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Copyright © 2020 Anny Shwan

Capa: Stephanie Santos


Imagem da capa : Pexels
Revisão ǀ Diagramação: Priscila Z. Lutz

Todos os direitos reservados.

Está é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nome, datas e acontecimento reais é mera coincidência.

Essa obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra,


através de quaisquer meios — tangível ou não intangível — sem o concentimento por
escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.

1ª Edição ǀ Criado no Brasil.


Aviso importante: a obra presente contém violência — fisica, verbal, psicologica e
sexual. Pode conter gatilhos.
Contéudo indicado para maiores de idade.

Não apoio ou concordo com relacionamentos abusivos.


Denuncie.
Maysun Wehbe, uma jovem de família humilde, começou a trabalhar
bem cedo ao lado dos pais, para ajudá-los com as despesas e o dinheiro do
aluguel de sua casa. O que ela não esperava, era que em meio a uma
multidão, um simples olhar a tornaria a obsessão de Kadar Maktoum.
Kadar Maktoum, conhecido por todos como príncipe do deserto, lindo
e arrogante, vê as mulheres como simplesmente um objeto de prazer para a
sua disposição. E em meio a uma punição em uma praça pública, uma atração
inexplicável despertará emoções nunca sentidas antes.
Obsessão ou amor?
Qual será o destino de Maysun?
Será possível duas pessoas de mundos tão diferentes ficarem juntas?
Venha conhecer a história de May e Kadar.
Acordo sobressaltada ao ouvir a voz da minha mãe. Assim que abro os
meus olhos completamente, a vejo parada a minha frente.
— Filha, você esqueceu que hoje é o dia de pegar as roupas na casa da
senhora Nádia.
Ainda sonolenta e meio atordoada, me levanto.
— Mãe, eu tinha esquecido, mas só vou tomar um banho e em seguida
irei.
— Por Allah! May, temos que aproveitar o sol para que as roupas
estejam secas o quanto antes. Precisamos do dinheiro para seu pai pagar ao
proprietário o aluguel do mês. O seu irmão irá com você.
Corro rapidamente para o banheiro. Se tem uma coisa que não podemos
deixar atrasar: é o bendito aluguel. O proprietário além de ser um homem
muito ambicioso, é bem rígido com a data do pagamento. De banho já
tomado, me despeço da minha mãe e seguimos para a casa da senhora Nádia.
Depois de quase uma hora e meia de caminhada, onde encontrei vários
conhecidos durante o percurso, acabo parando alguns segundos para
cumprimentá-los, que devido a fazer esse mesmo trajeto a anos, fiquei
conhecida por “May, a garota da trouxa de roupa”. Fecho as portas dos meus
pensamentos assim que chego em meu destino.
Depois de alguns minutos com o montante de roupas que a senhora
Nádia nos entregou, deixamos a sua casa e em passos apressados, começamos
a caminhar. Perdida em meus pensamentos, só me dou conta de que estou
próxima a praça da cidade quando ouço vários gritos ecoando a minha volta.
Movida pela curiosidade, e mesmo meu irmão sendo contra, me aproximo do
local, e as imagens que vejo em minha frente de nada alegram o meu dia.
Todos estão eufóricos olhando para um homem que está recebendo sua
sentença de morte. Nunca entendi como as pessoas podem se alegrar vendo o
seu próximo passando por algo dessa natureza. Sinto um calafrio percorrer
todo o meu corpo quando um homem que nunca vi na vida, se levanta com
um chicote em suas mãos e se aproxima do homem que está com os membros
presos.

Após dias resolvendo alguns assuntos da minha empresa em Dubai e os


negócios que tenho em outros países, não posso começar o meu dia melhor
possível, ao receber a notícia que o maldito Baruan foi pego. O desgraçado
achou mesmo que poderia me roubar e sair ileso.
Por anos o maldito prestou seus serviços para o meu pai, e assim que
assumi os negócios da família e recebi os relatórios de contas da empresa que
havia solicitado, comecei uma investigação onde tudo apontava ao infeliz
como principal suspeito pelos desvios que a anos estavam sendo feitos. Não
perdôo quem tenta passar a perna em mim, ninguém rouba um Maktoum e
fica vivo para contar história. Minha família batalhou muito para conseguir
tudo que possuímos hoje, nos tornando cada dia os mais influentes e
respeitados, não só em Dubai, mas em quase todas as cidades que formam os
Emirados Árabes Unidos. Uma coisa que não suporto e não admito são
traidores, que tentam passar a perna no próximo, achando que o nosso
império vive de caridade.
Coloquei meus melhores homens atrás do desgraçado que ao descobrir
sobre a investigação, fugiu de Dubai. Porém, hoje mostrarei a ele que
ninguém rouba Kadar bin Rashid Al Maktoum. Deixo o palácio ao lado de
Kaisar, que além de ser meu primo, se tornou meu braço direto nos negócios.
Adentramos no veículo e seguimos para o lugar onde o maldito receberá na
frente de todos sua sentença de morte, para servir de lição aos que cogitarem
desafiar o príncipe do deserto.
Assim que chego no local, uma multidão já está presente no ambiente,
em seguida dois dos meus homens de confiança trazem o desgraçado, que
está com o rosto coberto por um saco preto. No momento em que ele já está
na posição que ordeno, faço o sinal e o objeto sobre sua cabeça é retirado.
Olho para o homem a minha frente que por anos vinha usufruindo de algo
que não lhe pertence. Se aproveitou da doença do meu pai para aos poucos
desviar altos valores para uma conta em Nova York. Com o chicote em
minhas mãos, me levanto e caminho em sua direção, os gritos ecoam no
lugar, o povo clama pela morte do infeliz. Assim que fico a centímetros de
distância do homem, sacudo o chicote e o primeiro golpe é desferido sobre a
sua pele. Os gritos dele logo começa a ecoar pelo ambiente, o que só aumenta
o meu desejo em vê-lo sucumbir a minha frente. A cada golpe, gritos e mais
gritos saem entre seus lábios, o que está me deixando alucinado. A uma certa
altura, já perdi a conta de quantas chicotadas lhe dei. Olho para o corpo do
maldito que está em carne viva pelos cortes causados pelo meu chicote, já
que o instrumento em minhas mãos foi feito exatamente para essa ocasião,
tendo algumas lâminas fixadas no couro. Ao me virar em direção a população
que já está com as pedras em suas mãos para dar início ao apedrejamento,
sinto todo o meu corpo estremecer quando meus olhos vão de encontro a
imagem a minha frente.
Meu coração começa a bater em um ritmo frenético ao ver a mulher
que mesmo com uma aparência desleixada e bem maltrapilha, tem uma
beleza como jamais vi antes. O garoto que está ao seu lado sem querer a puxa
e o véu que tapava o seu rosto cai, a garota está petrificada e com os olhos
cheios de lágrimas ao ver a cena em sua frente que nem se dá conta do que
acontece com ela. Volto a minha lucidez assim que ouço os gritos a minha
volta, me afasto e dou autorização para começarem o apedrejamento, e assim
que me viro novamente, a garota já está a uma certa distância do meu campo
de visão. Faço sinal para Jamil, meu segurança particular, e peço para que
descubra tudo sobre ela, mesmo sem ao menos saber seu nome antes.
Olho para o palco apreciando a bela imagem a minha frente: Baruan
Shahrkhani com rosto totalmente deformado, o corpo envolvido por uma
enorme poça de sangue. Após me certificar que o desgraçado está morto,
deixo o lugar com os pensamentos voltados para a bendita garota.
Não importa quem ela seja ou a quem ela pertence, será minha de
qualquer jeito.
Fico tão atordoada que nem percebo que o meu véu se soltou de meus
cabelos. Depois de me recompor, em passos largos, deixo o local ao lado do
meu irmão. Quando chego em casa, passo a maior parte do dia ajudando a
minha mãe, com as roupas, arrumando a casa e depois fazendo a comida.
Com tudo já pronto, falo a ela que vou para o meu quarto por não estar
me sentindo muito bem. Mesmo com fome, estou sentindo um forte embrulho
no meu estômago. Caminho até o meu quarto, e assim que entro no cômodo,
as imagens do que presenciei na praça surgem como flashes a minha frente.
Os gritos estrangulados do homem assim que as lâminas presas no chicote
começaram a rasgar sua pele, o sangue escorrendo pelos seus ferimentos, e o
rosto daquele homem que mantinha uma expressão satisfatória pelo
sofrimento do pobre infeliz. Me sento na minha cama, e o som das vozes do
povo pedindo a morte do sujeito começam a ecoar cada vez mais alto dentro
da minha cabeça. Minha decição de ir ver o que não devia me mostrou que
nem sempre devemos ser curiosos. Se tivesse seguido o meu caminho, não
teria presenciado aquela monstruosidade, algo que jamais irei esquecer.
Já tinha ouvido falar que essa é a punição para um traidor. Sei que no
lugar onde vivo, isso se torna um costume entre a população, mas eu, Maysun
Wehbe, darei um jeito de em breve ir embora de Dubai. Meus pais sempre
dizem que vivo no mundo da lua, mas eu nunca senti que faço parte desse
lugar. Jamais aceitarei viver como as mulheres daqui, ser uma esposa
modelo, uma fantoche que vive sendo subjugada pelo marido. Sempre sonhei
viver em um lugar onde nós mulheres temos o direito de fazer as nossas
próprias escolhas, de escolher com quem devemos compartilhar as nossas
vidas.
A minha mãe teve muita sorte em encontrar o meu pai, embora
vivermos com dificuldade. O amor entre os dois é mais forte que qualquer
obstáculo. Ele jamais a agrediu e a trata com o respeito que todas as mulheres
deveriam ser tratadas em Dubai. Fecho as portas dos meus pensamentos e
resolvo tomar um banho. Caminho até o banheiro, e ao olhar para meu
reflexo no espelho, novamente a imagem daquele homem se fez presente em
minha mente. Tinha algo em seu olhar que faz todo o meu corpo estremecer.
Espero nunca mais voltar a vê-lo. Alguém fisicamente tão bonito, mais
por dentro, mostrou ser o próprio demônio.

Depois que deixo aquele lugar, retorno ao palácio. Assim que o veículo
entra em movimento, meus pensamentos se voltam para aquela garota, não só
a sua beleza, mas ao seu olhar. Só de imaginar que em breve ela estará se
contorcendo enquanto o meu pau estiver entrando dentro dela, já me deixa
duro como uma rocha.
Saio dos meus pensamentos ao ouvir a voz de kaisar, avisando que
chegamos ao nosso destino. Saio do veículo em passos rápidos e adentro o
ambiente, preciso tomar um banho para tirar o sangue daquele infeliz que
acabou por pegar em meu braço, assim como acabou sujando as minhas
roupas. Passo um bom tempo debaixo do chuveiro, tentando colocar meus
pensamentos no lugar. Com a doença do meu pai, em breve terei que aceitar
o que por anos venho me negando a concretizar; o meu casamento. Como seu
legítimo e único herdeiro, isso cedo ou tarde terá que acontecer.
De banho já tomado, me arrumo e deixo o quarto, caminhando em
direção ao meu escritório. Ao descer os degraus da escada, vejo Jamil, como
sempre sua rapidez e eficiência em cumprir as minhas ordens me dão a
confirmação que foi uma boa escolha em tê-lo nomeado meu chefe de
segurança. Ao ficar centímetros de distância do homem a minha frente, peço
que me acompanhasse até o escritório. Já dentro do ambiente e acomodados,
sua voz ecoa pelo cômodo.
— Chefe, já consegui todas as informações sobre a mulher que o
senhor ordenou, o que foi bem fácil já que ela é bem conhecida naquela
região.
Sinto minha mandíbula se contrair ao ouvir suas palavras. Se a garota é
tão conhecida pelas pessoas, isso que dizer que el... - antes que conclua meus
pensamentos, ele estende um envelope na minha direção, e em seguida, a voz
do homem se faz presente novamente.
— Nesse relatório tem tudo sobre a vida dela e da família também.
Com o objeto em minhas mãos, começo a analisar minuciosamente
cada palavra contida nele. Assim que termino, alguns trechos me chamam
atenção.

Nome: Maysun Wehbe


Idade: 20 anos
Estado civil: Solteira

Observação: Terminou os estudos a dois anos atrás, mora com os pais


e um irmão de onze anos. Ajuda desde criança a mãe que é lavadeira, família
sem residência própria e o pai a dois anos não tem um emprego fixo.
Meus pensamentos ficam fixos na última informação contida no
documento. Pela condição da sua família, devem ser uns mortos de fome. Ao
saberem quem sou, não terei problemas em tê-la entregue a mim como uma
boa submissa, para satisfazer todos meus desejos impuros e sórdidos. Ela
ficará a minha disposição até o momento em que enjoar do seu belo corpo,
tendo assim o mesmo final que todas as outras tiveram; a morte.
Maysun, logo seu corpo e sua alma irão pertencer ao príncipe deserto.
Depois de analisar minuciosamente as informações do dossiê, e saber o
verdadeiro nome da desconhecida, peço a Jamil que coloque dois dos seus
homens vigiar a casa de Maysun Wehbe. Assim que ele se retira, deixo o meu
escritório indo em direção aos aposentos dos meus pais. Desde a sua doença,
achamos melhor que eles se mudassem para um dos quarto no primeiro andar
do palácio, fizemos toda uma reforma para meu pai ter todo o conforto que
sempre teve depois de ter um AVC. Para um homem que desde a sua
adolescência sempre foi muito ativo, conquistou através do seu trabalho um
grande império, isso acabou por o deixar em um estado depressivo.
Além do acidente vascular cerebral que ele teve, a dois meses atrás, seu
estado de saúde começou a piorar. Foram dias tratando uma pneumonia que o
deixou mais debilitado e, mesmo com todo o tratamento, ele agora passa a
maior parte do tempo respirando com a ajuda de aparelhos respiratórios.
Ouço a voz de minha mãe ser dirigida a mim.
— Seu pai hoje cedo perguntou por você, Kadar.
— Tive que dar pessoalmente o fim que aquele maldito traidor merecia
e para que todos vissem qual o destino para quem se atreve a nos roubar. —
Olho para ele. — A quanto tempo ele está dormindo?
— Há alguns minutos. Ele não irá acordar agora, acabou de tomar
aquele medicamento que sempre o deixa sonolento.
Me aproximo da cama onde meu pai está, o mesmo dorme
profundamente. Com os olhos fixos no homem a minha frente, as imagens da
minha infância passam como flashes na minha frente. Embora vivendo
cercado pelo trabalho, ele sempre deixou um tempo reservado em seu dia
para estar comigo. Seu maior sonho era ter seu primogênito, o sucessor que
pudesse dar-lhe continuidade ao seu legado, mas toda sua dedicação com a
minha mãe e suas outras esposas acabou por o deixar cego ao ponto de não
perceber que seu próprio homem de confiança estava desviando uma grande
fortuna das suas empresas. As mulheres só servem para serem um fruto de
distração para os homens, por isso as vejo como simples objetos que foram
feitas para nos atender e satisfazer. Nenhuma mulher fará com que deixe
meus negócios como segunda opção.
Assim que minha mãe me relata como ele passou o dia, me despeço
dela e vou para os meus aposentos. Ao entrar no cômodo, me deito sobre a
cama e as imagens da garota não saem da minha mente. Já sabendo da real
situação da sua família, será mais fácil do que pensei conseguir o que almejo.
Poderia muito bem a tomar para mim, porém todas as mulheres que estive até
hoje vieram por suas próprias escolhas, algumas convencidas pela família ao
receber minha oferta, outras ao saberem quem eu sou, acabaram por idealizar
que assim seriam a princesa do deserto. Embora o harém do palácio tenha as
mais belas mulheres de Dubai, sempre busco por aquelas que ao realizar
todas as minhas fantasias e sem mais serventia, acabo por tirar suas
miseráveis vida. Vê-las sucumbindo a minha frente enquanto as possuo
sempre me deixou em puro êxtase. Fico perdido em meus pensamentos que
não sei ao certo o momento que acabo adormecendo.

Assim que surge os primeiros raios do sol, deixo o palácio seguindo


para o centro de Dubai, onde tenho algumas empresas de tecido e gêneros
alimentícios. Passo boa parte do dia em uma reunião com alguns
representantes dos nossos produtos. Depois da descoberta da doença do meu
pai, tive que assumir todos os negócios da família, e ao contrário dele, venho
controlando tudo com mãos de ferro. Após descobrir o desfalque causado por
Baruan, pedi um relatório de toda a contabilidade das demais empresas.
Com todos os assuntos pendentes resolvidos, encerro a reunião.
Quando todos deixam a sala, me levanto e sigo em direção a porta. Em
passos largos deixo o ambiente, atravessando o corredor de acesso ao
elevador. Chego na garagem, entro no automóvel e vejo o carro entrar em
movimento. Meus pensamentos traidores se voltam para aquela que desde o
momento em que meus olhos ficaram fixos nos seus, não sai dos meus
pensamentos.
— Maysun Wehbe, hoje mesmo te farei minha em todos os sentidos.

Acordo em um sobressalto ao ouvir os gritos da minha mãe. Ainda


meia sonolenta, me levanto, indo em direção ao som da sua voz. A cada
passo dado, começo a sentir um calafrio percorrer todo o meu corpo, uma
sensação ruim paira sobre mim, ao me aproximar do local de onde sua voz
está vindo. Vejo a porta do quarto do meu irmão aberta, em passos largos
adentro o ambiente, e no momento que meus olhos ficam fixos na imagem a
minha frente, sinto o meu coração bater em um ritmo frenético. Minha
garganta se fecha ao ver o meu irmão totalmente imóvel no chão, enquanto
meus pais tentam desesperadamente reanimá-lo sem obter nenhuma reposta.
Vejo meu pai pegá-lo em seus braços, indo em direção a porta. Atordoada por
não saber o que de fato está acontecendo, começo a ir na mesma direção em
que eles vão. Minha mãe logo abre a porta de entrada, e antes que minhas
pernas se movessem para deixar o cômodo, sua voz ecoa no ambiente.
— May, preciso que você fique aqui e termine de organizar as roupas.
— Mesmo não gostando da ideia de ficar sozinha em casa, sem saber o que
meu irmão têm, me lembro que precisamos entregar as roupas ainda hoje,
pois amanhã vence o aluguel e o dono jamais deixará passar um dia após o
prazo.
Após dizer aos meus pais que cuidaria de tudo, caminho até a porta e
fico os observando até o momento que eles somem do meu campo de visão.
Com os pensamentos voltados no que minha mãe pediu para fazer, fecho a
porta e em seguida começo a organizar todas as roupas. O medo e angustia
estão me consumindo por dentro.
Acabo por perder a noção do tempo transcorrido. Além de cuidar das
roupas, limpo toda a casa e preparo a comida. Deixo a cozinha e adentro a
sala, caminhando até a janela. O vento frio passa em volta do meu corpo,
tenho uma sensação como se algo está me perseguindo, me vigiando. Olho
para a vista além da janela, mas nenhum sinal dos meus pais. Assim que dou
o primeiro passo, ouço uma batida dirigida a porta. Atordoada, caminho em
direção a mesma e ao abri-lá, meus olhos se negam a acreditar na imagem a
minha frente.
Meus olhos permanece fixos no homem parado em frente a minha casa,
meus pulmões estão apertados, tanto que não consigo se quer inalar o ar
corretamente. Meu pulso está batendo tão forte que vejo uma sombra negra a
minha frente, e assim que sua voz se faz presente no ambiente, o medo cru e
agudo arranha o meu peito ao ouvir suas palavras.
— Maysum Hehbe, era você mesma que eu estava procurando.
Com os olhos fixos na imagem a minha frente, várias perguntas se
fazem presentes em minha mente, mas a que mais me deixa inquieta, é: como
esse homem sabe o meu nome e por qual motivo está em minha casa? Por
mais que eu tente, não consigo me mexer e nem desviar os meus olhos da
figura imponente que está com seu olhar cravado em mim e em meu corpo. O
silêncio predomina o ambiente, assim como as imagens dele com o chicote
nas mãos passam como flashes a minha frente. Os gritos daquele homem
sendo torturado ecoa em minha cabeça, e ao lembrar do sorriso de satisfação
que esse desconhecido tinha em seus lábios por estar desferindo dor a
alguém, faz todo o meu corpo estremecer. Sou tirada de meu devaneio ao
ouvir sua voz potente ecoando no cômodo novamente.
— Como não desejo passar o resto do dia parado em frente a sua porta,
é melhor irmos direto ao que interessa. — Ele profere suas palavras já
adentrando o ambiente e se acomodando no móvel. Quem esse idiota pensa
que é? Para tirar minhas dúvidas, resolvo lhe questionar.
— Quem você pensa que é para ir entrando na casa de alguém sem ao
menos ser convidado?
O desconhecido, que antes estava sentado, se levanta, e com o ar de
superioridade visível através da sua expressão, se manifesta.
— Kadar Maktoum.
Ao ouvir as palavras que saem por entre seus lábios, meu coração
começa a bater em um ritmo frenético. Um nó se forma na minha garganta.
Sinto o ar me faltar e um tremor percorre por todo o meu corpo. Mesmo
vivendo afastada do centro de Dubai, sempre ouço rumores sobre o homem a
minha frente. Sei que é o herdeiro de Mohammed bin Rashid Al Maktoum e
todos os chamam de o príncipe do deserto, um homem que controla com
mãos de ferro tudo à sua volta. Diante dos fatos, agora entendo o porquê da
sua expressão prazerosa enquanto torturava o infeliz. Volto a realidade
quando suas palavras se fazem mais uma vez presentes no ambiente.
— Sei que seus pais não estão em casa, o que é lamentável, pois assim
terminaríamos essa conversa o mais rápido ao ouvirem a minha proposta.
Porém, como não gosto de rodeios, irei direto ao ponto. Maysun Wehbe, você
tem o prazer entre tantas outras em ser escolhida para me servir em meu
harém.
Era como se ao ouvir suas palavras, eu tivesse entrado no piloto
automático. O jeito como ele as proferiu se referindo a mim, como se eu
fosse um objeto ou privilegiada por ser escolhida para atender seus caprichos,
é absurdo. Aquilo fica ecoando em minha mente, e quando levanto o olhar e
vejo um sorriso cínico estampado em sua face, mesmo atordoada com os
últimos acontecimentos, tomo uma decição. Não vou deixar que ele venha
até a minha casa como se tivesse o direto em decidir a minha vida.
— Por qual motivo você cogitou que meus pais aceitariam alguma
proposta dessa natureza vinda de você?
Novamente aquela expressão de quem é dono do mundo está
estampada em sua face, assim como o esboço de um sorriso. Antes dos seus
lábios se abrirem totalmente, ele levanta a mão e começa a mover um dos
dedos em forma de círculo à medida que fala.
— Olhe em volta o lugar que vive. Além de ser um lugar nada
agradável, que já demostra qual a real situação de vocês, tenho conhecimento
que não são proprietários desta casa, assim, como além de você e o seus pais,
tambem tem um irmão pequeno que mora nessa residencia. Com a proposta
que tenho a oferecer, todos podem sair ganhando, e você além de me servir,
dará a sua família uma qualidade de vida melhor, e quem sabe, não se tornem
os donos desse lugar. Pórem, tudo irá depender da sua decição.
A minha vida e a da minha familia virou uma rotina árdua no sol
escaldante em função de lavar as roupas das nossas clientes, e assim não
passarmos por dificuldade. Desde os meus oito anos, em que ao ver o quanto
a minha mãe acordava cedo para ir buscar as roupas e ao chegar em casa
passava horas debaixo do sol para lavar as mesmas, que resolvi que iria
ajuda-la. Meu pai, embora não esteja com um trabalho fixo, sempre arruma
algo para fazer e trazer a comida para dentro de casa. Vivemos de forma
simples e humilde, sem regalias e esbanjamento, mas jamais aceitaremos algo
dessa natureza. Não que a minha vontade não seja um dia proporcionar a eles
uma vida melhor, mas eu, Maysun Wehbe, não nasci para ser uma fantoche
nas mãos de ninguém, e tão pouco um objeto nas mãos desse homem a minha
frente. Nunca sou de ter sentimentos ruins por ninguém, mas Kadar Maktoum
despertou em mim algo que não quiz sentir até hoje. Raiva e despresso. Antes
de ter qualquer reação, resolvo dar um bastar na situação um tanto inusitada.
— Quero que saia neste exato momento da minha casa. Você pode ser
um sheik, ou até mesmo o príncipe do deserto, mas lembre-se que embora
sejamos de uma classe inferior a sua, temos algumas leis que já foram
decretadas em Dubai, e nesse vilarejo aqui, a sua autonomia não tem valor
algum. Posso ser pobre, viver como você disse, “dentro de um ambiente não
agradável”, mas em meio a tudo isso, meus pais me deram a chance de
estudar e sei muito bem que embora viva em lugar que nós mulheres ainda
somos vistas por vocês homens como inferiores, você vai precisar do
consentimento dos meus pais para ter seus desejos sórdidos concretizados. E
saiba que isso jamais irá acontecer. — Levanto a mão e faço o mesmo gesto
que ele fez minutos atrás, só que aponto meu dedo em direção a porta. Olho
na sua direção e seus olhos estam vermelhos como brasa, o ódio está visível
através deles. O homem a minha frente dá alguns passos, e ao chegar
próximo a porta, dá um giro de leve nos carcanhares e se vira na minha
direção. Novamente a sua voz se faz presente, e para meu total desespero, a
sua expressão que antes era de alguém que está com raiva por ouvir minhas
palavras, agora dá lugar a um largo sorriso.
— Sempre gostei de desafios. Nunca precisei ter nada a força, e você
irá até mim por livre e espontânea vontade.
Antes que eu me manifeste, ele caminha em direção a rua, sem olhar
para trás. Me aproximo da porta e só então percebo vários carros pretos
parados na frente da minha casa, que em seguida entram em movimento.
Fecho a porta e as últimas palavras proferidas por ele começaram a martelar a
minha cabeça. Esse homem realmente é um demônio do deserto, porém suas
palavras jamais irão se concretizar.
Assim que chego na casa de Maysun, meus homens que estão vigiando
o lugar me informam que os pais dela sairam as pressas com um menino
desacordado. Trato de ligar imediatamente para Jamil, dando ordens para que
ele descubra o que o garoto tem, e após encerrar a ligação, deixo o automóvel
e em passos largos me aproximo da entrada da pequena residência a minha
frente. Analiso minuciosamente a casa e não me agrada em nada vir a um
lugar que pela aparência, já se dá para ver a pobreza com que vivem. Próximo
a porta, dou uma batida na mesma e segundos depois, ela é aberta por aquela
que vem ocupando os meus pensamentos.
A beleza diante dos meus olhos é estonteante, embora esteja vestida
com trapos, os mesmo não foram capazes de ofuscar tamanha beleza. Me
divirto ao ver a reação da mulher a minha frente que esá petrificada. Resolvo
quebrar o silêncio no ambiente, e como odeio fazer rodeios, vou direto ao que
interessa e nem espero um convite, já adentro o cômodo. Para minha total
surpresa, o que Maysun Wehbe tem de bonita, também tem de atrevida. Ouço
cada palavra que sai por entre seus lábios,e a minha vontade é de sair
arrastando-a pelos cabelos e a fazer minha neste exato momento. Porém, ao
olhar para a mulher que tem firmeza e convicção nas palavras que profere,
respiro fundo para controlar a raiva que inflama em minhas veias e resolvo
que mostrarei a ela que sempre tenho aquilo que desejo.
Caminho em direção a porta, mas antes de chegar, viro-me na sua
direção, e minha voz ecoa no ambiente, assim que meus lábios se unem, não
deixo que se manifeste e saio do pequeno cômodo. Mesmo com a raiva
crescente dentro de mim, sou conhecido por sempre agir com cautela, por
nunca ser movido por impulsos. Assim que chego próximo do veículo e me
acomodo, ainda posso vê-la se aproximou da porta e analisando os veículos
parados a sua frente. O automóvel entra em movimento e o meu celular
começa a tocar. De primeira acho que é Jamil com as informações que lhe
solicitei a não muito tempo, mas ao ver o nome da minha mãe na tela do
objeto, sinto todo o meu corpo estremecer.
— Filho, você precisa vir com urgência para casa. O seu pai não está
muito bem.
Posso perceber através da sua voz que desta vez não é somente uma
crise como vem sendo ao longo dos últimos meses.
— Kadar, você está me ouvindo? O médico já está aqui, mas seu pai
não cansa de chamar por você
— Já estou a caminho, mãe. Peça ao médico que faça até o impossível
para acalma-lo.
— Não demore, por favor.
Encerro a ligação e peço ao motorista para ir o mais rápido possível.
Passo todo o percurso com os pensamentos voltados para o meu pai. Não
deixarei que nada de ruim aconteça a ele. Meus pais são as únicas pessoas por
quem tenho algum sentimento bom, minha mãe é a única mulher que
realmente merece algum respeito e admiração. Embora tendo que dividir meu
pai com as outras três esposas, ela sempre soube se mostrar firme nas nossas
tradições, uma esposa e mãe exemplar. Fecho as portas dos meus
pensamentos assim que sou avisado que chegamos ao nosso destino. Saio
rapidamente do veículo, indo em direção a entrada principal do palácio.
Atravesso o corredor de acesso ao aposento dos meus pais sentindo os meus
batimentos acelerarem, minha garganta se fecha no momento que abro a porta
e olho para a imagem a minha frente. Minha mãe tem o rosto banhado em
lágrimas, enquanto o médico examina meu pai, que se encontra com alguns
fios no peito e equipamentos ligados ao seu corpo. Ao notar minha presença,
seus olhos logo se abrem e mesmo contra a vontade de todos, ele levanta a
mão até a máscara de oxigênio e em meio de sussurros, sua voz se faz
presente.
— Filho, você sabe que não tenho muito tempo de vida, mas não posso
morrer em paz sem antes saber que o meu menino, que agora é um homem,
estej... — Assim que ouço alguns bips ecoando pelo quarto, não deixo que
termine de falar.
—Por favor, o senhor precisa colocar a máscara.
— Me deixe terminar, Kadar. Nada me fará mais feliz do que vê-lo
casado antes de partir. Sua prima será uma ótima esposa para você, e assim
tudo ficará entre nossa família.
Me espanto ao ouvir tamanha asneira saindo por entre seus lábios, mas
ao ver minha reação, ele já sabe o que se passa em minha mente. Meu pai
começa a ficar agitado, e diante da situação, eu mesmo fico desnorteado com
as palavras que profero.
— Realizarei o seu desejo em me ver casado, mas jamais aceitarei que
alguém escolha a mulher que levará o meu nome.
Ouve minhas palavras, um sorriso se faz presente em sua face. Levo a
mão de encontro a máscara de oxigênio e a recoloco em seu rosto. Viro-me e
minha mãe está com os olhos fixos na minha direção.
Depois de ver que o estado do meu pai está estável, o que me deixa um
tanto intrigado pela sua subta melhora, ainda estarrecido com o que prometi,
pois sei que a palavra de um Maktaum jamais pode ser voltada atrás, deixo o
cômodo indo em direção ao meu aposento. Ao entrar no quarto novamente,
ouço o toque do meu telefone, e assim que atendo, Jamil logo me passa as
informações que solicitei mais cedo. Encerro a ligação com os pensamentos
voltados para mulher que teve a ousadia em dizer que não seria minha. Um
sorriso se faz presente em meu rosto.
Maysum Wehbe, tenho ótimos planos para você.

Depois que o homem sai da minha casa, resolvo tomar um banho. E


alguns minutos depois já vestida, ouço um barulho vindo da sala. Em passos
largos, deixo o ambiente indo em direção ao cômodo, a cada passo dado, meu
coração começa a bater mais forte e a dúvida paira sobre mim. Será os meus
pais ou aquele arrogante voltou? Chego a sala e minha garganta se fecha ao
ver meu pai sozinho. Fico totalmente perdida por não ver minha mãe e meu
irmão ao seu lado, o medo agudo e cru toma conta de todo o meu corpo,
juntamente com os pensamentos que martelam minha mente. Saio do meu
devaneio quando ouço a sua voz.
— Sua mãe ficou no hospital, e o Burak, ele...
Meu pai não termina de formular sua frase, as lágrimas descem pelo
seu rosto. Atordoada, começo a implorar para que ele me diga o que
aconteceu com o meu irmão.
— Por favor, pai, me diz o que aconteceu com o meu irmão.
— Ele tem um Tumor Estromal Gastrointestinal, filha, e só pode ser
operado no Breast Câncer Soecialist Dubai. O médico nos disse que precisa
ser urgente, porém essa cirugia é bem cara e caso o seu irmão não faça de
imediato o procedimento, não terá muito tempo de vida.
As palavras do meu pai caem como um soco no meu estômago, e já não
consigo conter as lágrimas que descem sem a minha permissão. Meu anjinho
não pode morrer. Não pode.
Depois que Jamil me informa a real situação do pequeno Wehbe,
lembro das palavras proferidas por sua irmã que se mostrou decidida em não
aceitar a minha proposta, um pensamento paira em minha mente. Ao
contrário do que Maysun Wehbe pensa, tudo está ao meu favor, e depois da
tarefa que dei a Jamil, ela não terá outra alternativa a não ser vir por livre e
espontânea vontade a minha procura. Sou informado que ontem no final do
dia ela chegou ao hospital totalmente desnorteada, tanto ela como os pais
estão desolados com a possibilidade de que em poucos dias — se não tiver o
tratamento que é necessário — Burak Wehbe venha a óbito.
Deixo meus pensamentos de lado e resolvo sair do meu aposento,
atravessando o corredor de acesso à escada e ao descer os primeiros degraus,
ouço vozes se aproximando. Meus olhos vão de encontro a dona de uma das
vozes, sinto minha mandíbula se contrair, analisando os movimentos da
minha mãe e de Haifa que está ao seu lado, respiro fundo. Dou mais alguns
passos ficando frente a frente com as duas mulheres, e antes que meu celebro
começe a funcionar perfeitamente, a voz da minha mãe se faz presente.
— O seu pai pediu que Haifa e Kaisar ficasse alguns dias no palácio.
Levanto o olhar e minha prima tem o esboço de um sorriso em sua face.
Diante das últimas informações que minha mãe acaba de relatar, tudo me leva
a crer que a vinda de Haifa ao palácio tem somente uma finalidade, a qual o
meu pai que sempre foi astuto já deve ter cogitado; que tê-la aqui irá facilitar
para que seu desejo seja atendido. Não voltarei atrás no que prometi perante o
seu leito, porém todos terão uma grande surpresa em breve.
— Kadar, você não vai cumprimentar sua prima? — A voz de minha
mãe soa pelo ambiente.
— Bem vinda Haifa, espero que sua estadia durante esses dias que
permanecerá aqui seja bem agradável.
— Com certeza será.
Não sei o motivo, embora Haifa seja encantadora e uma mulher que
sem dúvidas daria uma bela esposa para qualquer homem em nosso meio,
jamais cogitei a possibilidade de uma união entre ambos. Ela é o tipo de
mulher que nos demais homens pode despertar os piores pensamentos
impuros, mas a única coisa que sinto é um certo afeto por ser alguém da
família.
Não demora muito e Kaisar se junta a nós no desjejum. Passamos um
bom tempo entretidos com algumas recordações do passado, e acabo por
perder a noção do tempo transcorrido. Ao me levantar, meu celular começa
tocar.
— Espero que você seja portador de ótimas notícias, Jamil.
— Tudo já foi resolvido, senhor. Daqui algumas horas a família Wehbe
receberá a notícia.
— Me mantenha informado.
— Assim que ele deixar a residência, entrarei novamente em contato
para lhe informar tu que aconteceu.
— No aguardo.
Encerro a ligação, um sorriso se faz presente em minha face. Foi mais
fácil do que pensei, até amanhã, ela não terá outra alternativa a não recorrer a
mim.

Quando papai conta-me o que aconteceu com o meu irmão, meu


coração gela, minha garganta se fecha de imediato com a posibilidade de
perdê-lo. Eu não consigo acreditar que meu menino, que desde o seu
nascimento só trouxe alegria para nossas vidas, possa nos deixar ainda tão
jovem. Me aproximo do meu pai que está perdido em seus pensamentos,
embora seja difícil conter esse sentimento de tristeza que nos apoderou,
temos que nos manter firmes para ajudar o Burak. Peço a ele que tome um
banho enquanto coloco seu almoço na mesa, pois não poderia deixar de se
alimentar, e mesmo contra sua vontade, acabo o convencendo a comer um
pouco. Quando termina pegamos as roupas para fazer a entrega antes de
seguimos para o hospital, pelo que conheço do proprietário, amanhã bem
cedo ele estará em nossa porta para pegar o dinheiro. Com o dinheiro do
aluguel em mãos seguimos para o hospital, e ao entrar no quarto que meu
irmão está, fico próxima da porta observando minha mãe que está com a
cabeça encostada sobre o corpo frágil. Percebendo nossa presença no quarto
ela logo levanta a cabeça e olha em nossa direção, seu rosto em uma
expressão de total angústia. Uma tristeza e dor toma conta de mim, vê-la com
seus olhos inchados de tanto chorar apenas parte mais meu coração. Mamãe é
aquela que em meio as dificuldades é o nosso porto seguro, mas olhando para
a mulher a minha frente, posso ver que a minha dor e a do meu pai são
mínimas perto de tudo que ela está sentindo. Respiro fundo e caminho em sua
direção, ela logo se levanta e sou envolvida em um forte abraço. Minha mãe
começa a chorar descontroladamente, fico perdida, nunca a vi neste estado
em todos os meus anos de vida. Alguns minutos depois ela se acalma, fico
olhando para o meu irmão dormindo como o anjinho que é, minha mãe me
informa que ele está sedado, já que havia acordado muito agitado minutos
atrás.
Mesmo insistindo para ela ir até em casa e afirmando que ficarei com
ele, não tem quem faça dona Alda se afastar do nosso menino, com muita luta
ela diz que amanhã cedo deixará meu pai com Burak e irá pegar algumas
coisas e descançará. Depois que encerra o horário de visita, volto com meu
pai para casa, com tudo que aconteceu achei melhor não comentar sobre a
visita indesejada que tive mais cedo e muito menos sobre o real interesse
daquele homem. Não sei o exato momento em que adormeço após chegarmos
finalmente em casa.
Acordo atordoada com meu pai me chamando e dizendo que irá até o
hospital para assim mamãe poder descansar um pouco em casa. Depois que
ele sai, tomo um banho e trato de fazer um café bem reforçado para ela tomar
assim que chegar, certamente estará com fome. Cerca de uma hora depois
enfim minha rainha está em casa. Alguns minutos depois de sua chegada e
enquanto conversavámos, ouço uma batida na porta, minha mãe logo adentra
a sala saindo da cozinha, sabendo que só pode ser o senhor Ebraim que veio
pegar o dinheiro do aluguel. Caminho na sua frente e abro a porta, olhando
para o homem que está parado com uma expressão diferente no seu rosto,
acho um tanto estranho pois sempre está de cara fechada, como se tivesse de
mal com a vida, mas não com... pesar. Saio dos meus devaneios quando ouço
a voz da minha mãe.
— Maysun, peça ao senhor Ebraim que entre, onde está sua educação?
— Me desculpe senhor Ebraim, pode entrar.
Enquanto o homem adentra o centro do cômodo, dona Fátima caminha
até o pequeno móvel e pega o envelope que contém o dinheiro do aluguel,
mas assim que ela estende o mesmo em direção ao homem a nossa frente, a
voz dele se faz presente em tom de recusa e com pesar.
— Como o contrato anual que tínhamos vence hoje, darei a vocês o
prazo de cinco dias para desocuparem o imóvel, pois o novo proprietário me
pagou muito mais que esse casabre vale.
Minha mãe ao ouvir as palavras de Ebraim fica petrificada. Com a
doença do Burak e com a notícia que Ebraim acaba de nós dar, o que será das
nossas vidas? Mil pensamentos começam a ecoar na minha cabeça, mas suas
últimas palavras fazem todo meu corpo estremecer.
— O senhor Kadar, o novo proprietário, deseja que a sua propriedade
seja desocupada o quanto antes possivél.
Depois que o senhor Ebraim profere suas palavras, as quais só trazem
tristeza para minha família, ele pega o dinheiro do aluguel e caminha na
direção da porta, e antes de deixar o ambiente, volta a mencionar sobre o
tempo que temos para desocupar a residência, pois não dará nenhum dia após
o prazo estipulado. Fecho a porta e a imagem que vejo a minha frente faz
meu coração se apertar. Mamãe, com os olhos cheios de lágrimas, desolada e
sem esperanças. Caminho na sua direção e me sento ao seu lado, segurando
suas mãos e tentando acalmá-la.
— O que será da nossa vida, filha? Como faremos ficando sem casa e
ainda tendo que pagar o tratamento do seu irmão? May, não irei suportar se
algo acontecer ao Burak, seu irmão é apenas uma criança e não merece passar
por tudo isso.
A cada palavra dita por ela, lágrimas descem pelo seu belo rosto, assim
como as lembranças de tudo que vivemos neste lugar, as imagens do meu
irmão dando seus primeiros passos onde estamos começam a passar em
flashes na minha frente. Sinto uma pontada em minha cabeça enquanto vários
pensamentos se fazem presentes, e uma dúvida paira sobre mim. Espero que
Alláh me ajude a encontrar o caminho certo a ser seguido.
Mesmo com toda tristeza e sem saber o que faremos em relação ao
nosso futuro, nos arrumamos e seguimos para o hospital, e durante todo o
percurso, minha mãe se mantem calada. Ver todo sofrimento através dos seus
olhos só alimenta ainda mais um pensamento que cresce a cada instante em
minha mente, criando uma decisão perigosa. Chegamos no hospital e toda
angústia que passamos com a notícia dada pelo seu Ebraim se torna pequena
ao ver o meu pai totalmente desolado no corredor próximo ao quarto em que
o Burak está, minha mãe ao ver seu estado começa a chorar
descontroladamente, um medo agudo atravessa meu peito ao pensar que o
pior tenha acontecido ao meu menino. Meu pai vendo o desespero de minha
mãe nos conta que o estado de Burak piorou e que ele precisa ser operado
imediatamente. Depois de alguns minutos em um completo silencio enquanto
limpavamos as lágrimas, seguimos até o quarto onde ele está, e ao adentrar o
ambiente, sinto meu coração bater mais forte, descompaçadamente. Me
aproximo da cama com os olhos fixos no meu menino, tão pequeno e já tendo
que passar por tamanha provação. Meus pais logo se aproximam do seu leito,
seus rostos banhados em lágrimas, meu mundo desmorona a cada lágrima
que cai. Me afasto um pouco e fico olhando para as três pessoas mais
importantes da minha vida, minha mãe que tem um olhar cansado, uma
expressão que suplica descanso, meu pai que sempre foi um homem forte está
tão frágil com tudo que anda acontecendo. Penso em como ele reagirá quando
souber que dentro de alguns dias nem teremos um lugar para dormir.
Sinto algo dentro de mim explodir como uma granada, meus
batimentos estão em um ritmo frenético, denunciando meu medo. O que era
somente um pensamento martelando em minha cabeça, diante dos últimos
acontecimentos, me dá a constatação que é o certo a ser feito.
E então tomo minha decisão, por mais dificil e humilhante.

Acordo atordoada no momento em que o sol ilumina o quarto, ainda


sonolenta tento me acostumar com a forte claridade do ambiente. Lembranças
recentes invadem minha cabeça, sinto um calafrio por todo o meu corpo ao
lembrar do que tenho que fazer dentro de algumas horas. Estou muito nervosa
mesmo, durante a noite acordei umas quatro vezes tendo uma crise de
ansiedade e medo que não conseguia controlar. Aproveitando que meu pai
saiu cedo para pegar algumas roupas e passar no hospital para ver como
minha mãe e Burak estão, me levanto e sigo para o banheiro, tomando
rapidamente meu banho e me vestindo. Saio de casa ao encontro do meu pior
pesadelo, mesmo indo contra tudo que sempre acreditei, não posso voltar na
minha decisão, pela felicidade e bem estar da minha família, não temerei a
nenhum obstáculo que tenha que enfrentar.
Durante todo o percurso penso em tudo que sempre cogitei para minha
vida, dos sonhos que nunca serão realizados, do meu desejo em não ser
apenas uma mulher entre as milhares que vivem nesse lugar, de mostrar que
não importa o sexo ou a classe social, todos devemos ter direitos iguais
perante a sociedade, mas no momento em que dizer para aquele demônio que
aceito as suas condições, sei que minha vida jamais será a mesma e terei que
aguentar as consequências da minha escolha.
Depois de quase uma hora chego em frente a empresa Maktoum. Ainda
lembro-me do passeio que fui quando ainda estudava, acabamos passando em
frente a este lugar, que parecia enorme e ainda continua. Respiro fundo e
adentro o ambiente, tudo a minha volta é incrivelmente luxuoso, ostentando
muito dinheiro e poder. Me aproximo da recepção e digo meu nome sentindo
um nó se formar na minha garganta, meus batimentos aumentam quando o
recepcionista diz que o seu chefe já está me aguardando. Ele me fala em qual
andar fica a sala da presidência, e mesmo sob alguns olhares masculinos
curiosos na minha direção, sigo até o elevador e aperto no botão correto.
Olho para minhas mãos assim que as portas se fecham e elas já estão
tremendo e suando frio, meus dentes batem um nos outros, tamanho é o meu
nervosismo. Sinto meu coração quase parando dentro do meu peito. O
elevador para depois de alguns minutos angustiantes. Saio do cômodo que
parecia me sufocar a cada instante e caminho em passos lentos até encontrar
outra recepção, falo com uma mulher que tem por volta de uns cinquentas
anos, e sigo até a bendita porta. Meu coração bate ainda mais forte do que
antes, respiro fundo tentando acalmá-lo. Não deixarei que o homem dentro
desta sala perceba o quanto a decisão que estou tomando me afeta, mostrarei
a esse arrogante que por mais que tenha conseguido o que tanto deseja,
podendo possuir meu corpo, jamais terá minha alma e meu coração, e sim
meu desprezo.
Dou mais alguns passos e fico paralisada olhando para a porta grande
de madeira escura, que atrás dela se encontra o homem que mudará a minha
vida. Com as mãos ainda trêmulas bato na porta esperando uma resposta que
não vem. Resolvo abri-la, entrando na sala. O encontro sentado olhando
fixamente para a porta, e agora para mim. Viro-me para fechá-la e em
seguida solto um pequeno suspiro girando sobre os calcanhares, olho para ele
antes de começar a caminhar até a poltrona. Me aproximo de sua mesa quieta
e evitando olhá-lo, e antes que eu tenha qualquer reação, meu coração
dispara, sinto todo o meu corpo estremecer quando sua voz potente ecooa
pelo cômodo.
— Maysum Wehbe, sabia que viria, só não cogitei que seria tão rápido.
Um sorriso cínico se faz presente em sua face.
Ouço as palavras proferidas pelo homem a minha frente, parando no
mesmo lugar, intacta. Vejo-o se levantar, percebendo que me olha, desvio o
olhar por um instante, procurando organizar os pensamentos. Tamanha
proximidade com esse homem me impede de pensar com clareza, a energia
poderosa e sombria que vem dele faz todo meu corpo estremecer e vários
pensamentos se fazem presentes na minha mente.
Como um homem com uma aparência tão bonita pode ter um coração
empedrado? Como alguém que poderia estar ajudando o próximo se
aproveita do sofrimento dos outros para conseguir seus objetivos? Movo a
cabeça de modo que nossos olhares se encontram novamente, notando os
diversos detalhes do seu rosto. Kadar tem cílios longos e espessos em torno
dos olhos amendoados, lindos, porém há uma sombra negra também em torno
deles. Engolindo em seco, assustada com o rumo dos meus próprios
pensamentos, não entendo o porquê ainda dou atenção ao olhar do demônio a
minha frente. Talvez pelo fato de nunca ter cogitado estar prestes a ir contra
tudo aquilo que sempre acreditou e mais ainda por saber que o bem estar
daqueles que são tudo na minha vida dependem das minhas ações. Ficamos
nos encarando sem desviar o olhar um do outro, só se ouvindo o som das
nossas próprias respirações, porém o silêncio é quebrado quando a porta atrás
de mim é aberta e a senhora que encontrei minutos antes na recepção entrega
o envelope que tinha em sua mão para ele e, em seguida, deixa o ambiente na
mesma velocidade que adentrou.
— Sente-se. — Diz apontando para a cadeira em frente a sua mesa,
assim que se acomoda em sua poltrona. Sem delongas resolvo me sentar,
quero acabar logo com tudo isso e sair desse lugar que parece me sufocar
igualmente ao elevador. Ele abre o envelope tirando um montante de papéis,
logo estendo na minha direção, falando:
— Nesse contrato então todas as cláusulas que você terá que seguir,
assim como todos os benefícios que sua família irá receber assim que ele for
assinado.
Olho perplexa hora para os papéis e hora para Kadar que tem um ar de
satisfação visível na sua expressão. Percebendo minha reação, sua voz
novamente se faz presente:
— Já que você mesma disse que nunca aceitaria a minha proposta, essa
será a minha forma de fazê-la nunca cogitar em não cumprir com sua palavra.
Caso isso aconteça não será só a vida do seu irmão que estará por um fio, e
sim dos infelizes que você tem por pais.
Além do tom de voz que ele profere suas últimas palavras, o modo
como se refere aos meus pais faz, não só um nó se formar na minha garganta,
como a raiva incendiar as minhas veias. Nunca senti sensações ruins em toda
a minha vida, mas Kadar Maktoum acaba de despertar em mim um
sentimento que nunca cogitei sentir na vida: ódio. Lanço-lhe um olhar rápido,
e antes dele fazer o que tinha em mente, minha voz ecooa pelo cômodo:
— O fato de você se achar o dono do mundo, de ter bens materiais e ser
um homem influente perante a sociedade, não te faz melhor que ninguém.
Tenho pena de você Kadar Maktoum, pois certamente nunca conheceu o
amor e tão pouco foi amado, nem por aqueles que te deram a vida. Somente
uma pessoa de coração sombrio como você, que se diz ser superior aos
demais, poderia ter pensamentos e atitudes tão baixas e dignas do próprio
demônio que habita em você. Eu e minha família podemos ser muito, mais
muito inferiores em relação a posição social em que ocupa, mas uma coisa
nós temos que nem todo seu dinheiro será capaz de comprar: amor. — Sem
me importar com mais nada, me levanto e caminho na direção da porta.
Depois de dar alguns passos e levar minha mão ao encontro da maçaneta, o
homem atrás de mim volta a se pronunciar, fazendo com que todo meu corpo
fique paralisado:
— Acredito que deveria ter-lhe informado que minutos antes de entrar
em minha sala fui avisado que o estado do seu irmão se agravou, e pela
notícia que os médicos deram aos seus queridos pais, a essa hora devem estar
inconsoláveis. Enquanto você proferia suas palavras, era um segundo que
estava perdendo para salvar a vida do pequeno Burak. — Sem que eu possa
controlar as lágrimas descem pela minha face, as lembranças das palavras
ditas pela minha mãe que não irá suportar perder o nosso menino começa
ecoar pela minha cabeça. Refleto por um instante, não posso deixar que eles
continuem sofrendo. Suspiro quase silenciosamente, levo uma das mãos até
meu rosto e enxugo as lágrimas, engolindo minha raiva. Viro-me e volto para
o lugar que estava antes.
Nos minutos seguintes, a cada frase que eu leio, sinto náuseas, um
embrulho enorme se forma no meu estômago. Para Kadar sou uma moeda de
troca, um objeto a qual ele será o dono e fará tudo que tiver vontade. Minha
vontade é pegar o papel a minha frente e esfregar no rosto dele, mas eu
estarei tirando a única chance que meu irmão tem para continuar vivendo.
Mesmo perplexa e impactada com tudo que li, sem muitas delongas pego a
caneta e assino o documento. Levanto o olhar e a visão a minha frente só
alimenta ainda mais o sentimento que paira em relação a ele: ódio. O sorriso
estampado em seu rosto indica o quanto ele se sente vitorioso, pois mesmo
contra minha vontade, acabo de ter voltado atrás nas minhas palavras.
Com tudo já resolvido e tendo somente uma semana como prazo para
me tornar mais uma das propriedades de Maktoum, me levanto e caminho na
direção da porta. Kadar que antes estava sentado se levanta e caminha na
minha direção, deixando-me atordoada com suas palavras:
— Vamos. Além de providenciar a transferência do seu irmão, temos
que dar a notícia aos seus pais.

Desde o momento que entrei no carro, mal consigo respirar


normalmente. Minhas mãos estão trêmulas devido ao medo e vergonha de
contar aos meus pais que me tornarei um objeto de prazer de Kadar
Maktoum. Com tudo que estão passando com a doença do Burak, sei que essa
notícia trará um desgosto muito grande a eles. Meus pensamentos são
interrompidos assim que o carro para em frente ao hospital, e em passos
vacilantes, começo a caminhar na direção da entrada principal. Os olhares das
pessoas a nossa volta só me deixa ainda mais envergonhada, certamente por
saberem quem é o homem do meu lado e terem cogitando que não passo de
mais uma perdida que caiu nas garras do príncipe do deserto. Paramos em
frente à porta, respiro fundo e antes que eu tenha qualquer outra reação, ele a
abre revelando dois pares de olhos fixos na nossa direção.
O silêncio se faz presente no ambiente, meus pais tem uma expressão
totalmente desconhecida por mim, é como se já soubessem o que aconteceu,
porém seus olhos que até o momento estavam fixos em nós, foram
direcionados para a equipe médica que adentra o cômodo indo em direção ao
leito do meu irmão. Em meio a mudança que terá a minha vida, fico feliz ao
ver o brilho da felicidade nos olhos dos meus pais quando o médico informa
que estão transferido Burak e hoje mesmo farão a cirurgia.
Depois que os enfermeiros saem com meu irmão, os meus pais voltam
com as mesmas expressões de antes. Respiro fundo me preparando para dar a
triste notícia, e no momento em que meus lábios se mexem, as palavras ditas
por Kadar não só faz os meus pais ficarem atordoados, como deixa-me sem
qualquer reação.
— Dentro de uma semana acontecerá o meu casamento com a sua filha,
Maysun Hehbe.
Casamento. Essa palavra está martelando a minha cabeça desde o
momento em que Maktoum surpreendeu não só os meus pais como a mim
com a notícia. Minha intenção era contar toda a verdade para meus pais,
explicar que tudo que fiz e irei fazer será para o bem da nossa família, mas
Kadar se antecipou comunicando a existencia de um casamento que a própria
noiva desconhecia. Não sei qual a verdadeira intenção dele em querer a nossa
união, pois as cláusulas do contrato deixaram bem claras do que eu serei para
ele, onde minha única utilidade será dar-lhe prazer, além de me humilhar com
tudo que está escrito naquele documento, o valor estipulado se caso eu mude
de ideia após ele ajudar meu irmão é exorbitante, nem lavando todas as
roupas da população de Dubai conseguirei quitar a dívida. O que me
conforma é Kadar que passará a casa para o nome da minha mãe, dando a
eles todo mês uma boa quantia para se manterem, e meu pai terá um emprego
em uma das suas fábricas.
Eles demoram um pouco para saírem do estado catatônico em que se
encontravam, questionando sem delongas sobre a notícia repentina do meu
casamento, mas com já percebi, Kadar está um passo a frente e deu uma
explicação convincente. Não sei como ele consegue, mas se eu não soubesse
os meios que está utilizando para me ter ao seu lado, teria a mesma atitude
dos meus pais após ouvir a história que ele contou, que acabaram acreditando
em cada palavra dita por ele. Desde o momento que nos conhecemos na praça
até aqui, porém mudando o rumo dos acontecimentos, dando a entender que
tanto eu como ele almejamos essa união. Quis gritar e dizer na frente dos
meus pais tudo o que realmente está acontecendo, mas ao ouvir as palavras
de minha mãe, que mesmo com tudo que está acontecendoa jamais aceitaria
qualquer ajuda dele em relação ao Burak, e muito menos esse casamento se
soubesse que sua filha está — de alguma forma — sendo coagida a aceitar a
união, trato logo de deixar claro que quero me unir em matrimônio com
Kadar, que acabei me apaixonando e estou muito feliz com essa decisão.
O medo em pensar que eles possam rejeitar a ajuda em relação ao meu
irmão, abrindo mão da última esperança que temos para a sobrevivência do
meu pequeno, me faz ter a confirmação de que devo guardar para mim
mesma os últimos acontecimentos que dará uma nova chance de vida ao
Burak. Essa será a minha gaiola, uma prisão que só a morte poderá me
libertar. Depois de tudo esclarecido, Kadar nos dá licença, sumindo do nosso
campo de visão até deixar o ambiente completamente, o que agradeço
mentalmente. Não sei como terei forças para suportar esse homem pelo resto
dos dias que ainda tenho de vida. Que Allah me ajude. Os minutos seguintes
são de pura agonia por não saber como está indo a cirurgia do meu menino.
Depois de horas que se pareceram mais uma eternidade, o cirurgião
responsável surge na nossa frente, e as palavras ditas por ele faz meu coração
transbordar de alegria. Como a cirurgia foi um sucesso, ele nos dá permissão
para olharmos Burak, caminhamos ao lado da enfermeira que nos guia até o
quarto em que ele está para se recuperar. Ao adentrar o ambiente e ver todo
luxo e conforto do cômodo, levanto o olhar na direção dos meus pais que
estam com os olhos brilhando de felicidade ao lado do meu irmão. A única
certeza que tenho é que, por mais que minha vida seja um inferno ao lado
daquele homem, a cena que vejo a minha frente vale qualquer sofrimento que
terei que passar. Minha família é o meu bem mais precioso e por eles eu terei
forças para não sucumbir diante do demônio que será o meu marido.

Além dos homens que estam vigiando a casa dos Wehbe, o próprio
Jamil ficou fazendo o monitoramento no hospital. Depois das palavras que
ouvi quando estive na residência de Maysun, que nunca aceitaria minha
proposta, coloquei em ação o que já tinha cogitado desde o momento que li
no dossiê a situação deles em relação a casa onde vivem. Depois de efetuar a
compra da residência, avisei ao antigo proprietário que precisava com
urgência que o imóvel fosse desocupado.
Quando fui informado que o estado de saúde do pequeno Wehbe tinha
piorado, sabia que sua irmã não teria outra alternativa a não ser me procurar,
e tudo aconteceu mais rápido do que eu esperava. Através dos homens que
estavam e estão vigiando cada passo dela, soube antes mesmo dela chegar até
a empresa que enfim aquela atrevida iria engolir cada palavra que me foi dito
e aceitar tudo que eu tinha a propor. Para melhorar ainda mais o meu dia,
soube que novamente seu irmão passou mal, onde a única alternativa era
fazer imediatamente a cirurgia.
Mesmo relutando, Maysun acabou assinando o contrato que a tornará,
não só minha esposa, como minha propriedade. Deixamos a empresa
seguindo para o hospital onde sua família se encontra. Durante todo o
percurso percebo o quanto ela está nervosa, perdida em seus pensamentos,
certamente imaginando como contará aos pais que em uma semana será
minha concubina, para satisfazer as minhas necessidades sexuais e sempre a
disposição de me servir em exclusividade.
Assim que chego nesta imundice que chamam de hospital, respiro
fundo e adentro o ambiente, pior do que estar neste lugar é ter que olhar para
essas pessoas que estão nos corredores. Umas feridas, outras com uma
expressão de dor em sua face, o cheiro impregnado no ambiente causa um
forte embrulho no meu estômago. A cada passo que dou, a imagem que vejo
a minha frente só aumenta o incômodo dentro da minha barriga. Ao entrar no
quarto que os pais de Maysun estão, trato de dar a notícia do nosso
casamento. A princípio, meu desejo era fazer dela meu novo brinquedinho,
mas ao ouvir as palavras da atrevida que nunca seria minha, acabou
despertando um desejo incontrolável de mostrar a ela que sempre consigo
tudo que quero, porém o motivo maior que me fez mudar meus planos em
relação ao destino que cogitei, foi ver no fundo dos olhos da minha mãe que
o mal estar do meu pai não passou de uma simulação para me coagir a dar a
eles a resposta que a anos esperam ouvir. Se cogitaram que poderiam me
manipular como um fantoche, acabaram dando um tiro nos próprios pés, pois,
achegada de Haifa só me deu certeza do que eles tinham em mente.
Mesmo sabendo que no momento em que me tornasse o Sheik de
Maktoum teria que me casar, o casamento nunca foi um assunto que ocupou
meus pensamentos e muito menos me casar com alguém escolhida por meus
pais ou de uma classe tão inferior a minha. Diante dos últimos
acontecimentos, e com a maldita que não sai dos meus pensamentos, resolvi
unir o útil ao agradável, além de tonar a bela Maysun Wehbe a submissa e
esposa perfeita, para realizar os meus pensamentos mais impuros, farei os
meus pais terem a confirmação que ninguém manipula Kadar Maktoum.
Assim que deixo ela e sua família a sós, resolvo tudo sobre o
pagamento da cirurgia e da hospedagem, deixando o ambiente em seguida.
Adentro meu veículo, começando a organizar meus pensamentos e só então
lembro que em meio a toda correria, acabei esquecendo de avisá-la sobre o
compromisso que teremos amanhã. Deixo os pensamentos de lado e durante
o trajeto até o palácio, faço algumas ligações, quando o carro chega, em
passos largos sigo até a entrada principal. Fico totalmente surpreso ao ver
todos reunidos, e mais ainda ao olhar meu pai em sua cadeira de rodas com
um largo sorriso em sua face. Já se fazia mais de seis meses que ele não
deixava seus aposentos. Minha mãe diz que estavam me aguardando para o
almoço, aproveitando o momento em que todos estão presentes, anuncio:
— Amanhã mande preparar um jantar em especial. Terei um
comunicado a fazer.
Assim que minhas palavras são proferidas, um sorriso de satisfação
surge, não só na face dos meus pais, como na da mulher a minha frente.
Depois da euforia que ficamos por saber que meu menino ficará bem,
me dou conta de que já é mais de meio dia e meus pais ainda não comeram
nada. Me ofereço para ficar com Burak para que eles possam ir até nossa casa
descansar e comer alguma coisa, porém a porta é aberta e uma das
enfermeiras que veio mudar o soro do meu irmão avisa que além da conta do
hospital já estar paga, tanto eu como os meus pais temos livre acesso a
lanchonete do hospital. Sinto minha garganta fechar e um calafrio percorrer
todo o meu corpo. Não sei se fico feliz por saber que a partir de hoje eles
terão uma vida com mais conforto, ou triste por ver que Kadar está fazendo
sua parte em relação ao contrato.
Resolvo ainda não contar nada sobre a casa, deixarei que eles
aproveitem o momento em que meu irmão nasceu de novo. Meus pais mesmo
vivendo de uma forma precária sempre foram pessoas dignas, sempre
orgulhosos e jamais me deixariam aceitar a proposta de Maktoum, mesmo
sabendo que perderiamos a vida do Burak e o lugar que sempre tivemos por
lar. Por isso, deixei transparecer o quanto estou feliz com essa união. O fato
de Kadar dar a notícia do casamento acabou não levantando suspeitas do que
está acontecendo, eles acreditam que para um homem na posição dele — que
poderia escolher qualquer mulher entre seu meio social — me escolher é
porque realmente sente algo forte. Se eles soubessem que a única coisa que
aquele demônio tem em mente é me tornar seu objeto de prazer em vez de
sua esposa, que ele só deseja mostrar que sempre tem aquilo que quer mesmo
utilizando dos piores métodos para isso, ficariam horrorizados.
Eles só aceitam ir a lanchonete depois que eu insisto muito, dizendo
que meu futuro marido só quer ajudar a família da mulher que será sua
esposa. Antes de irem, meus pais seguram a minha mão e perguntam se
realmente estou feliz, no mesmo instante respondo que sim, que mesmo não
cogitando que tão cedo me casaria, Kadar Maktoum no momento em que
apareceu na minha vida a mudou para sempre, o que não é uma mentira, já
que aquele arrogante me fez engolir meu orgulho e ir até ele. Parecendo
contentes com as minhas palavras, eles saem do quarto e vão finalmente
almoçar, enquanto permaneço no quarto ao lado do leito do meu irmão, que
se encontra ainda sedado. Meus olhos percorrem todo o ambiente que é
totalmente diferente do quarto em que estava antes, além do luxo em volta do
cômodo, também tem um sofá cama para o acompanhante se acomodar
melhor. Um sorriso se faz presente em minha rosto por saber que minha mãe
não passará mais a noite toda sentada em uma cadeira e nem sentirá dor. Viro
a cabeça na direção da cama e dois pares de olhos azuis se fixam em mim,
trazendo uma sensação maravilhosa para o meu coração. Nada poderia me
deixar mais feliz do que esse momento. Não sei o que acontecerá nos
próximos dias ou como será a minha vida a partir de hoje, mas estou com o
coração em paz por saber que as pessoas que amo estão felizes e bem.

Depois que recebo um recado enviado por Maktoum junto a um vestido


que devo usar hoje a noite, não consigo mais me concentrar em nada, e por
sorte foi exatamente no momento que minha mãe chega do hospital. Mesmo
ela pedindo para eu me acalmar, estou em um estado de puro pânico, pela
dúvida se os pais dele estão cientes da forma como o filho deles me coagiu a
aceitar essa união e ao mesmo tempo se eles não estão envolvidos. Talvez
haja esperança para que não aconteça esse casamento, ao verem quem é a
futura esposa do filho não aceitarão essa situação, fazendo assim com que ele
mude de ideia e eu tendo a minha liberdade de volta.
Passo o resto do dia perdida em pensamentos até que chega a hora em
que começo a me arrumar. De banho já tomado, pego a roupa mais velha que
eu tenho e a visto. Se o senhor dono do mundo pode utilizar dos meios que
tem para conseguir o que deseja, também farei do meu jeito. Me olho no
espelho e um sorriso de satisfação se faz presente na minha face, embora
tenha um rosto bonito como já diz o meu nome, com os trapos que estou
vestido tudo que não vão notar é a minha beleza. Realmente pareço uma
mendiga. Respiro fundo e dou alguns passos em direção a porta, e assim que
ia deixar o ambiente, minha mãe surge de algum lugar parando na minha
frente. Sua expressão ao me ver é assustadora. Alguns segundos
em silêncio me olhando ela resolve falar:
— Aonde você pensa que vai desse jeito?
Fico tão nervosa que não consigo responder, pois seus olhos
insondáveis encaram os meus, e é como se estivesse examinando a minha
alma.
— Se você está tão feliz com esse casamento como nos disse, não me
deixe cogitar que em suas palavras não havia verdade.
Ela estende o vestido que até agora não havia percebido estar em suas
mãos e pede para que eu vá até o banheiro me trocar, que em seguida ela irá
arrumar o meu cabelo e fazer uma maquiagem descente e apresentavel.
Mesmo contra a minha vontade, acabo fazendo o que ela manda. Não posso
deixar que descubra toda a verdade. Entro no pequeno cômodo e olho para o
vestido, ficando encantada com a riqueza de detalhes e mais ainda pela cor.
Depois de vestida deixo o banheiro indo até ela, que já começa a arrumar os
meus cabelos rapidamente. Lágrimas surgem no canto de seus olhos quando
finalmente estou pronta.
— Você está linda. Uma verdadeira princesa.
Desvio meu olhar para o espelho, e eu mesma não acredito no que vejo.
Modestia parte, estou muito bonita. Fico me olhando na frente ao espelho até
ouvimos o som de alguém batendo na porta, abro a porta pensando ser o
demonio que será meu marido, mas no lugar está uma senhora por volta dos
50 anos. De algum modo fico decepcionada, mas feliz ao mesmo tempo. Ao
menos não tenho que olhar para ele tão cedo da noite. Olho para a rua e um
carro parado bem em frente a minha porta está me esperando. A mulher logo
se apresenta, dizendo seu nome, avisando que ela irá me acompanhar até o
palácio da família Maktoum.
Me despeço da minha mãe e adentro o veículo, e assim que o mesmo
entra em movimento, meus pensamentos se voltam para o que irei encontrar
quando chegar no lugar cheio de pessoas totalmente desconhecidas por mim.
Depois de vários minutos de puro nervosismo a mulher ao meu lado avisa
que chegamos. Sinto todo meu corpo estremecer, e em passos vacilantes,
começo a caminhar ao lado de Tita. Todo o luxo a minha volta só está me
deixando cada vez mais nervosa. Sei que muitos ficariam fascinados por estar
nesse lugar, no entanto, em mim só causa indignação, pois enquanto tem
tanta gente sofrendo e passando por dificuldades, eles fazem questão de
ostentar suas riquezas. Chego próximo a entrada principal no mesmo
momento que a porta é aberta. Fico petrificada, meu coração gela ao me
deparar com vários pares de olhos fixos na minha direção.
Depois do comunicado que fiz no dia anterior, além do brilho que vi
nos olhos de Haifa, tanto Kaisar como os meus pais parecem estarem muito
satisfeitos. Minha mãe logo tratou de dizer que cuidaria pessoalmente de cada
detalhe do jantar, além dos meus pais, somente Haifa, kaisar e sua mãe
estarão presentes, já que neste primeiro momento Maysun será apresentada a
minha família e no dia seguinte terá sua apresentação diante aos membros do
conselho do clã. Embora ela seja de uma família de classe inferior, isso não
será impedimento perante os membros mais antigos, já que ela vive conforme
nossas leis e tradições. Pela lei, o noivado deve ocorrer durante um prazo de
três meses, porém, como Sheik de Maktoum, o conselho do clã que tanto
almeja meu casamento dará um jeito de tudo ser agilizando.
Estou ansioso para ver a reação dos meus pais ao saberem que meu
casamento acontecerá dentro de uma semana, porém sei que no momento em
que souberem que nunca e em hipótese alguma Haifa será minha escolhida,
toda alegria que está visível através dos seus olhos irá desaparecer na mesma
velocidade que surgiu, assim que Maysun adentrar nossa sala. O grande medo
de meu pai é que eu venha perder o título de Sheik, pois além das cobrança
dos meus próprios pais, o conselho do clã religioso o qual é o maior e mais
respeitado de Dubai, fundado pelo todo poderoso Monhamemed Bin Rashid
Al Maktoum, está na expectativa do meu casamento já que um Sheik herdeiro
do maior líder religioso e político do país deveria já estar unido em
matrimônio.
Por anos tentei me desviar do assunto, mesmo sabendo que no
momento em que me tornasse Sheik, esse seria o meu próximo passo. Após o
surgimento da doença, ocorreu o afastamento do meu pai em relação as
nossas empresas, porém, por mais que eu fosse contra, ele jamais aceitou se
manter afastado dos assuntos políticos. Depois dos últimos acontecimentos,
tive a certeza que seu quadro clínico não é tão grave como sempre acreditei,
pois desde o momento que vi sua repentina recuperação, um pensamento se
fez presente em minha mente. Para um homem que sempre foi respeitado no
mundo empresarial, um dos maiores governantes que Dubai já teve, o fato de
ser roubado debaixo do seu próprio nariz não seria bem visto perante todos, e
no momento que percebi que algumas contas não estavam de acordo com o
esperado, o chamei e falei sobre minhas suspeitas de que alguns desvios
estavam sendo feitos. Um dia depois ele passou mal e vieram vários
problemas que o deixou bem debilitado, no enquanto, sempre tinha um dos
seus assessores que vinham até o palácio repassar tudo que estava
acontecendo e até algumas reuniões — mesmo respirando com dificuldade —
foram feitas através de vídeo conferência. Meus pensamentos são
interrompidos assim que minha mãe adentra meus aposentos, e tenho a visão
de um longo sorriso.
— Filho, tudo já esta pronto, daqui alguns minutos Kaisar deve estar
chegando com sua tia. Agora preciso me arrumar.
Desde cedo ela não para quieta, parece estar organizando um jantar de
casamento para vários convidados. Assim que surgiram os primeiros raios do
sol, tratrei de enviar o recado a Maysun sobre o jantar e junto um vestido,
embora seria engraçado ver a cara dos meus pais ao vê-la com seus trapos, e
mesmo sendo dona de uma beleza incomparável, não acredito que mudará
muito sua aparência só pelo uso do traje que enviei. Aproveitei que fiquei o
dia todo no palácio e resolvi alguns assuntos por e-mail, estava tão entretido
que perdi a noção do tempo transcorrido. Em passos longos caminho em
direção ao banheiro, minutos depois de banho já tomado e vestido, deixo o
ambiente indo em direção a sala, e ao chegar no cômodo, todos já estam
presentes. Passa-se alguns minutos e minha mãe se levanta nos convidando
para segui-la até o hall onde será serviço o jantar. Antes que a responda,
recebo a mensagem de Jamil aviasando que ela já está no palácio, e minha
voz se faz presente no cômodo.
— Peço que esperem um pouco, pois a nossa convidada da noite, a
futura senhora Maktoum, acaba de chegar.
Assim que meus lábios se unem novamente, a porta é aberta, não só
deixando a minha família com os olhos fixos com a bela imagem a nossa
frente, como me deixando fascinado. Saio do meu estado de devaneio e
observo atentamente as feições de todos a minha volta, minha mãe e Haifa
estam petrificadas, meu pai está horrorizado ao ouvir minhas palavras,
enquanto eu me delicio com as expressões de cada um deles. O único que
mantém uma expressão indecifrável por mim é kaisar, no entanto, direciono
minha atenção para a mulher a minha frente, caminhando na sua direção.

Meu coração começa a bater em um ritmo fora do normal, sinto um


calafrio percorrer todo o meu corpo com tantos olhares voltados na minha
direção. Minhas mãos estão soando frio, certamente por estar nervosa pela
situação. Kadar se aproxima e ao ficar ao meu lado, sua voz grave ecoa no
ambiente.
— Gostaria de apresentar a todos Maysun Wehbe, minha noiva e futura
esposa.
Fico com os olhos fixos no casal a minha frente, que pelo ar de
soberba, deduzo serem os pais. Pela expressão presente em suas faces, tudo
me leva a acreditar que foram pegos de surpresa, pois seus olhos estam tão
arregalados que é algo assustador. Levanto a cabeça e as duas mulheres a
minha frente me avaliam de cima a baixo até parar em meu rosto. Estou um
tanto constrangida com essa situação. Também há um homem que aparenta
ter a mesma idade de Kadar que me olha com tanta intensidade que faz todo o
meu corpo estremecer.
— Que brincadeira é essa Kadar. Dá onde saiu essa mulher?
Os olhos perspicazes dele se estreitam, então ele diz:
— Maysun Wehbe é a mulher que dentro de uma semana será a minha
esposa, o motivo pelo qual pedi que todos estivessem presentes é justamente
para fazer a apresentação da minha escolhida.
Silêncio se faz presente no ambiente depois das suas palavras. Está
visível através da expressão de todos que jamais aceitarão essa união, o que
me deixa em parte feliz, mas ao mesmo tempo algo dentro de mim está
queimando por dentro por saber que a reação deles só é essa por saberem que
não pertenço ao mundo particular que eles criaram, onde os bens materiais, a
posição social sempre fala mais alto. Volto a realidade no momento em que
ouço uma voz potente ecoar no ambiente.
— Você não levará essa ideia adiante, e a propósito, onde está a família
da sua escolhida? Quais os segredos que você está escondendo em relação a
essa moça que nunca tivemos conhecimento da existência?
No impulso, dou um passo para trás, não irei ficar em um lugar onde
minha presença não é bem vinda. Kadar me encara e diz para eu não dar mais
nem um passo, em seguida se vira na direção do seu pai e começa a falar.
— Tanto o senhor quanto os membros do clã querem uma posição
minha em relação ao meu estado civil, no entanto, segundo as nossas leis,
desde que a noiva apresentada viva dentro dos nossos costumes e seja
comprovada sua pureza nada irá impedir essa união. Acredito que a maior
curiosidade de todos aqui presentes é saber a qual família ela pertence, pois
bem, a família Wehbe não é do nosso meio social, no entanto, o motivo pelo
qual a sua serva Tita veio a acompanhando foi justamente por Maysun ter
somente os pais e o irmão, que se encontra internado, levando os seus pais
não comparecer a este jantar, mas em breve todos terão a oportunidade de
conhecer os demais membros da sua família. Assim como amanhã mesmo os
membros do conselho irão conhecer a futura senhora Maktoum e tenho plena
certeza que se fosse por eles, meu casamento aconteceria amanhã mesmo.
Todos não desviam os olhares dele enquanto ele fala. Mesmo odiando
Kadar Maktoum, tenho que admitir que o jeito como ele utiliza as palavras e
se impõe aos demais faz qualquer um ficar sem reação diante de suas
explicações.
Depois que ele termina de falar, me apresenta aos pais, primos e sua tia,
embora a Senhora Jasmim Maktoum tenha o esboço de um sorriso em sua
face, sei que tudo aquilo é fingimento, porém resolvo permanecer alheia a
tudo a minha volta. Depois de alguns minutos todos levantam seguindo em
direção ao lugar onde o jantar seria servido. Ao entrar no ambiente que
ostenta luxo em excesso, permaneço no mesmo lugar assim que meus olhos
vão de encontro a mesa posta, completamente cercadas por talheres e taças a
minha frente.
Com os olhos fixos na mesa e ainda parada no mesmo lugar, Kadar fala
em meu ouvido:
— Vamos, você sentará ao meu lado.
Em passos vacilantes caminho até o lugar indicado por ele, me
acomodo ficando de cabeça baixa olhando para os objetos a minha frente. A
senhora Maktoum pede que a comida seja servida, a sensação que tenho é de
que todos estam me observando, levanto a cabeça tento a confirmação das
minhas suspeitas. A mulher, por nome Haifa, que é prima de Kadar se
pronuncia:
— Deve ser difícil para alguém de uma classe inferior como você, que
nunca viu uma mesa como está, saber quais os utensílios deve usar. Primo,
antes do seu casamento, você deveria contratar alguma professora para
Maysun ter aulas de etiqueta já que será uma Maktoum. — Minha garganta
se fecha no mesmo instante. Há sarcasmo em cada palavra proferida por
Haifa, e antes que eu possa dar a resposta que merece, Kadar se pronuncia:
— Talvez esse seja o motivo pelo qual ainda continua solteira, prima,
por não saber manter sua boca fechada. Em relação ao que Maysun terá que
aprender, isso só diz respeito a mim que serei o seu marido e a ensinarei.
O clima fica bem pesado, e pela expressão no rosto dos pais dele, não
gostaram em nada do jeito que ele se referiu a Haifa. Algumas mulheres logo
entram no cômodo com as comidas, pego os talheres e começo a comer. A
raiva está visível no olhar de Haifa, porém o esboço de um sorriso surge na
face de Kadar. O motivo pelo qual fiquei olhando para os talheres e taças foi
para me lembrar das aulas que minha mãe desde a minha adolescência me fez
ter. Nunca entendi como ela — sendo tão humilde — sabe tudo sobre
etiqueta e mesmo contra minha vontade, tive que aprender, pois ela sempre
dizia e diz que algum dia tudo que estava me ensinando seria útil na minha
vida. Enquanto comemos, o clima pesado continua ali, mas tudo ocorre na
medida do possível, mesmo com a sensação ruim presente. Terminamos e
seguimos para a sala.
Nos acomodamos e Kadar começa a fazer um breve discurso, falando
palavras bonitas para mim, me entregando no final uma caixa muito bonita
contendo um lindo anel de diamantes. Pego o anel e coloco eu mesma no meu
dedo, já que não é permitido que ele ponha na minha mão nem um objeto até
que o contrato de casamento seja assinado, me tornando assim sua esposa.
Em meio as conversas, Haifa, sua mãe e a senhora Maktoum começam a falar
de vários assuntos relacionados a nossa religião e também sobre alguns
lugares, agradeço mentalmente por cada aula que minha mãe me deu quando
mais nova. Sempre que eu chegava da escola ela deixava um horário
reservado do seu tempo para me ensinar mais sobre nossa cultura e aulas de
etiqueta. As mulheres a minha frente começam a fazer várias
perguntas, cogitando que eu ficaria constrangida por ser de família humilde e
não ter conhecimento de certos assuntos, mas surpreendo-as com tudo que
mamãe ensinou-me.
Depois de horas que para mim parecem uma eternidade, me despeço de
todos e em seguida Kadar me comunica que amanhã será necessário meu pai
estar presente, pois será minha apresentação aos membros do clã Monthand,
o qual tem os maiores líderes religiosos dos Emirados Árabes. Assim que
adentro o veículo, agradeço Tita pela companhia e de alguma forma, sei que
será muito bom tê-la do meu lado, não como uma serva como Maktoum se
referiu, mas dentro da cova dos leões que irei viver, será muito bom ter
alguém para me fazer companhia.

No momento que ela adentra o ambiente é como se em meio a uma


escuridão, ela fosse a luz, surgindo para iluminar tudo ao seu redor. Maysun
realmente me surpreende em todos os sentidos, porém fico intrigado com
tudo que ela demostra saber. Assim que nos acomodamos na mesa, é nítido o
seu nervosismo, chego a pensar que o motivo seja por não saber como utilizar
corretamente os utensílios sob a mesa, mas ela surpreende, não só a mim,
como todos os presentes e para completar, deixa as mulheres sem reação.
Pelo visto queriam a constranger falando de certos assuntos que dificilmente
uma pessoa de uma classe social como a dela saberia, mas ela responde de
imediato tudo que lhe foi perguntado. Mesmo passando por cima de algumas
regras das nossa tradição, que seria esperar o tempo certo para o casamento,
para todos, fora a minha família e o conselho, será como se Maysun a meses
já fosse a minha escolhida.
Vejo-a deixar o palácio junto a sua serva, me viro tendo a noção de que
cinco pares de olhos estão fixos na minha direção. Como eu já esperava, meu
pai mostra-se indignado com toda situação, não pelo fato dela serpobre, pois
com todo o dinheiro que temos isso de nada importa, já que May demostrou
ter todos os conhecimentos que a esposa de um Sheik deve saber, a questão é
que uma união com Haifa manteria toda nossa fortuna entre nossa própria
família e o sangue dos filhos que eu viesse a ter com ela teria o sangue puro
dos Maktoum. Ouço cada palavra proferida por ele, ameaçando-o em seguida
deixar não somente a presidência das empresas, como abrir mão do meu
título de sheik, fazendo o todo poderoso não proferir mais nenhuma palavra
sobre o assunto, e ao contrário dele, minha mãe que está ao lado de Haifa, a
qual ela nunca escondeu que tem a mesma como uma filha, mostra-se
totalmente contra essa união, começando a fazer um longo discurso de como
seria visto perante aos grandes líderes minha união com alguém como
Maysum. Antes que ela continue, trato de dar um fim no que nem devia ter
começado, embora eles cogitem que não tenho conhecimentos de certas
coisas relacionadas ao seu passando, sempre fui curioso e acabei descobrindo
que a mãe dela também era de família humilde como os Wehbe, que indo
contra a família, seu pai levou adiante a união. Minha mãe se cala de
imediato não gostando das minhas palavras.
Deixo o comodo e sigo para os meus aposentos, não conseguindo evitar
meus pensamentos irem para uma única pessoa. Depois de amanhã, Maysun
Wehbe estará a um passo de se tornar minha para sempre. Mesmo me
surpreendendo com seus conhecimentos sobre nossa cultura, já percebi que
ela é bem diferente de todas as mulheres de Dubai, e isso será algo que
cuidarei logo após o nosso casamento. Além de ser atrevida, ela tem ideias e
pensamentos que não condiz com a esposa de qualquer homem árabe, no
entanto, será um prazer mostrar a minha doce esposa o porquê das mulheres
terem sido feitas e que a única vontade que deve prevalecer é a minha. Logo
ela será a esposa e minha submissa perfeita.
Quatro dias se passaram desde o anúncio do meu casamento a família
Maktoum. Sim, exatos quatro dias! Hoje começa o primeiro dos três dias que
unirá a minha vida para sempre com a de Kadar. Durante esses quatro dias
que se passaram, além da minha apresentação ao conselho do clã que ao
saberem da notícia que Maktoum escolheu finalmente uma candidata a
esposa, não fizeram objeção ao prazo para realização do casamento, o que me
deu a entender que diante da fama do prepotente, arrogante e demônio que
todos chamam de príncipe do deserto, os conselheiros estavam incrédulos e
com medo dele mudar de ideia se caso eles não aceitassem a data tão
próxima, quando, na verdade, teríamos que esperar três meses para realizar a
união.
Burak teve alta ontem e já se encontra em casa. A princípio mamãe
estava muito nervosa assim que o médico informou que ele já podia voltar
para casa, meu pai não entendendo sua reação a questionou, e ela contou
sobre a venda da casa e que o proprietário nos tinha dado um curto prazo para
desocuparmos a residência. Meu coração não aguentou ao ver tristeza nos
olhos das pessoas mais importantes da minha vida, mas sabendo o quanto
eles são orgulhosos, tive que agir com cautela e saber utilizar as palavras
certas para informar que não precisavam se preocupar, pois agora tinham um
lugar que eles podiam chamar de seu. Usei a desculpa que disse ao Kadar que
não queria nenhuma jóia de presente de casamento e sim a casa, que ele
acabou a comprando do novo proprietário, e mesmo relutando para não
aceitarem, fiz eles entenderem que eu só poderei ser feliz sabendo que eles
estão bem, que a felicidade deles é a minha. Minha mãe sabendo que Burak
agora mais do que nunca precisa de todo o cuidado e estar no lugar que ele
sempre conheceu como sua casa, tudo isso ajudaria muito em sua
recuperação, então acabaram aceitando.
Desde o jantar não tenho mais contato com Kadar, e tão pouco qualquer
membro da sua família. Quando minha mãe me perguntou como tinha sido no
jantar, acabei omitindo os acontecimentos e disse que fui recebida muito bem
por todos. Sei que daqui dois dias terei que morar naquele palácio que será
minha gaiola cercada de ouro, uma gaiola aparentemente bonita por fora, mas
por dentro será o meu pior pesadelo. Além de ter que aguentar Kadar, terei
que conviver com uma família preconceituosa e esnobe que se acham os
donos do mundo. Desvio os meus pensamentos e me concentro na voz de
Tita.
Durante esses dias ela tem vindo passar boa parte do seu tempo aqui em
casa, mesmo querendo ajudar em tudo, eu não permito, nunca vou me
acostumar com essa ideia das pessoas não poderem fazer suas próprias
coisas, como se fossem aleijadas ou inúteis. Vejo medo através da expressão
dela e pergunto o que aconteceu, ela me confidencia que o arrogante que será
o meu marido não gostará de saber que ela não está fazendo aquilo que lhe
foi ordenado. Vendo o estado que ela se encontra, resolvo acalma-lá
comunicando que, como ainda estamos em minha casa ela não precisa agir
como minha serva, que deixasse para quando estivermos no palácio e
somente na frente da família Maktoum, porque ao estarmos sozinhas, não
precisará agir dessa forma.
Me olho no espelho, e mesmo bem vestida, não tenho ânimo algum.
Tenho que reconhecer que estou bem apresentável, assim como o vestido que
usei no jantar, os três modelos que usarei durante o casamento são de
responsabilidade da família do meu futuro marido. O único que ainda não vi
é o vestido de noiva, porém daqui a dois dias irei com minha mãe para o
palácio para ser preparada para a última cerimônia.
Tita irá ficar com o Burak enquanto meus pais irão comigo. Abro a
porta e vejo o carro que nos levará parado em frente da casa, depois de
adentrarmos o veículo, faço uma breve retrospectiva de tudo que me
aconteceu nesses últimos dias. Mesmo tendo ódio do homem com que irei me
casar, tenho que reconhecer que se Kadar não tivesse entrado na minha vida,
hoje o meu querido irmão não estaria conosco. O curto trajeto não demora
muito e ao chegarmos ao lugar indicado, em passos vacilantes, caminho com
meus pais para dentro do ambiente, vendo ele de imediato e ao seu lado o seu
pai em uma cadeira de rodas junto a mulher que mais parece que passou o dia
todo chupando limão-azedo, só assim para justificar a expressão em sua face.
Rio mentalmente com a comparação, deixando de lado e ficando frente a
frente com Maktoum que me olha de uma forma totalmente desconhecido por
mim. Desvio meus olhos dos dele quando a cerimônia para assinamos o
contrato de casamento começa.

Quatro dias que mais pareceram uma eternidade se passaram desde o


último dia que a vi. Eu já não consigo mais controlar a vontade de estar
enfiado no meio das pernas daquela atrevida, embora saiba que somente no
terceiro dia poderei fazer com ela tudo que venho pensando desde o momento
que meus olhos ficaram fixos nela. Assim que ela assinar o contrato de
casamento, só restará poucas horas para tê-la se contorcendo em baixo de
mim.
Como eu já esperava, desde o jantar minha mãe não me deixa em paz
um só momento, sempre com o mesmo discurso de que Maysun não é a
mulher ideal para um Maktoum, que eu devo parar enquanto há tempo, pois
logo irei me arrepender de levar essa história adiante. Já totalmente cansado
de ver como ela se refere a Maysun, pois embora meu único interesse pela
atrevida que será minha esposa é somente para mostrar a ela que sempre
tenho tudo que desejo sem me importar de que métodos utilizarei para
conseguir, além do desejo carnal que a cada dia está mais difícil de controlar,
farei dela um exemplo de como devem ser as esposas e qual é a verdadeira
serventia de uma mulher na vida de um homem, não irei admitir que ninguém
além de mim se atreva a dizer, pensar ou fazer qualquer coisa contra ela.
Ouço novamente minha mãe menosprezar minha futura esposa, me
aproximo dela ficando frente a frente com a mesma e lhe digo em alto tom
que se continuar a ofender aquela que será minha mulher, no momento que
meu casamento for concretizado, nos mudaremos para a propriedade que
ganhei do meu avô quando fiz dezoito anos e de maneira alguma irei permitir
sua presença no meu casamento e tão pouco em minha casa. Até então a
expressão de quem é a dona da verdade e da razão está em seu rosto, mas ao
ouvir minhas palavras, sua armadura de ferro desaparece, começando a
implorar para que esqueça a ideia de ir embora do palácio e que não voltará a
dizer mais nada relacionado ao meu casamento.
Depois do ocorrido com a minha mãe, seguimos para sala onde meu pai
já se encontra em sua cadeira de rodas nos aguardando. Já estamos no lugar a
uns dez minutos e a família Wehbe ainda não chegou. Não consigo entender
o porquê de estar tão ansioso para a chegada dela, mas estou. A porta é aberta
e meus olhos ficam fixos na bela mulher que é a minha noiva, sinto meu
coração bater em um ritmo acelerado, como nunca sentido antes. Algo dentro
de mim vibra ao olhar para a mais bela perfeição em forma humana.
A cerimônia começa e tudo ocorre como planejei, assino o contrato de
casamento, passo a caneta para ela, mas ao ver Maysun dar um passo atrás
virarando na direção dos pais, já não tenho mais certeza do que irá acontecer.
Terceiro dia do casamento.

Assim que surgem os primeiros raios de sol, mesmo lutando contra


uma vontade enorme de ficar na cama sem fazer absolutamente nada, me
levanto. Tomo meu banho e já arrumada, saio do meu quarto indo fazer o
desjejum. Assim que terminamos, minha mãe avisa que já está quase na hora
de írmos para o palácio, e que devo me preparar para irmos. Duas horas se
passam e o veículo que nos levará chega, partimos novamente para o palácio,
e no percurso as lembranças dos dois dias anteriores invadem a minha mente.
Ainda lembro da expressão de Kadar quando ele estendeu a caneta na minha
direção e me afastei, a expressão na sua face me fez vibrar por dentro e no
fundo eu queria sorrir, mesmo tendo plena certeza que levaria tudo adiante.
Foi bom ver que o senhor arrogante que se acha o dono do mundo naquele
momento estava sem reação por não saber o que de fato aconteceria. Me virei
na direção dos meus pais que estavam emocionados com um giro nos
calcanhares, voltei para o lugar que estava antes, respirando fundo, fiz o que
tinha que ser feito.
O segundo dia pelo menos não tive que vê-lo na minha frente, e ao
anoitecer, quando fiquei sozinha em meu quarto, me permiti chorar,
colocando tudo o que estava me queimando para fora. A sensação que tenho
é que estou presa, como em um daqueles pesadelos terríveis , o tipo de
pesadelo que você grita, chora e corre sem direção, onde ninguém é capaz de
ouvir ou ajudar. Um sonho terrível que faz todos os meus ossos gelarem e
quando acordo, estou suando frio, só que não estou dormindo, para meu
desespero, estou bem acordada e tenho que viver no sonho que somente a
morte é capaz de me libertar.
Tita logo vem para nos ajudar quando chegamos, e caminhamos na
direção da entrada principal. Não entendo o porquê de mamãe trazer uma
bolsa tão grande, já que o vestido que ela irá usar é bem simples. Hoje é o dia
que irei olhar pela primeira vez o vestido que usarei e, ao contrário dos outros
e de tudo que já foi feito, essa tradição desse ser levada em muito em
consideração, então o vestido ficou na responsabilidade da senhora Maktoum
e tem que ser branco. Se antes já achava que o lugar tem luxo em excesso,
hoje está dez vezes pior, tudo a minha volta só mostra o quanto os Maktoum
são ricos e o quanto eu nunca ire pertencer a esse lugar.
Tudo está bem diferente dos outros dias, a ostentação do luxo está
visível através da decoração, que mesmo não me agradando o exagero, tenho
que admitir que está perfeita. Meus olhos desviam da bela decoração e
ficaram fixos nas três mulheres a minha frente. Além da mãe de Kadar, sua
tia e Haifa, que não tratou de esconder a sua falta de empatia comigo, estão
no cômodo. A vontade que tenho é de perguntar se ela está sentido dor ou
fome, já que a expressão do seu rosto não está nada agradável. Dou de
ombros pegando a mão da minha mãe, dando os últimos passos até ficar
frente a frente com elas. Ficou bem claro que a minha sogra não está
satisfeita com o casamento, se ela soubesse que eu faria qualquer coisa para
não estar nesse lugar, para nunca ter conhecido, não só o filho dela como
todos os esnobes da sua família, que ninguém mais do que eu quero gritar na
frente de todos que estou casando obrigada, que o homem que eles tanto
admiram está mais para um demônio em forma humana do que um príncipe
que todos acreditam que será um bom governante para o nosso povo, ela com
certeza se agradaria comigo e me apoiaria.
Trocamos algumas palavras antes de ser levada para o aposento que
logo será o meu quarto. Kadar só virá minutos antes da cerimônia, o que
agradeço mentalmente, pois pelo menos poderei aproveitar meus últimos
momentos de liberdade sozinha, se é que isso ainda me é permitido. Além da
minha mãe e Tita, mais três mulheres vieram me auxiliar na minha
arrumação. Nunca irei me acostumar mesmo com isso, desde quando cheguei
no palácio, as mulheres a minha frente, inclusive Tita, só se reférem a mim
como senhora. Não demora muito e sou avisada que acabam de preparar meu
banho, e só falta elas dizerem que me darão banho como em uma criança, o
que não duvido. Antes de ir, digo a minha mãe que, se ela quiser, pode ir se
arrumar também. Ela concorda e Tita a conduz até outro aposento que
Maktoum já havia destinado para minha família. Como não queríamos que o
Burak ficasse cansado, decidimos que ele e meu pai só virão mais tarde, antes
da cerimônia começar.
Passo tanto tempo dentro da banheira que só me dou conta do tempo
quando Tita avisa que minha sogra acaba de entregar meu vestido, e ao
contrário do que acontece nas demais famílias árabes, nenhuma das três
mulheres da família de Kadar estão nos meus aposentos me ajudando e
paparicando. Ela simplesmente entregou o vestido para uma das funcionárias
e deixou o ambiente. Pelo menos não vou ter que passar as últimas horas
antes do casamento tendo que olhar para os rostos delas de quem comeu e
não gostou. Mamãe ainda não voltou, e segundo Tita, ela antes de ir se
arrumar, ainda foi ajudar as funcionárias na cozinha. Sei que ela jamais ficará
quieta vendo as pessoas trabalhando a sua volta.
Deixo meus pensamentos de lado e entro no quarto onde as três
mulheres que vieram para me ajudar já estão me aguardando, porém elas
estam me olhando de uma forma diferente, quando os meus olhos vão de
encontro a cama, o objeto que está depositado ali me dá a confirmação de que
a minha vida nesse palácio será um verdadeiro inferno. Não é dá minha
vontade querer concretizar essa união, mas resolvi mostrar o quanto estou
feliz para os meus pais não desconfiarem de nada, porém o intuito da senhora
Maktoum, que ficou responsável pelo vestido que usarei hoje, foi somente
para me fazer lembrar que não pertenço ao mundo deles, que uma pessoa de
classe tão inferior como a minha deve casar com os mesmo trapos que
sempre usou.O vestido é branco, porém ao contrário dos outros que usei, esse
mais parece um pano de chão, não um pano que foi utilizado e está sujo, não
há vida no traje, brilho ou o glamour que a família Maktoum exibiria em
frente aos convidados que a essa altura já estão no palácio. Só aí entendo o
motivo pelo qual as mulheres estarem me olhando desta forma, com pena.
Quando pego o tecido, minha mãe adentra o quarto com a mesma bolsa
enorme que trouxe de casa e antes que eu tenha qualquer reação, ela abre e
tira um vestido que não só me deixa atordoada, como as mulheres que estão
no quarto.
— Você pode ter nascido em uma família humilde, mas não deixarei
que se vista como uma mendiga. Desde o momento que olhei como a senhora
Maktoum na cerimônia de casamento, ficou mais que nítido que ela não quer
essa união. Você, Maysun, será apresentada a todos como merece, e se o
príncipe do deserto te escolheu para ser sua esposa, então você será a
princesa do deserto e ninguém além de vocês dois poderão mudar isso.
Mamãe pede ajuda as mulheres e logo todas começam a me arrumar,
cada uma em uma coisa. Já pronta, me olho no espelho e sinto-me uma
verdadeira rainha, porém uma dúvida paira sobre mim, e assim que as
mulheres deixam o ambiente, com Tita indo ver com minha querida sogra se
eu já posso descer, pergunto a minha mãe como ela conseguiu o vestido que
está nítido pelos detalhes e pelo tecido que é algo bem caro. Ela me diz que
ele é a única lembrança que tem da família dela, e que sempre sonhou eu o
usasse-o. Sempre achei estranho o fato de, tanto Burak como eu, só termos
conhecimento do nosso tio, que era o único irmão de meu pai, depois da sua
morte. Mamãe nunca gostou de falar da sua família, só diz que todos estam
mortos e apenas isso que eu e Burak temos que saber.
Depois de receber um forte abraço e ouvir suas palavras me desejando
toda felicidade do mundo, que eu não terei, Tita nos avisa que já irão
anunciar a entrada dos noivos e que Kadar já está próximo da escada me
esperando. Respiro fundo e deixo o cômodo, nervosa. Dou alguns passos e
meus olhos com certeza se arregalam com a imagem a minha frente. Kadar,
mesmo não querendo admitir, é dono de uma beleza estonteante, uma
aparência exterior de um anjo, e no interior, o próprio demônio. Prendo por
poucos segundos o ar quando fico a centimentros de distância dele, o som do
anunciado da entrada dos noivos parece distante. Engulo em seco quando ele
segura minha mão e juntos descemos os degraus da escada, enquanto o som
de uma música muito bonita ecoa pelo recinto luxuoso, quase todos se
movimentam e batem palmas de acordo com o ritmo da música, porém a
única coisa que realmente noto, são as três mulheres juntas, me olhando com
o que se resume a uma única palavra: ódio, o mais puro ódio.
Cinco horas depois

Nunca em toda minha vida fiquei tão nervosa quanto agora. Um imenso
nó se forma em meu estômago pela perspectiva do que acontecerá nesse
quarto. Depois de cinco horas, onde achei que seriam as piores da minha
vida, porém acabaram sendo bem agradáveis, eu estou a um passo de me
entregar a alguém que não amo.
As lembranças das últimas horas invadem a minha mente. Após a
entrada dos noivos, deu-se início a cerimônia e assim que tudo foi
concretizado, começou a festa de verdade, com muita dança, comilança e
quase todos estavam se divertindo. Durante toda festa fui presenteada com
jóias, as quais Maktoum me deu a maior parte como manda a tradição.
Também teve alguns dançarinos profissionais que se apresentaram e os
convidados, que pareciam estarem ligados em uma potência de 220W, não
deixaram a festa morrer um só minuto, garantindo assim muita dança e
diversão. Quando já tinha passado umas duas horas, os convidados fizeram
uma grande roda onde Kadar e eu ficamos no meio dançando. Quase no final
da festa meus pais resolveram ir embora, pois minha mãe achou melhor que
eles dormissem em nossa casa, quer dizer, na casa deles. Depois que eles se
foram, percebi que todos já estavam também se despedindo da família
Maktoum, restando, minutos depois, somente os familiares daquele que agora
é o meu esposo.
Durante toda a festa as mulheres da família Maktoum e o primo de
Kadar eram os únicos que não estavam se divertindo, pois até o meu sogro,
que hoje não estava fazendo uso da sua cadeira de rodas, me pareceu bem
descontraído ao ponto de me dar as boas vindas a família. Kadar ficou no
salão de festas enquanto vim com Tita para o meu aposento, após tomar um
longo banho e vestida com uma linda camisola branca de seda, aqui estou eu,
com o coração na mão olhando em volta do cômodo, que mesmo estando na
penumbra e com algumas velas espalhadas pelo ambiente. é um verdadeiro
ninho de amor. Só em olhar para cama ao meu lado, que está coberta por uma
cocha branca, sinto todo o meu corpo estremecer. Sei que mesmo não sendo o
que sempre cogitei, ao assinar aquele contrato aceitei as condições do homem
que agora é o meu esposo, e só me resta duas alternativas: deixar aquele
demônio me possuir ou ele me tomará a força, tornando essa noite mais
traumática do que já está sendo para mim. Me assusto quando ele entra no
quarto, me encolho fitando-o. Percebo que, assim como eu, Kadar se banhou
e trocou de roupa.
Ele caminha na minha direção sem desviar seus olhos perspicazes de
mim, meu coração bate tão forte que parece que logo me abandonará e sairá
pela minha boca. Sinto o medo cru e agudo atravessar o meu peito assim que
ele se detém, encarando-me sem piscar. Ele dá dois passos e me agarra de
imediato, trazendo-me para perto si. A energia que ele irradia é bruta,
possessiva, e só em pensar que daqui a alguns minutos estarei me entregando
ao homem que utilizou de meios tão baixos para me ter ao seu lado, alguém
por quem não sinto nada além de desprezo, só aumenta o meu nervosismo.
Ele passa os braços em torno do meu pescoço, pressionando meus seios
contra seu tronco e a sua boca contra a minha garganta. Maktoum me beija
nos lábios, a princípio o beijo é lento, quase casto, porém a medida que ele se
apossa dos meus lábios, intensifica o contato, até que mergulha em minha
boca em um beijo vigoroso, me roubando a alma. Sinto o ar me faltar quando
ele para o beijo, e antes que eu tenha qualquer outra reação, me ergue tirando
os meus pés do chão, carregando-me até a cama. Seu corpo grande e
musculoso me pressiona sobre o colchão, e mesmo vestido, sinto sua
masculinidade pura me cutucar. Kadar explora meu corpo com suas mãos
ávidas enquanto me beija, seus dedos alcançam a barra da minha camisola,
começando a roçar em meu ventre, o embrulho que antes estava me
incomodando só aumenta. O encaro com os olhos arregalados quando ele
começa a me despi, em seguida sinto seus lábios quentes nos meus seios.
— Que seios lindos. — Ele murmura entre gemidos em meu ouvido.
A única coisa que passa na pela minha cabeça é empurra-lo de cima de
mim e sair correndo para bem longe. Um grito de susto sai da minha garganta
quando sinto-o provar um dos meus mamilos com sua língua, mordendo-o
em seguida. Kadar então se afasta começando a tirar suas próprias roupas, e
por mais que eu queira desviar os olhos dele, é algo que me lembrarei pelo
resto da vida, embora nunca tenha visto um homem adulto nú, o tamanho do
membro dele é fora do normal. O homem a minha frente, com os cabelos
negros ainda úmidos, o abdômen sulcado de músculos e brilhante de suor,
esplendidamente nu e excitado — com o membro duro, grosso e enorme
empinando na minha frente, com as veias saltitantes praticamente soltando da
pele do seu pênis avantajado —, é uma das coias mais lindas que vi, mesmo
sendo totalmente estranho e novo para mim. Ele deita-se sobre mim,
começando a beijar todo meu corpo, fazendo uma trilha de beijos até minha
intimidade, provocando uma convulsão que acaba arrepiando minha pele e
me deixando atordoada. Que diabos está acontecendo comigo? Ele se instala
entre minhas coxas, sinto sua ereção em contato com a pequena abertura do
meu corpo, em um impulso, tento fecha-las, mas ele as abre com vigor. Tento
me levantar, mas ele segura com força minha mandíbula, fazendo-me parar.
O olhar que Maktoum me lança faz todo o meu corpo estremecer, logo sua
voz ecooa, rouca em meu ouvido:
— Fica quietinha, irei ter o que é meu por direito, e se você se mover,
serei obrigado a te machucar. — Ele começa a me beijar com ardor.
Sinto uma dor imensa atravessar todo meu corpo quando a cabeça
grande do seu membro me invade brutalmente, meus músculos tensos se
abrem, posso ouvir o barulho da minha carne sendo esfolada, até que ele me
penetra profundamente, rompendo as barreiras da minha virgindade.
Lágrimas começam a descer pelo meu rosto sem a minha permissão, a dor é
surreal, parece que eu estou sendo rasgada ao meio.
— Relaxa, logo a dor vai passar.
Resolvo não resistir mais e fecho meus olhos tentando dissipar a dor
insuportável que paira sobre mim. Kadar começa um vai e vem lento e
contínuo, usando toda a longa extensão do seu pênis. Ele me observa como
um falcão, notando cada suspiro e soluço que sai entre meus lábios, aos
poucos a dor vai se dissipando, ele vendo que já estou um pouco mais calma,
começa a intensificar seus movimentos. Sinto seu pênis duro como uma
rocha me invadindo cada vez mais rápido e a cabeça bem dilatada do seu
imponente membro tocando quase o meu útero, acariciando terminações
nervosas que eu jamais soube existir. Tudo que quero é que isso termine logo,
por mais que a dor já tenha passado, a única coisa que penso é em tudo que
ele fez para me ter ao seu lado, e não posso e nem vou sentir nenhum
sentimento bom por ele. Escuto seus gemidos altos enquanto ele me preenche
completamente. Kadar começa me penetrar cada vez mais forte com
movimentos precisos e ritmados, sinto cada batida do coração dele, cada veia
latejando, cada centímetro pulsante do seu membro. Em uma estocada mais
rígida e forte, sinto seu líquido quente me invadir em jatos potentes enquanto
sons guturais incompreensíveis saem entre seus lábios.
Ele sai de dentro de mim e se deitando sobre meu corpo, sinto sua
respiração acelerada de encontro a minha face. Maktoum rola na cama me
trazendo junto dele, me abraçando enquanto tento me afastar dos seus braços.
— Você não vai a lugar nenhum. A noite só está começando, e eu ainda
nem comecei a desfrutar do que é meu. Você agora me pertence e fará tudo
que eu quiser.

Depois de horas que pareceram uma eternidade, onde o homem que


agora dorme ao meu lado mais parecia um animal insaciável, enfim se deu
por satisfeito. Antes de dormir ele retirou o tecido branco que estava sobre a
cama e o jogou próximo a porta. Tentei me mexer, mas todo o meu corpo está
dolorido. Perdi as contas de quantas vezes ele me possuiu ao longo da noite,
em uma certa hora já nem sentia mais as minhas pernas e não conseguia
acreditar como, em questão de minutos, ele já estava recuperado.
Fecho meus olhos com um único pensamento em mente. O que será da
minha vida ao lado desse monstro?
Assim que surgem os primeiros raios de sol, me levanto. Meus planos a
um dia atrás era permanecer com o meu quarto e deixar para vir ao aposento
de Maysun somente para me satisfazer do seu belo e delicioso corpo. Nunca
em toda a minha vida acordei ao lado de uma mulher depois de transar,
sempre as procurei para satisfazer minhas necessidades e depois as queria
bem longe de mim, mas desde o momento em que vi a atrevida no primeiro
dia de cerimônia do nosso casamento, algo que nunca senti antes pairou sobre
mim. Acreditei que assim que a tivesse em baixo de mim e a possuísse, tudo
iria passar, mas a maldita é tão deliciosa, com um corpo perfeitamente
esculpido, com um cheiro maravilhoso, que tudo nela me deixou mais
alucinado ao ponto de querer mais ainda me perder no meio de suas pernas.
Não sei o que está acontecendo, mas jamais me deixarei levar por
sentimentos tolos, tudo isso logo passará e Maysun será somente a mulher
que estará sempre pronta para que eu possa satisfazer minhas necessidades.
Mesmo mantendo o meu quarto, não a deixarei uma noite sequer livre, até
enjoar-me dela como sempre acontece com todas. Daqui alguns meses
encontrarei outra para ser o meu novo alvo e ela terá que aceitar calada.
Em passos longos deixo o ambiente e sigo para o meu quarto, estando
minutos depois de banho já tomado e arrumado, resolvo acordar a bela
adormecida para juntos fazermos o desjejum. Vejo-a dormir profundamente
como um anjo, e antes de acordá-la, meus olhos ficam fixos no objeto em
cima da poltrona ao lado. Com um giro nos calcanhares me aproximo
pegando o vestido em minhas mãos, porém a dúvida paira sobre mim.
Resolvo esperar mais alguns minutos antes de acordá-la enquanto vários
pensamentos passam em minha mente, não demora muito e ela logo começa a
despertar. Fico analisando cada movimento seu, percebendo que ao se mexer,
um gemido de dor sai entre seus lábios, fazendo um sorriso de satisfação
surgir nos meus. Ela está distraída, perdida em seus pensamentos, e só depois
de alguns minutos que seus olhos ficam fixos nos meus, percebe a minha
presença, e antes que ela tenha qualquer reação, indago-a:
— Por qual motivo esse vestido está no seu quarto, ou você cogitou
usá-lo durante a cerimônia para me afrontar?
Maysun logo fecha a cara e uma carranca se faz presente em sua bela
face.
— Bom dia para você também. Quanto ao vestido pergunte a sua mãe,
pois foi esse o vestido que ela providenciou para que eu usasse, e antes que
você volte a fazer mais alguma pergunta, só não o usei por causa da minha
mãe, que trouxe o vestido que pertencia a sua família, se bem que eu deveria
ter usado o lindo vestido que a minha querida sogra mandou fazer com tanto
carinho. Queria só ver a reação dos seus convidados ao verem a esposa do
Sheik Kadar Maktoum vestida como ela realmente é, alguém que você pode
cobrir com todo ouro do mundo, com os melhores tecidos, mas nunca deixará
de ser Maysun Wehbe, a filha de uma lavadeira de quem eu tenho tanto
orgulho.
Há sarcasmo em cada palavra da atrevida, sinto a raiva inflamando em
minhas veias por ouvilas. Chego perto dela respirando fundo para não perder
o pouco de paciência que ainda me resta e mostrar a minha adorável esposa
quem realmente manda, mas ao ver como a maldita me olha, não penso duas
vezes antes de levar minhas mãos de encontro ao seu lindo pescoço e aperto-
o com toda a minha força, enquanto vejo-a respirar com uma certa
dificuldade.
— Hoje você terá a primeira de muitas lições que terá de aprender:
jamais volte a me responder da forma que fez, e tão pouco me encare desta
forma. Você fará tudo que eu quiser, e na hora que eu desejar. — Retiro
minhas mãos do seu perscoço quando ela começa a querer perder a
conciência. Ela começa tossir sem parar e busca de ar. — Você tem exatos
vinte minutos para ficar apresentável para descermos, então levante e comece
a se arrumar. Tenho algo mais importante que preciso resolver.
— Eu odeio você. — Sua voz sai entrecortada.
— Não me faça perder o pouco de paciência que ainda me resta, te
garanto que as pessoas que estão nos aguardando lá embaixo não irão se
espantar ao verem como deixarei o seu rosto, mas os seus pais, esses sim vão
saber como a filha que tanto amam está sendo tratada.
Mesmo contra vontade, Maysun se levanta em passos lentos,
começando a caminhar na direção do closet, saindo em seguida com o traje
escolhido e indo para o banheiro, provavelmente usando a banheira que já
havia pedido a Tita que deixasse pronta. Passam-se alguns minutos e no
tempo exato, ela parece na minha frente, pego sua mão e juntos deixamos o
ambiente.
Lutando contra o desconforto enorme entre minhas pernas, pego
minhas roupas e com dificuldade vou caminhando para o banheiro. Assim
que entro no cômodo, levanto a cabeça e fico com os olhos fixos na imagem
refletida pelo imenso espelho a minha frente. As marcas dos dedos daquele
demônio estam nítidas em meu pescoço, assim como outras em meus seios,
logo as imagens de tudo que ele fez na noite anterior invadem a minha mente.
Kadar Maktoum não só me proporcionou a pior noite da minha vida, como
abriu dentro de mim uma ferida que não sei se algum dia será capaz de
cicatrizar. Deixo meus pensamentos de lado e tiro a camisola entrando na
banheira, sinto uma sensação tão boa quando a água morna entra em contato
com a minha intimidade, porém ao lembrar das palavras dele, trato de não
demorar. Minutos depois de banho já tomado, escovo meus dentes e agradeço
a Allah mentalmente por minha roupa esconder as marcas no meu pescoço.
Enquanto Maktoum está com uma das mãos segurando a minha, a outra
está ocupada pelo vestido que minha sogra providenciou, a cada passo dado,
sinto um calafrio percorrer todo o meu corpo na expectativa do que o
demônio ao meu lado iria fazer. Percebo que não há ninguém perto da escada,
me dando a confirmação de que todos já devem estar na mesa de refeição.
Tropeço nas minhas próprias pernas quando Kadar para bruscamente, quase
indo de encontro ao chão por ele estar andando rápido demais e eu me
forçado para acompanhar seus movimentos. Levanto a cabeça me deparando
com vários pares de olhos fixos em nossa direção. A senhora Maktoum que
até então tinha uma expressão não agradável em sua face, logo fica com os
olhos arregalados quando eles vão de encontro ao vestido nas mãos de Kadar.
— Eu avisei que não permitirei que você ou qualquer outra pessoa
interfirá na minha escolha em relação a Maysun. Se o seu plano era humilhá-
la na frente de todos, você teve muita sorte que isso não aconteceu. Jamais
voltará a interferir em nada na minha vida. — Se olhos dela antes estavam
arregalados, agora parece que irão saltar da sua face.
— Como você se atreve a falar com a sua mãe desta forma? — O
senhor Maktoum o questiona furioso.
— Você pode ser o temido e todo poderoso Mohammed bin Rashid Al
Maktoum, no entanto, chegou o momento de colocamos as cartas na mesa.
Daqui um mês estaremos mudando para o palácio que herdei do meu avô, e
se qualquer um de vocês aqui presentes voltarem a fazer qualquer coisa
contra a minha mulher, não só vou expulsar todos desse palácio, já que o meu
avô deixou o mesmo em meu nome, como vou retirar tudo que é meu das
suas empresas. Embora você tenha construído um grande império, meu avô
tinha 60% de participação nas empresas Maktoum, sendo que tudo que era
dele, em vez de ser deixado para sua única filha, ele assim que soube que teve
um neto varão, deixou tudo que tinha para mim.
A mandíbula do senhor Maktoum se contrai, está visível que as
palavras ditas por Kadar não agrada nenhum dos presentes no cômodo,
porém, ninguém se atreve a questionar o demônio do deserto com quem me
casei. Nos minutos seguintes todos começam a comer, e após o café da
manhã, ele diz que precisa resolver alguns assuntos em uma das empresas
Maktoum. Antes de sair, o arrogante sentencia que devo permanecer no
quarto até o seu retorno. Penso em não fazer o que ele manda, porém estou
morta de sono e aproveitarei para dormir um pouco.

Acordo atordoada, sem nem saber em que momento adormeci, com a


voz de Tita me chamando, em um impulso me levanto e só então olho para a
enorme bandeja em suas mãos, que me deixa assustada por ter dormindo
tanto. Depois que termino de almoçar, pergunto por Kadar e ela logo me
informa que ele havia ligado dizendo que não viria para o almoço, porém era
para ela trazer minha refeição no quarto. Fico feliz por não ter que comer ao
lado de pessoas que já demostraram o quanto minha presença não os agrada.
Passo parte da tarde entre a companhia de Tita e lendo um dos livros
que trouxe, e novamente, minha outra refeição é feita no quarto. Maktoum
ainda não chegou, então aproveito que o desconforto na minha vagina já não
está me incomodando como antes e tomo um longo banho, só que dessa vez,
deixo a banheira de lado e entro debaixo da ducha quente, deixando que a
água escorra pelo meu corpo dolorido. As lágrimas que segurava desde
ontém começam a descer. Termino o banho e vou até o closet, escolho uma
camisola de cetim vermelha, volto para o quarto e resolvo me deitar. Fecho
meus olhos e fico pensando sobre a minha vida até escutar um barulho da
porta que me tira a concentrção, meu coração começa a bater em um ritmo
frenético, o cheiro inebriante dele logo invade minhas narinas, minha
respiração começa a acelerar ao ouvir os passos dele se aproximando.
Continuo de os olhos fechados, esperando que ele não queira fazer
novamente tudo aquilo da noite anterior, não irei suportar ter que passar a
noite toda abrindo as minhas pernas para esse homem que parece um animal
no cio querendo me devorar como se fosse um pedaço de carne. Respiro
aliviada ao ouvir o silêncio no cômodo, fico me perguntando se ele foi
embora, já não aguentando mais a curiosidade que está me consumindo,
resolvo abrir meus olhos e a imagem que vejo a minha frente faz a minha
garganta se fechar, meu coração gelando. Ele está se despindo lentamente,
mostrando seu peitoral forte e braços musculosos, ficando só de cueca, sua
ereção estourando dentro da mesma é muito visível, e assim que se livra da
única peça de roupa, seu pênis grosso e enorme aparece na minha frente. Meu
coração se agita no peito assim que ele vem andando na minha direção e para
na minha frente, já sabendo o que vai acontecer, no impulso me levanto.
— Você não vai tocar em mim novamente. — O tempo todo aquele
queixo arrogante está erguido, e com os olhos fixos em minha direção, ele
olha para a minha boca como se tivesse com fome de alguma coisa.
— Não só vou tocar em você, como mostrarei que não só a sua vida me
pertence, como também seu próprio corpo ficará afiado a cada toque meu.—
Antes mesmo de raciocinar suas palavras, ele me abraça e começa a me beijar
com voracidade, parecendo querer me engolir. Kadar retira minha camisola e
quando dou por mim, novamente meu corpo encontrasse sobre a cocha macia
da cama. Mesmo não correspondendo aos seus beijos, ele continua
introduzindo sua língua, me forçando a acompanhar seus movimentos. Ele
escorrega então seus lábios pelo meu pescoço, mordiscando minha jugular
que pulsa no ritmo do meu coração agitado. Suas mãos são leves e ávidas
apalpando os meus seios, enquanto faz isso, ele explora meu corpo com sua
boca até tocar na parte sensível do meu sexo latejante.
Allah, é constrangedor ver onde sua boca está agora. Sinto uma onda de
prazer percorrer todo o meu corpo, e isso é tão bom. Sem que eu possa
controlar, vários gemidos saem por entre meus lábios, e ao ver minha entrega,
um esboço de sorriso surge no rosto dele, fazendo assim o choque da
realidade pairar sobre mim. Não posso e não vou sentir nada por esse homem.
Fecho minhas pernas, mas novamente a voz dele se faz presente, porém dessa
vez o seu tom de voz é calmo.
— Você sabe que isso não irá me impedir de ter o que desejo. Tudo
pode ser mais fácil se você não resistir. — Sussurra em meu ouvido,
convincente. Me lembro da noite anterior, resolvendo permanecer quieta.
Qanto mais eu resistir, mais ele irá demorar a acabar com esse tormento.
Novamente sua cabeça está no meio das minhas pernas, as abrindo
ainda mais, começando a devorar minha intimidade com a sua boca. Sinto um
certo incômodo quando ele introduz um dedo dentro de mim, mas logo a dor
é dissipada quando ele move os dedos riscando um amplo círculo, me
expandindo, me empurrando, enquanto sua língua segue o compasso dos
dedos ao redor do meu clitóris inchado. Sinto novamente aquela sensação
percorrer meu corpo, minha intimidade começa a se contrair enquanto ele
intensifica seus movimentos.
— Por favor, pare! — Imploro baixinho.
— Eu só estou começando, amira. — Ele sussurra voltando a introduzir
novamente mais um dedo dentro da minha vagina. Ouço em sua voz o sorriso
perverso, enquanto meu corpo palpita com seus toques. Em um instante estou
parada, e no seguinte estou me movendo fluidamente, minha vagina
deslizando pelos dedos de Kadar com uma velocidade impressionante. Meu
corpo funciona como uma máquina bem lubrificada, minha vagina se contrai,
sugando seus dedos. A sensação de ter seus dedos entrando fundo e rápido
em mim, fazem com que minha intimidade se contraia, e não aguentando
mais, gozo com um urro, incapaz de conter a onda que me domina. Por um
momento, não posso ver e nem respirar, com meu corpo fulminado por um
prazer mais feroz do que qualquer um que já senti antes. Ainda com a
respiração ofegante e totalmente lubrificada, ele pega meus quadris e me
centraliza embaixo dele, introduzindo seu membro potente que desliza com
facilidade, e ao contrário da noite anterior, não estou sentindo dor. Kadar se
ergue e me penetra devagar, movimentando lentamente e ritmado seu quadril,
atingindo lugares erógenos dentro de mim que me fazem fechar os olhos e
quase alucinar. Aos poucos ele vai aumentando o ritmo, o barulho dos nossos
sexos ecoa pelo quarto, sua penetração fica cada vez mais fundo, meus
quadris começam a se mover de acordo com seus movimentos sem eu ao
menos controlar. Meu coração dá um pulo ao ouvir suas palavras.
— Você é minha, só minha. — Parece um lunático dizendo. — Por que
você me deixa assim? — Sela nossos lábios.
Kadar continua me penetrando enquanto estimula meu clitóris com seus
dedos, me rendo ao ápice do prazer, latejando sobre ele, meu coração se
agita, minhas pupilas se dilatam e eu aperto os lençóis gemendo alto.
Maktoum vem logo depois com suas estocadas fortes e profundas, gemendo
alto também. Abro meus olhos e vejo em seu rosto a intensidade do seu
prazer, me dando uma sensação poderosa, saber que posso provocar isso nele
e quem sabe usar ao meu favor faz um sentimento ótim surgir em meu ser.
Ainda com a respiração ofegante, sinto-o sair de dentro de mim, que se deita
do meu lado me abraçando junto ao seu corpo.
Tomo meu tempo fazendo a barba, acaricio após um raspar lento, a
navalha passa sobre minha mandíbula, enquanto os flashes da noite anterior
se repete na minha cabeça. Essa maldita não sai da minha mente, ao contrário
da maioria das mulheres com quem já transei, nunca nenhuma delas me
deixou tão alucinado. Vou explorar cada parte do seu corpo até me cansar
dela. Jamais me preocupei em proporcionar prazer a ninguém, mas com ela
senti um misto de sensações que jamais cogitei que existisse. Por mais que
tento me afastar, uma força totalmente desconhecida por mim me atrai para
ficar ao seu lado, e mais uma vez acabei dormindo em sua cama, mas assim
que surgiram os primeiros raios de sol e ao abrir os meus olhos, tendo a mais
bela visão a minha frente, o choque da realidade caiu sobre mim como se
tivesse levado um soco no estômago. Eu, Kadar Maktoum, um sheik
respeitado por todos em Dubai, dono de uma fortuna incalculável e único
herdeiro do todo poderoso Mohammed bin Rashid Al Maktoum, não irei
permitir que nenhuma mulher tenha algum efeito sobre mim, sei o quanto são
traiçoeiras e podem levar homens poderosos a ruína. Amor, esse sentimento
leva os homens mais fortes a conhecer suas fraquezas, um sentimento que
jamais vou permitir que habite em meu coração, porém, sei o quanto meus
pais são astutos e terei que ter todo o cuidado em relação a Maysun.
Enquanto essa atração permanecer, não permitirei que ninguém além de mim
faça algo contra ela.
Ontem meu pai questionou-me se daqui um ano terei uma segunda
esposa, respondi de imediato que sim, mas enquanto esse prazo não chegar,
irei aproveitar e continuar fazendo o que sempre fiz de melhor. Nunca fui
homem de ter só uma mulher e não será por causa dela que irei mudar.
Decido tomar um banho assim que termino de me barbear, estando poucos
inutos depois pronto. Pego meu celular e busco entre meus contatos o número
de Jamil, preciso esclarecer uma dúvida que a cada instante está ganhando
uma grande proporção em minha mente. Desde o jantar em que Maysun
esteve no palácio, estou intrigado com seu comportamento, e o fato da mãe
dela ter dado o vestido só deu mais ênfase a essa dúvida.
— Bom dia chefe, em que posso ser útil?
— Preciso que você faça um dossiê completo sobre a vida dos pais de
Maysun. Preciso o quanto antes dessa informação, não importa que meios
você terá que utilizar para isso, mas quero saber tudo sobre a origem da
família Wehbe.
— Pode deixar senhor, o mais breve possível estará em suas mãos.
Sinto um vento frio percorrer todo o meu corpo, uma sensação ruim
paira sobre mim após ouvir as palavras de Jamil.

Com os olhos fixos no objeto em minhas mãos, vários pensamentos


invadem a minha mente. Estava tão preocupada com tudo que estava
acontecendo com o meu filho e a possibilidade de termos que sair à procura
de outro lugar para morar que não me dei conta de que, após tantos anos, o
destino colocou a minha filha em meio a um mundo a qual me neguei a
continuar vivendo. Maysun não se tornou princesa por casar com Kadar
Maktoum, pois esse título ela sempre teve. Com os olhos fixos na foto onde
estou com meus pais, meus pensamentos me levam para vinte e dois anos
atrás.

Fujairah - Palácio Nuaimi

— Aylla, você sabe que seu pai jamais permitirá uma loucura dessas.
Daqui a uma semana será seu casamento, você não pode cogitar em trazer
esse desgosto para nossa família. Seu pai ao contrário dos homens do nosso
mundo, jamais quis uma segunda esposa, no entanto, a única herdeira de
toda a sua fortuna é você. Através dessa união com o Sheik Hamad, um filho
varão dará continuidade a tudo que seu pai construiu. — Mamãe falou,
preocupada.
— Jamais irei me casar com um homem por quem não sinto
absolutamente nada. Eu amo Amil desde o momento que o vi pela primeira
vez, e não importa se ele é somente um filho do ex-jardineiro do palácio, será
com ele que irei ficar.
— Entenda que só quero a sua felicidade, mas nos duas sabemos que
isso jamais será possível. Filha, você sempre será a minha princesinha, por
quem daria a minha vida para vê-la feliz, mas sabemos como as mulheres
são vistas no mundo em que vivemos.
— Não importa o que os outros irão pensar, é a minha vida, minha
felicidade que está em jogo e não irei permitir que ninguém interfira no meu
destino. — Lágrimas cairam grossas pelas minhas bochechas.
— Você só tem 18 anos, como pode saber se o que sente por esse rapaz
vale tanto sacrifício? Como vão viver se Amil gasta tudo o que ganha
comprando remédios para o pai dele?
— Mãe... — Ela andava de um lado ao outro sem parar, sem me
escutar, me obrigando a chamá-la pelo nome. — Madiya. — Me olhou. —
Quando se tem amor, fé e esperança, juntos podemos superar qualquer
coisa.
Minha mãe acabou desistindo e sandoi do meu quarto, ela soube que
ninguém me faria mudar de idéia. Dois dias se passaram e uma grande
fatalidade aconteceu na família do grande amor da minha vida. Depois da
morte da mãe dele, seu pai, o antigo jardineiro do palácio, acabou
adoecendo. Amil deixou seus sonhos de lado e acabou arrumando um
emprego no centro de Fujairah, em uma pequena padaria. Seu irmão velho,
que mudou-se para Dubai, também ganha muito pouco, não podendo ajudar
com muito seu pai.
Todo o palácio estava sendo preparado para o tão esperado
casamento, porém, mesmo Amil querendo desistir com medo de que eu não
me acostumasse a viver sem o luxo do palácio, deixei claro que fugirei
sozinha. Com tudo minuciosamente planejado, arrumei algumas coisas e a
única coisa que não consegui deixar para trás, foi o vestido que pertenceu a
minha mãe, desde criança sempre fui fascinada por ele e quando minha mãe
me deu ele de presente, soube que ele teria um significado muito importante
na minha vida. Ao cair da noite quando todos já haviam se retirado para os
seus aposentos, esperei o sinal combinado e em passos silenciosos, deixei o
ambiente. A cada passo dado minhas pernas estavam trêmulas, o medo de
ser descoberta estava fazendo meu coração bater freneticamente. Desde
criança acabei descobrindo uma passagem pela biblioteca do meu pai que
dava direto ao jardim, pois sempre foi o lugar favorito da minha mãe. Assim
que cheguei próximo da porta que mudaria minha vida para sempre, senti
uma mão segurar meu ombro, fiquei petrificada e a minhas únicas reações
foi segurar as lágrimas que já queriam cair. Perdi a noção do tempo, se
passou segundos ou minutos, só saí do meu estado catatônico quando ouvi a
voz da minha mãe.
— Eu sabia que você faria isso.
Com um giro nos calcanhares, fiquei de frente para ela, porém jamais
esperava ouvir as palavras que saíram entre seus lábios, e tão pouco olhei
antes o objeto que estava em sua mão.
— Pegue! Com esse dinheiro, procure a pessoa que está escrita nesse
papel, ele dará um jeito de arrumar uma nova identidade para você. — Meus
lábios se mexeram sem sair som algum. — Você não tem muito tempo. Nada
é mais importante para mim do que a sua felicidade, prefiro vê-la feliz
vivendo longe, do que sofrendo por uma escolha que não foi feita por você.
Sei que seu pai jamais ira querer vê-la novamente, mas o tempo pode
mostrar a ele que todos temos direito de fazer as nossas próprias escolhas.
— Não conseguia mais segurar as lágrimas, minha mãe me envolveu em um
forte abraço, dizendo em seguida para eu ir.
Esse foi o último dia que vi minha mãe.
Depois que deixei o palácio ao lado do homem que sempre amei, na
mesma noite me entreguei para ele, e na manhã seguinte, procuramos o
homem que me forneceu uma nova identidade, indo para Dubai. Quando
chegamos na casa do irmão do Amil, ao adentrar o ambiente, meu coração
gelou no mesmo instante que vi o todo poderoso Sheik Humaild bin Rashid Al
Nuaimi. O ódio estava visível através dos seus olhos, ele logo se aproximou e
pegou em meu braço. Amil tentou reagir, mas Níquel o segurou, mesmo ele
sendo uma boa pessoa, sempre teve devoção pelo meu pai e faria tudo que
ele pedisse.
Comecei a me debater, mas ele segurou com muita força em meu
braço, dizendo que eu voltaria com ele, e tomada pela raiva, acabei dizendo
que não adiantaria mais porque agora não só o meu coração pertencia a
Amil, como também entreguei minha pureza para ele. Senti meu rosto
queimar quando a mão dele acertou em cheio minha face. Ele caminhou até
a porta e antes de deixar o ambiente, sua voz ecoou no cômodo.
— De hoje em diante a princesa Aylla estará morta para todos. — Ele
não sabia , mas Aylla já hávia morrido desde o momento em que passei a me
chamar de Fátima Sharqi, e alguns meses depois, me casei me tornando
Fátima Wehbe.
Meus pensamentos foram interrompidos ao ouvir a voz do Burak me
chamando, em passos largos caminho de encontro ao meu filho, porém meus
pensamentos ainda estão voltados para minha May. Talvez o destino dela
será fazer pelo povo aquilo que não pude fazer.
Ainda lembro-me o quanto meu tio sempre fazia questão de que meus
pais me levassem ao palácio para está na sua companhia, mas depois do
nascimento daquele infeliz, tudo mudou. Ele ao ter em seus braços o seu
primogênito e único herdeiro, o qual sempre almejou, passou a dedicar toda a
sua atenção para o infeliz do meu primo. Sempre o vi como um pai, pois ao
contrário do meu, o todo-poderoso Mohammed bin Rashid Al
Maktoum sempre foi um homem forte e soube construir todo um império, já
meu pai, o seu irmão, era somente um fraco que acabou tirando a própria
vida, e desde então, meu tio assumiu todas as nossas despesas, me dando um
cargo de grande importância junto às empresas Maktoum.
Os anos se passaram e com a morte do avô de Kadar, o desgraçado que
nunca se importou com os negócios da família se tornou o homem mais rico
de Dubai. Quando meu tio ficou doente, minhas esperanças se renovaram,
tinha certeza de que passaria a controlar todo o império da família Maktoum,
porém não esperava a atitude do maldito que acabou assumindo o comando
das empresas. No momento que Kadar pediu uma auditoria nas contas da
empresa, meu sangue gelou de imediato, meu coração começou a bater
freneticamente ao pensar na possibilidade dele descobrir que por trás do
Idiota do Baruan, eu estava envolvido. O imbecil sempre acreditou que sou o
seu braço direito, a pessoa com quem ele sempre pode contar, e assim que me
relatou sobre ter descoberto o desfalque feito por Baruan, tratei de me
certificar de que se o infeliz fosse pego, jamais iria mencionar meu nome.
Assim que ele fugiu de Dubai alguns homens da minha inteira
confiança acabaram por sequestrar o filho e a esposa do maldito que só
teriam sua liberdade quando eu tivesse certeza que o infeliz não seria uma
pedra em meu caminho, mas depois de ver nos olhos de Kadar o ódio com
que torturava o desgraçado, eu não poderia correr o risco de ser descoberto.
Eu mesmo fiz o favor de reunir a família, enviando aquele fedelho e sua mãe
para o inferno. Quando Haifa me avisou que recebeu a ligação da nossa tia
para passar uma temporada no palácio, cogitamos que dessa vez ela
conseguiria seduzir aquele infeliz, mas ao ver aquela mulher adentrando o
ambiente e sendo anunciada como a escolhida de Maktoum, senti o ar me
faltar, a raiva inflamar em minhas veias. Maysun acabou pisando em ovos ao
cruzar o meu caminho e o de minha irmã, essa infeliz vai se arrepender
profundamente.
Kadar anunciou que daqui um mês deixará o palácio. Terei que calcular
minuciosamente meus próximos passos, primeiro vou tirar essa morta de
fome do nosso caminho, pois pela expressão que vi no rosto da minha tia, já
sei quem irá me ajudar a concluir o que tenho em mente. Assim que
conseguir que Haifa se torne a segunda esposa de Maktoum, e tendo em seu
ventre o futuro herdeiro, darei um jeito de tirá-lo para sempre das nossas
vidas.
— Precisamos fazer com que aquela mulher saia do nosso caminho.
Não aguento ter que olhar para a cara daquela vadia. Para Kadar ter casado
com essa infeliz, algo ela deve ter feito para o deixar enfeitiçado.
— Calma, irmãzinha. Já sei como vamos nos livrar dela, porém antes
disso, mostraremos a essa mulher que ela jamais vai pertencer ao nosso
mundo. Maktoum vai se arrepender da escolha que fez. Vamos ver como
aquele demônio irá reagir ao ver que sua doce esposa jamais estará
qualificada para ser alguém apresentável para a sociedade.
— Você tem toda razão, vamos mostrar a ela o quanto a sua presença é
indesejável por todos. Maysun Wehbe quis ser a princesa do deserto, então
vamos dar a ela as boas-vindas como realmente merece.
Acabo por não ver Maysun o dia todo. Assim que deixo meus
aposentos, ainda cogito em passar em seu quarto, mas ao parar em frente a
sua porta, resolvo por deixá-la dormir mais um pouco. Antes de deixar o
palácio, dou ordens a sua serva para acordá-la dentro de duas horas e avisá-la
para permanecer no quarto até o meu retorno. Sei que Maysun tem a língua
bem afiada, porém não quero vê-la sozinha com qualquer membro da minha
família, esse foi um dos motivos que me levou a mandar fazer algumas
reformas no Palácio que jamais cogitei que seria meu lar, mas diante dos
fatos e sabendo como minha mãe é, achei melhor mantê-la longe de todos.
Tenho muitas coisas que precisam ser resolvidas na empresa. A reunião
com alguns fornecedores acaba tomando boa parte do meu dia, mas fico
satisfeito com o resultado. No final do dia, recebo duas ligações, uma delas é
de Jamil me informando sobre o dossiê que pedi sobre os pais de Maysun.
Fico surpreso com o rumo da investigação, pois segundo ele, precisará de
autorização para viajar para Fujairah, onde certamente descobrirá mais sobre
a origem da família Wehbe, já que os pais da minha adorável esposa não
nasceram em Dubai como pensei. Depois que encerro a ligação, dando a
autorização e carta branca para não poupar gastos em descobrir seja qual for
o mistério que os envolve, recebo a outra ligação, a qual venho aguardando
desde o momento que meus homens pegaram o maldito traidor do Baruan.
Ao contrário da maioria dos homens que tem uma posição como a
minha, jamais gostei que terceiros fizessem o serviço por mim, sempre
presenciei os temidos sheiks das cidades que formam os Emirados Árabes
mandarem seus subordinados fazerem o serviço pesado para que não
sujassem suas mãos, porém eu sempre fiquei em êxtase ao proporcionar a dor
a alguém, e quando se trata de um traidor, vê-lo sucumbindo diante dos meus
olhos me deixa alucinado. Depois da morte de Baruan, mesmo com os
pensamentos voltados para a atrevida que hoje é a minha esposa, algo dentro
de mim estava inquieto, como se tivesse deixado passar alguma informação.
E após a ligação que recebi, tenho a confirmação das minhas suspeitas. A
família do infeliz foi encontrada em um casebre já com o corpo em
decomposição, porém acharam no bolso da mulher sua identidade e tudo
indica que foram assinados, o que me leva a ter certeza que tem mais alguém
aliado ao traidor.
Acabo não relatando nada para meu pai, e muito menos para Kaisar,
embora meu primo seja alguns anos mais velho, sempre tivemos um bom
relacionamento, mas desde que assumi o comando das empresa, venho o
observado, sempre com o celular nas mãos e uma expressão indecifrável que
de nada me agrada.
Depois do ocorrido com o desgraçado do Baruan que sempre se
mostrou o braço direito do meu pai, uma coisa aprendi com tudo isso: não
importa quem seja, no meio que vivemos, não devemos confiar em ninguém,
porém, além dos meus pais, jamais irei pensar duas vezes em acabar com a
vida de qualquer um, mesmo que seja alguém tão próximo a mim. Com tudo
já resolvido, deixo a empresa e sigo para casa. Passo todo o percurso com os
pensamentos voltados para Maysun, e ao chegar no palácio e adentrar o
ambiente, minha garganta se fecha, minha mandíbula se contrai enquanto
olho para a cena a minha frente.

Ouço algumas batidas na porta do quarto. Estou deitada, enrodilhada na


coberta com os olhos fechados e a mente enevoada, sonolenta, com uma
preguiça enorme de me levantar. As lembranças da noite anterior não saem
da minha mente. Como pude ser tão fraca ao me deixar levar pelas vontades
do meu corpo? Como senti prazer com os toques de alguém por quem não
sinto nada além de rancor, que já demostrou que só me vê como alguém a
quem ele quer tornar uma esposa modelo, uma mulher que sempre estará de
pernas abertas para atender suas necessidades? Não importa o que terei de
fazer para lutar contra mim mesma, mas não posso me deixar levar
novamente por esse jogo o qual só terá um vencedor, Kadar Maktoum.
Não sou hipócrita ao ponto de dizer que não foi bom. Foi. Nunca
cogitei que fosse capaz de sentir tanto prazer ao toque de um homem e muito
menos que um misto de sensações que ele despertou em mim pudesse existir.
Tenho que ser forte, pois ao sucumbir ao desejo carnal, só estarei dando mais
munição para aquele demônio cogitar que além do meu corpo, a minha alma
também pertence a ele.
No entanto , as batidas se repetiram de maneira mais insistente. Me
esforcei para sentar e observar quando a porta se abriu e Tita apareceu em
meu campo de visão.
— Bom dia, senhora. Desculpe-me por acordá-la, mas seu marido me
deu a ordem antes de sair para que eu viesse até seus aposentos e a acordasse.
— Bom dia, Tita! Por favor, vamos deixar esse senhora de lado, já lhe
falei que quando estivermos sozinhas, você não precisa me chamar assim.
— Tenho medo de esquecer e cometer o erro de chamá-la de May na
frente do senhor Maktoum, sei muito bem a fama que o príncipe do deserto
tem.
— Tenho que concordar, Kadar mais parece um demônio que só de
olhar, faz seu corpo estremecer.
— Nisto concordamos, é exatamente essa a reação que a sua presença
faz comigo. Meu corpo mais parece uma vara verde que não para de tremer.
— Caimos na gargalhada.
Tita nesse pouco tempo se tornou uma pessoa muito especial na minha
vida. Embora a diferença de idade entre nós duas seja muito grande, pois ela
já demostra ter seus quase quarenta anos, me sinto muito bem na sua
companhia, como se ela fosse da minha idade. Ela logo segue para o
banheiro, preparando meu banho, não insisto mais em dizer que não precisa,
já sei que ela iria dizer que precisa fazer suas obrigações. Minha cabeça
desaba de volta no travesseiro, ergo o olhar contemplando a decoração do
quarto, mesmo não ligando para o luxo a minha frente, tenho que reconhecer
que a decoração é belíssima e bem planejada. Tita me avisa que o banho já
está pronto, enquanto isso, ela irá providenciar meu café da manhã.
Suspiro, lutando contra a vontade de permanecer deitada, caminho em
passos lentos na direção do banheiro. Tita adentra no quarto com uma enorme
bandeja recheada de frutas e pães, e após comer de tudo um pouco, pois se
tem uma coisa que minha mãe ensinou a Burak e a mim é que nunca devemos
desperdiçar uma refeição, já que muitos dariam de tudo para ter apenas um
pedaço de pão, peço a Tita que me espere, que descerei junto assim que
escovar meus dentes. Ela por sua vez me alerta que meu esposo deu ordens
para que eu permaneça em meus aposentos. Ignoro suas palavras me
levantando e indo com ela. O fato de ter assinado aquele contrato e sabendo
quais são os termos Kadar não irá me impedir de descer. Não deixarei que me
trate como um animal que deve ficar preso em uma jaula, mesma que essa
seja luxuosa. Desde que cheguei ao Palácio Maktoum depois do casamento
praticamente não desci para explorar meu novo lar, e assim que chego ao
jardim, meus olhos brilham por puro fascinio. Aproveitarei para explorar o
lugar agora que estou aqui fora e Kadar não se encontra.
Passo boa parte da manhã no jardim, preferindo almoçar em meu
quarto para não encarar as três mulheres. Pergunto por Maktoum em uma
certa hora da tarde, e Tita me informa que certamente ele chegará só pela
noite. Cansada de permanecer presa e sozinha, já que Tita tem seus afazeres,
resolvo descer novamente e ao chegar na sala, encontro Haifa e seu irmão
Kaisar conversando. Não sei o que dá na mulher, que dessa vez me
cumprimenta, e como sou educada, faço o mesmo, mas se ela pensa que o
sorriso em sua face pode me enganar, está completamente enganada, está
visível no fundo dos seus olhos quais são suas verdadeiras intensões. Ela logo
se despede, dizendo que irá até os aposentos do tio ver como ele está. Fico
sozinha na sala com Kaisar que por incrivel que pareça, começa a falar, me
contando que no palácio há uma biblioteca. Meu coração acelera quando
ouço sobre a biblioteca, sempre gostei de ler, através da leitura consigo
imaginar uma vida bem diferente da que vivo em Dubai. Um lugar onde as
mulheres tem os mesmos direitos que os homens, onde há democracia e os
direitos e deveres de todos são respeitados. Entro no lugar e um misto de
sensações se apodera de mim, nunca vi tantos livros em toda a minha vida,
acabo por perder a noção do tempo. Quando saio da biblioteca, Kaisar ainda
está na sala, olhando algo em seu celular, e antes de subir as escadas para
voltar ao meu quarto, descido agradecer por ele ter me falando do lugar que
já se tornou meu refúgio.
— Obrigada por ter falando da biblioteca.
— Não tem que agradecer. Sei que deve ser difícil estar em um lugar
com pessoas que você nunca tinha convivido antes, e ainda sem ter nada para
fazer.
Ele tem o esboço de um sorriso nos lábios, ao contrário do demônio
com quem me casei, Kaisar me parece ser uma boa pessoa. Fico distraída
olhando para ele que só percebo meu estado catatônico quando uma voz que
se tornou meu tormento ecoa pelo ambiente, fazendo todo o meu corpo
estremecer.
— Atrapalho?
Viro-me na direção dele, gelando-me toda. Kadar está com os olhos
fixos na nossa direção, suas orbitas negras brilhantes nos olham como se
raios mortais irão saltar na nossa direção a qualquer instante. Noto através
das suas pupilas e da mandíbula contraida que o demônio não está nada
satisfeito.
— Quero que você vá agora para o seu quarto! Lugar do qual não
deveria ter saído.
Um nó se forma na minha garganta, e sem pensar duas vezes, falo:
— Não, e... — Paro de falar imediatamente quando sua risada diabólica
ecoa no cômodo, fazendo meu corpo tremer igual vara verde.
Ele me olha com olhos mortais, começo a tremer, meu coração parece
que sairá pela boca. Respiro fundo para não deixar transparecer meu medo, e
fico com meus olhos fixos nos deles, pela expectativa do que irá acontecer.
Em passos largos ele caminha na nossa direção, mas logo a voz de Kaisar
ecoa pelo ambiente.
— Primo! Maysun estava agradecendo-me por tê-la informado sobre a
biblioteca que há no palácio.
Ele continua com a mesma expressão, e ao parar na nossa frente, desvia
o olhar na direção de Kaisar.
— Em vez de tê-la informado sobre a existência da biblioteca, deveria
ter dito que ela não deve ficar sozinha com você. Da próxima vez que for
dizer qualquer coisa a minha mulher, antes fale comigo. — Fico desnorteada
com a forma como ele tratou o próprio primo. Sem que eu tenha qualquer
reação, suas mãos agarrão meus pulsos, praticamente me arrastando,
forçando-me a segui-lo na direção das escadas. Não tenho coragem de olhar
para trás, tamanha vergonha que sinto por kaisar presenciar o que estava
acontecendo. Assim que chegamos ao topo da escada, para minha surpresa,
ele segue para o lado contrário dos meus aposentos. Tropeço nos meus
próprios pés, pois Kadar me arrasta até chegar na frente de uma porta que fica
no final do corredor. Me apoio na parede enquanto ele pega uma chave que
estava pendurada no cordão em seu pescoço, abrindo a mesma. Entrarmos no
cômodo totalmente escuro, meu coração gela, o medo potencializa assim que
ele liga a luz do ambiente, deixando-me ainda mais petrificada. Por mais que
eu tente abrir minha boca para dizer algo, as palavras não vem.
— Bem vinda ao Quarto Vermelho da Tortura. O lugar onde você irá
aprender para que foi feita. Sua primeira lição será hoje.
Saio do estado catatônico que me encontro ao ouvir as suas palavras.
Estou horrorizada, tudo a minha volta é vermelho, do teto ao chão, porém
além da cortina que cobre uma das paredes, o tom avermelhado usado nelas
me chama atenção, é de um vermelho muito intenso. Assusto-me quando ele
aponta um controle na direção da parede que tem a cortina, que começa a se
afastar. Sinto o ar me abandonar com as imagens que vejo.
— As paredes foram pintadas com os próprios sangues de cada uma
delas.
Não consigo desviar os olhos dos quadros das várias mulheres
pendurados na parede, todas elas estão com as gargantas cortadas, o que só
me dá certeza de todos os boatos que sempre falavam sobre o homem que
agora é meu marido é verdade. Kadar Maktoum é a própria encarnação do
demônio.
Movida pelo desespero tento me soltar, mas ele aperta ainda mais meus
pulsos.
— Me solta seu monst...
Antes que eu conclua o que ia dizer ele me joga bruscamente no chão,
fazendo minha cabeça bater no concreto. Sinto uma pontada forte na minha
cabeça, mas em um impulso, me levanto e começo a correr na direção a
porta, e antes que eu chegue sinto mãos fortes de encontro ao meu cabelo.
Acabo me desequilibrando e caindo no chão, e mesmo caida, Kadar me puxa
pelos cabelos, me arrastando até próximo a cama, a qual sou jogada com
brusquidão. Minha cabeça lateja, olho o homem a minha frente que está se
despindo, engulo em seco, sinto minha espinha gelar. Tento me levantar, mas
novamente sou jogada em cima da cama, e feito um animal feroz, rasga as
minhas roupas me deixando completamente nua. Com o sentimento
inflamando em minhas veias que só esse demônio foi capaz de despertar em
mim, falo:
— Eu te odeio seu maldito. Prefiro a morte a ter que continuar do lado
de um psicopata como você.
Suas órbitas negras estão em um tom ainda mais escuro, o homem que
estava somente de calça puxa o cinto. O medo domina meus pensamentos, só
consigo ter consciência do meu corpo todo em alerta quando ouço o som do
cinto segundos antes de estalar, e no impulso, me viro de bruços, sentindo
uma dor infernal nas minhas costas. O barulho do cinto rasga o ar. Seguro o
grito.
— Já que você gosta do modo de difícil, vai aprender a manter essa
língua afiada dentro da sua boca.
Sinto o couro atingir minha pele novamene, queimando feito fogo onde
tocou. O terceiro golpe vem pior, tento desesperadamente não gritar e sair da
cama, mas ele é mais forte e me mantém imóvel no lugar. Na décima sinto
que não irei mais aguentar, agradeço a Allah quando ele para, mas em
questão de minutos sinto seu peso sobre a cama, que me vira de frente para
ele. Não consigo controlar os gemidos que saem entre meus lábios por estar
sendo esmagada por seu peso, e por minhas costas doloridas estarem sendo
esmagadas contra o lençol. Kadar abre minhas pernas e entra entre elas,
fazendo meu desespero aumentar.
— Não, por favor.
— Cala a porra da boca, você vai aprender a ser a esposa perfeita para
fazer o que eu quiser. Só me interessa o meu prazer e isso você me dá, e
muito.
Sem delongas sinto-o me invadir de maneira rude, arqueio meu corpo
sentindo seu pênis entrando na minha carne sensível. Isso dói. Tento tirá-lo
de cima de mim, porém só o irrita ainda mais, fazendo com que me penetre
com mais intensidade. Ele investe em meu corpo de forma violenta, seu
membro duro como uma rocha me invadindo cada vez mais forte, me
preenchendo completamente, seus movimentos são brutos e ritmados, dos
seus lábios saem sons guturais incompreensíveis. Kadar continua com seus
movimentos violentos, suas mãos começam a explorar meu corpo enquanto
ele empurra seu pênis fundo, enfiando tudo, fazendo lágrimas caírem sem
minha permissão. Parece que ele irá me partir ao meio. Seu membro entra e
sai de dentro de mim com vigor. Ele intensifica os golpes e com uma
estocada rígida e forte, ouço ele gritar alto, gozando e liberando seu líquido
em jatos potentes, posso sentir o sêmen me invadindo. Minha vagina arde,
reclamando da agressão. Ele me beija, e entre sussuros, diz:
— Acho que vou demorar muito tempo para enjoar dessa bocetinha
apertada.
Sinto um embrulho no estômago com as suas palavras. Ele sai de
dentro de mim, pegando suas roupas e caminha na direção da porta, porém
antes de deixar o ambiente, sua voz ecoa no cômodo:
— Você ficará presa aqui até aprender a obedecer as minhas ordens.
Ninguém além de mim entrará nesse cômodo. Espero que aproveite a sua
estadia no seu novo quarto, se isso for possível.
Assim que termina de falar, aponta o controle na direção da parede que
tem os quadros e no momento que a porta se fecha, o quarto é preenchido
pelo som das vozes de várias mulheres implorando por suas vidas antes de
serem mortas pelo homem com quem me casei. Todos os meus músculos
reclamam ao tentar me mexer. A forma como ele me possuiu me machucou
tanto físico como emocional, como se eu fosse somente um objeto para o
prazer desse demônio. Sem que eu possa controlar, começo a chorar, as
lágrimas saem em gotas grossas, fazendo uma trilha salgada sobre as minhas
bochechas, e com o dorso das mãos enxugou-as.
Minutos depois o barulho das vozes no ambiente aumenta tanto que
minha cabeça não para de latejar. Fecho meus olhos e um único pensamento
se faz presente na minha mente.
Essas foram as últimas lágrimas que Kadar me fez derramar. Se ele em
vez de uma esposa quer um objeto para satisfazer seus desejos, eu serei a
esposa que ele quer, tão fria quanto um bloco de gelo.
Durante o trajeto até o palácio cogito a ideia de deixar Maysun passar
algumas horas na biblioteca, embora meu objetivo seja fazer daquela atrevida
a esposa perfeita, não poderei deixá-la ficar presa no quarto até chegar o dia
de nos mudarmos. Porém assim que adentro a sala principal, me deparando
com a cena a minha frente, meus órgãos internos começam a funcionar a todo
vapor, algo queima por dentro, como se um vulcão em erupção estivesse
dentro de mim. Ódio. Raiva. Um misto de sensações ruins se apodera de todo
o meu ser, e tudo que ecoa na minha mente é a possibilidade de alguém tocar
no que é meu.
Com o ódio inflamando em minhas veias, saio puxando-a na direção do
quarto vermelho. Desde que assumi o comando das empresas, não entro neste
lugar, mas será o ambiente ideal para mostrar a ela quem é o seu dono. O
medo em seus olhos me deixa em puro êxtase, sei que sua reação será
exatamente essa ao olhar as imagens na parede. A maldita ainda cogita tentar
fugir, o que acaba por acordar os demônios que habitam no meu ser que a
muito tempo estavam adormecidos. Ver seu corpo frágil sobre a cama e suas
órbitas negras que refletem o quanto está em pânico só aumenta meu desejo
de dar a ela a lição que merece. A princípio cogito a ideia de usar o chicote,
porém marcar o corpo delicioso que me proporciona um prazer como nunca
sentido antes para sempre não está em meus planos, pois as lâminas que
mandei introduzir no chicote deixarão marcas irreversíveis à sua pele.
Depois de satisfeito, pego minhas roupas e em passos precisos caminho
até a porta, mas antes, farei Maysun refletir que não importa o que ela tente
fazer, sempre a minha vontade irá prevalecer e ela terá que conviver com as
consequências. Assim que chego no meu quarto, tomo um banho e resolvo
me deitar. Alguns minutos depois, inquieto, começo a me remexer de um
lado para o outro, e, por mais que eu tente dormir, o sono não vem. Um
desejo incontrolável de ter o corpo da atrevida colado ao meu como vem
acontecendo nos últimos dias me impede de cochilar. Estreito os olhos.
Tamanha é a minha irritação.
O que há de errado comigo? Como uma simples mulher pode ter um
efeito tão grande sobre mim? É como se estivesse bloqueado por algum
feitiço lançado por ela. Maldição! Nunca fui homem de me contentar
somente com uma mulher, no entanto, Maysun me satisfaz como nenhuma
outra foi capaz. Não! Não! Não! Ela é só mais uma e todo esse desejo logo
irá passar.

Pego meu celular e procuro o


aplicativo para acessar as câmeras do Quarto Vermelho da Tortura. Com os
olhos fixos na tela, contemplo seu corpo nu encolhido sobre cama e suas
órbitas negras arregaladas, fixas na parede a sua frente. Com alguns toques na
tela do aparelho desligo as luzes do ambiente, vamos ver até onde essa
coisinha deliciosa irá aguentar. Apesar da escuridão, posso ver as imagens
nitidamente, graças as lentes especiais das câmeras de alta tecnologia. Ela
permanece na mesma posição, aproveito para aumentar ainda mais o volume
do ambiente. Essa atrevida irá aprender da pior forma como a esposa de
Kadar Maktoum deve se comportar.

Dor. Essa é a palavra que expressa tudo que estou sentindo. Não só
uma dor física, como da alma. Depois de algumas horas tentando me mexer,
suspiro fundo e consigo me levantar. Meu corpo todo está dolorido, ele não
teve um pingo de pena de mim. Em passos lentos e com dificuldade, começo
a caminhar. Estou muito machuca, minha intimidade lateja, mas preciso
tentar ir aonde acho ser o banheiro, ao menos tentar. Tirar a podridão que
sinto impregnada em meu corpo. Giro a maçaneta da mesma que se abre,
entro no pequeno cômodo que é um banheiro. Me aproximo do espelho,
virando de costas, e olho o estado que elas estão. Meus olhos ardem, trato de
segurar as lágrimas, levanto o olhar, procurando por alguma toalha, que não
há no ambiente. Novamente volto para o quarto e mesmo com dificuldade,
me agacho e pego o pedaço de tecido que sobrou das minhas roupas. Quando
adentro novamente o banheiro, entro no box, embaixo das gotas grossas de
água, que ao entrar em contato com minha pele judiada, os gemidos logo
começam a sair entre meus lábios, só aumentando minha dor. Passo as mãos
pelo meu corpo até alcançar a minha intimidade melada de sêmen que passa a
latejar ainda mais com o contato da a água fria. Percebo que os grandes lábios
estão muito inchados, um desconforto enorme entre minhas pernas. Mesmo
com todo meu corpo doendo, passo bom tempo debaixo do chuveiro,
tentando aplacar a dor, e ao sair, pego a minha roupa rasgada começando a
enxugar o que posso do meu corpo. Completamente nua, sem ter nada para
vestir, fico encolhida, com frio, não desviando os olhos das imagens das
mulheres mortas a minha frente, por mais que os gritos estejam mais altos do
que antes. De repente as luzes se apagam e o medo agudo e cru paira sobre
mim. O som aterrorizante que parece não ter fim dobra de potência, quase
deixando-me surda.
No ambiente totalmente escuro onde acho que a qualquer momento irei
surtar, as palavras dos meus pais vem a minha mente. Sempre tive vontade de
deixar Dubai, viajar pelo mundo, e sempre eles me diziam a mesma frase:
"Filha, às vezes pode parecer escuro, mas a ausência da luz é uma
parte necessária. Apenas saiba que você nunca estará sozinha, poderá
sempre voltar para casa, para sua família. Você pode ver que a sua casa está
dentro de você, onde quer que esteja.”
Fecho meus olhos, começando a repetir a mesma frase por incontáveis
vezes: “Kadar Maktoum pode me deixar em pedaços, mas duramente vou
remendar os fragmentos.” Não sei em que momento exato acontece, mas não
consigo escutar as vozes. A única coisa que vem em minha mente é as
imagens da minha casa, da minha verdadeira família.
Três dias se passaram desde que Maysun está naquele lugar, e ao
contrário do que pensei, ela continua inabalável, se mantendo forte. Nem os
piores criminosos aguentaram tanto tempo ao passarem pela Tortura
Vermelha. Porém já não vejo o mesmo brilho que antes havia nos seus olhos,
é como se o seu corpo está ali presente, mas sua alma não. Ela está três dias
ouvindo o mesmo som , tendo somente uma refeição ao dia e permanecendo
no escuro total, só ligo a luz nos momentos que adentro o seu quarto.
Nem mesmo quando a possuí durante esses três dias nenhum som saiu
entre seus lábios, ela simplesmente abriu as pernas e permaneceu com os
olhos arregalados fixos na direção da maldita parede, como se fosse uma
boneca inflável. Acabei perdendo o controle e desferindo alguns tapas em seu
rosto, o que só aumentou a minha raiva quando ela não tentou reagir e muito
menos teve outra reação além de permanecer com os olhos nos quadros.
Desde ontem não consigo falar com Jamil para saber como está indo o
rumo das investigação sobre os Wehbe. Completamente esgotado, — pois
são três malditos dias que não consigo dormir direito, sempre as imagens dela
dormindo com seus longos cabelos escuros passam como flashes na minha
frente —, me levanto, saindo da minha sala e indo até a garagem. Passo todo
o trajeto com os pensamentos voltados para minha esposa, assim como o dia
todo que estive fora. Assim que chego em casa, depois de horas de reuniões,
todos estão reunidos na sala, os cumprimento e caminho até onde Maysun
está.
O andar superior causa-me calafrios na espinha. Ignoro a sensação ruim
e acendo as luzes do quarto vermelho, prendendo minha respiração, sentindo
o acelerar do coração bater freneticamente em minha caixa toraxica.
Gratidão e ealdade. Essas duas palavras sempre me foram ditas pelos
meus pais, as quais hoje representam tudo que devo a Kadar Maktoum.
Sempre tive muito orgulho dos pais que tenho, em meio a tanta dificuldade,
meu pai, um simples copeiro do Palácio Maktoum, sempre me mostrou um
outro lado da vida que o dinheiro jamais poderá comprar. Conheci Kadar
Maktoum quando ele tinha apenas seis anos de idade, embora sua mãe não
gostasse da nossa aproximação, toda vez que ia ao palácio, sempre
brincávamos juntos.
A vida da minha família nunca foi fácil, porém jamais cogitamos que
depois de tantos anos de dedicação à família Maktoum, o todo-poderoso
Mohammed bin Rashid Al Maktoum, quando soube que meu pai estava
doente, acabaria o dispensando das suas atividades. Fiquei completamente
perdido pois minha mãe — como a maioria das mulheres de Dubai — sempre
cuidou da casa e da sua família, não tendo nenhum tipo de renda a não ser a
do marido. Depois de alguns meses, com os remédios que tínhamos que
comprar, toda economia do meu pai se esvaiu. Ver a angústia nos olhos da
mulher mais importante da minha vida me deixou totalmente arrasado, pois o
pouco que eu ganhava em uma padaria no centro de Dubai não era suficiente
para manter as despesas e muito menos comprar os remédio que são cruciais
para evitar que ele sinta tanta dor.
Morando em uma das vilas mais pobre de Dubai conheço o sofrimento
do nosso povo de perto. O sheik Mohammed bin Rashid Al Maktoum jamais
olhou para a população sofrida, que acabam morrendo pela forme ou pelo
descaso no único hospital público que não tem capacidade para atender tantos
pacientes. Sem ter o que fazer, algo que eu jamais cogitei aconteceu.
Para o povo da elite, Kadar Maktoum sempre foi visto como o príncipe
do deserto que no futuro será o maior governante de Dubai, mas para o nosso
povo, ele é considerado o próprio demônio do deserto que tem o sangue ruim
do seu pai percorrendo em suas veias. Porém, o que todos consideram um
demônio, foi aquele que trouxe esperança a minha família, além de me tornar
o seu chefe de segurança, ganhando um bom salário. O menino que sempre
corria em direção ao copeiro — meu pai — ainda está vivo no fundo do
coração sombrio de Maktoum, e foi ele quem fez de tudo para meu pai ter um
bom tratamento, voltando a ter novamente o brilho que por anos não
presenciava em suas orbitas azuis. A esse homem eu terei eterna gratidão.
Uma dívida que jamais poderei pagar.
Fecho as portas dos meus pensamentos e termino de receber a última
informações sobre os pais de Maysun Wehbe Maktoum. Não sei qual será a
reação dele, mas ao saber quem ela realmente é, tenho esperança que a
princesa do deserto não se deixe ser corrompida e seja para o nosso povo a
luz que nos libertará da escuridão.

Pela primeira vez em minha vida me encontro sem reação. Por uma
fração de segundos, meus olhos ficam fixos na imagem a minha frente, me
deixando petrificado. Saio do estado estático que me encontrava e corro em
sua direção. Não consigo entender o porquê do meu coração bater
descontroladamente ao vê-la nesta situação, sempre fico em puro êxtase
vendo o sofrimento das mulheres com quem transo, no entanto, olhar seu
corpo frágil nesta estado e com uma poça de sangue próxima a sua cabeça,
provoca dentro de mim um misto de sensações que nunca senti antes. No
impulso, envolvo seu pequeno corpo inconciênte em meus braços, saindo do
quarto vermelho. Em passos largos, caminho em direção aos seus aposentos,
colocando-a em cima da cama, ligando o aquecedor para tentar fazer seu
corpo voltar a temperatura normal. Vou até o banheiro e pego um roupão, e
depois de vesti-la, chamo Tita que trata de cuidar do seu ferimento
rapidamente, enquanto ligo para o médico da família.
Após alguns minutos que mais se parecem uma eternidade, estou
prestes a fazer um buraco no chão do quarto de tanto andar em círculos
esperando o maldito médico. E assim que o homem aparece no meu campo
de visão, fico ao seu lado enquanto ele examina Maysun. A expressão em sua
face só me deixa ainda mais angustiado. Depois de uma análise
minuciosamente ele me informa que o ferimento em sua cabeça não é algo
grave, porém Maysun por ter ficado exposta por tanto tempo a uma baixar
temperatura, apresenta uma leve infecção onde ocorreu o corte. Após colocá-
la no soro e introduzir a quantidade certa de medicamento, recebo algumas
recomendações dos cuidados necessários para ter uma rápida recuperação.
Fico olhando para a mulher a minha frente que dorme como um anjo, porém
seu rosto pálido mostra sua realidade. Sinto uma inquietação se apoderar de
todo o meu ser. Por mais que eu tente negar a mim mesmo, a ideia de perde-
la cai como um soco no meu estômago. Nunca pensei que algum dia sentiria
tanto medo de perder alguém como estou sentindo.

Dor. Frio. Meu corpo está fraco e dolorido, minha cabeça dói, sinto um
forte desconforto entre minhas pernas, minha boca está seca, minha garganta
doendo. Preciso abrir meus olhos, mas novamente apago, caindo em uma
escuridão sem fim. Sinto algo macio e quente sobre mim, meu corpo está
aquecido, mas algo perfurante incomoda a minha mão. Abro os olhos
lentamente, ainda está no escuro, exceto por uma pequena luz vindo de um
abajur ao longe. Movimento-me e logo sinto meu corpo dolorido. Fecho
novamente meus olhos, vozes ecoam na minha mente, meu ofuscado cérebro
começa a procurar entre suas lembranças recentes o que ouve, pouco a pouco
as imagens fragmentadas começam a me torturar.
Depois da noite que Maktoum me colocou naquele quarto, não tive
nenhuma noção do tempo transcorrido, não sabia se era dia ou noite, então
comecei a calcular o tempo pela hora que ele entrava com um prato de
comida, percebendo ao vê-lo impecavelmente em um terno, que minhas
refeições estavam sendo feitas durante o jantar, quando ele voltava da
empresa. Graças as palavras dos meus pais que não paravaram de ecoar em
minha mente, por mais que ele aumentasse o volume das vozes no ambiente,
era como se tivesse um bloqueio em minha mente, onde eu não as ouvia
mais. Kadar por sua vez, ao ver que eu não sucumbia a sua tortura, começou
a transar comigo como o animal que é. Quando ele deixou o quarto, mesmo
com dificuldade, me levantei e fui tomar banho, e ao passar a mão na minha
vagina, tirei no mesmo instante. A dor entre minhas pernas era insuportável.
De banho já tomado, peguei a toalha que na verdade é o pedaço de pano da
minha roupa, e mesmo úmida, tentei me secar, mas ao passar próximo a
minha intimidade, o mesmo saiu sujo de sangue. De primeira achei que tinha
ficado menstruada, porém ao me sentar em cima do vaso tive a constatação
de que, além de assada, a minha vagina estava muito machucada. Como eu
estava completamente nua, usei a cocha que cobria a cama para me aquecer
devido o frio no ambiente. Parece que o demônio achou um novo jeito para
me torturar.
No segundo dia novamente ele adentrou no quarto duas vezes, e mesmo
machucada, o homem me penetrava com brutalidade. Seus golpes eram fortes
e iam fundo me preenchendo por inteira, uma dor insuportável pairou sobre
mim, porém fechei os olhos imaginando que eu não estava naquele lugar. O
pênis daquele demônio é semelhante uma anaconda, tão grande e grosso que
parece me rasgar por dentro. Sem ter com o que me secar, acabei usando a
cocha da cama, que do segundo banho, já estava bem úmida.
Maktoum nesse dia ficou completamente possuído por seus demônios,
acabou desferindo vários tapas em meu rosto, e a minha única reação foi
permanecer com os olhos arregalados e fixos na parede a minha frente. Ele
antes de deixar o cômodo, ajustou a temperatura do ambiente que mais
parecia uma geladeira. No terceiro dia estava com tanto frio, ainda não tinha
comido nada o dia todo e meu estômago estava doendo muito, com um forte
desconforto em minha garganta. Ao mover a cabeça, meus olhos foram de
encontro a cortina, precisava de algo que pudesse me aquecer, minhas pernas
estavam fraca, respirei fundo e consegui me levantar. Em passos lentos, fui
em direção a parede, aquela altura eu estava me sentindo muito fraca. Ao
puxar o tecido a minha frente pela segunda vez, não tinha mais forças, a
maneira que cai no chão fiquei, logo um estrondo ecoou no ambiente quando
o ferro que segurava a cortina caiu em cima da minha cabeça. Vi tudo
desfocado a minha frente, foi quando cai na escuridão do esquecimento. Saio
das lembranças dos dias terriveis que tive quando ouço um barulho .
No momento que abro novamente meus olhos, uma luz forte entra em
minhas retinas, me fazendo fechá-los novamente. Os aperto antes de abri-los
lentamente. Meus olhos ajustaram-se a claridade, e ao olhar em direção a
porta, o demônio está parado com suas orbitas negras fixas em mim.
Com os olhos fixos no homem a minha frente todo o meu corpo entra
em alerta do que irá acontecer. Com uma expressão totalmente indecifrável,
ele começa a se mover na minha direção, e por um impulso, tento me
levantar, sem que eu possa controlar, um gemido escapa entre meus lábios.
Todo o meu corpo está pesado e dolorido, então permanece no mesmo lugar.
Kadar Maktoum ao ver a expressão de dor em minha face acelera seus
passos, parando em minha frente.
Suas orbitas negras, ao contrário da última vez que o vi, tem um brilho
diferente. Saio do estado catatônico que me encontrava assim que o silêncio
que antes estava presente no ambiente dá lugar ao som da sua voz:
— Que bom que você acordou. — Ao ouvir suas palavras, fico
atordoada, pois seu tom de voz é calmo e se eu não o conhecesse, pensaria
que ele está preocupado comigo. Continuo o encarando, e ele vendo meu
silêncio, volta a falar.
— Você esteve doente por alguns dias. Além da pancada que recebeu
na cabeça, teve uma forte gripe e febre alta.
Levo minhas mãos ao encontro da minha cabeça, tendo a confirmação
das suas palavras ao sentir o contato dos meus dedos com o objeto em uma
pequena região da mesma, indicando que há um curativo. Fecho as portas do
meu devaneio ao Sinto uma movimentação na cama quando ele se senta do
meu lado. Ficamos nos encarando por alguns segundos, até que ele diz:
— Você terá que continuar de repouso, pois seu corpo ainda está muito
fraco.
Toda a sua encenação de quem está preocupado comigo faz um nó se
formar em minha garganta e assim que sinto sua mão tocando o meu rosto, o
jeito como ele me olha, suas últimas palavras que antes estavam me
incomodando desfaz o nó. Sem quebrar o contato visual, mesmo com
dificuldade, me levanto ficando a uma pequena distância dele. Sinto tudo
girando a minha volta, buscando uma força que até então desconhecia, me
forço a permanecer em pé.
— Estamos sozinhos. Então chega de querer demostrar algo que não
condiz com você. Nós dois sabemos que a sua única preocupação com a
minha recuperação é somente para se enfiar no meio das minhas pernas. Tudo
o que você me fez passar naquele quarto só serviu para fortalecer um
pensamento que a muitos dias está presente na minha mente. Eu jamais terei
como pagar o valor estipulado naquele contrato, no entanto, a única pessoa
responsável por essa dívida está na sua frente. Vou sair por esta porta e você
pode mandar me prender ou até acabarem com a minha vida, mas a partir de
hoje, nada vai me quebrar mais do que você já não tenha feito.
Sua expressão logo muda, o ódio visível através das suas orbitas negras
que agora estão mais escuras. No impulso, puxo o objeto perfurante que
estava em contato com a minha pele e começo a caminhar na direção a porta.
Tudo começa a ficar distorcido, e antes que eu caia novamente na completa
escuridão, sinto o seu cheiro inebriante invadir minhas narinas, suas mãos
fortes me segurando.

Três dias se passam desde o dia que encontrei Maysun naquele quarto
caida no chão. Fecho meus olhos e as lembranças dos últimos dias invadem a
minha mente.
Depois dela ser atendida pelo Dr. Kassan, fiquei mais aliviado ao saber
que a pancada em sua cabeça não terá consequências graves. Tita festá
encarregada da medicação que deverá ser administrada de acordo com os
horários estabelecidos pelo médico. Ao sair do quarto dela, vou até meus
aposentos, tomo uma ducha quente e minutos depois, já vestido, caminho em
direção ao corredor de acesso a escada. Me deparo ao dscer com alguns pares
de olhos fixos na minha direção. Visto minha armadura de homem frio,
fechando-a por completo e termino de descer os últimos degraus. O silêncio
paira no ambiente, e pela expressão da minha mãe, sei que ela está louca para
abrir sua boca e como sempre falar a mesma ladainha. Para a minha surpresa,
ela se mantem quieta, ao contrário da mulher a minha frente, que a cada dia
me causa uma enorme irritação toda vez que ouço sua voz.
— Pelo visto Maysun não vai se adaptar a sua nova vida, e como
poderia, vivendo tantos anos em meio a pobreza.
As palavras proferidas pela mulher a minha frente despertam um misto
de sensações, e a única coisa que passa na minha mente é pegar meu chicote
e fazê-la se manter de boca fechada.
— De certo você é conhecedora disso, Haifa, já que se não fosse pela
nossa ajuda, vocês teriam que se adaptar a outra vida. Só que ao contrário de
Maysun, que saiu da pobreza em que vivia, vocês teriam que viver no meio
dela. Deixe que da minha mulher eu mesmo me encarrego.
Acabo por perder a fome, voltando para os meus aposentos. Fecho as
portas dos meus pensamentos ao ver pelas imagens da câmera que ela
acordou. Além do quarto de Maysun, também tratei de instalar outra câmera
em um determinado cômodo do palácio. Ninguém além de mim sabe da
existência delas, pois eu mesmo fiz todo o processo de instalação. Me levanto
e em passos largos caminho até o quarto de Maysun.
Assim que adentro o ambiente, meu coração começa a bater no ritmo
frenético. Cheguei a ligar por diversas vezes para o Dr. Kassan por ela não ter
acordado, mais ele me tranquilizou, dizendo que era normal e a medicação
colocada no soro iria fortificar o corpo dela. Saio do estado estático que me
encontrava e me movo em sua direção, ao vê-la tentando se mover, aumento
o ritmo dos meus passos.
Sabendo que ela ainda não está recuperada, tento manter a calma, algo
que nunca tive na vida, porém a insolente, mesmo com dificuldade, se levanta
e fala palavras que são capazes de esquentar o sangue nas minhas veias. Um
nó se forma em minha garganta, minha mandíbula se contrai. Vejo-a perde a
cons=ciência, me movo rapidamente a pegando em meus braços. Antes que
eu cogite em chamar Tita, ela adentra o quarto.
— Peço perdão, senhor, acabei esquecendo de avisar que o senhor
Jamil está o aguardando.
Por dias ansiei por informações dele. Uma sensação ruim paira sobre
mim sobre o que irei descobrir. Dou ordens a mulher a minha frente para não
deixar May se levantar, e em passos precisos, vou ao encontro de Jamil, que
já se encontra em meu escritório. Sento em minha poltrona enquanto o
homem a minha frente se acomoda na cadeira ao lado.
— Aqui está o dossiê com todas as informações que me pediu, senhor.
Após uma minuciosa investigação, descobri que Fátima Wehbe, na verdade, é
a princesa Aylla Rashid Al Nuaimi. Para todos ela morreu a mais de vinte e
dois anos atrás, mas na verdade, ela foi renegada pelo seu pai, o sheik
Humaild bin Rashid Al Nuaimi, após fugir com o filho do ex-jardineiro do
seu palácio. Ele ainda veio até Dubai a procura da princesa, mas não se sabe
de fato o que aconteceu, que ao retornar a Fujairah, comunicou o falecimento
da sua única filha. Com a mudança de identidade da princesa e o desprezo do
sheik Nuaimi, o mesmo que é dono de uma fortuna incalculável, não tem
conhecimento do nascimento de seus netos e únicos herdeiros. Maysun
Wehbe Maktoum é herdeira do homem mais rico dos Emirados Árabes, onde
a fortuna da família Maktoum de nada se compara com tudo que pertence a
sua esposa..
Um sentimento que jamais senti na vida paira sobre mim: medo. Medo
de perde-la.
Ainda estou atordoado com a bomba jogada em cima mim. É como se
um soco que jamais cogitei levar acertasse em cheio meu estômago. Não,
não. Não. Eu preciso pensar, nada e nem ninguém irá tirar o que é meu. Um
turbilhão de pensamentos ecoam na minha mente. Tudo que cogitei está a um
passo de ser jogado no lixo. Depois de Jamil me relatar a real situação do avô
de Maysun, que segundo suas investigações não tem conhecimento dos
netos, minhas esperanças são renovadas. A única pessoa que pode contar a
verdade por algum motivo se calou por todos esses anos, o que desperta a
minha curiosidade. Será só orgulho ou tem algo que Jamil não descobriu?
Para Fátima Wehbe ver seu filho a beira da morte e ter se mantido calada,
somente o orgulho me faz ter certeza que será fácil a manipular para hipótese
alguma revelar a verdade a minha mulher.
Peço sigilo total a ele sobre as informações contidas no dossiê, que logo
em seguida, se retira do ambiente. Meus olhos ficaram fixos no montante de
papéis nas minhas mãos e, minuciosamente, começo a analisar cada palavra
contidas neles. O fato de Maysun ser neta do Sheik Nuaimi, o todo poderoso
em Fujairh, de fato irá alterar tudo que já planejei, mas por outro lado, será
bem engraçado ver a expressão da minha família ao saberem que a pobretona
como dizem é dona de uma fortuna incalculável. A única coisa que essa
informação trás para meus planos é a possibilidade dela ter dinheiro
suficiente para pensar que pode se livrar de mim. Maysun Wehbe Maktoum
jamais sairá do meu lado sem a minha permissão.
Sheik Nuaimi pode ser temido e respeito em Fujairh, mas aqui, em
Dubai, a família Maktoum é a lei. Como futuro líder do clã religioso mais
importante dos Emirados Árabes, usarei tudo que estiver ao meu alcance se
por acaso ele venha ser um obstáculo em meu caminho. Com um movimento
rápido fico de pé, pego o dossiê e caminho em direção ao meus aposentos,
indo até meu cofre pessoal, depositanto a chance de Maysun se livrar de mim
definitivamente. Essa informação é preciosa demais e preciso guardá-la a sete
chaves até o momento certo de revelar a minha doce esposa suas origens.
Deito na cama, passando um bom tempo pensando em toda a situação.
Não estava em meus pensamentos ter que fazer uso do plano B, mas diante
dos últimos acontecimentos, onde Maysun ao ficar boa o suficiente para
deixar o palacio não pensará duas vezes em fazer, e depois de tudo que soube
da sua família, o único jeito de mantê-la para sempre ao meu lado será
engravidá-la o mais rápido possível. Antes, darei a sua tão sonhada liberdade,
porém, dela dependerá o destino de outra pessoa.
Uma gargalhada escapa por meus lábios. Eu, Kadar Maktoum, nunca
entro em um jogo sem ter uma carta na manga.

No momento em que o sol ilumina o quarto, acordo atordoada com uma


estranha convicção me perseguido. A sensação é de mais ou menos como se
tivesse engolido um despertador antes de dormir, e agora, está ressoando em
minha barriga. Intuição, ansiedade, medo. Um misto de sensações paira sobre
mim. Fecho os olhos e meus pensamentos invadem a minha mente.
Desde o momento que coloquei os meus pés nesse lugar, tenho vivido
dias que nem nos meus piores pesadelos cogitei vivenciar. Uma ferida tão
grande que não sei se algum dia será capaz de cicatrizar. Ao contrário das
mulheres de outras culturas, aqui somos vistas como objetos que devem
satisfazer as vontades do marido, no momento e na hora, que assim ele
desejar. Nem se aquele maldito me desse mil chibatadas faria uma ferida
como a que estou sentido.
Todas as palavras que proferi a Kadar ainda estão aqui, repassando
como um lembrete, irei fazer exatamente o que disse a ele. Só depois de
passar mal que a realidade bateu forte em mim. Não poderia chegar na casa
dos meus pais naquele estado, não naquele dia. Durante toda a minha infância
aprendi que as únicas pessoas a quem devo confiar cegamente são eles.
Nunca escondi nada, sempre tive total liberdade de dialogar com eles e além
ter uma mãe maravilhosa, ela é, a cima de tudo, a minha melhor amiga. A
simples ideia de ver a decepção nos olhos dos meus pais ao saberem de tudo
que fiz e omiti, me deixa atordoada.
Resolvo permanecer mais alguns dias até me recuperar. Tita tem sido
muito mais que uma serva, e sim, uma amiga. Ela cuidou de mim desde o dia
que Kadar me tirou daquele quarto, e por falar no demônio com quem me
casei, o mesmo não retornou aos meus aposentos desde o dia que falei que
irei embora, o que me deixou em total alerta por ele não ter questionado a
minha decisão. Deixo de divagar e me espreguiço antes de levantar, indo em
direção ao banheiro. Observo o ambiente pela última vez, pois esse será o
último banho que tomarei neste lugar. Durante essa semana que passou, e
com o silêncio de Kadar, aproveitei para colocar minhas idéias no lugar,
pensar com clareza. Não sei o que será da minha vida assim que colocar
meus pés para fora desse lugar, porém, hoje é um dia muito especial para eu
deixar que aquele homem ocupe meus pensamentos.
Deixei para voltar somente hoje para casa por ser o aniversário do meu
irmãozinho. Sempre estivemos juntos nessa data e hoje não será diferente.
Resolvo entrar na banheira, minutos depois de banho já tomado e arrumada,
deixo o cômodo indo em direção ao quarto. Meu coração dá pulos de alegria
ao saber que daqui algumas horas estarei novamente em minha casa, com a
minha familia. Meus pensamentos são interrompidos ao ver a maçaneta da
porta sendo girada, fco paralisada com a figura alta , vestido todo de preto a
minha frente. Tudo que eu não pensei era que o veria antes de ir embora.
Suas órbitas negras me avaliam atentamente, meu coração começa a bater
desesperadamente, minha respiração acelera ao vê-lo vindo na minha direção.
No impulso, dou alguns passos para trás. Estou tão nervosa que quando dou
por mim, já estou encurralada na parede. Presa, sem saída. Kadar aumenta o
ritmo dos seus passos e para na minha frente, e só aí percebo o objeto em
suas mãos. Ele puxa um papel do envelope e estende para mim.
— Pegue. — Pego o documento sem entender nada. — Você queria
tanto a sua liberdade, ai está ela, afinal de contas, você não tinha dívida
alguma já que o contrato nunca foi legalizado perante a justiça.
Quando olho que realmente é a minha assinatura, sem pensar duas
vezes, começo a rasgar o documento que me fez passar por tudo isso. Algo
dentro de mim ainda está inquieto, a mesma sensação ruim que senti assim
que acordei. Sua expressão indecifrável só me deixa mais confusa. Vou até a
minha pequena bolça que irei levar querendo sumir daqui o quanto antes.
Kadar se mantem imóvel, sem pelo menos virar de frente para mim. Caminho
em passos largos até a porta, mas ao levar minha mão de encontro a
maçaneta, novamente sua voz se faz presente, e ao ouvir as palavras
proferidas pelo homem atrás de mim, meu coração gela, minha raiva se
potencializa e novamente me vejo nas garras do meu inimigo.
— Você tem a liberdade que tanto desejava, porém, o motivo de não
ter oficializado o contrato foi justamente por seu pai ter assinado um
segundo, onde ele insistiu em pagar todas as despesas do seu irmão. Então,
Maysun, você poderá deixar esse palácio a qualquer momento, mas a sua
liberdade será a prisão daquele que você tanto ama. O destino do seu pai está
em suas mãos.
Mesmo de costa, sei que minhas palavras a deixaram estarrecida.
Embora Maysun seja dona de uma personalidade forte, uma mulher que, ao
contrário das que conheci, tem um espírito livre, ela tem uma fraqueza a qual
será a minha maior aliada: família. Visto minha armadura de homem frio e
calculista, e com um giro rápido nos calcanhares, viro na direção da minha
esposa.
Ódio é a palavra que define a expressão na sua bela face. Suas órbitas
negras brilham em um tom mais escuro do que o habitual. Como já é de se
esperar, a atrevida logo trata de me desafiar.
— Você cogitou mesmo que irei cair nesse seu joguinho? Por que você
ainda insiste em um casamento que está predestinado ao fracasso? Não foi
suficiente tudo o que você fez comigo?
Sem desviar os meus olhos dos dela, puxo o segundo papel de dentro
do envelope, estendendo na sua direção. Maysun logo se aproxima parando
na minha frente.
— Pegue. É somente uma cópia do original.
Com o objeto em mãos, ela logo trata de ir para última parte,
constatando a veracidade da assinatura de Antônio Wehbe, e antes que ela se
manifeste, minha voz se faz presente.
— Na manhã, após a cirgiã do seu irmão, recebi na minha empresa o
aviso que seu pai estava na recepção. A princípio até cheguei a pensar que a
filha perfeitinha dele tivesse revelado toda verdade, mas assim que ele entrou
em minha sala, percebi que o assunto que o trouxe até mim era outro. Você
pensou que eu, Sheik Kadar Maktoum, fosse levar ao conhecimento de
alguém o contrato que te fiz assinar? No mundo que vivemos ninguém é
confiável e ao registrar aquele contrato, correria o risco de alguém vim a ter
alguma desconfiança que minha esposa foi coagida a aceitar essa união.
— Por acaso é alguma mentira? Eu nem nos meus piores pesadelos me
uniria a um demônio feito você.
— Pelo visto três dias naquele quarto não foram suficientes para te
fazer guardar a língua dentro dessa boquinha deliciosa.
Ao ouvir minhas palavras, por uma fração de segundos, a vejo
estremecer, mas a insolente logo trata de se recompor.
— Seu pai exigiu que um contrato fosse feito do valor que foi gasto
com o pequeno Burack. Pelo visto está no sangue dos Wehbe o dom de ir
contra as minhas vontades, porque mesmo dizendo que não seria preciso, ele
insistiu, e diante a insistência dele, fizemos o documento que está em suas
mãos. Então se era a sua liberdade que você tanto queria, poderá ir agora
mesmo, porém, alguém sofrerá as consequências.
— Você é um ser desprezível. Deve ter uma pedra ao invez de um
coração. Se é um troféu que você tanto deseja para exibir perante a sociedade,
pois bem, você terá, mas como você mesmo disse, eu não te devo nada e
apartir de hoje não irei mais sucumbir aos seus desejos sórdidos. Não viverei
presa como um animal, afinal, o todo poderoso sheik Kadar Maktoum não vai
querer que a sociedade e sua família saibam que ele não foi capaz de arrumar
uma esposa sem ter que usar de chantagem para isso.
Sinto minha mandíbula se contrair enquanto a maldita atrevida me olha
em desafio. Respiro fundo para conter a raiva que está incendiando nas
minhas veias. Assim que conseguir o que tenho em mente, May estará ligada
a mim por algo muito maior que o nosso casamento. Meus pensamentos são
interrompidos ao vê-la caminhar em direção a porta. Meu coração gela, meus
batimentos aumentam.
— Pela liberdade do meu pai manteremos essa farsa que você chama de
casamento. Porém hoje é aniversário do meu irmão e não importa o que você
faça, eu irei vê-lo.
— Pare! — Ela vira na minha direção. — Combinei com os seus pais
que iríamos a noite.
— Você pode até ir a noite, mas eu irei agora. Tita irá comigo, e peça
ao seu motorista para nós levar, afinal. não fica nada bem a esposinha do
sheik Maktoum ir andando.
— Maysun, não entre em um jogo onde você sairá perdendo.
— Eu sempre gostei de desafios, querido esposo. — Há sarcasmo no
seu tom de voz.
Por hora deixarei que pense que pode me desafiar, preciso ganhar sua
confiança. Poderia muito bem a possuir e conseguir o que tanto almejo, mas
mostrarei a essa insolente que por mais que tente negar, o seu corpo diz o
contrário.

Assim que o automóvel entra em movimento, um turbilhão de


pensamentos paira na minha mente. De nada vai adiantar medir forças contra
Kadar, terei que vencer o meu inimigo de outra forma. Depois que Tita me
conta o estado que ele ficou após me tirar daquele quarto, um pensamento se
faz presente na minha cabeça. A princípio pensei que aquele demônio só
quisesse me mostrar que sua vontade teria que prevalecer após não ter
aceitado a sua proposta, mas ele poderia ter me forçado e conseguido o que
queria sem precisar casar comigo. Também já percebi o jeito que ele fica
quando está transando comigo, a sua expressão é de puro êxtase. Se terei que
continuar com esse casamento e Maktoum vai continuar usufruindo do meu
corpo, essa será a arma mais poderosa que terei contra ele.
Tita avisa-me que já chegamos. Como o carro ficaria nos aguardando,
faço o sinal e ela logo começa a gemer, dizendo que esta sentindo dor no
estômago. Peço ao motorista que a leve até a farmácia, saio do carro e o
mesmo logo entra em movimento, fazendo o que mandei. Assim que o
veículo some do meu campo de visão, caminho em direção a porta da minha
casa. Espero que ela consiga o que combinamos, porque depois dos últimos
acontecimentos, preciso evitar qualquer possibilidade de ficar grávida do
demônio com quem me casei.
Vendo meu sofrimento, ela resolveu me ajudar do jeito que pode, então
antes de deixamos o palácio, combinamos que ela daria um jeito de ir até a
farmácia e comprar algumas caixas de anticoncepcional. Fecho a porta dos
meus pensamentos assim que minha mãe aparece na porta. Em passos largos
vou em sua direção, e ao ficar centímetros de distância, sou recebida por um
forte abraço. Não tenho palavras para expressar o quanto é bom estar no meu
verdadeiro lar.

Em um lugar um pouco distante de Dubai

A gazeta dos Emirados Árabes é um dos jornais mais famosos do


mundo árabe, sempre trazendo todas as informações dos últimos
acontecimentos. Como de costume em Fujairh, no palácio do sheik Nuaimi,
ele sempre gostou de ler o seu jornal antes da primeira refeição do dia, e por
coincidência do destino, o mesmo está distraído em uma ligação quando sua
serva lhe entrega o jornal.
— Senhora, trouxe o jornal do senhor Nuaimi.
— Obrigada, Tereza, pode deixar aí em cima.
Sheika Nuaimi nunca teve interesse em ler as informações contidas no
Gazeta dos Emirados Árabes, mas quando seus olhos ficam fixos no objeto a
sua frente, que se encontra em cima de uma mesa de centro, um calafrio
atravessa todo o seu corpo. Ao ver que seu esposo ainda está ocupado e não
aguentando mais o forte incomodo dentro do seu peito, pega o jornal e seus
olhos logo ficam fixos na imagem a sua frente a deixando petrificada. No
mesmo instante que o sheik Nuaimi encerra a ligação, o mesmo ao ver a
esposa totalmente imóvel e com os olhos fixos no montante de papel, em
passos largos vai em sua direção, seus olhos logo vão de encontro a imagem
que deixou sua esposa em um estado estático. Sua mandíbula se contrai no
mesmo instante que ele olha a foto do casal a sua frente, o ambiente que
estam em silêncio logo é preenchido pelo som da voz do todo poderoso de
Fujairh.
— Quem é essa mulher usando o seu vestido?
Meu coração bate em um ritmo frenético, minha mandíbula não para de
contrair, e com os olhos fixos na imagem a minha frente, um turbilhão de
pensamentos se faz presente em minha mente. É como se eu tivesse voltado
alguns anos atrás, precisamente, para o dia do meu casamento. Não só o fato
do vestido usado pela desconhecida me chama atenção, mas a sua
semelhança com minha esposa. É como se estivesse vendo-a no momento
que nos casamos. Cada traço da mulher na imagem é de uma semelhança
assustadora. Saio do estado catatônico que me encontrava ao ouvir sua voz.
— Ela é nossa neta.
Ao ouvir as palavras proferidas pela mulher ao meu lado, minha
garganta se fecha. Volto minha atenção para a imagem que nem trato de ver o
nome da mulher ao lado do Sheik Kadar Maktoum. No impulso, pego o
jornal da sua mão e minuciosamente começo a ler cada palavra contida no
informativo, e assim que chego no nome da desconhecida, meus órgãos
internos parecem um vulcão em erupção e novamente meus ouço a voz da
Sheika Madiya Nuaimi.
— Maysun Maktoum sem dúvida alguma é nossa neta. — Ela fala com
a voz entrecortada, olho para sua face que está banhada pelas lágrimas
grossas contínuas.
— Deixe de falar asneira mulher. Você não pode ter neta se aquela
infeliz que você chamava de filha morreu a mais de vinte e dois anos.
— A minha Aylla pode estar morta para você, assim como para todos
que acreditaram na mentira que foi dita anos atrás, mas aqui dentro do meu
coração eu sei que a minha filha está viva. Depois de tantos anos pensei que
seu coração tivesse amolecido, todo esse orgulho e ressentimento vai acabar
apodrecendo o seu coração. Tudo isso só resultou em não termos a nossa
única filha do nosso lado, de não saber o quanto ela sofreu durante todos
esses anos. Nós não só perdermos os melhores anos da vida da nossa única
filha, como você me tirou o direito de conhecer os meus netos. Portanto, essa
garota tem o sangue dos Nuaimi, você querendo ou não.— Sinto a raiva
incendiando em minhas veias. Respiro fundo e visto minha armadura de
homem frio e que não se importa.
— Para mim pouco importa quem seja essa mulher, você sabe muito
bem que a única filha que tive está morta e enterrada. Agora, tenho assuntos
mais importantes que precisam ser resolvidos. — Assim que dou alguns
passos, fico petrificado quando novamente sua voz ecoa.
— Humaild! Os maiores inimigos do homem estão dentro do próprio:
são as mágoas, os ressentimentos. Mantê-los armazenados em seu interior é
como ter, em sua cabeça, uma bomba relógio que você próprio, um dia,
acenderá o pavio.
De uma certa forma suas palavras me atingem como um soco no
estômago. Saio do estado estático que me encontrava e em passos largos,
caminho em direção ao meu escritório. Fecho a porta pegando o aparelho que
se encontra em meu bolso, e ao deslizar o dedo na tela do celular em minhas
mãos, procuro o número de Dusan Gonzales, que no primeiro toque, atende
de imediato.
— Bom dia, senhor, a sua disposição. — Sempre prestativo.
— Preciso com urgência dos seus serviços. Quero todas as informações
sobre a esposa do sheik de Dubai Kadar Maktoum. Quero que investigue tudo
sobre a família dela.
— O senhor terá o mais breve possível um dossiê completo.
— Quero sigilo total de tudo que você descobrir. Você mesmo terá que
ir pessoalmente até Dubai, não quero nenhum dos meus homens envolvidos
nessa investigação.
— Pode deixar que cuidarei de tudo pessoalmente, senhor.
Após passar mais algumas informações encerro a ligação. Me acomodo
em minha poltrona e meus pensamentos se voltam para Maysun Maktoum,
porém, a dúvida paira sobre mim. Se ela realmente é a filha de Aylla como
tudo índica, como se casou com alguém tão importante como Kadar
Maktoum?
Desde o dia que estive aqui pela última vez, não sentia essa sensação de
paz tão grande em meu coração. Um misto de sensações paira sobre mim, e
ver a alegria nos olhos do meu irmão por estamos juntos nesse dia, faz meu
coração dar pulos de alegria.
Minha mãe questiona o porquê de não ter vindo com meu esposo, pois
haviamos combinado que a noite estaríamos aqui. Conto a ela que Maktoum
tinha alguns assuntos para resolver na empresa, mas que ao entardecer, virá
se juntar a nós. Tita não demora a chegar e me diz que já está com o
medicamento em mãos, aproveito e começo a fazer o uso do
anticoncepcional. Sei que não fará efeito de imediato, porém a sorte está ao
meu favor, pois se depois de Kadar ter me possuindo incontáveis vezes desde
que nos casamos, eu não engravidei, agora me prevenindo isso se tornará
algo impossível de acontecer. As horas passam voando, quando dou por mim,
já está na hora do almoço. Parece que não como desde o dia em que fui morar
naquele palácio, porque como tanto que meus pais perguntam se tem um leão
no lugar do meu estômago. Após o almoço, vou para o meu antigo quarto,
tomo um banho e acabo caindo no sono profundo, acordando em um
sobressalto ao ouvir a voz de Tita me chamar. Levanto rapidamente assim
que ela me diz que Maktoun já está na sala, que acaba de chegar. Dormi tanto
que acabei perdendo a noção do tempo transcorrido, me surpreendo por isso,
era para ser apenas um cochilinho. Me levanto e depois de ir ao banheiro e
dar um jeito na minha aparência, em passos firmes, caminho até a porta
atravessando o corredor de acesso a sala. Ouço as gargalhadas de Burack, o
que me chamou atenção, assim que chego até a sala. Adentro o ambiente e
meus olhos ficam fixos no meu irmão com vários embrulhos a sua volta.
Pela expressão na face dos meus pais, sei que estam de certa forma
receosos com tudo que Kadar trouxe para Burack. O ato do demônio a minha
frente me deixa intrigada e em total alerta, jamais cogitei que ele viesse a
trazer algum presente para o meu irmão, que ao contrário dos demais
presentes no ambiente, tem suas órbitas azuis brilhantes por tamanha
felicidade. Meu estômago revira quando levanto a cabeça, me deparando com
a visão do sorriso falso do meu marido. A um certo momento, percebo que
Kadar está bem descontraído, ao contrário do monstro que é em sua casa.
Os momentos seguintes, para a minha surpresa, são perfeitos. O homem
com quem me casei sem dúvida alguma é bipolar, para quem não conhece a
outra face desse demônio, diria que o Sheik Kadar tem um enorme coração
em vez de uma pedra. Minha mãe preparou um bolo e alguns salgados para
comemoramos esse dia tão especial e novamente meu esposozinho me
surpreende ao tecer vários elogios a minha mãe, embora acredito que dessa
vez ele até esteja falando a verdade, pois Fátima Wehbe tem mãos de fadas
na cozinha. O sol se vai dando lugar as estrelas que iluminam o céu em meio
a escuridão. Depois de nos despedimos da minha família, Tita vai com o
motorista enquanto eu irei no outro carro junto a Kadar. Assim que adentro o
automóvel , o ambiente está impregnado pelo aroma intoxicante dele. O
veículo logo entra em movimento, e na maior parte do tempo, fico perdida
em meus pensamentos, enquanto ele olha fixamente para a tela do notebook.
Mesmo contra a minha vontade, tenho que reconhecer que Maktoun me
surpreendeu com o jeito que se comportou na casa dos meus pais. Parecia
outra pessoa.
Depois de algumas horas de condução, com apenas o barulho da nossa
respiração ecoando no ambiente, fico aliviada ao ouvir um estrondo sutil da
porta do carro sendo aberta. Kadar logo trata de fechar o aparelho que estava
sobre suas pernas, e quando eu estou me preparando para sair do automóvel,
a voz do homem ao meu lado se faz presente, me deixando atordoada com
sua atitudo.
— Apartir de amanhã, você poderá passar o seu tempo livre na
biblioteca do palácio se quiser.
O que esse homem está tramando? Por que essa súbita mudança de
comportamento? Novamente me vejo perdida em um turbilhão de
pensamentos.
Tudo que sempre imaginei foi jogado no ralo assim que a morta de
fome que Kadar escolheu para ser sua esposa entrou em nossas vidas.
Embora aquela coisa tenha até uma boa aparência, nada se compara com a
minha doce Haifa. Meu maior sonho era ter uma filha, porém eu sabia que
para ser a matriarca perfeita um filho varão me daria total poder para
controlar o todo-poderoso sheik Mohammed Maktoun. Só não esperava que
depois de anos de dedicação, Kadar fosse se tornar um ingrato e muito menos
que meu pai deixaria toda sua fortuna — que por direito era minha — para o
seu adorável neto.
Nada me deixaria mais feliz do que ver a união daquela que amo desde
o momento que a peguei em meus braços com o príncipe herdeiro da família
Maktoum. O tempo acabou se tornando o nosso pior aliado, e faltando
somente uma semana para eles se mudarem, tudo o que planejamos
minuciosamente nesses últimos dias têm que ser perfeitamente executado,
pois embora Kadar tente disfarçar, sei que ele está enfeitiçado pela morta de
fome com quem se casou.
Pensei que tudo não passasse de um capricho seu para nos afrontar, e
assim que se cansasse da pobretona, daria a ela o mesmo fim que todas as
outras tiveram, mas para a minha total surpresa, nos últimos dias, um brilho
que nunca tinha visto antes em suas órbitas negras surgiram com grande
intensidade e a infeliz, que antes tinha uma expressão de tristeza em seu
rosto, agora passa a maior parte do dia na biblioteca e toda vez que deixa o
ambiente, tem um sorriso estampado em sua face. Fecho as portas dos meus
pensamentos quando Haifa e Kaisar adentram o escritório do meu esposo.
— Tia, tudo já está pronto. — Kadar avisa-me.
— Kaisar, você sabe que nada pode dar errado. Se meu filho desconfiar
que Maysun possa ser inocente, teremos que enfrentar a fúria do príncipe do
deserto. — Digo, extremamente preocupada.
— Tia, essa hipótese não existe, depois de dias planejando cada detalhe
nada vai dar errado, sem contar que Maysun será encontrada em uma situação
comprometedora. Conhecendo o meu primo, antes que o escândalo chegue
aos ouvidos de alguém, ele enviará a maldita direto para o inferno.
— Com aquela coisa fora do meu caminho, logo me tornarei a senhora
Maktoum e darei ao seu filho um herdeiro homem. — Haifa diz confiante, o
que trás uma alegria ao meu coração.
— É tudo que eu mais desejo, filha. Sempre almejei por essa união.
— Kadar enviará o infeliz para o calabouço com o intuito de torturá-lo
até a morte, porém antes que isso aconteça, o maldito estará morto. Mesmo
que ele venha a ter alguma dúvida, a única prova já estará eliminada.
— A escada já está no ponto, você terá que fazer ela utilizar o objeto,
assim como teremos que controlar o tempo exato para o infeliz entrar no
cômodo minutos antes do meu filho chegar. Por esse motivo deixarei meu
celular escondido em um determinado lugar da biblioteca, e assim, saberemos
o momento certo de entrar em ação. — Complemento nossa estrategia.
— Esse será o fim daquela mosca morta. Maysun Wehbe que aproveite
suas últimas horas de vida.

Acordo ao me sentir muito inquieta, quente, com o coração disparado.


Ainda sonolenta, levo minhas mãos de encontro ao meu rosto, esfregando os
olhos, assim que baixo a cabeça, me deparo com o motivo que está me
causando um misto de sensações por todo o meu corpo. No impulso, tento
fechar minhas pernas, mas elas são seguradas e abertas pelo homem a minha
frente. Os olhos dele são intensos, perspicazes, até exigentes.
— Você é minha. — Sussurra — Só minha. Nunca se esqueça disso.
Ele coloca novamente a cabeça, ajeitando-a entre as minhas pernas,
tendo acesso a carne latejante da minha vagina. A ponta da sua língua
impetuosa toca meu clitóris, em seguida, o envolvendo com os lábios,
passando a explorar cada curva e fenda do meu sexo, chupando-a e
lambendo. Mordo o lábio para não deixar escapar um gemido de prazer, e por
mais que eu tente me manter firme, meu corpo começa a ficar ainda mais
quente e a reagir aos seus toques. Seus dedos massageiam deliciosamente
meu clitóris, em lentos movimentos circulares. Num reflexo, meus quadris
começam a se mexer, imitando o movimento da mão dele, uma onda
lancinante de prazer corre no meu sangue como adrenalina. Fecho os olhos,
tentando manter a respiração sob controle, tentando absorver as sensações
caóticas e desordenadas que os dedos dele estão desencadeando em mim.
Abrindo mais as minhas pernas com os ombros , ele esfrega meu clitóris e
enfia dois dedos dentro de mim. Meu corpo pega fogo, minha vagina começa
a latejar. Travo meu maxilar para não deixar nenhum som sair entre meus
lábios, estou prestes a chegar ao limite do meu prazer, mas o homem a minha
frente retira seus dedos de dentro da minha vagina, levando de encontro a sua
boca, deixando-me completamente frustada. Kadar simplesmente se levanta e
caminha em direção a porta, me deixando perdida e ainda mais frustada.
Antes de deixar o ambiente, sua voz ecoa no cômodo.
— Tenha um bom dia, querida esposa.
Sem que eu tenha a oportunidade de ter qualquer outra reação, o idiota
some do meu campo de visão, me deixando melada e sem meu prazer
alcançado. Tola! Como pude me deixa levar por uma atração? Como posso
sentir prazer com um homem que só me causou sofrimento? Não! Não! Não!
Eu preciso resistir a esse demônio e fazer ele provar do seu próprio veneno.

De banho já tomado e arrumada, deixei o quarto caminhando em


direção ao lugar que se tornou o meu passatempo favorito. Ao descer os
degraus da escada, vejo Kaisar adentrando o ambiente, assim que chego no
último degrau, sua voz se faz presente em um comprimento.
— Bom dia, Maysun.
— Bom dia, Kaisar.
— Vejo que está indo para a biblioteca.
— Sim! Só tenho que agradecer por você ter me contado da existência
dela.
— Você deveria ler os livros de Naguib Mahfuz, ficam na parte direita
na última prateleira.
— Obrigada. Sou muito fã dos livros dele. Vou só finalizar o que estou
lendo .
Como hoje é sexta, Tita me avisa que Kadar virá mais cedo e que
iremos almoçar com todos na mesa.
Quando adentro o ambiente o qual me transmite uma sensação de paz
tão grande, me acomodo em uma das poltronas ao lado e começo a ler.
Depois de concluir o livro que estava lendo, levanto-me para guardá-lo e me
lembro da indicação de Kaisar. Levo o olhar para a enorme estante que cobre
toda a parede e a coleção de livros estão muito altos. Decidida a pegar um e
ler, vou até a escada de madeira que é usada para alcançar os livros mais
altos. Quando estou quase no topo da escada, ouço um barulho da porta sendo
aberta, giro a cabeça tentando ver quem é, encontro um homem totalmente
desconhecido por mim, vindo na minha direção. De repente um estalar da
madeira se quebrando ecoa no ambiente, perco o equilíbrio e quando acho
que irei de encontro ao chão, sou amparada por braços fortes me segurando,
me impedindo de cair. Antes que eu tenha a oportunidade de falar algo, a voz
potente ecou no cômodo, fazendo meu corpo estremecer.
— MAYSUN?!
Maldição! Depois de vários dias arquitetando tudo, por culpa desse
maldito imbecil, nosso plano quase foi jogado no lixo. Desde o dia que o
desgraçado do Kadar avisou que iria se mudar para o palácio que herdou
daquele velho infeliz, soube que encontraria na minha tia a pessoa ideal para
colocar o meu plano em ação. Sendo conhecedor do seu amor pela minha
irmãzinha, tive certeza que ela seria uma forte aliada. Porém, para minha
surpresa, a idiota não aceitou o primeiro plano que sugeri, onde daríamos um
jeito em dopar Maysun e faríamos o maldito do Kadar pegá-la em seus
próprios aposentos com outro. Descartamos essa possibilidade, pois segundo
ela, teríamos dificuldades em executar por o quarto da infeliz ser no segundo
andar do palácio, e para o idiota chegar até lá, teria que passar pelas escadas,
correndo o risco de outros funcionários vê-lo, cogitando que algo de errado
estaria acontecendo.
Depois de alguns dias procurando o melhor jeito de nos livramos da
maldita, que só permanece no quarto, ao sabermos que ela tinha total acesso a
biblioteca, nossas esperanças se renovaram, porém, não estava em nossos
planos que o idiota impedisse a vadia — que Kadar chama de esposa — de
cair escada abaixo, pois a pedido da minha irmã, a ideia era que Maysun
sentisse dor antes de partir dessa para pior. Tudo que precisávamos era que o
homem estivesse ao lado dela no momento que meu adorável primo entrasse
no ambiente. Através do celular da minha tia, conseguimos ter acesso a tudo
que estava acontecendo no ambiente, já que os únicos lugares desse imenso
palácio que não é monitorado são os aposentos, o escritório do meu tio e a
maldita biblioteca que até que enfim teve alguma utilidade. Com o aplicativo
instalado no celular da Sheika Jasmim, eu e Haifa estamos nesse exato
momento com os olhos fixos na tela do meu notebook, olhando para o
desgraçado do Kadar que mais parece o próprio demônio em forma humana.
— Esse será o fim de Maysun Wehbe.
Meus pensamentos são interrompidos ao ouvir as palavras proferidas
por Haifa e em seguida, uma risada diabólica ecoa no ambiente.

Depois que saí do quarto de Maysun a deixando totalmente frustrada


por não chegar ao limite do seu prazer, um sorriso se faz presente em minha
face. Além de ser dona de uma beleza como nunca tinha visto antes, ela tem
um corpo perfeito, e um sabor que a cada dia está se tornando o meu maior
vício. Tinha cogitado ontem que hoje passaria o dia todo no palácio, mais
acaba por surgir alguns imprevistos em uma das empresas onde a minha
presença foi indispensável para solucioná-lo. Depois de horas intermináveis,
deixo minha sala indo ao encontro da garagem onde meu motorista já me
aguarda. Com o aparelho em minhas mãos, passo o dedo sobre a tela
acessando o aplicativo das câmeras que foram instaladas no quarto de
Maysun e na biblioteca, em questão de segundos as imagens surgem a minha
frente, onde minha adorável esposa adentra o cômodo caminhando na direção
da poltrona a sua frente. Minha garganta se fecha no exato momento que a
tela do maldito celular fica numa escuridão total. Mesmo sabendo que a
atrevida com quem me casei está cumprindo as ordens que lhe dei, algo
dentro de mim está inquieto, uma sensação como nunca tinha sentido antes
faz o nó que se formou em minha garganta me causar um grande incômodo
como se algo quisesse se libertar.
Passo o celular para meu motorista que o coloca de imediato para
carregar na conexão USB do veículo. Para tirar Maysun dos meus
pensamentos, resolvo revisar alguns documentos que estou levando para
analisar em casa. O trajeto, que pra mim sempre foi feito com grande rapidez,
mas se parece uma eternidade. Assim que chegamos em casa, saio do veículo
e ao dar alguns passos, ouço uma voz me chamando. Giro meu corpo e viro
na direção do dono da voz que está vindo até onde estou com meu celular em
sua mão. Pego o objeto o colocando no bolso e caminho em direção a entrada
principal do palácio.
A cada passo dado a sensação que senti minutos atrás novamente paira
sobre mim. Sabendo onde May está, sigo até a biblioteca, mas ao adentrar o
cômodo, a imagem que vejo em minha frente faz o nó que antes estava me
causando um grande incômodo se desfazer de vez. Meus órgão internos estão
trabalhando a todo vapor, minha mandíbula está doendo de tanto se contrair.
Uma força muito maior de tudo que já senti antes se apodera de todo o meu
ser, fazendo tudo a minha volta ser envolvido por uma imensa escuridão,
deixando a claridade somente em volta dos dois infelizes a minha frente
Medo. Essa é a palavra que representa a expressão no rosto do homem
que logo solta a minha mulher, mas antes que os dois infelizes tenham
qualquer reação, avanço como um leão pronto para devorar sua presa. Nada
mais me importa neste momento, tudo o que se passa na minha mente é a
imagem dela nos braços de outro.
Chego próximo dos dois e a maldita abre a boca tentando dizer algo,
mas antes que algum som saia por entre seus lábios, desfiro um soco
acertando o seu olho esquerdo. Devido a força do golpe, Maysun tomba
batendo a cabeça com um estrondo na parede, e, em seguida, cai no chão, um
grito estrangulado sai de seus lábios. Enquanto a infeliz fica encolhida no
chão, viro em direção do homem que está em pânico e antes que ele cogite
em se mover, fecho a mão novamente deferindo vários socos entre sua face e
a sua barriga. O maldito cai no chão, me aproximo dando um chute rápido e
cruel em suas costelas, ouço o barulho maravilhoso delas quebrando. O
homem, entre sussurros, diz algo que não faço questão de ouvir, só levo
minhas mãos ao meu bolso pegando o meu punhal, que com os olhos
arregalados, começa a se debater, só aumentando ainda mais a minha raiva.
Com os pensamentos voltados para o meu próximo alvo, deslizo a lâmina
cortante em seu pescoço, fazendo o sangue jorrar na minha frente. Enquanto
o infeliz agoniza antes de ir direto para o inferno, com o sangue borbulhando
em minhas veias, caminho em direção a minha mulher.
Ela tenta se levantar, mas antes de conseguir ficar em pé, a jogo
novamente no chão. Subo em cima dela que tem a respiração alterada, seus
batimentos estão acelerados, quase sinto o seu próprio coração na minha
perna. Levo o punhal de encontro a sua garganta, um forte estrondo ecoa no
ambiente me deixando estarrecido, e antes que eu cogite em concluir o que
estou prestes a fazer, a voz entrecortada de Maysun ecoa no ambiente.
— Seu demônio! O homem entrou aqui no momento que eu estava em
cima da escada, ouvi um estalo na madeira e perdi o equilíbrio. Ele me pegou
antes de chegar no chão.
As palavras dela caem como um sono no meu estômago. Fiquei tão
transtornado ao vê-la nos braços de outro que acabei ficando cego. No
impulso, me levanto e vou em direção a escada que acaba de despencar. Olho
para ela e sinto todo o meu corpo incendiar por dentro, movo a cabeça
olhando para Maysun que tem um dos olhos inchado e seu corpo encolhido
que não para tremer. Pego meu celular, e assim que a tela do aparelho que até
então estava desligada se acende, entro no aplicativo de monitoramento
procurando pelas imagens após ela ter entrado no ambiente. Com os olhos
fixos no aparelho, as imagens que surgem em seguida só servem para
constatar a veracidade das palavras dela. Procuro nas gravações anteriores do
ambiente, sem desviar os meus olhos da tela, acompanhado cada gesto da
pessoa que adentrou o cômodo antes dela. Toda a raiva que estava sentindo
minutos atrás pela mulher a minha frente que acabou sendo vítima de mais
uma armação daquela que se diz minha mãe, só aumenta ainda mais, porém,
agora direcionada para Sheika Jasmim Maktoum. O inferno é pequeno
comparado com o tamanho da minha fúria.
Mesmo tentando se afastar de mim, pego Maysun em meus braços
deixando o cômodo. Ao adentrar a sala encontro Tita que descia as escadas
com alguns materiais de limpeza, dou ordens para ir guarda os objetos e vir
rapidamente para os aposentos de May. Assim que a coloco em cima da
cama, ao virar em direção a porta, Tita aparece, mando que a mesma cuide
dela e sigo para o meu quarto. Meus olhos vão de encontro a parede e pego o
primeiro chicote que surge no meu campo de visão. Em passos largos, sigo
para os aposentos dos meus pais.
Assim que chego próximo a porta, abro-a com brusquidão, fazendo a
mulher que estava com o olhar concentrado no monitor do seu notebook ficar
mais branca que um papel. Caminho até ela, que se levanta rapidamente.
Embora já saiba que seus planos fracassaram, ela mantem seu ar de
superioridade, que só agita ainda mais o sangue em minhas veias que está
pulsando freneticamente.
— Se o que você quer é a confirmação do que já descobriu, sim! Eu
planejei tudo, jamais irei aceitar essa união.
— Eu te avisei que não irei permitir que você e nem ninguém fiça nada
contra ela. — Movido pela raiva, ao olhar que a mulher a minha frente não
esboça nenhum arrependimento, levanto o meu braço e o som do chicote ecoa
no espaço.
— O que está esperando, seu ingrato, quero ver se terá coragem de
bater na sua própria mãe.
perto com força o chicote e ao mexer meu braço, sinto mãos fortes me
segur.
— Ele não, mas eu farei.
Com os olhos fixos em cada movimento do meu pai, ele toma o chicote
das minhas mãos, direcionando suas órbitas negras para a mulher a nossa
frente, que antes tinha um ar de superioridade em sua face, é que agora está
repleto do mais puro medo. Com os olhos arregalados, sheika Jasmim abre a
boca, e no momento que seus lábios se mexem, a voz potente do todo-
poderoso Mohammed ecoa no cômodo.
— Não se atreva a abrir essa boca. Eu cogitei que meu filho chegasse a
se casar com Haifa, assim tudo ficaria entre nossa família, mas no momento
que ele escolheu Maysun como sua esposa, ela se tornou uma Maktoum. Por
anos ignorei o seu comportamento, a gratidão por ter me dado o meu bem
mais precioso acabou me deixando cego ao ponto de dar a você uma
liberdade que mulher alguma tem em nosso meio. No entanto, te avisei que
deixasse nosso filho e sua esposa em paz, mas o seu ato é imperdoáve. Por
pouco não colocou o nosso nome na lama simplesmente por Kadar não ter
feito aquilo que você deseja. A partir de hoje, te mostrarei qual é o seu lugar .
Assim que ele termina de proferir suas palavras, caminha na direção
dela, nunca tinha visto tanto ódio nos olhos do meu pai. Embora a mulher a
minha frente nunca tenha sido uma mãe carinhosa, sempre estive disposto a
defendê-la de qualquer situação, mas ao lembrar do estado que deixei a
minha mulher por sua culpa, tudo que sinto por ela neste momento é um ódio
mortal. Meus pensamentos são interrompidos quando meu pai, que mais se
parece um animal selvagem, arranca a roupa dela e antes que a mesma tenha
qualquer oportunidade de se cobrir, o som do chicote ecoa no cômodo ao
atingir sua pele. Um grito estrangulado preenche o ambiente, a cada golpe
que atinge com precisão suas costas, gritos e mais gritos se fazem presentes.
As lágrimas que nunca tinha visto serem derramadas por ela, logo surgem em
grandes quantidades inundando sua face. Meu pai está possuído pelos seus
demônios quando o ouço dizer o número vinte, minha mãe desaba no chão,
começando a se contorcer em meio a dor. Porém o homem a minha frente
parece estar no piloto automático, pois novamente o som do chicote ecoa, e
antes de chegar ao alvo, um estrondo se faz presente no quarto, acompanhado
de uma voz entrecortada.
— Chega! — De imediato, tanto eu quanto meu pai, viramos na direção
da pessoa que está com uma expressão de dor sendo apoiada por sua serva
para não cair no chão. Em passos lentos, ela passa por nós, ficando na frente
da minha mãe . — Vocês não podem tratar as mulheres como malditos
objetos de pancada. Não será a base de agressões físicas que mudarão a
essência das pessoas. — Mesmo com dificuldade, ela se agacha, pegando o
pedaço de pano que sobrou da roupa da sheika Jasmim, a cobrindo.
— Depois te tudo que ela fez você irá defendê-la? Olhe como o seu
rosto ficou por culpa dela.
— Não foi a mão dela que acertou o meu rosto e tão pouco mandou que
o seu filho me batesse. Cada um oferece aquilo que tem dentro do seu
coração, é através de nossos atos que demonstramos quem somos. Sua esposa
não conhece o amor, no entanto, mesmo vindo de uma família humilde, meus
pais me ensinaram que há coisas na vida que o dinheiro jamais poderá
substituir. Se ela não é capaz de gostar do seu próximo somente por ser de
uma classe inferior, é lamentável, mas eu não deixarei que ela seja tratada
como um animal.

Fico sem reação,


totalmente imóvel ao ver meu pai se afastar e Maysun chamar Tita para
ajudá-la a levantar minha mãe. Assim que a colocam na cama, meu coração
gela, meus batimentos aumentam ao ver a minha mulher indo de encontro ao
chão.

Ainda atordoado pelos últimos acontecimentos, meus olhos ficam fixos


em Maysun, que a poucos minutos acaba de acordar. Nunca fui de me
arrepender dos meus atos, mas olhar o estado em que deixei o seu olho, faz
um grande nó se formar na minha garganta. Quando a olhei desfalecendo nos
aposentos dos meus pais, a peguei em meus braços e a trouxe para o meu
quarto. Mulher alguma jamais havia se deitado na minha cama, porém essa
atrevida, mesmo sem saber, já ocupa a maior parte dos meus pensamentos.
Ciúmes. Uma palavra totalmente desconhecida por mim, até o
momento que Maysun entrou em minha vida. Só de pensar na ideia de outro a
tocando, de alguém a tirar de mim, faz todos os meus órgãos funcionarem a
todo vapor. É como se algo me queimasse por dentro, uma chama que
somente ela é capaz de apagar. Ela é minha e ninguém mudará isso, e se for
preciso, irei ao inferno, mas nada e nem ninguém irá afastá-la de mim.
— Precisamos conversar.
Deixo May com Tita e em passos precisos, deixamos o ambiente.
Fecho a porta ouvindo a voz do homem a minha frente se fazer presente.
— Te darei um conselho como médico e alguém que conhece você
desde o momento que veio ao mundo. As duas pancadas que sua esposa
levou em questão de poucos dias podem trazer consequências gravíssimas.
Ela por pouco não teve uma grave lesão no globo ocular, onde perderia a
visão do lado esquerdo do olho. Maysun Maktoum, embora seja forte e
jovem, todo corpo tem seu limite e caso as agressões continuem, você estará
colocando a vida da sua esposa em risco.
Engulo em seco ao ouvir as palavras do médico da família. Embora a
abusada com quem estou casado tem atitudes que precisam ser controladas,
não está nos meus planos abrir mão de Maysun. Movido pela raiva, tentei
acabar com a sua vida, porém no fundo, sei que não conseguiria matá-la.
Diante da situação, um ódio incontrolável paira sobre mim.
Minutos depois o médico me passa a receita com os medicamentos que
Maysun deverá tomar. Tita fica responsável por arrumar as coisas dela,
enquanto trato de ligar para Jamil, avisando sua equipe que amanhã,, assim
que surgir os primeiros raios do sol todos, deverão se dirigir para minha nova
residência e assim fazer a segurança do lugar.
Dor, tristeza, raiva. Um turbilhão de pensamentos pairam sobre mim, e
por mais que eu saiba que Kadar Maktoum é o próprio demônio, ver o ódio
visível em suas órbitas negras fez com que o pânico me dominasse. Assim
que ele deferiu o soco no meu rosto, fazendo a minha respiração ser
interrompida e uma dor insuportável percorrer todo o meu corpo, meus olhos
ficaram desfocados com o choque da minha cabeça ao bater com um estrondo
no concreto, mas nada se comparou com a cena que vi a minha frente, onde
ele matou aquele homem cruelmente. Depois de tudo que passei, assim que
Tita me disse que o viu atravessar o corredor com um chicote, minha
garganta se fechou, e mesmo contra a vontade dela, me levantei e fui até os
aposentos dos meus sogros. Por mais que aquela mulher tenha contribuído
para aquele ogro causar toda a dor que estou sentindo, não poderia ficar em
paz sabendo que uma mulher estava sendo tratada como um animal que
deveria ser punida com chibatadas. Quando a ajudei a se deitar na cama, tudo
a minha volta começou a rodar, em seguida uma escuridão total me envolveu.
Depois que o médico deixa o ambiente, só aí me dou conta de que estou
nos aposentos dele. Tita me ajuda a ir até o banheiro, e assim que levanto o
olhar, fico horrorizada com a imagem a minha frente. Além da enorme
mancha roxa no meu olho, ele se encontre inchado, quase não consigo abri-
lo. Meus olhos logo se enchem de lágrimas, mas trato de segurá-las, pois não
irei me permitir chorar por causa daquele monstro. De banho já tomado e
vestindo somente um roupão, deixo o cômodo indo até o quarto, e ao adrenta-
lo, o cheiro inebriante dele está impregnado no ar. Olho em direção a cama e
tem uma enorme bandeja com vários tipos de comida em cima do criado
mudo. Meus pensamentos são interrompidos quando ouço a voz que se
tornou meu maior tormento ecoar pelo espaço. Estava tão distraída que não
percebi o homem vestido todo de preto sentado na poltrona ao lado.
— Amanhã iremos embora desde lugar.
Sinto um calafrio percorrer por todo o meu corpo. Não sei o que
esperar dessa nova fase da nossa vida, tudo é uma escuridão. Que Allah me
ajude.
Acordo em um sobressalto, novamente com a sensação de um grande
vazio, como se a escuridão que apoderou-se da minha alma me reivindicasse
por inteiro. Todas as noites, desde a partida de Aylla, ao dormir sempre estou
em um lugar sombrio, as imagens do seu rosto sempre surgem em minha
mente trazendo uma forte luz em meio a escuridão em que me encontro.
Porém ao pensar que aquela atrevida que era a minha princesinha se tornou
tão petulante, é como se um fogo líquido estivesse em minhas veias me
queimando. Assim que surgem os primeiros raios do sol, recebo uma ligação
de Dusan, me informando que dentro de uma hora já estará em minha
presença com as informações que foram solicitadas.
De banho já tomado e arrumado, sigo para o meu escritório, ao adentrar
o cômodo, me acomodo em minha poltrona. Aqui estou eu, neste exato
momento, com os arregalados e fixos na direção da porta, esperando meu
funcionário e amigo chegar. Não demora muito e a maçaneta é girada,
revelando o homem que eu tanto aguardava, e em passos precisos, ele se
move vindo na minha direção. Meus olhos logo ficam fixos no objeto em sua
mão.
— Aqui está, chefe, todas as informações sobre Maysun Wehbe
Maktoum e sua família. — Diz Dusan.
Instintivamente, pego o objeto da sua mão, com os olhos atentos,
começo a analisar minuciosamente todas as informações contidas no dossiê.
Não consigo explicar, mas um misto de sensações percorre todo o meu corpo
ao ler o nome de Maysun Wehbe e o jovem Burak Wehbe. É como se as
trevas e a luz estivessem travando uma guerra dentro de mim, e por mais que
eu queira seguir o caminho da luz, uma força muito maior que puxava em
direção a escuridão. Respiro fundo e não deixo transparecer nada do que está
acontecendo, desvio os olhos do papel e digo a Dusan que já pode se retirar,
mas antes, lembro-o que ninguém pode saber nada sobre o conteúdo do
dossiê. Assim que o homem some do meu campo de visão, um turbilhão de
pensamentos paira sobre mim, porém a dúvida de qual caminho seguir me
deixa ainda mais atordoado.

— Bom dia, senhora.


— Bom dia, Tereza. Você trouxe a encomenda?
— Sim, meu filho pediu que eu lhe entregasse.
Com o documento em minhas mãos, começo a ler, a cada palavra
contida sobre a vida da minha filha, as lágrimas que por anos foram
derramadas por tristeza, agora são de alegria. Meus pensamentos são
interrompidos ao ouvir a voz da mulher a minha frente.
— A senhora sabe que se o Sheik Nuaimi descobrir, minha família
correrá risco de vida. No entanto, meu filho Dusan, sabendo do amor que
sinto pela menina Aylla, resolveu que iria nos ajudar.
— Você cuidou da minha princesa desde o dia em que ela veio ao
mundo e sempre serei grata por tudo que vocês estão fazendo. Acima do
amor que sinto pelo meu esposo, a minha filha e os meus netos vem em
primeiro lugar. Minha Aylla pode estar morta para ele, mas eu farei tudo o
que estiver ao meu alcance para ajudar a minha família.
Quando acordo, não tenho ideia de quanto tempo dormi. Espreguiço-
me embaixo do edredom, e me sinto dolorida. Ainda de olhos fechados, as
lembranças da noite anterior invadem a minha mente. O sono não me
encontrava devido a um forte incômodo em meu olho, tive bastante
dificuldade para dormir e assim que Maktoum deitou-se ao meu lado, meus
batimentos aumentaram. A possibilidade que ele viesse a querer tocar em
meu corpo fez um nó se formar na minha garganta, mas para minha total
surpresa, o ogro ao ver que eu não conseguia dormir, se levantou e após
alguns minutos, retornou com uma compressa de água fria pura, combinada
com calêndula que acabou ajudando a aliviar o desconforto em meu olho.
Esse homem só pode ser louco, com a mesma mão que me causou tanta dor,
ele a usou para proporcionar um alívio que fez todo o incômodo que estava
sentindo minutos atrás se dissipar. Depois que ele colocou a compressa em
cima do criado mudo, seu olhar se ergueu para encontrar o meu, e ficou me
olhando. Examinou meu rosto com um olhar intenso que por uma fração de
segundos, cheguei a cogitar que estivesse arrependido do que fez. Kadar
pousou a mão em meu rosto, acariciando a minha face, seu toque era suave,
carinhoso. Percebi sua respiração acelerar e a boca dele se entreabrir, ao
lembrar de tudo que ele me fez, saí do estado catatônico que me encontrava.
Instintivamente, afastei sua mão do meu rosto.
— Não toque em mim.
O olhar que ele me lançou fez todo o meu corpo estremecer. Por um
instante, a expressão de Kadar denotou frustração, raiva, mas que logo se
dissipou me deixando totalmente confusa. A expressão do homem a minha
frente deu lugar a um sorriso largo e revelou dentes perfeitamente brancos.
— Durma, doce esposa, e sonhe comigo. — Tinha sarcasmo em seu
tom de voz.
Ao ouvir as palavras dele, uma raiva apoderou-se de mim. Assim que
eu ia falar, o idiota se virou para o outro lado e apagou a luz do abajur que
iluminava o ambiente. Meus pensamentos são interrompidos ao ouvir um
barulho no cômodo. Aos poucos vou abrindo os meus olhos, que logo se
adaptam com a claridade vinda da luz que atravessa a janela. Ao recuperar a
plenitude da minha visão, engulo em seco ao ver a imagem do homem a
minha frente.
Kadar está com os cabelos molhados e os pés descalços, com uma
toalha em volta da sua cintura. Por mais que tente, não consigo desviar os
meus olhos dele que permanece imóvel próximo a porta com suas órbitas
negras brilhantes fixas na minha direção. O homem a minha frente tem
ombros largos, quadris estreitos e seus músculos abdominais são perfeitos.
Saio dos meus devaneios quando seu corpo enorme move-se na minha
direção, respiro acelerado, o pânico me domina, meus batimentos cardíacos
estão no ritmo frenético. Puxo o edredom e todo o meu corpo fica em total
alerta. No impulso, sento-me mesmo com dificuldade pela dor que estou
sentindo, e me levanto. Me viro e olho aquele homem que é meu pesadelo,
meu medo e minha insegurança. Lindo como um anjo e perigoso como um
demônio. Não queria demostrar medo, mas estou. No entanto, empino o nariz
e lanço um olhar em desafio.
Ele se aproxima com passos sutils, mas determinados, de predador. As
longas pernas superam com facilidade o espaço entre nós dois e antes que eu
tenha qualquer outra reação, sua voz ecoa no ambiente.
— O seu banho já está pronto. Depois que estiver terminado, iremos
embora desde lugar.
Parece que estou enfeitiçada, hipnotizada. O seu cheiro me deixa
inebriada pela combinação de tabaco e almíscar. O perfume primitivo que de
fato é delicioso.
Não! Não! Não! Que diabos está acontecendo comigo? Lutando contra
o pensamento insano que paira sobre mim, dou de ombros ao ver como ele
estreita os olhos e me avalia. Em passos lentos, caminho até a porta do
banheiro.
Uma hora depois, de banho tomado e usando uma roupa bem
confortável, deixo o quarto e ao lado do meu marido, desço a escada rumo ao
lugar que será a minha prisão ou salvação. Fico surpresa pois não há ninguém
da família dele no meu campo de visão. Assim que o veículo entra em
movimento, ele pega o celular e após mexer no aparelho, começa a dar ordem
para alguém do outro lado da linha. Vários pensamentos se fazem presentes
na minha mente, desvio meu olhar dele procurando organizar os meu
pensamento. De todo o mal que o homem ao meu lado me causa, a única
coisa que me dá forças para continuar é saber que tudo que estou vivendo não
está sendo em vão, pois não tem preço o brilho que olhei nos olhos dos meus
pais e do meu irmão. Se as pessoas que amo estão felizes, não será Kadar
Maktoum que me fará sucumbir com suas maldades. Ele pode ser o próprio
demônio, porém a cena que presenciei ontem só me confirmou que ele tem
um ponto fraco. Tudo que eu preciso é ter cautela e usá-lo ao meu favor.
As horas seguintes são de puro tédio. Não cogitei que o palácio em que
iremos morar ficasse tão distante, tivemos que enfrentar o fluxo de veículos e
pedestres que é intenso ao passar pelo centro de Dubai. Depois de alguns
minutos de engarrafamento, percebo que estamos saindo da cidade e após
algumas horas que mais parecem uma eternidade, o silêncio no ambiente é
quebrado quando ouço ele me chamando, avisando que chegamos.
Assim que saio do veículo, um vento frio passa em volta do meu corpo
e após ouvir as palavras proferidas pelo arrogante com quem me casei,
levanto meu olhar e meus olhos ficam fixos em total admiração com a
imagem a nossa frente.
— Bem vinda ao seu novo lar.
Dor. Dor é o que exatamente estou sentindo. Embora já tenha passado
uma semana após o ocorrido, as minhas costas ainda estão doloridas demais.
Jamais meu marido havia levantado a sua mão contra mim, mas ao ver o ódio
visível através de suas órbitas esverdeadas, o medo agudo e crú atravessou
todo o meu corpo. A sua voz ao ecoar no ambiente fez os meus batimentos
cardíacos aumentarem, minha garganta se fechou assim que ele pegou o
chicote da mão de Kadar, fiquei totalmente sem reação pois tentei falar e
antes que qualquer som saísse entre meus lábios, ele disse tudo que a muito
tempo gostaria de ter falado.
A cada golpe deferido era como se estivesse rasgando a minha pele,
uma dor insuportável percorreu por todo o meu corpo a cada vez que o som
do chicote estalava no ambiente e atingia as minhas costas me queimando por
dentro. Minhas pernas já estavam fracas, minha visão embaçada pelas
lágrimas e, e no momento que meu corpo desabou no chão ao ouvir o som do
chicote, soube que o meu tormento estava longe de acabar, mas para minha
total surpresa, algo que jamais cogitei aconteceu, e pela pessoa por quem eu
nutria um sentimento de raiva e ódio, foi ela que intercedeu por mim, que
mesmo com dificuldade, se colocou em minha frente e enfrentou tanto o meu
marido quanto o meu filho. Maysun Wehbe nos deu um tapa sem usar de
força física, pois suas palavras atingiram todos no ambiente.
Durante esses dias, depois de tudo que me aconteceu, um turbilhão de
pensamentos se fizeram presentes em minha mente. Fecho meus olhos e faço
uma reflexão de como venho agindo nos últimos anos. Me coloquei sempre
em primeiro lugar, mesmo gostando do meu esposo, a minha cede por ser a
matriarca Maktoum, a primeira esposa temida e respeitada me fizeram
esquecer de tudo que minha mãe me ensinou. A obsessão por ter uma filha
mulher me deixou cega ao ponto de deixar o meu filho de lado, e o que ele
mais precisava nunca teve da minha parte, o meu amor. Como me tornei um
ser tão desprezível? Como uma mulher é capaz de não querer a felicidade do
seu próprio filho? Eu falhei como esposa, como mãe e, principalmente, como
mulher, pois no mundo que vivemos e sabendo de como somos vistas eu
simplesmente me coloquei em minha bolha sem me importar com o
sofrimento que muitas mulheres passam em nosso meio. Meus pensamentos
são interrompidos assim que Haifa e Kaisar adentram meus aposentos.
— Bom dia, tia. Pelo que vejo, a senhora já está melhor.
— Verdade, irmão, se não fosse pelas câmeras e por culpa de Maysun,
nada disso teria acontecido.
Com os olhos fixos nas duas pessoas a minha frente, é como se a venda
que tapava os meus olhos enfim tivesse caído no chão. Tudo que vejo nos
olhos dos meus sobrinhos é ódio, porém, a dúvida paira sobre mim. Esse
sentimento é em relação a Maysun ou ao meu filho? Assim que vejo os lábios
de Kaisar se moverem, minha voz ecoa no cômodo.
— Tudo que aconteceu foi consequência do que planejamos. Se tem
uma única vítima nessa história, é a minha nora e a partir de hoje, vocês vão
tratar Maysun como a futura matriarca dessa família. Em relação a você,
Haifa, se durante todos esses anos não foi capaz de despertar o interesse do
meu filho em você, irei falar com o seu tio e logo você terá um pretendente.
Já você, Kaisar, se preocupe na função que tem nas empresas. Kadar fez sua
escolha e não cabe a nenhum de nós decidir o que é certo ou errado. Maysun
Wehbe, ao contrário de vocês dois, foi a única pessoa que merece todo o meu
respeito e gratidão.

Num piscar de olhos os dias passaram voando. Hoje, já estamos há uma


semana nesse lugar, que ao contrário do ambiente em que estávamos antes,
me transmite uma sensação de paz tão grande. Quando olhei o palácio meus
olhos ficaram em total admiração, todo o branco que envolvia o lugar me
deram de imediato uma sensação boa, mas ao adentrar o lugar, fiquei
encantada. Uma decoração antiga que embora luxuosa, não é exagerada como
a do palácio Maktoum. Embora tenha várias peças de ouro espalhadas pelo
lugar, elas fazem o contraste perfeito no ambiente.
Comecei a explorar todo o lugar e para minha surpresa, Kadar me levou
até um certo cômodo e ao adentrar, fiquei em puro êxtase. Ele disse que
aquele ambiente foi feito especialmente para mim, as lágrimas surgiram em
minha face, mas ao contrário da que o homem a minha frente a algumas
semanas me fez derramar, essas não eram de tristeza e sim de felicidade.
Sempre fui encantada pelos livros, a leitura sempre foi o momento em que eu
esquecia a minha realidade e me transportava para um mundo onde todos são
tratados igualmente. Dentro daquela biblioteca, me sinto como um pássaro
onde minhas longas asas estão prontas para me tirar da prisão em que me
encontro e me levar para um lugar onde terei liberdade para ser a pessoa que
sempre sonhei.
Meu olho graças as compressas e os anti-inflamatórios enfim voltou ao
normal, ainda tenho uma pequena mancha roxa, mas nada que uma
maquiagem não resolva. A única coisa que não gostei nessa mudança é que
agora já não tenho mais um quarto só meu. Embora o palácio tenha vários
aposentos, ele fez questão que aqui dividíssemos o mesmo quarto e a mesma
cama. Como eu já esperava, mesmo reclamando que ainda estava com o
corpo dolorido, Kadar não deixou de se enfiar nos meios das minhas pernas,
porém, durante esses sete dias, ele transou comigo sem nenhuma brutalidade
e confesso que tive que me segurar para disfarçar que seus toques estavam
provocando sensações que estavam me deixando alucinada. Ao ver minha
indiferença na hora do sexo, sua expressão sempre era de raiva, porém
durante o momento que está comigo na cama, é como se ele fosse outro
homem. Então será dessa forma que lutarei contra ele, depois de tudo que ele
me fez, não posso passar uma borracha e fingir que nada aconteceu. Meus
pensamentos são interrompidos ao sentir um forte embrulho no meu
estômago, no impulso, me levanto e corro para o banheiro vomitar. Minutos
depois tento me levantar, mas sinto uma forte tontura, ainda não estou me
sentindo muito bem. Respiro fundo e assim que consigo ficar em pé, caminho
até a pia para escovar meus dentes. Tiro minha roupa e resolvo tomar um
banho. Tenho que ver os preparativos para amanhã, segundo o meu esposo, o
seu novo sócio virá amanhã com uma acompanhante para um jantar que
iremos oferecer em comemoração a nova sociedade.

Depois do episódio que encontrei May nos braços daquele infeliz ,


mesmo depois que tudo foi esclarecido, não me arrependo de tê-lo enviado ao
inferno, pois só de pensar que alguém possa tocar nela faz o sangue em
minhas veias me incendiar por dentro. Ver como ela se comportou diante da
situação com a minha mãe só fez aquela atrevida ganhar a minha admiração e
respeito. Maysun além de ter uma personalidade forte, tem um coração puro,
inocente. Qualquer outra no lugar dela não se colocaria na frente de um
chicote segurado pelo todo-poderoso Mohamed para interceder por alguém
que desde o momento que a conheceu demostrou sua falta de empatia para
com ela.
Embora a reforma que mandei fazer no palácio já esteja pronta, ainda
não estava nos meus planos ter que fazer uma mudança as presas, mas diante
do ocorrido, essa era a solução para resolver os nossos problemas. Ver
novamente o brilho nos olhos dela me deixa fascinado, porém por mais que
esteja tentando me controlar para manter os meus demônios adormecidos, ver
sua indiferença aos meus toques a cada dia faz o nó que se formou em minha
garganta só aumentar. Fecho as portas dos meus devaneios quando ouço
alguém me chamando. Embora o restaurante esteja completamente lotado,
meus olhos vão ao encontro do casal que após alguns passos, ficam em minha
frente.
— Sheik Mehmet Eid, bem vindo a Dubai.
— Obrigado, Kadar Maktoum. Está é Layla Eid, minha irmã.
Meus olhos ficam fixos na imagem a minha frente, ela realmente é
linda.
Quando acordo já pessa das oito da manhã. Ainda sonolenta, me
levanto e caminho em direção ao banheiro. Kadar saiu assim que surgiram os
primeiros raios do sol, pois tinha alguns assuntos pendentes para resolver no
centro da cidade. Aproveito para tomar um banho bem longo, lavo meus
cabelos e minutos depois de banho já tomado, envolvo meu corpo com o
roupão de seda deixando o ambiente. Não demora muito e uma batida ecoa
na porta e ao dar permissão, Tita aparece no meu campo de visão
— Bom dia, May.
— Bom dia, Tita.
— Trouxe a encomenda que você pediu.
Meus olhos ficam fixos no objeto em suas mãos. Me aproximo
enquanto ela coloca tudo que vou usar em cima da cama. Depois de analisar
às peças a minha frente, trato de guardar tudo no closet .
— Tita, assim que estivemos com os convidados, você sabe exatamente
o que deve fazer.
— Já está tudo providenciado.
— Não sei como te agradecer pela ajuda. Hoje, assim que os
convidados forem embora, meu esposo terá uma noite inesquecível.
Fico tão entretida ajudando Tita e as cozinheiras que perco a noção do
tempo transcorrido, e quando dou por mim, já são quase cinco da tarde.
Levanto o olhar e tudo já está perfeitamente arrumado, em passos largos, vou
em direção ao meus aposentos. O vestido que vou usar já está sobre a cama,
depois de uma última olhada no traje, tomo um banho e em seguida começo a
me arrumar. Estou distraída quando de repente sinto mãos fortes em volta da
minha cintura, o cheiro dele logo invade minhas narinas. Ele me vira de
frente para ele e me avalia de cima a baixo, retira suas mãos da minha cintura
e com um giro nos calcanhares, caminha até um quadro que tem na parede.
Fico surpresa ao saber que atrás do quadro fica um cofre e mais ainda que a
chave que fica pendurada no cordão dele é deste lugar. Saio dos meus
pensamentos quando ele pega uma caixa preta e após fechar o cofre, vem na
minha direção. Ao parar na minha frente, um barulho sutil ecoa no cômodo.
Ele pede para que eu me vire novamente, e em seguida, coloca o objeto em
meu pescoço depositando um beijo no mesmo que faz todo meu corpo
estremecer.
— Agora você está perfeita .
Ao me virar para ele, percebo o desejo através das suas órbitas escuras.
Enquanto Kadar se afasta indo na direção do banheiro, fico olhando meu
reflexo no espelho, admirando o lindo colar depositado em meu pescoço..

Estavamos sentados na sala esperando a chegada dos nossos convidas.


Não demora muito e uma das funcionárias avisa que eles acabam de chegar.
A porta é aberta e por ela adentra um casal, que de imediato, faz com que
uma sensação ruim paire sobre mim. Maktoum segura em minha mão e
depois de alguns passos do casal, eles superam com facilidade o espaço entre
nós. Levanto o olhar e não me agrada em nada como a mulher a minha frente
se mantem com os olhos fixos em meu marido, que tem o esboço de um
sorriso em sua face. O silêncio no ambiente logo é quebrado.
— Sejam bem-vindos a nossa casa. Essa é minha esposa, Maysun.
Querida, esses são o Sheik Engim e sua irmã, a princesa Layla.
Ao segura a mão da mulher a minha frente de imediato a sensação ruim
se intensifica ainda mais em mim. Ela trata de me cumprimentar rapidamente,
pois sua atenção está voltada para a direção onde os dois homens estão
conversando, mas precisamente, para o meu esposo. Assim que Kadar e o
sheik Engim vão até o escritório sumindo do nosso campo de visão, ela
desvia o olhar deles, e ao direciona-lo para mim, sua voz enjoativa se faz
presente.
— Você teve muita sorte em casar com Kadar Maktoum. São poucos
homens na posição dele que escolhem uma pessoa de classe inferior como a
sua.
Minha garganta se fecha de imediato xom as suas palavras, meus
pulmões estão trabalhando a todo vapor para manter o ar limpo circulando
meu sangue. Presumo que mais algum elogio ao meu marido irá sair por seus
lábios, e para interrompe-la, falo:
— A atitude do meu esposo em ter me escolhido só me dá a
confirmação que nenhuma mulher da classe social de vocês foi capaz de
despertar seu interesse, ao ponto de ir procurar em um vilarejo a mulher com
que escolheu para se casar.
Mesmo tentando disfarçar, o ódio está visível nas suas iris. Quando vou
dizer tudo que está entalado na minha garganta, os dois homens surgem de
algum lugar no ambiente. Assim que nos acomodamos, sheik Engim, que não
para de falar de sua irmã, toda vez que levanta o olhar é na minha direção. O
jeito que ele me olha faz meu estômago embrulhar.
Movo a cabeça e percebo que a expressão no rosto do meu esposo, que
antes era a de um sorriso, é fechada, parecendo irritado. O clima no ambiente
de repente fica pesado, não sei explicar, mas assim que nos direcionamos
para a mesa, e sheik Engim pergunta a Kadar se pretende ter uma segunda
esposa, o nó que antes havia de formado em minha garganta aumenta, minha
respiração acelera, o sangue nas minhas veias pulsa em um ritmo frenético.
Porém nada me preparou para as palavras que saem entre os lábios dele em
resposta ao homem e sua irmã, que tem suas órbitas azuis fixas em Kadar,
demostrando como está na perspectiva de suas palavras. Kadar inclina para o
lado, erguendo a cabeça para me olhar, em seguida, suas órbitas negras
brilhantes ficam fixas no sheik Engim.
— Ao contrário dos homens do nosso meio, eu fui privilegiado. Não
existe ninguém que chegue aos pés da minha esposa. — Layla revira os
olhos. — Maysun vai muito além de um rosto bonito, ninguém tem sua
presença de espírito e seu coração. Portanto, com uma esposa com tantas
qualidades, que para mim é perfeita em todos os sentidos, uma segunda ou
terceira esposa é algo que está fora de cogitação.
Todas as sensações ruins que senti minutos atrás se dissipam, algo
dentro de mim vibra por dentro ao ver o estado que a mulher a minha frente
fica, e mais ainda pelo sheik Engim, que antes não parava de me encarar,
agora mantem seu olhar fixo no prato a sua frente, enquanto os olhos escuros
do meu esposo brilham com intensidade direcionados para mim. As horas
seguintes, mesmo com o episódio dos dois irmãos que agiram de forma
despudorada, tudo acaba por transcorrer bem. Kadar acaba fechando parceria
com o sheik Engim enquanto Layla se manteve de cabeça baixa e a boca
fechada. Por mais que eu tente evitar, minha expressão se fecha toda vez que
olho para a mulher a minha frente. Minutos depois os acompanhamos até a
porta, e assim que o automóvel em que estavam some do meu campo de
visão, os braços fortes de Kadar se firmam ao redor da minha cintura. Ele
inala o perfume dos meus cabelos e em seguida, sinto seu hálito quente com
aroma de conhaque em contato com a minha pele, que lambe meu pescoço.
Prendo o fôlego, retorcendo-me com aquele toque aveludado.
— Você é minha. — Sussurra. — Só minha . — Sua voz é embriagada,
suas palavras excitantes e sedutoras. Sinto sua ereção crescente roçando na
minha bunda. Ficamos um bom tempo naquela posição até que o celular de
Kadar toca e rapidamente avisa que irá para o nosso quarto assim que
encerra-la. Ao adentrar o ambiente, tudo já está perfeitamente arrumado,
somente as luzes das velas claream o cômodo. Eem passos largos caminho na
direção do closet.
— Que Allah esteja comigo

Assim que encerro a ligação, coloco o aparelho novamente no bolso e


caminho até meus aposentos. Desde o dia anterior que me encontrei com o
sheik Engim e sua irmã, que ao ver como ele fazia questão de dizer o quanto
a princesa Layla é uma mulher cheia de qualidades, já soube qual era sua
verdadeira intenção. Realmente, ela é muito bonita, porém nada que se
compare a Maysun. Embora a atrevida viva me tirando do sério, algo que
jamais cogitei na vida aconteceu, meus pensamentos e todo o meu corpo
estão envolvidos por aquela mulher. Sempre fui um homem de ter várias
mulheres, as usava e logo meu desejo passava e eram descartadas, mas com
ela é diferente, é como um fogo líquido em minhas veias. Cada curva do
corpo dela me fascina, assim como ela é suficiente para me satisfazer em
todos os sentidos. Assim que chego próximo ao corredor de acesso ao nosso
quarto, o som de uma melodia ecoa no espaço, aumento o ritmo das minhas
passadas e abro a porta, me deparando com todo um cenário a minha frente.
Perco o fôlego momentaneamente quando vejo, na única parte do cômodo
que está na penumbra, a imagem da perfeição em forma de mulher que é
Maysun.
Maysun está coberta apenas com um sutiã dourado todo cheio de
pedrarias na mesma, a saia contém uma fenda de tecido quase transparente
também dourado. O cós é bem baixo, quase permitindo-me ter a visão do
paraíso que acabou se tornando o meu maior vício. Nenhuma visão poderia
ser mais excitante do que vê-la desta forma, com seus cabelos soltos e uma
maquiagem que realça ainda mais o seu belo rosto e seus olhos intensos.
Maysun faz um gesto com a mão indicando para que me acomode na
cama que está envolvida por uma pilha de almofadas e uma cocha de seda
vermelha. Sento-me confortavelmente com as costas encosta nas almofadas e
meus olhos direcionados na imagem da minha esposa que assim que a música
que antes tocava é substituída por uma melodia suave, começa a dançar,
movimentando o ventre e o quadril de forma expressiva e sensual no ritmo da
canção. Seus quadris se movimentam de um lado para o outro, ao tempo que
suas mãos delicadas dançam me deixando alucinado. Meus olhos não
desgrudam nenhum instante dela, minha líbido logo se manifesta e já posso
sentir o garotão querendo se libertar da sua prisão e provar do sabor doce da
sua boceta. May se afasta e coloca alguns lenços em sua saia, em seguida
levanta o dedo me chamando até ela. Rapidamente me levanto ficando na sua
frente, a safada pede que fique de joelhos enquanto ela dança remexendo
ainda mais seus quadris a medida que vou puxando os lenços da sua saia.
Quando já retirei tudo, ela se afasta um pouco e quando vejo, ainda
movimentando o seu corpo, se ajoelhou no chão sem para ou hesitar,
continua movimentando os ombros , seios e quadris no mesmo ritmo até seus
ombros tocarem o chão. Perco o controle com a cena a minha frente, meu
corpo entra em combustão, me movo até ela e vou deslizando para baixo,
com a boca salivando de expectativa para sentir o seu gosto. Com um olhar
safado, Maysun não protesta quando levo minhas mãos ao encontro da sua
saia e com um único movimento, retiro a peça do seu corpo. Coloco a cabeça
no meio das suas pernas e dou uma lambida por cima do tecido de renda da
minúscula calcinha que encobre minha fonte de prazer. Ela arqueia com um
gemido, cravando os calcanhares no carpete e elevando a boceta na direção
do minha boca. Seu gesto só me deixa mais excitado e meu pau começa a
doer de tão duro. Com os olhos cálidos de desejos, puxo a calcinha mais para
o lado com os dentes e descubro sua pele inacreditavelmente macia. Levanto
o olhar e ao ver a vulnerabilidade estampada em sua face maravilhosa, me
deixa enfeitiçado. Retiro a calcinha do seu corpo, abro suas pernas e chupo
com uma urgência que aniquila qualquer habilidade dela pensar ou se mover.
Lambo e chupo a vagina continuamente, envolvendo o seu clitóris com os
lábios, intensificando os movimentos. Ela fica tensa, pronta para gozar.
— Ah. — Ela murmura, estremecendo.
— Você tem um cheiro divino.
Abro ainda mais suas pernas, enfiando a língua perversa nela para fazê-
la gozar. Em um reflexo primitivo, seus quadris começam a se mexer,
imitando o movimento da minha língua. Toda a minha energia se concentra
no seu ponto de prazer. Com movimentos circulares rápidos e precisos em
seu sexo molhado e inchado, o seu corpo se contorce e enrijece atingindo um
orgasmo que a faz fechar as pernas apertando a minha cabeça enquanto grita.
O seu sabor inebriante me deixa louco e no impulso, me levanto tendo a visão
da minha mulher largada no chão enquanto ainda se contorce em meio aos
espasmos que percorre todo o seu corpo. Me agacho a pegando em meus
braços e caminho até a cama
Me afasto enquanto a deposito na cada, e apressadamente, me livro das
minhas roupas. Totalmente nu, com o corpo banhado pela luz quente das
velas acessas no ambiente, movo meu corpo até a cama e me acomodo em
cima dela, enquanto minhas mãos liberam seus lindos seios do tecido
apertado que os deixava ainda maiores. Começo a beijá-la com carinho a sua
boca. Com lambidas insistentes a provoco, fazendo-a gemer. Aumento a
intensidade dos beijos, com nossas línguas quentes entrelaçadas, enquanto
minha mão segura o seu seio e meus dedos brincam com seu mamilo.
Pressiono minha ereção na entrada da sua bocetinha deliciosa. Meu pau
ansiando para sentir seu calor.
— Preciso de você. — Ela implora, e antes que eu faça qualquer
movimento, May começa a remexer os quadris forçando meu pênis a deslizar
para dentro dela. Agarrando suas nádegas, tenho o impulso de que precisava
para entrar até o fim em seu canal apertado, dor e prazer a fazem gritar,
enquanto sua boceta contrai, sugando-me, se deslocando através das diversas
sensações que assaltam o seu corpo. O som dos nossos corpos se chocando e
a sua boceta faminta apertando a cabeça volumosa do meu membro incita
meus instintos primitivos, me fazendo a estocar mais forte. Sinto suas pernas
estremecerem e logo pragueja quando retiro o pênis e novamente o empurro
para dentro da sua vagina, ela começa a rebolar me fazendo aumentar o ritmo
das estocadas, a penetrando cada vez mais forte até o seu ponto mais
profundo.
O barulho do sexo ecoa pelo ambiente. Começo os movimentos de vai
e vem mergulhando o meu membro bem devagar nas profundezas aveludadas
da sua vagina. Repito o movimento várias vezes com estocadas lentas e
calculadas, ela mexe os quadris novamente e começa a implorar.
— Por favor. — Sussurra.
— O que você quer habib? Diga.
— Você, por favor.
Aumento imperceptivelmente o ritmo, a sensação de tê-la envolvendo
meu cacete por inteiro me deixa alucinado. Sua respiração fica mais irregular,
com uma estocada precisa empurrando meu pênis fundo, sinto o seu corpo
estremecer em volta de mim, ela goza, ruidosamente, gritando meu nome.
Com duas estocadas secas me derramo dentro dela, gozando com um
esguicho quente. Apertando os seus quadris, continuo entrando nela enquanto
ejaculo, num orgasmo forte e longo, enchendo-a até meu sêmen escorrer
pelas suas coxas. Reduzo o movimento, arfando, nossos corpos suados e as
respirações ofegantea. Sinto meu coração bater mais forte como nunca havia
sentido antes, e sem que eu possa controlar, as palavras saem entre meu
lábios, me deixando petrificado.
— Você é perfeita, eu te amo.
Quando acordo, espreguiço-me e sinto meu corpo inteiro e intimidade
dolorida, deliciosamente dolorida. Sento-me na cama e as lembranças da
noite anterior invadem a minha mente. Jamais cogitei que poderia sentir tanto
prazer e que ele poderia ser tão carinhoso, porém as últimas palavras
proferidas por Kadar ainda ecoam na minha mente e com elas, um turbilhão
de pensamentos e emoções se fazem presentes. Será que no calor do
momento as palavras saíram sem que ele de fato quisesse dizer? Será que,
mesmo de um jeito torto, o homem com quem me casei realmente sente algo
por mim? Minha cabeça está pegando fogo de tanto pensar qual será
realmente o interesse de Maktoum por mim, mas não posso negar que ver
Layla interessada nele não me agradou em nada, e ao ouvir sua resposta que
não estava em seus planos ter uma segunda esposa, algo dentro de me vibrou
como se estivesse soltando fogos em comemoração. Resolvo me levantar, e
ao me mexer, meus olhos vão de encontro a um objeto jogado em cima do
carpete. Dou alguns passos e me abaixo para pegar a chave que meu marido
usa como pingente em seu cordão, certamente deve ter caído quando ele
estava enfiado no meio das minhas pernas. Já sabendo do que se trata, resolvo
pegar o colar que ele retirou do cofre e guardá-lo, em passos largos, vou até o
closet e pego o objeto. Ao voltar para o quarto, retiro o quadro e levo a chave
de encontro a fechadura, uma sensação ruim paira sobre mim e ao ouvir o
som sutil indicando que a porta está aberta, levanto o olhar, colocando o colar
dentro do cofre. Antes de fechar, meus olhos se fixam no objeto com o nome
da minha família.
Com os olhos fixos no envelope, aqui estou eu, completamente imóvel
e sem conseguir desviar meus olhos do objeto a minha frente. Um turbilhão
de pensamentos apodera-se de mim, movida por uma curiosidade
incontrolável, saio do estado estático que me encontro e sem pensar duas
vezes, pego o envelope. Assim que minhas mãos tocam o papel, sinto todo o
meu corpo estremecer, uma sensação ruim paira sobre mim. Com o corpo
trémulo, caminho em direção a minha cama. Me sento e ao puxar os papéis
que estão dentro do envelope, minha garganta se fecha, meus batimentos
aumentam e a cada palavra que eu leio, é como se o meu mundo caísse diante
dos meus próprios olhos. Já não consigo segurar as lágrimas que descem em
gotas grossas inundando a minha face.
Tudo que vivi por todos esses anos foi uma grande mentira. As pessoas
que sempre me ensinaram que a verdade é o melhor caminho a ser seguido,
só se importaram com eles próprios. Sei que errei em não ter contado sobre
em que condições aceitei esse casamento, mas tudo que fiz foi por amor a
eles. Deixei meus sonhos de lado e entreguei a minha pureza, minha
inocência e a minha liberdade para um desconhecido, simplesmente porque
não aguentaria a dor de perder aquele que é parte de mim, o meu irmão.
Por tudo que meus pais passaram deveriam saber que cada um tem
direito de fazer suas próprias escolhas, cabia a mim e Burak decidir se
iríamos ou não aceitar a nossa verdadeira origem. Nunca me importei com
bens matérias, mas saber que se eu não tivesse aceitado a proposta de
Maktoum meu irmão hoje não estaria vivo, enquanto minha mãe deu mais
valor ao seu orgulho ao ter que pedir ajuda a sua família para salvar o nosso
menino... Não. Não. Essa não pode ser a mesma mulher que sempre tive
como melhor exemplo; guerreira, carinhosa e amiga que sempre colocou a
família em primeiro lugar .
Depois de ler todas as informações contidas no documento em minhas
mãos, um sentimento que venho tentando reprimir nos últimos tempos
apoderou-se de todo o meu ser. O ódio. Kadar Maktoum, assim como os
meus pais, se achou no direito de interferir em minha vida. Ele estava ciente
da minha real situação, no entanto, agiu como uma cobra traiçoeira que no
momento certo, deu seu bote. Agora tudo faz sentindo, suas palavras falsas
dizendo que sentia algo por mim, maldita hora que cruzei o caminho desse
demônio. Um fantoche, é isso que venho sendo nessa telha de mentiras na
qual estou presa, mas a partir de hoje, não serei mais uma marionete nas
mãos de ninguém. Diante dos últimos acontecimentos, um pensamento se faz
presente na minha mente. Kadar, meu algoz, meu maior pesadelo, cogitou
que passaria o resto da minha vida sobre suas garras, mas ele está
completando enganado. Tudo que li minutos atrás só serve para me libertar
desse sonho ruim em que me encontro. Apartir de hoje, tomarei as rédias da
minha vida e serei livre como sempre sonhei. Cansei de viver em uma gaiola,
mesmo que essa seja cercada de ouro.
Em passos largos, caminho em direção ao banheiro. Preciso colocar
meus pensamentos no lugar. Mesmo sem saber, Kadar acaba de me favorecer
para mudar os seus próprios planos. Ao contrário do palácio Maktoum, aqui
tenho total liberdade para andar por todo o palácio e será dessa forma que
enfim estarei livre.
Passo um bom tempo debaixo do chuveiro organizando meus
pensamentos e após planejar minuciosamente como sairei desse lugar, um
sorriso se faz presente na minha face. Minutos depois de banho já tomado, ao
adentrar o quarto, meu coração gela e fico totalmente imóvel com a imagem a
minha frente. Tita segura o dossiê que deixei em cima da cama.
— Eu sinto muito por você ter descoberto dessa forma, ainda mais
agora que tudo parece estar caminhando para um bom caminho.
Ainda atordoada com as suas palavras, que pela sua expressão já sabe
do que se trata o conteúdo do documento que está em suas mãos, saio do meu
devaneio quando novamente escuto sua voz.
— O meu sobrinho Jamil é o homem de confiança do Sheik Kadar. Eu
queria ter te contado antes, mas não poderia trair a confiança do meu
sobrinho e muito menos depois de tudo que seu esposo fez pelo meu irmão
quando estava no pior momento da sua vida. No entanto, eu sei de tudo que
você vem suportando desde quando entrou nesse casamento, e seja o que for
que está pensando, estou disposta a ajudá-la.
Eu não posso envolver Tita nisso, pois sei que aquele demônio irá
pensar de imediato que ela me ajudou e não pensará duas vezes antes de
acabar com a sua vida.
— Irei embora desse lugar, mas não posso te envolver nisso.
Após ouvir minhas palavras, ela caminha na minha direção e para
alguns centímetros de distância, segurando as minhas mãos.
— Para o nosso povo, você é luz que nos livrará da escuridão em que
vivemos. Porém você precisa libertar a verdeira Maysun Wehbe, a nossa
princesa do deserto que habita dentro de você. Não importa o que irá
acontecer comigo, se você precisar sair desse lugar, eu a ajudarei.

Vestindo uma roupa toda preta e calçando um chinelo bem confortável,


repassamos exatamente o que irei fazer para não ser vista pelos homens de
Maktoum. Dificilmente alguém me impedirá de sair desse lugar, já que
estarei usando o mesmo traje das funcionárias do palácio.
Como é de costume, as lavadeiras sempre vem pegar as roupas e será a
oportunidade ideal para me passar por uma delas. Porém, devo ter cuidado
assim que me afastar das mulheres e após passar pelo longo caminho em
pleno deserto, chegarei a estrada que me levará para o vilarejo onde a família
de Tita reside e de lá poderei seguir o meu destino. A única coisa que irei
levar além da trouxa de roupa será um odre com uma boa quantidade de água.
Após me despedir de Tita, em passos largos caminho em direção a
entrada utilizada pelos funcionários. Ao ver as mulheres já preparadas para
deixar o ambiente, com a cabeça abaixada, me camuflo entre elas. A cada
passo que dou meu coração bate em um ritmo frenético, como se fosse sair
pela minha boca a qualquer segundo. Assim que os portões se abrem, e já
fora do domínio do homem que mudou a minha vida, o único pensamento
que ecoa em minha mente é que, enfim, estou livre das garras do demônio do
Deserto.
Perdido, confuso. Essas palavras representam o turbilhão de
pensamentos que se fazem presentes na minha mente. Vê-la na minha frente
daquele forma — sensual, linda e perfeita — despertou todos os meus
instintos primitivos. Nunca em toda a minha vida me senti dessa forma, um
fogo líquido em minhas veias que está me incendiando, somente ela é capaz
de provocar um misto de sensações totalmente desconhecida por mim.
Por mais que eu tente lutar contra esse sentimento que a cada dia está
tomando conta do meu coração, quando sem que eu pudesse controlar
aquelas palavras saíram entre meus lábios, me deixando totalmente
petrificado, o silêncio se fez presente no ambiente, um nó se formou em
minha garganta, meus batimentos aumentaram e todo o meu corpo estava em
combustão. Era como se um vulcão estivesse ao ponto de entrar em erupção
dentro de mim. Pela primeira vez, me encontrava perdido, sem rumo e sem
saber em que direção deveria seguir. Ao surgir os primeiros raios do sol, vim
para empresa sem esperar que ela acordasse, e ao chegar em minha sala, o
choque da realidade me atingiu como um soco tão forte me dando a
constatação que não adianta mais lutar contra esse sentimento, não adianta
negar que ela, a minha menina mulher, minha atrevida e minha esposa,
simplesmente é a dona do meu coração. Ela se tornou o meu calcanhar de
aquiles, e só de cogitar que algo ou alguém possa tirá-la da minha vida, só
desperta o meu lado mais obscuro. Um sentimento de posse desde quando a
conheci está sobre mim, no entanto, agora Maysun é muito mais que uma
obsessão e por ela sou capaz de ir até o inferno para protegê-la. Não importa
quem esteja em meu caminho ou quais obstáculos terei que enfrentar, irei
resumir a cinzas quem ousar em tentar.
Embora esteja com vários assuntos para serem resolvidos, meus
pensamentos estão direcionados para ela, com tudo que aconteceu nos
últimos dias, acabei por adiar a instalação das malditas câmeras . Uma
sensação ruim apodera-se de todo o meu ser, é como se estivesse esquecendo
de algo, mas por algum motivo, há um bloqueio me impedindo de lembrar.
Depois de horas em reunião e sem saber o que ela está fazendo, resolvo
desmarcar todos os meus compromissos na parte da tarde para passar o dia
com ela. Quem diria que algum dia eu estaria agindo como esses idiotas que
sempre ouvi falar nos livros, que ao estarem apaixonados, não conseguem
ficar longe da pessoa amanda. É como se parte de mim estivesse faltando e
somente ao lado dela a encontrarei.
Mesmo tendo certeza do que sinto por Maysun, terei que esconder o
máximo meus sentimentos por ela. Minha habib já mostrou-se diferente, tem
pensamentos e ideais que estão muito além das nossas tradições, e se eu não
agir com mãos de ferro, estarei dando a ela mais munição para aflorar esses
pensamentos. Fecho as portas dos meus devaneios ao ouvir um estrondo sutil
indicando que a porta do carro foi aberta, em passos precisos caminho para a
entrada principal do palácio. Um vento frio atravessa todo meu corpo, o que
me deixa em total alerta. Entro e vejo Tita descer com uma expressão de
desespero. Sei que algo de ruim aconteceu apenas pelo seu olhar.
— Senhor, não consigo encontrar a Sheika Maysun. Ela disse que
ficaria no quarto após ter tomado o seu café da manhã, no entanto, quando fui
até seus aposentos avisar que logo o almoço seria servindo, não a encontrei
em nenhuma parte do cômodo.
Ao ouvir as palavras proferidas por ela, meu coração gela, e no
impulso, sigo para o meu quarto, abro a porta e levo minha mão de encontro
ao cordão em meu pescoço. Esse era o motivo da sensação ruim que tanto
estava me incomodando. Com os olhos fixos na parede a minha frente, ao dar
alguns passos, minha atenção se volta para o envelope em cima da cama. O
nó que antes estava preso em minha garganta só aumenta, o sangue em
minhas veias me incendeia por dentro. Maysun sofrerá as consequências dos
seus atos e desta vez não terei piedade. Volto em direção a porta e a única
coisa que passa na minha cabeça é matar todos a minha volta. Os demônio
que habitam em mim despertam fazendo tudo a minha frente ser resumido em
uma imensa escuridão. Quando chego no primeiro andar, um único grito é
suficiente para toda uma movimentação se fazer presente diante dos meus
olhos.
Meu olhar foca em Tita, analisando suas feições. Ela mantém uma
expressão de preocupação, seu rosto está banhando pelas lágrimas grossas
que rolam em sua face. O que não me faz descartar a possibilidade de ela ter
ajudado aquela petulante. Se essa maldita estiver envolvida, eu mesmo irei
cortar sua cabeça e após esquartejá-la, irei oferecer aos abutres.
— Chefe, as únicas pessoas que deixaram o palácio além do senhor
foram as lavadeiras que vieram pegar as roupas sujas. Uma delas acabou de
chegar ao palácio com essa trouxa, e segundos seus relatos, viu quando uma
mulher se afastou e seguiu para o Deserto.
Toda a raiva que estou sentido é substituída por um único sentimanto.
Medo. O Deserto de Dubai faz parte do Deserto Arábico e atraí todos os dias
viajantes e muitos traficantes devido o Safari, além de comercializar peles de
animais, há alguns casos onde mulheres desaparecem misteriosamente, e
chegamos a conclusão que está havendo o tráfico humano. Maysun foi direto
para a boca do lobo, e se alguém encostar um dedo nela, conhecerá a fúria do
demônio do Deserto. Saio do estado estático que me encontrava e ao levantar
a mão, o gesto é o suficiente para os meus homens entenderem que iremos a
caçada.
Allah a proteja, pois ao contrário do infeliz que chegar perto dela, o
inferno se tornará pequeno perto do estrago que irei fazer.

Já estamos a uma distância razoável do Palácio e próximo do desvio


que dá acesso ao deserto. Começo a diminuir o ritmo das passadas e caminho
na direção do caminho contrário aos das mulheres a minha frente, tiro o
pequeno embrulho que contém um lanche que Tita colocou e jogo a trouxa de
roupas no chão, saindo em disparada para não correr o risco de alguém no
palácio já ter dado por minha falta e descobrido o meu disfarce. Corro feito
uma louca em pleno deserto, porém, cada vez as minhas pernas ficam mais
fracas devido a grande quantidade de areia. Pego o recipiente com água e
tomo um pouco, continuo a correr para manter o máximo de distância. A uma
certa altura, meu corpo já não aguenta mais correr debaixo de um sol
escaldante, o corpo banhado pelo suor, fazendo meu cabelo grudar na nuca.
Sinto um certo desconforto na barriga, meus passos se tornam cada vez mais
lentos.
Pelo relógio em meu pulso, vejo que já estou neste percurso a mais de
quatro horas e nada de avistar o lugar que Tita havia me falado. Não sei se na
minha correria acabei pegando a direção errada, tudo que eu quero é poder
descansar um pouco, apenas um pouco. Quando meu estômago começa a
fazer um enorme barulho pego o pequeno embrulho e começo a comer o
sanduíche. Me sentindo um pouco mais aliviada e com as pernas menos
cansadas, aumento o ritmo das minhas passadas. De repente sinto um calafrio
percorrer por todo o meu corpo e em seguida, ouço vozes ecoando no espaço
e um estrondo semelhante ao motor de um carro. Desesperada e com o
coração batendo a mil, começo a correr novamente, mas nada me preparou
para a imagem a minha frente que faz todo o meu corpo estremecer e meu
coração que antes já estava em um ritmo frenético, quase sair pela minha
boca. Totalmente encurralada pelos três homens a minha frente — que pelos
trajes e o objeto carregado por um deles indica serem traficantes, já que um
dos homens a minha frente está com um animal morto nos ombros — viro-
me na direção contrária, o que só aumenta ainda mais a minha agonia quando
um carro para e dele sai mais dois homens. Pânico, medo, desespero. Tudo se
apodera de mim, e assim que os homens se aproximam, começo a dar alguns
passos para trás.
— Calma docinho, só iremos brincar um pouquinho.
— Se afastem de mim.
Quando me preparo para correr, sinto mãos fortes me segurar pela
cintura. No impulso, levo minhas mãos até o rosto do homem cravando
minhas unhas na sua face, porém a dor que sinto é muito pior do que a do
soco que Kadar havia me dando. Olho para o meu braço e o objeto que indica
ser um punhal está cravado nele, o sangue começa a escorrer por toda
extensão do meu membro. Sem tempo para tirá-lo do braço e aplacar a dor,
sou jogada no chão, logo os homens fazem um círculo comigo no meio, sem
saída. Olho para eles que começam a se despir, e ao ouvir suas palavras, um
medo agudo e cru paira em todo meu corpo, fazendo-me estremecer.
— Será um prazer te domar, pantera selvagem.
Tento me levantar assim que um deles se move até onde estou, meu
braço está latejando, o sangue de cor escarlate pingando pelos meus dedos,
tudo gira ao meu redor. Sinto meu corpo sendo puxando, e em seguida, o
homem que estava vindo na minha direção segundos atrás, com um único
movimento, rasga minha roupa. Totalmente exposta e somente de peças
intimas, ao levantar o olhar, sinto meu estômago embrulhar com os vários
pares de olhos cheios de desejos fixos no meu corpo. Começo a me debater
quando o ser asqueroso começa a tocar em minhas pernas, o outro desliza
suas mãos pela minha barriga, mas ver os três homens com os membros
duros, grandes e grossos apontado na minha direção, eu soube. Esse será o
meu fim.
Meu corpo inteiro não para de tremer, mais pareço uma vara verde em
pleno deserto do que uma mulher. Não consigo mover meu braço e nem me
mover para retirar o objeto que está enfiado na minha pele. Quando penso
que tudo está perdido, um estrondo ecoa no ambiente, o som horrorizante de
trombetas se fazem presentes. O circulo formado pelos homens logo se
desfaz. Pensei que era fruto da minha imaginação a imagem a minha frente,
meu coração bate em um ritmo alucinante, algo dentro de mim vibra ao olhar
para ele montado em um cavalo branco, todo vestido de preto com uma
cimitarra em sua mão.
Vejo a movimentação dos homens a minha frente, estão nervosos, com
expressões de medo estampado em suas face. Parecem estaream diante do
próprio demônio, o que não é uma mentira.

O tempo se tornou o meu pior inimigo e cada segundo é crucial para


encontrá-la. Tudo que vem em minha mente é que a minha esposa talvez
tenha conseguido fazer a travessia. Além dos malditos traficantes, o deserto é
um lugar traiçoeiro e qualquer vacilo resultará em graves consequências.
Maysun com sua impulsividade acabou colocando sua própria vida em risco,
sei que um turbilhão de pensamentos apoderou-se dela ao descobrir a
verdade, não pelo fato de saber qual é a sua verdadeira origem, e sim por
termos omitido a informação. Porém de nada adianta lamentar o leite que já
foi derramado, pois tudo que importa agora é evitar que algo venha acontecer
a minha mulher.
Com todos os meus homens já preparados, subo em meu cavalo e
deixamos o palácio. Desde os meus oito anos ao lado do meu avô percorro
por toda a imensidão do Safari de Dubai, e mesmo sendo somente um garoto,
aprendi a conhecer como a palma da minha mão cada canto do lugar que
muitos, ao tentarem fazer a travessia, simplesmente desaparecem. Aos nove
anos, durante uma caçada no safari, deixei o arco e flecha de lado e meu avô,
após eu insistir muito, me deixou matar o animal a minha frente com as
minhas próprias mãos. Ao introduzir meu punhal na garganta do maldito
animal, uma sensação como eu nunca tinha sentido antes pairou sobre mim.
Ver aquele ser desfalecendo diante dos meus olhos enquanto eu deslizava o
objeto cortante por toda a extensão da sua barriga me deixou em puro êxtase,
mas nada me deixou mais alucinado do que ver sua barriga aberta e seus
órgãos internos pulsando na minha frente. Esmagar o coração dele com
minhas próprias mãos despertou algo que mais tarde comecei a fazer com
todas as mulheres, que após usa-las, já não me tinham serventia. Fecho as
portas dos meus pensamentos quando, a uma certa distância, avisto um
automóvel parado em pleno deserto. Seguro firme as rédeas forçando o
animal a aumentar o seu ritmo, levanto o braço e meus homens que se
mantinham a uma certa distância de mim, começam a tocar as trombetas que
ecoam por todo ambiente. O som emitido é conhecido pelos setes cantos que
formam os Emirados Árabes, as trombetas que pertenciam ao meu avô foram
feitas especialmente para anunciar sua chegada ao deserto durante as
caçadas. Elas tem um som horrorizante, que quando ouvi pela primeira vez,
passei dias tendo pesadelos e com o som ecoando em minha mente. Ao me
aproximar do veículo, sinto meus órgãos internos me incendiar por dentro.
Minha garganta se fecha ao olhar para a cena a minha frente. Quando meus
olhos encontram oa dela e vejo o medo estampado em suas órbitas negras, é o
suficiente para os meus demônios se manifestarem e a única coisa que ecoa
na minha mente é a palavra sangue. Os sangues deles derramados.
Quando os desgraçados se afastam dela e a mesma leva sua mão ao
encontro do seu braço esquerdo e puxou o objeto que estava cravado nele, um
grito estrangulado saiu por entre seus lábios, e mesmo assim, ela começa a
ser rastejar pegando o pedaço de pano que sobrou da sua roupa, envolvendo
seu corpo para tentar se cobrir um pouco que seja. Ódio me domina, minha
mandíbula não para de contrair me causando uma sensação terrível. Pulo do
cavalo e com minha espada em mãos, avanço para cima dos infelizes. Meus
homens logo se aproximam fazendo um círculo em nossa volta, prendendo-os
para mim, não deixando que escapem da morte. Totalmente encurralados, a
única opção dos malditos é vir para cima de mim, para tentar salvar suas
miseraveis vidas. O grito de Maysun ecoa na minha mente, e assim que dois
dos homens se aproximam com uma arma branca em mãos, um sorriso
maligno se faz presente na minha face. Já posso sentir o cheiro de sangue
fresco que logo darácor a areia do lugar que sempre foi apreciado por mim.
Com um único golpe, minha cimitarra desliza pela garganta do
infeliz, fazendo o sangue jorrar enquanto o outro que segurava um punhal,
tenta me acertar. São idiotas por cogitarem que essas malditas armas me
impediriam de enviá-los ao inferno, não os culpo, ao menos estão sendo
homens e lutando até a morte. Avanço para cima do desgraçado que tenta me
acertar, e ao contrário do seu companheiro que está jogado no chão ainda
agonizando, o golpe certeiro é desferido no meio da sua barriga. O homem dá
alguns passos para trás, e ao ver que o infeliz ainda está de pé, defero mais
um golpe fazendo suas vísceras ficarem expostas, fazendo o desgraçado cair
morto no chão. O cheiro de sangue fresco impregna minhas narinas me
deixando alucinado. Jamil está travando uma luta com um dos três homens
que tentaram escapar, mas ao olhar dois deles que ainda estão despidos,
minha voz ecoa cortante no ambiente.
— Eles são meus.
Sem ter para onde fugir e correr, eles vem na minha direção, com suas
armas apontadas para mim. Seguro firme minha espada quando o primeiro
sortudo fica na minha frente, e com um único golpe em meu alvo, ouço seus
gritos quando a lâmina atinge em cheio seu pênis, cortando-o em dois
pedaços. Antes que ele reaja, com um giro em meu braço, o segundo golpe
atinge sua garganta fazendo a cabeça do infeliz cair de encontro ao chão. No
momento de distração, sinto algo penetrar minha pele, e quando os meus
olhos vão de encontro ao corte feito em meu braço, novamente uma imensa
escuridão surge na minha frente, me cegando de raiva. O idiota esboça um
sorriso em sua face por ter me acertado, e como um leão diante de sua presa,
avanço para cima dele deferindo vários golpes em seu corpo. Ele cai no chão
pelo impacto, pego minha espada e deslizo em uma inha reta e profunda em
sua barriga, vendo seu coração bater e seu pumão contrair diante dos meus
olhos. Levo minhas mãos puxando todos os seus órgãos internos, e ao ter o
coração do maldito em minhas mãos, aperto com toda força que vem através
do ódio que percorre por todo o meu ser. Largo-o ao ouvir os gritos de
Maysun.
Me levanto e corro na sua direção. Ela se contorce em meio a dor,
levando as mãos até o seu ventre. Me agacho pegando-a em meus braços, seu
membro esquerdo está envolvido pelo líquido avermelhado, seus labios estão
sem cor alguma.
— Por favor, me ajude, não me deixe morrer.
Quando ouço as palavras proferidas pela mulher que se tornou parte de
mim, vendo-a fechar os olhos lentamente, meu mundo desaba perante meus
olhos com a possibilidade de perde-la para sempre. Para a morte.
— MAYSUN... Acorda, você não pode me deixar, nada e nem
ninguem vai tirar você de mim.
Tenho a confirmação de que sem ela não poderei mais viver.
Mergulhado em desespero e extremamente aflito, é assim que me
encontro ao olhar para a equipe médica que está cuidando da minha mulher.
Com os olhos fixos na direção dela, as imagens dos últimos acontecimentos
em pleno deserto invadem a minha mente. Depois de vê-la desfalecendo
diante dos meus próprios, olhos fiquei completamente atormentado. Como já
havia cogitado que ao passar tantas horas exposta ao sol escaldante ela
poderia estar debilitada, mandei que o médico viesse até o palácio e ficasse
nos aguardando, porém jamais passou pela minha cabeça que a encontraria
naquele estado.
Em passos largos, caminho com ela em meus braços até o carro 4x4
que um dos meus homens veio conduzindo com alguns mantimentos caso
fosse necessário percorrer uma jornada mais longa. Assim que entro dentro
do automóvel, a coloco deitada no banco com a cabeça em cima das minhas
pernas. O veículo logo entra em movimento, enquanto trato de estancar o
sangue que jorra do seu membro esquerdo já que ela havia perdido muito
líquido e isso poderia ter graves consequências. Olho para ela que mantem
uma expressão suave, porém os seus lábios estão roxos e a cor em sua face
está pálida.
Depois de conter o sangramento, coloco sua cabeça sobre o estofado do
assento do carro e pego na pequena bolsa que tem algumas peças de roupas
minhas que sempre deixo dentro do veículo. Com a peça em minhas mãos,
pego meu punhal retirando as mangas, e depois de tirar o pedaço de pano que
cobria o seu corpo, visto-a com a camisa limpa e novamente coloco sua
cabeça em cima das minhas pernas. O medo agudo e cru paira sobre mim
quando levo minha mão de encontro a face dela e constato que está
completamente gelada. Seus batimentos cardíacos estão muito fracos, assim
como sua respiração que resoa muito baixo.
Mando o inútil do motorista pisar fundo no acelerador e depois de
minutos que pareceram os mais longo da minha vida, chegamos ao nosso
destino. O estrondo sutil do carro ecoa e a porta é aberta pela equipe médica
que vem na nossa direção. Deposito seu corpo em cima da maca e eles a
conduzem para o quarto do primeiro andar. Acabei fazendo algumas reformas
no cômodo que foi usado pela minha avó quando passou seis anos doente
antes de ir a óbito, o ambiente conta com equipamentos de alta tecnologia,
uma verdadeira UTI dentro da minha própria casa.
Quando achei que a situação não poderia se tornar pior, Maysun
começa a ter uma parada cardíaca. O medo me domina, meu coração gela. O
médico logo avisa que ela irá precisar de uma transfusão de sangue, e assim
que ele diz o tipo sanguíneo dela, e conseguiram a trazer de volta, toda
aflição que senti minutos atrás se dissipa. Meus pensamentos são
interrompidos quando ouço a voz do homem a minha frente ecoar no
cômodo.
— O estado dela agora é estável. Tivemos muita sorte de vocês dois
terem o mesmo tipo sanguíneo, e graças a Allah, não aconteceu nada com o
bebê.
As palavras dele mexem comigo. Filho! Ela está grávida! Sinto a raiva
inflamar em minhas veias, minha mandíbula se contrai no mesmo instante
que um nó se forma na minha garganta. Agindo por impulso, Maysun
colocou não só a sua vida, mas a do nosso filho em perigo e assim que ela
acordar, vai sofrer as consequências dos seus atos. Saio dos meus
pensamentos quando o homem volta a falar, pelo jeito que ele me olha, de
certo percebeu o que eu estava pensando.
— Não sei o que levou sua esposa a ter essa atitude, porém ela mais do
que nunca precisará de todo o seu apoio e deverá evitar qualquer
aborrecimento, pois no estado que ela se encontra, e a dor que sentiu, foi
devido o quase aborto que teve e por muito pouco não perdeu o bebê. A
gravidez dela é de alto risco, e como acredito que você deseja muito este
filho, te aconselho a agir com calma, até porque sua esposa fisicamente está
bem, mas não sabemos qual será seu estado emocional ao acordar.
As palavras dele caem como um soco no meu estômago, fazendo o nó
que antes se formou em minha garganta se desfazer. Eu nunca em toda minha
vida senti tanto ódio e medo ao mesmo tempo. Ódio ao ver o jeito como ela
estava jogada naquela areia, pois o medo estava visível através do seu olhar, e
medo ao imaginar viver sem ela. E agora, mais do que nunca, tenho a certeza
de que Maysun Wehbe Maktoum, a mulher que carrega meu filho em seu
ventre, é a luz que no meio da escuridão que eu vivia, chegou para mudar a
minha vida. Um simples olhar despertou em mim sensações que nunca tinha
sentido antes. A princípio achei que era somente uma atração, um desejo de
fazê-la pagar por ter me rejeitado, mas no fundo, eu só não queria aceitar que
um homem que sempre teve tudo que quis, sempre teve todas as mulheres a
quem desejava, no entanto, uma simples garota — tão atrevida, petulante e de
personalidade forte — acabou se tornando a dona do meu coração.
Novamente sou tirado dos meus devaneios quando o médico pede para que
me sente na cadeira ao lado, e que cuidaria do ferimento em meu braço.
Fiquei tão atordoado que simplesmente esqueci que aquele infeliz tinha me
atingido.
Minutos depois que todos já se retiraram do cômodo, sabendo que
Maysun ainda não irá acordar devido o medicamento, pego a roupa limpa que
estava em cima do móvel ao lado e sigo em direção ao banheiro. Preciso de
um banho com urgência e retirar a roupa que está suja com o sangue daqueles
desgraçados. Passo um bom tempo debaixo do chuveiro, estando minutos
depois de banho tomado e vestido. Dou alguns passos até a porta, e assim que
levo minha mão a maçaneta, ouço os gritos dela, intuitivamente abro a porta e
corro até ela, que não para de se mexer enquanto dorme.
— Não! Não! Não! Se afastem de mim.
Maysun está se debatendo na cama, seus olhos estão fechados, sua
expressão demostra, além de medo, dor. Levo minhas mãos ao encontro da
sua, tentando alcamá-la, mais meu ato só piora ainda mais a situação.
— Por favor, alguém me ajude. Não me toquem. Eu prefiro a morte a
ter que passar por tudo isso. Socorro...
Vê-la reproduzindo toda a cena que havia passado naquele lugar me
deixa arrasado e destruído por dentro. Embora ela tenha agido movida pela
raiva com tudo que descobriu, eu também contribui para que ela cogitasse
que a única solução para se ver livre de tudo isso, era fugir. Vendo seu
desespero, começo a falar com a intenção que ela possa sair do estado em que
se encontra.
— Habib, preciso que você abra os olhos, tudo já passou e você está em
nossa casa.
Começo a dizer a mesma frase por diversas vezes, e aos poucos, ela vai
parando de se debater. Minutos depois, suas órbitas negras encontraram as
minhas. Me sento ao seu lado segurando a sua mão, ela permanece com os
olhos abertos fixos em mim, porém é como se em seu olhar não há mais vida,
e somente o seu corpo está aqui em minha frente.
Sem desviar meus olhos dos dela, começo a chamar pelo seu nome,
mas sua expressão continua indecifrável. Um corpo sem alma que demostra
estar completamente perdido. Depois de tudo que aconteceu, e agora que sei
que além dela tem um pedaço de nós dois crescendo em seu ventre, não vou
permitir que Maysun se deixe abater por culpa daqueles malditos infelizes.
Como me arrependo de não ter sido cruel ao envia-los para o lugar que já
deveriam estar a muito tempo. Seguro firme em sua mãos e o silêncio que se
fazia presente no ambiente logo é quebrado.
— Eu não vou deixar que você fique nesse estado por culpa daqueles
desgraçados. Você sempre demostrou que é uma pessoa forte, diferente de
todas as mulheres que já conheci. A minha atrevida, que mesmo após tudo
que fiz, não perdeu a sua essência e se manteve firme naquilo que sempre
acreditou. Desafiou meu pai se colocando na mira de um chicote para
proteger a minha mãe após tudo que ela fez contra você. Só você, somente
você despertou sentimentos que eu nunca tinha sentido na vida, e que agora
preenche meu coração. — Levo minhas mãos ao encontro da sua barriga. —
Eu te Amo Maysun, não peço que reaja por mim e sim pelo nosso filho que
está crescendo dentro de você. Uma nova vida, um ser iluminado que poderá
mudar o rumo da nossa história.
Assim que ouve minhas palavras, quando levanto o olhar, avisto
algumas lágrimas descendo pela sua face, porém sua expressão é totalmente
desconhecida por mim.
— Grávida? Não, não, não...
Uma sensação tão ruim tomou conta de todo o meu ser, o meu braço
não parava de latejar e ver todo aquele sangue escorrendo por toda extensão
do meu membro só aumentou a minha agonia. Por mais que eu queira reagir,
tudo que vem na minha mente é a imagens daqueles homens tocando o meu
corpo, e quando uma luz apareceu em meio a escuridão, através dela surgiu a
imagem de um homem vestido de negro em um cavalo branco. Achei que
todo o meu desespero estivesse chegado ao fim, mas era somente uma
alucinação, pois ainda posso sentir os toques das mãos ásperas sobre minha
pele deslizando cada vez mais por toda parte do meu corpo, e ao chegar
próximo do meu ventre, uma dor insuportável me atinge em cheio. Tento
abrir meus olhos, mas ao sentir o hábito quente e o cheiro daqueles infelizes,
sei que é eles que estão tirando o resto da inocência que ainda havia em mim,
se deliciando do meu corpo como um pedaço de carne.
Tudo que desejo é que tudo isso chegue ao fim e que eles acabem logo
com a minha vida. Uma força muito maior que tudo que já senti antes me
puxava para um lugar onde só havia uma imensa escuridão, e por mais que
meus olhos estejam abertos, só olho a minha frente um buraco negro e uma
voz dizendo para eu ir naquela direção. Porém a luz que tinha visto
novamente ressurge, a voz que nos últimos tempos era causadora dos meus
tormentos desta vez me trás uma sensação de paz. Nunca pensei que o
homem que se mantinha com o coração empedrado, que me causou tanto
sofrimento, fosse capaz de ter algum sentimento bom por mim. Mesmo
sabendo de tudo que ele me fez, tenho plena convicção que para Kadar
Maktoum não está sendo fácil ter que abrir seu coração e falar dos seus
sentimentos. Sem que eu possa controlar, as lágrimas surgem em minha face,
e ao ouvir suas últimas palavras, novamente o desespero paira sobre todo o
meu ser. Sinto um nó se formando na minha garganta, meu coração pulsa em
um ritmo frenético, as palavras dele ecoa em minha cabeça. Grávida? Como?
Eu não quero um filho, não agora e nem desse homem. Impulsivamente,
meus lábios se mexem e as palavras saem sem eu formular direito.
— Grávida? Não, não, não...
Kadar contrai sua mandíbula e sua expressão se fecha de imediato. O
silêncio se instala no ambiente. As órbitas negras dele estão fixas em mim e
minha mente está processando a todo vapor a última informação. Será que eu
já estava grávida antes de usar o anticoncepcional? Será que os anti-
inflamatórios cortaram o efeito ou o fato de ter vomitado por dois dias
seguintes após ter ingerido o comprimido acabou fazendo o medicamento não
ter efeito? Dúvidas e mais dúvidas se fazem presentes na minha cabeça
atordoada. Como vou carregar um filho do homem que a qualquer momento
pode me agredir? Fecho as portas dos meus pensamentos quando o silêncio
novamente é quebrado, e para a minha total surpresa, ele começa a desliza
sua mão em volta do meu ventre e as palavras que saem entre seus labios
silenciam o pânico que abalava minha confiança.
— Nada vai mudar tudo que já aconteceu, mas cabe a nós dois escrever
o rumo da nossa própria história. Nunca tive que me importar com alguém ou
querer mudar por alguém, mas saber que eu poderia te perder só me fez
aceitar o que no fundo já sabia desde o momento que te olhei pela primeira
vez. Esse filho simbolizará o nosso recomeço, é por ele e pelo amor que sinto
por você que te peço para nos darmos mais uma chance de começar do jeito
certo. Não serei o príncipe encantado, embora tenha um cavalo branco, assim
como já entendi que por mais que eu tente, você nunca perderá sua essência e
de fato foi isso que a fez diferente de todas que eu já conheci. O meu filho
não poderia ter uma mãe melhor do que você, e tenho certeza que você fará
assim como eu tudo que estiver ao seu alcance para protegê-lo.
Após ouvir suas palavras, o choque da realidade cai sobre mim. Não
estava em meus planos que isso viesse acontecer, mas é o meu filho, um
pedaço de mim que está crescendo dentro do meu ventre, e agora, mais do
que nunca, terei que ser forte e aceitar o meu destino. Nada acontece por
acaso e tudo que me aconteceu tem um propósito muito maior. As
lembranças das palavras de Tita invadem a minha mente. Entre muitas, kadar
Maktoum, mesmo de um jeito errado, me escolheu e chegou o momento de
deixar minhas lamentações de lado. Se eu fui escolhida para ser a princesa do
deserto, pelo meu povo e pelo meu filho, farei tudo para que vivam no
mundo melhor. Nem Kadar ou qualquer outra pessoa ficará em meu caminho.
Alguns dias se passam, e assim como surgiu aquela nuvem negra
trazendo tanta sofrimento, desespero onde vive os piores momentos da minha
vida, nada melhor que o tempo para colocar as coisas no lugar. Maysun se
mostrou ainda mais forte, e mesmo que de início a notícia da gravidez a
deixou desnorteada como eu já esperava, a minha habib não deixou que
aquela experiência ruim ganhasse mais proporção em sua vida. Durante esses
cinco dias, não fui a empresa e resolvi ficar ao seu lado. Por três dias ela
acordou gritando e se debatendo como se tudo que ela passou novamente
estivesse acontecendo.
A cada gesto meu em contato com a sua pele percebi o quanto ela fica
em total alerta e seu corpo sempre está trêmulo. Movido por uma paciência
que até eu desconhecia, aos poucos fui fazendo ela perceber que ninguém
além de me tocará em seu corpo e seja quem for o maldito que cogitar
novamente fazer algum mal a ela e ao nosso filho, vai se arrepender do dia
em que nasceu.
Daqui a dois dias será o seu aniversário e darei a ela uma noite que
jamais irá esquecer, mas antes disso, tenho alguns assuntos que precisam
serem resolvidos. Deixo meus pensamentos de lado, e já arrumado, caminho
em direção ao quarto. Ao adentrar o ambiente, contemplo a bela imagem a
minha frente, onde minha esposa acaba de acordar. Dou alguns passos e ao
ficar próximo da cama, me sento ao seu lado.
— Terei que viajar, mas retorno amanhã. Espero que tudo que
aconteceu tenha servido para você não cogitar fugir novamente. Agora não é
somente a sua vida que colocará em risco.
Vejo sua expressão logo mudar, mas antes que ela resolva se
pronunciar, minha voz novamente ecoa no ambiente.
— Embora você tenha negado, ainda estou de olho na Tita e qualquer
ato seu em minha ausência, enviarei aquela infeliz ao inferno diante dos seus
próprios olhos. Agora, não se esqueça das recomendações do médico.
Quando ela vai falar, ataco sua boca em um beijo arrebatador. Minutos
depois, após ter me despedido, em passos precisos deixo o quarto, porém um
único pensamento se faz presente em minha mente. Veremos o que essa
viagem a Fujairh me reserva, chegou a hora de ter uma conversa séria com o
Sheik Nuaimi.
Tenho vivido um dia de cada vez. Depois dos últimos acontecimentos,
onde vivi os piores momentos da minha vida, também recebi a notícia que a
princípio me deixou atordoada, mas logo o choque da realidade pairou sobre
mim, e hoje já não consigo parar de pensar no meu filho. Para minha total
surpresa, Kadar me mostrou um lado totalmente desconhecido por mim, se
manteve ao meu lado e graças a ele, consegui sair da escuridão que estava me
rondando. Ainda tenho pesadelos com a cena que vivi em pleno deserto, mas
ao acordar desesperada, ele sempre tem uma palavra para me acalmar.
Tita me pediu desculpas por ter concordado em me ajudar a seguir com
o plano de fuga, porém fiquei tão apavorada com a possibilidade de alguém
dar por minha falta que segui a direção contrária da qual ela havia me
informado, indo de encontro ao meu pior pesadelo.
Tudo que eu passei só serviu para colocar minhas idéias no lugar.
Sempre fui uma pessoa que enfrenta todos os obstáculos que surgem na
minha vida, no entanto, fui impulsiva e por pouco não só acabei com a minha
vida, como a do meu filho. Fiquei totalmente surpresa com a notícia da
viagem do meu esposo, por mais que eu tente disfarçar, um turbilhão de
pensamentos apodera-se de mim.
Será que agora que estou ligada para sempre a ele, resolverá ter uma
segunda esposa? Será que realmente tudo que ele me disse é verdade? A
única certeza que tenho é que realmente algo nele mudou, antes só conseguia
ver uma sombra negra a sua volta, mas hoje, existe um brilho nas suas órbitas
negras toda vez que passa suas mãos em minha barriga, me dando a
confirmação que o nosso filho trouxe uma luz ao seu coração sombrio. Antes
dele deixar o nosso quarto, avisei que mandaria alguém ir buscar a minha
mãe. Chegou o momento de desfazer o nó que se formou em minha garganta
e dar a ela o direito de me explicar a sua versão de tudo que aconteceu, e o
que a levou a esconder esse segredo por tanto tempo.

Estou no meu quarto, perdida em meus pensamentos, quando uma


batida na porta ecoa e em seguida, minha mãe surge no meu campo de visão.
Enquanto ela caminha até onde estou, as imagens de tudo que já passamos
juntas surgem como flashes a minha frente, e assim que ela fica a alguns
centímetros de mim, e antes que ela tenha qualquer reação, estendo o
envelope na sua direção. O sorriso que estava presente em seu rosto logo
desaparece, parece que o sangue do seu rosto evaporou, pois ela está branca
como um papel.
Com as mãos trêmulas e os olhos fixos no objeto em suas mãos, ela
nem precisa ler tudo que está escrito no documento. Com os olhos banhados
em lágrimas, desvia seu olhar do papel, o colocando fixo em mim.
— Eu sinto muito por você ter descoberto dessa forma.
Olho para a mulher a minha frente que sempre foi o melhor exemplo de
pessoa para mim, a minha amiga, minha heroína. Mas algo dentro de mim
está inquieto, pois agora que sei da existência do meu filho, sei que por ele eu
sou capaz de tudo.
— Sempre fui feliz com tudo que vocês nos deram e nos ensinaram,
mas saber que se não fosse pelo homem com quem casei, hoje o meu irmão
não estaria aqui, o que me faz pensar até onde o seu orgulho é maior e mais
importante do que o amor que tem pelos seus filhos? Eu só preciso entender
por que a senhora se manteve quieta sabendo que a vida do Burak estava em
jogo?
A única vez que vi minha mãe no estado que se encontra a minha
frente, foi a alguns meses, no hospital. Ela caminha na minha direção, e após
nos acomodamos na minha cama, ela começa a contar toda a história da sua
vida. Os minutos seguintes me causam um misto de sensações, e ao saber
tudo que meus pais enfrentaram e mesmo após tanto sofrimento fizeram de
tudo para proporcionar a mim e ao meu irmão tudo que estava ao seu alcance,
fez o choque da realidade cair como um soco em meu estômago.
Simplesmente fiz um julgamento sem procurar saber o lado dos meus pais.
Levo o dorso da minha mão enxugando as suas lágrimas, seguro suas
mãos e peço perdão pelas minhas palavras. Ela logo me envolve com um
forte abraço, e ao soltar um grito de dor quando sem querer ela toca em meu
braço, sou questionada de imediato. Acabo por contar da loucura que fiz ao
descobrir o conteúdo das informações do dossiê, como já era de se esperar,
minha mãe acaba me repreendendo pelos meus atos, mas assim que conto a
ela sobre a minha gravidez, novamente um sorriso se faz presente em sua
face. Ela fica completamente eufórica com a chegada do seu futuro neto, já
que segundo ela, será um menino.

Assim que surgem os primeiros raios de sol, em passos lentos, me


levanto para não acordar minha esposa que dorme feito um anjo. Minutos
depois, de banho já tomado e arrumado, deixo o nosso quarto antes que ela
acorde. Passo todo o trajeto até chegar em minha empresa, com os
pensamentos voltado para a viagem que fiz até Fujairh.
Quando anunciaram a minha presença, o Sheik Nuaimi logo autorizou a
minha entrada. Assim que a porta foi aberta, o encontrei na sala ao lado da
sua esposa, e antes que ele tivesse qualquer reação em perguntar qual era o
motivo da minha presença, fui direto ao ponto.
— Embora seu homem de confiança tenha tratado de agir com
descrição na investigação que fez sobre a família da minha esposa, no
entanto, nada do que acontece sobre os domínios de Dubai, e principalmente
relacionados a Sheika Maysun Wehbe Maktoum, não chegue de fato aos
meus conhecimentos.
Olhei para o homem a minha frente que permaneceu com uma
expressão indecifrável em sua face, o que me deu a confirmação que o Sheik
Nuaimi veste uma armadura de ferro mais forte e impenetrável do que eu
cogitei. Porém, deixarei claro que o fato dele ter algum parentesco com
Maysun não afetará nada em nossas vidas.
— Algumas semanas atrás, descobri que Fátima Wehbe é na verdade a
princesa Aylla, a quem você declarou perante a todos de Fujairh como morta.
Então me pergunto, qual o seu interesse por eles após ter se passado mais de
vinte e dois anos?
O homem a minha frente, que tinha uma expressão indecifrável por
mim, logo levantou seu olhar, falando:
— Vejo que tudo que falam sobre o príncipe do deserto é verdade.
Admiro muito pessoas de atitudes que não fazem rodeios, no entanto, o fato
em ter descoberto da existência da sua esposa e do pequeno Burak não
mudará em nada as nossas vidas. Se cogitou em vir reivindicar os direitos
dela, perdeu a viagem, afinal, eles não podem ter parentesco algum comigo e
minha esposa já que a única filha que tivemos morreu há muito tempo.
Minha mandíbula se contrai, senti o ódio inflamar em minhas veias.
Olhei para a mulher a minha frente onde lágrimas grossas desciam pelo seu
rosto. Respirei fundo para não matar o infeliz. As palavras proferidas pelo
homem a minha frente só serviram para confirmar que o Sheik Nuaimi não
merece a filha e os netos que tem. Com essa atitude, agora entendo o que
levou a princesa Aylla a deixar tudo para atrás e viver ao lado do homem que
amava.
— Assim como você, por muito tempo deixei que sentimentos que só
fazem as trevas nos levarem para um caminho sombrio se apoderar do meu
coração, mas foi graças a atitude da sua filha em viver o seu grande amor que
hoje tenho a minha esposa. Todo esse ódio, rancor, só está o levando a perder
momentos preciosos ao lado de pessoas que, por mais que tente negar, tem o
seu sangue correndo em suas veias. No entanto, se durante todo esse tempo
eles nunca precisaram da sua ajuda e do seu dinheiro, agora mesmo que isso
não será necessário. Para todos você é um dos homens mais ricos dos
Emirados, tem uma fortuna que superou todo o patrimônio que a família
Maktoum possuí, porém eu, como herdeiro do Sheik Hassam Abdala que era
o homem mais rico, não só das sete cidades que fazem parte do nosso país,
assim como de toda Ásia, Europa e África, estou me lixando para o seu
dinheiro, já que minha fortuna pessoal é dez vezes maior. Se vim a Fujairh
foi pela minha esposa que teve o direito negado em conhecer os avós, mas
agora, diante da sua atitude, tenho certeza que a coisa mais sensata é que ela
não tenha nenhum convívio com você.
O ódio estava visível através dos olhos do homem a minha frente.
Antes de deixar o ambiente, tratei em dizer para mulher que estava em total
desespero com tudo que ouviu, que as portas da minha casa estariam abertas
para ela. Em passos precisos, deixei o lugar.
Fecho as portas dos meus pensamentos assim que chego ao meu
destino.
Depois de horas e horas em reunião, e com tudo que ainda tinha que
providenciar para noite de hoje, ao ligar para o palácio, aviso Tira que ela
deverá acompanhar Maysun até o lugar indicado por mim. Horas depois, com
tudo já providenciado, me levanto da minha poltrona e caminho em direção a
porta, encontro Jamil do lado de fora, me esperando.
— Chefe, Dusan entrou em contato há alguns minutos para informar
que amanhã o Sheik Nuaimi e sua esposa estarão vindo para Dubai.
Ao ouvir as palavras do homem a minha frente, o esboço de um sorriso
se faz presente em minha face.
— Pelo visto a armadura do todo-poderoso de Fujairh enfim foi
penetrada. Só espero que Maysun fique feliz com a vinda dos avós.
Assim que termino de falar, ao lado de Jamil caminhamos em direção a
garagem. Hoje Maysun terá uma noite inesquecível.
Ansioso, é assim que me encontro pela expectativa do que vai
acontecer. Assim que deixo a empresa ao lado de Jamil, que foi em outro
carro para buscar Maysun, adentro o meu automóvel e o coloco em
movimento. Passo todo o trajeto até o deserto com os pensamentos voltados
para minha mulher. Sei que não será fácil para ela ter que voltar ao lugar que
lhe proporcionou os piores momentos da sua vida, porém, como minha
esposa, ela terá que enfrentar esse medo que apoderou-se de todo o seu ser.
Maysun é a princesa do deserto, e esse lugar fará parte da sua vida para
sempre.
Meu objetivo é mostrar a ela que o deserto também pode lhe
proporcionar algo de bom, por essa razão, resolvi comemorar o seu
aniversário somente nós dois. Pelo que já conheço da sua personalidade,
tenho plena convicção que ela passou o dia todo perdida em suas lembranças,
a final de contas, é o primeiro aniversário que passará longe da sua família e
mais ainda por cogitar que eu não estou dando a mínima para essa data tão
especial, onde o maior presente, tanto em sua vida como na minha, é o nosso
filho. A princípio, a ideia de ter um filho surgiu com intuito de tê-la ligada a
mim para sempre, mas ao saber que agora é real, que logo um ser tão
inocente e puro virá ao mundo, desperta em mim um misto de sensações que
até então ela tinha sido a única a me fazer sentir.
O que ela ainda não tem conhecimento, é que amanhã, será um jantar
em comemoração ao seu aniversário, e daremos a notícia a nossa família
sobre a chegada do nosso herdeiro. Fecho as portas dos meus pensamentos
assim que vejo o carro que está a trazendo se aproximar.
Acordo sobressaltada, com o coração disparado e um embrulho enorme
em meu estômago. Levanto rapidamente e sigo até o banheiro, coloco tudo
que tinha e não tinha em meu estômago para fora. O anjo da mamãe nem bem
veio ao mundo e já está me deixando de cabelos em pé. Depois de ter
escovado os meus dentes e tomado um banho, já vestida, saio do cômodo e
volto ara o quarto. Tita logo aparece com uma enorme bandeja em suas mãos,
antes de começar a comer, ela me avisa que a noite alguém virá nos buscar.
Pergunto se Kadar tinha falado mais alguma coisa ou perguntado por mim,
porém ao ouvir as palavras da mulher a minha frente, sinto uma tristeza se
apoderar de todo o meu ser, meu coração se aperta ao saber que ele nem se
lembrou que dia é hoje, mas eu já deveria ter cogitado que o homem com que
me casei, além das palavras que proferiu alguns dias atrás, jamais demostrará
algum gesto a mais por mim.
Depois de ter comido feito uma leoa, passo boa parte do dia perdida em
minhas lembranças, pela primeira vez em minha vida, vou passar meu
aniversário longe dos meus pais e de Burak. Deixo meus pensamentos de
lado e resolvo tomar meu banho, minutos depois, ao entrar no quarto, meus
olhos vão ao encontro do vestido que está em cima da cama. Assim que Tita
me avisa que seu sobrinho já está nos aguardando, em passos precisos, sigo
até o automóvel que nos espera. Uma brisa sopra, sinto um arrepio atravessar
todo meu corpo.
Quando nos acomodamos dentro do veículo, o mesmo entra em
movimento. Algum tempo depois, quando o carro é desviado da estrada
principal, segue para o trajeto que levará direto para o deserto. O medo cru e
agudo atravessa meu coração, um frio atinge minha espinha, meu coração
bate tão alto que parece um tambor. Fico imóvel, e por mais que queira
questionar Jamil sobre o motivo de ter seguido para esse percurso, as palavras
não saem entre meu lábios.
Medo. Sim! Eu estou em pânico, tremendo sem parar. Após alguns
minutos de puro desespero, o carro para. Um estrondo sutil ecoa no espaço,
indicando que a porta foi aberta, ao descer do veículo, meus olhos não
conseguem acreditar na imagem a minha frente. Ouço Tita dizer que já irá
embora, e que eu deveria aproveitar tudo que essa noite tem a me oferecer.
Quando o veículo some do meu campo de visão, levanto o olhar,
contemplando o cenário perfeito a minha frente. Além do caminho que está
todo iluminado, há uma mesa posta para dois, próximo a entrada da tenda que
reflete pura luxúria. A noite está estrelada, o vasto céu com sua beleza, com
seu romantismo e sensualidade, aglomerado das estrelas e a lua alva,
esplêndida, o majestoso disco de prata arremessando sua luz e limpedez no
espaço, mas que parece somente iluminar a nós. Desvio meu olhar o
colocando fixo no homem a minha frente que está mais bonito do que antes.
Suas órbitas negras brilham com grande intensidade, e após dá alguns passos,
paro a sua frente. Ficamos alguns segundos em silêncio nos encarando, mas
logo sua voz grave ecoa no espaço.
— Feliz aniversário, habib. — Ele move suas mãos segurando minha
cintura, me trazendo para mais perto de si, pegando minha mão e colocando
na direção do seu coração, que bate em um ritmo frenético.
— Eu espero que essa noite você possa entender o quanto meu coração
passou a bater mais rápido desde o momento que te conheci. Nunca me
importei em querer mudar por ninguém, e sabemos que as trevas que habitam
em meu coração jamais deixarão que a luz possa ganhar essa batalha e me
torne o príncipe que existe nos contos de fadas, mas por você e pelo meu
filho, farei com que a luz que vocês dois trouxeram a minha vida jamais se
deixe ser apagada pelas trevas. Por vocês dois, darei o melhor de mim.
Olho para o homem a minha frente que está totalmente diferente do
demônio que sempre me deixou em pânico toda vez que se aproximava de
mim, no entanto, hoje está visível, não só em suas palavras, mas no brilho
dos seus olhos que realmente ele está tentando mudar. Antes que eu tenha
qualquer reação, ele me beija ardentemente. Minhas mãos se colocam em
volta do seu pescoço, aprofundando ainda mais o beijo, só nos separamos
pela falta de ar.
Ele segura minha mão e caminhamos em direção a mesa. A sensação
que tenho é como se borboletas pulassem em meu estômago. Todo o medo
que eu estava sentindo minutos atrás se dissipa, dando lugar ao misto de
sensações boas. Kadar enche sua taça com vinho, e ao pegar a minha, coloc
suco de uva. Jantamos em silêncio, só apressiando as sensações que tudo
aquilo está nos proporcionando. Quando nos demos por satisfeitos, ele se
aproxima e em seguida me pega em seus braços fortes, caminhando para
dentro da tenda.
Fico totalmente fascinada quando estramos. Há um buraco na parte de
cima da tenda nos dando a visão privilegiada do céu estrelado, o lugar é
convidativo ao amor e ao sexo. Ele me coloca sobre as almofadas, começa a
beijar o meu pescoço enquanto explora com as mãos todo o meu corpo.
Como no piscar de olhos já estou despida e meu esposo chupando meus
seios, enquanto sua mão explora minhas regiões baixas, massageando
delicadamente meu clitóris, me trazendo um tesão enlouquecedor. Abro
minhas pernas desavergonhadamente para desfrutar da habilidade de seus
dedos que continuam a acariciar com maestria meu clitóris. É tão bom.
Percebendo o quanto já estou úmida, ele se move mais para baixo e começa a
sugar minha vagina, alternando movimentos entre a introdução dos seus
dedos e da própria língua. Seus dedos deslizam para dentro de mim, fazendo
um movimento de vai e vem, enquanto sua língua desliza em torno do meu
botão inchado. Um forte espasmo atravessa todo o meu corpo, começo a me
contorcer suavemente enquanto ele move os dedos para fora e depois
introduz fundo dentro de mim. Sinto todo o meu corpo estremecer com as
primeiras ondas do orgasmo que anuncia. Kadar intensifica ainda mais os
movimentos, fazendo meu corpo convulsionar. Um choramingar desesperado
sai da minha garganta, me deixando totalmente perdida quando ele se afasta.
Ele põe-se de pé, retirando toda sua roupa, me dando a bela visão do
seu volumoso membro ereto e grosso. Sua aparência é eroticamente bela.
Olhando fixamente para aquela fruta grande e apetitosa a minha frente, que
só desperta em mim o desejo de saborear até esgotar o sumo cálido, ele volta
para a cama improvisada, e antes que fique sobre mim, minha voz se faz
presente.
— É a minha vez. — Isso é o suficiente para ele entender o que se
passa em meus pensamentos.
— Sua atrevida — Um sorriu perverso surgiu em minha face.
Com uma troca de posições, começo a beijar, dando mordiscadas
suaves em seu tórax, descendo até encontrar seu membro macio como seda,
mas duro como uma rocha e muito quente. Mordo os lábios e deixo que os
instintos assumam o controle. Começo a mover a mão, apertando seu pênis e
o acariciando em uma exploração. A respiração dele siliba por entre os
dentes.
Seguro seu enorme e roliço membro com uma das minhas mãos,
circulando a língua em torno dele, deslizando por toda extensão do seu
comprimento. Abaixo mais a cabeça e minha boca vagueia suas bolas,
novamente me concentro em acariciar o seu pênis, lindo e duro, lambendo,
chupando e masturbando-o para dentro da minha boca. Entre gemidos de
prazer, ele segura meus cabelos, movimentando-se para dentro e para fora seu
rijo pau em minha boca. Levanto meus olhos e o esboço de um sorriso se faz
presente em minha face ao olhar o estado em que ele se encontra.
Com um urro grave, ele goza num jato quente contra minha boca. A
sensação dele gozando, o som de seus gemidos roucos de prazer, de saber que
sou capaz de levá-lo ao orgasmo apenas com a minha boca, me deixou
satisfeita, muito satisfeita. Ele tira seu membro da minha boca enquanto
degusto do seu sabor natural. Kadar, com um movimento rápido e preciso,
me coloca novamente deitada e fica sobre mim, tomando minha boca em um
beijo profundo e enlouquecedor. Pressionando seu corpo poderoso sobre o
meu, prendo o fôlego, retorcendo-me com o toque aveludado da cabeça
robusta do seu pênis contra a minha boceta, querendo sentir o seu membro
enorme dentro de mim. Começo a mexer meus quadris, ajeitando-me para o
receber. Eu o abraço, trazendo-o para junto de mim, enquanto meu sexo se
aperta em volta da cabeça do seu pau. Meu esposo solta um palavrão e entra
fundo dentro de mim, começando a movimentar seu quadril em um vai e vem
lento, que me tortura. Desesperada, começo a implorar por mais.
— Mais rápido.
Atendendo meu pedido, ele aumenta a velocidade das estocadas,
pressionando seu corpo contra o meu numa dança louca. Nossos corpos estão
em perfeita sintonia. A cada entrada, seu membro toca meu ponto mais
profundo. O vapor domina o ambiente e o cheiro de sexo se impregna ao
nosso redor. Nossos corpos suados brilhamndo sob a luz tênue da lua. Ele
começa a sugar os meus seios, mordiscar e chupar de leve meus mamilos, me
fazendo entrelaçar minhas pernas em volta da sua cintura para que me
penetrasse ainda mais fundo. Seu ritmo acelera, começo a gemer ainda mais
alto a cada estocada, seus dedos começam a estimular meu clitóris, já não
aguento mais. Minha vagina se contraiu, sugando-o, envolvendo seu pênis
por inteiro, entre gritos de prazer, meu corpo se contorce e enrijece com o
orgasmo violento e intenso que nunca senti antes. Ele goza logo em seguida,
me enchendo, mus músculos contraindo em volta do seu membro, enquanto
ele derrama seu líquido espessoso em jatos potentes dentro de mim.
Aprecio o som da sua respiração que vai suavizando aos poucos. Ele se
retira de dentro de mim, me puxando para perto de si. Sinto ainda em seu
peito as fortes batidas do seu coração que lentamente se apazigua. Com a voz
ainda ofegante, ele começa a sussurrar.
— Eu amo vocês, minha vida.
Uma sensação muito mais forte que tudo que já senti antes se apodera
de todo o meu ser, e neste momento, tenho certeza que por mais que tente
esconder, toda raiva que eu sentia era por não querer aceitar, que no fundo, eu
o amo. Sem medo e sem reservas, falo:
— Eu também amo vocês, e mesmo começando de uma forma errada,
eu acredito que poderemos seguir em frente e recomeçar.
Ficamos abraçados no silêncio da noite, nossos corpos ali, descansando
sobre a luz do luar.
Nunca em toda a minha vida pensei que pudesse sentir esse misto de
sensações que apoderou-se de mim. Uma paz tão grande envolve todo o meu
ser, é como se a luz que os dois amores da minha vida trouxeram tivesse
duplicado travando uma guerra contra as trevas, porém, dessa vez, está com
mais força e dizendo que jamais desistirá de lutar. Ontem Maysun me deixou
em puro êxtase, e ao ouvir sair por entre seus lábios aquelas três palavras,
meu coração transbordou de alegria. Passamos o resto da noite nos amando
sem nos importar com mais nada, naquele momento, a nossa família estava
exatamente no lugar que estará presente em nossas vidas para sempre.
Assim que surgeam os primeiros raios de sol, ela acorda sobressaltada,
me deixando atordoado ao ver o estado que ela se encontra. Entro em total
desespero quando ela sai correndo da tenda e começa a vomitar tudo
que ainda tinha em seu estômago. Depois de alguns segundos, quando me
aproxo afastando seus longos cabelos do seu rosto, Maysun pede para que eu
me afaste, que logo ficará bem, pois esse mal estar faz parte da gravidez.
Permaneço imóvel no meu lugar até que ela termina e ajudo-a se levantar, e
pela sua expressão, sei que ela está com vergonha.
Depois do ocorrido, ela trata de tirar o gosto ruim da sua boca ao pegar
em meu carro alguns acessórios de higiene pessoal. Quando chegamos em
casa, após tomar um banho bem demorado, ela simplesmente cai no sono
profundo. Fico deitado ao seu lado, contemplando a beleza da minha mulher
que dorme feito um verdadeiro anjo. Não sei ao certo em que momento, mas
acabo por adormecer. Acordo em um sobressalto, ao olhar para o relógio em
meu pulso, percebo que acabei dormindo demais. Instintivamente me levanto
e vou em direção ao banheiro. Minutos depois, de banho já tomado e
arrumado, e sabendo que tudo já está encaminhado para o jantar que
programei, em passos largos, deixo o quarto indo ao encontro do casal que
me aguarda em um dos hotéis mais luxuosos de Dubai.

Estou tão cansada que dormi feito uma pedra. Desde que o homem com
que me casei entrou em minha vida, não me sinto tão completa, feliz e
realizada. É como se finalmente a sensação que sempre senti em não
pertencer a esse lugar estivesse se esvaido e a parte de mim que queria viver
como um pássaro voando livremente, enfim encontrou o seu verdadeiro
lugar.
Você deve estar se perguntando como posso amar o homem que me
causou tanto sofrimento? Como uma mulher é capaz de amar seu próprio
algoz? Se eu soubesse da resposta, juro que seria a primeira a responder,
porém, a única certeza que tenho, é que nunca cogitei que passaria por tudo
isso. Por mais que eu tentasse lutar contra qualquer sentimento que cresce
dentro de mim, tudo isso me levou até onde estou hoje. É como se as trevas e
a luz entrassem em um duelo e no final, não houve vitória ou derrota,
simplesmente as duas encontraram o seu lugar onde surgem em tempos
diferentes.
Pensei que Kadar não fosse trabalhar hoje, mas quando vi toda
movimentação dos funcionários e descobri do jantar que ele programou,
fiquei totalmente eufórica por saber que meus pais e meu irmão estarão
presentes. Fecho as portas dos meus pensamentos quando ouço a voz de
Maktoum me chamando. Após ele colocar em meu pescoço o colar de
esmeraldas que ganhei minutos atrás, ele segura em minhas mãos e juntos,
caminhamos em direção ao corredor que dá acesso ao primeiro andar.
Adentramos a sala e minha família já está nos esperando, em seguida
meus sogros chegam, junto a Haifa e sua mãe. Acho estranho Kaisar não
estar presente, mas quando Kadar questiona sobre onde ele está, a voz
enjoativa de Haifa se faz presente, dizendo que ele ficou na garagem atendo
uma ligação.
Recebo a felicitação da minha família, logo após a falsa da Haifa, sua
mãe e o meu sogro vem me felicitar também. Fico em total alerta quando a
Sheika Jasmim vem na minha direção. O silêncio logo paira no ambiente e
todos os olhares se voltam para nós. Ela para a centímetros de distância, o
silêncio é quebrado, me deixando sem reação com as palavras que saem entre
seus lábios, pois jamais cogitei que tais palavras fossem proferidas pela
mulher a minha frente.
— Sei que você tem todos os motivos para não querer que eu faça parte
da vida de vocês, mas gostaria de agradecer por ter entrado em nossas vidas.
Graças a sua atitude, a realidade me atingiu, fazendo com que eu me desse
conta de como venho agindo mal, não só com você, mas principalmente com
o meu filho. Maysun Wehbe Maktoum, meu filho não poderia ter feito uma
escolha melhor em sua vida, não importa quanto tempo passe, espero que
algum dia eu seja digna de merecer o seu perdão.
Pela primeira vez desde que a conheci, que antes tinha um ar de
superioridade estampado em sua face, sinto que suas palavras foram ditas do
fundo do seu coração. Ao ver ela se mover para retornar ao lugar onde estava
minutos atrás, levanto o olhar e todos estão em silêncio, nos olhando
atentamente. Olho para minha mãe e sei que ela está entendo tudo que se
passa na minha cabeça. Antes que minha sogra desça mais algum passo,
minha voz se faz presente:
— Pare! — Caminho até parar em sua frente. — Não cabe a mim dizer
quem é digno ou não de ser perdoado, porém, meu coração se alegra em
saber que finalmente a senhora entendeu que a nossa maior riqueza... —
Movo minha mão a colocando em seu coração. — está aqui, no seu coração,
dentro de você. Não mude por ninguém, faça isso por você. A vida é curta
para deixar que o passado nós atrapalhe a construir um presente e um futuro
melhor. A senhora faz parte da minha vida agora, e tudo que aconteceu ficará
para trás. Vamos recomeçar levando para nossa vida que sempre podemos
recomeçar e dar um rumo melhor a nossa história.
Depois que nos abraçamos, e todos já estão no ambiente, meu esposo se
levanta e pede a atenção de todos.
— Hoje reuni todos que fazem parte das nossas vidas para comunicar
que em breve chegará o nosso futuro herdeiro, porém tem duas pessoas em
especial que gostariam de compartilhar conosco da felicidade que estamos
sentindo.
Como todos, fico totalmente perdida, mas assim que a porta é aberta e
um casal aparece no meu campo de visão, ao mover minha cabeça para o lado
e ver a expressão da minha mãe e as lágrimas surgindo em seus olhos, soube
de quem se tratavam.
Depois de alguns passos, o casal para próximo onde estamos. Antes que
alguma palavra ecoe no ambiente, minha mãe foi vai até a mulher a sua frente
e a duas que não consegem conter as lágrimas se abraçando. Palavra alguma
pode expressar tudo que elas estão sentido neste momento. Algum tempo
depois, quando se afastaram e kadar já tratou de dizer aos pais dele que o
sheik Nuaimi e sua esposa são meus avós, Haifa yem em suas órbitas azuis
uma grande intensidade refletindo o ódio.
— Boa noite. Acredito que todos presentes já teem conhecimento de
quem somos, no entanto, a mais de vinte e dois anos a minha atitude
ocasionou no maior erro da minha vida, tudo porque achei que poderia
controlar a vida da minha filha e não fui capaz de aceitar a sua escolha.
Fátima Wehbe, a mulher que hoje está na frente de vocês. é a minha filha, a
princesa Aylla, a quem declarei como morta simplesmente por não aceitar sua
união com alguém que não fosse do nosso nível social. Vive durante esses
anos cercado por sentimentos ruins, deixei meu orgulho falar mais alto do
que o amor que sinto pela pessoa que me proporcionou a maior felicidade da
minha vida assim que a peguei pela primeira vez em meus braços. — Ele
caminha, parando na frente da minha mãe, em seguida sua voz novamente
preenche o espaço. — Nada vai apagar as palavras que foram proferidas por
mim anos atrás, nem a dor que fiz você sentir ao afastá-la da sua mãe, porém
durante a visita de Maktoum, e ao ver o quanto o homem que sempre foi
considerado por todos como o próprio demônio do deserto, que se deslocou
de Dubai simplesmente por querer proprorcionar a minha neta o direito de
conviver com seus avós, percebi o quanto o amor é capaz de mudar as
pessoas e que se amamos realmente alguém, o que deve importar não é a
nossa vontade, e sim que o ser amado esteja feliz com a escolha que fez.
Aylla, sua mãe sempre me disse que nunca é tarde para recomeçar, nunca é
tarde para nos arrepender dos nossos erros e aprender com eles a fazer a coisa
certa. Filha, do fundo do meu coração, eu te peço perdão por ter sido egoísta
e não ser o pai que você sempre mereceu.
Se antes as duas mulheres a minha fenter tinham o rosto banhando em
lágrimas, agora somos três, pois ao ouvir as palavras do meu avô, não
consegui conter as lágrimas que tanto estava segurando. Vejo minha mãe o
abraçando e em seguida ele caminha até meu pai, conversando, caminho até
ficar ao lado do meu esposo e agradeço por ele ter proporcionado não só a
mim, mas aos meus avós e a minha mãe esse momento que por causa do
orgulho, mágoa, passou tanto tempo para acontecer.
Depois de muitas lágrimas e desabafo, tudo ocorre na perfeita
harmonia. Minha mãe tem um brilho que nunca tinha visto antes em seus
olhos, que só reflete nos meus.

— Por que você não me avisou que aquela desgraçada era neta do
Sheik Nuaimi?
— Simplesmente porque já sabia qual seria sua reação, e não esperava
que aquele velho maldito e sua esposa estivessem presentes naquele jantar. E
mais ainda saber que Maysun está grávida.
— Um futuro herdeiro será o fim dos nossos planos.
— A não ser que esse herdeiro não tenha um pai, assim possa me
aproximar daquela infeliz.
— Você não está pensando em...
— Maktoum se achou esperto demais, no entanto, sempre foi um idiota
ambicioso e enquanto vocês me deixaram na garagem, tratei de me
encarregar do fim daquele infeliz. Prepare sua roupa, querida irmã, amanhã
iremos a um velório que será o início para colocamos as mãos na fortuna de
Kadar Maktoum e daquela infeliz que cruzou o nosso caminho.
As lágrimas que foram derramadas naquele jantar nem de longe
chegará perto das que vão marcar o dia de amanhã.
O quarto está na penumbra, iluminado somente pela luz fraca que vem
através da porta do banheiro que está entreaberta, incapaz de iluminar a uma
distância grande. É difícil enxergar alguma coisa, a sensação de algo ruim
paira sobre mim. Me movo com cautela, e ao virar a cabeça, meus batimentos
aumentam no ritmo alucinante. Descubro que o espaço ao meu lado da cama
está vazio. Respiro com cuidado para controlar meus batimentos cardiacos,
em seguida me levanto, indo na direção do banheiro e assim que meus olhos
vão ao encontro da banheira, sinto todo o meu corpo paralisar, minha
garganta se fecha, meu coração gela de imediato e minhas pernas estão fracas
ao ponto de ficar petrificada olhando para a imagem dele dentro da banheira
com o corpo todo envolvido pelo líquido avermelhado. Lutando com todas as
forças que ainda me restam, me movo em sua direção e ao constatar que seu
corpo está sem vida, meu mundo desaba, o nó em minha garganta se desfaz, e
a minha única reação é os gritos estrangulados que saem em desespero por
entre meus lábios. Dor. Dor no coração, na alma.
Não! Não! Não...
Acordo sobressaltada, com o coração disparado, me sento e o ar frio da
manhã se infiltra através da fina camisola até a pele úmida de suor. O
pesadelo foi muito realista, a dor que se apoderou da minha alma era tão
intensa e saber que eu poderia o perder só me dá ainda mais a confirmação
que com ele, parte de mim já não existiria, pois um vazio que se instalou
dentro do meu peito era semelhante a uma ferida que jamais será cicatrizada.
Ontem meu ogro, o algoz que me proporcionou os dias mais sombrios que já
vivi, foi o responsável por trazer um dos momentos que ficará marcado para
sempre, não só em minha vida, como dos meus pais, pois saber que a minha
mãe após tantos anos enfim se reencontrou com os seus pais e que toda a
mágoa, rancor e ódio ficaram para trás, não tenho palavras para descrever o
quanto ele — com um único gesto — deu um novo rumo a história da minha
família. Gratidão é a palavra que expressa o que minha mãe, meus avós e eu
sentimento por Kadar Maktoum.
Ouço uma batida na porta, e segundos depois, Tita aparece com o meu
café da manhã que está na enormCe bandeja em sua mão.
— Bom dia, May.
— Bom dia. Você sabe se meu marido está em casa?
— Acredito que algo aconteceu, pois ele saiu do escritório soltando
fogo pelas ventas, indo em direção a garagem.
No momento que ouço as palavras proferidas pela mulher a minha
frente, um arrepio gelado desce pela minha espinha, e novamente, a sensação
ruim paira sobre mim.

Mesmo desejando me perder entre as pernas da minha esposa, tive que


me levantar, pois resolvi que não iria a empresa, porém tenho alguns e-mails
que preciso enviar. Assim que deixo o nosso quarto, caminho em direçao ao
meu escritório, minutos depois, consigo resolver todos os assuntos pendentes.
Com nada mais para fazer, decidir desligar meu notebook, porém no
momento que movo meus dedos para concretizar o que está em meus
pensamentos, o silêncio no ambiente é quebrado quando meu celular começa
a tocar. Pego o aparelho e olho o nome escrito na tela do mesmo, não perco
tempo e atendo a ligação.
— Espero que seja boas notícias, já perdemos tempo demais.
— Sim, chefe! Acabo por descobrir quem é o cúmplice de Baruan,
porém, tenho certeza que o senhor ficará ainda mais com raiva em saber de
quem se trata.
— Você sabe que odeio rodeios vá direto ao ponto.
— Depois que descobrimos que os dois corpos encontrados eram da
esposa e do filho do traidor, com a suspeita que a morte deles foi queima de
arquivo, meu pessoal começou a mudar o rumo das investigações, focando
não em Buruan, e sim nós últimos passos da sua esposa. Acabamos por
descobrir através das câmeras do hotel que ela se encontrou com seu primo,
Kaisar, uma semana antes dela ser encontrada morta. Através dessa pista,
ligamos os fatos, já que a quantia que foi recuperada da conta de Baruan era
muito inferior ao valor desviado, o que nos levou a cogitar que seu primo é a
pessoa que está por trás de tudo que o traidor fez. Graças a um dos nossos
homens, descobrimos uma conta bancária com um alto valor no nome do seu
primo, em um banco no exterior. Nesse exato momento, meu pessoal está
enviando para seu e-mail um dossiê completo sobre o extrato bancário e um
vídeo com a imagem dele no lugar onde Baruan ficou um bom tempo
escondido com sua família.
Assim que dou a ligação por encerrada, a única palavra que descreve
tudo que eu estou sentindo é ódio. Volto minha atenção para a tela do
notebook e leio cada linha contida no documento. Não consigo suportar o
fogo que está me incendiando por dentro, o sangue em minha veias estão
pulsando como nunca tinha acontecido antes, minha garganta rasga a
cada saliva que tenta passar. Um bolo inexplicável que doí cada vez
mais, nem sobe, nem desce. Desligo o aparelho e no impulso, me levantei.
Aquele infeliz será morto pelas minhas próprias mãos, farei ele implorar para
que eu acabe logo com sua vida miserável, assim como vou esmagar todos os
seus órgãos internos.
Em passos precisos, deixo o ambiente. Os demônios que habitam em
mim se apoderam de todo o meu ser, não consigo mais ver nada à minha
frente, a não ser o rosto daquele desgraçado. Assim que chego na garagem,
meu motorista logo surge no meu campo de visão, só levanto a mão
indicando para o homem que eu mesmo irei dirigir. Hoje a areia em frente
o palácio Maktoum será banhada pelo sangue daquele que, por sua ambição,
não é digno de pertencer a nossa família. Uma erva daninha que precisa ser
eliminada, ou logo ocuparará todo o deserto.
Coloco o carro em movimento, meus pensamentos estão fixos naquele
infeliz a quem eu sempre tratei como um irmão, sempre fiz de tudo para que
ele e sua família vivessem no conforto e tendo acesso ao mundo de regalias e
luxo. Pisando fundo no acelerador, estou pouco me importando em seguir a
velocidade estabelecida, tudo que me interessa é chegar logo ao meu próximo
destino. Minutos depois entro na estrada que dá acesso ao palácio, porém
resolvo cruzar a ponte, pois assim não precisarei passar pelo centro de Dubai.
O ódio, a raiva estão me sugando de tal forma que não consigo reduzir a
velocidade, e ao estar sob a ponte que em instante me colocará frente a frente
com o inimigo, saio dos meus devaneios quando vejo um carro a alguns
metros a minha frente. Tento reduzir a velocidade, mas ao usar o freio do
veículo, o maldito não me dá o resultado esperado, e quando tento desviar do
automóvel a minha frente, surge um clarão, me deixando atordoado. Um forte
estrondo ecoa no espaço e tudo que me lembro, é do meu carro sendo
arremessado ponte a baixo, uma dor enorme em minha cabeça. Solto o cinto
de segurança e saio do veículo, meu corpo é envolvido por completo pela
água salgada, minha respiração se torna cada vez mais escassa, até que uma
escuridão sem fim me envolve.
Para alguns, as coisas parecem estar bem, mas para mim não. Ele não
existe mais, então nada pode estar bem.Tudo é triste e vazio sem ele, nunca
tinha sentido algo parecido. É como se o peso do céu caísse sobre mim,
tirando-me o ar dos pulmões. Não consigo respirar.
Se passaram quatro dias, e mesmo assim, não consigo acreditar que ele
se foi e a única coisa que foi encontrada do meu esposo, foi a camisa que ele
vestia toda manchada de sangue. As buscas foram encerradas e hoje será
realizado o velório, mesmo sem o corpo de Kadar, meus sogros querem fazer
uma despedida decente para ele. Deixo meus pensamentos de lado e caminho
em direção ao primeiro andar, onde Kaisar me aguarda, já que veio nos
buscar para ir ao velório. Ele tem se mostrado um grande amigo, se
prontificou em ajudar nas buscas pelo corpo do meu marido, que depois de
não terem êxito foi encerrada. Segundo os mergulhadores, dificilmente
encontrariam o seu corpo, assim como ele não teria como sobreviver ao
impacto que sofreu, já que o mesmo não estava dentro do veículo e seria bem
provável que a correnteza o estivesse levado para bem longe. Em passos
precisos, ao lado de Tita, seguimos em direção a garagem.
Passo todo o percurso perdida em meus pensamentos, só saindo deles
quando ouço a mulher ao meu lado dizer que chegamos. Assim que adentro o
salão principal do palácio Maktoum, onde todos estão, meus olhos vão ao
encontro do casal que chora desesperadamente pela perda do seu único
filho. Sheika Jasmim, que sempre aparentava ser uma mulher forte, com um
ar de soberba, agora é somente uma mãe frágil, totalmente arrasada, e ao
notar a minha presença, ela vem na minha direção, me envolvendo em um
forte abraço. Desde o ocorrido, venho tentando reprimir as lágrimas que
tanto insistem em descer, mas naquele momento, já não consigo mais segurá-
las, e assim como a mulher que molha a minha roupa com as lágrimas grossas
que descem pelo seu rosto, me permiti chorar, tentando colocar para fora tudo
que está me sufocando, me queimando por dentro.
Os momentos seguintes são marcados por muitas lágrimas. Meus pais
logo chegam, e nos braços da minha mãe, desabo novamente em lágrimas. Já
no cair da noite, todos começam a se despedir e logo resta somente a minha
família e a dele. Meus sogros insistem que eu fique para dormir no palácio,
mas resolvo ir para casa dos meus pais, o lugar onde sei que será o único para
apaziguar um pouco toda dor que paira sobre mim.

Uma semana depois.

Me olho no espelho e percebo que aquela menina que acreditava em


contos de fadas morreu. Quando achei que a minha vida estava perfeita, em
um piscar de olhos, tudo mudou, eu não sou mais a mesma e nada em minha
volta será. Todos esses dias não consegui me alimentar direito, passei a maior
parte trancada em meu quarto, abraçada com o coberto dele, que mesmo após
tantos dias, o perfume que sempre me deixou com uma sensação inebriante e
intoxicante — que exala força e imponência — ainda está impregnado no
tecido.
Tita vendo que sua insistência para que me alimetasse não surgiu
efeito, acabou ligando para minha sogra, e foi a mulher que ao me conhecer
não tratou de esconder o quanto estava indignada com a escolha do seu filho
em casar comigo, que foi capaz de me tirar do caminho que estava me
levando direto para beira de um precipício. Graças a minha sogra, o choque
da realidade pairou sobre mim, pois fiquei tão perdida em minha dor que
acabei esquecendo do meu próprio filho, uma parte de mim e do homem que
mudou a minha vida. O meu bebê é o elo onde estarei sempre unida a Kadar
Maktoum.
A dois dias meus pensamentos se voltaram para o que Tita me falou no
dia que resolvi fugir, as palavras dela ficaram martelando em minha cabeça e
foi então que realmente entendi o propósito da vida ter me úmido ao meu
marido. Primeiro; para trazer ao mundo o meu filho que tenho certeza que
será um grande homem, segundo; pelo meu povo que está passando tanta
necessidade. Resolvi deixar a minha dor de lado e começar a ajudar. Saio dos
meus pensamentos assim que Kaisar me avisa que chegamos, peço a Tita
para que não saia do meu lado. Assim que deixamos o veículo, caminhamos
em direção a tenda que foi improvisada, o caminhão com mantimentos
chegou logo em seguida. Não foi fácil, mas descobri que o dinheiro é capaz
de fazer as pessoas em um piscar de olhos mudar suas atitudes. Consegui
uma boa equipe médica para participar do pequeno mutirão que organizei, se
o nosso povo por ser de uma classe inferior não tem acesso a uma saúde de
qualidade, acabam morrendo por não ter nem um pedaço de pão como
alimento, farei o que estiver ao meu alcance para ajudar a diminuir tudo que
eles vem passando ao longo dos anos. Sei que sozinha não conseguirei acabar
com a pobreza, mas se cada um tirar um pouco do que tem para fazer algo em
prol do próximo, tenho certeza que evitará que tantas vidas sejam perdidas
por algo que podemos evitar.
Por dias fiquei perdida em minhas lamentações, mas hoje, uma
sensação inexplicável pairou sobre mim. Saio dos meus pensamentos assim
que Kaisar e Tita ficam do meu lado, e ao ver a cena que vem em seguida, me
dá a confirmação que esse é o meu lugar e tudo que passei, foi para um
propósito maior. Ajudar o nosso povo.
— Viva Maysun Wehbe Maktoum. Viva a nossa princesa do deserto.
— Eles não param de repetir a mesma frase.
A vida me tirou o homem que aprendi ama, ele me tornou a Princesa do
Deserto e será pelo nosso povo e o nosso filho que continuarei lutando todos
os dias, não vou deixar que os obstáculos me atrapalhe.

Maldição! Não estava em meus planos que essa infeliz iria dar uma de
boa samaritana, porém eu preciso ganhar sua inteira confiança, e em breve,
farei Maysun perceber que a melhor solução será casar comigo, dando ao seu
filho um pai. Falando naquele maldito, espero que a correnteza tenha levado
seu corpo e o jogado na lama, assim os abutres poderiam se fartar daquela
carne podre semelhante a deles. Tive que me colocar a inteira disposição para
ajudar a encontrar o maldito, tudo que não quero é que alguém venha a
cogitar que eu tive algo no acidente que o infeliz sofreu. Por esse motivo,
tratei de eliminar o idiota que fez o serviço, assim como ele foi capaz de trair
Maktoum por algumas migalhas, quem sabe o que faria se meu tio oferecesse
um valor maior caso desconfiasse que tinha algo de errado com o veículo que
seu adorável filho conduzia. Meus pensamentos são interrompidos assim que
o barulho infernal da voz dos malditos vermes enfim vai apaziguando. Olho
para mulher ao meu lado que logo se juntará ao infeliz do seu marido.
Maysun Wehbe Maktoum, terei todo prazer em enviá-la junto com esse
bastardinho direto para o inferno.
Dois meses se passaram desde o dia que recebi a pior notícia da minha
vida. O tempo passou, hoje já estou com mais de três meses de gestação.
Minha rotina se resume em ter os devidos cuidados com minha gravidez e
promover ações que possam ajudar o nosso povo. Embora cercada de todo
luxo, de ter uma sensação de paz tão grande por estar contribuindo para
outras pessoas estarem felizes, eu trocaria toda a fortuna que Kadar deixou
para tê-lo novamente ao meu lado.
Por mais que o tempo passe, a sensação que tenho é que o buraco que
se formou desde o dia em que recebi a notícia da sua morte sempre estará
vazio. É como se parte do meu coração deixou de funcionar, embora eu sei
que isso não é possível, porém é desse jeito que me sinto com uma ferida no
meio do peito, que por mais tempo que passe, ela nunca será cicatrizada. A
dois dias atrás minha mãe passou o dia todo comigo e entre os momentos que
estávamos conversando, Tita surgiu em nossa frente, com uma revista
dizendo que eu estava na capa da mesma. Ela me entregou o objeto e se
afastou, minha mãe que estava sentada ao meu lado, ao olhar para a imagem
da revista em minhas mãos, logo fechou a cara. Ela estava com uma
expressão totalmente desconhecida por mim, e antes que eu tivesse qualquer
reação em questionar o motivo, sua voz ecoou no ambiente.
— Por mais que ele seja primo do Kadar, eu não gosto dessa
aproximação. Maysun, está visível através do olhar dele qual é o verdadeiro
interesse por estarr ao seu lado. Kaisar Maktoum te vê como mulher e não
como a viúva do primo a quem ele diz que amava como um irmão. Você do
nada surgiu junto com Kadar Maktoum naquele hospital dizendo que iam se
casar, tanto eu quanto o seu pai a princípio não queríamos essa união, porém
mesmo vestindo uma armadura de homem frio, no fundos dos olhos dele eu
vi um brilho quando foram direcionados a você. Dessa vez eu espero que
você não seja precipitada e tome uma decisão movida pelo impulso.
As palavras proferidas pela mulher a minha frente ecoaram na minha
cabeça. Em hipótese alguma cogitei em ter algo com Kaisar ou qualquer
outro homem. O único homem que terá espaço em minha vida e para quem
eu irei dedicar todos os meus dias será o meu filho, já que assim como a
minha mãe, tenho certeza que será um menino e espero que seja fisicamente a
cópia fiel do único homem que vou amar até o fim dos meus dias. Saio dos
meus devaneios quando vejo seus lábios se moverem, e antes que ela volte a
dizer alguma coisa, minha voz se fez presente.
— Mãe, eu sempre vi Kaisar como primo do homem que amo. Se
tivesse essa hipótese em querer seguir em frente e me dar outra oportunidade
para conhecer alguém, jamais seria ele. Não penso e nem quero ter outro
homem em minha vida que não seja o meu filho.
— Você é nova e tem ainda toda uma vida pela frente, mas eu sei que
quando encontramos a pessoa certa, que é capaz de fazer nosso coração bater
mais forte, que provoca sensações que palavras não são capazes de explicar,
nem mesmo a morte será capaz de nós fazer esquecer. No entanto, fico feliz
em ouvir suas palavras em relação aquele homem, nunca fui de fazer
julgamento de ninguém, mas algo nele me intriga.
De alguma forma, as palavras dela despertaram em mim algo que
nunca senti antes. Nunca tive motivos para ter alguma desconfiança em
relação a ele, porém, se tem uma pessoa nesse mundo que eu conheço que
nunca foi de fazer julgamento de ninguém. foi a minha mãe, pois até
Maktoum ela não sentiu nenhuma empatia, até porque com a minha família
ele sempre mostrou a sua outra face, aquela que ele tratou de esconder
quando estava comigo me mostrando somente seu lado sombrio.
Meus pensamentos são interrompidos quando ouço a voz de Tita, e
para minha surpresa, ela me informa que Kaisar está na sala me esperando,
que segundo ela, ele trouxe alguns mantimentos para serem doados no
próximo multirão que vai acontecer. Respiro fundo e caminho em direção ao
homem que está me aguardando .
Chegou a hora de deixar as coisas bem claras a Kaisar.
Assim que chego na sala, onde pedi a Tita que permanecesse no local,
ele logo me cumprimenta, em seguida, a voz do homem logo se faz presente.
Ele trata de falar sobre a imagem que saiu na capa da revista. Minutos depois,
quando Tita foi pegar um copo de água que o mesmo pediu, assim que ela
some do nosso campo de visão, a voz dele novamente se faz presente.
— May, eu sei que não está sendo fácil tudo o que você está passando,
ainda mais sendo tão nova e grávida de um filho que o pai morreu. — Ele fez
uma pausa. Sinto um nó se formar em minha garganta no mesmo instante que
meus órgãos internos começam a funcionar no ritmo frenético. Volto minha
atenção quando ouço novamente a sua voz. — No entanto, por mais que eu
venha tentando evitar, está cada vez mais difícil esconder o sentimento que
eu tenho por vo…
— Pare!
Eu nem deixo que ele termine de proferir suas palavras, pois a raiva
está me incendiando por dentro.
— A única coisa que eu tenho a dizer a você ou a qualquer outro
homem, é que Kadar Maktoum pode não estar mais entre nós, porém ele está
vivo e bem guardado no lugar que nem um outro homem além do nosso filho
poderá entrar. Meu corpo, meu coração e minha alma pertence ao único
homem que amei na vida e não importa se ele não está aqui, esse sentimento
que se tornou ainda maior, que arde e me queima por dentro, nada e ninguém
poderá destruir. Então, se você não consegue esconder o que sente por mim, é
melhor se manter bem distante, pois eu nunca irei ter nada com você.
Seus olhos estão em um tom mais escuro. Ódio, raiva. Por mais que ele
tente disfarçar, estão visíveis em seu olhar. Logo Tita adentra o ambiente, e
para minha total surpresa, que me deixa um tanto intrigada, a expressão dele
muda rapidamente, pedindo desculpa em seguida, dizendo que foi um
equívoco, pois faria tudo para manter em segurança a família do homem que
sempre teve como irmão.
Depois da cena que vi na minha frente, várias coisas se passam na
minha cabeça. Terei que deixar de ser a velha Maysun Wehbe e agir como a
esposa do temido Kadar Maktoum. De hoje em diante, Jamil, que sempre foi
o homem de confiança do meu esposo, estará ao meu lado, será o meu
homem de confiaça. Se Kadar confiava tanto nele, tenho certeza que fará de
tudo para proteger o meu filho.
Enquanto isso.

— Pai, vem aqui!


— O que foi Latifa?
— Ele acordou.
— Onde eu estou? Quem são vocês?
— Meu nome é Aldair, e essa é a minha filha Latifa. Nós o
encontramos a mais de dois meses quando estávamos pescando. Além do
ferimento em sua cabeça e vários outros pelo corpo, você passou dias com
febre alta e tudo nos levou a crer que estava com pneumonia. Sempre que
abria os olhos, após alguns minutos, caia no sono profundo. Tivemos sorte
que Latifa ainda conseguiu fazer você ingerir a sopa que eu venho
preparando durante todo esse tempo, e misteriosamente, encontramos em
nossa porta uma caixa com medicamentos.
— E qual é o meu nome?
— Você não se lembra como se chama?
— Pai, será que a pancada que ele levou o fez perder a memória?
— Tudo indica que, sim Latifa, porém pode ser algo passageiro, mas
por enquanto ele ficará conosco.
— Por tudo que ele passou vamos chamá-lo de Omar, “o que tem vida
longa”.
— Omar, você agora faz parte da nossa família. Não temos muito a
oferecer, mas a nossa casa agora é a sua casa e o pouco que temos também
será seu.
Maysun Wehbe é o motivo dos piores dias que já vivi, de toda raiva e
ódio que está me queimando por dentro. Desde o momento que essa infeliz
cruzou as nossas vidas, que tudo que sempre cogitei jogado no lixo.
Quando eu era somente uma criança, comecei a perceber como a
Sheika Jasmim tinha um brilho enorme em seus olhos toda vez que estava
perto de mim, foi então que eu vi a chance de ser a dona de tudo a minha
volta. Mesmo não suportando a velha maldita e o meu tio, sempre tratei de
colocar um sorriso em meu rosto e demostrar o quanto eu os amava.
Dois infelizes que por mim, já estariam mortos a muito tempo, assim
como aquela desgraçada que já deveria estar a sete palmos abaixo da terra ou
até mesmo deixada no meio do deserto para servir de refeição aos abutres.
Meus pensamentos são interrompidos assim que vejo Kaisar adentrar meu
quarto, nunca tinha visto meu irmão no estado que se encontra a minha
frente. Seus olhos estão no tom avermelhado, sua respiração irregular e o
ódio é visível através da sua expressão.
— Precisamos de um plano para eliminar aquela infeliz e o bastardo de
uma vez. A maldita teve a audácia em dizer que jamais irá se envolver com
outro homem, e sempre amará o verme do Kadar Maktoum
— Eu te avisei para eliminar logo essa desgraçada. Depois, o restante
da família dela e os dois velhos imprestáveis que vivem nesse palácio.
— Depois de ouvir as palavras proferidas pela infeliz, irei aproveitar ao
próximo o multirão e acabar de vez com ela e o maldito que está em seu
ventre.
— Nada me dará mais prazer do que ver aquela imprestável fora do
nosso caminho. Se ela ama tanto o Kadar, iremos providência para que logo
fiquem juntos.

Quase quatro meses se passaram e muita coisa mudou. Havia


prometido a mim mesmo que faria de tudo pelo homem que ajudou a pessoa
mais importante da minha vida quando já estávamos perdendo a esperança.
Fecho os meus olhos e meus pensamentos me levam para o dia que recebi a
notícia do acidente de Kadar Maktoum.
Assim que cheguei ao palácio e soube do acidente envolvendo Kadar,
fiquei tão atormentado que não consegui pensar direito, mas quando voltei ao
meu estado normal, comecei colocar meus pensamentos no lugar. Perguntei a
Maria — uma das cozinheiras — por Maysun e minha tia Tita, fui informado
que Kaisar veio buscar as duas e as levarau para o palácio da família
Maktoum.
Nunca gostei do infeliz do Kaisar e jamais vou esquecer do ódio que
via em seus olhos toda vez que o meu pai me levava para o palácio e ele me
olhava brincando com Maktoum. Maria me relatou que minha tia tinha visto
Maktoum passando por ela soltando fogo pelas ventas antes de sair de casa, o
que despertou em mim a suspeita que algo muito sério tinha acontecido,
porém as peças do quebra cabeça não se encaixam, me deixando em uma
agonia sem fim. A mulher a minha frente, vendo meu estado, falou que iria
pegar um corpo com água, foi então que resolvi ir até o escritório, mas não
encontrei nada, pois a única coisa que estava sob a mesa era o notebook do
meu chefe. Sei que a equipe que ele contratou desenvolveu um sistema que
só o mesmo tinha acesso a qualquer informação no objeto a minha frente.
Em passos longos deixei o cômodo. Era como se precisasse descobrir
algo para apaziguar a sensação que estava me queimando por dentro. A
mulher que foi pegar o corpo de água logo surgiu em minha frente, e para
minha total surpresa, perguntou se eu já estava sabendo que Aziz tinha
desaparecido. Todo o encômodo que estava sentindo minutos atrás pareceu
que finalmente tinha se dissipado quando ouvi sua palavras, as peças do
quebra cabeça estavam, enfim, se encaixando, pois o maldito era responsável
pelos veículos de Maktoum. Kadar sempre foi muito atencioso ao dirigir, e
tudo estava muito estranho, pois segundo o que ela me informou, foi ele
quem bateu no caminhão ao desviar de outro veículo. Como se o carro
estivesse desgovernado.
Minha cabeça estava a um fio de virar um vulcão em erupção,
então resolvi ir até o vilarejo tentar colocar as ideias no lugar, pois sempre
tive uma sensação de paz enorme estando no meio do meu povo, com a
minha família.
Depois de algumas horas cheguei ao meu destino. O sol se tinha ido
dando espaço a lua e as estrelas que surgiram no céu. Devido as ruas serem
bem estreitas, deixei meu carro a uma certa distância, e aumentei o ritmo das
minhas passadas. Assim que ia atravessar a rua que dá acesso para casa da
minha família, algo me chamou atenção. Senti meu coração bater no ritmo
frenético, dentro do meu peito parecia ter tambores em vez de um coração.
Ao olhar para a imagem a minha frente, não tive mais duvido.
Allah ouviu minhas orações e Kadar Maktoum está vivo.
Olhei para o homem e a jovem — que por sinal é muito bonita —
fazendo força para carregar o homem que se encontrava desacordado. Pela
roupa que estavam vestidos, indicava que eram pescadores, e assim que os vi
se afastando , em passos largos, comecei a seguir os dois até que entraram em
um casebre.
A dúvida pairou sobre mim do que eu deveria fazer, porém, se depois
de tudo que passou ele ainda estava vivo, não seria algumas horas que fariam
Maktoum desistir de lutar pela sua vida. Com um giro nos calcanhares, me
afastei, caminhando em direção ao meu carro, seguindo para o centro de
Dubai. Minutos depois de providênciar tudo que cogitei ser necessário, voltei
ao vilarejo e deixei a caixa com medicamentos em frente a porta da pequena
casa.
Assim que amanheceu, e depois de refletir bastante, resolvi que iria
contar a todos que o príncipe do deserto estava vivo. Foi quando soube que
encontraram Aziz morto a alguns quilômetros do palacio. Eu não poderia
colocar a vida de Maktoum em risco até descobrir quem é a pessoa que
atentou contra a sua vida. Desde esse dia, venho acompanhando toda
movimentação do homem e de sua filha Latifa. Enquanto não chega o
momento do retorno do príncipe do deserto, darei a minha própria vida para
proteger a nossa princesa e o futuro herdeiro. Devo isso a Kadar Maktoum, e
dessa vez, estarei preparado para o infeliz que cogitar em se aproximar deles.
A um mês atrás, quando olhei Kadar Maktoum em pleno sol quente
vendendo peixe ao lado do homem que salvou a sua vida, tive a certeza de
que ele precisa passar por tudo que seu povo vem enfrentando ao longo dos
anos, para se tornar um líder que irá governar para todos. Se eu não soubesse
que ele está vivo, dificilmente o reconheceriam, pois seus cabelos estão
maiores, seu rosto agora tem uma enorme barba, sem falar nos trajes que ele
está vestindo. Fecho as portas dos meus pensamentos ao ouvir a voz de
Maysun me chamado, só espero que Omar — como ficou conhecido no
vilarejo — não apareça no multirão.

Dias, semanas, meses se passaram, e mesmo tentando demostrar para


todos que tudo está bem, sempre que fico sozinha em meus aposentos, sou
atormentada pelas lembranças dos últimos dias que vivie ao lado dele. É
como se ainda possa sentir o gosto de Maktoum, um sabor inebriante e
exótico pelo qual eu anseio até hoje.
Não está sendo fácil ter que seguir em frente. Depois de todo
sofrimento que passei ao lado dele, onde cogitei que só a morte pudesse me
livrar das garras do homem que se tornou meu algoz, meu maior pesadelo,
conheci a outra face do demônio por trás da armadura que ele sempre vestiu.
Nunca será comparado com um príncipe encantado, mas era o meu príncipe
das trevas, que resolveu travar uma luta dentro de si próprio para deixar o
amor fazer parte da sua vida.
Nada justifica os atos do homem com quem me casei, mas depois de
um tempo, entendi que a gente só dá aquilo que tem, e meu esposo jamais
poderia semear amor se nunca teve em sua vida. Depois de um mês
planejando, enfim chegou o dia do multirão. O vilarejo em que a família da
minha fiel companheira Tita vive é um dos lugares mais humildes de Dubai,
por esse motivo, resolvi organizar tudo com calma para conseguir trazer uma
boa quantidade de mantimentos.
Kaisar ainda frequenta minha casa, porém, agora sempre estou ao lado
de Tita e de Jamil. Mesmo tentando disfarçar, sei que ele não gosta da
presença de Jamil. Saio dos meus devaneios assim que chegamos no vilarejo,
olho para Jamil que parece perdido em seus pensamentos, assim que o
chamo, deixamos o veículo.
Em passos precisos, caminho até a grande tenda. Tita logo fica ao meu
lado, conversando com sua prima, enquanto observo Jamil e Kaisar dar
ordens para que os mantimentos que estão no caminhão sejam retirados para
começar as doações. De repente, sinto um calafrio atravessar a minha espinha
no mesmo instante que movo a cabeça e meus olhos vão ao outro lado da rua,
ficando fixos na imagem a minha frente. Sinto meus batimentos aumentarem,
meus órgãos internos estão funcionando a todo vapor.
Desde o ocorrido no vilarejo, que aquele homem vem ocupando os
meus pensamentos. Embora não tenha visto o seu rosto direito, aquela
marca em seu braço não poderia ser coincidência. Sem contar o misto de
sensações que pairou sobre mim, meu coração parecia que ia sair pela minha
boca, mas assim que resolvi ir em sua direção, uma multidão surgiu na minha
frente e quando olhei novamente para o lugar onde o desconhecido estava, ele
simplesmente desapareceu. Passei as horas seguintes com os pensamentos
voltados para o que tinha acontecido, porém, a dúvida pairou sobre mim se
realmente eu tinha visto ou era fruto da minha imaginação, por não querer
aceitar que ele nunca mais vai estar ao meu lado.
Os meses passaram voando, e novamente, a minha rotina mudou. A
minha barriga cresceu tanto que mal consigo sair do quarto, estou sempre
dormindo ou cansada. Hoje, quando tentei me levantar, senti alguns sintomas
que indicam que o bebê está perto de nascer. Logo as constantes contrações
não me permitiam levantar da cama, e alguns minutos atrás, senti a escuridão
tomar conta de mim, uma dor percorre todo o meu corpo, se concentrando
nos quadris. Um grito estrangulado sai por entre meus lábios, e em questão de
minutos, minha mãe e Tita surgem em minha frente.
Quando novamente sou consumida pela dor, a minha bolsa estoura,
fazendo as duas mulheres a minha frente se movimentarem rapidamente, com
experiência. Minha mãe segura firme minha mão, enquanto Tita e a parteira
começam a me auxiliar no que devo fazer. Grito a cada contração, em
intervalos de menos de 5 minutos.
Passam-se horas de contrações fortíssimas, quando já tenho a dilatação
necessária para o meu bebê sair, acho que não terei mais condições de
suportar a dor das contrações e continuar a usar a força pra conduzi-lo para
fora. Nessa hora, minha mão direita agarrava firme a mão da minha mãe, e a
mente agarrava o amor pela vida dele e o desejo de trazê-lo ao mundo. Na
hora que escutei a voz da parteira dizendo: "é a vida do seu bebê e a sua que
estão em jogo, por favor, reúna as forças que resta e empurre, para seu
filho nascer”. Naquele momento percebi que tinha algo de muito errado no
meu parto, não tinha forças, foi quando senti alguém apertar firme a minha
mão esquerda, o seu cheiro inebriante logo invadiu minhas narinas, e ao
mover a cabeça, ele está com o esboço de sorriso no rosto.
— Você consegue, habib. É prciso usar a dor ao seu favor. O nosso
Ahmed está chegando.
Mesmo sentindo a dor se espalhar e a força se esvair, faço uma força
que achei que não seria capaz e ao ouvir o som mais lindo da minha vida, dor
que sentia minutos atrás dá lugar a um sentimento muito maior do que tudo
que já senti antes. Quando a parteira diz que é um menino, meu coração
transborda de alegria. Sinto o aperto em minha mão se dissipando e assim
que olho para o lado, ele já não está mais ali.
Pego meu filho nos braços e finalmente tenho a recompensa que
minimiza todas aquelas horas de dor, faz valer todos os meses de espera.
Valeu cada minuto para sentir a pele dele encontrar o meu colo e sua boca
encontrar o meu seio ainda com o cordão nos unindo. É como se o vazio que
estava me consumindo nos últimos meses enfim é preenchido.
Saio da minha bolha quando ouço a voz da minha mãe perguntando se
já escolhi um nome. Olho para o meu bem mais precioso e mesmo com a voz
entrecortada, falo:
— Ele irá se chamar Ahmed Wehbe Maktoum. O herdeiro do deserto
que veio ao mundo para iluminar a minha vida após tudo que aconteceu. O
meu anjinho será um grande homem e tenho certeza que será um bom
governante para o nosso povo.
Se existe um amor mais forte do que tudo, esse é o amor de uma mãe
pelo seu filho.
— Agora, vou realizar um sonho, de ver você crescendo ao meu lado,
com todo o amor do mundo que eu puder te dar. — Sussurro para meu filho,
que está atento em mim.
Maldição! Tudo que planejamos minuciosamente mais uma vez deu
errado graças aquele desgraçado que não passa de um morto de fome a quem
o verme do meu primo declarou como responsável por sua segurança. Aquele
multirão que aconteceu a quatro meses atrás era a oportunidade ideal para
eliminar Maysun e o projeto de verme que ela carregava em seu ventre,
porém, o maldito do Jamil se manteve como um cão de guarda ao lado da
infeliz.
Durante esses meses, tivemos perto de acabar com a idiota da Maysun,
porém, sempre ele acabava atrapalhando nossos planos e com isso, ontem
aquela maldita acabou de trazer ao mundo a semente do mal, o filho do
homem que odeio desde o momento que soube da sua existência. Como é
tradição em nossa família, assim que o bastardo completar três dias de
nascido, deverá ser feita uma cerimônia aberta ao povo para apresentação do
novo herdeiro a todos.
Esse será o momento ideal para eliminar a desgraçada e o filho, com
tanta gente no local, será o plano perfeito. Quanto ao sheik Maktoum e sua
esposa, assim como os pais da infeliz, o vinho que irão ter que beber durante
a cerimônia terá um ingrediente em especial, e dessa vez, nada e ninguém irá
me impedir de enviar todos ao inferno. Sendo assim, Maysun e o pequeno
herdeiro serão um alvo fácil para serem eliminados. Fecho as portas dos meus
pensamentos, e ao lado de Haifa, caminhamos em direção a entrada principal
do palácio de Maysun Wehbe. Chegou o momento de comemorar com todos
a chegada do futuro herdeiro da família Maktoum, pena que os dias desse ser
maldito logo chegará ao fim.
Olho para o grande anel em meu dedo e um turbilhão de pensamentos
ficam martelando em minha cabeça. Quem eu sou? Por que não consigo
lembrar de nada? Quem é o menino e a mulher que surgiram no meu sonho?
Por que novamente senti a mesma sensação que apoderou-se de mim no dia
do multirão? Dúvidas e mais dúvidas só fazem a minhas cabeça doer ainda
mais, como se algum momento ela fosse explodir.
Desde que acordei, tudo que sinto é um enorme vazio dentro de mim, é
como se algo que não consigo lembrar fosse a única coisa capaz de preencher
esse buraco no meu peito. Ao lado das duas pessoas que se tornaram minha
família, tenho aprendido muita coisa, embora sejam tão humildes, são donos
de corações enormes. Latifa com seu sorriso sempre alegra os meus dias. Não
sei se já tive ou tenho irmãos, mas ela é a irmã que qualquer pessoa gostaria
de ter. Meus pensamentos são interrompidos quando ouço gritos e mais gritos
vindo em direção da rua, instintivamente, saio correndo para fora do
ambiente, e ao chegar na rua, me deparo com uma mulher gritando a todo
vapor com uma criança em seus braços. Assim que a desconhecida nota
minha presença, mesmo com a voz entrecorta, ela diz:
— Me ajude, por favor! Meu filho acordou gritando em meio a dor e
depois desmaiou, não sei o que fazer.
Olho para a mulher a minha frente que tem o rosto banhado pelas
lágrimas grossas que caem descontroladamente em sua face, e sem pensar
duas vezes, pego a criança dos seus braços.
— Vamos levá-lo ao hospital.
Com passadas largas, seguimos em direção ao nosso próximo destino, a
mulher que se chama Zoraide me relata que o esposo morreu a uma semana
atrás, a deixando sozinha com seu único filho. Depois de algum tempo que
mais pareciam uma eternidade, chegamos ao hospital. No momento que
adentro o ambiente, a cada passo dado pelo grande corredor, a cena a minha
frente só aumenta a minha raiva, fazendo um grande nó se formar em minha
garganta. Como é possível que o próprio governante, que deveria ser um líder
para o seu povo, seja capaz de não se compadecer da calamidade que é a
saúde desde lugar? Como podem deixar as pessoas jogadas pelos corredores a
espera de serem atendidos? Deixo meus pensamentos de lado assim que
paramos em frente a recepção.
Olho para o grupo de pessoas que, mesmo com a nossa presença,
continuam agindo como se fossemos invisíveis. Algo dentro de mim começa
a me queimar por dentro, minha mandíbula começa a contrair no mesmo
instante que o ódio inflama nas minhas veias.
— Vocês estão aqui para trabalhar ou vieram bater papo? Estão cegos
que não olharam quantas pessoas estão gritando de dor em volta desse lugar?
— E quem é você para dizer o que devemos ou não fazer?
— Certamente não sou o governante desse lugar, caso contrário vocês
já estariam no meio da rua. Agora, ou começam a trabalhar, ou irei até o fim
do mundo, mas farei todos saberem como as pessoas são tratadas aqui.
Ódio era tudo que via nos pares de olhos a minha frente, continuo com
os olhos fixos na direção deles até o momento que dois homens se
aproximam com uma maca e colocam o pequeno Hassim ali, o levando para
ser atendido. Enquanto Zoraide ficou dando os dados do filho, caminho em
direção a única cadeira que foi desocupada quando uma senhora se levantou.
Ao ficar em frente a mesma, noto que há uma revista. Assim que movo a
minha mão e pego o objeto, meus olhos vão de encontro a imagem da mulher
a minha frente. Sinto uma dor insuportável em minha cabeça no mesmo
instante que várias imagens surgem como flashes a minha frente, e sem que
eu possa segurar, um grito estrangulado sai rasgando a minha garganta.
— MAYSUN...

Dor, raiva! Minha cabeça mais parece um vulcão que a qualquer


momento pode entrar em erupção. Uma dor insuportável apodera-se de mim,
assim que meu ofuscado cérebro começa a buscar as lembranças que por
meses estavam escondidas.
Vários pares de olhos curiosos estão fixos na minha direção. Olho para
a recepção e Zoraide não está mais, talvez a mulher tenha indo ver o pequeno
Hassim. Com um giro nos calcanhares, caminho em direção ao corredor, e
assim que chego do lado de fora, meus olhos vão ao encontro da imagem a
minha frente. Sinto minha garganta se fechar no mesmo momento que o ódio
que estou sentindo inflama ainda mais em minhas veias, me enlouquecendo
por dentro.
A minha vontade é de matar o infeliz por ter me deixando ficar tanto
tempo na escuridão. Por ter cruzado o meu caminho e não ter me revelado
toda verdade. Ainda me lembro das várias vezes que ele surgiu na minha
frente, sempre achei estranho o fato dele comprar a maioria dos peixes que
estávamos vendendo e sempre pagar um valor tão alto. Fazia várias
perguntas, até de assuntos que no momento eu não entendia, mas ele dizia
que estava somente curioso, já que depois de tanto tempo, eu não me
lembrava de nada. Meus pensamentos são interrompidos assim que ouço a
voz de Jamil, indo a sua defesa.
— Me desculpa, chefe, mas você me contratou para cuidar da sua
segurança e do jeito que estava, seria um alvo fácil para o inimigo, não teria
como proteger você e Maysun ao mesmo tempo. Desde o momento que
soube que você tinha sobrevivido, que a dúvida do que eu deveria fazer
pairou sobre mim, e no momento que fui ao palácio para contar a todos,
descobri que o maldito do Aziz tinha sido encontrado morto. Não me restava
dúvidas que tudo foi planejado para acabarem com a sua vida, e somente
depois de algumas semanas, o pessoal que você contratou para descobrir o
paradeiro de Baruan entraram em contato comigo, e descobri que o maldito
Kaisar sempre foi o grande traidor, assim como ele e Haifa foram os
responsáveis também pelo ocorrido na biblioteca com um dos nossos homens
e a sua esposa. Poderia contar ao sheik Mohamed? Sim, mas eu sei que você
jamais aceitaria o fato de não ter acabado pessoalmente com esse rato.
Durante todo esse tempo, com a ajuda da família que o acolheu, tentamos
colocar pistas para fazê-lo lembrar de quem era, mas nada aconteceu, então
me lembrei das suas palavras quando foi até o hospital. Quando o pequeno
Wehbe estava internado, sabia que estando novamente naquele lugar e vendo
todo sofrimento do povo, suas lembranças poderiam voltar. Por fim,
mandei colocar o objeto com a foto da nossa princesa do deserto, pois foi a
única coisa que me restou a fazer para trazê-lo de volta.
Olho para o homem a minha frente, e mesmo com a raiva me
consumindo, sei que Jamil daria a sua vida para me proteger. Desde o
momento que o conheci, ainda criança, senti que ele seria em minha vida
muito mais que o filho do nosso empregado, e pelo visto, todos esses anos ao
meu lado o fizeram me conhecer mais do que ninguém, pois se alguém vai
enviar aquele maldito traidor ao inferno, será eu, Kadar Maktoum, o príncipe
do deserto. Fecho as portas do meu pensamento quando novamente sua voz
se faz presente.
— O seu filho, o príncipe Ahmed, nasceu ontem. Sei que nada vai fazer
o tempo voltar, mas graças a Allah, tanto ele como sua esposa estão bem e
logo tudo isso ficará lembrado por todos como o tempo que Allah reservou ao
maior governante que Dubai já teve para morrer, renascer e crescer em uma
versão melhorada de quem você realmente é e foi. O homem que ao lado da
sua esposa, vai trazer ao nosso povo a luz que tanto estamos esperando, que
possa olhar para a verdadeira realidade que existe fora do centro de Dubai,
onde a pobreza está levando o nosso povo, o seu povo a morte.
Antes, eu teria enfiado meu punhal no peito do homem a minha
frente por proferir essas palavras. A única pessoa que foi capaz de despertar
em mim a vontade de mudar, foi a minha esposa, no entanto, não posso
esquecer tudo que presenciei nesses últimos meses, tudo que o povo está
sofrendo por algo que está ao alcance da minha família em poder solucionar.
Jamais deixarei de ser Kadar Maktoum, mas chegou a hora de deixar o
mundo que criamos de lado e aceitar a realidade que está em volta de nós
mesmo. É atravéz do povo que esse lugar se mantém vivo, e o mínimo que
podemos fazer, é proporcionar algo melhor a todos.
Respiro fundo, e antes que Jamil se pronuncie novamente, caminho em
direção ao seu carro. Assim que fico em frente ao veículo, minha voz ecoa:
— Vamos direto para o vilarejo. O dia da apresentação do meu filho
será lembrado pelo sete cantos dos Emirados Árabes. Farei dos últimos
momentos da vida de Kaisar Maktoum o próprio inferno em pleno deserto.
Não tenho palavras para explicar tudo que estou sentindo. Quando
busquei um sentido para a minha vida, mesmo em meu ventre, ele me deu
motivos para continuar lutando. Quando meus olhos encontram aos seus, um
amor que não se dimensiona vem por toda eternidade toma conta do meu
coração. Meu pequeno príncipe, meu sopro de vida, a razão do meu viver.
Com os olhos fixos no meu bebê, um turbilhão de pensamentos se
fazem presentes na minha mente. Daqui alguns minutos, ele será apresentado
ao nosso povo e não posso deixar de pensar o quanto Maktoum ficaria feliz
em poder estar presente nesse momento tão especial. Sei que não podemos ter
tudo na vida e devemos agradecer pelo que temos, porém, se ele estivesse ao
nosso lado, tudo estaria perfeito.
Meus pensamentos são interrompidos quando ouço a voz da minha
mãe.
— May, já está na hora. O sheik Maktoum e sua esposa acabam de
chegar. — Comunica, e assim que seus olhos encontram os meus, questiona:
— Você estava chorando, filha?
— Eu sei que não posso ir contra a vontade de Allah, mas é difícil não
pensar nele. É difícil saber que daqui a alguns anos o meu filho irá perguntar
pelo pai e terei que dizer que ele já não está entre nós. — Ela dá alguns
passos, e assim que fica a centímetros de distância de mim, segura minhas
mãos.
— Filha! Você tem todo direito de pensar no homem que ama. O
homem que sempre estará ligado a você através do nosso Ahmed, nada do
que eu possa dizer pode aliviar a dor que você está sentindo, mas agora, você
tem parte dele diante dos seus olhos. Kadar sempre estará com você, mesmo
que não possa vê-lo.
— Obrigada por sempre ter as palavras certas, por ser muito mais que a
minha mãe e sim a minha melhor amiga. Eu tenho muito orgulho de ser sua
filha e ter um pai e um irmão como Burak, espero ser para o meu filho a mãe
que você sempre foi para mim.
Ficamos um bom tempo abraçadas, e depois de alguns minutos, minha
mãe pegou o meu bebê, e juntas, caminhamos em direção ao pátio do palácio,
onde segundo ela, já há uma quantidade duplicada do que estávamos
esperando.
Assim que chegamos no local, o povo começa a gritar em uma só voz
o meu nome. Todos aplaudem a medida que vou caminhando em direção ao
espaço onde estão a família Maktoum, a minha família e os membros do clã
religioso que Maktoum me levou antes do casamento para conhecer.
Minha mãe fica na entrada com Ahmed, aguardando o momento certo
de trazê-lo para ela entrar como manda a tradição da família Maktoum. Tanto
ela quanto a minha sogra estão eufóricas com o nascimento do neto. Acredito
eu que a sheika Jasmim, depois de não ter sido uma boa mãe para Kadar, está
fazendo de tudo para ser uma boa avó para o meu filho. Fecho as portas dos
meus pensamentos quando a voz do sheik Mohamed Maktoum se faz
presente.
— Hoje, sem dúvida é um dia que ficará lembrado para sempre em
nossos corações. Alguns anos atrás, aqui neste mesmo lugar, o meu filho, o
príncipe Kadar Maktoum, foi apresentado ao povo, por mais que o tempo
passe, ele sempre estará vivo em meu coração. O nascimento do meu neto
trouxe as nossas vidas um pedaço do meu filho, fazendo o vazio que ele
deixou ao partir ser preenchido por esse ser iluminado. Como líder do clã
religioso, peço a todos para aplaudir o Herdeiro do deserto, Ahmed Weheb
Maktoum.
Assim que os aplausos começam a ecoar no espaço, sinto um calafrio
atravessar a minha espinha no mesmo momento que minha garganta se fecha.
O medo cru e agudo apodera-se de mim quando o som horrorizante que ouvi
em pleno deserto, no pior momento da minha vida, preenche todo ambiente,
fazendo todos moverem a cabeça para trás e ficarem perplexos. Alguns olham
assombrados, incrédulos, outros com emoção. Ele surge em cima de um
elefante enorme, suas órbitas estão no tom mais escuro que o normal, seu
olhar frio e impassível direcionado na direção de Kaisar e Haifa. O som das
trombetas ecoam cada vez mais alto, do seu lado estão todos os seus homens
e Jamil em cima de outro animal.
Meu coração começa a bater tão forte como nunca senti antes. Nada
poderia explicar o turbilhão de sensações que paira sobre mim. Assim como
eu, ninguém acredita no que está acontecendo. Meu sogro, ao se mover,
acaba por desmaiar. Olho para o lado e o medo está visível através do olhar
de Kaisar e Haifar, que estavam tremendo. No momento que meu esposo
começa a descer do animal, Kaisar pega a sua espada e corre na direção da
minha mãe, que estava imóvel com meu filho em seus braços.
Instintivamente, com um giro nos calcanhares, me movo na direção dela, mas
antes que eu consiga, sinto alguém me puxar, sinto o contato de um objeto
cortante flexionado na minha garganta.
— Se você tentar alguma coisa, eu vou fazer um estrago em seu
pescoço. — As palavras proferidas por Haifa de nada tiram minha atenção e
o medo ao ver Kaisar se aproximar da minha mãe que tenta a todo custo se
afastar.

Com tudo minuciosamente planejado, peço a Jamil para entrar em


contato com cada um dos meus homens e na calada da noite, todos deveriam
ir ao lugar indicado. Depois de passar todas as instruções, o próximo passo
foi trazer do Dubai Safari Park os meus bebês. Eles pesam mais de nove
torneadas e foram treinandos especialmente para esmagar, desmembrar ou
torturar a vítima em uma execução pública.
Ficamos a uma certa distância aguardando o momento certo para entrar
em ação. Assim que meu pai começou o seu discurso e todos estavam
distraídos, começamos a conduzir os animais em direção ao pátio, o som dos
aplausos ecoando por todo lado, mas foram substituído pelo barulho infernal
das minhas trombetas, e ao chegar na entrada principal, todos se voltam em
nossa direção
Meus olhos ficam fixos nos dois alvos a minha frente, e no momento
que estava prestes a descer do animal, como eu cogitei, Kaisar sai correndo
em direção ao meu filho. Soube que o infeliz não pensaria duas vezes em
querer colocar suas patas imundas no meu bem mais precioso, por essa razão,
como eu já sabia da tradição que a minha sogra entraria com o meu filho em
seus braços, Tita ficou encarregada de revelar a ela sobre o meu plano e fazer
a troca do pequeno Ahmed por um boneco. Tudo está saindo como planejei,
até o momento que meus olhos vão ao encontro da minha mulher. Sinto a
minha garganta se fechar no mesmo momento que meus órgãos internos
começam a funcionar no ritmo alucinante, assim que a desgraçada da Haifa
puxa Maysun.
Meu desespero se dissipa no instante que a minha mãe pega um
recipiente que estava com vinho e passa o mesmo na cabeça da infeliz,
fazendo-a ir de encontro ao chão. Vendo que a minha mulher já está em
segurança, volto minha atenção para o desgraçado que jogou minha sogra no
chão, assim que ele pega o pequeno embrulho que acredita ser meu filho,
aproveitando o momento de distração enquanto ele mantém os olhos fixos no
objeto em seus braços, avanço com todo. O ódio que está me incendiando por
dentro para cima do maldito, e antes que ele cogite em se mover, com o alvo
fixo em minha mente, levanto minha espada e o golpe atinge em cheio a mão
direita do maldito que cai junto com a sua espada. Um grito estrangulado sai
entre seus lábios, me deixando em puro êxtase. Jogo a minha espada no chão,
e em seguida, fecho a minha mão, e com toda força que vem através da
minha raiva, deferiro vários socos em seus rosto, o levanto de encontro ao
chão. Assim que subo em cima do homem a minha frente, sua voz ecooa em
suplica.
— Tenha piedade, eu sou o seu primo, parte da família. — Sem que eu
possa controlar, uma gargalhada diabólica sai rasgando a minha garganta,
ecoando por todo o ambiente. Olho para o ser a minha frente que sempre
tratei como um irmão, mas por pura ganância e inveja, foi capaz de passar por
cima de tudo e de todos para conseguir o seu propósito. Quando novamente
seus lábios se moveram, minha voz se faz presente:
— Piedade eu tive no momento que tratei você como um irmão.
Piedade eu tive quando fiz questão do meu pai proporcionar a você e a vadia
da sua irmã todo conforto e regalia que sempre tiveram. Um traidor como
você só merece a morte.
— Seu maldito, eu sempre te odiei, desde o momento que soube da sua
existência, desde o momento que te olhei pela primeira vez. Eu te odeio, seu
desgraçado. — Grita, cheio de raiva.
Levo minha mão de encontro ao bolso da minha roupa, puxado meu
punhal.
— Eu poderia passar o restante do dia fazendo você pagar por cada
hora, por cada dia e mês que fiquei longe da minha família, mas um ser
repugnante como você merece sentir uma dor pior da que posso proporcionar.
Você me odeia desde que me viu pela primeira vez, e para o seu desagrado,
será a minha imagem a última que você verá em vida.
Sem pensar duas vezes, cravo o punhal em seu olho direito. Seus gritos
ecoam pelo espaço, movimento o objeto e em seguida o puxo, cravando no
olho esquerdo. O desgraçado não para de se contorcer, molhando as calças
pouco tempo depois, o que só aumenta a minha raiva. O infeliz que por anos
carregou o nome da minha família, que se achava tão esperto, não passa de
um frouxo. Depois de movimentar por mais alguns instantes o punhal, me
certificando de que ele perdeu de vez a visão, me coloco de pé, levantando o
braço, começando a movimentá-lo, fazendo um círculo com eles. O estrondo
das passadas dos dois elefantes se fazem presentes, e ao me afastar, Tumbo
chega perto do infeliz, e com uma trombada violenta, joga-o no meio da
arena. O povo fica eufórico, começando a gritar pela morte do traidor. Kaisar
ainda tenta se levantar, porém Tuca levanta uma das patas, esmagando uma
de suas pernas, o deixando completamente imóvel. Nenhum grito sai dos seus
lábios, Tumbo está pisoteando um dos seu braços, como parte do treinamento
que tiveram desde quando eram filhotes. Os dois animais em questão de
minutos desmembram ocasionalmente o corpo da sua vitima, e novamente, o
povo se manifesta.
— Morte ao traidor! Morte ao traidor!
Assim que o silêncio paira no ambiente, olho para minha esposa que
está petrificada com a cena a sua frente. Meu pai acaba de se levantar, e
minha mãe que está ao seu lado, move a cabeça em direção a arena, onde os
dois animais estão andando em círculo em volta do corpo de Kaisar. Antes
que eu cogite em dar o golpe final, a voz potente de meu pai ecoa no
ambiente, proferindo a palavra que meu avô sempre usava desde o dia que
começou a treinar os dois animais. De imediato, Tumbo e Tuca ficam em
posição, e ao levantar somente uma das patas, Tumbo acerta em cheio a
cabeça do seu alvo, assim como Tuca, que atinge a barriga do infeliz. Tudo
que vemos no chão no instante que os animais se afastam são os miolos e o
que sobrou dos órgãos internos do desgraçado. Com os olhos fixos na
imagem a minha frente, sinto todo meu corpo vibrar por dentro em extase.
Volto minha atenção para o meu próximo alvo.
Com um giro nos calcanhares, caminho em direção a minha família.
Tudo que quero neste momento é que todos a minha frente sumam e reste
somente a minha mulher e o meu filho. A sensação que senti ao acordar do
pesadelo que me encontrava foi semelhante a de como se eu tivesse sendo
partido ao meio, como se todos os meus órgãos internos estivessem ao ponto
de parar por ter passado tanto tempo longe da mulher que se tornou a única
em minha vida, aquela que depois de tudo que a fiz passar, ainda foi capaz de
me amar, apesar de saber que jamais serei o homem que um anjo como ela
merece. Maysun Maktoum me deu o maior presente que um homem poderia
ter na vida: o nosso pequeno Ahmed, que por culpa desses malditos, não pude
estar ao seu lado e compartilhar dos momentos que passou durante a
gravidez.
Haifa, essa erva daninha terá o mesmo fim daquele desgraçado, e assim
como ele, logo estará queimando no fogo do inferno, o lugar onde eles já
deveriam estar a muito tempo. Deixo meus pensamentos de lado quando ouço
a voz do povo ecoar por todo ambiente, que estão além de eufóricos, muito
agitados com a expectativa do que irá acontecer.
— Morte à traidora! Morte à traidora! Morte à traidora!
Desvio minha atenção para a imagem a minha frente. Com os olhos
fixos na mulher que está jogada no chão, vejo meu pai se aproximar da infeliz
que tem o rosto banhado pelas lágrimas, e assim que seus lábios se movem, o
todo-poderoso não permite que som algum saia de sua boca.
— Você e o infeliz do seu irmão, a quem sempre tratei como meus
filhos, mancharam o nome da nossa família. Trouxeram a desgraça para
dentro da minha casa. Meu irmão sempre foi um homem bom, no entanto,
trouxe ao mundo a própria encarnação do mal. Dois seres que foram capazes
de passar por cima de tudo que ensinamos por pura ambição e inveja. Como
autoridade máxima desse lugar, eu, Mohammed bin Rashid Al
Maktoum, atual governante de Dubai, o Primeiro-Ministro e Vice Presidente
dos Emirados Árabes Unidos, pela lei Islâmica, a Sharia, dou a sentença a
essa Dalit, a pena de morte. Que seja apedrejada perante o povo e pague
pelos seus atos.
A voz da desgraçada logo se faz presente gritando em total desespero,
pedindo ao meu pai que tenha piedade, pois está arrependida. O som da sua
voz só faz meus demônios se manifestarem, e em passos precisos, vou na sua
direção. Antes que meu pai volte a se pronunciar, saio arrastando-a pelos
cabelos até chegar em frente ao buraco que Jamil e alguns homens abriram, e
sem pensar duas vezes, joguo-a dentro da própria cova.
Um grito estrangulado sai dos seus lábios e tenho a confirmação de que
seu braço foi quebrado quando um dos meus homens trata de colocar a infeliz
em pé, em seguida começando a jogar terra até alcançar a altura do peito,
enquanto Haifa grita pedindo para tirá-la do buraco, pois tem o sangue dos
Maktoum. Quando a terra já está na altura ideal, o povo logo se aproxima e
fazem um círculo em volta dela, a deixando mais apavorada.
Poderia acabar logo com tudo isso, mas uma morte rápida seria um
privilégio para essa maldita. Levanto o braço e meus homens se fazem
presentes, empurrando alguns carrinhos de mão que estão cheios de pedras de
tamanho pequeno, pois a intenção é que as pedras não sejam grandes demais,
para não correr o risco de finalizar a punição com apenas quatro ou seis
pedradas.
Uma grande movimentação se faz presente, homens e mulheres logo
pegam pedras e com ele em mãos, ficam em posição, direcionados para um
único alvo: Haifa. Me afasto e assim que Jamil que está com uma trombeta
em suas mãos a leva em direção a boca, fazendo o som horrorizante
preencher o espaço, é tudo o que o povo precisa para alvejar a infeliz que está
enterrada no chão. Gritos e mais gritos saem dos lábios da mulher a minha
frente que sempre foi vaidosa por ter uma bela aparência, e no entanto, seu
rosto está completando deformado. Um buraco negro se forma no lugar dos
seus olhos, seus dentes foram quebrados pelo impacto das pedras contra a sua
boca, sua mandíbula se deslocou, e assim que o segundo carregamento de
pedras — que são quatro vezes maiores que as anteriores — chega, fico
totalmente petrificado com a imagem que surge a minha frente.
Assim como eu, todos estão com os olhos fixos em cada movimento da
minha mãe, que em passos largos caminha com uma enorme pedra em
direção a infeliz. O silêncio toma conta do ambiente e após alguns minutos, é
quebrado quando a voz da matriarca Sheika Jasmim Maktoum se faz
presente.
— Eu te amei desde o momento que te vi. Deixei de dar ao meu próprio
filho atenção, carinho e amor por estar cega acreditando que você era uma
boa pessoa. Sempre fizemos de tudo por você e seu irmão, mas jamais irei
perdoar tudo o que vocês fizeram. Eu errei muito na vida, mas graça a minha
nora aprendi que ainda posso recomeçar. Você, Haifa, só está colhendo o
fruto podre da péssima árvore que plantou. Chegou o momento de acabar
com tudo isso.
Minha mãe levanta os braços e sob os olhares atentos de todo o povo
que está analisando cada gesto seu, lança a enorme pedra de encontro a
cabeça da mulher que está enterrada no chão. O silêncio predomina no
ambiente, lágrimas grossas descem pelo rosto de minha mãe que está
tremendo. Saio do estado estático que me encontrava e vou na sua direção, e
ao me aproximar, vejo os miolos da maldita espalhados por todo lado. Volto
minha atenção para a mulher que sempre se mostrou forte, a quem sempre
esperei algum gesto de carinho, mas sempre me tratou com frieza,
indiferença, e mesmo com a voz entrecortada, ela começa a falar:
— Me perdoe por nunca ter sido a mãe que você merecia. Me perdoe
por nunca estar do seu lado quando você mais precisou. Eu te amo meu, filho.
Com os olhos fixos na mulher que me deu a vida, a quem eu esperei
por vinte e seis anos para ouvir de seus lábios as palavras proferidas a
segundos atrás, movido por algo que nunca senti antes, a envolvo em um
forte abraço, deixando as palavras que estavam por tantos anos presas em
minha garganta em fim serem libertas.
— Eu também amo você, mãe.
Ficamos um bom tempo abraçados, e quando nos afastamos, no lugar
só restava os meus sogros, o pequeno Burak, meu pai e as duas pessoas mais
importantes da minha vida. Volto minha atenção para os meus dois amores,
pois nem mesmo a morte foi capaz de impedir que eu retornasse para o lugar
que sempre pertenci. A vida deu-me uma nova chance de recomeçar, e desta
vez, irei aproveitar cada segundo ao lado deles.
Estou petrificada com a cena a minha frente. Sei que Kaisar e Haifa
foram os únicos responsáveis por tudo que lhes aconteceu hoje nesse lugar,
suas atitudes os levaram até a beira do precipício, e como consequências,
caíram nas garras do demônio que nem a morte foi capaz de impedir que
retornasse ao lugar que sem dúvidas é o seu verdadeiro lar. Duas pessoas que
sempre tiveram tudo a sua disposição, se deixaram corromper pela ambição
de querer o que não lhe pertenciam. Onde poderiam ter escolhido outro rumo
para seguir, porém, a maldade, a ganância e a inveja já haviam tomado conta
de suas almas.
Saber que Kadar está vivo desperta um misto de sensações que me
deixam em puro êxtase, porém, toda felicidade que estou sentindo por saber
que aquilo que por meses desejei que acontecesse é dissipada e substituída
pelo medo que se apodera de todo o meu coração. Saber que Kaisar poderia
fazer algo ao meu bebê foi como se um buraco muito maior do que senti ao
saber da morte do homem que amo tivesse se formado em meu coração, um
nó imenso na minha garganta me impedia até de respirar, ter aquele objeto
em contato com a minha pele de nada me fez ter medo comparado ao de
perde-lo. Tudo que eu via a minha frente era a imagem do meu filho, a minha
razão de continuar vivendo a cada dia, não suportaria viver sem a presença
dele ao meu lado, mas no momento que Kaisar jogou minha mãe no chão e
ver meu esposo avançado para cima dele, só aumentou meu desespero, porém
mesmo de longe olhei quando Tita estava com meu Ahmed em seu braço
enquanto minha mãe se levantou e foi em sua direção, fazendo novamente o
buraco que havia se formado em meu peito ser preenchido pela alegria de
saber que ele estava em segurança o tempo todo.
Deixo meus pensamentos de lado quando a grande quantidade de
pessoas começam a deixar o lugar. Ainda atordoada pelos últimos
acontecimentos, meus olhos vão de encontro ao homem que em passos largos
caminha na minha direção, fazendo com que meu coração dispare, quase
chegando a doer a cada batida. Minhas pernas estão bambas, minhas mãos
tremem de tão nervosa que estou assim que ele fica a centímetros de
distância, e sem que eu tenha qualquer outra reação, seus braços se juntam
em torno de mim, apertando-me possessivamente, fazendo meu coração errar
uma batida. Há uma energia no ar quando chegamos perto um do outro,
nossos olhares se cruzam, jamais me acostumarei com o impacto deste rosto.
O contorno das suas feições, as sobrancelhas arqueadas, suas órbitas negras
que brilham em grande intensidade, a boca perfeitamente talhada para ser
igualmente sensual e perversa.
Quando seus lábios tocam os meus, todo o meu corpo começa a arder.
É como se um incêndio acaba de passar pelas minhas veias, meus
pensamentos se esvaem com o beijo intenso e luxurioso, acariciando e
atacando minha língua com a sua. Meus lábios se movimentam
desesperadamente contra os dele, como se Maktoum fosse desaparecer a
qualquer momento e eu não terei tempo para senti-lo por inteiro.
— Eu te amo, May. — Ele resmunga sem desgrudar os lábios dos
meus.
— Eu também amo você. — Ele desvia seus lábios dos meus e pega
meu rosto entre as mãos, proferindo:
— Nada e nem ninguém voltará a nos separar novamente. — Ele me
beija profundamente, e só nos separamos quando ouvimos o choro do meu
príncipe ecoar pelo ambiente.
Minha mãe se aproxima, trazendo o nosso filho em seus abraços que
não para de chorar, olho para meu marido que se vira para encarar o nosso
pequeno na sua frente. Nada me preparou para o que estou vendo; Kadar, que
sempre teve uma expressão fria, tem um sorriso nos lábios de pura felicidade
enquanto move suas enormes mãos e envolve o nosso filho em seus braços, o
colocando próximo ao seu peito, que para de chorar imediatamente. Percebo
que ele tenta a todo custo segurar as lágrimas que se formam em suas órbitas
negras.
— Mesmo antes de te conhecer, foi você que surgiu em meus sonhos,
despertando em mim a necessidade de sair do pesadelo em que me
encontrava. Você, meu Ahmed Maktoum, assim como a sua mãe, são meu
tudo, a minha vida. Eu te amo, filho.
Meu coração transborda de alegria por ter os dois homens da minha
vida a minha frente. A minha família enfim está completa.

O tempo parece estar congelado. Embora a felicidade que estou


sentindo por ter minha família toda reunida ser inexplicável, essa necessidade
de ser tocada de forma mais íntima pelo meu marido está me queimando por
dentro, nunca pensei que um homem tão insaciável poderia ter tanto
autocontrole, enquanto eu estou quase a beira da loucura .
Quando conheci Latifa, vários pensamentos se fizeram presentes na
minha mente, inclusive se ela era o motivo de Kadar parecer tão distante
como se não me desejasse mais, deixando-me demasiadamente frustada.
Saber que ela esteve tão próxima do meu homem não me agradou em nada,
pois tive a impressão que aquele olhar dela para o meu esposo tinha algo a
mais. Toda a minha insegurança se dissipou quando o pai de Latifa
comunicou a Maktoum sobre o pedido de Jamil, que acabaram oficializando
o noivado, porém ainda estava intrigada com as últimas atitudes do meu
esposo, mas quando ele me encontrou chorando no quarto alguns dias atrás,
acabou entrando em desespero e perguntou o que havia acontecido, falei tudo
que estava sentido e Kadar me surpreendeu dizendo que também não estava
sendo fácil se mantém afastado, e que depois que soube das complicações
que tive durante o parto, achou melhor esperar o tempo do meu resguardo
terminar para não ter nenhum problema futuramente, e que se ficasse tão
próximo, não seria capaz de se segurar, por isso resolveu agir dessa forma.
Um grande alívio paira sobre mim, após dias que pareceram uma
eternidade, enfim vou poder acabar com todo esse tesão que percorre
incontrolável pelas minhas veias.
Termino meu banho e escolho um robe vermelho, passo um creme na
minha pele, a hidratando, e resolvo não vestir nada além da peça que cobre
meu corpo. Uma rápida olhada no relógio me informa que já está quase na
hora do meu marido chegar. Tita está com meu pequeno que dorme
profundamente em seu quarto. Deixo minhas preocupações com meu bebê e
caminho em direção ao quarto, quase perdendo o fôlego com a visão
privilegiada que tenho. Maktoum está esparramado na cama, seu corpo
volumoso dando a falsa impressão de que a mesma é pequena demais,
completamente nu e com seu membro ereto e exibido. Passo a língua pelos
meus lábios ressecados, tão excitada pela maravilhosa visão.
Nossos olhares se encontram, afrouxo o laço do meu robe e fico
totalmente nua, indo na sua direção. Subo na cama, me jogando em seus
braços abertos, me aninhando junto à sua pele quente e macia, sentindo o
calor de seu corpo largo e rígido, o aroma masculino de sua pele. Sua língua
percorre a veia pulsante da minha garganta, me derretendo sob ele. Meu
corpo amolece quando ele morde o lóbulo da minha orelha e sussurra:
— Hoje você será só minha.
Quando abro a minha boca para protestar ao lembrar do nosso filho, ele
me cala com um beijo molhado e avassalador. Sua língua se move devagar,
fazendo com que eu deseje que faça o mesmo entre minhas pernas. Ele sugou
meu lábio inferior, enquanto seus dedos beliscam meus mamilos sensíveis.
— Estou morrendo de saudades deles.
Tento me afastar quando ele leva sua boca na direção dos meus seios.
— Acho melhor não. — Fico um tanto constrangida, pois meus seios
sempre vazam de tão cheios.
Ele me olha com seus olhos negros intensos.
— Habib, eles estão perfeitos, assim como você. — Ele sussurra, e
minhas estranhas começam a estremecer. Sem que eu pense em nada, ele
abocanha um dos meus seios, produzindo uma onda de calor que faz minha
pele transpirar e me contorcer.
— Fique quietinha, sem se mexer. — Ordena ao retirar sua boca do
meu seio, enquanto uma da mãos abre caminho até o meio das minhas pernas,
que abro sem o menor pudor. Meu corpo está excitado, respiro forte, o
sangue correndo rápido nas veias.
Ele enfia o rosto entre as minhas pernas, e como resposta do meu
próprio corpo, me contorço contra seu toque.
— Você está toda molhadinha para mim.
Kadar mergulha de cabeça na umidade no meio das minhas pernas, sua
língua abre caminho dentro de mim, lambendo e separando os tecidos
sensíveis. Meus quadris se mexem sem parar, meu corpo implorando por
mais. Solto um gemido alto quando ele enfia dois dedos dentro na minha
boceta, entrando e saindo suavemente, enquanto giro os quadris sem
nenhuma vergonha de encontro aos seus dedos. Sinto que irei explodir a
qualquer momento.
— Hoje, minha menina atrevida, você irá me deixar fazer tudinho que
sempre quiz. Quero que você sinta o meu pau te alargando por trás e minha
porra dentro de você.
Seus dedos produzem ondas maravilhosas dentro de mim e suas
palavras apenas me deixam à beira do orgasmo. Kadar esfrega meu clitóris
em movimentos circulares, a tensão só aumenta enquanto ele massagea meu
ponto sensível e enfia os dedos em mim em um ritmo frenético, o toque
aveludado de sua língua chacoalhando meu clitóris excitado. Começo a sentir
espasmos, e meu esposo acelera os movimentos.
— Goza para mim, meu amor.
Suas palavras são a minha perdição. Tremo toda quando chego ao
orgasmo com um grito abafado, sinto espasmos violentos, agarro a cocha da
cama, enquanto sua língua entra na minha vagina em meio às minhas
convulsões.
Minha cabeça está a mil, absorvendo os tremores pós-orgasmo. Kadar
se afasta enquanto eu tento recuperar o fôlego, levanto o olhar admirando a
bela imagem do meu marido gloriosamente nu. Seu abdômen perfeitamente
esculpido de dar água na boca e seu imponente membro com sua cabeça
robusta ereto, cada célula do meu corpo estão focadas no homem a minha
frente. Ele caminha até o criado mudo, pegando algo, e ao girar seu corpo na
minha direção, fico totalmente atordoada. Meu esposo vendo minha reação,
dá um sorriso que é uma mistura de malicioso e perverso, e fala:
— Você vai gostar, meu amor. — Engulo em seco.
Ele volta para cama e fica sobre mim, cobrindo minha boca com a sua,
me dando um beijo que me faz perder o fôlego — sua língua explora a
minha, me lambendo e me saboreando. Seu pau começa a crescer ainda mais,
roçando na minha vagina já exitada. Meus mamilos enrijecem, estremeço
quando sua língua contorna a parte de fora da minha orelha, mergulhando-a
para dentro, ao mesmo tempo em que beslica meus mamilos.
— Só minha, cada pedacinho do seu corpo é meu.
Sinto uma onda de calor se espalhar pelo meu corpo quando ouço suas
palavras, Kadar conheçe bem demais meu corpo, seus segredos e suas zonas
erógenas. Meu esposo começa a beijar todo meu corpo, sinto o tesão crescer
cada vez mais quando ele passa a língua pelo meu umbigo, me contorço
violentamente. Seu pênis, febril e duro como rocha, está prestes a entrar na
minha abertura úmida, ele então segura firme seu membro e começa a fazer
movimentos circulares em torno da minha fenda, deixando-me desesperada.
Sinto que preciso mais dele dentro de mim do que do ar que respiro.
— Por favor. — Meu pedido sai como um sussurro rouco.
— O que você quer, Habib? Diga.
Um choramingar sai da minha garganta. Ele não para de esfregar a
cabeça do seu pau, intercalando entre a abertura minúscula da minha vagina e
meu clitóris inchado.
— Diga. — Ele ordena.
— Você dentro de mim, por favor.
Ouvindo minha súplica, com um movimento preciso dos quadris, ele
investe profundamente contra mim, fazendo-me sentir toda a extensão da sua
ereção. Solto um gemido alto, ele começa a se mover em investidas
calculadas e cautelosas, me levando à loucura, o som dos nossos corpos se
chocando e a minha boceta faminta apertando a cabeça de seu pênis, incita
seus instintos primitivos fazendo-o me estocar mais forte e mais rápido.
— Você é muito gostosa.
— Mais rápido.
— Cada vez que você se mexer amanhã, quero que se lembre que
estive dentro de você. Só eu. Você é minha.
Minhas pernas estremecem, meu sexo se incha, se apertando, fico
totalmente perdida quando Kadar retira seu pênis me deixando com uma
enorme sensação de vazio. Ele pega o frasco que tinha em mãos minutos
atrás e assim que abre o recipiente, coloca o líquido em sua mão direita
começando a lubrificar seus dedos, e com outra, em um único gesto, agarra
minha cintura me fazendo fica de quatro. Ansiedade se mistura ao desejo,
mantendo-me em um estado de excitação suspensa.
Agarrando minha bunda, ele ajeita a posição dos meus quadris, abaixa a
cabeça e começa a dar leves mordidas em meu traseiro, massageando a
entrada com a ponta do seu dedo que estão lubrificados, que em seguida,
sinto seu dedo escorregar para dentro de mim. Arqueio as costas quando um
grito estrangulador sai por entre meus lábios, respiro fundo deixando o meu
corpo absorver o choque da penetração repentina. Seu dedo entra e saí de
mim intensamente, me fodendo. Segurando firme minhas nádegas ele
substitui seu dedo pelo seu enorme membro, não aguento e peço que ele
retire, uma dor infernal paira sobre mim. Kadar permanece imóvel, levando
uma das mãos até meu ponto sensível, seus dedos habilidosos começam a
massagear meu clitóris, os girando sobre a minha carne escorregadia. A
manipulação hábil em meu clitóris me faz esquecer o incômodo na minha
bunda, e em meio ao ataque violento de sensações, o calor escaldante
atravessa meu corpo quando ele introduz dois dedos dentro da minha vagina,
dando-me a sensação maravilhosa de estar completamente preenchida.
Ele começa a se movimentar em um vai e vem lento, gemo em êxtase,
respirando desesperadamente o ar repleto do cheiro de sexo. Meu marido é
incansável, implacável, e continua metendo com força até eu perder o
controle sobre meu corpo. Kadar aumenta o ritmo das estocadas enquanto
acaricia ainda mais o meu botão inchado, começo a rebolar o quadril,
fazendo-o ir mais fundo. Sinto minha vagina se contrair, ele prossegue,
aumentando a força e a velocidade da penetração, seu membro e seus dedos
enterrados em mim até o meu ponto mais profundo, quando me entrego ao
êxtase, sinto o líquido quente dele jorrar dentro de mim, me inundando.
Mordo os lábios tentando abafar meus gritos enquanto me contorço
embaixo dele, sentindo os pequenos músculos de meu ventre se contraírem
em espasmos. Ele solta um grunhido profundo. Minutos depois, com nossos
corpos suados e a respiração ofegante, ainda perdida em meus pensamentos,
sinto todo o meu corpo aquecer quando sua voz ecoa.
— Aproveita, habib, a noite só está começando.
Acordo sobressaltada ao
lembrar do meu filho. Ainda desorientada, meus olhos se abrem e se adaptam
pouco a pouco à luz que atravessa as janelas. Ao recuperar a plenitude da
minha visão, olho para o lado e meu marido não está ali, levanto o olhar em
direção ao relógio na parede e já passa das oito da manhã. Espreguiço-me e
me sinto dolorida, deliciosamente dolorida e satisfeita. Sento-me na cama e
um gemido saí entre meus lábios, minha intimidade lateja e o desconforto no
meu traseiro me faz lembrar a noite mais incrível da minha vida. Quando
pensei que íamos dormir, ao ouvir suas palavras todo o meu corpo se aqueceu
novamente. As sensações que ele proporcionou ao meu corpo jamais poderei
esquecer. Seus beijos são espetaculares, seus lábios se moviam contra os
meus cada vez mais quentes e úmidos. Estávamos nos devorando, ficando
mais excitados a cada segundo. Meus sentidos estam todos imersos nele, no
seu gosto, no seu cheiro, em seus movimentos e no seu delicioso membro
duro como uma barra de aço incandescente queimando minha intimidade
com estocadas cada fez mais fortes e rápidas. Kadar transpira sexo em cada
poró, enuncia em cada movimento, ele é maravilhoso, cada gesto seu me
mostrou toda sua paixão, seu desejo e o seu amor por mim.
O som da porta do nosso quarto se abrindo interrompe meus
pensamentos. Movo a cabeça na direção da porta me deparando com os dois
homens da minha vida. Meu marido caminha na minha direção e ver seu
sorriso provoca reações enlouquecidas em mim.
— Até que enfim a bela adormecida acordou.
— Bom dia, meus amores!
Ele se aproxima e novamente sua voz se faz presente.
— Dormiu bem?
Sinto minhas bochechas queimarem, pois a única coisa que não fizemos
durante a noite toda foi fechar os olhos, pois quando nos sentimos saciados,
os primeiros raios de sol já estavam surgindo, e depois de tomar um banho
cheio de carícias, acabamos apenas cochilando. Deixo meus pensamentos de
lado quando meu marido estende nosso filho em minha direção e o manhoso
ao se afastar dos braços do papai, começa a gritar a todo vapor.
— Vem com a mamãe filho.
Assim que coloco Ahmed para mamar, Maktoum se afasta voltando
pouco depois com um envelope em mão, estendendo na minha direção.
— Acho que isso te pertence. Sei que você só permaneceu ao meu lado
por causa desse documento, mas eu não poderia cogitar a ideia de ficar longe
de você, no entanto, eu já havia dito ao seu pai que jamais aceitaria nada do
que foi gasto pelo tratamento do pequeno Burak de volta. Mesmo não
querendo aceitar, eu te amei desde o momento que te vi pela primeira vez,
nenhuma mulher havia me dito um não, e você, a minha atrevida, não pensou
duas vezes em rejeitar a minha proposta, o que de fato me deixou possuído
pela raiva, porém só aumentou o amor que mesmo não entendo, já sentia por
você. Por ser única, perfeita, o anjo que jamais se deixará ser corrompida pelo
demônio e mesmo após tanto sofrimento, manteve sua essência e trouxe não
só a luz a minha vida, como o amor e com ele o meu filho que a cada dia só
faz o meu coração que antes vivia nas trevas, ser aquecido pela luz.
Me levanto com o meu filho em meus braços, e antes que eu tenha
qualquer outra reação, suas mãos envolvem a minha cintura.
— Você foi capaz de despertar sentimentos que jamais pensei que fosse
sentir na vida. Te odiei e acreditei que só a morte poderia me libertar da
prisão que eu me encontrava. Não estava em meus planos ter um casamento
forçado, ter que viver com um homem que usou de meios tão baixos para
conseguir o que tanto queria, porém eu resolvi deixar as minhas lamentações
de lado e aceitar o meu destino. Mesmo de uma forma errada, você me deu o
maior presente da minha vida. Nada vai apagar tudo que passamos, mas a
vida nos deu uma chance de recomeçar e sei que você jamais deixará de ser
esse ogro, no entanto, é um pai maravilhoso e a cada dia está me mostrando
que, ao contrário do que eu pensava, dentro desse peito existe um coração
capaz de amar. — Seus olhos se enchem de lágrimas. — Kadar Maktoum,
ninguém escolhe quem deve amar. Meu coração é seu e nada do que
aconteceu no passado irá me impedir de aproveitar o presente e o futuro ao
lado da nossa família.
— Eu amo vocês dois.
Meu marido une nossos lábios, em seguida ficamos olhamos para o
nosso filho que é a maior prova do nosso amor.

Os dias passaram voando e o meu filho já está com seis meses. Palavras
não são capazes de explicar o misto de sensações vividas durante os dias,
semanas e meses ao lado da minha família. Maysun me completa em todos os
sentidos, somos como água e óleo, no entanto, o nosso amor é o ingrediente
capaz de nós unir em um só.
Sei de toda a sua trajetória durante os meses que esteve no vilarejo,
onde vivenciei de perto toda miséria vivida pelo nosso povo. Embora meu pai
seja o governante e autoridade máxima em Dubai, nunca demostrou interesse
pelo bem-estar da população que vive fora do centro da nossa cidade, que não
tem uma alimentação adequada, que a saúde é precária e muitas vidas são
perdidas — tanto de idosos, jovens e crianças — simplesmente porque a
pessoa que deveria estender a mão ao seu povo virou as costas. Sendo
conhecedor do trabalho que uma simples mulher foi capaz de fazer, não
poderia deixar que sua luta, dedicação e esforço fosse jogado pelo ralo, por
esse motivo resolvi que nessa data tão especial que meu filho amado está
completando mais um mês de vida, darei a mulher da minha vida o presente
que tenho certeza que será apreciado não somente por ela, mas por todo o
povo que sempre almejou por esse momento.
— Já estamos prontos.
Ela caminha na minha direção com o nosso pequeno em seus braços,
ficando a centímetros de distância, puxo-a para mais perto de mim, e antes
que minha mulher cogite em ter qualquer reação, a beijo profundamente,
porém o estrondo do grito estrangulado de um ser tão pequeno e ciumento
preenche o ambiente, e só para de chorar quando nos separamos. O pego em
meus bracos e logo nossos olhos se encontram.
— Filho, você não pode ter ciúmes do papai quando estiver com a sua
mãe, mas já tem que ficar de olho desde pequeno se alguém olhar para a
mulher das nossas vidas. Você sabe que só divido ela com você. — Olho para
minha atrevida que está com uma carranca em sua face e logo se pronuncia.
— Ele é só um bebê e você não pode ficar dizendo essas coisas na
frente dele, se não ele será a sua cópia.
— Habib, se depender de mim, será muito mais do que uma cópia.
Antes que eu tenha qualquer reação, ela estende suas mãos pegando o
nosso filho. Um sorriso perverso se forma em meus lábios, após o ocorrido,
deixamos o ambiente caminhando pelo corredor em direção a garagem.
Depois de quase uma hora enfim chegamos ao nosso destino, Maysun
está distraída com Ahmed que acaba não percebendo que o veículo já parou a
um certo tempo. Ela segura o nosso filho ao sair do automóvel, e no
momento que seus olhos vão de encontro ao hospital, minha esposa fica
completamente imóvel e logo as lágrimas surgem em sua face, assim como
uma multidão se faz presente, incluído os meus sogros e o pequeno Burak.
Ela está emocionada, parece não acreditar no que está acontecendo, em o
momento que é retirado o tecido que estava em volta da faixada do hospital,
revelando o novo nome do mesmo que durante todos esses meses passou por
uma grande reforma em sua estrutura, — ganhando não só novos
compartimentos, como mais equipamentos de alta tecnologia, uma farmácia
completamente abastecida e seu quadro de funcionários renovado —,
Maysun sai do estado estático que se encontra, ouvindo a voz do povo ecoa
preencher todo o espaço.
—Viva ao Hospital Maysun Maktoum. Viva a nossa princesa do
deserto! Viva!
Toda alegria em volta do lugar só aumenta quando vários caminhões
chegam e logo toda a equipe que havia contrato, liderada por Jamil e os meus
homens, começam a organizar uma enorme fila e todos os mantimentos em
forma de cestas básicas começam a ser distribuídas em grande quantidades.
Meus sogros logo se aproximam deixando minha esposa completamente
perdida quando sua mãe fala que irá sentir saudades, Maysun se vira na
minha direção e antes que ela se pronuncie, minha voz ecoa:
— Tudo que você precisa saber é que dentro de uma hora iremos
decolar no nosso avião que já está nos aguardando.Tudo que vamos precisar,
incluindo as coisas do Ahmed, já estão no porta-mala do carro.
Mesmo surpresa ela não questiona, aproveita os últimos minutos para
cumprimentar o povo e se despedir da sua família. Minha sogra está com o
rosto banhado em lágrimas ao se despedir do nosso pequeno. No tempo
programado, chamo minha esposa e Tita, que logo entra com Ahmed,
enquanto puxo Maysun e ficamos próximos ao veículo.
— Para onde estamos indo?
— Para nossa ilha na Grécia. Chegou o momento de proporcionar a
minha mulher a lua de mel que ela merece, e não poderia ser mais perfeito do
que ter o nosso pequeno ao nosso lado.
Seguro em sua cintura fazendo nossos corpos se colarem um no outro.
A abraço, sentindo o calor do seu corpo, virando a cabeça, colo seus lábios
lindamente esculpidos aos meus, enfiando minha língua na sua boca,
provocando a sua com lambidas aveludadas. Ela geme dentro da minha boca,
um som erótico de prazer que reverbera dentro de mim. O beijo vai se
tornando mais profundo , as línguas vão se encontrando, nossas respirações
se acelerando e entre sussurros, sua voz se faz presente.
— Eu amo você. — Ela diz.
— Eu também amo vocês, minha atrevida, minha esposa.
Pouco mais de quatro anos se passou desde que um simples olhar
mudou a minha vida, e confesso que não foi fácil tudo o que passamos para
hoje chegar até aqui. Aprender a perdoar o que os outros nos fizeram é o
primeiro passo para vivermos em paz com nós mesmos.
Por vezes custa muito aceitarmos a realidade da vida, lutamos para que
tudo seja perfeito e acabamos percebendo que poucas coisas são como
esperamos.
Sentiremos ao longo do tempo que tudo muda e que aqueles que nos
são importantes também. Perceber a imprevisibilidade da nossa existência faz
de nós humanos mais estáveis. Nada estranharemos à medida que formos
crescendo e acumulando mais experiência.
— Vamos, Habib, todos já estão nos esperando.
Seguro na mão do amor da minha vida e juntos caminhamos em
direção ao enorme corredor que nos dará acesso ao grande jardim, onde a
festa está acontecendo. Hoje o nosso pequeno Ahmed completa mais um ano
de vida, precisamente três anos em que o maior presente que a vida nos deu
vem iluminado a cada dia os nossos corações.
Ao chegar no ambiente, todos os nossos familiares estão presentes, os
meus sogros, a minha família, Jamil e sua esposa Latifa, a minha fiel amiga
Tita e os meus avós que vieram compartilhar desse momento tão especial. A
festa está linda, muito bem decorada e alegre. Assim que nota nossa presença,
meu príncipe vem correndo na nossa direção e como já esperado, o sapeca se
joga nos braços do pai. A ligação entre os dois é impressionante, meu esposo
embora ainda seja um troglodita mesmo após tudo que passamos, ainda tem
um lado sombrio que jamais deixará de existir, esse mesmo homem a quem
considerava o próprio demônio que nasceu no deserto, me mostra a cada dia
que além de um bom marido, é um pai maravilhoso. Perto de Ahmed a
armadura dele simplesmente caí no chão, seu sorriso sempre está presente e o
brilho em suas órbitas negras ao olhar para nosso pequeno reflete o quanto o
coração que era impenetrável foi atingindo pelo sentimento maior de tudo
que existe, o amor.
As horas seguintes são perfeitas, e no momento de cortar o bolo,
Ahmed logo se pronuncia pegando o pequeno prato que já tem um pedaço, e
ao perguntá-o para quem ele dará o primeiro pedaço, meu esposo logo se
agita achando que ele será o escolhido, porém meu sapeca simplesmente leva
a fatia a boca e em questão de segundos o devora fazendo todos sorrirem ao
verem que mesmo amando o pai , quando se trata de comida, ele sempre
escolhe a si mesmo. Após horas e horas ao lado das pessoas que amamos, aos
poucos a nossa família se despede, restante somente eu, meu esposo e nosso
filho.
Meu príncipe após a tarde agitada que teve cai em um sono profundo.
Aproveito e tomo um banho, escolho uma camisola de seda branca e vou até
o primeiro andar, onde meu esposo se encontra. Enquanto me aproximo, a
música que se tornou única para nós dois ecoa no cômodo, em passos largos
vou na sua direção, e ao ficar na sua frente, as mãos de Kadar se envolvem
em torno da minha cintura, me puxando de encontro ao seu corpo. Todo meu
corpo fica em total alerta pelo que irá acontecer, Kadar logo toma os meus
lábios em um beijo que quase rouba a minha alma, suas enormes mãos
deslizam por toda extensão do meu corpo. Ainda nos beijando, trato de tirar o
cinto das suas calças, colocando minhas mãos dentro dela e alçando seu
membro que já se encontra duro e quente, fazendo a minha intimidade latejar
em expectativa, mas assim que ele ia levantar a minha camisola, alguém
adentra aos gritos na sala, fazendo-me puxar de imediato a minha mão do
meu objeto de prazer favorito.
— Me salva papai, o bicho papão quer me pegar. — Entra na sala
assustado.
— Filho, a mamãe já explicou que não existe bicho papão.
— Tem sim mamãe, eu vi.
— Você teve um sonho ruim, mas já passou. Nós vamos lá no seu
quarto e o papai, que é grandão, vai colocar ele para correr.
— Tá, mas eu vou dumi com o papai e a mamãe. O bicho pode voltar
quando eu estiver mimindo.
Já sabendo que os nossos planos para essa noite terão que ser adiados,
meu esposo se levanta.
— O papai vai na frente.
— Você protege sua mamãe, está bem?
— Tá bom papai. — Diz e antes que tenhamos qualquer outra reação,
ele pega o cinto que estava até então no chão.
— Para que isso filho? — Meu esposo pergunta.
— Para bater no bicho, papai, se ele vier para cima da mamãe. — Não
aguentamos e caímos na gargalhada.
Subimos a escada e depois de mostrar ao nosso pequeno que não tem
nada em seu quarto, o manhoso ainda sim insiste em dormir com a gente.
Minutos depois deitados em nossa cama, com nosso bem mais preciso em
nosso meio, um turbilhão de pensamentos passam em minha mente. Faço
uma reflexão de tudo que passamos, e nesse percurso, aprendi que a
verdadeira sabedoria está em sabemos lidar com tudo o que o dia a dia nos
reserva, tirando proveito daquilo que realmente vale a pena. Olho para os
dois homens ao meu lado que são o maior presente que a vida me deu. A
minha família.
Sem dúvidas, eu daria a minha vida pela felicidade deles e não me
arrependeria por momento algum. Por mais dolorosos que sejam certos
acontecimentos, eles sempre nos ensinarão algo e nunca serão em vão.

O fim é apenas o começo.


Sou muitíssimo grata a Deus por ter concluído mais um livro. A exatamente
dez meses, coloquei no Wattpad o meu primeiro livro e fui surpreendida pelo
apoio de várias leitoras. Meu mais profundo agradecimentos a cada uma
leitora do Wattpad que abraçaram a história de Kadar e Maysun, pois foram
fundamentais para que o livro se tornasse o que é. Estou felicíssima por
tantos leitores terem gostado e terem embarcado comigo nessa jornada. De
coração, obrigada.

"Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais


lutando
por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo
nível"

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