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UM MESTRE SELVAGEM

UM ROMANCE SOMBRIO DE UMA CATIVA DA MÁFIA

A MÁFIA DE BOSTON
BIANCA COLE
Um Mestre Selvagem Copyright © 2022 Bianca Cole

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Este romance constitui uma obra de ficção. Os nomes, personagens e incidentes retratados
nele são produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas
ou mortas, eventos ou locais é mera coincidência.
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Unidos) e constitui ofensa punível com até 5 anos de prisão e uma multa de $250.000.

Projeto Gráfico de Capa: Deliciously Dark Designs.


C O NT E NT S

1. Scarlett
2. Malachy
3. Scarlett
4. Malachy
5. Scarlett
6. Malachy
7. Scarlett
8. Malachy
9. Scarlett
10. Malachy
11. Scarlett
12. Malachy
13. Scarlett
14. Malachy
15. Scarlett
16. Malachy
17. Scarlett
18. Malachy
19. Scarlett
20. Malachy
21. Scarlett
22. Malachy
23. Scarlett
24. Malachy
25. Scarlett
26. Malachy
27. Scarlett
28. Malachy
29. Scarlett
Epilogue

Também Por
Sobre a Autora
1
S C A R LE T T

E ntro no cômodo escuro da boate um tanto suspeita.


Meu coração está batendo acelerado, forte no peito,
fazendo com que eu me sinta enjoada. Os organizadores arrumaram
o palco no meio do cômodo, com um banquinho e um microfone
sobre ele, nada além disso.
Eu estou acostumada a subir no palco, desde que eu era
pequena. Dançar é a minha paixão, mas é uma das profissões mais
difíceis para ganhar dinheiro. O dinheiro de que necessito tão
desesperadamente para ajudar minha mãe. Quando vi o anúncio on-
line para vender minha virgindade a quem desse o lance mais alto,
eu achei que fosse uma brincadeira. Até que descobri que isso existe
mesmo, não é lícito, mas acontece em lugares assim.
Algumas outras meninas parecendo ansiosas estão paradas de
um lado, observando ao redor. Nenhum dos compradores está aqui
ainda. É uma sensação estranha estar em um lugar onde todo
mundo sabe da constrangedora verdade. Todas as meninas aqui,
incluindo eu, são virgens.
Um homem segurando uma prancheta se aproxima de mim.
“Nome?”.
“Scarlett Carmichael”. Eu torço os dedos, nervosa, imaginando se
estou cometendo um grande erro.
Não dá para negar que eu preciso muito do dinheiro e que não
existe nenhuma outra maneira de obtê-lo. Trata-se mesmo de uma
situação de vida ou morte. Tenho certeza de que vender sua
virgindade não pode ser tão horrível. Pelo menos, é isso que eu
tenho dito a mim mesma.
Esse lugar vai lotar com os homens mais repulsivos que se pode
imaginar. Eu repito a mesma coisa várias vezes, tentando me
convencer de que vai ficar tudo bem.
É só uma noite.
“Me siga, por favor”, diz o homem.
Eu o sigo em direção à boate e reparo que eles já vestiram todas
as mulheres que estão aqui com o mesmo vestidinho branco de
tecido fino, o qual não deixa nada à mercê da imaginação. Sinto um
arrepio percorrer minha espinha em pensar em vestir isso na frente
de qualquer pessoa.
O homem me conduz a uma sala nos fundos. As outras mulheres
estão se trocando e vestindo vestidos de tecido fino idênticos.
Ele se vira para mim e me entrega um deles. “Tire sua roupa e
coloque isso”. Os olhos dele deslizam pelo meu corpo devagar.
“Nenhuma roupa íntima por baixo, depois, saia e fique com o resto
das meninas por enquanto”.
Eu engulo em seco e tiro o vestido. Todas as outras meninas
parecem tão assustadas quanto eu. Ninguém fala nada enquanto nos
despimos juntas na salinha e colocamos o vestido que garante a
visualização dos produtos que estamos vendendo.
Sinto um nó no estômago e ouço minha melhor amiga, Kaia,
avisando-me para não fazer isso. Ela me acharia uma maluca, se eu
fizesse uma sugestão dessa, mas eu não posso ficar parada vendo
que minha mãe não pode pagar as contas que ela deve ao hospital.
Eu tenho algo que posso vender e vai salvar a vida dela, não tendo
outro jeito de conseguir o dinheiro. Não tinha como pensar duas
vezes quanto a fazer isso por ela, depois de tudo o que ela fez por
mim. Porém, se ela soubesse, ela me mataria.
O homem que me trouxe para cá bate palmas atrás de mim, e eu
levo um susto. “Preciso de todas vocês fora daqui logo. Tem muitas
meninas esperando para se vestir”.
Deve ter pelo menos vinte mulheres esperando, se não mais. É
difícil acreditar que existe um mercado tão imenso para a virgindade
de uma mulher. Eu passo o vestido fininho pela cabeça rapidamente
e coloco minhas roupas na minha bolsa. Eu cruzo os braços sobre o
peito antes de voltar para a boate.
Sempre recusei encontros com caras por estar ocupada demais
praticando dança, sempre esperando perfeição. Essa é uma razão
para eu ainda ser virgem aos vinte e quatro anos, mas não é a razão
principal.
Eu estou me esforçando muito para fazer tudo dar certo e não
consigo pagar o dinheiro que minha mãe deve ao hospital, pois ela
recebeu um diagnóstico de câncer de mama há um mês. Ela fez um
empréstimo altíssimo para cobrir os custos iniciais, mas logo as
parcelas vão começar, e nenhuma de nós duas tem o dinheiro para
pagar.
Eu espero que a minha virgindade seja vendida por um valor
suficiente para quitar a dívida completamente e ainda pagar pelo
restante do tratamento. Ouvi falar que os leilões geralmente chegam
a duzentos e cinquenta mil dólares, o que é uma loucura.
O homem que me trouxe até os vestiários está parado em um
grande palco no centro do salão, segurando um microfone. “Meninas,
posso pedir um minutinho da atenção de vocês, por favor?”, ele
pergunta.
O falatório no salão é interrompido, e todo mundo olha para ele.
“Obrigado”. Ele limpa a garganta. “Eu quero explicar o que
acontece no leilão. Eu vou chamar uma por uma de vocês ao palco,
para que os compradores possam ver o produto. Cada uma de vocês
tem um número costurado à esquerda da barra de seus vestidos, e
esse é o número que nós vamos chamar”.
Eu olho de relance para baixo e vejo que meu número é o vinte e
três. Muitas das outras meninas fazem o mesmo.
“Assim que todas vocês tiverem vindo ao palco, os lances serão
iniciados em ordem. Vocês deverão esperar nesse cantinho, até que
os lances no seu número sejam finalizados”. Ele aponta para um
lugar bem iluminado com cadeiras na frente do palco. “Então vocês
devem seguir Aleks até a sala dos fundos, onde os compradores irão
buscá-las. Nós já temos os seus dados bancários, e vamos transferir
oitenta por cento da quantia do leilão a vocês no mesmo instante”.
O cara não é americano. Ele tem sotaque do leste europeu. Eu
fico imaginando que tipo de facção criminosa está por trás deste
evento. O simples pensamento me deixa enjoada, pois a última coisa
que eu quero é estar do lado contrário da lei para isso.
Uma menina bonita com cabelo loiro se inclina na minha direção.
“Você também está nervosa?”.
Eu encolho os ombros. “Bem nervosa”. Eu não consigo lidar com
conversa fiada neste momento. Eu estou distraída demais para isso.
Felizmente, antes de ela dizer qualquer outra palavra, nós somos
conduzidas para trás das cortinas do palco.
“Agora, os compradores entrarão na sala, e eu quero que todas
vocês se organizem na ordem dos números de vocês em fila”,
ordena Aleks.
Eu espero, enquanto o caos toma conta, sabendo que não
adianta tentar encontrar o meu lugar, até que as pessoas se
organizem. Assim que as meninas se organizam, eu encontro o meu
lugar. A menina perto de mim parece mais nervosa que eu.
O tempo parece passar a passos de tartaruga enquanto nós
esperamos, escutando o anunciante se dirigir aos homens que estão
prontos para darem seus lances. Só de ver a fisionomia dos outros
rostos de mulheres à minha volta, dá para perceber que elas estão
todas tão nervosas quanto eu.
As duas meninas na minha frente falam uma com a outra
cochichando, mas eu consigo ouvir. “Você acha que os homens que
vão dar os lances são perigosos?”, pergunta a número vinte e dois.
A número vinte e um faz que não com a cabeça. “Duvido.
Provavelmente eles sejam um monte de homens com tesão que
querem tirar a virgindade de jovens meninas”.
A menina que está mais perto de mim enruga o nariz. “Meu Deus,
espero que eles não sejam velhos demais”.
Eu suspiro fundo, tentando ignorar o papo inútil. Elas esperavam
ser pagas pela virgindade delas e ainda curtir o processo ao mesmo
tempo?
É extremamente improvável que este leilão atraia um monte de
homens jovens bonitos a fim de dar lances por nós. Os caras aí fora
são exatamente do tipo que você não quer conhecer. Eles devem ser
misteriosos e pervertidos, e com toda certeza mais velhos que
qualquer uma de nós.
O que importa é conseguir o dinheiro para pagar pelo tratamento
da minha mãe. Se o cara para quem eu deverei perder a minha
virgindade tiver oitenta anos de idade, então, que seja. Eu faria isso
cem vezes de novo para salvar a vida dela. Eu não posso ficar
parada e não fazer nada enquanto ela sofre.
Aleks volta para os bastidores, batendo palma. “Sem papinho
furado. Isso aqui não é uma reunião de amigas. Eu quero que todas
vocês foquem e prestem atenção quando chamarem os números de
vocês. Vocês entenderam bem?”.
A sala fica em silêncio, e todo mundo olha para ele de um jeito
pasmo.
“Eu perguntei se vocês entenderam”. Ele repete, irritado, fazendo
algumas das meninas pularem de susto.
“Sim”, nós dizemos em coro. Eu sinto que volto à época da
escola. Algo me diz que contrariar Aleks, ou qualquer um dos
organizadores aqui, resultaria em uma punição pior que a suspensão
da escola. Esses homens não estão agindo na lei. Esse leilão não é
lícito.
Eu posso até ter somente vinte e quatro anos, mas eu nunca fiz
nada ilícito na minha vida. Fico enjoada em pensar que eu poderia,
de fato, ser presa por isso.
E então, quem cuidaria da minha mãe?
É só uma noite.
Eu repito meu mantra tranquilizador na cabeça, esperando evitar
um ataque de pânico. As chances de a polícia aparecer e fechar o
estabelecimento são mínimas. A organização toda parece bem
sofisticada, e esses caras parecem ser profissionais.
Uma noite apenas e conseguirei quitar o débito da minha mãe,
bem como pagar pelo restante do tratamento. Eu sei que vale a pena
correr este risco. Eu só espero que o homem que pague pela minha
virgindade não seja um psicopata.
“Obrigado pela presença no leilão da virgindade. Agora que já
passamos por todas as etapas, daremos início ao leilão”, eu ouço o
cara que é encarregado por apresentar o leilão dizer no microfone.
Sinto meu coração acelerar neste momento. Agora já foi. Estou
prestes a vender a minha virgindade para quem der mais.
2
MAL ACHY

“C hefe, o carro está pronto para o senhor”, diz Niall,


interrompendo meu trabalho.
Eu olho em seus olhos. “Valeu, cara”. Eu faço o logout no meu
computador e o desligo antes de deixar o escritório. “Você tem
certeza de que não quer vir comigo só para acompanhar?”.
Niall olha para mim e faz que não com a cabeça. “Não, comprar
mulher não é muito meu estilo”.
Dou risada. “Você não sabe o que está perdendo”. Eu dou um
tapinha nas costas dele. “Você pode usar as mulheres que você
compra como quiser”. Dou uma piscadinha para Niall. Meu gosto em
relação a mulheres é tão rústico e distorcido que é difícil para mim
encontrar alguma que esteja disposta a transar comigo.
As virgens inocentes nos leilões são sempre as melhores, porque
quando as deixo, elas ficam acabadas. Nenhuma delas espera que a
venda da sua virgindade signifique dormir comigo até eu me cansar
delas. Eu geralmente me canso delas, assim que acabo com a
firmeza delas. Eu não pago mais de um milhão de dólares para uma
trepada.
“Com certeza”. Ele ri. “Eu soube do que aconteceu no cais ontem.
Você tem algum tipo de retaliação em mente para os italianos?”.
Passo a mão pela minha barba, fazendo que não com a cabeça.
“Ainda não. Nós vamos conversar com o pessoal nos próximos dias
para estipular um plano de ação”. Eu dou de ombros. “A verdade é
que nós estamos em guerra, e ela não vai acabar tão cedo”.
“Ai, eu tinha esperança demais”, diz Niall, dando-me um tapinha
no ombro. “Será que eu marco essa conversa para depois de
amanhã?”.
Eu assinto. “Seria bom, cara. Até mais tarde”. Eu saio do
escritório e vou em direção à porta da frente. Vejo que minha irmã,
Alícia, está parada de um lado da porta.
“O que você está fazendo aqui, mana?”.
Ela dá de ombros. “Você está indo para um daqueles leilões
horríveis de novo?”.
Eu cerro os dentes com força, porque sei que Alícia não aceita o
meu jeito de fazer as coisas. Apesar das minhas tentativas de blindar
a minha irmã caçula da minha imoralidade, eu falhei. Tudo o que ela
quer é que eu encontre uma linda garota e forme uma família, o que
não está nos meus planos. Eu sou problemático demais, de um jeito
que ela jamais compreenderia. Alícia é minha meia-irmã, e ela é
cinco anos mais nova. Nós já passamos por coisas terríveis juntos,
mas eu sempre a protegi, independentemente de qualquer coisa.
“O que importa?”, pergunto.
Alícia suspira lentamente. “Por que você não dá uma chance para
a minha amiga Jane e sai com ela?”.
Porque Jane sairia correndo, se soubesse do que eu gosto de
fazer na cama. Digamos que eu não sou muito gentil. Mal posso
dizer que sei o que gentil significa. “Acredite em mim, irmã. A sua
amiga não quer nada comigo”. Dou um beijo na bochecha da minha
irmã. “Não espere acordada”. Eu saio antes de ela conseguir
protestar a respeito da minha decisão de comprar outra mulher.
Niall estacionou meu Chevy Impala logo em frente para mim.
Sento-me no banco do motorista. Desde que aquele idiota do Milo
explodiu o meu Corvette, eu ando mais emputecido do que nunca.
Sinto que está borbulhando bem na superfície e vai continuar até eu
conseguir me vingar dele.
As guerras não são ideais. Eu queria evitar isso, mas quando ele
matou meu primo, Sean, não tive opção. Apesar de Sean ser um filho
da puta de duas caras que trabalhava para os russos. As únicas
pessoas que eu odeio mais do que os italianos são os russos.
Eu ligo o motor, engato primeira e saio em direção ao portão
automático. Ele abre, assim que o sensor detecta o carro. Quatro dos
meus homens estão parados vigiando o portão, e eles acenam
quando eu passo. Normalmente, eu não tenho muitos homens pelas
redondezas, mas com a guerra se aproximando, é necessário.
Meu celular toca, quando eu viro na avenida principal em direção
à boate. É Aiden, um dos meus homens. Eu atendo a ligação sem
tirar as mãos do volante.
“O que foi?”, pergunto.
“É a informação sobre Mikhail Gurin”.
Eu aperto os dentes, porque sei que esta não é a hora certa para
saber das notícias. Se o filho da puta desse italiano, Milo Mazzeo,
estiver certo, meu primo Sean me fodeu bonito. “O que você ficou
sabendo?”.
“É verdade que Sean estava trabalhando para ele, roubando as
cargas dos italianos”.
Aperto o volante com tanta força que quase chego a esmagá-lo.
“Há quanto tempo?”.
Aiden limpa a garganta. “Acreditamos que seis meses. Ele
começou aos poucos, mas era só uma questão de tempo até que os
italianos o capturassem”.
“Que babaca”, digo, socando o painel. “Você pode me trazer a
evidência na nossa conversa depois de amanhã. Niall está
organizando tudo”.
“Sim, chefe”.
Eu desligo e me concentro na direção. Fico louco de ódio em
pensar que meu próprio sangue possa me trair assim. A coisa mais
importante do que tudo para mim é a família, e eu sou fiel até
demais. Eu não deveria ter começado essa guerra, se Sean não
tivesse me deixado para trás. Se ele estava roubando drogas
italianas, ele deveria tê-las roubado para nós, não para os russos.
O fato de Milo tê-lo matado foi justificado, mas ele deveria ter
dado esse privilégio a mim. Família pode ser importante para mim,
mas eu não tolero um dedo-duro, mesmo se for sangue do meu
sangue.
O estacionamento da boate está lotado, com muitos clientes
chegando. Ultimamente, as meninas neste leilão estão previsíveis e
um pouco chatas, reclamando demais para o meu gosto. Esta noite,
eu preciso pegar uma menina mais forte, principalmente se eu quiser
fazer o dinheiro valer a pena.
Eu estaciono na minha vaga de sempre e desligo o motor. Já faz
bons meses desde o último leilão, e a última mulher só durou uma
semana, até se tornar completamente inútil, uma criancinha chorona.
Eu saio do carro, bato a porta e tranco. Alguém limpa a garganta
atrás de mim para chamar a minha atenção. Eu viro e vejo Jameson,
um político sujo que está sempre nesses eventos. Nem sempre ele
dá lances, mas vem para o evento mais de metade das vezes.
“Jameson, como posso ajudá-lo?”, eu pergunto, imaginando por
que motivo esse babaca se aproximaria de mim antes de eu pegar
um drinque.
Ele balança a cabeça. “Eu soube que você estava tendo
problemas com Milo Mazzeo. Na verdade, é o que eu posso fazer
para ajudar você”.
Eu levanto uma mão para impedi-lo de continuar. “Se você quiser
falar sobre negócios, ligue para a minha secretária. Neste momento,
não estou trabalhando”.
Ele parece um pouco irritado com a minha objeção quanto a falar
sobre Milo. Ele nunca gostou dele, e é um dos poucos políticos que
compreendem o submundo do crime de Boston. “Tudo bem. Eu vou
ligar para ela”.
Eu dou as costas para ele e dou um passo para trás.
“Eu poderia ajudar você a destruí-lo, mas não vai ser barato,
principalmente porque você não me leva a sério”.
Dou um sorrisinho sem graça em resposta ao comentário babaca
e arrogante, do qual ele logo se arrependerá. “Eu vou pagar quanto
me der na telha, Jameson. Ou vou rejeitar a proposta. Você acha
mesmo que eu preciso da sua ajuda com os italianos?”. Eu não dirijo
o olhar para ele.
“Não, mas você poderia demonstrar um pouco mais de respeito
por eu estar tentando ajudar, ao menos”.
Eu viro devagar e olho para ele com os olhos semicerrados. A
maneira como o encaro o faz empalidecer. É intenso o suficiente
para deixar qualquer um pálido, mas esse cara é um puta de um
veadinho. “Você sabe com quem está falando, cara? Eu não
insistiria, se eu fosse você, a menos que esteja querendo que eu
quebre a sua cara”. Meus punhos estão cerrados ao lado do meu
corpo. Ninguém tem direito de exigir respeito de mim, principalmente
um político covarde como ele.
Ele levanta a mão no ar, como se estivesse se entregando.
“Claro, claro, eu peço desculpas. Vou ligar para a sua secretária”.
Solto um resmungo em resposta, dou as costas para ele e vou
em direção à entrada da boate. Parece que tudo relacionado a este
leilão foi feito para me irritar. Não é um bom presságio para a minha
compra de hoje.
Quando estou bravo, gosto de descontar em uma virgenzinha
inocente. O lugar está lotado, e não vai demorar muito para o show
começar. Eu juro que alguns pervertidos aqui vêm ao show e nunca
compram nada.
Sento-me em meu lugar de sempre na frente e encosto, dando
uma boa olhada nos homens que estão aqui esta noite. Jameson
entra sorrateiramente e se senta na minha frente, à mesma mesa, e
fica olhando para baixo.
É uma boa ideia ele não falar comigo mesmo. Se ele pensa que a
posição dele no conselho o mantém blindado de alguma forma, ele
está errado. Não vou pensar duas vezes antes de matar quem quer
que entre no meu caminho, seja quem for.
Eu olho para trás e vejo que Mikhail está participando do leilão e
está na mesa VIP que fica no mezanino da boate. O chefe da máfia
russa em Boston. Ele nunca compra nada, só vem de vez em quando
para acompanhar seu próprio leilão. O cara é mais discreto que eu, e
isso quer dizer muita coisa.
A música de fundo começa, e eu volto minha atenção ao palco,
onde os homens de Mikhail estão parados em frente ao microfone.
“Obrigado pela presença no leilão das virgens”, ele diz, antes de
iniciar as instruções habituais que devem ser seguidas na hora do
lance, que eu nem escuto. Já estive aqui vezes suficientes para
saber como funciona.
Tamborilo com os dedos na mesa, na expectativa de que o
garçom pegue logo meu pedido. O uísque está praticamente me
chamando. O serviço costuma ser lento, e Mikhail não contrata
garçons suficientes para o número de clientes que frequentam a
casa.
Dois russos estão sentados à minha mesa. O fato de eles falarem
a língua deles me deixa desconfortável. Eu não confio nos russos,
porque eles são piores que os italianos. Até mesmo depois da
péssima experiência que tive com Milo e a esposa dele.
“O que vocês vão beber?”, uma garçonete que eu nunca vi antes
pergunta. Ela é bonita, mas parece jovem demais para estar
trabalhando em uma boate.
Eu sorrio para ela, mas isso parece deixá-la nervosa, uma vez
que ela fica brincando com um tufinho de cabelo. “Uísque com gelo.
Duplo”.
Ela anota meu pedido em um bloquinho com as mãos trêmulas. A
atenção delas se desloca para os russos. Ela fala com eles em
russo, e isso faz meu sangue ferver.
Eu preciso de um leilão melhor que esse, mas não existe mais
nada em Boston. Os russos são ótimos em organizar eventos assim.
“Será que vocês podem falar inglês, seus babacas? Nós estamos
nos EUA, pelo amor de Deus”. Encaro os dois homens que param de
falar e olham para mim.
“Russos em sua própria boate, então, cuidado com o que você
diz”.
Aperto os dentes com força e coloco os punhos cerrados sobre a
mesa. Neste momento, sinto que estou pronto para explodir e
adoraria colorir esta mesa com o sangue desse idiota. “Que porra é
essa de que você me chamou?”.
A garçonete volta correndo para a nossa mesa e coloca o copo
de uísque na minha frente. “Desculpe pela demora, senhor”. Ela olha
para os dois russos. “Além disso, Vlad e Igor, vocês poderiam vir
comigo?” Mikhail exige sua presença na mesa dele”.
Eles me encaram antes de acenarem com a cabeça e se
levantarem. Mikhail parece ter percebido um erro fatal que ninguém
da equipe dele percebeu, que é ter colocado os russos na mesma
mesa que eu.
Jameson limpa a garganta. “Para falar a verdade, os russos
também estão me irritando”.
Eu olho para ele com os olhos entreabertos. “Não me lembro de
ter pedido a sua opinião”.
Ele balança a cabeça. “Não, mas eu não vejo por que motivo nós
não podemos nos dar bem esta noite. Não tenho mais intenção
nenhuma de falar de negócios”.
Eu dou um gole longo no meu uísque irlandês top de linha. O
calor da bebida descendo pela minha garganta alivia um pouco da
minha raiva. Raiva é uma emoção que eu tenho tentado conter,
desde que me conheço por gente. É por isso que eu apelei para a
luta livre – uma válvula de escape para toda a raiva perigosa que
borbulha logo na superfície.
Preciso relaxar e curtir o show. Até o fim da noite, terei um
brinquedinho novo para curtir e para descontar minhas frustrações.
3
S C A R LE T T

“N úmero vinte e dois”, diz o anunciante no microfone. Sinto


meu coração acelerar.
A garota que está ao meu lado sai na fila, e eu sou a próxima.
Estou trêmula de nervoso. Isso é pior do que todas as minhas
apresentações de dança juntas, como se eu estivesse pelada. Só de
pensar nos caras que estão olhando para mim como se eu fosse um
pedaço de carne faz a minha pele inteira se arrepiar.
“Número vinte e três”, chama a voz.
Eu continuo parada, congelada, olhando para a entrada do palco.
A garota ao meu lado limpa a garganta. “É você”.
Eu olho de relance para ela, e ela me dá um sorriso reconfortante.
“Dá medo, sim, mas não dá mais para voltar atrás”.
Eu faço que sim e caminho em direção ao palco, ouvindo meu
coração bater nos meus ouvidos. O silêncio na boate agora é
absoluto, com exceção de uma musiquinha sutil tocando ao fundo.
As luzes ofuscantes impedem que eu enxergue os homens que sei
que estão nos espiando naquela escuridão sem fim.
Eu nunca me senti tão constrangida na minha vida. Com muito
cuidado, caminho pelo palco e viro, atenta para não tropeçar. Não
sou uma pessoa desastrada, mas, neste momento, qualquer coisa
pode acontecer. Parece que eu estou fora do meu corpo.
Assim que paro, desço para o lugar onde devemos aguardar. As
luzes estão muito fortes, mas, desta perspectiva, consigo ver os
homens que estão assistindo. Sento-me e olho para a plateia. A
maioria dos homens têm idade suficiente para serem meus avós, o
que torna tudo bem doentio.
Meu olhar estanca em um par de olhos verde-esmeralda que
estão olhando para mim. Eu sinto meu coração parar, enquanto me
permito admirar a beleza deste homem. Ele tem cabelo curto
castanho e barba bem rente e cuidada. Ele tem tatuagem por todo o
pescoço e nos braços, que estão nus.
Quando volto a olhar para o rosto dele, vejo que ele está sorrindo
para mim com um olhar maníaco. Sinto um arrepio na espinha. É
claro que este homem é atraente, mas eu consigo ver no olhar dele
que ele não é o tipo de homem que você quer conhecer na sua vida.
Desvio o olhar e sinto uma onda de calor passar pelo meu corpo
pela maneira como ele olha para mim. Talvez seja melhor que um
dos caras mais velhos me compre mesmo. Assim, tudo isso vai
acabar logo.
É só uma noite.
Eu repito a mesma frase sem parar na minha cabeça, tentando
justificar essa loucura que eu estou fazendo. Minha mãe me mataria
por ser tão tola. Ela nunca saberá a verdade sobre a origem do
dinheiro que eu vou arranjar para o tratamento dela.
A garota que estava ao meu lado se inclina em minha direção,
quando nos sentamos na área de espera. “Sou eu, ou parece que
somos pedaços de carne em um açougue?”.
Eu olho de volta para ela e faço que não com a cabeça. “Não é só
você. Não posso negar que isso tudo é doentio, para ser sincera”.
Ela ri, mas de uma maneira ansiosa. “Sim. Estou refletindo se eu
não cometi um erro. É tudo muito estranho, mas eu preciso do
dinheiro”.
Solto um suspiro profundo. “Eu também”.
Eles chamam o resto das garotas para o palco, e a área de
espera de repente fica lotada. A garota, cujo nome não sei, tenta
puxar papo. Eu não estou muito no clima para conversar. Sinto enjoo
e me concentro em não vomitar.
Minha atenção se volta para a plateia. Quando me dou por mim,
meus olhos se dirigem ao homem que havia encarado antes. Sinto
meu coração parar, quando vejo que ele ainda está olhando para
mim de forma intensa, e sinto meu rosto em chamas. Eu sustento o
olhar dele por alguns segundos, e ele não o desvia. Está claro que
ele está interessado.
Eu limpo a garganta e desvio o olhar. O que existe nos olhos
desse homem me faz acreditar que a última coisa que eu quero é
que ele dê um lance em mim. É obscuro e pervertido. Ele pode até
ser atraente, mas eu acho que eu preferiria qualquer um dos homens
mais velhos que estão nesta boate.
“Você sabia que os preços do leilão geralmente chegam a mais
de um milhão de dólares?”, diz a menina que falou comigo antes.
Eu franzo as sobrancelhas. “Onde você ouviu isso?”.
“Minha amiga participou antes de mim. Ela conseguiu um
pouquinho menos de um milhão depois de descontar as taxas”. Ela
encolhe os ombros. “Eu acho que não é tanto, se você pensar nessa
quantidade de dinheiro. Nem todas as meninas conseguem tanto, só
as mais gostosas”.
Sinto-me enjoada, imaginando por que motivo um homem pagaria
mais de um milhão de dólares por uma noite com uma virgem. Eu só
espero que eu não tenha entendido errado as condições de vender
minha virgindade.
“Isso é muito louco. Por que um cara pagaria tanto dinheiro por
uma trepada?”.
A menina abre a boca para dizer alguma coisa, mas se cala
quando Aleks se posta na nossa frente. “Sem conversa fiada,
senhoritas. O leilão está começando, então calem a boca e fiquem
lindas”.
Fico irritada com a atitude humilhante de Aleks e olho para o
palco, onde está o apresentador. Existem cinco mulheres na minha
frente neste leilão. Parece que a menina sentada ao meu lado estava
certa. Já houve cerca de sete lances acima de um milhão de dólares.
Eu fico pensando quantas mulheres aqui estão vendendo sua
virgindade para enriquecer depressa. Isso não me admiraria. Tudo o
que me importa é conseguir dinheiro suficiente para curar minha
mãe. Ela se sacrificou muito para garantir que eu fosse à melhor
escola de dança possível, fazendo jornada dupla de trabalho. Eu
preciso retribuir tudo isso. Não posso perder a única pessoa que
significa tudo para mim neste mundo.
Se eu conseguisse mais de um milhão de dólares neste leilão, eu
poderia retribuir a ela por todo seu trabalho árduo. Eu poderia
comprar um apartamento para a gente, em vez de viver no muquifo,
cujo aluguel nós nos matamos para conseguir pagar.
A probabilidade de eu conseguir essa quantia de dinheiro é
mínima, mas nenhuma das meninas hoje recebeu menos de
quinhentos mil dólares. Isso mudará nossas vidas completamente,
mesmo depois dos descontos.
“Agora vamos à garota vinte e dois. Vamos iniciar os lances com
duzentos mil”.
Sinto o estômago embrulhar, quando me dou conta que já é
quase minha vez. Tenho evitado olhar em direção ao cara
extremamente gato de propósito. O cara que parece sentir atração
por mim. Olho de relance na direção dele, e ele ainda está me
encarando.
Ele sorri para mim, mas percebo que não é bem um sorriso o que
ele tem no rosto.
Passo a língua no meu lábio inferior e fico imaginando como seria
ir para a cama com ele. Sinto como se meu estômago estivesse
sendo arrancado do meu corpo só de pensar nele tocando em mim.
Não há dúvidas de que ele seja atraente. De cara, ele é um dos
caras mais atraentes da boate.
Embora eu esteja aqui vendendo minha virgindade, não parei
para pensar muito no assunto. Eu sabia que se eu pensasse muito
sobre o assunto, eu daria para trás antes de chegar aqui. Meus
problemas com intimidade já vêm da infância e do meu pai, que eu
não vejo desde que eu tinha oito anos de idade.
Ele costumava abusar de mim, sempre que minha mãe estava no
trabalho, forçando-me a tocá-lo de maneira inapropriada. Certa noite,
ela se sentiu mal e voltou para casa mais cedo no momento em que
estava acontecendo. Fiquei muito aliviada por ela ter chamado a
polícia, e por ele ter sido preso.
Nunca passou do toque, mas algo me diz que teria sido pior, se
ela não o tivesse pegado quando pegou. Eu nunca soube como
contar para ela com aquela idade. Meu pai me disse que ela nunca
acreditaria em mim de qualquer forma.
Daquele momento em diante, ficamos minha mãe e eu. Nós
temos um laço extremamente forte, e ela trabalhou muito para pagar
pela minha terapia, desde quando eu era bem nova. A terapia ajudou
a reparar bastante do estrago, mas ainda é difícil para mim acreditar
nas pessoas, principalmente nos homens. Apesar de minha mãe ter
me livrado do abuso, eu senti que aquilo levou minha infância
embora – minha inocência.
No ensino médio, os meninos queriam ficar comigo, mas o medo
da intimidade sempre me impedia de ficar com eles. De certa forma,
eu acho que vender minha virgindade acaba com o peso emocional.
Não sei se estou cometendo um grande erro. Só sei que eu vou fazer
qualquer coisa para salvar a vida da minha mãe.
Pode não ser uma estratégia brilhante leiloar minha virgindade,
considerando a minha história. Eu não tenho outra saída. Nós
poderíamos acabar indo parar na rua, se não conseguíssemos
dinheiro suficiente para pagar o aluguel e quitar a dívida.
O leilão da número vinte e dois termina, e eu sinto que meus
nervos estão fugindo completamente de controle. Quando eu olho
para trás, para o homem que estava me encarando, percebo que a
atenção dele está completamente direcionada ao leiloeiro.
“A próxima é a número vinte e três”. O leiloeiro limpa a garganta,
e eu seguro a respiração, esperando pelo início dos lances. “Vamos
começar o leilão deste encanto em quinhentos mil”.
Sinto meu coração dar um pulo. É o lance inicial mais alto desta
noite. Sinto minhas bochechas queimarem, pelo fato de o leiloeiro ter
optado por partir de um valor tão alto. Eu fico olhando o cara que
ficou me encarando com tamanha atenção.
Ele está acompanhando os lances passarem rapidamente a
marca de um milhão de dólares. Meu queixo cai, conforme os
homens continuam dando os lances, chegando a quase um milhão e
meio de dólares. Não existem dúvidas de que nós ficaremos bem
com esse dinheiro durante um bom tempo, mas não consigo impedir
o pensamento implicante de que eu não havia pensado nisso direito.
Nenhum homem pagaria uma quantia dessas para uma trepada.
“Alguém dá um milhão, quinhentos e cinquenta? Alguém?”.
Eu acompanho para ver se alguém dá um lance. O cara bonito
que tinha ficado me encarando levanta sua placa e entra na
competição.
Não entendo por que ele me escolheu. Talvez por conta da
química que existe entre nós. Estar atraída por um homem que
compra minha virgindade com certeza facilitaria todo esse suplício. O
único outro cara na disputa agora tem idade suficiente para ser meu
avô.
Parece que o tempo congela, quando toda minha atenção
continua fixa no cara bonito. Ele está calmo e sereno, enquanto
continua dando lances cada vez mais altos. Eu já não escuto os
números que o leiloeiro continua aumentando. Durante todo esse
tempo, eu fico olhando para ele na esperança de que, se eu tiver
sorte, ele será o vencedor.
Quando olhei em seus olhos, me dei conta de uma escuridão que
eu reconheço muito bem. Uma escuridão que cresce e se distorce
dentro de mim também. Essa é a única coisa que me assusta.
Será que seria melhor eu ficar com o velho?
O homem que eu quero que vença dá um lance de dois milhões
de dólares, e eu arregalo os olhos. Fico olhando para ele chocada,
sem esperar que ele olhe para mim. Quando ele olha, eu sinto
minhas bochechas queimarem. Eu não consigo desviar o olhar,
quando sinto um choque passar por toda a extensão do meu corpo.
Eu sinto que ele não vai dar para trás. Ele está confiante de que
vai ganhar. Eu acho que logo terei a resposta a essa pergunta,
quando ele finalmente me levar para casa.
Será que a escuridão que existe dentro deste homem será
demais para mim?
4
MAL ACHY

E la é um anjo que veio direto do paraíso.


Não é comum que eu me apaixone por qualquer uma das
mulheres que eu compro neste leilão, mas a número vinte e três
chamou minha atenção de um jeito que eu não consigo explicar.
Seu cabelo longo e vermelho incandescente emoldura sua pele
clara. No momento em que ela pisa no palco, dou conta de que
preciso tê-la. Eu não tinha reparado nas curvas perfeitas de seu
corpo. Sua beleza inigualável me dominou completamente.
Suas características físicas não são nada, se comparadas a seus
olhos azuis penetrantes. Olhos que contêm uma emoção que eu
reconheço bem até demais – o ódio por si mesma. Parecia que eu
estava olhando para um espelho, quando ela olhou para mim.
Os lances estão altos hoje. Eu acho que a número vinte e três
será a mais cara de todas, se os rumores que ouvi pelo salão quando
ela subiu no palco forem, de fato, reais. Porém, ela vale a pena. Eu
sei que a maioria dos homens aqui não têm o nível de dinheiro
disponível que eu tenho, com exceção de Mikhail.
Não posso perdê-la. Ela me notou olhando para ela mais de uma
vez, encarando-a, mas eu não posso evitar. Essa mulher é perfeita.
Uma parte de mim reflete sobre como lidar com isso. Normalmente,
minha meta é tirar a virgindade das meninas que acham que eu pago
o dinheiro que eu pago para trepar com elas uma vez. Tirar a
virgindade dessa coisa linda não me parece tão atraente.
Eu estralo o pescoço, ao sentir a tensão aumentar por conta dos
pensamentos inusitados que estou tendo sobre esta virgenzinha. É
um sinal de alerta. Um sinal de que eu não devo dar um lance nela.
Ainda assim, um lado profundo e primitivo de mim sabe que eu não
posso deixar outro homem tocá-la. Ela já é minha.
Ela é a próxima. Eu vejo que os caras estão se preparando à
minha volta com suas placas. Sinto a adrenalina bombar em minhas
veias. Ninguém vai tirá-la de mim. Eu vou pagar o quanto for
necessário para conseguir o que eu quero.
“A próxima é a número vinte e três”. O leiloeiro limpa a garganta.
“Vamos começar o leilão deste encanto em quinhentos mil”.
O babaca sabe que ela vai ser popular, partindo de um valor tão
alto. Não levanto a mão ainda, quando um cara da minha mesa
levanta a placa. Não faz sentido algum dar lance no início.
“Obrigado. Alguém dá seiscentos?”.
Um cara do fundo dá um lance mais alto, e vai chegando a um
milhão de dólares em uma velocidade inédita. O cara perto de mim
desiste, mas dois outros estão brigando por ela no fundo do salão.
Eu volto minha atenção a esta princesa, que está com os olhos
arregalados, acompanhando os caras lançarem quantias absurdas
para tirar sua inocência. Ela ainda não viu nada.
Os lances chegam a um milhão e meio, e um cara dá o último
lance. É minha vez de entrar em cena.
“Alguém dá um milhão, quinhentos e cinquenta? Alguém?”.
Eu levanto minha placa em resposta.
“Obrigado, senhor”, ele diz.
“Um milhão, seiscentos e cinquenta?”, ele pergunta.
O cara dá um lance imediatamente, e fica claro que ele é
perseverante. Eu estava de olho nele durante o leilão. Seja quem ele
for, ele não costuma vir aqui.
Eu levanto minha placa. “Dois milhões”, eu digo, alto o suficiente,
para que todo mundo me escutasse. Ao fazer isso, eu olho para a
número vinte e três.
Os olhos dela estão arregalados.
“Ok, vamos aumentar as apostas. Alguém dá dois milhões,
duzentos e cinquenta mil?”.
O cara do fundo hesita um pouco antes de erguer a placa. Ele
está chegando ao próprio limite.
“Obrigado, senhor”, diz o leiloeiro, olhando em minha direção.
“Dois milhões e meio?” Assinto com a cabeça e levanto minha placa.
“Senhor, dois milhões, setecentos e cinquenta mil?”.
Ele me encara e balança a cabeça com veemência.
“Ok, dou-lhe uma, dou-lhe duas, e vendida por dois milhões e
quinhentos mil dólares para o Sr. McCarthy”. Ele olha para a área
onde as garotas aguardam. “Você conhece o procedimento”.
Faço que sim e entorno o resto do meu uísque, enquanto eles
levam minha mercadoria para que ela se apronte para ir embora
comigo. Sinto meu estômago revirar com algo que só posso
descrever como nervoso e ansiedade em conhecer minha
virgenzinha. É estranho e um pouco angustiante.
A número vinte e três é diferente das minhas mercadorias
anteriores. Para começo de conversa, ela é simplesmente a mulher
mais linda que eu já vi em toda minha vida. O desejo ardente de ir lá
atrás, antes de ela se vestir com suas próprias roupas, é tentador,
mas eu sei que vai contra as regras.
Os compradores pegam suas mercadorias e as levam embora da
boate antes de agir com quaisquer desejos doentios e pervertidos
que nós possamos ter.
“Essa foi uma mercadoria cara”, diz Jameson.
Inclino a cabeça de leve e o encaro. “Vejo que você não deu o
lance em ninguém, como sempre”.
Ele balança a cabeça. “Ninguém mexeu comigo”.
“Mentira”, respondo, batendo o copo de uísque na mesa antes de
me levantar. “Você não tem dinheiro para comprar nenhuma dessas
garotas. Você é como o restante dos pervertidos nojentos que vêm
aqui só para ficar olhando para algo que não podem comprar”.
Sinto um músculo saltar em meu maxilar. Mas ele sabe que eu
estou certo. Jameson tem vindo a esses eventos por mais tempo do
que eu, e ele nunca comprou nenhuma garota. Quando muito, dá um
lance no início e cai fora cedo. O cara é patético.
Sem me despedir, dou as costas a ele e me dirijo à sala dos
fundos da boate. Eles não vão me deixar entrar, se ela não estiver
pronta, mas eu não poderia ficar parado, sentado com aquele político
por mais nem um segundo.
Bato na porta do vestiário, e Aleks atende. “Ela está quase
pronta. Já a trago para você”. Ele me mostra um pedaço de papel.
“Você faz a transferência para a conta de sempre?”.
Eu faço que sim com a cabeça. “Já pedi para um dos meus
homens transferir a quantia devida. Ele já me confirmou que foi feito”.
“Que bom. Você deve ter querido muito a putinha para pagar
tanto dinheiro por ela”.
Eu aperto o maxilar, irritado com o fato de esse russo a chamar
de putinha. Não faz nenhum sentido isso me irritar, porque eu ainda
nem a conheci.
“Mande-a para mim, assim que ela estiver pronta”. Eu dou as
costas para Aleks e aguardo em um canto. A porta abre de repente.
Algo me intriga quanto à minha virgenzinha ruiva. Eu estou
impaciente para conhecê-la e saber seu nome. Não costumo ficar
impaciente com nada.
Atrás de mim, uma porta se abre e, desta vez, não é Aleks que
aparece. Minha virgenzinha ruiva está parada na porta. Seus olhos
azuis cativantes transbordam com incerteza.
Aleks está parado atrás dela. “Siga o seu mestre, ô, puta”.
Sinto meus dentes cerrados, pois estou odiando ouvi-lo
chamando-a assim novamente. Eu estico a mão para ela, e ela olha
para a minha mão, hesitante. “Pegue minha mão”.
Seu olhar se desloca da minha mão de volta ao meu rosto.
Quando nossos olhos se encontram, sinto um choque de desejo que
passa por todo o meu corpo.
Limpo a garganta. “Eu mandei você pegar minha mão. Você é
surda?”.
Ela balança a cabeça e estica o braço lentamente para segurar
minha mão. A tensão em seu toque é óbvia, e é a mesma coisa com
todas as mulheres que eu compro em leilão. A diferença é que eu
presto mais atenção nesta garota. Eu pressiono mais a mão dela e a
puxo em direção à saída da boate.
Ela tropeça no próprio pé, quando a puxo em direção ao meu
carro. Eu a ajudo a se equilibrar, envolvendo-a com meus braços,
antes que ela caia.
“Cuidado para não tropeçar, garota”, eu digo, sentindo que paro
de respirar, quando seus olhos azuis penetrantes encontram os
meus.
Ela dá uma risada nervosa. “Eu sou sempre uma desastrada”.
Minha virgenzinha quebra o contato visual e afasta um tufo de cabelo
do rosto, olhando para todas as direções, menos para mim.
“Vamos”, eu digo, minha mão parada sobre seu quadril, e a puxo
em direção ao Chevy. Quando paro e destravo o carro, ela arregala
os olhos.
“Uau, que carro legal. Um Impala 1967?”, ela pergunta.
Eu não consigo segurar um sorriso pelo fato de ela gostar do meu
carro. Melhor ainda o fato de ela saber o ano. “É isso mesmo. Você é
fã de carros clássicos, é isso, garota?”.
Ela passa os braços pela cintura e faz que sim. “Sim, eu amo
carros antigos. Não fazem mais carros assim”.
Uma admiração por esta menina que eu nem conheço pulsa
dentro de mim. Ela é mais linda que um anjo, e ela gosta de carros
antigos clássicos americanos – uma das minhas paixões. “Verdade,
nada supera um carro clássico”. Dou uma piscadinha para ela, e em
seguida suas bochechas ficam coradas.
Abro a porta do motorista, e ela abre a dela. Há um silêncio
nervoso entre nós ao nos sentarmos juntos no carro. A menina
entrelaça os dedos sobre as coxas e fica mexendo os dedos de
maneira nervosa.
Faço força para me distrair dela e ligo o motor, sentindo o
ronronar dele acabar com minhas preocupações a respeito da
conexão esquisita com esta virgenzinha.
Há dúvida repuxando as minhas entranhas, quando saio do
estacionamento da boate, indo para a minha casa, ao sul.
Eu nunca sinto dúvida sobre nada. De todas as virgenzinhas que
eu comprei e fodi, nenhuma delas me fez duvidar do que eu estava
fazendo. O sexo para mim é uma válvula de escape e nada além
disso. Eu não gosto de trepar com prostitutas, porque elas me
entediam, mas eu ainda preciso descobrir uma mulher que goste do
que eu gosto, independentemente da sua integridade.
O leilão das virgens me fornece a fonte perfeita de mulheres
intocadas para violar e fazer o que eu bem entender. Meus gostos
sombrios e perversos são, em geral, excessivos para a maioria das
virgens que eu compro, embora algumas delas tenham aprendido a
adorá-los, antes de eu me cansar delas.
Eu sei que vários filhos da puta pensam que minha presença
constante nesses leilões é imoral, mas a moralidade não se aplica a
mim. Eu sou o líder de uma organização mafiosa poderosa. Eu não
tenho tempo para moralidade.
Sinto-me nervoso, quando me dou conta de que tudo a respeito
da beldade ruiva sentada ao meu lado é pura atração. Ela cheira a
pecado, porra. A fragrância de lavanda que vem dela parece encher
o carro e inundar meus sentidos. Meu pau está duro, desde que eu
peguei a mão dela na boate. Não estou conseguindo pensar direito.
Eu ajusto a minha calça, tentando aliviar a pressão. Quando eu
compro uma virgem, eu nunca toco nelas na primeira noite, porque
eu gosto de vê-las se esforçarem. Meu desejo inexplicável por ela vai
dificultar meu controle em relação a ela.
Concentro-me na estrada e tento manter meu desejo sob
controle. A última coisa que eu preciso é perder o controle. O
controle é a minha âncora e, se eu o perder, posso colocar tudo em
perigo.
5
S C A R LE T T

A inda estou em estado de choque, quando me sento no banco


do passageiro do Chevy do meu comprador. Os organizadores
me transferiram oitenta por cento de uma quantia de dois milhões e
quinhentos mil dólares, tudo para este cara sentado ao meu lado me
foder.
Deve ter alguma pegadinha nisso. A única coisa que eu sei é que,
seja o que for, vai valer a pena ter minha mãe amparada para o resto
da vida dela. Nós poderemos obter o melhor tratamento de câncer
que existe e comprar uma casa própria definitiva.
Tudo isso por uma noite. Parece bom demais para ser verdade.
“Então, garota, você tem nome?”.
Olho de relance para o cara mal-encarado que pagou uma
quantia de dinheiro absurda para me levar para casa hoje à noite.
“Sim. Scarlett”.
Ele sorri e continua olhando para a estrada. “Scarlett”, ele
pronuncia meu nome devagar, agora parecendo soar como algo
obsceno. “Eu gosto. Meu nome é Malachy”. Seu sotaque irlandês é
bem distinto, o que o deixa mais sedutor.
Limpo a garganta. “É um prazer conhecer você”.
Ele ri, e eu sinto um arrepio por toda a espinha. “Não sei se é isso
que você vai dizer, quando me conhecer de fato”.
Sinto um frio na barriga imediatamente. “Conhecer você de fato?”.
Ele olha para mim de relance, muito rapidamente, e dá um
sorrisinho malicioso. “Não me diga que você achou que eu paguei
dois milhões e quinhentos mil dólares por uma noite, amor?”.
O jeito de ele dizer amor faz o meu estômago revirar. Seu
sotaque dá um toque sensual à palavra, mas ela é também íntima
demais para um homem desconhecido. Fico tensa e me afasto um
pouco dele, sentindo minhas barreiras se erguerem.
Respiro bem fundo e tento me lembrar de minha terapia. Eu
deveria saber que era bom demais para ser verdade. Malachy não
tem intenção nenhuma de me deixar ir embora depois de uma noite.
“Eu achei que eu tinha vendido minha virgindade a você, então,
assim que você acabar com ela, estarei livre, certo?”, pergunto,
sabendo que devo soar bem ingênua.
Ele faz um estalo com a língua e balança a cabeça. “Quem foi
que disse que eu vou tirar a sua virgindade imediatamente?”.
Eu engulo em seco. “Não posso ficar longe de casa por muito
tempo. Minha mãe está doente”.
Isso atrai sua atenção, e ele me encara com seus olhos verde-
esmeralda penetrantes. “Foi por isso que você leiloou sua
virgindade?”.
Faço que sim. “Só assim eu poderia pagar as contas do hospital”.
Malachy balança a cabeça. “Bem, você não vai poder voltar à sua
vida normal por um mês ou dois, em média”. Ele franze a
sobrancelha, como se ele não pudesse acreditar no que está
dizendo. “Eu posso arranjar alguém para se certificar de que ela
esteja confortável, mas com o dinheiro que você recebeu no leilão”.
Eu sei que não posso abandonar minha mãe em um momento de
necessidade. Ela sempre esteve ao meu lado. Apesar de nós
precisarmos do dinheiro, eu não sei como ela ficaria sem mim. “Mas
é claro que eu posso vê-la, mesmo estando com você?”.
“Não, amor. Agora você é minha, e isso significa que você faz o
que eu mando. Você vai ficar na minha casa, e não existe
negociação”.
Sinto o pânico invadir minha garganta. “E se eu me recusar?”.
Ele dá aquela risada aguda, maligna, que me faz tremer inteira
por dentro. “Se você se recusar, você me devolve meus dois milhões
e quinhentos mil dólares”.
Sinto um frio na barriga, quando olho pela janela e percebo que
acabei colocando a mim mesma nas mãos de um monstro. O fato é
que minha mãe precisa do dinheiro para tratar o câncer mais do que
de mim ao seu lado. Não tenho ideia de como vou explicar o meu
desaparecimento para ela.
Minha cabeça lateja, quando me dou conta da pressão e da
realidade que meus atos me causaram. Greg jamais guardará meu
emprego como garçonete. Isso quer dizer que, quando eu me livrar
das mãos deste homem, estarei sem emprego. Não pergunto para
ele se ele vai segurar minha vaga, pois sei qual será a resposta.
Há um silêncio desconfortável entre nós pelo resto do trajeto. Ele
para na frente de portões enormes que se abrem automaticamente.
A mansão escondida atrás dos portões até lá em cima é gigante. Eu
esperava isso no mínimo, uma vez que ele tinha dois milhões e
quinhentos mil dólares sobrando para pagar por mim.
Há quatro homens dentro dos portões, todos eles com
metralhadoras. Sinto minhas entranhas darem um nó e olho para o
homem no banco do motorista. Seja quem ele for, ele é um homem
perigoso. Eu soube disso assim que olhei em seus olhos, mas talvez
eu tenha subestimado o quão perigoso ele é.
Malachy olha para mim de relance e dá de ombros. “Sou um
homem rico e importante. Segurança é uma necessidade”.
Não digo nada, sabendo que mesmo homens ricos não têm
seguranças com metralhadoras. Revólveres, talvez, mas não
metralhadoras. Ele estaciona em frente à mansão e desliga o motor,
mantendo as mãos no volante.
“Vamos”, ele diz ao abrir a porta e, em seguida, sair do carro.
Eu abro a porta e saio do carro também. Observo a magnitude da
mansão à minha frente. É assustadora e cerca de mil vezes maior do
que o nosso pequeno apartamento no centro de Boston.
De repente, Malachy surge à minha direita e passa um braço
pelas minhas costas, deixando-me arrepiada por todo o corpo. “Vou
fazer um tour com você”.
Ele deixa o braço nas minhas costas e me conduz firmemente em
direção à porta principal. Meus nervos se descontrolam
completamente, quando ele meio que me puxa para os grandes
degraus de pedra em direção ao meu destino inescapável. Ainda não
sei dizer se me arrependo das minhas ações, mesmo que isso dure
um mês. Os oitenta por cento do dinheiro vai mudar a minha vida e a
da minha mãe.
Estou com os nervos à flor da pele, no momento em que ele abre
a porta principal, e vejo um saguão suntuoso revestido em mármore
travertino que brilha como se alguma luz incidisse sobre sua
superfície. Há um lustre de cristal enorme no centro do saguão de
entrada circular, na frente da escada dupla, que leva ao segundo
pavimento. O lugar é mais que luxuoso e, de longe, a casa mais linda
em que já entrei na vida.
Estou em êxtase com a visão à minha frente. Tanto que quase me
esqueço da mão pesada de Malachy – um toque íntimo demais. Até
que ele aperta meu quadril, o que me deixa tensa.
“Você deve estar cansada. Vou mostrar meu quarto para você”.
Engulo em seco com a menção de seu quarto. Ele disse que não
tinha a intenção de usufruir de sua mercadoria tão estimada hoje.
Então por que eu estou neste quarto?
Sinto o medo invadir meu estômago ao pensar no que me meti.
Malachy solta meu quadril e pega minha mão, levando-me para o
lado direito da escada. Assim que chegamos lá em cima, ele vira à
direita no corredor e vai em direção a uma porta no fim dele.
Sinto meu coração bater freneticamente através dos meus
ouvidos, à medida que caminho ao lado deste homem. Sinto-me
como um cordeirinho sendo levado para o matadouro. O que está
atrás desta porta é completamente desconhecido para mim.
Fico tensa, quando Malachy solta minha mão e abre a porta.
“Primeiro você, amor”, ele sussurra, e meu estômago parece flutuar.
Eu me forço a entrar e a ver o quarto. É enorme, como o restante
de sua casa, e tem uma cama enorme de quatro colunas encostada
na parede do fundo, a melhor posição no centro do cômodo. Sinto
um frio na barriga, quando me dou conta de algemas fixadas a cada
uma das colunas.
Guardo isso para mim e ignoro todos os sinais de aviso que
aparecem na minha cabeça. Esse cara curte sadomasoquismo, e eu
não sei o que pensar disso. Minha inexperiência faz com que toda a
situação seja arrebatadora para mim.
“Vá se arrumar e escolha um vestido no closet”. Ele acena em
direção à porta à direita da cama. “Desça daqui uma hora, e
jantaremos juntos”. Seus olhos verde-esmeralda me deixam
paralisada, enquanto ele olha para mim com uma intensidade que faz
meu sangue ferver. O tom da voz dele não é de pergunta. É de
ordem.
Eu assinto como resposta, mas Malachy se aproxima. Sinto como
se as paredes estivessem se fechando ao meu redor, e ele agarra
meus quadris com força e me puxa contra os seus.
“Sempre que eu pedir para você fazer alguma coisa, eu quero
que responda com sim, senhor”, ele ordena.
Sinto-me enjoada ao olhar para este homem bruto me segurando
assim. Engolindo com dificuldade, faço que sim e digo o que ele quer
ouvir. “Sim, senhor”.
Ele sorri para mim com malícia. “Boa garota. Agora, vá se
arrumar. Vejo você em uma hora”. Ele dá uma piscadinha para mim
ao virar e sair do quarto.
Fico observando cada um de seus passos cheios de confiança
natural. Ele não olha para trás para mim ao fechar a porta.
Suspirando, dou uma olhada pelo quarto. Minha mãe ficará
preocupada comigo, se eu não a avisar que não vou para casa esta
noite. A questão é como explicar que não vou para casa no próximo
mês ou nos próximos dois.
Eu tiro o celular do bolso e mando uma mensagem para ela.

E . Não vou voltar para casa hoje.


Estou na casa da Kaia. Me avise se precisar de alguma coisa.
Amo você.

S
. Independentemente do que minha mãe precise, não poderei
ajudá-la. Esse homem nos salvou, mas não vai deixar que eu a veja.
O que é bem cruel, considerando o fato de que ele sabe que ela está
doente.
Caminho até a cama e me sento. O colchão é absurdamente
confortável, e o edredom é extremamente sedoso. Mal posso
acreditar na maciez do material. Estico o braço até a gaveta da
mesinha de cabeceira e abro, curiosa sobre o homem que vai tirar
minha virgindade.
Fico enjoada, quando vejo alguns chicotes, um tubo enorme de
lubrificante, vendas e uma grande variedade de consolos e
vibradores. Este cara definitivamente não é do tipo que gosta de
sexo convencional. Ele gosta dessas porcarias alternativas,
depravadas, com as quais não sei se consigo concordar. Alguma
coisa me diz que não vai importar se eu concordo ou não. Ele vai
fazer o dinheiro dele valer. Eu não tenho o que fazer.
Fecho a gaveta e abro a outra. O conteúdo que vejo ali me dá
ânsia de vômito. Vejo algumas facas e uma arma. Fecho a gaveta e
me distancio da mesinha. Fico parada, então, observando o quarto à
minha volta.
Que tipo de homem permiti que me trouxesse para casa?
Quando olho dentro dos olhos dele, vejo uma alma obscura e
torturada. A julgar pelo conteúdo desta gaveta, começo a imaginar se
eu estaria subestimando a escuridão que existe dentro dele. Malachy
já deu a entender que não será bom conhecê-lo mais
profundamente. O perigo que espera por mim aqui me assusta mais
do que eu gostaria de admitir. Minha mãe sempre me ensinou a
enfrentar meus medos com a cabeça erguida.
Sinto que vender minha virgindade pelo desespero de nos tirar da
dívida e encarar meus problemas com intimidade não é exatamente
o que ela tinha em mente. Quanto mais penso nisso, mais acredito
ter cometido um erro grave.
Agora já foi. Malachy será meu dono até o dia que quiser.
6
MAL ACHY

F iquei mais de uma hora parado no saguão, batucando com


os pés no chão de travertino. Scarlet precisará aprender que
pontualidade é algo fundamental para mim. Não vou tolerar atrasos
ou desobediência.
Estou quase subindo as escadas para dar uma bronca nela,
quando ela aparece. Minha raiva se esvai no momento em que a vejo
ali, em um vestido dourado maravilhoso, com um decote que mostra
as curvas suaves de seus grandes seios.
Sinto meu pau enrijecer, e minha raiva se transforma em puro
tesão. Passo a língua no lábio inferior só em pensar em transar com
minha virgenzinha. Não é de comida que estou com fome agora.
Preferiria o banquete da minha virgenzinha de preço exorbitante.
Suas bochechas estão rosadas quando volto meu olhar ao rosto
dela. Devagar, ela desce os degraus em minha direção. Cada passo
que ela dá é cheio de hesitação, e por um bom motivo.
Ela está caminhando em direção a um homem tão sombrio que
ela jamais compreenderia minha alma torturada. Sou corrupto e mau,
e esta é a razão pela qual sinto tanto prazer em corromper e
machucar os outros.
“Você está tão linda que parece que estou sonhando, amor”, digo,
pegando na mão dela e a puxando para perto de mim.
Ela fica apreensiva, quando toco nela, e isso me faz pensar no
motivo pelo qual ela é tão tensa. Tem alguma coisa diferente sobre
Scarlett que não consigo exatamente identificar.
“Você deve estar com fome”, sussurro no ouvido dela, dando uma
mordidinha bem leve no lóbulo da orelha dela.
Isso a deixa mais apreensiva ainda. Scarlett parece uma estátua
em meus braços. Ela mal consegue respirar quando a abraço mais
forte.
Eu a solto e olho em seus olhos azuis profundos. Vejo que eles
estão repletos de algo que eu só poderia descrever como puro terror.
Um tipo de terror que corta meu interior de uma maneira inexplicável.
Limpando a garganta, afasto-me dela. “Venha comigo”. Não
menciono sua relutância em ser íntima comigo. Normalmente, as
virgens que compro não ficam tão repelidas por mim assim no início.
Eu a levo até a sala de jantar. Seus saltos batem no chão de
travertino, o que me faz notar que ela está vindo atrás. A mesa está
posta com travessas de comida, e nossos lugares estão postos um
de frente para o outro.
Eu puxo a cadeira de Scarlett e olho para ela. “Você senta aqui”.
Ela senta e tira o cabelo do rosto.
Eu tomo meu lugar do lado oposto da mesa e encontro seu olhar
ansioso. “Pode atacar, amor”.
Ela engole em seco e olha para a comida na frente dela. “Tem
bastante opção”.
Creio que sim, mas estou bem acostumado com isso. Foram-se
os dias em que eu costumava implorar por migalhas nas ruas,
esperando poder filar qualquer coisa para que Alícia não passasse
fome. Já conheci a fome de verdade. Como é sentir tanta fome que
você chega a imaginar se vai conseguir sobreviver. Eu acho que é
por isso que eu sempre insisto que meus funcionários preparem um
banquete tão variado para mim.
Porém, jamais me esqueci de onde vim. Nunca desperdiço
comida. “Eu gosto de variedade”, respondo.
Ela assente e pega um pãozinho e passa manteiga.
Eu levanto uma sobrancelha como resposta à sua escolha sem
graça. “Todas essas possibilidades, e você escolhe pão e
manteiga?”.
Scarlett dá de ombros. “Não estou com fome e me sinto enjoada”.
Dou uma mordidinha na parte de dentro da bochecha, sabendo
que eu sou a razão para o desconforto dela. As virgens sempre ficam
desconfortáveis comigo, então não consigo entender por que eu me
preocupo em deixá-la nervosa. “Não fique ansiosa, garota”.
Ela olha para mim, como se estivesse surpresa com a minha
tentativa idiota de acalmá-la. “É meio difícil não ficar ansiosa, dadas
as circunstâncias”.
Estralo meu pescoço, pensando por que estou me importando em
acalmá-la. As meninas ficam sempre mais divertidas, quando estão
aflitas. Isso significa que eu posso brincar com elas facilmente.
“Verdade”, respondo, atacando a comida na minha frente.
Não me desculpo pelas minhas maneiras. Embora ela olhe para
mim como se eu fosse maluco. Você pode tirar um homem da rua,
mas não dá para tirar a rua do homem. Pelo menos, essa é minha
desculpa. Eu adoro comer com as mãos e faço isso desde quando
tinha doze anos de idade.
Quem é que precisa de talheres, afinal?
Eu não precisava deles nas ruas e não preciso deles agora. “O
que você está olhando, amor?”.
Ela fica vermelha cada vez que a chamo de amor. Isso me faz
querer fazer isso cada vez mais. “Nada”. Ela balança a cabeça.
Dou risada do acanhamento dela. É bonitinho, mas logo vai
desaparecer, assim que eu a tiver se contorcendo embaixo de mim
esta noite. A virgindade dela permanecerá intacta, mas eu não vou
passar a noite ao lado dela sem experimentar seu sabor. Scarlett é a
virgem mais cara que já comprei, e alguma coisa me diz que não vou
me cansar dela tão rápido.
“Você não vai ficar tão tímida comigo mais tarde, garota”.
Ela arregala os olhos e estuda minha fisionomia. “Achei que você
tinha dito que não iria ...”.
“Tirar sua virgindade esta noite. Não, mas existem outras
maneiras de explorar seu corpo perfeito”.
Suas bochechas pálidas ficam coradas, e parece que ela vai
passar mal. “Ah, não”, ela sussurra e olha para baixo para o prato.
“Você não vai vomitar, vai?”, pergunto.
Ela balança a cabeça. “Não”. Sinto seu tom de voz áspero de
repente. “Está tudo bem”.
Acho Scarlett intrigante – como um quebra-cabeças que quero
solucionar. Termino de comer as asinhas de frango e as costelas,
depois, quando termino, lambo os dedos. Scarlett só encostou na
salada e comeu o pãozinho, o que é um grande desperdício de carne
de primeira. Não que irá para o lixo. Qualquer coisa que minha
família ou eu não coma que possa estragar é anonimamente doado
aos refeitórios comunitários para os desabrigados da região.
“Você terminou?”, pergunto, inclinando a cabeça para o lado.
Ela olha nos meus olhos com relutância. Sempre que nossos
olhares se encontram, sinto como se as minhas veias fossem
inundadas por uma porção de choques elétricos. “Sim”. A base do
pescoço dela sobe e desce, enquanto ela sustenta meu olhar. “E
agora, fazemos o quê?”.
Dou um sorrisinho malicioso para ela. “Não sei se você quer
mesmo saber a resposta para essa pergunta, amor”. Eu dou de
ombros. “Mas é hora de colocar você na cama”. Sinto meu pau
latejar só de pensar em deitar ao lado desta beldade.
Ela engole em seco. “Posso te fazer uma pergunta?”.
Olho para ela com os olhos entreabertos. Em geral, minha
resposta seria não. Mas já que eu quero saber mais sobre Scarlett,
decido fazer a vontade dela. “Uma só”.
Ela expira profundamente. “O que você faz da vida?”.
Eu não deveria responder a ela honestamente, mas não escondo
das pessoas quem sou. Os guardas que me apoiam me protegeriam,
se eu precisasse. “Eu sou líder da máfia irlandesa em Boston”.
Os olhos dela praticamente pulam para fora das órbitas. Scarlett
fica mais pálida. “Máfia?”.
Faço que sim com a cabeça. “Os detalhes não são importantes.
Você só precisa saber que eu sou um cara perigoso”. Eu sustento o
olhar dela. “Então, nem pense em foder comigo. Você entendeu
bem?”. Eu receio que minha maneira de a tratar tem sido mole
demais. Não quero que Scarlett entenda errado tudo isso. Um acordo
de negócios pelo qual paguei uma bela quantia.
“Sim, senhor”, Scarlett responde baixinho, olhando para baixo em
direção ao prato.
Eu bato com uma mão na outra, e ela leva um susto. “Ótimo,
agora venha comigo”. Eu levanto e caminho em direção à porta da
sala de jantar, e fico parado na porta, quando percebo que ela não
está vindo atrás de mim. “O que você está esperando, garota?”.
Scarlett não se mexe. Está paralisada em sua cadeira.
Eu resmungo, frustrado, e vou até a cadeira dela. Vejo que os
olhos dela estão cheios de lágrimas, e ela olha para baixo, para as
mãos entrelaçadas no colo. “Eu mandei você me seguir”. Eu a agarro
com força, de modo que ela sai do chão.
Ela coloca uma mão sobre meu peito para se equilibrar. O toque
dela me deixa louco e, para piorar, ela olha nos meus olhos. O medo
se faz presente sempre que me aproximo dela. Aperto os dentes,
tentando afastar essa sensação estranha para aplacar meu medo.
Gentilmente, envolvo o pescoço dela com uma mão e aproximo meu
rosto a dois centímetros do dela. “Eu te disse para não foder comigo,
amor. Não me faça me arrepender de ter comprado você”. Com isso,
solto seu pescoço e seguro sua mão.
Não digo mais nada, ao passo que a conduzo até o andar de
cima. A mão dela está frouxa, mas mantenho minha pegada firme. É
melhor estabelecer as expectativas desde o início. Scarlett é um
brinquedinho, pelo qual paguei muito dinheiro. Ela precisa aprender
logo qual é seu lugar.
Eu abro a porta do meu quarto. “Para dentro”, ordeno.
Seus lábios tremem ao dar um passo para dentro. Scarlett fica
parada em puro constrangimento no meio do quarto, esperando pelo
próximo comando. “Tire a roupa e deite na cama”.
Ela arregala os olhos. Fico imaginando se ela vai se recusar, à
medida que o tempo passa e ela não se mexe. Finalmente, Scarlett
pega na tira do seu vestido dourado e a desliza pelo ombro. É um
movimento sensual, embora esta não seja a intenção dela. A lentidão
de seus movimentos vem de uma resistência de fazer o que eu digo.
Minha rola lateja no confinamento da minha calça só de ver sua
pele clara e suas curvas gostosas. Nervosa, Scarlett coloca as mãos
sobre o corpo em uma tentativa de cobri-lo. Ela olha para todos os
lados, menos para mim.
“Quero que tire tudo”, ordeno, resistindo à vontade de me
aproximar dela e arrancar sua lingerie de seu corpo durinho perfeito.
Scarlett olha nos meus olhos, e, desta vez, vejo que há raiva
queimando em seus encantadores olhos azuis. Parece que minha
virgenzinha tímida é mais difícil do que eu tinha imaginado. “Por que
você está me fazendo tirar a roupa? Você me disse que não tiraria
minha virgindade esta noite”.
Eu ranjo meus dentes, de modo a conter minha irritação. Dou dois
passos e me aproximo dela. Aos poucos, vou envolvendo sua nuca
esguia com meus dedos.
Scarlett estremece e olha para mim com um fogo no olhar que
quase chega a queimar minha alma. Não importa o quanto ela tente
lutar, ela me queria desde o momento em que nossos olhares se
cruzaram na boate.
“Vamos deixar uma coisa clara antes de começarmos”. Eu inspiro
profundamente, sentindo seu aroma doce. “Eu paguei dois milhões e
meio de dólares por você. Você pertence a mim. Eu tenho controle
sobre você. Você é minha para eu fazer o que eu quiser, até que eu
ache que basta. Você entendeu bem?”.
Sua garganta pulsa embaixo de minhas mãos. “Sim”, ela diz, mas
com um tom de irritação.
Pressiono meus lábios na beirada de sua mandíbula, provocando
com meus dentes em sua pele. “Sim, senhor”, ordeno.
Ela olha para mim com uma ferocidade que me diz que ela vai ser
uma das mais difíceis. “Sim, senhor”, ela diz, sarcástica.
Aperto minhas mãos ainda mais em seu pescoço. “Você não vai
usar esse tom comigo, Scarlett. Você entendeu?”.
Vejo o fogo acender dentro de seus olhos azuis, quando ela olha
para mim por alguns segundos com dificuldade para respirar. Scarlett
faz que sim com a cabeça freneticamente, sinalizando para que eu
solte seu pescoço.
Ela agarra o pescoço e me encara com os olhos arregalados.
“Você quase me matou asfixiada”.
Eu balanço a cabeça. “Não seja tão dramática, garota”. Abaixo o
olhar pelo corpo dela. “Agora, tire a lingerie, e não me faça pedir de
novo”.
Ela faz que sim, passando o dedo pelo cós da calcinha primeiro.
Há um momento de hesitação, quando ela olha para mim antes de
expirar de maneira trêmula e deixar a calcinha cair no chão.
Meu pau, que já está duro como pedra, deixa vazar um pouco de
fluido na minha cueca. Estou pronto para meter na minha virgenzinha
bem fundo, mas ainda é cedo. O desejo que estou sentindo por esta
garota excede tudo o que já senti na minha vida.
Nervosa, ela abre o sutiã, parecendo incerta quanto a se despir
na minha frente. É estranho, porque eu já a vi nua antes no leilão.
Talvez seja porque nós estamos sozinhos agora, e ela se sente
vulnerável. Não consigo compreender por que meu desejo normal de
assustar e aterrorizar não se faz presente. Só consigo pensar em
protegê-la.
“Não se preocupe, amor. Não vou machucar você”.
Ela olha para mim e levanta uma sobrancelha. “Não sei se
acredito nisso”. Ela tira o sutiã e o deixa cair no chão, cruzando os
braços sobre o peito de maneira instintiva.
Solto um murmuro baixinho e me aproximo dela. “Não se
esconda”.
O medo em seus olhos é diferente do medo das outras meninas
que já estiveram nesta posição. Eu puxo os braços dela do peito e
solto um gemido ao ver seus seios perfeitinhos e redondos e seus
mamilos rígidos. Gentilmente, coloco a boca sobre um seio e chupo.
Scarlett suspira baixinho, segurando meus ombros. Seus joelhos
tremem. Seu toque só aumenta meu desejo insaciável por esta
mulher. Começo a chupar o outro mamilo com a mesma dedicação.
Dessa vez, ela geme baixinho e vira os olhos curtindo o momento.
“Só vou fazer você se sentir bem, garota”, digo a ela, beijando
seu pescoço, surpreso comigo mesmo pelo carinho com que a estou
tratando. “Agora seja uma boa menina e deite-se na cama”.
Ela olha para mim, e vejo que suas pupilas estão dilatadas. Ainda
há hesitação em seu comportamento, mas ela faz o que peço.
Fico olhando-a deitar na cama com as pernas bem fechadas,
enquanto as mãos cobrem o peito. Parece que minha ordem foi
ignorada.
“Pernas abertas e mãos na lateral do corpo, antes que eu as
amarre, e você não consiga cobrir essas tetas gostosas”.
Scarlett passa a língua nos lábios e coloca as mãos na lateral do
corpo com os punhos fechados.
Lentamente, ela vai abrindo as pernas, e eu consigo ter uma
visão perfeita da sua bocetinha apertadinha. Esfrego a mão por cima
do meu pau sofrendo dentro da calça. Tem uma parte de mim que
quer se enfiar dentro dela. Bem fundo.
Vou até ela, agarro suas coxas e as abro bem. “Que coisa linda,
caralho”, sussurro, maravilhado com a visão que tenho dela. Pego as
algemas que tenho fixadas à minha cama e prendo os tornozelos
dela.
Scarlett fica tensa na hora em que a detenho, e ela me encara
com seu olhar petrificado. Uma sensação crescente de dúvida se
aloja na minha cabeça.
Pelo que será que essa garota passou?
Por que será que eu me importo?
Eu balanço a cabeça, tentando me livrar dos pensamentos idiotas
que ficam surgindo na minha cabeça. Seguro seus pulsos e os
prendo nas algemas também. Tem alguma coisa nessa garota que
mexe comigo. Talvez eu não devesse ter escolhido ela no leilão.
Talvez eu devesse ter comprado uma das garotas chatinhas que
estavam no palco com ela.
“O que você vai fazer?”, ela pergunta com a voz baixa e frágil. Um
contraste com a garota relativamente confiante que eu presenciei até
agora.
Solto um gemido, quando minha rola roça no tecido da minha
cueca. “Sentir o seu gosto, amor”.
Ela arregala os olhos e fica ainda mais tensa.
“Relaxe e curta. Vou fazer você se sentir melhor do que jamais se
sentiu em toda sua vida”.
As coxas dela estão trêmulas. Eu desabotoo minha calça, porque
preciso muito me livrar da roupa justa.
Scarlett tenta se sentar, olhando para mim como se fosse um
gavião. A preocupação no rosto dela se transforma em intriga,
quando ela bate o olho no contorno da minha rola. É impossível não
gemer ao ver como as pupilas dela dilatam. “Quer dar uma olhada
em mim também, amor?”.
Scarlett morde o lábio, em estado de dúvida. Finalmente, ela faz
que sim.
Caralho.
Nunca desejei uma garota deste jeito. Ficar com o pau longe da
bocetinha virgem e perfeita dela vai ser mais difícil do que eu
esperava. Eu tiro a cueca boxer, vendo-a arregalar os olhos e engolir
em seco.
A visão de sua garganta subindo e descendo desse jeito traz uma
nova imagem pervertida à minha mente. Eu quero fazê-la engolir
cada centímetro do meu pau com essa gargantinha linda. “Porra,
você me dá muito tesão, garota”. Eu pego a base do meu pau e subo
e desço, dominado pelo meu desejo. “Agora deite de novo e me
deixe sentir seu gosto”.
Ela não hesita dessa vez e coloca a cabeça sobre o travesseiro.
Eu continuo batendo a punheta e coloco a boca entre as pernas
dela. Lentamente, vou lambendo seus lábios úmidos.
Solto um gemido. “Você tem um sabor delicioso, linda”, eu
sussurro antes de chupar seu clitóris.
Scarlett sacode o quadril e geme bem alto. O som me faz expirar
todo o ar que tenho nos pulmões, e eu começo a devorá-la. Estou
desesperado para ouvi-la gemer sem parar.
A dor é sempre meu ponto inicial. Não consigo entender por que
vim direto ao prazer com Scarlett. Sou dominado pelo desejo de
fazê-la me desejar. É um desejo que nunca conheci.
Quero que Scarlett me deseje tanto quanto a desejo. Pouco a
pouco, vou deslizando o dedo para dentro da sua boceta apertada e
molhada.
Ela arfa, olhando para baixo, para mim, ao passo que a fodo com
meu dedo. “Por favor, não ...”. Eu encontro o ponto dentro dela que a
faz entrar em combustão, e ela não consegue terminar a frase.
“Caralho”, ela grita, fechando os olhos.
“Não o quê, linda?”. Fico olhando para ela, enquanto continuo a
fodê-la com o dedo. “Não quer que eu faça você gozar nos meus
dedos?”.
Ela morde o lábio, e seu rosto fica todo vermelho. “Eu-eu não ...”.
Eu chupo o clitóris dela de novo, e era só disso que ela precisava.
Minha virgenzinha goza no meu dedo, na minha língua, e eu fico
maluco. Eu chupo cada gota, desesperado para devorá-la inteirinha.
Quando termino, giro as algemas na cama e agarro seus quadris.
“Fica de quatro”.
Vejo um arrepio pulsar pelo seu corpo, quando ela se mexe para
atender ao meu comando. É uma visão para lá de satisfatória. Enfio
o dedo no cuzinho apertado dela.
Scarlett fica tensa. “O que você ...”.
Dou um tapinha na bunda dela, tão de leve que mal poderia
chegar a machucá-la. “Sem perguntas”. Solto um gemido, quando
meu pau começa a vazar no lençol. Bato uma punheta e foco no rabo
apertado dela.
Passo a língua ao redor desse cu apertado. Scarlett fica tensa,
quando a lambo em um ponto tão íntimo. A boceta dela está
encharcando todo o lençol.
Meu pau vaza no lençol também, tamanho é meu tesão. Só de
pensar em gozar na bunda dela já fico maluco. Eu nunca perco o
controle assim, mas Scarlett tem uma maneira de fazer meu lado
possessivo vir à tona.
“Geme para mim, linda”, eu ordeno, ainda lambendo o cu dela.
Ao invés de gemer, ela solta uma espécie de rosnado, tentando
fugir de mim. “Por favor, para ...”.
Eu resmungo e dou um tapa na bunda dela. “Não finja que não é
gostoso, amor. Você está pingando”. Eu passo um dedo pela boceta
dela. Solto os pulsos e os tornozelos dela das correntes. “Deita de
barriga para cima”, ordeno.
Ela faz o que eu mando e deita-se de costas, olhando para mim
com os olhos bem abertos, inocentes. Scarlett pode ser virgem, mas
de inocente não tem nada. Existe uma escuridão dentro dela – uma
escuridão que reconheço muito bem.
“Eu quero que você se masturbe até gozar”. Fico olhando para
ela, e ela arregala os olhos. “E depois eu vou cobrir essa sua
bocetinha linda com toda a minha porra”.
Scarlett estremece com a escolha das minhas palavras.
“Deu para entender, garota?”.
Ela faz que sim, esquecendo-se das minhas instruções. Eu agarro
o pescoço dela devagar. “Como é que eu disse que você deveria
responder às minhas perguntas?”.
“Sim, senhor”, ela diz, com tesão inconfundível na voz.
Não consigo entender por que ouvir essa palavra não me satisfaz
como deveria. Tem alguma coisa errada que eu não consigo
identificar.
Seguro a base do meu pau, e Scarlett desliza as mãos por dentro
das coxas.
Nós estamos desesperados um pelo outro. Ela fixa o olhar na
minha rola dura e pulsante e começa a meter os dedos na bocetinha
molhada dela. É uma visão fascinante, ficar olhando minha
virgenzinha se transformar em uma vadiazinha desesperada bem na
minha frente. “Isso mesmo, amor, fode essa boceta para mim”, eu
praticamente rosno, punhetando meu pau cada vez mais rápido.
Ela geme. Seus lábios estão entreabertos de um jeito que me faz
querer beijá-los. Me seguro. Seria íntimo demais. “Ah, Deus”, ela diz,
deslizando os dedos pelo clitóris e o esfregando.
“Eu quero que você grite meu nome, quando você gozar”.
Seus olhos azuis cintilantes encontram os meus, dilatados de
tanto prazer. “Sim, senhor”, ela diz. Sua voz agora soa inocente e
doce.
Está difícil segurar, esperá-la gozar antes de eu gozar em cima
dela.
“Merda”. Ela ergue os quadris e está quase gozando. “Sim,
Malachy”, ela grita meu nome quando goza, o gozo todo escorrendo
por entre as coxas.
Só essa visão já me faz gozar também. Suspiro alto, enquanto
jatos e jatos de porra jorram da minha rola na boceta e na barriga da
minha virgenzinha.
Scarlett olha para baixo com os olhos arregalados,
acompanhando cada ato. Ela lambe o lábio superior, o que me traz
pensamentos perversos. Passo um dedo pela minha porra e levo à
sua boca. “Sente o meu gosto, linda”, ordeno.
Ela arregala os olhos, mas não hesita. Scarlett abre a boca e me
deixa enfiar o dedo. Como uma putinha obediente, ela o chupa todo,
gemendo do jeito que ela faz.
Percebo que ela relaxa entre os travesseiros, fechando os olhos,
como se tivéssemos terminado. “Não fique tão confortável. Nós só
estamos começando, amor”. Provoco-a, apertando seu pescoço
devagar. “Vou fazer você gozar até você cansar e não conseguir ficar
com os olhos abertos”.
Ela abre bem os olhos e me encara como se me questionasse.
Meu pau volta a ficar duro só de pensar nisso, como se fazê-la gozar
nunca fosse se tornar algo entediante. Nossa noite será longa.
7
S C A R LE T T

N o dia seguinte, acordo e vejo que Malachy não está na cama.


Sinto alívio por ele não estar ali. Depois das coisas
pervertidas que ele fez comigo ontem à noite, não sei se consigo
olhar para ele. Resmungo um pouco, enquanto rolo na cama com o
pulso sobre a testa.
Na hora que penso em tudo, sinto uma pulsação entre as coxas.
O fato de eu querer tanto que Malachy me comesse me surpreendeu
muito. Ele fez todas as minhas inibições sumirem na hora que ele
encostou em mim. Ele não me deixava dormir, fazendo-me gozar
sem parar. Eu me vendi a uma fera. Uma fera que mal começou a
fazer o que vai fazer comigo.
Tem algo de perigoso e errado com ele. Tenho medo de que o
passado dele tenha segredos mais sombrios do que posso imaginar.
Isso deixa minha situação aqui mais perigosa ainda. Uma parte de
mim deseja que o cara velho tivesse me comprado, em vez dele.
Nesse momento, eu provavelmente estaria em casa com minha mãe.
Como se nossos pensamentos estivessem ligados, meu celular
toca com uma mensagem dela.

B , que horas você vem para casa?

E , sentindo uma tristeza profunda ocupar meu


peito. Tenho certeza de que posso dar uma passadinha para vê-la.
Uma maneira de garantir a ela que estou bem e explicar que vou
ficar fora um tempo. Vou precisar contar a ela que consegui um
emprego que exige que eu trabalhe longe.
Pensar em mentir para a pessoa em quem mais confio neste
mundo quase me faz chorar. Eu sei que não posso dizer a verdade a
ela. Ela não ficaria apenas decepcionada comigo. Ela se sentiria
culpada por conta de a nossa situação de desespero ter me levado a
fazer algo tão imprudente.
Jogo as pernas para fora da cama e me levanto, determinada a ir
vê-la hoje. Na minha vida, sempre fui honesta com minha mãe. Hoje
vou precisar mentir. Sinto que é errado, mas não existe outra opção.
Levanto e vou até o banheiro da suíte. O banheiro é maior do que
o quarto da minha casa. É meio louco ver pessoalmente como as
outras pessoas vivem. Malachy é, sem dúvida, a pessoa mais rica
que já conheci, independentemente de a fonte do dinheiro não ser
lícita.
Ligo o chuveiro, espero a água esquentar e jogo minha camisola
no chão. Quando Malachy disse que era chefe da máfia irlandesa, eu
quase comecei a rir. Tenho certeza de que máfia é uma coisa do
passado. No fundo, eu sei que não é verdade. Os detalhes sobre
crime organizado são abafados, porque a polícia não quer parecer
que não está fazendo seu trabalho direito.
É assustador pensar que a violência maluca que nós vemos nos
filmes acontece todos os dias em uma cidade em que vivi quase toda
minha vida. Tomo banho rápido e fico pronta, sem saber ao certo por
quanto tempo Malachy estará fora. A última coisa que eu quero é ser
pega por ele bisbilhotando pela casa dele. Eu sei que não tenho ideia
do que este homem é capaz.
O corredor fora do quarto está deserto. Fico contente que não
tenha ninguém por perto, quando chego à porta principal. Nem
trancada ela está. Parte de mim se preocupa de tudo estar indo bem
demais. Quando dou um passo para fora, lembro-me dos seguranças
com metralhadoras.
Não tenho nenhum plano para passar por eles. Minha única
opção é sair andando. “Você também já terminou o trabalho?”, uma
mulher me pergunta, atrás de mim.
Viro para olhar para ela e vejo que ela está usando um uniforme
de empregada doméstica.
“Sim, estou de saída”.
Ela sorri gentilmente para mim. “Vamos caminhando juntas”. Ela
se aproxima e começa a caminhar comigo. “Nunca te vi aqui. Você é
nova?”.
Faço que sim. “Sim, eu comecei ontem”, minto, esperando que
esta moça não perceba que há algo de errado.
“Legal, eu sou a Sienna. Como você chama?”.
Congelo no mesmo momento, imaginando se os funcionários
podem saber meu nome verdadeiro como atual prisioneira de
Malachy. “Alice”, minto.
Ela estende a mão. “É um prazer conhecer você”.
Aperto sua mão e sorrio, apesar do nervoso que sinto no meio do
estômago. “Prazer em conhecer você também”.
Caminhamos até o portão em silêncio, e um cara acena para
Sienna. “Bom dia, Sienna. Não sabia que você estava fazendo o
turno noturno esta semana”.
Ela acena para o guarda. “Bom dia, Kev. Sim, infelizmente”.
Ele abre o portão, e nós duas saímos. Não acredito que foi tão
fácil assim passar pelo portão, mas não tenho certeza do que
aconteceria, se eu estivesse sem Sienna.
“Onde você estacionou?”, Sienna pergunta.
Eu balanço a cabeça. Eu não tenho carro. Estou de ônibus”.
Ela franze as sobrancelhas. “Os horários dos ônibus são
péssimos. Pode ser que você espere uma hora”.
Eu faço que sim. “Eu sei, mas não posso comprar um carro neste
momento”.
“Para onde você está indo?”.
“Eu moro no centro de Boston”.
Ela assente. “Eu também. Quer uma carona?”.
Eu olho para a rua em direção ao ponto de ônibus, sabendo que
esperar por um ônibus pode ser arriscado. Malachy poderia voltar a
qualquer momento e me ver. “Seria maravilhoso, se você não se
importar”.
Ela balança a cabeça. “É claro que não”. Ela aperta o botão da
chave e destrava sua BMW conversível. “Entra”.
Malachy deve pagar bem aos funcionários, considerando esse
carro bacana. Eu entro do lado do passageiro e encosto a cabeça no
banco, sentindo-me grata pela minha fuga não ter tido nenhum
impedimento.

F
. Sinto-me enjoada só de pensar em mentir para minha mãe
sobre sair da cidade por conta de um emprego. Não tem outra opção.
Se tudo correr bem, em alguns meses, estaremos vivendo com
luxo, assim que Malachy me liberar.
Respiro fundo, tremendo, antes de entrar. Minha mãe pode ficar
com meu cartão do banco com a quantia absurda de dinheiro. Pelo
menos, assim, eu vou saber que ela estará bem por um tempo,
enquanto eu estiver fora.
A dívida do empréstimo já foi quitada. Chego até a porta do nosso
apartamento e olho para o número oito, torto ali. Agora já foi. Estou
prestes a mentir para a mulher que nunca fez nada além de cuidar de
mim a vida toda.
Tiro a chave da bolsa, coloco na fechadura e abro a porta. Minha
mãe está sentada em seu lugar habitual do sofá, assistindo à sua
série preferida, um episódio depois do outro. Ela olha para a porta e
sorri ao me ver. Eu consigo ver suas olheiras e o negro das pupilas
de seus olhos azuis cintilantes. O câncer está piorando.
“E aí, meu amor”. Ela se levanta. “Você quer panqueca de café da
manhã?”.
Sorrio para ela, embora eu esteja enjoada. Só em pensar em
comer alguma coisa agora me deixa nauseada, mas eu nunca digo
não às panquecas de minha mãe. “Sim, é uma boa ideia”.
Ela vai para a cozinha e pega os ingredientes, mas é impossível
não reparar em como suas mãos tremem, quando ela segura a
frigideira.
“Por que você não me deixa fazer isso, mãe?”. Eu seguro o cabo.
“Vá descansar”.
Ela parece frustrada. “Eu posso até estar doente, mas ainda sou
sua mãe. Preciso cuidar de você”.
Sorrio para ela em resposta à sua determinação, mas ela precisa
pegar leve. “Deixe comigo hoje. Não sou mais uma menininha”.
Ela faz que sim com a cabeça e senta para misturar os
ingredientes. Durante todo esse tempo, fico matutando sobre como
dar a notícia a ela. Preciso parecer feliz com o emprego novo, mas é
quase impossível parecer feliz ao contar uma mentira.
“Tenho novidades, mãe”.
Ela olha de relance para mim. “Ah, o que é?”.
Sorrio para ela. É o melhor sorriso que consigo dar. “Consegui um
trabalho como dançarina”.
Minha mãe arregala os olhos e sorri para mim. “Mas que ótima
notícia”. Ela hesita por um momento. “Paga bem?”.
Eu ranjo os dentes. “Muito bem. Recebi um adiantamento e já
quitei a dívida com o agiota”.
Ela arregala os olhos. “Sério? Que tipo de trabalho é esse?”.
Sinto um medo dominador se contorcendo em meu estômago,
quando as palavras saem da minha boca. “É uma produção da
Broadway. Vou ficar fora durante um ou dois meses em Nova York”.
Minha mãe junta as mãos, animada. “Isso é ótimo, meu amor. Por
que você não parece tão animada?”.
Dou de ombros. “Acho que estou nervosa”. É impossível dominar
a culpa que estou sentindo. “É um emprego maravilhoso e pode fazer
minha carreira decolar, ou acabar com ela”. Atiro a panqueca sobre
um prato e acrescento mais massa.
“Não tenha medo. Você vai arrasar”. O olhar no rosto de minha
mãe é de puro orgulho. Assim fica ainda mais difícil lidar com a
culpa. Se ela soubesse a verdade, ela ficaria muito decepcionada.
Tento esquecer isso e viro o restante das panquecas sobre outros
pratos e os levo em uma bandeja até o sofá.
“Desculpe não poder estar aqui por um tempo”, digo, olhando de
relance para minha mãe. “Você vai ficar bem sozinha?”.
Ela enfia o garfo em uma panqueca e balança a cabeça. “Você se
preocupa demais. É claro que vou ficar bem. Frank sempre vem dar
uma olhada em mim”.
Frank é nosso vizinho que sempre foi gentil com minha mãe. Ele
é um cara bacana, mas fico preocupada com as intenções dele. Ele
acabou se apegando à minha mãe de um jeito especial desde que se
mudou, há dois anos. “Mas cuidado com ele, mãe”.
Ela ri. “Cuidado com Frank? Por quê?”.
Eu balanço a cabeça. “Ele sente alguma coisa por você há um
tempão”.
“Maluquice. Frank não sente nada por mim”. Ela fica vermelha,
porque sabe que é verdade.
Eu viro os olhos, pensando que é melhor não discutir. Um silêncio
confortável se instala entre nós enquanto comemos, mas não
consigo deixar de sentir a culpa me devorar. É errado mentir sobre
algo assim.
“Você acha que eu posso ir assistir à sua primeira
apresentação?”. Minha mãe pergunta.
Merda.
“Duvido. Os ingressos esgotaram, infelizmente”, minto,
percebendo o buraco em que posso estar me metendo.
“Que pena”, ela diz, colocando o prato na mesinha de centro.
“Sem falar que você precisa se concentrar na sua melhora no
momento”. Coloco meu prato sobre a mesinha de centro também.
“Tomara que tenha muitas apresentações para você ver no futuro”.
Minha mãe sorri. “Tenho certeza de que vai ter. Você é uma
dançarina incrível”.
Eu viro os olhos diante do comentário. “Você precisa dizer isso
porque é minha mãe”.
Ela ri. “Não, é verdade. O fato de você ter conseguido um
emprego de alto nível é uma prova disso”. Ela suspira. “Meu
bebezinho na Broadway”.
A felicidade dela faz minha culpa aumentar. A única coisa que
posso fazer é lembrar que estou fazendo tudo isso por ela. Não vou
me sentar e ficar sem fazer nada, sendo que o dinheiro pode salvar a
vida dela. É um preço baixo a se pagar, se ela puder combater isso e
sobreviver.
S
M . Para um homem que insiste que não posso ir
a lugar nenhum sem sua permissão, foi absurdamente fácil sair da
casa dele e voltar para casa para ver minha mãe.
Uma parte de mim nunca quis deixar aquele apartamento
ordinário e precário. Só em pensar em voltar para a casa desse
monstro, começo a estremecer.
“Ei, linda, espere”, um cara que estava de olho em mim no ônibus
grita.
Acelero o passo e me sinto enjoada. O cara é um esquisitão e
está me seguindo desde o ônibus.
“Não vá embora, garota. Só quero conversar”. Eu ranjo os dentes,
questionando se ele trabalha para Malachy. O sotaque irlandês
sugere isso. O fato de ele me seguir pelas ruas me deixa
desconfortável, principalmente por estar escuro. As ruas estão
vazias, e eu não consigo pedir socorro a ninguém.
Engulo em seco e acelero o passo, lembrando que estou perto do
portão da casa de Malachy.
Sinto um frio na barriga, quando escuto que seus passos se
aceleram, e ele passa a correr. Olho para trás enquanto corro, pois
sei do perigo iminente que estou correndo.
O estranhão é rápido demais. Quase consigo sentir sua
respiração na minha nuca, quando ele finalmente me agarra e me faz
parar.
“Mas o que é que você quer?”, eu grito, puxando o braço com
força.
Ele me empurra contra a parede de uma edificação abandonada
à direita. “Eu disse que só queria conversar”, ele diz, com uma voz
que me faz estremecer.
“É isso que todos os caras estranhos dizem. Meu namorado está
me esperando, e eu moro ali na esquina”. Tento manter minha calma.
“O que você quer?”.
Ele mostra os dentes amarelos. O cheiro de bebida em seu hálito
me deixa enjoada. Ele não responde à minha pergunta. Em vez
disso, ele agarra minha bunda.
Sinto um medo congelante passar pelas minhas veias ao colocar
as mãos contra o peito dele e empurrá-lo. “Para”, digo,
desvencilhando-me. “Você não vai querer se meter comigo. Meu
namorado vai te matar”.
É estranho me referir a Malachy assim. Eu sei que se um homem
fosse tirar minha virgindade antes dele, ele não hesitaria. O cara
estaria morto, e eu perderia dois milhões e meio de dólares.
O cara ri. “Mas eu duvido muito disso. Você não sabe quem eu
sou”.
Dou alguns passos para trás, tentando pensar em um plano. O
cara é grande demais para eu brigar. Dando um tiro no escuro,
decido usar o nome dele. “Por acaso o nome Malachy McCarthy
significa alguma coisa para você?”.
Ele franze as sobrancelhas. “Não seja idiota, garota. Malachy não
tem namorada”.
Sinto nervoso de repente. “Não namorada, mas ele pagou um
preço alto por mim”. Cruzo os braços. “Não acho que ele ficaria muito
feliz em saber que você tocou em mim. Você acha?”.
Ele me olha através dos olhos semicerrados. “Você é uma
mentirosa. Malachy não está nem aí com o que acontece com uma
garota como você”. Ele pega meus braços de novo, e eu solto um
grito.
O barulho de passos se aproximando me dão certo alívio. Graças
a Deus, nós não estamos mais sozinhos.
“Shane, que porra você está fazendo, cara?”.
Meu coração quase para de bater ao ouvir a voz de Malachy.
“Essa vadia mentiu e disse que é propriedade sua. Estava quase
pegando ela”.
Eu viro e olho para Malachy, e o reconhecimento em seus olhos
logo se transforma em raiva pura. Mas ele não dirige essa raiva para
mim.
“Seu filho de uma puta”, ele grita e agarra o colarinho do cara e o
empurra contra a mesma parede em que o cara havia me empurrado
um minuto ou dois antes. “Você deveria ter ouvido o que ela disse,
Shane”. O aviso letal em sua voz é bem claro.
Ele dá um soco na mandíbula do cara e a fratura com um só
golpe. A mandíbula do cara fica toda estourada, e é difícil olhar para
a cena. Malachy não para por aí e soca o cara que tentou me
estuprar, sem parar. A raiva de Malachy é umas coisas mais
assustadoras que já presenciei em toda minha vida.
Vou me distanciando aos poucos, horrorizada pela sede por
sangue de Malachy. O cara foi um idiota, e eu não tenho dúvidas de
que ele teria me estuprado, se tivesse a oportunidade. É difícil ficar
vendo um cara com quem estive íntima agir de forma tão selvagem.
Chega um momento em que viro, incapaz de continuar olhando.
Quando ele finalmente para de socar o outro, ainda não consigo
olhar.
Será que ele o matou?
Essa é a pergunta que ronda minha cabeça agora. O medo do
que eu possa vir a ver me paralisa. Malachy surge na minha frente.
Sua camisa e mãos estão cheios de sangue.
Seu olhar frenético, quase maníaco, assusta-me mais ainda. Ele
está se comportando de uma maneira selvagem e feroz, como um
homem que não sabe como se controlar. “Não diga nada”. Há um
tom perigoso em sua voz. “Quero que você me siga até em casa.
Faça um movimento positivo com a cabeça se tiver compreendido”.
Engulo em seco, sentindo o pânico invadir minha garganta. Faço
um movimento positivo com a cabeça, não desejando nada além de
tirar o olhar intenso de Malachy do meu.
O homem para quem me vendi é um maníaco com tendências
violentas. Só agora caiu a ficha do perigo em que me meti afinal.
8
MAL ACHY

O silêncio é tenso, enquanto levo Scarlett de volta ao meu quarto.


Ela me desobedeceu. Pior que isso, ela quase foi estuprada
pelo grande merda do Shane. Já mandei meus homens irem atrás
dele, para garantir que ele não esteja mais respirando.
Paguei uma bela quantia pela mulher que ele quase estuprou,
mas sei que esta não é a razão para minha raiva duvidosa. Se fosse
outra mulher, é provável que eu saísse dando risada. Scarlett se
tornou uma ambição para mim. A posse que sinto quando olho para
ela é arrebatadora.
A maneira como a estou tratando até agora não foi rígida o
suficiente. Isso está prestes a mudar.
Eu aperto os dentes. Vou odiar ver esse medo que vi nela depois
de quase matar Shane na frente dela. A maneira como ela arregalou
os olhos, quando viu o sangue que cobria minha roupa e minhas
mãos.
Depois que você se acostuma com uma violência cruel desde
tenra idade, é fácil esquecer que a maior parte das pessoas nunca
presencia atos deste tipo. Eu não tive tanta sorte. Violência foi tudo o
que eu conheci desde criança.
Primeiro, era meu pai quem me batia com frequência, para
descontar sua raiva por conta da morte de minha mãe. Foi
melhorando um pouco, quando conheci a mãe de Alícia. Ela era uma
mulher atenciosa e fazia tudo o que podia para me proteger da raiva
do meu pai.
Eu acho que é por isso que eu tento proteger tanto minha irmã
caçula. Alícia não tem ninguém além de mim para protegê-la. Ela é o
mundo para mim e sempre foi, mesmo antes de o nosso pai e a mãe
de Alícia morrerem em um terrível acidente de carro.
Quando eu e a Alícia fomos para o acolhimento familiar, tudo
piorou muito. Era mais fácil estar nas ruas do que acolhidos da
maneira como aconteceu.
Abro a porta do meu quarto e entro. A desobediência dela não
pode ficar impune. “Se curve sobre a cama”, ordeno.
Ela arregala bem os olhos e fecha a porta. “O quê?”.
Meus punhos sujos de sangue estão cerrados na lateral do meu
corpo. “Eu mandei você se curvar sobre a cama”.
Ela não me questiona novamente. Só abaixa a cabeça levemente
e caminha sobre a cama, tentando se curvar.
Vou ao banheiro para lavar as mãos, a fim de tirar o sangue, e
deixo Scarlett esperando por mim. Shane estava quase morto,
quando parei de bater nele. Meus homens vão acabar com ele e
descartar qualquer evidência. Giro a torneira e coloco as mãos
embaixo da água. Vejo como sua transparência vai se tornando
vermelha.
Assim que tiro todo o sangue, tiro a camisa e jogo no cesto de
roupa suja. A falta de controle que me acometeu ali em público não é
algo comum em mim.
Volto para o quarto e vejo Scarlett obedientemente curvada sobre
a cama. Seu vestido sobe um pouco nas coxas, exibindo, de forma
provocante, parte da rendinha de sua calcinha. Sinto a raiva se
transformar em tesão e esfrego a mão atrás do pescoço. Não posso
deixar que ela fique impune.
“Você desafiou minhas ordens saindo de casa. Por quê?”,
pergunto.
Ela olha de relance para mim. “Eu não podia desaparecer, sem
antes inventar uma história para minha mãe e ir vê-la”.
Mais uma vez: família. Eu sinto que essa menina e eu somos
feitos de valores parecidos. Minha família é tudo para mim. “Fui muito
claro, quando disse que você não podia ir para casa”.
Ela volta sua atenção para sua frente e expira devagar. “Eu não
tinha outra escolha”.
Isso não é um pedido de desculpa. Scarlett não tem intenção
alguma de pedir desculpas para mim. “Então eu não tenho nenhuma
opção agora, além de punir você pelas suas ações”.
Ela arregala os olhos. “Me punir, como?”.
Dou um sorriso malicioso, adorando a inocência deliciosa da
minha virgenzinha. “Acho que você precisa de uns bons tapinhas. É
isso que garotas malcriadas e desobedientes merecem”.
Scarlett engole e fica pálida, olhando para frente de novo. “Tudo
bem, acabe logo com isso”.
Eu a encaro furioso. “O que faz você acreditar que tem alguma
autoridade aqui, meu amor?”. Scarlett vai aprender que ela não pode
me dar ordens. Seguro o quadril dela com força, ficando as unhas
nos ossos dela. “Eu dou as ordens. Você é minha”. Tocar sua pele
extremamente macia me faz entrar em combustão. Detesto o poder
inexplicável que ela tem de me seduzir sem fazer absolutamente
nada.
Desvencilho-me da dúvida persistente que fica martelando na
minha cabeça quanto a puni-la ou não e, então, estico o braço e
pego a chibata na primeira gaveta da mesinha de cabeceira.
Scarlett está tensa, esperando sua punição.
Levanto ainda mais a bainha do vestido dela, desnudando sua
bundinha redonda e gostosa. Isso é suficiente para deixar um
homem maluco, e muita gente diria que eu já sou maluco. “Vou
adorar deixar sua bundinha vermelha, meu amor”.
Ela olha para mim furiosa. “Por que é que você adoraria fazer
algo tão sádico?”.
Eu balanço a cabeça. “Porque o mundo me transformou em um
filho da puta pervertido. Adoro causar dor e prazer”. Pego o cós da
calcinha dela e puxo para tirá-la, revelando sua boceta perfeita
aninhadinha entre suas coxas branquinhas. “Que coisa linda”,
sussurro.
“Você é nojento”, ela diz, com a voz mais áspera que já ouvi.
Dou risada. “Eu já fui xingado de coisas piores, amor”. Provoco-a,
passando a pontinha da chibata de couro sobre sua pele bem de
leve. “Você violou as regras, então não chore quando precisar ser
punida”. Afasto a chibata de novo e bato na sua nádega esquerda
com força moderada. “Que isso sirva de lição”. Faço a mesma coisa
com a nádega direita.
Na segunda chibatada, ela grita. “Caralho, isso dói”.
Passo a mão pela sua pele, que já está vermelho-escuro. “Eu mal
comecei”. Passo a mão pelas dobras encharcadas entre suas coxas.
“Você está muito molhada, o que me diz que você gosta de ser
castigada”.
“Que nada”, ela diz.
Bato com a chibata mais forte ainda, desta vez nas duas nádegas
bem rápido, sem sobreaviso. Ela resmunga desta vez, como se a
disciplina aumentasse seu tesão. “Você gosta disso, é, garotinha?”.
Ela não responde à minha pergunta e continua olhando para
frente.
Bato em sua pele macia e perfeita com a chibata, com mais força,
para dar uma lição nela. “Eu te fiz uma pergunta”.
“Não, eu não gosto dessa merda”, ela solta.
É mentira, porque a boceta dela está pingando, desde que
comecei. Minha virgenzinha adora receber ordens. Meto um dedo na
sua boceta encharcada, e ela geme. “Que mentirosa safada você é,
amor”. Dou duas chibatadas nela, uma em cada nádega, e ela geme
de prazer. “Você gosta de ficar curvada assim e ser castigada. Pode
negar o quanto quiser”.
Ela geme. E então, eu deslizo dois dedos dentro dela e encontro
aquele ponto que a deixa maluca.
Não consigo me segurar e preciso desesperadamente
experimentar o sabor dela. Minha língua mergulha entre seus lábios
encharcados, e eu engulo cada gota dela. “Você tem o sabor do
paraíso, Scarlett”, eu solto, e passo a devorá-la ainda mais.
Scarlett geme e curva as costas. Vou lambendo o espaço entre a
boceta encharcada e o cuzinho dela. Isso a deixa tensa de início.
Depois de algumas lambidas, seu gemido fica mais alto e me deixa
com o pau muito duro. Isso é uma prova de que meu castigo acabou
com a inibições dela. “Vira para eu poder ver o seu rosto, quando
você gozar”, digo.
Ela vira e olha para mim. Seus olhos estão ardentes de desejo, o
que me deixa louco.
Eu agarro suas coxas e me enfio entre elas, lambendo e
chupando Scarlett como se eu fosse um viciado. Scarlett é a minha
porra de marca de cocaína, e eu não consigo me satisfazer.
“Eu quero que você goze para mim na minha boca, meu amor”.
Eu agarro suas coxas com mais força e aumento minha pressão
antes de começar a lamber seu clitóris latejante.
“Caralho”, ela grita, estremecendo em minhas mãos.
“Eu quero sentir o gosto do seu suquinho doce, quando você
gozar para mim”. Bato na sua nádega direita e depois na esquerda
em sucessões rápidas. “Seja uma boa garota e goze para mim, vai?”.
“Sim, mestre”, ela grita e goza.
A palavra me deixa alucinado.
Escapou dela sem querer, e sinto que ela fica tensa. Seus olhos
estão arregalados. “Ai, meu Deus. Desculpa. Eu ...”. Ela está roxa e
não sabe onde se enfiar.
Sorrio para ela, apesar de minha incerteza quanto ao uso dessa
palavra. Eu sou arrebatado pela necessidade de confortá-la. “Não se
desculpe, amor. Serei seu mestre”.
Isso só a deixa mais envergonhada, e ela balança a cabeça.
“Não, esqueça que eu disse isso”. Ela inclina a cabeça, tentando
evitar contato visual.
Eu a agarro pelo pescoço e a forço a olhar para mim. “Não desvie
o olhar, amor. Não quero que você se sinta envergonhada comigo.
Você entendeu bem?”.
Ela assente.
“Serei o primeiro homem a foder você. Você pode explorar
comigo qualquer perversão obscena e devassa que você tiver, amor.
Nada vai me chocar”. A realidade é que nada me choca, mas não
posso negar que fico surpreso por ela querer um mestre. Uma
dinâmica de escravo e mestre é geralmente constituída de muita
confiança. Não sei ao certo se sou o cara certo para isso.
Não consigo entender por que uma parte de mim ainda considera
assumir qualquer papel com essa menina. Há escuridão no passado
de Scarlett. Ela está procurando alguém que possa ajudá-la a se
curar, e eu não sou esse cara. Eu mesmo estou corrompido demais
para isso.
Ela relaxa um pouco, e seu olhar fica mais suave. É quase um
olhar de admiração, e isso me preocupa.
Limpo a garganta. “Se arrume”, digo, fazendo um movimento com
a cabeça em direção à porta do banheiro.
Sem hesitar, ela dá um salto e vai até o banheiro. Fico
observando-a, detestando a doçura que sinto por esta menina
vulnerável no fundo de meu coração negro. O desejo de protegê-la e
cuidar dela não faz sentido. Saio do quarto, sabendo que preciso me
afastar dela.
Scarlett está me infectando como uma doença. É hora de colocar
certa distância entre nós.

“S , ?”.
Olho para Niall, meu segundo homem em comando. “Descubra
de onde estão conseguindo a mercadoria deles. Preciso suspender a
fonte”. Irritado, estralo o pescoço. A guerra com os italianos tem um
preço alto demais. Eles roubaram um contêiner de cocaína no cais
ontem à noite, enquanto os incapazes dos meus funcionários deram
brecha. Durante esse processo, quatro homens foram mortos. Talvez
tenha sido uma porra de favor no fim das contas, exterminar os caras
fracos e patéticos que estavam na minha operação.
Os italianos trouxeram a droga para a cidade sem passar pelo
cais que nós controlamos. Como eles estão fazendo isso é um
mistério. Milo é esperto. Ele sabe o que está fazendo, diferentemente
do pai dele, que é um babaca.
Ao pensar nesses problemas, percebo que estou distraído
repetidamente por pensamentos relacionados à mulher que está
trancada no meu quarto. Eu não queria precisar trancá-la. Depois de
seu descaso evidente com minhas ordens em não visitar sua mãe e
quase ser estuprada por um dos caras mais desprezíveis em minha
operação, eu precisei tomar uma atitude.
Faz uma semana que ela está trancada em meu quarto. O
escorregão dela ao me chamar de mestre foi excitante, embora eu
não tenha certeza de que poderia ser um verdadeiro mestre para ela.
Mestres são firmes e ternos ao mesmo tempo. E eu não sou nada
disso. A simples dinâmica Dominador/Submisso sempre me atendeu
muito bem, deixando de fora os rótulos, considerando que raramente
dou continuidade a uma relação com uma mulher. Desde aquela
noite, estou jogando com ela, ao tentar ser o que ela quer que eu
seja.
Ela está ficando mais desobediente a cada dia que passa, porque
ela adora que eu a controle. Desde aquele escorregão, ela nunca
mais me chamou de mestre. Uma parte de mim está decepcionada
com isso.
Eu admiro sua determinação em cuidar da família, mas eu paguei
uma boa grana por ela.
Ela não pode sair por aí enquanto ela for minha. Eu fiquei muito
bravo por ela ter ignorado minhas ordens, mas já me certifiquei de
puni-la devidamente desde então.
Sinto-me parcialmente preocupado em mostrar minha verdadeira
natureza para a virgem que eu vou comer. Quando abri para ela
minha tendência ao sadismo, fiquei chocado por ela ter sido tão
receptiva. Disciplina parece ser algo que a atrai muito.
“Senhor?”. Niall está olhando para mim com as sobrancelhas
franzidas. Eu não ouvi nenhuma palavra do que ele me disse.
Balanço a cabeça, tentando esvaziar minha mente. “Desculpa,
cara. O que você disse?”.
Niall parece um pouco preocupado, mas não diz nada sobre isso.
"Eu disse que agora mesmo têm seis caras tentando rastrear a rota
de transporte que os italianos usam. Você acha que precisamos
reforçar os recursos para esta tarefa?”.
Eu passo uma mão pela nuca, sentindo-me mais tenso. “Não dá
para tirar mais gente do cais depois do que aconteceu ontem à noite.
Seis homens terão que bastar. Mas eu quero que eles trabalhem
direito para conseguir descobrir o que preciso”. Eu estralo os dedos.
“Senão, o bicho vai pegar”.
Niall faz que sim. “Combinado. Vou me certificar de que eles
compreendam a importância disso”.
Confio em Niall como um irmão. Ele vai fazer o que precisa ser
feito. De fato, quando comecei a guerra contra Milo, subestimei sua
inteligência. “Ótimo. Acho que isso é tudo”.
Niall assente e se levanta, demorando-se um momento. “O
senhor está incomodado com alguma coisa?”. Ele franze as
sobrancelhas. “O senhor parece um pouco ...”. Ele não sabe que
palavra usar, ou está preocupado demais para ser franco comigo.
Niall já presenciou bastante o meu pior lado, mas nunca esteve do
outro lado da minha raiva.
“Estranho?”, pergunto.
Ele faz que sim com a cabeça. “Sim. Sem querer ofender”.
Inspiro profundamente e estralo o pescoço. “A virgem que
comprei está sendo mais difícil do que eu esperava. É só isso”.
Ele solta uma risada. “Fico contente por não ter participado desse
leilão”.
Olho para ele com fúria suficiente para ele saber que está
passando dos limites. Niall pode ser o meu melhor homem e quase
um irmão para mim, mas não gosto que riam de mim. “Em geral, elas
não dão trabalho, mas esta menina é diferente”.
Niall concorda com um aceno. “Bom, cuidado para ela não mexer
demais com você. As mulheres podem se transformar em um
pesadelo, quando conseguem conquistá-lo”. Niall parece estar
falando por experiência própria.
Nos vinte anos que o conheço, Niall nunca esteve em um
relacionamento sério. Ele é quase tão zoado quanto eu em muitos
aspectos. “Vou atualizá-lo, assim que tiver notícias sobre a questão
dos fornecedores dos italianos”.
Fico observando meu braço direito ir embora da sala de reunião.
Ele é um homem diferente daquele que conheci. Afinal de contas,
nós éramos crianças, quando nos conhecemos nas ruas. Eu estava
entrando para a luta livre, e Niall acreditou em mim, quando ninguém
mais acreditava.
Ele me ajudou a treinar com regularidade. Pareceu-me correto
tirá-lo das ruas comigo, quando subi na vida. Nosso laço é forte,
mesmo que ele seja um subordinado. Niall sabe que ele precisaria
fazer algo muito sério para acabar morto em minhas mãos, o que
quer dizer que ele tem mais liberdade com o que diz para mim.
Suspiro profundamente e olho para o relógio. É só meio-dia, e
todo o meu trabalho já está terminado. A única coisa que tenho na
cabeça é a linda virgenzinha que ainda preciso deflorar, trancada em
meu quarto me esperando. Já é mais que hora de tirar a virgindade
dela e tirá-la da cabeça.
9
S C A R LE T T

A fechadura da porta faz um ruído. Uma mulher usando um


uniforme de governanta aparece à porta. “Ah, desculpa. Não
sabia que tinha alguém aqui”. Ela franze as sobrancelhas. “Preciso
limpar o quarto”.
Eu assinto em resposta. “Imagina. Vou sair daqui um pouquinho”,
digo com os olhos fixos na porta – minha rota de fuga.
Ela sorri. “Ótimo. Vai levar no máximo uma hora”.
Agarro minha bolsa na mesinha de cabeceira e coloco meu
celular dentro dela. “Claro. Leve o tempo que você precisar”. A
governanta não tem consciência de que me libertou do cativeiro. Faz
uma semana que vi minha mãe. Uma semana desde que ele me
trancou aqui como um animal enjaulado, esperando
permanentemente Malachy voltar e me castigar de alguma forma
doentia e pervertida.
Detesto o fato de ter passado a gostar do castigo. A maneira de
ele ser tão dominador e exigente. Posso ter vendido minha
virgindade a ele, mas eu não concordo com essa merda toda. Não
suporto mais um momento trancafiada, e não existe mais nenhum
passo de dança para praticar aqui dentro. A mansão está silenciosa
de novo, bem parecido com o dia em que escapei para ver minha
mãe.
Consigo chegar à porta principal sem ver ninguém. Depois do que
aconteceu da última vez, eu não tenho intenção alguma de sair da
propriedade de Malachy. Fiquei sentada na porra desse quarto,
olhando a parte externa da propriedade e a mata que passa ao lado
da casa dele, a fim de explorar o lugar.
Malachy não vai ficar contente se me pegar. Malachy é pontual e
não volta antes das seis horas da tarde, de qualquer forma. Vou curtir
um tempinho de liberdade fora da mansão e me preocupar com
Malachy depois.
Outra governanta passa por mim no saguão, sorrindo. “Bom dia”,
ela diz.
Meu coração acelera, ao pensar na possibilidade de ser pega.
“Bom dia”, respondo, antes de correr pelas escadas que dão para o
saguão principal. Não tem ninguém à vista, então, sigo em direção à
porta principal – igual à outra vez.
Quando vejo que não tem ninguém por perto, o frio na minha
barriga se dissipa um pouquinho. Eu sei que não tenho chance de
passar pelo portão, depois do que aconteceu da última vez, mas uma
caminhada pelo ar fresco me fará bem.
Caminho na direção oposta do portão e vou rumo à parte de trás
da propriedade. Um cara armado usando um uniforme de segurança
vem na minha direção. “Bom dia”, ele diz, sem saber quem sou eu.
Faço um aceno com a cabeça para ele. “Bom dia”. Meu coração
está praticamente se debatendo dentro do meu tórax à medida que
caminho em direção à mata, na esperança de que as árvores me
deem cobertura da visão de qualquer outra pessoa.
Felizmente, parece que ninguém tem conhecimento de quem eu
seja, ou do fato de que eu não deveria estar fora de casa.
Caminho em direção a uma clareira entre as árvores e entro um
pouco mais na mata. Estou gostando da sombra e da cobertura das
árvores. Uma melodia suave passa pelo ar em minha direção. Um
som bonito que me atrai. Vejo outra clareira, e meu coração acelera,
quando vejo que não estou sozinha nesta mata.
Uma mulher jovem com cabelo longo castanho está com as
pontas dos pés mergulhadas em uma lagoazinha e está cantando em
uma língua desconhecida.
Fico hipnotizada por ela. É só quando ela olha para mim que me
dou conta do erro terrível que cometi.
Ela franze as sobrancelhas. “Quem é você?”.
Engulo em seco e olho para a mansão. “Meu nome é Scarlett, e
eu ...”. Não tenho ideia de como explicar para ela quem sou, ou por
que estou aqui.
A compreensão surge em seu rosto. “Ah, não, agora você é a
nova, não é?”. Ela balança a cabeça. “Meu irmão é um porco do
caralho às vezes”.
Meus olhos se arregalam. “Irmão?”.
Ela faz que sim e vem em minha direção. “Sim, Alícia McCarthy.
Prazer em conhecê-la, Scarlett”. Ela estica a mão para mim.
Eu a seguro. “É um prazer conhecer você”. Olho de novo para a
mansão, nervosa. “Eu não deveria estar aqui fora, mas eu estava
ficando louca presa naquele quarto”.
Alícia ri. “Não se preocupe. Eu não vou contar para ele. Meu
irmão é maravilhoso comigo, mas eu sei como ele às vezes é difícil
com a maioria das pessoas”. Ela olha para meus braços. “Você não
parece tão machucada quanto a maioria das meninas”.
Sinto meu estômago revirar, e um ciúme estranho se aloja no
lugar dele. É preocupante pensar que normalmente as meninas que
Malachy compra apanham. O que é mais preocupante ainda é o fato
de que pensar nele com qualquer outra pessoa me deixa com
ciúmes.
Alícia vira as costas para mim e volta à sua posição perto do lago.
“Por que você não senta comigo um pouquinho?”.
Eu sorrio, porque acho que um pouco de companhia feminina não
fará mal depois de uma semana trancada no quarto de Malachy.
“Seria bom”. Eu sento ao seu lado. “Você tem uma linda voz
cantando, aliás. Que música você estava cantando?”.
“Óró Sé do Bheatha ‘Bhaile”, ela diz o nome da música. É uma
música gaélica. Em português, o título é “Oh, Bem-vindo à Casa”. Ela
sorri melancólica. “Pode ser que você não acredite nisso, mas
Malachy tem a voz linda para cantar também. Até mesmo melhor que
a minha”. Ela ri. “Não que ele a use. Ele prefere brigar a cantar”.
Não posso imaginar Malachy cantando. “Você se manteve fiel às
suas raízes, então, aprendendo gaélico?”.
Ela faz que sim com a cabeça. “Sim, minha mãe me ensinou,
quando eu era pequena”. Seu olhar parece triste agora. “Antes de ela
morrer”.
Eu engulo em seco. “Lamento saber disso. Deve ter sido difícil
para você e para Malachy”.
Ela balança a cabeça. “Malachy amava minha mãe, mas nós
somos meios-irmãos”. Ela suspira profundamente. “Eu acho que
ficou mais fácil para ele, quando nosso pai foi embora. Ele abusava
de Malachy, desde que ele era pequeno”.
Fico tensa ao saber que o pai deles abusava de Malachy. Isso me
lembra os problemas que tive com meu pai. “O que ele fazia com
ele?”.
Ela não olha para mim. “A mãe de Malachy morreu no parto, e
nosso pai o culpou por isso. Ele batia em Malachy, desde que ele era
muito pequeno”. Ela balança a cabeça. “Eu não deveria te contar
nada disso. Ele me mataria se soubesse”.
“Não se preocupe. Não tenho intenção nenhuma de contar para
ele”.
Alícia sorri para mim. “Obrigada. Queria muito que Malachy
parasse de comprar mulheres naqueles leilões nojentos”. Ela olha
para mim como quem pede desculpas. “Sem querer ofender”.
“Não ofendeu”. Eles são nojentos mesmo, mas eu não tinha
alternativa.
Ela cantarola a música que estava cantando baixinho antes,
quando um silêncio confortável paira entre nós. “Posso ser mal-
educada e perguntar por que motivo você leiloou a si mesma?”. Ela
inclina a cabeça de leve para o lado. “Você não é como as outras
meninas”.
Eu franzo as sobrancelhas. “Eu não tinha opção. Minha mãe está
doente. Em que aspecto você me acha diferente das outras
meninas?”.
Ela bate uma mão na outra. “Isso explica tudo. Todas as mulheres
que Malachy comprou até agora fazem isso para comprar carros
luxuosos ou roupas legais. Não fizeram nada disso por uma causa
digna”. Ela suspira profundamente. “Queria que Malachy sossegasse
e ficasse com uma menina legal como você”.
Sinto um calor percorrer meu corpo com esta sugestão. Não há
nada entre nós além de um arranjo bem distorcido. Malachy não me
parece o tipo de cara que quer sossegar.
“Ele está maltratando você?”, Alícia pergunta, olhando para mim
de novo.
Reflito sobre sua pergunta. Malachy não me tratou exatamente
mal, além dos tapinhas. Tapinhas que, por alguma razão, me dão
tesão. “Ainda não”. Fico tensa ao pensar se o pior ainda está por vir.
Ele nem tirou minha virgindade ainda.
“Mas que merda está rolando aqui?”. A voz de Malachy é como
um grande estrondo.
Meu corpo inteiro se transforma em gelo, e sinto o medo passar
pela minha carne como uma lâmina afiada.
Alícia, claramente despreocupada com a intrusão do irmão, dá
risada e levanta. “Malachy, eu estava conhecendo a sua nova
aquisição. Ela parece legal”. Alícia caminha em direção a ele, o puxa
e o abraça de uma forma desajeitada.
Os olhos de Malachy estão cheios de fúria. “Como é que você
saiu daquela porra daquele quarto?”, ele pergunta, sem dar atenção
à irmã.
Fico parada ao lado da lagoa. “Uma governanta entrou e
perguntou se eu podia sair um pouco enquanto ela limpava”. Eu dou
de ombros. “Achei que não teria problema nenhum em tomar um ar
fresco, já que eu fiquei fechada naquele quarto por uma semana”.
Malachy estreita os olhos. “Alícia. Deixe-nos a sós”. Ele não tira
os olhos de mim.
“Mano, você precisa se acalmar. A Scarlett não estava fazendo
...”.
“Alícia. Eu mandei você nos deixar a sós. Não me faça pedir mais
uma vez”, ele fala, bravo. O tom de sua voz me causa arrepio pela
espinha.
Alícia olha para mim como quem quer pedir desculpa, dá meia-
volta e nos deixa a sós ali na mata.
Por um momento extremamente longo, o silêncio paira entre nós.
“Você sabia que não deveria sair de casa, mas saiu mesmo assim”.
Ele caminha na minha direção devagar, como um lobo perseguindo
um veadinho, pronto para atacar. “Eu não posso deixar esta
desobediência ficar impune”. Ele continua caminhando na minha
direção. “O que minha irmã disse sobre mim?”.
Eu balanço a cabeça. “Nada de mais. Ela disse que você é um
cantor excelente”.
“Mentira”, ele rosna. “Eu conheço minha irmã, e provavelmente
ela contou toda a história da merda da minha vida para você”.
Engulo em seco, sentindo medo do homem à minha frente.
Depois de presenciá-lo espancar um homem até a beira da morte,
sei do que ele é capaz. A escuridão que existe dentro da alma dele é
puro veneno.
Ele continua vindo na minha direção, obrigando-me a dar alguns
passos para trás. Meu coração bate forte no peito, quando de
repente sinto o tronco de uma árvore nas minhas costas. Não tenho
para onde ir – não tenho como fugir.
Malachy chega bem perto de mim e coloca uma mão sobre a
árvore, um pouco acima da minha cabeça, me deixando encurralada.
“O que foi que ela te disse?”.
Fico encarando seus olhos verde-esmeralda, pensando no que
dizer. “Ela me disse sobre seus pais”.
Malachy dá um soco no tronco da árvore antes de se afastar.
Fico observando ele dar alguns passos na minha frente com os
punhos fechados. “Você não deveria ter vindo aqui fora”. Não
consigo entender por que ele está tão zangado por Alícia ter me
contado sobre o passado dele. Talvez ele prefira ser um monstro
imperdoável aos meus olhos, mas eu sinto que suas feridas vêm do
passado dele.
“Desculpa, mas eu estava ficando louca naquele quarto. Eu não
saí da propriedade. Eu só precisava de um pouco de ar”.
Malachy vira e olha para mim enfurecido. “O que você precisa é
de um bom castigo”. Ele se aproxima e me imobiliza contra a árvore
de novo. “Eu não consigo tirar você da cabeça, virgenzinha”, ele
sussurra no meu ouvido e morde o lóbulo da minha orelha.
Sinto um arrepio na espinha com essa declaração. “O que você
vai fazer comigo?”.
Ele geme e beija meu pescoço. “Muitas coisas pervertidas, amor”.
Ele agarra minha bunda e me levanta, obrigando-me a me equilibrar
entrelaçando minhas pernas em volta da cintura dele.
“Chegou a hora de receber a recompensa pela grana que eu
gastei, mas não vai ser só isso”, ele diz.
Sinto enjoo imediato, e minha visão fica um pouco turva em
pensar em Malachy transando comigo aqui e agora. Eu não estou
pronta. Essa é a frase que ronda minha cabeça sem parar. Até
mesmo enquanto meu corpo reage a cada carinho e toque dele, sei
que não estou preparada mentalmente.
“Por favor, eu não posso ...”.
Malachy me cala com um beijo. Um beijo que tira o ar dos meus
pulmões. É um beijo apaixonado e frenético. É a primeira vez que ele
me beija, e meu mundo se incendeia.
Coloco as mãos sobre os ombros dele, sentindo a necessidade
dentro de mim crescer. Durante todo esse tempo, a dúvida
desconfortável sobre ficar íntima com esse cara invade a minha
mente por completo.
Ele morde minha clavícula e mete um dedo dentro de mim.
Eu encosto a cabeça na árvore e solto um gemido, sentindo meus
mamilos enrijecerem. “Merda”.
“Isso, meu amor. Eu quero que você goze para seu mestre”.
Sinto meu coração acelerar, quando ele menciona essa palavra
que deixei escapar outro dia. Ele parece horrorizado. Eu fico meio
tensa e olho bem nos olhos dele.
“Está tudo bem, meu amor. Eu vou possuir você do jeito que você
desejar”, Malachy sussurra, beijando meu pescoço devagar. Há uma
ternura no toque dele que nunca esteve ali antes. “Eu vou devorar
cada milímetro de você e fazer você sentir muito prazer. Você vai se
arrepender de não ter se vendido antes”.
Sinto dificuldade para deglutir, pois sei que ele não está mentindo.
Malachy já me fez experimentar um tipo de prazer que vai além dos
meus sonhos mais selvagens. Porém, o medo que sinto quanto ao
ato em si ainda me deixa paralisada. Eu posso até ter superado a
culpa do que meu pai me fez fazer com ele, quando eu era bem
pequena, mas sei que isso me marcou para sempre.
“Malachy, não ...”.
Ele morde a minha clavícula, e eu não consigo terminar a frase.
Passo a gemer, quando ele aumenta a velocidade dos dedos,
entrando e saindo de mim sem parar. “Não o quê, amor?”, ele
sussurra no meu ouvido. “Não quer que eu faça você gozar como a
safadinha submissa que você é?”.
Não consigo mais segurar meu gemido e sinto que minha
discrição começa a ir embora. Malachy tem um jeito de me fazer
esquecer de todo o resto do mundo.
10
MAL ACHY

O gemido dela é como música para a minha alma torturada.


Alícia não deveria ter contado sobre nossos pais para ela.
Odeio quando as pessoas descobrem como a minha vida foi difícil,
porque isso dá a elas uma desculpa pelo meu comportamento
doentio e pervertido. Não há desculpa.
Esta é a pessoa que sou e que sempre serei. Obscuro, pervertido
e torturado, mas é assim que eu gosto. Não estou com nenhum
problema para precisar de conserto. Havia um olhar diferente nos
olhos de Scarlett, quando ela olhou para mim naquele momento. E
eu odiei aquilo – era pena. Ela sente pena de mim por causa do meu
passado.
Mantenho minha virgenzinha encurralada na árvore, explorando
sua pele macia com os lábios e os dentes. Scarlett tenta se
desvencilhar de mim e, de vez em quando tenta, de maneira bem
sutil, resistir às minhas ações.
Há escuridão no passado de Scarlett. É por isso que ela não é
muito boa com intimidade, o que parece um pouco estranho,
considerando que ela leiloou a própria virgindade. Scarlett sabia que
o momento de o sexo acontecer chegaria, e eu não posso esperar
mais.
Meto meus dedos dentro dela e depois os coloco na boca para
sentir o gostinho dela. “Você vai gritar, enquanto eu recebo pelo que
paguei bem aqui e agora”.
O medo nos olhos dela faz eu me sentir meio culpado. Eu não
deveria me importar se ela está assustada ou não, mas eu não
consigo. Não importa o que aconteça, não consigo negar que ela é
especial.
Passo os braços por baixo das coxas dela e a levanto,
encostando-a na árvore. Meu desejo está fora de controle. Controle é
poder, e estou perdendo o meu com Scarlett.
Scarlett agarra o meu bíceps e enfia as unhas na minha pele. “O
que você vai fazer?”.
Eu mordo seu lábio inferior, que é gostoso e grosso. “Foder você,
amor. Não consigo esperar mais”.
Ela estremece e fica tensa de novo. “Não sei se estou pronta”.
Minha virgenzinha tem uma característica vulnerável.
“Então você não deveria ter se vendido para mim”. Dou uma
mordidinha na carne sensível da base do seu pescoço, e ela geme
devagar. “Preciso entrar em você”. Seguro meu cinto e o puxo da
calça. “Eu quero sentir essa bocetinha apertar meu pau todinho”.
Scarlett fica ofegante com a minha escolha de palavras
pervertidas. A inocência dela é graciosa e excitante ao mesmo
tempo. Rasgo sua calcinha pequeninha e levanto a bainha do vestido
dela.
“Por favor, não faça isso”, Scarlett implora, olhando dentro dos
meus olhos.
Uma parte de mim hesita com o pedido dela, mas é uma parte
muito pequena de mim. Meu lado selvagem e obscuro sabe que
preciso tomá-la agora mesmo. Se demorar mais tempo, vou ficar
simplesmente maluco – mais maluco do que já sou.
“Desculpa, lindinha, mas eu paguei por isso”.
Ela fecha os olhos e encosta a nuca na árvore. “Acaba logo com
isso”, ela diz, com a voz falhando de emoção.
A cabeça da minha rola dura e pulsante pressiona a entradinha
encharcada de Scarlett. “Quem está no controle sou eu, amor”. Dou
uma mordida na clavícula dela. “Eu quero que você olhe nos meus
olhos, quando eu entrar em você”.
Ela lambe os lábios, nervosa, antes de abrir os olhos. Essas belas
joias azuis mostram medo e tesão ao mesmo tempo. Ela quer isso,
mas sente medo também. É natural, mas eu sinto que essa mulher
não consegue confiar. Permitir-me entrar nela é a forma suprema de
confiança.
Pena que ela não tem escolha. Eu paguei dois milhões e meio de
dólares por ela. Não vou me sentir mal por pegar o que é meu por
direito.
Eu a abaixo, para que o meu pau pressione sua bocetinha
apertada, mas sem entrar ainda. “Você é minha, Scarlett. É minha
para eu foder, violar e fazer o que eu bem entender”.
O medo em seus olhos aumenta.
“Essa boceta virgem e apertada é só minha. Você entendeu
bem?”.
Ela olha bem nos meus olhos e faz que sim. “Sim, senhor”.
Eu balanço a cabeça, porque não era exatamente isso que eu
queria ouvir. “Não, amorzinho. Eu gosto que você me chame de
mestre”.
Ela estremece. Suas coxas estão tremendo violentamente,
quando a pressiono contra o calor da minha rola dura. Estou
desesperado para meter nela, mas não enquanto ela não disser o
que eu quero ouvir.
“Sim, mestre”, ela diz, fazendo minhas bolas doerem.
“Caralho, você é tão perfeita”, eu sussurro no ouvido dela antes
de abaixá-la para entrar nela.
Ela grita, com dor, quando meu pau estica sua bocetinha
apertada e encharcada pela primeira vez. “Não, por favor, não ...”. Eu
a seguro com um braço e coloco a outra mão sobre sua garganta,
pressionando-a contra a árvore. “Foi isso que você vendeu para mim,
linda. Por que você acha que tem o direito de negar isso a mim?”.
Minha rola pulsa dentro dela. O desespero para fodê-la bem forte e
rápido toma conta de mim.
Ela olha nos meus olhos com um misto de tesão e raiva. “Porque
você está brincando comigo há uma semana. Deixa tudo mais
íntimo”.
Há tristeza em seus olhos, como se eu tivesse traído a confiança
por pegar o que pertence a mim. Eu sabia que eu tinha sido mole
demais com ela. É hora de mudar isso. Não posso deixá-la achar que
isso é qualquer coisa além de uma transação comercial.
“Se você acha que eu sou minimamente bonzinho, você está
enganada”. Meto nela bem devagar e a deixo bem encostada contra
a árvore. “Sou mau, amor”.
Os mamilos dela ficam duros, como o cume de duas montanhas
através do tecido de seu vestido. Minha virgenzinha safada nem se
importou em colocar um sutiã. Provoco-a, passando a mão pelo seu
peito e puxo o tecido, desnudando seus seios duros e firmes.
Scarlett geme, quando chupo cada um deles delicadamente,
fazendo sua boceta jorrar no meu pau. “Isso, meu amor. Quero ouvir
você gemer para mim”.
“Caralho”, ela grita, quando meto nela com mais força.
Perco toda a racionalidade ao fodê-la, desesperado para fazê-la
pertencer a mim. Em todos os aspectos.
Sinto as pontas de seus dedos pressionarem meu braço, quando
continuo metendo nela com mais força e velocidade. O meu lado
selvagem se libertou, e agora não tem mais volta.
“Ah, caralho, isso”, Scarlett grita, arqueando as costas de um jeito
que me permite entrar mais fundo ainda dentro dela.
Eu solto um grunhido e mordo sua clavícula, enquanto a fodo com
mais força ainda. É um choque para mim o fato de a minha
virgenzinha safada gostar disso dessa forma bruta. Esta posição não
é ideal para meter com força, então eu a carrego até um trecho de
grama sem tirar meu pau de dentro dela.
“Você é muito perfeita, linda”. Solto um gemido e memorizo a
imagem dela nesse exato momento e lugar. Scarlett parece um anjo
com os mamilos inchados e duros, e a boceta encharcada
envolvendo meu pau ali deitada na grama macia.
Scarlett olha nos meus olhos e parece que ela consegue ver
dentro da minha alma. Isso faz com que eu me sinta vulnerável. Eu
beijo seus lábios devagar e os provoco passando a língua neles, de
modo a entrar em sua boca.
Ela deixa, e eu a beijo, voraz. Nossas línguas se entrelaçam tal
qual em uma dança apaixonada.
Consigo sentir o quanto ela me deseja. Parece que nossas almas
se desejam por alguma razão inexplicável. É uma conexão profunda
que jamais senti com nenhum outro ser humano, e isso me assusta.
Poucas coisas me assustam neste mundo, mas Scarlett é um
enigma.
Vou beijando seu pescoço e deixo meu pau pulsante dentro dela.
Lentamente, começo a meter e tirar meu pau de dentro dela. Cada
vez que ele entra é mais forte do que a anterior, fazendo-a se
contorcer embaixo de mim.
“Ah, isso”, ela geme, curvando ainda mais as costas. “Mais forte”,
ela pede.
Solto um gemido baixinho e passo a mão em volta do pescoço
dela, deixando-a levemente sem ar. “Quem é que está no comando,
meu amor?”.
Ela morde o lábio inferior. “Você, senhor”.
Eu trinco os dentes, imaginando por que desejo tanto que ela me
chame de mestre. Não é da minha natureza desejar uma relação
baseada em tanta confiança e cuidado, mas, ainda assim, desejo
possuí-la. Quero protegê-la e deixá-la segura. Eu não insisto no
assunto. Se ela acha que vou deixá-la ir embora depois de tirar a
virgindade dela, ela está bem enganada. Scarlett será minha pelo
tempo que eu quiser.
Eu solto seu pescoço e a fodo com mais força e mais rápido,
chocando contra ela tal qual um animal selvagem.
Há algo de primitivo e natural em transar ao ar livre. Nunca fiz
isso antes, porque estou sempre no controle. Quando vi Scarlett lá
fora, minha raiva, combinada ao meu desejo insaciável de possuí-la,
acabou com meu controle. Eu tinha que comer ela aqui e agora.
“Eu não consigo me satisfazer com você”, sussurro com os lábios
colados nos dela e depois finco minhas unhas na carne de seu
quadril e meto nela com mais força.
“Cacete, Malachy”, ela grita.
O som do meu nome saindo dos lábios dela me deixa louco.
“Chama meu nome, linda. Mal consigo esperar essa boceta deliciosa
gozar na minha rola”, eu digo.
Tenho certeza de que todos os seguranças conseguem nos ouvir
transando na mata, mas eu não estou nem aí. Só consigo me
importar com essa mulher que está embaixo de mim. Jamais quero
que outro homem a toque. Ela será minha para sempre, desde que a
possuí pela primeira vez.
É uma coisa louca, porque sei que este acordo doentio e
pervertido vai ter fim. Comprei a virgindade de Scarlett, não ela.
Mantê-la cativa para sempre só faria com que ela me odiasse, mas é
um pensamento tentador para caralho.
Nunca deixo o desejo de alguém atrapalhar minhas
necessidades. Porém, esse é um cenário completamente diferente.
“Malachy, eu acho que eu vou ...”.
Eu a beijo, já sabendo o que ela irá dizer. Os músculos em volta
do meu pau se contraem e pulsam, quando ela goza. “Isso, meu
amor. Goza na minha rola, goza”, sussurro com os lábios colados
nos dela e solto um gemido, quando sinto meu orgasmo se
aproximar.
Quero abarrotar essa boceta com a minha porra até escorrer
pelas coxas dela.
“Ah, isso”, ela grita, e sinto seu gozo escorrer pelo meu pau. A
boceta dela está tão apertada que não consigo segurar meu gozo
nem mais um segundo.
Dou mais três socadas antes de explodir dentro dela. Continuo
socando, liberando cada gota da minha porra. “Isso mesmo, meu
amor. Vou encher você com a minha porra para todo homem saber
que você pertence a mim”, eu solto.
Ela fica um pouco tensa com isso, mas não me importo. Scarlett é
minha, quer ela queira, quer não.
Descanso um pouco dentro dela, escutando sua respiração
frenética. Estamos juntos em silêncio, mas não é desconfortável. Não
existem palavras a serem ditas agora.
Lentamente, desprendo-me dela e a puxo contra o peito.
Contemplo as copas sarapintadas das árvores que nos cobrem.
Scarlett não se afasta. Descansa a cabeça no meu peito ainda
vestido. Eu jamais abraço uma mulher depois de fodê-la, mas eu
nunca desejei uma mulher da maneira como desejo Scarlett.
É uma ideia perigosa, mas é mais verdadeira do que eu jamais
poderei compreender.
11
S C A R LE T T

F az uma semana, desde que Malachy tirou minha virgindade


brutalmente dentro da mata. Ele ainda não falou nada sobre
me deixar ir embora. Embora ele tenha recebido aquilo pelo que
pagou, ele não tem a menor intenção de me liberar antes de um ou
dois meses, conforme originalmente estipulado.
Não consigo acreditar no que eu perdi esse tempo todo,
paralisada pelos meus medos monstruosos. Sexo com Malachy é
melhor do que eu poderia imaginar e, apesar de seu jeito rústico e
selvagem, ele me faz sentir desejada. A maneira como ele olha para
mim me faz sentir querida.
A maneira como ele me segurou, quando estávamos deitados na
grama, Deus sabe por quanto tempo, foi possessiva e protetora. Ele
pode ser obscuro e perigoso, mas pode ser carinhoso também.
Dou um pulo, quando alguém limpa a garganta logo atrás de mim,
logo que me sento no banco do jardim perto da mansão. Eu viro e
vejo Malachy olhando para mim com um misto de adoração e
hesitação.
“Oi, e aí?”, pergunto, sorrindo para o homem que conseguiu, de
uma forma inexplicável, destruir algumas das minhas barreiras.
Ele sorri e senta-se ao meu lado. “Nada. Estava olhando para
você, linda”. Ele pega minha mão na dele e contempla os gramados
verdejantes.
Só consigo acreditar que ele está mentindo. “Tem certeza?”.
Ele olha para mim, revelando o lado dominante dele pelo qual
tanto anseio. “Não me questione, amor”.
Eu mordo o lábio, sentindo uma poça quente se formar entre
minhas coxas só de ouvir o tom da sua voz. Uma voz na minha
cabeça diz, Desculpe, mestre, mas não consigo me fazer chamá-lo
assim de novo.
Fiquei chocada, quando deixei isso escapar da primeira vez, sem
saber exatamente por que fiz aquilo. Não faz o menor sentido. Lá no
fundo, eu quero voltar para a infância que foi roubada de mim e ser
possuída e protegida por um homem como ele. Malachy faz eu me
sentir segura, apesar do perigo à sua volta e de seu jeito selvagem e
dominante.
“No que você está pensando?”, ele pergunta.
Eu balanço a cabeça. “Nada de mais”. Sinto um calor subir pelo
meu peito e pescoço, porque não posso dizer a ele. Isso revelaria
segredos demais a respeito do meu passado ferrado.
“Me conta”, ele ordena.
Engulo em seco e sinto minhas barreiras se formarem novamente
por causa da aspereza repentina em seu tom de voz. “Eu não estava
pensando em nada especificamente”, digo, sem olhar em seus olhos.
Malachy segura meu pescoço de um jeito dominante, e eu me
sinto enjoada. “Mentira. Você está vermelha”. Ele traz o rosto bem
próximo ao meu. “Eu quero saber todos os pensamentos obscuros e
pervertidos que entrarem na sua mente preciosa, meu amor”.
Eu olho para seus olhos verdes lindos, e minha incerteza se
dissipa. Não consigo explicar por que desejo abrir minha alma para
este homem. Ele faz com que eu queira me libertar de minhas
barreiras, mas tenho medo de ele partir meu coração, se eu fizer
isso. Minhas barreiras são minha rede de proteção. Elas existem,
desde que me conheço por gente.
“Eu estava pensando sobre o porquê de eu ter a necessidade de
chamá-lo por mestre o tempo todo”, sussurro, sustentando seu olhar,
enquanto sinto o calor subir pelas minhas bochechas.
Ele dá o sorriso mais lindo que já vi. “Porque eu faço você se
sentir possuída e protegida, até mesmo se eu for a última pessoa
que deveria fazer você se sentir assim”.
Eu levanto uma sobrancelha. “Por quê?”.
Ele encolhe os ombros. “Pode ter a ver com o fato de eu ser o
líder da máfia irlandesa, ou por ser o campeão de luta livre de
Boston”. Ele solta meu pescoço e dá uma risadinha. “Oras, você
quase me viu matar um homem sem arma alguma. Eu sou perigoso”.
A lembrança dele espancando aquele cara na minha frente me
faz estremecer. Talvez seja por isso que ele faz com que eu me sinta
segura. Ele não hesitou em espancá-lo por quase me estuprar. Eu
sinto que ele faria qualquer coisa para me proteger, o que tem certo
poder sobre mim.
Eu mordo o lábio e faço que não com a cabeça. “Você não é
perigoso para mim”, eu digo.
Ele sustenta meu olhar, estudando meus olhos como se neles
buscasse a resposta para uma pergunta. “Não, porque eu vou
proteger você com minha vida”. Ele se inclina sobre mim e me beija
com carinho. “Você é minha agora, Scarlett, e ai de quem ousar
machucar o que é meu”.
Eu entrelaço minhas mãos por trás do pescoço dele e o beijo com
voracidade, sentindo a paixão de sua promessa em nosso beijo.
Ele interrompe o beijo e inclina a cabeça para o lado de leve. “Eu
disse que você podia me chamar do que quisesse. Por que você
parou?”.
Eu olho para baixo em direção às minhas mãos paradas no meu
colo. “Me parece um pouco estranho chamar você disso”. Eu sinto
minha garganta fechar, porque é uma palavra confusa para mim.
Meu pai abusava de mim e não era o tipo de homem que fazia eu me
sentir segura. Talvez eu esteja procurando isso em Malachy, e ele é o
primeiro homem que fez eu me sentir estimada, ainda que ele seja
bruto e perigoso.
“Me diga por que parece estranho”. Não é uma pergunta, mas
uma exigência, embora eu saiba que não estou pronta para contar a
ele sobre meu passado.
Estico a mão em direção à sua nuca para puxá-lo para perto, mas
ele resiste.
“Não me distraia”.
Eu balanço a cabeça. “Não estou pronta para contar a você”.
Ele enrijece os maxilares e assente, embora eu perceba sua
frustração. “Compreendo, mas eu quero saber tudo sobre você
eventualmente, meu amor”, ele sussurra, puxando-me para mais
perto dele. “Agora, a razão principal pela qual eu vim te procurar foi
para convidá-la para jantar hoje à noite”.
Eu franzo as sobrancelhas, encarando este irlandês rústico e
lindo por quem eu sinto que estou me apaixonando aos poucos.
“Como um encontro?”.
Ele encolhe os ombros. “Se você quiser chamar assim”.
Eu contemplo o gramado e vejo que um passarinho arremeter,
pegar uma minhoca com o bico e subir de volta para o céu. Um
encontro com Malachy muda toda a dinâmica. Até agora, embora ele
tenha feito eu me sentir protegida, isso tudo não passou de uma
transação comercial. Não consigo compreender por que jantar com
ele me deixa nervosa, principalmente depois de tudo que já fizemos
juntos.
“O que você acha?”, ele pergunta.
Meus olhos encontram os dele, que estão cheios de esperança.
“Jantar seria legal, mas ...”. Fico pensando em como fazer a próxima
pergunta.
“O que é, Scarlett?”, ele pergunta, colocando a mão sobre minha
coxa. O toque de sua pele na minha me deixa alucinada.
Meus olhos encontram os dele de novo. “Quanto tempo você
acha que vai me prender aqui?”.
Vejo um lampejo de raiva em seus olhos com a pergunta. “Por
quanto tempo eu quiser”.
Engulo em seco, imaginando se tenho algum sentimento por um
cara doente o suficiente para comprar uma virgem em um leilão. De
acordo com a irmã dele, eu estou longe de ser a primeira. Um
homem que não hesitou em me prender em seu quarto por uma
semana, usando-me em prol de cada capricho e desejo.
Sem contar que eu não tenho autonomia alguma, quando saio de
perto dele.
“Pensando bem, acho que é melhor mantermos isso estritamente
profissional. Sem jantar”. Eu balanço a cabeça.
Malachy solta uma espécie de rosnado e aperta meu pescoço
com tanta força que quase não consigo respirar. “Não é uma
pergunta. Pode ter parecido uma pergunta, mas você vai fazer o que
eu mandar, quando eu mandar. Você entendeu bem?”.
Eu assinto em resposta.
Ele aperta meu pescoço com mais força. “Deixe-me ouvir você
dizer isso”.
É louca a maneira como essa conversa mudou de repente. “Sim,
senhor”.
Ele me olha através dos olhos semicerrados. “Não é isso que eu
queria ouvir, amor, e você sabe disso”.
Eu ranjo os dentes. “Sim, mestre”.
O rosnado que ele solta soa tão animalesco que eu fico pensando
se existe um urso perto da gente. “Me chama de mestre”, ele ordena.
Sinto que estou toda molhada entre as coxas só com a menção
da palavra, e meus mamilos ficam duros. Ele não merece o título,
quando ele age assim. “Sim, mestre”, eu digo, baixinho, sabendo que
ele não vai me soltar até me ouvir dizer o que ele quer.
Ele solta meu pescoço, e eu me engasgo tentando respirar. “Que
bom. Quero que você esteja pronta para jantar às sete horas. Fiz
reserva”. Ele levanta e dá as costas para mim.
Fico olhando-o caminhar todo empertigado, e me sinto acabada
por dentro.
Por um lado, Malachy faz com que eu me sinta segura – mais
segura do que já me senti antes. Parece que todo esse tempo, no
fundo, eu busquei um protetor que possa me defender de todas as
merdas que existem neste mundo.
Quando eu olho nos olhos de Malachy, é como se eu estivesse
olhando no espelho. Ele está fragilizado, mas ele também é um
protetor. O tipo de homem que faz qualquer coisa para manter seus
bens em segurança, o que torna pertencer a ele atraente.
Por outro lado, eu não tenho autonomia para fazer mais nada. Ele
pode até fazer com que eu me sinta segura, mas quando se trata de
me convidar para sair, não é uma pergunta, mas uma exigência.
Eu não tenho escolha.
Fiquei presa em uma promessa de segurança da parte dele. Foi
tudo o que sempre quis desde que me conheço por gente. A questão
é: será que alguém está de fato seguro perto de um homem tão
perigoso quanto Malachy McCarthy?
12
MAL ACHY

E u olho para o relógio na parede e vejo o ponteiro mais grosso


chegar no número quatro. Faltam três horas para eu voltar à
minha casa e levar Scarlett para jantar.
Nossa conversa estava indo muito bem até ela rejeitar meu
convite para jantar. Pirei, quando ela me disse que não iria.
Acho que é melhor mantermos isso estritamente profissional.
As palavras dela ressoam sem parar como um disco arranhado.
Para ela, isso é uma transação comercial, nada além disso. Deveria
ser a mesma coisa para mim, mas ela me fez gostar dela. Eu acho
que foi no momento em que ela pisou naquele palco. Eu sabia que
ela estava diferente.
Niall bate na porta do meu escritório. “Senhor, posso entrar?”.
Eu assinto em resposta.
Ele entra e senta-se na minha frente. “Descobrimos como os
italianos estão trazendo a mercadoria deles”.
Eu me arrumo na cadeira e dou um sorriso malicioso. “Perfeito.
Espero que a gente consiga interceptar”.
Niall não parece tão confiante. “Eles estão trazendo as
mercadorias pelo cais de Salem”.
Eu franzo as sobrancelhas. “É sério?”. Eu balanço a cabeça. “Não
podemos impedi-los, sem que os russos fiquem putos”. Eu passo a
mão pela nuca.
Mikhail Gurin controla o cais em Salem. Se nós fôssemos
interceptar o transporte italiano lá, estaríamos encrencados com os
russos também. Nós jamais sobreviveríamos a uma guerra em duas
frentes contra os russos e os italianos.
“Como eles levam as drogas para a cidade?”, pergunto.
Niall suspira profundamente. “Caminhões de transporte, mas não
estamos conseguindo encontrar um padrão nas rotas deles. Cada
rota que eles fazem é diferente”. Ele passa uma mão no maxilar. “Os
italianos não são tontos. Eles sabem que precisam ser cuidadosos
nesse momento”.
Eu bato com o punho na mesa, levanto e começo a andar pelo
escritório. Milo Mazzeo é um filho da puta esperto, diferente do idiota
do pai dele, que é cabeça quente. O cara era mais fácil de sacar do
que um livro, e eu esperava que Milo fosse igual.
“Como nós vamos atacar de volta se eles estão sempre um passo
à nossa frente?”, pergunto, olhando para o meu braço direito.
Ele encolhe os ombros. “Não sei, senhor. Parece que, como tudo
o que nós pensamos, eles já tomaram as devidas precauções para
impedir”.
Eu respiro fundo, tentando esvaziar minha mente. O fato de que
Scarlett consome todos os meus pensamentos a cada minuto do dia
não me ajuda. Normalmente, eu sou o cérebro por trás das
operações, mas eu mal consigo pensar direito.
“Niall, eu preciso que você me ajude aqui, cara. Eu não consigo
pensar em nada”.
Ele passa uma mão pela nuca. “E se nós não atacarmos o
fornecimento dele?”. Há um brilho em seus olhos que me dizem que
ele tem um plano perverso. “O fornecimento é só o início da cadeia.
Por que nós não fodemos com a lavagem de dinheiro dele? Assim,
ele não vai conseguir esconder o dinheiro”.
Eu sorrio para ele, balançando a cabeça. “Você é um puta gênio”.
Dou risada. “Eu estava tão determinado a acabar com o
fornecimento. Nem pensei sobre a cadeia”. Aproximo-me dele e dou
um tapinha em seu ombro. “É por isso que você é meu parceiro.
Agora, coloque esse plano em prática com os moleques e me
informe, quando estiver acabado”.
Ele assente com a cabeça. “Sim, senhor. Ao trabalho”. Ele se
levanta e me deixa sozinho com meus pensamentos confusos. Eu
teria pensado em um plano em circunstâncias normais, mas estou
um desastre neste momento. A razão disso é a ruiva apimentada que
me torceu inteiro por dentro.
Scarlett me infectou como uma doença – uma doença que está se
espalhando aos poucos, quanto mais tempo ela fica perto de mim.
Eu sinto que estou em uma encruzilhada, e o próximo passo que eu
der vai mudar minha vida para sempre.
A pergunta que não quer calar é: qual é o próximo passo?

N
S . Seu desejo por um protetor conduziu a maneira como
a estou tratando. Normalmente, eu ficaria muito feliz em pisar nas
minhas aquisições, mas tratei de Scarlett com mais cuidado.
Tem alguma coisa diferente sobre ela que não consigo
exatamente identificar. A única coisa que sei é que não quero deixá-
la ir embora em um, nem dois, nem três meses. Ela é meu vício e
comê-la não ajudou em nada. Deixou minha obsessão ainda pior.
Meu coração está batendo freneticamente dentro do peito. Eu não
namoro. A empregada me deu uma olhada estranha, quando me viu
todo arrumado com um buquê na mão. Este não sou eu. Ainda
assim, sinto uma vontade esquisita de satisfazer o desejo de Scarlett
de um homem que cuide dela.
Eu abro a porta do quarto e fico sem ar. Scarlett está sentada na
beirada da cama usando um lindo vestido prateado que acentua suas
curvas. “Caralho, você está linda”, digo, caminhando em sua direção.
Scarlett olha para cima, e seus olhos encontram os meus. Seus
olhos me medem inteiro e absorvem meu terno azul marinho. “Você
não está mal”, ela diz, com os olhos dilatados com desejo, o que faz
com que seja muito difícil não a jogar na cama e fodê-la. Neste exato
momento, só sinto fome por ela.
“Se você falar assim, talvez a gente não pegue a reserva para o
jantar”. Dou um beijo em sua bochecha. “Essas flores são para
você”. Coloco o buquê em sua mão.
Ela lambe o lábio inferior, de um jeito que me deixa louco, e se
levanta, finalmente. Desse jeito consigo ter uma visão melhor do
vestido que ela está usando. “Obrigada”, ela diz, colocando-as sobre
a cama.
Eu a agarro pelo quadril com força e a puxo para perto de mim.
“Você é uma tentação. Eu não teria problema nenhum em foder você
aqui e agora”.
Scarlett estremece. “Nós temos tempo para isso?”.
Eu sorrio à minha virgenzinha. Agora que eu finalmente mostrei
para ela o que ela estava perdendo, ela não consegue mais parar.
“Você quer que eu goze dentro de você todinha para você sentir a
porra escorrendo na sua calcinha enquanto nós jantamos?”.
Scarlett arregala os olhos. “Você não faria ...”.
Eu agarro seu pescoço e a empurro contra a parede do quarto.
“Não me desafie, amor”. Vou beijando seu pescoço nu. “Eu faria e
farei agora”.
Vejo em seus olhos um misto de medo e excitação. Sei que ela
tem medo de mim quando perco o controle, mas não tenho como
manter o controle quando se trata de Scarlett. A necessidade
primitiva de possuí-la e torná-la submissa me domina o tempo todo.
Mordo seu lábio inferior bem devagar, e ela geme. “Vou comer
você bem forte e rápido nessa parede e encher você de porra”. Dou
uma mordida em sua clavícula nua, deixando uma marca. “Quero
marcar você em todos os lugares, para que todos os homens saibam
que você pertence a mim”.
Ela estremece de novo, quando passo as mãos por baixo da saia
do seu vestido e apalpo suas coxas macias de leve. “Malachy, por
favor ...”.
Solto um grunhido e pressiono meus lábios contra os dela. “Não
diga nada, senão vou curvá-la sobre meu joelho. Quem está no
controle sou eu, amor”. Deslizo um dedo dentro da calcinha dela
antes de rasgá-la. “Eu vou foder essa boceta apertadinha, sempre
que eu quiser”. Deslizo um dedo para dentro dela e solto um gemido
ao perceber como ela está molhada. “Sempre tão molhada e
prontinha para a minha rola, hein, Scarlett?”.
Ela morde o lábio e faz que não com a cabeça. “Não”.
“Uma puta mentirosa, meu amor. Você está praticamente
pingando para mim”.
Abro meu cinto com a outra mão e coloco minha rola para fora,
empunhando-a na minha mão. “Você está louca pela minha rola.
Admita!”.
Seus olhos dilatam, quando ela vê o tamanho do meu pau e, em
seguida, lambe os lábios. “Estou. Mete em mim”, ela sussurra.
Eu sorrio com malícia. “Peça direitinho, amor”.
Ela curva as costas e geme. “Mete essa rola em mim, por favor,
mestre”.
Meu pau começa a pingar no chão, e eu não consigo mais
esperar. Passo os braços por baixo dos joelhos dela e a levanto
contra a parede. “Nós não temos tempo, linda. Eu vou foder você tão
forte e tão rápido que vão escutar você gritar no centro de Boston”.
Scarlett estremece. Sua expressão é de puro tesão agora. Ela
olha dentro dos meus olhos. “Sim, por favor”, ela sussurra, deixando-
me completamente louco.
Eu a abaixo bem rápido e meto meu pau bem duro dentro da
boceta apertadinha dela. A sensação dos músculos dela me
apertando é deliciosa.
“Sim, Malachy”, ela grita, ao passo que meto nela bem forte e
rápido, sem dar chance de ela se acostumar com o tamanho da
minha rola.
Eu sou um monstro e perdi o controle. A necessidade de devorá-
la é o que me faz continuar. Mordo seu ombro com força suficiente
para machucá-la enquanto a sustento, sem parar de meter nela. Sou
como um animal no cio. A única coisa que importa é que a gente
goze do jeito mais intenso e rápido que for possível.
Os braços de Scarlett continuam entrelaçados no meu pescoço, à
medida que ela me ajuda a sustentá-la. Mordo seu pescoço bem
devagar, e ela geme bem alto. “Puta que o pariu, mestre, você vai me
fazer gozar”, ela grita.
Dou uma risada com a boca encostada em sua pele. “É essa a
intenção, meu amor. Eu quero que você goze bem gostoso no meu
pau”.
Ela grita de novo, curvando tanto as costas que eu consigo
penetrá-la ainda mais profundamente – tão profundamente quanto
fisicamente possível. Minha rola está inteira dentro da boceta
apertadinha dela.
“Sim, mestre”, ela grita, e eu sinto o espasmo de seus músculos
apertarem meu pau. Um jorro de um suquinho doce escorre pela
minha rola, quando ela goza. A pressão dos músculos dela me
apertando é mais do que posso aguentar, e eu gozo também. Eu
gozo dentro dela, metendo ainda, sem parar, até ter certeza de que
ela está complemente cheia de porra.
Assim que termino, levo-a para cama e a coloco deitada de
barriga para cima. “Não se mexa”.
Ela olha para mim sem compreender, com as sobrancelhas
franzidas.
Eu entro no closet e pego uma calcinha básica de algodão
grossa.
Scarlett parece ainda mais confusa, quando volto com ela. “O que
você está fazendo?”.
Não respondo e tiro a calcinha rasgada que ela está vestindo.
Devagar, coloco a outra calcinha nela e me certifico de que está
certinha. “Quero manter minha porra dentro de você”.
As bochechas de Scarlett ficam vermelhas. “Ela não vai ficar. Vai
escorrer para o tecido”.
Eu dou tapinhas na coxa dela. “Não banque a espertinha comigo,
linda. Vai ajudar. Adoro pensar que vou estar sentado na sua frente
no restaurante, sabendo que minha porra está toda dentro de você”.
Eu a levanto da cama e a coloco em pé, dando tapinhas em sua
bunda durinha. “Agora, vamos lá. Nós vamos nos atrasar, porque
você é uma garota safada”.
Agarro a mão de Scarlett e a puxo em direção à porta, sabendo lá
no fundo que não agi certo em não resistir à Scarlett antes do jantar.
Ela está me dominando, e não consigo mudar esse quadro.
13
S C A R LE T T

O olhar de Malachy é intenso, quando ele olha para mim do lado


oposto da mesa.
Estou mais confusa do que nunca. Malachy apareceu na porta
vestido de uma maneira impecável, com um terno e flores, como
estivesse pronto para agir como um cavalheiro. Primeiro, ele me
convidou para jantar. Depois, apareceu todo arrumado. Não durou
muito, porém, porque ele me comeu como um bruto, não perdeu
tempo e me encheu com a porra dele antes do jantar. Sentindo-me
bem pervertida com isso, junto bem minhas coxas enquanto estou
sentada.
Eu lembro de como ele agarrou meu pescoço de um jeito
selvagem e me encostou na parede. Não é a primeira vez que ele faz
algo do tipo comigo, mas esta vez foi a mais bruta de todas. Eu sinto
que só presenciei um lado manso de Malachy.
“Espero que goste de comida italiana. Este é o melhor restaurante
italiano da cidade”.
Faço que sim. “Sim, eu gosto”. Há uma tensão estranha entre
nós, desde que chegamos.
Um garçom se aproxima, olhando para Malachy de um jeito
esquisito. “Tem certeza de que deveria estar aqui, Sr. McCarthy?”.
Ele estrala o pescoço. “Que merda você quer dizer com isso?”.
O garçom fica pálido. “É que o Sr. Mazzeo não está muito
contente”. Ele olha em direção à outra mesa próxima de nós, onde
um homem charmoso está sentado, olhando para nós de um jeito
feroz.
Ele está com uma mulher morena linda.
Malachy acena. “Este é um país livre, e eu queria comer comida
italiana. Agora me traga a melhor garrafa de Prosecco que você
tiver”.
O garçom olha para o homem da outra mesa e acaba por
concordar, relutante. “É claro, senhor”.
“Malditos italianos”, Malachy cochicha, depois que o garçom sai.
“Você o conhece?”, pergunto, acenando com a cabeça para onde
o cara ainda está sentado, olhando enfurecidamente para nós.
Malachy olha de volta e faz um aceno com a cabeça. “Estamos
em guerra contra esse cara atualmente”.
Eu levanto uma sobrancelha. “Guerra?”.
Ele solta um suspiro frustrado. “Sim, tivemos um
desentendimento. Não quero falar sobre trabalho”.
“Suponho que esse restaurante seja dele. Não é uma ideia idiota
vir aqui se vocês estão em guerra um com o outro?”.
Malachy dá risada. “Não, o babaca não ousaria tentar alguma
coisa aqui. Aqui é muito público para isso, meu amor”. Ele tenta
pegar minha mão do outro lado da mesa, mas eu não deixo. Um
lampejo de raiva surge em seus olhos verde-claros. Ao invés de
reconhecer minha relutância em tocá-lo, ele foca sua atenção no
cardápio. “O que você vai pedir?”.
Mal olhei o cardápio, e já sei que só existe uma coisa que eu
peço em restaurantes italianos. Lasanha. “Lasanha, se tiver”.
Malachy olha para mim. “Eu também. Meu prato favorito”.
Sinto um frio na barriga, quando ele admite que ama lasanha
também. Eu interrompo nosso contato visual e olho para o cardápio
para verificar se não tem mais nada que eu quero. “Vou querer um
pão de alho como acompanhamento também”.
O garçom volta com o champanha e duas taças. “Já sabem o que
vão querer?”.
Malachy faz que sim. “Sim, duas lasanhas e dois
acompanhamentos de pão de alho, por favor”.
O garçom anota o pedido e sai correndo.
“Parece que o garçom tem medo de você”, comento.
Ele assente com a cabeça. “Com certeza. E deveria ter medo
mesmo”. Ele serve uma taça de Prosecco para cada um de nós,
resmungando para si mesmo sobre o serviço ruim do restaurante.
Quando termina, ele me passa uma taça. “Um brinde a nós”.
Eu franzo as sobrancelhas. “Ao nosso acordo comercial, você
quer dizer?”.
Ele me olha através dos olhos semicerrados. “Não, amorzinho. A
nós”.
Engulo em seco, quando reparo na intensidade da sua voz. Não
existe nós, mas eu sinto que não é o melhor momento nem lugar
para brigar. Em vez disso, dou um gole no champanha e fico quieta.
Já ficou claro para mim, desde quando conheci o perigoso
irlandês, que ele é um pouco perturbado. Não existem dúvidas de
que temos uma conexão e química diferentes de tudo que já
experimentei antes, mas ele me comprou, meu Deus do céu.
Seja lá o que isso for, não pode se transformar em nada real. Não
depois da maneira como começou.
“Me conte sobre sua família”, Malachy diz, uma ordem
novamente, em vez de uma pergunta.
Eu dou de ombros. “Não tem muita coisa para contar. Minha mãe
é toda a família que tenho neste mundo, e é por isso que eu entrei no
leilão, para ter certeza de poder ajudá-la a lutar contra sua doença”.
Malachy não parece contente com minha resposta. “Onde está
seu pai?”.
Sinto minha espinha endurecer, quando meu pai é mencionado.
“Fora de cena”. Não quero dizer a verdade a ele. Meu pai ainda está
preso, até onde eu sei. Ele sempre foi e voltou da prisão por ataques
a menores de idade. O cara é louco da cabeça.
Malachy faz um barulhinho com a língua. “O que aconteceu entre
seu pai e sua mãe? Quero saber, Scarlett”.
Eu limpo a garganta e olho em seus olhos. “Por quê?”, pergunto,
tentando colocar tanta confiança em minha voz quanto possível.
Não consigo entender por que ele precisa saber disso. A única
razão que posso imaginar seria para usar contra mim. Não vou
deixar que ele faça isso.
O garçom chega com nossos pratos, interrompendo a tensão
intensa que existe entre nós. “Obrigada”, eu digo, quando ele coloca
a lasanha na minha frente. O cheiro é divino, e sinto meu estômago
roncar.
Assim que ele vai embora, Malachy limpa a garganta. “Scarlett,
você se lembra de quem é seu dono? Você não me questiona.
Responda à pergunta”.
Eu balanço a cabeça. “Você comprou minha virgindade, da qual
você já usufruiu. Você não é meu dono. Ninguém é”, eu digo,
mantendo a cabeça erguida e mordendo um pedaço da lasanha
deliciosa.
Os olhos de Malachy brilham com fúria selvagem, e ele soca a
mesa com o punho. “Você está indo muito bem, para quem quer ser
castigada. Eu vou colocar você curvada sobre o meu joelho e dar
umas boas palmadas em você”.
Não consigo compreender por que minhas coxas tremem ao
pensar nisso.
“Desculpa interromper, mas eu precisava dar as boas-vindas ao
meu restaurante, Malachy”. O homem, que é dono do restaurante,
fica parado perto de mim com a mão no encosto da minha cadeira.
Percebo que o maxilar de Malachy vibra, e que seus olhos focam
na distância entre mim e seu inimigo.
“Milo. Mas o que é que você quer, porra?”.
Ele balança a cabeça. “Esse não é um jeito muito legal de falar
com o dono do restaurante onde você está comendo, é?”. Há uma
confiança fria em sua voz que me faz estremecer. “Quem é que nós
temos aqui, então?”, ele pergunta, inclinando-se para cima de mim.
“Deixe-a em paz, Milo”, Malachy diz, com a voz mais letal que já
ouvi.
De repente, minha ficha caiu quanto ao perigo desta situação.
Dois chefes de máfia que estão em guerra estão se enfrentando, e
eu estou entre eles.
“Qual é seu nome, bella?”, Milo pergunta.
Eu engulo em seco. “Scarlett”, digo, esticando uma mão para ele
de modo a aliviar a tensão. “É um prazer conhecer você”.
Ele sorri para mim, mas percebo que não é um sorriso nem um
pouco amigável. É cruel e frio. “Com certeza”, ele diz, pegando
minha mão e pressionando os lábios contra o dorso. “Pelo menos,
você tem boas maneiras. O mesmo não pode ser dito sobre sua
companhia”.
Malachy resmunga e se levanta, pronto para brigar com Milo. “Por
que você não volta correndo para sua linda esposinha? Se não
estivéssemos em público, não acho que você se aproximaria de mim
assim, seu covarde do caralho. Não depois da última vez”.
O maxilar de Milo endurece ao olhar nos olhos de Malachy.
Meu coração está tão acelerado que estou surpresa de ninguém
conseguir ouvi-lo. Fico imaginando o que aconteceu da última vez.
Malachy continua. “Se você quer uma revanche, ficarei feliz em
esmurrar você até a morte desta vez, se você não fugir como uma
putinha”, ele surta.
Milo levanta a jaqueta e mostra uma pistola presa em seu cinto.
“Não ache que não mataria você a tiros aqui e agora, McCarthy”.
Malachy dá risada. “Você não tem colhões para fazer isso”. Ele
levanta a jaqueta para mostrar um revólver e o cabo de uma faca.
“Além do mais, eu cortaria seu pescoço sem te dar nem mesmo uma
chance”. Ele balança a cabeça. “Eu não teria vindo, se soubesse que
você estava aqui. Eu só queria uma bosta de comida italiana, apesar
de eu odiar italianos”.
Milo dá um passo para trás, e é o primeiro sinal de que qualquer
um deles está recuando. “Tudo bem. Vou deixar você em paz, mas
não volte aqui nunca mais. Existem outros restaurantes italianos
nesta cidade que não são meus”. Ele se vira e sorri para mim. “Você
é boa demais para ele, bella”. Ele passa por mim e volta para a mesa
nos fundos do restaurante.
Fico observando Malachy sentar-se, mas a fúria maníaca em
seus olhos não desaparece. Eu percebo que eu poderia acabar no
lado errado desta fúria agora.
Malachy olha para mim. “Italianos do caralho”. Ele balança a
cabeça. “Eu não deveria ter trazido você aqui”.
Eu inclino a cabeça para o lado. “Por que você me trouxe aqui, se
existem outros restaurantes a que poderíamos ter ido?”.
Ele encolhe os ombros. “Pesquisa e jantar. Queria matar dois
coelhos com uma cajadada só. Meu segundo homem em comando,
Niall, precisava de algumas informações sobre este lugar”.
Sinto um frio na barriga, quando descubro a real motivação para
este jantar. Malachy não me convidou para jantar só porque queria
me conhecer. Ele me convidou como uma desculpa para fazer
algumas descobertas. Não dá para explicar o quanto isso dói. Os
sentimentos que eu tenho por este homem não fazem nenhum
sentido.
“Como está a lasanha?”, ele pergunta.
Eu dou de ombros. “Está boa, mas eu perdi o apetite”.
Malachy chama o garçom. “Você pode embrulhar a comida e ver
a conta, por favor?”.
O garçom faz que sim, limpando os pratos para preparar para
viagem.
Fico grata por não ter que ficar aqui mais nenhum segundo. Milo,
o dono do restaurante e chefe da máfia, é ainda mais desconcertante
que o próprio Malachy. Há algo letal a respeito dele.
“O que aconteceu da última vez?”, pergunto.
Malachy franze as sobrancelhas. “O quê?”.
Aceno em direção à mesa de Milo. “Com Milo. O que aconteceu
da última vez?”.
Vejo seu pomo-de-adão subir e descer, enquanto ele me encara.
“Não tem importância”.
É o máximo ele esperar que eu me abra a respeito dos detalhes
mais íntimos do meu passado negro, mas ele não é capaz nem de
me contar sobre a última vez em que encontrou seu inimigo. Está
claro que para ele as coisas são dois pesos, duas medidas. Eu digo
para ele o que ele quer saber, mas ele me mantém longe.
Não vou responder mais nenhuma das suas perguntas, porque eu
sei que isso só vai causar dor. Meu coração está em risco com este
homem, desde que ele tirou minha virgindade. Eu sei que se eu
seguir assim, não vou sobreviver a ele.
14
MAL ACHY

S carlett se senta longe de mim no fundo do táxi, olhando para


fora da janela.
Eu vi a dor em seus olhos, quando eu disse para ela que o nosso
jantar era uma tentativa de investigar o restaurante de um inimigo.
Depois que eu recusei contar para ela o que aconteceu entre Milo
e eu quando nos vimos da última vez, ela mal olhou para mim. Ela
não precisa saber que eu ataquei a esposa dele com uma faca, atirei
em seu braço direito e o espanquei antes de eles conseguirem
escapar.
Há um fato ao meu lado: sou extremamente leal à minha família e
amigos, mas sou brutalmente cruel com meus inimigos. Nada é
impossível, quando se trata da minha oposição, e isso é algo que
muita gente não consegue compreender – a profundidade da minha
depravação, quando eu lido com pessoas que me irritam.
Milo não é muito diferente. Ele é frio, calculista e faz o que precisa
ser feito. Eu acho que é por isso que nós entramos em conflito com
tanta frequência. Nós dois fazemos o que é necessário para ganhar
um do outro, mas não é possível haver dois vencedores.
A diferença entre Milo e eu é que ele não tem família nem nada a
perder além de sua nova esposa. Não sei exatamente como é a
relação deles, pois foi um casamento arranjado.
Eu mantenho minha família no mais alto sigilo, e é por isso que
Milo matou, de uma maneira idiota, o traidor do meu primo, sem
saber exatamente o que ele significava para mim.
Eu olho para a ruiva maravilhosa que eu comprei há apenas duas
semanas no último leilão. Minha ficha cai naquele momento em que
penso que Scarlett é outra pessoa que posso perder. Desta vez,
minha burrice fez com que Milo a conhecesse. É claro que ele não
sabe quem ela é para mim, ou se ela é importante. Para falar a
verdade, eu também não.
Houve um brilho negro de excitação nos olhos daquele filho da
puta, quando ele olhou para a minha garota. O fato é que ela é
minha. Eu não tenho nenhuma intenção de deixá-la escapar, mesmo
que ela acredite que estará livre em alguns meses.
“Você não me respondeu no restaurante”, digo, obrigando-a a
olhar para mim. Seus olhos azuis lindos e brilhantes parecem tristes.
“O quê?”, ela pergunta, parecendo confusa.
Eu olho para ela com os olhos semicerrados. “Eu perguntei para
você o que aconteceu entre seu pai e sua mãe”.
Ela balança a cabeça. “Nada de mais. Eles se separaram”.
Eu sei que ela está mentindo para mim. Há escuridão em seu
passado que ela não vai revelar para mim, e isso está me deixando
louco. “Você está mentindo. O que seu pai fez com você, meu
amor?”.
Vejo suas barreiras se erguendo e ela ficando tensa,
distanciando-se cada vez mais de mim. Ela está praticamente colada
à porta do táxi, como se quisesse se fundir a ela. “Nada”, ela diz,
com a voz baixa e tímida.
“Ele machucou você, não machucou?”. Sinto raiva em pensar em
um homem que deveria cuidar dela e protegê-la, machucando-a. “Foi
por isso que você e sua mãe foram embora?”.
Ela franze as sobrancelhas ao olhar para mim. “Mas o que isso
importa a você?”, ela surta. Raiva é sua emoção favorita, quando ela
é pressionada, assim como eu. “Eu não faço perguntas sobre seu pai
abusar de você”.
Eu sinto como se ela tivesse me dado um chute no estômago.
Maldita Alícia e sua boca grande. Eu deveria saber que ela contaria
mais do que somente a história da morte de nossos pais. Eu agarro o
pescoço dela e olho dentro de seus olhos. “O que é que Alícia contou
para você? E desta vez, quero a verdade”.
Scarlett olha para mim ferozmente. “Só que seu pai culpou você
pela morte de sua mãe quando você nasceu, e que ele era abusivo”.
Eu solto seu pescoço e resmungo baixinho. “Odeio o fato de as
pessoas saberem da verdade, porque isso faz com que eu pareça
fraco. Eu não sou fraco. O fato de meu pai me bater fez com que eu
me tornasse o homem que eu sou hoje, e fico feliz por isso”.
Scarlett me observa atenta. Há medo em seu olhar. “Por que é
que você ficaria feliz por ter sido abusado pelo seu pai?”. Ela franze
as sobrancelhas.
“Sempre que alguém escuta esse draminha de merda que foi
minha vida, sente pena de mim e acha que é a razão para eu ser
como sou. Eu não sou um coitado”. Busco os olhos de Scarlett,
imaginando se ela sente a mesma coisa a respeito do que quer que
ela tenha passado. “Eu gosto da pessoa que sou, e não tenho a
menor vontade de ser diferente. A violência faz parte de mim, e eu
não mudaria isso por nada no mundo. Não estou nem aí se isso faz
de mim um maníaco, ou um psicopata, ou qualquer outra coisa de
que você quiser me chamar”.
Ela concorda com a cabeça, devagar. “Eu acho que isso faz
sentido”. Ela fica parada, olhando nos meus olhos, buscando-os por
um tempo. “Meu pai me fez fazer coisas para ele, quando eu tinha
idade suficiente para me lembrar disso, até que minha mãe viu tudo
quando eu tinha oito anos”.
Sinto a fúria me invadir com força. “Que coisas?”, eu digo,
raivoso.
Ela parece envergonhada e olha para as próprias mãos. “Ele
costumava me forçar a fazê-lo gozar”. Scarlett sacode a cabeça.
“Não quero falar sobre isso”.
Eu agarro seu queixo e a faço olhar nos meus olhos. “Nunca se
sinta envergonhada disso. Você não tem nada para sentir vergonha.
O filho da puta que deveria ter cuidado de você, cara”. Eu sinto a
fúria inflamar o meu sangue. “Por favor, me diga que ele está morto,
ou terei que ir atrás dele e cortar sua cabeça fora por conta própria”.
Ela arregala os olhos e balança a cabeça. “Ele não está morto,
mas acho que foi preso de novo, depois de ter atacado uma menina
de sete anos, da última vez que fiquei sabendo”.
Fico tão puto em ouvir que o homem que deveria ser o único
homem em quem ela poderia depositar sua confiança no mundo era,
na verdade, o oposto disso. Esse cara não merece respirar. E, para
piorar, ele está abusando de outras crianças. Não tem nada pior no
mundo do que um homem que sente prazer em abusar de crianças.
“Como sua mãe descobriu?”, pergunto, querendo descobrir se ela
teve alguma influência nisso.
Scarlett engole em seco, e seu olhar parece assombrado, como
se ela estivesse sendo transportada de volta. “Ela estava doente e
voltou do trabalho mais cedo. Minha mãe entrou, quando estava
acontecendo, chamou a polícia e tratou de mudar comigo do Texas
para Boston, onde ele jamais nos encontraria de novo”. Ela balança a
cabeça. “Ele foi condenado a dez anos de cadeia, mas saiu em
cinco”.
“Porcaria de sistema judicial. Aposto que ele ficou indo e voltando
da cadeia a vida toda, não é?”.
Scarlett faz que sim com a cabeça. “Eu deixo essa parte da minha
vida no passado, mas parece que ele roubou minha infância de mim”.
Conheço muito bem este sentimento. Meu pai roubou minha
infância de mim no momento em que me bateu pela primeira vez. Em
minha vida toda, eu sempre me virei.
Sinto orgulho pelo fato de Scarlett ter se sentido confortável o
suficiente para me chamar de mestre. Isso significa que ela confia
em mim, algo a que eu não dei valor. “Lamento muito, querida”. Dou
um beijo em seus lábios. “Não se preocupe. Vou me certificar de que
este homem jamais toque em outra criança”.
Ela fica tensa. “O que você vai fazer?”.
Eu balanço a cabeça. “Não se preocupe com isso. Você está
segura comigo, prometo”. Passo uma mão pelo seu cabelo ruivo e
sinto uma necessidade de cuidar dela entrar em combustão dentro
de mim. “Eu vou proteger você, custe o que custar”.
Ela olha para mim com os olhos arregalados. “Por que você me
protegeria?”.
Eu aperto o maxilar, sem saber a resposta para a pergunta dela.
“Porque você é minha”. Sinto Scarlett tremer com minha declaração
possessiva de propriedade. “Você sabe que eu não gosto de ser
questionado, amor”. Eu a beijo de novo. “Talvez eu precise punir
você”.
Scarlett morde o lábio inferior. “Mas eu não fiz nada de errado”,
ela diz.
Dou um sorrisinho malicioso para ela. “Não responda para mim e
faça o que eu mandar”.
Os olhos dela estão dilatados, e ela fica inquieta em seu assento,
claramente excitada com a ideia de ser castigada. “Desculpe,
mestre”, ela murmura, e meu pau fica mais duro que concreto.
Eu passo uma mão pela nuca dela e me aproximo. “Você vai
pedir desculpa, quando eu comer você, meu amor”. Eu a beijo
apaixonadamente, permitindo que ela sinta a intensidade do meu
desejo por ela.
Scarlett geme com a boca colada na minha, e nossas línguas se
entrelaçam. Há uma emoção pura entre nós. Uma emoção que eu
não sabia que tinha a capacidade de sentir até conhecê-la. Meu anjo
ferido precisa de um homem que possa protegê-la e estimá-la.
Embora não seja minha natureza, sinto-me propenso a fazer isso.
Quero ficar com Scarlett pelo máximo de tempo que eu puder, e
dar a ela tudo o que ela deseja vai deixar tudo mais fácil.

F , colocar a mão
sobre o edredom e passar os dedos pelo tecido macio e felpudo.
Há certa tensão entre nós. Ela vem se formando, desde que
contei a verdade a ela, e ela me contou sobre seu passado. O abuso
do pai dela me deixa furioso. Sim, meu pai me batia quando eu era
mais jovem, mas o filho da puta pervertido que deveria estimar
Scarlett a violentou de maneiras ainda piores, quando ela era muito
nova.
Fico contente por ela ter me contato, pois já mandei Niall ir atrás
dele. Não vou deixar esse homem sobreviver depois do que ele fez
com ela. Assim que eu colocar as mãos nele, ele vai desejar nunca
ter nascido.
Ela sofreu no passado. Não sei se sou o homem certo para ajudá-
la nessa cura, mas quero tentar. Qualquer pessoa sensata diria a ela
para fugir e nunca olhar para trás. Minha vida é perigosa. E eu
também sou. Sou movido por uma emoção da qual jamais
conseguirei me livrar – a raiva. Raiva que jamais quero descontar em
Scarlett.
“Você está bem, meu amor?”, pergunto.
Ela olha para mim, e a única coisa que posso identificar em seus
olhos é um desejo inalterado. “Sim, mestre”, ela sussurra, e eu solto
um gemido.
Eu nunca tinha pensado sobre a dinâmica entre o mestre e o
submisso, mas se é disso que ela gosta, eu posso experimentar.
“Você quer ser submissa a mim, Scarlett?”.
O rosto de Scarlett fica muito vermelho, e meu pau fica mais duro
ainda. “Não sei. O que isso significa?”.
A inocência dela é sexy. Vou em direção a ela e sento-me no
sofá. “Sente”, ordeno.
Ela hesita por um momento e senta-se ao meu lado.
“Significa que você é minha em todos os sentidos da palavra,
submissa a mim como uma figura dominante na sua vida. Você vai
me chamar de mestre, sempre que estivermos fazendo essa
dinâmica”. Observo as reações de Scarlett. “Se você for safada ou
desobediente, eu vou castigar você”. Eu dou de ombros. “É algo que
já considerei antes, mas será tão novo para mim quanto para você.
Geralmente, gosto de um sadomasoquismo mais impessoal”. Não
consigo entender por que estou mudando minhas preferências por
esta menina. “Normalmente, não tendo a ficar em um relacionamento
longo para considerar uma dinâmica dessa”.
Scarlett arregala um pouco os olhos. “É por isso que você me
pediu para chamar você de senhor?”.
Eu faço que sim. “Sim, mas a dinâmica entre o mestre e o
submisso exige muita confiança”.
Ela olha para as próprias mãos e brinca com elas de um jeito
nervoso. “Por que você mudaria o que você faz normalmente, se
pagou tanto dinheiro por mim?”.
É uma excelente pergunta. Uma pergunta que eu não sei
responder. “Porque você precisa de alguém que cuide de você. De
um homem em quem possa confiar, e não serei eu quem roubará
isso de você. Eu quero dar isso para você”.
Ela fica corada, de um tom de vermelho ainda mais escuro, e eu
fico maluco.
“Porém, você teria que confiar em mim e ser submissa a mim”.
Scarlett desvia o olhar de novo e olha para as mãos. “Eu não sei
como fazer isso”.
Eu levanto seu queixo e a obrigo a olhar nos meus olhos. “Eu
posso ensinar a você”. Pressiono meus lábios contra os dela. “Posso
mostrar para você como o prazer e a dor podem caminhar juntos”.
Ela estremece. “Dor?”.
Meus olhos encontram os dela de novo. “Sim, quando você for
safadinha e não fizer o que seu mestre manda, terei de puni-la”.
Scarlett estremece, e eu pego em sua mão. “Como você vai me
punir?”
Eu balanço a cabeça. “Sem mais perguntas. Quer experimentar
ou não?”. Sinto minha paciência se esgotando, o que vai deixar o
conceito todo difícil. Mestres passam seu tempo com suas mulheres
e estão no controle de suas emoções o tempo todo. Vai ser
interessante ver como eu vou me sair, se ela concordar.
Ela faz que sim com a cabeça. “Claro”.
Eu sorrio pelo fato de ela ter concordado. É uma coisa maluca
minha felicidade, por ela ter concordado em experimentar isso
comigo e confiar em mim. “Nós vamos precisar escolher uma palavra
de segurança”.
“Uma palavra de segurança?”.
Faço que sim. “Sim, uma palavra para quando ficarmos íntimos.
Se você quiser parar, você grita essa palavra”.
Ela franze as sobrancelhas. “Não posso só pedir para você
parar?”.
Dou risada. “Não é assim que funciona normalmente, porque
acho que você pode querer incorporar um não consentimento à
dinâmica, então parar não funciona”. Esfrego uma mão pelo queixo.
“Eu gosto do clássico vermelho. Acho que funciona bem”.
Scarlett faz que sim. “Certo, então vermelho”.
Eu levanto e desabotoo meu cinto. “Agora é hora de o mestre
cuidar da escrava dele. Tire sua roupa, Scarlett”.
Seus olhos dilatam, e ela se levanta ansiosamente, tira o vestido
pela cabeça e o deixa em uma pilha de roupas no chão.
“Não deixe suas roupas pelo chão, linda. Quero que o quarto se
mantenha arrumado. Você entendeu bem?”.
Ela arregala um pouco os olhos e faz que sim. “Sim, mestre”, ela
se rende com facilidade às minhas exigências, como se fosse de sua
natureza. Ela pega o vestido do chão e vai até o closet, olhando por
cima do ombro para ver se eu a estou observando.
É uma jogada provocante para caralho, que me faz querer ir atrás
dela e comê-la no closet mesmo, mas me controlo.
Quando ela volta, ela está nua. Seus mamilos estão durinhos, e
isso deixa meu pau tão duro que chega a doer. É ridículo como fico
excitado com ela, depois de ter transado há pouquíssimas horas,
antes do jantar.
“Boa garota, agora deite-se na cama para mim”.
Ela olha para mim com ar inocente. “Para quê?”.
Eu resmungo e balanço a cabeça. “Não me questione e faça o
que eu mando”.
Ela faz um biquinho antes de passar por mim e deitar-se na
cama. Suas pernas estão bem juntas, escondendo sua bocetinha
perfeita entre as coxas.
“Abra as pernas para mim”.
Suas bochechas vermelhas ficam mais vermelhas ainda, e ela,
aos poucos, vai abrindo as pernas, olhando-me com atenção.
Eu fico parado, observando-a nesta posição, aberta e pronta para
mim. Scarlett está se arriscando e confiando em mim. Algo perigoso
a se fazer, mas espero não a desapontar.
Se Scarlett conseguirá confiar em mim com suas emoções, ainda
veremos. Eu mesmo não sei. A única coisa que sei com certeza é
que Scarlett é importante para mim, e que eu vou fazer qualquer
coisa para tê-la perto de mim.
Eu vou até ela, rastejando pela cama, e afasto ainda mais suas
pernas. “Já era hora de eu sentir o gosto da minha propriedade, não
é?”, pergunto, com os olhos fixos em sua boceta perfeita.
Scarlett estremece, quando agarro suas coxas e as separo.
Devagar, vou lambendo seu clitóris, fazendo-a gemer de tesão.
Meu pau está mais duro do que pedra dentro da minha cueca
boxer, o que não me deixa pensar com clareza. O sabor de Scarlett é
maravilhoso, e tenho certeza de que jamais vou me cansar dela.
“Está gostoso, amor?”, pergunto, olhando nos seus olhos.
Ela está perfeita, com as bochechas vermelhas, e o cabelo ruivo
todo bagunçado caído sobre o travesseiro. “Sim, mestre. Está muito
gostoso”.
Solto um gemido e enterro minha cabeça entre suas coxas de
novo, enfiando minha língua mais no fundo.
Ela sacode o quadril para cima, apertando mais o corpo contra
meu rosto.
Seguro seu quadril com cuidado, resistindo ao impulso de ser
mais agressivo. “Não se mexa, minha linda”.
Ela parece emburrada. “Desculpa”.
É uma coisa louca o fato de ela ter se encaixado tão bem no seu
papel de submissa. Eu sinto que isso é algo que ela precisa admitir
para mim.
“Agora fique quietinha, enquanto eu cuido de você”.
O peito de Scarlett sobe e desce de acordo com sua respiração, à
medida que passo minha língua pelo seu íntimo encharcado,
provocando-a. Continuo lambendo seu clitóris e enfio e tiro meus
dedos, levando-a ao ápice do prazer. Eu aprendi a fazê-la gozar
muito mais rápido do que qualquer pessoa com quem já transei.
“Caralho, mestre”, ela grita, quase gozando. Fico olhando seu
corpo se debater na minha frente, e ela goza por todo o lençol.
Dou uns tapinhas na bunda dela e olho em seus olhos. “Sem
linguajar vulgar. Não me faça lavar sua boca com sabão”. Eu
sustento o olhar dela. “Ou melhor ainda, com a minha porra”.
Os olhos de Scarlett se acendem, e é nesse momento que
percebo que não a fiz me chupar ainda.
Levo minha mão ao cinto e o desabotoo. “Você gosta de chupar
as coisas, linda?”.
Scarlett faz que sim, ansiosa. “Sim, mestre. Eu adoro chupar”. Ela
coloca um dedo na boca e chupa, mostrando que adora.
Meu pau começa a pingar dentro da cueca boxer, e eu atiro
minha calça no chão. Fico em pé e caminho na lateral da cama. “Eu
quero dar uma coisa melhor que meu dedo para você chupar, linda”.
Passo minha cueca boxer pelo quadril e liberto minha rola dura e
já dolorida. Os olhos de Scarlett ficam arregalados ao assumir uma
posição quase inocente. “Você quer que eu chupe ele, mestre?”, ela
pergunta, esticando-se para frente para olhar para mim. “É tão
grande. Você acha que vai caber na minha boca?”.
Eu solto um gemido. “Sim, amor. Eu tenho certeza de que vai. Por
que não tenta?”.
Ela coloca a mão em volta do meu pau e bate duas vezes,
fazendo-me pingar por todo lado. “Ok”. Devagar, ela fecha a boca em
volta da minha rola, e eu quase morro de prazer.
A boca dela sobe e desce enquanto chupa. Sua necessidade
desesperada de enfiar cada milímetro até o fundo da garganta me
impressiona. Eu agarro o cabelo de Scarlett e puxo sua cabeça para
trás. “Isso é maravilhoso”, eu digo. “Mas eu quero foder a sua
garganta. Você vai me deixar fazer isso?”.
Ela olha nos meus olhos, e eu percebo que ela tem certa
insegurança em confiar em mim. “Sim”, ela sussurra.
Eu continuo gemendo e continuo segurando seu cabelo, pois
minha necessidade de dominá-la de uma maneira mais brutal vem à
tona. É difícil mudar meus desejos básicos. “Abre mais”. Ela abre a
boca, e eu meto meu pau até o fundo da garganta dela, surpreso por
ela não se engasgar.
Meto e tiro rápido, e ela ainda assim não se engasga. Ela não
parece nada desconcertada com o ato de meter meu pau até o fundo
da garganta dela. É a melhor experiência da minha vida.
“Porra, meu amor. Você não se engasga?”, pergunto, tirando o
pau de dentro da boca dela.
Ela encolhe os ombros e me encara com seus grandes olhos
azuis. “Não sei. Acho que não”.
Eu me inclino e a beijo. “Você é perfeita”. Sinto uma pontada no
peito ao dizer isso e sei que vai ser muito difícil largá-la, quando
chegar a hora.
“Você vai gozar dentro da minha garganta?”, ela pergunta,
piscando rápido, como se minha putinha submissa não soubesse o
que está fazendo comigo ao sugerir algo assim.
“Sim. Eu vou te encher de porra. Você quer?”.
Ela faz que sim, e isso quase é suficiente para me fazer gozar.
“Fica com a boca bem aberta para mim então, linda”.
Ela abre bem a boca.
Eu meto minha rola pulsante dentro de sua boca até o fundo, sem
parar, e começo a chegar perto do orgasmo. Scarlett é uma
vadiazinha submissa perfeita, e ela faz isso tão bem.
“Vou gozar, amor”, digo rápido, e libero minha porra grossa dentro
de sua garganta.
Scarlett engole, fazendo força para conseguir, e um pouco de
porra pinga para fora de sua boca. Ela fica maravilhosa com minha
porra escorrendo pelo seu queixo.
Nenhum de nós dois consegue se livrar do tesão que sentimos
um pelo outro. Nós dois estamos presos na teia um do outro. Eu não
consigo imaginar um dia enjoar de Scarlett.
15
S C A R LE T T

E u viro na cama e olho para o homem deitado ao meu lado.


Dizer que estou confusa seria pouco. O que quer que
esteja acontecendo entre nós já está começando a ficar pessoal
demais. Ontem à noite eu contei para ele sobre meu pai, o que faz
dele a segunda pessoa neste planeta que sabe da história. A reação
dele me assusta um pouco, e eu não consigo parar de reproduzir o
que ele disse na minha cabeça.
Vou me certificar de que este homem jamais toque em outra
criança”.
Acho que subestimei de que Malachy era capaz e a grandeza de
sua escuridão. Se ele pretende matar meu pai, eu não teria nenhum
problema quanto a isso, somente o fato de isso ser ilegal. Meu pai é
o tipo de homem que não merece estar vivo, não depois do que ele
fez à sua filha e a incontáveis outras crianças.
O que me deixa mais confusa do que qualquer coisa é o motivo
pelo qual eu contei a verdade a ele. Eu não deveria confiar em
Malachy, não depois do jeito que ele tirou minha virgindade de forma
tão bruta e sem hesitação alguma. Eu pedi para ele não fazer isso, e
ele fez mesmo assim.
Isso deveria ter feito com que eu perdesse a confiança nele, mas
ele estava certo. Eu não tinha voz alguma na questão, depois de ele
ter pagado dois milhões e meio de dólares pela minha virgindade. Ela
pertencia a ele, afinal, e ele estava usufruindo daquilo pelo que
pagou.
Não consigo entender sua mudança de comportamento,
perguntando-me se eu quero ser submissa a ele. Ainda não entendo
completamente o que isso quer dizer. Não sei ao certo se tenho
escolha, porque ele deixou bem claro sobre ele estar no controle.
Desde que ele me escolheu naquele leilão, nossa conexão foi
pura, palpável. Ela existe, não importa o quanto eu tente ignorar. Ele
destruiu minhas barreiras e enfiou suas garras no meu coração.
Malachy resmunga enquanto dorme, e eu fico inquieta.
Eu balanço minhas pernas na beirada da cama, porque sei que a
última coisa que eu quero é que ele me pegue olhando-o dormir. Ele
é lindo, de uma forma selvagem, o tipo de característica pela qual
nunca achei que fosse me atrair. Nunca conheci um homem a quem
me sentisse tão atraída sexualmente.
Eu esfrego meu rosto e me espreguiço. Essa situação é uma
loucura. Meu celular vibra na mesinha de cabeceira, e eu sinto um
frio na barriga, quando vejo Mamãe na tela.
Pego-o, desligo a função de vibrar e deixo cair na caixa postal. A
última coisa que vou fazer na vida é falar com minha mãe com
Malachy no quarto. Nós temos trocado mensagens de texto, mas
esta é a primeira vez que ela tenta me ligar.
Uma mensagem de voz aparece na tela, eu me levanto e vou
para o banheiro para escutar.
Espero que esteja tudo bem. Odeio ter que ignorar ligações dela,
especialmente por ela estar doente. Fecho a porta, tranco-a e escuto
a mensagem de voz.
“Oi, querida. É a mamãe. Queria saber como você está, mas acho
que você está ocupada com o trabalho. Liga para mim, quando tiver
um tempinho. Amo você”. A mensagem termina, e eu sinto alívio por
ter sido só uma ligação para saber de mim. Fico preocupada com ela
diariamente por não estar lá, pensando em como ela está
enfrentando tudo sozinha.
Levo um susto com uma batida na porta de repente. “Está tudo
bem, meu amor?”, Malachy pergunta.
Limpo a garganta. “Sim, só estou lavando o rosto”, respondo.
“Legal. Não demore muito. Temos programação hoje”.
Fico nervosa na hora e me olho no espelho.
Que merda é essa que eu estou fazendo?
Malachy é um criminoso. Ele é um homem perigoso, e eu
concordei em participar de um jogo pervertido com ele. Um jogo que,
por alguma razão, me deixa excitada. Eu nunca me senti tão confusa
na minha vida.
Eu abro a torneira da pia e me inclino sobre ela, tentando manter
a calma. Não sei o que Malachy poderia ter programado para nós.
Isso significa que não vou conseguir ligar para minha mãe hoje.
Quero estar sozinha quando eu falar com ela. Já é difícil o
bastante mentir para ela, quem dirá com Malachy colado em mim. A
água refrescante me acalma ao tocar meu rosto, e consigo aplacar
minha ansiedade.
Quando estou pronta, volto para o quarto, e Malachy está sentado
na beirada da cama de cueca boxer. “O que você estava fazendo,
meu amor?”.
Eu balanço a cabeça. “Eu te disse, lavando o rosto”.
Ele balança a cabeça. “Não, não mente para mim. Você não
precisa do celular para lavar o rosto. Com quem você estava
falando?”.
Sinto meu estômago se contorcer. “Eu estava ouvindo uma
mensagem da minha mãe”.
Ele me olha através dos olhos semicerrados. “Por que você
mentiu para mim nas primeiras duas vezes que eu perguntei,
então?”.
Eu dou de ombros. “Eu estava lavando o rosto. Não é uma
mentira total”.
“Vem aqui”. Ele aponta para o joelho dele. “Em cima do meu
joelho”.
Eu o encaro por alguns segundos, imaginando se ele está
brincando. Então nossa conversa do dia anterior me vem à mente.
“Quando você for safadinha e não fizer o que seu mestre manda,
terei de puni-la”.
Meu coração acelera e me sinto enjoada. “É sério?”.
Ele dá um sorriso malicioso e perverso e fica mais lindo do que
nunca. “Você já se esqueceu das regras, meu amor?”. Ele para de
sorrir, e seus olhos ganham uma aparência severa. “Em cima do meu
joelho. Agora. Não me faça ir até aí”.
Eu caminho em sua direção e me curvo sobre seu joelho, me
sentindo meio estranha. A coisa mais estranha é como a minha
boceta fica molhada.
Por que eu deveria ficar excitada em ser punida?
Assim que Malachy coloca suas mãos enormes nos meus
glúteos, separando-os levemente, não consigo fazer nada além de
gemer.
Eu consigo sentir seu pau duro pulsando na minha barriga. Fico
excitada com essa posição e com a maneira como ele me tem à sua
disposição, ainda que minha mente resista à submissão de controle.
Malachy coloca uma das mãos de volta e dá tapinhas no meu
glúteo esquerdo, forte o suficiente para arder. “Mentirosos devem ser
punidos. Não quero que você minta para mim de novo. Você
entendeu bem?”.
Eu mordo o lábio inferior. “Sim, mestre. Desculpa”, respondo.
Ele dá tapinhas no meu glúteo direito com um pouco mais de
força. “Boa garota”. Ele acaricia a pele dolorida do meu glúteo. “Mas
não tenho certeza se você aprendeu sua lição ainda”. Ele me dá
tapinhas de novo, com mais força ainda e em uma sequência rápida
entre cada um deles.
Eu me contorço em seu colo, sentindo a necessidade aumentar
entre minhas pernas. “Cacete, Malachy”, eu grito, não querendo mais
nada além de sentir cada milímetro de seu pau gigante e grosso me
arrombando inteira.
Esse homem me transformou em uma criatura cheia de tesão e
insaciável. Fico pensando se seria diferente com outra pessoa. A
atração pura que senti quando nossos olhares cruzaram me diz que
não poderia ser igual com outro homem.

O , e eu olho pela janela.


Saímos da cidade há pouco tempo e viajamos por cerca de trinta
minutos. Malachy ficou quieto durante a viagem, trabalhando no
laptop. Ele ainda não olha para cima, quando paramos no
estacionamento.
“Onde estamos?”, pergunto.
Malachy finalmente desvia os olhos da tela. “Você está me
dizendo que você mora em Boston e nunca esteve aqui?”. Eu faço
que sim, com as sobrancelhas franzidas. “Sim, não tenho a mínima
ideia de onde estamos”.
“Estamos em Walden Pond. É uma reserva natural bem legal com
uma praia curtinha à beira da lagoa”. Ele encolhe os ombros. “Achei
que seria um lugar legal para explorarmos e relaxarmos juntos”.
O sentimento me confunde, quando me questiono sobre o que
está acontecendo entre nós.
Essa é uma transação comercial ou alguma coisa além?
“Que legal”, digo, voltando minha atenção para fora da janela,
quando o motorista estaciona.
Malachy sai primeiro, e o motorista abre minha porta. Ele estica o
braço para me ajudar, mas Malachy o tira do caminho. “Deixa
comigo”. Ele olha para o motorista de forma furiosa e possessiva.
“Senhor”, ele diz. Depois abaixa a cabeça e sai da frente.
“Vamos, linda. Nós podemos relaxar na praia primeiro”. Ele pega
minha mão e olha para o motorista enfurecido. “Você pode trazer as
espreguiçadeiras, por favor?”.
Ele assente com a cabeça. “É claro, senhor”.
Fico observando o motorista tirar duas espreguiçadeiras
dobráveis do porta-malas e trazê-las atrás da gente em direção ao
lago lindo e brilhante. “É bem pitoresco por aqui”, eu digo, sentindo-
me acalmar por estar cercada pela natureza. Quando eu era
pequena, sempre adorei o mato e estar ao ar livre. A vida na cidade
pode ser bem entediante, mas eu sempre fui para Cape Cod ou algo
do gênero. Nunca soube que havia isso aqui tão perto de mim.
“Está silencioso aqui hoje. Às vezes, fica bem cheio, dependendo
do horário”. Malachy me leva para a beira do lago e pega uma das
espreguiçadeiras do motorista.
Ele coloca uma delas no chão e pega a outra. “É só isso, Mick. Eu
aviso você, quando estivermos prontos para ir embora”.
Ele assente com a cabeça. “Senhor”. Fico observando-o ir
embora.
“Por que você fala assim com seus funcionários?”, pergunto,
questionando por que ele foi grosso com o motorista, fazendo-o
carregar as espreguiçadeiras até a praia.
Malachy estreita os olhos. “Assim como?”.
Eu dou de ombros. “Você foi bem grosso”.
Ele resmunga. “Você está questionando a maneira como falo com
meus funcionários, Scarlett?”.
Eu mordo o lábio, pois conheço esse tom de advertência. “Não,
eu só estava perguntando ...”.
Ele me puxa contra ele e agarra minha bunda com as duas mãos.
“Não me faça punir você aqui; não estamos exatamente sozinhos,
linda”.
Eu engulo em seco. Nós estamos longe de estarmos sozinhos.
Há pelo menos outras vinte pessoas espalhadas pela praia.
“Desculpa, mestre,” sussurro, preocupada em alguém me ouvir,
pois há um casal a cerca de trinta metros de nós.
Ele me beija apaixonadamente e murmura me beijando. “Boa
garota. Quero que você seja boa e faça o que eu mandar pelo resto
do dia, senão não hesitarei em dar uns tapas em você aqui na frente
de todo mundo”.
Sinto um estremecimento ao pensar em ser humilhada
publicamente.
“Sim, mestre”, digo, enquanto o beijo, sentindo meus mamilos
enrijecerem ao toque no tecido do meu vestido. “Nós vamos nadar?”,
pergunto, olhando para a água brilhando à nossa frente.
“É claro, eu tenho um biquíni para você, se você quiser colocar ali
atrás da mata”. Ele me mostra uns poucos fios de tecido, longe de
servirem para cobrir meu corpo completamente. Não é algo que eu
geralmente escolheria vestir, mas é minha única escolha.
“Ok, já volto”. Eu pego o biquíni e vou em direção a um conjunto
de árvores no fundo da praia.
Escondo-me atrás de uma grande árvore e tiro a minha roupa,
colocando logo o biquíni, que é para lá de apelativo. Ele mal cobre os
meus seios, e a parte de baixo é como uma tanga.
Malachy está relaxando, deitado em uma espreguiçadeira com as
mãos atrás da cabeça. Ele parece em paz à beira do lago.
Volto e sento-me na outra espreguiçadeira.
Ele assobia ao me ver de biquíni. “Super gostosa, linda”.
Eu balanço a cabeça. “Deixa de ser bobo”.
Ele senta-se e tira os óculos escuros. “Não estou sendo bobo. É a
verdade. Você está absurdamente gostosa”. Ele levanta uma
sobrancelha. “Que tal darmos um mergulho para refrescar?”. Vejo um
brilho perverso em seus olhos, que me diz que sua mente já foi
ladeira abaixo.
Eu dou de ombros. “Está calor, e não seria má ideia dar um
mergulho”.
Ele sorri e se levanta, estendendo a mão para mim. “Vamos,
então, linda”.
Eu pego sua mão e deixo que ele me levante. Depois disso, sigo-
o em direção à beira d’água. A água morna passa pelo meu pé
enquanto caminhamos. Malachy me puxa rapidamente para a parte
mais funda, sem que eu possa me acostumar com a mudança de
temperatura.
“Ah, está fria”, reclamo, tentando tirar minha mão da dele. “Pelo
menos deixa eu me adaptar à temperatura”.
Ele me puxa até que a água chegue ao meu pescoço e dá risada.
“Não, é melhor acabar logo com isso, como tirar um Band-Aid”.
Eu balanço a cabeça. Malachy me envolve com seus braços e me
puxa para perto dele. “Não sei se concordo”.
Ele pressiona os lábios contra os meus. “Não sei se isso importa
de fato, linda. Lembre-se de quem manda aqui”.
Eu concordo e abaixo a cabeça, tentando me encaixar no meu
papel. “Desculpa, mestre”.
Ele resmunga, obrigando-me a virar, e depois se encaixa em mim.
Eu sinto o calor do seu pau na minha bunda, e fico molhada entre
as coxas. Quando estou com Malachy, este é um problema
permanente, fico excitada o tempo todo em que ele encosta em mim.
“Você é uma garotinha safada, não é, Scarlett?”, ele sussurra no
meu ouvido, fazendo os pelos da minha nuca se arrepiarem
completamente.
“Sim, sou sua garotinha safada, mestre”.
Ele morde meu ombro com força suficiente para me machucar, e
meus mamilos ficam duros ao toque do tecido do meu biquíni. “Eu
adoro o fato de você ser safada”. De repente, ele mete um dedo
dentro de mim, afastando o tecido do meu biquíni.
“Malachy”, eu suspiro, chocada com a atitude dele em um local
público. “O que você está fazendo?”.
Ele morde meu ombro de novo, mais forte desta vez. “Sem
perguntas”.
Eu solto um gemido, concentrando-me para não gritar, enquanto
ele mete o dedo em mim e tira, forte e rápido. Ele continua, até que
estou tão desesperada pela rola dele que chego a arfar.
“Por favor”, choramingo bem baixinho.
Ele mordisca minha orelha. “Por favor, o quê?”.
Eu mordo o lábio, tentando me controlar para não falar muito alto.
Não adianta. Preciso sentir Malachy dentro de mim, não importa
quem veja. “Me fode agora”, sussurro.
Ele ri. “Que safada você é. E as pessoas aqui?”. Ele tira o dedo
de dentro de mim, fazendo com que eu sinta o vazio dentro de mim.
Lentamente, ele me vira, e eu fico de frente para ele. “Você acha que
você consegue tomar minha rola sem gritar, meu amor?”.
Sinceramente não sei se consigo ficar quita, mas, neste
momento, já não ligo. “O que importa? Preciso de você agora”, eu
me queixo, agarrando os ombros largos de Malachy, que está me
segurando na água.
“Cuidado com o que você deseja”. Ele me posiciona em cima do
pau dele e me abaixa com força, fazendo-me gritar.
Rapidamente, ele coloca os lábios em cima dos meus para abafar
o grito. Sua língua mergulha na minha boca, e ele vai fazendo
movimentos com o quadril para me comer mais fundo, com
estocadas lentas. Espero que os observadores tenham pensado que
somos um casal apaixonado se pegando no lago, não transando
embaixo d’água.
Solto um gemidinho com a boca colada na dele. “Porra, isso,
mestre”, sussurro.
Ele sorri enquanto me beija. “Que boquinha suja, amor. Vou ter
que lavar com a minha porra, quando nós chegarmos em casa, e eu
te der uns bons tapas”.
Eu solto um gemido ao pensar na cena. Sinto minhas coxas
tremerem e me aproximo do orgasmo. “Não acredito que nós
estamos transando em público”. Há apenas algumas semanas, eu
era virgem, nunca tinha transado. Agora estou transando em um lago
público com pelo menos vinte pessoas ao meu redor. Ainda bem que
são todos adultos. É muito louco pensar que Malachy me
transformou em uma garota pervertida e insaciável.
“É o melhor jeito de transar. O risco de sermos pegos deixa tudo
mais gostoso”. Ele morde meu lábio inferior. “Uns filhos da puta
safados perceberam e estão batendo uma punheta olhando para
nós”.
Sinto meu estômago revirar, mas minha boceta vai ficando cada
vez mais molhada em pensar em outras pessoas se masturbando ao
nos observarem. “É sério isso?”.
Malachy dá risada. “Muito sério”. Ele me vira para eu olhar, e noto
que tem dois jovens olhando para nós no fundo da praia batendo
uma punheta. Nenhum deles está preocupado com o resto das
pessoas à vista.
“Eles são loucos”.
Malachy me vira de volta. “Filhos da puta pervertidos. Se eles
tentassem encostar em você, eu os mataria”, ele diz. “Agora eu
quero que você olhe para somente uma rola, e essa rola é minha.
Você entendeu?”.
Eu faço que sim. “Sim, mestre”.
“Boa garota”, ele sussurra antes de me beijar de novo.
Ele me fode com mais força e mais rápido, como se tivesse
esquecido de esconder o que estamos fazendo.
Eu sinto que estou quase gozando a cada estocada de Malachy.
Ele está certo. Essa é a transa mais deliciosa de todas para mim, e é
porque estamos em público. “Vou gozar”, aviso-o, enfiando minhas
unhas nos ombros dele para não gritar.
“Goza na rola do seu mestre na frente toda essa gente”, ele rosna
no meu ouvido, como um animal.
“Ah, meu ...”.
Malachy me beija, engolindo meus gritos de prazer, quando gozo
no pau dele. Ele geme com os lábios nos meus, deixando toda sua
porra bem no fundo da minha boceta. Até quando já me recuperei do
orgasmo, ele continua metendo para se certificar de que todas as
gotas de porra fiquem lá dentro.
Assim que ele termina, ele sai de dentro de mim e coloca meu
biquíni de volta no lugar. Nós nadamos por um tempinho antes de
voltar para as espreguiçadeiras. Eu noto que os caras de antes não
estão mais com o pau de fora na praia e desviam o olhar de nós
quando saímos da água.
Nós juntamos nossas espreguiçadeiras e damos as mãos de um
jeito preguiçoso. O sorriso genuíno estampado no rosto de Malachy o
deixa ainda mais bonito.
Tem alguma coisa diferente nele aqui, relaxando nessa
espreguiçadeira, nesta praia. É legal ver esse lado dele – um lado
que não é comandado por perigo ou escuridão. Nós adormecemos
por um tempinho, até que o celular dele toca.
Ele olha para a tela e o joga de volta na espreguiçadeira. Eu
sorrio, pois é a primeira vez que ele ignora uma ligação, desde
quando nos conhecemos.
De repente, o celular dele toca de novo, e o comportamento
tranquilo de Malachy desaparece. “Filho da puta”. Ele atende. “Mas
que merda você ...”. Ele para no meio da frase, e é nesse momento
que escuto alguém chamar o nome de Malachy.
Meu coração dá um pulo, quando vejo Mick se aproximando de
nós.
“Estou a caminho”, Malachy diz, terminando a ligação.
“O que houve?”, pergunto.
Ele balança a cabeça. “Não dá tempo de explicar. Temos uma
emergência, e preciso voltar”. Ele pega minha mão. “Vamos, querida.
Nós vamos ter que suspender nossa viagem hoje”.
Mick nem precisa receber ordens ao pegar as duas
espreguiçadeiras e voltar para o estacionamento logo atrás de onde
estamos.
Assim que entramos no carro, ficamos em silêncio total até
chegarmos ao limite da cidade. Malachy vira para mim.
“Você não está segura comigo agora, Scarlett”. Vejo que seu
maxilar está tenso. “Onde você acha que estaria segura?”.
Sinto meu coração parar, e fico pensando se ele vai me deixar ir
para a casa de minha mãe. “Eu gostaria de ir para a casa de minha
mãe”.
Vejo um lampejo de dor em seus olhos, mas ele faz que sim.
“Certo. Qual é o endereço?”.
Dou o endereço ao motorista e encosto de novo no meu banco.
Estou com um sentimento estranho e triste no peito enquanto vamos
para minha casa. O clima entre nós está tenso e silencioso.
Todo esse tempo eu queria saber quando eu iria para casa. Estou
conseguindo o que queria, mas estou arrasada. Tudo o que eu quero
é ficar aqui ao lado de Malachy.
16
MAL ACHY

S carlett pega na maçaneta da porta, mas eu recuo. “Lembre-se,


Scarlett. Esse é um contratempo temporário. Você vai voltar
para mim em alguns dias, assim que a poeira abaixar”.
Ela olha nos meus olhos, e eu vejo felicidade, desde que disse a
ela que ela poderia voltar para a casa de sua mãe. Nunca a vi tão
feliz, desde que a conheci. “Claro, sem problemas”.
Scarlett tenta se mexer de novo, mas eu não posso permitir que
ela vá de um jeito tão fácil.
“Cadê meu beijo, meu amor?”.
Suas bochechas ficam muito vermelhas, e ela se inclina e leva os
lábios aos meus. Eu a puxo mais perto e dou um beijo mais íntimo,
ainda que eu saiba que não importa quanto tempo eu fique com ela,
nunca será suficiente.
Assim que eu finalmente permito que ela vá, estamos os dois sem
ar. “Vou sentir falta disso nos próximos dias”.
Ela faz que sim com a cabeça. “Eu também”.
Existe uma necessidade entre nós que é quase palpável. Uma
necessidade que faz com que eu queira mandar Mick embora e
comê-la bem aqui no banco de trás à luz do dia mesmo. Tento
manter o controle e solto-a. “Avisarei quando você pode voltar para
mim”.
Ela faz que sim e vai em direção à porta. Desta vez, deixo-a sair e
ir embora. Dói mais do que consigo explicar vê-la entrar nesse
prédio, para longe de mim, ainda que seja temporário.
Existe uma pergunta implícita entre nós que obscurece cada
momento que temos juntos.
Quando eu permitirei que ela vá embora permanentemente?
Oficialmente, já usufruí do que paguei, antes mesmo do que
pretendia. Scarlett poderia exigir que eu a libere, uma vez que já tirei
sua virgindade, mas ela não fez isso. Embora não tenha havido nada
oficial a respeito disso no leilão ilegal do qual participamos.
Uma parte de mim não quer que ela vá embora jamais. Não
posso acreditar que meu segundo homem em comando foi pego em
uma tentativa mal-executada de interromper as operações de
lavagem de dinheiro de Milo. Mazzeo sabia onde nós estaríamos e
quando. Isso quer dizer que tem algum informante em nosso clã. Um
informante que precisa ser extirpado logo.
Niall vai sobreviver, de acordo com Seamus, mas ele sofreu
ferimentos graves, que o deixarão longe do trabalho por pelo menos
um mês. Eu preciso dele mais do que nunca, o que significa que
preciso estudar meus homens e pensar em quem posso confiar.
Seamus é um cara decente e fiel, mas não posso confiar nele para
ficar no lugar de Niall. Ele não tem a inteligência necessária para me
ajudar a gerenciar as coisas.
Aiden vem logo depois de Niall. Ele está com a gente por tanto
tempo quanto Niall. Tenho certeza de que ele não me trairia. Deve
ser um dos integrantes do clã mais baixos. A viagem do centro de
Boston até minha casa em Beacon Hills demora mais do que o
normal porque o trânsito está horrível. É sempre assim. O trânsito
fica péssimo exatamente quando tenho uma merda de uma
emergência para resolver.
O porão da minha casa é um hospital provisório, e o médico já
está cuidando de Niall. Ele deve sair da cirurgia logo.
Os caras de Milo atiraram nele três vezes quando o emboscaram,
tentando colocar explosivos em sua boate. Os homens estavam
esperando em todos os estabelecimentos dele, prontos para
interromper nosso plano antes mesmo de começar.
Mick passa pelos portões e estaciona na frente da minha casa.
Saio e entro em casa, estralando o pescoço quando sinto que
estou ficando tenso. Niall é como um irmão para mim, e vou fazer
Milo pagar por atirar em um dos meus homens. Parece que ele
queria vingança por eu ter atirado no capo dele, Piero.
O filho da puta sobreviveu, então, não entendo por que fazer
tanto drama.
Aiden está parado na entrada do porão. Ele ajeita a postura,
quando me vê. “Senhor, você está aqui”. Ele limpa a garganta. “Niall
acabou de sair da cirurgia, e o cirurgião está certo de que ele vai
sobreviver”.
Sinto o alívio invadir meu corpo. Embora o médico tivesse dito
que ele sobreviveria, sempre tem um risco, quando se está passando
por uma cirurgia. “Que bom. Que outras vítimas tivemos?”.
Seamus aparece atrás de mim. “Três mortos, cinco feridos no
total, chefe”.
Eu viro para encará-lo. “Quem morreu?”.
“Patrick, Conor e, infelizmente, Oisin, seu primo, senhor”. Sinto a
fúria queimar dentro de mim. Milo não matou só um dos meus
primos. Matou dois. Meu tio vai ficar louco. “Dara já sabe?”.
Seamus balança a cabeça. “Não. Achamos que você gostaria de
contar para ele, já que ele é seu tio”.
Covardes do caralho. Eles têm medo do meu tio, o que chega a
ser hilário. O cara é um desperdício humano. E sempre foi. Se há
alguém de quem eles deveriam sentir medo, este alguém sou eu. Eu
criei essa porra de clã com minhas próprias mãos.
“Seria melhor que ele recebesse a notícia de algum familiar
depois da morte de Sean”. Eu balanço a cabeça. “O cara não vai
receber bem a notícia”.
Seamus faz que sim. “Pois é, é o que imaginávamos”.
Dou as costas para ele e desço até o porão. Algumas pessoas
têm cinemas ou saunas em casa, mas eu tenho essa merda de
hospital completamente equipado com tudo de última geração. Nós
precisamos manter todo tipo de ferimento relacionado a trabalho fora
dos hospitais públicos. Senão, nós teríamos a polícia na nossa cola.
Vejo Niall deitado inconsciente na primeira cama, mas fico
surpreso ao ver Alícia sentada ao lado dele, segurando sua mão.
Faço uma careta ao vê-la, pois vejo que ela estava chorando.
Alícia conhece Niall desde quando éramos crianças. Não achava que
eles eram tão próximos.
“Mana, o que você está fazendo aqui embaixo?”. Ela leva um
susto com minha voz. Larga a mão de Niall e se levanta.
“Soube do que aconteceu e queria ver se eu poderia ajudar”. Ela
balança a cabeça, olhando de novo para Niall. “Não acredito que
Niall se meteu nessa. Por que você mandou o melhor dos seus
homens para realizar uma tarefa perigosa?”.
Eu ranjo os dentes. Sinto uma irritação por ser questionado pela
minha irmã caçula. “Deixei-o cuidando da tarefa de interromper as
operações de lavagem de dinheiro da porra dos italianos na cidade”.
Eu balanço a cabeça, voltando-me para Niall. “Ele teve a ideia e
organizou tudo. Eu não disse que ele deveria estar na frente de tudo,
pelo amor de Deus”.
Alícia chora, e fico tentando imaginar por que motivo ela está tão
afetada por isso.
“O que há com você, afinal? Você conheceu Niall, quando éramos
criança, mas não achei que mantinham contato”.
Ela franze as sobrancelhas. “Claro que sim. Niall vive aqui há
tanto tempo quanto você, se não mais”.
Eu balanço a cabeça e vou até a cama de Niall. Olho para meu
funcionário, cujo estado parece bem grave. “Não importa quem foi
que fez isso, Niall. Hei de matá-lo de qualquer forma”. Coloco uma
mão, com carinho, em seu ombro. “Alguém nos traiu com os
italianos, e eles vão pagar por isso”.
Alícia está do outro lado da cama. “A violência é sempre a
solução para tudo, mano?”.
Eu olho para ela. “Que pergunta idiota, Alícia”.
Ela se senta na cadeira ao lado da cama de Niall. “Por que Niall
foi alvo disso? Onde você estava?”.
Sinto a culpa me corroer por dentro, já que eu estava relaxando
com uma garota que não consigo tirar da cabeça – uma garota que
me deixou mole. “Estava de folga”.
Alícia olha para mim com os olhos entreabertos. “Com a virgem
que você comprou no leilão?”.
“Sim, o que é que tem?”.
“Tem alguma coisa diferente a respeito dela, não tem?”. Ela
balança a cabeça. “Eu quero dizer, quando a vi caminhando contente
e feliz sem um arranhão no corpo, eu sabia que tinha algo de
especial”.
Olho para Alícia com a cara feia, na esperança de que ela vá se
tocar e deixar o assunto para lá. “Não sei do que você está falando”.
Ela ri. “Eu espero, de verdade, que ela seja o fim da sua
obsessão doentia e pervertida de frequentar esses leilões. Ela
parece ser uma garota legal”.
Eu praticamente cuspo fogo na minha irmã. “Sim, uma garota
para quem você contou a porra da minha vida toda”.
Alícia levanta as mãos no ar. “Nós só conversamos. Só isso. De
mulher para mulher”.
“Bom, não faça mais isso. Não quero saber de você conversando
com Scarlett. Você entendeu bem?”.
Ela levanta uma sobrancelha. “Nossa, você está maluco por ela,
Mal”.
Odeio quando minha irmã me chama de Mal. Ela faz isso para
mexer comigo, então parei de reagir. “Que se dane”, digo, dirigindo
minha atenção às outras quatro camas ocupadas pelos meus
homens feridos.
Dois dos quais não reconheço. Os outros dois são Oscar e Rory.
Dois homens estão conosco há algum tempo, mas não passam de
soldados do meu clã. “Quem são esses outros dois caras?”, pergunto
a Seamus, indicando-os com os olhos.
Seamus franze as sobrancelhas. “Brian e Craig Samson, irmãos
que estão com o clã há três anos”.
Eu passo a mão pela nuca. “Merda, preciso manter maior controle
sobre quem eu deixo entrar no clã. Acho que não cheguei a conhecê-
los, meu Deus”.
Seamus faz que sim. “Talvez não estejamos sendo seletivos o
bastante quanto a quem permitimos entrar no clã. Alguém nos traiu,
e precisamos descobrir quem foi”.
Aiden se aproxima. “Você quer que eu organize uma reunião com
o clã inteiro?”.
Eu faço que sim. “Claro, cara, marque para amanhã. Não
podemos postergar mais a caça a esse dedo-duro. Se eu tiver que
trancar o clã todo em uma salinha para fazer um inquérito amanhã
para encontrá-lo, farei isso”.
Aiden concorda. “Claro, vou mandar uma mensagem com a
localização hoje à noite”. Ele dá um tapinha nas costas de Seamus.
“Até amanhã”.
Seamus faz que sim. “Claro, cara”.
Fico observando Aiden deixar o porão, substituindo Niall com
tanta naturalidade que parece sempre ter feito isso. Seamus parece
um pouco irritado por não ter sido escolhido, mas eu não ligo. Aiden
é mais confiável. “Vou precisar que vocês dois trabalhem juntos e
ajudem enquanto Niall não estiver recuperado”.
Seamus faz que sim. “Qualquer coisa que você precisar, chefe”.
Olho para Alistair, nosso cirurgião. “Alistair, você precisa de ajuda
hoje?”.
Ele olha para cima e faz que sim. “Sim, não consigo dar conta de
cinco. Se você pudesse mandar mais dois para me dar uma mão,
seria ótimo”.
Faço que sim e olho para Seamus. “Você consegue ver isso para
mim, cara?”.
“Claro, vou fazer isso agora”. Observo Seamus se afastar,
deixando-me a sós com Alícia e Alistair. Alícia está ao lado de Niall
de novo. “Vou ajudar aqui hoje à noite. É o mínimo que posso fazer”.
Alistair sorri. “Isso seria ótimo, Alícia, já que você é uma
enfermeira formada”.
Ela faz que sim com a cabeça. “Sim, faz sentido para mim ajudar,
em vez de uns tontos que não sabem o que estão fazendo”.
Eu olho para ele com os olhos semicerrados. “Tudo bem, mas
não se canse demais, mana”. Viro-me para sair do porão. “Até
amanhã, pessoal”. Saio, refletindo sobre o fato de minha irmã estar
tão obcecada de repente com o bem-estar de Niall.

Sento-me à cabeceira da mesa, encarando todos os integrantes do


meu clã.
Minha primeira noite sem Scarlett ao meu lado foi ruim. Quase
não peguei no sono, e o fato de eu me preocupar com Niall também
não ajudou muito. Precisei deixá-la longe da casa, enquanto a
ameaça está tão perto. Um informante em nossos postos indica
perigo.
De todos os homens, provavelmente conheço somente metade
deles. Não foi bom eu ter permitido o recrutamento de novos
integrantes para dar uma mão. Teria sido mais fácil para Milo pagar
logo um irlandês traidor para se candidatar e entrar nos nossos
postos e passar toda a informação para ele.
A única coisa pior que um espião é um espião que cagueta seus
semelhantes. Limpo a garganta. “Temos um informante em nossos
postos”. Há um cochicho geral entre os homens.
Eu bato palmas, gritando. “Silêncio, rapazes”. Eu balanço a
cabeça. “Não vamos sair desta sala até conseguirmos descobri-lo,
custe o que custar”.
“Como você sabe que tem um informante?”, um cara jovem grita.
Eu viro os olhos diante do comentário. “Não importa como eu sei.
Alguém nos entregou para os italianos. Eles não poderiam saber dos
nossos planos, sem que a informação tivesse vazado, então se o
informante quiser sofrer o menos possível, ele vai revelar sua
identidade de merda agora”.
Percebo uma movimentação no fundo da sala e, de repente, um
cara que não reconheço corre até a porta. Mas a porta está trancada.
“Muito bom. Que fácil”. Levanto e me aproximo de um jovem que
olha para mim com tanto medo, que meu lado perverso fica todo
alegre. “Você é o filho da puta que fez Niall tomar um tiro”.
Ele balança a cabeça. “Não foi minha intenção”. Milo está com
meu filho, e eu precisei fazer o que ele pede”. Vejo que ele está
morrendo de medo.
“Mas que bela mentira, cara”. Pego no ombro dele e o empurro
contra a porta com força. “Duvido até que você tenha um filho na sua
idade, e uma coisa que Milo nunca faz é mexer com crianças”.
Dou um soco no nariz dele, que quebra imediatamente.
Ele resmunga, e eu dou um soco forte na barriga dele, sentindo a
raiva tomar conta de mim. Esse filho da puta infeliz matou meu
melhor amigo. Matou três dos meus homens, incluindo meu primo,
mesmo que indiretamente.
“Você é a razão pela qual meu primo está morto”, digo, soltando
seu colarinho, deixando que ele caia no chão de uma só vez. Chuto
seu rosto com força e quebro seu maxilar. Sempre me vingo de meus
inimigos, e agora não será diferente. Minha violência não vê limites,
quando se trata de pessoas que mexem comigo.
“Vou matar você com minhas próprias mãos, porra, e quero que
isso sirva de lição para o resto de vocês”. Viro-me, olhando para os
outros, que estão com a fisionomia chocada, sem piscar. Quem me
conhece bem já espera isso de mim. “Qualquer pessoa que mexe
comigo morre”.
Agarro de novo a porcaria de desperdício humano e aperto bem
minhas mãos ao redor de sua garganta. Ele arregala os olhos e tenta
respirar, enquanto bloqueio suas vias aéreas. Muitos líderes deixam
o trabalho sujo para seus subordinados, mas não sou como eles. Eu
vim de baixo e não tenho medo de sujar as mãos.
O som que o cara faz tentando respirar, quase morrendo,
interrompe o silêncio da sala.
Olho em seus olhos e não sinto nada ao ver sua vida se esvair
deles. Ele é a razão para três outros homens estarem mortos, então,
é justo que ele morra também. Olho por olho, dente por dente é o
conceito mais justo que aplico.
Ele morre, e eu me levanto. Meus dedos estão sujos de sangue
de tanto socá-lo, e eu puxo um lenço do bolso para limpá-los. O
silêncio é intenso.
Assinto para o cara parado à porta. Ele e outro cara se
aproximam e arrastam o corpo do traidor para fora da sala.
Eu volto para minha cadeira. “Bom, mais alguém quer me trair e
dar informações aos meus inimigos?”, pergunto, passando os olhos
pela sala.
Vários homens olham para mim com medo. Estou acostumado
com isso, mas os caras que sei que são mais fiéis me encaram de
volta com uma confiança inabalável. Eles sabem que jamais estariam
nessa posição, porque sabem que já estariam mortos antes mesmo
de trair o clã do McCarthy.
Eu bato palmas, gritando. “Ótimo”. Eu passo a mão pela nuca e
olho para Aiden, à minha direita. “Você pode avisar o pessoal sobre a
atual situação com a guerra contra os italianos?”.
Aiden concorda. “Sim, senhor”. Ele se levanta. “Os italianos
estragaram nossos planos de interromper suas operações de
lavagem de dinheiro, o que significa que essa não é mais uma opção
viável”. Ele dá uma olhada de relance para mim. “Isso significa que
precisamos bolar um jeito de bloqueá-los, antes que cheguem aos
limites da cidade. Será um esforço coletivo tremendo vigiar os
percursos deles e compreendê-los antes de tentar atacar”.
Seamus se levanta. “Sim, só temos uma chance e não podemos
fracassar desta vez”.
Fico observando os caras que pertencem ao meu clã, atento a
quem conheço e a quem não conheço. “Além disso, quero que todos
vocês falem comigo depois que esta reunião terminar, caso eu não
os conheça pelo nome”. Passo uma mão pela barba. “Já passou da
hora de eu conhecer todo mundo no meu clã. Nós vamos ficar mais
rigorosos com os critérios de contratação aqui, já que aquele filho da
puta que morreu, cujo nome eu nem sabia, era um espião”.
Vejo que alguns deles ficam pálidos.
E dá para culpá-los, depois do que me viram fazer?
Minha perversidade não tem limites. E minha violência também
não. Eles sabiam o que esperava por eles, quando se juntaram ao
clã. Jamais vou me desculpar por quem sou.
17
S C A R LE T T

E u olho para meu telefone, querendo muito que ele toque. Já


faz uma semana que Malachy me deixou aqui, sem grandes
explicações. Só disse que ficar perto dele era perigoso demais.
Mas o que é que isso quer dizer?
Ele disse que me ligaria dentro de alguns dias. Nem sei o número
do celular dele, então não posso entrar em contato, a menos que ele
ligue. Isso está me deixando mais louca do que eu esperava. A todo
tempo, fiquei imaginando quando ele me deixaria ir para casa. Agora
que ele deixou, mal posso esperar para voltar para a cama dele. É
ridículo.
Minha mãe acreditou na história de que a produção havia sido
adiada e que eles me ligariam, quando precisassem de mim. Porém,
conforme o tempo passa, parece que ela faz cada vez mais
perguntas – perguntas para as quais não tenho respostas.
Parece que, aos poucos, estou me enfiando em um buraco cada
vez mais fundo a cada mentira que conto.
“Bom dia, coração”, minha mãe diz, colocando a cabeça pelo vão
da porta. “São dez horas. Você não quer tomar café da manhã?”.
Eu balanço a cabeça. “Não estou com fome. Que horas é a sua
consulta no hospital hoje?”.
“É à uma e meia da tarde. Você não precisa ir, Scarlett. Eu posso
ir sozinha”.
“De jeito nenhum. Não pude estar presente nas outras consultas,
mas não vou perder esta”.
Minha mãe sorri. “Bom, os médicos estão certos de que posso me
curar muito em breve”.
Suspiro, aliviada, mas quero ouvir o médico dizer isso hoje. Assim
que eu ouvir, vou me sentir melhor a respeito disso tudo. Pensar em
perder a única pessoa com quem me importo neste mundo me
assusta demais.
Meus sentimentos por Malachy são confusos.
Será que eu poderia me importar com Malachy também?
Parece ridículo ter sentimentos por um homem que praticamente
me comprou por questões sexuais. Sentimentos românticos e ter
sido comprada não são coisas exatamente conciliáveis. Porém, ainda
assim, eu o desejo.
Seja o que for que tivemos juntos, não foi só sexo. Foi maior e
mais profundo. Uma conexão que foi além da atração física, que não
consigo explicar muito bem.
“Estou muito contente, mãe. Não sei o que eu faria sem você”.
Sinto um nó na garganta só de pensar em perdê-la.
Minha mãe entra. Ela está com lágrimas nos olhos e se senta ao
meu lado. Inclino-me em sua direção, para que ela me abrace.
“Ficaria tudo bem, coração, porque eu criei uma mulher forte”. Ela
beija minha bochecha. “Mas não vai acontecer nada comigo. Ainda
não, pelo menos”. Ela sorri. “Espero estar aqui por tempo suficiente,
até que você se case e tenha seus próprios filhos um dia”.
Sinto meu coração parar, quando ela menciona casamento, e o
rosto de Malachy surge diante de meus olhos. Uma ideia idiota, já
que ele está longe de ser o tipo de homem para casar.
“Não sei ao certo se isso vai acontecer logo, se é que vai
acontecer um dia”.
Minha mãe ri. “Deixe de ser boba, Scarlett. Você é jovem e tem
bastante tempo para encontrar o homem certo, se é isso que você
quer”.
Não consigo compreender por que uma parte de mim deseja isso
mesmo, mas com Malachy. Um homem que jamais poderia me
proporcionar um lar, quem dirá filhos.
Dou de ombros. “Vamos ver. Frank tem vindo muito aqui, desde
que fui embora?”.
Minha mãe fica corada, assim que menciono nosso vizinho. “Ah,
sim, um homem muito querido. Tem me ajudado muitíssimo”.
Levanto uma sobrancelha. “Por que você está vermelha?”.
Ela limpa a garganta. “Não sei do que você está falando”.
“Aconteceu alguma coisa entre você e Frank?”, pergunto, pois já
tenho um pressentimento, desde que ele se mudou para o
apartamento ao lado. Ele está de olho em minha mãe, mas parece
ser um homem bom. Minha mãe não quis se relacionar, desde que
meu pai foi preso. Acho que a maneira pervertida como ele me
tratava fez com que ela perdesse sua confiança nos homens
também.
“Bom, eu não quero tirar conclusões precipitadas, mas Frank e eu
saímos algumas vezes juntos”. Ela encolhe os ombros. “Depois que
você mencionou que ele tinha uma queda por mim, flertei um pouco
com ele para ver se você estava certa”. Ela ri. “De fato, ele queria
sair comigo, desde quando ele se mudou, mas não é nada sério”.
Eu sorrio. “Bom, contanto que Frank trate você bem, é isso que
importa”.
Meu celular toca, e tanto eu quanto minha mãe olhamos para ele.
O número está bloqueado, e no mesmo instante acredito que seja
Malachy.
“Ah, será que é a produção ligando para chamar você de volta?”.
Ela fica em pé. “Atende. Vou fazer umas panquecas para nós. Sei
que você disse que não estava com fome, mas você precisa comer”.
Concordo com a cabeça e pego o telefone, esperando, até que
ela feche a porta para atender. “Alô?”.
“Você demorou demais para atender, meu amor”. Malachy fala de
maneira arrastada do outro lado da linha, e sinto um frio na barriga
ao ouvir sua voz grave e rouca. Fazia muito tempo que não a ouvia.
“Desculpe, estava conversando com minha mãe. Limpo a
garganta. “Esperava que você ligasse antes”.
Malachy fica em silêncio por um tempo e depois começa a rir.
“Sentiu tanta falta assim de mim, minha linda?”.
Engulo em seco e percebo que não deveria desejar que ele me
ligasse. “Não, eu esperava que você ligasse depois de alguns dias”.
Ele estala a língua. “O que foi que eu te disse? Sem mentiras”.
Sinto meu rosto esquentar. “É verdade. É hora de eu voltar?”,
pergunto, esperando que minha mãe não esteja escutando do outro
lado da porta. Ela é xereta, então, preciso dizer palavras básicas.
Malachy resmunga. “Vou punir você por mentir para mim, mas
infelizmente não. Preciso sair da cidade para resolver algumas
coisas. Estarei de volta dentro de uma semana e vou buscá-la em
sua casa daqui a uma semana certinho”.
Sinto um frio na barriga ao ouvi-lo dizer que não está vindo me
buscar hoje. Tento acabar com o nó que tenho na garganta. “Que tipo
de coisas você precisa resolver?”, pergunto.
“Nada com que você precise se preocupar. Até logo, meu amor”.
Ele desliga, e sinto meu peito doer.
Está claro para mim que minha obsessão com Malachy não é
correspondida. Ele não parece nem um pouco afetado pelo nosso
tempo separado, e eu fico pensando se fantasiei seus pensamentos
por mim todo esse tempo.
Acho que preciso esperar mais uma semana para descobrir.
Levanto-me e saio do quarto, em direção à cozinha. Sinto um frio na
barriga, quando percebo que tenho mais uma semana ao lado de
minha mãe e que vou precisar me complicar ainda mais com minhas
mentiras.
“Era da produção?”.
Eu faço que sim. “Sim, uma semana de atraso. Eles vão enviar
alguém para me buscar dentro de uma semana”. Jogo-me em um
banquinho na frente da ilha da cozinha e deixo minha cabeça pender
sobre minhas mãos. “Pelo menos posso passar uma semana com
você, mãe”.
Ela sorri. “Sim, embora eu tenha um fim de semana já
programado com Frank. Só vamos no sábado de manhã e voltamos
na segunda-feira de manhã também. Mas você vai ficar bem sozinha,
né?”.
Eu arregalo os olhos. “Uau, você disse que estavam se
encontrando. Não é cedo demais para um fim de semana
romântico?”.
Ela balança a cabeça. “Não acho. Quando você sabe que é a
coisa certa, não existem dúvidas”.
Suspiro profundamente, desejando não saber que é a coisa certa
com uma droga de um gênio criminoso. Malachy é certo para mim,
mesmo se tudo a respeito de seu estilo de vida esteja errado.

M F
.
Passamos os últimos quatro dias juntas, fazendo coisas de que
gostamos, e isso me ajudou a esquecer um pouco Malachy.
Não posso negar que estou ficando louca por não poder vê-lo, ou
falar com ele. Ele mexeu muito comigo com o jeito como me trata. Da
última vez em que estivemos juntos, quase parecia que éramos um
casal. Ter sido arrancada dali de repente doeu de um jeito
inexplicável em mim.
Olho para meu celular, e meu coração dá um pulo, quando vejo a
data. É dia seis de julho, o que quer dizer que minha menstruação
está oito dias atrasada. Sinto um frio na barriga e começo a tremer.
Caralho.
Malachy jamais mencionou usar proteção todo esse tempo, e isso
nunca entrou na minha cabeça.
Como eu pude ser tão burra?
Ele provavelmente pensa que eu tomo pílula ou algo do gênero.
Seguro minha cabeça sobre as mãos, imaginando que eu poderia
estar grávida de um mafioso. Faz quase três semanas, desde que
ele me comeu naquela mata e tirou minha virgindade.
Pelo menos minha mãe está viajando, e posso ir até a farmácia
para comprar um teste. Espero que seja uma coincidência eu estar
um pouco atrasada.
Levo um susto com uma batida na porta de repente. Levanto-me
e atendo. Dou de cara com Kaia olhando para mim. “Mas onde é que
você esteve?”.
Ah, merda.
Eu esperava poder evitar Kaia. Não respondi suas mensagens ou
ligações, sabendo que ela sacaria minhas mentiras. Minha mãe é
ingênua. Kaia não é.
“Como assim?”, pergunto, tentando me fazer de idiota para
ganhar tempo e dar uma boa desculpa.
“Você não respondeu minhas mensagens nem atendeu minhas
ligações. Ela balança a cabeça. “Você não apareceu no trabalho,
então, vim ver sua mãe cerca de duas semanas atrás, e ela me disse
sobre a Broadway”. Ela me olha com os olhos semicerrados. “É uma
mentira absurda, e você sabe disso”.
Sinto um nó na garganta e abro a porta para ela. “Entra. Vou
explicar tudo”.
Ela está puta da vida – nunca a vi tão puta assim. Kaia passa por
mim e senta-se no sofá com os braços cruzados. “Que eu saiba, sou
sua melhor amiga, e você me deixa no vácuo completamente. Que
merda é essa, Scarlett?”.
Suspiro profundamente, porque sei que ela vai me dar uma
grande bronca por ser tão burra. “Eu sabia que você não concordaria
com o que fiz”.
Kaia arruma sua postura. “O que você fez? Vendeu seu rim no
mercado negro?”.
Eu balanço a cabeça. “Não. Vendi minha virgindade em um
leilão”.
Kaia pisca algumas vezes e parece não compreender nada. “Isso
existe?”.
Eu faço que sim. “Sim, mas acontece que não era simplesmente
uma noite e pronto”. Tenho dificuldade para engolir e continuar,
pensando no homem que adquiriu minha virgindade. Talvez exista
algo errado em mim por desejar mais de Malachy, especialmente
considerando-se como nos conhecemos.
“Mas o que é que deu em você, porra?”.
Eu dou de ombros. “Eu estava desesperada. Não podíamos
pagar a dívida ao agiota, e não tinha como conseguir mais dinheiro
para o resto do tratamento de minha mãe”.
A expressão de Kaia suaviza. “Por que não falou comigo? Você
sabe que tenho dinheiro guardado”. A família de Kaia tem uma
situação boa, mas eu não pediria a uma amiga. Seria mais do que
ela tem guardado, de qualquer jeito. Não tinha como devolver a
quantia de que precisávamos a ela.
Eu balanço a cabeça. “Porque levaria minha vida inteira para
devolver a quantia a você, e não sei se você teria o suficiente”. Eu
suspiro. “De qualquer jeito, a questão é que o homem que comprou
minha virgindade quer que eu fique com ele por alguns meses”.
Ela franze as sobrancelhas. “Então o que é que você está
fazendo aqui?”.
“Ele precisou sair da cidade por algumas semanas. Vem me
pegar segunda-feira”. Sinto enjoo só de pensar em vê-lo de novo.
Kaia sacode a cabeça. “Ele é um tipo nojento?”.
“Não, mas é um homem perigoso”. Passo uma mão pelo cabelo,
pois estou nervosa. “Ele tem provavelmente trinta e poucos anos, se
eu tentasse adivinhar. E é líder de uma organização mafiosa”.
“Cacete, no que é que você foi se meter, Scarlett?”.
Ela não sabe da missa a metade. Se eu estiver grávida, essa
situação vai piorar muito.
Kaia encosta no sofá. “Pelo menos, você finalmente perdeu sua
virgindade. Pensei que isso nunca fosse acontecer. Quanto ele
pagou?”.
“Você não vai acreditar”. Torço os dedos, nervosa. “Dois milhões
e meio de dólares”.
Kaia desencosta do sofá. “Cala a boca. Você recebeu esse
dinheiro?”.
Eu faço que sim. “Sim, tirando a comissão do leiloeiro, que é de
vinte por cento”.
“Puta que o pariu. Que loucura”. Ela estreita os olhos e me
encara. “Mas espero que vocês tenham tomado cuidado”.
Sinto um calor subir para o rosto, quando percebo como fui idiota.
“Não, aliás, estou atrasada oito dias”.
Kaia coloca uma mão no rosto. “Ah, Scarlett. Você está me
contando que pode estar grávida de um mafioso neste exato
momento?”.
Faço que sim. “Possivelmente. Eu estava indo agora mesmo à
farmácia para comprar um teste”.
Kaia se levanta. “Legal. Vou junto. Você precisa de apoio moral
para isso”.
Eu sorrio. “Você não precisa fazer isso. Fui uma tonta por
esconder isso de você”. Sinto a culpa devorar minhas entranhas por
não ter escondido tudo isso só de Kaia.
Ela faz que sim com a cabeça. “Sim, foi mesmo, mas eu entendo
por que você fez isso”. Ela ri. “Se você tivesse me contado antes,
com certeza eu teria impedido você”. Kaia estica a mão para mim, e
eu a seguro. “Bom, vamos descobrir a verdade”.
Assinto em resposta, e saímos do apartamento para ir à farmácia
da esquina. São só cinco minutos caminhando. Meu coração está
batendo tão forte que sinto que vou desmaiar.
Kaia até paga para mim, para não me constranger, já que todo
mundo conhece minha mãe e eu no bairro.
Sinto como se tirasse um peso das costas agora que Kaia sabe.
Ou, pelo menos, um pouco do peso. A única coisa que não disse
para ela é que, desde quando conheci Malachy, desenvolvi
sentimentos por ele.
Sei que Kaia não aprovaria, mas vou chegar a esse ponto,
quando for a hora.
Caminhamos em um silêncio tenso e voltamos ao apartamento,
ambas apreensivas a respeito do resultado do teste que vou fazer.
De maneira alguma estou pronta para ser mãe, e posso dizer com
muita certeza que Malachy também não é o tipo de cara certo para
ser pai. Nós dois somos problemáticos, cada um do seu jeito.
Quando chegamos ao apartamento, Kaia balança a cabeça. “O
que você vai fazer, se der positivo?”.
“Eu ainda não pensei nisso”. Isso, pelo menos, é verdade.
“Ok, vamos acabar logo com isso?”. Kaia cruza os dedos. “Estou
rezando para dar negativo, Scarlett”.
Engulo em seco e faço que sim, tirando o teste de dentro da
sacola. “Já volto”. Entro no banheiro e abro o teste, antes de fazer
xixi em cima do palito. É uma sensação nojenta colocar a tampinha
de volta. Então, olho para a telinha digital e espero para ver o
resultado.
Sessenta segundos nunca demoraram tanto para passar. Quando
vejo a cruzinha aparecer, sinto meu coração parar.
Grávida.
Fico olhando para o teste por tanto tempo que perco a noção do
tempo. E, então, Kaia bate na porta. “Scarlett. Tudo bem?”.
“Na verdade, não”, resmungo.
Ela abre a porta e olha para mim. “Cacete. Deu positivo. Não é?”.
Faço que sim, sentindo o peso de tantas emoções me
esmagarem. Meus olhos se enchem de lágrimas.
Ela se aproxima rapidamente e me puxa para dar um abraço bem
apertado. “Não se preocupe. Vai dar tudo certo. Nós vamos resolver
isso”.
Sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, enquanto abraço
minha amiga, grata por sua presença. Saber disso sem tê-la aqui
teria sido muito mais difícil. Tenho três dias até que Malachy venha
me buscar – três dias para resolver isso.
18
MAL ACHY

F az seis dias que estou em Salem e não consigo deixar essa


porcaria de lugar.
Os italianos estão deixando tudo mais difícil do que esperávamos,
mas estamos nos aproximando da captura deles.
Cada lote de drogas que eles enviam para o porto é transferido
de um caminhão para o outro, pelo menos três vezes ao longo do
caminho, tirando todo o carregamento de Boston por um tempo. É
uma medida sagaz, mas nós temos todo o tempo do mundo.
Embora isso não seja completamente verdade. Quanto mais
tempo levar, mais tempo longe de Scarlett vou ficar. Ela é a única
coisa em que penso na maior parte do tempo, o que é bem irritante.
Estou tentando lutar, e só consigo pensar nessa mulher.
Já digitei várias mensagens para ela e acabo deletando. Se ela
souber que penso nela o tempo todo, vou tornar isso real.
Odeio o fato de termos começado a explorar uma nova dinâmica
um com o outro e termos tido que nos separar no dia seguinte.
“Chefe, queremos pegá-los esta tarde. O que você acha?”, Aiden
pergunta, olhando para mim.
Eu viajei nesta reunião o tempo todo. Seamus, Cormac e Brandon
estão olhando ansiosamente para mim.
“Se vocês acham que é melhor”. Eles parecem um pouco
surpresos com a minha falta de participação, porque geralmente eu
controlo tudo.
Brandon faz que sim. “Nós concordamos. Vamos pegá-los e voltar
para Boston”.
“Sim. Quanto mais tempo ficarmos em Salem, mais provável será
que os italianos descubram o que estamos tramando”, Cormac diz.
Eu estralo o pescoço. “Eu deveria ter matado Milo Mazzeo,
quando tive a chance”.
Aiden limpa a garganta. “Não sei se seria uma jogada inteligente,
senhor. Você sabe que Milo é vital para manter a estabilidade na
cidade”.
Ele me lembra muito Niall, sempre a voz da razão, acalmando
minha raiva e me fazendo perceber a situação geral. Eu dou um
tapinha nas costas dele. “Você está certo, cara. Eu odeio esses
italianos do caralho”.
Seamus dá risada. “Não é só você”.
“Quando vocês estão pensando em atacar? Nós estamos
esperamos um carregamento esta noite, mas não podemos atacar o
cais, porque é um território que pertence aos russos”.
Aiden concorda. “Sim, não podemos fazer nada em Salem, mas
podemos seguir o caminhão para fora dos limites da cidade”. Aiden
dá de ombros. “E assim os acertamos em cheio”.
Cormac limpa a garganta. “Estão dizendo pela cidade que esse é
o maior carregamento deles, desde quando começaram a operar
pelo porto de Salem. Dois contêineres de mercadoria, o que significa
dois caminhões para sair”.
“De quantos homens vamos precisar para fazer isso? Não quero
que dê tudo em merda como da última vez”.
Seamus balança a cabeça. “Não vai dar, chefe. Vamos com oito
caras em cada caminhão. Eles devem ter alguns caras a bordo, mas
não o bastante para vencer um ataque surpresa”.
Espero que ele esteja certo. A última coisa de que nós
precisamos agora é cometer outro erro. Os italianos estão à frente de
seu jogo. Além disso, dizem que Milo será nomeado conselheiro da
cidade a qualquer momento. Isso vai dificultar as coisas, porque ele
poderá nos atingir politicamente.
Nós precisamos estar à frente de tudo, e esse é o melhor lugar
para começar. Dois contêineres de cocaína não vão atingir muito os
italianos, mas vai mexer com seu ego inflado.
“Quem você vai enviar?”, pergunto.
Cormac limpa a garganta. “Aiden e eu vamos mandar seis dos
nossos melhores homens atrás do primeiro”. Ele faz um gesto com a
cabeça em direção a Seamus. “Seamus e Brando vão levar outros
seis atrás do segundo. Confia em mim, chefe, nós vamos conseguir”.
Não consigo evitar a sensação de que tudo deu errado
ultimamente, então, é difícil acreditar que isso vai dar certo.
“Ok, então vou voltar à cidade”. Eu balanço a cabeça. “Não quero
estar aqui, se tudo der errado”. Minha mente se volta imediatamente
à Scarlett e a vê-la novamente. “Quero que me mantenham
informado”.
Aiden concorda. “É claro, senhor. Vou fornecer as atualizações,
assim que tivermos”. Ele estica a mão para mim, e eu a seguro.
“Cuidado, pessoal”, digo, antes de dar as costas aos meus homens e
deixá-los no galpão abandonado que nós alugamos perto de Salem.
Quando saio do galpão em direção ao estacionamento, sei que
minha fuga ágil não tem nada a ver com a possibilidade de as coisas
darem errado.
Terminamos tudo com um dia de antecedência, e estou
desesperado para ver meu amor. Destravo a porta do velho Mustang
que comprei para usar como disfarce aqui. Qualquer um dos meus
carros esportivos clássicos americanos seriam reconhecíveis demais
aqui.
Milo Mazzeo não esteve em Salem, porque ele está ocupado
demais com sua campanha política. Porém, seu segundo homem em
comando, Piero, foi visto diversas vezes. Pessoas importantes de
sua organização estão aqui. É um mau sinal, mas sei que meus
homens são competentes.
Se eles matassem o capo de Milo, isso seria um bônus na minha
reputação.
Saio do estacionamento em direção à rodovia, desesperado para
dar o fora de Salem logo. Desde que cheguei à cidade, tenho um
mau pressentimento do qual não consigo me livrar.
Os italianos são espertos. Não consigo fazer nada além de
manter a esperança de que desta vez nós estamos um passo à
frente deles.
Scarlett não espera que eu apareça à sua porta hoje à tarde, mas
não estou nem aí.
Faz quase duas semanas que a vi pela última vez – tempo
demais. Está claro que estou louco pela minha putinha submissa. Ela
tem ocupado toda minha atenção, quando eu deveria focar na
guerra.
Sei que arrastá-la de volta à minha casa significa,
essencialmente, arrastá-la às linhas de frente, mas sou egoísta
demais para não a trazer para perto de mim. Além do mais, Milo não
é burro a ponto de se vingar na minha casa, pois ele teria muitas
baixas. O lugar é como Fort Knox.
Significa que precisarei manter Scarlett na minha casa, já que
Milo viu seu rosto.
Uso o Bluetooth para ligar para o restaurante mais chique na
cidade, chamado Rare.
“Olá, como posso ajudá-lo?”, um homem pergunta.
“Aqui é Sr. McCarthy, e preciso de uma mesa para esta noite”.
Depois de um momento de silêncio do outro lado, ele passa o
telefone para alguém. “Boa tarde, Sr. McCarthy. É claro que
poderemos acomodar o senhor e seus convidados. Uma mesa para
quantas pessoas?
Sorrio maliciosamente, pois não existem muitas pessoas nesta
cidade que conseguem uma reserva de última hora neste lugar.
“Uma mesa para duas pessoas, por favor, às sete”.
“É claro. Até mais tarde”.
“Obrigado”. Eu termino a ligação e me concentro na direção ao
entrar na rodovia.
Percebo que tem um carro de luxo escuro me seguindo na via de
acesso. Está me seguindo há algumas quadras. Assim que entro na
rodovia, fico incomodado. Monitoro o carro e dirijo pela rodovia até
sair para o centro de Boston.
Assim que sinalizo que vou pegar a saída, o carro me segue. Não
pode ser simplesmente uma coincidência.
Há um semáforo saindo da via de acesso, e ele está vermelho.
Vou diminuindo a velocidade, como se pretendesse parar. De
repente, acelero e passo pelo semáforo, desviando de alguns carros
que vêm da direção oposta.
Eles buzinam. Quando olho pelo retrovisor, o carro está me
seguindo.
“Filhos da puta”, solto, acelerando ainda mais e pegando a
primeira à esquerda, chegando a uma pequena rua lateral. Se eles
acham que essa merda de carro de luxo pode ultrapassar um
Mustang, mesmo que um Mustang ruim, eles estão muito
enganados.
Faço várias curvas fechadas pelos becos estreitos. E eles
continuam me seguindo. Sinto um frio na barriga, quando escuto um
tiro bater no carro. Ainda bem que eu não estava em um dos meus
carros favoritos e sim em um carro velho todo acabado que peguei
há uma semana. Milo já destruiu meu carro favorito.
O carro de luxo está acompanhando melhor do que eu esperava.
Percebo uma curva bem acentuada se aproximando e sei que é
minha única chance de despistá-lo.
Mantenho a direção até o último segundo e, então, deslizo o carro
para o lado. Assim que o carro volta a ficar reto, piso no acelerador e
vou em direção ao beco.
O carro que está me perseguindo não consegue acompanhar e
passa a entrada.
Não perco a concentração e sei que se eu fizer qualquer coisa
errada, eles podem me pegar.
As próximas três entradas que pego são ruelas estreitas que
ficam separadas das vias principais.
Depois de alguns minutos, não há vestígio nenhum do carro preto
que estava me perseguindo. Pego estradas vicinais até o
apartamento de Scarlett e estaciono perto de um beco lateral. Assim
que estaciono, ligo para Aiden para avisá-lo sobre a perseguição
esquisita perto de Salem. Tenho certeza absoluta de que eram os
italianos.
“Malachy, está tudo bem?”, Aiden pergunta.
“Sim, só estou ligando para avisar que alguém me perseguiu de
Salem até Boston. Foi um pouco difícil me desvencilhar de quem
quer que fosse”.
“Merda”, diz Aiden. “Você acha que eles sabem dos nossos
planos para atacar a embarcação?”.
Balanço a cabeça, embora ele não possa me ver. “Não, eu acho
que eles me reconheceram e me seguiram”.
Aiden suspira, aliviado. “Vamos esperar que sim. Mas obrigado
pelo alerta, senhor”. Ele limpa a garganta. “Darei maiores
atualizações, assim que eu puder”.
Termino a ligação e ligo para Mick, meu motorista.
“Senhor, como posso ajudá-lo?”, ele diz ao atender.
“Você pode me encontrar na casa da Scarlett, assim que possível,
por favor?”.
Posso escutá-lo caminhando depressa. “É claro. Não esperava
que o senhor voltasse até amanhã”.
“Contanto que você não esteja bêbado, venha logo para cá”.
Ele ri. “Não estou bêbado. Não se preocupe, chefe. Chego em
uns quinze minutos”.
“Até já”. Desligo e saio do Mustang.
Uma floricultura na frente do prédio de Scarlett chama minha
atenção. Depois de deixá-la por duas semanas, o mínimo que posso
fazer é lhe dar flores.
Entro na loja, e a atendente atrás do balcão olha para mim de
uma maneira esquisita.
A combinação do terno com a tatuagem geralmente causa
olhares esquisitos mesmo. Acrescente a barba, e as pessoas não
param de encarar.
Fico bravo, mas deixo passar desta vez. Há uma grande
variedade de buquês prontos, e um deles chama a atenção. Uma
mistura de flores brancas, azuis e vermelhas. O azul me lembra os
olhos de Scarlett. O vermelho, seu cabelo flamejante. E o branco,
sua inocência pura.
“Vou levar um desse, por favor”, digo, apontando para o buquê
grande.
A mulher franze as sobrancelhas e pega as flores escolhidas.
“Setenta e cinco dólares. Tudo bem?”.
Quase viro os olhos para ela. “Sim, obrigado”. A última coisa que
desejo é fazer um escândalo em uma loja na frente da casa de
Scarlett.
Aqui parece o tipo de vizinhança onde todo mundo se conhece.
Pago pelo buquê com meu cartão do banco antes de atravessar a
rua para o apartamento dela.
Scarlett mexeu demais comigo. Eu sei que não há nada que eu
possa fazer para mudar essa situação.
A questão é: como eu coloco a ideia para ela de nunca mais
deixá-la ir embora?
Comprei sua virgindade, da qual usufruí. Não há motivos para
forçá-la a ficar, mas ela não me questionou.
Só posso esperar que ela permita que isso continue assim para
sempre. A alternativa não é boa.
Meu lado negro não me permite deixá-la ir embora. Se eu quebrar
sua confiança, ela jamais olhará para mim da mesma forma.
19
S C A R LE T T

E stou sentada no sofá, esperando minha mãe voltar de sua


viagem com Frank. Eles estão atrasados, porque Frank a
surpreendeu com um piquenique romântico no almoço.
Estou aliviada por ela não estar sozinha, principalmente porque
preciso voltar para Malachy. Só Deus sabe por quanto tempo.
A campainha toca, e eu franzo as sobrancelhas. Será que minha
mãe esqueceu a chave de novo? Ela faz isso com mais frequência
do que deveria.
Estou levantando, quando a campainha toca de novo. “Já vai”,
digo, abrindo a porta.
Meu coração dá um pulo, quando vejo Malachy do outro lado. Ele
está segurando um buquê de flores vermelhas, brancas e azuis. “Oi,
meu amor”.
Estou chocada por ele aparecer do nada um dia antes do
combinado, principalmente porque minha mãe poderia estar em
casa. “O que você está fazendo aqui?”.
Malachy parece irritado com minha pergunta. “Voltei mais cedo e
gostaria de levar você para jantar”. Ele está usando um terno bom,
mas não sei como eu poderia explicar Malachy para minha mãe. Ela
pode chegar a qualquer momento.
“Minha mãe vai voltar a qualquer momento, e nós vamos passar a
noite juntas”.
Ele balança a cabeça. “Não foi exatamente uma pergunta,
Scarlett”. Ele faz um gesto em direção ao apartamento. “Vista-se
para ir jantar”.
Olho com fúria dentro dos olhos verde-esmeralda do homem, cujo
filho estou gerando. Cada decisão idiota que tomo desde aquele
leilão leva à outra decisão idiota.
“E se eu me recusar?”, pergunto.
Os músculos da mandíbula de Malachy estão tensos. “Você está
sendo uma garota desobediente, Scarlett?”. Vejo uma insinuação de
tesão em seus olhos, o que significa que minha rebeldia só faz seu
desejo aumentar.
Eu balanço a cabeça. “Você não escutou o que eu disse? Minha
mãe vai chegar a qualquer momento. Como eu explicaria sua
presença a ela?”.
Ele ri. “Diga à sua mãe que eu sou um cara que você conheceu
que a convidou para jantar. É tão difícil assim?”.
O som do elevador chegando no nosso andar faz meu coração
parar. Minha mãe e Frank estão de volta.
“Tudo bem, entre e espere aqui dentro”. Agarro seu braço e o
puxo para dentro, sabendo que ele não irá embora,
independentemente do que eu diga.
Certifico-me de que ele esteja sentado, quando minha mãe chega
à porta. Ela abre e para, quando vê Malachy sentado no sofá.
“Desculpa, Scarlett. Não sabia que você tinha companhia”.
Eu balanço a cabeça. “Tudo bem. Íamos jantar esta noite, mas
me lembrei que nós tínhamos combinado de passar a noite juntas.
Não tínhamos?”.
Minha mãe faz um gesto com a mão, como quem dispensa uma
ideia. “Que nada. Você passou tempo suficiente com a chata da sua
mãe essa semana. Já era hora de você sair e se divertir um pouco”.
Ela sorri.
Obrigada por me salvar, mãe.
“Quem é seu amigo?”, ela pergunta, vindo em nossa direção.
Malachy se levanta. “Meu nome é Malachy. É um prazer conhecer
você”. Ele estende a mão, e minha mãe a segura.
“É verdade. É um prazer conhecer você. É a primeira vez que
minha filhota traz um garoto em casa”. A atenção dela se volta ao
buquê nas mãos dele. “Que flores lindas. Posso colocar em um
vaso?”.
Malachy sorri. “Sim, eu as comprei para Scarlett”.
“Bom. Vou me arrumar. Já volto”. Vou para meu quarto, bato a
porta e me apoio sobre ela.
Mas que merda passou pela cabeça de Malachy em aparecer
aqui?
Eu estava animada com uma noite com minha mãe. A última noite
até que Malachy decida me libertar da situação estranha na qual me
meti.
Suspiro profundamente e atiro meu suéter e calça de moletom
sobre a cama antes de trocar meu look de vovó por algo mais
sensual.
Eu gostando ou não da ideia, hoje nós vamos acabar transando.
Não passamos uma noite juntos sem que ela termine em sexo,
então, já sei que hoje não será diferente.
Coloco minha calça preferida, uma blusa chique de lantejoulas
douradas e tênis confortáveis.
Passo uma mão pelo cabelo para me certificar de que está
apresentável. Minha maquiagem está sutil, mas é assim que eu
gosto dela. Assim que me certifico de que estou bonita o suficiente
para que Malachy não consiga tirar as mãos de mim, volto para a
sala.
Meu coração para, quando vejo minha mãe rindo de algo que
Malachy disse. Os dois estão sentados juntos no sofá, batendo papo
com toda a naturalidade do mundo.
Claro que minha mãe não sabe da verdade, mas Malachy sim.
Ele comprou minha virgindade e agora está sentado como se fosse
um cara real que vai me levar para jantar fora. É ridículo.
Limpo a garganta. “Estou pronta, Malachy”, digo, em tom sério.
Ele vira e olha para mim. Seu sorriso desaparece do rosto. “Sem
querer ofender, nós vamos a um restaurante bem elegante”. Ele
passa a mão pela nuca como se estivesse preocupado com o
comentário. “Acho que você se sentiria um pouco mais confortável
em um vestido, pois esse é o traje lá”.
Minha mãe concorda. “Sim, ele me disse aonde vocês estão indo,
e você precisa de um bom vestido”. Ela se levanta. “Que tal se eu
ajudasse você a escolher um, coração?”.
Olho furiosa para Malachy, e meu desejo é que ele me deixasse
sozinha. “Tudo bem”.
Minha mãe corre até meu quarto antes de mim, e eu vou atrás e
fecho a porta. “Ele parece um ótimo rapaz. Onde você o conheceu,
Scarlett?”.
Eu balanço a cabeça. “Eu saí, e ele me convidou para jantar”. Eu
cruzo os braços e desejo que minhas mentiras intermináveis
chegassem a um fim. É mentira seguida de mentira, desde que
conheci Malachy.
É ridículo o fato de minha mãe achar que ele é um cara legal,
mas tem estado muito cega, quando se trata de como as pessoas
são de fato.
Eu acho que começou com meu pai, mas ela não é muito boa na
análise de caráter das pessoas também. A melhor amiga dela de
cinco anos de amizade roubou todas as economias dela cerca de
três anos atrás e sumiu. Nunca mais a vimos.
“E esse vestido?”, minha mãe diz, segurando um dos vestidos
mais sensuais que existem que tem um decote imenso. Um vestido
que Kaia me fez comprar, mas que nunca usei.
Faço que não. “Acho que é apelativo demais”.
Minha mãe suspira. “Coração, sei que você está meio insegura
quanto a se aproximar de alguém, depois do que você passou
quando era pequena”. Ela agarra minha mão e me puxa para a
beirada da cama. “Acredite em mim, eu imagino como deve ser difícil
para você, mas você precisa deixar alguém entrar”. Ela sorri.
“Malachy parece ser um bom rapaz, e você deve a si mesma uma
chance”.
Eu faço que sim. “Eu sei, mãe. É só que é difícil para mim confiar
nas pessoas”. Se ela ao menos soubesse a verdade sobre o homem
que está sentado no nosso sofá.
“Bom, agora coloque o vestido”.
Suspiro profundamente e tiro minha calça e minha blusa,
colocando o vestido em seguida. “Você pode fechar o zíper?”.
Minha mãe faz que sim e fecha meu zíper, suspirando ao olhar
para mim por cima do meu ombro no espelho. “Você está
maravilhosa, coração”. O sorriso dela faz minha culpa voltar com
tudo. “Estou tão orgulhosa”.
Quero dizer a ela que ela não deveria se sentir orgulhosa, não
depois do que eu fiz. É uma idiotice pensar que posso esconder a
verdade dela para sempre. Assim que Malachy me libertar, vou
contar tudo para ela.
De que outra maneira eu poderia explicar dois milhões de dólares
na minha conta?
Apesar de tudo, eu gostaria de ter conhecido Malachy em outras
circunstâncias. Meu coração quase saiu do meu peito, quando o vi
parado à porta segurando aquelas flores.
Isso faz com que eu deseje um relacionamento que nunca existiu.
Nenhum relacionamento sério nasce da maneira bizarra como nos
conhecemos, isso é certeza.
“Que sapato coloco?”, pergunto, olhando para meus pés
descalços. Odeio salto e não tenho nenhum sapato com salto.
“Que tal esse?”. Minha mãe está segurando um par de sandálias
elegante.
Eu faço que sim. “Pode ser”. Encaro minha mãe ao dizer isso. “É
claro que amanhã vou voltar a Nova York. Pode ser que eu não te
veja de manhã”.
Minha mãe me puxa e me dá um abraço apertado. “Boa sorte
com a produção. Tenho certeza de que você vai arrasar”. Sinto minha
garganta fechar, quando percebo como vai ser horrível quando eu
contar tudo a minha mãe sobre Malachy e o leilão.
“Obrigada”, eu murmuro e, então, me afasto. “É melhor eu ir
indo”. Passo pela porta e encontro Malachy encostado na parede.
Ele arruma a postura ao me ver, e seus olhos me medem de uma
maneira lenta e predadora que me deixam toda arrepiada. “Você está
maravilhosa, amor”.
“Está, né?”, minha mãe diz com orgulho. “Divirtam-se os dois”.
Com relutância, seguro o braço esticado de Malachy, permitindo
que ele me conduza para fora do apartamento.
Malachy vira para mim, quando entramos no elevador. “Sua mãe
parece bacana. Não sei com que você estava tão preocupada”.
Eu viro os olhos e dou uma olhadinha de relance para ele. “Não
era com minha mãe que eu estava preocupada. Era com você”.
Ele segura meu quadril e me empurra contra a parede do fundo.
“Senti sua falta, minha linda”. Sinto a pressão de seu pau duro,
quando ele se esfrega em mim. “Não aja como se não tivesse
sentido minha falta também”.
Fico tensa e olho bem nos olhos dele. “Não senti”.
“Mentira”, ele diz, me provocando com a mão no meu pescoço,
apertando minha garganta. “Você sentiu tanta falta de mim quanto eu
de você”. Ele passa uma mão pela minha coxa exposta e enfia um
dedo dentro da minha calcinha.
Estremeço quando seu dedo toca minha boceta sensível e
molhada. “Não, eu não ...”.
Malachy desliza um dedo para dentro de mim, deixando-me
incapaz de completar minha frase. “Lembre-se, meu amor. Não gosto
quando você mente para mim”, ele sussurra no meu ouvido,
mordendo meu lóbulo de leve. “Você está toda encharcada para
mim”.
Sinto meu corpo todo reagir a seu calor, seu vigor. Tudo a
respeito de Malachy é embriagante. Sua dominação me deixa
maluca.
“Vai, linda, me fala a verdade. Você sentiu minha falta?”, ele
pergunta de novo, olhando nos meus olhos.
Eu faço que sim. “Sim, mestre”, respondo, sentindo que estou
sendo puxada sem dificuldade alguma para dentro de sua armadilha
escura e perigosa. Sempre que ele está perto de mim é a mesma
coisa.
Ele sorri. “Isso mesmo, meu amor”. Ele me beija com paixão,
fazendo meu corpo todo derreter.
A conexão entre nós é impossível de resistir, não importa o
quanto eu saiba que eu deveria.
Não estou mentindo apenas para minha mãe, mas estou
escondendo um segredo do homem por quem me apaixonei. Um
segredo sobre o qual não sei o que fazer.
Kaia acha que eu deveria abortar, mas não concordo com ela
absolutamente.
O pensamento de me livrar de uma versão reduzida de Malachy e
de mim me deixa triste, mas não consigo entender por quê.
Talvez seja porque sinto falta de algo mais profundo entre nós.
Um relacionamento genuíno, onde ele não esteja me mantendo
cativa, porque ele me pagou uma quantia absurda de dinheiro.
Acho que uma garota pode sonhar, embora o sonho nunca se
torne realidade.
20
MAL ACHY

H á tensão entre nós, desde que saímos do apartamento


dela.
Eu sei que é porque ela está imaginando quando vou libertá-la.
É claro que só passamos duas semanas juntos até agora, mas
provavelmente seja tempo bastante da perspectiva dela.
Eu a forcei a dizer que sentia minha falta, mas não tenho certeza
se é a verdade.
Quando a deixei antes desta guerra entrar em combustão, nossa
relação estava tranquila. Agora nossa relação está tensa.
“O que você vai pedir?”, pergunto, com os olhos nela.
Ela mal tirou os olhos do cardápio, desde que nos sentamos.
“Não sei. O que você sugere?”.
Eu sorrio para ela. “Bom, já que é uma churrascaria, eu
recomendaria um bife, entre malpassado/ao ponto, com o molho de
queijo gorgonzola”.
Ela franze o nariz. “Gorgonzola? Não, obrigada. Quem é que
gosta de comer queijo embolorado?”.
Dou risada. “Eu. É muito delicioso, e todos os queijos são
embolorados. Só porque você não vê, não quer dizer que não esteja
ali”.
Ela balança a cabeça. “Eu vou de salmão”.
Eu pressiono o maxilar. Estou irritado por ela ter ignorado minha
sugestão do bife. “Tem certeza? Acho que você vai se arrepender por
não pedir um bife aqui. Eles são divinos”.
Ele estreita os olhos e me encara. “Não gosto muito de bife”.
Eu percebo que ela está bancando a difícil de propósito, tentando
irritar. “Ah, é? Bom, talvez eu precise ensinar para você como
apreciar um bife”.
Ela morde o lábio inferior de um jeito que me faz querer levantar,
ir até ela e pegá-la bem ali, no meio do restaurante. Meus desejos
estão fora de controle, desde que nos conhecemos.
O garçom se aproxima. “O que vão querer?”.
Scarlett abre a boca para falar, mas eu a interrompo.
“Dois dos seus melhores bifes, malpassado/ao ponto. Um com
molho de queijo gorgonzola, e o outro com molho de pimenta, por
favor”.
Ela franze as sobrancelhas e abre a boca para protestar.
“Também queremos um salmão em croute”.
O garçom parece confuso. “Vocês vão dividir?”, ele pergunta.
Eu faço que sim. “Sim”.
Scarlett dobra os braços e encosta na cadeira, com a fisionomia
aflita. “Não sei como você acha que vou comer um bife e metade do
salmão”.
Eu balanço a cabeça. “Eu não espero que você faça isso”. Dou
um gole no meu uísque, olhando para ela sobre a borda do copo.
“Você pode comer o que quiser. Podemos levar para casa o que não
comermos aqui”.
Ela arregala os olhos quando menciono casa. “Onde é que seria
isso?”, ela pergunta.
“Eu não tinha mencionado isso ainda, mas pensei que seria óbvio
que eu pretendia levar você para a minha hoje”.
Ela faz que sim com a cabeça. “Ok”.
Estou surpreso por ela não ter criado resistência. “O que é que
você andou fazendo, desde quando te vi pela última vez?”.
Scarlett suspira. “Nada de mais. Está tudo entediante, já que não
tenho mais emprego”.
“Você gostou de passar um tempo com sua mãe?”.
Ela faz que sim com a cabeça. “Sim, os médicos dizem que ela
está indo muito bem, e eles acham que ela já está se curando
completamente”. Scarlett sorri, e esse é seu primeiro sorriso genuíno,
desde que a peguei em casa.
“É a primeira vez que vejo você tão positiva em um bom tempo”.
Seus olhos encontram os meus, e sinto como se uma faísca
queimasse entre nós. “Isso tudo é graças a você”.
Eu engulo em seco. “Você quer dizer por eu ser um filho da puta
pervertido que dá lances em virgens em leilões?”.
Seu olhar fica mais duro, e ela faz que sim. “Basicamente”.
Eu sei que ela quer que eu aceite o agradecimento dela, mas eu
não fiz nada. Ela mesma se inscreveu no leilão. Se eu não tivesse
dado um lance, ela ainda assim teria conseguido salvar sua mãe. Ela
provavelmente estaria de volta à sua rotina.
Embora alguns caras que dão lances em virgens geralmente
precisem enterrar as meninas. Já ouvi isso mais de uma vez.
É doentio pensar que alguns desses caras acabam matando as
meninas. Eu sei que sou meio doido, mas nunca matei uma virgem.
“O que você andou fazendo?”, ela pergunta e dá um gole em sua
água. É estranho o fato de ela nem ter tocado na taça de vinho que
pedi para ela.
“Trabalhando muito para impedir que Milo atinja o que há de
melhor em mim”. Passo a mão na nuca, sentindo a tensão em meus
ombros aumentar só de pensar no assunto. “Os italianos estão
provando que são oponentes fortes no tranco”.
Ela franze as sobrancelhas. “Então, por que você está aqui
comigo hoje?”.
Eu suspiro. “Porque finalmente encontramos uma maneira de
atacá-los, e meus homens estão fazendo isso hoje”. Meu celular
toca, como se falar sobre meus homens os invocasse.
“Missão cumprida com êxito, mas tivemos alguns feridos”, diz
Aiden.
Estou grato por saber a parte do êxito. “Alguma fatalidade entre
os nossos?”.
Aiden fica em silêncio. “Ainda não. Esperamos que alguns poucos
ferimentos não se tornem questão de vida ou morte”.
“Ótimo. Me mantenha informado. Ótimo trabalho, Aiden”. Eu
desligo. “Desculpe, era um dos meus homens”.
“Parece que as notícias são boas”, Scarlett diz.
Entorno o resto do meu uísque e bato o copo na mesa. “Sim, mas
o que não é muito bom é essa distância repentina entre nós, linda”.
Levanto e sento ao lado dela. “Você está brava comigo?”.
Scarlett não olha nos meus olhos. Está com os olhos fixos em seu
próprio colo. “Não, eu só ...”. Ela hesita e não termina o que ia dizer.
Eu pego sua mão. “Olhe para mim, Scarlett. O que foi?”.
“Nada”. Ela balança a cabeça. “Só não entendo o que está
acontecendo entre nós”.
“Então somos dois, amor”. Passo a mão pela coxa dela. “Será
que nós não podemos curtir juntos, sem pensar nisso?”.
Scarlett parece um pouco decepcionada sobre minha sugestão de
varrer a questão para baixo do tapete. “Claro”.
O garçom volta com nossa comida, limpando a garganta. “Dois
bifes e um salmão en croute, senhor”.
Levanto e caminho para o meu lado da mesa. “Isso, obrigado”.
Pego meu copo vazio. “Outro uísque irlandês, por favor, meu caro”.
Ele pega o copo vazio e vai embora para buscar outra dose.
Diante da maneira como Scarlett está agindo, vou precisar de mais
meia garrafa de uísque para aguentar a noite.
“Por que você não está bebendo seu vinho?”, pergunto,
percebendo que ela ainda não tocou em sua taça.
Ela fica vermelha e balança a cabeça. “Eu não estou a fim de
beber hoje”.
De repente me vem à cabeça que ela pode ter saído em alguma
das noites em que esteve em casa. Por que outro motivo alguém não
gostaria de beber?
“Espero que você não tenha saído para beber enquanto estive
fora, Scarlett”.
Ela se ajeita na cadeira e olha nos meus olhos. “E se eu tiver?”.
Sinto uma fúria possessiva contagiar meu sangue só em imaginá-
la sendo apalpada ou dançando com outros homens em uma balada.
“Eu vou ficar bravo”.
Scarlett vira os olhos, aumentando ainda mais a posse dentro de
mim. “Não seja idiota. Você não estabeleceu nenhuma regra antes
de me abandonar em casa”.
Eu resmungo e bato o punho na mesa, e ela leva um susto.
“Scarlett, me fala a verdade. Você saiu com outros homens enquanto
estive fora?”.
Ela arregala os olhos e me encara como se eu fosse louco – e
talvez eu seja. “Não, por Deus”. Ela balança a cabeça, descrente.
“Não quero beber. Estou cometendo um crime por acaso?”.
Respiro fundo, tentando controlar minha raiva que vem em uma
onda crescente. Posso sentir que algo mudou entre nós desde a
última vez em que estivemos juntos.
Se outro homem tiver se apossado do coração dela, terei que
matá-lo. Não vou suportar ver alguém roubar minha mulher de mim.
“Você comprou alguma virgem enquanto eu estava em casa?”,
ela pergunta, em um tom de sarcasmo.
Encaro-a com os olhos entreabertos e ignoro a pergunta. “Coma
sua comida, antes que esfrie”.
Ela enfia o garfo no bife e coloca um pedaço pequeno na boca,
inabalável pelo meu acesso de raiva. “É um belo de um bife, embora
eu não goste muito de bife”.
Sinto um pouco da minha raiva se dissipar. “Eu disse que era
bom, amor”.
Scarlett arregala os olhos ao olhar para algo atrás de mim. “Esse
não é o cara do restaurante italiano?”, ela pergunta.
Olho de relance para trás e vejo Milo examinando o restaurante.
Não tenho dúvida de que está procurando por mim. Como ele sabe
que estou aqui, jamais vou saber.
Talvez eles tenham um rastreador no carro de Mick.
Eu me escondo embaixo da mesa. “Abaixe, amor”.
Scarlett não me questiona e entra também embaixo da mesa,
com os olhos ainda arregalados. “Estamos correndo perigo agora,
não estamos?”, ela pergunta, com a voz bem baixinha.
“Fique quieta, e tudo vai ficar bem”. Não sei disso de fato. Depois
das merdas que meus homens fizeram com os carregamentos dele,
Milo não será muito piedoso, se nos encontrar.
Penso rápido, tentando formular o melhor plano. Milo é um filho
da puta e não vai ter nenhum problema em fazer um escândalo em
público.
O cara é desumano. E não vou deixá-lo colocar as mãos em
Scarlett. Não teria como ele achar que a ver duas vezes comigo é
uma coincidência. Ele vai querer machucá-la da maneira como eu
machuquei a esposa dele.
“O que nós vamos fazer?”, Scarlett pergunta.
Passo uma mão pela barba. “Talvez sair correndo do
restaurante?”, sugiro.
Scarlett faz que sim. Estamos perto dos fundos. “Quer que eu
veja onde Milo está?”.
Eu balanço a cabeça. “Deixa comigo”. Viro e enfio a cabeça para
fora da mesa o suficiente para poder examinar o restaurante, e o
encontro do outro lado. “Essa é nossa melhor chance”. Pego sua
mão. “Está pronta?”.
Scarlett faz que sim, e eu me levanto e a puxo comigo.
Nossa fuga é rápida e silenciosa, pela porta dos fundos, e quando
a abrimos, quase colidimos com uma garçonete.
Ela dá um grito, e eu me esquivo dela rápido, pois sei que o som
chamaria a atenção de Milo.
“Anda logo, Scarlett. Ele vai vir atrás da gente agora”.
Scarlett solta minha mão, e nós dois corremos em direção à saída
de incêndio no fundo da cozinha. Vou na frente, derrubando as
pessoas ao passar. Meu coração está batendo forte a mil quilômetros
por hora.
Pensando bem, ter saído para jantar na noite em que meus
homens estavam roubando uma porrada de cocaína foi uma péssima
ideia. Pelo menos, agora eu sei que tem algum vazamento de
segurança ligado ao carro de Mick.
O alarme de incêndio dispara, assim que passo pela porta. Olho
para trás para verificar se Scarlett está atrás de mim.
Entro em pânico, quando vejo Milo entrando na cozinha do
restaurante. Seus olhos estão frenéticos. “McCarthy, pare”, ele grita.
Não sei ao certo por que esse idiota está me perseguindo, pois na
última vez que nos vimos, ele acabou apanhando e levou um tiro. A
única razão pela qual estou correndo é porque estou com Scarlett.
Não vou colocá-la em risco em uma situação tão perigosa.
Assim que Scarlett passa, bato a porta de incêndio e agarro sua
mão. “Rápido, precisamos achar um táxi logo”.
Descemos a rua em direção a um táxi que está com a luz acesa.
Abro a porta e empurro Scarlett para dentro antes de entrar. “Nós
precisamos ir a Beacon Hills”.
O taxista assente. “Sem problemas. Qual é o endereço?”.
Digo a ele o endereço e relaxo no mesmo instante, quando sinto
o táxi andar, grato por termos conseguido fugir.
Quando olho pela janela traseira, vejo Milo olhando para todas as
direções. Ele atira algo no chão com raiva, pois sabe que nos
perdeu.
Tiro o meu celular de dentro da jaqueta e digito uma mensagem
para Mick.

S . Deixe-o em qualquer
canto e volte para a base.

I . Não vou arriscar


Scarlett assim. Não enquanto esta guerra estiver em ação.
21
S C A R LE T T

F ico enjoada, quando finalmente chegamos à casa de


Malachy – tão enjoada que tenho certeza de que vou
vomitar.
Não deu outra: no momento em que saio do táxi, vomito na
calçada. Malachy paga ao taxista, que comenta que eu sou muito
educada por ter esperado sair do táxi.
Malachy me agarra e me ajuda a chegar até o portão. “Você está
bem?”.
Eu dou de ombros. “Sim, acho que é a adrenalina que mexeu
comigo”, minto, sabendo que pode muito bem ter a ver com o bebê
que estou gerando.
O pensamento de contar a ele sobre o bebê me deixa mais
enjoada ainda. Sinto meu estômago revirar e acho que vou vomitar
de novo.
“Você está pálida, Scarlett. Talvez você precise comer algo”,
Malachy sugere.
“Infelizmente, nosso jantar caro ficou na mesa do restaurante”.
Malachy dá risada. “Não se preocupe. Vou pedir comida. O que
você quer?”.
Penso sobre o que eu poderia segurar no estômago nesse
momento, e não parece ser muito. “Pizza?”, pergunto.
Malachy faz que sim. “Você é quem manda, querida”. Ele me
ajuda a entrar e me leva até um corredor, no qual nunca estive antes.
Uma porta à direita dá acesso a um pequeno cômodo
aconchegante com uma grande televisão em uma ponta e um grande
sofá fofinho na outra. “Milo estragou nosso encontro, mas sei que
ainda vamos aproveitar a noite, meu amor”.
Odeio o frio na barriga que sinto, quando ele me chama de meu
amor.
“Sente e trate de descansar. Vou pedir comida para a gente e
pegar bebida”.
Seguro sua mão no mesmo momento. “Não quero nada com
álcool, por favor”. Eu balanço a cabeça. “Não consigo beber hoje e
preciso escovar meus dentes”.
Ele sorri. “Eu não sou tonto. Você acabou de vomitar. Vou pegar
um smoothie de frutas para você, e tem uma escova de dente
novinha no banheiro ao lado”. Ele acena em direção a uma porta no
canto do cômodo. “Divirta-se”.
Eu mordo o lábio, pensando se essa poderia ser nossa vida
juntos. Malachy e eu vivendo juntos em sua mansão com um ou dois
filhos. É uma ideia idiota. Uma ideia que faz pouco sentido,
considerando a maneira como nos conhecemos.
O comentário da irmã dele perto do lago naquele dia ficou na
minha cabeça.
Queria que Malachy sossegasse e ficasse com uma menina legal
como você.
Eu queria também. Embora não com uma menina como eu, mas
eu mesma. Quero que ele seja meu, assim como ele afirma que eu
pertenço a ele. Levanto-me e vou em direção ao banheiro, onde
encontro a escova de dentes nova no armário embaixo da pia. Tem
um tubo de pasta de dente novinho ali também. Fico aliviada por
poder escovar os dentes e volto para o cômodo, onde encontro
Malachy sentado no sofá.
Sento perto dele.
“Aqui está, um smoothie de frutas”. Ele me passa o drinque. “E a
pizza deve chegar em meia hora”.
“Obrigada”. Tento segurar o drinque, mas ele não o solta.
“Obrigada, o quê?”, ele pergunta.
Sinto um frio na barriga, e minhas coxas tremem, pois sei o que
ele quer de mim. “Obrigada, mestre”.
Ele sorri e solta o drinque. “Boa garota”. Ele me envolve com um
braço e me puxa em sua direção.
O calor de seu corpo e do cheiro másculo de uísque e pinho
fazem com que eu me sinta segura. Aninho-me perto dele, feliz por
estar de novo em seus braços. “Senti falta disso”, murmuro.
Malachy me aperta com mais força. “Eu também, linda”. Ele beija
minha testa. “Não acho que eu vá um dia estar pronto para deixá-la ir
embora”.
Sinto meu peito doer e fico feliz ao ouvi-lo dizer isso. “Não acho
que quero que você faça isso”, falo, em um cochicho, tão baixo que
não tenho certeza de que ele ouviu.
Ele me solta e olha para mim intensamente. “Você está falando
sério?”.
Assinto e esqueço momentaneamente sobre o segredo que estou
guardando. “Acho que sim”. Estudo seus olhos verde-esmeralda.
“Isso é loucura?”.
Em vez de me responder, Malachy me beija com paixão. O beijo
me deixa sem ar, e sua língua passa por cada milímetro da minha
boca vigorosamente.
Ele está me tocando de uma maneira diferente. É possessiva e
mais bruta, embora ele sempre tenha sido bruto. As pontas de seus
dedos fincam no meu quadril com força, quando ele me puxa para
sentar em seu colo. Sinto seu pau duro pulsando.
Malachy me pressiona para baixo com força, fazendo eu ficar
com as mãos para trás. “Faz muito tempo que não entro em você”,
ele sussurra, pressionando os lábios no meu pescoço.
“E a comida?”, pergunto.
“Que se foda a comida. Quero comer é você, minha linda”.
Não posso negar que sinto a mesma coisa. As últimas duas
semanas foram torturantes para mim sem ver Malachy. Agora que
estou escondendo um segredo dele, a sensação é diferente. Não
consigo aceitar o aborto do bebê, ainda que Kaia ache que é a
melhor opção.
“Em que você está pensando?”, ele pergunta.
Eu balanço a cabeça. “Nada”.
Ele dá um sorrisinho, com os lábios colados no meu pescoço.
“Mentirosa”.
Eu engulo em seco, porque não posso contar para ele em que
estou pensando.
Sinto os dentes dele mordiscarem minha pele. “Talvez você esteja
a fim de um castigo, minha linda”.
Meu corpo reage à sugestão do castigo. Minha calcinha fica
molhada ao pensar em Malachy me dominando. “Que tipo de
castigo?”.
Ele mordisca minha clavícula. “Vou apresentar você ao lado negro
do sadomasoquismo”. Ele beija meu maxilar e depois meus lábios de
novo. “Espero que você esteja pronta”.
Fico nervosa, pensando no que ele está falando. “Eu também”.
Ele me levanta e me coloca sobre o grande sofá antes de se
afastar. “Espere aqui. Vou pegar algumas coisas”.
Franzo as sobrancelhas ao vê-lo sair e me deixar pensando sem
parar no que ele quer dizer com lado negro do sadomasoquismo.
Ele volta depois de alguns minutos com um monte de corda, uns
instrumentos estranhos e um vibrador. Minhas coxas tremem ao
pensar nele usando qualquer uma dessas coisas em mim.
“Tire a roupa para mim”, ele pede.
Eu levanto do sofá e tiro a roupa, tão nervosa quanto na primeira
noite que passamos juntos. O fato de a gravidez estar na minha
cabeça o tempo todo não me ajuda.
“Fecha os olhos, amor”, Malachy fala.
Aperto o maxilar, pois estou dominada pela dificuldade de confiar
nele, mas fecho os olhos mesmo assim. Sinto um pedaço de tecido
sobre os olhos. Abro-os e descubro que ele me vendou.
“Agora eu vou amarrar você”, ele diz, e eu sinto enjoo imediato.
Pensar nele me privando da minha visão e da minha liberdade de
movimento me deixa ainda mais ansiosa.
“Malachy, eu não estou ...”.
Ele envolve meu pescoço com os dedos e me interrompe. “Você
conhece as regras, linda. Você faz o que eu mando, e se alguma
coisa for excessiva, você tem a palavra de segurança”.
Minha respiração treme, enquanto tento me acalmar. O homem
com quem estou não me deu uma razão para não confiar nele até
agora, mas meu passado não me deixa confiar em ninguém com
facilidade.
Malachy me amarra, passando a corda em volta do meu corpo
tantas vezes. É uma sensação estranha a pressão da corda pelo
meu corpo todo, que me deixa vulnerável.
“Eu vou colocar você no sofá”, Malachy diz antes de usar as
cordas para me abaixar.
Estou nervosa, pensando no que virá em seguida. Embora eu não
possa ver, sinto que Malachy está perto de mim. Escuto um ruído
diferente e mantenho minhas pernas bem fechadas.
“Pernas abertas”, Malachy ordena com a voz severa.
Engulo em seco e abro as pernas para ele. Parece que meu
coração vai sair do peito, quando sinto correntes de metal sendo
fixadas ao redor dos meus tornozelos. “Essa barra vai impedir você
de fechar as pernas”.
Acho que ele esqueceu que estou vendada e que não consigo ver
a barra sobre a qual ele está falando. Quando ele prende o outro
tornozelo, compreendo o que ele quer dizer. Sinto uma pressão entre
as pernas, que as mantém separadas. É realmente impossível fechá-
las.
Perder o controle me faz entrar em pânico momentaneamente,
mas respiro fundo, lembrando que estou com um homem em quem
confio. Pode parecer uma loucura o fato de eu confiar em um
criminoso, mas confio.
Os dedos de Malachy apertam minha garganta de repente,
fechando minhas vias respiratórias em certa medida. “Você se
lembra da palavra?”.
Faço que sim com a cabeça, sentindo um aperto no peito ao ouvir
a melancolia em sua voz.
“Ótimo”. De repente, escuto o zumbido do vibrador. Minha
pulsação acelera. Malachy não diz nada quando encosta o vibrador
na parte interna de minhas coxas, provocando-me.
Começo a tremer, quando ele o aproxima da minha boceta. A
expectativa é desesperadora e aumenta, conforme ele o aproxima,
mas desvia para a outra coxa. Estou toda encharcada já por toda a
coxa, quando ele finalmente o encosta no meu clitóris dolorido.
A vibração me faz entrar em combustão e me acende por dentro
e por fora. “Caralho”, eu solto, gemendo.
Malachy faz barulhos animalescos, que vêm do fundo da
garganta, e dá tapinhas na parte de dentro da minha coxa com algo
bem firme. “Sem palavrões, amor”.
Engulo em seco, sentindo meus mamilos enrijecerem ao ouvir
sua voz grossa. “Desculpa, mestre”.
Ele coloca o vibrador de novo sobre minha pele, provocando-me
de novo. Estou extremamente desesperada para sentir o vibrador
entre minhas coxas, mas ele está me fazendo esperar para me
castigar.
Quando leiloei minha virgindade a esse homem, não sabia o que
esperar. Supus que teria que passar uma noite com o comprador e
que voltaria para casa pela manhã.
A última coisa que esperava era me sentir vítima dos encantos de
meu comprador. Toda a confiança que estou dando a ele agora para
ter liberdade de controlar meu corpo prova que isso se tornou muito
mais do que uma transação comercial.
Ele esfrega o vibrador levemente sobre os lábios encharcados da
minha boceta e me faz gemer. Quando o encosta em meu clitóris,
meu corpo todo estremece. Malachy se afasta imediatamente,
deixando-me frustrada de uma maneira inacreditável.
Mordo o lábio, quando percebo que estou quase implorando a
ele.
“Quero que você implore, amor”, ele diz, deixando-me toda
arrepiada. É como se ele lesse minha mente.
Sinto um frio na barriga, quando ele continua me provocando,
colocando o vibrador nas minhas coxas. Devagar, ele o leva em
direção à minha boceta.
“Implora, Scarlett”.
Mordo o lábio, envergonhada por ele me deixar tão necessitada a
ponto de me fazer implorar. “Por favor, mestre”.
A batida de uma vara me acerta com força na coxa direita, e eu
grito. “Mas o que ...”. Outra batida na coxa esquerda me deixa em
silêncio.
“Por favor, o quê, amor?” Há alguns momentos de silêncio entre
nós, quando tento compreender o que ele quer dizer e superar a dor
que ele me causou sem aviso. “Quero que você seja específica ao
implorar”.
“Por favor, me faz gozar”, digo. Minha voz está falhando.
Ele geme e coloca o vibrador novamente entre minhas coxas,
onde a vara acertou. A mistura de dor e prazer é inebriante, e fico
surpresa por estar gostando tanto do que ele está fazendo. “Se você
for uma boa garota, vou deixar você gozar. Você entendeu bem?”.
Eu engulo em seco. “Sim, mestre”.
Ele aproxima o vibrador para onde preciso dele tão
desesperadamente. Resmungo, frustrada, quando ele o afasta um
pouco e continua me provocando.
“Por favor, deixe-me senti-lo no clitóris”, imploro, chocada pelo
som necessitado de minha própria voz. Essa voz não é minha.
Sem falar nada, ele faz o que pedi. Meu corpo todo se sacode
com a vibração intensa que pulsa em mim, e ele o movimenta em
círculos em volta do meu clitóris dolorido. “Isso, mestre, isso”, eu
grito, sentindo meus músculos se contraindo, quando vou chegando
perto de gozar tão rápido. Parece que estou caindo em queda livre,
sem paraquedas. A intensidade do orgasmo é tão brutal que enche
minha visão com luzinhas brancas cintilantes. Por um momento,
acho que morri.
A mão forte e áspera de Malachy brinca de leve com a pele do
meu pescoço. “Você é uma garota safada, Scarlett”, ele diz, com a
voz mais distante. “E garotas safadas precisam ser castigadas”.
Meu corpo inteiro estremece à menção dessa palavra. “Que tipo
de castigo?”.
Ele aperta meu pescoço com mais força. “Vou colocar você sobre
meu joelho e bater nessa sua bundinha redonda e perfeita até você
ficar em carne viva”.
Começo a me sentir enjoada. Isso chega à beira da violência.
Não consigo compreender se estou excitada ou assustada em ser
punida. Malachy segura a barra entre minhas pernas, passa um
braço pelas minhas costas e me vira.
Sinto que ele muda sua posição também. Ele coloca a mão na
minha boceta molhada com força, fazendo-me gemer. “Tão
molhadinha para mim, meu amor”, ele sussurra.
Grito, quando a vara atinge meu glúteo direito primeiro, fazendo
minha carne doer de uma forma terrível. “Isso dói”, eu grito,
brincando com a palavra de segurança para ver o que acontece. Ele
me bate com mais força ainda do que nas coxas antes, e tenho
certeza de que vou ficar com hematomas.
“Você conhece as regras, linda. Se você quiser parar, você sabe a
palavra”. Essa lembrança tranquiliza um pouco meus medos,
provando que eu tenho uma saída. A palavra vai me tirar desta
situação, se eu não aguentar.
Fico calada, esperando pela punição.
Ele bate com mais força ainda no glúteo esquerdo. Tento engolir o
choro de dor, e as lágrimas começam a brotar nos meus olhos. Uma
parte obscura em mim sente que eu preciso disso. Uma mão forte e
dominante para me guiar. Minha vida toda senti que estou flutuando
sem rumo ou senso de direção.
Malachy sabe como me dar direção, disciplina e, acima de tudo,
cuidado.
Os próximos golpes são mais fortes de novo, e passo a me
contorcer de dor em seu colo. Minhas coxas ainda estão abertas,
mas sinto o pau dele pressionar meu estômago.
Ele mete dois dedos dentro de mim entre os golpes da vara. “Sua
safada”, ele diz, metendo os dedos em mim com força. “Você está
tão molhada. Acho que você está gostando deste castigo mais do
que deveria”.
Sinto uma pressão aumentar dentro de mim, quando ele mete os
dedos e tira, deixando-os dobrados de um jeito que acerta o ponto
certo toda vez.
Ele tira os dedos de dentro de mim e a vara os substitui, entrando
bem devagar na minha boceta. A sensação é de dor e prazer ao
mesmo tempo. Cada uma delas aumenta a outra, de um jeito que eu
jamais poderia ter imaginado, nem mesmo nos meus sonhos mais
selvagens. “Acho que eu vou gozar”, eu grito, confusa com a minha
receptividade à dor.
Malachy fica bravo. “Eu não mandei você gozar ainda”. Ele bate
com a vara na minha bunda com ainda mais força do que antes, mas
isso só aproxima o orgasmo.
Meu corpo inteiro treme com intensidade, e sinto o líquido melado
jorrar da minha boceta e escorrer pelas minhas coxas. “Desculpa,
mestre. Não pude segurar”.
Ele rosna como um animal selvagem e me levanta de seu colo e,
então, me deixa no sofá, de barriga para cima. “É porque você é
minha vadiazinha safada, e eu vou foder você com tanta força que os
funcionários vão ouvir seus gritos”.
Há um tom maníaco em sua voz, e isso me faz desejar ver seu
rosto. A venda me deixa alheia quanto às emoções dele. “Você vai
tirar a venda?”.
Malachy resmunga e arranca a venda do meu rosto. “Só porque
quero olhar nos seus olhos, enquanto fodo você mais forte do que
antes”.
Há um brilho igualmente maníaco em seus olhos, quando os
encontro. Ele já está sem camisa, e posso ver seus músculos
definidos cobertos com tinta escura. Uma visão que faz meu desejo
aumentar e endurece meus mamilos, de modo que chegam a doer.
Ele tira o cinto e deixa a calça cair no chão. Ele só está usando
uma cueca boxer que está molhada e emoldura seu pau duro com
perfeição.
Ele olha para mim como um gavião ao tirar a cueca, revelando
seu pau imenso. Ele está pingando e está pronto para mim. Uma dor
profunda, diferente de tudo que já experimentei, surge queimando
dentro de mim – uma dor que precisa ser ocupada por ele.
Malachy acaricia seu pau e coloca uma mão sobre a barra entre
minhas pernas. Ele dobra os joelhos, e seu pau fica alinhado com
minha boceta encharcada. Ele mete em mim, fazendo um movimento
para frente que me completa.
Meu gemido sai tão alto que acho que ele tem razão. Todos os
funcionários vão nos ouvir hoje. Desejei esse momento desde que
ele me deixou à porta do meu apartamento, há quase duas semanas.
Quando estávamos separados, sentia-me incompleta.
Ele olha para mim como um gavião, metendo e tirando de mim,
com força, mas devagar no início. O som da nossa pele batendo uma
na outra preenche o cômodo. Olho nos seus olhos, quase
hipnotizada pela beleza do tom esmeralda deles. “Você é minha,
Scarlett”, ele sussurra, me encarando também. “Você pertence a mim
em todos os sentidos da palavra”. Há possessividade em sua
afirmação – uma possessividade que faz com que eu me sinta
especial.
“Sim, mestre”, eu digo.
Nós estamos desesperados um pelo outro. Nossos corpos se
tornam um só ao nos entregarmos às nossas necessidades
torturantes que sentimos um pelo outro. Pela maneira selvagem
como ele me fode, tenho certeza de que ele é o único homem para
mim. Ele pode ser um criminoso, ele pode ser selvagem, mas ele é o
meu selvagem.
“Mais forte, mestre”, eu imploro, deixando minhas barreiras se
desfazerem completamente.
Malachy reclama. “Nunca imaginei que você gostasse tão forte
assim, linda”. Ele começa a me comer com mais força, fazendo-me
bater contra o sofá com tanta força que parece que vai até quebrar.
Meus tornozelos estão levantados no ar, e a barra me mantém bem
aberta para ele.
Meu prazer vai aumentando ao olhar para ele se mexendo em
cima de mim. Seus olhos verde-esmeralda sustentam meu olhar com
uma intensidade que só aprofunda minha conexão com ele. Não
importa o quanto eu tente resistir. Malachy foi feito para mim.
Quando você sabe que é a coisa certa, não existem dúvidas.
Malachy e eu somos certos um para o outro em todos os
sentidos, não importa quão malucas sejam as circunstâncias.
Malachy vai me deixando cada vez com mais tesão, o pau dele
metendo em mim tão forte que parece que vou quebrar no meio.
Contorço-me nas correntes que envolvem meus punhos, e sinto
vontade de segurar alguma coisa.
“Eu quero que você goze para mim, minha linda”, ele diz, entre
suspiros.
O cheiro dele. A voz dele. O pau dele. Tudo nele me deixa
maluca. Sinto que estou quase gozando, quase explodindo. Minha
visão fica turva, e sei que vou gozar. “Sim, vou gozar”, eu grito.
Pela terceira vez hoje, Malachy me leva ao orgasmo. Eu grito tão
alto que acho que todos os funcionários me ouviram mesmo, até
mesmo neste lugar enorme e assombroso. Meu corpo se contrai
todo, crispando-se contra as correntes e a barra, que me mantêm
fixa no mesmo lugar.
“Porra, meu amor. Adoro sentir você gozar na minha rola”,
Malachy diz, ao gozar ao mesmo tempo, junto comigo.
Continuamos parados, arfando, conforme nós dois nos
recuperamos do nosso prazer mútuo. Malachy finalmente sai de cima
de mim, depois de um tempo que parece infinito. Ele solta meus
tornozelos da barra, coloca minha calcinha de volta e desamarra
meus punhos.
Fico observando-o caminhar até a porta, e sinto um frio no
estômago.
É sério mesmo que ele vai me abandonar aqui depois disso?
Ele volta depois de alguns segundos, segurando duas caixas de
pizza. “Acho que nós dois precisamos nos alimentar para o segundo
round”. Ele encolhe os ombros. “Só que, infelizmente, elas estão
frias”.
Sorrio para o homem por quem estou apaixonada. “Não ligo para
pizza fria”.
Ele senta-se ao meu lado, ainda sem nenhuma peça de roupa.
Sentamo-nos no sofá em um silêncio confortável e comemos a pizza
fria. Não consigo me importar com o fato de a pizza estar fria, mesmo
que eu me esforce, porque nunca me senti tão feliz em minha vida.
22
MAL ACHY

M eus olhos se abrem e percebo que ainda está escuro lá


fora. O relógio sobre a mesinha de cabeceira mostra que
são cinco e meia da manhã.
Olho para Scarlett, aninhada ao meu lado, com sua mãozinha
delicada sobre meu peito.
Ela não deveria ficar de conchinha comigo depois do que fiz com
ela ontem à noite. Uma criatura perfeita e delicada como ela deveria
ficar bem longe de um homem como eu – um homem controlado pelo
mau.
Eu disse a ela ontem à noite que nunca quero deixá-la ir embora,
e é verdade mesmo. A reação de Scarlett não foi bem a que eu
esperava. Ela se mostrou aberta à ideia.
Meu celular vibra sobre a mesinha de cabeceira, e eu tiro a mão
dela de cima de mim para poder pegá-lo. Vejo o nome de Seamus na
tela e deslizo para atender. “Me dá um segundo”, digo baixinho,
tampando o alto-falante. Saio da cama com cuidado, para Scarlett
não acordar.
Vou até o banheiro e fecho a porta. “O que foi?”, pergunto.
Seamus fica em silêncio durante alguns segundos. “Más notícias,
chefe. Milo surtou. Ele explodiu o galpão no cais”.
“Filho de uma puta”, eu solto, dando um soco na parede com
tanta força que chego a machucar os dedos, mas a dor é bem-vinda
no momento.
Sinto frio na barriga, quando vejo Scarlett parada na porta com os
olhos arregalados. Ela está com os olhos fixos nos meus dedos, que
estão sangrando muito.
“Encontro você aí em meia hora”. Desligo e vou em direção a ela.
Seus olhos ainda estão fixos nos meus dedos. “Você está
sangrando”. Ela dá alguns passos para trás.
Sua relutância em se aproximar de mim dói em mim e só serve
para aumentar a raiva que sinto por dentro. “Não é nada”. Ranjo os
dentes e dou outro passo para frente.
Scarlett dá outro passo para trás, mantendo a distância entre nós.
“Por que você socou a parede desse jeito?”.
É perigoso para ela me questionar, quando estou nesse estado.
“Não me questione nem se afaste de mim, Scarlett. O pior momento
para mexer comigo é quando estou bravo”.
Vejo um brilho desafiador em seus lindos olhos azuis. “E o que vai
acontecer? Você vai me socar como socou a parede? É isso?”, ela
pergunta, sustentando meu olhar.
Vou em sua direção e pego em seu pescoço, empurrando-a
contra a parede do banheiro. “Eu jamais bateria em você, Scarlett”.
Minha raiva me consome à mera sugestão de que eu a machucaria,
mas minhas ações só a deixam com mais medo. “Você acha que eu
a machucaria?”.
Ela me encara com os olhos semicerrados. “Você já fez isso
ontem à noite”.
Solto seu pescoço e me afasto dela, porque sei que esta
conversa está perigosa. Jamais minha intenção foi de assustá-la
ontem à noite, mas ela não recebeu meu tratamento bruto tão bem.
“Você não disse a palavra de segurança nenhuma vez”. Olho para
ela. “Se você não estava gostando, por que não me fez parar?”.
Scarlett me segue pelo quarto com os braços cruzados. “Eu não
disse que não gostei. Você disse que jamais me machucaria. Mas
essa não é bem a verdade”.
“É diferente, quando a dinâmica é consensual”. Cerro meus
punhos e ignoro a dor que atinge o punho que bati conta a parede.
“Vou esclarecer. Eu jamais a machucaria, a menos que você
quisesse”. Eu balanço a cabeça e esfrego minha nuca. “Preciso ir”.
Scarlett parece decepcionada com a conclusão brusca de nossa
conversa. Mas ela não deveria estar. É mais seguro para nós não
trilharmos esse caminho insano. Não confio em mim mesmo quando
estou bravo. “Aonde você está indo?”.
“Problemas com Milo no cais”. Passo por ela, volto ao banheiro e
fecho a porta. Não há nada mais a ser dito.
Pela primeira vez na vida, quero algo de verdade. Um
relacionamento. Os pelos na minha nunca se arrepiam só de pensar
na palavra.
Isso não vai acabar bem. A escuridão que existe em meu
passado me assombra, e não posso incorporar isso a uma parceria
com Scarlett.
Ela precisa de um homem que saiba ser gentil. Depois de ontem
à noite, acho que ela entendeu até onde minha brutalidade pode
chegar.
Até ontem à noite, nossas interações foram bem leves para mim.
Foi idiotice minha pensar que eu seria capaz de deixar para trás
minha brutalidade, meu lado obscuro. Está enraizado em mim, e
ontem à noite eu perdi o controle.
Talvez eu tenha estragado qualquer chance que eu tinha com ela,
de qualquer forma. Minha necessidade interior de causar dor e
dominá-la tomou conta de mim, e nada poderia ter me parado.
Mas, com certeza, Scarlett não queria que eu parasse, porque ela
não usou a palavra de segurança como tínhamos combinado.
Normalmente, eu não dou às garotas a chance de usar uma palavra
de segurança.
Isso vai contra as regras do sadomasoquismo, mas eu não jogo
de acordo com as regras.
Depois de lavar o rosto no banheiro, vou ao closet e coloco uma
camisa e uma calça.
Não vou colocar terno hoje de jeito nenhum. Acho sufocante
demais.
Assim que estou pronto, saio do closet e escuto o chuveiro ligado.
Scarlett está no chuveiro de costas para a porta.
Sinto meu estômago revirar, quando vejo os hematomas que ela
tem nos glúteos e nas coxas. Ontem à noite eu fui longe demais.
É surpreendente o fato de ela não ter fugido daqui quando pôde.
Ontem à noite, eu revelei o verdadeiro monstro que sou. A questão
agora é, será que Scarlett é capaz de amar um monstro como eu?
A – tem destroço para todo
lado.
Nós não fomos tão idiotas a ponto de usar nosso galpão principal
para armazenar nossa cocaína e armas desde o início desta guerra.
Em vez disso, guardamos tudo em um lugar onde jamais alguém
imaginaria procurar.
A polícia está aqui, e eles isolaram o galpão com a fita policial.
Aproximo-me do guarda parado ali. “Esse galpão é meu, cara.
Preciso entrar”.
Ele olha para mim, vira os olhos, e volta o olhar para a prancheta
que tem nas mãos. “Trata-se da cena do crime. Ninguém pode
entrar”.
Eu resmungo, frustrado. “Tenho documentos importantes lá
dentro. Preciso ver se eles sobreviveram à explosão”.
O guarda ri. “Nada sobreviveu. Quem quer que tenha explodido
este lugar o fez de forma a não restar mais nada lá dentro”. Ele olha
para mim de novo. “Por sorte, não tinha ninguém lá dentro”.
Afasto-me dele, pois sei que se continuar conversando com ele,
vou acabar socando sua cara. O que é uma péssima ideia, quando
se trata de um guarda. Se fosse qualquer outra pessoa, ela estaria
estatelada no chão.
“Chefe”, Seamus me chama de um dos nossos galpões ao lado.
Vou até ele e encontro Aiden, Cormac e Brandon ali. “Polícia do
caralho que não me deixa entrar”.
Aiden concorda. “É uma pena que a explosão tenha sido tão
óbvia. Não tinha como a polícia não ser chamada”. Ele vem na minha
direção. “Por sorte, toda a nossa cocaína, incluindo os dois
carregamentos que roubamos de Milo, está segura”.
Eles aplicaram uma explosão para nos mostrar como estão
bravos. Os italianos não pretendiam nos machucar financeiramente,
pois o seguro vai pagar pelos danos. Milo tinha a intenção de nos
advertir, para que ficássemos longe, mas não tem como isso
acontecer. Foi uma jogada desesperada da parte de Milo,
considerando que esta guerra está apenas começando.
Isso me mostra que ele não tem certeza de como quer me ferir
ainda. Minha maior fraqueza é minha irmã, mas ninguém fora do meu
círculo interno sabe disso. Scarlett pode muito bem ter se tornado
minha segunda fraqueza em um piscar de olhos. Infelizmente, ele
sabe sobre ela.
É só questão de tempo, até que ele volte sua atenção a ela,
principalmente depois que ele nos viu juntos mais de uma vez.
“O que vamos fazer com esse filho da puta?”, pergunto, olhando
para o rosto dos meus homens.
Esse é o momento em que gostaria que Niall estivesse de volta
com a corda toda. Ainda falta pelo menos uma semana, até que ele
volte a participar das reuniões estratégicas.
Ele ainda está no meu porão se recuperando.
“Não podemos dar o troco na mesma moeda?”, Cormac sugere.
É uma sugestão idiota. Milo tem conexões com a polícia que nos
causariam grandes problemas se cometêssemos um crime público
desses. “Nós não temos a influência com a polícia, como os
italianos”.
Eu entro no galpão e passo a mão em uma das velhas bancadas
industriais de aço. “Por que não tentamos capturar a esposa de Milo
de novo?”, sugiro.
Seamus balança a cabeça. “Ela está completamente protegida. É
mais difícil chegar nela do que na porra da cocaína dele, e olha que
isso já é bem difícil”.
Passo a mão pela barba. “Ela deve sair de casa, não?”.
Cormac faz que sim. “Sim, com três guarda-costas sempre que
sai, desde que a guerra começou”. Ele estreita os olhos. “O cara
deve gostar dela, ou não quer parecer fraco de novo”.
Não tenho dúvida de que Milo gosta da mulher com quem se
casou, ainda que tenha sido um casamento arranjado. A raiva que vi
nos olhos dele, quando a ameacei, foi suficiente para me fazer
perceber.
“Tenho uma ideia melhor”, diz Brandon, surpreendentemente, já
que ele geralmente fica calado.
“Fala, cara”.
Posso dizer pelo olhar dele que é uma ideia que vai pegar os
italianos de jeito. “Ouvi um boato de que Milo vai trazer muita
mercadoria da Sicília”.
Eu quase viro os olhos. Depois da questão com o pai da esposa
dele, Fábio Alteri, isso não é nenhuma novidade. “Sim, todo mundo
sabe disso”.
Brandon faz que sim. “Mas eles sabem que as embarcações que
ele envia são grandes demais para atracarem em Salem? Ele tem
um acordo com Enzo D’Ângelo de trazer todos os carregamentos
para o cais de Nova York”.
Eu estreito os olhos ao encarar Brandon, tentando prever aonde
ele quer chegar. “Eu não sabia disso, mas o que é que tem?”.
“Se nós conseguirmos interceptar a próxima entrega vinda da
Sicília no oceano, nós vamos conseguir muito mais do que
conseguimos no outro dia, indo atrás dos contêineres”.
É uma puta ideia maluca. Uma ideia que significaria levar a
guerra para o mar.
Seamus limpa a garganta. “Isso daria certo, apesar de ser uma
loucura”.
Aiden dá risada. “É uma loucura, mas poderíamos conseguir,
ainda que as consequências sejam gigantes”. Ele passa uma mão
pelo cabelo. “Fábio Alteri não vai ficar muito impressionado também,
então nós poderemos acabar criando uma guerra dos dois lados do
Atlântico”.
Eu faço que sim. “Sim, emputecer os sicilianos é uma péssima
ideia”. Eu acaricio minha barba. “Esse será um risco que vamos
precisar correr, se quisermos acabar com eles. Comecem a se
organizar”.
Brandon parece surpreso por eu ter aceitado sua sugestão de
verdade, mas ele é um cara esperto. É o mais jovem entre o círculo
de homens de confiança, mas, ainda assim, um cara bom.
“Eu soube da explosão. O médico me liberou para voltar”.
Sorrio, quando escuto o som da voz de Niall. “Bem-vindo, cara”.
Eu viro e vou até ele, puxando-o para um abraço. “Estou contente
por você estar de volta tão rápido, para participar do plano mais
épico de todos os tempos”.
Ele levanta uma sobrancelha. “Que tipo de plano?”.
“Nós vamos capturar o carregamento de Fábio, antes que chegue
em solo americano”.
Niall franze as sobrancelhas e faz que não com a cabeça. “É uma
péssima ideia, Mal”.
Eu ranjo os dentes ao ouvi-lo me chamar de Mal. “Pelo amor de
Deus, você mal voltou e já quer acabar com meus bons planos”.
Ele ri. “Você começaria uma guerra com Enzo D’Ângelo e Fábio
Alteri”. Ele franze as sobrancelhas. “Você acha que pode travar uma
guerra contra três organizações criminosas italianas?”.
Como sempre, minha voz da sabedoria tão necessitada está de
volta. Eu tendo a ser um pouco cabeça quente e corro riscos
desnecessários, quando ele não está por perto. “Na verdade, não,
mas como é que nós podemos atacar de volta depois dessa péssima
jogada do caralho?”.
Niall sorri. “Parece que eu voltei em boa hora”. Ele suspira.
“Haverá uma noite de grandes apostas no cassino de Milo no centro
da cidade hoje à noite. Todos os homens mais importantes estarão
presentes”. Vejo um brilho perverso em seus olhos. “Eu sugiro
explodir e acabar com aquela merda de uma vez por todas”.
Uma sensação de orgulho invade meu peito, e eu encaro meu
segundo homem em comando. Meu melhor amigo. “O que é que nós
faríamos sem você, Niall?”.
Ele encolhe os ombros. “Acabariam entrando em uma guerra que
vocês não podem ganhar, me parece”.
“Ok, vamos com o plano de Niall que é perfeito”. Eu paro por um
momento e o encaro. “Como você descobriu sobre a noite do
cassino?”
Ele encolhe os ombros. “Ouvi sobre a noite de grandes apostas
no cassino de um informante interno”.
“Bom trabalho”. Eu dou um tapinha nas costas dele. “É melhor
você entrar em contato com Patrick e arranjar os explosivos de que
precisamos logo, para plantá-los lá antes desta noite”.
Niall concorda com a cabeça. “Mãos à obra, senhor”. Ele vira e
sai do galpão.
“O restante de vocês, aguardem instruções”.
“Sim, senhor”, eles dizem em uníssono e se dispersam.
Percebo que Aiden está parado logo atrás. “Chefe, posso trocar
uma palavrinha?”.
Faço que sim e vou em sua direção. “Fala, cara”.
Ele tira um pedaço de papel. “A respeito do homem que você
queria que eu encontrasse. O pai de Scarlett Carmichael”.
Eu trinco os dentes. “Isso, você o encontrou?”.
Ele assente com a cabeça. “Ele está cumprindo dez anos em uma
penitenciária estadual em Massachusetts”.
Eu franzo as sobrancelhas. “Tem certeza disso? O cara era do
Texas”. Odeio pensar que o filho da puta que abusou da minha
garota está respirando no mesmo estado que ela.
“Certeza”. Ele esfrega a mão na nuca. “Ele foi preso por abusar
sexualmente da filha que teve com uma mulher com quem ele se
casou aqui há apenas cinco anos”.
Eu faço que sim com a cabeça. “Obrigado por investigar isso”. Eu
pego o papel da mão dele. “Deixe isso comigo”.
Há um olhar questionador nos olhos de Aiden, mas ele não
pergunta por que estou investigando este cara. Fico frustrado por
não poder ser o homem que vai cortar a garganta dele. O risco é
grande demais. Ser condenado em uma prisão estadual em
Massachusetts e esperar ser absolvido não seria uma opção. Porém,
conheço um cara lá dentro que vai fazer isso para mim na boa.
As pessoas o chamam de O Esfaqueador. Eu o conheço como
Darragh, e ele é meu único primo vivo, agora que Milo matou seus
dois irmãos. O cara é mais louco que eu, então dá para ter uma
ideia. É hora de visitar meu primo.
23
S C A R LE T T

O lho-me no espelho, refletindo se ao menos sei quem sou.


Ontem à noite permiti que Malachy me tratasse como uma
submissa e gostei. Uma parte doentia em mim quer que isso
continue, embora eu saiba o quanto ele é problemático.
Os hematomas no meu corpo são superficiais, mas são prova de
quão selvagem o homem para quem fui vendida pode ser. Gostei da
maneira como a dor e o prazer se misturaram. Agora, enquanto olho
para as marcas escuras na minha pele, fico pensando se eu
realmente sou problemática.
Hoje de manhã eu deveria fugir desta casa sem jamais olhar para
trás, mas meu coração está investido no que quer que seja isso que
há entre nós. Seco meu cabelo com a toalha antes de vestir umas
peças de roupa grandes que cobrem meus hematomas.
Olho para o convite que a governanta deixou, depois que Malachy
saiu. Alícia me convidou para tomar café da manhã com ela hoje de
manhã. Será a segunda vez que a vi, desde quando Malachy nos
emboscou na mata.
Estou nervosa, e acho que é por conta dos hematomas. Alícia
mencionou que eu estava menos marcada do que as outras garotas.
Será que ela sabe a verdade agora? Malachy me feriu e me marcou
também.
Balanço a cabeça e termino de secar meu cabelo com a toalha.
Quando estou feliz com minha aparência, vou em direção à porta.
Quando a abro, sinto meu coração parar. Alícia está parada no
saguão envolvida pelos braços de um homem grande tatuado que a
está beijando apaixonadamente.
“Bom dia”, digo, pois eles estão bloqueando minha passagem no
corredor.
Os dois dão um pulo e se separam, como se tivessem tomado um
choque. “Bom dia, Scarlett”, diz Alícia, com os olhos arregalados.
“Está pronta para o café da manhã?”.
Faço que sim. “Claro, seu amigo vai nos acompanhar?”.
O cara faz que não com a cabeça. “Não, eu já estava de saída”.
Ele vira e caminha pelo saguão com o corpo duro, sem dizer mais
nada a nenhuma de nós.
“Quem é esse?”, pergunto, olhando para Alícia de uma maneira
preocupada.
Ela balança a cabeça. “Ninguém. Vamos, vamos comer alguma
coisa. Estou morta de fome”. Ela passa o braço por dentro do meu, e
nós caminhamos juntas em um silêncio tenso pelo saguão.
Eu sei que ela está mentindo sobre o cara. Deu para perceber
que eles não queriam ser pegos juntos. Ao invés de insistir, eu deixo
passar, porque não é problema meu o que a irmã de Malachy faz ou
deixa de fazer.
A mesa da cozinha está posta com diversos tipos de bolos, pães
e geleia. “Nossa, que delícia”, digo, quebrando o gelo.
Alícia sorri. “Sim, Lianne é uma cozinheira de mão cheia. Ela faz
cada um desses bolos”. Ela pega um croissant e o parte em dois,
coloca um pedaço na boca e senta à mesa.
Eu me sento na frente dela, tentando não estremecer ao sentir
que a cadeira machuca meus hematomas.
Alícia não percebe meu desconforto, ou pelo menos não diz nada.
“Como você está?”.
Eu dou de ombros. “Tão bem quanto esperaria”.
Alícia concorda. “Sim, meu irmão é um bárbaro”. Ela estreita os
olhos e me encara. “Ainda assim, você está se saindo muito melhor
do que qualquer uma das outras garotas”. Ela parte outro croissant e
come. “Talvez ele pretenda ficar com você”.
Meu estômago revira só em pensar nisso. As palavras que
Malachy disse a mim antes de a nossa noite ficar estranha e sombria
ficam se repetindo na minha cabeça.
Não acho que eu vá um dia estar pronto para deixá-la ir embora.
Meu coração quase explodiu, quando o ouvi dizer isso. Eu até
disse a ele que não queria que ele dissesse isso, mas a conversa
não avançou. Algo me diz que Malachy não é o tipo de homem que
alguma vez considerou formar uma família com filhos.
“Você está bem?”, Alícia pergunta, olhando para mim com
preocupação. “Você parece um pouco distraída”.
Eu faço que sim. “Sim, estou bem”. Dou de ombros. “As coisas
estão muito agitadas desde o leilão. Eu não sabia onde eu estava
entrando”.
Alícia ri. “Nenhuma das virgens que meu irmão compra sabe,
mas, ao mesmo tempo, você não recebeu o tratamento que elas
receberam”.
Sinto meu estômago se contorcer. Estou curiosa para saber o que
exatamente ele fez com as outras meninas. “O que você quer dizer?
O que exatamente ele fazia com elas?”.
Alícia parece um pouco relutante, mas acaba falando. “Ele as
torturava tanto mental quanto sexualmente. É algo bem nojento,
considerando que ele é meu irmão, e, no fim, é provável que elas
precisem de uma boa terapia”.
O silêncio entre nós fica tenso.
“Embora eu saiba que é por causa das coisas pelas quais ele
passou quando criança”. Ela parece meio arrasada, encarando a
metade do seu croissant. “Eu amo meu irmão, e ele me protegeu
desde quando éramos crianças, certificando-se de que eu estivesse
segura, mesmo quando vivíamos nas ruas”. Ela suspira.
“Infelizmente, os sacrifícios que ele fez quando criança o deixaram
obscuro de uma forma que jamais poderei compreender. Ele me
protegeu dessa escuridão e, por isso, serei sempre grata”.
Faço que sim, concordando. “Parece que vocês dois tiveram
dificuldades quando crianças”. Isso faz minha história com meu pai
parecer inofensiva.
“Sim, o pior de tudo foi o sistema de acolhimento familiar. O
sistema nos enviou para o pior casal que poderiam encontrar, que
abusaram de Malachy durante todo o tempo em que estivemos lá”.
Ela inspira profundamente, mas de uma forma trêmula. “Ele sempre
me protegeu dos abusos deles. Na noite em que fugimos, ele
precisou bater no cara para impedi-lo de me estuprar”. Ela balança a
cabeça. “O sistema é foda. Nós estávamos mais seguros nas ruas do
que com os loucos que deveriam nos oferecer um lar seguro”. Alícia
parece acordar de seu torpor e olha para mim. “Independentemente
de qualquer coisa, não diga a ele que eu contei isso tudo a você”. Ela
passa a mão pelo lindo cabelo escuro. “Ele não ficaria muito feliz
comigo”.
Eu sorrio para ela. “Não se preocupe. Eu não vou contar para
ele”. Estou curiosa sobre como ele acabou indo das ruas à
organização criminosa ilegal e ir morar em uma mansão de milhões
de dólares. “Como vocês chegaram das ruas até aqui?”.
“Malachy é um filho da puta do cacete”, ela diz, balançando a
cabeça. “Ele começou praticando luta livre nas ruas contra pessoas
que tinham o dobro da idade dele e ganhava uma luta atrás da outra.
No fim, ele se tornou campeão e recebeu dinheiro suficiente para nos
tirar das ruas”.
Eu lembro da maneira como ele bateu no cara que quase me
estuprou naquele dia em que eu ia para casa. Ele parecia um
selvagem. Depois de presenciar aquilo, é possível acreditar que ele é
um lutador campeão mesmo.
Ela encolhe os ombros. “Dali para frente, meu irmão criou um
grupo de homens à sua volta. Niall era seu melhor amigo nas ruas e
acabou se tornando seu segundo homem em comando. Malachy
construiu seu clã e começou a tomar o controle do território dos
italianos e dos russos. Não foi fácil, mas ele fez tudo sozinho, e,
embora não seja lícito, eu não poderia sentir mais orgulho do que ele
conquistou”.
Eu concordo, é realmente um feito ter superado tamanha
dificuldade e acabar em cima, como ele. “Quantos anos tem
Malachy?”.
Alícia sacode a cabeça. “Você está dormindo com ele há mais de
um mês agora e não sabe a idade dele?”.
Dou de ombros.
“Ele tem quarenta e dois anos”.
Sinto um frio na barriga ao pensar que ele é mais velho do que eu
imaginava – dezoito anos mais velho do que eu. Ele parece mais
jovem, talvez trinta e poucos anos. Pego um croissant de chocolate
da travessa sobre a mesa e dou uma mordida. “Achei que ele estava
na casa dos trinta”.
Alícia sacode a cabeça. “Não, esse é um traço da família
McCarthy: parecer mais jovem do que somos”. Ela inclina a cabeça
para o lado de leve. “Quantos anos você acha que eu tenho?”.
Eu tinha achado que ela tinha quase trinta. “Espero que eu esteja
certa. Achei que você tivesse vinte e nove anos”.
Ela leva a mão ao peito. “Aceito. Tenho trinta e seis. Vou fazer
trinta e sete daqui a um mês”.
Meus olhos se arregalam. “Uau, sim, é de família”. Ela não parece
ter a idade que tem de jeito nenhum.
Um silêncio confortável se instala entre nós enquanto comemos.
Fico feliz pela companhia dela nesta manhã, pois a maior parte dos
meus dias são bem chatos, forçada agora a ficar na casa de
Malachy, embora também fossem chatos, quando eu morava em
minha casa também.
“Com o que você trabalhava antes de leiloar sua virgindade?”,
Alícia pergunta.
Fico envergonhada por ser algo tão deplorável. Apesar de toda a
ajuda que minha mãe me deu para conseguir o melhor início possível
em minha carreira e ir atrás do meu sonho, fracassei de um jeito
lamentável. Malachy começou do nada e chegou ao topo. “Eu era
garçonete, mas sempre quis dançar profissionalmente”.
Alícia bate uma mão na outra. “Eu amo dançar. Quem sabe a
gente não saia para dançar uma hora dessas?”.
Eu sorrio pelo seu entusiasmo. “Sim, talvez, quando Malachy me
soltar dessa prisão”.
“Não é uma prisão tão ruim”. Ela pega o bule de café e serve um
pouco para ela. “Quanto ele pagou pela sua virgindade, afinal?
Sempre fico curiosa quanto ao preço que ele paga pelas mulheres,
mas nunca perguntei a ele”.
Sinto meu rosto esquentar, e a culpa contorce meu estômago.
“Malachy deu um lance de dois milhões e meio de dólares”.
Alícia arregala os olhos. “Cacete. Não sabia que ele pagava
tanto”. Ela encolhe os ombros. “Mas é uma coisa boa. Significa que
você pode conseguir o melhor tratamento médico para sua mãe”.
Eu faço que sim. “Sim, mas me sinto suja pela maneira como
obtive o dinheiro”.
Ela segura o bule de café. “Café?”.
Eu pego minha xícara e estendo a ela. “Sim, obrigada”.
“Você não deveria se sentir culpada por fazer o que quer que seja
para garantir à sua mãe o melhor cuidado médico que ela precisar”.
Alícia encolhe os ombros. “Eu faria isso pela minha família”. Ela ri.
“Se eu ainda fosse virgem, o que eu não sou, definitivamente”.
Nós duas damos risada da ironia por conta do homem que saiu
escondido do quarto dela de manhã. A conversa flui, e nós passamos
a manhã toda falando de nossas vidas e interesses.
Não há dúvidas de que eu me dou bem com Alícia. Fico
imaginando como seria se Malachy de fato sossegasse e ficasse
comigo e com o bebê. Alícia seria tia, e uma ótima tia, diga-se de
passagem.
É uma fantasia boba. Malachy pode até ter dito que não quer que
eu jamais vá embora, mas foi no calor do momento. Nossas
frustrações reprimidas depois de não nos vermos por duas semanas
vieram à tona. Eu sei que não é possível que ele sinta isso.
Um final feliz com Malachy e eu em família não é uma
possibilidade. Não importa o quanto eu deseje isso.
24
MAL ACHY

M eu primo está na mesma prisão que o pai de Scarlett. Odeio


fazer visitas em prisões, pois é um lembrete de onde eu
poderia acabar, se as coisas dessem errado com o clã.
Darragh acabou preso por ser um psicopata. Ele assassinou sete
mulheres durante o sexo antes de ser condenado à prisão perpétua.
Ele jamais verá o mundo fora da cadeia enquanto estiver vivo, mas
ele tem bastante sucesso em um ambiente caótico.
Eu sento, esperando que ele apareça do outro lado do vidro. A
porta da sala de espera é aberta, e ele entra. Seus olhos escuros
beiram a cor do ônix negro. Até eu tenho medo do meu primo, e olha
que eu não tenho medo de quase ninguém. Ele não está
raciocinando direito e nunca esteve.
Quando ele tinha oito anos de idade, ele enfiou um lápis na mão
de uma menina na escola. Suas tendências violentas só foram
piorando e saindo do controle a partir de então.
Darragh sorri para mim e pega o aparelho de telefone. “Priminho.
Que bom te ver”.
“Bom te ver também, Darragh”. Eu passo a mão pela nuca. “Olha,
preciso de um favor”.
Ele me olha com os olhos semicerrados. “Que tipo de favor?”.
Seguro a foto do pai de Scarlett e um papelzinho para ele através
do vidro.
Darragh examina o conteúdo. “Está feito. Odeio gente que mexe
com criança”, ele solta.
Dobro o papel e coloco de volta no bolso, feliz pelo fato de os
guardas não terem percebido. “Obrigado. Como estão as coisas?”.
Ele encolhe os ombros. “Tão bem quanto poderiam, quando se
está preso por uma porra de uma vida”, ele diz.
Eu faço que sim, concordando. “Você ainda está comandando
tudo?”.
Ele sorri. “Sempre”. Darragh tomou conta de todo o
abastecimento de drogas dentro da cadeia. Acho que está no
sangue.
O irmão do meu pai sempre foi um traficante desprezível. Porém,
eu melhorei o nível dele, desde que o clã dos McCarthy tomou o
controle do bairro irlandês da cidade. Meu pai foi diferente. Ele e
minha mãe tinham negócios legítimos. Se minha mãe não tivesse
morrido no parto, as coisas teriam sido diferentes.
Não que eu quisesse que fossem. Se as coisas não tivessem
acontecido como aconteceram, Alícia não estaria aqui. E ela é meu
mundo, e isso eu jamais mudaria.
“Você me avisa, quando tiver tudo feito?”, pergunto.
Darragh assente. “Estou coçando para matar alguém, primo.
Estará feito antes de você chegar em casa”.
Sorrio desconfortável, mas por dentro não consigo evitar imaginar
o que se passa dentro da cabeça dele. Apesar de ter precisado
matar na minha vida várias vezes, nunca diria que estou coçando
para matar alguém. Eu faço o necessário para manter meu legado.
“Espero sua ligação, então”.
Darragh se levanta. “Foi bom te ver, primo”. Ele dá uma
piscadinha com um olho. “Diga ao meu pai e aos meus irmãos que
eles são uns filhos da puta, porque nunca vêm me visitar”.
Eu engulo em seco. “Ah, isso me lembra algo que tenho que te
dizer”.
Darragh para e volta para a cabine. “O que foi?”.
Eu sei como Darragh pode ficar louco, quando está bravo, mas
pode ser que isso o ajude a acabar com o pai de Scarlett. “Oisin e
Sean foram assassinados por um italiano filho da puta. Milo Mazzeo”.
Darragh soca o vidro entre nós, mas é um vidro reforçado. Ele
não consegue quebrar. “Filhos de uma puta”. Eu posso dizer pelo seu
olhar que ele está quase surtando.
Os guardas se aproximam. Fico olhando-o derrubar um dos
guardas. No fim, quatro guardas precisam segurá-lo e detê-lo.
Não espero mais tempo, pois sei que seria inútil ficar ali à toa. Já
é hora de voltar para a cidade e me preparar para o ataque.

A S , assim que
entro em casa. Consigo ouvir do corredor, e imediatamente penso
em quem é o idiota que a está fazendo rir. Um acesso de ciúme
ardente e possessivo toma conta de mim.
Vou até a sala de estar. A mesma sala onde transamos ontem à
noite. Quando entro na sala, o sentimento de possessividade
imediatamente se dissipa. Alícia e Scarlett estão sentadas juntas
assistindo a uma comédia. Sinto uma pontada estranha no peito,
vendo as duas mulheres mais importantes da minha vida se dando
bem.
Encosto-me no batente da porta e fico observando-as um
tempinho e, então, limpo a garganta para chamar a atenção delas. “O
que está acontecendo aqui?”.
Scarlett dá um salto ao ouvir minha voz, mas Alícia vira os olhos
para mim. “Estamos vendo um filme. O que mais poderia ser isso?”.
A atenção de Scarlett já não está no filme, mas completamente
em mim.
“Ah, é?”. Eu olho as horas. “Bom, infelizmente, Scarlett vai
precisar perder o fim do filme”.
Alícia sacode a cabeça. “Você não pode bater uma punheta ou
algo do tipo?”.
Estreito o olhar e sinto um surto de raiva com a mera sugestão de
que tudo o que eu quero com Scarlett tem a ver com sexo. “Nós
temos um compromisso esta noite”.
Scarlett ajeita sua postura. “Que tipo de compromisso?”.
Passo uma mão pelo cabelo, hesitante. A questão sobre trazer
Scarlett ou não esta noite está latejando em minha cabeça, desde
que saí do cais. “Uma noite de cassino de grandes apostas”.
Ela franze as sobrancelhas. “Acho que vou precisar encontrar
alguma coisa chique para vestir, então, né?”.
“Sim, venha aqui. Já arranjei algo para você”.
Ela olha para Alícia, que acena com a mão para ela, para dizer
que está tudo certo. “Depois a gente conversa”, minha irmã diz.
Não posso negar que o fato de Scarlett ficar com minha irmã me
deixa nervoso. Alícia tem a boca grande, e depois do que ela contou
sobre meu passado da última vez, eu não me surpreenderia se ela
desse maiores detalhes agora.
Não quero que Scarlett saiba sobre o abuso que sofri no lar de
acolhimento familiar. É uma ferida que não vai sarar e que vive
inflamada por baixo da superfície, alimentando a escuridão que há
dentro de mim.
“Sobre o que vocês andaram conversando?”, pergunto, assim que
nos distanciamos de Alícia.
Scarlett olha para mim e balança a cabeça. “Coisas demais para
mencionar. Passamos o dia todo juntas”.
Eu aperto os dentes. “Eu dei permissão para isso, linda?”.
Ela balança a cabeça. “Não, mas o convite aconteceu, depois que
você saiu. Eu não poderia conversar com você para pedir
autorização”.
Eu paro de caminhar. “Me dê seu celular”.
Ela olha para mim com o olhar questionador, mas me obedece.
Eu abro os contatos e adiciono o número do meu celular. “Agora
você tem meu número, então não existem mais desculpas no futuro”.
Scarlett assente e pega o celular de volta. “Ok, mestre”, ela diz,
obedientemente, colocando o celular de volta no bolso. Ouvi-la me
chamar de mestre faz minha rola ficar dura no mesmo momento, mas
sei que não temos tempo para satisfazer meus desejos agora.
Entrelaço os dedos com os dela e vamos até meu quarto. “Tenho
uma roupa especial para você usar esta noite”. Meu pau está
pulsando só de pensar no vestido azul maravilhoso que escolhi.
Eu abro a porta do quarto e a levo para dentro, fechando a porta
em seguida. A bolsa do vestido foi deixada atrás da porta do
banheiro pela minha governanta, conforme instruído.
“Por que você não dá uma olhada?”, pergunto, acenando para a
sacola.
Scarlett vai lentamente até a bolsa. A hesitação dela é uma graça.
Ela abre o zíper da bolsa e tira um vestido longo azul royal adornado
com lantejoulas prateadas. “É lindo”, ela diz, com a voz cheia de
admiração.
Vou até ela e a envolto, pelas costas, passando os braços pela
sua cintura. “Não tão lindo quanto você”. Pressiono os lábios na pele
de sua nuca e sinto-a estremecer com o contato do meu corpo com o
dela. “Tem isso aqui para colocar também”. Seguro a caixa na frente
dela, mantendo suas costas encostadas em meu peito.
Ela tenta olhar para mim por cima do ombro, mas eu a seguro. “O
que é isso?”, ela pergunta.
“Abra e descubra”.
Por um momento, ela fica parada. Depois de alguns segundos,
ela abre a caixa e encontra um par de brincos de gota de diamante e
um pendente combinando.
Scarlett suspira. “Que lindo”.
Eu sorrio com os lábios colados em sua nuca. “São seus, linda”.
Ela balança a cabeça. “Para usar só hoje à noite, né?”.
Eu a viro para mim. “Não, eles são um presente para você
guardar”.
“São demais”. Os olhos dela se enchem com um sentimento que
só posso descrever como culpa.
O fato de ela recusar meu presente me enfurece. “Bobagem. Se
eu quiser dar um presente para você, eu vou fazer isso e pronto”. Eu
seguro seu quadril de um jeito possessivo, puxando-a na direção do
longo espelho na parede. “Quero que você tire a roupa para mim
para eu poder vestir você”.
Scarlett tira seu suéter e sua calça obedientemente. Ela para e
me olha, forçando-me a dar mais comandos.
“Tira a lingerie também”.
Scarlett abre o sutiã e o deixa cair no chão. Depois, deixa a
calcinha fio dental mínima que está usando.
Meço seu corpo de cima a baixo, lentamente, e paro, assim que
vejo os hematomas em suas coxas. Aperto os dentes para aguentar
a culpa que me inunda no mesmo momento. A visão me lembra
como fui duro com ela ontem à noite e nossa discussão hoje de
manhã.
Coloco a caixa da joia em uma cadeira, volto para pegar a sacola
e tiro o vestido de dentro dela. Durante todo esse tempo, Scarlett fica
me olhando com atenção.
“E o sutiã e a calcinha?”, ela pergunta, olhando para o vestido,
quando volto e fico parado atrás dela.
Eu balanço a cabeça. “Nada de sutiã e calcinha hoje”. Abro o
zíper do vestido e o seguro em frente a ela.
Scarlett coloca o vestido, e eu o puxo lentamente sobre seu corpo
perfeito. Os hematomas estão piores nos glúteos, e isso faz minha
culpa aumentar. Eu os cubro com o tecido azul royal. O vestido cai
no corpo dela como uma luva. Fecho o zíper do vestido, voltando
minha atenção à caixa que coloquei sobre a cadeira ao lado.
Pego-a, volto e fico parado atrás de Scarlett. “Esta noite vai ser
perigosa”. Coloco o colar em seu pescoço e o fecho.
Scarlett fica me observando o tempo todo no espelho e depois
toca o colar gentilmente, olhando-se com admiração. “Perigosa?”, ela
pergunta.
Não acredito no quão maravilhosa ela está. É óbvio que ela não
percebe como é linda. Faço que sim com a cabeça e passo um
brinco para ela colocar. “Sim, nós vamos ao cassino de Milo
Mazzeo”.
A mudança em sua fisionomia é perceptível. Eu percebo a
preocupação gravada em sua feição. “Por quê?”, ela pergunta,
olhando nos meus olhos no espelho.
O plano é insano, mas é a melhor opção que nós temos. “Hoje à
noite nós vamos acabar com isso tudo de uma vez por todas. Meus
homens instalaram explosivos suficientes lá para detonar tudo”.
Passo o outro brinco para ela.
Ela franze as sobrancelhas. “Então, por que raios nós estamos
indo lá?”.
Não consigo segurar uma risada. “Se nós aparecermos lá, nem
eu nem meus homens seremos suspeitos”.
“É claro, vai ser mais provável suspeitarem de vocês, se você
deixar o local antes da explosão, não?”, ela pergunta.
“Nós não vamos embora antes da explosão. Eu sei que parte do
lugar é seguro e não será atingido pela destruição”. Passo uma mão
pela barba. “Nós estaremos lá quando a explosão acontecer, e
teremos sorte em sobreviver”.
Percebo que Scarlett está pálida e coloca uma mão sobre sua
barriga. “Você tem certeza de que é uma boa ideia?”.
É a melhor ideia que nós temos no momento. “Acredite. Nós
vamos sobreviver. Eu prometo, linda”. Eu a viro para mim. “Você não
precisa sentir medo”. Sou dominado pelo meu desejo, quando
pressiono meus lábios contra os dela e a beijo apaixonadamente.
Tento ignorar a dúvida persistente que não sai da minha cabeça.
O plano é insano, mas eu sei que é a melhor maneira de minimizar o
número de vítimas e acabar com isso de uma vez por todas. Milo
acha que sou fraco demais para acabar com ele, mas isso não é
verdade.
Matá-lo a sangue frio faria a tensão aumentar, mas uma explosão
que não pode ser ligada ao clã do McCarthy que destrua a maior
parte de seus homens vai fortalecer nossa posição.
Sabendo que estou colocando meu bem mais precioso em uma
situação perigosa, interrompo o beijo. “É melhor irmos indo, senão
vamos nos atrasar, sussurro contra os lábios de Scarlett”.
É impossível não notar a tensão nos ombros dela. Eu entrelaço
meus dedos com os dela, puxando-a em direção à porta. Sinto a
adrenalina pulsando nas minhas veias ao nos colocar em uma
situação de perigo.
Vou proteger Scarlett, custe o que custar. A questão é: será que
eu estou correndo riscos demais para ganhar essa guerra?
25
S C A R LE T T

M alachy sai do Impala primeiro, vem do meu lado do carro e


abre a porta para mim.
Ele está inacreditavelmente bonito neste smoking. “Está pronta?”.
Não acredito que estamos prestes a entrar na cova dos leões,
que está cheia de explosivos. Malachy insiste que isso é necessário,
e que Milo não esperaria um ataque público. Malachy considera que
assim que todos os seus inimigos estiverem mortos, não haverá
ninguém para ir atrás dele. Os guardas são desonestos e aceitam
propina dos italianos principalmente, mas Malachy pretende
aproveitar e ocupar seus lugares, assim que eles forem embora.
“Não sei”, digo baixinho, pois sei que minha maior questão é o
fato de eu estar grávida. Não é só minha vida que está em jogo.
Ele sorri para mim e balança a cabeça. “Não se preocupe, amor.
Eu vou te proteger”. Os lábios dele brincam sobre a pele do meu
ombro. “Sempre”, ele sussurra.
Detesto a maneira como meu coração acelera, quando escuto
isso. Este cara sabe o quanto eu estou louca por ele. É cruel brincar
com as emoções de alguém da maneira como ele faz comigo toda
hora. A parte sensata do meu cérebro me diz para agir depressa e
fugir rápido de Malachy. Porém, meu coração não concorda.
Eu sorrio e balanço a cabeça. “Não estou preocupada”.
Ele coloca a mão na parte mais baixa das minhas costas e me
conduz em direção à entrada. “Milo vai se aproximar de nós, então,
aja de forma natural”.
“Certo, ainda não entendi por que estamos aqui”. Parece uma
loucura o fato de nós estarmos entrando em um cassino cheio de
explosivos.
“Eu te disse, é a única maneira de garantir que o ataque não seja
associado a mim”. Malachy se inclina sobre mim. “Depois desta
noite, Milo não vai mais estar respirando, e eu não quero levar a
culpa”.
O guarda da entrada intercepta Malachy. “Este evento é somente
para convidados. Você tem um convite?”.
Ele se estica e tira a mão das minhas costas. “Você não sabe
quem eu sou, não, cara?”.
O cara olha para ele sem expressão. “Não importa quem você
seja, se não tiver convite”.
Posso perceber que Malachy está irritado. “Chame Milo aqui
agora”.
O segurança franze as sobrancelhas. “Você conhece Sr. Mazzeo
pessoalmente?”.
“Sim, eu não acho que ele ficará impressionado com o fato de
você ter interceptado um conhecido, você acha?”.
O cara olha à própria volta, nervoso. Depois, dá um passo para o
lado e assente. “Entra, vai”.
Malachy me puxa para eu desviar do segurança, e fico surpresa
com a facilidade que foi entrar sem convite. “Não sabia se ele ia
deixar a gente entrar”, cochicho em seu ouvido.
“Ele teria me deixado entrar. Os caras que trabalham aqui não
sabem a verdade sobre o próprio chefe e a organização subterrânea,
até onde sei”. Nós caminhamos até o caixa. Malachy compra fichas
no valor de quinhentos mil dólares.
“Você pretende gastar tudo isso?”, pergunto, quando saímos do
caixa.
“Sim, isso é só uma gotinha no oceano”. Malachy sorri, mas não
olha para mim, pois seus olhos estão examinando o cassino.
Eu sigo seu olhar e percebo que o chefe da máfia italiana está
parado de costas para nós perto da mesa da roleta. Uma mulher
linda e elegante para ao seu lado. Seu cabelo escuro encaracolado
está solto caindo por suas costas. A mesma mulher que estava com
ele no seu restaurante.
“Quem é a mulher que está com ele?”, pergunto.
O olhar de Malachy encontra o meu. “A esposa dele”.
“Fico surpresa em saber que ele é casado. Qual é o plano,
então?”.
Malachy sorri para mim e se aproxima do meu ouvido. “É hora da
aposta, linda”.
Estou nervosa. Sei que ele não se refere somente a dinheiro. Por
instinto, coloco a mão sobre a barriga, lembrando que não é só
minha vida que está em jogo aqui. Malachy poderia não ter me
arrastado aqui, se ele soubesse.
Caminhamos até a mesa onde Milo se encontra. “Ainda dá para
apostar?”, Malachy pergunta.
Percebo a maneira como Milo e a esposa ficam tensos ao ouvir a
voz de Malachy. “Quem deixou você entrar aqui?”, ele pergunta, com
os olhos azuis semiabertos.
Malachy dá de ombros. “O cara da porta”. Ele passa a mão pelo
cabelo. “Estou surpreso por não ter sido convidado, na verdade”.
Milo estreita os olhos. “Você tem que ser muito cara de pau
mesmo para vir até aqui, McCarthy”. O braço de Milo envolve a
esposa de modo possessivo. Ela está olhando para Malachy com
medo. Isso me faz pensar no que ele pode ter feito a ela da última
vez que se encontraram. “A menos que você concorde com uma
trégua”.
“Eu vim para jogar”. Ele assente para o crupiê. “Me inclua nessa
rodada”. Ele coloca as fichas sobre a mesa.
O crupiê olha para o chefe, Milo, buscando permissão para deixar
Malachy apostar. Milo faz que sim, relutante, e a tensão no ar é tão
intensa que chega a ser sufocante. O crupiê gira a roleta. “Façam
suas apostas”, ele anuncia.
Malachy pega vinte mil dólares em ficha e as coloca sobre o
vermelho.
Milo pega o dobro de fichas e coloca sobre o preto. Faz sentido
ele ter apostado no oposto. Eles são inimigos.
Estamos vendo a roleta girar em silêncio. “Fim das apostas”, o
crupiê anuncia quando a bola e a roleta vão parando. Eu posso sentir
que estamos todos segurando a respiração, esperando a bola parar.
O tempo parece infinito até a bola parar no vermelho. Dezoito.
Malachy sorri, e o crupiê anuncia o número, entregando a ele
vinte mil dólares. Ele dá uma olhada de relance para mim. “Sua vez,
amor”.
Milo está observando como um gavião. “Aida, por que não tenta”,
ele diz, sem nem olhar para a esposa.
Eu encaro Malachy, imaginando como ele espera que eu jogue. É
a primeira vez que entro em um cassino, quanto mais ver alguém
jogar roleta. “Eu não sei as regras”.
“É fácil. Faça a aposta em algo do tabuleiro, tipo vermelho ou
preto, ímpar ou par”. Ele faz uma pausa. “Se você sentir que está
com sorte, pode apostar em um número e cor específicos”.
Pensar em perder o dinheiro de Malachy me deixa nervosa, e ele
me passa vinte mil dólares em ficha. O crupiê gira a roleta
novamente. “Façam suas apostas”, ele anuncia.
Eu encaro o tabuleiro, sem conseguir decidir sobre o que fazer.
Não quero perder o dinheiro de Malachy. Coloco no par, e Aida
aposta depois de mim, no vermelho. Felizmente, não apostamos uma
contra a outra, e percebo que ela sorri de leve para mim. Sinto que
ela não é imbecil como o marido.
A tensão vai aumentando, conforme a roleta vai parando. Seguro
a respiração, esperando para ver se perdi os vinte mil dólares. É uma
quantia de dinheiro absurda. A bola para no trinta e quatro, vermelho.
“Olha só. Nós duas ganhamos”, diz Aida, olhando para mim.
O crupiê entrega as moedas para nós duas.
Milo bate palma, e eu levo um susto. “Vamos parar com essa
brincadeirinha de criança e aumentar as apostas, McCarthy”.
Malachy arruma a postura. “O que você propõe?”.
Ele agarra uma pilha de quatro fichas maiores. “Duzentos mil
dólares para cada um na próxima aposta”.
Fico observando Malachy sorrir com a sugestão. “Sem
problemas”. Ele pega a mesma quantidade de fichas e as coloca
sobre o tabuleiro, mas não em posição ainda. “Pode mandar ver”.
Milo estreita os olhos e faz um aceno ao crupiê, que gira a roleta.
“Façam suas apostas”, ele pede.
Malachy é o primeiro a se mexer e coloca toda a aposta no preto.
Em seguida, Milo previsivelmente coloca seus duzentos mil
dólares no vermelho. Não acredito que esses dois pouco parecem se
importar em apostar uma quantia dessas de dinheiro. Malachy é rico,
e Milo também. Mas não consigo compreender a quantia de dinheiro
disponível que eles têm.
A roleta leva mais tempo para parar, mas isso é provavelmente
produto da minha imaginação. Quando ela finalmente para, sinto
meu estômago congelar. A bola para no número três, vermelho, o
que quer dizer que Malachy perdeu.
Um músculo em seu maxilar se contrai, mas esse é o único sinal
de que está irritado por estar perdendo. Sinto que não é por causa da
quantia perdida, mas pelo fato de estar jogando contra Milo.
Milo sorri maliciosamente, e sua esposa parece preocupada,
assim como eu me sinto com a situação toda. “Muito dinheiro para
seu bolso, Malachy?”, ele pergunta.
Malachy balança a cabeça. “Absolutamente. Estou pronto para
jogar de novo”. Ele acena para o crupiê, que está prestes a girar a
roleta.
“Ora, o que temos aqui?”. Um homem com sotaque europeu
pergunta. “Acho que preciso entrar nessa”.
“Quem é que está encarregado da minha segurança hoje?”, Milo
pergunta, com os olhos transbordando de raiva. “Seja quem ele for,
vou matá-lo com minhas próprias mãos”.
“Mikhail, que surpresa”, Malachy diz.
Ele mal olha para Malachy e se posiciona à mesa. “Eu digo o
mesmo, McCarthy”.
Olho para Malachy de um jeito questionador, mas ele balança a
cabeça.
“Continue, crupiê”, Mikhail diz, acenando para ele.
O crupiê parece um pouco aflito com a tensão que há no ar,
claramente alheio do submundo criminoso insano que existe ali.
Sinto que Mikhail é um inimigo de Malachy e de Milo também.
Ele gira a roleta e anuncia que eles podem fazer suas apostas.
Mikhail faz a aposta primeiro. Ele coloca uma quantidade insana de
fichas sobre o preto. Malachy aposta nos números pares, e Milo, no
vermelho, competindo diretamente contra Mikhail desta vez.
Os três homens olham para a roleta, torcendo para que a bola
pare a seu favor. Está claro que a competição não tem nada a ver
com as apostas e tudo a ver com a dinâmica das relações.
O crupiê fica tenso, quando a bola para no número vinte e dois,
preto, o que quer dizer que Milo perdeu desta vez. Milo cerra os
punhos, quando Mikhail não expressa nem mesmo um sorriso ao
coletar seu prêmio. Malachy parece contente.
Mal posso esperar para isso tudo acabar. A tensão entre esses
três é demais para mim.
Tudo o que eu quero é levar nosso bebê para longe deste perigo,
antes que a gente vire pó e cinza nesta explosão.
26
MAL ACHY

O lho para o relógio. “Foi ótimo jogar com vocês, mas preciso
arriscar em outra mesa agora”, digo, dando um tapinha na
mesa, para que o crupiê me tire da rodada. A aparição surpresa de
Mikhail fez com que o plano todo fosse pelo ralo, e eu preciso
informar aos meus homens que está tudo abortado.
O crupiê assente e tira minhas fichas. Ao me afastar da mesa,
Milo tem a pachorra de segurar meu antebraço. “Eu instruí minha
equipe a ficar longe de você. Se você tentar qualquer coisa, eles não
vão hesitar em matá-lo”.
Eu encaro o italiano. “Pois eu gostaria de ver isso”. Puxo meu
braço e deslizo minha mão pelas costas de Scarlett. “Vamos lá, meu
amor, vamos beber alguma coisa”.
Scarlett agarra meu braço ao caminharmos em direção ao bar.
“Isso foi intenso”.
Dou risada. “Acredite em mim. Já estive em situações mais
tensas do que isso com Milo. Isso não foi nada, se você quer saber”.
Scarlett parece irritada. “Você está se referindo à última vez que
vocês dois se encontraram que você não quer me contar?”.
Eu aperto os dentes. Estou puto por ela estar mencionando isso
de novo aqui. “Não quero te contar, porque aquele dia foi violento
para caralho”. Ela me olha de maneira questionadora. “Você não
olharia para mim da mesma forma, se soubesse”.
Ela franze as sobrancelhas. “Como você sabe disso?”.
Eu balanço a cabeça. “Esse não é o momento nem o lugar para
esta conversa”. Eu deslizo a mão das costas dela até o quadril e dou
uma apertadinha. “Eu preciso de um drinque, e está ficando em cima
da hora para abortar o plano, amor. O fato de Mikhail Gurin estar aqui
significa que nós temos um problema gigantesco”.
Parece que a menção da explosão faz a questão voltar à tona.
“Quem é ele?”.
Eu passo a mão pela nuca. “Da máfia russa, e não o tipo de cara
que eu gostaria de matar nesta explosão. Preciso impedir que isso
aconteça, antes que seja tarde demais, senão os russos vão acabar
com a gente”.
Concentro minha atenção no prefeito que está aqui esta noite,
sem dúvida porque Milo está prestes a entrar para o conselho da
cidade. O conselho inteiro vai se desfazer, se der tudo certo hoje. Ele
está parado ao bar com a esposa, conversando com ninguém mais,
ninguém menos que Jameson.
Quando Jameson vê que eu estou me aproximando, ele arregala
os olhos. “Malachy, não esperava vê-lo aqui hoje”.
O prefeito vira para olhar para mim. “Desculpe, acho que não nos
conhecemos”. Ele estreita os olhos ao ver a tatuagem que tenho
visível no pescoço.
Eu balanço a cabeça. “Não, acho que não mesmo”. Eu estendo a
mão para ele. “Malachy McCarthy, empreendedor de sucesso nesta
cidade”.
O prefeito sorri e pega minha mão. “Entendi. Como Milo, é isso?”.
Faço que sim. “Pode-se dizer que sim”.
Jameson olha para mim com um olhar de advertência. “Quer
beber alguma coisa, Malachy?”.
“Uísque irlandês, e ...”, olho para Scarlett, percebendo que não
sei ainda qual é sua bebida favorita. “O que você quer, meu amor?”.
“Quero água, por favor”.
Eu acho estranho o fato de ela pedir água em um momento de
tanta pressão. “Deixa de ser boba, Scarlett. Você pode beber algo
alcoólico”.
As bochechas de Scarlett ficam vermelhas. “Estou com sede e só
quero água, por favor”.
Jameson assente e se volta ao barman. “Uma água e um uísque
irlandês, por favor”.
Esta não é a primeira vez que ela recusou álcool ultimamente, e é
nesse momento que minha ficha cai.
Será que ela está grávida?
Nós estamos transando faz mais de um mês, mas não transamos
nas últimas duas semanas. Esta garota me deixou tão louco que não
me certifiquei se ela tomava pílula, quando transamos. Eu fiz todas
as virgens tomarem pílula para não ter surpresas indesejadas.
Jameson nos passa nossos drinques. “Obrigado. Licença um
minuto”. Puxo Scarlett de lado e a levo para um corredor silencioso,
longe de todo mundo.
“O que está acontecendo? É aqui que precisamos ficar agora?”,
Scarlett olha para mim, pálida ao notar a raiva em meu semblante.
“Não me diga que você está grávida. E você não me disse nada”.
Mais pálida ainda, ela dá um passo para trás. “O quê?”.
Eu balanço a cabeça. Odeio a maneira como ela tenta me fazer
de idiota. “Me diga por que você não está bebendo álcool”.
Ela fica olhando meus olhos por longos instantes, até que expira
de maneira trêmula. “Sim, eu estou grávida”. Ela dá um passo para
trás, distanciando-se mais ainda de mim. “Fiz um teste, quando
estávamos separados”.
A notícia parece me tirar o ar. Grávida. Eu não sou apto para ser
pai. “Por que você não me contou, quando busquei você hoje?”.
Ela olha para baixo e não olha para mim. “Eu não sabia como
contar para você, ou como você iria reagir”.
Eu levanto seu queixo e a obrigo a olhar nos meus olhos. “Você
deveria ter me contado antes de vir”. Eu balanço a cabeça. “Você
está grávida de mim, amor. Você não acha que eu tinha o direito de
saber?”.
Ela faz que sim com a cabeça. “Sim, eu tenho medo de ...”.
“Medo de eu forçá-la a tirar o bebê?”, pergunto.
Scarlett não compreende a profundidade dos meus sentimentos
por ela, achando que eu a faria abortar nosso filho.
Ela encolhe os ombros. “Talvez”.
A raiva que eu sinto por ela achar que eu pediria para ela se livrar
de nosso filho é incontrolável. Dou um soco na parede, fazendo
meus dedos sangrarem. “Você está maluca, Scarlett. Por que raios
eu pediria algo assim a você?”.
Ela estuda meus olhos, como se procurando a resposta de uma
pergunta não dita.
“Você não sabe o quanto eu gosto de você?”, pergunto,
estudando os olhos dela agora.
É como se nós dois tivéssemos medo de dar o passo crucial e
dizer para o outro a verdade. A verdade que eu já sei há muito
tempo. Que Scarlett é a mulher da minha vida. Amor da minha vida e
alma gêmea, mesmo que eu acreditasse que eu não merecia
encontrar nenhuma das duas coisas. Ela pode curar feridas que
achei que jamais curariam dentro de mim – porra, ela já começou a
curá-las.
“Eu esperava, mas eu nunca ...”, ela pausa, incerta sobre como
se expressar.
Um homem passa pelo corredor e desfaz a tensão que há entre
nós. Percebo que este não é o momento para ter uma conversa tão
íntima e importante.
“Chefe, recebemos sua mensagem. O que está acontecendo?”,
Niall fala pelo fone de ouvido.
Pressiono um dedo sobre o ouvido e seguro o receptor. “Mikhail
Gurin está aqui. Simples assim”.
“Porra”, Niall diz em resposta. “Faz sentido abortar no momento”.
Ficamos em silêncio por alguns instantes. “E os explosivos?”.
Percebo como é perigoso deixá-los onde estão e serem
descobertos mais tarde pelos homens de Milo. “Deixa comigo”.
“Senhor, tome cuidado e saia daí assim que puder”.
Não digo mais nada. “O que está acontecendo?”, Scarlett
pergunta.
“Como Mikhail está aqui, precisamos abortar o plano”.
Ela fica surpresa. “Ele também é seu inimigo. Por que você não o
deixa explodir também?”.
Solto um suspiro profundo. “Gostaria muito, linda. Mikhail Gurin é
um homem poderoso que tem amigos inacreditavelmente poderosos
por todo o país”. Eu passo a mão pela nuca. “Incluindo Andrei Petrov,
o pakhan da Bratva da Cidade de Nova York”. Eu balanço a cabeça.
“Os russos são espertos e formam alianças entre as cidades. Se
Gurin morrer, Petrov estaria aqui em um segundo. Não podemos
arriscar o burburinho”.
Scarlett parece um pouco confusa, quando pego sua mão e a
conduzo a uma mesa no bar. “Não tenho tempo agora para ensinar a
você como funciona a política desse mundo. Tudo o que quero é que
você fique aqui enquanto eu gerencio um pouco o controle dos
danos. Você consegue fazer isso para mim?”.
“Sim, mestre”, ela diz, baixinho, deixando-me excitado no
momento mais inconveniente do mundo. É muito louco como esta
mulher tem poder sobre mim.
Pressiono meus lábios sobre os dela em um beijinho rápido. “Boa
garota. Vou o mais rápido que eu puder. Não saia daqui”.
Viro e passo pelo corredor em direção à parte interna do edifício.
Nós tínhamos instalado os explosivos na parte inferior esquerda,
bem abaixo da área dos jogos. Scarlett está no bar, que é a parte
mais segura do prédio, caso haja uma explosão.
O corredor está deserto, o que é um bom sinal. Vai ser um feito
mais difícil tentar entrar no porão sem ser visto. Meu coração
dispara, quando escuto passos vindos da direção contrária da minha.
Caralho.
Se eu tiver que lutar contra algum babaca de um italiano, que
seja. Três homens viram no corredor e fixam sua atenção em mim,
como se esperassem me ver aqui. “McCarthy, não é?”, um deles
pergunta.
Eu franzo as sobrancelhas. “O que é, cara?”.
Ele balança a cabeça. “Se você queria pegar seus explosivos,
eles já foram retirados há muito tempo”.
Sinto um frio imediato na barriga. “Não sei do que você está
falando”.
Um dos homens sorri com malícia. “Você sabe bem do que
estamos falando. Encontramos eles durante o dia ainda”.
Minha cabeça se volta a Scarlett. Eu estou aqui com eles, e eles
não vão hesitar em raptá-la ou machucá-la enquanto estou
incapacitado. “Não sei do que vocês estão falando, mas estou indo
embora”. Corro de volta em direção ao caminho que fiz e dou de cara
com uma parede de puro músculo.
“Calma, belezinha”. É o segurança que me deixou entrar no
cassino. Desde o início isso foi uma armadilha. Eles já sabiam o que
eu pretendia fazer desde o começo.
Dou um soco forte no rosto do cara e quebro seu nariz. Se eles
acham que eles vão acabar comigo sem resistência real, eles estão
muito enganados.
O cara resmunga, quando o empurro, esquivo-me e consigo
correr de volta para o cassino principal. Durante todo esse tempo, a
única coisa sobre a qual consigo pensar é em Scarlett e no perigo
que ela está correndo.
Entro correndo no cassino principal e bato a porta atrás de mim.
Uma vassoura deixada ali é a ferramenta perfeita para enfiar na
maçaneta da porta para impossibilitar que a abram e, assim,
despistá-los. Respiro fundo, de maneira tranquila, e caminho
calmamente pelo cassino em direção ao bar, apesar do pânico que
sinto por dentro para correr até Scarlett.
Quando chego à mesa, não há sinal dela. Neste momento, sinto o
pânico me paralisar.
Milo está segurando a mulher da minha vida. Eu sei que a única
esperança agora é encontrá-la e salvá-la, antes que seja tarde
demais. Depois da maneira como eu tratei a esposa dele, Milo não
vai hesitar em maltratar Scarlett de maneira cruel. Ele vai matá-la, se
tiver a chance.
Eu dou uma olhada geral no cassino, procurando qualquer sinal
de minha donzela de cabelos ruivos. Eu não fico assustado assim,
desde quando era criança no acolhimento familiar. Scarlett
representa o mundo para mim, e eu não posso perdê-la.
27
S C A R LE T T

O banheiro está vazio, e, embora Malachy tenha me dito para não


sair do bar, precisei sair do cassino.
Ele ficou bravo, quando eu disse para ele que eu achava que ele
poderia me forçar a fazer um aborto. Eu não sabia como dizer a ele
que eu estava grávida. A porta do banheiro abre, e sinto meu
estômago congelar, quando vejo Milo e dois homens parados atrás
de mim.
Eu viro, tentando manter a calma. “Este é o banheiro feminino”.
Milo solta uma risada malvada e cruel que deixa minha espinha
arrepiada. “Ah, é, bella?”.
Corro para a cabine mais próxima, mas Milo é rápido demais. Ele
me levanta pela cintura e me tira de lá. “Me solta”, eu grito, tentando
chutá-lo.
Um dos comparsas dele o ajuda e segura minhas pernas. Eles
me colocam em pé, para poderem me prender contra uma parede.
Fico nervosa, pensando em onde estará Malachy.
“Você e seu namorado acharam que poderiam vir aqui, explodir
tudo e se safar, é?”.
Meu coração para de bater momentaneamente. Milo descobriu o
plano de Malachy. “Eu ... eu não sei do que você está falando”.
Milo dá um sorrisinho malicioso. É um dos sorrisos mais cruéis
que já vi em toda minha vida. Malachy é obscuro, mas este homem é
mais ainda. Eu vejo que ele se regozija em ver meu medo. “Chega
de besteira comigo, bella”. Ele dá um passo para frente,
aproximando-se cada vez mais de mim. “Nós encontramos os
explosivos durante o dia e já os desarmamos”.
Sinto minhas costas baterem contra a parede e percebo, no
mesmo momento, que estou em uma cilada. “O que você quer?”.
Milo para de se aproximar e inclina a cabeça para o lado de leve.
“Vingança desse filho de uma puta doente e pervertido que parece
que tem você como um cachorrinho na coleira”. Ele estreita os olhos
me encarando. “Aposto que ele não te contou o que ele fez com
minha esposa, quando a sequestrou há menos de dois meses”.
Sinto frio na barriga, quando percebo que estou prestes a
descobrir deste homem aquilo que Malachy não quer me contar. “O
que ele fez?”.
Posso perceber pelo brilho cruel nos olhos de Milo que ele está
se divertindo. “Os homens dele a sequestraram no Aeroporto
Internacional de Boston Logan e depois a torturaram no galpão dele”.
Milo dá um passo à frente e se aproxima de mim, deixando-me cada
vez mais ciente de como estou encurralada. “Ele a cortou com uma
faca e a fez sangrar”. Milo sacode a cabeça. “Por sorte, encontrei-a
logo. Senão ... ele me contou o que teria feito com ela. Ele me disse
que a teria estuprado e matado depois”.
Só de pensar nisso, sinto o meu estômago revirar. Malachy não
pode ser capaz de uma coisa tão perversa, será que pode? Eu sei
que a escuridão o conduz de um jeito que não posso compreender
completamente. Malachy não tinha ninguém para cuidar dele, do jeito
que minha mãe cuidou de mim. Se não fosse por ela, talvez eu fosse
tão louca das ideias quanto ele.
“Isso não pode ser verdade”, eu murmuro.
Milo ri. “Acredite. É verdade”. Ele olha para um de seus homens.
“Como eu sou um homem com um casamento feliz, estupro está fora
de cogitação para mim. Piero vai fazer essa honra, né, Piero?”.
O homem a quem ele se dirigiu, Piero, parece relutante. “Se é
uma ordem, chefe”.
Milo parece decepcionado. “Você está me dizendo que não quer
comer essa ruivinha linda?”. Ele volta sua atenção a outro homem. “E
você, Ângelo?”.
O outro homem dá um sorrisinho dissimulado e se aproxima. “Eu
com certeza estou bem a fim”. Ele passa a mão pela frente da calça,
causando-me um enjoo intenso.
Malachy me disse para não sair do bar. Ele estará procurando por
mim, mas não vai me encontrar, até que seja tarde demais.
Alguém abre a porta do banheiro. Piero é empurrado para trás e
se choca com força contra uma parece. Malachy fica parado em cima
dele com o olhar frenético, selvagem. “É bom você ficar bem longe
da minha garota, Milo”.
Ele empurra o outro cara, Ângelo, contra a parede também,
derrubando-o com tudo.
Milo ri e me segura. E então me coloca na sua frente. “Senão o
quê? O jogo virou desde a última vez, hein?”. Ele passa a mão pelo
meu peito, e sinto vontade de vomitar. “Garota bonita que você foi
arranjar, hein? Que pena que eu vou ter que sujá-la da mesma forma
como você sujou minha esposa”.
Malachy rosna como um animal. “Experimenta fazer alguma coisa
com ela. Vou matá-lo com minhas próprias mãos”.
Ele ri. “Não antes de eu quebrar o pescoço da sua mulher”.
Sinto um medo congelante passar por mim, quando percebo
como o homem que está me segurando é perigoso. Não tenho
dúvidas de que ele me mataria sem hesitação alguma só para atingir
Malachy. Eles são inimigos, e Malachy machucou sua esposa. Eu
sinto que dente por dente, olho por olho é uma regra básica sob a
qual esses homens jogam.
“O que você quer, Milo?”, Malachy pergunta, admitindo a derrota.
“Você acha que você tem alguma coisa para me oferecer,
Malachy?”.
Malachy dá um passo à frente, fazendo Milo mostrar sua faca.
Milo segura a faca com força contra minha garganta. Isso parece
uma situação sem escapatória. “Fim da guerra e sua cocaína
devolvida até meia-noite?”.
A pressão da faca de Milo é aliviada. “Não dá para você querer
trégua com tanta facilidade. Qual é a pegadinha?”.
Malachy olha para mim por um longo tempo, como se tentando
me dizer alguma coisa. Quando ele abaixa o olhar, capto a ideia. Ele
quer que eu lute.
A atenção de Milo já não está mais fixa em mim, enquanto ele
observa seu inimigo. “Bom, fala logo. Qual é a porra da pegadinha,
McCarthy?”.
Eu solto meu braço e bato com o cotovelo em sua virilha, com
força. “Cazzo”, Milo grita, ao me soltar por tempo suficiente, para que
eu possa correr até Malachy.
“A pegadinha é que essa é uma oferta falsa, Milo”. Ele me segura,
colocando-me para trás de suas costas. “Por que isso parece um
déjà vu?”, Malachy pergunta.
Milo dá risada. “Eu andei aperfeiçoando minhas habilidades de
luta com os punhos desde a última vez”.
Malachy vai em sua direção, e eu fico nervosa. “É bom para você,
mas isso não vai ajudar”. Eu fico observando-o levantar as mãos na
frente dele. “Você está pronto para perder mais uma vez, Mazzeo?”.
As narinas de Milo estão abertas. Ele traz os punhos em frente ao
rosto. “Estou pronto para acabar com você desta vez, McCarthy”. A
quantidade de testosterona nesta sala é grande demais. A
autoconfiança desses dois é absurda. Eu acho que é assim que eles
controlam as organizações mafiosas.
Alícia mencionou que Malachy é campeão de luta livre desde
muito novo. Tenho certeza de que ele é capaz de derrotar Milo.
Meu coração dá um pulo, quando Milo dá o primeiro golpe, um
golpe pela esquerda.
Malachy se esquiva com facilidade e dá um soco no queixo de
Milo.
É um golpe que machuca Milo, e ele recua para trás, agarrando a
própria mandíbula. “É um soco do caralho esse seu”.
“Você não se torna um campeão invicto sem um desses”, diz
Malachy, agora na ofensiva ao se aproximar de Milo, aplicando-lhe
um soco no estômago.
Milo resmunga e revida com raiva. “Filho da puta irlandês do
caralho”, ele grita, socando o estômago de Malachy.
Eu estremeço, pensando que Malachy está sentindo dor. Malachy
parece estar completamente inabalável pelo golpe e vai para cima de
Milo sem hesitar. “É só isso que você sabe fazer?”. Ele balança a
cabeça. “Não tenho certeza se você está se aperfeiçoando o
suficiente nos golpes de punho”. Ele o soca três vezes, acertando-o
no estômago, depois do maxilar, voltando, em seguida, para o
estômago de novo.
Milo recua uma segunda vez, parecendo incapaz de conseguir se
defender em um espaço tão confinado.
“Só há uma maneira de esta luta acabar”, Malachy continua a
provocá-lo, deixando-o ainda mais bravo. Quanto mais bravo Milo
fica, mais erros ele comete.
Milo solta um grunhido e vai para cima de Malachy com agilidade.
Ele tenta alguns socos certeiros, mas Malachy se livra de todos eles.
Odeio ver Malachy se ferir. Minha cabeça volta à nossa conversa
antes de ele ir arrumar os explosivos.
Você não sabe o quanto eu gosto de você?
Nunca permiti acreditar que Malachy pudesse sentir qualquer
coisa por mim. A maneira como nos conhecemos foi qualquer coisa,
menos tradicional. É claro que uma história de amor não pode
florescer de uma situação tão incomum.
Ao vê-lo lutar para me salvar, sei que, no fundo, nós dois nos
amamos. Nós podemos até estar emocionalmente desconectados e
fragilizados, mas gostamos um do outro. Não posso imaginar minha
vida sem Malachy nela, não importa o perigo que o acompanhe.
Estremeço, quando Milo acerta um soco horrível no rosto de
Malachy, mas ele parece nem perceber. Malachy é muito forte. É
difícil acreditar em como alguém pode ser como ele.
Fico admirada com ele e, apesar de que eu nunca contaria para
ele o que Alícia me disse, não posso acreditar que ele encontrou
tanta força, depois do que ele passou. Algumas pessoas são
destruídas pelas dificuldades, outras acabam ficando mais fortes e
mais luminosas do que nunca.
O passado de Malachy pode até tê-lo prejudicado, mas ele o
domina de uma forma que eu jamais poderia. Ele nunca teve a
chance que eu tive de se curar do trauma pelo qual ele passou e,
pelo que parece, ele passou por muito mais do que eu.
“É só isso que você sabe fazer?”, Milo xinga, quando Malachy
acerta um soco em suas costelas.
Malachy não reage. Ele mal continua se mexendo ao redor do
adversário. Seus movimentos são elegantes, meio como se ele fosse
um dançarino.
Ele espera pelo momento oportuno antes de acertar Milo com
tanta força que chega a abrir um talho em seu olho. Começa a
escorrer sangue do rosto de Milo, e ele tenta se concentrar em
Malachy.
Algo me diz que esta briga vai ficar ainda mais violenta antes de
chegar ao fim. Não estou preocupada se Malachy vai vencer. Em vez
disso, estou preocupada com o fato de ele matar Milo.
Não tenho dúvidas de que ele pode matá-lo com os próprios
punhos, pois já presenciei isso antes. Se Malachy matar Milo a
sangue frio, só há um destino para ele, e este destino é a cadeia.
Não sei se posso encarar perdê-lo desta forma.
28
MAL ACHY

A certo um soco e tanto em Milo, como um arremate final. Ao


encarar seu corpo débil no chão do banheiro feminino, a
tentação de acabar com ele aqui e agora é imensa.
A caçada que se seguiria a partir daí não valeria a pena. Deveria
ser impossível ligar a morte de Milo a mim, e matá-lo com minhas
próprias mãos é o oposto disso.
Seguro a mão de Scarlett. “Vem, linda. Vamos dar o fora daqui”.
Scarlett está olhando para baixo, para o homem inconsciente no
chão. “Você não vai matar ele, afinal?”, ela pergunta, e eu fico
chocado com uma pergunta tão direta.
Eu sorrio para ela e balanço a cabeça. “Não. Se eu fosse matá-lo
a sangue frio, pode apostar que eu iria parar na cadeia”.
“É verdade”. Seu olhar fica mais suave, quando ela olha para
mim. “É melhor sairmos daqui. E rápido”.
É só nesse momento que percebo que um dos homens de Milo
entrou no banheiro.
“Calma aí”. Ele estende os próprios punhos na sua frente.
Coloco Scarlett atrás de mim e aceno com a mão para ele chegar
mais perto.
Ele hesita, o que comprova que ele não tem ideia do que está
fazendo, quando se trata de golpes de punho.
Dou um passo à frente e desfiro um soco bem na sua mandíbula.
Ele grita com dor e tenta trazer a mão para o lugar do soco. Antes de
chegar a isso, desfiro outro soco em seu estômago. A força do soco
o deixa sem ar, e ele cai de joelhos, ofegante.
Pego a mão de Scarlett e finalmente a levo para fora do banheiro,
mas esse é só o primeiro passo. O lugar está lotado com comparsas
de Milo, e nós precisamos dar o fora.
“Como vamos fugir daqui?”, Scarlett diz, cochichando.
Eu balanço a cabeça. “Estou tentando pensar em um plano,
linda”.
Examinando o salão, percebo uma saída de emergência do lado
oposto. “A saída de emergência é nossa melhor alternativa, mas
vamos precisar permanecer despercebidos até chegarmos ao outro
lado do salão”. Faço um aceno para o outro lado.
Scarlett parece pensativa ao observar o salão. “Nós precisaremos
arriscar”.
“Concordo”. Não existe outra escolha senão chegar à saída sem
sermos visto pelos homens de Milo. Posso até ter nocauteado Milo,
mas ele não vai ficar desacordado por muito tempo. “Vamos”.
Entrelaço os dedos com os de Scarlett e a conduzo pelo cassino.
Chegamos na metade do salão sem problema algum, até que
Mikhail Gurin nos intercepta. “Malachy, onde está Milo?”.
Dou de ombros. “Mas como é eu poderia saber? Não estou me
dando bem com o cara”.
Seus olhos miram meus punhos sujos de sangue. “Você bateu
nele e venceu?”, ele pergunta.
“Sim, o que isso quer dizer para você?”.
Mikhail passa a mão pela nuca. “Estou tentando entender quem
devo apoiar nessa guerra. No momento, você está se provando mais
resiliente”. Ele estende a mão para mim, e eu olho para ela
cauteloso. Os russos são uns filhos da puta dissimulados, e com
suas alianças dentro da cidade, seu poder não é pouca coisa.
Pego sua mão e a aperto, pois sei que emputecer outro membro
da elite criminosa de Boston seria uma péssima ideia. “Pretendo
continuar sendo”.
Mikhail concorda com a cabeça e sai da minha frente. “É melhor
você ir logo, porque estou vendo Milo”.
Meu estômago congela e resisto à necessidade de olhar por cima
do meu ombro. “Será que o filho da puta me viu?”.
Ele balança a cabeça. “Ainda não. Vai”.
Scarlett aperta minha mão, lembro-me que não se trata mais só
de salvar a mim mesmo. A vida dela e do nosso bebê estão em jogo,
se não conseguir tirá-la daqui com segurança.
Continuamos indo em direção à rota de fuga lentamente. Se
corrêssemos, eles nos notariam facilmente.
Felizmente, o cassino está tão cheio que é fácil se misturar.
Conseguimos chegar a alguns metros da saída de incêndio,
quando a esposa de Milo entra na nossa frente. “Aonde você pensa
que vai, Malachy?”.
Olho bem nos olhos dela, de forma ameaçadora, pois sei que não
importa o quão corajosa ela tente parecer, eu sempre consigo
assustá-la. “Estou indo embora, Aida”. Eu olho para ela com os olhos
entreabertos. “O que você vai fazer para me impedir?”.
Ela desvia o olhar para Scarlett. “Como é que você pode ficar
com um homem desses?”.
Scarlett balança a cabeça. “Ele é um homem muito melhor do que
você imagina. Não importa o que ele fez para você, seu marido faria
o mesmo comigo”.
Sinto orgulho de Scarlett por ela me defender desta forma.
Embora eu não seja um homem melhor do que Aida imagina. Sou
bruto, e nada mudou.
Aida concorda. “Não tenho dúvida disso”. Ela olha para o outro
lado do cassino, parecendo arrasada. Seu olhar encontra o meu.
“Apesar do que você fez comigo, não quero nenhuma carnificina
acontecendo aqui”. Ela dá um passo para o lado. “Agora saiam,
antes que ele veja vocês”.
Scarlett sorri para Aida. “Obrigada”.
Aida balança a cabeça. “Vão. Já”.
Eu a puxo pela saída e abro a porta. Assim que estamos na
calçada, começo a relaxar.
“Foi por pouco”, Scarlett diz, parecendo tão aliviada quanto eu.
“Não estamos completamente fora ainda, linda”, digo, puxando-a
em direção ao estacionamento na esquina. “Precisamos agir rápido,
antes que eles decidam nos procurar fora do cassino”. Conduzo-a
até a esquina, quando, de repente, preciso impedir que dê mais um
passo.
“Merda”, resmungo, irritado por ver três dos homens de Milo
vigiando meu Chevy Impala. “Aquele filho da puta italiano está
prestes a roubar mais um dos meus carros preferidos”.
Scarlett franze as sobrancelhas. “Mais um?”.
Lembro do momento em que ouvi a explosão na parte externa de
minha casa, de correr para fora e ver minha posse mais adorada
toda espalhada pela entrada. “Ele explodiu meu Corvette L88 1967
conversível. Foi por isso que raptei a esposa dele”.
Scarlett arregala os olhos. “Uau, deve ter sido difícil para você”.
Sinto a raiva perigosa agindo dentro de mim ao me lembrar do
acontecido, mas isso não foi nada comparado à visão de Milo com as
mãos em Scarlett. “Foi, mas não tanto quanto ver aquela faca no seu
pescoço”.
Scarlett busca meus olhos. “O que você quer dizer?”.
Sinto meu estômago se contorcer de nervoso. “Estou dizendo que
você é tudo para mim, meu amor. Agora, precisamos achar um táxi”.
Aperto sua mão dentro da minha e a puxo para o lado oposto ao
estacionamento.
A rua da entrada principal do cassino está lotada, mas os homens
estão procurando por nós pela multidão. “Agora estamos na bosta da
cova dos leões, amor”. Puxo Scarlett até uma faixa de pedestres,
esperando para atravessar para o outro lado da rua. Nós não
estamos nos disfarçando muito bem entre as pessoas, considerando
as roupas que estamos vestindo.
“Eles vão ver a gente”, Scarlett sussurra.
Eu balanço a cabeça. “Não vão, não, se você mantiver a calma”.
O semáforo abre, e nós cruzamos a rua até uma fileira de táxis.
Encontramos um com as luzes ligadas e entramos. “Beacon Hills,
cara”, digo.
O motorista do táxi assente, desliga as luzes e sai. Ao passarmos
pelos homens de Milo que estão nos procurando, sinto o alívio
invadir todo o meu corpo. “Obrigado, porra”, eu sussurro, colocando
a mão sobre a coxa de Scarlett. “Conseguimos, linda”.
Ela olha bem nos meus olhos de um jeito apaixonante. “Parece
que conseguimos, sim”. Ela suspira profundamente. “E seu carro?”.
Eu dou de ombros. “Compro outro depois, se meus homens não
conseguirem salvá-lo”. Pressiono sua coxa com mais força. “O
importante é que nós dois estamos a salvo”. Eu a beijo com paixão.
Ela faz que sim com a cabeça e encosta no banco. “Acho que foi
meio desastroso hoje. A guerra não está nem perto de acabar?”, ela
pergunta.
Eu balanço a cabeça. “Não, tem muita coisa pela frente ainda”.
Eu percebo que a guerra a deixa preocupada. Não me surpreende,
considerando que ela está grávida com o meu filho.
Outra fraqueza da qual Milo poderá se aproveitar, quando
descobrir. A menos que a gente garanta que ele não descubra nada.
“O que vai acontecer agora?”, ela pergunta, olhando para mim,
esperançosa.
Eu engulo em seco. Sei que é hora de expressar meus
sentimentos verdadeiramente. Scarlett é tudo para mim, assim como
nosso bebê. É claro que eu não sou apto a ser pai, mas Scarlett será
uma mãe excelente. De alguma forma, nós vamos fazer a coisa toda
funcionar.
“Quero que você fique comigo, não porque eu comprei você, ou a
fiz ficar”. Estudo seus olhos azuis brilhantes. “Quero que você fique,
porque você quer ficar”. Meu peito dói ao ouvir as palavras que estou
prestes a dizer. “Se você não quiser, eu vou entender, se você for
embora”.
Ela balança a cabeça. “Eu quero ficar. É uma coisa maluca,
considerando a maneira como nos conhecemos, mas eu quero”.
Eu sorrio para ela e beijo seus lábios, passando a língua por cada
pedacinho de sua boca. Quando paramos, estou sem ar. “Amo você,
Scarlett”, eu sussurro bem baixinho.
“Eu amo você também”.
Meu coração parece crescer dentro do peito ao ouvi-la dizer
essas três palavras para mim. Três palavras que eu não acreditava
que alguém diria a mim além da minha irmã.
A escuridão que me controla está ficando mais suave a cada
momento que passo com Scarlett. “Mal posso esperar para chegar
em casa e fazer um monte de coisa safada com você”.
Ela estremece de novo, apertando bem as coxas uma na outra.
“Que tipo de coisa safada?”, ela sussurra, e eu fico mais duro que
pedra.
Solto um gemido ao falar no seu ouvido. “Você vai ter que ser
uma boa garota e esperar para ver”.
Ela faz um biquinho para mim. “Você não pode me contar?”.
Eu balanço a cabeça. “Não insista, senão vou ter que castigar
você além de tudo”. É impossível não perceber como seus olhos se
iluminam, quando menciono a palavra castigar.
“E se eu gostar de ser castigada?”, ela pergunta.
Eu aperto sua coxa com mais força, com força suficiente para
doer. “Você é uma garota bem safadinha”. Percebo que o motorista
do táxi está olhando para nós pelo espelho retrovisor. “Cuidado,
parece que temos plateia de novo”.
Scarlett olha para o motorista do táxi, e ele desvia a atenção para
frente de novo.
Eu tiro o celular do bolso. “Preciso falar com Niall e pedir a ele
que pegue meu carro, quando a poeira abaixar”.
Scarlett concorda e fica me olhando digitar minha mensagem
para ele e, por fim, enviar.
Niall responde rápido.

P , chefe. Ah, outra coisa, Darragh já confirmou que


foi feito. Ele disse que você saberia de que se trata.

M , quando olho para Scarlett. “Aliás,


linda. Prometi que seu pai não seria capaz de machucar mais
ninguém. E ele não será”.
Scarlett olha para mim surpresa. “O que você fez?”.
Eu balanço a cabeça. “Nada, só mexi meus pauzinhos na cadeia”.
Eu a puxo para perto de mim. “Ele se foi para sempre e não poderá
machucar mais ninguém”.
Vejo lágrimas escorrerem pelo seu rosto, e ela me aperta com
mais força. “Obrigada, Malachy, por tudo”, ela sussurra, e nós
ficamos em silêncio, sentindo um ao outro.
O trajeto parece infinito, mas, finalmente, chegamos ao portão da
minha casa. Eu saio do táxi, ajudo Scarlett a sair e, então, pago o
motorista.
Scarlett ainda está mais linda do que nunca, apesar da
experiência pela qual passamos. Ela é forte e aguenta as merdas
que minha vida vai causar a ela.
Coloco a mão na parte de baixo de suas costas e a conduzo para
dentro de casa. “Está com fome, amor?”.
Scarlett balança a cabeça. Suas bochechas estão vermelhas.
“Não de comida”.
Eu praticamente rosno, sentindo meu lado selvagem e primitivo
tomando conta de mim com toda a força. “Se você está sugerindo
que está com fome do meu pau, amor, então diga essas palavras”.
Ela morde o lábio inferior. “Estou com fome do seu pau”, ela diz,
provocando-me.
Eu a tiro do chão e a faço dar um gritinho de susto.
“O que você está fazendo?”, ela pergunta.
Não respondo e a carrego pela escada em direção ao quarto.
Quando chego à porta, giro a maçaneta e dou um chute para abri-la.
Eu fecho com o pé também, trazendo Scarlett nos braços.
Assim que entramos no meu quarto, coloco-a em frente ao
espelho. “Eu vou te despir”. Coloco a mão no fecho do colar dela e o
abro, colocando-o, em seguida, sobre a cadeira. Depois disso, eu
abro o zíper do vestido dela e o tiro delicadamente de seu corpo
sensual. “Você é perfeita”, eu sussurro, plantando um beijo em seu
ombro.
Ela estremece. “Preciso ter você dentro de mim”, ela diz,
deixando-me com o pau mais duro ainda do que eu imaginava ser
possível.
“Tenha paciência, meu amor”. Coloco o vestido sobre o encosto
da cadeira. “Vou devagar com você hoje”. Eu a levanto e a levo para
a cama, pousando-a com delicadeza. “Temos todo o tempo do
mundo, linda”. Eu a beijo com paixão. “Quero provar para você o
quanto eu te amo”.
Essa declaração paira no ar entre nós, enquanto encaro seus
olhos azuis cintilantes. O amor não estava em meu destino. Pelo
menos, eu achava que não estava.
Até Scarlett chegar incendiando minha vida e me pegar de
surpresa. Mesmo que eu não a mereça, ela será minha para sempre.
29
S C A R LE T T

M alachy amarra meus tornozelos com as correntes que estão


presas à sua cama e depois faz o mesmo com meus
pulsos.
Não acredito em minha sorte por ele me amar também, mesmo
que ele seja sombrio e perverso. Dá a sensação de que nós não
podemos curar as feridas um do outro.
Feridas essas que pessoas em nossas vidas, nas quais
deveríamos ter sido capazes de confiar nos causaram.
Ele passa um dedo pela minha boceta molhada. “Você está tão
molhada”, ele diz e, em seguida, enfia a língua dentro de mim.
Solto vários gemidos enquanto ele me devora, metendo a língua
o máximo consegue. Ele passa as pontas dos dentes no meu clitóris,
e o prazer triplica.
Meu coração dá um pulo, quando ele enfia os dentes na minha
coxa e me morde com força suficiente para me machucar. “Malachy”,
eu grito, sentindo meu prazer aumentar absurdamente.
Ele rosna contra minha pele. “Não consigo me cansar de ouvir
você chamar meu nome”. Ele mete três dedos dentro de mim e
continua me lambendo e mordendo minhas coxas.
Eu nunca acreditei que poderia gostar de dor durante o sexo. É
uma sensação estranha, mas não consigo me cansar dela.
Malachy continua me fazendo beirar ao orgasmo, metendo e
tirando o dedo de dentro de mim, forte e rápido. Sempre que penso
que vou gozar, ele para.
“Por favor, mestre, eu preciso gozar”, eu choramingo.
Malachy dá um sorrisinho contra minha pele. “Ainda não”. Ele tira
os dedos de dentro de mim e o observo lambê-los um a um. “Que
docinho, meu amor”.
Fico olhando-o girar as correntes em volta da cama. “De quatro
agora”, ele ordena.
Faço o que ele pede em um piscar de olhos, louca para agradá-
lo. Observo-o vasculhar uma gaveta da mesinha de cabeceira e tirar
um chicote.
“Chegou a hora do seu castigo”, ele sussurra, passando as tiras
de couro na minha bunda de leve.
Minhas pernas tremem, sentindo a ansiedade aumentar dentro de
mim. “Por favor, mestre”, imploro.
Ele bate o chicote com força no glúteo direito, e eu grito. “Minha
vadiazinha safada, implorando-me para bater nela, hein amor”.
Adoro quando ele me chama de vadiazinha dele, porque é isso
que eu sou para ele. É muito louco o fato de ele ter me transformado
nisso. Fico totalmente relaxada quando estou com ele, porque confio
nele.
Ele me açoita até minha bunda arder. Depois disso, ele lambe
meu cu bem de leve.
Inicialmente, fico tensa, por ser algo tão pervertido de se fazer.
“Relaxa, amor”, ele sussurra e continua lambendo meu cu. Ele
mete e tira um dedo da minha boceta, fazendo o prazer que sinto
aumentar de uma forma inexplicável.
Ele continua me lambendo, e eu me sinto melhor do que nunca
me senti na vida. Eu posso ouvir o cinto de sua calça se abrindo e
fico ainda mais louca de tesão. Minha boceta está desesperada pelo
pau dele.
De repente, ele mete o pau bem fundo dentro de mim. E, então,
do nada, ele começa a me comer com força, dando tapas na minha
bunda de vez em quando. “Porra, essa bocetinha apertada é um
paraíso”, ele rosna.
Estou me sentindo cada vez mais perto de gozar. “Isso, eu vou
gozar”, eu grito.
Ele parece um animal rosnando atrás de mim, sem parar de me
foder até eu gozar. Ele não para, quando chego a ver estrelas na
minha frente, e, então, minhas coxas cedem.
Sinto meu corpo todo pegar fogo, e meus nervos parecem estar
em chamas. Por um momento, mal posso enxergar, imaginando se
morri e fui para o céu. O tempo todo, Malachy continua metendo em
mim, bruto e rápido.
Minha boceta se contrai com o prazer que ele começa a fazer
aumentar dentro de mim de novo.
“Isso mesmo, linda, toma minha rola, toma”, ele diz.
Ele agarra o meu pescoço por trás, forçando-me a curvar as
costas. Malachy se inclina e fala no meu ouvido. “Você é minha
submissa safada, e eu vou usar você como eu quiser”.
“Sim, mestre”, eu peço. “Por favor, me use”.
Ele morde minha nuca e tira o pau de dentro de mim, fazendo eu
me sentir vazia.
“O que você ...”.
Minha pergunta me rende um belo tapa na bunda. “Sem
perguntas”. Ele pega um tubo de lubrificante da mesinha de
cabeceira, e imediatamente me sinto ansiosa. “Quero foder esse seu
cuzinho lindo”, ele sussurra, deixando-me tensa só em pensar.
“Não vai doer?”, pergunto.
“De barriga para cima”, ele ordena, girando as correntes, para
que eu possa me mexer. Quando nossos olhos se encontram, ele
balança a cabeça. “Não se preocupe. Vou devagarinho”.
Fico tensa e olho dentro de seus olhos verde-esmeralda. Não
tenho dúvida de que confio neste homem, mas pensar em seu pau
enorme em um buraquinho tão pequeno me deixa nervosa.
Ele enche os dedos com lubrificante. Em seguida, devagar, vai
enfiando um dedo dentro de mim.
A sensação é estranha no início e arde um pouco. Conforme
Malachy continua enfiando e tirando o dedo de dentro de mim, o
prazer vai às alturas. “Ah, uau”, eu sussurro, surpresa em descobrir
que é delicioso.
Malachy vai devagar, esticando meu buraquinho aos poucos. Em
seguida, ele mete dois dedos, depois três, até que está com quatro
dedos dentro de mim, me fazendo gemer feito uma vadia.
“Ah, isso”, eu grito, sentindo que estou perto de gozar de novo.
“Fode o meu cu, mestre”, imploro, desesperada para senti-lo dentro
de um lugar tão proibido e sujo.
Ele sorri para mim. “Mas que garota mais safada, implorando para
eu enfiar minha rola no seu cu”.
Fico olhando-o encher seu pau com lubrificante e acrescentar um
pouco mais ainda dentro do meu buraquinho virgem. “Mal posso
esperar para comer esse rabo virgem e apertado”. Ele beija meus
lábios, fazendo-me gemer dentro da boca dele.
“Fode meu cu, mestre”, imploro, porque sei que ele adora que eu
faça isso.
Ele aperta meu pescoço delicadamente. “Você é perfeita”, ele
sussurra, antes de pressionar a cabeça do seu pau grosso na
beirada do meu buraquinho.
Relaxo e olho bem nos olhos dele.
Ele enfia a cabeça do pau dele no meu cu antes de empurrar
cada milímetro para dentro. O alargamento que ele fez antes ajuda e,
no início, só sinto arder um pouco.
“Porra, que apertadinho”, ele rosna.
Adoro vê-lo tão fora de controle. Devagar, ele entra e sai do meu
cu, dando a chance de ir me acostumando aos poucos.
“Você está praticamente me puxando para dentro”, ele diz, cheio
de desejo brilhando nos olhos. “Que delícia do caralho”, ele geme.
Não demora muito, e ele já está comendo meu cu com força e
brutalidade. Fico surpresa em como é gostoso dar o cu. Minha
boceta está pingando em todo lugar, enquanto ele tira minha
virgindade anal.
“Como é que você se sente com meu pau dentro do seu rabo?”,
ele pergunta, mordendo meu lábio inferior.
“Delicioso”, respondo, gemendo, enquanto ele aumenta a
velocidade.
“Boa garota, eu quero sentir você gozar, quando meu pau estiver
bem no fundo do seu cu”. Ele morde minha clavícula, entrando e
saindo de mim em estocadas contínuas. “E depois vou encher seu cu
até a borda com minha porra e empurrar tudo até o fundo, para você
ficar lotadinha a noite toda”, ele diz, rosnando.
O pensamento me deixa louca de tesão. “Sim, mestre, quero essa
sua porra dentro do meu cu”, eu solto, gemendo e sentindo que
meus mamilos estão tão duros que chegam a doer.
Ele geme e me fode com mais força, esfregando meu clitóris
enquanto isso.
Minha mente se esvazia completamente, ao observar meu lindo
selvagem me comendo assim, com os olhos ferozes e frenéticos.
Minha boceta esguicha, quando gozo, e meus músculos se
contraem.
Malachy rosna como se fosse um animal imponente. “Isso, meu
amor. Goza com meu pau bem fundo dentro do seu cu, tá”, ele rosna,
socando mais algumas vezes antes de gozar bem no fundo do meu
cu.
Minha visão fica turva e esbranquiçada. Parece que estou
pegando fogo. Cada nervo do meu corpo se acende, quando ele
continua socando e tirando do meu cu, fodendo-me todinha.
Assim que ele seca toda a porra que tinha dentro dele, ele estica
o braço para a mesinha de cabeceira e puxa um plugue anal. “Vou
garantir que não saia nada, ok?”, ele pergunta.
Eu mordo o lábio inferior. “Ok, mestre”.
Ele geme e, aos pouquinhos, vai tirando seu pau enorme de
dentro de mim. Coloca lubrificante no plugue e o enfia no lugar.
“Agora você pode dormir com minha porra no seu cu”, ele sussurra,
beijando-me devagar.
Observo-o desatar minhas correntes antes de se deitar ao meu
lado.
“Vem, linda”. Ele acena para mim para colocar a cabeça sobre o
peito dele.
Faço o que ele pede e coloco uma mão sobre seu abdômen
esculpido e tatuado. “Foi maravilhoso”, eu digo, balançando a
cabeça. “Nunca achei que sexo anal fosse assim”.
Ele ri. “Você ao menos pensou em fazer sexo anal na sua vida?”,
ele pergunta.
“Não, achei que doeria horrores”, digo.
Ele suspira, esticando a cabeça para trás. “Você é um anjo, meu
amor”.
Dou risada. “Depois do que acabamos de fazer, talvez anjo não
seja bem a palavra”.
Ele olha para mim, sorrindo. “Provavelmente, não. Você está mais
para um demoniozinho tarado e safado. Ficou melhor assim?”.
Sorrio e faço que sim com a cabeça. “Acho que está certo”.
“E o que eu sou então?”, ele pergunta.
“O demônio que me corrompeu”.
Ele faz que sim com a cabeça. “Acho que está certo”.
Ficamos deitados em um silêncio confortável, segurando um ao
outro. Tenho certeza de que nunca fui mais feliz em toda minha vida.
Quando fui àquele leilão, a última coisa que esperava encontrar
era amor. Serei grata para sempre por ter me vendido a Malachy. Foi
a melhor decisão que já tomei.
EPILOGUE

SCARLETT

M eu coração está batendo forte ao espiar pela cortina do


palco.
Esse é o momento tão esperado. Uma chance na carreira com a
qual sempre sonhei. A dançarina antes de mim está terminando seu
número, e eu sou a próxima. Existem grandes críticos da indústria
aqui para ver a apresentação.
Quando sua música acaba, minha música começa, e a menina
deixa o palco. “Boa sorte”, ela diz ao passar por mim.
Sinto a adrenalina aumentar ao pisar no palco. A companhia de
ballet que concordou em me dar uma chance é famosa, e isso
poderia representar tudo ou nada na minha carreira de dança, antes
mesmo de começar.
Percebo que Malachy está na frente da plateia, e imediatamente
minha preocupação desaparece. Ele sorri para mim, e parece que
todo o restante das pessoas desaparece no fundo.
Minha mãe está sentada ao lado dele, orgulhosa, e Frank está
sentado ao seu lado. Estou muito grata por ter salvado a vida dela.
Agora ela está livre do câncer há mais de seis meses. Frank a pediu
em casamento, e eles estão felizes juntos, vivendo em um lindo
apartamento que nós compramos para eles.
Ela nunca soube tudo sobre minhas mentiras, uma vez que meu
relacionamento com Malachy acabou se tornando minha cobertura.
Tudo o que ela acredita é que meu marido é muito rico, e foi assim
que eu consegui comprar o apartamento. Ela não sabe que eu vendi
minha virgindade para Malachy e nunca saberá.
Alícia ficou um pouco decepcionada por não poder vir também,
mas ela ficou encarregada de cuidar do Liam esta noite, além do
bebê dela mesma, Aiden. Malachy e Alícia passaram por um ano
insano de tensão, desde que ele soube sobre o cara que vi Alícia
beijando, mas acho que no fundo ele está feliz por ela. Porém, essa
é outra questão completamente diferente.
Começaram meus primeiros passos, fico nas pontas dos pés e
faço uma elegante pirueta pelo palco. Assim que chego na outra
ponta, faço um assemblé de volta ao centro do palco em sincronia
com a música. Meu coração está batendo tão rápido que é difícil me
concentrar na música, mas eu tento ignorar esta sensação.
Faço uma transição ao arabesque antes de voltar à pirueta. As
luzes projetadas no palco parecem mais quentes do que nunca, mas
acho que estou sentindo isso por conta da pressão. A música vai
ficando mais lenta, assim como meus movimentos, quando cruzo o
palco usando um adágio para terminar no centro. O tempo todo, sinto
que há milhares de olhos da plateia em mim.
Termino com mais intensidade, conforme a velocidade da música
aumenta, e finalizo com três grandes jetés e um plié.
O aplauso é um som agradável. Sinto minha frequência cardíaca
voltar ao normal, quando a dança acaba, e faço uma reverência à
plateia. Assim que a música acaba, e a próxima se inicia, eu saio do
palco rapidamente para dar lugar à próxima dançarina.
Estou quase grata por ter acabado, o que é estranho, porque eu
sempre adorei dançar, mesmo na frente de uma plateia. Atrás das
cortinas está tudo silencioso, pois eu fui uma das últimas a me
apresentar.
Meu coração dá um salto, quando sinto um par de braços me
abraçar pela cintura. “Você foi incrível, linda”, Malachy sussurra no
meu ouvido. “Uma verdadeira princesa no palco”.
Eu consigo sentir a pressão de seu pau duro na minha bunda. Até
mesmo aqui, este homem é insaciável. “Você deixou minha mãe lá?”,
pergunto.
“Não se preocupe, Frank está com ela”. Ele sorri sobre a pele do
meu pescoço. “Você gostou da apresentação?”.
Eu balanço a cabeça. “Na verdade, não. Eu estava muito
nervosa”.
Malachy me gira para olhar para ele. “Eu achei que esse fosse
seu sonho”.
Eu faço que sim. “E é, mas vai levar um tempo para eu me
acostumar com a pressão”.
Ele sorri para mim. “Você vai pegar o jeito. Eu ouvi o crítico atrás
de mim bem animado com a sua pirueta, seja lá o que é isso”.
Dou risada. “Vou precisar ensinar você sobre todos os passos
diferentes”.
Malachy arregala os olhos. “Tsc, eu acho que vou ficar com o
boxe mesmo, linda”. Ele beija minha bochecha. “Sem querer
ofender”.
Ele olha para cima do palco. “Que tal a gente dar uma corridinha
lá em cima e se divertir um pouco?”.
Engulo em seco e olho à minha volta. “Se nós formos pegos,
poderia ser o fim da minha carreira, Malachy”.
Ele vem bem perto. “Não se preocupe. Não vamos ser pegos”.
Sinto a necessidade entre minhas coxas começar a pulsar. “Ok,
mestre”, respondo.
Ele dá um sorrisinho malicioso e pega minha mão, levando-me
escada acima até a grade na parte superior do palco e do sistema de
emparelhamento. Não tem ninguém, mas parece inacreditavelmente
errado considerar transar aqui.
“Você tem certeza de que este é um ...”.
Malachy me silencia com a boca, e enfia sua língua dentro dela
freneticamente. “Eu sempre quis transar com uma bailarina”, ele
sussurra, provocativo. “Eu acho que é a saia que é sensual”.
“Ah, é, mestre?”, pergunto.
Ele resmunga baixinho. “Sim, meu amor”. Ele me levanta e me
carrega, colocando-me contra a parede.
Começo a gemer, quando ele beija meu pescoço e levanta minha
saia.
Ele abre meu collant e faz um buraco na minha meia-calça,
fazendo-me estremecer de tesão. “Você precisa destruir minhas
roupas?”.
Ele mordisca minha clavícula. “É só assim que vou conseguir
enfiar meu pau dentro de você”, ele rosna, fazendo minhas coxas
tremerem. “Ainda está com o plugue anal?”, ele pergunta.
Minhas coxas tremem, quando me lembro do plugue que ele
enfiou em mim quando saímos, depois de ele ter gozado dentro do
meu cu. “É claro, mestre”.
Ele solta um gemidinho. “Aposto que você mal pode esperar para
eu gozar nos seus dois buracos, né, linda?”.
Eu balanço a cabeça. “É verdade”.
Ouço-o mexer na sua calça e, em seguida, ele mete em mim com
força. Sem avisos, sem preliminares. Ele sempre sabe que estou
pronta, sempre que ele me quer. Minha boceta fica encharcada,
assim que ele beija meus lábios.
A sensação do pau dele pressionando o plugue anal que está
dentro da minha bunda é maravilhosa. Solto um gemido, enquanto
ele me fode como um selvagem contra a parede.
Malachy tampa minha boca com força, para se certificar de que
eu não faça muito barulho. “Cuidado, meu amor. Você não quer que
todo mundo saiba a bailarina safadinha que você é”. Ele morde meu
lábio. “Tão safada que dançou com um plugue anal enfiado no cu na
frente de todas essas pessoas”.
Estremeço com o pensamento de ser pega, enquanto ele
continua metendo em mim. É maluco pensar que já se passou um
ano e meio, e ainda estou desesperada por ele o tempo todo. Nosso
desejo um pelo outro só aumentou.
Conversamos sobre ter outro bebê, mas para isso eu teria que
pausar minha carreira de dançarina. Poderia ser o fim da carreira, se
tivermos outro bebê em breve. Não posso negar que aceito isso
tranquilamente. Minha paixão é dançar, e isso nunca vai mudar. Mas
construir uma família com Malachy valeria todo o sacrifício.
Ele morde meu lábio inferior, e sinto uma dor eletrizante passar
por dentro de mim. “Você está fodendo perfeitamente, minha
bailarina”, ele sussurra, sem parar de me foder contra a parede.
“Sim, me fode assim, vai”, eu digo, sentindo uma pressão se
somar dentro de mim.
Ele geme. “Você está tão molhada, amor. Você sempre está toda
encharcada para mim”.
Descanso minha cabeça na parede e os braços travados ao redor
do pescoço dele. A sensação profunda do plugue anal dentro do meu
cu, além desse pau enorme dentro da minha boceta, é suficiente
para me fazer chegar perto do orgasmo. Mas eu me seguro.
“Boa garota. Quero que você goze, mas você precisa esperar eu
mandar”, Malachy diz, fazendo um grunhido ao tentar me alcançar.
“Sim, mestre. É difícil, mas estou segurando”, respondo, pois sei
o quanto ele fica louco quando o obedeço.
Ele me beija apaixonadamente. Sua língua se entrelaça com a
minha. “Você é uma boa garota, Scarlett”, ele diz ao parar de me
beijar. “Agora goza para mim, para eu poder encher você com a
minha porra”, ele sussurra com os lábios colados nos meus. “Eu
quero os seus dois buracos cheinhos com meu sêmen”.
Esse jeito sacana de falar é tudo que eu preciso para gozar, e eu
grito tão alto que tenho certeza de que as pessoas vão me ouvir.
Malachy é rápido ao abafar o som com os lábios, grunhindo, ao
chegar ao orgasmo também.
Posso senti-lo ejacular bem no fundo da minha boceta, o que faz
de mim a vadiazinha dele pela segunda vez esta noite. É muito louco
como o nosso desejo um pelo outro não tem limites.
Descansamos por um momento na mesma posição, arfando.
Ele tira o pau de dentro de mim e faz eu me agachar. “Porra,
linda, que delícia”, ele diz, beijando-me mais uma vez, com paixão.
“Mas acho que sua mãe e Frank devem estar nos procurando”.
A menção da minha mãe me faz sair completamente do meu
estado de torpor e tesão. “Merda, é melhor a gente ir”. Eu aperto
minhas coxas. “Se bem que agora você rasgou minha meia-calça e a
sua porra está toda escorrendo pelo tecido”.
Malachy sorri para mim. “Que bom. Todo mundo precisa mesmo
saber a safadinha que você é”.
Eu balanço a cabeça. “Isso não tem graça. Dá para ver?”,
pergunto.
Malachy olha para minha meia-calça e faz que não com a cabeça.
“Não, amor. Juro”.
Descemos os degraus e saímos do palco sorrateiramente em
direção ao saguão. Malachy passa o braço por trás de minhas costas
vigorosamente e me conduz em direção à saída.
Minha mãe sorri, quando nos vê, e vem correndo para me
abraçar. “Você foi incrível, coração”, ela diz.
Frank assente. “Você foi ótima, Scarlett”.
Sorrio para ela e para Frank, pois sei que ela tem que dizer isso,
porque é minha mãe. “Obrigada”. Dou uma olhada a minha volta e
percebo que o lugar está vazio agora. “Que horas são?”, pergunto.
Minha mãe olha para o relógio. “São nove horas”.
Sinto o calor passar pelo meu corpo ao notar que a porra de
Malachy está pingando na minha meia-calça. “Vamos, então?”,
pergunto, desesperada para ir embora. “Tenho certeza de que Alícia
precisa deixar seus deveres de babá”.
Minha mãe parece um pouco decepcionada. “Ah, achei que nós
iríamos todos jantar”. Ela faz um gesto com a mão como quem
dispensa uma ideia. “É claro, vão para casa ver Liam e digam a ele
que o verei amanhã no almoço”.
Sorrio e abraço minha mãe mais uma vez. “É claro, até amanhã”.
Malachy aperta a mão de Frank e abraça minha mãe. Admira-me
o quão bem ela se dá com Malachy, desde que eles se conheceram.
Acenamos para eles, enquanto eles vão embora para jantar em
algum lugar e nós vamos para o estacionamento.
Vou até minha porta do Chevy Impala, que os homens de
Malachy recuperaram na noite no cassino de Milo. Malachy se
aproxima de mim e me encosta no carro. Ele mordisca minha orelha.
“Que garota safada. Está cheia de porra pingando na meia-calça,
não está?”, ele pergunta.
Eu estremeço. Sei que esta noite será longa. Estamos ambos
insaciáveis e prontos para muito mais. “Sim, mestre. Sou sua
submissa safadinha”.
Ele dá um rosnado baixinho, vira-me e me beija
apaixonadamente. “Amo você, minha linda”.
Eu olho dentro de seus olhos verde-esmeralda. “Eu amo você
também”.
Ele dá um sorriso malicioso. “Agora fica curvada sobre o capô
para eu poder meter em você aqui e agora”, ele ordena.
Dou uma olhada à minha volta, para me certificar de que não
tenha mais ninguém no estacionamento. Não que esta seria a
primeira vez que nós transamos em um lugar público.
Eu me inclino sobre o capô e olho por cima do ombro. “Ok,
mestre”, eu digo, percebendo como seus olhos se iluminam. Eles se
deslocam para entre meu cu ocupado pelo plugue e minha boceta
cheia de porra pingando.
Nosso amor é sacana e bruto, mas é o mais real que poderia ser.
Nunca pensei que eu me apaixonaria, mas estou contente por ter
encontrado meu cavaleiro nessa armadura reluzente no lugar menos
esperado de todos.

O U M S , o segundo livro da
minha série de Mafiosos de Boston. Espero que você tenha se
divertido com a história de Malachy e Scarlett.
O próximo livro da série acompanha o chefe mafioso siciliano
Fábio Alteri e a história de Gia na terceira obra da série, Um Mestre
Feroz. Esta obra estará disponível no Kindle Unlimited, ou poderá ser
adquirida na Amazon.
Um Mestre Feroz: um romance mafioso sombrio e proibido.
Eu ignorei os avisos de Aida, e agora fui ludibriado em uma
armadilha humana impiedosa.
Quando fui conversar com Fábio Alteri, nunca esperei que a visita
pudesse se tornar algo proibido. Aida me disse que eu não deveria ir,
mas depois de um acesso de raiva causado pelo álcool, visitei o
mafioso perigoso. Furiosa pelo fato de que este homem tirou minha
amiga de mim do jeito que fez – sua própria filha.
Foi aí que nossos olhares se encontraram, e eu senti como se ele
estivesse incendiando minha alma. Eu não deveria desejar um chefe
mafioso siciliano.
Ele é perigoso.
Ele é proibido.
Ele não tem alma.
E, ainda assim, estou inexplicavelmente atraída por ele. Ele é
muito problemático, e eu sempre tendi a querer consertar as pessoas
que têm algum problema. A questão é, será que vou conseguir
consertá-lo, ou é ele que vai me danificar?
Um Mestre Feroz é o terceiro livro da Série dos Mafiosos de
Boston, de Bianca Cole. Este livro conta uma história segura,
sem suspenses e tem final feliz. Esta história traz temas
sombrios, cenas fortes, violência e conteúdos que podem
ofender o leitor, além de palavrões. Ela mostra um chefe mafioso
italiano excessivo, pervertido e possessivo.
TA M B É M P O R

Irmãos Da Máfia Romano


Seu Mestre da Máfia: Um Romance de uma Cativa da Máfia
Seu Chefe da Máfia: Um Romance de uma Cativa da Máfia
Seu Rei da Máfia: Um Romance de uma Cativa da Máfia
A Máfia De Boston
Um Mestre Severo: Um Romance Sombrio Mafioso Um Casamento Arranjado
Um Mestre Selvagem: Um Romance Sombrio de uma Cativa da Máfia
SOBRE A AUTORA

Eu adoro escrever histórias sobre garotos rebeldes excessivos que têm um coração, apesar
de tudo, heroínas fortes, e finais felizes cheios de amor e paixão. As minhas histórias têm
reviravoltas e movimentos que vão fazer você querer ler uma página atrás da outra, a ponto
de fazer o seu kindle pegar fogo.
Desde que me conheço por gente, sempre tive uma queda por boas histórias de
romance. Sempre amei ler. De repente, eu pensei: por que não combinar o meu amor pelas
duas coisas, livros e romance?
O meu amor pela escrita cresceu nos últimos quatro anos, e agora eu publico
exclusivamente através da Amazon, tramando histórias obscenas sobre rebeldes mafiosos e
as mulheres que se apaixonam por eles.
Se você gostou deste livro, por favor, siga-me na Amazon, no Bookbub ou em qualquer
outra plataforma de mídia social, para receber notificações, quando os livros forem lançados.

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