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Está é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nome, datas e acontecimento reais é mera coincidência.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.
Depois que deixo aquele lugar, retorno ao palácio. Assim que o veículo
entra em movimento, meus pensamentos se voltam para aquela garota, não só
a sua beleza, mas ao seu olhar. Só de imaginar que em breve ela estará se
contorcendo enquanto o meu pau estiver entrando dentro dela, já me deixa
duro como uma rocha.
Saio dos meus pensamentos ao ouvir a voz de kaisar, avisando que
chegamos ao nosso destino. Saio do veículo em passos rápidos e adentro o
ambiente, preciso tomar um banho para tirar o sangue daquele infeliz que
acabou por pegar em meu braço, assim como acabou sujando as minhas
roupas. Passo um bom tempo debaixo do chuveiro, tentando colocar meus
pensamentos no lugar. Com a doença do meu pai, em breve terei que aceitar
o que por anos venho me negando a concretizar; o meu casamento. Como seu
legítimo e único herdeiro, isso cedo ou tarde terá que acontecer.
De banho já tomado, me arrumo e deixo o quarto, caminhando em
direção ao meu escritório. Ao descer os degraus da escada, vejo Jamil, como
sempre sua rapidez e eficiência em cumprir as minhas ordens me dão a
confirmação que foi uma boa escolha em tê-lo nomeado meu chefe de
segurança. Ao ficar centímetros de distância do homem a minha frente, peço
que me acompanhasse até o escritório. Já dentro do ambiente e acomodados,
sua voz ecoa pelo cômodo.
— Chefe, já consegui todas as informações sobre a mulher que o
senhor ordenou, o que foi bem fácil já que ela é bem conhecida naquela
região.
Sinto minha mandíbula se contrair ao ouvir suas palavras. Se a garota é
tão conhecida pelas pessoas, isso que dizer que el... - antes que conclua meus
pensamentos, ele estende um envelope na minha direção, e em seguida, a voz
do homem se faz presente novamente.
— Nesse relatório tem tudo sobre a vida dela e da família também.
Com o objeto em minhas mãos, começo a analisar minuciosamente
cada palavra contida nele. Assim que termino, alguns trechos me chamam
atenção.
Além dos homens que estam vigiando a casa dos Wehbe, o próprio
Jamil ficou fazendo o monitoramento no hospital. Depois das palavras que
ouvi quando estive na residência de Maysun, que nunca aceitaria minha
proposta, coloquei em ação o que já tinha cogitado desde o momento que li
no dossiê a situação deles em relação a casa onde vivem. Depois de efetuar a
compra da residência, avisei ao antigo proprietário que precisava com
urgência que o imóvel fosse desocupado.
Quando fui informado que o estado de saúde do pequeno Wehbe tinha
piorado, sabia que sua irmã não teria outra alternativa a não ser me procurar,
e tudo aconteceu mais rápido do que eu esperava. Através dos homens que
estavam e estão vigiando cada passo dela, soube antes mesmo dela chegar até
a empresa que enfim aquela atrevida iria engolir cada palavra que me foi dito
e aceitar tudo que eu tinha a propor. Para melhorar ainda mais o meu dia,
soube que novamente seu irmão passou mal, onde a única alternativa era
fazer imediatamente a cirurgia.
Mesmo relutando, Maysun acabou assinando o contrato que a tornará,
não só minha esposa, como minha propriedade. Deixamos a empresa
seguindo para o hospital onde sua família se encontra. Durante todo o
percurso percebo o quanto ela está nervosa, perdida em seus pensamentos,
certamente imaginando como contará aos pais que em uma semana será
minha concubina, para satisfazer as minhas necessidades sexuais e sempre a
disposição de me servir em exclusividade.
Assim que chego nesta imundice que chamam de hospital, respiro
fundo e adentro o ambiente, pior do que estar neste lugar é ter que olhar para
essas pessoas que estão nos corredores. Umas feridas, outras com uma
expressão de dor em sua face, o cheiro impregnado no ambiente causa um
forte embrulho no meu estômago. A cada passo que dou, a imagem que vejo
a minha frente só aumenta o incômodo dentro da minha barriga. Ao entrar no
quarto que os pais de Maysun estão, trato de dar a notícia do nosso
casamento. A princípio, meu desejo era fazer dela meu novo brinquedinho,
mas ao ouvir as palavras da atrevida que nunca seria minha, acabou
despertando um desejo incontrolável de mostrar a ela que sempre consigo
tudo que quero, porém o motivo maior que me fez mudar meus planos em
relação ao destino que cogitei, foi ver no fundo dos olhos da minha mãe que
o mal estar do meu pai não passou de uma simulação para me coagir a dar a
eles a resposta que a anos esperam ouvir. Se cogitaram que poderiam me
manipular como um fantoche, acabaram dando um tiro nos próprios pés, pois,
achegada de Haifa só me deu certeza do que eles tinham em mente.
Mesmo sabendo que no momento em que me tornasse o Sheik de
Maktoum teria que me casar, o casamento nunca foi um assunto que ocupou
meus pensamentos e muito menos me casar com alguém escolhida por meus
pais ou de uma classe tão inferior a minha. Diante dos últimos
acontecimentos, e com a maldita que não sai dos meus pensamentos, resolvi
unir o útil ao agradável, além de tonar a bela Maysun Wehbe a submissa e
esposa perfeita, para realizar os meus pensamentos mais impuros, farei os
meus pais terem a confirmação que ninguém manipula Kadar Maktoum.
Assim que deixo ela e sua família a sós, resolvo tudo sobre o
pagamento da cirurgia e da hospedagem, deixando o ambiente em seguida.
Adentro meu veículo, começando a organizar meus pensamentos e só então
lembro que em meio a toda correria, acabei esquecendo de avisá-la sobre o
compromisso que teremos amanhã. Deixo os pensamentos de lado e durante
o trajeto até o palácio, faço algumas ligações, quando o carro chega, em
passos largos sigo até a entrada principal. Fico totalmente surpreso ao ver
todos reunidos, e mais ainda ao olhar meu pai em sua cadeira de rodas com
um largo sorriso em sua face. Já se fazia mais de seis meses que ele não
deixava seus aposentos. Minha mãe diz que estavam me aguardando para o
almoço, aproveitando o momento em que todos estão presentes, anuncio:
— Amanhã mande preparar um jantar em especial. Terei um
comunicado a fazer.
Assim que minhas palavras são proferidas, um sorriso de satisfação
surge, não só na face dos meus pais, como na da mulher a minha frente.
Depois da euforia que ficamos por saber que meu menino ficará bem,
me dou conta de que já é mais de meio dia e meus pais ainda não comeram
nada. Me ofereço para ficar com Burak para que eles possam ir até nossa casa
descansar e comer alguma coisa, porém a porta é aberta e uma das
enfermeiras que veio mudar o soro do meu irmão avisa que além da conta do
hospital já estar paga, tanto eu como os meus pais temos livre acesso a
lanchonete do hospital. Sinto minha garganta fechar e um calafrio percorrer
todo o meu corpo. Não sei se fico feliz por saber que a partir de hoje eles
terão uma vida com mais conforto, ou triste por ver que Kadar está fazendo
sua parte em relação ao contrato.
Resolvo ainda não contar nada sobre a casa, deixarei que eles
aproveitem o momento em que meu irmão nasceu de novo. Meus pais mesmo
vivendo de uma forma precária sempre foram pessoas dignas, sempre
orgulhosos e jamais me deixariam aceitar a proposta de Maktoum, mesmo
sabendo que perderiamos a vida do Burak e o lugar que sempre tivemos por
lar. Por isso, deixei transparecer o quanto estou feliz com essa união. O fato
de Kadar dar a notícia do casamento acabou não levantando suspeitas do que
está acontecendo, eles acreditam que para um homem na posição dele — que
poderia escolher qualquer mulher entre seu meio social — me escolher é
porque realmente sente algo forte. Se eles soubessem que a única coisa que
aquele demônio tem em mente é me tornar seu objeto de prazer em vez de
sua esposa, que ele só deseja mostrar que sempre tem aquilo que quer mesmo
utilizando dos piores métodos para isso, ficariam horrorizados.
Eles só aceitam ir a lanchonete depois que eu insisto muito, dizendo
que meu futuro marido só quer ajudar a família da mulher que será sua
esposa. Antes de irem, meus pais seguram a minha mão e perguntam se
realmente estou feliz, no mesmo instante respondo que sim, que mesmo não
cogitando que tão cedo me casaria, Kadar Maktoum no momento em que
apareceu na minha vida a mudou para sempre, o que não é uma mentira, já
que aquele arrogante me fez engolir meu orgulho e ir até ele. Parecendo
contentes com as minhas palavras, eles saem do quarto e vão finalmente
almoçar, enquanto permaneço no quarto ao lado do leito do meu irmão, que
se encontra ainda sedado. Meus olhos percorrem todo o ambiente que é
totalmente diferente do quarto em que estava antes, além do luxo em volta do
cômodo, também tem um sofá cama para o acompanhante se acomodar
melhor. Um sorriso se faz presente em minha rosto por saber que minha mãe
não passará mais a noite toda sentada em uma cadeira e nem sentirá dor. Viro
a cabeça na direção da cama e dois pares de olhos azuis se fixam em mim,
trazendo uma sensação maravilhosa para o meu coração. Nada poderia me
deixar mais feliz do que esse momento. Não sei o que acontecerá nos
próximos dias ou como será a minha vida a partir de hoje, mas estou com o
coração em paz por saber que as pessoas que amo estão felizes e bem.
Nunca em toda minha vida fiquei tão nervosa quanto agora. Um imenso
nó se forma em meu estômago pela perspectiva do que acontecerá nesse
quarto. Depois de cinco horas, onde achei que seriam as piores da minha
vida, porém acabaram sendo bem agradáveis, eu estou a um passo de me
entregar a alguém que não amo.
As lembranças das últimas horas invadem a minha mente. Após a
entrada dos noivos, deu-se início a cerimônia e assim que tudo foi
concretizado, começou a festa de verdade, com muita dança, comilança e
quase todos estavam se divertindo. Durante toda festa fui presenteada com
jóias, as quais Maktoum me deu a maior parte como manda a tradição.
Também teve alguns dançarinos profissionais que se apresentaram e os
convidados, que pareciam estarem ligados em uma potência de 220W, não
deixaram a festa morrer um só minuto, garantindo assim muita dança e
diversão. Quando já tinha passado umas duas horas, os convidados fizeram
uma grande roda onde Kadar e eu ficamos no meio dançando. Quase no final
da festa meus pais resolveram ir embora, pois minha mãe achou melhor que
eles dormissem em nossa casa, quer dizer, na casa deles. Depois que eles se
foram, percebi que todos já estavam também se despedindo da família
Maktoum, restando, minutos depois, somente os familiares daquele que agora
é o meu esposo.
Durante toda a festa as mulheres da família Maktoum e o primo de
Kadar eram os únicos que não estavam se divertindo, pois até o meu sogro,
que hoje não estava fazendo uso da sua cadeira de rodas, me pareceu bem
descontraído ao ponto de me dar as boas vindas a família. Kadar ficou no
salão de festas enquanto vim com Tita para o meu aposento, após tomar um
longo banho e vestida com uma linda camisola branca de seda, aqui estou eu,
com o coração na mão olhando em volta do cômodo, que mesmo estando na
penumbra e com algumas velas espalhadas pelo ambiente. é um verdadeiro
ninho de amor. Só em olhar para cama ao meu lado, que está coberta por uma
cocha branca, sinto todo o meu corpo estremecer. Sei que mesmo não sendo o
que sempre cogitei, ao assinar aquele contrato aceitei as condições do homem
que agora é o meu esposo, e só me resta duas alternativas: deixar aquele
demônio me possuir ou ele me tomará a força, tornando essa noite mais
traumática do que já está sendo para mim. Me assusto quando ele entra no
quarto, me encolho fitando-o. Percebo que, assim como eu, Kadar se banhou
e trocou de roupa.
Ele caminha na minha direção sem desviar seus olhos perspicazes de
mim, meu coração bate tão forte que parece que logo me abandonará e sairá
pela minha boca. Sinto o medo cru e agudo atravessar o meu peito assim que
ele se detém, encarando-me sem piscar. Ele dá dois passos e me agarra de
imediato, trazendo-me para perto si. A energia que ele irradia é bruta,
possessiva, e só em pensar que daqui a alguns minutos estarei me entregando
ao homem que utilizou de meios tão baixos para me ter ao seu lado, alguém
por quem não sinto nada além de desprezo, só aumenta o meu nervosismo.
Ele passa os braços em torno do meu pescoço, pressionando meus seios
contra seu tronco e a sua boca contra a minha garganta. Maktoum me beija
nos lábios, a princípio o beijo é lento, quase casto, porém a medida que ele se
apossa dos meus lábios, intensifica o contato, até que mergulha em minha
boca em um beijo vigoroso, me roubando a alma. Sinto o ar me faltar quando
ele para o beijo, e antes que eu tenha qualquer outra reação, me ergue tirando
os meus pés do chão, carregando-me até a cama. Seu corpo grande e
musculoso me pressiona sobre o colchão, e mesmo vestido, sinto sua
masculinidade pura me cutucar. Kadar explora meu corpo com suas mãos
ávidas enquanto me beija, seus dedos alcançam a barra da minha camisola,
começando a roçar em meu ventre, o embrulho que antes estava me
incomodando só aumenta. O encaro com os olhos arregalados quando ele
começa a me despi, em seguida sinto seus lábios quentes nos meus seios.
— Que seios lindos. — Ele murmura entre gemidos em meu ouvido.
A única coisa que passa na pela minha cabeça é empurra-lo de cima de
mim e sair correndo para bem longe. Um grito de susto sai da minha garganta
quando sinto-o provar um dos meus mamilos com sua língua, mordendo-o
em seguida. Kadar então se afasta começando a tirar suas próprias roupas, e
por mais que eu queira desviar os olhos dele, é algo que me lembrarei pelo
resto da vida, embora nunca tenha visto um homem adulto nú, o tamanho do
membro dele é fora do normal. O homem a minha frente, com os cabelos
negros ainda úmidos, o abdômen sulcado de músculos e brilhante de suor,
esplendidamente nu e excitado — com o membro duro, grosso e enorme
empinando na minha frente, com as veias saltitantes praticamente soltando da
pele do seu pênis avantajado —, é uma das coias mais lindas que vi, mesmo
sendo totalmente estranho e novo para mim. Ele deita-se sobre mim,
começando a beijar todo meu corpo, fazendo uma trilha de beijos até minha
intimidade, provocando uma convulsão que acaba arrepiando minha pele e
me deixando atordoada. Que diabos está acontecendo comigo? Ele se instala
entre minhas coxas, sinto sua ereção em contato com a pequena abertura do
meu corpo, em um impulso, tento fecha-las, mas ele as abre com vigor. Tento
me levantar, mas ele segura com força minha mandíbula, fazendo-me parar.
O olhar que Maktoum me lança faz todo o meu corpo estremecer, logo sua
voz ecooa, rouca em meu ouvido:
— Fica quietinha, irei ter o que é meu por direito, e se você se mover,
serei obrigado a te machucar. — Ele começa a me beijar com ardor.
Sinto uma dor imensa atravessar todo meu corpo quando a cabeça
grande do seu membro me invade brutalmente, meus músculos tensos se
abrem, posso ouvir o barulho da minha carne sendo esfolada, até que ele me
penetra profundamente, rompendo as barreiras da minha virgindade.
Lágrimas começam a descer pelo meu rosto sem a minha permissão, a dor é
surreal, parece que eu estou sendo rasgada ao meio.
— Relaxa, logo a dor vai passar.
Resolvo não resistir mais e fecho meus olhos tentando dissipar a dor
insuportável que paira sobre mim. Kadar começa um vai e vem lento e
contínuo, usando toda a longa extensão do seu pênis. Ele me observa como
um falcão, notando cada suspiro e soluço que sai entre meus lábios, aos
poucos a dor vai se dissipando, ele vendo que já estou um pouco mais calma,
começa a intensificar seus movimentos. Sinto seu pênis duro como uma
rocha me invadindo cada vez mais rápido e a cabeça bem dilatada do seu
imponente membro tocando quase o meu útero, acariciando terminações
nervosas que eu jamais soube existir. Tudo que quero é que isso termine logo,
por mais que a dor já tenha passado, a única coisa que penso é em tudo que
ele fez para me ter ao seu lado, e não posso e nem vou sentir nenhum
sentimento bom por ele. Escuto seus gemidos altos enquanto ele me preenche
completamente. Kadar começa me penetrar cada vez mais forte com
movimentos precisos e ritmados, sinto cada batida do coração dele, cada veia
latejando, cada centímetro pulsante do seu membro. Em uma estocada mais
rígida e forte, sinto seu líquido quente me invadir em jatos potentes enquanto
sons guturais incompreensíveis saem entre seus lábios.
Ele sai de dentro de mim e se deitando sobre meu corpo, sinto sua
respiração acelerada de encontro a minha face. Maktoum rola na cama me
trazendo junto dele, me abraçando enquanto tento me afastar dos seus braços.
— Você não vai a lugar nenhum. A noite só está começando, e eu ainda
nem comecei a desfrutar do que é meu. Você agora me pertence e fará tudo
que eu quiser.
— Aylla, você sabe que seu pai jamais permitirá uma loucura dessas.
Daqui a uma semana será seu casamento, você não pode cogitar em trazer
esse desgosto para nossa família. Seu pai ao contrário dos homens do nosso
mundo, jamais quis uma segunda esposa, no entanto, a única herdeira de
toda a sua fortuna é você. Através dessa união com o Sheik Hamad, um filho
varão dará continuidade a tudo que seu pai construiu. — Mamãe falou,
preocupada.
— Jamais irei me casar com um homem por quem não sinto
absolutamente nada. Eu amo Amil desde o momento que o vi pela primeira
vez, e não importa se ele é somente um filho do ex-jardineiro do palácio, será
com ele que irei ficar.
— Entenda que só quero a sua felicidade, mas nos duas sabemos que
isso jamais será possível. Filha, você sempre será a minha princesinha, por
quem daria a minha vida para vê-la feliz, mas sabemos como as mulheres
são vistas no mundo em que vivemos.
— Não importa o que os outros irão pensar, é a minha vida, minha
felicidade que está em jogo e não irei permitir que ninguém interfira no meu
destino. — Lágrimas cairam grossas pelas minhas bochechas.
— Você só tem 18 anos, como pode saber se o que sente por esse rapaz
vale tanto sacrifício? Como vão viver se Amil gasta tudo o que ganha
comprando remédios para o pai dele?
— Mãe... — Ela andava de um lado ao outro sem parar, sem me
escutar, me obrigando a chamá-la pelo nome. — Madiya. — Me olhou. —
Quando se tem amor, fé e esperança, juntos podemos superar qualquer
coisa.
Minha mãe acabou desistindo e sandoi do meu quarto, ela soube que
ninguém me faria mudar de idéia. Dois dias se passaram e uma grande
fatalidade aconteceu na família do grande amor da minha vida. Depois da
morte da mãe dele, seu pai, o antigo jardineiro do palácio, acabou
adoecendo. Amil deixou seus sonhos de lado e acabou arrumando um
emprego no centro de Fujairah, em uma pequena padaria. Seu irmão velho,
que mudou-se para Dubai, também ganha muito pouco, não podendo ajudar
com muito seu pai.
Todo o palácio estava sendo preparado para o tão esperado
casamento, porém, mesmo Amil querendo desistir com medo de que eu não
me acostumasse a viver sem o luxo do palácio, deixei claro que fugirei
sozinha. Com tudo minuciosamente planejado, arrumei algumas coisas e a
única coisa que não consegui deixar para trás, foi o vestido que pertenceu a
minha mãe, desde criança sempre fui fascinada por ele e quando minha mãe
me deu ele de presente, soube que ele teria um significado muito importante
na minha vida. Ao cair da noite quando todos já haviam se retirado para os
seus aposentos, esperei o sinal combinado e em passos silenciosos, deixei o
ambiente. A cada passo dado minhas pernas estavam trêmulas, o medo de
ser descoberta estava fazendo meu coração bater freneticamente. Desde
criança acabei descobrindo uma passagem pela biblioteca do meu pai que
dava direto ao jardim, pois sempre foi o lugar favorito da minha mãe. Assim
que cheguei próximo da porta que mudaria minha vida para sempre, senti
uma mão segurar meu ombro, fiquei petrificada e a minhas únicas reações
foi segurar as lágrimas que já queriam cair. Perdi a noção do tempo, se
passou segundos ou minutos, só saí do meu estado catatônico quando ouvi a
voz da minha mãe.
— Eu sabia que você faria isso.
Com um giro nos calcanhares, fiquei de frente para ela, porém jamais
esperava ouvir as palavras que saíram entre seus lábios, e tão pouco olhei
antes o objeto que estava em sua mão.
— Pegue! Com esse dinheiro, procure a pessoa que está escrita nesse
papel, ele dará um jeito de arrumar uma nova identidade para você. — Meus
lábios se mexeram sem sair som algum. — Você não tem muito tempo. Nada
é mais importante para mim do que a sua felicidade, prefiro vê-la feliz
vivendo longe, do que sofrendo por uma escolha que não foi feita por você.
Sei que seu pai jamais ira querer vê-la novamente, mas o tempo pode
mostrar a ele que todos temos direito de fazer as nossas próprias escolhas.
— Não conseguia mais segurar as lágrimas, minha mãe me envolveu em um
forte abraço, dizendo em seguida para eu ir.
Esse foi o último dia que vi minha mãe.
Depois que deixei o palácio ao lado do homem que sempre amei, na
mesma noite me entreguei para ele, e na manhã seguinte, procuramos o
homem que me forneceu uma nova identidade, indo para Dubai. Quando
chegamos na casa do irmão do Amil, ao adentrar o ambiente, meu coração
gelou no mesmo instante que vi o todo poderoso Sheik Humaild bin Rashid Al
Nuaimi. O ódio estava visível através dos seus olhos, ele logo se aproximou e
pegou em meu braço. Amil tentou reagir, mas Níquel o segurou, mesmo ele
sendo uma boa pessoa, sempre teve devoção pelo meu pai e faria tudo que
ele pedisse.
Comecei a me debater, mas ele segurou com muita força em meu
braço, dizendo que eu voltaria com ele, e tomada pela raiva, acabei dizendo
que não adiantaria mais porque agora não só o meu coração pertencia a
Amil, como também entreguei minha pureza para ele. Senti meu rosto
queimar quando a mão dele acertou em cheio minha face. Ele caminhou até
a porta e antes de deixar o ambiente, sua voz ecoou no cômodo.
— De hoje em diante a princesa Aylla estará morta para todos. — Ele
não sabia , mas Aylla já hávia morrido desde o momento em que passei a me
chamar de Fátima Sharqi, e alguns meses depois, me casei me tornando
Fátima Wehbe.
Meus pensamentos foram interrompidos ao ouvir a voz do Burak me
chamando, em passos largos caminho de encontro ao meu filho, porém meus
pensamentos ainda estão voltados para minha May. Talvez o destino dela
será fazer pelo povo aquilo que não pude fazer.
Ainda lembro-me o quanto meu tio sempre fazia questão de que meus
pais me levassem ao palácio para está na sua companhia, mas depois do
nascimento daquele infeliz, tudo mudou. Ele ao ter em seus braços o seu
primogênito e único herdeiro, o qual sempre almejou, passou a dedicar toda a
sua atenção para o infeliz do meu primo. Sempre o vi como um pai, pois ao
contrário do meu, o todo-poderoso Mohammed bin Rashid Al
Maktoum sempre foi um homem forte e soube construir todo um império, já
meu pai, o seu irmão, era somente um fraco que acabou tirando a própria
vida, e desde então, meu tio assumiu todas as nossas despesas, me dando um
cargo de grande importância junto às empresas Maktoum.
Os anos se passaram e com a morte do avô de Kadar, o desgraçado que
nunca se importou com os negócios da família se tornou o homem mais rico
de Dubai. Quando meu tio ficou doente, minhas esperanças se renovaram,
tinha certeza de que passaria a controlar todo o império da família Maktoum,
porém não esperava a atitude do maldito que acabou assumindo o comando
das empresas. No momento que Kadar pediu uma auditoria nas contas da
empresa, meu sangue gelou de imediato, meu coração começou a bater
freneticamente ao pensar na possibilidade dele descobrir que por trás do
Idiota do Baruan, eu estava envolvido. O imbecil sempre acreditou que sou o
seu braço direito, a pessoa com quem ele sempre pode contar, e assim que me
relatou sobre ter descoberto o desfalque feito por Baruan, tratei de me
certificar de que se o infeliz fosse pego, jamais iria mencionar meu nome.
Assim que ele fugiu de Dubai alguns homens da minha inteira
confiança acabaram por sequestrar o filho e a esposa do maldito que só
teriam sua liberdade quando eu tivesse certeza que o infeliz não seria uma
pedra em meu caminho, mas depois de ver nos olhos de Kadar o ódio com
que torturava o desgraçado, eu não poderia correr o risco de ser descoberto.
Eu mesmo fiz o favor de reunir a família, enviando aquele fedelho e sua mãe
para o inferno. Quando Haifa me avisou que recebeu a ligação da nossa tia
para passar uma temporada no palácio, cogitamos que dessa vez ela
conseguiria seduzir aquele infeliz, mas ao ver aquela mulher adentrando o
ambiente e sendo anunciada como a escolhida de Maktoum, senti o ar me
faltar, a raiva inflamar em minhas veias. Maysun acabou pisando em ovos ao
cruzar o meu caminho e o de minha irmã, essa infeliz vai se arrepender
profundamente.
Kadar anunciou que daqui um mês deixará o palácio. Terei que calcular
minuciosamente meus próximos passos, primeiro vou tirar essa morta de
fome do nosso caminho, pois pela expressão que vi no rosto da minha tia, já
sei quem irá me ajudar a concluir o que tenho em mente. Assim que
conseguir que Haifa se torne a segunda esposa de Maktoum, e tendo em seu
ventre o futuro herdeiro, darei um jeito de tirá-lo para sempre das nossas
vidas.
— Precisamos fazer com que aquela mulher saia do nosso caminho.
Não aguento ter que olhar para a cara daquela vadia. Para Kadar ter casado
com essa infeliz, algo ela deve ter feito para o deixar enfeitiçado.
— Calma, irmãzinha. Já sei como vamos nos livrar dela, porém antes
disso, mostraremos a essa mulher que ela jamais vai pertencer ao nosso
mundo. Maktoum vai se arrepender da escolha que fez. Vamos ver como
aquele demônio irá reagir ao ver que sua doce esposa jamais estará
qualificada para ser alguém apresentável para a sociedade.
— Você tem toda razão, vamos mostrar a ela o quanto a sua presença é
indesejável por todos. Maysun Wehbe quis ser a princesa do deserto, então
vamos dar a ela as boas-vindas como realmente merece.
Acabo por não ver Maysun o dia todo. Assim que deixo meus
aposentos, ainda cogito em passar em seu quarto, mas ao parar em frente a
sua porta, resolvo por deixá-la dormir mais um pouco. Antes de deixar o
palácio, dou ordens a sua serva para acordá-la dentro de duas horas e avisá-la
para permanecer no quarto até o meu retorno. Sei que Maysun tem a língua
bem afiada, porém não quero vê-la sozinha com qualquer membro da minha
família, esse foi um dos motivos que me levou a mandar fazer algumas
reformas no Palácio que jamais cogitei que seria meu lar, mas diante dos
fatos e sabendo como minha mãe é, achei melhor mantê-la longe de todos.
Tenho muitas coisas que precisam ser resolvidas na empresa. A reunião
com alguns fornecedores acaba tomando boa parte do meu dia, mas fico
satisfeito com o resultado. No final do dia, recebo duas ligações, uma delas é
de Jamil me informando sobre o dossiê que pedi sobre os pais de Maysun.
Fico surpreso com o rumo da investigação, pois segundo ele, precisará de
autorização para viajar para Fujairah, onde certamente descobrirá mais sobre
a origem da família Wehbe, já que os pais da minha adorável esposa não
nasceram em Dubai como pensei. Depois que encerro a ligação, dando a
autorização e carta branca para não poupar gastos em descobrir seja qual for
o mistério que os envolve, recebo a outra ligação, a qual venho aguardando
desde o momento que meus homens pegaram o maldito traidor do Baruan.
Ao contrário da maioria dos homens que tem uma posição como a
minha, jamais gostei que terceiros fizessem o serviço por mim, sempre
presenciei os temidos sheiks das cidades que formam os Emirados Árabes
mandarem seus subordinados fazerem o serviço pesado para que não
sujassem suas mãos, porém eu sempre fiquei em êxtase ao proporcionar a dor
a alguém, e quando se trata de um traidor, vê-lo sucumbindo diante dos meus
olhos me deixa alucinado. Depois da morte de Baruan, mesmo com os
pensamentos voltados para a atrevida que hoje é a minha esposa, algo dentro
de mim estava inquieto, como se tivesse deixado passar alguma informação.
E após a ligação que recebi, tenho a confirmação das minhas suspeitas. A
família do infeliz foi encontrada em um casebre já com o corpo em
decomposição, porém acharam no bolso da mulher sua identidade e tudo
indica que foram assinados, o que me leva a ter certeza que tem mais alguém
aliado ao traidor.
Acabo não relatando nada para meu pai, e muito menos para Kaisar,
embora meu primo seja alguns anos mais velho, sempre tivemos um bom
relacionamento, mas desde que assumi o comando das empresa, venho o
observado, sempre com o celular nas mãos e uma expressão indecifrável que
de nada me agrada.
Depois do ocorrido com o desgraçado do Baruan que sempre se
mostrou o braço direito do meu pai, uma coisa aprendi com tudo isso: não
importa quem seja, no meio que vivemos, não devemos confiar em ninguém,
porém, além dos meus pais, jamais irei pensar duas vezes em acabar com a
vida de qualquer um, mesmo que seja alguém tão próximo a mim. Com tudo
já resolvido, deixo a empresa e sigo para casa. Passo todo o percurso com os
pensamentos voltados para Maysun, e ao chegar no palácio e adentrar o
ambiente, minha garganta se fecha, minha mandíbula se contrai enquanto
olho para a cena a minha frente.
Dor. Essa é a palavra que expressa tudo que estou sentindo. Não só
uma dor física, como da alma. Depois de algumas horas tentando me mexer,
suspiro fundo e consigo me levantar. Meu corpo todo está dolorido, ele não
teve um pingo de pena de mim. Em passos lentos e com dificuldade, começo
a caminhar. Estou muito machuca, minha intimidade lateja, mas preciso
tentar ir aonde acho ser o banheiro, ao menos tentar. Tirar a podridão que
sinto impregnada em meu corpo. Giro a maçaneta da mesma que se abre,
entro no pequeno cômodo que é um banheiro. Me aproximo do espelho,
virando de costas, e olho o estado que elas estão. Meus olhos ardem, trato de
segurar as lágrimas, levanto o olhar, procurando por alguma toalha, que não
há no ambiente. Novamente volto para o quarto e mesmo com dificuldade,
me agacho e pego o pedaço de tecido que sobrou das minhas roupas. Quando
adentro novamente o banheiro, entro no box, embaixo das gotas grossas de
água, que ao entrar em contato com minha pele judiada, os gemidos logo
começam a sair entre meus lábios, só aumentando minha dor. Passo as mãos
pelo meu corpo até alcançar a minha intimidade melada de sêmen que passa a
latejar ainda mais com o contato da a água fria. Percebo que os grandes lábios
estão muito inchados, um desconforto enorme entre minhas pernas. Mesmo
com todo meu corpo doendo, passo bom tempo debaixo do chuveiro,
tentando aplacar a dor, e ao sair, pego a minha roupa rasgada começando a
enxugar o que posso do meu corpo. Completamente nua, sem ter nada para
vestir, fico encolhida, com frio, não desviando os olhos das imagens das
mulheres mortas a minha frente, por mais que os gritos estejam mais altos do
que antes. De repente as luzes se apagam e o medo agudo e cru paira sobre
mim. O som aterrorizante que parece não ter fim dobra de potência, quase
deixando-me surda.
No ambiente totalmente escuro onde acho que a qualquer momento irei
surtar, as palavras dos meus pais vem a minha mente. Sempre tive vontade de
deixar Dubai, viajar pelo mundo, e sempre eles me diziam a mesma frase:
"Filha, às vezes pode parecer escuro, mas a ausência da luz é uma
parte necessária. Apenas saiba que você nunca estará sozinha, poderá
sempre voltar para casa, para sua família. Você pode ver que a sua casa está
dentro de você, onde quer que esteja.”
Fecho meus olhos, começando a repetir a mesma frase por incontáveis
vezes: “Kadar Maktoum pode me deixar em pedaços, mas duramente vou
remendar os fragmentos.” Não sei em que momento exato acontece, mas não
consigo escutar as vozes. A única coisa que vem em minha mente é as
imagens da minha casa, da minha verdadeira família.
Três dias se passaram desde que Maysun está naquele lugar, e ao
contrário do que pensei, ela continua inabalável, se mantendo forte. Nem os
piores criminosos aguentaram tanto tempo ao passarem pela Tortura
Vermelha. Porém já não vejo o mesmo brilho que antes havia nos seus olhos,
é como se o seu corpo está ali presente, mas sua alma não. Ela está três dias
ouvindo o mesmo som , tendo somente uma refeição ao dia e permanecendo
no escuro total, só ligo a luz nos momentos que adentro o seu quarto.
Nem mesmo quando a possuí durante esses três dias nenhum som saiu
entre seus lábios, ela simplesmente abriu as pernas e permaneceu com os
olhos arregalados fixos na direção da maldita parede, como se fosse uma
boneca inflável. Acabei perdendo o controle e desferindo alguns tapas em seu
rosto, o que só aumentou a minha raiva quando ela não tentou reagir e muito
menos teve outra reação além de permanecer com os olhos nos quadros.
Desde ontem não consigo falar com Jamil para saber como está indo o
rumo das investigação sobre os Wehbe. Completamente esgotado, — pois
são três malditos dias que não consigo dormir direito, sempre as imagens dela
dormindo com seus longos cabelos escuros passam como flashes na minha
frente —, me levanto, saindo da minha sala e indo até a garagem. Passo todo
o trajeto com os pensamentos voltados para minha esposa, assim como o dia
todo que estive fora. Assim que chego em casa, depois de horas de reuniões,
todos estão reunidos na sala, os cumprimento e caminho até onde Maysun
está.
O andar superior causa-me calafrios na espinha. Ignoro a sensação ruim
e acendo as luzes do quarto vermelho, prendendo minha respiração, sentindo
o acelerar do coração bater freneticamente em minha caixa toraxica.
Gratidão e ealdade. Essas duas palavras sempre me foram ditas pelos
meus pais, as quais hoje representam tudo que devo a Kadar Maktoum.
Sempre tive muito orgulho dos pais que tenho, em meio a tanta dificuldade,
meu pai, um simples copeiro do Palácio Maktoum, sempre me mostrou um
outro lado da vida que o dinheiro jamais poderá comprar. Conheci Kadar
Maktoum quando ele tinha apenas seis anos de idade, embora sua mãe não
gostasse da nossa aproximação, toda vez que ia ao palácio, sempre
brincávamos juntos.
A vida da minha família nunca foi fácil, porém jamais cogitamos que
depois de tantos anos de dedicação à família Maktoum, o todo-poderoso
Mohammed bin Rashid Al Maktoum, quando soube que meu pai estava
doente, acabaria o dispensando das suas atividades. Fiquei completamente
perdido pois minha mãe — como a maioria das mulheres de Dubai — sempre
cuidou da casa e da sua família, não tendo nenhum tipo de renda a não ser a
do marido. Depois de alguns meses, com os remédios que tínhamos que
comprar, toda economia do meu pai se esvaiu. Ver a angústia nos olhos da
mulher mais importante da minha vida me deixou totalmente arrasado, pois o
pouco que eu ganhava em uma padaria no centro de Dubai não era suficiente
para manter as despesas e muito menos comprar os remédio que são cruciais
para evitar que ele sinta tanta dor.
Morando em uma das vilas mais pobre de Dubai conheço o sofrimento
do nosso povo de perto. O sheik Mohammed bin Rashid Al Maktoum jamais
olhou para a população sofrida, que acabam morrendo pela forme ou pelo
descaso no único hospital público que não tem capacidade para atender tantos
pacientes. Sem ter o que fazer, algo que eu jamais cogitei aconteceu.
Para o povo da elite, Kadar Maktoum sempre foi visto como o príncipe
do deserto que no futuro será o maior governante de Dubai, mas para o nosso
povo, ele é considerado o próprio demônio do deserto que tem o sangue ruim
do seu pai percorrendo em suas veias. Porém, o que todos consideram um
demônio, foi aquele que trouxe esperança a minha família, além de me tornar
o seu chefe de segurança, ganhando um bom salário. O menino que sempre
corria em direção ao copeiro — meu pai — ainda está vivo no fundo do
coração sombrio de Maktoum, e foi ele quem fez de tudo para meu pai ter um
bom tratamento, voltando a ter novamente o brilho que por anos não
presenciava em suas orbitas azuis. A esse homem eu terei eterna gratidão.
Uma dívida que jamais poderei pagar.
Fecho as portas dos meus pensamentos e termino de receber a última
informações sobre os pais de Maysun Wehbe Maktoum. Não sei qual será a
reação dele, mas ao saber quem ela realmente é, tenho esperança que a
princesa do deserto não se deixe ser corrompida e seja para o nosso povo a
luz que nos libertará da escuridão.
Pela primeira vez em minha vida me encontro sem reação. Por uma
fração de segundos, meus olhos ficam fixos na imagem a minha frente, me
deixando petrificado. Saio do estado estático que me encontrava e corro em
sua direção. Não consigo entender o porquê do meu coração bater
descontroladamente ao vê-la nesta situação, sempre fico em puro êxtase
vendo o sofrimento das mulheres com quem transo, no entanto, olhar seu
corpo frágil nesta estado e com uma poça de sangue próxima a sua cabeça,
provoca dentro de mim um misto de sensações que nunca senti antes. No
impulso, envolvo seu pequeno corpo inconciênte em meus braços, saindo do
quarto vermelho. Em passos largos, caminho em direção aos seus aposentos,
colocando-a em cima da cama, ligando o aquecedor para tentar fazer seu
corpo voltar a temperatura normal. Vou até o banheiro e pego um roupão, e
depois de vesti-la, chamo Tita que trata de cuidar do seu ferimento
rapidamente, enquanto ligo para o médico da família.
Após alguns minutos que mais se parecem uma eternidade, estou
prestes a fazer um buraco no chão do quarto de tanto andar em círculos
esperando o maldito médico. E assim que o homem aparece no meu campo
de visão, fico ao seu lado enquanto ele examina Maysun. A expressão em sua
face só me deixa ainda mais angustiado. Depois de uma análise
minuciosamente ele me informa que o ferimento em sua cabeça não é algo
grave, porém Maysun por ter ficado exposta por tanto tempo a uma baixar
temperatura, apresenta uma leve infecção onde ocorreu o corte. Após colocá-
la no soro e introduzir a quantidade certa de medicamento, recebo algumas
recomendações dos cuidados necessários para ter uma rápida recuperação.
Fico olhando para a mulher a minha frente que dorme como um anjo, porém
seu rosto pálido mostra sua realidade. Sinto uma inquietação se apoderar de
todo o meu ser. Por mais que eu tente negar a mim mesmo, a ideia de perde-
la cai como um soco no meu estômago. Nunca pensei que algum dia sentiria
tanto medo de perder alguém como estou sentindo.
Dor. Frio. Meu corpo está fraco e dolorido, minha cabeça dói, sinto um
forte desconforto entre minhas pernas, minha boca está seca, minha garganta
doendo. Preciso abrir meus olhos, mas novamente apago, caindo em uma
escuridão sem fim. Sinto algo macio e quente sobre mim, meu corpo está
aquecido, mas algo perfurante incomoda a minha mão. Abro os olhos
lentamente, ainda está no escuro, exceto por uma pequena luz vindo de um
abajur ao longe. Movimento-me e logo sinto meu corpo dolorido. Fecho
novamente meus olhos, vozes ecoam na minha mente, meu ofuscado cérebro
começa a procurar entre suas lembranças recentes o que ouve, pouco a pouco
as imagens fragmentadas começam a me torturar.
Depois da noite que Maktoum me colocou naquele quarto, não tive
nenhuma noção do tempo transcorrido, não sabia se era dia ou noite, então
comecei a calcular o tempo pela hora que ele entrava com um prato de
comida, percebendo ao vê-lo impecavelmente em um terno, que minhas
refeições estavam sendo feitas durante o jantar, quando ele voltava da
empresa. Graças as palavras dos meus pais que não paravaram de ecoar em
minha mente, por mais que ele aumentasse o volume das vozes no ambiente,
era como se tivesse um bloqueio em minha mente, onde eu não as ouvia
mais. Kadar por sua vez, ao ver que eu não sucumbia a sua tortura, começou
a transar comigo como o animal que é. Quando ele deixou o quarto, mesmo
com dificuldade, me levantei e fui tomar banho, e ao passar a mão na minha
vagina, tirei no mesmo instante. A dor entre minhas pernas era insuportável.
De banho já tomado, peguei a toalha que na verdade é o pedaço de pano da
minha roupa, e mesmo úmida, tentei me secar, mas ao passar próximo a
minha intimidade, o mesmo saiu sujo de sangue. De primeira achei que tinha
ficado menstruada, porém ao me sentar em cima do vaso tive a constatação
de que, além de assada, a minha vagina estava muito machucada. Como eu
estava completamente nua, usei a cocha que cobria a cama para me aquecer
devido o frio no ambiente. Parece que o demônio achou um novo jeito para
me torturar.
No segundo dia novamente ele adentrou no quarto duas vezes, e mesmo
machucada, o homem me penetrava com brutalidade. Seus golpes eram fortes
e iam fundo me preenchendo por inteira, uma dor insuportável pairou sobre
mim, porém fechei os olhos imaginando que eu não estava naquele lugar. O
pênis daquele demônio é semelhante uma anaconda, tão grande e grosso que
parece me rasgar por dentro. Sem ter com o que me secar, acabei usando a
cocha da cama, que do segundo banho, já estava bem úmida.
Maktoum nesse dia ficou completamente possuído por seus demônios,
acabou desferindo vários tapas em meu rosto, e a minha única reação foi
permanecer com os olhos arregalados e fixos na parede a minha frente. Ele
antes de deixar o cômodo, ajustou a temperatura do ambiente que mais
parecia uma geladeira. No terceiro dia estava com tanto frio, ainda não tinha
comido nada o dia todo e meu estômago estava doendo muito, com um forte
desconforto em minha garganta. Ao mover a cabeça, meus olhos foram de
encontro a cortina, precisava de algo que pudesse me aquecer, minhas pernas
estavam fraca, respirei fundo e consegui me levantar. Em passos lentos, fui
em direção a parede, aquela altura eu estava me sentindo muito fraca. Ao
puxar o tecido a minha frente pela segunda vez, não tinha mais forças, a
maneira que cai no chão fiquei, logo um estrondo ecoou no ambiente quando
o ferro que segurava a cortina caiu em cima da minha cabeça. Vi tudo
desfocado a minha frente, foi quando cai na escuridão do esquecimento. Saio
das lembranças dos dias terriveis que tive quando ouço um barulho .
No momento que abro novamente meus olhos, uma luz forte entra em
minhas retinas, me fazendo fechá-los novamente. Os aperto antes de abri-los
lentamente. Meus olhos ajustaram-se a claridade, e ao olhar em direção a
porta, o demônio está parado com suas orbitas negras fixas em mim.
Com os olhos fixos no homem a minha frente todo o meu corpo entra
em alerta do que irá acontecer. Com uma expressão totalmente indecifrável,
ele começa a se mover na minha direção, e por um impulso, tento me
levantar, sem que eu possa controlar, um gemido escapa entre meus lábios.
Todo o meu corpo está pesado e dolorido, então permanece no mesmo lugar.
Kadar Maktoum ao ver a expressão de dor em minha face acelera seus
passos, parando em minha frente.
Suas orbitas negras, ao contrário da última vez que o vi, tem um brilho
diferente. Saio do estado catatônico que me encontrava assim que o silêncio
que antes estava presente no ambiente dá lugar ao som da sua voz:
— Que bom que você acordou. — Ao ouvir suas palavras, fico
atordoada, pois seu tom de voz é calmo e se eu não o conhecesse, pensaria
que ele está preocupado comigo. Continuo o encarando, e ele vendo meu
silêncio, volta a falar.
— Você esteve doente por alguns dias. Além da pancada que recebeu
na cabeça, teve uma forte gripe e febre alta.
Levo minhas mãos ao encontro da minha cabeça, tendo a confirmação
das suas palavras ao sentir o contato dos meus dedos com o objeto em uma
pequena região da mesma, indicando que há um curativo. Fecho as portas do
meu devaneio ao Sinto uma movimentação na cama quando ele se senta do
meu lado. Ficamos nos encarando por alguns segundos, até que ele diz:
— Você terá que continuar de repouso, pois seu corpo ainda está muito
fraco.
Toda a sua encenação de quem está preocupado comigo faz um nó se
formar em minha garganta e assim que sinto sua mão tocando o meu rosto, o
jeito como ele me olha, suas últimas palavras que antes estavam me
incomodando desfaz o nó. Sem quebrar o contato visual, mesmo com
dificuldade, me levanto ficando a uma pequena distância dele. Sinto tudo
girando a minha volta, buscando uma força que até então desconhecia, me
forço a permanecer em pé.
— Estamos sozinhos. Então chega de querer demostrar algo que não
condiz com você. Nós dois sabemos que a sua única preocupação com a
minha recuperação é somente para se enfiar no meio das minhas pernas. Tudo
o que você me fez passar naquele quarto só serviu para fortalecer um
pensamento que a muitos dias está presente na minha mente. Eu jamais terei
como pagar o valor estipulado naquele contrato, no entanto, a única pessoa
responsável por essa dívida está na sua frente. Vou sair por esta porta e você
pode mandar me prender ou até acabarem com a minha vida, mas a partir de
hoje, nada vai me quebrar mais do que você já não tenha feito.
Sua expressão logo muda, o ódio visível através das suas orbitas negras
que agora estão mais escuras. No impulso, puxo o objeto perfurante que
estava em contato com a minha pele e começo a caminhar na direção a porta.
Tudo começa a ficar distorcido, e antes que eu caia novamente na completa
escuridão, sinto o seu cheiro inebriante invadir minhas narinas, suas mãos
fortes me segurando.
Três dias se passam desde o dia que encontrei Maysun naquele quarto
caida no chão. Fecho meus olhos e as lembranças dos últimos dias invadem a
minha mente.
Depois dela ser atendida pelo Dr. Kassan, fiquei mais aliviado ao saber
que a pancada em sua cabeça não terá consequências graves. Tita festá
encarregada da medicação que deverá ser administrada de acordo com os
horários estabelecidos pelo médico. Ao sair do quarto dela, vou até meus
aposentos, tomo uma ducha quente e minutos depois, já vestido, caminho em
direção ao corredor de acesso a escada. Me deparo ao dscer com alguns pares
de olhos fixos na minha direção. Visto minha armadura de homem frio,
fechando-a por completo e termino de descer os últimos degraus. O silêncio
paira no ambiente, e pela expressão da minha mãe, sei que ela está louca para
abrir sua boca e como sempre falar a mesma ladainha. Para a minha surpresa,
ela se mantem quieta, ao contrário da mulher a minha frente, que a cada dia
me causa uma enorme irritação toda vez que ouço sua voz.
— Pelo visto Maysun não vai se adaptar a sua nova vida, e como
poderia, vivendo tantos anos em meio a pobreza.
As palavras proferidas pela mulher a minha frente despertam um misto
de sensações, e a única coisa que passa na minha mente é pegar meu chicote
e fazê-la se manter de boca fechada.
— De certo você é conhecedora disso, Haifa, já que se não fosse pela
nossa ajuda, vocês teriam que se adaptar a outra vida. Só que ao contrário de
Maysun, que saiu da pobreza em que vivia, vocês teriam que viver no meio
dela. Deixe que da minha mulher eu mesmo me encarrego.
Acabo por perder a fome, voltando para os meus aposentos. Fecho as
portas dos meus pensamentos ao ver pelas imagens da câmera que ela
acordou. Além do quarto de Maysun, também tratei de instalar outra câmera
em um determinado cômodo do palácio. Ninguém além de mim sabe da
existência delas, pois eu mesmo fiz todo o processo de instalação. Me levanto
e em passos largos caminho até o quarto de Maysun.
Assim que adentro o ambiente, meu coração começa a bater no ritmo
frenético. Cheguei a ligar por diversas vezes para o Dr. Kassan por ela não ter
acordado, mais ele me tranquilizou, dizendo que era normal e a medicação
colocada no soro iria fortificar o corpo dela. Saio do estado estático que me
encontrava e me movo em sua direção, ao vê-la tentando se mover, aumento
o ritmo dos meus passos.
Sabendo que ela ainda não está recuperada, tento manter a calma, algo
que nunca tive na vida, porém a insolente, mesmo com dificuldade, se levanta
e fala palavras que são capazes de esquentar o sangue nas minhas veias. Um
nó se forma em minha garganta, minha mandíbula se contrai. Vejo-a perde a
cons=ciência, me movo rapidamente a pegando em meus braços. Antes que
eu cogite em chamar Tita, ela adentra o quarto.
— Peço perdão, senhor, acabei esquecendo de avisar que o senhor
Jamil está o aguardando.
Por dias ansiei por informações dele. Uma sensação ruim paira sobre
mim sobre o que irei descobrir. Dou ordens a mulher a minha frente para não
deixar May se levantar, e em passos precisos, vou ao encontro de Jamil, que
já se encontra em meu escritório. Sento em minha poltrona enquanto o
homem a minha frente se acomoda na cadeira ao lado.
— Aqui está o dossiê com todas as informações que me pediu, senhor.
Após uma minuciosa investigação, descobri que Fátima Wehbe, na verdade, é
a princesa Aylla Rashid Al Nuaimi. Para todos ela morreu a mais de vinte e
dois anos atrás, mas na verdade, ela foi renegada pelo seu pai, o sheik
Humaild bin Rashid Al Nuaimi, após fugir com o filho do ex-jardineiro do
seu palácio. Ele ainda veio até Dubai a procura da princesa, mas não se sabe
de fato o que aconteceu, que ao retornar a Fujairah, comunicou o falecimento
da sua única filha. Com a mudança de identidade da princesa e o desprezo do
sheik Nuaimi, o mesmo que é dono de uma fortuna incalculável, não tem
conhecimento do nascimento de seus netos e únicos herdeiros. Maysun
Wehbe Maktoum é herdeira do homem mais rico dos Emirados Árabes, onde
a fortuna da família Maktoum de nada se compara com tudo que pertence a
sua esposa..
Um sentimento que jamais senti na vida paira sobre mim: medo. Medo
de perde-la.
Ainda estou atordoado com a bomba jogada em cima mim. É como se
um soco que jamais cogitei levar acertasse em cheio meu estômago. Não,
não. Não. Eu preciso pensar, nada e nem ninguém irá tirar o que é meu. Um
turbilhão de pensamentos ecoam na minha mente. Tudo que cogitei está a um
passo de ser jogado no lixo. Depois de Jamil me relatar a real situação do avô
de Maysun, que segundo suas investigações não tem conhecimento dos
netos, minhas esperanças são renovadas. A única pessoa que pode contar a
verdade por algum motivo se calou por todos esses anos, o que desperta a
minha curiosidade. Será só orgulho ou tem algo que Jamil não descobriu?
Para Fátima Wehbe ver seu filho a beira da morte e ter se mantido calada,
somente o orgulho me faz ter certeza que será fácil a manipular para hipótese
alguma revelar a verdade a minha mulher.
Peço sigilo total a ele sobre as informações contidas no dossiê, que logo
em seguida, se retira do ambiente. Meus olhos ficaram fixos no montante de
papéis nas minhas mãos e, minuciosamente, começo a analisar cada palavra
contidas neles. O fato de Maysun ser neta do Sheik Nuaimi, o todo poderoso
em Fujairh, de fato irá alterar tudo que já planejei, mas por outro lado, será
bem engraçado ver a expressão da minha família ao saberem que a pobretona
como dizem é dona de uma fortuna incalculável. A única coisa que essa
informação trás para meus planos é a possibilidade dela ter dinheiro
suficiente para pensar que pode se livrar de mim. Maysun Wehbe Maktoum
jamais sairá do meu lado sem a minha permissão.
Sheik Nuaimi pode ser temido e respeito em Fujairh, mas aqui, em
Dubai, a família Maktoum é a lei. Como futuro líder do clã religioso mais
importante dos Emirados Árabes, usarei tudo que estiver ao meu alcance se
por acaso ele venha ser um obstáculo em meu caminho. Com um movimento
rápido fico de pé, pego o dossiê e caminho em direção ao meus aposentos,
indo até meu cofre pessoal, depositanto a chance de Maysun se livrar de mim
definitivamente. Essa informação é preciosa demais e preciso guardá-la a sete
chaves até o momento certo de revelar a minha doce esposa suas origens.
Deito na cama, passando um bom tempo pensando em toda a situação.
Não estava em meus pensamentos ter que fazer uso do plano B, mas diante
dos últimos acontecimentos, onde Maysun ao ficar boa o suficiente para
deixar o palacio não pensará duas vezes em fazer, e depois de tudo que soube
da sua família, o único jeito de mantê-la para sempre ao meu lado será
engravidá-la o mais rápido possível. Antes, darei a sua tão sonhada liberdade,
porém, dela dependerá o destino de outra pessoa.
Uma gargalhada escapa por meus lábios. Eu, Kadar Maktoum, nunca
entro em um jogo sem ter uma carta na manga.
Estou tão cansada que dormi feito uma pedra. Desde que o homem com
que me casei entrou em minha vida, não me sinto tão completa, feliz e
realizada. É como se finalmente a sensação que sempre senti em não
pertencer a esse lugar estivesse se esvaido e a parte de mim que queria viver
como um pássaro voando livremente, enfim encontrou o seu verdadeiro
lugar.
Você deve estar se perguntando como posso amar o homem que me
causou tanto sofrimento? Como uma mulher é capaz de amar seu próprio
algoz? Se eu soubesse da resposta, juro que seria a primeira a responder,
porém, a única certeza que tenho, é que nunca cogitei que passaria por tudo
isso. Por mais que eu tentasse lutar contra qualquer sentimento que cresce
dentro de mim, tudo isso me levou até onde estou hoje. É como se as trevas e
a luz entrassem em um duelo e no final, não houve vitória ou derrota,
simplesmente as duas encontraram o seu lugar onde surgem em tempos
diferentes.
Pensei que Kadar não fosse trabalhar hoje, mas quando vi toda
movimentação dos funcionários e descobri do jantar que ele programou,
fiquei totalmente eufórica por saber que meus pais e meu irmão estarão
presentes. Fecho as portas dos meus pensamentos quando ouço a voz de
Maktoum me chamando. Após ele colocar em meu pescoço o colar de
esmeraldas que ganhei minutos atrás, ele segura em minhas mãos e juntos,
caminhamos em direção ao corredor que dá acesso ao primeiro andar.
Adentramos a sala e minha família já está nos esperando, em seguida
meus sogros chegam, junto a Haifa e sua mãe. Acho estranho Kaisar não
estar presente, mas quando Kadar questiona sobre onde ele está, a voz
enjoativa de Haifa se faz presente, dizendo que ele ficou na garagem atendo
uma ligação.
Recebo a felicitação da minha família, logo após a falsa da Haifa, sua
mãe e o meu sogro vem me felicitar também. Fico em total alerta quando a
Sheika Jasmim vem na minha direção. O silêncio logo paira no ambiente e
todos os olhares se voltam para nós. Ela para a centímetros de distância, o
silêncio é quebrado, me deixando sem reação com as palavras que saem entre
seus lábios, pois jamais cogitei que tais palavras fossem proferidas pela
mulher a minha frente.
— Sei que você tem todos os motivos para não querer que eu faça parte
da vida de vocês, mas gostaria de agradecer por ter entrado em nossas vidas.
Graças a sua atitude, a realidade me atingiu, fazendo com que eu me desse
conta de como venho agindo mal, não só com você, mas principalmente com
o meu filho. Maysun Wehbe Maktoum, meu filho não poderia ter feito uma
escolha melhor em sua vida, não importa quanto tempo passe, espero que
algum dia eu seja digna de merecer o seu perdão.
Pela primeira vez desde que a conheci, que antes tinha um ar de
superioridade estampado em sua face, sinto que suas palavras foram ditas do
fundo do seu coração. Ao ver ela se mover para retornar ao lugar onde estava
minutos atrás, levanto o olhar e todos estão em silêncio, nos olhando
atentamente. Olho para minha mãe e sei que ela está entendo tudo que se
passa na minha cabeça. Antes que minha sogra desça mais algum passo,
minha voz se faz presente:
— Pare! — Caminho até parar em sua frente. — Não cabe a mim dizer
quem é digno ou não de ser perdoado, porém, meu coração se alegra em
saber que finalmente a senhora entendeu que a nossa maior riqueza... —
Movo minha mão a colocando em seu coração. — está aqui, no seu coração,
dentro de você. Não mude por ninguém, faça isso por você. A vida é curta
para deixar que o passado nós atrapalhe a construir um presente e um futuro
melhor. A senhora faz parte da minha vida agora, e tudo que aconteceu ficará
para trás. Vamos recomeçar levando para nossa vida que sempre podemos
recomeçar e dar um rumo melhor a nossa história.
Depois que nos abraçamos, e todos já estão no ambiente, meu esposo se
levanta e pede a atenção de todos.
— Hoje reuni todos que fazem parte das nossas vidas para comunicar
que em breve chegará o nosso futuro herdeiro, porém tem duas pessoas em
especial que gostariam de compartilhar conosco da felicidade que estamos
sentindo.
Como todos, fico totalmente perdida, mas assim que a porta é aberta e
um casal aparece no meu campo de visão, ao mover minha cabeça para o lado
e ver a expressão da minha mãe e as lágrimas surgindo em seus olhos, soube
de quem se tratavam.
Depois de alguns passos, o casal para próximo onde estamos. Antes que
alguma palavra ecoe no ambiente, minha mãe foi vai até a mulher a sua frente
e a duas que não consegem conter as lágrimas se abraçando. Palavra alguma
pode expressar tudo que elas estão sentido neste momento. Algum tempo
depois, quando se afastaram e kadar já tratou de dizer aos pais dele que o
sheik Nuaimi e sua esposa são meus avós, Haifa yem em suas órbitas azuis
uma grande intensidade refletindo o ódio.
— Boa noite. Acredito que todos presentes já teem conhecimento de
quem somos, no entanto, a mais de vinte e dois anos a minha atitude
ocasionou no maior erro da minha vida, tudo porque achei que poderia
controlar a vida da minha filha e não fui capaz de aceitar a sua escolha.
Fátima Wehbe, a mulher que hoje está na frente de vocês. é a minha filha, a
princesa Aylla, a quem declarei como morta simplesmente por não aceitar sua
união com alguém que não fosse do nosso nível social. Vive durante esses
anos cercado por sentimentos ruins, deixei meu orgulho falar mais alto do
que o amor que sinto pela pessoa que me proporcionou a maior felicidade da
minha vida assim que a peguei pela primeira vez em meus braços. — Ele
caminha, parando na frente da minha mãe, em seguida sua voz novamente
preenche o espaço. — Nada vai apagar as palavras que foram proferidas por
mim anos atrás, nem a dor que fiz você sentir ao afastá-la da sua mãe, porém
durante a visita de Maktoum, e ao ver o quanto o homem que sempre foi
considerado por todos como o próprio demônio do deserto, que se deslocou
de Dubai simplesmente por querer proprorcionar a minha neta o direito de
conviver com seus avós, percebi o quanto o amor é capaz de mudar as
pessoas e que se amamos realmente alguém, o que deve importar não é a
nossa vontade, e sim que o ser amado esteja feliz com a escolha que fez.
Aylla, sua mãe sempre me disse que nunca é tarde para recomeçar, nunca é
tarde para nos arrepender dos nossos erros e aprender com eles a fazer a coisa
certa. Filha, do fundo do meu coração, eu te peço perdão por ter sido egoísta
e não ser o pai que você sempre mereceu.
Se antes as duas mulheres a minha fenter tinham o rosto banhando em
lágrimas, agora somos três, pois ao ouvir as palavras do meu avô, não
consegui conter as lágrimas que tanto estava segurando. Vejo minha mãe o
abraçando e em seguida ele caminha até meu pai, conversando, caminho até
ficar ao lado do meu esposo e agradeço por ele ter proporcionado não só a
mim, mas aos meus avós e a minha mãe esse momento que por causa do
orgulho, mágoa, passou tanto tempo para acontecer.
Depois de muitas lágrimas e desabafo, tudo ocorre na perfeita
harmonia. Minha mãe tem um brilho que nunca tinha visto antes em seus
olhos, que só reflete nos meus.
— Por que você não me avisou que aquela desgraçada era neta do
Sheik Nuaimi?
— Simplesmente porque já sabia qual seria sua reação, e não esperava
que aquele velho maldito e sua esposa estivessem presentes naquele jantar. E
mais ainda saber que Maysun está grávida.
— Um futuro herdeiro será o fim dos nossos planos.
— A não ser que esse herdeiro não tenha um pai, assim possa me
aproximar daquela infeliz.
— Você não está pensando em...
— Maktoum se achou esperto demais, no entanto, sempre foi um idiota
ambicioso e enquanto vocês me deixaram na garagem, tratei de me
encarregar do fim daquele infeliz. Prepare sua roupa, querida irmã, amanhã
iremos a um velório que será o início para colocamos as mãos na fortuna de
Kadar Maktoum e daquela infeliz que cruzou o nosso caminho.
As lágrimas que foram derramadas naquele jantar nem de longe
chegará perto das que vão marcar o dia de amanhã.
O quarto está na penumbra, iluminado somente pela luz fraca que vem
através da porta do banheiro que está entreaberta, incapaz de iluminar a uma
distância grande. É difícil enxergar alguma coisa, a sensação de algo ruim
paira sobre mim. Me movo com cautela, e ao virar a cabeça, meus batimentos
aumentam no ritmo alucinante. Descubro que o espaço ao meu lado da cama
está vazio. Respiro com cuidado para controlar meus batimentos cardiacos,
em seguida me levanto, indo na direção do banheiro e assim que meus olhos
vão ao encontro da banheira, sinto todo o meu corpo paralisar, minha
garganta se fecha, meu coração gela de imediato e minhas pernas estão fracas
ao ponto de ficar petrificada olhando para a imagem dele dentro da banheira
com o corpo todo envolvido pelo líquido avermelhado. Lutando com todas as
forças que ainda me restam, me movo em sua direção e ao constatar que seu
corpo está sem vida, meu mundo desaba, o nó em minha garganta se desfaz, e
a minha única reação é os gritos estrangulados que saem em desespero por
entre meus lábios. Dor. Dor no coração, na alma.
Não! Não! Não...
Acordo sobressaltada, com o coração disparado, me sento e o ar frio da
manhã se infiltra através da fina camisola até a pele úmida de suor. O
pesadelo foi muito realista, a dor que se apoderou da minha alma era tão
intensa e saber que eu poderia o perder só me dá ainda mais a confirmação
que com ele, parte de mim já não existiria, pois um vazio que se instalou
dentro do meu peito era semelhante a uma ferida que jamais será cicatrizada.
Ontem meu ogro, o algoz que me proporcionou os dias mais sombrios que já
vivi, foi o responsável por trazer um dos momentos que ficará marcado para
sempre, não só em minha vida, como dos meus pais, pois saber que a minha
mãe após tantos anos enfim se reencontrou com os seus pais e que toda a
mágoa, rancor e ódio ficaram para trás, não tenho palavras para descrever o
quanto ele — com um único gesto — deu um novo rumo a história da minha
família. Gratidão é a palavra que expressa o que minha mãe, meus avós e eu
sentimento por Kadar Maktoum.
Ouço uma batida na porta, e segundos depois, Tita aparece com o meu
café da manhã que está na enormCe bandeja em sua mão.
— Bom dia, May.
— Bom dia. Você sabe se meu marido está em casa?
— Acredito que algo aconteceu, pois ele saiu do escritório soltando
fogo pelas ventas, indo em direção a garagem.
No momento que ouço as palavras proferidas pela mulher a minha
frente, um arrepio gelado desce pela minha espinha, e novamente, a sensação
ruim paira sobre mim.
Maldição! Não estava em meus planos que essa infeliz iria dar uma de
boa samaritana, porém eu preciso ganhar sua inteira confiança, e em breve,
farei Maysun perceber que a melhor solução será casar comigo, dando ao seu
filho um pai. Falando naquele maldito, espero que a correnteza tenha levado
seu corpo e o jogado na lama, assim os abutres poderiam se fartar daquela
carne podre semelhante a deles. Tive que me colocar a inteira disposição para
ajudar a encontrar o maldito, tudo que não quero é que alguém venha a
cogitar que eu tive algo no acidente que o infeliz sofreu. Por esse motivo,
tratei de eliminar o idiota que fez o serviço, assim como ele foi capaz de trair
Maktoum por algumas migalhas, quem sabe o que faria se meu tio oferecesse
um valor maior caso desconfiasse que tinha algo de errado com o veículo que
seu adorável filho conduzia. Meus pensamentos são interrompidos assim que
o barulho infernal da voz dos malditos vermes enfim vai apaziguando. Olho
para mulher ao meu lado que logo se juntará ao infeliz do seu marido.
Maysun Wehbe Maktoum, terei todo prazer em enviá-la junto com esse
bastardinho direto para o inferno.
Dois meses se passaram desde o dia que recebi a pior notícia da minha
vida. O tempo passou, hoje já estou com mais de três meses de gestação.
Minha rotina se resume em ter os devidos cuidados com minha gravidez e
promover ações que possam ajudar o nosso povo. Embora cercada de todo
luxo, de ter uma sensação de paz tão grande por estar contribuindo para
outras pessoas estarem felizes, eu trocaria toda a fortuna que Kadar deixou
para tê-lo novamente ao meu lado.
Por mais que o tempo passe, a sensação que tenho é que o buraco que
se formou desde o dia em que recebi a notícia da sua morte sempre estará
vazio. É como se parte do meu coração deixou de funcionar, embora eu sei
que isso não é possível, porém é desse jeito que me sinto com uma ferida no
meio do peito, que por mais tempo que passe, ela nunca será cicatrizada. A
dois dias atrás minha mãe passou o dia todo comigo e entre os momentos que
estávamos conversando, Tita surgiu em nossa frente, com uma revista
dizendo que eu estava na capa da mesma. Ela me entregou o objeto e se
afastou, minha mãe que estava sentada ao meu lado, ao olhar para a imagem
da revista em minhas mãos, logo fechou a cara. Ela estava com uma
expressão totalmente desconhecida por mim, e antes que eu tivesse qualquer
reação em questionar o motivo, sua voz ecoou no ambiente.
— Por mais que ele seja primo do Kadar, eu não gosto dessa
aproximação. Maysun, está visível através do olhar dele qual é o verdadeiro
interesse por estarr ao seu lado. Kaisar Maktoum te vê como mulher e não
como a viúva do primo a quem ele diz que amava como um irmão. Você do
nada surgiu junto com Kadar Maktoum naquele hospital dizendo que iam se
casar, tanto eu quanto o seu pai a princípio não queríamos essa união, porém
mesmo vestindo uma armadura de homem frio, no fundos dos olhos dele eu
vi um brilho quando foram direcionados a você. Dessa vez eu espero que
você não seja precipitada e tome uma decisão movida pelo impulso.
As palavras proferidas pela mulher a minha frente ecoaram na minha
cabeça. Em hipótese alguma cogitei em ter algo com Kaisar ou qualquer
outro homem. O único homem que terá espaço em minha vida e para quem
eu irei dedicar todos os meus dias será o meu filho, já que assim como a
minha mãe, tenho certeza que será um menino e espero que seja fisicamente a
cópia fiel do único homem que vou amar até o fim dos meus dias. Saio dos
meus devaneios quando vejo seus lábios se moverem, e antes que ela volte a
dizer alguma coisa, minha voz se fez presente.
— Mãe, eu sempre vi Kaisar como primo do homem que amo. Se
tivesse essa hipótese em querer seguir em frente e me dar outra oportunidade
para conhecer alguém, jamais seria ele. Não penso e nem quero ter outro
homem em minha vida que não seja o meu filho.
— Você é nova e tem ainda toda uma vida pela frente, mas eu sei que
quando encontramos a pessoa certa, que é capaz de fazer nosso coração bater
mais forte, que provoca sensações que palavras não são capazes de explicar,
nem mesmo a morte será capaz de nós fazer esquecer. No entanto, fico feliz
em ouvir suas palavras em relação aquele homem, nunca fui de fazer
julgamento de ninguém, mas algo nele me intriga.
De alguma forma, as palavras dela despertaram em mim algo que
nunca senti antes. Nunca tive motivos para ter alguma desconfiança em
relação a ele, porém, se tem uma pessoa nesse mundo que eu conheço que
nunca foi de fazer julgamento de ninguém. foi a minha mãe, pois até
Maktoum ela não sentiu nenhuma empatia, até porque com a minha família
ele sempre mostrou a sua outra face, aquela que ele tratou de esconder
quando estava comigo me mostrando somente seu lado sombrio.
Meus pensamentos são interrompidos quando ouço a voz de Tita, e
para minha surpresa, ela me informa que Kaisar está na sala me esperando,
que segundo ela, ele trouxe alguns mantimentos para serem doados no
próximo multirão que vai acontecer. Respiro fundo e caminho em direção ao
homem que está me aguardando .
Chegou a hora de deixar as coisas bem claras a Kaisar.
Assim que chego na sala, onde pedi a Tita que permanecesse no local,
ele logo me cumprimenta, em seguida, a voz do homem logo se faz presente.
Ele trata de falar sobre a imagem que saiu na capa da revista. Minutos depois,
quando Tita foi pegar um copo de água que o mesmo pediu, assim que ela
some do nosso campo de visão, a voz dele novamente se faz presente.
— May, eu sei que não está sendo fácil tudo o que você está passando,
ainda mais sendo tão nova e grávida de um filho que o pai morreu. — Ele fez
uma pausa. Sinto um nó se formar em minha garganta no mesmo instante que
meus órgãos internos começam a funcionar no ritmo frenético. Volto minha
atenção quando ouço novamente a sua voz. — No entanto, por mais que eu
venha tentando evitar, está cada vez mais difícil esconder o sentimento que
eu tenho por vo…
— Pare!
Eu nem deixo que ele termine de proferir suas palavras, pois a raiva
está me incendiando por dentro.
— A única coisa que eu tenho a dizer a você ou a qualquer outro
homem, é que Kadar Maktoum pode não estar mais entre nós, porém ele está
vivo e bem guardado no lugar que nem um outro homem além do nosso filho
poderá entrar. Meu corpo, meu coração e minha alma pertence ao único
homem que amei na vida e não importa se ele não está aqui, esse sentimento
que se tornou ainda maior, que arde e me queima por dentro, nada e ninguém
poderá destruir. Então, se você não consegue esconder o que sente por mim, é
melhor se manter bem distante, pois eu nunca irei ter nada com você.
Seus olhos estão em um tom mais escuro. Ódio, raiva. Por mais que ele
tente disfarçar, estão visíveis em seu olhar. Logo Tita adentra o ambiente, e
para minha total surpresa, que me deixa um tanto intrigada, a expressão dele
muda rapidamente, pedindo desculpa em seguida, dizendo que foi um
equívoco, pois faria tudo para manter em segurança a família do homem que
sempre teve como irmão.
Depois da cena que vi na minha frente, várias coisas se passam na
minha cabeça. Terei que deixar de ser a velha Maysun Wehbe e agir como a
esposa do temido Kadar Maktoum. De hoje em diante, Jamil, que sempre foi
o homem de confiança do meu esposo, estará ao meu lado, será o meu
homem de confiaça. Se Kadar confiava tanto nele, tenho certeza que fará de
tudo para proteger o meu filho.
Enquanto isso.
Os dias passaram voando e o meu filho já está com seis meses. Palavras
não são capazes de explicar o misto de sensações vividas durante os dias,
semanas e meses ao lado da minha família. Maysun me completa em todos os
sentidos, somos como água e óleo, no entanto, o nosso amor é o ingrediente
capaz de nós unir em um só.
Sei de toda a sua trajetória durante os meses que esteve no vilarejo,
onde vivenciei de perto toda miséria vivida pelo nosso povo. Embora meu pai
seja o governante e autoridade máxima em Dubai, nunca demostrou interesse
pelo bem-estar da população que vive fora do centro da nossa cidade, que não
tem uma alimentação adequada, que a saúde é precária e muitas vidas são
perdidas — tanto de idosos, jovens e crianças — simplesmente porque a
pessoa que deveria estender a mão ao seu povo virou as costas. Sendo
conhecedor do trabalho que uma simples mulher foi capaz de fazer, não
poderia deixar que sua luta, dedicação e esforço fosse jogado pelo ralo, por
esse motivo resolvi que nessa data tão especial que meu filho amado está
completando mais um mês de vida, darei a mulher da minha vida o presente
que tenho certeza que será apreciado não somente por ela, mas por todo o
povo que sempre almejou por esse momento.
— Já estamos prontos.
Ela caminha na minha direção com o nosso pequeno em seus braços,
ficando a centímetros de distância, puxo-a para mais perto de mim, e antes
que minha mulher cogite em ter qualquer reação, a beijo profundamente,
porém o estrondo do grito estrangulado de um ser tão pequeno e ciumento
preenche o ambiente, e só para de chorar quando nos separamos. O pego em
meus bracos e logo nossos olhos se encontram.
— Filho, você não pode ter ciúmes do papai quando estiver com a sua
mãe, mas já tem que ficar de olho desde pequeno se alguém olhar para a
mulher das nossas vidas. Você sabe que só divido ela com você. — Olho para
minha atrevida que está com uma carranca em sua face e logo se pronuncia.
— Ele é só um bebê e você não pode ficar dizendo essas coisas na
frente dele, se não ele será a sua cópia.
— Habib, se depender de mim, será muito mais do que uma cópia.
Antes que eu tenha qualquer reação, ela estende suas mãos pegando o
nosso filho. Um sorriso perverso se forma em meus lábios, após o ocorrido,
deixamos o ambiente caminhando pelo corredor em direção a garagem.
Depois de quase uma hora enfim chegamos ao nosso destino, Maysun
está distraída com Ahmed que acaba não percebendo que o veículo já parou a
um certo tempo. Ela segura o nosso filho ao sair do automóvel, e no
momento que seus olhos vão de encontro ao hospital, minha esposa fica
completamente imóvel e logo as lágrimas surgem em sua face, assim como
uma multidão se faz presente, incluído os meus sogros e o pequeno Burak.
Ela está emocionada, parece não acreditar no que está acontecendo, em o
momento que é retirado o tecido que estava em volta da faixada do hospital,
revelando o novo nome do mesmo que durante todos esses meses passou por
uma grande reforma em sua estrutura, — ganhando não só novos
compartimentos, como mais equipamentos de alta tecnologia, uma farmácia
completamente abastecida e seu quadro de funcionários renovado —,
Maysun sai do estado estático que se encontra, ouvindo a voz do povo ecoa
preencher todo o espaço.
—Viva ao Hospital Maysun Maktoum. Viva a nossa princesa do
deserto! Viva!
Toda alegria em volta do lugar só aumenta quando vários caminhões
chegam e logo toda a equipe que havia contrato, liderada por Jamil e os meus
homens, começam a organizar uma enorme fila e todos os mantimentos em
forma de cestas básicas começam a ser distribuídas em grande quantidades.
Meus sogros logo se aproximam deixando minha esposa completamente
perdida quando sua mãe fala que irá sentir saudades, Maysun se vira na
minha direção e antes que ela se pronuncie, minha voz ecoa:
— Tudo que você precisa saber é que dentro de uma hora iremos
decolar no nosso avião que já está nos aguardando.Tudo que vamos precisar,
incluindo as coisas do Ahmed, já estão no porta-mala do carro.
Mesmo surpresa ela não questiona, aproveita os últimos minutos para
cumprimentar o povo e se despedir da sua família. Minha sogra está com o
rosto banhado em lágrimas ao se despedir do nosso pequeno. No tempo
programado, chamo minha esposa e Tita, que logo entra com Ahmed,
enquanto puxo Maysun e ficamos próximos ao veículo.
— Para onde estamos indo?
— Para nossa ilha na Grécia. Chegou o momento de proporcionar a
minha mulher a lua de mel que ela merece, e não poderia ser mais perfeito do
que ter o nosso pequeno ao nosso lado.
Seguro em sua cintura fazendo nossos corpos se colarem um no outro.
A abraço, sentindo o calor do seu corpo, virando a cabeça, colo seus lábios
lindamente esculpidos aos meus, enfiando minha língua na sua boca,
provocando a sua com lambidas aveludadas. Ela geme dentro da minha boca,
um som erótico de prazer que reverbera dentro de mim. O beijo vai se
tornando mais profundo , as línguas vão se encontrando, nossas respirações
se acelerando e entre sussurros, sua voz se faz presente.
— Eu amo você. — Ela diz.
— Eu também amo vocês, minha atrevida, minha esposa.
Pouco mais de quatro anos se passou desde que um simples olhar
mudou a minha vida, e confesso que não foi fácil tudo o que passamos para
hoje chegar até aqui. Aprender a perdoar o que os outros nos fizeram é o
primeiro passo para vivermos em paz com nós mesmos.
Por vezes custa muito aceitarmos a realidade da vida, lutamos para que
tudo seja perfeito e acabamos percebendo que poucas coisas são como
esperamos.
Sentiremos ao longo do tempo que tudo muda e que aqueles que nos
são importantes também. Perceber a imprevisibilidade da nossa existência faz
de nós humanos mais estáveis. Nada estranharemos à medida que formos
crescendo e acumulando mais experiência.
— Vamos, Habib, todos já estão nos esperando.
Seguro na mão do amor da minha vida e juntos caminhamos em
direção ao enorme corredor que nos dará acesso ao grande jardim, onde a
festa está acontecendo. Hoje o nosso pequeno Ahmed completa mais um ano
de vida, precisamente três anos em que o maior presente que a vida nos deu
vem iluminado a cada dia os nossos corações.
Ao chegar no ambiente, todos os nossos familiares estão presentes, os
meus sogros, a minha família, Jamil e sua esposa Latifa, a minha fiel amiga
Tita e os meus avós que vieram compartilhar desse momento tão especial. A
festa está linda, muito bem decorada e alegre. Assim que nota nossa presença,
meu príncipe vem correndo na nossa direção e como já esperado, o sapeca se
joga nos braços do pai. A ligação entre os dois é impressionante, meu esposo
embora ainda seja um troglodita mesmo após tudo que passamos, ainda tem
um lado sombrio que jamais deixará de existir, esse mesmo homem a quem
considerava o próprio demônio que nasceu no deserto, me mostra a cada dia
que além de um bom marido, é um pai maravilhoso. Perto de Ahmed a
armadura dele simplesmente caí no chão, seu sorriso sempre está presente e o
brilho em suas órbitas negras ao olhar para nosso pequeno reflete o quanto o
coração que era impenetrável foi atingindo pelo sentimento maior de tudo
que existe, o amor.
As horas seguintes são perfeitas, e no momento de cortar o bolo,
Ahmed logo se pronuncia pegando o pequeno prato que já tem um pedaço, e
ao perguntá-o para quem ele dará o primeiro pedaço, meu esposo logo se
agita achando que ele será o escolhido, porém meu sapeca simplesmente leva
a fatia a boca e em questão de segundos o devora fazendo todos sorrirem ao
verem que mesmo amando o pai , quando se trata de comida, ele sempre
escolhe a si mesmo. Após horas e horas ao lado das pessoas que amamos, aos
poucos a nossa família se despede, restante somente eu, meu esposo e nosso
filho.
Meu príncipe após a tarde agitada que teve cai em um sono profundo.
Aproveito e tomo um banho, escolho uma camisola de seda branca e vou até
o primeiro andar, onde meu esposo se encontra. Enquanto me aproximo, a
música que se tornou única para nós dois ecoa no cômodo, em passos largos
vou na sua direção, e ao ficar na sua frente, as mãos de Kadar se envolvem
em torno da minha cintura, me puxando de encontro ao seu corpo. Todo meu
corpo fica em total alerta pelo que irá acontecer, Kadar logo toma os meus
lábios em um beijo que quase rouba a minha alma, suas enormes mãos
deslizam por toda extensão do meu corpo. Ainda nos beijando, trato de tirar o
cinto das suas calças, colocando minhas mãos dentro dela e alçando seu
membro que já se encontra duro e quente, fazendo a minha intimidade latejar
em expectativa, mas assim que ele ia levantar a minha camisola, alguém
adentra aos gritos na sala, fazendo-me puxar de imediato a minha mão do
meu objeto de prazer favorito.
— Me salva papai, o bicho papão quer me pegar. — Entra na sala
assustado.
— Filho, a mamãe já explicou que não existe bicho papão.
— Tem sim mamãe, eu vi.
— Você teve um sonho ruim, mas já passou. Nós vamos lá no seu
quarto e o papai, que é grandão, vai colocar ele para correr.
— Tá, mas eu vou dumi com o papai e a mamãe. O bicho pode voltar
quando eu estiver mimindo.
Já sabendo que os nossos planos para essa noite terão que ser adiados,
meu esposo se levanta.
— O papai vai na frente.
— Você protege sua mamãe, está bem?
— Tá bom papai. — Diz e antes que tenhamos qualquer outra reação,
ele pega o cinto que estava até então no chão.
— Para que isso filho? — Meu esposo pergunta.
— Para bater no bicho, papai, se ele vier para cima da mamãe. — Não
aguentamos e caímos na gargalhada.
Subimos a escada e depois de mostrar ao nosso pequeno que não tem
nada em seu quarto, o manhoso ainda sim insiste em dormir com a gente.
Minutos depois deitados em nossa cama, com nosso bem mais preciso em
nosso meio, um turbilhão de pensamentos passam em minha mente. Faço
uma reflexão de tudo que passamos, e nesse percurso, aprendi que a
verdadeira sabedoria está em sabemos lidar com tudo o que o dia a dia nos
reserva, tirando proveito daquilo que realmente vale a pena. Olho para os
dois homens ao meu lado que são o maior presente que a vida me deu. A
minha família.
Sem dúvidas, eu daria a minha vida pela felicidade deles e não me
arrependeria por momento algum. Por mais dolorosos que sejam certos
acontecimentos, eles sempre nos ensinarão algo e nunca serão em vão.