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Sumário

Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epílogo
Epílogo
Epílogo
Próximo lançamento
Agradecimento
Sinopse
De onde venho existe uma ordem para as coisas, sangue, honra,
família! Pensei que essa ordem era respeitada por todos até que descobri o
que estava acontecendo bem em baixo do meu nariz.
O sangue que tanto valorizamos?
Besteira!
A honra que tamos almejamos?
Nunca existiu!
A família que tanto dei importância?
Traidores, baixos e vis que fecharam os olhos para a destruição de
tudo com o que me importei, viraram as costas no primeiro sinal de
dificuldade e ignoraram erros imperdoáveis. Tudo bem, o tempo que passei
atrás das grades foi o suficiente para que se alimentassem e mostrassem
suas garras, agora que estou livre, é a minha vez de me divertir.
Vou derrubar todos! Um por um, e vou me divertir a cada segundo.
Mesmo que para isso eu precise começar sequestrando a filha do
homem que ajudou a me colocarem atrás das grades, e que a cada segundo
que passe com Anuvia Petrov, me faça desejar ser um homem melhor.
Com os sentimentos vem o risco, e mesmo que ela não entenda
minha necessidade de vingança, no fim das contas, trazê-la para o meu
mundo se torna um erro, e protegê-la se torna aquilo que mais me importa.
Prólogo
Lior
Cada vez que meu telefone toca sinto como se estivesse perfurando
meu cérebro, o som irritante não para até que pego o aparelho e lanço na
parede do outro lado da sala. Quero rir da minha situação atual, todos
aqueles em que confiei tentaram me enganar, tudo aquilo que pensei que
valesse a pena lutar para proteger é justamente aquilo que deveria ser
combatido.
Pego o lenço no meu bolso e limpo o sangue no meu rosto, gostaria
de ter feito um trabalho melhor cuidando de tudo isso, mas a verdade? Não
me importo em sujar as minhas mãos, mesmo que seja o sangue do meu pai,
a porra do meu sangue!
— O que você fez, Lior? — Meu primo e melhor amigo entra no
escritório.
O cadáver com o rosto desfigurado, que deveria ser meu pai, está no
chão, em frente a lareira, o sangue escorrendo e sujando o tapete. Espero
que não fique uma mancha no piso, vai ser difícil limpar essa merda.
— Chame alguém para limpar isso. — Mando.
— A polícia está a caminho, eles receberam uma denúncia que
teríamos drogas armazenadas.
Como se tudo tivesse sido cronometrado, a campainha toca.
— Limpe isso, não vou cair por limpar o mundo de um lixo como
esse. — Respondo.
— O que ele fez?
Saio da sala, não é minha história para contar, tenho certeza que sua
irmã vai lhe dizer tudo se estiver confortável em compartilhar a cena que
encontrei quando cheguei em casa. Passo no banheiro e lavo as minhas
mãos, enrolo uma faixa em torno dos meus dedos, só então caminho para a
porta de entrada, onde um dos empregados já abriu para o policial.
— Senhores, em que posso ajudá-los? — Pergunto.
— Recebemos uma denúncia de que havia drogas em sua
propriedade, espero que não se incomode se dermos uma olhada.
O sorriso satisfeito desse babaca é o mesmo que ele usava no
colegial.
— Espero que tenha um mandado de busca, do contrário não irá
entrar na minha casa.
— Isso é medo? — Sua provocação não faz nada comigo, nesse
momento, tudo o que não tenho é sentimento.
— Medo? De você? — Avalio. — Isso só pode ser uma piada, um
oficial tão corrupto como você? Se eu lhe desse qualquer migalha sairia
daqui, não vamos fingir que o que traz aqui é a denúncia, e sim sua
ambição.
— Posso prendê-lo por desacato.
Me inclino em sua direção.
— E eu posso denunciá-lo por invasão a propriedade privada, desde
que não tem um mandado. — Aviso. — Saia da minha casa, nesse
momento.
— Tornar meu serviço mais difícil não vai te ajudar.
— Me irritar é que não vai te ajudar, agora deem o fora da minha
casa!
— Eu vou voltar.
— E quando o fizer, não esqueça o mandado.
Bato a porta na cara dele, e volto para o escritório, o corpo do meu
pai já se foi, o sangue está sendo limpo e o tapete está enrolado no canto da
sala, a mancha vermelha brilhando como um maldito farol.
— O que faremos com o tapete? — A empregada pergunta.
— Queime.
Meu primo ainda está parado no canto, esperando que eu explique o
que aconteceu, a merda o meu “querido pai” fez, que causou essa reação, e
fez com que o matasse sem me importar.
— Você matou seu próprio pai!
— Não se compadeça desse pedaço de lixo, irá se decepcionar. —
Aviso.
— A polícia vai voltar aqui.
— Deixe que voltem.
— Não temos como limpar toda a droga, eles vão te pegar.
Dou de ombros.
— Tenho uma hora ainda, preciso que esse escritório esteja
brilhando, como se nada tivesse acontecido aqui.
— A notícia da morte dele vai correr.
— Já te disse, não há nada com o que se importar.
— O que ele fez? Seu pai era uma pessoa boa.
Pego o abajur ao lado da mesa e arremesso na parede, meu sangue
fervendo de raiva com o simples pensamento das pessoas o verem dessa
forma, diferente do verme que realmente era.
Em um acesso de raiva, agarro a camisa do meu primo e o trago
para perto do meu rosto.
— Meu pai era um maldito estuprador! Sabe como é saber que o
sangue que corre nas minhas veias pertence a um estuprador? — Falo
entredentes.
— Estuprador? Quem?
Posso ver as engrenagens girando em sua cabeça, ele é esperto o
suficiente para saber que algumas garotas da família mudaram seu
comportamento, mas ele é mais esperto ainda para entender que sua irmã é
uma das vítimas, talvez a que venha sofrendo a mais tempo.
— Minha...
— Eu o peguei batendo nela, ela estava nua e chorando... — Fecho
os olhos, reprimindo a cena. — Não é minha história para compartilhar.
É sua vez de quebrar as coisas.
— Ela está gravida, nunca me disse a quem pertencia, mas falou
que não vai abortar.
Esse dia de merda não termina nunca.
— É uma decisão dela, nós dois sabemos que não tenho muito
tempo. — Digo, a polícia está apenas buscando uma forma de me prender.
— Cuide da sua irmã, vou deixar Cash no comando das coisas enquanto
estiver preso.
— Você pode fugir.
— Mas não vou, quando eu sair, entrarei em contato. — Estudo
meu primo, essa merda vai pesar sob seus ombros. — Até lá faça o que for
preciso para deixar todos em segurança.
— E se isso significar ter de ir embora?
— Faça o que for preciso!
Vejo que as luzes do carro de polícia ainda estão paradas em frente
ao portão, pego minha carteira e saio.
— Onde você está indo?
— Me entregar.
— Pensei que...
— Se que quero pegar todos que estavam protegendo meu pai,
preciso começar fazendo com que eles pensem que tem algum poder.
No portão, o detetive ainda está esperando, me lançando um olhar
irritado quando passo pelo portão.
— Estamos do lado de fora de sua propriedade, não pode...
O interrompo com um gesto.
— Guarde suas armas, estou aqui para me entregar.
— Qual é a piada?
— Não tem piada, mas não irá me prender por tráfico de drogas, e
sim por homicídio.
Devo dar crédito ao homem, ele consegue esconder sua cara de
surpresa.
— Quem você matou?
— Meu pai.
— E onde está o corpo?
Dou uma risada leve.
— Vai ser meio difícil encontrar o corpo dele, e posso te pagar o
suficiente para manter esse detalhe escondido.
— Por que está se entregando?
— Tenho um acordo para te oferecer, mas vamos discutir isso no
caminho para a delegacia.
Muitos inimigos irão tentar me matar no tempo em que estiver lá, e
o detetive aqui, vai me ajudar, pelo preço certo, a não só sair vivo, como a
matar um a um, todos os que tentarem me prejudicar.
Capítulo 1
Anuvia
O casamento do meu primo está sendo perfeito, ver a felicidade
estampada em seu rosto, o jeito como seus olhos estão sempre seguindo
Lavínia onde quer que vá. É esse o tipo de amor que sempre sonhei em ter,
o mesmo amor que os meus pais sentem um pelo outro, sendo refletido em
cada um dos casais da minha família.
Quem diria que viver rodeada de tantas pessoas apaixonadas teria
esse efeito?
Cresci ansiando por isso, mas de todo mundo, sou aquela que teria o
dedo podre para homens? O primeiro homem por quem tive sentimentos
está fixo na ideia de sua esposa morta e não vai nem mesmo me dar um
segundo olhar. Foda-se ele, a partir deste momento, vou fingir que ele não
existe! Deixar de lado essa ideia fixa de ter um amor, às vezes ele não vem
para todos.
Os poucos convidados que não pertencem a nossa família devem
ser amigos do meu primo, Lavínia não tem muito contato com eles. E de
todos eles, o homem com a cicatriz no rosto e um olhar irritado, é o único
que chama minha atenção. Ele tem se mantido longe de todos, olhando
como se preferisse estar em qualquer lugar que não aqui.
— Anuvia, eu queria saber se pode me ajudar com algumas fotos
para a...
Levanto a mão e interrompo Daniel com um gesto.
— Lamento, mas minha agenda está ocupada na próxima semana e
nos próximos meses. — Minto. — Tenho muito a planejar para minha
exposição.
Daniel franze a testa, não acostumado a receber uma negativa
minha.
— Entendo, se você conseguir um tempo...
— Eu te aviso.
Começo a me afastar dele, mas ele segura meu braço com um
pouco mais de força, me fazendo parar e olhar para sua mão. Mesmo
desconfortável, não faz um movimento para me soltar, o que me irrita.
— Qual é o seu problema? — Sua voz não é irritada, é raivosa.
— Estou muito ocupada para isso, a grande questão aqui é
justamente o oposto, qual é o seu problema? Quem te deu o direito de
pensar que pode tocar em mim?
— Você...
— Algum problema aqui? — Eu não tinha percebido o homem da
cicatriz se aproximando, até que ele estivesse bem ao meu lado, sua voz
rouca e profunda de uma forma sensual, me deixando desconcertada.
— Não é da sua conta. — Daniel responde. — Se afaste e nos deixe
em paz.
Definitivamente, eu não conhecia Daniel o suficiente para ver esse
lado dele.
— Acho que é da minha conta quando um lixo de pessoa como
você toca uma mulher contra sua vontade.
— Lixo, sabe com quem está falando?
O homem ri e dá um passo para mais perto de mim, seu corpo
ficando colado ao meu, seu perfume intenso e amadeirado mexendo com os
meus sentidos, e me fazendo duvidar de tudo o que senti por outras pessoas.
Será que tudo que pensei ter sentido por... deus, eu nem mesmo consigo
falar seu nome sem me sentir patética, foi uma mentira descabida?
Como meu corpo e meu coração estão reagindo a esse homem, me
fez ver que eu estava indo contra a verdade. Balanço a cabeça, voltando a
discussão deles, e percebendo que o homem está segurando minha mão,
com um sorriso maldoso dirigido a Daniel.
— Você é mais estúpido do que pensei. — Ri. — Pareço alguém
que se importa com seu cargo político? Pode ser quem quiser diante do
público, mas não sou um idiota que cai no seu teatro de bom moço.
— Teatro? — Daniel ri, nesse momento, mais parecido com o
homem que acreditei que ele fosse.
Esse estranho tem razão, tudo o que vimos foi um teatro, e eu me
permiti ser enganada.
— Deve ser cansativo permanecer nesse personagem por todo esse
tempo. — Continua. — Ainda está sofrendo pela morte da sua esposa?
— Não se atreva a falar dela.
— Claro que não, deixo os mortos descansarem, como deve ser. —
Ri. — Talvez você devesse fazer o mesmo, parar de usá-la como uma
muleta diante de todo mundo e mostrar seu verdadeiro caráter.
— Verdadeiro caráter? — Daniel não acredita no que está ouvindo,
percebo isso pelo seu tom de voz.
— Ninguém é bom o tempo todo, quero pensar que o que está
acontecendo nesse momento é apenas isso, uma falha na sua máscara e a
única parte do seu caráter com a qual as pessoas devem se preocupar.
As palavras do estranho têm um efeito impressionante em Daniel,
que muda de atitude com uma rapidez impressionante, com um sorriso
simpático, o mesmo que usa em suas campanhas políticas, volta sua atenção
para mim.
— Peço desculpas pelo meu comportamento, estava apenas sendo
insistente.
— Cuidado com a sua insistência, nunca se sabe quando ela vai lhe
render uma bala no meio da testa. — Para fazer um ponto, ele estende a
mão e toca com o indicador na testa de Daniel, que engole em seco.
— Isso é uma ameaça?
— Isso é um aviso, não gosto de ameaças.
Quando ele se afasta, eu peço licença ao estranho, e vou para dentro
da casa, passo pela cozinha em direção ao quarto de hóspedes. Não percebo
que o homem que me ajudou está me seguindo até que ele segura meu
braço, seu toque é diferente, faz meu corpo formigar, firme, mas não o
suficiente para me machucar.
— Está tudo bem? — Pergunta.
Aceno com a cabeça.
— Apenas precisando de um momento para me recompor.
Ele me entrega um copo com um líquido âmbar dentro, tomo tudo
em um único gole, fazendo uma careta quando sinto a queimação no fundo
da minha garganta.
— Seu amigo é um babaca, não deixe que ele faça isso.
— Por que você me ajudou?
— Parecia que ninguém lá percebeu o que estava acontecendo.
Ele está certo, ninguém percebeu porque Daniel é uma constante na
casa dos meus pais, sempre gentil, amigável com todos, a pessoa perfeita.
Ele nunca demonstrou um comportamento diferente do perfeito, e assim
como minha família, eu não sabia que conseguia agir como um imbecil.
— Acho que confiamos de mais nele. — Deixo escapar.
— As pessoas têm a tendência em confiar de mais em quem não
conhecem, a primeira regra é nunca confiar cem porcento em ninguém.
— Essa é uma regra de merda, e a família?
Ele ri.
— Coloque a família como um dos principais a se desconfiar.
— Isso é meio... — busco a palavra certa. — Pessimista.
— Realista, na verdade, ficaria surpresa com o quanto eles podem
te foder.
Dou risada, pode ser um pouco trágico esse tipo de pensamento,
mas ele realmente acredita, e sei que muitas famílias por aí não se importam
uns com os outros, todos ansiosos por mais poder.
— Desculpe. — Cubro a boca com a mão.
— Não se desculpe, é a minha realidade. — Dá de ombros e se
aproxima, sua mão tocando a minha e a tirando da frente dos meus lábios.
— Você é linda, não deveria esconder o seu sorriso, não quando ele te deixa
ainda mais bonita.
Ele se abaixa, com calma, me dando tempo para processar o que ele
está prestes a fazer comigo e com isso, me permitindo saber se quero
prosseguir ou não.
Quando sua boca toca a minha, sua língua pressiona meus lábios
para que eu abra minha boca, é um beijo intenso, aprofundado quando sua
mão firme vai em torno do meu pescoço, me prendendo mais perto dele. É
um beijo selvagem, cheio de necessidade, seguro sua camisa, amassando o
tecido perfeitamente alinhado em minhas mãos.
Nos afastamos brevemente, sorrio contra seus lábios enquanto luto
para recuperar o folego.
— Isso foi… uau.
— Eu não quero parar. — Diz.
— Não quero que pare. — Talvez eu devesse ser mais sincera e
dizer a ele que sou virgem, mas isso estragaria nosso momento.
Sua mão vai para minha bunda, ele me ergue, caminhando comigo
até a cama, me deitando no centro dela.
— Você é linda! — Diz, enquanto a mão corre pelas minhas pernas,
erguendo o tecido do vestido conforme faz seu caminho até o topo das
minhas coxas. — E está molhada.
Coro um pouco com o seu comentário.
Um gemido escapa dos meus lábios quando ele acaricia minha
buceta por cima da calcinha, é uma sensação totalmente diferente quando
um estranho faz isso com você. Acho que o risco de ser pega torna tudo
mais emocionante.
Ele se ajoelha entre as minhas pernas, puxa a calcinha para baixo e
a próxima coisa que sei é que estou perto do paraíso. Sua língua desliza pela
minha buceta, gemo alto e emaranho minha mão em seu cabelo escuro, não
perdendo os poucos tons de prata que se misturam com os fios escuros. Ele
segura minhas coxas em um aperto firme, me mantendo presa enquanto ele
fode minha buceta com sua língua, estou perdida na sensação de tê-lo
assim.
— Goze para mim, linda.
Depois que gozo, ele se afasta, sorrindo e lambendo os lábios como
se tivesse acabado de desfrutar de sua comida favorita. É quando ele
começa a abrir o zíper da calça que escutamos vozes no corredor e em
seguida alguém tenta abrir a fechadura, eu nem havia percebido que ele
trancou a porta quando me seguiu.
— Precisa estar aqui por mais tempo? — Ele pergunta, e eu nego
com a cabeça. — Ótimo, vamos embora.
Ainda estou zonza quando ele ergue a minha calcinha, ajeita o meu
vestido e me guia para fora em direção a porta dos fundos. Ele deve ser um
bom amigo do Raphael para saber como se mover nessa casa.
Não surpreendente, seu motorista está nos esperando na saída dos
fundos, a porta do carro aberta quando ele me ajuda a entrar no veículo. A
divisória entre o passageiro e o motorista está levantada, e posso ouvir
quando dá instrução para o motorista colocar seus fones de ouvido no
máximo.
Fico curiosa com a razão da sua ordem, até que ele entra, se senta e
me puxa para o seu colo, minhas abertas de cada lado, minha buceta em
cima do seu pau. Não sei o que ele está fazendo comigo, talvez seja minha
virgindade tardia, mas começo a me esfregar nele como uma gata no cio.
Ele geme com a fricção, me segurando por um momento até ele
liberar seu pau, que é enorme, grosso e cheio de veias.
— Prometo que vou ser gentil. — Diz, interpretando errado o meu
momento. — Mas não quero foder a sua buceta em um carro com o meu
motorista sentado no banco da frente.
— Não precisa me foder, apenas vamos nos divertir. — Me assusta
como a minha voz soa sexy, abafada e cheia de necessidade.
Ele segura o meu quadril, controlando o meu movimento enquanto
me esfrego seu pau, a sensação dele deslizando pelo meu clitóris, fica mais
erótica e intensa conforme segura minha bunda com força.
— Você é perfeita. — Diz. — Essa buceta é perfeita.
Essa noite será interessante.
Capítulo 2
Anuvia
O estranho me guia até o seu carro, não me dando tempo para
pensar na loucura que estou cometendo, sua ereção pressionada contra as
minhas costas no momento em que saímos da casa do meu primo e
entramos em seu carro. A divisão entre o motorista e o banco de trás está
fechada, nos dando mais privacidade.
Ele entra no carro e me puxa para o seu colo, passo os braços em
volta do seu pescoço, e olho em seus olhos, precisando de algo para fazer
além de agir como uma virgem desesperada, beijo o seu pescoço, suas mãos
apertando na minha bunda.
— Se continuar me beijando assim, não vou ser capaz de me
controlar. — Avisa.
— Bom, porque não consigo me controlar com você. — Respondo.
Suas mãos vão para o meu cabelo, ele agarra um punhado em sua
mão e puxa para trás, me obrigando a olhar em seus olhos. Não tenho
certeza do que vejo lá, talvez seja um reflexo do tesão que estou sentindo
nesse momento.
— Fico louco quando você me olha assim. — Sua declaração me
deixa um pouco desconsertada.
Me inclino e toco os seus lábios com os meus, ele aceita o meu
beijo, e a próxima coisa que sei é que está deslizando sua língua na minha
boca. O beijo começa suave, estamos provando um ao outro, coloco minha
mão em seu pescoço, atrás de sua cabeça, sua mão na minha bunda me puxa
para mais perto dele de forma que a minha buceta esteja pressionada
firmemente contra seu pau.
Nós nos beijamos por um longo momento, dessa forma, suas mãos
guiam o meu quadril causando um atrito entre seu pau e minha buceta.
Estou arfando em necessidade, quando alguém bate na janela, o homem do
outro lado se mantém de costas, respirando ofegante, dou graças a deus
pelos vidros serem escuros e manter a privacidade.
— Porra! Não quero parar, mas não farei isso no meu carro. —
Leva um segundo ajudando a me recompor e me ajuda a sair, me perdendo
na frente, contra o seu corpo, ganhamos alguns olhares curiosos, tenho
certeza que é uma postura ameaçadora, ainda mais vinda de um homem
com sua aparência, a cicatriz em seu rosto dá a ele o aspecto ameaçador.
No elevador não consigo resistir e retomamos o que estávamos
fazendo, nos beijamos intensamente, até que o sinal das portas soa e
descemos em sua suíte, nem mesmo passamos pela porta e já estamos um
no outro. Presa contra a parede, aprecio quando sua mão começa a desfazer
as fitas do meu vestido, permitindo que ele caia no chão aos meus pés, e
revele meus seios e a calcinha de renda que coloquei esta manhã.
— Você é uma deusa. — Coro com seu elogio.
Felizmente, ele não espera uma resposta, me levando para o quarto,
onde aproveito e finalmente sinto seu pau. Ele é enorme, mesmo na calça, o
volume e a grossura são difíceis de se perder. Deixo de lado a timidez e
começo a masturbá-lo, sem parar de beijá-lo.
Ele me afasta, agarrando meu cabelo com força, ele me faz inclinar
a cabeça, dando acesso ao meu pescoço, onde começa a dar beijos,
descendo pelo pescoço até a altura dos seios, mordendo levemente e me
fazendo gemer.
— Hum mm…
Ofego enquanto o observo, ele passa a língua nos meus mamilos, de
baixo para cima e então fazendo círculos. Conforme gemo, noto que seus
olhos se tornam mais escuros de desejo, ele suga meu mamilo com mais
força, e quando solta, posso ver uma marca se formando.
Em algum momento ao longo das nossas preliminares acabamos
nus, e posso finalmente ter uma visão do homem que tem me tirado do eixo
desde o momento em que o encontrei.
Seu corpo musculoso e definido é cheio de tatuagens, posso ver
algumas cicatrizes que o tornam ainda mais sexy, seu pau enorme e grosso,
duro contra seu abdômen. Ele sobe em mim, seu pau deslizando pelos
lábios da minha buceta. Envolvo minhas pernas em volta do seu quadril,
ficando com minha buceta colada contra seu pau.
— Guie meu pau dentro da sua buceta. — Manda.
Acho que esse deveria ser o momento onde digo que nunca estive
com ninguém antes, mas não quero que ele pense que estou esperando algo
mais do que apenas uma noite de foda, por isso me mantenho em silêncio.
Seguro seu membro, fazendo como ele pediu, forçando sua entrada em
minha buceta virgem, sinto um pouco de dor conforme desliza dentro de
mim, mas mordo seu ombro para não fazer nenhum som.
— Você é muito gostosa. — Morde o meu lábio inferior.
— Isso é tão bom!
Ele nos gira, me fazendo montar dele, suas mãos na minha bunda
guiam o meu ritmo, a dor deu lugar ao prazer, nunca senti nada assim na
minha vida.
— Está gostando de ter o meu dentro de você?
— É tão bom!
— Sente o meu todo dentro dessa buceta gostosa, sente.
Seu ritmo aumenta, como se ele tivesse lutando por controle e as
minhas palavras o fizeram perder tudo, suas mãos agarram com força o meu
quadril, seu pau indo mais fundo dentro de mim.
— Vou gozar. — Digo.
— Goza para mim. — Manda.
Eu gozo, e em seguida ele explode dentro de mim, posso sentir seu
gozo jorrando dentro da minha buceta. Ficamos nessa posição por mais um
tempo, caio em cima do seu peito e ele me agarra contra ele.
Me movo para sair de cima dele, é quando ele percebe o sangue
manchando o seu pau, sua reação me pega de surpresa. Nos girando, acabo
deitada de costas, seus braços me segurando contra a cama, enquanto estuda
o meu rosto.
— Por que não me contou?
Dou de ombros.
— Não queria que parasse. — Admito.
Ele me beija, com força. Ficamos nos beijando por um longo
tempo, dessa vez é cheio de carinho, algo mais do que apenas sexo, e me
preocupo de que esteja fazendo isso apenas para que eu não me sinta mal.
— Eu não teria parado, não do jeito que te desejo. — Responde,
depois de um tempo. — Mas eu teria ido com calma, tornado as coisas mais
especiais.
Acaricio seu rosto, me inclino e beijo seu queixo.
— Foi perfeito, o melhor sexo que já tive. — Brinco.
Ele faz uma careta, mas não me preocupo, estou caindo no sono,
meus olhos estão fechados quando o escuto, ou acho que o escuto,
murmurar.
— O único que terá.
***
Acordo com o meu corpo todo dolorido, em uma cama
desconhecida, minha buceta está um pouco dolorida também, a lembrança
de como foi ser fodida por um homem intenso que sabe valorizar uma
mulher.
Não que eu tenha como comparar.
Sua mão está no meu seio, minha perna jogada por cima dele,
enquanto sua cabeça está escondida no emaranhado dos meus cabelos.
— Bom dia, linda. — Ele murmura, dando um beijo no meu
pescoço. — Está se sentindo bem?
Aceno com a cabeça.
Não quero me iludir, essa é a primeira vez que me sinto assim com
alguém, mas algo dentro de mim, acredita que encontrei o meu feliz para
sempre, o meu par.
Alguém bate na porta do quarto, o fazendo se apressar para me
cobrir.
— Chefe?
— Vou sair em um minuto. — Avisa.
Ele me dá um beijo, em seguida rola para fora da cama. Admiro sua
bunda conforme ele anda pelo quarto, atrás de sua cueca, também não deixo
de perceber que arranhei suas costas, e deixei um chupão em seu pescoço,
mas ele não pode reclamar, não quando marcou os meus seios e pescoço
também.
Estou em uma bolha feliz, quando me levantou e vou para o
banheiro, me lavo e coloco a camisa que ele descartou ontem a noite, a
próxima coisa que percebo no chão é sua cueca, eu a coloco antes de sair do
quarto. Eles estão conversando na sala, que fica ao final de um grande
corredor, percebo que estão tendo uma conversa séria, por isso caminho em
silêncio.
— Como foi a festa? Soube que do seu desentendimento com
Dimitri Petrov.
A menção do meu pai me faz parar.
— Não há desentendimento, embora seja divertido ver como todos
estão ridiculamente apaixonados e cegos a qualquer coisa de fora… — Há
um momento de silêncio e então uma risada profunda. — Se eu quisesse ter
acabado com eles ontem teria feito tranquilamente.
— E, por que não fez?
— Tenho outras prioridades.
— A mulher com quem passou a noite?
— Não, está na hora de voltar para casa e começar a limpeza de
dentro para fora.
É claro que de todos os homens disponíveis no mundo, e de todos
que estavam solteiros naquela festa, eu sairia acompanhada justamente do
inimigo do meu pai. A única pessoa que compareceu com o intuito de
prejudicar minha família.
— Certo, mas devo avisá-lo, a filha de Dimitri desapareceu ontem
da festa e ele está irritado.
Sua risada irrompe pela sala em um tom debochado.
— Isso não é problema meu.
Sem querer, esbarro na mesa e derrubo um vaso, atraindo a atenção
de ambos os homens. O rosto do homem desconhecido vira uma carranca,
enquanto o rosto do idiota com quem eu dormi, tem um sorriso convencido.
— Porra, Lior, isso é pior do que pensei. — O homem se vira
irritado. — Dormiu com a filha do Dimitri? Aquele cara vai surtar e vir
atrás de você com todas as armas.
— Filha do Dimitri?
Capítulo 3
Anuvia
Devo dar crédito ao idiota por agir como se não soubesse do que
estamos falando, é como se finalmente conseguisse me ver. Também devo
acrescentar que arruinou toda a minha bolha feliz pós-descobrimento do
sexo, pena que alguém com um pau tão bom e tão gostoso, seja um babaca.
— Mundo pequeno, não? Quem diria que todos que estavam na
festa, terminaríamos aqui? — Dou um riso confiante, escondendo meu
medo. — Dormiu comigo como uma forma de vingança?
Sou filha de Allyssa Petrov, nenhum idiota pisará em mim ou irá
me humilhar.
— Anuvia Petrov. — O som do meu nome deslizando por seus
lábios é sexy, muito mais do que gosto de dar crédito.
— Se tivéssemos nos apresentado ontem, poderíamos ter evitado
esse tipo de situação constrangedora. — Continuo, me sentando e cruzando
as pernas, escondo minha insegurança e ajo como se fosse a dona do lugar.
— Ou, talvez, você soubesse quem eu era e dormiu comigo só para se
vingar do meu pai, como você mesmo disse, minha família é vulnerável
quando o assunto é aquele que ama.
— Eu não sabia.
Reviro os olhos, o modo cadela Petrov ativado com toda força,
posso ser um doce a maioria das vezes, mas admito que tenho os meus
momentos.
— Então você é apenas burro? — Zombo. — Grande dia para foder
com a filha do seu inimigo.
Meu tom de zombaria o irrita, seus olhos se estreitando em mim.
— Anuvia. — Meu nome soa como um aviso.
Minhas palavras o irritam, ele se inclina, seu rosto muito próximo
do meu, uma carranca irritada, como se eu tivesse cutucado uma ferida
profunda dentro dele.
— Eu jamais faria isso, não jogo tão baixo! — Rosna entre dentes.
— Jamais, foderia alguém sem o seu consentimento.
— Não disse que me fodeu sem meu consentimento, eu gostei de
foder com você. — Sorrio. — Mas isso não significa que não sabia quem eu
era ou tipo de problema que criaria ao dormir comigo.
— Problema? Querida, eu sou o maior problema que pode ponderar
encontrar.
O sorriso confiante quase me faz vacilar, por um momento penso
que ele realmente está falando sério, mas ninguém seria estúpido para
ameaçar a minha família.
— Acho que não conhece meu sobrenome, apenas para o lembra,
sou uma P=E-T-R-O-V.
— E só para lembrar, eu não me importo! — Se afasta de mim,
limpa o rosto e se vira para o outro homem. — Mande preparar o carro e o
jato, quero tudo pronto para partirmos quanto antes.
Me sinto um pouco decepcionada, por mais idiota que ele seja,
nossa única noite foi muito importante para mim, dei a minha virgindade
para o inimigo do meu pai. Como se referiu a minha família, seu riso
maldoso, o torna a porcaria do vilão, e não sei como meu pai se sentiria se
soubesse o quão amigável fui com seu inimigo.
Levanto-me e começo a caminhar em direção ao quarto.
— Aonde pensa que vai?
— Me trocar, vou pegar as minhas roupas e ir embora daqui. —
Respondo. — Mas não se preocupe, não vou contar ao meu pai o quão
amigável você realmente é.
— Lamento te decepcionar gatinha, mas você não vai a lugar
algum.
Isso me faz para e virar novamente em sua direção.
— O que isso significa?
Ele ri.
— Significa que encontrei uma forma do seu pai me pagar pelos
anos que me fez permanecer na prisão. — Se aproxima de mim, suas mãos
vão para minha garganta, da mesma forma que ele fez enquanto me fodia.
— A partir deste momento, você é minha.
— Não sou um objeto que pode pegar e dizer que te pertence. —
Digo entre dentes. — Eu jamais vou pertencer a você!
— Se você se importa com a sua família, fará exatamente o que eu
mando. — Murmura no meu ouvido. — Passei anos atrás das grades
planejando a minha vingança, acha que eu não machucaria quem se colocar
no meu caminho?
— Minha família não te fez nada!
— Fez, e chegou a hora deles pagarem.
— Vai me sequestrar e pedir o resgate?
Ele ri.
— Nenhum dinheiro no mundo vai se equiparar a sua buceta.
O empurro para longe e dou um tapa em seu rosto, o impacto faz
minha mão arder e a marca vermelha aparecer em sua bochecha.
— Não sou uma prostituta, e eu jamais vou dormir com você
novamente.
Ele ri.
— Nunca diga nunca. — Ri. — E te garanto que desejará dormir
comigo, mas só vou te tocar quando estiver implorando por isso. — Se
afasta, se encostando na parede do outro lado do corredor. — Já ouvi você
implorando pelo meu pau ontem, tenho certeza que vai ser um prazer ouvir
novamente.
— Tem certeza que é esse jogo que quer jogar?
— Ou o quê? Vai correr para o papai?
É minha vez de sorrir.
— Está se iludindo se acha que a única pessoa a me ensinar coisas
foi o meu pai, mas fique tranquilo, vou te mostrar tudo o que aprendi com a
minha mãe.
Vou para o quarto, ignorando a discussão que se inicia entre eles do
lado de fora, não preciso reforçar a quão patética é a ideia dele de me
sequestrar e achar que vai se dar bem no fim das contas.
— Pronta gatinha?
— É melhor você estar pronto. — Rebato, passando por ele e
ignorando o idiota parado ao lado da porta, isso é claro até que ele estenda a
mão e me entregue um celular.
— Está me dando a oportunidade de correr? — Encaro o aparelho.
— Não, ele está te dando a oportunidade de tranquilizar a sua
família, de dizer a eles que está bem.
Sorrio sem humor.
— Dizer que estou bem? Não é mais fácil dizer a eles que estou
sendo sequestrada?
— Você está indo com as próprias pernas. — Desliza seus olhos ao
longo do meu corpo.
— Vamos deixar claro, se ligar para o meu pai, ele não ouvirá nada
do que eu disser, na verdade, entenderá tudo ao contrário e no fim do dia
vocês dois estarão em uma vala, ou no estômago de algum animal. — Dou
de ombros, como se não me importasse. — Não que eu me importe.
— Avise a sua família. — Manda. — E se tentar bancar a
engraçadinha, vai sofrer as consequências.
— Tenho certeza que sim. — Reviro os olhos.
Ligo para a minha mãe, ela é a pessoa racional na história, que vai
me ajudar e dar cobertura quando toda essa situação se tornar complicada.
Além disso, não sei como direi para o meu pai que estou com seu novo
inimigo que fode como a porra de um Deus, e que se ele o matasse, não só a
minha buceta sofreria, como o meu coração.
— Alô? — O tom preocupado da minha mãe me deixa culpada, sai
da festa sem dizer nada a eles, os fiz se preocupar enquanto me divertia com
o Deus do sexo babaca.
— Oi, mãe, tudo bem?
— Anuvia, filha, que número é esse?
Faço uma careta com a mentira que estou prestes a dizer.
— Meu celular acabou a bateria.
— Seu pai e seus irmãos estão todos preocupados, eles estavam
pensando que você tinha sido sequestrada por um dos convidados.
— Na verdade, sai com um dos convidados, nós estamos…
O telefone é arrancado da minha mão, acho que Lior percebeu que
eu estava prestes a arrumar uma mentira para toda essa situação.
— Senhora Petrov, eu sou Lior… — Ele ri quando é interrompido
pela minha mãe. — Anuvia e eu estamos nos conhecendo, garanto que
tenho as melhores intenções com ela, por isso gostaria de avisá-la que
estamos voando para a minha casa… não se preocupe, ela está segura
comigo.
O sorriso fácil parece pegar o segurança, ou seja, lá o que for de
surpresa, ele está observando Lior com uma cara de idiota, como se nunca
tivesse o visto sorrir. Depois de um tempo, o telefone é colocado novamente
em minhas mãos.
— Aproveite sua viagem querida, não se preocupe, vou manter seu
pai controlado.
— E se eu dissesse que isso é um sequestro?
— Querida, é assim que os melhores relacionamentos funcionam,
na verdade, deveria ser uma tradição em nossa família. — Quero gemer em
irritação com a sua resposta. — Fique segura, eu te amo.
— Que porra foi essa? — Encaro o celular, Lior ri e guarda o
aparelho em minhas mãos.
— Gosto da sua mãe.
Passo por ele, não perdendo a chance de destilar um pouco de
veneno.
— Talvez decida poupar um dos Petrov.
Sorrindo, ele me puxa para os seus braços, me apertando firme
contra seu corpo.
— Acho que vou manter mais do que apenas um Petrov vivo. —
Prende a ponta da orelha entre seus dentes, causando arrepios por todo meu
corpo e deixando minha buceta molhada. — Estou até ponderando entrar
para a família.
— Nunca ficaria com você. — Respondo ofegante.
— Tenho certeza que se eu levantar seu vestido, sua buceta vai estar
molhada pronta para receber o meu pau. — Sem querer, solto um gemido
involuntário, o fazendo sorrir. — Não sou o mocinho aqui. Anuvia, desta
forma, é melhor que aceite que está presa a mim, porque posso te garantir
que não irá a lugar algum.
O empurro longe de mim e cruzo os braços.
— Vou fazer da sua vida um inferno.
— De o seu melhor, estive no inferno por um longo tempo, e posso
te garantir que se você estivesse lá, teria sido como céu.
— Babaca!
Me sinto uma criança birrenta quando saio do quarto de hotel e vou
para o elevador.
— Gatinha, guarde suas garras no momento, estamos apenas
começando.
Capítulo 4
Lior
Anuvia Petrov, eu deveria saber que o meu pau me colocaria em
encrenca, só não esperava que tal problema seria com uma mulher treze
anos mais jovem que eu. Meu problema com Dimitri não era grande, era
apenas a ponta do iceberg, que acabei de tornar algo monumental ao dormir
com sua filha.
A última vez que vi uma imagem da filha dele, Anuvia era uma
garota estranha, que passava grande parte do tempo escondida. Como
aquela garota, se tornou essa mulher maravilhosa?
E o mais importante, como vou fazer com que ela me queira? Agi
como um babaca, e sequestrá-la, foi a única forma de evitar que fugisse,
Dimitri é um pai super protetor, ele jamais me deixaria chegar perto de sua
preciosa menina. Agora, não me importo mais com o que ele pensa, não sou
um cara bom, não vou esperar e pedir permissão para pegar algo que quero,
algo que considero meu.
É claro que Anuvia não facilitaria as coisas para mim, o que não é
uma grande surpresa, na verdade, ela fica fofa quando age toda durona e
pronta para esmagar as minhas bolas. O que não é fofo é ter que lidar com o
seu temperamento com a irritação dos meus amigos, eles não estão felizes
por eu me meter com uma Petrov, não quando deixei claro que Dimitri
poderia ser um problema.
— Sabe, não importa quanto tempo passe, você ainda vai desejar
nunca ter me conhecido. — Anuvia se senta, a comissária de bordo se
aproxima, se inclinando na minha direção. Quando se afasta, Anuvia bufa.
— Isso é tão previsível que nem mesmo me surpreende.
— Com ciúmes? — Arqueio minha sobrancelha.
Meu comentário a faz revirar os olhos, sua atitude a deixa ainda
mais bonita.
Eu devo ter batido a cabeça em algum momento, não passei anos
preso planejando cada passo que daria quando saísse, para ter tudo isso
arruinado pelo meu coração e pau estúpidos. Assim como não sou idiota
para não perceber que a mulher sentada na minha frente é a única capaz de
me colocar de joelhos e me fazer desistir de tudo.
O único problema aqui, é sua família, de forma mais específica, seu
pai. Por que motivo ele me manteria na cadeia por um longo tempo, e
depois simplesmente me soltaria? Alguma coisa não se encaixa aqui.
— Por quanto tempo pretende me manter aqui?
— Sempre.
— Não quero ficar com você.
Ignoro seu comentário, irritado com o desdém que ela lança na
minha direção. Mesmo disfarçando, sei que ela sentiu a mesma conexão que
eu, a química que temos vai muito além de algo sexual, é desejo puro.
— Acha que me importo com isso? — Me inclino perto do seu
rosto, resistindo a vontade de beijá-la. — Você é minha, quer queira, quer
não. E não vou permitir que vá embora, e irei matar quem tentar tirá-la de
mim.
— Isso é... você não é uma boa pessoa.
— Olhe bem para mim e veja se me importo? — Aponto para o
meu rosto. — Não sou como os fodidos idiotas por aí que agem segundo a
moral e os bons costumes, é melhor que saiba disso.
— Não gosto de você!
— Tudo bem, eu gosto de você o suficiente por nós dois agora, e é
uma questão de tempo até que deixe de mentir para si mesma e lembre da
nossa noite. — Respondo. — Por que acredite ou não, eu sei que gostou de
ter o meu bem fundo na sua buceta, e também sei que sentiu a ligação que
temos.
Anuvia não responde, na verdade, me ignora até que pousamos na
minha cidade, e o carro com o motorista nos espera. Mesmo sem olhar para
minha cara, ela aceita a minha ajuda, até o momento em que chegamos na
nossa primeira parada, esse é o único lugar que importa e que ela precisa
conhecer.
Meus amigos estão esperando por mim, suas carrancas um reflexo
da que tenho visto durante todo o voo e o trajeto.
— Bom trabalho babaca, foda com a filha de Dimitri Petrov. —
Calum me cumprimenta.
Seu tom é cheio de desprezo, irritado até mesmo, quero socá-lo por
agir dessa forma na frente Anuvia, mas não preciso me preocupar, minha
gatinha já está irritada, e Calum está prestes a descobrir.
— Fale o nome do meu pai dessa forma mais uma vez e vamos ver
o quão rápido eu vou foder com a sua vida. — Anuvia ameaça, e ao
contrário da outra vez, quando ela me ameaçou, acredito em suas palavras.
— Calma gatinha, guarde suas garras, Calum aqui só é um idiota.
— Deve ser um mal em comum entre vocês. — Passa por mim,
entrando no galpão antigo em que transformei em um prédio residencial,
cada andar pertence a um dos meus amigos, e no subterrâneo temos armas e
equipamentos.
— Tenho a sensação que ela vai ser um problema. — Comenta.
— Vamos conversar e organizar tudo, iremos para a mansão em
dois dias.
— Reuni todas as informações que consegui, eles estão limpando o
lugar para você.
Faço uma careta, não gosto da ideia de voltar para aquela casa,
lembrar de tudo o que vi e o que fiz, mas lá é onde vou mostrar que voltei, é
onde os meus inimigos irão finalmente ter noção do quanto devem me
temer.
— Acha que é uma boa ideia deixar sua garota sozinha lá dentro?
— Asher ri, não me surpreende que ele seja aquele que goste da
personalidade assassina de Anuvia.
— Ela provavelmente já pensou em mil maneiras de nos matar.
Eles dão risada do meu comentário.
— Ainda não consigo acreditar que caiu para uma Petrov.
— Nem eu.
Anuvia está me esperando em frente ao elevador, encostada na
parede com os braços cruzados, cabeça para trás e olhos fechados. Mesmo
irritada como uma fera, ainda é a mulher mais sexy que já vi na minha
vida.
— Achei que ficaria esperando aqui por muito tempo. — Reclama
quando me vê. — Qual é a do QG? É aqui que planejam seus planos
mirabolantes?
Dou de ombros, seguro sua mão, entramos no elevador e eu coloco
a senha para o meu andar. Anuvia não parece impressionada com o lugar,
mas seus olhos estreitam na estante de livros com um sofá confortável
próximo à janela.
— É apenas um lugar temporário, se precisar se esconder venha
para cá. — Aviso, tendo ciência que não estou a levando para um mundo
muito seguro.
— Muitas pessoas tentando te matar?
— Resolvi a maioria dos meus negócios enquanto estava na prisão,
os que ficaram são aqueles que quero destruir com as minhas próprias
mãos.
— Posso conviver com isso, desde que não se meta com a minha
família.
— Seu pai o manteve preso por anos. — Calum contribui com sua
pequena cota de informação.
— Meu pai não faz as coisas de maneira leviana, se ele fez isso e
depois te soltou, mesmo correndo o risco que fosse atrás dele, significa que
teve um motivo. — Me olha com atenção. — Não vou ser aquela a fazer as
perguntas que você deve se fazer.
Passando por mim, ela vai direto para a cozinha, abre a geladeira e
começa a vasculhar. Os caras estão um pouco chocados com seu
comportamento, mas eu não, Anuvia não vai agir como a garota tímida e
inocente que era quando estávamos juntos, não enquanto ela pensar que
precisa se proteger de mim.
E nesse momento? É melhor garantir que ela esteja atenta, mesmo
que me mate vê-la dessa forma.
Calum continua observando-a andar pela cozinha, enquanto presta
atenção na nossa conversa.
— Entendi que a garota faz parte de sua vida. — Diz em voz baixa.
— Mas trazê-la aqui vai arruinar os seus planos.
— Ou talvez ajude, todos pensam que você não sabe o que tem
acontecido, que os perdoou, estar com a filha do Dimitri vai ser ótimo para
sua história.
Bato na mesa irritado.
— Não comecem, Anuvia não faz parte dessa merda!
— Então, por que a trouxe? — Calum pergunta.
— Porque ele está apaixonado. — Asher conclui.
— Isso não sai daqui. Ela não está muito feliz comigo e como tenho
agido nas últimas horas.
— Essa merda vai voltar para te morder a bunda.
Aceno com a cabeça.
— Passei anos prezo naquele inferno para garantir que tudo
ocorresse como eu queria, renunciei a muitas coisas, não vou abdicar dela.
— Talvez você não precise, se Dimitri Petrov colocar as mãos em
você, isso tudo vai pelo ralo.
— Em uma coisa a garota tem razão. — Calum me surpreende. —
Se Dimitri te quisesse morto você não estaria aqui, a prova disso é Raphael,
ele não dava a mínima, por que ele não fez? O que ele ganharia te mantendo
lá?
Essa é uma pergunta interessante, tenho certeza que irei descobrir.
Mas, como eu disse antes, Dimitri não é o meu foco principal, não enquanto
a minha gatinha estiver na minha vida. Se ele tentar interferir, no entanto,
na primeira tentativa dele em nos afastar, irei me voltar contra ele.
O telefone de Asher vibra, ele se afasta para atender, voltando
minutos depois com uma careta.
— Qual é o problema?
— Pegaram um dos traficantes e estão levando para a antiga sala de
reuniões do seu pai.
— Parece que nossos negócios por aqui acabaram no momento,
espero que tenha se alimentado bem, gatinha, temos um lugar para ir.
Anuvia larga seu sanduíche no prato e me encara, ela tem feito
greve de silêncio nos últimos dez minutos, ignorando totalmente a nossa
existência.
— Me sequestrou para ser sua sombra? — Zomba.
— Uma sombra sexy como você? Seria desperdício.
Capítulo 5
Anuvia
Lior é corajoso ao me “sequestrar” e se achar do direito de mandar
em mim e me tratar como se cachorrinho que faz o que ele manda. Seus
amigos pegam as armas que estavam na mesa de centro na sala e nos
esperam perto da porta.
— Preciso ir ao banheiro. — Cruzo os braços e espero que um deles
me diga onde fica.
Os três se viram e me encaram, como se não pudessem acreditar no
meu pedido. Aproveito o momento para admirar, os três homens, eles são
bonitos de jeitos diferentes, Calum parece com um modelo sexy, o típico
bad boy que não se importa com quantos corações ele deixa partido, e com
seus olhos azuis? Ele deixa muitos corações partidos. Asher é o garoto da
casa ao lado, ele tem um sorriso fácil e tenta se divertir a maioria do tempo,
posso até mesmo ir longe e nos imaginar sendo amigos.
— Agora? — Calum finalmente quebra o silêncio.
— Não, semana que vem! — Ironizo. — Estou apenas avisando
para garantir que nenhum de vocês decida usar na mesma hora. — Cruzo os
braços e bato o pé irritada. — É claro que é agora, idiota.
Asher ri, na verdade, ele cai na gargalhada, é um som legal, gostoso
de se ouvir, e seu comportamento alivia um pouco a tensão no meu corpo.
Acho que estou o encarando, perdida em meus pensamentos, e com o
quanto ele me lembra meus primos, que não percebo quando Lior se coloca
na frente, tampando minha visão do seu amigo.
— Viu algo que gosta? — Sua voz é ciumenta.
Corro meus olhos por seu corpo.
— Talvez. — Olho em volta. — Quanto antes eu for ao banheiro,
antes podemos terminar com essa situação.
Asher decide me tirar da minha miséria.
— O único banheiro abastecido é o do quarto do Lior, não
recebemos muitas visitas e ele não gosta que a gente use. — Ele pisca de
forma conspiradora.
Sigo pelo corredor até o quarto do Lior, é um quarto com janelas
enormes, uma das paredes é toda feita de vidro, iluminando o ambiente a
qual as paredes são cor de cimento, com as molduras da janela pretas, o
piso é em um tom de madeira escuro. Tenho que admitir que é bonito e
organizado, me obrigo a resistir a vontade de bisbilhotar, e vou para o
banheiro, iluminado com uma grande janela aberta.
Faço as minhas necessidades e saio, reparando no closet do outro
lado do quarto, não resisto e entro, olhando entre as camisas e calças dele.
Estou distraída quando escuto Lior entrar no quarto e correr para o
banheiro, ele reclama, xingando em voz alta, fico em silêncio, tentando
entender o que está acontecendo.
— Ela fugiu, porra! — Rosna, saindo do quarto.
Vou atrás dele, Lior não seria tão idiota a ponto de não me procurar
em outras partes da casa, não é? Na cozinha, os três estão parados,
escutando enquanto Lior dá ordens para que eles me encontrem e me
tragam até aqui, ele também dá ordem para que não me toquem, o que os
faz franzir a testa.
Como ele espera que me tragam sem que me toquem?
— O que vocês estão fazendo? — Pergunto.
— Onde diabos você esteve? — É a resposta irritada dele, que vem
na minha direção e me puxa contra seu peito.
É uma sensação boa, na verdade, é uma sensação ótima, me sinto
acolhida e protegida pressionada contra seu peito. Isso dura até eu lembrar o
motivo que me trouxe aqui e sua raiva contra minha família.
— Estava no seu closet, pensei em pegar uma blusa. — Mostro o
moletom que estou usando. — Está frio lá fora. — Minto.
Admitir que peguei a blusa porque cheira como ele não é nada que
desejo fazer em nenhum momento.
— Nem chegou aqui e já está nos causando problemas. — Calum
reclama, indo para o elevador.
Ignoro, tenho a sensação de que farei muito isso nos próximos dias.
— Ah, que fofo, pensaram que eu tinha fugido? — Passo por eles e
entro no elevador. — Sou uma Petrov, só uso a porta da frente.
O riso de Asher confirma o que pensei a respeito dele, ele leva tudo
na brincadeira e torna as coisas mais divertidas, como o marido de Charlie,
mas tenho certeza que assim como ele, Asher também é uma bomba e
quando explode, causa o caos puro onde passa.
No estacionamento, Lior abre as portas de uma Lamborghini
Veneno Roadster, meu primo tem uma dessa em sua garagem, acho que das
nove espalhadas por aí, três pertencem a minha família, e agora a quarta
pertence ao nosso inimigo.
— Impressionada? — Calum para atrás de mim e pergunta.
Encaro ele sem acreditar que está me fazendo essa pergunta.
— Apenas esperando que você abra a porta para mim. — Cruzo os
braços esperando que ele abra a porta.
— Não está nenhum pouco impressionada? — Asher me estuda.
— Meu pai e primo tem uma dessas.
— Seu primo? O piloto? — Aceno com a cabeça. — Porra, eu sou
fã dele.
— Quem sabe eu não os apresento?
— Mesmo? — Ele parece uma criança na manhã de natal.
Lior passar por eles e abre a porta, ele se abaixa para prende o sinto
e sussurra no meu ouvido.
— Tentando comprar os meus homens?
O arrepio percorre minha pele e vai parar na minha buceta, esse
homem é um perigo para minha libido e para o meu coração.
Lior não me dá tempo para responder, ele sai e fecha a porta do
carro, depois de uma breve conversa com os Calum e Asher, assisto
enquanto dá a volta e entra no carro. Motor ronrona e os pneus derrapam
enquanto acelera para fora do prédio, e coloca o carro na estrada. Olho pelo
espelho e vejo outros dois carros esportivos de luxo nos seguindo.
Homens e seus brinquedos!
— Onde estamos indo?
— Casa. — Sua resposta é curta e direta.
— Por que parece que você não quer estar lá? — Estudo seu rosto,
em busca de qualquer emoção.
— Não quero, aquela casa não é um lugar que gostaria de voltar,
nunca.
— Você cresceu lá?
— Sim, minha família é dona daquela propriedade desde antes de
eu nascer.
Meu pai sempre fez o possível para nos deixar prontos para todas as
situações, mesmo aquelas onde teríamos contato com outras famílias e
perceberíamos que a maior pare delas é má, e que não tem os mesmos laços
de respeito que a nossa.
— A pessoa que você está indo atrás, fez algo muito ruim?
— Você não está mais no seu mundinho colorido, Petrov.
Seu tom zombeteiro me cala, e passo o resto do caminho em
silêncio. Assim como a minha família, Lior e seu clã tem uma mansão
enorme, cercada por guardas armados, portões altos e câmeras de última
tecnologia, mas ao contrário da minha família, esse lugar passa uma
sensação de perigo, como um quartel-general.
— Casa legal. — Minto.
Lior ri.
— Não precisa mentir para mim, gatinha. — Responde, parando o
carro e saindo, antes que eu possa sair, ele está do meu lado, abrindo a porta
e estendendo a mão. — Fique perto de mim.
— Eu deveria latir também?
— Anuvia! — Me repreende.
— Deve ser uma sensação péssima de não confiar em seus próprios
homens.
— Não me importo em confiar em alguns deles com a minha
segurança, mas jamais vou confiar você a eles.
— Medo que eu fuja?

Lior passa seus braços em volta do meu ombro de forma possessiva,


inclina sua cabeça perto da minha, mais uma vez me pego lutando contra
como esse homem me faz sentir, o poder que um simples toque tem.
— Eu jamais confiaria a sua segurança a alguém além de mim.
Um homem loiro usando um terno desce as escadas, ele é muito
bonito e pela sua aparência, tem alguma relação de sangue com Lior, talvez
sejam irmãos? Nego com a cabeça, eles parecem ter a mesma idade, o
estranho fica parado ao lado da porta, sorrindo feliz por estar vendo Lior,
até que seus olhos pousam em mim e ele faz uma careta.
Parece que ninguém além do Asher e Lior estão felizes com a
minha presença.
Lior mantém seu aperto em mim, passamos pelo estranho e
entramos na casa, que grita luxo e frieza, vamos direto para o escritório,
onde se senta atrás da mesa, segurando minha mão firmemente ao seu lado.
Isso atrai a atenção do estranho.
— Lior, eu não tinha ideia que traria companhia.
— Cash! — Lior o repreende. — Não comece com essa merda.
— Não comece? Me pediu para ficar no comando de tudo enquanto
resolveria as coisas de forma rápida, e graças ao Petrov, passou anos lá.
É oficial, acho que todos nesse lugar odeiam o meu pai, e acho que
terei que ter uma conversa direta com o senhor Petrov, para esclarecer as
coisas e colocar tudo nos eixos. Talvez eu faça isso quando conseguir dar
uma volta por aí.
Ao contrário dessas pessoas, eu conheço o meu pai, o homem que
me criou não foderia com a vida de alguém apenas por prazer, não depois
do que meu avô fez escondendo meu irmão dele e fazendo minha mãe
pensar que Zack estava morto.
Volto minha atenção para a briga dos dois, balanço a cabeça.
— Merdas acontecem, você fez um bom trabalho e eliminamos
nossos inimigos.
Cash me olha quando responde;
— Quase todos.
— Olha, eu não me importo com os problemas que vocês têm, não
me queria aqui? Ótimo, eu também não queria, mas não tive escolha. —
Respondo. — E por mais merda que seja, acho que estão cometendo um
erro enorme em não conversar com o meu pai e perguntar de maneira direta.
— Tire seus óculos cor de rosa, princesa. — Cash é venenoso.
— Só me chame de princesa quando tirar esse pau da sua bunda, até
lá, boneca, mantenha sua voz baixa quando falar comigo. — Me inclino
contra a mesa. — Está me ouvindo? Sei que não começaram uma guerra
com a minha família porque não aguentariam a luta, então não me irrite, se
acha que minha família é perigosa, deveria ver quando se metem com suas
filhas.
Dito isso, solto a mão do Lior e caminho em direção a porta, mas
Cash segura meu braço, ao contrário do toque de Lior, ele aperta com força,
me machucando. Não tenho tempo para reagir, antes que eu responda, Cash
é arrancado de perto de mim e pressionado contra a parede, as mãos de Lior
apertando sua garganta, um sorriso assustador.
— Família ou não, você toca na minha mulher e eu vou cortar sua
garganta.
Cash acena com a cabeça.
— Viu o que ela fez com a sua cabeça.
— Com a minha cabeça? Você é melhor do que isso, primo. —
Fala. — Não deixe tudo o que lutamos para superar manchar o homem que
sei que você é.
Cash abaixa a cabeça, os dois trocam olhares e então ele se afasta.
— Desculpe.
Aceno, não conseguindo falar mais nada.
— Nossos convidados estão nos esperando. — Lior solta seu primo,
estendendo a mão para mim, eu pego, ainda sem reação com sua atitude.
Sempre vi os meus primos e irmão defendendo suas mulheres, sua
reação sempre extrema, mas a raiva deles é normalmente contida quando se
trata da família, não que aconteça muito, mas as brigas são sempre verbais.
Lior ir contra o seu primo, alguém que sempre esteve com ele para me
proteger é doce.
— Lior? — Murmuro.
— Sim?
Não vou mentir e dizer que não amo a maneira que ele para
totalmente de andar, e se vira para se concentrar única e exclusivamente em
mim. É como se no momento que eu falo, o resto para de existir.
— Estou com fome. — Admito.
O sanduíche que fiz em seu apartamento ficou lá, eu estava me
sentindo muito nervosa e preparei apenas para ter o que fazer. Percebendo
que estou sendo honesta, Lior sorri, acenando a mão para seu primo, que
está conversando com Calum e Asher.
— Algum problema?
— Vamos comer alguma coisa, adie a nossa reunião para amanhã.
Mesmo com uma careta, Cash concorda.
— Tudo bem, amanhã os outros estarão aqui e poderá anunciar a
todos.
— Talvez deva dar uma festa. — Sugiro, e ambos me encaram. —
O quê? Nada abala mais as pessoas e pega de surpresa do que uma grande
aparição, olhe a reação das pessoas e será mais fácil descobrir seu inimigo.
— Vou cuidar disso. Boa dica, princesa. — Cash acena e se afasta.
— Viu só, pãozinho doce é uma ótima adição ao time. — Asher,
minha pessoa favorita e a única pessoa que pretendo trazer para minha
família, diz.
— Pãozinho doce? — Cash desdenha de seu apelido. — Está mais
para ameaça.
Meu estômago ronca, me impedindo de entrar na discussão deles.
— Vamos gatinha, está na hora de te alimentar.
A única coisa que chego à conclusão é que ao final disso vou ter
desenvolvido múltipla personalidade.
Capítulo 6
Anuvia
Ontem, após ter comido e me mostrado a casa, Lior me mostrou o
“nosso” quarto, no começo pensei em o enxotar porta afora e dizer que
dormiria sozinha, mas tendo conhecido alguns membros de sua equipe, e
poucos dos funcionários, pude perceber que eles me odeiam, e
considerando que Lior não confia em muitas pessoas por aqui, achei mais
prudente mantê-lo por perto.
É claro que seu corpo sexy e nu deitado ao meu lado, com sua perna
jogada por cima de mim e seu braço me mantendo perto dele, como se
estivesse com medo que eu fosse fugir, não mexeu comigo e não é a razão
para eu estar há meia hora lutando contra o chamado da natureza. Quando
finalmente sinto que minha bexiga vai estourar, me liberto de seu aperto e
caminho em silêncio até o banheiro.
— Bom dia. — Solto um grito quando Lior entra no banheiro
enquanto estou fazendo xixi.
— Dá licença? Estou usando o banheiro!
— Não faça beicinho, gatinha, já provei a sua buceta, fomos muito
mais íntimos do que isso.
— Escuta aqui! Chupar a minha buceta não te dá o direito de me
ver fazendo xixi, isso é algo extremamente particular.
— Isso não faz sentido!
— Você não faz sentido, seu pervertido.
Ergo minha calcinha, lavo as mãos sem nem mesmo olhar para ele e
marcho em direção ao quarto, vou para o closet, pegando uma de suas
camisetas, que parece ser antiga, de uma banda de rock e coloco.
— Estou seriamente tentado a cancelar as roupas que pedi para
você, gosto de te ver usando as minhas roupas.
— Conhecendo você, não duvido que faria algo assim, por isso não
se atreva!
— Ou o quê?
— Vou arrancar suas bolas fora e te sufocar com elas enquanto você
dorme. — Sorrio de forma doce.
— Sabe o que é pior? Eu realmente acredito que faria algo assim.
— Se troca, me entregando uma calça de moletom velha.
Coloco e mesmo ficando grande, é um pouco menor do que suas
roupas atuais, então sou grata.
— Essas roupas são menores, são de outra pessoa?
— São as roupas que eu usava quando era adolescente. — Explica.
— Por isso se encaixam melhor em você.
— Elas ainda são enormes, é meio difícil te imaginar sendo menor.
Deixo meus olhos correndo por seu corpo, ele é enorme e
musculoso.
— Antes de ser preso eu não era tão maior quanto suas roupas, a
prisão fez isso comigo. — Admite.
Isso me lembra que preciso ter uma conversa com o meu pai, ou
talvez, permitir que Lior descubra a verdade. Lior é o vilão da minha
história, aquele que está tentando atingir minha família através de mim, me
recuso a acreditar que meu pai é o vilão da sua. Tem que haver um motivo!
— Disse que meu pai te manteve na prisão, mas não contou o que o
levou até lá.
— A polícia. — Sua resposta engraçadinha me faz revirar os olhos.
— Vivo nesse mundo tempo o suficiente para saber que a polícia é
sempre comprada, e você e sua família tem dinheiro. — Aceno em volta. —
Por que foi parar na cadeia? Sem a besteira de ter feito isso para se vingar.
— Gatinha...
Interrompo com um gesto.
— Estou aqui, Lior, tentando confiar em você mesmo, com todos
aqui obviamente me odiando. — Lembro. — Se minha família te fez tanto
mal, por que me ter aqui?
— Eu já disse.
— Sim, toda a coisa de me pegar como moeda de vingança, se vou
ficar com você, se vou lutar ao seu lado, seja lá contra quem está disposto a
te matar e arriscar decepcionar os meus pais, espero que seja honesto.
— Eu matei meu pai. — Sua breve resposta não me diz muita coisa.
— Então o quê? Foi preso por culpa?
Ele ri.
— Culpa? Não, meu pai mereceu, ele era um fodido estuprador e eu
o peguei no ato. — Prendo a respiração, não sabia que ele tinha presenciado
algo assim. — Não fui para a cadeia apenas para descobrir quem eram
aqueles que o apoiavam, fui para me lembrar todos os dias de quem era
filho e do que era digno.
Lior nem mesmo consegue olhar para mim, se vira de costas e apoia
as mãos na parede, me aproximo e o abraço por trás, encostando meu rosto
em suas costas. Fecho os olhos e aproveito esse momento. Sua família, seus
primos não perceberam o que estava acontecendo, não perceberam que
muito mais do que prender seus inimigos, ele estava se punindo pelos
crimes do seu pai.
— Você não é o seu pai! — Afirmo para ele. — Mesmo sendo um
idiota a maioria do tempo, você é um bom homem.
— Não coloque a lente colorida e me veja como alguém bom, eu
mato pessoas e não perco o sono por isso.
— Talvez eu precise te apresentar a minha família. — Provoco,
começando a me afastar, mas ele me puxa contra seu corpo, me prendendo
contra sua ereção.
— Estou te avisando, gatinha, eu não me importo com nada e nem
ninguém além de você, por isso não tente correr e fugir de mim, porque eu
vou destruir tudo e todos que se colocarem entre nós.
— Foque na sua vingança.
— Fique perto de mim o dia todo, como eu já disse, não confio em
ninguém além de mim com você.
— Por quê? Tenho certeza que Asher seria um bom guarda-costas.
— Primeiro, eu sou o único que morreria por você e iria feliz para o
inferno sabendo que está segura. — Sua mão corre pelo meu pescoço,
deixando minha buceta molhada com como ele fala. — Segundo, qual é a
sua coisa com Asher? Devo matar meu amigo?
Sinto seu aperto contra o meu rosto, como se estivesse me
desafiando a dizer algo além de amizade.
— Ele me lembra o meu irmão e alguns dos meus primos, apenas
família. — Explico, e ele me solta.
— Que se mantenha assim, vamos.
A montanha-russa de emoções que Lior me coloca é demais até
mesmo para mim, ele consegue me levar de quente a com muita raiva dele
em questão de segundos. Quem esse idiota pensa que é para dar ordens
desse jeito?
— Quero um telefone para falar com a minha família.
— Falou com a sua mãe antes de chegarmos aqui.
— Caso não saiba, moro com os meus pais, babaca, os vejo
diariamente.
—; Por isso, pode esperar mais um tempo.
Segurando minha mão, me arrasta para fora do quarto, em direção
ao andar de baixo, passamos por salas enormes, mas que não tem nenhum
conforto, nenhum calor familiar, até chegar a uma sala de jantar. Ainda não
esqueci, e tenho certeza que o meu comportamento com ele vai ser ditado
se ele me entregar um telefone ou não.
Os amigos de Lior e seus primos estão sentados à mesa, com outros
três homens que parecem igualmente perigosos e enormes, todos se
levantam e vem o abraçar, mesmo com todos os seus amigos o esmagando,
sua mão continua firme na minha. Quando se afastam, os três
desconhecidos me encaram.
— Bom, porra, você realmente gosta de brincar com o perigo. — O
loiro com o cabelo platina diz. — É um prazer conhecê-la, eu sou Aiden. —
Segurando minha mão, ele faz uma espécie de reverência, em seguida a
beija.
Lior revira os olhos, assim como os outros dois atrás dele.
Assim que Aiden se afasta, o homem negro que eu poderia jurar
que se parece muito com Michael B. Jordan se aproxima, me dá uma
piscadela amigável, mas não diz nada para mim.
— É bom ter você em casa. — Sua voz suave é dirigida a Lior.
— É bom estar em casa. — Diz, mas posso dizer que não está se
referindo a essa construção e sim a perto de seus amigos.
Por fim, o último homem que se parece muito com Aiden, mas não
tem o cabelo loiro platinado, e sim escuro, se aproxima, ele tem uma
cicatriz em sua sobrancelha, que o deixa com um aspecto ainda mais sexy.
Sua voz é grossa, e, ao mesmo tempo ameaçadora e suave, como se fosse
uma serpente elegante antes de dar o bote.
— Peço desculpas pelo meu irmão, não é todo dia que temos uma
convidada tão importante, muito menos sendo uma Petrov. — Ele estende a
mão para mim, sem me intimidar o cumprimento. — E tenho certeza que
toda a tinta platinada está mexendo com seu cérebro. — A crítica me faz rir,
é algo que posso ver os meus primos falando.
Lior me puxa para mais perto dele.
— Anuvia, esses são Ravi — aponta para o cover ainda mais sexy
do Michael B. Jordan — Esse com quem acabou de falar é Levi, e conheceu
seu irmão gêmeo Aiden.
— É um prazer conhecê-los. — Digo com sinceridade.
Asher acena, como um filhote de cachorro em seu lugar na mesa,
aceno de volta, ignorando Cash e Calum, que como de costume, fazem o
melhor para ignorar minha presença e fingir que não existo.
— Asher pare de agir como um idiota. — Calum briga com ele.
— O quê? Estou animado em ver pãozinho doce, é sempre bom ter
uma visão agradável no café da manhã.
— Sabe Asher? Deve ser realmente difícil ver essas caras de bunda
todos os dias, como consegue sobreviver a isso? — Pergunto, me sentando
na cadeira que Lior puxa.
— Não dê corda para ele, princesa. — Cash me lança uma careta.
— E não só as caras, o mau-humor também. — Continuo.
Pelo canto do olho noto que Lior está atendo as minhas interações
com os seus amigos, em um momento ele sorri, acho que finalmente
percebeu que não estou atraída por seu amigo divertido, apenas me sinto
confortável por haver uma familiaridade maior, seu jeito brincalhão me
lembra os meus primos e irmãos.
Asher é bom em me distrair da conversa dos outros, que parecem
um pouco tensos em um primeiro momento, acho que é a coisa de discutir
algo importante com a filha de seu “inimigo” sentada ao seu lado, comendo
da sua comida, e dormindo na mesma cama que seu chefe.
A parte engraçada? Eu não pedi por nada disso!
A verdade dura? Não se conseguiria deixar Lior para trás, por mais
que eu negue e minta, meu coração não é bom em aceitar que qualquer
coisa entre mim e Lior seria fadado ao fracasso, não posso estar com um
homem que odeia minha família.
— Então ameaça, o que sabe sobre Jônatas Mallet?
É a minha vez de sorrir.
— Quer me usar para obter informações privilegiadas? — Os três
me olham. — Sabem o problema do plano de vocês? Eu não me envolvo
nesses aspectos da família.
— Mentira! Todos os filhos carregam o legado dos pais, mesmo
garotas, ao menos algumas servem como moeda de troca. — Cash é aquele
que tece as palavras venenosas em um tom de desdém. — Não imagino um
Petrov sendo diferente.
— Acha que meu pai me daria a qualquer um? Talvez deva voltar
sua bunda para aquela cadeira e estudar muito bem a minha família, porque
eles jamais nos usariam como “moeda de troca”, os Petrov tratam suas
mulheres com respeito, algo que vocês deveriam aprender também. — Me
levanto da mesa. — E só para você saber, basta uma ligação minha para
qualquer membro da minha família, e eles vão explodir essa merda de lugar.
Me afasto e escuto uma comoção atrás de mim, mas ignoro e
continuo andando.
— Gatinha? — Lior me chama, mas estou ocupada me afastando
dele. — Cash é um idiota.
— Se eu vou ficar aqui sugiro que fale com os seus amigos para me
respeitarem, não sou um saco de pancadas maldito e se me atacarem irei
revidar. — Aviso.
— Prometo que eles não farão mais nada assim, e se acontecer,
venha falar comigo, eu mesmo cuidarei de tudo.
Ignoro sua promessa, mesmo vendo que está falando sério.
— E mais uma coisa, se quiserem informações da minha família,
ligue para eles, não vou falar nada! Está me ouvindo? Se me quer aqui, se
me respeita, jamais tente usar minha lealdade com eles contra mim. Não
sou uma traidora, por mais que admire e entenda sua raiva, não me faça
escolher que lado minha lealdade está.
Sua mão cai do meu braço, e ele me encara.
— Você os escolheria? Confia neles tanto assim?
Dou risada.
— Se eu confiaria nas pessoas que me criaram? Que me deram
amor? — Coloco as mãos na cintura sem acreditar na sua pergunta. — É
claro que eu acreditaria, os meus pais são os meus heróis! Quando o avô da
minha mãe sequestrou meu irmão e a fez pensar, durante dois anos, que o
filho dela estava morto, foi o meu pai que prometeu que o encontraria, que
não acreditou por nenhum momento que Zack tinha morrido, e olha onde
ele está. — Estudo sua feição, sabendo que tudo o que disse o atingiu
diretamente onde eu queria. — Lamento que seu pai tenha sido um fodido,
e lamento ainda mais que tenha medo de confiar em outras pessoas, mas
tudo tem um motivo.
— Está me pedindo para acreditar que o homem que me manteve
atrás das grades por mais tempo, teve um bom motivo para isso?
— Não, jamais te pediria algo assim. — Estou sendo sincera
quando digo isso. — O que estou te pedindo é que descubra o que
aconteceu, se pergunte porque ele fez isso. — Lior acena. — Mas o
principal é, se o meu pai queria te prejudicar, por que te manter preso e não
te matar? Pessoas morrem o tempo todo, minha família não tem problema
em atacar seus inimigos, e na cadeia? Você teria sido o alvo perfeito.
Me sinto exausta, é cansativo estar constantemente insistindo na
mesma coisa, não serei eu a ficar insistindo e implorando que busque a
verdade. Sendo sincera? Não sei se existe alguma verdade a ser provada
aqui.
— E se ao final de tudo eu estiver certo?
— E se não estiver?
— Se eu estiver certo, o que acontece?
— Se estiver certo é algo que precisam resolver entre vocês, nunca
vou ver minha família como ruim. — Admito.
— E eu? Eu serei o vilão?
Sorrio sem humor.
— Até o momento é isso o que você é na minha história.
Ele ri, fico em choque com a sua reação.
— Bom! Eu já disse que não era o mocinho, não me importo com a
maneira que me enxerga, apenas que saiba que vilão ou mocinho, você não
irá a lugar nenhum.
— Tudo bem, acho que posso me divertir com os caras maus por
um tempo.
Capítulo 7
Anuvia
Cash aparece ao lado da porta, seu rosto um pouco vermelho, um
hematoma se formando na sua mandíbula, sua camisa está com um pouco
de sangue. Mesmo tendo levado um soco de Lior, ele ainda é bonito, e ainda
é um babaca grosseiro.
— Nossos convidados estão prontos.
Suas palavras são breves, ele se vira e vai embora sem esperar por
uma resposta, muito menos conferir se estamos o seguindo ou não. Ainda
estou curiosa para saber quem é o problema que obrigou Lior a voltar
imediatamente para essa casa.
Segurando minha mão, ele me leva pela casa até uma porta nos
fundos, perto da grande cozinha industrial, com algumas pessoas
trabalhando. Os funcionários ignoram nossa presença, agindo como se nada
estivesse acontecendo. A escada nos leva um porão, como o que a minha
família tem, chegando lá vejo uma mulher e uma adolescente, que deve ter
uns dezoito anos, grande a ponto de saber no que está se metendo.
— Olha só quem temos aqui, eu deveria saber que um rato como
você tentaria me passar a perna. — Lior cruza os braços.
Assisto surpresa quando a menina se ajeita, puxando sua regata
mais para baixo, revelando mais dos seus seios. Devo dar crédito aos
homens, nenhum deles olhou em sua direção, na verdade, pude observar o
canto da boca de Cash se retraindo em sinal de desgosto.
— Ficou preso por muito tempo, as coisas mudam. — A resposta da
mulher é uma afronta.
Assisto Lior lidar com ela, me desligando da interação e da troca de
palavras entre eles, sua irritação é sexy. Lior irritado comigo, é sexy, e algo
que não levo a sério, mesmo com seus amigos, não acho que tenha
presenciado como seu corpo parece se expandir, sua voz se torna
mortalmente calma e o tom chega a ser suave, uma falsa carícia antes de um
golpe mortal.
— Fez sua jogada e escolheu o time errado. — Lior saca sua arma,
e em vez de atirar na mulher, ele aponta para a garota e atira na cabeça dela,
prendo a respiração quando o corpo da menina cai e o sangue começa a
escorrer pelo chão formando uma poça.
— Porra, matou a minha melhor cafetina, isso não se faz!
— Cafetina? — Os homens atrás de mim, bufam. — Não fique
triste, você está indo para se encontrar com ela.
Dessa vez, quando ele aponta a arma na cabeça da mulher e atira na
testa, não me encolho com o barulho do corpo caindo no chão, e nem me
surpreendo quando os empregados começam a limpar antes que mais
sangue se espalhe. Lior não veio obter informações, ele veio lidar com o
problema.
Fazemos o mesmo caminho até a cozinha, mas lá sou levada para a
garagem, e colocada dentro do mesmo carro que nos trouxe até aqui.
— O que está fazendo? — Pergunto, assim que ele entra no banco
no do motorista.
— A festa é a noite, vamos ter tempo até lá.
— Preciso me arrumar se estarei lá.
— Fique tranquila, vai ter tempo. — Garante.
Estamos indo em direção a cidade, na direção oposta que viemos da
primeira vez. Existem muitas lojas por aqui, uma espécie de calçadão onde
as pessoas estão se aglomerando enquanto fazem suas compras e seguem
com suas vidas. É uma cidade bonita, com um clima de vila de Natal, o que
me faz desejar que essa época do ano chegue em breve.
— Esse lugar é muito bonito. — Comento, vendo-o entrar em um
estacionamento particular.
— Acho que sim, cresci aqui, então estou acostumado com esse
lugar.
— Não é uma cidade muito grande e sua família é rica, obviamente
têm influência por aqui.
— Cash fez um ótimo trabalho mantendo tudo em ordem. — Sua
resposta é simples e evasiva.
— Não veio aqui depois que foi preso, não é?
Nega com a cabeça.
— Poucas pessoas sabem quem meu pai realmente era, eles
preferem acreditar que sou um psicopata.
— Quem você estava protegendo?
— Minha prima, Eleonore.
Percebo que ele está tenso, com medo que eu faça mais perguntas, e
não quero saber mais detalhes de como foi encontrar seu fodido pai
estuprando sua prima, ou de ter que o matar com a próprias mãos para não
sentir que faz parte de alguma merda doentia, não se sentir sujo.
— Como ela está hoje em dia?
— Morta.
Sua resposta curta parte meu coração.
Não é preciso fazer parte do lado errado do mundo para se temer,
quando se é uma mulher. O medo está sempre lá, se está tudo bem sair na
rua, medo de estar sorrindo de mais, de ser espontânea, de beber, de entrar
no carro errado ou de confiar na pessoa errada, quando se é mulher o medo
está em todos os lugares, infelizmente dentro de casa em alguns casos.
— Sinto muito.
— Ela tirou a própria vida depois que teve seu bebê.
Essa informação me deixa um pouco chocada, bebê?
— Não sei o que dizer.
— Eu também não sabia, ela teve uma filha, fruto da merda que
meu pai fez com ela.
— Você tem uma irmã, fala com ela? — Ele acena com a cabeça.
— Ela é sua irmã, você ao menos...
Me interrompe, continuando com a história.
— Meu primo se mudou com a menina e com sua mãe, eles não
queriam que ela vivesse nesse mundo, no começo, foi difícil, criar o bebê
fruto de um estupro, ainda mais depois do que ela fez, mas a criança os
conquistou. Por isso ainda não voltaram, ele trabalha como policial em uma
cidade pequena nos Estados Unidos, e cria a menina como se fosse dele.
— O emprego dele é surpreendente. — Comento e isso tira a tensão
do seu corpo e o faz rir.
Grata pela mudança de clima no carro e não querendo arruinar seu
humor, abro a porta e espero por ele na calçada, faço uma careta quando
percebo as roupas que estou vestindo, mas é melhor do que nada. Lior me
puxa para o seu lado, me segurando com firmeza perto do seu corpo. Ignoro
alguns olhares que recebemos, a maioria parece ser de mulheres com inveja
de eu estar ao lado de quem estou.
— Isso não vai arruinar sua revelação na festa esta noite?
— Não, a sujeira que a minha família corre sempre foi mantida
longe desta cidade, ao menos aqui, somos uma família rica e “integra”. —
Se inclina para cochichar no meu ouvido. — ao menos foi assim até que
matei o meu pai, o escândalo do século.
— As pessoas se deixam enganar por aquilo que veem.
— E você, deixa isso acontecer?
É minha vez de sorrir.
— Sou muito observadora, seja quieta e aja como alguém tímida e
as pessoas vão fingir que nem mesmo está lá, é com isso que deveria se
preocupar.
— Seu silêncio? — Bate no meu nariz com a ponta do dedo.
— Não, com a quão observadora sou.
Entramos em uma loja enorme com produtos de cabelo e
maquiagem, o sonho de consumo de toda mulher na face da terra. Lior faz
um sinal para que eu pegue tudo o que preciso, revirando os olhos, pego um
carrinho e começo a me divertir, desde secador e chapinha, até maquiagem,
protetor labial e protetor solar.
— Sabe que estamos em período de chuva, certo?
— Protetor solar dever ser usado diariamente, independente de estar
calor ou frio. — Explico. — Deveria começar a passar também, vai me
agradecer no futuro.
— Isso significa que teremos um futuro?
Reviro os olhos.
— Não é você que disse que não vou a lugar algum?
Após pegar tudo o que preciso e permitir que Lior pague, já que é o
único que me sequestrou e que não me permitiu trazer carteira, voltamos
para sua “casa”, os seguranças estão na porta, com Levi e Aiden, por sorte,
Cash e Calum estão longe de ser vistos, e prefiro não esbarrar em nenhum
no momento.
— Não é o melhor momento para fazer um passeio sem segurança.
— Levi diz, seus olhos fixos em Lior. — Tem pessoas querendo te matar.
— Nessa cidade? — Lior ri. — Estão todos com medo do
“assassino” que matou o próprio pai.
— Sua segurança não é brincadeira! Dependemos de você para
acabar com essa merda.
— Vou subir para o quarto e me arrumar. — Passo por eles.
Assim que entro na suíte vejo que tem algumas opções de vestidos
pendurados em uma arara, eu poderia facilmente usar qualquer um deles,
mas separo o que mais se encaixa com o terno que Lior vai usar. Não me
importo com roupa e com imagem, mantive a minha vida longe dos
holofotes o máximo que consegui, mas sei que esta noite é importante para
esses homens, e sei que Lior precisa ser visto como alguém poderoso, e
alguém assim precisa ter uma mulher que passe as mesmas vibrações e
energia que ele.
Sendo filha de Allyssa Petrov, sei muito bem como fazer isso. Ao
longo dos anos, não houve um único dia em que as pessoas de fora
questionaram meu pai, que não respeitassem seu casamento com minha mãe
e o poder de suas decisões.
Quando termino de me arrumar estou usando um vestido preto,
previsível, mas é essa a imagem que transmite poder e força, é isso o que as
pessoas precisam ver. O vestido é simples, de alças finas, com decote em V,
uma fenda da perna, coloco uma sandália de salto fino, com pedras em
torno do tornozelo. Pronta, me olho no espelho, admirando meu trabalho,
meu cabelo está preso em um coque baixo e elegante, olhos com um
delineado fino e esfumado, deixei minha boca sem batom, apenas com um
fundo avermelhado e um gloss.
A porta do quarto se abre quando estou admirando meu bom
trabalho, Lior entra, e para na porta, me olhando com uma expressão
atordoada.
— Você está atrasado.
— Tive coisas para resolver. — Seus olhos ainda estão fixos no
meu rosto. — Não acho que posso sair daqui com você assim.
Me olho no espelho tentando encontrar o que está errado com
minha maquiagem.
— O que...
— Você está linda! — Me tranquiliza antes que eu comece a surtar.
— Terei que matar todos os idiotas que ousarem te olhar.
Reviro os olhos.
— Lior, temos que terminar com isso logo. — Aviso.
— Estou a um segundo de cancelar essa merda de festa, e te trancar
aqui comigo.
É minha vez de sorrir, por mais interessada que eu esteja em ceder a
ele nesse momento, preciso ser a adulta aqui.
— Disse que não tocaria em mim se eu não pedisse.
— Ah, mas você vai pedir, implorar, na verdade.
Ele está muito mais perto agora, seus braços envolvem minha
cintura, ele se inclina e sussurra suas palavras sexy e traiçoeiras no meu
ouvido. Estou a um segundo de ceder e permitir que faça o que quer
comigo, quando alguém bate na porta.
— Todos estão aqui, está na hora!
— Se vista de uma vez. — Consigo me afastar e ficar do outro lado.
Lior é rápido em se arrumar, e não tem nada relacionado com a
festa, e sim com o tempo que levaremos para voltar aqui e ele me fazer
implorar por seu toque.
No momento que chegamos no topo da escada, a música para e um
feixe de luz vem na nossa direção. É um show meio cafona, nada original,
mas o que posso dizer de uma festa planejada um dia antes e com homens
no comando?
— Senhores, tenho certeza que estão surpresos com a minha volta.
— Lior começa a descer a escada, sua mão firme segurando a minha. —
Espero que se divirtam esta noite, é sempre bom reencontrar velhos amigos.
No meio da escada, Cash nos entrega duas taças de champanhe,
Lior ergue.
— Agradeço a presença de todos, esta noite, como sabem, os
últimos anos foram cheios de desafios com a ausência de Lior, com sua
volta, os negócios voltaram a ordem e nas mãos daquele a quem de fato
pertencem.
— Boas palavras, primo. — Lior o elogia. — Acredito que todos
aqui sabem o seu devido lugar neste negócio.
Me distraio com seu discurso, é mais um aviso entre linhas para
aqueles que ousarem o desafiar, estou acostumada com isso. Participei da
minha cota de festas ao longo da minha vida, vi todos os membros da minha
família fazendo algo parecido. Enquanto olho em volta de maneira
disfarçada, noto uma presença, uma que fez minha espinha congelar e me
deixa tensa. Lior percebe e aperta minha mão com força, balanço a cabeça e
faço sinal para continuar.
Cash é outro que percebe minha tensão e segue minha linha de
visão, sem demonstrar nenhuma reação. Lior termina seu discurso,
descemos as escadas, e vejo que a maioria das pessoas está realmente feliz
em tê-lo de volta, alguns, estão tensos com as mudanças que podem ou não
acontecer, mas o que mais percebo é a esperança de que agora tem seu líder
de volta.
A única pessoa que conheço nesse lugar e tenho certeza que não
está feliz com o retorno de Lior é o homem no canto, ele esteve na minha
casa uma vez e meu pai sempre disse que eu jamais ficasse sozinha com
esse homem. Depois da primeira vez que esteve na minha casa, nunca mais
voltou, e logo meu tio Ahmar anunciou que não iriamos trabalhar com ele,
que seus negócios estavam banidos da nossa cidade e de qualquer cidade
que os Petrov estivessem.
Com a bebida na minha mão, tomo tudo de uma só vez e deixo o
copo em uma mesa, Lior é o centro das atenções e ninguém aqui percebeu
quem sou. Por isso, Cash promete para Lior que ficará ao meu lado a noite
toda, e que me manterá segura. Lior só permitiu quando Cash jurou que me
protegeria com sua vida.
Vamos para junto de Calum e Asher.
— Qual é o problema? — Asher é gentil para ficar ao meu lado
como se fosse me proteger.
— Ela conhece Jônatas Mallet. — Cash diz.
— É esse o nome dele? — Os três acenam.
— Vai dizer que não sabe o nome de um amigo íntimo da sua
família?
Bufo irritada.
— Meu pai não é amigo dele! Em que século vivem? — Pergunto.
— Foi anunciado que não fazemos negócio com esse cara.
— Isso não significa que ele não seja amigo de Dimitri, por isso
Ahmar foi quem anunciou. — Cash levanta a hipótese.
Reviro os olhos.
— Sabe, por um segundo pensei ter visto meu cérebro. — Comento
com Asher que ri.
— Responda, pãozinho doce.
Suspiro alto, isso é informação pública, bem, a maioria.
— Ele foi na minha casa uma vez, queria conversar com o meu pai
sobre um negócio, mas ficou agindo estranho, encarava todas nós. —
Explico. — Quando saiu, meu pai deu ordens de nunca o permitirem entrar
em nossas propriedades, assim como implorou para todas nós a nunca
ficarmos no mesmo lugar que ele.
Os três se olham, acho que finalmente caindo a falsa ideia de que
minha família é vilã e que faz negócios com todos os tipos de gente.
— Sabe porque seu pai te deu essa ordem?
— Nego.
— E o que ele queria?
— Minha família tem vários negócios, o principal é uma
transportadora, somos donos de muitos lugares que são ponto principais no
envio de coisas “ilícitas”, ele queria ajuda para levar carregamentos. —
Explico. — Meu pai negou, disse que ele pisasse em um dos nossos portos,
ele deveria se considerar um homem morto.
— Seu pai te disse isso?
— Minha mãe, ele comentou com ela. — Dou de ombros, e percebo
que todos parecem surpresos. — O quê? As mulheres da minha família são
muito participativas em todos os aspectos.
— Lior vai gostar de saber disso.
— Saber o quê? — Lior pega minha mão me puxando para junto
dele.
— Sua garota sabe sobre Mallet.
— Disse tudo o que sei, se quiserem mais informações ligue para o
meu pai. — Mando. — Se quer saber com quem está lidando, é sua melhor
escolha.
— Confiar em um Petrov? — Calum bufa com a possibilidade.
— Se não percebeu, eu sou uma Petrov, e não sou eu quem está
precisando de ajuda. — Viro para olhar para Lior. — Ligue para o meu pai!
Capítulo 8
Lior
A festa de ontem foi um inferno de longa, quando as pessoas
finalmente foram embora, tanto Anuvia quanto eu caímos na cama e
pegamos no sono. Quando acordei, ela ainda estava dormindo, seu ronco
baixinho me fez rir, tirei sua perna de cima do meu quadril e sai em direção
ao banheiro. Após me trocar, evitando fazer qualquer barulho mais alto, vou
para o escritório.
Cada número que disco é torturante, eu não quero ter que ligar e
obter informações desse jeito. Mas como Jônatas Mallet estava olhando
para Anuvia, e os olhares que deu em minha direção, foram esclarecedores,
ele é a fonte do meu problema agora.
— Poderia dizer que sua ligação é uma surpresa, mas não posso.
— Jônatas Mallet, o que sabe sobre ele?
— Lixo, fique longe desse idiota.
Seu conselho me pega de surpresa, e isso me faz pensar no que
Anuvia disse, que talvez houvesse algo mais que fez me manter na prisão.
— É meio difícil, já que o bastardo sorrateiro está tentando tomar o
meu negócio. — Falo. — Devo suspeitar que esteja com ele?
— Eu nunca me uniria a alguém como ele, tenho princípios, sugiro
que tome cuidado com a forma a qual fala comigo.
— Princípios? — Bufo irritado.
— Me ligou para discutir? Estou ocupado!
— Liguei porque soube que Jônatas Mallet tentou fazer negócios
com você e que o recusou.
— Isso é informação pública. — Seu tom é entediado, como se
preferisse fazer qualquer coisa a perder tempo comigo.
— Mas não é público que ele foi até sua casa, que tentou um
negócio mais perigoso do que normalmente você faz e o rejeitou,
impedindo até mesmo que estivesse perto de sua família.
— Não te devo satisfação, mas vou ser legal e te dar um aviso.
Mallet é um doente, ele me procurou querendo usar os meus negócios para
traficar mulheres, eu disse que não fazemos esse tipo de negócio e que era
melhor ele sair ou eu cuidaria dele. — Mexe em algo do outro lado, mas
continua falando. — Também disse que ele deveria ficar longe dos meus
portos.
— Por que tenho a sensação que isso não é tudo o que ele falou?
Um barulho vem do outro lado da linha, como se ele estivesse
largando algo em uma mesa e se afastando. Leva um tempo e o barulho de
uma porta sendo fechada, para que Dimitri fale novamente.
— Sensação? A cadeia por acaso te fez desenvolver um sexto
sentido? Devo deixar você falar com minha esposa?
— Estou falando sério, preciso que me diga a razão para dar o
aviso.
— Que aviso?
— O que deu a sua filha?
Um momento de silêncio toma conta do outro lado da linha.
— Como sabe sobre isso? Quem te contou?
— Anuvia.
Quero me bater por deixar que descubra que estou com sua filha,
mas Anuvia não é um segredo sujo, não vou nos manter escondidos, mesmo
que nesse momento, não seja sua pessoa favorita. Dimitri vai enfrentar uma
luta das grandes se tentar lavá-la para longe de mim.
— Espere um momento, está lidando com Jônatas Mallet e levou
minha filha até ele? — A raiva em sua voz me pega de surpresa. — Sabe
que aquele bastardo a queria, ele veio até mim, pedindo Anuvia, pensou
que eu daria minha filha como uma espécie de moeda de troca. — Dimitri
está furioso do outro lado da linha, e eu estou aqui, além de irritado.
Não posso acreditar que não uni os pontos antes.
Durante grande parte da noite de ontem, Mallet dividiu sua atenção
entre mim e Anuvia, em nenhum momento seus olhos deixaram nós dois.
Pude ver a raiva dirigida a mim, isso não foi uma novidade, mas também
pude perceber sua curiosidade dirigida a Anuvia, pensei que a conhecesse
ou estivesse curioso com a mulher ao meu lado, uma vez que não a
apresentei como uma Petrov, e sim como minha esposa.
— Vou mantê-la segura. — Prometo, nem que isso custe minha
vida.
— Mantê-la segura? Se minha filha tiver um arranhão quando eu a
ver, você estará morto! Farei com você tudo o que não permiti os inimigos
do seu pai fazer! É bom que mande minha filha me ligar ainda hoje!
Ele desliga a ligação, me deixando surpreso com parte de sua
revelação.
— Então, como foi? — Levi entra no escritório.
— Mallet tem um interesse pessoal em Anuvia, tentou negociar
com Dimitri, que não realizou o negócio.
— Nunca pensei que tivesse feito. — Responde. — Faço muitos
negócios por aí, conheço muitas pessoas, e os Petrov tem uma boa fama. —
Ele se senta antes de continuar. — Na maioria das vezes, pelo menos. A
única coisa que me deixa curioso, é porque ele estaria te mantendo na
prisão.
Talvez agora eu saiba, mas preciso lidar com isso em outro
momento, não posso me distrair do que precisa ser feito.
“Vou fazer com você tudo o que não permiti os inimigos do seu pai
fazer!”
Dimitri Petrov me manteve na cadeia para me proteger dos inimigos
do meu pai? Mais alguém estava ansioso aguardando a queda do velho para
roubar meu lugar?
— Seja lá o que for, resolverei isso em outro momento. — Me
levanto. — Temos muito trabalho a fazer.
— Devo avisar aos outros para adicionar a preocupação de uma
visita de Dimitri Petrov? — Provoca quando seguimos em direção a sala de
jantar.
Não costumamos usar muita essa sala no tempo em que morava
com meu pai, não tínhamos nenhum momento relevante em família, na
verdade, poucas lembranças boas foram criadas nesse lugar, e maior parte
delas está ligada aos meus primos e amigos, e não a minha família.
— Vejo que deixou a princesa dormindo. — Cash diz.
— Sabe que só não te soco nesse momento porque Anuvia não liga
para essa merda de apelido.
Me sento e um dos empregados serve café, tomo um pouco antes de
me recostar na cadeira, apenas apreciando a bebida forte.
— Como eu disse, pãozinho doce é divertida, não seja um babaca
com ela. — Asher reponde.
Admito que em um primeiro momento fiquei louco de ciúmes da
relação amigável quase instantânea entre ambos, isso até que Anuvia me
garantiu que só o via como algum de sua família. Isso não me impediu de ir
até Asher e conversar com ele, que também me garantiu que a vê como uma
irmã.
— Falou com Dimitri Petrov? — A pergunta direta de Calum não
me surpreende, se alguém está ansioso para resolver o problema é o idiota.
— Sim, disse que Mallet o procurou, mas ele não faz esse tipo de
negócio, também me disse que o filho da puta tinha um interesse pessoal
em Anuvia.
— Como eu disse, essa garota é uma ameaça a todos os nossos
planos. — Calum reclama. — Devia tê-la deixado para trás.
— Não seja um idiota, Calum, Anuvia não está causando problemas
nenhum, na verdade, ela foi rápida em nos dar algumas informações úteis.
— Levi diz. — E agora que Dimitri sabe que ela está aqui, pode até pensar
em nos ajudar.
— Não minta, você só está assim porque está de olho na prima dela.
— Cash acusa.
Isso atrai minha atenção, me viro para Levi que aperta seu copo na
mão, estourando o vidro.
— Não fale merda, ao contrário de Lior, tenho controle das minhas
emoções.
— Quem? — Pergunto para Cash.
— Jules Petrov.
— A filha da Abby Petrov? — Todos sabem que Abby não é só
uma mãe fodona, ela e seu marido irão arrancar sua pele se alguém mexer
com sua menina. — Onde a conheceu?
Levi se mantém em silêncio, e seu irmão gêmeo é quem responde
por ele desta vez.
— Eles se encontraram no hospital onde ela é médica.
— Eu não gosto dela, a mulher é irritante, como eu disse, jamais
ficaria com uma Petrov, ainda mais sendo ela.
— O que ela fez que te irritou tanto e te deslumbrou a ponto de se
apaixonar? — Pergunta Levi.
Essa é uma conversa que nunca imaginei ter com os meus primos,
falamos sobre garotas enquanto crescíamos, mas nunca conversamos sobre
nos apaixonar e planejar viver nossa vida com a mesma mulher.
— Ele levou um tiro e estava sendo atendido, ele passou cinco
minutos discutindo com ela, e a mulher simplesmente fez de conta que não
o ouviu. — Responde Aiden. — A cadela o ignorou por uma boa hora.
— Minha prima tem um problema de perda de audição, meus tios
descobriram quando ela era ainda era criança, e alguns sons e ambientes
dificultam que ela consiga ouvir. — Anuvia responde, entrando na sala e se
sentando ao meu lado. — O que aconteceu não foi ela ignorando Levi, e
sim um ambiente caótico que acabou prejudicando seu implante e não
permitiu que ouvisse.
Levi parece envergonhado, e sua revelação faz com que Aiden fique
em silêncio, envergonhado com suas palavras.
— Ela pode ser médica assim?
— Minha prima provavelmente estava apenas ajudando naquele
dia, ela é uma cirurgiã brilhante e está sempre trabalhando em áreas onde
médicos não costumam chegar. — Explica. — E sim, seu implante permite
que ela seja médica. Aquele dia provavelmente alguém estava com algum
equipamento que bloqueia sinais, eles tendem a interferir.
Pela cara que ambos se olham, acho que sabem a origem do
problema que Jules teve naquele dia.
— Sabe pãozinho doce, você definitivamente sabe como calar
alguns babacas.
Anuvia dá de ombros.
— Conseguiu falar com o meu pai? — Aceno que sim. — Bom,
tenho certeza que ele vai te ajudar no que conseguir.
— Ele sabe que está aqui.
— Sei disso, embora esteja curiosa para saber como o convenceu a
não vir aqui te matar. — Passa pasta de amendoim em uma torrada, em
seguida pica algumas bananas em cima, todos observamos enquanto ela
come. — Talvez minha mãe tenha feito um trabalho ótimo em domá-lo.
Suas palavras fazem meu peito se apertar, Anuvia mal entrou na
minha vida e já me fez ter uma conversa um pouco decente com Dimitri,
imagino o que anos de casamento e convivência conseguem fazer.
— Admito que estou um pouco surpreso com o quanto os homens
Petrov são obedientes as suas mulheres. — O riso de escárnio de Cash é
ignorado por ela.
— Não é obediência e sim devoção, e vem de ambos os lados. —
Anuvia continua a comer, sem se importar com o tom venenoso que vai me
render mais uma conversa com Cash. — Somos devotos uns aos outros, é
isso o que muitos tentam destruir, confiamos em nossa família e isso nos
fortalece.
— Tão fortes que sempre estão com problemas.
Ela dá de ombros.
— E sempre passamos por eles com a cabeça erguida. —
Terminando de comer, ela limpa a boca e se levanta. — Preciso de um
kindle ou algo assim.
— Kindle? — Franzo a testa sem saber o que é isso.
— É como se fosse uma biblioteca virtual, posso baixar os meus
livros favoritos lá.
— Temos uma biblioteca. — Levi responde.
— Tenho certeza que “O morro dos ventos uivantes” não está na
minha lista de leitura atual, eu odeio esse livro. — Bufa irritada.
Escondo meu sorriso, penso que finalmente Anuvia e Cash
encontraram algo em comum, seu ódio por esse livro, meu primo odiou
quando minha tia o obrigou a ler, tenho certeza que ela até mesmo
considerou nomear seu irmão com o nome do protagonista.
— Vou conseguir um para você, pãozinho doce. — Asher promete,
já se levantando. — Tenho certeza que pode me indicar alguns livros.
— Anuvia está realmente fazendo algo por esta casa, em dois dias
aqui Asher já aprendeu a ler. — Aiden zomba.
— Vá se foder babaca, qual será a próxima cor de cabelo? Devia
parar de pintar o cabelo e começar a pintar sua cara, palhaço.
Ignoro as brigas idiotas dos dois, é uma coisa comum entre eles, o
que é uma surpresa é o quanto nem mesmo isso mudou depois do tempo
que estive longe. Olhando para o lado, vejo que Anuvia está rindo perto da
porta, divertida com as provocações. Me levanto e vou até ela, segurando
sua mão a puxo pelo corredor.
— O que está fazendo?
— Isso.
Empurro ela contra a parede, segurando seu rosto em minhas mãos,
observo como sua respiração se torna ofegante, seus olhos caem para os
meus lábios e ela lembre os próprios, como se estivesse diante de algo que
quisesse provar. Me inclino, mas não beijo, passo meus lábios por seu
pescoço, apreciando seu cheiro, só então dou um beijo nela.
Anuvia está na minha vida há tão pouco tempo, mas tudo o que
consegue é mexer com a minha mente, com meu corpo, e o mais assustador
de todos, com o meu coração. É assustador perceber que em tão pouco
tempo me apaixonei por ela, que prefiro perder tudo, a perdê-la.
Nos afastamos e ela está ofegante, mas suas mãos estão agarradas a
minha camisa, mantendo-me próximo dela.
— Você me deixa confusa.
Sorrio satisfeito.
— Não te quero confusa, quero que saiba exatamente o que estamos
fazendo aqui.
— E o que seria isso?
— Começando algo bom. — Dou mais um beijo antes de me
afastar. — Preciso que fique em segurança em casa, se alguma coisa
acontecer venha até mim.
— O que vai fazer?
— Trabalhar.
Anuvia não precisa saber que o meu “trabalho” vai envolver os
meus punhos, não que eu pense que isso a incomodaria, sua reação ao que
fiz mais cedo foi apropriada.
Capítulo 9
Lior
No carro, com Cash e Calum, mexo no celular enquanto o motorista
dirige em direção ao restaurante, onde marcamos de nos encontrar com
Mallet, um lugar público, o meio-termo para ele ter a certeza de que não
vou atirar em sua cabeça. Desde que soube de seu interesse por Anuvia,
minha vontade de matá-lo só aumentou.
— Não gosto da forma como ele estava olhando para Anuvia. —
Cash diz, isso me surpreende, os dois são naturalmente inimigos. — Não
me olhe assim, nós dois temos os nossos problemas, mas aí desejar que ela
se machuque é demais.
— Vamos mantê-la protegida, mesmo sendo um problema que não
precisaríamos. — Calum continua.
Guardo meu celular no bolso do paletó e olho pela janela,
finalmente percebendo que seu problema não é que Anuvia é filha do
Dimitri ou do que estamos enfrentando, seu problema é que eu trouxe uma
mulher para a nossa atual situação. E os dois imbecis, em vez de falar
comigo, estão sendo grosseiros e estúpidos com um inocente.
— Vocês são idiotas! — Digo, isso me atrai sua atenção para mim.
— O quê? — Perguntam em uníssono.
— Estão com raiva de mim por que eu trouxe Anuvia?
O silêncio deles dura bastante tempo, a ponto de eu começar a
acreditar que a conversa morreu, e que em um futuro breve, terei que me
preparar para mais uma briga. Independente de como eles se sintam, isso
não lhes dá o direito de descontar sua raiva na minha mulher.
— Se queria uma mulher, deveria ter esperado! — Cash quebra o
silêncio. — Passamos anos esperando por esse momento, e então você vai
atrás do Petrov e volta com a porra da filha dele? Uma garota que vai
desviar o seu foco do plano?
Minha raiva cresce, toda a agressividade que eu vinha controlando
tenta vir a superfície, mas sabiamente a controlo novamente.
— Quer falar de quem esperou por mais tempo? — Meu tom de voz
soa diferente até para os meus ouvidos, os dois se calam. — Eu fui aquele
que ficou ano atrás das grades, o único prejudicado pela atitude de Dimitri
Petrov, e nesse momento? Estou começando a duvidar de quais eram as
reais intenções dele. Por isso, não jogue essa merda de esperar e dar tempo
na minha direção, porque cansei de deixar minha vida em segundo plano.
— Essa merda? Lior...
— Se vai usar minha prima como um tema para essa conversa,
lembre que já vinguei tudo o que meu pai fez com ela. — Aviso. — Desta
forma, chegou a hora de deixar de lado essa espera e fazer o que precisa ser
feito, e isso é viver as nossas vidas e acabar com o filho da puta dentro
deste restaurante.
Deixo os dois no carro, absorvendo minhas palavras enquanto passo
pelo recepcionista do restaurante, que corre em minha direção.
— Onde está Jônatas Mallet? — O interrompo antes que diga
alguma coisa.
— Por aqui, senhor.
Calum e Cash aparecem logo atrás, não tenho tempo e muito menos
interesse em tentar entender suas expressões e descobrir o que decidiram.
Tenho certeza que quando se sentirem prontos, virão até mim, até lá,
minhas prioridades são outras.
A porta da sala privada se abre e Mallet se levanta, seus olhos estão
em busca de algo.
— Ele está procurando por Anuvia. — Cash murmura.
Mallet deve perceber seu erro e encobre seu desapontamento.
— Lior, eu deveria me sentir honrado que teve interesse em
almoçar comigo?
Me sento do outro lado da mesa, cruzo as pernas e aliso minha
calça, removendo uma sujeira inexistente.
— Se sentir honrado? Existe algum motivo que te leve a pensar que
não almoçaria com você? — Pergunto.
— O teor do seu discurso foi bem... como posso dizer? — Pensa em
uma forma de não me ofender, ele é uma cobra traiçoeira. — Não encontro
a palavra correta para usar agora.
— Se não encontra uma palavra certa, então deve ficar em silêncio.
— O garçom entra na sala carregando nossas bebidas, ele coloca o copo na
minha frente e depois sai. — Qual é a razão para esse almoço tão em cima
da hora?
Fingindo desinteresse e até mesmo um pouco de inocência, o que
não combina com sua personalidade, ele toma um pouco de sua bebida.
— Pensei que depois de todos os anos que ficou longe, se
ressentisse dos Petrov, foi uma surpresa te ver ao lado da filha dele.
Não vou permitir que fale de Anuvia, seu interesse por ela se fez
claro durante a festa, e com a informação que Dimitri me deu, a última
coisa que quero é ouvir o nome da minha mulher saindo da boca desse
desgraçado.
— Deve perder muito do seu tempo pensando em mim, devo me
preocupar? — Estudo sua expressão, a bebida intocada na minha frente.
— A prisão te deu algum senso de humor. — Ri. — Anos atrás das
grades deve ter te tornado mais como seu pai, está usando Anuvia como
uma forma de punir Dimitri?
— Meu relacionamento com os Petrov não é da sua conta. — Me
inclino em sua direção. — E meu tempo na prisão me ensinou muitas
coisas, ficaria surpreso.
— Peço desculpas, estou apenas tentando entender a logística de
tudo o que está acontecendo. — Sua postura muda, mais relaxada, a
máscara amigável voltou. — Passaram-se anos desde a última vez que nos
vimos, tanta coisa mudou.
— Nunca fomos próximos, desta forma, não vejo motivo para
perdem tempo com conversa fiada. — Respondo, farto desse jogo.
— Você é jovem e passou muitos anos longe, não deve ter
aprendido o suficiente dos negócios. — Diz. — Deve saber que essa
conversa “fiada” pode abrir portas.
Dou um riso de escárnio.
— Essa conversa? — Aceno entre nós. — Você não tem nada que
eu queira, é mais um verme tentando rastejar para fora do esgoto, tentando
duelar e se infiltrar entre quem detém realmente poder. — Minhas palavras
o irritam.
— No entanto, ainda assim, você está aqui.
— Tem razão, mas não estou aqui para te dar algo ou contribuir
com as informações que tanto deseja. — Dou de ombros. — Faz tempo que
não participo de reuniões como essa, por isso decidi comparecer.
— Certeza que foi só isso?
Me levanto.
— O que mais poderia ser? — Paro perto da porta.
— Curiosidade?
— Seja realista Mallet, desde que me lembro você nunca foi bom o
suficiente para causar estrago, seus planos sempre foram ralo a baixo. A
única coisa que me interessa de você é distância.
E saber quem está por trás de você, uma pessoa como Jônatas
Mallet não tem capacidade para conseguir nada por si só, e para conseguir
derrubar alguém com muito poder, ele precisa de um golpe de sorte, ou de
alguém disposto a fazer isso por ele. Tenho a sensação de que ele foi até a
minha casa com um único interesse em mente, ver o que pode ser dele caso
consiga me derrubar.
Pena para ele, por mais que eu não ligue para a casa e o dinheiro,
me importo demais com Anuvia para permitir que um babaca como esse se
infiltre em nossas vidas.
— E se eu te der a oportunidade de se vingar de Dimitri Petrov por
ter te mantido na cadeia? — Ele está jogando a isca.
Solto o trinco da porta e volto minha atenção para o homem diante
de mim, seu sorriso satisfeito me dá nojo, mesmo que eu não estivesse com
Anuvia, jamais me uniria a alguém como ele.
— Você não pode me oferecer nada na sua posição.
— É aí que se engana, tenho alguém interessado em um negócio e
com os Petrov bloqueando o porto para os meus negócios, se me ajudar,
posso te ligar com alguém.
— E quem seria essa pessoa?
— No momento certo você descobrirá, no momento, a única coisa
que precisa me dizer é se está comigo ou não?
Não respondo sua pergunta.
— Por que ter todo esse trabalho para derrubar os Petrov, só por um
porto? Pode arrumar outras pessoas dispostas a fazer o trabalho.
Mallet não é tão bom em esconder suas emoções, ele quer vingança
por Dimitri ter protegido sua filha dele, mas não quer ser claro com isso
porque viu Anuvia ao meu lado ontem.
— Dimitri não é um bom líder.
— Tenho a sensação de que queria mais dele do que apenas
negócios, mas ele não te deu, não é?
Seu riso é tendencioso.
— Acho que eu estava errado, ele guardou Anuvia para pagar uma
dívida maior. — O canto de sua boca se eleva em um riso de escárnio
enquanto toma um pouco do seu uísque. — Tenho certeza que aquela
buceta consegue apaziguar até mesmo o diabo.
O filho da puta não faz ideia do que acabou de provocar, toda a
fúria que lutei para controlar no veículo veio a tona, em um momento estou
parado perto da porta e no próximo tenho Mallet jogado no chão, estou
socando sua cara repetidamente, seu rosto está começando a inchar. Noto o
copo quebrado no chão, largo o filho da puta e pego um pedaço do vidro e
me aproximo dele.
— Você nunca mais fale de Anuvia desse jeito. — Respondo
cortando os cantos de sua boca. — A próxima vez que sorrir desse jeito
quando falar da minha mulher, esse corte vai se tornar maior e maior, até
que eu arranque os seus olhos.
Deixo o filho da puta no chão e saio da sala, limpando minhas mãos
com o guardanapo, jogo uma pilha de notas para a atendente, Cash e Calum
estão encostados na parede, seus olhos vão para o sangue nas minhas mãos.
— O que acontecei? — Pergunta Calum.
— O aviso foi dado.
Capítulo 10
Anuvia
Asher foi gentil em me dar um Kindle, ele também me deu o cartão
de crédito de Cash como uma forma de vingança por como tem me tratado.
Achei divertido e por isso, decidimos ir além de gastar apenas em livros e
comprar dois mil rolos de papel higiênico e enviar para o seu apartamento.
Aproveitamos e avisamos o porteiro que a entrega deveria ser deixada no
interior do apartamento, e que daríamos um extra para que os entregadores
retirassem todo o material e colocassem no corredor.
Estou esperando a gravação que Asher me prometeu, ele ia invadir
as câmeras de segurança do apartamento de Cash, a melhor parte é que me
prometeu um vídeo com a reação do idiota.
— Por que você parece muito animada? — Ravi pergunta, ele está
sentado do outro lado da sala, a qual decidi invadir para ver TV.
— Nada. — Respondo rápido demais, o fazendo estreitar os olhos.
— Tenho a sensação que não vou querer saber, do contrário me
tornarei cúmplice. — Volta a ler o jornal em sua mão.
Dou de ombros, o homem é inteligente.
Não gosto de ficar nesta casa enorme sem Lior, por mais que haja
como um babaca me deixando excitada e então saindo, sinto sua falta, ele é
a minha pessoa neste lugar. O que me preocupa é como saiu, pude perceber
o olhar irritado, a tensão que Calum e Cash estavam quando o seguiram.
— Sabe porque Lior estava agindo daquele jeito?
— Lior tem muitos problemas para resolver, seja qual for o do
momento, não faço ideia.
Estreito meus olhos em sua direção, é uma mentira óbvia, o babaca
sabe muito bem o que está acontecendo, mas não quer me contar porque
não confia em mim. É isso ou me acha fraca para lidar com a verdade.
A porta se abre e Lior passa direto para o andar de cima, sua
expressão tomada pela fúria, também percebi ter sangue em sua mão e
camisa. Largo o controle da TV de lado e me levanto, pronta para segui-lo
escada a cima.
— Dê um tempo para ele. — Calum avisa. — Ele não está em um
bom momento.
— O que aconteceu?
— Almoço com um babaca.
— Ele foi se encontrar com Mallet, não é? — Questiono com a mão
na cintura, o que me rende um sorriso, Calum sorrindo é perigosamente
lindo. — Por que ele faria algo assim?
— Queria saber o que estava acontecendo na cabeça daquele
babaca.
Reviro os olhos.
— Babacas são babacas, não há explicação. — Aviso. — Mallet
está morto?
— Lior não matou o filho da puta, mas deixou uma marca.
Calum está apreensivo ao dizer isso, como se estivesse com receio
de que eu fosse correr desesperada para longe do seu primo. É fácil ler esses
homens, devo agradecer a minha família por ter tantos homens, e também
por todos os amigos de Lior agirem como babacas a maioria do tempo.
— Bom, se ele fizer um movimento drástico assim não vai
conseguir obter as informações que precisa. — Respondo.
— Informações que precisa?
— Não teremos problema em matar Mallet, o problema é outro. —
Fico em silêncio, esperando que perceba onde quero chegar.
— Pegar quem está por trás disso.
— E quem faria isso?
Dou de ombros e levanto as mãos, não sou a pessoa com o plano de
vingança longo e com todas as informações aqui. Eu sou a novata, aquela
que só está aqui porque foi sequestrada e é fraca de mais para ir embora,
meu avô ficaria orgulhoso de saber que todo o treinamento que nos deu se
tornou inútil diante de um homem gostoso com um pau enorme.
— Isso é com você.
O deixo ali e começo a subir em direção ao quarto, no meio do
caminho, Calum grita mais uma vez.
— Dê um tempo a ele.
Sei que está preocupado comigo, mas não tenho medo de Lior, e se
ele for realmente a pessoa certa para mim, vamos passar por todos os
momentos difíceis e todo o temperamento errado, juntos.
Abro a porta do quarto entro, Lior está no banheiro, lavando as
mãos, percebo que há cortes, a pia tem sangue. Ele me ignora, mesmo
quando percebe que estou o observando pelo espelho, revirando os olhos,
me aproximo, pego a caixa de primeiros socorros e coloco em cima do
balcão.
Seguro sua mão com delicadeza, aplico pomada e começo a
enfaixar os dedos, odeio essas faixas, então quando me machuquei, tive que
aprender um método que não me incomodasse, e é assim que o faço. Lior se
mantém em silêncio enquanto trabalho em sua mão, quando termino dou
um passo para trás, o deixo ver se está tudo confortável enquanto guardo os
materiais na caixa e a coloco no lugar.
— Está pronto para me dizer o que aconteceu? — Minha voz soa
tranquila, não estou soando acusadora.
— Anuvia...
— Sei que foi almoçar com Mallet, e também passou o dia fora, um
sinal de que estava evitando voltar para casa. — Digo. — Ele deve ter
tirado do sério.
— Mallet é um babaca e não quero falar sobre ele.
— Entendo isso, ele é um idiota. — Concordo, me encostando no
balcão. — Acho que a sua reação está próxima da do meu pai, o que
significa que ou ele te ofereceu algo ultrajante, ou...
A única coisa que realmente tiraria meu pai do sério seria Mallet
tentar chegar a sua família, e como sua ordem foi clara, nenhuma mulher da
nossa família se aproximaria do bastardo, e na mesma linha de raciocínio,
Lior tem os mesmos princípios que meu pai.
— Mallet está no tráfico de mulheres, não é? — Cruzo os braços.
— Foi por isso que meu pai o recusou e você e seus amigos estão atrás dele,
é nisso que se baseia seu plano, acabar com esse crime. — Lior se mantém
em silêncio. — Mas Mallet é muito pequeno, tem alguém por trás dele que
percebeu isso, e é a mesma pessoa que quer te derrubar.
— Você é muito inteligente.
Dou de ombros.
— Será que não estão olhando muito a frente? — Pergunto,
percebendo sua testa se franzir por não entender onde quero chegar. —
Você matou o seu pai porque ele estuprou a sua prima, e se o seu pai
estivesse fazendo negócios com alguém? Comprando ou ajudando no
tráfico de pessoas, e quando ele morreu os planos foram arruinados?
— Passei anos preso, por que esperar?
— Meu pai luta contra isso há anos, e com Cash assumindo por
você nesse tempo, talvez não tenha conseguido a brecha, tenha se desviado,
achando que conseguiria te matar. — Responde. — Agora que está fora da
cadeia, se sente ameaçado.
— E tentou me colocar contra seu pai. — Murmura.
— O quê?
— Mallet me ofereceu uma “parceria” para derrubar o seu pai.
Estalo os meus dedos, isso me lembra uma técnica de batalha que
meu avô ensinou, algo que deveria ser levado para a vida toda.
— Isso faz sentido.
— O que faz sentido?
— Mallet é um peão, aquele que está sendo usado para estabelecer
uma ligação entre você e meu pai, alimentando a briga entre vocês e
esperando que se enfraqueçam tentando se destruir. — Explico. — Assim,
ficaria mais fácil derrubar o que sobrou se alimentando do ódio dos poucos
que ficaram.
Lior fica em silêncio por tempo suficiente para que eu comece a
ficar tensa e me sentir desconfortável, não saber o que ele está pensando me
deixa nervosa e inquieta, por isso tento me distrair mexendo nos produtos
em cima da pia, e lavando as mãos.
— Essa é uma boa teoria, Mallet apenas não contava com uma
coisa, e tenho certeza que depois de hoje ele sabe. — Comenta, sinto sua
mão na minha cintura, olho para o espelho e o assisto pelo reflexo.
Antes de Lior, nunca me senti muito confortável com as pessoas me
tocando, muito menos quando isso estava relacionado ao sexo oposto.
Toque é algo íntimo e leva tempo, mas com este homem, parece que as
coisas não seguem um padrão, ao contrário do que costumava, com ele,
meu corpo deseja ser tocado.
— E o que seria isso? — Finalmente pergunto.
— Você!
— Eu? — Estou confusa.
— Mallet não contava que eu deixaria de lado qualquer dúvida e
vingança por você, a única ligação concreta entre Dimitri Petrov e eu.
A última palavra dita por ele é sussurrada em meu ouvido, causando
uma onda de arrepios pelo meu corpo e me fazendo desejar deixar essa
briga boba entre nós de lado e ceder aos meus desejos.
As mãos de Lior correm pelas minhas costas, seus dedos
depositando um pouco mais de força do que o necessário, o suficiente para
acender meu corpo e deixar minha buceta molhada. Sua mão desce pelas
minhas costas, aperta minha bunda, sua respiração é ofegante contra o meu
pescoço.
— Você quer mais? Quer que eu chupe sua buceta? Quer sentir meu
pau dentro de você? — Sussurra no meu ouvido.
Mordo meus lábios, sem conseguir formular as palavras certas.
— Lior... — Seu nome sai como um sussurro ofegante, minha voz
está rouca e baixa, nem eu a reconheço.
— Me implore, Anuvia. — Pede, dessa vez, parecendo desesperado
em meio ao desejo. — Nos tire dessa miséria e implore que eu te foda.
Uma batida soa na porta, mas isso não é o suficiente para que se
afaste de mim, continuando com sua brincadeira, ignoramos a batida, seja
quem for que esteja se intrometendo no nosso momento vai esperar.
— Me foda. — Peço, cansada de resistir aos seus toques e suas
carícias.
— Tire suas calças e calcinha. — Manda.
Sem discutir me afasto por tempo suficiente para cumprir suas
ordens, abaixando minha calça e calcinha e as chutando para longe de nós.
Seus olhos satisfeitos percorrem meu corpo, e minha buceta. Lior me
prende contra a pia, de costas para ele e de frente para o espelho enorme.
Me segurando de frente para o espelho, se ajoelha atrás de mim,
trilhando beijos ao longo das minhas costas, até que chega no interior das
minhas coxas, sinto sua língua percorrer minha buceta por trás. Lior está me
provocando, e nesse momento, qualquer movimento que faça, qualquer
toque, é uma tortura prazerosa.
Mordo meus lábios, lutando contra a onda de prazer que percorre
meu corpo no momento em que ele usa seus dedos na minha buceta.
— Está gostando, gatinha? — Pergunta, e eu murmuro algo
incoerente. — Eu amo como você é safada e responde ao meu toque, sua
buceta está louca para ser fodida, não é? Está ansiosa para ter meu pau te
fodendo forte. — Ele não para sua provocação, e não sei por quanto tempo
mais conseguirei resistir. — Essa sua cara de safada me deixa louco de
tesão.
— Vou te mostrar quão safada sou. — Finalmente recupero um
pouco de coerência.
Quando ele me penetra com os dedos, automaticamente começo a
rebolar, deixando de lado qualquer pudor e gemendo como uma puta. Deus,
esse homem está me deixando maluca, não consigo acreditar que estou
agindo como uma gata no cio, ansiosa para sentir seu pau dentro de mim.
Lior coloca mais pressão em seus movimentos, me fazendo gemer
mais alto e gritar seu nome quando a primeira onda de orgasmo me atinge
com força. Olho para o espelho e percebo que seus olhos estão fixos no meu
rosto, quando meu corpo começa a relaxar, ele tira seus dedos da minha
buceta e os leva a boca, fechando os olhos enquanto sente o meu gosto,
como se estivesse provando a melhor sobremesa de todas.
— Nada nesse mundo se compara ao gosto da sua buceta, encontrei
minha comida favorita. — Sorri.
— Safado! — Minha resposta o faz sorrir ainda mais.
Não vou discutir com ele, não enquanto estou aproveitando meu
momento pós-orgasmo.
Lior me vira, pega minha mão e leva em direção ao seu pau duro,
ele se inclina para frente e nossas bocas se tocam, nosso beijo se aprofunda
e sua língua invade minha boca. Suas mãos correm pelo meu corpo, ele
aperta os meus seios, e vai trilhando beijos pelo meu pescoço, até os meus
seios, onde ele suga um mamilo e depois dá uma mordida suave.
— Ahhh!
Meu gemido alto o faz sugar mais forte.
— Essa buceta está pronta para o meu pau? — Pergunta, solto um
gemido em resposta. — Adoro quando você geme assim.
Se afastando, olha nos meus olhos, ele me coloca sentada em cima
da pia, o mármore gelado contra minha pele me faz soltar um gritinho
surpreso, me inclino para trás e observo enquanto desliza seu pau pelo meu
clitóris, e em seguida me penetra. Lior se inclina para frente, nossos corpos
unidos, respiração ofegante. Mas não é isso o que me leva ao próximo
orgasmo em tempo recorde, são os seus gemidos no meu ouvido, a forma
firme como me segura no lugar, seus movimentos frenéticos como se
precisasse de mim para respirar.
Gozamos juntos, ele não sai imediatamente de mim, com seu pau na
minha buceta, Lior me leva para a cama e me deita no centro, pairando em
cima de mim, antes de me foder lentamente. A necessidade frenética de
momentos atrás deu lugar a um sexo suave, estamos nos aproveitando e
aproveitando o momento.
Exausta depois de mais duas rodadas de sexo, pego no sono em
seus braços.
Capítulo 11
Lior
Acordo com uma batida na porta do quarto, decido que matarei
quem está interrompendo meu sono ao lado da minha gatinha. Olho para
Anuvia, ainda preso na forma como se desfez em meus braços, gemeu meu
nome cada vez que eu metia com mais força ou quando tinha um orgasmo.
Com cuidado, me desvencilho dos seus braços e vou até a porta, me
deparando com Cash.
— O que está fazendo aqui? — Pergunto, sem me importar em
esconder minha irritação.
— Sua mulher decidiu me pregar uma peça e usou o meu cartão de
crédito. — Responde.
— Foda-se! Me interrompeu por isso? — Começo a fechar a porta.
— Vá procurar o que fazer, conversamos depois.
Batendo-a em sua cara, volto para a cama, puxo Anuvia para os
meus braços e fecho os olhos para dormir, até que um telefone, que eu não
havia visto antes, apita na mesa de cabeceira do outro lado. Anuvia se
meche um pouco, mas não acorda. Me inclino por cima dela e pego o
aparelho, abrindo o vídeo percebo ser uma mensagem de Asher, sendo
quem deve ter lhe dado o aparelho.
A mensagem diz;
“Aprecie o show”
Ignoro como o contato de Asher está salvo como “gostosão
irresistível”, isso é uma coisa do idiota, em seguida um vídeo começa.
Estranho em um primeiro momento, quando noto que é a câmera de
segurança do apartamento de Cash, em vários ângulos diferentes, o som
também está presente. O vídeo começa mostrando uma parede enorme de…
papel higiênico? Que merda é essa?
Cash entra, ele mal passa pela porta quando se depara com a parede
de papel, sua expressão é impagável, ele está além de furioso. No mesmo
momento, seu telefone toca, e tenho certeza que é sua operadora de cartão
de crédito avisando que toda aquela porcaria foi comprada com seu próprio
dinheiro.
Sinto o corpo de Anuvia tremendo enquanto ela ri em silêncio,
apreciando o show.
— Isso é impagável. — Murmura sonolenta. — Asher foi um
gênio!
— Vocês tramaram isso? — Pergunto, odiando quando se afasta de
mim e sai da cama.
— Sim, foi a nossa vingança por seu jeito brusco e mal-educado. —
Responde.
— Calum vai ficar mais atento. — Aviso.
— Tenho uma imaginação fértil. — Dá de ombros. — Tenho
certeza que irei pensar em algo.
Quando ela some no banheiro me levanto e vou atrás dela,
observando enquanto escova os dentes e depois lava o rosto.
— Conseguiu que Asher te desse um telefone?
— Sim, não sei onde está o meu. — Me encara através do espelho.
— Preciso ter como me comunicar com minha família.
— Anuvia…
— Lior, não vamos começar com essa discussão outra vez. — Pede.
— Já disse que não vou embora, não tem motivo para me impedir de falar
com eles. — Se vira e cruza os braços. — Soube que falou com o meu pai,
e que sabe que estou aqui.
— Não vou dizer que foi uma conversa agradável, embora tenha
sido mais fácil do que pensei. — Admito. — Seu pai tem uma visão clara a
meu respeito.
— Isso faz de vocês dois.
Ela termina sua higiene e sai do banheiro, permaneço ali, dando a
ela espaço para fazer suas coisas, enquanto cuido das minhas necessidades.
Saio do quarto e Anuvia já está vestida, usando uma calça preta, meias
grossas, uma blusa de gola alta solta, seu cabelo também está solto.
— Vai ficar me encarando? — Sua pergunta me tira dos meus
pensamentos, e volto minha atenção a ela.
— Admirar minha mulher não se qualifica como “encarar”.
— Sua mulher? — Bufa divertida. — Não acha que está
confundindo as coisas?
É divertido ver como minha gatinha tenta se agarrar e lutar contra o
que sente por mim, sei que levará um tempo para que finalmente me aceite
e permita que me aproxime. No entanto, darei tempo a ela, deixarei que
chegue sozinha suas próprias conclusões.
— Não! — Vou para o closet e me visto, saindo percebo que ela
ainda está parada com uma expressão confusa. — Algum problema?
— Você me confunde.
Seguro sua mão na minha e a levo para o andar de baixo, confusão
é bom, é o que leva a uma conclusão, e preciso que Anuvia chegue a
verdade o mais rápido possível.
— Não gosto de jogos, não vou discutir algo que não tenho
controle.
— Me fazer gostar de você?
— Fazer com que perceba que gosta de mim.
Dou um beijo leve em seus lábios antes de entrar na sala de jantar,
que tem sido usada com mais frequência devido ao número de pessoas.
Cash está lá, olhando de cara feia para nós dois, ignoro sua expressão e vejo
Asher sorrindo satisfeito, o que meu amigo não percebeu ainda é que Cash
está o observando.
— Foi você! — Cash acusa.
— O quê? — Asher usa seu olhar inocente, o que não combina com
o filho da puta.
— Você e essa psicopata mirim encheram minha casa com papel
higiênico, passei a noite tirando aquela merda da minha sala. — Grita.
— Pense pelo lado positivo, não vai ter que comprar novamente. —
Anuvia oferece, também com um olhar inocente. — E pensei que meu
apelido fosse princesa, já estava até pensando em qual seria o meu primeiro
decreto.
Seu tom provocativo é ignorado por Cash.
— Novamente? — Cash estreita os olhos. — Vocês compraram
aquela merda com o meu cartão?
— Não foi por isso que bateu na minha porta mais cedo?
— Ela comprou mais de dez mil reais em livros! Era isso que eu
estava me referindo.
Olho para Anuvia que dá de ombros.
— A biblioteca precisa de uma renovação. — Explica. — Não seja
um pão duro.
— Ótimo! Agora sou pão duro, nunca mais usem o meu cartão. —
Dá uma mordida em sua comida. — O que vou fazer com todo aquele papel
higiênico?
— Use, você tem cara de quem faz muita merda. — Minha gatinha
adiciona seu comentário. — Além disso, pode dar um pouco para os caras,
Lior não tem em seu banheiro.
— Ele que compre! — Cash está com seu celular nas mãos,
digitando furiosamente. — Será que papel higiênico vence?
— Acho que não, o que poderia acontecer se vencesse?
— Coceira no cu? Ou seria fogo no rabo? — Anuvia olha para Cash
quando faz essa pergunta, o idiota sorri e entra na onda.
Observo enquanto todos comem e conversam, o clima estranho que
havia entre Anuvia e Cash fica no passado, e em um momento penso ouvi-
los conversando a respeito da brincadeira que farão com Calum. Deixo que
se divirtam, é uma sensação estranha ter tanta conversa e riso nesta casa.
Me recosto na cadeira, tomando meu café e escondendo meu riso
presunçoso, novas lembranças estão sendo formadas neste lugar, boas
lembras, e acho que posso ver um futuro diferente para o que estamos
construindo aqui.
Infelizmente, meu telefone toca, o trabalho me chama. Enquanto
peço licença, dou um beijo rápido em Anuvia, a lembrando de que deve
ficar segura, e vou para o escritório atender a ligação, faço uma promessa a
mim mesmo de que garantirei que esta casa seja repleta de bons momentos
no futuro.
— Achei que ia continuar ignorando as minhas ligações.
Não me surpreendo com a saudação de Dimitri Petrov, nosso
relacionamento beira o fracasso.
— Estava ocupado.
— Ninguém fica ocupado quando é o meu número na tela do
telefone. — Quero rebater e dizer que essa é uma mentira, mas não é,
Dimitri Petrov é o homem mais respeitado e temido do país, ninguém seria
louco para dizer a ele que não pode atender. — Soube o que fez com Mallet.
— As notícias correm rápido, dei o meu aviso a ele.
— Jogou a cautela fora.
— Estou mais para um homem de ação do que de ficar sentado
esperando que a merda atinja o ventilador, Mallet falou merda, e ensinei
uma lição.
— O que ele falou que te fez rasgar o rosto do homem na porra de
um restaurante público?
— Como sabe de tantos detalhes?
— Você está com minha filha sob o seu teto, na mesma cidade que
esse babaca, não confio em ninguém com minha garota.
Se estivesse no lugar dele, faria a mesma coisa, ninguém será bom o
suficiente para qualquer criança que Anuvia e eu tenhamos.
— Se não confia em mim, porque…
— Vou te interromper agora, não confio em você, mas sou adulto o
suficiente para permitir que minha filha tome as próprias decisões e cometa
seus próprios erros, se você foder as coisas, estarei aqui para cuidar do
meu bebê e depois dar um tiro na sua cara.
— Disse “se”, deve confiar em mim ao menos um pouco.
— Aí é que está, não confio em você, mas acredito que não será
idiota para magoar minha filha, não por saber que irei acabar com sua
vida, e sim para reconhecer a coisa preciosa que tem ao seu lado. — Não
estava esperando por isso. — Fui um idiota como você quando era mais
novo, Allyssa e os meus filhos foram a melhor coisa que me aconteceram.
— Anuvia é a melhor coisa que me aconteceu! — Garanto, nem
mesmo penso em como isso soa, em quão desesperada e necessitada minha
voz está.
— Bom!
— Ela falou comigo ontem, disse algo que fez todo sentido. —
Explico a ele a hipótese levantada por Anuvia, e Dimitri escuta
atentamente.
— Minha filha é um maldito gênio! Procurarei por informações,
vamos nos encontrar para planejar.
— Apenas me passe as informações, vou cuidar dele.
— Antes de desligar, o que ele te disse que o fez cortar seu rosto?
— Falou merda.
— Anuvia?
— Sim.
Desligo antes que ele peça mais informações. Dimitri não precisa
saber quão doente o bastardo é, ou o nível de sua obsessão por Anuvia, o
que precisa saber é que vou proteger sua filha de qualquer coisa e qualquer
um que tente machucá-la, mesmo que tenha que protege-la de mim.
Uma batida soa na porta, logo em seguida dois homens entram, um
deles está com uma mulher loira, usando roupas muito justas e reveladoras.
A mulher tem um sorriso presunçoso, tenho uma sensação ruim no meu
estômago, algo me diz que eles estão aqui para tramar algo, e não gostarei.
Capítulo 12
Lior
— Não sabia que tinha uma reunião com vocês.
Não faço um movimento para me levantar, se fossem um pouco
mais espertos nem mesmo tentariam entrar na minha casa. Mas aquela
sensação de que isso não é uma viagem gratuita, eles estão aqui para
representar alguém.
— Seu amigo nos deixou entrar, quando mostrei este cartão. — O
homem se inclina e me mostra o cartão verde-esmeralda, há um dragão
dourado na frente.
Tenho certeza que essa merda deve significar algo, ou impor
respeito a um dos empregados da casa, meus homens são leais, jamais
mandariam três desconhecidos até o meu escritório sem antes me avisar.
Jogo o cartão em uma gaveta e fecho, sem estudá-lo mais, isso é
algo que farei quando seus olhos atentos não estiverem por perto,
espreitando a espera de uma chance.
— Tenho certeza que esse cartão deve significar algo em seu
mundo, mas isso não significa nada para mim. — Explico. — Muito menos
dá a vocês o direito de entrar na minha casa, e trazer consigo convidados.
— Soube que o tempo que passou atrás das grades foi um momento
difícil. — O mais baixo e careca diz. — O policial que te prendeu chegou
até a ganhar uma promoção.
Sorrio por dentro, é claro que o homem que me prendeu ganhou
uma promoção, foi o meu presente para ele.
— Estão escrevendo minha biografia? — Cruzo os braços e dou um
sorriso para eles. — Não estou muito inclinado a ter minha vida exposta, e
posso garantir que não é um conto de fadas.
— Divertido, no entanto, não estou aqui para criar problemas,
apenas para saber como estabelecerá suas regras? Não quero acordar e ter
meu negócio tirado de mim.
Cruzo as mãos em cima da mesa, é um movimento claro, eles
querem jogar limpo para que eu não me meta em seus negócios. Seu
respeito é bem-vindo, tendo tantas pessoas quanto possível tentando tramar
pelas minhas costas, é uma lufada de ar fresco, embora jamais confiarei.
— Não vou interferir em pequenos negócios, as regras estabelecidas
por Cash funcionaram ao longo dos anos, não vejo motivo para mudar isso.
— Respondo. — Devo admitir que por mais que não seja um grande fã de
visitas inesperadas, aprecio que tenha vindo até mim com suas
preocupações.
— Somos homens de negócio, realizamos negócio há um longo
tempo, embora não diretamente.
Estudo suas expressões.
— Por que tenho a sensação de que existe algo mais?
— Estamos tendo problemas, algumas mulheres desapareceram em
uma das minhas casas noturnas. — Explica.
— Prostitutas são…
— Elas não são prostitutas, são clientes comuns, a melhor amiga de
uma delas tem vindo todas as noites e me causado alguns problemas.
— Quantas até o momento?
— Cerca de seis garotas, não quero polícia farejando nos meus
negócios.
— E então trouxe o problema para minha porta?
— As pessoas falam por aí, sei que matou seu pai e os motivos que
o fizeram fazer isso, posso ser um babaca sujo, mas não vou admitir que
sujem os meus negócios com isso.
— Vou checar o que posso fazer.
Eu sabia quando matei meu pai que as pessoas me veriam de duas
formas, ou como um babaca que conseguiu matar seu próprio sangue, um
traidor, ou como uma espécie de justiceiro. Não estou bem com nenhuma
opção, ser um “herói” ou “justiceiro”, significa que fiz algo grande, quando,
na verdade fiz apenas o que deveria ser feito.
— Você e sua mulher são os meus convidados Vip esta noite. — Me
entrega outro cartão, desta vez, um com seu nome e o endereço.
Seguro o cartão entre os dedos, não fazendo nenhuma promessa.
— Sou um homem ocupado.
— Tudo bem, o convite foi feito.
Após se despedirem, os acompanho até a porta, olhando em volta
em busca de qualquer sinal do empregado que os permitiu entrar. Quando
vão embora, Cash está parado perto da porta de entrada, com os braços
cruzados, o conheço bem o suficiente para saber que está curioso com a
visita.
— Mal assumiu os negócios e já está recebendo visitas
interessantes.
— Sabe alguma coisa a respeito daqueles homens?
— Apenas que ambos têm uma boa fama, negócios limpos, no
entanto, tem um problema pessoal com um velho amigo do seu pai.
— Amigo do meu pai?
Meu pai tinha muitos amigos que não valiam um saco de bosta, o
que me assusta é o quão profunda é a sujeira que lidamos ao longo dos
anos. De todos os amigos do meu velho, o mais babaca era Gagneux, um
velho com uma barriga enorme, uma barba branca, que lembra o papai
Noel, mas que é tão mal quanto o próprio diabo.
A última vez que ouvi a respeito dele, Gagneux estava cuidando de
seus negócios na França, e por negócios me refiro a suas duas amantes que
viviam em uma mansão, enquanto sua esposa, uma mulher anos mais
jovem, não fazia ideia do que estava acontecendo.
— Vejo que já associou o problema a pessoa, Gagneux. — Cash
explica. — Depois que foi preso, o velho tentou se aproximar, passou um
tempo morando na cidade, e depois estabeleceu alguns negócios a nossa
volta.
— Negócios esses que envolvem sequestrar mulheres?
— Infiltrar drogas em casas noturnas, mas não sei ao certo, como
não nos envolvia achei prudente evitar que uma guerra começasse.
Aceno com a cabeça, concordando que em um primeiro momento
foi a decisão mais sábia, mas não deixo de me perguntar o que o desgraçado
está fazendo. Gagneux é um homem sorrateiro, que com o tempo nos trará
problemas, é preciso cortar o mal pela raiz, ainda mais tendo percebido sua
ausência na festa.
— Ele não foi convidado para a festa? — Pergunto.
— Foi, mas recusou o convite alegando ter outros compromissos,
como foi uma festa marcada em cima da hora.
— Independente de ter sido marcada em cima da hora, é obrigação
dele comparecer em sinal de respeito. — Lembro. — Terei uma conversa
pessoalmente com o desgraçado.
— Vai aceitar o convite para ir à casa noturna?
— Sim, talvez eles possam me dar uma luz melhor sobre os
negócios do velho.
— E quanto a Mallet? Está mudando seu foco?
— Mallet não é um problema, ele vai se esconder, lamber suas
feridas, e depois sair do buraco como a cobra que é e tentar outro golpe. —
Sigo para o meu quarto com Cash atrás de mim. — Nós dois sabemos que
não irá conseguir nada.
— E Dimitri?
— Disse que me daria algumas informações, mas não o quero
envolvido nisso, é meu problema para resolver.
Anuvia está parada na porta do quarto, me encara e faz uma careta
após ouvir o nome do seu pai, embora, também percebo surpresa com meu
tom. Prometi que deixaria seu pai de lado, e depois dos últimos
acontecimentos, minha opinião sob os Petrov mudou.
— O que está acontecendo? — Pergunta, olhando entre mim e
Cash.
— Vamos sair esta noite.
Minha gatinha sabe que não gosto de a envolver no meu trabalho,
mas posso permitir que se divirta, enquanto cuido de tudo, com ela ao meu
lado as pessoas vão pensar que estamos apenas saindo como casal, em vez
de trabalho, e Asher estará conosco.
— Tudo bem.
Sua resposta é simples, e não me revela nada do que está pensando
ou sentindo. Olho no relógio e percebo que se passou muito tempo desde o
café da manhã, estendo minha mão para ela, que observa sem realizar
nenhum movimento.
— Já comeu alguma coisa? — Pergunto, ela nega com a cabeça. —
Vamos.
Ignoro Cash atrás de nós, o homem aparentemente virou uma
sombra, nos seguindo em direção a sala de jantar onde os outros já estão
sentados comendo.
— Sabe, percebi que essa casa tem muito homem e pouca mulher.
— Anuvia se senta e se serve, seu comentário faz a mesa ficar em silêncio.
— O quê? Apenas constatando um fato.
— Não temos tempo para uma mulher.
Gatinha revira os olhos.
— Essa é uma desculpa perfeita para quem não consegue pegar
uma mulher. — Zomba. — Se vocês fizerem parte de um culto gay, por
mim, tudo bem, não precisam se sentir julgados.
— Culto gay? Pãozinho doce, você me assusta.
Dando de ombros, Anuvia continua comendo sua comida
calmamente.
— Eu não sei como chamar isso.
— Estamos muito ocupados tentando consertar os erros cometidos
por nossos pais. — Asher explica. — Trazer pessoas com quem nos
importamos para essa bagunça, é inaceitável.
— É isso ou estão com medo de terem se tornado como seus pais?
— Anuvia é direta. — Talvez estejam apenas arrumando desculpas por
medo.
— Não sabe nada sobre nós, o perigo que nos cerca.
Anuvia bufa divertida e acena com a mão, como se estivesse
ouvindo uma piada divertida.
— Besteira! Se minha família me ensinou uma coisa é que o amor
os fortalece, e trazer uma pessoa para suas vidas pode ser justamente a linha
que os separa dos seus pais.
Suas palavras fazem com o silêncio reine na mesa, sem perceber o
caos que criou na mente dos meus homens, Anuvia continua comendo
tranquilamente. Depois que terminamos nossa refeição, ela se desculpa e
diz que precisa sair e falar com seus pais, sabendo como Dimitri está
ansioso para falar com sua filha, fico em silêncio.
— Pãozinho doce é direta. — Asher comenta quando estamos
sozinhos, ele olha em volta. — Ela tem razão, essa casa estava parecendo
ainda mais deprimente do que quando seu pai estava vivo.
— Não quero falar sobre nossos pais. — Calum se levanta e sal.
— Preciso beber alguma coisa. — Cash é o próximo a se levantar e
caminhar até a porta. — Se precisar que eu vá com vocês, me avise depois.
Cash sempre age como um idiota frio, mas nesse momento, parece
que engoliu uma barata.
— O que aconteceu com ele enquanto estive fora? — Pergunto.
— Longa história, mas sua garota acertou uma ferida do idiota,
acho que está percebendo que fez merda. — Asher pisca e se levanta. —
Vou me preparar para esta noite, preciso estar bonito, vai que conheço meu
bolinho de amor.
Esse filho da puta e suas referências de comida.
Capítulo 13
Lior
A casa noturna está lotada, fomos guiados para a ala VIP, uma
garrafa de champanhe foi trazida até nossa mesa. Os garçons foram bem
instruídos, enquanto nos servem, Anuvia dança no canto, perto da nossa
mesa, sorrio quando começa a cantar alto “Typa Girl”.
— Sua garota é divertida. — Um dos donos que me visitou ontem
diz, se aproxima e se senta.
Dou de ombros, Anuvia é difícil de ser descrita, a mulher me deixa
confuso como a porra a maioria do tempo. Hoje, antes de sairmos, quase
tive um ataque cardíaco quando vi o vestido que estava usando, mas percebi
ser uma provocação, ela estava me desafiando a dizer algo. Sou mais
esperto que isso, e escolho muito bem minhas batalhas, seu vestido não era
um problema, e a razão para isso é estarmos afastados dos outros
frequentadores.
— Gagneux. — Noto a mudança no comportamento do homem,
desviando o olhar e tomando um longo gole de sua bebida. — O que sabe
sobre ele?
— Obviamente as pessoas estão te subestimando. — Ri sem humor.
— Não sei o que responder, sei que é um velho conhecido de sua família.
— Os princípios pregados pelo meu pai e por outros de seus
amigos, não combinam com o meu. — Lembro. — Prefiro que me diga o
que está acontecendo no meu quintal, assim posso cortar o mal pela raiz.
— Quando comecei com esse clube sempre foi por diversão, sou
um homem jovem e solteiro, que forma melhor de me divertir do que ter um
clube? Um tempo depois jovens começaram a aparecer drogados, eu não
queria essa merda no meu lugar.
— No entanto, está vendendo.
Lembro que me foi apresentado como um pequeno traficante.
— É isso o que as pessoas pensam, mas não sou um fã da polícia e
esse lugar me rende um bom dinheiro. — Continua. — Não preciso
trabalhar, é apenas diversão, por isso não vendo essa merda e nunca permiti
que Gagneux fizesse isso aqui, quando percebi suas intenções, o filho da
puta tentou me ameaçar.
— Conheço ele, é difícil dizer não.
— Na verdade, foi fácil, o problema foi as ameaças. — Continua.
— Reforcei minha segurança, e isso o impediu, ao menos a venda de
drogas.
— O que isso significa?
— Significa que o bastardo continuou mandando seus homens para
o meu lugar, mulheres começaram a desaparecer e eu tomei quatro tiros e
mais duas tentativas de assassinato. — Diz. — Não gosto dessa merda, por
isso fui até você, se não conseguir controlar o velho terei que dar o meu
jeito.
— Fique tranquilo, desde o meu retorno, tenho notado algumas
coisas.
— Coisas?
— Nada que seja importante para você.
Acena com o queixo na direção do bar onde Gagneux, o mesmo
velho desgraçado de sempre, está sentado, uma bebida em suas mãos, nos
encarando. Não deixo de perceber o sorriso de canto em seus lábios, o
idiota está me desafiando. Aceno para ele com a mão, não é um pedido para
que se aproxime, é uma ordem, e mesmo relutante, o idiota é inteligente
para obedecer.
Sua obediência à contra gosto me faz rir, é satisfatório quando
percebe que sua tentativa de me intimidar não está funcionando.
Aceno para Asher, que se inclina.
— Algum problema? — Pergunta.
— Leve Anuvia para uma sala reservada e fique lá com ela. —
Mando.
Quando Asher segura seu braço e a leva para longe, minha gatinha
me lança um olhar preocupado, mas vê algo em minha expressão e o segue
sem discutir.
— Bela garota. — Gagneux diz, quando se aproxima. — Não
esperava te encontrar aqui hoje.
— É uma surpresa mesmo, pensei que te veria na minha festa.
Gagneux se senta, se encostando na cadeira e cruzando os braços.
— Estive ocupado.
— Ninguém está ocupado para ir a um evento meu, fui claro? —
Estreito meus olhos sobre ele. — Se continuar se comportando assim, vou
pensar que temos um problema.
— Sou um velho amigo do seu pai, pensei que entenderia meu lado.
— Não entendo! Quando dou uma festa de retorno é para que todos
apareçam e façam o que mando. — Aviso. — Além disso, soube que trouxe
alguns dos seus negócios para minha área.
— O garoto que estava no seu lugar não interviu.
— Cash decidiu com base no que acreditava, eu estando de volta,
vou rever algumas coisas.
Enfatizo o nome de Cash, se ele for começar nos tratando como
garotos, logo outros vão usar suas falas e isso se tornará um problema.
— Isso inclui os meus negócios?
— Exatamente! — Me inclino em sua direção. — Seu desrespeito
ao recusar meu convite foi esclarecedor, desta forma, espero que seja
esperto. — Me levanto. — E antes que me esqueça, quero uma lista com
todos os seus negócios, se estiver faltando um, irei descobrir.
— Isso é desrespeitoso, seu pai ficaria envergonhado.
É minha vez de rir.
— Meu pai? Acredite em mim que o filho da puta não ficaria
envergonhado com algo assim. — Estudo seu rosto. — Mas tenho a
sensação que você sabe disso.
Gagneux é muito parecido com meu pai, tenho certeza que as
mulheres desaparecendo nesse clube e em outros na cidade é coisa dele. O
que me deixa curioso com a possibilidade de ele estar por trás de Mallet.
Estou me afastando, quando o escuto gritar.
— Soube o que fez com Mallet, ótimo trabalho, mas precisa ser
mais firme, as pessoas não vão acreditar em toda essa fúria se continuar
tendo piedade.
— Tem razão. — Me aproximo dele novamente, pego meu canivete
e sem que perceba, bato com a lâmina em sua mão estendida, o sangue
começa a se formar, e sorrio ao sentir a lâmina presa na madeira. A faca
cruzou sua mão até o objeto. — Não estou dando um show, por isso sugiro
que tome cuidado.
Vou para a sala reservada, e encontro Anuvia e Asher com um saco
de lenços umedecidos limpando os estofados, antes de se sentarem. De onde
é que ela tirou isso? E como convenceu Asher de ajudá-la?
A cena é o suficiente para melhorar meu humor, Gagneux se
tornando uma mera lembrança.
— Finalmente voltou. — Asher parece aliviado com minha
presença. — Pãozinho doce surtou com a limpeza, ela se recusa a sentar
nesses estofados sem limpar.
Franzo a testa para Anuvia, que me olha como se fosse uma
explicação óbvia.
— O quê? Não espera que me sente em um lugar desses sem que
esteja tudo limpo, tenho meus princípios!
— Está pronta para ir embora? — Pergunto.
— Agora que limpei tudo isso? Vamos nos divertir um pouco. —
Asher protesta. — Estamos em uma sala privada, não há motivo para ir
justo agora.
Observo a reação dela, depende de Anuvia. Quando dá de ombros e
se senta no sofá, Asher comemora, sabendo que não vou a lugar algum sem
minha garota. Sento-me ao lado dela, no momento que um garçom entra
com um balde de champanhe, ele o coloca no centro da mesa e após nos
entregar taças, despeja um pouco em cada uma.
Espero que se retire antes de colocar a minha, ainda cheia, de volta
na mesa e me recostar no sofá.
— Não vai beber? — Anuvia pergunta.
— Alguém precisa estar sóbrio.
— Seus seguranças estão lá fora. — Lembra.
— Não costumo beber, apenas em algumas ocasiões especificas. —
Explico. — Beber em um lugar desconhecido onde tenho certeza que
alguns dos meus desafetos se encontram, e sei que preciso protegê-la.
— Posso me defender!
— Mas não vai, é minha função te proteger. — Respondo. — E
antes que discuta comigo, sei que pode lutar, mas não há necessidade, não
quando estou do seu lado.
— Você é chato!
— Por que estou te protegendo? — Dou risada.
— Porque torna difícil a tarefa de te odiar.
Dito isso, ela se levanta e começa a dançar, Asher entra na onda e
ambos começam uma espécie de batalha de dança engraçada, minha gatinha
se vira e me encara, seu olhar me faz encobrir minha tosse com uma risada.
Fazia tempo que não me divertia tanto, a última vez que estive em
um lugar como esse foi antes da minha prisão, eu era um babaca que saia
por me exibindo, sabia que a maioria das pessoas tinha medo de mim e do
que minha família poderia fazer com eles. Olhando para o passado, é difícil
acreditar que não percebi a espécie de perigo que minha família significava.
— Qual é o problema? — Asher questiona.
— O passado.
Não preciso dizer mais nada, Asher olha em volta e entende o que
quero dizer. Nossos pais nos criaram para ser um tipo de pessoa, e por um
momento, quase nos tornamos aquilo que desejaram. Felizmente,
percebemos e conseguimos mudar antes que esse mal se enraizasse.
— Você mesmo disse que devemos nos concentrar no agora. —
Lembra.
Concordo e me levanto, puxo Anuvia para dançar comigo, não
deixo de apreciar como sua dança muda para algo mais sensual, seu corpo
colado ao meu, sua bunda esfregando contra minha virilha. Seguro seu
quadril com mais força, fazendo com que pare de se esfregar em mim desta
forma, Asher não precisa de um show de merda, e nos ver transando a seco.
Minha gatinha revira os olhos e me lança um sorriso sensual,
sabendo o efeito que tem sobre mim. É difícil pensar com muita clareza
estando tão perto dela, como disse anteriormente, não estou preparado para
o que está acontecendo, e acredito que nunca estarei pronto para a
intensidade dos meus sentimentos.
— Preciso ir ao banheiro.
— Aqui? — Asher a encara sem acreditar. — Deu todo aquele
show sobre limpeza e planeja fazer “xixi” aqui?
— Não me olhe assim! Já segurei um monte.
— Está um inferno lá fora. — Meu amigo reclama. — Vamos lá,
pãozinho doce, só mais um minuto.
Vendo o desespero no rosto de Anuvia, seguro sua mão e a levo até
a porta.
— Vá avisar que estamos saindo, vou com ela até o banheiro e
sairemos pelos fundos.
— Qualquer coisa para não ter que enfrentar aquela fila infernal.
Anuvia ri, divertida, de sua resposta e vamos em direção ao
banheiro. A multidão, a nossa volta, gritando, bebendo e rindo, é sufocante,
sinto minha cabeça começar a latejar imediatamente. Passamos por um
monte de pessoas que só saiam da frente quando empurradas, para nos
depararmos com uma fila enorme para ir ao banheiro.
— Está repensando ter liberado o Asher? — Me provoca.
— Fique perto de mim, vamos dar um jeito nisso.
Caminho até a frente da fila, e levanto a mão para atrair a atenção
das mulheres, algumas dão risada babada, e outras apenas observam.
— O que está fazendo? — Anuvia murmura, puxando minha mão.
— Você quer ir ao banheiro.
— E elas também! — Rebate.
Ignoro seu comentário e puxo minha carteira.
— Senhoras, minha mulher está muito apurada para ir ao banheiro,
por isso gostaria de me oferecer para pagar suas comandas esta noite, se
permitirem minha garota passar na frente. — Ofereço. — Dinheiro não é
problema.
O coro de “sim” é ouvido, e muitas comemoram.
— Você é louco. — Anuvia reclama, mas entra no banheiro
correndo.
Aceno para um dos meus seguranças, que se aproxima.
— Essas senhoras são minhas convidadas esta noite, garanta que
suas contas sejam pagas, assim como o que for consumido por elas. —
Entrego um dos meus cartões a ele.
Rapidamente minha gatinha sai do banheiro e vamos até os fundos,
Asher está nos esperando com o carro ligado. O filho da puta franze a testa
quando vê que sobrevivemos a temida fila do banheiro.
— Como fez isso?
— Não achou que permitiria que minha mulher ficasse naquela fila,
não é?
— Você é louco. — Anuvia repete a mesma coisa que disse antes de
entrar no banheiro.
— Precisa aprender uma coisa a meu respeito, se você quer algo, e
eu posso te dar, farei isso.
— E se não puder? — Me desafia.
— Não se preocupe, não há nada nesse mundo que não seja capaz
de te dar.
Chegando em casa, noto uma movimentação estranha vinda de
Cash.
— Vá falar com ele, estou indo tomar um banho.
— Me dizer que está indo tomar um banho é exatamente o que não
deveria fazer quando preciso conversar com ele.

Rindo se afasta de mim e sobe correndo as escadas.


— Vamos para o seu escritório.
— O que aconteceu?
— Tem algo que você precisa ver.
Capítulo 14
Lior
A cabeça em cima da mesa é nojenta.
— Almoço aqui quando estou ocupado. — Digo, e isso o faz revirar
os olhos.
— Alguém manda uma cabeça para você, e sua preocupação é essa?
— Tem razão, não sabia que o correio fazia entrega a essa hora.
— Lior!
Me aproximo de cabeça e me abaixo para olhar o trabalho bem de
perto, os olhos foram arrancados, há alguns dentes faltando, assim como um
pedaço da língua. O dono da cabeça deveria ter um piercing em cima da
sobrancelha, arrancado com um bom pedaço de pele.
Dou a volta na mesa e me sento, encarando Cash a espera que ele
me diga quem é essa pessoa e porque algum maluco decidiu me dar sua
cabeça de presente.
— O que você quer que eu diga? Preciso saber quem essa pessoa é
antes de fazer qualquer coisa. — Respondo. — E por falar nisso, quanto de
espaço você deu para Gagneux?
— Ele me disse estar abrindo uma rede de bar. — Responde.
— Encontrei com ele essa noite, e tive a impressão de que está se
aproveitando e usando mais espaço do que demos.
— Foi por isso que ele tentou me ligar?
— Tentou?
— Sim, mas nem mesmo atendi, não é inteligente da parte dele
passar por cima das suas ordens e falar comigo.
— Tem razão, não é! — Concordo.
Minha enxaqueca está piorando, o menor dor meus problemas nesse
momento é essa cabeça, tirando que está na minha mesa, Gagneux é um
verme assim como Mallet, e se os dois estiverem trabalhando juntos nessa,
vai ser fácil derrubá-los.
— Tenho a sensação de que algo está acontecendo e ainda não
percebemos isso.
Cash não está errado, existe uma infinidade de coisas acontecendo
pelas nossas costas, e quanto mais penso em nossas famílias, maior é a
sensação de que deixei passar alguma coisa.
— Onde está Calum?
— Roux, decidiu ter uma viagem de família, posso garantir que
Calum não está feliz em dividir o mesmo teto que sua madrasta e sua nova
irmã postiça.
Não fazia ideia que Roux, havia se casado novamente, muito menos
que Calum tivesse uma nova irmã. Calum não é bom com pessoas, ele não
gosta de estar cercado por elas, muito menos de ter que dividir um espaço
pequeno por muito tempo.
— Roux é uma boa pessoa, e merece ser feliz.
O celular de Cash apita ao som de uma nova mensagem, enquanto a
lê, meu amigo faz uma careta, não satisfeito. Após respondê-la, guarda o
telefone no bolso, caminha até minha mesa e pega a caixa com a cabeça.
— Temos um problema. — Diz.
— Descobriram a quem essa cabeça pertence?
— Esse é o filho de Gagneux, tenho certeza que depois dos últimos
acontecimentos entre vocês, isso não vai acabar muito bem.
Me levanto e vou em direção a porta.
— Descubra quem fez isso, deve haver um motivo para que essa
cabeça tenha sido enviada a mim.
No meu quarto, tiro a roupa, tomo um banho e vou direto para a
cama, caindo no sono logo após puxar Anuvia para os meus braços.
***
Acordo sentindo um toque suave no meu rosto, abro os olhos me
adaptando a claridade, para encontrar Anuvia me encarando, seu olhar
intenso focado em meu rosto.
— Bom dia. — Murmuro.
— Você ronca. — Me cumprimenta, pisco surpreso com seu
comentário inesperado.
— Você também, gatinha. — Respondo, embora ache fofo seu
ronco baixo.
— Está falando isso apenas de vingança. — Tenta se afastar de
mim, mas rolo em cima dela e prendo seus braços em cima da cabeça.
— Não estou! Acho fofo quando você ronca. — Aproximo meu
rosto do seu. — Agora, me dê um beijo.
Anuvia vira o rosto.
— Você ainda não escovou os dentes.
— Não me importo.
— Mas eu sim. — Luta para se afastar, deixo ela ir rindo, me
levanto e vou para o banheiro. — Isso não é engraçado.
— Acho que é.
— Parece melhor hoje. — Seu olhar atento me analisa.
— Do que está falando?
— Ontem, você estava com uma cara estranha.
— Minha cabeça estava doendo. — Admito. — Não gosto de
multidões.
— Devia ter me falado e teríamos saído.
— Se fosse assim, você não teria se divertido.
— Eu teria me divertido em casa com você. — Vira as costas e sai.
Termino minha higiene e me arrumo, percebendo que devo ter feito
algo errado, a ponto de ter me deixado para trás. Desço as escadas
tranquilo, não tenho certeza se Anuvia percebeu que estamos em um
relacionamento, ao menos deve ter percebido que agimos como um casal.
Espero encontrar todo mundo reunido na sala de jantar, mas não há
ninguém lá, estranhando começo a procurar, e acabo os encontrando no
jardim dos fundos, Aiden e Levi estão lutando, enquanto minha gatinha
toma café tranquilamente sentada em uma das mesas do jardim, com Cash e
Asher. Os três estão apenas observando a luta e dando suas opiniões.
— O que está acontecendo? — Pergunto, me sentando ao lado de
Anuvia.
— Ao que parece, Levi gosta da minha prima e acabou de descobrir
que seu irmão também tem um interesse nela. — Anuvia explica. — Tenho
a sensação de que eles deveriam dividir, Jules se daria bem com ambos.
Cash cospe todo o café o que estava tomando, imediatamente
começa a tossir tentando recuperar o fôlego. Asher, a pessoa com a menos
probabilidade de ficar chocado, está encarando minha gatinha com a boca
aberta.
— Está dizendo para eles fazer um trio? — Pergunta chocado.
Ela dá de ombros.
— Livros de menage estão na moda ultimamente, deveria perceber
o tipo de entretenimento que ele gera. — Responde desinteressadamente. —
E, além disso, eles são gêmeos, estão acostumados a dividir.
Suas palavras fazem até mesmo com que Aiden e Levi fiquem em
silêncio e parem de brigar, sem se olhar, eles se sentam na mesa e fiquem
quietos e pensativos. Sangue escorre da testa de um, enquanto o outro está
com um corte no canto do lábio.
— Pãozinho doce, você é uma pervertida.
— Fico feliz que tenham parado de agir como crianças. — Digo,
satisfeito, que nenhum deles tem coragem de me olhar. — Temos problemas
maiores para lidar, enquanto os dois idiotas estão perdendo tempo lutando
entre si.
— Isso…
— Nem mesmo comesse. — Advirto Aiden. — Sabem que nos
fizeram uma “entrega” especial ontem a noite, precisamos descobrir quem
fez isso.
— Entrega especial? — Perguntam.
Olho para Cash que dá de ombros.
— Eles ainda não sabem.
— Não sabemos o quê? O que aconteceu?
— O filho de Gagneux foi morto, e me enviaram sua cabeça de
presente.
Aiden dá de ombros sem se importar com a notícia, e isso chama a
atenção de todos na mesa.
— O que foi isso? — Cash pergunta.
— Gagneux não se importa com o filho, ele mesmo disse que
mataria o garoto se ele aparecesse em sua frente. — Explica.
— Como sabe disso?
— As pessoas comentam nos clubes de luta, Gagneux não estava
feliz em descobrir que o garoto tinha outros interesses.
— Interesses?
— O garoto queria ser um artista, e por mais que Gagneux estivesse
satisfeito em não ter que se preocupar com o filho o matando para assumir o
comando dos negócios, estava envergonhado com as decisões do filho.
Aiden termina sua explicação e começa a comer.
— O lado positivo é que isso evita maiores problemas. — Cash diz.
— O lado negativo é que vocês podem ter um inimigo em comum?
Ignoro sua pergunta, não existe a mínima possibilidade de termos
um inimigo em comum, o velho sempre deixou claro que estará do lado
mais favorável aos seus negócios. Eu receber a cabeça do seu filho deve ter
algo mais importante por trás, talvez seja um aviso de que não posso confiar
no velho.
— Não penso que seja isso. — Digo.
Anuvia, que estava em silêncio, balança a cabeça em concordância
comigo, atraindo o olhar de todos para ela.
— O que você acha? — Asher pergunta diretamente a ela.
— Eu? — Olha surpresa.
— Você é a única filha que cresceu na família mais poderosa do
mundo, cuja qual a hierarquia é obedecida. — Levi acrescenta.
Anuvia larga seu pão cheio de Nutella e creme branco, e limpa as
mãos. Ela calmamente limpa os cantos da boca com o guardanapo de pano
em seu colo, em seguida toma um pouco de café. Quero rir do seu show, sei
que está fazendo para irritá-los como punição pelo que fizeram nos últimos
dias.
— Disse que ele não se importa com o filho? — Aiden concorda.
— Talvez ele esteja dizendo a vocês que vai fazer o que precisa, e sacrificar
o que for preciso pelo que quer.
— É uma ideia interessante, e se ele não souber? — Pergunto,
querendo saber se ela pensa como eu.
— Então a cabeça foi enviada para que você perceba a reação desse
cara ao receber a notícia, e desta forma, te alertar. — Responde. — Até
ontem tudo o que vocês sabiam era que ele tinha negócios na sua cidade,
essa discussão sobre os princípios dele não havia surgido até que receberam
a cabeça.
Sorrio satisfeito com sua explicação, estamos na mesma página
quando o assunto é esse.
— Essa é uma boa teoria. — Aiden responde. — Ainda mais vinda
de uma Petrov.
Anuvia o encara.
— Está insinuando alguma coisa? — Pergunta.
— E se estiver?
Aiden está agindo como um idiota, mas o sorriso no canto de sua
boca é provocador, ele está apenas brincando com Anuvia, o que é uma
péssima ideia usar sua família, meu amigo ainda não percebeu como os
Petrov ensinam seus filhos a serem leias.
— Devo lembra-los que foram vocês que pediram minha opinião?
— Guarde suas garras, não estou sendo grosseiro.
— Apenas fazendo insinuações descabidas. — Ri. — Meio patético
vindo de alguém que estava brigando com o próprio irmão pela minha
prima.
O som da campainha interrompe a discussão que está prestes a ter
início.
Sinto como se estivesse em uma guerra de jardim de infância, e por
acaso, tenho um crush na garota popular e brigona.
Capítulo 15
Lior
Aguardamos enquanto um dos empregados sai da casa, seguido por
ninguém menos que Gagneux, que está vermelho de raiva, enquanto
caminha com o dedo apontado na minha direção, parando muito perto de
onde estou sentado ao lado de Anuvia.
Encaro Gagneux, mais especificamente seu dedo apontado para o
meu rosto sem demonstrar nenhuma emoção, Gagneux puxa sua única mão
boa para longe do meu rosto, enfiando a no bolso, ele engole em seco
quando olha em volta e percebe seu erro.
— Devo parabenizá-lo por ainda ter um pouco de inteligência. —
Digo. — Soube do que aconteceu com o seu filho.
A careta que faz deixa claro que ele não sabe do que estou falando.
— Meu filho? Não estou aqui devido ao fedelho, estou aqui porque
mandou fechar dois dos meus negócios.
Isso é estranho, que pai não se preocupa com seu filho e da mais
bola para os negócios? Mais uma prova de que a teoria que Anuvia e eu
compartilhamos pode estar certa, essa é uma amostra do caráter do velho?
Por que fariam isso?
— Avisei a você que teríamos novas regras, se os seus negócios
foram fechados, significa estarem fora delas. — Respondo.
— Isso não é justo!
— Estive preso durante anos, acredite em mim quando te digo que
nada nesse mundo é uma questão de justiça.
— Disse que me daria tempo, temos negócios.
— Temos? Dei a ordem ontem de tarde, não tenho conhecimento de
quem afetará. — Me levanto. — E se afeta os seus negócios, deve vir até
mim adequadamente, e tentar discutir os termos.
— Isso é ridículo!
Paro ao lado da cadeira de Anuvia, me colocando entre ela e
Gagneux.
— Estenda a mão.
— O quê?
— Te disse para estender a mão.
O silêncio em volta da mesa serve para deixar Gagneux mais tenso,
e me divirto com isso, esse é um show de merda que está a caminho.
— E…
O interrompo com um gesto.
— Invadiu minha casa como se tivesse algum direito para entrar
aqui, apontou seu dedo no meu rosto, na frente dos meus homens. —
Enumero seus crimes. — Me desafiou, e desafiou minha autoridade.
— Não foi minha intenção.
— Não? Então por que tentou ligar para Cash ontem?
— Só queria conversar.
Dou risada.
— Ficou carente? — Zombo. — Coloque sua mão na mesa. —
Minha voz sai mais calma, letal.
Gagneux obedece, satisfeito, pego uma faca e arranco a ponta do
seu dedo. Mesmo com nojo, e odiando o sangue espalhando em cima da
mesa, pego a parte que arranquei e seguro perto do seu rosto. Vermelho,
luta para parecer forte, e não se envergonhar na frente dos meus homens.
— Peço desculpas. — Sua voz sai como rígida.
— Por quê? Ainda tem mais nove dedos para eu me divertir. —
Jogo o dedo no chão e piso, seus olhos acompanham minha ação. —
Gagneux, seja um homem esperto e não se coloque problemas, não sou
como meu pai, e muito menos tenho paciência para os seus shows.
— Desculpe-me.
Me sento e cruzo as pernas, permanecendo em silêncio por um
longo momento, isso o deixa desconfortável, e me divirto com isso.
— Apenas não te mato pela ofensa, porque se eu permanecer
matando todos que me irritarem, não serei um bom líder. — Minha resposta
é uma ligação direta a suas palavras de ontem. — Se continuar me irritando
vai acabar sem mão.
— De…
— Se vai pedir desculpa novamente, nos poupe. — Interrompo. —
Além disso, sua visita veio em um momento oportuno, recebi algo
interessantes ontem a noite.
— O que seria?
Gagneux está escondendo alguma coisa, não é natural que alguém
fique com tanto medo.
— A cabeça do seu filho.
Nenhuma reação.
— Não tenho ideia do porquê alguém faria algo assim, eu não tinha
muito contato com o garoto. — Explica. — E sei que não teria motivo para
fazer isso com ele, não teremos problemas quanto a esse assunto.
— Como um velho amigo da família, me sinto no dever de oferecer
minha ajuda para pegar o culpado e entregar a cabeça dele a você. —
Ofereço.
Sua surpresa é impagável, ele força um sorriso amigável, mas o
medo por trás é obvio. Gagneux pode estar com medo de ser alguém mais
poderoso que ele, ou um velho aliado que está se rebelando e quer o expor.
Minha intuição diz que irá negar minha ajuda, e o tempo que está
demorando para responder, é, na verdade, a dificuldade de encontrar uma
desculpa adequada para sua negativa.
Enquanto espero, disfarçadamente olho para Anuvia, que está o
observando com disfarçado interesse.
— Me sinto honrado por sua oferta, isso mostra que estamos mais
perto de estabelecer uma relação amigável, do que pensei. — A desculpa
começou. — E quero que entenda o quanto sua oferta é importante para
mim.
— Mas?
— Sinto que esse é meu dever como pai, descobrir e me vingar.
— Não sei, talvez deva ajudá-lo, a cabeça do seu filho foi enviada
para minha casa.
— Prometo que vou descobrir porque isso aconteceu. — Segurando
a mão que está sangrando. — Se me dão licença.
— Aqui. — Entrego um guardanapo branco a ele. — Se precisar de
ajuda, não excite em me ligar, vamos retomar nosso relacionamento
agradável.
— Claro.
Não tiro meus olhos de suas costas, assistindo enquanto caminha
para a casa na companhia de um dos empregados. Uma sensação estranha
sobe pelo meu pescoço, é uma queimação família que normalmente aparece
quando sinto que estamos em perigo.
— Quero alguém de olho nele.
— Vou cuidar disso pessoalmente. — Aiden promete. — Não me
sinto muito confiante delegando essa função a outra pessoa.
— Vou conversar com um amigo meu e colocar um grampo em seu
telefone. — Cash promete.
Todos saem da mesa, ansiosos para começar a trabalhar.
O sentimento de que estamos prestes a puxar um dos fios
emaranhados que levam até o nosso último inimigo me deixa animado, e
nervoso. Se Gagneux é um dos peões nesse jogo, matá-lo não é a resposta
certa, a pessoa que está por trás disso precisa pensar que está me
enganando, que vai conseguir o que quer.
— Você está pensando de mais. — Anuvia me surpreende se
levantando e se sentando no meu colo. — Isso não é bom.
— Não?
— Pensar muito faz com que crie problemas que não existem, isso
te deixa paranoico. — Responde. — Deixe que os problemas vão surgindo e
conforme vá acontecendo, resolvemos.
Acaricio seu rosto, gostando do que estou vendo em seus olhos.
Saber que finalmente está se abrindo para mim, e o simples fato de
tê-la ao meu lado, já é o suficiente para sentir que posso conquistar o
mundo. Anuvia é o meu mundo, e meu único medo é não a ter ao meu lado.
Ela tem razão quando diz que precisamos resolver os problemas
conforme forem aparecendo, não quero criar um caos em nossas vidas e me
tornar alguém paranoico e de difícil convivência.
Cedo demais, Anuvia me dá um beijo rápido e se levanta.
— O que está fazendo? — Pergunto, quando ela começa a digitar
em seu novo telefone.
— Como vou ficar um bom tempo por aqui, começarei a fazer as
mudanças necessárias. — Explica.
— Mudanças? — Cruzo os braços, a admirando enquanto digita e
franze a testa.
— Sim, você gostando ou não, essa é a casa onde vamos passar
muito tempo cuidando dos seus negócios, por isso faremos muitas
mudanças. — Diz.
— Por quê?
Tenho a sensação que sei as respostas para isso, ainda assim, desejo
ouvi-la de sua própria boca.
— Você não gosta desse lugar, por isso vou mudar tudo para
construirmos novas lembranças.
Me levanto, beijo Anuvia, ignorando seu protesto, seguro sua mão e
coloco minha carteira nela.
— Se divirta. — Beijo a ponta do seu nariz.
— Por falar em se divertir, preciso de um carro para ir até a cidade.
— Faz beicinho quando pede, e tenho a sensação de que estou sendo
manipulado.
— Vou te levar.
— Lior! — Cash me chama.
— Você tem que trabalhar, vou estar segura. — Garante.
— Me espere…
— Lior! — Cash chama novamente.
— Posso ir com um dos seus seguranças, preciso me enturmar por
aqui se vou morar com você.
— Não existe “se” nessa equação.
Ela revira os olhos, chamo um dos seguranças e aviso que irá
acompanhá-la até a cidade, e o aviso mais de uma vez que deve tomar
cuidado com minha mulher e que se algo acontecer com Anuvia, o farei
desejar nunca ter me conhecido.
Depois que eles saem, vou para dentro da casa, onde Cash está
reunido com outros dos nossos parceiros de negócios. É hora de deixar o
garoto apaixonado de lado e me tornar o homem de negócios e criminoso
frio, que fui treinado para ser, não preciso que outros aliados se tornem
possíveis inimigos como Gagneux.
Capítulo 16
Anuvia
Eu precisava sair um pouco de casa e conhecer a cidade, ter algo
para ocupar minha mente que não seja Lior e o quão intenso são os meus
sentimentos por ele. É como se o conhecesse por toda a vida e não apenas
alguns dias, mesmo quando ele me irrita, tenho a sensação de que estou
vendo os meus pais brigando.
E por mais que o ame, meu coração e mente precisam de um tempo,
mesmo que esse tempo seja gasto conhecendo sua cidade e me preocupando
em tornar nossa futura casa um lugar aconchegante, onde as lembranças do
passado não o perturbem.
— Você pode esperar aqui enquanto vou pegar um café. —
Respondo, saindo do carro. Faço uma careta quando o homem ignora minha
ordem e sai. — Eu disse para ficar no carro.
— Lamento, mas Lior me deu a ordem de ficar ao seu lado e
protegê-la, não posso fazer isso estando no carro.
Bufo irritada.
Claro que de todo mundo eu acabaria com um homem com os
mesmos instintos protetores que os outros membros da minha família.
Como uma criança mimada, caminho até o balcão fazendo o meu melhor
para ignorar o segurança há poucos metros de mim.
— O que posso te servir hoje? — A jovem muito animada atrás do
balcão pergunta.
— Preciso de café. — Estudo o menu, sem saber qual opção
açucarada escolher.
— Algum café preferido?
— Qual você me indica?
A garota sorri de uma forma gentil, e me diz o seu sabor favorito,
enquanto anota o pedido, ela também me indica alguns bolinhos, famosos
na cidade e peço um monte deles, tenho certeza que Lior e os outros vão
gostar.
Quando termino, sento-me em uma das mesas e pego o celular.
Aproveito para checar minhas redes sociais, curto as publicações que
mostram meu irmão e sua esposa jantando em um restaurante próximo de
sua casa, assim como outra do meu primo e sua esposa, que acaba por ser
uma atriz famosa, em um desfile de moda.
Por fim, mando uma mensagem para minha prima, que me coloca
no grupo de mensagem que criamos apenas para as meninas. Também estou
no grupo da família e vejo que o tópico da discussão é desaparecimento de
Raphael e Lavínia.
Dou risada, sabendo que Lavínia não queria sair de casa, seus
planos incluíam ficar lá e aproveitar meu primo ao máximo. Tenho a
sensação de que ela sabia que minha família enlouqueceria e tentaria
arrastar Raphael para sua bagunça.
Estou digitando uma mensagem no grupo das meninas, quando meu
telefone toca.
— Então você está mesmo vivendo em pecado com o gostosão que
o tio Dimitri odeia? — A voz animada de Jules vem do outro lado da linha.
— Meu pai não odeia Lior. — Protesto, sabendo que é besteira, os
dois obviamente não são melhores amigos.
Jules ri do outro lado da linha, tornando mais obvio ainda o quanto
meu pai tem sido vocal a respeito de seu ódio por Lior. Espero que os dois
se tornem amigos em algum momento, ou que ao menos eles consigam
conviver de forma pacifica para o bem de ambos. Tenho certeza que minha
mãe infernizará o meu pai, e Lior deve esperar o mesmo tratamento.
— Eu estava na sua casa quando seu pai recebeu a ligação dele,
ele estava puto.
— Os dois são parecidos com sua personalidade.
Me pergunto como seriam os nossos filhos.
Espera, de onde veio esse pensamento?
Lior e eu estamos apenas começando um relacionamento, que nem
mesmo sei como iniciou, exceto por suas demandas exigentes. Em um
minuto estou sendo sequestrada e no próximo estou imaginando minha vida
ao lado do vilão?
— De qualquer forma, o vi no dia da festa, você se deu muito bem.
— Teria me dado melhor se não fosse pela raiva mutua. — Lembro.
— Vocês vão superar as diferenças, sempre acontece.
— Na nossa família isso é algo muito comum. — Tomo um pouco
do meu café e admiro a cidade pela janela.
— Como é a casa dele?
— Boa, lembra um pouco a nossa, mas sem a parte de família e
amor. — Suspiro triste por ele. — Mas as coisas vão mudar.
— Planejando uma reforma? Essa é minha prima.
— Quero dar uma nova cara ao lugar, e esquecer o que aconteceu
no escritório. — Admito. — Além disso, a cidade é linda e parece ter saído
de um filme de natal, exceto que ainda não está decorada.
— Talvez eu vá te visitar e conhecer o paraíso do natal.
Jules é literalmente a pessoa que ama o natal e todas as coisas que
envolvem decoração, as mães sempre ficaram felizes em delegar essa
função a ela. Independentemente de onde esteja e do quão ocupada, Jules
sempre dá um jeito de estar em casa a tempo de decorar e planejar os
presentes e montar a árvore.
— Você vai amar.
Penso nos gêmeos e o quão divertido vai ser tê-los sob o mesmo
teto que minha prima, Jules nunca percebe quando um homem tem interesse
nela, ver dois lutando por sua atenção vai ser divertido.
— Tio Dimitri não vai ficar muito feliz quando souber que os seus
planos são definitivos.
Solto um suspiro.
— Vou resolver isso com ele, em algum momento teremos que nos
sentar e conversar. — Mantenho os meus olhos no segurança do outro lado
da sala. — Quero saber quais motivos levaram papai a mantê-lo preso.
— Boa sorte com isso, se Lior for tão cabeça dura quanto os
homens da família, e por homens da família me refiro ao seu pai
principalmente, acho que será uma conversa e tanto. — Devo concordar
com Jules.
— Vou torcer para que tudo dê certo, mas essa conversa levará
tempo para acontecer, estamos com alguns problemas.
— Acho que ouvi seu pai falando com o meu a respeito disso. —
Concorda. — Quando saímos almoçar, tio ligou e eles passaram um tempo
falando.
— Alguma coisa importante?
— Não, eles queriam falar com Raphael, mas ele está ignorando a
ligação de todos e ninguém sabe onde está. — Jules ri.
A maioria das meninas da minha família sabe exatamente onde meu
primo e Lavínia estão, mas não contamos aos nossos pais.
— Se Lavínia não estivesse grávida, ela com toda certeza do mundo
terminaria essa lua de mel gravida.
Nós duas damos risada.
— Tio Ahmar está na lua com mais netos.
— Mia precisa dar um jeito de se mudar para a cidade.
— Sabe como ela está feliz com o marido e os filhos, e por mais
falta que os tios sintam, não vão pedir para voltarem.
Minha prima Mia é a personificação do casamento feliz, após se
mudar para estudar fora, ela teve a sorte de se apaixonar pelo capitão do
time de basquete, que ainda hoje é completamente apaixonado por ela.
Todos são tão felizes e bonitos que é difícil conviver com eles por muito
tempo e não sentir vontade de vomitar algodão-doce.
— Precisamos marcar um dia de garotas.
— Sim! Podemos fazer isso na época de natal, assim passamos uma
semana na sua nova casa. O que acha?
Uma reunião com todas as mulheres da minha família na mesma
casa que os amigos de Lior? Isso é algo que eu pagaria para ver, será épico!
Não apenas pelo caos que seria, também pela reação dos gêmeos a estar no
mesmo lugar que minha priminha favorita.
— Isso seria incrível. — Respondo, deixando-a perceber toda
minha animação.
— Por que tenho a sensação de que você está animada demais?
— Você precisa estar aqui para entender. — Respondo.
Finalmente a caixa com os bolinhos fica pronta e o segurança a
pega, faço um sinal de que estamos saindo. O homem é muito mal-
humorado, mas vendo com quem ele trabalha, acho que é um requisito do
emprego.
— O que você está fazendo? — Jules, pergunta.
— Entrando no carro.
— Ao menos chegou a andar pelas lojas da cidade?
Minha prima parece chocada com a possibilidade de eu só ter
entrado na cafeteria, e pensando, por outro lado, ela tem razão. Saí de casa
justamente com a intenção de me distrair um pouco e dar espaço para o
Lior.
— Tem razão. — Fecho a porta do carro e aceno para o segurança
que estou indo na loja do outro lado da rua.
— Eu sempre tenho razão.
Rindo com ela no telefone, vejo ser uma pequena loja de lingeries, a
maioria delas é feita a mão com muitos detalhes delicados. Esse lugar
definitivamente deveria estar na capa de uma revista, ou melhor ainda, nas
passarelas.
— Você não vai acreditar, posso ter encontrado a melhor loja de
lingerie de todos os tempos. — Falo animada.
— Me mande foto de tudo, sabe que amo essas coisas.
— Vou fazer melhor, enviarei algumas peças de presente. — Digo.
Depois de um minuto de silêncio, Jules fala novamente.
— Está com sua carteira aí?
Sorrio, pela primeira vez estou animada para gastar o dinheiro de
alguém que não pertence a minha família. Lior pode ter me comprado um
monte de roupas novas, mas as lingeries que estão naquele closet não
chegam aos pés destas. Tendo em vista que ele gosta de me ver as usando, o
mínimo que pode fazer é pagar por elas.
— Melhor, estou com a carteira do Lior.
— Por que tenho a sensação de que seu relacionamento está
evoluindo muito rápido?
— Porque ele está! — Admito. — Isso me assusta um pouco.
— Não se assuste, os relacionamentos na nossa família ditam seu
próprio ritmo; — Alguém a chama. — Tenho que ir, aproveite e marcamos
um encontro de meninas de natal na sua casa.
— Pode deixar.
Percebendo que desliguei o telefone, uma mulher da minha idade
sai de trás do balcão para me atender.
— Olá, seja bem-vinda! — Seu sorriso é caloroso.
— Obrigado, amei sua loja. — Elogio.

— Fico feliz que goste, algumas pessoas por aqui não tem o mesmo
sentimento. — Murmura.
— Cidades pequenas tem os seus problemas, como não saber
apreciar os tesouros escondidos.
Separo um monte de lingeries que as mulheres da minha família
gostariam, se os moradores dessa cidade não sabem apreciar as coisas boas
da vida, vou me encarregar de apreciar e de mostrar ao mundo.
— Você é a esposa do bilionário da mansão, não é?
Franzo a testa.
Esposa?
Essa palavra soa muito bem, e me faz sentir borboletas no
estômago, assim como um pouco de palpitação e ansiedade. É mais fácil
concordar com ela, do que explicar o meu complicado novo
relacionamento, não que eu vá fazer com uma desconhecida.
— Sim.
A mulher me ajuda com as lingeries, enquanto conversamos, ela vai
arrumando as perto do caixa. Percebo que está curiosa com Lior, ao
contrário de algumas pessoas que fizeram questão de deixar claro o seu
descontentamento com ele.
— Ele é aquele preso por matar o próprio pai?
Fico tensa, pronta para rebater e defender a honra de Lior, até que
percebo apenas curiosidade, não há julgamento.
— Existe um motivo para ele ter feito isso, e as pessoas dessa
cidade não fazem ideia.
— Conheço bem as pessoas desse lugar, não estou julgando-o,
muito pelo contrário. — Responde, entrego a ela o cartão. — Se fosse para
estar do lado de alguém, seria o dele.
— Parece que vê mais do que eles.
Dá de ombros.
— Eles ficaram calados enquanto meu marido me espancava e
permaneceram assim nas vezes em que fui quase morta para o hospital. —
Sua resposta me faz congelar. — Sei muito bem do que o pai dele era capaz,
meu marido era um dos “amigos” dele.
— Isso diz muita coisa. — Após pagar, pego as sacolas. — Onde
está o seu marido?
Minha pergunta não é apenas por curiosidade, se o filho da puta
estiver vivo posso fazer uma ligação para o meu pai e pedir que se livre
dele. Sabendo o histórico do Lior nesta cidade, é melhor mantê-lo longe de
qualquer problema.
— Morto.
— Bom. — Sorrio, estou saindo da loja, quando tenho uma ideia.
— Sou fotógrafa profissional, posso organizar tudo para uma cessão de
fotos, suas lingeries precisam de um ensaio.
— Não tenho como pagar.
— Seria de graça, suas lingeries são lindas. — Ofereço. — Vou
organizar tudo e a gente marca o dia, o que acha?
— Eu adoraria. — Responde emocionada.
Não quero fazer disso uma coisa grande, por isso me despeço e saio
da loja antes que as lágrimas comecem a correr solta e que o tenha que
consolar alguém. Se tem uma coisa que herdei do meu pai, é não saber lidar
com lágrimas de desconhecidos.
O segurança está me esperando do lado de fora, ele não entrou na
loja sabendo que teria problemas com Lior caso fizesse. Ele atravessa a rua
na minha frente, correndo para guardar as sacolas e abrir a porta do carro.
Mal coloco o pé na rua, quando um carro em alta velocidade vem
na minha direção.
Lior ficará louco!
Capítulo 17
Anuvia
Acordo em uma sala de hospital pequena, a luz machuca minha
visão, mas acredito que tenha relação com o galo que posso sentir em
minha testa. Conforme vou me acostumando, percebo que tem um médico
parado no pé da cama, ele está segurando uma prancheta e realizando
algumas anotações.
Minha primeira ação é colocar a mão na testa, e percebo que levei
pontos. Ao lado da cama, o segurança que Lior me designou está parado,
sua expressão preocupada.
— Vejo que está acordada. — O médico me cumprimenta.
— Por que estou aqui? — Pergunto, me sentando.
— Você quase foi atropelada, por sorte, a dona da loja de lingerie
percebeu o que estava prestes a acontecer e te puxou para um lugar seguro.
— O segurança explica, minha testa lateja e gemo de dor. — Por azar
acabou batendo a cabeça na calçada, precisou levar dois pontos.
— Faz sentido, a mulher que me ajudou está bem?
— Sim, me pediu para avisar quando você acordasse.
— Lior?
O segurança faz uma careta, acho que toquei em um assunto
delicado.
— Eu ainda não o informei.
— Bom. — Respiro mais aliviada, não quero que se preocupe
enquanto estou aqui. — Vou lidar com ele quando chegar em casa.
O médico pigarreia.
— Não tenho certeza se terá tempo. — Avisa. — As notícias
correm rápido na cidade.
Não quero lidar com o drama que irá se desenrolar.
— Ligue para ele, ao menos vai te poupar um problema. — Aponto
para o segurança.
Sem precisar de uma segunda ordem, ele sai correndo da sala, me
deixando sozinha com o médico, que aproveita para me examinar.
— Precisa ficar acordada, eu a manteria em observação, mas…
— Quero ir embora. — Interrompo. — Estou bem e vou fazer tudo
o que me pedir.
— Imaginei que diria isso. — Puxando uma folha de papel, me
entrega. — Aqui estão as recomendações, se sentir qualquer coisa, deve me
procurar.
Ele me passou um medicamento simples para dor de cabeça, o
único problema que esse remédio me dá muito sono, o que irá atrapalhar
seu pedido para permanecer acordada por mais tempo.
Pego minha blusa do encosto da cadeira e procuro por um bolso
para guardar a receita, escuto a porta se abrir, mas não olho, não preciso que
o segurança continue me olhando de cara feia. Não é minha culpa quase ter
sido atropelada, o carro veio do nada, e na velocidade que estava, dei sorte
que alguém me tirou da frente.
— Por que não me avisou? — A voz preocupada de Lior chama
minha atenção, me viro e vejo que está parado ao lado da cama, seus olhos
escuros de raiva.
— Acabei de acordar.
Minha resposta tranquila incendeia seu humor, ele arranca a jaqueta
da minha mão e pega a receita que fiz o meu melhor para guardar.
— O segurança poderia ter me avisado, tive que ouvir sobre o
acidente de um dos empregados.
Reviro os olhos, e imediatamente me arrependo, quem diria que
doeria tanto?
— Ele estava ocupado me trazendo para o hospital. — Aviso. — E
não foi um acidente, eu apenas bati a cabeça na calçada.
— Apenas bateu a cabeça? Anuvia, você ficou desacordada! —
Mexe nos cabelos nervosamente, sem querer admitir, o gesto é sexy. —
Deixo sair sozinha uma vez e olha o que acontece.
Ignoro seu comentário sobre me “deixar sair”, ele pode agir todo
possessivo e mandão, e só permito que faça isso por achar sexy, mas á partir
do momento que eu quiser fazer coisas, que ele não goste, não vou acatar
suas ordens e agir como uma mulher submissa. Lior apenas terá que lidar
com seu lado dominante.
— Coisas assim acontecem.
Lior ri sem humor.
— Acontecem? Não com você!
Estou começando a ficar irritada quando a porta se abre e Asher
entra, interrompendo o sermão que Lior está prestes a me dar. Sou grata por
isso, o rosto sorridente do meu amigo é uma distração bem-vinda.
— Pãozinho doce, você é um ímã para problemas.
Aceno com a mão para ele, lembrando que qualquer movimento
com a cabeça fará a dor ficar pior. Não quero que Lior perceba e acabe
tendo um AVC de tanta raiva, espero sair do hospital com ele vivo, e não
presa por matar meu namorado.
— Conseguiram descobrir quem era o motorista do carro? — Não
entendo como alguém estaria naquela velocidade em uma cidade pequena.
— Às vezes a pessoa passou mal…
— O motorista fugiu do lugar. — Lior responde. — Mas não vai
ficar desaparecido por muito tempo, quando eu colocar minhas mãos no
bastardo.
— Não faça esse tipo de ameaças aqui.
— Não se preocupe comigo, preocupe-se em ficar melhor.
— Foi apenas uma pancada na cabeça. — Lembro. — E já estou
liberada para ir embora.
Tanto Asher quanto Lior encaram o médico, inteligente o suficiente
para ficar em silêncio durante a nossa discussão. Percebendo o olhar intenso
e reprovador que os dois homens estão lhe dirigindo, o médico larga sua
pasta e solta um suspiro.
— Sei o que faço, ela está bem, apenas siga as recomendações.
Quero rir quando o médico dá uma explicação rápida da minha
“condição” e caminha para a porta, ansioso para ficar longe dos dois.
— Só isso?
— O que mais quer que eu diga? — O encara. — Meu trabalho por
aqui está encerrado, caso ela sinta algum sintoma ou ache que precisa de
um médico me procure. Ela deve estar bem em uma semana.
— E quanto a sexo? — Pergunto para o médico, antes que ele saia e
Lior me olha chocado.
— Uma semana sem sexo. — Responde, fechando a porta.
Tenho a sensação que o médico idiota está fazendo isso para se
vingar de Lior e Asher, isso é um castigo! Logo, agora que descobri o quão
bom o sexo é, isso acontece? Sem contar em tudo o que comprei hoje, todo
aquele dinheiro investido para garantir sexo selvagem, e preciso me
controlar por uma semana?
— Não posso acreditar que está pensando sexo. — Lior reclama.
— Acredite em mim, você também vai pensar quando ver o que
comprei hoje.
— Anuvia! — Repreende.
— O quê? É verdade!
Jogo a coberta de cima de mim e me levanto, percebo o erro quando
meus pés tocam o chão e me sinto um pouco tonta. Lior e Asher correm
para o meu lado e me seguram, coro envergonhada, e em seguida ignoro a
careta que meu homem mal-humorado me dá.
— Deveria permanecer no hospital. — Diz.
— Nem morta, se quiser ficar no hospital, fique você. — Cutuco
seu peito com força. — Posso até ajudar com algum ferimento se me irritar.
Asher encobre sua risada com uma tosse, ele não é burro para atrair
a ira de Lior nesse momento.
Aprendi a lição com movimentos abruptos, seguro a mão de Asher
e o permito me guiar para fora do hospital, Lior vem logo ao meu lado,
resmungo sobre meu temperamento difícil. Continuo ignorando ele, algo
que tenho certeza que irá se tornar uma coisa costumeira, sempre que ele
me irritar.
Entro no carro no banco de trás, Lior me prende no cinto e dá a
volta, para entrar no banco do motorista. Deito a cabeça no vidro, e olho
pela janela durante o trajeto até a casa, enquanto os dois conversam no
banco da frente, Asher garante que estão fazendo de tudo para localizar o
motorista.
— Verifique as câmeras de segurança da rua inteira, não me
importo se tenha que matar alguém, desde que encontre o carro e o
motorista. — Diz para a pessoa do outro lado da linha.
— Lior, as pessoas dessa cidade não estão acostumadas com isso.
— Asher adverte.
— Tenho cara de quem se importa? Está na hora de descobrirem
quem manda nessa merda, e com toda certeza não é o prefeito pau no cu.
Toda a frieza que Lior usou no café da manhã para lidar com aquele
homem se foi dando lugar ao homem pronto para explodir. O controle que
ele tem sobre seu temperamento deve ser ótimo, porque se não soubesse
que jamais me machucaria, teria medo para caralho.
O resto do caminho é feito em silêncio, em casa, desço do carro e
caminho tranquilamente para a entrada, quando sou surpreendida por Lior
me pegando no colo. Alguns funcionários param o que estão fazendo para
nos observar, assim que percebem que foram pegos espionando, disfarçam a
voltam para as suas atividades.
— Seus empregados vão comentar.
— Deixe que falem.
Percebendo que Lior está de mau-humor e que qualquer coisa que
eu diga no momento não será de grande ajuda, deito a cabeça em seu peito e
fecho os olhos, a batida do seu coração me acalma, e antes que perceba,
peguei no sono. Isso é tudo culpa dos remédios que tomei, não tem nada a
ver com o fato de me sentir segura em seus braços.
Capítulo 18
Lior
Receber a notícia de que Anuvia estava no hospital foi um inferno,
e me desencadeou sentimentos que jamais quero ter novamente. Passei a
noite lidando com seu mau-humor por ser acordada a cada uma hora, e
sempre que a lembrava de que era ordem médica, ela jogava um travesseiro
no meu rosto e se virava para dormir o mais longe que conseguia. Não
preciso dizer que assim que pegava no sono, ela grudava seu corpo ao meu.
Na manhã seguinte, me afasto dela e saio da cama, faço minha
higiene matinal e quando estou saindo do quarto vejo que tem várias
sacolas deixadas do lado de fora da porta. Asher está terminando de subir
com as outras, enquanto come um bolinho.
— O que é isso? — Aponto para as sacolas.
— As compras da sua garota. — Responde. — Fui ver o que tinha
no carro e encontrei as sacolas e os bolinhos.
— E decidiu ser uma boa ideia comer bolinhos que estavam no
carro desde ontem?
— Eles são os meus favoritos.
— Pensei que não comia essas coisas.
Asher ri e dá um tapa em sua barriga definida, ele sempre gostou de
fazer exercícios físicos.
— Faço exercícios justamente para não precisar me privar das
coisas boas da vida. — Sorri. — Por falar em se privar, uma dica? Não veja
o que tem nas sacolas, pãozinho doce tinha razão, se você ver, 7 dias vão se
tornar um inferno.
Ignorando seu comentário idiota, recolho as sacolas no quarto.
Coloco em cima da poltrona no canto, fora do caminho, caso de Anuvia
levantar e acabar tropeçando. No momento que coloco, uma das sacolas cai
no chão e o conteúdo delas se espalha, me deixando um pouco chocado.
Pego o conteúdo do chão e dou uma boa olhada, chegando a
conclusão de que realmente sete dias vão ser uma merda. Guardo tudo e
saio do quarto, tenho muito trabalho a fazer nos próximos dias, e isso vai
me dar uma desculpa para resistir a tentação que estar em torno de Anuvia
é.
Asher e Cash estão na sala de estar, os dois estão comendo os
bolinhos da caixa encontrada no carro. Me sento em frente a eles, e olho
para a caixa com uma careta, talvez eu deva ir até a cidade e comprar
alguns para minha gatinha, ela gostará de comer tomando uma xícara de
café ou chá.
— Que cara é essa? — Cash pergunta.
— Estou ponderando ir para a cidade comprar alguns, Anuvia
gostará.
— Por que não pega um desses?
— Esses passaram a noite no carro, foi Anuvia que comprou antes
do acidente.
Cash larga o bolinho em cima da caixa, limpa as mãos e encara
Asher.
— Por que não me disse?
— Você não perguntou, e ainda elogiou os bolinhos. — Asher
responde, sem se importar. — Isso não vai te matar.
Percebendo que é melhor ficar em silêncio do que discutir com
Asher, sua atenção é direcionada a mim. Não preciso perguntar para saber o
motivo, ambos estão curiosos para saber porque estou tão calmo, enquanto
sei que o imbecil que atropelou Anuvia está solto por aí.
— Antes que perguntem, é uma questão de tempo antes que o
peguem. — Respondo. — Tive uma noite boa com Anuvia, e não vou
deixar que minha raiva manche isso.
— Ontem você estava bem irritado.
— Estou concentrando minha raiva para planejar a melhor forma de
me livrar dessa imundice humana. — Explico.
— É um bom plano. — Asher concorda.
Não quero me demorar nesse assunto, nós sabemos que a pessoa
que atropelou Anuvia terá o que merece, nem que isso seja a última coisa
que faço na minha vida. O que me surpreende é o quão rápido perceberam o
que minha gatinha significa para mim, mesmo na festa fiz o meu melhor
para não ficar rondando-a, justamente para a proteger.

— Conseguiram descobrir quem entregou a cabeça? — Pergunto.


— Não, e isso está me incomodando. — Cash diz. — As câmeras
estavam desligadas, e nem os seguranças viram.
— Estamos lidando com um serviço interno.
— Tomamos cuidado para que isso não acontecesse. — Asher
reclama. — Deixamos alguém passar.
Seria ingenuidade da nossa parte simplesmente pensar que
eliminamos todos os infiltrados, sempre tem alguém infeliz com a sua
posição que está disposto a fazer tudo para mudar o jogo. A diferença, é que
sou aquele que dita as regras do jogo, e é uma questão de tempo até pôr as
mãos no traidor.
Não farei um alarido, isso o deixaria mais atento e cuidadoso.
— Essas coisas acontecem nas melhores famílias. — Respondo. —
O café da manhã já foi servido, ou vocês estão cheios após comer tanto
bolinho?
Asher se levanta.
— Vamos, estou morrendo de fome.
Pela expressão de Cash, Asher comeu muito mais do que apenas
alguns bolinhos.
A mesa do café da manhã está servida, a primeira coisa que faço é
encher minha xícara com café, após um segundo apreciando o cheiro da
bebida, eu tomo. Levo um momento para perceber que acabei fazendo uma
cena e Cash e Asher estão me encarando com diversão mal contida.
— Acho que Anuvia tem concorrência. — Cash zomba.
— Nada se compara ao gosto…
Uma mão cobre a minha boca e me viro para ver minha gatinha,
corando atrás de mim. Dou um sorriso para ela, tiro sua mão da boca e a
puxo para o meu colo, não me importando com a cena que estamos fazendo.
— Bom dia. — Ela murmura.
— Eu ia perguntar se dormiu bem.
— Por um momento sonhei estar te matando sufocado com o
travesseiro, foi como o paraíso. — Responde.
— Se precisar de ajuda. — Cash oferece.
— Qual é a boa? — Anuvia pergunta.
— Asher me deu seus bolinhos que estavam no carro para comer
esta manhã.
Anuvia olha para Cash, ela pisca e então encara meu outro amigo.
— Sobrou algum?
É nossa vez de encará-la sem acreditar no que estamos ouvindo.
— Quer mesmo comer bolinhos que estava no carro? — Pergunto.
— Algum problema? Eles estão limpos, e são bolinhos, não sorvete.
— Responde. — Por que estão chocados?
Se eu verbalizar o que estou pensando agora, Anuvia ficará irritada
comigo, e a última coisa que quero é estar no seu lado ruim. A alternativa é
permitir que alguém mais burro e que não estará em maus lençóis com
minha gatinha, seja aquele que conte o que estamos pensando.
— Você é a “princesinha” dos Petrov, todo mundo espera que seja
mimada e de um show exigindo talheres de prata e toda essa merda.
Anuvia fica em silêncio, ela pisca uma vez e então outra, e mais
uma, até cair na risada.
— Vocês são engraçados. — Limpa uma lágrima dos olhos.
Meu coração pula uma batida ao vê-la tão distraída, mesmo com
aqueles malditos pontos em sua testa.
— Qual é a piada? — Levi se senta ao meu lado.
— Eles pensando que sou uma garota mimada que exige coisas
ridículas. — Explica, Levi bufa, como se nem ele entendesse o motivo de
pensarem isso dela. — Vejam bem, meninos, meus pais nos criaram para
saber a importância do trabalho, e nos dando a liberdade de cometer nossos
próprios erros, e quando o fazíamos, eles não passaram a mão na nossa
cabeça. Existe muita gente passando fome por aí, para eu torcer o nariz para
bolinhos, só porque eles passaram a noite no carro, em um lugar que está
frio.
— Faz sentido, não pensei que parece que estamos em uma
geladeira lá fora. — Cash é aquele que diz isso.
É engraçado pensar que minha garota é quem transforma a mesa de
café da manhã.
— Que tal eu te levar para comprar bolinhos? — Ofereço.
Anuvia estreita seus olhos.
— Por que está se oferecendo para ir até a cidade depois do que
aconteceu ontem?
— Não quero que pensem que estou te prendendo aqui.
— Mas você me sequestrou! — Ela fica em silêncio por um
momento. — A única coisa que não fez ainda foi me prender. — Cash
engasga com a insinuação de Anuvia e o olhar sonhador que minha gatinha
tem. — Podemos fazer isso.
— Quando o médico te liberar, te garanto que não vou só te prender
na cama como dar uns tapas na sua bunda por ser uma garota má.
— Promessas! Promessas! — Murmura, se afastando. — Seja um
bom garoto, ainda não podemos.
— Vi suas compras.
— Gostou?
— Não me provoque!
Ela sabe que gostei, e que não posso esperar para vê-la usando
aquelas lingeries.
Me levanto carregando Anuvia comigo, deixo os caras tomando
café da manhã sozinhos, só quando estou prestes a entrar no carro que
percebo que estamos sendo seguidos por Asher.
— Vou segui-los no meu carro, tenho que conversar com alguns
comerciantes e pedir as fitas. — Diz.
— Vamos pegar algo para comer e ir para outro lugar.
Asher entende a que lugar estou me referindo.
O caminho até a cafeteria é rápido e quando descemos, algumas
pessoas vem cumprimentar Anuvia, dizendo ficaram horrorizados com o
que aconteceu ontem, e felizes por ela ser salva. Alguns ficaram com medo
de se aproximar por minha causa, e em um ponto, minha gatinha ficou
colada em mim, e me senti muito bem em saber que se sente segura ao meu
lado.
Após pagar pelo nosso pedido, pegamos a comida e saímos, vejo
Asher entrar em uma loja. Confio nele o suficiente para saber que está
fazendo o melhor para encontrar o motorista.
— Sabe, as pessoas dessa cidade são muito próximas umas das
outras, não vejo ninguém indo contra ajudá-lo. — Anuvia comenta quando
entro.
— Elas também são boas em julgar os outros, e no momento que
souberem que estamos atrás, vão fazer o possível para se meter onde não
foram chamadas. — Explico.
Anuvia está muito ocupada comendo os bolinhos e me dando
algumas mordidas, para perceber que não estamos indo em direção a
mansão. Estou animado com o quão normal essa cena parece, nós dois, um
casal normal indo para casa, sem nada para se preocupar e ninguém para
nos incomodar.
Pena que a realidade não é essa, mas prometo a mim mesmo que
farei o meu melhor para dar a minha gatinha uma vida onde não tenha que
sempre estar olhando por cima com medo do próximo ataque.
— No que está pensando?
Mantenho os olhos na estrada, covarde de mais para admitir que
não consigo dar uma vida normal a ela.
— Que sou egoísta demais para me afastar de você e permitir que
tenha uma vida normal. — Surpreendentemente, Anuvia ri. — Por que está
rindo?
— Querido, a minha vida “normal” é essa. — Guarda seu café no
porta-copos entre os bancos. — Cresci com isso e sinceramente, fico
aliviada em viver com alguém que não vai estranhar o caos que segue
minha família.
— Somos uma boa dupla.
— Parece que sim.
Capítulo 19
Anuvia
Lior acelera o carro pela estrada, levei um momento para perceber
que voltamos para o seu apartamento. Saio do carro com o meu café em
mãos e jogo em uma lixeira ao lado do elevador.
Assim que entramos vou direto para o sofá aconchegante da sala e
me jogo nele, puxo a manta sobre as minhas pernas e assisto enquanto ele
ascende a lareira e em seguida vai para a cozinha. O cheiro de chocolate
quente toma conta da casa, Lior volta carregando duas canecas, me entrega
uma e se senta, puxando os meus pés em cima de suas pernas e ligando a
TV.
Mesmo tendo tomado café agora pouco, não vou recusar chocolate
quente e aconchego no sofá.
Esse momento é especial, intimo, muito mais íntimo do que sexo. O
homem acariciando os meus pés e procurando por um filme na Netflix, não
faz ideia do quanto sua simples atitude significa para mim. Nem o quão
maluca me sinto por estar imaginando nosso futuro, como seriam os nossos
filhos e se esse apartamento seria a nossa fuga em família, ou o nosso lugar
para fugir das crianças.
— Você não é o vilão. — Declaro depois de um momento de
silêncio.
— O que?
— Matar aquelas duas mulheres na minha frente não te tornou o
vilão, sei o que te levou a cadeia, e acho que aquelas mulheres faziam parte
de algo assim. — Lembro da nossa aventura no primeiro dia. — Não
importa o que planeje, estou do seu lado.
Ele aperta o meu pé, deslizando sua mão até a minha panturrilha,
solto um grito surpreso quando sou puxada em sua direção e acabo
montando seu colo, de frente para ele, minhas pernas em cada lado do seu
quadril. Lior segura meu rosto, colando nossas testas uma na outra, com
cuidado por causa dos meus pontos, ele fecha os olhos.
— Você me assusta, Anuvia. — Murmura. — Me faz questionar
tudo o que pensei ser certo, me faz desejar ser uma pessoa diferente, alguém
que não posso ser.
Mais uma vez, suas palavras são o reflexo dos pensamentos que
estava tendo no carro. Lior não entende que eu viveria o caos todos os dias,
apenas para estar com ele, que o pouco tempo que o conheço, ele se
apossou do meu coração.
— Ótimo, eu não quero uma pessoa diferente! Lior, eu quero você!
Com a minha admissão seus olhos se abrem, posso ver que está
buscando em minha expressão qualquer sinal de mentira, mas se surpreende
ao notar que estou sendo sincera no que digo.
— É isso?
— Achou que matar duas pessoas na minha frente me assustaria?
Ou que agir todo mandão o faria?
Fecha os olhos, lutando contra seus pensamentos ou com
informações que ainda não me deu. Não sou idiota, existem coisas que não
me contou, informações que precisam ser guardadas por enquanto.
— Não, mas te prepararia para o que vai acontecer.
— Nasci preparada! — Dou um beijo em seus lábios, e saio do seu
colo.
Odeio que graças a um idiota, não podemos selar esse momento do
jeito certo.
— Vou matar o filho de puta que te atropelou. — Declara, me
fazendo rir.
— Qual filme você quer assistir? — Pergunto.
Ele me entrega o controle.
— O que você quiser.
Agindo como uma adolescente idiota, bato palmas e pego o
controle animada, um dos meus filmes favoritos de quando eu era criança
entrou na Netflix e faz um longo período que o assisti. A vida adulta cobra
o seu preço, e muitas vezes é a custas das coisas que mais amamos, como
um dia de chuva sem fazer nada, vendo TV ao lado do meu homem
maravilhoso.
— Vai mesmo assistir “Os Goonies”? — Lior ri da minha escolha.
— O que? Você disse que eu poderia assistir o que quisesse. —
Coloco o controle em baixo da minha almofada. — Não pode voltar atrás
em sua palavra.
Levanta as mãos em sinal de rendição.
— Não vou, guarde as garras gatinha.
Lior ri de muitas cenas do filme, e quando termina, ele me deixa
escolhendo o próximo enquanto se levanta para preparar nosso almoço
tardio. A escolha lógica é “Os Gremlins”, outro clássico que eu amava
assistir, lembro quando era criança e meus pais e tios, se reuniam para fazer
uma noite da família, onde éramos permitidos comer besteira, e dormir
tarde na sala de cinema.
Deixo o filme selecionado e me levanto indo até a cozinha, onde
meu homem já colocou o macarrão para cozinhar e está começando a
preparar o molho. Me sento no banco em frente a ilha para assisti-lo.
— Eu te ofereceria um pouco de vinho, porém você não pode beber
com os seus remédios.
— São remédios simples para dor, e não os tomei hoje. —
Respondo. — Vinho me ajuda a relaxar, mas não quero beber no momento.
Lior vai até a geladeira e pega um suco vermelho e serve no copo,
penso que pode ser de morango, até tomar o primeiro gole e perceber que é
de melancia.
— Algo leve para você ter espaço para o almoço. — Explica.
— Isso está muito gostoso. — Admiro ele trabalhando na cozinha.
— Onde aprendeu a cozinhar?
— Eu aprendi ainda jovem, qualquer coisa que sirva para a
sobrevivência é importante ser aprendida. — Explica. — E cozinhar é o
mínimo.
— Tem razão. — Meus pais sempre disseram algo semelhante.
Depois de um momento, ele continua.
— Na prisão era uma das minhas distrações.
Meu estomago embrulha quando lembro que preciso conversar com
o meu pai e entender o motivo pelo qual o manteve na prisão, mesmo que
Lior não se importe mais, ou como ele mesmo disse, não há um motivo para
continuar com essa história quando eu estou ao seu lado.
Ele serve os nossos pratos e comemos sentado no balcão, nossa
conversa é fácil e descontraída, e quando o silêncio reina, não é
desconfortável. É íntimo, como estivéssemos juntos há anos.
— Eu sinto que você sabe muito a meu respeito, e tirando o fato de
quem é sua família, não sei muito sobre você.
— Isso é normal, nos conhecemos há pouco tempo. — Respondo,
listando todas as coisas que gosto nele. — Qual é a sua cor favorita?
— Gosto de preto e cinza, e você?
— Verde musgo e azul claro. — Penso na próxima pergunta. —
Qual sua comida favorita?
— A que eu estiver com vontade no momento. — Dou risada de sua
resposta. — A sua?
— Qualquer coisa que minha mãe cozinhe. — Me olha surpreso. —
Minha mãe não tem muito tempo para cozinhar, mas quando o faz, são as
melhores comidas de todo mundo. — Explico. — E sempre me traz
memorias de quando eu era criança, principalmente época de natal.
Ele me dá um sorriso enorme.
— Tenho a sensação que o nosso natal vai se tornar um grande
evento.
— Como deveria ser.
Termino de comer e vou colocar meu prato na lava louça, querendo
mais um pouco de suco, abro a geladeira e não deixo de perceber que está
bem abastecida. Não comento isso de imediato, sirvo meu suco, pego uma
cerveja e entrego a ele.
— Por que eu sinto que tem algo a me dizer?
— Quem deixa sua geladeira abastecida?
— A comida é entregue na mansão, então um dos caras separa e
trás aqui. — Explica. — Não queremos que alguém da cidade venha
entregar e acabe dando com a língua nos dentes.
É uma forma inteligente de manter tudo bastecido, principalmente
quando os planos mudam e você decide fugir da cidade e apenas relaxar
fingindo que os problemas no mundo normal não existem.
Conhecendo Asher, abro o freezer, e quase salto de felicidade
quando tem dois potes de sorvete. Eu sabia que ele era o meu favorito, e
com isso, preciso lembrar de apresenta-lo a Raphael, assim que meu primo
sair da toca e voltar para o mundo real.
— Está feliz porque achou sorvete?
— Estou feliz porque achei os meus sabores favoritos de sorvete. —
Procuro nos armários por potes, e sirvo uma quantia generosa em um deles,
terminando, pego a mão de Lior e vou para o sofá.
— Os Gremlins? — Ri, mas se senta e me puxa para o seu lado.
— Não me julgue. — Respondo, já com a boca cheia de sorvete.
Sem perceber, o homem ao meu lado acabou de me proporcionar o
dia perfeito, e quando a noite cai, nós continuamos deitados no sofá,
aproveitando o tempo para nos conhecer. Sendo a pessoa generosa que sou,
em um momento entrego o controle permitindo que ele me mostre um dos
seus filmes favoritos, que acaba sendo “De Volta Para o Futuro”.
Ne metade do segundo filme nós acabamos pegando no sono, mas
algo me desperta, olho para o relógio e vejo que é três da madrugada, sinto
um calafrio percorrendo meu corpo quando vejo uma sombra andando na
nossa direção.
Abro a boca para gritar, uma mão pesada me impede.
— Surpresa!
Capítulo 20
Lior
Me sinto mal do estômago, minha cabeça está explodindo, no meio
da noite, tive a sensação de que alguém estava conversando perto de mim,
então senti uma picada no meu braço e o sono voltou a me dominar.
Segurando a cabeça, olho em volta a procura de Anuvia, tenho certeza que
minha gatinha estava deitada ao meu lado quando pegamos no sono.
O primeiro sinal de que algo está errado é a seringa em cima da
mesa, a coberta que enrolei em anuvia caída no chão, e a porta que leva
para os fundos está aberta. Olho o relógio e vejo ser dez da manhã, meu
telefone está caído no chão, no modo silencioso, com várias chamadas dos
meus amigos.
Asher sabe que trouxe Anuvia aqui, eu queria passar um tempo com
ela, permitir que nos conhecêssemos melhor, e funcionou, até que não o fez
mais e algum idiota decidiu invadir e levá-la.
Com o celular em mãos, disco para Asher, que atende no primeiro
toque.
— Aproveitou a noite com pãozinho doce? — Seu comentário bem-
humorado vem no momento errado.
— Anuvia desapareceu.
— O que é isso? Uma noite com ela e a garota sai correndo?
— Deixe de agir como um idiota e acesse as câmeras do prédio,
alguém entrou aqui e me drogou, tem uma seringa na mesa de centro, minha
cabeça está explodindo! Preciso encontrar Anuvia, tenho uma sensação
ruim.
— Cash está á caminho, vou acessar as câmeras e ver o que
consigo descobrir.
Desligo e vou para a central de comando improvisada no meu
quarto, sei que Asher fará um bom trabalho, mas não estou disposto a
esperar por isso. Aperto um botão escondido em baixo de uma prateleira do
closet, as paredes se abrem mostrando uma parede cheia de telas e câmeras.
Acelero as imagens até o momento que uma sombra sai do meio das
árvores. Deve haver um veículo está escondido ali, a sombra corre e depois
de alguns minutos consegue passar pelo sistema de segurança, a porta se
abre e ele sobe as escadas correndo, seu cuidado começa quando está
subindo as escadas. No aparamento, fico assustado com o tempo que o
passa nos encarando, até estender sua mão para o rosto de Anuvia e tampar
sua boca.
O olhar assustado da minha gatinha faz meu estômago embrulhar,
como pude dormir enquanto isso acontecia?
Você não está acostumado a se sentir confortável perto de alguém!
Minha mente grita, Anuvia é uma exceção a todos os meus
sentimentos, é a primeira pessoa que me traz paz.
A sombra joga uma coisa em sua barriga e dá algumas ordens, ela
resiste, mas uma arma é apontada para minha cabeça, é nesse momento que
toda sua luta se vai, e ela faz o que o homem pede. Noto que ela aperta uma
boa quantidade do líquido fora da seringa, aplicando muito pouco em meu
braço.
Ela queria me proteger!
Quando será que percebe que é meu trabalho cuidar dela e não o
contrário?
Depois que os dois saem do galpão e vão em direção as árvores,
fora do alcance das câmeras, congelo a imagem, colocando em um looping
que me faz perder a cabeça. Pego a cadeira e arremesso contra a parede, ela
quebra e parte dos braços voa pelo chão.
Foda-se, essa merda!
Minha raiva dura muito tempo, tempo suficiente para Cash entrar e
conseguir me conter.
— Precisa manter a cabeça fria, surtar desse jeito não vai nos
ajudar.
— Alguém a levou, as câmeras não cobrem esse lugar em
específico. — Respondo.
Empurro Cash para longe de mim, e começo a caminhar de um lado
a outro.
— Isso não me surpreende, nosso sistema de segurança foi invadido
esta noite, por isso te liguei várias vezes e mandei um monte de mensagens.
— Se sabia deveria ter vindo e me avisado!
— Não jogue essa merda em mim, ninguém me avisou que você
estava aqui.
Cash tem razão, estou o responsabilizando por um erro que não é
dele. Só tem um culpado aqui e sou eu, vou atrás de Anuvia e trazê-la em
segurança nem que seja a última coisa que eu faça nessa vida!
— Tem razão, eu sou o culpado.
— Pare de ser dramático, isso não vai ajudar a princesa em nada. —
Seu apelido para Anuvia ajuda a colocar minha cabeça em linha reta. — Se
as câmeras do prédio não pegaram quem a levou, vamos ver as da estrada,
elas têm que nos dar uma pista.
Levi entra no apartamento, uma expressão preocupada, espelhando
a de Cash. Tenho certeza que estou além de preocupado, estou desesperado,
arrisco ficar sem o amor da minha vida por um erro estúpido.
— Vá para casa, reuniremos todas as pistas que conseguirmos.
— Eu…
Me sinto tonto, e me apoio na cadeira ao lado.
— Foi drogado, precisa descansar até o efeito passar.
— Não posso!
— Pode e vai! Não irá ajudar Anuvia se acabar no hospital, nem
sabemos o que injetaram em você.
— Precisa me garantir que fará de tudo para encontrar Anuvia
enquanto isso, não pare.
— Ela é uma de nós, Lior, garanto que não vou parar até descobrir
algo útil. — Levi promete.
— Nós todos vamos te ajudar a trazer nossa garota de volta. —
Cash promete.
Mesmo resistindo a presença de Anuvia, minha gatinha conseguiu
conquistar o coração dos meus amigos, se tornou uma parte do grupo.
Sabendo que eles vão cumprir o que prometeram, permito que Cash me
ajude a chegar no carro, onde Aiden está nos esperando com o motor
ligado.
— Relaxe, mano, vamos trazer sua garota.
A droga no meu sistema me vence, e pego no sono, acordado por
Aiden que me ajuda a entrar em casa. Não me preocupo em ir para a cama,
caio no sofá e mais uma vez estou apagado para o resto do mundo.
Acordo com um sobressalto, Aiden me encara, está sentado na
poltrona ao lado, mexendo no celular.
— Anuvia?
— Ainda não a encontramos, Asher está de olho nas câmeras de
segurança da rodovia.
— Quanto tempo dormi? — Me sento e passo a mão no rosto.
— Umas três horas, se sentindo melhor?
Nego com a cabeça.
Não vou me sentir bem até que Anuvia esteja nos meus braços, meu
estomago está embrulhado, bile sobe a minha garganta.
— Descobriram quem é o infiltrado?
— Estamos trabalhando nisso, deixamos de lado temporariamente
até encontrar sua garota.
A probabilidade do sumiço de Anuvia estar ligado a esse
informante é muito alta, quem mais saberia onde procurar? O apartamento é
um segredo compartilhado entre mim e as pessoas que mais confio nesse
mundo, desta forma, a única maneira de chegarem até nós e nos seguido, e
para isso, é necessário saber quando sai de casa.
— Vamos dividir os recursos, quero metade dos nossos homens
procurando o infiltrado, tenho a sensação que essa pessoa pode nos dar
algumas respostas.
Vou para o quarto e tomo um banho gelado, a água fria ajuda meu
corpo a processar os últimos resquícios do calmante, se Anuvia não tivesse
jogado uma boa quantidade fora, eu teria morrido.
Pronto para o dia, saio do quarto e vou em direção as escadas,
escuto alguém tocar a campainha e não muito tempo a porta da frente é
aberta por um dos empregados. Estou entrando na sala quando Dimitri
Petrov aparece, parecendo furioso e vem em minha direção, me atingindo
no rosto.
Ele tem um bom gancho de esquerda!
— Seu filho da puta, o que diabos fez para minha filha ir parar no
hospital? — Grita.
Dimitri está atrasado nas notícias, o acidente dela já foi superado,
no momento estamos em algo mais grave e não tenho tempo a perder
discutindo.
— Ela foi ao hospital depois de quase ter sido atropelada e bater
com a cabeça no chão. — Aiden explica com calma. — Lior descobriu e foi
correndo até lá.
Sua explicação acalma Dimitri, mas não estou com humor para
enrolação.
— Então algum idiota invadiu meu apartamento e a sequestrou essa
madrugada.
— Repete!
Ele não acredita no que está ouvindo.
— Anuvia foi levada da minha casa, alguém invadiu, a obrigou a
me drogar e a levou embora. — Repito. — Estamos atrás dela.
— Você deveria ter protegido ela!
Não tem motivo para discutir com ele, Dimitri está certo.
— Eu sei. — Respondo. — Acredite em mim, você não
pode me culpar mais do que já estou.
— Ainda assim não é suficiente.
O pigarreio de Asher interrompe nossa interação, ele está
carregando um tablet, ignorando Dimitri ele me entrega o objeto.
— O que é isso? — Pergunto, permitindo que Dimitri se
aproxime e veja.
— O vídeo das câmeras de segurança de um apartamento,
eles filmaram o acidente de Anuvia.
Presto atenção a filmagem, meu coração quase para quando
vejo a velocidade que o carro foi em direção a ela, e o quão rápido
a dona da loja a tirou da frente do veículo. Teria sido fatal se o
veículo tivesse acertado, e foi por uma questão de segundos que o
motorista não conseguiu.
Reconheço esse veículo, já o vi algumas vezes estacionado
perto da mansão nos últimos dias, e a única razão para não ter
levantado suspeita é porque estava sempre vazio. Dou um zoom na
imagem, amplio ao máximo, mas o rosto da pessoa ao volante está
encoberto, é impossível saber quem é o motorista, a não ser pelo
grande relógio em seu pulso.
Entrego o tablet para Asher e saio caminhando pela casa,
vou até a cozinha onde alguns empregados estão reunidos, eles se
levantam quando percebem minha presença, mas o meu foco está
em um deles.
O único que está usando um relógio idêntico ao da
filmagem.
Acontece que o bastardo também estava na sala de jantar
ontem quando Anuvia entrou e eu a carreguei para fora da casa,
anunciando que a levaria para a cafeteria comprar os bolinhos.
— Vamos ter uma conversa!
Capítulo 21
Lior
Na medida que arrasto o filho da puta em direção a sala de
tortura, as peças começam a se encaixar. Sempre que tinha alguma
coisa acontecendo, era esse filho da puta que estava por perto,
servindo ou limpando alguma coisa.
Estou arrastando-o pelo colarinho, os empregados ficam
em silêncio e são espertos para desviar o olhar quando passo por
eles, Dimitri e Asher logo atrás de mim, em silêncio tentando
entender o que estou fazendo.
Nenhum deles se atentou ao detalhe principal naquela
imagem, mas eu fiz! Aquela filmagem carrega a minha chance de
encontrar minha gatinha a tempo e impedir que algo de ruim
aconteça com ela.
Arremesso o homem no centro da sala, ele cai de joelhos e
tenta se levantar, mas fracassa quando chuto seu rosto com força,
sangue respingando pelo chão.
Preciso controlar minha raiva, esse filho da puta morrerá,
no entanto, isso só acontece na hora certa, depois que me disser
quem estava nos seguindo e porque estava fazendo isso.
Dimitri me segura, bato contra a parede, enquanto Asher e
ele tentam me controlar.
— O que você está fazendo? — Dimitri pergunta.
— Pegando o responsável pelo acidente de Anuvia. —
Arfo, lutando para recuperar o controle sobre meu temperamento.
— Como…
— O relógio.
Os dois olham para o pulso do homem, reconhecendo da
filmagem.
— Seu filho da puta!
Dimitri ataca o homem, sorrio vendo o bastardo rastejar no
chão, tentando se afastar do homem irado. Asher, sofre para
controlar Dimitri, e por mais disposto que esteja a permitir que o
Petrov o mate, precisamos obter respostas. Me afasto e o empurro
longe do homem.
— O que vocês pensam que estão fazendo? — Asher grita.
— Matando esse filho da puta. — Dimitri responde, me
encarando em busca de apoio.
— Ele tem razão. — Me afasto.
— Você…
— Anuvia foi levada por alguém, e esse idiota trabalha
para essa pessoa. — Explico. — Precisamos de respostas, e ele é o
único que tem.
Entendendo onde quero chegar, Dimitri sorri para o
homem, um sorriso ameaçador, e tenho certeza que presenciarei um
show. Isso até ele escolher uma ferramenta, estender a mão para me
entregar ela.
— Se quer ficar com a minha filha, mostre que fará de tudo
por ela.
Pego a ferramenta, se ele precisa de uma prova darei mil.
Dimitri ainda não entendeu que Anuvia é tudo o que me
importa, e por me importar com ela, e saber o relacionamento que
ela tem com sua família, farei o possível e o impossível para
garantir que tenha o que quer. Mesmo que isso signifique fingir que
me importo com a opinião do velho bastardo.
Dou risada do pensamento do pai da Anuvia como um
velho, mesmo com a idade que tem, aparenta ser bem mais novo.
— Pronto? — Me aproximo do homem, encolhido no canto
dele.
O filho da puta se arrasta tentando ficar o mais longe
possível de mim, mas fracassando miseravelmente. Não há para
onde fugir, e seu chefe não pode tirá-lo daqui, mesmo que pudesse,
não conseguiria ir a lugar algum.
— Não me machuque. — Pede.
Fico abaixado na sua frente.
— Devia ter pensado nisso antes de quase matar minha
garota. — Respondo. — Sabia que estava assinando seu atestado
de óbito no momento que entrou naquele carro.
— Não! Só fiz o que me mandaram, ele disse…
As palavras morrem em sua boca.
— Ele disse? Quem disse o quê?
Ignoro a presença dos outros dois homens na sala, o meu
foco está nesse idiota, e permanece nele até que tenha todas as
respostas que desejo.
— Mallet, ele… Se aproximou de mim, disse ter um plano
para acabar com todos vocês. — Aponta para Dimitri atrás de mim.
— Como ele faria algo assim? Isso é ridículo.
— Não é, ele me explicou, faria vocês brigarem entre si, e
quando estivessem fracos, ele assumiria tudo e...
— E?
Não é o homem que responde, e sim Dominic.
— Pegaria Anuvia.
— Exatamente. — Responde. — Não sei todos os detalhes
do plano dele, apenas isso. — Diz.
— Se queria Anuvia, por que te mandou atropelar ela?
— Ficou surpreso quando a viu na festa ao seu lado, disse
que foi uma boa surpresa, mas quando cortou seu rosto ele… Foi a
primeira vez que o vi descontrolado, quebrou tudo e disse que eu
deveria machucar.
— Quando isso não aconteceu?
— Ficou feliz que ela estava bem, me pediu para avisar a
próxima vez que saíssem de casa, e foi o que fiz.
Meu corpo de repente se sente frio, meu sangue gela e o
estômago embrulha. Todo esse tempo aquele bastardo queria nos
destruir.
— Ele nos seguiu. — Não é uma pergunta, mesmo assim
ele responde.
— Sim.
O bastardo me contou muito sobre Mallet e seus planos,
mesmo não sabendo de tudo, isso não dá uma boa ideia de pôr onde
começar a procurar. Me viro para Asher, que já está com o telefone
nas mãos.
— Localize Mallet.
— Ele não vai estar em suas propriedades normais, sempre
comentou ter um lugar especial reservado para a garota.
— Estou procurando por ele, vamos encontrá-lo. — Asher
promete, saindo.
— Mallet não deve confiar muito nele, o bastardo fala
demais.
Concordo com a cabeça.
— Sabe o que isso significa? — Pergunto ao homem, e ele
nega com a cabeça. — Significa que você não tem mais nenhuma
utilidade para nenhum de nós.
Uso a chave de fenda para bater no bastardo, apreciando o
som de cada um dos seus ossos se quebrando, cada gemido de dor,
os pedidos para parar, tudo isso é música para os meus ouvidos.
O bastardo parece uma gelatina no chão, seus braços e
pernas estão em uma posição estranha quando termino, muitos dos
dentes estão caídos no chão, sua boca está aberta formando uma
poça de babo e sangue.
— Deveria saber que prefere usar os punhos, as
ferramentas. — Dimitri diz.
— É mais prazeroso, embora eu não me oponho a queimá-
lo vivo.
— Dê mais um tempo, ele pode ter alguma informação útil.
Me abaixo e revisto os bolsos dele, encontrando um
aparelho celular mais antigo, puxo para fora, uso seu dedo para
desbloqueá-lo, e bisbilhoto por um momento. Existem algumas
mensagens trocadas entre ele e um número desconhecido, o nome
de Gagneux aparece algumas vezes, felizmente, não é outra pessoa que
devo matar.
Mallet foi quem mandou cortar a cabeça do filho de Gagneux, tenho
certeza que é parte do seu plano para iniciar uma guerra entre nós dois,
dando mais terreno para seus planos patéticos.
A grande questão é que Mallet fracassou em tudo, todos os planos
que traçou deram errado.
Gagneux, não reagiu da maneira que deveria com a morte do
garoto. Pouco se importou com a cabeça, desde que isso não afetasse os
seus negócios, e desde que tinha um acordo com Mallet, ficou com medo
que eu descobrisse, ainda mais depois que soube o que fiz com o rosto do
outro homem.
A grande lição que aprendi esta noite, e que provavelmente
deveria ter como exemplo Raphael Petrov, é de não perdoar, ter
piedade e permitir que as pessoas continuem seu caminho com um
simples aviso, é o maior erro que um homem como eu pode
cometer.
— Tudo o que tinha para nos dizer foi dito.
Dou um tiro na cabeça do homem, e saio do porão,
deixando Dimitri escolher se vai me seguir ou ficar.
— Devia ter deixado ele permanecer vivo, ao menos me dar a
chance de me divertir com ele.
— Aprendi uma coisa essa semana, nunca de uma segunda
chance!
Capítulo 22
Anuvia
Mallet está segurando uma arma apontada para a cabeça de Lior, ele
faz questão de me mostrar que não está brincando e que irá atirar se eu fizer
algo errado. Sinto algo cair contra minha barriga e percebo ser uma seringa.
— É um tranquilizante, aplique nele antes que acorde.
Aceno com a cabeça e faço o que ele manda, tomando cuidado para
não o acordar e também para derrubar uma boa quantidade do líquido fora.
Quando termino, deixo a seringa caída ao lado dele, espero que perceba de
uma vez o que está acontecendo, e que fique bem.
Mallet mantém a arma apontada para a minha cabeça, ele me leva
para uma saída diferente da que usamos, e usa um código na porta. Espero
que Lior perceba que um dos empregados da obra passou suas informações
para um estranho, e quando o pegar, mate o filho da puta.
Minha pele se arrepia quando o ar frio da noite a atinge, tremo de
frio, mas não digo nada. Um carro preto espera por nós, escondido em meio
as árvores longe de vista das câmeras de segurança.
— Por que está fazendo isso? — Pergunto, mas sou atingida pela
arma e perco a consciência.
Bom, tudo o que preciso é ficar apagada perto de alguém como
Jônatas Mallet.
Acordo novamente, minhas mãos estão presas a cama com pedaços
de tecido, luto para me libertar, mas é em vão. As lembranças de tudo o que
aconteceu ao longo do ontem e desta madrugada, voltam com tudo, espera,
foi essa madrugada, não foi?
— Olha só quem está acordada, a Bela adormecida finalmente
voltou a vida. — Mallet estende a mão e tira o cabelo do meu rosto. —
Peço desculpas, eu não sabia que tinha batido a cabeça com tanta força
depois do acidente.
— Foi você! — Rosno com raiva. — Mandou alguém me atropelar?
O babaca ri.
— Estava com muita raiva e queria machucar Lior, ainda bem que
nada te aconteceu.
Tem muita coisa estranha nessa história e algo me diz que tudo isso
está relacionado com Mallet e sua obsessão maluca e nojenta.
— Tudo o que tem acontecido foi você? — Pergunto, ele ri.
Os cantos de sua boca ficam mais assustadores quando ele ri, os
pontos dados são mal feitos, e se afastam um pouco conforme fala. Lior
realizou um bom trabalho cortando sua cara, os hematomas em seu rosto
contribuem para a aparência assustadora.
— De certa forma. — Se aproxima e puxa o decote da minha
camisa. — Quando fui à casa do seu pai, minha intenção era oferecer um
acordo comercial, aí eu te vi, e pensei “bem, ele não pode ser idiota e
recusar milhões em troca de sua filha”, mas eu estava errado.
Mesmo presa, o sarcasmo escorre por minhas palavras quando digo:
— Minha família não é da mesma laia que você.
— Devo concordar que a negativa me pegou de surpresa e então ele
recusou a continuar com a nossa cooperação, me baniu de Moscou e muitos
aliados, com medo, acabaram se afastando. — Soltando minha camisa, pega
a coberta e me cobre. — Isso me obrigou a procurar em outros lugares, foi
quando consegui um parceiro inesperado, sabe quem?
— Deixe-me adivinhar, Gagneux, o homem que invadiu a casa de
Lior.
— Garota esperta. — Elogia, sinto vontade de vomitar só de olhar
para a cara desse idiota. — Exatamente, mas o problema com Gagneux, é
que ele pensou ter muito poder, até que o Lior saiu da prisão, e o idiota
colocou o rabo entre as pernas.
— Foi por isso que matou o filho dele?
— Sim, foi um lembrete que eu não era tão fácil de se livrar, e por
outro motivo. — Percebo que Mallet tem um tique, ele está sempre
estalando os dedos insistentemente, e isso está acabando comigo.
— Queria começar uma guerra.
— Sim, o filho de Gagneux era um veadinho de merda que estava
sempre nas baladas, foi fácil enganá-lo e trazê-lo para minha casa. —
Explica. — Devia ter ouvido ele chorando e implorando, foi divertido,
então não foi mais, cortei a cabeça e mandei para Lior, um presente, e
também uma provocação. Queria uma guerra entre eles, meu homem tinha
me dito que os dois haviam brigado, foi fácil, tudo o que Gagneux precisava
fazer era ser um bom pai.
— Sua tentativa de mostrar o quanto Gagneux era indiferente ao
filho foi boa, devo admitir, mas Gagneux sabe melhor do que lutar com
Lior. — Zombo. — Mas você não.
— Não, quando percebi que teria que sujar as mãos de fato e
conseguir o que queria, mandei um dos meus homens atrás de você, mas o
bastardo não entendeu e decidiu te atropelar. — Responde. — Talvez eu não
tenha dado as ordens claramente de propósito, mas recuperei os sentidos a
tempo de vê-los na cidade e os seguir até aquele apartamento.
Mallet ao menos tem sorte, e o lado positivo é quando matarem ele,
não temos que nos preocupar com a segurança do lugar.
— E a senha do apartamento?
— Boa segurança, mas já trabalhei em alguns lugares interessantes
e tenho algum conhecimento com os equipamentos usados lá. Para alguém
rico, Lior não investiu nos melhores equipamentos.
Devo concordar em algo com esse idiota, quando eu sair daqui, vou
atrás de Lior e baterei tanto em sua cabeça que quando finalmente sair do
coma, ele nunca mais usará um sistema de segurança de merda. Não só eu
estou nessa situação, mas ele poderia ter sido morto, se Mallet não fosse
idiota o bastante para entregar em minhas mãos a seringa.
— Todos os seus planos fracassaram, esse não vai ser diferente.
Suas mãos nojentas tocam meus pés, puxo eles, apenas para
perceber que estão presos na cama. Essa cena me lembra de uma conversa
que tive com Lior no café da manhã, quando falamos sobre amarrar e outras
coisas, isso significa que quem realizou isso estava naquela sala.
— Já deu, você está aqui comigo, e mesmo que me encontrem, te
matarei primeiro.
Não faz muito sentido, os caras são pessoas confiáveis, repasso a
cena na minha cabeça, até que algo chama minha atenção. Claro, de todos
que estavam na sala, o homem servindo café e em seguida carregando a
bandeja com alguns copos, não faz parte do grupo de amigos de Lior.
— Tem um espião na casa, não é?
Isso arranca uma gargalhada do homem assustador, um dos pontos
finalmente se rompe escorrendo por seu rosto, dando um aspecto nojento e
psicótico a sua imagem. Quem criou o coringa deveria fazer uma aula com
esse idiota.
— A única pergunta que resta agora é, você o conhece?
Reviro os olhos, esse idiota torna muito difícil não ficar entediada e
com raiva. Pensa que vai me enganar e fazer com que desconfie dos
homens, que estiveram sentados à mesa comigo diariamente, os mesmos
homens que lentamente fui me aproximando, e aprendendo a respeitar.
— Pela sua expressão idiota, quer me fazer pensar que é um dos
homens próximos de Lior. — Zombo. — Mas sabemos que é um dos
empregados, os únicos que se deslumbrariam com falsas promessas.
Rindo, ele sobe na cama e se deita ao meu lado, sua cabeça nojenta
encostada no meu ombro. Não sei quanto tempo aguento essa situação,
estou prestes a surtar em simplesmente estar em sua presença, e agora isso?
Minha cabeça está latejando, lá se vão os sete dias sem sexos, tenho
certeza que o médico vai me deixar mais tempo e tudo graças a esse idiota.
— Sentindo dor?
Aceno com a cabeça, e imediatamente me arrependo, a dor irradia
pelo meu pescoço. Como se não bastasse isso, não confio nesse homem
para tomar um remédio que irá me fazer pegar no sono.
— Você bateu na minha cabeça. — Lembro.
— Peço desculpas, os últimos dois dias tem sido bem intenso,
estava ansioso para que acordasse.
— Dois dias?
Não posso acreditar que fiquei apagada por todo esse tempo.
Minha única esperança é que Lior tenha aproveitado esse tempo
para me encontrar e me tirar desse inferno.
— A pancada foi mais forte do que planejei.
Quando ele sorri, uma onda de arrepios percorre meu corpo, e o
embrulho no meu estômago fica mais intenso. Desvio o olhar do seu rosto
nojento, e tento me afastar do seu toque, Jônatas percebe o que estou
fazendo e faz uma carranca.
— Não me sinto bem.
— Está com nojo? — Ele segura meu rosto, apertando seus dedos
em minhas bochechas, me obrigando a olhar para ele. — Olhe bem o que
seu namoradinho fez, deve se sentir grata por ele estar vivo.
Eu sabia que a quantidade de calmante naquela seringa seria forte o
suficiente para matar Lior, por isso fiz o possível para aplicar o mínimo em
seu sistema.
— Tenho certeza que você mereceu.
Não controlo minha boca, e como consequência, sou atingida com
força na face, mais uma vez.
Essa merda está ficando chata e cansativa, ao menos desta vez eu
não desmaio.
— Eu te ofereceria algo para comer, mas vendo que sua língua está
muito afiada, vou deixá-la pensar em suas atitudes. — Se afasta.
Não me importo em ficar sem comer, a comida que vem desse cara
não é nem um pouco atrativa para mim. Sabe-se lá o que ele colocaria nela.
Mas meus braços estão doendo muito, e tê-los soltos, me ajudaria em uma
fuga.
— Meus braços estão doendo. — Grito, antes que saia do quarto.
— Bom, assim pensará melhor antes de me irritar novamente.
Quando a porta se fecha atrás dele, olho em volta do quarto, o lugar
parece uma casa barata com pouco cuidado. A mobília é velha e gasta, está
aqui há muito tempo, me preocupa que Mallet seja o proprietário há anos, e
Lior não consiga rastrear essa propriedade.
Sozinha e com medo, deixo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto,
enquanto rezo silenciosamente para conseguir sair dessa.
Capítulo 23
Lior
O tempo demora a passar. Cash foi com Aiden até o apartamento do
homem, e não encontraram muitas coisas que pudessem ser utilizadas.
Asher está ocupado, invadindo a rede utilizada por Mallet, mas o bastardo é
esperto o suficiente para esconder muito bem, o que não é surpreendente,
ele invadiu o meu apartamento.
— Sinto que estamos andando em círculos. — Me sento no sofá e
coloco a mão sobre o meu rosto.
— É uma questão de tempo até descobrir, vamos conseguir trazê-la.
— Garante.
Dimitri anda de um lado para o outro, falando no telefone e
trocando mensagens com seu pessoal. Fico em silêncio, deixando que ao
menos sinta que está realizando alguma coisa.
Mallet era um filho da puta paranoico, todos sabem disso, ele não
permite que ninguém se aproxime a ponto de saber seus planos. Suas
paranoias sempre foram assunto entre alguns aliados mais próximos.
De todos que conheço, apenas uma pessoa exigiria uma prova de
sua lealdade.
Gagneux!
— Me dê o telefone. — Estendo a mão para um dos empregados
rápido em fazer o que pedi. Nos contatos encontro o número de Gagneux e
clico em discar, o homem atende no primeiro toque.
— Sim?
— Você e Mallet tinham negócios, certo?
Vou direto ao assunto, Gagneux não demora para responder,
provavelmente sabendo que não é uma pergunta, estou afirmando e dando a
ele a chance de ser honesto e conseguir um pouco da minha confiança.
Como o homem espero que seja, ele é direto em sua resposta.
— Encerramos as nossas colaborações quando retornou, o que a
gente tinha em comum foi afetado por suas novas regras.
— Entendi isso. — Não preciso de explicações nesse momento,
quero respostas. — Sabe se ele tem algum lugar específico onde se
esconderia?
— Por que pergunta?
— Apenas responda.
— Como deve saber, Mallet era um homem desconfiado e não
compartilhava seus planos com ninguém, o único lugar a qual tenho
conhecimento é uma cabana que vendi para ele. — Responde. — Ele ficou
interessado quando viu uma foto dela.
— Fica perto da cidade?
— Sim, vou te mandar o endereço por mensagem.
— Obrigado.
Dimitri está me encarando, esperando explicações, mas ignoro,
ansioso, na expectativa da mensagem de Gagneux, que felizmente não
demora para me enviar a localização da cabana. É um tiro no escuro, Mallet
pode ter levado Anuvia para qualquer lugar, mas é melhor do que ficar
sentado esperando por respostas, que podem demorar.
Dimitri me segue a caminho da garagem.
— O que está acontecendo?
Tenho duas opções nesse momento, a primeira é perder tempo
parado aqui explicando as informações que Gagneux me passou, mas o
homem estava ao meu lado enquanto conversava com ele, e pode tirar suas
próprias conclusões.
— Entre no carro, no caminho explico.
Á contragosto, ele faz o que peço, corro para o banco do motorista e
programo o GPS, me lembrando de salvar o destino em caso de emergência.
Os seguranças abrem o portão no momento que avistam o carro se
aproximando, todos os empregados tem vivido na ponta dos pés nos últimos
dias, principalmente após eu ter arrastado aquele homem na frente de todos.
As fofocas correm, assim como um aviso caso haja mais de um traidor entre
eles, não importa quanto tempo leve, ou quão espertos pensem ser, uma
hora colocarei minhas mãos neles, e posso garantir que não irão gostar.
Saindo da propriedade, Dimitri pigarreia, me lembrando que preciso
explicar aonde estamos indo e quais são os meus planos.
— Então?
É complicado lidar com uma pessoa que a única razão para eu
aturar perto de mim, é o fato de estar apaixonado por sua filha. Dimitri
também não é meu maior fã, e assim como eu, está suportando essa situação
pela Anuvia.
— Gagneux e Mallet tinham negócios até recentemente, pensei que
ele poderia nos dar alguma informação útil. — Digo, desviando de um carro
que estava dirigindo devagar. — Perguntei se ele saberia de algum lugar
onde Mallet poderia ir.
— E?
— O único lugar com conhecimento é uma cabana que ele vendeu
para Mallet e que fica há alguns minutos da cidade.
— Vamos torcer que ele seja idiota o suficiente para levar lá.
Aí é que está!
O motivo de eu estar tão ansioso e esperançoso de que ele tenha
levado Anuvia para lá, é o fato de pensar que Gagneux e eu entraríamos em
guerra e desta forma, ninguém saberia da cabana. Se eu vencesse e matasse
Gagneux, ele não teria motivos para temer que eu descobrisse a localização
da cabana, enquanto se Gagneux sobrevivesse, ele não precisaria se
esconder.
O silêncio no carro é desconfortável.
Tanto Dimitri quanto eu, temos questões que em algum momento
precisarão ser tratadas, pelo bem dos filhos que Anuvia e eu planejamos.
Passamos por uma estrada de pedras longa, as árvores fazem um
túnel em torno da pista, o vento sopra os galhos dando uma abertura para a
luz do fim da tarde passar entre as folhas iluminando a pista.
— Esse lugar é bem escondido, quase não vi a entrada na estrada.
— Dimitri comenta.
— Gagneux disse ser um lugar bem escondido.
O primeiro sinal de que podemos estar no lugar certo é um carro
familiar estacionado, diminuo a velocidade e apago o farol, não querendo
alertá-lo da nossa presença. A cabana parece ter saído de um filme de terror,
de forma que entendo a motivação de Gagneux para vender, e o interesse de
Mallet em comprar. Se alguém fosse corajoso para percorrer todo o
caminho até esse lugar, a cabana faria perder o interesse, parecendo que foi
abandonada.
Descemos do carro com armas em punho, tomando cuidado para
não sermos vistos, damos a volta na casa, a procura de movimentação. O
silêncio no lugar me faz pensar que talvez o carro tenha sido abandonado,
mas a lareira acesa, e a baixa iluminação vinda da cozinha, diz o oposto.
Rondamos a casa inteira e não encontramos nenhum sinal de que
Mallet tenha trazido segurança consigo.
— Não sei se o filho da puta é muito esperto ou muito burro. —
Dimitri murmura tão baixo, que acredito que esteja falando consigo mesmo.
Esse é o lugar certo, posso sentir isso!
Puxo um canivete do meu bolso e com cuidado, destravo a janela,
puxando para cima lentamente, ela range um pouco, me fazendo parar
algumas vezes e olhar em volta da casa, na expectativa de que não tenham
ouvido. Terminando de abrir, sou o primeiro a pular dentro, arma em punho,
enquanto espero Dimitri entrar.
Admito que estou um pouco impressionado com a agilidade do
“velho”, que de velho tem apenas a idade.
— Impressionante. — Sussurro.
— Tenho a sensação que devo me sentir ofendido com seu “elogio”.
— Responde no mesmo tom.
Dessa vez andamos pela casa, o chão velho de madeira range, o que
me surpreende é o fato de ninguém ouvir. Uma sensação ruim toma conta
do meu estômago, medo do que posso encontrar em um dos cômodos.
O único cômodo que não conferimos do lado de fora é o quarto a
esquerda, ele fica em pilares de madeira mais altos, em um desnível do
chão. Seguro a maçaneta, a arma engatilhada, a sensação de frio na barriga,
o medo de encontrar Anuvia machucada, ou pior…
Afasto a porta, tem uma cama de frente para ela, duas pessoas estão
em cima dela, uma por baixo, lutando para se livrar do aperto do homem,
que está por cima, rindo, ocupado de mais, tentando se aproveitar da mulher
para perceber que estamos aqui.
O grito de Anuvia me tira do transe chocado que estou, é como
reviver o que aconteceu anos atrás, o motivo que me levou a prisão. É tudo
muito rápido, nem mesmo Dimitri tem tempo de agir, solto a arma, que cai
no chão fazendo um baque alto, arranco Mallet de cima da Anuvia, e o jogo
no chão.
— Sou filho da puta!
Ele tenta lutar, mas sou mais forte, mais rápido, dou vários socos
em sua cara, ele fica mais fraco. Rindo como um maldito psicopata, rasgo
os pontos que ele levou onde corte, aproveito para rasgar mais a pele com
minhas próprias mãos. É uma sensação boa, saber que assim como meu pai,
esse bastardo jamais tocará em uma mulher novamente.
— Lior! — Alguém me chama, mas estou ocupado demais.
— Lior! — Novamente alguém me chama, mas dessa vez, é a voz
mais doce, que pertence a minha gatinha.
— Você está bem? — Pergunto, sem me virar.
Não consigo encarar Anuvia nesse momento, posso sentir o sangue
pegajoso escorrendo pela minha bochecha. Se eu virar, minha gatinha vai
ver o monstro que posso me tornar quando perco o controle sobre meu
temperamento, e jamais quero que tenha medo de mim.
— Sim, graças a você.
— Tire ela daqui e a leve para o carro. — Mando.
Dimitri excita, mas vendo a situação de sua filha, ele faz o que pedi.
— Tome cuidado, termine com isso aqui. — Diz antes de sair.
Sozinho com Mallet, eu sorrio.
— Pensou que eu não te encontraria? — Pergunto, satisfeito em ver
que não consegue respirar direito. — Dou um tiro em ambos os joelhos, e
aprecio o som dos ossos sendo quebrados e do gemido de dor, sendo a única
coisa que o filho da puta consegue fazer. — A primeira vez que coloquei
minhas mãos em você, eu disse ser um aviso, pensei que como o verme
covarde que sempre foi, se esconderia no esgoto de onde saiu, mas eu
estava errado. — Admitir isso é horrível, o que aconteceu com Anuvia é
minha culpa. — Aprendi minha lição.
Arrasto ele pelas pernas até a sala, onde o coloco apoiado em uma
pilastra. Ao lado da lareira, pego um atiçador de brasa, após esquentar,
cravo em seu ombro com força, sentindo a ponta prender na pilastra. Repito
o processo usando mais dois atiçadores, com o último, espalho as cinzas
pelo chão, e uso para colocar fogo nos móveis.
Quando a casa está em chamas, saio, entro no carro e dirijo para
longe daquele lugar.
Capítulo 24
Anuvia
Por um momento pensei que Mallet conseguiria me quebrar, mas
Lior impediu.
Não tenho palavras para expressar o quanto meu coração lamentou
por sair daquela casa e deixá-lo lá para lidar com o filho da puta. Meu pai
me arrastou para o carro, dizendo que Lior precisava de um momento para
colocar sua mente em ordem.
Controlar minha ansiedade foi um grande desafio até ver Lior
caminhando para fora da casa em chamas, parecendo delicioso. Quando ele
entrou no carro o medo que eu estava sentindo diminuiu, eu sabia que
estava segura com ele estando ali.
Todo o caminho até a casa é feito em silêncio, os dois homens no
banco da frente não dizem nada, e me vejo na obrigação de explicar o que
aconteceu comigo lá.
— Ele não conseguiu. — Murmuro, vejo Lior aperar o volante, os
nós dos seus dedos ficam brancos. — Vocês chegaram e o impediram. —
Continuo, desta vez mais confiante. — Grande parte do tempo ele passou se
gabando de como conseguiu enganar todo mundo e como Gagneux ser um
covarde arruinou seu plano perfeito.
Tanto Lior quanto meu pai ficam em silêncio, a tensão no carro
ficando mais intensa conforme vou contando como fui levada por ele, como
me nocauteou antes que eu conseguisse pedir ajuda, e a parte mais
importante, seu plano. Tudo o que Mallet me contou nos momentos em que
estive naquela cabana.
Termino a história quando estamos na porta de casa, alguns
seguranças estão parados na entrada, esperando para abrir a porta do carro.
O silêncio que perdura é tenso, acredito que isso se deva a intensidade do
momento.
— Eu errei, não consegui te proteger. — Lior fala, sua voa soando
distante.
Ele sai do carro, mantendo sua atitude idiota.
Não posso acreditar que tudo o que falei, ele só conseguiu gravar
essa parte.
Saio do carro e bato em seu braço, finalmente ganhando sua
atenção. Reparo no sangue sujando sua camisa, mãos e uma boa quantidade
em seu rosto, os nós de seus dedos estão machucados.
— Se for pensar assim, eu errei, poderia ter te acordado e tentado
lutar com ele. — Respondo.
Meu pai imita meu gesto, atraindo a atenção de Lior.
— Você não quer andar por essa estrada garoto. — Ele aconselha o
cabeça dura. — Eu poderia tê-lo matado quando fez aquela oferta, mas não
o fiz. Infelizmente, ao contrário do que meu sobrinho pensa, não podemos
matar todo mundo apenas por respirar errado. Diplomacia é uma palavra
crucial.
— Se eu tivesse…
— Deixe de lado os “se’s”, deu o aviso, como qualquer outro líder o
faria, se ele fosse inteligente, teria recuado.
As palavras do meu pai influenciam Lior, ele fecha os olhos, como
se estivesse absorvendo o que está sendo dito.
A troca entre eles está sendo assistida por alguns dos empregados
da casa, assim como alguns dos amigos de Lior, que parecem surpresos com
o que meu pai está dizendo. Penso que meu pai está rompendo seus
conceitos pré-concebidos do temido e respeitado Dimitri Petrov.
— Por que está fazendo isso? — Lior pergunta.
— Acho que chegou o momento de termos uma conversa. — Meu
pai me olha, então para os outros assistindo. — A sós.
— Pai! — Protesto, ganhando um sorriso do Lior.
Se fazer birra e ser repreendida pelo meu pai, é o que precisa ser
feito para Lior sorrir, e deixar de lado a expressão assassina e perdida que
tinha há pouco, é exatamente isso o que farei.
— Anuvia! — O tom de voz que usa, é mesmo de quando eu era
criança e fiz merda, uma que provavelmente me levaria para o hospital.
— Não pode me deixar de fora disso. — Sei que estou fazendo
beicinho, mas é bom o suficiente para Lior me puxar para os seus braços,
beijar minha testa.
Deus, como eu senti falta dele, parece que faz anos que não o vejo,
e poderia muito bem ser. O tempo que passei naquela cabana me pareceu
um inferno, perdi a conta dos dias e horas que passei naquele inferno.
Amo sentir suas mãos em meu corpo, mesmo que de forma tão
simples, e na frente de todos, parece íntimo. Seu toque ajuda a limpar a
imundice de Mallet, apenas as lembranças dele em cima de mim, faz meu
estomago revirar.
— Nos deixe conversar por um momento. — Pede, me tirando dos
meus pensamentos.
Encaro ele.
— Se pensa que vai se safar, está muito engando. — Me fasto e
passo por meu pai, mostrando a língua para ele.
Dimitri Petrov, sendo o ótimo pai que é, revira os olhos e bufa com
o meu comportamento.
— Se vai agir como uma pirralha, vou te colocar de castigo.
É minha vez de bufar indignada.
— Não sou uma pirralha, sou uma mulher adulta.
— Sempre vai ser minha garotinha. — Sua resposta é simples. —
Agora, vá se limpar, enquanto converso com Lior, depois podemos comer.
— Franzo a testa, sem entender seu comentário, e ele percebe. — Sua mãe
está ansiosa para te ver.
— Faz sentido.
Dou um beijo em seu rosto e entro, é ótimo estar em casa.
Asher é a primeira pessoa que vejo quando entro, ele anda de um
lado a outro, parecendo nervoso. Quando me vê, para por um momento,
antes de caminhar em minha direção com uma expressão que nunca vi em
seu rosto.
— Nunca mais desapareça, pãozinho doce! — Seu abraço é
apertado, por um momento fico tensa, e logo relaxo.
— Prometo que não vou a lugar nenhum.
No pouco tempo que estive aqui, Asher se tornou mais do que um
amigo, ele é um irmão, alguém que manterei ao meu lado pelo resto da
vida.
— Bom, vamos dar um jeito de te manter segura com um
rastreador. — Antes que perceba, ele se afasta e tira um colar do bolso, sem
pedir permissão, passa em torno do meu pescoço.
— Ei! — Repreendo.
— Nem comece, se tivesse um desde o começo não teria passado
por essa merda. — Me corta com um gesto.
— Você tem razão. — Concordo a contra gosto.
— Eu sempre tenho. — Faz uma careta. — E por falar nisso,
também tenho razão quando digo que precisa de um banho urgente.
É minha vez de fazer uma careta.
Odeio a sensação de estar suja, e minha cabeça ainda está doendo
mais um pouco. Subo as escadas correndo, Asher me repreende, mesmo
assim, continuo correndo até o banheiro, onde ligo o chuveiro, jogo as
roupas no lixo, e entro em baixo dos jatos quentes de água.
A sensação é maravilhosa, nada se compara com estar limpa e em
casa.
Passo uma grande quantia de tempo em baixo da água, quando saio,
as pontas dos meus dedos estão enrugadas. Me olho no espelho e vejo que
tem um hematoma se formando na minha bochecha, onde fui atingida por
Mallet, assim como alguns cortes no meu rosto.
O importante é que estou em casa e segura!
Lior ainda não apareceu, o que significa que a conversa que está
tendo com meu pai é importante, e pode ser que demore mais um tempo.
Me visto e desço, vou até a cozinha e peço para os empregados
prepararem um jantar e arrumarem a mesa. Cash e os outros, estão na sala
de estar, vendo TV, enquanto conversam. O clima tenso que tinha quando
cheguei se foi dando lugar a uma atmosfera mais suave.
— Jantar em família? — Cash pergunta.
Os meninos desligam a TV e se levantam.
— Essa é a nossa deixa.
Faço um gesto para permanecerem.
— Quero que estejam presentes nesse jantar, vocês são a família de
Lior. — Esses homens são a família do Lior, e consequentemente a minha
família. — A presença de todos é importante para nós.
Não quero admitir, mas me sinto um pouco tímida ao fazer essa
declaração.
Eles não são fãs do meu pai, e espero que essa conversa com Lior
esclareça tudo e que possam se dar bem. Minha mãe com certeza trabalhará
para me ajudar nisso, esse é outro motivo para que sua presença seja
importante.
Pensei que levaria mais tempo para esse momento, e não sei o que
aconteceu entre eles durante meu tempo longe.
— Ao menos você não está mais fedendo, pãozinho doce. — Asher
quebra o silêncio, e ganha um tapa na cabeça de Cash.
— Feche a boca. — Repreende. — Tem certeza que nos quer aqui?
— Se não quisesse, não teria convidado.
Dito isso, vou até o sofá, me sento e ligo a TV novamente,
colocando em Sobrenatural. Os caras se sentam novamente, reclamam da
minha escolha de programa de TV, no entanto, depois de alguns minutos
estão presos na história dos irmãos, que não se importam em disfarçar o
interesse, quando ambos entram em um manicômio abandonado, onde um
casal de namorados está preso.
Esse é um dos meus episódios favoritos.
Teria sido melhor se Lior estivesse aqui, e a cada segundo sem que
retorne, me deixa com um frio na barriga e uma sensação de mal-estar. É
muito importante para mim que ambos se deem bem, quero que todos
tenham uma relação amigável.
O que será que eles estão conversando?
Capítulo 25
Lior
Faço sinal para Dimitri me seguir para os fundos da propriedade.
Lançando um último olhar para a casa, ele me segue.
— Então? — Me sento no banco do jardim.
Esse era um lugar que eu vinha brincar quando criança, mais velho,
passei a vir sempre que precisava de um tempo das ordens do meu pai, ou
da vida em um todo. Quando fui preso, perdi esses momentos, tinha me
esquecido, até pouco tempo.
— Tenho muito o que falar com você. — Se senta ao meu lado.
Nós dois olhamos para frente.
— Aproveite que temos tempo.
Ele sorri.
— Até a hora de comer alguma coisa, Allyssa vai me matar se eu a
mantiver longe de seu bebê por muito tempo.
O carinho em sua voz dirigido a sua esposa e filha é evidente, e isso
vai além de tudo o que fui criado para acreditar. Meu pai sempre nos
ensinou sobre amor e fraqueza, demonstrar emoção era pedir para fracassar.
— Acredito nisso.
Mais um momento de silêncio, Dimitri está buscando as palavras
certas e vou dar esse tempo para ele.
— Quando eu era mais jovem tive uma babá, ela trabalhou na
minha casa por muitos anos até sair. — Explica, vendo meu olhar confuso,
acena com a mão. — Meu pai não era um bom pai, e havia um motivo para
isso, no entanto, ele ainda era um péssimo pai.
— Bem vindo ao clube.
— A história da minha família é longa e complicada, mas eu tinha
irmãos mais novos que precisavam de cuidados e por isso, uma babá foi
contratada para ajudar. — Mais um momento de silêncio, e então uma
risada sem humor. — Ela era muito boa, e o mais perto que tivemos de ter
uma mãe.
Franzo a testa, conheci Charlize em uma festa, e ela me pareceu
uma mãe legal. Então me lembro que seus pais são separados e que ela só
voltou para sua vida quando ele já estava casado.
— Essa babá é alguém que temos em comum.
Isso... eu me lembro dela, a senhora que trabalhou na minha casa
durante anos.
— Ela...
— Vejo que lembrou. — Sorri. — Quando eu assumi a família, foi
na mesma época que seu pai a mandou embora, ela ficou preocupado com
você, disse que seu velho tinha muitos inimigos que tentariam te ferir, e me
pediu que te protegesse.
— Foi por isso que me manteve na cadeia?
— Sim, eles estavam planejando a forma mais eficaz de te matar, e
teriam conseguido. — Diz. — Te manter preso salvou sua vida, era um
lugar que eu poderia controlar e tinha pessoas de confiança por perto.
— Aquele lugar foi um inferno!
Eu odeio a memória daquela cela de prisão, todos os anos contando
cada maldito segundo para dar o fora daquele lugar.
— Sei disso, e sinto muito por como lidei com tudo, mas era a única
forma de te controlar e impedir que fizesse merda. Eu precisava de tempo!
— Ela te pediu um favor? Isso te colocaria em uma guerra.
Dá de ombros.
— Não, ela cobrou uma divida que meu pai tinha com ela, não me
importei em pagar, muitos dos que matei se tornariam um problema maior.
— Raphael queria me matar. — Sorrio, lembrando de quando
descobri.
Seus comentários ácidos e diretos foram bem-vindos, embora a
ameaça a minha vida tenha alimentado ainda mais minha raiva e
determinação contra os Petrov.
— Raphael não é bom em seguir as regras dos outros, ele cria suas
próprias regras. — Dimitri não parece ofendido com a forma que seu
sobrinho lida com as coisas. — Admito que seu método funciona a maioria
das vezes. Mas, nós somos líderes, matar primeiro e perguntar depois não
funciona conosco.
— É por isso que não me culpa pelo que Mallet fez com Anuvia?
Seu riso divertido atrai minha atenção.
— Não te culpo, e nem você deveria. — Me encara. — Anuvia é
uma mulher forte e precisa de alguém assim ao seu lado, ela toma suas
escolhas com base no que acredita. Você é uma dessas escolhas!
— Mas...
— Fiquei com medo que ela acabasse com aquele governador
idiota, quando soube que estava com você, fiquei irritado, e logo em
seguida tranquilo.
— Achei que gostassem do governador.
Ele ri.
— Qualquer homem que seja estúpido o bastante para não perceber
o que tem em sua frente é estúpido. — Responde. — Você viu isso, e lutou
pela minha filha.
— Vou me casar com ela. — Declaro.
Não sou estúpido de pedir a benção dele, tenho a sensação que essa
conversa é isso.
— Espero que ela me visite uma vez por mês.
Sorrio com seu comentário.
— Vou ver o que posso fazer.
— E quando tiverem um bebê, os meus netos vão passar as férias na
minha casa, e devem me visitar ao menos duas vezes ao mês.
— Vou ver o que posso fazer, não se esqueça que eles terão escola.
— Podem ser ensinados em casa, foi assim que eduquei os meus. —
Me olha presunçoso. — E isso impediu que os garotos entrassem na vida da
minha filha por um longo tempo.
É bom ter essa informação, quando tivermos uma filha, vou garantir
que nenhum pequeno bastardo se aproxime da minha princesa. Se ela quiser
frequentar a escola mais tarde, pode ser em uma escola apenas de garotas.
— Vou pensar nisso.
— Você não me pediu, mas vou te dar mesmo assim. — Fica em pé,
se afastando um pouco.
— O que?
— Estou te dando minha benção para pedir minha filha em
casamento e fazê-la feliz, se eu souber que a machucou, de qualquer forma,
irei te matar. Essa não é a promessa do capo da Máfia Vermelha. Essa é a
promessa feita por um pai!
— Anuvia é toda minha vida, prefiro morrer a machucá-la.
Ele deve ser capaz de perceber que estou falando sério sobre sua
filha, e o futuro que planejo ao seu lado.
— Bom. — Sem esperar por mim, começa a voltar em direção a
casa. — Allyssa vai me matar se demorar mais.
Olho para o relógio no meu pulso e percebo que muito tempo se
passou desde que deixei Anuvia em casa para conversar com seu pai. O céu
está em um tom bonito de anoitecer, as luzes da casa já estão acesas,
estamos nos aproximando da porta de entrada quando a mulher de Dimitri
chega, o motorista dá a volta para abrir a porta, mas Dimitri o dispensa e ele
mesmo ajuda sua esposa.
— Pensei que morreria naquele hotel. — Reclama, ignorando seu
beijo e vindo em minha direção. — Então, você é aquele que sequestrou
minha filha, arrastou ela para longe de casa?
— Sim.
Negar o que nós sabemos ser verdade seria patético da minha parte.
Arrastei Anuvia para o caos que minha vida é, e agora a única coisa que me
resta é protege-la e impedir que essa história se repita.
Allyssa Petrov me pega de surpresa ao se jogar em mim e me
abraçar. No começo estou tenso, mas em seguida, relaxo.
Faz muito tempo que recebi qualquer carinho maternal.
— Bom, minha menina precisa de alguém para tirá-la de sua zona
de conforto. — Se afasta e acaricia meu rosto. — Ajuda que você seja
ótimo para os olhos.
Tenho a sensação que estou corando um pouco, quando Dimitri ri e
afasta sua esposa para o seu lado.
— Não assuste o garoto.
Allyssa revira os olhos, parecendo muito com Anuvia neste
momento.
— Apenas elogiando.
— Vamos entrar. — Interrompo a interação entre eles.
Levo eles pela escadaria e abro a porta, penso que Anuvia pode
estar em nosso quarto, ansiosa para saber o teor da minha conversa com seu
pai, mas sou pego de surpresa ao encontra-la dormindo no sofá, com o pé
apoiado no colo de Cash, que tem a cabeça caída para trás dormindo. Sua
cabeça está no colo de Asher, que está na mesma situação que Cash.
Por mais ciumento que eu seja, não vou matar os meus amigos por
cuidarem da minha garota, oferecendo a proteção que ela precisa nesse
momento.
— Faz sentido que ela goste daqui, parece que nossa família
aumentou muito. — Allyssa comenta com um sorriso.
Nossa conversa faz Anuvia se remexer, e abrir os olhos, sorrindo
quando me vê, e então saltando animada quando encontra sua mãe. Seu
movimento acorda Asher e Cash, que se levantam com calma, esperando
minha gatinha se afastar dos pais, para poder cumprimentar os Petrov.
— Pegamos no sono esperando por vocês. — Ela diz, vindo para o
meu lado.
Aperto seu corpo contra o meu.
Tenho aquele aperto constante no peito de que se ela se afastar um
segundo que seja, irá desaparecer e eu acordarei no pesadelo que vivi nos
últimos dias.
— Nossa conversa demorou mais do que o esperado. — Admito.
— Mas está tudo bem?
— Tudo ótimo. — Respondo.
— Ok, vamos jantar.
Na sala de jantar, percebo que a mesa está posta para mais pessoas,
é quando noto que os meus homens, estão entrando e se sentando à mesa
com a gente.
— O que...?
— Eles são sua família, seus irmãos. — Anuvia me interrompe,
antes que eu possa dizer mais alguma coisa. — É importante para mim que
todos se conheçam.
— Eu te amo!
Ela sorri.
— Eu também, mas não fique todo animado na frente da nossa
família. — Depois de alisar minha camisa, ela se afasta, e então me olha. —
Acho que devemos esperar um tempo antes de jantar.
— Estamos todos aqui. — Franzo a testa.
— Querido, você está nojento e cheio de sangue. — Aponta para
minhas roupas.
— Me dê cinco minutos.
Dou um beijo rápido nela e corro para o quarto.
Esse deve ser o banho mais rápido, que já tomei em toda a minha
vida, mesmo tendo que me esfregar com força para tirar a sujeira de sangue.
Vestido, desço para a sala de jantar, onde todos estão reunidos tomando
vinho, rindo e conversando, enquanto me esperam.
Não sei o que eu esperava encontrar quando fui ao casamento de
Raphael, mas fico feliz que tenha ido e me deparado com o amor da minha
vida.
Capítulo 26
Anuvia
Depois do jantar com nossas famílias, as coisas se acalmaram.
Na medida do possível, é claro.
Fiquei surpresa com quão bem as nossas famílias se deram, e o
quão rápido os meninos mudaram de ideia a respeito do meu pai. Minha
mãe, é claro, foi crucial para essa mudança de ritmo, e ao final, todos se
uniram, decididos que eu deveria ter um esquema de segurança reforçado.
O que me teve fazendo beicinho.
Depois que foram embora, Lior teve muitas reuniões e eu aproveitei
para começar o projeto de remodelação da casa, os irmãos da Ana, Max e
Dean se ofereceram para me ajudar, e conhecendo seu talento, não seria
louca de recusá-los.
Com suas visitas, Lior ficou um pouco mais tranquilo, embora, não
tenha diminuído o nível de segurança na mansão. De todo mundo, ele saiu
mais abalado dessa situação.
Seu nível de superproteção, ultrapassando até mesmo o dos homens
da minha família. Mesmo um pouco incomodada com suas demandas,
permito que continue, ao menos, até superar os acontecimentos.
Convenci Asher a me mostrar as imagens de segurança daquele dia,
e admito que tudo pareceu pior do que realmente foi. Mas, acordar sozinho,
após ser drogado, e perceber que eu não estava ao seu lado, deve ter sido
assustador!
Vou para o escritório de Lior, com a intenção de avisá-lo que estou
indo no hospital, preciso tirar esses pontos, que permanecera mais tempo do
que deveria, e o mais importante, perguntar se já estou liberada para fazer
sexo.
Assim que abro a porta, três pares de olhos me encaram, destes, o
único que reconheço e que me importa, tem um sorriso no rosto, ele acena
para mim.
— Nos deem um minuto. — Manda, e os dois homens obedecem,
saindo e encostando a porta atrás de si.
— Não precisava dispensá-los, vim apenas te avisar que estou indo
ao hospital.
Seu corpo fica tenso, acaricio seu rosto e dou um beijo em sua
bochecha.
— Vou com você.
— Não! — Protesto imediatamente. — Você tem suas reuniões,
estou indo apenas tirar os pontos.
Seus olhos se estreitam, ele quer discutir comigo, mas percebe que
estou determinada a fazer isso sem ele.
Preciso que Lior entenda que coisas ruins acontecem o tempo todo,
que não temos como controlar. Tomarei cuidado, mas não viverei presa
nessa casa, por medo de que ao sair algo ruim acontecerá.
— Estou te sufocando. — A declaração me surpreende.
Dou de ombros.
— Entendo porque quer me proteger, mas me manter presa aqui não
significa que nada de ruim vai acontecer. — Olho para os seus lábios
enquanto falo. — Temos que esquecer o que aconteceu, e seguir com as
nossas vidas.
— Se algo…
— Não vai acontecer nada comigo! — Minha voz sai firme. —
Asher vai comigo, e levamos mais dois seguranças se isso te deixar
tranquilo. Ok?
Leva um tempo antes que ele responda, acenando com a cabeça.
— Se algo te acontecer, vou matar Asher!
Quero rir do seu tom, mas não parece que esteja brincando.
— Deixe de ser dramático.
Damos um beijo demorado, intenso, estou ansiosa para aprofundar
as coisas entre nós, senti-lo dentro de mim e...
Hora de ir!
Me afasto ofegante, ganhando um tapa na bunda, saio rindo do
escritório e aviso aos homens que podem entrar. Tenho que admitir que
estou um pouco envergonhada em encontrá-los aqui, eles vão pensar que
Lior e eu estávamos fazendo sexo.
Quem dera fosse.
— Pensei que demoraria mais, pãozinho doce. — Asher me
provoca, abrindo a porta do carro e me ajudando a entrar.
— Não seja um idiota. — Soco seu braço.
— Ai, agressiva! Estava falando de convencê-lo, sua mente suja.
Reviro os olhos.
Algumas pessoas pensariam que meu relacionamento com os
meninos teria mudado, depois da conversa com os meus pais, e isso
felizmente não aconteceu. É ótimo poder implicar com alguém, fazer
pegadinhas e ter briguinhas ocasionalmente, isso nos ajuda a manter o bom
humor. Lior, no entanto, sente que está se sentando com a turma da quarta
série.
— Vou fingir que acredito.
Ligo o som do carro, e coloco minha playlist favorita, a mesma que
Asher implica constantemente, mas que secretamente ama.
— Vamos para a playlist bipolar, da Anuvia. — Me provoca.
Flowers de Miley Cyrus começa a tocar, me inclino para erguer
mais o som, cantarolando baixinho, enquanto finjo não perceber os lábios
de Asher se movendo com a música. Eu sabia que ele estava viciado nessa,
ninguém consegue resistir a uma música de amar a si mesma, que, na
verdade, é um tapa na cara do seu ex babaca.
— Dá para acreditar que aquele cara traiu a Miley? — Asher
comenta, quando a música acaba.
— Homens feios, endeusados devido a um surto coletivo, tendem a
cometer um deslize. — Respondo.
Ele me olha, parecendo chocado.
— Todas as mulheres do planeta amam o Thor e o irmão dele.
— Nem todas, entendo o apelo com o corpo malhado, mas não
fazem meu tipo. Não gosto de homens loiros. — Admito. — Prefiro os
morenos, tem aquela coisa mais sexy, Henry Cavil é mais meu tipo.
— Sorte do Lior… eu acho.
No hospital sou levada direto para a sala do médico que me atendeu
a primeira vez. Ele é rápido em ignorar Asher, da mesma forma que fez da
outra vez, após me examinar, e conferir o machucado, ele remove os
pontos.
— Devo me preocupar em vê-la aqui outra vez? — Pergunta,
preenchendo o prontuário.
— Nunca se sabe, a vida é imprevisível. — Respondo.
— Sabendo que é o seu noivo, prefiro que sua vida se torne muito
previsível.
— Somos dois. — Murmura Asher.
— Está liberada.
Pulo da mesa, me desequilibrando, os dois homens estendem a mão
para me impedir de cair, e dou risada.
É divertido o olhar de pânico deles.
— Tenho uma pergunta. — Gesticula para que eu continue. — E
quanto a sexo?
— Está liberada.
— Oba! — Levanto os braços em comemoração.
Asher revira os olhos enquanto me arrasta para fora da sala, e em
seguida do hospital.
— Próximo destino?
— Quero um café.
— Café então.
Paramos em frente ao café e eu desço sem esperar por ele, faço o
meu pedido e antes que eu entregue o cartão, Asher estende o dele e paga.
Sentamos na mesa no canto, preciso de mais um tempo longe de casa,
respirar o ar da cidade, observar as pessoas andando para cima e para baixo,
ocupadas com suas vidas.
— Gosto daqui. — Admito.
— Entendo o apelo. — Toma um pouco de sua bebida. — Mas sei
que você é uma fotógrafa renomada, estou curioso para ver como lidará
com isso.
— Meu trabalho é mais como um passatempo divertido que se
tornou algo mais. — Admito. — Minhas fotos se baseiam naquilo que amo.
— Aceno em volta. — E aqui tem muita coisa que amo.
— Quando a novidade passar…
— Sempre podemos sair de férias.
Ansiosa para fugir dessa conversa, dou a última garfada no bolo de
chocolate, e levanto. Sabendo que ele está me seguindo, vou direto para a
loja de lingerie, preciso agradecer à dona pessoalmente, por me salvar de
ser atropelada pelo capacho do Mallet.
O sino da porta soa, e a mulher aparece atrás do balcão.
— Anuvia, que bom que está aqui. — Corre para me cumprimentar.
— Eu precisava te agradecer pessoalmente por salvar minha vida.
Ela cora.
— Seu marido já o fez, e sou grata pela ajuda com as finanças da
loja.
Essa é uma coisa que eu não sabia, mas que não me surpreende.
Lior não se importa com o dinheiro.
— Ainda assim, você salvou minha vida. — Dou abraço nela. —
Obrigado.
— Fiz o que qualquer pessoa teria feito.
Ela está enganada, nem todos fariam algo assim.
— De qualquer forma, eu precisava te agradecer e perguntar se já
marcou um dia para fotografarmos as suas lingeries. — Lembro.
— Eu…
Dou risada.
Ela achou que eu estava me oferecendo para tirar as fotos por
educação, e que não pretendia fazer realmente. O que não sabe, é que sou
uma Petrov, e nunca faço promessas que não planejo cumprir.
— Podemos fazer esse fim de semana, ou no próximo.
— Essa semana vou viajar para visitar uma velha amiga fora da
cidade, não sei quanto tempo ficarei fora.
Olho para a loja.
— Vai deixá-la fechada?
— Não, com a ajuda que recebi, consegui recontratar uma ajudante.
— Explica. — Ela está morando nos quartos do fundo da loja, e vai abrir e
fechar.
Um plano começa a se formar.
E se eu conversar com a nova funcionária e tirar as fotos? Quando
ela voltar, tudo estará feito e será menos uma preocupação. Também vai me
dar um dia fora de casa, fazendo o que gosto.
— Isso é ótimo! Espero que aproveite suas férias. — Me afasto dela
e olho em volta, percebendo que tem mercadoria nova. — Vou dar mais
uma olhada nas coisas novas.
— Fique à vontade.
Escolho uma peça mais provocante para usar essa noite.
Lior se recusou a me deixar arrumar minhas lingeries no guarda-
roupa, e como se recusava a permitir que um empregado realizasse o
serviço, ele mesmo fez. Gemendo a cada peça que via, irritado por não
poder me foder. Não preciso dizer que isso arruinou qualquer chance de
surpresa que eu havia planejado.
Saio da loja animada, balançando minha sacola.
Asher, que ficou do lado de fora da loja, ri da minha animação.
— Não seja um idiota. — Digo entrando no quarto.
— Ei, eu não disse nada!
— Mas pensou!
Penso em como surpreenderei Lior, se eu esperar até a noite, será
muito previsível, e estou ansiosa para estar com ele novamente.
— Está bolando algum plano mirabolante?
Dou de ombros.
— Depois que chegarmos em casa, conte uma hora e mande Lior
me encontrar no quarto, ok?
— Então é isso? Fui reduzido a garoto de recados sexual?
Ele não está falando comigo, então dou de ombros e espero
ansiosamente até colocar meu plano em ação.
Lior não perde por esperar.
Capítulo 27
Lior
Tive que tomar algumas medidas extras para impedir que o desafio
de Mallet tomasse grandes proporções. É claro que o incêndio na cabana e
seu “desaparecimento” virou notícia em muitos lugares, e isso deixou
muitas pessoas ansiosas para demonstrar sua lealdade, e colocar seus
negócios na linha.
Os dois visitantes ficam por tempo suficiente para discutir nosso
novo acordo. Eles não importam em me dar uma parte dos lucros de suas
casas noturnas, desde que sejam ligados ao meu nome, evitando assim, que
Gagneux e outros, se infiltrem e continuem tentando destruí-los.
Mal fico sozinho e já começo a olhar para o relógio, calculando
quão irritada Anuvia ficaria se eu fosse atrás dela. Mas lembro do olhar
preocupado que me deu, não quero que se sinta assim a meu respeito, e
seria injusto impedi-la de sair, só porque quero estar ao seu lado 24/7.
Asher entra no escritório, me arrancando dos meus pensamentos
sobre Anuvia.
— Não deveria estar com Anuvia?
— Chegamos tem uma hora. — Explica.
Sinto como se peso no meu peito aliviasse ao saber que já voltou e
em segurança.
— Como foi?
Se senta no sofá perto da janela e coloca os pés na mesa de centro.
— Tudo bem, fomos ao hospital, ela tirou os pontos, depois pediu
para tomar um café e comer um bolo, então a levei para o centro.
Conheço Asher bem o suficiente para saber que está tentando agir
de forma descontraída, mas, na verdade, algo aconteceu e ele está
escondendo de mim.
— Vá direto ao ponto. — Mando.
— Anuvia quer conversar com você.
Isso não é uma boa coisa.
— O que aconteceu?
— Ela disse precisar trabalhar, e está lá em cima fazendo as malas.
— Mentira!
— Suba e veja por si mesmo.
Não preciso que diga duas vezes.
Asher nem termina de falar e já estou saindo do escritório, subindo
a cada dois degraus, meu coração acelerado, um zumbido no ouvido. Todo
meu lado racional vai embora quando o assunto é Anuvia, pensei estarmos
bem, que queria ficar comigo.
Algo aconteceu!
Abro a porta do quarto, vejo Anuvia parada, de costas para mim, e
caminho em sua direção, a jogo por cima do ombro, vou até a cama, onde
subo em cima dela, segurando seus braços em cima da cabeça.
— Lior, o que...
— Você não vai me deixar!
— Lior...
— Não!
Não permito que ela fale, caindo minha boca sobre a dela e a
beijando com fome. Talvez nos últimos dias, ela tenha esquecido como
somos bons juntos, e de como nós nos amamos.
Preciso lembrá-la!
Beijo seu pescoço, em seguida vou descendo até perceber a lingerie
que ela está usando. É diferente das outras que estão no closet, me perco na
vista de seu corpo e suas curvas, preenchendo o tecido delicado de suas
roupas íntimas. Depois de um momento, encaro minha gatinha e percebo
que está sorrindo.
— Surpresa! — Me puxa pelo pescoço e me beija, quando nos
afastamos ofegantes em busca de ar, ela sorri. — Embora eu ame como está
agindo, me pergunto o que te levou a isso.
— Asher disse que você estava indo embora.
Ela ri.
— Eu disse para ele me dar um tempo e te pedir para vir aqui, acho
que ele percebeu qual era a intenção e decidiu te provocar.
— Aquele filho dá...
Anuvia me interrompe com um beijo.
Qualquer pensamento envolvendo Asher dá lugar a Anuvia e ao seu
corpo.
Depois de tanto tempo sem poder tocá-la, não tenho certeza se
conseguirei ser suave com ela nesse momento. E pela forma como está se
mexendo em baixo de mim, esfregando seu corpo contra o meu, nem ela
espera que eu vá com calma.
Me afasto do nosso beijo, apenas para fazer uma trilha ao longo do
seu pescoço, seios, onde lambo seus mamilos e os chupo com um pouco de
força.
— Preciso que me foda.
Anuvia estava ansiosa por cada toque, beijo e carícia que estávamos
trocando.
Sou pego de surpresa quando se mexem em baixo de mim, rodando
nossos corpos de maneira que ela fique por cima. Com um sorriso safado,
ela vai descendo, abre o zíper da minha calça e puxa pelas minhas pernas,
meu pau salta duro, atraindo seu olhar, com a visão, Anuvia ela lambe os
lábios de forma sedutora.

Me inclino, para ter uma melhor vista do que ela fará a seguir.
Anuvia lambe lentamente a cabeça do meu pau, em seguida a
coloca inteira em sua boca e chupa, usando a língua, descendo até engolir
uma boa quantia dele. Sinto meu pau bater no fundo, de sua garganta, e
contenho um gemido.
— Porra... que delícia. — Não consigo conter um gemido.
Acaricio seu cabelo, segurando enquanto ajudava a manter seus
movimentos, tentando controlar o movimento do meu quadril e não foder
sua boca com força. Meu gemido fez com que Anuvia ficasse ainda mais
ousada, tentando engolir ainda mais do meu pau enquanto olhava nos meus
olhos.
Eu estava quase gozando, mas não queria fazer isso em sua boca.
— Levanta e senta no meu pau. — Mando.
Ela mais do que de pressa faz o que mando, seu olhar chateado por
eu não gozar em sua boca, vai embora quando eu brinco com seu clitóris,
dedilhando sua buceta, enquanto ela senta lentamente no meu pau.
— Lior! — Geme meu nome quando meu pau entra completamente
em sua buceta.
— Quero te ouvir gritando meu nome, vou deixar minha marca em
você para que nunca pense em me deixar. — Anuvia monta em mim, seus
movimentos são rápidos, seguro seu quadril. — Caralho, você me deixa
louco.
Meti meu pau nela com força, mas essa posição não me permitia ir
tão rápido quanto nós precisávamos, por isso rodei o meu corpo, colocando
Anuvia deitada em baixo de mim, ela prendeu suas pernas em volta do meu
quadril.
Ficamos transando assim por um bom tempo, quando senti que ela
estava prestes a gozar, diminui a velocidade, até que ambos gozamos ao
mesmo tempo.
Anuvia gemeu alto, quando cai para o lado e a puxei perto de mim,
com meu pau ainda dentro dela. Sua buceta ia estar sensível, e cada vez que
ela se mexer vai se lembrar desse momento.
— Eu estou dolorida. — Murmura, se aninhando no meu peito.
— Assim vai se lembrar a quem pertence.
Ela sorri.
— Se for isso que eu recebo sempre que ameaçar ir embora, essa
vai ser uma ameaça constante.
Aumento meu aperto nela.
— Nem pense nisso, você é minha! Não vai a lugar algum.
Acariciando meu peito, ela diz com a voz sonolenta.
— Jamais vou a lugar algum, tudo o que eu quero no mundo está
aqui. — Beija meu peito. — Você é o meu mundo, Lior!
— Você é meu tudo!
— Respondo, beijo sua testa, e fechando os olhos.
Anuvia é tudo o que eu sempre quis e o que nunca pensei ter, e não
importa o que digam ou o que façam, vou passar por cima de tudo e todos
para mantê-la para sempre ao meu lado.
Capítulo 28
Anuvia
Acordo com aquela sensação de mau-humor que me acompanha
quando durmo no meio do dia. A sensação de algo pegajoso entre as minhas
pernas, me lembrando que preciso tomar um banho antes de descer para
comer.
Me desvencilho de Lior, rindo quando tiro uma de suas mãos de
cima dos meus seios, a qual ele estava segurando como se fosse seu
presente de natal favorito. Homens!
Tenho que agradecer a Asher por ser um idiota e fazer piadas em
momentos inoportunos, graças a ele, Lior sequer lembrou que fui ao médico
para tirar os pontos, ele simplesmente me fodeu da maneira que eu queria.
Tomo um banho rápido e coloco um vestido de manga cumprida e
gola alta, não preciso que os meninos vejam todos os chupões e marcas que
ele me deixou durante nosso sexo empolgado. Pronta, dou uma última
olhada em Lior, e saio do quarto.
A casa está estranhamente silenciosa, não estou acostumada a não
ter nenhum dos meninos por perto. Desde que cheguei, sempre estiveram
andando por aí, mesmo tendo suas casas na cidade.
A cozinheira se surpreende quando entro na cozinha.
— Senhora, posso te servir em algo?
Aceno para relaxar.
Cresci com esse tipo de tratamento formal, e sempre odiei.
— Por favor, me chame de Anuvia. — Peço. — Tem algo pronto
para comer?
Ela nega.
— Hoje é o aniversário do senhor Lior, antes de ele ir embora
sempre saiam para comemorar, o dia todo. — Explica. — Eu não sabia que
as coisas por aqui estavam mudando.
Prendo a respiração e conto até dez mentalmente.
Lior me fodeu como uma maluca, ele dormiu ao meu lado durante a
noite toda, me beijou esta manhã, e em nenhum momento pensou em me
dizer que era seu aniversário? Talvez se ele não quer comemorar seu
nascimento, ele deva comemorar sua morte.
Vou matá-lo!
— As coisas vão mudar por aqui. — Digo. — Você pode tirar o
resto do dia de folga.
— Mas…
— É uma ordem, estou te dando hoje e amanhã de folga, com os
outros funcionários da casa. — Uso o tom de voz que vi minha mãe usar
um milhão de vezes antes. — Se qualquer um aparecer aqui antes, será
demitido. — A mulher parece nervosa e com medo de perder o emprego,
para apaziguar a situação, sorrio e digo; — Encarem esses dois dias como
uma forma de comemorarem o aniversário de Lior.
— Tudo bem.
Espero a mulher sair e começo a preparar algo especial.
Quando eu era criança, minha mãe sempre tornou nossos
aniversários algo enorme e especial.
A primeira coisa, um dia livre de escola, a segunda, tudo o que
comeríamos ao longo do dia era escolha do aniversariante, todas as comidas
favoritas eram preparadas pela minha mãe. E a melhor parte, o
aniversariante receberia um bolo preparado por todos os membros da
família, uma coisa que começou devido ao Zack.
Meu irmão odiou o bolo comprado, porque na mente dele, quando a
gente ama alguém, deve preparar o bolo de aniversário com as próprias
mãos.
Meus pais e tios acharam fofo, e logo virou uma tradição para toda
a família, mesmo tendo festas enormes, havia um bolo especial feito por
nós, que era comido apenas entre a família. Ninguém de fora participaria.
São essas tradições que quero trazer para essa casa e seus
habitantes!
Como ainda não sei as comidas favoritas de Lior, decido fazer a
minha comida favorita, algo que sempre pedia no meu aniversário.
Lasanha!
Enquanto asso a lasanha no forno do fogão, preparo meu outro
favorito, bolo de chocolate, com cobertura de chocolate.
Quando os dois terminam de assar, coloco sobre o balcão da
cozinha, limpo a bagunça e decido esperar Lior em um canto estratégico da
cozinha. Não perdoei o idiota por esconder que hoje é seu aniversário, por
isso, em vez de subir lá e acordá-lo com beijos e mais sexo, puno o
bastardo.
Felizmente não demora muito para ele descer as escadas correndo,
o barulho dos seus passos ecoando pelo piso de madeira. Seguro o riso
quando ele grita o meu nome, escuto portas batendo, até que finalmente ele
entra na cozinha. Não me vendo imediatamente, franze a testa para o bolo
em cima do balcão, em seguida seus olhos pousam em mim.
— Por que não me respondeu? — Pergunta.
— Por que não me disse que hoje era seu aniversário? — Respondo
no mesmo tom.
— Eu não o comemoro há anos.
Sua resposta só me irrita.
Quando me puxa em seus braços e tenta me beijar, eu viro o rosto.
— Isso não justifica, preciso saber essas coisas a seu respeito. —
Falo.
— Não me importo com o meu aniversário.
— Mas eu me importo, e no futuro, nossos filhos vão se importar.
— Respondo.
Lior se afasta, estudando o meu rosto, então um sorri.
— Você está…
— Não! — Afirmo, antes que termine. — Estou apenas
comentando.
— Tudo bem, peço desculpas por não ter contado. — Ele não
parece culpado, mas vou fingir que acredito, assim não preciso começar
uma greve de sexo.
— É bom que se arrependa mesmo. — Me afasto e tiro a lasanha do
forno, colocando em cima do balcão da cozinha, em seguida sirvo os pratos.
— Quem fez a lasanha e o bolo?
— Eu! Dei folga para os empregados hoje, assim podemos
comemorar seu aniversário da maneira certa.
— E como seria isso?
— Primeiro, vamos almoçar, em seguida comer o bolo, e...
— Por último?
Sorrio, sabendo que essa é a melhor parte.
— Maratona de sexo de aniversário.
— Porra… sim!
A última parte o anima.
Lior faz alguns sons de apreciação enquanto come sua lasanha,
repetindo duas vezes antes de empurrar o prato para longe, e acariciar a
barriga malhada.
— Onde aprendeu a cozinhar desse jeito?
— Minha mãe! Coisas básicas para a sobrevivência humana devem
ser aprendidos por todos. — Explico. — O bolo também fui eu.
— Não quis pedir para um dos empregados?
Dou de ombros e nego com a cabeça.
— Quando a gente ama alguém, quer que a pessoa sinta todo o
amor pelas coisas feitas por nós.
— Isso é profundo.
— Não conte isso ao meu irmão, isso começou com Zack.
— Como?
Ignoro sua pergunta, enquanto canto parabéns para ele.
Me divirto vendo o homem enorme tímido com as palmas e gritos
animados que dou enquanto canto “parabéns para você…”, só quando a
música acaba que ele me beija por tempo suficiente para me roubar o ar, e
se senta dando uma enorme garfada no bolo.
Enquanto comemos, conto a ele a história das tradições na minha
família, ele ri de muitas das histórias, compartilhando as suas próprias e
fazendo alguns comentários descontraídos.
— É uma pena que não tenha me dito que é seu aniversário, eu
gostaria de te dar um presente especial. — Faço beicinho.
Lior larga o garfo e se levanta.
— Quem disse que não pode? — Caminha para a porta, me
deixando sem entender nada. — Fique aqui por um momento, ok? —
Aceno e espero, escuto seus passos na escada, primeiro subindo e depois
descendo.
— Estou com medo que tenha enlouquecido.
Limpo o balcão e coloco os nossos pratos na lava-louça, quando me
viro, fico surpresa.
Levo as mãos a boca, sem reação.
Ele está ajoelhado no chão, segurando uma caixa aberta com um
anel enorme e lindo.
— Lior…
— Anuvia, você disse querer me dar um presente especial, a única
coisa que eu daria a vida para ter, é você! Sei que não digno, mas não posso
deixar de ser egoísta, e perguntar se me daria a honra de ser o meu presente
e aceitaria se casar comigo?
Meus joelhos fraquejam e eu caio de joelhos na frente dele, seguro
seu rosto.
Esse momento, é tudo o que sempre desejei e algo que nunca pensei
que conseguiria ter. Vi todos os membros da minha família se apaixonando
e recebendo seu amor eterno, sonhando com o dia que isso aconteceria
comigo.
E aqui estou eu!
— Você é o melhor presente que a vida poderia ter me dado, sair
daquele casamento ao seu lado, aceitar ser sequestrada pelo homem que
odiava minha família, foram as melhores decisões que tomei na vida. —
Digo, olhando em seus olhos. — Você é mais do que digno de todas as
coisas boas que acontecerão em nossas vidas. É claro que aceito, esperei
minha vida toda por você, só você!
Lior desliza o anel no meu dedo, em seguida beija a pedra e me
ajuda a levantar. Em pé nós nos beijamos e nos abraçamos.
Tenho a necessidade de ligar para a minha família, contar para os
meus pais e minhas primas, que vou me casar com o homem da minha vida.
Mostrar o anel que representa o futuro que teremos. Mas isso é algo para
outro momento, agora precisamos comemorar juntos.
Comemoramos o próximo passo de algo muito importante, algo
lindo que irá durar além dessa vida.
— Eu te amo! — Murmuro contra os seus lábios.
— Não tanto quanto eu te amo.
Não discuto, Lior nunca vai saber a profundidade do que sinto por
ele, mas posso garantir que demonstrarei a cada passo do caminho, até o dia
que deixarmos essa terra.
Epílogo
Anuvia
Faz um mês desde o pedido do casamento, e luto a cada passo do
caminho com Lior, para que o casamento ocorra com um tempo razoável, e
que todos os membros da minha família possam participar. Infelizmente,
muitas agendas diferentes necessitam de um prazo mais longo, por isso
combinamos de nos casar daqui a dois meses, isso me dá tempo para
concluir as reformas da casa, e discutir com a esposa do meu avô os
arranjos para a festa de casamento.
A notícia do nosso noivado foi bem recebida por todos, e isso me
deixou ainda mais feliz.
— Não deveria maneirar na cafeína, pãozinho doce? — Asher me
encara, parecendo um pouco preocupado. — Parece que você está pronta
para correr uma maratona.
Cash concorda, rindo.
— Preciso disso para conseguir fazer todas as coisas da minha
agenda.
Lior bufa irritado, ele também não está feliz com a quantidade de
cafeína que tenho ingerido, e com o pouco que tenho comido. Mas preciso
dar conta de fazer tudo, tenho um prazo a cumprir.
— Por que não marca menos coisas? Assim não precisa ficar desse
jeito. — Responde.
— Marcar menos coisas significa um prazo maior, e um prazo de
tempo maior, significa passar mais tempo com a casa, uma bagunça, e adiar
o casamento.
— Contrate alguém para te ajudar. — Manda.
— Tudo bem, vou ver se encontro alguém que considero
competente para acompanhar a obra.
— E quanto ao casamento?
— Sei que esse é o seu sonho de noiva, por isso vou cuidar
pessoalmente para que o meu noivinho consiga tudo o que sempre sonhou.
— Faço beicinho e junto as mãos em sinal de promessa.
Lior ri das minhas palhaçadas.
— Seu vestido?
— Quase pronto. — Minto.
Asher bufa.
— O que foi? — Lior pergunta a ele.
— Pãozinho doce não encontrou o tecido perfeito.
Lior me olha.
— Preciso que o tecido seja macio, quando nossa filha for se casar,
ela pode usar o meu vestido.
— Isso não vai acontecer! — Sua voz sai brusca.
— O quê? Achar o tecido perfeito?
— Nossa filha se casar.
Reviro os olhos, decidindo ser melhor não discutir isso até que
nossa filha esteja indo para se casar.
O som da campainha tocando me salva de mais perguntas, me
levanto correndo para atender a porta, na expectativa que seja um dos
fornecedores do casamento, mas o que encontro é muito melhor.
— Surpresa!
Ana, Lavínia e Charlie gritam animadas, em seguida me puxam
para um abraço em grupo.
— O que vocês estão fazendo aqui? — Pergunto, me afastando e
cumprimentando meu irmão e primos.
— A gente queria conhecer a famosa cidade de natal, que você
tanto fala. — Ana bate seu quadril contra o meu.
— E já que estamos aqui, vamos te ajudar com os preparativos do
casamento. — Lavínia oferece. — Trouxe algumas ideias de bolo para você
dar uma olhada.
Olho para trás e vejo Raphael segurando uma mala grande com uma
mão, enquanto a outra está segurando a mão de Lavínia. Meu primo olha
para Lior e os homens atrás dele, que nos seguiram com um olhar de
avaliação, ele está pensando em quanto perigo Lavínia poderia encontrar
aqui.
— Quero te apresentar a alguém. — Puxo Asher para o meu lado,
ele está encarando Raphael como um maluco. — Asher, esse é Raphael
Petrov, meu primo, priminho, esse Asher, ele é um grande fã seu.
Deixo Raphael lidar com o lado tiete do meu amigo, e faço as
outras apresentações. As meninas fazem caretas e gestos atrás de Lior,
dizendo que mandei bem na escolha.
Entramos em casa e nos dividimos, garotas para um lado e caras
para o outro.
Levo elas até o quarto, onde mostro o closet e peço ajuda para
encontrar a roupa perfeita para o nosso jantar. Lavínia e Ana estão no meu
closet, enquanto Charlie revira o banheiro procurando por algo.
— Você não tem nenhum absorvente?
Sua pergunta me faz congelar no lugar.
Como eu não pensei nisso antes?
Todo o estresse dos últimos tempos, e isso inclui a correria com o
casamento e a reforma, me fizeram esquecer completamente do meu
período, ou melhor, da ausência dele.
— Eu não estou menstruando. — Respondo fazendo as contas. —
Desde que vim para cá.
— Você está gravida! — Ela grita.
Ana e Lavínia, correm para o banheiro.
— Sua vaca! Por que não nos contou?
— Eu não estou grávida! — Respondo, com zero confiança no que
estou dizendo.
— Espere um minuto.
Ana corre para a bolsa dela, tira três caixas e volta, nós franzimos a
testa quando ela me entrega todas, e percebo serem testes de gravidez.
— Você já não está gravida? — Charlie ri.
— Encontrei Jules na semana passada, o consultório dela estava
cheio dessas caixas, então peguei algumas para provocar os meus irmãos,
por isso deixei na minha bolsa. — Explica. — Que sorte que fiz isso, vai
fazer xixi de uma vez.
Sou esperta o suficiente para não discutir com ela, e lembrá-la que
seus irmãos são tão apaixonados por suas esposas, que um bebê seria mais
do que bem-vindo.
— Saiam do banheiro, não consigo fazer xixi com uma plateia,
muito menos sob pressão.
Ignoro os comentários maldosos das vadias, fecho a porta e faço
xixi.
Abro a porta e espero com elas, andando de um lado para o outro,
ansiosa para o tempo passar e eu descobrir se Lior e eu teremos um bebê ou
não. Finalmente o celular de Charlie sinaliza que os três minutos passaram,
nós corremos em direção ao banheiro, Charlie sendo a primeira a pegar o
teste e olhar, em seguida me entrega.
É nesse momento que a porta se abre e Lior me encara preocupado.
— Escutei vocês correndo, fiquei preocupado. — Ele vê algo no
meu rosto que o faz se aproximar e me abraçar. — Gatinha, o que
aconteceu?
Percebo as meninas saindo do quarto para nos dar privacidade,
quando estamos sozinhos, entrego o teste a ele, que olha para o objeto por
um longo momento antes de me agarrar com mais força e beijar o topo da
minha cabeça.
— Estamos tendo um bebê. — Murmuro.
— Não tenho palavras para dizer o quanto eu te amo. — Diz, sua
voz embargada pelo choro. — Quando penso que não posso te amar mais,
algo assim acontece e eu descubro que sempre posso amar mais e mais.
Ficamos abraçados por um longo momento, presos em nosso
mundinho de felicidade.
— Nossa família está crescendo!
— Precisamos contar as novidades.
Lior está muito animado, nunca o vi tão feliz como está nesse
momento.
Faço uma promessa a mim mesma, de que não importa o quão
difícil seja, manterei esse sorriso lá, ele merece ser feliz!
Epílogo
Lior
A gravidez de Anuvia foi a melhor notícia que já recebi em toda
minha vida, eu não consegui descrever como estava me sentindo naquele
momento. Eu queria gritar a notícia para todos, e, ao mesmo tempo, enrolar
Anuvia em uma bolha de proteção e erradicar do mundo qualquer coisa que
pudesse machucá-la.
Quando descemos, demos a notícia para todos os que estavam
presentes, suas primas e cunhada já sabiam, mas correram abraçá-la e
ajudar com os planos.
— Pãozinho doce está com um pãozinho no forno. — Asher bate no
meu braço, em seguida me abraça.
— Deu sorte que estou feliz, e não quero arruinar esse momento
socando sua cara. — Respondo, o fazendo rir.
Depois que os caras me cumprimentam, os primos e irmão de
Anuvia me parabenizam pelo bebê. Zack é aquele que tem alguns
comentários mais ácidos, e promessas de dor caso eu machuque sua irmã
grávida.
— Agora que ela está grávida, precisa se controlar com o estresse e
cafeína. — Zack comenta, quando nos sentamos para assistir a um jogo na
TV.
Asher ri.
— Boa sorte com isso, pãozinhdoce, é viciada naquela merda.
Seu comentário me lembra mais cedo quando minha gatinha tomou
um monte de café.
— Vou substituir o café dela por descafeinado. — Quando todos me
olham, tomo um pouco da minha bebida, antes de dizer; — Sou esperto
para escolher as minhas batalhas, e a luta do café, não é uma quero ter.
— Homem esperto. — Raphael levanta seu copo em cumprimento.
— Mas, ainda assim, precisa descobrir como vai acontecer o casamento, é
muito estresse.
Nisso ele tem razão!
Anuvia não queria um casamento chamativo, sendo sincera, sua
ideia era apenas ir para o tribunal. Eu insisti que tivéssemos algo grandioso,
queria que ela se sentisse especial, e que se lembrasse para sempre deste
dia.
Precisamos rever essa história.
— Vamos contar sobre a gravidez para os seus pais esta noite, e
podemos combinar de ir ao cartório. — Proponho. — Faremos uma festa de
casamento quando todos estiverem na cidade.
— Essa é uma boa ideia, embora eu não sei se meu pai vai ficar
feliz ou te matar.
Dimitri e eu estamos em uma zona confortável onde ambos
respeitamos o espaço um do outro, e temos o consenso de que tudo o que
importa é o bem-estar dela. E se garantir que ela não se estresse, significa
um casamento simples, e uma festa tardia com todos, é exatamente isso o
que faremos.
O som de risos vem da escada e as mulheres aparecem, Anuvia se
senta no meu colo, passando os braços em volta do meu pescoço.
— Consegui o contato de uma médica local, e marquei uma
consulta. — Diz, não se importando com as outras pessoas na sala.
— Que horas?
— Daqui a trinta minutos.
Me levanto com ela em meus braços, e sem me despedir, a carrego
para o carro, ignoro o som de risos vindo de dentro da casa.
— Estou ansioso para ver o nosso bebê. — Admito.
— Somos dois, mas não precisa me carregar por aí. — Revira os
olhos.
— Precisa sim! Cuidarei muito bem de você. — A coloco sentada
no carro, e passo o cinto de segurança em volta dela. — Nada vai te
machucar.
— Por que tenho a sensação de que você vai enlouquecer e me
irritar com todo esse cuidado?
— Porque vou, estou cuidando de todo o meu mundo.
Anuvia reclama da minha forma de dirigir, durante todo o caminho
até a cidade. O trajeto seria feito na metade do tempo, mas não correrei
riscos desnecessários, a médica pode esperar um pouco mais, e se não fizer,
posso trazer outro médico e ainda arruinar sua carreira.
— Se eu soubesse que ia dirigir nessa velocidade, eu teria ido
andando. — Sai do carro e bate a porta com força. — É sério, isso foi
ridículo!
— Estou cuidando de você e do nosso bebê. — Argumento, a
seguindo.
Me lançando um último olhar irritado, ela entra no escritório, a
secretaria sorri para Anuvia e nos leva direto para a sala da médica, uma
senhora de meia-idade, com um sorriso doce.
— Lamento ter me atrasado, Lior surtou e decidiu que iria dirigir
como uma lesma.
A médica ri do comentário.
— É bom ter um marido super protetor, e não me importo de
esperar um pouco.
Gostei dela!
Após conversar um pouco, ela decide fazer um exame para
confirmar, eu estava feliz até Anuvia se deitar em uma cama e abrir as
pernas, para a velha colocar o negócio do exame em sua vagina.
— Vamos ver… Ah sim! Aqui está, meus parabéns, você está
grávida de gêmeos.
Tanto Anuvia e eu nos encaramos, surpresos com a notícia, mas
ainda assim felizes. Teremos dois bebês, duas pequenas versões de Anuvia
correndo soltas pela casa, e tornando a minha vida melhor.
— Parece que mando muito bem. — Pisco feliz, enquanto ela cora.
A médica faz as medições, nos passa tudo o que precisamos fazer
nos próximos dias, e ela deixa marcada nossa data de retorno.
Saímos com algumas fotos dos nossos bebês, guardo a minha na
carteira.
Voltamos para casa em silêncio, animados demais para conversar.
Em casa, todos nos esperam na porta, e ao lado de Zack e Ana, estão
Dimitri e Allyssa Petrov. Congelo ao ver meu futuro sogro com os braços
cruzados na porta, me olhando como se eu tivesse levado sua filha ao baile
e atrasado na hora de voltar para casa.
— Mãe, pai? — Anuvia corre para os abraçar. — O que estão
fazendo aqui?
— Surpresa! — Ana, Charlie e Lavínia dizem.
As três mulheres estão rindo da nossa situação.
— Viemos te ajudar com os preparativos para o casamento.
Puxo Anuvia para o meu lado.
— Sobre isso, vamos antecipar a data para essa semana, e deixar
apenas a festa para reunir a família. — Digo. — Podemos até ter um
casamento simbólico, desde que tudo seja feito com calma.
— Posso saber por que decidiram mudar isso?
Anuvia entrega a imagem para eles.
— Parabéns, vocês vão ser avós.
Dimitri semicerra os olhos na minha direção.
— Engravidou minha filha antes do casamento?
— Acho que ele merece uma surra por isso. — Raphael, o filho da
puta sádico diz, com um sorriso presunçoso.
— Sem violência, não pode matar o pai dos meus bebês!
Allyssa é a única que pega o plural na palavra “bebês” e começa a
chorar, agarrando Anuvia mais uma vez.
— Vocês estão tendo gêmeos?
— Sim!
— É melhor antecipar o casamento para amanhã, posso não me
controlar durante a noite e te matar.
— Seu desejo é uma ordem.
Guardo meu sorriso feliz para mim, ele está me dando exatamente o
que eu queria.
Devo agradecer a Dimitri e Allyssa Petrov, graças ao meu velho
inimigo, encontrei não só o amor, mas também uma família e um futuro
pelo qual estou ansioso para começar a viver.
Infelizmente, Dimitri me dá um sorriso malicioso.
— Se for duas garotas, você terá o dobro do Carma por engravidar
meu bebê.
Epílogo
Lior
Nosso casamento foi perfeito, infelizmente os tios e algumas primas
de Anuvia não puderam comparecer, e acabamos adiando a festa mais
algumas vezes. O que não foi um grande problema, tudo o que me
importava era me casar com ela, e foi isso o que aconteceu.
Assistir sua barriga crescendo com o tempo foi outra coisa que amei
fazer.
Estou perdido nos meus pensamentos, quando minha gatinha se
senta ao meu lado, fazendo beicinho para seu copo de suco de laranja. Esse
é mais um daqueles dias onde tenho me perguntado se deveria ter mantido
minha esposa na cama por mais tempo.
Anuvia descobriu que seu café não tinha cafeína na primeira
semana da gravidez, e isso a deixou de mau-humor, a ponto de todos os
caras a evitarem como a peste. O único que fica ao seu lado sou eu, e isso é
porque ela ama meu pau, não tenho certeza se seu amor se estende a mim
no momento.
Mas não me importo com a mudança de humor, acho ela linda
mesmo quando está prometendo esfolar meu primo. Conforme sua barriga
foi crescendo nos últimos meses, Anuvia foi se transformando e ela brilha,
é impossível não notar isso.
As garras afiadas da minha gatinha a deixaram ainda mais sexy.
— Não aguento mais ficar sem café.
— Cafeína é um vício que deve cortar, ou pode ter problemas
cardíacos no futuro. — Asher diz, ganhando um olhar mortal dela.
Sou mais esperto que isso para tentar argumentar, e ainda mais para
me meter em uma briga. É bom que sua raiva esteja dirigida a outra pessoa,
nesse momento, escondo o sorriso e aproveito que em alguns momentos,
estarei acariciando suas costas e dizendo como o babaca do Asher é um
idiota por ser maldoso com ela.
— Se não calar a boca, vou cortar sua língua, isso resolverá seu
“vicio” em falar. — Levi engasga com o café, e Aiden bate em suas costas.
— Tudo bem, faça o que quiser, pãozinho doce, mas os seus mínis
pãezinhos no forno, não podem ter contato com cafeína.
— Asher…
O som da campainha tocando nos interrompe.
Anuvia é a primeira a se levantar e caminhar em direção a porta,
acelero o passo, surpreso com o quão rápido ela consegue andar estando
grávida de gêmeos.
Penso que pode ser um dos entregadores com mais caixas de livros,
mas para nossa surpresa há outra mulher carregando uma grande mala.
Quando minha gatinha vê, se atira em sua direção a abraçando.
— Quem é essa? — Cash murmura.
— Meninos, essa é minha prima, Jules Petrov. — Anuvia apresenta,
um sorriso satisfeito em seu rosto.
Jules acena sorrindo para todos.
É a primeira vez que estou conhecendo a prima de Anuvia
pessoalmente, ela estava fora do país fazendo seu serviço humanitário, e
não pode comparecer.
— É um prazer finalmente conhecê-los.
Anuvia se vira para a prima, abraçando-a novamente.
— O que você está fazendo aqui?
Jules revira os olhos, como se fosse obvio o motivo de sua visita.
— Você fez toda uma propaganda de como essa cidade é uma vila
de natal, por isso decidi visitar perto dessa época, assim posso te ajudar com
a decoração, e também estou perto caso esses bebês decidam vir ao mundo.
— Jules dá um passo para o lado, mostrando os outros membros de sua
família. — Nós todos queríamos passar juntos, e como você está gravida…
Não tenho certeza se estamos preparados para mais uma seção com
todos os membros do sexo feminino da família Petrov reunidos, ainda mais
quando algumas delas estão grávidas e irritadas.
— Por que tenho a sensação que estamos fodidos? — Asher
murmura atrás de mim, ao ver as outras mulheres se aproximando.
— Porque estamos!
— Mantenha seus olhos longe de Jules. — Aiden bate na cabeça de
Asher, enquanto Levi rosna concordando com o irmão.
Parece que estamos presos com o clã de mulheres Petrov, e a dupla
de garotos apaixonados.
Deus nos proteja!
Próximo lançamento
Em breve Veneno Irresistível, a história de Jules Petrov estará
disponível para leitura, até lá, vocês estão convidados a ler os meus outros
livros disponíveis.
Para mais novidades, siga-me no Instagram é @carol_ness
Agradecimento
Esse é um daqueles momentos onde eu normalmente agradeço a todos
aqueles que leem as minhas histórias por me darem essa oportunidade, e a
minha família, por sempre estar ao meu lado.
Mas nesse momento, quero agradecer a mim mesma, por independente das
dificuldades da vida, consegui realizar o meu sonho de escrever histórias
que façam outras pessoas sonharem e se inspirarem.

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