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1ª Edição
Todos os direitos reservados à autora, desta forma é proibido o armazenamento e/ou a reprodução de
qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios, tangíveis ou intangíveis, sem o consentimento escrito
da autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184
do Código Penal.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos que aqui serão descritos, são
produto da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
— Não quero ficar trancada no quarto dele, não posso ficar trancada no
seu? — pergunto esperançosa.
— Adoraria mantê-la presa não só no meu quarto como na minha cama,
mas ainda tenho amor a minha vida. Se ele mandou te trazer até aqui é porque
você não é uma simples prisioneira. — Abre a porta do quarto forçando a minha
entrada.
Respiro profundamente sabendo que aquela conversa não chegará a lugar
algum.
— Apenas uma dica senhorita Trion. Não destruía está porta como fez
com a antiga, isso seria a mesma coisa de assinar sua própria morte. — Fecha a
porta, mas a abre rapidamente novamente. — Só mais uma coisa. Eu gostei de
você, tenho certeza de que Max e Royal também gostarão. — Pisca trancando a
porta com a chave ao sair.
Fico paralisada olhando para porta, eu não acredito que serei obrigada a
ficar neste quarto.
Talvez eu devesse ter me comportado no porão, mas parando para pensar
aqui pelo menos eu tenho um banheiro onde finalmente posso tomar banho.
Olho em volta e tudo está perfeitamente arrumado no seu devido lugar.
Observo o céu escuro pela janela do quarto indicando que é noite. O
relógio sobre a escrivaninha marca onze horas, e provavelmente faz dois dias
que estou trancada aqui. Robert a essa altura deve estar extremamente
preocupado sem notícias minhas.
Suspiro andando até a primeira porta que vejo, abro e encontro o seu
closet, ao adentrar o cômodo as luzes se acendem revelando seus ternos, camisas
e sapatos caros muito bem alinhados e enfileirados.
Eu poderia picotar todos esses ternos com uma tesoura, seria algo
extremamente infantil e imensamente prazeroso, mas dispenso essas ideias pois
reconheço os meus limites.
Fecho a porta a minha frente e caminho até a próxima onde há um lindo
banheiro e isso é tudo o que eu preciso no momento. Sem pensar duas vezes
retiro minhas roupas, deixando-as sobre a pia. No local há uma convidativa
banheira, mas a necessidade de sentir a água escorrer pelo meu corpo faz com
que me jogue embaixo do chuveiro sem muitos rodeios.
Tomo um demorado e relaxante banho, deixando a água quente passar
pelo meu corpo cansado. Estou me sentindo imunda, então faço questão de lavar
minuciosamente cada parte do meu corpo, principalmente os meus cabelos que
estão com terríveis nós emaranhados.
Depois do banho procuro uma escova de dente e um pente, por sorte acho
na última gaveta junto com outros produtos masculinos.
Saio do banheiro enrolada em uma toalha. Como não tenho nenhuma
roupa aqui e meu vestido já não pode mais ser utilizado sigo para o closet certa
que encontrarei alguma peça feminina.
Reviro todas as gavetas em busca de algo feminino e não encontro
absolutamente nada. Cansada de procurar, pego uma de suas camisas brancas e
visto não me importando se ele vai gostar ou não.
Já é tarde e meu corpo implora por uma cama macia e confortável, mas
meu orgulho não quer ceder a possível ideia de me deitar na mesma cama que
esse homem odioso.
Respiro profundamente observando àquela cama chamativa e confortável
e acabo deixando o cansaço vencer minhas razões. Sem pensar muito me deito e
ao encostar a cabeça nos travesseiros o familiar cheiro do seu perfume invade
meus sentidos trazendo boas e más recordações, e assim acabo pegando no sono
rapidamente.
Colin solicitou minha presença na matriz das empresas Voyaller que está
localizada em Roma. Apensar de ser dono do porto também comando outros
negócios legais dentro da Itália. O único problema é que não tenho tempo de
atender a toda essa carga horária que me cerca, por isso homens de confiança
assumem meu lugar e comandam meus negócios enquanto Jack se encarrega de
ver o andamento dos lucros e baixas de cada empresa.
Com a Nosdragja nós perseguindo, não posso fazer uma viagem até
Roma, preciso descobrir o que eles estão planejando. Não me preocupo com seus
homens em si e muito menos com seu chefe, mas precauções nunca é demais e
saber a quem eles andam se aliando é de extrema importância. Sendo assim, sou
obrigado a resolver todos os problemas de Colin por uma chamada de vídeo,
afinal, meu foco principal é o porto e a máfia 371, já que as outras empresas só
encobrem nossas sujeiras.
Sigo com meu Jaguar até Pádua onde se localiza o galpão E3 e, confesso
que sentir o vento em meu rosto enquanto dirijo é realmente reconfortante e traz
paz ao meu coração. Uma paz que eu não costumo ter diariamente.
Depois de alguns minutos de viagem da mansão que fica nas localidades
entre Veneza e Pádua estaciono em frente as portas de ferro do galpão que está
localizado em uma fazendo mais afastada da cidade. Alguns dos homens do
batalhão de Royal me esperavam como o combinado, suas posturas rígidas me
fazem sorrir. Royal não é um treinador bondoso e não aceita falhas dentro do seu
batalhão.
Passo por eles e faço questão deixá-los assistir o que acontecem com
traidores, pois somos uma só família e a nossa função é protegem uns aos outros
não trair nossos irmãos.
— Entrem e apreciem — ordeno a todos antes de continuar.
Passo pelas portas e meu corpo vibra ao ver o homem seminu
dependurado de costas pelos braços no meio do galpão. Vergões vermelhos se
espalham por seu torço, sinais de uma possível tortura, mas me sinto satisfeito
em saber que ele está praticamente intacto para minhas brincadeiras.
A mesa com os equipamentos já está posta à minha espera e ao lado uma
caixa com charutos cubanos, o que me faz sorrir. Me aproximo da mesa e sem
pressa acendo um charuto tragando-o com calma. Observo cada utensílio com
cuidado deixando as ideias borbulharem minha mente e suaves tremores de
excitação tomam o meu corpo.
Caminho lentamente pelo salão girando o isqueiro entre os dedos, solto a
fumaça preza em meus pulmões em uma única lufada parando um frente ao
homem que leva o nome da Nosdragja no bíceps esquerdo.
Seus olhos mal focam em mim, mas o susto faz com que se debata nas
correntes tentando se soltar.
— Dante Voyaller — sussurra meu nome erguendo uma sobrancelha ao
me encarar melhor.
— Para você, Dragão de Veneza. — Retiro meu casaco e meu terno
jogando-os sobre a poltrona que fica próxima à mesa.
O desespero e a surpresa em seu olhar me fazem sorrir ainda mais, esse
homem me trará muita diversão. Levo meu charuto aos lábios o observando.
— Quem diria... Dante Voyaller, um empresário bem sucedido e muito
elogiado pela mídia ser o Dragão de Veneza. — Ele ri cinicamente. — Que
mundo pequeno — murmura.
— Isso mostra que não devemos confiar em ninguém. — Solto o ar
fazendo a fumaça do charuto chegar até ele.
Retiro minhas Taurus gêmeas da cintura analisando-as com calma.
— Poucos que conhecem minha verdadeira face estão vivos Draga — o
chamo pelo nome que os integrantes de sua gangue costumam usar para tratar
seus irmãos.
— Não me chame assim você não tem esse direito. — O desprezo fica
explicito em seus olhos.
— E você acha que tem o direito de roubar minhas cargas? — Rio com
ironia. — Se quer ser respeitado pela 371 faça por merecer. Agora roubar as
minhas cargas é burrice demais. — Observo meu charuto vendo as pequenas
fagulhas de fogo consumir o papel.
Seguro uma das minhas Taurus a girando entre os dedos hora ou outra e
percebo que seus olhos focam nelaassustados. Aponto para sua cabeça mirando
bem no meio da sua testa, mas seria uma morte rápida demais.
— Sinta-se privilegiado, pois poucas pessoas conhecem essas belezinhas
pessoalmente e você não terá só a chance de olhá-las, mas terá também o prazer
de senti-las. — Passo os dedos pelo cano negro sentindo os pequenos desenhos
em alto relevo esculpidos em ouro branco acariciar minha pele, enquanto sua
irmã repousa em meu colo.
Não deveria ter orgulho das armas que carrego em minha cintura, mas
isso se torna inevitável quando foram confeccionadas especialmente para você.
A família Voyaller tem a tradição e marca registrada nas armas de seus
membros consanguíneos. As minhas duas armas levam o símbolo da máfia e o
animal que me representa em seu cabo, um dragão envolvo aos números 371 e se
tornaram ainda mais conhecidas por cada membro morto por elas, serem
marcados com o símbolo dos Voyaller.
— Achei que essas armas eram um mito — diz desgostoso.
— Gostou? — Seguro a outra alisando o cano prata sentindo os desenhos
em ouro amarelo brincar entre meus dedos.
Ele não responde minha pergunta e isso só me instiga ainda mais.
— Eu sei que você gostou e anseia para senti-las o quanto antes, mas
ainda não é momento Draga. Iremos brincar muito está noite e você me contará
o que te trouxe até aqui, afinal Fabrizio não costuma ser tão irresponsável. —
Deixo minhas armas sobre a mesa pegando um alicate.
— Jamais contarei algo para você. Eu prefiro morrer — grita frustrado.
— Todos dizem isso. — Seguro o charuto nos dedos suspirando.
— Fabrizio ficará impressionado ao saber que o temido Dragão de
Veneza é Dante Voyaller. — Tenta uma ameaça psicológica me fazendo rir.
— O seu querido chefe está muito abaixo de mim e o máximo que ele
conhece é um dos meus capos.
— Não menospreza quem está por baixo, isso pode ser sua ruína —
cospe as palavras com ódio.
— Não será, pois você irá me contar os planos de seu chefe, sabe por que
Draga? Porque quando um pequeno ratinho despreparado resolve se mover na
toca do dragão significa que ele não consegue se manter calado sobre seus
planos e, sempre os mostra antes do necessário. Esse é o erro dos pequenos, falta
de estratégia e paciência. — Pego um alicate na bancada batendo-o levemente
em sua bochecha rindo.
— Você é nojento. — Tenta me acertar com uma cabeçada, mas falha.
— Obrigada Draga. — Posiciono o alicate em seu mamilo e ele se debate
tentando escapar, me afasto o observando. — Para quem Fabrizio está
trabalhando? — pergunto com calma.
— Morra... — grita com ódio.
— Já que você não irá colaborar, vamos começar nossa sessão especial.
— Pressiono o alicate em seu mamilo esmagando-o sem piedade.
Ele grita e se bate ao sentir a dor, posiciono o alicate em suas unhas
arrancando três unhas de sua mão e quatro do pé. Me levanto limpando minha
mão em pano.
— Pronto para entregar seu chefe? — pergunto observando-o.
— Vai se foder — diz ofegante tentando manter sua respiração calma.
Deixo uma sequência de socos em seu rosto e em sua costela, o sangue
de sua boca escorrer por seu pescoço e ele faz questão de cuspir em minha
direção fazendo seu sangue respingar em minha camisa branca manchando-a de
vermelho.
Respiro profundamente ao ver minha camisa manchada e tento
frustrantemente controlar os níveis de irritação e ódio que me dominam. Seguro
uma corrente entrelaçada em arame farpado batendo-a no chão algumas vezes.
Em um movimento rápido giro a corrente no ar acertando suas costelas,
os espinhos do arame entrelaçado na corrente se cravam em sua pele e ao puxar
sua pele se rasga deixando as feridas abertas. Os seus gritos de dor reverberam
por todo o galpão. Golpeio seu corpo mais duas vezes vendo-o se envergar, já
não conseguindo sustentar o peso do próprio corpo sobre os braços cansados
— Podemos encurtar a conversa Draga. — Solto as correntes no chão. —
Me diga quem mandou você saquear minha carga?
O seu silêncio indica que ele não vai colaborar. Sem muita paciência
seguro uma das minhas armas nas mãos atirando em seus dois joelhos. Encosto o
cano quente em seu peito deixando o símbolo da máfia estampado em seu peito.
Seu corpo estremece devido a e dor e ao cansaço, envolvo dois socos
ingleses em minhas mãos e desfiro vários socos em sua costela. Gritos e gemidos
saem de sua garganta abafados pelo sangue.
— Quem é seu chefe? — pergunto mais uma vez e o silêncio reina, sendo
quebrado apenas pelos gemidos de dor que saem constantes por sua garganta.
Volto até a mesa sorrindo ao ver uma faca de ponta fina, giro a mesma
entre os dedos com habilidade.
— Vou perguntar mais uma vez. — Respiro profundamente. — Fabrizio
não seria tão imprudente a ponto de saquear minhas cargas sem um mandante.
Quem lhe convenceu a saquear minhas cargas? — Semicerro os olhos o
observando.
Seu corpo dependura e sem forças só se mantém em pé devida as
correntes fortes que prendem seus pulsos. Sem a minha desejada resposta cravo
a faca lentamente em seu joelho baleado. Sem preocupação e sem demora brinco
com a faca no local vendo os músculos do seu abdômen se contraírem devido a
dor e os gritos que rompem sua garganta.
— Donzel. — Repete o nome de Donzel diversas vezes entre ofegos.
Agora a brincadeira está ficando interessante. Jogo a faca para o lado
deixando que ele respire e se acalme. Como imaginei Donzel não aceitaria tão
facilmente perder para mim algo que ele está obstinado a ganhar e o que está em
jogo neste momento com toda certeza é Dana, mas quero confirmar minhas
dúvidas com o homem a minha frente.
— Por que saqueou minha carga? — indago limpado minhas mãos em
um pano.
Minha camisa branca está toda respingada de sangue e a raiva que devia
ter diminuído aumenta ainda mais ao ouvir o nome de Donzel.
— Por quê? — Toda aquela demora me tira ainda mais do sério.
Quero ir para casa ver a cópia exata de Ivi deitada sob minha calma como
uma boneca de porcelana.
O galpão é antigo e a fiação de algumas luzes e ventiladores passavam
próximo a nós, puxo os fios mal colocados soltando-os, aproveito o trabalho mal
feito para utilizar a corrente elétrica a meu favor. Encosto a parte desencapada
dos fios em seu corpo deixando a corrente elétrica passar por todo seu corpo.
Retiro os fios deixando que ele respire, pois não quero matá-lo. Mesmo assim
repito o processo três vezes.
Depois de uma descarga elétrica ele finalmente súplica por sua vida.
— Para. — Ofegante luta para se manter consciente.
— Fale de uma vez ou começarei a cortar seus membros. — Seguro uma
cerra ameaçando-o.
— Donzel pediu para criar uma distração e afastar os quatro animais da
mansão — diz com dificuldade.
Permaneço em silêncio esperando-o continuar a sua belíssima história.
— Ele sabe que é impossível aquela casa estar sozinha e a única
possibilidade de isso acontecer séria causando um grande desastre em um dos
seus alojamentos de cargas, mas jamais imaginei que você séria o Dragão de
Veneza. — Respira com dificuldade. — Eu cheguei a acreditar que as histórias
sobre os quatro animais eram invenções de outras gangues, afinal nunca vemos a
verdadeira face dos causadores de tanta desordem e brutalidade. — Tosse
cuspindo sangue pela boca.
— Aprenda uma coisa Draga, não matamos por puro prazer e só
mostramos nossa face quando realmente é necessário. É uma pena que você
esteja pagando pelas imprudências do seu chefe. Diferente dele eu prezo e
estimo a vida de cada um dos meus homens. — Termino de limpar minhas mãos.
— O que mais Donzel queria?
— Vocês têm algo que pertence a ele, mas ele sabe que não conseguirá
enfrentá-los sozinho. — Respira com dificuldade. — Ele não vai parar até
conseguir o que quer.
— Agradeço as informações Draga. — Levanto jogando meu casaco
sobre os ombros, segurando o terno em um dos braços.
— Solte-o — ordeno para um dos seguranças que se mantém próximo a
nós. Ajeito minhas armas em minha cintura.
Sigo para o meu carro com a cabeça cheia. Com Jack tão instável não
considero uma boa hora para Donzel brincar conosco. A muitas coisas
acontecendo de uma única vez para que eu me preocupe com seus joguinhos. Ele
quer Dana em sua posse e isso ele não terá, aquela mulher pertence a mim
mesmo que eu não mereça uma redenção. Ela é a cópia exata da minha Ivi, e não
admitirei perdê-la uma segunda vez.
— Me mate — o homem grita me fazendo parar na porta.
Considero as possibilidades de mantê-lo vivo e deixar que seu chefe o
mate ou acabar com seu sofrimento agora. Como ele colaborou com as
informações que precisava saco minha atirando em sua cabeça.
— Deixe o corpo dele onde Fabrizio possa encontrá-lo e certifique-se de
que ninguém além dele o ache — ordeno e ando caminhando em direção ao meu
Jaguar.
Minha mente borbulha estratégias mesmo que eu queira por um momento
descansar e percebo que acabei passando tempo demais neste local. Em alta
velocidade sigo para mansão sentindo o vento bater contra o meu rosto em
rajadas cortantes bagunçando meus cabelos. Aproveito para respirar
profundamente e deixar que aquele emaranhado de novos problemas se esvaiam
por um momento, pois agora quero apenas pensar na pele aveludada e acetinada
daquela jovem e rebelde mulher que dorme sobre minha cama.
EVA
Ouço barulhos estranhos vindo do andar de baixo, procuro ignorar por ter
certeza que seria impossível alguém entrar nesta casa com a quantidade de
homens que se mantém do lado de fora, mas o som de coisas se quebrando me
deixam intrigada.
São quase quatro da manhã e o senhor manda chuva ainda não apareceu
para me importunar o que agradeço muito.
O silêncio reina no andar de baixo e me sinto tentada a tirar minhas
próprias conclusões. Jogo um robe sobre a camisola que visto e ando
despreocupadamente em direção ao hall de entrada onde ouço o barulho dos
cacos se arrastarem no chão.
Acreditei que encontraria Max, Jack ou Royal no corredor, mas nenhum
deles se fizeram presentes e a porta de seus quartos estão fechadas. Dou de
ombros imaginando que eles provavelmente estão dormindo e volto a andar até
as escadas que me dá a visão do andar de baixo.
Me surpreendo e arregalo os olhos ao ver Jack lutando para se manter em
pé em meio aos cacos de vidro. O belíssimo vaso de flores que enfeita a mesa de
centro do hall de entrada é somente um monte de migalhas brilhantes espalhadas
pelo chão.
Desço as escadas correndo ao ver que a qualquer momento ele vai cair
sobre os cacos e vai se machucar. Apoio minha mão em seu corpo o segurando e
o cheiro forte de álcool que emana de seu corpo me deixa enojada.
— Jack o que você está pensando? — O seguro com dificuldade por ele
ser alto e pesado.
— Não vou me casar, não vou — ele repete a frase embolada diversas
vezes.
— Vamos Jack vou te levar para o quarto. — Apoio seu braço em meu
ombro levando-o para escada com certa dificuldade. Suas pernas bambas não
seguem os comandos de seu corpo e encontram dificuldade para subir.
— Vamos lá Jack só mais alguns degraus. — Acabo amparando-o e
incentivando-o.
Ele resmunga coisas inaudível, mas continua a subir lentamente até
finalmente chegar ao andar de cima. O levo para seu quarto que fica ao lado do
de Dante, o amparo até sua cama e quando ele vai se deitar perde o equilíbrio
jogando todo seu peso sobre meu.
Uma forte pontada em minha costela me faz gemer de dor ao forçar
aquele local mais do que eu deveria, mas felizmente consigo mantê-lo em pé.
Economizando minhas forças e a dor empurro seu corpo fazendo com
que ele se desequilibre e caia sobre a cama.
Jack demora um pouco para perceber que está em um local seguro e
finalmente apoia o braço sobre os olhos, mas quando acredito que ele está
dormindo um fungar me chama a atenção.
— O que foi Jack? — Comovida com a cena na minha frente, sinto meu
peito se apertar e quero arrancar toda a dor desse homem.
Eu sei que não deveria me envolver tanto com essa família, sei que não
devo dançar de acordo com a música que envolve cada um deles, mas a verdade
é que já me embalei na sinfonia de suas almas e agora só quero compreendê-los.
Com dificuldade ele apoia as mãos no lençol se sentando sobre a cama.
Seus intensos olhos azuis estão perdidos, emergidos em mágoa, desespero e
solidão sem um único brilho de esperança.
Movida pela compaixão apoio minha mão em seus cabelos acariciando
os fios sedosos e suados com calma.
— Sana você também me odeia? — Ele embola as palavras errando meu
nome.
— Jamais te odiaria Jack — falo com sinceridade e calma.
Emburrado choraminga palavras que não compreendo esfregando os
olhos com os dedos.
— O que aconteceu? — Forço ele olhar para mim e por incontáveis
minutos ele me observa silencioso.
Seus braços se envolvem em minha cintura e sua testa repousa em meu
abdômen. Seu contanto tão íntimo e repentino me surpreende, mas procuro me
manter quieta deixando que ele receba o carinho que não costuma ter nesta casa.
— Odeio meu pai. — Suas mãos se apertam em minha roupa e o ódio
explicito em sua voz me faz compreendê-lo.
— Todos os seus irmãos odeiam Jack. Você não precisa se culpar ou se
julgar por isso. — –Acaricio seus cabelos negros com calma.
— Quero ir embora, mas a pessoas importante que preciso proteger. —
Ele suspira pesadamente.
— O que seu pai fez a vocês? — Continuo a passar meus dedos por seus
cabelos macios.
— Muitas coisas. — Sorri desgostoso. — Muitas coisas ruins —
murmura.
O ódio que sinto de Donatel se eleva e a vontade de colocar minhas mãos
nele me domina fazendo com que eu feche os punhos com força.
Escuto Jack resmungar e somente agora percebo que estou puxando seus
cabelos com certa força. Respiro profundamente apoiando minhas mãos em seus
ombros.
Donatel pagará por tudo o que ele fez. Respiro profundamente voltando
minha atenção a Jack.
— Não faço ideia do que ele possa ter feito, mas você não pode fugir e
abandonar seus irmãos Jack. Vocês não podem deixar que ele consiga desunir
vocês. Seja forte Jack. Eu sei que é difícil para você, mas não se esqueça que ela
também está sendo forçada a se casar. — Me afasto um pouco apoiando minhas
mãos em suas bochechas fazendo ele me olhar nos olhos.
Pensativo e incerto ele assente me observando.
— Você está certa. — Suspira derrotado.
— Eu sei que estou. — Pisco para ele rindo.
Repentinamente ele tenta se levantar e quase cai de cara no chão, forço
ele a se deitar novamente e tento mantê-lo quieto.
— Eu gosto de você. — Sorri com sinceridade se virando sobre a cama e
sem demora ele pega no sono.
Ver um homem como ele chorar é algo muito difícil, pois são homem que
se trancam em seus próprios mundos e não deixam ninguém de fora invadir sua
bolha protetora, mas Jack aceita e permite que eu entre em seu mundo sem se
preocupar com o que pode acontecer.
Cada um deles levam tristes cicatrizes do passado que o tornam ainda
mais fechados e resistentes. Comovida com seu estado crítico tanto físico quanto
mental. Retiro os seus sapatos os deixando do lado da cama, desabotoou seu
terno e sua camisa deixando que ele durma mais à vontade.
Sei que é errado fazer isso, mas vou aproveitar o momento único que
tenho em seu quarto para procurar por papeis que possam esclarecer minhas
dúvidas.
Sorrateiramente procuro em todas as gavetas e a única coisa que acho é
um álbum de foto antigo que contém fotos de todos quando eram pequenos.
Sorrio ao ver a alegria estampada no rosto dos quatro o que hoje é
impossível de se ver.
Na maioria das fotos os vejo sozinhos, mas em uma delas posso ver a
mãe deles e havia me esquecido da beleza natural e juvenil de Antonela.
Ela era uma mulher maravilhosa, glamorosa e sofisticada, mesmo que ela
estivesse em seu pior dia o sorriso doce em seu rosto escondia qualquer tristeza e
dor.
Em nenhuma das fotos vejo Antonela com Jack e, não sei dizer o que
pode ter acontecido. É um álbum aleatório que contém várias fotos de épocas
diferentes. Vejo também uma mulher parecida com Antonela e não lembro de
vê-la na mansão.
Me sinto em um verdadeiro labirinto quando se trata dos irmãos de
Dantes, pois a única pessoa que lembro nesta casa é ele, seu pai e Teresa.
Respiro profundamente ao passar pelas fotos e percebo que ao longo dos
anos o sorriso e a felicidade se apagam dos rostos de cada um dele.
Guardo novamente o álbum onde encontrei e observo a guitarra ao lado
da cama. Este é realmente o estilo de Jack. Acabo rindo e procuro deixar tudo
arrumado como estava para não perceberem minha invasão de privacidade.
Antes de sair do quarto, olho Jack mais uma vez e espero que ele possa
deixar essa moça entrar em seu coração e curar as suas feridas abertas que
sangram dia após dia.
Ao sair trombo com uma parede de músculos que cheira a sangue seco.
Me afasto observando Dante e ergo a sobrancelha ao olhar sua camisa toda
respingada de sangue. Seus olhos não nega o desgosto de me ver saindo do
quarto de seu irmão.
— O que faz no quarto de Jack? — diz grosseiramente.
— Nada que lhe interesse. — Cruzo os braços o ignorando. — Aliás
você deveria tomar um banho. — O meço de cima a baixo com desdém.
Seus olhos intensos e inexpressivos não permitem que eu leia os seus
pensamentos ou os movimentos de seu corpo. Para evitar uma briga tento passar
por ele, mas suas mãos me impedem de continuar.
— Dante... — Ele interrompe colando os lábios nos meus, enfiando sua
língua dentro da minha boca sem que eu tenha tempo para pensar.
Resmungo o empurrando pronta para acertá-lo com um soco, mas suas
mãos fortes são mais rápidas me imobilizando contra a parede.
Forço meu corpo contra o seu na tentativa de afastá-lo, mas seu corpo
musculoso me prende contra a parede fazendo com que sinta sua ereção contra
minha barriga.
Eu o odeio tanto, mas quando ele força uma proximidade tão grande não
consigo ignorar meus sentimentos e o meu corpo traidor responde
descaradamente aos seus toques e beijos. Colocando minhas razões acima dos
meus sentimentos mordo seus lábios com força fazendo ele se afastar passando a
língua nos lábios.
— Você está fedendo a sangue — falo irritada empurrando-o.
Me afasto o mais rápido possível e me desvencilho de seus braços que
tentam mais uma vez me segurar, seus olhos transbordam desejo e o acabo
ignorando.
— Vou limpar a bagunça de Jack no andar de baixo. — Tento passar, mas
seu corpo me impede de prosseguir.
— Você vem comigo pro banho. — Seu sorriso me faz revirar os olhos.
Esse homem consegue tirar qualquer um do sério somente com algumas
palavras e ações, mas ele também consegue me levar a loucura da mesma
maneira e percebo que meu jogo se torna a cada dia mais perigoso.
Já não posso mais confiar no meu corpo traidor, preciso que Teresa
encontre os papeis com o contrato de meu pai o quanto antes.
Dante
Observo a mulher a minha frente e não consigo controlar os desejos
desenfreados que percorrem meu corpo. Dana tem um poder sobre mim que
desconheço e me preocupa. Ela me seduz, suas curvas me tirando o fôlego e o
que mais me irrita é que tudo nela lembra minha preciosa Ivi, até mesmo o
cheiro natural de sua pele, mas chegar em casa e vê-la sair de dentro do quarto
de Jack com o cheiro amadeirado de seu perfume impregnado em seu corpo me
irrita mais do que deveria.
— Você chega fedendo a sangue e quer mandar em mim? Por favor
senhor Voyaller, me respeite. — Sua voz autoritária me instiga ainda mais.
Ela não me teme e adora me desafiar.
Vendo que não se livraria de mim tão facilmente, segue de braços
cruzados para o quarto com uma expressão irritada. Seus quadris fartos
balançam sensualmente. Esse lado selvagem só me instiga ainda a domá-la e tê-
la apenas para mim.
Descido a vê-la se desmanchar em meus braços caminho em direção ao
quarto atrás dela. Ela já está deitada coberta até a cabeça, mas seus olhos
raivosos seguem todos os meus movimentos com cuidado.
Retiro minhas armas da cintura depositando-as sobre a cômoda, logo em
seguida faço o mesmo com minhas roupas lentamente deixando que seus olhos
curiosos sigam meus movimentos.
Ao me ver completamente nu, se deita de costas para mim evitando me
olhar.
Aproveito esse momento para puxar as cobertas de seu corpo puxando
seu corpo de encontro ao meu. Em um movimento rápido ela acerta uma
joelhada em minha costela e aproveito esse momento para travar suas pernas a
jogando sobre meu ombro.
A força levo-a para o banheiro, ignoro completamente seus gritos e seu
ataque de raiva, pois sei que seu corpo quer o mesmo que eu.
Aproveito para morder sua bunda que está bem próxima ao meu rosto e
recebo uma cotovela na coluna que provavelmente vai me render dores amanhã.
— Eu juro que vou te matar enquanto você dorme. — Luta bravamente
para se desvencilhar de meus bravos.
Mesmo recebendo pancadas constantes em minhas costas a posição que
ela está desfavorece seus ataques. Entro no box e ligo o chuveiro molhando a
nós dois e depois de minutos lutando ela desiste ofegante.
Deixo seu corpo molhado escorregar pelo meu parando em minha frente,
apoio minha mão em seu rosto fazendo ela olhar em meus olhos.
— Acabou o ataque de raiva? — pergunto erguendo uma sobrancelha.
— Eu espero que você morra. — Ameaça de me dar uma cabeçada, mas
para ao sentir meus dedos se enrolarem em seus cabelos.
— Eu gosto dessa selvageria. Me excita — sussurro em seu ouvido.
— Te odeio — murmura, mas o tom de desejo explícito em sua voz me
indica que venci por hoje.
— O Cheiro de Jack está em seu corpo e isso me irrita. Você é minha. —
Passo as mãos em seus cabelos molhados que caem sobre os seus olhos.
— Não sou sua. Não sou de ninguém. Eu não pertenço a você. — Ela
apoia a mão sobre o meu peito me afastando sem brutalidade.
— Enquanto estiver aqui senhorita Dana. É minha e ninguém tem o
direito de te tocar a não ser eu. Espero que Jack não tenha tentado nada, senão...
— Ela me interrompe irritada.
— Me poupe das suas ameaças senhor Voyaller. Jack chegou bêbado por
sua culpa e só fiz o que me pediu, lhe ajudei. E só para deixar claro não te devo
satisfações, você nem mesmo é meu chefe, afinal não me aceitou na máfia. —
Franze as sobrancelhas focando seus olhos em meu rosto para evitar meu corpo
nu.
— Sagaz... — Sorrio.
— Sempre — ela rebate.
— Mesmo que se negue a aceitar seu corpo se entrega aos meus toques
— sussurro próximo ao seu ouvido a observando.
— Mesmo que meu corpo lhe queira, isso não te dá o direito de me tocar.
— Seus olhos faíscam irritados e raivosos.
— O que você esconde Dana? — pergunto inquieto. — Por que está
aqui? Eu sei que se mantém nesta casa por livre e espontânea vontade. Você é
forte e poderia exigir sua liberdade de várias maneiras, mas não o faz. —
Observo atentamente suas reações e uma expressão de dúvida e incerteza se
instala em sua face. — Eu não sou bobo Dana, sei que quer algo de mim, mas
ainda não descobri o que.
Ela tem capacidade suficiente para colocar meus homens para dormir por
horas. Seus movimentos são graciosos, leves e certeiro. A harmonia de seu corpo
com a luta parece fazer parte dos seus genes, da sua linhagem, ela é única, por
esses motivos ordenei que meus homens usem armas com tranquilizantes caso
seja necessário, pois não quero machucá-la.
— O que quer de mim? — ouso perguntar e um sorriso surge em seus
lábios.
— A princípio queria minha tão sonhada vingança. Já lhe expliquei os
motivos. — Desliga o chuveiro deixando apenas a fumaça da água pairar sobre o
ar. — Agora quero descobrir mais sobre você e seus irmãos. Entender o que faz
vocês serem tão fechados e solitários, então me deixa entrar no seu coração
Dante. — Seus olhos esperançosos me enviam uma estranha sensação de paz
algo que não sinto a muito tempo, mas por outro lado meus instintos me mantém
alerta.
— Meu coração é um lugar sombrio Dana. Não há nada de bom nele. —
Junto as sobrancelhas sentindo o peso da culpa pesar em meus ombros.
— O verdadeiro problema senhor Voyaller é que você não confia em
mim e eu estou cansada desse jogo de saber quem pode mais. — Cruza os braços
impedido qualquer aproximação. — Eu pelo menos estou tentando entendê-los e
você quer apenas se afogar em meu corpo. — Passa por mim deixando essas
palavras.
Derrotado suspiro pesadamente a deixando ir. Fecho os olhos lingando o
chuveiro novamente deixando o jato de água escorrer pelo corpo. Apoio as mãos
na parede sentindo meus pensamentos e sentimentos confusos.
Eu não deveria me submeter as vontades dessa mulher, mas a sinceridade
em todas as suas palavras me confunde e me destroem.
É um erro da minha parte acreditar que ela possa substituir Ivi, e a
resposta vem como um soco me bombardeando sem piedade.
Eva Becker está morta. Ela não irá voltar e muito menos reencarnar para
te fazer feliz Dante. Você é um homem vazio que merece toda a dor possível,
você merece sofrer.
Minha mente faz questão de me destruir sem piedade.
Suspiro pesadamente ensaboando meu corpo deixando meus
pensamentos me assombrarem e ao sair do banho visto um dos meus ternos
seguindo para o meu escritório mais cedo.
EVA
Dante
Depois de ficar três dias sem conversar com Dana não consegui conter
meus desejos de tê-la só para mim e saber que meus irmãos estão cada vez mais
próximos dela me irrita, pois eles podem tocá-la, abraçá-la e conversar
naturalmente sem enfrentar toda a sua ironia e raiva e, quando tento fazer o
mesmo ela me rejeita, não deixando com que eu me aproxime.
Chego à conclusão de que a melhor coisa a se fazer no momento é deixar
que ela conheça um pouco mais sobre mim então conto a ela sobre minhas
cicatrizes.
Odeio que toquem, pois tenho uma estranha sensação de desconforto
como se a qualquer momento alguém fosse me atacar novamente, mas cedi
àquele momento apenas para ganhar um pouco mais da sua confiança.
Termino de colocar meu smoking arrumando minha gravata borboleta
com calma em meu pescoço enquanto fumo um cigarro apenas para acalmar a
adrenalina que percorre meu corpo.
Passo as mãos nos cabelos e mais uma vez a tatuagem de Dana retorna
aos meus pensamentos me lembrando de algo familiar. Eu não sei o que ela
esconde e por mais que Jack tenho feito pesquisas sobre sua vida algumas coisas
não se conectam e mesmo que eu tente desvendá-la não consigo, por isso pedi a
Jack para fazer pesquisas minuciosas sobre o passado de Dana. Ela é uma
mulher linda, que me fascina e esse sentimento me assusta, afinal, depois da
morte de Eva meus relacionamentos foram puramente sexuais, mas com Dana é
diferente e eu custo acreditar que a mulher que vejo em minha frente não é a
mulher que sempre amei.
Com esses pensamentos conturbados desço para o hall de entrada onde
Jack, Royal e Max estão. Dana provavelmente ainda não terminou de se trocar
então aproveito o momento para dispersar meus pensamentos inapropriados e
revisamos nossas coordenas sobre essa noite.
Essas festas não são tão simples e inofensivas quanto parece, já que
estamos invadindo o “território de Tizzano Gaudine” que acredita ter domínio
sobre a parte oeste da Itália, mas na verdade ele só é um gangster mal sucedido
que vem tumultuando os becos da minha preciosa Itália de uma forma que não
venho gostando.
Desde do meu avô temos domínio sobre toda a Itália e sempre que surge
um gangster querendo tomar o nosso espaço deixamos que se afundem sozinhos,
mas Tizzano de certa forma se mostrou de grande ajuda, porém não estamos nos
agradando com as suas reações ultimamente, afinal ele vem achando que tem
posse da parte oeste da Itália o que é uma grande ilusão criada pela sua própria
mente.
Jack ainda acha que devemos formar uma aliança com Tizzano para usá-
la como bem entendermos, mas o que não gosto é fato de que se formamos uma
aliança ele estaria sobre a proteção da nossa família e as regras da família são
claras quando se trata de contratos.
Não aceitamos nenhum tipo de traição.
Por isso o plano é simples e não me agrada nem um pouco. Testar a
confiança de Tizzano usando a beleza de Dana como isca.
Se gosto desse plano absurdo? É claro que não. Mas, para ser sincero só
vamos conseguir desmascará-lo e ver suas verdadeiras intenções dessa forma,
pois mesmo sendo um completo imbecil é esperto quando quer conquistar algo,
mas é facilmente influenciado por mulheres.
Um pequeno barulho no piso de porcelana faz com que eu desvie meus
olhos do mapa em minhas mãos e fixe-os na escada a minha frente. Dana desce
as escadas com uma sandália de salto alto prata e um vestido longo em um tom
bege que marca todas as suas curvas e conforme desce as escadas seus quadris
fartos rebolam de um lado para o outro prendendo minha atenção.
O que diabos Esther, estava pensando ao comprar esse vestido?
— Se algo der errado juro que vou surrar vocês três sem dó. — Jogo a
ameaça no ar caminhando até ela, afinal até o último momento fui contra usar
Dana.
— Não sabia que seus irmãos iam também. — Ela observa os três atrás
de mim.
— Você demorou. — Mudo de assunto.
— Não foi fácil esconder o chupão que deixou no meu pescoço senhor
Voyaller. — Um pequeno sorriso surge em seus lábios. — Sabia que gostava de
marcar suas vítimas, mas não dessa forma. — Ela não esconde seu sarcasmo.
Parece que quando as coisas começam a caminhar algo surge para
atrapalhar e regredir tudo o que consegui conquistar.
— Talvez devêssemos repetir a dose e marcar o outro lado para que
ninguém ouse tocá-la. — Seguro sua mão quando ela desce os últimos degraus.
— Talvez você deva me explicar os seus planos, pois sei que essa festa
não será como a primeira e que com certeza terei que seguir seus planos. —
Caminha elegantemente rebolando seu quadril maravilhoso marcado pelo
vestido acentuado. — Só quero lembrá-lo que estou desarmada.
— Os planos não foram meus e sinceramente estou odiando-o e odiando
muito mais essa merda de vestido. — Suspiro pesadamente. — Além disso sei
muito bem que você não precisa de armas para se defender.
— Foram as roupas que você comprou para mim. — Ela sorri vitoriosa.
— Estamos atrasados — Royal diz impaciente.
Jack e Max assoviam quando Dana se aproxima e sou obrigado a conter
minha possessividade.
— Estava preocupada com você Jack. — Dana solta minha mão e o
abraça com carinho. — Você está bem? — pergunta o observando com cautela.
— Hum... digamos que levando. — Ele dá de ombros.
— Você me deixou preocupada — diz brava e logo em seguida abraça
Max dando um beijo em seu rosto, quanto a Royal ela apenas maneia a cabeça
em um aceno não se aproximando muito.
— Você está linda Dana. — Royal desvia o olhar ao dizer aquelas
palavras e me surpreendo ao ver que ele está tentando agradá-la.
— Obrigada Royal você também está lindo. — Ela sorri deixando Royal
constrangido e envergonhado.
Acabo rindo com a cena, pois Royal pode ser durão, mas também é o
mais tímido.
— Vamos parar com os elogios e seguir ao encontro de Tizzano e
aproveitem para explicar o plano para Dana, já que foram vocês os responsáveis
pela ideia. — Jogo a bola para os meus irmãos
Royal toma frente e explica todo o plano para Dana que assente
concordando em colaborar, mas é visível em sua expressão que ela não gostou de
estar sendo usada dessa forma e nem mesmo a culpo, pois desde o início avisei
que não daria certo.
Sem mais demoras seguimos para um local privado onde está
acontecendo a festa. Dividimos o grupo em dois carros e fiz questão de levar
Dana apenas comigo e sua expressão fechada e silenciosa estava me
incomodando.
— Não deixe que Tizzano te toque tão intimamente. — Observo a
estrada, mas vejo ela me lançar um olhar furioso.
— Minha função é seduzi-lo querido — diz raivosa.
— Sem toques Dana, você não precisa tocá-lo e nem deixar ser tocada —
insisto irritado.
— Sério Dante? Acha mesmo que será fácil assim? — pergunta irônica.
— Acredito que esteja menosprezando seu inimigo.
Sou obrigado a me manter em silêncio já que ela tem total razão no que
está dizendo.
— Foi para isso que você tentou uma aproximação depois de me ignorar
três dias? Por que precisava do meu consentimento para ser a isca dos seus
planos? A não, vamos recolocar essa frase. Para você me usar como uma vadia
para seduzir seus clientes? Sinceramente Voyaller eu esperava mais de você. —
Ela despeja sua ira de uma vez.
— O plano não foi meu e se você acha que estou gostando está muito
enganada... — Ela me corta irritada.
— Claro que não foi seu. — Ri cruzando os braços. — Mas não se
preocupe, vou fazer tudo o que preciso para ganhar a porcaria da confiança que
você e seus irmãos almejam, mas quero deixar claro que não sou a porcaria do
seu brinquedo. — Seus olhos flamejantes me encaram com ódio e irritação.
— Como faço para enfiar na sua cabeça que a culpa não é minha? —
Seguro o volante do carro com força.
— Como faço para enfiar na sua cabeça que você concordou em me usar
da mesma maneira. — O tom de sua voz se altera.
Ela respira profundamente tentando se acalmar.
— Eu não me recusaria em te ajudar Dante, eu sei que sou forte e que
tenho capacidade suficiente para derrubar muitos homens, mas em nenhum
momento vocês pensaram em me usar pela minha força. — Seus olhos
magoados se voltam para mim. — Vocês só pensaram em usar meu corpo. E
sendo sincera, se vocês precisam da minha confiança. Deixo claro que preferia
assassinar alguém ou saquear a carga de um inimigo, a ser usada pelo meu
corpo. — Seu tom de voz mostra toda sua mágoa e tristeza.
Depois de suas palavras sou obrigado a me manter em silêncio e enxergar
meus erros.
Queria que tivéssemos mais tempo para conversar e então tentaria reparar
meus erros idiota, mas infelizmente não é assim.
Acredito que nunca amarei ninguém como amei Ivi, mas Dana é única
mulher que meche com os meus sentimentos de forma tão intensa e por um
momento acreditei que poderia me permitir.
— Dana... — Toco sua coxa por cima do vestido.
— Não me toque. — Ela empurra minha mão se encolhendo no banco.
Desisto de tentar uma aproximação, afinal ela não cederá tão facilmente.
Depois de alguns pesados minutos que mais se pareceram horas finalmente
encosto o carro e Dana sai batendo a porta sem me esperar.
Suspiro pesadamente entregando a chave para o frentista e vejo que essa
será uma longa noite que poderia ter sido evitada, mas por teimosia não foi.
EVA
Não sei porque estou tão surpresa e magoada por estar sendo usada como
objeto. Eu já deveria esperar isso de mafiosos, mas o problema é que mesmo
sabendo que são mafiosos e levam uma vida regada a bandidagem e
desonestidade, não consigo vê-los com esses olhos, pois a gentiliza sempre
prevalece em suas ações. Mas, eu sabia que chegaria o momento em que me
surpreenderia com cada um deles.
Também não esperava ser alguém especial já que Dante nem ao menos
sabe quem sou, entretanto, o mínimo que esperei foi ganhar o seu respeito e
consideração, afinal, eu nem me importaria de ajudá-los se ao menos minha
força e minhas capacidades tivessem sido colocadas em jogo, mas a única coisa
que olharam foi a beleza exótica de uma ruiva.
Desço do carro sem esperar a ajuda de Dante, estou irritada demais para
suportar sua possessividade e falsa gentileza. Não demora muito e Royal se
aproxima apoiando a mão na base da minha coluna.
Pelo que entendi sobre o plano, hoje serei acompanhante de Royal já que
ele é o mais impaciente dos quatro. Após respirar profundamente uma centena
de vezes coloco um sorriso no rosto observando o homem ao meu lado, que por
sinal está incrivelmente impecável em seu smoking preto, cabelos desgrenhados,
intensos e atentos olhos azuis acinzentados.
Sim, Royal é o mais atento dos quatro, seus olhos não perdem nada, ele é
incrivelmente sagaz e não abaixa a guarda por um segundo se quer.
Dante não tenta aproximação após nossa discussão e sinceramente
agradeço por isso, pois acabaria colocando tudo a perder por puro orgulho e
raiva.
Assumindo o meu papel de acompanhante, caminho em direção a entrada
com um sorriso no rosto e como imaginei é uma festa luxuosa e muito bem
organizada.
— Dana, ouvimos a sua conversa com Dante — Royal diz caminhando
ao meu lado com uma expressão fechada e como sempre sem sorrisos.
— Ouviu? — Ergo uma sobrancelha o encarando com pouca vontade.
Diferente dos outros Royal não é o tipo de homem que tenta se esconder
atrás de sorrisos falsos. Ele é rude, mandão e nada carismático. Bom, ele não
esconde seu lado sombrio de ninguém, está sempre exposto para qualquer um
que queira ver e muito menos tenta agradar àqueles a sua volta, essa é a sua
personalidade.
— Nossos carros têm escuta para melhor comunicação caso haja algum
imprevisto. Dante esqueceu de desligar e acabamos ouvindo boa parte do que
vocês discutiam. — Observo sua face procurando resquícios de culpa, mas a
única coisa que encontro são olhos atentos a cada movimento a nossa volta.
— Que ótimo, isso me poupa e me priva de mais discussões — balbucio
chateada.
— Não queríamos usá-la apenas pela sua beleza, sabemos que é forte. —
Tenta frustrantemente me convencer.
— Ótimo Royal. Você não me deve explicações, afinal, você nem mesmo
tenta me conhecer e me julga como uma ameaça. Sei que você espera qualquer
deslize da minha parte como uma ótima oportunidade para tirar minha vida e
dizer aos seus irmãos que você tinha razão... A novata realmente era uma
ameaça. — Despejo sobre ele minhas frustrações e raiva.
Ao observar seus olhos percebo que o atinge de uma forma que não
esperava, seus olhos azuis acinzentados me observam cheios de culpa, algo que
nunca vi estampado em sua face antes.
— Já estamos aqui e não podemos facilitar para Tizzano, mas saiba que
estou fazendo isso por puro orgulho da minha parte, pois realmente não preciso
ajudar vocês, mesmo sabendo que isso me renderia possíveis castigos da parte
do seu irmão egocêntrico. — Deixo claro me referindo a Dante.
Royal apenas opta pelo silêncio como na maioria das vezes e me guia
pelo salão com se fossemos um casal feliz. Jack e Max se camuflam entre os
convidados enquanto Dante faz questão de observar cada um dos meus
movimentos de longe.
Poucas pessoas vem nos cumprimentar — afinal a expressão fechada de
Royal espanta qualquer aproximação —, e eu agradeço por isso, quanto a Dante
já não posso dizer o mesmo, ele chama atenção e sua fama o torna o centro das
atenções.
Um homem alto e elegante vem em nossa direção, ele não é feio, mas
também não é bonito se comparado aos quatro homens que me acompanha.
Posso afirmar que ele esbanja uma beleza um pouco forçada. Cabelos castanhos
milimetricamente espetados e um sorriso sombrio nos lábios, sua altura passa a
ser pequena comparado aos dois metros de Royal, mas seu corpo esbanja
músculos saltados e bem definidos.
— Que honra receber a família Voyaller em minha humilde residência.
— Ele cumprimenta Royal e se volta para mim. — Essa é nossa belezinha da
noite? — pergunta animado segurando minha mão.
Royal trinca o maxilar e observa o homem com irritação e neste exato
momento percebo que seja lá quem organizou esse plano estava certamente
errado. Eu poderia estar com qualquer um deles, mas Royal é menos indicado de
todos.
— Sabe das Regras Tizzano — Royal diz em um tom grosseiro.
— Eu sei cara, só estou brincando, você é tão fechado. — Tizzano ri
batendo a mão no ombro de Royal que observa o braço de Tizzano de soslaio.
Isso vai ser pior do que imaginei, mantenho minha cara de paisagem e o
sorriso forçado no rosto apoiando a mão no braço de Royal para desviar sua
atenção do homem a nossa frente antes que ele degole Tizzano com um único
golpe.
— Bom, fiquem à vontade — Tizzano diz dando uma piscadinha mal
intencionada para mim. — Preciso cumprimentar mais algumas pessoas. —
Indica Dante do outro lado da sala.
Sem esperar uma resposta ele sai e somente agora percebo a aproximação
de Jack e Max intimidando o anfitrião. Já Dante está ocupado demais
conversando com um grupo de senhores, mas seus olhos hora ou outra se
encontra com os meus.
— Ele não vai se aproximar enquanto eu estiver por perto. — Royal solta
minha cintura. — Irei me afastar um pouco, Tizzano gosta de agir em silêncio, se
realmente queremos pegá-lo, nós temos que te deixar a vontade.
Concordo com um simples aceno de cabeça.
— Cuidado, eu sei que você é forte, mas esse homem é esperto. Ele se
interessou por você e sabendo que é minha acompanhante tentará de tudo para
tê-la. Você é um troféu para ele Dana. A mulher de um Voyaller, entenda que
isso faz de você um dos alvos mais almejados dessa festa. Todos querem nossas
cabeças e se para nós atingir for necessário lhe atingir, eles farão sem hesitar,
principalmente Tizzano que está em busca de poder. — Royal me observa com
certa preocupação.
— Eu sinceramente acho que vocês deveriam ter me dito isso antes, mas
não se preocupe, eu não sou tão ingênua quanto pareço. — Sorrio bebendo a taça
de champanhe que peguei de um garçom.
— Só tome cuidado — Royal balbucia se afastando, mas Jack e Max
continuam a me rodear me impedindo até mesmo que chegar ao bar e me servir
de uma bebida mais forte.
— Será que vocês podem sair da frente e me deixar fazer a porcaria do
meu trabalho? — ergunto irritada.
— Não queríamos...
— Calem a boca e sigam a porcaria do plano como foi combinado,
enquanto isso, eu vou pegar uma bebida mais forte e esperar o anfitrião
pacientemente se interessar por mim — murmuro com irritação caminhando em
direção ao bar sem esperar respostas ou questionamentos.
Me sento em um banquinho disposto em frente a bancada e sem demora
o barman se aproxima com lindo sorriso no rosto.
— Em que posso ajudá-la senhorita — pergunta com simpatia.
— Um martíne por favor — falo em um suspiro.
— Parece cansada jovem. — Ele ri anotando o pedido.
— Alguns contratempos inesperados — reclamo passando as mãos nos
cabelos enquanto ele prepara o drink com agilidade e depois de alguns minutos
despeja o líquido em uma taça.
— Aqui está. — Desliza o copo sobre o balcão.
— Obrigada — agradeço voltando meus olhos em direção a Dante, que
continua imponente em uma postura rígida e ereta perante os homens a sua
frente, mas seus olhos não se desviam de mim.
Volto minha atenção para as pessoas ao redor e percebo que Jack e Max
não se encontram nessa parte do salão e mesmo que Royal tente se camuflar
entre as pessoas falha miseravelmente, pois sua altura exagerada lhe coloca em
desvantagem, então seguro meu copo nas mãos e resolvo dar uma volta pelo
salão.
Caminho por entre as pessoas cumprimentando algumas mulheres que
param para me fazer perguntas desnecessárias e sem muita relevância naquele
momento, mas faço questão de espairecer e me envolver na conversa em alguns
momentos.
As horas se arrastam lentamente e atentamente sigo cada movimento de
Tizzano que não escode o desejo explícito em seus olhos pelo meu corpo.
Não queria participar deste tipo de plano, mas sei que preciso de um local
reservado se quero que ele se aproxime de mim, afinal ele não seria bobo o
suficiente de se aproximar enquanto os olhos de Dante estão cravados em mim.
Bebericando meu drink ando pelo salão e resolvo dar uma volta na
sacada que leva a uma área externa mais ampla e arejada. Alguns fumantes se
reúnem nesse espaço e apesar de não gostar do cheiro do cigarro que está
impregnado no ar preciso me distrair e não olhar para a cara de Dante ou
acabarei fazendo uma burrada e acertarei sua cara bonita com um belo soco.
Caminho lentamente e me encosto na grade de proteção observando um
jardim bem cuidado se estender a minha frente. Uma escadaria de pedra ao lado
esquerdo contorna a sacada até o jardim. Pondero se deveria descer e sentar em
um dos bancos embaixo das belas árvores floridas, mas me abstenho neste
pequeno local permitindo o ar fresco da noite invadir meus pulmões. O cheiro
suave das flores abaixa o nível de adrenalina e ódio que percorrem minhas
veias.
— Não fomos devidamente apresentados. — Uma mão grande pousa na
base da minha coluna e Tizzano se encosta na grade assim como eu.
— Acredito que seja melhor assim. — Brinco bebericando meu drink,
afinal não quero ficar bêbada.
Um sorriso se estende pelo rosto do homem ao meu lado e seus olhos
curiosos se voltam para mim.
— Eu acredito que não, pois realmente quero saber o nome da mulher
misteriosa que reserva uma beleza tão exótica e cativante. — Se vira para me
observar melhor.
O observo com um grande sorriso no rosto e finjo ter gostado da sua
cantada barata.
— Sendo assim. — Estendo minha mão em sua direção. — Prazer Dana.
Sem perder tempo Tizzano segura minha mão levando até os lábios onde
deposita um beijo demorado.
Ele é o tipo de homem galanteador, que tenta conquistar mulheres com
palavras bonitas e charme, mas isso não funciona comigo.
— O prazer é todo meu — sussurra acariciando minha mão.
Como ele está virado em minha direção não pode ver os olhos de Dante
cravados em suas costas e, ousadamente toca a abertura lateral do meu vestido
acariciando minha coxa. O que me leva a ter um intenso calafrio de nojo e
repulsa ao me lembrar o que estou fazendo.
— Como uma mulher tão linda é trocada por um bando de homens
interesseiros? — Enrola uma mecha dos meus cabelos em seus dedos se
referindo a Royal que conversava com alguns homens.
— Beleza não traz dinheiro a conta deles. — Ergo o drink rindo.
— Você tem razão, mas eu no lugar deles daria mais valor a mulher que
está ao meu lado. — Enche o peito ao dizer aquelas palavras.
— Infelizmente nem todos pensam igual a você. — Apoio a mão em seu
peito fixando meus olhos em Dante que se mantém com o olhar fixo em mim
segurando um copo de uísque com força exagerada.
Os dedos de Tizzano sobem por minha coxa e isso não me agrada nem
um pouco. Procuro me afastar voltando minha atenção para o jardim ao meu
lado, mas Tizzano se vê instigado a continuar sua aproximação desnecessária me
causado repulsa.
— Que tal mudar de time donzela? Seja minha. — Desce a mão por
meus braços.
— Acho que você está confundindo as coisas Tizzano. — Sorrio bebendo
um pouco mais da minha bebida e vejo sua expressão mudar.
Suas mãos se envolvem em meu cabelo com possessividade fazendo com
que eu olhe em seus olhos a força.
— Eu sei que essa gentileza vinda de você é falsa — ele rosna. — Você é
mais selvagem do que aparenta. — Puxa meu cabelo com força me obrigando a
virar o rosto em sua direção quando tento me soltar das suas mãos.
Fecho os punhos me contendo para não acertá-lo com um golpe que
quebraria um de seus braços e acabo rindo das suas palavras.
— Nunca disse que era santa. — Seguro sua mão indicando que não
estava gostando dessa reação. — Sugiro que me solte. — Esboço um sorriso
sínico.
Mordo os lábios contendo minha raiva e observo o homem a metros de
distância com ódio, pois se estou sendo submetida a uma situação humilhante
como essa, a culpa é inteiramente de Dante e de seus irmãos e nesse momento
me sinto apenas um objeto a ser usado, pois nem mesmo posso me defender.
Ele segura ainda mais forte meus cabelos forçando meu rosto em direção
ao seu. Seu nariz passa pelo meu pescoço onde ele inspira profundamente
lambeando o local.
— Cheirosa — murmura. — Saber que anda com um Voyaller me instiga
ainda mais a tê-la para mim — confessa descaradamente.
— Você sabe que não deve brincar com eles — murmuro irritada.
— Eles estão entretidos demais fechando novos contratos para se lembrar
de você ruivinha. — Ri com sarcasmo. — O dinheiro é mais importante.
— As pessoas podem nos ver. — Tento mais uma vez me livrar
pacificamente, mas falho.
— Aqui dentro ninguém é santo. — Passa sua língua nojenta em meu
pescoço me causando ânsia e repulsa.
O ódio toma todos os meus sentidos e quando vejo já torci o punho de
Tizzano fazendo ele soltar meus cabelos a força.
— Não me toque — rosno com nojo.
— Vadia. — Ele se solta das minhas mãos acertando um tapa em meu
rosto com as costas da mão. A parte de seus ossos acertam minha bochecha e a
outra parte meu nariz fazendo com que o sangue quente escorra até minha boca.
Tenho tempo apenas de tocar meu nariz antes de ver o corpo de Tizzano
ser lançado contra a porta de vidro que separa o salão da sacada com força bruta
fazendo ela se quebrar e ele cair sobre os cacos dentro do salão.
— Dana. — Dante tenta se aproximar e tocar meu rosto com uma
expressão de preocupação, mas minha única reação é desferir um tapa em seu
rosto.
— Eu tinha uma visão completamente diferente sobre a máfia 371 e
cheguei até mesmo admirar vocês, mas neste momento eu só sinto nojo — cuspo
as palavras com ódio sabendo que elas atingiram diretamente Dante.
A expressão de dor explicita em seus olhos quase me convence de que
ele possa estar arrependido, mas aquela encenação não me engana mais. Ele é
somente um homem vazio que não se importa com mais nada além dos seus
negócios.
Mesmo machucado Tizzano se levanta e parte para cima de Dante que
tem a única reação esperada. Revidar, ele nem mesmo perde tempo em olhar os
movimentos do homem que o ataca, apenas acerta golpes aleatórios e recebe
alguns poucos em sua costela e rosto, mas é como se não surtissem efeito algum.
Os convidados abrem espaço para os dois homens e os seguranças de
Tizzano começam a se aglomerar em volta dos dois. Jack e Max não deixam que
nenhum deles cheguem perto de Dante e mesmo que Royal tente tirar o irmão de
cima de Tizzano, é praticamente impossível quando seus olhos estão tomados
por fúria e ódio. Neste momento compreendo perfeitamente o apelido dado a
Dante, pois seus ataques agíeis e certeiros realmente lembra um dragão em fúria
e em nem um momento ele tenta recuar.
Um dos homens de Tizzano aponta sua arma para Dante e
automaticamente o desarmo acertando sua nuca com uma coronhada.
A única pessoa que pode matá-lo sou eu, não deixarei ninguém ter esse
privilégio.
O local vira um verdadeiro campo de guerra e muitos convidados se
retiram as presas da festa. Me sinto suja e cansada, minha mente me culpa de
várias formas e ao observar os olhos sombrios de Dante as lágrimas acabam
rolando pelos meus olhos inconscientemente, pois o homem a minha frente é o
mesmo de onze anos atrás.
Um tremor passa pelo meu corpo e uma estranha sensação de alerta me
indica perigo. Seus olhos vazios e sem vida tomam sua face e olhar aqueles
olhos só faz com que todas as minhas crenças e esperanças morram. As palavras
de Teresa já não fazem mais sentido, pois diante dos meus olhos eu reencontro o
monstro que matou minha família.
— Dan — sussurro para mim mesma e como se ele pudesse me ouvir
seus olhos tomados pela escuridão se voltam rapidamente para mim
inexpressivos.
É como se tivéssemos conectados e eu sei que assim como eu, ele
também pode me sentir. Mesmo se passando onze anos, mesmo depois de tanto
tempo ainda estamos conectados. Isso é tão estranho. Jamais acreditei nessas
coisas, mas é difícil não acreditar quando se está vivendo.
Fecho os olhos me sentindo perdida e desnorteada, as coisas deveriam ser
diferentes. Dante deveria ser um homem frio, sem sentimentos e brutal, não que
ele não seja, mas na maioria das vezes suas boas intenções se sobrepõem as suas
maldades.
O aperto em meu peito pesa minha alma e a dor em minha cabeça me
deixa perdida. Me sinto suja e usada por cada um deles e o fato de Tizzano ter
encostado em mim me deixa irritada.
Cansada de tudo o que venho vivendo por 26 anos da minha vida, desisto
de tudo. Eu não quero mais permanecer ao lado deles, não quero mais tentar
entender o homem a minha frente ou continuar remoendo o meu passado.
Aproveito o momento de distração dos quatro homens a minha volta e
passo pelas portas que levam a saída. Ao descer as escadas vejo o frentista
admirando o Jaguar branco de Dante sem se importar com o que acontece no
interior da festa.
Sem pensar duas vezes entro no carro e acelero deixando tudo para trás.
Eu não tenho muitas coisas, além de Robert, minha experiência em luta e a
herança e lembrança dos meus pais, mas sei que isso é o suficiente para me levar
a um lugar distante e novamente recomeçar minha vida.
Talvez deixe de vez a Itália ou talvez me mudasse para outra cidade, mas
as localidades de Veneza e Pádua já não fazem mais parte de mim. Dante deveria
ser morto de uma vez por todos e arrancado de dentro do meu coração.
Meus sentimentos estão confusos, eu não sei mais o que esperar ou
pensar. O peso em meus ombros triplicou e a proximidade de Dante me fez por
um misero segundo acreditar que tudo poderia ser diferente, mas não, aquele
homem nunca irá mudar, ele sempre será o monstro criado pelo pai e seguira
veementemente as ordens que lhe forem dadas, afinal ele fora criado para isso.
Matar, mentir e usar as pessoas da forma que bem entender.
Dirijo o carro de Dante sem rumo, afinal nem mesmo tenho onde me
esconder a não ser na casa de Robert e sei que roubar o carro de Dante não foi a
melhor opção a ser tomada, mas no momento estou pouco me importando e a
única coisa que quero no momento é um demorado banho para retirar o cheiro
horrível do perfume adocicado de Tizzano do meu corpo.
Sem me importar acelero o carro luxuoso pela rodovia indo em direção a
casa de Robert tentando espairecer minha mente que insiste em me atormentar,
mas me assusto ao ouvir vozes saírem pelo painel do carro.
— Dana onde você está? Dante está furioso, acho melhor você voltar ou
seremos obrigados a te seguir. — Escuto a voz preocupada de Jack pelos
autofalantes do carro.
— Dana pelo amor de Deus, se você tem um pouco de amor pelas nossas
vidas não bata esse carro. — Agora é Max que súplica pelo carro luxuoso.
Ignoro a escuta e continuo a dirigir em direção a casa de Robert em alta
velocidade sem me importar com a porcaria do carro.
— Nossos carros têm localizadores e nós vamos te encontrar. — Agora é
Royal com uma voz impaciente.
— Vão a merda — grito irritada apertando os botões do painel na
tentativa de desligar a escuta, mas falho miseravelmente.
Estaciono o carro em um lugar qualquer próximo a uma praça antes de
pegar a rodovia e faço questão de deixar as chaves no contato. Estou pouco me
importando se for roubado, na verdade, é exatamente isso que eu quero. A ideia
de ver Dante completamente irritado ao saber do roubo de seu carro preenche
meu peito de felicidade, mesmo que essa seja uma felicidade momentânea.
Dou sinal para um táxi e me acomodo nos bancos traseiros me sentindo
levemente aliviada por estar deixando tudo isso para trás. Passo o endereço de
Robert e ele segue em direção a rodovia.
Depois de longos e cansativos minutos o taxista para em frente à casa de
Robert. Peço para que ele espere um pouco e corro em direção a porta tocando a
campainha desesperadamente.
Depois de um pequeno tempo de espera um dos homens que mais amo
abre a porta me observando assustado.
— Eva o que aconteceu? — pergunta preocupado apoiando a mão em
meus ombros me puxando para um abraço. — Você está machucada. — sussurra
preocupado.
Evolvo meus braços envolva do seu corpo e permito que as lágrimas
rolem por meu rosto.
— O que acontece Eva, eu juro que vou matar aquele desgraçado. — Ele
apoia a mão em meu rosto fazendo com que eu olhe para ele.
— Estou bem — murmuro voltando a abraçar seu corpo esbelto, porém
definido.
— O que aconteceu? — pergunta mais uma vez me analisando de todas
as formas possíveis e toca o local onde Tizzano havia acertado.
Automaticamente faço uma careta ao sentir dor, mas nada era comparado
a frustração e angústia que dominava e borbulhava meu peito.
— Estou tão cansada, cansada de enfrentar tudo sozinha e carregar esse
imenso peso nas minhas costas Rob, simplesmente não aguento mais —
desabafo e me permito desabar em seus braços deixando as lágrimas lavem
minha alma.
Seus olhos compreensivos se fixam nos meus e ele suspira frustrado
beijando minha testa.
— Desculpe por não poder ajudá-la quanto a isso. — Apoia a mão em
minha cabeça me puxando contra seu peito.
— Tudo bem — resmungo me sentindo mais leve por estar em seus
braços protetores e quentes. — Eu estou sem dinheiro, preciso pagar o taxista. —
Aponto para o homem que buzina sem parar.
— Suba e tome um banho e depois me conte o que aconteceu. — Ele
beija novamente o topo da minha cabeça e vai até o taxista.
Sem reclamações subo e faço o que ele manda, entro no quarto que
deveria ser meu e encontro minha mala de armas intacta depositado ao lado da
cômoda. Sigo até o closet e encontro todas as minhas roupas milimetricamente
arrumadas.
Pego um dos meus pijamas preferidos e tomo um banho demorado
aproveitando para lavar meus cabelos e esfregar minha pele com uma força
exagerada afim de tirar o cheiro doce do perfume de Tizzano que se impregnou
em minha pele.
Saio do banho vestida com um pijama folgado e aconchegante, penteio
meus cabelos com calma e agradeço mentalmente pela água morna ter relaxado
meus músculos tensos. Uma pequena batida na porta faz com que meus olhos se
voltem para ela.
— Pode entrar Rob — falo em um tom que ele consiga me ouvir.
Colocando somente a cabeça por entre a porta ele sorri me observando.
— Vem, vamos jantar — me chama me analisando com seus lindos olhos
preocupados e cheio de ternura.
— Não estou com fome — comento frustrada.
— Eu fiz carne enrolada com batata e bacon — diz cheio de si.
— Me convenceu. — Acabo rindo e aceito seu convite por saber que
precisávamos passar mais tempo juntos, pois sempre acabo deixando Robert em
segundo plano colocando Dante acima de tudo, diferente de Robert que sempre
deixou toda a sua vida de lado para me apoiar e me proteger.
— Eu sabia que você não iria resistir — fala cheio de si. — Estou te
esperando na cozinha. — Fecha a porta.
Termino de pentear meus cabelos e desço para a cozinha onde encontro
Robert arrumando a mesa para nos servir. Ele provavelmente já havia jantado,
mas faz questão de me acompanhar e me alegrar, afinal ele sempre fez isso em
toda a sua vida e nunca se dá por satisfeito até arrancar gargalhadas dos meus
lábios.
— Eu senti sua falta. — Sem que ele espere o abraço, pois é a mais pura
realidade.
— Ei, o que está havendo? Essa demonstração excessiva de carinho me
assusta — fala assustado fingindo desespero.
— Para de ser bobo. — Acabo rindo e já sinto o peso e ódio se esvair
momentaneamente do meu peito, pois esses são os efeitos que Robert causam
em mim.
Paz e tranquilidade.
O resto da noite é regada de histórias de quando não estive aqui. Robert
faz questão de contar uma por uma, mesmo já tendo me contado diversas vezes
por telefone e sou obrigada a confessar que tudo se torna ainda mais engraçado
quando tenho ele a minha frente, demonstrando sua indignação a cada burrada
que fez em sua vida. Me alegro ao saber que pelo menos alguém está se
divertindo e gastando a fortuna dos Becker com dignidade, diferente de mim que
parei no tempo por vingança, mas estou disposta e empenhada em mudar e
avançar.
Acabamos conversando por horas a fio e me delicio com o prato que
Robert preparou, a carne suculenta se desmancha em minha língua a cada
garfada desse maravilhoso prato que somente ele sabe preparar com tanta
perfeição.
— Acho que vou me deitar — falo sonolenta.
— Eva, eu quero que você me perdoe. — Ele suspira passando a mão no
cabelo enquanto analisa o celular com uma expressão de tristeza.
Acabo franzindo as sobrancelhas sem entender o que ele estava dizendo.
— Donzel está me ameaçando e colocando sua vida em perigo, ele me
enviou vários tipos de avisos anônimos e até mesmo mandou um de seus
capangas na empresa para me persuadir. Ele sabe que não pode fazer nada contra
mim, mas está colocando sua vida em risco já que quer de todas as formas que
eu lhe “venda” para ele.
— Eu sei me defender, não precisa se preocupar quanto a isso. — Tento o
acalmar.
— Não é essa a questão, Donzel não mede esforços para ter o que quer e
se ele não tem, não hesita em se desfazer daquilo que o incomoda, ou seja, isso
coloca sua vida em perigo. — Apoia a mão sobre a minha.
— Eu não tenho medo. — Deixo claro.
— Mas eu tenho Eva e eu não tenho toda a preparação que ele tem para
te proteger — diz com pesar e depois de segundos ouço a campainha tocar.
Demoro mais do que eu deveria para assimilar o que está acontecendo e
me sinto traída pelo homem a minha frente. Ele aperta minha mão contra a sua e
automaticamente a puxo deixando explicito em meu rosto toda a minha
indignação e decepção.
— Você chamou Dante?! — O observo magoada.
— Me perdoe Eva, eu espero que você me entenda, não gosto que fique
naquela casa, nem ao lado desse homem, mas ele é único que pode te proteger de
Donzel. — Robert se levanta com uma expressão de culpa estampado em seu
rosto.
— Podíamos ter conversado sobre isso e juntos entrado em um acordo,
mas você preferiu o meio mais fácil. — O observo com certa raiva. — Se aliar
ao dragão. — Acabo rindo com ironia. — É sempre assim, sempre o Dragão.
— Eva não me olhe assim. Sabe que isso não me agrada. — Ele tenta se
explicar, mas nesse momento não quero ouvir suas desculpas ou explicações.
Estou me sentindo traída pela pessoa que mais confiei em minha vida, eu
esperava tudo de Robert, menos que um dia ele se aliaria à Dante, mesmo que
isso fosse pelo bem da minha segurança.
— Eu sei que você sabe se defender, mas Donzel tem muitos homens.
Ele é pior do que você pode imaginar e você precisa estar ao lado de alguém que
entenda o mundo dele. Eu pensei em várias possibilidades e até mesmo cogitei a
ideia de ir até a polícia, mas não há provas concretas que incrimine Donzel. —
Se explica tentando se aproximar, mas me afasto.
— Chega Robert. — A campainha toca mais uma vez. — Eu entendo que
fez isso para o meu bem, mas ainda me sinto traída — falo a verdade e
imediatamente ele se cala.
— Quero apenas te proteger. — Ele insiste.
— Sabe, eu acreditei que teria um lugar para voltar, mas não tenho. —
Engulo os sentimentos de fraqueza e traição, não deixando que as lágrimas que
insistem em querer rolar pelo meu rosto caiam.
Eu aprendi a ser forte, aprendi a matar todos os sentimentos que crescem
dentro do meu peito e não será isso que me fará fraquejar.
— Não me odeie, eu não posso correr o risco de te perder novamente.
— Tudo bem, já chega. Não peça para não me sentir traída nesse
momento, pois é exatamente assim que me sinto. Já disse que compreendo os
seus motivos, mas ainda dói saber que se aliou a Dante. — Sigo em direção a
porta sabendo que o homem que me esperava do lado de fora deveria estar
cuspindo fogo pelas ventas.
— -E... — Ergo a mão calando Robert.
— Não diga o meu nome, eu havia desistido de descobrir tudo, mas
agora que serei obrigada a conviver com ele novamente, continuarei com as
minhas pesquisas a fim de realizar minha vingança, então não roube isso de mim
também. — As minhas palavras lhe atingem como um tapa e sei que naquele
momento eu queria feri-lo, pois estou me sentindo traída e usada. E por mais que
suas intenções sejam boas, ele não tinha o direito de tomar essas decisões por
mim.
— Me perdoe, nunca quis ficar no seu caminho, meu objetivo sempre foi
lhe proteger acima de tudo. — As palavras saem em um fio de voz dos lábios de
Robert e percebo que o feri profundamente.
Eu não queria que as coisas fossem dessa maneira, não queria brigar com
a única pessoa que posso chamar de família, mas a dor em meu peito acaba me
deixando frustrada demais para pensar em meus atos.
Eu estou cansada, o dia foi um grande desastre e ter ido aquela festa com
Dante só serviu para me deixar pior. Eu quero descanso e sossego. Havia
desistido da minha vingança apenas para dar paz ao meu coração e mesmo que
vivesse com a dúvida sobre o passado dos meus pais e a ligação da minha
família com Donatel, já havia me conformado que tem certas coisas que
precisamos simplesmente enterrar, mas agora me vejo novamente sendo jogada
nos braços do homem que destruiu minha vida.
Abro a porta antes que Robert diga mais alguma coisa ou que eu
simplesmente o machuque mais. Se ele tem culpa por ter se aliado a Dante? É
claro que tem, mas esse foi o único meio que encontrou para me proteger da sua
maneira, mesmo que dói, mesmo que me machuque e me destruía, ele mais uma
vez colocou a minha segurança acima de qualquer outra coisa. E conhecendo
bem o homem com respiração ofegante, cabelos desarrumados, lábios cortados e
bochecha vermelha que está a minha frente, Robert não deve ter economizado
dinheiro para ter assinado um contrato de segurança com um Voyaller.
— Dana. — Seus olhos me analisam de cima a baixo.
Ergo a mão para que ele não se aproxime e muito menos continue com
suas ladainhas. Estou me sentindo fraca e exposta, e esse sentimento começava a
me irritar e me deixa vulnerável.
O sangue seco em sua sobrancelha me chama a atenção, a lateral direita
do seu olho está um pouco arroxeada e suas roupas toda amarrotadas. Atrás dele
vejo o carro em que Royal veio dirigindo e não me surpreendo por eles ainda
não terem encontrado o Jaguar, na verdade, ao me lembrar do Jaguar sinto um
forte calafrio passar pela minha coluna.
Ele ficará extremamente furioso quando descobrir que deixei seu carro
em um lugar qualquer com as chaves no contato.
Suas mãos grandes seguram as minhas e quando vejo seus braços já estão
envoltos ao meu corpo. Tento me afastar, pois não quero sentir nenhum afeto
pelos homens que se encontram a minha volta, mas sentir o calor de seu corpo e
o aconchego de seus braços faz meus sentimentos mais profundos vir à tona e
mesmo que eu tente segurar as lágrimas de decepção e frustração, elas rolam
pelo meu rosto sem permissão.
— Me odeie mais não fuja. Sei que sou um completo canalha, que não
merece a porcaria de um pingo de felicidade e que jamais devia ter aceito aquele
plano ridículo, mas por favor me perdoe. — As suas palavras só fazem meu
coração se quebrar ainda mais, e a mágoa transbordar em sentimentos de
fraqueza e dor.
Dante me aperta contra o seu peito e o cheiro de cigarro, misturado com
perfume e suor invade meus sentidos. Eu deveria me afastar, deveria sentir nojo,
mas ao contrário de tudo isso eu me sinto em paz, me sinto calma e de certa
forma protegida nos braços do homem que eu deveria odiar, talvez, pelo simples
fato de ser ele a pessoa que sempre esteve ao meu lado todos os dias da minha
vida até meus quinze anos de idade, mas nesse momento estou magoada demais
para perdoá-lo e cansada demais para expulsá-lo, por fim acabo apenas me
entregando aqueles sentimentos de fracasso, traição e derrota momentâneo.
E quanto a Robert, bom, não me sentia preparada perdoa-lo, então
simplesmente me mantenho em silêncio seguindo Dante até o carro sem olhar
para trás, pois não adianta correr, fugir ou complicar ainda mais a situação.
Robert agora tem um contrato de proteção com Dante, então querendo ou
não tenho que segui-lo até mesmo contra a minha vontade e apesar de estar de
pijama isso nem mesmo me incomoda, a frustração e humilhação eram muito
maior.
A verdade é que as pessoas não mudam, elas nunca foram aquilo que
você pensou e espero que fossem.
Dante
As coisas saíram pior do que eu poderia imaginar. É claro que
desmascarar Tizzano fazia parte do plano, mas não da maneira que acabou
acontecendo.
Foi inconsciente o meu surto de ódio, afinal eu não poderia deixar
Tizzano colocar as mãos em Dana daquela maneira. Só de me lembrar quero
socar seu rosto até ver o sangue jorrar de seu nariz novamente.
Confesso que se não fosse por Royal que conseguiu me tirar de cima
daquele homem, eu certamente teria o matado sem ao menos me importar com
as consequências e agradeço por aquela ser uma festa restrita e exclusiva para
pessoas fora lei, pois, se não, estaria com sérios problemas ao ter meu rosto
estampado nas revistas e jornais.
E a confusão da noite passado não para por aí, achei que Dana havia
conseguido desligar o localizador do meu Jaguar, mas a verdade é que ela
deixou meu carro preferido em um beco qualquer.
Até o momento não consigo me conformar que ela foi capaz de deixar
meu Jaguar dessa maneira. Quando finalmente consegui localizar meu carro ele
estava na área de desmanche do senhor Damasceno, que por sorte reconheceu o
emblema da família e me ligou imediatamente.
Nesse momento eu juro que queria estrangular Dana e torturá-la
lentamente, mas cheguei à conclusão de que mereci isso e com muito custo
acalmei meus ânimos me forçando a aceitar o que está acontecendo. Contudo,
para recuperar meu Jaguar das mãos de Damasceno tive que desembolsar uma
grana preta , uma vez que seus serviços nunca são de graça e manter uma boa
amizade com ele acaba sendo importante, afinal ele é um bom informante.
Juro que por um momento toquei minha arma, mas respirei
profundamente e lembrei que matá-la não faria as coisas melhorar. E o fato dela
se parecer tanto com Ivi, sempre acaba livrando seu pescoço de situações
trágicas como essa. Mas, eu sei que errei e envolvê-la com Tizzano foi um
péssimo plano, pois ver aquele homem tocando a minha mulher daquela maneira
me irrita até mesmo agora. Ele não tinha o direito de tocá-la daquela forma. Sem
contar que seus lindos olhos esverdeados cheios de mágoas me deixaram ainda
mais fora do sério.
Passos as mãos nos cabelos respirando profundamente. As coisas
estavam indo tão bem. Ela começou a me aceitar, começou a me tocar por
vontade própria e o que fiz em troca? A afastei completamente.
Eu sou um completo imbecil. Nunca me aproximei de mulher alguma,
pois sempre achei que deveria pagar meus pecados sozinhos até Dana aparecer,
até ela mudar meus pensamentos e colocar em prova tudo aquilo que lutei para
esquecer.
Dana é meu inferno na terra, como ela pode ser tão parecida com a
mulher que mais amei em minha vida? Eu até mesmo cheguei a acreditar que
Eva não havia morrido.
Isso é impossível certo? Eu a vi tombar em minha frente, vi o sangue
vivo escorrer de seu peito.
Eu a enterrei.
Então mesmo que meu corpo e coração queira acreditar que a mulher ao
meu lado é a mesma do passado, minha mente insiste em discordar, me tirando
da triste ilusão e jogando para fria realidade de que Eva está morta.
Depois de tanto me culpar percebi que essa era a chance para tentar me
redimir comigo mesmo e recomeçar, mas fiz tudo errado e mais uma vez regredir
à estaca zero com maestria.
Ainda estou esperando a pesquisa de Jack sobre a tatuagem que ela leva
nas costas, pois algo me diz que aquela fênix estranhamente me lembra algo e
mesmo que eu force minha memória aquelas chamas não ajudam minha mente.
Falando em Dana ela ficou trancada no quarto sem comer por três dias.
Não interferi, não tentei aproximação, muito menos tentei puxar assunto com
ela, pois na verdade eu nem sei o que dizer, mas essa situação está começando a
me irritar.
Não nego que sou a merda de um homem possessivo, cabeça dura,
teimoso, prepotente, calculista e mandão, mas caramba essa mulher consegue
superar todos os recordes de teimosia.
E aqui estou quebrando a cabeça para conseguir de alguma maneira me
redimir, mas todos os meios que encontrei até agora foram barrados por uma
ferra brava que me ataca sem dó, não vejo uma maneira de fazer com que ela me
perdoe pacificamente.
Até mesmo tentei o usar o roubo do Jaguar a meu favor, mas foi a pior
coisa que fiz. Ela aproveitou a oportunidade para jogar toda a merda no
ventilador e fez questão de deixar o ventilador virado para o meu lado.
Nesses dias fiz coisas que jamais fiz na minha vida. Na verdade, fiz
coisas que nunca imaginei fazer, coisa que foge literalmente dos meus
paradigmas e ferem diretamente o meu orgulho.
Mandei flores com pedidos de desculpas e encontrei as flores na lata do
lixo. Teresa as pegou e colocou em um vaso, pois disse que as flores não têm
culpa por eu ser um idiota de nível superior.
Poxa até Teresa está do lado dela, isso me mágoa profundamente.
Preparei seu café da manhã e deixei uma carta com mais um pedido de
desculpa. Quando cheguei no quarto tudo estava da mesma maneira que eu havia
deixado.
Insisti em mais uma tentativa e comprei um conjunto de joias caríssimo
com esmeraldas, pois acho que combinam com seus lindos olhos e fiz questão de
escrever uma carta a mão com mais um pedido de desculpas. Ela simplesmente
deixou tudo sobre a cômoda junto com a carta intacta.
Aperto as mãos em punhos sinto e minha paciência se esgotar, ela não
tem a decência nem mesmo de ler o que está escrito.
Encaro o computador por mais tempo do que gostaria e desisto de enviar
presentes com pedidos de desculpas para essa mulher.
Meus pensamentos são quebrados quando Royal entra em meu escritório
sem ao menos bater na porta. Eu juro que odeio que entrem sem bater.
— Você deve ter um bom motivo para entrar assim. — Ergo uma
sobrancelha observando-o com irritação.
— Esse não é momento. — Suspira. — Donatel está voltando e você
sabe que Dana está em perigo. Ele não aceitará uma mulher nesta casa. Você
sabe que ele é imprevisível e pode aparecer a qualquer hora, como pode
simplesmente sumir como sempre faz. — Ele suspira pesadamente.
Não esperava ver nosso pai tão cedo e confesso que essa notícia não me
agrada nem um pouco.
— Temos uma aliança com Donzel e uma com Trion, sabemos que
Donzel está armando algo contra a Dana e conhecendo bem nosso pai ele ficará
no lado de maior força, ou seja, ao lado de Donzel — falo com calma coçando o
queixo.
Royal cruza os braços preocupado e tenta analisar a situação com calma,
mas o único problema neste momento é que não há como ter calma.
— Ele pode muito bem diminuir nossas defesas e deixar Donzel capturar
Dana como se não tivesse conseguido protegê-la, não dá para prever a mente
desse velho. — Me levanto acendendo um cigarro.
— Dana complicará tudo se continuar com essa teimosia de não falar
conosco e conhecendo bem a personalidade irritante daquela garota certamente
tentará enfrentar Donatel.
— Então acho bom você e Jack concertar o que fizeram na festa. —
Solto a fumaça dos meus pulmões o olhando com ira.
Suspira pensativo e sei que por mais durão e cabeça dura que Royal seja,
ele é um dos mais protetores e preocupados, pois quando o quesito é a segurança
de uma pessoa querida, ele realiza seu trabalho com perfeição, mas quando se
trata da própria segurança ele é relaxado e despreocupado.
Sem dizer nada e imerso em seus próprios pensamentos, Royal, sai da
sala da mesma maneira que entrou e antes que me irrite com sua falta de
educação, trago com cigarro em fortes lufadas tentando acalmar meus ânimos
que ultimamente estavam a flor da pele.
Odeio quando as coisas saem do meu controle dessa forma.
Arrumo a papelada que está sobre a mesa em um papel pardo para deixar
com um dos meus advogados e me levantando quando escuto uma batida na
porta.
— Entre. — Apago o cigarro no cinzeiro de cristal a minha frente.
Jack entra com um envelope nas mãos me olhando confuso e pensativo.
— A pesquisa que você pediu. — Coloca o papel sobre a mesa.
— O que encontrou? — pergunto curioso.
— Não consegui encontrar muitas coisas de início, tudo que se relaciona
ao nome Dana Trion é muito vago e superficial, então me senti um pouco
instigado a procurar mais, afinal, ninguém consegue ser tão certinho a ponto de
ter uma história tão supérflua. — Jack passa as mãos nos cabelos me entregando
o papel.
— Isso quer dizer que ela está mentindo? — Ergo a sobrancelha.
— Sim, ela está mentindo, assim como Robert Trion. Basicamente o que
encontrei até mesmo quebra nosso contrato com Trion, afinal, o contrato
esclarece que qualquer mentira levaria a uma multa e a quebra do contrato, mas
ele afirmou que faria qualquer coisa por sua irmã, porém ela não é irmã de
Robert...
— Não são irmãos? — rosno. — Como assim? — Seguro o envelope
com irritação.
— Não consegui entender muito bem, fui obrigado a hackear o
computador de assuntos internos da polícia — o que não foi nada fácil —, e sua
pasta estava no arquivo morto, mas ela foi a única sobrevivente depois de um
ataque criminoso a sua família. Agora quanto a tatuagem não encontrei nada
sobre a fênix, mas o símbolo de sua família era uma Lótus. Me desculpe irmão,
mas não encontrei muitas coisas, parece que sua história foi apagada — Jack diz
duvidoso.
Sinto meu coração bombardear meu peito com força bruta ao ouvir
aquelas palavras.
— Isso só pode ser uma grande brincadeira. — Acabo rindo e quando
vou abrir os papeis a minha frente minhas mãos estão tremulas.
— Irmão?
Ao puxar os papeis me sinto franco a ponto de ter que me apoiar na
mesa, mesmo estando sentado. Ver aquela Lótus me faz ter vontade de vomitar e
observar o nome Eva Becker no topo do papel me causa dormência no peito.
— Isso não pode ser real. — Acabo rindo com desgosto. — Por que ela
mentiu?
— Ei irmão, eu não sabia que você gostava tanto dela. — Jack se levanta
preocupado.
Minhas vistas se embaçam e uma rajada de ódio misturado com desgosto
e desespero rompe minha garganta em um rugido. Quando vejo me coloco de pé
acertando a mesa com força bruta vendo a mesma se quebrar.
Jack se levanta e se afasta assustado. Acredito que ele nunca me viu em
tamanho ódio e raiva como agora.
— Aquela filha da mãe me paga — grito.
Puxo minha mão de volta e vejo o sangue pingar dos meus dedos, mas a
dor neste momento não é nem um pouco relevante ao emaranhado de
sentimentos que me tomam. Por onze anos rastejei na minha própria desgraça e
ela estava viva. Viva e debaixo do meu teto, me fazendo de palhaço e de otário.
Nem mesmo vejo Jack apenas seguro os papeis com força abrindo a porta
com tudo.
Ela iria me ouvir e iria ouvir muito.
EVA
Estou cansada de ficar nessa casa e ter que olhar a cara do Dante e dos
seus irmãos, queria pelo menos passear por Veneza e visitar a Basílica de São
Marcos, mas não posso, pois tenho que ficar trancada nesta mansão e fazer as
vontades do senhor todo poderoso, suspiro irritada. Além de estar cansada de me
lamentar pela festa e pela traição de Robert, então simplesmente me levanto e
tomo um banho revigorante na intenção de me alegrar um pouco.
Ao sair do banho encontro mais uma carta com o pedido de desculpas do
Dante, porém, mais uma vez, ignoro a carta e vou para o closet me trocar para
encontrar Teresa. Ela é minha única salvação e desabafar com ela sempre faz
minha mente clarear e o aperto em meu peito diminuir.
Escuto baterem na porta e não respondo, não quero conversar com
ninguém, nem ouvir os pedidos de desculpas e as tentativas falhas de explicação
do Jack ou do Max, ou de qualquer um deles, mas a insistência nas batidas
começa a irritar.
— Não quero conversar Jack — grito pedindo aos céus que ele vá
embora.
— Não é o Jack, Dana. — Escuto a voz de Royal do outro lado e isso me
surpreende.
— Também não quero falar com você Royal. — Suspiro.
— Eu preciso que me escute. — Sua voz agitada me faz suspirar.
Devo ser a maior idiota de todos os tempos por estar cogitando a possível
aproximação de um deles, mas acabo cedendo por não conseguir ignorar aquela
voz suplicante.
— Entre. — Me encosto na porta do banheiro esperando.
Assim que entra fecha a porta se encostando nela enquanto me observava
do outro lado, seus olhos perdidos me fazem suspirar.
— Fale de uma vez o que quer Royal. — Balanço a perna
impacientemente.
— Sei que está brava, que neste momento se sente traída não só por nós,
mas pelo seu irmão, porém, quero que compreenda que ele fez isso para o seu
bem, mas não vim aqui para falar de Robert e sim da festa. Sei que deveria ter
pedido seu consentimento antes de te envolver em um plano como aquele, mas
tudo isso é novo para mim e confiar em você pode ser mais difícil do que parece
então acabei me sentindo instigado a testar sua confiança. — Ele olha para
baixo.
— Não te culpo Royal, você não precisa confiar em mim, eu sei que sou
uma intrusa no seu mundo, mas também não posso negar que me senti usada. —
Suspiro cruzando os braços.
— De alguma maneira queria provar a mim mesmo que você fazia parte
da família, queria te ver como Jack e Max te veem. Não conseguia entender por
que Dante te deu a liberdade de estar nesta casa ou porque você consegue
prender a nossa atenção, mas agora entendo que você é uma pessoa incrível.
Você não precisa de muito para que todos a sua volta se aproximem. — Ele olha
em meus olhos e não sei o que responder.
— Ainda não te entendo — digo por fim.
— Não quero que você odeie meus irmãos por minha culpa, foi um erro
tentar provar o que estava claro perante os meus olhos, mas simplesmente não
consegui ignorar minhas dúvidas. Te protegerei pela mulher incrível que você é,
mesmo em uma situação absurda você enfrentou tudo de cabeça erguida e seguiu
o plano como ordenado. — A sinceridade em seus olhos me deixa confusa. — A
culpa do final trágico que a festa teve não foi sua e sim do meu irmão ciumento.
— Suspiro pesadamente.
— Obrigada! — me limito em dizer.
— Sabe, mesmo por trás dessa mulher forte e durona, eu consigo ver que
por trás desses olhos flamejantes, você esconde uma dor tão profunda como cada
um de nós, então talvez não sejamos tão diferentes assim. — Sua expressão séria
e impassível continua a mesma, mas seus olhos intensos parece refletir todos os
segredos que custo a guarda e por um momento me sinto exposta.
E acredito que não consigo esconder a surpresa, pois a expressão em seu
rosto muda para compreensão.
— Sempre haverá alguém que conseguirá ver através de sorrisos
forçados, Dana. — Ele pisca cruzando os braços, após apoiar o pé na porta.
— Você me surpreende Royal, mas o fato de conseguir ver através de
mim não faz com que minha mágoa por você diminua. — Sorrio recuperando
minha sanidade mental depois de me sentir um livro aberto.
— Sabe, talvez precisássemos da sua presença para aprendermos a ser
mais humanos e não seguir os mesmos erros do nosso pai. — Ele conclui seu
pensamento em voz alto me fazendo sorrir.— Talvez Royal. —Acabo sorrio ao
ver um dos homens mais fechados que já conheci expor o mínimo de seus
sentimentos.
Royal é misterioso, curioso e intrigante, gosta de entender os fatos e
analisa tudo que está a sua volta. Ele é um grande homem reconheço isso.
— Somente mais uma pergunta. — Franze as sobrancelhas. — Por que
abandoou o Jaguar do Dante sabendo que ele ficaria furioso? — Sua pergunta
me deixa pensativa por alguns segundos.
— Naquela hora estava irritada demais para pensar nas consequências,
mas de certo modo foi porque não queria ser seguida por vocês e também a
possível ideia de alguém achar aquele carro e levá-lo me agradou, afinal eu
queria vê-lo sofrer assim como eu estava sofrendo naquele momento. — Balanço
os ombros sendo sincera.
— Você tem noção do que fez? Achamos o Jaguar em um desmanche de
carros. — Ele balança a cabeça em negativo. — Por sorte o homem é um dos
nossos aliados e reconheceu o brasão da família. Ele ama aquele carro mais do
que ama a ele mesmo.
— Foi merecido sejamos sinceros. — Dou de ombros rindo.
Ele me encara do outro lado do quarto com uma expressão séria e
perplexa.
— Às vezes acho que você não tem amor à vida. — Coça a cabeça
confuso.
— Não tenho medo Royal, mas sei do que ele é capaz e sei que terei
minhas consequências pelos meus atos, assim como ele teve a dele. — Seus
olhos azuis acinzentados me observam surpresos.
— Sabe Dana, nem sei porque estou dizendo isso, mas nosso pai está
voltando e ele provavelmente tentará algo contra você, então tome cuidado —
diz desgostoso e automaticamente aperto meus dedos contra os meus braços ao
pensar em Donatel.
— Tentará algo contra mim? Mas eu sou a prisioneira lembra? — Tento
soar o mais normal possível.
— Você não é mais uma prisioneira a partir do momento em que Robert
assinou um contrato conosco para a sua proteção. Donzel Golodiev é chefe da
máfia ucraniana e de alguma forma ele se encantou com sua beleza, por esses
motivos está sobre nossa proteção. Donzel não é conhecido pelas suas boas
ações, muito pelo contrário ele gosta de deixar explícito que é um homem de mal
caráter e não medira esforços para te atingir, além disso nosso pai também não é
lá um dos melhores homens que você pode esperar. Me preocupa o fato de saber
que os dois andam se encontrando, então evite maiores confusões. — Soa frio e
autoritário o que acaba me deixando ainda mais irritada.
Não me importo com Donzel, ou seja lá quem, apenas quero colocar as
mãos em Donatel e forçá-lo a cuspir toda a verdade.
— Você não consegue esconder a raiva que sente pelo nosso pai, assim
como nós o seu desejo é matá-lo, isso está explicito em seus olhos e até o
momento não sei o que te leva a esse sentimento, mas tome cuidado. — Royal se
desencosta da porta me observando. — Dante ainda tem um lado humano que
até você chegar eu desconhecia, mas Donatel, não se importa com nada além
dele mesmo. — Ele não escode o ódio que sente do próprio pai.
— Farei o possível para me manter longe desse homem. — Forço um dos
meus melhores sorrisos para acalmá-lo.
Preciso urgentemente encontrar Teresa e ver se ela finalmente encontrou
os papeis, pois não posso colocá-la em risco com Donatel voltando para Itália,
afinal diferente de Dante que acredita veementemente que estou morta o pai
pode ter lá suas dúvidas.
— Já vou indo. — Se despede com um aceno de cabeça e antes de
esperar que eu diga algo sai do quarto.
Sem perder tempo saio do quarto logo atrás de Royal indo diretamente
até a cozinha, pois quero sanar algumas dúvidas sobre minha família antes de me
encontrar com Donatel.
Encontro Teresa lendo um livro de culinária e ao me ver chegar com
tanta pressa se assusta.
— Que susto, quer matar essa velha do coração? — Apoia a mão no
peito.
— Desculpa Teresa. É que gostaria de saber se encontrou os papeis,
soube que Donatel está voltando e não quero te colocar em risco e outra ainda
estou com raiva de Dante — confesso magoada.
— Não vou negar que desta vez ele mereceu o seu desprezo, mas
também sei que todo casal tem seus dias de briga. — Ela sorri e eu reviro os
olhos.
— Não somos um casal, e ele é um idiota — a repreendo perdendo a
paciência.
Esse assunto sempre me tira o mínimo de paciência que tento manter.
— Claro que ele está errado, mas Royal tem a maior parcela de culpa e
não discuta comigo menina já ouvi a versão dos cinco. — Brava ela se
levantando me repreendendo como uma mãe.
— Mais Teresa... — Ela me corta.
— Nada demais... Você sempre está acusando o menino, é claro que ele
não está certo, mas você tem que colocar essa vingança de lado e deixar esse
amor florescer. — Ela vai até a gaveta da cozinha pegando uma pasta.
Faço um bico chateada por ela estar brava comigo. Não consigo ignorar
minha vingança por mais que ame Dante. Isso, essa é a verdade, eu amo aquele
homem e não tem como negar, mas também não vou gritar aos quatro ventos.
Teresa apoia a mão em meu ombro com uma expressão seria que me
deixa preocupada.
— Não gosto dessa expressão em seu rosto — confesso.
— Olha minha menina, dentro desta pasta tem um pouco da verdade,
tente abrir seu coração e deixar de lado todo esse ódio que está guardado dentro
do dele. Todos merecem uma segunda chance e o amor de vocês dois também.
— Ela me entrega a pasta. — Sei que quando se sentar e conversar com o
menino, ele lhe explicará tudo. — Fico intrigada com o que ela diz.
— Por que diz isso Teresa? — pergunto preocupada.
— Apenas leia. — Ela sorri me abraçando.
Retribuo o abraço me despedindo e cuidadosamente ando pela casa
mesmo sabendo que ainda é de manhã e não corro o risco de me encontrar com
Dante.
Parando para pensar nas ações de Dante esses últimos dias, ele até que
tentou se redimir e no final não o julgo por tentar comprar minhas desculpas.
Acho até legal da parte dele tentar se redimir para alguém que na mente dele é
uma desconhecida com a aparência de sua antiga namorada, mas talvez as suas
palavras valeriam por um milhão de presente.
Volto para o quarto o mais rápido que posso e me jogo sobre a cama com
certo receio de ler o que está dentro dessa pasta, mas tomada por uma coragem
que não cabe em mim, finalmente retiro os papeis analisando com cuidado cada
palavra que se encontra ali e uma parte de mim se sente completamente frustrada
por acabar de descobrir que meus pais na verdade eram assassinos de aluguel.
Eu não consigo acreditar que eles tinham um contrato com Donatel para
assassinatos. Eles na verdade limpavam a sujeira de Donatel?
Não consigo acreditar, não consigo acreditar no que estou lendo e nas
assinaturas a minha frente. Até mesmo as minhas irmãs, por que somente eu não
sabia disso?
Os papeis mostram uma pesquisa detalhada da vida dos meus pais e
irmãs, com fotos, locais de trabalho e alguns serviços prestados para o próprio
Donatel, mas aqui não diz nada sobre o massacre da minha família.
É por isso que Teresa sempre disse para não confiar em meus familiares,
pois eles sempre foram sujos como Donatel, e ela sabia disso.
As lágrimas de frustração se acumulam em meus olhos e a vontade de
correr para um lugar distante preenche meu peito, pois sempre me apoiei na ideia
de que minha família era inocente, mas agora eu não tenho tanta certeza disso.
E acabo percebendo que tudo isso é demais para mim. Eu já não sei mais
em quem confiar, em quem acreditar ou em quem me apoiar. Não sei se todos os
anos de solidão e dor que passei no Japão realmente valeram a pena. Se meu
ódio por Dante realmente deve ser levado a adiante ou se apenas me privei da
felicidade de reencontrá-lo por me apoiar na mentira da minha mente.
Eu estou perdida, chocada e desesperada, me sinto fraca e frágil sem
saber em quem realmente confiar.
Com mais dúvidas em minha mente jogo os papeis dentro da pasta
irritada o suficiente para não terminar de ler as folhas que seguiam anexada
umas às outras, pois só vão confundir ainda mais minha mente. A dor de cabeça
que sinto pela frustração que me assola é maior do que eu mesma poderia
esperar e agora começo a acreditar que talvez a culpa do massacre não seja de
Donatel e muito menos de Dante, afinal, ele poderia apenas estar protegendo os
filhos de algum plano do meu pai.
Acabo rindo com essa ideia absurda, se for assim, Dante não estaria
envolvido certo? Isso tudo não faz o menor sentindo. Eles tinham um contrato e
não podiam se matar. Bufo irritada com as inúmeras possibilidades que surgem
em minha mente e me assusto com o baque da porta bem atrás de mim.
Procuro disfarçadamente esconder a pasta sobre as cobertas e agradeço
por segundos antes ter arrumado todos os papeis dentro da mesma, mas ao me
virar para encarar o homem que se encontra atrás de mim me sinto em total
alerta.
Seus olhos azuis estão imersos em pensamentos e fúria, ele me observa
com irritação e por incontáveis minutos não diz uma única palavra me deixando
preocupada. Ainda assim, não quero conversar agora, pois meus pensamentos
estão um verdadeiro emaranhado de decepções e acabarei apenas descontando
minhas frustrações sobre ele.
— Quando ia me contar a verdade Eva? — Tranca a porta guardando a
chave no bolso.
Ouvir aquela pergunta me deixa tão chocada que nem mesmo consigo
fingir desentendimento.
Ele provavelmente descobriu tudo e esse não é o melhor momento para
isso acontecer.
— Eu acreditei que você estava morta por todos esses anos. — Sua voz
por um momento falha e um sorriso debochado e triste surge em seus lábios.
— Você está me confundindo... — Antes que eu possa terminar sua mão
vai de encontro com a porta acertando um soco nela e somente agora vejo que
seus dedos estão machucados.
— Para de mentir porra — grita me assustando.
Ele está bravo, extremamente bravo, acho que bravo passa longe do
homem que vejo a minha frente e isso me assusta. Nunca, em nenhum momento,
vi Dante tão descontrolado como agora.
É visível que ele está confuso, perdido e se sentindo traído assim como
eu, mas em seu caso é diferente, não sei explicar. Talvez esconder a verdade dele
não tenha sido uma boa ideia.
— Dante. — Ele me corta bruscamente.
— Eu acreditei que você estava morta por onze anos — grita. —
Malditos e ferrados onzes anos da minha vida. Me culpei e me julguei todos os
dias por não sido capaz de te proteger, Eva. — Sinto o arrepio de medo quando
ele chama meu nome naquele tom hostil e raivoso, mas meu coração se aperta ao
ver seus olhos marejados com as lágrimas.
Me sinto tão atônita que nem mesmo consigo discutir ou me defender e
para piorar meu corpo reage de uma forma diferente a cada reação de seu corpo
e tom de voz.
— O tempo todo você estava aqui. — Ele ri passando as mãos pelos
cabelos depois nos olhos.
Me mantenho quieta observando seus movimentos pelo quarto e sua
rápida diferença de humor. Não consigo baixar minha guarda, não consigo me
manter calma vendo-o tão instável a minha frente.
— Por que mentiu para mim? — Ele para abruptamente no meio do
quarto olhando dentro dos meus olhos e agora posso ver toda a dor refletida em
seus olhos e seu rosto. — Por que me deixou acreditar que estava morta Ivi?
Você não sabe o quanto dói. — Ele aperta as mãos no peito.
— Posso estar viva, mas já morri a muito tempo. Morri quando você
tirou tudo e todos de mim, até você se foi Dante. — Sinto o nó se instalar em
minha garganta e engulo a fraqueza da minha alma que insiste em querer
transbordar por meus olhos.
Seu olhar de repreensão havia ido embora e agora seu semblante
demonstra toda a dor que aquelas palavras lhe causaram.
— Dói ouvir a verdade Dante? Dói em mim também ter confiado quinze
anos da minha vida para uma pessoa vazia como você — cuspo aquelas palavras
com ódio querendo feri-lo, querendo vê-lo sofrer, sofrer tudo o que eu sofri. — E
sabe o que mais doeu? — Rio com escárnio. — Doeu ver com meus próprios
olhos o único homem que amei atirar em meu próprio peito.
Seu olhar triste e magoado mostra que não preciso de objetos para feri-lo,
basta apenas as minhas palavras.
— Eu tentei tudo o que pude para te salvar naquele momento. Tentei te
salvar de Donatel. Tentei te salvar dos seus pais. — Aquele tom de voz de
alguma forma toca meu coração e isso só me deixa com mais raiva.
Como posso ter esse sentimento de dor e piedade por alguém que matou
toda a minha família? Por alguém que tentou me matar? Fico inconformada
comigo mesma por saber que ainda o amo.
— Você atirou em mim — grito. — Tirou todos. Todos Dante. Todos. —
Dou ênfase na palavra. — Até você, eu te amei tanto e você se foi, você puxou o
gatilho. — Mesmo que me forço a ser forte as lágrimas de dor e tristeza
escorrem por meus olhos.
— Seus pais te venderam como um objeto antes mesmo de você nascer.
Te venderam por dinheiro, status e fama. Eles eram assassinos falidos. — Passa
as mãos nos cabelos nervosamente.
Aquelas palavras surtem o mesmo efeito de um tapa em minha cara me
deixando ainda mais confusa.
Me venderam? Não entendo o que ele diz. Na verdade, não estou
entendendo nada a muito tempo.
— Isso mesmo. — Ele suspira frustrado. — Você pertence à família
Voyaller desde o seu nascimento. — Sua voz calma me deixa ainda mais nervosa
e ousadamente ele caminha em minha direção.
— Não se aproxime — grito e ele para me observando a poucos metros
de distância.
— Eu te amo Eva, por todos esses anos eu sempre te amei. — Aqueles
intensos olhos azuis demonstra toda a verdade por trás de suas palavras.
— É mentira. — Apoio as mãos nos olhos confusas. — Fique calado,
você matou meus pais, tentou me matar e agora quer me deixar confusa. —
Avanço em sua direção acertando socos em seu peito ele é obrigado a desviar,
pois estou usando força bruta. — Eu te odeio — cuspo as palavras com ódio.
E por mais que meu corpo estremece ao ouvir aquele apelido e meu
coração se acelera com a honestidade de suas palavras, no fundo da minha alma
quero me apoiar em sua sinceridade, mas simplesmente não consigo.
A mais de onze anos não via seu sorriso, suas incontáveis expressões de
felicidade e seu olhar cheio de esperança, sua voz mansa e calma que demonstra
todo o seu alto controle para não dizer coisas erradas para a mulher que ele
sempre disse amar. E neste exato momento sou obrigada a encará-lo novamente
com todo o seu alto controle esbanjando paixão.
Isso me faz lembrar do pequeno menino que fez juras de amor eterno a
uma menina que nem sabia o que significava a palavra amor, mas que ao longo
dos anos provou toda a sinceridade e felicidade daquelas juras ao lado dele. Até
o próprio roubar tudo o que havia lhe dado e ensinado. Até o próprio destruir as
esperanças de um coração sonhador o jogando na profunda e obscura solidão.
— Eu te amo Eva — ele grita segurando meus braços com força
impedindo meus socos constantes e ritmados sobre seu peito. — Mesmo que me
odeie eu continuarei te amando.
Estou tão imersa em meus pensamentos que me surpreendo ao sentir seus
braços fortes me envolverem em um forte abraço e automaticamente encosto
minha cabeça em seu peito enquanto ele apoia sua mão em meus cabelos
forçando meu corpo contra o seu.
— Senti falta do seu cheiro, do seu corpo, dos seus braços, falta das
nossas brigas bobas, da sua possessividade e da sua honestidade. Falta dos
nossos dias juntos e das nossas brincadeiras. Foi tão difícil olhar para você e
custar a acreditar que a mulher diante dos meus olhos não era a mulher que
sempre amei. Foi tão difícil acreditar que você era irmã de Robert Trion, quando
meu corpo e alma gritava dizendo que era minha doce e amada Ivi — sussurra as
palavras enquanto me aperta contra seu corpo esfregando o rosto em meus
cabelos.
Me sinto um brinquedo, um verdadeiro brinquedo usado e jogado, tanto
pelos meus pais, como para Dante e até mesmo Robert. Eu já não sei mais quem
sou ou o que quero ser, para onde vou ou a que lugar pertenço. Minha mente está
confusa, meu coração se aperta a cada batimento descontrolado e o nó em minha
garganta me sufoca. Estou perdida e mesmo que queira acreditar em tudo o que
Dante me diz simplesmente não consigo. Ele mentiu no passado e pode mentir
no presente.
Meus pais me venderam? Dante tentou ou não me matar? Robert sempre
soube da verdade e mesmo assim me entregou por um contrato?
São tantas perguntas que rodam minha mente, tantas dúvidas e incertezas
mesclada ao medo de errar mais uma vez, que não consigo acreditar em mais
ninguém, nem mesmo nos meus próprios sentimentos desordenados.
— Não confio em você — sussurro. — Não confio e não quero que me
toque. Não quero ouvir suas juras de amor. — Engulo o nó preso em minha
garganta respirando profundamente. — Eu só quero saber a verdade que sempre
foi escondida de mim.
Ele me aperta mais contra seus braços ignorando minhas palavras,
mantenho meus braços soltos ao lado do meu corpo sem retribuir seu abraço.
— Por que matou meus pais Dan? Por que atirou em mim? — Perdida
tento encontrar as respostas certas em meio as lágrimas.
Por que eu ainda tenho que te amar colocando todos os meus planos em
risco? As lágrimas escorrem dos meus olhos sem permissão. Quero apenas saber
a verdade e vê-lo sofrer como eu sofri, mas ao mesmo tempo quero protegê-lo e
retirar toda a dor explicita em seu olhar.
— É uma longa história. — Se afasta me observando.
— Eu quero saber toda a maldita verdade. — O empurro, mas ele não
deixa eu me afastar segurando meus braços.
— Vou te contar Ivi, só que... — Ele engole em seco pensativo.
— Só que nada Dante, você vai me contar tudo, estou aqui não estou?
Era isso que você queria, não era? Essa é sua oportunidade de redenção. — O
empurro me livrando de suas mãos.
— Dói lembrar de tudo, dói te imaginar morta. — Ele engole em seco. —
Dói saber que te causei tanto sofrimento e dor. Quero seu perdão e quero
explicar que a culpa não é minha... — O interrompo.
— Então comece a contar a verdade, estou aqui para te escutar, nada
além de te escutar. — O provoco.
— Você é minha Ivi e jamais deixarei que fuja novamente ou que encoste
em outros homens. — Seu tom firme me faz rir.
— Dessa vez suas armas estarão apontadas para onde? — Vejo sua
expressão sombria tomar conta de seu rosto e sei que aquelas palavras lhe
atingiram em cheio. — Se quer tanto me dizer a verdade, apenas comece.
— Saiba que meu único pecado e pesadelo foi ter perdido você aquela
noite, do resto não me arrependo de nada. — A frieza em sua voz me machuca
de tal formal que o ódio domina meus pensamentos.
Me preparo para desferir um tapa em seu rosto, mas ele segura minha
mão puxando meu corpo próximo ao seu.
— Você não deveria defender tanto a sua família dessa maneira, afinal
eles assinaram os papeis do nosso casamento. Você é minha Eva. Minha esposa.
— Dante assume um papel irônico e irritado.
Semicerro os olhos rindo.
— Vá a merda seu cretino jamais aceitaria ser sua esposa — as palavras
saem da minha boca automaticamente.
— Não é uma questão de aceitar ou não, afinal, tenho todos os papeis
minha linda menina. — Seu sorriso vitorioso me surpreende.
Ele não está blefando ou tentando me intimidar, pois a certeza em seus
olhos me confirma isso.
Meus pais realmente me venderam para Donatel?
Esses pensamentos me deixam magoada, atordoada e triste, quero saber
de toda a verdade, mas arrancar elas de Dante está sendo mais difícil do que
imaginei.
— Já não sou mais aquela menina mimada e a única coisa que quero é te
ver morto junto com o desgraçado do seu pai — cuspo as palavras que não veem
totalmente do meu coração.
O baque que ele leva ao ouvir minhas palavras fica nítido em seu olhar
chocado e magoado.
— Não importa o que você fale, faça ou tente, nunca deixarei você se
afastar de mim novamente. Não importa o quanto me odeie, mesmo sendo você,
eu não serei gentil se tentar fugir. — Ele aperta meu braço semicerrando os
olhos.
— Você diz não ser tão culpado então porque não me conta a verdade —
grito irritada. — Eu só quero a porcaria da verdade Dante.
— Porque sou a porra de um mafioso e não lhe devo satisfações, afinal,
você não é nada minha, certo? Você me odeia e me quer longe. Você já deixou
claro que somos desconhecidos — cospe com ira. — Nem mesmo sei como devo
lhe chamar. Dana Trion ou Eva Becker? — O sarcasmo predomina em sua voz e
me surpreendo em vê-lo dessa maneira.
Tomada ainda mais pelo impulso de feri-lo eu não abaixo minha cabeça
ou entro em seu jogo, apenas permaneço firme.
— Você deve me chamar de tudo, menos de sua — digo com ódio.
— Você me julga pelo que seus pais fizeram, eu fui tolamente contra
tudo e todos tentando te proteger. Não te culpo por me culpar, eu realmente
puxei o gatilho, mais saiba que aquela era minha única opção, mas seu orgulho e
desejo de vingança te cegam, então não lhe contarei nada no momento, não
quando te tenho tão perto e corro o risco de te perder novamente.
— Donatel está de volta posso procurar a verdade direto da fonte. —
Sorrio.
— Não ouse se aproximar de Donatel. — Ele dá um passo em minha
direção e faço o mesmo encurtando nossa distância.
— O que fará para me impedir Dragão? Vai atirar em mim novamente?
Talvez agora você consiga concluir o seu verdadeiro objetivo — as palavras
escorrem por minha boca como um amargo veneno e posso ver todo o brilho de
seu olhar morrer diante e mim.
Nesse momento qualquer fio de esperança que se encontra em seu
coração se afunda no mais profundo abismo de dor e ressentimento.
— Da mesma maneira que você sofreu por onze anos eu também sofri
Eva, e sinceramente esperei um pouco mais de compreensão vindo da sua parte.
Eu sei que você tem um emaranhado de ressentimentos e mesmo que eu tente
expressar toda a verdade, você simplesmente não vai acreditar, mas se coloque
em meu lugar por um único momento. — Ele ergue sua postura me encarando de
cima. — Tudo o que fiz foi tentando te proteger e mesmo assim vi a mulher que
sempre amei tombar diante dos meus olhos por uma bala que saiu da minha
própria arma. Por anos e anos me reprimi e me culpei achando que ela havia
morrido e quando descubro que ela está viva a única coisa que recebo é ódio e
frieza, mesmo que eu grite e demonstre todo o meu amor. — Ele sorri
desgostoso. — Você quer a minha morte depois da verdade querida? É isso que
você quer? — pergunta com a voz embargada.
E mesmo que eu queira de alguma forma expressar todos os meus
sentimentos me sinto em um labirinto sem saber o que responder.
— A uma cópia do contrato de casamento que seus pais assinaram dentro
da pasta que você tem em mão. Conclua suas dúvidas e veja se estou mentindo.
— Suspira fechando os olhos.
O culpei, o julguei, o provoquei tentando machucá-lo, tentando fazer ele
sofrer a mesma dor que eu, mas na verdade, assim como eu, ele já vinha
sofrendo por esses longos onze anos.
— Dan. — Tento apoiar minha mão em suas costas, mas ele
simplesmente ignora meu toque caminhando até a saída e antes de destrancar a
porta solta aquelas palavras intrigantes.
— Meu único objetivo sempre e em todo o momento foi te proteger Ivi.
— Sem olhar para trás caminha em direção ao corredor me deixando plantada no
meio do quarto completamente destruída.
E neste momento percebo que sempre coloquei minhas dores acima de
tudo, mas em nenhum momento parei para pensar como ele se sentia. Apesar de
que eu jamais poderia imaginar que sua intenção desde o começo era me
proteger. Ainda assim, em todos esses meses eu pude presenciar a sua dor e
ignorei completamente todo o seu sofrimento colocando minha vingança acima
de tudo.
DANTE
Carta
Eva, eu nem sei como começar a te contar tudo o que aconteceu no
nosso passado, mas tentarei resumir aquela noite de maneira que entenda todos
os lados e não somente o meu, mas antes preciso confessar que nunca acreditei
te ver nessa terra novamente, já que nossos laços foram cortados no passado,
porém essa carta foi o único meio que encontrei de te contar a verdade sem
sucumbir ao meu amor por você.
Em primeiro lugar vou começar falando sobre os nossos pais, mais
especificamente sobre os seus que se dedicavam a vida criminosa assim como os
Voyaller.
Por um deslize de um dos sócios de Frank, as empresas Becker começaram a
perder status e decaiu rapidamente.
Ele se viu desesperado quando isso aconteceu, pois o nome da família
estava envolvido em coisas ilegais, uma de suas irmãs não cumpriu o serviço de
assassinato corretamente e deixou vestígios gravíssimos para a polícia. Seu pai
estava passando por um momento difícil e o dinheiro para encobrir os vestígios
que a polícia encontrou estava em falta.
Ele com toda certeza perderia tudo, então se viu obrigado a procurar a
única pessoa que certamente lhe ajudaria, Donatel Voyaller. Não sei te
responder como eles se conheceram, ou por quantos anos seu pai já prestava
serviços para o meu, mas posso garantir que os dois eram amigos de longa data.
Frank precisava livrar o nome da família do fracasso, além de subir suas
ações que despencavam diariamente e Donatel tinha tudo o que ele precisava.
Fama, dinheiro e um bom comportamento perante a sociedade, entretanto, assim
como eu, você sabe que todo contrato tem um preço e o do seu pai foi você.
Diana estava gravida de sete meses e Donatel estava à procura de uma
noiva para seu herdeiro. É claro que ele se aproveitou da oportunidade que lhe
surgiu, pois poderia moldar a sua personalidade de acordo com suas vontades e
não teria erros de desistência no futuro, afinal, você era o pagamento de uma
dividida e agora pertencia a família Voyaller.
De começo Frank ficou receoso, achou a ideia um absurdo e se recusou
a aceitar tal absurdo, mas a situação de sua família começou a se apertar cada
vez mais e a polícia estava a um passo de chegar até os Becker. Seu pai não
vendo saída para a situação que se encontrava se viu obrigado a aceitar as
propostas de Donatel e finalmente firmar um contrato de noivado com a máfia.
Quando você completasse dezesseis anos, nós finalmente estaríamos
casados. Não se engane achando que Donatel, deixa brechas nos contratos que
firma, ele é analítico e calculista demais para cometer tal erro e esse é um dos
motivos do nome dos Voyaller ter crescido tanto em poucos anos.
Contudo, voltando ao assunto da sua família, Donatel, fez questão de
fazer seu pai assassinar o contrato de casamento antes mesmo de você crescer.
Uma das exigências de seu pai era que você não soubesse sobre o passado de
sua família e pudesse ter uma vida normal até os seus dezesseis anos.
Apesar de rígido com seus contratos, Donatel, não viu problema em
aceitar o pedido do amigo. E para facilitar nosso casamento, fui instruído desde
pequeno a permanecer ao seu lado. Por esses mesmos motivos você nunca
conheceu meus irmãos, nossos pais não queriam competição. Você estava
destinada a mim e a ninguém mais.
Eva, peço desculpas por isso, mas fui criado sabendo que você era
minha noiva e que meu dever era te amar e fazer você me amar. Quando
finalmente tinha idade para entender o que nossos pais fizeram me odiei e me
culpe, mas as intenções deles eram reais, pois eu realmente estava apaixonado
por você e não poderia deixá-la partir. Eu realmente te queria para sempre,
porém, quando isso estava prestes a acontecer seu pai se arrependeu.
Frank não queria entregar a filha para um homem como Donatel, que
era conhecido pelas atrocidades que cometia, então, sua família planejou uma
fuga meses antes do seu aniversário de dezesseis anos. É claro que Donatel
descobriu tudo.
Isso enfureceu Donatel de tal maneira que ele não pensou duas vezes em
agir. Uma traição dessas repercutiria de forma negativa dentro da máfia e faria
o nome dos Voyaller decair drasticamente. Ele não iria permitir que tudo o que
custou a construir fosse desfeito por uma traição e me usou para concluir seus
planos.
Eu não tenho muitas explicações para aquela noite Ivi, mas aos
dezessetes anos um herdeiro começa a assumir seu papel dentro da máfia e
concluir missões é uma dessas tarefas. Quando meu pai disse o que teria que
fazer, obviamente recusei, contudo, ele usou meus irmãos para me persuadir.
Ou seguia seus planos ou ele mataria meus irmãos diante dos meus
olhos. É claro que antes dessa ameaça ele fez questão de torturar os três em
minha frente sem que eu nada pudesse fazer.
Naquela época eu não tinhas muitas opções, era jovem e estava
ingressando em um mundo que até então desconhecia. Ouvir histórias enquanto
treina é uma coisa, participar ativamente das histórias é totalmente diferente e
na minha pequena humildade e ignorância aceitei o serviço pela vida dos meus
irmãos e fiz Donatel prometer que não lhe faria mal, mas ele fez.
Donatel tinha uma arma apontada para sua cabeça. Entende o meu
desespero? Ele não hesitaria em matá-la e até o último momento tentei te
proteger. Atirei primeiro para evitar que ele acertasse sua cabeça, mas seu
corpo tombou rápido demais me levando a acreditar que você estava morta.
Tirei sua vida com minhas próprias mãos, participei do seu enterro e
jamais me perdoaria por isso.
Viver sem você nunca foi fácil, a culpa e o peso do desespero me assolam
dia após dia e confesso que quando empunho minhas armas minhas mãos
tremem. Foram com elas que tirei a vida da minha amada.
Eu juro Eva, juro que meu único objetivo sempre foi te proteger, juro que
me martirizei todos os dias e segundos da minha vida. Sem você nunca fui feliz,
nunca segui em frente, apenas me tornei a máquina que meu pai sempre quis
como forma de pagamento para os meus pecados, porém a cada ordem que
seguia e a concluída me sentia ainda mais distante. Você com certeza herdaria o
céu, já eu sempre estive destinado ao inferno.
Queria ter tempo para lhe explicar tudo pessoalmente, mas não posso,
nem tenho coragem de olhar dentro dos seus olhos e mesmo que me doí dizer
isso você merece a felicidade longe de mim.
Donatel está de volta e eu sei que ele tentará lhe fazer mal porque
Donzel estar atrás de você, mas eu lhe protegerei, mesmo que me odeie
eternamente e que custe a minha vida, lhe protegerei com tudo o que tenho e o
que me resta, então te deixarei livre para sempre e a sua vingança finalmente
será concluída.
Para sempre seu, Dante Voyaller!
Os dias passam lentamente e cada tic tac do relógio parece estar contra
nós. Meu coração bombardeia meu peito e o nó na minha garganta não diminui
mesmo sabendo que Dante está melhor.
De acordo com o doutor a sedação vem sendo diminuída dia após dia e a
qualquer momento ele pode acordar, isso só torna a minha ansiedade ainda
maior.
O desespero e a angústia de vê-lo deslizar por meus braços todo
ensanguentado ainda permanece em meu corpo e confesso que às vezes sinto
leves tremores ao me lembrar das cenas de Donatel torturando friamente o
próprio filho.
Fecho fortemente os olhos ao querer apagar aquelas imagens da minha
mente e automaticamente aperto minha mão sobre a de Dante que está apoiada
sobre a cama. Ao abrir os olhos me pego observando os roxos espalhados por
seu corpo e os vários curativos que tampam as escoriações do seu abdômen e
dorso.
Dante exala poder mesmo deitado sobre uma cama. É natural de um
homem com suas responsabilidades e deveres emanar virilidade desta maneira,
ainda mais quando foi criado para isso e não importa quantas vezes eu o observe
a cada momento que se passa sinto que o amo ainda mais, que o desejo e que o
quero ao meu lado para sempre.
A vingança pode ter mascarado todos os meus sentimentos por onze
anos. Os erros do passado ainda irão pesar em nosso futuro e o fato dele ter
acertado em cheio o meu peito com uma de suas balas ainda me machuca, mas o
fato de termos sido usados pelo egoísmo de nossos pais conta grandemente em
nossa história.
Meu coração dispara ao sentir os dedos de Dante apertar minhas mãos e
um gemido rouco escapa de seus lábios quando seus lindos olhos azuis brigam
com a claridade do quarto.
A felicidade de vê-lo acordado domina cada célula do meu corpo e
automaticamente me coloco de pé.
Sei que as coisas serão diferentes de agora em diante, mas posso afirmar
que apreendi muito com tudo o que aconteceu. Principalmente o fato de que a
vingança te mata de dentro para fora como um doce veneno, mas o perdão cura
por completo.
Livro Físico
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O MAGNATA DA MINHA VIDA
Sinopse: Megan Park Avallon sempre foi uma doce e sonhadora mulher
que apreciava sua vida da melhor forma possível e apesar do passado não ter
sido gentil com ela, procurou apagar de sua memória toda a dor e pânico que ele
lhe causara. O que ela não esperava era acordar de véu e grinalda em um quarto
de hotel com um homem totalmente desconhecido, do qual descobriu ser o seu
marido.
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Estilo de sofá.
Table of Contents
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Epílogo
Livro físico
Outras Obras