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Beatriz
O despertador toca me tirando do sono gostoso que tive, procuro meu
celular pra colocar na função soneca, mas não o encontro imediatamente, abro
os olhos quando o volume do despertador aumenta.
Merda! Onde está a porcaria do celular? Na verdade, onde eu estou?
Encontro-o embaixo do travesseiro, onde o desligo, pois não para de
tocar.
Sinto braços apertarem minha cintura.
Como chama o rapaz que está me abraçando mesmo? Eu sou péssima
com nomes.
– Bom dia, linda – o estranho diz, beijando meu pescoço.
– Bom dia – respondo, me desvencilhando de seus braços, sentando na
cama, observo o quarto onde estou, não é um motel, um quarto bonito, a cara de
homem que mora sozinho, apenas a cama e um guarda-roupa de madeira.
– Onde estão minhas roupas? – pergunto ao homem deitado na cama,
com o corpo coberto de tatuagens, gostoso, cheio de músculos bem definidos e
piercing no mamilo.
– Espalhadas pelo chão – o sujeito tatuado me responde, se apoiando em
seu braço, me observando.
Levanto, e vou atrás delas, eu ainda precisava ir pra casa tomar um banho
e me trocar pra trabalhar, e se continuasse aqui, nesse bate papo, ia perder a
hora pra chegar ao escritório.
– Deixa eu te levar pra casa, Bia. Nós vamos nos ver de novo? – Hugo
me pergunta.
Ufa! Lembrei o nome dele, que era vocalista da banda que vi tocar
ontem.
– Você sabe que não, a noite foi ótima, mas somente isso, pensei que
estivesse claro ontem. – Termino de abotoar meu sutiã e continuo à procura do
resto das minhas roupas.
Tesão realmente deixa as pessoas descontroladas, não estou as
encontrando.
Saco!
– Dizem que homens são frios, porque não conheceram você. Espero que
um dia você se apaixone. Me deixa te levar em casa pelo menos? – questiona,
cobrindo o próprio corpo.
Que porra de frase escrota do caralho!
Eu era apenas uma pessoa prática, que problema tinha nisso? Quero sexo,
falo, não quero, falo também. Não preciso ficar com joguinhos, até porque, isso
é chato e cansativo quando o resultado final vai ser o mesmo.
– Hugo, não é frieza, eu somente não tenho vontade de transar com você
de novo, as coisas são simples, não tem porquê complicar. Sexo é sexo e não
precisa me levar pra casa, já chamei um Uber. Mas, obrigada. Eu realmente me
diverti muito. – Termino de me vestir, pego minha bolsa e saio, afinal, o Uber
realmente estava me esperando.
Hugo fica ali me olhando, mas não diz nada. Ele era um cara legal, o
sexo era muito bom, mas eu não queria relacionamentos, para mim estava
funcionando bem as coisas do jeito que estavam.
Eu tinha minha casa como meu ambiente sagrado, não deixava caras
aleatórios conhecerem, afinal, eu não tinha intenção nenhuma de fazer com que
eles voltassem mesmo.
Sei que parece frio, e talvez seja, mas eu sou prática, e avessa a
relacionamentos, as coisas eram sempre muito claras, e nunca em hipótese
alguma repetir parceiro, isso nunca dava certo.
Arthur
Desde que me mudei de São Paulo, os dias passaram a ser diferentes do
que eu estava acostumado. Na capital, eu tinha que sair cedo pra conseguir
chegar no meu horário, já na pequena cidade de São Judas, [1] em vinte minutos
eu chegava ao meu destino.
Meus pais estavam radiantes com minha volta, meu tio Ricardo queria que
eu conhecesse tudo antes de assumir formalmente a promotoria da cidade, então
eu estava indo ao encontro de minha guia Odete, uma senhorinha muito doida e
simpática.
Visto meu terno, alimento meu gato Rocky, pego a chave do carro,
verificando se não estou esquecendo de nada, e sigo meu caminho até o fórum.
Cheguei ao cartório procurando por Odete que chegou me abraçando,
aproveitei e pedi a ela um caso que eu sabia que precisaria defender, como
estava por fora, precisava saber o que estava acontecendo no processo para
poder participar do julgamento que aconteceria em breve.
Enquanto aguardava meus processos, um cheiro doce preencheu o
ambiente, era Beatriz, uma mulher linda de cabelos longos e cacheados,
trocamos algumas palavras e como ela estava sem seu carro, levei-a para
almoçar.
Beatriz era uma mulher intrigante, até fingi ser seu namorado por conta de
um ex-namorado babaca, mas o beijo foi muito bom. O que eu estava fazendo?
Deveria estar focado na audiência que estava começando, não pensando no beijo
que dei na mulher que acabei de conhecer.
– Doutor Arthur, podemos começar? – O juiz, doutor Miguel, bate os
dedos impacientes sobre a mesa.
Miguel e eu estudamos juntos na faculdade, ele sempre quis ser juiz, dizia
que somente assim a justiça seria feita, com o tempo acabamos nos distanciando,
mas ele era um bom amigo.
– Claro, Excelência, perdão pela distração. – Arrumo minhas anotações,
olhando para o advogado à minha frente, revirando os olhos, esse cara era um
babaca completo.
Miguel começa a falar com sua assistente para trazer o réu para depor,
pois estava preso preventivamente, eu era a favor de prisões preventivas em
casos muito específicos, pois caso contrário, a defesa usava isso a favor durante
a sentença.
A justiça, e não posso dizer que é somente a brasileira, não era muito
justa, afinal, todos tinham direito a defesa e tudo mais, e eu acreditava nisso,
mas em muitos casos, as pessoas que não deveriam, usavam isso de uma forma
ruim.
Eu estava na última audiência para levar o caso para o tribunal do júri, o
cidadão à minha frente matou a mulher a facadas por não aceitar o fim do
relacionamento, ela havia tentado medidas protetivas e perdeu sua vida, uma
realidade triste de muitas mulheres, infelizmente.
– Poxa, doutor, mó caô, eu amava minha mulé, mas aí, eu cheguei em
casa e ela tava lá com as tripas pra fora.
– E o que você estava fazendo na casa dela, se vocês não tinham mais um
relacionamento? Foi o que você disse no primeiro depoimento – questiona
Miguel.
Felipe coça suas sobrancelhas com suas mãos algemadas, e olha para o
seu advogado como se pedisse ajuda, depois da pergunta do juiz.
– É, eu não tinha mais um relacionamento, mas aí, eu queria reatar e fui
visitar ela, foi isso que aconteceu – responde, olhando para o chão.
– Certo, Doutor Arthur, perguntas? – Miguel se vira pra mim, afinal, as
perguntas primeiro são direcionadas a acusação.
– Sim, Excelência. Felipe, você alega inocência, mas como explica suas
digitais nas facas e suas roupas ensanguentadas? – Anoto minha pergunta em
meu tablet e observo sua resposta.
– Eu, eu prefiro não responder.
Claro, óbvio que prefere não responder. Minha vontade é de revirar meus
olhos, mas preciso ser profissional aqui.
– No seu depoimento para a polícia, você disse que a vadia teve o que
mereceu, o que ela mereceu, Felipe? Ainda prefere não responder? – pergunto
firme
– Prefiro não responder. – Olha em meus olhos quando diz isso, suas
pupilas estão dilatadas, suas mãos fechadas em punho, posso sentir sua raiva.
– Sem mais perguntas – digo, olhando diretamente para Felipe.
Miguel termina os trâmites da audiência, o advogado de Felipe dispensou
testemunhas, é claro, terminei a audiência com o veredito que iríamos para o
tribunal do júri, onde teria que convencer sete pessoas que Felipe era culpado do
caso.
Pode parecer simples, mas muitas vezes a defesa conseguia reverter os
casos e absolver seus clientes com suas histórias, então tínhamos que usar mais
que bons argumentos, não bastava somente conhecimento jurídico.
– O famoso Arthur pisando no meu tribunal, que honra, e quanto tempo –
Miguel me chama no corredor.
– Quanto tempo, Miguel, é um prazer revê-lo. – Aperto sua mão.
– Até breve, Arthur, e é um prazer revê-lo também.
E assim, cada um segue seu rumo. Vou para o meu carro, preciso ir pra
casa, meu dia hoje foi de muitos acontecimentos, eu estava exausto.
Desde meu almoço com Beatriz, notei que ela não era como as outras,
começando pela forma de tratar as pessoas, tão cortês, advogados, em sua
maioria sempre se acham seres superiores aos outros, como se fossem reis do
mundo e, na verdade, só tem um diploma com uma profissão, nem melhor nem
pior.
Minha mãe sempre diz que a forma como você vê alguém tratando as
pessoas que são mais humildes, diz muito sobre o caráter dela e Beatriz foi
cortês com os servidores, com os guardas e até com o pessoal do restaurante, por
que eu estava pensando nela?
Meu irmão apareceu em casa, como sempre sem avisar, me tirando dos
meus pensamentos, eu amava aquele moleque. Frederico é um homem incrível,
se tornou delegado, como sempre sonhou, dizia que ficar atrás das burocracias e
terno e gravata era chato demais, ele amava mesmo a emoção e adrenalina de
estar nas ruas comandando operações, serviço que ele fazia muito bem.
Tomamos umas cervejas e pedimos uma pizza, estamos jogando
videogame na companhia de Rocky, meu gato, que está deitado no sofá.
Meu irmão está ganhando com uma diferença enorme, eu não estou
prestando atenção no jogo, só consigo pensar em Beatrize no não que levei.
— Vai Arthur, o que está acontecendo? Você não está prestando atenção
em nada do que eu estou dizendo a noite toda. — Fred pausa o jogo e olha para
mim.
— Eu conheci uma mulher hoje, mas não sei, é diferente – respondo,
acariciando Rocky que está em meu colo.
— Ligue pra ela, você pediu o telefone dela, não pediu? Não é isso que as
mulheres gostam, de cuidado e atenção, que ligue se importando? — Fred dá
mais um gole em sua cerveja.
— Beatriz parece ser diferente, Fred, parece que a mulher não quer
cuidado e atenção, quando eu abri a porta do carro hoje, ela disse que sabia fazer
isso sozinha, está sempre na defensiva.
“E não, esqueci de pedir seu telefone”, bufo irritado.
— Arthurzinho, por mais que ela diga que não quer essas coisas, toda
mulher, no fundo, quer viver seu próprio conto de fadas, mesmo que esse cara
não seja o príncipe encantado, porque você não é um e sabe disso, talvez ela
nem goste de príncipes, mas todo mundo gosta de ser cuidado às vezes,
irmãozinho. – Coloca as mãos em meus joelhos.
Estou aqui, ouvindo conselhos do meu irmão mais novo. A que ponto eu
cheguei?
— Dorme aqui, porque você bebeu, não o suficiente pra matar alguém,
mas você sabe como funcionam as coisas melhor do que eu. Vou ligar pra ela,
porque tem uma senhorinha que gosta muito de mim e me arrumou seu telefone
quando eu pedi como um gatinho manhoso. – Levanto, indo em direção à
cozinha.
— Sábia decisão, irmão, a Odete é a melhor — responde, colocando outro
jogo.
Levo Rocky para comer e fico ali perguntando para ele o que fazer, como
se o gato fosse responder, mas eles são mais espertos que muitas pessoas, isso é
um fato, meu gato conversa e me julga o tempo todo, pego meu celular e ligo
para Beatriz de uma vez.
Depois de algumas vezes chamando, uma voz que não é da Beatriz
atendeu e não sei se isso é bom.
— Alô? Beatriz? — pergunto, afinal, posso ter ligado pra pessoa errada, já
que quem me passou o número foi Odete.
— Oi, não, aqui é Júlia, irmã dela — a menina do outro lado diz, com
uma voz que me deixa em alerta, pois ela parece estar com medo.
— A Beatriz se encontra? – falo.
— Ela... ela está aqui sim, mas não está podendo atender no momento, eu
digo que você ligou, é algo urgente? – a mulher de voz doce pergunta.
Ouço a voz daquela que não saiu dos meus pensamentos o dia todo, está
bem irritada, falando tanto palavrão que não posso nem mensurar.
“Vá se foder, me deixa em paz, se você não sair daqui agora, eu vou
chamar a polícia.”
Minha mente fica em alerta.
Que merda está acontecendo?
— O que está acontecendo aí? — pergunto para menina que falava
comigo ao telefone.
— Bia, tem um moço no telefone, desculpe, achei que era importante
atender, você está bem?
— Sim, Ju... Vamos entrar, obrigada. — Ouço Beatriz ao fundo responder.
“Alô?” Beatriz responde.
Meu coração veio à boca ao ouvir aquela voz, ela parece irritada e ao
mesmo tempo chateada.
— Beatriz, sou eu, Arthur, liguei porque... Queria te desejar boa noite,
mas acho que não foi um momento pertinente.
—Oi, Arthur, desculpe, só um problema que já foi resolvido – suspira ao
responder.
Posso notar que está irritada. Fico apreensivo e desde quando eu fico
assim pela voz de uma mulher, essa com certeza irá me enlouquecer.
Eu estou me saindo um tremendo de um emocionado.
— Obrigada... por ligar e me desejar boa noite, agora preciso ir – diz
impaciente.
— Vamos jantar amanhã? — digo logo, antes que ela desligue e eu perca
a coragem, desde quando fiquei tão bundão? Estou emocionado pra caralho
igual ao Matteo[2], de Estilhaçados, acho que ele saberia o que fazer melhor que
eu, inclusive.
Sim, eu leio romances, eles ensinam muito sobre como as mulheres
pensam, é algo bem interessante.
— Você quer me levar pra jantar em um sábado à noite? — pergunta
intrigada.
— É. Isso te intriga tanto por que, Beatriz? – Coloco um pouco de água
para o Rocky.
Então percebo que ela está sorrindo, e eu fico feliz por um breve
momento, mesmo sabendo que há alguns minutos atrás estava xingando bastante
alguém do outro lado da linha.
— Bom, sabe como é, sábado à noite, sair pra jantar, as pessoas vão ver...
mas eu aceito, te mando meu endereço e você vem me buscar, só me diga o
horário.
— Beatriz, eu não estou devendo nada pra ninguém, então não me
importo se alguém me ver saindo com você, será um prazer... bons sonhos... até
amanhã – digo por fim.
—Acho que agora poderei ter — respira fundo e desliga.
Então eu fico ali, olhando meu gato tomar água, sem conseguir dizer
nada, primeiro, eu fico pensando por que ela perguntou sobre o sábado e
segundo, com quem ela estava tão brava, até que fui interrompido por Fred, meu
irmão.
— E aí, falou com ela? — pergunta, me tirando dos meus pensamentos.
— Falei, Fred, a irmã atendeu, ela estava discutindo com alguém, quando
atendeu. Conversamos e a chamei para sair e ela me perguntou se eu queria levá-
la pra sair em pleno sábado. Fred, tem dia certo pra levar pra sair?
— Tenho uma amiga que diz que caras que só querem diversão não
chamam uma mulher pra sair em um sábado, porque é um dia que as pessoas
saem com a família, e blá blá blá, então ela diz que ser a menina do sábado,
significa que pode ser mais que uma foda.
Porra, será que nós homens éramos assim tão desprezíveis separando o dia
para levar uma mulher para sair?
É, não preciso nem que me respondam, porque eu já sei a resposta.
Alguns dizem até que existem mulheres para casar e outras não, entre outras
coisas mais.
— E você concorda com isso? — pergunto.
— Discordar não posso, né? — diz, coçando a testa.
— Não sei onde levá-la para jantar amanhã, nem o que fazer, acabei de
voltar para cidade. — Estou parecendo um adolescente no primeiro encontro.
— Arthur, você, um homem de trinta e dois anos, que já fodeu metade da
cidade, sem saber o que fazer com uma mulher? — responde, gargalhando.
Irmãos, às vezes é melhor não tê-los, ao invés de ajudar só sabem encher
o saco, quando vão ajudar, infernizam sua vida e vão jogar na sua cara
eternamente.
— Porra, Fred, é sério, sempre conheci mulheres legais, mas essa, eu não
sei o que me encanta, e eu só a vi uma vez, mas quero fazer diferente. — Meu
irmão me olha assustado
— Me poupe, Arthur, você ficando assustado por um rabo de saia? Bom,
traz ela pra cá, faz um jantar, massa e vinho, não tem como errar, Arthur. E
vocês conversam, se conhecem. É melhor que um restaurante que vocês não vão
ter privacidade — fala, indo se jogar no sofá.
— Até que você não é tão ruim assim — digo, jogando uma almofada em
Fred que desvia.
— É claro que não, sua vida seria péssima sem mim. Agora, me diz, como
é a mulher que está deixando você encantado?
— Fred, ela é… gentil e humilde com as pessoas ao redor, sinceramente,
eu não sei, mas quero muito descobrir mais sobre ela! — respondo.
— Caramba, Arthur, vou torcer por essa aí, vai te enlaçar direitinho.
Chego em meu quarto, Rocky está lá deitado no canto dele, todo folgado,
tomo uma ducha antes de dormir, então me deito e fico pensando em Beatriz, a
mulher que não sai dos meus pensamentos.
O que está acontecendo comigo?
Faz muito tempo que não me sinto assim, tão vivo, eu não sou do tipo que
foge de relacionamentos, mas não encontrei uma mulher que valesse a pena
entregar meus sentimentos.
Quando eu encontrar alguém, não irei fugir, irei fazer de tudo para que a
pessoa se sinta bem, amada e cuidada, foi assim que meu pai sempre fez com
minha mãe, e o velho ainda faz até hoje, mima minha mãe até onde pode, e nós
ficamos felizes com isso. Só não sei onde encontramos mais esse tipo de amor
hoje em dia, mas quem sabe o que o futuro nos reserva?
Você
Seu sexo está em chamas
Consumida
Pelo que transpirou
Sex on Fire–Kings of Lion
Beatriz
Depois de um dia cheio e um jantar com meus pais, sigo pra casa ao som
de BTS, como sempre, pois Júlia ama, então nossa playlist sempre é regada de
muito k-pop.
Chegando ao condomínio onde moramos, Júlia me chama a atenção sobre
um homem na portaria gritando e quando vemos é Diogo, guardo o carro e vou
correndo pra ver o que estava acontecendo.
Ele estava num estado que nunca tinha visto, nem em todo tempo que
ficamos juntos ele ficava assim, estava exalando álcool. Pedi pra Júlia ficar
dentro da portaria com meu celular na mão, caso as coisas saíssem muito do
controle, pra ela ligar para Fred, meu amigo que era delegado de polícia, e já
conhecia Diogo.
Confesso que fiquei desesperada, com muito medo que ele fizesse algo,
mas não podia deixar que percebesse isso, mesmo estando bêbado. Tivemos uma
discussão feia por causa de Arthur, porque ele fingiu ser meu namorado no
restaurante.
Diogo achava que ainda tinha posse sobre mim, como se estivéssemos em
um relacionamento e eu devesse satisfação a ele. Se tinha uma coisa que eu
odiava era escândalo, ainda mais na frente da minha casa, com a minha irmã
olhando tudo, apesar de ser advogada e saber os meios para evitar as coisas, eu
não queria prolongar meus contatos com o Diogo, só queria que ele me deixasse
em paz, não era pedir nada demais, o universo poderia colaborar.
Então ele fez algo que nunca imaginei que fosse capaz, me imprensou
entre o carro e ele, segurando com muita força meus braços e meu pescoço, e as
palavras dele ficaram na minha cabeça: “Você é minha, não vai se livrar de mim
tão fácil.”
E pensar que um dia já gostei daquelas mãos em mim! Argh! Que nojo.
Minhas pernas fraquejaram, e quando vi, estava mandando-o se foder e
dizendo que ia chamar a polícia, só assim pra ele ir embora, afinal, seu pai não
iria querê-lo envolvido em qualquer escândalo, e a minha paciência tinha limite
pra babacas.
Assim que entramos em casa, Júlia me encarou, conversei com Arthur e
meu coração se alegrou um pouco, mesmo sabendo que seremos bons amigos,
porque ele jamais iria se interessar por alguém como eu. Ele é um homem bom,
já eu sou uma mulher fria, não sou digna de um homem como ele.
Certo, eu estava com aqueles pensamentos de novo.
— Você deveria ir à delegacia, sabe disso, né? Se ele aparecer de novo ou
tocar em um fio de cabelo seu, eu mato ele, Bia. Olha pra você, toda tremendo e
seu braço marcado por aquele babaca — minha irmã diz, pegando em meu braço.
Depois de toda a adrenalina que senti, o corpo ficou fraco e comecei a
tremer, algo completamente involuntário, só não queria que minha irmã notasse.
— Ju... eu sei, mas ele nunca agiu assim, não desse jeito.
Eu só queria acordar desse pesadelo, e não falar mais em Diogo e na cena
ridícula que ele fez em frente minha casa. Era muito humilhante, mas muito
humilhante mesmo.
— Vamos falar de coisa boa, me conta sobre o Arthur. Por que ele ligou
aquela hora pra dar boa noite? Qual é? Como ele é? — Júlia indaga, mudando de
assunto.
— Vou jantar com ele amanhã — digo, indo para o meu quarto
— Digno dos seus personagens literários? — pergunta, me olhando
— Muito cedo pra dizer — grito, trocando de roupa, preciso aliviar a
adrenalina que está em mim, então vou pra academia do condomínio.
Rimos esquecendo por um momento tudo o que tinha acontecido, Júlia
tinha esse poder, transformar os momentos ruins em coisas boas, por isso é ótimo
tê-la em casa comigo.
— Volto em breve, vou pra academia. — Tranco a porta e pego o elevador
O bom de ir a academia nesse horário, é que você não vai encontrar
ninguém.
Serei somente eu e o saco de pancadas.
A porta do elevador se abre e encontro a academia toda pra mim, e lá no
fundo, vejo o saco de pancadas.
Pego minhas luvas, visto, amarrando meus cabelos em um coque e
começo.
A imagem que vejo é de Diogo à minha frente, então começo a desferir
socos como se ele pudesse sentir toda a raiva que estou sentindo.
Um.
Dois.
Três.
Dez.
Perco a conta de quantos socos desfiro na porra do saco de pancadas, sinto
as gotas de suor escorrendo pelo meu rosto, mas paro, não consigo, meus braços
doem de tantos socos que estou dando.
Então eu faço o que me recuso há muito tempo, choro, as lágrimas caem
sem que eu consiga controlar, e eu continuo batendo no saco de pancadas. Eu só
queria que Diogo me deixasse em paz.
Eu queria poder controlá-las, mas se tem uma coisa que não podemos
controlar é isso, as lágrimas que derramamos, nem por quem derramamos, e isso
me deixa com mais raiva ainda.
Estou exausta.
Paro de socar e me deito no chão, dando um grito com o choro que insiste
em cair, por Diogo, por tudo o que ele me fez passar, por tudo de ruim que eu já
senti, por toda a dor que volta nesses momentos.
Olho em volta e noto que estou sozinha, de novo sozinha, enfrentando
meus demônios sozinha, e assim vai ser sempre.
É um pouco triste, mas se parar pra pensar, é mais fácil assim, algumas
coisas e alguns problemas, não tenho como enfrentar se não for sozinha.
Limpo as lágrimas dos olhos, me levanto do chão e volto pra casa.
Chego em casa, passo no quarto de Júlia, e ela já está dormindo, ainda
bem.
Tomo um banho pra tirar todo o suor do meu corpo, me sentindo suja,
passo a bucha forte sobre meu corpo, odeio me sentir assim.
Odeio.
Mas eu sou assim.
Suja.
Impura.
Imunda.
Saio do banho e fico pensando em tudo o que está acontecendo em minha
vida, Arthur parece diferente, mas é homem e como todos os outros só pode
querer sexo, então não vamos nos precipitar, embora transar com ele não seja
uma má ideia, pelo contrário, descobrir o que ele tem embaixo daquele corpo é
uma ideia bem tentadora.
Foco Beatriz.
Meu celular apita, mostrando uma mensagem de Arthur.
Arthur: Tenha bons sonhos, linda menina, estou ansioso pra te ver
amanhã. Posso te buscar às 19h, em ponto, sem atrasos, vou preparar um
jantar em casa, para podermos aproveitar a noite.
Quando abro a mensagem, dou aquele sorriso bobo.
Droga, isso não é bom.
Mas resolvo me permitir um pouco, pelo menos por essa noite, penso na
resposta e envio:
Eu: Sem atraso, entendido Dr., ansiosa pra saber o que me espera.
Arthur: Somente coisas boas...
Caramba, começo até a ficar com medo do que poderia vir, mas já faz
tempo que não saio com ninguém pra jantar e eu preciso mesmo dar uma
relaxada disso tudo. Apesar de eu não ligar muito, e aos fins de semana ficar
praticamente de pijama o dia todo, não sei o que vestir, mas deixarei para pensar
nisso amanhã.
Hoje eu só preciso dormir.
Fico ali deitada, pensando em todos os acontecimentos do meu dia, a parte
boa em conhecer Arthur, que aparenta ser um cara diferente, e Diogo que está
cada vez mais decadente.
Não posso mentir que estou assustada, eu não quero ter que falar com
ninguém, nem ter que usar medidas judiciais, faz parte do meu trabalho, eu sei,
mas sempre que o assunto envolve Diogo, eu perco completamente o tesão de
tudo, prefiro deixar pra lá, tudo o que diz respeito a ele.
Arthur me avisou que vamos jantar na casa dele, e, mesmo eu que não ligo
tanto para essas coisas, fico pensando no que vou vestir, porque no fundo sempre
queremos causar boa impressão.
O dia passou voando.
Tomo um banho demorado, lavo o cabelo e resolvo secar para dar uma
definida nos meus cachos, decido colocar um vestido curto salmão com
estampas, estilo envelope, que marca minhas curvas, decotado na medida certa,
sem mostrar demais, mas ainda está sexy.
Como é de se esperar, Arthur não atrasa, estou no banheiro terminando de
passar um batom nude, quando Júlia avisa que Arthur está esperando. Na minha
sala.
Respiro fundo pra não surtar!
— Ju, por que você o mandou subir? Eu já estava descendo. Poxa, ele não
é nada meu pra ir entrando em casa assim e te conhecendo, e... — começo a
dizer desesperada quando minha irmã me interrompe.
— Bia, respira. Não é nenhuma novidade um cara subir no apartamento
pra te levar pra jantar. — Júlia me encara e segura meu rosto.
Júlia fica ali me segurando enquanto eu a encaro e meu coração parece
estar vindo de uma maratona de tão acelerado.
— Júlia, eu não gosto desse seu olhar... e sabe muito bem da minha regra
sobre homens aqui em casa — suspiro um pouco desesperada.
— Ele está na sala, e lindo de morrer... e regras estão aí pra serem
quebradas o tempo todo — responde, me dando um beijo no rosto.
Assim que chego na sala, vejo-o com as mãos no bolso da calça jeans,
uma camiseta branca e uma jaqueta de couro preta completam o visual. Aqueles
olhos cor de mel me encaram e sei que escolhi o vestido certo.
Esse homem deveria ser proibido de sair assim, sério, lindo, com um beijo
incrível, fico pensando o que mais ele pode fazer com essas mãos e boca, mal
não ia fazer, não é mesmo?
Caramba, Beatriz, deixa de ser safada.
—Uau, Beatriz, você está maravilhosa — diz, me analisando dos pés à
cabeça.
— Podemos ir? — digo, já pegando pelas mãos de Arthur e indo embora,
porque Júlia está cheia de graça hoje e é bem provável que ela comece um
interrogatório no coitado.
— Ju, amo você – digo, levando Arthur.
— Divirta-se, Bia. Prazer, Arthur — responde, com os braços cruzados e
encostada na parede.
Nem deixo Arthur se despedir da minha irmã, estou com o coração
querendo sair pela boca, nervosa, como se fosse a primeira vez que eu estivesse
saindo com um homem, mas com Arthur é a primeira vez. Então, vou colocar a
culpa desse nervosismo todo nisso.
— Caramba, isso é pressa pra poder ficar a sós comigo? — Arthur diz,
enquanto vamos até seu carro.
— Há há, engraçadinho! Minha irmã poderia começar um belo de um
interrogatório com você, doutor. E eu não estou com pressa, mas estou com
fome. — Cruzo os braços.
Arthur cai na risada e abre a porta do carro para mim, não me oponho, não
custa nada aceitar a gentileza da porta, mesmo eu tendo plena capacidade de
fazer isso sozinha.
— Você está deslumbrante, Bia, já vamos comer, espero que goste do que
vou preparar — diz, fechando a porta.
Durante o percurso fomos conversando, Arthur está com uma playlist
muito boa, e eu amo dançar, estou mexendo meu corpinho sentada no banco do
carro do cara, ao som de Alok.
— Desculpe, eu não sei dançar, mas amo música, se você estiver no
supermercado e ver uma doida dançando no meio do corredor, será eu, sou
dessas — falo.
— Você dança no supermercado? — pergunta, olhando para o trânsito
novamente.
— No supermercado, no meio da rua, só não danço em audiência porque
não é permitido, mas música acalma a alma. — Mordo uma cutícula do dedo.
— Chegamos — Arthur avisa, entrando no estacionamento.
Arthur mora em uma cobertura de um prédio muito lindo da cidade,
chegando em seu apartamento noto como é organizado, moderno e muito bonito,
ele tem uma televisão e um videogame, ele me mostra seu escritório onde tem
uma estante linda, cheia de livros.
Enquanto ele termina de preparar o jantar, fico ali vidrada nos livros de
sua estante, me deparo com um nicho de romances eróticos. Fala sério, deve ser
de alguma irmã ou mãe e ele deixa que guardem aqui. Não é possível que ele
tenha lido. Homens raramente leem esses livros, pelo contrário, falam mal.
Pego um dos livros e vou até a cozinha, o cheiro está bom demais, estou
ficando louca de fome, mas isso não é novidade, ele só não precisa saber desse
detalhe.
— Romances eróticos, Arthur? São seus? — pergunto, folheando o livro
na minha mão.
—E de quem mais seria, Beatriz? Claro que são meus, eu não tenho irmãs,
só um irmão, bem folgado. Gosto de entender como funciona a cabeça das
mulheres, os livros ajudam um pouco, porque vocês são bem complicadas — diz,
mexendo em uma panela.
— Muito esperto, doutor — falo, devolvendo o livro em seu devido lugar.
Arthur fez um jantar delicioso, talharim com molho de queijo, e uma carne
assada para acompanhar, durante o jantar ficamos conversando. Ele me contou
sobre seu tempo de faculdade, o período em que ficou em São Paulo.
É muito fácil ficar ali com ele, sua companhia é muito agradável,
conseguimos conversar sobre tudo, o que eu gosto muito é que ele não é o tipo
de cara que fala só dele, o que é muito bom, porque tem homens que só pensam
no próprio umbigo.
Ele fala sobre tudo, perguntou sobre minha família, minha profissão e o
que eu gostava de fazer nas horas vagas.
Ajudo Arthur a tirar a mesa e levar as coisas para a cozinha, me ofereço
para lavar a louça, mas ele não deixa, afinal, eu sou sua convidada. Então eu
tenho a brilhante ideia de pedir para jogarmos videogame, que notei que ele tem
logo que cheguei, quem em sã consciência pede para jogar videogame em um
encontro?
Eu, é claro que falta um parafuso na minha cabeça.
— Você joga? — pergunta meio assustado.
— Claro que sim — digo, sentando no sofá ao lado dele.
Depois de algumas músicas jogando Guitar Hero que eu ganhei, óbvio,
porque sou muito competitiva, e amo esse jogo. Arthur pega o controle de
minhas mãos, nossos dedos se tocam, eu sinto uma eletricidade entre nós, e nos
olhamos e ficamos presos naquele olhar, os olhos dele descem para minha boca e
eu passo a língua nos lábios, indicando que quero ser beijada. E então ele me
beija, começa delicado, depois aumentamos o ritmo e o desespero toma conta de
nossos corpos.
Sento em seu colo, suas mãos sobem pelas minhas coxas, enquanto seus
beijos descem pelo meu pescoço até meu decote.
Arthur desamarra o nó de meu vestido tendo acesso a todo meu corpo. Já
estou desesperada por mais.
— Linda demais. Posso continuar? — pergunta, tocando a lateral de meu
seio, olhando fixo em meus olhos.
Confirmo com a cabeça, minha voz não sai.
Sua boca abocanha meu seio, lambendo, chupando, enquanto seu polegar
acaricia o outro, me fazendo gemer.
Rebolo em seu colo e sinto sua ereção dentro de sua calça.
Arthur levanta comigo em seu colo e caminha até o quarto, me colocando
deitada na cama, enquanto tira o resto de suas roupas, ficando somente de boxer
preta. Eu imaginava que ele fosse gostoso, mas depois de vê-lo só de cueca
boxer, seu corpo sarado, fica ainda mais sexy.
Sua boca percorre meu corpo, beijando-o, ele começa pelos meus seios,
mamando um, depois o outro, e eu vou à loucura.
Arthur desce até chegar no meio das minhas pernas, passa a língua por
cima da minha calcinha de renda, depois a retira, jogando-a longe, logo em
seguida. Volto a sentir sua língua passando por minha fenda, parando em meu
clitóris, fazendo movimentos circulares, bem devagar como se estivesse
chupando algo bem suculento.
Caralho, nunca recebi um oral tão bom.
Ele não tem pudor, nem nojo, ele continua ali, me chupando, enfia um
dedo em minha boceta, fazendo pequenos movimentos enquanto sua língua
continua fazendo carícias em meu clitóris, não aguento mais, gozo gemendo seu
nome.
Nunca me senti assim, tão entregue e venerada.
Arthur me olha, e abre a gaveta ao lado de sua cama pegando um
preservativo e o desenrolando em sua ereção, ele me beija, enfiando seu pau em
minha boceta, começando com estocadas leves, beijando meu pescoço.
Mudo de posição ficando por cima e rebolo, suas mãos massageiam meus
seios, e estamos ofegantes, entregues.
Meu corpo está prestes a explodir.
— Goza, gostosa. Rebola gostoso nesse pau!
Eu obedeço e rebolo. Suas mãos estão em meus seios, apertando,
massageando. Aumento o ritmo e meu corpo entra em espasmos, gozamos
juntos. Uma mistura de corpos nus e entregues. Arthur me beija delicado, e
ficamos ali abraçados e deitados naquela cama após um sexo delicioso.
Fico um bom tempo admirando aquele monumento de homem, eu preciso
achar algum defeito nele, porque nem do sexo, eu posso reclamar, assim está
ficando difícil, mas eu vou encontrar, porque ele tem que ter algum.
Estou cansada do sexo, do dia, e acabo adormecendo nos braços desse
homem intrigante.
Arthur
Beatriz é uma das mulheres mais incríveis que já fiquei, notei ontem
que ela tinha uma tatuagem onde dizia “Seja forte e corajoso” na costela, isso
só me mostrava que ela havia passado por alguma coisa muito forte, pois
ninguém tatuava algo assim se não tivesse passado por algo intenso.
Ou não também, poderia ser apenas uma frase da qual ela gostava.
Saio da casa dela depois de uma noite e uma manhã incríveis, e
dirigindo de volta pra casa, me pego pensando em tudo o que me trouxe de
volta para essa cidade, e no quanto eu relutei e agora sou grato, porque se não
fosse isso, não teria conhecido Beatriz, essa mulher intrigante.
Eu sei que só tive uma noite com ela, mas eu sou um homem decidido,
não tem por que fingir que não tivemos uma química incrível, e o quanto eu
quero estar com ela novamente.
Marquei de almoçar com meu irmão, que provavelmente já devia estar
em casa, porque o folgado tem a chave de lá, e meu telefone não para de tocar,
olho o identificador de chamadas antes de atender e vejo que é Larissa, decido
ignorar, porque coisa boa não deve ser.
Larissa é uma ex-namorada que deixei em São Paulo e gostaria de
deixar lá, ela não aceitava o fim do relacionamento, do breve relacionamento
que tivemos.
Passo em um restaurante que tem a caminho de casa e levo um risoto
que eu e meu irmão gostamos muito.
Chego em casa, como era de se esperar, Fred está sentado no sofá me
esperando, jogando videogame como se a casa fosse dele, folgado como
sempre.
— Vem comer, brutamontes — falo, colocando a comida na mesa.
— Você demorou, estou morrendo de fome.
Almoçamos em silêncio, tiro a mesa e lavo a louça enquanto meu irmão
resolve alguma questão no telefone com o pessoal da delegacia, embora ele
não esteja de plantão hoje, às vezes ligavam para ele.
Começamos a jogar videogame, algo rotineiro em nosso dia a dia. Mas
hoje, especificamente, eu estava bem aéreo.
— Você está quieto, Arthur, aconteceu algo? — Fred pergunta com os
olhos atentos à televisão.
— A Larissa me ligou o dia todo — digo, suspirando.
— Larissa na parada, boa coisa não é, mano, vocês não têm mais nada
pra falar um com o outro — responde irritado.
— Eu sei disso, por isso não atendi — digo, derrotando o personagem
dele no jogo.
— Filho da puta, Arthur, me usando pra me derrotar — diz, deitando no
sofá.
Meu irmão era um homem incrível, divertido, eu amava tê-lo ao meu
lado.
Ele era sempre muito íntegro, divertido, e ultimamente nem parecia ser
o irmão mais novo com os conselhos que vinha dando. Nós sempre fomos
assim, unidos. Um pelo outro, sempre.
Passo o resto do dia com meu irmão, o que foi bom, pelo menos eu
posso esquecer um pouco do que Larissa possa estar querendo comigo.
Penso em mandar mensagem para Beatriz, mas sou covarde e acho
melhor deixar assim.
Beatriz é uma mulher diferente de todas que já saí, ela é cheia de
atitude, e, não, isso não é ruim, pelo contrário. Ela não faz joguinhos, mas ao
mesmo tempo parece ser tão misteriosa e não quer sair do seu mundinho.
Ela me intriga.
Beatriz
Meu dia começou cheio de audiências que demoraram bastante, saí do
fórum, já passava das sete da noite, fui pra casa e no caminho notei um carro
me seguindo, precisava prestar atenção se era comigo mesmo, ou se eu estava
muito cansada. Não era a primeira vez que via esse carro.
Ainda lembro do Arthur beijando aquela loira Pernalonga. Bom, foi um
selinho, mas, ainda assim, só de lembrar reviro meus olhos.
A parte boa disso tudo é que o que tivemos ontem foi apenas uma noite,
ótima, por sinal, e não iria se repetir, melhor assim.
Era o que estava tentando me convencer.
E não parava de pensar naquela noite e em como terminou.
Júlia tinha me mandado mensagem mais cedo dizendo que ia estudar na
casa de umas amigas da faculdade, convidei Maria para ir lá em casa, mas a
rapariga tinha um encontro essa noite, então só me restava ficar sozinha
mesmo.
Chego em casa, troco de roupa, visto meu short de moletom, minha
camiseta, e me sento no sofá para assistir televisão, quando a campainha toca,
o porteiro não anunciou. Só pode ser uma certa pessoa batendo a essa hora.
Só existe uma pessoa folgada o suficiente pra subir direto para o meu
apartamento.
Abro a porta e dou de cara com Fred, meu melhor amigo, lindo como
sempre, mas nossa amizade nunca ultrapassou nenhuma barreira, sempre foi
questão de irmandade mesmo, ele é um amigo incrível, que tenho o prazer de
ter ao meu lado, nos momentos mais importantes da minha vida.
—E aí, baixinha gostosa — Fred cumprimenta, me abraçando.
— Sabia que era você, delícia, mas antes de você entrar preciso saber o
que você trouxe pra eu comer? — pergunto com a porta entreaberta.
— Você é morta de fome mesmo, tem pizza e sorvete pra gente. A linda
da Ju está aí? — Meu amigo me conhece bem mesmo, pizza e sorvete, eu
amo.
—Não, a Ju não está, e para de dar em cima da minha irmã, depravado,
ela não é pro seu bico — respondo, fingindo ciúme.
Ele vai entrando, e senta no sofá. Esse era o Fred se sentindo em casa.
Pego os copos na cozinha e guardo o sorvete no freezer para chupar
depois da pizza. Volto para sala, Fred me encara e diz com a boca cheia
enquanto escolhe um filme:
—E você pode ficar transando com o meu irmão e tudo certo, né,
baixinha? — Frederico solta na maior naturalidade.
Eu engasgo com a Coca que estava bebendo.
— Qq.. que irmão, Fred? Você nunca disse que tinha irmão, disse? —
gaguejo para responder.
— Eu disse sim, e que ele era o novo promotor aqui da cidade, mas
você não presta atenção em nada quando está brava e com fome. Arthur, já
conheceu ele, né? Safada você, Beatriz — Fred fala, rindo.
Caralho, tanta gente para eu abrir minhas pernas nesse mundo, tinha
que ser logo para o irmão do Fred?
Ninguém mandou ele ser gostoso, e em minha defesa, os dois não se
parecem nada.
— Porra,Fred... porra...para de rir, seu babaca — respondo, querendo
matar meu amigo.
— Eu estou me divertindo com essa história toda, baixinha, tanto do
seu lado quanto do dele, mas eu não vou me envolver, já adianto, só observo
de camarote, quando vocês se apaixonarem e forem me dar sobrinhos. —
Morde uma fatia de pizza.
—Cala a boca, Fred, primeiro que não vou me apaixonar, só saí uma
vez com ele, segundo que eu também não vou te dar sobrinhos, obrigada, de
nada. — Dou uma mordida na pizza.
— E a cena de ciúme hoje porque ele estava beijando a loira, foi por
que então, gatinha? — questiona.
Só de lembrar aquela Pernalonga, meu sangue ferve, afinal, o que os
homens têm com mulheres loiras?
Eu, hein!
— Eu não estava com ciúme, Fred — digo, limpando a mão no meu
short e bebendo um gole de Coca.
— Para uma advogada, você às vezes é bem lerdinha, nem escuta o
outro lado da história, Doutora? Todo mundo tem direito ao contraditório e
ampla defesa, lembra? Eu não vim pra defender meu irmão, Bia, fique
sabendo disso. Ele faz as escolhas dele, como você faz as suas, cada ação uma
reação, e toda causa tem uma consequência, você sabe, mas aquela loira não é
nada dele — Fred conta, colocando um filme na Netflix.
— Certo, senhor delegado, agora vamos assistir um filme, por favor, eu
nem sei porque estamos falando sobre isso. Foi só uma noite com um cara,
nada fora do normal, nada que você não esteja acostumado a ouvir de mim —
mudo de assunto.
— E você sempre foge quando as coisas ficam sérias, baixinha. Mas
tudo bem, hoje passa — me diz firme dessa vez.
Talvez eu fuja mesmo.
Não faço por mal, é mais uma proteção a mim mesma e aos outros, é
melhor assim.
Assistimos ao filme, comemos pizza, e ficamos ali. Fred é um grande
amigo, fico deitada no seu colo com as pernas esticadas no sofá, por mais que
eu queira não consigo prestar atenção no filme.
Fico pensando em tudo que ele me disse sobre Arthur, e eu com a
minha mania de tirar conclusão precipitada de tudo, principalmente quando
diz respeito a minha vida e em afastar as pessoas.
Por um lado, foi bom ter acontecido isso, assim nós não entramos em
uma cilada, porque se envolver agora não é uma coisa boa, não dá para
acontecer, de jeito nenhum. Eu não posso deixar ninguém entrar, por mais que
ele tenha feito eu me sentir bem, e diferente, no final, tudo será igual.
Um dos dois sairá machucado.
Sei que muitas pessoas falam para eu me permitir, que se eu não der
chance não tem como saber se vai dar certo ou não, então sempre me previno
e ajo por antecedência.
Sexo sem compromisso, apenas para satisfazer os desejos da carne.
Fútil? Muito, eu sei. Mas quando envolve sentimentos, as coisas complicam
muito, e os homens sempre se acham muito espertos, só não esperam achar
alguém tão esperta quanto eles, e aí eles se assustam.
Claro, é muito difícil você ser sincero nos dias de hoje e não fazer
joguinhos. Quer sexo? Diga. Quer relacionamento? Diga. O mundo seria
muito mais fácil se as pessoas não vivessem numa mentira completa, mas aí
mulheres são sinceras e são tidas como fáceis, simplesmente por dizerem sim
ou não para um cara, mas eu não me sentia assim com Arthur, e isso me
deixava mais frustrada.
Porque ele parecia ser um cara legal.
O filme termina e obviamente eu e Fred dormimos no sofá, quando
ouço Júlia abrindo a porta, vou buscar uma coberta e deixar Fred dormir aqui
em casa mesmo, está tarde para ele sair sozinho e ir embora.
— Hum... o delegado gostosão está aqui, é? — Júlia diz, me acordando.
— Chegou perguntando de você, por sinal, quer me dizer alguma coisa,
Júlia? — pergunto.
— Eu não tenho que dizer coisa nenhuma, Bia. O Fred está fantasiando
coisa na cabeça dele, vou pro meu quarto deitar, boa noite — Júlia diz toda
seca, indo para o seu quarto.
O celular do Fred começa a tocar e ele acorda para atender, poderia ser
urgente, mas me olha e me passa o telefone.
— Atende, baixinha. Diz que estou em sono pesado e vou passar a
noite aqui. — Se vira para o lado, voltando a dormir.
—Alô — digo tímida.
—Fred? O Fred está aí? — a pessoa do outro lado pergunta.
Porra, assim que ouço a voz do outro lado do telefone, decido que vou
matar o Fred, é o irmão dele no telefone, meu coração acelera.
— Oi, Arthur? É a Beatriz, tudo bem? Fred está dormindo, roncando no
sofá, tentei acordá-lo, mas hoje parece que ele não quer acordar — digo.
— Filho da puta mesmo esse Frederico — responde irritado.
— Pois é, quer dizer, pode ficar tranquilo que ele vai dormir aqui, ele
não bebeu nada, só pegou no sono e dormiu mesmo. — Olho para Fred, que
está dormindo.
— Você está bem, Beatriz? Queria me desculpar pela forma como agi
com você hoje, e a loira que você viu comigo, não temos nada um com o
outro — Arthur diz.
— Estou bem, Arthur, fique tranquilo. Você não me deve satisfação de
nada, não temos exclusividade, mas obrigada por avisar. Fico mais tranquila
em saber que não fui a outra. É… preciso desligar, tenha uma boa noite,
Arthur — respondo, querendo desligar o mais rápido possível.
— Boa noite, Beatriz — Arthur suspira.
Desligo o telefone e fico ali sentada, olhando para o nada, pensando na
conversa, desde meu último relacionamento não me envolvi com ninguém,
mas aqui estou eu, pensando em uma conversa que tive com um cara por
telefone.
Nossa! Que coisa mais brega.
Talvez eu devesse me permitir mais.
— Viu um passarinho verde, gostosa? — Fred pergunta.
— Filho da puta, você estava ouvindo... Ah, Fred, que vontade de
apertar seu pescoço! — respondo, e vejo o filho da puta sorrindo.
Vou para o meu quarto e tento não pensar em Arthur.
Penso em todas as coisas que aconteceram até aqui, e sei que está tudo
muito bagunçado dentro de mim, mas vamos viver um dia de cada vez, ou
pelo menos tentar.
É o mais sensato a ser feito.
Foi difícil pegar no sono, mas consigo dormir, até escutar um barulho
de vidro quebrando, e acordar assustada, gritando.
Fred vem correndo ver o que aconteceu, em seguida Júlia entra no
quarto. Ainda bem que essa noite ele está comigo, então nós olhamos, minha
janela está quebrada e uma pedra grande está no chão com uma mancha
vermelha que lembra sangue, nela uma carta em recortes que formam: “Você
me paga vadia.”
Eu só queria sossego, mas pelo visto, esse dia estava difícil de chegar.
Meu lar, minha casa estava sendo violada e isso, isso eu não podia permitir,
quem quer que seja que está por trás disso iria pagar.
Estive andando por aí
Sempre menosprezando tudo que vejo
Rostos pintados preenchem lugares que não consigo alcançar
Você sabe que eu preciso de alguém
Use somebody – Kings of Leon
Beatriz
Depois de muito tempo advogando e sofrendo ameaças, poucas coisas me
assustam, eu preservo muito a minha família, e eu não suporto o fato de terem
descoberto onde eu moro, não me importo que me ameacem, desde que fiquem
longe da minha casa, onde eu vivo com a minha irmã.
Sei que ela vai dizer que estou exagerando, mas eu sou a irmã mais velha
de mais três irmãos, não tem como não ser protetora, é mais forte que eu. Só em
pensar que pode acontecer alguma coisa com minha família, eu já fico surtando,
pois eles são tudo pra mim.
Foi difícil pegar no sono depois do que aconteceu, pedi para Júlia dormir
comigo, Fred disse que iria ficar na sala mesmo, faria algumas ligações,
inclusive pegou a carta e embalou para levar à delegacia, para ver se encontrava
alguma digital.
O que eu, particularmente, achava muito difícil.
Quem fez o que fez não seria burro o suficiente de deixar digital.
Acordo e não encontro Júlia na cama, levanto desesperada chamando por
ela e a encontro na cozinha conversando com Fred, terminando de preparar o
café, assim que chego à cozinha os dois me olham e dizem em uníssono:
—Você está bem?
— Estou sim, foi só um susto, preciso pedir para virem trocar o vidro —
digo, me sentando e fazendo um coque com o próprio cabelo.
— Beatriz, já mandei virem colocar blindado em todas as janelas do
apartamento, assim vocês ficam mais seguras aqui dentro — Fred responde,
terminando de coar o café.
— Bia, eu contei para o Fred sobre o Diogo — Júlia diz, desculpando-se.
Está aí uma coisa que Júlia não devia ter aberto a boca, eu amava minha
irmã, mas tinha momentos que era melhor ela ficar de bico fechado. Fred nunca
gostou de Diogo, e a vontade dele ainda é de dar uma bela surra nele.
Ninguém nunca gostou de Diogo, e Fred não era diferente.
— Foi só um mal-entendido, ele não vai fazer nada, é o frouxo do Diogo
— respondo, olhando para os dois.
— Que ele permaneça assim, porque eu não vou sentir peso nenhum em
descer o braço nele — um Fred irritado diz.
— Me deem licença que preciso ir trabalhar, meu dia está cheio. —Me
levanto, indo em direção ao meu quarto.
Entro no chuveiro, lavo meu cabelo, tomo meu banho bem demorado
antes de ir trabalhar, a parte do meu dia estar cheio não é verdade, não tem
audiência hoje, ainda bem. Por mais profissional que eu seja, não tenho como
ficar tranquila sabendo que alguém está me ameaçando.
Antes de sair, pergunto a Júlia se ela vai ficar em casa, mas para minha
tranquilidade, ela não vai ficar ali dentro, e Fred já tinha deixado tudo certo com
o pessoal dos vidros blindados, eu havia deixado uma chave com ele que virá
abrir quando eles chegarem.
Chego no escritório e deixo avisado para minha secretária que não quero
ser incomodada por ninguém, e ela sabe que quando eu digo isso, é porque a
coisa não está boa.
Não sou o tipo de pessoa que costuma maltratar ninguém, mas às vezes
acaba sobrando um pouco para o pessoal quando eu estava com meu humor do
cão.
Preciso relaxar um pouco, ligo para Maria contando o que tinha
acontecido, e como sempre, ela me anima e me convida para irmos no barzinho
que tem samba onde sempre vamos. Como é um lugar tranquilo, eu aceito e
digo que nos encontramos mais tarde.
Maria é a minha amiga, que sempre me acalma e diz a verdade quando
preciso ouvir, junto com minha irmã, é claro. Quando as duas se juntam pra
fazer isso é terrível, inclusive.
Deus me ajude!
Passei a manhã trabalhando em um processo de uma cliente nova,
nenhum bicho de sete cabeças, mas eu sempre fazia tudo com atenção para não
deixar brechas, afinal, estávamos falando de casos de assédio, estupro, etc, e a
culpa sempre caí em cima da vítima, era um caso de assédio sexual sofrido no
local de trabalho.
Minha cliente vinha sofrendo assédio de seu supervisor, até o dia em que
ele a trancou no almoxarifado e começou a passar a mão dentro de sua saia
sobre suas partes íntimas, só não ficou pior porque uma mulher que cuidava do
almoxarifado e sabia do caso interviu.
E foi então que ela me procurou para saber como proceder, e entramos
com o processo contra o vagabundo.
Na parte da tarde, preciso sair para ir ao fórum pegar algumas certidões
que ficaram prontas, já aproveito e aviso que não volto para o escritório hoje,
minha cabeça não está conseguindo trabalhar direito, ficar aqui só vai ser pior.
Pego meu celular para ligar para minha irmã e saber se está tudo bem e
vejo várias ligações perdidas de Arthur, mas não retorno, resolvo fazer uma
surpresa e aparecer pessoalmente na promotoria, afinal, eu estava indo pra lá
mesmo.
Arthur
Depois de deixar Beatriz na casa dela, dirigi até meu apartamento, no
caminho fiquei pensando no quanto ela era linda, e realmente fazia jus ao
apelido de pimenta que deram a ela. Porque se tinha uma coisa que ela era, era
ardida, e teimosa. Se tinha uma coisa que ela não fazia, era deixar as pessoas a
colocarem para baixo.
Quando estávamos chegando ao bar, eu e Fred vimos o tal do ex da
Beatriz sendo tirado de lá por dois seguranças, nós achamos estranho, mas não
comentamos nada com as meninas. Fred disse que ia tentar descobrir depois se
tinha acontecido alguma coisa.
Apesar de estar preocupado com a segurança dela, não é nisso que eu
estou pensando no momento, e sim no quanto o seu beijo é bom e no quanto eu
fiquei excitado com ela e aquele beijo. Essa mulher está me tirando do eixo.
Ter que colocá-la no ombro pra conseguir levá-la pra casa foi o ápice da
noite, porque a mulher é teimosa demais!
Até pra aceitar uma carona!
Foi divertido ter Beatriz ali, no meu ombro. Fui um ogro? Fui. Mas se
não fosse assim, não teria conseguido levá-la para casa.
Enquanto estava no bar algumas mulheres tentaram puxar assunto
comigo, mas eu não conseguia prestar atenção em nada do que me falavam, só
queria saber se Beatriz estava bem. Ela parecia alheia a tudo que estava
acontecendo e isso não era do feitio dela.
Acordo com a campainha tocando sem parar, olho no celular e vejo várias
chamadas perdidas do meu irmão, e não são nem dez horas da manhã. Que
diacho ele está fazendo aqui em casa em pleno sábado para me atormentar.
Na verdade, não sei porque ele está tocando a campainha se tem a chave
da minha casa, só para me infernizar, só pode.
Levanto da minha cama e sinto inveja do meu gato que continua
dormindo gostoso.
Abro a porta e Fred já vai entrando, intrometido como ele é. Por que
minha mãe foi me arrumar um irmão mesmo?
Eu me perguntava isso sempre que meu irmão me atormentava, e depois
sempre agradecia, porque não sabia viver sem esse brutamontes.
— Porra, Bela Adormecida, você esqueceu que tem campeonato de
basquete hoje, e você está no time? Vai Arthur, vai se trocar! — diz assim que
entra, e senta no meu sofá.
Claro, o campeonato que ele vem me atormentando, eu me esqueci
completamente, ainda mais depois de ontem que dormi feito um anjo e, na
verdade, eu estava querendo dormir até mais tarde.
Eu estava morto, só queria dormir sem ter hora pra acordar.
— Na verdade, eu estava na intenção de você esquecer dessa ideia e eu
poder dormir mesmo, mas pelo visto não rolou, né? — pergunto.
— Eu sei que você está velho, Arthur, mas vamos mexer esse corpo, faz
bem pra saúde, pra você não ficar broxa! — me provoca.
—Vou mostrar o broxa, seu otário! Vá se foder! — Mostro o dedo para
ele.
Vou para o meu quarto me trocar, porque meu irmão não vai sair
enquanto eu não for a esse campeonato, e ele sempre me vence pelo cansaço.
Sempre faço todas as suas vontades, irmãos mais novos são sempre mimados,
inclusive, pelos irmãos mais velhos, mas eu nunca vou assumir isso.
Me recuso a assumir que mimo meu irmão.
Estou muito feliz de voltar a morar na mesma cidade que minha família e
estar perto dele novamente. Senti muita falta dele nos anos que fiquei
trabalhando em São Paulo.
Apesar de tudo, não nos intrometemos no trabalho um do outro, isso foi
uma regra imposta para evitar problemas.
Ainda não nos encontramos no ambiente de trabalho, o que eu agradeço,
porque o Fred pode ser um palhaço extrovertido, mas quando está como o
delegado Frederico, é outra pessoa, e eu me orgulho muito disso.
— Vamos logo antes que eu mude de ideia — digo, pegando a chave do
carro.
No caminho para a quadra onde vai acontecer o bendito campeonato,
acabo perguntando sobre Beatriz. Eu sei que ela é advogada, mas não sei
detalhes, nunca perguntei também, só sei que trabalha com a Fernanda, uma
advogada de causas feministas.
— A baixinha depois que terminou com o ex se tornou outra mulher,
ainda bem, voltou a viver, focou no seu trabalho, e virou sócia da Fernanda, as
duas são de grande nome aqui da cidade, pegando casos que ninguém quer,
principalmente no que se refere em defesa dos direitos das mulheres — me
responde, digitando uma mensagem no celular.
Paro o carro abruptamente e olho para Fred surpreso, porque desde que
cheguei ouço falar do escritório de Fernanda e Beatriz, mas não tinha ligado
uma coisa com a outra.
— Aos vinte e oito anos ela é sócia, administrando um escritório como o
dela e da Fernanda? Porra! — falo surpreso, não por ela ser sócia, mas em
pouco tempo as duas conseguiram grandes casos e conquistas.
— Ela não fica ostentando, Arthur, com exceção de onde ela mora, ela
não trata ninguém diferente por ser bem-sucedida e ter colocado uns marmanjos
na cadeia, que por sinal, tenho pena de você que vai se encontrar com ela no
ambiente profissional — Fred diz, rindo.
— Muito obrigado por acreditar no seu irmão, Fred! — respondo,
fingindo estar triste.
— Mano, eu sei que você é muito competente, mas a baixinha já passou
por muita coisa e vira uma fera quando defende seus clientes — responde,
olhando a paisagem.
— Que coisas, Fred? — pergunto, por que ele sempre fala dessa forma,
que coisas ela passou?
O pior de tudo é saber que conseguir alguma coisa de Beatriz vai ser algo
muito difícil, a mulher não falará comigo sobre seus medos e inseguranças.
Sei disso, pois no dia que falou do ex, foi um breve resumo, sem entrar
em detalhes de nada.
— Ai, Arthur, chega, está falando muito. Chegamos, graças a Deus! —
meu irmão corta o assunto.
Chegamos, paro o carro, e vou cumprimentar aqueles marmanjos que
estão presentes para jogar, são todos amigos do Fred e logo começamos o jogo.
Eu e Fred sempre jogamos muito bem, mas os caras são muito bons, o
placar no segundo período está apertado. Fred me arremessa a bola para eu fazer
uma cesta de três pontos quando avisto Beatriz correndo ao lado de um cara
todo bad boy, negro, musculoso, toda cheia de sorrisos, e eu erro a cesta.
Merda!
—Arthur, porra, você nunca perde essa cesta! — Fred grita comigo.
Damos um intervalo para tomar uma água, obviamente o Fred vê Beatriz
e a chama, quando ela chega mais perto, tenho que me segurar. Porra, como ela
está gostosa.
Beatriz está usando um top de ginástica que aperta seus seios que me dão
vontade de colocar na boca e mamar gostoso, e uma camiseta por cima com um
decote profundo, e um micro short realçando suas coxas. Belo jeito de vir correr
onde esse marmanjos vão estar todos babando.
Se controla Arthur, porra!
— Arthur, esse é o Caíque, meu amigo e personal às vezes — diz,
sorrindo para mim.
— Personal quando você resolve se exercitar, né, Bia? — ele fala.
Beatriz revira os olhos e mostra a língua para ele que me estende a mão
para me cumprimentar.
— Muito prazer. — Aperto forte sua mão olhando em seus olhos, é
aquela digna cena de cachorros mijando no poste para marcar território.
— Eu prefiro comer do que fazer exercício — ela diz, toda linda. — Cadê
o Fred delícia, Arthur? — pergunta sobre meu irmão.
Eu estou começando a odiar aquele apelido que ela deu para o meu irmão,
reviro os olhos, mas nem sei se nota ou não, seu celular começa a tocar e eu fico
ali a observando, enquanto estava ao lado do tal personal.
Será que eles já tiveram algo? Ele não faz o tipo dela, qual é Arthur? O
cara é um personal, sarado, por que não seria o tipo dela? E ela estava cheia de
sorrisinhos pra ele.
“Oi, Fer, calma, fala devagar. Sim, eu sei do congresso, como assim, você
não vai poder ir? Quando sai o voo? Tá, tá bom, mas você vai ter que cuidar das
coisas aqui. Ótimo, vou quebrar essa pra você. Beijo, também amo você, tchau”,
diz um pouco nervosa para alguém ao telefone.
Fred chega abraçando Beatriz sem cerimônia nenhuma, afinal esses dois
são grandes amigos.
— Baixinha, que bom ver você por aqui. Oi, Caíque, tudo bem? — meu
irmão cumprimenta os dois.
Espera, meu irmão conhece o personal também? Que merda, viu. O pior é
que meu irmão é muito sociável.
Talvez eu devesse perguntar sobre o brutamontes que está com Beatriz,
será que ele me responde? Duvido muito, e se eu perguntar, ele vai me zoar, pra
não perder o costume.
— Delícia, eu tenho que ir, tenho que resolver umas coisas urgentes —
Beatriz diz para Frederico. — Caíque, você pode ficar, eu vou pra casa.
— De jeito nenhum, te acompanho, depois eu volto — responde, indo
com Beatriz.
— Tchau, Arthur, a gente se vê — se despede de mim e vai embora.
Ela foi mexendo aquele corpo gostoso que mexe com todos os meus
sentidos, e eu fui terminar de jogar.
Minha concentração no jogo depois de ver Beatriz foi péssima, eu não
acertava uma bola sequer na cesta, meus pensamentos estavam na morena de
cabelos cacheados e naquele homem que estava com ela.
Depois de um jogo apertado, ganhamos, não por minha causa,
obviamente. Fred e os companheiros do time fizeram um jogo melhor que eu. O
que posso fazer? Ultimamente eu não vinha acompanhando meus pensamentos
direito.
Beatriz
Se tinha algo que eu fazia com muito, mas com muito esforço mesmo,
eram exercícios, não eram todos os dias que achava divertido, mas eram
totalmente necessários. Eu tinha um amigo e personal que sempre pegava no meu
pé, então não tinha como fugir, ele sempre me levava pra correr no parque.
Eu gostava mesmo de bater no meu saco de pancadas. Isso aliviava as
tensões do meu dia a dia. Quando estava ali, dando socos no saco cheio de areia,
eu liberava todas as minhas frustrações, medos, raiva. Mas exercícios, me davam
preguiça, por isso não frequentava academia, eu corria com Caíque, e junto, ele
me passava exercícios que eu fazia ao ar livre, sem precisar ir para uma
academia.
Caíque era um homem lindo, confesso, negro, de um corpo bem definido,
onde arrancava suspiros por onde passava, quando estávamos juntos e não
queríamos ser incomodados por alguém, até inventávamos a velha desculpa de
que éramos namorados.
Quem nunca usou o amigo pra dispensar alguém que atire a primeira
pedra.
Conheci Caíque quando fazia faculdade, ele cursava educação física e eu
direito, mesmo nossos cursos sendo diferentes sempre nos demos bem e nossos
gostos sempre foram parecidos, e sim, as pessoas sempre me perguntavam se eu
tinha algum relacionamento com ele, mas nunca tivemos nada, só demos um
beijo em uma festa uma vez, mas descobrimos que não ia rolar, a amizade falava
mais alto.
Sempre aos sábados de manhã, ele me acompanhava na corrida, segundo
ele, alguém tinha que pegar no meu pé senão eu só ficava sentada olhando as
pessoas que passavam e depois parava pra tomar água de coco.
Meu sábado não estava diferente, se não fosse por encontrar Arthur
jogando basquete com Frederico e o pessoal, na minha lista de homens gostosos,
o Arthur estava ficando em primeiro lugar, puta que pariu, aquele homem ficava
gostoso até suado!
Óbvio que as marias cestinhas estavam lá de plantão olhando e suspirando
pra ele, um homem como Arthur despertava muitos desejos nas mulheres, e eu já
tinha provado o quanto ele era bom, e tratava bem uma mulher, mesmo sendo
irritante às vezes.
Para a minha sorte, ou não, Fernanda me tirou dos devaneios dizendo que
não poderia ir ao congresso representar o escritório, estava com um problema
com o irmão dela e não poderia ficar longe.
Fernanda sempre me ajudou muito, me estendeu a mão quando eu mais
precisei e juntas conseguimos chegar e montar o escritório que temos hoje, então
eu iria no congresso, e era na Bahia, eu não achava ruim, amava qualquer lugar
que tivesse uma praia.
Caíque me atormentou o caminho todo de volta pra casa dizendo que
Arthur só faltou pular no pescoço dele, eu disse que ele estava exagerando e não
tinha motivos pra Arthur fazer isso, uma vez que nós não tínhamos nada, mas
segundo meu amigo, os homens eram territorialistas.
Chegando em casa, Júlia estava acordada tomando café, precisava falar
com o Fred pra ele ficar de olho na minha irmã enquanto estivesse fora, porque
minha família é o bem mais precioso que tenho, e eu tinha medo da minha irmã
ficar sozinha em casa, então mesmo de longe, ele podia dar uma olhada nela.
— Bom dia, Ju, a Fer me ligou e não vai poder ir no congresso, preciso
arrumar minha mala, viajo amanhã à noite, vai ficar livre de mim uma semana —
conto ofegante a minha irmã sobre a viagem.
— Nossa, que delícia! Uma semana sem olhar pra sua cara! Amanhã tem
que almoçar na mãe que ela já ligou — Júlia me diz.
— Claro, Ju, a gente sempre vai almoçar lá mesmo. Agora vai se arrumar,
vamos ao supermercado comprar as coisas para o almoço de hoje e à noite
pedimos pizza — digo, tomando um gole d’água.
— Vai tomar um banho que você está nojenta. — Me dá um tapa na bunda.
—Irmã, você é irritante — grito, indo em direção ao meu quarto.
Fui para o meu quarto para tomar banho e antes de ir ao banheiro, meu
celular toca, não conheço o número, mas como advogada, eu atendo, afinal, pode
ser cliente.
— Alô – digo, atendendo.
A linha fica muda e só escuto uma pessoa do outro lado respirando e
depois a ligação cai.
Estranho.
Vou para o banho, pois deve ter sido engano, acontece muito isso, ou
devem ser essas operadoras que ficam ligando insistentemente para os nossos
celulares e não dizem nada.
Depois de um banho tranquilo e relaxante, coloco uma calça jeans e
camiseta básica branca, com tênis, afinal, eu só iria ao supermercado e voltaria
pra casa, precisava organizar as coisas da viagem ainda.
Chegamos em casa, resolvemos fazer macarrão, se tem uma coisa que
amávamos nessa vida, era massa.
Conversamos sobre coisas aleatórias do dia a dia, arrumei a cozinha e fui
organizar minhas malas pra poder viajar.
Confesso que não estava muito feliz em deixar minha irmã sozinha em
casa, não depois do episódio que quebraram minha janela me ameaçando, isso
vinha me atormentando muito, mas eu não tinha desconfiança de ninguém que
pudesse fazer isso.
Não podia ser o Diogo, podia?
Não suportava a ideia de alguém machucando minha família, isso me
deixava muito incomodada, eu sei que não podemos proteger todo mundo nesse
mundo, mas isso não quer dizer que eu não vá tentar, ainda mais se tratando das
pessoas que amo.
Júlia entra no quarto, deitando na cama, dando opinião do que eu deveria
levar ou não ao congresso e me contou sobre um rapaz se mostrando interessado
nela, mas ela não queria sair.
E do nada solta que o Fred tinha ligado pra ela.
— O Fred, o quê? — pergunto, gritando.
— Ele disse que não estava conseguindo falar com você, por isso me ligou
— diz, mexendo em seu celular.
— Hum... entendi, o mais estranho foi que eu encontrei com ele hoje de
manhã. — Dobro uma camiseta, colocando na mala.
— Bia, e eu vou saber os motivos que ele tem pra falar com você? Vamos
logo assistir ao filme, vai. Terminou de arrumar sua mala? Pegou seus biquínis?
— Júlia muda de assunto.
— Peguei tudo. Ai, que delícia, sair do congresso e pegar uma praia —
suspiro, fechando a mala.
— Não vai ficar com nenhum desconhecido lá, Beatriz, ouviu? — Júlia diz
toda protetora.
Revirei os olhos pra ela.
Sempre muito protetora, nós sempre fomos assim uma com a outra, e esse
era um dos motivos de ela estar morando comigo, ela pensava que me enganava.
Mas eu amava tê-la todos os dias comigo, minha loirinha alegrava meus
dias.
Fomos escolher um filme para assistir, depois de muito tempo, escolhemos
um filme indiano, era um filme muito engraçado, cheio de música, misturava
máfia com romance também.
Ficamos à tarde assistindo filmes, até que a fome bateu e pedimos pizza,
comemos ali na sala mesmo, na frente da televisão, nossos sábados eram assim
muitas vezes, fazendo maratonas de séries e filmes.
Dormimos na sala mesmo.
O dia amanhece e eu havia esquecido que tinha que almoçar na casa dos
meus pais, eles estavam fazendo churrasco, meus avós iam almoçar lá também, já
tínhamos comprado o que levar e estávamos a caminho, eu ainda tinha que avisar
minha mãe que iria ficar fora uma semana, o que seria um drama, se tinha uma
coisa que Dona Alice fazia, era drama, só seu Joaquim pra aguentar mesmo.
A casa dos meus pais, como sempre, já estava aquela gritaria de sempre,
mas eu amava aquela bagunça, descendentes de italianos não sabiam falar baixo,
meus irmãos estavam brigando por alguma coisa sem motivo, e minha mãe
gritava com eles.
— Oi, mãe, chegamos — grito assim que chego.
— Que bom que vocês chegaram, bebês, já estava ficando preocupada, e a
comida já está pronta — minha mãe diz, dando um beijo em minha bochecha.
Júlia deu um beijo na minha mãe e foi entrando, me deixando ali.
Sabia que eu ainda precisava falar com ela da minha viagem, apesar de ter
minha independência, eu tinha muito respeito por ela, e acho importante saber
sobre minha vida, afinal, ela é minha mãe.
O problema era que minha mãe sempre dava um sermão quando eu falava
de viagens.
— Mãe, não posso ficar muito hoje porque tenho que viajar, surgiu um
congresso de última hora e o meu voo sai hoje às seis, vou pra Salvador, depois
talvez eu fique uns dias em Ilhéus.
— Não posso te impedir, né? Mas cuidado, filha, é perigoso você sozinha,
longe. — Coloca um prato de maionese sobre a mesa.
— Eu sei, dona Alice, fica tranquila, o hotel é muito bom e você me
educou muito bem — digo, dando uma piscadinha.
— Mas você é uma pervertida também, eu conheço a filha que tenho, por
isso eu me preocupo, isso porque você é a mais velha. — Me dá um tapa na
bunda.
— Obrigada pela parte que me toca, mãe, muito obrigada — respondo,
entrando para procurar meu pai.
Como era de se esperar, meu pai estava na churrasqueira, dou um beijo
nele, que estava todo feliz porque eu dei uma churrasqueira nova pra ele, ela era
grande, cheia de frescura, dava pra fazer um monte de coisa, igual a do programa
Perto do Fogo do Felipe Bronze, mas como nós sempre nos reuníamos no final de
semana, e a família era grande, eu comprei e dei de presente pra ele.
Ele sempre falava dessa churrasqueira, então quando tive a oportunidade,
comprei. E ele merecia.
Depois de comer, eu e meus irmãos fomos jogar uno, obviamente que ia
dar briga, porque nós levávamos muito a sério, joguei um mais quatro no Pedro,
que ficou muito bravo, ele odiava perder.
— Bia, você tem que parar de guardar essas cartas para o final, eu ia
ganhar — responde, fazendo bico.
— Falou bem, você ia ganhar, Pedrinho, mas eu fui mais esperta que você.
— Dou um beijo em sua bochecha.
Olho para o portão e vejo meu primo entrando e com ele Stefano.
Minha respiração fica mais lenta.
Meu coração acelera.
Meu mundo para de girar por um momento.
Achei que essa amizade dos dois já tinha terminado, pelo visto me enganei,
quando olho já estão ali, perto da nossa mesa.
Não sabia que minha mãe tinha convidado todo mundo pra vir, puta que
pariu, como isso me irritava na minha mãe. Sempre convidando todo mundo pra
vir em casa, tudo bem que ela não sabe sobre o ocorrido, mas mesmo assim.
Festas de família deveria ter somente família.
O que esse filho da puta está fazendo aqui?
— Que porra é essa? — pergunto, cerrando minhas mandíbulas.
Meus irmãos olham sem entender o que aconteceu.
Meu primo Bernardo chega cumprimentando todos da mesa e Stefano tenta
me cumprimentar com um beijo quase em minha boca, mas desvio fingindo
atender o celular.
— Está mais gostosa do que eu me lembro, Bia, não esquece de ficar
quietinha — sussurra ao meu ouvido.
Ao ouvi-lo falar isso, um arrepio percorre meu corpo, derrubo a long neck
de cerveja que estava tomando.
Júlia me olha de um jeito estranho, se tem alguém que me conhece bem e
consegue ler nas entrelinhas é ela, mas nesse caso, ninguém pode ajudar, nunca
puderam.
Eu estava sozinha nisso!
— Bia, você está bem? — pergunta, segurando minha mão.
— Ju, eu preciso ir embora, meu voo sai daqui a pouco, você quer ir
comigo ou depois você vai? — Eu só preciso sair daqui.
— Vou com você, Bia. — Pega a bolsa e nem se despede de ninguém.
— Catarina, não fica aqui fora não, por favor — repreendo minha irmã
mais nova.
— Não, Bia, eu vou sair daqui a pouco, por sinal, boa viagem. Me mande
fotos e traga presentes — diz, indo em direção ao seu quarto.
— Pedro, não saia do lado da Catarina, está me ouvindo, não até todo
mundo ir embora, e sem discussão. — Ele assente.
Não me despeço de ninguém, simplesmente saio o mais rápido que consigo
dali.
Minhas mãos tremem.
Eu sinto ódio, meu coração ainda está acelerado.
Tento respirar, mas não consigo.
Entramos no carro, Júlia me olha e como eu já imaginava, vem a pergunta
sobre o que houve. Eu precisava pensar em uma desculpa pra ela, porque a
verdade, essa era dolorosa demais e Júlia não merecia saber sobre isso.
— O que houve lá? — Júlia pergunta, colocando o cinto.
— Nada, Ju, você sabe que eu nunca gostei do Stefano, estou com um
pouco de dor de cabeça, tenho que preparar algumas coisas para o congresso, só
isso — falo, dando partida no carro.
Sinto lágrimas se formarem em meus olhos.
Aqui não, agora não.
— Se você está dizendo isso, tudo bem, não vou insistir, mas ambas
sabemos que tem mais coisa que não está me contando — responde e coloca uma
música no bluetooth.
Chego em casa e vou direto para o banho, Júlia não falou mais nada,
respeitou meu momento, e eu fiquei embaixo do chuveiro curtindo meu silêncio,
minhas lágrimas, peguei a bucha e comecei a me esfregar muito, como se pudesse
mudar algo.
Dor é tudo o que eu sinto e ninguém pode me ajudar.
Porque fico nervoso toda vez que te vejo
Tremendo e balançando os joelhos
E assim como toda música que ainda não ouvi
Nervous–Gavin James
Arthur
Assim que pousei em Salvador, deixando minhas coisas no quarto do
hotel, coloquei Believer, do Imagine Dragons, no celular e fui tomar um
banho.
O congresso só iria começar na terça-feira, então iria aproveitar pra
sair e curtir a noite, afinal, eu também precisava disso, um descanso para a
mente sempre é bem-vindo.
Estava hospedado em um hotel de frente para o mar, na Praia do Farol
da Barra, era um lugar lindo, com uma vista incrível.
A Bahia é um lugar que tem uma certa magia, e com uma energia
muito boa.
Saindo do banho, liguei para a recepção do hotel e perguntei se sabiam
de algum barzinho com música ao vivo e comida boa pra ir, a recepcionista
disse que tinha um lugar que não era dos mais famosos, mas que a comida era
ótima, e o forró era dos melhores, ficava chegando na praia de ondina, bem
próximo de onde eu estava.
Comida boa, forró, lugar regional. Era tudo que eu precisava.
Nada desses lugares lotados de turistas, nada contra, mas hoje eu estou
a favor de algo mais aconchegante.
Estava na praia, então coloquei uma bermuda, camisa de estampas
deixando os três botões abertos e chinelo, descendo a recepção, pedi o
endereço para a recepcionista e pude notar os olhares que ela me deu, era
uma moça bonita, mas essa noite eu iria aproveitar sozinho.
Logo que cheguei, aluguei um carro pra ficar mais fácil de me
locomover durante a semana aqui em Salvador, já que escolhi um hotel que
não ficava no mesmo local do congresso e eu não gostava de ficar no mesmo
lugar.
Muitas pessoas e muita hipocrisia no meio jurídico, então preferia ir e
voltar para o meu quarto de hotel e dormir. Para isso, um carro facilita na
locomoção.
Chegando no endereço que a recepcionista me passou, que eu conferi
antes de sair do hotel pra ver se era mesmo um lugar existente, afinal, nesse
mundo de hoje e com a minha profissão, não confiava muito nas pessoas, o
que muitas vezes era um saco, mas o lugar era existente.
Por sorte, o GPS não teve problemas em encontrar o endereço, era um
barzinho simples mesmo, ficava um pouco afastado, mas ainda à beira da
praia, mesas e cadeiras de madeira e do lado de fora já conseguia ver as
pessoas dançando, simples, mas muito aconchegante.
Ao chegar no bar, notei o homem que estava atrás do balcão rindo e
dizendo algo sobre uma mulher que estava ali.
— Oxi, essa aí é arretada, nem parece ser turista! Virar cachaça assim?
Dançando desse jeito bonito de se ver, essas mulheres com jeito de menina
são as piores — dizia, enquanto enxugava um copo com o guardanapo.
— O que você vai querer, moço? — questiona, olhando pra mim.
— Uma cachaça da casa, por favor — respondo, olhando à minha
volta.
— Aqui está, moço. — Coloca um copo com uma dose à minha frente.
Virei de uma vez só
Caramba, desceu quente, uma delícia.
Mas era diferente do que eu estava acostumado.
Era forte, um sabor doce com um fundo apimentado.
Só notei que não tinha muitas mulheres no local, por ser um local bem
simples,acredito que não iriam muitas, algumas mulheres gostavam de muito
glamour, por ser um bar na beira da praia era como se fosse um quiosque
grande.
De repente, começa a tocar uma música animada que não soube
identificar, parecia ser um samba, e vejo vários homens em volta, me
aproximo pra ver o que tanto todos olham, quando chego, vejo uma mulher
com uma rosa vermelha nos cabelos cacheados soltos, segurava a barra do
vestido, dançando como se pertencesse àquele lugar, ela rebolava e dançava
não se importando com ninguém à sua volta, algumas mulheres estavam ali
também, mas nem ligavam pra presença dela.
— Essa bichinha é arretada — uma mulher que alisava a própria
barriga, acredito de uns oito meses, parou ao meu lado e falou.
É a segunda vez que estava ouvindo isso hoje, a mulher deveria ser
encantadora mesmo, se bem que eu conhecia uma assim, encantadora, que
me intrigava demais.
Caralho, Arthur, agora não é momento de pensar em Beatriz, péssimo
momento pra isso, ainda lembrava dela correndo com aquele projeto de
Creed, se achando o próprio Michael B. Jordan, cheio de gracinha.
O casal ao meu lado me tira dos meus pensamentos, ainda bem.
— Que mulher vem em um bar desse, toma uma garrafa de cachaça
sozinha, dança e não se importa com nada? Como ela vai embora? — o
homem pergunta à mulher do outro lado do balcão.
O dono do bar, que descubro se chamar Zé, assim que ele se
identificou, diz pra mulher e eu não consigo não rir da conversa dos dois.
— Oxi, homem, vai dançar, está esperando o quê? Uma mulher bonita
dessa e você aqui! — A mulher me cutuca.
Esses baianos eram bem enxeridos, mas eu não poderia negar em
dançar com uma mulher bonita, afinal, eu sai pra aproveitar a noite e não
ficar parado que nem um idiota encostado vendo uma mulher dançar sozinha.
Quando a música termina, a mulher vai até o bar e bebe mais uma dose
do que eu deduzo ser cachaça, me aproximo por trás dela, colocando a mão
em sua cintura.
— Me concede a honra da próxima dança, moça bonita? — sussurro
no ouvido da mulher.
Nada descreve o que eu estava sentindo nesse momento, a mulher que
estava no mesmo bar que eu, olhando pra mim nesse exato momento, com o
sorriso mais lindo do mundo, era ninguém menos que Beatriz.
De todo lugar pra gente se encontrar no mundo, tinha que ser aqui, em
Salvador, neste bar no fim do mundo, que ninguém conhece?
Estou começando a acreditar quando dizem que destino existe mesmo.
Do pouco que conheço Beatriz, o bar era mesmo a cara dela, simples,
com pessoas humildes, não me admira que ela tenha conquistado todos com
seu jeito mesmo.
Ela arregala os olhos como se não pudesse acreditar que eu estivesse
ali também, mas depois de sair de um mini transe, me responde.
— Será um prazer, moço bonito!
Começa a tocar a música, Eu Só Quero um Xodó de Dominguinhos,
pego-a e começamos a dançar, eu a conduzo a olhando nos olhos, desço um
pouco a mão abaixo da sua cintura.
— Você está linda, Beatriz, acho que nunca te vi tão leve e livre como
hoje — digo a rodopiando.
Dançamos com nossos corpos colados, como se não houvesse mais
ninguém no mundo além de nós dois. A música termina e Beatriz de repente
fica branca, nunca a vi assim, o que me assusta, mas não deixo transparecer,
afinal, ela pode precisar de mim e preciso estar aqui para isso.
— Você está bem? — é tudo que consigo dizer a ela.
— Podemos caminhar na praia e você me leva para o hotel depois? —
pergunta, soltando dos meus braços.
— Tudo bem, vou pagar a conta, senta aqui um minuto. — Coloco-a
sentada em um banco.
Vou até o bar para pagar o que consumi, que não foi muito.
— Quero acertar minha conta e da moça dos cabelos cacheados
também, por favor. — Tiro a carteira do bolso.
— Ela já acertou, moço, vocês já se conhecem? — a mulher grávida
que descobri chamar Maria, ao lado de Zé, pergunta, eu amei conhecer esses
dois.
— Essa é minha esposa, e Deus me ajude se a menina que está por vir
puxar a ela.
— Sim, nós nos conhecemos. Deus abençoe sua família e a menina
que está pra vir nesse mundo.
— Oxi, homem, vocês tem uma luz muito bonita juntos, mas ainda vão
enfrentar muita coisa, você só vai me achar louca agora, mas a moça ali, é
arretada, mas tem uma ferida muito profunda e quem conseguir ajudá-la a
cicatrizar essa ferida, será um homem de muita sorte — diz, soltando minha
mão que nem notei que estava segurando.
— Obrigado por isso, eu vou cuidar dela agora, tenham uma boa noite
— digo e saio meio atordoado com a conversa da mulher, afinal, ela nunca
nos viu na vida.
E o que Beatriz escondia que precisava cicatrizar?
Encontrei com Beatriz, que segurava seus chinelos na mão, e saímos,
peguei o chinelo e carreguei pra ela, que como sempre me olhou
questionando.
— Fica quietinha, porque hoje você não pode questionar nada, tomou
uma garrafa de cachaça sozinha, e se eu ligar pra Júlia, não será muito legal
— apelo pra sua irmã que está longe.
Beatriz me levava aos limites, ela tinha um jeito que não tinha como
não “peitá-la”, só assim pra tentar domar essa mulher e na verdade isso era
uma coisa impossível de ser feita.
— Poxa, Arthur, não precisa pegar pesado, eu aceito a gentileza —
responde, me mostrando a língua.
A maluca saiu correndo e foi em direção ao mar, que a essas horas
estava alto, de roupa e tudo, já estava de madrugada e eu não via mais
Beatriz, até que a enxerguei e nadei até ela.
Ela estava embaixo d’água, então a puxei para cima. E droga, por que
ela tinha que ser tão imprevisível?
Grito por Beatriz.
Mergulho na água que está gelada e a encontro, e a puxo para cima.
— Droga, Arthur, você me atrapalhou! Estava batendo meu próprio
recorde de ficar embaixo d’água — diz, fazendo bico.
— Claro, faz muito sentido isso, no mar, de madrugada — respondo
irritado.
— Eu hein, Arthur, às vezes você é um saco, esqueço que você parece
um velho!— diz, jogando água em meu rosto.
Eu a puxei pela cintura, deixando-a bem colada a mim.
Fico olhando Beatriz nos olhos, que está ofegante, o medo que senti
quando não a vi, não cabia em mim, não ia me perdoar nunca se algo tivesse
acontecido.
— Droga de velho gostoso, você tem que ser ainda por cima, com essa
camisa toda molhada — diz, passando a mão em meu peito, baixando os
olhos, e me alisando.
— Menina, não brinca com o coração do velho porque eu não sei se
aguento. Agora, vamos sair dessa água.
Ela dá a risada mais encantadora que já ouvi, e então aproxima sua
boca da minha e me beija ali no mar sob a luz da lua.
Gosto dessa versão de Beatriz pós-álcool, seu beijo hoje está diferente,
mais calmo e delicado, e cada vez mais viciante.
Saímos do mar e vamos caminhando até o carro, como sempre, eu fico
sem palavras pra essa mulher, cheia de atitude e determinação, que faz as
coisas sempre do jeitinho que ela quer.
E em momento nenhum acho que ela esteja errada.
— Agora que você melhorou sua bebedeira, o que acontece, Bia? Pra
você fazer beber tanto e se enfiar embaixo d’água? — pergunto curioso.
— Nada demais, Arthur, você provou a cachaça? E comeu com a
farofa que eles fazem? Não tem como não beber, eu estava morrendo de
fome, e uma coisa levou a outra, e aí começaram a tocar música, eu dancei, e
o resto você já sabe — responde, fugindo do assunto como sempre.
Certos assuntos era melhor não cutucar demais. Principalmente com
Beatriz, ela era de se fechar comigo e nunca mais falar nada.
— Então ok, Beatriz. E por que me chamou de velho? O gostoso, eu
gostei, menos o velho, estou com tudo em cima, se é que você me entende.
— Dou um sorriso safado pra ela.
Beatriz cai na gargalhada, eu estava ficando cada vez mais encantado
com esses momentos descontraídos dela.
— Você é mais ranzinza, primeiro ponto, e você é mais velho que eu,
segundo ponto, e terceiro, porque você pensa demais... — Beatriz sussurra no
meu ouvido, subindo no meu colo, voltando a me beijar, estamos os dois
molhados, ela morde meu lábio inferior, meu pau pulsa dentro da minha
calça.
— É melhor você me levar para o hotel, velhinho, seu coração não
aguenta fortes emoções — provoca.
— Menina, não brinca com fogo, porque você sabe muito bem o
quanto o coração desse velho aqui aguenta. Agora senta bonitinha nesse
banco que nós vamos para o meu hotel. — Dou um tapa em sua coxa.
Nunca vi Beatriz perder a voz, mas dessa vez, ela não disse nada e
seguimos para o hotel, os dois molhados, paramos o carro na garagem e
estava descendo para abrir a porta para Beatriz quando ela falou
— Arthur, é melhor você me levar para o meu hotel — diz, arrumando
o vestido.
— Você está molhada, bebeu, vai subir comigo e eu vou cuidar de
você, está fora de discussão isso. Até parece que vou deixar você sozinha em
um quarto de hotel — falo, descendo do carro.
Claro que ela não deixou eu abrir a porta do carro e já estava fechando
a porta quando cheguei para abrir, teimosa que só ela.
Pego em sua mão e vamos para o elevador que nos leva até a suíte que
estou hospedado, abro a porta e dou passagem para Beatriz primeiro, que
entra e fica olhando a vista, que está linda, a lua, está cheia e enorme,
iluminando o quarto e a praia.
Enquanto Beatriz fica no quarto, vou até o banheiro e deixo a banheira
enchendo, coloco alguns sais que estavam ali, será bom pra relaxar e acalmar
um pouco, ainda bem que o congresso só começaria na terça-feira.
Voltando ao quarto, observo Beatriz que abraça a si mesma e fica ali,
observando a vista por vários minutos e eu não quero interromper. Ela tem
um olhar distante, diria até que triste.
Fico pensando o que tanto passa naquela cabeça pra ela se jogar no
mar e ficar dentro d’água? Será que era mesmo uma tentativa de bater o
próprio recorde embaixo d’água?
A mulher do bar disse coisas que estavam me perturbando, eu não
sabia o que pensar, mas com Beatriz, eu não iria conseguir as coisas fáceis, e
nós acabamos de nos conhecer, então se abrir pra mim não era algo que ela
faria.
Escuto ela dar um suspiro longo e limpar os olhos, e decido que é a
minha deixa para me aproximar, e estamos ambos molhados, precisamos
tomar um banho quente para não ficarmos doentes.
Vou até ela e abraço sua cintura, sentindo seu cheiro, eu poderia ficar
ali por horas, aquela menina tinha um cheiro viciante, e o seu jeito era... não
sabia explicar, ela tinha algo diferente, acho que a química que tínhamos no
sexo era muito boa, é… era isso.
— Vem, você precisa tomar um banho quente, está gelada e tremendo
toda, você está bem? — digo, acariciando seus braços.
Beatriz não diz nada, só me acompanha até o banheiro, olha para o seu
reflexo no espelho. Noto que tem algo estranho no seu olhar, como se
estivesse com medo, dor.
Antes de fazer qualquer coisa, eu peço a ela permissão, algo me diz
que nesse momento é o que preciso fazer.
— Posso tirar seu vestido? Toma um banho comigo?
Ela assente com a cabeça e então eu começo a abrir o zíper da sua
roupa, retirando delicadamente, deixo cair no chão, ela está com um conjunto
de lingerie lindo, preto, a calcinha estilo shortinho toda de renda transparente.
Como ela era linda, e sexy, antes de fazer qualquer coisa, tiro minha bermuda
e minha camisa e deixo ali no chão, pego Beatriz no colo e entro com ela na
banheira com ela apenas de lingerie e eu de boxer mesmo.
Ficamos ali, abraçados, Beatriz encosta a cabeça em meu peito, e eu
fico alisando suas costas, não posso negar que meu pau começa a pulsar,
afinal eu estou com uma mulher incrível nos meus braços por quem eu tenho
muito tesão, mas estava tentando me controlar, porque naquele momento, foi
o que pareceu certo.
Mas eu esqueci que era com Beatriz que estava lidando e ela era uma
diabinha às vezes, e seu humor parecia que virava como uma chavinha em
sua cabeça, ali estava o olhar da mulher cheia de luxúria e tesão que eu
conheci.
Beatriz fica em pé na banheira, e retira a calcinha que estava vestindo
junto com o sutiã, ela monta em mim e começa a rebolar por cima da minha
boxer que ainda estou vestindo, sua boca encontra a minha em um beijo cheio
de desejo e necessidade, minha mão encontra seus seios e com meus dedos
aperto seus mamilos e a ouço gemer.
Tiro minha boxer, Beatriz me olha com muito desejo, seguro-a em meu
colo e sinto sua boceta roçar em meu pau, mas não a penetro, beijo seu
pescoço descendo para seus seios onde encontro seus mamilos intumescidos,
chupo e mamo, passando minha língua em seu mamilo e meus dedos
acariciam o outro seio.
Faço o mesmo com seu outro seio, passando minha língua por seu
mamilo, chupando e mamando naqueles seios que me deixam louco de tesão,
Beatriz geme sobre meu pau, enfio um dedo em sua boceta e a encontro
molhada, acaricio seu clitóris.
Beatriz morde meu ombro, e diz algo completamente inaudível, era
assim que eu a queria, relaxada, enfio mais um dedo enquanto mamo em seus
seios, Beatriz começa a rebolar em meus dedos e sei que ela está prestes a
gozar.
A cena que vejo é a mais linda, Beatriz se desfaz em meus dedos em
um gozo delicioso, me deixando mais duro e necessitado, louco por ela.
Beatriz pega meu pau e começa a me masturbar com movimentos leves
enquanto me beija, mordendo meu lábio, Beatriz aumenta os movimentos no
meu cacete e eu a beijo ferozmente.
— Estou limpa, fiz exame há alguns meses e tomo anticoncepcional —
fala, levantando e olhando em meus olhos.
— Senta no meu pau, Beatriz, eu também estou limpo, posso te
mostrar os exames depois.
Beatriz não responde, só vem em minha direção e senta nele. A
sensação de ser engolido por sua boceta, quente e apertada é deliciosa. Sinto
seu corpo me engolindo, e quero cada vez mais.
Enquanto ela rebola em meu pau, acaricio seus seios, aumentamos o
ritmo e espirramos água para todos os lados.
Ela geme e é como se eu tivesse encontrado o paraíso.
— Rebola pra mim, gostosa — digo, segurando sua cintura.
Beatriz rebola mais rápido, puxo-a pra mim, ficando quase impossível
me segurar quando ela goza, levanto-a de meu colo e a safada morde meu
lábio e segura meu pau, me masturbando, onde não aguento muito tempo e
gozo em seus dedos delicados.
Levanto com Beatriz da banheira e estamos cheios de espuma, levo-a
para cama, carrego-a até lá e a deito, começo beijando sua boca, e vou
descendo parando no seu mamilo, chupando e beijando um depois o outro,
olhando nos olhos de Beatriz, que morde o próprio lábio.
Desço beijando sua barriga até parar no meio das suas pernas, começo
a beijar sua boceta, chupando, lambendo toda sua extensão, chupo seu clitóris
em movimentos circulares, me deliciando, enfio um dedo em sua boceta, e
Beatriz está ali, se desmanchando em minha boca, seu sabor é dos mais
incríveis que já senti.
É uma delícia ter Beatriz assim, entregue pra mim.
Viro para pegar uma camisinha, colocando-a em meu pau e vejo
Beatriz me olhando como um doce bem suculento, como sempre, ela é
inesperada, me inclina pra deitar na cama e monta em mim.
— Seu coração pode não aguentar, velhinho, mas eu comando agora
— diz toda sexy.
Beatriz começa a rebolar enquanto segura seus seios, mordendo o
lábio, a cena mais linda que já vi, essa mulher ainda vai me enlouquecer.
— Porra, Beatriz.
Ela rebola e pula em cima do meu pau em uma lentidão torturante,
suas unhas arranhando meu peito, Beatriz rebola mais rápido, até que
gozamos, e estamos os dois suados e cansados. Ficamos ali, deitados, sem
falar nada, só aproveitando nossa companhia.
Beatriz adormece no meu peito, eu fico observando essa mulher que
dorme sobre ele e eu gostaria que não saísse mais daqui. A mulher que o
destino mais uma vez colocou em meu caminho.
A mulher que eu queria desvendar e que provavelmente me
massacraria.
Eu quero cair
Cair no esquecimento
Não quero viver assim
Preciso que algo me apague
Oblivion–Labirinth
Beatriz
Estou saindo do banheiro da suíte quando ouço a porta se fechar e mãos
grandes me seguram tapando minha boca me impedindo de gritar.
E aí meu pesadelo começa.
— Não, por favor, para, não — grito desesperada.
— Beatriz, acorda, respira, está tudo bem, é só um pesadelo. — Escuto
Arthur me chamando e me puxando para os braços dele.
Merda, eu poderia ter pesadelo ao lado de qualquer pessoa, menos de
Arthur.
Ele me abraça apertado, o que me acalma um pouco, eu não gostava das
sensações que tinha quando estava perto dele, mas eu não conseguia evitar, elas
vinham fortes, como me sentia segura e protegida ao seu lado.
Assim como ele percebia as coisas com facilidade, percebia quando
alguém estava mentindo, sabia muito bem como deveria tirar a verdade das
pessoas, mas eu não poderia contar pra ele, essa era uma parte minha que
ninguém sabia, nem mesmo minha família, a única pessoa que sabia era o Fred
que me ajudou há alguns anos.
Esse era um lado meu completamente quebrado e cheio de cicatriz, não
tinha como curar, ninguém podia e Arthur não ia ser o cara que eu iria sair
contando sobre meu passado.
Nós éramos duas pessoas que estávamos tendo bons momentos juntos,
mas somente isso, não vou estragar contando meu lado podre.
Tirar minha vida nunca passou pela minha cabeça, quando Arthur me
tirou do mar, eu não estava tentando fazer isso, mas só precisava sentir um
pouco de adrenalina talvez, pra me sentir viva.
Bizarro, eu sei.
— Você está bem, Beatriz? Precisa de alguma coisa? — Arthur levanta
da cama assustado.
— Foi só um pesadelo, vou tomar um banho — dou um selinho em
Arthur e sigo para o banheiro.
Tomo o cuidado de trancar a porta para Arthur não entrar, preciso ficar
sozinha.
Ligo o chuveiro e fico ali tentando mandar embora todas as lembranças
que vêm em minha mente.
Pego a bucha e me esfrego, preciso mandar todas as lembranças embora
porque tem um homem lá fora que não estou a fim que comece a fazer um
milhão de questionamentos.
Eles sempre fazem quando tenho esses pensamentos, por isso parei de
dormir com eles.
Sempre me enchem de perguntas, mas na verdade nunca estão muito
preocupados, estão assustados mesmo, alguns homens só querem saber de uma
boa foda, eles só não estão acostumados quando mulheres fazem o mesmo que
eles. Aí são consideradas vadias, piranhas e tantos outros.
Mulheres não podem falar palavrão, não podem tomar atitude de chamar
um homem pra sair ou mesmo ter uma noite de sexo e não querer mais nada
que ela é tida como fácil.
Ou mesmo uma mulher complicada.
Olho para os meus dedos e estão enrugados, acho que estou há tempo
demais aqui.
— Beatriz? Pedi café pra nós, está tudo bem? Você está aí há mais de
meia hora. — Arthur bate na porta.
— Estou saindo, velhinho — digo para descontrair.
Tento não entrar em pânico porque sei que ele vai me encher de
perguntas quando sair daqui desse banheiro, nem percebi o tanto que fiquei
aqui.
Puta que pariu, agora que lembro que não estou no meu hotel, estou sem
minhas roupas e meu vestido está encharcado.
Saio do banheiro e Arthur está ali parado sem camisa exibindo aqueles
músculos que me fazem perder o ar sempre que olho pra ele.
— Toma, vista uma camiseta minha pra poder tomar café. — Arthur me
entrega uma camiseta branca que eu visto imediatamente, ficando nua na sua
frente.
— O quê? Você já viu isso tudo mesmo — digo, dando de ombros.
— Agora vamos tomar café porque eu estou cheia de fome, e com uma
dor de cabeça do caralho.
Vou me sentando à mesa, que nossa... tem tanta coisa boa. Coloco café
na xícara, porque o dia só começa depois de uma boa dose de café.
Arthur se senta à minha frente e fica me observando enquanto toma café
e come um pão de queijo, queria mesmo era estar naquela boca.
Foco Beatriz.
— Nossa, eu estou aqui me acabando de comer e você todo fino, me dá
até uma vergonha. — Ele ergue uma sobrancelha, me olhando.
— Eu duvido muito que você esteja envergonhada nesse momento,
comendo com tanta vontade como aparenta, Beatriz. — Coloca um pão de
queijo na boca.
— É, não sinto — respondo de boca cheia.
Porque não sinto mesmo, se tem algo que eu nunca me sentia mal era por
comer, e não tinha frescura, vou ficar fazendo graça pra quê?
Eu hein!
— Vai me contar sobre o pesadelo? — Coloca os cotovelos sobre a mesa
e pergunta olhando em meus olhos.
— Sem perguntas sobre isso, por favor — respondo, querendo finalizar o
assunto.
— Tudo bem, mas passa o dia comigo? — Segura minha mão.
Arthur às vezes era um porre.
Eu só queria voltar para o meu quarto de hotel e ficar quieta.
Mas não, ele estava aqui, pedindo pra passar o dia comigo.
E eu estava pensando em aceitar!
Éramos dois conhecidos, no mesmo lugar, passando o dia juntos, ele era
muito lindo e gostoso, mal não poderia fazer, né?
— Você não vai aceitar um não como resposta, né? — digo em tom de
rendição.
— Sabe que não, Beatriz, venha visitar alguns lugares comigo — Arthur
me diz com um olhar pidão.
— Tudo bem, Arthur, mas preciso ir para o hotel trocar de roupa — dou
a palavra final.
— Vou tomar banho e já saímos — diz, se levantando.
Enquanto isso, aproveito e envio uma mensagem para Júlia, quero saber
como estão as coisas.
Uma mensagem se transforma em chamada de vídeo, reviro os olhos,
mas faço o que ela pede.
— E aí, Bia? Como está aí na Bahia? Pera aí, que a mãe está chegando
aqui — diz, se virando para procurar alguém.
— Conheci um barzinho tão gostoso ontem, me diverti tanto. Oi, mãe —
respondo.
— Porra, eu estou imaginando o quão gostoso foi ontem mesmo, Beatriz!
— minha mãe diz, se abanando.
E então me dou conta de que Arthur está atrás, saindo do banheiro, com a
toalha amarrada na cintura.
Que visão do paraíso!
— Desculpa, Bia, não sabia que estava no telefone — Arthur responde
um pouco envergonhado, e volta para o banheiro.
— Não precisa se desculpar por ser gostoso não, bonitão — minha mãe
grita, me matando de vergonha.
— Bom, você já me matou de vergonha o suficiente mãe, vou desligar —
falo com a mão na testa.
— Claro, vai aproveitar o bonitão só de toalha no banheiro, use
camisinha, filha. Te amo — minha mãe diz
— Tchau, mãe. Ju, amo você — digo, e finalizo a chamada sem esperar
por uma resposta delas.
Eu não tinha muito filtro para falar as coisas, e eu tinha a quem puxar, a
minha mãe! Que não tinha filtro nenhum pra nada, absolutamente nada.
Mas, essa era minha mãe, e eu a amava demais!
Arthur estava encostado no canto da porta ouvindo tudo e quando vou
até ele, começa a gargalhar!
—Sua mãe é muito gente boa, gostei dos elogios por sinal, só preciso
falar pra ela conversar com você porque está resistindo demais aos meus
encantos, só quer saber de usar do meu corpo, e agora sei de quem você herdou
a boca suja. — Dá uma piscadinha, puxando meu corpo próximo ao seu.
— Ah, claro, certinho você. — Empurro Arthur de volta para o banheiro.
Enquanto ele se troca, fico olhando minhas redes sociais.
Deixo uma mensagem de voz para Maria, uma pra mãe que estava com
vontade de esganar e outra pra Júlia.
— Você vai descer assim, só com a minha camiseta? — pergunta, me
analisando.
— Arthur, estamos na Bahia, praia, e você não tem que ficar querendo
controlar o que eu visto ou deixo de vestir, não é mesmo? — Cruzo meus
braços, empinando meus seios e olhando pra ele.
Arthur ergue as mãos em sinal de rendição e saímos do quarto do hotel.
Assim que chegamos ao elevador, entram mais dois homens, que ficam
olhando pra mim, Arthur me cobre com seu corpo. Reviro meus olhos com a
cena.
Homens são tão possessivos às vezes.
Confesso que esse lado de Arthur, eu não deveria, mas gosto muito. Na
verdade, eu gosto de tudo que envolve esse homem, ele me irrita na mesma
proporção que me acalma e me deixa à vontade pra ser eu mesma.
Beatriz
Saindo da palestra ao término do congresso, conversei com algumas
pessoas que vieram me parabenizar pelo discurso, alguns conhecidos outros não,
procurei por Arthur, mas não o encontrei.
Estava conversando com duas advogadas que admirava muito, que
também vieram me parabenizar, durante a conversa, acabava procurando por
Arthur, mas ele deveria estar aproveitando da melhor forma a Bahia.
Acabo indo jantar com as advogadas que querem saber mais sobre meu
trabalho e da Fernanda, uma vez que elas trabalham na capital, o que foi muito
gratificante pra mim, porque trocamos muita experiência, as dificuldades que
elas também enfrentam, trocamos nossos telefones pra continuar tendo contato,
eu fiquei explodindo de felicidade.
Meu trabalho era tudo pra mim, e ser reconhecida por isso, era incrível.
Volto para o hotel de uber, e chegando na porta do meu quarto, meu
celular toca e atendo imediatamente quando vejo que é Fernanda.
— Bia, minha linda, acompanhei tudinho, quero te dar os parabéns, você
foi incrível, falou tão bem, estou tão orgulhosa de você! — diz assim que atendo,
me deitando na cama.
Meu dia foi muito gratificante, mas eu estava cansada demais.
— Fer, eu sou muito grata a você, que me estendeu a mão quando eu mais
precisei nessa vida e me ajudou a chegar onde estou hoje, mas eu te conheço o
suficiente pra saber que você não me ligou somente para isso. Está precisando de
mim aí, né? – pergunto preocupada.
Com o tempo de convivência com Fernanda, eu sabia decifrar todos os
sinais que ela dava nessa vida, e nossa sociedade e amizade funcionavam porque
sempre fomos muito sinceras uma com a outra, inclusive quando havia um
problema para resolver juntas. Ela cuidava da parte dos divórcios, pensões
alimentícias, e eu ficava com a parte de violência doméstica e crimes contra
mulheres.
E algo me dizia que eu iria voltar mais cedo pra casa.
— Você sabe que os processos quando partem para os crimes e violência
eu confio plenamente em você e eu estava cuidando do divórcio de uma cliente e
amiga, Bia. Ela já não estava mais morando na mesma casa que o infeliz do ex-
marido, mas ele foi atrás dela hoje e a agrediu, quebrou seu braço e duas
costelas, estou no hospital agora porque ela não ligou para a polícia e sim pra
mim — diz, suspirando.
— Estou fazendo as malas agora mesmo, não faça nada até eu chegar aí,
vou com ela até a delegacia, vou pegar o primeiro voo, poderia ter feito todo o
discurso depois, Fernanda. —Levanto da cama, procurando minha mala.
Que belo filho da puta! Eu tinha uma vontade imensa de descer minha
mão nesses covardes que não aceitavam o fim de relacionamentos.
Por que homens tinham que ser tão desprezíveis?
— Calma, Bia, ela ainda não teve alta, dá tempo de você chegar, amo você
— responde, percebendo meu nervosismo.
Desligo e nem respondo, quando se trata de clientes que sofreram
violência, temos que ser rápidas, coloco minhas coisas de qualquer jeito na mala,
não que eu seja uma pessoa super organizada. Verifico se não deixei nada, desço
para fazer o check-out no hotel e vou me despedindo da Bahia, querendo voltar
sem pressa da próxima vez, para aproveitar com calma.
Chegando ao aeroporto, ainda tenho alguns minutos para embarcar,
aproveito para ligar para Júlia e avisar que estou indo mais cedo para casa,
pergunto como estão as coisas, como estão meus pais, e ela aproveita pra me
dizer que minha mãe vai fazer churrasco pra comemorar o aniversário da minha
tia em casa e como sempre quer minha presença, desligo e digo que preciso
embarcar.
Não estou com cabeça pra pensar em festas de família, nos últimos dias,
elas me estressavam demais e agora eu precisava pensar em minha cliente.
Verifico meu celular e vejo uma mensagem do Arthur me parabenizando
pelo discurso, respondo agradecendo e guardo meu celular na bolsa. Boas
lembranças eu ia ter dessa viagem, e Arthur era uma delas, ele era uma pessoa
incrível.
Durante o voo tento dar uma descansada para poder chegar e já ir ao
trabalho, dando meu melhor como sempre, afinal, a mulher estava no hospital
com as costelas quebradas, mas eu faria o filho da mãe pagar por isso, mesmo
não tendo muita justiça para as mulheres em nosso país. Na verdade, em nossa
sociedade em geral, mas isso não quer dizer que vou deixar de fazer o melhor
por elas.
Vivemos em uma sociedade machista, o que é muito triste, porque
mulheres só lutam por igualdade, homens se acham superiores por serem
homens e terem um pau no meio das pernas, é lamentável.
Pousamos já eram quase dez e meia da noite de sábado, pedi um uber e fui
direto para o hospital, no percurso, observava as pessoas que iam e vinham
arrumadas para a noite, até gostava de fazer isso às vezes, mas ultimamente o
conforto da minha casa com meus livros e séries sempre falava mais alto.
Na frente do hospital, vejo uma lanchonete, o que é um alívio, precisava
de alguma coisa pra me dar energia porque a noite seria longa. Compro um
energético, sei que não era bom para o meu organismo, mas hoje não ia ter outra
opção, eu estava muito cansada da viagem, e ainda tinha trabalho a fazer.
Logo na recepção, encontro com Fernanda que me recebe com uma
expressão preocupada e está cheia de olheiras, pelo visto, está há muito tempo ali
acompanhando a amiga, assim que me vê, me abraça e começa a chorar.
— Graças a Deus, Bia. Ela já foi para o quarto, fiquei com medo de que
algo pior pudesse acontecer com ela —diz entre soluços.
— Calma, Fernanda, respira, senão quem vai parar em um quarto de
hospital vai ser você também, agora me conta o que aconteceu — falo e levo
Fernanda até uma poltrona de espera.
Fernanda senta comigo na recepção do hospital e começa a me contar que
o processo de divórcio tinha finalizado. Camila sua amiga e cliente já estava
morando sozinha e hoje ligou dizendo que o ex-marido invadiu o condomínio e a
agrediu, só parou porque um vizinho invadiu o apartamento e interveio, ainda
existiam almas boas nesse mundo, e minha cabeça já estava trabalhando pra
pegar o filho da puta que deixou aquela mulher ali.
O caminho seria longo, mas eu o faria pagar, cada vez que isso acontecia
com uma mulher, por mais corriqueiro que fosse, me fazia ficar com mais raiva e
mais sede de justiça por elas.
Era por essas mulheres que eu trabalhava.
Para que elas pudessem dormir tranquilas à noite, e pudessem respirar
aliviadas.
Passamos a noite ali, uma no ombro da outra para esperar a alta da Camila
e irmos à delegacia.
Precisávamos agir o mais breve possível, por mais que nossas leis fossem
falhas, eram elas que ainda nos davam respaldo, e era com elas que nós tínhamos
que nos blindar para que o pior não acontecesse. Mesmo que na maioria dos
casos, as mulheres acabavam feridas ou mortas.
O mais bizarro, era que em casos de violência contra a mulher, em que
elas são as vítimas, elas têm que provar a inocência, é uma coisa pra lá de bizarra
e absurda, mas que acontece diariamente.
Acordo do cochilo que dou com o meu celular tocando e vejo que é Júlia
na tela, pelo horário prevejo a bronca que minha irmã vai me dar por não ter
dado notícias sobre ter chegado.
— Ju, bom dia, desculpe, cheguei e vim para o hospital atender uma
cliente, estou no meio de um caso, por isso não fui pra casa ainda — aviso assim
que atendo o telefone.
— Poxa, Bia, podia ter mandado uma mensagem avisando que você já
estava por aqui, eu fiquei preocupada. Agora não esquece do aniversário da tia,
você vai conseguir ir, né? — discursa irritada.
— Farei o possível pra que sim, mas como conheço aquela família, não
vão fazer nada sem me esperar chegar, então — respiro fundo só de pensar no
cansaço que vou ter.
— Vou deixar você trabalhar então, beijo, amo você. — Desliga, sem
tempo de deixar eu me despedir.
Caminho até o quarto onde Camila está e ela já está conversando com o
médico para receber alta junto com Fernanda, ela vai até o banheiro para se
trocar e eu espero ali.
— Doutor, eu preciso levá-la para a delegacia para fazer o boletim de
ocorrência e todos os procedimentos necessários, ela tem condições para isso?
Sei que pode parecer frio, mas é o melhor a ser feito no momento — digo
encostada à porta.
— Ela está bastante abalada, mas consegue ir com você até a delegacia,
não recomendo que ela fique sozinha com outros homens que não sejam de
extrema confiança dela, ela vai precisar de todo apoio necessário, inclusive
psicológico, já expliquei tudo pra ela — responde, anotando no prontuário.
— Obrigada, doutor, se todos dessem esse tipo de atenção quando se tem
casos de violência e julgassem menos, acredito que as mulheres talvez
denunciassem mais seus agressores, uma pena que isso não ocorra — falo.
Camila sai do banheiro vestindo calça, tênis e um moletom enorme, que
não faço ideia de onde ela arrumou, mas eu entendo o motivo.
Arthur
Assumir a promotoria da cidade onde nasci e cresci pra ficar perto dos
meus pais e meu irmão novamente, estava sendo uma das melhores coisas desde
que consegui a transferência de São Paulo Capital, gostava muito, mas era
sempre cheio de pessoas e eu me sentia sempre sozinho, sentia falta da vida que
o interior me proporcionava.
Sempre fui muito responsável e quando se tratava de trabalho a
responsabilidade aumentava ainda mais. Eu trabalhava com pessoas, não podia
fazer de qualquer jeito, quando assumi a promotoria, fiquei responsável pelos
casos de crimes dolosos contra a vida.
Desde a época da faculdade, sempre quis seguir a carreira de promotor de
justiça, então estudei muito, passei no concurso e fui nomeado para atuar na
capital de São Paulo.
Amava estar em volta de casos grandes que sempre tinha, mas eu sentia
falta da minha família, e com isso pedi transferência quando surgiu vaga na
minha cidade natal.
Depois da minha noite na boate, meu irmão disse que o caso de homicídio
era de uma mulher, que foi estuprada e depois morta brutalmente.
Nós não queríamos deixar a população em alerta ainda, mas estávamos
preocupados com o caso.
De qualquer forma, essa semana teria meu primeiro júri como promotor
na cidade, apesar de ter feito isso por diversas vezes, eu sempre ficava nervoso e
gostava de analisar muito bem os casos antes para estar preparado para o que
pudesse vir.
E não podia ficar pensando nos casos que não vieram para as minhas
mãos ainda.
— Com licença, doutor — Iago interrompe meus pensamentos.
Se tinha uma coisa que eu não gostava era que as pessoas que
trabalhavam comigo me chamassem de doutor toda hora, eu não era melhor que
ninguém, não precisava disso, mesmo sabendo que era uma forma de respeito.
Iago era meu assistente, um menino muito bom, que se mostrou muito
prestativo desde quando eu cheguei.
— Entre, Iago, e por favor, pode tirar o doutor quando falar comigo. Me
chame somente de Arthur, não precisa de tanta formalidade assim, trabalhamos
juntos. — Dou sinal para que ele entre.
— Desculpe, dou.. Arthur, força do hábito, trouxe o processo do caso que
você me pediu, com todos os volumes, e não são poucos. — Entra e deixa os
volumes dos processos que são físicos ainda sobre minha mesa.
— Obrigado, Iago. — Levanto da mesa e vou pegar o primeiro processo
que pedi.
Beatriz
Acordei empolgada, a vantagem de ser autônoma era conseguir fazer meus
próprios horários.
Mas, apesar de conseguir ser minha própria chefe, eu precisava organizar as
coisas no escritório com Fernanda e com os clientes. Hoje eu teria um dia
diferente para que eu conseguisse ver pelo menos um pouco o Arthur no júri.
Era seu primeiro júri na cidade e eu iria acompanhar de perto.
Em nossa última conversa, eu havia dito que estava devendo um almoço
pra ele, porque se tinha uma coisa que ele sempre fazia era ficar pagando meus
almoços, eu não tinha problema nenhum com isso, mas ainda me sentia estranha
com ele sendo assim, tão cavalheiro.
A vida só me presenteava com cavalos.
Era muita coisa pra digerir. Pensar em Arthur me fazia sorrir.
Enquanto os nossos encontros ficassem somente dessa forma, leve, sem
pressão nem cobranças, nem sentimentos, eu ficaria bem mais tranquila.
Não queria me envolver com ninguém, principalmente com Arthur, ele era
bom demais pra se corromper com alguém como eu.
Não, eu não era completamente avessa a sentimentos, a única questão era
que, quando você começa a envolver sentimentos nos relacionamentos, tudo fica
mais complicado.
Sentir é complicado.
Se permitir é difícil, porque quando deixamos as pessoas entrarem em
nosso coração e fazer parte de nossa vida, corremos o risco de sofrer, como diria o
Pequeno Príncipe “A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa
cativar.”
E eu odeio chorar!
Tenho a sensação de que sempre que alguém entra em minha vida esse
alguém vai me fazer sofrer, ou vai correr do meu jeito de ser.
O problema? O maldito problema era que eu gostava de Arthur e todo o
pacote que vinha com ele, isso incluía sua companhia e a porra da química no
sexo que temos.
O dia hoje estava um pouco frio, então vesti uma camisa branca, calça e um
blazer azul claro com um scarpin nude, a roupa estava perfeita, me olhei no
espelho, passei uma maquiagem leve e saí, não encontrei Júlia que deixou um
bilhete avisando que tinha ido pra aula, enviei uma mensagem pra ela e segui meu
caminho.
Assim que estaciono e desço do carro, ouço uma voz masculina impossível
de esquecer me chamando, me arrepio inteira.
Me viro e vejo Diogo, que belo jeito de se começar o dia!
Bufo irritada, e respiro fundo pra encarar aquele que só tenho desprezo.
Não que Diogo não fosse bonito, longe disso, o filho da puta era bonito e
gostoso, mas não valia o chão que pisava.
Diogo tinha tatuagens espalhadas pelo corpo, uma na mão que na época em
que estávamos juntos eu achava sexy demais, um corpo definido, alto, mas nem
tanto perto de Arthur, e cabelos pretos e olhos castanhos, pode ter certeza de que
arranca muitas calcinhas por onde passa, inclusive a minha antigamente.
Mas, o caráter dele, nem se compara. Não vale nada esse filho da puta!
Filho de político, não dá pra se esperar muita coisa mesmo.
Parada, analisando esse babaca que nem é tudo isso, tem aquela beleza
comum, Arthur é muito mais homem, muito mais alto, mais atraente, e charmoso,
sexy, e me deixa muito mais de calcinha molhada ultimamente.
Por que eu tô pensando no Arthur, eu hein?
Porra, Beatriz!
— Diogo, não posso dizer que estou feliz em te ver porque estaria
mentindo e você sabe disso, deu pra me seguir agora? — Dou um passo tentando
me afastar.
É tudo que consigo dar.
Antes que eu possa reagir ou dizer qualquer coisa, Diogo me empurra
contra o carro agarrando meu pescoço sem que eu possa reagir.
Uma das suas mãos descem pela minha cintura e ele para no meio das
minhas pernas, tentando me tocar, eu me retraio imediatamente.
Respiro fundo.
Não posso me precipitar, então respiro fundo. Tenho que calcular cada
passo que vou dar.
— Estou com saudade de você, meu amor, dos nossos beijos, dos nossos
amassos, do meu corpo junto ao seu — sussurra, lambendo meu ouvido — eu vi
você com aquele cara no restaurante, não gostei, Beatriz. Eu te disse uma vez e
vou repetir, você não ficou comigo por causa daquela besteira que aconteceu, mas
não vai ficar com ninguém, você é minha — Diogo diz, apertando meu pescoço.
Fica difícil respirar
Consigo enfiar um belo de um tapa em sua cara, o que faz com que ele
solte meu pescoço.
Eu não consigo acreditar que ele fez isso, Diogo sempre foi possessivo e
ciumento, mas nunca chegou a esse ponto.
— Tire suas mãos nojentas de mim, eu não sou sua nem de ninguém. Você
me teve por um tempo, mas como não consegue controlar esse pau dentro das
suas calças, eu consegui enxergar o monte de merda que você é, nunca mais
encoste em mim novamente, Diogo, não chegue perto de mim, nem toque em
mim novamente. — Encaro-o.
Aliso minha roupa e saio dali como se nada tivesse acontecido, sem olhar
pra trás, mas antes mesmo de entrar no prédio, encontro com Arthur, que pela
cara, viu tudo o que aconteceu, não prolongo nada, dou um bom dia e saio em
direção ao banheiro.
Tudo o que eu não precisava era de Arthur vendo um embate entre mim e
Diogo.
Preciso sair de vista urgente, porque Diogo conseguiu me desestabilizar,
que raiva de mim por isso.
Saio em direção ao banheiro e entro na primeira cabine disponível, vontade
de usar não estou, apenas me sento e fico ali. Desde quando minha vida virou de
cabeça pra baixo assim?
Diogo fez a escolha dele, ainda bem, porque eu não queria estar com aquele
embuste do caralho na minha vida, depois de muito tempo, eu realmente entendi
que merecia coisa muito melhor, e devia muito a Maria e a Júlia que foram aos
poucos me abrindo os olhos para as coisas que aconteciam enquanto eu namorava.
Lágrimas brotavam em meus olhos e eu me sentia péssima por isso.
Eu sei, chorar faz bem, alivia e tudo mais, mas elas estavam ali por causa
de Diogo, e eram de tristeza, quando você chora por algo que te faz mal, é
doloroso demais.
É doloroso porque você sabe que te faz mal, mas lágrimas não são algo que
você possa controlar, elas simplesmente vêm, sem avisar.
Palavras muitas vezes eram mais perigosas que um tapa na cara, e sim, as
palavras que ele havia me dito... Não eram ameaças quaisquer.
Mas ele não iria fazer nada comigo.
Era o que eu esperava.
Me sentir mal por causa de Diogo era algo que me incomodava demais, ele
me fez muito mal, eu só queria que tudo isso passasse. Que ele me deixasse em
paz. Chorar por alguém que não faz mais parte da sua vida é insuportável.
Saio daquela cabine, me olho no espelho, e ativo o modo advogada que
saiu de casa, Beatriz nunca foge de uma briga, e eu não iria desmoronar aqui, o
dia tinha acabado de começar.
Levava meu trabalho muito a sério e não deixaria nada nem ninguém
atrapalhar meu dia, pelo contrário. Diogo serviria de combustível para meus
argumentos, quando estava puta, ficava pior que o normal, incorporava a
advogada do diabo e ia à luta, minhas clientes precisavam de mim.
Faço as duas audiências que tenho no dia, que fluem tranquilamente pra
minha sorte, assim que termino, ligo pra Maria, que me atende no segundo toque.
— Pra você estar me ligando a esse horário, alguma coisa aconteceu — diz
preocupada.
O que eu mais admirava em minha amizade com Maria é que não tínhamos
segredos, conhecíamos uma à outra como a palma da mão, pelo tom de voz ou a
forma que escrevemos uma mensagem, sabemos se a outra está bem ou não, e
estamos sempre ali uma pela outra.
— Diogo apareceu aqui no fórum hoje de manhã, disse que se eu não ficar
com ele não fico com mais ninguém e que eu sou dele! A questão é, como ele
sabia que eu estaria aqui logo cedo? Ele não cansa de ser babaca? — digo,
atropelando tudo.
— Nossa, respira, quanta informação de uma vez, Bia, que infeliz! Você
sabe que se você continuar se sentindo ameaçada por ele tem que tomar medidas
mais drásticas e jurídicas, né? Você sabe disso melhor que qualquer um! Trabalha
com isso todo dia, poxa! — diz irritada, para variar.
Quando o assunto era Diogo, ela estava sempre irritada. Todos ficavam.
— Eu sei, mas não quero fazer isso, seria, no mínimo, vergonhoso, a
advogada que luta contra a violência sofrer isso. — Cutuco minha unha com os
dentes.
— Vergonha o que, Beatriz? Você prestou atenção em tudo o que você está
dizendo? Pelo amor de Deus, todas nós estamos sujeitas a babacas como o Diogo,
que não sabemos que são ruins quando conhecemos, e só damos conta de onde
estamos nos metendo depois que nos envolvemos, amiga! — aumenta a voz pra
falar comigo.
— Tá bom, eu vou prestar atenção nisso, prometo, essa semana tem samba,
por favor, preciso de um samba e cerveja!
— Combinado, lindeza da minha vida, agora, vai trabalhar — fala e
desliga.
Fico pensando que as coisas podem ser mais complicadas do que parecem
ser, seria fácil eu simplesmente ir e denunciar Diogo pra polícia, mas eu também
sei que não iria bastar, nunca basta na verdade, porque ele não é o único
problema.
Como dizem por aí, o buraco é mais embaixo.
Paro de pensar em Diogo e vou para onde está acontecendo o júri, não está
muito cheio, noto vários estagiários com seus relatórios, já fiz muito isso quando
estava na faculdade, eu amava quando tinha júri para assistir, assim que chego,
Arthur já está fazendo sua sustentação.
Lindo como sempre. Esse homem é minha tentação.
— Nobres jurados, como vocês já ouviram de todas as testemunhas, as
provas apontam para os réus que estão ali, o crime foi cometido de maneira
completamente cruel. Imaginem se fosse filho de vocês, um garoto começando a
vida, de dezessete anos, que foi até a mercearia do bairro para a mãe e quando sai
é alvejado com mais de cinco tiros? O motivo? Começou a sair com uma garota
que ele não sabia que já tinha namorado aquele homem ali, se cada pessoa não
aceitar o término de um relacionamento e for sair matando o atual parceiro, onde
vamos parar? — pergunta, colocando as mãos sobre a bancada e olhando para os
jurados.
As palavras de Arthur, acabaram me atingindo, inconsciente, mas
atingiram, eu não poderia mais viver assim, me escondendo por medo do que meu
ex-noivo poderia vir ou não a fazer. Eu teria que pagar pra ver, infelizmente, mas
tomaria minhas precauções.
Eu precisava parar de me esconder e viver. Se permitir, parece mais difícil
na prática do que quando falamos.
Acontece que eu não conseguia ser esse tipo de pessoa, só de pensar em
Diogo machucando alguém somente pelo fato de estar comigo, me subia um
arrepio pela espinha.
O júri se estendeu pelo resto da tarde, era um caso triste, um menino tão
novo perder a vida assim, na minha opinião Arthur estava indo bem, mas o
resultado só cabia àquelas sete pessoas sentadas nas cadeiras, e ninguém sabia o
que se passava na cabeça delas.
No final do dia, o júri chegou ao veredito, os três réus foram condenados
culpados pelo assassinato do garoto.
Como o juiz iria proferir a sentença, eu aproveitei para ir embora, assim
que levantei, um homem de barba rala, vem correndo em minha direção.
— Dra, Beatriz, certo? — diz ofegante, como se tivesse corrido uma
maratona.
— Sim, sou eu.
— Eu sou Iago, assistente do Dr. Arthur, ele pediu, se possível, para a Sra.
esperar por ele. — Estende a mão pra me cumprimentar.
— Tudo bem, obrigada por avisar, mas não me chame de senhora
novamente pelo amor de Deus, me senti uma idosa agora. — Retribuo o gesto.
— Desculpe, força do hábito falar assim, você e o Arthur são bem
parecidos, ele vive chamando minha atenção sobre chamá-lo de doutor e senhor
— responde.
Sorrio com o comentário de Iago, sempre que conversava com alguém do
meio jurídico nunca liguei pra esse tipo de tratamento quando estava no escritório
ou quando falava com algum servidor.
— Bem, acho que por isso que eu e ele nos damos bem. — Pisco pra ele.
Esperamos do lado de fora, estava um pouco cansada de ficar lá, hoje o dia
tinha sido bem puxado, Iago se retirou dizendo que precisava finalizar as coisas
no gabinete ainda, parecia ser um bom rapaz, e bonito, não poderia negar, cabelos
castanhos, ombros largos.
Interessante.
— Babando pelo meu assistente, Beatriz? — Arthur fala em meu ouvido,
me pegando desprevenida.
Talvez eu estivesse babando um pouco pelo assistente dele, porém, ouvir a
voz de Arthur, fazia meu corpo todo entrar em combustão.
— Puta merda, Arthur, que susto, eu estava distraída, é... babando pelo seu
assistente que não é de se jogar fora, mas não estou interessada, pelo menos, não
hoje — respondo, provocando.
— Queria te convidar pra jantar comigo, sei que estamos no começo da
semana, mas foi meu primeiro júri, e fui muito bem, você tem que admitir. Queria
comemorar, meus pais não estão, não conheço ninguém, não me deixa sozinho,
vai. — Arthur faz uma cara de cachorro pidão e acabo cedendo.
Ele tinha esse dom, me fazia esquecer de todos os problemas e me fazia rir
sem que eu percebesse, era bom estar ao lado dele.
Droga, eu prometi a Júlia que iria fazer o jantar hoje, mas nós não
estávamos em um encontro então...
— Eu aceito, mas você não se importa se for lá em casa, né? Sei que minha
irmã é bem grandinha, mas eu prometi que hoje faria o jantar! — digo porque é
verdade.
— Não, não tem problema ser na sua casa, quero a sua companhia mesmo,
e eu gostei da sua irmã, não vou me importar de tê-la conosco — responde,
abrindo o paletó.
— Seu irmão não iria querer estar com você? — pergunto.
— Ele está de plantão, então vai ter que ficar longe dele hoje — me
provoca.
— Então vamos, bonitão, porque eu estou morrendo de fome, não faço a
mínima ideia do que vou fazer, ainda — saio tagarelando.
— Cozinhamos juntos, fica mais gostoso, ou não, coitada da sua irmã que
será nossa cobaia — diz.
— Nos vemos em casa então, Arthur.
Seguimos cada um no seu carro, no caminho, ligo pra Júlia pra avisá-la que
teremos companhia para o jantar, que Deus me ajude.
— Ju, tudo bem? Vou falar rápido, primeiro de tudo, Diogo apareceu aqui
hoje, mas teremos companhia para o jantar, o Arthur vai em casa, não comenta
nada sobre o imbecil, porque eu acho que ele viu o que aconteceu — digo, assim
que conecta no bluetooth.
— Hum... o irmão do Fred, que vocês saíram pra jantar, e ficaram juntos no
congresso, vai vir jantar aqui? Tá ficando interessante isso, viu, está saindo
bastante com ele — responde.
— Nós somos amigos, eu acho, enfim, ele conseguiu condenar os acusados
no júri e vamos jantar, até daqui a pouco, e segura a língua, por favor, sem
comentários maldosos — suspiro, prestando atenção no trânsito.
— Eu sou sua irmã, não posso prometer isso, mas te amo — diz, me
provocando.
Finalizo a ligação sem me despedir, porque Júlia quando quer, consegue me
infernizar e ser insuportável, irmã, né? Se tem seres nesse mundo que conseguem
ser insuportáveis e mesmo assim você amar, são irmãos.
Na verdade, irmãos são aqueles seres que você não escolhe amar, mas os
faz incondicionalmente, você briga, mas se alguém ousar falar mal ou quiser
pensar em ferir os sentimentos deles, você simplesmente deixa tudo por eles.
Pelo menos comigo é assim, eu os amo e faço de tudo por eles.
Chegando no condomínio, já deixo avisado sobre a entrada de Arthur, que
me mandou mensagem avisando que iria passar no supermercado para comprar
algumas coisas e já iria lá pra casa, e eu não fazia ideia do que ele, ou nós, iríamos
fazer.
— Olha quem apareceu, cadê o bonitão? — Júlia diz, sorrindo, assim que
chego.
— Júlia, você é irritante, ele está vindo, daqui a pouco deve estar chegando,
vou tomar uma ducha e trocar de roupa — respondo, indo em direção ao meu
quarto.
Tomo uma ducha rápida, visto uma regata, um short, e prendo meu cabelo,
afinal, vou pra cozinha. Confiro o celular e Arthur avisa que se enrolou na fila do
supermercado, mas que chegaria em breve.
— Arthur já está chegando, se enrolou no supermercado — aviso a Júlia,
que está assistindo uma série na televisão.
— O que o Diogo queria com você, Bia? — Minha irmã pausa o que está
na televisão pra prestar atenção em mim.
Respiro fundo, pois sei o que Júlia e todo mundo pensa sobre Diogo e o que
eu deveria fazer em relação a ele, mas não estou com cabeça pra pensar nisso
agora.
Eu só queria paz, queria que Diogo sumisse.
Esquecesse que eu existo e eu não precisasse tomar providência nenhuma.
Sei que as pessoas à minha volta se preocupam com o meu bem-estar por
medo de Diogo me fazer algum mal, mas eu realmente acho que ele não chega a
isso, ele é covarde, que se esconde atrás da riqueza do pai, é mimado, além disso,
eu odeio me expor, e hoje, eu só quero ter uma noite normal. Não é pedir demais.
Não quero ter que pensar em Diogo, ou nos problemas que eu possa vir a
ter com ele.
— Ele apareceu, não sei como sabia que estaria lá naquele horário
especificamente, o que me deixou preocupada. Diogo disse que se eu não ficasse
com ele, não ia ficar com mais ninguém, que eu era dele. Óbvio que eu o coloquei
no devido lugar. Mas uma pequena parte de mim ficou em alerta, né, Ju? — Deito
em seu colo no sofá
— E não é pra menos, né, Bia? Você precisa ficar muito esperta, o Diogo
não é flor que se cheire, não dá ponto sem nó, ele deve estar te seguindo, sei lá,
tem que tomar cuidado, avisa ao Fred se estiver muito preocupada. Agora, vamos
aproveitar a noite que tem um bonitão chegando — diz, me dando um tapa na
coxa.
O interfone toca e já sei que Arthur chegou.
Autorizo a entrada do Arthur e vou até a porta recebê-lo. Como sempre, ele
está lindo, tirou o terno e a gravata e está com uma camiseta branca e calça jeans.
Porra de homem gostoso, viu? E não, eu não o vejo como um pedaço de carne,
mas ele tira todo meu juízo, se é que ainda me resta algum.
Ficamos ambos nos encarando.
— Vocês vão ficar na porta? — Júlia indaga, me tirando dos pensamentos.
— Desculpa, me distraí, entra, por favor. — Abro espaço pra Arthur entrar.
Arthur me cumprimenta com um beijo no rosto, eu pego as sacolas e levo
até a cozinha, ele manda um oi pra minha irmã e vem até mim.
— Então, o que teremos hoje, doutor? — pergunto, colocando as mãos
sobre a bancada.
— Pensei em fazer uma coisa mais leve, então comprei salmão, vou fazer
um purê de alho poró, e fazemos uma salada para acompanhar. O que você acha?
— diz, pegando em minha mão.
— Uau, pra mim está perfeito — Júlia grita da sala.
— Acho melhor colocarmos a mão na massa, então. — Olho pra ele.
Arthur começa a cozinhar, eu fico mais como espectadora do que outra
coisa, abrimos uma garrafa de vinho pra acompanhar enquanto ele cozinha, ainda
bem, porque o álcool me ajuda a não pensar tanto nas coisas.
Ficamos ali conversando e ele me conta como foi seu primeiro caso na
cidade e como ficou feliz com o resultado, pois achava que não iria conseguir, eu
o observava, como ele parecia sempre tranquilo.
Eu queria ser assim às vezes, tranquila.
Mas eu estou sempre irritada.
Ficar tão próxima assim de Arthur, cozinhando com ele, me fazia lembrar
do sexo com ele que, uau. Era muito bom. Foco, Beatriz.
Arthur era incrível, mas eu não podia tornar frequente porque quando sexo
deixa de ser casual e mistura sentimentos, complica demais as coisas, e eu não
queria isso. Estava gostando muito da amizade e da companhia do Arthur pra
complicar as coisas.
Apesar de pensar em tudo isso, eu nunca me senti assim com ninguém, com
Arthur, as coisas pareciam simples, mesmo quando não eram, ele fornecia calma
para os dias de tormento.
— Beatriz? Você está me ouvindo? Está pronto, vamos chamar sua irmã
para comer? — Arthur me chama.
— Ah, claro, claro. Estou meio longe hoje, desculpe — digo, pegando os
pratos no armário.
— Isso tem a ver com o cara que esteve hoje na frente do fórum? Se não
quiser falar, tudo bem. Vou te respeitar. É o seu ex que nos encontrou aquele dia
no restaurante? — pergunta.
— Ju, vamos comer, está pronto — chamo por minha irmã. –Sim, era ele,
mas não quero estragar a noite falando sobre isso. — Dou um beijo em seu
pescoço e sorrio.
Termino de colocar a mesa, e enquanto comemos, eu observo como a Júlia
e o Arthur ficam à vontade conversando sobre tudo.
Diogo não se dava bem com ninguém da minha família nem meus amigos,
e ver a interação de Júlia e Arthur me deixava... Intrigada.
Acho que a palavra certa era essa, intrigada, porque depois de Diogo, eu
estive com vários homens, mas nenhum me deixou assim, e bem... não apresentei
nenhum para minha família.
Os dois, por fim, resolvem me atormentar, porque isso é o que a Júlia mais
gosta de fazer e Arthur entra na dela, mas eu fico feliz de estarmos assim, leves e
descontraídos, e isso me agrada.
— Vocês me dão licença, eu vou me retirar porque amanhã levanto cedo,
fiquem bem e juízo. — Júlia me dá um beijo no rosto, e se despede de Arthur.
E eu já disse isso muitas vezes hoje, mas eu tenho vontade de matá-la,
porque ela está se superando, o que ela pretende com tudo isso, saco, me matar de
vergonha?
— Sua irmã é incrível, muito divertida e falante! — Arthur diz, tomando o
restante de vinho de sua taça.
— Ela é incrível quando não está sendo irritante! — Me levanto, retirando
os pratos da mesa.
Na verdade, é mais uma tentativa de sair de perto dele mesmo, porque o
vinho está começando a fazer efeito, e estou com um calor.
Deus me ajude, porque é só ficar perto de Arthur que eu já perco todo meu
juízo, que já não tenho muito, com vinho, fica pior ainda.
A vontade de agarrá-lo está cruel.
Uso minhas próprias mãos pra me abanar.
Fico ali de frente para a pia da cozinha, olhando para o nada, ainda bem
que em casa nós nunca ficamos em silêncio, tem sempre uma música tocando,
mas eu nem sei qual é, só me sinto relaxada.
De repente, sinto que Arthur está ali atrás de mim, seus braços tocam o meu
e ele coloca os pratos na pia juntando seu corpo ao meu e um gemido escapa de
minha boca.
Arthur sussurra em meu ouvido e eu fico parecendo uma gelatina.
— Está tudo bem? — diz, beijando meu pescoço, o que me faz arrepiar
inteira.
Meu corpo não podia corresponder tão bem a ele.
Traiçoeiro.
Me viro pra ele, que me mantém ali presa entre a pia e ele.
— O que você está fazendo, Arthur? Pensei que já tínhamos conversado
sobre como as coisas seriam entre nós — sussurro.
Ele me olha de um jeito como nunca olhou antes e eu me sinto como se
estivesse nua, sentindo o volume de sua calça roçando em mim.
Eu estou aqui, com meu corpo completamente à sua mercê.
— Conversamos? Como vão ser as coisas entre nós? — pergunta,
mordendo meu queixo.
Merda, merda, merda, eu gosto de Arthur, não quero perder a amizade ou
sei lá o que eu tenha com ele. Lá vamos nós, ele não recua, não se afasta de mim,
que homem mais complicado, ele é firme e seguro do que quer, socorro!
— Nós tínhamos conversado que não iríamos nos envolver, lembra? Que
seria uma vez e nada mais, e ficamos lá na bahia também, e estamos construindo
uma amizade boa, eu acho. Gosto de você, não vou mentir, mas quando o casual
se torna frequente, as coisas se complicam e eu não quero isso, odeio
complicações — respondo.
— Tudo bem, se é minha amizade que você quer, é minha amizade que
você vai ter, mas você não pode negar o tesão e a atração que você sente por mim.
Se eu te beijar agora, você vai recuar? Eu duvido muito disso, porque está na sua
cara que está louca pra que eu faça isso — Arthur diz, olhando em meus olhos e
segurando em minha cintura.
Eu só consigo olhar em seus olhos, não consigo dizer nada, que merda de
tesão que cega a gente, responde corpo, fala alguma coisa, Beatriz. Vamos, diz
que você vai recuar e não está louca pra fazer isso. A quem eu quero enganar,
estou querendo isso desde que ele entrou pela minha porta.
— Aa–rthur — gaguejo.
Minhas mãos estão suando.
Foda-se.
Então eu o beijo, e nossas línguas se encontram em um beijo de intensidade
avassaladora, desesperado, Arthur desce beijando meu pescoço, até o vão entre
meus seios.
Me beija novamente, sugando, mordendo meu lábio, e ele para, segura meu
rosto com as duas mãos, e me olha nos olhos.
Caralho.
Eu não consigo resistir
Malditos olhos cor de mel que me hipnotizam.
Estamos ambos ofegantes.
— Suspeitei que não fosse recuar, agora vou embora, já que estamos
conversados, mas tenho uma proposta melhor pra você, deixa as coisas rolarem,
você não precisa prever tudo o que vai acontecer, Beatriz, e nem tem como fazer
isso. Tem coisas que fogem do seu alcance, a vida não tem previsão, nem mesmo
o sentimento, eles só... acontecem.
Dou um soco de leve em seu ombro e me afasto dele, antes de fazer outra
besteira, porque eu não estava respondendo por mim essa noite.
— Arthur, seu filho da puta, some da minha casa logo, vai — falo, rindo.
— É melhor eu ir mesmo, senão você vai me agarrar de novo. Você está
muito safada, viu? — diz, me provocando e me fazendo rir.
— Você não vale nada, Arthur! — converso ainda em seus braços.
— Mas foi você que me agarrou, você faz isso com todos os seus amigos?
— pergunta, se fazendo de preocupado.
— Só com alguns, se sinta privilegiado. — Dou um tapa em sua bunda.
Estou sem limites hoje.
E feliz.
Acompanho Arthur até a porta para nos despedirmos, mas não sem ele me
provocar antes:
— Ganho um beijo de boa noite? — questiona, sussurrando próximo a
minha boca.
— Já ganhou, Arthur, vai que o elevador chegou — respondo, antes que eu
coloque ele pra dentro.
Entro em casa, vou para o quarto e mando os pensamentos ruins embora,
não vou pensar em Diogo ou Stefano, eles não merecem vir à tona agora, depois
de uma noite tranquila e agradável. Fico ali pensando em Arthur, que vem sendo
cada vez mais presente em minha vida.
Pela primeira vez, eu estava feliz e tranquila, e isso me causava um medo
absurdo, as ameaças de Diogo, as conversas com Arthur, o dia foi de fortes
emoções.
Sim, eu era uma mulher forte, mas hoje, eu só queria deitar na minha cama
e pensar no beijo que eu dei e no frio na barriga que senti, e com isso, o medo que
me causou.
Medo de ser usada, medo de me apaixonar.
Arthur disse algo que é uma grande verdade, tem coisas que fogem do
nosso alcance e não podemos controlar, eu gostaria de ter superpoderes para
controlar certas coisas, mas como não tenho, arco com os riscos que a vida me
proporciona. E o que tinha por vir? Eu não sabia, e nem estava preparada, e
quando dizem que nada é por acaso, pode acreditar.
A vida é uma bela caixinha de surpresas, que está disposta a nos
surpreender.
Então talvez
Talvez nós sempre fomos feitos para nos encontrar
Como se esse fosse todo o nosso destino
Como você já sabe
Seu coração nunca será quebrado por mim
Maybe – James Arthur
Arthur
Depois de um dia inteiro de trabalho, consegui a condenação dos réus pelo
assassinato do garoto de dezessete anos, o juiz deu a sentença, que cumpririam
em regime fechado.
Queria muito comemorar, então liguei para o meu irmão, mas ele estava
trabalhando e não ia poder, e acabamos deixando para outro dia. Pedi para o Iago
avisar a Beatriz para me esperar, pois a convidaria para comemorar comigo.
Eu estava criando qualquer motivo pra ficar com ela novamente.
Quando disse a Beatriz para comemorar comigo, pude sentir que ela ficou
um pouco decepcionada, pois hoje era o dia que faria o jantar com a irmã, eu não
me importava em ter uma companhia e imediatamente me convidei para fazer o
jantar, o sorriso que consegui de satisfação em seu rosto foi gratificante.
O jantar aconteceu de forma bem tranquila.
A única coisa que não estava tranquila era minha vontade de ficar sozinho
com Beatriz.
Quando chego em casa, alimento Rocky, troco sua água, tomo um banho e
fico ali, deixando a água cair pensando na vida, se tem uma coisa boa nessa vida
é quando estamos tomando banho, os pensamentos vem, e nos desligamos do
mundo. Depois de me lavar, saio do banho, coloco uma boxer e me jogo na cama,
caindo em um sono profundo.
Acordo com meu celular tocando e vejo que é minha mãe ligando
Merda!
Esqueci que marquei de almoçar com meus pais, e devo estar atrasado,
mas fazia tanto tempo que não dormia bem e gostoso assim, que esqueci
completamente.
E se tinha uma coisa que eu não fazia era me atrasar, odiava atrasos.
— Bom dia, mãe — digo, bocejando.
— Frederico perder a hora de vir almoçar, eu estou acostumada, mas você,
Arthur? O que aconteceu? Está doente ou está acompanhado? — diz irritada.
— Dona Emilia, deixa de ser exagerada, eu fui dormir tarde ontem, fui
jantar com uma amiga e acabei prolongando na conversa, vou tomar um banho e
chego em vinte minutos, meia hora, no máximo, chego aí. Não deixa o Fred
comer tudo. — Levanto da cama.
— Te amo, filho. Acredito que em breve eu vá conhecer essa amiga? Vou
ganhar netos, né, Arthur? Está mais do que na hora de você me dar netos, fica
nessa vida de putaria, está na hora de sossegar, meu filho — pergunta.
— Mãe, vai demorar pra senhora ter netos, já conversamos sobre isso,
agora vou desligar pra chegar aí e poder almoçar — respondo e desligo pra tomar
banho.
Como hoje eu não iria trabalhar, combinei de almoçar com meus pais, que
tinham voltado de viagem, e por incrível que pareça, eu estava atrasado, e eu
nunca chegava atrasado.
Me arrumei em tempo recorde, não que eu fosse um homem que
demorasse pra se arrumar, mas gostava sempre de estar bem-vestido e impecável.
Beatriz
A semana foi corrida no escritório, eu e Fernanda não tivemos tempo pra
muita coisa, muitos casos, o que agradecemos, é claro.
Depois do congresso, a procura pelos nossos serviços ficou maior, eu estava
muito feliz com o retorno.
Com isso, minha vida pessoal estava um caos completo, sem tempo pra
ninguém, absolutamente, ninguém.
Minha mãe, obviamente, não estava muito feliz porque eu não estava indo
na casa dela durante a semana, inclusive, me encheu de perguntas e dramas
maternais sobre eu não ligar mais pra ela, e essas coisas, que mães sempre fazem
para que os filhos se sintam culpados de viver suas vidas e saírem do ninho.
Afinal, os pais criam os filhos para o mundo, não é?
Era o que eu pensava...
Entretanto, quando os filhos começam a realmente viver suas vidas, o
drama começa, eu amo minha mãe, ela é tudo pra mim, mas meu trabalho exigia
bastante de mim, muitas vezes, aos finais de semana, eu saía durante os almoços
de família, inclusive.
Eu não mudaria nada na minha vida, talvez um evento em específico, mas
não vem ao caso no momento, o que importa, é que eu teria que almoçar com
minha mãe no domingo ou ela viria me buscar pelos meus lindos cabelinhos.
De qualquer forma, eu sempre acabava fazendo o que ela queria. Afinal, ela
era tudo pra mim. E em meio ao caos, minha família sempre estava comigo. Nós
éramos assim, imperfeitos, e completamente unidos.
Com minha correria, não consegui nem falar com Arthur direito, mas
também era melhor assim, nada de pressão, embora a companhia dele seja no
mínimo agradável. Se é que posso dizer? E aquelas mãos, o beijo, e como ele é
alto, ele é grande, pensa em um homem grande, notei isso melhor quando estava
sendo prensada contra minha pia. Ah, essa nunca mais será a mesma. Por que ele
tinha que ser tão gostoso?
Foco, Beatriz, foco.
Estava terminando meu dia quando alguém bate em minha porta e me tira
dos meus devaneios, ainda bem, porque meus pensamentos não estão nada
coerentes hoje, ainda bem que ninguém tem o poder de ler mentes.
— Pensando em que, dona Beatriz? — Caíque diz, com um sorriso lindo no
rosto. — Vou em sua direção e o abraço.
— Saudade de você, o que faz por aqui? — digo, me soltando de seu
abraço.
— Vim te buscar pra irmos no samba, eu, você e Maria, que já está lá pra
guardar nossa mesa, ou se engraçando com um dos caras do grupo. Sabe como ela
é, né? — diz, sorrindo pra mim.
— Vou passar em casa e nós vamos, nem percebi que já anoiteceu. — Dou a
volta em minha mesa, desligando meu notebook.
— Beatriz, você está linda e gostosa, vamos que está tarde já, meu amor. —
Caíque dá duas batidinhas no relógio.
Vou até o banheiro, passo um batom vermelho nos lábios que eu amo, me
olho no espelho, e é, não estava nada mal.
Fechei minha sala e fui com Caíque no samba que sempre íamos.
Fiquei tão cheia de trabalho, que nem notei a hora passar.
Enviei uma mensagem pra Júlia, avisando-a que iria voltar mais tarde e
onde estava, nós tínhamos esse combinado, por uma questão de segurança e por
morarmos juntas, esse era nosso trato.
Para alguns, pode parecer uma coisa boba ficar avisando a irmã onde está,
mas nós morávamos juntas, e era algo que não mudava.
Chegando no nosso barzinho, avisto Maria que havia reservado uma mesa
pra nós três, enquanto não começava, pedimos uma porção de batata com queijo e
bacon, sim, eu sou dessas que amo um bacon e coisas gordurosas e nada
saudáveis, afinal, eu não vou sair de casa para comer salada, né, minha gente? E
eu nunca ficava em um lugar sem comer.
Maria espera Caíque ir ao banheiro para falar:
— O babaca parou de te encher o saco, pouca sombra?
— Por enquanto sim, mas eu não confio nele, você sabe, eu não acredito
que ele tenha aceitado numa boa. — Reviro meus olhos.
— O bonitão do Arthur podia dar uma surra nele, isso sim ia ser bem
divertido, eu ia pegar pipoca e assistir de camarote — Maria diz, rindo.
— Você não presta Maria, eu e Arthur não temos nada e eu não sou
nenhuma donzela em perigo pra ser salva — respondo arisca.
— Eu não disse que você precisa ser salva, Beatriz, só disse que ia ser
divertido o babaca apanhando, somente isso. Todos sabemos que de donzela você
não tem nada, e tem mais, você pode fazer de conta que é uma às vezes, e aceitar
as gentilezas que os caras fazem, não vai matar você, não. E não é porque um
idiota te fez mal que todos os homens farão o mesmo — Maria diz, me dando um
olhar matador.
No fundo eu sabia que minha amiga tinha razão, mas era muito difícil pra
mim confiar nas pessoas, principalmente nos homens, quando todos que passaram
pela minha vida, não conseguiram me dar um motivo bom pra isso.
Confiar.
Uma palavra tão pequena com um poder tão grande.
Quanto tempo levamos pra confiar em alguém?
Está aí uma pergunta que eu gostaria de ter a resposta.
Caíque me tira para dançar me rodopiando pelo salão, juntando seu corpo
junto ao meu, dançamos e sambamos juntos, o que é ótimo já que estou precisando
relaxar.
Maria some pra variar, mas não nos surpreendemos porque ela sempre faz
isso, mas ela raramente nos deixa voltar sozinhos pra casa.
Enquanto uma mulher se aproxima do meu amigo, aproveito e vou pedir
mais uma cerveja, afinal, ele precisa aproveitar a noite.
Estou aguardando o garçom pegar minha cerveja quando olho no fundo do
bar e vejo Diogo, junto com Stefano. O que os dois fazem juntos?
Não pode ser. Eu congelo.
Eles não se conhecem, nunca se viram, não que eu me lembre pelo menos, a
noite estava tão boa, olho de novo e eles já não estão mais lá, será que estou vendo
coisas?
Sabe quando você tem a sensação de que algo ruim vai acontecer?
Era assim que eu estava me sentindo.
Fica difícil respirar.
Meu coração acelera.
Volto pra mesa onde Caíque estava agora conversando com Maria, os dois
me conheciam muito bem, e eu não ia conseguir escapar das várias perguntas que
eles iam me encher, e no momento, eu só queria fugir dali.
Covardia? Talvez.
— Bia, você está pálida, o que houve? — Maria vem correndo em minha
direção.
Caíque fica à procura de quem possa ter causado isso em mim no bar.
Eu amava tanto esses dois, mas agora, eu precisava fugir dali urgente.Só
precisava da minha casa.
— Eu estou com um pouco de dor de cabeça, acho que a semana foi um
pouco intensa, vou pra casa, você leva Maria, por favor. Não esqueçam que eu
amo vocês, muito, e não se preocupem, estou bem. —Dou um beijo em cada um.
— Você pode achar que engana a gente, mas nós conhecemos você muito
bem, e sabe disso. Mas vai pra casa, e me avise quando chegar, por favor —
Caíque diz todo protetor, eu amo esse meu amigo.
Sabe a sensação ruim?
Então, sexto sentido, intuição, ou o que você quiser chamar, pois é,
raramente ele está errado.
Estou abrindo meu carro quando sinto alguém pegar meu braço
bruscamente, viro e vejo Diogo.
Claro que não era coisa da minha cabeça.
— Deu pra me seguir agora, Diogo? O que você quer? — pergunto ríspida.
— Você, Beatriz, eu quero você de volta, quando vai se tocar disso, eu
cometi um erro, vamos passar uma borracha no que aconteceu, nem foi nada
demais. — Passa a mão no cabelo, demonstrando estar nervoso.
— Não foi nada demais? Cara, você consegue se superar em como ser um
idiota, supera, Diogo. Eu não quero você, você me dá nojo, fica longe de mim —
respondo entredentes.
— Você diz isso porque está dando para aquele cara do restaurante, não é?
Pode ter quantos caras quiser, Beatriz, mas você sabe que nunca vai encontrar
ninguém como eu, ninguém, você tá entendo!? — responde, apertando meu braço
mais forte, olhando em meus olhos.
Piada, só pode ser, como ele pode dizer uma coisa dessas?
Sério, dizer que eu nunca vou encontrar alguém como ele!
Que bom, seu filho da puta!
— Deus ouça você, Diogo. Quem disse que eu quero encontrar alguém
como você? A intenção é justamente o contrário, não ter alguém como você!
Presta atenção no que eu vou dizer:
“Fica fora do meu caminho. Deixar de ser babaca, você não vai conseguir,
porque isso faz parte da sua natureza mesmo, e não vai mudar. Você me traiu,
caralho! Me deixa em paz, supera essa merda de uma vez, você foi o maior
livramento da minha vida, todo mundo dizia que você não era bom pra mim, mas
eu escutei alguém? Óbvio que não, foi bom porque eu aprendi da pior forma, mas
aprendi, agora some ou eu chamo a polícia”, digo, batendo a mão no peito de
Diogo.
Então tudo acontece muito rápido, e quando eu vejo, Diogo está me
apertando contra o carro, enfiando sua língua em minha boca e sua mão em meios
seios.
Eu não penso e mordo sua língua até sentir o gosto de sangue.
Diogo se afasta e grita de dor, eu aproveito e chuto o meio de suas pernas e
ele grita algo como “vadia” e "você me paga”, mas só entro no carro e dou partida
até minha casa.
Olho pelo retrovisor e vejo Diogo agachado no meio da rua.
Melhor assim.
Beatriz –26 anos.
Faltava uma semana para o meu casamento com Diogo, eu estava feliz,
nunca pensei que fosse me casar, mas há exatamente um ano, estávamos em uma
praia, no pôr do sol, quando Diogo se ajoelhou e me pediu em casamento.
Eu fiquei com muito medo, tinha terminado a faculdade, mas estava tão
feliz, que nada poderia estragar.
Estava fazendo os ajustes do meu vestido, minha mãe e minhas irmãs
estavam ali comigo pra ver a última prova, e uau.
Eu estava linda
Meu vestido era deslumbrante, simples, mas lindo, um modelo sereia ombro
a ombro, acinturado, com uma pequena calda.
Quando estava saindo da loja de noivas, notei uma moça que me
observava, eu já tinha a visto, mas aonde?
Sim, ela trabalhava com Diogo, mas o que ela fazia ali? Eu não tinha ideia.
Eu ia falar com ela quando recebo a mensagem de um número privado com
um endereço e um horário que achei no mínimo estranho.
Liguei para Diogo perguntando se poderíamos nos encontrar hoje, mas ele
iria ter que ficar até mais tarde na empresa, então liguei pra ninguém menos que
meu amigo Fred, delegado de polícia e falei sobre a mensagem, ele imediatamente
se prontificou a ir comigo no endereço.
Chegamos no local indicado, uma casa bonitinha simples, e eu vejo o carro
de Diogo na esquina, o portão está aberto, somente uma luz acesa.
Eu e Fred nos olhamos, tentando entender o que estava acontecendo.
Escuto barulho do que parece ser gemidos, e meu coração parece falhar,
não pode ser, pode?
Merda, Diogo!
Você não podia ter feito isso comigo! Lágrimas brotam em meus olhos.
— Você tem certeza que quer entrar, baixinha? — Fred segura minha mão.
— Preciso, fica comigo, por favor? — respondo, com o coração
acelerado.
— Não sairei do seu lado!
Entro na casa, e nada tinha me preparado para o que vejo ali.
Diogo está fodendo uma loira de quatro, a mesma que vi na loja hoje, ela
geme alto enquanto ele fala obscenidades e agarra seu cabelo, estão quase
chegando lá.
Vamos deixar eles terminarem, né? Depois eu deixo que me vejam.
Foda-se.
— Uau, tô igualzinha aquela música da Naiara Azevedo, só não estamos
no quarto de motel e não vou dar cinquenta reais pra vocês, essa foi péssima, eu
sei. — Tento fazer piada dessa situação de merda.
Assim que escuta minha voz, Diogo olha assustado, a garota por sua vez,
sorri, acho que sei quem me mandou aquela mensagem.
Como ela pôde ser tão baixa?
Já não basta ser corna, tem que ser avisada pela amante ainda?
Porra, obrigada destino.
— Meu amor, não é nada do que você está pensando — Diogo fala, saindo
de dentro da garota, vestindo sua cueca.
Confiança pra mim é uma coisa que depois de quebrada não tem volta.
Por fora estou despedaçada, mas eu não ia chorar na frente desses dois.
— Diogo, só não mando você se foder, porque já estava fazendo isso. —
Tiro minha aliança e deixo em cima da cômoda.
— A partir de hoje, você não precisa mais falar comigo, eu vou avisar a
todos que o casamento foi cancelado, porque você é um filho da puta que não vale
nada. E você, pode ficar com ele, eu não sou o tipo de mulher que briga com
outra por causa de homem, ainda mais por causa desse aí, ele é todo seu — digo,
antes de sair.
— Amor, espera, você sabe que isso só aconteceu por sua culpa, né? —
Diogo me diz.
Minha culpa? Sério? A vontade de meter a mão na cara desse babaca é
grande, mas ele não vale nem meu tapa.
Fred vai em sua direção, mas eu faço sinal pra ele parar, não ia deixar
meu amigo se prejudicar por causa do meu agora ex.
— Eu não tenho culpa de você não conseguir segurar seu pau dentro das
suas calças e de não ter caráter, Diogo. Agora, passar bem, e não me procure
mais. Ah, e, as multas de tudo, serão todas suas, só pra deixar claro, porque eu
não vou pagar um centavo de nada do casamento. — Viro as costas e vou embora.
Fred e eu saímos de lá e fomos pra sua casa.
No caminho, ele comprou umas cervejas pra gente beber, porque eu estava
sufocada, mas ao mesmo tempo, parecia que precisava me livrar daquele peso
morto. Agora, eu precisava focar e seguir minha vida.
Beatriz – Atualmente
Chego em casa, torcendo pra minha irmã estar dormindo, o que consigo
com sorte, me pouparia muitas explicações.
Envio uma mensagem para Caíque e Maria avisando que cheguei, vou até a
cozinha tomar uma água e fico ali encostada na pia, olhando para o nada.
De nada iria adiantar ficar ali, vou tomar um banho, me arrumo pra deitar,
coloco um filme pra assistir e passar o tempo enquanto o sono não vem e quando
vejo, estou mandando mensagem pra Arthur.
“Semana corrida, não tive tempo nem de te convidar pra um café.”
A resposta não demora a vir e quando vejo, estou sorrindo.
“Você está com saudade das minhas mãos em você que eu sei, mas
posso resolver logo isso”
Como se fosse tudo o que eu precisava, uma calmaria em meio ao caos, eu
durmo com sua mensagem, e por ora, esquecendo dos problemas.
De Diogo e de todas as tormentas da minha vida, só penso em como ter
alguém como Arthur tem me feito bem. Ultimamente, ele tem feito parte dos meus
dias, e está sendo o responsável pelos meus sorrisos.
Arthur é o tipo de cara que permanece, mesmo quando não espera por isso.
Termino meu trabalho e pego meu kindle para distrair um pouco, estou
lendo “A Megera Indomável, da Nathalia Santos”, confesso que em alguns
momentos eu me identificava muito com a protagonista, o livro me tirava muitas
risadas, era uma comédia entre um assistente e sua chefe.
Depois de algum tempo lendo, não consigo desligar das coisas que
Frederico falou, eu gostava de Arthur, mas isso não queria dizer que ele tinha que
ficar na minha vida, não além da amizade que estávamos estabelecendo, precisava
parar de pensar.
Eu precisava acreditar no que eu pensava, pelo menos.
Minha irmã me envia uma mensagem dizendo que vai jantar com o tal do
Leonardo.
A campainha toca, e assim que abro a porta e dou de cara com ninguém
menos que Arthur, parado, cheiroso, vestindo uma camisa azul aberta, e bermuda,
pra me atazanar o pouco juízo que tenho com uma caixa de pizza na mão.
Não sei o que é mais tentador, a pizza ou o Arthur, de camisa aberta.
Caralho, por que ele tem que ser tão gostoso assim? Eu estava falhando
miseravelmente em minhas tentativas de não desejar esse homem parado em
minha porta.
Seja minha garota
Eu cuidarei de você
Look After You
Arthur
Passei a semana cheio de trabalho, só queria chegar em casa e deitar em
minha cama, mas nem tudo é como planejamos.
Meu irmão me liga e diz que Beatriz teve problemas e nem tinha ido para o
escritório trabalhar, ainda bem que meu irmão era um tanto fofoqueiro e me
contava algumas coisas.
O pouco que eu conheço daquele ser teimoso, ela jamais iria assumir que
precisava de alguém, isso eu e todo mundo ao redor dela sabíamos.
Quando Beatriz colocava algo na cabeça, dificilmente alguém mudava a
ideia dela.
Então, como eu não iria fazer nada na noite de sexta-feira, pedi uma pizza
e fui até a casa dela depois do trabalho.
Chegando lá, encontro com sua irmã na portaria que estava saindo e ela me
diz pra eu subir.
Toco a campainha e sinto meu coração acelerado, afinal, ela pode estar
esperando alguém, ou estar acompanhada.
Ou não gostar de surpresas.
Droga, começo a ficar inseguro.
Se tratando de Beatriz, nunca eu iria estar preparado, ela estava ali, parada
na minha frente, me olhando dos pés a cabeça, com um vestido curto e soltinho
preto, com um decote que valorizava seus seios, e deixava bastante margem para
a imaginação.
A minha imaginação.
— Posso entrar? Trouxe pizza — consigo dizer, tirando Beatriz do transe
em que ela se encontra.
— Oi, Arthur, claro, entra, por favor. — Abre a porta pra eu entrar.
— Encontrei sua irmã na portaria, por isso não fui anunciado — digo um
pouco envergonhado.
— Ah, claro, nossa! O cheiro está muito bom, pode colocar na sala mesmo
e nós assistimos a um filme enquanto comemos — Beatriz diz, ajeitando os
óculos que está usando.
Ela fica tão sexy de óculos. Beatriz fica sexy de qualquer jeito se eu pensar
melhor, de óculos, sem, de vestido, saia, calça, short e por aí vai.
— Meia bacon e meia queijo, sei que você ama — digo.
“Pelo menos foi o que me disseram.” Me sento no sofá, levando a pizza.
— Estou salivando já, só não sei o que está mais gostoso, a pizza ou você
— diz com uma naturalidade, que só Beatriz consegue.
— O que você disse? — pergunto, mesmo estando ciente do que ela tenha
dito.
Essa mulher consegue ser espontânea e sexy nas pequenas coisas.
A vontade de esquecer a pizza e jogá-la em cima da mesa e fodê-la até o
amanhecer, mas eu não vim aqui em busca de sexo.
Vim ser uma boa companhia pra essa mulher e fico aliviado em saber que
estava sozinha e não esperando por ninguém.
— Que a pizza deve estar uma delícia — responde, me dando um sorriso.
— Você é uma tremenda de uma safada, isso sim, eu aqui com pizza e boas
intenções e você querendo meu corpinho sensual? — digo, mexendo meu corpo
parecendo uma minhoca, mas a intenção era ser sexy.
— Eu sou sempre safada, Arthur, vamos comer. — Bate a mão do seu lado
do sofá.
Colocamos um filme pra assistir, pedi para Beatriz assistir um suspense,
indiquei Seven, e ficamos ali comendo e comentando sobre o filme, se tinha uma
coisa que ela adorava fazer era falar, e ela falava e comentava muito durante o
filme.
Mas eu não me importava, gostava de ver as reações dela e os pensamentos
sobre as cenas e as teorias do que poderia acontecer no filme.
O celular de Beatriz toca e ela pede licença para atender sua mãe, enquanto
isso, eu fico ali fuçando no Instagram, envio uma mensagem para o meu irmão
querendo saber se está tudo bem, porque ele estava um pouco irritado hoje.
Quando conversamos na hora do almoço e eu disse que viria ver como a
Beatriz estava, meu irmão disse que eu e ela estávamos cada vez mais próximos,
o que ele ficava feliz, pois achava que nós estávamos fazendo bem um ao outro, e
que estava tirando um pouco a baixinha dele da zona de conforto dela.
Beatriz volta do quarto com aquele olhar de safada, como eu gosto disso.
Ela tem atitude, não tem medo de falar nem fazer o que pensa, não fica
fazendo charme à toa, é sincera, e eu admiro muito isso, falta muito em algumas
mulheres. Perdão, em muitas pessoas, serem verdadeiras, por isso
relacionamentos estão cada dia mais vagos, e por homens que não valem nada
também, não posso defender, porque eu sei que muitos não prestam nem
valorizam as mulheres como deveriam.
— Eu estava pensando aqui, minha irmã vai demorar um tempo pra voltar
ainda — diz, montando em mim.
— E o que você deseja? — Subo minhas mãos por suas coxas.
— Usar seu corpinho gostoso, desde a hora que você cruzou aquela porta,
Arthur —sussurra em meu ouvido, mordendo a ponta da minha orelha.
Enfio minha língua dentro de sua boca, nosso beijo fica urgente, meu pau
pulsa dentro da minha cueca, sua língua dança com a minha e o beijo fica cada
vez mais excitante.
Que saudade que eu estava da sua boca na minha.
Nossos encontros e beijos estão cada vez mais intensos.
Beijo seu pescoço até encontrar o decote de seu vestido e liberar seu seio.
A safada está sem sutiã, o que me deixa louco.
— Que delícia, safada. — Aperto seus seios.
Caio de boca em seu seio, mamando gostoso, e no outro, uso minhas mãos,
com o polegar, massageio o outro, de forma delicada, e ela geme.
Quero aproveitar o momento, enquanto a safada rebola sobre minha
ereção, não aguento e dou uma leve mordida em seu seio e faço o mesmo no
outro.
— Porra, Arthur, isso... isso está muito gostoso. — Rebola sobre meu pau.
Enfio meu dedo em sua boceta, que está encharcada, com o polegar, faço
movimentos circulares em seu clitóris.
Beatriz geme alto e sei que estou fazendo certo.
— Está bom assim, safada? — pergunto, aumentando os movimentos.
— Para de falar, Arr..Arthur. — Beatriz gruda suas unhas em minhas costas
e sei que vai ficar marcada, mas, no momento, não me importo com nada.
Aumento o ritmo em seu clitóris enquanto chupo seus seios, lambendo,
mordendo, ouço Beatriz gritar e chegar ao orgasmo, beijando minha boca, e
mordendo meu lábio.
Nosso beijo se intensifica, Beatriz beija meu pescoço e sinto meu pau
pulsar, suas mãos pequenas e delicadas descem pelo meu corpo, quando encontra
o primeiro botão da minha bermuda, escutamos o barulho da porta abrir.
Puta merda!
Agora não.
— Bia, cheguei, atrapalhei, né? — Júlia diz, fechando a porta atrás de si.
— Atrapalhou, né — Beatriz responde, rindo e escondendo o rosto em meu
ombro e arrumando sua roupa.
Porra, tanto momento pra ela chegar, justo agora que estava ficando
melhor.
Beatriz sai do meu colo e ajeito meu pau dentro da minha bermuda.
Hoje nós vamos ter que nos resolver sozinhos amigo, com a irmã dela
dentro de casa, não tem como rolar alguma coisa.
Deito minha cabeça no sofá, respirando fundo, afinal, estou ofegante.
— Desculpa, não sabia que você ia estar acompanhada, estou indo para o
meu quarto — diz Júlia, com os olhos cheios d’água.
— Ju, está tudo bem? — Beatriz pergunta.
— Sim, amanhã nós conversamos, boa noite pra vocês — responde,
subindo para o seu quarto.
— Está tudo bem com sua irmã? — Assim que digo isso, meu celular vibra
em meu bolso, abro para verificar quem é, pode ser urgente, abro a notificação e
não conheço o número.
Desconhecido: Fica longe da Beatriz, você não é bom pra ela!
— Acredito que sim, depois eu converso com ela, você está bem? Ficou
com cara de que viu um fantasma.
— Eu adoraria terminar o que começamos, mas não acho certo com sua
irmã em casa, e ela parece estar precisando de você. É melhor eu ir embora,
mesmo eu querendo continuar, porque eu tinha vontade de fazer você gemer
muito mais — sussurro em seu ouvido.
— Eu adoraria rebolar muito em você enquanto grito pelo seu nome, mas
já que você precisa ir embora, vamos ter que continuar outro dia — a safada me
provoca.
Nos despedimos com um selinho na porta.
Porra, eu estou muito ferrado.
No caminho de volta, fico pensando na mensagem que recebi, precisava
falar com meu irmão pra descobrir quem está por trás disso, não gosto de
ameaças, enfrento as coisas como um homem deve fazer, de frente pra tudo, sem
me esconder igual essa pessoa está fazendo através de mensagens desconhecidas.
Assim que entro em casa, meu celular toca, e vejo que é meu irmão, atendo
imediatamente, pra ele me ligar àquela hora deveria ser algo muito importante.
— Alô, Arthur, está me ouvindo? Você acredita que o babaca estava
falando mal da Júlia? E depois ainda beijou ela? Eu tive que intervir! — diz
nervoso.
Não gosto nada do tom que meu irmão está usando, e ainda por cima,
falando o nome da Júlia, será que ele tem algo a ver com ela chegar chorando em
casa? Frederico, puta merda, o que foi que você aprontou?
— Frederico, por que você teve que intervir? Do que você está falando? —
respondo sem entender nada.
— Arthur, certas perguntas são desnecessárias no momento, preciso ir
agora, tenho que resolver algumas coisas, amo você, tchau.
Meu irmão desliga na minha cara, e me deixa ali, eu nunca o vi desse
jeito.Preocupação? E o que a Júlia estava envolvida na história? Fred estava
enlouquecendo. De qualquer forma, eu não iria conseguir respostas.
Meus pensamentos vão para a mensagem que recebi e na noite maravilhosa
que tinha tido com Beatriz.
Essa mulher me deixava louco, e agora eu podia dizer que se não fosse sua
irmã, eu podia muito bem ter terminado a noite de uma forma diferente, e mais
relaxada, e agora tudo o que me restava era ir para o chuveiro e terminar o que eu
e Beatriz começamos na casa dela no sofá.
Sou o tipo de cara que não foge de relacionamentos, mas também não
estou procurando por um. Só estou me deixando levar.
Beatriz era o tipo de pessoa que dificilmente se abria pra falar dos seus
problemas com alguém, isso era algo que eu vinha notando desde que nos
conhecemos.
Ela se escondia atrás de uma máscara de casca grossa, mas no fundo eu
sabia que não tinha nada disso.
Sempre que algo a deixava triste, ela nunca falava, escondia seus
sentimentos, eu tinha que respeitar, era isso que eu fazia, respeitava, isso
aconteceu na Bahia, quando seus olhos estavam tristes, mas eu pude ser sua
válvula de escape quando ficamos juntos.
E hoje quando estava em seu apartamento, ela fez a mesma coisa, não
falou sobre o que a afligia ou sentia medo, somente ficamos ali, comemos,
assistimos filme e nos pegamos.
Não sei onde o que tenho com Beatriz vai dar, a única certeza que eu tenho
é que gosto muito da companhia dela e eu não vou me afastar.
Eu não sou o tipo de cara que fica intimidado com uma mísera mensagem,
deixaria claro que não me afastaria do lado dela, pelo menos não enquanto ela me
quisesse ao seu lado.
Eu estive aqui
Eu vivi, eu amei
Eu estive aqui
Eu fiz, eu fiz tudo o que eu queria
E foi mais do que pensei que seria
I was Here, Beyoncé
Beatriz
Não esperava receber Arthur em casa, na verdade meus planos eram
ficar sozinha lendo e pensando na minha vida mesmo.
Mas nem tudo funciona da forma como queremos, e Arthur vai na
contramão de tudo o que quero e procuro.
Confesso que sua atitude me deixou feliz, porque eu estava gostando
cada vez mais da sua companhia em minha vida, e o pequeno gesto de me
trazer pizza e ficar assistindo um filme, me fez admirá-lo ainda mais.
Acontece que eu não sou o tipo de mulher que fica somente
admirando um homem como Arthur sentado no meu sofá. Na verdade,
sempre que eu começava beijando Arthur acabávamos sem roupa.
Eu não sou de ficar esperando por atitudes, nem espero por flores,
bombons e encontros, pelo contrário, gosto do bom e velho sexo.
Mas quando vou partir para o ataque, meu celular toca e é minha mãe
exigindo minha presença e de Júlia domingo no almoço.
Quando volto pra sala, monto em Arthur, ali no sofá mesmo, onde ele
me faz gozar maravilhosamente bem.
A noite só não terminou de uma forma melhor porque Júlia chegou
em casa nos interrompendo e estava com o olhar triste, tinha certeza que
queria chorar, sendo assim, Arthur foi embora e eu fui até o quarto ver
como ela estava.
— Estraguei sua noite, desculpa — diz assim que me vê, parada na
porta de seu quarto.
— Trouxe sorvete e Coca, e nada melhor que a sua companhia, agora
me diz o que aconteceu. — Me aconchego ao seu lado na cama.
— Saí com Léo, nós estamos ficando há uns três meses e o jantar foi
tudo bem, ele quis ir até uma sorveteria, eu precisava ir ao banheiro, quando
voltei, escutei ele conversando com uns amigos, perguntando o que eu era
dele, e ele disse que nada, só éramos amigos que estávamos fazendo um
trabalho juntos! Que ele não sairia com alguém como eu! E o cara mostrou
uma gostosa pra ele poder sair, quando me viu, ele ficou roxo, e nós
entramos no carro pra vir embora, ele me beijou disse que não era nada do
que eu estava pensando, um policial apareceu dizendo que era proibido
ficar ali, que ele iria ter que ir à delegacia, eu disse pra ele não me procurar
mais, e chamei um uber para vir embora — diz, colocando uma colherada
de sorvete na boca.
— Vocês transaram, Ju? — pergunto, preocupada.
— Não, Bia, eu nem estava perto disso, a questão nem é sexo, eu me
senti humilhada. Até quando meu corpo vai ser um problema? Nenhum
homem nunca vai me amar como eu sou? Eu detesto fingir algo que não sou
e ficar passando fome pra agradar os outros, estou cansada disso. —
Lágrimas brotam em seus olhos.
— Você é a mulher mais incrível que eu conheço, Júlia, e esse cara
não te merece, sei que essa é a frase mais clichê que vou te dizer, mas vai
chegar um dia que alguém vai te amar e te fazer entender o porquê não deu
certo com ninguém antes, e vai te amar como você é, aceitando você por
inteira. — Puxo minha irmã para os meus braços e ela deita em meu colo.
Até quando a aparência vem acima de caráter?
Fico ali com ela abraçada, se eu pudesse, iria agora mesmo atrás do
filha da puta que fez isso com minha irmã, mas uma coisa era fato, eu não
poderia privar meus irmãos das decepções que a vida dá.
Certas experiências, infelizmente, ela e os pestinhas iriam ter que
viver sozinhos, eu estaria sempre aqui para dar suporte, mas algo que eu
aprendi é que não podemos controlar as atitudes das pessoas, e muitas vezes
elas sempre nos decepcionam, porque na realidade, elas frustram as
expectativas que colocamos nelas.
A sociedade hoje, impõe coisas demais, e as pessoas são más e
preconceituosas, eu odiava ver minha irmã daquela forma.
Ela raramente usava vestidos, shorts, só usava dentro de casa, e ela é
a mulher mais linda que já vi nesse mundo, homens são desprezíveis,
muitas vezes.
Eu esperava que um dia ela realmente pudesse encontrar alguém a
altura dela, que a amasse e respeitasse da forma linda que ela é.
Minha irmã merece alguém que a faça se sentir como uma rainha!
Todas as mulheres merecem, mas Júlia, ela é tudo pra mim, e eu odiava vê-
la sofrendo.
Fico ali em seu quarto, com ela adormecida em meu colo, indefesa, e
se eu pudesse, a protegeria de todo mal desse mundo.
Acordo assustada com a campainha tocando, olho para o lado, e Júlia
ainda está dormindo, fecho a porta de seu quarto e vou ver quem é, e
estranho Fred estar aqui tão cedo, bom, não é tão cedo assim, mas hoje é
sábado, e costumamos acordar mais tarde no final de semana.
— Estou começando a me arrepender de ter permitido sua entrada,
Fred — suspiro, deixando-o entrar.
— Júlia está aí, baixinha? — pergunta, sem nem um bom dia
primeiro, intimidade é um benção mesmo.
— Dormindo, ela deu um pé na bunda do cara que estava saindo
ontem, que foi um tremendo de um babaca.
— É, eu sei — meu amigo diz, e eu não sei se vou gostar da resposta
do que vou perguntar.
— Você estava seguindo minha irmã? — sussurro para não acordá-la.
— Eu não estava a seguindo, Bia. Eu parei para comprar sorvete e
ouvi o filho da puta falar aquelas coisas dela, não queria que ela me visse,
então eu mandei mensagem para um amigo policial, com a placa do carro
dele, e pedi que enviassem uma viatura. Eu jamais deixaria algo acontecer a
você ou a Ju, você sabe disso. — Passa as mãos nos cabelos loiros.
Ouvimos passos e Júlia aparece na cozinha já de banho tomado.
Eu amava aqueles cabelos loiros, e ficava feliz que ela se sentia à
vontade com Fred também.
— Vim tornar seu sábado mais feliz, loirinha. Vamos zerar Guitar
Hero? — Fred diz, se virando pra Júlia.
— Você não cansa de perder, né, Fred? Mas eu topo — diz, indo em
direção a sala.
Dou um agradecimento em silêncio para o meu amigo, pego meu
kindle e vou deitar no sofá enquanto os dois ficam ali jogando e
atormentando um ao outro sobre quem é melhor no jogo. Fico ali, lendo
meu livrinho distraída, com meus personagens literários.
Nos livros, tudo sempre dá certo no final, e eu não tinha certeza se
isso ia acontecer com a minha vida, porque se tem uma coisa que não
conseguíamos prever, era o futuro.
Mas uma coisa era certa, eu faria de tudo pra que minha irmã fosse
feliz e não derrubasse mais nenhuma lágrima.
Não noto o dia passar tão rápido, estou tão entretida na história, que
esqueci do mundo real.
Anoitece e eu fico com fome, resolvo providenciar algo para comer,
já que os dois ainda estão entretidos na competição deles sobre quem é o
melhor.
Peço duas pizzas para entregarem, se tem algo que sempre melhora a
vida, é pizza, tudo fica melhor com pizza, acredite em mim, eu e minha
irmã gostávamos muito de fazer a massa, o molho, mas, hoje, eu ia pedir
uma pronta mesmo.
Afinal, pra fazer todo o processo iria demorar, e eu estava com pressa
hoje.
Meu celular toca e é Maria dizendo que está chegando em casa, que
acabou de sair do plantão e ia passar aqui em casa, intimidade é assim, né.
Maria chega junto com a pizza, coloco a mesa e chamo minha irmã e
Fred para comer, os dois ainda estão jogando, o que me deixa aliviada,
porque acabou deixando minha irmã distraída do babaca do Leonardo.
— E aí, Fred? Quando você vai aprender a dançar e parar de enrolar
as meninas? Ju, você precisava ver, ele diz que dança, parece um pato, você
que gosta do gingado e da dança dos gostosos dos meninos do BTS, ia
chorar de rir — Maria diz para aliviar o clima.
— Maria, vai a merda, eu sou muito melhor que os coreanos — Fred
responde, bufando.
— Eu tenho certeza que ele não tem nada comparado ao gingado dos
meninos do BTS — Júlia diz, rindo.
— Vocês resolveram se juntar pra me atormentar mesmo? Baixinha
me ajuda aqui, vai — meu amigo pede.
— Não me meto no rolo de ninguém, resolve seus B.OS aí, Fred —
digo, mordendo um pedaço da minha pizza.
Meu celular vibra e é uma mensagem de Arthur, quando abro é uma
foto dele deitado na cama sem camisa com Rocky ao seu lado e a
mensagem dizendo:
"Temos um gato solitário aqui, e ao meu lado o Rocky.”
Tenho que respirar fundo, porque Arthur sem camisa com um gato
cinza ao lado era muito pra minha sanidade mental. Se bem que eu não
tenho nenhuma, quando se trata de Arthur.
Arthur é aquela pessoa que sempre me deixa sorrindo feito uma boba.
— Vai ficar olhando para o celular quanto tempo, baixinha? Abre pra
mim que eu preciso ir embora — Fred diz, já levantando.
— Ela fica assim às vezes, rindo que nem idiota para o celular —
Júlia responde, me provocando.
— Isso é sinal de quando a pessoa começa a ficar apaixonada. Vocês
não acham, não? — Maria entra na onda da provocação.
— Vocês três já foram a merda hoje? Me deem licença que eu tenho
mais o que fazer. Júlia, abre a porta para o Fred, eu já volto — digo irritada.
Apaixonada, está aí, algo que eu não faria novamente, estava era
aproveitando aquele corpo gostoso do Arthur. E que corpo! Para que um
corpo desse, minha gente?
Era impossível resistir, e tinha o Rocky, sem condições de resistir a
um homem gostoso que cuide de um gato.
Abro na conversa para responder a Arthur e digito: “O Rocky é
mesmo um gato muito charmoso.”
Meu celular começa a tocar e o nome de Arthur aparece na tela, meu
coração bate mais forte. Que coisa fazer ligação! Não podia enviar
mensagem, não? Essas coisas me assustam, mas resolvo atender por fim.
— Oi — digo meio tímida, sem saber porque, eu nem sou assim.
— Me ofende muito saber que você prefere o Rocky a mim, ele está
aqui ronronando e nem aí pra nenhum de nós na verdade.
— Eu realmente acredito nisso, gatos são seres superiores, Arthur.
Pensei que você já soubesse disso. — Deito em minha cama.
— Tenho um convite pra te fazer, estou com vontade de tomar
sorvete, vamos comigo? Passo aí para te buscar e te faço outro convite, mas
só pessoalmente — pergunta.
— Certo, te espero então — respondo, me levantando e indo até o
guarda-roupa.
Arthur desliga, troco de roupa, colocando um short jeans, um
cropped e all star.
— Meninas, eu vou sair para tomar um sorvete com Arthur, que
precisa falar alguma coisa pessoalmente, e eu sou muito curiosa pra deixar
pra depois, daqui a pouco volto — digo, colocando minha carteira na bolsa
pequena.
— Claro, claro, é a curiosidade que está te matando mesmo — Maria
diz, olhando para Júlia e as duas riem.
O interfone toca, atendo e aviso que estou descendo.
Dou um beijo em Maria e Júlia e saio, no elevador, encontro com a
vizinha que sempre me olha feio por causa das minhas roupas, eu só dava a
ela o meu melhor sorriso, que era o que ela iria conseguir de mim.
A roupa que uma pessoa veste não diz respeito ao caráter dela. Eu
gostava de usar roupas justas, decotadas. E tenho muito caráter.
Mas, o que a vizinha pensa de mim, não vai mudar, então eu apenas
sorria. Cada um dá aquilo que tem.
Encontro Arthur encostado no carro, lindo, como sempre, e eu de all
star.
Estava bem engraçado, porque ele era muito alto e eu baixinha.
— Uau, você está linda! — Arthur diz, me dando um beijo na testa, e
já abrindo a porta pra eu entrar no carro.
— Você também está muito lindo — digo, antes de ele fechar a porta
e dar a volta pra pegar o volante. — Quanto você tem de altura mesmo?
Não lembro de ter perguntado alguma vez, é que hoje eu me senti muito
menor que das outras vezes perto de você — digo, olhando pra ele.
Arthur cai na risada.
Depois de se recompor, dá a partida e sai com o carro.
—Tenho 1,96m, pequena terrorista, eu realmente sou muito alto, se
comparado a você — me responde finalmente.
— Caralho, Arthur! — Coloco as duas mãos na boca assustada.
Realmente, Arthur era muito alto!
O som do carro começou a tocar Legião Urbana, Vento no Litoral.
Arthur coloca sua mão em minha coxa, se fosse outra pessoa eu
tiraria, mas acabo deixando, pode parecer um gesto simples, inocente até,
mas pra mim era muito.
Pequenas coisas faziam diferença, Arthur fazia uma bagunça, eu
estava deixando-o fazer parte da minha vida mais do que deveria, mas eu
gostava da sua companhia e iria aproveitá-la pelo tempo que fosse
permitido.
Chegamos a sorveteria, pedimos os sorvetes, eu peço uma taça com
morango e chantilly, estava com uma cara tão boa, pelo menos na foto, que
eu não resisti.
— Vai, Arthur, desembucha, o que você queria falar? — digo,
morrendo de curiosidade.
— Na verdade estava usando uma desculpa pra te ver hoje.
Vergonhoso demais? — diz, levando a colher à boca.
Devasso. Sexy.
Só queria ser aquela colher.
Foco, Beatriz!
— Não, na verdade não — digo, porque não é mesmo.
Na verdade, eu estava querendo uma desculpa para vê-lo, só que eu
não podia assumir isso em voz alta nunca, nem pra ele nem pra ninguém.
— Como sua irmã está? — pergunta.
— Está bem, quer dizer, está melhor agora, teve um problema com o
cara que ela saiu, eu queria na verdade ir atrás dele e cortar seu pescoço,
mas eu iria perder meu réu primário, e ele não é uma pessoa por quem vale
a pena gastá-lo — respondo, mordendo um morango.
— Se tem alguém mais incrível que você nesse mundo, eu
desconheço, consegue fazer piada até com coisas sérias — Arthur diz,
rindo.
— É o que eu consigo fazer de melhor, Arthur.
— Eu queria te convidar para ir comigo para São Paulo amanhã, eu
ganhei dois ingressos para assistir ao musical do Fantasma da Ópera que vai
ter no Teatro Municipal, com a Osesp, e queria que você fosse. Vai precisar
de um vestido longo, sairíamos amanhã de manhã — solta como se fosse a
coisa mais natural do mundo.
Puta que pariu, eu estava tendo um surto interno.
Não podia gritar ali no meio da sorveteria, mas a vontade era essa.
Caralho! Nossa, que boca suja, meu pai falaria “Beatriz olha essa
boca, que coisa feia falar esse monte de palavrão.”
Estava ligando? Óbvio que não, eu estava sendo convidada para
assistir a uma das óperas que eu mais admirava, em uma das orquestras
mais lindas, que eu sempre amei ver, em vídeos, claro, porque nunca tinha
conseguido assistir pessoalmente, era muito difícil conseguir ingresso.
A vontade que estava nesse momento era de sentar no colo de Arthur
e beijá-lo todo, da cabeça aos pés. Como faz com um homem desse?
— Claro que eu aceito, porra, seria muito idiota se não aceitasse —
respondo, ainda chocada tentando assimilar tudo.
Arthur sorri, acho que ele pensou que eu fosse recusar.
Só se eu fosse muito otária!
Sinto que estou sendo observada, até olho para trás e para fora da
sorveteria, uma sensação ruim me invade, mas não vejo ninguém.
Já não é a primeira vez que isso acontece.
Então resolvo ignorar, aproveitar o momento e voltar pra Arthur.
— Está tudo bem? — Arthur diz, olhando em volta.
— Pensei ter visto alguém conhecido, mas acho que me enganei.
Ficamos conversando, Arthur me conta sobre Rocky, e como é
divertido tê-lo em casa, rimos muito das coisas que ele me conta, eu amava
muito gatos, desde que fui morar sozinha não tinha adotado nenhum animal
de estimação, às vezes eu sentia falta.
A volta pra casa foi tranquila, a sensação de estar sendo observada
não diminuiu, mas com Arthur eu me sentia um pouco melhor.
Parando na frente do meu condomínio, vimos o Sr. Dimas tentando
escapar das investidas da minha vizinha que eu nem sabia o nome de tão
chata que era.
— Te pego amanhã, tudo bem? — Arthur diz, segurando em minha
mão.
— Tudo bem, estarei te esperando, ansiosa, muito ansiosa — digo,
porque estou mesmo, parecendo criança quando vai passear.
— Eu fico feliz com isso.
Dou um selinho em Arthur e subo para o meu apartamento.
Meus pensamentos estavam a milhão, mas no momento eu só
precisava pensar em um vestido maravilhoso pra vestir, eu estava uma
confusão de sentimentos.
Metade de mim dizia pra parar de me encontrar com Arthur, que iria
dar merda, a outra dizia pra parar de ser idiota, se jogar e aproveitar, que eu
nunca faço nada pra mim mesma.
E adivinha quem eu resolvo escutar?
Claro que é a que manda eu me jogar, iria pensar nas consequências
depois, hoje eu iria aproveitar muito, tudo o que estava acontecendo, e por
um momento, não eram coisas tristes, eram coisas boas, e feitas pensando
em mim.
Agora, precisava de um vestido maravilhoso, longo, e como não
vivia num conto de fadas e não tinha uma fada madrinha, eu precisava
correr.
Porque eu vou estar deslumbrante!
Se eu deitasse aqui
Se eu apenas me deitasse aqui
Você deitaria comigo e simplesmente esqueceria o mundo?
Chasing Car–Snow Patrol
Arthur
Estava ansioso para poder passar o dia ao lado de Beatriz, eu gostaria
de dizer a ela que era um encontro, porque era isso que era, um encontro.
Mas ela iria cortar meu pescoço se eu dissesse isso, então só fiz o convite e
agradeci muito por ela ter aceitado.
Como se não fosse um encontro, porém, eu era um homem do
caralho!Um tanto modesto, eu sei.
Seria o melhor encontro da vida dela!
Os anos trabalhados na promotoria em São Paulo me serviram de
algo, conheci pessoas incríveis quando eu morava lá, eu sempre
acompanhava meu amigo, Estevam, um violoncelista incrível que conheci
na época da faculdade, que me arrumou os dois ingressos para a noite de
hoje, já que ele tocava na Osesp.
Avisei meu irmão pra ele cuidar de Rocky enquanto eu ficava fora,
não que ele fosse sentir minha falta.
Arrumei minha mala, coloquei um terno, gravata borboleta, não era
muito adepto dela, pois era menos habitual, mas para o evento era
necessário.
Beatriz não sabia, mas depois do espetáculo nós íamos nos encontrar
com os músicos e cantores da ópera, uma das surpresas que eu havia
reservado para quando chegasse a hora.
Só avisei a ela de que precisava de um vestido longo, que era
obrigatório para o evento.
Nunca fui o tipo de cara que planejava coisas pra sair com qualquer
mulher, mas Beatriz me fazia querer ser esse tipo de cara, ela merecia isso,
ela me fazia sentir coisas que eu nunca senti, me fazia querer ser melhor.
Agora eu estava aqui, esperando para pegar a estrada com Beatriz, já
tinha reservado o quarto de hotel para nos arrumarmos e poder passar a
noite.
— Oi — diz, entrando no carro, toda sorridente.
— Animada? — pergunto, dando partida no carro.
— Você nem imagina o quanto — responde, dando um beijo em
minha bochecha.
Seguimos viagem, Beatriz era bem falante quando ficava empolgada
com alguma coisa, descobri que ela era uma amante de Fantasma da Ópera,
leu o livro, assistiu ao filme, mas nunca tinha tido a oportunidade de ver ao
espetáculo ao vivo, o que me deixava mais empolgado ainda.
Fomos ouvindo música e conversando o caminho todo, vez ou outra
me pegava olhando pra aquela mulher de cabelos cacheados que
atormentava meus pensamentos.
Fizemos uma viagem tranquila, não era muito longe, chegando ao
hotel, fizemos check-in e subimos até o quarto, precisávamos nos arrumar,
apesar do espetáculo começar dali a poucas horas, precisava chegar cedo.
— Uau, é lindo demais aqui — Beatriz diz, quando se aproxima da
vista do quarto.
— É muito lindo mesmo. Vou tomar um banho e me arrumar
primeiro, se quiser me acompanhar — digo, abraçando Beatriz e beijando
seu pescoço.
Beatriz se arrepia como uma gata.
— Engraçadinho, mas nós temos um evento pra ir, se for te
acompanhar, não vai prestar — responde, se virando pra mim.
O quarto do hotel era muito lindo mesmo, a vista era linda, ele era
todo moderno, quando cheguei ao banheiro, lembranças da minha noite em
Salvador com Bia vieram forte ao ver a banheira ali à nossa disposição, mas
não iríamos poder estreá-la agora.
A minha vontade era ficar com Beatriz dentro daquele quarto e não
sair, mas eu tinha que completar meu gesto de cavalheiro e levá-la pra
assistir a ópera.
Na verdade, eu estou empolgado em levar Beatriz, as famosas
borboletas no estômago que todos falam estão presentes em mim.
Quero que seja tudo perfeito, que ela goste muito!
Termino meu banho, me arrumo e vou até o quarto pedir para
terminar de ajeitar a gravata, quando chego, não tenho palavras pra
descrever o que encontro.
Beatriz está terminando de passar batom na frente do espelho,
quando se vira pra mim.
Puta que pariu, que mulher linda!
Beatriz está com um vestido vermelho, marsala, com detalhes em
todo ele, eu não sei nem mais diferenciar cores, de um ombro só, com uma
fenda que sobe até o alto de sua coxa esquerda.
Seus cachos estão soltos, do lado direito, puxando pequenas tranças e
depois descendo para o volume do seu cabelo que está incrivelmente lindo!
Não tenho palavras para descrever o quão linda está, eu estava
começando a ficar nervoso. Ela se aproxima e mesmo de salto está mais
baixa que eu.
Pede pra ajeitar minha gravata, encosto no mármore e ela fica de
frente pra mim encaixada entre minhas minhas pernas.
Seu cheiro é doce, suave, puxo-a para mim e passo minha mão por
seus braços, acariciando, Beatriz inspira fundo, noto que assim como eu, ela
está alterada, me olhando nos olhos, em silêncio.
— Você está deslumbrante, muito linda. — Dou um beijo em sua
testa pra não borrar seu batom.
Ela assente somente, saímos e seguimos em direção ao Teatro
Municipal.
Beatriz era a mulher mais enigmática que eu conhecia, em um
momento ela estava sorrindo e falando como se não houvesse amanhã, e em
outro ela se fechava em um casulo, não falava nada, e ficava toda
misteriosa.
Queria que ela se abrisse pra mim, tenho certeza de que uma hora iria
fazer isso, quando se sentisse segura, na hora certa, tudo vem no tempo
certo, e eu não tinha pressa pra nada quando se tratava dela.
Meu único medo era ela nunca conseguir, eu queria que ela confiasse
em mim pra falar sobre tudo, desde as coisas mais banais, até os problemas
que tem no dia a dia.
Chegamos ao teatro e nos levam até o camarote que foi reservado, o
lugar é mesmo privilegiado, vou ter que agradecer bastante ao Estevam.
A ópera começa e nunca vi Beatriz tão quieta e entretida, seus olhos
brilham, não presto muita atenção no cenário à minha frente, só consigo
olhar pra mulher linda ao meu lado, que durante a ópera pega minha mão,
quem sou eu pra contrariar.
Nossas mãos ficam entrelaçadas durante todo o espetáculo.
O espetáculo é lindo, cheio de efeitos, os cantores são incríveis, e a
história é linda, trágica, mas muito linda.
Quando termina, todos se levantam para ovacionar, Beatriz está em
êxtase, aplaudindo e gritando, e eu, estava parecendo um garoto saindo pela
primeira vez com uma mulher, sem nem saber como agir.
Levantamos e levo Beatriz até o local onde será o pós-espetáculo
com os músicos.
— Onde está me levando? — Beatriz pergunta curiosa.
— Logo você irá descobrir — beijo sua mão e seguimos pelo teatro.
Quando chegamos, anuncio meu nome e o de Beatriz, o comes e
bebes iria acontecer no teatro mesmo, a recepcionista nos acompanha até
uma porta e entramos.
O lugar é lindo, luxuoso, procuro por Estevam que vem correndo em
minha direção, me cumprimenta e se vira pra Beatriz, segura sua mão, e
deixa um beijo ali, fazendo uma reverência.
— Muito prazer em te conhecer, você está deslumbrante, quando
Arthur me ligou pra dizer que queria dois ingressos com um lugar
privilegiado, não imaginei que fosse trazer uma mulher tão linda — diz
todo galanteador.
Puxo Beatriz pra perto de mim. Que porra Estevam estava fazendo?
Era melhor parar ou eu mesmo ia resolver com ele de outra maneira.
— Um prazer conhecer você também, obrigada pelo elogio, eu vou
buscar uma taça de champanhe, já volto, com licença — Beatriz diz, e sai,
indo em direção ao bar.
Conforme ela passa, noto todos os olhares em sua volta, e isso me
incomoda um pouco, eu sabia que ela estava maravilhosa, mas a vontade
que eu tinha era de jogar ela nas costas e levar embora pra que ninguém
mais a admirasse.
Como um homem das cavernas mesmo.
— Gostosa ela, hein. Será que topa um ménage? — Estevam diz,
rindo
— Juro que se você ousar olhar pra ela ou falar algo do tipo de novo,
eu esqueço que sou seu amigo e te arrebento — respondo irritado.
— Desde quando você ficou tão possessivo com mulheres assim?
Não que nós tenhamos compartilhado de um ménage porque você nunca
quis, mas nunca ligou que eu ficasse com as mulheres que você ficava.
— Ela está fora do seu alcance — digo incisivo.
Beatriz vem em nossa direção exalando sensualidade. Puta que pariu,
que mulher sexy! Eu estava torcendo pra Estevam não dizer nada para
Beatriz sobre ménage, eu não era adepto de dividir o que era meu.
O que eu estava dizendo, Beatriz não era minha, mas nesses
momentos, nessa noite, ela estava comigo, dividiria a cama comigo, fosse
pra dormir ou não.
Ela ainda seria minha.
— Espero que aproveitem a noite pombinhos, eu preciso
cumprimentar algumas pessoas — Estevam diz nos deixando sozinhos.
— O que foi que eu perdi? — Beatriz diz, confusa.
— Um Estevam sendo inconveniente.
Uma valsa começa a tocar, alguns casais vão para a pista de dança e
agradeço minha mãe por ter me obrigado e aprender a me movimentar um
pouco pelo menos.
— Me concede a honra, senhorita? — Estendo a mão para Beatriz.
— Será um prazer. — Faz uma reverência.
Colo seu corpo junto ao meu e começo a dançar acompanhando a
música, estamos os dois em silêncio, olho para aquela boca e tenho vontade
de agarrá-la.
— Me olhando assim, estou parecendo um doce suculento pronto
para ser devorado — diz baixinho.
Desço minha mão para sua bunda arrebitada.
— Você está quase pronta pra ser devorada, Beatriz, e sabe disso
tudo, mas está linda hoje — sussurro em seu ouvido.
— Gosto de ser devorada por você, Arthur — diz, passando a mão
em meus lábios.
— Você é uma pequena terrorista, Beatriz — digo, rodopiando-a.
— Eu sei, e você continua querendo minha companhia, masoquista,
acho. — Me dá um sorriso que poderia iluminar meu mundo inteiro.
Dançamos não só uma, mas várias músicas, a noite estava uma
delícia, Beatriz estava descontraída, parecia se sentir feliz ao meu lado.
Isso, pra mim, era gratificante.
A única coisa que não tinha naquele lugar era comida decente, eu
estava morrendo de fome.
Serviram aqueles canapés cheio de frescura em miniporções, ainda
bem que estava em São Paulo, iria ver com Beatriz se ela topava passar para
pegar comida em algum lugar.
— Arthur, estou muito feliz pela noite que você me proporcionou,
mas podemos ir? Beatriz questiona.
— Claro, vou me despedir de Estevam e nós vamos.
— Vou buscar uma água. — Me dá um selinho e vai caminhando em
direção ao bar.
Eu vou à procura do meu amigo, precisava agradecer pelo convite, e
a oportunidade de me gabar pra mulher linda que estava ao meu lado.
Ao encontrar Estevam, agradeço ao meu amigo por tudo, que não
deixa de falar sobre Beatriz.
— Aproveite a noite meu amigo, com sua linda companhia e me
convide para o casamento depois — diz, me abraçando.
Dou risada, porque só nos sonhos dele isso iria acontecer, quer dizer,
quem sabe. Estevam sempre sonhou demais com casamentos.
— Até mais, Estevam. Obrigado por tudo.
Quando volto para encontrar Beatriz, vejo-a olhando fixamente para
a entrada, chego mais perto para entender o que está acontecendo, o que
vejo me dá vontade de perder toda a calma que adquiri com os anos.
Respiro fundo, pois nesse minuto, quem precisa de mim é Beatriz.
Beatriz olha fixamente para Diogo, eu tive a infelicidade de gravar o
nome do babaca do ex dela, que estava ali, no mesmo ambiente que nós.
O filho da puta estava segurando seu braço. Eu estava procurando
calma, mas tudo que eu queria nesse momento era descer o braço nesse
projeto de homem.
— Solta meu braço, Diogo — Beatriz diz, quase num sussurro.
— Ela mandou você soltar, se não fizer isso, eu mesmo vou fazer por
você — digo, chegando perto dos dois.
— Esse cara de novo? Beatriz, fica difícil assim — o babaca ainda
tem a cara de pau de dizer, mas solta o braço de Beatriz.
— Some da minha frente, antes que eu faça você se arrepender de ter
nascido, seu moleque mimado — digo, entrelaçando os dedos de Beatriz
aos meus.
Lágrimas brotam nos olhos de Beatriz, fico de frente para ela, seguro
seu rosto em minhas mãos, tiro-a dali, que sorri fraco em agradecimento.
Não olho pra trás, certas pessoas não mereciam isso, e esse cara, eu
não o conhecia direito, mas sabia que ele não merecia nem respirar o
mesmo ar que Beatriz.
Vamos em silêncio até o estacionamento, abro a porta do carro pra
ela entrar, que aceita sem questionar, isso sim era ruim, sentia falta da
Beatriz falante e mandona que diz que sabe abrir a porta.
Dando partida no carro, resolvo quebrar o silêncio.
— Eu não sei você, mas estou morrendo de fome, a comida ali era
horrível.
Beatriz gargalha, e eu volto a me sentir bem, pois sei que o babaca
não conseguiu estragar uma noite que planejei muito bem. Ela não merecia
terminar triste por algo que ele fez, falou, ou somente por tê-lo visto.
— Estou morrendo de fome, Arthur, vamos passar no MC? Estou
louca por um combo com batata frita — diz, se virando pra mim.
— Estava torcendo pra você dizer isso, mas nós vamos descer e
comer assim —digo, pois ela está com um vestido longo, de gala.
— Desafio aceito, meu amor, eu não ligo pra isso, na verdade, estou
com fome mesmo.
Sigo até o McDonald 's mais próximo, porque eu realmente estava
com fome, as pessoas desses eventos tinham que pensar que ninguém come
essas coisas que eles servem, sai todo mundo com fome.
Eu hein.
Chegamos ao MC, estaciono, Beatriz desce, e claro, nem preciso
abrir a porta pra ela, mas me espera para entrar. Pelo menos isso, né, mulher
teimosa!? Ainda bem que ela não pode ler pensamento.
Se pudesse, eu estaria fodido!
Pedimos nossos lanches com batata e bebida, digo para ela sentar e
esperar que vou levar pra não correr o risco de sujar o seu vestido, que era
longo, poderia acontecer algum acidente, alguém derrubar algo.
Beatriz está sentada na mesa, enviando uma mensagem no celular,
assim que me vê, guarda na bolsa.
— Estava enviando uma mensagem pra minha irmã. Nossa, me passa
pra cá essas gostosuras, por favor.
Dou seu combo, e observo-a comer, pode parecer besteira, mas ver
uma mulher comendo Mc às três da manhã, não se importando por estar em
um vestido longo dentro do restaurante, pra mim, dizia muito sobre ela.
Pego meu celular no bolso e tiro uma foto de Beatriz que está
distraída devorando seu lanche, mas linda. Ela continuava linda.
Ficamos ali, ela relaxou bastante, ficou à vontade, comemos, rimos,
falamos da noite, da ópera.
Consegui recuperar a noite, pelo menos isso. Ela estava sorrindo de
novo. Não importava se eu tivesse que sair no braço com o babaca, se fosse
preciso, eu sairia.
Uma coisa era certa, eu não o deixaria machucar Beatriz, nem tirar o
sorriso dela novamente, isso nunca.
Aqui estava eu, com uma mulher linda de vestido longo, fazendo
palhaçada com batata frita, posso dizer que essa foi a minha melhor noite, e
meu melhor jantar em muito tempo. Talvez se eu tivesse dito que seria um
encontro, as coisas não seriam tão descontraídas e leves como foram. Então,
pra que rotular as coisas? Somente deixe fluir, e o tempo irá cuidar de tudo.
Esta noite vou deixá-lo ser o capitão
Esta noite vou deixá-lo fazer o que sabe, sim
Esta noite vou deixá-lo ser o guia
Depressa, depressa, depressa, querido
Essa noite eu vou deixar queimar
Rude boy–Rihanna
Beatriz
Confesso que me sentia cada dia mais leve, Arthur era uma pessoa
sensacional, isso eu já havia notado, mas só vinha confirmando a cada dia
que se passava.
O convite para vir a São Paulo para assistir ao Fantasma da Ópera,
foi totalmente inesperado, me pegando de surpresa.
Escolhi um vestido marsala que estava guardado há um tempo no
guarda-roupa, e não havia usado ainda.
Ele tinha uma fenda que subia até minha coxa, era muito lindo, tive
que aguentar minha irmã e Maria dizendo que estava indo para um
encontro, mas eu neguei, porque não era o que estava acontecendo. Éramos
somente dois amigos saindo juntos.
Eu estava enganando a mim mesma, mas tudo bem!
Arthur estava fazendo a porra de um encontro inesquecível!
Assistir ao musical foi incrível, eu sempre gostei, e esse em
específico tinha mais amor ainda, os efeitos foram incríveis, a orquestra, os
cantores.
Eu terminei de assistir muito emocionada, Arthur me proporcionou
um dos momentos mais emocionantes da minha vida, porque sempre tive
vontade de assistir, mas nunca tive oportunidade.
Fui apresentada a um dos músicos e amigo de Arthur, um rapaz
muito simpático, que nos deixou ali enquanto Arthur me olhava como se
não existisse mais ninguém no salão, me puxou pra dançar, com meu corpo
colado junto ao seu.
Como tudo o que é bom dura pouco, eu senti Diogo segurar meu
braço quando fui buscar água antes de ir embora.
Me odiei pelo que aconteceu, fiquei parada ali sem conseguir fazer
nada, com falta de ar, e vontade de voar no pescoço do filha da puta, mas eu
não podia fazer isso, nem do lugar eu conseguia sair.
Arthur, porra, ele devia parar de ser tão perfeito, me defendeu de
Diogo, ficando muito sexy com aquela voz rouca, pose de mal, digno de
molhar calcinha, e eu nem estou usando uma.
Chegando no quarto do hotel, olhando para esse homem que está
uma perdição de gravata borboleta.
Empurro Arthur na parede, assim que fecha a porta do quarto,
colando minha boca na sua.
— Estou querendo fazer isso desde que vi você sair daquele banheiro
com essa gravata borboleta.
Arthur se ajoelha, tirando minhas sandálias, suas mãos sobem por
minhas coxas devagar, deixando rastros de beijos até chegar ao final da
fenda do vestido, onde pousa um último beijo ali, e eu gemo.
— Você está muito linda nesse vestido, mas eu prefiro você sem ele
— diz com um olhar predador.
Vou abrir o zíper do vestido e sou interrompida pelas mãos enormes
de Arthur que começam a fazer o trabalho por mim.
Meu vestido cai no chão e fico nua, já que estou sem lingerie
nenhuma.
— Porra, Beatriz, assim você vai me matar, gostosa demais.
— Deita na cama e fica quietinha. Hoje você vai fazer o que eu
mando — diz, dando um tapa na minha bunda.
Não sei que porra deu em mim, mas obedeço, eu, Beatriz, fazendo o
que um homem quer. Mesmo na cama, mas Arthur falando assim me deixou
excitada.
Ele tira sua roupa ficando só de boxer preta, e o volume ali, uau,
impossível não olhar.
Arthur pega em seu pau por cima da cueca e me faz salivar!
— Confia em mim? — pergunta com a gravata na mão.
Minha respiração fica mais rápida, eu confio. Nunca deixei ninguém
fazer isso comigo. Arthur é o primeiro.
— Co..confio — respondo num sussurro.
— Boa menina. — Coloca a gravata que há pouco estava em seu
pescoço e agora está em meus olhos.
Beija minha boca, mordendo meu lábio.
Sinto a ausência de seus lábios sobre os meus e começo a sentir um
cheiro de morango, Arthur começa a esfregar um líquido pegajoso e fazer
massagem em mim.
Seus dedos começam em meus pés, bem devagar, subindo pela minha
panturrilha até minhas coxas.
Arthur sobe em uma tortura lenta e deliciosa até encontrar minha
virilha, onde ele para, lambe toda minha extensão e volta a fazer a
massagem em minha outra perna, me deixando toda molhada, literalmente.
Vendada, tudo que sinto fica mais intenso.
Sinto suas mãos em meus seios, suas mãos massageiam minha
barriga, seus polegares apertam meus mamilos e ele cai de boca mamando
em meus peitos, chupando, sugando, me levando à loucura.
— Caralho, Arthur, para de me torturar assim. — Fecho as pernas em
um impulso.
— Abre as pernas — diz, com a voz rouca de tesão.
Sinto uma boca em minha boceta, o que é uma verdadeira tortura,
porque não estou me aguentando, estou perto de gozar, sua língua em meu
clitóris, sua boca me devorando, estar vendada aumenta todas as sensações,
eu não aguento e gozo em sua boca.
Arthur chupa até minha última gota.
— Preciso do seu pau, me fodendo, por favor — digo ofegante.
— Não sei o que é mais sexy, você dizendo pra eu te foder ou o por
favor que veio junto.
— Cala a porra da boca e me fode — digo louca de prazer.
Sem precisar dizer mais nada, ouço Arthur rasgando um pacote de
camisinha, sinto seu pau me preenchendo, e gemo.
Não aguentava mais esperar para tê-lo todo dentro de mim.
Começa devagar, segura minhas mãos acima da cabeça, beija minha
boca, meu pescoço, me sinto totalmente entregue a ele, como nunca estive a
ninguém.
— Gostosa — Arthur aumenta as estocadas, me fodendo mais forte e
eu não aguento, meu corpo entra em combustão, tremendo em um orgasmo
intenso.
Gozamos juntos, e eu gemo seu nome por todo o quarto.
— Vamos tomar uma ducha — diz, tirando a venda improvisada de
meus olhos.
Arthur me pega no colo, estou toda besuntada de óleo, entramos no
banho juntos. Arthur enche a esponja de sabonete e começa a me esfregar,
me dá um banho, eu retribuo.
Depois do banho, nos deitamos na cama e ficamos ali, Arthur sem
dizer nada, me fazendo carinho.
Confesso que não estou acostumada a isso, é uma sensação estranha,
boa, mas é estranho o fato de ter alguém que me defendeu, e está cuidando
de mim.
Maria sempre diz que o pós-sexo diz muito sobre os caras, eu nunca
acreditei muito, uma, porque eu nunca fiquei com ninguém depois do sexo,
mas agora, aqui, nesse quarto de hotel, com esse homem, eu fico cada vez
mais confusa sobre tudo.
Estamos deitados, Arthur me puxa pra ele, onde me abraça pra que eu
deite em seu peito, com ele me acariciando, e me acolhendo como se eu
fosse extremamente preciosa para ele, e por hoje, somente por hoje, eu
quero me apegar a isso. Pensar no depois é doloroso demais.
Quando tiram tudo de você, fica difícil acreditar que possam ter
pessoas com sentimentos bons, acreditar que homens não tinham segundas
intenções era algo muito difícil pra mim, mas com Arthur, ele me fazia ter
esperança, de que homens não eram sempre babacas e podiam ser bons.
Acordo sendo beijada por Arthur, seminu, não canso de admirar essa
coisa gostosa.
Caralho, Arthur, facilita para mim homem, me ajuda.
— Bom dia, Beatriz, dormiu bem? — pergunta, beijando meu ombro.
— Muito bem, a forma como fui acordada foi melhor ainda.
— Você merece muito mais que isso, Beatriz, só falta você mesma
acreditar.
Acreditar, está aí uma coisa que eu não fazia há muito tempo, por
fora, eu era apenas uma casca, uma pessoa fria, sem sentimentos, mas até as
pessoas frias sentem, elas sempre sentem, só não demonstram.
A única diferença é que eu não sabia mais se era capaz de sentir algo,
tantas coisas ruins aconteceram, tantos homens me machucaram, eu me
fazia de forte, eu sou uma mulher forte, mas ao mesmo tempo, eu era
despedaçada, me sentia despedaçada.
Se sentir assim, era horrível.
E assim eu tive um final de semana maravilhoso e a volta pra casa me
deixava cheia de inseguranças quanto ao que viria a acontecer entre nós.
Quando tudo vai bem demais, a tendência sempre é desconfiar que
algo de ruim possa vir a acontecer.
Diogo
Beatriz sempre foi uma mulher pequena, indefesa, eu sempre
consegui mantê-la dentro da linha, no controle, mesmo ela sendo um pouco
arisca, eu conseguia fazer com que fizesse o que eu queria e ainda tinha
meus casos.
Era o relacionamento perfeito.
Meu pai sempre me disse que eu precisava encontrar uma mulher
assim, já que ele queria que eu entrasse pra política como ele, era bom,
afinal, a política no Brasil, é uma verdadeira piada e eu não queria fazer
diferente.
A única coisa que eu queria era continuar com a minha vida,
comendo mulher e ganhando dinheiro sem precisar trabalhar.
Era para eu estar casado, vivendo a família Doriana se não fosse
Beatriz se revoltar além do normal.
Ela devia estar de TPM aquele dia que me pegou com a Veronica, ou
será Monica? Foda-se, o nome pouco importa, elas nunca passam de uma
boa foda mesmo.
Eu preciso extravasar, Beatriz tem toda essa coisa de trabalho,
independência, na época, ela estava estudando, não tinha tempo para mim, a
culpa foi dela da traição, e vamos concordar que ter uma mulher só a vida
inteira pra comer é algo ruim demais.
Por que ter uma mulher só? Se posso ter várias.
Achei que ela precisava de tempo, casar eu nunca quis mesmo, acho
isso muito chato, eu só tinha aceitado isso por imposição do meu pai, mas
ela estava indo longe demais.
Desde que terminamos, tenho a observado. Cada passo que dá, sei
onde vai, com quem vai, cada homem que fode. Nossa, isso sempre me
deixa com tesão, vê-la fodendo.
Eu sou louco por Beatriz.
Só que ela não tinha padrão, por isso eu estava aceitando, agora a
filha da puta deu pra sair sempre com esse promotorzinho de merda, que
chegou na cidade, e eu não estou gostando disso.
As últimas informações que recebi do meu detetive foram que eles
estavam indo pra São Paulo assistir ópera. Ela sempre me pediu isso, mas
coisa chata do caralho.
Acontece que hoje vou te rever minha Beatriz, ela precisa me ver pra
matar a saudade.
Assisto essa porcaria desse povo e depois vou para o coquetel que
estão dando, consegui graças aos contatos do meu pai, ninguém diz não
para o filho do deputado, o grande Augusto Muniz.
Vejo Beatriz dançando com aquele pau no cu e minha vontade é
arrancá-la pelos cabelos, mas não posso fazer uma cena.
Meu pai odiaria que eu ficasse nas manchetes.
Tudo tem que ser feito com calma, paciência, muita paciência, eu
estou em ambiente público, muitas pessoas. Eu sou respeitado, ninguém
nunca me viu brigando.
Eu sou um exemplo de homem.
Quando Beatriz vai até o bar e é minha deixa pra me aproximar, sem
aquele guarda-costas do lado, ainda não sei o que ela viu nesse cara, de
verdade, deve ser a carência.
Chego por trás dela e seguro seu braço, inspiro seu cheiro, que
saudade estava desse cheiro, mas essa roupa, esse vestido, só pode estar de
sacanagem com a minha cara.
Estava parecendo as putas que eu pago!
Evito fazer uma cena e acabo deixando aqueles dois irem embora. O
boneco de Olinda está todo possessivo pra cima de Beatriz, mas isso logo
vai terminar. E onde já se viu permitir que ela saia de casa vestindo uma
roupa daquelas?
Frouxo do caralho.
Se ela estivesse comigo, jamais iria sair com esse vestido, que
palhaçada.
Mas isso não vai ficar assim, não vai mesmo, vou até meu carro e
tento encontrar onde aqueles dois filhos da puta estão, mas não consigo,
então volto para o hotel.
Pensar em Beatriz me deixa com tesão.
Mando uma mensagem para o assessor do meu pai para me enviar
uma puta, preciso comer alguém.
Que seja de cabelos enrolados, de preferência essa noite.
Abro a porta do meu quarto e ela está me esperando, tiro minha
roupa.
— Ajoelha que eu vou começar fodendo sua boca — digo sem
paciência.
Me aproximo e sinto seus lábios no meu pau, me engolindo, seguro
seus cabelos que são ruivos?
Eu gosto deles loiros, porra!
Isso me dá raiva, empurro sua cabeça mais fundo em minha garganta
até gozar, faço-a engolir até a última gota.
Viro-a de quatro, coloco uma camisinha e enfio meu pau, ela não está
pronta, que porra, dou uma lambida em sua boceta e enfio meu pau
novamente estocando fundo, bato em sua bunda e vejo minha mão ficar
marcada ali.
Ai, isso que eu gosto.
Que tesão, isso me deixa doido, vou gozar de novo e não sei se ela
vai gozar ou não, mas hoje não estou me importando, gozo.
— Pode ir embora — digo, acendendo meu cigarro, com meu pau
semiereto.
Retiro a camisinha que está com sangue.
Mas que porra! Puta do caralho!
Uma coisa era certa, nessa porra dessa vida, eu estava ficando puto
com a insistência da Beatriz em ficar com o promotor, e se ela não fosse
minha, não seria de mais ninguém. Isso era algo que iria me certificar, nem
que fosse preciso tirar o que fosse de mais precioso dela.
Você construiu sua parede tão alto
Que ninguém poderia escalá-la
Mas eu vou tentar
Você me deixaria ver por debaixo da sua beleza?
Você me deixaria ver por debaixo da sua perfeição?
Beneath Your Beautiful– Labrinth
Arthur
Eu consegui surpreender Beatriz da melhor forma possível, nosso final de
semana, com exceção do episódio com aquele moleque do Diogo.
Acabei descobrindo que ele era filho de deputado, mimado, quando me
aproximei de Beatriz e o vi segurando seu braço, minha vontade era mesmo de
perder toda a compostura que eu tenho e dar a ele uma bela de uma surra, porque
ele merece.
Acontece, que tinha uma pessoa mais importante, e sei que ela não
gostaria de passar por todo esse constrangimento, então, eu fiz o melhor que
consegui, distraí-la e fazer esquecer, pelo menos enquanto ela estava se
perdendo, gritando pelo meu nome.
Essa mulher tinha um poder sobre mim maior do que eu gostaria, e eu
provavelmente ficaria de coração partido, mas estava aqui, aceitando tudo o que
ela tinha a me oferecer.
Os dias que se seguiram não deixamos de nos falar, e sempre dávamos um
jeito de nos ver pelo menos um pouco, beijos roubados em meu gabinete, estava
parecendo um adolescente com a primeira namorada.
Eu só ia na casa de Beatriz quando sua irmã não estava em casa, segundo
ela, era pra manter a privacidade, mas eu sabia bem que não era por isso, então
só respeitava.
As coisas depois da viagem pra São Paulo ficaram um pouco confusas,
nada de encontros mais profundos.
Chamei Beatriz pra dormir em casa ontem, mas ela não podia, tinha que
jantar com os pais, disse que viria pra almoçarmos juntos, eu que não sou idiota,
aceitei que viesse, e estava aqui com Rocky, meu fiel escudeiro esperando por
ela.
Já tinha ido fazer meu circuito matinal de bicicleta, que eu amava, e agora
estava aqui, de banho tomado, esperando aquela pequena terrorista que veio e
mexeu com tudo na minha vida.
A campainha toca, Rocky pula do meu colo e quando abro a porta lá está
ela, linda, de vestido azul bem claro, frente única, realçando suas curvas.
— Oi, Rocky, que saudade de você, meninão — diz, acariciando meu
gato, que está aos pés dela, fazendo graça.
Beatriz fica na ponta dos pés e me dá um selinho, entrando em casa.
— Oi para você também, bonitão.
— Estava começando a ficar com ciúmes já, o gato tem mais credibilidade
que eu. — Finjo estar frustrado.
— Mas é claro que tem, e não é o gato, é o Rocky.
— Vem cá, me dá essa boca gostosa pra eu beijar. — Puxo Beatriz pela
cintura e dou um beijo naquela boca que eu não me cansava.
Como era viciante ter meus lábios nos dela, era cada vez mais gostoso e
excitante.
Eu estava ficando cada vez mais viciado em Beatriz e sua presença.
— O que vamos fazer hoje, pequena terrorista? — pergunto, me
desvencilhando de seus braços.
— A convidada sou eu, Arthur, domingo, dia de almoçar com a sogra e
estou aqui, com fome por sinal — solta com naturalidade.
Quando é que ela não estava com fome, não era novidade nenhuma isso,
agora almoço na sogra, como assim?
— Não almoça na sogra porque não quer — retruco, e me arrependo assim
que as palavras saem da minha boca.
— Arthur, nem sogra eu tenho, porque não namoro, esqueceu? E se eu
fosse tão importante assim como você está dando a entender, já teria me levado
para conhecer seus pais, mas né!? Sabemos qual o lance aqui. — Dá de ombros,
irritada.
Porra de mulher irritante!
Assim que ela diz isso, me sobe uma sensação de raiva, o sangue ferve.
Essa mulher, eu juro que tem hora que eu queria mesmo esganá-la.
Juntar minhas mãos no pescocinho lindo dela. Como pode ser tão tapada
assim? Me ajuda Deus, ou quem quer que esteja aí em cima, porque está difícil.
Qual a dificuldade dessa mulher de entender que eu quero ficar com ela?
— Qual é o lance, Beatriz? Quer conhecer meus pais? Isso mostra a
importância que você tem pra mim? É isso? — Saio da sala irritado, e deixo-a
sozinha.
Posso sentir meus batimentos acelerados de tão exaltado que estou, vou
até meu quarto, visto uma camiseta, um tênis, e envio uma mensagem pra minha
mãe dizendo que vou almoçar em casa e estou levando companhia.
Beatriz quer conhecer meus pais, pois então ela iria conhecer meus pais.
Sou uma pessoa muito paciente, mas tenho meus limites também, poxa!
— Vem, vamos! — Apareço na sala, segurando a mão de Beatriz que
permanecia no mesmo lugar.
— Onde, Arthur? — Beatriz indaga assustada.
— Vai descobrir quando chegar — respondo, quando saímos.
Entro no carro e fazemos o percurso em silêncio, eu estou puto.
Poucas coisas me tiravam do sério, mas duvidar do que eu sentia? Isso era
péssimo.
Levei Beatriz na porra de um teatro, ela ainda tem dúvidas de que não é
um mero caso?
Não estou puto pelo fato de estar levando Beatriz até a casa dos meus pais,
mas porque não era dessa forma que eu queria que eles a conhecessem.
Mas, como nada na vida é como queremos, estou aqui sendo impulsivo e
levando Beatriz pra conhecê-los.
Chegando ao condomínio onde meus pais moram, paro na frente da casa e
respiro fundo, porque sei que vou travar uma briga feia aqui.
Não é qualquer mulher, estamos falando de Beatriz, esse ser, é realmente
uma pequena terrorista, veio das profundezas do inferno, tenho certeza.
— Onde estamos, Arthur? — pergunta sem me olhar, mexendo na barra
do vestido.
— Na casa dos meus pais, vamos almoçar com eles. — Dou meu melhor
sorriso.
Como eu havia previsto, Beatriz fica em choque, se recusa a retirar o cinto
de segurança e descer do carro, mas assim como ela, eu também amava uma boa
briga e não desistia.
— Se você não descer desse carro por bem, eu te carrego nas costas feito
um saco de batata, Beatriz. Você queria conhecer meus pais, vai conhecer.
— Arthur, isso não tem graça, nesse momento eu estou odiando você, seu
pau no cu — Beatriz diz, descendo do carro com um bico lindo.
Vejo o carro do meu irmão parado e o domingo não tinha como melhorar.
Minha mãe vem até a porta nos receber com um sorriso de orelha a orelha.
— Mulher mais linda, seja bem-vinda, querida — minha mãe diz,
abraçando Beatriz, que cora.
Eu adorava quando conseguia deixá-la assim, corada, sem reação.
— Estava escondendo a baixinha da mãe? — Fred diz, me recepcionando
com uma cerveja.
— Deixa de ser inconveniente, Frederico, te demos educação, faça o favor
de usar — meu pai diz, chegando e cumprimentando Beatriz, que está de braços
dados com minha mãe.
Entramos, e minha mãe foi com Beatriz à cozinha.
As duas conversam como se fossem amigas de longa data, a interação das
duas é muito boa, tranquila, o que me deixa mais aliviado.
Meu pai observa tudo em silêncio, conheço bem meu velho, depois vem a
sentença final sobre Beatriz, mas pelos olhares, os três estão em uma conversa
animada.
— Namorando, Arthur? Não sabia que as coisas estavam tão sérias entre
vocês — Fred pergunta.
Namorando? Eu estava namorando?
Eu não sabia responder, porque eu mesmo não sabia como as coisas
estavam entre nós. Ela era tão avessa a relacionamentos que eu não falava sobre
o assunto, só deixava rolar.
— Não, Fred, estamos só conversando, saindo. Ela estava lá em casa e
vim almoçar com ela — respondo, sabendo que meu irmão não vai engolir nada
do que eu disse.
— Sei bem, óperas, saídas frequentes, estão os dois se enganando, Arthur.
Podem não querer rotular, é um direito de vocês, mas quanto mais vocês se
envolvem, pior fica. — Me olha sério e vira sua long neck.
Sabia que meu irmão tinha razão, e o que eu mais queria era rotular, dizer
pra todo mundo que Beatriz era minha namorada, minha e de mais ninguém.
Andar de mãos dadas, fazer programas de casal. Quem eu queria enganar?
Essa mulher forte, independente, era somente dela, e de mais ninguém, eu era um
mero expectador.
Acredito que uma coisa não anula a outra, porque ela continuaria sendo
ela mesma, só que dividiria tudo comigo.
Suas dores, inseguranças, medos, alegrias, tristezas.
Passamos uma tarde divertida, Beatriz e minha mãe ficaram vendo fotos
de quando eu era mais novo, conversaram bastante, e minha mãe levou Beatriz
pra conhecer as rosas dela, coisa que ela tinha um cuidado tremendo.
Minha mãe amava as suas roseiras, Beatriz ficou encantada, foi até
engraçado de ver, quando espiava pela janela.
Eu fiquei com meu pai e meu irmão assistindo jogo de basquete na
televisão, meu pai estava quieto, Fred estava impaciente, só não sabia com o quê.
Beatriz entra e me chama e eu tenho uma vontade de levá-la pra um canto
e me acabar de tanto beijar seus lábios.
— Arthur, nós podemos ir? Estou com um problema em casa — me diz
quase num sussurro.
Foi Beatriz dizer essas palavras, que meu irmão se transformou, pegou seu
celular e apertou em um único toque, enquanto Beatriz se despedia do meu pai,
minha mãe e eu olhávamos para o meu irmão sem entender nada.
— Ju, você está bem? O que está acontecendo? Não, ela não disse nada, só
que precisava ir embora porque está com um problema. Júlia, para de ser
teimosa, eu te irrito? Você me irrita, cacete! Eu não tô gritando, Júlia! Inferno!
— Fred grita ao telefone.
— Acredita que ela desligou na minha cara? Ela tem uma mania de fazer
isso, por que ela não pode confiar em mim? Depois a senhora diz que eu não
trato as mulheres direito — meu irmão suspira exausto, e deita sua cabeça em
sua própria mão.
Beatriz chega, e nos encontra ali sem saber o que falar para o meu irmão,
nunca vi ele tão alterado assim, principalmente por causa de mulher.
E por Júlia, em específico.
— O que aconteceu aqui? — Beatriz pergunta.
— Acredito que meu filho vai precisar aprender a lidar com os
sentimentos, e principalmente com essa moça que ele estava ao telefone! Foi um
prazer ter você aqui em minha casa, Beatriz. Você é uma mulher maravilhosa, o
homem que conseguir chegar ao seu coração será um sortudo, não deixe o medo
do passado atrapalhar o futuro lindo que você tem. Todos merecemos viver um
grande amor e se você está sozinha, ou teve alguma decepção, é porque não era o
cara certo. E sim, filha, tem o cara certo que vai fazer você sentir coisas que
nunca sentiu por ninguém. Todos merecemos a felicidade, querida! — minha
mãe diz, abraçando Beatriz que está com os olhos cheios d’água.
— Tchau, mãe, depois nós conversamos mais, amo você, obrigado por
tudo.
— Ela é uma garota especial, Arthur, cuida bem dela — diz, me
abraçando.
Eu amava essa mulher, minha mãe conseguia sentir coisas que eu não via
nunca, na verdade, éramos sempre tapados pra ver, demorávamos muito. E mãe,
né? Mães sempre sabem das coisas, eu era extremamente louco pela minha.
Destravo o carro e deixo Beatriz entrar, que está quieta, fico preocupado,
ela nunca fica em silêncio, foram raras as vezes que isso ocorreu.
— Apesar de eu estar muito brava com você, amei conhecer seus pais, sua
mãe é incrível — Beatriz diz, colocando o cinto, emburrada.
Não contenho o riso, nos últimos tempos tenho deixado Beatriz assim,
sem palavras, fico completamente louco de felicidade, acredito que aos poucos
eu estava conseguindo deixar Beatriz mais tranquila com relação ao meu jeito de
tratá-la.
— Primeiro, que foi você que pediu pra conhecer, segundo, eu fico feliz
com isso. — Seguro seu rosto pra que ela me olhe nos olhos.
— Não foi assim que aconteceu, eu não pedi, fiz um comentário, mas você
simplesmente faz as coisas sempre do seu jeito — bufa, olhando para as ruas que
passam enquanto levo-a até sua casa.
— O que aconteceu com sua irmã? Que precisou ir embora urgente —
resolvo quebrar o gelo.
— Ela ligou e disse que estava precisando urgente de mim em casa, ela
está com cólica, muita, e precisa de ajuda com um trabalho da faculdade.
Deixo Beatriz na porta de seu prédio, e ela se despede, me dando um
selinho, e um sorriso, acho que não ficou tão brava comigo, afinal.
Beatriz
Chego em casa puta da vida, encontrando minha irmã deitada no sofá
assistindo a um show do BTS, o pior de tudo, era que ela acabou me
viciando também, músicas, doramas, enfim, o ponto não era esse.
Em que momento eu pensei que seria prudente falar sobre a
importância que eu tinha na vida do Arthur?
Mania de não manter minha língua dentro da minha boca!
Ela só devia sair de dentro para chupar aquele pau gostoso, não para
criar situações comprometedoras para mim mesma. Cacete!
— Que cara de quem comeu e não gostou, irmãzinha — Júlia fala,
me tirando dos pensamentos.
— É, eu realmente não gostei mesmo, quer dizer, eu sempre falo
mais do que devo, né? – Me deito no sofá, suspirando.
— Sempre, Bia, mas me conta, o que rolou? Saiu para ficar com o
bonitão, o que deu errado? — Se ajeita ao meu lado do sofá.
— Júlia, o Arthur me levou para conhecer os pais dele, e são pessoas
legais, isso é terrível! — Deito no colo da minha irmã, fingindo um choro,
Júlia cai na gargalhada.
— Qual o sentido desse stand-up todo, Júlia? — digo, bufando.
— Bia, sua situação está digna de comédia, você procura por essas
coisas, não se esqueça que cada ato tem uma consequência na vida —
responde.
— Júlia, cacete, você não está ajudando, vou para o meu quarto. —
Levanto do colo da minha irmã e vou para o meu quarto, me esquecendo
completamente de perguntar o porquê ela me ligou, me chamando aqui.
Bufo.
Eu não estava brava por conhecer os pais do Arthur, eles eram
pessoas tão incríveis quanto ele.
O que me desestabilizava, e muito, foi o que falei sobre o fato de
querer fugir do compromisso.
Homens nunca apresentam mulheres para os pais, mas quem eu
queria enganar? Arthur não era como os outros.
Eu tinha que parar, sabia que estava passando da hora disso, que
meus encontros com Arthur estavam se tornando frequentes demais, mas eu
não conseguia.
Sempre falava sim para ele.
As pessoas não entendiam o motivo de agir assim, mas a vida me
tornou fria, eu não conseguia confiar, era muito difícil, principalmente em
homens, eu sabia que uma hora ou outra eles acabariam me decepcionando.
Quando você tem seu coração partido e levam tudo o que você tem,
incluindo o que resta da sua dignidade, só fica a casca de uma pessoa fria,
cujo o coração foi levado e arrancado do peito, sem piedade.
Muitos adoram me julgar, mas eu era a única que sabia o real motivo
pra agir como agia, infelizmente, o mundo não é justo para as mulheres.
Gostaria que fosse, mas não é, e para eu conseguir me proteger, foi a
única forma que encontrei, gostem ou não.
Essa era eu, e não iria mudar, durante minha vida, ninguém quis ficar,
tudo sempre foi passageiro, e Arthur com seu jeito, me fazia esquecer, fazia
com que eu me sentisse única e especial.
E isso, fodia comigo.
Até quando vai durar?
Arthur
Após Beatriz conhecer meus pais e aguentar as mensagens do meu
irmão sobre o almoço, afinal, eu apresentei uma mulher para os meus pais.
Tive uma segunda-feira teoricamente tranquila, quando eu estava me
arrumando pra ir embora pra casa, meu celular apita com uma mensagem de
Beatriz, dizendo que precisava de mim em seu escritório, eu não pensei
duas vezes e corri pra lá.
Minha vontade quando cheguei, e encontrei Diogo com as mãos em
Beatriz, foi de socá-lo até que ele não falasse mais, porém, não podia deixar
que Beatriz visse uma cena dessas.
Quando a vi encolhida em um canto de seu escritório, minha vontade
de sair e terminar o que comecei quando meus punhos estavam na cara de
Diogo era enorme, mas o bem-estar de Beatriz viria sempre em primeiro
lugar.
Naquele momento, minha vontade era terminar o que comecei, mas
minha pequena terrorista precisava de mim, como estava muito assustada,
pedi para abraçá-la, que aceitou, o que me deixou aliviado pra caralho.
Era horrível ver Beatriz tão...
Vulnerável!
Fomos pra sua casa, fiz um macarrão, ela estava assustada ainda, pois
não quis dormir sozinha e me pediu pra ficar, e eu... Fiquei.
Deitamos de frente um para o outro, dei um beijo e fiquei ali
observando a mulher mais linda do mundo pegar no sono e dormir.
Beatriz podia se fazer de forte e durona para todo mundo, mas quem
ela queria enganar? Ela só tinha uma fama e cara de brava, um coração
gelado que se você conseguisse com muito custo, derretia, e ela era uma das
melhores pessoas do mundo.
Acredito que essas pessoas que são assim, no fundo, são as que mais
necessitam de amor, pois estão fragilizadas, embora Beatriz não me
contasse, eu desconfiava que tivesse vivido um relacionamento infeliz com
Diogo.
Eu gostaria de ser o sortudo de conseguir entrar em seu coração.
— Arthur, acorda — ouço Beatriz me chamando, sentindo seu cheiro
invadindo o quarto.
— Bom dia, qual a pressa de hoje, Bia? — respondo sonolento.
— Trouxe café pra você, senta, que preciso te contar uma coisa,
principalmente depois de ontem. — Me entrega uma caneca de café e
morde a própria unha.
— Certo, sou todo ouvidos.
Beatriz fica séria, sentando na cama de frente pra mim com as pernas
cruzadas, começo a ficar um pouco preocupado.
— Arthur, é o seguinte — diz depois de um longo suspiro. — Diogo
foi a pessoa que eu namorei sério e mais tempo durante o período em que
eu estava na faculdade, só me escuta, por favor, depois você fala — pede,
antes de prosseguir.
Não sei se gosto do que eu vou ouvir, mas fico em silêncio e ouço o
que ela tem a me dizer.
— Diogo fazia Ciências Políticas e eu Direito. Minha família sempre
foi humilde, eu sempre batalhei pra chegar onde cheguei, acontece que
nossas vidas se cruzaram, começamos a ficar e ele parecia ser o homem
mais maravilhoso da face da Terra. Me pediu em namoro e foi aí que as
coisas começaram a desandar. Na faculdade, eu não podia me aproximar de
ninguém, quando saíamos, ele controlava o que eu vestia, mas eu achava
que era normal, afinal, isso era amor, eu achava que era. Acontece, Arthur,
que ele começou a ficar obsessivo, um belo dia, queria que eu fosse com ele
em uma festa da faculdade de interação dos cursos, eu disse que não queria
ir, ele escolheu uma roupa, uma saia bem justa, uma blusa bem decotada, eu
estava me sentindo muito exposta, mas eu fui, depois dessa festa, tudo ficou
estranho pra mim, porque ele me deixou sozinha lá — diz, limpando as
lágrimas que se formam em seus olhos.
Seguro suas mãos, acariciando com o polegar, antes de ela continuar,
o que parece ser uma lembrança tortuosa.
— Ele me dizia que se eu não fosse dele, não seria de mais ninguém,
que estava marcada pra sempre pra ser dele. Pra me pedir desculpa, depois
de dois meses, ele me levou para o litoral, pra Ilha Bela, era um pôr do sol,
uma praia deserta, estava lindo, ele me pediu em casamento, com um anel
de diamantes, eu não consegui me emocionar, não chorei, só disse sim —
Beatriz começa a chorar.
Ela é sempre tão forte que meu coração fica em pedaços, sinto a
necessidade de colocá-la em meu colo e o faço. Coloco uma mecha de seus
cachos atrás da orelha e queria que todo mal que ela sofreu houvesse sido
apagado, mas eu não podia fazer isso.
Certos fardos, são únicos.
— Se você não quiser, não precisa me contar nada mais — digo,
olhando em seus olhos.
— Eu preciso, Arthur — responde, quando se recompõe. —
Continuando, começamos a planejar o casamento, afinal, quem não ficaria
feliz em se casar com o filho do deputado, acontece que faltando uma
semana para o casamento, durante minha prova de vestido de noiva, eu
recebi uma mensagem, pedi para o seu irmão ir comigo, quando cheguei lá,
peguei Diogo transando loucamente com uma mulher e terminei tudo.
Decidi que nenhum homem iria me fazer de palhaça novamente e que iria
ser livre, não queria viver em uma relação como a que vivi com ele, e desde
então, sigo sozinha, ele nunca me procurou até eu encontrar com você
naquele almoço.
Em um primeiro momento, fico sem saber o que falar, como esse ser
pode ser chamado de homem, fazer tudo o que fez para Beatriz? Eu sabia
que o relacionamento dela tinha sido conturbado, mas não que havia sido
abusivo dessa forma.
Ver o quanto Beatriz ficou quebrada por causa de um babaca, um
moleque que não consegue controlar o pau dentro da calça é ruim demais.
Minha pequena terrorista ter passado por tudo isso, dá pra entender o
porquê de ela ficar sozinha e não confiar em ninguém do sexo masculino,
afinal, quando ela confiou, tudo o que deram a ela foi traição e sofrimento.
Relacionamentos abusivos vão além dos abusos físicos, algumas
mulheres se esquecem disso, na verdade, acho que era muito difícil pra elas
reconhecerem que estavam sendo manipuladas e entender que o que
estavam vivendo não era amor.
— Sinto muito que você tenha passado por tudo isso, Bia, de
verdade. Só posso dizer que por um lado, você deveria agradecer, pensando
pelo lado positivo, se não fosse pelas coisas ruins, você não estaria sentada
nesse colo agora, e eu estaria tremendamente triste, pensando que faltava
algo em minha vida, e ia dar um jeito de te achar.
Beatriz gargalha, pega minha xícara de café colocando no chão do
quarto, me fazendo deitar de costas na cama, subindo em mim, meu pau dá
sinal de quem está gostando muito da posição.
— Bia, cheguei.
Ouvimos uma voz vindo da sala
— Sugiro você ir para o banheiro, porque ela vai entrar aqui.
— Você podia morar sozinha, viu — sussurro, mordendo seu lábio.
Digo isso e vou até o banheiro, deixando minha cueca no chão,
porque eu gosto de fazer Beatriz passar vergonha, principalmente perto da
irmã dela.
Ligo o chuveiro, mas fico ali ouvindo na porta, é, eu sei, bem
fofoqueiro mesmo, o que posso fazer, aprendi isso com meu irmão, homens
são piores que mulheres, acreditem.
— Quem está com você, Bia? Caramba, tá esquecendo da regra de
não trazer homem pra dormir com você? — Júlia pergunta.
Ela tinha uma regra sobre homens não dormirem com ela em casa?
Beatriz, Beatriz.
— Caralho, Júlia. Cala a porra da boca, não aconteceu dessa forma
que você está pensando — Beatriz responde, quase sussurrando.
— E essa cueca jogada no chão?
Bingo, deu certo a cueca, preciso segurar o riso.
— Arthur, filho da puta! — Beatriz fala.
— Arthur dormiu com você aqui, Beatriz? Mas que coisa, hein! Vou
para o meu quarto, divirtam-se, mas sem barulho, por favor, estou em casa.
— Ouço a porta se fechando.
Vou para o banho de verdade dessa vez, não demoro, quando saio,
encontro Beatriz deitada na cama, com aquele pijama que me deixava com
vontade de me enterrar todo nela.
— Com você desse jeito fica difícil querer ir embora, Beatriz.
— Não vá, é simples — me diz, toda manhosa.
— Preciso mesmo ir, mas podemos nos encontrar mais tarde, o que
você acha?
— Tudo bem, doutor, eu aceito.
Beatriz me acompanha até a porta e cumprimento sua irmã que está
na sala acompanhada de um rapaz que nunca tinha visto, roubo um beijo de
Beatriz e chamo o elevador.
Vou direto para a minha casa, precisava alimentar Rocky, envio uma
mensagem para o meu irmão, avisando para ele me encontrar em casa.
No alto-falante do carro está tocando “Again, do Lenny Krevitz”,
algumas músicas às vezes pareciam falar comigo.
Eu estava cada vez mais envolvido com Beatriz, meus dias ficaram
mais completos com ela, não tinha dúvida alguma disso, acontece que
depois das confissões de hoje ficava mais claro ainda o porquê de ela agir
como agia.
E eu nunca senti por mulher alguma o que sentia por ela, isso vinha
me consumindo cada vez mais, e eu não tinha certeza dos meus
sentimentos, esse foi o motivo de não ter falado nada para ela.
Meu irmão já está deitado no meu sofá, está para nascer alguém mais
folgado que Frederico, e o Rocky junto.
— Bom dia, irmão querido, pelo visto você está bem e à vontade —
digo, me deitando ao seu lado do sofá.
— E você estava aonde que não dormiu em casa?
— Dormi na casa da Beatriz, ontem ela teve um problema com o
Diogo e me pediu pra dormir com ela, mas foi só dormir, a irmã dela não
estava em casa.
— Como assim a Júlia não estava em casa? Desculpa, o que rolou
com o mimado do Diogo? — Meu irmão fica vermelho.
Não era a primeira vez que isso acontecia, precisava investigar
melhor o que estava acontecendo entre ele e Júlia, porque algo estava
rolando, não era possível meu irmão ficar assim do nada.
— Eu não sei da vida da Júlia, Diogo apareceu ontem no escritório da
Bia, que me mandou mensagem, pois estava com problemas, e eu fui até lá.
O babaca estava agarrando ela. Hoje de manhã, ela me contou como foi o
relacionamento com ele, me contou que você estava com ela quando o viu
com a amante.
— É, mano, eu estava com ela sim, a baixinha sempre foi uma amiga
e tanto, mas se perdeu um pouco quando o conheceu, depois da festa de
intercursos as coisas entre os dois mudaram bastante.
— O que teve nessa festa, Fred? — pergunto intrigado.
— Tudo tem o tempo certo, Arthur, agora eu vim te dizer duas coisas,
uma delas é que você vai enfrentar a Bia no tribunal, segundo, quero sua
ajuda em uns casos, estou achando que temos uma porra de assassino em
série nessa cidade — diz, quase atropelando as palavras.
— Cacete, Fred, quanta informação logo cedo, nem me prepara antes,
porra! Me mostra os casos, depois você me conta sobre o caso que vou ter
que enfrentar contra a Bia.
— Essa vítima é uma cliente da Beatriz, a princípio, achamos que o
autor do crime fosse o ex-marido, acontece que o sêmen encontrado no
exame de corpo de delito em virtude do estupro, não foi compatível com o
do marido, e está batendo com mais dois casos em que a vítima é mulher —
responde.
— Fred, estamos diante de casos de assassinato em série e possível
feminicídio. Como vamos falar para as mulheres se protegerem sem termos
noção de quem possa ser? Precisa agilizar essa investigação — digo
preocupado.
— Nesse último homicídio, ele foi descuidado e não usou camisinha,
por isso, conseguimos coletar o sêmen, vamos conseguir o DNA também, e
assim que tiver com isso em mãos, vou entregar um caso bem feito, sem
falhas, aí você faz a sua parte, formamos uma boa dupla — responde, dando
um tapa em minha perna.
— Agora me conta sobre o caso que eu vou ter que enfrentar a
Beatriz?
— Então, foi um caso de violência doméstica, o ex-marido estava
com medida protetiva, não cumpriu, a mulher o matou depois que ele
invadiu a casa. — Fred acaricia Rocky, que vem para o seu colo.
— E a Beatriz obviamente está defendendo a mulher? Que caso mais
filho da puta pra se pegar! — Levanto do sofá, aumentando minha voz.
Eu e Beatriz nunca tínhamos nos enfrentado em nenhum caso, e pra
ser sincero, eu não gostaria de enfrentá-la. A mulher era uma fera quando se
tratava dos seus casos, eu não dava pra trás, longe disso, mas alguns casos
eram muito difíceis e eu ficava em um duelo comigo mesmo.
Sim, era o meu trabalho
Por exemplo esse, se fosse o que meu irmão estivesse falando, seria
muito difícil e sabia que Beatriz viria muito feroz para ter sua cliente livre.
— Eu avisei que você uma hora ou outra iria enfrentá-la, boa sorte.
Esse foi um dos primeiros casos dela, como nossa justiça é bem lenta, o
caso vem se arrastando há um tempo, ainda bem que você chegou. — Me
dá uma piscadinha.
— Fred, você é um babaca, sabia. Agora me diga qual a sua com a
Júlia?
— Nos falamos às vezes por causa da Beatriz, e eu gosto de irritá-la
como se fosse uma irmã mais nova — responde, mudando sua postura.
Ele tinha certeza da besteira que estava falando? Frederico arrastava
um caminhão pela irmã da Beatriz, só não tinha dado conta disso ainda.
— Tenho uma coisa pra te dizer, nós não olhamos com desejo para as
irmãs mais novas, Frederico.
— Você fala de mim, Arthur, mas consegue ser um babaca muito pior
que eu, sabia? Eu não olho com desejo pra ela, só se for para apertar aquele
pescocinho teimoso dela.
Meu irmão muda de assunto e hoje fico trabalhando em casa mesmo,
não tenho nada de audiência, então o que eu preciso posso fazer de casa,
procuro pelos próximos casos de júri popular que eu tenho para analisar e
ver se encontro o processo onde Beatriz atua como advogada.
O que eu encontro é um caso bem complicado, o ex-marido da agora
acusada estava com medida protetiva, não podendo se aproximar dela e da
filha, acontece que ele não cumpriu, foi até a casa onde ela estava e invadiu
tentando matá-la, agredindo a própria filha, ela o matou.
Eu fiquei completamente dividido, como eu poderia acusar uma
mulher de matar o ex-companheiro quando ele tentou matá-la e a própria
filha? Aqui estava eu, olhando para o processo e para o meu gato como se
ele pudesse me dar alguma resposta, a única coisa que eu teria certeza é que
meu embate com Beatriz não seria dos melhores, porque a mulher iria
arrasar.
Na verdade, ela iria me arrasar! E o pior, eu iria gostar muito disso.
Eu só queria que você soubesse que essa sou eu tentando
Eu só queria que você soubesse que essa sou eu tentando
This is me trying–Taylor Swift
Beatriz
Contar sobre meu relacionamento com Diogo foi no mínimo doloroso,
chorar na frente de Arthur foi pior do que eu achei que seria, eu odiava chorar
na frente dos outros, me sentia fraca, vulnerável, e isso era horrível.
Sempre quando deixava as pessoas conhecerem meu lado mais podre e
sombrio, elas se afastavam, e doía. Muito.
Quando contei uma parte da minha história para Arthur, ele se mostrou
diferente, pra variar, não gritou comigo dizendo que eu estava sendo infantil
nem disse que eu estava sendo mimada, pelo contrário, me puxou para o seu
colo e ficou ali comigo enquanto eu contava parte da minha história dramática.
Omiti alguns fatos, pois não estava pronta pra contar toda a verdade pra ele,
afinal, ele podia nunca mais olhar na minha cara se eu contasse.
Eu seria uma vadia, uma puta, que estava pedindo que isso acontecesse,
é o que todos pensam, mesmo Arthur não sendo como os outros, não queria
correr o risco, eu não estava pronta pra me despedir dele ainda.
Na verdade, eu não estava preparada pra reviver essa parte da minha
história.
Então, faço o que sei de melhor, e deixo ela lá, enterrada e escondida.
Aviso à minha sócia sobre o ocorrido com Diogo e que faria uma
reunião com Milena, Fernanda fica chocada e me apoia na decisão que eu for
tomar, estará ao meu lado.
Coloco uma calça preta com detalhes brancos, uma blusa preta justa e
um scarpin vermelho, faço um coque no meu cabelo, uma maquiagem leve e
saio para ir ao escritório.
No caminho, envio uma mensagem de bom dia para Arthur,
agradecendo por tudo o que ele fez por mim no dia anterior, coloco o celular na
bolsa e dou partida no carro.
Chego no escritório, e já estou no papel chefe/advogada que está bem
puta por ter uma das ordens do escritório desobedecida, tudo por causa de um
par de olhos bonitos. Eu vivia puta, então não era novidade pra ninguém, mas
havia dias piores que outros.
— Milena na sala de reuniões, imediatamente — falo, assim que passo
pela mesa da recepção.
A mulher fica mais branca do que já é, me acompanha até a sala de
reuniões sem dizer uma palavra, ainda bem, poupa meu tempo.
Eu não conseguia acreditar que precisava demitir minha funcionária por
causa de Diogo, ficava pensando até quando ele iria me atormentar? A única
coisa que gostaria era seguir em frente e ficar bem, mas Diogo tinha o prazer
de me infernizar.
Queria entender o que se passava pela sua cabeça, na verdade, acho que
eu estava pouco me fodendo para isso, eu só queria que ele me deixasse em
paz mesmo. Não era pedir demais.
Fernanda está ali do meu lado direito, sempre fazíamos assim, quando a
pessoa que queria falar ficava na ponta da mesa, a outra ao lado direito, e
sempre conversávamos antes da reunião sobre os assuntos para não ficar no
escuro.
Nossa parceria funcionava bem dessa forma.
— Milena, bom dia, como uma das regras dessa empresa é primeiro de
tudo não deixar ninguém entrar sem ser anunciado em nenhuma,
absolutamente, nenhuma das salas. Segundo, como todo mundo desse
escritório sabe, a presença de um homem, um único homem neste escritório é
terminantemente proibida, e todo mundo sabe quem ele é, porque temos uma
foto dele impedindo que acesse nosso sistema de entrada.Dito isso, estou
rescindindo nosso contrato com você que fez as duas únicas coisas que
pedimos para não fazer, porque Diogo entrou na minha sala enquanto você
buscava um café para ele, Milena, um café! — aumento minha voz sem
perceber. — E não precisa cumprir seu aviso prévio, estou te liberando dele.
— Agradeço por isso, você é uma vaca que merece tudo o que
aconteceu com você, o chifre foi pouco, doutora Beatriz — Milena diz,
batendo suas mãos sobre a mesa e me encarando.
Por essa eu não esperava, ela era mais uma das fodas de Diogo, esse
homem tem uma lábia com as mulheres que eu não consigo entender, elas
caem em seus papos como se ele fosse um homem incrível de se ter ao lado!
Mas é só um babaca machista que quer mulheres para foder e outra para ficar
em casa procriando.
Ele jogava baixo.
Eu fico sem reação.
Fernanda se levanta da mesa e vai em direção à Milena.
— Acho bom você tirar suas coisas e sumir daqui, imediatamente,
Beatriz nunca tratou ninguém mal dentro desse escritório, pelo contrário,
sempre tratou as pessoas com muito respeito, você não tem o direito de falar
com ela assim — Fernanda diz, levando Milena para fora.
Nem notei que ela havia chamado pelos seguranças do prédio para
acompanharem Milena, que está alterada com sua demissão.
— Caramba, por essa eu não esperava! — Fernanda diz, sentando-se na
cadeira ao meu lado.
— Nem eu, Fer, obrigada por ter me defendido, quem nesse mundo o
Diogo não comeu? Porra, até a Milena, era por isso que ele sabia onde eu
estava sempre — digo indignada.
— Eu, nem a Ju, a Maria, essas eu tenho certeza — Fernanda diz, rindo,
e acabo rindo também.
— Engraçadinha, bom, eu vou pra minha sala, porque tenho muito
trabalho ainda por hoje.
Depois de ter resolvido a questão com a funcionária, vou para a minha
sala, afinal, o trabalho me espera. Ligo a televisão, colocando no jornal e a
notícia que ouço me assusta.
Um possível assassino em série, matando mulheres rondava a cidade e a
polícia não havia concluído as investigações ainda, nem mesmo havia
identificado o autor dos crimes. E isso assustava mais ainda, pois as chances de
ele continuar matando eram grandes.
Sabia que existiam assassinos em série, e muitos, mas não sabia que
estávamos com casos aqui e de feminicídio, isso me preocupava muito. Até
quando mulheres iriam se sentir inseguras por serem somente elas mesmas?
Tendo que ter medo pelo simples fato de andarem na rua com medo de
serem perseguidas, pensar em suas roupas antes de sair de casa, pois sabem
que vão julgá-las.
Até quando mulheres morreriam apenas por serem mulheres?
Pego meu telefone e ligo para o meu amigo para saber mais informações
sobre o caso, se tem alguém que poderia me dar informações seria ele, e eu não
queria ficar no escuro, ainda mais em um caso como esse.
— Bom dia, baixinha, tudo bem? O que devo a honra da sua ligação —
Fred atende logo no segundo toque.
— Os casos do assassino em série, são todos feminicídios? Você acha
que fez bem em colocar na primeira capa do jornal? — pergunto, preocupada.
— São todos feminicídios sim, baixinha. O modus operandi é o mesmo,
e fizemos isso para o sujeito saber que já estamos na dele, vai gerar desespero
e ele vai ficar descuidado.
— E com isso, vai ficar mais fácil pegá-lo, porque ele vai cometer mais
erros — concluo.
— Exatamente, se você conseguir, avisa pra quem puder pra não sair de
casa, principalmente à noite, a Maria, a Júlia, não sabemos quem é o cara
ainda, pode ser qualquer um — diz preocupado.
— Farei isso, bonitão, preciso ir, obrigada. — Finalizo a ligação e envio
uma mensagem para Maria, explicando tudo o que está acontecendo e espero
que ela acredite e fique em casa. Eu não suportaria perder minha amiga nem
ninguém, na verdade.
Deixando os acontecimentos de lado, pego a pasta do caso da minha
cliente que está sendo acusada de homicídio, o nome dela é Briana, uma
mulher de 30 anos atualmente, na época dos fatos tinha 25 anos, apanhava do
marido frequentemente, quando foi estuprada, tomou a atitude e foi até uma
delegacia procurando um advogado, no caso, eu. Ela foi uma das minhas
primeiras clientes, fiz todos os trâmites legais, pedido de medida protetiva.
Acontece que nem sempre as coisas acabam bem, um belo dia eu recebo
a ligação da delegacia, era Briana. Quando cheguei lá, encontrei ela e sua filha
de 4 anos, Briana havia matado seu ex-marido que invadiu sua casa.
Eu estava me preparando pra esse júri há meses, porque a justiça no
nosso país é bem lenta, e agora quem assumiu os casos de homicídio da
cidade? Arthur, pois bem, não estou preparada para enfrentá-lo no júri.
Arthur é igual a mim quando se trata de trabalho, leva muito a sério e
isso me preocupava pra caralho, porque eu não queria perder meu caso, afinal
a minha cliente era inocente e eu lutaria muito por isso, nem que fosse pra
enfrentar Arthur.
Depois de um dia inteiro de trabalho, resolvo ir pra casa, o julgamento
de Briana seria daqui a algumas semanas, já havia ligado para minha irmã
dizendo para ficar em casa e que eu levaria o jantar.
No estacionamento, quando estou entrando no carro, vejo um carro preto
próximo me observando do outro lado.
Puta merda.
Estavam me seguindo!
Entro no carro o mais rápido que consigo e anoto a placa pra enviar para
o Fred, acontece que o filho da puta está com a placa raspada.
— Merda! – Bato as mãos no volante e dou partida, seguindo meu
caminho.
Vou o mais rápido que consigo para casa, ligo na pizzaria pedindo para
entregar, assim eu não teria que parar em lugar nenhum, eu andava com um
medo do caralho. Estava tentando ter atenção no trânsito, mas eu tremia, um
medo me consumia, eu só precisava chegar em casa.
Arthur
Estava em uma busca ensandecida com a polícia atrás do “Assassino da
Madrugada”, era assim que ele era chamado, até o momento, tinham sido
encontrados quatro corpos, e duas mulheres estavam desaparecidas.
Eu só sabia dessas informações de forma privilegiada porque meu irmão
era o delegado. De qualquer forma, eu não entendia como uma pessoa seria
capaz de fazer tanto mal assim a alguém, e da forma como fazia.
Era cruel demais.
De qualquer forma, eu não podia ficar pensando demais em caso que
não havia chegado em minhas mãos ainda, eu tinha um caso que iria para
julgamento em breve e a advogada de defesa era Beatriz, eu estava apavorado.
Defender um caso desse não estava sendo fácil, primeiro de tudo porque
seria contra Beatriz, estava sendo difícil só aí, sei que a pequena terrorista não
iria largar o osso.
Arthur, fala sério, você é um promotor de justiça, vamos aos fatos, foi
um caso que a ré abusou na legítima defesa, usando do ódio, tendo o óbito
como resultado, um homicídio nunca é a saída.
Isso, boa, vamos seguir por esse caminho.
Iago, meu assistente, entra na minha sala trazendo os processos do caso
pra eu poder estudar, ele sempre me ajuda, um ótimo menino.
— Aqui está, Arthur — diz, entrando em minha sala.
— E o que você me diz desse caso? — pergunto, querendo saber sua
opinião.
— Bom, sinceramente, é um caso bem difícil, a advogada de defesa é
carne de pescoço, especializada em defesa da mulher, ou seja, vai vir pra cima,
e como a vítima tinha casos de violência doméstica, e invadiu a casa da autora
dos fatos, está um caso bem difícil, Arthur, dá pra ter uma briga boa entre
vocês. — Se senta à minha frente.
— Esse é o problema, Iago, esse é o problema... — Balanço a cabeça,
suspirando.
O grande x da questão era justamente toda essa briga que teria no
tribunal, eu tinha certeza que iria refletir no relacionamento. Era isso que eu
tinha com Beatriz? Que grande merda! Eu nem sabia o que tinha com ela.
Isso me fodia!
Eu sei que falei que teria paciência, faria as coisas no tempo dela, mas
confesso que minha vontade era gritar pra todo mundo que aquela mulher era
minha, que quando ela estava gozando, era meu nome que gritava, na minha
boca que ela se lambuzava.
Mas claro que não, a diaba tinha que ficar com essas coisas de, não
namoro, não me envolvo, mulher irritante dos infernos, mas tudo bem.
Quer saber, foda-se, eu estava cansado de ficar somente imaginando,
ainda não tinha terminado o expediente, mas eu iria até o escritório que sabia
que Beatriz estava.
Aviso a Iago que não volto mais hoje, estava indo atrás de Beatriz, fazer
o quê? Eu não tinha certeza, mas estava aqui, indo até seu escritório e não
tinha a menor certeza do que eu estava fazendo.
No elevador, sinto vários pares de olhos em mim, afinal, eu raramente
saio do gabinete.
Como já estive aqui antes, sei o caminho até a sala de Beatriz, assim que
saio do elevador, vou caminhando até ela, uma moça de cabelos curtos e pretos
vem me chamando dizendo que não posso entrar sem ser anunciado.
Ninguém me impede de entrar aqui hoje.
Beatriz está atrás de sua mesa, seus cabelos estão em um coque frouxo
onde alguns cachos soltam, concentrada atrás de seu notebook com uma
caneca na boca, uma blusa cor creme que valorizava seus seios.
— Arthur? — diz surpresa, ajeitando os óculos em seu rosto.
— Doutora, eu tentei impedir esse moço de entrar, mas não consegui. —
A secretária de Beatriz está ofegante de ter corrido atrás de mim, coitada, não
foi minha intenção, eu juro, mas essa chefe dela me deixava doido.
— Pode deixar, está tudo bem — Beatriz responde.
Fecho a porta atrás de mim e tranco, afinal, não quero ser interrompido
enquanto estiver com Beatriz, mesmo que o escritório seja dela, hoje as regras
são minhas.
Não digo nada, só vou até o outro lado da mesa e pego Beatriz de
surpresa.
Ela está sentada em sua cadeira, surpresa, beijo-a, nossas línguas se
encontram, sem delicadeza, com a fome de quem não tem seus lábios nos
meus, seus braços vêm em torno do meu pescoço como se ela buscasse o meu
beijo com a mesma intensidade que eu preciso, com saudade, sinto um gosto
suave de menta, delicioso.
Me ajoelho entre suas pernas, tirando sua calcinha, deixando-a de saia,
afinal, ela estava em seu local de trabalho.
Não podia tê-la toda nua ali, com pessoas do outro lado ouvindo.
Minha boca encontra sua intimidade, lambendo seus grandes lábios,
fazendo Beatriz gemer.
— Arthur, puta merda. — Morde o próprio dedo.
Meu polegar acaricia seu clitóris, sinto Beatriz ficar úmida e arquear
para trás na cadeira. Minha língua dá lugar ao meu polegar, sugando sua
boceta cheio de fome, Beatriz está mordendo seu próprio polegar, gemendo,
baixinho.
Sua boceta está ensopada, deliciosa.
Quando sinto que está perto de ter um orgasmo, levanto Beatriz da
cadeira, que me olha assustada, por ter atrapalhado seu orgasmo e a viro de
bruços na mesa, ficando de quatro pra mim, levanto sua saia vermelha até sua
cintura, enfiando meu dedo em sua boceta, fazendo-a gemer.
— Fica quietinha senão todo mundo vai escutar o que estou prestes a
fazer com você — sussurro, mordendo o lóbulo de sua orelha.
— Ar...Arthur, porra, por favor...
— Empina essa bunda pra mim — falo, segurando firme em sua bunda.
Beatriz levanta seu quadril, eu coloco uma camisinha e me afundo nela,
sua boceta me suga, tão apertada, quente, que eu quase gozo, mas o prazer dela
vem sempre em primeiro lugar.
Minhas mãos passam por suas costas enquanto as estocadas ficam mais
fortes e profundas, eu mordisco sua orelha e dou um tapa em sua bunda.
— Gostosa, minha gostosa — digo, apertando o bico de seu seio que
está entumecido.
— Mais forte, Arthur, me fode mais forte — fala, se virando para mim,
olhando em meus olhos.
São essas palavras que me fazem ir ao delírio, fodendo como ela me
pediu, mais forte, mais intenso, como nós dois quando estamos juntos, aperto
sua cintura mais forte, não quero que o momento acabe.
Beatriz está rebolando no meu pau, gostoso demais, não vou aguentar
muito tempo e ela sabe disso, diaba adora me provocar, mas eu sabia que ela
estava fazendo isso para o próprio prazer.
Dou estocadas rápidas e profundas.
— Goza pra mim, gostosa. Goza no meu pau — sussurro.
Seguro firme em sua cintura e escuto seu gemido, não aguento mais e
gozo assim que escuto meu nome saindo como um sussurro de sua boca.
— Gostei da surpresa — diz ofegante.
Beatriz olha pra mim com a cara mais safada e sexy desse mundo. Dou
um tapa em sua bunda e a coloco sentada em cima da mesa, afastando o que
quer que tenha em cima dela.
— Não terminou ainda — digo.
— Vem pegar seu banquete, Arthur — Beatriz diz, abrindo os botões de
sua blusa.
Com Beatriz em cima da mesa, afasto sua blusa e encontro seu seio
firme, me esperando. Sugo e mamo seus mamilos deliciosos, eu amava esses
peitos.
Desço minha boca até sua boceta, chupando em movimentos circulares.
Beatriz senta na mesa, puxando meu cabelo, olhando nos olhos.
— Seu pau, Arthur, preciso do seu pau na minha boceta.
Eu sempre digo que essa mulher iria me deixar maluco, mas eu não
estava exagerando, ela era um tormento.
Visto outra camisinha e enfio meu cacete em Beatriz, que me abraça
enquanto fodemos, arranhando minhas costas.
Nossos movimentos ficam mais fortes e intensos até que gozamos
juntos, abraçados, e Beatriz mordendo meu ombro.
Tenho certeza de que ficaria marcado, mas eu não estava me
importando, Beatriz estava satisfeita, sorrindo pra mim, isso bastava muito.
Eu amava esse sorriso.
Faria de tudo por ele.
— Caralho, Arthur, você poderia aparecer mais vezes de surpresa, assim
sabe, eu iria adorar me desfazer com você — diz, arrumando a própria blusa.
— Eu vou adorar realizar seus desejos, mas agora eu preciso ir —falo,
beijando seus lábios.
Eu preciso ir? Não, Beatriz, eu não preciso ir, só quero que você seja
minha, completamente minha e de mais ninguém, mas eu não tenho coragem
de te dizer isso!
Beatriz faz um beicinho, agarra meu pescoço, me beija e deita a cabeça
em meu peito, suspirando, não entendo o gesto, mas deixo que ela faça.
O que você tanto pensa, pequena terrorista? Por que não se abre comigo,
inferno?
Levanto seu queixo para que ela me olhe nos olhos.
— Está tudo bem? — pergunto ciente de que não terei resposta alguma.
— Está sim, Arthur, eu que complico demais as coisas e você é incrível
demais.
Beatriz se afasta e termina de arrumar suas roupas, voltando ao seu
estado aparentemente normal, atrás de sua mesa, me fazendo ficar ali, sem
rumo, do mesmo jeito que eu cheguei.
— Quando sair, feche a porta, por favor — fala com sua frieza habitual,
voltando a olhar para o computador.
Dou um beijo em sua testa e saio fechando a porta como ela me pediu.
Beatriz era uma caixinha de surpresas, em um momento estava ali cheia de
sentimentos e entregue, no outro se fechava para mim e para o mundo.
Saio de sua sala puto, não sei se com Beatriz ou comigo mesmo, entro
no carro e desconto no coitado do volante, gritando, sozinho, no
estacionamento.
Eu fui um tremendo de um covarde, não consegui dizer a ela em
palavras tudo o que sentia, que estava louco por ela, eu simplesmente a fodi,
vim até seu escritório, transei da forma mais gostosa que podia nos fazendo
gozar como loucos, enquanto outras pessoas trabalhavam.
Isso faz de mim igual os outros homens que passaram pela vida dela? Eu
não queria ser somente mais um de sua lista que a comia e depois a jogava
fora, eu queria mais, queria ser seu amigo, amante, companheiro e confidente.
Queria ser a porra de um namorado que anda de mãos dadas, almoço na
casa da sogra de domingo, aquela bagunça toda, mas essa mulher complica
tudo! Estava parecendo um bebê chorão, fui para casa puto da vida.
Por que eu fui tão covarde? E por que Beatriz não podia ser menos
complicada? Essa situação estava me fodendo demais, e eu não sabia o que
fazer, ou que rumo tomar. Eu estava pior que adolescente.
Pegue leve com meu coração
Mesmo que não seja sua intenção me machucar
Você continua acabando comigo
Mercy –Shaw Mendes
Beatriz
Depois da visita de Arthur ao meu escritório, eu não consigo me
concentrar em mais nada, encosto em minha cadeira e fico ali olhando para o
nada, esse escritório nunca mais será o mesmo, sempre me lembraria de Arthur,
seu cheiro estava todo aqui, impregnado em mim.
Quando eu o abracei foi tão natural, como se aquele fosse meu lugar, nos
braços dele, mas quem eu queria enganar, meu lugar era sozinha, sem ninguém.
E então quando eu achei que as coisas seriam diferentes, ele me diz que
precisa ir, somente isso, que precisava ir? Porra, minha vontade era gritar e
dizer, vá se foder, Arthur, mas eu não podia fazer isso, nós não éramos nada um
do outro.
Merda, Beatriz, sentimentalismo barato, não dá!
Precisava sair daqui ou iria enlouquecer, mais do que já estava. No
caminho, ligo para o meu amigo Diego, perguntando se ele podia ir lá em casa,
afinal, eu ainda não queria sair de casa, estava bem assustada com a questão do
assassino a solta e Fred estava em plantão e não podia ir, e mesmo que pudesse,
não seria para me ouvir falando sobre seu irmão.
Chegando em casa, aviso a Júlia que Diego vem para jantar e vou direto
para o meu quarto tomar banho.
Depois de quase dormir no chuveiro, olho no espelho e vejo que fiquei
com uma marca na cintura, obrigada pela pegada, Arthur.
Visto uma calça e uma camiseta que cobrem a marca que Arthur deixou
pra ninguém me encher o saco e falar nada, meu humor não está dos melhores e
vou acabar distribuindo patadas gratuitas, o que eu não quero porque ninguém
tem nada a ver com os meus problemas.
Júlia entra no quarto, avisando que meu amigo já está esperando e eu
tenho vontade de mandá-lo embora e deitar na minha cama e só levantar daqui
a um mês, será que é suficiente para isso tudo passar?
Por que Arthur tinha que sair assim, tão de repente? Que merda, eu
estava me sentindo péssima e era por isso que não gostava de deixar as pessoas
se aproximarem de mim, além do normal, no fundo, eu iria acabar me fodendo,
e detalhe, não estaria nem gozando!
— Bia? — minha irmã chama minha atenção, me tirando dos meus
próprios pensamentos.
— Ah, oi, vamos.
Diego estava como sempre, muito lindo e cheiroso, era com ele que eu
treinava, quando me dava vontade, estava precisando retomar minha rotina,
mas para exercícios, eu sempre tinha muita preguiça, a verdade era essa.
— Quem é vivo sempre aparece, hein, Biazinha. O que tá rolando, qual a
encrenca que você se meteu? — pergunta assim que me vê, e eu corro para o
seu abraço.
Minha vontade é de chorar, mas lágrimas não saem, só o abraço forte e
fico ali. Ele me conhece tão bem que sabe que estou encrencada, mesmo que
esteja há bastante tempo sem vê-lo.
— É, Júlia, o problema é mais grave do que pensávamos — fala,
passando as mãos sobre minhas costas.
Sentamos no sofá, minha irmã vai buscar uma Coca na geladeira, eu
preferia algo mais forte tipo uma cachaça, mas iria trabalhar amanhã e não
poderia estar de ressaca, então as pessoas iriam aguentar somente meu mau
humor mesmo.
Deito no colo do meu amigo porque estou péssima e fico ali, minha irmã
volta e espera que eu fale algo, mas ela já sabe do que se trata, ela sempre sabe,
pois observa tudo e não fala nada.
— Bom, eu estava no escritório e o Arthur apareceu lá, Ju tape os
ouvidos, ele trancou a porta, nós transamos lá dentro e eu o abracei, ele disse
que precisava ir, eu me arrumei e disse para ele fechar a porta quando saísse. Aí
ele me deu um beijo na testa e foi embora, vocês acreditam nisso? — bufo
irritada.
Os dois começaram a rir, eu contando o meu carma da tarde e os dois
rindo, eu só não entendo por que o motivo da risada, contei uma piada e não
estava sabendo? O Arthur foi embora!
— Você já parou pra pensar que ele não é que nem os outros, Bia? —
Diego fala.
— Pelo contrário, ele fez igualzinho, me comeu e foi embora! — digo
emburrada.
— Bia, você está saindo com ele há meses, quantas vezes falou como se
sentia? — meu amigo diz firme.
Júlia não dizia nada, só observava, porque ninguém nunca me dava
razão, ele transou comigo e foi embora, eu estava quieta trabalhando, ele podia
nem ter aparecido, brincadeira, apesar de tudo, eu gozei gostoso, não posso
negar.
— Por que vocês não me dão razão? — falo, escondendo meu rosto com
as mãos.
— Beatriz, me diz uma coisa, o que você realmente quer, me diz?
Porque eu vejo uma mulher que está completamente apaixonada pelo cara e
não assume porque é uma tremenda de uma covarde que fica cheia de frescura,
dizendo que seu coração é de gelo e todo o blá blá blá, mas me deixa falar uma
coisa, meu amor, corações de gelo derretem, e o seu está todo derretido pelo
Arthur, você é a única idiota que não se deu conta disso ainda — Diego fala,
me dando um aperto na perna, fazendo com que eu olhe pra ele.
Eu, apaixonada? Que piada mais engraçada o Diego estava me contando,
claro que não, eu e Arthur éramos duas pessoas que nos dávamos bem na cama,
somente isso, eu não estava apaixonada.
— Eu não estou apaixonada, essa foi a coisa mais idiota que você já
disse, sabia? – digo, rindo.
Eu não posso estar apaixonada, não posso.
Gosto dele, da companhia dele, mas estar apaixonada é uma coisa
completamente diferente.
— Ela vai se dar conta quando perder, porque o Arthur não parece o tipo
de cara que fica sempre esperando a donzela, não. E deve ter uma fila de
mulher esperando por ele — minha irmã, enfim, abre a boca pra falar e cravar
uma faca em meu peito, afinal, se Arthur quisesse ir, eu não poderia fazer nada,
ele era livre pra fazer o que quisesse.
— Cansei de vocês, vamos comer — falo, levantando do sofá e indo à
cozinha, minha irmã e Diego se entreolham e balançam a cabeça.
Eu não conseguia pensar em nada agora, imaginar Arthur com alguém,
era doloroso, muito doloroso, mas o que eu podia fazer?
Mais cedo eu havia mandado uma mensagem pra Arthur agradecendo a
visita, ele nem chegou a visualizar, foda-se, não queria ver, tudo bem, eu não
iria correr atrás, não fiz nada de errado pra ele, estava trabalhando, ele foi até
meu trabalho e saiu correndo, que culpa eu tenho?
Homens às vezes, e estou sendo bem irônica quando digo isso, porque
eles dizem que somos complicadas, mas não sabem o que querem também,
parecem bebês chorões, sim, no momento eu estou com um pouco de raiva de
Arthur.
Odiava não ter o controle da situação, odiava não saber o que estava
acontecendo e odiava tudo o que rolou, ele simplesmente saiu, mesmo que a
justificativa do meu amigo seja válida no sentido de que estamos saindo há
meses, ele podia ter sido um pouco... melhor, podemos dizer assim, e não sair
correndo daquele jeito, eu hein.
De qualquer forma, não adiantaria de nada ficar pensando nisso.
— Bia? Só pra você não esquecer que domingo tem aniversário do vô, a
mãe vai fazer na casa dela pra variar — Júlia fala, aparecendo na porta do meu
quarto.
— Não vou esquecer, obrigada por avisar.
Pronto, espero que meu primo não leve, Stefano, era a única coisa que eu
gostaria pra não piorar meu humor, eu não estava com condição psicológica
para aguentá-lo. É, Beatriz, teríamos uma semana longa pela frente.
Minha semana foi tomada por audiências e diligências, não tive contato
com Arthur, não me ligou ou mandou qualquer mensagem, na terça-feira eu
teria júri, estava preocupada, pois iria enfrentá-lo, isso estava me tirando o
sono.
Enfrentar Arthur já era algo que me deixava nervosa, com a gente
distante era algo pior ainda, eu não queria ficar assim com ele, mas meu
orgulho também não me deixava entrar em contato, grande feito, Beatriz.
Como sempre dizem, cada um tem o que merece, talvez eu merecesse
tudo isso, estava colhendo aquilo que eu mesma plantei.
Para a minha felicidade, o domingo chega e eu ficaria com a minha
família, torcendo pra que seja um dia tranquilo, e eu consiga ter um almoço
sossegado para comemorar o aniversário do meu avô.
Como eu e Júlia íamos para o mesmo lugar, vamos em um mesmo carro,
eu não iria para lugar nenhum depois que saísse de lá.
Sabe quando você tem um pressentimento de que algo vai acontecer? Eu
estava justamente assim, com uma sensação ruim no peito, mas eu não sabia o
que, só me restava deixar rolar, às vezes quando estamos assim, devemos
seguir nosso instinto, evitaríamos muitas coisas.
Me visto e saio para irmos para a casa dos meus pais, minha irmã está
linda, veste uma calça jeans, uma camisa branca e um tênis no pé, bem estilo
Júlia de ser. Eu estou de all star, uma jardineira verde militar e um top preto.
Assim que chegamos, cumprimento todos que estão presentes, meus tios,
primos e vou encontrar com meus pais, que assim que me veem, me abraçam
até faltar ar dos meus pulmões.
— Tá, tá, chega, eu estou ficando sem ar — falo, me desvencilhando do
abraço deles.
— Filha, que saudade de você— meus pais dizem ao mesmo tempo.
— Cadê o vô? — pergunto.
— Está lá dentro, vai lá dar um beijo nele, que já estava perguntando por
você.
Encontro meu avô sentado tomando seu vinho e o abraço, eu o amava
tanto.
— Que saudade de você, fia — fala, assim que me vê.
— Eu também, mas estou trabalhando bastante, vou buscar uma taça
para tomar vinho com o senhor, mas estou dirigindo, então vai ser uma só.
Na cozinha, procuro onde minha mãe guardou as taças de vinho, sinto
uma mão na minha cintura e um corpo atrás de mim, claro que meu dia não
podia ser tranquilo.
— Você está mais gostosa, sabia? — Stefano fala, sussurrando em meu
ouvido.
Me viro e dou um tapa em sua cara para poder sair logo dali, ele me
causava náuseas, mas o filho da puta é mais ágil que eu e me encurrala,
apertando meu rosto, me fazendo olhar para ele.
— Você pode lutar, mas nunca vai esquecer, aquela noite não estávamos
sozinhos — diz, apertando minha mandíbula.
— O… o que quer dizer com o isso? — gaguejo.
— Na hora certa você vai saber —fala, me soltando e sai.
Eu corro para o banheiro esbarrando em meu irmão, fazendo-o derrubar
alguma coisa que nem deu tempo de ver o que é, tranco a porta e caio no chão.
Me falta ar, lembranças de um dia que eu quero esquecer vêm com tudo
em minha mente, eu não estou segura.
Lavo meu rosto, não posso ficar aqui, ninguém pode me proteger,
ninguém. Tenho tanta raiva de mim, que quando passo as mãos por meus
ombros, acabo me arranhando, ou faço de propósito, não sei, no momento
estou fora de mim.
Pego meu telefone e busco por Arthur, sei que ele não vai me atender,
ainda mais depois de tudo o que passamos nos últimos dias e da forma como o
tratei, mas a primeira pessoa que me vem à cabeça é ele, eu preciso dele.
Para a minha surpresa, ele atende no segundo toque.
— Beatriz? Está tudo bem? — fala preocupado.
— Venha aqui. Por favor –—digo, quase chorando.
— Está certo, me passa o endereço, estou a caminho — fala, desligando
o telefone.
Não sei se Arthur virá mesmo ou não, mas eu preciso correr o risco da
dúvida, no momento, eu não confiava em mais ninguém além dele para poder
estar ali comigo.
Na verdade, acho que eu nem merecia que ele tivesse atendido o
telefone, principalmente depois da última vez que nós dois nos vimos, mas
ainda bem que ele é diferente de mim.
Tento respirar fundo, pois estava entrando em crise, pânico, ansiedade,
eu não sei diferenciar porque eu não me trato, mas era horrível, eu sentia uma
falta de ar terrível, meu coração acelerado.
Fico ali no banheiro, não quero sair, não quero mesmo, ouço algum
falatório do lado de fora e alguém batendo na porta.
— Bia? Pequena terrorista, sou eu, Arthur, pode abrir pra mim. — Ouço
Arthur dizendo.
— Ela está aí faz um tempo, não sei o que houve — Júlia diz do outro
lado.
— Quem é você para entrar na casa dos outros assim? — Stefano fala
para Arthur.
Minhas pernas estão bambas, eu não consigo levantar, mas eu preciso,
vai dar uma merda gigantesca se eu não sair daqui.
Por que Stefano voltou para a minha vida dessa forma?
— Em primeiro lugar, você não é nada da minha família, eu tenho te
observado faz tempo, Stefano. Quem você pensa que é para falar com um
convidado dentro da casa dos meus pais dessa forma? — Júlia diz, apontando o
dedo em seu peito, sei por que eu crio coragem e abro a porta do banheiro.
— Eu sou o namorado — Arthur fala firme.
Namorado, Arthur? Eu nem sequer fui pedida em namoro, poxa! Mas
por enquanto, vou permitir essa mentira porque ele saiu sabe-se de onde para
vir me resgatar.
Todos os olhos estão fixos em mim, como se eu fosse um bicho, talvez
eu fosse mesmo e devesse estar em um zoológico ao invés de solta no mundo,
mas cá estou eu, livre no mundo, então me aturem, vou ter que entrar no jogo
de Arthur.
— Você demorou, namorado, estava te esperando — falo, segurando a
mão de Arthur.
Confesso que ver minha irmã descendo a lenha em Stefano foi, no
mínimo, divertido, esse babaca merecia, e Arthur, puta merda, conseguiu me
desestabilizar completamente.
Subo para o quarto que era meu, e hoje acabou virando o quartinho das
bagunças da minha mãe, para tentar explicar o que aconteceu comigo, mas sem
dar detalhes, Arthur não suportaria saber de tudo o que aconteceu comigo.
— Bom, primeiro de tudo, preciso te pedir desculpa pela forma como agi
com você a semana toda. Segundo, obrigada por ter vindo tão rápido, mesmo
não sabendo o que iria encontrar, e terceiro, vem, deixa eu te apresentar para os
meus pais e meus avós. – É tudo o que consigo dizer a ele.
— Achei que esse dia nunca fosse chegar — Arthur fala, me puxando
para um abraço, beijando minha testa.
Por que isso parece tão certo? Estar com Arthur era sempre tão simples,
será que realmente existem pessoas feitas umas para as outras?
Se existem, eu torcia para que a minha fosse o Arthur. Ele parecia muito
certo para mim.
Vamos até a área externa da casa onde estão todos, estou morrendo de
medo de apresentar Arthur, não por ele que não achei defeito no filho da mãe,
por mim mesma e no que virá depois.
— Mãe, pai, esse é o Arthur, meu... — eu engasgo, não conseguindo
dizer o que ele é meu, porque nem eu sei.
— Namorado, não é, pequena terrorista? — fala, olhando para mim com
um sorriso enorme no rosto.
Caralho, Arthur, poderia ter um pouco mais de piedade de mim? Eu não
estou conseguindo lidar comigo mesma no momento e o sem-vergonha está
adorando se aproveitar do momento.
— Claro, amor.
— Esse é o moço que estava com você na Bahia, filha? De toalha no
quarto? Por que você não apresentou antes, se faz tempo que estão juntos? —
minha mãe diz, e eu só queria abrir um buraco no chão e me enfiar dentro.
Claro que minha mãe iria se lembrar do Arthur da chamada de vídeo da
Bahia, óbvio que iria recordar, e iria falar, ela não tem filtro assim como eu, o
que me causa bastante momentos constrangedores.
— É um prazer conhecer você, chamar de senhora seria um desaforo, e
eu também não sei por que ela não me apresentou antes, acho que estava com
vergonha, dela mesma, no caso — diz, piscando.
— Gostei desse homem, Beatriz, fora que ele é enorme, né, filha?
Escolheu super bem. —Minha mãe vai atrás de alguém na cozinha, nos
deixando ali.
— Perdoa a minha mãe, ela não tem filtro nenhum.
Arthur me pega desprevenida, me abraçando e fica ali me olhando nos
olhos.
Meu coração acelera quando ele fica assim comigo abraçado, eu sempre
me sentia como se estivesse no meu lugar quando estava nos braços dele.
— Sempre sonhei com o dia que um homem te olhasse assim, parece que
você vai enfim encontrar sua felicidade minha neta — meu avô me diz,
interrompendo meu abraço. E, puta merda! Eu sempre levava tudo que esse
homem falava em consideração, mas caramba, assim, de repente, com Arthur
ficava muito difícil.
Arthur se desfaz do abraço e o cumprimenta, os dois ficam conversando
e minha mãe me chama, deixo os dois sozinhos morrendo de medo do que
podem conversar e meu avô pode acabar falando.
— Oi, mãe, me chamou.
— Sabe, filha, quando você começou a namorar o Diogo, eu fiquei feliz,
claro, mas depois você foi ficando pequena, foi se fechando em seu próprio
mundo, ele não te deixava sair sem ele, controlava suas roupas. E sabe, eu
estava pouco me fodendo que ele fosse filho de político, ele tinha obrigação de
te tratar com respeito, como a mulher maravilhosa que você é,
independentemente de qualquer coisa. Você sempre foi alegre, brincando com
todo mundo, independente, falando o que pensa, Beatriz eu nunca vi Diogo te
olhar com brilho nos olhos, ele somente te diminuía e para fechar com chave de
ouro, veio a traição. Estou te dizendo isso tudo porque nunca te vi com esse
brilho no olhar como quando você olha para o Arthur, e para te ajudar mais
ainda, ele te olha da mesma forma — minha mãe fala, segurando minha mão.
Eu fico sem saber o que responder, porque minha mãe acabou comigo, é
isso, minha vontade era de chorar no colo dela como quando eu era criança,
mas não podia fazer isso. Como poderia explicar para ela que eu não podia
amar o Arthur?
Como explicar para sua mãe que seu coração está acelerado, olhando
para o homem lindo que está me encarando nesse exato momento, e você está
fodida por dentro?
— É complicado, mãe.
— Então descomplica, está mais que na hora de você se permitir viver,
Beatriz! Viver de verdade, não na sombra do que ficou de um relacionamento
passado. — Minha mãe me beija e sai.
Observo minha família à vontade com Arthur e me assusta, porque
ninguém nunca ficou assim com Diogo, que foi o único que eu apresentei para
a minha família, era o único que eu tinha para comparar.
— Vamos, Arthur, deixa eu resgatar você daqui.
— Vamos, eu preciso conversar com você mesmo, se possível — fala,
me olhando fixo nos olhos.
Medo, é o que sinto.
Saímos sem nos despedir e peço para Arthur ir até qualquer lugar que
seja reservado para que possamos conversar, sugiro minha casa que não tem
ninguém.Arthur vai o caminho todo com as mãos em minha coxa, elas estão
geladas, mas resolvo omitir esse detalhe dele, parece estar nervoso, puta merda,
se ele está nervoso.
Sentados no sofá, Arthur me olha e começa com o que vai ser o meu
tormento.
— Beatriz, eu não deveria ter sido covarde como fui e saído da sua sala
como saí, me desculpe por isso, depois fiquei pensando a semana toda em tudo
o que eu queria te dizer aquele dia — fala, mexendo nos próprios dedos.
— E o que você queria me dizer, Arthur? — Estou ofegante.
— Beatriz, como diria Raimundos, você é a mulher mais complicada e
perfeitinha que poderia existir nesse mundo, dona de si, independente, minha
pequena terrorista e eu estou completamente apaixonado por você, não tem um
dia que eu não pense em você — fala, olhando em meus olhos, segurando em
minha coxa.
Coloco as mãos em minha cabeça, ele não pode estar apaixonado por
mim, não pode, estou em completo desespero.
Eu não sou boa o bastante para ele, não sou boa o bastante para me
relacionar.
O que estou prestes a fazer vai acabar comigo, eu não consigo, não posso
me relacionar com ele, não quando eu me sinto tão suja, se ele souber vai parar
de pensar em mim.
— Arthur, eu não posso. O que nós vivemos até agora foi ótimo e
incrível, mas não podemos continuar, eu deveria ter terminado há muito tempo,
mas fui egoísta demais, o sexo é ótimo, mas somente isso, Arthur. Você foi
somente um caso que chegou ao fim — falo, olhando para o chão, não consigo
nem encará-lo.
O gosto dessas palavras em minha boca é o mais amargo possível,
porque o que vem depois me quebra em vários pedaços.
— Vai ser sempre assim? Você vai sempre fugir? Sei que não sou só
mais um caso para você, deixa essa casca grossa para os tribunais! Saia da sua
bolha, sei que você viveu coisas ruins, mas isso não quer dizer que eu vou ser
ruim pra você, porque eu não vou, mas estou perdidamente apaixonado por
você! Saia dos livros que você tanto lê e seja protagonista da sua própria
história porque tem um cara que está louco pra te amar e te fazer feliz, mas
farei o que você tanto quer e vou embora da sua vida, Beatriz.
Arthur se levanta e vai até a porta, seguro seu braço para impedir que vá,
e ele está chorando, eu o fiz chorar.
Lágrimas escorrem pelo seu rosto, que eu tenho vontade de tocar, mas
ele me impede, eu não queria que ele chorasse.
— Não precisa ir embora, Arthur — falo, ainda segurando em seu braço.
— Não? Quer ficar aqui trepando comigo no sofá e depois me dispensar?
Você pode ter o coração de gelo, pequena terrorista, mas eu não. Eu estava
certo que você quebraria meu coração, mas não dessa maneira tão fria, que
você fique bem, se cuide. — Arthur se solta das minhas mãos pequenas e bate a
porta, me assustando, sem olhar para trás.
Eu fiz a porra de um homem de quase dois metros, que coloca bandidos
atrás das grades, chorar!
Fico me perguntando por que eu fiz isso tudo para Arthur, ele sempre me
tratou tão bem e eu acabei sendo uma bela de uma megera com ele, mas eu não
consigo, não é algo fácil de se fazer, eu era complicada, e pra caralho.
Eu era completamente fodida, não podia arrastá-lo comigo.
Só queria que ele entendesse.
O pior de tudo, é que somente essa semana, mais de uma pessoa me
disse que eu estava apaixonada por Arthur, e ele chega e diz que está
apaixonado por mim.
Eu não consigo lidar com isso.
Desde o momento que as palavras saíram da minha boca, eu me
arrependi no mesmo instante.
Eu sei que acabei de fazer a maior merda da minha vida! Sei por que
desde o momento em que ele se foi, eu soube que dispensei o homem mais
perfeito que existe na face da Terra e tudo isso por quê?
Por medo de se entregar, de ser feliz, de valer a pena.
Medo de dizer o que sinto! Isso dói! Dói pra caralho.
Eu sei que fiz minha escolha, só não sabia que doeria tanto assim, como
diria Tiago Iorc, “Amar é decidir, lembrar que o que me fere, também me faz
sorrir”, nunca ninguém me fez sorrir como Arthur.
Nunca, ninguém... me fez tão bem quanto Arthur, e agora eu estou aqui,
vazia de novo.
O que me resta é arcar com as consequências que, no momento, não são
nada boas, porque estou deitada no sofá, chorando como se fosse uma criança,
olhando para a porta, achando que ele vai voltar.
Torcendo pra ele voltar.
Ela me cortou muito fundo, agora ela me deixou com cicatrizes (sim)
Agora há muitos pensamentos passando pela minha cabeça (sim)
E agora eu estou tomando essas doses como se fosse um anestésico, sim
I fall apart – Post Malone
Arthur
Lágrimas, era o que mais caíam de meus olhos, e eu não conseguia
controlar.
Homem não chora, exceto quando tem seu coração partido ou tem a porra
de sentimento dentro dele.
Chego em casa completamente sem rumo, sem entender o porquê dessa
merda toda.
Sempre soube que Beatriz tinha problemas que não conseguia resolver,
mas fugir de sentimento assim? Que merda tão profunda ela tinha que não
conseguia se envolver com ninguém? E eu não era ninguém, nunca tratei-a
como qualquer outra, sempre foi diferente, pelo menos para mim.
Beatriz havia me chamado porque estava com problemas e eu não pensei
duas vezes indo ao seu encontro, independentemente de qualquer coisa, tudo o
que ela havia me contado sobre seu passado, eu tinha certeza de que a
machucava demais, e no fundo eu sabia que tinha mais coisas que ela não
conseguia me contar.
Sua família era divertida, sua mãe então nem se fala, o pai ficou um tanto
arisco o que é compreensível dadas as circunstâncias do último relacionamento
dela, mas o que mais me deixou emocionado foram as palavras do avô dela para
mim: “Vejo o brilho no olhar de vocês quando olham um para o outro, cuide
bem dela, ela finalmente encontrou alguém digno, ela merece”.
Eu imaginei que com Beatriz as coisas seriam difíceis, mas não que
quando eu confessasse que estava apaixonado por ela, a reação fosse ser essa.
Nunca senti por ninguém o que sinto por ela, nunca chorei por ninguém,
isso é fodido demais.
Penso em pegar uma cerveja na geladeira, mas vou precisar de algo mais
forte, então vou até o whisky mesmo, e me sirvo de uma dose bem caprichada,
virando de uma vez o líquido que desce queimando em minha garganta.
— Merda! – grito, jogando o copo que antes estava em minha mão na
parede.
Escoro na parede sentando no chão, ficando sem camisa, me apoio em
meus joelhos e as lágrimas continuam a cair, olho para a garrafa de whisky e
bebo direto da garrafa.
— É, Rocky, ela nem me deixou direito e eu já estou morrendo de
saudade dela — sussurro para o meu gato, que veio se esfregar em mim.
Tento pegar Rocky no meu colo, mas ele foge e vai comer. Maravilhoso,
nem o gato me quer.
— Eu que te dou comida e casa, seu ingrato — falo para o gato que não
está nem aí para mim.
Eu sei que na vida nada acontece da forma como nós queremos, eu
sempre priorizei meus estudos e trabalho ao invés de relacionamentos, mas eu
me abri e aqui estou eu, aos prantos acompanhado de uma garrafa de whisky
com meu gato me olhando e me julgando pelo estado deplorável que eu me
encontro.
O pior de tudo é que no fundo, eu sabia que Beatriz sentia o mesmo por
mim, mas ela não conseguia se abrir, e no fundo, isso era bem decepcionante.
Eu não queria ser mais um na lista dela, eu não era igual ao Diogo, aquele
moleque era desprezível, eu queria mais, queria ser mais, porém, não foi o
suficiente para ela.
Eu estava deitado no meu sofá, não sei como vim parar aqui, depois de
uma garrafa de whisky e chorando feito uma criança que perdeu seu brinquedo
preferido, quando meu irmão abre a porta do meu apartamento, maldita hora que
eu dei a chave para ele, nem avisa quando vem.
Vejo tudo girando
E minha garrafa está vazia.
Que bela merda, eu me encontro.
Ela podia ser menos complicada. Ela podia dizer que me ama. Ela podia
não me expulsar da sua vida.
— Cara, quando ela me pediu pra ver como você estava, eu não
imaginava que seria nesse estado deplorável! — meu irmão diz, assim que me
vê.
Ela pediu? É muita audácia mesmo!
— Ela pediu? Ela quem? — falo, me alterando.
— Beatriz, oras, ela só tem pose de durona, mas às vezes algumas
pessoas conseguem adentrar naquele coração de pedra e parece que você
conseguiu isso. Vem, vamos tomar banho.
Ela me deixa, diz que não quer mais nada comigo e manda meu irmão vir
ver como eu estou? Essa mulher, essa mulher... Só pode estar de brincadeira
comigo.
Fred me levanta do sofá e me apoio nele para ir até o banheiro e eu só
consigo pensar que se ela realmente não tivesse o mínimo de sentimento por
mim, não falaria para o meu irmão vir me ver, eu tinha que me apaixonar pela
mulher mais complicada possível mesmo.
Bufo irritado, o que faz meu irmão rir.
A única coisa que me assombrava era o porquê disso tudo, nós nos
dávamos muito bem e em todos os sentidos, estava complicado entender o real
motivo de ela ser tão avessa assim a relacionamentos.
Eu não sabia ao certo como iria agir quando encontrasse com Beatriz, no
momento, eu só queria deitar em minha cama e ficar ali até que aquela dor
insuportável passasse. Será que iria passar?
Pode parecer banal, mas só quem teve um coração partido consegue
entender o quanto dói.
Esse era o tipo de coisa que eu não estava sabendo lidar, nunca nenhuma
mulher me fez chorar, e aqui estava eu, morrendo de tanto chorar com meu
irmão me colocando para tomar banho. E ele veio até mim por quê? Porque a
mulher que me deu um fora pediu para ele vir.
Quão sem rumo eu estava!
Fred liga o chuveiro, me colocando embaixo da água gelada! Eu
resmungo, mas ele continua me segurando firme ali e as lágrimas continuam
caindo quando tudo vem à tona. Sinto os braços do meu irmão em minha
cintura, colocando a toalha em minhas costas quando desliga o chuveiro.
— Ela me deixou, me deixou, e eu estou sem saber o que fiz de errado —
sussurro com a voz embargada quando Fred me coloca na cama.
— Arthur, depois que você estiver sóbrio nós conversamos. — Me beija
na testa e encosta a porta do meu quarto, me deixando deitado na cama ainda
zonzo.
Cheguei ao ponto do meu irmão me dar banho depois que eu levei um
fora, puta que pariu. Depois do banho tomado, dormir parece ser o mais sensato
a se fazer.
Beatriz
Nunca pensei que ficaria mal novamente por causa de um homem, mas o
pior é saber que eu mesma havia causado isso e estava doendo demais, eu nunca
senti o que estou sentindo.
Será que eu estou apaixonada por Arthur?
Estou absurdamente confusa com todos os acontecimentos e meus
sentimentos.
Quando terminei com Diogo, eu precisava digerir muita coisa, claro que
sofri e fiquei mal, foram muitos anos, e entender que o que eu tinha não era amor
foi um pouco difícil no começo, afinal, o amor não nos machuca, ele nos
transborda.
E não era o que eu tinha com Diogo.
O que eu estava sentindo era horrível, mas eu não conseguia me entregar por
completo, quando Arthur me disse que estava apaixonado, eu me assustei, fugi,
porque isso é o que eu faço de melhor.
Minha irmã chegou em casa e me encontrou comendo chocolate, com
lágrimas que eu não conseguia controlar, quando expliquei o que havia acontecido,
omitindo alguns detalhes porque não era capaz de compartilhar tudo com ela, era
doloroso demais, o que ela me disse foi para procurar uma psicóloga.
E com isso, eu procurei uma com urgência, minha irmã que deu o telefone,
ela se chamava Bruna, e eu esperava do fundo do coração que pudesse me ajudar,
pois eu estava sufocando.
Sempre fui uma pessoa ansiosa, então consegui uma sessão de urgência,
aqui estava eu, impaciente, esperando pela psicóloga.
— Beatriz, vamos lá — uma mulher alta, com mechas loiras no cabelo, me
chama.
Eu entro em sua sala e me sento em uma poltrona de frente para ela, o lugar
é bem aconchegante.
— O que te trouxe à terapia, Beatriz? — a mulher loira me pergunta.
Minha cabeça começou a dar nó desde que entrei por aquela porta, eu era
péssima em me abrir, e estar aqui falando do meu problema era algo terrível para
mim, mas Bruna me transmitiu confiança e aqui estava eu.
— Bom, é difícil pra mim estar aqui, muito, na verdade, mas eu dei esse
passo por causa da minha irmã, que disse que eu precisava — falo, balançando
minhas pernas, estou nervosa.
Na verdade, eu pensava em fazer terapia antes, mas eu não tive coragem, fui
uma completa covarde, afinal, falar dos seus problemas e do que você sente não é
algo que seja fácil para mim. Acho que para ninguém é.
— Você não acha que tem necessidade de fazer psicoterapia? — A psicóloga
me observa, com um olhar sério, como se estivesse olhando para a minha alma.
Credo, mulher!
— Na verdade, eu acho que todo mundo deveria fazer, eu só não tive
coragem de buscar ajuda antes.
Eu tive vergonha, acho. Temos um preconceito enraizado de que quem
procura por psicólogos são apenas pessoas que não conseguem resolver seus
problemas sozinhos ou mesmo pessoas que têm problemas mentais.
Chegar e dizer que está com problemas em relacionamento, é muito... banal.
— Você quer dividir o que está em seus pensamentos? — Bruna me
pergunta, me tirando dos meus pensamentos.
— É difícil, eu terminei com um homem incrível por ele me dizer que estava
apaixonado, e eu nunca vivi tantos momentos bons e felizes como quando eu
estava ao lado dele. Mas o problema é que eu não consigo confiar, sempre acho
que ele vai acabar me fazendo mal como os outros — respondo, mordendo uma
cutícula de minha unha.
— Confiar realmente é um risco, mas me parece que hoje em dia, ser
desconfiada deixou de ser uma armadura e passou a ser uma prisão. Me parece que
você anda escolhendo o seguro e infeliz, do que o que realmente quer — a mulher
loira fala, anotando algo em seu caderninho, que está em sua mão.
Caramba, essa mulher está falando comigo há poucos minutos e já sabe bem
que eu criei uma armadura para me proteger, mas eu vim até aqui, preciso falar o
que realmente aconteceu, o porquê de criar uma armadura e me proteger.
Eu odeio tocar nesse assunto, mas se eu realmente quiser superar, preciso
fazer isso direito.
— Bom, eu realmente criei uma armadura pra mim — pigarreio antes de
continuar — há alguns anos, eu estava em uma festa, e eu não queria ir, meu ex-
namorado insistiu, comprou uma roupa pra eu ir, só que ele não estava lá, eu havia
bebido, dois caras me levaram para um quarto, eu não estava bêbada, estava
consciente dos meus atos, mas eles disseram que Diogo estava me esperando —
inspiro fundo para continuar e meus olhos enchem d’água. — Assim que entrei no
quarto, um deles fechou a porta, eu bati e pedi para abrirem, mas não fui ouvida,
um deles deu um tapa em meu rosto, me mandando ficar quieta. Eu tentei me
desvencilhar, juro que tentei, mas eu sou pequena, tinha bebido e eram dois caras,
um deles amarrou meus pulsos — Massageio os pulsos como se as amarras ainda
estivessem ali.
Lembrar dessa noite era a coisa mais dolorosa que eu tinha na minha vida,
nunca havia contado a ninguém com exceção de Frederico e Paulo, que me
ajudaram. Lágrimas começam a cair, não consigo controlar, eu odeio chorar, odeio
lembrar dessa noite, eu começo a me sentir suja novamente, um nó se forma em
minha garganta, eu preciso continuar.
— Eu conhecia um deles, ele andava bastante com o Diogo, esse rasgou
minha blusa, eu... eu fui duplamente estuprada, eu pedi pra parar, mas estava em
uma festa, ninguém iria me ouvir. Eles saíram e eu fiquei ali, arrumei minha blusa
e dois caras que estudavam comigo entraram, eu entrei em desespero, mas eles me
ofereceram ajuda, me tiraram dali e eu sei que é estranho confiar em dois homens
quando você acaba de ser estuprada, mas ele arrancou a própria blusa para colocar
em mim, olhou em meus olhos e não me julgou. Eu só queria sair dali e foi o que
eu fiz. — Pego a caixa de lenços que está ao lado para secar as lágrimas, que
insistem em cair, de certa forma, eu fico um pouco aliviada de colocar para fora.
— Eu não denunciei, fiquei com medo, mantenho isso em segredo até hoje,
depois desse episódio, eu não conseguia ter relação com meu namorado, para
melhorar as coisas, nós fizemos uma viagem e ele me pediu em casamento,
acontece que uma semana antes do meu casamento, eu peguei ele me traindo com
outra mulher, e hoje eu estou aqui, fugindo de relacionamento, e perdi um homem
bom, um homem incrivelmente bom. — Não consigo olhar para a psicóloga, meu
coração está acelerado, minhas mãos tremem, eu sinto como se estivesse vivendo
novamente todo esse tormento, as lágrimas não param de cair, eu fico ali
encarando o chão.
Eu me sinto suja, eu mesma me abraço e fico arranhando minha pele de
leve.
— Algum dia essa dor e esse tormento vai passar? — pergunto, ainda
olhando para os meus próprios pés.
Essa era uma pergunta que eu me fazia todo dia desde que fui estuprada, se
algum dia essa dor passa, porque eu tinha nojo, raiva, eram um misto de emoções e
eu não desejo que nenhuma mulher passe. Eu fui violada por várias vezes, e por
quê? Por estar vestindo uma saia? Ou um decote? Eu me sinto culpada muitas
vezes pelo que aconteceu.
Se eu não tivesse ido naquela festa, eu teria sido estuprada.
Se eu não tivesse ido com decote e saia curta, isso não teria acontecido.
Esse evento realmente me marcou muito, mas eu acabei ressurgindo como
uma fênix, existe a mulher de antes do estupro e a de depois.
Acontece que, a mulher que veio depois, ela era fria demais, sem
sentimentos, como a psicóloga mesmo disse, criou uma armadura para se proteger,
acontece que ninguém pode me proteger de mim mesma e dos meus pensamentos.
— O que você chama de cura, Beatriz? — Bruna fala.
Caramba, essa mulher era boa, eu só não sabia responder as poucas
perguntas que ela me fazia. Eu realmente não sei o que é a cura.
— Eu não sei o que é cura, talvez tudo aquilo que não nos machuca, e… eu
não sei — sussurro.
— Você sempre se protegeu daquilo que dói, não posso dizer que está
errado. Talvez esteja na hora de olhar a ferida e deixar que ela doa. Um ferimento
para cicatrizar precisa de tratamento, mas antes de tudo você precisa admitir que
ele existe e que quer cuidar dele. — Eu choro ainda mais com as palavras da
psicóloga.
Eu choro porque é doloroso falar.
É doloroso sentir.
E era péssimo saber que ela estava certa.
—A maior armadura que você pode ter contra o seu passado, Beatriz, é a
coragem de ver que você sobreviveu a ele — a psicoterapeuta diz.
Com essas palavras, terminamos a sessão e apesar das palavras da psicóloga,
eu sei que vou voltar, preciso de ajuda para tentar cicatrizar tudo isso que ainda me
dói, sozinha eu sei que não vou conseguir.
Isso, pra mim, já é um grande avanço.
O mais engraçado quando pensamos em psicólogos é que sempre achamos
que eles vão nos dar soluções mágicas aos nossos problemas, mas, no fundo, eles
só nos guiam, nos fazem pensar. Não tem como ela nem ninguém resolver o que
está dentro de mim se eu não quiser.
Tanto que eu não quis procurar por ajuda antes, infelizmente, deixei a
situação virar uma bola de neve, mas eu ia conseguir solucionar, estava com
esperança que sim, e na hora certa iria conversar com Arthur, ele tinha o direito de
saber o que se passava em minha cabeça, e principalmente em meu coração, mas
eu ainda não estava pronta, só espero que não seja tarde demais para isso.
Depois da minha sessão com a psicóloga, vou para casa tomar um banho e ir
para o trabalho, Fernanda não estava na cidade e não poderia comparecer a uma
audiência que estava marcada, então eu iria no lugar dela.
Ainda bem que era uma audiência de conciliação, geralmente são mais
tranquilas e eu passei para o cliente o que Fernanda disse, afinal, ela estava mais a
par do caso. Era um divórcio, o casal tinha dois filhos e era sempre aquela coisa,
pensão, visitas.
Não conseguimos acordo, o homem estava alterado, não queria dar pensão
dizendo que a mulher iria gastar com qualquer coisa menos com os filhos. Juro que
não sei de onde esses homens tiram essas conclusões, o que eles pagam de pensão
mal dá para fazer uma compra de supermercado.
Estava indo em direção ao elevador quando meu celular começou a tocar,
minha mão estava cheia com as anotações do processo, não vejo e acabo
trombando em um homem, ninguém menos que Arthur saindo da sala dele.
Obrigada universo por ser tão legal comigo.
Eu ainda não estou preparada para encontrar com ele.
Sossega coração, não precisa acelerar tanto por vê-lo.
— Oi, Arthur, boa tarde. — Eu deveria calar minha boca, meu coração
parece ter corrido uma maratona, seu perfume era tão bom.
Por um momento, eu só queria abraçá-lo.
— Boa tarde, Dra Beatriz — diz, todo seco.
Porra, que chute no estômago, eu sei que fui dura com ele, mas também não
precisava agir assim, como se eu fosse uma completa estranha, né? Quando vou
responder, uma mulher sai da sala dele, uma moça alta, o que ele tinha com mulher
alta? Que merda, Arthur!
— Desculpe a demora, podemos ir? Já resolveu onde vamos jantar? — a
mulherzinha diz, pegando no braço dele.
Tira suas mãos daí sua vaca, mandei minha sororidade pra casa do caralho!
Em pensamento, claro.
Não consigo respirar, meus olhos estão querendo encher de água, eu não vou
chorar na frente de Arthur e essa mulher, não mesmo, eu me recuso.
Tenho meu orgulho.
Não espero por uma resposta, saio dali o mais rápido que consigo, pelo
menos uma coisa estava certa nesse dia, eu não tinha mais nada pra fazer. Passei
em um supermercado, comprei um pote de sorvete Haagen-Dazs de baunilha e um
Ben & Jerry 's de caramelo, sim, um de cada marca e para completar comprei
alguns pacotes de bala fini.
Arthur
Os dias que se passaram foram mais difíceis do que eu imaginei, mas pelo
menos não chorava mais, estava focado em meu trabalho, saía para fazer meus
exercícios de sempre, que me ajudaram a me distrair.
Ainda me lembro de quando encontrei com Beatriz nos corredores do
fórum, ela havia trombado comigo, eu não imaginava encontrar com Beatriz, ela
estava com um olhar triste quando me reconheceu, minha vontade era pegá-la,
agarrá-la e dizer para parar de ser tão teimosa, mas tudo se complicou ainda mais
quando viu minha amiga da faculdade, Fabiane, ela praticamente saiu correndo.
Fazia muito tempo que eu e Fabiane não nos víamos e ela estava com uma
audiência na cidade e aproveitou para me ver, eu só não imaginava que Beatriz
iria nos ver juntos e pela forma que saiu dali, estava imaginando coisas.
Como ela era tão burra, a única mulher que eu conseguia pensar era ela,
meu corpo sentia falta dela, eu sentia falta dela, eu só queria abraçar e beijar
aquela boca gostosa.
Garota teimosa.
Eu tinha me esquecido do julgamento que enfrentaria contra Beatriz,
estava tão aéreo que esqueci, meu assistente, Iago, que me lembrou, se eu
pudesse adiaria, não queria enfrentar um julgamento com nossa situação assim.
Na verdade, eu não queria enfrentar Beatriz de jeito nenhum.
O tribunal de júri tinha sempre muito preparo, era exaustivo pra caramba,
e hoje mais que nos outros dias, eu só queria ir para minha casa abraçar meu
gato.
Assim que chego e vou para o meu lugar, vejo Beatriz chegando, essa
mulher veio querendo me foder mesmo, estava linda, gostosa, sexy pra caralho,
como eu ia conseguir me concentrar desse jeito?
Beatriz vestia uma saia midi que ia até os joelhos, marcando todas as suas
curvas, uma blusa com um decote, nada exagerado, mas deixando bastante
margem para a imaginação masculina e os lábios carnudos com um batom
vermelho bem vivo, queria tanto essa boca marcando meu pau.
Foco, Arthur, foco.
— Bom dia, Beatriz. — Resolvo ser cortês, quem sabe não consigo
amansar um pouco a fera
— Bom dia, doutor Arthur, espero que esteja bem cansado para sua
cabeça não pensar muito, se bem que a do pau não pensa — responde irritada.
— O que o meu pau tem a ver com isso, Beatriz? Pensando muito nele?
— falo, provocando.
— Depois de saber por onde ele anda se enfiando, vai ser difícil ficar
pensando nele, tenho coisa melhor pra fazer, como por exemplo, absolver minha
cliente dessa palhaçada que criaram pra ela. — Finge mexer em seu celular.
Que diabos essa mulher estava falando? E o que meu pau tinha a ver com
a história, eu nem comi ninguém, eu só a queria, essa demônia que estava na
minha frente.
Espera, ela estava com ciúme da Fabiane. Caramba! Como eu não pensei
nisso antes? Ai, mulher, quando eu penso que você não pode ficar mais sexy,
você tem crise de ciúme, linda, tão linda.
— Ciúmes, Beatriz? — resolvo provocá-la.
— De você? Nem morta, Arthur, com licença. — Beatriz vai para sua
mesa ao lado de sua sócia, Fernanda, e eu acho que não deveria ter cutucado a
onça, ela parece querer me matar.
O júri começa sendo presidido pela juíza Dra. Helena, uma juíza baixinha
de cabelos pretos compridos fazendo o sorteio dos jurados, eu e Beatriz dizemos
se aceitamos ou não, no final, foram cinco mulheres escolhidas e três homens,
depois começamos a ouvir as testemunhas, Beatriz anota tudo em um caderno e
conversa com Fernanda, nunca pensei que fosse pegar um caso tão difícil.
Depois do depoimento das testemunhas de acusação, passamos a ouvir as
testemunhas da defesa, quando a filha da ré Briana é chamada, sinto que estou
mais perdido que nunca, o depoimento dela é feito por videoconferência, na
presença de uma psicóloga.
— Evelyn, me conte o que aconteceu, o que você conseguir lembrar, por
favor, qualquer coisa, você avisa que a tia que está do seu lado te ajuda — Dra.
Helena diz.
— A mamãe e eu estávamos fazendo pizza na nossa casa nova pra
comemorar que o papai não ia mais brigar com a gente, mas ele achou a gente, o
papai entrou brigando com a minha mãe e começou a bater nela, fazendo-a
chorar, eu gritei com ele pra parar de fazer a mamãe chorar, e ele me deu um
tapa no rosto — Evelyn funga, limpando o nariz —, a mamãe ficou muito brava
e levantou do chão gritando pra eu me esconder no quarto e empurrou meu papai
pra ele ficar longe de mim, eu obedeci a mamãe e corri pro meu quarto,
abraçando meu coelhinho embaixo da cama. Depois, a mamãe parou de gritar e
veio no meu quarto dizendo que a gente precisava ir embora, e fomos pra casa da
vovó, mas os homens levaram a minha mãe e eu fiquei com a vovó, estou
morrendo de saudade dela — finaliza.
— E do seu papai? Você sente saudade? — Dra. Helena pergunta.
— Não, ele só fazia a mamãe chorar e me batia, mas a mamãe falou que
ele virou estrelinha, tia. Não conta pra ela, mas eu acho que ele não virou
estrelinha porque as estrelas são legais e o papai não era legal — fala, fingindo
um segredo para a câmera.
Como eu falo para essa criança que sua mãe merece ficar na cadeia por ter
matado seu próprio pai, quando ela confessa que ele fazia mal às duas? Na
verdade, como eu defendo um homem que fez isso para a sua própria filha?
Eu fico com vontade de chorar com o depoimento dessa criança, sei que
Beatriz vai apertar minhas bolas sem dó nesse caso, e eu nem posso dizer que ela
está errada. Depois do testemunho da criança, eu nem consigo simular pergunta
nenhuma e a magistrada passa a palavra a Beatriz que não tem perguntas a fazer,
obviamente, o testemunho da criança foi incrível.
A juíza passa a palavra a mim para começar a sustentação oral, tenho que
respirar fundo antes de me levantar e começar, porque na verdade eu nem sei por
onde.
E isso nunca aconteceu comigo.
— Bom, senhoras e senhores jurados, ali, vemos uma mulher jovem que
não está aqui à toa, ela está sentada e sendo julgada nesse momento. Essa mulher
matou o ex-marido a facadas, a sangue frio, ela poderia ter ligado para a polícia
se estivesse se sentindo em perigo, é isso que fazemos —começo. — Vejam,
nobres jurados, se ela tivesse mesmo se preocupando com a filha, não teria feito
o que fez, olha onde ela está agora? Sua filha sendo criada pela avó, porque ela
está na cadeia depois de matar uma pessoa.
Uso todo o meu tempo de sustentação, mesmo não sabendo se usei os
argumentos certos, porque na verdade, nem eu mesmo sei que argumentos usar
no meu caso, estava dando o meu melhor, mas o caso era bem complicado. A
única coisa que eu pensava era no conflito que estava, uma família perdeu um
filho, e uma criança estava sem a mãe porque o pai era um completo babaca.
Assim que Beatriz começou a falar, tive plena certeza que estava
completamente ferrado.
Beatriz
Arthur estava lindo e cheiroso como sempre, eu ainda estava com ciúme
da amiguinha dele, tanto ciúme que não segurei a língua dentro da minha boca e
falei demais para variar.
O depoimento da filha da Briana foi incrível, apesar de saber que ela
matou o marido, eu aceitei o caso porque ela estava se defendendo e apesar do
resultado não ter sido dos melhores, era muito complicado para as mulheres,
mesmo com medidas protetivas, os maridos, namorados, sempre acabavam
achando-as e o resultado final nunca era bom. Nesse caso, minha cliente queria
proteger sua vida e a de sua filha de um pai abusivo.
Meu problema para esse júri estava sendo um só, Arthur Albuquerque!
Esse gostoso, filho da puta, só pode estar querendo me ferrar, que droga
ele tinha que ser tão bom no que faz? Eu não podia correr o risco de me distrair
com ele, precisava focar, Briana estava precisando de mim.
Arthur usa de todo seu tempo para falar, ele usou a tese de que ela foi fria
e deveria ter ligado para a polícia, já que sentia tanto medo.
Quando chega minha vez de falar, eu penso em tudo o que passei, em tudo
o que conversei com a psicóloga em minhas sessões, todos os casos em que não
tivera um desfecho diferente.
Eu nunca estive em um júri antes, eu estava com os nervos à flor da pele
por vários motivos, mas o principal deles, era provar a inocência de minha
cliente, então eu respiro fundo e começo.
— Senhoras e senhores jurados, o nobre colega promotor usou palavras
incríveis pra vocês hoje. Quantas mulheres já ouviram dizer que ligar para a
polícia vai impedir que o agressor se mantenha longe? Quantos foram os casos
de mulheres que denunciaram seus parceiros e acabaram mortas porque a polícia
não conseguiu fazer o seu trabalho? Vocês têm mães, irmãs, mulheres de quem
possuem alguma afeição, gostaria que todos, sem exceção neste plenário,
fechassem os olhos agora. Imaginem que vocês vêm apanhando de seu
companheiro, já teve fratura em seu braço, costela. Um belo dia, ele chega em
casa bêbado e te estupra, no dia seguinte você procura por uma delegacia,
medida protetiva, consegue sair de casa com a ajuda da sua mãe. Algumas
semanas depois, seu ex-companheiro te encontra, invade sua casa onde você está
com sua filha pequena, começa a agredi-la novamente, mas dessa vez, bate em
sua filha, que em defesa dela, parte para cima dele e pede para que ela se
esconda. Vocês estão na cozinha, ele vem em sua direção, apertando seu
pescoço, quando vê uma faca em cima da pia, você se defende e acaba com todo
seu sofrimento. Peço que abram os olhos.
Noto que algumas juradas estão com os olhos lacrimejando, Arthur me
olha com o que parece ser um misto de orgulho e raiva? Não sei.
— Esse caso, senhoras e senhores, poderia ser com qualquer um de vocês,
aquela mulher sentada ali, poderia ser a mãe ou a irmã de vocês que se defendeu
de um monstro que a humilhava, a espancava, a estuprava. Ela lutou com aquele
que deveria amá-la e protegê-la. Nada, nunca justifica a violência, eu concordo,
porém, não existe uma justificativa para um homem que agride uma mulher.
Briana é uma guerreira que lutou defendendo a própria vida e a de sua filha. Se
não fosse ela que tivesse feito isso, a história seria diferente e ela estaria no
caixão junto com sua filha, porque aquele homem não iria parar até que elas
estivessem sem vida.
Dra. Helena passa para os jurados que se dizem convencidos, então vamos
aos votos, que são secretos, onde a juíza faz várias perguntas sobre o caso para
poderem chegar a um consenso.
Depois de algum tempo deliberando sobre o caso, o conselho de sentença
chega a um consenso, ficamos todos em pé para ouvir a sentença e a juíza falar.
— O tribunal do júri considera a ré inocente do crime de homicídio contra
Luiz Flavio Rodrigues.
Assim que a juíza diz as palavras, eu não contenho a emoção e abraço
Fernanda, e abraçamos Briana, que chora agradecendo, ficamos muito felizes
que ela vai poder ver sua filha e ter sua vida feliz agora e tranquila, sem o
homem que causou tanto mal a ela.
Minha vontade é correr para os braços de Arthur, mas uma mensagem em
meu celular me chama atenção.
“Se quiser ver sua irmã com vida, me encontre no galpão saindo do
fórum, e não avise nada a ninguém, estão te observando, você está gostosa
por sinal.”
Caralho, minha irmã não, tudo o que não podia acontecer era pegar minha
irmã, eu fico desesperada, saio correndo sem dizer nada a ninguém, meu coração
está acelerado, não consigo me controlar.
Merda, minha irmã não.
Assim que aperto a chave para abrir o carro, noto que tem algo muito
estranho, mas que burrice a minha. Sinto um pano em meu nariz e inalo um
cheiro forte, tudo começa a girar antes de apagar e me preparar para o que
seriam os piores dias da minha vida.
— Senti sua falta, amor. — É tudo o que ouço quando meus olhos se
fecham.
Eu nunca partirei seu coração
Eu nunca farei você chorar
Eu preferia morrer do que viver sem você
Eu te darei tudo de mim
I'll Never Break Your Heart –Backstreet Boys
Arthur
Eu nunca perdi um júri com tanto gosto como esse.
Beatriz além de linda, deu um show, não tinha como o resultado ser
diferente, ela era uma profissional excelente, além do que, o caso merecia mesmo
absolvição, eu mesmo só não bati palmas para a minha pequena terrorista porque
não podia.
Estava muito orgulhoso.
Meu irmão estava na plateia assistindo, é claro, aquele não iria perder de jeito
nenhum uma boa briga, se podemos dizer assim.
Se Beatriz aparecesse agora mesmo na minha frente dizendo que me queria
de volta, eu a beijaria na frente de todos, esqueceria tudo para poder ficar com ela, e
isso me deixava puto porque não deveria ser assim, eu deveria falar com ela antes
certo?
Um homem cadelinha, fazer o quê?
O júri durou o dia todo, eu até pensei em ir cumprimentar Beatriz, mas
quando me virei, ela não estava mais lá.
No estacionamento quando entro no carro, noto um carro parecido com o de
Beatriz parado, mas ela já saiu, então não pode ser o dela. Ou poderia?
Estranho, muito estranho.
No caminho para casa, fico pensando até que ponto um homem consegue
chegar por obsessão, por não aceitar o fim de um relacionamento, eu não conseguia
entender como um homem foi capaz de quase machucar sua própria filha. Se não
fosse pela coragem de Briana, o destino delas talvez tivesse sido diferente.
A cada caso que eu terminava, só chegava a uma conclusão, as pessoas
podem ser bem cruéis quando querem e existem muitos lobos em pele de cordeiros.
Quando chego em casa, o que eu mais quero é um banho quente e minha
cama, casos de júri exigiam muito, eu ficava com o corpo e a cabeça bem
esgotados.
Deito em minha cama e abro minha conversa com Beatriz e a saudade da
baixinha é enorme, sinto falta de tudo relacionado a ela.
Acordo cedo e vou para minha rotina de exercícios matinais, tomo meu café
e saio com minha bicicleta para o meu percurso. Algo que gosto muito de fazer,
acho que me revigora sentir toda uma liberdade, um vento no rosto.
Desde que conheci Beatriz, minha vida mudou, os dias sem sua presença não
são os mesmos, eu sei que a escolha foi dela, mas desde o princípio eu também
sabia o que ela queria.
Quando você é rejeitado por não sentirem nada por você, penso que seja mais
fácil de você aceitar, o meu maior problema era que eu sabia que Beatriz sentia o
mesmo por mim, mas talvez não tivesse se dado conta disso ainda.
Eu não estava pronto para dizer adeus a Beatriz, só não fazia ideia alguma do
que fazer para tê-la de volta.
Quando chego em casa, verifico meu celular e nenhuma mensagem de
Beatriz, mas meu irmão está me convidando para almoçar na casa dele, como esse
tipo de convite é raro acontecer, eu não penso duas vezes em aceitar.
Tomo um banho, deixo meu gato alimentado e pego o caminho para a casa de
Fred.
Meu irmão opta por fazer um belo churrasco, somente nós dois mesmo, ele
tinha convidado o investigador amigo dele, mas eu não faço questão nenhuma da
presença daquele cara que vive dando em cima da Beatriz.
— Achei que ia ter que pedir uma pizza para o jantar pela sua demora —
Fred me recepciona.
— Sempre tão dramático.
— Temos que comemorar a surra que você levou da baixinha no tribunal, ela
mandou super bem, não podemos negar maninho, tentei ligar pra ela hoje, mas eu
não consegui — meu irmão diz, com um ar preocupado.
— Eu mereci a surra que levei, mas não vim até aqui pra você ficar me
enchendo com isso, certo?
— Sempre vou te encher, Arthur. Qual é? Você é meu irmão. Mas vamos
comer, beber, e depois jogar umas partidas de videogame, estou com saudade de
ganhar de você.
Passar o tempo com Frederico era a coisa mais fácil do mundo, ele era o tipo
de pessoa divertida, fácil de estar ao lado, e que se você precisar pode sempre
contar porque estará sempre ao seu lado.
Em muitos momentos, eu me lembrava quando nós éramos apenas dois
meninos aprendendo sobre a vida em que minha mãe sempre nos disse, cuidem um
do outro, vocês são seus melhores amigos.
Eu não conheci meu pai biológico, minha mãe engravidou, ele deu no pé,
quando eu tinha três anos, ela conheceu meu pai a quem eu sou muito grato, ele me
deu educação, amor, um sobrenome, mas me apaixonei por ele desde o momento
em que o vi, quando minha mãe engravidou do meu irmão, ele nunca me tratou
diferente, sempre fui seu filho mais velho.
Por isso, quando dizemos que somos irmãos, as pessoas estranham um pouco
porque o caçula é loiro dos olhos claros, já eu, sou completamente oposto com
minhas características parecidas com um sheik árabe, só que muito mais charmoso.
O interfone toca e meu irmão me olha preocupado pedindo para subir.
Assim que meu irmão abre a porta, sinto meu coração falhar, Júlia entra
desesperada no apartamento de Fred, falando sem parar.
— Desculpa ter vindo assim sem avisar, eu tô desesperada, a Bia não voltou
pra casa desde o júri de ontem, eu não consigo falar no celular dela — Júlia fala
sem rodeios.
Sabe quando seu mundo parece girar mais devagar? Eu estava exatamente
assim, Beatriz nunca ficava longe sem avisar sua irmã de nada, era um combinado
das duas. Alguma merda tinha acontecido.
Sempre fui um cara muito calmo para resolver as coisas, mas nesse momento
o desespero estava começando a bater.
Júlia estava com o semblante desesperado e essas duas não se desgrudavam,
não deixavam de se falar, algo errado estava acontecendo com Beatriz.
— Jú, senta aqui, me conta o que houve? — meu irmão diz, tentando
entender o que aconteceu.
— Eu não quero sentar, merda! Eu quero minha irmã de volta, traz minha
irmã de volta — Júlia grita com os olhos cheios de lágrimas.
Frederico abraça Júlia, dizendo palavras de conforto que não adiantam porra
nenhuma, no momento temos que agir, e rápido.
Meu irmão segura o rosto de Júlia e olha em seus olhos.
— Eu trago, mas preciso que você me dê detalhes, Ju — meu irmão pede,
sentando Júlia no sofá.
— Fred, ela não voltou pra casa ontem, o que eu achei estranho e quando
liguei, ninguém atendeu, e hoje, no final do dia, recebi uma mensagem dela dizendo
que estava cansada e precisando viajar. A Bia, minha irmã, nunca faria isso, ela não
levou mala alguma, não falou onde iria, ela não age assim. Mesmo nos seus piores
momentos, ela não age assim — Júlia responde, olhando somente para o meu
irmão.
— Não, ela não agiria assim, vamos para a delegacia, independente de quem
estiver de plantão, eu vou assumir as investigações e vamos trazê-la de volta.
— Eu vou com vocês — falo, lembrando aos dois que ainda estou aqui.
O caminho para a delegacia foi um silêncio torturante, eu só queria saber o
que estava acontecendo com Beatriz.
— Fred, onde você está indo? — digo quando vejo que meu irmão muda o
caminho da delegacia.
— Eu não vou perder tempo, se o último lugar que ela esteve foi o fórum
quando terminou o julgamento, é pra lá que eu vou, buscar as filmagens das
câmeras de segurança — fala, colocando a mão sobre a coxa de Júlia.
Orgulho, eu só sabia sentir orgulho do meu irmão.
Claro, o carro de Beatriz, eu vi a merda do carro quando saí do fórum.
Chegando ao fórum, meu irmão pede que a gente fique no carro enquanto
resolve, segundo ele, é melhor somente ele resolver essa parte, já que está pedindo
tudo sem um mandado.
— Ela vai ficar bem, não vai? Ela ainda precisa confessar que está
apaixonada por você e me dar razão para eu jogar isso na cara dela, não consegui
falar com meus pais que ela está desaparecida — Júlia diz, virando para mim numa
tentativa de rir da situação.
Pensar que Beatriz possa estar correndo perigo é algo que me deixa sem
rumo, eu tento passar uma calma que não é minha, mas preciso acreditar que se
trata de Beatriz e ela jamais deixaria que algo acontecesse. Ela é mais forte do que
imaginamos.
— Calma, Júlia, sua irmã é forte, vai ficar bem, e nós vamos encontrá-la, eu
prometo que farei de tudo pra isso — respondo, sendo o mais sincero que consigo.
Meu irmão entra no carro, e pelo seu semblante, sei que não está nada bem,
Beatriz está correndo perigo, que merda.
— Stefano a pegou junto com um outro cara que não sei quem é, porque
estava encapuzado — Fred diz entredentes, dando partida no carro.
— Qual motivo Stefano teria para pegá-la, Fred? Aconteceu algo com ela
que eu não saiba? Por isso, ela ficava fugindo dele toda vez que estava na casa dos
meus pais? — Júlia indaga.
— Stefano estava indo na casa dos seus pais, Ju? E por que caralho a Beatriz
não me avisou, que merda! — Meu irmão está muito puto, mas muito puto mesmo,
e correndo com o carro para chegar à delegacia.
Stefano é o cara que estava na casa dela no dia que ela me chamou, se ele a
sequestrou, que motivo ele teria? Mas uma coisa era fato, ele iria pagar muito caro
por tudo o que estava fazendo com Beatriz.
Eu faria questão de acompanhar essas investigações de perto para poder
trazer minha Beatriz de volta e nada iria estragar isso.
Preciso sentir aquela mulher novamente, que seja para me xingar depois de
fazer amor comigo e eu dizer o quanto ela é teimosa, e linda, e como ela fica
espetacular com biquinho de brava.
Ninguém ficaria no meu caminho, e se ficasse, eu faria questão de tirar, era
da vida de Beatriz que estávamos falando, e eu faria de tudo para protegê-la.
Só espero que não seja tarde demais para nós dois.
E se sua irmã estiver certa, ainda preciso ouvi-la confessar que está
apaixonada por mim.
Dopado do seu amor, bêbado do seu ódio
É como se eu estivesse cheirando tinta
E quanto mais eu sofro, mais eu amo ela, eu me sufoco
E no momento em que estou prestes a me afogar, ela me ressuscita
Ela me odeia pra caralho, e eu amo isso, espere!
Love the way you lie –Rihanna e Eminem
Diogo
Eu sempre consigo o que eu quero.
Isso desde que eu me entendo por gente. Vantagens de nascer em um berço
de ouro.
Desde o dia que peguei Beatriz com o promotorzinho de merda em São
Paulo, não parava de pensar em uma maneira de tê-la de volta, então eu tive a
brilhante ideia de mandar Stefano infernizá-la para desestabilizar Beatriz.
Precisava deixá-la terminar o tão sonhado júri para conseguir completar meu
plano e trazê-la de volta para mim. Afinal, se ela tivesse sumido antes, iria gerar
muitas desconfianças.
E eu não queria isso.
Então, aqui estava eu, sentado fumando meu cigarro, camisa aberta, olhando
minha mulher que estava tão gostosa. Ordenei que Stefano a deixasse com as mãos
amarradas acima da cabeça, porque ela andava muito rebelde.
Mas ficava tão sexy. Eu estava ficando com muito tesão, mulheres assim,
tão vulneráveis, me deixam com muito tesão.
Sempre fui muito mulherengo, mas desde que coloquei os olhos em Beatriz,
soube que ela seria minha, mas eu me descuidei e acabei me envolvendo demais
com a secretária do meu pai, que se apaixonou por mim.
Mulheres são muito tolas, se apegam as palavras mais clichês, e era assim
que eu tinha quem eu queria na minha cama.
Quando terminei o que nem tinha com ela, foi um drama que, nossa!
Mulheres! Por causa dela, eu perdi minha Beatriz e estou aqui olhando para ela,
que ainda dorme devido à dose alta de droga que inalou.
Poderia ter sido diferente se ela voltasse para mim por conta própria, mas ela
insistia nessa coisa de feminismo, e além de tudo, tinha o babaca do promotor. Ela
estava envolvida demais com ele.
Passo meu polegar em sua boca, tão gostosa.
Lembro dessa boca no meu pau. Que delícia. Só de lembrar, meu cacete
pulsa dentro da calça.
— Acorde-a — digo para Stefano.
O moleque que está se borrando de medo, mas como ele tem o rabo preso
comigo, faz o que estou mandando.
E ele faz, não com muita delicadeza, mas Beatriz abre os olhos depois de um
tapa na cara para acordar.
— Bom dia, meu amor, eu estava com tanta saudade. — Vê-la assim,
amarrada, sob meu controle, me deixa com um tesão absurdo.
— Você me dá nojo, Diogo, sequestro foi o ápice da loucura — Beatriz fala
irritada.
Sequestro? Não, isso não foi sequestro, só estou recuperando o que é meu.
— Nós precisamos conversar, meu amor — digo, passando a mão sobre seu
rosto.
— Quero que você vá para o inferno, Diogo, e acredito que nem o diabo vai
te querer por lá, seu filho da puta! — responde gritando, com a voz um pouco
embargada.
Quanto drama, Beatriz, vou fazê-la lembrar de umas coisinhas para ficar
mais interessante a noite.
— Lembra que eu sempre pedi para a gente fazer ménage e você nunca
aceitava, aí insisti para você ir naquela festa, paguei para os meninos ficarem com
você, enquanto eu assistia
— Seu doente! Eu tenho sorte por ter dado um pé na sua bunda! — Beatriz
cospe as palavras.
— Você vai pagar por todo esse tempo que ficou fodendo com aquele
promotorzinho, Beatriz — falo, apertando seu rosto, ela está começando a me
irritar.
— Você não é metade do homem que ele é — diz, sorrindo.
Quando ela diz isso, eu não consigo me controlar e dou um tapa em seu
rosto, não queria partir para esse lado, mas ela me forçou a isso. Hoje eu iria
realizar todos os meus desejos.
Rasgo a blusa que está vestindo, e vejo o sutiã de renda que está usando, não
consigo mais me controlar, mas Beatriz se debate inteira.
— Diogo, por favor, não — Beatriz me encara, suplicando.
Eu amo quando elas suplicam. Fica ainda mais excitante.
E eu estou excitado.
— Por que está chorando, meu amor? Não gostou? — pergunto, dando um
selinho em sua boca.
— Você é a pessoa mais desprezível que eu conheço — responde
emburrada.
— Amor, esse tempo todo que ficamos longe, foi muito difícil, sabe? Eu tive
que fazer coisas que há tempos não fazia, vou te contar uma história.
Visto minha calça, acendo um cigarro e vejo Beatriz se encolher assim que
me aproximo dela, mas eu não quero assustá-la, então me afasto, pego um
banquinho e me sento, me mantendo um pouco distante dela.
Stefano entra no galpão e chuta a costela de Beatriz que grita de dor. Que
porra ele pensa que está fazendo? O único que pode fazer algo com ela sou eu.
Somente eu posso fazer o que quiser com ela, sou eu e mais ninguém.
— Se você ousar encostar um dedo nela sem meu consentimento, eu acabo
com a sua vida, está entendendo, Stefano? — digo, pegando em seu pescoço.
— Ela estava querendo acertar você, porra! — responde irritado.
— Foda-se, que ela me mate, mas você não encosta nela. Estragou todo o
clima que nós estamos criando.
Me aproximo de Beatriz, tocando seu rosto.
Vai ficar tudo bem, amor, logo seremos somente eu e você, sem ninguém
para estragar.
Eu era louco por essa mulher, quando me deixou, foi uma sensação estranha,
sabe? Nunca ninguém me deixou e isso não me deixava nem dormir. Eu nunca
gostei de perder, e com Beatriz não seria diferente.
Não a perderia!
— Amor, como eu estava tentando dizer, esse tempo que ficamos separados,
foi complicado pra mim, eu sentia sua falta sabe. — Dou uma tragada em meu
cigarro.
Beatriz me observava, mas não dizia nada, então eu continuei.
— Eu estava entediado, aí eu vi uma mulher em um bar, você sabe que sou
charmoso e galanteador, e eu queria ficar com ela, estava se fazendo de difícil,
então esperei ela sair, a fiz ficar quieta, levei para um motel. Foi tão excitante, que
na semana seguinte, eu quis fazer de novo, e de novo. Sabe os casos das mulheres
assassinadas que seu amigo delegado andou procurando? Sou eu, amor! Eu
precisava me distrair enquanto você ficava fodendo com aquele promotorzinho de
merda. Mas agora, eu sou só seu, amor, eu prometo.
— Diogo... você matou aquelas mulheres? — Beatriz me pergunta
assustada.
— Amor, eu precisei.
— Você matou mulheres inocentes, seu merda! — Tenho nojo de você —
diz, cuspindo no chão onde estou.
Beatriz me olha como se eu fosse um monstro, mas eu fiz isso tudo para ela,
será que não entende? Eu precisei me livrar daquelas mulheres, isso foi necessário,
primeiro porque elas sabiam quem eu era, segundo porque foi excitante pra
caralho!
A adrenalina em minhas veias quando aquelas mulheres perdiam o ar,
imploravam pela vida, uau!
Noto que Beatriz perde a cor e acaba desmaiando.
Que merda!
E você pode ver meu coração batendo
Agora você pode ver através do meu peito
Disse: Estou apavorada, mas eu não vou sair
Eu sei que tenho que passar este teste
Então, basta puxar o gatilho
Russian Roulette –Rihanna
Beatriz
Eu tive a minha primeira vitória em um júri, não tinha como estar mais feliz,
ainda mais vencendo o Arthur que estava lindo e gostoso demais.
Ele parecia me olhar com orgulho quando terminamos o julgamento, mas eu
não tive tempo de poder falar com ele, me despedi de Fernanda e Briana e fui
direto para o estacionamento atrás de quem pudesse estar com minha irmã.
Fui muito ingênua!
Que burrada a minha, ir para o estacionamento sem falar com ninguém, e
agora eu estava aqui, em um galpão sei lá onde, com Diogo e Stefano.
Quando os efeitos do que quer que eles tenham usado para eu dormir passou,
eu estava amarrada, mas pelo menos estava vestida, mal imaginava que iria piorar.
E piorou.
Diogo lembrou da noite em que fui estuprada, e ele estava lá, que belo filho
da puta, estava com tanto nojo dele, tinha vontade de vomitar, o doente sentiu
prazer enquanto eu era estuprada!
Que namorado faz isso?
Que tipo de pessoa faz isso?
Não queria e não podia ser estuprada novamente, eu não podia aceitar isso,
precisava lutar. Já estava sendo violada pra cacete.
Eu estava pronta para dar um belo de um golpe em Diogo, quando Stefano
chuta minhas costelas e uma dor dilacerante me toma por inteira, tenho dificuldade
de respirar.
Precisava tentar manter a calma, agir com cautela e frieza, isso se eu
quisesse lutar e sair daqui com vida.
Lembra aquele ditado, calma que piora? Então, esse ditado se aplica a mim.
Diogo começa a me contar ser o autor dos crimes de feminicídio da cidade e do
prazer que sentiu matando outras mulheres.
Nojo, decepção, eu não sabia descrever o tanto de sentimentos que eu estava
nesse momento. Mas Diogo era uma pessoa desprezível e um perigo para a
sociedade. Eu precisava de ajuda, mas ninguém iria me encontrar aqui, eu teria que
salvar a mim mesma.
Não estava dando para segurar, essa merda de corda estava apertada demais,
eu estava ficando com tontura, não comia nem bebia água fazia tempo, nem sei
mais há quanto tempo estou aqui, nesse lugar nojento.
Eu não consigo aguentar e perco os sentidos, tudo se apaga.
Vamos, Beatriz, acorda, você precisa lutar, minha filha, ninguém pode fazer
isso por você.
Lembro dos últimos momentos mais felizes e em todos eles, Arthur está
presente, com sua paciência comigo, seu jeito encantador e aquele sorriso que eu
tanto amava. Só queria conseguir ver esse sorriso novamente, mesmo que ele não
me perdoe pelo que fiz, mas preciso pelo menos dizer o que eu senti, que nada do
que ele sentiu foi sozinho, sempre foi recíproco, eu só não sabia disso na época.
Na verdade, eu sabia, só estava com medo de me entregar.
— Arthur — digo delirante, quando sinto mãos em minha testa.
— Que merda, Beatriz, eu estou aqui cuidando de você, e você chamando
esse cuzão. — Diogo aperta meu rosto, e eu sinto um arrepio subir minha espinha.
Diogo começa a abrir o zíper de sua calça.
Merda! Não posso deixá-lo me tocar.
Quando perdi os sentidos, ele soltou as amarras dos meus pulsos, vejo uma
faca em cima da mesa, preciso chegar até ela. É arriscado, mas eu preciso.
Que Deus ou quem quer que esteja me ouvindo me proteja.
— Calma, eu faço do seu jeito — falo, pois preciso entrar no seu jogo, mas
de jeito nenhum vou deixar esse babaca me tocar novamente.
— Boa menina — Diogo fala, com sua calça aberta.
Estou deitada sobre uma cama improvisada no chão, Diogo vem por cima de
mim e começa a beijar meu pescoço, nojo é tudo o que eu sinto, quando consigo
me ajeitar e ele se encaixa sobre mim, dou um chute no meio de suas pernas,
acertando suas bolas.
Saio correndo para alcançar a faca em cima da mesa, porque sei que Diogo
virá atrás de mim.
— Sua puta — Diogo berra, vindo atrás de mim
Eu não posso fraquejar, minha costela dói, meu corpo todo dói, mas preciso
sair daqui, entre a minha vida e a dele, eu escolho a minha.
Sempre pensamos sobre a vida e a morte, mas quando estamos frente a
frente com a morte, e você tem que escolher entre viver e morrer, sua escolha se
torna fácil. Não há tempo para julgamento sobre certo e errado, o que é bom ou
ruim.
Eu pedi a Deus para me proteger, que eu precisava voltar para casa, e foi
dessa forma que encontrei.
Alcanço a faca que está sobre a mesa, caindo de joelho no chão.
Diogo me alcança, puxa meu cabelo, eu me viro e desfiro golpes algumas
vezes, ele perde os sentidos e cai no chão. Minhas mãos estão manchadas de
sangue, daquele que causou a morte de várias mulheres e iria causar a minha, eu
sinto alívio. E uma vontade de vomitar.
Ouço barulho do lado de fora do galpão e vou para fora, não quero mais
ficar aqui, preciso fugir daqui.
Quando saio, vejo Arthur, Fred e uma equipe levando Stefano dentro do
carro da polícia.
Eu corro para os braços do Arthur, esse homem que eu não deveria ter
deixado ir embora, e depois de tudo, ele está aqui.
O que ele está fazendo aqui? Depois de tudo que eu fiz para ele?
— Eu preciso de você, preciso de você — falo desesperada, querendo
chorar.
— Estou aqui, pequena terrorista, não vou a lugar nenhum — Arthur diz,
colocando sua blusa em mim, me abraçando, eu nem lembrei que estava somente
de sutiã e saia.
— Me leva para casa, por favor — falo, antes de passar mal, na frente de
Arthur.
Lembrar dos resquícios do que aconteceu que está em mim, me faz sentir
nojo.
— Fred, cadê o Diogo? — Arthur grita preocupado.
— Morto. — Vamos dar notícias para a Júlia, que está desesperada.
Júlia, minha loirinha, minha família, quanto tempo eu fiquei aqui? Minha
irmã deve estar furiosa comigo! Tenho certeza disso!
— Você precisa ir para um hospital, Beatriz — Arthur diz preocupado,
passando as mãos sobre minhas costas.
— Tá bom, mas depois nós vamos para casa, você pode ficar comigo,
Arthur, por favor — peço, na verdade, quase imploro.
Eu não queria outra pessoa do meu lado que não fosse Arthur, ele veio atrás
de mim quando tudo o que eu fiz foi desprezá-lo por puro medo de entregar meus
sentimentos a ele.
Ele, o homem que ficou comigo nos meus dias mais sombrios.
No hospital e a pedido de Fred, a quem conto tudo o que Diogo me contou
sobre as mulheres que assassinou, junto com Stefano, e tudo o que vivi com eles
durante os dias que fiquei no galpão, sim, foram dias.
Fred disse que iria investigar a fundo, principalmente com Stefano na
cadeia, ele estava muito bravo, e disse que faria de tudo para manter o babaca lá.
Depois de raio-x, uma costela trincada e duas bolsas de soro, posso
finalmente ir para casa
Arthur ficou ao meu lado o tempo todo, ele estava sério, mas ficou ali.
E eu tive a certeza de que não queria que ele saísse da minha vida, mas isso
ainda teria um caminho a percorrer, afinal, nós estávamos com as coisas entre nós
indefinidas.
Chego em casa, minha irmã vem ao meu encontro, está com a aparência
abatida.
— Bia, você quase me matou do coração — sua voz é de preocupação, e eu
corro para o seu abraço.
Alívio em saber que ela está bem, sã e salva, isso me conforta, saber que não
passou por nada que passei. Por mais difícil que tenha sido, eu sei que ela estava
bem.
— Agora estou bem, Ju, obrigada, vou tomar um banho e já nos falamos.
Eu precisava muito de um banho, me limpar, saber que estou segura em
casa, era tudo o que mais queria no momento.
— Ju, você não quer vir comigo comprar uma Coca? — Fred pega na mão
de Júlia e sai do apartamento.
Arthur fica parado me olhando com os braços cruzados e o pensamento
longe.
— Você não vem, Arthur? — pergunto, pois preciso dele, não de sexo, só
dele.
— Achei que você quisesse ficar sozinha. — Arthur me olha assustado.
— Eu preciso de você.
Eu precisava do cuidado de Arthur, aquele que ele sempre teve comigo, e
como sempre segura em minha mão e vem.
Como se soubesse o que eu precisava, ele esquenta a água do chuveiro.
— Levanta os braços — ordena e eu faço, e ele tira a minha blusa.
Em seguida, tira o restante das peças vagarosamente, pois meu corpo dói.
Entro no chuveiro e começo a deixar a água cair, os pensamentos dos últimos dias
vem com tudo e eu começo a chorar, eu me sentia suja, como alguém tão bom
como Arthur poderia se apaixonar por mim?
Como se pudesse ler meus pensamentos, Arthur entra no box, ele está de
boxer preta, a barba por fazer, pega a bucha e o sabonete.
— Posso esfregar você? Eu só vou te esfregar e te dar um banho. Só quero
pedir que olhe para mim enquanto eu fizer isso, para você ter consciência que não
vou te machucar.
Eu jamais pensaria que Arthur me machucaria, mas eu sabia que nossos
pensamentos são traiçoeiros, ainda mais depois do que vivi, então eu fiz o que ele
pediu.
Com Arthur, eu conseguia ficar calma.
— Por favor, Arthur, eu confio em você.
Arthur começa a me esfregar, e faz bem devagar como se soubesse como eu
estava me sentindo, mas por mais incrível que possa ser, todo o cuidado que estava
tendo, só me levavam a pensar nesse momento, dentro deste box, embaixo do
chuveiro.
As lágrimas caem. Eu sobrevivi.
Como tudo com Arthur sempre melhora, ele começa a lavar meus cabelos,
saber que tem um homem me dando toda essa atenção era uma sensação que não
sabia explicar, mas não era ruim.
Depois que fui estuprada, nada foi a mesma coisa, havia momentos em que
me lembrava do nada. Chorava do nada.
Certas vezes, meu pai ou meu irmão me abraçavam de surpresa e eu me
afastava, isso me doía tanto, mas tanto. Como eu poderia fazer isso com minha
própria família? Mas era algo que eu não podia controlar, doía muito mais em
mim.
Muitas vezes eu me sentia insuficiente, incapaz, era um sentimento que eu
sentia que nunca passava.
Na verdade, acho que nos casos de quem sofre estupro ou violência
doméstica as marcas são profundas demais, e no fundo, você não esquece, mesmo
com toda terapia do mundo, você apenas aprende a viver em um mundo em que
aquilo não causa mais dor em você e nos outros.
Mas a cicatriz vai estar sempre presente.
Arthur era minha calmaria em meio a todo o tormento que eu era. No
momento, ele era a pessoa que eu mais precisava e queria.
Depois do banho, e sim, ele somente tomou banho, e sequer ficou pelado na
minha frente, só depois que eu saí para me trocar, que ele foi tomar banho e fomos
para a cama.
— Arthur, dorme comigo? — peço um pouco manhosa, torcendo para ele
aceitar.
— Seu desejo sempre é uma ordem — diz todo sério.
Arthur deixa um beijo em minha testa, em minha testa! Isso para mim tinha
um significado enorme, além do fato de ele estar presente, tomando todas as
medidas, ele entrelaça nossos dedos e ficamos assim.
Ficar e se abrir não era tão ruim, depois de muito tempo, dormir assim não é
tão ruim. Ter alguém para poder contar no final das contas, não é ruim, e fica muito
melhor porque esse alguém não é um qualquer, é Arhur, que torna tudo melhor.
Minha vida finalmente estava começando a entrar nos trilhos.
Eu sei que posso te tratar melhor
Do que ele pode
E qualquer garota como você merece um cavalheiro
Me diga por que estamos perdendo tempo
No seu choro desperdiçado
Quando você deveria estar comigo em vez disso?
Treat you better –Shaw Mendes
Arthur
Ódio.
Raiva.
Esses eram poucos os sentimentos que tinha para dizer sobre quem a
sequestrou e o que fizeram com Beatriz, era desumano, doentio.
Quando eu soube do sumiço de Beatriz fiquei completamente sem chão,
saber que ela estava nas mãos de Diogo só me deixou pior e com mais desejo de
encontrá-la e colocar minhas mãos no filho da puta.
De acordo com as informações que meu irmão conseguiu, Beatriz estava em
um galpão afastado na área industrial da cidade, bem típico, assim ninguém
escutaria nada do que pudesse acontecer.
Fred montou a operação, e quando chegamos, o primeiro que vi foi o cara
que estava na casa dos pais de Beatriz, ele tentou fugir, mas meu irmão foi mais
rápido e foi para cima dele, a minha preocupação estava na minha pequena
terrorista, eu estava entrando no galpão quando veio correndo em minha direção.
A visão dela com a roupa rasgada, suja de sangue, eu soube na hora, que ela
sofreu demais ali dentro, principalmente porque ela disse que precisava de mim.
Ela. Precisava. De. Mim.
Dei todo o cuidado que precisava, depois que chegou do hospital, dei banho,
depois ficamos um olhando para o outro na cama, e ali, antes de dormir, eu soube
que estava diante da mulher da minha vida, ficar sem ela era algo que eu não faria
nunca mais.
Eu sabia que Beatriz estava muito abalada ainda, então tudo o que fazia era
com o máximo de cuidado e foi o que fiz, fiquei ao seu lado.
Acordo sendo observado pela mulher mais linda que já vi em toda a minha
vida, eu definitivamente estava completamente apaixonado.
— Bom dia, Arthur — Beatriz diz sonolenta.
— Bom dia, Beatriz, vamos tomar café?
— Arthur, eu preciso falar com você — fala apreensiva.
Beatriz se senta na cama fazendo um coque com seu próprio cabelo, olhando
para a cama. Se eu pudesse, trocaria de lugar com todo seu sofrimento, se eu
pudesse, eu teria matado aquele filho da puta!
Frieza? Talvez, mas um homem, se é que se pode chamar isso de homem,
prefiro chamar de verme. Um ser asqueroso que não respira mais o mesmo ar que
Beatriz.
Seguro sua mão e volto a olhar em seus olhos, a raiva que eu sinto daqueles
dois é imensa, mas ela não merece isso novamente.
Tudo o que eu faço, é escutar o que ela quer falar.
— Quando você disse que estava apaixonado por mim, eu fiquei sem saber o
que dizer, porque na verdade, eu estava com o mesmo sentimento por você, na
verdade, não tem como não se apaixonar por você, Arthur. Você é o cara que abre a
porta do carro e fode forte e gostoso ao mesmo tempo. É aquele que toda mulher,
tenho certeza de que se eu contar que dispensei você, iriam dizer que eu fui burra,
e na verdade, eu acho que burra não é a palavra certa e sim covarde, porque eu fugi
do sentimento que estava dentro de mim quando você assumiu tudo o que sentia.
Eu não paro de pensar em você desde que te deixei, e Arthur, mesmo eu tendo feito
tudo que fiz, você foi me buscar, lutou por mim. Preciso ser sincera, que vai
precisar ser devagar, com calma, porque eu sou complicada, mas não sei mais
viver sem você, quer dizer, se você não estiver com ninguém, é claro — fala,
colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.
Beatriz às vezes era a mulher mais burra da face da Terra, como ela
conseguia pensar que eu tinha outra pessoa se tudo o que fiz nos últimos dias foi
pensar nela? Se eu passei a última noite cuidando dela?
Eu já conheci mulheres complicadas, mas essa supera todas as expectativas,
eu poderia dizer que ia me fazer de difícil pelo sofrimento que me fez passar, as
lágrimas que me fez derramar, mas eu só queria proteger e amá-la, principalmente
depois de tudo o que passou, ela merecia a felicidade, melhor ainda que fosse ao
meu lado.
Olho nos olhos dela e acaricio seu rosto, linda, ela é linda. E agora, posso
dizer que é minha. Finalmente minha!
— Isso é um pedido de namoro, doutora Beatriz? Poderia melhorar, mas eu
não tenho nenhuma outra na minha vida que não seja você.
Dou um selinho em sua boca carnuda, não quero ultrapassar nenhum limite
dado os últimos acontecimentos, e tudo bem, o que importa é ela estar a salvo em
casa, e comigo.
— Se contente com isso, só peço paciência, vou precisar ir com calma —
diz um pouco preocupada, como se precisasse dizer algo assim.
— Toda calma do mundo. Vem, vamos tomar café. — Pego sua mão,
entrelaçando a minha, e nunca me pareceu tão certo.
Fred estava sentado com Júlia, os dois estavam sérios, Beatriz estava logo
atrás de mim.
— Nossa, Arthur, se a Beatriz disser um “a”, você sai latindo, cadelinha que
falam por aí, né? — Fred diz, piscando para mim e Beatriz, Júlia ri.
— Já foi a merda hoje? Quando for você, eu estarei rindo muito, Frederico,
você vai ser pior que eu, vai usar até coleira com o nome da escolhida, só não usa
ainda porque ela não te deu chance. — Devolvo a provocação.
— Chega, vocês dois, vem Bia, senta aqui. — Júlia puxa Beatriz para um
abraço.
A cumplicidade que essas duas tinham era incrível, e lindo de se ver. Apesar
de saber que Beatriz estava tentando, eu sabia que não seria fácil tê-la ao meu lado,
principalmente pelas coisas que passou, mas isso em momento nenhum me
abalava, nunca me abalou, eu permaneceria aqui, onde era meu lugar, ao seu lado,
de onde eu nunca deveria ter saído.
Quando Beatriz disse que precisava de mim, eu não imaginava que seria
dessa forma. Quando se declarou, imagino o quão difícil foi para ela conseguir
colocar para fora todos os sentimentos que estavam guardados dentro dela.
Ver Beatriz tão vulnerável, não era algo que eu estava acostumado, na
verdade, era algo que eu odiava, ela era sempre tão alegre, espontânea e com uma
resposta na ponta da língua, não estava acostumado com uma Beatriz tão
cabisbaixa.
Eu não tinha ideia do que fazer para ajudar minha pequena terrorista, mas
tinha certas batalhas que somente ela poderia enfrentar, e essa era uma delas,
afinal, eu não vivi o inferno que ela viveu com aquele verme, se pudesse trocar de
lugar com ela para evitar toda dor e sofrimento, eu trocaria.
Frederico e eu mexemos alguns pauzinhos e Stefano estava na cadeia e eu
iria fazer uma visitinha a ele, nada como ter bons amigos e contatos que manteriam
a discrição. Meu único problema estava em deixar Beatriz em seu apartamento.
Ela estava deitada no sofá com uma blusa de moletom que eu havia levado
para sua casa e assistia a alguma coisa na Netflix, afinal, ainda estava se
recuperando de costelas trincadas. Liguei para Júlia perguntando a possibilidade de
ficar com ela na parte da tarde e para o meu alívio, ela estava a caminho.
— Onde você vai, Arthur? — Beatriz diz, em um tom preocupado.
— Vou precisar resolver um problema no trabalho, mas eu volto em breve,
trago uma pizza, o que acha? — digo, me aproximando para deixar um beijo em
sua testa.
— Eu acho ótimo, mas, por favor, não me deixe dormir sozinha? — ela diz,
segurando minha mão.
— Não vou, amor, eu não vou — digo, e é a verdade.
Saber que Beatriz está sofrendo, me deixa mais puto, se eu pudesse
arrancaria todo o mal que lhe causaram, mas infelizmente a vida não é assim, ela
não é justa e coisas ruins acontecem com pessoas boas.
Após Júlia chegar, eu e meu irmão partimos em direção a penitenciária em
que Stefano estava, avisei para Júlia sobre o fato de eu estar com o celular
desligado, mas dei um número para que ela pudesse ligar caso precisasse falar
comigo com urgência.
A ida até a penitenciária não durou mais de vinte minutos, Frederico e eu
não trocamos uma palavra durante o percurso, estávamos os dois tensos, tendo em
vista o que iríamos fazer naquele lugar que eu odiava ir.
Como era de se esperar, fizeram revista e entramos naquele lugar horroroso,
eu pedi uma sala privativa, meu irmão havia me dito que ele confessou o
envolvimento em todos os assassinatos com Diogo, esses dois me davam nojo.
— Só não abuse, tá bom? — meu irmão pediu pra mim, já imaginando o que
eu iria fazer.
— Então o promotorzinho resolveu vir visitar a ralé?— o filha da puta fala.
Meu irmão ficou na porta com os braços cruzados, fingindo que não ouvia.
Mas era o oposto, ele prestava atenção em tudo, eu sabia que ele tinha muito
cuidado com Beatriz e comigo.
— Não estou aqui para perder tempo, Stefano — falo, sem rodeios.
— Ainda lembro a primeira vez que a fodi naquela festa de faculdade, você
e Diogo tem razão em ficarem viciados naquela boceta — Stefano diz, como se
fosse a coisa mais natural do mundo.
Quando Stefano diz isso, eu ligo todos os pontos que faltavam, ele era o cara
da festa, que belo filho da puta, e foi por isso que ficou tão assustada na casa dela
quando ele estava lá, se fazendo de bom moço.
— Você é um estuprador de merda — digo, com os punhos cerrados, me
segurando para não enfiar a mão na cara dele.
— Beatriz, que é uma putinha, gostava da atenção que recebia, gosta até
hoje, das roupas provocantes — o babaca tem a coragem de dizer, rindo.
Eu não consigo aguentar o que ele diz sobre Beatriz e meus punhos vão
parar em sua boca, eu sei que é um pouco de covardia porque ele está algemado,
mas vou desferindo tantos socos em sua boca, em sua costela, que não percebo que
passei dos limites, quando meu irmão me segura e diz para parar.
— Nunca mais toque no nome da Beatriz novamente, seu merda. Esqueça
que ela existe, entendeu? Eu vou fazer questão que você saiba o quão perturbador é
alguém te fodendo quando você não quer — digo, antes de me afastar.
Estava muito puto, meus punhos doíam, eu não conseguia acreditar ainda no
quanto Beatriz sofreu mais de uma vez, e eu sei que nada justifica o que eu fiz,
mas mesmo dentre os presos, existem algumas regras, então quando passei por
uma das celas de um dos que eu sabia que comandavam lá dentro, soltei que
Stefano havia estuprado várias mulheres.
Fazer o quê? Eu não conseguia ter compaixão por um cara desses. Pode me
julgar!
— Ficou maluco, porra? — Fred diz, assim que entramos no carro.
— Você ouviu tudo o que ele disse sobre Beatriz, eu não consegui me
segurar, minha vontade era ter feito isso com Diogo também, mas Beatriz foi mais
rápida que eu — falo como se fosse algo natural, não é, mas eu não sinto pena
alguma.
— Sua sorte é que eu conheço muita gente boa, Arthur, e o que o cara fez foi
merda das grandes, e você é um filho da puta sortudo por eu estar do seu lado.
Colocamos uma música e fomos para casa. Liguei o celular e enviei uma
mensagem a Beatriz dizendo que já estava indo embora.
Meu irmão foi me dando um sermão o caminho todo como se eu fosse um
moleque travesso, não que o que eu tivesse feito me desse o maior orgulho do
mundo, mas quando se tratava de Beatriz, eu saía de mim.
Eu sabia que era arriscado ir visitar Stefano, mas eu fiz mesmo assim, e
apesar de tudo, eu senti como se estivesse vingando Beatriz por todo mal que o
filha da puta fez para ela. Ele não merecia nem mesmo se lembrar dela, quanto
mais tocar em seu nome daquela maneira.
Em um mundo em que dizemos ser tão evoluídos, homens com pensamentos
como esse, de que a roupa que uma mulher veste diz respeito ao caráter dela, é
algo absurdo de se escutar, não fazia sentido nenhum em minha cabeça.
Mulheres eram livres para fazer o que quisessem, vestir o que quisessem, e
ninguém tinha o direito de tocar nelas sem consentimento, não conseguia nem
imaginar o que Beatriz poderia estar sentindo.
Chegando no apartamento, pergunto se meu irmão não quer jantar conosco,
mas ele nega, diz que precisa resolver algumas coisas do trabalho que estão
atrasadas, mas conhecendo como o conhecia, eu duvidava muito disso.
Assim que abro a porta, vejo Júlia no sofá sozinha, e congelo, onde estava
Beatriz?
— Cadê a Beatriz? — pergunto assustado.
— Acabou de ir para o quarto. Calma, ela está bem — Júlia me diz, tentando
me acalmar.
Quando entro no quarto, vejo Beatriz deitada na cama fungando e limpando
lágrimas que insistiam em cair. Eu me sinto completamente impotente.
Tudo o que fiz foi tirar minhas roupas sujas e me deitei com ela na cama,
abraçando-a por trás com todo o meu corpo, como se nada mais pudesse lhe fazer
mal, e eu acreditava nisso.
— Eu estou com medo, Arthur, muito medo — Beatriz diz, olhando em
meus olhos.
— Medo do quê? — pergunto.
— De estragar tudo e te perder, você é bom demais pra mim, eu sou suja —
fala e eu só queria entrar em sua cabeça e tirar tudo isso.
— Linda, olha pra mim — Beatriz olhou séria em meus olhos.
— Eu que não sou demais pra você. Essa mulher maravilhosa, cheia de
garra que enfrentou mais coisas do que qualquer um possa imaginar, e não, você
não é suja, eu não vejo minha vida sem você, mas precisa me prometer que você
vai procurar a psicóloga sem falta essa semana, é coisa demais pra você lidar
sozinha, e eu não vou conseguir te ajudar com isso, infelizmente, porque eu
acredito que você não vai se sentir à vontade pra me contar certas coisas.
— Prometo, eu prometo, me beija, Arthur — pede toda manhosa.
Não precisou pedir duas vezes, meus lábios já estavam encontrando os seus,
e que saudade eu senti de sua boca, Beatriz entreabriu seus lábios para dar
passagem e nossas línguas estavam se encontrando em um beijo delicado, cheio de
saudade e sentimento.
Segurei o rosto de Beatriz entre minhas mãos, olhando em seus olhos,
fazendo com que ela ficasse sem graça, mas eu só conseguia pensar e pedir a Deus
coisa que há muito tempo eu não fazia, eu queria que minha pequena terrorista
ficasse bem logo.
Com a promessa de que iria procurar a psicóloga no dia seguinte, eu e
Beatriz ficamos ali na cama mesmo, emaranhados um ao outro, como se fossemos
um só, e adormeci com ela em meus braços, o meu lugar preferido do mundo.
Me perdi pelo caminho
Mas não paro não
Já chorei mares e rios
Mas não afogo não
Dona de Mim – Iza
Beatriz
Se tinha uma coisa que eu odiava nessa vida era me sentir vulnerável, mas
depois de todo o ocorrido com Diogo, eu só conseguia me sentir assim. Falei sobre
os meus sentimentos com Arthur, que estava ao meu lado, e eu só tinha a agradecer
pela paciência e compreensão que tinha comigo.
O problema não estava nele e sim comigo, eu me sentia sempre suja, na
verdade, o Arthur era um homem tão bom que não me sentia digna dele. Eu, que
havia sido estuprada, que havia feito ele chorar, e mesmo assim, ele foi me procurar
e estava aqui, ao meu lado, esperando para eu me consultar com a psicóloga.
Dizer que eu era complicada seria um elogio e tanto, eu ainda não tinha
conseguido ir ver meus pais, Fernanda estava tomando conta do escritório, mas eu
não queria continuar assim, eu queria viver, sem medo, queria poder amar e ser
amada de verdade.
No fundo, acho que todos buscamos isso, não sermos salvos porque não
podemos ser, nós temos que fazer isso sozinhos, independente do que acontece em
sua vida, não dá para esperar que o outro faça por você algo que não depende dele.
Mas o que buscamos mesmo é sermos amados, cuidados. Amor não
machuca nem nos faz sofrer, amor não trai, se isso acontece, não é amor, amor é
leveza, cuidado, amor é... incondicional, entender que todos temos defeitos e
mesmo assim permanecer, escolher ficar. Isso é amor. Isso é amar.
É ficar mesmo quando os dias estão ruins, quando a TPM está insuportável,
quando você quer chorar depois de um dia difícil de trabalho. É ter sempre aquela
pessoa com quem contar. Quando até o bom dia fica diferente.
Arthur está sentado ao meu lado brincando com meus dedos. Não tinha
como não ser apaixonada por esse homem, ele só melhorava, algum defeito ele
tinha que ter, não era possível ser assim. Ele me dá um beijo na testa e sou chamada
para entrar.
E lá vou eu... me dá um frio na barriga, sempre dá quando vou conversar
com a psicoterapeuta.
— Boa tarde, Beatriz, o que a traz de volta? — Bruna me pergunta, olhando
por cima daqueles óculos, essa mulher me dava medo, porque arrancava tudo de
mim, e como era de se esperar, eu começo a chorar.
Gente, ela só me deu boa tarde!
— Minha vida está um caos, eu fui sequestrada pelo meu ex, por isso o
sumiço, eu senti tanto nojo, eu sinto ainda, me sinto suja, eu matei um homem e
não sinto que sou digna do amor do homem que está lá fora me esperando, mas sou
egoísta demais para deixá-lo ir embora. Em alguns momentos, quando estou no
banho, eu choro muito, e com a bucha me esfrego tanto, que chego a me machucar,
e é por isso que estou aqui, porque odeio me sentir assim, me sinto vulnerável,
fraca. — Pego um lenço que está na mesinha.
— Deve ser muito difícil ter vivido isso, Beatriz. Como é dizer isso para
mim? – A psicóloga me analisa, não sei vocês, mas fazer terapia é uma coisa que
exige muita coragem.
— Não é fácil estar aqui e dizer tudo isso pra você, nada fácil — respondo
depois de um longo suspiro.
— Imagino… como se sente tendo que se expor aqui agora para mim? —
Bruna pergunta, anotando algo em seu caderno.
— Vulnerável, mas aqui é o único lugar que consigo falar. — Quando
observo a terapeuta, ela não me responde, mas me dá um olhar acolhedor, que me
acalma um pouco.
— Eu me sinto vazia, tenho medo, quando eu voltei para casa, falei um
pouco do que sentia para o Arthur, e tenho medo de me machucar novamente. Mas
aí, penso em todas as coisas boas que vivi ao lado dele, na pessoa que eu era ao
lado dele, e o medo diminui. O que me dói muito é não me sentir digna dele, me
sentir suja o tempo todo, como se o cheiro e o sangue de Diogo ainda estivessem
em mim. Algum dia isso vai passar? Essa cicatriz vai ficar sempre aqui, não é? —
pergunto em meio as lágrimas, que insistem em cair, e já não luto mais para que
parem.
— O que exatamente você quer que passe, Beatriz? — Bruna me pergunta, e
dessa vez, um pouco mais séria.
Cacete, fazer terapia era uma coisa do inferno porque não é somente você
falar sobre seus problemas, a psicóloga te aperta, pelo menos a minha, ela sempre
me coloca para pensar em coisas que nem eu mesma sabia direito como responder.
Na verdade, nós queremos uma fórmula mágica para os nossos problemas, e
infelizmente, não é assim, temos que enfrentá-los frente a frente.
— Eu não sei direito, pra ser sincera, mas o que me vem na cabeça é que eu
quero que passe essa sensação que tenho de me sentir suja, de não me sentir digna
do amor de um homem, de finalmente conseguir ser feliz — acabo respondendo,
olhando para os meus próprios pés, porque não consigo encarar a terapeuta no
momento.
— Já parou para pensar, que essa armadura que você usa para afastar os
homens têm uma função? Olha o que aconteceu com você… esse homem dizia te
amar, Beatriz. Talvez você não devesse querer arrancar a armadura, mas sim, usá-la
quando tem serventia, e me parece que com seu atual companheiro, ela não é
necessária. — Bruna ajeita os óculos e me diz.
— Cacete, mulher, fica difícil assim, viu? — acabo soltando, e Bruna solta
uma risada, o que descontrai um pouco.
— Meu atual companheiro faz tudo que me irrita, mas ele não desistiu de
mim, sabe? Ele chorou na minha frente, ele abre a porta do carro pra mim, mesmo
sabendo que eu odeio, mas passei a amar porque ele faz, ele tem um gato cinza
lindo, o Rocky, tem um ótimo relacionamento com a minha irmã, quando fui
sequestrada, ele estava lá, me deu banho, ficou deitado comigo e tem ficado dia e
noite, eu não achei um defeito nele ainda, sabe? — digo, sorrindo. É, acho que
estou uma boba apaixonada.
Bruna conversa mais um pouco comigo, já que nosso tempo estava
terminando, prometi voltar na próxima semana e realmente voltaria, não iria deixar
de fazer terapia, eu precisava cuidar dos meus traumas e sabia que isso ia me
ajudar.
Saio do consultório um pouco mais aliviada, falar com Bruna sempre me
deixava assim, mas por dentro da realidade, eu conseguia ver as coisas como elas
realmente eram, e isso era muito importante, principalmente na atual fase em que
eu estou vivendo, de completo caos.
Arthur me recebe como sempre, com um sorriso no rosto, vamos de mãos
dadas até onde seu carro está estacionado, e claro que ele abre a porta para mim,
para não perder o costume.
— Obrigada — falo, agradecendo, pois eu não iria brigar por um gesto fofo e
tão nobre.
Na verdade, eu gostava quando ele abria a porta para mim. Era uma coisa
pequena, mas que eu aprendi a gostar.
Eu estava com minha cabeça a mil e não queria ir para casa, não hoje, a fase
Beatriz depressiva estava chegando ao fim, e eu começaria a dar um jeito nisso.
O famoso meme “bota um cropped e reage”, eu estava indo por aí.
— Arthur, você aceita jantar comigo? Mas eu estou com saudade do Rocky,
podemos ir para a sua casa? — falo, indo direto ao ponto, porque eu não gosto de
enrolação.
— Estava com saudade desse seu jeito, sabia? — Arthur diz, colocando a
mão em minha coxa, sorrindo.
Seguimos para o apartamento de Arthur, eu envio uma mensagem para a
minha irmã, dizendo que vou dormir por aqui para ela não ficar preocupada, e
estava pensando em ir visitar meus pais, mas essa visita era mais dolorosa, e a que
eu mais adiava.
Assim que entro em seu apartamento, noto como tudo está organizado e
limpo, Arthur era um cara bem metódico. Rocky está no sofá e vou até ele,
pegando-o no colo, abraçando-o, eu realmente senti sua falta. Depois que ele enjoa
de mim vai para o outro lado do sofá se lamber.
Típico de gatos.
— Bom, bora pra cozinha, né? Afinal, o jantar não se faz sozinho — digo,
indo em direção a cozinha, mas sou puxada pelos braços fortes de Arthur, que
abraçam minha cintura.
— Posso te beijar? — ele pergunta, acariciando meu rosto, e só o fato de ele
pedir permissão, me mostra o quão incrível esse homem é.
— Você pode me beijar sempre que quiser, Arthur, não precisa ficar pedindo
permissão. — Assim que termino a frase, sua boca já está na minha.
Arthur tem fome, e fome de mim, suas mãos descem para a minha bunda, me
apertando, sua língua de encontro com a minha tem desejo, seu gosto é o melhor
que já provei em toda minha vida, seu beijo sempre tinha algo a mais.
— Eu preciso parar senão vou acabar te fodendo em cima desse sofá —
Arthur diz ofegante.
—Tudo bem, vamos preparar o jantar então — digo, um pouco chateada.
Eu não queria que Arthur ficasse sempre com todo esse cuidado comigo cada
vez que fossemos começar um beijo ou sexo, eu sempre gostei muito do sexo com
ele e não era agora que iria deixar de gostar, ou será que ele estava com receio de
me tocar?
Muitas coisas passavam pela minha cabeça, eu não queria que Arthur ficasse
com medo de me tocar, ou pedisse permissão a cada maldito beijo que fosse me
dar. Eu só queria que ele fosse ele mesmo, afinal, os meus medos e inseguranças,
somente eu posso lidar.
Apesar de todas as coisas que passei, nenhuma delas me deixou abalada para
o sexo. Eu sempre gostei muito de sexo, de fazer, de falar abertamente sobre o
assunto, afinal, não temos como controlar o tesão que sentimos.
Fizemos o jantar, um filé a parmegiana, Arthur me ajudou um pouco,
conversamos, foi um jantar tranquilo e depois fomos para o sofá assistir a um filme
que ele escolheu na Netflix, mas eu não estava prestando muita atenção, para ser
sincera.
Estava deitada no colo de Arthur, ele me abraçava e acariciava meus cabelos,
eu gostava desse cuidado todo que tinha comigo, mas estava sentindo falta do que
tínhamos antes de tudo acontecer. Não sei o que eu iria fazer, mas as coisas iriam
voltar ao normal.
Ou eu não me chamava Beatriz Mazzini.
Arthur
Os dias com Beatriz desde o ocorrido estavam sendo bem complicados para
mim, mas desde que ela voltou a ir à psicóloga, estava voltando a ser ela mesma, a
única coisa é que eu não havia conseguido tocar nela ainda.
Não que ela tivesse dado a entender que não queria, porque nos últimos dias,
ela estava com um fogo difícil de se apagar. O problema estava em mim mesmo, eu
tinha medo de machucá-la, de fazer algo que não gostasse.
Eu poderia ser um homem, mas eu me preocupo com o que ela sente, e
muito, mas isso não quer dizer que eu não quero tocá-la, pelo contrário, meu corpo
estava ansiando para poder tocar o dela novamente.
Como estamos falando de Beatriz, que não é uma mulher qualquer, ela
simplesmente me aparece no gabinete usando um top de renda que realçava seus
seios que eu amava muito e me pediu para tocá-la, e mais que isso, mamou gostoso
o meu pau sem pudor nenhum, depois me deixou ali.
Ela me deixou ali, sentado na minha cadeira, depois de um boquete
delicioso.
Me diz, como se consegue trabalhar depois de um boquete e uma mulher
deixando subentendido que está te esperando para mais? Beatriz vai me
enlouquecer qualquer dia desses, eu tenho certeza.
Não consigo terminar meu dia, como não tinha nada urgente, nem prazos, eu
vou para casa louco para encontrar Beatriz e terminar o que começamos na minha
sala, essa mulher iria gemer muito essa noite.
Assim que abro a porta do apartamento, sinto um cheiro de morango e noto
ser de uma vela perfumada em cima da mesa, ao lado dela tem um bilhete dizendo
para ir até o quarto, sem os sapatos.
Entro no quarto e encontro Beatriz deitada na cama somente de lingerie, um
sutiã de renda preto, uma calcinha que deixava muito para a imaginação, e uma
cinta que descia com tiras sem nenhuma liga, sexy pra caralho.
Essa mulher realmente vai me matar.
Mas hoje, eu desconto tudo fazendo ela gozar muito.
— Demorou pra chegar, vem que eu sou toda sua, mas você está vestido
demais — a diaba diz, mordendo o lábio.
Começo a tirar minha camisa bem devagar, a gravata, minha calça, ficando
somente de boxer, como Beatriz me pediu, enquanto estou me despindo, ela está se
tocando, não tinha notado o vibrador ao seu lado da cama.
Avanço sobre ela, beijando sua boca, nosso beijo não é delicado, é urgente,
como se nossas vidas dependessem desse beijo, desço beijando seu pescoço até
seus mamilos intumescidos, onde sugo e mamo gostoso.
— Estava com saudade de mamar nesses peitos. — Volto a colocar seus
mamilos em minha boca, lambendo e mordiscando.
Desço os beijos até encontrar sua boceta coberta pelo tecido fino de renda
preta, onde lambo ali mesmo, fazendo Beatriz gemer e arfar de desejo.
— Hoje você vai dar seu cu pra mim, e vai implorar por mais — digo,
tirando sua calcinha.
Lambo seus grandes lábios, passando minha língua por toda sua boceta, seu
grelo está inchado implorando por atenção, minha língua passa gostosa em
movimentos circulares por toda sua intimidade.
Beatriz geme.
Enfio um dedo em sua boceta enquanto minha língua dá atenção ao seu
clitóris.
Desço minha língua até seu cu, lambendo, fazendo Beatriz ficar relaxada.
Beatriz não reclama e enfio com calma um dedo nele enquanto minha língua
fode sua boceta.
— Relaxa pra mim amor — digo, enfiando mais um dedo.
Meus dedos fodem sua bunda e minha língua fica em seu clitóris, chupando,
lambendo, enquanto Beatriz se contorce sob meus dedos e minha boca.
— Puta merda, Arthur — Beatriz diz ofegante, e eu não pretendo parar, não
até ela gozar.
Beatriz não aguenta e goza em minha boca enquanto eu fodia seu cu com
meu dedo, sugo todo seu suco, meu pau pulsa por alívio.
Tiro minha cueca, rasgo um pacote de preservativo, e coloco uma camisinha,
me deitando sobre Bia, enfio meu pau, e sou engolido por sua boceta quente e
apertada, dando estocadas fundas, devagar, olhando nos olhos de Beatriz.
— Você é linda — digo, enquanto estou dentro dela, metendo em estocadas
mais rápidas.
Beatriz começa a gemer gostoso, arranha minhas costas, que tenho certeza
que ficará marcada.
Pego o vibrador que está ao lado da cama e enfio em sua boceta, tomando o
lugar que meu pau ocupava antes, deixo na velocidade mínima e vou beijando os
seios de Beatriz, que rebola na cama.
— Mais rápido, Arthur — diz ofegante.
Aumento a velocidade do vibrador, faço o mesmo movimento que meu pau
se estivesse enterrado nela, um entra e sai gostoso, devagar. Sinto que está próxima
de gozar quando seus gemidos aumentam.
Meu pau está duro, pronto para meter fundo e gostoso. Enfio um dedo no cu
de Beatriz.
— Eu voo…u gozar — Beatriz grita, se desmanchando de prazer.
Beijo sua boca, num desejo desesperado, descendo beijos por todo seu
corpo, retiro o vibrador de sua boceta, lambendo toda sua entrada que está
encharcada.
— Empina essa bunda pra mim. — Beatriz vira, empinando sua bunda, me
olhando nos olhos.
— Me come, Arthur. — Dou um tapa e mordo sua bunda.
Pego o vibrador novamente, penetrando-o na boceta de Beatriz, que geme
em resposta.
Abro o lubrificante que trouxe besuntando sua bunda, preparando para a
entrada do meu pau.
Enfio dois dedos em seu cu, enquanto o vibrador fica na boceta de Beatriz,
que geme.
Após foder com os dedos, coloco lubrificante além da camisinha e enfio meu
pau em sua bunda, vou devagar até Beatriz se acostumar com meu tamanho, tenho
que me controlar porque ele é tão apertado que a vontade de foder é louca.
— Só uma palavra e se não estiver gostando, eu paro — falo, antes de
começar a dar leves estocadas.
Beatriz começa a rebolar, ditando o ritmo enquanto o vibrador vai fodendo
sua boceta, eu seguro sua cintura e vou aumentando o ritmo das estocadas.
— Me fode, Arthur — Beatriz diz, olhando para trás, mordendo o próprio
lábio.
Aumento as estocadas, mordendo seu ombro e estamos os dois suados e
entregues, como nunca estivemos antes, a visão de ter Beatriz de quatro enquanto
eu como sua bunda é das mais gostosas que já vi. O tesão só aumenta cada vez que
sinto meu pau pulsando dentro de sua bunda, apertadinho, gostoso.
Beatriz está cheia de tesão, não vou aguentar muito mais, sinto que ela está
perto de gozar quando a ouço xingar, mesmo na cama essa mulher conseguia falar
vários palavrões inimagináveis e era a mulher mais incrível desse mundo. Eu era
louco por ela.
Beatriz começa a gemer mais forte e gozamos juntos com ela gritando meu
nome, me deixando em êxtase.
Ainda com Beatriz de quatro, enrolo seus cabelos em meus pulsos e sussurro
em seu ouvido:
— Cada vez que você tentar me afastar de novo, Beatriz, eu vou comer seu
cu.
Com calma, tiro meu pau de sua bunda, retiro a camisinha, puxando Beatriz
para meus braços, que por um momento, fica calada, mas não dura muito.
— Agora você é dono do meu coração, da minha boceta, e do meu cu. Feliz,
Arthur? — Beatriz diz sonolenta, e eu acabo rindo.
Somente essa mulher era capaz de falar esse tipo de coisa pós-sexo.
Beatriz fica abraçada comigo, passando a mão sobre meu peito, e eu fico
tentando entender o que se passa naquela cabecinha. Eu amava essa mulher,
acontece que depois de tudo o que passamos, eu tinha medo de dizer, e ela fugir
novamente. E eu não queria isso.
Ela era uma caixinha de surpresas.
— Eu te amo, Arthur, como nunca amei ninguém nessa vida — Beatriz diz, e
eu congelo.
Quando olho para Beatriz, a pequena terrorista estava dormindo, e me
deixou aqui satisfeito por começar a tê-la de volta, e agora estou assustado por
ouvir um “eu te amo” dessa boca suja.
É possível uma pessoa ficar assustada e feliz ao mesmo tempo? Porque eu
estava me sentindo assim, quando resolvi ficar com Beatriz, sabia onde estava me
metendo, sabia por todos os traumas dela, e o que eu deveria esperar.
Apesar de tudo, eu amava essa Beatriz, a espontaneidade dela, o jeito
moleca, sexy, não tinha nada que eu não gostasse nela. Afinal, isso é amar, não é?
Amar todas as partes de uma pessoa?
Ela era linda como uma rosa..., mas como toda rosa, seus espinhos
conseguiram me ferir mais do que qualquer coisa no mundo. Acontece que aprendi
que os espinhos são a proteção e se você souber onde pegar, não vai se machucar, e
essa era Beatriz, a minha pequena rosa, linda, mas cheia de espinhos.
Os corações não devem machucar assim
Não é suposto quebrar tão rápido
Dizem que o tempo cura
Por quanto tempo deve durar essa queimadura?
Hearts –Jessie Were
Beatriz
Acordo com meu corpo todo dolorido, a noite de ontem foi bem...
selvagem, eu já havia feito sexo anal antes, porém não tinha sido nada prazeroso,
e como sempre com Arthur as coisas são diferentes e boas.
Quando levam tudo de você, o rumo que a vida vai tomando já não importa
muito, e foi o que aconteceu comigo, eu acreditava que o que vivi com Diogo era
amor quando estava com ele, mas na realidade, eu tinha uma dependência
emocional enorme.
Relacionamentos abusivos vão além de violência física, quando ele me
traiu, eu jurei que não amaria mais ninguém, porque ele havia me machucado de
diversas formas possíveis, e eu só pude enxergar depois que estava longe dele.
Mas a realidade, por mais dura que fosse, a verdade nua e crua mesmo, é
que eu estava dependente de um homem. E aquela coisa de que existe uma pessoa
certa pra você? Pois é, passei a acreditar nisso, porque durante todo o tempo que
tive com Arthur, só o afastei e ele permaneceu.
Às vezes algumas pessoas passam em nossa vida para nos mostrar que
realmente não era para ser, como um capítulo de um livro que se acaba, e nos
mostra o porquê não ter dado certo com ninguém antes. Era assim que eu me
sentia em relação a Arthur, eu pensava nele em boa parte do meu tempo, quando
estávamos juntos, meus olhos sempre brilhavam por ele, e as famosas borboletas
no estômago sempre estavam ali.
Na verdade, com Arthur foi completamente diferente de todos os outros
homens que conheci, ele não me julgava. E caramba, até quando eu disse que não
queria nada com ele, o infeliz me respeitou. Eu estava completamente rendida a
esse homem que me vira a cabeça, ele trazia o melhor de mim.
Ontem quando falei que amava Arthur, não foi no calor do momento,
porque eu realmente queria dizer isso, não havia como negar os meus sentimentos
mais, na verdade, existe a possibilidade de não amar Arthur?
O cara provou ser um “homão da porra”, além de ser incrível na cama,
coisa que não posso desperdiçar, sempre digo, quando for escolher alguém, faça o
test-drive, porque se você vai passar o resto da vida com alguém, que esse alguém
faça você perder a calcinha somente com um olhar, além da sua paciência, porque
sim, ele vai tirar ela também, não que eu tenha alguma correndo em minhas veias.
Que porra eu estava pensando? Passar o resto da vida? Acorda, Beatriz!
Aqui estava eu, deitada na cama enorme de Arthur, sozinha com meus
pensamentos me perturbando, quando o motivo do meu tormento entra com uma
bandeja de café na cama para mim, sem camisa, com uma dessas bermudas de
moletom, que se fosse em outro, eu diria que ficaria ridículo, mas nele, sexy pra
caralho.
Perdição, esse homem é minha perdição.
— Bom dia, pequena terrorista, dormiu bem? — questiona, me dando um
selinho, ainda preciso me acostumar com esse homem.
— Bom dia, Arthur, dormi maravilhosamente bem, e você? — Eu juro que
não sou morta de fome, mas tem morangos tão apetitosos, e tem um doce que aqui
na minha cidade chamamos de “carolina”, uma delícia recheada de doce de leite
coberta com chocolate e massa de éclair como diriam os franceses e requintados,
pego uma, levando à boca e mordendo.
O doce de leite cai me lambuzando, eu passo o dedo e chupo, Arthur coloca
a bandeja ao lado da cama, me beija, um beijo suave, delicado, nossas línguas se
enroscando, e me deito de costas na cama, sentindo a ereção de Arthur se formar.
— Eu vou precisar de uns dias longe de você, Arthur, ontem foi bem
selvagem, não posso negar — digo, com minhas mãos envolvendo seu pescoço, e
acariciando seu cabelo.
— Você não vai mais sair da minha vida, Beatriz. Eu não vou permitir, te
disse ontem o que vai acontecer se você tentar. — Arthur desce beijos pelo meu
pescoço.
Lembranças da noite anterior vêm com tudo, suas palavras me deixam
excitada, Arthur desce com sua mão em direção as minhas pernas.
— Molhadinha pra mim, Beatriz, que delícia. — Arthur começa a descer
seus beijos por minha barriga, chegando a minha virilha, somos interrompidos
pelo som da porta abrindo.
— Arthur, preciso falar urgente com você, já acordou, irmão? Espero que
esteja vestido. — Ouço a voz de Fred, que merda!
— Esqueci de tirar a chave dele, amor, desculpa. Vou até ele, porque não
quero que veja você assim. — Arthur me dá um beijo na testa, e vai em direção a
sala, encontrar seu irmão.
Bufo em concordância, colocando o lençol sobre meu rosto, me tornei
aquilo que mais temia! A boba apaixonada.
Puta merda, eu precisava falar com minha irmã, ela iria com toda certeza
desse mundo me atazanar a vida depois que eu contasse o que disse para Arthur.
Eu precisava marcar um almoço decente com meus pais e Arthur, desta vez
sem fingimentos nem conflitos.
Visto uma calça jeans, e uma camiseta branca, que trouxe ontem, deixando
meu sutiã de renda preto à mostra, e vou em direção à cozinha, a conversa entre os
dois parece ser séria pelo semblante de Arthur.
— Bom dia, Fred — digo, dando um beijo em sua bochecha.
— Bom dia, baixinha, pelo visto a noite foi boa — diz, me dando uma
piscadinha.
— Por que diabos sempre o humor da mulher tem que estar relacionado
com o quanto ela transa? Acho isso bem bizarro, Frederico, e não que seja da sua
conta minha vida sexual. — Desconto no meu amigo, o que eu sempre tive que
escutar.
Mas a realidade é essa mesmo, sempre ouvi esse tipo de piadinhas, e
pasmem, nem sempre mulheres estão de bom humor por terem transado no dia
anterior, elas podem somente terem dormido muito bem, somente estarem de bom
humor mesmo.
Pela primeira vez, eu estava feliz, leve, e tranquila, e não se dava somente
ao fato de ter tido uma boa transa na noite anterior.
— Desculpa, Bia, está certa, eu só quero saber dos meus sobrinhos logo. —
Fred me abraça, se desculpando, e Arthur nos observa.
Eu sei que meu amigo estava brincando e eu não precisava ter sido tão
grosseira com ele, afinal, ele estava feliz por mim, e eu também estava por ter tido
uma boa noite de sexo, além de estar conseguindo resolver minha vida, o que era
um grande feito, mas sou impulsiva demais e falo sem pensar.
— Me desculpa também, eu fui rude demais, sem necessidade alguma. —
Fred gargalha, dizendo que Arthur está fazendo milagres, eu mostro o dedo para
ele, babaca.
Frederico se despede, nos dizendo ter muita coisa para fazer hoje. Não
acredito, mas como quero ficar com Arthur, acabo cedendo.
Arthur me puxa para o seu colo, acariciando meu rosto, me olhando em
meus olhos, e sempre parece que está me despindo com o olhar.
— Arthur, preciso falar uma coisa. — Vai ter que sair essa porra da minha
boca, foda-se.
— Eu te amo, Beatriz, não disse ontem porque fiquei sem reação, mas eu te
amo e não é de hoje, acho que te amei desde o primeiro instante que olhei pra
você — fala, acariciando minha bochecha.
Meus olhos enchem de lágrimas, não me contenho de felicidade em saber
que o sentimento de Arthur é recíproco, e fico em êxtase.
— Quer namorar comigo? — pergunto o que queria desde o princípio, nem
sempre temos que ficar esperando o homem tomar atitude se queremos isso, e
bom, eu fui e fiz. Era o que eu estava querendo.
— Você é a mulher mais encantadora que existe nesse mundo, eu estava
esperando um momento apropriado pra te pedir em namoro, mas eu amei que
você tomou a atitude. E sim, eu aceito, pequena terrorista — diz, me dando vários
beijinhos em meu rosto.
Não estou me aguentando de felicidade e achei que isso não seria possível
novamente, mas aqui estava eu, lutando por ela. Eu e Arthur merecíamos isso,
iríamos aproveitar cada segundo.
Arthur me deixa em casa e termino de contar para minha irmã o que houve
poupando os detalhes do sexo, pois sei que ela odeia, e não é obrigada a saber
sobre minha vida sexual.
Eu precisava voltar ao trabalho, ficar no papel de vítima nunca fez parte da
minha vida, e agora não seria diferente, voltaria a trabalhar o mais rápido possível,
já havia informado a Fernanda sobre minha volta, e ela ficou muito feliz e aliviada
também.
Estava com minha irmã deitada no sofá assistindo Netflix, Júlia estava
inquieta, olhando para o celular, e por falar em celular, o meu vibra, e é Arthur.
“Pequena terrorista, quer dizer, namorada, amei a surpresa, já estou com
saudade do seu corpo junto do meu”
“Preciso de um descanso depois da maratona que tive, mas logo estarei
com você. Te amo”
— Está tudo bem, Ju? Você está tão quietinha. — Tento tirar algo daquela
cabeça dura, mesmo sabendo que é quase impossível.
— Está sim, Bia, eu só estou com um pouco de dor de cabeça, já tomei
remédio, não se preocupe, logo vai passar — diz, olhando para o celular, soltando
um xingamento, nunca a vi assim.
— O celular está dando essa dor de cabeça? — provoco.
— Se quiser continuar com a minha companhia, acho bom ficar de boca
fechada. — Júlia me olha feio, e dessa vez sou obrigada a obedecer.
Eu tenho amor a minha vida, eu hein!
Júlia quando está de mau humor, é pior que o próprio demônio de tão
insuportável que fica, eu só queria mesmo é entender o porquê de todo o mau
humor dela, mas creio que será impossível.
Algo me dizia que tinha algum marmanjo envolvido, eu poderia capar o
filho da puta que estava deixando minha irmã assim, mas não posso controlar tudo
o que acontece na vida dos meus irmãos.
— Já te disse que preciso aprender com a consequência dos meus atos, Bia.
Você não pode me proteger do mundo, eu te conheço e sei que está pensando um
monte de coisas — Júlia me diz, me tirando dos meus próprios pensamentos.
— Tá bom, tá bom, Júlia, só vamos ver o filme. — Reviro os olhos, e sou
obrigada a voltar para o filme.
Eu sei que meus irmãos têm que ser responsáveis pelos próprios atos,
aprender com os erros e todo aquele blá blá blá chato, mas detesto vê-los
sofrendo, se eu conseguisse poupá-los disso, pouparia.
Todo ser humano falha, eu que o diga, minha irmã sabia lidar com suas
frustações, eu sei disso porra, mas sou a irmã mais velha, era minha função querer
proteger, sempre foi assim, sempre fomos muito cúmplices uma da outra.
Não saber o que estava acontecendo na vida da pessoa que vi nascer e
crescer era uma merda gigantesca, eu odiava ficar sem saber o que fazer, na
verdade, eu odiava não estar no controle da situação, mas não podia fazer nada a
respeito disso, pelo menos por enquanto.
O dia passou rápido, a noite chegou, e como sempre, eu e minha irmã
acabamos pedindo uma pizza, só ficaria nós duas mesmo, enquanto esperamos,
Júlia vai tomar banho.
Meu telefone toca, vejo Arthur na tela, sorrio feito a boba apaixonada que
sou, e atendo no segundo toque.
— Oi — digo um pouco tímida e nem sei o porquê, Arthur tem me deixado
assim ultimamente.
— Oi, amor, só liguei pra saber se está tudo bem. — A simples palavra
amor, faz meu coração dar saltos, gente apaixonada realmente é foda, puta que
pariu.
— Tudo bem, minha irmã está um pouco triste, fico preocupada, mas eu
não posso fazer nada a respeito se ela não me conta — falo deitada no sofá.
— Tente não se meter onde não é chamada, Bia — Arthur diz como se
desconfiasse que eu fosse fazer algo.
— Você deveria confiar em mim, poxa — digo, mesmo sabendo que ele me
conhece muito bem.
— Eu te conheço, Beatriz. Vamos almoçar amanhã? Meu irmão se
convidou também, se não tiver problema pra você — Arthur diz.
— Problema nenhum, agora preciso desligar, minha pizza chegou — digo a
verdade, porque não tenho mesmo.
A pizza chega, coloco na mesa, e chamo minha irmã para comer.
Comemos uma pizza inteira enquanto conversamos sobre as amenidades do
dia a dia, não quero ficar perguntando sobre o que aconteceu, porque sei que ela
não vai me falar.
Estamos sem sono, colocamos em uma live do BTS que minha irmã ama, e
embora eu não tenha confessado a ela porque tenho uma reputação a zelar,
também gosto muito deles, e ouço enquanto estou trabalhando.
— Arthur vem almoçar aqui amanhã, tá bom? — digo, porque sei que ela
odeia surpresas.
— Tudo bem, Bia. Agora estão namorando, né? E eu gosto dele, ele te faz
bem — diz, me dando um beijo na bochecha.
No final, eu sinto uma sensação boa por minha irmã se sentir bem por eu
estar feliz, mas ao mesmo tempo, sinto um aperto por ver seu olhar triste e não
saber o motivo, nem como ajudar.
E como prometi, ficaria quietinha, mal sabendo eu que o tormento de minha
irmã tinha nome, sobrenome, e estava mais perto do que eu imaginava.
Quando você entra pela porta e olha nos meus olhos
Sim, parece, sim, parece a primeira vez
Eu posso me apaixonar por você para sempre, tenho certeza
Porque eu ainda fico nervoso
Quando seus lábios atingem meus lábios e os fogos de artifício voam
Nervous –John Legend, Sebastian Yatra
Arthur
Acordar e não ter Beatriz ao meu lado era tão ruim, a sensação do seu
corpo junto ao meu era a coisa mais gostosa. Ainda estava sem acreditar em seu
pedido de namoro, como sempre ela me surpreende.
Quando contei para o meu irmão, ele estava em uma boate, se convidou
para comemorar o pedido de namoro, almoçando na casa de Beatriz. Eu ainda
estava sem entender o porquê de ele ficar postando fotos no status do Instagram
se pegando com uma mulher, que não significava nada para ele, no dia seguinte,
ele nem trocaria telefone, pois nunca foi de fazer isso. Mas quem sou eu para
entender a mente perturbada do meu irmão?
Rocky me olha e volta a dormir, claro, porque é muito mais importante do
que meus dilemas e pensamentos, ele era o rei dessa casa mesmo,
principalmente quando Beatriz estava por aqui.
Aviso ao meu irmão para me encontrar direto no apartamento de Beatriz,
os dois eram amigos inseparáveis mesmo, não tinha problema, e antes da minha
vida cruzar com a de Beatriz, os dois já eram muito amigos, então nada mudaria,
quer dizer, algumas coisas, mas nada drasticamente.
Visto uma calça jeans, uma camiseta preta e antes de sair, ligo para minha
mãe, preciso contar a ela sobre o pedido de namoro que recebi, estou até
imaginando a cara dela.
— Oi, meu filho, está tudo bem? O que você aprontou? — diz assim que
atende o telefone.
— Oi, mãe, calma. E por que eu tenho que ter aprontado alguma coisa?
Eu não sou o Frederico. — Finjo estar magoado com o comentário dela.
— É justo, meu filho, mas me diga, você raramente me liga assim
repentinamente, me assustei — ela diz, o que não deixa de ser verdade, eu sou
bem relapso em ficar ligando para minha mãe o tempo todo.
— Beatriz me pediu em namoro, mãe, acredita? Ela fez o pedido, mãe —
falo, trancando o apartamento e indo para o meu carro.
— Eu sabia, tinha certeza que essa era a mulher da sua vida pela forma
que vocês se olharam quando estavam em casa. E ela teve atitude em te pedir em
namoro, quando fizer o pedido de casamento, trate de caprichar e nada daquele
clichê de pedir na beira da praia, tá bom? Escuta sua mãe — minha mãe diz, e eu
fico pensando que mães sempre sabem das coisas.
A minha sempre disse que eu iria encontrar alguém que fizesse meus
olhos brilharem, eu sempre achei que isso fosse uma baboseira, até Beatriz
entrar em minha vida e virar meu mundo de cabeça para baixo.
Quando ela terminou comigo, eu sofri, mas a sensação de perdê-la para
sempre foi muito pior, eu não tinha motivo para não estar ao lado dela, foi por
isso que a perdoei tão rápido. Na verdade, o amor não faz sentido, só temos que
sentir.
O porteiro do prédio onde Beatriz mora me autoriza a subir, assim que
chego na porta do apartamento, Beatriz está me esperando, vestindo um short de
cintura alta e um cropped mostarda com um decote generoso.
Agarro Beatriz, encostando suas costas na porta, beijando sua boca,
apertando sua bunda, mulher maravilhosa demais.
— Que pouca vergonha vocês dois, vão para o quarto logo. — Ouço a voz
do meu irmão.
— Por que mesmo você permitiu que ele viesse? — digo, olhando nos
olhos de Beatriz, dando um beijo em sua testa.
— Ele está aqui faz tempo, e permiti porque é seu irmão, né? — diz,
rindo, e indo em direção à cozinha.
Beatriz está preparando um filé a parmegiana, segundo ela, Frederico só
atrapalhou ao invés de ajudar, e falava empolgada sobre a volta ao trabalho. Eu
estava muito feliz por ela, sabia que não seria a mulher que amava, se ficasse em
casa sem fazer nada.
E, na verdade, o lugar dela era dentro dos tribunais, porque eu
testemunhei uma advogada excelente, defendendo sua cliente com ética, honra, e
principalmente muito amor e comprometimento, dava para sentir a paixão que
Beatriz tinha por fazer o que fazia.
— Oi, pessoal, precisam de ajuda? Perdi a noção do tempo hoje, estava
terminando um trabalho da faculdade — Júlia diz, entrando na cozinha.
— Eu deveria ter ido te acordar com beijinhos, Ju — Fred resolve abrir a
maldita boca e pelo olhar de Beatriz para mim, vem briga de gigantes por aí.
— Você deveria ir a merda, Frederico! — Júlia responde nervosa, eu
nunca a vi desse jeito.
— Só se você estiver junto — o infantil do meu irmão devolve.
— Na merda vai estar você, tem que se cuidar pra não estar doente com o
tanto de mulher diferente que passa por aí. — Júlia encara meu irmão.
Eu e Beatriz nos olhamos sem entender muita coisa.
— Está me stalkeando por acaso, Júlia? — fala, ficando com o rosto
colado ao de Júlia.
— Já chega, vocês dois, que coisa! Parecem duas crianças — Beatriz diz,
entrando no meio deles, que estavam quase grudados.
Eu fico me perguntando o que foi isso tudo, nunca tinha visto a Júlia
alterada dessa forma, mesmo meu irmão sendo bem inconveniente às vezes, ela
nunca o tratou dessa forma, nem mesmo falou sobre as mulheres que ele sai.
Espera, será que eles tiveram algo? Puta merda, eu vou matar o meu
irmão, ele tinha que se enroscar com a minha cunhada, porra? Tanta mulher no
mundo, ele tinha mesmo que se envolver com ela? Mas calma, Arthur, são
somente suposições, somente suposições.
Ficar ao lado de Beatriz sempre era muito prazeroso, ajudei-a a terminar o
almoço, colocamos a mesa e ambos observamos a troca de farpas entre Júlia e
Frederico. Eu posso estar muito enganado e estar sendo apenas um bobo
apaixonado, mas conhecendo o meu irmão, ele está bem ferrado, só de notar a
troca de olhares entre ele e Júlia, dá para perceber a paixão existente ali.
O único problema seria ele assumir isso, na verdade, assumir seria fácil, o
pior seria conquistar Júlia, e fazê-la assumir os sentimentos, porque se tem
família para ter mulheres complicadas, é essa, e a única diferença é que Júlia era
mais doce que Beatriz, acredito que isso ainda vai render uma história e tanto.
— Você está muito estressada, Julinha. Posso te ajudar, sabe disso. —
Frederico abre a boca.
— Você é nojento, Frederico. Já terminei aqui, vocês me deem licença.
Adorei sua presença aqui, Arthur. — Júlia levanta da mesa, e vai para o seu
quarto.
— Juro que se você ousar chegar perto da minha irmã ou ferir os
sentimentos dela, eu acabo com a sua raça, pouco me importando se é meu
cunhadinho ou não, entendeu? — Beatriz ameaça meu irmão, dando um tapa em
sua cabeça.
— Será que ela vai resistir, e ficar longe de mim? — meu irmão provoca.
Eu dou risada, mas fico realmente preocupado com o que Beatriz pode
fazer para proteger seus irmãos, ela virava uma leoa, mas nesse caso, nem ela
podia fazer alguma coisa.
Meu irmão vai embora, e eu vou para a cozinha lavar a louça, nada mais
justo, afinal, Beatriz ficou cozinhando.
— Que bunda mais gostosa essa, viu. — Beatriz aperta minha bunda,
estava cada vez mais gostoso ter esses momentos mais íntimos e leves ao lado
dela.
— Eu tô doido pra comer a sua de novo — sussurro em seu ouvido.
— Mas pode tirando seu pau da minha bunda, Arthur. Ele não vai passar
por aqui tão cedo — Beatriz fala, correndo para o sofá.
Passamos um dia bem casalzinho, comendo porcaria, assistindo Netflix e
agarrados no sofá, nada de sexo em respeito à sua irmã que estava em casa
terminando um trabalho da faculdade, mas pelo menos os filmes foram bons,
com Beatriz falando e supondo o que iria acontecer o tempo todo, eu senti tanta
falta da sua tagarelice durante os filmes.
Depois de jantar com Beatriz, estamos no sofá e ela está calada desde que
viu Larissa sair da minha sala, e conhecendo bem a pecinha, sua cabeça está
pensando um monte de coisas.
— Arthur, desculpa, eu acabei escutando a conversa que você teve com a
Pernalonga, você pensa em ter filhos? — diz, olhando em meus olhos.
Eu nunca tinha parado para pensar nisso direito, sobre ter filhos, são uma
responsabilidade enorme, e mesmo quando as pessoas planejam, acho que no
fundo nunca estão cem por cento preparadas para isso, mas eu gostaria de ter.
— Amor, eu gostaria de ter uma criança, mas não tem por que você ficar
pensando nisso. — Coloco uma mecha de cabelo atrás de sua orelha e beijo sua
testa.
— Eu não sei se quero ser mãe, Arthur. — Beatriz desvia o olhar.
— Tudo bem, amor — digo, puxando ela para o meu colo.
Fico com Beatriz ali no meu colo e faço carinho pensando em todos os
acontecimentos. E sobre ela não querer ser mãe, realmente está tudo bem para
mim, não tenho qualquer problema quanto a isso.
Algumas mulheres nascem com o desejo de se casar, ter filhos, e a cerca
branca, esse não é o caso da Beatriz que é quem meu coração escolheu para
bater mais forte. Ela era a mulher que não ligava para demonstrações de
sentimentos para todo mundo ver e sim algo bem íntimo.
Beatriz era aquela mulher independente, dona de si, que corre atrás do que
quer, fala o que pensa, e ainda sim é a mulher mais carente do mundo. Eu me
sentia um filho da puta sortudo por ter conquistado o coração dela e conseguir
ouvir daquela boca um eu te amo.
Eu não sei o que o futuro nos reserva, mas sei que viriam muitos
momentos felizes, eu e minha pequena terrorista merecíamos isso. E uma coisa
era certa, quando eu fosse me casar com ela, seria com ela vestida de noiva com
toda pompa que um casamento exige.
Ela gostando ou não, porque eu adoraria vê-la entrando num corredor em
um vestido, enquanto eu a espero.
Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
Exagerado – Cazuza
Arthur
Dois meses depois.
Acordo e não tenho Beatriz ao meu lado, sentia falta da bagunça que seus
cabelos faziam pelo travesseiro, e na toalha molhada que ela insistia em deixar
em cima da cama, até terminar os cabelos com a desculpa que já iria pendurar, e
só fazia isso depois de muita insistência minha.
A nossa rotina nos últimos dias estava turbulenta, Beatriz precisou fazer
uma viagem a trabalho por conta de uma audiência e eu fiquei aqui sozinho na
companhia de Rocky, que estava deitado do lado que Beatriz dormia, traidor.
Eu estava decidido, iria pedi-la em casamento!
Tinha certeza de que ela era a mulher da minha vida e queria dormir e
acordar todos os dias ao seu lado.
Pego minha bicicleta e vou fazer meu percurso antes de fazer meus
exercícios na academia com musculação. Andar de bicicleta sempre me ajuda a
pensar, por tudo o que Beatriz passou queria surpreendê-la com um pedido que
fosse a nossa cara.
Nós não precisávamos de frescura, desde o início de nosso envolvimento
sempre fomos simples e objetivos e eu permaneceria assim.
O vento batendo no rosto, a paisagem passando, tudo é muito lindo, viro
em uma rua que nunca passo para aumentar meu caminho e passo em frente a
uma casa com uma roseira linda, o que me dá uma ideia para o pedido de
casamento.
Volto para casa o mais rápido que consigo, tomo um banho, me troco, e
saio em busca das coisas necessárias para o plano, quando Beatriz voltar na
sexta-feira.
Não conto para ninguém, pois quero que seja um momento único para
Beatriz e para mim.
Vou até a joalheria e me mostram vários modelos de anéis, mas não
consigo gostar de nenhum, nada faz jus ao que quero para Beatriz. Quero que
seja único e especial, como ela, então me lembro da rosa, e peço para o joalheiro
fazer uma peça única.
Beatriz
Algumas semanas depois...
Já planejaram um casamento?
É um inferno!
Por que eu concordei com isso? Estou surtando.
Depois de ter concordado com Arthur e sua infeliz proposta de ter um
casamento com toda pompa e circunstância que ele quer, contamos as nossas
famílias que iríamos juntar as escovas de dentes.
Todos ficaram muito felizes, Júlia e Frederico infernizaram a minha vida
dizendo que sabiam que eu ia morder minha língua com todo meu discurso de “Vou
ficar solteira piranhando para sempre”, de castigo, os dois vão ser padrinhos juntos.
Castigo não, porque já estava nos meus planos isso.
Bom, aqui estava eu, fazendo a prova do meu vestido, se Arthur queria um
casamento para me ver vestida de noiva e que ele tivesse um mini ataque cardíaco
quando me visse, ele teria, porque o vestido era de arrasar, pelo menos eu achava.
E no fundo, só isso que importa.
Como eu tive pouco tempo para resolver essa questão, fui para São Paulo e
procurei um estilista, só assim para fazer um vestido de noiva em tão pouco tempo.
Depois de conseguir resolver sobre o vestido, o local já estava certo, Arthur
tinha resolvido isso e mais algumas coisas, eu tinha que resolver o bolo, docinhos e
a decoração para a festa. Para que tudo isso?
Arthur, é claro, não poderia comparecer, então eu tinha que resolver essa
porra toda sozinha. Saí de uma audiência e vim direto, estou saindo do carro e a
cerimonialista sorri para mim.
Vaca, está ganhando um dinheiro do caralho as custas do idiota do meu noivo.
— Beatriz, querida. — Sorri e me leva para onde tem várias mesas montadas.
Puta merda, o que eu tô fazendo aqui! Eu vou matar o Arthur, juro que vou!
— Vamos começar pelo sabor dos bolos, tem red velvet, doce de leite,
chocolate, quer provar? — a mulher me diz.
— Uma camada de doce de leite com nozes, outra de chocolate, assim agrada
a todos, depois que terminarmos tudo, eu aceito provar, obrigada. — Pelo menos
isso para me animar, porque estão parecendo tão apetitosos.
Seguimos para outra mesa onde ela começa a me mostrar as diferentes
combinações de toalhas, várias cores, significados que não entendo e para mim não
significam nada, são apenas uma porra de cor de toalha.
Por que as pessoas gastam tanto com casamento?
Eu vou matar o Arthur e ele não vai realizar sonho nenhum.
— Aline, eu não entendo porra nenhuma dessas coisas, para ser sincera, não
queria nada disso, se você me der licença, vou ligar para o meu noivo e ver se ele
consegue opinar. — Me afasto para ligar para Arthur, tenho vontade de gritar com
ele, porém, tenho que fazer de conta que sou educada, pelo menos na frente das
pessoas. Arthur demora um pouco, mas me atende, irritante.
— Arthur, eu não entendo nada de cor de toalha, não faço questão dessa
palhaçada toda, não podemos cancelar tudo? Casamos no cartório — falo irritada.
— Oi, amor, estou bem e você? Que bom que você perguntou, já disse que
quero ver você vestida de noiva, meu amor — o filho da puta ainda zomba.
— Se você quer me ver vestida de noiva, eu coloco a porra do vestido,
casamos no cartório, e você tira depois, cacete! — respondo, me alterando.
As mulheres que estão me aguardando fingem mexer em algo na mesa de
bolo.
— Já disse que não, Beatriz, e tem mais, está chegando o dia, não sei porque
de tanto drama, eu vou tirar o vestido de qualquer forma mesmo — Arthur fala.
— Eu vou fazer ter muitos botões, pra você sofrer horrores pra tirar, seu filho
da puta! — Não sei porque estou tão brava, mas estou, acho que festa de casamento
é uma grande perda de tempo e dinheiro.
— Eu sou paciente, Beatriz. Afinal, vou casar com você, te amo, preciso
desligar.
— Arthur? — pergunto, quando o telefone fica mudo.
Filho da puta, desligou na minha cara, que ódio, ele vai ficar sem sexo até
depois do casamento, é isso!
Nada de sexo para ele!
Droga, quem eu quero enganar, eu não consigo cumprir essa promessa. Eu era
como uma viciada, só que em sexo com Arthur.
— Bom, meu noivo não vai ajudar. — Sorrio para a cerimonialista.
Aline, a cerimonialista, é muito paciente e o que mais gosto dela é que ela me
entende, inclusive as minhas variações de humor, que essa semana estão se
superando. Com calma, ela me ajuda a encontrar a decoração, a toalha para as
mesas.
Terminamos de resolver tudo e eu provo os sabores de bolo disponíveis, e os
docinhos também, porque eu não sou boba, né?
Saio do buffet, e pelo horário, Arthur ainda está no gabinete, não sei por que
estou indo para lá, mas estou.
Lembrei! Porque ele desligou o telefone na minha cara, foi isso!
Subo até sua sala e ele está lá com os olhos concentrados no computador,
gostoso do caralho!
— Beatriz? O que faz aqui? — Vem em minha direção com aquele perfume
gostoso e inebriante.
— Juro que a próxima vez que você desligar o telefone na minha cara, eu
arranco seu pau fora — falo, batendo minha mão em seu peito.
— Você fica sem parque de diversões, meu amor, melhor não fazer isso. —
Abraça minha cintura, me dando um beijo casto na boca.
Filho da mãe, eu vim para brigar com ele, ele me coloca sentada em cima de
sua mesa e segura meu rosto com as duas mãos, olhando em meus olhos, merda,
isso me desarma por completo, inferno de homem.
— Você estava muito alterada, Beatriz, eu não ia falar com você daquele jeito
— fala, arrumando uma mecha do meu cabelo.
— Desculpa, amor, falta uma semana para o nosso casamento, você sabe o
que eu penso sobre toda essa coisa de festa, só estou fazendo isso porque você me
obrigou.
— Primeiro, você não faz nada que não queira, segundo, você pediu
desculpa? Tá doendo muito isso, né? — Arthur provoca, me dando uma mordida na
orelha.
— Tá doendo horrores, seu filho da puta!
— Eu sei, agora tira essa bunda gostosa daqui e vai terminar de arrumar suas
coisas — fala, dando um tapinha na minha perna.
Me despeço de Arthur e vou para casa porque realmente tenho que arrumar
minhas coisas, a princípio, iríamos ficar no apartamento de Arthur, deixaria minha
irmã com o apê todo para ela, eu estava com medo de tudo o que estava
acontecendo.
Não tinha como não ficar, eu passei por muita coisa, Arthur me despertou a
vontade de querer tentar de novo, de querer mais, só que isso dava um medo do
caralho.
Chegando em casa, retiro os sapatos, e jogo de qualquer jeito na sala mesmo,
deito no sofá, estou exausta, queria ficar deitada um dia inteiro sem fazer nada, e
quem eu quero enganar, eu não ficaria nem cinco minutos deitada.
— Não vou sentir falta nenhuma da sua bagunça, chega pra lá. — Júlia cutuca
minha perna, e tem nas mãos um pote de sorvete.
— Tem fini dentro? — pergunto, quando ela me oferece o pote.
— Claro que sim, sua gulosa, pelo visto seu dia foi difícil, coloquei dois
pacotes. — Me entrega um pote de sorvete cheio de doce dentro.
Que saudade eu vou sentir desses momentos.
Mas, como dizem, uma hora nós precisamos amadurecer, criar nosso próprio
caminho e seguir nossa vida. E eu estava fazendo isso, minha irmã iria continuar
comigo, sempre que eu precisasse, a única diferença é que não iríamos mais morar
juntas.
— O casamento é daqui a uma semana, Ju, eu tive que escolher bolo, doces e
amanhã tenho que ir pra São Paulo fazer a última prova do vestido. — Enfio uma
colherada de sorvete na boca.
— Mas, Bia, você é a noiva, é você que tem que fazer isso, não pode ser outra
pessoa, o Arthur não é como o Diogo, essa fase da sua vida acabou — Júlia diz o
óbvio.
— Eu sei, Ju — suspiro.
— Então trate de ir ser feliz e pare de se autosabotar. Você não vai me deixar
ver seu vestido mesmo? — a curiosa pergunta.
Dessa vez, eu fiz a escolha e prova sozinha, queria surpreender a todos e meu
vestido estava lindo, pelo menos da última vez que provei, só precisava de alguns
ajustes.
— Tá bom, Júlia, você venceu, vamos comigo amanhã ver o vestido. —
Concordo com a ida dela até minha última prova de vestido, vai ser divertido ter
minha irmã por perto.
Eu precisava terminar de arrumar algumas caixas que ainda faltavam para
levar para o apartamento de Arthur, que ele dizia que era nosso agora, eu gostava
disso, a parte de ser nosso. Mas antes, eu ia aproveitar e terminar de assistir o
dorama que comecei com a minha irmã, era viciante.
Com Netflix, comida, e boa companhia, eu estava terminando minha noite, eu
sentiria falta de dormir no sofá com minha irmã, mas ainda bem que não estava
morrendo, e só me casando, né?
Estava no ateliê com minha irmã do lado de fora esperando para ver meu
vestido, o estilista Lucas Anderi, foi muito atencioso, não é para menos, porque caro
ele foi, mas o vestido estava impecável, ficou do caralho!
Ele estava terminando de fechar nas costas porque sim, haviam muitos
botões, é aquele doce e velho meme, Arthur que lute.
Meu vestido era todo branco, cheio de renda e cristais, de alcinhas com um
decote não muito exagerado, ele tinha uma leve transparência até um pouco acima
do umbigo, ele era justo com uma fenda na perna esquerda até um pouco acima da
coxa, e uma cauda pequena abrindo na barra.
Estava melhor do que eu imaginei, estava lindo, sexy, estava a minha cara,
não tinha como ser de outra forma.
Saio do provador e vou até a passarela que eles têm e minha irmã está lá me
esperando, assim que me vê, abre um sorriso enorme e sei que esse é o vestido
perfeito. Sabe aquele programa de televisão que mostra um monte de mulher rica
que paga absurdos nos seus vestidos e no final dão gritinhos dizendo “Esse é seu
vestido ideal?” me senti assim.
— Você vai matar o pai e o Arthur do coração, mas você está linda, Bia. O
vestido é a sua cara, perfeito pra você — diz, se levantando para olhar o vestido
mais de perto. — Você está linda — repete.
Lucas e sua equipe fazem os ajustes necessários, me ajudam a tirar o vestido,
que apesar de lindo, preciso de ajuda para colocar e tirar, pois tem botões demais.
Combinamos os detalhes da entrega e me despeço.
Eu fico nervosa, muito nervosa.
Decidimos passar no Mercado Municipal, escolhemos comer sanduíche de
mortadela, enquanto aguardamos ficar pronto, vejo tâmaras com morangos e decido
comprar, elas parecem tão apetitosas.
— Está há quantos dias sem comida, Beatriz? — Júlia pergunta.
— Idiota, só fiquei com vontade, ué.
Nossos sanduíches chegam e comemos, está tão delicioso que eu como
inteiro. Caramba, esse negócio era enorme, eu devia ter comido menos.
Júlia volta dirigindo, a volta como sempre com muita música e falatório,
porque Júlia era um ser bem tagarela quando tinha intimidade com as pessoas, a
pessoa mais doce que conheço no mundo e a mais insuportável também.
Precisamos parar no meio do caminho em um posto na estrada, eu estou
passando muito mal, ainda bem que faltava pouco para chegar, mas eu não
conseguia mais segurar, estava muito enjoada e pedi para Júlia parar.
— Eu falei pra você não comer demais, sua gulosa — Júlia diz, assim que eu
saio do banheiro.
— Insuportável, eu estava com vontade, por isso eu comi — respondo o que
não deixa de ser verdade, eu estava mesmo com vontade.
Voltamos para a estrada com Júlia atenta, era sempre assim quando qualquer
um de nós precisava ou ficava doente, ela estava lá para cuidar. O caminho todo foi
perguntando se eu precisava parar e para qualquer coisa avisá-la, mas para minha
sorte, consegui chegar bem em casa.
Assim que chegamos em casa, tomo um banho, envio uma mensagem de voz
para Arthur, avisando que cheguei. O cansaço me pega de jeito, deixo o celular de
lado e me deito na minha cama.
Meu celular começa a tocar, na tela Arthur está me ligando, claro que ele não
ficaria feliz somente com a mensagem que enviei.
— Oi, amor — digo, assim que atendo o telefone.
— Por que não me ligou quando chegou? Fiquei preocupado. — Esse homem
me levava do céu ao inferno em questão de segundos.
— Não lembrei, Arthur, comi tâmaras com morangos, um sanduíche de
mortadela, que nossa, você pode esperar um pouco na linha.
Não espero pela resposta de Arthur e chego até o banheiro vomitando tudo o
que tenho no estômago. É, pelo visto, o sanduíche não caiu bem. Escovo meus
dentes e pego meu telefone novamente.
— Oi, amor, desculpa.
— O que houve? — Arthur pergunta preocupado.
— Acho que o sanduíche de mortadela não me fez muito bem, só isso — falo,
me arrumando na cama.
— Hum, entendi, o sanduíche, e me diga, deu certo com a prova do vestido?
— Arthur tem um tom diferente em sua voz.
— Deu certo, muitos botões pra você sofrer, está tudo bem? Ficou estranho
de uma hora para outra. — Solto de uma vez, não gosto de ficar encanada com as
coisas.
— Eu já disse que sou um homem paciente, Beatriz, não vou fugir de vários
botões, se o que me espera é o paraíso do seu corpo pra eu me perder como
recompensa — responde. Caralho de homem que vive me deixando sem resposta
para as coisas.
— Boa noite, Arthur.
Faltava uma semana para o meu casamento e eu estava muito nervosa, deve
ser por isso também que eu acabei vomitando, sempre que ficava nervosa passava
muito mal.
Em uma semana, eu me casaria com um homem incrível, e estava ficando
com muito medo, casamento parece fácil, mas é um negócio complicado. Vou
dormir e acordar todos os dias com a mesma pessoa, vou ter o mesmo pau para o
resto da minha vida.
Puta merda! O amor faz a gente fazer muita merda!
Pelo menos o Arthur fodia bem e tinha um pau muito gostoso, e não, não
tinha como não pensar na parte sexual da coisa, imagina você viver o resto da sua
vida com uma pessoa que fode mal? Deus me livre.
Fico assim até pegar no sono e lembrando de todas as coisas que ainda
precisava fazer. Arthur não tinha me dito onde iríamos na nossa lua de mel, estava
cheio de suspense, eu odiava surpresas, agora estava aqui pensando um monte de
besteiras.
Mas aí, me lembro do meu vestido, e fico imaginando a reação de Arthur
quando me ver nele, confesso que estou um pouco ansiosa para isso.
— Está melhor, Bia? — Uma Júlia preocupada coloca a cabeça dentro do
meu quarto.
— Estou sim, foi só um mal-estar, amanhã já estarei cem por cento, dorme
comigo — peço e ela vem.
Assim como era quando éramos mais novas e dormíamos juntas.
Eu sentiria muita falta da minha rotina com ela, mas dizem que tudo são fases
na vida, e que todo começo é bom, eu estava me jogando de cabeça nessa nova fase
e torcendo para que ela fosse muito boa.
Pegue minha mão
Tome minha vida inteira também
Porque eu não consigo evitar
Me apaixonar por você
Can’t help falling love –Kira Grannis
Arthur
O dia do meu casamento chegou!
Eu estava muito nervoso, as semanas que antecederam o casamento foram
extremamente estressantes, Beatriz estava irritada e me xingando sempre que
podia.Na última viagem dela pra São Paulo, eu fiquei preocupado pois ela passou
mal, e a semana seguinte também.
Ela dizia que estava muito nervosa com o casamento deixando bem claro
que a culpa era minha, é claro.
Ô mulher difícil.
E ela surtaria, tenho certeza pelo tamanho da aliança que eu escolhi, e não,
não foi pequena, tenho que mostrar direito que aquela mulher maravilhosa é
casada, e comigo.
Isso soou bem territorialista, eu sei.
Apesar de querer um casamento, o desejo ou ordem de Beatriz foi que ele
fosse com as pessoas mais íntimas, e foi o que fizemos, estavam a família dela, a
minha, sua sócia, e alguns amigos mais próximos. Eu estava terminando de me
arrumar quando minha mãe entra no quarto.
— Meu filho, você está tão lindo — diz com lágrimas nos olhos.
— Obrigada, mãe. — Puxo-a para um abraço.
— Eu tenho orgulho do homem que você se tornou, e a mulher que você
vai se casar, tem qualidades incríveis, por mais difícil que seja, converse e não
desista, filho. O amor de vocês é lindo, e vocês merecem toda felicidade desse
mundo, ela deve estar muito linda porque não deixou ninguém entrar onde está se
arrumando, nem a mãe dela, eu amo a minha nora, ela faz você perder os cabelos,
isso me alivia pelos anos que eu perdi por surtar com você. — Minha mãe dá um
tapinha em meu rosto.
O que ela disse só me deixava mais ansioso, puta merda! O que Beatriz
estava com tanto segredo com esse vestido que não deixava ninguém ver? Só
faltava a doida da minha noiva aparecer com um vestido preto só de pirraça.
Me sento no sofá que tem ao lado e me sirvo de uma dose de whisky, será a
única antes do casamento, eu preciso relaxar porque está chegando a hora.
— Cinco minutos pra você entrar, Arthur — Aline, a cerimonialista, me
avisa.
Meu pai entra e me vê jogado no sofá, ele está rindo.
— Me lembro até hoje quando me casei com sua mãe, estava tão nervoso,
filho. E se ela desistisse de casar comigo? Esse pensamento me assombrava,
porque eu era louco por ela, na verdade, eu sou até hoje, mas nada me preparou
pra quando eu vi sua mãe entrando na igreja — meu pai diz, e eu e meu irmão que
até então não havia notado sua presença, ouvimos com atenção.
— Quando sua mãe entrou, meu coração acelerou, e eu tive plena certeza
de que aquela era a mulher da minha vida. Paixões temos muitas na vida, agora
amor, é único, te faz renunciar a todas as outras, te faz fazer loucuras. Há
momentos bons e ruins, porque a vida é assim, de altos e baixos — meu pai fala
emocionado.
Abraço forte meu pai e sinto meus olhos encherem de lágrimas, esse
homem que sempre foi exemplo de tudo para mim, hoje no dia do meu
casamento, estava me dando mais uma lição. Eu amava minha família.
Está na hora de ir, começo a ficar nervoso, e se Beatriz desistir de tudo e ir
embora? Não, eu não iria pensar nisso.
Porra, era muito dificil ser noivo, ninguém me avisou antes.
Eu entro na capela ao lado da minha mãe ao som de “Você me bagunça”,
porque era assim que eu me sentia em relação a Beatriz, uma tremenda bagunça
desde que ela chegou em minha vida.
Os padrinhos entram e eu só consigo ficar mais nervoso. A hora da minha
noiva entrar está chegando, e eu só conseguia ficar cada vez mais ansioso pela sua
entrada.
Beatriz está atrasada cinco minutos, e Júlia é chamada pela cerimonialista,
eu não entendo nada, fico nervoso, minha noiva está bem? Por que ela não entrou
ainda?
Merda, eu começo a andar de um lado para o outro.
— Calma, Arthur, ela já vem, não vai fugir, teve um pequeno probleminha.
— Fred tenta me acalmar.
— Eu estou tudo menos calmo, Fred, o dia que for você quero ver se vai
ficar calmo — falo, porque não dá para ficar calmo numa hora dessas.
Passam alguns minutos e Júlia vem, correndo em minha direção
— Está tudo bem, seu terror está chegando! — diz, me alisando a mão e
voltando ao seu lugar.
Respiro fundo... 1.. 2.. 3... começo a contar em uma tentativa de me
acalmar.
A música “Can't help falling in love” começa a tocar e as portas se abrem,
não, eu não estava preparado.
Começa a passar um filme na minha cabeça de tudo o que passamos para
chegarmos até aqui. Beatriz está linda, ela tem um vestido muito sexy com uma
fenda em sua perna esquerda, decotado, claro, cheio de renda e cristais.
Ela entra e por todo o caminho há pétalas de rosa por onde passa, isso fui
eu que organizei, ela vai entender depois o significado.
Minha pequena terrorista está linda, eu começo a chorar, coloco as mãos
em meus olhos tentando conter as lágrimas, porque nós conseguimos, ela está
aqui, realmente vestida de noiva, vindo para mim, toda linda.
Cumprimento seu pai que está ao seu lado, emocionado, que me entrega
um de seus bens mais precioso.
— Você é a noiva mais linda desse mundo — digo em seu ouvido quando a
tenho em meus braços, antes de me virar para o padre que fará a cerimônia.
— E você o mais emocionado com certeza — diz, sorrindo.
A cerimônia ocorre, e na hora de trocar as alianças, Beatriz como sempre
não segura a língua dentro da boca e solta sobre o tamanho da aliança.
— Caralho, Arthur é pra todo mundo ver de longe que eu sou casada
mesmo, hein. Desculpa, padre, foi sem querer — diz, colocando a aliança em meu
dedo.
Finalmente o padre diz as palavras que eu gostaria de escutar
— Eu os declaro marido e mulher, pode beijar a noiva.
E eu beijo, um beijo casto, pois estamos na igreja, com todos olhando.
Minha mulher, minha esposa, está linda e radiante, sorrindo, feliz,
aproveitando nosso momento, como deve ser feito, ao lado de pessoas que nós
gostávamos.
Tiramos fotos com nossos pais, padrinhos, e vamos para o carro que
alugamos antes de ir para a festa, onde estamos com os dedos entrelaçados.
Beatriz não iria mudar o sobrenome dela, e eu não criei caso nenhum com isso,
afinal, é apenas o nome, ela está casada comigo de qualquer forma.
— Arthur, você deveria ter deixado eu escolher a aliança, sério, isso aqui
está dando pra ver lá de Marte. — Beatriz não ia superar isso tão cedo. Acho que
ela não ia superar isso nunca.
— Se eu deixasse você escolher, tenho certeza que seria um milímetro de
ouro. Eu quero que todo mundo saiba que estou casado mesmo. E digo o mesmo
pra você — falo, beijando sua testa.
Beatriz revira os olhos, os seios dela estavam maiores ou era impressão
minha? Não comentaria nada porque ela já estava brava por causa da aliança. Eu
não iria cutucar onça com vara curta, vai que ela morde.
Mas que eles estavam mais fartos, estavam.
Felicidade, é tudo que eu sinto olhando para essa mulher ao meu lado, ela
encosta a cabeça em meu peito.
— Eu estou muito feliz, Arthur, obrigada por tudo, eu amo você. — Me dá
um selinho.
Objetivo alcançado com sucesso.
Beatriz
Nunca em toda minha vida imaginei meu casamento mais perfeito, eu sei
que não queria, que eu surtei bastante organizando, mas ele ficou incrível e todo
mundo se divertiu muito, eu ainda reclamava do tamanho da minha aliança cada
vez que olhava para ela, porque senão, não seria eu.
Arthur para variar me surpreendeu com o destino de nossa lua de mel, e eu
estava agora na Itália, velejando na Toscana nesse momento, na verdade, não sei
porque aceitei, deveria ter ficado na praia.
Isso dá um enjoo do caralho.
Estou deitada tomando sol quando sou surpreendida por um corpo forte e
musculoso sobre mim, meu marido, meu lindo e gostoso marido me beijando.
Ele está comendo um camarão, parece tão apetitoso, que tiro de sua mão e dou
uma mordida.
— Isso era meu, Beatriz, e você nem come camarão! — Finge estar bravo.
— Estava parecendo bom, mas eu não gosto mesmo de camarão. — Saio
correndo com a mão na boca, indo em direção ao banheiro onde coloco tudo para
fora.
Eu não deveria ter comido, já estava enjoada com o balanço do mar, aí
resolvo comer o camarão que eu nem gosto, não tem como ficar bom mesmo.
— Está tudo bem, amor? Estou começando a ficar preocupado. — Ele
aparece na porta do quarto onde estou.
— Sim, não precisa se preocupar com isso, sua única preocupação é me
dar um orgasmo — falo, tirando parte de cima do meu biquíni, e vejo Arthur
respirar fundo.
— Você é insaciável, e eu sou viciado em você. — Ele tira a bermuda.
Arthur vem em minha direção e me joga na cama sem cuidado, onde mais
uma vez termino gritando pelo seu nome.
Como tudo que é bom dura pouco, nossa viagem terminou, e apesar de ter
amado a Itália, é ótimo estar em casa de novo. Rocky, desde que voltamos de
viagem, não sai do meu colo.
O tempo todo que eu fico em casa, ele vem comigo, chega a ser
engraçado. Arthur diz que eu roubei o gato dele, eu digo que ele sempre foi meu
e só estava emprestado até ele me encontrar.
Sempre que podia, quando Arthur acordava mais cedo para ir malhar,
deixava uma mesa de café pronta quando voltava, com um bilhetinho carinhoso.
Eu ainda estava me acostumando com tudo isso, a vida de casada, as
demonstrações de amor e carinho de Arthur, eu o amava e muito, eu só não sabia
demonstrar da mesma forma que ele. Mas ele me entendia e me fazia amar ainda
mais esse homem maravilhoso.
Havia combinado com minha irmã de almoçar com ela no apartamento, eu
não a via desde o casamento, estava morrendo de saudade dela.
Fred estava sentado na minha sala, estranho ainda dizer isso, mas estava
me acostumando, ele e Arthur iriam jogar basquete ou qualquer coisa do tipo, na
verdade, eu acho mesmo que iriam ficar em casa jogando videogame e fazendo
fofoca.
— Oi, cunhadinha, como você está? — Sou levantada do chão pelo
brutamontes chamado Frederico, que me dá um beijo no rosto.
— Estou bem e você? Agora me coloca no chão, por favor, senão eu vou
vomitar. — E era verdade, estava enjoada pra caramba.
— Saudade de irritar você.
— Você quer que te deixe na casa da sua irmã, amor? — – Arthur surge,
pegando as chaves do carro para sair.
— Não precisa, vou com meu carro, fico mais tranquila. — Fico na ponta
dos pés e dou um beijo casto em sua boca.
— A Ju está bem? — Fred pergunta, desviando o olhar.
— Até onde sei, está sim. Agora, tchau pra vocês. Vou indo porque minha
irmã precisa me contar sobre o bonitão que ela está saindo. — Claro que minha
irmã não está saindo com ninguém, mas Frederico ficou xingando quando saí.
Júlia era muito reservada com sua vida pessoal, duvido muito que se
tivesse acontecido algo, ela me falaria, mas meu instinto dizia que algo estava
rolando entre esses dois. Frederico estava com muito ciúme desnecessário.
Mas, é como dizem por aí, algumas coisas somente com o tempo, e
conhecendo esses dois, fácil não ia ser, coitado do meu cunhado!
Estou sentada comendo macarrão para não perder o costume, minha irmã
fez algumas mudanças na decoração, gostei muito, ela tinha muito bom gosto.
A companhia dela sempre foi agradável, mesmo com nossas diferenças,
apesar de ela ser mais nova, a maturidade muitas vezes era muito melhor que a
minha. Depois de arrumarmos a cozinha ficamos na sala vendo o que mais
amávamos, doramas.
— Tem sorvete, aí? — peço, porque sempre tínhamos várias porcarias.
— Tenho sim, acabamos de almoçar, certeza que você já quer? — Não sei
por que pergunta, é sobremesa gente.
— Claro que quero, é sorvete.
Júlia levanta do sofá e vai buscar o sorvete deixando o pote comigo, garota
esperta, eu não ia dividir mesmo. Começo a comer, nossa está tão gostoso, eu
amava esse sorvete, era tão bom.
— Você anda com um apetite, hein, Beatriz! — Júlia diz.
Eu hein, só estava comendo meu sorvete.
Voltamos a assistir nossa Netflix, depois da metade do episódio, termino o
sorvete, estava muito gostoso, deito no colo da minha irmã que acaricia meus
cabelos, era tão bom ficar assim.
Meu desejo de todo dia era que minha irmã fosse plenamente feliz, e eu
sabia que ela escondia mais coisas do que aparentava, ela era doce, mas, no
fundo, escondia dores que ninguém era capaz de compreender.
Sinto meus olhos ficarem pesados, não quero dormir, mas está ficando
difícil e adormeço. Ouço um barulho como se fosse bem longe da minha irmã
falando com alguém, mas eu não identifico quem é.
— Amor, vamos pra casa? — Arthur me acorda, dando um beijo em
minha testa.
— O que você está fazendo aqui? — Sento no sofá, me espreguiçando.
— Sua irmã me ligou, está tarde, e você não acordava — diz, me ajudando
a levantar.
Minha irmã está na porta com a cara fechada e vejo Frederico parado do
lado de fora, está explicado!
— Obrigada por tudo, amo você, cuidado sozinha aí. — Abraço minha
irmã.
— Também amo você.
No elevador, o clima é de completo silêncio. Frederico está com cara de
enterro, mas eu estou com sono, não quero conversar, ele iria levar meu carro até
nosso apartamento, porque Arthur achou que eu não podia dirigir sozinha com
sono.
Eu poderia brigar com ele, mas eu estava realmente com muito sono, e era
um motivo bem fútil para isso, não tinha necessidade de arrumar briga por uma
coisa tão sem sentido como essa, afinal, ele só estava se preocupando com o meu
bem-estar.
Que evolução, Beatriz! Minha psicóloga deve ficar orgulhosa de mim.
Arthur me coloca na cama dando um beijo em minha testa, eu amava cada
gesto que esse homem fazia para mim, ele me conquistou com as pequenas
coisas, por não desistir de mim.
— Durma bem, pequena terrorista, amo você. — Me abraça, nos cobrindo,
e Rocky vem dormir junto.
FIM!
Porque tudo de mim
Ama tudo em você
Amo as suas curvas e seus contornos
Todas as suas imperfeições perfeitas
All of me – John Legend
Beatriz
8 anos depois...
Certas coisas não mudaram com os anos de casamento e foi a química e
o tesão que eu e meu marido sentimos um pelo outro. Claro que com uma filha,
que é terrível, fica um pouco mais complicado, mas sempre dávamos o nosso
jeitinho, e Madalena ficava na casa dos avós, e dos padrinhos.
Minha vida tomou um rumo completamente diferente do planejado,
afinal, se casar e ter filhos não estava nos meus planos, mas Madalena foi
nossa luz, e eu não quis ter mais filhos, a minha valia por uns três.
Madalena era muito carinhosa, mas tinha um gênio do demônio, Arthur
sempre dizia que esse lado ela puxou a mim, e eu não tinha como negar, afinal,
a diabinha de cabelos cacheados era uma junção minha e de Arthur.
Ser mãe de Mada me transformou, aprendia todos os dias com ela, e
Arthur me ajudava muito, principalmente quando eu já perdia minha paciência,
ou nas noites que passei acordada sem saber o que fazer com a criança que não
parava de chorar.
Hoje era uma típica quinta-feira que Arthur levava Madalena na escola e
eu iria na terapia, porque sim, eu não parei, o fato de você ser estuprada com
algumas sessões não vai levar embora tudo o que você sente.
As sessões te ajudam a superar e o sentimento ficar mais leve, mas havia
momentos que eu tinha gatilho, que eu me sentia suja e que me lembrava de
tudo o que aconteceu. A terapia me ajudava a lidar com os meus sentimentos,
e, infelizmente, essas sensações eu iria ter sempre.
Não tem como você simplesmente apagar da sua vida um fato tão ruim,
o que você pode fazer é superar, aprender como lidar com isso. Eu demorei
para entender, mas você pode ser amada, na verdade, você deve ser amada,
mas um amor que te faça transbordar, te faça voar e se sentir livre.
E foi isso que eu encontrei em Arthur, uma pessoa que me aceitou no
meu pior, com todos os meus defeitos, e eu sabia que não era uma pessoa fácil
de se lidar, mas ele sempre dava um jeitinho de me desarmar, de me fazer amá-
lo cada vez mais, e me entendia como ninguém.
É aquela velha história de que você se basta sozinha, e sim, isso é uma
realidade, mas a vida fica mais gostosa se você puder dividir com alguém, se
tiver alguém para amar, e se um dia encontrar esse alguém, não fuja, se permita
viver, se permita amar.
Eu precisei perder para dar valor, e pode ser que você quebre a cara,
chore por ter seu coração despedaçado, mas, no fundo, a vida é assim, não é?
Se viver com medo de se machucar, vai acabar se machucando de qualquer
forma, ou preso dentro de uma bolha deixando de viver e aprender coisas que
poderiam ser incríveis. Então vai viver e ser feliz enquanto ainda há tempo.
Entro no banho, lavo meu cabelo, e ouço o barulho da porta sendo
trancada e um Arthur nu, de pau duro, vindo em minha direção. Obrigada a
minha sogra que fez esse homem e a qualquer ser existente que tenha
reservado ele para mim.
— Cadê Madalena, amor? — pergunto, enquanto ele beija meu pescoço,
me deixando toda mole.
— Está dormindo ainda, e a porta do quarto está trancada, e o Rocky
está lá com ela — Arthur me responde, descendo o beijo para o meu seio.
— Cacete, Arthur, fica difícil se concentrar assim. — Ele aumenta a
sucção em meu seio, porra, como isso é bom.
— Para de se concentrar, só vou parar quando você gozar. — Arthur
beija minha boca, feroz, enquanto a água do chuveiro cai sobre nossos corpos.
Arthur desce o beijo sobre meu mamilo, me fazendo gemer, essa boca
sempre fazendo maravilhas. Ele mordisca, sua língua passa pelos meus
mamilos enquanto seus polegares esfregam o outro.
— Quietinha, nossa filha está dormindo — o filho da puta tem coragem
de dizer quando continua mamando em mim, mordo meu lábio.
O fato de ter que conter os gemidos, fica mais excitante, Arthur lambe,
devagar, me torturando com sua língua. Seus dedos acariciam o outro e um
gemido escapa de minha boca.
Meu corpo está começando a pedir por mais, Arthur mordisca meus
mamilos, depois volta a mamar, em sucções vagarosas, mordo meu próprio
dedo para conter o grito que viria.
— Eu vou gozar, Arthur.
Ele não responde, continua olhando em meus olhos e chupando meus
peitos em uma intensidade que não consigo mais aguentar e meu corpo todo
entra em colapso e eu gozo, Arthur me beija.
— Coloca a mão no box e empina essa bunda gostosa pra mim. —Levo
um tapa na bunda e obedeço.
Me viro de costas para Arthur, empinando minha bunda para ele, assim
como pediu, sinto sua mão passando pelas minhas costas, me fazendo arrepiar.
Arthur enfia um dedo em minha boceta, que está encharcada.
Dois dedos estão em mim em um vai e vem delicioso, um gemido
escapa de minha boca, Arthur me masturba, dá leves beijos em minhas costas.
Caralho de homem gostoso.
— Amor, preciso de você dentro de mim. — Olho para ele, pedindo em
uma súplica.
— E vai ter, gostosa — diz, mordendo minha orelha.
Arthur sem nenhuma delicadeza, me penetra, eu gemo, encostando
minhas mãos no box e tentando sem muito sucesso não fazer barulho.
Com estocadas fundas e lentas, Arthur me tortura, aperta meus seios e
então desce sua mão até meu clitóris, onde ele esfrega seu dedo em mim,
aumentando suas estocadas.
Rebolo em seu pau e Arthur me fode cada vez mais forte. Caralho, como
isso é bom! Sentia todo seu pau dentro de mim, entrando e saindo enquanto eu
fico cada vez mais fodida e rendida a ele.
— É assim que você gosta, né, gostosa? — Mordisca minha orelha e
segura firme minha cintura.
— Mais forte, Arthur — respondo, enquanto sou fodida.
Arthur aumenta o ritmo me fodendo mais forte, com uma sincronia
maravilhosa, meu corpo entra em estado de êxtase e começo a sentir os
espasmos quando chego ao clímax, chamando por Arthur.
Viro meu corpo para o de Arthur e o beijo, nossas línguas se encontram
e sinto o gosto de menta me invadir, nosso beijo é devagar, apaixonado,
enquanto a água cai sobre nós dois.
Abraço Arthur que esfrega minhas costas e terminamos de tomar banho,
afinal, ainda tínhamos que levar uma pequena para a escola.
Estou de calcinha e sutiã procurando o que vestir quando sinto Arthur
me abraçar e encostar seu queixo em meu ombro, deixando um beijo casto ali,
olhando nós dois na frente do espelho.
— Eu amo você — diz, me olhando.
Somos interrompidos por uma voz mais que conhecida nos chamando.
Madalena, pelo seu tom, havia acabado de acordar, e o furacão vem correndo e
para na porta nos observando.
— Você não tinha trancado a porta, Arthur? — digo, olhando feio para
ele.
— Acho que esqueci, o tesão era muito grande com você dentro daquele
box — responde, achando graça.
— Bom dia, mamãe, bom dia, papai — diz com seus cabelos
bagunçados e um sorriso que me desarmava por completo.
Arthur fazia todas as vontades da filha, ele dizia que eu era muito dura
com ela às vezes, mas não era isso, às vezes crianças precisavam de limites.
Coisa que meu marido não dava muito para a minha filha, queria ver quando
ela crescesse.
Falando em pai babão, ele pega Mada no colo e dá um beijo de bom dia,
Arthur era muito carinhoso, e Madalena amava muito, ficava sempre grudada
com o pai.
— Hoje é você que vai me levar para a escola, papai? A gente podia
tomar sorvete, eu gosto tanto — a pestinha diz para o pai.
Ele me olha com cara de piedade e eu já sabia o que queria com aquele
olhar, levar a pequena para tomar sorvete, como se o meu não fosse fazer
alguma diferença, esses dois iriam fazer o que queriam de qualquer jeito.
Madalena se deita de bruços na cama com o queixo apoiado na mão, me
observando enquanto eu terminava de me trocar. Arthur já estava pronto e foi
arrumar a mesa para tomarmos café juntos.
Essa era uma coisa que nós não abríamos mão, sempre fazíamos as
refeições juntos, eram raros os casos em que não conseguíamos fazer, mas eu
sempre gostava de ter todo mundo junto à mesa.
— Vamos tomar banho, Madalena, que você precisa ir pra escola —
chamo, e levo Mada para o chuveiro.
— Mamãe, o papai me contou uma história de princesa e falou que
quando eu crescesse e tivesse a idade certa, o príncipe encantado ia me
encontrar, mas eu pensei bem e eu não quero que ele me encontre.
— Não, filha, e o que você quer? — pergunto para a minha filha,
querendo saber o que vai sair dessa cabecinha.
— Eu quero sorvete, mamãe, e um dragão, os príncipes nunca dão
sorvete para as princesas, o papai te dá sorvete, ele é melhor que príncipe,
mamãe — responde com uma naturalidade.
— É verdade, Madalena, o papai é melhor que príncipe, porque ele é um
rei, o rei Arthur, agora vamos sair desse banho para eu terminar de te arrumar e
seu pai te levar para tomar sorvete.
Madalena coloca as mãozinhas na boca como se não acreditasse que as
palavras saíram da minha boca. Essa menina alegrava todos os meus dias, dei
um beijo em sua bochecha e terminei de lavar seus cabelos.
Arrumo Madalena, escovo seus cabelos, faço uma trança e seguro sua
mão para irmos até a cozinha tomar café da manhã. Arthur prepara o cereal
com iogurte de Madalena e eu vou conferir os recados e as lições de casa da
minha filha.
Assim que abro o caderno de recados, me pergunto por que mesmo me
enviaram uma criança? E uma tão pestinha? Primeiro, ela não fez as tarefas,
segundo, ela bateu em um coleguinha.
O motivo? Eu não fazia a menor ideia, mas vindo do meu pequeno
furacão, boa coisa não era, na verdade, eu provavelmente concordaria com ela,
porque os argumentos que ela usava eram sempre muito bons, mas eu não
assumia nunca.
— Madalena, em quem você bateu e por quê? — digo firme, e Arthur
me olha, revirando os olhos.
Madalena me encara balançando as perninhas sobre a cadeira, às vezes
eu tinha vontade de morder essa cara de pau da minha filha.
— Mamãe, calma, deixa eu explicar — me responde com a boca cheia.
— A tia pediu para sentar em dois e a Isa não foi, aí ela mandou o
Guilherme sentar comigo, ele falou que não podia ficar ali porque eu era chata,
tudo bem, ele não é obrigado a gostar de mim, aí o João passou, ele colocou o
pé na frente, e ele caiu. Eu me levantei e bati nele, falei que ele devia ser
menos malvado com as pessoas, saí e deixei ele sozinho lá — disse, colocando
uma colherada de cereal na boca.
Arthur me olha e dá de ombros, como eu vou brigar com essa criança
agora? Ela defendeu uma coleguinha, não tinha como brigar com ela.
A diabinha da minha filha continua comendo seu cereal como se nada
tivesse acontecido, eu não acho que ela tenha feito errado, afinal, ela defendeu
seu coleguinha, mas bater é errado, as coisas não podiam se resolver na
violência.
— Madalena, eu já falei para você ser menos impulsiva nas coisas que
você faz, bater nos outros não é legal, mesmo que seja para defender um
coleguinha, agora vai para o seu quarto fazer seu dever, e o sorvete foi
cancelado. — Olho feio para ela e Arthur.
Ela não respondia para mim, o que eu agradecia muito, porque eu não
era uma pessoa muito paciente, terminou seu café e foi no quarto.
— Você sabe que o castigo serve só para o que você fala, né? O gênio é
igualzinho o seu. — Me abraça e me vira para me dar um beijo.
— Eca — Madalena diz na porta do quarto, cruzando os bracinhos.
— Espero que ela fique com esse pensamento até os cinquenta anos,
mas filha de quem é, tenho é medo, amor. — Arthur me solta e pega Mada no
colo.
— Sabe que isso não vai acontecer, né, Arthur? — Me desvencilho de
seus braços e vou tirar a mesa rindo.
— Está pronta pra escola, filha? E à noite, mocinha, vamos fazer lição
de casa juntos, eu e você — Arthur diz para a Mada.
— Estou pronta, papai.
— Tchau, mamãe, até mais tarde, vou tentar não bater em ninguém hoje.
— Madalena vem até mim, e me dá um beijo e um abraço, indo até a porta
esperar seu pai.
Me seguro para não rir, porque ela é terrível!
— Tchau, amor, até mais tarde, te amo, pequena terrorista. — Arthur me
dá um beijo na testa e sai.
— Te amo, amor.
Essa não era nem de perto a vida que eu havia planejado, mas eu não
trocava por nada nesse mundo, tinha um marido apaixonado por quem eu
tentava demonstrar todos os dias o quanto me fazia bem, e Madalena, minha
filha, que alegrava meus dias como ninguém, com seu jeito incrível de ser.
O destino sempre está ali para nos surpreender, o que eu menos queria
era o que eu mais precisava, uma amiga uma vez me disse que eu era hipócrita
em dizer que não queria relacionamento, afinal, eu era louca por romances.
E acho que, no fundo, ela tinha razão. No fundo, todos procuramos
alguém para dividir nossa vida, ninguém gosta da solidão. Ter alguém para
poder contar quando tudo fica complicado, é incrível.
Eu estava aqui na minha janela esperando minha filha e meu marido
passarem para poder terminar de me arrumar e poder sair, esse era um ritual
nosso, quem ficasse em casa se despedia na janela.
E lá estava ela, toda saltitante ao lado de seu pai, abanando as duas
mãozinhas para mim gritando, não tinha como ficar irritada muito tempo com
ela.
Desejava que um dia alguém a amasse à altura do que ela merecesse, e
que ninguém a fizesse sofrer, mesmo eu sabendo que era mais provável o
oposto.
Não sei o que o destino reservava para mim, mas se eu estiver ao lado da
minha família, então estaria tudo bem. Eu finalmente me sentia em casa, e
feliz.
Uau, chegamos ao final, eu escrevi um livro.
Primeiramente, o meu muito obrigado a Beatriz e Arthur por me
escolherem para contar essa história, vocês me salvaram quando eu estava
perdida, sem saber que rumo tomar, e foram minha companhia nos meus
momentos mais difíceis, obrigada pela paciência, sei que preciso bastante.
Não poderia deixar de agradecer a ela, minha irmã, que leu antes que
todo mundo enquanto fazia seu TCC e mexia nos meus arquivos e me disse,
"Cadê, eu quero saber o que acontece" e foi assim que continuei e cheguei
até aqui, obrigada por tudo, pelos puxões de orelha, pelo apoio,
principalmente por acreditar em mim mais do que eu mesma e por ser essa
mulher maravilhosa, que eu amo tanto, e obrigada por me aturar nos meus
dias mais difíceis.
Mãe, não posso esquecer de você, espero que se ler as cenas de sexo,
elas foram escritas pelo Zeus (nosso vira-lata caramelo), acho que não vai
colar, né? Afinal, sua primogênita é um tanto quanto... extraordinária, vou
usar essa palavra. Obrigada por me aceitar como eu sou, mesmo quando eu
falo muitos palavrões e nunca sei expressar direito o que sinto, o meu maior
orgulho é ser sua filha, te amo pra “carai”.
Diri, a minha irmã caçula, espero que você goste dessa história, e as
cenas de sexo foram escritas pelo Zeus (eu não sou safada, talvez só um
pouco), obrigada por tudo o que você sempre faz por mim e por todos nós,
eu te amo muito.
Jess, quando te mostrei e te contei a história, você embarcou junto, eu
agradeço pelos conselhos, por estar ao meu lado e por não soltar minha
mão, amo você.
Neném, a pessoa que surtou com cada capítulo, que chorou, que
brigou comigo, que me ajudou nos meus capítulos mais difíceis, me
incentivou para eu chegar até aqui e publicar a história desses dois, eu não
sei expressar o quanto eu sou grata por você estar em minha vida, mesmo
quando eu estou bem chata, obrigada por ter esse coração maravilhoso e ser
essa pessoa incrível e embarcar comigo nessa jornada doida que é escrever,
te amo.
Pequena, a pessoa que me aturou com meus surtos, alegra meus dias,
me irrita quando diz meu nome errado, e é a minha parceira nos dias bons e
ruins! Aquela que me ajudou com a diagramação. A pessoinha que assiste
filmes e séries comigo, inclusive, os mais doidos. Obrigada por me aturar
nos meus piores dias e por permanecer, você é luz, e que bom que você
entrou em minha vida. Te amo minha Jeong.
Bel, pessoinha que entrou na minha vida por acaso e abraçou a causa,
obrigada por me aturar, por dividir sua vida comigo e por me deixar entrar
nesse coraçãozinho, e claro, por aturar meus dilemas pervertidos também,
que são vários, Love u.
A minha revisora Evelyn, que embarcou nessa viagem comigo, a
maior defensora de Beatriz que temos, obrigada por tudo, principalmente
pela paciência comigo, meus dias com certeza se tornaram mais divertidos
depois que você entrou nele, e fico grata porque agora além de revisora,
posso te chamar de amiga.
Hanna, ou talarica dos meus machos, obrigada por toda ajuda nos
últimos minutos do segundo tempo, aguentando a pessoa surtada aqui, você
é foda, obrigada por embarcar comigo.
Bella, Tati, Natália, obrigada por me aturarem, me deixarem
reclamar, surtar, meus dias mesmo na minha correria, são melhores com
vocês ao meu lado. Amo vocês.
As minhas parceiras, o meu muito obrigada por cada surto,
compartilhamento, vocês foram incríveis, cada palavra, post feito, me
deixaram com o coração transbordando.
A você, leitor, que chegou até aqui, o meu muito obrigada, espero
que tenham gostado, sem vocês, isso não seria possível. Obrigada por
deixar que eles contassem suas histórias e espero, que assim como eu, vocês
tenham amado. Podem me procurar nas redes sociais, vou amar saber dos
seus surtos e opiniões.
Ps: lembrem-se que essa que vos fala é uma capricorniana, então
demonstrar sentimentos é uma coisa péssima para mim, estou trabalhando
nisso, mas veio do coração gelado que habita em mim.
Espero vocês na próxima.
Sinopse
Notas da autora
Playlist
Prólogo
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
Epílogo
Agradecimentos
[1]
Cidade Fictícia onde se passa Minha Pequena Rosa
[2]
Personagem do Livro Estilhaçados da Bruna Palazzo.