corrido — explico, Logan parece interessado,


enquanto prova a rosquinha de padaria que deixa a minha

boca cheia d’água pelo doce e pelos lábios.

Mirella...

— Qual o plano? — ele indaga. É um avanço,


considerando que horas atrás disse que não se importa

com o que faço ou deixo de fazer.

— Não sei ao certo, porque vai depender do que


a sua mãe conseguir para mim. Mas, pretendo frequentar

as aulas na parte da manhã e cantar em alguns bares, e


restaurantes à noite. Penso em procurar um emprego de

meio período, mas só depois que eu conseguir um lugar

para ficar. Na primeira semana, vou me empenhar em jogar


toda a minha simpatia para as colegas de classe. Tenho

certeza de que conquistarei uma que está desesperada o


suficiente para querer dividir o aluguel comigo — afirmo.
— Não precisa se apressar — fala, rápido

demais.

— Preciso, sim. Você não tem que ser gentil


comigo — assevero, sem entender o que está havendo

com Logan. Ele não me quer na sua casa e já falou isso


algumas vezes.

— Não estou sendo — afirma, coloca a xícara

sobre o balcão e deixa a cozinha.

Foi algo que eu disse?

Penso em sair atrás dele para perguntar o que

aconteceu, mas os pães que me trouxe parecem mais


interessantes. Além do mais, Logan sempre me deixa

falando sozinha, e ficar indo sempre atrás está ficando

cansativo.
Depois de tomar café, faço uma arrumação
rápida na bagunça que fiz na cozinha, passo pela sala e

Logan está sentado digitando no celular. Tem um sorriso no


rosto, que pode ser por causa da filha, um amigo, ou uma

mulher. Ele nem percebe a minha presença, então vou

para o meu quarto, decidida a cuidar da minha vida, que


não se resume ao ruivo complicado.

Deixo tudo pronto para o primeiro dia na

faculdade, no meio da manhã recebo a ligação da senhora


Ramirez, me avisando que falou com dois amigos. Um

restaurante para tocar e cantar música MPB de segunda a


sexta. Um bar para os fins de semana.
Esse é mais complexo, pois, pelo pouco que ela

sabe, se trata de uma banda sem voz feminina. Combino


com ela de ir falar com os proprietários amanhã mesmo,

pois não vou perder a chance que estou conseguindo.

Quando chega a hora do almoço, saio para


perguntar ao Logan se ele vai pedir algo, ou se quer que eu

faça comida para nós dois. Não o encontro em canto algum

e, dessa vez, ele não volta com sacolas de comidas, como


fez na parte da manhã. Sozinha, decido cuidar de mim

mesma para parecer decente na universidade e com os

figurões que irão me dar um emprego. Passo a gilete nas


minhas pernas, checo se está tudo bem nos países baixos,

depois hidrato e seco o meu cabelo.

O bom de estar sozinha é que faço tudo com o

fone nos ouvidos, deixando tocar as músicas que talvez

façam parte do meu repertório, se eu puder escolher.

Por volta das 17h, quando já não tenho nada

para fazer, saio para o jardim e me sento na cadeira de


balanço que fica na parte esquerda e coberta ao lado da
piscina. Ainda ouvindo música, penso no Tadeu e em como

ele ficará feliz quando souber o que está acontecendo na

minha vida. Ele não vai acreditar quando eu disser que deu
tudo certo na universidade e que, provavelmente, vou

começar a viver da minha música antes do que


imaginávamos.

Eu sabia que uma hora ou outra iria começar a

sentir falta dele, só não imaginei que seria tão rápido.


Foram apenas dois dias longe, mas parece mais. Sinto

falta de alguém com quem conversar. Uma pessoa que me

entenda, pois me conhece tão bem quanto a si mesma.

— Mimi! Fiquei feliz quando papai disse que

você não tinha ido embola. Ele disse que você vai ficar uns

dias com a gente. É verdade? — Emmy quase me mata do

coração quando vem correndo, falando e me abraçando,


tudo ao mesmo tempo.
— É verdade, mas é só por uns dias. Depois eu

vou para a minha casa — explico, abraçando apertado o

seu corpinho cheiroso.

— Vai ser perto daqui? — ela pergunta.

— Acho que sim.

— Que legal. Então o Lolo vai me levar para te

visitar. Diz para ela, pai.

— Eu vou te levar, filha. Lembra do que a gente

conversou?

— Ele disse que você é minha amiga, que os


amigos sempre visitam a casa do outro. Igual quando

durmo na casa da Brenda. Estou feliz.

Eu olho para o homem parado à minha frente


sem saber como reagir. Não esperava que ele fosse agir

dessa forma. Pensei que quisesse me ver pelas costas o

mais rápido possível.


O que mudou? Porque prometer para a filha que

manteremos contato, é o oposto de me querer longe das

suas vistas. Talvez não seja o babaca que finge ser. Ou

talvez ame a filha demais e faça tudo por ela, até mesmo

me tolerar.

— Também estou feliz, meu amor.

— Mimi, papai me ensinou a chamar a mamãe

das coleguinhas de tia, mas eu não quelo te chamar de tia,


gosto de Mimi — informa. — Tia palece velha como a

minha professora. Você é jovem como uma princesa. Como

a Branca de Neve.

Surpresos, Logan e eu nos olhamos. A menina,

antes mesmo de saber a verdade, já está rejeitando o meu

papel na sua vida.

— Pode me chamar do jeito que você quiser. —

Abraço, ela aperta o meu pescoço com seus braços curtos.

— Quer brincar de boneca comigo, Mimi?


— É claro, querida. Eu estava aqui só
esperando você chegar. — Levanto-me com ela nos

braços, a coloco no chão e, de mãos dadas, andamos na

direção da casa.

Logan fica sem dizer nada. Enquanto caminho,

sinto seu olhar me queimando. Durante as horas que fiquei

sozinha, não pensei nele. Agora que a pequena está em


casa, toda a minha atenção será dela. São fatos que me

deixam esperançosa de que a loucura de ontem à noite e

hoje pela manhã foi momentânea, que a partir de amanhã

não terei tempo, nem energia para pensar e nem desejar o

que nunca será meu.

Quando deito a minha cabeça no travesseiro,

depois de ter brincado com a ruivinha até que ela se

cansasse, sinto que tanto eu quanto o Logan, que deve ter


passado a tarde fora para ficar longe de mim, recuamos em

seja lá o que estávamos fazendo.


Vai ficar tudo como era antes, e quando eu

menos esperar, já estarei longe da casa e, do homem que

me torna uma pessoa fraca e desleal.


Terapia

Logan

Um mês depois...
Eu não sei bem o que senti quando vi a mulher
com quem tinha acabado de me casar e o meu amigo se

beijando, quando entendi que não era o primeiro beijo.

Não, eles eram amantes há anos.

Faz tempo, mas o que mais causou ódio em

mim foi o sentimento de humilhação. Senti-me diminuído

quando pensava que tinha o mundo aos meus pés. Na

hora não pensei que estava perdendo a mulher que

acreditava amar, nem o amigo que eu considerava como


um irmão.
Eu a peguei pelo braço, falei que ela deveria

colocar o sorriso mais falso no rosto e, continuar a atuar

para todos os convidados que não sabiam a vagabunda

que Isabella Ramirez de Castro era. Também exigi que

Eduardo ficasse do meu lado, como um ótimo amigo e

padrinho de casamento.

Ele também obedeceu, afinal, eu tinha a sua

vida em minhas mãos. E apesar de ter esquecido, tudo o

que ele havia conquistado tinha sido graças a minha

amizade. Eduardo era bom no que fazia, mas muitos outros

eram, e nem por isso se tornaram tão influentes como ele


era dentro da R de Castro Publicidade.

Foi um show de horrores para ninguém botar


defeito. Um show tão bem ensaiado que apenas os atores

principais sabiam a verdade por trás do sorriso. A minha


atuação foi maior, porque apesar do que tinha acabado de

acontecer, eu não deixava de olhar pelo enorme salão em


busca da garota do beijo.
No fim, eu também traí. O arrependimento veio
em seguida, mas depois do que vi, desejei ter feito mais. A

estranha do corredor era irritante, mas era linda e me fez


desejá-la com fervor. Eu não voltei a vê-la, e, por um

tempo, cheguei a acreditar que não fosse mais pensar


nela.

Alguns dias passaram. Dentro de casa, Isabella

e eu falávamos apenas o básico. Eu não conseguia olhar


na sua cara, apesar de ela ter tentado algumas vezes se

aproximar para se explicar, embora não houvesse


explicações. Foram dias de sangue fervendo, da minha

cabeça dizendo que eu não podia deixar barato, mas tinha


que ter cuidado, pois havia uma criança envolvida. O bebê
que não havia nem nascido, era quem me causava uma

dor maior, do que a de ver que o meu mundo era uma


mentira.

Doía, pois apesar de não ter me dado conta, eu


queria a criança. Era o meu filho, mas já não tinha certeza
se era meu. A lua de mel foi adiada, eu dei a desculpa de
que o projeto novo exigia muito de mim, por isso não

poderia ficar longe por tantos dias. Houve críticas, mas não

me importei, afinal, ninguém sabia de nada. Mantivemos as


aparências, apesar de logo ter ficado evidente que o
casamento era um fracasso.

Foram meses de convivência hostil durante a


sua gravidez. Ela não desistia de querer falar comigo, eu
apenas virava as costas na maioria das vezes, porque não
queria colocar em risco a vida do bebê. Ela parecia não se

importar muito, já que só se animava com algo relacionado


a filha, quando estava na frente dos meus pais. A minha
mãe a levava para comprar coisas para o bebê e para ela
sempre que podia.

Eu saía todo final de semana com amigos,


transava com mulheres aleatórias, mas começava a
lembrar com mais frequência da garota do quarto. Não
sabia se a Isabella ainda estava com o Eduardo, e não me
importava muito, pois apesar da raiva e do orgulho ferido,
cheguei à conclusão de que a mulher me fazia bem, mas
nunca foi amor. Nem mesmo paixão. Eu amava mesmo era

a ideia que fazia dela. A imagem que ela criou para si


quando nos conhecemos.

Dentro da empresa, as coisas não foram tão


pacíficas com o meu querido ex-amigo. Não o demiti,
porque haveria questionamentos demais e, além disso, não
queria agir como um corno inconformado. A minha
vingança tinha que ser mais sutil.

Ele tinha que entender o erro que cometeu ao


jogar no lixo anos de amizade, de uma boa posição na
empresa por causa da boceta da Isabella. Ele percebeu
quando a sua voz passou a não ser mais ouvida como

antes dentro da agência. Quando os melhores projetos


foram passando para as mãos de outros criativos.

Eduardo sentia a água batendo na bunda, mas

não pedia demissão, assim como não tinha coragem de


olhar na minha cara, para dizer que não era nada do que
estava pensando, afinal, não estava pensando nada, eu

tinha visto. Foram meses que me fizeram compreender o


quanto eu poderia ser vingativo. Como me deliciava em vê-
los na posição em que estavam. Eram patéticos demais, os
tratava apenas como mereciam.

Eu me permitia curtir de maneira discreta a


minha solteirice, vivendo para a agência como sempre
tinha sido. Ansioso e apreensivo pelo nascimento da

criança que poderia ou não ser minha filha. Sabia que seria
até mais fácil se não fosse minha, mas não conseguia não
desejar que fosse. Eu via o bebê que estava para nascer
como alguém que poderia amar sem reservas.

Vez ou outra, enquanto andava de bar em bar,

olhava para os lados e me perguntava se a garota das


mechas e vestido amarelo poderia estar por perto. Mas ela
nunca estava, e a marca que as suas unhas deixaram no
meu rosto era a única prova de que ela era real. Estava em
algum lugar, fora da minha vida.

Quando Emmy finalmente nasceu, fizemos o


exame de DNA, eu não pude conter as lágrimas quando a
peguei nos braços sabendo que era minha filha, que o meu

sangue corria nas suas veias. Os seus cabelos eram ruivos


como os meus. Até o nascimento da minha filha eu não

sabia ao certo como agir para acabar de vez com a

situação que já durava meses entre mim, Isabella e


Eduardo, mas a sua vinda me fez enxergar o que não

fazer. O problema é que a melhor escolha pensando na

minha filha, era a pior para mim.

— Eu sei o quanto deve ser difícil para você,

Logan, mas sabe que é importante não guardar apenas


para si.

Eu sei bem o que o homem de cinquenta e

quatro anos, vestido todo de social, e olhando-me como se


detivesse todo o conhecimento do mundo, estava dizendo.
Ele repetia tais palavras até que eu me convencesse de

que, sim, é melhor para mim conversar com alguém,


mesmo que seja um médico terapeuta.

Como tudo que eu fiz desde o seu nascimento,

procurei ajuda profissional para deixar os meus fantasmas


sob controle pela minha menina, porque eu tinha medo da

raiva crescente dentro de mim. De alguma forma, queria

garantir que Emmy nunca conhecesse a minha outra face.


Nunca soubesse que nem sempre sou o pai amoroso, que

ela enxerga como um super-herói.

Faz anos que, pelo menos duas vezes por mês,

eu me sento na frente do Dr. Maldonado para falar e ouvir o

que ele acha que preciso. E por mais que tenha me


debatido contra a minha própria escolha no início, hoje

admito que a terapia me faz bem. Sem ela não sei se

saberia agir como o homem frio e controlado que as


pessoas à minha volta conhecem.
— Considera como guardar para mim o fato de
eu ter acabado de falar do passado pela centésima vez,

doutor? — indago, o encarando de volta, pois há muito


tempo deixei de me incomodar com a sensação de que

está querendo dissecar a minha alma quando me olha.

— Não seja cínico, Ramirez de Castro. Não me

refiro ao que você já falou, mas ao que esconde. Notei que


está diferente hoje, parece incomodado com alguma coisa.

O que aconteceu de tão diferente na sua vida, desde a


última vez que esteve aqui?

É claro que ele saberia. A consequência de

anos de terapia é ter uma pessoa que te conhece a ponto


de perceber mudanças de comportamento, mesmo que ela

seja sutil.

— Tem uma garota.

— É uma boa notícia, não é? Eu estou sempre

te dizendo que já está na hora de...


— Seguir em frente. Sim, eu ouço isso mais

vezes do que desejo. E, não, não é nada como está


pensando Maldonado. Essa garota, ela é... — pondero

sobre como dizer, porque é difícil explicar a Mirella na

minha vida.

— Quer um copo com água? — pergunta com o

cenho franzido. Em todo esse tempo, ele nunca me fez

perder a fala dessa forma.

— Não, obrigado.

— Estávamos falando da tal garota misteriosa.

Não sei de quem se trata, mas está claro que ela mexe
com você. Percebe isso?

Mais do que eu gostaria, penso comigo mesmo.

Esse é o grande problema, eu percebo até demais o


quanto ela é capaz de mexer comigo, tanto para causar

irritação, quanto para me fazer sentir desejo carnal.


— A tal garota é Mirella, irmã da Isabella. Minha
cunhada, se assim o senhor preferir — digo, e consigo

surpreendê-lo. — Ela apareceu na minha casa em uma

noite chuvosa, dizendo que precisava ficar só por uns dias,


mas já está conosco há um mês.

— E a presença dela é tão desagradável assim?

É a sua cunhada, afinal de contas. Tia da sua filha.

— Ela é completamente maluca. Notei desde o

primeiro momento. Mas a pequena a adora — revelo.

Aconteceu basicamente tudo o que não deveria


acontecer. Mirella e Emmy não precisaram nem de uma

semana completa para se tornarem inseparáveis. Um mês


depois, elas estão unidas em um nível de vestir roupas

combinando, algo que qualquer pessoa acharia fofo, se

não estivéssemos falando das roupas da Mirella.

Por causa dela, minha filha constantemente se

parece com um bolo de aniversário. As pessoas olham por


mais tempo do que deveriam, e eu tenho certeza de que

elas pensam que estão arrasando. A Emmy tudo bem,


porque é uma criança, mas a Mirella?

Pergunto-me se ela não tem qualquer senso.

Muitas vezes me pego querendo esconder o sorriso,


porque não posso achar normal, afinal, sou publicitário,

diretor-presidente de uma agência que, acima de tudo,

preza pela aparência. Pela boa aparência.

— Deixa eu ver se entendi. A sua cunhada está

passando uns dias na sua casa. A sua filha de cinco anos a

adora e, mesmo assim, você enxerga esse fato como um


problema?

— Sim, Doutor Maldonado. Nós dois sabemos

muito bem como a minha história com a Maris mais velha


terminou. Tudo o que não quero é olhar para a irmã dela

todos os dias e lembrar da outra.


— Ela me perturba com o passado, mesmo que
não tenha culpa de nada. E a pior parte disso tudo é que

não sou imune a ela. Você vive me dizendo que devo tentar

seguir em frente, mas tenho certeza que me envolver


sexualmente com Mirella não é uma forma de seguir em

frente. Esse é o maior de todos os problemas, quero muito


transar com aquela pirralha, que não sabe nem mesmo

como combinar cores.

Soltei de uma vez o que vinha remoendo


apenas para mim há semanas. Talvez a forma como disse

tenha chocado o senhor.

— Bom, pelo visto você está mesmo muito

impressionado com essa mulher.

Ele fala assim, mas não sabe um terço da

história completa. Não sabe que a atração não surgiu do

nada, que ela esteve nos meus pensamentos por cinco


odiosos anos. Eu a queria quando não fazia ideia de quem
ela era, mas não podia jamais supor que era irmã da mãe

da minha filha.

Também não conto que nenhum de nós dois

sinalizou a intenção de contar para a criança que elas são


tia e sobrinha. Um problema de cada vez, e Emmy está

apegada demais a mulher sem saber de nada.

— Eu diria que estou mais do que


impressionado. A mulher me leva de um extremo a outro.

Sinto vontade de mandá-la embora para nunca mais voltar.

Mas também está ficando difícil pensar na possibilidade de

afastá-la da minha filha e de...

— De você?

— Então me diga, doutor que sabe tudo, o que

eu faço?

— Sou seu terapeuta de controle da raiva,

Logan, não seu conselheiro amoroso. Não posso te dizer o


que fazer nessa situação. Apenas tente não se cobrar
tanto. Existem situações e sentimentos que não podem ser

evitadas.

Sentimentos que não podemos evitar. Guardo a

frase na minha cabeça, enquanto faço o caminho de volta

para casa.

O terapeuta está certo e eu, mais do que

qualquer pessoa, sei o quanto pode ser difícil quando a

razão entra em conflito com o coração, mas aprendi a


duras penas que o coração nunca estará certo. Que agir

com a emoção pode causar danos irreparáveis. Por isso

está sendo tão difícil, porque o tempo passou e sei

exatamente o que devo fazer.

Será melhor para todo mundo, mas uma

pequena parte minha, que há anos deixei de ouvir, me faz


relutar.

Essa pequena parte quer jogar questionamentos

de certo e errado em uma lixeira e pegar para si tudo o que


deseja. E que se fodam as consequências.
Cansaço

Mirella
Não sei como duas pessoas, uma delas tem

cinco anos, conseguem fazer uma bagunça tão grande. É

brinquedo jogado para todos os lados. A bagunça que fica

apenas para mim, já que a espertinha acaba de sair para

passar o fim de semana com os avós. Hoje na casa da avó,


amanhã na casa do avô e sua namorada mais jovem.

Quando vi o velho Ramirez pessoalmente na semana

passada, me surpreendi com o quão mais jovem ela é, mas

parece gostar dele de verdade.

Mas o que eu sei sobre gostar de verdade? Na

escola pensei que um garoto estava apaixonado só porque

fazia questão de se sentar atrás de mim nas aulas,

principalmente em dia de prova. Fui descobrir que não era

amor quando o resultado da prova saiu e nós dois tiramos


a mesma nota. Mas tenho certeza de que ele se

arrependeu, porque teria tirado nota maior se não tivesse

colado de mim.

Queria fingir que não sei o porquê de ter

pensado nisso agora, mas deve ser porque fico me

perguntando se o Logan gosta de mim tanto quanto eu

acredito que gosta, ou se só está agindo como o garoto do

colégio. Não que tenha alguma razão para fingir, ele é

transparente até demais. Eu tinha prometido que seriam

apenas uns dias, mas não foi o que aconteceu. Um mês se

passou e eu ainda estou aqui, fazendo parte da família


tanto quanto a mobília.

A primeira semana de aula foi tranquila,


aconteceu como acontecia na época de escola, muitas

apresentações e amizades sendo formadas. Em casa, eu


usei todo o meu tempo livre para ficar com a minha

sobrinha. Emmy é tão cheia de energia quanto eu, mas é


meiga e carinhosa como a mãe era comigo quando eu era
criança.

Na segunda semana, quando eu já estava

incomodada de continuar na casa do Logan, mas sem


conseguir me ver morando com nenhuma das colegas que

conheci na universidade, comecei a trabalhar na noite. O


restaurante que canto de segunda a sexta não poderia ser

mais sofisticado do que é.

Além da minha voz e violão, Cadu, sobrinho de

um dos sócios, me acompanha ao piano. Nós costumamos


brincar que estamos ali como mais uma peça de
ornamentação, considerando que grande parte dos clientes

nem se vira para nós.

Aos finais de semana é o oposto. Eu chamo

mais atenção do que gostaria. Saio de casa às 18h, só


retorno por volta das 2hs da madrugada. Entro

sorrateiramente, mas Logan nunca está por perto para me


ver. Na verdade, eu nem tenho certeza se ele está em casa
quando me tranco no meu quarto para dormir.

Faço parte da The Crown, uma banda composta

por três caras: Leco, Adam e Júlio. Com os seus


instrumentos, tocamos de uma forma que faz parecer que
já estamos juntos há muito tempo, mas a nossa química se

restringe aos palcos.

Fora dele, os rapazes parecem me odiar. Agem


como se eu fosse a culpada por a tal Lina ter engravidado
de um doido qualquer e tenha precisado se afastar. Nem

sei se deveria me importar tanto, porque, no fim das


contas, só estou com eles por causa da grana.

Apesar de cantar por muito mais dias no

restaurante, é no bar, cujo público é jovem e cheio de


energia, que me sinto bem. Sinto-me mais viva e feliz, pois
cada batida do meu coração, enquanto estou em cima do
palco com os caras, me diz que estou no lugar certo.
Que cantar e tocar é o que eu quero para o
meu futuro. Estar na frente de uma plateia todos os finais
de semana me faz querer crescer, que o meu nome seja

ouvido por todo o país por causa da minha música.

E mesmo com todas as boas mudanças, e do

dinheiro que estou conseguindo economizar, sendo mais


do que suficiente para morar sozinha, os dias foram
passando e eu perdendo a coragem de pegar a minha
mala e dar as costas para Logan e Emmy. De alguma
forma, apesar de como começou entre nós dois, Logan não

faz mais com que eu me sinta mal por estar na casa dele,
sobretudo, por gostar de estar aqui.

Não é como se tivesse acontecido um milagre


para nos tornar melhores amigos. Ele ainda é sério o

tempo todo, mas não me provoca mais como antes. Nem


mesmo se insinua, o que me deixa mais tranquila quanto a
minha própria atração, mas só o suficiente para não pular
no seu colo. Logan também não passou a se importar
comigo, não me pergunta para onde vou quando saio, não
sei nem se sabe ao certo o que faço todas as noites.

Na maior parte do tempo, age como se quisesse


manter o máximo de distância de mim dentro da própria
casa, mas não faz nada para atrapalhar a minha relação

com a sua filha. Deixa que eu saia para passear com ela.
Não protesta quando nos vestimos com roupas parecidas,
apesar de eu perceber o quanto fica desconcertado. Logan
não compreende o meu estilo.

A sua gentileza é fria e distante, mas a forma

como conta comigo nas pequenas coisas, como quando a


gente vai tomar café e ele pergunta o que eu quero da
padaria, ou quando quer saber o que eu gostaria de
almoçar nos dias em que vem da agência fazer a refeição

em casa, deixa o meu coração aquecido, e torna um pouco


mais difícil de ignorar a atração que desperta em mim.

Não está sendo fácil, pois apesar de o seu

distanciamento gentil ter acalmado o fogo que estava se


criando entre a gente, não tenho certeza se deixar queimar
em fogo baixo não está apenas alimentando a fogueira. Eu

ainda o olho quando não está me olhando. Ainda tremo


quando esbarro com ele, voltando da corrida no momento
em que estou saindo para a faculdade. Ainda fico molhada
pela forma como me olha.

Logan não me olha mais como se me odiasse.

Agora parece que odeia a si mesmo por não conseguir

parar de me querer, assim como eu mesma me odeio por


não ter passado. Eu quis me iludir que com o tempo iria

passar, mas foram anos demais com o nosso encontro na

cabeça para que fosse tão fácil. E não vai passar. Não
enquanto não nos provarmos. Mas nenhum de nós dois

está disposto a deixar que isso aconteça.

Por que se entregar quando há tanto em jogo?

E o que aconteceria depois com a minha

relação com a Emmy? Com o meu desejo de saber da


minha irmã?
Em todos esses dias, estive com os olhos e

ouvidos bem atentos a tudo o que Logan fazia ou dizia com


seus pais, com o amigo Noah, e até ao telefone, mas não

teve nada que dissesse respeito à minha irmã.

É como se ela nunca tivesse existido para essa


família. O único lugar que tem uma foto da Isabella é no

quarto da filha, mas nem ela toca no nome da mãe. Às

vezes eu quero me sentir mal por ela, mas aí lembro que


não houve uma única tentativa sua de entrar em contato

com a ruiva.

Tudo me deixa dividida, pois por mais que eu

me ressinta por ela ser tão desnaturada, não tenho como

ter certeza de que não é o Logan quem a impede de ver ou


falar com a filha, porque depois da primeira vez que

falamos francamente sobre a separação, ele não me deu

espaço para voltar ao assunto. Quando tento, fica evidente


que a separação não foi nada amigável. Não sei o que
aconteceu entre eles, mas foi sério o suficiente para ter os
pés atrás comigo por tabela.

Talvez eu seja do tipo que gosta de sofrer, só

isso explica o fato de ainda estar aqui, o masoquismo e o


bolo que se faz na minha garganta sempre que penso em

ficar longe do pai e da filha. A menina é um raio de luz na

minha vida. Logan, por mais que não seja meu da forma
como eu não deveria querer que fosse, é como a tentação

colocada bem diante dos meus olhos. Sou a pessoa que


prefere olhar sem poder tocar a não olhar.

— Finalmente! — digo, jogando as mãos para o

alto. Sei que a moça que faz a arrumação vem na terça,


mas ela não merecia encontrar a zona que a pequena e eu

fizemos no quarto. — Que calor é esse? — reclamo, olho


para a frente da minha blusa rosa grudada nos seios por

causa do calor. O quarto tem ar-condicionado, o dono da

casa pode pagar a conta de energia, mas sou pão-duro


demais para passar o dia tomando vento superficial no

rosto.

Amanheceu prometendo calor, por isso escolhi


não colocar um sutiã para arrumar o quarto. Na parte de

baixo vesti um short curto e folgado. Os cabelos estão


presos, mas posso sentir o suor escorrendo na minha

nuca.

Quando saio para a cozinha em busca de um


copo com água, antes de me trancar no quarto para

ensaiar a música, que os rapazes escolheram para

tocarmos hoje, dou de cara com Logan entrando no mesmo


local que eu. Hoje é sábado, ele não se veste como se

estivesse retornando de um compromisso de trabalho.

— Bom dia — cumprimenta ao passar por mim.


Ele abre a geladeira e tira de dentro uma garrafa com

água.
Eu fico como uma estátua de cera, suada e
descabelada, vendo-o beber como se estivesse vindo

diretamente do deserto. Quando tira a garrafa da boca e

coloca em cima do balcão, Logan começa a torcer a tampa


sem tirar os olhos de mim. A forma como está fitando a

blusa suada e colada nos meus seios é diferente.

Intenso demais.

Quente demais.

O que mudou?

— Quer um pouco? — Ergue a garrafa na minha


direção, não deixa de me olhar enquanto puxo a tampa e

coloco a boca onde ele tinha acabado de colocar a sua.

Se essa percepção está mexendo com ele,


tanto quanto comigo, imagino que deva estar em

combustão, porque eu estou pelo olhar que está dando


para mim. Parece que vai derreter até os meus ossos.
Pelo amor de tudo quanto é mais sagrado,

preciso ser forte. Não posso fazer isso!

Não seria certo. Ele era o marido da minha irmã.


Que tipo de traidora eu seria.

Sabe quando eu disse que estava tudo sob


controle? Era mentira, não está nada sob controle.

— Obrigada... — os nossos dedos se tocam

quando lhe entrego a garrafa vazia. Tomei meio litro, mas

estou com a boca seca. Pareço mais suada do que antes


de ele aparecer no meu campo de visão, principalmente

entre as pernas.

— Eu vou... — aponto na direção do quarto,

dando passos para trás, sem, contudo, virar-lhe as costas.

Logan começa a vir para perto de mim. — Logan, o que


está acontecendo? Por que me olha assim?

— Eu estou cansado, Mirella.

— Vai se deitar.
— Estou cansado de te ver todos os dias, de
sentir o cheiro do seu perfume. Estou exausto de olhar

para a sua boca macia e naturalmente rosada.

— Logan, eu sou... você é ... — droga! Por que


sempre empaco dessa forma? — É por que não coloquei

um sutiã por baixo dessa blusa? Perdoe-me.

Porra! Acho que ele nem tinha percebido antes.


Agora os seus olhos estão na minha blusa, cujos mamilos

duros marcam o tecido. A intensidade do seu olhar deixa


as minhas pernas fracas.

Talvez uma leve queda de pressão, que não tem


qualquer relação com o calor excessivo. Está na hora de

ligar o ar-condicionado?

— É por essa roupa e por todos os dias que


passo próximo de você. — Eu paro de andar, ele também.

Estamos frente a frente. — Será que você não chegou no


seu limite, Mimi? Porque eu, sim, cheguei no meu. Você

precisa ir embora dessa casa.

— Eu...

— Deixe-me terminar. — Balanço a cabeça,

tento esconder a decepção. Depois de um mês, aqui está

Logan Ramirez de Castro, mais uma vez me humilhando.

— Não é pelos mesmos motivos de antes. Não só por eles.


Eu venho te querendo desde aquele encontro no hotel. Te

ter aqui perto só me fez querer ainda mais, mas sei

também que não seria certo para nenhum de nós dois. É

melhor que vá, porque todos os dias me sinto mais perto

de fazer algo que nós dois iríamos nos arrepender depois.


Estou acostumado com erros, com carregar culpas, mas

você não merece isso.

Por mais que seja difícil admitir, ele está certo.

Talvez a impressão de que estava mais fácil estivesse

equivocada. Era apenas eu tentando buscar meu lugar em


uma casa e uma família que não é minha. Usurpando o

lugar que não me pertence.

— Você tem razão. Mais tarde vou procurar um

lugar para eu ficar. Esse mês consegui o suficiente para

não precisar depender de outra pessoa para dividir as

despesas.

— Não precisa ter pressa.

— Se não tiver, não vou sair daqui nunca —

afirmo, viro as costas para ir para o meu quarto, mas Logan


segura a minha mão. Ele me abraça firme pela cintura,

depois une as nossas bocas em um beijo devastador.


Beijos

Logan
O meu gesto não me causa surpresa, porque

um mês me parece tempo demais. Era como nadar contra

a correnteza todos os dias, sabendo que deixar-me levar

pelas ondas era muito melhor.

É dessa forma que sinto, enquanto os seus

lábios tão macios estão em volta dos meus. A sua língua

timidamente tomando a minha, mas só até o momento em

que ataco, mostrando para ela que pode tomar tudo de

mim, assim como faço com ela.

Temos que aproveitar como se fosse a última


vez, e talvez seja mesmo.

É a mesma sensação do primeiro beijo, o

encaixe perfeito, porém mais intenso, porque antes não


ficamos semanas negando o que nós dois queríamos. O

calor, os pequenos gemidos de contentamento, o fato de

Mirella ficar recuando com pequenas mordiscadas nos

meus lábios, para depois retornar com mais intensidade me

deixa pronto para ela. Preparado para passar o dia inteiro

com minha boca na sua, fazendo muito mais do que beijar.

Eu quero estar em cima da garota, quero que

fique por cima de mim, com o seu corpo que não pesa

nada, se comparado ao meu. Quero entrar em seu calor

apertado e de lá nunca mais sair. Eu quero roubar cada

gemido, saber que cada ofego e gota de suor que escorre


por sua pele foi causado por mim. Foi tempo demais de

negação, que cresceu como uma bola de neve. Que não


pode mais ser evitado.

Que se danem quem somos e quaisquer


consequências. Que se dane a conversa que acabamos de

ter. Eu quero essa mulher na minha cama. Agora, amanhã


e pelo tempo que o desejo existir.
Assim que o fôlego começa a nos faltar, quando
continuar com o beijo deixa de ser uma opção válida,

separo as nossas bocas. Sinto uma leve pontada de prazer


quando olho para os seus lábios e os vejo vermelhos por

causa do meu beijo e barba por fazer.

— Sinto muito... — digo baixo, passando o dedo


na pele sensível. Mirella, como uma boa provocadora, ou

talvez ela só esteja sendo guiada pelos instintos, captura o


dedo que a acarinhava e começa a chupá-lo. Faz isso

vagarosamente e sem deixar de me olhar. A minha mão,


antes na sua cintura, começa a descer pela lateral do seu

corpo até chegar na sua coxa, próxima da barra do seu


short.

Vejo na sua expressão quando se dá conta de

que quero tirá-lo, assim como a calcinha e a camisa. Eu a


desejo sem nenhuma barreira entre nós.

Quando escapa outro gemido pelos seus lábios,


mais uma vez a agarro apertado, deixando os nossos
sexos em contato direto. Ela deve estar percebendo o que
faz comigo, mas a minha sede ainda é pela sua boca. O

beijo é muito gostoso, não dá para negar, tanto que ele me

perseguiu até hoje. Talvez seja exatamente por isso que


não quero mais parar. Quero beijá-la até não conseguir
mais fazer isso. Até que os nossos lábios fiquem
dormentes, e quando acontecer, vamos descansar e

começar tudo de novo...

O calor estava intenso, mas o que estamos


produzindo se torna insuportável de tão gostoso que é. No

momento em que abraçar deixa de ser suficiente, desço as


minhas mãos para os lados da sua bunda e os agarro com
firmeza. Abro sutilmente suas pernas, deixando-a pronta
para sentir todo o desejo que sinto. Curvo para que fique

com a altura mais próxima a sua, então passo a esfregar


os nossos sexos.

A fricção é deliciosa, me deixa prestes a gozar.


Tão rápido e intenso, como o sexo com outras não foi
capaz de fazer. Além do meu desejo, ainda posso sentir o
calor que emana do seu centro. Quase posso sentir o
cheiro doce do seu prazer.

— Eu quero tocar em você, Mirella — digo no


seu ouvido nos poucos segundos em que deixo de beijá-la.

Ela acena em concordância, mas basta um

milésimo de segundo de nós dois nos olhando olho no olho


para a realidade vir à tona. Mesmo com os lábios úmidos e
avermelhados pelo beijo intenso, mesmo com a minha
ereção evidente e a sua calcinha que deve estar melada

por causa do que causamos um no outro, a compreensão


da realidade de quem somos está em cada canto desta
casa. Nos nossos rostos enquanto nos encaramos com um
misto de desejo, culpa e medo.

— Perdoe-me...

— Não comece a pedir desculpas. Não por isso.


Eu também estava aqui — ela diz ao passar a ponta dos
dedos pelos lábios úmidos.

— Eu queria que fosse diferente, Mirella — digo


com sinceridade, depois de ter passado semanas
questionando quão filha da puta a vida pode ser.

Pouco sei sobre o amor. Quando achava que

sabia de algo, percebi que não poderia estar mais errado.


Mas posso dizer que entendo de paixão, de atração física,
do desejo carnal em seu estado bruto. O que sinto por
Mirella é mais do que eu já senti por qualquer outra mulher,
incluindo a sua irmã, o motivo de não estarmos fazendo o

que queremos nesse exato momento.

— Não é diferente, e você pediu para que eu

fosse embora — diz. Ela está chateada. Não sou tão


vaidoso para pensar que é só por minha causa.

Mirella se apegou muito à sobrinha. Será difícil


ficar longe depois de tantas semanas junto com Emmy.
— Sinto muito. — Eu poderia falar tantas outras
palavras, mas nada seria suficiente para arrumar a

bagunça em volta das nossas vidas. Há coisas que


simplesmente não podem ser mudadas.

— Eu também — ela diz, vira-me as costas,

deixando-me sozinho com o coração, que eu nem sabia


que ainda era capaz de sentir, apertado.

O meu corpo também sofre com as reações de

todos os beijos e toques, do calor e cheiro do seu corpo,


por isso vou para o quarto, tranco-me no banheiro como

um garoto fazendo coisa errada e me masturbo pensando

nela. Lembro do que fizemos, e do que não faremos,


quando o gozo vem vazio e desesperado.

Pelo resto do dia, nem eu nem ela parecemos

capazes de correr o risco de nos vermos pela casa, por


isso ficamos nos nossos quartos. Nas poucas vezes que

saí, não a encontrei, e só soube que estava em casa por


causa do som de sua voz. Ela é uma cantora perfeita, e eu

poderia passar a vida ouvindo-a cantar sem enjoar.

Na verdade, ouvi-la cantar para mim, em um


show particular, está no topo das minhas fantasias que

nunca serão realizadas.

Depois de um dia revivendo o que fizemos mais

cedo, sem tirar a mulher da minha cabeça um minuto

inteiro, pego o celular e ligo para o Noah. Estamos em um


sábado à noite e não vou ficar em casa me martirizando

por causa de uma boceta proibida. Quando ele atende e


diz que vai levar companhia para nós dois, não me importo,

porque deve ser disso que estou precisando para parar de

pensar na Mirella.

Já passa das 11h da noite quando saio do

quarto pronto para a diversão, mas não empolgado como

deveria. Como um obcecado, olho para debaixo da porta


dela e noto que não tem um feixe de luz escapando. Ela

saiu para o trabalho. Não fiz questão de saber onde canta


todas as noites, mas sei perfeitamente que foi a minha mãe
quem fez acontecer. Só por isso fico tranquilo. Por alguma

razão, mamãe adora a breguinha e não faria nada para


colocá-la em risco.

**

— Pensei que o principezinho tivesse mudado

de ideia — Noah fala, mas nós dois chegamos


praticamente juntos.

A entrada do bar é como a de todos os outros

deste lado da cidade, cheia de jovens cheios de hormônios


e em busca de aventuras. O letreiro azul com o nome Bar

— sim, o nome do lugar, é criativo a esse ponto — é tão


florescente que eu me pergunto se a intenção de quem

teve a brilhante ideia era cegar. Fica claro que o marketing

foi péssimo quando o cliente corre o risco de sair com os


olhos no mínimo irritados.
— Logan, você veio para tentar se divertir, não

para agir como um publicitário julgando o trabalho de outro.


É ruim? É. Mas olha só como estamos bem

acompanhados.

Ele aponta para as duas mulheres do seu lado.


Uma negra e uma loira. Pela forma como está abraçado a

negra, espera que eu dê atenção para a outra amiga. Ela é

bem bonita, mas nada que eu já não tenha visto outras


dezenas de vezes em lugares como esse.

Não tolero bares lotados com pessoas felizes

demais, jovens que não sabem, e talvez nunca saibam, o


que é sofrimento de verdade, mas há anos tenho deixado

Noah me carregar para lugares assim, pois é preferível


suportar algumas horas do seu péssimo gosto para

diversão a ficar em casa, afundando em sentimentos de

autopiedade e de culpa.

São ações como essa que fazem o doutor

Maldonado pensar que estou me saindo bem depois de


tantos anos. E talvez estivesse mesmo, pelo menos até a
chegada da Mirella na minha vida.

Mirella

Mirella

Será que até aqui essa garota estranha vai me


perseguir?

— Logan Ramirez — digo ao pegar a mão da


garota loira e beijá-la. — Espero ser uma boa companhia

para você — digo com sinceridade, jogando para o fundo

da minha mente quaisquer pensamentos e sentimentos


que não estejam relacionados com o agora.

Mesmo com o lugar cheio com homens e

mulheres em rodinhas, ou sentados nas mesas, Noah tem


facilidade de encontrar uma para nós quatro. Noah explica

que conhece os donos, e que tinha reservado um lugar


melhor para a gente antes de chegarmos. Segundo ele, o

melhor desse lugar é a música ao vivo. Ele está ansioso


para que eu conheça a banda que tem dado o que falar

nas últimas semanas. Acho estranho, porque nunca vi o


cara dessa forma por causa de um bando de marmanjos

fazendo barulho.

— Mas o que tem de tão diferente, cara? Na


entrada tem um cartaz que deixa claro que a banda é da

casa, que apesar de contratarem por fora, eles são fixos.

Toca todos os finais de semana, e você acaba de dizer que


não é a primeira vez que vem aqui. Não estou entendendo

toda essa empolgação — digo.

Do meu lado, a loira já fez questão de puxar a


cadeira para perto de mim. Ela é cheirosa, é gata, mas não

será a pessoa com quem irei terminar a noite. E não tem


nada de errado com ela, só não despertou o menor

interesse em mim. Mas se quero tirar a Mirella da minha

mente, tenho que encontrar companhia. É só uma questão


de tempo para que aconteça. Antes, tenho que fazer a loira

aqui entender que nós dois não vamos transar.


— Bom, a banda está com uma nova formação.
Vim no domingo passado e fiquei bastante impressionado

com a nova vocalista, que além de ter a voz mais bonita

que já ouvi, é sexy pra caralho em cima do palco. Acho que


ela fez metade do público masculino gozar só com o som

de sua voz.

— Caramba, até eu estou curiosa, e com ciúme


por ouvir você falando assim de outra mulher na minha

frente. — Noah se vira para a acompanhante e a silencia


com um beijo. Depois ele volta a olhar para mim de um

jeito que me deixa saber que está tramando alguma coisa.

Até o momento, ouço apenas a bateria, o baixo

e o piano de três caras altos, musculosos e muito tatuados.

Eles fazem todas as mulheres, inclusive as que estão

conosco, suspirarem com toda a testosterona que exalam.

Eu fico me perguntando como a vocalista deve


ser para conseguir se sobressair no meio desses três

tatuados. Não que isso seja da minha conta, mas não tem
como não pensar nisso, ainda mais quando ela foi capaz

de impressionar o Noah.

Por vários minutos, nós quatro nos envolvemos

em uma conversa agradável, regada a bebidas, que não


são fortes o suficiente para me fazer embarcar na sedução

da minha acompanhante. Ela está com o corpo curvado na

minha direção, quase caindo da cadeira. Tento ser

simpático, mas já estou a ponto de dizer que não vai rolar

quando um homem no palco anuncia que o show vai

começar.

Ele tem toda a minha atenção, porque Noah

conseguiu fazer com que eu me interessasse por algo, que


não seja todos os meus questionamentos sobre o que

Mirella fará nesse momento. Se ainda pensa no que

fizemos mais cedo.

A gente ia transar. Eu queria ter transado com

ela como nunca quis nada na vida. Sempre tive tudo o que

quero, quando não posso ter, fico assim, a ponto de


enlouquecer. Não como um mimado, é mais do que isso,

muito mais do que um dia eu vou admitir.

— Deem as boas-vindas para a nossa diva,

Mirella Maris. — Eu ouço a voz do homem, ouço os gritos,

vejo Mirella de uma forma que nunca tinha visto antes.


Vocalista

Logan
Eu deveria saber a partir do momento em que vi

o sorrisinho provocador do Noah que ele sabia de algo que

eu não sabia. Que iria se deliciar quando me visse como

estou agora, embasbacado ao ver a tal vocalista sexy. Ela

não é qualquer uma, é Mirella. A minha breguinha.

— Não tinha reparado tão bem na sua cunhada

no dia que a vi pela primeira vez, meu caro, mas você está

de parabéns.

— Cale a porra dessa boca, Noah.

— Não posso nem te dar os parabéns, porque,

na verdade, ela é a sua cunhada, não a sua mulher. — Ele

continua, tenho vontade de me levantar e socá-lo até que o

sorrisinho idiota suma do seu rosto.


Para Noah, tudo se trata de um jogo, de fazer

brincadeiras que divertem só a ele. Não costumo me

incomodar, porque devo ser tão ou mais cruel do que ele,

mas dessa vez é diferente. O homem queria fazer o seu

show para tirar uma reação de mim, mas não sabe que

consegue mais do que isso. Não é só surpresa o que sinto,

porque Mirella não é apenas a minha cunhada.

Se eu a visse como quem ela realmente deveria

ser, nós dois não estaríamos tão fodidos. O que eu sinto

nesse momento está longe de ser explicado, não poderia,

mesmo se tentasse.

— Ele perdeu a voz, meninas. Está

embasbacado, mas nem eu imaginei que você ficaria tão


surpreso, Ramirez.

— Cale a boca, porra! — Volto-me para ele, mas

logo viro a cabeça para o palco, sem querer perder um


único detalhe da garota ali em cima, ao lado de três
machos altos e tatuados. O ciúme que corrói as minhas
entranhas não pode ser medido, e nem controlado.

— Tudo bem, vou me calar, mas só porque

quero ouvir a voz dessa deusa — diz e olha para a


guerreira da noite. — Não fique com ciúme, docinho. É só a

doce Mirella, e não existe a menor possibilidade de ela se


juntar a nós dois mais tarde. Logan não permitiria — diz.

Eu sei que ele gosta de suruba, o que me surpreende é


que me conheça o bastante para entender tão rápido como

me sinto em relação a Mirella.

Ainda bem que ela não me viu, porque posso


observá-la e digerir a surpresa preparada por Noah. Se ele

soubesse o que de fato existe entre nós dois, jamais teria


feito isso, ou, talvez, teria aprontado algo como isso antes.

Mirella já tem para si a atenção de grande parte


do público presente, e ela está apenas testando o

microfone e a afinação do seu violão, o guerreiro que já


sobreviveu a uma tempestade. Mas é nítido que toda essa
atenção não é só pela expectativa de ouvir a sua linda voz.
Tem tudo a ver com a linda e sensual mulher, que pouco

lembra a garota de roupas coloridas que vejo todos os dias.

Mirella está vestida toda em couro. A começar


pela bota, que cobre os seus joelhos, passando pela saia,
também de couro. Diferente da bota, a saia curta tem a cor

vermelho sangue, que faz muito pela imaginação


masculina.

Para finalizar, na parte de cima veste um top


que deixa toda a sua barriga à mostra. A pele do abdômen,

assim como todo o resto, brilha mais que o normal,


provavelmente porque passou algum produto para causar
tal efeito.

Não usa nenhuma joia. Os seus cabelos estão


presos no alto da cabeça, mas ela deixou que algumas
mechas escapassem. O pescoço delgado e elegante à
mostra me faz sentir vontade de subir no palco e enfiar o

meu nariz na sua carne.


Para provar com a minha língua, para mordiscar
e sentir o seu cheiro. Os seus olhos estão bem marcados
com lápis e sombra escuras, mas é a boca pintada de

vermelho que me faz imaginar os seus lábios esticados em


volta do meu pau, enquanto me chupa com gula até fazer-
me gozar dentro da boca macia.

A garota continua alheia a minha presença, mas


me consola perceber que não é só comigo. Ela ignora os
três caras do seu lado, que também parecem não
reconhecer a sua presença no palco. Quando coloca o

microfone no pedal na altura de sua boca, o meu coração


salta, pois os seus olhos varrem rapidamente o salão e,
ainda assim, ela não nota que estou aqui.

Começo a ficar incomodado, pois, por uma

estranha razão, quero que saiba que estou aqui, que por
mais que todos esses caras possam admirá-la e desejá-la,
ninguém os faz como eu. Ninguém sofre como eu pelo
desejo que não deve ser satisfeito. Nenhuma dessas
pessoas compartilham o segredo que nós dois
compartilhamos.

Apesar de eles não falarem muito com a


minha... com a Mirella, no momento em que entram em
formação passam a impressão de que estão juntos há

anos. Em perfeita sincronia de sons, começam a tocar,


introduzindo com as apresentações dos integrantes da
banda antes de Mimi soltar a voz.

No momento em que a primeira nota musical sai


da sua boca, entendo perfeitamente a que Noah se referia

quando disse que é capaz de despertar muitas emoções,


com a sua voz e completa entrega em cima do palco. Logo
no início da bela canção, Mirella olha para o exato lugar em
que estou. É como se soubesse que estava a observando

esse tempo todo.

Chega o momento em que se entrega por


completo e fecha os olhos. Ainda assim, sinto como se

estivesse me olhando, como se estivesse cantando apenas


para mim. Todos sumiram à nossa volta, estamos apenas
eu, ela e a música.

Viniste a mí

Como la letra de una bella canción

Melodía que rima con la historia de nuestro


amor

Haremos sinfonía eterna unidos tú y yo

Disonancia alguna no existe en el corazón

Nada nos podrá separar

Hacemos armonía

Eres, fuiste y serás

La dulce melodía que en mí sueño está

Tú solo tú

Pudiste escribir en mi alma tanta música

Solo tú
Solo tú

Perdidos estamos en este ritmo de amor

Las notas nos brotan directo desde el corazón

Haremos sinfonía eterna, unidos tú y yo

Disonancia alguna no existe en esta canción

Nada nos podrá separar, hacemos armonía

Eres, fuiste y serás

La dulce melodía que en mi sueño está

Te llevo en mí

Como la tonada que da vida a esta canción

Y con tu dulce amor

Me estremeces siempre musitando a mí corazón

Solo tú

Solo tú

Solo tú
Você chegou a mim

Como a letra de uma bela canção

Melodia que rima com a história de nosso amor

Eu e você juntos faremos uma sinfonia eterna

No coração não existe dissonância

Nada poderá nos separar

Fazemos harmonia

Você é, foi e será

A doce melodia que está no meu sonho

Você, só você

Pode escrever tanta música em minha alma

Só você

Só você

Estamos perdidos neste ritmo do amor

As notas nascem direto do coração


Eu e você juntos faremos uma sinfonia eterna

Nesta canção não existe nenhuma dissonância

Nada poderá nos separar, fazemos harmonia

Você é, foi e será

A doce melodia que está no meu sonho

Levo você em mim

Como o ritmo que leva esta canção

E com seu doce amor

Me estremece sempre que sussurra em meu


coração

Só você

Só você

Só você

Ela canta a primeira música e tem a atenção do

público geral, ninguém fala, ninguém pisca, e assim


continua durante todo o show, cujas músicas de ritmo
acelerado não deixam ninguém ficar parado.

Noah se levanta com as mulheres que trouxe

para dançar. Eu fico sentado, olhando disfarçadamente


para a bela vocalista, que também não faz nada para

esconder que está o tempo todo buscando o meu olhar.

Existe um mundo de coisas se passando entre a gente,


mas não consigo deixar de pensar no que fizemos e o que

falamos mais cedo.

Porra! Eu a mandei embora mais cedo. Mas, o

que ela vai fazer sozinha nessa cidade, para onde irá?

Todos os motivos são mais do que válidos, mas


não sei se tomei a melhor decisão. Por pior que eu seja,

não posso negar que Mirella faz parte da família. A minha

filha a adora, eu gosto dela, muito mais do que somente


pelo sexo.
Mirella é cheia de vida, é muito engraçada. As

semanas do seu lado me fizeram enxergar que é uma


ótima garota, que o cara que conseguir conquistar o seu

coração será o mais sortudo de todos. E não importa o

quanto queira quebrar algo quando penso em outro


tocando no seu corpo.

Quando eles anunciam que irão cantar só mais

uma música, me preparo para ir até Mirella, apesar de não


saber ao certo o que dizer, porque parece que já falamos

demais por hoje. No meio da música, um rock mais

pesado, percebo quando eu deixo de ser o foco de sua


atenção.

Olho para a minha direita e, a alguns metros,


avisto um rapaz rindo, aplaudindo e acenando

freneticamente para a Mirella. Ao me voltar para ela, noto

que só não jogou o microfone no chão e correu para o cara


porque é profissional demais.
Quem é esse idiota? Será que ela o conheceu
na universidade?

Assim que a música termina, Mirella faz

exatamente o que eu imaginei que quisesse fazer. Ela


desce apressada e sem trocar uma única palavra com os

caras da The Crown. O outro já está de braços abertos

antes mesmo de ela se jogar neles.

Conto dez segundos até que eles se afastem,

mas seria melhor se não tivesse feito. Assim que se


separam o suficiente, o rapaz de boa aparência, mas que

se veste como um adolescente do Hip Hop, coloca a mão


no seu pescoço, puxa a sua cabeça e a beija na frente de

uma plateia.

Mirella, por sua vez, não faz qualquer tentativa

de afastá-lo. Corresponde, e nem parece que é a mesma

que antes estava trocando olhares comigo. Não sei o que


estou sentindo neste momento, e prefiro não tentar

entender. No final das contas, Mirella é apenas uma garota


de vinte e três anos e, como tal, está curtindo a sua

juventude, assim como eu mesmo fiz quando tinha a

mesma idade.

Está claro que para ela, apesar da química que


existe entre a gente, não é tão complexo quanto é para

mim. Eu estava enganado, e não sinto como se fosse ruim

por completo, porque dessa forma fica muito mais fácil. Se

Mirella tem um namorado, o fardo de me sentir como me

sinto se torna mais leve, porque entendi que não era tudo

como pensava que fosse.

É melhor que seja assim. Quanto ao vazio que

sinto no meu peito, sei que posso lidar, porque não é nada
com que já não esteja acostumado.

— Noah, eu já estou indo, tudo bem? — digo

para o meu colega de trabalho, que dança com a loira e

com a negra. Engraçado como eu nem ao menos sei quais

os seus nomes. Tenho certeza de que foram mencionados,

mas não prestei a devida atenção.


— Para de ser velho, cara. Fica mais um pouco

— ele pede.

— Não. Essa noite já deu. Além do mais, tenho

algumas pendências da agência para resolver. — Minto.

— Quer que eu vá com você? — A loira faz

mais uma tentativa, penso por um segundo se não é dela

que eu preciso, o suficiente para concluir que seria uma

péssima ideia.

— Não vou acabar com a sua diversão. Foi um


prazer conhecer vocês. — Beijo seus rostos e deixo o bar

sem olhar para trás.

No caminho até em casa, a cena que presenciei

fica dando voltas e mais voltas na minha cabeça. O gosto

amargo da traição que não quero sentir, que não é real,

porque não foi traição. Nós dois não temos e nunca

tivemos nada. Tenho que lembrar a mim mesmo que mais


cedo a mandei sair da minha vida justamente porque nunca
será diferente entre a gente.

Em algum momento, fica impossível continuar

sem correr o risco de causar um acidente, então paro o

carro em um acostamento. Enquanto os outros carros

passam pela pista, jogando luzes que fazem um clarão nos

meus olhos fechados, tento respirar com calma, conto até


dez, até que a minha mente fique completamente vazia.

Depois de vinte minutos, pego o meu celular e ligo para o

doutor Maldonado. Quando nós começamos com o meu

tratamento, ele me deu carta branca para contatá-lo em

qualquer dia e qualquer hora.

Essa é a primeira vez que falo com ele fora das

sessões que faço duas vezes ao mês. Não é uma conversa

sobre as minhas desventuras amorosas, porque, como ele


mesmo disse, não é meu conselheiro sentimental. É sobre

gatilhos, sobre sentimentos que uma cena despertou.

Sobre a culpa que eu não posso jogar sobre ela, quando foi
a sua irmã quem fez isso comigo. Fez porque fui fraco e

deixei.

Eu não preciso ouvir da boca do meu terapeuta


que Mirella não me traiu, porque o meu lado racional, que

tento ouvir todos os dias, sabe disso. O homem apenas me

ouve, deve ser por isso que liguei no meio da estrada.

Precisava falar com alguém. Assim que desligo a ligação,

coloco o carro em movimento e sigo o meu caminho sem

precisar me dividir entre a atenção no trânsito e as


tentativas de me convencer de que ela não me traiu como

a Isabella fez. Sem me esforçar para manter o pensamento

racional, que tive no bar quando a vi com o namorado.

Quando chego a casa, depois de tomar um

banho e um copo com água gelada, deito a minha cabeça

ciente que a noite será atormentada, cheia de pesadelos e

lembranças ruins.
Morno

Mirella
No espaço de tempo de seis horas, eu vivi mais

do que fiz em vinte e três anos de vida. Coisas que

parecem ter sido em outra vida e com outra pessoa, porém

foi mais cedo, comigo mesma. Anteriormente o Logan me

beijou, e foi muito mais do que eu me lembrava de anos


atrás. Mais do que eu desejava. Com a boca habilidosa, e

mãos que rapidamente começaram a passear pelo meu

corpo, o homem conseguiu me deixar sensível da cabeça

aos pés.

Por breves e intensos momentos, me fez

esquecer que estava um pouco chateada com a decisão

que tomou, e eu aceitei, de que seria melhor se eu me

afastasse. Voltei para o meu quarto muito acesa, confusa

entre estar satisfeita, por pelo menos ter tido uma prova, e
que se foda a culpa, e insatisfeita, por saber como seria se

fôssemos até o fim.

Tive que resolver o pequeno problema de fogo

nas veias com os meus próprios dedos embaixo do

chuveiro, pois sabia que sem o alívio necessário eu não

teria foco suficiente para me concentrar em fazer o meu

trabalho.

Pensei que estava tudo certo quando subi no

palco com roupas que não tem nada a ver comigo, mas

que pelo menos me deixam sexy. Logo nas notas iniciais

da música que canto em espanhol, eu me deparei com um


Logan a alguns metros de distância do palco. Primeiro

pisquei, pensando que pudesse ser minha mente pregando


uma peça. Ele não desapareceu, então me vi obrigada a

continuar sem metade da confiança que queria deixar


transparecer.

O tempo todo eu cantava para ele. Olhava para

o lado e não via ninguém. As pessoas sumiram, até mesmo


a loira que estava quase no seu colo, e que me deixou
enciumada sem qualquer direito de me sentir daquela

forma. Quando começamos a tocar a última música, eu já


estava completamente fora do meu juízo perfeito, doida

para ir até ele e fazer algo que me arrependeria depois.


Estava por um fio, sem conseguir mais enumerar a lista de
razões que fazem de nós dois juntos uma péssima ideia.

Então o impossível aconteceu, uma ajuda do


destino, que tenta sinalizar de todas as formas para eu não

me tornar esse tipo de pessoa.

Percebi a sua presença no instante em que


chegou e começou a me aplaudir de maneira efusiva. A

assoviar e acenar para mim cheio de orgulho no olhar, e


em cada gesto. Tadeu, o meu companheiro de tantos anos

de aventura, de quem pouco lembrei desde que cheguei ao


Rio de Janeiro. O fato de vê-lo fez o meu coração errar a

batida, mas de uma forma completamente diferente, do que


acontece pelo simples fato de o Logan respirar perto de
mim.

Estou feliz por Tadeu ter vindo me ver, como

poderia não estar? Mas também estou assustada por me


dar conta de que o buraco em que estou é mais fundo do
que imaginei que fosse. Quando Tadeu me beijou, não o

rejeitei, afinal, nós temos um relacionamento que não foi


colocado um ponto final quando vim embora, mas também
não senti metade do que sentia antes.

Não consegui me entregar por completo, porque

uma parte minha ficava se perguntando o que Logan


estaria pensando, porque não tive dúvida de que ele estava
vendo, considerando que tinha sua atenção em mim o
tempo todo.

Quando o beijo acabou, eu dei um sorriso sem


graça, mas por dentro fiquei grata por ele não querer
continuar. Antes de decidir que o meu namorado, ou seja

qual for o nome que se dê ao que temos, não merece que


eu pense em outro, quando veio de longe só para me ver,
dou mais uma olhada para o lugar em que Logan estava,
mas ele está vazio.

Mas que droga!

Penso na loira que estava do seu lado. Também


a procuro, enquanto puxo Tadeu para uma das mesas, mas

também não a vejo em canto nenhum. Não posso evitar o


sentimento de ciúme e decepção por imaginar que eles
estão juntos, o que é muita hipocrisia da minha parte,
afinal, também estou acompanhada, não é?

— Você está um tesão toda vestida em couro.


— Tadeu elogia quando um garçom passa para entregar na
nossa mesa as cervejas que pedimos.

— Você acha? Eu gosto, mas temos que


concordar que isso não tem nada a ver comigo.

— Claro que não. Você não é você se não


estiver usando todas as cores do arco-íris em apenas duas
peças de roupas — diz.

— É uma crítica? — brinco.

— Não gatinha, você sabe que eu sempre


gostei da sua forma de se vestir.

Não é mentira, para o Tadeu, eu era a garota


mais bem vestida da cidade. Ele falando assim me lembra
do Logan, que às vezes me chama de breguinha na minha
cara, às vezes me julga só com o olhar.

Parei de me incomodar depois da primeira vez,


agora acho divertido, porque entendi que ele é assim por
causa do seu trabalho. Para um publicitário, a imagem é
tudo. Por isso Logan me julga mais que o esquadrão da

moda, mas no fundo, bem no fundo mesmo, adora o meu


estilo.

— Estou sentindo que você está um pouco

estranha. Será que já arrumou um namorado e não está


feliz de me ver?
— Impressão sua. Não estou estranha e a
resposta é não para as duas perguntas. Como poderia não

ficar feliz de te ver? Você é meu melhor amigo.

— Sabe que não é bem assim. Não somos


apenas melhores amigos — ele protesta.

— Não, não somos. E se eu tivesse arrumado


um namorado em apenas um mês, teria te ligado para

avisar, Tadeu. — A verdade é que estou dando explicações

demais, na defensiva e ele me conhece muito bem.

— Se não é isso, por que está tão calada? A

minha Mirella estaria falando pelos cotovelos, sobre tudo o

que viu e ouviu nas últimas semanas. Estaria radiante


como estava em cima daquele palco.

— A sua Mirella está crescendo, estudando e

trabalhando todas as noites, então não estranhe se ela


sorrir menos do que o normal — explico, mesmo sabendo

que não é apenas isso, que crescer e ter responsabilidades


pouco tem a ver com as mudanças de comportamento que

vê em mim.

Quando Tadeu pergunta onde estou ficando,


com a óbvia intenção de passarmos a noite juntos, como

eu deveria estar querendo também, confesso que estou na


casa do meu cunhado. Se ele estranha o fato de estar lá

quando a minha irmã já partiu há tantos anos, não

comenta. Nós ficamos mais de uma hora conversando de


assuntos que me fazem esquecer dos problemas.

Gosto de ouvir como está a cidade em que


nasci, agora que não estou mais lá para ser alvo das

fofocas. Emociono-me quando fala que tem ido ver a minha

mãe e que ela está muito bem, apesar de sentir a minha


falta. Nós nos falamos sempre ao telefone, e nas últimas

semanas parecemos mais confortável uma com a outra.

Tudo melhorou quando eu repeti o que Logan


me disse sobre estarem há anos separados. A dona Carla

ficou sentida, mas agora sabe que a filha tem a chance de


ir vê-la, mas não o faz. A sua consideração se estende a
ligações rápidas e mensagens esporádicas.

Tadeu afirma que não conheceu nenhuma

garota, porque percebeu que é de mim que gosta de


verdade. Sim, ele só se deu conta depois que eu parti. A

sua declaração deveria me deixar feliz, embora eu nunca

tenha acreditado que era apaixonada por ele, como


merecia, mas além de não rir com sinceridade, fica ainda

mais evidente que independentemente da quantidade de


anos que estamos juntos, nós nunca seremos como um

casal de verdade. Eu sei que teria percebido isso em algum

momento, tendo ou não um Logan no meu caminho.

Ele fica esperando por uma resposta que não

passa de um sorriso, que não alcança os meus olhos.


Talvez esse seja o momento ideal para me abrir e falar do

que sinto, e o que sempre senti por outro homem, mas não

consigo nem saber por onde começar. Não posso fazer


isso com ele. Não hoje, quando acaba de chegar. Uma
viagem que fez questão de trazer a moto, só porque eu

pedi.

— Gostei muito de te ver. Espero que o que está

te incomodando passe, e amanhã você esteja sorrindo de


verdade. — O garoto fala ao parar com a moto na frente da

casa do Lolo, como a pequena o chama. — A casa do

ricaço é muito maneira. — Solto uma gargalhada alta, e


não entendo o motivo de rir como uma hiena sem qualquer

motivo. Talvez se deva ao fato de ele estar sendo apenas o


meu amigo no momento, ou as latinhas de cerveja que

bebi.
— Desculpa se não fui uma companhia tão boa
quanto deveria, mas prometo que amanhã você vai se

encontrar com a Mirella de sempre. Vamos passear e eu

vou te mostrar os lugares mais bonitos dessa cidade.

— Estou contando com isso, minha Pop Star.

Você arrasou hoje — diz. O elogio dele significa muito para

mim, pois foi a única pessoa da cidade, incluindo a minha


mãe, que não duvidou do meu sonho de viver da minha

música.

— Obrigada. — Aproximo-me e o abraço

apertado. Quando nos afastamos, o beijo que Tadeu me dá

não é mais do que um selinho. Durante toda a noite, agiu


como um perfeito cavalheiro, e nem sequer sugeriu que

passássemos a noite juntos, embora eu saiba que ele veio

planejando exatamente isso.

Ao entrar em casa com as minhas chaves,

pesadas por conta dos chaveiros que Emmy e eu

colocamos, encontro todas as luzes apagadas e o mais


completo silêncio. No mesmo instante sinto o meu coração

afundar no peito, porque imagino que Logan ainda não


tenha chegado, que talvez nem volte mais hoje. Já passa

das 3h da madrugada, a noite está no seu auge,

principalmente para quem tem coisas mais interessantes


para fazer.

— Eca! — De maneira infantil, digo a mim

mesma enquanto ando na direção do quarto. Paro no meio


do caminho e fico olhando para o nada. — Garota, você é

sensacional, que habilidade. Poderia muito bem competir

nas olimpíadas se inventassem o esporte andar em linha


reta sem titubear. Não está enxergando tudo triplicado,

mesmo depois de ter tomado algumas latinhas de cerveja.

Eu não estou bêbada, só um pouco alta.

Poderia dizer que estou alegre, mas seria uma mentira.

— Porra, Logan! — grito bem alto, afinal, estou


sozinha na casa. — A minha casa, Lolo. Essa casa é

minha! Não é porque você é mau e fica dizendo que devo ir


embora, que não seja minha. — Outra risada alta. Choro
de rir, começo a chorar enquanto rio. Antes de entrar no

quarto, estou apenas chorando.

Prestes a bater a porta, sinto o meu coração ir


à boca quando ouço um barulho. Engulo o choro causado

pela cerveja rapidinho, enquanto decido se me escondo

debaixo da cama ou me tranco no banheiro.

— Não! Você não pode tirar ela de mim. — A

voz é alta e agoniada o suficiente para fazer com que eu


consiga ouvir, mesmo que tenha uma porta fechada entre a

gente.

Logan. É ele quem está fazendo esse barulho.

Fala com uma pessoa, e parece estar bastante nervoso. A

menos que seja comigo, Logan Ramirez nunca fica

nervoso. Sempre está 200% no controle.

Mas seja o que for, não tem qualquer relação

comigo, e o melhor que faço é tomar um banho gelado e ir


dormir, porque amanhã tenho que aproveitar o dia com o

Tadeu, além de usá-lo para me ajudar na missão de

encontrar um lugar para morar.

Quando saio do banho com os cabelos presos


no alto da cabeça, pego uma camisola fina e curta dentro

do closet. Visto-me, em seguida pego o hidratante e

começo a passar nas minhas pernas. O silêncio reina

novamente, mas basta eu colocar a cabeça no travesseiro

para a discussão recomeçar.

Que tipo de discussão é essa que eu só escuto

a voz do Logan...

— Não é possível que seja... — levanto-me e

saio do quarto apressada, sem ao menos me perguntar o


que penso que estou fazendo. Só conta a necessidade de

ir até o meu ruivo rabugento.


Pele

Mirella
Felizmente, a porta do seu quarto não está

trancada a chave, então eu entro com cuidado. O copo

vazio ao lado da sua cama chama a minha atenção.

Aproximo-me, o levo ao nariz e constato que o homem

bebeu antes de dormir. Ainda bem que não vejo uma


garrafa vazia, pois, aí sim, eu teria certeza de que ele está

na merda.

Depois noto o seu corpo coberto apenas até a

cintura com o lençol fino. O seu peitoral definido está

descoberto e, como de costume, uma pequena baba

escorre pelo canto da minha boca. Tudo bem que estou

calejada de saber que não posso ter, mas não olhar para

ele é praticamente impossível.


— Você não tem jeito, garota! — falo sozinha. O

homem tendo pesadelos e eu aqui, pensando no quanto

ele é gostoso.

Logan fala, e parece incomodado, mas não está

se debatendo, como já vi na televisão que acontece com

pessoas, quando estão no meio de pesadelos. A sua

expressão está sofrida, os seus braços estão estendidos

no corpo imóvel.

Por um momento, enquanto ouvia a sua voz do

meu quarto, em um tom bem mais agressivo do que agora,

pensei que ela estivesse aqui e, para o meu completo


desgosto, as minhas primeiras reações não foram alívio e

felicidade. Isabella não está aqui, mas com certeza Logan


sonha com ela.

— Você... você nunca amou a mim ou a nossa

filha.
— Eu nem sei o nome daquela garota, porra!
Foi apenas um beijo, que não significou nada para mim. —

Essa parte ele diz bem baixinho. A garota, provavelmente


sou eu, assim como o coração que se parte em dois, mas

decido não dar ouvidos, afinal, o que mais ele falaria para a
esposa?

Com certeza não diria que gostou e que pensou

em mim desde então. A única idiota que fez isso, fui eu.

Em pé ao lado da sua cama, vendo-o em estado

de agonia, me questiono se deveria ter vindo até aqui, se


devo ir embora ou acordá-lo. Eu também bebi um pouco, o
que poderia fazer por ele?

— Melhor eu ir embora. Qual pessoa faria isso


— concluo, e subo de joelhos em cima da cama do

homem.

Quem disse que sou uma pessoa sensata? Não

acertaria nem se a hipótese estivesse escrita em uma


placa de neon bem diante dos meus olhos.

— Logan, acorda, irmão... — irmão, de onde foi


que eu tirei isso? Tadeu chegou há poucas horas e já estou

falando como ele. Deixa-me tentar novamente, pois a


delicadeza não deu certo.

— Logan, brother, acorda... — talvez eu precise

jogar um copo com água fria no seu rosto.

— Hum... você é uma garota muito, muito


estranha. E não me leve a mal por estar falando assim,

quando nem é da minha conta. Seu corpo, suas regras.


Seu corpo, suas roupas. Seus pés, suas botas. Seus
cabelos, suas mechas. Seus braços, suas pulseiras.

Ele ainda está dormindo?

— Logan, eu não vou te sacudir com tanta


delicadeza da próxima vez! — digo com a paciência curta.

— Mas, porra, você é tão colorida. Espero que

entenda que te chamo de breguinha de um jeito carinhoso.


Estava gostosa com todo aquele couro, gostosa até
demais, então nunca mais vou falar nada do seu jeito
maravilhoso de se vestir. É muito, muito lindo.

Sem saber ao certo se rio ou se choro, vou até o


banheiro e molho as minhas mãos. Volto para a cama e as

balanço na frente do seu rosto. Os respingos o fazem


sentar respirando com dificuldade, como se estivesse se
afogando.

— Eu tentei ser mais gentil, mas você não


colaborou — explico-me para o seu rosto confuso, e lindo

com os cabelos bagunçados.

— O que faz aqui, garota?

— No seu quarto, ou em casa? — pergunto,

Logan arqueia a sobrancelha, como se a resposta fosse


óbvia.

— Em casa, porque eu não tinha outro lugar


para ir. — Logan ri discretamente. — No seu quarto porque
ouvi vozes...

— E se eu tivesse com uma mulher aqui dentro?


Teria participado da festinha?

Ele está querendo me provocar? Não pode estar


tão bêbado assim.

— Eu só ouvi a sua voz. Logo percebi que


estava tendo um pesadelo, e sozinho! — falo, sem ter
quaisquer motivos para estar irritada. Afasto-me na

tentativa de sair, mas Logan segura o meu braço.

— Solte-me. Tenho que voltar para o meu


quarto. E você precisa descansar. — Sua mão começa a
fazer carinho no meu braço, ele não para até tê-lo

arrepiado. — Se quiser... — paro, respiro fundo para focar


novamente. — Se quiser, posso deixar um copo com água
e uma aspirina aqui para você. Vai acordar de ressaca.

— Não estou bêbado, Mirella.


— Mas também não está completamente sóbrio
— pondero, não fazendo nada para soltar o meu braço,

que ele ainda alisa.

— O suficiente para lembrar que fiquei louco


quando vi você beijando aquele garoto. Você, Mirella, com

essa carinha de quem não liga para nada, me deixou de


quatro como um idiota, mas esqueceu de me dizer que

tinha um namorado.

— Você nunca perguntou — justifico.

— Cínica.

— Cínica é a senhora... não, a Teresinha é uma

santa. Cínica é a cadela... não, também não. Cínico é o


seu cu! — falo entredentes. A sua reação? Uma

gargalhada.

— Parabéns, tentou três vezes e ficou péssimo.

— Para de brincar, comigo, cara. E solte o meu

braço! — peço, mas a verdade é que ele nem está


segurando com firmeza. Eu poderia perfeitamente ir

embora se quisesse.

E eu quero. Só não fui ainda porquê...

— Quanto ao namorado...

— Ele não é bem o meu namorado, mas acho

que você não entenderia — afirmo.

— Você pode tentar? — ele pede.

— Para quê? Você me mandou embora.

— Não vamos falar desse assunto agora — diz.

— Não devíamos falar sobre nada. Já estamos

no meio da madrugada, nem um de nós dois está sóbrio.

— O que você quer, Mirella?

— Eu não quero nada!

— Se não quisesse, não estaria aqui me

ouvindo. Não estaria na minha cama com essa camisola,


que mais mostra do que esconde. Estou vendo o contorno
dos seus mamilos e da sua boceta.

— Boa noite, Logan Ramirez. — Quando tento

correr, Logan se move com rapidez, me joga deitada de


costas sobre a sua cama e fica com o corpo pairando em

cima do meu.

— Eu. Não. Aguento. Mais! — assevera entre


dentes, passando o nariz na minha bochecha, depois

pairando com a boca na minha.

— Você sabe que isso é um erro, Logan. A


gente vai se arrepender amanhã... — falo com a voz fraca,

enquanto abro as pernas para que o homem grande se


comporte entre elas. O seu peso em cima de mim,

roubando pouco a pouco o meu fôlego, e me dominando,

faz com que eu me sinta particularmente fraca, com o


coração e todo o corpo em chamas.
Eu não sei o que esse homem tem, mas ele é

como uma droga. Sinto que seu corpo pode se tornar o


meu vício. Que a sua voz se tornará a minha melodia

preferida.

— Não vamos pensar no amanhã, Mirella. Não


agora, por favor... preciso de você. — No momento em que

fala, a sua mão desce a alça da minha camisola ínfima.

Primeiro uma, depois a outra, o suficiente para deixar os


meus seios descobertos. Expostos para os seus olhos

famintos. Sim, se a fome fosse um olhar, com certeza seria

esse que Logan dá agora. As suas pupilas estão até


dilatadas.

— Precisa de mim para quê?

Será que é pelo mesmo motivo que eu preciso


dele? Mas, para mim, o mais importante é continuar a ouvir

o som da sua voz. Uma parte minha, a que prefiro fingir


que não existe, se sente envaidecida de ver e sentir o

quanto esse homem me quer.


— Eu quero transar com você a noite toda.
Esquecer do seu e do meu nome. Te deixar dolorida a

ponto de não conseguir andar. Fazer com que essa boca

bonita grite o meu nome, mas que também engula o meu


pau. Preciso de você para chupar esses peitos bonitos até

não poder mais. Para socar na sua boceta até que o meu
pau fique esfolado. Gozar dentro de você, porque é o que

venho pensando há muito tempo. Espero ter respondido à

sua pergunta.

Ele não só respondeu, como me deixou trêmula

e a ponto de gozar com suas palavras sujas, promessas

que não posso não querer vê-lo cumprindo mais do que o


ar que respiro. A minha primeira resposta é dada pelo meu

corpo quando enrolo minhas pernas nos seus quadris.

Dizendo sem palavras que não quero ir para o meu quarto,


que não desejo que saia de cima de mim.

Eu estou sem calcinha e ele, com certeza, está


sem cueca, uma feliz coincidência, pois nenhum de nós
planejava transar hoje. A única barreira entre os nossos

sexos é o tecido fino do seu short, considerando que a


camisola já está toda embolada na minha cintura.

Quando Logan passa lentamente a língua no

meu mamilo, é tão emocionante que fico com vontade de


chorar. Parece até que nunca tinha feito sexo antes. No

momento em que fecha os lábios quentes e toma metade

do meu peito dentro da boca, enquanto a outra mão aperta


a minha coxa, fazendo o necessário para os nossos sexos

continuarem em contato, solto um grito.

— Quer mesmo que toda a cidade saiba que


você está sendo... como eu posso dizer: devorada?

— É isso que vai fazer? — provoco, ele

responde antes de dar a devida atenção ao outro seio.

— Cale a boca, só por alguns minutos,

querida? Eu sei que gosta de falar, mas não é o momento


para palestras — brinca, mas não está mentindo. Todo
mundo sabe que eu falo muito. Na cidade em que nasci e
vivi até um mês atrás, alto-falante era só mais um dos

meus apelidos carinhosos.

— É o momento de?

— Trepar. — Ele completa, enfia a língua na

minha boca, eu esqueço do que estava falando e do meu

próprio nome. — Posso tocar em você? — sussurra no


meu ouvido, depois de ter feito uma trilha de beijos, que

partiu da boca, seguiu pelo meu pescoço e terminou perto


do ouvido.

— Deve – sussurro de volta, indo além e


mordendo o seu queixo.

Fico com o coração acelerado quando sua mão

começa a descer pela minha barriga por pura ansiedade,


pois não sinto qualquer constrangimento de mostrar para

ele o quanto o desejo. Quando me toca, sou obrigada a

morder o lábio inferior com força, para não gritar.


Esperei por tempo demais, era tudo o que eu

queria e não devia desejar. Agora que está acontecendo,

sinto como se fosse demais, como se não fosse capaz de

suportar tamanho prazer.

Cada pequeno toque, ou movimento me faz

responder de uma maneira incrível, e tenho certeza de que

Logan é a única pessoa capaz de fazer isso comigo.

— Toda molhada. Você está pronta, não é? —

Balanço a cabeça em confirmação. — Se eu quiser, posso

entrar em você agora e não vou encontrar qualquer

resistência. — Enquanto fala, Logan separa os meus lábios

vaginais, pressiona o meu clitóris, mas não por tempo


suficiente para me deixar gozar. Eu preciso gozar, ou então

vou explodir de tesão.

— Diz o que quer que eu faça agora, amor. Eu

confesso que estou com a boca salivando de vontade de

chupar a sua boceta apertada até deixá-la vermelhinha,

mas não quero que seja assim. Preciso que fique esfolada
por causa do meu pau. Ele tem que ser o culpado, porque

é ele quem fica duro sempre que você está por perto. Só...

faça a escolha certa, Mirella. — Enquanto fala, Logan enfia

dois dedos na minha boceta, mas não é o suficiente, ele

me faz querer algo maior, que me preencha por inteiro.

— Eu quero você todo dentro de mim. O pau,


não os dedos.

— Resposta inteligente, querida — diz, rouba


mais um beijo molhado e exigente. É como se nada fosse o

suficiente para recuperar o tempo perdido, para aplacar o

desejo reprimido. O fato de precisar respirar é apenas um

mero detalhe.

Em algum momento entre as mordidas, que

passamos a dar em meio aos beijos para nos provocarmos,


os seus dedos deixam o meu sexo e são substituídos pelo

pênis, que começa a passar entre os meus lábios vaginais.

Seu membro vai e vem, faço de tudo para forçá-lo a entrar


de vez, mas fica claro que Logan só me terá quando quiser,
porque ele está no controle.

Eu gosto que Logan esteja no controle, que

esteja me dando ordem na sua cama, mesmo que o seu

domínio seja mais por gestos do que por palavras. Quando

ele estica o braço para pegar a camisinha, começo até a

ouvir anjos cantando. Estou na porta do paraíso.

— Você terá que me perdoar se acabar rápido

demais. Foram anos de desejo acumulado... — fala, com

visível esforço para não meter tudo de uma vez. Lolo quer
ser gentil, e eu fico mais louca ainda por ele.

— Não sabia que me queria tanto assim.

— Como um louco — declara. — Assim está


bom para você? É tão apertada... — questiona, começando

a se mover.

— Pode ir mais rápido, Logan. Eu não vou partir

ao meio — falo porque sou gananciosa, mas está tão


apertado. Em todos os sentidos, ele é grande demais para

mim. Mas, o incômodo da invasão é gostoso, quero que

amanhã, e nos dias seguintes, ainda seja capaz de sentir


que estava completamente dentro de mim, que cada parte

do meu corpo foi alvo de sua adoração possessiva.

— Não quero te machucar — assevera.

— Vai machucar se não fizer o que queremos e

da forma como queremos — falo, o puxando com as

pernas. Vejo quando o seu olhar muda. O homem que quer

ser gentil na primeira transa com uma garota se vai, fica

apenas quem quer isso há muito tempo. Queria tanto que


não poderia ser de outra forma.

Logan me penetra devagar e, com uma dose de

adoração uma única vez. Depois, passando os braços pela

minha cintura, como se quisesse garantir que não vou

desaparecer como uma nuvem de fumaça, começa a meter

com força. Vai e vem com corpo em cima do meu,


sustentando parte do peso com as mãos no colchão. Ele
não tira os olhos ferozes dos meus, Logan não me deixa

esquecer o quanto me deseja.

— Que gostosa do caralho! Eu vou deixar essa

sua bocetinha gulosa em carne viva, menina. Irão se

passar dias até que esteja bem o suficiente para me dar


novamente — ele fala, mas não deixa de meter

profundamente. Se segura em apenas um braço, porque a

outra mão está amassando o meu peito.

— Faça isso, Logan. Eu quero que você acabe

comigo — peço, completamente fora de mim, enquanto o

meu corpo é possuído e o meu sangue pega fogo. O meu

coração está disparado, na minha cabeça não ficou nada

além do prazer, da ganância de querer mais e mais, até


não conseguir mais.

— Eu vou, querida, acredite em mim — fala,

então sai. Ele se deita de costas na cama e eu entendo o

que deseja. Subo em cima do seu colo, pego seu membro


e o coloco novamente dentro da minha boceta, que sentiu

a sua falta.

— Rebola para mim, Mirella. — Rebolo até

cansar, gemo e arranco gemidos dele. O meu suor escorre,

fico tão escorregadia quanto o Logan está.

— Eu não quero que acabe...

— Não vai, Mirella... — ele ergue o quadril para

ir mais fundo. Sinto-o tocar onde nunca fui tocada. — Não

vai. — O ruivo se senta, abraça-me com força e me coloca


deitada de bruços. Posiciona um joelho entre as minhas

pernas para separá-las, então começa a me pegar por trás.

Logan cobre o meu corpo com o seu, beija o


meu ombro e o pescoço suado.

— Bunda linda. Você já...

— Nunca tive coragem — admito.

— Terá comigo. Eu vou comer o seu cu, Mirella

— fala com firmeza, uma nova onda de excitação


atravessa o meu corpo. — Vou te foder tanto ainda, e você

vai gostar.

— Eu vou — digo, já sem forças, mas tentando

me agarrar no lençol que cobre a cama. — Quero gozar,

Logan. Não aguento mais — imploro, porque já me segurei

demais. No fundo, junto com todo o prazer do momento,

tenho medo do que acontecerá quando acabar, por isso me

segurei tanto, mesmo estando pronta para gozar desde o


momento em que ele começou a chupar meu peito.

Acredito que Logan está sentindo o mesmo.

— Só mais um pouquinho, amor. Eu ainda não

quero que acabe — diz e, selvagem, ele estapeia a banda

da minha bunda com força suficiente para fazer esquentar,

mas não para doer. O Logan durante o sexo parece ter

mãos de polvo. Ele toca, belisca e aperta. Toques que só


causam prazer.

— Você é o melhor sexo que já tive — elogia.

Mete com mais força, coloca a mão entre o meu corpo e


colchão, mexe no meu clitóris até me deixar à beira do

precipício.

Logan manipula meu corpo como uma massa

de manobra. Ele me deita mais uma vez de costas e de


pernas abertas.

— Quero te olhar enquanto estiver gozando em


você. Quero que veja o que faz comigo — fala, mordisca

meus lábios e segue me penetrando. O som dos nossos

corpos se chocando e o cheiro de sexo estão por todo o

quarto.

Quando a onda mais forte de prazer se espalha

pelo meu corpo, se concentrando onde estamos


intimamente ligados, deixo-me levar. Sinto cada parte do

meu corpo tremer, cada lugar em que as suas mãos

tocaram. O grito que me escapa, e o urro que ele solta é

tanto um alívio e uma libertação quanto uma perda, porque

se a vontade de me deixar levar era grande, a de ser


preenchida por muito mais tempo era maior.
— Logan...

— Logan!

Grito e sussurro o seu nome, como ele jurou

que aconteceria.

— Você é incrível! Porra de garota gostosa! —

Logan entra e sai mais duas vezes, então tira o

preservativo e jorra a sua semente em cima dos meus

seios. Os seus olhos ficam totalmente escuros, quando


veem o líquido viscoso e esbranquiçado escorrendo pelo

vão, que separa os meus peitos.

Tanto Logan quanto eu estamos suados e


ofegantes. O ruivo se deita do meu lado em silêncio, em

seguida se levanta, pega uma toalha no banheiro e limpa a

sua bagunça. Então ele deixa o pano de lado e vira a

cabeça na minha direção. Ainda sem dizer uma única

palavra, se aproxima e me surpreende ao se deitar de lado


e depois descansar a cabeça no vão entre o meu pescoço
e ombro.

O meu corpo está saciado. Felizmente, a minha

mente está completamente vazia de quaisquer

pensamentos, pois tudo o que não preciso é pensar no que

acaba de acontecer entre o Logan e eu.

Logan
Sinto um calor estranho, um incômodo que me

faz saber que tem alguma coisa fora do lugar. Mexo-me

minimamente para o lado esquerdo e me deparo com um

corpo quente colado ao meu. Abro apenas um olho na


direção da janela, constato que o dia ainda não

amanheceu.

Ainda estamos na mesma madrugada. Eu, a


garota com quem transei e o vinho que bebi antes de cair

na cama. Tive que beber, porque sabia que, talvez, a

mente entorpecida me ajudasse a dormir melhor. Não foi


bem o que aconteceu, pois a minha cabeça se encheu das

piores lembranças, junto com um dos meus maiores


medos.

Agora Mirella está aqui do meu lado, e não

posso acreditar que estou deitado de conchinha como se

fosse parte integrante de um casal. A minha cabeça lateja

levemente, mas quero focar no fato de que ainda não é dia.

Eu propus uma noite para não pensarmos, e ela ainda não


acabou.

Mais satisfeito do que pensei que pudesse estar


depois do que fizemos, a abraço mais apertado e puxo o

corpo quente e suado para mais perto de mim, embora não

seja possível, a menos que seja para entrar nela.

Estar dentro da Mirella. Eu fiz isso por muito

tempo, bem mais do que prolonguei qualquer transa. Tudo

porque não queria que terminasse, porque não lembrava


como sentir. Provavelmente, por nunca ter sentido com
tanta intensidade. A boceta dela parecia perfeita para me

levar por horas a fio.

Ela é quente e apertada, do tipo que topa tudo

pelo prazer. Mirella esteve comigo em todos os momentos,


o som dos seus gemidos, e cheiro do seu perfume

misturado com o odor de sexo, me deixaram inebriado e

excitado além de qualquer compreensão.

Eu vinha fantasiando como seria fazer sexo com

a garota do beijo no dia do meu casamento durante anos.

Quando ela apareceu na porta de casa, eu a quis com mais

intensidade. Martirizava-me por querer, mesmo sabendo

que não iria acontecer, mas não era o suficiente para me


impedir de continuar ardendo por Mirella. Eu tanto quis que

não transo desde a sua chegada.

Tentei sair com algumas das garotas da minha

lista de contato, que sabem que não teremos mais do que

uma transa, mas os jantares, que geralmente acabam em

um quarto de hotel e uma noite regada a sexo, foram


fracassos. Voltava para casa frustrado e me perguntando

como a vida podia ser tão filha da puta, por me fazer sentir

tanta atração pela garota errada.

Com a minha mente de ressaca, ainda cheia de

imagens de nós dois fodendo como animais, eu não posso


pensar nela como a garota errada, porque tudo nessa cena

me faz pensar exatamente o contrário.

É tão certo que só de pensar nela e em sexo na

mesma frase, começo a ficar duro novamente, algo que


não achei que fosse acontecer tão cedo, levando em conta

o fato de ela ter tirado cada gota da minha energia. Eu


estava enganado quanto a isso e, também por pensar que
ela estaria cansada o suficiente, para desmaiar de

cansaço.

Se Mirella dormiu, não vai dormir mais. A garota

que dormia como um anjo se transformou na mulher


sedenta que diz exatamente o que quer. A safada rebola a
bunda de modo bem discreto contra o meu pau. Eu não sei
se ela pensa que não estou desperto... bom, com essa
última esfregada, que faz meu corpo ganhar vida, o pau

endurecer como se estivesse há anos em abstinência, as


dúvidas acabaram.

Nós dois estamos bem despertos, e o desejo

ainda não foi satisfeito. Fico contente por estarmos nus,


assim temos total acesso ao corpo do outro. Em silêncio,

ainda deitado às suas costas, brinco com os seus peitos


até deixá-los acesos para mim. Depois de um tempo, já
sentindo a sua e a minha respiração um pouco mais

ofegante, desço a mão pela barriga plana, até tocar no seu


ponto de prazer com os dedos.

No primeiro toque o seu corpo se retesa. Tento


parar, mas Mirella prende a minha mão entre as suas

pernas. Com cuidado, continuo tocando sua boceta, mas


também aproveito para morder, chupar e lamber o seu

pescoço e ombro. A garota não demora nada a ficar úmida


para mim, assim como eu estou pronto para fazê-la minha
mais uma vez. Levo meio segundo para pegar um

preservativo e o colocar no meu membro.

Antes que abra a boca para pedir permissão, a

gatinha insaciável afasta levemente as pernas. Eu seguro


uma delas, levanto-a o suficiente para colocá-la em cima

do meu quadril. Deitados de lado, começamos a transar.


De alguma forma, dessa vez é diferente. É mais terno,
estamos bastante conscientes do corpo do outro, dos sons

que fazemos e dos gemidos que nos escapam.

Nessa posição, tendo o seu corpo nos meus

braços, o calor parece mais insuportável do que quando


estávamos trepando no modo hard. A minha necessidade

de gozar, a sua também, pela forma como a sua boceta


está esfolando o meu pau, é mais urgente, mas não me
deixo levar. Não ainda.

Ficamos por muitos minutos na mesma posição,


depois eu me deito em cima dela, porque não quero perder

nada. Continuo penetrando e beijando sua boca macia,


sentindo o nível do desejo alcançar níveis altíssimos com
os movimentos habilidosos da sua língua na minha. Porra

de garota que beija tão bem.

Depois de um tempo, perco as contas de

quantas posições nós tentamos — não que estivesse


contando. Quando o suor nos deixa completamente

molhados, e o corpo começa a reclamar, nós ainda assim


continuamos transando. Sempre desacelerando quando
estamos prestes a gozar.

Eu não poderia dizer como e quando paramos.


Em que momento a gente sucumbiu ao cansaço, porque

não houve nenhum momento do prazer que dei e recebi


que não queria que durasse para sempre. Talvez seja para

sempre, um destino do qual nunca irei reclamar, pois


enquanto estamos juntos, os erros não existem. O mundo
fora do quarto não tem qualquer relevância
Sensível

Mirella
É engraçado como têm partes do nosso corpo

que sempre estiveram aqui, mas nós nunca estivemos

conscientes delas. Elas existem e basta sabermos que elas

estão lá. Mas hoje eu estou sentindo o oposto. Estou

plenamente consciente e dolorida da cabeça aos pés. Tudo


bem, talvez não seja exatamente da cabeça aos pés, mas

sinto como se fosse.

Ainda não abri os olhos, mas pela claridade

atrás das minhas pálpebras, o dia amanheceu há muito

tempo. Talvez eu tenha passado o dia inteiro na cama.

Cansada o suficiente para fazer isso eu estava.

Opa! Dolorida e cansada?


A minha mente fica zonza quando pulo sentada

na cama. Essa cama não é minha..., mas para a mancha

esbranquiçada de esperma entre as minhas pernas não

existe outro significado. Eu transei muito ontem à noite.

Não foi com o do pobre Tadeu, que claramente queria isso,

mas com o Logan, o ruivo que eu queria. Não só transei,

tipo uma vezinha, porque nós dois estávamos altinhos,

transei muito, tanto que não sei nem em que momento a

gente decidiu parar.

Lembro-me de ele ter dito para não pensarmos

no amanhã, que no caso é hoje. Eu obedeci, e a menos


que a pessoa morra, o amanhã sempre chega, assim como

o nosso chegou. A minha mente está cheia, mas o


arrependimento não configura nem o top 3 na minha lista

de preocupações no momento. O que fizemos foi tão


especial para mim, que estou me sentindo uma boba por

estar dando importância ao fato de ter acordado sozinha,


na sua cama.
Mas, isso é uma grande besteira, porque se eu
tiver dormido o dia todo, sou sortuda por Logan não ter

jogado um balde de água na minha cabeça, ou me


derrubado da cama. Se ainda for cedo e ele tiver se

levantado, porque não suportou me ver na sua cama,


também não devo fazer caso, afinal, o que eu poderia
querer? Beijos de bom dia e café da manhã na cama?

Isso, sim, seria constrangedor. Não importa o


quanto nós dois tenhamos bebido — não foi o suficiente —,

nós sucumbimos ao que queríamos, sem nos importarmos


com o quão estranho poderia ser no dia seguinte. Como

ele propôs, nós realmente não pensamos.

Cada segundo foi perfeito, muito mais do que eu


fantasiei, mas a perfeição dos nossos corpos em sincronia

vai de encontro a todos os porquês de nunca termos feito


nada a respeito da atração nas últimas semanas. Não é

algo que se possa voltar atrás, eu não iria querer de


qualquer forma, mas também não tenho como fechar os
olhos para as consequências.

Acredito que para ele tenha sido a primeira e

última vez. Um segredo para mantermos só entre nós dois,


porque embora Logan esteja sozinho há três anos, tempo
demais para que ainda esteja solteiro, ninguém espera que

seja visto em qualquer tipo de relacionamento amoroso


com a irmã da ex-esposa. Não julgaria ninguém por julgar,
não quando eu mesma não aceito. Mesmo se aceitasse, eu
sei exatamente o que teria de enfrentar do lado de fora das

paredes desta casa.

Logan não seria apedrejado por ficar com as


duas irmãs, muito pelo contrário, ele seria o pegador, o
garanhão. Eu, por outro lado, seria a vadia que roubou o

marido da própria irmã. Não roubei, e nem ele é marido da


Isabella, mas seria assim que a história se espalharia.
Infelizmente, o mundo é injusto, mas é dessa forma que
funciona.
Mesmo agora, com o corpo aos frangalhos e a
cabeça um pouco bagunçada, consigo separar e entender
melhor os meus sentimentos. Eu já tinha chegado em um

ponto que não conseguia mais pensar no porquê de estar


resistindo ao que tanto queria, mesmo que soubesse de
cor todas as razões. Qualquer movimento dele na minha
direção acabaria conosco na cama.

Deve ser por isso que fiquei magoada, mas não


protestei quando disse que era melhor eu partir. Ir embora
significava fugir da tentação que era maior do que os meus

pensamentos de certo e errado.

Agora que aconteceu, não consigo me


arrepender nem por um segundo, porque nada do que
somos mudou, mas eu não vou sair da sua vida, com a

ideia do que poderia ter sido se tivéssemos tido ao menos


uma noite.

Sim, eu queria muito essa noite, tanto que só

pensava nela antes de dormir. Não me arrepender não


significa que joguei fora tudo a que me apegava, que tenha
esquecido que Isabella chegou antes de mim, que a filha é

sua, que essa família não é minha.

Tanto não esqueci que, fora a boba decepção


de ter acordado sozinha na cama, estou pronta para ir até

o meu quarto e fazer as minhas malas. Eu poderia ter ido


antes de deixar chegar até aonde chegamos, mas agora
que aconteceu só consigo pensar que foi a melhor noite da
minha vida. Logan chegou onde nenhum outro chegou, e

eu vou guardar no meu coração e na minha memória para


sempre.

Jamais vou esquecer de nada do que vivi nesta


casa, da minha pequena ruiva. É impossível esquecer do
Logan. Como eu poderia se estou apaixonada por ele?

Não estou nem ao menos surpresa por me dar


conta que estou apaixonada, pois venho me apaixonando
por Logan há cinco anos. Estar por perto durante as

últimas semanas apenas abriu os meus olhos.


É por isso que preciso sair do seu caminho,
chego à conclusão, mas as lágrimas enchem os meus

olhos.

— Droga! — murmuro. Nem sei o porquê disso.


Eu estou bem, não estou?

Muito lúcida e consciente das minhas escolhas.


A verdade é que nessa equação a razão leva vantagem

sobre o coração. E Logan não me faria mudar de ideia nem

se... se...

Nem se elogiasse as minhas roupas, sem estar

bêbado. Aí está, algo impossível de acontecer, pois Logan

é meu crítico n° 1. Tem bom gosto para tudo, mas é cego


para a minha genialidade e, combinações perfeitas de

cores.

Mesmo com as pernas bambas, tudo por causa


das peripécias sexuais de mais cedo, e a vagina tão

dolorida que mal posso fechar as pernas, sem sentir


incômodo, enrolo o lençol no meu corpo e saio do quarto,

que só tem cheiro do perfume caro do Lolo e sexo.

Sou estranha demais, porque estou andando na


ponta dos pés e nem sei o motivo. Não é como se o Chuck

estivesse me esperando do outro lado da porta...

— Ai, que susto!

A cena tem três atos: eu abrindo a porta e

dando de cara com o Chuck, quer dizer, com o Logan. Eu


levantando as duas mãos em sinal de rendição, mesmo

tendo certeza de que não é um assalto. A dignidade que eu

ainda tinha, Logan levou de madrugada entre o primeiro e


o quarto orgasmo. Por fim, eu ainda com as mãos

levantadas para o alto e sentindo o pano cair do meu


corpo.

Com a força do pensamento, ordeno que fique

no lugar, mas não sou a Jean do X-Men, o que significa


que ele não me obedece.
Antes que os créditos subam, vale acrescentar a
cena do Logan olhando para o meu corpo com os olhos

arregalados. É como se nunca tivesse o visto antes, mas


sabemos que viu até mais do que deveria. A sua boca no

meio das minhas pernas... Misericórdia.

— Eu estava indo conferir se você se sentia

bem.

— Dormi o dia todo, não foi? Emmy já chegou?

— Não, é meio-dia ainda — fala, e não precisa

responder a segunda pergunta, uma vez que a minha


sobrinha só volta para casa no final da tarde. Chega muito

elétrica e disposta a ter minha atenção só para ela. A


criança não pergunta da mãe, mas é nítida a carência que

tem de uma figura feminina mais presente.

— Tudo bem... — por que estou tão sem jeito?


Esse homem só não comeu meu cu porque não deu

tempo. — Se você sair da minha frente...


— Perdoe-me, bregu... Mirella. — Ele demora

mais do que deveria para dizer três palavras, mas poderia


ter ficado calado.

— Ah! Dá um tempo, irmão! — Sem a minha

dignidade, provavelmente com remelas brilhando em algum


canto do meu olho, me agacho, pego o lençol e o enrolo no

corpo.

— Irmão?

É mesmo. Irmão? Tadeu e sua mania de chamar

até a mãe de irmão. Por tabela, eu pego as suas manias.

— Você poderia me pedir desculpas por falar


mal das minhas roupas — ele tenta falar, mas não deixo. —

Calma, é só um exemplo. Eu respeito as opiniões

contrárias, mesmo que acredite que sejam equivocadas...

— Não nesse caso.

— Não me interrompa! — ordeno. — Entre

qualquer outro motivo que você poderia ter para me pedir


desculpas, nenhum deles acaba com você na minha frente
se desculpando por ter transado comigo a noite toda.

Literalmente, a noite toda. Eu não lembro nem em que

momento nós paramos. Não sei se dormimos ou


desmaiamos. E só para que não fique preocupado, saiba

que vou tomar a pílula do dia seguinte.

— Mirella...

— Sim, você gozou dentro de mim, mas não se

preocupe com o risco de essa noite resultar em um filho,


porque não tem a menor chance.

— Mulher, cale um pouco essa boca. O tanto

que você fala por segundo não tem condições. Já tentou


ver se não tem como colocar o seu nome no livro dos

recordes? — Ele está sorrindo?

— Será? — indago, porque me interessei.

— Posso pesquisar para você — sugere, fico

animada, mas lembro do assunto anterior.


— Suas desculpas foram aceitas, Logan

Ramirez de Castro. Pode seguir o seu caminho na santa


Paz de Cristo — digo, o empurro para o lado e caminho

para a porta que fica a poucos passos da sua.

— Problemas para caminhar? — Por que ele


está me provocando, quando deveria estar surtando? —

Deve ser difícil levar tanto na bocetinha, ainda mais de um

pau como você nunca viu.

Dou uma leve tremida, porque, no momento, as

palavras que começam com P e B na mesma frase, saídas

da boca do Logan, estando ele com o peito mordido e


arranhado na porta do quarto, são a minha fraqueza.

— Não sei, não tinha uma fita métrica do meu

lado para que pudesse medir. Além do mais, não vi se era


tão bonito, estava escuro e eu não coloquei as minhas

lentes de contato — digo.


— Quer tocar? Na luz do dia você pode não só
ver quanto sentir — O que está acontecendo?

Esse homem não está tendo a reação que eu

esperava. Eu o olho e não o reconheço. Mas..., olhando


dentro dos seus olhos, algo que eu não tinha feito até o

momento, depois da madrugada de hoje, percebo que

apesar do que sai da sua boca, ele está apavorado. Tenta


descontrair, mas não sabe o que dizer, ou o que sente de

verdade, em relação a todo o sexo que fizemos. Parece


que as nossas posições estão invertidas.

— Logan, preciso tomar um banho agora. — É o


melhor que tenho para dizer no momento, em que o clima

fica como deveria estar desde o início: tenso e pesado.

— Pode ir. Estou esquentando o almoço que a

Dora deixou. Quando você terminar, a gente pode almoçar

e conversar.
— É claro — digo, entro e fecho a porta à

chave.

Apressada, paro na frente do espelho. A

primeira coisa que noto são todas as marcas no meu


corpo, cuja pele é branca e sensível demais. A pele dos

seios está irritada por conta da sua barba por fazer. As

chupadas e as áreas vermelhas por várias partes riem da

minha cara por causa do mico que paguei. Era por isso que

Logan estava pedindo desculpas. Não era por ter feito sexo

comigo. Fico confusa agora que entendo, mas a sua


reação, melhor do que eu esperava, não muda o fato de

que acabou. Não muda nada, na verdade. Nós vamos

esclarecer a nossa relação e eu vou embora assim que

conseguir me despedir da ruivinha.


Castelo

Logan
— Emmy estava com saudade do senhor, Lolo

— Na porta da casa, recebo a minha pequena. No mesmo

instante, sinto como se o peso dos meus ombros tivesse

sumido. Eu a amo tanto que sou incapaz de desejar ter tido

atitudes diferentes, porque por mais que tenha errado, fiz


por ela, por abraços como esse.

Não sei o que teria sido da minha vida se

Isabella tivesse tirado a minha filha de mim. Jamais me

perdoaria se deixasse que usasse uma criança inocente.

— Papai também estava com saudade, minha


menina — digo. — Agora vá para o seu quarto guardar a

mochila, que vou até o portão falar com o seu avô.


— Ele já está indo, olha — aponta para a

calçada e, realmente, o carro já está de partida. — Ele

disse um ablaço para o meu filho — diz, eu seguro o riso

pela sua forma de dar o recado.

— Onde está a Mimi? Fiquei com saudade dela,

Lolo — avisa, coloca a mochila em cima do sofá, e vai na

direção do quarto da tia, que ela ainda não reconhece

como tal.

Ainda não falamos sobre o assunto, mas talvez

esteja chegando a hora de fazer isso. O tempo está

passando e, eu temo que a menina a enxergue apenas


como mais uma de suas coleguinhas.

— A Mimi saiu para passear, mas disse que vai


voltar cedo para brincar com você, antes de ir trabalhar —
falo, mas a verdade é que ela não disse nada.

Depois de eu ter agido como um adolescente


com a Mirella, influenciado pelo nervosismo, ela foi para o
seu quarto, tomou banho e saiu sem dizer nada. Passou a
tarde fora, e não vou ficar surpreso se voltar apenas para

pegar as suas coisas. Eu deveria querer que fizesse isso,


mas não posso fingir. Pedi para que partisse ontem, hoje já

não sei o que quero, principalmente depois de ter passado


horas dentro dela.

— Quer saber o que fiz com o vovô e a vovó? —

Emmy está empolgada. Eu, nem tanto, mas deixo que me


puxe pela mão para o sofá.

Essa é a nossa rotina de todos os finais de


semana, quando a minha ruiva volta cheia de histórias para
contar. Algumas que fazem o meu sangue gelar, porque os

seus avós parecem ter um parafuso a menos na cabeça.

Eles sempre foram taxados como excêntricos.

Quando cresci, entendi que essa é apenas uma


denominação mais elegante para dizer que uma pessoa é

maluca. Os meus pais são mesmo, não posso negar, mas


que bom que têm dinheiro e tempo para aprontar. Desde
que meu pai não interfira no meu trabalho de diretor-
presidente da agência que confiou a mim, está tudo bem.

A minha conversa com a Emmy se torna um

monólogo. Só ela fala, eu a olho, mas os meus


pensamentos estão longe, mais especificamente na Mirella,
que ainda não chegou. Antes de imaginar que estivesse

saindo para se encontrar com o cara de ontem, gostei da


ideia de ficar longe dela para pensar. Depois que a imagem
do beijo no bar surgiu, não só não consegui pensar, como
passei o resto da tarde com ciúme.

Sempre fui confiante demais para ter motivos


para sentir ciúme. Em quase dez anos de relacionamento
com a mesma mulher, não me recordo de nenhum episódio
em que tenha me sentido ameaçado por alguém, e deve ter

sido esse o meu erro, porque a ameaça estava bem


debaixo do meu nariz.

Não senti ciúme durante os dois anos de

casamento, mesmo tendo plena ciência de que Isabella


não era fiel, que saía com Eduardo e outros que nunca fiz
questão de saber quem e, nem quantos eram. Por mim, ela
podia fazer o que quisesse com a sua vida, desde que

estivesse ao lado da filha, agindo com uma pessoa


decente, sendo a mãe que a garota precisava, em seus
primeiros anos de vida.

Com a sua irmã eu me sinto tão ameaçado que


chega a ser sufocante. Um lado meu, talvez o que está
ficando obcecado por ela, me diz que Mirella não é como a
irmã, uma comparação idiota, já que não temos nada e, ela

não me deve fidelidade nenhuma. E daí que trepamos até


o esgotamento e que eu tenha a deixado assada?

O lado mais sombrio, que não quero visitar, e


que faz terapia, diz que ela é exatamente como Isabella,

incapaz de agir como uma pessoa decente. Dentro de mim,


existe uma batalha interna entre o medo e todas as provas
que Mirella me deu de que não é a sua irmã, que é uma
pessoa em que eu posso confiar, até mesmo o bem estar
da minha filha.

E a cada dia que passa, a batalha fica mais


perdida para o medo, porque junto com a confiança,
também crescem sentimentos bons.

Eu não consigo parar de pensar na noite de


sexo que tivemos. No quanto foi bom e, em como não
chegou nem perto de saciar esse último mês e os anos em
que fez morada nos meus pensamentos. Não sei se é
porque ela reluz como um diamante, cheia de vida e calor,

quando eu sou o oposto, mas essa garota é a minha


segunda maior fraqueza.

Sempre foi ela. Mesmo nos momentos de maior


tormento, era a sua imagem que eu tinha guardado como
um lembrete de que, em algum lugar, que parecia distante
o suficiente para me fazer quase duvidar da sua existência,
havia uma luz.
Mesmo naquele curto e conturbado encontro,
não deixei de perceber que Mirella era luz.

— Mimi, eu estava espelando você!

O grito de felicidade da pequena me assusta,


mas não tanto quanto ver Mirella de joelhos a abraçando

apertado. Uma cena tão bonita, tudo que eu desejei para a


minha filha, mas que ela nunca teve. Mirella abraça Emmy,

mas os seus olhos estão em mim, assim como os meus

estão nela.

Ela fugiu do almoço e da conversa que

teríamos. Eu não faço ideia do que está pensando em

fazer, mas preciso que me escute. Não é como se eu


mesmo não estivesse com a mente confusa. Mas, não sou

um homem que foge, não mais.

Mirella
— Eu não sei se o seu papai vai gostar disso —

falo, dando os retoques finais no seu cabelo, que está


preso com elásticos rosas e azuis. Ela colocou uma saia

toda florida com a blusa verde limão, primeiro presente que

ganhou de mim. A sua roupa é tão espalhafatosa quanto a


minha saia longa com duas fendas das coxas e a blusa

amarrada na frente, que deixa metade da minha barriga à


mostra.

— Papai gosta. Ele gosta de você e de todas as

suas roupas.

Ah! A inocência das crianças..., mas não faz mal

perguntar, não é mesmo?

— Ele disse isso?

— Não, mas eu tenho que te contar um segledo.

— Segredo. — Eu a corrijo. Ela se aproxima e

começa a falar baixinho perto do meu ouvido.


— O Lolo estava assim — ela imita o pai em
uma expressão séria — quando fui contar das minhas

blincadeiras com o vovô e a vovó. Mimi entrou e ele ficou


assim. — Ela abre o sorrisão, que me deixa abalada,

porque é muito parecido com o do pai.

— Ai! — reclamo, Emmy começa a gargalhar.

Sim, eu estava agachada dando os retoques


finais no seu visual, porque ficar mudando de roupas e

fazendo várias combinações se tornou a sua brincadeira


favorita, mas me distraí com a menção ao nome do Logan

e acabei caindo com a bunda no chão. Juntando a minha

dignidade, me levanto e pergunto: — Acha que ele...

— Papai gosta de você, Mimi. É legal, antes ele

só gostava de mim — começa a enumerar com os dedos

—, do vovô, da vovó e do tio Noah. Agora você. Selá que


ele gosta do mesmo jeito que o príncipe encantado gosta

da Branca de Neve?
— Eu não...

— Acho que está na hora das mocinhas saírem

para jantar — Logan diz da porta. A forma como me olha


deixa claro que ele ouviu tudo que a filha disse.

— Estou bonita, Lolo? — Ela faz um minidesfile


e termina com uma voltinha charmosa.

— Está linda, querida. Tão linda quanto a sua

Mimi — diz com ironia e deboche, mas seu tom deixou de


ser de crítica há muito tempo. Logan só quer me

atormentar. Ele está se rendendo ao meu bom gosto, sinto

isso.

— Pai, não é verdade que gosta da Mimi, como

o príncipe da Branca de Neve? — ela insiste em nos

constranger. Logan abre e fecha a boca algumas vezes,


sem saber o que falar.

Ele pode até gostar de mim de alguma forma,

mas duvido muito que seja como o príncipe da Branca de


Neve. Até parece que eles fariam o pornô que nós dois
fizemos. Não, eles são inocentes demais.

Se não transam, como é que os filhos príncipes

e princesas nascem?

— Mas eles nem existem!

Porra, eu disse isso em voz alta.

— O que falou, Mimi? — Abaixo a cabeça, os


olhos curiosos da pequena estão em mim.

— Quero comer alpiste. — Sei nem o que é

isso.

— Lolo?

— Meu amor, por que está perguntando isso?

Quer que o papai goste da Mimi dessa forma?

Mas o que ele está fazendo?

— Sim, porque você é o príncipe e ela é uma

princesa. Eles se casam e vão morar no castelo. Se você


levar Mimi para o castelo, ela vai ficar para sempre. Eu

quero que a Mimi fique comigo para sempre, papai.

Nós dois prendemos os nossos fôlegos.

— Se ela ficar, pode ser a minha mamãe, não

é? — A pergunta dela faz Logan ficar tenso. Pelo que


tenho visto, Emmy parece não sentir falta da Isabella, mas

sente de uma mãe. De alguém para fazer o que nós duas

fazemos juntas.

De alguma forma, Emmy está transferindo uma


carência emocional para mim, que sou mais do que uma

amiga, mas não sou a sua mãe.

— Filha, vamos jantar agora?

— Sim! A minha barriga está vazia. A sua

também está, Mimi?

— Sim — digo, ainda de olho no Logan, que já

conheço o suficiente para entender que apesar do que

aparenta, está abalado com tudo o que a pequena disse.


Sentados sobre o tapete da sala, em volta da
mesinha de centro — ideia da Emmy —, nós jantamos em

um clima divertido, pois não tem como se manter

indiferente com a Emmy do lado.

Frente a frente, Logan e eu fazemos mais do

que trocar olhares que dizem tudo e nada ao mesmo

tempo. Por baixo da mesa, a sua mão está sobre a minha


coxa. Os movimentos dos seus dedos são descontraídos e

até inocentes. Ele age como se fosse algo que fazemos a


vida toda, quando mais cedo fugi porque não queria falar

da noite de sexo que tivemos.

Por mais que eu esteja tentando ser madura,

morri de medo do que iria ouvir, por isso decidi adiar um

pouco a conversa para outra tão importante quanto.

Tadeu e eu nos divertimos nos passeios de

moto pela cidade, eu o apresentei lugares divertidos e levei


no meu restaurante preferido, mas mantive uma distância
segura. É claro que ele notou que eu estava diferente,

então tive que ser sincera.

Não citei o nome do Logan, para não correr o

risco de ele falar para a minha mãe que dei para o homem
da minha irmã. Sim, estou o chamando de fofoqueiro, e

tenho local de fala porque éramos fofoqueiros juntos. Léo

Dias e Sônia Abrão do interior.

Falei que os meus sentimentos estão confusos

para fazê-lo entender que não precisa nutrir esperanças a

nosso respeito, menos ainda ficar me esperando. Ele ficou

um pouco chateado, mas disse que sempre serei a sua

garota n°1. Depois da conversa, continuamos o nosso


passeio sendo os mesmos de sempre.
Passa das 9h da noite, estamos no sofá

assistindo ao filme preferido da Emmy, que já está quase

cochilando. Ela está entre o pai e eu, mas o ruivo fez

questão de colocar o braço no encosto do sofá para tocar

no meu ombro sempre que a oportunidade surge.

— Vou levá-la para a cama. Você pode me

esperar aqui? — indaga.

— É claro.

O tempo que leva para Logan voltar passa

rápido demais. Quando penso em me esconder no quarto,


pelo menos até que os meus pensamentos façam algum

sentido, o ruivo volta e se senta do meu lado no sofá. À

princípio, não falamos nada. Ficamos nos fitando em

silêncio, até que o Logan estende o braço e me puxa para

cima do seu colo, como se eu não pesasse nada.


Quando a sua língua toca na minha, esqueço
das decisões que havia tomado, e até mesmo que não

posso ficar na posição tão vulnerável de sentir a sua

ereção. Não quando não posso me sentar, quer dizer,

quando não quero sentar.

Não quero sentar.

Não quero sentar.

Sentada, mentalizo, mas deixo que a sua língua

arranque a minha alma, assim como a minha, sedenta

arranca a sua.

De repente, o andar de baixo nem parece um

lugar tão ruim assim.


Apaixonados

Mirella
— Porra! Eu sou louco pelo gosto dos seus

beijos, pelo seu cheiro... — Logan realmente está louco,

mas eu também estou, porque não tem como não ser

quando passou dos beijos enlouquecedores na boca para o

meu pescoço. — Me perdoe por ter te deixado com o corpo


marcado. Mas, eu te queria tanto que fui com muita sede

ao pote. Queria te marcar por todos os lados, que nada de

você soubesse o que era não ter sido tocada por mim.

— Não me peça desculpas de novo, porque

tenho certeza de que deixei alguns arranhões nas suas

costas e peitos — falo, mordendo a sua orelha, sentindo

que a dorzinha no meio das minhas pernas é tanto pelo

nosso sexo, quanto pelo desejo que não tem fim.


— Onde você esteve durante toda a tarde? — A

pergunta é feita com uma mordida no meu lábio inferior,

que ainda está um pouco inchado, de antes. Logan se acha

no direito de pedir satisfações.

— Eu estava com o Tadeu. — Sinto que devo

responder.

— Quem é Tadeu? — Mais um beijo demorado

na minha boca, antes de me deixar falar.

— Ele foi meu amigo colorido durante anos, o

mesmo cara com quem você me flagrou anos atrás. —

Quando menciono o fato, Logan para de me beijar. Sua


postura muda de relaxada para tensa. Fico me

perguntando se devo me afastar.

— Você ficou comigo, mesmo tendo um


namorado? — Pela sua expressão de puro desgosto, noto

que sua pergunta não é uma mera curiosidade.


— Como eu disse, nós nunca fomos
namorados. Não tínhamos nenhum acordo de fidelidade, e

eu nunca fiz nada que ele também não fizesse. Vou tentar
não ficar muito ofendida com essa sua pergunta, porque

você não me conhece bem, Logan, mas precisa entender


que eu jamais faria algo assim com um parceiro. Eu não
traio e não tolero traições — falo com seriedade, tento

descer, mas ele me mantém no seu colo, abraçando a


minha cintura, com firmeza.

— Perdoe-me por isso. Não deveria ter te


questionado assim. Nem tenho esse direito — diz, e

prossegue: — Mas, fiquei doido a tarde toda pensando


onde você poderia estar. Lembrei do beijo que trocaram,
então concluí que tinha motivos para sentir ciúme.

— Mas você não tem, não é mesmo? — Se era


essa a conversa que precisávamos ter, creio que

começamos errado.

— Não, mas tive.


— Logan, a gente tem que falar sobre ontem.
Tem certeza de que a forma como estamos nesse sofá é a

mais apropriada?

— Tenho.

— Tudo bem, vamos continuar. Quer começar?


— ele assente.

— Acho que você sabe que eu queria te comer


desde antes de os dinossauros serem extinguidos da face
da terra. — A conversa era para ser séria, mas não

aguento ficar sem sorrir quando fala dessa forma. Logan


tem toda uma postura e aparência de personagem rico de
novelas das 9h, mas fala e age como um reles mortal. —
Devo dizer, espero que não fique tão convencida, que você

foi o melhor sexo que já tive. Eu nunca quis alguém como


quis você, garota.

Meu coração quer pular do peito, e ele só está


falando que eu sou boa na cama, o que realmente sou. Se
falasse da minha roupa, eu receberia como uma
declaração de amor, que eu não quero.

Decidi que foi bom enquanto durou, mas que


acabou, não foi?

Para a resposta final, seria legal ignorar que


estou em cima do homem.

— Eu sei que trepo bem. Todos dizem isso.

— Eu não quero saber, Mirella — diz, nada feliz

com o comentário. As reações dele me deixam maluca.

— Pedi para que fosse embora... — relembra.

— E eu vou. Sabe que não arrumei minha mala

porque saí com o Tadeu, mas até o meio da semana


deixarei essa casa. Você tomou a decisão certa, apesar de
eu ter certeza de que teria sido melhor para nós dois se
não tivéssemos transado antes de eu ir.

Ele tenta interromper o meu discurso, mas não


permito e prossigo.
— Aconteceu e foi bom pra caralho. O melhor
sexo da minha vida também, mas acabou. Eu não consigo

pensar mais no quão errado pode ser. Não me arrependo


porque, no fim das contas, é melhor do que passar a vida
me perguntando como teria sido, se tivesse sido corajosa
para ir até o fim com você.

— Está me dando um pé na bunda? — pergunta


sem alterar o tom de voz e, nem a sua expressão consigo
ler.

— Logan, olhe só para a gente. Como eu

poderia estar fazendo isso? Não é como se fôssemos um


casal qualquer. Você se separou.

— Sim, estou solteiro e você também.

— A sua ex-esposa, a mãe da sua filha, é a


minha irmã mais velha.

— Não precisa me lembrar, porque nunca me


esqueço disso.
— Por isso que você quer que eu parta, não é?

— Não quero mais que você vá, Mirella. Você


tomou a sua decisão, entendeu o que é melhor para si e
para todos nós, mas eu estou longe de ser tão sensato
assim.

— Não quer? — Fora o equívoco de associar a


palavra sensatez a mim, só guardei a parte em que ele diz

que me quer aqui.

— Não mais. Eu tentei fazer o que era certo


para resistir à tentação e a confusão de sentimentos que

você representa estando por perto, mas fizemos o que

queríamos antes. Agora, breguinha, eu não consigo pensar


em ficar longe de você.

Juro que não estou mais respirando.

— E quer ficar perto de mim para quê? —


questiono.
— Eu não queria, mas gosto de você. A minha

filha te adora, e não quero causar o trauma da separação.

— Está usando a Emmy para me fazer ficar?

— Está funcionando?

— Não sei, mas pode continuar, porque sei que

tem mais — falo.

Estou brincando com o fogo, pois quero que ele

diga que quer continuar fazendo putaria comigo. Juro que


não é só porque desejo ter o meu ego amaciado por um

homem como esse. Nada disso.

— Estava na cama mais cedo, não estava?


Será mesmo que eu preciso dizer que aquela meia dúzia

de vezes não foram o suficiente? Quero almoçar e jantar

você.

— Sou a irmã da sua ex-esposa.

— Você está aqui, ela não — diz com firmeza.


— Por quê? — questiono.

— Mirella, eu sei que você sente que tem algo

errado, e está certa. Aconteceram muitas coisas entre a

sua irmã e eu, muitas delas não foram bonitas. É uma


história que me perturba, que me faz ter pesadelos, e por

isso é tão difícil que eu divida com outras pessoas —

assevera, uma pulga enorme se muda para de trás da


minha orelha. — Sei que é sua família e tem direito a

algumas respostas, mas não vou falar sobre isso. Não


ainda.

— Mas, Logan...

— Só quero que saiba que a Isabella foi embora


por escolha própria. O casamento nem deveria ter

acontecido, mas durou mais do que era saudável, por

causa da nossa filha. Você não é ela. Eu não te vejo como


ela. Os meus sentimentos por você não têm nada de

parecido com o que eu tenha sentido pela Isabella. E


quanto mais perto fico de você, menos lembro a qual

família pertence.

— Também me sinto assim às vezes, mas me


culpo depois. É como se eu estivesse vivendo uma história

que não me pertence, você entende?

— Entendo. Eu não estou dizendo que é

simples, porque também penso em tudo isso, também me

preocupo com as consequências, com a cabeça da Emmy.


Mas, por outro lado, quando deixo todas as preocupações,

lembro que somos apenas um homem e uma mulher.

Quando estávamos juntos na cama, eu era apenas o


Logan e você a Mirella, duas pessoas que se queriam,

acima de todo o resto.

— O que você quer fazer? — indago, porque eu


mesma não sei. Tenho até medo dos meus próprios

desejos.
— Quero propor que as coisas sejam como
antes, que você continue aqui do meu lado e do lado da

sua sobrinha. Não precisamos dar satisfação para ninguém

fora das paredes dessa casa.

— Está propondo que a gente se pegue

escondido como dois adolescentes? — pergunto.

— Se você quiser, pode ir para o meu quarto


todas as noites que prometo dar conta do seu fogo. Mas,

não quero que se sinta pressionada a ficar se tiver com


vontade de partir, nem que pense que ficar significa que

terá de transar comigo.

— Eu quero ficar, Logan, mas não sei se é o


certo a se fazer, porque estou apaixonada por você —

declaro.

— Também estou me apaixonando por você,


breguinha. Estou apavorado, mas não pretendo fugir, pois

sei que os meus sentimentos irão comigo para onde quer


que eu vá — declara, eu ainda estou tentando assimilar o

que estamos fazendo.

No fim era sobre isso, não era? Logan e eu,


com culpa e tudo, vínhamos nadando contra a correnteza,

que insistia em nos puxar para o meio do mar agitado que


é a atração que sempre nos uniu.

— Eu topo ir devagar, só entre a gente por

enquanto. Tenho certeza de que entende que para mim é


muito mais difícil aceitar e me perdoar por ter me

apaixonado por você.

— No seu tempo, e até onde quiser ir, amor.

— Chamar-me de amor é o oposto de ir

devagar.

— Como você quer que eu te chame? Não


posso chamar de breguinha com tanta frequência, sem

parecer um adolescente de implicância com a namorada.

Além do mais, nem acho as suas roupas tão ruins.


— Você só pode estar brincando, Logan! Não
precisa fingir que aprecia meu senso de estilo, só porque

estamos começando a nos entender.

— Não estou fingindo, Mimi. Gosto das suas


roupas coloridas, das mechas e, de todas as bijuterias.

Mas gosto porque estão em você. Em outra pessoa, eu

continuaria achando que vieram direto dos anos 1980.

— Promete que nunca vai me inscrever no

Esquadrão da Moda? — questiono, aos risos. Pensei mais


cedo na hipótese de ele me elogiar, mas nunca acreditei na

possibilidade de acontecer de verdade.

— Quem?

— Nada. Então eu posso continuar vestindo a

pequena?

— Pode. Se ela gosta, e você também, não vejo

problemas.

— Cadê o Logan que conheci há um mês?


— Ele ainda é o mesmo, só está um pouco de

quatro por uma ninfeta cantora — diz, já voltando a ser

safado com as suas mãos nos meus peitos.

— Tenho vinte e três anos.

— Eu tenho trinta e dois, portanto, uma ninfeta.

Hum... Nada como foder uma bocetinha jovem. — Ele me

joga em cima do sofá e sobe em cima de mim.

— Devagar, Logan Ramirez de Castro... — digo.

As minhas pernas estão abertas para comportá-lo melhor

entre elas.

— Bem devagarzinho, Mirella — Se esfrega no

meu sexo sensível. — Você tem mesmo que sair?

— Mais tarde, você sabe — digo, e apesar de

ainda faltar um pouco, me ressinto por não ter tempo para

ficar assim com ele hoje. — O trabalho me chama.

— Eu quase tive um orgasmo enquanto te ouvia

cantar. Você é muito talentosa.


— Agradeço o elogio, ruivo.

— E já que estamos indo devagar, não devo

esperar que você venha dormir comigo quando chegar, não

é?

— Não... — tem um dedo tocando com

delicadeza na minha boceta desnuda. A saia longa foi para

esconder a falta de uma calcinha — Nós estamos indo bem

devagar, sem apressar nada... Porra!


Nos seus braços

Logan
Há um mês, o que me fazia bem era estar

assim, velando o sono da minha pequena, que de vez em

quando gosta de dormir comigo. Quando fica carente, eu

não consigo dizer não para ela. Mais cedo veio com seu

pano de estimação, fiquei feliz por não ter que ficar sozinho
com os meus pensamentos.

Meus pensamentos: Mirella.

Poucas semanas depois, parece que as nossas

vidas deram um giro de 90 graus com a chegada dela.

Hoje, apesar de todas as complicações que existe entre


nós, eu escolhi não fugir do que realmente quero. Não fugir

da paixão que vem me consumindo pouco a pouco. Agora

estou aqui, no meio da madrugada, ao lado da única


pessoa que me importava, minha filha e, pensando na que

tem se tornado tão importante para mim, Mirella.

Dar um passo pequeno, mas que parece

grande, me faz lembrar do passado, porque é inevitável

não o fazer quando deposito novamente a minha confiança

em uma mulher. Um dia eu disse e pensei que nunca mais

iria cometer esse erro. Nem os anos de terapia fizeram

com que eu mudasse por completo o pensamento e, a

decisão, que a traição da mulher que entreguei tudo de

mim me fez tomar.

Olhando nos meus olhos, Mirella disse que


jamais faria algo como a irmã fez. Eu, também olhando nos

seus olhos, disse que acreditava, porque tem algo que me


faz pensar nela como uma pessoa boa e sem maldades. A

sua bondade, mais do que a sua beleza e química que


temos, é o que mais me atrai.

Estar apaixonado por Mirella é saber que sairei

de uma zona de conforto, que os meus fantasmas me


visitarão com mais frequência, porque ela também me faz
lembrar da Isabella, mesmo que não tenham nada que não

seja o mesmo sangue em comum.

Tudo será um processo que terei de aprender a


lidar, mas farei, pois quero estar com ela. Que seja

devagar, que seja rápido, não importa, porque apenas o


sorriso da Mirella vale mais do que tudo que vier junto com

ele.

Quando estou quase cochilando, ouço passos

do lado de fora. Fico na expectativa, pois apesar de termos


dito que vamos com calma, tenho vontade de ter ela nos
meus braços hoje. Os seus passos são leves. Estou me

obrigando a segurar o sorriso, porque tenho certeza de que


ela vai tentar entrar sorrateiramente para não me acordar.

Como um garoto, fecho os olhos e finjo que


estou dormindo. Mirella realmente entra, sinto a sua

presença e o seu perfume. Acho que não esperava que a


Emmy estivesse aqui, mas isso não a impede de, depois
de dar um beijo na criança, se sentar à beirada da cama.
Antes de puxá-la para cima de mim, cubro a sua boca para

abafar o grito que acordaria a minha filha.

— Você me assustou! — sussurra, olha para o


lado para assegurar que não acordou Emmy. — Estava
fingindo que dormia?

— Sim.

— Você tem quantos anos, Logan?

— E falou a senhora maturidade — provoco,

olho para o seu corpo estirado no meio da cama entre mim


e Emmy, que ficou ao lado da parede. — Que horas são?

— São 3h da madrugada — diz. Ela já está


acostumada a ficar acordada até tarde, deve ser por isso
que não parece nem um pouco cansada.

Que bom.

— Como foi hoje? Deve ter matado uma galera


do coração com todo esse couro e batom vermelho. Sabe o
que eu imagino?

— Não sei se quero ouvir — diz, mas sei que


quer. É uma garota muito safada.

— Imagino você, seu batom vermelho e sua


boca engolindo o meu pau. Uma imagem e tanto.

— Não está com sono? — pergunta.

— Não mais.

— Se formos um pouquinho lá fora, talvez eu


realize a sua fantasia. — Antes mesmo de ela terminar de
falar, já estou em pé. — Está com pressa?

— Nem um pouco — afirmo e a pego em meus

braços. Saímos do quarto, mas deixo a porta entreaberta


para ficar de olho na Emmy.

— Imagina se tivesse... Leve-me para o meu

quarto, Tarzan. Quero tirar essa roupa apertada. — Faço


como me pede, entro no seu quarto e fico surpreso com o
que vejo.
Mirella deu um jeito de deixar o quarto colorido
como as suas roupas habituais. O lençol e os travesseiros

têm as cores do arco-íris. Nas paredes colou pôsteres de


bandas, não faço ideia de quem sejam, que mostram o seu
lado, cantora.

— Mirella, na minha fantasia você está usando


couro e batom vermelho. A outra possibilidade consiste em
você com batom vermelho e sem roupa nenhuma. Está
vendo como sou generoso? Estou até te dando alguma

escolha.

— Santo Logan, quem diria — fala com ironia


quando a coloco no chão. — Aí vai a minha escolha, ruivo.
— Mandona, ela aponta o dedo para a cama. Como um
garoto, obedeço e me sento na beirada.

Mirella começa a abrir os botões do vestido


preto, curto e justo bem devagar. Com certeza para
assegurar que eu fique mais duro que uma tora de pau.
— Qual é a dos caras da banda? Não sei se foi
impressão minha, mas eles te ignoram um pouco.

Eu sei que não deveria estar falando de outros


homens quando a minha garota está tirando a roupa para
mim, mas olhar para a sua maquiagem, e as mechas

coloridas que coloca para os shows, me fez lembrar da


situação.

— A garota que canta com eles ficou grávida e

teve que se afastar. Acho que eram muito unidos e, por


isso, me veem como uma ameaça. Queriam ter dito não à

minha entrada temporária na The Crown, mas como são

contratados, não puderam dizer não para o dono do bar.

O fato de estar falando de trabalho não a

impede de continuar fazendo um striptease. O fato de eu

estar prestando atenção na história, não me impede de


ficar excitado. — Mas não precisa se preocupar com isso.

Aos poucos, eles estão me dando abertura e começando a


me ignorar menos. Vão acabar gostando de mim.
— Espero que não gostem muito — comento.

— Por quê?

— Porque nenhum deles sou eu e só eu posso


gostar muito de você. Mais alguma pergunta? — brinco,

embora não possa negar que é inevitável sentir ciúme de


uma jovem linda e simpática como ela.

— Gosta do que vê? — pergunta quando a peça

cai embolada nos seus pés.

— Quero que tire o sutiã e a calcinha. —

Instruo, Mimi arqueia a sobrancelha. — É apenas uma

sugestão. Se não quiser que eu veja, não precisa tirar,


apesar de eu ter visto e tocado em tudo mais de uma vez.

As marcas da minha boca, e mãos, ainda estão

visíveis na sua pele alva e sensível demais. Agora, ao


invés de querer pedir desculpas, sinto prazer em lembrar

como as fiz.
— Vou tirar. Não gosto de usar calcinha e sutiã
— afirma, eu ofego.

— Mas usa, não é?

Para o bem da minha sanidade mental, ela tem


que dizer que sim, é meu primeiro pensamento.

— Uso, mas nem sempre. Se for uma roupa que

marca, uso sem calcinha para não ficar feio. Às vezes não
coloco sutiã, outras não visto uma calcinha. Às vezes,

nenhum dos dois.

— Você não pode me falar isso...

— Isso te assusta ou te excita?

— O que acha?

Para a minha completa surpresa, não sinto


ciúme. Eu sempre pensei que além de não querer, não iria

conseguir ter outro relacionamento saudável, porque

estaria sempre com ciúme e desconfiado. Mas pensar na


Mirella comigo em qualquer ocasião sem calcinha, me

excita.

— Eu acho que você ficou excitado com a


informação. Apesar de imaginar que outros poderiam

perceber que não uso nada por baixo, eles não são você. É
só você quem me toca, que mesmo em um lugar público,

pode colocar a mão debaixo da minha roupa e ter acesso

livre. Não foi isso que pensou? — Ela tira o sutiã e o joga
em mim, o pego no ar.

— Eu não tinha ido tão longe, mas, sim, você

está certa. Se um dia deixarmos de ir devagar — que


mentira essa nossa —, quero você sem calcinha em um

evento qualquer comigo. Mas aí terá que me prometer que


irá me deixar colocar a mão entre as suas pernas —

provoco.

— Você é um grande safado, Logan Ramirez —


ela diz, e tira a calcinha. Ela a joga no meu rosto, pego a

renda preta e cheiro.


Assim que ela vira a bunda bonita, e para na
frente do espelho da penteadeira improvisada, aproveito

para tirar a calça de moletom cinza, que vestia. Óbvio que

não tinha colocado uma camisa, pois tinha esperanças de


que a senhorita iria entrar no meu quarto quando voltasse,

e sei o quanto ama o meu peitoral. Mirella nunca conseguiu


disfarçar os olhares.

Ela olha tanto que às vezes fica vesga.

Eu me sinto grato a mim mesmo pelas corridas


e malhação de todos os dias.

A garota volta para mim com o batom na mão.

Quando começa a passá-lo nos lábios, com a expressão


mais sensual do mundo, pego o meu membro e me

masturbo em sua homenagem.

— Quero você aqui, Mirella.

— Aqui onde?
— Com a boca aqui — aponto para o meu

membro. Mirella sorri, joga o batom em cima da cama e se


ajoelha na minha frente.

— O que você quiser, ruivo. — Minha gata não

tenta nem mesmo me provocar. Ela o segura com firmeza,


faz um movimento de subir e descer da base até a ponta,

depois o engole até onde aguenta. Não estava esperando

pela boca macia, quente e experiente. Não posso pensar


em como ela ficou tão boa, porque prefiro sentir o prazer

que me proporciona.

E que prazer. Preciso me segurar para não


acabar com isso rápido demais, quero muito me derramar

na sua boca, a vendo engolir tudo.

— Que boca gostosa você tem, Mimi. Porra! —


Ela me olha de baixo, eu perco o controle, enrolo os seus

cabelos longos no meu punho e começo a controlar as


investidas. Mirella geme e se engasga, os seus olhos se

enchem de lágrimas, mas ela não para. A garota me chupa


até me ter implorando por alívio, até que seja impossível de
suportar.

— Amor, tira, senão... — ela não tira. Começo a

gozar na sua boca, Mirella continua, até engolir cada gota


de sêmen. Quando ela se dá por satisfeita, não mais do

que eu estou, o meu membro já está semiereto.

Mesmo com as forças faltando, a pego nos


meus braços e a deito de costas em cima da cama. Afasto

suas pernas e coloco minha cabeça entre elas.

— Você não precisa...

— Preciso e sei que você quer. — Toco na sua

boceta, e apesar de estar úmida, ela geme em protesto. —

Mirella...

— Não me peça desculpas de novo. Só me dá


prazer com a boca. Tenho certeza de que amanhã estará

melhor.
Com cuidado, passo a língua por todo o seu

sexo. Quando desejei chupá-la, pensei que seria mais

como uma foda, não como se estivesse fazendo amor com

a boca. Mas, é tão intenso e gostoso quanto seria se eu


estivesse a chupando com força. Cada gemido que sai da

boca e cada vez que a sua perna se fecha na minha

cabeça, a fim de prendê-la para que nunca acabe, mais me

regozijo com o que sinto e, a faço sentir.

Fico muito tempo chupando, metendo bem

devagar o dedo na sua boceta e me afastando quando


sinto que está perto de gozar. Prolongo o ato, porque as

suas reações me deixam hipnotizado, seus gemidos são

músicas para os meus ouvidos. A entrega e sensibilidade

ao meu toque me faz sentir como o homem mais poderoso

do mundo.

Mesmo fodido e incrédulo para muitas coisas,

sei que sou sortudo por ter uma chance com essa garota,
que é muito especial. Ela mexe comigo muito além do sexo

e, da química que temos.

— Logan...

Quando Mirella goza, bebo do seu prazer até a

última gota, depois subo em cima dela e a beijo com o

sabor do nosso prazer em nossas línguas.

— Volta aqui. — Tenta me puxar de volta

quando me deito do seu lado.

— Não, querida. Se continuarmos, vou querer

transar com você, e não está em condições de fazer nada

hoje. Não me tente.

— Tudo bem, feche a porta ao sair — diz como


uma menina mimada, se deita de lado, e dá as costas para

mim.

Eu queria poder levá-la para a cama, mas seria

confuso demais para Emmy e ela sabe disso, então beijo o

seu rosto e me levanto.


— Logan, nós ainda estamos indo devagar, não
é?

— Estamos, amor. — Minto, porque não

estamos indo nada devagar. Parece mais que pisamos o

pé no acelerador.

Não vou dizer isso a ela, porque respeito o seu

tempo e os seus sentimentos. Quanto aos meus, é a

primeira vez que deixo que eles tomem a frente da razão, e

torço fervorosamente para que esteja fazendo a coisa

certa.

Estou me entregando.
Através da janela

Logan

Um mês depois...
Depois que a minha realidade mudou tão
drasticamente, lembrar do passado, e até mesmo de como

vivia antes de tudo mudar, é como ter a sensação de que

estou dentro de um trem, que anda em alta velocidade. Eu

sou a pessoa olhando pela janela. Através do vidro vejo

cenas, acontecimentos e sentimentos do passado. O vidro

parece tão frágil, mas, ao mesmo tempo, o suficiente para


me distanciar do que vejo através dele.

O que vejo é uma realidade paralela, tudo tão


diferente, pesado e triste. Lembro de cada cena, mas é

como se não fosse comigo. Mas sei que sou eu, porque
apesar do vidro me manter longe do passado, o peso dele

e das lembranças ainda está aqui.

Depois que tive a certeza de que Emmy era

realmente a minha filha, entrei em um conflito interno muito

grande, porque ainda sentia muita raiva da Isabella, queria

continuar com os meus jogos. Sim, tudo tinha se

transformado em um joguinho de gato e rato. Eu os

retaliava pelos seus erros, eles não tinham como fazer

mais do que me odiar em silêncio, afinal, as suas vidas

eram controladas por mim.

Eu não podia mais continuar como antes. Tinha


a minha filha, que era tão pequena, linda e inocente. Ela

não podia crescer em um ambiente hostil e de brigas.


Mesmo contra a minha vontade, propus uma trégua para

Isabella. Combinamos de parar com as brigas, de melhorar


um pouco o relacionamento pelo bem da bebê.

Isabella entendeu como uma oferta de segunda

chance, como se fôssemos nos reconciliar. Fez algumas


tentativas patéticas de aproximação romântica, mas eu não
tive a reação que ela queria. E não era só por causa da

mágoa, também deixei de sentir atração por ela. Isabella já


não me interessava nem para o sexo.

Na nossa conversa definitiva, depois de ela ter

passado os primeiros meses após o nascimento da nossa


filha sendo patética com suas cenas de mocinha

arrependida, deixei muito claro que estava farto de olhá-la,


e que só estávamos juntos por causa da Emily. A fiz

entender que o seu único papel na minha vida era o de


mãe da nossa filha. Se não o cumprisse, eu a jogaria na

rua e jamais teria a oportunidade de ver a filha novamente.

Isabella ainda nutria esperanças, mas eu não


soube se realmente teve algum sentimento por mim, ou se

era tudo porque tinha medo de perder o luxo, que uma vida
do meu lado proporciona. Ela não aceitou bem nada do

que ouviu, então as nossas constantes discussões


começaram. Em cada uma delas, eu fazia ameaças de
separá-la da filha, algo de que me arrependo muito, pois
acabei dando munição para o que viria depois.

As ameaças envolvendo a minha pequena me

perseguem como um fantasma, mas é só por causa dela,


por tê-la usado como um objeto de discussão e disputa.
Com o passar dos meses entendi que, quanto a Isabella,

eu não tinha que ter qualquer arrependimento, que talvez


estivesse fazendo um favor para a Emmy se tirasse a
Isabella das nossas vidas.

Depois que parou de tentar me reconquistar, a

mulher passou a sair quase todas as noites, a chegar a


casa bêbada e chapada. Metade do que fazia era para
provocar e, chamar a minha atenção. Ela conseguia o que
queria, porque eu via o meu ódio por ela ficando cada vez

maior, por negligenciar a própria filha da forma como fazia.


Isabella parou de amamentar a bebê com seis meses.
Consequentemente, começou a ficar menos tempo com a
menina.
Contratei a babá para ficar com Emmy quando
eu não estava em casa, mas Lídia sempre foi mais do que
uma mera funcionária, ela era os meus olhos. Não deixava

a Isabella muito tempo sozinha com a filha, e me informava


de tudo o que ela fazia. Por isso, mesmo passando os dias
na agência, sabia que ela não dava a mínima atenção para
Emmy.

Na empresa, via Eduardo chegando com a cara


de ressaca nos mesmos dias que Isabella também saía.
Eles continuavam juntos, e pela minha filha acabei o

demitindo, mas antes disse tudo o que eu pensava dele.

Eduardo não saiu da agência sem ouvir que era


um fracassado, que só foi tão longe na empresa por minha
causa. Só ficou depois do que fez porque eu amava os

jogos que fazia com eles, o meu maior prazer era vê-lo
sendo rebaixado todos os dias. Queria tanto ser eu, mas
continuava comendo a mulher que eu havia jogado fora.
Depois que Emmy fez um ano, quando ela
passou a precisar ainda mais de mim e da mãe, só

encontrou os meus braços. Ela chorava muito quando os


dentinhos começaram a nascer, mas Isabella nem chegava
perto. Eu não entendia como a mulher podia ser tão fria.
Não suportava a falta de amor, porque apesar de ter pais
excêntricos que se divorciaram cedo, sempre fui muito

amado por eles. Cresci perto de pais que faziam tudo por
mim, que me amavam acima de qualquer diferença que
pudessem ter.

A cada dia que passava, o inferno dentro da


minha casa ia se tornando maior. Eram brigas causadas
pela negligência da Isabella, pela sua forma de levar a vida
como se não fosse mãe. Ela saía e voltava fora de si. Fora

das paredes da nossa casa, todos já sabiam que o


casamento estava por um fio. Todos esperavam pela
separação. Os meus pais, que amavam a nora, ficaram
conhecendo a sua verdadeira face quando cansei de fingir
e lhes disse toda a verdade.

Eu vivia entre a raiva e o remorso, pois apesar


de tudo, sentia que tudo era culpa minha, que não soube
como controlar a situação, como dar um lar de amor para a

minha pequena. Fechei-me dentro de mim mesmo e do


trabalho. As únicas pessoas que podiam se aproximar e,

esperar amor vindo de mim eram os meus pais e a minha

bebê.

Quando ela tinha um ano e seis meses, Isabella

chegou a casa dizendo que tinha arranjado um trabalho na

agência de publicidade que sempre foi a nossa maior


concorrente, apesar de sempre perder as melhores contas

para nós.

Questionei o motivo da mudança, afinal, a


mulher deixou o diploma de lado assim que o conseguiu.

No início do namoro fazia um trabalho aqui e outro ali, mas


sempre desfrutou das regalias de ser namorada de um

Ramirez de Castro.

Estranhei a sua mudança de atitude, mas não


conseguia imaginar o que ela poderia estar planejando,

então acabei agradecendo a dádiva concedida. Ela foi


embora sem que tenha sido preciso eu mandar. Sem a

briga que poderia acabar da pior forma possível.

Isabella saiu de casa com todas as suas coisas,


eu fiquei três meses sem vê-la, porque ela só visitou a filha

duas vezes, nesse tempo. Sempre em momentos em que


eu não estava em casa. Segundo Lídia, eram sempre

visitas rápidas e a mulher pouco pegava na menina.

Estive sempre de olho nela. Através dos meus


investigadores, descobri que estava mesmo trabalhando

para a concorrência. O caso com o Eduardo acabou,

quando ele deixou de ter qualquer relação comigo.


Eu acreditava que estava tudo bem. A minha
bebê era feliz tendo eu e seus avós para amá-la. Sentia um

alívio tão grande pela partida da Isabella. Era como se ela


fosse uma ameaça que havia sido eliminada. Mas eu

estava completamente errado. O silêncio da Isabella

mostrou-se mais perigoso do que os seus gritos.

A sua ausência tornou-se mais perigosa do que


sua presença. O trabalho que mantinha era com um

propósito. A sua visita, em um final de semana que


estávamos reunidos na casa da minha mãe, foi o início do

meu inferno. Do pesadelo e da ameaça que tenho a

sensação de que me acompanhará pelo resto da vida.

Estou cansado de ser o cara no trem olhando

pela janela. Não tenho mais o porquê de ser esse homem.


A minha vida finalmente está deixando de se resumir a um

filme do passado, que povoa os meus pensamentos todos

os dias. Ela já não se resume a culpa, ou ao medo de que


tudo o que fiz para garantir a minha paz e, sobretudo, o

bem-estar do amor da minha vida, venha à tona.

Hoje sou o cara do terraço, que olha para as


luzes da cidade, que vê o movimento de carros e de

pessoas, que vê a vida acontecer da forma como tem que


ser. Todas as pessoas ali embaixo têm os seus problemas,

mas elas estão seguindo em frente. Vivem, assim como eu

quero viver e me entregar sem reservas. Sem precisar ir


devagar, pois estou cansado de ir devagar.

Tenho ido devagar há um mês. Semanas, dias e

horas que me trouxeram até aqui, ao momento em que


quero dar um salto no escuro. Um passo que não achei

que pudesse mais dar.

Com a ajuda da minha mãe, que não


demonstrou nada que não fosse alegria quando eu disse

que estava me relacionando com Mirella, preparei o


cenário ideal para o momento. Perfeito para ela, perfeito
para mim e, para o que nós dois somos quando estamos
juntos.

Foi um mês que guardamos só para a gente a

nossa relação. Foi cheio de conversas para que nós nos


conhecêssemos melhor, mostrássemos tanto os nossos

defeitos, quanto as nossas qualidades. Mas, também teve

muito sexo, porque Mirella e eu somos viciados um no


outro, e noites dormindo agarrados. Muitas vezes

conversamos sobre falar ou não para a ruiva sobre a gente,


mas acabamos desistindo, porque estávamos tentando e

até que fosse certo, era melhor que não confundíssemos a

cabecinha dela.

Estou ansioso, com medo de estar me

precipitando, mas, acima de tudo, feliz por ter chegado a

esse ponto. Tudo graças a minha breguinha que pode, ou


não, se tornar mais do que uma tentativa. A sua resposta

será um salto de confiança e entrega muito maior, porque


ela tem mais a perder, será mais julgada. Eu quero apenas

uma chance para mostrar que vale a pena.

— Por que o seu motorista tinha que me trazer


até aqui vendada? Aliás, onde estou, Lolo? — Ela veio com

o motorista, como eu pedi. Está linda com a saia jeans roxa


e curta. A blusa de franja é um show à parte.

Não pensei que pudesse um dia dizer isso, mas

amo a forma como Mirella se veste. Amo porque é única.


Ninguém pode sequer tentar ser como ela.

— Você já vai descobrir, querida — falo, aceno

para que o Ulisses desça e nos deixe a sós.

Ele está com a gente há apenas duas semanas.

Depois de muita insistência, Mirella aceitou e entendeu,

que não pode correr riscos ao voltar para casa sozinha de


madrugada. Se pudesse, eu iria com ela todas as noites,

mas só posso no sábado, que é quando a Emmy está na


casa da avó.
— Vou gostar da surpresa? — indaga. Eu a
abraço e beijo o pescoço, que está sempre cheiroso.

— O meu futuro depende disso — afirmo.


Desejo de viver

Mirella

Horas antes...
Depois de um mês acordando cedo para ir para
a universidade, entendo melhor a minha fase de

adolescente que reclamava todos os dias. Por mais que

esteja gostando bastante dos colegas que estou fazendo,

dos professores e das matérias, não tem como não ficar de

mau humor por ter que sair da cama quentinha para tomar

um banho morno.

Muitas vezes tenho que acordar antes do

Logan, mas nos dias que dormimos juntos não é tão ruim
assim, porque eu o acordo para tomar banho comigo, ele

aproveita para me agarrar na ducha, pois, segundo ele, é o


preço que tenho que pagar por interromper os trinta

minutos de sono que ainda teria.

Fora os dias em que Emmy pega sua coberta e

vai para a cama do pai, nos outros estamos dormindo

juntos no seu quarto. A ideia de irmos devagar só deu certo

na minha cabeça. Na prática, fizemos o oposto. Mesmo

que seja um segredo que só nós dois sabemos, Logan e eu

temos agido como um casal. A cada dia que passa nos

conhecemos melhor e fica claro que os nossos

desentendimentos do início era apenas desejo frustrado,

pois nos damos muito bem.

O pensamento de que estou ocupando um lugar

que não é meu ainda existe, mas ele vai ficando mais
distante dia após dia. A preocupação com Isabella, que

ainda liga para a minha mãe, continua, principalmente


agora que dona Carla a contou que estou morando com a

sua filha e o ex-marido. Vez ou outra, me pergunto o que


ela deve estar pensando disso, e não consigo evitar de me
sentir mal.

Não escondo do Logan os meus sentimentos,

quanto a esse assunto. Ele, sempre compreensivo, me


acalma. Diz que eu não tenho com o que me preocupar,

porque Isabella não será um problema. Fico me


questionando como ele pode ter tanta convicção.

O que mais temo é a reação da dona Carla, que


não aceitou muito bem a notícia de que a filha mais velha

não mora mais com a família há três anos, e que não


pensou em dividir com ela a informação. Ela sempre ficou
do lado da minha irmã, então, sempre que ensaio começar

a contar sobre o meu relacionamento com o Logan, acabo


mudando de ideia.

Não sei se vale a pena, porque o risco de ter


relações rompidas com a pessoa que mais amo é grande,

por causa de uma relação que ainda não sei como definir.
Nós nos entendemos bem, e a cada dia que
passa sinto que estou mais apaixonada por Logan. Ele é

mais do que a fantasia. É um homem um pouco fechado e

sério demais em alguns momentos e assuntos, mas


comigo é gentil e atencioso, tanto que fez questão de
entrar em uma briga para me convencer a andar por aí com
o motorista. Depois que aceitei, passei a me sentir como as

mocinhas das novelas. E que sensação boa a de não ter


que pegar ônibus ou depender de caronas.

Dentro da casa, que cada vez mais se parece

com o lar que pensei que teria, se um dia tivesse minha


própria família, a convivência de nós dois com a pequena é
quase perfeita. Temos criado uma rotina que fica boa para
todos, e tem dado muito certo. O problema é que a vida

não acontece dentro de uma casa. O mundo fora dos


muros existe e, uma hora ou outra, teremos que atravessá-
los.
Não é como se eu estivesse com muita pressa,
mas sinto que as pessoas já estão começando a especular
que tipo de relação nós temos, por isso a indefinição tem

me deixado um pouco ansiosa.

Não espero um pedido de casamento, nem

mesmo de namoro. Nem sei ao certo qual seria a minha


resposta se ele fizesse um pedido. Fui eu que pedi para
que fôssemos devagar, mas agora, um mês depois, sem
termos ido devagar nem por um dia, me pergunto o que
sou para o ruivo.

Logan me disse apenas uma vez que estava


apaixonado, depois nenhum de nós voltou a repetir a
declaração. Há alguns dias, surgiu a necessidade de saber
o que temos, se a paixão ainda existe, ou se sou apenas

um corpo disponível na sua cama.

Não tenho motivos para pensar assim, porque


Logan não mudou em nada, continua viciado em mim como
sou nele, mas quando os questionamentos aparecem, os
pensamentos racionais ficam em segundo plano.

Ao fim do dia, com minha mãe, Isabella e o


mundo fora do pacote, admito para mim mesma, que tudo
é fruto do medo de estar exagerando na importância que

estou dando para a nossa relação.

Sempre fui e sempre serei autossuficiente, dona


das minhas vontades. Muito segura de mim mesma, mas
uma mulher que quer, acima de tudo, ser amada pelo
homem que ama.

Sim, eu amo o Logan. Foi a constatação desse


sentimento que me deixou dessa forma. Perceber que o

amo tanto trouxe a necessidade de saber que sou amada.


Se estiver amando sozinha, ainda estou em tempo de tirar
o meu time de campo, antes que leve um golpe do qual
não possa me recuperar tão cedo.
— Você é um amor, Ulisses. — Beijo o seu rosto
antes de sair do carro. Ele fica vermelho como um tomate

maduro.

— Vou ficar por aqui, mais tarde você pode


precisar de mim — diz, eu estranho suas palavras.

— Posso?

Quase não saio na parte da tarde. A ideia de


arranjar um segundo emprego no meu tempo livre foi

abandonada, já que moro aqui, e o dinheiro que ganho,


cantando à noite, é o suficiente para me manter e ainda

guardar um pouco.

— Esquece o que falei. Tenha uma boa tarde,


senhorita.

— Boa tarde.

Assim que fecho o portão, fazendo


malabarismos para segurar os livros com uma mão só,

uma cabecinha vermelha, vestindo biquíni azul, vem


correndo na minha direção. Ela é muito animada, nem

parece que acorda antes das 8h para ir para a escolinha.

— Eu estava espelando você para a gente


nadar na piscina, Mimi. — Ela abraça as minhas pernas, eu

coloco os livros no chão para ficar com os braços livres.


Fico de joelhos, abro os braços para ela. Assim, o meu dia

se torna muito melhor do que já estava.

Eu amo tanto o seu cheiro, seu sorriso e abraço,


que não consigo mais imaginar a minha vida sem ela. As

horas que passamos juntas são as melhores dos meus


dias.

— Tudo bem. Deixa só a Mimi trocar de roupa.

— Ela acena e sai correndo para perto da Lídia, sua babá


desde que era um bebê.

Ao entrar no quarto, a primeira coisa que faço é

colocar os livros em cima da cama e abrir a janela. O dia


de hoje está muito quente. Depois de tomar um banho
rápido e colocar um biquíni pequeno, tiro uma foto do meu
corpo e mando para o Logan. Mandar mensagens, fotos

sensuais e áudios têm sido a nossa forma de manter


contato quando estamos separados.

Como se estivesse esperando com o celular na

mão, a mensagem de resposta vem segundos depois do

envio da foto.

Gostosa. Se eu tivesse aí já teria tirado esse

pedaço de pano com os dentes.

Comporta-se, ruivo, estou assim para ir para


a piscina com a Emmy. Envio.

Corrigindo: se eu estivesse aí, teria te levado


para algum lugar, afastado a parte de baixo para o lado

e te fodido. Não seria a primeira vez, não é mesmo?

Leio sentindo o meu rosto esquentar. Não sou


uma pessoa tímida, mas a forma como nós dois temos nos

comportado, envergonharia a qualquer um.


Parece que descobrimos juntos os prazeres do

sexo, e sempre que dá estamos fazendo. Quando Emmy


está no seu quarto, Logan invade o meu e me leva para o

seu. Ficamos namorando durante horas. Mesmo quando a

pequena dorme com ele, Logan dá um jeito de vir até meu


quarto. A gente transa, depois, na ponta dos pés, ele volta

para a sua cama.

Fora isso, às vezes ficamos nos escondendo da


pequena para nos beijarmos. Ela ainda não sabe, mas

sempre falamos sobre o momento certo. Mais um indicativo

de que ajo como uma boba quando questiono o que Logan


e eu temos. Ele ama a filha acima de qualquer coisa,

jamais pensaria na possibilidade de dizer que estamos


juntos, se não fosse sério.

Você não está trabalhando? Quer começar

sexo por telefone agora? É uma pergunta retórica, mas


eu bem que toparia se ele quisesse.
Estou no meio de uma reunião importante,
breguinha, mas valeu pela ideia. Eu vou pensar com

carinho no seu pedido.

Eu não fiz pedido nenhum, Logan! Envio.

Só queria saber se você leu e entendeu o

bilhete em cima da sua cama.

Que bilhete, homem?

Olho para a cama, vejo o pedaço de papel

embaixo dos livros.

Encontrei!!

Onde você quer que eu vá, e ainda por cima

vendada?

É uma surpresa, amor. Por isso a venda. O


Ulisses vai te pegar às 19h. Siga as instruções dele,

seja uma boa menina e obedeça. Não precisa se

preocupar com a Emmy, pois hoje a Lídia vai ficar com


ela.
O que devo vestir? Envio

As suas belas roupas de sempre? Eu não me

importo, querida. Só traga a sua bela bunda até aqui e


me faça feliz.

Tudo bem. Estou ansiosa, Lolo <3

Também estou, Mimi. Pense em mim, que eu


estarei com um pensamento no trabalho e outro em

você, com esse biquíni no seu corpo perfeito. Gostosa!

Com seu plano misterioso para a noite, Logan


consegue estragar, de um jeito bom, a minha tarde com a

pequena. Não deixo de pensar nele e no que está


aprontando, enquanto aproveito a tarde de sol com ela e a

babá.

No meio da tarde, quando Emmy cochila,


aproveito para me arrumar. Checo se a depilação está em

dia como penso que está, escovo os meus cabelos e

coloco as mechas coloridas, porque elas são a minha ideia


de arrumação especial, seja para um show de rock, seja
para um jantar elegante.

Por falar em elegância, penso em me vestir

assim, mas aí lembro que o meu guarda-roupas


desconhece roupas que não sejam casuais. A saia roxa e a

blusa cigana têm que dar conta do recado hoje à noite.

Durante a viagem, começo a ficar com as mãos


geladas, pois por mais que eu tenha algo em mente,

também tenho medo de não ser, que seja só a minha


vontade falando mais alto. Logan é rico e pode fazer uma

festa surpresa para terminar o nosso namoro, ao invés de


oficializá-lo.

— Aonde estamos indo? — pergunto para o

Ulisses quando deixamos o elevador.

— O senhor Logan me pediu para não te contar

— diz, caminhamos poucos passos depois do elevador. —

Chegamos ao seu destino, mocinha.


Eu não vejo Logan, mas sinto pelo cheiro que o

vento traz que ele está aqui.

— Por que o seu motorista tinha que me trazer

até aqui vendada? Aliás, onde eu estou, Lolo?

— Você já vai descobrir, querida — fala.

— Até breve, senhorita. — Ulisses se despede e

solta o meu braço.

— Vou gostar da surpresa? — questiono,

porque se eu for gostar, quer dizer que não vamos

terminar.

Logan não seria maluco de pensar que o

término é uma boa notícia. Quem quer terminar não manda

selfie só de biquíni.

Um abraço apertado e um beijo no meu

pescoço...

Esse homem quer tudo, menos se livrar de mim.


— O meu futuro depende disso. — Acho que

vou desmaiar!

— Se não tirar essa venda, sou eu quem não

terei futuro. — Ele gargalha e, enfim, tira a venda. Depois

dá um passo para o lado para que eu veja o que aprontou.

Estamos no terraço de um prédio. No centro

dele, uma mesa de jantar para dois. Na nossa frente, a

visão mais linda que eu já vi. Luzes de prédios,


movimentos de pessoas lá em baixo, que trazem a

sensação de que somos os donos do mundo.

— Onde estamos?

— No prédio da agência. Aqui é o meu lugar

preferido desde que o descobri na adolescência. Eu venho

quando quero ficar sozinho e nunca tinha trazido ninguém

— revela, ainda com os braços em volta da minha cintura.

— Por que eu? — pergunto, tendo que fingir

costume, mas estou com o coração batendo na garganta.


Logan faz com que me sinta especial.

— Você não é as outras pessoas, Mirella Maris.


É especial. O que temos é importante para mim, mas não é

o suficiente. A casa, que se tornou o lugar que quero

sempre estar porque você está lá, ficou pequena demais

para o tanto que quero te dar.

— O que... — minha voz embarga, não sei

como continuar falando.

— Você me faz querer viver, não apenas

sobreviver, depois de tudo o que aconteceu.

— O que aconteceu? — indago.

— No momento, isso não tem importância. O

que importa somos nós e o que sentimos. Eu te adoro,


quero ser o seu namorado. Quero que você queira ser a

minha namorada.
De vidro

Mirella
— Você quer o quê? — Pareço uma idiota com

a boca aberta e olhos vidrados, mas é tão bom que parece

um sonho. — A gente... transa de vez em quando...

— Todos os dias, a exceção dos quatro em que


você estava menstruada e de péssimo humor.

— A gente pode até dormir juntos vez ou outra...

— Só não acontece quando Emmy vai para o

meu quarto, e só porque você ainda não se sente bem para

contar para ela que somos oficialmente o casal da realeza,


que tanto quer.

— A gente disse que estava apaixonado um

pelo outro há algumas semanas, não foi?


— Você ainda está? — ele pergunta, pela

primeira vez demonstrando qualquer tipo de insegurança.

Eu pensei que ele fosse o robô Ramirez.

— Mais do que ontem, menos do que amanhã.

Queria que você me pedisse em namoro, não vou mentir,

mas não ensaiei o que iria dizer quando acontecesse.

Estou nervosa, o meu sovaco está suando, Logan.

— Meu Deus, Mirella! Como você é romântica!

— Ele debocha, mas continua com os braços de polvo em

mim, com sovaco suado e tudo. — E não é tão difícil assim

dar uma resposta. Seja ela qual for, são apenas três letras,
amor.

— Nunca namorei. Tinha o Tadeu...

— Não fale desse cara, tenho ciúme dele —


confessa, eu acho engraçado. Apesar de ele ter sido muito

especial, fomos, e ainda somos, mais amigos do que


amantes. — Você só tem olhos para mim.
— Sim, é verdade. Mas ainda não me disse
quais são os deveres e direitos do cargo de sua namorada

— falo para descontrair, mas estou nervosa.

— Estar na minha cama todos os dias é um


direito e um dever.

— Concordo — digo.

— Poder sair para todos os lugares e dizer para


as pessoas que você é minha namorada.

— Será que eles não vão ver na minha cara que


a sua namorada é a irmã da sua ex-esposa? As pessoas

vão ficar confusas — digo, porque sei que nem tudo serão
flores. As pessoas vão falar.

— Posso lidar com isso, desde que esteja do

meu lado. Quero apenas que me diga se você também


pode lidar com desconhecidos acreditando que podem nos

rotular ou julgar. Vão taxar de coisas que você não é.


— Eu não sou — falo com convicção tanto para
ele quanto para mim mesma.

— É um pedido de namoro, mas é também uma

chance de te mostrar que podemos superar, porque não


estamos fazendo nada de errado, principalmente você.

— Eu quero ficar com você, Logan. Não me

importo com o que vier pela frente. Eu... te amo — digo


cedo demais. Fico constrangida e tento sair dos seus
braços, mas Logan me abraça ainda mais apertado.

— Eu não mereço você, Mirella. Cometi muitos


erros na vida...

— Não diga isso, você é bom — afirmo com


convicção, pois não há nada que me convença de que

esse homem não é uma boa pessoa. — É atencioso, gentil


e beija bem.

— Assim? — Ele me beija, e não falamos por

um bom tempo. Enquanto a vida acontece debaixo dos


nossos pés, estamos dando mais um passo na nossa
história, que começou de uma forma confusa. É cheia de
complicações, mas é bonita do seu jeito.

— É assim que eu gosto de te ver, com o batom


borrado e a boca vermelha dos meus beijos — confessa,

os olhos mais escuros, como sempre ficam quando sente


desejo.

— Eu estou com fome.

— Romântica e faminta — brinca, entrelaça os


nossos dedos e me leva para a mesa. — Minha namorada.
Nunca pensei que fosse usar essas palavras novamente,
mas gosto de como elas saem da minha boca.

Assim que nos sentamos à mesa, dois garçons

aparecem para nos servir. Como eu estava realmente com


fome, porque passei a tarde ansiosa demais para que
pudesse comer direito, fico alguns minutos dando atenção
apenas para a comida. Logan fica me olhando como se eu
fosse um filme muito interessante de se acompanhar.

— Namorado — chamo, ele franze o cenho. —


Vou te chamar assim até me acostumar com a ideia de que
não sou mais só um sexo muito bom e sem compromisso

— o provoco.

— Fale, amor. — Derreto-me sempre que me


chama de amor.

— Você vai me levar para conhecer a sua sala?


Fico louca só de te imaginar todo sério com seus ternos
sob medida.

— Por que eu te levaria no meu ambiente de

trabalho? — questiona, me olhando por cima da taça de


champanhe presa aos seus lábios.

— Por que você me adora e faria tudo por mim,

não faria?
— É claro que sim. Podemos ir quando você
quiser — afirma.

— Tudo bem — falo, excitada por antecipação


quando penso no que tenho em mente. Tudo bem que eu
não tinha certeza do que ele queria, mas uma mulher

sempre pode ter esperanças. — Mas, antes, quero olhar


um pouco mais para essa vista perfeita.

Parada no parapeito, com o ruivo me abraçando

por trás, me encanto mais um pouco com a imagem da


cidade vista de tão alto. Não me surpreende que ele goste

tanto, é simplesmente perfeito aqui em cima. Lugar ideal

para fugir do mundo, e sentir que está acima dele.

— Como meu namorado, você tem o dever de

me trazer aqui de vez em quando — afirmo, giro nos seus

braços e beijo o canto da sua boca.

— Quantas vezes você quiser. A partir de hoje,

não verei mais esse terraço como o ponto de fuga, mas o


lugar em que você se tornou a minha mulher.

— Mulher? Eu gosto disso — confesso. Na

verdade, é excitante pensar que sou mulher de Logan


Ramirez de Castro. — A sua mulher quer ir até a sala de

onde você fica dando ordens. Aposto que é o terror dos


funcionários.

— Era assim antes de você. Agora a minha

secretária pensa que morri e fui substituído por um clone.

— Sorte a dela — provoco, Logan aperta a

minha bunda antes de pegar a minha mão e me levar para

o elevador.

Descemos só 1º andar para chegar na sala da

diretoria. Ao lado da sua porta tem uma mesa e uma sala


de vidro para a secretária. A sua sala, diferente das outras

que vi do prédio da empresa, não é de vidro.

Fico em silêncio enquanto Logan abre a porta,


porque não vou dar a ele o gosto de saber que estou com
ciúme.

Não vou!

— Logan, por que a sua sala não tem paredes

de vidro? — O homem ruivo, e gato, me olha como se eu


estivesse falando em grego. — Não precisa criar uma tese

na sua cabeça. Só uma pergunta bem simples,

considerando que tudo aqui é em vidro, menos essa sala.

— Mirella...

— Será que é porque queria ter um pouco mais

de privacidade para as suas reuniões. — Faço aspas com


os dedos ao citar as tais reuniões. Também entro na frente.

Caminho rápido para ficar longe dele.

Estou ciente de que estou tendo uma crise boba


de ciúme, e quero continuar.

Na minha cabeça, o mundo é perfeito. Nele


Logan e eu éramos virgens quando transamos pela

primeira vez. As suas mãos grandes, e sua boca bonita,


não tocaram outro corpo além do meu. Ou talvez, eu só

esteja tendo essa reação porque fui eu quem vim com


segundas intenções. Se tive essa ideia, mesmo não

sabendo para onde estava vindo, qualquer uma, ou ele,

também poderia ter.

— Não pensei que a Mirella, toda metida e dona

de si, fosse capaz de sentir ciúme de uma simples sala de

trabalho — fala, muito contente pela demonstração de


fraqueza. Logan não aceita a minha fuga e me pega no

canto da sala. Estou tão grudada na parede que poderia

facilmente atravessá-la... se fosse de vidro.

— Que droga, Logan! A parede não é de vidro!

— Tudo bem, as coisas estavam divertidas até aqui, mas


agora estou saindo do controle.

— Você está chorando? Eu não acredito, amor.

— Ele me abraça, depois beija milhares de vezes o meu


rosto, impedindo mais lágrimas de caírem. — Não faça isso

comigo.
Não sei o que diabos está acontecendo. Logan
tem razão. Sou metida, muito segura de mim, mas com ele

é como se eu não estivesse mais 100% no controle do que

faço ou sinto. Com Logan, o primeiro homem que posso


dizer que amo, é um pouco de tudo. Menos de mim, mais

de insegurança e medo.

Medo de ele acordar e ver que não era bem o


que queria. Para mim, não existe tal possibilidade, pois já

estou perdida em sentimentos há muito tempo.

— Mas não é de vidro.

— Não é, mas, se você quiser, posso derrubar

essa sala e refazê-la.

— Faria isso? — indago, engulo o choro e a

vergonha que estou passando. Se ele não desistir de mim

depois dessa, não fará nunca mais. Um minuto de namoro


e já estou induzindo o homem a derrubar paredes.
— Faria, embora não seja preciso. Acredito que

você está assim porque pensa que a sala não é de vidro


porque eu queria ter privacidade para trepar com as

minhas clientes em cima da mesa, naquele sofá, e contra a

parede — ele ri ao mencionar.

— Não tem graça.

— Tem, sim, minha breguinha possessiva. Deve

pensar que a minha secretária entra aqui só de lingerie


para me seduzir, embora eu não goste de casadas de

quarenta e cinco anos e mãe de quatro filhos, segundos as

fofocas do Noah. Ele é muito linguarudo.

— Eu não gosto de gente fofoqueira. Mentira, eu

também sou. Não invento, não aumento, não repasso, mas

gosto de saber das fofocas, mesmo que seja de gente que


não conheço. Já quero saber mais da vida da sua

secretária — aviso. — Convida o Noah para ir lá em casa.


— Jamais! Ele está me provocando há um mês
por sua causa.

— Minha causa?

— Claro, contei para ele que tinha ficado com


você no dia seguinte do acontecido, mas me arrependi

quando ele quis saber dos detalhes.

— Você contou? — indago.

— Um pouco. Mas não me odeie por isso, os

homens, eles... — ele está piorando na justificativa, então

coloco a mão na sua boca para que pare.

— Não te odiaria por isso. Tenho certeza de que

foram apenas elogios..., mas essa sala.

— Esquece a porra da sala, amor! Eu nunca

trouxe mulheres para a agência. Nunca transei ou sequer

beijei ninguém aqui. As paredes não são de vidro

simplesmente porque aqui é a minha segunda casa. Nesta

sala preciso de paz, silêncio e privacidade. Só assim


consigo trabalhar direito. É só uma sala, Mimi. Não tem

motivos para ter ciúmes, porque te garanto que jamais

seria capaz de te magoar tanto. Se você soubesse...

— Interessante... — digo, deixando o ciúme


morrer, porque acredito na sua palavra. Na verdade, eu

estou sendo uma boba, porque ele era solteiro e podia

transar com quem quisesse, inclusive nessa sala, cujas

paredes não são de vidro.

— O que é interessante, Mirella? Você me

assusta quando faz essa cara de menina arteira. Nem

Emmy me deixa assim — fala, eu passo por baixo do seu

braço, fugindo do seu agarre. Preciso de espaço para o


que tenho em mente.

— Não faço cara nenhuma. — Fico de costas e

começo abrir com rapidez os botões da camisa. Quando

termino, desfaço o nó da barra que deixava uma porção de

pele da minha barriga à mostra. — Foi só uma ideia que

tive.
Viro-me de frente para Logan e deixo a minha

blusa cair no piso acarpetado. Os seus olhos azuis

acinzentados ficam escuros quando veem a primeira peça

de lingerie que comprei pensando nele. Que coloquei na

esperança de que a surpresa fosse ser exatamente a que


me fez.

Logan me fez feliz. As suas palavras ao fazer o

pedido, cada declaração me fez sentir como a garota mais

feliz e sortuda do mundo. Agora eu quero retribuir, fazê-lo

feliz do meu jeito. Da forma que ele mais gosta.

Enquanto Logan me olha sem dizer uma

palavra, abro o zíper da minha saia jeans e a deixo cair

embolada nos meus pés. A forma intensa como me fita faz

com que eu me sinta a mulher mais bonita e desejada. A


mais amada também, apesar do meu namorado não ter

retribuído com palavras as minhas declarações. Eu sinto

que me ama tanto quanto eu o amo.

— Gostou da minha surpresa, Lolo?


Fantasias

Logan
Depois de um mês de uma relação maravilhosa

dentro das paredes de uma casa, fora das vistas do resto

do mundo, depois de muito pensar e sempre chegar à

conclusão de que era o que eu queria, finalmente dei mais

um passo e recebi a resposta desejada.

Agora, depois de emoções que foram de

nervosismo à desejo e divertimento com a sua

demonstração de ciúme, o desejo volta com tudo, só que

muito maior, porque vem com mais paixão. Com o amor

que nunca senti por outra mulher. Um dia cheguei a pensar

que o que eu dava e recebia em troca era amor, mas

estava muito errado. Era pouco, uma noção pálida de algo

muito maior.
Amor, fogo e desejo eu sinto por essa garota,

que agiu de maneira desproporcional por causa de paredes

que não são de vidro, que teve ciúme sem motivo, e fez de

uma forma tão divertida que tive de me segurar muito para

não gargalhar quando ela estava quase chorando.

Essa garota sagaz veio para uma surpresa, mas

também fez a própria surpresa. E que surpresa! Estou não

só surpreso, mas duro com a visão do presente que ela

está me dando. Sim, minha garota, vestindo renda

vermelha é um presente para os meus olhos.

— Isso tudo é meu, não é? — pergunto, como


um moleque babão. Quando se trata da Mimi, eu me torno

esse adolescente excitado.

— Tudo seu. Com lingerie e tudo, mas você


ainda não me disse se gostou, Lolo. — Ela dá uma

voltinha, eu me arrepio de desejo quando vejo que a


calcinha pequena está toda enfiada entre as bandas da sua

bunda redonda e empinada.


— Linda pra caralho. E minha — digo com
possessividade, enquanto, cheio de pressa, abro os botões

da minha camisa. Deixo-a em cima da minha mesa de


trabalho, perfeitamente organizada. Depois tiro a calça e os

sapatos, só para que ela veja na minha boxer o quanto


gosto das suas peças minúsculas e sexys.

Quando Mirella chega mais perto, olho com

mais atenção para a frente da sua calcinha e só então me


dou conta de que o tecido é todo transparente, que a parte

mais escura não é um só um vislumbre do seu sexo, mas


sim uma mancha, que diz o quanto está pronta.

— Vem aqui, garota.

— Por quê? A distância é a mesma — Mirella


brinca, mas se joga nos meus braços. A minha primeira

reação é enfiar o nariz no seu pescoço, porque sou incapaz


de ficar mais do que alguns poucos minutos longe dela e

do seu cheiro quando estamos no mesmo recinto.


— Comprei transparente porque não queria
esconder nada de você. — A garota, com os seus cabelos

escuros e pele muito clara, fica com a voz deliciosamente

mais rouca quando está no modo ninfeta sacana.

— A ideia era também me deixar ver o quanto


está pronta para me dar a boceta? — falo, mordo o seu

pescoço e ouço um ofegar. Desço lentamente a mão pela


sua barriga, até que as pontas dos meus dedos
atravessem o tecido da peça. — Você está toda
molhadinha para mim?

— Eu estou? — provoca, mas afasta as pernas.

— Sim, você está — afirmo e enfio dois dedos


no seu sexo. Penetro-a de leve, somente algumas vezes,

depois tiro os dedos úmidos. Prendendo o seu olhar no


meu, os levo a minha boca. Os chupo até ter na minha
língua todo o gosto do seu desejo.
— Deliciosa. Você, Mimi, é uma garota muito,
muito gostosa. O seu gosto é delicioso, poderia ser o meu
alimento diário — declaro.

Não aguentando só olhar de perto para a sua


boca em formato de coração e naturalmente rosada, a beijo

como se fosse a primeira e última vez. Com toda fome que


sinto por ela. As nossas línguas dançam uma em volta da
outra em perfeita sincronia. O som que as nossas línguas
fazem se chupando, martela no meu ouvido, me deixando
zonzo de tanto querer mais.

— Eu nunca vou me cansar de você, Mirella —


digo quando com relutância paramos de nos beijar. Eu
curvo sutilmente o seu corpo e começo a beijar o vão entre
os seus seios, que ficaram mais tentadores com a peça de

renda. — Estou viciado, e não há chances de recuperação.

— Vou fazer o necessário para que continue


assim, ruivo. Quando pensar em pedir água, te deixarei

com mais sede.


Mesmo sendo mais alta do que a média, Mirella
ainda é pequena demais perto de mim, mas tenta ficar na

ponta dos pés, se apertando contra mim, fazendo esforço


para se esfregar no meu pau duro, que está babando,
doido para encontrar o seu abrigo quente e macio.

— Você não tem ideia de com quem se meteu.


Eu não sou boazinha, Logan. Sou o oposto disso — afirma,
e deixa o pescoço livre. Ela sabe da minha tara pelo seu
perfume, por isso o coloca no pescoço.

— Eu nunca pensei que fosse, amor. Por isso

você me pegou de jeito. Mulheres boazinhas não fazem o


meu tipo. Prefiro a que tem ciúme de paredes, que é
durona. Uma cantora que não tem filtro entre o cérebro e a
boca. A mulher de quem eu gosto, usa roupas únicas, tem

estilo e sabe como me deixar de quatro.

Mesmo que não queira, não enquanto estou


prestes a transar com a minha namorada, penso na sua

irmã. Elas não poderiam ser mais diferentes e nem mesmo


fisicamente consigo achar semelhanças, apesar de ela ser
notada por todas as pessoas quando veem a Mimi pela

primeira vez.

Hoje eu acredito que teria me apaixonado por


ela se tivesse a conhecido antes da Isabella. Mesmo na

minha época de jovem adulto idiota, teria a olhado com


mais atenção.

— O que foi, ficou tenso?

— Estava pensando no quanto gosto de você.


No quanto a sua ideia de sala de vidro é péssima. Pense

comigo, amor. Com a sala assim, você pode sempre vir me

visitar. A gente pode trancar a porta e transar em cima da


minha mesa, enquanto o prédio todo trabalha. Eles vão

ficar com inveja sabendo que estamos aqui nos divertindo.

Enquanto monto o cenário, a pego nos braços.


Mirella enrola os braços no meu pescoço e eu a levo para a

minha mesa.
Afasto alguns objetos e a deixo sentada de

pernas abertas. Abro o fecho do seu sutiã e o descarto.


Cheio de vontade, abocanho metade do peito para dentro

da boca. A safada, não satisfeita de apenas gemer,

masturba o meu pau por cima da cueca com os pés. Ela é


boa o suficiente para me fazer gozar assim se continuar.

— O bom de fazermos isso aqui é que não vou

sair mais da sua cabeça, todas as vezes que olhar para


cada canto que me possuir irá se lembrar de mim — diz, e

levanta o quadril para que eu tire a calcinha. — Vai me ver


assim, nua e de pernas abertas esperando por você.

— Você já não saía da minha cabeça antes,

querida. Agora terei lembranças, ao invés de fantasias.

— Fantasia?

— Do tipo que eu sou o chefe e você a

secretária gostosa que entra para saber se preciso de


alguma coisa, mas faz só de lingerie e saltos. Nas minhas
fantasias, as paredes são de vidro e todos os funcionários
do lado de fora podem ver a gente trepando em cima da

mesa. Você de quatro, deixando-me ver a sua bundinha


enquanto te pego por trás.

O que começa com uma brincadeira se

transforma em realidade quando ela abaixa a minha cueca

e começa a masturbar-me com a mão pequena, enquanto


a outra faz o mesmo no seu próprio sexo.

— Estávamos tão sedentos que pulamos as


preliminares? — pergunta, mas eu sei o que quer.

— Não. Que erro esse meu! Acabei esquecendo

de contar. Antes de colocar a minha secretária safada de


quatro, eu me curvo entre as suas pernas, que estão em

cima dos meus ombros — não estavam, mas acabam de

ficar —, e então enfio o meu rosto entre elas — digo,


coloco a cabeça no meio das suas pernas e a chupo e

lambo sem dó. Tiro dela gemidos, xingamentos e puxões


de cabelo.
— A sua secretária, ela está gostando muito?

Ela está doida por algo maior que acalme a dor de estar
vazia? Ela sente falta de um membro grande e grosso a

alargando... — Mirella, com sua boca suja, me leva a

nocaute.

— Sim. Ela sente, não pode mais ficar sem.

Todos os dias a minha secretária entra nesta sala e abre as

pernas para mim. Eu, como sou louco por ela, a como por
muito tempo — digo, afasto-me do seu sexo com um beijo

demorado quando sinto que está quase no limite. — Eu

separo as suas pernas assim — demonstro ao afastá-las o


máximo possível e puxar a sua bunda para a beirada da

mesa.

— A secretária deve gostar de ser chupada.

— Ela adora. Diz que sou o melhor. Na minha

fantasia, eu a pego assim — coloco a mão na sua nuca e


seguro com firmeza seus cabelos —, e meto na sua

bocetinha gulosa e molhada.


— Ai, porra, que delícia!

— Sim! Ela grita pelo meu nome: Logan! Logan!

Eu fico mais cheio de tesão, e meto com mais força. Desse

jeito. — Entro e saio sem parar, sentindo como se o meu


corpo fosse explodir de paixão. Ela tem esse efeito em

mim. Quando estamos fazendo amor, penso que poderia

ficar assim para sempre.

— Assim mesmo. Com mais força, Logan. —

Ela joga a cabeça para trás e, sustentando o peso com as


mãos na mesa, empina os peitinhos, que estimulo com os

dedos enquanto a fodo.

Nós transamos e fazemos a mesa patinar no


carpete a cada investida. Nós dois somos selvagens. Eu

deixando os seus peitos vermelhinhos, ela arranhando as

minhas costas. Somos barulhentos com os sons de


gemidos e palavras sacanas.
— Você age como uma vadia, Mirella. Mas é só

para mim, não é? Fala que é a minha putinha.

— Eu sou... a sua putinha. Só tua — diz com


dificuldade, esfolando o meu pau, doida para gozar.

— Então faça o que eu quero e fique de quatro


para mim. Quero meter na sua boceta e ter a visão da sua

bunda ao mesmo tempo.

Mirella fica de quatro, eu olho para a bunda e só

penso no prazer que terei quando comer o seu cu. Ela tem
me deixado brincar com ele, mas ainda não tem coragem

de ir além. Por enquanto está satisfeita com os meus dois


dedos, que a preenchem por trás, ao mesmo tempo em

que meto na boceta apertada.

— Imagina que você ainda é a secretária. Eu


sou o seu chefe. Você, muito obediente, está dando a

boceta para o seu superior. Como você quer, as paredes


são de vidro e todos os funcionários estão do lado de fora
nos vendo aqui. Eles têm a visão de você de quatro me
deixando te comer. Como se sente?

— Bem, muito bem. Gosto que vejam, que

saibam que você é meu. Você é meu, Logan... — diz, louca


e suada, empurrando a bunda para trás, forçando mais as

penetrações. — Se eu sequer sonhar... — para de falar

quando estapeio de leve sua bunda, depois estimulo seu


clitóris com a mão.

— Só quero você, Mimi. Desde que te vi só


penso em você — declaro, a nossa voz não é ouvida por

um bom tempo.

Aos gritos, a minha namorada goza em cima da

mesa. Descansamos por um tempo, suados e ofegantes

sobre o carpete. No chão mesmo recomeçamos,

terminamos no sofá.

— Amor, eu esqueci do preservativo — digo

depois de alguns minutos quando sinto a umidade entre as


suas pernas.

Gozei dentro dela mais de uma vez, e não estou

nem um pouco apavorado quanto o esperado,

principalmente depois de anos me questionando se a


Isabella engravidou de propósito.

— Comecei a tomar anticoncepcional há um

mês, porque imaginei que mais dia ou menos dia


poderíamos esquecer de nos prevenir. Desculpa se não

falei antes.

— Não tem do que se desculpar. E espero que

confie em mim quando digo que estou limpo.

— É claro que confio. — Com o corpo

parcialmente em cima do meu, sonolenta depois de um

sexo longo e suado, minha mulher — como é bom e

assustador pensar nela assim — beija o meu peito.

— Eu tinha planejado que fosse mais romântico


que isso — digo, sem saber ao certo em que momento
passamos da conversa para o sexo frenético.

— O romantismo não combina muito com a

gente. Prefiro que seja assim, intenso e sem pudor —

afirma. — E as paredes da sua sala nunca serão de vidro.

— Eu não sonharia com isso, querida. Apesar

da fantasia, sou o único que te verá nua.

— Amo você Logan Ramirez. Você me faz feliz

— declara olhando em meus olhos.

Eu também a amo, as palavras ficam na ponta

da minha língua, mas não consigo dizê-la, então a beijo

mais uma vez e mais outra, mostrando da única forma que


importa o quanto é importante para mim.

A cada nova batida do meu coração, a cada

respiração, Mirella se torna mais essencial. Fica difícil

lembrar do que eu era antes de amá-la e isso me deixa

muito apavorado.
Figura materna

Logan
— Então quer dizer que Logan Ramirez de

Castro está namorando. Uma grande evolução para o

homem que se achava incapaz de voltar a confiar em uma

mulher, que não queria nem falar a palavra relacionamento.

— Eu confio na Mirella — confesso para o

terapeuta.

— A sua cunhada — relembra.

— A minha namorada. Mirella é a minha

namorada — falo com convicção, treinando, porque sei que


terei de dizer tais palavras como explicação muitas vezes

daqui para frente. Já tive que fazer algumas vezes, mesmo

que tenha se passado apenas uma semana do nosso

jantar no terraço.
A minha família estranhou bastante, embora

ninguém tenha tido coragem de tentar constranger Mirella.

Os olhares dizem muito, e o de todos deixou claro que será

tão complicado quanto nós já sabíamos que seria.

Como consequência disso, tenho feito de tudo

para fazer Mirella feliz, pois com a revelação do nosso

namoro vem o medo de ela acordar pensando que já

suporta demais, que sua vida era mais fácil, quando não

era julgada por se relacionar com o ex-marido de uma irmã

de quem ela nem era próxima. Pelo pouco que Mirella fala,

as duas passaram a ser meras conhecidas, tão logo ela


deixou de ser criança.

— Como você tem lidado com a situação? Sim,


eu imagino que seja difícil. Não tanto pelos julgamentos,

porque devia saber que eles viriam quando começou a se


relacionar com a moça. Estou falando com relação aos

seus pesadelos, as crises de insônia, e até mesmo o fato


de estar tão próximo de alguém que deve te lembrar do
passado. De tudo que você tenta, sem sucesso, varrer para
debaixo do tapete.

— Mais fácil do que pensei que fosse ser. Às

vezes, quando olho para a minha filha e a vejo tão feliz


com a presença da tia, sinto como se a culpa fosse me

sufocar, o que é muito contraditório, porque o meu lado


racional sabe que fiz tudo para protegê-la.

— Mas também a ama e entende que ela


precisava de uma figura feminina por perto. E sejam quais

forem os motivos, você acabou tirando isso dela.

— É, eu acredito que seja isso — falo baixo,


pensando em como têm sido as últimas semanas entre os

momentos bons e os não tão bons assim, que tento


guardar só para mim.

— A pior parte é saber que ela nem sabe que a


Mirella é a sua tia — confesso, mas esse é um assunto que

será resolvido, porque decidimos que está na hora de


Emmy saber. Assim como merece saber que estamos
juntos, como ela tanto quer.

Eu não sei nem se minha filha entende com tão

pouca idade o significado de ser um casal, mas a sua


cabecinha ingênua deseja isso, assim como anseia pelos
felizes para sempre, entre os mocinhos dos seus desenhos

de princesa.

— Nem todas as respostas do mundo, nem


todas as culpas devem estar sobre os seus ombros, Logan.
Faça uma coisa de cada vez. Dê tempo ao tempo e não se

cobre. Em todos esses anos de tratamento, espero que


tenha aprendido que não é bom se cobrar tanto. A culpa
dos erros cometidos por três pessoas, não deve atingir
somente você.

— Eu sei — digo, porque o entendo


perfeitamente. Se não entendesse já teria enlouquecido. —
A minha mulher é muito boa e não merece estar envolvida

com alguém cheio de problemas como eu. Penso isso


todas as vezes que olho para ela, mas sou egoísta e gosto
demais dela para abrir mão. Para deixar que siga o seu
caminho para o futuro brilhante que terá, embora sinta

aqui. — Aponto para o coração, como uma pontada aguda


de dor, que mais dias ou menos dias a realidade vai bater
na minha porta.

— Agora você está sendo pessimista.

— Ela se esforça muito, tem sonhos que


acredito que irá realizar, porque é muito talentosa. — Não
queria falar como se fossem coisas ruins, mas não posso

evitar, não quando penso neles e percebo que não


combinam com a vida estável que tem ao meu lado.

Não quero sentir que estou segurando um

pássaro livre com as mãos, cortando as suas asas.

— Eu vi o quanto ela é talentosa quando fui ao


restaurante que me recomendou — ele comenta. — A
Mirella é adulta, Logan. Ela pode perfeitamente lidar com
você e o seu passado, se não fosse assim não estariam
juntos. E pelo que está me contando, a sua namorada não

sabe de toda a história que envolve você, sua ex-esposa e


o amante.

— Não, ela não sabe. E eu não estou preparado

para falar — afirmo, porque não faço ideia de qual será a


reação dela a toda a história.

Se vai me entender ou me odiar. Na dúvida,


prefiro não falar nada a correr o risco de perder a melhor
coisa que me aconteceu em anos.

— Vejo como me olha, como tenta puxar


assunto, e como fica chateada quando acordo tendo

pesadelos. Ela pergunta o teor dos sonhos, eu digo que


não é nada, mas sinto que a minha namorada sabe que
não se trata de nada. Que escondo coisas sérias. Sei que
se ressente pela forma como falo, ou como não quero falar,
da irmã.
— Por maiores que sejam os seus medos,
Logan, aconselho você a se abrir com a moça. Tente fazer

alguma coisa, antes que tantas omissões se tornem um


problema no seu relacionamento.

Passa das 18h quando chego a casa. Como


hoje era dia de terapia, saí mais cedo da agência e não

voltei depois da consulta. Diferente do que fazia antes

quando ficava por mais 1h com a cabeça enfiada no


trabalho. Tentava me sabotar, pois não queria ter que parar

para pensar nas falas de um profissional.

Falar com o doutor Maldonado era o que eu

estava precisando, sobretudo, hoje. Nesta madrugada tive


um sonho muito real da minha filha sendo tirada de mim,

mas dessa vez foi pior do que das outras, porque eles
vinham e levavam Mirella também. No sonho ela estava

aos prantos. Tudo o que eu queria era um olhar seu, mas

Mirella era incapaz.

Mirella, que não estava na cama comigo, ouviu

a minha voz do seu quarto. Ela foi até mim, mas me

encontrou fechado para o seu consolo. Eu estava à flor da


pele. Não permiti que me abraçasse, ou que fizesse

perguntas. Pedi apenas que voltasse para o seu quarto


com a justificativa que tinha chegado tarde e devia estar

cansada. Minha namorada me olhou como se não me

conhecesse, mas saiu sem dizer mais nada.

Aconteceu no pior dia, pois a gente combinou

de contar para a Emmy hoje que elas têm o mesmo sangue

e que somos namorados. Como faremos isso se não


estamos tão bem como deveríamos? Será mesmo que é o
momento de contar, considerando que os problemas no
relacionamento estão aparecendo cedo demais?

É inevitável fazer tais questionamentos, mas

fugir é a saída dos covardes e eu não quero ser assim.

Quando entro, as encontro sentadas no sofá. A

babá já deve ter ido para casa. Elas assistem a um

desenho qualquer e tomam sorvete. Assim que me vê, a


minha namorada me olha por uns segundos, mas logo

abaixa a cabeça, como se um simples sorvete merecesse


tanta atenção.

Eu não estou gostando da situação, mas fui eu

quem a causou, então sou eu quem tem de consertá-la.

— Boa noite, filha. Como foi o seu dia? —

pergunto ao me curvar para beijar a sua bochecha.

— Brinquei de ajudar Mimi a arrumar as roupas


dela. Depois ela cantou para eu...

— Para mim — corrijo.


— Não, foi para eu. O senhor nem estava aqui,

papai. — Tento me manter sério, mas ver o sorriso da


Mirella faz com que eu gargalhe. — Depois a Lídia ficou

sendo a... o que ela era mesmo, Mimi?

— A jurada.

— Sim, a Lídia foi a julada e a Mimi e eu as

cantoras. Gostei de cantar.

É claro que gostou, já que gosta de tudo que a


tia faz. Se deixar, ela se transforma na própria Mirella, na

versão miniatura. Por isso temos que conversar com ela de

uma vez. Emmy tem de entender que a sua Mimi não é só


uma amiguinha. É duas vezes mais importante, pois além

de ser da família, também é a namorada do papai.

— Que bom que gostou, meu amor. E será que


eu posso pegar sua cantora para mim só um pouquinho?

— Um pouquinho quanto? — indaga.


— Um pouquinho assim. — Mostro, usando o
dedo maior e o indicador.

— Tudo bem. Eu deixo, mas só um pouquinho,

tá bom, Mimi? Você vai gostar do outro desenho da Barbie


que ela é cantora como você — fala para a tia.

Sim, ela é ciumenta. Não tem ciúme de mim

porque sabe que sou seu o pai e sempre estarei aqui, mas
tem da Mimi, porque pensa que podem roubá-la dela,

inclusive eu.

— Será rápido, amor. — Ela beija a cabeça da


criança e vem até mim. Eu seguro sua mão e a levo para a

cozinha, pois de lá poderemos ficar de olho na Emmy.

— O que você quer? — Porra! Direto ao ponto.

— Não quero que a gente fique nesse clima,

amor. Eu não quis te magoar.

— Não magoou — diz, mas está mentindo.


— Não estava em um bom momento e não

queria que me visse daquela forma.

— Nem sempre temos tudo o que queremos,


Logan. Eu também não queria que você me afastasse, que

você se escondesse de mim. O seu silêncio me incomoda,


porque sinto que não se mostra por completo. Eu quero

você todo para mim. Os seus erros e os seus acertos. O

seu lado bom e o seu lado ruim. Só não se esconda mais


de mim.

— Dou para você o melhor de mim. Não me

peça para correr o risco de te perder, pois isso não farei —


assevero. — Sou sincero em tudo que te falo. O que não

falo não tem importância, porque não é sobre você. Não


afeta a nossa relação. — Estou mentindo, porque pode

afetar, e muito. — Só... tente entender, amor.

— É o que venho fazendo desde o início,


tentando passar por cima de coisas por causa do amor que

sinto por você. Mas faço porque acredito que me ama


como te amo. Se não me afastar sempre que se sentir
ameaçado, a gente vai continuar se entendendo. E quanto

aos seus mistérios, vou esperar, porque vai chegar o

momento em que se sentirá confortável para falar comigo.

— Eu adoro você — declaro e a abraço

apertado. Nem tinha percebido o quanto estava com medo

de ter estragado as coisas entre nós. — Quero um beijo.

— A Emmy...

— Só um beijinho, Mimi. Além disso, a gente vai

falar com ela.

— Vamos? — pergunta, surpresa. Eu arqueio a

sobrancelha. — Pensei que tivesse mudado de ideia, por

causa do nosso primeiro desentendimento.

— E você, mudou de ideia? — questiono,


porque não quero forçar nenhuma situação com ela.

— Não aguento mais ter que ficar como uma

adolescente pelos cantos da casa com você. A Emmy


merece saber que sou a tia dela — diz.

— Agora? — Coloco a escolha em suas mãos.

— Estou pronta.

— Que bom. — A abraço apertado. — Boa

sorte, pois você vai precisar.

Abraçados, como se não fosse indício suficiente

para uma criança esperta como a Emmy, voltamos para a

sala e nos sentamos um de cada lado. Ela coloca o filme

em pausa, olha para a Mirella, depois para mim.

— Vai assistir também, papai?

— Vou, mas antes a gente quer conversar com

você. Pode esperar um pouco? — ela acena positivamente.

— Lembra de quando a Mimi chegou aqui em

casa e foi dormir na cama com a gente? Você pensou que


ela era uma princesa e eu o príncipe que a acordaria com

um beijo.
— Vocês são, papai. Um dia eu vi você beijando

a Mimi. E ela dorme na sua cama. — Eu me engasgo,

começo a tossir. Mirella fica apenas olhando de boca

aberta.

Quase chorando involuntariamente, levo alguns

minutos para me acalmar.

— Emmy, o seu pai e eu...

— Vão casar e eu vou ter um irmãozinho — diz

batendo palmas, toda empolgada. — Ele está na sua


barriga, Mimi?

— Meu amor, se acalme, por favor. A gente não


ia... quer dizer, a gente tem que... — ela perde a

capacidade de formular frases coerentes.

— Nós estamos namorando, Emmy. Ainda não

tem um bebê na barriga da Mimi — digo, porque minha

namorada estava em apuros.


— Tudo bem, mas quelo um irmão para brincar
comigo — fala. — A Mimi vai se vestir como uma princesa

quando se casar com o Logan?

— Não faça tantas perguntas, filha. Olha só

para a cara dela. Não está entendendo nada — peço, mas

estou achando a empolgação divertida.

— Você quer se casar com o Lolo? — Para ela

tudo é bem simples.

— Eu... — Mirella me olha pedindo ajuda, mas

dessa vez não a socorro. Quero saber também o que


passa pela sua cabeça, mesmo que seja a resposta para

uma criança, que não precisa necessariamente ser a

verdade. — Quero.

— Lolo, você quer se casar com ela, não é? —

Meu coração para por um momento, não penso muito

antes de falar, pois a resposta vem antes de qualquer

questionamento.
— É claro que quero — digo. Não sei se ela

falou sério, mas eu falei. Um dia quero fazer tudo com

Mirella, e torço para que queira também.

— Não quelo que demore, papai.

— Filha, as coisas nem sempre acontecem no

momento que a gente deseja. Nós dois queríamos que


você soubesse e falasse que está tudo bem.

— Estou feliz, porque se você se casar com a

Mimi, ela vai ser a minha mãe e nunca mais vai embora,

não é papai? — Dessa vez ela deixa nós dois sem

palavras.

Emmy disse algo inesperado e surpreendente,

pois não passou pela minha cabeça que ela pudesse

enxergar Mirella como a figura materna que não tem.


Ajustes e saias justas

Mirella
Misericórdia!

Eu vou desmaiar, tenho certeza de que não

estou respirando direito. Na verdade, acho que não estou

respirando de jeito nenhum. Chamem os bombeiros. Não, o


Logan vestido de bombeiro. Preciso de respiração boca a

boca.

— Mas você não está se afogando, Mirella —

Logan fala.

Eu não acredito que falei todas as bobagens em


voz alta!

Ele deve pensar que sou maluca. Quer dizer,

ele sempre achou, agora tem certeza com o meu surto.


Não é sempre que acontece, mas quando fico nervosa falo

em voz alta as bobagens que penso

Na escola, além de ser Mirella da calça amarela,

sim, eu sempre tive uma delas em cada etapa da minha

vida, chegou em uma fase da adolescência que fiquei

conhecida como maluquete da rua 7. O fato de eu sair

falando sozinha pelas ruas, não significa que sou doida.

Pelo menos eu acredito que não seja.

Se estou um pouco fora de mim agora, é porque

tenho os meus motivos.

— Amor, por que você está com essa cara?

— Mimi, você está blava comigo? — a pequena


indaga quando fico em pé. Estou agitada demais para ficar

parada.

— Não, meu amor, a titia... a Mimi não está

chateada com você. Eu só... — Porra, não sei mais formar


frases.
Logan e eu tínhamos planejado contar que sou
tia e agora a minha sobrinha quer saber se quero ser a sua

mãe.

— Está tudo bem, amor. — Volto para perto


dela, mas ainda não consigo olhar para o Logan. Está difícil

entender o que se passa dentro da minha cabeça.

Quando Emmy perguntou se eu me tornarei sua

mãe, por um milésimo de segundo me senti muito feliz.


Antes de pensar em qualquer coisa, fiquei feliz por ela me

querer dessa forma.

Mas o surto me atropelou em seguida, porque


uma parte minha ainda não aceita, que estou tão feliz com

o homem que amo e, que me quer com a mesma


intensidade. O mesmo Logan que foi marido da minha

irmã, pai da criança mais linda e esperta do mundo, que


me quer como uma figura materna. Essa parte que ainda

se culpa é a mesma que quer saber onde Isabella está.


Às vezes sinto-me mal por ter consideração,
porque o sentimento não é recíproco por mim e, nem pela

nossa mãe. O que sinto é mais do que curiosidade e

preocupação. No fundo, eu só queria conversar com ela.


Dizer que simplesmente aconteceu, que me apaixonei pelo
pai e pela filha. Não queria que me desse permissão,
apenas que me visse e soubesse que o que tenho com

Logan e Emmy é amor. Um amor profundo e inevitável.

Temo que enquanto não acertarmos essa conta


terei a sensação ruim de que está em algum lugar me

julgando, que a qualquer momento irá voltar para me tirar


da vida deles.

Eu nunca fui o tipo de pessoa que tem intuições,


mas, de uns dias para cá, venho sentindo que algo está

para acontecer. Sempre que o arrepio surge, digo a mim


mesma que é loucura da minha cabeça, que são apenas os
meus fantasmas que não me deixarão em paz, enquanto
não aceitar que não estou fazendo nada de errado.
Ao meu lado, pai e filha me olham com a
mesma preocupação. Imagino que esteja com uma
expressão estranha, então abro um sorrisinho de lado. O

respiro de alívio deles é visível.

Eu os amo. Com vinte e três anos e muitos

sonhos que quero realizar, encontrei as outras duas partes


do meu coração. E embora tenha me assustado e seja
atormentada de vez em quando por tudo que vem
acontecendo, a parte da minha consciência que sabe que
nem tudo são flores é muito pequena. Na maior parte do

tempo o que eu vejo é essa imagem.

Os seus cabelos ruivos e a forma como eles


sorriem me fazem derreter. Ele disse que quer ser o meu
marido um dia — não sei se falou sério, ou se foi só para

agradar a filha. Ela deixou claro que deseja que eu seja a


sua mãe. Não posso negar o susto, pois apesar de ela me
imitar em tudo, acreditava que me via como uma de suas
amiguinhas.
Mesmo que as palavras mãe e esposa não
fizessem parte do meu dicionário até semanas atrás, elas

não me fazem sentir vontade de sair correndo. Pensar em


ter responsabilidades não me assusta como antes, não
quando existe a hipótese de ter os dois na minha vida para
sempre.

— Ela não fala, Lolo. Será que a cócega ajuda?


— A voz da ruiva me tira do devaneio.

— Quer tentar? — Logan sugere, a menina se


aproxima e começa a passar os dedinhos leves e ligeiros

pela minha barriga.

No mesmo instante, a deito de costas no sofá e

devolvo a brincadeira. Ela dá muitas gargalhadas gostosas.


O ruivo fica em silêncio observando a nossa interação.
Quando os meus dedos ficam cansados, eu pego a
pequena e distribuo beijos onde fiz as cócegas. Depois a
ajeito sentada no sofá. A brincadeira está boa, mas a

nossa conversa séria ainda não acabou.


— Você gosta de mim e quer ser a minha mãe?
— Emmy volta ao assunto. Fico feliz e triste ao mesmo

tempo por perceber o quanto sente falta de uma mãe. É


estranho que não fale da Isabella.

— Meu amor. Lembra do que o papai falou da

sua mãe? — Ele retoma a conversa mais séria.

— A moça do porta-retratos? Eu lembro, Lolo.

Ela gosta de mim, mas não vem me ver por que viajou para

trabalhar. Ela está muito longe, Mimi. É bonita como você,


mas não lemblo dela. Não quero que volte, porque agora

você está aqui — fala, um nó se forma na minha garganta.

Mesmo sendo ainda tão pequena, mesmo sem


falar no assunto e sem entendê-lo direito, está claro que

sente o abandono. Logan parece triste também e sinto uma

vontade avassaladora de me sentar em suas pernas e o


abraçar apertado.
— Ela tem uma irmã, meu amor — Logan diz,

mas está desconcertado agora.

— Igual a tia-avó Rania é irmã da vovó Tetê?

— Sim. A irmã da sua mamãe é a Mimi — ele

explica. — Isso quer dizer que ela é a sua tia. Vocês têm o
mesmo sangue.

— Eu também sou uma princesa como a Mimi?

Nada como a simplicidade dos pensamentos de


uma criança. A sua fala me faz sentir vontade de rir e

chorar ao mesmo tempo.

— Sim, você também é uma princesinha — falo


com a voz embargada pela emoção.

— Eu não quelo te chamar de tia Mimi — diz

com sinceridade. Fico um pouco chateada por pensar que


ela não gostou da novidade, mas a menina emenda. —

Não precisa ser a minha titia, não é?

— Não precisa? — Logan e eu falamos juntos.


— Não, papai! O senhor falou que vai se casar
com a Mimi. No dia nós duas estaremos vestidas de

princesa, não é? — A pergunta é para mim.

— Sim — digo, mas o que mais eu poderia


dizer? Que não me vejo vestida de princesa?

— Se os dois vão se casar, você vai ser a minha

mamãe. O Lolo colocará uma sementinha na sua barriga e


eu terei um irmãozinho. — A pequena faz todo o

cronograma e termina o discurso se aplaudindo.

— O seu plano é perfeito, filha — Logan fala.


Seu olhar intenso está fixo em mim.

— Agora a gente pode continuar a assistir ao


filme da Barbie e o Castelo de Diamante. — Logan e eu

fingimos empolgação, mas tenho certeza de que está com

vontade de chorar.

Eu estou.
Pela primeira vez Emmy não se senta entre a

gente no sofá. Estou entre os meus dois amores. Não


preciso mais de toques e olhares fugazes, já que a

pequena não só aceitou bem as duas notícias, como já

planejou o nosso futuro, que parece brilhante.

Mesmo se eu não estivesse vendo o mesmo

filme pela vigésima vez, mesmo que não soubesse de trás

para frente todas as suas falas e músicas, eu não estaria


prestando atenção na TV. Não tem como ser diferente com

a mente cheia. Foram muitas reviravoltas em uma única

conversa.

Logan e eu demoramos um mês para darmos

um nome para o nosso relacionamento. Agíamos como um


casal de namorados, e até mais do que isso, mas não

colocamos um rótulo. Passaram-se alguns dias da

deliciosa noite que acabou com a gente esparramado e


suado sobre o sofá da sua sala na agência, mas os

pequenos problemas são mais antigos.


Não é como se o fato de estarmos namorando
tenha acabado com os nossos problemas como num passe

de mágica. Apesar de ter um parafuso solto na cabeça,

mantenho os meus pés firmes no chão e entendo que


perfeição não existe. Desde o início eu soube que Logan é

um homem complexo, cheio de mistérios e segredos.

Ele nunca quis me enganar, e eu entrei nessa


relação sabendo exatamente o que estava fazendo, mas

não consigo evitar a mágoa quando ele me afasta, quando


tem pesadelos a noite e não me deixa abraçá-lo. Quando

não fala comigo. Vejo que meu namorado sofre, e sofro

junto por não saber o que tanto o atormenta, o que o faz


ficar com a expressão de dor quando pensa que não estou

prestando atenção.

Logan diz que me dá tudo o que tem, e eu não


duvido que realmente acredite nisso. Sou eu quem sinto

como se me mantivesse a um braço de distância, tudo para


assegurar que não veja mais do que está disposto a
mostrar. No fim, quando canso de pensar, me convenço de

que um dia, mesmo que não seja hoje ou amanhã, Logan


vai se abrir.

Um dia desses vai me falar do seu passado, que

esconde tão bem. Irá me explicar como e o porquê de o


casamento com a minha irmã ter acabado. Os motivos que

o fazem não querer sequer ouvir o nome dela nesta casa.

— Finalmente ela se entregou.

— Desculpa, eu estava com os pensamentos


longe daqui — digo.

— Não te julgo, namorada. Imagine como eu


sinto vontade de sair correndo todas as vezes que ela

coloca esse bendito filme. Não aguento mais! — reclama,

mas sorri, porque sabe que assistirá mais centenas de


vezes. Não tem nada que Logan não faça pela filha.

O seu amor supre tudo, e mesmo que não tenha

tido uma mãe presente, Emily Ramirez é feliz.


— Agora você tem companhia, amor. A gente
pode se sentar do lado do outro e ficar namorando de

agora em diante, o que acha?

— Eu sabia que abrir o jogo com ela só traria


benefícios para todos nós — ele brinca, me agarra e me

traz para cima do seu corpo.

— Aqui não! Ela... — olho para a pequena ao


lado do pai. Ela está dormindo profundamente.

— Era o que eu estava tentando te dizer

enquanto você fugia da realidade. O olhar tão perdido que


eu poderia ter ficado pelado na sua frente que não me
notaria.

— Aí você está exagerando. Não existe nada

que tire os meus olhos de você quando está sem roupas,


Logan. Nós estamos juntos há tempo suficiente para já

saber dessa informação sobre mim. Se tiver você nu e

excitado na minha frente...


— Tenho que estar excitado?

— Bom, adianta o serviço, não é? — brinco,

meu namorado faz o que ama, cheira o meu pescoço e

começa a pegar no meu peito com a mão livre e nervosa.


— Se você estiver nu e excitado na minha frente e vier um

meteoro na minha direção, vou correr, mas é para os seus

braços.

— E morremos os dois? — ele questiona aos

risos.

— Sim, mas morremos felizes! Gostou da minha

tese?

— Adorei, garota inteligente. Agora sei que você

não resiste ao seu homem sem roupas. Talvez eu desfile

sem nada pela casa quando estivermos sozinhos —

provoca.

— Queria ficar aqui, namorando no sofá e


curtindo uma preguiça, mas acho que temos que levar uma
mocinha para o quarto... — falo com dificuldade quando o

homem começa a fazer carícias na minha barriga. Por

alguma razão, esse lugar em especial é sensível ao seu

toque.

— Depois a gente vai para o meu quarto. Essa

conversa me deixou zonzo e preciso que a minha mulher


me faça relaxar — diz ao se levantar e pegar a Emmy nos

braços. Embora esteja me provocando, acredito que temos

de falar sobre o que aconteceu agora há pouco.

Depois de colocarmos Emmy na cama e

deixarmos a porta entreaberta, além da luz do abajur ligada

como ela gosta, Logan e eu passamos no meu quarto para

que eu troque a roupa por um pijama. Durante o processo,

ouço que eu não deveria ter perdido meu tempo, que em


poucos minutos vou ficar sem ele.

— Logan, sobre o que... — ele não está

prestando atenção, se dedica a abrir o meu pijama, que é

igual ao da banana de pijamas.


Feio, mas confortável

— Devo ser muito louco por você, porque nem


isso aqui é capaz de me brochar.

— Ainda não gosta das minhas roupas? —

Estou fazendo um teste.

— Elas são... Você tem personalidade, meu

amor. São lindas em você.

— E fora de mim?

— Não me faça perguntas difíceis. Não quero

falar. Quero te amar, mas só se também estiver a fim —

diz, mete a mão dentro da minha calça e comprova que

estou pronta desde a hora que começou a me alisar no

sofá.

Logan e eu fazemos amor lento e carinhoso,

provando mais uma vez que não são todas as vezes que

transamos com a ferocidade de animais em uma luta por


sobrevivência. Quando gozamos e relaxamos, deito a
minha cabeça no seu peito, enquanto Logan faz carinho no

meu couro cabeludo com as pontas dos dedos.

— Que bom que não temos mais que nos


esconder dela. Quero dormir com você todas as noites —

ele diz, eu quase grito de alívio. — Quer mudar para esse

quarto?

— Não tem medo de que a pequena pense que

nos casamos e estamos grávidos? — indago.

— Nem um pouco.

— Que bom. E a resposta é sim, quero mudar

para o seu quarto. Colocar as minhas coisas ao lado das

suas no closet.

Confesso que estava com uma questão na

cabeça, mas Logan, ao me pedir para dividirmos o quarto,

está me dizendo que existe um futuro para nós, igual ao


que a filha idealiza com tanta empolgação. Que mesmo

que não diga com todas as letras, me ama o bastante para


confiar em mim, ainda que tenha mostrado em alguns

momentos que tem problemas para confiar e se entregar

por completo.

— Amo você — sussurro baixinho contra o seu

peito quando já não pode me ouvir.


Hostilidade

Mirella

Três semanas depois


— Perdoe-me, querida — a mulher, muito
elegante, como todas as outras cinquenta que aqui estão,

diz.

As suas palavras, assim como o sorrisinho

amarelo, com os dentes ridiculamente sujos de batom, não

soam sinceras. Eu poderia ganhar uma grana apostando

que ela combinou isso com o grupo de amigas que está em

um canto me olhando desde o início desse evento.

Eu devo parecer com um animal exótico, ou


talvez seja por causa da pessoa que me trouxe até aqui. A
mesma que me disse que ficaria tudo bem. Acho que para

ele é realmente confortável. Para mim, não.

— Da próxima vez, vou despejar o líquido dessa

taça na sua cabeça, porque tenho certeza de que não tem

problema de visão. Não sou transparente para que tenha

acidentalmente esbarrado em mim — falo com ironia.

— Você é tão vulgar quanto as suas roupas.

Ninguém aqui tinha entendido o que ele viu em você, mas

acho que agora ficou mais do que esclarecido.

Antes que eu tenha tempo para pensar, o que

me faria chegar a rápida conclusão de que estou


cometendo um erro, levanto a taça com bebida e despejo o

líquido em cima da cabeça loira.

A mesma mulher que foi apresentada como


enteada do cliente conquistado pela agência. Uma conta

de prestígio, que, conforme o meu namorado falou quando


acordamos pela manhã, elevará ainda mais o nome da R
de Castro Publicidade, que já é n°1 do mercado
publicitário.

— Você não deveria ter feito isso! — Toda

molhada, ela fala, mas não precisava. Percebo que acabo


de estragar um evento que era muito importante na carreira

profissional do Logan.

Nós duas estamos sendo olhadas por grande

parte das pessoas que vieram para a festa na empresa.


Ouvem-se cochichos, e pela forma como não fazem

questão de disfarçar, é evidente que é sobre o incidente.


Olho para o Logan mais à frente. Ele fala algo no ouvido do
Noah, dá um tapinha no ombro do cliente para quem fez a

recepção e vem na minha direção.

Fico procurando no seu jeito de me olhar a

repreensão que mereço, mas não a encontro. Na verdade,


Logan usa o seu talento para esconder o que sente. Não

faço ideia do tamanho da sua decepção comigo. Nunca


vou me perdoar se tiver estragado tudo para ele. Se quiser
terminar comigo por causa disso, serei obrigada a
entender.

Vou sofrer como o diabo, mas vou aceitar que é

a consequência da minha falta de controle. Eu já vinha


aguentando olhares e palavras sussurradas desde o início,
poderia ter continuado até o final.

— Algo está errado por aqui? — ele pergunta ao


me abraçar. Sorri para mim, depois para a garota, que me
fuzila com o olhar cheio de ódio.

— Essa garota, que não tem a menor condição


de estar em um evento como este — me olha da cabeça
aos pés enquanto fala, fazendo com que, pela primeira vez,
eu me envergonhe das minhas roupas —, jogou bebida na

minha cabeça. É uma selvagem.

— Mirella, você... — Quando Logan começa a


me questionar, tento sair, mas ele me abraça pela cintura.
Faz com que eu fique parada no lugar passando vergonha
e sentindo que os olhares de todos os presentes estão em
cima de mim.

— Entendo que não veio aqui com o intuito de


tomar um banho de espumante, mas conheço a minha
namorada e ela não teria agido assim se não tivesse sido

provocada. Ela não é uma selvagem, e não espere que eu


peça para se desculpar, só porque o seu padrasto é um
cliente importante o suficiente, para a minha equipe ter
organizado esta festa para comemorar o fato de termos
ganhado essa conta.

— Vocês vão se arrepender! — Ela bate o pé e


sai pisando duro, pingando bebida no chão de mármore.

— Como você está? — ele pergunta.

— Eu... vou ao banheiro. — Envergonhada, e


sem conseguir olhar para ele, me afasto.

Quando entro no banheiro, me tranco em uma


das cabines para não correr o risco de ter de lidar com
mais insultos. Os meus olhos estão ardendo, mas não sou
fraca e não vou chorar, apesar de sentir que já faço isso

por dentro.

Quando Logan chegou a casa comemorando o


fato de ter conseguido uma conta milionária com uma

marca de prestígio, fiquei muito feliz por ele, mesmo não


estando por dentro do seu trabalho, porque sei que faz de
tudo para provar todos os dias, que o seu pai acertou ao
lhe confiar a presidência da agência, quando se aposentou.

Quando ele me falou que iriam fazer uma

recepção de boas-vindas para o novo cliente, não esperava


o convite que viria a seguir, pois não sabia se estávamos
preparados para uma aparição em público.

Não é como se estivéssemos trancados dentro


de casa durante as últimas semanas, mas idas ao
supermercado, ou ao parque com a pequena, são
diferentes disso aqui. Estar entre os seus, pessoas que

fazem e fizeram parte da sua vida quando ainda era


casado com a minha irmã, é completamente diferente de
quando Logan me aplaude nas noites de sábado, depois

dos meus shows.

Eu deixei que Logan me convencesse a vir


como sua acompanhante, mesmo sabendo que não seria

fácil. Assim como ele, tinha a esperança de que correria


tudo bem. Só não previ que seria eu a colocar tudo a

perder, com a minha falta de tato.

— Idiota! — Martirizo-me.

Nunca liguei para o fato de algumas pessoas

não entenderem o meu estilo. Sempre me vesti como

queria, sempre me achei linda. Aqui, no meio de um


público em que todas as mulheres vestem tons pastéis,

sinto-me como se fosse uma palhaça com o meu vestido

longo estampado e decote profundo. Quis colocar o meu


conjunto de pulseiras, porque pensei que ficaria legal com

os brincos de argolas, não para chamar atenção da pior


forma possível.
Quando perguntei ao Logan, ele disse que eu

estava linda. Não tinha motivos para não acreditar, meu


namorado sempre foi sincero comigo. Não costumo mudar

de roupa por causa de outras pessoas, mas por ele eu faria

sem pestanejar, afinal, este evento é mais importante do


que um capricho meu.

Estar aqui faz com que eu me sinta inadequada

de todas as maneiras possíveis, tanto pelas roupas, quanto


pela minha semelhança com a sua ex-esposa. Logan não

precisou abrir a boca para dizer quem sou, porque a


semelhança está estampada no meu rosto.

Quando eu estava começando a relaxar e me

sentir bem com as minhas próprias escolhas, Logan e eu


demos um passo errado que pode tornar a nossa vida

difícil.

Em algum momento terei que sair deste


banheiro para encarar as pessoas de cabeça erguida, mas

prefiro fingir que posso ficar aqui para sempre, ou, pelo
menos, até parar de me sentir tão mal. Até que não esteja
mais me esforçando para não chorar como a condenada.

Logan
Os piores momentos de se carregar o

sobrenome Ramirez de Castro são os que não posso agir


da forma como desejo, quando tenho de ser polido e

político, mas quero xingar tudo e a todos. Mandar todo

mundo ir para a casa do caralho por estarem fazendo com


que a minha garota, que sempre foi tão confiante, se

esconda dentro de um banheiro como se tivesse feito

coisas erradas.

Não acreditei nem por um segundo que essa

gente hipócrita não fosse vê-la com olhos julgadores, mas

esperava que pelo menos mantivessem as poses, que


disfarçassem um pouco. Como não fizeram, e essa aqui

ainda é a minha empresa, terei que mostrar-lhes que estão


lidando com Logan Ramirez de Castro e, que ninguém
pode fazer com que a minha mulher se sinta constrangida,

seja qual for o motivo,

Para o inferno com Monte Carlo e sua conta


milionária. Mirella sempre virá em primeiro lugar, quando

eu tiver que escolher entre ela e pessoas como essas.


Entre ela, o dinheiro e o prestígio da empresa.

— Vamos, garota. Saia! Você não é doida de

ficar a noite inteira escondida no banheiro.

Já estou há quinze minutos do lado de fora, e

nada da Mirella aparecer. Quando começo a pensar que

pulou pela janela e fugiu — sim, ela seria capaz —, minha


garota aparece. Tem a cabeça erguida e o nariz pequeno

empinado, como se nada estivesse acontecendo. Por fora

não demonstra nada, mas por dentro sente tudo.

— Estava a ponto de entrar e te pegar — digo,

olhando como se fosse a primeira vez que estivesse a


vendo vestida assim.
Embora eu tenha reparado no seu estilo, antes
mesmo de olhar para os seus belos seios quando nos

conhecemos, devo admitir que está linda com o seu longo,

que mesmo não sendo justo abaixo da cintura, evidencia


todas as suas curvas generosas e proporcionais.

Está perfeita com muitas pulseiras e brincos

grandes, que dão um charme especial ao penteado. Minha


garota prendeu os cabelos, e me deixa mais apaixonado

quando olho para o seu pescoço, o meu ponto fraco.

— Eu vou para casa, Logan. Perdoe-me por

estragar a sua festa. Não era a minha intenção.

Ela tenta passar direto por mim, mas não


permito. Seguro a sua mão e digo:

— Você vem comigo.

— O que vai fazer? — Não respondo, apenas a


carrego comigo, sabendo exatamente como remediar a

situação.
Quando chego à mesa que foi preparada para

as bebidas no salão de recepções do prédio, que pertence


a minha família e sedia a empresa, pego o microfone e

peço a atenção de todos.

— Que bom que vieram, senhores. A R de


Castro Publicidade não chegaria aonde chegou se não

fosse por pessoas como o senhor Monte Carlos, que confia

em nosso trabalho, e funcionários competentes como


vocês. — Nessa parte do discurso, olho para os meus pais

e Noah, as pessoas que não se importam com o meu

relacionamento com Mimi e nem a julgam pelo que veste.


— Um brinde a nós!

— Um brinde. — Todos levantam suas taças e


falam em uníssono.

— Quero pedir que me perdoem pelo lapso de

memória que me fez esquecer de apresentá-la


formalmente a todos vocês — digo, olho para o meu lado e

pisco para a minha namorada, que está dura como uma


tora de madeira. — A mulher linda que está do meu lado é
Mirella Maris, a minha namorada. Um dia, se ela me der

essa honra, será muito mais — falo. Aproximo o rosto e a

beijo na frente de todos, que ficam de bocas abertas,


embora tenham concluído qual era a nossa relação,

quando chegamos juntos hoje.

— Sei que é linda e, que chama a atenção o


fato de ser nova em nosso ciclo social, mas não é

necessário que a constranjam e nem que fiquem falando


aos sussurros da minha mulher. Sugiro que curtam a festa

e façam com que Mirella queira voltar mais vezes. — Dou

uma leve descontraída, mas cada palavra foi dita com

seriedade suficiente para que todos entendam o meu


recado.

Ao terminar, a abraço e levo para um lugar mais

privativo. Enquanto caminhamos entre as pessoas,


percebo que mudaram de atitude. Eles sabem que é

melhor não me ter como inimigo.


— Você não precisava...

— Sim, eu precisava. E farei quantas vezes

forem necessárias para que entendam. Ninguém tem o

direito de sequer olhar torto para você, não quando não fez
nada para merecer isso.

— Eu te amo, sabia? Todos os dias você me

mostra que viver esse amor foi a escolha mais acertada


que fiz — fala. Os seus olhos estão cheios de lágrimas. A

minha garota não chorou pela forma hostil como foi tratada,

mas quer fazer isso por conta de um pequeno gesto meu.

— Que bom ouvir isso, porque nunca vou te

deixar ir embora — afirmo quando nos sentamos em uma

das mesas ao fundo do salão.

— Tenho um presente para te dar — ela avisa.

— Aqui?

— Não. Esse é o tipo de presente que requer

que nós dois estejamos a sós e, com bem menos roupas.


O que não te pertence

Isabella
— Por essa você não esperava, não é? — Ouço

a voz que vem me irritando há algum tempo. — Mas dizem

que o mundo pertence aos espertos, essa garota com

certeza é mais esperta do que você. Mais bonita também,

devo acrescentar.

Ele fala isso só para me provocar, porque é

óbvio que essa garotinha brega não é melhor do que eu em

nada. Nunca foi e nunca será. É apenas o fruto indesejado,

que veio de intrometida ao mundo quando a nossa mãe já

não tinha mais idade para isso.

Antes éramos apenas nós duas. A dona Carla

sempre foi mãe e pai para mim e fez o que estava ao seu
alcance para me dar tudo o que podia, mesmo que eu não

acredite que tive tudo o que merecia.

Quando Mirella nasceu já tinha idade suficiente

para entender que as coisas iam mudar, que a atenção da

minha mãe não seria mais só para mim, mas, no fim das

contas, eu acabei me apegando a ela, que era muito

bonitinha e tagarela. Ela gostava de ficar me seguindo

pelos cantos, me olhava com os olhos de adoração. As

suas palavras para mim eram sempre elogiosas.

Entrando na adolescência, senti muito mais o

fato de ter uma irmã, pois me via querendo coisas que


minha mãe não podia me dar, sem que desse para ela

também. O problema é que nem sempre Carla podia dar


para as duas. Isso acabou fazendo com que eu me

ressentisse por ter uma irmã e, consequentemente, acabei


me afastando um pouco dela.

Morar em uma cidade do interior, vivendo

modestamente e tendo dificuldade para aceitar esse fato


fez nascer em mim o desejo de mudar de vida, de fazer o
que fosse necessário para crescer. Eu queria ir para uma

cidade grande, então, com muito estudo, passei para o


curso de publicidade e propaganda com uma bolsa de

60%. No início, mamãe dobrou a sua jornada de trabalho


para me ajudar a arcar com os custos.

Saí da cidade em que nasci com a certeza de

que nunca mais iria voltar, me estabeleci no Rio de Janeiro


e acabei me afastando mais ainda da minha irmã mais

nova e cabeça de vento. Consequentemente, fiquei mais


distante da minha mãe também.

Tive que enfrentar algumas batalhas com o

pouco dinheiro que tinha para moradia e minhas


necessidades nos primeiros meses, mas tudo na minha

vida melhorou quando conheci Logan Ramirez de Castro.

Além da minha beleza, nunca fui modesta

quanto a isso porque sempre ouvi que sou linda, o fato de


eu ser nova na universidade acabou atraindo a atenção de
vários rapazes. Eu me sentia muito envaidecida,
principalmente pela atenção do Logan, que de longe era o

mais bonito e cobiçado da universidade. A sua riqueza era

um bônus.

Quando nos aproximamos, percebi que era do


tipo que só queria curtir e fugia de compromissos, mas logo

eu percebi que seria capaz de tudo para não perder


alguém como ele. Eu entendi que no jogo do amor valia
tudo. Então comecei a jogar pesado, a ser a garota perfeita
aos seus olhos, a garota que eu acreditava que faria o

grande Logan se render.

E ele se rendeu e não demorou para


começarmos um namoro que durou sete anos. Mantendo o
relacionamento com uma pessoa que nunca soube o que

era contar moedas, tive o gosto de ter tudo de mão beijada.

A sua mãe, que tem o coração mole e um


parafuso frouxo na cabeça, me levava de shopping em

shopping, me vestia como se eu fosse uma boneca com


roupas de luxo. As suas “lembrancinhas” eram joias que
poderiam pagar um ano de salário da maioria dos
trabalhadores, mesmo nos de maior remuneração.

Mesmo quando comecei a trabalhar na agência


da família, antes mesmo do Logan ser o Diretor-Presidente,

tinha regalias que outras funcionárias não tinham, pouco


trabalhava porque a minha, até então, futura sogra sempre
fazia visitas surpresas que me tiravam do local de trabalho.
E quem teria coragem de abrir a boca para reclamar de
mim? Afinal, eu era a namorada do filho do dono.

Logan era o melhor amigo do Eduardo, um


rapaz que sempre esteve por perto, mas que no início agia
como se eu o incomodasse. Eu não entendia qual era a
dele, mas comecei a ver a sua reação a mim como um

desafio. Cheguei a acreditar que tinha ciúme do amigo,


depois entendi que era muito pior que isso.

Os seus olhares demorados e enigmáticos me

incomodavam, mas tinha algo a mais. Uma noite, quando


saímos para comemorar um ano de namoro em uma casa
de shows, Logan e eu acabamos encontrando Eduardo no

local.

Ele estava com uma garota a tiracolo, mas a


deixou de lado quando nos viu. Nós três bebemos e

dançamos por um tempo, depois a minha futura sogra


solicitou a presença do filho na sua casa. Ele acabou indo
embora mais cedo.

Sozinhos, Eduardo e eu ficamos em um clima


pesado. Quando resolvi abrir a boca para reclamar dele,

começamos a discutir. A discussão culminou em um beijo


ardente, que acabou com a gente transando em um quarto
de hotel barato demais para os padrões que eu estava
acostumada, nas minhas saídas com o Logan.

Na manhã seguinte, de ressaca e


constrangidos, prometemos que não iria acontecer de
novo, mas aconteceu muitas e muitas vezes. Eu comecei a
ficar apaixonada por Eduardo e seu humor ácido. Pelo seu
senso de saber que nunca seria o Logan.

Ele sabia que tinha o rosto e um corpo que


atraía mulheres, mas sempre seria a segunda opção,
porque o melhor amigo tinha a beleza e o dinheiro.

Conforme os anos foram passando, mais


envolvida eu me via com o amigo do meu namorado.

Logan era um ótimo amante, o sexo com ele era divino. Era

atencioso quando eu pedia por atenção, mas também


mantinha certo distanciamento. Logan não era um homem

para demonstrar sentimentos. Dizia que me amava poucas

vezes. Quando falava não parecia ser de verdade.

Tinha a necessidade de ser adorada, o tipo de

atenção que não se comprava com presentes caros, e era

Eduardo quem me dava o que eu queria. Muito


acostumada com o conforto e status que tinha conquistado,

com o título de namorada de um Ramirez de Castro, eu


não estava disposta a abrir mão do Logan.
Foram muitos anos tendo dois homens

comendo na minha mão. A cada dia que passava, menos


remorso sentia por estar traindo o Logan, e mais vontade

de assegurar que ele não iria me deixar eu tinha. Sabia que

poderia até perder o Eduardo, por quem sentia uma paixão


animalesca, mas não o Logan.

Quando chegou aos sete anos de

relacionamento, sabendo que não poderia perder a pose


de mulher doce e compreensiva, pensei em uma forma de

apressar a sua decisão de marcar a data do casamento.


Deliberadamente, e ciente de que seria algo que me

garantiria por muitos anos, mesmo se um dia nos

separássemos, parei de tomar anticoncepcional sem o


consentimento do Logan.

Mesmo que ele não me procurasse para o sexo

tanto quanto no início do namoro, ainda fazíamos com


frequência, então não foi difícil engravidar dele.
Quanto mais se dedicava à empresa para
provar ao pai que era digno da cadeira de presidente, mais

distante o homem se tornava. Eram mudanças tão sutis


que acredito que ele nem percebia. O seu trabalho era a

sua amante, mas ele sempre foi uma pessoa decente.

Quando me pediu em casamento, semanas

depois da confirmação da gravidez “acidental”, Logan


alegou que iria acontecer de qualquer forma, mas eu sabia

que se não fosse a gravidez ele continuaria me enrolando


por mais sete anos

Com Eduardo as coisas não estavam tão bem.

Mesmo tendo percebido no início a inveja que sentia do


amigo e, o quanto queria tudo que era dele, inclusive eu, os

anos foram piorando muito a sua reação a tudo que dizia


respeito ao Logan.

Custou muito para eu evitar que Eduardo

fizesse uma besteira, que acabasse com a minha vida. Eu


já estava tão dependente financeiramente do meu noivo,

que não saberia como viver se ele me deixasse.

A gravidez e o pedido de casamento serviram


como gatilho para o meu amante. Ele começou a meter os

pés pelas mãos, e isso foi o começo do meu fim.

Contando com a presença da minha mãe e da

minha irmã mais nova, que dizem que foi ao casamento,

mas eu não vi, tive a festa de casamento que toda mulher


sonhava ter. Estava nas nuvens, afinal, tudo tinha dado

certo. Não era um homem qualquer, era o Logan, perfeito

para a vida que eu sempre quis.

Eduardo, com a sua falta de inteligência e de

controle, quase estragou tudo para mim. Logan me olhou

de uma forma que me fez acreditar que iria me expor


perante todos os convidados, depois que flagrou Eduardo e

eu aos beijos. Mas ele estava estranho, colocou um sorriso


no rosto e me levou de volta para a festa.
Sem lua de mel e sendo tratada como uma
leprosa pelo meu marido, percebi o tamanho da

importância de ter ficado grávida, porque mesmo se Logan

não tivesse falado, eu saberia que só não fui jogada na rua


por causa da filha, que ele tinha dúvida de que fosse sua.

Com a minha vida de cabeça para baixo e

tentando reconquistar a confiança do meu marido, eu ainda


tinha que lidar com o Eduardo, que não saía do pé.

Os meses de gravidez foram solitários. Contava


apenas com a companhia da minha mãe, a quem passei a

conversar com mais frequência. Mirella, que já não era

mais a menininha de quem gostava tanto, desapareceu da


minha vida. Nem por telefone ela queria falar comigo.

Não posso dizer que não amei a criança que

carregava. Ela era filha do Logan, era o meu passe de volta


para o seu coração. O bebê era o fio que me prendia a vida

que não desejava perder.


Depois que ela nasceu e eu me recuperei,

Logan fez o exame que confirmou a sua paternidade. O


que parecia ser a minha chance de fazer as pazes, tornou-

se o meu calvário.

Logan ficou mais fechado do que nunca. Para


ele, era como se o seu mundo se resumisse à filha. Nós

brigávamos muito, e o meu marido não perdia a

oportunidade de falar que eu só estava casada com ele por


causa da nossa filha, que o meu único papel era o de ser a

melhor mãe para a bebê.

Comecei a transferir a minha frustração para


ela, que não serviu aos meus propósitos como deveria.

Não tinha paciência para os seus choros, e a deixava muito


tempo com a babá, que era como uma espiã para o Logan.

Mais desesperada a cada mês que passava, comecei a

beber e a sair para as festas. Em uma delas reencontrei


meu amante, que havia sido dispensado da agência do

meu marido.
Ele nem olhou para mim, estava mais entretido
com uma vagabunda qualquer. Como era a noite que eu só

queria me divertir e esquecer que o mundo não era cor-de-

rosa e que tudo que sonhei tinha dado errado, entrei no


jogo pela sua atenção e saí dele vitoriosa ao seu lado.

Fizemos sexo e conversamos como se nunca

tivéssemos rompido. Com o Logan pouco se importando


com o que eu fazia ou deixava de fazer, pelo menos era o

que eu pensava na época, voltei a ficar com Eduardo.

O sexo, que sempre foi o principal entre nós,

teve a adição da raiva que nós dois sentíamos por Logan


Ramirez de Castro. De tentar recuperar a nossa relação,

passei a odiá-lo pela forma como me tratava. Pelo modo

que fingia não ser casado, quando saía com as suas

vagabundas.

Foi depois de embarcar nas ideias do Eduardo


que descobri que era feliz e não sabia quando era

desprezada por Logan, mas vivia no conforto de sua casa.


Foi por acreditar nos planos de um idiota que

levo essa vida de merda, tendo muito menos do que

mereço. Hoje tenho que ver que uma garotinha traidora e

insignificante teve a coragem de roubar o meu lugar.

Como ela pôde fazer isso?

Será que não se envergonha?

— Amo quando você fica com essa expressão


de doida varrida. O que foi? Está irritada porque o maridão

está comendo a sua irmãzinha? — Ele debocha de mim,

sinto vontade de matá-lo. — Não é como se você fosse

uma santa, querida.

— Cala a porra dessa boca! — esbravejo, jogo o

controle, mas o homem o pega no ar antes que atinja o

rosto.

A verdade é que não suporto mais morar nesse

apartamento minúsculo, quando poderia ainda viver na


mansão que Logan comprou para morarmos juntos, antes
do casamento. Estou aqui enquanto a traidora da Mirella

aparece nos programas de fofocas ao lado do meu ex-

marido.

Segundo a repórter, eles assumiram

publicamente. Embora eu já soubesse que ela estava

morando com ele, não queria acreditar que a menina


maluca, que deixei na cidade do interior, fosse capaz de

transar com Logan.

A imprensa, mesmo tendo mencionado, está

colocando panos quentes no fato de Logan Ramirez de

Castro estar se relacionando com a cunhada.

— Aceita que você perdeu, Belinha. A sua irmã

é uma baita de uma gostosa. Um modelo mais novo para o

Logan, que não pode ficar muito tempo sem um brinquedo.

Eduardo, que não é um bom exemplo de

inteligência, tem razão em parte do que disse. Eu perdi o

Logan no dia que olhei para o homem que está


esparramado na cama. Perdi a vida que sempre quis, a
que batalhei para conquistar. Fui burra e fraca.

— Ela não ganhou. E esse jogo está longe de

terminar.

Posso até ter cavado a minha própria sepultura,


mas não vou deixar que a Mirella fique com o que é meu.

Ela não terá paz ficando com o meu marido e com a minha

filha e sei até por onde começar.


Entrega total

Mirella
Aos beijos, felizes demais pelas taças de

champanhe que tomamos na festa da agência, Logan e eu

entramos no quarto de hotel aos beijos, tropeçando e rindo

sem motivo.

Nós íamos para casa, para o nosso sexo em

cima da nossa cama, mas a forma como ele me defendeu,

como se declarou para mim na frente de muitas pessoas,

como limou toda a insegurança, me deixou mais

apaixonada, cheia de fogo e um desejo enorme de agradá-

lo de um jeito que nunca irá esquecer.

Para o que tenho em mente, ele pediu para o

pai passar em casa, dispensar a babá e levar a Emmy para


dormir com ele. A pequena ficará feliz de ir com o avô, e

será a nossa recompensa por ela não ter ido ao evento.

Eu, por outro lado, pedi que passássemos em

uma farmácia. Logan me olhou como se não entendesse

nada, mas quase saiu gritando e pulando quando viu o que

tínhamos ido comprar.

Inclusive, ele pediu para que o motorista pisasse

o pé no acelerador, tamanha a sua pressa de chegar no

melhor quarto do melhor hotel da cidade. Quando fecha a

porta, ele já vem tirando a minha roupa, mas corro para o

outro lado em fuga.

— Estou nervosa — digo, jogo o tubo de

lubrificante em cima da cama. Logan o olha como se fosse


uma barra de ouro.

— Não precisa, querida, você sabe que quer

isso há muito tempo. Além do mais, já está acostumada


com os meus dedos. Hoje será apenas mais grosso e
maior.

— Muito mais grosso, muito maior — pondero,

imaginando se estarei caminhando amanhã pela manhã.


Logan gosta de foder com força. Não quero nem imaginar

essa força no meu cu.

Será que corro o risco de sair me cagando sem

querer?

Uma dúvida pertinente, que tenho que


pesquisar no banheiro, porque nem sob tortura vou fazer

essa pergunta vergonhosa para o meu namorado lindo.

Lindo.

Lindo

Lindo.
Nunca vou deixar de pensar assim. Dentre
tantos homens de boa aparência na festa, inclusive o

Noah, nenhum chegava aos seus pés, era mais do que

beleza física. Era ele sendo o todo poderoso, o macho alfa


que pegou o microfone para defender a mulher. Essa
chacota que está pensando em cocô quando ele quer o
presente prometido.

— Logan, será que corro o risco de me cagar


sem querer depois de ser arrombada por você? — Ele me
olha por meio segundo, depois começa a sorrir

desesperadamente.

Isso mesmo, o LOGAN sorrindo


desesperadamente. Eu não tinha conseguido algo assim
antes. Tinha que acontecer quando estou passando

vergonha.

— Amor, não sei o que vou fazer com você —


ele diz, vem para perto, mas não deixo que me abrace.
— Não faça nada. Estou te obrigando?

Sim, eu fiquei magoadinha por meu namorado


ter rido de mim. Mas a culpa é minha que não consigo
manter a língua dentro da boca.

— Não faça bico, eu adoro esse seu jeito...

— De passar vergonha com facilidade?

— De fazer os meus dias melhores com bom


humor e espontaneidade. — Interesseira, deixo de fugir e

caio nos seus braços depois do elogio. — E respondendo a


sua pergunta, não, você não vai sair se borrando depois de
fazer sexo anal comigo. Dará tudo certo, querida. Vai
gostar da experiência porque eu vou fazer questão de
assegurar isso.

— Obrigada por ter tornado a noite mais fácil


para mim — falo, e começo a abrir os botões de sua

camisa social grafite.


— Eu não devia ter precisado fazer nada
daquilo. Fiz o certo, e farei quantas vezes forem

necessárias, porque você merece e eu te adoro — declara.


— Agora quero o meu presente, namorada gostosa.

— Gosto quando me elogiam assim, meio que

corrobora o meu pensamento.

Quando termino com a sua camisa, a jogo em


cima da cama e coloco as minhas mãos abertas em cima
do seu peitoral firme, sem nenhuma gordurinha sobrando.
O homem tem o corpo perfeito. Grande e forte na medida

certa.

Sem poder me conter, começo beijando o seu

ombro, passo para o peito, depois me curvo para distribuir


beijos pelo tanquinho. O seu corpo fica tenso, e para o
provocar, passo a língua bem próxima ao cós de sua calça.

— Pensamento?
— De que sou uma grande gostosa. Eu sempre
pensei que fosse, mas ouvir isso do meu namorado, que

tem local de fala por ser um gato, confirma a minha fala.

— Você não existe, menina! — Logan se


diverte, mas não esquece de ser safado, então aperta a

minha bunda por cima do vestido. — Por que não tiramos


as nossas roupas? Eu gosto de conversar com você sem

nenhum pano entre nós — ele diz e tem as mãos de polvo

em volta dos meus peitos.

— Olhar para os meus seios te ajuda a se

concentrar? — provoco, enquanto desato o nó na parte da

cintura do meu vestido.

— Sim. Quando estou na agência, basta pensar

em você que começo a ficar mais produtivo. Tudo para

chegar em casa logo e tomar banho com você. — Criamos


esse hábito. Ele para se limpar depois de um dia inteiro na

rua, eu como o primeiro passo do ritual de ficar pronta para


ir trabalhar.
Os banhos sempre acabam em sexo, ou algo

parecido, mas são momentos especiais que criamos para


matarmos a saudade, das horas separados.

— Que bom, fico contente em poder ajudar.

Quando o vestido cai enrolado nos meus pés,


faço questão de abaixar-me lentamente para que ele tenha

uma visão melhor dos meus seios dentro do sutiã. Antes de

sair de casa escolhi a dedo o conjunto sensual, porque


imaginava que a noite festiva, e um pouco de álcool no

nosso sangue, terminaria quente.

— Não tira o salto — pede. — Dê uma voltinha


para mim, amor. — Faço o que ele quer. Termino o giro um

pouco tonta e de costas para o meu ruivo. Ele queria


mesmo era ter uma visão da calcinha toda enfiada na

minha bunda.

— Eu não canso de olhar para você — diz


quando cola seu corpo ao meu por trás. — Nem de tocar
na sua pele. Penso em você a cada minuto do meu dia. No
que está fazendo e em como queria estar do seu lado. Te

desejo noite e dia, assim como estou desejando agora.

Cada palavra é dita baixinho perto do meu


ouvido, as suas mãos, que seguram os meus braços,

devem estar sentindo o arrepio da minha pele. — Eu vou te

comer todinha hoje, meu amor. E quando acabar, você terá


certeza de que não existe nenhuma parte do seu corpo,

que não foi tocada por mim. Você é toda minha.

— Eu sou, sim... — digo com um gemido

doloroso, quando Logan começa a esfregar o pau duro

entre as bochechas da minha bunda. Como estou de salto,


a minha altura é a ideal para as bombadas.

— Imagina quando não estivermos com nada

entre os nossos corpos, baby. Quando for o meu pau


rasgando o seu cuzinho. Tão dolorosamente apertado, tão

gostoso.
A voz... Que voz é essa!

Ela, a sua esfregação por trás e o braço em

volta da minha cintura, que me faz ficar em pé, quando as


minhas pernas estão bambas de tesão, tudo me faz

esfregar uma perna na outra. Uma fricção que causa


prazer, que alivia a dor do desejo.

Sempre que Logan começa a falar promessas

do que vem pela frente no meu ouvido, sinto o desespero


de estar sem ele, de necessitar ser preenchida até o limite

da dor.

— Logan, por favor... — quando imploro ele é


mais cruel, coloca a mão dentro da minha calcinha, e

começa com a tortura. Meu homem enfia as pontas dos

dedos, mas não dá tudo o que eu quero.

— É isso que você quer?

— Não. Quero o seu pau — choramingo, tento

forçá-lo a ir mais fundo. — Por favor... — Logan, que tem


parentesco com Edward Cullen, lambe e morde o meu
pescoço no processo.

— Você o terá, amor. Muito mais do que

imagina. Mostrar para o mundo que você é minha me


deixou louco de paixão. Fiquei orgulhoso, pois era a mulher

mais linda da festa.

— Eu era, mas só nós dois pensamos assim...


Ai... — protesto quando ele estapeia o meu sexo. Primeiro

vem o susto, depois a queimação que intensifica o fogo do


tesão.

— E não é tudo o que importa?

— Com certeza. Se você me achou bonita, o


resto não importa — afirmo, porque eu só pensava em ficar

bonita para ele, para que sentisse orgulho de me

apresentar.

— Gostosa acima de tudo. Minha safada. — Ele

abre o meu sutiã, o tira e me vira de frente. Os seus olhos


estão famintos na minha carne.

— Chupa. — Enfia os mesmos dedos que

estavam dentro da calcinha na minha boca. Sem deixar de


olhá-lo, limpo o meu gosto dos seus dedos e giro a língua,

imitando a forma que faço quando é o seu pau na minha


boca.

Logan perde o controle, me beija com

sofreguidão, segura minha cintura com um braço e com o


outro enrola minhas pernas na sua cintura. Ainda me

beijando, ele me deita na cama e começa a chupar meus

seios. Não demora, pois o desejo é urgente.

— Não ras... — antes que eu termine, o ruivo

rasga a calcinha que comprei parcelada.

Sim, parcelada. Não sou rica, só namoro com


um homem rico.

— Ainda estou pagando.


— Será um prazer te levar para comprar outra
— diz e cai com a boca entre as minhas pernas.

Antes de ter clemência por mim, meu namorado

me faz gemer, gritar, puxar os seus cabelos e implorar por


alívio. O meu primeiro orgasmo da noite é na sua boca,

que não se cansa até ter o meu corpo relaxado.

— É a minha vez, querido — digo, empurro seu


corpo para a cama e subo no seu quadril.

— Dê o seu show, garota safada!

Começo novamente com beijos pelo abdômen,


enquanto tiro o membro de dentro da boxer. Eu o beijo e

masturbo ao mesmo tempo, não paro de chupá-lo até que

goze clamando pelo meu nome e dizendo sacanagens

elogiosas a minha habilidade de fazer boquete bem feito.

Por um tempo, ficamos deitados nos tocando e

recuperando nosso fôlego.


— Senta em cima de mim, amor. Quero sentir

você quicando no meu pau. — Essas são suas primeiras

palavras depois de recuperado.

— Está tão mandão.

— Sabe que pode recusar, não é? Aqui são

direitos iguais. Eu comer o seu cu é sempre uma opção,

mas se recuar não terá o sexo mais prazeroso e


transgressor da sua vida. Não terá o meu pau socado

todinho em você... — Logan não precisa terminar de falar

para me ter pulando em cima das suas pernas.

Segurando-me com firmeza, o ruivo se senta

com as costas apoiadas na cabeceira da cama. Antes de

começarmos a segunda rodada, ele estica o corpo até


conseguir pegar a garrafa de champanhe do balde de gelo,

que estava nos esperando quando chegamos.

— Champanhe e sexo com a minha namorada,

que combinação deliciosa — diz, abre a garrafa e despeja


um pouco do líquido gelado dentro da sua boca, depois faz

o mesmo na minha. Eu bebo um grande gole, deixo

algumas gotas escorrerem pelos cantos e, Logan trata de

lamber tudo.

— Que tal esfriar um pouco o seu corpo, baby?

— Você não se atreveria... — digo, mas é claro

que ele faria. O meu corpo inteiro se arrepia quando o

líquido gelado escorre pelos meus seios.

— Coloque-me para dentro, quero te foder,


enquanto bebo de você. Isso, assim, meu amor... — geme

quando começo a sentar. O começo é sempre mais difícil e

apertado. Temos que nos controlar, mas quando me

acostumo, não existem limites para o nosso prazer.

— Rebola, Mirella... Puta que pariu! — Começo

a subir e descer, e quanto mais ele me lambe a cada

despejo de bebida, mais rápidos são os meus movimentos

em cima do seu pau. — Gostosa!


Eu me perco por completo e gozo até ficar tonta
quando o meu namorado me segura com firmeza, e passa

a controlar as arremetidas. Ele ergue o quadril para cima,

estoca, enfia e tira. Não para antes de deixar-me toda

molhada com o seu esperma.

Com cuidado, ele me deita de bruços com a

barriga em cima de uma pilha de travesseiros. Ainda


sensível pelo orgasmo, e pelo sexo duro e demorado,

estremeço quando leva um pouco da umidade do meu

sexo para o ânus.

Sinto prazer com o toque, com os seus dedos

sendo lentamente introduzidos como senti antes. O meu

coração está acelerado porque sei que não será apenas os

dedos dessa vez.

— Amor, você precisa relaxar, está bem? Pense


que depois que o desconforto passar, você sentirá um

prazer que nunca sentiu antes. — Com carinho, Logan diz

e beija das minhas costas até os lados da minha bunda.


— Eu confio em você — afirmo.

Por mais que esteja ardendo de desejo, o meu

ruivo quer fazer com que eu me sinta bem, por isso me


toca até deixar-me como estou agora, pegando fogo. Com

paciência, ora tocando no meu sexo, ora estocando na

minha bunda, Logan faz meu desejo ir às alturas.

— Faça de uma vez — peço, insinuando a

bunda contra os seus dedos lambuzados de lubrificante,

assim como está o seu pau. — Eu quero...

— Quer o que, querida? O meu pau todo

socado no seu cuzinho virgem?

— Sim... me fode de uma vez — imploro.

Arrependo-me quando sinto a cabeça robusta

tentando passar no buraco que claramente não cabe.

— Não, isso não vai dar certo, Logan! Amor,

ruivo do cão! Eu imploro.


— Calma, só relaxa, Mimi. — Com o corpo

cobrindo o meu, ele leva uma mão até a minha boceta e

começa a tocá-la, jurando que isso vai me distrair, mas não

vai.

— Eu sei que errei algumas vezes nesta vida,


mas não mereço ser castigada dessa forma... — digo com

lágrimas nos olhos, segurando com firmeza no lençol. —

Estou pedindo por clemência, por favor não me parta ao

meio... Ai!

— Porra de cuzinho apertado. Que delícia, meu

amor — Logan se regozija e só agora me dou conta de que

ele está imóvel.

— Já foi?

— Tudo dentro, minha deliciosa. — Está muito

apertado, sinto o peso do seu corpo, mas fora a dor

inicial...
— Está dormente. Acho que perdi a

sensibilidade no cu para sempre, amor. Agora mesmo é

que eu vou... Ai, porra! — Tudo bem, talvez eu não esteja

sem sensibilidade.

Ele passa a se mover, entrando e saindo bem

lentamente e, eu estou sentindo perfeitamente a dor da


invasão.

Nas primeiras estocadas quero chorar de

arrependimento e fazê-lo prometer que nunca mais vai


chegar perto do meu cu. Depois de alguns minutos, a dor

começa a ceder, passa de insuportável para um incômodo.

Do incômodo para o prazer indescritível.

— Eu não sei o que de tão bom fiz nesta vida

para receber tamanho presente... — digo entre gemidos,


empurrando a bunda na direção do seu quadril. Ainda

agarrada ao lençol, mas é para tentar não cair da cama

com as suas batidas vigorosas. Mordo o travesseiro para

não soltar berros assustadores.


— Não disse que era um castigo? — o safado

provoca.

— Se eu errei, foi tentando acertar... mais

rápido, Logan! Isso...

— Eu sabia que a minha namorada safada, e


corajosa, iria gostar disso — fala. O barulho das batidas do

seu quadril na minha bunda ressoa por todo o quarto.

Agradeço por não estarmos em um motel de beira de

estrada. Se fosse, os nossos barulhos já teriam sido

ouvidos por toda a população local.

— Eu gosto. Gosto muito. Quero sempre, e me


responsabilizo pela forma como vou andar depois. — As

minhas maluquices fazem o homem gargalhar e, por

incrível que pareça, fica mais excitado.

Logan me coloca de quatro, enrola os meus

cabelos no seu punho e passa a meter e, tirar, sem pena.

Arde e dói um pouco, mas o prazer é muito maior. Quando


dor e prazer se misturam, eu gozo como se não houvesse

amanhã. O meu corpo fica trêmulo, mas Logan continua a

me foder por trás. Ele toca na minha boceta, construindo


novamente o meu desejo.

Quando gozo mais uma vez, o meu homem vem

junto comigo, despejando o líquido viscoso dentro de mim.

O meu corpo tomba no colchão e, cuidadoso como sempre,

meu namorado desfaz a nossa conexão, vai até o banheiro

e pega uma flanela úmida.

Ele me limpa enquanto, lânguida, tento

normalizar a minha respiração.

— Você foi demais, amor. — Logan se deita ao


meu lado na cama e puxa meu corpo para junto do seu.

Deito a cabeça no seu peito e deixo as nossas pernas

entrelaçadas.

— Não faça elogios dizendo que o meu cu foi o

melhor que fodeu, porque não estou a fim de ouvir sobre a


sua vida promíscua antes de mim. O tanto de cu que

deve... Ah! Esquece.

— Ciúme? — questiona.

— De você, sempre — confesso. — Porque te

amo e tenho medo de te perder.

— Não vai porque a gente não vai deixar. —

Logan levanta a minha cabeça para que olhe em seus

olhos. — Eu adoro você, Mirella. Não vou permitir que nada


estrague a relação que estamos construindo, e te peço

para nunca duvidar que é importante para mim.

— Confio no seu amor — afirmo com


segurança, mesmo que continue sem falar dos

sentimentos, com as palavras exatas.

De alguma forma, sei que não precisa, porque

seja qual for o bloqueio que tenha com tal palavra, ele me

dá tudo o que tem para oferecer. Para mim é mais do que o


suficiente, para ser uma mulher completamente feliz ao seu
lado.
Visita surpresa

Logan
“Precisei de mil frases certas pra te conquistar

E de uma só errada pra te perder

Eu levei tanto tempo pra te apaixonar

Em um minuto só perdi você

Conhece alguém que jogou fora um diamante?

Loucura, né? Mas eu joguei

Quem já trocou um grande amor por um


instante?

Burrice, né? Mas eu troquei

Coração me fala, como é que você faz um

negócio desses?

Trocar um pra sempre por às vezes


Uma aventura, por uma paixão

Péssimo negócio, coração

Como é que você faz um negócio desses?

Trocar um pra sempre por às vezes

Ela falou que não quer mais conversa

Agora dorme com essa”

— Que linda, Lolo. Ela tem uma voz tão bonita.

— Emmy elogia a tia.

Pela primeira vez, mesmo passando das 22h,

horário em que ela costuma já estar na cama, eu trouxe a


pequena para ouvir a tia cantar. De tanto ouvir a minha

garota ensaiar, e a ajudar na escolha dos figurinos, ela


acabou ficando ansiosa para ouvi-la.

Ela insistiu tanto para vir vê-la na última semana


que nós dois acabamos cedendo. Agora, Emmy está
radiante, e não cansa de aplaudir a Mimi. Da minha parte,
não sou capaz de esconder o meu orgulho. Aqui no

restaurante, mais calmo e intimista, onde ela não precisa


se vestir com uma roqueira sexy, os sentimentos que

desperta em mim são outros.

Não tem muito a ver com o tesão, como das


vezes em que a vejo no bar com a banda de rapazes. Hoje

é terno, mas muito mais intenso, porque é sobre o coração,


não sobre o corpo.

Enquanto faz o que melhor sabe fazer, minha


garota tem seus olhos em mim e na nossa garotinha. O seu
sorriso está rasgado no rosto, e duvido que as pessoas que

estão aqui, fascinadas pelo seu canto, não saibam que


somos uma família, que nos pertencemos.

Há duas semanas fiz o que era certo. Contei


para as pessoas que interessavam que havia seguido em

frente depois de três anos separado, e sem assumir uma


relação séria. Apesar das especulações de quando eu iria
fazer isso, chamou mais atenção o fato de ter assumido o
romance com a minha cunhada. A notícia caiu como uma

bomba. Já ouvi sussurros até na empresa que

questionavam a minha motivação.

Para alguns, estou com a Mirella porque ela se


parece com a Isabella. Como a gente agia como o casal

perfeito, muitos ainda acreditam que não superei a


separação, inesperada por todos.

Apenas eu e os meus pais sabíamos quão


fracassado era o meu casamento. Não permiti que a fofoca

se estendesse pelos corredores da agência. Entre uma


reunião e outra, deixei claro que não queria ouvir opiniões
sobre a minha vida pessoal, que quem insistisse seria
penalizado.

Em casa, decidi não contar para a minha


namorada, se não para incomodá-la, foi por medo de que
ela, por um momento de insegurança, também suspeitasse

de que estou com ela por outro motivo, que não seja a
paixão que sinto há anos, mesmo que não pudesse
entender até que ela tenha explodido no meu rosto.

— Olha, Emmy, acho que ela está chamando


você — digo.

— Eu posso ir, papai? — ela pede, enquanto


tenta descer da cadeira. Essa noite Emmy é uma versão

mirim da Mirella com o seu vestido estilo princesa, preto


com bolinhas brancas.

Elas até são discretas para os padrões da


minha gata.

— É claro, meu amor. — Ela corre para os


braços da tia. Emmy tem perguntado com mais frequência
sobre quando a Mimi vai poder ser a sua mãe. Segundo a

sua cabecinha inocente, isso só vai acontecer quando nós


dois nos casarmos. Ela ignora completamente o título de
sobrinha.
Vendo as duas juntas, sinto que estou quase
completo novamente. Tinha aprendido a viver com a parte

que me faltava, com o medo e com os meus erros. Agora


que conheço a felicidade, não consigo mais me imaginar
de outra forma.

Mesmo focado nas minhas garotas, sinto um


arrepio na nuca. Olho para trás, porque tive a sensação de
que tinha alguém me observando. Mas não tem ninguém
que eu conheça à minha volta. Deve ter sido coisa da

minha cabeça. Então, volto a minha atenção para as


mulheres da minha vida com a certeza de que está tudo
bem.

Está tudo bem. Para o bem da minha sanidade


mental, tem de estar.

Mirella
— Eu fiquei muito feliz que você a levou para

me ver cantando hoje, Logan. Quando a vi, toda


empolgada me aplaudindo, pensei que fosse explodir de
amor — digo na porta do quarto da pequena.

Depois que terminei de cantar, desci do palco e


me juntei aos meus amores. Jantamos os três, mas era só
a pequena quem falava, fazendo perguntas sobre música.

Agora, além de se vestir como eu, decidiu que também


quer ser cantora.

Emmy gastou tanta energia que veio dormindo

na viagem de volta. O pai e eu tivemos apenas o trabalho


de tirar as suas sandálias antes de a colocarmos na cama.

— Que bom que gostou da surpresa. Tive que

me esforçar para ter uma desculpa para vesti-la com


roupas que são iguais às suas — diz e me puxa para os

seus braços. Abraçando-me por trás, nos leva para o nosso

quarto.

Foi difícil me acostumar, mas agora não consigo

enxergar o cômodo de outra maneira. É o nosso quarto,


meu e dele.

— Você é um péssimo mentiroso, amor. Aquela

desculpa de que ela sentiria menos a minha falta se


estivesse vestida igual a mim...

— E quem pode me culpar por ter tentado? —


ele brinca.

— O importante é que deu certo. E agora, meu

amor, você terá que lidar com o fato de que a sua filha quer
ser cantora. Quem sabe a gente não se torna uma dupla

sertaneja. Mimi e Emmy?

— Você não existe, garota! — Aos risos, Logan


começa a abaixar o zíper lateral do meu vestido preto com

bolinhas brancas. Eu deixo que me dispa, apesar de estar


cansada demais para fazer sexo hoje. — Vem, deixe-me

tirar esses sapatos — aponta para a cama e eu me sento.

O bom de estarmos em sintonia, é que muitas


coisas não precisam ser ditas, com palavras. Logan sabe
que algumas noites me deixam mais cansada, então não
tenta fazer nada que não quero. Quando estou bem, sou

eu mesma quem pulo em cima dele.

Com calma, Logan tira toda a minha roupa e


aproveita para dar beijos carinhosos, que eu nunca

dispenso. Tomamos banho juntos e depois, sem nos

darmos ao trabalho de colocarmos roupas, nos deitamos


abraçados.

Com certeza, essa é a melhor parte dos meus


dias. Eles são corridos, não tenho tempo suficiente para

ficar como gostaria com a minha ruiva e o pai dela, mas

estamos conseguindo nos entender dessa forma. Um dia


ficará melhor.
— Ei, aonde pensa que vai sem o meu beijo?

Bem cedo, esbarro no meu namorado quando

estou caminhando com as mãos cheias de livros. Ele, todo


suado da corrida pelo condomínio, mais gostoso a cada dia

que passa, sorri e beija o meu pescoço.

— Só não queria te sujar, gata — afirma, a

piscadela que joga faz as minhas pernas ficarem bambas.

— Não esquece de me mandar aquela foto do


seu tanquinho depois do banho. Só ela será capaz de me

salvar do tédio da primeira aula — digo, fico na ponta dos

pés e beijo de leve os seus lábios.

— Só se você me prometer que essa noite tem

aquilo que começa com C. — Logan negocia.

— Está tentando barganhar o meu cu?

— Ele está para jogo?

— Só se você quiser muito — devolvo.


Pode parecer sacanagem, mas ficamos ainda
mais firmes depois que o homem fodeu — literalmente — a

minha bunda. Pode ter sido por causa da forma como me

defendeu na recepção, mas também pode ser porque nós


dois somos um casal peculiar.

No dia seguinte eu andava como uma pata, mas

as minhas pregas estavam intactas, e foi o suficiente para


deixá-lo todo animadinho, jurando que teria todos os dias.

Não teve.

— Quando você faz isso de ficar com o olhar


vago e um sorriso no rosto, tenho vontade de entrar na sua

cabeça, porque sei que são pensamentos hilários —


comenta.

Ele nem faz ideia do quanto.

— Vergonhosos, você quer dizer — rebato. O


som da buzina do Ulisses chama a nossa atenção. — O

motorista chegou, tenho que ir, amor. — O beijo


demoradamente dessa vez. — A Emmy já acordou e está

enlouquecendo a pobre da Lídia com os planos para o dia.


Dá um jeito nela, que mais tarde é a minha vez.

— Pode deixar! — ele fala. Quando viro as

costas, sinto um tapa estalado de mão aberta.

— Hoje não terá cu! — afirmo sorrindo enquanto

corro na direção do portão.

— Como deve ser bom namorar um dos

homens mais influentes do estado — Rebeca fala.

Não entendo o porquê de ela estar sussurrando,


considerando que a professora de canto lírico está
sentada, mexendo no celular, enquanto espera que a gente
faça o trabalho teórico, quando todos clamam pela aula

prática.

— Mas não foi um caso de sorte. — A outra fala


com malícia, pensando que me fará sorrir de um assunto

que ainda é delicado para mim.

— Não? — Monica pergunta, mesmo sabendo


da história. Ela quer ouvir novamente porque sabe que vou

ficar constrangida. E não importa que seja essa a vigésima


vez que o assunto surge.

— Claro que não. Ninguém esbarra no


reservado Logan Ramirez de Castro em qualquer esquina.

A nossa garota esperta foi parar de paraquedas dentro da

casa do Ramirez porque a irmã dela é a ex-esposa do

ruivo.

Depois do comentário pelo qual todas

esperavam, começam as perguntas mais íntimas sobre a


nossa vida privada, até sobre o sexo. Eu não me importo

de contar os detalhes picantes de que necessitam se

alimentar. Antes falar de sexo a tocar no passado que

envolve a Isabella.

Minha irmã, esteja onde estiver, sabe do meu

namoro com o Logan e está me odiando. A minha mãe

estava estranha quando liguei três dias atrás, mas não deu

indícios de que sabia da minha relação com Logan.

Estranhei esse fato, porque não tem como Isabella não

saber e ela contaria para a nossa mãe, nem que fosse para
causar discórdia entre nós duas.

Por ainda me sentir culpada por amar Logan e


Emmy como amo, não tive coragem de falar a verdade

para a dona Carla. Sempre que nos ligamos, a conversa se

atém a pequena e a minha vida corrida entre trabalho e

estudos aqui no Rio.

Ela não vê nada de errado eu estar morando

com Logan, assim como parece ter superado rápido


demais o fato da minha irmã ter escondido, de nós duas,

que estava há anos separada do marido.

Como sempre foi, elas mantêm um laço estreito

de parceria e eu fico de fora. Para a minha mãe, não

importa se Isabella mente, se nunca se importou comigo,

ou se dá a ela apenas migalhas de atenção através de


ligações curtas, esporádicas e omissas. A filha mais velha

sempre terá o seu apoio incondicional e perdão.

Enquanto isso, levo a minha vida corrida, mas

feliz, tentando dar o meu melhor para trazê-la para perto de

mim. A sua filha querida nunca fez questão de ajudar a nós

duas, mesmo tendo se casado com um cara riquíssimo,

que poderia ter nos ajudado de alguma forma se ela

tivesse pedido.

Não que eu fosse aceitar alguma coisa do

Logan, mas deu para entender até onde ia o amor da

Isabella pela família pobre que deixou para trás.


— Mirella...

— Perdão, eu estava pensando.

— A aula já acabou, e você precisa assinar o

seu nome na lista. — Quem chama a minha atenção é a

professora, mas as três garotas com quem eu estava


sentada estão paradas me olhando.

— E tente prestar mais atenção nas aulas, estou

te achando muito dispersa na última semana. Seja qual for

o problema pelo qual está passando dentro de casa, não o

traga para a sala de aula. — Sim, estou levando um


sermão. — Você é uma das alunas mais talentosas da

turma e eu não quero vê-la desperdiçar um futuro que tem

tudo para ser brilhante. Pense nisso.

Depois do sermão, acompanhado de elogios, a

mulher vira-nos as costas. Ela deixa não só a mim, como

as minhas colegas sem fala e pensativas. Posso estar

paranoica, mas tive a impressão de que falou menos do


que queria quando disse que não deseja que eu

desperdice um futuro brilhante, algo que eu, com toda a

certeza, não estou fazendo.

— Até semana que vem, garotas. —

Incomodada, em pé juntando as minhas coisas, digo.

— Ei, aonde você vai? Nós ainda temos duas


aulas com o professor Francisco para assistir.

— Não posso ficar.

Não posso mesmo, penso comigo enquanto ligo


para o Ulisses vir me buscar.

O dia que começou bem, foi ficando estranho

quando pensamentos errados começaram a invadir a

minha mente. A fala da professora foi apenas a cereja do

bolo para me fazer tomar a decisão de sair mais cedo. Se

ficasse na sala, as minhas colegas inconvenientes e cheias


de tempo livre tentariam acompanhar até mesmo os meus

pensamentos.
Logan
Babá Lídia

O meu sangue gela quando vejo o nome

piscando na tela do meu celular. Depois do primeiro toque,


peço licença e saio da sala, onde acontecia a reunião

semanal, com a equipe de criativos.

— Fala Lídia, aconteceu alguma coisa com a

minha filha? Ela está bem?

— Está tudo bem com a menina. Eu estava

quase saindo para ir buscá-la e como hoje é dia de ir ao

supermercado para comprar alguns itens que já estão em

falta na dispensa...

— Você sabe que não precisa fazer isso, Lídia.

— Sim, senhor. A diarista cuida dessa parte,

mas eu gosto de acompanhar de perto a alimentação da


Emmy. Eu sei do que ela gosta de comer, principalmente as

marcas.

— Tudo bem — falo, um pouco impaciente, pois

além de ter uma reunião que precisa da minha presença,

tenho certeza de que não ligou somente para informar dos

planos de ir ao supermercado. — Do que está precisando?

— Eu ia chamar o Ulisses hoje — ela nunca

precisa do motorista, considerando que a escola da Emmy

é perto e elas gostam de ir e voltar andando —, mas ele


havia saído.

— A Mirella. Foi a minha namorada que solicitou

ele?

— Sim. Não sei o motivo, mas pensei que o

senhor fosse gostar de saber — diz. Ela ainda age como se

precisasse ser os meus olhos e ouvidos dentro de casa,

mas não é só por isso que está me comunicando. Lídia


gosta da Mirella e deve ter se preocupado com a sua

atitude.

— Agradeço por ter me ligado, Lídia. Estou indo

para casa — digo.

Não tenho motivos para estar preocupado, mas


sinto que tem algo errado acontecendo. Ao voltar para a

sala, aviso que aconteceu o imprevisto de cunho pessoal e

que a reunião seguirá com o Noah.

No caminho de casa, na velocidade mais alta do

que costumo, ligo para a Mirella. Ela atende depois de

muito chamar, diz que está tudo bem e que está indo para
casa. Eu não acredito na sinceridade das palavras, não

quando a sua voz está diferente.

Ao guardar o carro da garagem, olho para a rua

e vejo Mirella abrindo o portão. Ela se apressa, me abraça,

mas não diz nada.

— O que aconteceu?
— Nada, só estou me sentindo estranha. Você

não precisava ter saído da agência, por minha causa.

— Precisava sim — digo. — Vem, vamos entrar

que esse sol está escaldante. — Caminhamos abraçados


pelo jardim. Antes de entrarmos na casa, Lídia para na

nossa frente.

— Eu disse que você não estava em casa,

senhorita, mas ela insistiu que iria esperar.

— Ela quem? — Mimi se desvencilha de mim e

apressa o passo.

Comigo do seu lado, ela congela no lugar e

perde a voz quando avista a mulher sentada no sofá.

— Como... — ela não diz mais nada, porque a

outra simplesmente se levanta, avança sobre a minha

namorada e dá um tapa tão forte no seu rosto que a faz


cambalear.
Quando a vejo sendo ferida, sinto uma parte do

meu coração, há pouco recuperada, sendo quebrada

novamente.
Omissões

Mirella
Mesmo com o meu rosto ardendo por causa da

agressão, a raiva e a decepção que vejo no seu rosto me

dói muito mais. Fico olhando-a enquanto Lídia sai de

fininho, provavelmente indo atrás da Emmy em algum

canto da casa. Não tenho coragem de olhar para o meu


namorado, estou envergonhada demais para isso.

— Como a senhora conseguiu chegar até aqui?

— indago, tocando o lado agredido do rosto com a mão,

acreditando que a palma gelada irá aliviar a queimação. —

Por que não me avisou que viria?

— E por qual motivo eu faria isso? Para dar

tempo de você inventar uma desculpa para me manter

longe?
— Não foi isso que eu quis dizer, mamãe...

— Desde quando você está tendo um caso com

o marido da sua irmã, Mirella?

— Senhora... — Logan começa, mas antes que

a situação piore, eu me volto para ele, pedido com o olhar

para que não continue. Começar uma discussão com ela

só iria piorar a situação.

Conheço ele, e vejo pela forma como encara o

meu rosto vermelho que está tentando conter a fúria.

Logan pode até ter mudado comigo, me trata com muito

carinho, mas ainda é o mesmo com o resto do mundo,


povoado de pessoas que não sou eu, ou não têm o seu

sobrenome.

— Amor, por favor, deixe-me a sós com a minha


mãe. Vai falar com a ruiva. Ela vai ficar muito feliz por você

ter chegado cedo. — Mesmo a contragosto, ele assente e


beija os meus lábios antes de sair, sem se importar com a
cara feia da dona Carla.

Assim que ele nos deixa, ela volta a se sentar.

Eu faço o mesmo, mas longe o suficiente para não correr o


risco de apanhar novamente. Mesmo sendo terrível quando

criança e adolescente, ela nunca tinha levantado a mão


para mim. O que acaba de acontecer, ainda mais na frente

do Logan, será algo que jamais vou conseguir esquecer.

Enquanto me fita com hostilidade, tento acalmar

a minha respiração. Não piscar muito, senão é capaz de as


lágrimas escorrerem e não quero chorar. Não agora.

— E ainda tem a audácia de chamar aquele

homem de amor. Não tem vergonha na cara?

— Logan é o meu namorado — falo. Ainda que

sejam as palavras erradas, é uma verdade que não vou


negar.
Não vou permitir que tratem como algo sujo,
porque não é. Logan e eu não estamos juntos só por causa

do sexo.

— E você abre a boca para me dizer isso? —


Minha mãe está indignada como eu nunca a vi.

Eu estava todo esse tempo relutante em contar

a verdade para ela porque sabia que não reagiria bem,


mas está sendo bem pior do que imaginei. — Você sempre
mereceu, mas eu nunca te bati, sabe que não acredito que
as coisas se resolvam com violência, mas juro que estou

me segurando para não te dar a surra que você nunca vai


esquecer.

— Não fale assim, mãe... — minha voz fica

embargada, trêmula.

— Você passou de todos os limites, Mirella. Ela


é a sua irmã, garota! Será que parou para pensar nisso
pelo menos por um segundo?
Pensei, muito mais do que deveria. Se tivesse
sido tão fácil como parece aos olhos da dona Carla, eu
estaria plenamente feliz, não estaria esperando por uma

ligação da Isabella para conversarmos.

Não que eu esperasse perdão, só queria dizer

que me apaixonei pelo mesmo homem que ela, que não a


traí. Queria olhar em seus olhos e dizer que jamais
chegaria perto dele se estivessem juntos. Que mataria
qualquer que fosse o sentimento que nutri por muitos anos.
Mas não a trairia.

Eu não sou assim.

— A senhora não está sendo justa, mãe —


acuso. — Não sabe como tudo aconteceu...

— E quem é você para falar sobre ser justa. Eu


não te vi sendo justa com a Isabella.

— Ela foi embora há três anos. Três anos,


mamãe. E a gente não sabia de nada — digo, pois parece
que ela não ficou tão surpresa quanto eu quando soube. —
Três anos solta no mundo sem a filha, sem nos fazer uma

visita sequer.

— Não seja baixa, garota! Nós estamos falando


sobre você, não sobre os erros da sua irmã. Ela já me

explicou tudo o que aconteceu — diz.

— E o que aconteceu?

— Você aconteceu. Por que está me

envergonhando dessa forma, Mirella? Não te dei a devida


atenção, é por isso que está roubando tudo o que era da
sua irmã. Qual a satisfação que você tem em fazer tudo
errado? As pessoas na cidade estão comentando que fui

uma péssima mãe para você, que ter um caso com o


cunhado foi a pior coisa que poderia ter feito.

— Um bando de fofoqueiros que sempre tinha o


que falar da minha vida. Quando não tinham, inventavam.
A senhora sabe disso — falo, ainda tentando digerir as
palavras e acusações pesadas contra mim.

— Eu não sei mais de nada, Mirella Maris. Sabe


que sempre te defendi, mesmo quando estava errada, mas
dessa vez você foi muito baixa. As suas omissões são

piores do que o fato de estar com o seu cunhado. Disse


que viria estudar e trabalhar para me trazer depois...

— Eu estou fazendo isso! Os meus objetivos

não mudaram!

— Mas ao invés de se dedicar ao que realmente

importa, estava esse tempo todo brincando de casinha.

Você tem somente vinte e três anos, Mirella. Já parou para


pensar que além de tudo, esse Logan é bem mais velho do

que você? Que a sua sobrinha já tem quatro anos e, é uma

responsabilidade para a qual não está preparada?

— Não fale assim dela, dona Carla. Eu amo

aquela garotinha e ela nunca será um peso para mim —


falo com veemência, pela primeira vez muito irritada com a

senhora, que tem uma mala enorme de rodinhas do seu


lado. Ela certamente não veio para passar apenas um dia.

— É claro que você a ama, ela é a sua sobrinha.

Filha da sua irmã, não sua. O marido também é dela, não


seu — diz, e parece sentir prazer em repetir tais palavras.

É como se quisesse garantir que vai fazer com que me

sinta culpada.

Ela está começando a conseguir o que quer.

— Você sempre teve sonhos, menina. Desde a

adolescência dizia que iríamos deixar aquela cidadezinha


interiorana, que iríamos mudar de vida através da sua

música.

Parece que todos tiraram o dia para me lembrar

que eu tinha sonhos.

— Lembra que costumava passar horas falando


comigo sobre o que faria quando fosse uma estrela da
música, das viagens que faria e das pessoas novas que
conheceria? Você pensou nisso ao menos uma vez,

enquanto estava se metendo com esse homem que já é pai


de família? Onde foram parar os seus sonhos, Mirella?

De todas as ofensas que falou em poucos

minutos, nada mexeu mais comigo do que ter mencionado

os meus desejos antigos, era tudo o que eu sempre quis


ser. A Mirella que eu era deixou de existir quando, no meio

de um temporal, bati no portão desta casa.

As palavras dela também me fazem lembrar do

que a minha professora falou sobre desperdiçar o meu

talento.

— Eu ainda tenho sonhos, mãe — afirmo. No

fundo, sei que não desisti e nunca vou desistir deles —,

mas também me apaixonei.

— Pelo marido da sua irmã — afirma.


— Pelo ex-marido da minha irmã. Irmã essa que

não tem coragem de entrar em contato comigo. Se eu


soubesse onde ela está, já teria acabado com essa história

— assevero. — Não estou cometendo um crime, dona

Carla. Amar não é um erro.

— Não é crime, mas é imoral. É vergonhoso

para a família. — Eles que lutem, penso em dizer, mas fico

em silêncio.

A minha mãe veio com o discurso todo

montado, como se tivesse listado cada motivo que faz de

mim um péssimo ser humano em uma folha de papel.


Agora está despejando no meu colo. Inclusive, estou

começando a perceber que tenho intuições, pois não fazia


ideia de que ela viria, mas senti que tinha de voltar para

casa.

— Segundo a família, foi um erro eu ter nascido


— falo. A minha mãe preza muito pela moral, mas não se

lembra das vezes que me contou sobre como sofreu


julgamentos por ter engravidado de mim, com a idade
avançada para os padrões da roça. — Por que a senhora

não vai descansar um pouco? Neste momento, essa

conversa entre a gente não levará a lugar nenhum.

— Eu não quero descansar, Mirella. Quero que

você acorde para a vida. Que veja que a vida não é essa

aventura que a sua cabecinha de vento cria. Precisa


crescer e entender que não será feliz brincando de casinha

com o ex-marido e, a filha da Isabella. Será infeliz tanto


quanto ela.

— Isabella está infeliz? — indago, curiosa.

— O que você acha?

— Que não parece, já que está longe dele há

três anos, que não vem ver a filha. Ela te contou por que

faz essas coisas? A menina está crescendo sem mãe.

— Não a pressionei dessa forma. — Mas

comigo não tem a mesma consideração, penso. — E os


erros dela não justificam os seus!

— Não estou errando! — falo. Estou no limite da

minha paciência. — Eu sei que não preciso, porque já


tenho ideia da resposta, mas vou perguntar mesmo assim:

quem te deu dinheiro para vir até aqui, mãe. Foi a Isabella,
não foi?

— Foi. Ao contrário de você, ela tem

consideração por mim.

As suas palavras terminam por esmagar o meu


coração, porque até alguns meses atrás, antes de vir em

busca de meus sonhos, sempre estive com ela. Não passo


mais de dois dias sem ligar, mas a sua filha preferida faz

isso uma vez ao mês, isso quando liga.

— Mãe, não quero mais discutir com a senhora.


Estou com a cabeça rodando e o rosto ardendo por causa

do tapa que me deu.

— Não vou pedir desculpas por isso — diz.


— Eu não esperava que fizesse — falo, vou até
a cozinha e pego pedras de gelo. Depois enrolo em uma

flanela limpa e a pressiono no rosto. O alívio é imediato.

— Você está trabalhando, não está? — aceno


positivamente. — Por que não paga um quarto de hotel

para nós duas? — sugere.

Percebo que é a sua forma de tentar me afastar


do Logan. Mamãe está tão cega com tudo que a Isabella

deve ter colocado na sua cabeça que não pensa nem


mesmo na neta. No quanto ela pode estar apegada a mim,

ou que pode sentir minha falta se eu for embora


repentinamente.

— Até que o Logan peça o contrário, não vou

sair. Aqui é a minha casa, dona Carla. Se quiser, o quarto

que eu ocupava está vazio para a senhora, mas daqui não

saio! — falo com convicção, quase gemendo de prazer


sempre que o gelo toca na minha pele quente.
— Vai ficar até ele se cansar de você?

Mas que inferno!

Coloco o gelo dentro da pia, aproximo-me dela

novamente e digo.

— Não espere por isso.

— Você não estava na cerimônia de casamento,

mas vi com esses olhos que a terra há de comer o quanto

eles pareciam perfeitos um para o outro. Eu vi amor entre

Isabella e o Logan, filha. Não sei o que aconteceu para

acabar, mas ele a amava muito. Será que mesmo com a


separação ele conseguiu superar esse amor?

— Mamãe, por favor, não continue — peço,

começando a fraquejar, imaginando aonde essa conversa

vai parar.

— As duas são parecidas, você não pode negar

isso. Já se perguntou o porquê de ele ter se envolvido com

você? O que Logan vê quando te olha?


Não. Mas o Logan, apesar de não falar os

motivos, parece odiar a Isabella. Ele não ficaria comigo por

isso, não é?

— Fale para mim, filha, quantas vezes esse

homem, por quem está abrindo mão de si mesma, disse

que te ama?

Eu olho para ela por um tempo. Não preciso

abrir a boca, ela sabe. Ou pensa que sabe.

Logan já declarou seus sentimentos de outras


maneiras e até venera o meu corpo, mas nunca disse um

“eu te amo” para mim, mesmo que eu tenha me declarado

muitas vezes.
Temores

Logan
— Ela disse que é a minha outra avó, mãe da

Mimi, mas não lembro dela. É verdade, papai?

— Sim, meu amor. A senhora é a sua avó.

Gostou dela?

— Um pouco. Antes de Mimi chegar, ela palecia

que estava com raiva de mim, mas eu não fiz nada de

errado, Lolo.

— É claro que não fez, amor. A sua avó não

estava brava com você. E por que estaria se você é a


menina mais linda do universo?

— Eu também acho que sou, papai — afirma,

dividindo sua atenção entre mim e as bonecas.

— Você é tão modesta quanto a Mimi, sabia?


— Modes... eu não sei o que é.

— Quis dizer que você é metida igual a sua tia.

Ela daria a mesma resposta que você deu — falo, mas sei

que não está entendendo nada do que digo.

Eu também estou dividindo a minha atenção.

Apesar de ter dispensado a babá mais cedo, porque ela

não precisava estar por perto nesse momento, não consigo

me concentrar 100% na pequena. Os meus pensamentos

estão na sala. Na raiva que ainda sinto pelo que vi.

Tudo bem que a senhora é a mãe da minha

namorada, mas ela não devia ter batido nela. Na hora


pensei em mandá-la sair da minha casa, e teria feito se não

fosse quem é, se não soubesse que Mirella iria me odiar


por isso.

É muito estranho que a senhora tenha

aparecido sem avisar. Manteve segredo da filha, que se


preocupa tanto com ela. Para mim está claro que alguém
armou e promoveu esse encontro, e meu sangue esquenta
só de imaginar quem possa estar por trás disso. Eu espero

que a Isabella não esteja querendo começar a brincar de


gato e rato depois de tantos anos de silêncio.

Se antes eu já tinha muito a perder, agora não

existe nada que eu não faria para proteger as minhas


garotas.

Passam-se alguns minutos de pura agonia,


momentos que fazem com que me sinta inseguro como

nunca. Apesar de confiar na relação que Mirella e eu


estamos construindo, não confio na senhora que a agrediu,
ainda mais se a minha suspeita de que veio a mando da

Isabella se confirmar. É a cara dela jogar baixo assim.

— Está tudo bem? — pergunto quando entra,

mas está claro que não.

O que eu vejo é uma Mirella completamente

frágil e abalada. Ela não olha para mim. Encostada na


porta, encara a Emmy de uma forma tão intensa que tenho
a sensação de que quer se fechar em um mundo que

exista só ela e a pequena. Eu fico de fora, e nem quero

imaginar o que teve de ouvir para estar assim comigo.

Se acalme, você está viajando, porra! Ela nem


abriu a boca ainda.

— Foi a Isabella quem deu dinheiro para a


minha mãe vir. Elas agiram pelas minhas costas, você tem
noção disso? — Olha para mim, os seus olhos estão
cheios de lágrimas. A sua pele clara ainda está muito

avermelhada.

— Mimi, você está triste? — Emmy deixa de


brincar para perguntar. — Vem brincar de boneca comigo

que você vai sorrir. — A fala da criança lhe arranca um


sorriso.

— Não estou triste, meu anjo — afirma, olhando


para mim. Eu dou um passo em sua direção, minha
namorada faz um gesto sutil, avisando que não quer que
eu chegue perto dela. Fico decepcionado, mas respeito.

— Tudo bem se a minha mãe se instalar por uns


dias no quarto que eu ocupava antes?

— Claro que sim. Essa casa também é sua —


afirmo. — Quer conversar?

— Agora não. Eu tenho que ajudar a minha mãe


com a mala, saber se está tudo certo — fala, sai do quarto

sem me dar um segundo olhar.

Com a cabeça a mil, frustrado, mas tentando


entender o lado dela, me dedico única e exclusivamente a
minha filha. Levo ela para a piscina, e não recebo mais do
que um aviso por mensagem da minha namorada. Ela está

saindo para almoçar com a mãe.

A senhora passa por mim e nem olha para a

minha cara. Não me importo, porque ela também não é a


santa da minha devoção. Não fomos próximos durante
todos os anos de relacionamento com Isabella, não será
agora que isso irá mudar. Sobretudo, depois da forma

como tratou a minha mulher.

Depois de deixar Emmy nadar por um tempo, a


levo para almoçar. Nós nos divertimos fazendo uma receita

mais simples, depois nos sentamos à mesa para provar da


nossa obra de arte, embora só um de nós esteja realmente
com fome.

Depois que terminamos, a levo para fazer


algumas tarefas. Enquanto se mantém entretida, volto para

o quarto para tomar um banho rápido. Antes de entrar no


box, checo o celular, mas não tem nenhuma mensagem da
Mimi. Ao voltar para o quarto da pequena, a encontro
dormindo com o rosto em cima do livro. Com certeza a

piscina esgotou as suas energias.

Como cuidado, a pego nos braços e a deito na


cama. Dou um beijo na sua testa e saio do quarto.
A fim de ocupar a minha mente, volto para o
meu quarto, ligo o computador e tento trabalhar um pouco.

Entre um e-mail e outro sendo respondido, ligo para Noah


e asseguro que correu tudo bem durante a reunião. A
minha atenção dispersa no momento em que minha
namorada entra no quarto. Desligo o computador e a
observo.

Mirella se aproxima, tira as sandálias, sobe em

cima do meu colo e me abraça apertado. Ela chora de uma


forma como nunca a vi fazer antes. Eu a consolo, mesmo

sem dizer uma palavra. Deixo que coloque tudo para fora,

porque não imagino como foi difícil o embate que teve com
a mãe.

— Ela me disse tantas coisas horríveis, amor.


Fez com que eu me sentisse a pessoa mais suja do

mundo. Sei que errei por não ter contado, mas não fiz

porque sabia que teria uma reação ruim. Mas ela me


magoou muito.
— Você não é uma pessoa horrível, Mirella, pelo

contrário, é a melhor e mais decente pessoa que conheci


— falo e beijo por cima dos seus olhos. Não suporto vê-la

assim.

— Não estou roubando a vida de ninguém, não


é? A gente está junto porque se gosta — Mimi fala, mas

parece não acreditar em suas palavras, está convencendo

a si própria, que não é nada como a mãe disse.

A mulher veio para fazer um estrago na vida da

filha. Que tipo de mãe é essa?

— Ela disse que eu deixei de lado todos os


meus sonhos de ser uma cantora de sucesso, que não

deveria ter começado nada com um homem como você,


mais velho, que tem responsabilidades e espera uma vida

com estabilidade. Eu disse que não é verdade, que não

desisti dos meus sonhos de viajar o mundo em turnê algum


dia...
Viajar pelo mundo em turnê?

Bom, talvez a mãe dela não esteja tão

equivocada assim, pois apesar de entender que Mirella é

muito jovem e que tem o direito de ter seus objetivos, eu


não tinha parado para pensar em quão sérios podem ser

os seus desejos de ser uma estrela da música, que não

combinam com marido, filha e a vida estável que podemos


oferecer.

— Sempre quis ser livre. Ir de um canto a outro,


conhecer gente nova e espalhar a minha música. Mas os

sonhos mudam, não é? Ela e a minha professora acreditam

que estou desperdiçando oportunidade, mas não estou. Eu


amo a vida que levo agora. Amo você e a nossa pequena

— declara, mas nada do que diga pode trazer de volta as


suas palavras.

Acredito que Mirella ame a mim e a minha filha

de verdade, mas a vinda da minha sogra veio mostrar que


ela ainda é uma garota, que, ao contrário de mim, tem
muito para viver ainda. Mirella nos ama, mas tem sonhos

grandiosos.

E se para ficar com a gente ela tiver que abrir


mão de sonhos antigos?

— É melhor você ir tomar um banho, querida —


digo. Preciso que se afaste um pouco. A minha cabeça

está fora do lugar, porque a visita inesperada afetou a

todos.

— Eu não estou fedendo... Estou? — ela ergue

o braço e cheira o sovaco.

— Não está, mas acho que um banho vai te


ajudar a se sentir melhor — afirmo.

— Tudo bem. Obrigada por me abraçar. Nem sei

o que seria de mim sem você — diz, beija o meu rosto e


declara: — Amo você.

— Sempre estarei aqui. — Ela sai do meu colo,

não fala nada antes de entrar no banheiro.


A garota ficou tensa.

Será que eu disse algo de errado?

Não. É claro que não. Ela está assim por causa

da mãe e eu não posso ficar parado vendo a minha garota


tão chateada. Não sei o que ela e Isabella estão querendo

fazer, não poderia ter encontrado momento melhor para

descobrir. Mirella está no banho, deve querer entrar na


banheira e ficar relaxando por pelo menos trinta minutos.

Ao adentrar a sala, me deparo com a senhora

segurando o aparelho celular na orelha. Ela o desliga de


imediato quando me vê.

— Ligando para a sua outra filha? — indago,


depois me sento ao seu lado no sofá. — Da próxima vez

que falar com a Isabella, diga para tentar jogadas mais

espertas, porque usar a própria mãe é sujo demais até


mesmo para ela, que não vale nada.
— Eu gostaria que você não falasse assim da

minha filha — pede. Para mim que vejo de fora, é nítido a


sua preferência pela Isabella. Se a Mirella percebe e sofre

com isso, ela nunca me contou.

— A senhora tem duas filhas, apesar de se


comportar como se tivesse apenas uma. A Mirella, ela não

merece ser tratada como a tratou. A agrediu e falou coisas

horríveis, mas é ela quem se preocupa. Não foi ela quem


mentiu durante três anos.

— A casa é sua, mas não vou ficar aqui ouvindo

esse tipo de coisa.

— Não saia ainda. Tenho que falar de assuntos

que te farão refletir antes de abrir a boca para ofender tanto

a única pessoa inocente nessa história — afirmo.

Eu não tinha vindo falar com ela com essa

pretensão, mas acho que está na hora de alguém saber


exatamente o que aconteceu nessa casa há três anos, e
não há ninguém melhor que a mulher que teima em fechar
os olhos para a realidade.

— Antes que diga que ama a minha filha, quero

que saiba que isso não muda nada. Eu continuo achando


essa história um absurdo. Se não fosse por você ser ex-

marido da Isabella, seria por ser mais velho, por vir com

uma grande bagagem.

— Ela é a sua neta — digo entredentes.

— Sim, a minha neta. Eu a amo, mas ela não é

responsabilidade da Mirella.

— Eu nunca disse isso — rebato.

— Não, mas Mirella não pensa dessa forma. Ela

vê a menina como uma filha. E você como o homem em

que pode depositar todas as suas ilusões, mas a vida não


é assim. A Mirella não era assim antes de você a iludir com

promessas de uma vida de luxo.


— Acho que está confundindo as filhas, porque,

ao contrário da Isabella, a Mirella nunca se importou com o

meu dinheiro. Ela está lutando pela independência, para

dar uma vida melhor para a senhora. Nunca me pediu


nada, mesmo sabendo que eu colocaria o mundo aos pés

dela. Ela é diferente da Isabella, que você defende com

unhas e dentes.

— Pensa que é quem para sair fazendo

acusações? Acredita que conhece as minhas filhas mais do

que eu?

— Conheço o suficiente. Uma só deu amor a

mim e a minha filha. Eu a amo como nunca pensei que


pudesse amar alguém. A outra quase me destruiu. A

Isabella trocou o amor e a convivência com a filha por

dinheiro. A sua querida, vendeu a própria filha, porque foi

incapaz de amar alguém que não fosse a si própria.


Declarações

Mirella
O mundo pode estar virado de cabeça para

baixo, mas eu sinto que os planetas voltam a se alinhar


depois de um bom banho na banheira. Há todos aqueles

sais cheirosos e a espuma... Só faltou um macho ruivo e

sarado para me manter ainda mais entretida.

Sorrio comigo mesma, provando mais ainda os

componentes humorísticos do banho de banheira. Nem

parece que chorei como um bebê no colo do meu


namorado, que não disse que me ama, mas eu acredito

piamente que ama sim. A minha mãe pode tentar uma

próxima vez, porque dessa não colou.

Logan me ama pra caralho!


O choque por entender até aonde ela estava

disposta a ir para minar a confiança na relação que

construí foi grande, tive que chorar para aliviar um pouco o

redemoinho de emoções, senão iria explodir, mas agora

estou bem melhor. Um pouco abalada com tudo o que foi

dito, mas não mais me sentindo a pior pessoa como

naquele momento.

Se antes eu não fazia ideia do que a minha irmã

poderia estar pensando da minha relação com o Logan,

agora ficou bem claro. Ela quis brincar com a minha vida,

usou a nossa mãe, mas não vai conseguir nada. Não com
esse jogo covarde.

Passei muito tempo me martirizando, e até essa


conversa com a nossa mãe ainda sentia um pouco de

culpa. Agora, graças a sua armação ridícula, de colocar a


dona Carla contra mim, me sinto mais livre do que nunca.

Com as suas ações, Isabella só conseguiu me

deixar mais segura. Sem os sentimentos de medo e culpa,


os meus olhos foram desvendados e vejo que nunca houve
motivos para sofrimento. Fora o fato de termos nascido da

mesma barriga, Isabella se tornou uma mera desconhecida


que um dia foi esposa do homem que eu amo. É a mãe

ausente da garotinha a quem quero dar todo o meu


cuidado e atenção.

Não. Eu não estou tomando o lugar de ninguém.

Aqui é a minha casa, essa família é minha porque eu


conquistei o meu lugar nesta casa e nos seus corações.

Não devo nada a ninguém, apenas a mim mesma a


oportunidade de ser feliz.

Para a Mirella de hoje, ser feliz é estar ao lado

de Logan e Emmy. Estudando, trabalhando e sonhando,


mas fazendo parte da vida dos dois.

— Amor, você não sabe o que esse banho fez...


— Enrolada com uma toalha no corpo e outra em volta da

minha cabeça, saio do quarto, mas o encontro vazio.


Eu estava doida para conversar com o meu
ruivo, mas nem sinal dele por aqui. Queria que visse que

voltei ao meu estado normal, e que está tudo bem na casa

dos Ramirez.

Depois de ter saído para almoçar comigo, a


minha mãe deve ter percebido que não vai conseguir nada

tentando me magoar. Que chegou tarde, pois eu estava


convicta das minhas escolhas, quando a sua mão acertou
o meu rosto, com força.

Estranhando o silêncio em casa, visto o primeiro

vestido que vejo no guarda-roupas, passo o pente pelos


fios e saio para a sala de cara limpa. Encontro a dona
Carla sentada de cabeça baixa.

— Mamãe? — Quando ela levanta a cabeça,


me assusto de ver que chora copiosamente.

— O que aconteceu? Foi algo com a Isabella?


— Sento-me do seu lado e a abraço apertado.
— Sim e não. Tem a ver com vocês duas — diz,
fico ainda mais confusa. — Filha, o Logan conversou
comigo.

— O que ele disse para ter ficado dessa forma?


Seja o que for, não pense mal dele — pior do que já pensa,

digo a mim mesma —, Logan só queria me defender.

Mamãe pensa antes de abrir a boca. Sinto que


está selecionando cada palavra que vai dizer. Como se
tivessem um segredo que não posso saber.

— E ele conseguiu te defender, Mirella — diz


aos soluços. — Eu vi a forma como aquele homem falou de
você, como os sentimentos são verdadeiros. E não importa
de qual forma falou isso, ou mesmo se falou, o Logan te

ama como eu não o vi amar a sua irmã. Nunca falou dela


como fala de você.

— Mãe. Não estou entendendo, há pouco tempo


a senhora disse o oposto. O que a fez mudar tanto de
pensamento?

— Talvez só precisasse ter uma conversa franca


com ele. Ouvi algumas verdades que me fizeram abrir os
olhos.

— Que verdades? — indago. Tem que ter algo a

mais. Ela não teria mudado da água para o vinho se não


tivesse ouvido coisas importantes.

— A verdade é que eu estava sendo injusta com

você, que sempre esteve comigo. Meu amor, sei que


cometi muitos erros na criação de vocês duas, mas saiba
que eu te amo. Sempre vi você como uma garota forte e
não te dei a devida atenção, mas amo você. Pode me

perdoar pela bofetada?

— É claro que posso — falo e a abraço


apertado. Como não perdoar? Afinal, é a minha mãe.

— Quero que saiba que ainda acho estranho o


fato de você ter se apaixonado por Logan, e não é só por
causa da sua irmã. Apenas... é moderno demais para a
minha cabeça Jurássica. Além do mais, ainda acho que

você não deve esquecer dos seus sonhos de infância.

— Disse isso para ele?

— Fiz mal? — questiona.

— Só não quero que Logan pense que está me

impedindo de ter outras experiências, porque não está.


Nunca foi uma questão de escolha.

— Converse com ele, o homem é louco por


você e vai acreditar em tudo que disser — afirma.

— A senhora acha mesmo?

— O quê?

— Que ele me ama.

— Não só ama, como seria capaz de mover

céus e terra se pedisse. Acredito que você não tem noção


do que a sua chegada fez na vida daquele homem. O que

era e o que se tornou depois de você.

— O que Logan falou sobre isso? — pergunto,


curiosa. É nítido que há muito mais dessa conversa que

não foi revelado. A minha mãe cabeça dura não choraria e


nem mudaria de pensamento tão rapidamente se Logan só

tivesse declarado os seus sentimentos por mim.

— Falou, mas não cabe a mim contar histórias


que não me pertencem, querida. Saiba apenas que apesar

de não ser o tipo de relacionamento e vida que eu


esperava para você, entendo que aconteceu e que vocês

merecem ser felizes juntos.

— E a Isabella? — Preciso perguntar, porque


grande parte da sua indignação comigo, foi em defesa dos

interesses dela.

— Pode deixar que eu cuido da sua irmã. Viva a


sua vida e esqueça um pouco dela. Está bem. — diz. Vejo
que não está confortável de falar sobre a filha mais velha,
mas não quer estender o assunto. Também não vou insistir,

porque ainda estou indignada com a criatura.

— Onde está o Logan?

— Ele me pediu para ficar de olho na minha

neta enquanto você estava no banho. Trocou de roupa e

saiu dizendo que iria dar uma volta no bairro — explica.


Não entendo a atitude, pois o meu namorado sempre corre

pela manhã. — Deixe-o, Mirella, o homem está com a


cabeça cheia com todo o drama da minha chegada.

Eu ainda vou ter que me acostumar com ela o

defendendo.

O mundo deu um giro de 380 graus em questão

de horas e eu estou tonta até agora.

Passo os próximos minutos conversando de


maneira civilizada com a dona Carla, algo que a gente

ainda não tinha tido a oportunidade de fazer. Entre um


assunto e outro, tento arrancar dela mais informações

sobre a conversa que ela e o ruivo tiveram, mas a mulher


está fechada como uma ostra, e deixa claro que desse

mato não sai coelho.

Quando desisto de tentar, permito-me apenas


relaxar e pensar no feito do Logan. Ele conseguiu com que

a minha mãe nos aceitasse. Foi tão sincero que a mesma

mulher que questionou os seus sentimentos voltou atrás e


agora acredita que me ama. Se já não fosse

irremediavelmente apaixonada, teria ficado com a atitude

que teve.

Não deve ter sido fácil, mas Logan fez o

suficiente para não me ver sofrendo.


Tendo deixado dona Carla na incumbência de

cuidar da neta por algumas horas, ela entendeu que meu

namorado e eu precisávamos de um tempo para


conversarmos a sós, estou sentada na cama olhando para

o teto, enquanto o espero sair do banho.

No momento em que passou pela porta, todo


suado, alto e gostoso, tive que me segurar para não pular

no seu colo. Quase fiz, mas olhei para o lado e vi a minha


mãe de olho em nós dois. Teria sido mais fácil, é claro.

Como não foi, estou pensando em uma maneira de

agradecê-lo pelo que fez por mim e por nós.

Já pensei em striptease, mas do jeito que sou,

seria capaz de o homem rolar de rir. Uma humilhação que

não merece espaço no meu currículo.

Pensei também em entrar no banheiro com ele,

mas já tomei banho e a água do planeta está ficando


escassa. Além disso, sexo no banho já virou uma deliciosa

rotina.

No fim das contas, quando ouço a ducha sendo


desligada, levanto-me apressada, tiro o vestido e o sutiã.

Na pressa de tirar a calcinha e estar nua quando o homem


aparecer, acabo me enrolando e caindo de quatro no chão.

Que ele não tenha visto!

Que ele não tenha visto!

Rezo o mantra sem conseguir me mexer,


porque o constrangimento está pesando nos meus ombros.

A sua gargalhada deixa claro que não pedi com tanta fé.

— Está procurando alguma coisa pelada


debaixo da cama? — pergunta ainda rindo, mas vem me

ajudar a levantar. Preocupado, ele olha todo o meu corpo


para ter certeza de que não me machuquei. Logo percebe

que apenas o orgulho sofreu algum abalo.


— Estava tentando sensualizar para você —
confesso.

— Pelada de quatro no chão? Se eu tivesse

entendido o conceito não teria rido.

— Teria sim!

— Tudo bem, teria, mas só porque você é

engraçada demais. — O homem, que não broxou com a


cena que acaba de presenciar, começa a me agarrar.

— Engraçada como uma palhaça?

— Pode ser, mas você é a minha palhacinha —


provoca, depois beija de leve os meus ombros.

— A minha mãe está de olho na pequena. E só


para que saiba, eu tranquei a porta para não sermos

incomodados.

— O que essa cabecinha sacana está

pensando? Amor, estamos em plena luz do dia.


— E por acaso temos hora marcada para

transar? Quantos anos você tem, oitenta?

— Era só um teste. Queria saber quais as suas

intenções, mas eu e o meu pau estamos felizes de saber


que acertamos os motivos. Para a sua sorte, baby, eu

estou pronto — fala e tira a toalha que tinha em volta da

sua cintura.

Primeiro a minha boca fica seca, depois cheia

d’água com vontade de lamber as gotas no seu peitoral.

Olho direto para o seu membro, imaginando com que

rapidez o deixarei pronto para mim se o tocar. Mas apesar

de ter perdido um tempo pensando em formas de seduzi-lo


mais rápido, acabo de lembrar que temos que falar.

— Você está sempre pronto, Lolo. Mas não é

para isso que estamos aqui. — Ele arqueia a sobrancelha,

me olha da cabeça aos pés e não encontra nenhuma parte

do meu corpo coberta.


— De onde você veio, as pessoas se reúnem

peladas? — provoca.

— Apenas com ruivos lindos — digo, meu

namorado aperta a minha bunda com as suas mãozonas.

— Pode continuar, sou todo ouvido — diz.

— Eu só queria te agradecer por ter falado com

a Carla. A minha mãe me pediu perdão. Seja o que for que

tenha dito, você tirou um peso dos meus ombros. Eu

estava muito chateada por ela ter se voltado contra mim,


mas não pense que o que disse mudaria algo entre a

gente, porque o amor que sinto por você nunca vai mudar,

e não importa o que digam — declaro.

— Eu amo você, Mirella.


Em nome do amor

Logan
— Amo você, e não a ideia que tenho do amor.

Amo você e não vou cansar de dizer tais palavras todos os

dias para compensar todos que fiquei em silêncio, mesmo

que acredite que te amo desde a primeira discussão. Eu

quero você desde o nosso primeiro beijo. Amo a gente,


cada detalhe do que somos, até essa pequena cicatriz que

você deixou no meu rosto.

Os seus olhos se arregalam quando finalmente

confesso que estava certa, a marca foi deixada por ela.

— Logan... — Ela está surpresa com a


declaração, mas não sabe o que dizer. Mas Mirella não

precisa, porque ela já disse muito.


Sempre falou, eu me calei como um covarde.

Deu-me tudo, enquanto eu ainda tentava preservar uma

parte minha por medo de me entregar por completo.

— Perdoe-me se demorei para dizer, se isso fez

com que você duvidasse de nós. Quando me agradeceu

agora por ter conversado com a sua mãe, só consegui

pensar que não existe nada que eu não faria para te fazer

feliz. Algo me impedia de verbalizar o meu amor por você,

mas ele sempre esteve aqui — aponto para o lado do peito

onde bate um coração. — Eu acho que você ainda não é

capaz de enxergar tudo o que fez por mim. Você me salvou


de uma vida fria, de uma existência atormentada.

Os seus olhos estão marejados, ela me olha de


um jeito que faz o meu cérebro derreter. Como pude

pensar que poderia passar a vida sem voltar a revê-la, se


desde o primeiro encontro balançou todo o meu mundo?

No decorrer dos anos, enquanto ainda lembrava

dela, cheguei a me questionar como seria se Isabella não


tivesse me traído. Como seguiria acreditando que amava a
minha esposa se não parava de pensar em outra mulher?

— Eu também te amo, Logan. Você e a

pequena se tornaram o centro do meu mundo — declara,


eu a abraço apertado, me apegando as suas palavras para

esquecer as de sua mãe, que ficaram rondando a minha


mente depois da nossa conversa.

Não quero falar nesse assunto porque a própria


Mirella não o mencionou, mas ela me fez questionar se a

relação da Mirella comigo pode afetar o seu futuro como


artista. Enquanto corria, ponderei se a nossa história não
está consumindo a sua vida de uma forma que não a

permite colocar a situação em perspectiva.

No fim das contas, a senhora deixou esse ponto

de interrogação na minha cabeça, mas não grande o


suficiente para afetar o meu discernimento, porque ainda

acredito que ela está equivocada, que Mirella sabe o que


está fazendo, que Emmy e eu não somos um empecilho
para nada que pudesse viver.

E embora os seus sonhos possam continuar

sendo os mesmos, acredito que nada a impede de realizá-


los, e ainda assim continuar sendo a minha mulher e mãe
da minha Emmy.

— Nós estamos bem, Lolo — diz quando


desfazemos o abraço. — A crise passou.

— A gente sempre vai ficar bem, meu amor —

garanto. — Você sabe qual a melhor forma de superar uma


pequena crise? — pergunto. As minhas mãos já estão
passeando pelo seu corpo.

— Já ouvi falar, mas não tenho certeza — fala,

enquanto aperta o corpo contra o meu, que ganha vida


pela proximidade e pelos seus peitos apertados no meu.

— Foi por isso que me esperou sem roupas?


— Quer que eu me vista para você conseguir
contar como podemos superar a crise? Devo vestir roxo ou
amarelo? — provoca.

— Não precisa! Está muito bem vestida para o


que eu tenho em mente. Você só tem que abaixar o seu

tom de voz enquanto nós dois estivermos conversando. Lá


fora tem uma criança inocente e uma senhora. Elas não
precisam saber o quanto você gosta de conversar comigo,
amor — falo as palavras de duplo sentido.

O seu corpo já está reagindo às minhas

promessas veladas.

— Promessas... — a provocação é interrompida


pelo beijo que ela não esperava, um beijo que é mais do

que sexo. É o amor sendo demonstrado. Porque palavras,


apesar de terem seu peso, nunca são suficientes.

Ter o gosto do seu beijo bom, as nossas línguas


em uma dança sensual, se chupando e se buscando, é
sentir que estamos mais próximos do que nunca. Quero
mostrar da mesma forma todos os dias o quanto me sinto

atraído, o quanto a desejo.

A necessidade que tenho da minha namorada é


tamanha que o meu dia só fica completo depois de eu ter

estado dentro dela, depois de a ter sentido com as mãos e


com a boca. Depois de ter ouvido a sua voz gritando pelo
meu nome.

— Uau! Essa conversa começou muito bem. —


Está sem fôlego, com a boca vermelha do nosso beijo. Eu

não resisto e a beijo de língua novamente.

Como não é de negar fogo, a minha breguinha

não só corresponde com avidez, como enrosca os dedos


nos meus cabelos na tentativa de melhorar o ângulo do
sexo com a boca, que chamamos carinhosamente de beijo.

Quando ela começa a se esfregar e a tentar


subir em cima de mim, enrolo as suas pernas na minha
cintura e a levo para a parede mais próxima de nós. Mais
especificamente, ao lado da janela, cuja claridade maior

me permite enxergar o seu corpo perfeito melhor.

— É isso que chamo de me jogar na parede e


chamar de lagartixa — brinca.

— E como você chama isso aqui? — Coloco a


mão entre os nossos corpos e começo a acariciar a sua

boceta.

— Chamo os dedos do meu namorado alisando


a minha boceta. — Enfio dois dedos e passo a penetrá-la

devagar. — Quer dizer, namorado enfiando os dedos

devagar... com força — fala, eu me divirto com as suas


mudanças na frase.

— Estou duro, mesmo sabendo que estamos

fazendo no meio da tarde, que têm pessoas lá fora nos


esperando — enquanto falo, a observo chupando com
avidez os meus dedos, que antes estavam dentro do seu

sexo.

Sempre que Mimi rola a língua eu fico um passo


mais perto de gozar, porque me vem à mente a imagem de

como fica quando se ajoelha e chupa o meu pau. A sua


expressão quando gozo na sua língua, nos peitos ou em

qualquer parte do corpo. Mesmo agora, estando ciente do

quão preparada está para mim, quero que dure o máximo


possível, quero curtir cada segundo do prazer que

encontramos quando transamos.

Ao tirar os dedos de sua boca, volto a beijá-la.

Com as mãos livres, seguro os lados da sua bunda, então

nos coloco na posição perfeita para que eu consiga


esfregar os nossos sexos. Com a cabeça do meu pau,

provoco a entrada da sua boceta, indo e vindo lentamente,

mas sem meter de vez. Não dou a nós dois o que


queremos.
Mirella me leva à loucura quando começa a
gemer dentro da minha boca, quando o seu tesão fica tão

alto que ela começa a puxar os meus cabelos e a tentar


forçar a passagem para a sua boceta.

Quero muito também, tanto que a cabeça do

meu pau já está expelindo o líquido viscoso, mas gosto de

sentir-nos assim antes de ir para a melhor parte da festa.


Como é gostoso me regozijar com o desejo sem limites que

sentimos um pelo outro.

— Gostosa! — digo dentro da sua boca.

— Você que é. Eu quero que você...

— Está louquinha para me dar essa boceta, não


é? — Tiro a boca da sua e mordo o lóbulo da orelha

pequena e cheia de brincos. — Como você é puta, garota.

— Você gosta — diz e devolve a mordida na


minha orelha. Ela continua se movendo com as costas

contra a parede e as pernas ainda firmes na minha cintura.


— Na verdade, você ama — fala, para por um segundo,

então abre um sorriso. — Logan, você me ama!

— E você ainda tinha dúvidas?

— Não, mas eu queria ouvir com todas as

letras. Não acredito que falou.

— Falei, e vou falar todos os dias. Eu amo você,


minha gostosa. Amo você e quero te foder contra essa

parede... — digo, seguro o meu pau e coloco só a cabeça


dentro da sua boceta. — Rebola, amor. Bem devagarinho...

Assim, porra!

— Logan... — ouço a sua voz macia chamando


pelo meu nome, sinto-a pegando a minha mão e colocando

em volta do seu pescoço. O ato faz com que eu me perca

por completo e me enfie até a base no seu calor macio e


deslizante. O seu corpo está ajustado e acostumado ao

meu.
— O que isso quer dizer? — indago, sem tirar a
mão de onde ela a colocou.

— Que você tem o controle, que dentro do

nosso quarto e fora dele, eu confio em você. Significa que


topo tudo o que quiser fazer comigo, porque sei que será

para o nosso prazer.

— Tudo mesmo? — questiono, entrando e


saindo, nos torturando com o amor lento que não estamos

habituados a fazer.

— Tudo! — fala com firmeza. Aperto levemente


os dedos em volta do seu pescoço. As pupilas dos seus

olhos ficam mais dilatadas, mas não é de medo ou


surpresa, é de desejo carnal em seu estado bruto.

— Vou bater na sua bunda enquanto como seu

cu — aviso, puxo o meu membro e volto a metê-lo com


força. O seu corpo solavanca para cima. — Vou te levar

para sair e tocar em você para que todos saibam que é


minha. — Não sei de onde veio o pensamento insano e

possessivo, mas a ideia parece perfeita. Nada me daria


mais prazer.

— Sou sua para o que quiser fazer. — Essa

menina vai ser o meu fim, não tenho dúvidas.

— Eu quero fazer isso agora. — Afastando seu

quadril da parede, passo a socar sem dó, chocando as

nossas pélvis com barulhos que podem ser ouvidos da


sala. Ela geme alto o suficiente para que não fique dúvidas

de que tipo de conversa estamos tendo.

— Com força, Lolo. Eu preciso que seja com


força. — Com um movimento rápido, a levo para a cama e

a coloco de quatro. A posição que torna as penetrações

mais profundas, que me dá a visão excitante dos meus


dedos brincando com o seu ânus.

Sabendo que não tenho que me segurar, porque


recebi dela esse presente, estapeio uma, duas, três vezes
a sua bunda. A visão da carne macia avermelhada me
excita ainda mais.

— Assim, amor...

Quando sinto que estamos os dois prontos para


gozar, saio de sua boceta e a deito de costas sobre o

colchão. Beijando do seu pé, passando pelas coxas e pela

barriga, finalizo com o rosto bem perto do seu. A minha


mulher está perdida no prazer, mas não desvia o olhar do

meu, enquanto entro centímetro a centímetro na sua


boceta apertada.

— Pode me pedir o que quiser, Mirella Maris. Eu


farei. Mas nunca me peça, ou deseje, ser dividida com

outro homem, porque isso nunca vai acontecer — falo com

seriedade. As arremetidas ficam mais brutas, seus gemidos

mais altos, ainda que esteja prestando atenção no que

digo. — Você é minha, e só eu toco no seu corpo. Os seus


beijos, gemidos e palavras sacanas, tudo me pertence.
— Tudinho seu. — Pegando-me de surpresa,

Mirella inverte as nossas posições. Rebolando no meu

cacete, ela segura a minha mandíbula e diz enquanto se

senta: — Assim como você só toca em mim. Você deseja


só a mim, Logan Ramirez de Castro.

— Só você — afirmo, excitado com o seu lado

possessivo —, minha putinha.

Mostrando exatamente quem controla quem,

minha mulher começa um galope frenético e ensandecido

que só termina quando nós dois estamos nos

desmanchando nos braços um do outro, quando encho a

sua boceta de porra e sinto seu corpo cair sobre o meu.

Mirella não se move por um tempo. Em silêncio,


esperamos que nossas respirações se normalizem.

Quando ela sai de mim, é apenas para ficar mais

confortável. Deitados de conchinha e sem nos

preocuparmos com nada, já que a minha sogra está com a

ruiva, curtimos a calmaria depois da turbulência.


— Fala de novo — ela pede.

— Eu te amo, Mirella — sussurro no seu ouvido.


Convite

Mirella

Dois meses depois


O fim do primeiro semestre, sem que tenha
reprovado em nenhuma matéria, veio em uma ótima hora,

pois estava ficando difícil conciliar a rotina corrida entre

estudos, cantar todas as noites e dar atenção para os

meus dois amores, no tempo curto que temos para

ficarmos juntos.

A minha mãe ficou com a gente por um mês.

Não houve discussões entre nós duas, e sua relação com o

Logan foi a mais cordial possível. A pequena e ela


acabaram se conhecendo melhor e se tornaram

inseparáveis.
Senti um ciúme leve e patético, mas não posso

negar que a minha velha acabou nos ajudando. Dona Carla

ficava com a neta em algumas noites e Logan podia me

acompanhar no trabalho. Eu, que penso no palco como a

minha casa, sinto-me mais à vontade com ele na plateia

me aplaudindo.

Ela partiu com a promessa de que em breve virá

de vez e, a nossas vidas voltaram a ser como era antes.

Logan e eu nos dando cada vez melhor, Emmy planejando

o nosso casamento, mesmo que não tenhamos falado

sobre o assunto de forma direta.

Sinto um arrepio de prazer só de pensar que

não terei que pular da cama cedo por bons dois meses,
que não terei que conviver todos os dias com as minhas

amigas. Eu as adoro, mas só são legais em doses


homeopáticas.

Pouco temos em comum, então as conversas

geralmente acontecem sem que eu abra a boca. Quando


abro, as garotas pensam que estou dando espaço para
ficarem falando sobre o quanto o meu namorado é perfeito.

Eu sei que é, morro de orgulho de mim mesma

por tanta sorte, mas também tenho ciúme dele, que não
pode nem sonhar, senão fica se achando.

Nesse meio tempo, o nome Isabella nunca mais


foi mencionado, eu parei de pensar nela e esperar que

entrasse em contato comigo para conversarmos. Às vezes


tenho a sensação de que está nos vigiando de perto, mas

tento sempre me convencer de que não passa de uma


paranoia da minha cabeça.

Já dividi o assunto com o Logan. Ele sempre diz

com muita certeza de que a minha irmã não vai se


aproximar, pelo menos, não para fazer nada contra nós. Eu

sempre estranho, porque não entendo como pode ter


certezas a respeito de uma mulher que está fora da sua

vida há tantos anos.


Logan ainda esconde algo de mim, disso não
tenho dúvida, mas também tenho esperança de que vá se

abrir por completo, porque é o que tem feito pouco a pouco

a cada dia que passa.

Ele está tão mais à vontade com o fato de ter se


entregado a um novo relacionamento, que tem me dado

espaço para ouvir sobre as suas consultas com o


terapeuta. Logan tem uma relação divertida com o médico
e sempre me fala sobre como o homem foi importante na
pior fase da sua vida.

Tenho certeza de que tudo tem a ver com a


relação que teve com a Isabella, que além de se preservar,
não quer me colocar contra a minha própria irmã. É um dos
motivos para não falar do passado.

— O que será que se passa por essa cabecinha


bonita? — Ele me abraça por trás e me olha pelo espelho.
— Está linda.
— Quem te viu quem te vê, Logan Ramirez.
Virou um admirador fervoroso da Mirella da calça amarela
— brinco. Enquanto isso, olho para a dita cuja colada ao

meu corpo.

— Queria ir te ver hoje — afirma. Mesmo tendo

se passado um mês, nós ainda estamos tentando nos


acostumar com o fato de que a mamãe não está mais aqui
para ficar com a pequena.

— Fica com a nossa bebê e me espere na


cama, porque hoje eu quero você — digo palavras

sugestivas, querendo passar uma mensagem.

— Não está mais menstruada? — Balanço a


cabeça, o seu alívio é nítido. O homem é insaciável. — Não

vou nem ficar com sono — garante.

— Eu sei que não. — Beijo de leve os seus


lábios, para não borrar o batom.
— Vai lá e arrasa, minha Mirella da calça
amarela. Pense que estou te aplaudindo. Quando chegar,

te mostrarei toda a minha admiração de fã — provoca, eu


queria poder ficar em casa com ele.

— Você estava demais hoje, Mirella.

O baterista da banda, cujos três integrantes


acabaram não só se acostumando, mas se tornando os
meus amigos, elogia. Eles sabem que é temporário, que
dentro de alguns meses a verdadeira vocalista vai voltar,

mas fingem que não, para não deixar o clima pesado nos
palcos. A verdade é que vou sentir falta desses idiotas.
— Vocês também foram. E que bom que
deixaram de ser tão cabeças duras e aceitaram que

formamos um bom time.

— Tudo bem, Mirella. Você tem que aprender a


hora de calar a boca. — Leco, o mais emburrado de todos,

diz.

— Eu também te amo.

Foi engraçado quando a relação entre nós

quatro começou a mudar. Ao mesmo tempo que eu ficava


feliz com cada abertura que me davam, tinha que lidar com

o meu namorado, que estava acompanhando mais de perto

e sentia ciúme.

Não teve nada que fosse exagerado, pelo

contrário, ver Logan Ramirez implicando com os rapazes

rendeu boas gargalhadas. Eles se juntaram contra mim a


primeira vez que os reuni em uma mesa do bar.

— Acorda, garota!
— Ei! — reclamo quando o tapa na minha testa

me tira dos meus devaneios.

— Eu queria que saísse do mundo da lua e me


ouvisse — Adam, o nosso líder, está sério. Fico

preocupada, porque ele nunca leva nada a sério. Se


levasse, e com o talento que os caras têm, eles já seriam

Top 1 nas paradas de sucesso.

— Vai demorar? Tenho um namorado em casa


me esperando...

— Ninguém se importa — Júlio fala, eu mostro a

língua para ele. Os caras são assim o tempo todo. Agem


como três moleques de rua. Sou um deles e gosto disso.

Quando eu era criança e me imaginava em uma


banda, era mais ou menos como essa. Com integrantes

que se implicam o tempo todo, mas se gostam e quebram

tudo com instrumentos nas mãos.


— Parem! Os dois!! — Adam se estressa, faço o
gesto de passar um zíper na boca. — Como eu ia dizendo,

precisamos falar com você, Mirella.

— O que foi gente? Vocês estão começando a


me deixar preocupada. — Nunca os vi tão sérios.

— Antes de você entrar no lugar da Morena, a

gente tinha marcado uma pequena turnê de estreia por


alguns estados do país. E como tínhamos tempo,

acabamos não desmarcando nada.

— Vocês deviam ter feito isso, considerando


que a garota não está aqui. Não cumprir com um

compromisso como esse, pode sujar o nome de vocês


antes mesmo de se destacarem.

— Não fala como se você não fizesse parte

disso — Leco diz.

— Eu não estou entendendo aonde querem

chegar. Por que eu tenho que ouvir?


— Se acalmem — sempre apaziguador, Adam

pede e volta a atenção para mim. Eu só quero que essa


conversa acabe. Estou cansada e precisando de carinho.

— Mirella, eu sei que erramos, talvez estivéssemos

esperando que a providência caísse do céu. Então você


apareceu e é tão boa quanto a Morena...

— Não. Não, e não! — digo com veemência.

— Escuta, caralho!

— Vão me dizer que querem que eu saia em

turnê com vocês como se fosse uma ida até a esquina? E

me deixem adivinhar, ela começa semana que vem?

— Na verdade, começa daqui duas semanas e

vai durar seis meses — explica Júlio.

— Eu tenho uma vida, sabiam? Tenho uma


família! — explodo, talvez tendo uma reação

desproporcional.
A verdade é que essa é a melhor coisa que
poderia me acontecer, mas no momento errado da minha

vida. Sei que o Logan não me pediria para não ir, mas não

posso pensar em ficar tanto tempo longe da minha casa,


logo agora que estamos tão bem.

— Todos temos famílias, Mirella. Não aja como

se estivéssemos te sentenciando à morte, porque eu tenho


certeza de que seria a primeira grande chance de você

fazer o seu nome, assim como o da banda. Uma


oportunidade que muitos queriam ter.

— Como foi que isso aconteceu? Nós não

somos apenas uma banda de bairro que toca todos os fins


de semana em um mesmo lugar? — questiono, porque

está difícil de entender.

— O idiota do meu tio é empresário e sempre


esteve de olho em mim e no meu trabalho. Como houve

um tempo em que estávamos brigados, ele acabou

fechando algumas portas para mim.


— Fizeram as pazes? — indago, ele acena

positivamente.

— Será perfeito, Mi. A ideia dele é que abramos


shows de bandas conhecidas nacionalmente. Imagina só

os holofotes em cima de você. O seu nome em evidência.

— E por que fariam isso por mim? Eu nem faço

parte da banda — relembro, embora me sinta parte do

grupo desde a época que fingiam que eu não existia.

— Porque gostamos de você, e até que Morena


volte, se é que vai voltar, já que só tem olhos para o recém-

nascido, você é parte integrante desse time — Adam


afirma.

— Eu não sei o que dizer. Foi tão repentino.

Tenho que pensar. Falar com o Logan.

Estou completamente desconcertada, porque a

minha ficha não caiu. Eu até posso ver o quanto essa

oportunidade é boa para o futuro de sucesso que quis


desde a infância, mas hoje quero mais coisas. Almejo o
sucesso profissional, mas o pessoal também. Quero

conhecer lugares e pessoas diferentes, mas não sem

Logan e a pequena.

— Só não demora, Mirella. Nós só temos duas

semanas — Leco avisa.

— Tudo bem. Eu tenho que ir — digo e saio.

Diferente de como acontece em todas as noites,

não tagarelo a viagem inteira com o Ulisses. Fico pensando

no convite, no que de fato quero e em como conversar com


Logan sobre esse assunto, quando nem sei ao certo o que
quero.

Logan
Se há quatro meses alguém tivesse me dito que

eu estaria pensando em mim mesmo como uma pessoa

feliz, eu teria gargalhado, ou o mais próximo disso. Se


tivessem me dito que estaria no meio da madrugada

velando o sono da minha garota, depois de ter feito uma

massagem nos seus ombros tensos e pés cansados, teria

indicado ajuda profissional.

Mas aqui estou eu, dando orgulho para o doutor

Maldonado por estar livre das noites mal dormidas e dos

pesadelos que me assombravam, quando dava a sorte de

ficar exausto o suficiente para conseguir dormir por

algumas horas. Mas a sua maior satisfação, com certeza, é

me ver pensando de maneira positiva de uma mulher que


não seja a minha mãe e a minha filha.

Ele me disse que não devo colocar todo o


mérito no colo da minha mulher, que mesmo tendo me

apaixonado, eu poderia não estar tão bem se não tivesse

lutado por isso. Mas eu lutei, e não foi nada difícil. Não é

difícil se deixar levar pelo amor, pelos sorrisos que alguém

que não seja só a minha filha tira do meu rosto.


O medo não deixou de existir, mesmo que eu

me mantenha alerta sobre possíveis ameaças e um rígido

controle.

Sei exatamente onde e com quem Isabella está.

Acredito que ela saiba que não vou tolerar qualquer passo

errado seu, e não importa que seja mãe da minha filha.

Hoje Mirella chegou com o mesmo ânimo de

sempre. Não sei como consegue depois de horas no palco,


sempre tão tarde da noite. Mesmo sorrindo, senti que

estava um pouco tensa e dispersa. Quando perguntei se

estava tudo bem, ela me disse que estava apenas mais

cansada que nos outros dias. Pediu-me para acompanhá-la

no banho. Não só a ajudei a tomar banho, como fiz

massagem nos locais que pediu.

Durante todo o processo, apenas gemidos

saíram de sua boca. Quando ela dormiu no meio da

massagem nos seus pés, acabei me convencendo que

estava como todos os outros dias, que toda a tensão que


pensei ter notado foi apenas paranoia minha, embora o seu
sono intranquilo seja bem real.

Cansado de pensar, talvez me preocupando

sem qualquer razão, a puxo mais para dentro dos meus

braços e me entrego ao sono.


Reencontro

Mirella
Depois de sonhar tantos anos

De fazer tantos planos

De um futuro pra nós

Depois de tantos desenganos

Nós nos abandonamos como tantos casais

Quero que você seja feliz

Hei de ser feliz também

Depois de varar madrugada

Esperando por nada

De arrastar-me no chão

Em vão
Tu viraste-me as costas

Não me deu as respostas

Que eu preciso escutar

Quero que você seja melhor

Hei de ser melhor também

Nós dois

Já tivemos momentos

Mas passou nosso tempo

Não podemos negar

Foi bom

Nós fizemos história

Pra ficar na memória

E nos acompanhar

Quero que você viva sem mim

Eu vou conseguir também


Depois de aceitarmos os fatos

Vou trocar seus retratos pelos de um outro


alguém

Meu bem

Vamos ter liberdade

Para amar à vontade

Sem trair mais ninguém

Quero que você seja feliz

Hei de ser feliz também

Depois

— Agradeço a presença de todos vocês.


Obrigada por me ouvirem — digo ao microfone, depois que

termino a última música, que tinha a letra triste. Só a cantei


porque foi pedido de um dos clientes.

Felizmente, hoje o restaurante está mais vazio,

o que quer dizer que poucos puderam me ver na versão


levemente desafinada e desconcentrada. Mas, o que
fazer? Todo mundo erra, não é mesmo?

Enquanto junto os meus pertences, aliviada

porque aqui no restaurante é mais tranquilo e ninguém vem


me abordar sem um bom motivo, conto quantos dias faz
que estou agindo como uma idiota e covarde. Sim,

passaram-se dois dias da proposta feita pelos rapazes.


Eles estão me pressionando por uma resposta, mas eu
nem mesmo conversei com o Logan.

Como estamos juntos há quatro meses, já deu

tempo de ele me conhecer bem o bastante para saber


quando tem algo de errado. Não é como se eu estivesse
negando fogo, me afastando dele ou algo do tipo, apenas
não consigo impedir meus pensamentos de irem longe.

Eles viajam quando estamos juntos e quando estou


sozinha também, a exemplo de agora e durante toda a
apresentação.
Estou em conflito com as minhas vontades. Um
lado meu diz que nem quero ir, que está cedo demais e
outras oportunidades virão. Não é hora de ficar seis meses

longe de casa. O outro diz que não posso perder essa


chance, que quando voltar o Logan e a pequena estarão
me esperando.

Esse lado também me xinga por estar me


martirizando, quando já deveria ter agido como uma adulta
e conversado com o meu namorado para chegarmos a um
entendimento juntos.

— Até amanhã, Assis. — Com o meu violão nas


costas, me despeço.

Ulisses está no estacionamento me esperando,

e tudo o que quero é chegar a casa, dar um beijo na


pequena, que já deve estar dormindo, e conversar com o
meu ruivo. Depois da conversa, entrar na banheira com ele
e ficar até os nossos dedos ficarem enrugados.
Enquanto caminho na direção da porta, uma
cabeça de cabelos escuros, sentada à mesa mais

afastada, chama a minha atenção. É apenas uma


impressão, mas, mesmo assim, viro-me de lado para
confirmar.

Isabella! Está um pouco longe do meu campo


de visão, mas não tenho dúvidas de que é a minha irmã,
que não mudou nada desde a última vez que a vi. Olhar
para ela é como me enxergar alguns anos mais velha na

frente do espelho. E tudo bem que estamos em um


restaurante, mas o que ela faz aqui?

Não tem como ser apenas coincidência.


Enquanto estou parada, a olhando surpresa e bastante
desconcertada, ela acena para mim. Sorri como se fosse

uma amiga esperando a outra para um jantar.

Fico incerta sobre o que fazer, pois se houve um


tempo em que eu quis muito vê-la, não só para termos uma

conversa séria, mas também por ser a minha irmã, esse


tempo já passou. Deixei de pensar no que Isabella estava
pensando ou sentindo no dia que ela usou a nossa mãe

contra mim.

Mas se ela parou de se esconder e veio me


procurar é porque chegou a hora de acertarmos as nossas

contas, concluo e vou até ela.

— Posso? — questiono ao apontar para a

cadeira. Não tiro os olhos dela. Tão linda, tem mais de

trinta anos, mas parece ter menos.

— Deve — diz. Eu coloco o violão do meu lado

e ocupo a cadeira vazia à sua frente.

Quando éramos mais jovens, eu via a minha


irmã como uma pessoa muito doce, e até mesmo tímida.

Não sei se sempre estive errada, ou se foram os anos que

a mudaram, mas a Isabella que está na minha frente se


parece com qualquer coisa, menos doce e tímida.
Assim como eu estou fazendo, ela fica olhando

para mim. O seu olhar me faz ter a sensação de que está


despindo a minha alma, que quer entrar na minha cabeça e

conhecer todos os meus pensamentos e sentimentos.

— Há quanto tempo não nos vemos, maninha?


Você mudou muito, está linda — elogia, embora não sinta

que foi sincera. — Cresceu e apareceu, não foi?

— É o que acontece conforme os anos vão se


passando — digo.

— Pelo visto, continua sendo uma pessoa bem-

humorada. Não tem papas na língua e isso já te colocou


em belas enrascadas.

Não sei do que está falando. Só porque uma


vez eu disse para a nossa vizinha que a sua irmã, que eu

já tinha visto algumas vezes na sua casa, não se parecia

nada com ela?


Depois descobri que a vizinha não tinha irmã,
que a mulher era a amante do seu marido. Deviam me

agradecer, foi graças a mim que ela ficou mais esperta e


pegou o traidor no pulo.

— Foi coincidência termos nos encontrado aqui,

ou você estava querendo me ver, Isabella? Desculpa se

estou sendo indelicada, mas você passou os últimos anos


ignorando a minha existência. Depois mandou dinheiro

para a mamãe pelas minhas costas.

Não estava nos meus planos começar essa

conversa atacando a minha irmã, mas é difícil me segurar

quando mantém esse sorriso congelado no rosto.

Um sorriso forçado, porque tenho certeza de

que ela acredita que lhe devo alguma coisa.

— Por favor, não fale como se estivéssemos


conspirando contra você. Ela só me disse que estava com

saudades e eu me ofereci para ajudá-la a vir te encontrar.


E respondendo a sua pergunta, esse encontro não foi obra

do acaso. Eu estava mesmo querendo te ver. Sobretudo,


depois de ter descoberto algumas coisas bem

interessantes a seu respeito.

— Isabella...

— Você sempre foi um pouco inconsequente,

Mirella. E apesar de as pessoas sempre terem julgado a

sua autenticidade, no fundo, todos te acham engraçadinha


e inofensiva. Ninguém, incluindo eu, nunca acreditou que

fosse capaz de cometer erros graves. — Provavelmente

para me torturar, Isabella se estende na introdução do


discurso que virá.

Não há dúvida de que nesse conto eu sou a vilã,

apesar de não me sentir como uma há muito tempo.

— Não cometi nenhum erro — afirmo.

— Eu juro que queria sentir raiva de você por ter

tido a coragem de se meter naquela casa e se apossar de


tudo que um dia foi importante para mim. O meu marido e a
minha filha. Com tantos homens no mundo, você tinha que

se envolver justamente com o Logan?

— Não vou pedir desculpas por ter me


apaixonado, minha irmã. Aconteceu, foi inevitável. E

apesar de ter relutado no início, e passado algum tempo

me sentindo culpada depois que me entreguei, não me


arrependo de nada.

— Eu não espero um pedido de desculpas, e


muito menos que se sinta culpada, Mirella. Esqueceu que

já tive vinte e três anos? Que eu já estive no seu lugar? —

Isabella tem a voz doce, o olhar compreensivo e até segura


na minha mão sobre a mesa.

Esperei por pedradas, ela está sendo

condescendente, o que é ainda mais irritante.

— Você, no meu lugar?


— Sim. Eu já fui o alvo da paixão de Logan

Ramirez de Castro. Um milionário, lindo e cobiçado, que


mulher não ficaria mexida sendo alvo de toda aquela

intensidade e paixão?

Não tenho direito, considerando que eles


tiveram um passado, mas sinto ciúme da forma como fala

do meu namorado. Também não passa despercebido por

mim o fato de ela ter listado a riqueza do ruivo como uma


de suas maiores qualidades. Como se eu me importasse

com isso.

Penso em rebater, mas fico em silêncio para


entender aonde a minha irmã quer chegar. Não pode ter

vindo atrás de mim só agora para abençoar o meu


relacionamento com o ex-marido.

Ela nem mesmo perguntou pela filha. Será que

se lembra que tem uma?


— Quando Logan me escolheu, dentre todas as
outras meninas da mesma classe social que o queriam, me

senti a garota mais especial do mundo. Os sete anos em

que namoramos chegaram bem perto da perfeição, mas


tinha algo nele que me incomodava. Logan se mantinha a

uma distância segura, dizia que me amava, mas não se


entregava 100%.

— Por que está me falando tudo isso, Isabella?

Você entende que somos pessoas diferentes, portanto, os


relacionamentos também são diferentes — afirmo.

— Calma, logo você irá entender — diz. —


Adivinha o que pedi? — A forma como ela está calma e

feliz é bizarra. Não que eu esteja infeliz por rever a minha

irmã mais velha, mas ela tem que admitir que a situação é

no mínimo desconfortável.

— Não faço ideia.


— Escondidinho de carne seca. Lembra que a

gente amava o que a mamãe fazia? É claro que não é

como o dela, mas dá para matar um pouco da saudade.

Você não pode recusar.

— Eu não vou. — Não mesmo, estou morrendo

de fome. Discretamente, escondo as mãos embaixo da

mesa e mando uma mensagem para o Logan. Nela aviso

que vou demorar um pouco.

Não digo para não me esperar, porque sei que

fará isso de qualquer forma.

— Que bom — diz e sorri. Quero perguntar

onde ela está morando e com quem. — Como eu ia

falando, Logan era quase o namorado perfeito, até que eu


engravidei e nós decidimos nos casar. O casamento foi a

pior escolha que fiz na minha vida — fala com convicção e

consegue me surpreender.

— Eu sinto muito — digo.


Era a coisa certa a se falar, não era?

— Acredito que estávamos indo mal na relação,

mas fingíamos que não, afinal, eram sete anos de

relacionamento, não sete meses. As nossas brigas ficaram

constantes depois do casamento, muito mais do que

qualquer desentendimento que tivemos durante os anos de


namoro. Logan era agressivo, queria me dominar, e não

respeitava, nem mesmo o fato de estar carregando um filho

dele.

Ela interrompe seu relato surpreendente quando

o garçom traz o nosso jantar. Eu olho para a comida muito

bonita, mas não tenho mais fome. Esse Logan que ela está

pintando não é o meu Logan.

Não pode ser.

— Logo no primeiro ano de casamento, quando

estava me cansando de viver em um casamento

fracassado, e tendo a Emmy como a minha única alegria,


acabei conhecendo um homem. Ele era muito diferente do
Logan, por isso que me apaixonei.

— Isabella, eu não quero mais ouvir — digo,

sentindo que o mundo está se desfazendo embaixo dos

meus pés.

— Você precisa ser forte agora, querida —

pede, e mais uma vez coloca a mão em cima da minha.

Gesticula para o prato, mas digo que não vou conseguir

comer nada. — Sei que é difícil.

— Não, você não sabe.

— Eu não falo isso para te magoar. Sou sua

irmã mais velha e quero apenas o seu bem. O meu único

intuito com essa conversa é te proteger de um homem que


nunca soube como amar ou se deixar ser amado.

— Quer me proteger dele como protege a filha

que não vê há três anos? — Eu a ataco.


— E ele te falou o porquê de eu não ter nenhum

contato com a minha filha? — nego com a cabeça. — O

Logan fez da minha vida um inferno. Se valeu de ameaças


para conseguir tirar a minha filha. Tudo porque não

aceitava que eu queria me separar dele. Foi ele, minha

irmã, foi o homem que você pensa que ama, que acabou

com a minha vida.


Erros

Mirella
Foi o homem que você pensa que ama, que

acabou com a minha vida.

A voz faz eco no meu ouvido. Fico em silêncio

por alguns segundos, assimilando o que Isabella acaba de


dizer.

— Logan não faria essa maldade com a filha

dele. Emmy é a pessoa que ele mais ama no mundo —

afirmo.

— Eu não estou mentindo, minha irmã. Por que


eu faria isso? O que ganharia se estou divorciada dele há

tantos anos? — Faz questionamentos que eu não quero

tentar responder, nem ao menos pensar.


Eu sempre me perguntei o porquê de ela nunca

ter entrado em contato com a filha, porque três anos é

tempo demais. Na minha cabeça, nenhuma mãe deveria

ser capaz de tanto desamor. Pensar que ela pudesse ter

um motivo consequentemente me faria desconfiar do

Logan, que nunca me deu razões para não acreditar nele.

Pelo contrário, é o melhor pai que uma criança poderia ter.

— Eu sei... — Ela recomeça e me irrita.

— Não diga novamente que sabe o quanto é

difícil etc., porque você não sabe. Está falando coisas que

não fazem sentido. Que não parecem ser atitudes da


pessoa que eu conheço. — Defendo o meu namorado,

mesmo que signifique que estou duvidando da minha


própria irmã.

— Logan tem muito poder nas mãos, minha

querida, um poder que só o dinheiro e o prestígio podem


trazer. Eu era apenas uma mulher que não tinha voz. Que
não podia lutar contra o poderoso Ramirez de Castro,
quem acreditaria em mim?

— Eu e a nossa mãe acreditaríamos se você

tivesse contado. Você ligava e nunca deu a entender que o


seu casamento não estivesse bem. Não contou nem

mesmo que havia se separado. Você mente e quer que eu


acredite em suas palavras, Isabella.

— Tudo o que fiz foi por medo de dar um passo


errado e perder a minha filha. Fiz de tudo para ficar perto

dela, mas acabei saindo daquele inferno em que vivia sem


a pessoa que mais me importava. Ela não tinha nem dois
anos, Mirella. Um bebê que está crescendo sem mãe. Mas

estou aqui, tão perto dela e não posso nem ao menos vê-la
de longe.

— Por que não pode?

— O Logan tem detetives atrás de mim. Eles

sabem de cada passo que dou, por isso não posso me


aproximar daquela casa. O pior de tudo é o terror
psicológico, porque ele sabe que eu sei e deve se divertir

por me manter refém da forma que faz.

E a história só piora. O meu estômago começa


a ficar embrulhado. Não sei quanto mais disso posso
suportar, ainda assim, pergunto.

— Como foi que aconteceu?

— Ele começou a suspeitar de que houvesse


um amante. Ele não existia, pois apesar de eu ter me

apaixonado, não o traí. Para se vingar, Logan mudou de


atitude. Ao invés de não querer o divórcio, ele começou a
me mandar embora de casa.

O Logan não faria isso... — A minha mente

grita.

— Falava que eu estava livre, mas que nunca


mais iria ver a minha filha se saísse daquela casa. Eu tive

que sair, irmã. Iria enlouquecer se continuasse. Saí com o


coração apertado, mas só porque ainda acreditava que o
Logan, que eu havia amado, poderia estar em algum lugar
dentro do homem frio e amargurado que havia se tornado.

— Não estava? — questiono.

— Não. Depois que eu saí, ele deu entrada no


divórcio, e qualquer tentativa de ver a minha filha foi

prontamente frustrada. E acredite, Mirella, eu fiz de tudo e


ainda faço. Tentei até pelas vias legais.

Agora os seus olhos estão cheios de lágrimas, a


voz embargada, o meu lado de mulher apaixonada se
coloca no lugar de uma mãe que foi afastada da filha. —
Eu só queria ter a oportunidade de ver a minha filha, sem
que seja por fotos tiradas às escondidas, através de outras

pessoas.

— Eu sinto muito — digo quando as suas


lágrimas começam a escorrer.
Quando estava apenas falando do Logan e a
relação deles, eu estava com os dois pés atrás. Agora que

tocou no meu ponto fraco, a minha pequena Emmy,


começo a sofrer junto com ela, porque me coloco no seu
lugar. Imagino o quanto sofreria se me afastasse da vida da
minha menina.

— Isabella, eu estou muito confusa com tudo o


que ouvi aqui, e acho que você pode me entender
perfeitamente — falo.

— Sim, entendo, te disse isso desde o começo

da conversa. O meu intuito era justamente esse, encontrar


o melhor momento para conversar com você e abrir os
seus olhos para o erro que está cometendo ao abrir mão
de você mesma. Eu lembro que sempre quis ser famosa

por sua música e não pode matar os seus sonhos por


causa de um ideal de felicidade ilusória. Mais para frente o
conto de fadas vai se transformar em um pesadelo.

— Não fale assim — peço.


— Desculpa — fala e, discretamente, olha para
os lados.

— O que foi? — pergunto.

— Lembra que eu falei que ele tem homens me


vigiando? — Balanço a cabeça. — Só quero assegurar

que não tem um deles aqui.

— E tem?

— Não — diz. — Eu não queria ter que te pedir

isso...

— Não, Isabella, não vou fazer isso — afirmo


com convicção antes que peça, pois imagino o que deseja

e não a culpo.

— Por favor, irmã. Só quero ver a minha filha

uma única vez. Vai ser tão rápido que não vai dar nem

tempo de os idiotas do Logan me verem. Eu confio em


você e sei que vai saber o que fazer com tudo o que ouviu,

mas antes de fazer qualquer coisa, me deixa ver a minha


filha. — Enquanto fala, as lágrimas escorrem. Meu coração

fica apertado, não consigo dizer não para ela.

— Não posso te prometer nada, Isabella, mas


anota aqui o seu contato. — Entrego um guardanapo para

ela, que tira a caneta da bolsa, anota e me devolve.

— Eu não sei como te agradecer — fala, seca

as lágrimas e segura mais uma vez a minha mão. Eu estou

muito feliz por ter conseguido te ver e falar com você.

Pena que não posso dizer o mesmo. Será que

ela não está percebendo que acaba de virar o meu mundo

de cabeça para baixo?

— Tenho que ir agora, o Logan está me

esperando — digo e viro-lhe as costas.


— Estava preocupado com você, Mirella —
Ulisses diz quando chego à calçada. — Está tudo bem?

— Eu não sei. Só me leve para casa, por favor


— peço. Por um segundo, penso em ir para outro lugar.

Para longe de Logan. Não tenho certeza se quero vê-lo

agora, com a cabeça tão cheia de informações dadas por


Isabella.

Eu poderia desconsiderar tudo o que foi dito, por

conhecer o homem que dorme do meu lado todas as


noites, mas não quando a pessoa que falou é a minha

irmã. Uma quase desconhecida, mas, ainda assim, a minha


irmã. Antes de qualquer atitude, preciso colocar os meus

pensamentos em ordem. A ideia seria fazer isso longe


dele, mas não consigo. Logan é um vício que me sinto

incapaz de deixar.

— Eu estava me perguntando o que teria de

fazer para te tirar de cima daquele palco. Sei que ama

cantar, mas lembre-se que tem um homem que te ama e


morre de saudade aqui te esperando — brinca quando

entro.

Ele estava trabalhando no seu notebook, mas,


como sempre, o desliga para me dar atenção. O ruivo que

me olha com adoração não é o mesmo que Isabella


descreveu. Esse sorriso não é de alguém que vai surtar e

me fazer infeliz.
Ele jamais tiraria da Emmy a sua mãe, não se
não acreditasse que estaria a protegendo com tal atitude.

— Está tudo bem? Está tão quieta.

— Estou muito cansada. — Essa mentira me faz


lembrar que venho a usando como desculpas há dois dias,

que tinha até esquecido da conversa sobre o convite dos

rapazes.

— Você anda muito cansada ultimamente, amor.

Que bom que está de férias da faculdade, não é? Agora

terá mais tempo para descansar e cuidar de si mesma. —


Logan não menciona o fato de eu trabalhar de domingo a

domingo.

Falou apenas uma vez que eu poderia diminuir

a carga e, que me ajudaria com prazer se o problema fosse

o dinheiro. Neguei com o argumento de que posso cuidar


sozinha das minhas necessidades, ele respeitou a minha

vontade e não voltou mais ao assunto.


— Vou tomar um banho bem rápido e me deitar

— falo, dizendo nas entrelinhas que não quero que venha


comigo. Ele também não se oferece e eu fico chateada,

porque estou insuportável sem saber o que quero, ou o que

pensar.

Dez minutos depois, volto para o quarto

vestindo uma camisola que passa a mensagem que hoje a

gente não vai fazer amor. Em silêncio, deito-me do meu


lado da cama. Olhando para o teto, faço uma mãe mandou

para decidir se falo primeiro da aparição da Isabella ou da

turnê.

Passam-se dez, vinte, quarenta e cinco minutos.

Nenhum de nós fala nada, mas tenho certeza de que o


ruivo sabe que sou eu que tenho algo a dizer. Ele não me

pressiona porque é o namorado perfeito. Logan é real,

esse que me ama e respeita os meus momentos.

A minha razão diz uma coisa, o coração diz

outra e esse quer apenas um abraço.


— Logan, me abraça — peço. Deito-me de lado
e espero pelo seu calor. — Eu preciso de você, não pode

ser diferente.

— Está falando de uma forma que faz parecer


que é um castigo — assevera, mas me abraça mesmo

assim.

— Não estou — nego e me aconchego. — Eu


sempre vou te amar — declaro, mordo com força meu lábio

inferior na tentativa de conter as lágrimas.

— Conto com isso — fala, depois beija o meu


pescoço com carinho.

Não falamos mais. Durmo a noite toda, acordo

com a impressão de que estou mais cansada do que

quando fui dormir. Logan não está mais na cama, então


pego o celular para verificar as horas.

Como é bom não ter que acordar cedo. Estico o

meu corpo, me contorcendo como uma cobra, e sinto um


pedaço de papel tocando no meu cotovelo.

Eu não queria te acordar. Se estiver lendo só

agora, significa que já fui para a agência. Te amo, Mimi.

Ps: me espera para o almoço.

Como uma adolescente, beijo o papel, mas

lembro cedo demais que não sou uma, que a minha vida

está cheia de problemas. Na verdade, sou uma covarde de


carteirinha. Se tivesse aberto a boca ontem à noite, talvez

não tivesse mais um peso sobre os meus ombros.

Ao sair do quarto, depois de me trocar e fazer a


minha higiene matinal, encontro Lídia juntando os

brinquedos que a pequena espalhou sobre o tapete.

— Emmy não foi para a escolinha hoje?

— Foi, mas hoje foi aquela confraternização que

ela passou a semana inteira falando, lembra? Por isso veio

mais cedo.
— Na verdade, eu tinha esquecido — confesso.

— Onde ela está?

— No quarto. Vê se dá um jeito nela, porque

você sabe como tem se tornado independente. Agora quer

trocar de roupa sozinha.

— Pode deixar que eu cuido disso.

— Bom dia, princesa!

— Oi, Mimi. Queria te acordar, mas a Bá não

deixou — explica. Ela já trocou de roupa, agora está

dobrando as peças — ou tentando — em cima da cama.


Tão linda e querida. Emmy se parece muito com
o pai, mas o jeito dela lembra ao da mãe.

A sua mãe, que é impedida de vê-la. Pensar

nisso faz o meu coração ficar apertado. E por mais que eu

ame o Logan, que tenha dormido nos seus braços, ontem à

noite, antes de contar o que Isabella falou, não consigo

fechar os olhos para isso. A minha cabeça grita que se


trata de uma mãe e uma filha que foram separadas.

— Estou acordada e tenho todo o tempo do

mundo para você, meu amor.

— Que legal, Mimi. — Feliz, a pequena bate

palma e dá pulinhos.

Sem parar para ficar me questionando sobre o


que estou prestes a fazer, pego o celular e coloco a

sequência de números que gravei na memória na segunda

passada de olhos, enquanto voltava para casa ontem.

— Oi, é a Mirella...
Tenho um plano em mente para aliviar o peso

no meu coração e vou segui-lo. O problema de ouvir o

coração é que ele pode ser enganoso e esse erro vai me


custar muito caro.
A mentira

Logan
Eu não costumo sair da agência para almoçar

em casa todos os dias, principalmente quando estamos

envolvidos em campanhas grandes, que tornam a nossa

carga de trabalho maior, mas tento sempre que posso.

Embora fosse melhor não sair hoje, decidi vir para casa,
porque Mirella está me deixando preocupado.

Tem estado diferente nos últimos dias. Mais

cansada do que em todos os meses anteriores, mas isso

deve ser o seu corpo cobrando a conta por tanta correria.

Tentei oferecer ajuda, ela não aceitou, então só me resta

tornar os seus dias melhores e sentir orgulho da minha

breguinha, que é tão esforçada. A força e determinação

são as qualidades que mais admiro no seu e, no caráter de

qualquer pessoa.
Ainda são 11h da manhã, muito cedo para o

almoço, mas quero fazer uma surpresa para as minhas

garotas, por isso trouxe comida do restaurante que elas

tanto gostam.

A casa está em silêncio, o que já é bastante

estranho, porque as duas adoram fazer algazarra.

— Bom dia Suely, onde está todo mundo? —

pergunto para a moça que vem algumas vezes na semana,

dar um jeito na nossa bagunça.

— Lídia está no quarto terminando de arrumar

os brinquedos da pequena. Mirella e Emmy foram dar um


passeio no parque — explica, eu sei exatamente onde elas

foram. Emmy gosta do que fica a duas quadras aqui do


condomínio.

Ao ar livre, o lugar é frequentado por crianças

suficientes para fazer com que se torne o paraíso de


Emmy, que gosta de ter sempre alguém com quem brincar.
Quando vai com a Mimi, a minha namorada tira dezenas de
fotos para me mostrar quando chego da agência.

— Tudo bem. Você pode guardar essa pasta no

meu quarto, por favor? Vou encontrar com elas no parque.


— Entrego a pasta e saio.

Sem precisar perder tempo tirando o carro da


garagem, apresso o passo.

Como está quase na hora do almoço, o lugar

está mais vazio. Avisto as duas de longe. A cada passo


que dou para mais perto, mais claro fica que me enganei

no que penso que vi.

A mulher que está de joelhos abraçando a

Emmy parece ser mais alta do que a Mirella. Os cabelos


escuros, embora muito parecidos, são mais curtos. Mirella,

com certeza é mais magra, porque se tem um corpo que


conheço bem é o daquela garota.
Quando os meus olhos saem da cena, faço uma
inspeção rápida em volta. Do lado esquerdo, sentada em

um balanço e observando a ruivinha, está Mirella. Se a

pessoa que toca a minha filha não é ela...

Não. Não pode ser quem eu estou pensando...

Desesperado, apresso o passo na direção das

duas. Mirella nota a minha presença, assustada, ela se


levanta e caminha até mim.

— Logan, eu posso...

— Depois. — Corto, seja lá o que tenha para me


dizer. Agora eu não quero pensar no que Mirella fez, meu
único objetivo é chegar até a minha filha.

— Se afasta da minha filha, Isabella! — ordeno.


A mulher que não vejo há três anos quase perde o
equilíbrio, mas se levanta prontamente.

— Logan, por favor... — A mãe da minha filha

começa, mas não suporto ouvir o som de sua voz.


Eu olho para Isabella, e só o fato de estar perto
dela desperta os piores sentimentos em mim. Tinha
esquecido, e preferia continuar não lembrando como ela

tem o poder de fazer com que eu seja a pior versão de mim


mesmo.

— Papai! Que legal que veio brincar com a


gente. Ela estava perguntando se podia brincar comigo e
com a Mimi. Eu disse como o senhor me ensinou. Não
posso brincar com estranhos. — Para o meu imenso alívio,
a minha pequena vem correndo para mim. Eu a pego nos

braços, o mundo parece estar dentro da órbita novamente.

— Está com fome? O papai veio te buscar para


almoçar — digo, ignorando as mulheres que, em
momentos diferentes, mentiram para mim.

— Eu estou, sim, Lolo, mas a Mimi disse que


seria lapido, que tinha uma amiga para me apresentar, não
foi, Mimi? — Ela não entende nada do que está
acontecendo, e espera pela resposta. A única que eu não
queria ouvir.

— Foi, meu amor — fala baixinho.

Eu não olho para ela. Toda a minha atenção


está na Isabella, que tem a mesma aparência de anos

atrás, bonita por fora, mas podre por dentro. Fico tentando
adivinhar o que pretende com essa armação e o que
espera conseguir com isso.

— Mirella, vá na frente com a Emmy.

— Logan, deixe-me falar com ela por um


instante — pede Isabella.

Mas que bela atriz a mulher é, até lágrimas nos


olhos ela conseguiu encenar.

— Leve ela, Mirella — peço, a garota obedece


dessa vez.

Quando estamos sozinhos, a postura de


Isabella muda completamente. Ela sabe que comigo o seu
teatro não cola. Os dois anos de convívio que me deram
essa bagagem.

— Pode me dizer que merda você pensa que


está fazendo, sua ordinária?

— Quanta agressividade, Logan Ramirez. É

assim que eu gosto de te ver. Não com essa pose de


homem controlado de segundos atrás. O que a sua querida

Mirella pensaria se te visse assim?

— Eu não sei o que você pretende, Isabella,


mas não volte a se aproximar da minha filha e da Mirella

nunca mais!

— Ela também é minha filha! — esbraveja.

— Sabe muito bem que deixou de ser quando a

trocou por dinheiro. Você só pensa na sua ambição e sabe

muito bem que nunca amou a Emmy. Volte para o buraco


de onde não deveria ter saído, porque de mim você nunca

mais tirará um centavo.


— Você vai ser muito infeliz, Logan. Não pense

que pode ser feliz às custas da minha infelicidade! — Viro-


lhe as costas e saio andando.

— Eu ainda não terminei, seu desgraçado!

— Não tenho nada para falar com você há muito


tempo, Isabella. E não esqueça do meu aviso, sabe muito

bem que posso acabar com a sua vidinha medíocre e, do

seu amante com um simples estalar de dedos.

Apesar da minha pose e palavras duras, assim

que viro a rua paro um pouco para respirar. Sinto muitas

coisas, menos que tenho o controle sobre a situação, ou


sobre mim mesmo. Estou apavorado, com a mente girando

com hipóteses sobre o que Isabella pode estar querendo


depois de anos em silêncio.

Eu me martirizo por pensar que posso ter

afrouxado o cerco. Ela não estava sendo observada o


suficiente, se estivesse não teria se aproximado das duas,
sem que eu soubesse da jogada, antes que ela
acontecesse.

Mirella. Qual desculpa ela teria para agir pelas

minhas costas?

Tudo bem que longe dos meus olhos ela poderia

se encontrar com a mulher, afinal de contas, é a sua irmã.

Mas envolver a minha filha sem me comunicar antes?


Confiei nela e fui traído. Uma traição que é mais dura do

que se tivesse sido com um amante, tal qual a sua irmã


fez.

A cada passada que dou pelos quarteirões,

maiores ficam as certezas na minha cabeça. A primeira é


que Mirella estava diferente por causa disso. Poderia ter

falado comigo sobre o assunto ontem à noite, quando

percebi que estava estranha e optei por não a pressionar


com perguntas. Mas ela preferiu esconder e armar pelas

minhas costas.
A segunda é que, talvez, nada do que tenhamos

vivido seja real. Aprendi a duras penas que o amor requer


confiança. Se ela não existe, não sobra nada.

Se a mulher que aprendi a amar, depois de ter

prometido a mim mesmo que não voltaria a cair nessa


armadilha, não pôde ser sincera quanto a um assunto que

envolve a nossa filha, não sei o que estamos fazendo

juntos.

Quando entro em casa, elas já estão sentadas à

mesa, mas só Emmy quem está se alimentando.

— Fica com a gente, Lolo. Vamos comer.

De frente para mim, Mirella busca o meu olhar,

mas fujo em todas as oportunidades. Não quero tirar

conclusões precipitadas, tomar decisões erradas e nem


fazer julgamentos desnecessários, embora tenha

começado a fazer tudo isso enquanto vinha até aqui, então


prefiro não olhar muito para ela.
O almoço só não acontece no mais absoluto
silêncio porque Emmy está presente. É impressionante

como ela está contente por estarmos almoçando os três

juntos, nem se lembra do encontro que teve com a mãe.


Na verdade, não a reconheceu como tal, apesar da foto na

sua cômoda.

Assim que ela termina, peço para a Lídia levá-la


para fazer alguma atividade, enquanto Mirella e eu vamos

para o nosso quarto. Em silêncio, entramos no banheiro e


fazemos a nossa higiene pós-refeição.

— Logan, fala comigo — Mirella pede. Ela se

senta na ponta da cama, eu fico parado perto da janela, o


mais longe possível.

Sou muito fraco por essa garota e, neste

momento, ela parece frágil demais. Parece até que fui eu


quem pisou na bola.
— É você quem tem que falar, querida. Não foi

você que acreditou que tinha o direito de levar a minha filha


para encontrar com a sua irmã pelas minhas costas? Por

que você fez isso? Só preciso de um motivo — digo.

O seu celular começa a vibrar na sua


penteadeira que está mais próxima de mim do que dela.

— Pode deixar, depois eu vejo quem era — fala.

— Isabella me procurou ontem no bar depois que terminei


de cantar.

— Deixe-me adivinhar, ela te contou sobre como

eu era um péssimo marido? Não, prefiro a versão em que


eu não queria dar o divórcio, porque criei paranoias sobre

um amante inexistente. A pobre mulher indefesa não podia

ser culpada por ter se apaixonado, não é mesmo?

— Como você...

— Como eu sei? Foi essa a história que ela

contou quando tentou sujar a minha imagem, com as


pessoas do nosso círculo social. Você não duvidou que ela
estivesse mentindo, não é? Tanto acreditou no monstro que

a sua irmã pintou que levou a minha filha para vê-la sem

me dizer.

— Logan...

— Não chegue perto de mim, Mirella. Agora

não. — Ela tinha se levantado, mas não deu mais nem um


passo.

— Você não podia ter a proibido de ver a filha.

Ela é a mãe, Logan. Eu a vi chorando por causa da Emmy


e fiquei comovida. Só tenta me entender, além de ser uma
mãe, Isabella também é minha irmã.

— Você não sabe do que está falando, Mirella.

— Então me explica, amor. Você nunca esteve


disposto a falar do passado. Eu não queria te pressionar,

mas até para o tempo de espera existe um limite.


— Como você mesma acaba de dizer, ela é a

sua irmã. Eu não te falei nada porque não queria que

sofresse uma decepção tão grande, mas o maior motivo foi

o meu desejo de não lembrar de tudo. Eram lembranças


que me faziam mal, que me faziam perder o sono e nem os

anos de terapia foram suficientes.

Ela tenta falar, mas não permito que me

interrompa. Não até que tenha ouvido tudo o que precisa

ouvir

— Eu não queria trazer o passado para a nossa

vida porque depois de muito tempo, a sua chegada deu

mais de um sentido para a minha existência. Não queria


manchar a imagem que você fazia de mim, pois apesar de

as coisas não terem sido como ela falou, eu fiz o que

estava ao meu alcance para proteger a minha filha, a única

coisa que Isabella não conseguiu tirar de mim.

Ela me olha com atenção, não faz menção de

abrir a boca, então continuo. Não queria ter que falar sobre
isso, porque embora gostasse de dizer a mim mesmo que

um dia iria contar, no fundo sabia que esse dia nunca

chegaria.

— Sei que ela deve ter te contado uma ótima

história, mas eu tenho uma melhor.

— Ironia não combina com você — diz, irritada.

— Nem burrice com você. — A irritação muda

para a mágoa. Arrependo-me no mesmo instante. — Amor,

eu... Mirella, me perdoa. — Sou mesmo um idiota!

— Apenas fale.

— Lembra de como nos conhecemos? — Ela

balança a cabeça. Deve estar tão nítido na sua memória


quanto está na minha. Não tenho todos os detalhes do

flagrante, mas tenho do nosso encontro.

— Eu e você nos beijamos, depois saí do quarto

completamente desnorteado, porque aquele beijo mexeu

comigo. Sentia-me muito culpado e tinha necessidade de


encontrar a sua irmã. De vê-la para lembrar-me quem era a
pessoa com quem havia me casado.

— Espero que tenha sido um belo encontro —

diz, pouco se importando de estar demonstrando ciúme em

um momento como esse.

— Foi, mas não do jeito que está pensando.

Encontrei a sua irmã próxima da sacada aos beijos com o

meu melhor amigo. Estava indo falar sobre o nosso beijo e

descobri que ela tinha um caso de anos com o meu melhor

amigo.

— Ela não fez isso — diz, surpresa.

— Fez. Esse foi só o começo do circo de

horrores que foi a nossa história. Eu queria que a Isabella


sumisse da minha vida, mas mantive o nosso casamento,

porque ela estava grávida de um filho, que até que fosse

provado o contrário era meu. Não estou dizendo que sou

santo, porque me vinguei dos dois a cada oportunidade


que tive. Eu os fiz se arrepender pelo menos um pouco

pela traição.

“Fiz ameaças de que iria tirar a menina dela,


mas nunca seria capaz de fazer isso. Não usaria a minha

filha como objeto de disputa, tanto que propus que

déssemos uma trégua nas brigas pelo bem dela. Claro que

não funcionou, porque Isabella esperava voltar a ser minha

esposa e eu só queria que fosse uma boa mãe. Nenhum

de nós dois teve o que queria.”

— Ela não foi uma boa mãe?

— Praticamente não olhava para a Emmy —

afirmo.

— Ela disse que amava a Emmy. Que você...

— De todos os absurdos que possa ter dito,

esse foi o maior de todos. A sua irmã não se importa com a


Emmy — afirmo. — Um dia ela chegou dizendo que havia

conseguido um emprego e que iria embora de casa. Eu


não suspeitei da mudança de atitude porque Isabella

estava acostumada demais aos luxos para voltar atrás.

Mas ela saiu de casa meses depois e não fez menção de

levar a filha. Fiquei três meses sem a ver. Nesse período,


só visitou a Emmy duas vezes. Sabe por que ela arrumou

um trabalho?

— Para ter condições de dar suporte para a

filha, apesar de o pai dela ser montado na grana? —

sugere. Não sei se rio ou se choro da sua inocência.

— Não. Ela queria ter estabilidade para buscar a

justiça e ter condições de tirar a minha filha de mim. — As

minhas mãos se fecham em punho quando lembro.

— Então, Logan. Isso quer dizer que ela queria


mesmo ficar perto da filha. É claro que não deveria ter te

ameaçado como fez, mas isso prova que Isabella queria a

pequena. — Os seus olhos estão cheios de esperanças.

Ela é tão boa que se recusa a enxergar a realidade.


— Não, Mirella. Dizer que iria entrar na justiça,

foi uma ameaça. Ela não queria tirar a filha de mim de

verdade, era só uma forma de me mostrar que qualquer

juiz lhe daria a guarda, por ser a mãe e por ter condições

financeiras de criar uma criança. Não tentou em momento

algum fazer acordo, mas pediu 3 milhões de reais para não


lutar pela guarda da filha.

— Se você soubesse o que eu senti quando

ouvi aquilo. Foi como se uma parte de mim estivesse

morrendo naquele momento. A pessoa que era tudo para

mim estava sendo vendida pela própria mãe, Mimi — digo,


a minha voz está embargada e ela chora.

— O que você fez?

— Dei o dinheiro. O que mais eu poderia fazer?


Uma pessoa que já tinha mostrado que não se importava,

que pediu dinheiro em troca de abrir mão da filha não podia

ficar com ela. — Ela me olha como se nunca tivesse me


visto, eu saio de onde estou, vou até a gaveta de

documentos e tiro o que preciso de dentro.

— O que é isso? — indaga quando entrego o

papel em suas mãos.

— A prova de que ela passou a guarda total da


Emmy para mim. E seja lá o que for que tenha te dito, nada

disso foi mediante ameaça. A sua irmã fez em troca de

uma fortuna. Quando assinou, o fez sabendo exatamente

do que estava abrindo mão.

— E embora eu mantenha pessoas de olho

nela, saiba que até a sua chegada a essa casa, Isabella


não tinha sequer tentado dar um passo na direção da filha.

Tudo o que queria era o dinheiro que poderia tirar de mim,

e não importavam os meios que usaria.

— Amor, você... Eu não queria... — Começa,

mas está claro que não sabe o que dizer.


— Eu fiquei com a única pessoa que me

importava no meio daquela história bizarra, mas também

fiquei com as lembranças ruins das ameaças que ela fez,


com os pesadelos que me acordavam e me faziam ir ao

quarto da minha pequena só para ver o seu rostinho. Fiquei

com a culpa de olhar para o rosto dela sabendo que a

comprei, como se fosse uma mercadoria. Com a falta de

confiança no amor e nas mulheres.

— Apenas por Emmy reaprendi a viver com o


peso do passado, mas aí você apareceu... — Interrompo-

me, abaixo o olhar e Mirella elimina o espaço entre nós.

— Olhe para mim — pede, mas não posso olhá-


la sem sofrer.

— Você veio com o sol em dia de tempestade.

Mostrou-me que o amor valia a pena, mas duvidou de mim

na primeira oportunidade... — digo.


— Eu não duvidei de você. Fiquei confusa, é

claro. Fraquejei quando falou da menina porque a amo e

ela é o meu ponto fraco. Mas desde o início pensei que

você não parecia nada com o homem que ela descrevia.

— Estou magoado com você. Entendo o fato de


ela ser a sua irmã, que queria dar a ela pelo menos o

benefício da dúvida. Tenho a minha parcela de culpa por

ter guardado essa história por tanto tempo, mas nada

justifica que não tenha falado comigo, que tenha levado a

Emmy sem me contar. Quando a vi no parque, deixando


que aquela mulher se aproximasse...

— Sinto muito. Eu errei e quero que me

desculpe — Mirella me abraça. Mesmo magoado, retribuo.


— Eu te amo e acredito em você — declara.

— Preciso ficar um tempo sozinho para... — O

toque de notificações do seu celular interrompe o meu

raciocínio. Pego o aparelho em cima da penteadeira e

brinco para deixar o clima menos pesado.


— Esses caras não te largam mais. Será que
devo ter uma conversinha com os idiotas? — O meu erro é

deixar que os meus olhos demorem mais do que deveriam

na tela do aparelho.

— Fazer o que se sou irresistível? — O sorriso

morre no seu rosto no momento em que a minha


expressão endurece.

— Júlio quer saber se você já falou com o idiota

do seu namorado a respeito da turnê — falo e entrego o


celular na sua mão.

— Eu sinto muito — ouço.


Acerto de contas

Logan
Eu sabia desde o início, quando a olhei, a amei

e quis ter um relacionamento, que corria risco de ter o meu

coração quebrado, afinal, já tinha acontecido antes com

uma mulher que não amava como acreditava. Dessa vez

me sinto pior, pois essa, sim, é a mulher da minha vida.

Olho para a Mirella e gosto de tudo o que vejo,

tanto no interior quanto no exterior. Ela veio quando eu

mais precisava, apesar de não admitir, me fez acreditar que

enfim teria o que todos chamam de felicidade plena. Eu

olho para o seu rosto alarmado e vejo o reflexo dos meus

próprios medos.

Apesar de ter me doído o fato de ela ter mentido

sobre levar a pequena para ver a mãe, eu ainda tento


compreender que ela tinha alguma razão para desconfiar

de mim.

É uma ferida exposta, está sendo duro de digerir

tudo o que acaba de acontecer, mas eu estava tentando

agir do jeito certo para não falar ou tomar atitudes que

pudesse me arrepender depois. Mas o que eu acabo de ler

no seu celular tira o chão debaixo dos meus pés.

No momento eu quero fugir deste quarto. Não

falar e não olhar para essa mulher. Mas não sou um

covarde. Não mais, porque cansei de ser esse homem.

Fugir apenas pioraria o que já é ruim.

— Logan, fala alguma coisa — pede, se

aproxima, eu me afasto. Agora o seu toque não é bem-


vindo, ele apenas me confundiria.

— Que história é essa de turnê que o idiota do

seu namorado tem que saber?

— Você não é idiota — diz.


— Sim, eu sou!

— Tudo bem, você está sendo idiota agora.

— Então o idiota aqui não tem mais nada para

falar com você — irritado, digo. Tento passar, mas a minha


namorada mentirosa entra no meu caminho.

Pelo menos ela não é idiota!

Logan, porra! Foco, piada agora não.

— Não vá. Eu vou explicar.

— Há quanto tempo você sabe dessa turnê? —

Dentre todas as questões, essa deve ser a mais importante


no momento.

— Alguns dias — afirma.

— Não pensou em me contar?

— Não sabia como fazer isso. — A olho com o

cenho franzido, ela se corrige: — Não sabia como dizer


porque não tenho certeza se quero fazer isso.
— Você está ficando maluca. Está me dizendo
que não quer sair em turnê com a sua banda? — Mirella

diz que sim com a cabeça, mas vejo no seu rosto que não

está sendo totalmente sincera.

No momento que a vi no portão, toda


encharcada e com um violão preso ao corpo, soube que

era uma artista. Saberia, mesmo se não fosse tão


observador, pois a garota falou em todas as oportunidades
que o assunto surgiu sobre os seus sonhos com a música.
Sobre os motivos que a trouxeram até aqui. É difícil

acreditar que não quer mais seguir em frente.

— Eu não sei o que quero, Lolo. Os meus


sonhos não mudaram, mas as prioridades, sim. Como eu
vou sair em uma turnê de seis meses sem você e a

ruivinha? Não quero ficar longe de vocês.

Aí está a explicação. Mirella ama a mim e a


minha filha, mas ela também é uma jovem de vinte e três

anos, cheia de sonhos grandiosos e uma vida inteira pela


frente. Eu sou o seu primeiro namorado. Um
relacionamento sério, em que ambas as partes já falaram
sobre o futuro. Mas talvez o nosso futuro não seja junto

como um casal, ou como uma família.

Quão egoísta eu seria se permitisse que uma

garota tão talentosa, como ela, abrisse mão do que sempre


quis, da carreira e de sua independência, por mim?

Por mais que a ame, mais do que pensei que


um dia fosse capaz de amar a uma mulher, eu sei que
chegou o momento de fazer uma escolha. O problema é

que nem sempre as escolhas garantem finais felizes.

— Você não tem com que se preocupar, Mirella


— digo, não tenho certeza se reconheço a minha própria

voz.

— Não tenho?

— Você deve saber que essa turnê é uma ótima


oportunidade para a sua carreira, não é? — Ela acena
positivamente com a cabeça. — Então também sabe que
eu não permitiria que abrisse mão por mim e pela minha

filha. Você tem que ir. — Terminar de falar é um custo, mas


acabo fazendo o que é certo.

— Eu não estou te entendendo. Como pode

dizer isso?

Por favor, que ela não comece a chorar...

Ela já está fazendo isso. A garota que parecia

durona tem chorado bastante nos últimos dias.

— É melhor para você. — Ela não parece


convencida, então continuo: — Para nós dois, na verdade.

— Você não está terminando comigo por causa


de uma turnê idiota, Logan. Não está! — esbraveja, se
aproxima e esmurra o meu peito. Para controlá-la, eu a
agarro.

— Pense em você, garota estúpida!


— Eu te amo, mesmo que esteja sendo um
babaca — fala com a voz fanha, mais linda do que nunca.

Tenho que me segurar para não a amarrar ao pé da cama


e implorar para que nunca vá para longe de mim.

— Eu também te amo, mesmo que seja uma

mentirosa. Primeiro você ouviu a sua irmã e acreditou nela


o suficiente para expor a minha filha. Depois você recebeu

o convite para viajar por seis meses e não me contou.

— Eu já pedi desculpas. O que mais quer que


eu faça? Que eu me ajoelhe? Isso eu não vou fazer! — fala

com petulância. Mirella é ela mesma até nos momentos

mais tensos.

— Não quero que se ajoelhe, isso não mudaria

nada do que aconteceu. Você, amor... Eu...

— Mudou de ideia? — O sorriso dela é tão


bonito. Como posso me manter firme em qualquer decisão,

quando sorri assim para mim?


— Não. Ainda estou puto com você, ainda acho

que você deve viajar com os caras. Preciso que me deixe


sozinho para pensar um pouco. Para que você mesma

possa pensar um pouco — digo e me afasto dela, antes

que a jogue na nossa cama e a ame até tudo sumir das


nossas mentes.

— Para onde você vai?

— Vou voltar para a agência para tentar


trabalhar um pouco. Talvez distraia a minha mente — falo.

— Mais tarde a gente conversa, tudo bem?

— Tudo bem — diz.

Eu falhei nos meus planos. Talvez devesse ter

me preparado melhor, não olhado nos seus olhos. Não ter


olhado para a cama e desejado tomar o seu corpo quando

estávamos no meio de uma crise. Talvez algumas horas

afastados, nos ajudem a voltar à razão.


Mirella
Ufa! Essa foi por pouco.

As minhas pernas estão tremendo. Estava


agindo com naturalidade, mas a vontade era de me jogar

no chão e implorar. Eu sei que todo mundo erra, que têm


vezes que até dá para passar pano, mas essa semana eu

passei de todos os limites aceitáveis, nem eu mesma me

defenderia.

Acabei de correr o sério risco de levar um belo

pé na bunda tão grande, que jamais me recuperaria. Tudo

por causa da maldita Isabella. Uma baita atriz que precisa


ouvir algumas verdades e vai ser agora!

Preciso arrumar a bagunça que fiz e não

poderia começar de outra forma. Pego o celular, mando


uma mensagem de texto para a minha irmã. Antes de sair,

procuro Emmy pela casa e dou um beijo de despedida.


— Você viu como ele me tratou? Agora
entende... — São as primeiras palavras que saem da sua

boca, mas a frase não é terminada, porque eu me adianto

e enfio a mão na sua cara. Isabella reage, mas seguro a


sua mão no ar.

— O que pensou que conseguiria com tantas

mentiras, minha irmã? Será que não passou pela sua


cabeça que o Logan iria mostrar o documento, que você

assinou abrindo mão da menina?

— Você é uma burra, Mirella Maris. Tentei abrir

os seus olhos e me paga com uma bofetada? — fala,

passando a mão no rosto ardido.


— Acho que a burra aqui é você que teve um
homem como o Logan, uma filha linda como a Emmy e os

jogou fora como se não valessem nada. Por que voltou,

Isabella? — indago.

Como eu pude acreditar nela em algum

momento? Deveria ter percebido quando afirmou que

Logan não é capaz de amar de verdade, que sempre se


manteve a uma distância segura. Comigo ele sempre foi o

oposto disso. Sobretudo, deveria ter confiado mais no meu


instinto, quando me disse que o ruivo jamais faria algo de

ruim para a filha, a quem ama acima de tudo.

Talvez Isabella tenha razão. Eu sou uma burra,


mas não mais do que ela.

— Voltei por sua causa. — Ao perceber que as

suas palavras me deixaram confusa, ela prossegue.


Parece sentir um imenso prazer em cada palavra dita. —

Eu errei mesmo, mas não por ter traído um homem que

não me amou como deveria. Não, por não ter ficado de


babá para a criança que não passou de uma tentativa

frustrada de consertar a burrada que fiz.

— Não fala da Emmy! — esbravejo. — Ela não


é um objeto para ser usada, sua desgraçada!

— Olha só para você, se sentindo a mãe da


pirralha. Faça bom proveito — diz com uma frieza que

chega a ser assustadora.

Eu olho para Isabella e não vejo nada da mulher

que admirei algum dia. Será que sempre foi isso e não
tinha me dado conta?

— Como eu estava dizendo, o meu erro foi ter


deixado que ele descobrisse, ter perdido a vida de luxo que

teria se tivesse continuado sendo a senhora Ramirez de

Castro. Claro que ainda desfruto do dinheiro que ele me


deu...

— O dinheiro que recebeu quando vendeu a

própria filha? — questiono, enojada de precisar repetir


tamanha barbaridade.

— Não seja dramática, garota. Ela ficou com o


pai que a ama e tem condições de criá-la melhor do que

eu.

— É impressionante como para você tudo se

resume ao dinheiro.

— Sempre quis e mereci mais do que a nossa


mãe me deu.

— Ela fazia de tudo por você. Sempre se matou

para que pudesse ter o que queria, mas você não enxerga
isso, não é?

— Não foi o suficiente. Nunca foi — afirma. —

Mas acho que a santinha, que está transando com o ex-

marido da própria irmã, vai gostar de saber que descobri


que o dinheiro não era tudo. Tanto foi que encontrei um

homem que me desejava de verdade. Que não me via


como um troféu. — Ela fala e o veneno escorre pelo canto

de sua boca.

— Era isso que Logan fazia, para ele eu era o

troféu. O Eduardo, apesar de ser um inútil e de estar


torrando o dinheiro que ainda tenho, me ama de verdade.

Ele sabe o meu valor.

— Se estava tão feliz com o seu dinheiro e o


amante, por que veio se meter nas nossas vidas, porra?!

Falo mais alto do que deveria. A mulher me irrita

tanto que acabei esquecendo que estamos dentro de um

restaurante, no meio da tarde.

— Eu já disse. Foi por você. Sei que não tenho

mais qualquer poder sobre os Ramirez de Castro, que ele

mantém cães de guarda atrás de mim, mas não podia

deixar que me esquecessem, que fossem felizes às minhas


custas.
— Você está completamente insana, Isabella.

Não pode falar tamanhos absurdos com tanta naturalidade.

Quer me ver infeliz, mas sou a sua irmã!

— Irmã que tomou o meu lugar. Que agora vai

desfrutar de tudo que um dia foi meu. Isso, é claro, se o

Logan te perdoar por ter duvidado dele, por ter levado a


menina para me ver, sem o consentimento que ele jamais

daria — afirma, fico em choque quando a minha ficha cai.

— E foi mais rápido do que eu imaginei. Não tive que fazer

nada para que se decepcionasse com a sua traição.

Coincidentemente, ele apareceu naquele parque.

— Você fez de caso pensado? — pergunto para

confirmar, embora esteja tudo muito claro.

Isabella não é ingênua e nem perdeu a


memória. A cada passo dado, a cada acusação contra

Logan e mentira contada, ela tinha na cabeça o documento

que ele tinha em mãos. Sabia que sua mentira era muito

frágil, pois bastava uma conversa para o ruivo negar sua


história e, um papel em mãos, para a verdade ficar
estampada. Depois de tantos anos de relacionamento,

Isabella sabia que ele não iria me perdoar e era

exatamente o que pretendia, acabar com o nosso

relacionamento.

— Vejo que está começando a raciocinar. E

para garantir que estamos na mesma frequência, vou falar


com todas as letras: eu só queria ferrar com a vida de

vocês, principalmente com a sua. Se não vou ficar com o

ricaço, você também não vai.

Por ironia, fiquei preocupada durante muito

tempo com o fato de estar com o ex-marido dela. Eu me

debati por questões morais e com o que iriam pensar, mas

ela me vê somente como mais uma rival. Não pesa nem

contra e, menos ainda a favor, o fato de ser a sua irmã


mais nova.

— Aí é que você está enganada, Isabella. Eu

vou ser muito feliz com o Logan e a nossa menina. Você


acha que o conhece, mas não é verdade. Aquele homem,

que você deve ter visto me defendendo na frente de todos,

me ama. Ele me deseja e não é capaz de tirar as mãos de


cima do meu corpo. Se o seu plano era provocar a minha

separação dele e de Emmy, perdeu o seu tempo.

— Você está blefando — diz. No fundo, eu torço

para que esteja mesmo. Se ela estiver certa, jamais vou

me perdoar por ter estragado tudo por quem não merece.

— Vou me casar em breve com aquele homem

lindo, gostoso e rico. Vou ser mãe dos filhos dele, inclusive

da que você não quer. Quando tudo isso acontecer, espero


que se lembre do que acaba de ouvir — digo. Cansada da

conversa que não irá nos levar a lugar algum, levanto e

pego a minha bolsa de cima da mesa.

— Não vai acontecer, porque ele logo se cansa

de você — diz, eu ignoro. Antes de deixá-la, volto e digo.


— Se voltar a se meter comigo e minha família

eu acabo com você, com sua vida medíocre e com o seu

amante. E nem tente usar novamente a nossa mãe contra

mim.

Quando cito a dona Carla, vejo nela a primeira


reação que lembra a de um ser humano que tenha um

coração. Depois do que o Logan me falou, finalmente

chego à conclusão de que deve ter contado a mesma

história para a dona Carla. Por isso ela mudou de atitude

tão repentinamente.

Não imagino o quanto ela deve ter sofrido, não

faço ideia de como anda a relação das duas depois disso,

mas decido que esse é um assunto das duas. Se fiquei de


fora antes, também posso ficar agora. A partir de hoje não

me importo com o que possa acontecer com essa mulher.

Só espero que valorize a única pessoa que a ama de

verdade.
— E não esqueça que agora sou mulher de um

Ramirez de Castro e tenho plenas condições de

transformar a sua vida em um inferno — ameaço pela

última vez sem sentir culpa.

Depois do que ela fez não sobrou nada do amor

que sentia. As lágrimas que deixo rolar são de dor, de


perda, mas também de libertação.

Enquanto caminho pelo calçadão ao fim da

tarde, penso em tudo o que aconteceu nos últimos dias. Na


decepção com a minha irmã mais velha, que se mostrou

alguém que desconheço. Na decepção comigo mesma por

ter caído no seu jogo. Penso no convite para viajar durante

seis meses fazendo o que amo.

Apesar de amar a minha música, nos meus


pensamentos resta apenas o medo de Logan não me

perdoar, de ele estar mais decidido do que parecia. Sinto

que sobreviveria se abrisse mão de um sonho antigo, mas


não sei o que sobraria de mim se perdesse a minha Emmy

e o amor da minha vida.

A minha vida foi de sátira para um drama. Sinto

vontade de gritar, porque estou ciente de que os dramas,

em sua maioria, não terminam com finais felizes.


Fim de jogo

Isabella
— Que ódio daquela garota sonsa e estúpida!

— grito, enquanto arranco todos os lençóis da cama. —

Você tinha que ver o jeito que ela falava comigo, tinha um

ar de superioridade. Teve a audácia de falar sobre como

Logan a deseja.

— E você está morrendo de ciúme, não é?

Porque nem na faculdade ele se importou com você a

ponto de defendê-la como fez com aquela magricela. Ou

será que você está com inveja? — Furiosa, arremesso uma

almofada com toda a minha força no Eduardo. Ele a pega

no ar e me retribui com um sorriso.

O homem é burro como uma porta. Perdeu tudo

o que poderia conquistar sendo amigo de um herdeiro


milionário, por causa de uma mulher — mesmo que seja eu

— e não se importa com isso. Como poderia se graça a um

plano seu, ainda está desfrutando do dinheiro que tirei do

meu ex-marido?

— Acho melhor você calar essa boca, Eduardo.

Eu não tenho inveja daquela garota brega. Você tinha que

ver como estava vestida. Pior do que na fase da

adolescência. E todas aquelas bijuterias no braço, na

orelha e no pescoço? Se tivesse visto ela, teria se

questionado como o Logan, que dava tanto valor às

aparências, se envolveu com alguém tão diferente dele.

— Talvez ele esteja apaixonado, e o sexo deve

ser fenomenal — comenta. Quero estrangular esse


homem, que parece propenso a defender aqueles dois.

Talvez esteja a desejando.

— Ele não a ama. É incapaz de algo assim —


afirmo.
— Era incapaz de amar você. Está arrependida
de suas escolhas, Isabella? — falando sério como poucas

vezes fez na vida, o homem que está comigo tanto quanto


estive com Logan, pergunta. — Eu sinto muito se estiver,

porque você deve saber que não tem mais o que fazer.
Não pode ter de volta o Logan e sua pestinha. Não pode
fazer mais do que já fez para os atingir. Acabou, minha

gata. É o fim da linha para você.

Fim de jogo. Acho que é importante saber

reconhecer quando ele termina. Acima de tudo, aceitar a


derrota.

— Não, eu não me arrependo de nada — digo,

ele me agarra e cai comigo em cima da cama.

Eu fiz as minhas escolhas e perdi há muito

tempo. Se for leal comigo mesma, admito que não falei da


boca para fora. Senti inveja pela fonte, quase inesgotável,

de dinheiro e pelo status. Não queria que a minha irmã se


desse bem e ficasse com tudo o que um dia foi meu, mas
estou bem com as minhas escolhas.

Além do Eduardo, que mais tira do que dá com

seus gostos sofisticados, tenho apenas a minha mãe. Ela é


a única pessoa que sabe o meu valor, a única que eu não
suportaria perder. Dois elos que me mantém de pé.

As minhas escolhas jogam na minha cara todos


os dias que não tenho mais marido milionário, ou filha. Sei
que meu dinheiro não vai durar para sempre, mas não
duvido, nem por um instante, que se a oportunidade surgir,

trocarei essa vida por uma melhor sem olhar para trás.
Apesar de ter sentimentos por terceiros, o amor que sinto
por mim vem antes.

Sempre foi e sempre será assim. Isabella Maris


sempre escolhe a si mesma.
Decisões

Mirella
Quando retorno para casa, o carro do Logan já

está na garagem. A sala está vazia, mas sei exatamente

onde encontrar ele e a ruivinha. Sempre que chega ele

dispensa a babá, gosta de ficar com a filha para compensar

as horas fora de casa.

Discretamente, bato na porta. Eles param a

conversa animada e me olham. Eu ainda não me

acostumei com o quanto são parecidos. Até a forma como

me olham é igual. Ambos lindos de tirar o fôlego.

— Mimi, se senta aqui com a gente. — Ela se


afasta um pouco, deixando espaço para mim ao lado do

pai.
Sem saber nem mesmo onde colocar as minhas

mãos, temerosa de olhar para o meu namorado, me sento.

Os nossos braços se tocam de leve, para mim é o

suficiente no momento. Não importam as circunstâncias,

estando ao lado desses dois, tudo fica melhor.

— O que vocês dois estão fazendo? —

questiono.

— Antes de você chegar, o Lolo leu para eu.

Depois ele perguntou como foi o meu dia. Estou contando,

você quer ouvir? — aceno positivamente, pois sei que ela

adora quando ouvimos de suas aventuras.

Enquanto a menina tagarela sem parar, olho de

canto para Logan, mas ele parece não estar aqui. Tanto o
seu olhar, quanto os seus pensamentos estão para lá de
Bagdá. Quando ele se desliga dessa forma, e agora

entendo o porquê de isso acontecer, posso ficar pelada na


sua frente que não vai ligar.
Hum... Esse, sim, é um ótimo teste a se fazer.
Se Logan passar, ele pode até ganhar um prêmio, que no

caso sou eu mesma tentando duelar com os seus


pensamentos.

— Mimi! — Quase caio da cama com a voz da

pequena chamando a minha atenção. — Estou falano com


você!

É, parece que a doença pega. Mas o meu


estágio é mais avançado, porque o homem sumiu e eu

nem percebi. Será que nunca esteve aqui e eu alucinei?

Misericórdia!

— Querida, me diga uma coisa, o seu pai estava

aqui, não estava?

Por favor, diga que sim!

— Mimi, você é engraçada! — A menina está

rindo de mim.

A que ponto cheguei.


— Eu sou? — indago, só para confirmar que
não estou servindo de chacota para uma garotinha.

— É sim. Lolo disse que ia beber água, mas

você não lembla, estava com a cara engraçada, que faz


quando não presta atenção. Era assim — A ruiva faz uma
careta. Imito, mas não quero acreditar que fico tão feia.

— Beber água... — Ótima desculpa.

Sério, quem bebe água num frio desse? Eu


tenho dificuldade até para tomar banho.

— Papai está tliste — diz.

— Ele te disse isso, Emmy? — indago. Logan

triste não é um bom sinal.

— Não, mas é o meu papai, eu sou inteligente,


Mimi. O Lolo está chateado — insiste. Não tenho motivos
para duvidar.

Logan deve ter ido buscar água bem longe,


porque entre a minha explicação mentirosa de que ele não
está triste e o momento de colocá-la para dormir, não vejo
nem a sua sombra. Será que está me odiando tanto que
não pode ficar perto de mim?

Que grande bobagem, o homem é louco por


mim tanto quanto sou por ele. Se agir com maturidade não

é uma opção, talvez eu tenha que apelar.

Não que eu vá ficar triste, por ter que fazer isso.

Ao sair do quarto da pequena, que dorme

inocente sem ter ideia do que se passa entre o seu pai e


eu, vou direto para o meu quarto. Espero que ele não
esteja por lá, senão vai estragar os meus planos. Se Logan
e eu vamos ter uma conversa tensa, antes tenho que
garantir que ele esteja mais maleável, com os sentidos

entorpecidos pelo meu cheiro.

Felizmente, ouço o barulho da ducha, então


pego rapidamente o que preciso e vou tomar banho no
quarto de hóspedes. Quando Logan chegar, ele não vai
saber o que o atingiu. Nós vamos conversar e não
pretendo deixar que se esconda, por medo do sofrimento.

Meu namorado precisa entender que não sou e nunca serei


Isabella. A nossa principal diferença é que ele e sua filha
sempre estarão em primeiro lugar na minha vida.

Logan
A minha intenção não foi fugir como um
covarde, mas simplesmente não sabia como agir. De nada
adiantaram as horas distantes. O trabalho não distraiu a

minha mente, como esperei que fosse acontecer. Pensei


nela a tarde inteira e não cheguei a uma conclusão
diferente da anterior.

Não se trata mais do erro de julgamento da


Mirella quanto a Isabella, ou de ela ter agido pelas minhas
costas. Diferente de como costumo agir com o resto do
mundo, sem dar segundas chances, para Mirella eu daria

quantas ela precisasse, não poderia ser de outra forma.


Depois que a raiva passou e eu consegui me
colocar no seu lugar, fui baqueado por outra situação, e

sinto que dessa não consigo fugir. As minhas mãos estão


atadas, porque o que eu quero não é o melhor para mim e
minha filha, mas é para a minha garota.

Ela tem que partir. Mesmo que leve o meu


coração junto, Mirella vai partir. Estou tentando fazer o que

é certo, assim como fiz pela minha filha.

Ao sair do banheiro, já vestindo calça moletom


cinza, me deparo com minha gata só de calcinha no centro

do cômodo. Os seus cabelos lisos, longos e ondulados nas

pontas, estão soltos e cobrindo os seus seios. Assim como


no dia em que nos conhecemos, Mirella colocou as mechas

coloridas na parte de dentro dos fios. É tão linda que chego


a não acreditar que eu tenha tanta sorte.

— Por que você está só de calcinha no meio do

quarto, Mirella? — provoco, fazendo-me de desentendido.


Está claro que tenta me seduzir.
É engraçado como ela se esforça, mas acaba

sendo sutil como um elefante no meio de uma loja de


cristais, e eu sempre caio como um patinho.

— Tenho certeza de que sabe — diz e se

aproxima. Começo a ficar duro antes de ser tocado, antes


de ver os seus peitos perfeitos.

— Por mais que eu queira transar com você,

não acredito que sexo vá resolver os nossos problemas,


amor. Se o seu plano era me distrair, está falhando... —

Ofego quando a moça segura o meu pau.

— Estou mesmo?

— Mais ou menos — confesso. — Não torne as

coisas mais difíceis. Vamos conversar — peço. Ela solta o


meu membro, os seus ombros caem em desânimo.

— Tudo bem — fala, pego a sua mão e a levo

para a cama.
O certo seria que a gente conversasse no sofá,
pois a cama, qualquer superfície na verdade, parece muito

convidativa. Para garantir, me sento a um braço de


distância dela. Mas não o bastante para me impedir de ver

seus peitos, que acabo de desnudar ao colocar os fios para

trás.

— Quando você saiu para a agência, eu saí


para encontrar com a Isabella — fala.

— Mirella...

— Não se preocupe, ela não vai tentar nada


contra a pequena. Na verdade, ficou claro para mim que a

minha irmã sabe que não pode contra você e que tem
muito a perder se tentar. Ela só se aproximou agora por

minha causa. Disse com todas as letras que não queria

que eu fosse feliz.

— Eu sinto muito — digo. E sinto mesmo.

Apesar de tudo, elas são irmãs. E deve ter havido um


tempo em que tudo entre as duas era diferente.

— Ameacei ela para que nunca mais volte a

tentar nada, porque posso fazê-la se arrepender. Usei o


fato de ser a sua mulher para isso — confessa. Não sei

que reação esperava, mas fico excitado.

— Fez bem — digo.

— Você é mal, Logan — afirma, mas tem um

sorriso malicioso no rosto.

— Só com as pessoas que precisam —

assevero. — Quanto a Isabella...

— Eu não quero que faça nada contra ela.


Tenho certeza de que nos deixará em paz, de agora em

diante. Não se aproxime dela, Logan.

— Tudo bem, mas tudo continua a ser como


antes. Estarei de olho em cada passo dela. Tenho que

proteger a minha filha — aviso.

— Faça isso — diz.


— Quanto ao outro assunto...

— Não vou ficar seis meses longe de você e da

nossa pequena. — Como se adivinhasse o que ia dizer,

Mirella me corta antes de eu concluir a fala.

— Amor, você ainda é jovem, tem um futuro te

esperando. Se parar e pensar com a voz da razão por um

segundo, vai entender o que estou dizendo. Não pode abrir


mão de uma oportunidade como essa. Você não quer fazer

isso. No fundo, sei que não quer abrir mão.

— Sabe o que eu acho, Logan? Você está


tentando se livrar de mim — acusa. — Está chateado por

causa da história da Isabella e para me punir tenta me


afastar de você e da Emmy. Se me amasse, iria fazer de

tudo para eu não ir. — As suas acusações são como um

soco no estômago.

— Se acredita em tudo que acaba de dizer é

porque nunca me conheceu de verdade. Talvez seja melhor


que vá e não volte nunca mais.

Irritado, saio do quarto batendo a porta. Mirella

fica chorando de cabeça baixa. Na sala, dou três voltas


indo e vindo. Tudo para não sair quebrando coisas como fiz

anos atrás. Como ela tem coragem de dizer que não a


amo?

Eu tenho vontade de ir confrontá-la. Ou abraçá-

la para que não chore mais, mas fico no mesmo lugar. Não
vou correr atrás da Mirella.

Depois de cinco minutos, ela aparece. Agora

com uma camiseta cobrindo os seios, mas ainda só de


calcinha na parte de baixo.

— Me perdoa por todas as bobagens que falei.

Eu sei que me ama, mas não entendo por que quer que eu
vá, se me dói pensar na ideia de passar tantos meses sem

você.
— Não pense que está sendo fácil. Eu vou
sofrer com essa separação, talvez mais do que você,

porque sou eu quem vou ficar nesta casa com todas as

lembranças de nós. Mas não quero ter esse peso sobre os


meus ombros. Não quero que no futuro se arrependa de

não ter feito o que deveria fazer por minha causa. Nunca te
pediria para não ir, Mirella. Se houvesse outras razões, eu

iria entender a sua recusa, mas não fale que é por mim e

pela Emmy.

— Tenho a faculdade. — Ela tenta arranjar outra

desculpa, mas sabe que pode dar um jeito. A faculdade é o

menor dos seus problemas.

Eu a olho com a sobrancelha arqueada,

esperando pelo momento que será sincera comigo e

consigo mesma.

— Você tem razão. Eu quero e devo ir.

— Sempre tenho — digo com um meio sorriso.


— Menos quando criticou o meu gosto para a

moda.

— Foco, amor — peço. Como já estamos mais

calmos, a puxo para os meus braços.

— Se eu for, presta atenção no SE, Logan...

Ainda não sei se confio no discernimento dos caras — diz.

— Posso pedir para o meu advogado organizar


tudo para vocês — ofereço.

— Vou falar com eles — assevera. — Se eu for,

vou passar os dias e meses com medo de que apareça


alguém na sua vida, que agora que sorri até para as

paredes, você se esqueça de mim. Tenho medo de que a

minha menina se esqueça de mim — diz, mais uma vez

chorosa.

— Você não vai ter nem tempo para ficar

pensando na gente, querida. Entre ensaios, shows e


viagens de ônibus pelas cidades, terá tempo apenas para

dormir — falo, embora espere que não seja dessa forma.

Vou morrer de saudade, mas também não vou

pedir para que fique se preocupando com a gente o tempo

todo.

— Não vai ser assim, Logan, você vai ver —

afirma.

— A gente pode fazer um trato — digo, sabendo

de antemão que posso estar jogando a minha felicidade no


lixo.

Maldito doutor Maldonado. Antes dele eu não


teria essas atitudes.

— Por que sinto que não vou gostar?

— Eu proponho que você se dedique a si


mesma nesses seis meses. Não fique focada na gente,

nem crie paranoias na cabeça. Quando tudo terminar e

você voltar, a gente continua de onde parou.


— Não me peça isso. — Minha namorada se
agita, tenta fugir, mas a abraço mais apertado pela cintura.

— Não confia no nosso amor? Porque eu, sim

confio. Tanto confio que tenho certeza de que você vai

voltar para mim cheia de histórias para contar. Vou estar

aqui te esperando, te amando mais ainda.

— Não me peça para ficar sem ver a pequena.

Quero ver e falar com ela todos os dias, Lolo.

— Quantas vezes quiser — digo, pois também

tenho que pensar na Emmy, que já tem o histórico de


alguém que foi viajar e não voltou mais.

— Você tem certeza, Logan? — questiona.

Não, eu não tenho. Estou morrendo de saudade


e de medo, mas preciso fazer o que é certo, considerando

que a minha namorada jovem e romântica demais, não

está conseguindo compreender tudo o que envolve essa

turnê para o seu futuro profissional.


— Não, mas você tem — digo e a beijo.

A sua tática de sedução não foi em vão, porque

a nossa conversa termina com a gente se amando como se


fosse a primeira e a última vez.
Despedidas

Mirella

Dias depois
— Está tudo pronto — digo para mim mesma
em voz alta depois que termino de fechar o zíper da última

mala. Talvez assim a minha ficha termine de cair.

Amanhã sairei para uma turnê em várias

cidades no Brasil. Embora Logan tenha me feito enxergar a

oportunidade que estou tendo logo no início da minha

carreira, não posso negar que torci para que os dias se

passassem mais devagar.

É claro que foi o contrário, eles voaram e, eu


preferi passar o máximo de tempo possível ao lado dos

meus amores. Depois da decisão tomada, acabei, como o


apoio do Logan, pedindo afastamento do restaurante que

ocupava as minhas noites de segunda a sexta.

A conversa com a Emmy foi mais fácil do que

esperávamos, isso porque ela é mais inteligente que muito

adulto. Logan e eu explicamos que vou passar alguns

meses fora, mas que vou ligar para ela sempre que puder.

A menina quis saber para onde irei, e ficou

empolgada quando disse que vou cantar em vários lugares.

Ela me pediu para mandar um vídeo, porque quer mostrar

para as coleguinhas do colégio que sou cantora e que

também vai ser.

Procuro não pensar que não irei mais entrar no

seu quarto para dar um beijo de boa noite, que depois não
vou voltar para o meu quarto para dormir nos braços do
meu namorado. Pensar nisso faz com que eu queira jogar

tudo para o alto.


Quanto a parte administrativa, Logan acabou
tomando a frente junto com o líder inexperiente da banda.

Agora temos tudo esquematizado. Sabemos para onde e


quando iremos. Quais shows abriremos e, principalmente,

quanto ganharemos em cada um deles. Os meninos


ficaram tão empolgados que convidaram o meu namorado
para ser nosso empresário nesse período.

Ele negou com a justificativa de que não é o seu


ramo, embora eu tenha torcido muito para que dissesse

sim, tudo para prendê-lo um pouco mais a mim. Até parece


com o pensamento de uma vilã de novela, mas não

consigo evitar. Talvez eu seja mesmo uma delas.

Estou tentando agir com a mesma maturidade


do Logan, embora eu sinta na cama, quando estamos

fazendo amor desesperado, que não está tão bem como


quer demonstrar, mas penso todos os dias em tudo que

pode acontecer em seis meses. Das ideias que passam


pela minha cabeça, todas terminam comigo voltando e
sendo atendida por outra mulher.

E apesar de a situação ser tensa, não estou me

reconhecendo. Estou sendo dramática, insegura e chorona.


Às vezes fico mal-humorada com o meu namorado. A
ansiedade é tanta que chego a sentir enjoo. Todas as

vezes que vomitei, Logan quis chamar o médico da família,


então tive que contar que isso acontece quando fico
nervosa.

Ele chorou de rir quando contei que tive que

fugir no dia em que iria perder o meu BV porque estava tão


nervosa que fiquei com ânsia. No dia seguinte, o moleque
já tinha espalhado para a rua inteira que eu saí em fuga
sem beijar na boca. Foi um mês de pura gozação com

minha cara em cada esquina que eu passava, mas fui uma


boa menina e não contei que fugi porque não queria
vomitar na boca do garoto.
Agora mesmo, enquanto penso nos desafios da
estrada, sinto o meu estômago embrulhando. Até o cheiro
da janta que a cozinheira preparou está me deixando

enjoada.

— Que carinha é essa?

— Quer me matar de susto, porra?! —

esbravejo para Logan, que me abraça por trás.

— O que é porra, Mimi? — Os meus olhos se

arregalam quando olho para baixo e vejo Emily. Olho para


Logan, ele está tentando conter o riso. Meu namorado
sempre se diverte quando a filha me coloca em uma saia
justa.

— Meu amor, eu não tinha te visto aqui. O seu

pai já te deu a janta? — Mudo de assunto, torcendo para


que ela deixe a curiosidade de lado.

— Ele me tlouxe para te avisar que nós três


vamos jantar fora hoje, porque amanhã você vai viajar —
fala, eu o olho e ele balança a cabeça em confirmação.

— Então nós podemos tomar banho juntas. O


que acha?

— Genial! — Empolgada, ela dá alguns


pulinhos. Que menininha mais fofa! — A gente pode se

vestir igual?

— É claro que sim, meu amor.

— Gosto da nossa calça amarela.

— Eu e o seu pai também gostamos, não é,


Lolo? — eu o provoco, lembrando de como implicava há
alguns meses. Parece ter sido a há uma vida.

— Sim, as duas vão ficar lindas.

— Mimi, queria tanto que você se casasse com


o papai — ela muda completamente de assunto,

surpreendendo a nós dois. — Agora você vai passar um


tempo longe e não vai ter casamento.
— Meu amor, por que você está tão ansiosa? —
Logan pergunta.

— É porque eu queria que ela fosse a minha


mamãe logo. Os pais da Ruth são casados. Foi ela quem
falou. Disse que Mimi não é minha mãe, mas eu falei que

vai ser quando se casar com o senhor, Lolo. — O seu olhar


inocente para o pai, a forma como disse coisas

importantes, sem saber, me deixa muito emocionada.

Eu amo essa menina de uma forma muito


especial, e nada me deixa mais honrada do que o fato de

confiar em mim para ser a sua mãe.

— Tem certeza de que é isso que você quer,


meu amor? — digo, olho para o Logan, que me dá

autorização sem que palavras sejam necessárias. — Quer

mesmo que eu seja a sua mãe?

— Quelo, Mimi. A Ruth disse que as mães são

boazinhas e bonitas. E você é boa e bonita como uma


princesa. Falou que elas cuidam, e você me coloca para

dormir e conta história todas as noites. Plecisa se casar


com o Lolo para ser minha mãe de verdade.

— Eu não preciso me casar com o seu pai para

ser sua mãe, Emmy. Se você e eu quisermos muito, assim


vai ser — digo.

— Eu quero — ela fala.

— Eu também — digo. Quando lágrimas


grossas e solitárias rolam no meu rosto, a abraço apertado.

Ainda estou aqui, a abraçando e sentindo o seu

cheirinho, mas já estou morrendo de saudades.

— Você está doente? — ela pergunta. — Eu só

choro quando estou doente.

— Estou chorando de alegria, meu amor —


confesso. Logan nos observa sem dizer nada, mas vejo no

seu rosto o quanto está feliz, apesar de tudo.

— Você vai se casar com o meu papai?


— Mas...

— Eu quero, mesmo que já seja a minha mãe.

Lolo sempre sorri perto de você. E eu quero que ele sorria

para sempre.

— Se ele quiser, também quero.

— Quer, Lolo? — Emmy está pressionando o

pai agora. E mesmo que tenha sido perguntado por uma


criança, temo a resposta, porque a minha foi sincera. Tudo

o que mais quero é um dia me casar com o homem que eu

amo.

— Não há nada que eu queira mais do que ser o

marido de Mirella Maris — ele afirma.

Nós dois trocamos olhares intensos e eu sei que


está sendo tão sincero quanto eu fui.

— Eba! — A pequena comemora. — Vou pegar


o meu roupão, Mimi. — Quando a pequena nos deixa a
sós, meu amor me puxa novamente para os seus braços e

me beija com paixão.

— Foi uma promessa que fiz.

— E eu vou cobrar, meu amor — afirmo.

Meu namorado escolheu o restaurante mais

eclético do qual já ouvi falar. Tem de comidas típicas


sofisticadas, além das guloseimas que agradam ao paladar

das crianças. Como é um dia especial e ninguém quer


perder tempo com tristezas, Logan permite que a pequena

coma “besteiras”. Ela fica toda feliz, o meu sorriso e do

ruivo se abre toda vez que ela diz que está treinando como
me chamar de mãe.

De vez em quando chama de Mimi, mas volta

atrás e se corrige. Hoje será um dia que nunca irei


esquecer. Emily me considerar como mais do que uma tia,

passou a ter um significado ainda maior depois que pude


conversar com a sua mãe biológica e atestar a forma como
rejeita a própria filha, que não se importa nem um pouco
com ela.

As horas que passamos na rua, primeiro

jantando depois passeando pela orla, são especialmente


dedicadas à criança, que não para de querer a nossa

atenção. Embora o nosso tempo juntos esteja acabando,

Logan e eu sabemos que depois que a pequena dormir


teremos a nossa despedida em grande estilo.

— Hoje ela estava com a corda toda. Pensei

que não fosse dormir tão cedo — falo para o meu ruivo que

me espera na porta do quarto da filha. Ele queria entrar


para fazê-la dormir, mas Emmy está carente por causa da
minha viagem e preferiu que eu fizesse isso. Tive que

contar duas histórias, mas fiz com prazer, pois vai demorar
um pouco até que consiga fazer novamente.

— Será que finalmente vou poder ter a minha

namorada só para mim? — ele brinca.

— Agora sou toda sua. Pode se empanturrar o

quanto quiser de Mirella — afirmo, deixando que me

abrace e me leve para o nosso quarto.

— Não diga isso, baby, senão não sobra nada


de você para pegar aquele avião que te levará amanhã —

ele diz e começa a, com paciência, abrir botão por botão do


meu vestido florido.

— Você ainda pode me amarrar ao pé da cama

e me impedir de ir — afirmo, também abrindo os botões da


sua camisa.

— Você não quer isso, minha breguinha — fala

com a convicção de uma pessoa que me conhece bem.


— Não quero.

Depois que Logan me fez entender que vai ficar


tudo bem, estou muito mais empolgada com esse enorme

passo de uma carreira que eu mal havia começado.


Quando vim para o Rio, imaginei que levaria anos para

esse momento.

Agora, contando com o apoio da minha mãe,


que não sabe do que aconteceu entre mim e sua filha mais

velha, e do meu amor, entendo que não há nada para


perder, que posso ter a carreira e independência que

sempre busquei, sem abrir mão da minha vida amorosa.


Estou bem, pois sei que estarão me esperando quando eu

voltar.

— Logan, aproveitando que estamos sendo

francos enquanto tiramos as nossas roupas, quero

esclarecer uma coisinha com você.


Eu poderia ficar de boca fechada? Poderia. Mas

sou Mirella e vou ficar devendo um pouquinho de bom

senso.

— Devo ter medo? — indaga, mas parece que


não tem o que temer, considerando a tranquilidade com

que termina de abrir os botões da minha roupa.

Sem paciência, a fim de ir logo para a parte boa,


levo os dedos até a parte de trás da sua nuca. Seguro os

fios ruivos e curtos com firmeza e puxo a sua cabeça para

trás.

— Você entende que vai ficar soltinho por aqui,

mas que é meu, não é? — O safado tem um sorriso

provocativo e uma sobrancelha arqueada. — Desde o


primeiro dia em que pisei os pés nesta casa, você soube

que tenho um parafuso a menos, ruivo. Eu sou doida,

tenha isso na sua cabeça. Se souber que esse pau —

seguro seu membro, e não é para acariciar, e o sorriso


morre no seu rosto — esteve dentro de outra boceta, acabo

com você e com a outra.

— Está muito agressiva, Mimi. O que está

acontecendo com você?

Sinceramente, eu também não sei. Deve ser um

caso de insanidade temporária, misturado com

possessividade, tudo porque tenho um namorado que faz

calcinhas voarem.

— Eu espero, Logan Ramirez de Castro, que


não esteja levando a sério a conversa de viver a minha

vida lá e não ficar pensando em você o tempo todo. Vou te

dizer exatamente como vai ser.

— Sou todo ouvido — fala, agora com

seriedade, tanto que esquece de tirar minhas peças

íntimas.

— Vou sair daqui comprometida com você,

sendo Mirella Maris, a mesma que canta e é mulher de


Logan Ramirez. Vou deixar que todos saibam, assim como
espero que você faça aqui. Vou te ligar quando eu quiser,

quando a saudade apertar, e até mesmo quando quiser

apenas ouvir o som de sua voz. Você vai me atender, falar

comigo e dizer que me ama, porque é dessa forma que as

pessoas que se amam agem.

— Farei tudo o que você disser, seu plano


parece muito melhor que o meu, minha maluquinha.

— Foi nesta casa, ao seu lado e da nossa

menina que encontrei o meu lugar no mundo, onde me


encaixei como não aconteceu na cidade que vivi durante

toda a minha vida. Ser uma artista de sucesso é o sonho

de toda uma vida, mas ele deixou de ser único depois que

nós nos reencontramos. Estou feliz de poder ter os dois,

mas não duvide nem por um instante de qual seria minha


resposta se precisasse escolher entre um sonho antigo e a

minha família — declaro, o meu aperto nos fios da sua

cabeça se tornam menos firmes.


O meu respiro é de alívio, é como cuspir algo

que estava engasgado.

— Eu sei, meu amor, por isso insisti tanto para


que considerasse. Apesar do meu pedido bobo para que

não se preocupasse com nada relacionado a mim, eu o fiz

única e exclusivamente por medo de te privar de viver. Mas

quero que me ligue, que mande mensagens e não me tire

da cabeça, porque estarei aqui, sempre pensando em

você.

— Eu te amo, Logan. Amei desde essa cicatriz

— afirmo enquanto passo o dedo na cicatriz, quase


invisível, que a minha unha deixou em um lado do seu

rosto cinco anos atrás.

— Você é o meu ar, Mirella Maris — ouço e

nada mais precisa ser dito, não quando os nossos corpos

externam os sentimentos que não podem ser

dimensionados em palavras.
Apesar da distância que existirá entre nós a

partir de amanhã, ela será apenas física, porque as nossas

almas e corações nunca estiveram tão ligados.


Saudade

Logan
Embora o despertar do seu lado esteja sendo

como o de todos os outros dias em que tenho a mesma

sorte, eu sei que não é igual porque será o último em muito

tempo. Não sei como será para dormir sem o seu cheiro e

calor. Eu já estava até me esquecendo como é tentar e não


conseguir dormir de verdade.

A minha namorada está deitada de barriga para

cima, com as suas mãos estendidas ao lado do corpo. Uma

posição engraçada, porque até durante o sono Mirella dá

um jeito de aprontar uma das suas. No seu rosto tem um

meio sorriso, provavelmente tendo um sonho bom,

enquanto eu estou a ponto de chorar por causa da sua

partida.
Se eu soubesse que fazer as coisas certas era

tão difícil, não teria ouvido o doutor Maldonado durante

anos. Não teria aprendido o suficiente sobre como é

importante que eu controle a raiva e a ansiedade. Não teria

ouvido sobre como devo agir da maneira que gostaria que

agissem comigo. Há muito tempo o homem deixou de ser

apenas o meu terapeuta. Os conselhos que ele me dá,

nem todas as vezes dentro do consultório, são de um

amigo.

Mesmo estando ao lado da garota mais linda do

mundo, estou pensando no homem, tudo porque foi graças


ao que venho aprendendo ao longo dos anos, que

incentivei a minha mulher a viajar o Brasil todo com um


monte de caras solteiros e cheios de tesão. Se fosse o

Logan que Isabella destruiu, jamais teria permitido algo


assim, mas confio na mulher que amo, assim como sei que

ela confia em mim.


Felizmente, ela tem seu lado possessivo e
ciumento, por isso me fez uma série de ameaças, que

soaram como músicas para os meus ouvidos. Toda a


bobagem que falei sobre ela não ficar pensando em mim,

foi apenas para dizer a mim mesmo, que suportaria


quaisquer que fossem as suas decisões.

Ontem, quando a minha filha nos surpreendeu

com o pedido para que a minha namorada fosse a sua


mãe, senti coisas que nunca havia sentido antes. Foi como

se tudo que passei tivesse sido apenas o caminho, sofrido,


mas necessário, para chegar até aquele momento.

Pensei que nunca fosse confiar em outra

mulher, o suficiente, para ficar tão perto da minha pequena,


mas Mirella chegou para ocupar todos os espaços vazios

e, não quero mais uma vida sem a sua presença.

— Está na hora de acordar, Bela Adormecida.

Você não quer perder o voo, não é? — falo e a sacudo de


leve. Minha namorada resmunga, se mexe, mas não abre
os olhos.

— Quero sim — diz com a voz arrastada.

— Se não abrir agora esses olhos de coruja,


vou te jogar debaixo do chuveiro, amor — ameaço, mas
estou me aconchegando atrás do seu corpo quente e

cheiroso. O problema é que sou viciado nela e meu pau


desperta só de estar em contato com a sua bunda.

— Você já teve maneiras mais eficazes de me

acordar — provoca, já desperta, porque se tem algo que


mantém a garota ligada é o seu lado que gosta de sexo.

A gente deveria estar saciado depois de termos


ido dormir tão tarde. Estávamos desesperados demais com

a despedida iminente e queríamos aproveitar o tempo que


tínhamos nos amando. Pelo visto, somos insaciáveis.

— Se é isso que você quer... — digo, seguro um

de seus seios e começo a brincar com o mamilo, que fica


durinho entre os meus dedos.

— Eu vou ficar na seca por seis meses, que


pecado — ela brinca. Sinto vontade de dizer que talvez eu
possa ir vê-la em algum momento, mas não faço
promessas que não tenho certeza se poderei cumprir.

— Por isso todo o sexo de ontem — enquanto

falo, desço a mão pela sua barriga lisa até alcançar sua
boceta, que já começa a umedecer. — As lembranças das
minhas mãos por todo o seu corpo, meu pau na sua boceta
e no seu cuzinho não te deixarão esquecer a quem

pertence. Terá em mente quem é o único homem que tem


permissão para te tocar.

— Hum... que gostoso... — Completamente

desperta, minha gata afasta a perna dando-me mais


acesso ao seu sexo. — Quero o seu pau — pede, eu
coloco a sua perna no meu quadril e meto lentamente para
que se acostume com a invasão, mais também para

provocá-la, para que grave na memória e, no corpo estes


minutos e todos os outros em que estive profundamente
metido no seu sexo.

Seja trepando como dois loucos, seja fazendo


amor, o que o Mirella e eu fazemos na cama rouba a minha
capacidade de respirar de tão intenso que somos.

— Mais rápido, porra! — Mirella crava as unhas


no meu braço, força a bunda para trás e eu, ao segurar
seus cabelos nos meus punhos, meto se dó, fazendo com
que o seu corpo balance de um lado para o outro.

Ela chama pelo meu nome como se fizesse uma


prece. A voz que está gravada na minha mente, assim
como as memórias do nosso amor no meu corpo.

— Porra de boceta gostosa! Eu vou morrer de


saudades — assevero, e continuo a penetrá-la sem perder
o ritmo na corrida em busca do prazer. — Não vou parar de
pensar nisso.
— Eu também não, amor. Por favor... Eu preciso
gozar, mas não quero que acabe. — Ouço um fungar,

levanto o seu rosto para mim e, sim, ela está chorando. —


Você não está me machucando — afirma, antes que eu
pergunte. — Mas vai fazer se parar. — Então ela se mexe,
entendo o que ela pretende fazer e a solto.

Sem quebrar a nossa conexão física, a minha

mulher me joga deitado de costas, monta em mim e passa

ela mesma a ditar o ritmo da nossa foda. Eu fico com a


bela visão dos seus seios balançando e, com o meu

esforço para não encher a sua boceta de porra e, acabar

antes da hora.

— Você é gostoso, Logan. É só meu... — Se

esforça para falar, porque não consegue nem respirar


direito de tão vigorosas que estão as suas sentadas. — Te

amo.

— Goze para mim, baby, molhe o meu pau... —


peço, então me sento, seguro a sua cintura, com firmeza e,
soco até nós dois não suportarmos o prazer. Gozamos no

mesmo momento, atracados, suados e saciados.

Quando as nossas respirações normalizam, nos


beijamos por algum tempo. Só paramos quando a

realidade bate à nossa porta, então nos levantamos para o


começo da despedida.

— Eu imagino que os seus pensamentos devem

ser muito bons para te deixar com essa cara de bobo. —


Sou acordado do meu devaneio por uma bola de papel

batendo no meu rosto.

— Quer me matar de susto, idiota! — reclamo


ao jogar de volta a bola de papel no Noah. Sempre que

pode, ele vem até a minha sala encher o meu saco. — Os


meus pensamentos não te dizem respeito!

— Nossa, que grosseria. Assim você magoa os

meus sentimentos — brinca, mas estou frustrado demais


para sorrir das suas bobagens. — Só vim avisar que acabei
de passar pela recepção e vi a sua secretária de papo com
a recepcionista.

— Se o serviço dela estiver em dia, não vejo

problema algum em ela querer conversar com a colega —


falo. De maneira teatral, Noah cobre a boca com as duas

mãos.

— Quem é você e o que fez com o homem que


era o terror da secretária? — indaga. — Já sei! Você entrou

para o clube dos homens que vivem presos a uma coleira


e, mudou da água para o vinho!

— Eu realmente não tenho paciência para você,

cara. Se não tem nada relacionado ao trabalho para falar,


caia fora da minha sala — peço, olho para o meu

computador e me dou conta que a última vez que

modifiquei o documento que trabalhava foi há 1h.

Usei cada minuto pensando na minha

namorada, que já está há três semanas fora de casa.


Lembrei de cada detalhe, tanto as falas quanto os

pensamentos da última manhã que acordamos juntos.


Felizmente, Noah chegou antes da parte da despedida com

um beijo no aeroporto. No momento em que quase fui

egoísta e pedi para que não fosse.

Não é como se ela estivesse indo para o outro

lado do mundo passar três anos, mas o medo me fez sentir

como se fosse uma despedida definitiva, como se nunca


mais fosse voltar a vê-la.

— Por que não vem tomar um chopp comigo e

com os caras? — Os “caras”, é o resto da equipe de


criativos da agência. — Você precisa relaxar e esquecer

um pouco da garota.

— Você não sabe de nada — afirmo. E não


sabe mesmo. Estou com saudade, mas também estou

preocupado. Têm alguns dias que a garota vem


reclamando. Está com a saúde frágil, mas é cabeça-dura

demais para consultar um médico.


Sempre diz que é porque o seu corpo está
cobrando a conta por estar indo de um canto a outro, da

rotina de shows e ensaios, mas não estou muito

convencido de que seja só isso.

— Falando sério agora, Logan. Ela está bem.

Você sabe disso, tanto que ontem me mostrou um vídeo

dela cantando no Sul. A sua mulher está trilhando o


caminho para o sucesso, meu caro. Apenas relaxe e a

espere de braços abertos.

— Você tem razão. Eu preciso relaxar — digo e

fecho o notebook. — O convite para beber ainda está de

pé?

Quando nos falamos mais cedo, combinamos

que ela ligaria à noite para falar com a pequena e comigo.

Com certeza me dirá que está tudo bem. Terá apenas


histórias boas para me contar, assim como aconteceu nos

primeiros dias.
— Logan, a sua gata é mesmo muito boa! —
Dan elogia, eu tiro a minha atenção da TV, que está ligada

no canal de videoclipes e passa o show da The Crown.

Que nome mais idiota. Mirella disse que o gênio


que a escolheu é fã de uma série sobre a realeza, que tem

o mesmo nome.

Ela está linda com as suas roupas muito


coloridas de sempre, apesar de os rapazes serem os

típicos roqueiros, com couro preto e coturnos. Seus


cabelos longos e negros estão enfeitados pelas mechas

que nunca dispensa. Nos seus olhos há um brilho

diferente, mas não sei definir exatamente do que se trata.


— Eu espero que esteja se referindo a voz dela,
Dan. Se gosta tanto de trabalhar na agência, sabe qual a

melhor resposta.

— Do que mais poderia ser? É claro que era


sobre a voz. E que bom que você não sente muito ciúme

da sua gata, Logan, porque é óbvio que ela está destinada

ao sucesso — ele fala e levanta o copo oferecendo um


brinde.

— Será que dá para as comadres calarem as


bocas? Olha lá, Logan, a sua brega vai falar. — Noah

gesticula para a TV.

— Brega é teu rabo — rebato. Mirella não é

brega, é peculiar e eu amo que seja assim.

— Não fique nervosinho, sabe que eu a adoro.

— Não adore — digo, depois volto a minha

atenção para a tela.


Todos no bar prestam atenção, porque a minha

namorada tem esse dom. Ela é fascinante e o seu nome,

merecidamente, começa a circular pelo Brasil. Apenas o

início de um caminho longo para o sucesso.

“Primeiramente, gostaria de dizer que estou

muito feliz por estar aqui nesta noite, abrindo o show da

Flor do Cerrado. Espero que curtam o nosso som, fazemos

com todo carinho para vocês”

Ela diz ao microfone. Começa a introdução da

música com os instrumentos, palmas e assobios. Presto

atenção no seu rosto olhando diretamente para a câmera e

essa começa a descer lentamente. Primeiro foca nos seus


seios — prefiro não olhar para o lado para não ver os caras

babando para as duas belezas. Posso jurar que eles

parecem maiores.

Ao focar rapidamente no seu abdômen, eu

perco as batidas do coração quando vejo a sua mão


esquerda sobre o ventre plano. Não sei se Mirella tem

ciência desse fato, mas ela está grávida.

Porra! É isso, vou ser pai pela segunda vez.

— Eu vou ser pai — digo para eles, que se

viram em minha direção. Olham para mim como se eu

estivesse delirando, mas sei que não estou.

Vou ter um filho com a mulher da minha vida.


O pedido

Mirella

Horas antes
— Você desmaiou, Mirella. Tem ideia disso? —
Enquanto ando pelo quarto de hotel onde estamos

hospedados no momento, tenho três babacas a minha

volta como mosquitos, daqueles que fazem barulhos

chatos no ouvido.

— Eu só estou cansada — digo, mas a desculpa

não está colando.

Já vinha me sentindo diferente antes mesmo de

a viagem começar, mas preferi acreditar que era apenas


estresse pelas grandes mudanças que viriam. Agora está

pior, mas ainda mantenho o pensamento. Eles não têm


motivos para ficarem tão alarmados. Sou apenas uma

garota que já esteve em oito cidades diferentes em três

semanas.

— E se ligarem para o meu namorado vou ficar

puta com vocês — aviso. — Logan já está de olho em mim.

Ficaria preocupado sem motivos, já tem uma filha e uma

empresa para dar atenção.

— Ele pediu para avisar — Júlio diz.

— Mas vocês não vão. Vamos fazer o seguinte:

eu prometo que vou procurar um médico, mas não vai ser

hoje. Sabem o quanto o show é importante e, não quero


que nada atrapalhe esse momento. — Quantas pessoas

têm a chance de fazer a apresentação da banda que


sempre foi fã?

— Tudo bem, garota chata! Mas não pense que

vai fugir — o mais chato, que tem local de fala, diz. —


Vamos, ela precisa descansar para mais tarde. Antes de
passarem pela porta, ouço a ofensa. — Vê se dorme um
pouco, está verde e feia pra caralho!

— Obrigada — agradeço com um sorriso e, os

dois dedos do meio erguidos.

Assim que saem, me levanto, tranco a porta e

volto a me jogar de costas na cama. Não fiz nada hoje,


mas estou me sentindo cansada, antes mesmo de ter que

subir no palco.

Não quero falar nada para os meninos e nem


para o meu ruivo, mas estou achando que estou doente,

porque não é possível toda essa fadiga. Agora tive um


desmaio. Por mais que estivesse dizendo a mim mesma e

ao Logan que não é nada, sinto que tem algo diferente com
o meu corpo.

A viagem não está sendo como eu pensei que


seria. Pelo menos, não totalmente. Tem a parte boa, como

subir nos palcos e ser aplaudida por milhares de pessoas.


Ouvir falar de mim de maneira positiva. Sei da importância
de conhecer nomes importantes do meio musical e estou

feliz pela chance. Mas também tem o outro, que em dias

como o de hoje me faz desejar, mais do que tudo, estar em


casa.

Acordei mal e com o coração apertado. Liguei

tão cedo para o meu namorado que acabei o acordando


antes do despertador. Reclamei com ele sobre o mal-estar
dos últimos dias, o que foi uma burrice, porque agora o
ruivo deve estar preocupado. Falei ao telefone com

civilidade, mas a minha vontade era de chorar e pedir para


que viesse me buscar.

Quero ver a minha ruivinha. Deitar-me na minha


cama e dormir por um mês completo. A verdade é que a

minha reação às primeiras semanas de viagem estão me


causando vergonha, porque mesmo sabendo que não seria
fácil, não pensei que ficaria tão sensível às mudanças. E
ainda faltam cinco meses e sete dias para acabar.
Será que foi assim para as divas de sucesso,
até chegarem aonde estão hoje? Se foi, já estou ansiosa
pelos dias de glória.

No meio de tantos devaneios, acabo pegando


no sono. Como se fosse o que eu estava precisando,

acordo revigorada e quase atrasada. Como não somos as


estrelas principais, tenho a liberdade — dada pelos
babacas — de fazer a minha própria produção.

Quando subo no palco, cumprimento o público e


a energia boa que sinto é tão intensa, que me arrepio da

cabeça aos pés. Instintivamente, levo a mão ao meu


ventre. Depois disso começo a pensar no ruivo. Olho para
a multidão, o buscando em cada rosto, mesmo sabendo
que é impossível que esteja aqui.

Ao descer do palco, faço com o sentimento de


dever cumprido. É assim a cada show que fazemos.
Os meninos me chamaram para esticar a noite,
em um bar com bebidas para relaxar, mas acabei

recusando. Volto para o hotel, tomo um banho rápido e


acabo pegando no sono antes de fazer a ligação, que tinha
combinado com o Logan. Durmo profundamente, como se
não tivesse passado a tarde toda desmaiada.

Ao acordar no dia seguinte, a primeira coisa que


faço é pegar o celular, mas, estranhamente, não tem
nenhuma ligação do Logan. Será que ele não percebeu

que eu não liguei ontem à noite?

Penso em ligar, mas prefiro fazer a minha


higiene matinal e trocar de roupa antes. Nunca se sabe
quando os meninos, que se tornaram meus amigos de
verdade, vão bater à porta para verem como estou.

Prefiro ignorar o fato de ser quase 11h da


manhã
O meu dia passa arrastado, solitário e
desesperado. Já liguei umas trinta vezes para casa e

nenhuma ligação foi atendida. O telefone do meu


namorado está desligado, o que é muito estranho. Louco
por controle do jeito que é, Logan nunca deixa o celular
desligado.

Até mesmo a minha mãe demora para me

atender. Quando consigo falar com ela, sinto o meu

coração aquecer com o orgulho em sua voz.

Ela sempre se preocupou com o meu futuro,

porque durante muito tempo mantive uma inconstância nos

meus planos. Comecei três faculdades como segunda


opção, mas não seguia em frente, assim como não desistia

de conseguir uma vaga no curso de música na federal de


uma capital. Dona Carla me diz que agora entende que eu

estava certa em persistir com o que queria de verdade.

Fico feliz por fazê-la feliz com o meu sucesso,


na vida profissional.
Quando o nome da minha irmã surge na

conversa, dona Carla até tenta, mas não consegue


esconder a raiva que a filha sente de mim. O que me alivia

é perceber que a senhora não tem mais se deixado

envenenar, por seja o que for que a Isabella diga a meu


respeito.

Mesmo com tudo o que aconteceu, eu não

odeio a minha irmã. Pelo contrário, desejo que seja feliz e


encontre o que tanto busca, porque ficou claro para mim,

que ela é uma pessoa que não aprendeu a dar valor ao


que realmente importa.

**

— Porra, Logan! Por que você não me atende?


— falo para a tela do celular. Se eu não soubesse que

custa o olho da cara e do cu, já teria jogado o aparelho na

parede.
Também ligo para a minha sogra e sogro, mas
eles não sabem onde o filho está. Eles estão tranquilos

demais, e isso é muito suspeito.

Será que o safado... Não! Logan não faria isso


comigo. Deve ter acontecido alguma coisa na agência, que

o impediu de pegar no aparelho.

Dois dias depois


— Vai lá e detona, gata! — Ouço o incentivo do
Adam, mas estou tão sem prumo que tenho medo de errar

a letra da música.

— Desejo o mesmo a vocês — retruco ao pegar


o microfone da mão do Leco e ajustar o violão. Hoje o

show é acústico, para um público mais privado.

Estamos à beira-mar e o sol está indo embora.


A imagem é poética de tão perfeita, mas não combina em

nada com o meu estado de espírito. Eu sei que o meu


namorado está vivo porque me mandou umas duas

mensagens nos últimos três dias, mas foi tão seco que
nem parecia ser dele.

Seco e impessoal.

Filho da puta!

Não teve nem ao menos a consideração de me


deixar ver a minha criança. Só a vi por que, por alguma

razão, ela está na casa da avó no meio da semana e, a


senhora Ramirez fez chamada de vídeo.

— Olá, pessoal... — Começo, mas tenho o

microfone arrancado das minhas mãos por Leco. Eu olho


sem entender nada, o doido dá uma piscada para mim.

— Eu sei que vocês querem música, mas tem

algo muito especial para acontecer antes, e espero que


vocês não fiquem muito enjoados com tanto açúcar. —

Adam não está falando coisa com coisa. Será que anda

abusando de substâncias ilícitas?


Estou tão perdida que fico com vontade de cair
na gargalhada, mas estou nervosa quando olho para o

telão e me assusto com a minha careta.

— Ei, tira essa mão daí! — Estapeio o braço do


Leco, que vem por trás e tira o violão de mim. — Vocês

estão malucos? — falo alto demais, olho para a plateia e

todo mundo está me observando. — Perdoem-me pessoal.

O que aconteceu com o mundo?

— Apenas coopere, sua maluca! Não estrague

as coisas — Júlio resmunga atrás de mim no palco, que no


momento é pequeno demais para nós quatro.

— Temos um convidado inesperado, mas


especial para essa garota. Ela é maluca, mas merece toda

a felicidade do mundo — o líder da banda fala, então

aponta para a lateral direita do palco.

De cara vejo uma cabeleira ruiva, olhos azuis e

braços fortes. Só existe uma pessoa que tem essas


características e, que consegue fazer o meu corpo reagir.

Logan! O meu Lolo está aqui, sorrindo para

mim. Sem pensar na quantidade de pessoas me olhando,


corro pelo palco e me jogo nos seus braços. O abraço pelo

pescoço, envolvo as pernas na sua cintura sem pretensão


de soltá-lo algum dia.

— Deus! Que saudade que eu estava de você

— digo com um misto de felicidade, e emoção. — Não


acredito que veio.

— Eu tinha que vir, meu amor — ele diz e beija

o meu rosto, pescoço e por fim a boca. À nossa volta, as


pessoas estão batendo palmas. Fico constrangida, como

poucas vezes fiquei na vida

Quando desço do seu corpo, Logan pega a


minha mão e me carrega para o centro da estrutura.

— O que você está fazendo? — indago, mas

não solto a sua mão por nada. — Logan Ramirez de


Castro...

— Olá, pessoal. Atrapalhei o show de vocês,


mas tenho algo urgente para falar com essa moça linda e

talentosa aqui. Não sei se vocês sabem, mas ela é a


mulher da minha vida, a mãe da minha filha e de todos os

outros que quiser ter. — Sim, eu estou a ponto de desmaiar

bem aqui, na frente de toda essa gente.

— Nós temos as nossas vidas separadas,

temos as nossas vidas juntas e temos até a nossa casa.


Mas eu acredito que chegou o momento de poder te

chamar de minha esposa, Mirella Maris. Eu quero que o


mundo inteiro te reconheça dessa forma. — Com os olhos

quase saltando, me tremendo de emoção da cabeça aos

pés, vejo meu ruivo jogando um dos joelhos no chão. Ele

pega a minha mão, a beija e depois me olha com amor. —

Meu amor, você aceita se casar comigo.

Quando ele termina de falar, é como se o

mundo tivesse parado de girar. Não vejo ninguém além


dele, não sinto nada que não sejam as batidas frenéticas

no meu coração. Não ouço nada se não a minha voz dando

a única resposta possível.

— Sim, nada me faria mais feliz do que ser a


sua mulher. — Como me tornei uma manteiga derretida,

estou chorando. — Demorou para pedir — aviso e ouça as

pessoas em volta rindo de mim.

— Você poderia ter pedido se estava com tanta

vontade, não é pessoal? — As risadas se tornam mais

altas, mas esqueço delas quando o meu ruivo coloca um

anel de diamante no meu dedo. Quando me beija, esqueço

que tenho que continuar cantando.

Na verdade, quero mesmo é tirar sua roupa e


beijá-lo todinho para mostrar o quanto estou feliz, por ter

feito uma surpresa tão linda para mim.


Presente inesperado

Logan
Estamos nos pegando tão forte que quase não

damos conta de chegar ao quarto. Antes de entrarmos de

fato, ficamos namorando na porta ao som das provocações

de Júlio, Leco e Adam, que não têm nada mais importante

para fazerem. Quando finalmente conseguimos entrar,


passo a chave na porta, tudo para não corrermos o risco de

sermos interrompidos.

Foram dois dias organizando tudo para vir até

aqui, me segurando para não atender às suas ligações,

pois tinha certeza de que acabaria estragando a surpresa,

se falasse ao telefone com ela. Sabia que estaria querendo

me matar, mas que teria essa recompensa quando tudo

acabasse.
— Você tem certeza de que quer mesmo se

casar comigo? — indaga quando o beijo passa para o

pescoço. Eu nunca vou me cansar de beijar essa mulher.

— Não que eu esteja reclamando nem nada, mas, comigo?

— Com quem mais seria se não com a mulher

que parece ter sido feita sob medida para mim? Você me

completa, Mimi — declaro. — Não está cansada? —

pergunto, noto que estranha a mudança brusca de assunto.

— Vem, vamos nos sentar.

Eu a levo para a cadeira, sento-me primeiro e a

coloco em cima das minhas pernas. Distraída do jeito que


é, a garota claramente não faz ideia do que está

acontecendo. Pergunto-me o que ela vai achar disso.

— Estou muito feliz que tinha um motivo para


não me ligar, para não atender às minhas ligações e, ter

me alimentado com mensagens impessoais durante três


dias. Pensei que estava tentando passar a mensagem de

que não queria mais ficar comigo — diz.


— Essa possibilidade não existe — afirmo, mas
as minhas mãos parecem ter um imã para a sua barriga.

Há três dias não deixo de pensar na minha

suspeita, que passou a ser uma certeza, mesmo ela


estando tão longe. Todas as suas reações nos últimos dias

apontam para uma gestação e eu vou ficar muito surpreso,


e até mesmo decepcionado se ela não se confirmar. Indo

ao encontro do meu eu de antes, quero que esse filho ou


filha seja real. Não passa pela minha cabeça a hipótese de

ela não querer um bebê.

— Onde está a minha ruivinha? — questiona.

— A deixei com o meu pai. Até pensei na

possibilidade de trazê-la, mas cheguei à conclusão que


seria melhor não a cansar, com uma viagem que seria

rápida.

— Será? — Quando ela demonstra a decepção

estampada no rosto, sinto vontade de dizer que não é


verdade, que vou ficar do seu lado durante os cinco meses
que ainda faltam para essa bendita turnê acabar.

Será que vai ser assim por muito tempo, ou toda

essa intensidade é porque estamos no início do nosso


relacionamento? Talvez não seja assim para a maioria dos
casais, se trata de mim, que estava há muito tempo em

busca da felicidade que encontrei ao seu lado.

Agora eu ajo como um homem sedento, que


nunca vai pensar que já teve o suficiente.

— Amor, a agência está passando por uma


ótima fase, significa que não posso me ausentar por muito
tempo. Mas estou feliz por ter vindo te ver, te dizer que não
só não te esqueci, como quero passar todos os anos da

minha vida ao seu lado.

— Mesmo que os seus amigos ricos me achem


brega? — brinca, porque se tem algo que a minha garota
não faz é se preocupar com opiniões.
— Eu não acho, e que se foda o que eles
pensam. Se quiser que o seu vestido de noiva seja
amarelo, será o vestido de noiva amarelo mais bonito que o

país já viu.

— É uma ótima ideia, amor! Você sabe que

amarelo é a minha cor preferida.

— Eu sei, sim, minha Mirella da calça amarela


— provoco, ela sorri, mas posso apostar que está
considerando o vestido. — Agora me fala, como está se
sentindo?

— Não queria te preocupar à toa... — ela


titubeia.

— Mimi, fala de uma vez. Eu estava preocupado

com você.

— Não estou muito bem. No início foi só uma

indisposição, um sono sem fim. Mas há alguns dias


comecei a ter tontura e acabei desmaiando. E não me olhe
com essa cara, eu ia dizer... Não, na verdade não ia, não
queria te preocupar, antes de procurar um médico.

— Porra, menina! Como assim não queria me


preocupar? Eu tenho que me preocupar, sou o seu noivo!
— reclamo. — Pedi para aqueles idiotas ficarem de olho

em você.

— Fora o fato de que não preciso de três babás,


eles tentaram, mas os proibi de te falar do desmaio — diz,
mas ao menos se dá ao trabalho de parecer culpada.

— Foi ao médico? Pela minha saúde mental,


diga que sim, baby.

Mas é claro que não foi, se tivesse ido saberia

os motivos para não estar se sentindo bem.

— Se ouvir que fui faz com que se sinta melhor,


digo que fui. Mas a versão real é que acabei enrolando os

caras e não fui. Estava chateada e preocupada demais,


com seu afastamento para pensar em ir ao médico.
— E me diz que negligenciou a sua saúde com
essa cara de pau?

— É a única que eu tenho. — Mirella dá de


ombros.

— Não sei o que faço com você, menina. Talvez

eu te coloque nas minhas pernas e bata nessa sua bunda.

— Promessas... — Quando retruca, levanto-me


com ela nos meus braços e a jogo deitada de costas na

cama. Mirella enfia a cara no travesseiro para que eu não


possa ver que está sorrindo.

Eu fico parado na frente da cama com os braços

cruzados, apenas esperando que o surto passe. Ela está


feliz, assim como eu também estou, mas só estarei 100%

depois que falar sobre as minhas suspeitas. Será que

estaria rindo dessa forma se soubesse que, provavelmente,


vai ser mãe?
— Amor, sente-se. Para de surtar que eu tenho

que falar com você. — Começo, inseguro como poucas


vezes estive.

— Não gosto quando faz essa cara, Lolo —

comenta, mas faz o que peço. Eu continuo em pé, pois


estou ansioso demais para ficar parado.

— Você sabe de onde vêm os bebês?

— Claro que sim, a minha mãe me disse uma


vez que a cegonha os traz em uma trouxinha de pano,

segurando pelo bico — brinca.

— Mas será que o método não mudou nos


últimos anos? Você sabe como é, né? Aquela coisa de

avanços tecnológicos etc. — falo. Era para ser uma


conversa séria, mas com a gente, é difícil de acontecer. Até

mesmo os assuntos sérios são abordados dessa forma...

peculiar.
— Já imaginou se eles começam a vir da
barriga de uma mulher? Um baita avanço — comenta.

— A possibilidade de acontecer será ainda

maior nos casos de casais viciados em sexo como a gente.


A melhor forma de começar a desconfiar de uma gravidez

será o atraso da menstruação.

— Sim! Igual a minha, que esse mês ainda


não... — Quando a sua ficha cai sobre o motivo de eu ter

iniciado o assunto, ela para de falar no mesmo instante.


Fica em silêncio me olhando, está tão petrificada que nem

parece estar respirando.

— Meu Deus! Como foi que não pensei nisso


antes? A tontura, os enjoos que começaram antes de eu

vir. O fato de eu estar chorando por tudo... Lolo, você acha

que estou...

— Acredito que você está grávida, meu amor.

Não se esqueça de que eu já convivi com uma mulher


grávida e sei mais ou menos como vocês ficam no início de

gestação — assevero, mas ela ainda parece chocada.

Estou tenso pela reação que possa vir a ter,


mas até o momento demonstrou apenas surpresa.

— Eu... você pode me dar um tempo? — Com a


mão na boca, ela sai correndo para o banheiro. —

Provavelmente foi vomitar. Quero ir atrás dela, mas me

seguro, porque ela precisará do seu momento para digerir


a possibilidade, quase certa, de estar esperando um

herdeiro Ramirez de Castro.

Quando ela volta, o faz com os olhos apagados,


os lábios trêmulos na tentativa de conter o choro. E aí está

a reação que eu temia. É claro que seria assim para uma

garota de vinte e três anos com a vida apenas começando.


Apesar da decepção, posso entendê-la.

— Eu sinto muito por ter feito isso com você —


digo quando ela para na minha frente.
— Não. Eu que sinto... Logan, não fiz de
propósito para te pressionar de alguma forma. A gente

estava protegido, não sei o que aconteceu. Só... Eu só não

quero que mude o que existe entre a gente.

— Do que é que você está falando, Mimi? Eu

não estou pensando que você fez de propósito. Isso nem

passou pela minha cabeça.

— Não? — pergunta, surpresa. No mesmo

instante engole o choro.

Ela é uma figura.

— Amor, eu é quem estou morrendo de medo.

Sou um homem maduro de trinta e dois anos, já fui casado


e tenho uma filha. A minha bagagem é grande, enquanto

você é jovem e está começando a sua vida agora. Por que

iria querer interromper os seus planos para cuidar de um


filho? — a questiono. A próxima frase traz um gosto
amargo para a minha boca, mas tenho que dizê-las. — Eu

vou entender ser...

— Não termine, Logan — ela pede, segura a


minha mão e me leva para a cama. Eu me sento, ela vem

para cima de mim com uma perna em cada lado da minha


cintura. — Não existe isso de uma vida começando. A

minha vida é você e a nossa família. Sim, eu tenho planos

para o futuro. Sonhos que pretendo realizar


profissionalmente, mas nenhum deles vêm antes de nós.

— Não vem? — Tenho que confirmar, porque é

bom demais para ser real. Na verdade, a sua maturidade,


nos momentos necessários, nunca deixa de me

impressionar.

— Não. Eu estou muito feliz agora. Espero que


você não esteja me iludindo à toa, porque nada me deixa

mais empolgada e feliz do que pensar que vamos ter outro


ruivinho. Já pensou como a Emmy vai ficar feliz quando

souber?
— Ela vai amar a novidade. Mas antes nós
temos que fazer os testes e exames, baby — aviso.

— Logan, se esse bebê não estiver na minha

barriga — aponta para o ventre —, você vai ter que se virar


para colocá-lo aqui dentro hoje mesmo. — Dou uma

gargalhada, ela continua: — Estou falando sério.

— Será um imenso prazer, amor. Inclusive,


estou ansioso por isso. E se ele já estiver aí, como tenho

certeza de que está, ainda assim vou estar dentro de você


durante muito tempo para comemorarmos. Podemos

começar agora?

— Não! — Ela bate na minha mão, que já

estava levantando a sua roupa.

— Estou com saudade e cansado de ver seus


peitos e boceta e não poder tocar. — Para driblar a

distância, a minha namorada e eu temos dado o nosso jeito

para não passarmos vontade.


— Primeiro a gente vai fazer o teste de gravidez

e ir a um médico. Depois vem a comemoração.

Mirella
— Uau! — Suada e sem fôlego, saio de cima

dele e caio na cama.

— Amor, acha que fui bruto demais? — indaga,

preocupado.

— Lolo, você não começa com a suas loucuras.

Eu estou grávida, não inválida. O médico disse que desde

que eu tenha cuidado, a vida sexual pode continuar como

antes. O fato de não podermos ser tão duros não significa


que temos que transar igual duas tartarugas. Não pira.

— Tudo bem — ele diz e me puxa para si.

Abraçando-me com uma mão no meu ventre.

Mais cedo nós dois fomos direto ao laboratório e

ficamos na rua até pegarmos o resultado. Como era de se


esperar, deu positivo e tanto eu quanto ele pudemos

comemorar com propriedade.

Não sei se foram as mudanças e correria das

últimas semanas ou se sou uma pessoa muito desligada,

para não só não ter percebido o atraso na menstruação,

como não ter associado os sintomas típicos a uma


gravidez. Quando Logan abriu os meus olhos, primeiro

levei um susto, mas logo veio a alegria. Eu não menti

quando disse a ele que quero muito o nosso filho.

A minha vida está agitada, sei que será assim

pelos próximos meses, mas também tenho certeza de que

darei conta do recado. Esse bebê não é um peso a mais,

pelo contrário, é uma motivação. Um elo de amor entre

mim, o homem que amo e a nossa pequena ruiva.

— Mirella, vou passar cada minuto preocupado

com você. Se pudesse não sairia do seu lado, mas

infelizmente tenho que voltar para casa. O trabalho e a


nossa menina me esperam — Logan fala, eu sinto e vejo o
pesar no seu rosto.

— Quando você vai? — Por mais que eu queira

o contrário, tenho ciência de que não pode ser diferente.

Nos próximos meses nos amaremos de longe.

— Amanhã. Mas quero que me prometa...

— Vou me cuidar, Lolo. Agora mais do que

antes. O seu bebê vai crescer saudável aqui dentro —

afirmo e coloco a minha mão em cima da sua.

— Prometo que vou fazer o possível para vir te

ver em breve. Se não puder... — Ele está tendo dificuldade

para falar. A voz está embargada.

O momento é difícil para nós dois, porque


acabamos de saber que vamos ser pais e, não podemos

curtir esse momento juntos como gostaríamos. Eu o

conheço e sei que jamais me pediria para desistir da turnê

e voltar com ele para casa. Também não tenho coragem de


abandonar os meninos nesse momento de nossas

carreiras. A solução é esperarmos e torcer para que o

tempo esteja a nosso favor e voe.

— Espere-me em casa — sussurro no seu

ouvido, então inicio mais uma dança de amor entre os

nossos corpos.

— Sempre, minha artista. Sempre esperarei por

você, foi o que fiz por longos cinco anos.


De volta ao amor

Logan

Cinco meses depois


Parece que se passaram anos desde que a
bendita turnê começou, mas a verdade é que foram apenas

cinco meses, e ainda falta uma semana para ter a minha

mulher grávida de volta em casa.

Não foram meses fáceis para nenhum de nós

dois, também não foi para a minha filha, que soube através

de chamada de vídeo que a mamãe Mimi, como ela gosta

de chamar, vai lhe dar um irmão. Tanto eu quanto a

pequena estamos ansiosos, ainda mais tendo que


acompanhar a gestação de longe. Nós vemos a sua barriga

crescer dia após dia. Semana após semana.


Eu tentei, mas não consegui ir ao encontro da

minha noiva nem uma única vez. Quando tive tempo, em

duas ocasiões, a banda estava em locais muito distantes

do Rio e não compensava o esforço de ir para voltar no dia

seguinte. Essas foram palavras da Mimi. Se dependesse

de mim, iria nem que fosse para vê-la por 1h.

Nós não sabemos o sexo do bebê. Juntos

decidimos que só vamos descobrir quando estivermos

juntos, mas ela gosta de brincar que tem certeza de que

será outra menina, que eu terei mais uma mulher na minha

vida.

Por mais que eu saiba que três delas é demais

para a minha saúde mental, já consigo imaginar uma mini-


Mimi, com a sua personalidade alegre e roupas coloridas.

Através das nossas ligações, mensagens e

chamadas de vídeos diárias, eu soube de cada passo da


sua rotina. Ela passou pela fase mais difícil da gestação,
nos primeiros meses, com enjoos e sonolência constante,
mas teve a ajuda dos rapazes.

Eles passaram a amá-la como a uma irmã,

segundo palavras deles no grupo do aplicativo de


mensagens chamado babás da Mimi. E assim como na

relação entre irmãos, eles se implicam e não é difícil


receber ligações da minha noiva reclamando de um deles.

Conforme os meses passam, o nome da The


Crown circula cada vez mais pelo país através dos veículos

de comunicação. Hoje são vistos como promessas e eu


fico para explodir de tanto orgulho da minha gata.

Sinto um prazer imensurável quando a vejo em

qualquer canto e noto não só o anel de noivado enorme


que coloquei no seu dedo, como também a barriguinha

saliente de quase seis meses.

Entre enjoos, reclamações de poeiras na

estrada e quartos de hotéis com camas desconfortáveis,


Mirella está chegando ao final de uma etapa importante da
sua vida, enquanto vive outra. Estou morrendo de saudade

e doido para ver pessoalmente como está ainda mais linda

grávida.

— Boa noite, senhora — digo ao passar pela


secretária no fim da tarde. Ela arregala os olhos, porque

não se acostumou com a minha mudança de atitude. Acho


que nem eu me acostumei ainda.

— E aí, papai do ano? — Noah me cumprimenta


na porta do elevador.

— Oi, Noah — digo, de olho no painel, ansioso


para chegar em casa logo. Tenho que dar atenção para a
Emmy e me preparar para a ligação da minha gata, que

está se preparando para voltar.

— Ficarei muito chateado com você se eu não


for o padrinho — avisa em tom de deboche, mas quer
mesmo ser convidado. Desde que a Mimi concorde, por
mim tudo bem.

— Agora mesmo que não receberá o convite.


Quero que fique magoado e não fale comigo.

— Você me ama, Lolo — diz e entra atrás de


mim no elevador.

— Amo a sua mãe — rebato, sabendo de


antemão que não vou gostar da resposta.

— E eu a sua mulher.

— Apelou, Noah.

— Foi você quem começou, Lolo.


A casa está calma, o que é estranho, porque é
comum me deparar com a pequena correndo pelo jardim

com a babá.

— Boa noite, Lídia — cumprimento a mulher


quando a encontro na porta. — Já está indo para casa?

O que está acontecendo? Não é essa mulher


que fica ao meu redor me perguntando se preciso de
alguma coisa, todos os dias, quando chego da agência?

Hoje ela parece não ver a hora de sair correndo.

— Tem uma visita para o senhor — diz e se vai


sem dar mais nenhuma informação. Eu não consigo pensar
em mais ninguém que não seja a minha mãe ou o papai

com a namorada, o que é muito estranho, pois não


costumam vir em dia de semana.

Na sala está tudo em ordem. Vou para o quarto

da pequena e o encontro vazio. Não tenho tempo de ficar


preocupado, pois quando fecho a porta do cômodo, ouço a
risada infantil vinda do meu quarto. Se eu não soubesse
que está com um dos meus pais, teria medo de me deparar

com todos os meus perfumes derramados na cama. Ela já


fez isso uma vez.

A cena que presencio quando abro a porta faz

com que o meu mundo inteiro volte a girar pelo lado certo,
tudo se alinha e está no lugar. O meu coração se enche de

felicidade. Diferente do que pensei, não é a minha mãe ou

meu pai quem está com a Emmy. É a minha Mirella, mais


linda do que nunca.

Eu não denuncio a minha presença de imediato,

antes me regozijo com a ideia de que estamos juntos


novamente. Espero cair a ficha de que não terei que

esperar mais sete dias para tê-la diante dos meus olhos e,
ao alcance de minhas mãos. Minha noiva não poderia ter

me surpreendido mais.

Elas estão conversando, a Emmy não consegue


parar de olhar e tocar na barriga de seis meses de
gravidez. Quando eu mesmo paro para realmente olhá-la

de perto pela primeira vez, a emoção que sinto não pode


ser explicada. Foram meses acompanhando de longe o

meu filho sendo gerado. Agora, tendo-a aqui, sinto como se

a distância nunca tivesse existido, porque nunca me senti


tão próximo dela como agora.

— Lolo, a mamãe voltou com o meu irmãozinho

— Emmy diz quando me nota na porta. — A barriga dela


palece uma abóbora. Se explodir o bebê nasce logo? —

indaga, mas não respondo de pronto, pois o meu olhar está


perdido no da minha noiva.

São tantos meses de saudade. Só quero tocá-

la, a abraçar e amá-la até que me convença de que


finalmente acabou, que voltou para mim e para a nossa

filha.

— A barriga da Mimi não vai explodir, meu


amor. O seu irmão ou irmã está crescendo e vai nascer
saudável para brincar com você — explico. Ainda olhando
do rosto para a barriga da Mirella, me aproximo das duas.

— Vai demorar?

— Só um pouquinho — ela diz para a ruiva.

— Tudo bem, mamãe, posso esperar. — A

forma como ela fala faz parecer que tinha outra

possibilidade além dessa, e isso arranca risadas de mim e


da Mimi.

— Pai, vai tomar banho. Eu e a Mimi fizemos a

comida. Ela falou que eu tinha que espelar você para


comer — diz. Olho para a Mirella, ela dá de ombro como se

não fosse nada de mais que tenha preparado um jantar


especial, mesmo tendo chegado cansada da viagem.

— Tudo bem, fiquem aí que eu vou tomar banho

bem rapidinho — pego minhas coisas, pisco para a minha


noiva antes de sair, avisando que não vejo a hora de

ficarmos a sós.
Cinco minutos depois de ter entrado na ducha,

sou recompensado por ter mantido a esperança de que ela


fosse conseguir despistar a nossa criança e vir até aqui me

fazer companhia. Eu a sinto me abraçando por trás. Na

verdade, sinto apenas a sua barriga estufada.

— Gostou da surpresa, ruivo? — indaga. Beija

as minhas costas, mas quero ver o seu rosto e todo o seu

corpo, então viro-me de frente para ela.

— Se gostei? Você não está me fazendo essa

pergunta, garota! — brinco. Tudo o que mais quero é

apertá-la nos meus braços para garantir que nunca mais


saia. — Eu estava a ponto de surtar de tanta saudade.

Faltava uma semana, mas tinha a sensação de que era um


ano.

— Eu também, por isso dei um jeito de adiantar

as coisas.
— Como você está? — pergunto e toco no seu
ventre arredondado.

— Eu e ele ou ela estamos bem, mas agora

quero que me beije. Sinto a sua falta...

Ela não precisa continuar, capturo a sua boca

para um beijo com o qual vinha sonhando todos os dias,

seja dormindo ou acordado. Toques de mãos por todas as


partes do corpo do outro. Estamos ávidos e cheios de

pressa porque sabemos que não temos tempo agora.

Quando saímos com as bocas avermelhadas,

mas momentaneamente satisfeitos, nos vestimos enquanto


me conta como convenceu os caras a fazer o último show
sem ela. Os convenceu de que não podia ficar mais nem

um dia longe de casa. O fato de estar grávida ajudou na


missão.

Na cozinha, sentados à mesa como uma família,

Mirella conta para a pequena tudo o que ela quer saber


sobre suas aventuras pelo Brasil, mas também ouve sobre

o quanto fez falta aqui em casa. Quando começa a contar

sobre a gravidez, ouço com mais atenção, porque embora


esteja a par de tudo, fico sempre me perguntando se não

perdi nenhum detalhe.

— Aqui, mamãe. — Emmy a puxa pela mão


para o sofá. — Eu estava com saudade de assistir o

Castelo de Diamante com você.

Não. De novo não!

— Lolo, pega o sorvete para a gente, por favor?

— Mirella pede com um sorriso provocativo no rosto.


Quero só ver se vai continuar com ele depois da
centésima vez assistindo o mesmo bendito filme.

Felizmente, a pequena não demora a dormir. Eu

fico com a missão de colocá-la na cama. Mirella me pede


para encontrá-la perto da piscina. Fico surpreso com o

pedido, mas não digo nada.

Quando chego a parte interna da casa, a vejo


com a cabeça abaixada e fazendo carinho na barriga por

cima do vestido solto e curto. Eu noto e gosto de cada


mudança causada pela gravidez no seu corpo.

— Por que estamos aqui, amor? Pensei que


fosse querer ir para a cama — digo em um tom sugestivo.

As nossas ligações e chamadas de vídeos estavam cada

dia mais sacanas e não escondíamos que estávamos

sedentos pelo outro.

— Não precisa ser necessariamente na cama.

Além de o clima estar perfeito, não quero me sentir presa a


um quarto como vinha me sentindo há meses — fala. —

Gosto daqui porque dá para ver toda a fachada da nossa

casa, o meu lar que tanto me fez falta. Vem, sente-se aqui.

Ela se levanta para que eu me sente na


espreguiçadeira, então se ajeita em cima das minhas

pernas do jeito que nós dois gostamos de estar. A

diferença é que temos o nosso bebê entre nós.

Nosso bebê. Ainda não posso acreditar.

— Você está aqui mesmo?

— Estou e não pretendo ir para lugar algum.


Não por tanto tempo sem vocês. Estou muito feliz por ter

tido a experiência, por estar começando a dar os meus

primeiros passos na carreira, mas estou tão mais feliz por

estar aqui na nossa casa, nos seus braços.

— Que bom, porque eu estava pensando em

uma forma de te amarrar ao pé da cama — brinco.

— A base de sexo e água?


— Você não cala a boca nunca? Eu já estava

sentindo falta disso.

— Só quando você me faz calar — rebate,

então se levanta das minhas pernas. — E você acaba de

me dar uma ótima ideia.

— Mirella... Você não vai fazer isso aqui.

— É claro que vou. Você quem falou sobre me

calar. Só estou tentando manter a minha boca ocupada. —

Minha barriguda se ajoelha na minha frente. Sem fazer


cerimônias, abre o botão e zíper da minha calça e tira o

meu membro para fora.

Ele estava a meio mastro, mas ganha vida nos

seus dedos, que começam a brincar. Com a seca de

meses, penso que vou gozar em cinco segundos, mas não

é o que acontece. Por mais que eu queira esporrar na sua

boca, me contenho a cada chupada, a cada corrente de

prazer que atravessa o meu corpo.


— Que saudade que eu estava dessa boquinha
— confesso com um ofegar, enquanto tento forçar a sua

cabeça para que me engula mais profundamente. Mas

Mirella tem outros planos, ela o tira da boca, fica em pé e

passa a calcinha pequena pelas pernas.

— Quero que me toque — Se aproxima, então

eu levo dois dedos ao seu sexo que está extremamente


úmido. Surpreende-me o fato de já estar tão pronta sem

nenhum toque, então ela explica: — São os hormônios da

gravidez. Lembra de quantas vezes pedi para que me

fizesse gozar durante as nossas ligações e chamadas de

vídeo? Estou subindo pelas paredes.

— Estou aqui para dar o que você quiser —

afirmo, então toco profundamente no seu sexo, que parece

estar mais apertado.

— Faça amor comigo, ruivo. Preciso tanto de

você... — murmura em meio ao prazer de ser penetrada


pelos meus dedos. Eu a puxo para cima das minhas

pernas e meto profundamente dentro da sua boceta.

Ela dá um gritinho, me arrependo de não ter ido


mais devagar, então fico parado à espera do seu próximo

passo. Mirella começa a subir e descer no meu cacete, os

seus olhos estão fechados. As suas mãos estão segurando

os próprios seios, os estimulando por cima da roupa,

porque não nos demos ao trabalho de ao menos tirá-las

antes de começarmos a transar no jardim.

— Porra, o desejo de fazer isso com você não

estava me deixando dormir a noite... — fala enquanto


rebola no meu pau. — Eu acordava suada e sedenta. Era

obrigada a resolver eu mesma o problema, mas não era

nada perto desse pau grosso, que me estica, que me deixa

cheia e dolorida. Não tinha você enchendo-me com a sua

porra. Como eu ansiei por esse momento.

— Rebola, amor. Toma tudo o que quiser,


porque sou seu. A partir de hoje você não precisará fazer o
trabalho sozinha, será com prazer que vou saciar todos os

seus desejos.

— Sim... Sim! Você vai! — fala com um gemido

ruidoso enquanto os nossos corpos se chocam. Ela segura

a minha cabeça e toma os meus lábios.

O beijo é faminto e desajeitado. Agressivo e

cheio de línguas e dentes se batendo. Deixo que tenha


todo o controle, primeiro porque gosto quando comanda,

segundo porque me sinto um pouco culpado por não ter

levado tão a sério quando falava dos hormônios em

erupção.

Ela cansa antes de gozar, eu a abraço pela

cintura e passo a meter e tirar sem perder o ritmo. Quando


gozamos, primeiro ela depois eu, o fazemos abraçados e

chamando tão alto pelo nome do outro que os vizinhos

devem ter ouvido.


Mesmo quando os nossos corpos se acalmam,

permanecemos por um bom tempo abraçados em silêncio.

Sujos e com as roupas molhadas de suor, coladas nos

nossos corpos.

— Eu não vou te deixar dormir hoje — aviso

contra o seu pescoço.

— Quem bom, porque eu estava pensando a

mesma coisa. — Ouço.

— Seja bem-vinda de volta, meu amor. Você


não sabe o quanto sentia sua falta, o quanto desejei estar

ao seu lado te amando e acompanhando de perto a sua

gravidez.

— É bom estar de volta, ruivo — declara.

Eu olho para a garota linda na minha frente e

posso enxergar perfeitamente um futuro que nem sempre

será um mar de rosas, mas que será bom para nós dois.
Eu a sinto nos meus braços e vejo como a vida

foi generosa ao me dar uma segunda chance para acertar.


A chance que vou honrar, pois aprendi com ela que viver é

diferente de sobreviver, que o amor, quando dedicado a

pessoa certa, não é uma a doença, sim a cura.

Fim
Epílogo

Mirella

Um ano mais tarde


Quando Logan fez a sugestão há um pouco
mais de um ano, não sei se ele imaginou que eu estivesse

levando a sério a ideia do vestido de noiva amarelo, mas

aqui estou eu, vestindo amarelo no dia do meu casamento.

Tudo bem que é um tom clarinho e discreto da

cor — uma sugestão quase que desesperada da minha

sogra, mas, ainda assim, amarelo. Não poderia ser

diferente quando sou eu a noiva do ano.

Mas o vestido foi o máximo de concessão que


fiz, porque quem deu a palavra final em toda a decoração

fui eu. Inclusive, tive o apoio do meu marido ruivo, que


embarcou no meu casamento dos sonhos. Tanto na igreja

quanto o salão, onde agora acontece a recepção, foram

decorados com flores de todas as cores e tipos que

conseguimos encontrar na floricultura.

Eu ainda dei o toque final com alguns tecidos de

cetim nas cores verde, lilás e amarelo. Está tudo de muito

bom gosto, lindo do jeito que imaginei. O noivo também

está maravilhoso com o seu terno preto e uma rosa

amarela na lapela para combinar com o meu vestido.

Os nossos sorrisos iluminam o salão tanto pela

felicidade que sentimos quanto pelas lentes de contato


caríssimas que colocamos nos dentes. Eles estão tão

brancos e alinhados que no dia que fizemos o


procedimento eu fiquei o tempo todo indo sorrir na frente

do espelho. É uma excentricidade de gente rica que vi nos


artistas e convenci o meu ruivo que a gente deveria fazer.

Devo conhecer metade das duzentas pessoas

que aqui estão. Mesmo se não fossem do meu lado da


família, eu saberia distinguir a metade dos convidados que
veio do interior, da outra metade que veste tons pastéis e

nega os quitutes quando o garçom passa nas mesas


oferecendo. Tem uma mesa que os ocupantes estão com a

mesma taça desde a hora que a festa começou.

Estou preocupada. Será que não sentem fome?

No último ano, depois que Logan passou a me

levar em eventos de negócios como sua acompanhante,


acabei deixando de lado a primeira experiência ruim e me

adaptei ao jeito das figuras. Minto, foram eles que se


adaptaram ao meu jeito de me vestir e ao fato de eu ser
praticamente incapaz de negar uma bebida e um

salgadinho.

Do meu lado, Logan nunca esconde os dentes e

não deixa de mostrar que sente orgulho de mim, que não


tenho o porquê de não ser eu mesma. No fim das contas,

acabei me adaptando muito fácil ao mundo dele. Se Logan


se adaptou ao meu, cujos parentes não têm papas na
língua, já é outra história.

— Ei, mamãe, como é que ela está?

Quando consigo fugir das fotos, e depois da


roda de conversa chata dos clientes importantes do meu
marido, aproveito para vir até a mesa da família para ver

como a minha pequena Alice tem se comportado.

Os quatro últimos meses de gestação foram


felizes e tranquilos até demais. Talvez para recuperar o

tempo em que não estivemos juntos, o meu marido ficou de


olho em cada passo meu, achava que até uma colher
sendo levada à boca era pesada demais para mim, embora
os médicos dissessem que era uma gestação saudável. Na

frente dele eu reclamava, mas por dentro me regozijava


porque estava sendo tão mimada.

O nascimento dela foi um dia muito especial


para toda a família, inclusive para a minha mãe, que já
havia pegado suas coisas e vindo morar perto de mim.
Hoje ela mora em uma casa próxima da nossa. Logan
estava na sala comigo durante todo o parto. A cena dele

segurando a filha pela primeira vez, com os olhos


brilhando, ficará gravada na minha memória para sempre.

— Você sabe que essa princesa aqui não puxou


a você e nem a Emmy. Ela é tão calma. Não acordou
desde a última vez que você deu o peito para ela.

— Que bom, eu estava preocupada com a fome.

— Mirella, vai curtir a sua festa. Há coisas que


só se vive uma vez e espero que seja assim para você.
Chega de me dar dor de cabeça.

— Também te amo, mamãe — digo, beijo o seu

rosto, a cabecinha da minha caçula e depois me afasto.

Quando falou em parar de dar dor de cabeça,

soube que estava se referindo tanto a mim quanto à


Isabella, que nos últimos meses tem estado mais presente
na vida dela. Mamãe acha que é porque se sente sozinha
depois que, supostamente, se separou do tal Eduardo.

Logan, por conhecimento de causa, acredita que eles ainda


estejam juntos, que o ex-amigo voltou ao seu posto de
amante.

Apesar de ela não falar mais comigo, soube


pela nossa mãe que teve um casamento relâmpago com
um ricaço do ramo hoteleiro. O problema é que o homem
tem idade para ser o avô dela, e não tem nem como

alguém fingir que não foi por amor ao dinheiro. Não a julgo
por isso, porque cada um sabe quais são as suas
prioridades na vida.

Devido a toda a situação envolvendo Logan, ela


e eu, conversamos muito sobre convidá-la para o

casamento. No fim, ele entendeu a minha posição de


convidar em consideração a minha mãe. Ela acabou não
comparecendo e não posso dizer que lamento o fato.
— Mamãe! Mamãe! — Olho para trás e vejo
minha Emmy correndo para mim.

Com o penteado e vestido iguais aos meus, ela


está cada dia mais bonita, amorosa e esperta. É
apaixonada pela bebê e acabou se tornando uma ajudante

nos cuidados com a Alice. Ela é protetora, característica


que herdou do pai.

— A mamãe não disse que não é para correr

pelo salão? — digo quando ela para ofegante do meu lado.


O penteado tão bem elaborado já está se desfazendo.

— O primo Carlos disse que eu sou feia —

irritada, aponta para o filho de sete anos da minha prima.

— Ela me chamou de magrelo, tia.

— Filha, ele não é magrelo. E Carlos, a Emmy

não é feia. Vamos, quero que os dois peçam desculpas,


senão não poderão mais brincar juntos.
— Desculpa — eles falam juntos, depois ficam

me olhando.

Será que estou com uma sujeira no rosto?

— Mimi, podemos ir brincar novamente? —

Então era isso.

— Podem, mas não corram, por favor... — Antes


que eu termine de falar, eles voltam a correr pelo salão.

— Eu desisto!

Com os olhos satisfeitos pelo lugar, procuro o


meu marido. Ele me vê antes e tenta fugir da roda de

conversa. Eu fico sorrindo, mas morrendo de medo de ter


que tirar mais fotos e responder a mais cumprimentos. O

meu maxilar já não aguenta.

— Oi, maluquete — Volto a minha atenção para


a voz muito conhecida.

Olho para Adam, Leco e Júlio com suas

tatuagens, piercings e roupas de couro. Eles sorriem para


mim, mas tenho vontade de desmanchar os sorrisos com
um soco por terem me feito pensar que não viriam nem

para a festa.

— Poderiam ter vestido um terno, não?

— Você é a última pessoa que pode falar da

roupa de alguém, gata. Mas hoje realmente está um arraso

— diz Leco.

— Um elogio, que milagre.

— Você sabe que a gente não deixaria de vir te

dar um beijo e desejar boa sorte para o ruivo. É uma


pentelha, mas nós te amamos, Mirella. Você é a nossa

estrela.

O meu coração fica aquecido com as palavras


do Júlio, porque eles se tornaram essenciais na minha

vida.

— Eu também amo vocês, seus babacas. E

espero que saibam que nunca mais vão se livrar de mim.


— Não temos tanta sorte — Adam provoca.

No auge dos meus oito meses de gestação,

quando decidi parar de cantar para me poupar, eles se


viram na posição de ter que tomar uma decisão quanto ao

futuro. Por mais que eu quisesse continuar na banda, não


esperava nada. Sabia desde o início que era temporário e

que já tinham uma vocalista, mas eles me surpreenderam

com o pedido para que eu ficasse.

Como a outra vocalista também tinha se

afastado por causa de uma gravidez inesperada, os

rapazes propuseram que a banda continuasse com as


duas, considerando que nenhuma teria tempo integral para

a banda. Foi uma ótima ideia que deu muito certo. Nós
duas nos tornamos amigas e ela deve estar por aqui com

seu namorado roqueiro.

— Bom, falei o que devia e cansei de você.


Queremos mesmo é ver a princesa. Onde ela está? —

aponto para a minha mãe, eles saem sem dizer mais nada.
Eu fico sorrindo sozinha, feliz porque eles e,
todos que amo estão presentes em um dia tão especial

para mim.

— Garota, como você foi esperta, fisgou um


peixão...

E lá vamos nós de novo.

Entre receber cumprimentos e tirar fotos com os


convidados, aproveito para dar uma dançada quando a

música começa a tocar no ambiente. Não tiro os olhos do

meu marido, o pobre está implorando para ser salvo.

Quando a bebê reclama, respiro aliviada pela

oportunidade de pegá-la para amamentar e tentar eu


mesma descansar um pouco. Estou radiante de felicidade,

mas não posso fingir que não é um pouco cansativo ser a

estrela da noite.

Ser famosa e linda cansa.


Subo uma escada em espiral que parece não ter

fim. A cada passo dado, tenho a impressão de que tem


alguém me observando. Da última vez que me senti assim,

era a Isabella.

Acabo encontrando um lugar de paz e silêncio


na sacada do hotel. A noite está maravilhosa e não tem

nada melhor do que parar para sentir a brisa.

— Não precisa chorar, a mamãe já vai matar a


sua fome, princesinha — falo com ela e tiro o meu peito

para fora do vestido. Felizmente, a costureira o fez

pensando que a noiva tem um bebê de oito meses para


amamentar.

Como a minha mãe falou, Alice realmente é

uma criança muito calma. Com a ajuda da Lídia, eu


consigo dar conta da rotina com a faculdade, de alguns

ensaios com a banda no meio da semana e dos shows aos


finais de semana. E é claro, também tenho tempo para dar
atenção para o meu Logan, que é a pessoa que me inspira
todos os dias.

Bater no portão dele foi a melhor escolha que

fiz, foi ela que me trouxe ao momento que alimento a filha


que tive com o homem que amo. O dia em que nos

tornamos marido e mulher.

Eu olho para trás e só consigo ser grata, porque


apesar de a minha história com o meu marido ter

começado de um jeito torto e confuso, nem sempre o ideal,


nós escrevemos linha após linha, e assim será pelo tempo

que a vida nos permitir. Depois de tudo, posso dizer sem


medo de errar que merecemos a felicidade que

conquistamos.

Logan
— Ânimo, meu caro, nem parece que acaba de
se amarrar a uma gost... garota tão bacana como a Mirella.
— Pensei que aquela gente não iria parar de

falar — reclamo e bebo um grande gole do champanhe.

— Quando você é um Ramirez de Castro tem

que passar por situações como essa, até no dia do


casamento. Assim são os negócios.

De formas diferentes, é como se eu estivesse

revivendo a mesma situação pela segunda vez. Estou


bebendo em um canto com um amigo e vendo as mesmas

pessoas de cinco anos atrás. Só que agora estou à

vontade, feliz por ter me casado pelos motivos certos, sem

me sentir estranho em minha própria pele.

— Não estou vendo a minha mulher —

comento.

— Talvez ela tenha mudado de ideia e fugido.

— Só se tivesse se casado com você —

provoco, coloco a taça de bebida na sua mão e lhe viro as


costas.
Quando faço o mesmo caminho que fiz em um

lugar diferente anos atrás, um medo bizarro surge, como

velhos fantasmas. E não é uma questão de falta de

confiança nela, sou eu mesmo me enfrentando, dizendo a

mim mesmo que dessa vez vai ser diferente. Na intenção


de ir para o quarto que foi preparado para nós dois, me

deparo com a última pessoa que deveria ver no dia de

hoje.

— O que faz aqui, Isabella?

— Pensei que tivesse sido convidada para o

casamento do meu ex-marido com a minha irmã mais nova

— fala com acidez.

— Foi, mas acredito que ninguém imaginou que

fosse ter a cara de pau de comparecer — retruco.

— Já estou de saída, mas antes queria te pedir

para fazer a minha irmã feliz. Faça de uma forma como

nunca me fez.
— Nunca te amei, assim como você não me
amou. Por isso fomos tão infelizes — falo com sinceridade,

a mulher nem se abala.

— Ela é uma pessoa boa. É uma boa mãe para

a Emmy, a mãe que eu nunca poderia ser. A Mirella merece

ser amada.

— Ela é, Isabella. Acredite nisso — ela balança

a cabeça positivamente, como se algo no meu rosto

atestasse a veracidade de minhas palavras.

— Tenha uma boa vida, Logan Ramirez.

— Desejo o mesmo a você — digo, ela acena e

vai embora.

Enquanto a observo partir, fico pensando no


quanto as minhas palavras foram sinceras. Eu desejo que

ela fique bem, porque apesar de tudo o que aconteceu, de

os seus erros terem causado tanta dor e me transformado

em alguém que eu não sentia orgulho, foi a nossa história


que colocou a mulher da minha vida no meu caminho. Por

Mirella e pela minha Emmy, eu sempre serei grato à

Isabella.

Encontro o quarto vazio, então afrouxo o nó da

gravata e saio. Os meus passos me levam para a sacada

do hotel 5 estrelas. Ouço a voz e sorriso marcante da

minha esposa. O meu coração começa a bater acelerado

dentro do peito, mas tenho coragem para ir até ela.

Mirella não está sozinha. Eu não deveria

esperar que estivesse.

— Como você é dorminhoca, meu anjo. Basta

encher essa barriguinha para deixar a mamãe falando


sozinha, não é? — fala baixinho, curvada sobre a cadeira

bebê conforto em que a nossa filha está deitada.

— Fugindo dos convidados, senhora Ramirez?

— falo baixo para não acordar a bebê. Ela se levanta e

brinca.
— Ao que parece, o senhor meu marido

também. — Como não sou capaz de me conter quando

estamos perto, a abraço.

Mesmo depois de tantos meses e do

nascimento da nossa primeira filha, a paixão ainda é a


mesma do início do relacionamento. Ao invés de nos

acalmarmos, ficamos cada dia mais intensos, mais

apaixonados. Ela brinca que mesmo quando estivermos de

cabelos brancos, ainda estaremos cheios de fogo, porque a

safadeza está no nosso DNA.

— Já disse que você está linda? — elogio,

porque duvido que já tenha existido ou que algum dia vá

existir uma noiva tão única e perfeita.

— Não na última hora, mas é sempre bom ouvir

a verdade saindo de uma boca tão bonita — diz e termina

com um beijo leve. — Te amo, marido.


— Eu te amo mais. Amo porque você é a minha

luz, porque fez com que eu me entregasse à chance de

recomeçar. Amo o fato de ser a mãe das minhas filhas.

Sobretudo, amo a forma como você me ama, porque reflete

a sua alma, que é coisa mais bela que os meus olhos

poderiam enxergar. — Como sempre acontece quando os


nossos sentimentos se tornam intensos demais, nós nos

beijamos.

O dia de hoje não foi um desfecho, mas o início

de uma vida inteira juntos.

Não é uma história saída de um conto de fadas.

Não sou um príncipe encantado e nem ela a princesa que a

nossa filha fantasia. Somos apenas Logan e Mirella, unidos

por uma força maior, um amor que não poderia ser negado
e, não importava quantas pedras houvesse no meio do

caminho.

De alguma forma, sempre estive esperando por

ela. Esperei quando vivi anos de um relacionamento


fracassado. Esperei durante cinco anos, depois de apenas

uma migalha sua.

Estaria esperando até hoje, porque quando

quase tudo era escuridão, as lembranças da garota e do

beijo, até da cicatriz que corta a minha pele, eram o farol

que me mantinha navegando, me guiando até chegar a um

porto seguro.

Para chegar até aqui.


Se você gostou de A entrega de Logan, deixe a sua avalição para me dizer o que
achou, e faça a sua autora feliz. As 100 primeiras avaliações do Lolo vão ganhar um kit de
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Não é sorteio, basta avaliar e me mandar o pint. da avalição com nome e

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SINOPSE

Pode o amor causar dor?

Aos 19 anos, Ella leva uma vida simples e


tranquila e o fato de viver com tão pouco não é capaz de

apagar o brilho no seu olhar, pois acredita que o seu lugar

é onde está o seu coração. Mas tudo muda depois da

chegada de Diego Estrada, filho do maior dono de terras da

região, um homem frio e misterioso que não faz questão de


ser cordial com quem está à sua volta. Sua chegada do

transforma o mundo de Ella conhece e sua inocência deixa

de existir.

O seu toque causa mácula, a sua voz provoca

medo e, principalmente, a sua alma e o seu olhar lhe

despertam arrepios.

Aos 30 anos, Diego pensa ter perdido tudo, até

mesmo um pouco da sua humanidade, e voltar para o lugar

do qual partiu tantos anos atrás lhe causa muito mais do


que incômodo. Quando ele conhece a bela e inocente Ella,

a bondade e a ingenuidade da moça provinciana

perturbam-no e trazem à tona desejos que há muito tempo

estavam adormecidos.

Pode o amor curar?

Medo e dor. Paixão e erotismo, esta não é uma

simples história de amor.


PRÓLOGO

— Chegou atrasada, mocinha — a senhora de


65 anos me repreende na porta da igreja, a única paróquia

existente em uma vila que só não foi totalmente esquecida

no mapa por ficar perto da maior fazenda da região e que

também é a maior fornecedora de rosas da cidade de

Santa Rita.

A fazenda do senhor Luiz Estrada é próspera e

nada é tão belo quanto os roseirais que estão plantados

em terras férteis e que parecem infinitas. Por causa da

fazenda, muitos aqui têm emprego e condições de colocar

comida na mesa.

— Por que, vovó? Está acontecendo alguma

festa aí dentro? — Da escada, tento espiar o interior da

igreja, mas o sol forte do lado de fora me dá a impressão

de que está tudo escuro no interior da pequena paróquia.


— Um velório — fala, com espantosa

naturalidade, e se eu não estivesse me segurando no

corrimão de madeira envelhecida, teria saído rolando pelos

cinco degraus que separam a porta da paróquia da calçada

de paralelepípedo.

Como pode a minha avó estar tão satisfeita em

falar que os moradores da cidade estão participando de um

velório?

Eu sei que é uma vila pacata e que nada

acontece nesse lugar, mas, ainda assim, um velório não

deveria causar esse tipo de sentimento. Se a dona Ester


está assim, sendo geralmente a mais sábia do lugar, não

quero imaginar como estará o resto dos moradores.

Será que eles pelo menos sabem quem é a


pessoa que faleceu? Aliás, como é um lugar pequeno,

presumo que deva ser alguém de fora, já que todos se


conhecem e não se teve notícia de nenhum falecimento.
Deus! Que pensamentos mórbidos para se ter
em plena manhã de outono.

— Quem faleceu? — indago.

— Bem... — O fato da minha avó parar para


pensar já responde o que eu queria saber. Não, eles não

fazem ideia de quem está ali, ou melhor, podem até saber,


mas não conhecem a história da pessoa, não têm

intimidade com a família do morto e não se importam em


saber. Para todos, o mais importante é ter um evento para

comparecer, mesmo que seja um tipo peculiar de evento.

— Onde está o vovô? — Mais uma vez tento


espiar, pois, se tem uma coisa que ainda não sei controlar,

é a curiosidade. Não que algum dos meus vizinhos saiba.

— Onde mais ele estaria, criança? — com as

mãos na cintura, a senhora ainda jovem para a sua idade


me questiona.
— No campo? — É uma constatação óbvia,
uma vez que o meu avô é um dos melhores funcionários do

campo do senhor Luiz.

Ele tem um amor tão grande pela terra, por cada


muda plantada, que realmente não é difícil encontrá-lo por
lá. O meu avô, assim como dezenas de outros homens, é

responsável pelo belíssimo campo de rosas brancas e


vermelhas e girassóis.

Tanto a cidade de Santa Rita quanto a Vila das


Flores são conhecidas Brasil afora pelo cultivo e revenda

das mais belas flores da região. O negócio do fazendeiro


Luiz Estrada movimenta a cidade e suas flores estão em
todos os lugares, seja enfeitando a igreja ou o restaurante
ou à venda na floricultura e na lojinha de presentes.

Desde pequena, o meu maior prazer é ficar na


fazenda, observando os campos, que parecem
intermináveis. A natureza me fascina, as flores me

encantam e, principalmente, o perfume delas aquece a


minha alma, mantendo vivas a minha alegria e a esperança
de que um dia sempre será melhor que o outro. Isso faz
com que eu acredite na magia do amor, da bondade e na

beleza dos sonhos.

Nos meus 17 anos, pouco vi e vivi da vida e mal

conheço algo fora da pequena vila, mas, ainda assim,


acredito no amor e no lado bom de todas as coisas, pois é
impossível viver em um lugar como esse, sentir a presença
de uma força muito maior do que os nossos olhos podem
ver e simplesmente não acreditar.

— Sim, minha criança, no campo e, por favor,


não vá até lá atrapalhar os trabalhadores. Deixe para ir ao
final do dia, quando não tiver mais ninguém por lá —
aconselha, sabendo e tendo entendido que nada pode me

afastar daquele campo. Desde muito pequena, ele é a


paixão da minha vida e, se pudesse, trabalharia com o meu
avô, colhendo as flores que tanto amo. Tenho um carinho
por todas, mas as rosas brancas exercem um fascínio
incomum sobre mim.

Como só homens trabalham nos roseirais, junto


o útil ao agradável ao colher as rosas e os girassóis que,
por alguma razão, não são considerados bons o suficiente

para a venda e, acompanhada da minha cesta de palha,


corto-os com a minha inseparável tesourinha e vendo-os
na praça. Às vezes, ofereço-os na porta dos
estabelecimentos comerciais para aqueles que não têm

condições de comprá-los pelo valor normal.

Aqui na vila, assim como na cidade, as flores


são valorizadas como merecem, já que são o cartão de
visitas da cidade e a principal fonte de renda dos
moradores.

— Estou entediada, vovó — reclamo, olhando


para todos os lados da praça e vendo-a vazia como não
costuma ficar.
— Aos 17 anos, eu também era como você,
ficava o tempo todo procurando coisas para fazer —

relembra, olhando para a movimentação na porta da


paróquia. As pessoas começam a sair e me pergunto como
tanta gente coube em um espaço tão pequeno.

Com figuras conhecidas e outras não tão


notórias, vejo um aglomerado se formar e me chama a

atenção a presença do seu Luiz, todo vestido de preto e,

no rosto, óculos escuros. O homem sempre pareceu ser


uma figura inatingível, mas, ainda assim, é gentil e

bondoso com todos da vila.

— Por que o senhor Luiz está aqui? — indago,


mas logo somos interrompidas pelas amigas da minha avó,

que se aproximam para contar a última fofoca.

Aproveitando-me da situação, pego a minha


cesta, que havia colocado na calçada enquanto conversava

com a minha avó, e, de fininho, me afasto da praça. Vou


até a minha casa, pego a bicicleta e, com um sorriso no

rosto, vou para o campo.

O perfume das flores me dá boas-vindas, a


beleza delas enche os meus olhos e o milagre de sua

existência aquece o meu coração. Minhas mãos acariciam


as rosas, meu nariz se aproxima para sentir o aroma e,

quando a maciez das pétalas toca o meu rosto, chega o

momento em que eu me perco. Uma a uma, toca-as antes


de separá-las e colocar na minha cesta.

O tempo passa sem que eu me dê conta e o dia


começa a dar lugar à noite. Olho para a cesta, vejo que já

tenho rosas suficientes e estou me preparando para deixar

o campo quando ouço um barulho estranho.

Sem que eu saiba de onde vem e de quem se

trata, ouço o choro de alguém. Um homem, o choro sofrido

pertence a um homem, disso não tenho dúvidas. A


escuridão que começa a cobrir o campo aberto torna difícil

a minha visão, mas tudo o que o meu coração quer é se


aproximar e levar embora a dor do homem que chora de
uma maneira tão dolorida que é quase como o rugido de

um leão ferido.

Cegamente e sentindo que, logo hoje, a noite


está caindo mais rápido, caminho por entre os corredores

de flores, olhando de um lado para o outro e guiando-me

pelo som do choro copioso. Ao longe, avisto uma silhueta,


uma sombra alta e, como eu pensava, pertence a um

homem.

Pisando de leve na terra fofa para não o

assustar, me vejo cada vez mais perto dele. No meu

interior, existe um misto de sentimentos e o que predomina


é a forte sensação de que preciso fazer isso, de que esse

homem precisa de alento. Ele não pode sofrer tanto em um


cenário tão belo como esse.

— Vá embora daqui. — A voz é baixa e rouca,

como se ele não tivesse o costume de falar com


frequência. — Me deixe sozinho ou você irá se arrepender.
Sua ameaça faz com que eu trema de medo,

mas o receio não é maior que o meu desejo de chegar


perto dele para saber por que chora e sofre tanto.

— Eu não vou — falo com firmeza e ele não diz

mais nada.

Às suas costas, vendo apenas a sombra por

causa da escuridão quase completa, reparo nas suas

roupas e, por elas, fica claro que ele não é daqui. Trata-se
de alguém em quem eu nunca pus os olhos e continuo sem

conhecer, já que ele não se vira para me olhar de frente.

Não que eu o esteja julgando por isso, é ele


quem sofre aqui e sou eu quem invade o seu espaço

pessoal e não respeita o seu momento.

O homem leva as duas mãos ao rosto e, como


se tivesse decidido que não valia a pena pausar o seu

momento de dor por causa uma intrusa, volta a chorar com


mais intensidade. Seu corpo todo treme e, como se uma
força me atraísse, chego mais perto, o mais perto que
posso, e levo as minhas mãos aos seus ombros.

Ele primeiro fica tenso, mas não faz nenhum

movimento para me repelir, apenas continua a chorar, o


que começa a me angustiar por não conseguir imaginar o

que abalou um homem tão alto e forte como ele.

Passando de todos os limites, minhas mãos


começam vagarosamente a descer, passam por entre os

seus braços e se fincam na altura do seu peito. Minha


palma pousa perto do seu coração e eu estranhamente

sinto um alívio por escutá-lo batendo contra a minha mão.

O leão ferido, mais uma vez, não faz nada para me afastar
ou repelir a minha ousadia. Quando minha cabeça se deita

nas suas costas, meu corpo se encosta no seu e minhas

mãos sentem com mais intensidade as batidas do seu


coração. Da minha boca, sai a única frase possível para

um momento como esse:

— Eu sinto muito.
É com surpresa que sinto o seu primeiro

movimento e o momento em que ele leva as mãos até as


minhas e entrelaça os nossos dedos. Ainda na altura do

seu peito, o homem aperta as minhas mãos pequenas

demais entre as suas, o que chega a machucar, já que no


meu dedo anelar existe um anel que eu sempre uso.

Ele aceita o meu conforto, mesmo sem saber

quem eu sou e eu o conforto, mesmo sem saber quem ele


é. Chora mais contido e baixinho, sem nunca soltar a

minha mão e eu, como se estivesse absorvendo parte da

sua dor, também começo a chorar. Não consigo entender


por que estou tão triste por ele, mas sei que para algumas

coisas não existe explicação.

O tempo passa e não há como quantificá-lo,

nenhuma palavra é dita e, no meio do roseiral e do perfume

das flores, existe um homem e uma garota, dois


desconhecidos unidos por uma força maior, a força da dor

e da compaixão.
Quando eu já estava começando a acreditar que
passaria a eternidade sentindo as batidas do seu coração e

ouvindo o som da sua respiração, o leão ferido, sem nome

e sem rosto, fala:

— Obrigado. — A voz me causa arrepios, um

tipo diferente de arrepio que nada tem a ver com o temor

que a sua voz me causou da primeira vez. Quando,


lentamente, vai descendo as nossas mãos ainda unidas,

ele termina: — Adeus, garota das flores.

De maneira inesperada, ele se afasta e começa

a andar com passos mais largos do que eu sou capaz de


reproduzir. Quando começo a gritar para que não fuja,

como um animal acuado, o desconhecido começa a correr.

Ele desaparece e meu estado de choque e solidão faz com

que eu me pergunte o que foi que acabou de acontecer.

Solto a respiração, que não sabia que estava


presa, olho em volta e, quando a brisa provoca um arrepio

em mim, levanto a mão bem diante dos meus olhos,


notando os meus dedos vazios. O anel da minha família já

não está na minha mão esquerda.

Ele se foi, levou uma lembrança minha e não

deixou nada em troca, nada que me faça crer que tudo isso
foi real, nada que tornasse a minha história, no mínimo,

aceitável, caso fosse contá-la aos meus avós para que eles

acreditassem que não foi somente uma fantasia ou um

sonho romântico inventado pela minha mente.

No meu íntimo, guardei com carinho o encontro

inusitado e de algum modo especial para mim. A noite em

que, no meu lugar preferido, vi e toquei em um homem sem

rosto. Sem nunca esquecer, fantasiei que significou mais


do que realmente foi, apenas para mais tarde descobrir que

seria melhor se eu nunca o tivesse conhecido.


SINOPSE

O que acontece depois do “felizes para


sempre”?

Herdeiro de um império milionário, Antônio

Orsini é um homem que vive de aparências. Frio e

atormentado por fantasmas do passado, ele espera pelo


dia em que sentirá que pertence a algum lugar, onde sua

vida não será uma mentira completa. Tudo muda quando

se envolve com Beatriz, uma garota 20 anos mais jovem,

inocente demais para um homem marcado como ele.

A paixão que os une é intensa. A dependência

física e emocional que um desenvolve pelo outro pode ser

mais perigosa do que eles imaginam.

Eles são felizes por quase 1 ano, até que um

terrível acidente muda o rumo das suas vidas.

Uma gravidez inesperada.


Um homem cujas memórias recentes são

completamente apagadas.

A descoberta de segredos que colocam em

dúvida o amor que parecia indestrutível.

Até que ponto vale a pena lutar por um amor

perdido?
PRÓLOGO

Desde sempre, eu a via andando de um lado


para o outro com os seus cabelos escuros ao vento, agindo

como se o mundo fosse dela e nada importasse. No

começo, eu só a olhava e achava engraçadinha, mas logo

o interesse se intensificou. Paro de vê-la como uma

menina, para enxergá-la como uma mulher de corpo


perfeito.

Quando a oportunidade apareceu, fugi do Rio

para o lugar onde a realidade é bem diferente e era tudo do

que eu estava precisando. Um pouco de paz, longe do

agito da cidade e do trabalho, que basicamente consistia

em limpar as merdas dos riquinhos inconsequentes.

Não esperava gostar tanto de Santa Rita e foi

uma surpresa perceber que tinham muitas coisas a se

fazer em uma fazenda como a do meu amigo, Diego


Estrada. Um homem cheio de problemas, mas que tem
conseguido se reerguer desde que se apaixonou por uma

garota que é o seu total oposto. A linda e alegre Ella, era

tudo do que ele precisava e eu não poderia estar mais feliz

pelo meu amigo. O homem merece um pouco de alegria e

eu já não sabia como fazê-lo enxergar que não tinha a

culpa que acreditava ter, por todas as merdas que

aconteceram na sua vida.

Não vi como um problema o pedido para que

ficasse de olho na sua mulher pelo tempo que precisaria

ficar fora, cuidando-se para enfim se curar de tudo que o

perturbava. Ficar em Santa Rita significava que poderia ver


a garota se eu quisesse. Ela havia se tornado uma

obsessão para mim e usá-la para saber coisas a respeito


da Ella foi apenas uma desculpa que dei a mim mesmo

para conseguir chegar perto.

Nem por um segundo Beatriz foi enganada a

respeito do que pensava ser as minhas intenções para me


aproximar. Sabia que queria falar sobre a sua amiga e
decidiu jogar comigo. E que jogo delicioso. Eu perguntava
e a garota leal só dava respostas vagas e sem importância.

Fingia que não sabia o que eu queria e eu fingia que só


queria investigar.

A cada encontro que não tinha nada de

acidental na praça, Beatriz dava um jeito de ser mais


provocante. Sem medo da rejeição, se insinuava e eu, sem

nem um escrúpulo, não me importava de ser velho demais


para ela, que tinha acabado de fazer 18 anos. Para mim

bastou a informação de que não era menor de idade para


seguir os meus instintos sexuais com alguém que, apesar

da pouca idade, demonstrava ter bastante experiência com


homens.

Começamos com um beijo atrás da loja de

carnes e continuamos assim: beijos muito quentes pelos


cantos da vila. Bia não parecia se preocupar em ser

surpreendida e eu menos ainda. Quando já não dava mais


para segurar, acabamos transando no quarto que eu
ocupava na fazenda. Quando meti pela primeira vez, não
pude acreditar que estava com uma virgem. Ela era tão

safada, como poderia ainda ser virgem?

Mas a verdade é que era e eu não pude me


conter. Continuei a trepar com a moça e bem satisfeito de
ser o primeiro. Já tinha transado com mulheres de todos os

tipos e idades no clube do qual sou sócio, mas com uma


virgem foi uma experiência inédita e muito gostosa.

Por um tempo — bem pouco, para ser sincero


— acreditei que o meu vício na sua boceta apertada era

justificado pela novidade de estar com uma garota tão


jovem e a quem eu poderia ensinar muitas coisas, mas
estava muito enganado. Durante alguns meses ficamos
juntos sem assumirmos nada. Rótulos não existiam,

apenas um casal transando sempre que tinha a


oportunidade.

De uma forma como nunca imaginei que fosse

acontecer, me vi desejando duas coisas: ficar em Santa


Rita com mais frequência e ter mais certeza do que a
novinha era para mim.

Depois do casamento dos nossos amigos, em


que fomos padrinhos, acabei por me dar conta de que era
muito mais do que tesão, que estava muito mais

apaixonado do que queria admitir. Como poderia não estar,


se fiquei meses com ela, quando nunca tinha saído mais
do que três vezes com a mesma mulher? Era um solteirão
convicto, mas a minha baixinha linda e jovem me fez sentir
vontade de pendurar as chuteiras e foi o que fiz.

Não sai da minha cabeça a sua reação quando


a levei com os olhos vendados para a casinha que havia
comprado. A minha Bia ficou feliz porque para ela
significava que eu ficaria por mais tempo em Santa Rita e

não precisaríamos mais ficar pulando de cama em cama


para ficarmos juntos. Porém, feliz e emocionada mesmo
ela ficou quando disse que a casa não era só para mim. Eu
a pedi em namoro, chamei-a para morar comigo e ela não
titubeou em aceitar.

Na sua casa, ela não teve dificuldade em falar


para os pais que estava indo morar com o namorado antes
de se casar, eles aceitaram numa boa, tanto que eu

cheguei a achar bizarro. Os seus velhos, que não são tão


mais velhos do que eu, são good vibes demais, o que me
faz ter a impressão de que estão sempre dopados. Não é à
toa que a minha baixinha se tornou tão dona de si.

— Sabia que você fica ainda mais gostoso

quando está assim, com esse ar pensativo, tio?

Eu estou no nosso quarto, desfazendo uma

mala, depois de uma viagem de três dias para o Rio e


acredito que a viagem ao passado seja por causa da
saudade pelos poucos dias distantes da minha menina. A
minha empresa de segurança privada e investigação
particular continua sendo no Rio de Janeiro, vez ou outra,
preciso ir até lá e não posso, de maneira alguma, levar a
minha mulher comigo.

— Tio? Essa ereção enorme te faz pensar que


sou o seu tio, sua atrevida? — Eu a pego entre os meus
braços, esfrego-me nela como um desesperado e o sorriso

divertido logo some do seu rosto.

— Parece que alguém aqui estava morrendo de

saudade — diz quando a jogo na cama e caio por cima.

Faço com cuidado, porque ela é muito pequena e delicada


para alguém do meu porte físico.

As suas pernas macias me envolvem e sentir o

calor da sua boceta contra o tecido torna ainda maior a


satisfação de estar em casa.

— Estava louco de saudade de você, amor.

— E eu de você, meu gigante.

Quando ela me beija, sinto como se tivesse

voltado a Santa Rita só para isso. Eu era um boêmio. Tinha


mulheres aos meus pés e por muitos anos vivi e busquei

isso. Em algum momento a mesmice do trabalho e


mulheres indo e vindo deixaram de ser suficientes, me vi

precisando de novos ares, de ver gente nova. Aqui em

Santa Rita eu conheci a minha Beatriz e então não precisei


conhecer mais ninguém.

Minha menina trouxe o que parecia faltar e hoje,

como acontece dia após dia nos vários meses em que


passamos juntos, estou apaixonado, amando e sendo

amado.

— Te amo, Beatriz.

— Te amo, Antônio.

Embora o que sentimos um pelo outro esteja


claro, pela primeira vez, com os nossos corpos lânguidos e

suados sobre a cama, usamos essas duas palavras para

nos declararmos. Sei que será a primeira vez de muitas,


que, como os nossos amigos e qualquer casal normal,
seguiremos o caminho natural de casamento e filhos. Eu
sei que ela está bem com isso.

O nosso romance é só mais um dos que devem

ter nascido sob o céu de Santa Rita, um lugar que parece


especialmente propício para o amor. Talvez a magia esteja

nas flores.
SINOPSE

Marina sempre viveu uma vida perfeita, cercada


de luxos e mimos. Até que, aos seus 17 anos, uma

tragédia muda o rumo de sua vida: a perda de seu pai,

único parente vivo e pessoa que ela mais ama, deixando-a

desamparada e sozinha no mundo. E, para completar o

pesadelo em que passa a viver, a garota se vê obrigada a


viver sob a tutela de Erick Estevan, melhor amigo de seu

pai, de quem guarda antigas e profundas mágoas.

Erick vê seu mundo inteiro virar do avesso com

a chegada da filha de seu falecido melhor amigo aos seus

cuidados. Tendo sua vida inteira planejada, a adição

inesperada não seria um problema, se não fosse o doentio


desejo que sente pela garota que viu crescer.

Marina é agora uma linda e proibida mulher, que

assombra seus pensamentos e desperta sentimentos que o


homem tanto luta para suprimir.
Na batalha entre obrigação e desejo, será a

razão capaz de definir o que é certo e errado?


PRÓLOGO

— Aguente firme, meu amor — peço ao fazer

carinho no seu rosto pálido. — Vai ficar tudo bem. Prometo.

— Ela ainda tenta abrir um sorriso, mas falha


miseravelmente. — E você sabe que costumo cumprir com

as minhas promessas.

— Erick, o meu tempo está acabando... — diz

num fio de voz, e tenho vontade de tapar os ouvidos com


as mãos apenas para não ouvir a frase tão definitiva saindo

da sua boca, que já está ressecada e sem vida. — Você

precisa prometer...

— Não fala nada, amor — imploro, com a voz

embargada pelas lágrimas.

— Promete que vai ser feliz, que quando eu

partir, você vai refazer a sua vida? — Marina diz e faz força

para formar as frases.


— Prometo que nós vamos ser felizes —

respondo, enfático. — Você vai ficar boa e nós vamos nos

casar e um dia teremos nossos bebês, lembra? Você

prometeu, linda. — Tento sorrir para ela.

— Eu fui muito feliz com você, do jeito que um

dia sonhei e achei que não seria possível realizar — afirma

com a voz quase sumindo e os olhos mais baixos. — Eu

sempre vou te amar, de onde estiver, estarei olhando por

você. Te amo... — são suas últimas palavras antes de

perder a consciência.

— Não, Marina — imploro, desesperado. — Não


faz isso, olha para mim. Eu não vou deixar você ir, nunca!

— afirmo.

Cuidadosamente, desço meu corpo sobre o seu,


até sentir minha camiseta ser ensopada com o sangue

pegajoso e quente. Selo os nossos lábios, pela última vez.


SINOPSE

De uma família feliz e bem estruturada, Luana


Aguiar viu o mundo à sua volta desmoronar quando perdeu

a mãe. A garota então ficou aos cuidados do pai, um

homem que não soube superar a perda da esposa e

acabou se entregando a vícios que seriam a sua ruína.

Vícios que o levaram a colocá-la nas mãos de Gabriel


Souto, um homem impiedoso e sem coração, como muitos

dizem. A fama de Daniel Souto o precede e, sem que tenha

escolha, a jovem se vê presa ao seu mundo sombrio,

cercada de mistérios e luxúria.

Gabriel Souto não pede, ele toma para si, esse

é o seu lema de vida. Não seria diferente quando o assunto


é o seu desejo de arranjar uma esposa para tornar-se um

homem respeitado perante a alta sociedade, que não

enxerga além do que quer ver. A oportunidade surge

quando o tolo Júlio Aguiar faz a pior aposta da sua vida e


entrega de bandeja exatamente o que ele estava

procurando, poupando-lhe o trabalho de ir à caça.

Uma relação nascida do ódio, um desejo que

não pode ser reprimido e um reencontro inesperado. Será

que o amor conseguirá florescer em corações tão

inóspitos?
PRÓLOGO

— Estou presa, é isso? — pergunta, irritada,


encurralada entre o meu corpo e a parede do espaçoso e

luxuoso quarto da minha propriedade. Para ela, aquele

lugar significa o próprio inferno na terra, ou pelo menos o

que ela pensa ser o inferno.

Se soubesse que lá é muito pior do que as

pessoas imaginam... Estive no inferno e garanto que ter

labaredas queimando a pele é brincadeira de criança perto

do que vi e vivi.

— Isso. Se este é o seu conceito de prisão;

então, sim, você está presa a mim e a essa casa.

Acostume-se, meu bem...

— Não me chame de meu bem — diz,

lançando-me um olhar de desprezo, o que só a deixa mais

linda. Aos meus olhos, parece uma ratinha assustada e, de


forma doentia, fico excitado por vê-la assim, nas minhas
mãos. Sei que posso fazer o que quiser com seu corpo e

suas vontades. Posso moldá-la da forma que eu quiser,

como for conveniente para mim. — Não sou o seu bem.

— Você é o que eu quiser que seja. Esqueceu

que te comprei em uma mesa de apostas? — Na verdade,

não foi bem uma compra, está mais para o pagamento de

uma dívida, mas, na prática, isso não importa. Não quando

o resultado é o mesmo: a bela Luana Aguiar em minhas

mãos. Toda minha para fazer o que eu quiser. — Não aja

como se tivesse poder de decisão, pois não tem. E quanto

antes você entender isso, melhor.

— Eu te odeio, Gabriel — afirma, fria.

Ao invés de me assustar, sua declaração me


excita. Não posso resistir a este jogo.

— Não quero o seu amor, garota. — Enquanto

falo, me aproximo do seu corpo colado à parede e seus


olhos crescem de tamanho a cada passo que dou. Como
uma gatinha assustada, seu rosto não consegue esconder
o temor por causa da minha proximidade. — Sinta-se à

vontade para continuar me odiando, posso viver com isso.

— Não se aproxime de mim, Gabriel. Você me


assusta. — Está praticamente implorando, percebendo que

foi uma péssima ideia trazer o seu namorado para dentro


da nossa casa.

Agora ela está encurralada entre mim e a


parede do quarto que, por enquanto, é só dela. Digo por

enquanto, pois não sei quanto tempo irei resistir ao tesão e


ao desejo doentio que começo a nutrir por ela. No fundo,
sei que não serei capaz de me manter tão longe da

gostosa, não quando a quero como jamais quis alguém —


mesmo detestando-a com a mesma intensidade.

Raiva e desejo. A melhor e a pior decisão. Com


ela, vou de um extremo para outro, mas ainda assim não

posso deixar de me sentir estimulado ao seu lado.


Considerando toda essa bagunça, talvez seja melhor não
sentir nada e ficar só com a insatisfação. Mas o perigo que
ela traz consigo bate de frente com tudo o que sou e

preciso ser. E a atração que sinto pelo perigo é mais forte

do que eu, muito mais forte.

— Você está mesmo assustada? — Toco seus


braços e sinto-os arrepiados. Os pelinhos, que estão de pé,

não são capazes de esconder seu nervosismo. E o que,


para ela, é medo; para mim, é excitação. — Por que sinto a
sua respiração ofegante? — Estou com o corpo levemente
curvado sobre o dela e as palavras são sussurradas no seu

ouvido. — Se quer que eu te beije novamente, é só pedir,


bebê. Juro que não pensarei mal de você por isso. Posso
te dar o que quiser, desde que se comporte e faça tudo o
que eu quero.

— Então quer que eu seja sua escrava, que não


tenha voz e faça apenas o que você ordenar? — É
sarcástica, mas se a intenção é me irritar, ela certamente
está fazendo isso da maneira errada.
— Vejo que estamos começando a nos
entender, Luana.

Saboreio o seu nome nos meus lábios e imagino


o momento em que o chamarei, enquanto como a sua
boceta. Com certeza, ela estará muito molhada, pegando

fogo de tesão e me receberá quando eu socar sem dó no


seu calor apertado. Um corpo que me deixou babando
como um cachorro louco por um pedaço de carne desde a
primeira visão que tive da garota que se apresentou com
sete pedras nas mãos. Ali, soube que nada me faria

desistir de tê-la para mim. Mesmo se o seu pai não tivesse


sido tão burro, eu faria qualquer coisa para ter uma prova
do corpo apetitoso e da boca carnuda feita para envolver o
meu pau até ter os lábios esticados pelo esforço de abarcar

a minha espessura.

— Prefiro morrer a ter essa boca suja sobre a


minha ou essas mãos imundas no meu corpo. Sinto nojo
de você, Gabriel Souto. Pensar na possibilidade de ser
obrigada a fazer sexo com você me deixa doente. —
Cospe cheia de raiva, deixando transparecer o desprezo

que vejo no rosto de muita gente. Ela é apenas mais uma.

— Então, se prepare para morrer, sua


vadiazinha.

Agora o meu corpo está colado ao dela, que se


encolhe, e o cheiro do seu medo é excitante. É isso que
quero. Não quero amor ou declarações de devoção. O
importante é ela ser perfeita para os meus planos e, se a
boceta quente e os seios grandes vierem no pacote, não

irei reclamar. Luana será como todas as outras, somente


uma boceta para aliviar a tensão dos meus dias. A única
diferença é que não precisarei ir tão longe para encontrar
alívio, pois o terei dentro da minha própria casa.

— Você vai dar para mim quantas vezes eu


quiser te comer. Fará sem reclamar e sabe por quê? —
Suas mãos estão espalmadas no meu peito, mas não

como uma tentativa de apoio ou carinho. Luana quer me


afastar para longe dela, enquanto tudo o que quero é me
afundar no seu sexo e descobrir se é tão boa quanto

parece. — Você deve estar com a calcinha gotejando de


desejo por baixo desse vestido. Apesar do que sua boca
diz, seu corpo tem reações contrárias e quer que eu te
toque como você nunca foi tocada por aquele moleque que
se diz seu namorado. Aliás, ele é mais um que precisarei

tirar do meu caminho, se for necessário.

— Não abra essa boca para falar o nome do


Gustavo. — A defesa vem rápida e ferrenha, o que ameaça

despertar o animal adormecido que há dentro de mim. —

Ele é o homem que você jamais será, é um cara decente.

— Tão decente que está apaixonado por uma

mulher que foi vendida como uma prostituta — falo para


machucá-la e consigo o intento, pois a sua mão voa direto

na direção do meu rosto e só não o atinge em cheio porque

sou rápido o suficiente para frear a ação dela.


— Atreva-se a fazer isso novamente e não

gostará das consequências — ameaço e a garota tem os


olhos arregalados ao fitar-me, a respiração errática e o

rosto distorcido pela cólera e o ódio que não podem ser

disfarçados.

— Vai fazer o que, seu monstro? Me bater? —

Furiosa, a gostosa empina o narizinho arrebitado e tudo o

que eu quero no momento é rasgar suas roupas e fodê-la


até que cale a porra da boca e pare de me afrontar, ainda

mais por causa de outro homem.

Será que ainda não percebe que agora é minha

mulher? Que não existirá outro homem que não seja eu na

sua vida?

— Vou fazer isso.

Sem o controle que me orgulho de ter, puxo-a

pela cintura e, sem aviso, beijo sua boca. Um beijo que


encontra resistência e acaba rápido demais quando ela
morde com força o meu lábio inferior.

Assustado por um segundo, dou dois passos

para trás e toco a minha boca com o dedo. Quando vejo o


filete de segue, a fúria varre o meu corpo e ela mal tem

tempo de correr, pois eu já a tenho novamente contra a

parede. Desta vez, envolvo sua cintura com um braço,


enquanto o outro agarra a parte de trás dos seus cabelos,

segurando com firmeza a sua cabeça para que não tenha


como fugir ou se esquivar.

Com a língua, invado a boca macia e, com o

gosto metálico de sangue, tomo o que é meu, exijo


respostas e, sem que tenha qualquer chance, a minha

esposinha corresponde ao chupar a minha língua para


dentro da sua boca e permitir que eu imite o seu gesto. A

garota está mole nos meus braços e, se agisse movido

pela fama que tenho e na qual ela parece acreditar, poderia


me aproveitar disso, arrancar as nossas roupas e realizar o
desejo que venho alimentando desde o momento em que

coloquei os olhos nela. Mas como nem tudo é o que


parece, ajo diferente.

— Gostosa demais.

Aos poucos, vou diminuindo a intensidade e,


com uma forte mordida no seu lábio inferior, obrigo-me a

parar.

— Gabriel...

Quando a minha esposa abre os olhos, eles

estão anuviados pelo desejo que não é capaz de refrear.

— Quando você quiser, minha esposa, é só


pedir que eu virei e, com prazer, darei o que você quer. Seu

corpo e seus desejos me pertencem e quanto antes aceitar

isso, melhor será para nós dois.

— Isso nunca irá acontecer. Eu amo o meu

namorado — insiste em colocar outro homem entre nós

dois, o que é extremamente irritante. Luana não entende


que quanto mais ela toca no nome do tal namorado, mais
irritado fico e quando isso acontece, todos os envolvidos

sofrem as consequências.

— Você não tem um namorado, querida, tem um


marido. Sou o seu dono e quando quiser apagar o seu

fogo, já sabe onde me encontrar.

Com um ar espantado, ela encara o meu rosto.


Eu abaixo vagarosamente os meus olhos para frente da

minha calça e, propositalmente, manjo o meu pau muito


duro e louco de vontade.

— Seu imbecil!

Agora, muito furiosa, Luana vira-se para trás,


pega o abajur que estava sobre a mesa de cabeceira e

arremessa-o na minha direção. Se eu não fosse um

homem ágil e bem treinado, os estilhaços de vidro teriam


acertado minhas costas em vez da porta que consegui

fechar a tempo.
Fora do quarto, ouço quando Luana começa a

chorar. A mulher chora e xinga como um homem. No meu


rosto, um sorriso satisfeito se abre e, sem que haja sombra

de dúvidas, sei que esse arranjo será muito proveitoso e

que será um prazer domar essa fera.

Por quanto tempo? Isso só o meu corpo dirá. Se

depender da fome que tenho por ela, duvido que o meu

desejo acabe logo. A garota é uma bocuda, gosta de me


desafiar, mas talvez essa seja a razão de tamanha atração.

Uma febre que explorarei até me sentir satisfeito. Quando

acontecer, ela permanecerá na minha vida, pois comer sua


boceta não foi o principal motivo para eu ter me casado

com ela.

Luana Aguiar é uma ajuda providencial que veio

na hora certa e como não sou de perder as oportunidades

que caem no meu colo, ela servirá perfeitamente para


meus intentos. Amor e todas as bobagens românticas

ficarão fora da equação. Se não tive isso com a minha


família, certamente não esperarei de uma mulher que me
odeia e que, se pudesse, obrigaria seu corpo a não querer

o meu como demostrou desejar agora.


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