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Presa à Máfia

Aos Olhos da Máfia – Os Callahan’s – Livro 1

Lysa Moura

Este livro contém cenas fortes que podem adicionar gatilhos.


Caso seja uma pessoa sensível, não o indico. Proibido a menores
de dezoito anos. Para entender o livro, é preciso ler os anteriores da
série.
Copyright © 2022 Lysa Moura
Copyright © 2022 Presa a Máfia
Revisão: Sol Baliski
Capa: Lysa Moura
Diagramação: Lysa Moura
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É PROIBIDA A REPRODUÇÃOOTAL T E PARCIAL DEST
A OBRA, DE QUALQUER FORMA OU POR
QUALQUER MEIO ELETRÔNICO, MECÂNICO, INCLUSIVE POR MEIO DE PROCESSOS
XEROGRÁFICOS, INCLUINDO AINDA O USO DA INTERNET , SE PERMISSÃO EXPRESSA DA AUTORA
(LEI 9.610 DE 19/02/1998). EST
A É UMA OBRA DE FICÇÃO. NOMES, PERSONAGENS, LUGARES E
ACONTECIMENTOS DESCRITOS SÃO PRODUTOS DA IMAGINAÇÃO DA AUT ORA.
QUALQUER SEMELHANÇA COM ACONTECIMENT OS REAIS É MERA COINCIDÊNCIA.
ODOS
T OS
DIREIT
OS DESTA EDIÇÃO RESERVADOS PELA AUTORA LYSA MOURA
Sequência dos livros

O Ceifador – Série Os Callahan’


s
Condenada – Série Os Callahan’
s
Aprisionada – Série Os Callahan’
s
Heitor – Série Os Callahan’
s
Eu sou Caspen Callahan – Série Os Callahan’
s
Lucas –Spin-off
de Os Callahan’s
Presa à Máfia – Série Aos Olhos da Máfia
Sinopse

Escolhas. A vida é feita de escolhas. Desde o momento em


que abre os olhos ao acordar, tudo o que você faz é escolhas.
Escolhe se vai se levantar ou não, se irá tomar banho ou tomar um
café da manhã...
Eu tinha uma escolha na minha frente, e escolhi. Escolhi
trair a máfia e salvar minha irmã. Agora, sofro as consequências da
escolha que fiz, porque aos olhos deles, sou uma traidora, e nessa
vida — na qual também escolhi viver —, o lugar de um traidor é
debaixo da terra.
Minha meia-irmã salvou-me da morte, porém ela não me
salva do homem que amo e que detesta traidores. Estou presa a
ele, ao homem por quem me apaixonei, no entanto que não pode
me olhar sem sentir desgosto ou repulsa. O homem de quem tenho
que me distanciar, mas meu corpo clama por seu toque.
Eu caio fundo. Eu me ergo em meio à dor. Eu faço mais uma
escolha: fujo.

Traidores... Eu detesto traidores. Por causa deles, entramos


em guerra. Por causa deles, pessoas morrem. Por causa deles,
perdemos quem amamos. Agora, tenho como obrigação vigiar uma
traidora.
Meu problema é que quanto mais perto eu fico, mais quero
tomá-la para mim. Ela provoca-me, irrita-me, sempre me olha com
aqueles olhos de uma gatinha raivosa com as garras prontas para
me atacar, todavia a cada dia que passa, mais eu a quero. É então
que paro de vê-la como uma traidora e a vejo como minha.
Sou um Callahan, e tudo o que um Callahan quer, ele
consegue.
Personagens

Os Callahans
Filhos de Nadine Callahan e Pietro Callahan

Joseph Callahan e sua esposa, Lydia Callahan


Franck Callahan e sua esposa, Megan Callahan
Iona Callahan e seu esposo, Luciano Martinelli
Derek Callahan e sua esposa, Allisom Callahan

Filhos de Joseph Callahan com Lydia Callahan

Caspen Callahan – Chefe


Heitor Callahan – Conselheiro
Carter Callahan – Capo
Lorenzo Callahan – Sub-chefe
Amélia Callahan

Filhos de Franck Callahan com Megan Callahan

Lucas Callahan – Capo


Lori Callahan – Adotada
Filhos de Iona Callahan com Luciano Martinelli

Hector Callahan – Chefe e capo –Las Vegas


Dominc Callahan – Capo
Dimitria Callahan
Zoe Callahan – Irmã adotiva

Filhos de Derek Callahan com Allisom Callahan

Theodoro Callahan – Chefe e capo –Los Angeles


Victor Callahan – Capo
Rapahel Callahan – Capo

Casais Formados Durante a Série

Carter Callahan e Sophia Callahan


Filhos
Ariel Clarker Callahan
Nicholas Clarker Callahan

Amélia Callahan e Blake Roden


Filhos
Aurora Roden Callahan

Lorenzo Callahan e Lauren Reed


Filhos
Hope Reed Callahan
Jonas Reed Callahan

Heitor Callahan e Happy Wild


Filhos
Maya Wild Callahan
Enzo Wild Callahan

Caspen Callahan e Lori Callahan


Filhos
Osmar Callahan
América Callahan
Mason Carter Callahan
Myles Lorenzo Callahan
Bethany Sunday Callahan

Lucas Callahan e Audrey Wild


Filhos
Julieta Wild Callahan

Outros Personagens
Tinna Mitchell – Menina do clube
Phillipa Florenza – Menina do clube
Lucien Adans – Segurança
Matt – Segurança
Jace – Segurança
Jordam – Ténico de segurança
Max – Gerente do clube
Annabel – Responsável pelas meninas do clube
Bellatrix – Guia do clube
IgorMoretti – Pai de Sophia e Ariel – Chefe da máfia italiana
Jonnathan Calvin – Pai de Lauren – Maior agiota de New
York
Daphenni Reed – Mãe de Lauren
Ruby Calvin – Madrasta de Lauren
Manddy – Morta por Caspen porque traiu o clube
Lanna – Traiu o clube, estava com o FBI
Marcus – Pega a irmã de Happy
Bruce Wild – Pai de Happy e Audrey – Ex-soldado da máfia
Julieta Wil – Mãe de Happy e Audrey
Alice – Esposa de Igor Moretti – Ela é morta pelos
Callahan’s
Rodrigues – Novo chefe de Cartel– Filho do governador
Savana – Filha de Igor
Antony – Filho de Igor
Justin – Filho mais novo de Igor
André – Segurança de Happy
Alice – Médica que cuida de Audrey
Melissa – Terapeuta de Audrey
Hernández – Verdadeiro chefe de Cartel
Chris Castle – Homem com quem Lori ia se casar
Maverick – Hacker de Caspen
JJ– Amigo de Lori, dono de um estúdio de tatuagem e fez
um implante nela
Alex – Homem de Lori – Atirador de elite
Maddox – Homem de Lori
Emílio – Homem de Lori
Charlie – Homem de Lori – Especialista em bombas
Miguel – Homem de Lori
Ester Donovan Hernaz – Mãe de Lori – Socialite
rica que
tem uma rede de salão de estética
Renné Hernaz – Padrasto de Lori
América Donovan – Irmãde Lori e Phillipa, tem dois anos –
Caspen e Lori a adotam
Joe Parker – Segurança íntimo de Hernández
Armando Salvatore – Um dos maiores chefes da rede de
tráfico humano do mundo
Osmar – Ex-soldado de Ester – Caspen e Lori adotam-no
Aléssio D’Angelo – Chefe da máfia italiana
Alanna – Segurança de Audrey
Christinne – Segurança de Audrey
Martha – Cozinheira de Lucas
Amber – Mulher do abrigo que foi vendida e resgatada
Bethany – Filha de Amber
Zoe Kennedy – Menina levada aos dez anos. Torna-se Zoe
Callahan após ser encontrada aos dezessete
Angel – Dorme com Raphael
Thomas – Segundo no comando de Raphael
Marcus Esposito – Homem que quer acabar com os
Callahan’s – Italiano– Máfia que detesta os Callahan’s por causa do
que eles fizeram – Começaram uma guerra para sair da Cosa
Nostra e formaram a Callahan’ s
Jordan – Segurança de Phillipa
Christian – Segurança de Phillipa
Dr. Afonso Brow – Ginecologista obstreta
Henry Martin – Despedido do clube – Vendia drogas e se
juntou a Marcus
Mason – Homem de Raphael – Ajuda no clube destrippers
Abgail – Administra Poseidon
Margaret – Comanda as meninas no clube
Brandom – Adminstra a Boate Afrodite

Os Fimmel’s:
Hugo Fimmel
Alessandro Fimmel

A Bratva:
Ivan Volkov – Pakhan da Bratva
Dimitri Volkov – Filho de Ivan
Vladímir Volkov
Bóris – Sovietnik – Conselheiro
Nikolai – Brigadier – Capitão
Andrei – Brigadier – Capitão
Nota da Autora

Então... estou aqui para informar que a estória de Phillipa e


Raphael não é para todos. Muitos irão odiar Raphael; outros,
acharam Phillipa chata; alguns, amarão os dois. Já estou aqui
avisando que a estória é pesada e cheia gatilhos. Se por acaso não
gostou dos outros livros, não leia este, pois não vai gostar também.
Porém, se amou os outros, pode ir com tudo, que Phillipa e Raphael
prometem.
Estou fazendo esta carta aberta já para deixar claro que não
é um conto de fadas e que Raphael pode ser uma dor na bunda —
desculpa o termo, mas é assim que quis escrever sobre os dois,
portanto peço que respeitem, pois tenho visto muitos comentários
desrespeitosos. Eu entendo quando não gostam da estória ou não
concordam com o que o autor escreveu, porém o fato de não
gostarem não significa que não há quem goste e que deva faltar
com respeito a quem escreveu o livro. Custou tempo, dedicação e
amor para escrevê-lo. Desculpa por estar abrindo-me assim, mas há
momentos em que é um pouco triste ver pessoas depreciando algo
que amo fazer por não concordarem com a história ou não gostarem
de sexo mais selvagem.
Beijos a todos.
Prólogo

Phillipa

Da cela onde estou presa, observo Ester queimar até a


morte. Seus gritos preenchem todo lugar. O cheiro de carne
queimada me enjoa, deixando-me um pouco tonta e com a garganta
ressecada, como se tivesse um algodão grudado nela, sem falar na
vontade de vomitar que preenche a boca do estômago.
Era para eu estar triste, não é mesmo? Ester é minha mãe
de qualquer forma, mas a mulher é um monstro, tudo o que ela fez,
as pessoas que prejudicou... Minha irmãzinha... Essa mulher tratava
a própria filha de dois anos como um animal enjaulado, com uma
coleira de ferro em volta do pescoço. Só de pensar, lágrimas
inundam meus olhos. Que mãe faria algo assim? Uma criança
indefesa que tudo o que queria era amor, carinho e uma mãe. Uma
boa mãe, coisa que Ester não é, nunca foi. Não, eu não tenho pena,
nenhum remorso por vê-la queimar até a morte.
Secando as lágrimas que escorrem pelo meu rosto, sorrio
ao vê-la sofrer, ao sentir esse peso em minhas costas indo embora,
ao saber que minha irmã não terá mais Ester na sua vida.
De tudo o que aconteceu, o que mais dói é saber que não
estarei presente na vida da minha irmãzinha. Errei em fazer uma
escolha, tomei uma decisão errada que custou tudo de mim, por
isso não sei qual será o meu destino a partir de agora. Tudo o que
sei é que estou presa nesta cela.
Meus olhos se fecham e encosto minha cabeça no vidro da
cela, imaginando qual será o meu destino, mas não espero muito
tempo. Assim que o corpo de Ester fica em cinzas, os homens de
Carter entram para fazer a limpeza.
— E esses dois? O que fará com eles? — Carter aponta
para mim e para Dimitri, que está em uma cela ao lado da minha.
— Dimitri irá continuar aqui, ele é de Lori. — Caspen se vira
para olhar a mim, meu corpo treme com seu olhar frio e calculista.
— Agora, ela, ela precisa desaparecer até que seja da vontade de
Lori vê-la.
— Quem precisa desaparecer? — Ouço sua voz e meu
corpo se arrepia, em calafrios.
Raphael, o homem por quem sou apaixonada, entra,
esfregando as mãos e com um sorriso cruel nos lábios.
Desde o momento em que comecei a trabalhar no clube
Aliceno Paísdas Maravilhas, anos atrás, e vi Raphael pela primeira
vez, tive uma grande queda por ele. À medida que os anos se
passavam, essa queda virou paixão, até se transformar em amor.
Mas ele nunca ao menos me olhou. Pensando bem, ele nunca se
envolveu com alguma das meninas do clube.
Entretanto, aqui estou eu, uma prisioneira e vista como
traidora. Agora mesmo que Raphael nunca irá corresponder ao que
sinto por ele.
Observo-os conversando sobre Ester e seu corpo queimado,
olhando para o seu grande corpo e a cicatriz em sua sobrancelha
esquerda. O sorriso se formando no canto da sua boca, o jeito com
que ele se comporta, sua postura e seu olhar sério... Toda vez que
esse homem entrava no clube, meu mundo virava de cabeça para
baixo e eu fazia de tudo para ele me notar. Agora, tudo o que mais
quero é desaparecer da sua presença.
— Bem, quem precisa desaparecer? — pergunta mais uma
vez, e Caspen aponta para mim.
Encolho-me sob seu olhar de puro ódio.
— Ela, quero que ela suma.
Raphael olha para mim. Ele me observa por alguns minutos,
com seu olhar julgador.
Tudo o que fiz foi pela minha irmã, mesmo assim, não
confiam em mim, tratam-me como traidora. Talvez eu realmente
seja, mas em uma situação como à minha, fiz o que achei melhor.
— Quer que ela suma? — Raphael aponta para mim. — Em
qual sentido, Chefe?
Caspen sorri, e eu me encolho ainda mais, abaixando minha
cabeça.
— Só a quero longe. Lori não a quer por perto por enquanto,
então a leva, fique de olho nela até que Lori decida vê-la.
Raphael esfrega o queixo, pensando nas palavras de
Caspen. Um pequeno suspiro aliviado deixa meus lábios. Pelo
menos, sei que não serei morta. Por fim, Raphael acena, dando de
ombros.
— Quer que eu fique de babá. — Ele resmunga, não
parecendo gostar muito da ideia de ficar comigo.
Ninguém aqui confia em mim, não me querem por perto, no
entanto não posso culpá-los.
— Tudo bem, sei para onde a levar.
Ele vira-se, ficando de frente para mim. Se um olhar
pudesse matar, eu estaria morta agora.
— Você e eu, querida. Será só nós dois.

— Você não vai dizer nada? — pergunto, olhando para


Raphael.
Estamos há um mês em uma casa que Caspen forneceu
para ficarmos, em Las Vegas. Um mês em que Raphael vem me
ignorando, como se eu não estivesse em sua presença.
Virando-se, ele fica de frente para mim. Se olhar pudesse
matar, tenho certeza de que eu estaria morta há muito tempo.
Raphael faz uma careta de desgosto, meu corpo se encolhe.
— O que quer que eu diga, Phillipa? — pergunta ele, com
um tom mais elevado.
Dou de ombros, não sabendo o que dizer nesse momento,
como se toda a coragem que eu tinha tivesse se escondido depois
de ter Raphael concentrado em mim.
— Qualquer coisa. Você não pode continuar fingindo que
não estamos no mesmo espaço — murmuro, com medo de elevar a
voz e acabar entrando em uma fria com ele.
— Não tenho nada para lhe dizer, Phillipa! — Sua voz se
eleva, soando por toda a casa, enquanto Raphael bate as mãos na
bancada da pia. — Olhe para onde, caralho, eu estou: longe do meu
dever, longe das minhas responsabilidades, tudo para ficar de babá
com você, trancado neste maldito inferno, com uma traidora! Era
para estar morta, mas não, por ser irmã de Lori, resolveram dar-lhe
uma chance! Porém saiba que de mim não terá nada. Porra
nenhuma.
Dou um passo para trás ao sentir a raiva na sua voz.
Esfrego meus braços, sentindo-me exposta, como se eu estivesse
nua, não só de corpo, mas de alma também.
— Estamos vivendo na mesma casa, podemos ao menos
ser civilizados um com o outro.
Raphael olha para mim como se eu fosse louca. Engulo em
seco, sabendo que era para eu ter mantido a boca fechada.
Balançando a cabeça, ele dá um riso sarcástico, sem humor.
— Você ao menos consegue se ouvir agora? — pergunta,
ainda com um riso de escárnio.
Raphael contorna a cozinha, caminhando na minha direção.
Dou alguns passos para trás, mas acabo batendo meus tornozelos
no sofá. Quando para na minha frente, consigo ver bem o contorno
do seu rosto: a forma com que seus olhos estão — tão frios —, o
modo com que suas sobrancelhas se encontram unidas, formando
um vinco na sua testa, a forma que sua cicatriz fica acima dos seus
olhos, sua boca... Céus, sua boca beijável está com um pequeno
sorriso cruel!
— Nós nunca seremos civilizados, Phillipa — rosna, entre
dentes. — Preste bem atenção ao que irei lhe dizer: nós nunca
seremos civilizados. Estou aqui porque Caspen ordenou, serei sua
babá até que ele resolva libertá-la. E não vá achando que está livre,
Phillipa, porque a verdade é que não está. Pode não estar naquela
prisão, na grande mansão em New York, mas está nesta prisão, e
aqui eu sou seu carcereiro, por isso não vou a lugar algum. —
Dando um sorrisinho, ele sai de perto, deixando-me sozinha na sala.
Meu coração bate acelerado. Pulo quando ouço a porta do
seu quarto bater. Meus olhos se fecham e solto a respiração,
tentando aliviar as batidas do meu coração. Esfrego meu peito,
sentando no sofá. Um pequeno suspiro deixa meus lábios. Uma
única lágrima escorre pelo meu olho, rolando pelo rosto. Tudo o que
eu mais quero neste momento é ir embora daqui.

Um ano e meio depois...

Um ano e meio é muito tempo para quem espera ser


perdoado, como eu. Tempo demais para se estar longe de quem
ama. Dei o máximo para proteger, mesmo assim não foi o suficiente,
mesmo assim fui jogada para longe, colocada de lado. Faz parte,
não é mesmo? A vida que eu escolhi, o meio pelo qual resolvi viver
fez isso. Ele pode dar a você toda a alegria, toda a beleza e a
riqueza do mundo, mas também é escuro, cru, cheio de morte e dor.
É cansativo apenas sentar e esperar, entretanto é o que me
mandam fazer, e eu faço. Melhor do que estar morta, porque essa
seria uma outra maneira de resolver as coisas com pessoas como
eu, uma traidora.
A porta do meu quarto se abre e a cabeça de Raphael
aparece. Seu olhar de puro desgosto me encara. Nunca vou me
acostumar com o jeito que me trata, a forma que me olha e como
fala comigo, mesmo assim, em todo esse tempo, meus sentimentos
por ele nunca foram embora. Quão tola eu sou por amar esse
homem?
— Eles chegaram — diz, se referindo a Caspen e Lori, que
vieram para conversar comigo.
Depois de um ano e meio, verei minha irmã, todavia não sei
muito bem como me sinto com tudo isso. Essa sensação que se
constrói na boca do estômago, deixando-me apreensiva com este
encontro...
— Você vai vir ou não? — questiona ele, batendo a porta.
Respirando fundo, levanto-me da beira da cama, abrindo a
porta do quarto, e saio para a sala, onde Lori e Caspen estão de pé,
me esperando.
— Phillipa. — Lori sussurra, olhando-me cautelosamente.
— Lori, Caspen. — Cumprimento-os, com minhas mãos
suando pelo nervosismo com essa situação desconfortável.
Caspen apenas me olha com seu olhar frio, não
demonstrando algo, o que é pior, porque não faço ideia do que ele
está pensando. Bem, nunca foi fácil decifrar Caspen, mas quando
eu trabalhava no seu clube, ao menos sabia quando ele estava com
raiva, ódio e pura fúria, pois eram as únicas emoções que se
deixava demonstrar. Agora, seu olhar está em branco.
Um calafrio percorre meu corpo. Acho que Caspen percebe,
pois dá a mim um sorrisinho cruel. Não abaixo minha cabeça,
continuo com ela erguida. Mesmo nervosa, não deixo que ele veja
quão afetada estou com tudo.
— Amor, deixe-nos a sós. — Lori olha para Caspen, um
olhar passa entre os dois.
Sinto como se Raphael e eu fôssemos dois intrusos. Olho a
ele para ver se pensa o mesmo, mas seu olhar está focado em tudo,
menos em mim.
— Tudo bem, estarei do lado de fora com Raphael. —
Caspen olha para mim, dando um aviso silencioso.
Não dou nada a ele em troca, apenas continuo parada,
olhando-o, esperando-o sair para que Lori e eu possamos conversar
a sós.
— Como você está? — Ela pergunta, assim que Caspen e
Raphael desaparecem pela porta de trás.
Senta no sofá, dando uma batidinha no espaço livre ao seu
lado.
— Estou há um ano trancada dentro desta casa, a única
pessoa a quem tenho acesso é Raphael e, de vez em quando,
Dimitria, que aparece. Como acha que estou? — rebato.
Sinto-me cansada de toda essa coisa: de estar aqui, de
saber que não sou desejada e, pior de tudo: estou cansada de amar
Raphael, sabendo que ele sempre me verá como uma traidora.
— Sinto muito.
Um riso sem graça escorrega pela minha boca.
— Não, você não sente.
Ela dá de ombros.
— Não é que eu não sinta, é só que as coisas têm sido
ocupadas. — Aceno com a cabaça, sabendo muito bem o que ela
quer dizer.
— Eu fiquei sabendo. Meus parabéns. — Lori sorri para
mim.
— Obrigada. Ter trigêmeos não é fácil — comenta, rindo.
— Posso imaginar.
Ficamos em silêncio, apenas uma olhando para a outra,
sem saber o que falar. Não é um silêncio constrangedor, porém é
desconfortável.
— Olha... — começa ela — eu sei que não tem sido fácil
para você, mas foi o único modo que consegui, porque se fosse por
eles, você estaria morta, Phillipa.
Mordo meus lábios e aceno com a cabeça, pois sei que é
verdade. Sinto sua mão sobre a minha.
— Você é minha irmã, e por mais que eu não aceite o que
fez, entendo por que fez. — Ela sorri para mim. — Quero conhecê-
la, quero tê-la na minha vida, na vida de América e dos meus filhos.
Sei que minha confiança em você não surgirá rapidamente, mas
quero que sejamos amigas, quero essa relação de irmãs.
Um sorriso verdadeiro surge nos meus lábios.
— Eu também quero isso.
— Ufa, pensei que mandaria eu ir à merda.
Começo a rir.
— Não seria uma boa ideia. — Aponto com a cabeça para o
lado de fora, onde estão Caspen e Raphael.
— Oh, não mesmo. — Ela ri.
— Como está América? — Essa é a grande pergunta, o que
eu quero muito saber.
— Ah... — Um grande sorriso de amor se forma nos lábios
de Lori e seus olhos brilham, com puro carinho.
Lágrimas formam-se nos meus olhos ao pensar na minha
irmãzinha, em tudo o que ela passou e no que fiz para protegê-la.
Lori e eu conversamos por mais algumas horas. Ela conta
tudo sobre América, principalmente como tem evoluído e quão
esperta é. Meu coração se enche de alívio ao saber que minha
irmãzinha está bem, que estão cuidando bem dela, o que é algo que
eu já sabia que fariam.
Apesar do alívio, sinto um peso quando é a hora da
despedida. Confesso que estava precisando dessa visita. Mesmo
que tenha demorado, foi algo que valeu a pena esperar. É claro que
não seremos melhores amigas e irmãs fiéis de um dia para o outro,
mas hoje foi um grande passo para seguirmos em frente.
— Falar-nos-emo em breve. — Lori acena, em uma
despedida.
— Ficarei aguardando. — Sorrio para ela.
Observo os dois carros indo embora: um com Caspen e Lori;
outro, com guardas. Em instantes, estou mais uma vez sozinha com
Raphael.

Um ano depois...

— Estou tão cansada! — grito para as meninas.


Dimitria, Audrey, Zoe e eu estamos na boate da família
Callahan, chamada Afrodite . Sim, e para completar, toda a
decoração remete à deusa do amor.
Zoe é uma menina nova que estava em cativeiro durante
anos. A família acolheu-a entre suas asas, portanto agora ela faz
parte dos Callahan’s.
— Cansada do quê, mulher? — Audrey pergunta, rindo.
Estamos todas um pouco embriagadas, por isso somos só
risos e gritinhos.
Aponto com a cabeça para Raphael, que está com Dominic
e Lucas em um canto próximo à pista de dança onde nos
encontramos.
— Estou cansada de ser uma traidora e de querer alguém
que não me quer. — Tomo um gole da minha bebida.
— Oh, ele com toda certeza te quer! — Audrey grita, dando
um empurrãozinho em mim.
— Sim, eu também reparei o modo com que esse homem a
olha. — Dimitria sorri, dando um pequeno suspiro sonhador.
— É quente. — Zoe concorda, com um aceno de cabeça.
Olho para Raphael, que desvia o olhar.
— Totalmente. — Sorrio para elas.
Merda, esse homem tem me deixado no limbo! Sempre
fingindo que não estou por perto, me tratando como se eu não
existisse, como se eu fosse um fardo. Talvez eu realmente seja.
— O que devo fazer? — Suspiro.
Olho de relance para ele, mas seu olhar está em outra
mulher. Isso me mata!
— Eu o quero, mas ele é tão indiferente — reclamo para
elas.
Dois anos e meio morando na mesma casa que ele, sendo
tratada como um nada. Até quando irei aguentar? Até quando ficarei
nesse lugar? Quando vão me libertar? Lori e eu estamos tentando.
Ela sempre liga para conversarmos e já veio fazer umas duas visitas
durante este ano, porém além disso, eu não tenho mais nada.
Quero minha liberdade de volta.
— Bem, mostre-lhe que se ele não a quer, há outros que
queiram. — Dimitria aponta na direção de um homem que está
olhando para mim.
Ele me dá um leve aceno de cabeça. O homem é lindo! E
não, não irei compará-lo com Raphael, não gosto dessa merda.
Dou a ele um pequeno sorriso. Olho na direção das
meninas, que acenam com a cabeça para mim. Sorrio para elas.
— Se você não me quer, há quem queria! — grito, olhando
na direção de Raphael, que estreita os olhos para mim.
Sem desviar o olhar, começo a balançar meu corpo ao ritmo
da música. Perco-me no momento, dando um show completo,
seduzindo a todos que estão à minha volta. Percebo que as
meninas deram espaço, até ouço seus gritos de incentivo para mim.
Entrego-me à dança, ao momento, mostrando meu corpo e
no que sou boa. Nesse momento, sinto-me como à própria Afrodite.
A sensação de liberdade me domina. Não estou mais presa. Fazia
muito tempo que eu não me sentia assim. Meu corpo é como a uma
flauta que canta a própria canção, seduzindo, encantando a todos à
minha volta.
— Merda! — grito, quando meu momento é interrompido e
eu sou jogada por cima dos ombros de Raphael.
Ele me leva para fora da boate. Um grande sorriso se forma
nos meus lábios. Parece que Raphael não é tão indiferente assim.
Capítulo Um
House on Fire – Sia

No dia seguinte...

Despreguiçando-me, sorrio ao lembrar da noite passada e


da loucura que fiz. Não acredito que deu certo, mas aqui estou, na
cama, ao lado de Raphael, depois de uma noite louca de sexo.
Rolo-me de lado para o olhar. Seus olhos estão fechados e sua
respiração está leve. Ele dorme tranquilamente. Aproveito esse
momento para o observar. Seu peito nu musculoso, esse
maravilhoso V que ele tem... sua barba por fazer e a pequena
cicatriz na sua sobrancelha, do lado esquerdo. Esse homem deixa-
me doida.
Levanto-me da cama, bem devagar para não fazer barulho,
indo até o banheiro anexado ao quarto. De frente ao espelho, olho
para o meu corpo nu com algumas marcas de chupão e tapas que
ganhei em meio ao nosso sexo louco. Sorrio ao lembrar da noite
que tivemos e do modo com que ele me carregou para fora do
clube, como um homem das cavernas.
Após fazer tudo o que vim fazer no banheiro, volto para a
cama e subo em Raphael, dando pequeno beijos no seu corpo.
Começo pelo seu pescoço e desço para o seu peito, após, para o
abdômen. Ouço um suspiro vindo de Raphael. Olho para cima e
sorrio ao ver seus olhos abertos, embriagados de sono.
— Bom dia.
É exatamente neste momento que tudo vai por água abaixo.
Raphael se levanta abruptamente, jogando-me para fora da cama,
fazendo-me cair no chão. Lágrimas se formam nos meus olhos, pois
eu não esperava por isso.
— Merda! — ruge ele, andando de um lado para o outro,
como um animal enjaulado.
— Raph...
— Fora! — grita, me interrompendo.
Seus olhos me olham com puro ódio e nojo. Encolho-me no
chão, não me importando com a dor do meu corpo. Abro a boca,
pronta para falar algo.
— Eu disse fora! — grita, sendo mais firme, mais cruel.
— Qual é o seu problema? — Levanto-me do chão, com
raiva, ficando de cara com ele.
— Você, Phillipa, você é a droga do meu problema! — grita,
olhando para mim, com desgosto.
Dou dois passos para trás, meu rosto se esquentando como
se eu tivesse levado um grande tapa, mas são apenas palavras,
palavras essas que me machucam profundamente. Sinto-me como
uma presa neste quarto, e Raphael é o animal pronto para me
atacar. A dor das suas palavras e tudo o que acaba de fazer se
transforma em raiva. Quem ele pensa que é para me tratar assim?
Como se eu não fosse importante.
— Ah, mas ontem eu não fui um problema para você, não é
mesmo? — Um riso sem emoção escapa da minha boca. — Não,
ontem e durante toda a madrugada de hoje eu não era um
problema, o problema se formou depois que me fodeu.
Ele para de andar de um lado para o outro e seu olhar
furioso recai sobre mim mais uma vez.
— Ontem à noite foi um erro. — Seu olhar passa pelo meu
corpo nu, encolho-me, tentando me esconder dos seus olhos. —
Você foi um erro.
Mais uma vez, sinto como se tivesse levado um tapa bem
dado no rosto, porém me mantenho firme, como se suas palavras
não tivessem me atingido.
— Um erro, eu sou um erro agora? — desdenho, pegando o
lençol da cama e o envolvendo no meu corpo. — Você pegou, usou
e fodeu. Agora, diz que foi um erro?
Raphael ri das minhas palavras. Irrito-me com ele. Meus
olhos estreitam-se com sua risada.
— O que é engraçado?
— Você — desdenha, balançando a cabeça. — Você é a
graça. Está toda na defensiva, com os ombros levantados, como se
no fundo, não estivesse magoada com tudo. E sim, eu fodi-a, usei-a,
mesmo assim, foi um erro que não pretendo cometer outra vez.
Você sempre será um erro, Phillipa.
Meu corpo treme. Ele está certo. Ssuas palavras
machucam, fazem meu corpo sangrar, fazem com que eu queria
correr, fugir. Mas não deixarei que veja o que está fazendo comigo.
Sou mais forte do que ele pensa.
— Eu não sou um erro, Raphael. — Olho nos seus olhos
quando as palavras saem da minha boca.
Um pequeno sorrisinho se forma nos seus lábios.
— Não, você não é um erro, tem razão. — Lambendo os
lábios, seu olhar passa pelo meu corpo escondido sob o lençol. —
Você é uma maldita traidora, é o que você é.
Eu já fui chamada de muitas coisas: vadia, puta, prostituta,
vagabunda... e no fundo, era tudo isso. O que posso fazer? Vendia
meu corpo, mostrava-o para quem quisesse vê-lo... Essa que eu
era, foi o que fiz para sobreviver, e gostei. Ganhava dinheiro, muito
dinheiro quando me entreguei à máfia, quando jurei lealdade a
Caspen Callahan. De todos esses nomes que fui chamada, nenhum
deles me machucou, nenhum deles doeu, mas traidora... ser
chamada de traidora machuca, machuca demais. Dói mais que um
simples tapa, faz com que meu coração sangre, porque tudo o que
eu fiz foi para proteger minha irmã, que estava nas mãos de um
monstro. Eu não sou uma traidora. Sou uma sobrevivente da máfia,
sobrevivente do horror que é levar essa vida.
Ah, mas eu não deixo Raphael ver quão suas palavras me
afetam, não. Muito pelo contrário. Eu apenas sorrio para ele,
mostrando superioridade.
— E você, Raphael? — desdenho, com um pequeno sorriso.
— Sim, eu sou uma traidora, fiz o que tinha que fazer e, quer saber?
Não me arrependo de nada. América tem uma família, está salva,
bem e feliz, mas você? — Balanço a cabeça, estalando a língua. —
O grande capo do Queens resumiu-se a um mero babá. Como se
sente? — Termino com o mesmo sorriso.
Sua expressão muda completamente, se tornando fechada,
crua. Ele vem até mim, com suas mãos em punho.
— Vai me bater? — pergunto, fazendo-o parar. — Pode vir,
já levei muito nessa vida. — Mal sabe ele que por dentro estou
tremendo de medo.
Meu coração bate a mil. Minhas mãos estão fechadas em
volta do lençol de frente para o meu corpo, mesmo assim minha
cabeça está erguida. Você é uma tola, Phillipa , minha mente
sussurra para mim.
— Bater em você? — Raphael faz uma pequena careta ante
a ideia. — Primeiro, que para isso eu teria que encostar em você; e
segundo: eu não bato em mulheres.
Sorrio para ele.
— Tem razão, você apenas as usa, depois as humilha,
colocando toda a culpa nelas, como se não fosse seu pau dentro
delas horas antes, não é mesmo, capo?
— Phillipa, Phillipa... — Ele dá um olhar gelado. — Ao
menos, quando eu deixar de olhar você, voltarei à minha vida. E
você? Você sempre será a traidora que traiu a própria irmã, traiu
quem a acolheu, deu-lhe um trabalho. Você realmente acha que terá
o perdão de todos? — Ele joga a cabeça para trás, rindo.
Seu riso é tão frio, tão cruel e desdenhoso.
— Você nunca será perdoada, Phillipa, sempre será uma
traidora. — Suspirando, ele passa as mãos pelo rosto. — Esta
conversa não está indo a lugar algum. Apenas saia e pare de se
humilhar mais do que já está.
Dando-me as costas, ele entra no banheiro, batendo a porta
atrás dele. Aproveito esse momento em que estou sozinha e corro
para o meu quarto, trancando-me para o mundo. Meu corpo cai
sobre a cama, enrolo-me como uma concha e choro. As lágrimas
escorrem, rolando pelo meu rosto. Raphael tem razão, eu nunca
serei perdoada. Por mais que minha relação com Lori esteja
melhorando e que tenhamos nos falado com frequência, não
estamos cem por cento e nunca estaremos, porque eles nunca
esqueceram o que fiz. Sempre serei a traidora da máfia. Dói. Deus!
Como dói toda essa situação! Tudo o que eu quero é ser livre, poder
sair desta casa, dos olhos de Raphael e dos seus seguranças. Na
primeira oportunidade de liberdade, eu sairei e nunca mais olharei
para trás. Essa é a minha promessa.

Horas mais tarde...

— Ele o quê!? — exclama Audrey, com um olhar de horror.


Dou de ombros.
— Bem, foi exatamente isso que aconteceu. — Pego minha
caneca, tomando um gole do meu café.
Duas horas depois de toda a manhã horrível que tive,
Dimitria ligou querendo saber tudo sobre minha noite com Raphael,
mas como não a atendi, pois estava me afogando em lágrimas e
humilhação, ela, Zoe e Audrey resolveram aparecer e me tiraram da
casa, mesmo contra a vontade de Raphael.

— Elanão vaia lugarnenhum. — Elediz,olhando-nos,com


cara fechada.
— Você não é o dono dela. Vamos dar um passeio, você
querendo ou não. — Dimitri
a cruza os braços, olhando sério para
Raphael.
— Você sabe que ela está aqui porque traiu a família e
precisaser vigiada.Elanão é amigade vocês — diz,sendo cruelde
propósito. — Ela é uma traidora.
Lá vai ele dizendo essa palavra mais uma vez.
Dimitria bufa, rolando os olhos.
— Muito,muitoruimpara você, porque elaé minhaamigae
tudo o que fez foipara proteger uma criança,além do mais, pelo
que me lembro,Phillipa
não é maisuma prisioneira,como era antes.
— Sorri para Raphael, que semicerra os olhos para ela.
Por fim, ele suspira, dando um aceno de cabeça.
— Tudo bem, mas eu vou junto. — Dimitria sorri para ele.
— Imaginei que iria. — Pisca.

— Terra para Phillipa! — Dimitria estala os dedos na frente


do meu rosto.
Balanço a cabeça, saindo dos meus pensamentos sobre
mais cedo.
— Sinto muito, só estava perdida em pensamentos. —
Sorrio para elas.
— Podemos imaginar, e não culpamos você. — Zoe diz,
sorrindo.
— Será que podemos voltar ao principal assunto? — Audrey
fala, olhando para todas nós. — É sério mesmo que Raphael fez
tudo o que contou?
— É sim, tudo o que eu disse foi o que aconteceu. Ele
realmente odiou tudo o que fizemos. Acordar essa manhã ao lado
dele não foi bonito. — Balanço a cabeça ao me lembrar. — Ele
simplesmente pirou totalmente, dizendo que tudo passou de um erro
e todo o blábláblá que contei.
Balanço a mão, dando um pequeno suspiro.
— Que cara de pau! — Dimitria diz.
Ela vira a cabeça para encarar Raphael, que está do outro
lado da cafeteria, com Dominic, Lucas e mais dois guardas.
— Totalmente. — Zoe concorda. — Ontem à noite, ele não
pensou que seria um erro, não é mesmo? — Bufa, fazendo cara de
irritada.
— Qual é o problema desses homens? — Dimitria
questiona. — Sério, tem vezes em que se comportam como
crianças mimadas. Não posso acreditar que ele fez tudo isso. Tenho
até vergonha de dizer que esse ser é meu primo. — Suspira.
— Está tudo bem...
— Droga nenhuma! — Audrey me corta.
— Não, é sério. — Olho para cada uma delas. — Issosó me
fez ver que Raphael e eu não temos chance. Tudo o que sinto, todo
esse sentimento de admiração e essa paixão que sempre senti por
ele precisa acabar, e o que aconteceu hoje serviu para abrir meus
olhos, para cair na realidade de que nunca haverá algo entre nós
dois.
Dou a elas um pequeno sorriso.
— Nós sentimos muito. Realmente pensamos que daria
certo. — Audrey comenta, dando um pequeno sorriso de desculpa.
— Acontece. Faz parte da vida, não é mesmo? — Mordo um
pedaço do bolo de chocolate que pedi.
— Infelizmentenão escolhemos por quem nos apaixonar. —
Audrey diz, perdida nos próprios pensamentos.
Provavelmente está pensando no seu primeiro namorado, o
homem que a pegou para ser vendida, leiloada como escrava
sexual.
— Não, nós não escolhemos. — Dimitria concorda com ela.
— É uma merda. — Olho de relance para Raphael, que tem
seu olhar em mim.
Tão frio.
— Eu não posso dizer por mim, nunca me apaixonei. — Zoe
sorri bem grande.
— Amém, menina. — Audrey levanta as mãos para o
céu.
— E que continue assim. — Dimitria sorri, dando uma
piscadinha para ela.
Olho para Zoe; depois, para Dominic, que a olha como um
falcão. Não sei, não... Isso cheira a confusão futuramente.
— Então... — Audrey diz, com um grande sorriso — Lucas e
eu decidimos nos casar aqui em Vegas! — Ela grita, batendo
palmas.
— Não acredito! — Dimitria sorri.
— Nunca participei de um casamento. — Zoe dá um olhar
melancólico.
— Então, prepare-se, porque além de participar, precisarei
de todas vocês para organizar tudo.
— Você está me incluindo nesta? — pergunto, um pouco
atordoada.
Audrey olha para mim como se eu fosse louca. Não só ela,
mas Dimitria e Zoe também dão esse olhar.
— É óbvio que sim. Preciso de você lá. Quero todos
presentes no meu casamento e quero vocês me ajudando a
organizá-lo. — Dá de ombros. — Sendo sincera? Não sei nada
sobre organização de festa e um casamento. Não, não sei fazer isso
sozinha em quinze dias.
— O quê!? — Dimitria olha para Audrey, com os olhos
arregalados, e boca, aberta, em surpresa. — Quinze dias?
— Sim, Lucas e eu não queremos esperar muito.
— Céus! Temos muito o que organizar. Preciso avisar à mãe
e fazer algumas ligações.
Batendo palmas, Dimitria sorri. Posso ver as engrenagens
rodando na sua mente, já se preparando para organizar o
casamento. Sorrio para elas. Todas nós começamos a falar ao
mesmo tempo, dando pequenos palpites sobre cores, flores e toda a
arrumação do casamento.
Neste instante em que estou com elas, não me sinto
sozinha. Sinto que as tenho como amigas e, talvez, só talvez,
Raphael esteja errado sobre eu não ser perdoada, porque olhando
agora para essas três mulheres, posso sentir que tenho o perdão de
cada uma delas.

Raphael

Um erro. A porra de um grande erro ter dormido com


Phillipa. Droga! Onde eu estava com a cabeça? Não posso acreditar
que me deixei levar por um momento e acabei cedendo ao desejo
de tê-la. Não sou conhecido por ceder fácil. Sempre fui muito
controlado, mantendo a calma de tudo e reprimindo meus desejos,
porém ontem, acabei deixando-me levar pelo momento, pelo desejo
reprimido de querer Phillipa durante tanto tempo. Cedi ao impulso e
a tomei.
Uma traidora, e eu detesto um traidor. Fui treinado para os
matar, eliminar todos aqueles que vão e agem contra nosso legado,
mas aqui estou, cuidando, vigiando a porra de um traidor e, pior
ainda: meu desejo por ela não passou.
Olho para onde Phillipa está com o resto das mulheres,
todas sorrindo e se divertindo, nenhuma delas se importando com
quem ela é e o que fez. Balanço a cabeça. Por mim, estaria morta,
mas não posso ir contra o chefe, sem falar que Phillipa é meia-irmã
de Lori, o que complica ainda mais as coisas.
— Pelo visto, as coisas não foram bem entre os dois. —
Lucas comenta, rindo.
Olho para ele, de cara fechada.
— Tudo bem, não quer falar sobre isso, entendi — diz,
levantando as mãos, em redenção, todavia nunca tirando o
sorrisinho de merda dos lábios.
— Não há nada para falar, Lucas. — Olho para ele, que
ergue uma sobrancelha, em questionamento. — Ela é uma traidora
e eu detesto traidores.
Mesmo que essa traidora tenha uma beleza extraordinária,
um sorriso matador e um corpo de fazer qualquer homem babar,
Phillipa sempre será uma traidora, não só para mim, mas para toda
a família também. O grande problema é que a quero.
Capítulo Dois
Phillipa – Dois dias depois...

Conviver sob o mesmo teto com uma pessoa que o odeia é


um grande teste de sobrevivência para mim. Ficar presa a ela,
sabendo que me odeia e que se arrepende de ter passado uma
noite comigo, que tudo o que vê quando olha para mim é traição,
acaba comigo. A situação é bem tensa, chega a ser desconfortável.
Ultimamente passo a maior parte do meu tempo com as meninas,
organizando o casamento de Audrey, mas toda vez que chego na
casa, tranco-me no meu quarto, tentando esquecer que Raphael
está do outro lado da porta.
Nunca imaginei que chegaria a esse ponto. Nunca se
passou pela minha cabeça que um dia eu estaria nesta situação.
Sempre tive esperança de que um dia Raphael olhasse para mim,
se interessasse por mim. Nunca imaginei que seu olhar por mim
seria de raiva, que ele passaria a me odiar. Realmente mereço todo
esse tratamento que estão me dando?
O celular na minha mão começa a tocar. Olho para o
identificador, vendo o nome de Lori.
— Ei — atendo, vendo-a do outro lado da tela.
— Ei, você como está?
Dou um pequeno sorriso, e ela suspira.
— Raphael está sendo difícil? — Sorri.
— O que você acha? Sou uma traidora e ele gosta de deixar
claro o quanto detesta traidores como eu. Então, sim, ele está sendo
difícil — respondo, dando um pequeno sorriso a ela.
— Se você quiser, posso pedir para Caspen falar com ele.
— Não, por favor, não faça isso. — Balanço a cabeça. —
Não preciso que interceda por mim, sei lidar com homens iguais a
ele, vou me sair bem.
— Phillipa...
— Estou bem, Lori — minto, porém é assim que tem que
ser.
Errei e tenho que pagar pelos meus erros. É exatamente o
que estou fazendo. Sei que em algum momento estarei livre.
Quando acontecer, irei embora deste lugar, começarei de novo, bem
longe de todos.
— Tudo bem, não irei me meter. — Ela dá aquele olhar de
determinação, por isso sei que falará com Caspen, eu querendo ou
não. — Liguei para saber como andam os preparativos para o
casamento.
— Uma loucura. — Ela ri. — Não, é sério, Audrey não se
envolve em nada, tudo para ela está bom. — Balanço a cabeça. —
Está perdida com tudo, então entra Dimitria, Zoe e eu, que estamos
a ajudando, mas temos personalidades diferentes. Isso sem falar
que temos que ligar toda hora para Happy, perguntando sua opinião,
já que ela é a única que conhece os gostos de Audrey.
Suspiro ao terminar de falar. Do outro lado, Lori ri, sendo
assim acabo sorrindo.
— Sinceramente? Espero que tudo fique organizado, não
uma bagunça, do jeito que está sendo.
— Sem falar que vocês só têm mais treze dias. — Lori me
lembra.
— Céus! Havia me esquecido desse pequeno detalhe. Há
muito o que fazer. — Esfrego o rosto. — Sério, quem inventa um
casamento em quinze dias?
— Bem-vinda à família. — O comentário de Lori faz com que
o sorriso dos meus lábios morra.
Não sou da família. Por mais que Dimitria, Audrey e Zoe
sejam minhas amigas, sei que não sou considerada família, nunca
serei. Uma vez considerada traidora, sempre traidora.
— Phillipa? — Lori me chama.
Balanço a cabeça, deixando esse pensamento de lado.
— Sim? — Coloco um sorriso na boca, fingindo que suas
palavras não me alcançaram.
— Você apenas se desligou.
— Sinto muito, tenho feito muito isso ultimamente. Mas
mudando de assunto: como vão as coisas aí? — Forço mais um
sorriso.
— Uma loucura! — exclama.
Ficamos um bom tempo conversando. Lori conta sobre tudo:
como é ser mãe, como América tem estado... Posso vê-la de longe,
constatando quão grande e saudável está, o que faz meu coração
doer.
Tudo o que fiz foi por ela, pensando nela. Puro desespero
de aliviar seu sofrimento. No final de tudo, apanhei e fui isolada de
todos, principalmente dela. Até mesmo Tinna, que era minha melhor
amiga, virou as costas para mim. No final de tudo, sei que sairei
desta sozinha, como sempre foi.

— Wow, estou com uma doença contagiosa que eu não


saiba? — questiono, assim que saio do quarto, entrando na cozinha.
Dei de cara com Raphael, que ao me ver, deu as costas,
saindo de perto de mim.
— Ou sou tão tentadora assim, que precisa ficar longe para
não cair nos meus encantos? — emendo.
Essa tem sido minha única defesa. O único modo de
conviver com Raphael é sendo espertinha, então por mais que eu
tente me manter longe dele, moramos na mesma casa, portanto é
fácil um esbarrar no outro. Minha tática de defesa é ser assim:
sempre com a língua afiada.
Raphael solta um pequeno bufo e se vira para me olhar.
— Sou um Callahan, querida. Somos conhecidos por
tomarmos o que queremos, então se eu a quisesse, já seria minha.
Mas minha cama continua vazia, sem você nela, o que significa que
não a quero — desdenha, com um sorriso malicioso. — Só não
quero me contaminar com sua falsidade.
Encosto meu quadril na pequena ilha, no meio da cozinha.
Cruzando os braços, eu encaro-o.
— Tudo o que eu ouvi foi desculpas e mais desculpas,
porque, querido, você só passou a fugir desse jeito depois que me
fodeu. Acho que não quer cair na tentação de novo, não é mesmo?
— Sorrio e desencosto-me da ilha, indo até ele.
Percebo que Raphael fica tenso. Sorrio interiormente. É
engraçado vê-lo assim, sem saber o que fazer.
Assim que eu tenho que ser: forte na frente dele. Depois,
sozinha, poderei quebrar.
Passo meus dedos pelo seu peito, sentindo-o prender a
respiração. Meu próprio corpo corresponde ao meu toque no seu
corpo. A verdade é que queremos um ao outro, mas Raphael não irá
ceder por quem sou. Eu tenho amor próprio. Não irei correr atrás de
alguém que me odeia, porém é divertido brincar com ele, mesmo
sabendo que no fim, posso me queimar.
— Você quer a mim, Raphael, no entanto odeia a ideia de
querer uma mulher como eu, uma traidora. — Dou as costas a ele.
Pego uma maçã na cesta de frutas, em cima da ilha, dou
uma mordida, saindo da cozinha e voltando ao meu quarto.
Um a zero para Phillipa.
Raphael

Droga! Droga de mulher! Não posso acreditar que ela teve a


audácia de fazer o que fez.
Phillipa tem razão. Eu odeio-me por a desejar, essa é a
grande verdade. Não só isso. Eu a odeio não só por ela ser uma
traidora, mas também porque me resumiu a isto: uma babá. Tenho
que ficar nesta droga de lugar, longe da minha cidade, dos meus
afazeres, só para a vigiar. Resumi-me a um pobre soldado, quando
na verdade, eu sou um capo. Porém, esta é a lei da máfia: fazer o
que o Chefe mandar. Caspen, chefe dos chefes dos chefes, mandou
eu para a vigiar na merda deste lugar.
Neste momento, eu odeio-me, odeio Phillipa e, de quebra,
tenho uma pequena raiva de Caspen. Sei que ele não podia enviar
qualquer um dos seus homens para cuidar de Phillipa, mas, droga,
poderia ter enviado outro, qualquer outra pessoa para este trabalho!
Balanço a cabeça, tentando tirar essa amargura que sinto.
Saio da casa, encontrando quatro dos meus homens de guarda.
— Vou sair pelo dia, não tenho hora para voltar. Ninguém sai
dessa casa e ninguém entra. Entenderam-me? — pergunto a eles,
sendo bem firme.
Preciso sair um pouco dessa casa, ficar longe de Phillipa, do
grande problema que ela é. Sei o lugar exato para ir.
Entro no carro, acelerando pelas ruas de Vegas. Minutos
depois, sorrio ao ver Poseidonescrito, com letras que parecem se
movimentar como ondas, e um tridente ao lado. O maior e melhor
clube de strippersde Vegas.
Entro, passando pelos dois seguranças na porta. Eles dão
um aceno de cabeça, mas não os cumprimento de volta. Meu foco é
apenas em curtir, vendo mulheres mostrando seus corpos em uma
dança sensual, depois me afundar em alguma boceta aleatória, tudo
para esquecer aquela traidora em casa.
A baixa iluminação do clube acompanhada da música
sensual que toca envolve-me, relaxando-me. Passo por um
corredor, indo para a parte principal, onde há várias mesas. Em
volta da área, onde as mesas estão, há alguns poles dances
espalhados, para danças um pouco mais privadas. Tem dois bares
no clube, um em cada lado e, bem no meio, um grande palco onde
mulheres se apresentam da forma que elas quiserem.
Na parte de trás do clube contém uma grande escada que
leva aos dois andares acima, onde tem um pequeno salão para
festas e reuniões privadas. Há ainda quartos privados para
programas particulares.
Com confiança, caminho para o bar principal, onde encontro
Dominic com um copo de bebida na mão.
— Um Jack, por favor — peço ao barman, que está por
detrás do bar. — O que está fazendo aqui? — pergunto, olhando a
Dominic. — Pensei que estaria com sua protegida. — Refiro-me a
Zoe.
Ele vira a cabeça para me encarar. Seu olhar não está para
brincadeiras. Erguendo a mão, leva o copo à boca, tomando sua
bebida. No mesmo instante, o barman coloca meu copo com Jack
de frente para mim. Agradeço com um leve levantar de cabeça.
— Resolvi dar um tempo. Estou sufocando a garota —
responde Dominic, com o olhar distante, pensativo.
Aceno com a cabeça, em reconhecimento.
— Você a quer.
Suspirando, ele coloca o copo de volta no balcão do bar.
Suas mãos esfregam seu rosto, com irritação.
— Ela é a porra de uma adolescente! — urra, irritado.
— Isso não muda merda nenhuma, você continua a
querendo. — Ele acena, de acordo.
— Preciso dar um tempo, droga! A menina acabou de se
livrar de uma prisão com aquela mulher horrível, não vou colocá-la
em outra, fazendo-a ficar ao meu lado.
— Vai fazer o que, então? Voltar para New York?
— Sim, eu vou. Preciso voltar ao meu posto, focar em outras
coisas que não seja em Zoe. — Dá mais um gole na sua bebida
amarelada.
Tomo minha bebida, sentindo o álcool queimar minha
garganta, descendo para o meu estômago e esquentando meu
corpo.
— E você? Não era para estar olhando a traidora? — Ele dá
um sorriso sem emoção alguma, como se algo amargo estivesse na
sua boca.
Bufo, com irritação.
— Deixei homens suficientes para a olharem. Tudo o que
preciso é de distração e, é claro, molhar meu pau com uma boceta
disponível. — Dou de ombros.
Ergo meu copo vazio para o barman, pedindo mais. Dominic
dá um pequeno sorriso.
— A mulher está o enlouquecendo. — Ri.
— Ela está jogando um jogo perigoso e, no final, irá sair
queimada. Isso é o que ela está fazendo. — Olho para o palco, onde
uma dançarina balança seu corpo de forma espetacular.
Meu pau logo corresponde ao corpo da mulher. A forma com
que ela se move e mostra-se, como se tivesse orgulho de estar ali,
como se gostasse de ser o centro das atenções. Caralho! É disso
que eu preciso, dela. De uma distração.
— Vou levá-la para casa — falo a Dominic, apontando para
a mulher no palco.
— Você está louco? — Ele joga a cabeça para trás, rindo. —
Cara, esqueceu que não está sozinho? Phillipa vive naquela casa, e
dias atrás, você tinha-a na sua cama.
Ele balança a cabeça.
— Sim, ela esteve na minha cama e é isso. Não preciso de
uma traidora apaixonada por mim, então hoje à noite darei a ela
meu recado.
— E que recado é esse? — pergunta, com curiosidade.
— Que sou um homem livre e fodo quem eu quiser. —
Sorrio, já imaginando a reação de Phillipa.
Ela precisa entender que não há nós e que meu corpo reage
com desejo a qualquer mulher. O que aquela mulher fez mais cedo,
toda a provocação... será pago com humilhação. Phillipa jamais
sairá por cima. Quem manda nessa merda sou eu, ela é apenas
uma prisioneira sem valor.
Termino minha bebida, colocando o copo no balcão, pego
minha carteira, jogando algumas notas no bar, dou um aceno para
Dom e saio, indo em direção da sala do gerente, no andar de cima.
Preciso pegar minha garota dançarina, dar a ela a melhor noite da
sua vida e a pior da de Phillipa.

Phillipa

“— Mais forte! — A mulher grita, gemendo.


O barulhoda cama rangendo deixa-meparalisada,em puro
horror. Pisco algumas vezes, tentando entender o que está
acontecendo.
— Porra! Sua bocetinha é tão gostosa. — Ouço a voz de
Raphael gemendo, tão sensual, que é quando percebo o que está
acontecendo.
— Sim,sim,maisforte! Tão gostoso... — A voz da mulheré
irritante.
O barulho dos gemidos, das falas,da cama rangendo fica
cada vez mais forte, mais alto, mais constrangedor para mim.
— Bem assim, tão gostosa... Porra, mulher! Do jeitoque
você fode, vou mantê-la. — Ouço a voz clara de Raphael.
Instantes depois, escuto passos e risinhos.Minha porta
bate, como se alguém estivesse nela. Meus olhos se arregalam
quando percebo que estão fodendobem na minhaporta. O barulho,
os gemidos, todo o arfar
... trazem ânsia ao meu estômago.
— Ah, tão gostoso... Seu pau é maravilhoso.— A mulher
geme.
— Porra!
Raphael e a mulher fodem pela casa toda.”

Nesse momento, há apenas o silêncio e eu. Sinto-me


humilhada e com o coração em pedaços depois de ter ouvido tudo o
que o casal da porta ao lado fez pela casa. Ele fez seu ponto. Ele
queria me humilhar, deixar claro que não sou nada. Ele conseguiu o
que queria, mas não terá a reação que espera de mim. Por esta
noite, eu deixo-me chorar, sangrar de dor. Deixo que ele me quebre
com sua atitude, com tudo o que acaba de fazer. Por esta noite,
reduzo-me a uma mulher com o coração partido.
As lágrimas escorrem pelo meu rosto e soluços saem dos
meus lábios. Encolhida na cama, deixo-me ser levada pela dor, pela
humilhação. Por esta noite, eu deixo Raphael ganhar.
Um a um. Ele empatou o jogo.

Eu não durmo. Pelo contrário. Durante a noite toda, deixo-


me cair, em completa dor, mas assim que o sol aparece no céu,
trazendo um novo dia, renasce uma nova mulher. Levanto-me da
cama, tomo um belo de um banho e escolho uma roupa folgada,
porém sensual, que mostra meu corpo. Passo uma maquiagem e
saio do quarto para preparar o café a todos. Se Raphael quer jogar
este jogo, eu serei uma bela jogadora. No celular que ganhei para
conversar com as meninas, coloco a música Heaven, de Julia
Michaels, em seguida começo a preparar o café, dançando e
cantando.
— Bom dia. — Pulo quando, minutos depois, ouço a voz da
mulher da noite passada.
Viro-me para a olhar. Wow, é linda! Não posso negar que
Raphael soube escolher. Dou a ela um sorriso.
— Bom dia. — Aceno com a cabeça para a ilha que há no
meio da cozinha. — Sente. Estou preparando o café da manhã.
— Ah! — Ela dá um pequeno sorriso. — Você deve ser
Phillipa.
Surpresa, olho-a, sem saber o que dizer.
— Peguei-a de surpresa por saber quem é? — Sorri.
— Sim, desculpa. E você é...? — Coloco um copo com suco
na sua frente.
— Sou Angel. E sim, esse é o meu nome mesmo. Parece
que meus pais não souberam qual nome dar a mim e escolheram
esse mesmo — brinca ela.
Surpreendo-me com a garota à minha frente. Por mais que
eu esteja quebrada e humilhada pelo que Raphael fez, não consigo
ficar com raiva dela.
— Então, Raphael falou de mim? — pergunto, curiosa.
Ela dá de ombros, pegando o suco à sua frente, e dá uma
pequena golada.
— Ele estava um pouco alto pela bebida e deixou soltar
algumas coisas. — Sorri.
Confusa demais, preparo todo o café, colocando-o em cima
de ilha. Percebo o exato momento em que Raphael entra na
cozinha, pois meu corpo corresponde, mesmo eu não querendo. É
hora de jogar.
De forma sedutora, viro-me para ficar de frente a Angel,
assim como de frente a Raphael, mas finjo que não o percebo ali
parado, observando nós duas, com um sorrisinho de merda nos
lábios. Lambo meus lábios; meu olhar, focado em Angel. Saio de
trás da ilha, ficando mais perto dela. Ergo minha mão, passando
meus dedos pelos lábios dela. Sua boca se abre, em pura surpresa,
todavia posso ver no seu olhar que ela está instigada com o que
estou fazendo. Abaixo minha cabeça, encostando meus lábios na
sua orelha. Meu olhar recai sobre Raphael, que me olha,
desconfiado. Sorrio.
— Eu acho... só acho que ele não fez um bom trabalho, já
que teve tempo de falar sobre mim. — Beijo um ponto bem abaixo
da sua orelha, fazendo-a tremer.
Continuo beijando sua pele, subindo para as suas
bochechas, que estão coradas, até chegar nos seus lábios; minha
boca, encontrando a dela. Seguro-a pela nuca, dando nela meu
melhor beijo, fazendo um show para Raphael. Angel derrete-se
contra mim. Suas mãos seguram minha cintura. Sua boca abre-se,
dando-me livre acesso. Minha língua acaricia a dela, fazendo-a
soltar um pequeno gemido. Automaticamente, me puxa para mais
perto. Seu corpo roça o meu, seios contra seios. Puxo seus cabelos,
envolvendo-a mais no beijo. Nossas línguas estão em um
emaranhado. Ela suspira, mordo seu lábio inferior.
Sorrio para ela quando termino o beijo. Sua respiração está
pesada; e seu olhar, cheio de desejo.
— Sim, ele não foi tão bem quanto parece. — Olho para
Raphael. — Que vergonha. — Caminho até ele, dando um tapinha
no seu ombro e balançando minha cabeça para ela. — Foi bom
conhecê-la, Angel. Tenham um bom dia, crianças. — Dou um
tchauzinho a eles e me retiro da cozinha, com um grande e vitorioso
sorriso nos lábios ao gravar o olhar de Raphael, que contém puro
espanto.
Dois a um para mim.

Raphael

Que caralho foi isso?


Capítulo Três
Wrong – Zayn (Feat. Kehlani)

Dois dias depois...

Essa mulher ainda será culpada pela minha loucura, porque


é o que ela tem feito desde o dia em que deu um show com Angel
bem na minha frente. Fui querer humilhá-la, no entanto quem saiu
humilhado foi eu, com sua atitude de sempre sair por cima.
Balançando a cabeça, um pequeno sorriso se forma nos
meus lábios ao lembrar daquela manhã. Foi sexy pra caralho vê-la
beijando outra mulher. Meu pau logo respondeu àquele espetáculo e
minha vontade foi de foder as duas ao mesmo tempo. Levei tudo de
mim para não fazer o que eu realmente queria, mas sabia que me
arrependeria depois. Só de lembrar, já fico duro. Phillipa soube jogar
comigo direitinho. Ao mesmo tempo que quero fodê-la, quero matá-
la. A mulher é uma feiticeira que lançou a droga de um feitiço, só
pode. Chega a ser engraçado se não fosse tão sério.
Olho para o relógio no meu pulso. Droga! Uma mulher
demora quantas horas a ficar pronta para uma porra de despedida
de solteira?
Saio dos meus pensamentos quando batem na porta.
Estreito meus olhos. Não estou esperando alguém e nenhum dos
meus homens informou sobre visitantes. Saco a arma das costas, a
segurando firme na minha mão, pronto para atirar caso seja alguma
invasão. Abro a porta, ficando surpreso assim que dou de cara com
Angel, que sorri, mas seu sorriso morre quando vê a arma na minha
mão.
— O quê...?
— Ah, você chegou. — Sou interrompido por Phillipa, que
me empurra de lado e abraça Angel.
Que caralho é isso? Desde quando elas são amigas?
— Guarda a arma, Raphael. Está assustando a menina. —
Phillipa olha-me, de cara feia.
— Não sabia que estávamos esperando por alguém, não fui
avisado. — Meu tom é sério.
Não gosto dessa merda, principalmente quando meus
homens não obedecem à minha ordem. Qualquer pessoa que
apareça na propriedade sem ser convidado, eu tenho que ser
informado imediatamente. Ninguém entra ou sai sem a droga da
minha permissão!
Phillipa olha para mim, dando de ombros, como se não
fosse problema dela.
— Fiquem aqui. Venho buscá-las em minutos.
Irritado,saio da casa, fechando a porta com força atrás de
mim. Envio uma mensagem coletiva para os meus homens,
mandando-os me encontrarem na parte da frente da casa.
Parado, espero por todos meus dez homens. Eles param de
frente para mim. Olho para cada um deles, avaliando-os. Alguns
tremem sob o meu olhar; outros, apenas me encaram, sem
expressão alguma.
— Quem são os três soldados que ficam no portão? —
pergunto mortalmente.
Três dos meus homens dão um passo à frente.
— Somos nós, Senhor. — Um responde pelos três.
— Quero saber por qual motivo do caralho que não me
avisaram sobre a chegada de Angel. — Eles tremem ao ouvir o tom
da minha voz.
— Senhor...
— Senhor é o caralho, porra! — grito, fazendo-os dar um
passo para trás. — Vocês respondem a mim, só a mim, portanto
quando alguém aparece do nada, eu desejo que me avisem, porra!
— Phillipa deu a entender que o Senhor sabia da chegada
de Angel. — Um soldado diz.
— Estou pouco me fodendo para o que Phillipa deu a
entender! Vocês vêm até a mim para confirmar. Os três, de joelhos
— comando, sem pensar.
Os três soldados ajoelham de frente para mim.
— Estendam as mãos.
Assim que eles obedecem, tiro uma faca do meu terno, pego
o dedo mindinho do primeiro soldado e corto fora, fazendo-o tremer
de dor enquanto seus berros ecoam. O sangue respiga pelo chão e
pelo meu sapato. Corto o dedo mindinho dos outros dois também,
jogando-os no chão, ao lado deles.
— Não permito erros. E se deem por satisfeitos que não
pagaram com a vida.
Dou as costas a eles, voltando para a casa, onde Phillipa e
Angel esperam-me na sala. Vou até Phillipa, pegando-a pelo
pescoço. Seus olhos arregalam-se, em surpresa, mas não há medo
no seu olhar.
— Da próxima vez que chamar alguém para esta casa,
informe-me, pois não vai gostar das consequências. Entendeu? —
Ela sorri.
Sim, a traidora sorri para mim. Já disse que ela me tira da
porra do sério? Essa mulher me levará à loucura.
Solto seu pescoço, fazendo-a tossir um pouco. Angel olha
para mim como se eu fosse louco. Sorrio para ela. Ao seu lado,
Phillipa rola os olhos.
— Oh, por favor, não tenha medo dele. Só lembrar que é o
mesmo homem que a fodeu e que falou sobre mim, como uma
garotinha. — Pega a mão de Angel, caminhando para a porta. —
Você vem? — Olha para mim, sorrindo.
Respirando fundo, controlo meu temperamento. Não quero
perder o controle, porque temos um lugar para ir. Mais tarde,
poderei resolver-me com ela.

Quando entramos na sala reservada, onde será a festa da


despedida de solteira de Audrey, Dominic começa a rir. Fito-o, mas
ele não se importa nem um pouco. Dom ri tanto, que chega a
engasgar. Sua mão bate na sua perna, e a outra está na sua boca.
Deixo as meninas e vou de encontro a ele e Lucas.
— Já acabou? — pergunto, com pura irritação, sentando ao
seu lado.
— Oh, cara... — Dom balança a cabeça, ainda rindo. — Elas
viraram amigas? Suas duas amigas de foda se tornaram amigas?
Isso é épico! — exclama.
Minha vontade é de colocar uma bala bem no meio da sua
testa.
— O que foi? — Dom pergunta, se fazendo de inocente. —
Estou fazendo um comentário. Não se pode nem mais ser divertido,
que os cuzões logo reclamam.
— Bem, pelo menos não sou eu quem fica igual cachorrinho
pidão atrás de uma menor de idade, velho tarado — rebato, e o riso
morre dos seus lábios.
Olho para Dominic e dou um sorrisinho, sabendo que o
peguei nessa. Mas ele logo volta a rir.
— Cachorrinho? Eu sou a porra de um leão, cara! — ruge,
batendo no peito.
Arqueio uma sobrancelha. Céus! É essa merda que tenho
que aturar durante esta noite? Porra! Dai-me paciência.
Phillipa

Eu sabia que Angel se daria bem com as meninas. Ela é


divertida, mas tem aquela timidez que dá um ar de inocência nela.
Não que seja inocente. Uma strippere mulher de programa não tem
inocência. A gente já passou por tudo o que se possa imaginar. Vejo
muitos romantizarem e até mesmo dizerem que é bonito, que é fácil,
mas não é. Nem sempre podemos escolher com quem passaremos
a noite e, por mais que haja regras, nem todos as cumprem. Nesse
mundo, sabemos quem somos: pagas para mostrarmos o corpo,
pagas para sermos fodidas. Angel não teve culpa que Raphael a
usou para me atingir, para me humilhar. Ela não fazia ideia do
homem que ele é, mas agora, faz. Contei-lhe tudo. Eu precisava de
uma amiga, uma amiga fora de toda a máfia, fora de todo esse
envolvimento que tenho, alguém que não me vê como traidora.
Angel e eu logo nos demos bem. Antes de ela ter ido embora,
depois de tudo o que aconteceu, há dois dias, veio ao meu quarto
despedir-se e pediu desculpa por ter dormido com Raphael. Ela
achou que tivéssemos algo, e foi quando contei tudo.
Não tenho vergonha a respeito de quem eu sou e não quero
mais mentir para as pessoas. Tudo o que quero é recomeço.
— Wow! Parece que as duas juntas vão acabar
enlouquecendo Raphael. — Audrey comenta, rindo.
Olho para ela, encolhendo meus ombros.
— Isso é problema dele. Se somos amigas agora, é graças
a ele. — Sorrio, tomando minha bebida.
Olho de relance para Raphael, que tem seu olhar em mim.
Reconhecendo-o, ergo minha bebida para ele, que desvia o olhar,
com uma cara fechada. Sorrio. Ah, sim, ele me odeia, mas se odeia
ainda mais por me querer. Isso é tão divertido.
— Penso no que ele fez — começa Zoe. — Que tipo de
homem ele pensa que é para algo assim? Tudo para provar algo. O
que provou é que é o tipo covarde e sem valor. Desprezível.
Alguém limpa a garganta atrás de nós.
— Parece-me que além de traidora, Phillipa, você tem a
língua grande. — A voz de Raphael é tão grave, que faz meu corpo
tremer.
Estávamos tão distraídas, que não percebemos que não só
ele, mas Dominic e Lucas se aproximavam.
— E você, Zoe, mal entrou para a família e já está
mostrando quem é, soltando a língua afiada. Acho que tem que
começar a aprender a manter sua opinião para você mesma —
continua ele, com seu olhar mortal e avaliador.
Zoe abre a boca para dizer algo, provavelmente pedir
desculpa, mas levanto minha mão, a calando.
— Primeiro, que não sabia que o que aconteceu com a
gente era tão segredo assim, porque se não se lembra, eu também
estou envolvida, e como fiz parte do que aconteceu, decidi por mim
contar às minhas amigas. — Sorrio para ele, que semicerra os olhos
para mim, como se me intimidasse.
Raphael abre a boca para rebater.
— Não, eu não terminei — digo, olhando-o, dando um
sorrisinho quando sua boca se fecha. — Segundo, que você não
tem moral alguma para falar com Zoe do jeito que falou, pois ela
estava dando sua opinião para nós, não para você. E terceiro: esta
é uma despedida de solteira onde envolve apenas meninas, então
continuem no cantinho de vocês até que nós decidamos chamá-los
ou que algo aconteça. — Dispenso-os com a mão.
Porra! Sei que fui ousada demais e o desrespeitei na frente
de todos. Terá consequências meu ato, mas neste momento, não
me importo. Lidarei com isso quando for a hora.
Olho para Dominic, que tem um sorriso no rosto, o tipo de
sorriso que diz: você está ferrada e essa merda é divertidapara
caramba. Pisco para ele.
— Vamos, priminho, nós não temos permissão para nos
juntarmos a elas. — Dom coloca a mão no ombro de Raphael,
tentando levá-lo para longe, porém ele continua parado, olhando-
me, bem sério, cheio de promessas.
Raphael abaixa-se para ficar na mesma altura em que
estou; sua boca, na minha orelha.
— Mais tarde.
Uma corrente elétrica percorre meu corpo com sua
promessa.
Levantando-se, ele ajeita o blazer do seu terno. Dando as
costas, retira-se com Lucas e Dom.
— Amiga, você está completamente ferrada. — Angel diz,
olhando-me, bem sério, com uma pitada de medo nos seus olhos.
Suspiro, com um pequeno aceno.
— O que eu posso fazer? — pergunto, olhando-as. — Não
consegui ficar calada.
Dimitria sorri para mim.
— Pois, eu achei perfeito — comenta ela. — Meu primo
precisa de um pequeno tapa de realidade e você foi ótima.
— Sim. Obrigada por me defender. Parece que nem
Dominic, que está tão protetor comigo, iria intervir ao meu favor. —
Zoe dá um olhar melancólico na direção dele, que está a evitando
ultimamente.
Parece que o grande Dominic caiu na real e resolveu dar
espaço para Zoe, o que eu particularmente acho excelente.
Entretanto, penso que ela está sentindo falta da atenção que Dom
estava lhe dando. Quem diria?
— Mudando completamente de assunto: amanhã, iremos
comprar o vestido de noiva. — Dimitria anuncia.
Audrey geme ao seu lado. Parece que ela não gosta muito
da ideia.
— Logo amanhã? — reclama, dando um olhar pidão a
Dimitria. — Estaremos todas de ressaca por hoje à noite.
— Bem, seu casamento está próximo, e você sempre vem
adiando o dia de escolhermos o vestido. Será amanhã e pronto.
Fazendo biquinho, Audrey concorda.
— Sim, Senhora. — Ela sorri.
— Está na hora da diversão, meninas! — exclamo,
querendo animar um pouco.
— É isso aí! — Zoe ergue o copo.
— Vamos esquentar este lugar! — Angel balança as
sobrancelhas.
— Não, vamos deixá-lo fervendo...

Ao som da música Please me, de Cardi B e Bruno Mars,


Angel e eu ensinamos as meninas a dançarem no pole dance.
Primeiro, ensinamos a posição Pirouette Pose. Damos algumas
voltas apenas para sensualizar, mostrando nossos corpos,
mostrando a elas como se acostumarem com o pole. A sensação
que nos preenche, o poder que sentimos... Da PirouettePose, nós
mudamos para Sumo Squat.
Meu corpo queima quando sinto o olhar de Raphael em
mim. Neste momento, sinto-me poderosa, como se o mundo todo
estivesse na palma da minha mão. Sabendo que seu olhar está em
mim, só em mim, minha posição muda para WalkDown Pole, com
meu traseiro virado para ele. Interiormenteestou sorrindo pelo meu
atrevimento.
A música muda para Earned It, de The Weeknd.
— Dessa, eu sei a coreografia — digo a elas, pegando uma
cadeira. — Vou ensiná-las.
As meninas sorriem para mim. Elas fazem o mesmo,
pegando uma cadeira, cada uma.
Olhando para Raphael, faço todos os movimentos da
música, um show só para ele. Seu olhar intenso aquece-me, meu
corpo todo se enche de vida. É como se nesse momento existisse
apenas nós dois. Esqueço das minhas amigas, de Lucas, de
Dominic e dos seguranças que estão escondidos na escuridão. Eu
foco apenas em Raphael, dando o meu melhor.
Abro minhas pernas e jogo a cabeça para trás. De relance,
vejo que sua línguaumedece os lábios. É o que sei fazer de melhor:
dançar, seduzir, colocar todos os olhares em mim, fazer os homens
me desejarem.
— Issoaê! — Ouço minhas amigas gritarem quando termino
de dançar.
— Isso foi um grande show! — Audrey bate palmas.
— Seu corpo, mulher... Quero ser como você! — brinca
Dimitria, sorrindo.
Minhas bochechas esquentam de vergonha. Olho para
Raphael, mas seu olhar não está mais em mim. Na verdade, ele
está olhando para a parte de baixo do clube, onde o público
principal fica. Balanço a cabeça, sorrindo ao saber muito bem que o
afetei. Posso ver pelo aumento em uma certa parte de sua calça.
O restante da noite passa tranquilamente. Nós divertimo-nos
muito, bebemos igual loucas, gritamos, dançamos, sensualizamos e
colocamos o terror. Forçamos até os meninos a dançarem com a
gente. É a melhor noite da minha vida!
— Que merda está fazendo?! — grito, batendo em Raphael
quando ele me arrasta pelo braço, levando-me direto para o meu
quarto.
— Dando a você o que merece! — urra, irritadiço. — Pensa
que pode me humilhar na frente de todos e que não farei porra
nenhuma? — Balança a cabeça. — Mexeu com o cara errado,
Phillipa. — Ele joga-me para dentro do quarto. — Vamos ver como
se sairá a partir de agora, se sua línguacontinuará tão afiada assim.
Ele sai do quarto batendo a porta. Ouço a chave passando
pela fechadura e sei que me trancou. Porra! Esse filho da puta
trancou-me!
Capítulo Quatro
In your Eyes – The W
eeknd

Um dia. Já faz um dia que estou trancada no meu quarto,


sem comer. Tudo o que faço é beber água da pia do banheiro. Esse
é o “castigo” que Raphael está dando a mim.
Grande castigo. Será que ele não se lembra de onde vim?
Sentada na minha cama, olho para a porta, ouvindo-a ser
destrancada. Sorrio ao ver quem está entrando. Nas suas mãos há
uma bandeja com comida. Bufo. Sério mesmo, Raphael? Um
castigo de um dia sem comida? Acho que ele está amolecendo,
porque para uma mulher como eu, que foi criada na miséria, dois
dias não são merda alguma. Tente uma semana ou dez dias, aísim.
A única coisa que me incomodou foi não poder ter ido experimentar
vestidos com as meninas, para o casamento de Audrey. Eu queria
muito poder ter ido e ajudado na escolha, pois sei que é importante
para uma mulher escolher o vestido de casamento. Queria poder ter
estado presente nesse momento. Até que elas tentaram intervir.
Dimitria gritou com Raphael, teve maior confusão. É claro, não pude
ver, mas ouvi tudo. Todas elas foram retiradas à força da casa. Foi
memorável ter ouvido toda a confusão e os xingamentos, mas
Raphael estava decidido com meu castigo. Minha lição era ficar
trancada, com fome e sem companhia. Como se eu não tivesse
passado por isso antes. Será que ele se esqueceu que já fui
prisioneira de Caspen?
— Ai, graças a Deus! — digo, levantando-me da cama e
indo de encontro com Angel. — Ficar trancada aqui, sem fazer
nada, estava me entediando. — Solto um suspiro dramático.
Angel sorri para mim. Seu olhar avalia meu estado.
— Você não parece fraca, nem faminta. — Seu comentário
me faz sorrir um pouco.
— Fui criada na pobreza. Meus pais amavam-me, eram
ótimos pais, mas pobres, então ficar sem comer por um dia não é
nada para mim. Angel, de onde eu vim, de onde eu saí, ficar um dia
sem alimento é brincadeira de criança. — Retiro a bandeja das suas
mãos, sentando na cama, coloco-a na minha frente e, com
delicadeza, em pequenas goladas e mordidas, tomo o café da
manhã. — Obrigada por ter trazido comida.
Angel senta de frente para mim, no meio da cama.
— Bem, Raphael ainda está chateado com o que fez. Ele
não queria vê-la, então me chamou. — Rolo meus olhos.
— Ou ele pensou que eu iria atacá-lo.
— Acho mais que está testando as águas, querendo saber o
seu humor. — Sorri.
— Grande bebê — desdenho. — Tranca-me aqui, deixa-me
sem comida, sem ninguém com quem falar, e é ele quem está
sentido. — Angel ri, balançando a cabeça. — Então, você aqui, essa
comida, significa que estou livre do meu castigo? — pergunto, já
ficando animada com a ideia.
— Sim, seu castigo acabou. — Olho para a porta, vendo
Raphael parado, encostado no batente.
Com os braços cruzados, ele observa-me; seu olhar, sem
expressão alguma. Na verdade, todo o seu semblante é sem
expressão, mais como tedioso. Aceno com a cabeça e volto a
concentrar-me na bandeja de café da manhã. Posso sentir o
nervosismo de Angel nesse momento, chega a ser engraçado. Ela
dormiu com ele, agora, fica tensa quando está por perto.
— Você parece bem — comenta ele.
Tomo um gole de café, ainda não respondendo, depois,
como um pedaço do bacon, e assim vai. Por fim, levanto a cabeça,
voltando a olhar para Raphael, que está com a mandíbula trincada.
Por dentro, estou sorrindo e dando pulinhos de emoção pelo fato de
não ter dado a ele a resposta rápida ou o agradecimento em estar
livre.
— É claro que estou bem. — Sorrio. — Por que eu não
estaria?
— Vamos ver... porque está há um dia sem comer, por estar
trancada nesse quarto? — Ele adentra, olhando tudo à sua volta.
Solto um pequeno bufo e abano a mão para frente.
Limpando a boca com o guardanapo, sorrio mais.
— Vou dar uma pequena dica. — Levanto-me da cama,
parando na sua frente e olhando nos seus olhos. — De onde eu
venho, ficar um dia sem comer não é nada, Raphael. Talvez se
fosse você, já que foi criado no luxo, aí sim estaria cheio de fome e
fraco. Mas, eu? — Estalo a língua, dando um balançar de cabeça.
— Eu não. Um dia para mim não é nada comparado ao que já
passei, ao que vivi, então, se quiser me dar um castigo duro da
próxima vez, sugiro que me deixe sete ou dez dias sem comida, aí
sim você me verá cheia de fome. Desmaiada até. — Dou a ele meu
melhor sorriso.
Raphael olha-me de uma forma estranha que não sei
identificar, mas passa tão rápido, que nem dá tempo de entender.
Dando um aceno com a cabeça, ele se vira, pronto para sair, mas
acaba parando junto à porta.
— Tenha um bom dia com suas amigas— desdenha.
Raphael sabe que isso me magoa. Ele sabe que, no fundo,
eu não tenho amigos.

Raphael

Que caralho de mulher! Balanço a cabeça com a ousadia


que Phillipa teve ao me enfrentar como se realmente um dia sem
comida não fosse nada para ela. Cacete, essa mulher vai me deixar
louco ou ser a causa da minha morte precoce!
Dimitri, Audrey e Zoe passam por mim, todas com
sorrisinhos de merda nos lábios.
— O quê? — pergunto, irritado, para Dimitria.
— Um dia? — desdenha ela, rindo. — Sério, primo, a mulher
ficou trancada no porão de Caspen por sei lá quanto tempo, foi
espancada quase até a morte pela mãe e sabe lá como foi a
infância dela. Um dia para ela é apenas duas horas. — Ri de mim.
— Sério, priminho, acho que está caindo nos encantos de Phillipa.
Cuidado para não se apaixonar. — Pisca para mim.
— Porra! — urro, chutando a mesa de centro da sala,
fazendo-a cair para o lado e quebrar.
Ouço os risos de dentro do quarto de Phillipa. Pegando meu
celular, ligo para Caspen.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunta, assim que atende.
— Quando essa merda irá acabar? — Posso ouvi-lo respirar
fundo do outro lado.
— Quem decide essa merda sou eu, Raphael, não se
esqueça disso, porra! — ruge.
— Sim, Senhor. — Suspiro, cansado dessa merda. — Quero
meu posto de volta, Caspen. Não gosto daqui, não gosto dela,
porra! Você sabe como me sinto sobre traidores, cara, e me manda
tomar conta de uma... — Paro, tomando fôlego.
— Ai, ele realmente a detesta. — Meu corpo trava e eu me
viro para encontrar todas as meninas paradas, me encarando.
Era só o que faltava: tê-las ouvindo minha conversa. Olho
para Phillipa, que mantém os ombros erguidos, e a cabeça,
levantada, mas por segundos, posso ver a dor no seu olhar.
— Já estou acostumada, Zoe. Minha própria mãe biológica
detestava-me. Um homem odiar-me não machuca, apenas é mais
um na fila de quem odeia Phillipa. — Com isso, ela passa ao meu
lado, indo para fora.
— Você ainda está na linha, Raphael? Não tenho o dia todo
para ficar de conversa com você. — A voz irritada de Caspen faz-
me concentrar na conversa, não mais nos olhares reprovadores que
recebo.
— Sim, estou aqui, é só que tive plateia.
Ele ri.
— Phillipa o ouviu.
— Não só ela, como também Audrey, Dimitria, Zoe e Angel.
Caspen sabe quem é Angel. Ele é informado sobre tudo o
que acontece aqui.
— Merda, Raphael... — Ri. — Você sabe que Phillipa
sempre teve uma queda por você, não sabe?
Que merda ele está falando?
— Não?
— Homem, você é cego então, porque essa mulher sempre
foi apaixonada por você. Era por isso que toda vez que ia ao clube,
era apenas ela quem o servia, quem dançava na sua sessão...
Cara, vai me dizer que nunca reparou? — Ouço o riso na sua voz.
— É claro que reparei nela, mas também reparei nas todas
outras mulheres do clube, e sempre que eu estava lá, era a
negócios, não para observar qual das mulheres era apaixonada por
mim.
— Porra, tu é cego ou se faz, só pode...
— Caspen, eu só quero sair desse lugar e voltar — corto-o.
— Fique tranquilo, iremos conversar durante o casamento
de Audrey. Seu tormento está chegando ao fim. — Ri e desliga a
chamada na minha cara, não me dando a chance de dizer mais.
Indopara o escritório, digito o número do meu segundo no
comando, querendo saber como vão meus negócios na minha
cidade.
Pelo resto da tarde, enquanto Phillipa se diverte com suas
então amigas, resolvo minhas coisas. Não as acompanho. Não
quero ficar perto de Phillipa e da sua influência ao redor das
meninas.
— Passe-me tudo. Quero nomes e os pontos em que estão
vendendo essa merda, e quero tudo isso resolvido em cinco dias.
Não é porque não estou aí, que virou bagunça, estamos
entendidos?! — grito, irritado.
Passo a mão pelos meus cabelos. Porra, tenho que voltar
para o Quees e resolver essa merda de gangues por lá. Ficar tanto
tempo fora, deixando tudo nas mãos de outras pessoas, não está
dando certo.
— Chefe, temos tudo sob controle. Quando algo fica sério,
nós informamos, e também vamos direto ao Caspen, que resolve
tudo. A cidade é sua ainda, fique tranquilo. — Meu segundo no
comando, Thomas, diz.
— Não há como ficar tranquilo quando estou longe por tanto
tempo! — grito; meu sangue, fervendo de raiva.
Detesto essas ligações, ficar sabendo sobre minha cidade e
meus negócios por videochamadas.
— Resolva essa porra logo, Thomas, ou eu mesmo sairei
daqui e resolverei tudo com as próprias mãos, incluindo você.
Desligo, jogando o celular em cima da mesa. Olho pela
janela, percebendo que já escureceu, mas a casa continua
silenciosa, sem sinal algum de Phillipa. Droga!

Assim que saio da casa, envio uma mensagem para


Dominic, perguntando o paradeiro das meninas, porque é onde eu
sei que Phillipa estará.

Dom: “Dê a volta no hotel, na ala leste. Você encontrará


uma fila
de carros. Passe por todos elese pare na frente da grande
porta vermelha. Estarei esperando-o”.

Olho para a sua mensagem, sem entender muito o que ele


quis dizer, mas sigo as ordens. Entro no carro e acelero pelas ruas,
até a grande Vegas. Durante a noite, esta cidade costuma ser
movimentada, mostrando todas as suas tentações, todo o seu
glamour. Pessoas de um lado para o outro, todas rindo e se
divertindo, mas não presto muita atenção. Meu foco está em chegar
no lugar indicado por Dominic.
Não demoro muito para chegar no hotel. Conforme a
mensagem pede, dou a volta por ele, indo em direção à ala leste.
Para a minha surpresa, há mesmo uma grande fila de carros, todos
de marcas, todos de pessoas da alta classe. Passo por eles,
parando na porta principal vermelha. Posso ver Dom parado, me
esperando no seu melhor. Parando o carro, saio, ajeitando meu
terno feito sob medida só para mim. Ajusto no pulso meu relógio de
ouro, que custou muito mais do que se possa imaginar, e sorrio para
o meu primo.
— O que é tudo isso? — pergunto a ele.
— Bem-vindo ao submundo de Vegas, priminho. — Dom dá
um tapinha no meu ombro.
Jogo a chave do carro para o manobrista, que a pega sem
pestanejar.
— Cuide bem do meu bebê. — Dou meu aviso, vendo-o
engolir em seco.
— Não assuste o garoto. — Dom ri.
— O que está acontecendo? — pergunto, sem entender.
Eu sei as coisas que acontecem no submundo de uma
cidade: drogas, cafetões, vendas de pessoas, lutas clandestinas... e
por aí vai. No entanto, o que eu quero saber é qual é o submundo
deste hotel.
— Bem-vindo à maior e mais desejada luta clandestina da
cidade. — Dom sorri para mim ao abrir a porta vermelha.
Assim que entramos, toda a atmosfera do lugar domina-me,
a energia é vibrante, mas se parar por um momento para sentir
melhor, verá quão pesado e intenso é tudo. Claro, tudo é mascarado
por essa vibração, por essa energia vibrante que pulsa nas veias.
Dou de cara com um grande lobby, todo decorado com o
tema do hotel. Inicialmente,parece mais uma festa de gente rica e
esnobe. Há pessoas por todos os lados. Mulheres com seus
vestidos e joias, taças de champanhe nas mãos, homens nos seus
melhores ternos, com suas bebidas, conversando sobre negócios, é
claro... sempre é sobre negócios. À medida que adentramos, as
pessoas dão espaço, todos acenando com a cabeça, em respeito.
Alguns tentam conversar, todavia apenas caminhamos por eles.
No final do grande lobby, há dois elevadores. Dom entra em
um, e eu o sigo. As portas se fecham e o elevador começa a descer.
Olho para o meu primo, que tem um grande sorriso nos lábios.
O elevador para, as portas se abrem e os gritos, a
animação, o barulho de ossos sendo quebrados, de socos, me
preenche.
— Como, porra, eu não sabia disso? — pergunto a ele.
Saindo do elevador, Dominic caminha pelo grande salão.
Pessoas gritam enquanto uma luta acontece. Olho para o ringue, no
exato momento em que um grande homem soca o outro no meio da
cara, fazendo sangue ser derramado. Sorrio para a carnificina à
minha frente. Caralho! Eu amo essas merdas! Aqui, sinto-me em
casa.
— Você tinha outra preocupação, Raphael. Seu dever aqui
era vigiar Phillipa, então não podia se distrair com outras coisas.
Fomos proibidos de lhe contar sobre tudo.
A raiva enche-me, dominando meu corpo, como fogo que
incendeia tudo muito rápido. Mais uma vez, Phillipa estragou tudo.
Eu odeio-a por ser uma traidora, odeio-a por ter me reduzido à porra
de uma babá, por eu estar aqui e não no meu posto de New York,
mas também me odeio por desejá-la, por meus pensamentos serem
consumidos por ela e todas as coisas tentadoras que eu poderia
fazer com seu corpo. Porra!
— E os Federais? — pergunto a ele, que dá de ombros.
— Bem, é por isso que lá em cima há pessoas bem-vestidas
e uma pequena festa acontecendo. Esse lado do hotel serve para
artistas, políticos e todos os engravatados que querem um momento
de privacidade com suas amantes ou apenas entrar e sair sem
serem vistos. É por essa parte que eles entram e saem, então os
Federais só verão o que nós queremos que eles vejam. Aqui
embaixo é a prova de som, e o elevador não tem botão visível para
este andar.
Sinto raiva, todavia entendo o motivo de não terem
mostrado tudo isso a mim, por não terem me envolvido nos
negócios, pois seria aqui que eu estaria, e não olhando a traidora.
Apesar disso, não gosto de ter sido mantido no escuro.
A quem estou tentando enganar? Somos máfia. É claro que
há coisas como essas em todos os lugares que comandamos, mas
nunca entrei mais fundo, nunca quis saber mais. Meu foco está em
Phillipa, essa é a droga do meu dever.
— Em falar nela: onde diabos ela está? — pergunto a ele,
não percebendo que entramos em uma sala vip com cadeiras
aveludadas e uma grande janela de vidro, de onde se pode ver toda
a luta por cima.
— Estou bem aqui! — A própria grita, rindo e balançando as
mãos por cima da cabeça.
Estreito meus olhos ao observá-la. Droga! Ela está bêbada e
feliz. Balanço a cabeça. Era só o que faltava.
Vou até o bar, no canto da sala, pedindo uma bebida.
Preciso disso para poder lidar com tudo isso.
Enquanto espero, observo a próxima luta, a multidão de
pessoas, a energia envolvente, as mulheres e a grana sendo
passada de mãos em mãos... Todos fazem suas apostas. Todos
torcem para os seus lutadores ganharem.
— Senhoras e Senhores! — O locutor diz, e a multidão grita.
— Esta noite, teremos uma grande luta, nossos dois melhores
lutadores se enfrentarão. Estão preparados?
— Sim! — Ouço o grito de Phillipa.
— Pode mandar! — Audrey ri, esfregando as mãos.
— Quem são essas mulheres e o que fizeram com as
verdadeiras? — pergunto, quando Dominic se junta a mim no bar.
Meu primo olha para elas, mas seu foco é em Zoe, que está
sentada, apenas observando tudo. Ela também gosta da luta e de
toda essa energia que nos envolve. Por fim, Dom dá de ombros.
Pegando a própria bebida no bar, ele toma um grande gole; seu
olhar, sempre em Zoe.
— Acho que para elas, esse é um meio de escape, onde
seus demônios não podem alcançá-las, onde elas podem esquecer
quem são e apenas se deixar levar pelo ambiente.
— Onde elas podem observar a dor dos outros, e não a
delas mesmas — termino por ele, que acena com a cabeça.
Faz todo o sentido para mim. Aqui elas não precisam ser
elas. Aqui elas podem esquecer a merda delas e apenas se divertir.
Aqui não há regras.

Phillipa

Oh, céus! Toda essa energia, essa atmosfera tão


envolvente... A luta, o sangue, os gritos, aplausos, a empolgação
que me envolve, o suor que escorre entre os lutadores, o som de
ossos se quebrando, o pulsar das minhas veias e a forma com que
meu coração bate aceleradamente ao observar tudo... É
emocionante. Como uma droga, que quanto mais injeta, mais
impossível de largar torna-se. Estou tão viciada e bêbada. Já disse
que estou bêbada?
Suspiro, olhando para os dois últimos lutadores da noite. Já
se passa das três da madrugada, no entanto, o público está a todo o
vapor, incluindo eu. Suor escorre entre meus seios e sinto minha
garganta queimar, de tanto gritar. Estava precisando disso, dessa
escapatória, dessa pequena ilusão de que tudo está okay, de que
minha vida não está uma bagunça de merda. Esquecer, isso que eu
estava buscando. Eu só queria por algumas horas esquecer a
bagunça em que estou metida e toda essa merda de estar
apaixonada por alguém que me detesta. Merda, preciso de mais
bebida. Levanto-me aos tropeços e caminho até o bar, onde
encontro Lucas, Dominic e Raphael. Droga! Ele tem que ser tão
porra de lindo?! Coloco-me entre Lucas e Dom, pondo meu copo no
bar.
— Mais — grito.
Bem, eu penso que grito, porém minha voz sai arrastada.
— Apenas água. — Raphael intervém. — Ela bebeu demais.
Bufo, soltando um pouco de saliva. Droga, estou uma
bagunça! Uma bêbada bagunçada. Show!
— Ela está bem aqui, idiota. — Coloco as mãos na cintura,
me impondo.
No fundo, sei que estou fazendo merda, mas quem se
importa?
— O que foi que disse? — Raphael sai de onde está,
parando bem na minha frente.
Sentindo-me confiante — tudo por causa bebida, é claro —,
olho para ele, com os olhos semicerrados.
— Está surdo? — Cala a boca, Phillipa
. — É tudo por sua
causa. — Aponto o dedo para o seu peito.
Sinto que, neste momento, estou sendo o centro das
atenções, que todos nesta sala vip estão me observando, nos
observando.
— Vamos. Você está bêbada e não sabe o que está falando.
— Raphael pega meu braço, mas o puxo, soltando-me do seu
aperto.
Ele para, dando a mim um olhar de aviso, entretanto quem
liga? Foda-se, não me importo. Neste momento, não me importo
com nada, para dizer a verdade.
— N-não. De-deixa eu falar. — Sorrio, tentando encostar-me
no balcão do bar, todavia acabo dando um tropeço. — Eita. — Rio
de mim mesma.
— Phillipa...
— Raphael... — rebato, sorrindo, mas logo meu sorriso
morre e lágrimas enchem meus olhos. — Sua culpa, sim, tudo, tudo
sua culpa. — Um soluço deixa meus lábios. — Por que eu sou tão
apaixonada por você?
Raphael olha-me de forma estranha. O silêncio toma conta
do lugar. Seco as lágrimas estúpidas que insistem em rolar pelo
meu rosto e me fazer de boba na frente de todos.
— Estúpida, estúpida! Eu sou tão burra! — grito.
A dor no meu peito é demais, tanto que não consigo
controlar as palavras que saem da minha boca. Eu não consigo
controlar-me.
— E-eu amo você, sempre amei, mas não, n-não, vo-você
nunca olhou para mim, e agora que reconhece a porra da minha
presença, é porque sou a merda de u-uma tr-traidora. — Bato no
seu peito, e suas mãos seguram meus pulsos, prendendo-me no
lugar.
— Acho que está na hora de irmos. — Sua voz é tão dura,
tão fria.
— Burra, eu sou uma grande e feia burra! — Choro.
Deus! O que estou fazendo?
— Dói — sussurro, olhando bem nos olhos de Raphael. —
Dói tanto. Por quê? Por que tem que ser assim?
As lágrimas nos meus olhos deixam minha visão turva. Um
pouco melancólica, coloco minha cabeça no peito de Raphael,
sentindo as batidas do seu coração.
— Eu não sei o que estou fazendo — resmungo para ele. —
Estou tão bêbada... O que estou fazendo? Onde estamos?
Meu mundo começa a girar. Não me sinto nem um pouco
bem.
— Raphael? — chamo seu nome, olhando-o.
— O que é, Phillipa? Já não falou demais? — rosna, entre
dentes.
Meu estômago embrulha, meu mundo começa a cair.
— Eu acho que vou desma...
Não termino a frase, pois meu mundo fica preto.
Capítulo Cinco
Stay – Rihanna (Feat. Mikky Ekko)

Na manhã seguinte...

Uma palavra. Uma porra de uma palavra.


Vergonha. É exatamente o que estou sentindo neste exato
momento. Pura e completa vergonha pelo que fiz na noite passada.
Não que eu lembre exatamente, porém, para me humilhar, a sala vip
onde estávamos tinha câmeras, então tudo o que eu fiz foi gravado.
Ainda com a cabeça latejando e meus olhos ardendo, olho
para a filmagem no celular de Dimitria, que está nas minhas mãos.
— Eu fiz isso? — pergunto, olhando para as minhas amigas.
— Hum... sim. — Audrey acena.
— Oh, céus! — Coloco as mãos no meu rosto. — Não é de
admirar que Raphael não esteja aqui. Olha o que eu fiz! — Jogo
meu corpo para trás, encostando minhas costas no encosto do sofá.
— Por que me deixaram fazer isso? Poderiam ter me impedido. —
Olho para elas, que dão um pequeno sorriso compreensivo. —
Como vou ter a coragem de olhar para Raphael, depois disso?
Céus, eu quero morrer!
Zoe começa a rir, estreito meus olhos para ela.
— Não seja tão dramática — diz, rindo.
— Dramática! — exclamo. — Olhem o que eu fiz. — Coloco
o celular na frente do seu rosto. — Não estou sendo dramática.
Estou sendo realista.
— Quem nunca fez algo louco quando estava bêbada? É
normal, você apenas disse tudo o que estava sentindo. — Audrey
dá um pequeno sorriso compreensivo.
— Sim, e me humilhei na frente de um monte de gente! —
Bato as mãos nas pernas, sentindo-me exaltada.
Não é para pouco, é claro. Eu fiz algo louco, passei dos
limites. Nunca mais quero dizer isso, eu nunca mais irei beber tanto
assim. Que vergonha! Nunca, em toda minha vida, fiz algo assim.
Estou me sentindo péssima, humilhada. Chega a ser esmagador
esse sentimento no meu peito. O olhar no rosto de Raphael
enquanto eu dizia tudo o que sentia vai ficar gravado para sempre
na minha mente. Foi como se ele sentisse vergonha por mim e nojo
por tudo o que eu falava, nojo pelos meus sentimentos.
— O que eu vou fazer agora? — Olho para elas, que me
olham, sem saber o que me dizer.
Frustrada, pego a almofada ao meu lado e tapo meu rosto
com ela, soltando um grito abafado. Quero que o chão se abra para
eu desaparecer dentro dele.
A porta da casa se abre, então tiro a almofada do rosto e
observo Raphael entrando. Ele caminha direto para a cozinha, sem
dar um olhar ao menos a mim. Respirando fundo, levanto-me do
sofá. Olho para as minhas amigas, que dão um aceno de incentivo.
Deixando de lado toda a vergonha e meu orgulho, vou de encontro
com Raphael na cozinha. Abro minha boca para começar, mas sou
cortada:
— O que você quer, Phillipa? — Ele se vira.
Seus olhos! Deus, seu olhar é de puro desgosto, como se
não suportasse olhar para mim... Engulo em seco.
— Eu só quero...
— Humilhar-se mais? — Mais uma vez, sou cortada por
suas duras palavras.
— Não, eu só... — Balanço a cabeça.
— Não bastava ter se humilhado ontem, veio aqui para fazer
de novo?
Facada. Suas palavras são como facada na minha pele,
rasgando-a, perfurando bem profundo.
— Desculpar-me! — grito, em desespero.
Paro por um instante, olhando-o, lambendo meus lábios ao
os sentir secos. Tomo uma respiração, buscando coragem para
continuar.
— Eu só queria me desculpar por ontem, por tudo o que eu
disse na frente daquelas pessoas. — Esfrego meus braços,
sentindo-me vulnerável.
Raphael olha-me, bem sério, mas de repente solta um riso
tão frio, que faz minha pele arrepiar. A passos largos, ele caminha
até mim e para bem na minha frente. Sua cabeça abaixa-se, se
aproximando de mim, ficando a centímetros da minha.
— Você tem a porra da ideia, a mínima ideia do que fez
ontem? — Engulo em seco. — Você não apenas se humilhou, você
humilhou-se com todas aquelas palavras de boa moça apaixonada,
coisa que não é.
— E-eu não...
— Não, você não pensou, não é? — desdenha. — Você
apenas fez o que tinha que fazer, como sempre. Essa é sempre a
sua desculpinha. — Balança a cabeça.
Meu coração para de bater por alguns segundos e tudo à
minha volta cessa.
— Você esqueceu qual é o seu lugar aqui — continua. —
Acho que estava tão confortável por ter amigas, que se esqueceu de
quem é o motivo de estar aqui.
Lágrimas formam-se nos meus olhos com suas palavras
duras e cruéis. Mordo minha boca por dentro, sentindo o gosto do
sangue.
— Você está aqui porque é uma traidora, não porque está
de férias, curtindo com as amigas. Você não é nada aqui, Phillipa,
lembre-se disso antes de fazer mais alguma besteira. É uma mulher
descartável como qualquer uma. E não ouse fazer aquilo ou
qualquer outra gracinha sua. Não sou o tipo de homem que perdoa.
— Com isso, ele sai, batendo a porta da sala, com força, o que faz
meu corpo tremer.
Sinceramente? Não sei o que fazer para ter minha dignidade
de volta, mas acho que ela se perdeu há muito tempo, não é
mesmo?
Raphael

Passando minhas mãos pelos cabelos, olho para o ringue


de luta à minha frente. Depois de todo o episódio ontem à noite e
hoje mais cedo, preciso de distração, então nada melhor do que
treinar.
Caralho, que diabos Phillipa estava pensando ao dizer todas
aquelas merdas? Porra, fiquei sem reação na frente daquelas
pessoas, da minha família.Ao mesmo tempo que eu queria curvá-la
bem ali e lhe dar uma surra, eu queria jogá-la em cima do bar e a
foder com tanta força, até a fazer desmaiar. Minha mente está
ferrada. De uma coisa eu sei: não posso cruzar a linha mais uma
vez. Tenho que pôr na minha cabeça que ela é uma traidora e o
quanto eu detesto traidores. Traidores são como uma praga. Eles
enganam-no, manipulam, jogam dos dois lados, então no final de
tudo, o que resta é uma guerra onde sempre há um lado vencedor e
um perdedor. Não importa de qual lado esteja, sempre, sempre há
feridos, sempre há perdas. Por causa dos traidores, a primeira
mulher de Heitor morreu, levando com ela seu filho. Por causa dos
traidores, Lorenzo quase perdeu Lauren. Sim, eu detesto pessoas
como Phillipa e amaria odiá-la, mas a pura verdade é que me odeio
por a desejar. Fodido, eu sei.
— Fugindo da sua mulher? — Dom brinca, rindo quando
entra no ringue comigo.
— Caralho, já disse que ela não é minha! — rosno, sentindo
meu sangue ferver.
— Mas bem que ela quer ser.
— Querer não é poder. — Dou de ombros, e ele começa a
rir. — Vamos lutar ou não? Não estou com tempo para gracinhas,
Dominic.
Ele levanta as mãos.
— Tudo bem, venha e me mostre o que tem — diz, sorrindo
para mim.
Por duas horas seguidas, nós lutamos; meu corpo, expondo
toda a tensão desses últimos dias... Minto. Desses dois anos e meio
em que tenho sido babá de Phillipa. Coloco toda minha raiva e
frustração para fora enquanto lutamos. São socos e chutes. Sou
atingido várias e várias vezes, assim como atinjo Dominic. Um
pequeno sorriso puxa o canto da minha boca quando caímos no
meio do ringue, cansados, suor escorrendo pelo meu corpo...
Caralho, sinto o sangue na minha boca; e meus músculos,
repuxando! Estou acabado.
— Primo, você realmente estava precisando desse treino. —
Dom comenta, rindo.
— Porra, nem me fala. — Minha voz soa arrastada.
— Vamos, cara, precisamos liberar esse ringue. Hoje temos
uma luta valendo algumas centenas de dólares. — Levanta-se,
estendendo a mão para mim, e me ajuda a levantar. — Tu estás
acabado. — Ri.
— Não sou o único.
Sentindo o gosto do sangue, cuspo no chão, vendo a cor
vermelha manchar o branco do ringue.
— Porra, acho que quebrei algum dente — comento,
sentindo meu maxilar doer.
— Você é bom, poderia lutar uma noite. — Hector, o chefe
de Vegas e meu primo, aparece, dando um pequeno sorriso a mim.
— Um dia, quem sabe. — Dou de ombros, e ele acena com
a cabeça.
— Ele pode lutar; e eu, não? — Dom rebate, fechando a
cara.
Hector olha-o, com aquele olhar sério que faria qualquer
outro homem ajoelhar, rendendo-se ao Chefe.
— A última vez em que lutou, você quase matou um
homem, Dominic, e isso me tirou dinheiro. Então, não, você não vai
voltar a lutar, porque não tem controle. Olhe para vocês dois. Pior:
Raphael está uma merda, e olhe que só foi um treino. — Balança a
cabeça. — Não, você não voltará para o meu ringue — diz,
deixando claro quem é que manda em tudo.
Xingando, Dom retira-se, com raiva das palavras do irmão
mais velho e chefe da família.
— E ele continua temperamental. — Hector sorri,
balançando a cabeça.
— É o charme da família — digo, rindo.
Suspirando, Hector olha na direção de onde Dom acaba de
sair.
— Isso ainda vai deixá-lo encrencado.
— Bem, você é o irmão mais velho, tenho certeza de que irá
tirar ele de qualquer encrenca que entrar. — Dou um tapinha no seu
ombro.
Hector olha-me, de cara feia por eu encostar no seu terno,
caro e muito bem-alinhado ao seu corpo, com minhas mãos sujas
da luta.
— Foi mal. — Ergo as mãos.
Hector acena. Abaixando a cabeça, ele olha para a hora no
seu relógio.
— Tenho que ir. Tem um grande carregamento de armas
chegando, e devo preparar meus homens. — Ele me olha de cima a
baixo, fazendo uma pequena careta. — Vá para casa. Você está
horrível.
É como me sinto neste momento.

Phillipa

Levo um susto no exato momento em que a porta se abre e


Raphael entra. Pulo do sofá assim que vejo seu estado.
— Merda, o que aconteceu com você!? — pergunto,
olhando-o todo arrebentado.
— Agora não, Phillipa — diz, entrando.
Está mancando. Seus olhos estão roxos, há cortes em uma
sobrancelha e na boca, suas mãos estão ensanguentadas... Ele
está horrível.
— Dá para ficar calado, por favor? — peço a ele, com um
rolar de olhos. — Vamos, vou preparar um banho para você e pegar
o kit de primeiros socorros.
Começo a caminhar para o seu quarto, porém ele continua
parado, me olhando como se tivesse crescido uma outra cabeça em
mim. Olho para Raphael, sem entender, mas ele continua parado,
olhando-me estranhamente.
— O quê? — pergunto, todavia não obtenho resposta.
Frustrada, caminho até ele, pegando sua mão, e o arrasto
para o seu quarto.
— Vamos lá. Você precisa de um banho quente, remédios
para dor e que eu veja esses cortes abertos.
— Não preciso que cuide de mim, sei virar-me sozinho. —
Paro para o olhar.
Coloco minhas mãos na cintura e o encaro. É sério mesmo?
Tão ingrato. Inacreditável.
— Posso ver o quanto sabe se virar. — Ergo minha mão,
mostrando a ele seu próprio corpo arrebentado.
— Estava apenas treinando com Dominic. — Dá de ombros.
— Se quer chamar isso de treino... — Encolho os ombros —
o problema é seu, porém agora vou ajudá-lo. Vamos lá, grandão.
— Caralho, Phillipa! Não preciso da sua ajuda! — exclama.
— Sim, é mesmo? — Com as mãos ainda na cintura, bato o
pé no chão. — Eu não me importo nem um pouco. Agora, deixe de
ser infantil. Fique aqui, que já volto.
Desapareço pelo seu banheiro, mas é claro que ele não fica
no quarto. Não, ele me segue. Sem me importar com sua presença
preenchendo todo o lugar, ligo a banheira, deixando-a encher de
água bem quente para relaxar seu corpo, em seguida abro o
armário do banheiro, tirando o kit de primeiros socorros e o
colocando em cima da bancada. Atrás de mim, ouço Raphael
resmungando, no entanto continuo fazendo meu trabalho, fingindo
que não estou ouvindo-o.
— Mulher teimosa.
Cansada da sua birra, viro-me, ficando de frente a ele.
— Olha, eu sei que temos nossas desavenças e toda essa
merda que gosta de jogar em mim, porém você precisa de ajuda
agora, e não sou egoísta a ponto de deixá-lo se virar sozinho. Cala
a porra da boca e aceite minha ajuda. Não é sempre que estarei de
bom humor para isso. — Paro, tomando um ar.
Solto o ar, bem devagar, tentando acalmar-me e, por fim,
dou a ele um pequeno sorriso. Passei o resto do dia me sentindo
humilhada e culpada pelo que fiz, portanto agora que ele está aqui,
desse jeito, sei que o ajudar fará com que minha culpa seja um
pouco aliviada. Um modo de mostrar que estou realmente
arrependida pelo que fiz e, é claro, porque eu querendo ou não, me
importo com ele.
— Seu banho está pronto. Pode entrar. — Aponto para a
banheira.
Raphael fica parado, me encarando. Ele apenas espera.
— O que foi, dessa vez? — pergunto.
— Você não vai sair?
— Não, eu vou limpar suas feridas. Bora, tire a roupa e entre
logo, antes que esfrie — comando, sem paciência.
Raphael continua parado, me olhando como se não
acreditasse no que acabo de dizer. Um pequeno sorriso forma-se
nos meus lábios.
— Ah, vai me dizer que a princesa não quer que eu a veja
nua? — Mordo meus lábios, contendo o riso.
O olhar de Raphael torna-se frio e ele por fim começa a tirar
a roupa. Fingindo que não estou nem um pouco afetada pelo seu
corpo, espero-o. Assim que suas roupas estão no chão e ele
caminha para a banheira, passando por mim, pego-as e corro para
fora, levando-as à lavanderia. De longe, ouço seu riso. Droga!
Mesmo todo machucado, o homem tem um corpo esculpido, todo
músculo e desenhado. Minha boceta chega a se apertar, em desejo.
Esse homem é delicioso, pena que sua atitude é horrível.
Quando volto para o banheiro, pego um banquinho,
colocando-o ao lado da banheira. No meu colo, ponho o kit de
primeiros socorros.
— Vai arder um pouco — sussurro para ele, que dá apenas
um aceno.
Raphael relaxa na banheira. O silêncio preenche o lugar,
tornando o clima pesado, cheio de tensão entre nós dois. Começo a
limpar o corte em cima da sua sobrancelha, bem perto da cicatriz
que ele tem. Raphael encolhe-se ao meu toque.
— Sinto muito.
— Está tudo bem, apenas continue — diz, me encarando.
Durante todo o momento que o limpo, seu olhar está em
mim, tão intenso e cru. Há uma pitada de curiosidade, o que me faz
sorrir interiormente. Ele me deseja, sei disso. A prova é seu pau
bem desperto dentro da banheira, mas Raphael parece não se
importar com a evidência.
Não vou negar: estar tão íntima dele está excitando-me. A
quem quero enganar? Fico excitada apenas olhando para ele,
apesar de toda sua arrogância e atitude para com a minha pessoa.
Neste momento de silêncio e tensão no ar, Raphael olha
para mim.
— Obrigado por me ajudar.
Bufo, olhando-o.
— Não me agradeça. — Ele me olha, semicerrando os
olhos. — Não fiz por você.
— Fez por quem? — pergunta, todo desconfiado.
— Por mim mesma. Encargo de consciência.
Com isso, levanto-me, jogo as gazes no lixo e saio do
banheiro.
Capítulo Seis
Casamento de Audrey e Lucas...

Não me arrependo de ter feito o que fiz, de ter escondido a


verdade sobre Ester e tentado proteger minha irmãzinha, mas se eu
pudesse mudar meu passado e consertar tudo o que fiz, teria
mudado — ou não, pois é mais fácil falar do que fazer. Tudo o que
fiz teve consequências. Eu apanhei, fui trancada em uma cela,
tirada da minha irmã, agora estou aqui, observando tudo de longe.
Observando e desejando ser parte dessa família. Estou presa a
eles, mas nunca farei parte da família.Eu sei disso. Todos sabem. É
engraçado como as coisas acontecem e como ficamos sem saída.
Todos à minha volta estão se divertindo, sorrindo, dançando,
conversando... todos me deixaram de lado, como se eu não
estivesse aqui. Dói demais perceber que Raphael sempre teve
razão. Eu não tenho ninguém, não há amigos. A única pessoa que
eu sei que não me deixará, a única que posso realmente considerar
uma amiga é a Angel. Ela não pôde vir ao casamento, pois a mãe
dela, que mora no Texas, sofreu um acidente, então a mulher teve
que viajar para a ajudar.
Nesse momento, sinto-me vigiada, como se eu fosse a
qualquer momento fazer algo de errado. Cansada demais para lutar
e decepcionada com as pessoas à minha volta, levanto-me de onde
estou e começo a caminhar para fora da festa animada de Audrey e
Lucas. Tudo o que quero é aquela sensação falsa de conforto que
tenho quando estou em casa, naquela casa onde fiquei presa
durante dois anos e meio.
— Aonde pensa que vai? — Pulo quando a voz de Raphael
ecoa atrás de mim.
Viro minha cabeça para o olhar. Ele está perfeito vestido de
smokingpreto. Tão lindo e tão fora de alcance.
— Para casa — respondo, dando um pequeno encolher de
ombros.
— Sinto muito.
Ele sabe o que sinto neste momento. Ele sabe que estou
sozinha.
Balanço a cabeça.
— Não, você não sente. — Sorrio quando ele acena com a
cabeça. — Você tem razão, sempre teve: eu não tenho amigos, não
tenho ninguém. Agora, se me der licença, eu quero ir para casa e
ficar lá.
Volto a caminhar para fora da festa, mas sou surpreendida
quando Caspen e Lori param na minha frente.
— Oh, você está saindo? — Lori pergunta, olhando entre
Raphael e mim.
— Sim. Como pode ver, isso não é para mim.
Lori acena com a cabeça.
— Antes de ir, queremos conversar com vocês dois. —
Caspen diz, olhando-me.
— Tudo bem. — Aceno com a cabeça.
Sigo-os para dentro da casa, onde Caspen e Lori caminham
para um escritório. Minhas mãos começam a suar. Ao meu lado,
Raphael me olha com curiosidade, provavelmente avaliando minha
reação a tudo.
— Feche a porta, Raphael. — Caspen comanda, com
aquela voz tão cheia de poder que faz meu corpo arrepiar-se em
calafrios.
Ele senta em uma poltrona que fica atrás de uma mesa, Lori
senta ao seu lado, no braço da poltrona. O rei no seu trono; e sua
rainha, ao seu lado.
— Lori e eu conversamos... — começa ele, olhando-me
atentamente.
Engulo, sentindo minha garganta seca. Meu coração bate
acelerado.
— Resolvemos deixá-la livre, Phillipa. Você pode voltar para
New York, pode ter sua vida de volta. Sua traição foi paga.
Suas palavras... Há um peso tão grande nas suas palavras,
que sinto minhas pernas ficarem moles. Raphael me segura,
mantendo-me no lugar. Olho para ele, acenando, em
agradecimento. Olho para Lori, depois, para Caspen. Os dois
esperam por mim, para que eu fale alguma coisa. Eles observam
meu comportamento. Eu estou livre... mas o que é liberdade para a
máfia?
— Não — digo, enfim.
— Não? — repete Caspen, com sua voz mortal.
Sorrio para ele.
— Todos aqui sabemos que não estou livre, não de verdade.
— Balanço a cabeça, atordoada com toda esta situação.
Eu esperei tanto para ouvir essa palavra, para ter minha
vida, meu emprego, meus amigos de volta, minha irmã, coisas que
nunca terei. Fui taxada como traidora. Todos que eu conheço me
detestam, não há como ter minha vida de volta.
— Estou presa a vocês, não há liberdade.
— Não, não há — concorda Caspen. — Porém, não precisa
mais de babá, não precisa ficar aqui, poderá voltar, terá seu
emprego no clube de volta. É claro, terá um segurança olhando-a,
mas não mais uma babá.
Lágrimas se formam nos meus olhos. Eu sempre quis voltar,
sempre quis tudo o que está oferecendo, mas não posso ter. Sabe
aquela sensação de ter algo tão perto, e quanto mais perto chega,
mais longe parece que aquela coisa está? É confuso, eu sei. Sou
uma traidora, sempre serei, então se eu voltar, o título voltará
comigo. Eu não quero isso. Mereço algo melhor, e eu quero o
melhor.
— É tentador. — Sorrio, com lágrimas escorrendo dos meus
olhos.
Olho para Lori. Há uma pitada de pena no seu olhar, como
se ela soubesse o que estou pensando.
— Vocês não têm ideia do quanto desejei voltar, ter tudo de
volta, mas como Raphael vem dizendo-me todos os dias: eu sou
uma traidora, e nesse mundo, traidores não têm amigo, não têm
família, não têm espaço. Traidores não podem continuar existindo.
— Olho para Raphael, que tem seu olhar sobre mim. — Demorei a
acreditar, a aceitar suas palavras, todavia ele tem razão, sempre
teve, e finalmente aceitei — concluo, olhando para ele.
O homem que tem meu coração e que me destruiu,
rejeitando-me. Como ele pode ser tão tentador? Depois de todo
esse tempo, como ainda posso amá-lo?
— Eu quero recomeçar. — Volto minha atenção para
Caspen e Lori.
— Recomeçar? — Ela pergunta, estreitando os olhos.
Aceno com a cabeça.
— Sim, vou ficar aqui até conseguir dinheiro o suficiente
para ir embora. Não sei para onde ainda, mas quero ir para um lugar
onde não há julgamentos, onde as pessoas não me olham com
nojo, repulsa... quero uma nova vida. Um novo nome, talvez. Eu só
quero ir para um lugar onde não serei mais uma traidora, e sim uma
mulher com um passado.
Minha irmã me olha, com pesar; mas Caspen, não. Há
curiosidade no seu olhar. Porém ele me encara apenas por alguns
minutos, fazendo com que a tensão do escritório aumente.
— É realmente isso que você quer? — pergunta a mim.
— Sim, é o que eu quero.
— Tudo bem, nós iremos ajudá-la com tudo.
Não sabia que estava prendendo a respiração, até a soltar,
em puro alívio.
— Obrigada — sussurro.
Seco as lágrimas que escorrem.
— Você pode ir, mas Raphael fica.
Dando um pequeno sorriso, saio do escritório. Assim que
fecho a porta atrás de mim, o sorriso cresce nos meus lábios.
Recomeçar, é exatamente isso que farei...

Raphael

Olho para Caspen, não acreditando que ele realmente a


liberou. Eu sabia e já esperava que isso fosse acontecer
eventualmente, mas sabe quando espera por algo não esperando?
Realmente pensei que ficaria aliviado e pronto para voltar a New
York, para a minha cidade, para o meu lugar, porém a verdade é
que não estou, e esse sentimento está deixando-me com raiva. A
verdade é que não estou pronto para deixar Phillipa.
— Tem algo que queira me dizer? — Caspen pergunta,
olhando-me como se soubesse o que estou sentindo.
— Sim. Eu quero ficar aqui. Não confio nela, por isso quero
mantê-la sob vigilância até ela que ela se vá.
Ao seu lado, Lori abre um grande sorriso, porém Caspen
continua com seu olhar sem expressão.
— Parece que não confia na minha decisão. Está duvidando
de mim, Raphael? — Sua voz é mortal e com um tom de aviso.
Lori esfrega o braço do marido.
— Querido, parece que Raphael está apaixonado pela
minha irmã e, como se encontra em conflito consigo mesmo,
inventou essa desculpa para poder ficar. — Ela dá um grande
sorriso a mim.
Trinco meus dentes, segurando-me para não dizer nada. Ela
é esposa do Chefe e uma mulher tão cruel quanto ele. Além do
mais, no fundo, bem lá no fundo, Lori tem razão.
Caspen me olha; seus olhos, com um brilho. É então que ele
ri.
— Ah, o homem que detesta traidores se apaixonou por
uma. — Balança a cabeça, ainda rindo.
— Não estou apaixonado por Phillipa, apenas não confio
nela. — Minha voz sai firme e minhas palavras estão cheias de
mentira.
Lori sorri para mim novamente. Caspen apenas me olha
com aquele questionamento.
— Se está ou não, não é problema meu. Sse quer ficar,
fique. Converse com Hector para ele o colocar nos negócios. A
decisão é sua. Só me mantenha informado. — Com isso, ele me
dispensa.
Do lado de fora, a festa do casamento de Audrey e Lucas
está a todo o vapor. Observo tudo por alguns instantes antes de sair
e voltar para a casa onde Phillipa está.
Dois anos e meio nessa casa, com ela. Dois anos e meio de
brigas e desavenças, de palavras malditas. Não sei se estou pronto
para a deixar ir. Porra! Que merda irei fazer agora? É estranho pra
caralho esse sentimento de gostar e não gostar de alguém. O dever
com a famíliadiz para eu odiá-la pelo que ela fez, mas a mulher que
vejo, que passei dois anos observando me faz querê-la. Não sei o
que fazer, mas Phillipa e eu entramos em um jogo, então pretendo
jogar assim até eu ter as respostas que quero.
— Pensando em ir embora futuramente como uma covarde?
— digo, entrando no seu quarto assim que chego na casa.

Phillipa

— Pensando em ir embora futuramente como uma covarde?


— Raphael entra no meu quarto enquanto arrumo minhas coisas
para sair dessa casa o mais rápido possível.
— Não, não irei embora como covarde, Raphael. — Jogo
uma muda de roupa na mala e, parando, viro-me para o encarar. —
Ireiembora como uma mulher que sabe qual é o lugar dela nisso
tudo. Não há espaço para mim nem nessa família, nem aqui, então,
sim, ficarei por um tempo. No máximo, um ano. Juntarei dinheiro e
irei embora para recomeçar de novo em um lugar onde as pessoas
não me olharão como escória, como traidora. Ireipara onde serei
aceita.
— Você abandonará suas irmãs, suas amigas. — Ri, em
deboche.
Olho bem para ele. Raphael está jogando, e se é assim que
ele quer jogar, então é assim que jogaremos.
— A única pessoa que abandonarei será você, Raphael,
pois existe tecnologia e meios de transporte, onde poderei ver
minhas irmãs e amigas. O fato de ir embora não significa que as
abandonarei, significa que eu terei uma chance de ser feliz, uma
chance de recomeçar a minha vida e esquecer meu passado de
merda. E quer saber da verdade? Seria bom abandonar a todos.
Lori só me atura por eu ser irmã dela, mas a verdade dói, pois
nunca seremos amigas, nunca seremos irmãs, apenas conhecidas
tentando criar um laço há muito tempo quebrado. América nem se
lembra de mim, então não sentirá minha falta. A única coisa que
estarei sacrificando será minhas amizades com as meninas, todavia
confesso que elas ficariam bem sem mim. Hoje mesmo nem
reconheceram a minha presença no casamento. Então, sim, quando
eu me for, será para nunca mais voltar. E não sei por qual motivo se
importa tanto que eu vá, já que me odeia. — Paro para respirar.
Lágrimas pinicam meus olhos, mas me recuso a derramá-
las. Não chorarei na frente dele, não mais.
— Eu não me importo. — Dá de ombros.
Mordo meus lábios, acenando com a cabeça, não ficando
nem um pouco surpresa por sua resposta. É claro que ele não se
importa, nunca se importou.
— Porém, estou muito curioso. — Esfrega o queixo, olhando
para as minhas malas.
— Curioso com o quê, Raphael? — pergunto, não me
sentindo nem um pouco animada para conversar com ele e ouvir o
que tem a dizer.
— Você está arrumando tudo para sair daqui, mas para
onde você vai, Phillipa? Não tem emprego, não tem um lugar para
ficar, não tem nada aqui.
Droga! Não havia pensado nisso. Tudo o que eu mais queria
era voltar para cá e arrumar tudo a fim de sair o mais rápido
possível. É engraçado, porque antes, tudo o que eu queria era sair
da festa e vir para esta casa, onde me sinto segura e confortável, no
entanto quando Caspen disse que estou livre, tudo mudou e o
desejo de deixar este lugar só cresceu mais em mim.
Raphael está certo, eu não tenho nada aqui. Para onde
vou? Por quer tudo tem que ser tão difícil?
Sentindo-me derrotada, sento na cama. Com a cabeça
baixa, suspiro, sentindo meus ombros encolherem-se, em derrota.
Ao meu lado, a cama afunda. Levanto a cabeça para ver Raphael
sentado bem próximo a mim.
— Vamos fazer assim: eu saio da casa; e você, fica nela.
Ela é sua de qualquer jeito. — Sorri para mim.
— O que quer dizer com ela é minha
?
— Quando viemos para cá, Caspen colocou-a no seu nome
e me deu toda a papelada. A casa é sua, porém se aceitar ficar com
ela, não poderá vendê-la. É uma regra que Caspen fez, só para
garantir que tenha algo seu.
Olho para ele, que tem seu olhar sobre mim.
— Não, só para garantir que ainda tem poder sobre mim.
Raphael dá de ombros. Ele sabe que é verdade.
— O que acha? — pergunta, com um pequeno sorriso. —
Eu saio e procuro outro lugar para ficar, e você fica na casa,
encontra um emprego e junta o dinheiro que quer para poder ir
embora.
Estreito meus olhos para ele. Espera aí...
— O que quer dizer? Que encontrará um lugar para ficar? —
pergunto, elevando meu tom de voz. — Você está ficando em
Vegas?
Ele realmente vai ficar aqui? Logo ele, que detestava estar
tão longe dos seus negócios, que odiava ser babá e ficar perto de
mim. Raphael continuará aqui?
— Sim, estou.
— Por quê? — pergunto, não entendendo sua decisão.
Seu olhar é tão intenso, tão quente... Passo a língua pelos
lábios. Seus olhos acompanham meu movimento, tanto que, por um
instante, acho que ele irá me beijar, porém todo aquele calor e
intensidade vão-se, transformando-se em puro gelo.
— Porque não confio em você.
Capítulo Sete
Happier Than Ever – Billie Eilish

Uma semana depois...

“Porque não confio em você.” Essas palavras... Uma


semana passou-se desde que Raphael olhou nos meus olhos e
disse essas palavras. Ainda dói. Patético, eu sei. Ficar remoendo
palavras ditas dias atrás. Toda vez que deito a cabeça no
travesseiro, à noite, e fecho meus olhos, lembro delas, do olhar de
Raphael, quão sério e determinado ele pronunciou-as. A verdade
dói, é o que todos dizem. Se Raphael não confia em mim, não é
problema meu, e sim dele. Mesmo que machuque lembrar delas,
tenho que as manter na minha mente, fazê-las de escudo para o
meu coração.
Olhando para o bastão nas minhas mãos, começo a rir com
o resultado. Issoé tão... mas, tão ridículo e confuso, que me faz
ficar tão nervosa... Droga! Não era o resultado que eu estava
esperando. Porra, não mesmo, todavia aqui está a prova! Grávida.
Dá para acreditar? Nem estou sentindo-me enjoada ou indisposta.
Pelo contrário, estou bem, muito bem. Meu corpo está ótimo, porém
minha menstruação atrasou, e agora eu sei o porquê. Estou grávida
de um homem que me odeia a maior parte do tempo. O que irei
fazer agora? Qual será a reação de Raphael ao descobrir que será
pai? Um bebê, eu terei um bebê quando não estou pronta para isso,
logo quando minha vida está começando a se acertar. Encontro-me
tão perdida, que nem sei o que fazer. Fico apenas parada, olhando
para o teste que indica minha gravidez.
— Phillipa, você está bem? — Ouço a voz preocupada de
Dimitria, do outro lado do banheiro.
Suspiro, sabendo que terei que contar a ela.
Depois que saí do casamento, Zoe e Dimitria vieram atrás
de mim. No fim, ninguém estava evitando-me, só estavam
aproveitando a festa. Era eu quem estava com muito medo de me
enturmar, receosa dos olhares e das desconfianças.
Estou trancada no banheiro do clube de luta. É onde
trabalho, servindo bebidas enquanto as lutas acontecem. Nada que
eu não saiba fazer. É um jeito de Raphael continuar de olho em
mim, já que ele e Dominic comandam tudo isso.
Sim, Dominic também resolveu ficar, mas isso é porque ele
está de olho em Zoe, não tem nada a ver comigo. Caspen ordenou,
então Hector deixou a luta clandestina para os dois comandarem.
Parece que o antigo administrador estava fazendo merda, sendo
assim, Hector o demitiu, colocando Raphael e Dominic no lugar. No
entanto, as coisas continuam complicadas no clube.
— Phillipa. — Dimitria chama mais uma vez.
Levanto-me do vaso e abro a porta. Ela olha para mim de
cima a baixo.
— Aconteceu alguma coisa? Alguém a atacou? Tocou em
você? Está machucada? — Ela joga várias perguntas de uma vez,
deixando-me tonta.
Sem dizer nada, apenas levanto a mão, mostrando o
bastão. Por uns segundos, ela para e olha para a minha mão. É
engraçado ver o seu olhar de desentendimento transformando-se. À
medida que percebe o que está acontecendo, seus olhos arregalam-
se e ela abre a boca, em total choque.
— Isso... isso... — Balança a cabeça, piscando
repetidamente várias vezes. — Grávida?
Aceno com a cabeça.
— Sim, grávida. — Sento de volta no vaso, sem saber o que
fazer.
— Oh, meu Deus! — Sorri para mim. — Isso éwow!
— Isso é complicado e tudo o que não preciso. — Suspiro.
— Ah, sim! Sinto muito. — Ela encosta-se na bancada da
pia. — O que irá fazer?
Dou de ombros. O que posso dizer? Terei que contar para
Raphael, e teremos que trabalhar sobre isso. É estranho, porque
sempre quis ser mãe, porém não em uma situação como esta e não
com um homem que não gosta de mim.
— Contar para Raphael. É a única coisa que consigo pensar
por agora. — Olho para a minha mão, que mexe no teste
desconfortavelmente. — O engraçado é que há uma semana, tudo o
que eu pensava era se consigo direito o suficiente para ir embora
daqui a um ano. Mas agora... agora não há como eu ir embora. Não
vou levar meu bebê para longe do pai.
— Vai dar tudo certo, confie em mim. Você será uma mãe
incrívele esse bebê será muito mimado. Principalmente por mim. —
Ela dá uma piscadinha, fazendo-me rir.
— Obrigada.
Suspirando, levanto-me, esfregando minhas mãos na calça
e tomando coragem para ir até Raphael, contar a ele que seremos
pais.
— Vai contar a ele? — Dimitria pergunta, sorrindo.
— Sim, antes que eu perca a coragem e saia correndo. —
Sorrio para ela, que ri, acenando.
— Ele está em seu escritório, organizando papeladas.
Parece que meu irmão Hector não é bom em organização. — Bufa,
batendo as mãos. — Vamos lá. Estarei do lado de fora, esperando-
a, como apoio.
Respirando fundo, caminho para a morte. Do nada, começo
a rir ante esse pensamento. Caminho da morte. Só eu mesma para
pensar algo assim. Durante essa semana, temos evitado um ao
outro. Depois que ele disse a mim aquelas palavras, levantou-se e
saiu do meu quarto, em seguida arrumou suas coisas e foi embora,
deixando-me com dois guardas para cuidar da casa. Esse é o
protocolo. Podemos não estar falando-nos, mas todos os dias em
que venho trabalhar, posso sentir seu olhar em mim, observando
cada passo que dou.
Caminhamos pelo clube, então aceno para algumas das
meninas, que sorriem para mim. Dou outro aceno, em sinal de
reconhecimento.
— Tudo bem? — Dom pergunta, olhando entre Dimitria e
mim.
— Sim. Apenas iremos falar com Raphael — falo, e ele ri. —
O quê?
— Boa sorte. Meu priminho está de mau humor. Mandei até
uma das meninas para tentar aliviá-lo.
Faço uma careta ao pensar que Raphael está fodendo outra
mulher no seu escritório. Maldito ciúme. Ele não é meu, mesmo
assim, o pensamento de vê-lo com outra mulher me quebra. Merda!
Tenho que me acostumar com isso.
— Ah, não precisa fazer essa cara. Instantes depois, a
menina desceu chorando. Parece que Raphael não quer companhia
e que seu humor piorou. — Ele ergue o copo que está na sua mão,
dando um gole na bebida. — Boa sorte. — Pisca para mim.
Obrigada, Dom, muito obrigada por me deixar ainda mais
nervosa com toda a situação, penso. Suor começa a escorrer entre
meus seios, minhas mãos começam a tremer. Droga! Estou nervosa
demais, de modo que sinto como se fosse desmaiar.
— Ei, olhe para mim — pede Dimitria, e eu ergo minha
cabeça, olhando-a. — Você vai entrar lá de cabeça erguida e contar
a ele. Não deixe que o mau humor dele te impeça. Esse é o bebê de
vocês. Seja forte. Ouviu-me? — Aceno para ela, que sorri para mim.
— Então, vamos.
Não demora muito para estarmos paradas na porta do
escritório, do lado de fora. Posso ouvi-lo resmungando ao mesmo
tempo que folhas são viradas e reviradas. Meu coração está a mil,
parece que sairá do meu corpo a qualquer momento, rasgando
minha pele.
Bato na porta e a abro, não esperando por uma resposta.
Com um último olhar para Dimitria, entro na toca do lobo.
— Se Dom mandou-a aqui para me aliviar, dê meia volta e
saia. Aproveite e diga a ele que o mandei se foder. — Raphael não
ergue a cabeça para saber quem entrou no seu escritório, apenas
fala e continua a mexer nos papéis e digitar no notebook.
Limpo minha garganta, fazendo-o olhar para cima. Sua boca
se abre, acho que pronto para insultar seja quem for, porém ao me
ver, ele fecha-a, passando as mãos pelos cabelos.
— O que está fazendo aqui, Phillipa? — Noto o cansaço na
sua voz.
Lambo meus lábios ao senti-los secos, em seguida me
aproximo, adentrando mais seu escritório.
— Precisamos conversar. — Minha voz dá uma falhada,
porém continuo de cabeça erguida, olhando nos seus olhos.
— Olha, Phillipa, não estou com tempo, nem com cabeça
para entrar em uma conversa com você agora. Se tiver algum
problema no trabalho, fale com Dimitria ou Dominic. Se for sobre
qualquer outra coisa, podemos conversar quando eu tiver tempo.
Pode sair agora — dispensa-me, voltando às papeladas.
No calor do nervosismo, sem saber o que fazer, apenas dou
mais dois passos para frente e coloco o bastão do teste bem na sua
frente. Raphael olha para o objeto, depois, para mim, e de volta para
o bastão.
— O que isso quer dizer? — pergunta, com desconfiança.
— É um teste.
— Sim, e...? — É quando realmente percebe o que está
acontecendo.
Como um predador, ele levanta-se da cadeira e caminha,
chegando bem perto de mim. Engulo seco.
— Estou grávida, Raphael. — As palavras saem em um
sussurro, quase não dando para ouvir.
Ele apenas fica parado na minha frente, olhando-me por
alguns segundos. Quando absorve o que eu disse, simplesmente
explode:
— Porra! — esbraveja furiosamente; suas mãos, fechadas
em punho.
Balançando a cabeça, ele vai até a grande janela de vidro,
olhando para a parte de baixo do clube, onde os funcionários
preparam-se para o trabalho.
— Raphael...
— Cala a boca, Phillipa! — grita, sem olhar para mim.
A tensão que emana do seu corpo preenche todo o
escritório, atingindo-me fortemente. Mordo minha bochecha por
dentro, segurando-me para não mandar ele ir se foder e acabar
piorando tudo.
— Nós iremos resolver isso.
Ele vira-se, seu olhar recai sobre minha barriga. Faz uma
careta, e sinto como se tivesse levado um soco, porque é nesse
exato momento que percebo o que “nós vamos resolver isso”
significa. Entretanto, não quero acreditar.
— Eu sei que não foi planejado, e sei que nenhum de nós
dois está preparado. — Rio, sem graça. — A quem queremos
enganar? Mal nos suportamos, mas podemos arranjar um jeito. É
um bebê, sabe? Ele não tem culpa. — Continuo a falar, sem fazer
sentido algum, todavia logo paro ao ver o horror estampado no seu
rosto.
— Podemos dar um jeito? — pergunta, calmo demais, o que
me faz suspeitar.
Raphael caminha novamente, parando bem na minha frente,
nariz com nariz, e é quando me sinto fraca ao ver seus olhos mais
de perto. Oh, isso não vai ser bom.
— Nós vamos resolver esse problema. — Sua voz é mortal.
Meu corpo arrepia-se. Dou um passo para trás, encostando-
me na mesa para me apoiar.
— Isso é um bebê, nosso bebê — falo, olhando-o.
— Eu não quero esse bebê! — Ele grita, tão alto, que tenho
certeza de que Dimitria ouve do outro lado da porta. — Recuso-me
a ter um filho com uma traidora.
Quero rir nesse momento. Como ele ousa jogar isso na
minha cara?
Raphael

— Recuso-me a ter um filho com uma traidora. — Assim que


essas palavras saem da minha boca, percebo que cometi um erro
ao dizê-las.
Phillipa olha para mim como se eu tivesse dado um soco
nela. Dor, ela olha-me com pura dor, agonia pelo que acabo de
dizer. Frustrado com toda essa situação, passo as mãos pelos
cabelos. Porra!
— Então não tenha — fala, tão baixinho, que por pouco não
entendo suas palavras.
— O que você disse?
Seu olhar transforma-se em raiva. Ela desencosta-se da
mesa e caminha até mim.
— Eu disse: então não tenha, Raphael — repete
pausadamente. — Se não quer esse filho, não o tenha. Eu tê-lo-ei
sozinha. Não sou e nem serei a primeira mulher a fazer isso. — Ela
aponta para o meu peito. — Você não precisa criá-lo, não precisa
ajudar em nada, mas não me venha querendo que eu aborte esse
bebê, porque eu não vou! — grita, dando um empurrão em mim. —
É um bebê que está aqui dentro de mim, meu filho. Contei-lhe
porque é o certo, mas se não o quer, saiba que eu o quero e vou tê-
lo. E só para constar: se não quisesse ter um filho com uma traidora,
não deveria ter transado com uma! — grita, olhando-me
furiosamente.
— É o nosso filho, então também tenho voz nas decisões —
digo, entre dentes, segurando seus pulsos, impedindo-a de bater-
me de novo.
Ela começa a rir, mas seus risos transformam-se em
soluços. Logo há lágrimas escorrendo pelo seu lindo rosto. Caralho!
Eu sei que falei merda, entretanto não sei como consertar o que foi
dito. Não sei o que fazer, porque não estava esperando por algo
assim. Não imaginei que seria pai tão cedo, e não dessa forma,
quando estou em uma situação complicada com a mãe do bebê.
— Era seu filho, Raphael. — Ela diz, não se afastando e
nem puxando seu pulso de minhas mãos. — Deixou de ser seu no
exato momento em que mandou eu tirá-lo. E deixa eu dizer: você
fez um grande favor ao me dizer isso, só assim nada me impedirá
de ir embora. — Puxa suas mãos do meu aperto.
— O caralho que irá embora! — grito para ela.
— Não há nada me segurando aqui, então sim, eu vou —
rebate, com raiva, suas lágrimas escorrendo pelo rosto, o que faz
com que eu me sinta ainda mais culpado.
— Você não tirará meu filho de mim. — Aponto para ela, em
um aviso.
— Filho que você não quer! — grita. — E eu não estou
tirando-o de você, você fez isso sozinho.
— Sinto muito, só me pegou de surpresa, tá legal? — digo,
irritado. — Eu não estava esperando por nada disso, só fui pego
pelo momento.
Phillipa nega com a cabeça.
— Não, Raphael, você disse isso porque é exatamente o
que quer. Você não quer esse bebê, essa é a verdade. Você não
quer tê-lo comigo, porque me odeia, essa é a verdade. Olhe para
nós dois. Somos uma bagunça, não podemos nem conversar
civilizadamente como adultos sem gritar um com o outro. Não vai
dar certo. Vou ter esse bebê, e eu criá-lo-ei sem você. É o certo a se
fazer. — Phillipa dá um pequeno sorriso triste antes de caminhar até
a porta do escritório e sair.
Fico apenas parado, sem saber o que fazer e como
consertar a merda que fiz, porque agora a mãe do meu bebê quer
tirá-lo de mim, e com toda razão, tudo por culpa minha. Somente
minha.
— Filho da puta! — grito, jogando tudo o que está em cima
da mesa no chão, incluindo meu notebook.
A raiva explode dentro de mim, com isso, destruo todo o
escritório, incluindo o bar que tem no canto do lado direito.
Uma hora depois, me encontro sentado no meio de toda a
bagunça, com um copo de Jacknas mãos; minha gravata, desfeita;
a blusa social, dobrada e aberta no peito.
— Merda, cara, o que aconteceu aqui? — Dominic entra,
olhando para a destruição à sua volta.
— Eu aconteci. — Ergo o copo, levando-o à minha boca e
tomando o líquido cor de âmbar. — Eu e minha boca grande
fazendo e dizendo o que não deve. — Estalo a língua e balanço a
cabeça, em seguida aponto para Dom. — Deixa eu dizer: sou um
merda sempre fazendo merda.
Meu primo olha para mim e suspira.
— Você está bêbado.
— É meio óbvio, não? — Ergo a garrafa, mostrando a ele o
quanto bebi.
— Merda, você está mal. — Ri, balançando a cabeça ao
olhar para toda a confusão. — Parece que sua conversa com
Phillipa foi bem acalorada.
Dou um bufo que parece mais um arroto.
— Oh, não, foi ótima, na verdade. Porra, eu serei pai. —
Começo a rir, batendo minha mão livre no colo.
— Que merda! — Dominic me olha como se eu fosse louco.
— Pai?

— Sim, eu serei a porra de um pai, só que não estou

fazendo um trabalho muito bom. Mandei-a abortar. Que merda de

pai sou eu? — resmungo.

— Ah, cara...
— Eu sei, eu sei, sou um merda.
Não ouço a resposta de Dominic, pois tombo para o lado e
apago, de tão bêbado que estou.
Capítulo Oito
Nobody’s Perfect – Jessie J

No dia seguinte...

Merda! Devagar, abro meus olhos, sentindo como se algo


tivesse passado por cima do meu corpo. Minha cabeça dói tanto,
que sinto minha veia da testa latejar. Meus olhos ardem. Caralho.
Tento levantar-me, mas meu corpo protesta. O quanto eu bebi?
Lembranças do que aconteceu voltam à minha memória. Oh,
porcaria!Agora está explicado o porquê de tanta bebida. Foi a única
maneira que arrumei para entorpecer meus sentimentos e a merda
que fiz. Eu sei, estraguei tudo com Phillipa. Não faço ideia de como
irei arrumar tudo o que fiz e falei. Quero o nosso bebê. Não estava
esperando por algo assim, por tamanha responsabilidade, todavia
eu o quero. Droga! Eu a quero. Passei uma semana distante,
colocando todos os meus pensamentos no lugar, apenas a
observando de longe, conhecendo-a antes de dar o primeiro passo
para conversar com ela, entretanto quando disse que está grávida,
eu só pirei. Não quero que ela aborte, foi apenas um mecanismo de
defesa por não saber como lidar com toda a situação. Sem falar dos
problemas que estávamos tendo com o clube clandestino. Tudo
estava nas minhas mãos para arrumar e descobrir quem é o homem
que está vendendo drogas no clube e matando pessoas.
Enquanto eu fico no escritório, arrumando tudo, Dominic
permanece na parte de baixo, observando, procurando quem está
traficando essas merdas de forma irresponsável. Mesmo Hector
tendo demitido Henry, o homem em quem confiava para administrar
a luta clandestina, as vendas das drogas continuam, não só por
aqui, mas também no clube de stripperse na boate que temos. Mais
pessoas estão aparecendo mortas por causa dessa nova droga.
Isso está prejudicando nossa reputação e trazendo federais para
todos os negócios que temos. Alguém está tentando fazer-nos o
centro das atenções ao trazer essa merda para dentro. Juntando
tudo, eu apenas explodi quando Phillipa veio até mim, então
descontei toda a minha frustração nela.
— Você acordou. — Dominic entra, encostando-se no
batente da porta.
Na sua mão há uma caneca com café. O cheiro forte só me
faz desejar ainda mais esse líquido.
— É o que parece. — Levanto-me do sofá, ainda sentindo
tudo à minha volta rodar.
— Aqui, trouxe para você, cara. — Ele adentra o escritório,
entregando a caneca a mim.
— Obrigado. — Bebo um pouco do café.
Olho em volta, reparando na merda que fiz em todo o
escritório.
— Fiz um estrago — comento, voltando minha atenção para
Dominic, que ri.
— Sim, e é você quem arrumará tudo isso. — Ri mais ao ver
a careta que faço. — Agora, conte direito o que aconteceu.
— Resumindo tudo: Phillipa está grávida. Eu pirei, mandei-a
abortar o bebê. Ela pirou e eu fiz isso. — Coloco a caneca em uma
mesinha ao lado do sofá. — Isso foi o que aconteceu.
— Então é verdade sobre o bebê. — Aceno com a cabeça.
— Sim. Eu estava bêbado, não inventando histórias. —
Esfrego meu rosto, sentindo-me cansado demais.
— O que fará?
Olho para ele. Que pergunta besta...
— Consertar a merda que fiz. Eu quero esse bebê, Dom, e
não vou deixar que Phillipa fuja de mim.
Não sou burro ou idiota para dar desculpas pelo que fiz,
então só resta humilhar-me, mostrando a Phillipa que o que eu disse
foi uma merda e que estou arrependido, mostrar que me importo.
Fazer com que ela me perdoe pelo que fiz e falei.
— Um bebê. — Dom diz, rindo.
— Sim, cara, um bebê.
— Você será pai.
— É o que parece.
Phillipa

“— Recuso-me a ter um filhocom uma traidora.” Merda!


Doeu. Suas palavras doeram demais. Toda vez que elas se repetem
na minha mente, doem mais ainda, trazendo um gosto amargo na
minha boca. Não imaginei que a reação de Raphael seria tão ruim
quanto foi. Nem se passou pela minha cabeça que ele rejeitaria o
bebê. Eu sabia que nós dois não temos futuro, mas pensei que ele
ao menos seria um bom pai, que amaria seu filho. Dou um riso sem
graça. Como eu estava enganada... Balanço a cabeça. Sorte a
minha que não me acusou de tentar dar um golpe nele.
Passei o resto do dia de ontem, bem como a noite toda
deitada na cama, sentindo pena de mim mesma, sentindo pena do
meu bebê, que não terá Raphael na sua vida, nem o resto da
família, porque antes de ter essa criança, eu irei embora para bem
longe deste lugar, dessa família. Um recomeço para mim e para o
meu bebê.
Olho para o meu corpo, de frente ao espelho, e passo as
mãos pela minha barriga lisa. Ainda é surreal imaginar que há um
bebê crescendo dentro de mim. Meu filho. Um pequeno sorriso se
forma nos meus lábios ao imaginar como ele será quando nascer.
Terá minha cor de pele, morena, ou será branco igual a Raphael?
Terá meus olhos castanho-claros ou os olhos azuis de Raphael?
Como será seus cabelos, o seu sorriso...? Lágrimas começam a
escorrer pelo meu rosto. Passo as mãos, secando-as. Estava tão
concentrada, imaginando meu bebê, que não tinha percebido que
estou chorando. Saio da frente do espelho, em seguida me visto
para a minha primeira consulta médica. Dimitria foi rápida e
conseguiu uma consulta para mim. Quero saber se tudo está bem,
assim como o que devo fazer, porque estou perdida.
Amarro meus cabelos em um nó no topo da cabeça, passo
um gloss nos lábios, rímel, então estou pronta, esperando por
Dimitria, que virá buscar-me.
Do lado de fora da casa, meus dois seguranças, Christian e
Jordan, já estão prontos, esperando por mim. Eles seguirão-nos em
carros separados.
— Só estou esperando por Dimitria — aviso-lhes.
— Sim, Senhorita, já fomos avisados. — Jordan acena com
a cabeça, colocando-se ao meu lado.

“EU: Já estou pronta, apenas a esperando.”


“DIMITRIA: Ok, já chegando.”

Sento na cadeira de balanço e espero por ela. Aliso minha


barriga, imaginando o momento em que ela começará a crescer.
Sorrio com as imagens que vêm à minha mente. Por enquanto,
parece tão irreal, parece tão coisa da minha imaginação... Droga!
Estou perdida no meio de toda essa situação.
Meu coração dá um salto quando um carro desconhecido
para em frente à casa. Aperto minhas mãos juntas, sentindo-me
nervosa. O vidro se abaixa e Raphael aparece dentro do carro.
— Entre — comanda.
Arqueio uma sobrancelha para ele.
— Estou esperando por Dimitria. Vá embora! — grito,
desviando o olhar.
— Entre, Phillipa. Dimitria não virá.
— Como assim não virá? Temos um compromisso. —
Levanto-me, sentindo-me irritada.
— Sim, eu sei, e quem a levará nesse compromisso será
eu.
Ele dá um grande e lindo... Balanço a cabeça. Não, um feio
sorriso de Gato Cheshire. Meu coração bate forte. Sinto-me enjoada
nesse momento. Balanço a cabeça de um lado para o outro.
— Não, não, eu não vou.
Raphael me olha, frustrado.
Eu vou matar Dimitria por ter me enganado, por ter permitido
que ele tenha vindo em seu lugar! Não posso acreditar que ela
passou a perna em mim. Eu deveria ter imaginado algo assim. Eles
são Callahan’s. Máfia e família em primeiro lugar, sempre.
— Phillipa, não quero discutir com você, porém se não
entrar neste carro agora, eu vou sair daqui. E você não quer isso.
Eu mesmo vou colocá-la aqui à força — avisa, olhando-me, bem
sério.
Respiro fundo, com o coração batendo a mil. Sem saída,
caminho em direção ao carro. Raphael abre a porta, saindo do
veículo, em seguida dá a volta e abre a porta para mim.
— Eu mesma poderia abrir a porta — digo.
— Só estou tentando fazer algo certo.
Não consigo controlar-me e começo a rir.
— Sério mesmo? — pergunto, soando irritada e abismada
com sua fala. — Deveria ter pensado nisso ontem, antes de falar
todas aquelas coisas, não agora, que é tarde demais. — Entro no
carro, mas antes que ele feche a porta, eu o olho nos olhos. — Na
verdade, eu nem sei por que está aqui, já que deixou bem claro que
não quer este bebê.
Seu olhar se transforma em pura raiva, cru, e traz calafrios
ao meu corpo. Raphael se curva, ficando bem próximo do meu
rosto.
— Eu errei, porra! — urra, e minha cabeça vai para trás com
a firmeza na sua voz. — E reconheço o caralho do meu erro. —
Bate no peito. — Esse bebê é nosso, Phillipa, e eu vou lutar por ele.
— Pulo quando Raphael bate a porta.
A tensão dentro do carro é sufocante. Meu coração bate
forte. Mordo meus lábios, tentando conter minhas palavras de raiva,
porque, sinceramente? Raphael deveria ter pensado nisso antes,
não agora. Tudo o que ele disse machucou profundamente. Nada
do que faça a partir de agora mudará minha decisão de ir embora,
de criar meu filho sozinha. Esse filho é meu, ele deixou bem claro
quando mandou eu abortar, quando disse, com toda a força, que
não quer ter um filho com uma traidora. Ele quer lutar pelo filho que
não quer só por causa do orgulho, do nome, do legado. Mal sabe
que estou pronta para a porra da luta.
Raphael

Olho para Phillipa. Frustrado, passo as mãos pelo rosto.


Toda nossa situação é uma merda. Eu sei que ela não me ouvirá,
posso ver quão determinada está. Phillipa não acreditará em nada
do que eu disser ou fizer daqui para frente, porque toda sua
memória está na noite passada, nas coisas que fiz e disse durante
esse tempo em que passamos um ao lado do outro. Caralho! Não
faço ideia de como sair dessa situação de merda, do que farei para
melhorar as coisas. Tudo o que tenho é força de vontade para poder
consertar o que fiz.
— É tão belo de ver quando o pai vem junto para a consulta.
— Uma moça diz, olhando entre Phillipa e mim.
Phillipa dá um pequeno sorriso sem graça. Eu apenas dou à
mulher um olhar de cala a boca, e ela se encolhe, desviando o olhar.
Phillipa dá uma cotovelada em mim.
— O quê? — pergunto, sem vontade de jogar conversa fora
com alguém, principalmente se tratando de mulheres intrometidas.
— Custava ser mais gentil? — diz, baixinho, entre dentes.
— Custava marcar uma consulta mais particular, sem que
tenhamos plateia?
— Bem, quem conseguiu a consulta, de última hora, foi
Dimitria. E eu não imaginava que você viria. O único incomodado
aqui é você — rosna, olhando-me feio.
Respiro fundo, tentando controlar meu temperamento, não
querendo dar um show para as pessoas à nossa volta.
— Esse é o meu bebê também, é claro que eu viria. — Dou
um beijo na sua bochecha, pegando-a de surpresa.
Algumas mulheres à nossa volta suspiram. Phillipa olha para
mim. Seu olhar está pronto para me matar, mas um sorriso puxa o
canto da sua boca.
— Oh, agora ele é seu também? — desdenha, baixinho,
apenas para eu ouvir. — Engraçado, não era você que o queria
abortado? O que mudou, amor? — Ela diz “amor”um pouco mais
alto.
Para quem ver de longe, parece que somos um casal
apaixonado, porém de perto, parece que Phillipa quer enfiar uma
faca bem no meu peito. Suspiro. Se eu levar essa conversa para
frente, ela e eu acabaremos nos exaltando e criando confusão. Tudo
o que mais quero é ser discreto e sair daqui antes que saibam quem
sou.
— Mais tarde, Phillipa. Esse não é o momento para essa
conversa — sussurro ao seu ouvido, deixando bem claro que essa
conversa não acabou.
Ela me olha, pronta para abrir a boca e discutir, todavia
estreito meus olhos, em aviso. Sua boca se fecha e ela solta um
pequeno bufo irritadiço. Sorrio. Phillipa fica linda quando está
irritada. Esse fogo que ela tem, bem como toda essa força de
vontade... Ela sempre soube mascarar seus sentimentos, sempre
colocando uma máscara de sarcasmo, sempre sendo espertinha e
de língua afiada. Acho que, no fundo, foi exatamente por isso que
me liguei. Ela tem esse fogo que me excita.
Mexo-me desconfortavelmente na cadeira, sentindo meu
pau começar a acordar à medida que penso em Phillipa. Limpo a
garganta, olhando em volta, e todos desviam o olhar. Bom.
— Phillipa Florenza? — Uma enfermeira chama.
— Sou eu. — Ela se levanta.
— Siga-me, por favor. O Dr. Afonso irá atendê-la.
— Doutor!? — rosno a pergunta, irritado.
Não posso acreditar que Dimitria marcou uma consulta com
um fodido médico! Caralho!

Phillipa

— Isso foi desnecessário. — Cruzo os braços, parando na


frente de Raphael.
Seus olhos se estreitam e ele bufa, dando um pequeno
sorrisinho.
— Sim, esquentadinha, foi necessário — rebate, guiando-
me até seu carro.
— Raphael...
— Phillipa, aquele médico de quinta precisava saber que é
minha e que sua relação será de médico e paciente. Ele não precisa
ser amoroso, nem a chamar de querida. Mostrei a ele quem é que
manda, bem como qual é o seu lugar na cadeia alimentar. Ponto.
Oh, meu Deus! Ele pirou, Raphael está louco. Não me
surpreende, é claro, mas, sério? Tínhamos acabado de sair da
minha consulta médica com o ginecologista. Meu bebê está bem,
saudável e pronto para crescer dentro de mim. Tudo estava certo,
foi emocionante cada momento. É claro que meu filho está bem.
Pequeno ainda, tanto que não dava para ver quase nada, no
entanto tudo está conforme deve ser. O meu problema, meu único
problema foi a maneira com que Raphael tratou o médico. Só de
pensar, meu corpo treme. Que vergonha... Céus!

“— Ah, você deve ser Phillipa. — O. Dr


Afonso comenta.
Sorriopara ele, acenando com a cabeça. Sério,onde eles
fazemhomens assim?O médicoé irresistível.
Não tenho vergonha
em avaliá-lo, mesmo com Raphael ao meu lado.
— Sou eu mesma — respondo, ainda sorrindo.
— Tudo bem, querida,é um prazer conhecê-la.— Elesorri
de volta para mim.
Posso abanar-me agora? O homem já é lindo,sorrindo,
então, ficou sexy
.
Ao meu lado,sintoa mão de Raphael,que está nas minhas
costas, fechar-se em punho. Sorriointeriormente.É tão fácil
deixá-lo
irritado.Bem feito.Isso é para ele aprender que não é desejado
aqui.
Dr. Afonso e eu entramos em uma conversa sobre minha
gravidez.Ele pergunta como descobri, o que estou sentindo e se
tudo está bem comigo e com meu corpo.
— Vamos ver seu bebê, querida? — pergunta, com um
grande sorriso.
Ao meu lado, Raphael limpaa garganta. Dr. Afonso olha
para ele; seus olhos, ficando maiores à medida que o olha bem.
— Acho que enquanto estava conversando com minha
mulher e se encantou com sua beleza, o que não vou negar, é
estonteante, acabou não reconhecendo minha presença. Sou
Raphael Callahan.— Estende a mão, e é nesse momento que o
doutor arregalas os olhos, ficando surpreso com as palavras dele.
Dr. Afonso cumprimenta Raphael, que posso ver apertar
bem a mão do médico, o qual treme.
— Agora que sabe quem em sou, o que acha de ser mais
profissional?
Deus! Que vergonha! Será que um buraco pode abrir-se
agora para eu pular nele e sumir?
— Sim,é claro, eu sintomuito. — Dr. Afonso diz,com uma
tremida na voz.
Esse é o poder que o nome Callahantem. Eu deveria
imaginar que não seria tão fácil assim.
— Agora que estamos entendidos, podemos ver o nosso
bebê. — Raphaelé bem firm
e no ‘nosso’, deixandoseu ponto bem
claro.
Só quero que essa consultaterminelogo,para eu fugirpara
casa e ter uma conversinha com Dimitria.”

— Entre no carro. — Balanço a cabeça, voltando ao


presente.
Olho para Raphael, que está com a porta do carro aberta,
esperando por mim.
— Não terminamos de falar — digo a ele, que bufa.
— Sim, nós terminamos. Agora, entre na porra do carro! —
urra, fazendo-me saltar.
— Preciso seriamente ter uma conversinha com Dimitria —
resmungo, mas pelo riso que Raphael dá, sei que ele ouviu.
Ótimo, simplesmente ótimo.
Capítulo Nove
— Para onde está levando-me? — Olho pela janela,
percebendo que não estamos voltando à minha casa.
— Almoçar. Você precisa alimentar-se — diz, sem tirar o
olhar da estrada.
Atrás de nós, posso ver dois carros seguindo-nos. Um, eu
sei que se trata dos meus dois guardas; o outro, já não faço ideia.
— Por que há mais um carro seguindo-nos? — pergunto,
deixando de lado por enquanto o fato de ele estar levando-me para
almoçar.
— Chamei reforços. Quero você e o bebê seguros —
responde, como se fosse algo tão simples.
Não quero brigar com Raphael, mas parece que ele não irá
desistir tão fácil. Sinto que brigaremos em todo o momento, o que
não é novidade alguma para mim, já que é o que fazemos de
melhor.
— Raphael...
— Não comece, Phillipa — avisa, dando uma olhada rápida
a mim. — Vou alimentá-la, assim você e o nosso bebê estarão bem,
depois a levarei para casa, e lá iremos conversar. Fim.
Ele diz como se fosse tão fácil e simples, como se tivesse se
esquecido de tudo o que falou a mim, de todas as coisas que fez e
como agiu, de como quebrou uma parte de mim, como me
magoou... Raphael rejeitou nosso bebê, por isso vou lutar em cada
pequeno detalhe. Ele não vai entrar assim, do nada, como se tudo
estivesse bem, porque a verdade é que não está. Nada está bem
entre nós dois há muito tempo, sendo que ultimamente só tem
piorado.
Céus! Como eu pude ter me apaixonado por ele e
continuado apaixonada depois de tudo? Sou uma tola por pensar
que as coisas mudariam, que um dia ele pudesse ver-me de forma
diferente, perdoar-me pelo que fiz ou ao menos tentar entender por
que fiz tudo aquilo. Eu estava errada com todos esses pensamentos
de esperança em mim.
Tudo bem para mim, eu sou uma lutadora, portanto é isso
que farei. Lutarei em cada momento da minha vida. Lutarei pelo
meu bebê e por mim, por nossa felicidade. Raphael quer conversar,
vamos ouvir o que tem para dizer. Não quero discutir com ele dentro
do carro.
Fico em silêncio durante nosso caminho para o restaurante,
já que não demora muito para chegarmos. Quando Raphael para o
carro, os dois veículos com seguranças logo atrás param também.
Saindo do automóvel, ele dá a volta, abrindo a porta para mim.
Estende a mão. Olho para a sua mão, depois, para ele, dando um
rolar de olhos.
— Estou grávida, não incapacitada. Posso sair sozinha.
Saio do carro, sem sua ajuda. Atrás de mim, Raphael
suspira.
Olho para o restaurante e logo me apaixono por ele. Toda a
sua frente é de vidro, dando para ver tudo o que há dentro dele: as
pessoas em suas mesas, a iluminação, os garçons servindo de um
lado para o outro, a conversa, os sorrisos... Encantador!
— Vamos, há uma mesa reservada esperando-nos no canto
do restaurante. — Raphael diz.
Sinto sua mão nas minhas costas. Fico tensa por um
instante, mas faço meu corpo relaxar.
— Oh, no canto? Não podemos sentar perto do vidro?
Assim podemos ver do lado de fora. — Olho para ele, dando um
pequeno sorriso pidão.
— Phillipa...
— Por favor... — Ele acaba dando um aceno.
Raphael me guia para dentro do restaurante. Somos
atendidos por uma recepcionista, a qual chama a hostess, que nos
leva para a última mesa, bem de frente à janela de vidro.
— Obrigada — sussurro para Raphael, que dá um aceno.
— Não gosto de estarmos sentados aqui. Estamos expostos
demais. Porém acho que devo a você. — Ele diz, olhando-me.
— O que poderá acontecer, Raphael? Estamos bem. — Dou
um pequeno sorriso.
Eu sei o que ele quer dizer, e o entendo, todavia nos
encontramos em plena luz do dia, num restaurante lotado. Acho que
estamos seguros neste momento, já que temos quatro seguranças
do lado de fora e dois do lado de dentro do restaurante, guardando-
nos. Exagerado, eu sei, no entanto Raphael é um Callahan e eu sou
a mulher grávida que carrega seu bebê, portanto será assim até o
dia em que eu for embora.
— No que está pensando? — Ele pergunta, de repente.
Argh... Esta é a situação embaraçosa de almoçar com ele:
ter uma conversa, algo que eu não quero. Bater com esse homem
não está nos meus planos.
— Acho que entendeu errado, Raphael — começo, olhando-
o, bem séria. — Não concordei em estar aqui, porém olha onde
estou: sentada de frente para você, em um restaurante, o que já é
demais para mim, então não me peça para jogar conversa fora,
porque eu não vou. — Paro para poder respirar um pouco, já que
estou falando rápido demais. — Vamos ficar aqui, almoçar, depois
me levará para casa e pronto. Fim da história. Estamos entendidos?
— pergunto, semicerrando os olhos para ele.
Raphael olha para mim. O canto da sua linda e gostosa
boca — Ah, não... — se levanta e ele dá aquele pequeno e sexy
sorrisinho. Bato as mãos na mesa.
— Não é engraçado.
Raphael solta uma profunda risada, fazendo meu corpo
arrepiar-se, em desejo. Corpo traidor. Corpo traidor, repito na minha
mente.
— Sim, gatinha, é muito engraçado vê-la assim, toda
irritada. — Lambe os lábios.
Droga! Queria que ele lambesse os meus lábios, bem como
meu corpo. Ah, céus! Meus própriospensamentos estão me traindo.
Balanço a cabeça. Concentre-se, Phillipa, não perca o forco.
— “Gatinha”? — Ele acena. — Você chamou-me de
gatinha?
— Sim, você parece uma gatinha toda arisca com as garras
à mostra, pronta para me atacar. — Sorri para mim.
— Agora estamos na fase de apelidos? Acho que vou com
babaca para você, o que acha? — desdenho, e ele apenas ri.
Bufo. Esse homem ainda vai tirar-me dor sério. Parece que
tudo o que eu falo é engraçado, ou fofo, ou seja lá o que ele pensa.
O garçom aparece em frente à nossa mesa, perguntando o
que escolhemos para o almoço. Merda... Nem olhei o cardápio, tudo
culpa de Raphael.
Peço uma salada com frango e batatas fritas.
O quê? Sou uma mulher que ama batatas fritas. Se
pudesse, comê-las-ia em todos os dias da minha vida.
Enquanto Raphael faz o seu pedido, olho para fora,
observando as pessoas que passam pela rua. Toda essa situação é
complicada demais. No que fui me meter? Eu queria rir e, ao mesmo
tempo, chorar. É confuso demais. Se eu for parar para entender, vou
enlouquecer. Tudo o que está na minha mente é a certeza de que
preciso ir embora, preciso recomeçar em um lugar novo, com novas
pessoas, pessoas que não sabem quem eu sou e sobre o meu
passado.
Estou tão perdida nos meus próprios pensamentos, que não
percebo os minutos passarem, nem vejo Raphael observando-me
em silêncio. Só volto ao presente quando nosso almoço é servido.
— Obrigada — digo ao garçom, que dá um leve aceno para
mim.
O cheiro da comida se infiltra em mim, fazendo meu
estômago roncar. Do outro lado da mesa, Raphael ri com o som.
Dou um pequeno chute nele por baixo da mesa.
— Wow, não tenho culpa que você tem uma gatinha faminta
aí dentro. — Ri mais.
— Não me chame de gatinha! — rosno para ele, que ri ainda
mais.
— Realmente uma gatinha raivosa e faminta — brinca.
Suspiro. Esse homem não tem jeito. Deus, onde fui amarrar-
me?
— Coma, gatinha — comanda.
— Não precisa falar duas vezes.
Sabe aquele momento em que você está no melhor do seu
sonho, todavia alguém bate na porta, ou seu telefone toca, fazendo
com que você acorde? É exatamente assim que acontece, tipo, em
câmera lenta. Pego meu garfo, um pouco de comida, e ergo minha
mão, pronta para colocar a batata frita junto com o pedaço de frango
na boca. Já posso sentir o gosto, está bem aqui, perto. Minha boca
se abre, pronta para saborear meu almoço, porém tudo vai por água
abaixo.
De primeira, não faço ideia do que há, pois me encontrava
tão concentrada em ter minha primeira garfada, que não registro os
acontecimentos à minha volta.
De repente, estou sendo jogada ao chão. Raphael virou a
mesa para nos proteger, vidros foram quebrados. Estou em choque.
Os gritos, pessoas correndo, o corpo de Raphael protegendo o
meu... De repente, percebo que estamos sendo alvejados por tiros.
Minha mão vai automaticamente para a minha barriga, protegendo
meu bebê. Não que seja muito, mas é tudo o que eu posso fazer
agora.
— Raphael... — sussurro, em pânico.
— Estou bem aqui. — Ele beija minha testa. — Você foi
atingida? — pergunta, dando uma olhada bem rápida a mim.
Os tiros continuam. Pessoas gritam. Meus seguranças
atiram de volta, tentando proteger-nos, e Raphael me tem nos seus
braços enquanto a mesa é nosso escudo.
— Raphael...
— Porra! — Ouço-o gritar, porém estou atordoada.
O barulho, os gritos... Céus! Meu coração bate forte. Olho
em volta, vendo o caos ao nosso redor. Há pessoas no chão,
sangrando; outras, tentando proteger-se das rajadas de tiros... Meus
dois seguranças atiram de volta contra quem está atacando-nos.
A comida, nossa comida toda no chão... Eu quero chorar!
Porra! Eu quero chorar por tudo o que está acontecendo e pela
comida, minha comida desperdiçada.
— Raphael... — chamo-o.
— Preciso tirá-la daqui. Agarre-se em mim.
Ele me olha. Seu olhar é de raiva, pura e controlada raiva,
ao mesmo tempo que está concentrado, calmo, focado.
Agarro-me a ele. Meus dois seguranças ficam à nossa
frente. Raphael se levanta e corre para a parte de trás do
restaurante, onde há um carro esperando-nos. Entra no carro
comigo nos seus braços. Assim que a porta se fecha, o veículo se
distancia de todo o caos.

Raphael

Na grande casa da família, levo Phillipa para dentro. Seu


corpo treme contra o meu, em estado de choque. Suas mãos
apertam a blusa que estou usando, agarrando-se a mim. Sua
cabeça está pressionada contra meu peito enquanto ela murmura
palavras sem sentido algum.
Com Phillipa nos meus braços, vou direto para o escritório
principal da casa, onde Hector, Dominic, Dimitria, Miguel e Maddox
esperam por nós. Miguel e Maddox ficaram em Vegas despois do
casamento de Lucas e Audrey.
Atrás de mim, Jordan e Christian entram, fechando a porta.
Olho para Hector, deixando-o ver no meu olhar o quanto estou
controlando-me para não acabar matando alguém, qualquer um que
se puser na minha frente.
Não faço ideia de quem fez essa merda, mas vou atrás de
um por um, até deixar todos mortos, aos meus pés. Atacaram-nos
em plena luz do dia, no meio de um restaurante cheio e muito
conhecido. Quem quer que tenha sido o mandante, está com desejo
de morte, só pode.
— Como ela está? — Dimitria pergunta, vindo até nós dois.
Tento colocar Phillipa no sofá, porém ela começa a balançar
a cabeça, agarrando-se ainda mais a mim.
— Gatinha, preciso colocá-la no sofá, preciso examiná-la,
saber se está bem.
Sua cabeça se ergue e ela me olha nos olhos.
— Se eu soltá-lo vou enlouquecer — murmura.
Franzo a testa, não entendendo o que ela quis dizer. Tiro um
dos seus cachos do seu rosto, escovando-o para trás da sua orelha.
— Gatinha...
Phillipa me solta, seu olhar recai sobre Dimitria, que está ao
nosso lado, observando-nos.
— Estou bem, não fui atingida. — Suspiro aliviado, mesmo
assim a examino, querendo ter a certeza de que tudo está bem. —
Raphael, eu estou bem, só fiquei assustada, e agora estou com
raiva. — Dou um pequeno aceno.
Phillipa olha para Dimitria, que senta ao seu lado, e seus
olhos se estreitam.
— Iremos conversar mais tarde — avisa, então um pequeno
sorriso puxa o canto dos meus lábios.
Sim, ela está bem, já que sua atitude de gatinha arisca
voltou.
Meu foco se volta para Hector, que observa tudo, em
silêncio. Suas mãos estão cruzadas em cima da grande mesa de
madeira, com sua postura de chefe e seu olhar de puro desdém,
como se nada o afetasse.
— O que eu quero saber é que porra foi aquela! — urro de
raiva, com meu corpo tremendo.
— Ainda não sabemos o que aconteceu. Estamos
esperando as filmagens das ruas para termos ideia. — Hector diz
calmamente.
— Caralho... — Passo as mãos pelos cabelos.
— Não conseguiremos nada pelas filmagens. — Jordan, o
segurança de Phillipa, comenta. — Foram seis, cinco homens que
nos atacaram, dois carros diferentes, todos mascarados, e os carros
estavam com placas falsas. Isso é tudo o que temos.
Ando de um lado para o outro, como um animal enjaulado
enfurecido, pronto para atacar. Pronto para arrancar a cabeça de
alguém.
— Raphael... — Hector me chama, e eu balanço a cabeça.
— Não, não quero ouvi-lo agora, Hector. Eles nos alvejaram
em plena luz do dia, porra! Atiraram para nos eliminar! Eles atiraram
em Phillipa, no nosso bebê! — esbravejo, irritado com toda a porra
dessa situação.
— Bebê?
Hector olha para mim, depois, para Phillipa. Seus olhos se
estreitam quando ele olha para as mãos dela protetoramente na
barriga.
— Sim. Eu ia dizer a todos. Phillipa está grávida do meu
bebê.
— Acho que este não é o momento certo para os
parabenizar. — Ele dá um pequeno sorriso.
Bem, não é um sorriso, é mais como um puxar dos lábios
para o lado, quase imperceptível.
— Tudo o que eu quero é resolver essa merda e encontrar o
culpado por essa porra. Eles quase nos mataram.
Esfrego o rosto, sentindo-me esgotado. Mais uma merda
para eu resolver, como se não bastasse toda a merda no clube, as
drogas sendo vendidas, pessoas morrendo... além de resolver meu
assunto com Phillipa. Agora, tenho que ir atrás de um louco que nos
quer mortos. Pensei que ficar aqui seria mais tranquilo do que em
New York, onde todos os tipos de merdas acontecem, mas eu
estava enganado. O problema não é o lugar, e sim o nosso nome.
Ser um Callahan traz um peso, e com isso, vêm os inimigos.
— Temos que juntar as peças aqui, Raphael. Quero que
fique calmo e controlado para podermos planejar. — Hector exige,
olhando-me de forma séria, mostrando quem é o chefe.
— Sim. Esse ataque não foi algo aleatório. Eles tinham um
alvo, e ao meu ver, tudo está ligado com os acontecimentos nos
clubes. — Dimitria faz sua observação.
— Viu? Estamos chegando em algo. — Hector aponta. —
Agora, vamos planejar encontrar quem fez isso e fazer nossa
retaliação, porém ao contrário do nosso inimigo, não deixaremos
ninguém vivo.
— Tudo bem, então. Quem atacou hoje teve um alvo, e
estou apontando que o alvo foi Raphael, já que ele está no comando
do clube de luta, o que significa que a pessoa irá atrás de todos os
responsáveis dos outros clubes, tanto o de strippers, como a boate.
Temos que os proteger. — Dominic diz, olhando para Hector, que
acena com a cabeça, em acordo. — Por enquanto, são três alvos,
no entanto essa pessoa pode atacar pessoas próximas aos alvos,
como um aviso, e essa pessoa não se importa nem um pouco com
públicos ou se outras pessoas inocentes serão atingidas, o que faz
dela perigosa e irresponsável.
Era só o que faltava: mais um louco tentando nos atingir e
tomar nosso lugar. Será que eles não aprendem com os anteriores,
que ao tentar, foram aniquilados? Eles são tão loucos assim, para
achar que podem nos derrubar?
Uma pontada começa a formar-se na minha testa. Esfrego
minhas têmporas, tentando aliviar a dor.
— A pergunta é: quem está envolvido no ataque, nas drogas
distribuídasnos clubes, e por quê? — pergunto, mas não espero ser
respondido. — Temos que começar por algo ou alguém.
— Henry. — Hector diz, entre dentes.
— O ex-gerente do clube de luta? — pergunto.
— Filho da puta. Ele mesmo. Ele foi demitido por saber das
vendas e lucrar com isso. Hector demitiu-o achando que a merda
pararia, entretanto não só não parou, como começou a ser
distribuídanos outros clubes. — Dimitria comenta. — Ele pode estar
envolvido.
Nesse momento, a porta do escritório se abre, então Mason,
meu segurança e um dos que administram o clube de strippers,
entra no escritório. Seu olhar vem diretamente a mim e ele dá um
pequeno sorriso.
— Conseguimos pegar um — anuncia.
— Porra, sim! — Sorrio. — Enquanto teremos um papo com
nosso prisioneiro, quero que encontre Henry Martin e o traga para
mim. Faça o que for preciso para o achar. Temos que mostrar a ele
e a todos os outros que estão tentando foder as pessoas erradas. —
Mason acena com a cabeça.
— Leve Miguel com você. Enquanto isso, Maddox ficará na
proteção de Phillipa, junto com Jordan e Christian. — Hector
comanda; sua voz, firme. — Aliás, ela carrega um Callahan.
Olho para Phillipa, que está sentada, quieta no sofá, apenas
olhando para a sua barriga. Sentindo meu olhar nela, sua cabeça se
levanta e seus olhos me encontram.
— A comida — murmura.
— O que disse, querida? — Dimitria pergunta, olhando-me,
sem entender nada.
— A comida. Eles destruíram toda a comida. Eu não comi.
— Sua voz se eleva.
Mordo meus lábios, sabendo muito bem que ela está
prestes a enlouquecer.
— Phillipa... — Dimitria começa.
— Não. — Sua voz soa firme. — Eles destruíram minha
comida! — Levanta-se do sofá. — Aqueles homens desgraçados
destruíramminhas batatas fritas, eles atiraram em mim e destruíram
minha comida! — grita, andando de um lado para o outro.
De repente, ela para e aponta para Hector, que a olha, com
interesse.
— Você sabe como é ter sua comida preferida bem ali, na
sua frente, abrir a boca e... puf? — Bate palmas. — Tudo ir pelos
ares? Não é legal, não é nem um pouco legal, porra! — berra,
cruzando os braços, então lágrimas se formam nos seus olhos. —
Merda, estou grávida, com fome e quero minhas batatas fritas! —
Bate o pé.
Hector sorri para ela, acenando com a cabeça. Suspiro,
aliviado ao saber que ele não se ofendeu com o pequeno ataque
que ela acaba de ter. Só que, pelo visto, Phillipa não acabou por aí.
— Sabe o que é pior? — continua ela. — Eu não queria ir
almoçar com ele. — Aponta para mim. — Não, eu queria ficar bem
longe dele, o homem que não quer seu filho. Acredita que ele me
mandou abortar? — Todos no escritório olham para mim, e Hector
ergue uma sobrancelha, em questionamento, então apenas balanço
a cabeça para ele. — Mas bem, não há como se livrar dele, sendo
assim aceitei ir almoçar com Raphael, depois de ele ter dado uma
de macho alfa com meu médico. No entanto, quando finalmente me
acostumo com ele lá, aceito tudo e fico pronta para comer, tudo
explode, tiros são dados, a mesa é jogada para frente, pessoas
gritando e correndo; algumas, caem no chão; outras, tentam se
proteger, e minha comida... minha comida toda no chão. — Funga,
limpando o rosto. — A porra da minha comida toda no chão, um
desperdício!
Ela para, olhando para todos. Lágrimas escorrem dos seus
olhos arregalados, seu peito sobe e desce, sua respiração está
acelerada por causa do pequeno ataque que ela acaba de ter.
— Por que estão todos me olhando assim? — pergunta. —
Será que não entenderam que estou com fome?
Capítulo Dez

Uma hora depois...

Olho uma última vez para Phillipa, que está rodeada por
Iona,Dimitria e Zoe. Por mais que aparente estar bem, sei, só de
olhar para ela, que ainda se sente um pouco atordoada e em
choque com tudo o que aconteceu. Queria poder ir até ela, segurá-
la nos meus braços e dizer que tudo está bem, porém sei que meu
afeto não será bem-vindo.
Caralho! Estraguei tudo ontem. E depois de mais cedo, não
faço ideia do que fazer. Não tivemos nem a oportunidade de
conversar. Balanço a cabeça. Nossa situação só está piorando.
Phillipa vira a cabeça de lado, encontrando o meu olhar. Dou
um aceno, ela desvia o olhar e volta a conversar com as meninas.
— Está pronto? Nosso convidado especial está esperando-
nos. — Dominic aperta meu ombro.
— Vamos começar a diversão. — Viro-me, saindo da sala de
estar e deixando Phillipa.
Sigo Dominic para fora, indo em direção à parte de trás da
casa, onde há uma área isolada com uma cabana. Quem vê por fora
diria que é uma casa de visitas. Por dentro, toda equipada, deixando
a entender que é exatamente isso. Porém há uma porta falsa na
grande despensa da cozinha, dando para o porão, onde pode ter
certeza de que é a casa do terror — nome dado por Dimitria —,
onde todos os seus pesadelos se tornam realidade.
Descendo as escadas para lá, o ar se torna mais frio,
sombrio. O gotejar da água que escorre dos canos e pinga no chão
é o único barulho que ouvimos enquanto caminhamos pelo corredor
escuro. A caminhada demora uns dois minutos até chegarmos no
grande espaço aberto com várias celas de vidro em volta.
Bem no meio de todo o espaço está nosso convidado
especial. Ele se encontra em pé. Seus braços estão para cima; e
suas mãos, amarradas em arame farpado nas vigas do teto. Suas
pernas se encontram abertas, também amarradas nas correntes
elétricas fundadas ao chão.
Um grande sorriso se forma nos meus lábios ao ver o
sangue escorrendo pelos seus pulsos. Seu corpo treme, posso ver a
dor no seu olhar. É uma grande satisfação vê-lo assim. Não é mais
o homem cheio de adrenalina que atirou contra mim e Phillipa, não.
Aqui, ele é apenas um homem fraco, uma presa. Um animal em um
matadouro.
— Está sendo bem tratado? Quer alguma coisa? Uma água,
um suco... algo para o satisfazer? — desdenho, chegando perto.
— Vá se foder. — Cospe em mim.
Passo a mão no rosto, secando-o. Olho para Maddox, que
está no controle das correntes elétricas. Aceno para ele, que liga a
corrente, dando choque em todo o corpo do convidado, que grita.
— Desculpe-me, não o ouvi. Pode repetir? — Coloco a mão
na orelha, em forma de concha.
Sorrio para ele, satisfeito com sua dor.
— Será que podemos começar? — pergunto, olhando em
volta, e todos acenam com a cabeça.
— Ele é todo seu. — Hector diz. — Quando acabar, corte
ele, pedaço por pedaço, e distribua-o por aí. Quero que a pessoa
que estiver no comando desse ataque saiba quem somos.
Com isso, ele dá meia volta e se retira do local.
Hector é o tipo de chefe que senta atrás da mesa e só
comanda. Ele nunca se suja.
— Bem, vamos sujar-nos. — Esfrego as mãos, sorrindo. —
Por onde começo? — Olho para todo o material de tortura na parte
de trás. — O que acha, hum...? Você é nosso convidado. Acho que
tem o direito de escolher.
— Só acabe logo com isso. — O homem diz. — Faça logo
as perguntas e me mate.
Balanço a cabeça, estalando a língua.
— Ah, não — digo. — Assim seria fácil demais. — Pego o
alicate. — Você atirou contra mim e minha mulher em um
restaurante, um restaurante cheio de pessoas inocentes. Você não
honra, e realmente acha que eu apenas farei perguntas e pronto?
Sabe quantas pessoas morreram nesse seu ataque desleixado?
Foram oito pessoas, sendo que três eram crianças. Por isso, você
vai sofrer até morrer.
Agacho, pegando no seu pé e arrancando fora suas unhas,
uma por uma, enquanto ele grita e se balança, tentando soltar-se,
tentando qualquer coisa para me fazer parar. Conforme faz isso, o
sangue jorra cada vez mais dos seus pulsos, respingando até em
mim.
— Agora que estamos interagindo: quem comandou esse
ataque? Como sabiam que estávamos no restaurante? Diga-me! —
grito, puxando mais uma unha, o que o faz dar um berro agonizante.
— E-eu não s-sei... — gagueja o homem.
Começo a rir com esse eu não seidele. É claro que ele sabe
muito bem, só está fazendo exatamente o que todos os prisioneiros
fazem: dando uma de burro, querendo uma morte rápida e fácil. Não
vai acontecer.
— Acho que temos que recomeçar, quem sabe algo aparece
na sua memória. O que acham? — Olho para os outros homens,
que observam tudo o que estou fazendo.
— Ele precisa de um incentivo maior. — Dominic diz, com
um pequeno sorriso.
— Um pouco mais de dor. — Mason, meu homem de
confiança, diz, olhando para o homem amarrado. — Quanto mais
dor, mais eles abrem a boca.
— Não, não... — Balança a cabeça, em desespero. — Eu
falo, eu falo!
— Ah, agora ele quer falar... Tarde demais...
Pego um alicate maior e corto seu dedão do pé. Ele grita.
Sangue jorra, sujando o chão e a mim. Sorrio com satisfação
enquanto seus gritos preenchem o lugar, ecoando pelo corredor
escuro e oco.
— Agora, diga-me, antes que eu corte mais um — comando,
posicionando o alicate no próximo dedo.
— Marcus Esposito! — O homem grita.
Os Espositos — Cosa Nostra. Quando erámos da Cosa
Nostra, os Espositos foram nossos maiores inimigos, e passaram a
nos odiar ainda mais assim que começamos uma guerra para nos
desvincular da Cosa Nostra e termos o próprio legado, o próprio
nome.
Depois que viemos para os Estados Unidos, tudo se
acalmou, mas parece que estão de volta e querem guerra. Temos
que informar Caspen o mais rápido possível.
Olho para Dominic, que acena com a cabeça.
— Já estou avisando — diz ele.
— Agora, o que pode dizer sobre Henry Martin? —
pergunto.
— Não conheço ninguém com esse nome — responde,
rápido demais para ser verdade, pois nem parou para pensar ou
tentar reconhecer quem possa ser.
Posiciono o alicate, vendo a agonia antecipada no seu rosto.
Já eu, vejo sangue antes de esse se fazer presente...
Mais dois dedos dele se vão, o que o faz debater-se. Eles
não aprendem? Não há para onde fugir. Poderiam muito bem
cooperar. Patéticos demais.
— Vai dizer-me sobre ele ou continuará mentindo? —
pergunto.
— Tudo bem, tudo bem, eu falo, okay!? — grita, em
desespero. — Trabalho para Marcus Esposito, e esse Henry Martin
apareceu tem um tempo. Ele disse que foi demitido e que queria se
juntar ao propósito de acabar com os Callahan’s. Os dois estão
trabalhando juntos. Pelo que sei, eles têm pessoas vigiando-os, foi
por isso que sabiam onde estariam. — Olha para mim e sorri, um
sorriso desdenhoso. — Marcus quer a menina, ele quer conhecer a
traidora. O foco era matar você e levá-la a ele.
— Palavras erradas. — Dom diz, balançando a cabeça.
— Sim, muito erradas — concordo com ele. — Há algo mais
que queira compartilhar?
— Vá para o inferno! — Ele ri. — Todos vocês vão cair,
Marcus acabará com os Callahan’s, vocês irão foder-se! Todos! —
Continua a gritar palavras aleatórias. — Vocês, todos burros, todos
um bando de idiotas! Todos desprotegidos! Marcus acabará com
tudo! Ele sabe de tudo.
Suspiro, sabendo que não dirá mais nada. Posso perceber
que tudo já estava planejado. Marcus sabia que pegaríamosum, ele
sabia que faríamos perguntas e sabia que seu homem seria morto.
Porra!
— Você vai contar para Phillipa que ela é o alvo principal?
— Dom pergunta, assim que saímos da câmara de tortura.
— Caralho, é claro que não! — Balanço a cabeça enquanto
caminhamos pelo corredor escuro. — Ela não precisa saber, ela já
tem muito com o que se preocupar.
Phillipa – Horas mais tarde...

— Não! — digo, balançando a cabeça.


Olho para Raphael, que tem um pequeno sorriso nos lábios.
Seu olhar brilha, em divertimento. Bufo, irritada com toda essa
situação. Ninguém nesta sala está ao meu favor, todos concordam
com Raphael, o que é uma merda para mim.
— Phillipa, você não está entendendo a situação. — Dimitria
começa.
Ergo uma sobrancelha, em questionamento. Ah, mas eu
entendo toda essa situação de merda na qual me enfiei! Fui
alvejada mais cedo, perdi todo o meu almoço, o qual estava louca
para comer, entrei em choque, sem falar que Raphael agora quer
dar uma de pai do ano, e para completar toda essa merda, acabo de
ser informada de que ele voltará a morar comigo — para a minha
proteção, é claro. Como se eu fosse apenas sentar, acenar com a
cabeça e concordar com tudo.
Olho para todos que estão na sala.
— Eu entendo muito bem toda essa situação — começo.
Meu olhar se firma em Hector. Não quero encarar Raphael,
ver a frustração e provavelmente a raiva que ele expressará depois
das minhas palavras.
— Porém, que diferença vai fazer se ele voltar a morar
comigo? Eu já tenho de dois a três seguranças só para mim, fora os
outros quatro que guardam ao redor da casa. Se querem proteger-
me, só colocar mais homens, pronto, não preciso de Raphael —
explico, batendo as mãos. — Problema resolvido. — Sorrio para
Hector.
Ele não sorri, no entanto seus olhos brilham, com diversão.
— Ela tem um ponto — comenta, com puro divertimento.
Ao seu lado, Raphael grunhe, soltando um bufo irritado.
Mordo meus lábios, tentando conter o sorriso, e Hector pisca para
mim.
— Bem, nisso Phillipa tem razão. Você é um só. Se quer
protegê-la, será mais fácil colocar mais homens ao redor, e não
você. — Dimitria diz, olhando para o primo, que dá a ela seu olhar
de cale a boca.
— Vocês estão esquecendo — diz, entre dentes; seu olhar,
em mim, tão intenso e cru, que faz meu corpo tremer — que Phillipa
está carregando um filho meu, então é o meu dever mantê-los
seguros.
Limpo a garganta, interrompendo-o.
— Se eu não me engano, você deixou bem claro, na noite
passada, que não quer esse bebê.
— Phillipa...
— Não — digo, sendo firme. — A responsabilidade de
manter a mim e ao meu bebê seguros é minha. Só minha, Raphael.
— Nós iremos conversar sobre isso em casa — rebate ele.
— Não, não iremos, porque não moraremos juntos. — Bato
o pé.
— Gatinha, não gaste seu fôlego batendo na mesma tecla,
porque vai perder. — Ele sorri para mim. — Confesso que errei na
noite passada. Estava com raiva e confuso. Porém, não estamos
mais naquele momento, portanto pude rever meus pensamentos,
tudo o que fiz e disse. Ademais, de uma coisa eu tenho certeza:
você e esse bebê são meus. E sim, eu voltarei a morar na casa. —
Deixa claro que o assunto está encerrado.
Suspiro, não sabendo o que fazer. Não quero estressar-me
mais do que já estou. Esse dia foi surreal, tanto que ainda estou
tentando absorver tudo o que aconteceu. É claro, não é novidade
alguma para mim o que houve. Esse é o mundo em que vivo. Estou
acostumada com tudo isso, já que no clube de Caspen, presenciei
coisas bem piores, como o assassinato de Belatrix, o atentado sobre
a vida de Lauren... A grande diferença é que, nesse momento,
posso ser um dos alvos. Meu bebê está correndo perigo, então só
por isso, só por ele cederei a Raphael.
— Bem-vinda à família. — Dimitria sorri para mim.
Rolo os olhos, fazendo-a gargalhar.
— Ei... — digo, ao atender a chamada de vídeo da minha
irmã, Lori.
— Oh, meu Deus! — grita ela, do outro lado. — Você está
grávida! — exclama, com um grande sorriso.
— É o que parece — digo a ela, dando um pequeno sorriso.
— Como você tem se sentido? Hector ligou para Caspen
contando sobre o que aconteceu e o que descobriram. Parece que
estamos em guerra mais uma vez. — Suspira, dando um rolar de
olhos. — Parece que nunca teremos folga. Cansativo.
O que eu posso dizer? Essa é a vida na qual ela nasceu e
eu escolhi viver. Porém, estou pronta para ter um recomeço longe
de toda essa loucura.
— Estou sentindo-me bem. Só tive um pequeno choque com
o que aconteceu mais cedo, mas agora estou bem.
Não estou com muita vontade de conversar. Há um homem
rabugento na cozinha, preparando o jantar. Minha maior
preocupação é em como irei me livrar de Raphael Callahan.
— Bem, você vai se acostumar com tudo, tenho certeza. —
Ela sorri para mim. — Como Raphael reagiu?
— Digamos que mandou eu abortar o bebê, porque ele não
quer ter filho com uma pessoa como eu.
— Ele o quê!? — Vovó Nadine aparece do nada na tela,
tomando o celular das mãos de Lori.
— Não foi bem assim! — Raphael aparece ao meu lado,
olhando-me, de cara feia.
— Foi exatamente assim que você disse, Raphael. — Bufo,
olhando-o.
— Raphael Callahan! — Vovó Nadine grita. — Não posso
acreditar que tenha feito algo assim! — Ela esbraveja. — Um
absurdo! Sua mãe e seu pai não o criaram para isso! — Continua a
esbravejar, furiosa.
— Viu o que você fez? — Ele sussurra ao meu ouvido.
Dou de ombros, tentando esconder o riso.
— Vovó, arrependi-me e estou aqui agora. — Raphael a
corta, fazendo-a se calar. — Phillipa e eu iremos ter o bebê juntos.
— Não iremos, não. — Balanço a cabeça.
— Sim, nós iremos.
— Acho melhor colocar um anel no dedo dela. — Vovó diz,
olhando-o, bem séria.
— Sim, podemos organizar o casamento! — Lori sorri.
— Gente, gente, calma lá! — começo, interrompendo-os. —
Eu vou ter esse bebê sozinha. Estou juntando dinheiro e vou ter um
novo recomeço em outro lugar. Não haverá casamento.
Vovó bufa, Lori revira os olhos e Raphael sorri como se tudo
o que eu falei fosse pura besteira.
— Estou falando sério — rebato, irritada.
— Sim, sim, nós entendemos-la, criança. — Vovó sorri para
mim, e seu olhar vai para Raphael. — Então, quando será o
casamento? — Raphael e Lori riem.
Bato o pé, todavia não digo nada, porque conheço a velha,
sendo assim sei que quanto mais eu rebater, mais ela continuará
com esse assunto. Apenas olho para a minha irmã, pedindo socorro.
— Vovó, será que a Senhora pode ver como as crianças
estão? — Lori pergunta.
— Basta dizer que quer que eu vá, não arranje desculpas,
mulher. — Ela reclama. — Só quero avisar que estou indo para
Vegas. — Pisca para mim.
— Céus! — Raphael resmunga. — Tenho que avisar a
Hector. Só vim para avisar que a janta está pronta. — Ele dá um
cheiro no meu pescoço, fazendo minha pele arrepiar-se.
Suspiro, porque sei que fez de propósito e porque estou
desprevenida.
— Posso matá-lo? — pergunto a Lori, que ri.
— Não. Depois de tudo o que viveu, merece um homem
como ele.
— Não, o que eu mereço é paz e tranquilidade, não um
homem que pede para eu abortar o bebê e me trata como lixo.
— Não é o que estou vendo.
— O que está vendo se chama peso na consciência
, mais
nada, e porque estamos sendo vigiados e ameaçados.
— Se é no que acredita...
— Sim, é.
— Tudo bem, irmã.
— Podemos mudar de assunto, por favor? — peço a ela,
que ri para mim.
Lori e eu ficamos por mais alguns minutos ao telefone. Ela
mostra os trigêmeos, e falo com minha irmãzinha também, que só
cresce, tornando-se uma criança esperta e divertida. Uma conversa
que eu estava precisando para esquecer a merda do dia que tive.
Sem falar que Raphael e eu não tivemos a conversa que ele quer
ter comigo. Estou tentando fugir disso. O que posso dizer? Não
quero ouvir o que ele tem a dizer, as desculpas que tem para dar.
Eu apenas não quero ouvir. Já ouvi tudo na noite passada. Ele
deixou bem claro o que quer. Merda! Que confusão eu enfiei-me?

Duas horas mais tarde...

Olho para Raphael, que está preparando-se para dormir no


meu quarto. Ele tirou a ideia de que para me proteger, precisa
dormir no sofá que há no meu quarto, de frente para a minha cama,
assim fica perto da porta e de olho em mim.
— Tem realmente necessidade disso? — pergunto a ele,
apontando para o sofá.
— Sim — responde, curto e grosso.
— Olha, Raphael, eu sei que está tentando fazer o certo
aqui, mas não precisa. Eu o entendo, sei que quer estar em
qualquer outro lugar do que estar aqui. Realmente o entendo. Não
precisa ficar. Apenas coloque mais segurança e pronto. — Sorrio
para ele.
Raphael para de arrumar o sofá e olha para mim. Seu olhar
me faz dar um passo para trás. Céus! Ele está tão alpha... Seu olhar
sério e intenso traz ânsia.
— Em algum momento, eu disse que não queria estar aqui?
— pergunta, entre dentes.
Engulo seco, balançando a cabeça.
— Responda-me — ordena.
Abro a boca para dizer algo, mas logo a fecho, sentindo-me
atordoada com toda essa situação, com a tensão que envolve o
quarto. Minhas mãos suam, de tão nervosa que estou.
— Não — respondo, por fim, lambendo os lábios ao senti-los
secos.
— Então, não me diga, porra, o que eu quero e não quero
fazer! — Ele chega mais perto. — Acho que está na hora de termos
nossa conversa, gatinha.
Viro-me, tentando fugir dele, todavia Raphael é mais rápido,
pegando-me de surpresa ao me prender em seus braços. Engulo
seco.
— Raphael...
— Agora, gatinha... — Ele me corta — vou falar exatamente
o que venho tentando falar o dia todo, mas devido aos
acontecimentos, não pude. E você vai ouvir-me, entendeu?
Aceno com a cabeça, em acordo.
— Bom... — Olha para a minha boca por alguns instantes, e
por um momento, acho que irá beijar-me, no entanto ele apenas
sorri para mim — sinto muito por ontem à noite, por tudo o que eu
disse.
Abro minha boca.
— Calada, gatinha. — Sorri para mim. — Confesso que me
pegou de surpresa quando disse que estava grávida. Porra, Phillipa,
eu estava tentando achar um jeito de conhecê-la melhor, um jeito de
chegar até você, entretanto parece que não comecei muito bem.
Porém esse não é o fato. Ontem, eu não estava bem. As coisas
estão indo péssimas no clube de luta. Minha cabeça estava cheia
com toda a merda acontecendo, por isso não reagi bem quando me
contou. Eu fodi literalmente tudo. E entendo isso, okay? Realmente
entendo que fiz merda. Porra, eu errei, mas vou deixar bem claro o
que realmente quero.
Ele para, olhando para mim, tão intensamente, que sinto
minhas pernas ficarem bambas. Seus braços em volta do meu corpo
me prendem a ele. Sinto um calor envolvendo meu corpo, deixando-
me cheia de desejo. Lambo meus lábios, e seu olhar recai neles.
Prendo a respiração quando sinto sua ereção na minha barriga.
— Porra, gatinha, você me enlouquece...
— Volte ao assunto, Raphael.
— Certo. O que eu quero dizer é que quero você e quero
esse bebê. Não vou desistir, Phillipa. Um Callahan nunca desiste,
portanto vou provar-lhe que você é minha. Eu vou ficar aqui, vou
proteger você, e vamos resolver essa merda entre nós.
— Então, não acha que sou uma traidora?
Ele dá aquele sorriso predador que faz todo meu corpo
tremer.
— Ah, gatinha, você ainda é uma traidora, mas é a minha
traidora, e eu vou castigá-la, sempre. — Ele me solta, e eu tropeço,
um pouco atordoada com o momento. — Agora, vá dormir. — Vira-
se, terminando de arrumar o sofá para dormir.
Fácil falar, difícil é dormir.
Capítulo Onze

Dois dias depois...

Eu vou enlouquecer, e provavelmente precisarei ser


internada, antes que eu cometa assassinato, e minha vítima será
Raphael.
Olho para ele, cruzando os braços. Raphael apenas dá um
pequeno sorriso, encolhendo os ombros. Tento passar por ele, que
fica, porém, bem no meio do meu caminho, impedindo-me de sair.
Suspiro.
— Raphael, precisamos sair, temos que trabalhar esta noite
— digo a ele, que dá um sorrisinho.
— Não vai rolar, Phillipa. Eu já lhe disse isso, e não quero
repetir uma terceira vez. — Sua voz é grave e firme, deixando bem
claro o que ele quer que eu faça. — Ou você concorda com meu
plano, ou vai ficar aqui.
Rolo os olhos.
— Raphael, eu tenho que trabalhar, não posso ficar sem
fazer nada, tenho que ganhar dinheiro para me sustentar. E para
lembrar você: tenho um bebê a caminho — digo, entre dentes.
— Nós.
Franzo a testa, sem entender o que ele quis dizer com “nós”.
— “Nós”?
— Sim, nós temos um bebê a caminho.
Bufo. Esse homem não vai desistir.
— Sim, sei o que quer dizer. E é por isso que tenho que
trabalhar. Tenho que ganhar meu dinheiro. Agora, saia do caminho.
— Tento mais uma vez passar por ele, que não faz, porém, nenhum
movimento para me deixar passar.
Esfrego meus cabelos, começando a ficar irritada com toda
essa situação. Há dois dias que esse homem irritante tem ficado
constantemente na minha cola, pior do que sombra. Parece mais
que ele faz parte de mim, que somos um só. É irritante e sufocante.
Sempre ao meu redor, como se a qualquer momento algo fosse
acontecer comigo e com o bebê. Eu sei que somos todos um alvo e
que tenho que ser vigiada, ter seguranças ao meu redor... mas do
jeito que Raphael está, é meio louco e assustador.
Olho para ele, que está parado na porta, com os braços
cruzados, olhando-me tão intensamente, tão profundo, que traz
arrepios ao meu corpo traidor, o qual corresponde a ele, ao seu
charme e toda essa masculinidade. Mordo meus lábios, e seu olhar
recai sobre eles. Droga! Pense, Phillipa, pense!
— Você não vai deixar-me sair, não é? — Ele nega com a
cabeça.
— Só se for nos meus termos. — Suspiro, fechando os
olhos e contando mentalmente até dez.
— E você espera que eu fique em casa, sem fazer nada?
Ou que fique no escritório com você enquanto trabalha? — Abro
meus olhos a tempo de vê-lo acenar com a cabeça.
— Exatamente isso. Vai ficar aqui, sendo protegida pelos
seguranças extras que coloquei, com as câmeras, para que eu
possa vigiá-la enquanto trabalho. Ou fica no meu escritório comigo,
no clube. Você só tem essas duas opções, gatinha. — Ele sorri para
mim.
Minha vontade é de bater no seu rostinho bonito e tirar esse
sorriso da sua cara. Esse homem consegue irritar-me facilmente.
— E como irei sustentar-me e sustentar meu filho, se não
posso trabalhar!? — grito, batendo o pé e bufando, em pura
frustração e raiva.
Raphael dá um sorrisinho sacana e aponta para o próprio
peito.
— Você tem a mim — responde, como se fosse algo simples
e fácil.
— Humhum... — Rolo os olhos. — Eu tenho você? —
Balanço a cabeça e começo a rir de nervosismo. — Oh, sim, os
Callahan’s e suas manias de acharem que nós, mulheres, temos
que sentar e aceitar o que “comandam”.Não e não, amigo. Comigo
não haverá essa de “eu sou o homem e cuido de você, apenas
sente e relaxe”. Comigo não. — Elevo a voz, balançando o dedo de
um lado para o outro. — Não preciso que me sustente, nem a mim,
nem ao meu filho.
— Nosso filho, Phillipa. Esse bebê é nosso. — Ele dá um
passo para mais perto de mim, ficando cara a cara. — Não quero
ficar repetindo, porém acho que preciso, para fixar na sua mente
que esse bebê é nosso e eu não irei a lugar algum, nem você.
Estamos juntos.
— Haha, só se for na sua cabeça. Não tenho uma
reivindicação sobre mim, nem um anel no meu dedo. — Ergo a mão,
mostrando o dedo anelar para ele. — Não somos, nem iremos ser
um casal. Você me odeia, e o sentimento é mútuo. — Com isso,
viro-me, pegando minha bolsa de cima da cama. — Vamos. —
Aponto para a porta do quarto. — Temos que trabalhar.
— Gatinha, você não vai trabalhar.
— É o que veremos...

Resumindo? Eu realmente não estou trabalhando. Ao invés


disso, estou sentada no sofá, no escritório de Raphael, observando
as lutas que acontecem na parte de baixo do clube. Um completo
tédio. As primeiras lutas são boas de assistir, mas com o tempo,
vendo a mesma coisa, sentada no mesmo lugar, não podendo
interagir com o público, sem poder conversar com as pessoas ao
redor e sentir a adrenalina à minha volta, é uma merda. Não posso
sair desse escritório, não até chegar a hora de ir para casa e
Raphael me acompanhar, o que é uma porcaria total. Na parte de
baixo há mais olheiros observando tudo, cada movimento, cada
pessoa nova e suspeita... todos querendo saber quem está
observando-nos, mas por enquanto, nenhuma pista. Dimitria está
ocupada demais, organizando tudo, sendo assim, já que não me
encontro com ela para a ajudar, aqui estou, entediada e pronta para
morrer, porque é a única maneira de me livrar disso. Dramática?
Sim, eu sei que sou, mas vamos lá, me dá um tempo, né? Não
queria estar nessa situação. Se eu pudesse, estaria bem longe de
toda essa confusão, entretanto não posso sair sem dinheiro. Tenho
que ter alguma garantia, uma segurança de que estarei bem até me
estabelecer, todavia o plano de ficar até ter dinheiro suficiente está
indo pela culatra, já que nem trabalhando estou e dependo de
Raphael. Como se isso fosse o suficiente para me fazer mudar de
ideia, sei que ele pensa que pode consertar tudo o que fez e todas
aquelas palavras que disse. Fácil para quem as pronunciou, difícil
para quem as ouviu, porque dói em mim durante todo o maldito
momento. Tudo o que consigo pensar é nas palavras de Raphael,
naquela noite, no olhar e na sua expressão de nojo.
Já está sendo difícil para eu ter que lidar com tudo isso,
agora que estou grávida, tenho que pensar no meu bebê, no que é
melhor para nós dois. Principalmente no que seja melhor para o
bebê. Por mais que Raphael esteja tentando, eu sei que tudo o que
ele está buscando fazer é o certo, por isso colocou na cabeça que
tem que ficar comigo, uma mulher para a qual toda vez que olha, vê
uma traidora, alguém em quem não se pode confiar. Se eu acabar
me rendendo a ele, tudo o que teremos no futuro será
ressentimento, e quem sofrerá será nosso filho. Não quero que
Raphael fique comigo por obrigação, por achar que é o certo,
porque no fundo, nós dois sabemos que ele me detesta. Meu amor
por ele não é e nunca será correspondido. Nada do que esse
homem disser mudará minha opinião sobre isso. Raphael pode
pensar que me quer agora, porém com o passar do tempo
perceberá que foi tudo um erro, tudo pelo encargo da consciência,
por um filho que ele mesmo disse que não quer. Posso entender
que estava nervoso e que o peguei de surpresa ao dizer que estava
esperando um filho dele, no entanto pedir para eu abortar foi um
erro da parte dele. Dizer que foi apenas estresse, um colapso que
teve... nisso não acredito, visto que eu nunca mandaria alguém
abortar apenas por um estresse ou por ser pega de surpresa, pois
aborto é um assunto sério demais para ser dito por impulso. É algo
que tem que ser discutido e abordado de forma séria, não do jeito
que ele fez. Não que eu seja contra quem aborta, só que sou contra
alguém impor um aborto sem que ambas as partes estejam de
acordo. Foi o que Raphael tentou fazer.
Balanço a cabeça, tentando parar de pensar sobre o
assunto. Não quero ficar remoendo o que aconteceu três noites
atrás. Ainda tenho que pensar no ataque que sofremos no meio de
um restaurante, em toda essa tensão de um novo ataque sobre
minha cabeça e no que farei para me manter longe de tudo isso.
— Informarama mim que tem alguém aqui precisando de
companhia — Pulo ao ouvir a voz de Angel —, e que tem alguém
aqui esperando um bebê! — Bate palmas, olhando para mim.
— Oh, meu Deus! — exclamo ao vê-la. — Você voltou da
viagem! — Ela se joga nos meus braços, em seguida nós duas nos
abraçamos, rindo pelo momento. — Por que não me avisou?
— Soube o que aconteceu, então quis fazer surpresa —
responde, sorrindo.
Sentamo-nos no sofá.
— Raphael ligou-me perguntando se eu podia vir para ficar
com você. — Olho para o próprio, que dá a mim um pequeno aceno
de cabeça.
— Obrigada. — Gesticulo para ele.
— Você estava a ponto de enlouquecer. Resolvi não destruir
meu escritório pela segunda vez. — Seu olhar volta para as
papeladas nas suas mãos, bem como para o notebook à sua frente.
Queria perguntar a ele sobre “destruir o escritório pela
segunda vez”, saber quando foi a primeira vez e por qual motivo,
mas não pergunto, porque não sei se gostarei da resposta.
Volto minha atenção a Angel, que sorri para mim.
— Então... — Ela começa, olhando entre Raphael e mim —
vocês estão juntos ou algo assim?
Suspiro. Sabia que ela entraria nesse assunto. Angel sabe
muito bem da minha situação com Raphael, principalmente porque
ele a envolveu só para dar uma lição em mim, a qual acabou saindo
pela culatra.
— É complicado.
— Diga-me quando não é complicado, amiga. — Ela aponta
para a nossa volta. — Esse é o mundo em que vivemos, e
complicado
está escrito em cada parte desse mundo.
Respiro fundo, sabendo que ela tem completa razão. Não é
um mundo fácil, não é uma vida cheia de flores e corações.
Podemos acabar mortas, ou pior: torturadas em qualquer momento.
Porém, há momentos na nossa vida em que não há escolha. Há
momentos em que estamos tão no fundo do poço, que a única saída
é entrar para esse mundo. O que muitos não sabem é que só se sai
dele morto. A chance de sair vivo é de uma em um milhão, e eu
tenho essa oportunidade, Caspen deu-a para mim, sendo assim,
vou agarrar-me a ela. Vou agarrar essa chance antes que eu caia,
antes que essa vida me destrua ainda mais.
— Sim, é só que estou presa a ele até que toda essa coisa
de alvo nas costas acabe. — Atrás de nós, Raphael suspira.
Parece que ele está prestando atenção na nossa conversa.
— Você ainda vai embora? — pergunta, com interesse; seu
olhar, indo de relance para Raphael.
— Sim — digo, ao mesmo tempo que Raphael diz: não.
Balanço a cabeça, não querendo entrar em uma discussão
com ele e acabar dando uma de maluca. Não agora, que tenho
Angel aqui para me distrair de todo esse caos.
O celular de Raphael toca, ele o atende.
— Porra! — urra, batendo a mão na mesa.
Seu olhar é mortal. Angel segura minha mão, apertando-a.
— Tudo bem, estou indo. — Levanta-se, contornando a
mesa para abrir a porta do escritório.
— Raphael — chamo, mas nesse momento, ele não dá
muita atenção.
Miguel entra no escritório, seguido por Maddox. Os dois
acenam para mim e Angel, mas logo focam em Raphael.
— Aconteceu algo no Poseidon. Preciso sair com Dominic
para ver o que está acontecendo. Vocês dois ficam com elas. Elas
não saem daqui até eu voltar, e ninguém entra nessa porra.
Acionem a segurança da porta. — Com isso, ele sai do escritório,
tão rápido, que não dá tempo de perguntar o que está acontecendo.
Tudo o que sei é que Angel e eu estamos trancadas com
Miguel e Maddox até que Raphael volte para me buscar. Ótimo.
Simplesmente ótimo.
Observo Raphael, Dominic e Dimitria saindo do clube, todos
com olhares preocupados e tensos. Algo bem sério aconteceu.
— Eu deveria ter ficado em casa...

Raphael

— Sabe ao certo o que aconteceu? — Dominic pergunta,


olhando-me de relance.
— Não. Mason ligou a mim dizendo que houve um ocorrido
no Poseidon, e Hector queria-nos lá o mais rápido possível —
informo a ele.
— Para o meu irmão nos chamar, algo muito ruim
aconteceu. — Dimitria observa.
Exatamente por isso que eu não trouxe Phillipa comigo. Se
Hector nos quer lá, é porque a coisa foi bem séria. Phillipa não
precisa envolver-se. Não quero que fique mais estressada do que já
está, pois não faz bem para ela, nem para o bebê. Estou fazendo o
possível para a manter em segurança, mostrar que a quero, a ela e
ao nosso bebê, porém está sendo mais difícil do que eu pensava.
Phillipa luta comigo em cada momento que pode, tudo por culpa
minha, pelo que fiz durante todo o tempo em que esteve comigo,
pelas minhas palavras duras e frias a ela quando descobri sobre a
gravidez, tudo porque estava tendo uma semana ruim. Agora, a
mulher que eu quero está pensando em ir embora para o mais longe
de mim. Eu não posso culpá-la.
Parando o carro no estacionamento dos fundos, que é para
funcionários, logo saio do seu interior e corro para dentro, louco
para saber o que está acontecendo.
Do lado de dentro do estabelecimento, tudo está um caos.
Todos os seguranças estão em alerta. Não vejo nenhum dos outros
funcionários presentes. Como hoje é terça, era para algumas
meninas estarem presentes, treinando novos passos de dança para
começarem a apresentar no dia seguinte; e os outros funcionários,
arrumando tudo, deixando tudo pronto para o dia seguinte. Todavia
tudo o que vejo são os seguranças e, no canto, Hector, com os
braços cruzados e um olhar bem sério. Dou uma varredura com o
olhar à minha volta, tentando entender o que está acontecendo.
— Onde estão todos? — pergunto a Hector.
— Acabei de deixá-los no quarto do pânico. — Mason quem
responde, aparecendo na grande sala.
— Caralho! O que aconteceu? — pergunto, olhando entre
eles.
— Melhor me seguir. — Mason diz, com a voz tensa.
Logo meu corpo fica em alerta. Olho para Dominic e
Dimitria.
— Estaremos atrás de vocês. — Dom diz, então aceno com
a cabeça.
Caminhamos por um corredor longo e largo com várias
portas, após viramos para a direita, onde há uma sala bem grande e
arejada. Meu ar fica preso nos pulmões quando vejo a carnificina à
minha frente.
— Oh, céus! — exclama Dimitria, colocando as mãos na
boca.
Há sangue por toda parte: paredes, espelhos, sofás,
poltronas... Bem no meio da sala, há duas meninas esquartejadas.
Seus estômagos estão abertos, com tudo para fora; suas pernas,
inteiramente cortadas; seus olhos, abertos; e suas línguas,para fora
da boca. Já vi muitas coisas, muito sangue, muitos corpos
mutilados, mas isso é de embrulhar o estômago, porque são
meninas nossas. Era para elas estarem protegidas, cuidadas,
seguras, não brutalmente torturadas e mortas no meio do local de
trabalho.
— Que porra é essa? — pergunto, olhando para Hector. —
Como isso pode acontecer aqui dentro?
Meu primo olha para mim, sem dizer nada. Ele apenas olha
para a carnificina à nossa frente, calado, sem alguma expressão.
— Mason? — É a única coisa que Hector diz, com seu olhar
focado em Mason, já que ele, junto com Abgail, administra o clube,
a comando do mesmo.
Mason passa as mãos pelos cabelos. Sinto seu nervosismo
daqui, e por um instante, sinto muito por ele e por toda essa merda.
— E-eu não sei — resmunga. — Abgail e eu abrimos o
clube para os funcionários. Todos entramos juntos. Fui direto para o
escritório, então Abgail, junto com as meninas, veio para cá. Eu só
ouvi os gritos e, quando olhei as câmeras, pude ver o que tinha
acontecido. Vasculhamos todo o local. Está vazio e não há nada nas
câmeras. Quem fez isso sabia o que estava fazendo. — Ele explica,
soando agitado.
— Onde estão os dois seguranças que ficam aqui durante a
noite? — Dominic pergunta.
— Desaparecidos. — Dessa vez, Hector responde, entre
dentes.
— Caralho! Essa merda tem que ser resolvida.
— Sim, é por isso que os chamei aqui. — Hector sorri. —
Você, junto com Dominic e Mason, irão falar com os seguranças. Já
Dimitria, falará com as meninas. Quero respostas e não me importo
com o meio que as obterá, apenas tragam respostas — ordena ele,
olhando para cada um de nós, deixando bem claro o que quer que
façamos. — Liguem para a família das duas, diga-lhes o que
aconteceu e que obterão justiça. Diga que iremos cuidar de tudo,
principalmente deles. — Dando uma última olhada pelo lugar, ele
começa a se distanciar, pronto para ir embora. — Liguem para o
pessoal da limpeza também. Enquanto isso, tenho que informar a
Caspen a merda que está acontecendo. Quem quer que seja que
fez isso, é um dos nossos. Encontre-o. — Dá a sua ordem e sai,
sem mais alguma palavra.
Porra! Esfrego o rosto. A merda está ficando séria. Pego
meu celular e envio uma mensagem para Miguel, que está com
Phillipa e Angel no hotel, na parte do clube de luta.

EU: “As coisas estão sérias. Mantenha Phillipaem


segurança e adicioneo bloqueiodo escritório.Quando acabar aqui,
irei buscá-la.”

MIGUEL: “T
udo sob controle.”

Ele envia uma foto onde Phillipa e Angel estão sentadas de


frente para a TV do quarto anexado ao escritório. As duas assistem
a um filme qualquer.
Aliviado, sabendo que ela está bem, concentro-me na
bagunça à minha frente, bem como nos corpos das duas mulheres
no meio da sala. Marcus Esposito não está para brincadeira. Temos
que acabar com ele, antes que se intensifique mais as coisas.
Três horas depois...

— Foi um ataque premeditado — digo para Hector, já no seu


escritório, dentro da sua casa.
— Sim. O filho da puta acionou a polícia, que apareceu no
clube querendo respostas. Sorte a nossa que estávamos falando
com o delegado no momento exato em que os policiais bateram na
porta. — Dominic sorri.
Pelo menos nisso nós saímos por cima. Marcus realmente
pensou que faríamostudo às escondidas, que não adicionaríamosa
polícia pelo que aconteceu. Engano o dele e acerto o nosso,
principalmente porque temos o delegado na nossa lista de
pagamento.
— O que eu quero saber é se acharam quem fez aquilo. —
Hector pergunta, em tom mortal.
— Não, ninguém viu nada e não sabem de nada. As
câmeras foram desligadas; e nossos alarmes de aviso, também —
digo a ele, que soca a mesa, mostrando um pouco de emoção,
mesmo sendo a raiva.
— O que significa que foi um dos nossos. Temos um rato ao
nosso redor, e quero que o encontre — ordena ele, passando as
mãos pelos cabelos.
— Sim, nós já estamos nisso.
— Bom. — Acena com a cabeça. — Encontraram os
seguranças desaparecidos?
— Não. — Dominic responde.
— Então, estejam preparados para encontrar mais corpos,
porque com toda certeza, estão mortos. — Dimitria diz, olhando
para as suas unhas, como se fosse algo tão natural tudo o que está
acontecendo.
Sinceramente? Realmente não é nada novo. Sempre há
mortes, sempre algum inocente acaba sendo morto no meio de toda
essa merda. Marcus está indo longe demais, então temos que o
deter, antes que as coisas piorem.
— Sim, também acho que estejam mortos. — Dominic
concorda.
— Entrem em contato com os familiares deles, deem todo
apoio e suporte necessário. — Hector instrui. — Conversei com
Caspen e Lorenzo. Eles estão organizando-se para fazer uma visita
e planejar algo. Por enquanto, se mantenham atentos. Estou
fechando nosso ciclo de pessoas confiáveis. Quero novas câmeras
em todos os lugares, porém não iremos informar aos outros, tudo
fica entre nós quatro. Quero achar o rato o mais rápido possível, e
nesse momento, não podemos confiar em ninguém. — Hector olha
para mim, então sei que está referindo-se a Phillipa.
Caralho!
— Você acha que ela...? — Deixo a pergunta em aberto.
— Nesse momento, não confio em ninguém, todavia não,
não acho que possa estar envolvida. Porém, tentarão chegar até
ela. Marcus a quer. Temos que nos assegurar de que ele não a
tenha e de que ela esteja realmente do nosso lado.
— Hector, ela está esperando um bebê, meu bebê.
Não gosto do ponto dele. Phillipa é minha, e como minha
mulher, irei protegê-la de todos.
— Então acho melhor ficar de olho nela em dobro — diz,
sem demonstrar nada: nem raiva, nem preocupação, temor...
apenas uma tela em branco de um homem vazio.
O oposto de Caspen, que demonstra quão cruel e frio é,
Hector não demonstra, o que torna ainda mais difícil de lê-lo.
— Acharam algo sobre Esposito? — Dominic muda de
assunto, certamente sabendo que as coisas estão esquentando
entre mim e Hector.
Incomodasaber que Marcus possa usar Phillipa contra nós
e que Hector possa desconfiar dela, principalmente agora, que
estou tentando conquistá-la, fazê-la confiar em mim.
— Não há nada. O homem não passa mais de dois dias no
mesmo lugar. Ele é esperto, vem cobrindo seus rastros — responde
Dimitria.
Irritadocom toda essa situação, levanto-me da cadeira de
frente à mesa de Hector.
— Se não forem precisar de mim, estou de saída. Tenho
uma mulher para cuidar. — Com isso, retiro-me do escritório,
chateado.
Não demoro muito para chegar no hotel, indo para a parte
de trás. Envio uma mensagem avisando a Miguel que estou
chegando para que destrave o sistema de segurança, em seguida
adentro o escritório.
— Levem Angel para casa. Eu cuido de Phillipa — comando
a eles, que acenam com a cabeça. — De manhã, mantê-los-ei
informados sobre tudo. — Com isso, adentro o quarto onde Phillipa
e Angel dormem no momento, uma ao lado da outra.
Miguel acorda Angel. Seus olhos sonolentos abrem-se. Ela
boceja, encontrando meu olhar.
— Tudo bem? — pergunta.
— Não, mas vai estar. Miguel a levará para casa e ficará
com você.
Sem questionar, ela acena e o acompanha para fora.
Fechando a porta e ligando o sistema, resolvo ficar por aqui
mesmo. Não quero acordar Phillipa, já que está tão confortável e
dorme tranquilamente. Tiro meu terno, em seguida vou até o
banheiro. Tomo um banho rápido, após visto apenas uma cueca
boxer e deito na cama, ao lado de Phillipa, que resmunga em seu
sono. Puxo seu corpo para perto do meu.
— Acho que está passando do limite — resmunga.
— Apenas volte a dormir. — Beijo seus cabelos.
Ela é Phillipa, não é mesmo? Sempre lutando comigo.
— Está tudo bem? — pergunta, virando-se para ficar de
frente a mim.
— Não, mas ficará. Não precisa preocupar-se. — Ela acena
com a cabeça, então seus olhos voltam a fechar-se.
— Amanhã conversaremos — murmura, bocejando.
— Volte a dormir, Phillipa. Estarei aqui.
— Promete?
Sorrio, sabendo que ela só está assim por se encontrar
sonolenta e preocupada com o que possa ter acontecido. Um
momento de fragilidade da parte dela, e eu vou aproveitar o máximo
que puder. Estou sendo um canalha aproveitador por isso? Sim, no
entanto, que se foda.
— Prometo, gatinha.
Bônus
Enquanto todos deixam o clube, depois de toda a carnificina
que aconteceu com as duas pobres meninas (a qual eu mesmo fiz)
— Sim, estou muito orgulhoso com o meu trabalho —, deixo o clube
por último, indo em direção ao meu carro, no estacionamento, como
se nada tivesse acontecido, ou como se eu não fosse o culpado por
tudo. O motivo de estar fazendo isso? Apenas acho que os
Callahan’s amoleceram demais. Traidores continuam vivos,
mulheres comandam a organização, prostituas são tratadas com
respeito... Essa merda deles fede em toda a parte. Não são como
eram. Uma vergonha, porque a máfia é um nome que carrega
importância, poder, dinheiro... só que os Callahan’s são um bando
de bocetas, comandados por ideias e moral. Honra, eles não têm
honra.
Observando meu espelho retrovisor, tenho a certeza de que
não estou sendo seguido, então vou até meu ponto de encontro,
onde Marcus Esposito e Henry — ex-contratado dos Callahan’s —
encontram-se, esperando por mim. Paro o carro ao lado do dos
dois. Saindo, eles me saúdam com um aceno de cabeça.
— Tudo ocorreu como o planejado? — Marcus pergunta,
ajeitando seu blazer.
Olho para o homem à minha frente: seu rosto, com duas
cicatrizes horríveis; seus olhos pretos, sem emoção alguma... Um
homem cru que não se importa nenhum pouco com quem prejudica.
Se estão no seu caminho, para chegar no topo, ele apenas passa
por cima. É esse homem que merece comandar toda máfia e acabar
com os Callahan’ s.
— Não tudo. Eles entraram em contato com a polícia.
Marcus dá de ombros, não se importando que uma parte do
plano não ocorreu como ele esperava.
— Já havia cogitado essa hipótese, então não me importo
com isso. — Ele dá um sorriso cruel. — Temos que seguir com o
plano. Quero a traidora, quero passar uma mensagem. Traidores no
nosso mundo merecem a morte, não a porra de uma segunda
chance — acrescenta, com um sorriso malicioso nos lábios. —
Todos os Callahan’s irão cair, e eu vou me deliciar com a queda
deles.
Aceno com a cabeça, concordando com suas palavras. Não
sei como eles conseguiram estar no poder até agora. São uma
vergonha para a organização, para os antigos. Mancharam nosso
nome, mancharam quem somos.
— Não desconfiaram de você? — Henry pergunta, olhando
seriamente.
— Não. — Sorrio para ele. — Sou de confiança, Henry, e ao
contrário de você, não brinco em serviço.
— Seu...
— Rapazes, por favor, não vamos brigar agora. — Marcus
interrompe, olhando-nos seriamente, pronto para meter uma bala
nas nossas testas caso precise. — Temos que seguir com o plano.
— Ele olha para mim. — Traga-nos a traidora. — Cospe a palavra
traidora.
— Sim, Senhor Chefe.
Volto para o meu carro, sorrindo ao saber que iremos
esquentar as coisas. Preciso achar uma forma de deixar Phillipa
vulnerável, sozinha, e atacar. Se Marcus a quer, ele a terá, e eu
serei o homem para esse serviço.
Capítulo Doze

Phillipa

Sonolenta, resmungo, despertando-me do meu sono.


Bocejo, sentindo meu corpo acordar. Abro os olhos. O quarto está
meio escuro. Por um momento, lembro-me de onde estou e o que
aconteceu. É nesse exato instante que meu corpo congela, pois
percebo que ainda estou no clube e que há um corpo enrolado ao
meu. Que merda é essa? Tento mover meu corpo, mas o braço em
volta da minha cintura me abraça ainda mais apertado, puxando-me
para mais perto. Semicerro os olhos, ainda atordoada demais.
— Hum... — resmunga a pessoa atrás de mim.
Tento soltar-me mais uma vez, porém um peso a mais é
colocado em mim quando uma perna se encaixa entre as minhas.
Suspiro, sabendo muito bem que Raphael não irá soltar-me sem
uma luta.
— Tenho que me levantar — murmuro.
Sinto sua respiração na minha nuca. Meu corpo fica tenso
quando seus lábios beijam minha pele, fazendo-a se arrepiar.
— Está tão bom assim — resmunga.
— Não era nem para estarmos assim, Raphael. Deixe-me ir.
— Não, gatinha, apenas volte a dormir.
Viro meu rosto para o olhar. Seu semblante é de um homem
cansado, cheio de preocupações. Analiso suas rugas e os vincos
entre seus olhos formando um pequeno V na sua testa.
— Raphael...
— Não, Phillipa, só me deixe se segurá-la assim por mais
um tempo — pede, o que é estranho demais.
Raphael não é um homem meloso. Além do mais, ele não é
de pedir, apenas faz o que quer e quando quer. Esse novo lado dele
que estou vendo faz com que eu me questione, comece a duvidar
do que realmente devo fazer. Será que ele realmente mudou?
Podemos ter algo real e bonito juntos? Eu sei que uma pessoa não
muda de uma hora para outra. No caso de Raphael, de um dia para
outro. Não quero tornar-me uma mulher dependente dele, fraca e
burra por acreditar tão facilmente nas suas palavras.
Merda! Não faço ideia do que fazer neste momento, apenas
o deixo me segurar. Um pequeno lapso da minha parte, digamos
assim. Seus olhos estão fechados, mas sei que não voltou a dormir.
Há uma tensão no seu corpo.
— Conte a mim o que aconteceu ontem — peço.
Seus olhos se abrem, e mesmo com o quarto um tanto
escuro, posso ver o azul deles. Azul tão claro quanto o oceano.
Suspiro, pois a primeira coisa que me fez apaixonar-me por ele foi a
intensidade da cor do seu olhar. O modo com que ele percebe tudo
ao seu redor, com que seu olhar faz você perder-se de forma que
não quer voltar à realidade.
— Duas dançarinas foram mortas de forma horrível no
Poseidon ontem, e nós não temos a mínima ideia de quem tenha
sido. Achamos que seja alguém de dentro. — Engulo seco ao ouvir
suas palavras. — Há um traidor entre nós, Phillipa. — Ele diz, e não
é em um tom acusatório.
Raphael não desconfia de mim. Sinto-me aliviada ao saber
disso.
— Há algo mais, não há? — pergunto a ele, desconfiando
do seu olhar e do modo com que está tão ligado a mim, não
querendo soltar-me.
Raphael inspira, em concentração e, com isso, acena com a
cabeça, confirmando minhas suspeitas.
— Há algo que não lhe contei. — Paro de respirar por uns
segundos.
— O que realmente está acontecendo? — Minha voz treme
um pouco.
Antes de contar, Raphael vira-me para que eu fique
completamente de frente para ele. Seu braço direito me envolve e
ele entrelaça sua perna entre as minhas novamente.
— Só me diga logo, Raphael — peço a ele, em desespero.
— Está fazendo com que eu sinta medo.
Seja lá o que for que ele tenha para contar, não é algo bom,
não é um assunto que irei gostar, e de algum modo, sei que me
envolve.
— A pessoa que está fazendo tudo isso é um inimigo antigo
nosso, e pelo que sabemos, ele a quer, Phillipa. Ele sabe quem
você é, sabe o que fez, e quer você. Não sabemos se é para a usar
contra nós, achando que irá trair-nos novamente, ou se ele quer
fazer-lhe algum mal, mas ele a quer.
Mordo meus lábios, sentindo as lágrimas inundarem meus
olhos. Fecho-os, tentando fazer com que elas não escorram, porém
é impossível. A dor, a decepção de saber que não importa o quanto
eu tente tornar-me melhor, mostrar que não sou uma traidora, meu
passado e o que fiz nunca me libertarão de verdade, sempre
estarão agarrados a mim, como uma sombra. Essa pessoa que me
quer é a prova de que não adianta o que eu faça, todos me veem
como uma traidora.
— Não irei traí-los — sussurro.
Abrindo meus olhos, encontro o olhar compreensivo de
Raphael. Mais uma vez, ele mostra que confia em mim, pelo menos
por agora.
— Eu sei disso, Phillipa. E é por isso que achamos que ele a
quer para mandar um recado. Se ele tivé-la, não será bom.
Respiro fundo ao saber que algo de ruim possa acontecer
comigo e com o meu bebê.
— É por isso que voltou a morar comigo, e por eu ter mais
segurança ao meu redor. — Ele concorda com a cabeça.
Tento levantar-me da cama, sentindo-me estranha,
querendo espaço para pensar sobre tudo o que está acontecendo,
porque agora que caiu a ficha de que estou realmente envolvida em
tudo. Todavia, Raphael antecipa minha ação, segurando-me contra
si, colocando minha cabeça na curva do seu pescoço. Ele me
segura apertado enquanto processo o que está acontecendo. Sou
um alvo, o alvo que algum louco quer para usar. Com minha cabeça
no seu pescoço, sinto seu cheiro lavado, ficando ciente do seu
corpo colado ao meu e de como nos moldamos tão perfeitamente,
em cada músculo do seu corpo e, principalmente, em como essa
aproximação desperta meus sentidos, meu corpo.
— Eu vou protegê-la, Phillipa. A você e ao bebê. Eu
prometo.

Raphael – T
rês horas depois...

Com pura frustração, observo mais uma vez as câmeras de


segurança do clube Poseidon, não encontrando algo suspeito, o que
faz com que eu tenha a certeza de que é alguém de dentro, alguém
da nossa confiança. Esfrego meu rosto, já me sentindo cansado
com essa merda. Nunca temos um momento de descanso, sempre
estamos em guerra. Essas porras não aprendem? Todos que
entram em guerra conosco perdem, é um fato, mesmo assim,
sempre há um querendo, achando que pode nos vencer. Patético.
Olho para a porta quando sou interrompido por uma batida.
Ergo meu olhar, encarando-a. Três homens adentram meu
escritório, junto com Maddox e Miguel.
— Caspen mandou-nos como apoio. — Alex, o atirador de
elite, diz, dando um sorrisinho para mim. — Porra, cara, no que você
se meteu? — pergunta, ajeitando seu blazer.
Dou um pequeno sorriso para os homens à minha frente.
Senti falta deles. Todos nós os conhecemos como homens de Lori.
São homens aposentados dos seus serviços prestados ao governo.
Agora, são homens de Caspen. A ajuda deles será muito bem-vinda
nessa merda toda que está acontecendo.
— Então, o que quer que nós façamos? — Emílio pergunta,
olhando para mim. — Você é quem dá as ordens agora. — Pisca
para mim, e balanço a cabeça.
— Por favor, sentem-se. Vocês, também, Maddox e Miguel.
Tenho que contar o que aconteceu e no que preciso de vocês. —
Aponto para as cadeiras de frente à minha mesa.
Observo-os acomodando-se nos seus lugares.
— Então, que merda houve? — pergunta Miguel, olhando-
me, com seriedade.
Suspiro, passando as mãos pelos cabelos, não sabendo por
onde começar. A coisa foi tão horrível, que só de pensar, dá nojo. É
claro que já estamos acostumados com todas as mortes, mas nunca
é fácil quando uma mulher é morta de forma tão cruel. Nessa
situação, foram duas mulheres. Duas mulheres foram estupradas,
torturadas e estripadas, tudo enquanto estavam vivas. O laudo
médico comprovou mais cedo que as duas estavam vivas enquanto
eram brutalmente torturadas.
— Marcus Esposito vem de uma família antiga. Na Cosa
Nostra havia quatro famílias que viviam em harmonia. Cada uma
delas tinha uma parte da cidade e, juntas, comandavam tudo. As
famíliaseram: os Callahan’s e os os Morettis, onde o chefe era o pai
de Sophia e Ariel... Quem comanda agora é Antony, o filho mais
velho — digo, e eles me olham, com surpresa, enquanto sorrio. —
Sim, elas são literalmente princesas da máfia. Também havia os
D’Angelos e, por último, os Espositos. Porém os Callahan’s
começaram a discordar de certas regras e leis, com isso, travamos
uma guerra para ser independentes, para ter nosso próprio nome. E
é claro, com o apoio dos D’Angelos e Morettis, conseguimos,
viemos para os EUA e formamos nossa própria máfia. Os Espositos
foram os que não aceitaram, mas deixaram para lá, pois
perceberam que tínhamosmuito apoio e poder. Entretanto, pelo que
parece, ressurgiram do nada, querendo nos deter, e ele está
decidido a acabar com todos nós. Marcus Esposito é um homem
das antigas com costumes antigos.
— Porra, cara, sempre há alguém querendo a cabeça de
vocês. — Maddox comenta. — E eles não aprendem?
— Pelo jeito, não. — Emílio aponta.
— Sim, e essa merda nunca vai acabar. O problema é que
pessoas inocentes estão sendo pegas e mortas pelo caminho
enquanto a guerra é travada. Ontem, duas mulheres foram
brutalmente assassinadas no Poseidon. — Pego o envelope,
entregando-o a Miguel, que o abre e repassa as imagens de dentro.
Fotos. Fotos das duas mulheres junto com o laudo da
perícia dizendo a causa da morte.
— Puta que pariu! — Alex exclama, ao ver as imagens e o
laudo médico.
— Imagensdas câmeras? — Charlie pergunta, olhando-me,
nem um pouco interessado em olhar para as fotos.
— Não há nada, foram desligadas antes do crime e
religadas por Mason quando chegou no local com Abgail. — Ele
balança a cabeça.
— Issoé suspeito pra caramba. — Miguel diz, olhando-me,
e eu aceno com a cabeça.
— E eu não sei? — digo, frustrado com toda a situação. —
É por isso que nosso círculo de pessoas confiáveis se fechou.
Alguém de dentro fez essa merda. Nós iremos descobrir quem é
esse desgraçado. — Bato na mesa.
— O que quer que façamos? — Alex pergunta, olhando-me,
em seguida espera pelo meu comando.
— Maddox e Miguel ficaram responsáveis pela segurança
de Phillipa. Descobrimos que Marcus a quer, e sabemos muito bem
o que ele fará com ela se a pegar. — Maddox e Miguel concordam
com a cabeça. — Vocês irão comandar Christian e Jordan, assim
como toda a esquipe que fica de guarda na casa. Já lhes informei,
mais cedo, sobre minha decisão.
Meus olhos se voltam para Alex, Emílio e Charlie.
— Alex será meu guarda-costas particular, pois o quero
comigo enquanto eu estiver no clube de luta. Enquanto eu trabalho,
o quero de olho em tudo. Seu olhar de atirador saberá detectar
qualquer coisa suspeita. Agora, Emílio e Charlie irão ficar no
Poseidon, porém não quero que os funcionários saibam quem são.
Façam-se de clientes. Finjam que são apenas homens neutros que
só querem diversão. Infiltrem-se entre as mulheres. Elas falam
quando sentem que estão seguras. Quero que descubram tudo o
que puder até chegarmos no traidor — ordeno a eles, que acenam,
em acordo.
Os demais acenam igualmente. Agora, tudo o que tenho que
fazer é avisar Hector e deixá-lo saber o que planejei. Nós estamos
em guerra, e Marcus Esposito começará a sentir o peso que nosso
nome tem.

Uma hora depois...

— Issoé tudo o que encontrei sobre Marcus Esposito. —


Dimitria diz, entregando uma pasta para Hector. — Ele está
começando por baixo, tem controle de três cafetões da cidade,
também tem envolvimento com Olavo duas caras, O’Connell, o
grande traficante de armas da cidade, aquele com quem negamos
fazer negócios. Marcus está com ele contrabandeando armas para
pequenas organizações e mulheres. E soube também que ele
entrou em contato com alguns CEO’s da cidade para fazer negócios
no sistema de jogos. Alguns negaram, outros já aceitaram ao menos
se encontrar com ele para uma reunião. — Joga-se contra a
poltrona. — Tem mais algumas coisas aí dentro e todos com quem
Marcus está entrando em contato para fazer aliança, mais aqueles
que não gostam de nós e sempre procuram uma oportunidade para
nos derrubar. Ahh, maninho... Marcus está planejando trazer para a
cidade uma carga de mulheres ao tráfico sexual, pelo que parece.
Olavo quer expandir seus negócios. Mas já entrei em contato com
Amélia. Ela irá mandar uma equipe para interceptarmos a carga e
levar as meninas em segurança para um abrigo.
Hector acena com a cabeça, colocando a pasta sobre a
mesa. Ele olha para todos que estão no seu escritório, no Hotel
Zeus. Somos contra o tráfico sexual em si. É claro que vendemos
sexo, porém nossas mulheres são bem-cuidadas e protegidas. Elas
estão conosco por escolha, não porque são obrigadas. Nós
chamamos isso de honra, outros chamam de vergonha.
— Dominic, quero que faça uma visita para os cafetões da
cidade, deixando bem claro quem é que manda, e aproveite para
falar com as meninas. Fiquei sabendo que eles têm recrutado
menores de idade. Caso tenha mesmo, quero que as tire de lá e
ofereça proteção em nome dos Callahan’
s — ordena.
— E quanto a Olavo? — pergunto, olhando-o, com cuidado.
Um pequeno sorriso se forma no canto da sua boca. É
estranho ver um sorriso repuxando o canto dos seus lábios, sendo
que seu olhar e todo o resto do seu rosto não demonstram emoção
alguma, apenas uma calma fria e calculada.
— Esse, eu mesmo vou visitá-lo. E Raphael, você irá
comigo. Aproveite e leve Alex. Ele é um excelente atirador.
Podemos precisar dele. — Olha para Dimitria, que está digitando no
seu celular, não prestando atenção ao que o irmão está dizendo. —
Dimitria...
— Já estou ciente do que devo fazer, irmão. Estou
marcando meus encontros com os CEO’s nos quais Marcus está de
olho. — Ela sorri.
Essa é a primeira vez que a vejo como uma mulher que faz
parte dos negócios da família. Uma mulher séria que não se importa
em usar sua sensualidade para obter respostas e conseguir o que
quer. Uma mulher da máfia, tão má quanto todos os homens da
família, tão cruel quanto Carter e Amélia, tão esperta quanto Lori.
Na verdade, parando bem para analisar, Dimitria chega a ser pior do
que Lori e Amélia, pois elas só entraram para esse lado escuro
quando foram envolvidas em todo o caos. Antes disso, eram
mimadas e irresponsáveis, sempre fugindo para uma noite nas
baladas de New York. Dimitria não. Olhando para ela, percebo que
sempre esteve envolvida, apenas soube esconder muito bem,
mostrando seu lado apenas quando necessário. Como agora.

Phillipa
Estou trancada em uma suíte, no Hotel Zeus, com Zoe,
olhando para Miguel e Maddox. Ao lado deles estão Christian e
Jordan. Os quatro se encontram concentrados em mim. Estamos
esperando por Angel para podermos aproveitar o dia no hotel, com
tudo o que ele possa oferecer.
— Isso é assustador. — Zoe comenta, em um murmúrio.
Seu olhar está nos rapazes — rapazes não, homens.
Homens grandes e fortes à nossa frente.
— Já estou acostumada — digo a ela, dando um sorriso
reconfortante.
Zoe apenas acena com a cabeça.
— Antes de irmos, temos que passar o cronograma da sua
segurança com a Senhorita. — Miguel diz, olhando-me, e eu aceno
para ele.
— Raphael colocou-nos no comando da sua segurança —
começa Maddox. — Somos responsáveis não só pela sua
segurança, mas também pela da casa em que está vivendo, por isso
queremos passar para você como será a partir de agora. — Esfrego
minha barriga enquanto ele fala.
Tudo o que quero é proteger meu bebê de toda essa
confusão, de toda essa matança ao meu redor, esse ar de
desconfiança, de luta e toda essa situação desconfortável. Não é
um lugar agradável para criar um bebê.
— Nós mudamos o cronograma. A partir de agora, Maddox
e eu ficaremos com você na parte do dia; Jordan e Christian, na
parte da noite. — Miguel explica.
— Se vocês são responsáveis pela minha segurança e
Raphael confia tanto nos dois, por que não se revezam? —
pergunto, olhando-os. — Poderiam trocar. Um fica comigo de dia; e
o outro, à noite. Apenas trocam com Jordam e Christian — digo.
— Não, será mais seguro nós dois ficarmos juntos e na
parte do dia, pois é quando você estará mais exposta...
— Porém, a maioria dos ataques pode ser durante a noite,
certo?
— Sim. — Maddox acena com a cabeça. — Só que,
Raphael estará com você. Junto com Alex, Jordan e Christian, você
estará protegida.
Estreito meus olhos.
— Quem é Alex? — pergunto, desconfiada.
— Ele é um dos nossos. Caspen mandou mais homens para
reforçar a segurança. — Miguel explica, dando um pequeno sorriso
a mim.
— Não acho sábio discutirmos nossos assuntos com ela. —
Jordan comenta, dando um olhar sério a mim.
— Não estou interessado no que acha ou não sábio, Jordan.
É por isso que Miguel e eu somos os responsáveis pela segurança
de Phillipa, não vocês. Tudo o que tem que fazer é nos obedecer.
Entendeu? — Maddox olha para Jordan e Christian, dando a eles
um aviso silencioso.
Mordo meus lábios, contendo o sorriso que insiste em
formar-se. Ao meu lado, Zoe aperta minha mão. Seu corpo está
tenso.
— Alex é um dos homens de Lori, estou lembrada agora —
comento, tentando aliviar um pouco o ar.
Lembro-me dos homens de Lori. Se não me engano, eram
cinco homens que Lori tinha de sua confiança, todos trabalhando
para ela.
— Exatamente. Ele é o segurança pessoal de Raphael. —
Miguel sorri para mim. — E é por isso que não precisamos ficar com
você durante a noite. Você terá Raphael e Alex consigo, além de
Jordan e Christian.
— E quando Raphael estiver ocupado?
Não é que eu não confie em Jordan e nem no Christian, mas
não quero pensar que algo possa acontecer comigo quando eu
estiver apenas com eles. Os dois já cometeram erros antes. Se algo
acontecer com o meu bebê...
Balanço a cabeça. Só o pensamento já me apavora.
— Se Raphael não puder ficar com você durante a noite,
Maddox e eu prolongaremos nosso turno até que ele tome nosso
lugar. — Miguel explica, acalmando-me um pouco. — Está de
acordo? — pergunta, olhando-me, e espera por minha confirmação.
— Sim, eu estou. — Dou um pequeno sorriso a eles.
— Bom. — Ele se vira para encarar Jordan e Christian. —
Estão dispensados — comanda, fazendo com que os dois se retirem
da suíte. — Agora que temos tudo esclarecido, podemos descer
para o seu dia de meninas. — Dá uma piscadinha para mim.
Capítulo Treze

De olhos fechados, um pequeno sorriso puxa o canto da


minha boca. Muito, muito bom. Era exatamente o que eu precisava
para relaxar e esquecer um pouco o que está acontecendo na
minha vida ultimamente.
Zoe, Angel e eu estamos recebendo massagens no spá do
Hotel Zeus, e deixa eu contar: é maravilhoso! Minha vontade é de
ficar aqui para sempre. Sério, aqui não há problemas, não há tiros.
Sem seguranças e principalmente sem Raphael. Nada do drama em
que minha vida está metida. Perfeito. Era o que eu realmente
precisava: ficar com as meninas e apenas aproveitar o dia, sem
preocupações, apenas me divertindo.
— Então... — Angel começa.
Suspiro. Estava bom demais para ser verdade. Já estava
esperando pelas perguntas.
— Sim?
— Bem...
— O que ela quer saber é se você e Raphael estão juntos.
— Zoe a interrompe.
— Zoe... — Angel diz, envergonhada.
Abro meus olhos, erguendo um pouco a cabeça para fora da
maca de massagem, na intenção de olhá-las. Minha boca se abre,
mas logo a fecho, não acreditando na pergunta. As duas sorriem
para mim como se não fosse nada demais.
— Não acredito que me fizeram essa pergunta — digo,
sentindo-me um pouco ofendida.
— O quê?! — exclama Zoe, sorrindo para mim.
— É uma pergunta válida. — Angel diz, dando de ombros.
— O que eu quero dizer é que não faço ideia de onde
tiraram essa hipótese — resmungo, fazendo biquinho para elas, que
riem de mim.
Volto a colocar minha cabeça na almofada da maca. Sério
mesmo que elas pensam que Raphael e eu somos um casal? Não
dei nenhum indício de que somos mais. Por mais que as coisas
estejam um pouco mais fáceis com nós dois, não significa que eu
caí nas suas graças e cedi, não depois de tudo o que passamos e
tudo o que ele falou. Suas palavras ainda estão vivas dentro de
mim, corroendo cada parte do meu cérebro.
— Qual é, Phillipa...? Ele está morando com você, vocês
estão mais confortáveis um perto do outro, e eu não sou cega. Vejo
a forma que ele a olha, também sabemos o que sente por ele. —
Viro minha cabeça para a minha direita, onde Angel está recebendo
sua massagem.
— O fato de acharem que sou tão fácil assim me magoa. —
Elas suspiram.
— Não a achamos fácil, Phillipa.
— Não, não achamos — concorda Zoe. — Você é uma
mulher adulta apaixonada pelo pai do seu bebê, que por sinal, tem
se mostrado arrependido, além de que toda vez que a olha, quer
devorá-la. Chega a ser desconfortável a forma com que ele a
observa.
— Tão intenso — murmura Angel.
— Nós não estamos juntos — digo a elas. — Sim, as coisas
têm sido um pouco mais fáceis, e mesmo que ele me irrite pela
maior parte do tempo, não é tão ruim assim o ter por perto, porém
não consigo apagar da minha mente tudo o que vivemos e todas as
palavras ditas. Neste momento, tenho muito com o que me
preocupar, não tenho tempo para pensar sobre onde meu
relacionamento com Raphael está. Meu bebê é minha maior
prioridade, além de, é claro, continuar viva. — Sorrio para elas. —
Agora, será que podemos, por favor, mudar de assunto? — Elas
riem.
— Sem Raphael hoje, então. — Angel diz.
— Sim, sim! — grito, batendo palmas.
— Sem nenhum homem em nossa conversa hoje. — Zoe
comenta, e sei que ela está referindo-se a Dominic.
Esses dois ainda vão acabar ficando juntos, o que será
interessante.
Duas horas depois, nós três estamos fazendo compras no
pequeno shopping dentro do hotel. Sim, eu sei. Nunca se passou
pela minha cabeça que um hotel teria tantas coisas. É loucura total.
Um dia não é o suficiente para aproveitar tudo o que o local oferece.
Se eu listasse tudo o que há aqui dentro, ficaria durante horas
falando. Agora, eu sei por que ele é considerado o melhor de Vegas.
— O que acha desse? — pergunto, ao sair do provador e
subir em um pequeno degrau, ficando de frente para um espelho.
Zoe e Angel também saem dos provadores, ao lado do meu,
cada uma em um vestido diferente.
— Uau! — exclamo, olhando às duas, que sorriem para
mim.
— Esse vestido ficou perfeito em você, Phillipa.
— Sim, você tem que levar ele. — Zoe acena com a cabeça.
Sorrio ao olhar-me no espelho, passando as mãos pelo meu
corpo e sentindo o tecido sobre minha pele. O vestido é branco,
colado ao corpo, com mangas compridas. Nas costas, é aberto até a
bunda, com brilho em volta de toda a abertura e um colar na parte
de cima, no pescoço, que contém uma corrente pendurada entre
minhas costas. É bem sensual.
— Não tenho onde o usar, seria uma pena levá-lo para ficar
guardado — comento, sem tirar meu olhar do espelho.
— Você pode sair daqui com ele. Estamos de cabelos e
unhas feitas, ainda vamos ao cassino do hotel, então poderá
aproveitar hoje esse vestido maravilhoso. — Angel sorri, dando uma
piscadinha.
— Bem, vou comprá-lo se as duas levarem o que estão
usando — digo, dando a elas meu melhor sorriso.
— Bom, uma vez na vida, tenho que me dar o luxo de algo
assim, não é mesmo? — pergunta Angel, olhando para o seu
vestido azul.
É um pouco parecido com o meu. A única diferença é que
seu vestido não tem mangas compridas e seu decote é na parte da
frente. Já Zoe está com um vestido vermelho. A parte da frente é um
corpete. Ela está tão linda e sensual. Tenho certeza de que Dominic
perderá a cabeça quando a vir. É por isso que a quero nesse
vestido.
O quê? Nada como uma boa emoção para ver, e melhor
ainda quando não é comigo.
— Eu topo! — Zoe sorri, dando uma voltinha em frente ao
espelho. — Esse vestido caiu-me muito bem, então, estou louca
para sair daqui com ele no meu corpo. — Dá um pequeno sorriso
sonhador, e imagino que esteja pensando na reação de Dominic.
— Você está sonhando acordada, Zoe — brinco, fazendo-a
corar.
— Oh, eu posso até imaginar com quem ela está sonhando.
— Angel remexe as sobrancelhas.
— Vocês duas são malvadas. — Zoe diz, de cara feia. — E
eu não estou sonhando com ninguém.
— Uhum... continue mentindo para si mesma. — Pisco para
ela. — Tudo bem, vamos fazer mais algumas compras, em seguida
partiremos para o cassino. Quero jogar um pouco.
Tiramos a etiqueta do vestido e entregamos para a
vendedora que está atendendo-nos.
— Vamos levar esses vestidos — informo a ela, que abre o
maior sorriso, feliz porque ganhará uma boa comissão por eles. —
Também queremos escolher mais coisas. — Ela acena com a
cabeça.
— Fiquem à vontade. Estarei à disposição de vocês. —
Retira-se, dando privacidade.
— Aposto que ela está fazendo uma dancinha da felicidade
pela venda. — Angel sorri para mim.
— Pode apostar. Esses vestidos custam uma fortuna. —
Zoe balança a cabeça, olhando para o preço.
Sorrio para ela, porque é pura verdade. Os valores dos
vestidos são exuberantes, tanto que só estou levando o meu porque
realmente amei ele. É claro, vou gastar um pouco do dinheiro de
Raphael, já que ele não quer que eu trabalhe. Nada mais justo,
certo?
Uma ideia se forma na minha mente. Oh, ele vai pirar
quando vir a conta do cartão... ou não. Dou de ombros, não me
importando nem um pouco. Foi escolha dele, não minha.
— Ireipagar o vestido de vocês. — Zoe e Angel me olham,
surpresas. — Não falem nada. É o meu presente por me apoiarem e
por estarem comigo. — Sorrio para elas, que acenam, com
entusiasmo. — Vamos, agora escolheremos mais algumas coisas.
— Nada tão caro quanto o vestido, por favor. — Angel
comenta, fazendo-nos rir. — É sério, eu ganho bem, mas se eu
continuar comprando coisas tão caras assim, vou ficar sem nada. —
Balança a cabeça. — Por que coisas bonitas custam tanto? Eu amo
sapatos, porém toda vez que vou comprar um, volto com depressão
pelo preço que eles custam. O valor de um salto custa praticamente
minha conta do mês! É loucura.
— Tão injusto com pessoas como nós, meros mortais. —
Suspiro.
— Nem me diga. Eu vivi a maior parte da minha infância e
adolescência presa em um porão. Agora que estou livre e tenho
tudo, já que os Callahan’s me adotaram, eu não faço ideia do que
fazer durante a maior parte do tempo, assim como fico um pouco
receosa de gastar todo o dinheiro que eles me dão. — Os ombros
de Zoe caem e ela dá um pequeno sorriso triste. — É estranho.
Acho que nunca vou acostumar-me com a liberdade.
— Parece que sempre estará presa — comento, sabendo
como ela se sente.
Sinto o mesmo. Por mais que eu esteja livre, no fundo, bem
lá no fundo, me sinto ainda presa não só no porão de Caspen, como
também à minha antiga vida, à minha mãe morta e a todo o horror
que veio com ela. Perece que tudo o que estou vivendo é apenas
um sonho, que a qualquer momento, irei acordar naquela cela, ao
lado de Dimitri.
— Ah, não, não e não. — Angel balança a cabeça, olhando
entre mim e Zoe. — Prometemos que hoje nós iríamos divertir-nos.
Nada de histórias tristes. — Ela pega nas nossas mãos, arrastando-
nos pela loja. — Vamos, meninas, temos compras a fazer.
Sabe aquele momento de filmes? Aquele momento em que
duas ou mais amigas se juntam e se arrumam para curtir a noite,
então quando chegam no lugar, todos param para as observar, de
tão lindas, sexys e poderosas que estão? Aquele pequeno, porém
maravilhoso momento em que elas chegam arrancando suspiros e
olhares por onde passam, caminhando com pura confiança e um
sorriso nos lábios por terem esse poder? É o momento estragado
por Dominic e Raphael. Tudo estava indo muito bem, estávamos
todas arrumadas e belas, cheias de confiança, desfilando pelo hotel.
Em cada lugar que passávamos, as pessoas paravam para nos
olhar. Suas bocas abriam-se, em puro choque. Seus olhos
arregalavam-se. Os homens olhavam-nos com pura admiração e
desejo. Estávamos prontas para adentrar o cassino e arrancar ainda
mais suspiros das pessoas, todavia assim que chegamos na porta
de entrada, antes de os seguranças abrirem-na para nós, Raphael e
Dominic apareceram na nossa frente. Não é o que estávamos
esperando, porém adorei ver a reação não só deles, mas do cara
que está próximo a Raphael, o qual acho que seja Alex.
— Que porra é essa? — Dominic pergunta, olhando-nos.
Seu olhar foca em Zoe, e sorrio interiormente, porque posso
ver as rodas girando na sua mente, o exato momento em que sua
cara se fecha e ele a olha com puro e completo desejo. Está calor
aqui!
— Caralho! — urra Raphael, fazendo meu foco ir para ele.
Não queria olhar para esse homem. Estou evitando sua
presença, no entanto a forma com que a palavra foi pronunciada faz
com que meu olhar se encontre com o seu, então me sinto fraca.
Seus olhos avaliam cada parte do meu corpo. Primeiro, ele olha
meu rosto, caindo para o meu pescoço, o que me faz engolir seco,
em seguida desce para os meus seios. Ele observa cada curva,
cada pequena parte do meu corpo. Sinto como se fosse uma
carícia,uma deliciosa e prazerosa carícia,como se seu olhar fosse
uma corrente elétrica passando pelo meu corpo, fazendo com que
minha pele se arrepie. Tudo o que eu queria nesse momento era
fechar meus olhos e apenas me render a esse desejo ardente.
Mordo meus lábios, contendo o desejo de gemer. Raphael
dá a volta pelo meu corpo. No exato momento em que ele vê a parte
de trás do vestido, ouço-o rosnar:
— Oh, caralho... — Sua voz é baixa e tão intensa, como um
pequeno sopro de vento passando bem no meio das minhas costas,
fazendo eu sentir-me molhada entre as coxas.
Junto minhas pernas, contendo o desejo de pular em cima
dele e me esfregar no seu corpo, tentando aliviar o que sinto neste
momento. Não era assim que eu estava imaginando que seria
minha noite com as meninas. Esta noite está indo para um rumo
totalmente diferente, e eu não faço ideia do que fazer quanto a isso.
— Vamos. — Raphael pega na minha mão.
Tremo ao sentir sua pele na minha. Droga! Controlo as
batidas do meu coração, tentando acalmá-lo um pouco. Olho para
Angel e Zoe, pedindo socorro a elas, mas as duas estão olhando-
me com pequenos sorrisos. Estreito meus olhos para ambas.
— Traidoras. — Gesticulo para elas, que apenas sorriem
mais para mim. — Raphael, esta é uma noite de meninas.
— Não é mais. — Dominic responde por ele, pegando Zoe
pelo braço. — Estamos indo para casa.
— Não estamos, não — rebate Zoe. — Angel e eu iremos
aproveitar a noite.
— Não vão, não. — Dominic sorri. — Estou levando-a para
casa, onde possa estar segura, longe desses abutres que estão
olhando-a.
Zoe abre e fecha a boca, sem saber o que dizer. Por fim, ela
suspira, dando um rolar de olhos.
— Sinto muito — sussurra para Angel, que dá de ombros.
— Posso aproveitar sozinha.
— Você também está indo para casa. — Para a surpresa de
todos, quem fala é Alex.
Percebendo que todos estão olhando-o, ele apenas balança
a cabeça.
— Ela é amiga das duas, provavelmente um alvo fácil.
Podem usá-la contra nós. Não é sábio deixá-la aqui — explica ele,
fazendo mais sentido.
Raphael suspira ao meu lado. Sua mão ainda segura a
minha, em um aperto forte, fazendo-me consciente do toque, da
nossa aproximação. Seu dedo polegar esfrega minha mão, fazendo
meu corpo responder à carícia.Ardo em desejo, imaginando outros
lugares que ele possa acariciar, o que faz minha mente voltar para
aquela noite de pura intensidade.

“Sua boca toca meu corpo, fazendo-me estremecer.


Percebendo, Raphaelbeijacada pequeno pedacinhoda minhapele.
Sua mão toca-me, acaricia
ndo minha pele, trazendo pequenos
arrepios...
— Raphael... — gemo seu nome.
— Você gosta disso, Phillipa?
— Sinto seus dentes
arranhando minha pele.
— Oh! — resmungo, tremendo.
— Sim, você gosta quando minha boca está em você. —
Sinto-osorrir. — Já posso imaginarcomo será quando minhaboca
tocar sua boceta. — Ele me lambe. — Caralho, gostosa demais...”

— Phillipa? — Pulo quando sou sacudida.


Pisco repetidamente algumas vezes, tentando concentrar-
me no presente. Olho para Raphael, que tem um pequeno sorriso
nos lábios. Droga!
— Desculpem-me, estava pensando — digo, sentindo
minhas bochechas corarem.
— Despeça-se das suas amigas. Estamos indo para casa.
— Raphael comanda.
Puxo minha mão da dele, que não me solta. Olho para ele,
que apenas dá um sorrisinho de lado. Não vai soltar-me, e a
verdade é que não quero que ele me solte.
— Ligarei para vocês amanhã, depois da minha consulta
médica. — Dou um abraço desajeitado em cada uma delas, já que
minha mão está presa na de Raphael.
— Apenas aproveite sua noite. — Angel sussurra ao meu
ouvido, dando uma piscadinha quando a solto do meu abraço.
Rolo os olhos. Não tenho tempo de dizer muito, pois
Raphael logo me leva para longe delas. À nossa volta estão Maddox
e Miguel junto com Alex. Dominic parece que ficou encarregado de
cuidar de Angel e Zoe.
— Consulta médica? — pergunta Raphael, abrindo a porta
do carro.
Entro no veículo, e ele se junta a mim. Na parte da frente,
agora, estão Maddox e Alex; no carro de trás, Miguel, com mais dois
seguranças, os quais apareceram assim que saímos do hotel.
— Sim, marquei uma consulta de emergência enquanto
estava com as meninas. Quero saber se tudo está bem depois do
que aconteceu na última consulta que tive — digo.
Raphael acena com a cabeça.
— Irei com você.
— Não precisa, posso ir sem você. Sei que tem muito o que
fazer.
— Eu irei com você — repete, sendo mais firme e
encerrando o assunto.
Não discuto com ele, pois não adianta. Sei que vai, eu
querendo ou não.

Assim que entro na casa, eu paro.


— O quê? — Olho em volta, não acreditando no que estou
vendo.
O chão está todo iluminado com velas. Na parte do teto há
pequenas luzes penduradas. Bem no meio da sala há uma mesa
com duas cadeiras, e em cima da mesa, uma refeição pronta.
Sinto a mão de Raphael nas minhas costas. Olho para ele,
sem entender o que está acontecendo.
— Nossa última refeição foi estragada, então resolvi
preparar algo mais íntimo, onde não seremos atacados — explica
ele. — Você gostou?
Merda! Não estava esperando por isso, portanto, não faço
ideia do que fazer. Sei que ele está tentando redimir-se pelo que fez
durante todos esses anos e pelo que falou a mim algumas noites
atrás, mas não sei se apenas uma noite será o suficiente para
seguirmos em frente. Droga! Eu vou embora, então não acho que
seguir em frente está no meu plano, não com Raphael. Dói pensar
nisso, porém se eu quero dar uma boa vida ao meu filho, tenho que
sair daqui. Não posso cuidar dele em meio a tantas guerras. Essa
vida não é para uma criança. Suspiro, sem saber o que dizer a ele.
— Acho que não. — Raphael murmura.
— Não, eu gostei — digo, olhando-o. — É só que eu não
estava esperando por nada disso. — Aponto para a sala e toda a
arrumação.
Raphael sorri para mim, levando-me até a mesa. Ele puxa a
cadeira para eu sentar-me.
— Essa é a ideia da surpresa. — Senta à minha frente. —
Dimitria quem organizou tudo, eu apenas disse que queria algo
especial. Acho que ela fez bem.
— Sim, ela fez. Tudo está lindo.
— Bom...
Esta noite não está indo conforme o planejado, por isso não
faço ideia de como agir e do que devo fazer.
Raphael me serve da comida preparada por um chef que
Dimitria contratou. Não tomo o vinho, apenas suco de laranja e
água. Entramos em uma conversa tranquila sobre nosso dia. Nada
muito chato ou sério, apenas coisas normais. À medida que o tempo
passa, a noite vai ficando mais intensa, principalmente pela forma
que Raphael me olha. Os pequenos toques, a forma com que ele
lambe os lábios enquanto come a sobremesa, o sorrisinho de lado
que dá a mim... Raphael pega um morango, passando-o na calda de
avelã, e o ergue até meus lábios.
— Abra — comanda, com a voz carregada de desejo.
Minha boca se abre automaticamente, então Raphael coloca
o morango. Dou uma mordida, e o pedaço que fica, ele mesmo
come, lambendo os lábios, com aquela sua língua pecaminosa.
Merda! Estou me perdendo. Todo esse clima, essa tensão... estão
fazendo-me perder o controle. Lambo meus lábios ao sentir um
vestígio da calda de avelã. O olhar de Raphael se intensifica à
medida que ele acompanha o movimento.
— Caralho... — diz, levantando-se da cadeira, de forma
bruta. — Venha. — Ergue a mão. — Vamos dançar.
Raphael pega um pequeno controle, apertando um botão
verde, então a música To Die For, de Sam Smith, começa a tocar.
Ergo minha mão, colocando-a na dele. Raphael me puxa para cima,
envolvendo uma das suas mãos nas minhas costas. O toque traz
arrepios ao meu corpo. Encosto meu queixo no seu ombro, e ele
nos guia de um lado para outro enquanto a música ecoa pela sala.
O toque da sua mão nas minhas costas, o modo com que seus
dedos me tocam, deslizam pela minha pele, como meu corpo molda
o seu perfeitamente... Estamos tão colados um no outro, que posso
sentir as batidas do seu coração.
— Quando a vi mais cedo... porra, Phillipa... custou tudo em
mim para não a levar, bem ali, na frente de todos. — Sua voz é
rouca, tão... céus! — Esse vestido... caralho! Esse vestido fica
perfeito no seu corpo! Essas costas nuas... — Ergo minha cabeça
para o olhar.
Oh, céus! Ele está com aquele olhar... Suas pupilas estão
dilatadas. Mordo meus lábios, tentando conter o gemido. O ar à
nossa volta se torna pesado, cheio de tensão e desejo contido.
— Raphael... — sussurro.
— Porra, gatinha... Você não tem ideia do quanto quero seu
corpo, enterrar-me na sua boceta, ouvi-la gemer meu nome
enquanto goza... — Vira-me, fazendo-me ficar de costas para ele.
Minha bunda se encaixa perfeitamente na sua virilha, onde
posso sentir seu pau. Meus olhos se fecham, então eu me lembro
de como é tê-lo dentro de mim. A sensação de preenchimento, de
me sentir inteira...
— Estou tentando, eu juro que estou tentando comportar-
me, ir com calma e ter o seu tempo, mas hoje, quando a vi nesse
vestido, toda sexy, toda linda, fazendo com que todos a olhassem,
eu me perdi. Você é minha. — Raphael volta a virar meu corpo,
fazendo-me ficar de frente para ele, e me beija.
Sem protestar, eu o beijo de volta. Por esta noite, irei culpar
meus hormônios.

Raphael

Caralho! Ela me beija de volta e... porra, eu queria gritar, em


vitória, entretanto me contenho e apenas tomo o que está dando a
mim. Seu corpo tão perfeito colado ao meu... Posso sentir cada
pedacinho dela, tocar sua pele suave e beijá-la como quero.
Embebedo-me do seu beijo, fazendo meu caminho até encontrar
sua língua. Phillipa geme na minha boca. Seu gemido percorre meu
corpo até chegar no meu pau, fazendo-o latejar de puro desejo, de
fome dela, fome da sua boceta. Nossas línguas duelam uma com a
outra. Chupo seu lábio, fazendo-a tremer. Ela me arranha por cima
do meu blazer. A cada momento que se passa, o beijo se torna
frenético. Ergo sua perna direita, fazendo-a encaixar-se no meu
quadril. Meu pau se esfrega na sua boceta. Phillipa perde o controle,
tirando meu blazerem meio ao beijo. Corto nosso beijo para beijar
seu pescoço. Ela joga a cabeça para trás, expondo-o para mim,
dando livre acesso. Seus gemidos se tornam mais altos à medida
que a beijo. Torno-me um homem possesso, nesse momento, por
ela, pelo seu corpo, pelo seu toque, para a possuir. Pegando-a em
meus braços, a levo para o meu quarto, no andar de cima, nunca
tirando minha boca da sua pele. Abrindo a porta, eu a coloco no
chão e fecho a porta com um chute. Ponho Phillipa de costas para
mim. Enquanto beijo seu pescoço, meus dedos deslizam pelas suas
costas. Observo sua pele se arrepiar com meu toque e com meus
beijos. Minhas mãos sobem para os seus ombros e eu retiro seu
vestido, dando uma pequena mordida no seu ombro esquerdo.
— Tão sensívelao meu toque... — sussurro contra sua pele.
— Raphael...
— Estou bem aqui, gatinha. — Beijo seu ombro.
O vestido desliza sobre seu corpo, caindo aos seus pés,
deixando-a apenas de calcinha vermelha rendada. Porra, o dourado
da sua pele contra o vermelho da sua calcinha, seus cabelos caindo
sobre seus ombros, derramando-se nas suas costas, deixando-a
ainda mais deliciosa... Sou um homem faminto nesse momento.
Encosto seu corpo contra a porta e ajoelho à sua frente. Olho para
ela. Seu olhar reflete o meu, tão faminto, cheio de luxúria... Deslizo
sua calcinha entre suas pernas, deixando-a exposta para mim.
Caralho, ela está encharcada! Tão... porra, molhada para mim!
Lambo meus lábios, já sentindo seu gosto na minha boca. Como um
homem possesso e sem paciência para esperar, eu a provo. Phillipa
geme meu nome, o que me deixa ainda mais louco. Minha língua
passa por sua boceta enquanto a chupo, dando pequenas mordidas
no seu ponto sensível. Aproveito o momento para deslizar dois
dedos dentro dela. Sua boceta aperta-os. Encontro seu ponto G e
observo-a enquanto ela se perde ao meu toque, enquanto se rende
a mim. Com seu corpo contra a porta, eu a como com a boca,
deixando-a louca. Sua mão agarra meu cabelo, puxando-o. Phillipa
se entrega ao momento e rebola no meu rosto, como uma gata
selvagem. Meu controle se desfaz completamente enquanto ela se
perde no momento. É fascinante observá-la, o modo com que sua
cabeça está jogada para trás, seus olhos fechados e sua boca
entreaberta, deixando seus gemidos saírem. Estimulo seu ponto G
enquanto minha boca devora seu clitóris. Meu pau pulsa na minha
calça, pronto para a tomar, sentir seu calor.
— Eu vou... — Phillipa grita seu orgasmo, com o corpo
tremendo.
Enquanto ela goza, eu a seguro, dando pequenos beijos
contra a sua pele. Quando seus tremores param, eu a pego em
meus braços, levando-a para a cama. Tiro minha roupa e me ponho
entre suas pernas. Seus olhos se abrem e ela me encara, ainda
bêbada do orgasmo que acabou de ter. Abaixo-me, beijando sua
boca, deixando-a sentir o próprio gosto. Ela arranha minhas costas
e meus ombros. O ardor é bem-vindo. Phillipa ergue seus quadris,
deixando-me saber que ela está pronta para mais, para o meu pau.
Devagar, para não acabar passando vergonha e gozando antes da
hora, deslizo para dentro dela, que geme na minha boca.
— Caralho! — rosno na boca.
— Mexa-se. — Phillipa pede, então dou a ela o que quer.
Meu pau começa a fodê-la. Paro de beijá-la, querendo vê-lo
entrando e saindo da sua boceta. Porra, a visão é perfeita! Olho
para o seu corpo, seus seios sacudindo enquanto a fodo... Phillipa
dá um sorriso travesso. Por um momento, não entendo, até que ela
se levanta e muda de posição, jogando-me na cama e ficando por
cima. A visão... Puta que pariu, a visão daqui é... caralho, perfeita!
— Tão gostosa assim... — rosno, sentindo seus seios nas
minhas mãos. — Assim mesmo. Monte em mim, gatinha, tome o
que é seu.
Observá-la tomando seu prazer, fodendo meu pau, seus
seios, sua barriga, que gera meu filho, sua cabeça caída para trás
enquanto ela expõe seu corpo, enquanto sobe e desce no meu
pau... me deixa maluco.
Coloco-me sentado para poder provar seus seios com a
boca enquanto ela continua montando em mim. Enrolo seus cabelos
na minha mão, puxando-os para trás e expondo ainda mais seu
corpo. Tomo seus seios na minha boca, devorando-os. Com a mão
livre, esfrego com cuidado seu clitóris, querendo que ela goze no
meu pau. Nossos gemidos se misturam, ecoando pelo quarto.
— Sua boceta é perfeita. O modo com que ela devora meu
pau... Porra, gatinha... — resmungo, com a boca nos seus seios.
— Sim, sim... Não pare...
— Nunca.
A boceta de Phillipa começa a apertar-me ainda mais,
portanto sei que ela está prestes a gozar. Intensificomeu manejo no
seu clitóris e mordo seus seios, chupando-os. Ela goza no meu pau.
Não demora muito para eu derramar minha porra na sua boceta.
Phillipa cai sobre meu corpo. Abraço-a enquanto nossas
respirações voltam ao normal. Suor escorre pela minha testa.
Caralho, foi perfeito! Estou louco para a ter mais uma vez.
Capítulo Catorze

Phillipa – Na manhã seguinte...

Eu chamo de lapso de gravidez ou hormônios


enlouquecidos. É a única explicação que tenho para o que
aconteceu entre mim e Raphael. Mentirosa!, meu eu interior grita na
minha mente, mas não dou muita voz a ele, porque não quero
confessar que, em um momento de fraqueza, deixei-me levar pelo
momento, pelo desejo e amor que sinto por Raphael. Julguem-me
por culpar os hormônios da gravidez.
Quando acordei de manhã e me vi na cama de Raphael,
com ele ao meu lado, sua mão em volta da minha cintura, eu
simplesmente fugi, pois não sabia como me comportar, também
porque não queria que ele pensasse que as coisas entre nós dois
mudou.
Duas horas depois de eu ter fugido da cama de Raphael e
não ter conseguido dormir na minha, caminho para a cozinha e
preparo o café da manhã. Não demora muito para o ouvir acordando
e abrindo a porta do quarto. Meu coração para de bater por um
momento, logo em seguida, bate aceleradamente, então aquele
friozinho na minha barriga faz com que eu me sinta um pouco
enjoada.
Meu corpo fica tenso quando sinto sua presença na cozinha.
Respiro fundo ao me virar para o encarar. Meu olhar se prende ao
seu. Esse homem é lindo de qualquer jeito. Seu olhar ainda está
grogue de sono. Ele bebe todo meu corpo, fazendo-me arrepiar.
Meus mamilos se enrugam com o seu olhar. Raphael dá um
sorrisinho ao ver, já que a blusa que visto é larga e um pouco
transparente. Minha vontade é de cruzar os braços e me esconder
do seu olhar tão intenso, porém continuo firme, sem demonstrar
quão sem jeito estou diante dessa situação. Merda. Nunca fui uma
mulher tímida, muito mesmo baixei a guarda na frente de Raphael,
entretanto agora, aqui estou, sentindo-me fora do lugar e com
vontade de correr para a proteção do meu quarto.
— Você fugiu — diz, num tom acusador.
Olho para ele, apenas dando um encolher de ombros. O que
quer que eu diga? Realmente fugi, essa é a verdade, e não me sinto
envergonhada por causa disso.
— O café está pronto. Nós sairemos daqui a uma hora. —
Contorno a ilha da cozinha, passando por ele e indo em direção ao
meu quarto.
— Então é isso? Não dirá mais nada? — pergunta, olhando-
me com reprovação.
Paro no meio do caminho. Um pequeno suspiro deixa meus
lábios. Eu sabia que ele não deixaria quieto. Raphael não é o tipo de
homem que deixa as coisas para lá, ele sempre quer respostas.
— O que quer que eu diga? — pergunto a ele, que passa as
mãos pelos cabelos, em frustração.
O movimento faz com que flexione os músculos dos braços,
fazendo-me lembrar da forma com que me segurava ontem, como
ele exercia poder sobre meu corpo, controle sobre nossos corpos...
Merda! Estou perdendo o controle mais uma vez, deixando-me levar
pelo corpo tentador de Raphael.
Balançando a cabeça, volto ao presente e percebo que ele
me olha com puro desejo ardente. Dou um passo para trás, sentindo
como se tivesse levado um soco, tamanha intensidade que há no
seu olhar. Suspiro.
— Não há nada para dizer, Raphael. Nós transamos, é isso.
— Dou de ombros.
Ele me olha, em completa descrença.
— É isso? — rebate, com a voz pesada.
— Sim. Tive um momento e pronto. Não há mais nada e
nada mudou. Pode culpar os hormônios da gravidez — digo, com
firmeza.
Ele ri de mim. Cruzo os braços, fechando a cara, mas meu
movimento só faz com que ria ainda mais. Raphael caminha até
mim de forma predadora. Dou alguns passos para trás, sabendo
que irá encurralar-me. Essa é a sua intenção. Parando apenas a
alguns centímetros de mim, Raphael se curva para ficar à minha
altura; seu olhar, na mesma direção que o meu, fazendo com que
meu corpo se arrepie. Esfrego meus braços, tentando aliviar um
pouco essa sensação de estar presa, de não ter para onde ir e, ao
mesmo tempo, a merda do desejo, que faz com que eu queria pular
em Raphael e repetir a noite que tivemos. Controlo minha
respiração e as batidas do meu coração para não acabar fazendo
algo de que me arrependa depois. Não que eu tenha me
arrependido da noite que passei com Raphael, só não quero repetir.
Preciso controlar-me para não me perder nele e acabar esquecendo
dos meus objetivos.
— Gatinha, pode apostar que as coisas mudaram. —
Raphael sorri de forma predadora, como se eu fosse sua presa.
— Não, não mudaram. — Balanço a cabeça.
Ele dá um sorrisinho de lado. Tão sexy...
— Gatinha, nós mudamos. Eu te provei ontem à noite, então
não há nada no mundo que me fará deixá-la depois disso. —
Prendo a respiração, pensando por um momento que ele irá me
beijar, mas Raphael apenas tira um pequeno fio de cabelo do meu
rosto, escovando-o para trás da minha orelha.
Sinto uma corrente elétrica passar pelo meu corpo traidor.
— Você é minha, gatinha, e depois de ontem à noite, só
comprovou o quanto somos perfeitos um para o outro. — Ele dá um
passo para trás, fazendo com que eu volte a respirar.
— Você está delirando, Raphael. E temos uma consulta
médica para ir. — Empurro-o, em seguida fujo para a proteção do
meu quarto, fechando a porta atrás de mim.
Meu coração bate a mil, minhas mãos tremem. Encosto-me
na porta, passando-as pelo meu rosto.
— Céus! Controle-se, garota — sussurro para mim, no
silêncio do meu quarto.
Ficar com Raphael na mesma casa é pura tortura. Deus me
ajude!!
Tem que ser piada. Só pode ser uma merda de uma piada
de mau gosto.
De relance, olho para Raphael, com pura irritação. Há um
olhar de triunfo estampado na sua cara de pau. Se eu tivesse um
óleo de peroba, daria a ele para ilustrar a cara.
Estou ainda meio atordoada com o que ele fez e irritada com
toda a situação sem graça na qual me colocou. Sério, quem diabos
faz algo assim? Tinha necessidade dessa merda? Não, não tinha.
Raphael me cutuca com o cotovelo. Balanço a cabeça,
tentando concentrar-me no que está acontecendo.
— Desculpe. Onde está o Dr. Brow? — pergunto, referindo-
me ao meu ginecologista obstetra.
— Oh, sinto muito, ele pediu demissão, algo como
aproveitar melhor a vida em viagens. Eu serei sua nova médica a
partir de hoje. Sou Elizabeth Graham, sua nova ginecologista
obstetra. — Ela sorri para mim.
Olho para Raphael, que simplesmente sorri como o gato de
Aliceno País das Maravilhas . Se eu não tivesse certeza antes de
que foi ele quem fez isso, passaria a ter agora. Minha vontade é de
levantar-me e dar um chute na sua virilha. Idiota.Daria tudo para
tirar esse sorriso do seu rosto.
Inspiro e expiro algumas vezes, controlando meu
temperamento.
— Ah, eu não sabia que ele tinha saído. — Sorrio para ela,
um pouco sem graça.
— Sim. Bem, nem nós da clínica sabíamos. — Dá de
ombros. — Tenho aqui seus dados. Sua próxima consulta era para
daqui a um mês. Algo aconteceu? — pergunta, sorrindo para mim,
mas seu olhar é preocupado.
Suspiro baixinho. Como contar a ela o que aconteceu? Seria
seguro? Nesse momento de dúvida, sinto a mão de Raphael apertar
a minha. Ergo minha cabeça para o olhar. Ele apenas acena, então
respiro aliviada em saber que posso falar à vontade, sem mentiras.
— Sim. É que assim que saí da minha primeira consulta,
nós fomos almoçar, aí teve um tiroteio no restaurante em que
estávamos. Foi uma confusão e muito estressante para mim, então
quero saber se tudo está bem com o bebê.
— Ah, sim, eu ouvi sobre o tiroteio. — Ela olha para
Raphael, é quando dá para perceber que sabe quem ele é e que o
tiroteio foi exatamente para nós dois. — Você fez o certo ao vir
verificar. Muito estresse pode causar complicações. — Levanta-se.
— Então, vamos ver o seu bebê? — Aceno com a cabeça.
Uma enfermeira entra na sala com um macacão de hospital
em mãos. A médica dá licença para eu me trocar, coisa que
Raphael não faz, o que não é surpresa para mim.
— Você fez isso. — Aponto para a porta onde a Drª Graham
acaba de sair.
Raphael apenas encolhe os ombros, como se não fosse
nada demais ter feito o que fez. Balanço a cabeça. Quando pessoas
como ele e sua família pararão de controlar os outros? Sempre
fazendo o que querem, sem se importar com as consequências,
tudo para o próprio benefício?
— É isso? Apenas um encolher de ombros? — pergunto,
com irritação. — Raphael, você fez o homem demitir-se.
Ele olha para mim, um olhar frio. Não há algo que
demonstre culpa pelo que fez. Sinceramente? Nem sei por que eu
esperava que ele se sentisse culpado. É patético da minha parte
esperar alguma coisa assim vindo dele.
— Fiz o que tinha que fazer, Phillipa. É antiprofissional ele
dar em cima das suas pacientes, principalmente sendo um homem
casado.
— Ele não tinha um anel no seu dedo. — Raphael acena
com a cabeça.
— Mais um motivo para não ser confiável. Um homem
casado que, além de não usar sua aliança, ainda fica dando em
cima das suas pacientes. Totalmente antiprofissional — diz,
sorrindo. — Vista-se, antes que a médica volte e veja que não se
trocou.
Meus ombros caem, em derrota. Não há como discutir com
ele. Não agora, em um consultório médico. Além do mais, no fundo,
ele tem um pouco de razão sobre Dr. Brow. Não porque eu ache que
o mesmo estava dando em cima de mim, contudo por não usar seu
anel. Mas também não acho que seja para tanto fazer o que
Raphael fez.
Minutos depois de ter trocado de roupa, a médica volta, com
a enfermeira.
O procedimento não demora muito. Como estou com
poucas semanas, a médica resolve fazer um ultrassom transvaginal
para vermos o bebê e como ele está.
— Você está com um pouco mais de quatro semanas. — Ela
sorri para mim. — Consegue ver? — Aponta para a tela, porém não
vejo nada.
Olho para Raphael, que tem o mesmo olhar que o meu, o
mesmo olhar que tivemos na minha primeira consulta.
Sinceramente? Como as pessoas conseguem ver?
— Não, eu não vejo. — Sou sincera, e a médica ri.
— Tudo bem, é normal, já que está bem pequeno. Logo,
logo verá seu bebê. — Aceno com a cabeça. — Tudo o que precisa
saber é que o feto está bem, entretanto quero que evite estresse,
continue tomando suas vitaminas e alimentando-se bem.
Bom, me alimentar bem e tomar as vitaminas é fácil, agora,
não me estressar? Minha vontade é de rir, porque estou no meio de
uma guerra e, para completar, o inimigo me quer, então, desculpa,
Drª. Graham, não há como eu não me estressar. Quero dizer isso a
elas, mas apenas aceno com a cabeça, de acordo.
Minutos depois, Raphael e eu estamos fora da clínica. O
alívio de saber que meu baby está bem e crescendo dentro de mim
alivia um pouco minhas preocupações.
— Você tem preferência? — A pergunta de Raphael me
pega de surpresa dentro do carro.
Esfrego meu abdômem, reto, pensando acerca da sua
pergunta. Nunca tinha parado para pensar sobre isso. Tudo o que
eu queria — e ainda quero — era um lugar calmo e tranquilo para
criar meu bebê, um lugar onde nada disso pudesse nos encontrar,
nos afetar. O sexo dele nunca foi uma preocupação ou preferência
para mim. O mais importante é sua saúde.
— Sinceramente? Nem pensei sobre isso. Não me importo
se for uma menina ou menino, desde que nasça bem. E o sexo é
subestimado. Quando ele ou ela crescer, tomará as próprias
decisões, escolherá quem quiser ser. — Dou de ombros.
Nos dias de hoje, as coisas estão tão avançadas, que é
meio arcaico preocupar-se com o sexo do bebê. Continuarei
amando-o do jeito que ele for.
— E você? — pergunto a ele, agora me sentindo curiosa
com sua resposta.
— Penso o mesmo que você, e, bem, não adianta querer
um menino, todavia na hora vir uma menina. Não há escolha. É um
ser humano e será amado de qualquer forma, independente do
sexo. — Aceno com a cabeça.
O problema com essa conversa é que Raphael faz parecer
que seremos uma família. Ele até pode estar presente na vida do
filho, porém não será nesse lugar, nem em meio à máfia. Caspen
disse que eu posso ser livre, portanto essa é a escolha que fiz. Não
vou deixar meu bebê sem pai, afinal seria cruel da minha parte, mas
também não ficarei aqui. Essa é uma decisão que não tem volta.
— Oh, meu Deus! — exclamo, com um sorriso no rosto. —
O que está fazendo aqui?
— Bem, Caspen resolveu vir para conversar pessoalmente
com Hector sobre o que vem acontecendo por aqui, então Raphael
pediu para que eu viesse. Ele pensa que precisa da família um
pouco. — Pisca para mim. — E aqui estamos nós.
Lágrimas se formam nos meus olhos ao vê-la com América
e os trigêmeos. Olho para Raphael. Gesticulo um obrigadapara ele,
que apena dá um aceno com a cabeça.
— Você está segura aqui. Maddox e Miguel estão de guarda
junto com todos os outros seguranças, além dos que Caspen trouxe
para Lori e as crianças. Qualquer coisa, ligue. — Com isso, ele dá
um leve beijo na minha testa e sai, deixando-me sozinha com minha
irmã.
Lori suspira, olhando-me com interesse.
— Nem comece — aviso-lhe.
Ela apenas acena com a cabeça.
— América, querida — chama a menina, que se levanta do
meio da sala e caminha até onde estamos. — Quero que conheça
sua tia, Phillipa. Ela é irmã da mamãe.
Meu coração para por alguns segundos, esperando a
reação dela. Finalmente. O momento que eu mais esperava está
acontecendo. É por ela, só por ela que fiz tudo o que fiz, e faria tudo
de novo, desde que ela estivesse assim, bem.
— Mamãe, por que ela está chorando?
Sorrio com sua pergunta e o olhar preocupado para mim.
— Oh, eu só estou feliz em conhecê-la — digo, abaixando-
me para ficar à sua altura.
— Ah, são lágrimas felizes. — Ela sorri para mim. —
Também estou feliz por conhecer você. — Abraça-me.
Céus! Eu acho que vou desmoronar bem aqui. Minha
irmãzinha, minha querida e linda irmãzinha, que passou por tanto
nas mãos daquela bruxa.
— Gostei do seu cabelo. — Ela me solta, passando as mãos
pelos meus cabelos, que estão com cachos e luzes loiras que fiz no
meu dia de spa com Zoe e Angel.
— Obrigada, princesa. — Sorrio para o grande sorriso que
ela dá. — E eu amei o seu cabelo. — Escovo com o dedo uma
mexa cor-de-rosa.
— Ah, não é meu. Mamãe colocou com uma presilha. Bem
aqui, ó. — Mostra a presilha que prende ao seu cabelo a mecha cor-
de-rosa.
— Combinou com você. Está linda. — Ela sorri.
— Obrigada. — Beija minha bochecha. — Venha, vou
mostrar meus irmãos. — Pega na minha mão, puxando-me para o
meio da sala, onde os trigêmeos estão nos seus carrinhos.
Olho para Lori, que acena e sorri para mim. É graças a
Raphael que ela está aqui com América e meus sobrinhos.

Raphael

Caralho! Pela segunda vez, tentei ver o bebê dentro de


Phillipa, porém não enxerguei coisa alguma, apenas tudo preto. É
frustrante, todavia saber que ele está lá dentro de seu ventre, bem e
crescendo, me enche de uma sensação desconhecida. Uma mistura
de proteção e orgulho. É como se eu fosse alguém especial,
escolhido para ser pai. É bem estranho.
Não queria deixar Phillipa, no entanto Caspen acabou de
chegar na cidade e quer uma reunião. Como ela é o alvo principal e
está comigo, é meu dever participar dessa reunião.
Entro no escritório de Hector, sem bater. Olho em volta,
percebendo que faltava apenas minha presença para a reunião
começar.
— Podemos começar? — Hector pergunta, e todos acenam
com a cabeça. — Caspen tem algo para nos informar.
Todos os olhares da sala se voltam para Caspen com sua
presença intensa dominando todo o escritório. Há uma razão para
ele ser o chefe dos chefes. Sua presença é dominadora. Ele passa
um ar de poder por onde quer que vá. Todo controlado e
dissimulado, sempre no comando, mantendo a cabeça no lugar.
Mas, ao contrário de Hector, que não gosta de sujar-se, Caspen
adora infligir dor e ir para a guerra, comandando todos à sua volta.
De todos os Callahans, ele está em segundo lugar de homem louco.
Ao meu ver, o primeiro é Carter. Aquele lá sempre tem um sorriso no
rosto quando vai matar.
Caspen olha para todos os que estão no escritório,
avaliando cada um. Seu olhar passa por Hector, Dimitria, Dominic,
depois vai para os seguranças: Alex, Charlie e Emílio,assim como o
segurança de Hector e seu próprio segurança, além de Osmar, seu
filho adotivo, que vem aprendendo tudo com ele já que o menino
será o próximo herdeiro do trono. Miguel e Maddox estão com
Phillipa, então terei que conversar com eles depois.
— Daqui a dois dias, um estilista estará aqui para medir
cada um de vocês. Não só os homens, como cada mulher da
família, receberão novas roupas, todo um novo guarda-roupa, isso
porque desenvolvemos um material que irá protegê-los. Todas
nossas roupas serão à prova de balas agora — anuncia ele,
olhando para cada um.
Já estava esperando por isso. Caspen já tinha comentando
sobre essa nova invenção e como será um trunfo para cada um de
nós, então, não é uma novidade para mim, e ao que parece, para
nenhum que está nesta sala.
— Em contrapartida, não quero que mais ninguém saiba,
nenhum dos outros seguranças. Como temos um rato passando
informações para Marcus e Henry, quero que essa novidade fique
em membros da família e seguranças de confiança. É uma ordem.
— Sua frase final é firme, deixando bem claro o que acontecerá se
alguém desta sala o desobedecer.
Como não há objeções, ele acena com a cabeça e continua
a falar:
— Enquanto as roupas não ficam prontas, quero que evitem
sair de casa e ficar por aí andando sem proteção. Cubram suas
costas. Raphael — Ele se vira para mim —, ainda hoje, será
instalado um novo sistema de proteção na casa de Phillipa. Iremos
colocar novas câmeras escondidas por toda a casa, porém essas
câmeras serão ligadas a um novo sistema, sistema esse que só
você, Maddox e Miguel terão acesso, assim, se algo acontecer e
desligarem as outras câmeras, essas novas estarão funcionando e
dando tudo o que precisamos. Fora outras coisinhas a mais que
serão colocadas na casa. Phillipa está esperando um Callahan. Nós
protegemos os nossos. Ela e o bebê são da família.
Aceno com a cabeça, sentindo-me um pouco mais aliviado
ao saber que ela estará sendo protegida por todos da família.
— Agora, vamos aos negócios. — Caspen se volta para
Dimitria. — O que tem para mim?
Dimitria se levanta do sofá, indo até a tela da TV de
sessenta polegadas e ligando-a. Mexendo no seu celular, ela passa
as imagens para a grande tela.
— Essas são as doze meninas que desapareceram ao redor
dos Estados Unidos. — Dá um sorrisinho para Caspen, que acena.
— Descobrimos que essas meninas foram leiloadas e vendidas por
um único comprador.
— Marcus Esposito. — Caspen comenta o nome, com
desdém.
— Exatamente, e agora, ele está fechando negócio com
Olavo, vendendo-as para ele, pois nosso querido Olavo vem
expandindo seus negócios em dois cassinos independentes na
cidade. Ireifazer umas visitinhas a eles ainda esta semana. — Sorri.
— A carga com as meninas ainda não chegou na cidade, mas a
venda será feita daqui a dois dias, em um depósito no armazém,
perto do clube horrível que Olavo comanda. — Faz cara de
desgosto.
— Deveríamos ter acabado com ele quando era apenas um
idiota pé no saco. — Dominic comenta, balançando a cabeça.
— Ele não era e nem continua sendo uma ameaça. —
Hector diz, e Caspen acena, em concordância.
— Ele é apenas um homem delirante pensando que pode
crescer e nos quebrar, assim como Henry e Marcus. Já entrei em
contato com Antony Moretti e Alessio D’Angelo. Ao que parece,
Marcus nunca foi um homem com as faculdades mentais intactas, e
quando tomou posse do posto de chefe, ele vem tentando tomar
mais espaço e causando guerra onde quer que passe. Parece que,
agora, seu problema é com a nossa família. Um pobre coitado, ao
meu ver. — Caspen suspira, passando a mão por sua barba. —
Minha única preocupação com ele é que o homem está tão
irracional, que não se importa com os inocentes à sua volta, desde
que seu alvo seja abatido.
— É por isso que temos que o pegar logo. — Entro no
assunto. — Ele atacou eu e Phillipa em um restaurante cheio de
pessoas. Havia crianças no local. O homem precisa ser detido antes
que acabe piorando tudo e matando inocentes. Seu principal foco,
além de acabar com todos nós, é Phillipa. Não o quero por aí. Não
quero preocupar-me que ele possa chegar até ela. — Balanço a
cabeça, sentindo irritação.
Só de pensar nisso, meu sangue ferve de raiva. Sem falar
dos meus pensamentos e tudo o que imagino que ele possa fazer
com ela. Não gosto nem de pensar, porém fica difícil de não
imaginar.
— Nós iremos protegê-la, ela está segura, Raphael. —
Caspen diz.
Aceno com a cabeça, pois não quero falar mais nada.
— Irá ficar por quanto tempo? — Mudo de assunto.
Caspen ajeita a gola de seu terno, com um sorrisinho
formando-se nos seus lábios.
— Tempo o suficiente para acabar com os planos de Olavo
e Marcus.
Parece que teremos um pouco de ação...
Bônus

Dimitria

À medida que adentro o hotel, meus passos ecoando pelo


piso de mármore, um sorrisinho se forma nos meus lábios com a
atenção que estou tendo. Todos param para me olhar: homens, com
pura admiração e desejo; mulheres, com inveja e desgosto. Se eu
me importo? Nem um pouco. Essa é quem sou, e sei o que quero.
Neste momento, quero toda a atenção que puder ter.
Atrás de mim, meus dois seguranças me seguem,
protegendo-me de qualquer um que tentar a sorte em querer
machucar-me.
Todos da minha família têm a própria arma para usar em
casos como este, e a minha se chama sedução. Veja bem, sou uma
mulher de muita sorte. Tenho um corpo maravilhoso que muitos
querem para si, um belo par de seios, bunda, cintura, lábios
maravilhosos, cabelos longos e sedosos, além de um olhar que
deixa qualquer um querendo-me. Muitos pensam que mulheres
assim são apenas corpo vazio, sem cérebro, sem inteligência... É aí
que eu me aproveito, porque Deus foi muito, muito bom para mim.
Ele concedeu não só um corpo maravilhoso — o que realmente
agradeço —, mas também deu inteligência a mim, bem como uma
memória fotográfica.
Adentro o elevador, virando meu corpo para frente e
observando as portas fecharem-se. Christopher Maximinianu, dono
do hotel, está esperando-me na sua cobertura para a nossa reunião.
Uma visita minha de última hora. Mal sabe o que está por vir, o
aviso que eu darei não só para ele, mas para todos os que ousarem
formar aliança com Marcus Esposito. Ninguém mexe com os
Callahan’s e vive para ver o outro dia nascer.
O elevador para e as portas se abrem, mostrando o grande
corredor com cinco seguranças, todos postos em lugares
estratégicos. Suspiro. Esta noite vai ser interessante.
Paro de frente para a grande porta do quarto, que é aberta
por outro segurança. Antes de entrar, sou revistada. Meus homens
ficam do lado de fora, o que não é problema para mim.
— Pode entrar. — O segurança diz, depois de perceber que
sou “inofensiva”.
Pobre coitado. Um pequeno sorriso sedutor se forma nos
meus lábios à medida que adentro pelo imenso quarto exagerado.
Retiro minhas luvas de couro, após as coloco em uma grande mesa
de centro, onde há um grande vaso com várias flores — brega, se
perguntar a mim. O segurança me segue à medida que caminha
pelo espaço, até chegar em um grande espaço aberto, que chamo
de sala. Observo bem o lugar. As janelas são todas de vidro,
mostrando toda a Vegas. A vista é de tirar o fôlego para alguém que
não está acostumado com tudo isso, o que não é o meu caso. Olho
para o relógio no meu pulso. Um suspiro deixa meus lábios. Eu
detesto atrasos, e parece que Christopher ainda não aprendeu
quem são os donos de Vegas. Seu atraso ao nosso encontro só
confirma ainda mais que ele precisa de uma pequena lição.
Ao meu lado esquerdo, uma porta se abre. Imaginoque seja
o quarto. Christopher finalmente aparece, com um sorriso formando-
se nos seus lábios ao me ver e seu olhar apreciativo passando pelo
meu corpo.
— Dimitria... — ronrona, e minha vontade é de rolar os
olhos, com nojo, contudo não faço isso.
Coloco minha cara para o jogo e faço o que sou melhor,
jogando minha maior arma: sedução. Um pequeno sorrisinho se
forma nos meus lábios. Christopher olha para a minha boca, então
aproveito para passar a língua pelo lábio inferior. Suas pupilas se
dilatam.
— Christopher — cumprimento-o.
Seu olhar mais uma vez desliza pelo meu corpo, cheio de
fome. Patético!, minha mente grita, porém eu continuo firme,
sorrindo para ele.
— A que devo o prazer da sua visita? — Vai direto ao
assunto.
Mais esperto do que eu esperava. Caminho até ele, dando
meu melhor rebolado, o que faz seu olhar cair para a minha cintura.
Parando bem na sua frente, ergo minha mão, colocando-a no seu
queixo e erguendo sua cabeça.
— É só uma visitinha amigável — sussurro.
Christopher sorri para mim.
— Quando um Callahan o visita, nunca é amigável.
— Homem esperto você, não?
— A que devo o prazer da visita?
Dou as costas a ele, caminhando até a poltrona perto da
janela, e me sento, cruzando as pernas de modo a mostrar minhas
coxas a ele.
— Venha, vamos conversar. — Aponto para o sofá que fica
próximo. — Espero que tenha pedido o jantar.
— Sim, eu pedi, e deve estar chegando.
— Bom, vamos conversar durante o jantar. Agora, diga-me:
como vão os negócios? — Começo o meu jogo.
Christopher é um bom homem que infelizmente veio para
Vegas tentar algo melhor, algo a mais. Ele não quis envolver-se com
os nossos negócios, assim como outros CEO’s, e respeitamos isso.
Porém, envolver-se com o inimigo já é algo não permitido e que não
deixaríamos passar de jeito nenhum. Sendo ou não um bom
homem, hoje à noite ele será nosso aviso a todos os outros que
pensarem que podem passar a perna em nós. Nessa guerra, até os
bons homens caem.

— Fomos informados de que Marcus Esposito veio visitá-lo.


— Vou direto ao assunto.
Nosso jantar chegou já faz alguns minutos. Até esse
momento, estávamos tendo uma conversa agradável cheia de
flertes e pequenos toques, mas agora, tenho que acabar logo com
isso.
Olho para Christopher, que engole seco. Erguendo a mão
para frente, ele pega sua taça de vinho, tomando um gole. Reprimo
um sorriso.
— Hã... sim, ele veio até mim — diz, um pouco receoso.
Aceno com a cabeça e espero por mais, entretanto ele não
diz nada.
— Sabe, Christopher, achei que fosse mais inteligente do
que aparenta ser. — Ele fica tenso com minhas palavras.
— O que quer dizer com isso?
Dou de ombros.
— Bem, você veio para Vegas, não aceitou uma aliança com
minha família, por isso o deixamos na sua. Mas uma aliança com
Marcus Esposito? — Estalo a língua, balançando a cabeça. — Isso
é algo que não podemos deixar passar.
— Não fiz aliança com ele, Dimitria. Ele veio, conversamos,
e foi isso — diz, com tanta convicção, que certamente até ele
mesmo acredita que essa é a sua verdade.
Levanto uma sobrancelha, em questionamento, todavia ele
apenas me encara com sua cara de blefe. Suspiro.
— E o que ele queria?
Encolhe os ombros.
— Apenas conversar, conhecer a todos, conhecer o hotel,
falar de negócios... apenas isso.
— E você não está trabalhando com ele?
— Não. — Aceno com a cabeça.
Levanto-me, deixando meu prato de comida pela metade.
Christopher olha para mim, assustado.
— Já está indo? É só isso? — pergunta, olhando de um lado
para o outro, como se algo fosse acontecer.
— Sim, é apenas isso. Vim aqui para conversarmos,
achando que poderíamos ser sinceros um com o outro. Fiz as
perguntas e você respondeu. Agora, já vou. — Dou a ele um
pequeno sorriso.
Caminho até a porta da suíte. Antes de sair, viro-me para o
olhar.
— Realmente achei que fosse mais esperto, Christopher,
mas mentir para mim na cara dura, achando que eu não perceberia,
só mostrou quão burro e ganancioso você é. Boa sorte com seus
negócios. — Saio da suíte, batendo a porta atrás de mim.
Meus dois seguranças se juntam a mim e descemos para o
térreo, onde nosso carro nos espera. O caminho até o veículo é
silencioso. As pessoas nos olham com veneração e respeito.
Recebo alguns acenos e pequenos sorrisos, porém não dou
atenção a ninguém, apenas continuo meu caminho.
Na segurança e na proteção do carro à prova de balas, pego
o celular descartável e ligo para Alex, segurança e atirador particular
do meu primo Raphael.
— Alvo morto. — É tudo o que ele diz ao atender.
A chamada é encerrada assim que ele diz as palavras que
quero ouvir. Com um sorriso nos lábios, entrego o celular ao meu
segurança, para ele dar um fim.
— Agora, é só esperar os federais virem me procurar...

— Então, a Senhorita não faz ideia do que aconteceu? — O


detetivel Jordan pergunta a mim.
Oh, eu façototalmenteideiado que aconteceu, penso, não
que eu diga isso.
Colocando minha cara de jogo, olho bem para ele, em pleno
horror.
— Não, e-eu... Só de imaginar... — Balanço a cabeça,
fazendo meu teatro ainda melhor. — O Senhor acha que eu era o
alvo? Estávamos jantando juntos, então poderia ter sido eu, certo?
— Coloco minha mão na boca, em total espanto e pânico.
— Não sabemos ainda, Srª Callahan, só que ele foi morto
por um atirador, e que minutos antes, a Senhorita estava com ele.
— Sim, estávamos tendo um jantar entre amigos. Conheço-
o há muito tempo. Nunca esperei que algo assim fosse acontecer.
— Pisco inocentemente. — O Senhor acha que também corro
perigo? — Meus olhos se enchem de falsas lágrimas.
— Não sabemos ainda, mas é bom tomar cuidado e se
manter alerta. Quando tivermos mais informações ou precisarmos
de mais respostas, iremos procurá-la, tudo bem? — pergunta,
levantando-se.
Seu parceiro de trabalho se junta a ele.
— Muito obrigada por terem vindo. E por favor, se souberem
de algo, me avisem — peço a eles, que acenam e se retiram da
casa.
Hector espera alguns minutos para a confirmação de que
tudo está limpo ao nosso redor e que não há na casa escutas
colocadas pelos detetives.
— Você foi perfeita. — Ele diz, dando um pequeno sorriso.
— Sim, as lágrimas nos olhos foram espetaculares. —
Dominic ri.
— O que posso dizer? Sou muito boa no que faço. — Dou
de ombros, com um sorrisinho maldoso.
Alex adentra o escritório, junto com Lucas. Hector olha para
os dois.
— Sem provas que liguem o assassinato até nós? —
pergunta a eles, que sorriem como o gato de Aliceno País das
Maravilhas.
— Pelo contrário. Esse pequeno acidente irá cair sobre
Marcus Esposito. — Lucas responde, sorrindo.
Nesse momento, Caspen entra no escritório, olhando para
todos nós.
— O trabalho foi bem feito. Entrei em contato com alguns
informantes. Não estamos sendo investigados, Dimitria também não
está sobre investigação. Tudo limpo.
— Pobre Christopher, pagou o preço por se juntar a Marcus
— comento, balançando a cabeça.
— Isso acontecerá com todos os que se juntaram a ele. —
Caspen diz, sorrindo.
Seu sorriso diz que ele está pronto para uma carnificina.
Fico perguntando-me quando chamará Carter para fazer o trabalho
sujo.
Capítulo Quinze

Phillipa – Dois dias depois...

Sem saber como reagir, apenas fico parada no meu lugar,


observando a confusão que acontece bem à minha frente, no meio
da sala de estar da minha casa. Olho a Raphael, implorando-lhe
para que pare com tudo isso, mas o mesmo apenas continua parado
em um canto, com os braços cruzados e um sorrisinho nos lábios,
como se para ele fosse normal. Parece até estar divertindo-se com
o que está acontecendo. Rolo os olhos, não acreditando que ele não
fará algo. Olho para Carter e Sophia, que também estão na minha
sala. Parece que Vovó Nadine veio com os dois e o estilista, o qual
Caspen avisou que viria para preparar novas roupas a provas de
balas.
Carter e Sophia estão calados, apenas observando. Já o
pobre estilista, está todo encolhido em um canto, porém posso ver o
brilho no seu olhar. Acha graça do que está acontecendo à minha
frente. Pelo que posso entender, eu sou a única que quero que
essas duas senhoras sumam da minha casa.
— Saia da minha frente, sua velha. — Olho para a senhora
que está parada em frente a Vovó Nadine, com o ar de
superioridade.
— Olha quem fala. Você é mais velha do que eu, Tereza. —
Vovó rebate, sorrindo.
— Mas se olhar bem no espelho, tenho mais forma do que
você, velha. — A mulher, a qual agora sei que se chama Tereza, diz,
rindo da careta da vovó. — E eu estou aqui para ver a menina. Ela
está carregando um bebê do meu neto. Você sabe o quanto tenho
pedido a esses monstrinhos por bisnetos?
Duas! Há duas delas! Deus me ajude, pois estou à beira de
ter um colapso. Não irei aguentar duas delas.
— Ah, pare de reclamar! Você tem meus bisnetos também,
então pare de se fazer de pobre coitada, que com toda certeza, não
é. — Vovó Nadine diz.
Por quê? Por qual motivo isso está acontecendo comigo?
Esfrego minha testa, sentindo aquela pontada que inicia uma dor de
cabeça horrível. Percebendo meu desconforto, Raphael finalmente
vem ao meu socorro.
— Quero que as duas fiquem caladas! — ruge ele, olhando
para elas, bem sério.
Vovó Nadine bufa enquanto Tereza revira os olhos.
— Agora, meu neto, preste bem atenção ao que vou te
dizer... — Tereza começa, apontando o dedo para Raphael.
— Nem comece, vovó. Se não perceberam, a pequena rixa
das duas está fazendo com que Phillipa sinta dor de cabeça, e isso
não faz bem ao bebê.
Parece que a palavra “bebê”faz com que as duas se calem
e olhem para mim. Dou um pequeno sorriso a elas.
— Oh, eu sinto muito. — Tereza diz, dando um passo à
frente.
Porém, Vovó Nadine é mais rápida, empurrando-a, sentando
ao meu lado e pegando na minha mão.
— Essa velha está incomodando-a? Se quiser, posso pedir
para que a tirem daqui. — Vovó dá um tapinha na minha mão, com
um grande sorriso nos seus lábios.
Ela realmente está falando sério.
— Eu não vou a lugar nenhum, Nadine. Estou aqui para
visitar meus netos e minha nova neta. — Tereza diz, dando uma
piscadinha para mim. — Vou até me hospedar aqui.
— O quê? — pergunto, olhando para Raphael, que apenas
me olha, tão surpreso quanto eu.
— Nenhuma das duas ficará aqui. — Carter se pronuncia,
dando seu olhar assustador.
— Você não me assusta, meu jovem. — Tereza diz. — E
você não manda em mim.
Ela é tão, tão parecida com Nadine, que chega até a me
assustar.
— É isso aí! — Vovó exclama, levantando a mão no ar, na
qual Tereza bate, sorrindo.
— Minha intenção não é assustá-las. E posso não mandar
nas duas velhas gagás, no entanto já que estão aqui, receberão
ordens, e a ordem que tenho é vê-las na casa de Hector. Ficarão
hospedadas lá junto com o resto de nós. Nesta casa só ficarão
Raphael e Phillipa.
— Mas... — Vovó Nadine abre a boca para discutir.
— Se não seguirem as regras, as duas irão voltar para a
casa de vocês. — Carter conclui, dando um ponto final à discussão.
— Sigamas ordens, deixemde ser velhas, parem de falar,
parem de reclamar, blábláblá... Um bando de homens chatos —
resmunga Tereza.
Balanço a cabeça, olhando entre ela e Vovó Nadine. Sim, há
duas delas neste exato momento. Deus nos ajude com elas.
— Tudo bem, irei seguir essas malditas ordens. — Vovó
Nadine sorri.
Ela se vira para mim, com seu olhar avaliando meu corpo e
parando no meu rosto.
— Como está sentindo-se, menina? — Sua mão vai para a
minha testa, descendo pelo meu pescoço, até parar no meu ventre.
— O bebê está bem? Sentindo muitos enjoos? Quer minha ajuda
para algo? Conheço vários chás com ervas para ajudar na gravidez.
— Pelo amor de Deus, Nadine, deixe a menina respirar um
pouco. Ela só está grávida, não morrendo. — Sorri para mim.
— Não interfira, Tereza. Eu sei o que estou fazendo. Tive
vários filhos, se sua memória falha — responde, olhando para mim,
com atenção.
— E ela continua jogando na minha cara que só tive um, e
olha onde ele se meteu: com pessoas loucas — reclama, bufando.
— Olha aqui, sua velha...
— Eu estou bem. — Interfirona fala de Vovó Nadine, então
ela para de falar e olha para mim.
Sei muito bem que se eu não disser nada, essas duas
continuarão discutindo sem parar. Já é difícileu aguentar uma vovó,
imagine duas...
— Por incrível que pareça, não tenho estado enjoada.
Entretanto se eu precisar de ajuda, pode deixar, que pedirei. Mas
por enquanto, estou bem. — Sorrio para elas.
— Bom, isso é muito bom, querida. Eu tive apenas Allison
e... céus! Senti enjoo em toda a gestação. — Tereza comenta, rindo.
— Bem, eu fiquei enjoada apenas em uma gestação. Nas
outras, tudo foi mais tranquilo. Quem sabe, na próxima gravidez
você sinta enjoos. — Vovó Nadine diz, para o meu completo horror.
Olho em pânico para Raphael, que apenas encolhe os
ombros. Estreito meus olhos, em irritação. Outro bebê? Nem me
pagando! Não, obrigada.
— Vovó, eu acho que, por enquanto, não devemos falar de
mais bebês. Eestá assustando-a. — Sophia comenta, olhando para
mim, em compreensão.
— Por quê? — Nadine olha para mim. — Ela tem que saber
que nessa família, um bebê não é o suficiente! — exclama.
Por que eu? Por que eu?, choraminho mentalmente. O que
eu fiz para merecer isso?
— Sinto muito, minha querida. Essa velha não tem filtro. —
Tereza diz, olhando feio para Vovó Nadine.
— Sua velha bruxa...
— Chega! — grito, interrompendo-a, já sem paciência.
Todos olham para mim, espantados. Acho que não estavam
esperando que eu saísse do controle.
— Devemos manter o foco. O estilista está aqui para tirar
minhas medidas e conversar comigo sobre meu gosto, portanto é
isso que faremos agora, principalmente porque ele está aqui, em um
canto, observando toda essa confusão, e não está sendo pago para
isso. A médica disse que não posso passar por estresse, só que as
duas estão me irritando com toda essa briguinha entre si. Por favor,
se controlem! E não, não terei um próximo bebê. — Com isso,
levanto-me, indo até o estilista parado em um canto da sala,
próximo a Raphael. — Sinto muito por tudo isso.
Olho para todos na sala, que me observam, calados.
Raphael tem um sorriso nos lábios, Carter me olha com admiração.
Sophia dá atenção aos seus filhos, que estavam até agora calados,
apenas observando as loucas vovós.
— Como já sabe, sou Phillipa e dona da casa. — Estendo
minha mão para ele. — É um prazer conhecê-lo.
Ele olha para mim, abrindo um grande sorriso.
— Mulher, nós vamos dar-nos muito bem! — exclama,
apertando minha mão. — Pode chamar-me de Charles.
— Será que podemos começar? — pergunto a ele. — Tenho
um escritório que seria perfeito para conversarmos.
— Perfeito! Quanto mais rápido eu souber tudo sobre seu
gosto e suas medidas, mais rápido meu pessoal conseguirá
entregar as roupas. — Bate palmas.
Sorrio para ele. Acho que realmente nos daremos bem.
Muito bem, para dizer a verdade. Dando um aceno, me viro para
Raphael e caminho até ele, ficando na ponta dos pés para falar ao
seu ouvido.
— Livre-se delas — murmuro, só para ele ouvir.
Seu riso preenche toda a casa, como se essa situação fosse
engraçada.

— Você saiu-se muito bem lá com elas. — Sophia comenta,


uma hora depois.
Estamos no meu escritório, com Charles, Zoe, Angel,
Dimitria e Lori. À nossa volta há fita métrica, pedaços de tecidos e
um notebook aberto emitindo imagens de vários modelos de roupas.
— Este é o pior pesadelo que os homens terão: essas duas
juntas. — Dimitria diz, após, levando sua taça até os lábios e
tomando um gole do seu vinho.
— Oh, céus, essas velhas irão querer visitar cada cassino
da cidade! — Lori fecha os olhos, balançando a cabeça. — Lembra-
se da última vez? — pergunta para Dimitria.
— O que aconteceu da última vez? — Charles pergunta, já
rindo.
Dimitria faz uma pequena careta.
— As duas foram para os cassinos e jogaram em todos eles
— responde ela, suspirando.
— E que mal tem nisso? — Angel pergunta.
— O problema é que elas roubaram no jogo. As duas
estavam contando cartas e fazendo todas essas coisas que são
proibidas nos cassinos. As duas foram presas — explica Lori,
suspirando.
— E vocês deixaram que as prendessem? — pergunto,
horrorizada, mas achando tudo muito engraçado.
Se eu fechar os olhos neste momento, posso imaginá-las
presas. Oh, elas devem ter aprontado na cadeia!
— Sim, Caspen achou que seria uma boa lição para elas —
responde Lori, bufando com um sorrisinho.
— Acho que não adiantou muito, certo? — pergunto, então
Dimitria e Lori balançam a cabeça.
— Nem um pouco. As duas fizeram amizade com todos na
delegacia, e agora, toda vez que elas estão na cidade, vão lá, fazer
uma visita e conversar com eles. — Dimitria diz, e não posso deixar
de rir.
— As duas juntas são um terror. — Lori avisa, olhando-nos.
— Desde que elas não me deixem louca... — comento.
— Oh, você tinha que ter visto sua cara quando vovó falou
sobre o segundo filho! — Sophia diz, rindo.
— Sim, sim, eu vi o olhar dela de terror! — Charles exclama,
batendo as mãos juntas.
Esfrego minha barriga. Não quero pensar na hipótese de um
segundo filho. Nem planejei este, sendo assim, só de pensar em
mais um... Não, de jeito nenhum.
— Oh, olhem para ela, está nervosa. — Angel diz, e todos
os olharem se voltam para mim.
— É claro que estou! Não quero outro filho, e quando
aquelas velhas falaram sobre a segunda gravidez, eu só pirei. —
Eles riem. — Não é engraçado. Este bebê nem foi planejado, nem
sei o que fazer, nem sei como ser mãe... Pensar em outro me deixa
doida. — Abano-me, sentindo um calor de repente.
— Bem-vinda à família — brinca Dimitria.
— Uma família de loucos. Espero não sair daqui internada
em um hospício,porque se eu for para lá, podem ter certeza de que
vou assombrar vocês. — Aponto para elas.
— Eu gosto das vovós. — Zoe comenta, então olho para ela
como se a garota fosse louca. — O quê? Elas são engraçadas.
— Tá aí, uma pessoa que ficou louca primeiro do que eu.
— Não estou louca, só disse que gosto delas — comenta,
dando de ombros.
— Sim, sim, isso até o momento em que elas focarem em
você — aviso-lhe, e ela apenas me olha, não se importando.
Eu a entendo. Ela já passou por muito, trancada durante
anos por uma pessoa desequilibrada, vivendo em um porão, sem
ver a luz do dia, e agora, tem uma família. Um pouco diferente e
cheia de segredos, mas é a sua família,sendo assim, duas avós um
pouco fora da casinha não lhe fazem mal.
— Então... Phillipa... — Suspiro, já sabendo onde essa
conversa está indo. — Como vão as coisas entre você e Raphael?
— Minha irmã pergunta, olhando-me, com puro interesse.
— Sim, eu percebi que os dois estão um pouco mais
íntimos. — Angel remexe as sobrancelhas.
Estava torcendo para que esse assunto não entrasse na
conversa, contudo eu já esperava. Essas mulheres são perspicazes,
elas iriam perguntar uma hora ou outra, mas iam perguntar de
qualquer jeito. Não há como mentir.
— Nós transamos — conto, arrancando logo o band-aid de
uma vez.
— É isso aí! — Angel grita, levantando as mãos.
— Agora, a conversa está esquentando. — Charles
comenta, rindo.
— Eu sabia que as coisas entre vocês iriam acertar-se. —
Dimitria sorri para mim.
— Não é nada disso que estão pensando — começo, e
todos param de falar para prestar atenção em mim.
Sophia estreita os olhos.
— O que é, então? — pergunta ela, com cautela.
— É só que... Ah, quer saber? Nós transamos, e foi louco,
porém foi apenas isso. Culpo os hormônios da gravidez.
— Oh, ela está em negação — comenta Lori.
Os demais acenam com a cabeça, em acordo.
— Não, eu não estou em negação... — Ou, talvez eu esteja?
Issonão importaagora. — Vocês não entendem. Foram dois anos e
meio sendo ignorada, sendo uma traidora aos olhos dele, e até
pouco tempo, ele não queria nada comigo, então não estou muito
confiante e pulando de alegria agora que eu tenho a atenção dele,
que agora ele me quer — confesso a eles, que me olham, com
compreensão.
Não quero criar expectativa para depois levar um tombo e
me machucar ainda mais do que já fui. É complicado. Estou confusa
com tudo o que vem acontecendo, principalmente com o fato de que
há alguém atrás de mim, alguém que pode prejudicar-me e ao meu
bebê. Não posso perder o foco agora e me deixar levar, tenho que
estar no controle e atenta. Meu maior foco é manter-me segura.

Raphael– Horas mais tarde...

— Phillipa está em segurança? — pergunto a Miguel,


através do celular.
Esta noite, iremos ao encontro de Olavo e da sua operação
de tráfico sexual de mulheres, junto com Marcus Esposito, então
quero ter a certeza de que Phillipa estará completamente segura em
casa, e que caso algo dê errado, ela estará protegida.
— Sim, ela está mais do que segura, Raphael. Maddox e eu
só sairemos daqui quando você e Alex voltarem. — Miguel afirma,
com confiança.
Suspiro, aliviado. Só de pensar que algo possa acontecer
com ela e com nosso bebê, fico aflito.
— Ok. Fiquem atentos. Se algo acontecer, entrarei em
contato para o bloqueio total da casa.
Desligo a chamada, colocando o celular no bolso de dentro
do meu terno, e vou ao encontro dos meus primos. Entro no
escritório de Hector, onde todos estão reunidos, ouvindo
atentamente ao que Dimitria anuncia. Paro num canto e presto
atenção em cada pequeno detalhe que ela diz, cada parte do plano.
— Pelo que pude mapear, a carga irá passar por essas ruas.
O caminhão será de mudança, como se alguém estivesse mudando-
se para o lado feio da cidade, algo comum por aqui. Serão quinze
mulheres dentro do caminhão, e é por isso que uma van nossa
estará nessa rua. Quando o caminhão passar por ela, iremos
desligar as câmeras e apagar as luzes, assim será fácil, já que
nossos homens estarão com óculos de visão noturna. Quando as
meninas estiverem bem, dentro da van, irei mandar uma mensagem
avisando-lhes, assim poderão ir ao encontro de Olavo — explica
Dimitria.
— E Marcus? — Caspen pergunta, olhando para a tela
grande da TV e o mapa em cima da grande mesa.
— Ele não participará, não é um homem burro.
Provavelmente estará em alguma parte da cidade, esperando
atualizações da operação, mas ele não estará lá, não é do feitio
dele. — Dimitria responde.
— Ao menos ele receberá o recado de que estamos indo
com tudo, e seja lá o que tem preparado para nós, temos todo o
controle e o poder. — Hector diz, olhando para todos nós.
— Exatamente. — Caspen concorda. — A transição irá
acontecer à meia-noite, então quero que Alex já esteja no local
preparado para atirar caso algo aconteça. Também quero mais oito
homens em posições estratégicas em volta do armazém, todos
protegidos pelas sombras. Dimitria, quero que apague essas luzes e
ligue essas. — Aponta para os pontos que ele quer iluminado e os
que quer sem alguma iluminação, sendo fácil para os nossos
homens esconderem-se. — Alex, será melhor posicionar-se neste
ponto aqui. — Aponta. — Assim, terá uma visão melhor e um tiro
limpo. Nossos outros homens estarão colocando os de Olavo para
baixo, assim chegaremos até ele com facilidade. Provavelmente,
dois homens estarão ao seu lado, o que torna difícilde alcançá-los,
porém não serão uma ameaça para nós. Podemos pegá-los por trás
enquanto sua atenção está em nós.
Pelas câmeras que colocamos no local, podemos observar
os armazéns e o que está acontecendo ao redor. Elas são
indetectáveis para outras pessoas, foram colocadas
estrategicamente para observamos tudo.
— Iremospegar Olavo desprevenido, e então passaremos
nosso recardo a Marcus e seus homens. — Caspen olha para cada
um de nós. — Quero que sejamos rápidos, assim Marcus não
perceberá o que está acontecendo, até que seja tarde demais. Não
quero erros, e nenhum dos nossos será deixado para trás, caso algo
aconteça. Estejam preparados. Ver-nos-emos em uma hora. — Com
isso, ele encerra a reunião.
O escritório se esvazia, deixando apenas Caspen, seu
segurança particular, Hector, Dominic, Dimitria, Carter, Alex e eu.
— Alguma notícia de Emílio e Charlie? — Hector pergunta,
sentando na sua cadeira atrás da mesa.
— Por enquanto, não há nada que tenha chamado a
atenção deles. Dominic conseguiu colocá-los como novos
seguranças. Emílioprotege as meninas, Charlie protege o escritório.
Também não vimos nada de estranho nas câmeras, porém se existir
realmente um traidor, tenho certeza de que está indo com calma,
deixando as coisas esfriarem antes de atacar mais uma vez —
respondo.
— E o clube de luta?
— Tudo tranquilo também, todavia tenho certeza de que
depois do que faremos esta noite, as coisas irão esquentar-se tanto
no clube de luta, quanto no clube de strippers. — Hector acena com
a cabeça, em acordo.
— Iremos aumentar a segurança, e ficaremos atentos.
Quem quer que seja o traidor, irá aparecer depois de hoje à noite —
informa ele.
— Sempre há um louco querendo tomar nosso lugar. —
Caspen suspira, balançando a cabeça. — Eles nunca aprendem. —
Esfrega a barba.
— E nunca vão — comento.
Essa é a mais pura verdade. Sempre haverá alguém que
tentará tomar nosso poder, sentar no nosso trono e ser o Rei. Até
hoje, ninguém conseguiu. Se depender de todos nós, nunca irão
conseguir. Você fode com a gente, nós iremos foder com você.
Bônus

Dimitria

Equipada do pescoço aos pés com roupa à prova de balas,


fico impressionada com o quão leve e confortável ela é. Estou com
duas armas em cada lado da minha cintura; uma na minha bota;
outra, na perna esquerda; e na direita, duas facas. Confiro o ponto
de escuta no meu ouvido direito, bem como o pequeno ponto na
gola da minha blusa, onde poderei falar e os outros me escutarão.
Confiro também a pequena câmera na minha roupa, onde toda a
operação será filmada para depois ser estudada com calma, assim
poderemos saber onde erramos e onde acertamos.
— Está pronta? — Meu irmão, Hector, pergunta.
Olho para ele, dando um aceno.
— Nasci pronta, querido irmão — respondo a ele, que
apenas me avalia, com seu olhar sério. — Seus homens estão
prontos?
— Sim. Na verdade, todos nós estamos. Derek, Levi e
Shade ficarão aqui no escritório, observando-nos pelas câmeras, e
através dos pontos nos nossos ouvidos, eles dirão a nós se houver
problemas.
— Certo — murmuro, com um aceno. — Estou pronta para
ir.
Juntos, todos saímos do escritório, indo em direção ao lado
de fora da casa, onde carros pretos à prova de balas nos esperam.
Entro em um com mais três homens. Meus irmãos e primos entram
nos seus veículos, todos prontos para um pouco de ação.
Cada carro parte para um local da cidade diferente, cobrindo
várias áreas. Atrás do meu, mais dois me seguem, assim como uma
van preta toda blindada.
À medida que nos aproximamos do local, mais ansiosa eu
fico, meu coração acelera no meu peito, aquela sensação de
emoção bate forte no meu corpo, uma eletricidade desconhecida
traz uma adrenalina fora do normal.
Enquanto passamos pelas ruas, algumas luzes se apagam;
outras, se acendem. Um sinal claro de que os três homens no
escritório de Hector estão vigiando-nos perfeitamente.
Meu carro para em um beco sem saída, os outros dois
param em locais diferentes, assim como a van, tudo para não
chamarmos atenção. Estamos no escuro. Saio do carro, com o
coração batendo forte no meu peito. Dou o comando aos homens
que estão comigo, apontando para pontos estratégicos, assim
poderemos fazer uma abordagem perfeita. A escuridão da noite nos
envolve, trazendo o silêncio e aquele ar de perigo. A emoção é
frenética e muito bem-vinda. Respirando fundo, deixo o ar da noite
envolver-me, a escuridão fazer parte de mim e o silêncio dominar-
me. Em meio à adrenalina, meu corpo se enche de calma e
tranquilidade, porque sei o que tenho que fazer. Eu nunca erro.
— O alvo está a dez km do local. — Ouço a voz de Levi no
meu ouvido.
— Entendido. Todos em suas posições. — Olho para
Francis, meu segurança particular, e aceno para ele preparar-se.
— O alvo está sendo acompanhado por um carro.
Precisamos abater o carro. — Levi informa a nós.
— Já estamos em posição. — Um dos homens de Hector
diz.
Meu corpo está tranquilo; e minha mente, vazia. Minha
concentração está no que deve ser feito. Neste momento, essas
mulheres são minha prioridade.
— Alvo a cinco km do local. — Levi informa.
— Estamos atrás do carro que está seguindo o caminhão.
Espero por mais, por alguma atualização. Minha respiração
se prende. Passam-se alguns minutos — ou, pode ser segundos,
não sei.
— Carro abatido — digo. — O alvo está sozinho agora.
Solto a respiração ao saber que a primeira etapa foi feita
perfeitamente. Agora, só falta resgatar as mulheres no caminho, o
que será mais difícil.
— Alvo a um km. — Levi diz.
Meu coração começa a bater um pouco mais rápido, várias
emoções passam pelo meu corpo. Olho para Francis, acenando
com a cabeça. Observo o momento em que ele joga uma armadilha
de pregos no meio da rua para fazer o caminhão parar. Olho para os
outros locais, onde nossos homens estão apostos, prontos para
atacar.
— Quinhentos metros.
— Todos em suas posições — comando.
Coloco a mão na minha cintura, pronta para apontar a arma
e atirar se for necessário.
— Pela visão de calor, dentro do caminhão há dois homens
na parte da frente; e atrás, apenas as mulheres — informa Levi. —
O alvo está aproximando-se do local em três, dois, um...
O caminhão aparece no nosso campo de visão. Olho para
Francis, que acena com a cabeça. No momento em que o motorista
vê a armadilha no chão, ele freia. Seu olhar fica em pânico quando
três dos meus homens se colocam à frente, apontando suas armas.
Os dois homens pegam suas armas, prontos para atirar, porém
assim que eles apertam o gatinho, os meus atiram primeiro,
acertando a mão de um e o ombro do outro. Não queremos eles
mortos, não agora.
Francis ronda o caminhão, com mais dois homens, para ter
a certeza de que o caminho está livre. Dois dos meus homens
rendem o motorista e seu acompanhante.
— Caminho livre. — Francis comunica.
Agora é a minhavez de agir. Caminho para a parte de trás
do caminhão e olho a porta do baú. Está trancada com um cadeado
grosso.
— Pegue a chave — peço a Francis.
Ele acena com a cabeça e se vira, indo para a frente do
caminhão, onde os dois homens estão rendidos. Minutos depois,
aparece com a chave. Abro o compartimento, e o que vejo me deixa
enjoada. Não há apenas mulheres jovens, há umas cinco crianças
junto. Todas estão em estado de miséria.
— Olá. Eu me chamo Dimitria e estou aqui para as ajudar.
Conseguem entender-me? — Algumas acenam com a cabeça;
outras, apenas me olham.
Repito a frase em italiano, após, em espanhol, assim todas
me entendem.
— Está realmente aqui para nos ajudar? — Uma menina,
que deve ter uns dezoito anos, pergunta, com precaução.
— Sim, estou aqui para levar todas a um lugar seguro. —
Olho na direção dos meus homens. — Traga a van. — Volto a olhar
para as meninas. — Vou colocá-las em uma van, e as levarei em
segurança para uma casa onde receberão alimentos, cuidados
médicos e um lugar para ficar.
Tanto as mulheres quanto as crianças me olham, com
desconfiança. Não posso fazer nada para mudar essa situação por
enquanto. Tudo o que posso fazer é agir com cuidado e mostrar que
realmente só quero ajudá-las.
No momento em que a van chega, dois carros entram na
rua, e todos ficamos em alerta, prontos para atacar. Entretanto
quando param e a porta se abre, suspiro, aliviada ao ver Hector,
Caspen e Raphael.
— O que estão fazendo aqui? — pergunto a eles.
— Uma mudança nos planos. — Hector diz, fazendo uma
pequena careta ao olhar para Caspen, que dá um sorrisinho.
— Digamos que gosto de chegar com grande estilo. — O
Chefe diz, ainda não fazendo sentido algum para mim.
— Coloque-os na van e vá com eles. Dimitria, pode deixar,
que nós assumimos daqui. — Hector comanda, e eu apenas o
obedeço.
Já fiz a minha parte, resgatei essas pessoas, portanto,
agora darei a eles uma chance de ter uma vida melhor.
Capítulo Dezesseis

Raphael

Observo enquanto Dimitria, com cuidado, retira as mulheres


e as crianças do caminhão, ajudando-os a entrar na van preta
blindada. Reparo o quanto essas pessoas estão magras e
machucadas, algumas não conseguem nem ficar de pé. A vida não
tem sido fácil para elas. Saber disso me deixa furioso. Saber que há
lá fora pessoas, homens e mulheres ruins o suficiente para
causarem tudo isso, para fazerem o mal... Pergunto-me como eles
conseguem. Como conseguem fazer coisas assim, depois, deitar a
cabeça no travesseiro e dormir tranquilamente, como se tudo
estivesse certo, quando na verdade, não está?
Ao meu lado, sinto a grande tensão emanando de Hector e
Caspen. Nenhum dos dois está contente com o que vê.
— Essa merda tem que parar. — Caspen solta um rosnado
quando termina de falar.
— Porra! — esbraveja Hector.
— Vamos lá, temos um recado a dar — digo, dando um
aperto no ombro de Hector.
Os dois acenam com a cabeça.
A porta da van se bate, então Dimitria dá um aceno de
cabeça para nós. Ela entra na parte da frente, fechando a porta, e a
van nos deixa rapidamente. Dois carros a seguem por segurança.
— Está na hora. — Caspen diz, apontando para o
caminhão.
Dois dos nossos homens se colocam na frente do veículo
enquanto nós três entramos na parte de trás. Será uma grande
surpresa para Olavo.
— Hora do show, rapazes. — Hector sorri.
O caminhão começa a andar, seguindo a rota até onde
Olavo está.
— Estão na escuta? — Alex pergunta, do outro lado.
— Sim, nós estamos — respondo por todos.
— Olavo já está no seu lugar, nossos homens estão em
posição e eu tenho ele perfeitamente em minha mira. O homem está
um pouco agitado por causa da demora, mas por enquanto, tudo
tranquilo.
— Vocês já estão chegando no ponto de encontro. — Levi
diz.
— Ouviu, Alex? — pergunto a ele.
— Sim, todos nós ouvimos.
Ao meu lado, Caspen estala o pescoço. Já Hector, apenas
tem aquele olhar concentrado. Os dois são totalmente diferentes de
personalidade. Caspen gosta de sujar as mãos. Já Hector, não
gosta de jeito nenhum. Acho que é TOC que ele tem.
— Está na hora. — Caspen sorri quando o caminhão para e
ouvimos nossos homens saírem, fechando a porta.
Do nosso ponto, conseguimos ouvir a conversa que Jack,
nosso homem, o qual trouxe o caminhão, está tendo com Olavo.
Pelo que parece, o mesmo não está satisfeito com a demora da
carga.
Suspiro ao ouvir a conversa e a voz enjoativa dele. Esse
homem me dá nos nervos. Ainda bem que vamos acabar com ele
hoje.
— Bem, vamos ver nossas preciosidades, então. — Olavo
diz, e posso ouvir o risinho malicioso que ele dá.
Ao meu lado, Caspen e Hector se preparam para o show
que irão dar. Esses dois gostam de se exibir. Acho que encontrei o
que eles têm em comum.
Ouvimos a chave no cadeado da porta. Meu coração
acelera no meu peito, porque eu sei que as coisas ficarão
interessantes em segundos. Retiro minha arma da cintura,
preparando-me para apontar e atirar se for preciso. Ao meu lado,
Hector e Caspen parecem tranquilos.
A porta se abre. Quando Olavo olha para nós três, seu
semblante muda totalmente. O sorriso nos seus lábios morre na
hora. Ele dá um passo para trás, mas o cano da arma de Jack
encosta nas suas costas.
— Olá, Olavo. — Caspen diz, sério. — Soube que anda
fazendo negócios sem a minha permissão.
À nossa volta, quando os homens de Olavo percebem o que
está acontecendo, se preparam para atacar, porém nossos homens
estão em suas costas, colocando todos para baixo.
— N-não é nada disso que está pensando. — Olavo diz.
Olho em volta, fazendo a própria varredura do lugar.
— Está tudo limpo, todos os homens estão caídos. — Levi
informa a nós, pelo ponto no nosso ouvido.
— E eu tenho Olavo na mira. — Alex diz. — Quando chegar
a hora, ele será apagado da existência.
— Não, nada disso é o que se parece? — pergunta Hector,
erguendo os braços e dando uma voltinha. — O que é, então,
Olavo?
O homem abre a boca, mas logo a fecha, não sabendo o
que responder. Olho para as suas mãos, que tremem
descontroladamente. Patético.
— Vai dizer-me que esse caminhão não era para estar cheio
de mulheres e crianças? Que você não ia vendê-las ou colocá-las
no seu prostíbulo imundo? — Caspen pergunta, dando um passo
para frente, ficando cara a cara com Olavo. — Vai negar que está
trabalhando para Marcus Esposito? Hum... — Sorri quando Olavo
tropeça para trás, engolindo seco.
Sabendo que estamos em segurança, coloco minha arma na
minha cintura e cruzo os braços, observando tudo o que está
acontecendo. Nossos homens fazem um círculo à nossa volta,
colocando todos os de Olavo de joelhos. No total, há uns vintes.
Sorrio. Isso vai ser divertido.
— Sabe, Olavo, eu avisei. Chamei-o para trabalhar para
mim, mostrei como seria, e você recusou. Apesar disso, eu, como
um homem justo, dei-lhe total liberdade para ter sua imundice na
minha cidade, e na primeira oportunidade, resolve trair-me. —
Hector balança a cabeça. — E o mais surpreendente de tudo isso é
que pensou que eu não descobriria, pensou que eu não iria fazer
algo. Estou decepcionado. — Dá um passo para trás.
Caspen entra na sua frente e soca Olavo bem no nariz.
— Eu tive que sair de New York para arrumar essa merda, e
não estou feliz com isso! — rosna, dando mais um soco nele. —
Merda, até que estou gostando de um pouco de ação... New York
está tão parada nesses últimos meses. — Dá um sorrisinho
malicioso. — O que devo fazer com você? — pergunta, olhando
para Olavo, que está com o sangue escorrendo do seu nariz.
— Por favor, n-não...
Caspen soca Olavo no estômago, fazendo-o contorcer-se de
dor.
— Eu disse que pode falar?
Caspen olha em volta, para os homens que são de Olavo e
de Marcus Esposito. Deduzo isso porque nunca, nunca Olavo teria
esse tanto de homens. O Chefe esfrega o queixo ao olhar em volta,
para os homens que estão de joelhos, todos com as cabeças
levantadas, olhando para o que está acontecendo com Olavo.
Sinceramente? Caspen e Hector não precisavam de mim. Eles já
estão protegidos e seguros. O fato de eu estar aqui é só mais para
apoio e segurança, coisa que não é necessária. Se fosse da minha
escolha, teria ficado com Phillipa, protegendo-a de Marcus e de
Henry, com ela em meus braços, reparando todos os meus erros.
Todavia não tenho escolha. Tenho que estar aqui, observar tudo e
ser um alvo se as coisas saírem da ordem.
— Isso— Caspen aponta para Olavo — é o que acontece
quando tentam me derrubar. — Sorri para todos eles, de forma
assustadora. — Vocês serão meu recado para Marcus. — Todos os
homens arregalam os olhos ao perceber o que irá acontecer a
seguir. — Mate-os — comanda.
Os homens de Olavo e de Marcus tentam lutar, entretanto já
é tarde demais para todos eles, pois os nossos levantam suas
armas, armas essas que eles pegaram dos mesmos de joelhos.
Esta ideia partiu de Caspen: matá-los com as próprias armas. Todas
elas estão com silenciador na ponta.
Eles atiram bem na cabeça, e os homens caem para frente,
todos mortos.
— Coloquem seus corpos no caminhão. — Hector comanda.
— Agora é a sua vez, Olavo.
O homem tenta fugir, contudo Caspen o pega pelo colarinho,
jogando-o no chão e dando um chute no seu estômago. Olavo se
contorce e treme de dor.
— Pegue seu celular e ligue para Marcus — comanda
Caspen.
Olho para ele, surpreso. Não estava nos nossos planos ligar
para Marcus. Parece que Caspen tem as próprias ideias, o que é
perigoso demais.
— Eu mandei pegar a porra do seu celular e ligar para
Marcus! — grita, chutando Olavo na cabeça.
Olavo pega seu telefone e disca o número de Marcus.
— Viva voz
. — Caspen diz.
Ele obedece.
Três toques depois, Marcus atende.
— Olavo? Tudo certo?
— Bem, eu diria que, para você, não; mas para mim, sim. —
Caspen responde, rindo.
— Quem está falando!? — grita Marcus. — Onde está
Olavo!?
— Olavo está impossibilitado no momento. — Sorri. — Bem,
e quem fala? Vamos lá, Marcus. Pensei que fosse mais esperto do
que isso.
Do outro lado, posso ouvir o suspiro de Marcus.
— Caspen...
— Bingo! — grita, rindo.
Ele é louco, estou dizendo. O homem acha que isso é um
passeio em um parque de diversão.
— Acho que precisa vir até aqui, limpar minha bagunça. —
Com isso, termina a ligação.
Logo após, joga o celular no chão e pisa em cima,
esfregando-o, o que faz o aparelho quebrar-se em pedaços.
Posteriormente, ajeitando seu terno feito sob medida, Caspen olha à
sua volta, vendo que seus homens terminaram de colocar os corpos
no caminhão. Dando um aceno, ele olha para Olavo, depois, para
cima de um galpão.
— Mate-o — comanda.
Fico surpreso que ele saiba onde Alex esteja, e pelo suspiro
do mesmo, até ele está.
— Vamos, temos que sair daqui.
Um carro para ao nosso lado. A porta se abre. Assim que
damos as costas e entramos no carro, a bala da snipper de Alex
atinge Olavo, acabando com seus gemidos.

Uma hora depois, estamos no escritório de Hector, reunidos


para conversar sobre o que fizemos e como as coisas irão a partir
desse momento.
— De uma coisa eu tenho certeza: Marcus Esposito irá
retaliar, então precisamos estar mais atentos — comento, olhando-
os. — A casa protegida, onde estão as mulheres com as crianças,
precisa ser muito mais protegida do que já está. Ele tentará
recuperar a carga que perdeu hoje.
— Já tinha imaginado isso. Coloquei mais vinte homens
meus para proteger a casa, sem falar no sistema de última geração
que instalamos. Temos um forte muito bem protegido. — Caspen
diz. — Também instalamos mais segurança no clube de stripperse
no hotel, protegendo tudo e a todos. Dei novos uniformes aos
nossos homens. Todas as roupas são à prova de bala. Nnão que
eles saibam. Caso haja algum traidor entre nós, não quero dar essa
vantagem a ele. Será uma surpresa.
É por isso que Caspen é o chefe de todos, ele pensa em
tudo. Sempre há um plano B, um C, e assim por diante em sua
mente.
— O que faremos com Phillipa? — pergunto a ele. — Ela é o
alvo principal de Marcus.
Depois do que acabamos de fazer, tenho certeza de que
Marcus está fervendo de raiva e irá atacar com tudo. Ele não
pensará. Homens como ele não planejam, eles atacam sem pensar
nas consequências. Além disso, algo me diz que irá atrás de
Phillipa. Posso sentir nas minhas veias. Não devo permitir que ele
ponha as mãos sujas nela, nem no meu filho. Posso ter errado no
passado, ter sido um filho da puta idiota e orgulhoso demais para
demonstrar meus sentimentos e o que quero para Phillipa, mas não
irei cometer o mesmo erro duas vezes. Estou indo com tudo. Phillipa
e esse bebê são meus, e eu cuido do que é meu.
— Já mandei mais homens para vigiarem a casa, ela está
segura. Temos homens na sala de vigilância observando a casa
vinte e quatro horas por dias, sete dias na semana, assim como no
clube e no hotel — informa Caspen.
— Ele não pode chegar até ela — digo.
— Ele não a terá. — Hector diz, sendo firme. — Ela nos tem,
está protegida.
Passo as mãos pelos cabelos, sentindo-me nervoso. Antes,
era mais fácil, só tinha a família e os negócios para proteger; agora,
tenho uma mulher — pela qual estou apaixonado — e uma bebê a
caminho. Caralho! Quando tudo começou a complicar-se? Nunca
imaginei que estaria em uma posição como esta. Antes, guerra era
a minha diversão. Nesse momento, eu estaria descontraídoe pronto
para a retaliação de Marcus. Desejando a retaliação, para dizer a
verdade. Contudo, tudo o que mais quero é pegar Phillipa e correr
para o mais longe possível, colocá-la em uma caverna protegida,
bem longe de tudo isso. Porém eu não posso. Primeiro, que ela iria
enlouquecer. A mulher ainda não confia em mim completamente,
pois sempre arrumo um jeito de estragar tudo. Segundo, que eu não
poderia distanciá-la da família. Não agora, que ela os tem de volta.
E terceiro, que neste momento, não confio em ninguém que não
sejam os Callahan’s.
— Notíciasde Dimitria? — Mudo de assunto, querendo por
um segundo tirar essa preocupação da minha mente.
Tenho que focar no que está sendo feito e planejado agora
para não haver erros futuramente.
— Dominic ligou informando que está tudo limpo. Dimitria
está na casa com as meninas e as crianças. Estão recebendo
acompanhamento médico e psicológico. Encontram-se banhadas e
alimentadas. — Hector responde. — Ele passará a noite lá,
observando tudo.
— E Carter?
— Protegendo o restante da família. Usaremos ele em
último caso. — Caspen informa.
— O que faremos com as mulheres e as crianças? —
pergunto.
— Por enquanto, nada. Iremos apenas as manter em
segurança, depois, o mesmo que Amélia e Lori fazem: ajudá-las a
seguirem em frente. Tratamento psicológico, iremos ensiná-las a se
protegerem e daremos uma nova vida a todas. — Caspen diz,
dando um pequeno sorriso. — Mas primeiro, precisamos garantir
que Marcus não será uma ameaça à vida deles.
Aceno com a cabeça.
— Precisamos de reforços — anuncio.
Nesse momento, Hector dá um pequeno sorrisinho.
— Isso eu já providenciei. — Esfrega o queixo, e seu olhar
vai para Caspen, que acena com a cabeça.
Os dois conversam silenciosamente apenas com um olhar.
Eu sei que estão planejando algo.
— Vocês vão compartilhar o que estão planejando? —
pergunto a eles, que olham para mim e negam com a cabeça.
— Por enquanto, não — diz Caspen.
Suspiro, acenando com a cabeça.
— Se isso é tudo, estou indo para casa — informo a eles.
— Pode ir. Só mantenha seu celular ligado. Se precisarmos,
iremos chamá-lo. — Hector comanda.
— Nunca desligo meu celular. É uma regra que tenho, e não
pretendo quebrá-la agora. Boa noite. — Levanto-me do sofá e saio
do escritório, fechando a porta atrás de mim.
Do lado de fora da casa, encontro-me com Alex, que me
espera, encostado no carro, com os braços cruzados e um cigarro
nos lábios. Vendo-me sair, ele pega o cigarro, jogando-o no chão e
pisando com seu coturno.
— Sabe que a merda vai feder, né? — pergunta a mim,
abrindo a porta do carro para eu entrar.
Ele bate a porta e dá a volta para o lado do motorista.
— O que me deixa tenso é não saber o que Marcus fará.

Phillipa

Não consigo dormir. Não sabendo o que está acontecendo.


Saber que o que farão hoje trará consequências em um futuro bem
próximo... Eu sei que é para o bem, sei que estão resgatando
mulheres que foram sequestradas para ir ao comércio ilegal do
tráfico. O que traz medo é o que o ato de hoje trará para o amanhã.
É uma preocupação válida, principalmente porque eu sei que
Marcus me quer. Estou com medo. Medo do que acontecerá se ele
colocar as mãos em mim, medo do que fará com todos os outros,
medo pelo meu bebê. Tudo o que eu queria era normalidade, um
pouco de tranquilidade, estabilidade antes que me vá.
Sento-me no meio da cama, jogando as cobertas de lado, e
levanto-me na ponta dos pés. Abrindo a porta do quarto, encontro
Maddox parado e de braços cruzados, vigiando a porta.
— Não consegue dormir? — pergunta, dando um pequeno
sorriso.
Dou de ombros para a sua pergunta. Acho que nenhuma
mulher em uma situação na qual estou conseguiria deitar a cabeça
no travesseiro e dormir tranquilamente.
— Vamos lá, Miguel está na sala. Quer algo para comer? —
pergunta, olhando-me com cuidado.
— Depois de ter descoberto que estou grávida, sempre
quero comer — comento, fazendo-o rir.
Juntos, vamos em direção à cozinha. Posso ouvir vozes
vindo da sala, como um sussurro, uma conversa quase silenciosa.
Mudo meu caminho e vou para lá, onde encontro Raphael, Alex e
Miguel, os três em uma conversa muito séria. Limpo a garganta,
fazendo-os pararem e olharem para mim.
— Você está acordada. — Raphael diz, passando seu olhar
pelo meu corpo.
Sinto o calor do seu olhar. Minha pele se enche de
eletricidade. Esfrego meus braços, tentando livrar-me da sensação.
Ele dá um pequeno sorrisinho a mim. Rolo meus olhos, mas não
digo nada. Não quero discutir com ele agora, principalmente porque
percebo quão cansado e preocupado está.
— Não consegui dormir — digo-lhe. — Não sabia que já
tinha chegado.
Raphael sorri, dando um aceno.
— Acabei de chegar. Só estava dando uma atualização a
Miguel sobre o que aconteceu. — Ele diz, e eu aceno com a cabeça.
— Está tudo bem? — pergunto, preocupada.
— Sim, gatinha, tudo está bem. — Suspiro, aliviada com sua
resposta.
— Vou comer algo. Vocês querem?
— Miguel, Maddox e Alex estão liberados para descansar.
Será apenas nós dois. O que você fizer está bom para mim. —
Raphael diz, dando um aceno, o que eu sei que significa que está
dispensando-me.
Seja lá o que ele tem para dizer a Miguel, Maddox e Alex,
não é da minha conta. Bem, na verdade, é sim, já que estou
envolvida em toda essa merda. Contudo não vou discutir com ele.
Estou com fome, cansada do dia que tive, sem falar na preocupação
sobre Marcus, que paira bem em cima da minha cabeça, fazendo
com que minha veia da testa lateje.
Na cozinha, resolvo preparar um sanduíchepara mim e dois
para Raphael, porque sei que ele está com fome. Todos os homens
ficam depois de um pouco de ação.
Enquanto os preparo, ouço bem de leve os sussurros da
sala de estar, em seguida, a porta fechando-se. Não demora muito
para Raphael aparecer na cozinha.
— Tudo certo?
— Sim, gatinha, tudo certo.
Coloco os sanduíches em um prato, após os empurro para
frente, em cima da ilha.
— Pegue um pouco de suco na geladeira, por favor — peço
a Raphael, que acena.
— Como foi seu dia? — pergunta ele, tentando entrar em
uma conversa.
Suspiro. Eu não queria ter que fazer isso, não agora, mas é
necessário, pois preciso saber.
— Raphael? — chamo-o, e ele para os movimentos,
virando-se para me olhar.
— Sim?
— As coisas vão ficar mais intensas a partir de hoje, não
vão? Ele virá atrás de mim.
Meu coração já está batendo forte no peito, parecendo que
sairá pela minha boca a qualquer momento. É uma sensação
estranha. Eu já senti medo antes, principalmente quando estava
sendo espancada brutalmente pela minha mãe, todavia o que estou
sentindo agora é puro terror, porque sei, lá no fundo, sei que se
Marcus me pegar, o que fará comigo será mil vezes pior do que
minha mãe fez. Ele irá quebrar-me, destruir-me, ele matará minha
alma. Não sobrará nada de mim.
Sinto os braços de Raphael envolverem meu corpo. Minha
cabeça se encosta no seu peito, então posso ouvir as batidas do
seu coração. Meu corpo fica tenso por um instante com sua
proximidade, mas logo relaxo nos seus braços, permitindo-me ter
esse momento de tranquilidade.
— Eu prometo a você, Phillipa, Marcus nunca a terá. —
Beija minha cabeça. — Irei protegê-la, a você e ao nosso bebê.
Eu queria, eu juro que queria acreditar nele nesse momento,
entretanto conheço muito bem esse mundo, conheço como as
coisas são feitas, sei muito bem quão sujo os inimigos jogam.
Marcus fará de tudo para se vingar por hoje. Se não for vindo atrás
de mim, ele irá atrás de outro alguém, ou se não, de todos nós. Sei
que Raphael está tentando proteger-me ao não contar a mim como
as coisas realmente estão indo, principalmente porque agora há um
bebê dentro de mim, o qual depende de nós dois. Eu posso
perceber como tudo mudou rápido demais. Enquanto estava no
quarto, tentando dormir, pude perceber a mudança no ar, os
barulhos do lado de fora, pude ouvir Maddox ao seu celular. Olhei
para a janela do quarto, do lado de fora, e mesmo estando escuro,
pude ver que mais homens vinham chegando para guardar o lugar;
dois deles, com cachorros de caça. Não sou cega, nem surda.
Marcus Esposito irá atacar-nos, e ele virá com tudo.
— Há duas delas. — Mudo totalmente de assunto.
— Ham?
Saio dos braços de Raphael. Ele me olha, sem entender
nada. Um vinco se forma entre suas sobrancelhas.
— Há duas avós, Raphael, duas Nadines.
Observo o exato momento em que algo clica na sua mente e
ele entende o que estou dizendo. O vinco entre suas sobrancelhas
some e o mesmo abre um pequeno sorrisinho.
— Sim, há duas delas. Minha vó, Tereza, é tão doida quanto
Vovó Nadine. — Sorri.
Por um momento, esquecemos o que estamos enfrentando
e apenas relaxamos.
— Céus! — exclamo, olhando para o teto, como se, do
nada, algo fosse descer e me ajudar. — O que irei fazer? Elas irão
me enlouquecer!
Raphael apenas dá de ombros.
— Acho que terá que lidar com as duas por um tempo.
Ótimo, ele me ajudou muito...
— Deus me ajude! — digo, e o mesmo ainda tem a coragem
de rir. — Não é engraçado, Raphael.
— É sim, gatinha. — Suspiro mediante a sua palavra de
carinho para mim.
Raphael olha para mim intensamente, seu olhar, avaliando
cada parte do meu corpo. Por um momento, seus olhos param no
meu abdômen. Viro-me, tentando ficar longe do seu olhar. Pego
meu sanduíche de cima da pia e começo a comê-lo.
— Não se esqueça do suco — digo, ainda com um pouco do
lanche na minha boca.
Raphael acena, em seguida volta a abrir a geladeira,
pegando o suco. Coloca um pouco em dois copos: um para ele; e
outro, entrega a mim. Comemos em silêncio, o que acho bom. Não
quero pensar no que está acontecendo entre nós dois nesse
momento. Tudo o que quero é comer meu sanduíche para depois
dormir, esquecer um pouco sobre o que está à minha volta. Pelo
menos nos meus sonhos, tudo está bem, tranquilo e feliz.
De manhã, eu penso sobre tudo o que envolve minha vida e
em como vou sair de tudo isso, porque em meio a essa confusão, a
única coisa que não mudou em mim é a vontade de recomeçar em
outro lugar. Por mim e pelo meu bebê. Nós merecemos um
recomeço.
Bônus

Marcus

— Eu a quero, e você irá ajudar-me a tê-la — digo, olhando


para o meu informante.
Ninguém desconfia dele, o que é perfeito para mim e para
os meus planos.
— O que quer que eu faça? — pergunta ele, olhando-me. —
Hector e Caspen dobraram a segurança, cada canto da casa tem
lugar que eles comandam, estão sendo vigiados com dupla
vigilância.
Dou de ombros, não me importando nem um pouco com o
que ele terá que fazer para eu conseguir o que quero. Neste
momento, quero a traidora, quero mostrar a eles como é que se faz.
Ela será a primeira que irei quebrar, moldar da maneira que eu
quero, mostrar o que acontece com pessoas do tipo dela. Lixo.
Caspen e Hector tiraram algo de mim, portanto está na hora de tirar
algo deles. Quero começar com Phillipa. Preciso começar por ela. É
uma honra minha, um dever começar pelos traidores. Meu
informante não sabe, mas ele também será eliminado, no final das
contas, é um traidor.
— Não me importo. Eu quero uma brecha, qualquer coisa
que me dará acesso a ela. Só me dê acesso, o resto, eu e meus
homens faremos — comando a ele, que acena com a cabeça.
— Tudo bem, verei o que posso fazer e o manterei
informado. — Sorrio.
— Bom, por enquanto, vamos deixar tudo quieto, vamos
deixá-los pensarem que não farei nada. Eles precisam relaxar,
diminuir a proteção, e assim iremos atacar. Começando pela vadia
traidora.
É um plano perfeito. Eles sempre relaxam depois de um
tempo. É aí que as coisas acontecerão: quando pensarem que
estão seguros. É quando irei atacar, bem em meio à escuridão, na
calada da noite, nas sombras. Irei destruí-los, e farei com um grande
sorriso nos lábios. Está na hora de mostrar que os Espositos
nasceram para reinar. E eu serei seu rei, sentado no trono, com a
coroa na cabeça.
Capítulo Dezessete

Phillipa – Uma semana depois...

É como estar no limbo. Neste momento, todos nós estamos


sentindo-nos assim, no limbo, esperando o momento em que
seremos julgados, na minha situação, o momento em que Marcus
irá atacar, porque já faz uma semana que tiramos algo dele, no
entanto até agora, nada. Nenhuma folha ao menos está fora do
lugar. Tudo muito tranquilo, muito calmo para o meu gosto. Não
estou gostando nada disso. Essa sensação de que a qualquer
momento algo irá acontecer, de que quando respirarmos, aliviados,
o nosso inimigo irá nos apunhalar pelas costas, com um sorriso nos
lábios... Só de pensar, minha pele se arrepia. A tensão é grande
demais, deixando-nos no limite.
Suspiro. Meu olhar recai sobre meu braço e nos dois pontos
do corte onde há um chiprastreador. Balanço a cabeça. A que ponto
cheguei? Ter que colocar um chiprastreador em mim por causa de
Marcus, da sua ameaça em me pegar. Será que eu não vou ter
nenhum momento de paz em meio a essa merda toda?
Olho para a floresta à minha frente, onde há homens
escondidos entre as árvores, protegendo a casa. Respiro fundo,
sentindo o cheiro da mata.
— Phillipa? — Ao ouvir meu nome sendo chamado, olho
para o lado, vendo então Miguel parado na porta, olhando-me com
curiosidade. — Você está bem?
Dou de ombros. O que posso dizer? Quem estaria bem em
uma situação como essa?
Miguel se senta ao meu lado. Olho para ele, dando um
pequeno sorriso. Tornei-me um pouco mais apegada a Miguel e a
Maddox, já que eles sempre estão comigo, até durante a noite,
quando Raphael não está por perto. Bufo ao pensar em Raphael, na
sua atitude controlada e super-protetora. Céus! O homem não me
deixa sozinha em momento nenhum! Até na hora do banho tenho
que ter um segurança na porta, esperando por mim. Eu entendo,
juro que entendo que a situação está complicada, que Marcus virá
com tudo, principalmente atrás de mim. Mas, céus, eu não tenho um
minuto só para mim mesma! Como agora, com Miguel ao meu lado,
observando-me atentamente.
— As coisas vão melhorar. Marcus será pego e tudo voltará
ao normal — diz, olhando-me.
Dou a ele um pequeno sorriso.
— O que é o normal para você, Miguel?
Ele acena, dando um riso.
— Sim, certo, você pegou-me nessa — comenta.
Fecho os olhos, erguendo minha cabeça em direção ao sol.
É bom estar do lado de fora, sentir essa sensação de liberdade,
mesmo que ela seja falsa.
— Vai ficar tudo bem, Phillipa, não precisa se preocupar.
Você está segura, protegida, e Raphael está caçando Marcus junto
com os outros — assegura.
Eu sei disso, sei que estão fazendo o possível para pegar
Marcus, mas será que é o suficiente? Uma semana passou-se, e
nada. O cara é um fantasma. Sempre que há uma localização dele,
ele some, como se nunca tivesse estado lá, o que deixa a todos
ainda mais frustrados.
Quanto a Raphael: ele tem sido protetor demais, contudo
com o passar dos dias, acabamos entrando em sintonia, mesmo o
homem irritando-me a maior parte do tempo. Estamos confortáveis
um com o outro, de modo que ele sempre, sempre dorme ao meu
lado, o que é uma tortura para mim, porque meu corpo sempre o
quer, mesmo minha mente sabendo que é errado. Deus! Que
situação... A cada momento nessa casa com ele, tudo se torna mais
intenso, e ao mesmo tempo, tudo é tão estressante. Estou tentando,
juro que estou tentando ser forte com o que está acontecendo,
entretanto há momentos em que tudo o que quero é correr para bem
longe disso, como em uma ilha isolada só para mim e o meu bebê.
Mordo meus lábios, sentindo meus olhos se encherem de
lágrimas. Toda essa situação é desgastante. Sinto-me cansada, tão
cansada... Começo a sentir um aperto, uma sensação de
sufocamento. Esfrego meu peito, tentando aliviar esse sentimento
ruim, mas não resolve.
— Phillipa? — Miguel chama, olhando para mim, com pura
preocupação.
— Nã-não consigo... — Paro, tentando achar ar.
Lágrimas transbordam dos meus olhos, escorrendo pelo
meu rosto. Céus!
— Ei, ei... — Miguel diz, ajoelhando na minha frente. — Olhe
para mim e respire junto comigo — comanda, tomando todo o
controle da situação.
Pisco em meio às lágrimas, então minha visão fica mais
clara. Miguel sorri para mim.
— Isso mesmo... inspira, expira, inspira e expira.
Faço conforme ele instrui, e aos poucos, a sensação no meu
peito se vai, minha respiração volta ao normal. Sorrio, e Miguel sorri
de volta. Erguendo a mão, ele seca minhas lágrimas.
— Assim está bem melhor. — Pisca, e eu ruborizo um
pouco. — Sente-se melhor?
— Sim, obrigada — respondo, dando um pequeno sorriso.
Miguel se levanta e volta a sentar ao meu lado. Pegando
minha mão, ele dá um aperto.
— Vai ficar melhor, você vai ver — diz.
Contudo pelo seu olhar, sei que está apenas tentando me
reconfortar. Dou a ele um riso sem graça, sabendo muito bem que
suas palavras são apenas isto: palavras sem verdade alguma,
porque não sabemos como tudo vai acabar.
— Palavras, Miguel, apenas palavras. — Ele ri.
— Sim, eu sei, mas temos que acreditar em algo, não é
mesmo? E, Phillipa? Você tem uma equipe incrível, sem falar em
Raphael, que está fazendo de tudo para a proteger.
— Sim, eu estou. — A voz de Raphael nos assusta. —
Estou atrapalhando algo? — pergunta, olhando para a mão de
Miguel na minha.
Sua expressão é de pura raiva, parece que ele está pronto
para o matar. Se olhar pudesse matar, tenho certeza de que Miguel
estaria morto neste exato momento. A tensão enche o ar à minha
volta.
Miguel larga a minha mão e se levanta do sofá. Olho entre
os dois. Meu corpo treme com essa tensão.
— Não, você não está atrapalhando em nada. — Olha para
mim, dando um pequeno aceno.
Chega mais perto de Raphael e sussurra algo que sou
incapaz de ouvir. O olhar do mesmo muda de raiva para
preocupado. Miguel dá um aperto no seu ombro e desaparece pela
casa, deixando-me sozinha com Raphael.
Ele senta ao meu lado. Ficamos em silêncio por alguns
instantes, um silêncio desconfortável, ao menos para mim, que não
gosto do que estou sentindo.
— Você voltou cedo — digo, quebrando o silêncio.
Raphael olha para mim, avaliando-me.
— Sim, vim para a buscar. Vamos jantar na casa de Hector
com a família — responde, com um pequeno sorriso.
Raphael pega na minha mão, apertando-a.
— Como está sentindo-se? — Suspiro, já cansada dessa
pergunta.
— Sabe, todos ficam perguntando se estou bem, como
estou sentindo-me, quando eu sei que tudo não passa de uma
pergunta educada. Ou quando dizem que tudo vai ficar bem, sendo
que, na verdade, não sabemos de merda nenhuma. — Termino já
sem fôlego.
Olho para Raphael, que tem um pequeno sorriso nos lábios.
— Gatinha, todos que perguntam se você está bem, é
porque eles realmente se preocupam. Quanto a tudo ficará bem... —
Para, dando de ombros — acho que é apenas um jeito de
tranquilizá-la. Bem, é um jeito até mesmo de nos tranquilizarmos.
Quanto mais falarmos que tudo vai ficar bem, mais acreditamos
nisso. — Olho para ele, erguendo uma sobrancelha.
— Wow.
— O quê? — pergunta ele, sorrindo.
— Nada, é só que não imaginei que diria tudo isso — digo,
rindo.
Raphael olha para mim, rindo também. Ele dá um leve
aperto no meu nariz e se levanta, erguendo a mão para mim.
— Vamos, temos que nos preparar para um jantar em
família — comenta.
Suspiro. Um jantar em famíliacom duas avós loucas. CÉUS!

— E aí, qual é a sensação de ter seu primeiro jantar em


família? — Minha irmã pergunta.
Estamos todos sentados à mesa de jantar. Lori está à minha
esquerda, enquanto Raphael está à minha direita. Olho para ela,
sem saber o que responder, enquanto meus olhos se arregalam. Ela
começa a rir.
— Bem, acho que seu olhar já diz tudo — comenta, ainda
rindo. — Bem-vinda à família, maninha. — Pisca para mim, tomando
um pouco do seu vinho.
Esfrego minha barriga ainda plana. Eu daria tudo para tomar
um gole do seu vinho, um pouco de álcool para me acalmar em
meio a toda essa loucura. Um jantar em família? Quem foio doido
que teve essa ideia?
, penso, erguendo minha taça e tomando um
gole do meu suco de laranja.
— Oh, querida, nós quem fomos as doidas. — Vovó Nadine
diz, apontando entre ela e Tereza.
Engasgo com o suco. Não fazia ideia de que proferi as
palavras em voz audível.
— Sinto muito. Pensei que tinha apenas pensado —
comento, um pouco envergonhada.
Minhas bochechas queimam com a sensação humilhante.
Todos à mesa começam a rir.
— Não fique envergonhada, Phillipa. Acho que todos nós
pensamos isso. — Iona,a matriarca da família, diz, sorrindo para
mim.
— Bem, eu acho divertido. — Dominic dá de ombros.
— Issoé porque a família não está completa. Quando todos
nós juntamo-nos, é loucura. Só de pensar, sinto dor de cabeça. —
Carter comenta, estremecendo.
Ele toma um gole do seu whiskey. Sophia dá uma
cotovelada na costela dele, que apenas dá um pequeno sorriso para
a esposa. Sorrio ao observar como eles interagem entre si. Este
jantar está sendo desastroso, porém parece que é normal para eles,
já que não se importam nem um pouco. As crianças correm ao redor
da mesa, gritando uns com os outros. Os adultos conversam alto
sobre um monte de coisas aleatórias. Bem, eles conversam sobre
qualquer coisa, menos sobre o grande elefante na sala. Ao que
parece, este jantar é simplesmente um meio de escape, um meio
para, por um momento, esquecer toda a merda com Marcus
Esposito.
— Então... — Tereza começa, com seu olhar concentrado
em mim.
Minha pele formiga. Não gosto nem um pouco desse olhar
dela em mim.
— Sim, temos que falar sobre o planejamento. — Vovó
Nadine sorri, olhando com cumplicidade para Tereza.
Coloco minha mão direita embaixo da mesa e aperto a coxa
de Raphael. Prendendo a respiração, espero para saber o que as
duas estão aprontando.
— Planejamento de quê? — pergunta Raphael, olhando
para as duas.
— Do casamento, é claro. — Tereza bate na mesa, dando
um susto em todos.
Esfrego meu peito. Não estou gostando nem um pouco do
rumo que essa conversa está tomando. Minhas unhas cravam na
coxa de Raphael, mas ele apenas ri do meu desconforto.
— Vovó... — Lori começa, vindo ao meu socorro. — Não
acha que primeiro temos que preparar o chá de bebê? — Olho para
ela, estreitando os olhos.
— Não. — Vovó Nadine diz, sendo firme.
— Exatamente isso, os dois precisam casar-se antes que o
bebê nasça. — Tereza diz, acenando com a cabeça.
Olho para todos à mesa, pedindo ajuda a qualquer um,
qualquer alma solidária que possa intervir ao meu socorro, todavia
ninguém, ninguém está olhando para mim, nenhum deles me ajuda.
— Eu não acho que seja necessário, não quero casar-me —
digo, e elas me olham de cara feia. — Não quero me casar ainda...
— Um absurdo! — Tereza exclama, levantando-se. — Vai
totalmente contra nossos princípios.
— Exatamente! — Vovó Nadine se levanta também. —
Temos que os casar. Depois, iremos preparar a festa do bebê. —
Ela bate palmas, como se tudo estivesse combinado, como se todos
estivéssemos de acordo.
Cravo minhas unhas ainda mais fundo na coxa de Raphael,
fazendo-o tremer. Sorrio, sabendo que agora ele sentiu. Bom, essa
era a minha intenção.
O filho da mãe não faz nada, ele apenas fica sentado,
tomando seu whisky, observando tudo. Resolvo dar meu golpe,
assim, quem sabe, aprenda uma lição. Antes, eu olho para ele.
Raphael sente meu olhar. Sua cabeça se vira, seus olhos encontram
os meus. Suspiro. Ele tem a coragem de piscar para mim. O filho da
mãe pisca para mim. Sorrio para ele, que estreita os olhos. Viro-me
para Nadine e Tereza.
— Eu me recuso a me casar com o homem que mandou eu
abortar o próprio filho — anuncio.
Bow!! Explodi a bomba.
Tereza põe as mãos no peito. Caspen, Hector, Carter,
Dominic e Luciano apenas olham para Raphael. Zoe, Lori, Sophia e
Iona suspiram, em horror.
— Bem, ela tem um ponto. — Vovó Nadine diz.
Ah! E Raphael? Ele está dando seu olhar da morte para
mim. E eu? Estou sorrindo. Toma essa!

Raphael

Caralho! Essa mulher vai ser a causa da minha morte.


Olho para Phillipa, abismado. Ela realmente conseguiu
surpreender-me. Eu não estava esperando por essa. Os olhares que
estou recebendo da minha família, todos decepcionados comigo,
com minha atitude... Merda! Até eu estou decepcionado comigo
mesmo. Esfrego meu rosto, sentindo a aspereza da minha barba.
— Isso... porra... — Soco a mesa, irritado com toda essa
situação.
— Raphael? — Luciano me chama, e olho para ele. — Seus
pais sabem disso? Da gravidez, do que Phillipa acabou de contar,
eles sabem?
— Foda-se! — grita Vovó Nadine. — Não me importo se
eles sabem. Que se danem eles. Eu já tinha esquecisdo isso. Quero
saber o que se passou na sua cabeça para querer essa merda? —
Olha para mim furiosamente.
Se olhar pudesse matar, tenho certeza de que já estaria
morto.
— Vovó... — Raphael diz.
— “Vovó”é minha bunda — rebate ela. — Estou esperando
uma explicação para essa merda, e eu a quero agora — comanda,
olhando-me, com pura irritação.
Passo as mãos pelos cabelos, não sabendo por onde
começar. Minha vontade é de pegar Phillipa, colocá-la sobre meus
joelhos e espancar essa bundinha dela até a fazer gritar, implorando
para parar.
— Sinto muito. Não tenho explicação para o que fiz, mas já
conversei com Phillipa. — Olho para ela, que sorri para mim. — Nós
nos resolvemos. Contei a ela o que tinha dado em mim, disse que
estava arrependido. Não quero que aborte o bebê. Esse é meu filho,
e eu o amo. É tudo o que tenho a dizer. — Olho para o meu tio. — E
respondendo à sua pergunta, Tio Luciano: meus pais sabem sobre o
bebê, até estão animados, loucos para vir nos visitar, porém com
essa coisa toda acontecendo, esperam tudo se acalmar. Mas eles
não sabem do que eu fiz. Quero que saibam por mim. — Olho para
Vovó Nadine, que rola os olhos. — Contarei a eles pessoalmente,
no momento certo.
— Aqui está, meu filho... — Ela aponta o dedo para mim. —
Não será já, mas vocês ainda vão casar-se, embora eu seja contra o
aborto. Ainda assim, você envergonhou o nome dessa família. Estou
decepcionada. — Balança a cabeça.
— Sim, nunca imaginei que meu neto faria algo assim.
Quando minha Allison souber, ficará devastada. Nós não o criamos
para ser assim, Raphael. — Vovó Tereza diz, olhando-me.
Suspiro. Phillipa irá me pagar! Ela não sabe o que a espera.
Essa merda não ficará assim.
— Ah, fala sério!! — Dominic exclama, olhando para todos
nós. — Issofoi antes. Agora, tudo está bem. Raphael errou, pronto,
isso é um fato. Mas isso é entre ele e Phillipa. Além do mais, como
vocês podem ver, os dois estão bem, então, será que podemos
voltar a comer? Eu ainda estou com fome. — Sorri.
— Será que o casamento foi adiado? — Phillipa pergunta,
olhando para Vovó Nadine e Vovó Tereza.
— Sim, querida. Nada de casamento. Por enquanto.
— Se quiser, nós podemos apresentá-la para outro bom
homem. — Vovó Tereza diz, sorrindo.
Porra, não!
— Já chega! — grito, irritado.
Céus!! Essa merda já está passando do limite. Essa coisa
de jantares em família só serve para criar confusão. Todos os
jantares em família são isso, sempre uma bagunça louca.
— Não grite. — Vó Tereza me repreende, olhando-me feio.
— Não, eu estou cansado de toda essa merda, e tudo
começou porque as duas não sabem calar a boca! — digo, ainda
irritado. — Só para deixar claro: Phillipa e eu iremos casar-nos
quando quisermos, e nossa relação é problema só nosso, não é do
interesse das duas, então, não se metam mais. — Aponto para elas.
— E você: nós iremos conversar mais tarde — concluo, olhando
para Phillipa, que apenas encolhe os ombros.
— Não vamos, não. — Balança a cabeça.
Ela pega um pedaço de bolo e o coloca na boca. Um
pequeno sorriso puxa o canto dos seus lábios. Curvo meu corpo
para o seu lado, deixando minha boca bem próxima à sua orelha.
Minha respiração toca sua pele. Posso ver quando ela treme com a
sensação. Sorrio interiormente.
— Você e eu, gatinha, nós teremos uma longa conversa
esta noite. A noite toda — sussurro, e ela se arrepia todinha.
— Isso foi quente. — Vovó Nadine comenta.
— Super-quente.
Phillipa

A tensão no carro é desconfortável. Minhas mãos no meu


colo suam. Esfrego-as, tentando tirar um pouco a tensão dos meus
ombros. Ao meu lado, Raphael se concentra na estrada, sequer
olhando para mim. Suas mãos apertam o volante do carro. Eu sei
quão irritado ele está.
Não me arrependo de ter aberto a boca e falado o que eu
disse, mas acho que Raphael não levou na esportiva, como eu levei.
Fala sério! Estava lá, sentado, todo imponente, achando-se o rei,
enquanto suas avós falavam sobre nosso casamento. Não consegui
conter-me, já que ele não estava ajudando-me em nada. Lamento
se não gostou, porém não é problema meu.
Assim que o carro para em frente à casa, abro a porta, com
pressa, entretanto antes de alcançar a porta da casa, os braços de
Raphael circulam meu corpo.
— Ah, não tão rápido, gatinha. — Ele me pega, jogando-me
por cima dos seus ombros.
— Raphael! — protesto.
— Calada. — Sinto minha nádega esquerda arder quando
sua mão se encontra com a minha pele.
Raphael entra na casa, ligando os alarmes. Atrás dele,
posso sentir a presença de Jordan e de Christian. Cada um vai para
uma parte da casa, protegê-la. Já Raphael, leva-me direto para o
quarto.
Batendo a porta com o pé, desliza meu corpo sobre o seu,
colocando-me no chão, de frente para ele, o que ocasiona o roçar
do meu corpo no seu, fazendo com que pequenas correntes de
eletricidade passem por mim.
— Olha, Raphael... — começo, dando um passo para trás.
Ele não me deixa ir, me segue como um predador. Levanto a
cabeça para o olhar. Céus! Seu olhar é tão intenso, tão poderoso,
como se me desnudasse. Minha pele se arrepia. Esfrego meus
braços, tentando tirar essa sensação de mim.
— Gatinha — Raphael diz, com seu olhar predador sobre
mim — acho que merece uma pequena punição — sussurra, com
sua voz calma demais, tão controlada.
Meu corpo se acende ao imaginar qual será a punição que
ele tem para mim. Merda! O que há de errado comigo?
— Punição? — pergunto, estreitando meus olhos para ele.
— Eu mereço punição? Fiz o que eu tinha para fazer aquelas duas
pararem de falar sobre casamento, já que você não fez droga
nenhuma. — Dou de ombros, em falsa coragem.
Raphael olha para mim, dando um pequeno sorrisinho de
lado. Meu corpo todo treme. Merda, estou em apuros...
— Ah, eu não sei, você arranhou minha coxa — diz,
apontando para a própria coxa. — E ainda me deixou em uma
situação desconfortável perante toda a família. — Balança a cabeça.
Raphael esfrega o queixo enquanto seu olhar passa pelo
meu corpo, de forma predadora. Dou mais um passo para trás, mas
acabo esbarrando na beirada da cama. Pegando-me de surpresa,
Raphael envolve seu braço à minha volta, trazendo meu corpo para
perto. Com a mão livre, ele pega-me pela nuca, e sua boca toma a
minha. Sem raciocinar, abro a boca, permitindo a entrada da sua
língua. Minhas unhas cravam nos seus braços. Posso sentir seu pau
no meu abdômen. Um pequeno gemido deixa meus lábios. A mão
de Raphael, que estava na minha cintura, desce para a minha
bunda, dando um aperto. Esse homem tem total controle sobre meu
corpo. Sua mão está agora na minha nuca, prendendo-me a ele.
Posso sentir a umidade formar-se entre minhas pernas. Meu corpo
todo se derrete em seus braços. Tento concentrar-me, tirar-me
dessa situação, mas é uma luta entre meu corpo e minha mente.
— Raphael! — grito, quando ele me pega de surpresa,
sentando na cama e colocando-me sobre seus joelhos. — O que
está fazendo?! — pergunto, em pânico.
— Oh, gatinha, não achou que seria tão fácil assim, achou?
— pergunta, rindo.
Sinto meu vestido sendo levantado, mostrando minha
bunda. Tento levantar-me, contudo uma das suas mãos me segura
pela nuca, prendendo-me no lugar.
— Merda, Raphael, deixe-me ir! — Debato-me, e é quando
sinto sua mão batendo na minha bunda.
Forte... crua... A queimação me preenche, esquentando todo
o meu corpo, de dentro para fora. Prendo a respiração, esperando
outro tapa, todavia Raphael apenas passa a mão pela minha bunda,
após passa o dedo pela minha calcinha de renda. Minha pele se
arrepia com o toque gentil da sua mão áspera.
— Raphael... — gemo seu nome quando sinto seu dedo
passar pela minha boceta.
— Caralho, gatinha, você está tão molhada... — grunhe.
Meus olhos se fecham, então me deixo envolver nessas
sensações. Raphael brinca com meu clitóris, fazendo com que eu
fique ainda mais molhada. A forma com que ele me domina... No
entanto, logo essas sensações se vão e sua mão se conecta mais
uma vez com a bunda.
— Ah, gatinha, não achou que apenas um tapa resolveria,
achou?
Sua mão mais uma vez se conecta com minha bunda. A
queimação preenche meu corpo, envolvendo-me, trazendo a mim
um calor que envolve meu corpo de forma deliciosa. Minha
respiração fica mais pesada, suor escorre entre meus seios... Céus!
Estou louca por estar gostando, por estar excitada com toda essa
situação, porém eu estou. Lágrimas se formam nos meus olhos com
o peso que acabo sentindo, com toda essa situação, com a
intensidade, com o prazer, que me deixa louca.
— Por favor... — imploro.
Preciso desse alívio, que essa sensação acabe, só preciso
que tudo isso passe. Todos os acontecimentos dos últimos dias,
tudo o que passei nesses últimos meses... tudo me envolve,
deixando-me ainda mais sensível. A cada tapa que recebo da mão
de Raphael, mais e mais pesada é a sensação, mais meu corpo se
excita, até que se quebra, até que me deixo levar, tomando tudo.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto. O toque de Raphael se
intensifica. Fico mais sensívela cada sensação, à nossa respiração,
ao som que envolve a casa, aos pequenos gemidos de apreciação
de Raphael... Eu sinto tudo, até que gozo. Meus gemidos
preenchem o quarto, meu corpo todo treme. Sinto quando Raphael
nos deita na cama, ao mesmo tempo que suas mãos passam pelo
meu corpo, enquanto ainda sinto o orgasmo no meu corpo. Eu sinto
tudo, cada pequeno detalhe eu sinto.
Meus olhos se abrem para encontrar o olhar intenso,
poderoso de Raphael em mim. Devagar, ele se abaixa. Sua boca
toca a minha em um beijo leve, tão leve, que quase não o sinto. Em
seguida, ela passa pelas minhas bochechas, pelo meu pescoço,
descendo pelo meu corpo. Suas mãos me tocam tão levemente,
fazendo com que eu sinta correntes elétricas nas minhas veias,
preenchendo-me.
— Raphael... — sussurro seu nome.
— Shii... estou bem aqui, gatinha. — Retira meu vestido,
deixando-me apenas de calcinha, e seu olhar recai sobre meus
seios.
Sua mão circula meu mamilo enrugado, tão sensível. Brinca
com o meu corpo, como seu eu fosse um piano que ele dedilha de
forma tão espetacular, tão profunda e perfeita, que a música envolve
tudo e a todos. Ele me envolve. O que ele faz com meu corpo é
surreal, e ao mesmo tempo, tão delicioso. Eu posso sentir as
batidas do seu coração, sua respiração, a forma como o suor
escorre em seu peito, e quando ele deita sobre mim, tomando meu
corpo, é como se fôssemos um só. Nesse momento, esqueço tudo
sobre o quanto tudo isso é errado, apenas me entregando a ele e às
sensações. Pensarei nas consequências quando o dia amanhecer.
Capítulo Dezoito

Bocejo, abrindo os olhos.


— Merda — resmungo, quando percebo que estou nua e
enrolada ao corpo de Raphael.
Sinto-o tremer com a risada que dá. Olho para cima,
encontrando seu olhar. Tento levantar-me da cama, mas Raphael
me segura, prendendo-me ao seu peito nu e musculoso.
— Tentando fugir, gatinha? — pergunta, achando graça.
— Solte-me, Raphael — peço, tentando sair dos seus
braços.
Ele me aperta ainda mais contra seu corpo.
— Acho que não. Estou gostando de você assim, presa a
mim, nua contra o meu corpo. Hum... tão bom — murmura e beija
minha cabeça.
Meu corpo fica tenso. Respiro fundo, tentando controlar
meus pensamentos. O que irei fazer? Como sairei dessa situação?
Não há mais nada entre mim e Raphael, tivemos sexo — muito
bom, se querem saber —, entretanto é só isso: sexo quente, suado
e cheio de paixão reprimida, porém não sei se ele irá aceitar muito
bem. O que posso fazer? Sou uma mulher grávida e com desejos.
Tenho o direito de aproveitar, sendo assim, já que Raphael está
sempre presente e tão disposto, eu tomei o que ele estava
oferecendo, contudo é apenas isso.
— Raphael... — digo, em tom de aviso.
Ele se vira de lado para concentrar seu olhar no meu rosto.
— E o que você acha que é isso, Phillipa? — pergunta,
olhando-me seriamente.
Sorrio para ele e levanto-me da cama, deixando-o ver meu
corpo nu, sabendo muito bem que estou provocando-o.
— Sexo sem compromisso — respondo, dando de ombros.
— Sou uma mulher solteira que tem necessidades, e você está
disponível, então juntamos o útil com o agradável. Nada mais do
que é. O que você pensou que seria, Raphael? — pergunto,
olhando-o, com interesse.
Raphael me olha, enfurecido. Acho que ele realmente
pensou que temos ou teríamos algo mais. Patético.
— Você sabe muito bem que temos mais do que sexo,
gatinha. — Rolo meus olhos ao ouvir suas palavras.
— Você está enganado, Raphael, e por favor, pare de tentar.
Não há, nem nunca haverá mais entre nós dois. — Com isso, entro
no banheiro, batendo a porta atrás de mim.
Meu coração bate forte no meu peito. Minhas mãos estão
suadas. Respiro fundo, controlando todas as minhas emoções. Isso
está sendo mais difícil do que eu estava imaginando, porém vou
conseguir, sairei desta cidade, deixando tudo para trás, incluindo
Raphael.
Por mais que doa, eu o amo, mas não somos bons um para
o outro, essa é a mais pura verdade. Estamos cheios de memórias
dolorosas do passado, cheios de feridas não cicatrizadas, marcas,
palavras não ditas... Somos bons juntos? Sim, porém até quando
tempo? Uma coisa que aprendi é que o passado sempre volta para
nos assombrar, portanto sei que o meu voltará para me assombrar...
Merda, já voltou. Marcus me quer por quem sou, pelo que eu fiz.
Balançando a cabeça, me concentro no que tenho que fazer.
Possuo um plano de ir embora, só devo pensar em como
conseguirei dinheiro para sair desta cidade. Preciso falar com minha
irmã, saber se ela pode ajudar-me de alguma forma. Bem, será um
pouco difícil,já que estou em perigo. Não sei se poderei ir embora,
não com Marcus à solta. Porque não importa para onde eu vá, sei
que ele irá atrás de mim.
Entro no chuveiro, deixando a água quente levar todos os
meus pensamentos para longe, todas as minhas dúvidas, meus
medos, todas as minhas preocupações... Foco no agora. Tudo o
que preciso é sobreviver a Marcus e à sua ameaça.

Raphael

Essa mulher! Droga! Ela vai lutar comigo em todos os


momentos. Não que eu não esteja preparado para a sua luta. Minha
gatinha é raivosa. Eu entendo suas dúvidas e sua vontade de fugir,
mas, porra, ela está sendo cabeça-dura demais! Não me deixará
entrar sem uma grande luta.
O barulho do chuveiro sendo ligado me tira do meu
devaneio. Levanto-me da cama, visto uma calça jeans velha e
caminho para fora do quarto, indo em direção à cozinha. Encontro
Miguel e Maddox sentados em volta da ilha, tomando café.
— Tudo está seguro? — pergunto a eles.
— Sim. Todo o parâmetro foi fiscalizado. Nenhuma ameaça
à vista. — Maddox responde.
— Alguma notícia de Charlie e Emílio?
— Por enquanto, nada. Tudo no clube de strippers está
calmo. Pelo que parece, nossos inimigos estão dando um tempo —
comenta Miguel, fazendo uma pequena careta.
— Não gosto disso, Chefe. Parece que o traidor é bem
esperto. Ele está indo com calma, deixando as coisas esfriarem, e
pelo que parece, é alguém próximo, sabe nossos planos e cada
passo que damos. — Maddox diz, olhando-me.
— Farei uma lista dos possíveis traidores, depois darei a
Caspen e Hector para avaliarem — digo.
Termino de preparar os ovos com bacon no exato momento
em que Phillipa entra na cozinha. Ela olha entre mim, Maddox e
Miguel.
— Atrapalho?
— Não, apenas conversamos sobre o possível traidor —
respondo, e ela acena com a cabeça.
Phillipa se senta ao lado de Maddox. Coloco o prato com
ovos, bacon e torradas à sua frente. Abro a geladeira, pegando uma
jarra de suco, em seguida a sirvo.
— Obrigada — sussurra.
— Tudo por você e nosso bebê, gatinha — provoco-a.
Phillipa faz uma pequena careta. Não consigo me conter,
dou uma risada. É tão fácil irritá-la.
— Qual o plano para hoje? — Alex pergunta, ao entrar na
casa.
Ele olha para todos, dando apenas um aceno, em
reconhecimento.
— Preciso ir ao escritório. Tenho algumas lutas para
organizar. Depois, irei encontrar-me com Mason, por último, teremos
uma reunião na casa de Hector — informo a ele.
— E você, Phillipa, quais seus planos para hoje? —
pergunta Maddox.
Antes que ela responda, a porta da frente se abre e vozes
de mulheres preenchem toda a casa.
— Viemos ver se Phillipa ainda está viva depois de ontem à
noite. — Lori diz, entrando na cozinha.
Atrás dela estão Zoe, Angel, Dimitria, Sophia e minhas duas
avós. Sorrio. Olho para Phillipa, que está com as bochechas
coradas. Caralho, ela é linda, principalmente quando fica
envergonhada... Cruzo os braços sobre meu peito nu.
— Pelas bochechas coradas, posso ver que meu neto
pegou-a de jeito. — Vovó Nadine diz, piscando.
— Podemos então começar a planejar o casamento? —
Vovó Tereza pergunta, com um olhar sonhador.
— Não! — grita Phillipa. — Sem casamento.
— Issomesmo, querida, faça-o sofrer. — Vovó Nadine diz,
sorrindo.
Seu olhar se concentra em Miguel. Meus olhos logo se
estreitam, porque eu posso ver que vovó está pensando em alguma
merda.
— Você, meu jovem, é solteiro? O que acha de um encontro
com nossa Phillipa?
Rosno, irritado. Vovó dá um sorrisinho a mim. Que velha
mais sem-vergonha!
— Phillipa não vai a encontro nenhum com nenhum homem
— digo, sendo firme.
Minha gatinha olha para mim, erguendo uma sobrancelha.
— E você é quem, para dizer o que posso ou não posso
fazer? — pergunta ela.
À nossa volta, todos nos olham, com curiosidade. Suspiro.
Isso está virando uma merda de novela mexicana.
— Primeiro, que você está grávida.
— E...? — pergunta ela.
— Segundo, que Marcus a quer, por isso não pode correr o
risco de estar vulnerável.
— E...? — insiste ela, cruzando os braços.
— E o caralho que vou deixá-la com outro homem quando
você me tem! — grito, perdendo a cabeça.
Caralho! Essa mulher enlouquecer-me-á antes do tempo.
Olho para ela, vendo o pequeno sorriso formar-se em seus lábios.
Phillipa estava provocando-me! À minha volta, todos começam a rir.
Essa merda não é engraçada.
— Vovó, eu não irei a um encontro com Miguel. É
antiprofissional da nossa parte. — Phillipa sorri para a avó, mas
quando seu olhar se encontra com o meu, seu sorriso morre dos
lábios. — Raphael, sou uma mulher solteira e livre, posso sair com
quem eu quiser, portanto não será você quem me impedirá. — Seu
dedo bate no meu peito. — Entendeu?
Dou a ela um pequeno sorrisinho de lado. Seus olhos se
estreitam e Phillipa morde os lábios. A vontade que bate de beijar
essa boca dela é surreal. Contorno a ilha da cozinha, ficando de
frente para ela. Sua cabeça se ergue para me olhar. Vejo-a engolir
seco.
— Veremos, gatinha. — Pego-a de surpresa quando abaixo
minha cabeça, tomando sua boca na minha.
Ouço seu pequeno suspiro. Aproveito para passar minha
língua na sua. Dou uma pequena mordida nos seus lábios, e
quando termino o beijo, deixo-a sem reação.
— Isso foi... — Sophia diz, olhando-nos.
— Quente. — Lori diz.
— Sexy. — Dimitria comenta.
— Apenas wow. — Zoe fala.
— Foi um beijo, pelo amor de Deus! — Vovó Nadine diz,
olhando-nos, com um sorrisinho.
— Foi mais do que um beijo, Nadine. — Vovó Tereza pisca
para mim, dando um joia
.
— Pensei que fariam sexo na frente de todos. — Angel se
abana.
— O quê?! — exclama Phillipa, esfregando as bochechas.
— Vocês estão imaginando coisas.
— Você e eu, gatinha, somos reais. — Pisco para ela,
fazendo-a desviar o olhar, com seu corpo tenso, em seguida sorrio.
— Alex, dê dez minutos, e estarei pronto para irmos.
Phillipa não pode negar o que temos. Merda! Sou louco por
ela. Agora que admito meus sentimentos, vou lutar com tudo para a
fazer minha, para mostrar que me arrependo por tudo o que a fiz
passar, por minhas palavras, meus gestos, pela minha negação...
Só preciso que ela veja que somos bons juntos, que posso fazê-la
feliz e que seu passado não irá atrapalhar-nos. Não me importo
mais com o que minha gatinha fez. Tudo o que me importa é ela e o
bebê, mas primeiro, temos que acabar com Marcus e sua ameaça.
Preciso que Phillipa esteja segura, que esteja protegida. Ela e o
bebê são minha maior prioridade neste momento.
Parado no meu escritório, de frente para a grande janela de
vidro, observo nosso maior lutador treinando para a grande luta que
teremos neste final de semana. Esfrego meu rosto com as mãos.
Esta luta será muito importante, então tudo precisa estar perfeito. É
por isso que redobrei a segurança. Não pode haver falhas nesta
luta, tudo tem que estar conforme o planejado.
Nosso lutador é bom. Na verdade, ele é o melhor do sub-
mundo, portanto sei que irá vencer.
Um pequeno suspiro deixa meus lábios. Dou um último olhar
para o meu lutador e volto à minha mesa. Há tantas papeladas para
eu olhar, tantas coisas para resolver, que só de pensar em quanto
tempo levarei para deixar tudo em ordem, quero sair daqui o mais
rápido o possível. Odeio lidar com papeladas. Queria mesmo era
estar com Phillipa, protegendo-a de toda essa ameaça que a cerca.
A porta do escritório se abre e Dominic aparece.
— Muito ocupado? — pergunta, adentrando.
Balanço a cabeça.
— Detesto lidar com essa merda. — Aponto para a minha
mesa cheia de papéis.
— Eu disse-lhe que era para contratar uma secretária. —
Rolo os olhos.
— Neste momento, não confio em ninguém, não posso
correr o risco. — Dominic se senta na cadeira, de frente para a
minha mesa, cruzando as pernas.
— Então, boa sorte com toda essa papelada — comenta,
dando um sorrisinho. — Ou então, você pode colocar Phillipa para
ser sua secretária. — Sorri para mim.
Nego com a cabeça.
— Não quero colocar ela e o bebê em risco, quero-a em
segurança.
Ele acena com a cabeça.
— Alguma notícia sobre Marcus e Henry? — pergunto.
Tudo está tão calmo, que traz um mal-estar na boca do meu
estômago. Toda essa situação é preocupante. Marcus é um
fantasma. Não sabemos onde ele está, nem quando irá atacar. É o
que mais me preocupa: não saber o que ele irá fazer, além dessa
calmaria toda, como se ele estivesse esperando apenas o momento
certo. Caralho, detesto essa situação! Marcus pode ser louco, mas
ele é esperto, tem conexões, aliados, ele tem um grupo forte de
pessoas que acreditam e o seguem.
É assim que iremos achá-lo: rastreando e mapeando suas
conexões, então em algum momento ele irá dar as caras, dar um
passo em falso. O problema? É que o filho da puta está agindo com
calma, sem pressa alguma, o que me deixa ainda mais irritado.
— Merda, cara! O homem é bom nas merdas que ele faz.
Não temos nada sobre ele, como se ele não existisse. Não há nada
dele, nenhum rastro. — Dominic diz, fazendo uma careta. — Hector
e Caspen estão enlouquecendo. Estão contatando cada conexão
que eles têm. Dimitria hackeou todas as câmeras da cidade e fora
da cidade, ela até colocou câmeras próprias indetectáveis para
tentar encontrar Marcus ou Henry, mas por enquanto, não há merda
nenhuma.
— Caralho! — urro, socando a mesa.
— Coloquei alguns dos meus homens nas ruas. Qualquer
menção a Marcus, serei avisado.
— Para mim não é bom o suficiente — digo a ele, que
apenas dá de ombros. — Quero-o morto, quero Phillipa e o nosso
bebê protegidos. Porra, detesto toda essa situação! — Passo as
mãos pelos cabelos, puxando alguns fios.
— Sinto muito, cara. Posso imaginar quão difícilestá sendo
para vocês. Como vão as coisas por aqui? — Muda de assunto.
— Tudo tranquilo. As drogas sumiram. Quem quer que
estivesse vendendo-as, desapareceu. As lutas estão tranquilas.
Bastante dinheiro entrando. — Sorrio.
Dinheiro é sempre bem-vindo em nosso meio.
— Tudo certo para a luta neste final de semana? —
pergunta ele.
— Graças aos céus! — exclamo. — Só tenho que reunir a
equipe e passar a eles todo o planejamento para o dia. Reforcei a
segurança. Há câmeras por todo o clube, até mesmo nas portas dos
banheiros. Não há pontos cegos. Tudo estará sendo monitorado —
informo a ele, que acena.
— Perfeito. — Dá um sorrisinho. — Esta é a luta do ano. —
Esfrega as mãos.
— Issoé o que me preocupa. Fico pensando se Marcus irá
agir em algum momento da luta.
— Bem, estaremos preparados para ele.
Isso me preocupa. Estaremos mesmo preparados para
Marcus Esposito e sua mente louca? Merda! A cada dia que passa,
não sei mais o que pensar.

Duas horas depois, Dominic e eu estamos no Poseidon—


clube de strippers. O barman entrega nossos copos de Jack. Aceno
com a cabeça, em reconhecimento.
Observo tudo atentamente: a iluminação do clube
combinando com a música que toca, deixando o ambiente sensual,
bem como os clientes, os funcionários... meu olhar passa por tudo,
cada pequeno detalhe. Ao meu lado, Dominic faz o mesmo. Do
outro lado do bar, está Emílio, observando uma dançarina no pole.
Mesmo de longe, posso ver que seus olhos se movem pelo clube
discretamente. Quem não o conhece não percebe. Já Charlie, está
do outro lado do clube; seus braços, cruzados sobre o peito. Ele
olha para as garçonetes que servem as mesas. Todo o seu corpo
está pronto para agir caso algo aconteça.
— Meninos, Mason está livre para os receber. — Abgail,
administradora do clube, que está junto com Mason, diz, dando um
sorriso a nós.
Deixo meu copo no bar enquanto Dominic leva o seu. Em
silêncio, seguimos Abgail. Acenamos para os seguranças e algumas
meninas que passam pelo nosso caminho. Dominic até conversa
com alguns, dando pequenos sorrisos.
Na parte de trás do clube, seguimos por um corredor que,
no fim, dá para o escritório onde Mason e Abgail trabalham.
A porta se abre, revelando o próprio sentado atrás de uma
mesa de vidro.
— Sinto muito por ter os feito esperar. Estava tendo uma
reunião com um fornecedor. — Sorri para nós.
Ele dá um olhar cansado. Imagino que seja de tanto
trabalhar. Colocar todo o clube em ordem depois do que aconteceu
com duas funcionários não deve estar sendo fácil.
— Você está acabado — comento, o que o faz dar um riso
seco.
Dominic e eu nos sentamos de frente para ele.
— Bem, as coisas estão um pouco loucas — diz, dando um
pequeno suspiro. — Não está sendo fácil. Algumas meninas estão
com medo, duas pediram para sair. Estou entrevistando umas para
colocar no lugar das que saíram, só está sendo puxado. — Solta a
respiração.
— Seus homens encontraram os corpos dos seguranças
que estavam de plantão no dia do ataque? — pergunto.
— Porra, não, não temos nada ainda, e isso é frustrante,
cara! — Passa a mão pelo queixo, dando uma esfregada. —
Estamos procurando. Até eu, quando tenho uma folga, dou uma
procurada, mas quem quer que tenha feito o trabalho, foi muito bom
em esconder as pistas. — Posso ver a frustração no seu olhar.
— Há alguém de quem desconfia? Alguém que possa ser
suspeito? — Dominic pergunta, olhando-o atentamente.
Mason estala os dedos. A tensão é bem nítida nos seus
ombros. Ele balança a cabeça.
— Sendo sincero? Não confio em ninguém, então é difícil
citar um nome.
Eu o entendo, pois estou no mesmo dilema. Nesse
momento, não há muitos homens de confiança, e é tão frustrante.
— Apenas fique de olho e mantenha a calma. O clube está
protegido. Colocamos mais seguranças. As meninas estão sendo
vigiadas. Se houver algo ou qualquer pessoa de quem se possa
duvidar, nos diga, que lidaremos com tudo. — Mason acena com a
cabeça.
Levanto-me da cadeira, Dominic segue meu movimento.
— Vá descansar, Mason — comando. — Deixe que Abgail e
Margaret comandem. Você está horrível. — Ele apenas acena.
Do jeito que é teimoso, sei que não sairá daqui, então
resolvo ser um pouco mais duro:
— É uma ordem, Mason! Vá para casa e descanse. Agora.
— Com isso, saio do escritório.
Pego meu celular e envio uma mensagem para Emílio e
Charlie.

EU: “Mason está de saída. Tomem conta do lugar.”


EMÍLIO:“Pode deixar
, Chefe.”
CHARLIE:“Qualquer imprevisto, avisaremos.”

Aproveito que estou com o celular na mão e mando


mensagem para Maddox.

EU: “Tudo bem com Phillipa?”


MADDOX: “Sim, sua garota está segura.”
EU: “Bom. Mantenha elaem segurança, e me avisese algo
acontecer.”

Bloqueio o celular, em seguida o coloco de volta no bolso do


blazer. Dominic e eu saímos do clube pela parte de trás, pois não
queremos ser incomodados por clientes chatos que gostam de jogar
conversa fora. Viemos aqui apenas para olhar como vão as coisas e
conversar com Mason.

— Porra, não há nada! — exclama Hector, ao bater as mãos


sobre a mesa. — Nenhuma merda de Marcus, apenas sussurros
que levam a becos sem saída!
Não é bom. Hector sempre foi tranquilo, de fala mansa,
quieto, apenas observando tudo, agindo depois de pensar... sempre
no controle. Vê-lo assim significa que Marcus Esposito está
chegando nele. Quando Hector explode, é melhor estar bem longe.
— Eu irei achá-lo, irmão. Sou boa no que faço, e tenho meu
pessoal de olhos bem abertos nas câmeras da cidade, em cada
cassino, cada prostíbuloe cada boate. Quando Marcus aparecer, eu
saberei. — Dimitria diz, sorrindo.
— Por mim, invadiríamos cada hotel da cidade, cada casa,
cada pequeno buraco sujo até encontrarmos ele. — Dominic diz, e
seu olhar é sério.
Dimitria dá um pequeno bufo.
— Isso só mostraria que estamos desesperados,
irmãozinho, e não queremos isso — comenta ela, dando um olhar
esnobe. — E como eu tinha dito antes: Marcus é louco, porém,
esperto. Nunca fica no mesmo lugar por muito tempo. Sempre tem
pessoas para fazerem seu trabalho sujo. Ele é bom em planejar.
Nós só precisamos mostrar que somos melhores. Neste caso, eu. —
Aponta para o próprio peito.
— Conversei com o pai de Sophia. Ele está entrando em
contato com a família Esposito, na Itália.Se eles souberem de algo,
contarão para Igor, e ele nos informará. — Carter dá um sorrisinho.
— Parece que Marcus não é muito querido pelos Cosa Nostra.
Posso imaginar. O homem está fora de si, levando o
sobrenome da família e a máfia ao fundo do poço.
— Estou em contato com Aléssio D’Angelo. Ele também
está com os ouvidos atentos. Pelo que parece, Marcus está
tentando conectar-se com algumas organizações, mas não está
tendo muito sucesso. Aqueles que estão com eles são desertores,
aqueles loucos que sempre se rebelam. — Caspen informa. —
Nada muito grande.
— E é isso que me preocupa — comento, então todos
olham para mim. — Marcus está ficando com poucos aliados. Ele
quer mais, e para isso, fará algo grande, algo que chame atenção,
que os faça mudar de ideia.
— Sim, ele irá agir, e quando fizer, iremos pegá-lo. —
Dimitria sorri. — Acabará fazendo algo por impulso, será desleixado,
bem no fim, onde ele perde, nós ganhamos. — Dá de ombros.
Passamos o resto do dia planejando. Hector se acalma,
colocando a máscara fria e controlada no lugar. Não é fácil ficar
trancado em um escritório, fazendo planejamentos e tendo possíveis
ideias de como lidar com Marcus. Não sabemos o que ele fará,
como irá agir. Tudo o que sabemos é que há alguém lá fora de olho
em nós, por ele. Alguém vigiando Phillipa, pronto para atacar
quando estivermos frágeis — o que, se depender de mim, não
acontecerá. Alguém que fará de tudo para nos derrubar em nome de
Marcus Esposito.
Phillipa

A noite cai e as luzes extravagantes de Las Vegas se


acendem como faróis, iluminando toda a cidade. Estou cansada,
muito cansada. Parece que tudo o que está acontecendo bate em
mim com força, como um trem em toda a sua velocidade,
arrastando-me, deixando meu corpo em pedaços pelo caminho.
Toda essa batalha com Raphael, esse turbilhão de sentimentos,
presa a esta cidade, sem poder sair porque não tenho nada.
— Phillipa? — Ouço Lori chamar-me.
Olho para a minha irmã, tão diferente de mim de várias
maneiras e formas.
— Sim?
— Algo me diz que quer falar comigo, só não sabe como —
comenta, dando um pequeno sorriso a mim.
Suspiro, dando um pequeno aceno.
— Venha. — Dá um tapinha no sofá em que está sentada,
no meio da sala da suíte. — Vamos aproveitar que as crianças estão
brincando e que as meninas foram para os próprios lugares.
Dando uma última olhada para o lado de fora do hotel, dou
as costas à janela de vidro e sento ao lado da minha irmã.
— Diga-me: o que quer falar comigo? — Pega na minha
mão, dando um aperto.
Não faço ideia de onde começar e como pedir a ela que me
ajude a ir embora, que me mantenha protegida. Merda! Nem sei se
ela poderá ajudar-me.
— Phillipa? — chama-me, ao ver que demoro para falar.
— Preciso da sua ajuda — digo a ela.
— Para...?
— Lembra que eu tinha dito que queria recomeçar? — Ela
acena com a cabeça. — Então: eu comecei a trabalhar e a juntar
dinheiro, mas aí fiquei grávida, e agora, tenho um alvo nas minhas
costas, por isso não trabalho mais, portanto sem trabalho, sem
dinheiro para ir embora e recomeçar... Preciso da sua ajuda.
— Pensei que você e Raphael estivessem chegando a um
acordo. — Dou de ombros.
— Raphael e eu somos uma bagunça. Por mais que o sexo
seja sensacional e que ele esteja presente, ainda há muita mágoa,
muitas lembranças e palavras não ditas entre nós. É complicado.
Balanço a cabeça, sentindo meu nariz arder e meus olhos
se encherem de lágrimas não derramadas.
— É só difícil de explicar — acrescento.
Lori olha para mim por alguns instantes.
— Então, quer minha ajuda na sua proteção?
— Não só na minha proteção. Preciso de dinheiro para
recomeçar em outro lugar, um lugar bem longe daqui, de
preferência, em outro país.
Lori enruga a testa.
— Irmã, não entendo. Por que precisa de dinheiro? —
pergunta, olhando-me estranho. — Você tem a casa em seu nome.
Ela é sua e vale mais de um milhão de dólares. Por que não a
vende?
Minha boca se abre, mas logo a fecho, sem saber o que
dizer. Eu sabia que minha casa vale um bom dinheiro. O que eu não
sabia é que posso vendê-la. Raphael disse que a casa é minha
desde que eu não a venda.
— Eu posso vendê-la? — pergunto, sentindo-me confusa.
— E por qual motivo não poderia? A casa é sua, meu
presente para você, pode fazer o que quiser com ela, irmã.
Suas palavras se infiltram em minha mente, escorrendo
como fios pelo meu corpo, até chegar no meu coração, e é quando
eu sinto raiva. Estou furiosa porque fui enganada.
— Phillipa, quem disse que você não poderia vender a
casa? — Lori olha para mim.
— Raphael — rosno, entre dentes.
Um pequeno sorriso se forma nos meus lábios.
— Oh, minha irmã... — Ela balança a cabeça, então posso
ver o brilho de emoção em seus olhos azuis.
Levanto-me do sofá. Minhas mãos se fecham em punho,
meu corpo treme. Mordo meus lábios para não gritar.
— Phillipa? — Lori chama pelo meu nome, mas logo abro a
porta da suíte, encontrando-me com Maddox e Miguel.
— Onde está Raphael? — pergunto, olhando-os, sem dar
atenção para a minha irmã, que está atrás de mim, tentando falar
comigo.
— Em casa. Está preparando um jantar para você. — Miguel
responde.
Bufo, com um rolar de olhos.
— Leve-me para casa, então.
Capítulo Dezenove

Durante todo caminho de volta para casa, minha mente está


envolvida em uma névoa grande e feia, cheia de fúria, além de um
desejo de explodir juntamente com uma tristeza. Como ele pôde?
Ele mentiu para mim. Um riso seco deixa meus lábios. Meneio a
cabeça de um lado para outro. Ele ainda tem a coragem de dizer
que quer um nós. Mentindo para mim? Se me quisesse tanto assim,
poderia ter sido sincero comigo, contado a verdade, mostrado de
tantas outras maneiras que me quer... mas não, ele mentiu, deixou-
me presa aqui neste lugar, sabendo muito bem que eu queria ir
embora. Céus! Ele prendeu-me a si. Passei tanto tempo sendo
mantida presa... Raphael sabia que eu queria a liberdade, ele sabia
que eu queria ter o controle da própria vida, recomeçar. E maisuma
vez, ele mostrou quem realmente é: uma mentira. Fecho minhas
mãos em punho, sentindo a picada das minhas unhas na palma.
Ainda estou vida, então vou lutar por mim mesma a cada passo do
caminho, nem que eu tenha que queimar tudo à minha volta para
sair daqui. Terei minha liberdade.
O carro para em frente à casa. Não espero por Miguel ou
Maddox para abrir a porta para mim, abro e saio caminhando, a
passos determinados. Digito o código de segurança e entro. Meus
passos param quando encontro Raphael esperando por mim.
Suspiro. Alguém lhe avisou.
— Você! — grito, jogando-me nele e batendo no seu peito,
com raiva.
Meu corpo todo treme e meus olhos ardem com as lágrimas
que me recuso a derramar. Tudo por causa dele. Droga!
Raphael pega meus pulsos, parando-me. Puxo meus
braços.
— Não toque em mim! — rosno, entre dentes.
— O que aconteceu? — pergunta, com seu olhar avaliando-
me cuidadosamente.
Um grande riso sem humor deixa meus lábios. Seu olhar se
estreita. Meu corpo queima de tanta raiva que estou sentindo neste
momento. Olhar para ele dói.
— O que aconteceu? — Empurro-o. — Eu vou contar o que
aconteceu, Raphael: você mentiu para mim! — grito.
A raiva é tão grande, tão poderosa em mim, que sinto como
se fosse pegar fogo. Uma pólvora pronta para estourar. Quanto mais
eu olho para ele e penso em todas as besteiras que vem dizendo a
mim, todos os atos que vem fazendo... Tudo uma enganação fodida.
— Foi engraçado para você? Todo esse tempo, mentindo
para mim, fazendo-me de idiota... — Começo a rir, sem conseguir
controlar-me, com meu corpo sacudindo-se conforme os risos que
dou. — Quando ia contar a mim, Raphael? Quando ia dizer-me a
verdade? — Balanço a cabeça. — Sabe o que mais me deixa com
raiva? É saber que por trás de todos seus atos, tudo isso que vem
fazendo... tudo uma mentira. Todo esse papinho de nós, uma
família, de me querer e ao bebê... uma porra de mentira! —
Lágrimas escorrem pelo meu rosto, mas não me importo com elas.
Começo a andar de um lado para o outro, tentando controlar
minhas emoções. Sinto uma ardência nas minhas veias. Estou por
um fio. Passo minhas mãos pelos cabelos, puxando alguns fios.
— Gatinha... — Raphael diz, tentando aproximar-se.
Paro de andar, dando um passo para trás, tentando manter
uma certa distância dele.
— Não me chame de “gatinha”!— Lambo meus lábios, que
estão secos.
Raphael solta um suspiro, dando um aceno.
— Tudo bem. — Levanta as mãos. — Mas, será que pode
explicar o que está acontecendo? Tudo o que Miguel me disse é
que já estava voltando e que estava com raiva.
— Raiva? — pergunto, rindo. — Eu não estou só com raiva,
Raphael, estou furiosa, com ódio, chego a querer explodir, sinto meu
corpo queimar e, acima de tudo, estou decepcionada porque, lá no
fundo, eu queria, estava acreditando em você. Mas graças a Deus
que eu sou resistente e que posso sentir o cheiro de podre de longe.
Seu olhar se fecha, então o sinto mudar. Seu corpo todo fica
tenso quando ouve minhas palavras.
— Agora, diga-me, Raphael: quando pretendia contar que
mentiu para mim sobre a casa? — É quando vejo a clareza no seu
olhar. — Sim, quando ia contar que eu posso vender — E falo
pausadamente: — A MINHA CASA? — Bato no meu peito.
— Caralho! — ruge ele.
— E bota um caralho nisso — digo, rindo, sem um pingo de
emoção. — Eu podia ter ido embora há muito tempo, estar bem
longe daqui, em segurança, tendo uma nova vida, longe de toda
essa merda de confusão, longe de Marcus... No entanto, por causa
de você, do seu egoísmo, estou no meio de tudo isso, presa mais
uma vez.
Não me controlo e corro para ele, batendo no seu peito...
bem, em qualquer lugar que eu consiga ver em meio às lágrimas
que embaçam minha visão. Raphael me segura, dando uma leve
sacudida em mim, fazendo-me parar com meus ataques a ele. Pisco
repetidas vezes, tentando enxergar melhor em meio às lágrimas.
— Você realmente acha que Marcus não iria atrás de você
se estivesse longe? — pergunta. — Caralho, Phillipa, confesso que
não contei porque queria uma chance com você, queria provar que
podíamos ser bons juntos. Porém, depois, não contei porque eu
sabia que iria embora sem olhar para trás e estaria desprotegida lá
fora. Seria um meio mais fácil de Marcus tê-la. Estando aqui, estaria
protegida dele. Você e o bebê. — Ele me solta.
Dou um passo para trás. Minha respiração está cansada.
Passo minhas mãos pelo meu rosto, secando-o.
— Você podia ter contado a mim, Raphael. — Olho para ele
por um momento.
Esse homem, o homem pelo qual sou apaixonada, é um
completo machista, egoísta, que só pensa em si mesmo e no que
quer.
— O que acha que aconteceria quando eu descobrisse? O
que acha que irá acontecer agora?
Esfrego minha mão esquerda no meu abdômen, sentindo-
me protetora. Preciso tirar meu bebê de tudo isso, pensar no que é
o melhor para ele.
— Você não pode ir embora! — diz ele, com autoridade.
— Você não dita o que eu posso ou não fazer! — grito. —
Eu preciso, necessito de um novo começo. Minha maior prioridade é
proteger o bebê que cresce dentro de mim, e se ir embora for o
melhor, é o que farei! — concluo, mostrando quão séria estou em
minha decisão.
Sei que, com a ajuda de Lori e de Caspen, eu estarei
protegida. Posso mudar minha aparência, meu nome e ter proteção,
até que Marcus seja apenas um nome e nada mais.
— Você em algum momento pensou em ficar? — pergunta,
com expectativa, ao mesmo tempo que seu olhar avalia cada
pequena reação minha. — Em dar a nós uma chance?
Mordo meus lábios. Sendo sincera? Durante algum
momento, eu realmente pensei em como seria ficar, em como seria
sermos um casal, estar ao lado dele, todavia sempre que esse
pensamento se infiltrava em minha mente, mais eu tinha a certeza
de que precisava ir embora, porque todos o ses de que poderíamos
ser não apaga as lembranças, as memórias das coisas não bonitas
que já tivemos.
— Não, Raphael — respondo, olhando nos seus olhos. —
Como eu tinha dito antes: quero um recomeço, mereço um
recomeço.
Ele poderia estar no meu recomeço, pois estou grávida de
um bebê dele, mas não lhe digo isso. Raphael tem que aceitar
minhas decisões, andar conforme a minha onda, e não a dele. Não
é o que ele quer, e sim o que eu quero, o que é melhor para mim e o
meu bebê, sendo assim, se ele quiser estar em nossas vidas, será
nos meus termos.
Raphael balança a cabeça, soltando alguns risos.
— Céus! E eu pensando que o que estou fazendo está
sendo o suficiente, que estava mostrando a você que estou
apaixonado, que a quero, que quero esse bebê... — Seu olhar está
ferido.
— Grande jeito de demonstrar, não acha? Com mentiras —
desdenho dele, das suas palavras.
— Caralho! — Passa as mãos pelos cabelos. — Eu só
pensei...
— Você não pensou, Raphael, apenas fez o que queria, o
que era melhor para você.
— Merda, Phillipa...
— “Merda,Phillipa”porra nenhuma. Você fez suas escolhas,
Raphael, e eu estou fazendo a minha. — Bato o pé.
Raphael dá um passo à frente, ficando cara a cara comigo.
Jogo meu corpo para trás a fim de olhá-lo. Apenas o olho, sem
medo, mostrando a ele a fúria no meu olhar, o quanto estou
magoada com suas mentiras, o quanto estou decidida a sair de tudo
isso.
— Então é assim? — Aceno com a cabeça. — E quanto ao
meu filho? Você irá levá-lo para longe de mim. Eu sou o pai, o quero
na minha vida! E quanto a nós?! — grita, bem na minha cara,
conforme seu corpo treme, com raiva.
Oh, ele não fez isso! Eu sou a única que pode estar com
raiva aqui, eu sou a única que foi enganada, não ele.
— Não há um nós, Raphael. Você é o único que vem
mentindo, que colocou em sua cabeça que seremos mais. Mas a
verdade, a verdade é crua e feia: não há nós. — Passo minhas
mãos suadas nas minhas pernas. — E quanto ao seu filho, o
mesmo filho que falou que não queria? Se quiser mesmo estar na
vida dele, então descubra uma maneira. Mas pelo que me lembro,
você não o queria! — grito de volta, bem na sua cara.
Sei que estou jogando baixo, entretanto o sentimento que
estou tendo nesse momento não me deixa ficar sentida. Eu quero
magoá-lo da mesma forma que ele me magoou, quero que doa nele
do mesmo jeito que está doendo em mim, sufocá-lo do mesmo jeito
que estou sentindo-me sufocada. Passei anos presa a ele, à máfia,
aos Callahan’s, pagando pelo meu erro, contudo quando pude ter
minha liberdade, Raphael deixou-me mais uma vez presa a ele sem
eu saber. Agora que eu sei, quero que ele se foda.
— Inacreditável, porra, você é inacreditável! — urra,
andando de um lado para o outro. — Eu já me desculpei, tenho
mostrado em todo o momento que estou arrependido, fazendo de
tudo para compensar, tudo para reparar o que eu fiz e falei, porém
mesmo assim, pelo visto, não tem sido o suficiente, não é mesmo?
— desdenha.
Não, Raphael, não tem sido. Mas não digo, apenas fico
parada, olhando para ele, tentando controlar a enxurrada de
emoções que estou sentindo, deixando com que elas se fundam a
mim, fazendo com que meu corpo borbulhe por dentro.
— Diga alguma coisa, porra! — Raphael grita, olhando para
mim, com pura raiva.
É quando eu explodo, quando deixo toda essa fúria sair de
dentro de mim, quando me liberto do que estou sentindo:
— Você realmente quer saber, Raphael!? Não, nós não
estamos bem, porque não há como apagar, esquecer tudo o que fez
durante esses anos! Não há como esquecer o que me falou, o modo
com que olhou para mim, todo o nojo e o descaso, não há como
apagar da minha mente. Toda vez que fecho os olhos, relembro de
tudo. Toda vez que o olho ou que estou perto de você, me lembro
daquele momento, então todo sentimento de dor me invade. Por
mais que esteja tentando, e eu reconheço isso, não é o suficiente
para esquecer o que causou a mim, Raphael. — As palavras saem
de mim como um vulcão, explodindo e queimando tudo. — Além do
mais, como acha que me sinto ao saber que, quando eu realmente
podia recomeçar, quando eu realmente podia esquecer tudo, você
me prendeu a si com uma fodida mentira? — Respiro, precisando
de ar.
Meu corpo todo treme, em uma fúria descontrolada. Raphael
apenas fica parado, olhando para mim.
— Dói demais, Raphael, me rasga toda vez que me toca,
toda vez que é gentil comigo, porque fico imaginando quando tudo
irá mudar, quando voltará a ser o Raphael que conheço, aquele que
irá me insultar e dizer coisas horríveis. E eu não sei, é só que... —
Balanço a cabeça. — Eu só... não sei... não sei o que esperar. —
Passo as mãos pelo rosto, descendo para o meu peito e
esfregando-o.
— Porra, será que não consegue ver que eu estou
tentando?! Que mudei?! — Bate no peito.
Meneio a cabeça. Sério mesmo que ele está dizendo isso a
mim?
— Mudou mesmo, Raphael? Acabei de descobrir que
mentiu para mim. O que me faz pensar: se mentiu para mim agora,
que nem estamos juntos, o quanto mentirá no futuro? O que mais
vem escondendo de mim? Você ao menos confia em mim, Raphael?
Quando olha para mim, quando realmente olha para mim, quem
você vê? A Phillipa de agora, mãe do seu bebê, mulher que diz
tanto querer, ou a Phillipa de antes, aquela que todos acusaram de
traição, aquele que foi humilhada, trancada por anos, aquela que
todos odiavam, a que fez de tudo para proteger uma criança? Quem
você vê? Porque eu sou a mesma, eu sou as duas, Raphael. —
Bato no peito, sentindo-o arder. — Quem você vê quando olha para
mim? Consegue aceitar-me sabendo quem fui e quem sou? Você
ainda me vê como uma traidora, Raphael?
Olho-o, esperando por sua resposta, esperando ele dizer
que vê a mulher que ama. Bem, pedir isso já é demais. Mas ao
menos, esperando-o dizer que vê uma mulher que cometeu erros,
sim, no passado, contudo que agora é a mulher que ele quer, que
ele deseja, e não uma traidora.
Eu espero. E espero. Porém, ele apenas fica olhando para
mim, sem dizer nada. Por fim, aceitando que Raphael não dirá nada,
aceno com a cabeça, passando por ele.
— Foi o que eu pensei — sussurro, indo em direção ao meu
quarto, em seguida fecho a porta atrás de mim.
Deixo todas essas emoções se derramarem de dentro para
fora em meio às lágrimas.
— Caralho! — Ouço-o gritar e a porta da sala bater.
Em seguida, o motor do seu carro ruge do lado de fora. É
quando sei que ele se foi.

Raphael

Porra! Caralho! A mulher me deixa louco! Como ela pode


pensar que eu ainda a veria como uma traidora? Como ela pode
fazer-me aquela pergunta sem cabimento? Não pude responder,
porque estava tão atônito por Phillipa pensar nisso, cogitar que eu a
vejo assim... Será que ela não consegue enxergar que a amo? Que
a quero do jeito que é? Porra, não me importo mais com o que ela
fez! Tudo com o que importo é com a sua segurança, o seu bem-
estar e do nosso bebê, que cresce dentro dela. Nesse momento,
estou com tanta raiva, tão enfurecido com ela, com seus
pensamentos... com o fato de estar tão presa ao passado, que não
está dando a nós uma chance... É por isso que saio. Não quero ficar
e piorar a situação, nós dois precisamos de um tempo. Precisamos
ficar a sós e colocarmos nossas cabeças no lugar.
Minutos depois, paro na parte de trás do hotel, onde
acontecem as lutas clandestinas. Saio do carro, deixando a chave
com o manobrista, e entro, indo direto para o elevador. Não
cumprimento ninguém. Estou no meu limite, preciso tirar toda essa
tensão que emana do meu corpo, e a melhor forma é lutando.
Assim que o elevador para e as portas se abrem, os gritos,
bem como o cheiro de suor e sangue me enchem, fazendo-me
relaxar. Olho para o ringue, onde uma luta está em andamento.
Observo a forma com que os dois lutadores lutam, o modo com que
seus corpos se movem, um socando o outro, mostrando quem é o
melhor... Dou uma olhada em volta, até encontrar Dominic parado
ao lado do ringue, com um copo de Jacknas mãos.
— Coloque-me na próxima — digo, acenando para o ringue.
— Você está louco? — pergunta ele. — O próximo lutador é
o segundo melhor que nós temos — diz, olhando-me como se eu
estivesse doido.
Olho-o, de cara feia.
— Coloque-me, porra. — Passo por ele, indo para o
vestuário, preparar-me.
É isso que farei e, caralho, se alguém tentar me impedir, eu
mato!
Minutos depois, estou pronto, do lado de fora do ringue,
esperando a minha vez.
— Merda, cara, você é louco por querer lutar com Cachorro
Louco! — Dom balança a cabeça.
— Você não está neste local para achar nada, Dominic,
portanto apenas me guie na luta e esteja aqui para me ajudar
depois. — Com isso, entro no ringue.
A multidão à minha volta ruge de emoção ao saber que um
Callahan irá lutar. Sorrio. Esse sentimento é bom. Essa emoção, o
barulho, as palmas, os pés batendo no chão... todo esse momento é
simplesmente refrescante para mim.
Meu adversário entra, do outro lado do ringue. Nossas lutas
são lutas livres. É tudo ou nada. Cachorro Louco sorri ao me ver. Ele
é maior do que eu, tem mais músculos e é um lutador habilidoso.
Certamente por isso que pensa que irá vencer. Porém eu estou
cheio de raiva, pronto para colocar para fora.
Uma buzina toca. A luta começa. Que vença o melhor.

Soco, desvia, soco, desvia, chute... É assim que eu luto,


como um animal raivoso, descontando toda a raiva nos meus
adversários. Não faço ideia de quanto tempo estou no ringue,
lutando e vencendo, luta após luta. Esqueço a multidão, os gritos, o
cheiro, e só me concentro no homem à minha frente. Dou um show
para os apostadores, mostrando técnica e raiva, mostrando quem é
o melhor aqui, dando o que eles querem: sangue.
Dor. Deixo meu adversário atual acertar-me algumas vezes,
gostando de sentir o ardor do soco, a sensação que faz eu sentir
que estou vivo, que sinto dor. Sorrio. Issoé bom, muito bom. Sinto a
dormência no meu corpo. Balanço os braços. Meu adversário tenta
pegar-me, mas o chuto, fazendo-o cair. Aproveito para socá-lo no
rosto. Ele tenta defender-se, porém eu apenas continuo acertando-
o. O juiz nos separa, então voltamos a encarar-nos. Sorrio para ele.
Está na hora de terminar esta luta. Está na hora de mostrar quem é
o melhor.
Sangue escorre pela minha boca. Sorrio. Corro para o meu
adversário, pegando-o desprevenido, e dou uma joelhada no seu
rosto, fazendo-o cambalear para trás, um pouco atordoado. Coloco
meu peso em seu corpo e levanto minhas pernas, passando-as
sobre seu pescoço. Caímosno chão, então aperto seu pescoço com
as pernas, e ele desmaia. Solto-o e corro pelo ringue, levantando as
mãos, em vitória. Olho para Dominic, vendo-o com o celular na
orelha. Seu olhar se encontra com o meu, então eu sei. Eu só sei.
Phillipa.
Bônus

Eu espero e observo. É o que faço todas as vezes em que


não estou trabalhando: observo Phillipa e cada pequeno detalhe do
que ela está fazendo. Sorrio. Eles não fazem ideia de quem eu sou,
de que estou trabalhando para Marcus, que tenho os vigiado. Falha
deles, ganho meu.
Este é o grande erro dos Callahan’s: confiam em todos. É
assim que cairão.
Do meu esconderijo, observo quando Phillipa chega em
casa, com passos decididos. Ela abre a porta, com força. Algo
aconteceu, e espero que seja ao meu favor. Vejo quando Miguel
e Maddox saem. Jordan e Christian aparecem para ficar de guarda.
Percebo quando, minutos depois, um Raphael furioso sai da casa,
deixando Phillipa. Sorrio. Este é o momento. Todos estão aflitos e
não há Raphael. Este é o momento em que Phillipa será nossa.
Capítulo Vinte

Phillipa

Acordo assustada. Olho ao redor, percebendo que estou no


meu quarto, deitada na cama. Meus olhos ardem e minha cabeça
lateja. A escuridão do quarto me envolve. Não faço ideia de que
horas sejam e de quanto tempo dormi. Pego meu celular debaixo do
meu travesseiro, tentando ver a hora. Droga! Descarregado.
Tentando orientar-me, rolo para o lado a fim de ligar o abajur, mas
não acende, e é quando percebo que algo está errado, muito
errado. Toda a casa está em completo silêncio, o único som que
escuto é o da minha respiração e as batidas rápidas do meu
coração. Tentando ser o mais silenciosa, saio da cama, colocando
meus pés descalços no chão, então na ponta deles, vou até a porta
do quarto, em seguida encosto minha orelha nela, entretanto não
ouço nada. Merda! Onde você está, Raphael?Bufo, irritada comigo
por pensar nele e na sua proteção nesse momento. Com cuidado, já
que não vejo nada, ando pelo quarto, tentando chegar até a
cabeceira da cama, do lado direito, a fim de pegar da gaveta a arma
que Raphael deu para caso de emergências.
A cada passo que dou, mais enjoada e nervosa eu fico.
Minhas mãos começam a suar de nervosismo. Tropeço na beira da
cama, quase caindo. Com isso, uma maldição escapa dos meus
lábios. Tapo minha boca com as mãos, tendo meus olhos
arregalados. Por alguns segundos, fico parada, sem respirar,
torcendo para que não tenham me ouvido.
À medida que os segundos se passam e que ninguém
aparece arrombando a porta do quarto para me pegar, tiro as mãos
da minha boca e solto a respiração, bem devagar. Por fim, consigo
chegar até a cabeceira. Com todo o cuidado para não fazer barulho,
abro a gaveta, após pego a arma. Sinto o peso dela nas minhas
mãos, identificando então que está carregada. Sinto o silenciador na
ponta. Bom. Agora, tudo o que tenho que fazer é sair daqui e achar
um lugar seguro para me esconder, porque de uma coisa eu sei:
esta casa não é mais segura.
Na ponta dos pés, volto para a porta do quarto e, com muito
cuidado, abro-a, torcendo para não fazer barulho. Respiro, não
conseguindo enxergar nada, perdida em meio à escuridão. Meu
coração bate tão forte no peito, que tenho a sensação de que ele
sairá a qualquer momento para fora, rasgando minha pele. Céus, eu
estou com medo! Não, apavorada, para falar a verdade. Essa
sensação bem na boca do estômago, o gosto amargo, como se algo
muito ruim fosse acontecer... Algo comigo. Onde diabos estão meus
seguranças? Onde estão todos?
Assim que ponho meus pés para fora do quarto, sou pega
pelo braço e puxada para o lado. A arma quase escorrega da minha
mão. Um grito deixa meus lábios, mas meu atacante põe as mãos
na minha boca e me arrasta de volta para o quarto. Fecho meus
olhos, sabendo que acabou para mim. Tenho a grande sensação de
que vou morrer, e eu não quero morrer. Lágrimas deslizam pelos
meus olhos. Meu corpo reage automaticamente, tentando soltar-se.
Não vou ser apenas uma pobre vítima, tenho que lutar por minha
vida, pela vida do meu bebê. Posso morrer, porém morrerei
tentando fugir. No entanto, se eu puder, acabarei com a vida do
desgraçado que está comigo. É por isso que luto contra meu
atacante.
Consigo por pouco soltar-me e dou um chute bem no joelho
dele. Não paro por aí, é claro. Mesmo não vendo porcaria alguma,
dou um monte de chutes e tapas pelo ar, até que minha arma acaba
batendo em alguma parte do corpo do homem.
— Merda, Phillipa... — resmunga. — Fique calma. Sou eu,
Jordan.
Meu corpo para, um suspiro aliviado deixa meus lábios, e
meu coração, assim como meu corpo, fica um pouco mais calmo.
— Jordan? Ai, meu Deus, eu sinto muito, pensei que fosse
um intruso que queria me levar ou matar...
— Shh... fale mais baixo. Assim que as luzes apagaram-se,
vim logo para o seu quarto.
— Não sabe onde estão os outros? — pergunto, em um
sussurro.
Ouço-o suspirar, então eu sei que nossa situação não é boa.
— Não faço ideia. Depois que as luzes apagaram-se, tudo
se silenciou. Eu não estava com meus óculos de visão noturna e
meu celular está sem rede. Quem quer que tenha feito tudo isso,
sabia muito bem o que estava fazendo. — Posso ouvir seus passos
pelo quarto. — Temos que sair daqui sem ser detectados, e
sinceramente? Não sei se é possível.
Troco meus pés, sentindo-me cansada. Primeiro, com tudo o
que aconteceu mais cedo entre Raphael e mim; e agora, isso. Não
sei o que fazer, contudo sei que não posso desistir, tenho que ao
menos tentar.
— Vamos, Jordan, nós conhecemos a casa toda, sabemos
que há meios de escapes, lugares estratégicos que nos ajudarão a
sair daqui. Raphael já mostrou a mim cada um deles. Só precisamos
chegar em um — digo, tentando parecer um pouco mais confiante.
— Sim, eu sei. Deixe-me pensar em qual seria o melhor e o
perto de nós. — Sei que, nesse momento, está com seu olhar
pensativo, fazendo sua testa enrugar.
Raphael estava planejando colocar um lugar de escape no
meu quarto, assim seria mais fácil sair da casa caso algo do tipo
acontecesse. Porém seria trabalhoso e precisava ser melhor
planejado. Tudo o que tenho no meu quarto é uma sala de pânico,
todavia sem luz, não funciona. As portas não se trancariam. Se eu
tivesse entrado nele com as luzes acesas, estaria trancado agora,
mesmo que as luzes fossem apagadas depois, e eu estaria segura.
O quarto do pânico não foi instalado para funcionar depois que as
luzes se apagassem. Tudo o que temos são as saídas de
emergência escondidas pela casa. O único problema é chegarmos
até elas.
— Não há saída no quarto de Raphael? — pergunto,
cansada desse silêncio todo.
Toda essa situação, esse silêncio... Algo me diz que tem
alguma coisa completamente fora do lugar. Só há o silêncio, como
se estivesse apenas me esperando, como se soubesse que eu
fosse sair. Eu sou a presa aqui, e sei que estão esperando por mim.
O sentimento que tenho é agonizante.
— Não que eu saiba. Só sei o do escritório, da sala de
treinamento, sei o da cozinha e a do porão. O mais perto é a saída
do escritório — diz ele, e aceno com a cabeça, esquecendo que não
pode me ver.
— Tudo bem, vamos lá — sussurro.
Sinto sua presença ao meu lado. Jordan pega minha mão,
dando um pequeno aperto, e eu sei que ele está tão nervoso quanto
eu estou. Tudo o que quero é sair daqui e ir para um lugar seguro,
que eu e meu bebê fiquemos bem, porém, lá no fundo, sei... só sei
que se eu sair daqui, não será em segurança. Será para ir de
encontro com Marcus.
Saímos do quarto. Merda! A escuridão nesse momento é o
nosso maior inimigo. Sinto o peso da arma na minha outra não.
Aperto-a, como se fosse algo reconfortante, algo que me ajudará a
sair daqui. Um pequeno fio bem fino de esperança me invade. Vou
sair daqui, manterei a mim e ao meu bebê em segurança. É uma
promessa.
— Merda — sussurro, quando tropeço em algo.
— O quê? — Jordan pergunta, parando.
— Tropecei em alguma coisa — murmuro.
Sinto-o abaixar-se. Abaixo-me junto, tateando à minha
frente, tentando encontrar em que tropecei. Por um momento, meu
coração para de bater e prendo a respiração.
— Isso é...
— Um corpo — diz Jordan, por mim, quando minha fala
embarga.
— Ele está...? — Deixo a palavra no ar.
— Morto? Sim, ele está. — Meus olhos se fecham.
Céus! O que está acontecendo aqui?
— Temos que continuar andando, precisamos chegar no
escritório. — Jordan se levanta, levantando-me junto com ele, tendo
sua mão ainda na minha.
Mordo meus lábios, sabendo que a nossa situação é
complicada. Meu coração bate forte no peito, minhas mãos tremem.
Tudo o que eu mais quero é sair daqui, estar em segurança, em
algum lugar onde essas pessoas não possam encontrar-me. Droga,
Raphael!! Balanço minha cabeça. Não quero, nem posso pensar
nele agora. Ele mentiu para mim, enganou-me e, no fim, saiu sem
ao menos olhar para trás, deixando-me sozinha. Lágrimas enchem
meus olhos. Droga, Phillipa,
esse não é o momento de chorar! Foco,
mulher! Fungo, tentando impedir que as lágrimas escorram pelo
meu rosto. Tenho que me concentrar em chegarmos no escritório e
sairmos daqui. Raphael não pode estar nos meus pensamentos, ele
não tem esse direito de invadir a minha mente, principalmente em
uma situação como esta.
Jordan e eu esbarramos em mais dois corpos caídos, mas
finalmente, chegamos na porta do escritório. Um pequeno suspiro
de alíviodeixa meus lábios. Fácil
demais,Phillipa, está fácildemais,
a voz em minha mente diz. E sim, está mesmo fácil demais, porque
assim que Jordan abre a porta do escritório e nós entramos, todas
as luzes da casa voltam. Pisco repetidas vezes, acostumando-me
com a luz repentina. Ao meu lado, sinto o corpo de Jordan ficar
tenso assim que seu aperto na minha mão se intensifica. Olho para
ele, que está com o olhar concentrado à nossa frente e tem sua
arma apontada na mesma direção. Meus olhos seguem para onde
Jordan está olhando e apontando sua arma, então meu coração
para de bater. Não, não pode ser! O homem à minha frente sorri ao
ver meu desespero. Sua arma está apontada para Jordan.
— Você! — exclamo, e meu corpo reage automaticamente,
visto que minha mão se levanta, apontando a arma para o seu peito.
— Sim, eu. — Ele diz, sorrindo.
Minha boca se abre, mas nenhum som sai, eu apenas fico
ali, parada, olhando para ele.
Meu corpo pula, tudo acontece rápido demais. Ao meu lado,
o corpo de Jordan cai e eu sinto sua mão escorregando da minha.
Morto. Ele está morto.

Raphael– Agora...

Assim que saio do carro, minhas mãos se fecham para o


que meus olhos veem à minha frente enquanto o resto do meu
corpo para.
Corpos. Muitos corpos. Todos caídos no chão. Alguns, de
olhos abertos; outros, com armas nas mãos, no entanto, todos com
um único tiro na cabeça. Issofoi premeditado. Ao meu lado, sinto o
corpo tenso de Dominic. Céus! Com o coração batendo forte no meu
peito, corro para dentro da casa, mas derrapo em uma parada
quando vejo a mesma coisa que vi do lado de fora: corpos e mais
corpos. Meus homens, todos mortos. Todos com um tiro na cabeça,
um tiro certeiro para matar. Olho para Caspen, Carter e Hector, os
três conversando baixinho. Sentindo minha presença, eles param e
olham para cima.
— Phillipa, onde ela está? — pergunto, desesperado,
engolindo seco.
Tudo o que eu quero é vê-la, saber que está bem, que ela e
o nosso bebê estão seguros. Olho em volta, tentando achar algum
sinal dela. Caminho pela casa, indo direto para o seu quarto.
Abrindo a porta, tudo o que vejo é o vazio. Porra, ela tem que estar
aqui, em algum lugar, segura!
— Raphael. — Ouço a voz de Hector. ]
Olho para ele, que balança a cabeça para mim.
— Caralho! — grito, passando as mãos pelos meus cabelos
e puxando alguns fios.
Phillipa foi-se, eles levaram-na, e agora, sabe-se lá o que
farão com ela e com meu bebê. Tudo por culpa minha, pelo meu
descuido. Minha mulher foi levada, tudo porque eu não fiquei. A dor
no meu peito tira de mim o ar. Meus olhos se fecham. Sinto
vergonha. Uma imensa vergonha que corrói meu corpo, deixando-
me com gosto amargo na boca.
— Temos que encontrar o chip rastreador que colocamos
nela, pois podemos achá-la assim — digo, olhando para os meus
primos.
Hector suspira, dando um passo à frente. Seu braço se
ergue e ele abre a mão. Meu peito se aperta ao ver o chipali, cheio
de sangue. Porra! Eles tiraram dela.
— Encontramos o chipno escritório, junto com o corpo de
Jordan. — Hector explica.
— Como? — pergunto, olhando para a matança ao meu
redor. — Como eles entraram aqui, assim? Como sabiam que ela
tinha um chiprastreador no braço? Como, porra?! — grito.
A raiva me preenche, comendo meu corpo, infiltrando-se
nas minhas veias, fazendo-me queimar. Meus homens, todos
mortos. Minha mulher, levada contra sua vontade, forçada a sabe-se
lá o quê.
— Eles entraram no nosso sistema, algum tipo de vírus.
Todas as luzes foram apagadas, junto com todo o sistema de
segurança. Eles jogaram bombas ao redor da casa, entraram com
óculos noturno e mataram todos, um único tiro certeiro na testa. —
Caspen explica. — Tudo foi muito bem calculado, premeditado. Eles
não queriam deixar sobreviventes.
— Christian? — pergunto, olhando em volta e não o
encontrando.
— Ele conseguiu sair, foi até a casa dos seguranças, pedir
ajuda, porém chegando lá, eles também estavam sob ataque. Uma
forma de distraí-los. O foco principal deles era aqui. — Hector diz,
olhando-me, com cuidado.
— Sabiam que eu não estava em casa, estavam vigiando-
nos o tempo todo — murmuro.
Meu corpo todo treme de raiva. Estou prestes a explodir.
Minhas mãos se fecham, em punho. Eu quero vingança, quero
encontrar a porra do rato ao nosso meio, encontrar Marcus e acabar
com ele. Mas principalmente, eu quero Phillipa e o nosso bebê
seguros. Falhei com eles. Caralho, eu falhei com todos! Abaixo
minha cabeça, esfregando meu rosto, sentindo-me derrotado, um
merda, literalmente. Enquanto deixo esse sentimento envolver-me,
penso em como encontrarei Phillipa e a tirarei do inferno. Ergo a
cabeça, encarando Caspen. Seu olhar se encontra com o meu.
— Encontre-a — digo a ele, com a voz firme. — Não me
importo como ou o que farão para achá-la, eu só quero que a
encontre.
— Já estou trabalhando nisso. — Dimitria diz, aparecendo
com Lori ao seu lado.
— Estou com Amélia no tablete. Estamos rastreando
qualquer falha no sistema, observando cada câmera de segurança
pela cidade, todavia eles hackearam tudo. — Um pequeno vinco se
forma entre os olhos de Amélia.
— E as câmeras que colocamos? — pergunto.
Amélia solta um pequeno suspiro.
— Seja lá qual foi a tecnologia que eles usaram, tudo o que
sei é que quando fizeram a interferência nas câmeras da cidade,
assim como nas câmeras da casa, também desligaram todas as
câmeras que colocamos até mesmo os celulares. Na hora do
ataque, tudo falhou.
Com raiva, chuto a mesinha de centro da sala, fazendo com
que ela se vire e o vidro quebre.
— Caralho! Nós não temos nada! — grito, sentindo-me
fraco, sem saber o que fazer, por onde começar para encontrar
Phillipa.
— Estou tentando resgatar algumas imagens antes do
ataque e depois do ataque. Nós encontrá-la-emos, Raphael. —
Amélia diz, e aceno para ela.
— Carter, chame os homens que sobreviveram da outra
casa, junte os corpos, contate a família de cada um deles. Daremos
o funeral que merecem. — Caspen comanda.
Carter acena com a cabeça. Ele se vira para Miguel e
Maddox, que começam a trabalhar.
— Dominic, lide com a políciae seus homens. Quero-os fora
dessa situação. — Hector ordena. — Nós iremos até nossos
homens, ao redor da cidade. Queremos respostas. Iremos até o
inferno para encontrá-la, Raphael.
Eu sei que todos farão de tudo para trazer Phillipa de volta e
acabar com Marcus Esposito. Meu único problema é que ela não
tem tempo. Phillipa está nas mãos de monstros e sabe-se lá o que
eles estão fazendo ou farão com ela. O quanto ela está sofrendo,
sentindo-se sozinha, desamparada, tudo porque eu não estava aqui
para ajudá-la, para protegê-la. Eu falhei com ela e com o nosso
bebê, eu falhei com nós dois, portanto nunca me perdoarei por isso.
Caralho! Não sei o que fazer. Estou de mãos atadas nesse
momento. Não gosto dessa sensação. Marcus Esposito está a um
passo à frente. Isso não é bom.
Capítulo Vinte e Um

Phillipa

Eu lutei. Lutei com o desgraçado do traidor desde o


momento em que ele matou Jordan, lutei para fugir, para tentar ao
menos correr a algum lugar seguro. Apanhei, mas lutei mesmo
assim. Lutei quando ele teve suas mãos em mim, quando tirou o
chiplocalizador do meu braço, lutei quando me arrastava para fora
de casa, gritei por ajuda, chutei, bati, arranhei... Lutei pela minha
vida e pela do meu bebê. Não que tenha sido o suficiente,
entretanto lutei. Lutei até quando me jogaram em um carro e me
drogaram. Fodam-se! Eles me drogaram, e mesmo assim, continuei
lutando. Lutei até que as drogas fizeram efeito em mim e todas
minhas forças foram-se, deixando-me lerda; meu corpo, mole. Foi
quando eu simplesmente não conseguia lutar mais, quando meu
corpo apenas sucumbiu e a escuridão levou-me.

Meus olhos se abrem. Pisco algumas vezes, tentando


entender o que está acontecendo, todavia minha cabeça lateja
demais. Sinto-me grogue. Com a luz bem nos meus olhos, torna-se
difícilcom que eu veja ao meu redor. Tento mover-me, porém sinto
dor, como se tivesse agulhas enfiadas nos meus pulsos e
tornozelos. Cada vez que eu tento mover-me, mais elas cravam à
minha pele. É quando percebo o que está acontecendo. As
memórias voltam como um filme à minha mente. A briga com
Raphael... Ele siando de casa, deixando-me sozinha... Chorar até
dormir... Escuridão total e aquele filho da puta traidor.
Mais uma vez, tento mover-me, contudo dói. Céus, dói
demais! Olho para o lado, tentando ver o que me prende, então
minha respiração se prende. Arames. Estou amarrada em arames.
Lágrimas turvam minha visão. Tento controlar minha respiração,
acalmando as batidas do meu coração. Não há como sair daqui.
Estou presa a este lugar, a essas pessoas, apenas à espera de ser
quebrada, ou de que Raphael me encontre o quanto antes — o que
acho improvável.
A porta se abre. Meu corpo fica tenso quando o ar entra por
ela, fazendo-me consciente da minha nudez. Meus olhos se fecham.
Estou nua, amarrada a uma mesa, com arames segurando-me no
lugar, proibindo-me de mover-me, de sair. Céus! Eu vou morrer aqui.
Mordo meus lábios. Recuso-me a chorar na frente dessas pessoas.
Recuso-me a dar a eles o que querem.
Uma mão gelada passa pela minha perna, subindo até
minha coxa. Meu corpo todo fica tenso com o toque áspero. Meu
coração bate tão forte no peito, que chega a doer, como se a
qualquer momento fosse explodir. Uma risada ecoa pelo lugar. Meus
olhos se abrem, e é quando o vejo. Marcus Esposito.
— Ahhh, vejo que a traidora acordou. — Sua voz traz
arrepios ao meu corpo.
Com seu olhar no meu, sua mão sobe um pouco mais,
parando a poucos centímetros da minha vagina. Tento fechar as
pernas, mas os arames cravam na minha pele, mantendo-me no
lugar, impedindo-me de fechar-me para o seu toque.
— Sabe, eu estava perguntando-me o porquê de eles a
manterem com vida, porém agora percebo o motivo. — Seu olhar
para no meu corpo, de forma apreciativa. — Você dá para o uso, e
estou louco para provar do seu corpo, para compartilhá-lo com
meus homens, para vê-la gritar, implorar. — Ele sorri.
Náusea sobe à minha garganta.
— Nunca. — Cuspo a palavra, não me controlando.
Marcus apenas sorri para mim.
— É o que vamos ver, pequena traidora. — Seu olhar para
no meu abdômen, e seu sorriso aumenta. — Ah, isso vai ser muito
divertido. — Pisca para mim.
Sou pega de surpresa quando ele belisca meu clitóris a
ponto de doer, doer muito. Mordo minha língua, impedindo-me de
gritar. Não vou dar esse gostinho a ele. Ah, não! Eu continuarei
lutando, porque neste momento, só posso contar comigo.
— Está pronta para começarmos? — pergunta.
Olho para ele.
— Vá se foder! — grito, com raiva.
Sim, raiva, porque a única coisa que me fará passar por isso
é alimentar minha raiva, deixar meu corpo entorpecido a ponto de
não sentir nada — Bem, ao menos, posso tentar fingir que não sinto.
Tenho certeza de que Marcus se frustrará com o meu silêncio, com
minha indiferença.
— Não, pequena traidora, eu que irei fodê-la.

Suor escorre pelo meu corpo. Estou tão, tão cansada, tão,
tão dolorida... Posso sentir o sangue escorrendo pelos meus pulsos
e tornozelos, de tanto que me mexi, de tanto que tentei soltar-me
enquanto Marcus e seus homens abusavam de mim repetidamente.
Não faço ideia de quanto tempo estou aqui. Horas? Dias? Tudo o
que sei é que não irei aguentar por mais tempo. Cada pedacinho do
meu corpo dói. Minha língua está toda cortada, de tanto que a
mordi, recusando-me a gritar como Marcus queria.
Fecho meus olhos. Estou tão fraca, tão malditamente fraca,
que mal consigo respirar. Minha garganta está seca, tão seca pelos
sufocamentos...
Raphael? Onde está Raphael com seus homens para me
tirar daqui, para me levar bem longe deste lugar, para salvar a mim
e ao nosso bebê? Eu só quero sair daqui. Lágrimas escorrem pelo
meu rosto. Por quanto tempo mais irei aguentar? É errado da minha
parte querer morrer? Querer ser livre de tudo isso? Libertar-me
dessa tortura que me quebra a cada segundo?
Ouço passos do lado de fora, então sei que Marcus e seus
homens voltaram, portanto meu tormento irá recomeçar. Só espero
conseguir aguentar.
A porta se abre. Marcus e Henry entram, com mais três
homens atrás deles. Quando o olhar dele se encontra com o meu,
ele sorri enquanto seu olhar passa pelo meu corpo, de forma
apreciativa, como se tivesse apreciando sua tortura em mim. Sua
maldade rasteja pela minha pele, queimando-me por inteira. Eu o
quero morto, mas parece que ele irá matar-me primeiro.
— Pronta para mais? — pergunta, ao mesmo tempo que
sua mão passa pelo meu rosto.
Viro o rosto para o lado, tentando livrar-me do seu toque, e é
quando sinto a queimação do seu tapa.
— Olhe para mim, vadia. — Ele segura meu queixo, virando
minha cabeça para eu encará-lo.
Seu aperto é doloroso. Cerro meus dentes. Olho-o, com
raiva, pura e deliciosa raiva.
— Eu vou fazê-la quebrar, gritar. Não irei parar enquanto
não ouvir seus gritos. — Ele solta meu rosto.
Meus olhos se fecham quando sinto suas mãos em mim,
tocando-me. Seu toque queima minha pele. Ouço seu riso quando
meu corpo se encolhe ao sentir suas mãos na minha boceta.
— Vamos ver quanto mais aguenta, principalmente porque
tenho uma surpresinha para você. — Meus olhos se abrem por
curiosidade, e é quando percebo o celular nas suas mãos. — Vamos
ver se, com Raphael na linha, você não abra a boca e implore. —
Pisca para mim.
Não, não, não... Mexo-me, tentando desesperadamente me
soltar. Os arames cravam na minha pele, fazendo-me sangrar. A dor
é insuportável a ponto de deixar-me tonta. Viro minha cabeça para o
lado, vomitando o que ainda resta no meu estômago, o que não é
muito. Tusso algumas vezes, engasgando. Marcus e seus homens
riem de mim, do meu desespero. Oh, céus! Raphaelnão pode ver-
me assim. Os arames cravam ainda mais fundo, enquanto me mexo
desesperadamente, já que meu corpo balança de um lado para o
outro. Estou frenética. Meu corpo todo dói, mas tudo o que importa é
sair daqui, pegar o celular das mãos de Marcus e quebrá-lo em
pedacinhos, depois... depois, quero matá-lo, acabar com ele usando
minhas próprias mãos.
Um riso louco deixa meus lábios. Do jeito que estou, não
conseguirei ir a lugar algum, muito menos matar Marcus e seus
homens. Meu riso se mistura com soluços, as lágrimas enchem
meus olhos, escorrendo pelo meu rosto. Estou cansada, com dor,
sinto como se já estivesse morta.
Algo é enfiado no meu pescoço, então meu ataque para.
Olho para o lado, encontrando o olhar frio de Henry. Em instantes,
estou tonta e grogue, até que deixo a escuridão envolver-me. Um
pequeno sorriso deixa meus lábios antes de eu apagar.
Raphael

De um lado para o outro. Caminho de um lado para o outro,


no meio do escritório de Hector, como um animal enjaulado. Nada,
não encontramos nada. Phillipa foi levada por Marcus já tem doze
horas. Nesse tempo, ainda não temos nenhuma pista de onde ela
está. Sinto-me incompetente nesse momento. Tudo o que quero é
recuperá-la, envolvê-la em meus braços, dizer que sinto muito por
ter saído, por ter a deixado sozinha. Esse sentimento é novo para
mim. Sentimento de desespero, de culpa, porque tudo o que está
acontecendo é culpa minha. Só minha. Eu fracassei com a mulher
que amo, fracassei com minha família, com meus homens. Eu
fracassei com meu bebê. Impotente.Essa é a palavra certa para
descrever o que sinto nesse momento. Não há nada que eu possa
fazer para recuperar Phillipa, e isso está me tirando do sério.
Abro minha mão, encarando o chiprastreador que tinha sido
colocado no braço de Phillipa para a sua proteção caso ela fosse
levada. Rio, sem graça. Como se tivesse resolvido... Eles sabiam
que ela tinha um desse no braço, e agora, não há como a rastrear.
Estreito meus olhos ao olhar para o chip. Para saberem disso,
teriam que ter nos seguido. Viro-me, com um pequeno sorriso nos
lábios.
— O quê? — Hector pergunta, olhando-me, com
desconfiança.
Sinto os olhares de todos os outros em mim. Caspen,
Carter, Dimitria, Lori e Dominic, todos me encaram.
— Quero que verifiquem as câmeras da cidade, no dia em
que fui com Phillipa colocar o chip. Procurem por qualquer pessoa
que possa estar seguindo-nos. — Olho para Lori e Dimitria, que
sorriem para mim.
— Bem pensado, primo. — Ouço a voz de Amélia, do outro
lado da tela, no tablet.
— Eu deveria ter pensado nisso antes, não agora — digo,
entre dentes.
— Dê-se um tempo, Raphael...
— Phillipa e meu bebê não têm tempo! — grito, sentindo
meu corpo tremer de raiva.
Soco a parede à minha frente. Meus músculos da mão
latejam. A dor bem-vinda me preenche de alguma forma. Lágrimas
pinicam meus olhos enquanto a raiva e a frustração me preenchem,
dominando meu corpo. Em um ataque de fúria, continuo a socar a
parede.
— AHHHH!
Um, dois, um, dois... Esquerda, direita, esquerda, direita...
Eu não paro, simplesmente continuo com o meu ataque. Sinto
minha pele rasgar; o sangue, escorrer pela minha mão, pingando.
Por fim, cansado e com a respiração pesada, deixo meu corpo
escorregar para o chão, sentando-me, trazendo meus joelhos para
cima e colocando minha cabeça entre eles. Lágrimas escorrem.
Caralho! Não me lembro quando tinha sido a última vez em que
chorei. Se eu for falar a verdade, nunca fui de chorar. EU NÃO
CHORO, mas aqui estou, entregue às minhas lágrimas, à dor que
sinto ao saber que Phillipa está sozinha, sofrendo, e tudo por minha
causa. Saber que ela e o nosso bebê estão sofrendo e eu não
posso fazer porra nenhuma a não ser esperar por algo, por qualquer
coisa que possa dar sua localização.
Nesse momento, o celular, no meu bolso, vibra. Levanto a
cabeça, olhando para a minha família ao meu redor. Hector acena.
Pego o celular.
— Uma chamada de vídeo — digo, ao mesmo tempo que
meu corpo fica tenso.
— Lori, direcione a chamada para os nossos computadores,
porém faça com que a pessoa só possa ver Raphael. — Caspen
pede à esposa, que sorri para ele, acenando com a cabeça.
— Já está feito, pode atender. — Lori olha para mim, e
aceno para ela.
Atendo à chamada, então na tela aparece Marcus Esposito,
com um grande sorriso nos lábios.
— Ah, olá, Raphael — diz ele, com sua voz desdenhosa.
— Marcus — rosno, entre dentes.
Olho para a minha frente, vendo seu rosto em todas as telas
de computadores, no escritório onde Lori e Dimitria estão
trabalhando em achar algo, qualquer coisa onde Phillipa possa
estar, até mesmo observando as câmeras de dias atrás, tentando
encontrar algum suspeito.
— Seja bem-vindo à minha festa privada, Raphael. Você é o
nosso convidado de honra, é claro. E nosso prato principal é... —
Ele vira a câmera.
À minha volta, ouço suspiros e soluços. Meu corpo todo fica
travado. Aperto o celular na minha mão. Seguro a respiração,
tentando controlar um pouco meu temperamento e não demonstrar
nada a Marcus. Não quero dar a ele esse gostinho de saber que
está afetando-me. Meu olhar está em branco, contudo por dentro,
estou fervendo de raiva; meu corpo todo, queimando. O desejo
louco de sair pelas ruas, vasculhar qualquer lugar, colocando tudo
para baixo, até encontrar Phillipa, é grande demais.
Do outro lado da tela está ela. Seu corpo nu se encontra
amarrado a uma mesa de pedra. Seus pulsos e tornozelos estão em
carne viva, amarrados em arames farpados que cravam na sua
pele. Ela está toda machucada; seu corpo, queimado, além de que
posso ver mordidas com contorções na sua pele morena. Seu olhar
está vidrado. Eles drogaram-na. Caralho!
Marcus sorri para mim.
— Não é lindo o prato principal? — pergunta, achando toda
a situação engraçada. — Pena que você não poderá provar,
Raphael. Não agora, de qualquer jeito. — Pisca para mim.
— Seu...
— Oh! — Marcus me interrompe. — Não diga nada, só
aproveite... — Ele para, rindo. — Não, só observe o que fazemos
com traidores.
Prendo a respiração quando dois homens aparecem nus na
tela. Seus corpos chegam perto de Phillipa. Não olho para ninguém
à minha volta, não posso olhar. Sinto-me envergonhado, culpado e,
acima de tudo, destroçado, porque eu sei o que eles farão com ela
nesse momento.
Um homem para entre as pernas de Phillipa. Posso ver seu
pênis para cima. Sem aviso, ele a penetra. Phillipa choraminga, e
isso acaba comigo, me despedaça.
Enquanto um homem a fode, sem nenhum pudor,
machucando-a, fazendo-a contorcer-se mesmo estando drogada, o
outro a morde nos seios. Do lado esquerdo da tela, aparece Henry,
aquele traidor filho da puta que despedimos. Na sua mão há um
chicote.
— Oh, não! — Ouço o lamento de Dimitria.
— Quando eu entregá-la a você, Raphael, Phillipa será uma
mulher sem alma. Ela estará tão quebrada, que não restará nada
além da morte. — Ele ri para mim. — Bem, agora eu vou aproveitar
um pouco da festa. Quero ver se ela é tão apertada atrás como é na
frente.
Não dou atenção a ele, pois meu olhar está concentrado no
rosto de Phillipa, principalmente nos seus olhos abertos. Ela olha
para Marcus, então seu olhar se arregala.
— Rapha... — sussurra. — Mas...
— Cala a boca, cadela! — Henry diz, de fundo, dando uma
chicotada na sua barriga.
Nosso bebê! Deus, nosso bebê está lá, sofrendo...
É quando eu literalmente me quebro, não me importando
nem um pouco com a presença de Marcus.
— Eu vou encontrar vocês, é uma promessa! E quando os
encontrar, não sobrará nada de nenhum dos dois. — Com meu
aviso, desligo o celular, em seguida o jogo contra a parede. —
Encontrem alguma coisa, porra! — grito para Dimitria e Lori.
Minha raiva toma cada pedacinho de mim, tirando toda a
razão. Descarrego-a, e eu não destruo apenas a parede, mas
também qualquer coisa que esteja na minha frente. Apenas perco
meu controle. Um grito rasga a minha garganta.
— Porra, porra, porra! — berro, jogando a mesinha de vidro
no chão, deixando-a em pedaços.
Caminho até o bar de Hector e pego uma das suas bebidas.
Tomo-a da garrafa, sem me importar nem um pouco. No entanto não
é o suficiente. Jogo a garrafa no chão. Ninguém à minha volta me
para, eles sabem que eu preciso disso.
— Encontrei algo. — Amélia diz, do outro lado da tela.
Paro imediatamente com meu ataque ao ouvi-la.
— Mas tem que ter algum engano. — Dimitria diz,
estreitando os olhos.
— Não há engano, Dimitria.
— Será que podem dizer-me o que encontraram? —
pergunto, irritado.
Não quero saber se é engano ou não, isso quem dirá será
eu. Quero saber o que elas acharam e como isso pode ajudar a
encontrar Phillipa. Céus! Ela está lá, sozinha, sofrendo, achando
que ninguém irá salvá-la! Deve estar perguntando-se onde estou.
Esfrego meu rosto e encaro minhas primas.
— Achamos duas pessoas que os seguem constantemente.
Quando não é um, é outro. — Lori aponta para a tela de
computador, à minha frente.
— Sim, o problema é que um deles é dos nossos. —
Dimitria diz, então a imagem aparece na tela.
Pisco algumas vezes consecutivas. Aquele desgraçado...
Esse tempo todo, ele vem trabalhando para Marcus, enganando-
nos.
— Ele estava vigiando quando Phillipa colocou o chip, assim
como estava por perto quando você saiu de casa e deixou-a
sozinha. Também acho que foi ele quem a tirou de casa, que a levou
até Marcus. — Dimitria diz.
Viro-me para olhar a Carter.
— Pegue, Maddox, Miguel e Alex. Encontre-o. — Volto a
olhar para a tela.
Mason, meu homem de confiança, traiu-me, traiu-nos.
Capítulo Vinte e Dois

Phillipa

É errado da minha parte querer morrer? Querer que tudo


isso acabe? Essa dor, a perda, o desespero que sinto... É horrível,
cruel. Não sei mais por quanto tempo eu aguentarei sofrer assim,
ser usada, penetrada repetidamente, tanto pela parte da frente,
quanto pela parte de trás, ser queimada, chicoteada e mordida, ser
rasgada de dentro para fora.
Lágrimas escorrem. Sinto-me devastada. Não sei mais o
que posso fazer para continuar sendo firme, mantendo-me sem
gritar, sem demonstrar qualquer sentimento de fraqueza para
Marcus e seus homens. Além do mais, estou quebrada a ponto de
não querer sair daqui viva, porque não há nada para mim fora daqui.
Não há Raphael e não há meu bebê, pois eu tenho certeza de que,
depois de tudo o que meu corpo já sofreu, ele se foi. Tirado de mim
à força, por pura brutalidade e maldade humana.
Meus olhos se fecham. De repente, sinto-me tão cansada,
tão esgotada, que tudo o que quero é apagar, amortecer a dor que
estou sentindo. Qualquer coisa para tudo isso ir embora. Não quero
mais me sentir assim, como um objeto a ser usado e abusado.
Porém, assim que meus olhos se fecham, os horrores do
que está acontecendo comigo tomam conta da minha mente: a vaga
lembrança de ver Raphael do outro lado da tela do celular, minha
tentativa de dizer o nome de Mason, a surra que levei logo depois...
tudo volta para me assombrar, então eu sofro mais uma vez com as
memórias. Tento, juro que tento substituí-las por memórias boas,
todavia logo em seguida vem minha briga com Raphael, sendo
assim, o sentimento de ter sido deixada, de estar só me preenche. A
dor é cruel, me come de dentro para fora, deixando um gosto
amargo na minha boca e esmagando o pouco que resta do meu
coração. Não quero mais sair daqui, não quero ver os olhares de
pena dos Callahan’s, ou de culpa, não quero todo esse cuidado que
eles terão comigo, a delicadeza de cuidar de uma mulher quebrada,
suja, usada. Tudo o que eu mais quero nesse momento é que a dor
vá embora, as lembranças se apaguem e que meu coração pare de
bater, tirando de mim a vida e todo esse sentimento.
Meu corpo está tão cansado... Eu estou cansada.
Quando começo a vagar, pronta para deixar a escuridão
entrar, acabo não escutando a explosão à minha volta. A morte está
tão, tão perto, que chego a sorrir, sabendo que finalmente,
finalmente serei livre.

Raphael– Duas horas antes...


Olho para o homem à minha frente. Como ele pôde trair-
me? Trair a família, nosso legado, nosso nome? O que ele ganha
com isso, sendo que já tem de tudo? Eu confiei nele, trouxe-o para
trabalhar comigo, dei a ele mais do que pensou que teria, entretanto
parece que não foi o suficiente. Acho que, para homens como ele,
sem lealdade, talvez nunca seja o suficiente. Eles não sabem o que
significa honra.
— Só irei perguntar uma única vez. Não vou ficar enrolando,
porque não tenho tempo. Acho melhor para você ser muito, muito
sincero comigo, Mason, pois o que eu tenho lhe preparado é além
de tudo o que já fiz, entendeu-me? — Olho-o nos olhos, deixando-o
saber quão sério estou.
Não é um jogo ou uma brincadeira. Phillipa está sofrendo.
Eu preciso achá-la, tê-la de volta nos meus braços, na segurança da
nossa família.
— Você acha mesmo que eu entregarei assim onde Phillipa
está? — pergunta, dando um sorrisinho. — Terá que fazer melhor do
que isso, Raphael — desdenha, rindo.
— Acha que isso é engraçado? Oww, Mason, quero ver
você continuar rindo.
Dessa vez, quem ri sou eu, quando Carter entra com sua
foice na mão. Vejo o exato momento em que Mason o vê. Sua
garganta se contrai ao engolir seco.
— Tenho certeza de que você e Carter entender-se-ão
perfeitamente a partir de agora, não é mesmo? — pergunto, rindo.
— Eu estarei bem ali. — Aponto para o canto da sala.
Seu corpo está nu, amarrado a uma cadeira, assim como
Phillipa estava naquele vídeo,com arame farpado. Em cima dele há
um sistema de água fervendo, o qual eu sei que irá fazê-lo gritar e
dar as respostas que preciso. Há também correntes elétricas
conectadas à cadeira. Nada melhor do que pele queimada, não é
mesmo?
— Quando estiver pronto para falar, me diga. Estarei pronto
para ouvi-lo. — Olho para Carter, que acena com a cabeça para
mim. — Ele é todo seu. Só não o mate, pois ele dará o local exato
onde Phillipa está.
Carter sorri. Sua cabeça se vira e seu olhar foca em Mason.
Sendo sincero? Não queria estar no lugar dele agora. Carter é
conhecido por ser o senhor da morte, o Ceifador, contudo antes de
tirar a vida das suas vítimas, ele gosta de brincar com elas. Ele
gosta de ir bem devagar, levar seu tempo, tem prazer em ver a vida
das pessoas indo embora aos poucos, aquele brilho no olhar ir
apagando-se, bem lentamente... Tremo só de pensar.
Caminho até outro canto da sala, onde está Dominic. Paro
ao lado dele e cruzo os braços, com meu olhar em Mason e Carter.
— Você vai falar, ou tenho que começar primeiro? — Carter
pergunta.
— Faça o seu melhor — instiga Mason, rindo.
O olhar que Carter dá a ele é mortal. Um sorrisinho puxa o
canto da boca dele. Estala a língua.
— Aww, não, eu farei o meu pior. — Sua voz soa um pouco
mais baixa, então o sorriso nos lábios de Mason se vai. — Será
minha obra prima, um exemplo. Quando eu acabar com você,
ninguém irá reconhecê-lo, Mason.
Esse... esse é quem Carter Callahan é. Frio. Cruel. O
homem que ama a morte.
Carter pega um pedaço de pano e o enrola nas mãos.
Posiciona-se atrás de Mason, colocando o pano aos seus lábios. Ele
se debate, mas já que está amarrado, os arames entram na sua
pele, fazendo-o gritar. É nesse momento que Carter enfia o pano na
sua boca. O olhar de Mason se encontra com o meu. Dou a ele um
pequeno sorriso. Carter puxa o pano e o amarra na parte de trás da
cadeira, fazendo com que Mason olhe para cima. Em seguida,
caminha até o botão, do lado direito da parede, e o liga, deixando-o
verde. O barulho de água passando pelos canos preenche o lugar.
O corpo de Mason começa a tremer, sangue escorre nos seus
pulsos... assim como Phillipa estava. Caralho... Fecho minhas mãos,
sentindo os cortes com meus dedos. Elas estão remendadas por
causa do meu ataque mais cedo. Não que eu me importe, pois a dor
é bem-vinda, faz com que eu sinta alguma coisa, com que eu
controle um pouco essa fúria que percorre meu corpo.
— Vou explicar como irá funcionar. — Carter começa a
dizer, com seu foco em Mason e na resposta do seu corpo. — Está
vendo o chuveiro em cima de você e os canos? Então: é um
mecanismo de água fervendo. — Sorri. — Iremos bem devagar,
vamos aproveitar nosso tempo, brincar um pouco... O que acha? —
Coloca a mão em forma de concha atrás da orelha, e um riso
explode da sua boca. — Não estou ouvindo... Aww, você não pode
falar. — Estala a língua. — Pobre coitado.
Carter aperta um segundo botão, e pequenos pingos de
água fervendo caem, pequenas gotas pousando no rosto de Mason,
que se mexe desesperadamente à medida que pequenas bolhas de
queimadura se abrem na sua pele. Sorrio. A melhor tortura é aquela
bem lenta, que começa aos poucos, antecipando o que virá depois.
É aquela que faz a pessoa sofrer, bem devagar, a dor ir crescendo
até chegar a ponto de não aguentar mais. E é o que estamos dando
a Mason: aquele gostinho do que virá depois será pior.
Os pingos continuam a cair, bem devagar. Quando a água
quente entra em contato com sua pele, ela escorre pelo seu rosto,
deixando marcas bem feias, deixando pequenas queimaduras, que
me preenchem com tanta satisfação, que chega a ser incrível.
Alimentador. A dor de Mason, o seu desespero e o medo no seu
olhar alimentam essa fúria em mim.
Enquanto os pingos tocam o rosto dele, Carter pega um
alicate. Caminha até Mason, ficando de frente para ele.
— O que acham, hum? — pergunta a Mason. — Um dedo
de cada vez? Tem algum do qual queira se livrar primeiro? —
indaga, rindo. — Eu esqueci: você não pode falar. Aqui, Mason,
você não tem voz. — Pega sua mão, escolhendo o dedo mindinho e
arrancando-o fora.
Mason se debate. O cheiro de sangue se mistura com o
cheiro bem leve de pele queimada.
Carter tira mais dois dedos da mão de Mason, satisfeito, em
seguida, retira o pano da boca dele.
— Onde Phillipa está? — pergunta, mas tudo o que Mason
faz é rir. — Tudo bem, vamos pôr mais um pouco de intensidade,
porém, dessa vez, quero ouvir seus gritos.
Carter se levanta, colocando o alicate de volta na mesa
várias ferramentas de tortura, após vai até um interruptor que
contém cinco botões e uma alavanca.
— Vamos ver como ficará depois de ter uma pequena
corrente elétrica percorrendo seu corpo sem parar. — Sorri. — Por
quanto tempo consegue manter-se, Mason?
Carter puxa a alavanca e aperta o número um, que é uma
intensidade menor. O corpo de Mason começa a tremer, sua boca
se abre e seu grito ecoa pelo quarto, que por sinal, é à prova de
som.
— Tudo bem, tudo bem, eu falo! — berra, em desespero.
Com pura maldade, Carter não aumenta só os pingos de
água fervendo, como também o nível de eletricidade da cadeira.
— AHHH!
— Sinto muito, não estou entendendo! — grita Carter, em
meio aos berros de Mason.
— Eu disse que conto onde Marcus está com Phillipa, só
pare! — diz, em puro desespero.
Dou um passo à frente, caminhando e parando diante dele.
— Parece que você tem pouquíssima intolerância para dor,
Mason. — Balanço a cabeça.
— Vá se foder, Raphael! — cospe.
Sorrio para ele, no entanto não digo nada, apenas o olho,
esperando-o falar.
E ele faz. Mason conta exatamente onde Phillipa está, já
que foi ele quem a levou. Dominic passa a informação para Dimitria,
sendo assim, eu sei que ela e Lori estão buscando por mais.
— Se for uma informação falsa, pode apostar que sofrerá
muito mais — aviso.
— Não é falsa. — Sua cabeça cai para frente, em derrota.
— Só me mate logo, já que dei o que eu queria.
— Não tão fácil assim. Primeiro, buscarei minha mulher;
depois, conversaremos sobre o que farei com você.
Com isso, viro-me, indo em direção à porta. Paro assim que
vejo Carter.
— Coloque-o em uma cela. Terminaremos com ele depois.
Quero que o desgraçado sofra.
Carter sorri, acenando com a cabeça. Saio da sala de
tortura, caminhando entre corredores, com Dominic ao meu lado.
— Vamos, primo, vamos trazer sua mulher de volta para
casa. — Ele diz, dando um tapinha no meu ombro.
Só espero que não seja tarde demais.

— Essa é a casa onde Phillipa está sendo mantida.


Conseguimos hackear alguns satélites, então temos imagens e
vídeos do local. Assim,hackeamos também as câmeras que Marcus
colocou na casa. Podemos ver tudo o que está acontecendo sem
ele saberem. — Lori informa, com seu olhar em mim durante todo o
momento.
— Tem alguma ideia de como iremos entrar? — pergunto a
Hector, que olha para Caspen e sorri.
— Oww, sim, nós daremos a eles exatamente o que eles
deram a mim, só que mil vezes pior e melhor.
— Caralho, sim! — exclamo, animado.
— Teremos Amélia e sua equipe aos nossos ouvidos,
ajudando-nos. Apagaremos todas as luzes e todos os sistemas de
comunicação da casa, assim não terão contato uns com os outros.
— Caspen explica, olhando-me. — Nossos homens cercarão a casa
e plantarão bombas ao redor. Não quero que ninguém saia vivo
daquele lugar.
Sorrio, com pura satisfação. Marcus terá o que merece, e
com isso, teremos um pouco de paz. Phillipa poderá recuperar-se
melhor sabendo que todos os homens que abusaram dela estão
queimando no inferno.
— Há um total de vinte homens na casa. — Lori diz,
apontando para as telas de TVs.
Aparece uma imagem da casa e do que está acontecendo
em tempo real. Trinco os dentes ao ver os homens que passeiam
por ela, todos armados, prontos para atacar quem tentar infiltrar-se.
A imagem muda para um escritório onde está Marcus,
fodendo uma mulher que parece ser muito mais jovem do que ele.
Nojo! Esse homem dá nojo! O sofrimento da mulher é nítido, no
entanto ele gosta, está divertindo-se com isso. É o que lhe dá
prazer: ver mulheres sofrendo por suas mãos sujas.
A imagem muda para o resto da casa, mostrando tudo,
menos onde Phillipa possa estar.
— Consegui pegar a planta da casa. Há algumas saídas de
emergência, dois quartos do pânico e um porão com três cômodos.
Tem assinaturas de calor em um deles, o que posso imaginar que
possa ser onde Phillipa está. — Amélia aparece em uma tela, com
seu olhar focado em algo nas suas mãos.
— Ótimo. Tenho trinta dos nossos homens, prontos e
esperando por instruções. — Hector informa.
— Quero dez espalhados, colocando as bombas; cinco, nos
carros de evacuação, esperando por nós; Alex, em um ponto
estratégico, pronto para abater quantos for necessário. Maddox e
Miguel entrarão com Raphael; Emílio e Charles, com Dominic.
Quero Carter de fundo, apenas esperando o momento certo. Ele
ficará com Marcus. Quero-o vivo. Quero olhar nos seus
olhos e rir na sua cara enquanto coloco a casa para baixo. —
Caspen sorri, e posso pensar que ele já está imaginando toda a
cena. — Dimitria e Lori, eu as quero preparadas para a nossa
chegada no hospital. Phillipa precisará de toda ajuda possível para
se recuperar. Fechem uma ala do hospital e deixem a equipe pronta.
— Vira para Levi e Francis. — Quero-os no comando do helicóptero.
Assim que Phillipa for resgatada, vocês levá-la-ão direto para o
hospital — comanda para os dois homens, que acenam com a
cabeça. — Agora, nós temos uma das nossas para resgatar.
— Vou conversar com nossos homens, informá-los do nosso
plano. — Hector diz, ao levantar-se da poltrona.
— Verei todos dentro de uma hora. — Caspen diz, dando
um aceno e seguindo Hector para fora.
À minha volta, todos entram em ação, preparando-se para
cumprir seus papéis no plano. Não saio do escritório. Pelo contrário.
Caminho para as telas de TVs e observo o que acontece na casa
onde Phillipa está sendo mantida contra sua vontade, sendo
abusada por homens, tocada por eles... Droga! A culpa começa a
preencher-me novamente, todo esse sentimento de sentir-me inútil...
Um homem fraco que falhou no seu dever de proteger e cuidar.
Porra! Eu falhei com meu filho, falhei com a mulher que amo. Falhei
com minha família. Meu legado. Eu falhei com minha honra, e não
há nada que me fará sentir melhor, nada que fará com que esse
sentimento vá embora. Tudo o que posso fazer é recuperar Phillipa,
trazê-la para casa e ajudá-la a recuperar-se.
— Aguente firme, gatinha, pois estou chegando...
Capítulo Vinte e Três

De longe, observo a casa onde Marcus está com Henry,


seus homens e Phillipa. Tivemos algumas mudanças no plano. Não
iremos apagar as luzes de primeira, não. Faremos uma distração,
primeiro. Queremos que os guardas de fora se afastem um pouco,
assim, nossos homens irão esgueirar-se ao redor da casa,
colocando pequenas bombas. Estamos todos com nossos uniformes
pretos à prova de bala, até nossas cabeças estão cobertas e
protegidas; e nossos óculos noturnos, nas nossas cabeças, prontos
para entrarem em ação assim que todas as luzes se apagarem. Eles
não irão nos ver. Iremosesgueirar-nos pela escuridão da noite e
acabar com a vida de cada um deles, depois, por último,
explodiremos tudo, não deixando nada, nenhum ser vivo nesse
lugar.
— Estamos em posição — anuncio, pelo meu comunicador.
— Entendido. Quando eu der o sinal. — Amélia diz.
— No aguardo — digo.
Ao meu redor, posso sentir a excitação dos meus homens,
quão ansiosos estão com este resgate, animados e prontos para
colocar tudo a baixo. Eu mesmo estou aqui, pronto para entrar, para
encontrar Phillipa e a tirar desse horror, para segurá-la em meus
braços e sussurrar que estou ali, dizendo que tudo ficará bem a
partir deste momento, que ela me tem e que estarei sempre
consigo. Estou pronto para pedir desculpa à minha gatinha, mostrar
que sinto muito por tudo o que aconteceu, por eu ter saído,
deixando-a desprotegida. Caralho! Eu apenas quero segurá-la em
meus braços e acabar com tudo isso logo, levá-la para casa. Fecho
os olhos e respiro fundo, deixando meu corpo tomar as rédeas,
deixando que todo medo, toda a preocupação e toda culpa fiquem
de lado. Neste momento, tudo o que eu quero comigo é a raiva,
pura e controlada raiva que consome minhas veias, deixando-me
quente. Neste momento, não posso pensar e ser controlado pelas
emoções, não. Tudo o que tenho que ter é raiva e controle, junto
com uma frieza para entrar e fazer o que tenho que fazer.
— Tudo pronto, a distração foi feita. Já, o caminho está livre
para colocarem as bombas ao redor da propriedade. Vão —
comanda Amélia, que está em New York, com sua equipe de
hackers, ajudando-nos.
— Entendido. Estamos avançando com cuidado — diz
Derek, um dos seguranças de Hector.
Ele ficou no comando de guiar os homens designados a
colocarem as bombas pela propriedade.
— Lado Sul está pronto. Estamos avançando para outro
ponto — avisa Derek.
Os segundos se passam, transformando-se em minutos, e
cada parte da propriedade é coberta por bombas. Sorrio. Hoje,
Marcus Esposito irá queimar até chegar no inferno.
— Tudo pronto, toda a propriedade está coberta — informa
Derek. — Estamos voltando ao nosso posto.
— Entendido, Derek. Bom trabalho. — Caspen diz. —
Amélia, agora é com você.
— Eu sei, irmãozinho. Estou trabalhando nisso em: três,
dois, um... Luzes apagadas. Podem avançar!
— Que comecem os jogos — digo, rindo, e ela bufa.
— Homens... — resmunga.
Não digo mais nada, apenas me concentro no que tenho
que fazer. Posso sentir Maddox e Miguel ao meu lado, avançando
junto comigo. Sinto o peso das armas em minhas mãos, bem como
meu coração batendo em um ritmo controlado. Com os óculos
noturnos, vejo perfeitamente o que está à minha frente.
— Vamos lá, hora de colocar Marcus e toda sua gangue
para baixo — comento.
— Porra, sim! — Ouço a voz de Dom ao meu ouvido.
— Parem de falar e se concentrem — ordena Caspen,
irritado.
Não faço ideia de onde ele e os outros estejam, mas em
questão de segundos, ouço o som de gritos e tiros, o som do
desespero. Issome enche de uma sensação muito, muito boa. Ergo
as mãos, apontando minhas armas para frente. Assim que vejo o
primeiro guarda, eu atiro, acertando sua testa. Iremos fazer
exatamente como fizeram com os nossos. Uma boa forma de
vingar-se, não acha?
— Raphael, está me ouvindo? — pergunta Amélia.
— Sim, pode falar — respondo.
— Vá para a ala leste da casa. É onde fica uma pequena
biblioteca. Haverá cinco homens lá dentro, cada um em um ponto da
sala. Terão que agir com rapidez, pois eles estão com óculos
noturnos. Entendeu?
— Entendemos, Amélia.
— Ótimo. Assim que entrar, me avise. — Com isso, ela se
concentra nos outros homens, dando ordens a eles também.
— Vamos lá — digo a Miguel e Maddox.
Adentramos a casa. À nossa volta, nossos homens liberam
o caminho para a nossa passagem. De vez em quando, um
aparece, mas Miguel e Maddox têm as minhas costas, dando
cobertura.
A casa é grande. Até chegarmos na ala leste, lutamos
contra alguns idiotas que insistem em tentar nos parar. A briga ao
nosso redor é intensa, porque alguns dos guardas de Marcus estão
com óculos noturnos, então há quem entre no nosso caminho,
revidando contra nós, o que não resulta em nada, já que estamos
muito bem-protegidos contra eles.
Assim que chegamos, as coisas esquentam um pouco mais.
Quatro homens nos esperam, pegando-nos de surpresa.
A luta é brutal. Sou acertado por um dos guardas de
Marcus, na boca, e sinto o gosto de sangue nos meus lábios.
Aproveitando que estou um pouco atordoado pelo ataque surpresa,
o homem dá mais um soco em mim, fazendo com que a arma da
minha mão direita caia no chão. Olho para ele, avaliando-o. Sou
rápido ao dar um soco no seu estômago, fazendo-o cambalear para
trás, o que é muito bom para mim, o suficiente para apontar minha
arma da mão esquerda e atirar na sua cabeça, pegando-o
desprevenido. Sorrio. Olho para o lado, vendo Miguel lutar com dois
homens, enquanto Maddox tem apenas um. Olho para o chão,
procurando minha arma. Encontro-a perto de um móvel que está
encostado na parede. Pegando-a, viro-me para Miguel e os dois
homens. Miro e atiro, acertando um deles.
— Merda, Amélia, por que não me avisou que tinha homens
nos esperando fora da biblioteca?! — pergunto, irritado com toda
essa situação.
— Primeiro, que estamos aqui, todos ocupados. Avisei dos
que estão dentro da biblioteca, então não preciso avisar que há
homens em todo o canto da casa. Era para ser bem óbvio, não
acha? — desdenha ela. — Não há mais homens de surpresa.
Agora, vão! — grita, irritada.
Suspiro.
— Vamos prosseguir — digo a eles.
Em silêncio, caminhamos pela ala leste, indo em direção à
biblioteca, como estudamos pelo mapa da casa. De longe, podemos
ouvir os sons de luta, gritos e tiros. Sorrio, sabendo que estamos
acabando com todos.
— Vocês estão a alguns passos da biblioteca. Os cincos
homens estão em posição de ataque. Há dois de frente à porta.
Outros dois estão parados, um ao lado do outro, em uma estante
que tenho certeza de que é falsa. Uma porta que leva até o andar
de baixo, onde Phillipa está, com mais dois homens de vigia. O
quinto homem está em um ponto cego que será difícil de verem.
Lado esquerdo, bem escondido, entre uma mesa e uma estante.
Tomem cuidado. — Amélia avisa.
— Prontos? — pergunto a eles, que acenam. — Chutarei a
porta. E vocês, coloquem todos para baixo.
Maddox e Miguel pegam suas Metralhadoras M60,
colocando-as em posições, em frente aos seus corpos. Eles olham
para mim, dando um aceno com a cabeça.
Em silêncio, caminhamos para a porta à nossa frente. Mexo
meu pescoço ao sentir um pouco de tensão. Quero que essa merda
acabe logo, quero encontrar Phillipa e sair deste lugar, levando-a
para casa, para um lugar seguro. Eu só a quero comigo.
Paramos em frente à grande porta do escritório.
— Eles sabem que estão aí, estão todos postos. — Amélia
avisa.
— Nós também estamos prontos. — Olho para Miguel e
Maddox.
Os dois se colocam em seus postos. Eles dão um aceno a
mim. Levanto minha mão, com três dedos meus erguidos, e aos
poucos, vou descendo-os: três, dois, um!
Chuto a porta, abrindo-a, em seguida, com rapidez e
eficiência, me escondo enquanto Miguel e Maddox atiram. O som
chega a incomodar os ouvidos. Os tiros são dados de um lado para
outro, atingindo quem estiver na frente. Não há chance de os
homens de Marcus revidarem, não damos a eles essa chance.
Somos mais rápidos, preparados para momentos como este.
Sabemos o que estamos fazendo.
Os tiros param. Ouço o riso de Miguel e de Maddox.
— Liberado, Chefe. — Maddox diz.
Saio de onde estou e olho para dentro da biblioteca. Há
cinco corpos no chão, com buracos de bala em todo o corpo.
— Vamos continuar. — Observo cada estante de livros, e
logo encontro a falsa.
Passo a mão sobre ela, sentindo-a, procurando qual o ponto
que a abre, o que não é difícil de encontrar. Há um pequeno botão
ao lado dela. Aperto-o, então a estante é puxada para trás e
arrastada para o lado, dando a nós a vista de uma escada. Aponto
para a frente, e tão logo Maddox e Miguel tomam a liderança,
protegendo-me. Descemos as escadas, em completo silêncio. Não
queremos que os dois homens que protegem Phillipa saibam que já
estamos aqui. Quero pegá-los desprevenidos.
E é o que fazemos. Assim que entramos em uma área
aberta, atiramos nos dois. Não damos chances de defesas. Quando
percebem que estamos aqui, já estão caindo, mortos, de encontro
ao chão, com um tiro perfeito na cabeça.
— Qual porta, Amélia? — pergunto.
— Direita.
Olho para a porta, sentindo meu coração agora batendo
forte no peito por causa da adrenalina. Guardo minhas armas. Meu
peito se aperta. Fico estático com o que vejo, sentindo o coração
aos pedaços.
Do outro lado está Phillipa, desprotegida, com medo,
machucada, tudo por minha culpa.
— Raphael? — Maddox chama.
— Vou precisar de um cobertor para cobri-la. — Minha voz
sai tão monótona.
Em silêncio, caminho até a porta, em seguida seguro a
maçaneta, girando-a e abrindo. Entro na sala, olhando para o corpo
de Phillipa. Seu olhar se encontra com o meu. Não há nada. Apenas
o vazio.
— Oh, gatinha...

Phillipa

— Oh, gatinha... — Sorrio.


— Raphael... — digo, baixinho.
Ele corre até mim, olhando nos meus olhos. Sorrio
novamente. Ele está aqui. Ele veio encontrar-me. Suspiro, sabendo
que encontrei a paz, que tudo ficará bem a partir de agora, sem dor,
sem lágrimas, sem humilhação, apenas uma grande paz. Ele está
aqui, ele veio para me encontrar, veio levar-me para o meu lugar de
descanso. É bom saber que minha vida após a morte será com ele.
Bem, ao menos é o que eu acho, já que Raphael está aqui, bem à
minha frente.
Lágrimas se formam nos meus olhos, lágrimas de puro
alívio. São lágrimas felizes. Eu juro que são.
— Oh, minha gatinha... — sussurra ele, passando a mão
pelo meu rosto, com tanta delicadeza. — O que fizeram com você?
Semicerro os olhos mediante a sua pergunta. Tento erguer
minha mão para tocar nele, porém não consigo. Sinto uma picada
no meu pulso, então começo a entrar em pânico, porque é quando
percebo que estou presa. Pisco repetidamente algumas vezes,
tentando entender o que está acontecendo ao meu redor, e é
quando percebo os sons à minha volta, o cheiro de sangue e a dor.
Deus! Eu sinto a dor. Muita, muita dor, chega a ser até difícil
respirar. Olho em volta, percebendo que ainda estou na mesma
sala. Eu ainda estou amarrada a uma mesa, com arames em volta
dos meus pulsos e tornozelos. Eu ainda estou nua e sangrando em
todos os lugares que uma pessoa é capaz de sangrar, e para a
minha horrível realidade, eu não morri. Eu não morri, o que significa
que Raphael me encontrou. Ele está realmente aqui, vendo-me
deste jeito, tudo o que eu não queria.
— Eu não morri. — Soluço. — Eu não morri, eu não morri —
repito mais e mais.
— Shh... Está tudo bem, gatinha... Vamos tirá-la daqui. —
Raphael diz, com sua mão erguendo-se para me tocar mais uma
vez.
— Não. — Debato-me. — Não me toque, não me toque...
NÃO ME TOQUE! — grito, em puro desespero.
Tento soltar-me, mas só faz com que eu me machuque
mais. Porém tudo o que eu penso nesse momento é que Raphael
está aqui, ele está vendo-me assim. Céus! Ele viu-me ser estuprada
violentamente várias e várias vezes, e eu não pude fazer nada,
porque estava drogada demais. Eu só quero que tudo acabe.
— Phillipa? — Raphael me chama, contudo tudo o que faço
é quebrar, encolhendo-me ao som da sua voz.
Pena. Culpa. Ressentimento. É tudo o que percebo quando
ele chama meu nome.
— Não, não, não... Saia daqui! Saia, saia, saia daqui! —
grito, querendo que meu mundo acabe.
Eu só quero que ele me deixe, quero que ele se vire e vá
embora. Eu quero morrer, essa é a verdade. É cruel, é horrível, eu
sei que é, e que não estou fazendo sentido algum. Merda... é até
difícil raciocinar, nesse meu estado, entretanto é o que eu quero.
Quero morrer, porque sei, eu sei que não serei a mesma. Sei dos
olhares que receberei, dos sussurros à minha volta que ouvirei,
então eu só quero que me deixem aqui para eu morrer de vez.
Porque não quero. Eu não quero ser a pobre coitada que foi
brutalmente abusada sexualmente, fisicamente e psicologicamente,
tampouco a pobre mulher que perdeu o bebê enquanto a
estupravam. Eu não quero ser essa mulher. A mulher do depois.
— Phillipa, gatinha... — Viro a cabeça para o outro lado, não
querendo olhá-lo, não querendo ver a pena nos seus olhos e em
todo o semblante.
— Só me deixe aqui — sussurro.
— Phillipa, olhe para mim — pede, e eu balanço a cabeça,
recusando-me a olhá-lo. — Olhe para mim, Phillipa. Agora. —
Continuo a não o olhar.
Sinto sua mão no meu rosto. Forço-me a não virar e olhar
para ele, mas Raphael é mais forte do que eu, então meus olhos se
encontram com os seus.
— Não vou deixá-la aqui, Phillipa — diz, sendo firme, e
lágrimas saem dos meus olhos, escorrendo pelo meu rosto, fazendo
minha visão embaçar. — Tenho que tirar esse arame dos seus
pulsos e tornozelos. Só aguente firme, okay? — Cansada demais
para lutar, aceno com a cabeça.
Raphael levanta a cabeça. Sigo seu olhar. Maddox e Miguel,
eles estão aqui, eles estão vendo-me assim. Encolho-me.
— Preciso de um pano, qualquer coisa para cobri-la. — Ele
começa a dar ordens. — Maddox, me ajude a tirá-la desses arames.
Caspen, Amélia, eu encontrei Phillipa. Estaremos tirando-a daqui
em cinco minutos. Peça para o pessoal estar pronto.
Tranco minha mente. Fecho os meus pensamentos e me
concentro no nada. É a única coisa que consigo fazer para não
sentir nesse momento. Eu apenas me fecho enquanto trabalham
para me tirar deste lugar. Fecho meus olhos enquanto sinto os
arames saindo da minha pele, o sangue escorrendo pelos meus
pulsos ao mesmo tempo que cobrem meu corpo nu. Meus olhos
continuam fechados quando sinto os braços de Raphael envolverem
meu corpo e ele me tirar da mesa. É quando eu sinto quão esgotada
estou. A dor é insuportável, fazendo meu corpo todo ficar mole. A
tontura me bate forte, deixando-me enjoada. Não consigo respirar.
Sinto como se tivesse um carro no meu peito, pressionando-me.
Sinto tanta dor, que lamento baixinho. Minha cabeça se apoia no
peito de Raphael, mas meus braços caem, moles. Estou sem força.
— Raphael... — sussurro.
— Shh... Aguente firme, gatinha. Estou tirando-a daqui.
— Dói — resmungo.
— Eu sei. Só aguente firme. — Sinto seus lábios na minha
testa.
— Eu quero que a dor se vá.
— Só aguente, gatinha.
— Não sei se consigo. Cansada demais. — Lambo meus
lábios, que estão tão secos, tão, tão secos.
— Só continue acordada, fale comigo — pede ele, e ouço o
desespero na sua voz.
— Dói. Tudo dói. Não quero que doa.
— Eu sei, gatinha. Tudo vai melhorar. Cubram-me. Estamos
indo para fora. — Sua voz soa tão distante para mim, como se eu
estivesse perdendo-me em um limbo nesse momento.
Posso sentir cada passo que ele dá. Dói tudo em mim. A
rapidez com que anda pelo lugar, a firmeza nos seus passos, o
modo com que se comporta, dando ordens, soando firme... Tanta
determinação e confiança. Gostaria de ser assim: determinada,
confiante... mas tudo o que sou neste momento é uma casca vazia.
Silêncio. Depois de um tempo, tudo o que ouço é o silêncio.
Porém eu sinto uma grande tensão, então abro meus olhos. Com
muita dificuldade, eu os abro, olhando ao redor, como posso. Há
homens, homens por todo o lado, todos em pé, em posição de
superioridade, todos com roupas pretas e armas nas mãos, homens
olhando para nós.
— Ow — sussurro, quando olho de relance para baixo,
vendo corpos e mais corpos de homens mortos.
— Tudo bem, tudo está bem. — Raphael sussurra.
Ele não para. Passando por todos os homens, ele nos leva
para fora. Assim que a porta se abre, sinto o ar fresco da noite, bem
como o vento passando pelo meu rosto, como uma deliciosa carícia.
Sorrio ao respirar fundo.
— Raphael? — chamo, e ele olha para mim.
— Sim, gatinha?
— Não dói mais.
Bônus

Caspen

— Pode entrar. Tenho Marcus em meu domínio. — Carter


diz, pelo ponto no meu ouvido.
Saio do carro, olhando para a grande casa à minha frente.
Meus homens, todos parados, com armas nas mãos, esperando por
mim, para acabar logo com tudo isso. Caminho, com passos
presunçosos, como se eu tivesse todo o tempo do mundo. Aos
meus pés, homens de Marcus estão caídos, mortos pelos meus.
Sorrio.
Adentro a casa, olhando para mais e mais homens caídos.
Você mexe comigo, e eu acabo, com os seus. Tão fácil. Ajeitando
meu terno, entro no escritório, onde encontro Marcus, de joelhos,
aos pés de Carter. No canto, está uma jovem, toda encolhida,
tremendo, cheia de machucados pelo corpo, olhando entre mim,
Carter e Marcus.
— Seu nome? — pergunto a ela.
— Antonella.
— Quantos anos você tem, garota?
— Dezessete.
Porra! Olho com nojo para Marcus.
— Carter, a tire daqui — comando a ele. — Vá com ele.
Você está segura agora — digo a ela, que acena com a cabeça,
hesitante, tendo um certo receio no olhar.
— Obrigada — sussurra, levantando-se, com cuidado.
Carter a tira do escritório, deixando-me sozinho com
Marcus. Olho para ele, dando um sorrisinho. Estalo a língua.
— Patético. Tão incrivelmente patético, não acha? —
pergunto-lhe, rindo.
— Eu vou matar você — rosna, olhando para mim.
— Não, Marcus, eu é que vou matar você. — Saco minha
arma da cintura e dou um tiro na sua coxa, causando um grunhido.
— Sua morte será um espetáculo. Vejo-o no inferno. — Atiro na sua
outra coxa, fazendo-o gritar de dor.
Dou as costas, deixando-o lá, sangrando, sem ajuda. Saio
da casa, dando um aceno para os meus homens. Todos se retiram,
indo em direção aos carros.
Assim que entramos no parâmetro seguro, aperto o botão,
explodindo todo o lugar, deixando-o em chamas, com Marcus e seus
homens lá, queimando. Sorrio. Nenhum. Nenhum homem invade
meu território e toma o que é meu.
Capítulo Vinte e Quatro

Raphael

— Não dói mais... — Seu corpo fica mole nos meus braços,
e ela apaga, dando um último suspiro.
— Phillipa? — chamo-a, dando uma leve sacudida no seu
corpo, mas não obtenho nenhuma resposta. — Phillipa, por favor,
fique comigo — peço a ela, mesmo sabendo que é em vão.
Porra, porra!
— Ela desmaiou, e não está respirando direito. Precisamos
levá-la ao helicóptero o mais rápido possível!— grito para Maddox e
Miguel. — Amélia, mande o helicóptero descer, Phillipa não tem
muito tempo!
— Estão a um minuto — comunica ela.
— Caralho! Ela não tem a porra de um minuto! — digo,
irritado. — Não posso perdê-la, eu não posso perdê-la... — divago,
olhando para o céu, esperando pelo helicóptero.
— Você não vai perdê-la, Raphael. Aguente firme. Eles
estão chegando — avisa Amélia.
É quando ouço o som das hélices do helicóptero cortando o
ar. Suspiro, aliviado. Tudo vai ficarbem. Phillipa
ficarábem, nós
ficaremosbem, repito mais e mais em minha mente enquanto o
helicóptero desce para nos pegar. Assim que pousa à nossa frente,
corro, com Phillipa nos meus braços. Miguel e Maddox me seguem.
— Como ela está? — Miguel pergunta assim que nos
acomodamos no helicóptero.
— Nada bem. Precisamos chegar logo no hospital! — grito.
Olho para Phillipa, que está desmaiada e sem cor nos meus
braços. Respiro fundo. Ela está tão machucada, que quebra meu
coração. Abaixo minha cabeça, tocando meus lábios na sua testa,
sentindo quão gelada ela está.
O helicóptero começa a levantar voo. Quando pega altitude,
olho para baixo, vendo a explosão que acontece. Tudo desaparece
em meio ao fogo, a casa onde Phillipa foi mantida não existe mais,
está tudo em pedaços. Sorrio, aliviado, sabendo que acabou. Pelo
menos, não teremos mais Marcus Esposito tentando derrubar-nos.
O helicóptero pega distância do caos. Phillipa não se mexe
nos meus braços, o que me preocupa a cada instante. Tão quieta;
sua respiração, tão fraca. Céus! Ela tem que ficar bem, ela precisa
ficar bem. Não posso perdê-la, preciso dela.
Tudo culpa minha. Ela está assim por minha culpa, do meu
egoísmo, está assim porque não fui homem o suficiente para ficar.
Eu a deixei. Fecho meus olhos, sentindo-os se encherem de
lágrimas. Caralho!
Ouço Levi anunciando nossa chegada no hospital. A noite
nos cerca. Não há estrelas, não há lua, apenas nuvens. Uma noite
que irá assombrar-me pelo resto da vida.
O helicóptero pousa na cobertura do hospital, a porta se
abre e os paramédicos aparecem, assim como Lori e Dimitria.
— Senhor, precisamos levá-la. — Um médico diz, olhando
para mim. — Precisamos colocá-la na maca — pede ele, mas tudo o
que faço é manter Phillipa nos meus braços.
Não posso deixá-la, não posso dá-la a eles. E se ela não
sobreviver? E se algo acontecer enquanto a coloco na maca? Se
eles não puderem ajudá-la? Trago-a ainda mais para o meu peito,
mantendo-a.
— Senhor? — O médico diz, olhando em volta, não sabendo
o que fazer.
— Raphael, você precisa deixá-la ir com os médicos. Ela
mal respira, está machucada, por isso precisa ser examinada,
cuidada por eles. Coloque-a na maca e deixe-os trabalharem. —
Lori para à minha frente, olhando para mim.
Balanço a cabeça.
— E-eu... — Engulo seco.
Não posso, só não posso. Não quero deixá-la de novo. Ela
precisa saber que estou aqui.
— Ela está morrendo, Raphael. MORRENDO. É isso que
você quer? — Dimitria diz, olhando-me bem sério. — Se você não a
deixar ir, ela morrerá nos seus braços.
— Dimitria! — Lori a repreende.
— O quê? Estou dizendo a verdade aqui. Ele precisa deixá-
la com os médicos. Agora. — Dimitria olha para quem está atrás de
mim e acena com a cabeça.
— Não — digo, quando Miguel e Maddox tentam tirar
Phillipa dos meus braços.
— Deixe ela ir, homem! Ela precisa que você a deixe ir! —
Miguel diz.
Respiro fundo, olhando à minha volta pela primeira vez
desde que chegamos no hospital. Uma equipe médica está em pé,
todos esperando, esperando por mim, para eu entregá-la a eles.
Dou um beijo na sua testa, erguendo meus braços para frente e
colocando-a na maca. Os médicos começam a examiná-la.
— Cuidem dela, entenderam? — ordeno, em tom de aviso.
Eles apenas acenam com a cabeça, então a levam para
dentro. Sigo-os, observando-os cuidarem dela. Quero poder estar
ao seu lado, segurando sua mão, mas me contenho, deixando os
médicos trabalharem.
Andamos por entre corredores, entramos e saímos do
elevador, e tudo o que eu faço é observá-la, torcendo para que os
médicos a deixem viva, para que ela fique bem.
— Sinto muito, Senhor, porém não poderá entrar nessa ala.
Terá que esperar na sala de espera.
Minha vontade é de socar o homem e dizer a ele que não
sairei de perto dela de jeito nenhum. No entanto, apenas aceno com
a cabeça, virando-me e caminhando para a sala de espera, a qual
Lori e Dimitria fecharam apenas para a nossa família. Desolado,
sento-me na cadeira, passando as mãos pelos cabelos, puxando
alguns fios, sentindo-me perdido. É irritante toda essa situação. Eu
quero estar com Phillipa, quero sussurrar ao seu ouvido, dizendo-lhe
que estou ali, que minha gatinha me tem e que tudo ficará bem, que
ela ficará bem. Queria poder dizer-lhe que nosso bebê está seguro
— mesmo eu sabendo que ela o perdeu. Eu só queria segurar sua
mão enquanto ela é cuidada pelos médicos, entretanto tudo o que
tenho é uma sala de espera. O que irei fazer agora?

Duas horas. Faz duas fodidas horas que Phillipa entrou


naquela sala; e ainda, nada. Nenhuma porra de notícia sobre ela.
Issoestá mantando-me. A sala de espera está cheia. Toda a família
está aqui, esperando por notícias de como ela está. Cansado, passo
as mãos pelo meu rosto, esfregando meus olhos. Levanto-me e
começo a andar de um lado para o outro. A cada barulho que ouço,
olho na direção da porta, torcendo para que algum médico entre e
diga como Phillipa está. Olho para o relógio no meu pulso, vendo
que só se passaram dois minutos desde a última vez em que olhei.
— Onde estão esses médicos? Por que diabos ninguém
vem aqui, dizer como ela está? — pergunto, irritado com essa
maldita demora. — Onde estão os médicos?! — grito, tremendo de
raiva.
Minhas mãos se fecham em punho, e sinto minha pulsação
acelerar. Porra, porra, estou perdendo o controle!
— Dá para se acalmar? — Vovó Tereza diz, olhando-me. —
Toda essa raiva e irritação não irão ajudar em nada. Quando o
médico tiver notícia, ele virá informar como Phillipa está. — Sorri
para mim, dando um tapinha no meu ombro.
Abro minha boca, querendo discutir com ela, contudo a vovó
dá seu olhar calaa boca e façao que eu mando. Volto a sentar na
cadeira e espero. Meus olhos alternam entre a porta e meu relógio,
marcando cada minuto que se passa. Posso sentir a tensão ao meu
redor, ouvir os sussurros, quão nervosos todos estão. Droga! Droga!
Detesto toda essa situação.
— É uma droga. — Olho para o lado, vendo Vovó Nadine
sentada ao meu lado. — Eu sei bem o que está sentindo, Raphael.
Sou velha demais e já passei por tudo isso com cada um de vocês.
— Ela suspira, pegando minha mão, e dá um pequeno aperto. —
Não vou sentar aqui e dizer a você para ser forte. A quem eu quero
enganar? Não há como ser forte em uma situação como essa.
Somos humanos e sentimos por tudo. Mas, meu neto, você terá que
aguentar só mais um pouco, não por mim, nem pela sua família,
porém por Phillipa, pois ela irá precisar de você quando acordar. E,
querido, não será bonito. Ela estará confusa, magoada, machucada
e cheia de raiva por tudo o que aconteceu. Você terá que aguentar
por ela. Só aguente. Tudo bem? — Aceno com a cabeça, não
sabendo o que dizer para ela nesse momento.
Aguentar, eu só preciso aguentar, por Phillipa. Certo, acho
que posso fazer isso. Aguentar.
— Vovó... e se...? — Não consigo terminar de falar, porque a
porta se abre e um médico entra.
— São todos familiares de Phillipa? — pergunta ele, olhando
ao redor.
— Como ela está? — indago a ele.
Não respondo à sua pergunta porque não era nem
necessário ele ter perguntado isso, já que esta sala é da nossa
família. Doamos milhares de dólares por mês para termos
exclusividade neste hospital, então a pergunta que ele fez foi
patética.
— Bem, ela foi muito machucada...
— Nós já sabemos disso, Doutor — digo, sem nenhuma
paciência, levantando-me e indo à sua direção. — Nós queremos
saber é se ela está bem e se podemos vê-la.
— Ela está viva, mas muito ferida. Ela teve um aborto. Eu
sinto muito. — Lágrimas se formam nos meus olhos.
Nosso bebê... nosso querido bebê se foi.
— Teve vários cortes — continua ele —, os quais tivemos
que dar pontos; queimaduras, que lavamos e tratamos. E ainda sua
parede vaginal foi ferida brutalmente, bem como teve algumas
costelas quebradas e sangramento interno, que foi reparado. O
maior problema que teremos será mentalmente. Não sabemos como
ela ficará depois que acordar, por isso eu indico um psicólogo e
psiquiatra para tratá-la. Ela irá precisar.
— Podemos vê-la? — pergunto a ele, sem paciência. —
Tudo o que eu quero saber é se poderei ficar com ela, olhá-la,
segurar sua mão até ela acordar.
— Sim, podem ir vê-la.
— Era a única coisa que eu queria saber — digo,
empurrando-o para fora do caminho e indo em direção aos quartos,
mesmo não sabendo em qual ela está.
— Quarto duzentos e um. — O médico diz, atrás de mim.
Paro de frente para a porta do quarto e ergo minha mão,
colocando-a na maçaneta. Antes de abrir, respiro fundo, controlando
minha respiração e o turbilhão de sentimentos que me preenche de
uma só vez. Sinto uma mão no meu ombro. Olho para o lado, vendo
meu pai, Derek Callahan.
— Filho... — Acena com a cabeça para mim. — Estamos
aqui com você. — Olho para trás, vendo minha mãe, que dá um
aceno.
— Acabamos de chegar, e parece que chegamos no
momento certo. Abra a porta, amor. — Minha mãe diz. — Estamos
todos aqui com você.
Giro a maçaneta e abro a porta. Meu coração se parte ao
ver Phillipa. Céus! Lágrimas borram minha visão. Sinto-me fraco
nesse momento, não consigo nem dar um passo. Ela está viva,
porém ao mesmo tempo, vê-la dessa forma, tão pálida, tão frágil e
machucada... É demais para aguentar. Um soluço deixa minha
boca. Corro para o seu lado, segurando sua mão gelada. Sento-me
na poltrona que está ao lado da sua cama e abaixo a cabeça.
— Oh, gatinha... sinto muito, sinto muito, sinto muito... —
Choro baixinho ao seu lado, com minha cabeça abaixada, e minha
mão, segurando a sua. — Perdoe-me, gatinha. Perdoe-me por ter a
deixado naquela casa, sozinha e desprotegida. Perdoe-me por ter
sido difícildurante todo esse tempo, por ter a magoado. Perdoe-me
por todas as palavras que eu disse, que a magoaram, por toda dor
que lhe causei. E-eu te amo, gatinha, te amo demais. Perdoe-me —
digo, entre lágrimas.
Ergo sua mão, levando-a até meus lábios e dando vários
beijos molhados por causa das minhas lágrimas. Soluço baixinho
enquanto beijo sua mão. Meus ombros estão tremendo.
Sinto o aperto do meu pai no meu ombro. Havia esquecido
que não estou sozinho, que minha família está aqui comigo, vendo-
me desmoronar. Droga! Passo minha mão pelo meu rosto, secando
minhas lágrimas.
— Ela vai ficar bem, querido. Phillipa é uma mulher forte. —
Minha mãe diz.
Olho para ela, que dá um pequeno sorriso.
— Ela vai ficar bem — repito suas palavras.
— Sim, ela ficará. — Ela sorri para mim.
Olho para Phillipa. Ela ficarábem, ela tem que ficarbem,
repito mais e mais, sussurrando, com minha mão ainda na sua. Nós
ficaremosbem, digo, mesmo sabendo que, lá no fundo, nada ficará
bem depois de hoje.

Phillipa – Um dia depois...


Um gosto amargo preenche minha boca. Gemo baixinho ao
mover-me. Meu corpo dói e sinto dificuldade ao respirar. Droga.
Abro meus olhos, sentindo-me um pouco zonza. O que aconteceu?
Onde eu estou? Tento movimentar meu corpo, porém tudo em mim
dói, mexer-me faz com que se torne difícilrespirar, sendo assim, dói
meu peito. Engulo seco, sentindo minha garganta arranhar. Sinto
sede. Merda, o que está acontecendo? Sinto-me confusa. Olho em
volta, tentando entender onde estou. É quando percebo, pelo cheiro,
pelo quarto, o bip da máquina, a cama confortável... Hospital, eu
estou em um quarto de hospital. Então, tudo volta, tão rápido...
Minha mente se enche de memórias dos acontecimentos que me
trouxeram até aqui. Não, não... Olho para a minha mão, onde
encontro uma cabeça apoiada, ao lado da minha cama, bem como
uma mão segurando a minha. Estou viva. Em pânico, puxo a mão
de Raphael da minha e saio da cama, puxando os acessos nos
meus braços. Esfrego-os, em nervosismo. Atordoado, Raphael
levanta a cabeça e olha para mim.
— Phillipa... — sussurra ele, ao ver que estou acordada e
em pé. — Você não pode...
— Não — digo, erguendo a mão, em um gesto a impedi-lo
de chegar perto de mim.
A porta do quarto se abre. Dimitria entra junto com Lori e
Caspen. Eles suspiram ao ver-me em pé, do outro lado do quarto.
— Você não pode...
— Eu disse não — digo, interrompendo a fala da minha
irmã.
— Phillipa...
— Não, não, não. — Esfrego minha cabeça, sentindo-me
confusa.
Puxo alguns fios de cabelo. Tenho que sair daqui. Eu
preciso sair daqui e ficar bem longe de tudo, de todos. Céus! Eu
estou viva. Não quero estar viva. Não quero, não quero estar viva.
— Não quero, não quero, não quero estar viva — repito
mais e mais, puxando os fios dos meus cabelos enquanto ando de
um lado para o outro.
Sinto como se fosse ser sufocada. Meu peito se aperta,
minha pele formiga.
— Phillipa... — Raphael chama.
Paro e o olho, com meu peito enchendo-se de raiva. Não
consigo explicar, nem controlar o que estou sentindo nesse
momento. É tão sufocante, opressor, que eu preciso colocar para
fora. Não era para eu estar em pé, eu sei disso, meu corpo sabe
disso. Tudo em mim dói, cada pedacinho do meu corpo, porém
nesse momento, a raiva que sinto supera toda a dor.
— Está feliz agora!? — grito a ele.
— Phillipa... — diz, mais uma vez, tentando chegar perto de
mim.
Desvio-me dele, parando do outro lado do quarto, bem longe
de todos, que estão encarando-me, com pena. Eles têm pena nos
seus olhares. Deus!
— Está feliz agora, hum?
— Phillipa...
— Deixe-a, Dimitria. — Raphael a corta.
Nesse momento, não estou importando-me nem um pouco,
porque tudo o que sinto é raiva, uma raiva crescente que me
domina, como uma corrente passando pelo meu corpo, trazendo-me
para a vida, a qual está enchendo-me de raiva. Dou um passo à
frente, ficando cara a cara com Raphael.
— Era o que você queria, não era? — pergunto a ele.
Balanço a cabeça, rindo de toda a situação. Estou com tanta
raiva, que não me importo com minhas palavras. Eu só preciso
descontar essa fúria em alguém, colocar para fora esse sentimento
que me domina por inteiro, que me preenche de uma forma
inexplicável. Esse alguém é ele. A dor, a perda é tão grande, que eu
preciso colocá-la para fora, tirar esse peso de mim. Esfrego meu
peito, precisando de alívio.
— Agora, você está livre, não tem mais nenhuma
responsabilidade comigo, não terá mais o filho bastardo de uma
traidora. — Soco várias e várias vezes seu peito.
Raphael não me para. Lágrimas rolam pelo meu rosto, sem
parar.
— Ele se foi, meu bebê se foi, e é culpa sua, você o deixou
morrer. Prometeu proteger-nos, você prometeu, Raphael. — Soluço.
Meus braços cansam. Sinto-me tonta por uns instantes.
Raphael envolve seus braços no meu corpo, abraçando-me, e eu
deixo minha dor transbordar para fora de mim. Meus soluços
preenchem todo o quarto. Meu corpo desmorona, o cansaço toma
conta e eu simplesmente deixo toda essa dor me levar. Meus olhos
se fecham e, em instantes, flutuo para um mundo sem dor.
Capítulo Vinte e Cinco

Dois meses depois...

Recuso-me a vê-lo. Já faz dois meses desde o dia em que


me resgataram das mãos de Marcus e seus homens. Dois meses
em que me recuso a vê-lo. Depois do meu ataque no meio do quarto
do hospital, pedi para proibirem-no de entrar, e quando recebi alta,
um mês depois, novamente pedi para não o vir. Eu não o quero
perto de mim. Não quero ter que o olhar. Recuso-me a ver o seu
olhar de pena e culpa. Pode dizer que estou sendo egoísta e cruel
por afastá-lo, pois não me importo nem um pouco neste momento.
Tudo o que sinto é uma dor crua que me corrói de dentro para fora.
Uma dor que não importa o que eu faça, ela não vai embora.
— Phillipa... — Minha irmã, Lori, diz, com cuidado, enquanto
sua mão pousa no meu ombro.
— Não quero vê-lo! — grito, irritada, desviando-me do seu
toque.
Fecho meus olhos, sentindo meu corpo tremer de raiva.
Tudo o que tenho além da dor é raiva. Uma raiva cruel que domina
meu corpo é o que tem me mantido em pé. É o único sentimento
que me permito ter. É por isso que não quero vê-lo, não quero olhar
para ele, porque sei que se eu o olhar, tudo voltará. Nossa briga
naquela noite, ele deixando-me sozinha, a escuridão da casa, o
homem morto no chão... Jordan, Mason, e tudo o que eu sofri nas
mãos de Marcus. Se eu olhar para Raphael, tudo virá à minha
mente. Toda dor que passei, o bebê que pedi, a esperança que eu
tinha... tudo voltará e irá me quebrar ainda mais. Eu ainda estou
viva. Não queria estar viva. Queria ter ido junto com o meu bebê,
visto que pouparia todo esse sentimento que me recuso a sentir.
Tentar seguir em frente, mesmo não tendo força para continuar...
estou tentando, juro que estou tentando. Seguindo aos poucos,
curando-me, devagar, sendo paciente, dando pequenos passos...
mas é uma merda, porque tudo o que eu quero é parar, parar de
tentar, parar de ter esperança de que um dia eu estarei bem, parar
de sentir. Eu só quero parar, deixar ir, porém não posso, porque se
eu parar, quebrarei. Se eu vir Raphael, quebrarei.
— Tem certeza de que é isso que você quer? — Lori
pergunta.
— Sim, eu tenho.
Sem a olhar, vou em direção ao meu closet e pego um
conjunto de roupas. Jogo-as na mala aberta em cima da cama. Não
pego tudo o que há no closet, apenas o suficiente para me manter
por alguns dias. Com os ombros caídos, em derrota, suspiro. Esta
casa... Não queria estar aqui neste momento, contudo não posso ir
embora sem nada, tenho ao menos que levar o essencial. É por isso
que estou aqui, na casa onde tudo começou. Meu corpo se enche
de calafrios, memórias de tudo o que aconteceu aqui. Fecho meus
olhos, respirando fundo, tentando controlar o turbilhão de
sentimentos que me envolve, quase me sufocando. Recuso-me a
cair neste momento, então ergo meus ombros, controlo todas as
minhas emoções e abro os olhos, voltando a pegar algumas roupas
e jogando-as na mala.
— Irmã... — Lori diz, com calma.
Sei que ela está tentando. Sei que está fazendo o melhor
para mim, porém eu a quero aqui só para me apoiar, não para ficar
questionando sobre minhas decisões.
Viro-me, ficando de frente para ela.
— Olha, Lori, não quero que me entenda, eu só preciso que
me apoie, tudo bem? — Ela suspira. — Eu preciso disso. Seja
minha irmã neste momento e me apoie, por favor. Eu só preciso do
seu apoio — peço a ela, que acena com a cabeça.
Pegando-me de surpresa, ela envolve seus braços em mim,
abraçando-me com força.
— Só quero o melhor para você, Phillipa, e sempre irei
apoiá-la. Mesmo achando que o que está fazendo é errado, eu
estou aqui para apoiar — sussurra, fazendo com que meus olhos se
encham de lágrimas não derramadas. — Eu só queria que
conversasse com ele, que está esperando por você.
Afasto-me, olhando-a, e dou a ela um pequeno sorriso. Eu
sei que Raphael está dando tempo a mim, respeitando meu espaço.
Sei também que eu deveria falar com ele. Há muitas coisas não
ditas entre nós, muita mágoa, culpa, ressentimento, há tantas
coisas... Mas não posso. Eu só não posso. Tudo em mim ainda está
cru, recente, e eu sei, sei que não serei forte o suficiente. Estou
fazendo o que sempre quis fazer: recomeçando. Recomeçando. A
palavra traz um gosto amargo à minha boca. Parece surreal. É algo
que eu vinha desejando há muito tempo, algo que sempre quis, que
sonhei, almejei, todavia agora, nada. Quando digo essa palavra —
recomeçar —, não sinto nem uma pitada de alegria. É estranho
desejar algo por tanto tempo, e quando posso realizar esse desejo,
não há nada. Nada. Apenas o sentimento de que é algo que eu
preciso fazer, não algo que eu almeje. Estou indo embora,
entretanto não sinto nada. É estranho, não é?
Termino de arrumar a mala, fechando-a, após dou uma
última olhada ao meu quarto. Meu corpo treme. Céus! Aquela noite
ainda está tão nítida na minha memória, como se fosse um filme
repetindo-se várias e várias vezes, como uma pegadinha ruim. É por
isso que não posso ficar. Eu preciso me curar longe daqui, de toda
dor, culpa, de todos esses olhares como se eu fosse algo frágil,
como se eu fosse quebrar a qualquer momento. E se eu for quebrar,
não quero que seja na frente de todos. Esfrego meus braços
machucados.
— Bom, é isso — digo, olhando para a minha irmã.
Lori suspira, acenando com a cabeça.
— Tem certeza? — pergunta, uma última vez.
— Sim, eu tenho.
Algum tempo depois, estamos paradas no aeroporto, de
frente à um jatinho da família, o qual Lori reservou para a minha
viagem. Ela ajudou-me em tudo, tanto que foi quem conseguiu para
mim um apartamento em Honolulu, no Havaí. Conseguiu também
um trabalho para mim, em um centro de biologia marinha. Nesse
momento, minha irmã está sendo minha salva-vidas, e sou grata por
isso. Se não fosse por ela e por Caspen, eu não sei o que seria de
mim.
Minha irmã olha para mim, mordendo seus lábios enquanto
lágrimas se formam nos seus olhos. Ela funga.
— Promete que ficará bem? — pergunta a mim.
Suspiro, dando um pequeno aceno com a cabeça.
— Eu tentarei — respondo, porque neste momento, eu não
posso prometer nada.
Como posso prometer que ficarei bem, sendo que eu não
queria estar viva? Como posso ficar bem, se sinto como se tivesse
uma pedra no meu peito, sufocando-me? Não posso fazer
promessas.
— Por enquanto, irei aceitar. — Ela olha para mim, com
receio. — Não se esqueça de que reservei acompanhamento
psicológico com uma das melhores psicólogas. Ela cuidará de você
nesse seu novo recomeço. Não se esqueça de comparecer às
sessões — pede, olhando-me com expectativa.
— Pode deixar, que continuarei tratando-me lá, como venho
fazendo aqui — digo a ela.
Mas não prometo nada, porque promessas são apenas
palavras vazias que podem ser quebradas.
— Tudo bem. Vê-la-ei daqui a algumas semanas. — Sorri
para mim.
— Estarei esperando. — Ela então me puxa para um
abraço.
— Cuide-se — sussurra, ao meu ouvido. — Eu a amo.
— Também a amo.
Então, é isso. Dando um último adeus à minha irmã, entro
no jatinho, sendo guiada pela comissária de bordo e levada até
minha poltrona. Instalo-me ali, colocando o cinto.
— Seja bem-vinda. Sou Anna, e serei sua comissária neste
voo. Estamos prestes a decolar. O que precisar, é só me chamar. —
Anna sorri para mim.
— Obrigada.
Olhando para a janela, observo minha irmã parada, olhando
para o avião. Ela acena com a mão, então aceno de volta, dando
meu adeus.
Ao sentir os motores do avião sendo ligados, respiro fundo.
Encosto minha cabeça na poltrona, fechando meus olhos. Penso no
que será daqui para frente. Um recomeço. O meu recomeço. Coloco
minha mão no meu ventre. Ele não está mais aqui, meu bebê não
está mais dentro de mim. Este era para ser o nosso recomeço,
nosso momento de felicidade, mas tudo o que sinto é uma profunda
tristeza. É tão estranho. Estou recomeçando, porém não sinto a
alegria que deveria sentir, não sinto aquela expectativa, aquele
sentimento de euforia. Eu só me sinto vazia. Sinto um grande e
profundo vazio dentro de mim.

Raphael
Dois meses. Porra... Há dois meses que estou dando tempo
a Phillipa, dando o tempo que ela precisa para pensar, para se
curar, colocar seus sentimentos no lugar, e um mês em que fiquei
longe dela, respeitando o seu momento. Foi uma decisão dela, e eu
entendo. Juro que entendo que precisa desse tempo. Cada pessoa
sofre à sua maneira, cada pessoa se cura de uma maneira. Phillipa
pediu a mim um tempo, e eu dei dois meses, todavia esse caralho
acabou agora. Chega de ficar distante, chega de dar o que ela quer.
Temos que conversar, temos que pôr tudo para fora. Eu preciso
dela, preciso segurá-la nos meus braços, vê-la com os próprios
olhos, eu mesmo quero ter a certeza de que ela está bem. Não está
sendo fácil, caralho, não está sendo fácil para nós dois! A merda
que Marcus trouxe para a cidade acabou, tudo voltou ao que era,
entretanto ainda tenho aquele sentimento, o desejo de estar perto
de Phillipa, de protegê-la, de garantir que ela realmente está segura
e bem. Se vamos passar por isso, então iremos juntos. Esse tempo
acabou de vez, pois hoje irei até essa mulher para conversarmos,
para eu abraçá-la e dizer que sinto muito. Mesmo não querendo
ouvir-me, Phillipa irá, porque não estou dando chance de ela se
esconder.
— Porra, cara, você está lutando como um homem sem
alma, um homem faminto. — Dom diz, quando acerto seu estômago
mais uma vez. — Pelo visto, Phillipa ainda recusa a vê-lo.
Paro com a luta, indo para o canto do ringue, pego uma
garrafa de água, abrindo-a, bebo um pouco, e o resto, jogo pelo
meu corpo. Minha respiração está pesada, tenho pequenos cortes
pelo meu corpo e pelas minhas mãos. Tudo o que tenho feito
durante este mês é lutar, já que é a única coisa que me mantém
longe de Phillipa. Porra, estou por um fio... É assustador o
sentimento de amar alguém, porque tudo o que acontece com ela,
nós sentimos. É como se tivesse acontecendo conosco também.
Toda a dor que Phillipa sente, a perda, o sentimento de estar
quebrada, ferida, caída no fundo do poço... eu sinto tudo. E isso é
uma merda, porque nos deixa vulneráveis. Phillipa precisa de mim,
só que eu falhei com ela. Portanto, mereço a dor, mereço esse
sentimento de estar impotente, de são saber o que fazer a seguir,
esse sentimento de culpa. Eu mereço; mas Phillipa, não.
— Raphael? — Dom me chama.
Balanço a cabeça, saindo dos meus fodidos pensamentos.
— Não, caralho, ela ainda não quer me ver — digo a ele.
— O que você irá fazer, cara? — pergunta, dando um
sorrisinho.
— Não darei a ela escolha. Estou cansado de esperar, estou
fodidamente cansado de ficar aqui, afundando-me mais e mais nas
lutas, cansado de sentir-me fraco e derrotado. Marcus se foi, e eu
me enganei ao pensar que toda a destruição que ele causou iria
embora com ele. Merda, mesmo ele tendo ido, tudo o que fez, cada
merda que causou, está impregnado aqui. — Respiro fundo. — O
que ele fez com Phillipa, o nosso bebê... Diga-me, Dominic: como
nós iremos superar isso?
Estou tentando, todavia toda vez que me encontro sozinho
com os próprios pensamentos, sinto-me perdido. Estou indo até
Phillipa, porém não faço ideia do que fazer quando estiver com a
mesma. Tenho esse desejo de estar com ela, de segurá-la, pedir
perdão por tudo o que causei, pela dor que está sentindo, pelo
nosso bebê, pelas palavras que eu disse, pedir perdão por ter
falhado com ela... mas, porra, será que é o suficiente?
— Você não supera. — Dom responde. — Apenas vive um
dia de cada vez. E um dia... um dia, perceberá que a dor não é tão
grande. Você só perceberá que consegue viver com tudo o que
passou. — Dá de ombros.
— Caralho, quando foi que ficou tão sábio assim? —
desdenho.
— Muita convivência com mulheres. — Treme, fazendo uma
careta. — Mas é sério, cara, apenas vá até ela, e quando chegar lá,
os dois saberão o que fazer. — Dá um tapinha no meu ombro e sai
do ringue.
Pego minha garrafa de água vazia e a toalha que está no
banquinho, após, saio do ringue, indo direto para o banheiro. Tenho
que me preparar para me encontrar com Phillipa. Ela é minha.
Juntos, passaremos por isso.

Silêncio. Tudo o que encontro ao chegar na casa de Phillipa


é o silêncio. A sensação que se instala na minha garganta é
horrível. Olho em volta, não vendo ninguém. Nada. Apenas o
silêncio. Entro na casa, observando-a. Tudo está no lugar, não há
nada faltando, então por que está tão vazia, por que não há
ninguém? A passos largos, caminho em direção ao seu quarto, em
seguida, abro a porta.
— Phillipa!? — grito seu nome, mas nada. — Phillipa?! —
grito, mais alto, começando a sentir-me em pânico.
Olho para a sua cama, que se encontra bagunçada. A porta
do closet está aberta e algumas das suas roupas estão faltando.
Não, não, não... Ela não pode ter feito isso. Sem saber o que fazer,
atordoado, eu continuo a procurar por ela, chamando seu nome.
Abro a porta de cada cômodo da casa, todavia não há nada, apenas
minha voz chamando por ela. Um peso cai sobre meu peito. Caio,
em desespero. Pego meu celular e digito o número de Caspen.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunta ele, assim que
atende.
— Onde ela está!? — grito a pergunta, sentindo-me
desesperado, com falta de ar.
— Raphael...
— Onde ela está, PORRA!?
Olho em volta, passando a mão pelo cabelo. Sinto-me
perdido, sem ar, meu peito dói. Phillipa não está aqui. Ela não está
em casa, há roupas dela faltando.
— Sinto muito, Raphael... — Posso ouvir seu suspiro do
outro lado da linha.
— Caspen... — sussurro, sentindo minha garganta seca,
bem como minha visão embaçar.
— Ela se foi.
Uma facada, parece que acabei de receber uma facada no
meu peito. Dói demais. Caio de joelhos, com minhas pernas fracas.
“Ela se foi.Ela se foi.Ela se foi”
. As palavras se repetem mais e
mais na minha mente. Ergo a cabeça, soltando um grito que ecoa
por toda a casa. Phillipa deixou-me.
Capítulo Vinte e Seis

Um ano depois...

Não sinto nada. Nenhuma emoção quando a multidão grita


meu nome enquanto soco meu oponente sem parar, mais e mais.
Essa fome que há dentro de mim me consome de forma tão crua,
que a única coisa capaz de me saciar é a luta, é ver meus
adversários caídosno chão, sangrando, pedindo socorro, enquanto
meu punho entra em contato com seus corpos. Eu não sinto nada
desde o dia em que ela foi embora, há um ano. Todas as minhas
emoções ficaram trancadas naquela casa depois que ela se foi.
Hoje, eu sou considerado o maior lutador do submundo, sendo
conhecido como Ice, o homem de gelo. Como se eu me importasse
com essa merda...
Dou meu último soco no meu oponente, deixando-o
desmaiado no chão do ringue. O sangue escorre pelas juntas das
minhas mãos. A multidão grita meu apelido, em euforia pela luta
desta noite — Já disse que não me importo com nada dessa
merda? —. Tudo o que eu quero é lutar sem olhar para as pessoas
à minha volta.
Pego minha toalha, colocando-a sobre meus ombros, em
volta do meu pescoço, e pulo para fora do ringue. Sou recebido por
toques de mãos e tapinhas nas costas.
— Boa luta esta noite, cara. — Dom diz, sorrindo para mim.
Dou de ombros. Faço boas lutas todas as vezes em que
entro no ringue, não é nenhuma novidade para mim.
— Que seja — murmuro.
— Quero que me foda, Ic
e! — Uma voz grita, entre a
multidão.
Olho para cima, de relance, procurando pela voz melosa.
Uma mulher está com as mãos estendidas, tentando alcançar-me.
Ela dá um sorriso. Dou-lhe um pequeno aceno. Viro-me para
Dominic, que me olha, em reprovação.
— Traga-a para mim — comando a ele.
— Raphael...
— Traga-a para mim, Dominic — digo, mais uma vez.
Começo a caminhar para o vestuário, onde uma enfermeira
e meu fisioterapeuta estão esperando por mim. A multidão abre
caminho enquanto passo.
No vestuário, sou remendado e colocado para tomar banho.
Quando saio, encontro a mulher que gritou por mim. Ao me ver, ela
se levanta, dando um sorrisinho. Acho que está tentando ser sexy,
porém o sorrisinho que ela dá faz com que pareça estranha. É claro
que não lhe digo isso. Aliás, não me importo nem um pouco.
— Olá, Ice.— Novamente tenta ser sexy, desta vez, ao
caminhar até mim.
Talvez realmente esteja sendo sexy, eu só não me importo,
porque não sinto essa emoção de ter uma mulher tentando seduzir-
me. Tudo o que sinto agora é um forte desejo de extravasar e
despejar meu gozo em algo, e... bem, já que ela está aqui...
A mulher para à minha frente, lambendo os lábios, olha para
o meu peito nu.
— Uau, você é incrível...— ronrona, passando a unha pelo
meu peito. — Eu me chamo...
Não a deixo terminar, visto que não quero saber seu nome.
Não quero saber nada sobre ela. Só a quero para uma única coisa:
foder. Enrolo seus cabelos em minha mão e a puxo para mim,
calando-a com minha boca. Ela geme, abrindo-se para mim. Jogo
seu corpo contra os armários do vestuário. O meu pressiona o seu.
Suas unhas arranham meus braços e costas. Subo a saia da
mulher, sentindo que está sem calcinha. Toco sua boceta,
percebendo quão molhada já está. Putas não podem ver um homem
suado lutando contra outro, que logo se excitam. Esfrego seu
clitóris, fazendo-a gemer na minha boca. Seu quadril começa a
rebolar contra minha mão. Tiro minha toalha, deixando meu pau
livre, em seguida tiro minha mão do seu clitóris, substituindo-a pelo
mesmo. Esfrego-me nela até que tenha seu primeiro orgasmo. Seu
corpo treme contra o meu. Paro o beijo, observando-a quebrar-se
contra mim. Ela joga a cabeça para trás, gemendo como se fosse
uma gata no cio. Porra, é horrívelde ouvir! Preciso acabar logo com
isso. Pego a camisinha de um recipiente perto do armário e embalo
meu pau. Sou rápido. Entro nela, fodendo-a sem sentido nenhum.
Sem prazer, apenas um buraco para me derramar, para sugar meu
pau. Ela morde meu ombro, suas pernas se enrolam em minha
cintura.
— Tão grande, tão gostoso... — sussurra ela, contra meu
ombro.
Grunho, fingindo estar gostando, mas tudo é muito frio.
Apenas dois corpos satisfazendo-se de forma rápida, sem nada que
nos ligue. Sexo por sexo, só isso.
— Oh, Ice... você é tão bom.
— Sim, baby... eu sou — digo, querendo que ela se
empenhe mais.
Desencosto-a dos armários, com suas pernas enroladas na
minha cintura e meu pau dentro dela. Sento em um banco,
deixando-a por cima de mim.
— Cavalgue, faça-me vir — comando a ela, que começa a
subir e descer.
Meu pau a preenche. Sua cabeça cai para trás, fazendo
seus longos cabelos loiros encostarem no meu joelho. A visão dela
montando em mim seria surpreendente se eu fosse o tipo de
homem que sente algo. Olhando-a agora: sua saia, levantada até
sua cintura; sua blusa cor-de-rosa apertando os seios fartos, a
cabeça jogada para trás, o cabelo caindo em cascata e sua boceta
exposta, levando meu pau... Eu não sinto nada, caralho nenhum! É
quando sei que não vou conseguir gozar. Porra, porra... Nunca
consigo ir até o fim com nenhuma delas. Tiro-a de cima de mim. A
mulher me olha, sem entender.
— Saia! — grito, irritado com toda essa fodida situação.
— O quê? Por quê?
Levanto-me do banco, empurrando-a para o lado.
— Ice...
— Eu disse: SAIA! — grito, socando um dos armários.
Ouço seus passos correndo para fora do vestuário.
Fechando os olhos, deixo que a imagem delavenha à minha mente.
Sua pele morena, seus olhos de um castanho esverdeado, seus
lábios cheios, seus cabelos castanhos em ondas... Levo minhas
mãos ao meu pau, acariciando-me, imaginando que é ela aqui,
levando-o à sua boca... Caralho! Toda vez que me toco pensando
nela, eu venho, e toda vez, eu me odeio depois do ato.

— Você não conseguiu, não foi? — Dominic pergunta,


dando um sorrisinho.
Estamos no bar do grande salão onde as lutas acontecem.
— Não sei do que está falando. — Pego meu copo, tomando
um gole do meu Bourbon.
O líquido escorre pela minha garganta, queimando enquanto
desce.
— Ah, você sabe, sim. Eu vi a menina saindo de lá, toda
assustada, como se o lugar estivesse pegando fogo. — Ele ainda
tem a audácia de rir. — Já pensou em parar? Apenas parar?
Olho para ele, percebendo que está realmente falando sério,
não só apenas sobre as mulheres, mas sobre as lutas também.
— Não vou parar, Dominic.
— Raphael... — Levanto-me, batendo o copo no balcão do
bar.
— Eu não vou parar, caralho! — aviso, apontando o dedo
para o seu rosto. — Não vou parar de lutar e não vou parar de foder.
Esse é quem eu sou agora.
Ele ri, balançando a cabeça.
— Tentar foder, né? — desdenha e toma um gole da sua
bebida. — Porque você sempre leva uma mulher para o vestiário,
porém pelo que sei, nunca termina. — Ri novamente, balançando a
cabeça.
Suspiro, fechando minhas mãos em punho, controlando
minha vontade de socá-lo. Dominic é o único que tem me mantido
em pé depois do que aconteceu. Ele, da própria maneira, tem me
ajudado. Foi quem me apoiou quando optei por lutar, até esteve em
todas as minhas lutas, sempre torcendo por mim e mantendo-me
são depois de tudo.
— Eu não vou parar, Dom — digo, mais uma vez.
— E se ela voltar? — Olha para mim, e eu suspiro.
— Ela não vai voltar. Se se um dia ela voltar, nós dois não
seremos os mesmos. Ela não é mais minha. E eu ainda não pararei.
Lutar é tudo o que sei, tudo o que consigo fazer depois que
ela me deixou. É o que me mantém em pé. É a única maneira que
tenho para me controlar. Ela se foi, ela deixou-me. Ela tornou-me
assim. Foi ela quem me tornou Ice.
Phillipa

Há um momento da nossa vida em que paramos, sentamos


e percebemos que temos uma decisão a tomar. Uma grande
decisão do que faremos a seguir, de qual será nosso próximo passo
a partir daquele momento. Paramos para pensar no que é melhor
para nós. Esse é o meu momento agora. O que é o melhor para
mim? O que devo fazer a partir deste momento? Qual é o melhor
caminho? Fazemos várias perguntas, como se as respostas fossem
tão fáceis. Mas elas são, o problema é que temos medo de cada
resposta. Sempre queremos pensar nos e se?. Temos tanto medo,
que pensamos em vários contras para não seguir o caminho que
cada resposta dá.
Sentada no sofá do meu apartamento, eu penso no que
devo fazer a partir deste momento. Olho para o meu colo, onde
minhas mãos estão juntas. As cicatrizes dos meus pulsos pinicam.
Minha vontade de coçá-las é tão grande, porém controlo esse
impulso que sinto toda vez que olho para elas. As lembranças do
que aconteceu comigo ainda estão vivas em mim, não só nas
minhas memórias, mas no meu corpo também. Eu apenas aprendi a
viver com elas. Não que tenha sido fácil. Deus! Não foi fácil, nada foi
fácil para mim depois que fui embora. Foi, na verdade, assustador,
porque eu estava em um novo lugar, e sozinha. Eu tive que
aprender a lidar com a dor, com a perda e com tudo o que passei. E
eu lidei, eu lidei com tudo — menos com Raphael. Não foi fácil. Teve
momentos em que pensei em desistir, teve momentos em que eu
quase me deixei cair. Teria sido fácil, tão fácil se eu tivesse
desistido. Estava com a navalha na mão, pronta para agir, porque
teve momentos em que eu só queria que todo aquele peso e toda
aquela dor fossem embora. Lembro-me como se fosse ontem, o
momento em que tive que decidir se continuaria ou desistiria.

Dor. Tudo o que sinto é dor. Meu corpo dói, meu peito dói,
como se tivessealguém pisando em mim, prendendo-me ao chão.
Minha cabeça dói toda vez que fechomeus olhos e as lembranças
me preenchem como um tsunami,levando-mepara a maisprofunda
escuridão.Uma semana, fazapenas uma semana que me encontro
em Honolulu,no entanto estou tão perdidadentro da minha própria
dor... Sei que faz pouco tempo, que eu tenho que ter paciênciae
sair para conhecer a cidade, para aproveitar este meu novo
recomeço, mas tudo o que penso, tudo o que vem à minha mente
são os momentos de tortura que passei nas mãos de Marcus e de
seus homens. Tudo o que consigo pensar é que ainda estou lá,
naquelamesa, presa, sendo abusada repetidamente.“Um passo de
cada vez, um diapor vez, e a cada momento que passa, as coisas
vão melhorar, a dor não será tão grande e tudo será apenas
lembrançasde um diaruim.”É o que minhapsicoterapeuta diz.E eu
digo: foda-se essa merda. Eles dizem, sempre dizem que vai
melhorar, que tudo vaipassar e que um dia estaremos bem, feliz...
Que tudo, no fimdas contas, será apenas uma experiênciaruim.
Issoé uma piada? É sériomesmo que depoisde tudo o que passei,
que depois de toda a dor, todo o desespero, tudo passará como
uma experiênciaruim? São palavras de mau gosto ditas por
pessoas que nunca passaram pelo que eu e muitas mulheres
passaram. É fácil
sentar em uma poltrona,no meiode um escritório
chique, e dizer que tudo ficarábem. Muito fácil.Porém, para
pessoas como eu, nada será fácil.
Eu só quero que tudo vá embora. Quero que essa dor, que
as lembrançase esse peso que sintose vão. Eu só quero ser livre,
libertade tudo o que passei. Eu só não quero estar viva,porque
estar viva significa
que tudo foireal: meu corpo foivioladode
maneira que achei não ser possível,além de que meu bebê foi
tiradode mimsem a minhapermissão.Eu não tiveescolha.Tudo o
que vivinaquelelugarfoisem o meu consentimento.Eu fuie ainda
sou uma prisioneira.
E eu não quero ser mais.Lágrimasse formam
nos meus olhos, escorrendo pelo meu rosto logo após. Eu não
quero ser mais esta mulher, a mulher que foiquebrada de mil
formas possíveis,a mulherque não consegue seguirem frente. Eu
só não quero mais ser esta pessoa. Sentada no chão do banheiro,
olhopara a navalhaque está na minhamão. Eu só tenho que tomar
uma decisão, uma única decisão, então por que está sendo tão
difícil?
Era para ser fácil,
não é? Eu não quero maisviver , portanto
seria o óbvio.Só tenho que cortar meu pulso, um corte precisono
lugarcerto, e assim,estareitendo o que quero. Por quê? Por que eu
não estou conseguindo? Encosto minha cabeça na parede,
mordendo meus lábios,e controloo soluçoque insisteem deixá-los.
Com a mão tremendo, eu a fecho em voltada navalha,sentindo a
lâminacortar a palma.A dor do corte substituia dor da minhaalma.
Esse é o ponto em que cheguei.O fundo do poço. Estou no fundo
do poço e não seicomo sair. Minto:eu não quero sair. Céus! Sinto-
me tão confusa neste momento...O que eu vou fazer? Abaixo minha
cabeça, em derrota. Abrindominhamão, sintoa lâminaescorrer até
bater no chão. Eu não consigo,por mais que queira. Eu só... não
consigo. Meu corpo treme. Choramingo, sentindo-me derrotada,
cansada demaisde tudo. Eu quero que issoacabe, mas não tenho
força o suficiente para fazer tudo acabar
.

Depois daquele momento, eu tentei, tentei a todo custo


seguir em frente, tentei fazer a dor ir embora. Depois daquele dia,
no chão do banheiro, eu lutei com a pouca força que tinha, eu lutei
para continuar em pé. Não posso dizer que foi uma decisão minha.
Só continuei porque não tive coragem de pôr um fim em tudo.
Agora, eu tenho uma escolha a fazer. Devo ficar ou voltar?
Escolhas. A vida é feita delas. Basta fazer uma escolha, e toda sua
vida muda. O que eu devo escolher? Essa é a pergunta que tenho
feito nesses últimos dias. Aqui, eu tenho um trabalho que amo, bem
como duas amigas: Ohana e Moana, que me apoiaram em tudo,
que estiveram comigo nos momentos mais sombrios... Tenho uma
vida completamente diferente da que eu tinha. Aqui, eu não sou
Phillipa, a irmã de Lori Callahan. Não sou uma traidora, não sou
uma vítima. Aqui, tenho o que quero. Se eu voltar, terei o que mais
preciso. Terei o que sempre desejei, contudo nunca tive: minha
família.
Sinto falta. Sinto falta de Dimitria, sinto falta de Lori e
América, sinto falta de Dominic, Angel, Zoe... Céus, eu sinto falta de
Raphael, e até mesmo da Vovó Nadine e de Tereza! Sinto falta da
cumplicidade e da união de todos. Eu só... Balanço a cabeça,
sentindo um bolo formar-se na minha garganta, ao mesmo tempo
que meus olhos ardem. Deus! O que eu vou fazer? Uma escolha,
uma única escolha.

— Você já se decidiu. — Ohana diz, e eu aceno com a


cabeça, então ela suspira.
— Você está certa sobre sua decisão? — Moana pergunta.
— Sim, eu estou — respondo a ela, que dá um pequeno
sorriso.
Lágrimas se formam nos olhos das minhas amigas.
Pegando-me de surpresa, as duas me envolvem em abraços.
Sorrio.
— Não acredito que está deixando-nos — resmunga Ohana.
— Sim, você está abandonando-nos — afirma Moana,
fazendo beicinho.
— Ei, eu não estou deixando ninguém, só estou voltando
para casa.
Casa. Nunca pensei que diria que Las Vegas é a minha
casa, porém é. É onde meu coração está, além do mais, tenho que
enfrentar meu lar, tenho que enfrentar meus monstros de lá. É por
isso que devo voltar. Fugi de tudo, mas agora não há para onde ir,
visto que faz parte do meu recomeço, desta minha nova fase da
vida. Tenho que enfrentar tudo o que passei, e para isso, devo voltar
para onde tudo começou. Dizemos que recomeçar é ir para um
lugar novo, ter uma vida nova e conhecer novas pessoas, como se
devêssemos esquecer quem erámos e ser novas pessoas. Todavia
recomeçar não é isso. É seguir em frente sendo que você é, mas
com um novo ponto de vista. Recomeçar depende de nós mesmos,
não do lugar e das pessoas. Eu precisei partir para perceber que
meu recomeço está no lugar do qual saí.
— Promete que virá visitar-nos de vez em quando? —
Moana pergunta.
— É claro que eu prometo, vocês são minhas amigas, eu
amo as duas. — Sorrio para elas. — Mas vocês precisam ir a
Vegas. Também, quero que conheça minha família.
— E quem sabe, nós não nos agarramos a um homem
bonito? — Ohana brinca, mexendo as sobrancelhas.
— Ei... — Moana a cutuca, fazendo cara feia.
— Ou alguma mulher bonita para Moana, aqui. — Ohana ri.
— Está bom assim?
— Sim, bem melhor. — Moana acena, rindo de volta.
— Ajudar-me-ão a arrumar tudo? — pergunto a elas, que se
levantam do meu sofá.
— É claro, estamos aqui para isso. — Ohana sorri.
— O que fará com o apartamento? — Moana pergunta,
enquanto caminhamos para o meu quarto.
— Nada. Quero que ele seja apenas cuidado, pois quando
eu vier visitá-las, ficarei nele. — Elas sorriem.
— Vamos começar a festa. — Moana esfrega as mãos
quando entramos no meu quarto.
— Sim, sim! — Ohana grita, levantando as mãos no ar.
Sorrio. Sentirei falta dessa cumplicidade que tenho com
elas, dessa nossa dinâmica. As duas acolheram-me e envolveram-
me em suas asas. Elas ajudaram-me quando eu mais precisei,
assim como minha irmã, Lori, fez. Serei eternamente grata a elas.
Sendo sincera? Eu não sei o que faria sem elas. Mas agora, tenho
que voltar, tenho que enfrentar meus medos, minha família, minha
casa, que deixei para trás, enfrentar todas as pessoas que me
ajudaram no pior dia da minha vida, porém principalmente, tenho
que enfrentar Raphael. O homem que eu deixei.
Capítulo Vinte e Sete

Quinze dias depois...

O táxi para em frente à entrada da minha casa em Vegas.


Estou de volta onde tudo começou, e por incrível que pareça, as
lembranças, memórias daquele dia não me afetam tanto quanto eu
pensei que fariam. No entanto não se deixe enganar, pois elas ainda
estão aqui, ainda consigo reviver cada momento de tudo o que
passei e ainda dói. Mas não tanto quanto pensei. Só está aqui,
porém é tão insignificante, já que eu sei quem sou, eu sei o que
mereço. Tudo o que passei não me define. Recuso-me a deixar que
toda essa merda de um ano atrás estrague a minha vida. Já deixei
que tirassem muito de mim, portanto me recuso a deixar que meu
passado tire mais.
Respirando fundo, saio do táxi, trazendo minha mala
comigo, bato a porta atrás de mim, e o táxi sai, deixando-me
sozinha. Olho para o caminho que leva até a porta da frente. Não
quis que o táxi me deixasse na porta, não. Eu queria caminhar até
ela, queria ter esse momento só para mim, enfrentar essa pequena
caminhada sozinha. Este é o momento que eu estava esperando, o
momento da minha volta. A sensação de lar, de estar em casa, no
lugar certo, de onde eu nunca deveria ter saído, se infiltra em mim.
A sensação que tenho é de que em todos esses últimos meses,
desde o dia em que fui embora, eu não estivesse respirando. Estar
aqui de volta faz com que eu consiga respirar. Lágrimas se formam
nos meus olhos, ao mesmo tempo que um pequeno sorriso se forma
nos meus lábios. É bom, é uma sensação maravilhosa. Sinto-me
feliz, como se finalmente eu estivesse viva.
Um passo de cada vez. Caminho até a porta da frente, olho
em volta, não vendo seguranças. Tudo está muito bem-cuidado,
mas não há ninguém aqui, o que é maravilhoso, pois quero fazer
isso sozinha, enfrentar todos esses sentimentos. Parando de frente
à porta, pego a chave da minha bolsa. Assim que abro a porta,
digito a senha do alarme para não o disparar. Com o coração
batendo forte no meu peito, tão forte, que parece que ele sairá pela
minha garganta, eu entro na minha casa.
Céus! Tudo está exatamente como eu deixei. Olho em volta,
e as lembranças me inundam com tanta força, que chego a tropeçar
para trás, como se eu tivesse levado um soco. Toda aquela noite
volta à minha mente, trazendo um turbilhão de sentimentos. Parada
no meio da sala, deixo-me reviver tudo o que passei, deixo com que
as lembranças tomem conta da minha mente. Permito que elas me
levem para o mais profundo abismo. Pela primeira vez em muito
tempo, permito-me sentir tudo, cada dor, cada pesar, permito que as
lágrimas rolem pelo meu rosto, com o soluço de tristeza deixando
meus lábios. Eu permito-me sentir o que deveria ter sentido há um
ano, quando entrei nesta casa, depois de tudo o que aconteceu.
Tudo que estava tão guardado no meu peito, eu deixo que saia, que
se derrame de mim, escorrendo para fora do meu corpo. Eu sinto
toda dor, todo sofrimento, toda tristeza, para que no fim de tudo,
eles se vão. Caindo de joelhos no meio da sala, eu apenas me deixo
sentir, e é libertador. Tão, tão libertador...
Não faço ideia de quanto tempo se passou. Meus joelhos
estão doloridos, minha garganta está seca. Esfrego meus olhos,
secando as lágrimas. Levantando a cabeça, percebo que já está
anoitecendo. Merda! Levanto-me do chão, passando as mãos pelas
minhas pernas, esfregando-as através do meu jeans. Percorro o
olhar pela casa, não fazendo a mínima ideia do que farei a seguir.
Deixo minha mala no meio da sala e caminho para o andar de cima,
até chegar no meu quarto. A cada passo que dou, as memórias
preenchem minha mente. Inspirobem fundo, sentindo aquele aperto
no meu peito, mas mesmo assim, continuo caminhando. Paro de
frente à porta e, com minha mão tremendo, a abro.
Sou envolvida pelas lembranças, todavia não me deixo cair,
apenas continuo firme, parada na porta, lembrando-me de tudo o
que aconteceu naquele dia, dos momentos que passei e do depois.
Permito-me lembrar de tudo, sentir tudo, cada pequena coisinha.
Saber que passei por tanto, contudo ainda estou viva, é
surpreendente. Deus! Não, eu queria ter morrido naquele dia,
entretanto sou grata por ter sobrevivido, por ter passado pelo luto,
pela raiva, depressão... Apesar disso, agora não digo que estou em
aceitação. A verdade é que ainda não aceito tudo o que aconteceu.
Ninguém em sã consciência aceitaria. Porém eu passei, é um fato
da minha vida, algo que não posso mudar, então eu apenas convivo
com isso. Não é um aceitar, é apenas um fato que não posso mudar.
Se eu entendo? Não, não entendo. Por que eu? Não entendo o que
eu fiz para merecer tanta merda assim, porém não há respostas
para as minhas perguntas. Simplesmente acontece, é a vida,
portanto tenho que viver com ela. Simples assim — como se fosse
tão fácil. É algo que vivemos, aprendemos, e continuamos a seguir
em frente. Não há como voltar atrás, não é mesmo? Basta apenas
continuar.
Saio do quarto e vou em direção ao escritório, onde tenho a
pior lembrança da casa, onde uma vida foi tirada e eu não pude
fazer nada. Abrindo a porta, eu entro, com meus passos vacilando.
A sensação é horrível. Ergo minha mão para frente, passando entre
os móveis, sentindo cada pequeno detalhe. É doloroso. Sinto como
se fosse sufocar, como se eu estivesse no fundo de um poço cheio
de água, e chegasse um momento em que não consigo mais
prender a respiração, então a água se infiltra dentro do meu corpo,
nos meus pulmões, fazendo tudo arder, afogando-me. Esfrego meu
peito, tentando fazer com que o ardor se vá. Paro bem no lugar
onde Jordan foi morto por minha causa tentando proteger-me. Não
há como nos protegermos de monstros.
— Ai, meu Deus, você voltou!
— Jesus! — grito, colocando as mãos no peito e sentindo as
batidas aceleradas do meu coração. — Você quase me matou de
infarto agora — digo a Dimitria, que me abraça.
— Quando você chegou? Por que não nos avisou? — Ela
pergunta, com pura animação. — Veio para ficar de vez, ou é só
para visitar?
Sorrio para ela. É tão bom vê-la, poder abraçá-la e sentir
sua animação. Dimitria me leva para a sala, onde minha mala está.
— Eu vim para ficar — respondo, e ela solta um gritinho
animado. — Acho que sentiu minha falta — comento, rindo.
— Está brincando? É claro que senti! Todos nós sentimos
sua falta! Conversar por telefone não é a mesma coisa, sabe?
— Sim, eu sei disso. — Sorrio. — Como vão todos? —
pergunto a ela, que solta um pequeno suspiro. — E Raphael?
Dimitria me olha, dando um pequeno sorriso sem graça.
— É complicado — diz ela, com cuidado. — Depois que se
foi, ele não é o mesmo, Phillipa.
Eu sabia que as coisas estariam diferentes, sabia que ele
mudaria. Passou-se um ano, por isso eu não esperava encontrar o
mesmo homem que deixei.
— Ele ainda está morando aqui?
Quero vê-lo. Preciso vê-lo. Raphael e eu temos assuntos
pendentes, nós precisamos conversar. Mesmo que possa ser difícil,
mesmo que ele esteja diferente, eu não vou desistir, não posso
desistir. Passei por muito, sobrevivi a muito, então eu sei que posso,
eu posso enfrentar Raphael e aguentar o homem que ele é agora.
— Sim, ele mora em Vegas, e é o nosso melhor lutador. —
Ela diz, olhando-me com cautela.
— Ele está lutando?
Uau! Eu não estava esperando por isso. Várias coisas
passaram-se pela minha mente quando pensei no quão diferente
Raphael pode estar, mas não imaginei que ele tivesse entrado para
a luta.
— Sim, ele é o nosso campeão, e todos o chamam de Ice
,
agora. — Engulo seco ao ouvir seu apelido.
Ice
. Não é nem um pouco convidativo.
— Preciso vê-lo, Dimitria. Preciso falar com ele — digo a
ela, que acena com a cabeça.
— Tudo bem. Só quero que saiba que ele não é o mesmo,
por isso pode ser um pouco difícil— avisa, e eu concordo com um
gesto de cabeça.
Seu celular toca. Ela sorri ao olhar. Vira a tela para eu ver, e
leio o nome de Dominic.
— Sim? — atende ela, sorrindo. — Não, Dom, está tudo
bem. É só Phillipa que voltou... Sim, ela está aqui... Sim, ela veio
para ficar... Sim, Dom, ela voltou... Eu sei... — Dimitria sorri para
mim, rolando os olhos enquanto fala com seu irmão. — Okay...
Pode deixar. Tchau. — Suspira ao desligar.
— Com certeza, não estavam esperando por mim —
comento, rindo.
— Não, nós não estávamos. — Ela ri. — Já avisou à sua
irmã que voltou?
— Não, ela também não sabe.
— Bem, o que quer fazer? — pergunta, sorrindo.
Essa é a pergunta na qual não preciso pensar para
responder, porque é uma resposta tão fácil... Não tenho dúvida do
que eu quero. Estou aqui por ele, por mim, por nós. Eu preciso vê-
lo.
— Quero ver Raphael lutar.

Confesso que pensei que estivesse pronta para este


momento, que estivesse preparada para vê-lo, mas Dimitria tinha
razão. Ele não é o mesmo, e não sei o dizer ou fazer com esse
Raphael que estou vendo agora, não faço ideia de como chegar até
ele. Ice.Esse nome caiu muito bem para o homem que está no
ringue, lutando como um animal. Não reconheço a pessoa que está
lá embaixo, lutando. Ele não é o Raphael pelo qual um dia
apaixonei-me. Ele é Iceagora, e eu posso ver o porquê. Agora eu
entendo esse apelido que foi lhe dado.
— Você está bem? — Dimitria pergunta.
Aceno com a cabeça.
— Ele sabe que estou de volta? — pergunto a ela.
Tiro minha atenção da luta por alguns segundos para olhar a
Dimitria. Pelo olhar que ela dá, eu já sei qual será sua resposta.
— Não precisa responder — digo a ela, que dá um pequeno
sorriso. — Ele não sabe da minha volta.
— Não, Dominic não contou a ele.
Volto a observar a luta. A forma com que Raphael luta é
extraordinária. Ele é muito bom no que está fazendo, mas posso
observar também um pouco de desleixo, como se ele não se
importasse nem um pouco com o que está acontecendo, com seu
oponente, nem com si. Mesmo de longe, posso ver seu rosto. Um
pequeno sorrisinho debochado se forma de um lado da sua boca,
como se estivesse zoando seu oponente. Ele é frio. Os socos que
seu adversário recebe só o deixam ainda mais empolgado. Ele
limpa o sangue do corte dos seus lábios e sorri. Seu sorriso é tão
sem emoção, tão cru, que chega a ser um sorriso feio. Meu corpo
treme. É esse homem que terei que enfrentar, e eu sei que não será
nem um pouco fácil. Esse Raphael que está no ringue de luta será
um grande oponente. Todavia, eu estou preparada. Não irei desistir.
Desta vez, eu me recuso a fugir. Não há para onde ir, estou em
casa.
— Você realmente voltou! — Ouço a voz de Angel quando
ela entra no escritório.
Viro-me para encará-la. Ela corre até mim, puxando-me para
um grande e apertado abraço.
— Putz, eu senti sua falta! — exclama, rindo.
— Estou percebendo — comento, rindo também.
— Temos muito o que conversar, e temos que ter um dia
inteiro só de meninas! Eu já vou planejar tudo. A Zoe já topou. —
Ela fala, toda animada.
Dou uma olhada para Zoe, que acena para mim, com um
grande sorriso. Realmente estou em casa. Deus! Como eu senti
falta disso, dessa irmandade, da amizade de todas elas, a forma de
pensarmos igual e nossos dias de meninas. Eu tinha Moana e
Ohana, porém não era a mesma coisa. Nunca era o mesmo. Amo
minhas amigas de Honolulu, mas as duas nunca substituíramminha
família. Abri mão de muitas coisas quando fui embora. Não que eu
me arrependa. Tive que ir para poder voltar. Agora que estou de
volta, quero recuperar tudo o que deixei. Sei que não será o mesmo.
Além disso, será difícil,muito difícil,entretanto estou disposta a tudo
para conseguir o que quero. Essa é a minha família, e é bem aqui
que eu devo estar.
— Eu senti tanta falta de vocês — digo a elas, com lágrimas
formando-se nos meus olhos, borrando minha visão.
As três me envolvem em abraços.
— Eu também quero.
— Lori! — grito, animada ao ouvir a voz da minha irmã.
— Você poderia ter me avisado que voltaria, assim eu
estaria aqui para recebê-la de volta. — A mesma diz, olhando-me,
com os olhos semicerrados.
— Surpresa! — grito, rindo.
Lori balança a cabeça, também rindo.
— Caspen, Hector — cumprimento os dois chefes.
— É bom tê-la de volta, Phillipa. — Caspen comenta.
— Ou não... — Hector olha para a luta que acontece no
andar principal do salão, onde Raphael está acabando com os seus
oponentes.
Ele luta sem parar desde o momento em que cheguei. Já
está na sua quarta luta. Ele parece uma fera insaciável.
— Hector... — Caspen diz, olhando-o.
Ele apenas dá de ombros.
— O quê? Estou dizendo a verdade. Ele não sabe que ela
está de volta. E ele é da família, ele é um Callahan, ele que tem que
decidir se ainda a quer. — Hector olha para mim. — Não é pessoal,
mas um Callahan deve apoiar o outro. — Com isso, se vira e sai do
escritório.
— Sinto muito, Phillipa. — Caspen diz, dando um pequeno
sorriso de desculpa a mim.
Balanço a cabeça.
— Está tudo bem. Ele tem razão: eu não sou uma Callahan,
além disso, tudo agora depende de Raphael e de como ele reagirá à
minha volta.
Eu entendo, realmente entendo, contudo não significa que
não doa.
— Você é da família,Phillipa. Você é minha irmã. — Lori diz,
com firmeza, olhando para todos que estão à nossa volta.
— Mas não sou uma Callahan, Lori. — Sorrio para ela. —
Está tudo bem, eu entendo.
— Não, não está tudo bem — insiste. — Raphael não
manda nesta cidade, nada aqui depende dele. Você tem uma casa
aqui, tem amigos, e ele não pode tirar isso de você.
— Lori... — Caspen tenta interrompê-la.
Porém, minha irmã apenas olha para ele, fazendo-o calar-
se.
— Você pode ser o Rei, Caspen, pode ser o chefe de todos
e tudo, mas eu, eu sou a Rainha, e sou a única a dar o xeque-mate.
— Ela se vira para observar a luta que acontece abaixo de nós. —
Raphael não irá decidir porra nenhuma.
A conversa é encerrada. Caspen apenas dá um sorrisinho,
como se estivesse orgulhoso da sua mulher. Ele dá um beijo no
pescoço de Lori e se retira do escritório, deixando-nos com alguns
seguranças. Sorrio para Maddox e Miguel.
— Rapazes.
— É bom tê-la de volta, Phillipa. — Miguel diz, sorrindo.
— Seja bem-vinda de volta. — Maddox acena para mim.
— Obrigada.
Volto a concentrar-me na luta. Raphael está vencendo, o
que não é nenhuma novidade, já que ele venceu todas as lutas. A
multidão grita, ruge seu nome, de forma primordial. Toda a vibração
da luta é excitante demais. Meu coração dá um salto quando ele, do
nada, para de bater no seu adversário. A multidão se cala. Raphael
para, com seu corpo ficando tenso. Ele se vira, erguendo a cabeça,
então seus olhos encontram-me. Tudo o que eu vejo é um vazio.

Raphael
Ela está de volta. Phillipa está de volta, e ela está bem aqui,
vendo-me lutar, observando-me. Balanço minha cabeça, voltando
para a luta. Desvio o olhar para o meu oponente. Toda a excitação
da luta, toda essa fúria dentro de mim acaba, a adrenalina que
escorria pelo meu corpo se vai. Tudo o que eu quero é dar o fora
daqui. Meu oponente aproveita a chance para acertar um soco em
mim, então volto para a luta, querendo terminá-la logo, com toda
força e o desprezo que estou sentindo. Prendo-o contra a rede do
ringue, socando-o até sentir sua mandíbula quebrar e seu corpo
cair, desmaiado. Largo-o, deixando-o cair no chão, e saio do ringue,
sem olhar para trás.
— Raphael! — Ouço Dominic gritar meu nome, mas não dou
uma porra de importância para essa merda, pois eu só quero sair
daqui. — Raphael!
De repente, paro e me viro para olhá-lo.
— Você sabia? — pergunto a ele, furioso, e pego-o pela
camisa, puxando-o para mim. — Você... porra, sabia!? — grito,
sentindo meu corpo tremer.
— Sim.
— Caralho! — Solto-o, dando um soco no seu rosto. —
Preciso sair daqui. — Viro-me, caminhando até o vestuário.
Porra, porra, porra! Phillipa
está de volta.Depoisde um ano,
ela voltou. Porra.
Capítulo Vinte e Oito

Phillipa

— Phillipa? — Ouço a voz da minha irmã chamando-me,


porém eu não paro ou dou atenção, apenas saio correndo do
escritório, descendo as escadas para alcançar Raphael.
A multidão ainda está frenética, pulando e gritando. Abro
meu caminho em meio a tantas pessoas, empurrando-as para o
lado. Olho de um lado para o outro, tentando orientar-me em meio a
tanta gente.
Paro. Minha nuca se arrepia, como se alguém estivesse
vigiando-me. Esfrego meu pescoço, tentando tirar essa sensação
estranha que arrepia meu corpo. Não é uma boa sensação. Olho
para os lados, tentando encontrar alguém, qualquer pessoa que
possa estar encarando-me, mas não encontro nada, então apenas
continuo a caminhar, abrindo caminho.
Abro a porta do vestuário, dando de cara com Dominic. Ele
levanta a cabeça, olhando-me. Faço uma pequena careta ao ver
seu lado direito do rosto.
— Onde ele está? — pergunto a Dom, que aponta na
direção da porta que dá para os chuveiros.
Quanto mais perto eu chego, mais eu ouço o som da água
caindo. Com o coração batendo forte no peito, abro a porta e entro,
sentindo o vapor envolvendo-me. Dou alguns passos, adentrando
mais o espaço dos chuveiros, e vejo seu corpo nu. Por um segundo,
prendo a respiração. Raphael está mais forte e com várias cicatrizes
pelo corpo. Sua cabeça se encontra abaixada; a testa, encostada no
ladrilho do boxe. Magnífico. É a única palavra que consigo para
descrevê-lo nesse momento. Raphael tem barba agora, seu cabelo
está comprido, e seu corpo... Deus, seu corpo... Lambo meus lábios
e respiro fundo. É isso, esse é o grande momento. Sei que deveria
esperar, que não é a hora, nem o lugar certo, mas eu sei, eu sei que
se esperar mais um pouco, Raphael irá embora e me ignorará. Essa
é a minha primeira chance, portanto tenho que fazer isso, porque se
não fizer, não sei se terei coragem depois.
— Raphael...
Por um momento, penso que ele não me ouviu, porém eu
vejo quando seu corpo fica tenso.
— Então, você está de volta. — Sua voz é tão fria, que traz
arrepios ao meu corpo.
Esfrego meus braços, dando um passo para trás. Engulo
seco, sentindo minha garganta arranhar.
— Sim, eu voltei, e pensei que poderíamos conversar. —
Minha voz sai um pouco rouca.
— Conversar? — Raphael pergunta, com sua voz tão fria,
tão sem emoção, que me encolho.
Ele se vira de frente. Com os olhos, engulo todo seu corpo.
Putz! Ele está enorme, tão cheio de músculos; e seu pau... Senhor!
Sinto minhas bochechas corarem. Quando meu olhar se encontra
com o seu, tudo o que vejo é nada. Um vazio enorme, como se ele
não me reconhecesse. Estou bem aqui, parada à sua frente, no
entanto é como se eu não estivesse. Como se eu fosse uma
desconhecida, é assim que ele me olha. Desvio o olhar, sentindo-me
mal. Bile sobe à minha garganta, e tudo o que eu quero é sair
correndo daqui, porém me forço a ficar. Não estou indo embora
desta vez.
— Sim, conversar. — Lambo os lábios, dando uma
mordidinha no inferior.
— Você fugiu, e agora, depois de um ano, resolve voltar, e
ainda tem a cara de pau de querer conversar? — desdenha ele,
dando um riso sem emoção.
Frio. Sinto todo meu corpo congelar com sua frieza, com o
olhar inexpressivo que ele dá. Eu sabia que seria difícil, que
Raphael poderia estar diferente. Olhando para ele agora, nem o
reconheço mais. Não há nada do homem que era há um ano, e isso
quebra meu coração, porque eu sei que uma parte de quem ele é
agora é por culpa minha. Fui egoísta, pensei só em mim e fui
embora, esqueci que Raphael fazia parte da minha vida, que não foi
apenas eu quem perdeu um filho, o bebê dentro de mim era dele
também.
— Raphael... — digo, tentando alcançá-lo.
Ergo minha mão, pois quero tocá-lo por um segundo, sentir
a pele do seu rosto contra a minha pele. Eu só quero senti-lo,
todavia ele dá um passo para trás, desviando-se do meu toque.
— Não, Phillipa. Não me venha agora, depois de todo esse
tempo querendo sei lá o quê. Eu não me importo. — Sua voz é tão
fria...
Mordo meus lábios. Ele precisa desse momento, precisa
dizer o que está sentindo, e tudo o que posso fazer é ouvi-lo.
— Eu esperei-a, você sabia? Eu fiquei naquela casa durante
dois meses, esperando-a, torcendo para que você voltasse, para
que ficasse comigo, falasse comigo... Eu esperei-a, Phillipa. — Ele
soca o ladrilho atrás dele. — Porra, eu esperei-a.

Raphael– Um ano atrás...

Dia Um

Phillipa deixou-me. Ela realmente me deixou. O vazio que


sinto não é nada comparado à dor no meu peito. Ela não deu
nenhuma chance a nós, nada, apenas saiu, sem ao menos se
despedir. Como uma covarde. Levanto-me do chão e sento na
cama, olhando para a porta do seu quarto, esperando. E se ela
voltar? Ela tem que voltar. Talvez seja apenas uma decisão de
momento, algo que fez por impulso. Sim, pode ser isso. Phillipa irá
arrepender-se. Ela voltará, e eu estarei aqui, esperando. Estarei
bem aqui, de braços abertos, esperando por ela, para acolhê-la
quando ela voltar. Phillipa precisará de mim, por isso eu não irei a
lugar nenhum. Olho em volta do seu quarto. Ela não levou muita
coisa, apenas algumas fotos, algumas joias e poucas roupas. Um
sinal de que não ficará por muito tempo. Ela perceberá que seu
lugar é aqui, onde está sua família, seus amigos, e onde eu estou.
Pego meu celular, colocando-o ao meu lado. Talvez ela ligue,
pedindo-me para ir buscá-la no aeroporto. Talvez ela ligue para se
desculpar, ou para apenas conversar. Talvez, para pedir que eu vá
com ela. Porque se Phillipa quiser, eu vou. Deixaria tudo para trás
só para ficar com ela. Porra, eu faria qualquer coisa por ela!
Como puderam deixá-la ir? Como Caspen e Loir foram
capazes de permitir que ela se fosse? Phillipa precisa de todos nós.
Tudo o que aconteceu está bem recente, por isso ela precisa de
apoio, não de ir para outro lugar, longe de todos. Caralho, ela
perdeu nosso bebê! Se não está sendo fácil para eu aceitar, imagine
para ela...
— Raphael? — Ouço meu nome sendo chamado por
Caspen.
— Aqui! — grito.
Segundos depois, ele aparece, com Dominic ao seu lado.
— Você está bem? — Caspen pergunta.
Bufo, irritado com ele, por ter a deixado ir e não ter me
avisado. Se ele tivesse me avisado, eu poderia ter ido atrás dela,
impedido sua partida, ou até mesmo ido com ela. Ele tinha que ter
me avisado antes.
— Você estaria bem se um dia acordasse e descobrisse que
Lori se foi? — pergunto a ele.
Caspen suspira.
— Essa foi uma decisão dela, Raphael. Ela quis assim. —
Olho para ele, erguendo uma sobrancelha, em questionamento.
— Sério mesmo? — pergunto, elevando um pouco a voz,
irritado demais para me conter. — Não poderia ter me ligado e
avisado? Tipo: Raphael, eu só quero avisar que Phillipa
está indo
embora, caso sejado seu interesse — desdenho. — Minha mulher,
Caspen, você ajudou minha mulher a fugir. — Ele apenas encolhe
os ombros.
Rio, sem graça. É claro que ele não se importa. Caspen é o
chefe, pode fazer o que quiser.
— Vamos lá, cara, temos muito o que fazer. — Dominic fala.
— Não — digo, e eles me olham, sem entender o que quero
dizer. — Eu vou ficar, pois Phillipa pode mudar de ideia e voltar. —
Eles me olham, com pena, e eu detesto isso.
Eu sei que posso estar sendo louco e agarrando-me a nada.
Sei que Phillipa pode nunca mais voltar, mas não quero acreditar,
então eu fico e espero. Eu espero por ela.

Dia Cinco

Raphael: “Oi, aqui é o Raphael. Eu tenho ligado, porém você


não tem respondido.Nós não tivemoschance de conversar. Eu sei
que está sendo difícil
para você e que precisoude um tempo para
pensar, para poder lidarcom tudo, mas sinto sua falta,e eu acho
que você precisa de nós, Phillipa. Da sua família. Não sei bem o que
dizer, alémde sentirmuitopor tudo. Se eu pudesse voltarno tempo
e mudar tudo, eu mudaria,juro que mudaria.Entretanto não posso,
e sintopor isso, porque é minha culpa.Eu seique está com raivade
mime que quer distância,no entanto precisode você, precisovê-la,
saber se está bem.”

Raphael: “Sou eu de novo. Estou sendo chato, eu sei, mas


como você está? Como está essa nova fase da sua vida? Está
bem?”

Raphael: “Sabe, eu estou na sua casa, poisaindanão tivea


coragem de irembora. Continuoaqui,esperando-a. Seilá,algome
diz que vai voltar
, que é só questão de tempo.”

Raphael: “Ei, eu sei que já é a décima mensagem que envio,


porém estou preocupado. Só quero saber se está bem. Responda-
me.”

Dia Dez
Dez dias. Ela foi-se há dez dias, e eu continuo na sua casa,
com a patética ideia de que possa voltar. Eu sou um idiota, porém
não consigo deixar esta casa para trás. Aperto o celular nas minhas
mãos. Olho para a tela, esperando... Nada. Nenhuma mensagem,
nenhuma ligação, nada. Phillipa cortou-me totalmente da sua vida,
mesmo assim, não consigo deixá-la ir. O que há de errado comigo?
Por que eu continuo aqui, esperando e esperando, apesar de saber
muito bem que ela não irá voltar?

Raphael: “Eu continuo esperando. O que eu fiz?Será que


conversar comigo é tão ruim assim para você? Eu só sinto tanto,
Phillipa...
Nem seio que dizer, mas sintoque enquanto eu continuar
mandando mensagem, mais perto de mim você está. Não quero
parar, porque se eu parar, significa
que realmente se foi,e não
quero aceitar esse fato. O que eu faço?”

Esfrego meu rosto. Minha barba está por fazer, meu cabelo
está grande, mas nada disso importa. Eu só quero saber dela. Tudo
o que quero é Phillipa, entretanto a cada dia que passa, se torna
mais difícil alcançá-la.
Dia Vinte

— Tem notícias dela? — pergunto, assim que vejo Lori.


Ela olha para mim, dando um pequeno sorriso de pena. Eu
não preciso da pena dela. Eu não preciso da pena de ninguém. Eu
sei que estou sendo um completo doido por ainda ter esperança, por
ainda esperar por Phillipa, mas o que posso fazer? Se eu aceitar
que ela se foi, perdê-la-ei de vez, e só de pensar nessa merda, meu
peito dói. Já perdi meu filho, visto que Marcus e seus homens
tiraram-no de mim. Deus! Só pensar que a maldade daquele homem
foi capaz de matar um bebê inocente é inaceitável. Agora, Phillipa é
tudo o que tenho. Neste momento, estou a ponto de perder minha
mente, e pensar nela, ter a pequena esperança de que ela irá voltar,
de que eu a terei de volta, é o que me mantém são. Porque se eu
deixar essa dor se fundir a mim, não sei se um dia voltarei ao
normal. Eu só não quero que essa merda me domine.
— Você precisa sair dessa casa, Raphael. — Lori diz,
sentando ao meu lado, no sofá.
Não dou ouvidos para as suas palavras. Eu não vou sair
daqui, porra! Recuso-me a sair. Phillipa irá voltar, ela tem que voltar.
— Você tem notícias delas, Lori? — Repito a pergunta.
Ela solta um pequeno suspiro, acenando com a cabeça.
— Sim, ela está bem. Já se instalou no novo apartamento e
já fez amizade com duas mulheres.
Suspiro, aliviado, mas a dor e o peso no meu peito ainda
não vão embora. Phillipa está bem, até já se instalou. Não vai voltar,
ela não vai voltar. Meu corpo todo começa a tremer de pura raiva
misturada com esse pesar, com essa dor que me agarra como
tentáculos, apertando-me até que eu perca o ar.
— Raphael...
— Não! — grito fazendo-a pular de susto. — Deixe-me
sozinho. Eu preciso ficar sozinho — peço a ela, sem a olhar.
Ouço-a suspirando. Ela se levanta e sai da casa. Passo as
mãos pelo rosto, esfregando minha barba. Porra! O que eu vou
fazer?

Dia Quarenta

Raphael: “Faz quarenta dias que você se foi,e a cada dia


que se passa, começo a perceber que não vaivoltar. O que eu faço
sem você aqui, Phillipa?Sem o seu sorriso, o jeitocom que se
move, aqueleolharbrincalhã
o, o seu jeitode uma gatinhairritadae
sua voz? O que eu faço sem poder vê-la e tocá-la? Sem poder
segurá-lanos meus braços, protegendo-a dos monstros do ladode
fora do nosso casulo? Eu continuo aqui, Phillipa,na sua casa,
esperando-a.”
Dia Sessenta

Raphael: “Você não vaivoltar. Faz sessenta dias, e agora,


eu sei que não irá voltar, Phillipa,
e sinto muito. Muito mesmo. Por
tudo, porque eu seique tudo é culpaminha.Seique me culpae que
estar longedeva ser o melhor para você. Estou dizendoisso porque
cansei,gatinha.Canseide esperar por você, então estou deixando-
a ir. Eu esperei-a. Se soubesse, se eu tivesse uma pista de que
voltaria,continuaria aqui, esperando-a, custe o que custasse e o
tempo que fosse. Porém não tenho notíciassuas, sendo que você
não retornou às minhasligações,não responde minhasmensagens,
então tudo o que eu posso fazer é deixá-lair. E é o que estou
fazendo neste momento, Phillipa:
estou deixando-a ir. Essa é a
minhaúltimamensagem para você. Eu espero que estejabem, que
esteja melhorando, que consiga ser feliz. Com amor
, Raphael.”

Aperto em enviar. Levanto-me da cama do meu quarto e


dou uma última olhada nele. Minha mala está pronta, na sala,
esperando por mim. Então... eu acho que é isso. O fim. Não há nada
que eu possa fazer, pois Phillipa foi embora. Ela deixou-me e não
vai voltar. Ela não quer saber de mim. Suspiro. Tenho que parar de
pensar nessa merda do caralho. Phillipa fez parte da minha vida,
mas não faz mais. Sorrio, passando as mãos pelo rosto, sentindo-
me cansado. Estou com raiva, muita raiva. Porra, ela deixou-me!
— Ela deixou-me! — grito, tendo um ataque de riso, de
modo que meu corpo todo treme.
No entanto, assim que o riso passa, a raiva toma conta e eu
acabo descontrolando-me, então começo a socar a parede, não me
importando com o dano que está sendo feito. Nem na parede, nem
na minha mão. Tudo o que eu faço é socar e socar.
Braços fortes me seguram, impedindo-me de continuar. Luto
contra a pessoa que está impedindo-me de fazer o que quero.
— Solte-me! — grito, furioso.
— Pare, Raphael. — Dominic comanda. — Você tem que
parar.
— Deixe-me ir, Dom. — Debato-me, soltando-me dele.
Dominic parte para cima de mim, tentando conter-me,
contudo eu luto com ele. Não quero que me contenham, eu só quero
libertar essa raiva, essa dor que sinto, essa aceitação de que
Phillipa não voltará.
— Você precisa controlar-se. — Dominic diz, desviando-se
dos meus socos.
— Vá se foder! Só me deixe em paz! — Nós dois nos
embolamos no meio do quarto.
Não faço ideia de quanto tempo se passa, pois nós apenas
nos perdemos na luta. É bom, muito bom. E eu finalmente consigo
deixar tudo sair.
— Ela foi-se — digo.
É quando percebo que minha voz está embargada, então
lágrimas escorrem dos meus olhos.
— Sim, cara. Ela foi-se.
Capítulo Vinte e Nove

Phillipa

— Onde você estava, hum? — pergunta ele, enquanto me


encara. — Onde você esteve nesses dois meses em que eu te
esperei? — Raphael pega uma toalha branca e começa a secar-se.
— Eu mandei mensagens, liguei, mas nada. Você nunca me
respondeu, Phillipa, e agora você volta, achando que tem o direito
de conversar comigo? — Balança a cabeça. — Eu não quero
conversar, Phillipa.
Engulo em seco. Ele tem toda a razão. Ligou para mim
várias e várias vezes, no entanto, eu nunca atendi a nenhuma das
suas ligações. Mas eu as vi. Enquanto o celular tocava, eu
segurava-o com tanta força, tudo para não aceitar as chamadas. Eu
queria tanto, tanto falar com ele, ouvir sua voz, porém não atendi,
mantive-me firme. E suas mensagens... Deus! Eu li todas elas, cada
uma, várias e várias vezes. Até cheguei a digitar uma resposta,
entretanto nunca tive coragem de enviar. Eu apenas troquei de
número, porque doía muito recusá-lo.
Raphael pega-me de surpresa ao caminhar até mim,
entrando no meu espaço pessoal. Dou alguns passos para trás,
contudo me vejo presa entre a porta e ele. Seus olhos são tão frios,
tão cruéis ao olhar para mim, que meu corpo treme e eu sinto frio.
— Eu pensei que seu maior erro fosse ter ido embora — diz
ele, olhando-me de cima a baixo, com puro desprezo. — Mas agora,
eu sei que seu maior erro foi ter voltado. — Empurra-me para fora
da porta, em seguida a abre e sai para o vestuário.
Solto a respiração que eu nem sabia que estava prendendo
e esfrego meu peito. Mordo minha língua, tentando conter o soluço
que insiste em querer sair. Eu não quero chorar, não quero mostrar
quão afetada estou com sua presença e suas palavras, então,
apenas mordo minha língua, esperando o momento certo para sair
daqui e voltar ao escritório.
Encosto minha cabeça contra a porta, pensando no que
devo fazer a seguir. Eu não posso simplesmente desistir. Estou
decidida a falar com Raphael, visto que nós precisamos conversar, e
ele sabe disso. Só está sendo difícil, e eu o entendo. Eu deixei-o.
Respiro fundo e me viro, abrindo a porta. O vestiário está
vazio, nenhum sinal de Dominic, ou Raphael. Não sei se me sinto
aliviada ou decepcionada por terem me deixado. Saio do vestiário.
Outra luta acontece no ringue. A multidão continua eufórica,
gritando, batendo palmas. A sensação seria muito bem-vinda se as
coisas não estivessem tão confusas, tão instáveis. Raphael e eu
somos um desastre neste momento. Sinto-me perdida por um
instante. Olho em volta, procurando por ele, mas está longe de ser
visto, não há nenhum sinal dele, ele foi-se. Acho que está
precisando de um tempo para absorver que estou de volta e que eu
não vou a lugar nenhum. Passo por entre a multidão, empurrando
as pessoas para fora do meu caminho. Havia esquecido de como
são as noites de clube, de toda essa euforia, excitação contagiante,
essa sensação incrível que preenche nosso corpo, enchendo-nos de
pura adrenalina. Senti falta dessa sensação.
Sorrio quando vejo Dimitria à minha frente, caminhando até
mim. Aceno para ela.
De repente, alguém passa por mim, empurrando-me
suavemente para o lado. Uma mão toca meu braço, de leve,
fazendo-me congelar no lugar, com minha respiração ficando presa
na garganta. À minha volta, tudo fica embaçado, tudo se vai, e tudo
o que eu lembro e sinto é estar presa, amarrada sobre aquela mesa,
sendo tocada de todas as formas.

O sorriso dele, aquele sorriso malicioso


enquanto me toca;
sua mão, passando em meu corpo... Seu toque deixa-meenjoada.
Eu quero fugir, sair daqui, deste lugar, mas estou presa. Cada vez
que tento mexer-me, os arames adentram minha pele, fazendo-me
sangrar. Eu só quero sair daqui.
— Raphael! — grito por ele. — Por favor, Raphael, me
ajuda!

— Phillipa? — Sou sacudida para fora das minhas


lembranças.
Pisco repetidamente algumas vezes, tentando entender
onde estou e o que está acontecendo. É quando percebo que tudo
está bem, que não estou mais naquele lugar, que estou segura.
Não, não, eu não estou segura. Esfrego meu braço, onde senti seu
toque. Olho em volta, procurando-o. Ele está aqui, em algum lugar.
Meu corpo começa a tremer, em pânico.
— Phillipa? O que está acontecendo? — Dimitria pergunta,
preocupada ao ver meu desespero.
— Ele está aqui — sussurro, com minha voz cheia de temor.
Lágrimas se formam nos meus olhos. As lembranças
daquele pesadelo vêm em ondas, deixando-me sem saber o que
fazer. Medo. Tudo o que sinto neste momento é puro e angustiante
medo.
Dimitria olha em volta, tentando ver alguém suspeito,
contudo o lugar está cheio, a gritaria e emoção da luta nos rodeiam,
o que torna difícil achar alguém específico.
— Quem está aqui, Phillipa? Não estou vendo ninguém
diferente. — Ela diz, tentando alcançar-me, entretanto desvio do seu
toque.
— Marcus. Ele está aqui, ele tocou-me — respondo,
encolhendo-me ainda mais.
Ela olha para mim, com puro ressentimento, talvez
arrependimento por ter me trazido ao clube. Sei que acha que não
estou pronta ainda, que não estou bem.
— O que está acontecendo? — Minha irmã pergunta,
chegando até nós. — Pude ver lá de cima que de repente pararam e
que Phillipa congelou do nada. Está tudo bem? — pergunta ela,
olhando para Dimitria, que suspira e balança a cabeça.
— Não, ela acha...
— Marcus está aqui, ele tocou-me — repito.
Minha irmã me olha, com pena. Deus! Eu detesto isso.
Sabia que, ao voltar, correria o risco de as pessoas me olharem
assim, de acharem que não estou bem. Que estou louca.
— Irmã...
— Ele está aqui, ele tocou-me, eu juro — repito, esfregando
o braço, ainda sentindo o seu toque.
— Marcus está morto, Phillipa. — Lori diz, com cuidado.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, com lágrimas
formando-se nos meus olhos.
— Não, ele não está...
— Phillipa...
— Que diabos está acontecendo? — Caspen aparece, com
seu olhar focado em mim.
Deus! Eu devo estar parecendo uma louca, aqui, parada,
balançando-me de um lado para o outro e esfregando meu braço.
— Ela precisa ir para um lugar mais calmo. — Lori diz,
olhando para o seu marido.
Ela envolve seu braço em mim. A multidão se afasta
automaticamente enquanto passamos. Alguns nos olham, com
medo; outros, com pura curiosidade. Ninguém diz nada, nem ficam
no nosso caminho. É incrível como as pessoas se comportam na
presença de Caspen Callahan.
— Pronto. Agora, digam-me que merda aconteceu. —
Caspen comanda, assim que entramos no escritório, onde Hector
está esperando-nos, junto com Miguel, Maddox e os outros
seguranças, além de Zoe e Angel.
Lori me coloca sentada entre Zoe e Angel.
— Phillipa só teve um episódio. Ela acha que...
— Marcus está aqui, ele tocou-me — reafirmo mais uma
vez, olhando bem nos olhos de Caspen.
Ele olha para mim durante um tempo e, por fim, acena com
a cabeça ao mesmo tempo que sua mão esfrega seu queixo.
Abaixa-se, ficando de frente para mim.
— Phillipa, Marcus está morto. — Meus olhos se fecham e
eu balanço a cabeça.
Não, ele não está morto. Deus! Como eu queria que fosse
verdade, mas ele não está. Eu senti-o, ele tocou-me. Marcus está
vivo, e ele estava aqui, bem debaixo dos narizes de todos.
— Não, Caspen, ele tocou-me! — digo, com firmeza.
— Phillipa!
— Não! — Levanto-me. — Chega de ficarem tentando
colocar na minha mente que Marcus está morto! Você não acha que
eu sou a pessoa que mais o quer morto? Mas ele não está, ele está
aqui, lá embaixo! Eu senti, ele tocou-me. — Aponto para o meu
braço, que está todo arranhado das minhas unhas.
— Não foi uma boa ideia ter a trazido. — Lori comenta,
como se eu não estivesse bem aqui, parada na frente deles.
— Sim, ela está tendo um déjà-vu. — Dimitria diz,
acenando.
— Acho melhor levá-la para casa. — Angel diz. — Ela só
deve estar cansada. Chegou hoje de viagem.
— Ela está bem AQUI!— grito, batendo as mãos. — E não
estou cansada, nem tendo porra nenhuma, e não estou ficando
louca — falo, olhando para eles.
Nesse momento, a porta do escritório se abre e Dominic
entra. Atrás dele está Raphael.
— O que houve? — Raphael pergunta a Caspen, sem ao
menos olhar para mim.
— Nada, Phillipa só teve...
— Porra nenhuma. — Frustração me domina. — Eu não tive
nada. Marcus está aqui e ele tocou-me! — Esfrego ainda mais meu
braço.
Seu toque, ainda tão vivido em mim, que chega a queimar.
Raphael ri, balançando a cabeça. Ele não acredita em mim.
Ninguém acredita em mim, pelo que posso ver, e isso é tão
cansativo, tão dolorido...
— Está louca — comenta Raphael.
Lori olha para ele, de cara fechada, e o mesmo apenas dá
de ombros.
— Eu não estou LOUCA! — grito, tão alto, que sinto minha
garganta arder. — Talvez eu estivesse, e daí? Mas não estou.
Marcus está aqui, ele tocou-me. E sabe como eu sei que era ele?
Porque eu — digo, batendo no meu peito —, eu estive com ele por
horas, era eu quem estava amarrada naquela mesa, sentindo seu
toque em mim, o toque que me quebrou, que me fez desistir da vida,
o toque que matou meu bebê. Só eu sei como é o toque daquele
homem. Eu fiquei um ano sem o sentir, mas hoje, quando estava lá
embaixo, andando por aquele tanto de gente, tentando chegar até
aqui, senti-o. Ele empurrou-me e alisou-me no braço. Seu toque
está queimando-me, deixando-me enjoada. Então, quando eu digo
que aquele filho da puta está vivo e tocou-me, é porque eu sei o que
estou dizendo! — exclamo, já sem ar.
Sem eu querer, lágrimas escorrem pelo meu rosto. Sinto-me
tão frustrada neste momento... O silêncio preenche todo o escritório.
Cansada de toda essa confusão, volto a sentar. Abaixo a cabeça e
apoio-a entre as mãos.
— Phillipa...
— Não, só não, por favor — imploro.
Não preciso deles tentando enfiar na minha mente que
Marcus está morto. Posso não ter o visto, o momento pode ter sido
rápido demais, contudo eu sei o que senti. É um toque que estará
sempre na minha memória.
— Leve-a para casa. — Raphael se pronuncia.
Ergo minha cabeça, e meu olhar encontra com o seu. Ele
desvia o olhar, com seu foco voltando-se para Hector.
— Vamos olhar as câmeras de segurança.
Suspiro, aliviada. Eu sei que ninguém aqui acredita em mim,
porém olhar as câmeras é ao menos alguma coisa. Não é?

Raphael
Caralho! Esta noite está sendo mais longa do que eu estava
planejando. Phillipa está na cidade, depois de um ano longe, e
agora, volta, achando que tem o direito conversar. Para variar, essa
merda de Marcus está vivo, o que é impossível, já que Caspen
atirou nele e o deixou naquela casa, pegando fogo. Merda! Eu
queria estar no meu apartamento, na minha cama, bebendo uma
cerveja gelada e comendo um hambúrguer. Mas não, estou sentado
de frente para várias telas de computador, observando as câmeras
de segurança. Mesmo não acreditando em Phillipa, tive que dar algo
para acalmá-la, algo para dar a ela um pouco de segurança.
— É impossível ele estar vivo. — Caspen diz, todavia posso
perceber a tensão na sua voz.
— Não é, não ficamos lá para conferir os corpos, Caspen. —
Hector comenta. — E também há Henry, que é a nossa ponta solta.
Não o achamos até hoje.
— Caralho! — esbravejo, socando a mesa. — Se Marcus
estiver vivo, não é seguro Phillipa estar aqui.
— Não é seguro para nenhuma das nossas mulheres. —
Dominic diz, balançando a cabeça.
— A pergunta é: por que ele esperou tanto tempo para
aparecer? — pergunta Hector.
— Nem sabemos se era realmente ele. Talvez Phillipa esteja
apenas tendo um ataque de pânico. Voltar pode ter desencadeado
as memórias daquele dia. — Dou de ombros. — Pode estar sendo
apenas difícil para ela.
Cacete, eu não quero pensar em Phillipa, nem no que
significa sua volta depois de tanto tempo. Não quero pensar no que
irá acontecer daqui para frente. Porra, eu estava bem sem ela, tudo
estava indo bem, e agora, ela voltou, colocando tudo aos avessos.
— Ali. — Dominic diz, apontando para a tela, do meu lado
esquerdo. — Esse é o exato momento em que Phillipa congela no
meio da multidão.
— Não há nada. — Hector diz, estreitando os olhos. — Não
há ninguém.
— Volta um pouco — peço, observando bem.
Phillipa caminha tranquilamente, empurrando as pessoas
para que elas abram caminho. Ela para ao ver Dimitria. Phillipa sorri
e acena. É quando eu vejo alguém passar por ela, empurrando-a
para o lado e tocando seu braço. É o exato momento em que ela
fica congelada no lugar; e seu olhar, em branco.
— Volte mais um pouco e congele. Bem ali. — Aponto para
a tela, no exato momento em que alguém esbarra em Phillipa. —
Essa é a pessoa que a tocou. — Aponto para a pessoa que passa.
— Não dá para ver quem é, a pessoa está de capuz e
cabeça abaixada. — Dominic diz, soltando um suspiro.
— Chamem nossos técnicos. Vamos olhar para todas as
filmagens de todas as câmeras. Temos várias nesse ângulo. Talvez
possamos conseguir algo. — Caspen comanda para Hector, que
acena com a cabeça.
— Já estou fazendo isso — responde, com o celular na
mão.
— Maddox e Miguel ficarão com Phillipa — digo, passando
as mãos pelos meus cabelos compridos. — O que faremos se esse
for realmente Marcus?
— Nós iremos caçá-lo e matá-lo sem falha. — Hector diz,
com uma promessa fria e mortal na voz.
— Porra, era para ele estar morto! — esbraveja Caspen,
irritado. — Eu atirei nas duas pernas dele e o deixei lá para morrer.
Como ele sobreviveu? — pergunta, com seu olhar vazio.
Essa é a pergunta para a qual todos nós queremos
respostas. Se esse for realmente Marcus, como ele saiu daquela
casa? Quem o ajudou e por que ele esperou tanto tempo? O que
tem planejado? Já não basta Phillipa ter voltado, agora tem Marcus
Esposito, a possibilidade de ele estar vivo. Minha cabeça começa a
latejar. Tudo está indo para o inferno, e não faço ideia de que diabos
fazer. Como protegerei Phillipa e ficarei distante dela ao mesmo
tempo?

Um pequeno suspiro deixa meus lábios quando olho para a


casa à minha frente. Faz exatamente dez meses que não venho
aqui. Dez meses em que deixei essa casa, sem olhar para trás e
com o coração partido. Voltar aqui não estava nos meus planos.
— Descobriu algo? — Miguel aparece na porta.
Caminho até ele, dando um pequeno aceno.
— Phillipa está bem? — pergunto, olhando para a casa.
— Sim. Ela está no quarto, com as mulheres.
— Bom. Chame Maddox. Temos que conversar — peço a
ele e me encosto na parede da varanda, ao lado da porta.
Miguel entra na casa e, segundos depois, volta, com
Maddox ao lado dele. Entrega a mim uma garrafa de cerveja.
— Obrigado — digo, abrindo a garrafa.
Tomo um grande e bom gole.
— O que descobriu? — Maddox pergunta a mim, e eu
suspiro.
— Não sabemos se é Marcus, porém, Phillipa tem razão:
alguém a tocou, essa noite. Nossos técnicos de Informáticaestão
trabalhando em todos os ângulos das câmeras, no clube, para
tentarmos descobrir quem é a pessoa — informo a eles.
— Merda. — Maddox diz, e toma um gole da sua cerveja.
— E se for mesmo Marcus Esposito? Se ele estiver vivo? —
Miguel pergunta, olhando com preocupação para a casa.
— Se for realmente ele, nós iremos nos reunir, formar um
plano e matá-lo de uma vez por todas — digo, entre dentes.
Quando essa merda irá acabar? Será que Phillipa não
sofreu demais nas mãos desse homem? Porra, e por que eu estou
tão preocupado assim? Desde quando Phillipa voltou a ser minha
preocupação?
— Irá voltar? — Maddox pergunta a mim, apontando para a
casa.
Nego com a cabeça.
— Não. Não sou o mesmo homem de um ano atrás. Acho
que Phillipa e eu terminamos. Na verdade, ela tinha razão: nunca
tivemos uma chance. — Coloco a garrafa de cerveja em cima da
mesinha da varanda. — Vocês ficarão e a protegerão. Qualquer
coisa, informe Dominic.
Sem olhar para trás, entro no meu carro e tomo distância da
casa. Phillipa e eu terminamos no momento em que a culpa me
dominou.
Bônus

Marcus

Eu esperei. Por dez meses, esperei pelo meu momento, em


outro Condado, recuperando-me de todas as lesões que sofri. Tive
que ir para outro lugar, pois se eu continuasse em Vegas durante
minha recuperação, seria encontrado pelos Callahan’s, então, Henry
levou-me para outro lugar, assim pude recuperar-me tranquilamente.
Não foi fácil, não foi nem um pouco fácil sair daquela casa vivo, mas
para a minha sorte, Henry encontrou-me e me tirou de lá, por uma
saídaescondida entre os livros, a qual não existe na planta da casa.
Construí essa saída exatamente para momentos como àquele.
Foram dez agonizantes meses de recuperação. Tive a
metade do corpo queimado, e por pouco não fiquei sem andar pelos
dois tiros nas pernas. Tudo por causa de Caspen Callahan. Dez
meses de fisioterapia e tratamento para as queimaduras. Dez
fodidos meses planejando, esperando pelo meu momento. Teve dias
em que pensei que não iria aguentar, pensei em desistir, porém
aquele sentimento de vingança manteve-me tentando, lutando pela
minha vida.
É bom estar morto por um tempo, observar tudo e a todos,
sem preocupação. Há dois meses, eu os observo de perto. Tão
idiotas, pois nunca desconfiaram, nunca sentiram minha presença,
apenas continuaram com suas vidinhas, achando que eu estivesse
morto. Patético demais.
E para o meu total prazer, Phillipa está de volta. Imaginea
minha surpresa quando a vi no clube, em meio a tantas pessoas.
Ah, eu procurei por essa mulher! Ela sempre foi meu maior alvo.
Aquela mulher simplesmente sumiu, foi embora, e não havia nada
dela em lugar nenhum. Eu tinha desistido de encontrá-la, de trazer
minha vingança a ela também, meu foco estava apenas nos
Callahan’s. Todavia essa noite, lá estava ela. Não resisti. Tive que a
vigiar, tocá-la, e foi a melhor sensação do mundo. Agora, tudo está
completo, assim posso começar a causar o caos que tenho
planejado a esse nome. Eles tentaram matar-me, só que monstros
não morrem.
Capítulo Trinta

Phillipa – Dois dias depois...

Era ele. O homem que me tocou, no clube, em meio àquela


multidão, era Marcus Esposito. Ele não está morto e eu não estou
louca. Foi um dia completo para analisarem todas as câmeras em
todos os ângulos, até que uma delas pegou seu rosto. Era ele.
Metade da face tem marcas de queimaduras, mas era ele. Marcus
está de volta, e isso me deixa em pânico. Ele não irá desistir, virá
atrás de mim. Virá atrás de todos nós. Meu Deus! Por quê? Por que
está acontecendo de novo? Era para ele estar morto. Morto.
Esfrego meus braços, sentindo aquela coceira onde Marcus
tocou-me. Na verdade, todo meu corpo começa a coçar. Sinto-me
suja, e tudo o que meu corpo quer é encolher-se em algum lugar
onde ele não possa encontrar-me. Marcus não pode pegar-me, ele
não pode ter a mim, porque se isso acontecer, eu sei, sei que não
sairei viva desta vez. Não irei sobreviver a mais um ataque de
Marcus Esposito. Só de pensar...
Levanto-me do sofá do escritório de Hector e corro para o
banheiro anexo. Ajoelho de frente para o vaso, colocando todo o
meu café da manhã para fora. Boa, Phillipa.Meu estômago dói, e
meu cabelo recai sobre meu rosto. Suor escorre pela minha testa.
Sinto-me doente só de pensar em Marcus, nas suas mãos em mim.
Despejo mais conteúdo do meu estômago no vaso.
Uma mão puxa meu cabelo para trás, enrolando-o acima da
minha cabeça. Olho de relance para o lado, vendo Raphael. Limpo
minha boca com a mão.
— Obrigada — digo a ele.
Raphael apenas fica calado, ao meu lado, observando-me.
Levanto-me do chão, abaixo a tampa do vaso e dou descarga.
Respirando fundo, viro-me para ele, mas não digo nada, apenas vou
até a pia e lavo a boca, tirando o gosto horrível.
— Você está bem? — pergunta, olhando-me com interesse.
Dou de ombros. O que eu posso dizer a ele? Raphael vem
mantendo distância de mim nesses dois dias. Tudo o que ele faz é
ligar a Miguel ou Maddox para saber como estou. Porém se recusa
a falar comigo. Não, não é apenas isso, ele se recusa ainda a estar
no mesmo lugar que eu. Nem sei por que está aqui.
— Marcus, o homem que abusou de mim, o homem que
matou meu bebê, está vivo. Como acha que estou sentindo-me,
Raphael?
Não espero a sua resposta, apenas me viro e saio do
banheiro.
— Melhor? — Minha irmã pergunta a mim, quando volto a
sentar ao seu lado.
— Um pouco — minto.
Marcus está vivo, está lá fora, esperando uma oportunidade
para me pegar, para me destruir. Então, não, eu não estou bem,
nem me sinto melhor. Meu estômago dói, minha cabeça lateja, meu
corpo coça, e na minha mente... na minha mente estão todas as
lembranças daquele dia, de toda dor, de todo desespero, do medo
que senti e da vontade de morrer.
— Ele não vai desistir, não é? — pergunto, já sabendo a
resposta.
— Não, Phillipa, ele não vai desistir. — Caspen responde.
Suspiro. Estou em perigo, todos nós estamos. Fecho meus
olhos, respirando fundo. Minha mente diz para eu ir embora, sem
olhar para trás, sumir e nunca mais voltar, porém meu coração está
dizendo para ficar, para lutar contra Marcus e quem estiver com ele.
— O que vamos fazer? — pergunto.
Minha irmã pega na minha mão, dando um pequeno aperto.
— Eu vou caçá-lo. — Carter responde, ao entrar no
escritório. — E quando eu o encontrar, e eu vou encontrá-lo, eu
arrancarei a cabeça dele — anuncia, fechando as mãos em punho.
— Amélia e Dimitria estão revendo as câmeras da cidade.
Qualquer coisa que conseguirmos sobre Marcus e Henry será nosso
ponto de partida. Dominic e Raphael estão trabalhando pela cidade,
buscando informações. Caspen e eu temos uma reunião com
Alessio D’Angelo. — Hector informa. — Miguel e Maddox, vocês
continuam com Phillipa. Christian irá ajudá-los.
Ao ouvir o nome de Christian, penso em Jordan, que perdeu
a vida ao tentar proteger-me de Mason. Lágrimas se formam nos
meus olhos. Esfrego os braços, sentindo a picada das minhas unhas
na pele. Pisco algumas vezes, tentando levar as lembranças para
longe, tentando concentrar-me no presente, focar no que está
acontecendo aqui. Mas não consigo, não dá. É tudo tão agonizante,
tão doloroso... Estar de volta não está sendo fácil. E não ter Raphael
ao meu lado, ajudando-me, protegendo-me, dando apoio, é o que
mais dói. Não consigo, eu só... não consigo. Mexo a cabeça de um
lado para o outro.
— Ei, ei, pare. — Ouço a voz de Raphael enquanto sua mão
segura a minha, impedindo-me de arranhar-me.
Balanço minha cabeça. Por mais que ele seja mais forte do
que eu, estou tão perdida nos meus próprios pensamentos, que
minha força vence, então continuo a esfregar-me.
— Phillipa, pare! — comanda Raphael, entretanto não o
ouço, já que não me importo com seu comando.

Suas mãos, suas mãos estão em mim.Debato-me, tentando


ficarlonge do seu corpo, tentando distanciar-me do seu toque, mas
estou presa, presa neste lugar, estou presa a eles.Raphael?Eu só
quero poder estar com ele,quero que me proteja,que me tiredaqui.
Eleprometeu que me protegeria,todaviafoiembora. Eledeixou-me.
E agora, estou aqui, neste lugar horrível,com esses homens
tocando-me, rindo de mim.
— Não, não!

— Olhe para mim! Phillipa, olhe para mim, agora. — Pulo,


piscando os olhos.
— Raphael — sussurro.
Ele sorri para mim. Seu dedo desliza pelo meu rosto.
Suspiro com o toque, ao mesmo tempo que minha pele se arrepia.
— Sim, gatinha. Estou bem aqui. — Raphael diz para mim, e
eu aceno com a cabeça, dando a ele um pequeno sorriso.
— Sinto muito — digo, olhando para todos que estão no
escritório.
— Não precisa desculpar-se. — Lori diz, e olho para ela.
— Eu só... era para eu estar bem. Faz meses que não
penso em Marcus, que não tenho momentos como este. Pensei
que, ao estar de volta, continuaria assim, mas acho...
— Que saber que Marcus está vivo trouxe tudo de volta. —
Raphael termina por mim.
Aceno com a cabeça.
— Ele não pode ter a mim. Ele não pode...
— Ele não vai, Phillipa. Você está segura. — Balanço a
cabeça ao ouvir suas palavras.
— Não, eu não estou, Raphael. — Lágrimas deslizam pelo
meu rosto. — Antes, eu também estava protegida, eu também
estava segura, e mesmo assim, ele pegou-me. Qual é a diferença
agora? — pergunto, olhando-o nos olhos. — Você nem está por
perto — sussurro.
— Phillipa...
— Não, não precisa dizer nada. Eu entendo, realmente
entendo. Não precisa... — Balanço a cabeça, mordendo os lábios,
pois não consigo falar mais, porque dói.
Levanto-me, saindo do toque reconfortante de Raphael, e
vou até Miguel.
— Pode levar-me para casa? — pergunto a ele, que acena
com a cabeça.
— Phillipa... — Minha irmã me chama, e eu viro-me para
ela.
— Eu só quero ir para casa — sussurro, sentindo-me
instável.
Há uma enxurrada de emoções envolvendo-me neste
momento. Eu sinto medo, dor, sinto tristeza e desamparo, mas
acima de tudo, eu sinto raiva. Muita, muita raiva. Tudo o que mais
quero é ficar sozinha, colocar meus pensamentos e todos esses
sentimentos em ordem.
— Vamos lá. — Sinto a mão de Miguel nas minhas costas.
Olho para Raphael, contudo seu olhar não está em mim, e
sim na mão de Miguel. Diga alguma coisa, penso, no entanto ele
apenas desvia o olhar. Olho para a minha irmã, dando apenas um
aceno a ela, que sorri. Miguel me guia para fora da porta, com
Maddox seguindo-nos logo atrás. Casa, eu só preciso ir para casa.

Raphael
Observo enquanto Miguel leva Phillipa para fora. Ele estava
tocando-a, sua mão estava nas suas costas, e levou tudo de mim
para manter o controle e não o socar. Miguel estava com sua mão
em Phillipa. Ela é minha. Eu queria gritar, batendo no meu peito,
mas apenas desviei o olhar e a deixei ir, porque Phillipa não é mais
minha. Ela foi embora, ela deixou-me, não olhou para trás, não se
despediu, nunca ligou ou respondeu às minhas ligações. Ela apenas
se foi. Mesmo estando de volta, agora nada é como o antes. Não
sou mais o homem que ela deixou. Não a culpo por ter ido embora,
porém ela deixou-me. Ela foi embora, e doeu. Doeu demais perdê-
la. Tudo o que tenho agora é nada. Apenas a concha do homem
que fui um dia.
— Precisamos protegê-la a qualquer custo. — Sou bem
claro. — Phillipa precisa estar bem protegida. Ela precisa de nós.
— Quebramos nossa promessa uma vez, portanto não
podemos quebrar de novo. — Lori diz, levantando-se e indo até
Caspen.
Ele envolve seu braço no seu corpo. Lori apoia a cabeça no
peito dele e olha para o marido.
— Marcus não pode tê-la, Caspen. Ela não irá aguentar. Ela
não irá aguentar, Caspen. Você viu como ela ficou só em pensar na
possibilidade de Marcus pegá-la. Ele não pode... — Balança a
cabeça.
Porra! Não, Marcus não irá chegar perto de Phillipa. Ele já
chegou. Não outra vez. Se for preciso, irei morrer tentando protegê-
la. Protegê-la-ei com a minha vida se for preciso. Essa é a minha
promessa. Eu falhei uma vez, mas não vou falhar de novo. Phillipa
pode não ser minha, porém ela é a mulher pela qual me apaixonei.
Errei em ter saído aquela noite, em ter a deixado sozinha, errei, e
pelo meu erro, ela foi pega.
— Marcus é meu para matar — digo, olhando a Caspen,
que olha para Carter.
— Eu vou caçá-lo. — Carter diz, olhando-me.
Dou de ombros.
— Fique à vontade, não me importo com isso. Enquanto
você o caça, eu protejo Phillipa. Só que quando o achar, tra-lo-á
para mim. Marcus é meu, eu irei matá-lo. — Carter ergue uma
sobrancelha.
— Tem certeza? — pergunta.
— Sim — respondo.
Serei eu quem colocará um fim à vida de Marcus, ninguém
mais, por Phillipa e por nosso bebê. É a minha promessa.
— Ele será todo seu, então. — Carter diz, sorrindo.
— Bom — digo, dando um aceno.

— Sabe, você pode entrar, certo? — Miguel diz, juntando-se


a mim na varanda.
— Sim, eu sei, mas não quero — respondo.
Não posso entrar, não posso estar perto de Phillipa. Neste
momento, preciso continuar sendo firme. Não podemos estar juntos,
não somos bons juntos. Só magoamos um ao outro. Phillipa está
melhor sem mim. Estamos melhor sozinhos. Mas isso não muda o
fato de que eu irei protegê-la, custe o que custar.
— Tudo bem, então. — Miguel dá de ombros.
— Antes de voltar para dentro — Ele se vira e me olha —:
se tocar em Phillipa mais uma vez, eu o mato. — Miguel apenas
sorri para mim.
— Você está ciente de que se não a mantiver, ela algum dia
vai encontrar alguém, certo? — Zomba de mim.
Viro-me completamente, ficando cara a cara com ele. Miguel
me encara, sem medo.
— Você não a tocará — aviso mais uma vez.
— O que quiser, Chefe — desdenha, entrando na casa,
deixando-me sozinho, do lado de fora.
Merda! Sento-me no sofá de balanço da varanda e apenas
fico esperando, observando ao redor da casa. Eu sei que Caspen
colocou mais homens para proteger tudo, sei que a segurança está
redobrada. Até cães de guarda ele colocou, tudo para proteger
Phillipa. Porém para mim não é o suficiente. Eu preciso estar aqui.
Instantes depois, a porta principal se abre e Phillipa
aparece.
— Ah, você está aqui — diz ela, saindo.
— Sim, eu estou — afirmo, dando um aceno.
Phillipa se senta ao meu lado. Não a olho, mantenho meu
foco à minha frente. Ouço o pequeno suspiro dela, que mexe as
mãos, em sinal de nervosismo.
— É engraçado... — comenta, e posso sentir seu olhar em
mim. — Você está aqui para me proteger, mas se recusa a entrar e
conversar comigo.
Suspirando, passo as mãos pelo cabelo. Não era para
Phillipa estar aqui fora, comigo. Não era para estarmos
conversando, porque eu não quero ter esta conversa com ela. Não
estou pronto para isso. E quero que respeite minha decisão. Ela não
estava pronta um ano atrás. Agora, quem não está pronto sou eu.
— Sim, Phillipa. Fiz-lhe uma promessa antes, só que falhei
nela. Eu saí,deixando-a com poucos seguranças, e você foi levada.
— Paro, olho para ela de relance. — Estou aqui para protegê-la eu
mesmo, é uma promessa que eu faço a você. Mas não quero
conversar, Phillipa.
— Nós precisamos, Raphael.
Sinto o pequeno toque da sua mão na minha perna, que
puxo, não querendo sentir. Preciso manter distância, preciso colocar
no lugar minha cabeça e todos esses sentimentos que estou
sentindo pela sua volta. Preciso de tempo, assim como ela precisou.
— Eu sei, Phillipa. Porra, eu sei que nós precisamos
conversar, mas não estou pronto, entendeu? Você deixou-me, foi
embora um ano atrás, e eu fiquei aqui, esperando, torcendo para
que voltasse. No entanto não voltou. Eu tranquei-me, guardei tudo o
que sentia, e não estou pronto para abrir essa caixa. Você pode
estar pronta, mas eu não estou.
— Raphael...
— Não, Phillipa! — grito, irritado.
Levanto-me do sofá e saio de perto, dando a volta na casa.
Não quero ser ruim, não quero ser o homem mau nessa história,
mas ainda sinto o vazio, o vazio da sua partida e a culpa por tudo o
que aconteceu com ela. Porque a verdade é esta: eu sou o culpado.
Capítulo Trinta e Um

Phillipa – Dois dias depois...

Marcus tirou tudo de mim. Minha confiança, minha alegria,


minhas escolhas, minha vontade de viver, meu bebê... Ele tirou
Raphael de mim — Bem, eu mesma fiz isso —, e a troco de quê?
Há medo em mim. Confesso que só de pensar em Marcus e
em tudo o que ele fez, eu sinto um grande e profundo medo. Porém
com o medo vem a raiva e a vontade de não me submeter à mesma
situação de um ano atrás. Não vou mais depender de Raphael,
seguranças e dos Callahan’s. A única pessoa de quem tenho que
depender é de mim mesma. Eu sou a única quem pode proteger-
me, só que para isso, tenho que estar pronta, preparada para
Marcus. Porque eu sei, eu sei que ele virá atrás de mim. E eu
estarei esperando por ele, pronta para lutar pela minha vida.
É por isso que resolvo voltar a treinar defesa pessoal e a
pontaria com minha arma. Meu professor será Miguel, já que
Raphael não me quer por perto. Não que eu vá desistir. Nós vamos
conversar, só darei o pouco de tempo que ele quer.
É estranho estar de volta e nada ser como era. Eu sabia que
as coisas estariam diferentes, mesmo assim, ainda é um pouco
desnorteante. Sinto falta de Raphael chamando-me de gatinha, da
sua constante presença, do modo com que ele falava comigo e me
tratava, até mesmo da insistência de fazer-me sua. Agora, tudo está
tão distante, que chega a ser um pouco dolorido.
Entretanto fiz o que tinha que fazer. Foi uma decisão só
minha, uma que eu precisava, por mim. Além do mais, ao tomar a
decisão de ir embora, eu sabia que Raphael e eu não seríamos os
mesmos, eu sabia o que estava deixando para trás, sabia que
quando voltasse, teria que mudar as coisas, teria que lutar pelo que
quero. E é isto o que quero: Raphael, essa família, meus amigos.
Precisei ir embora para perceber que minha casa é de onde
acabava de partir. Todavia não me arrependo da minha decisão. Eu
transcendi a algo maior, tornei-me uma pessoa mais independente,
curei minhas feridas, sozinha, cresci como mulher e evoluí com a
perda do meu bebê, assim como com tudo que deixei para trás, sem
falar nas duas mulheres incríveis que conheci, Moana e Ohana.
Bocejo, saindo da cama, colocando os lençóis de lado e
indo ao banheiro, lavar o rosto para começar meu dia. Visto uma
calça leggingpreta e um top da mesma cor, de malhar. Sorrio ao ver
o piercingno meu umbigo. Acho que será uma surpresa para
Raphael, já que eu não o tinha um ano atrás. Sem falar na tatuagem
nas minhas costelas, escrito: “Viva sem arrependimentos, pelo amor
e lute pela vida. Sobreviva.” Fi-la em um momento de dor e
sofrimento. Toda vez que olho para ela, percebo que eu sobrevivi. A
dor me fez mais forte, a perda me fez lutar e o amor me fez viver.
Sorrindo, prendo meu cabelo no topo da cabeça, em um coque
frágil, calço meus tênis e vou para o andar de baixo.
— Bom dia! — digo, quando adentro a cozinha.
Raphael e Miguel param de conversar e me encaram. Sorrio
para eles, e não deixo de reparar quando os dois me olham de cima
a baixo, com olhares apreciativos. Ambos notam meu piercing . Em
especial, Raphael, que busca disfarçar, no entanto percebo que seu
olhar se dirige ao meu umbigo. Miguel limpa a garganta, mexendo-
se no seu lugar. Raphael o olha, de cara feia. Oh, ciúmes...Issoé
bom.
— Vai a algum lugar? — Raphael pergunta a mim.
— Não, não vou. Na verdade, eu estava pensando em voltar
a treinar, e nada melhor do que Miguel para me ajudar — digo,
sorrindo.
Miguel tosse, colocando a mão na boca e olhando-me como
se eu estivesse louca.
— Não acho que seja uma boa ideia — diz ele.
Ergo uma sobrancelha. Arregando agora? — quero
perguntar a ele, mas apenas aceno com a cabeça.
— É uma ótima ideia, na verdade. Você é meu segurança,
sabe o que está fazendo, e eu sei que me ensinará bem. E também
não quero ficar aqui, dentro de casa, sentada, esperando que todos
à minha volta me salvem. Quero lutar também.
Vou até Raphael, que fica parado, apenas me encarando,
sem dizer nada. Curvo-me para ele, respirando seu aroma, de modo
a deixar com que veja o decote do meu top, em seguida ergo meu
braço, pegando uma caneca por trás dele. Ele fica tenso quando
roço meu braço no seu. Sorrio interiormente. Vamos ver até onde o
controle e a frieza dele vão. Coloco um pouco de café na minha
caneca e viro-me de frente para Miguel.
— Então, vai treinar-me? — pergunto a ele, que olha para
Raphael, querendo aprovação.
Rolo os olhos. Patético.
— Acha que é uma boa ideia? — pergunta Miguel a ele.
Raphael apenas dá de ombros, não dizendo nada. Acho que
o gato mordeu a língua dele, ou está controlando-se para não fazer
nada. Bem, minha intenção com o treino não era chamar a atenção
de Raphael, nem o deixar com ciúme, porém as coisas podem
mudar, não é mesmo? Posso aproveitar a oportunidade para tirar
toda essa frieza dele e fazê-lo falar comigo, sei lá... Qualquer coisa
dele além da indiferença já é um ganho. Eu só o quero de volta.
— Ótimo, então. — Bato palmas. — Podemos começar
agora mesmo. Onde está Maddox? Ele poderia ajudar-nos.
— Maddox está fazendo a ronda da manhã, vendo com os
guardas se tudo está certo. Juntar-se-á a nós depois. — Miguel
responde.
— Certo. — Aceno e olho para Raphael. — Iráacompanhar-
nos? — pergunto a ele, que abaixa a cabeça, então seu olhar se
encontra com o meu.
Meu corpo treme pela intensidade que vejo ali. Ah, ele está
com raiva, sim. Com muita raiva, e também com ciúme, porém,
muito determinado — O que eu chamo de ser cabeça oca — para
fazer alguma coisa.
— Não. Ficarei de guarda, observando a casa e tudo ao
redor — responde.
Dou de ombros, fingindo indiferença.
— Bem, que pena, então. — Tomo um gole do meu café,
observando a tensão que emana entre Raphael e Miguel.
Estou determinada. Quanto mais Raphael luta pelos seus
sentimentos, mais eu empurrarei. Em algum momento, ele irá
quebrar. Só de pensar em quão intenso será, meu corpo já se
acende, em antecipação. Se ele pensa que irei desistir, está muito
enganado. Eu já desisti uma vez, fui embora e o deixei. Não, estou
aqui para ficar, para lutar por nós. Nem Marcus Esposito irá impedir-
me de ter o que eu quero. Tudo o que ele fez para mim tornou-me
uma mulher mais forte.

Raphael

Parado, com os braços cruzados, observo o treino de Miguel


com Phillipa. Ele é um bom professor, sabe ser paciente, coisa que
eu não sou. Bem, parece que estou me tornando, porque ficar
parado, observando-os juntos, não é algo que eu goste, ou que me
deixe confortável. Mas Phillipa estava certa: ela precisa saber
defender-se, precisa ser mais firme e forte, saber o que fazer
quando se deparar com certas situações. Precisa saber cuidar-se
quando não tiver ninguém ao seu lado. Só não posso dizer que
gosto de ter Miguel treinando-a. Melhor ele do que você. Porém,
minha decisão de manter-me longe ainda está em vigor. Não somos
bons juntos, portanto se eu parar para pensar em tudo o que
aconteceu, tudo o que ela passou... A culpa é minha. Só minha,
então eu prefiro não pensar, não sentir e manter-me longe.
— Era para ser você lá, ensinando-a. — Olho para o lado,
vendo meu primo, Dominic, aproximar-se.
— Não, eu estou onde deveria estar — digo, voltando a
olhar para Phillipa e Miguel.
— Vai continuar nessa? Realmente irá manter distância
dela?
Suspiro, dando de ombros enquanto olho para ele.
— O que quer que eu faça, Dominic? Será que não
percebeu que não somos bons juntos? Que eu não sou bom o
suficiente para ela?
— Que merda é essa, cara? De onde tirou isso? —
pergunta, olhando-me como se eu fosse louco.
— Esquece, você não entende — digo, dando-lhe as costas
e saindo de perto.
— Entenderia se explicasse — rebate ele vindo atrás.
Ninguém entenderia. Quem olha de fora acha que é bobeira
minha, que estou sendo duro demais, que basta apenas dar a
Phillipa uma chance, para conversarmos, e pronto. Mas há mais,
muito mais do que apenas um conversa. Há sentimentos guardados,
ressentimentos a serem superados, acima de tudo, há culpa. Muita
culpa da minha parte. Eu fiquei com raiva, confesso que fiquei com
muita raiva quando Phillipa foi embora sem se despedir, sem ao
menos falar comigo. Porém quando a raiva passou, eu soube que
foi o melhor, que ela precisava ir. Fiz a ela uma promessa que não
cumpri, então seria compreensível o fato de não querer falar
comigo, de ter ido embora. Falhei com ela. Ninguém entende a
minha decisão de manter-me longe, só que é uma escolha minha.
Recuso-me a ter uma conversa com Phillipa porque eu sei, eu sei
que se pararmos para conversar, todos esses sentimentos virão à
tona.
— Você vai embora?
— Não, só não ficarei olhando-os — respondo.
Eu queria estar lá, com ela, tocando-a, mostrando o que é
preciso para se proteger. Todavia não sou a melhor pessoa para
isso. Não agora.
— Você está perdendo-se, Raphael. — Dominic segue-me.
— Não, cara. Eu já estou perdido.

Phillipa

— Você está bem? — Minha irmã, Lori, pergunta a mim.


Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Eu estou bem?
Como posso responder? Há um turbilhão de sentimentos e
pensamentos. É tudo tão confuso, que nem consigo pensar direito.
Eu estou bem? Eu estou bem? Eu não sei. Chega a ser engraçado,
porque é uma pergunta fácil para uma resposta fácil —– sim ou não
—, porém para mim, é mais, muito mais do que um sim ou um não,
pois não faço ideia do que dizer. É tão complicado, que essa
pergunta me deixa louca. O certo seria dizer que sim, tudo está
bem, já que me encontro bem: minha mente, meu coração, meus
sentimentos... Estou bem comigo mesma e com tudo o que
aconteceu, bem com minhas escolhas. Só que era para tudo estar
no passado, contudo agora, está tudo tão presente. Era para
Marcus estar morto, queimando no inferno, mas ele está vivo, e sua
presença faz com que nada fique bem, faz com que tudo o que
passei fique repetindo-se na minha mente. Apesar disso, não sinto o
medo de antes, aquela sensação de sufocamento, de dor e agonia
pela espera de algo ruim acontecer. Merda! É por isso que não sei
como responder à pergunta da minha irmã.
— Phillipa? — Dimitria chama-me. — Perdeu-se aí dentro?
— Ela sorri para mim.
— Não, ela só não sabe dizer se está bem ou não. — Zoe
diz por mim.
— Parece que sabe como é isso. — Lori comenta, olhando
para ela, que apenas sorri.
— Eu sei, e reconheço quando uma pessoa não sabe como
responder a uma pergunta. É apenas complicado.
— É confuso dizer se estou bem ou não quando eu mesma
não sei — digo a elas. — Eu só... só pensei que tivesse acabado.
— É, todos nós pensamos. — Lori diz, soltando um suspiro.
— Tenho meus filhos para preocupar-me, por isso não quero Marcus
por perto. Não quero homens como ele por perto.
O modo como as palavras saem da sua boca, a raiva que
emana da sua voz e o jeito com que seus olhos estão vidrados...
Acho que ela está imaginando o que fazer com Marcus, e não
parece nada bom. Chego até a ter um pouquinho de pena dele se
minha irmã colocar as mãos nele.
Minto. Não sinto nada. Na verdade, acho que ele merece
tudo o que essa família fará quando o pegar. Eu mesma queria ter
uns minutinhos a sós com ele. Sorrio. Seria perfeito, ah, sim... Eu
queria muito vê-lo sofrer.
— Já tem alguma notícia de Marcus, onde ele possa estar
escondendo-se? — pergunto.
— Por enquanto, nada, apenas que está escondido em
algum canto, esperando para agir.
— Como antes — comento.
— Sim, porém desta vez, ele está sozinho. — Dimitria diz.
— Marcus está sem aliados. Ele não entrou em contato com
ninguém, não pediu por aliança como antes.
— Provavelmente porque estava recuperando-se. Não
sabemos o que ele fará agora. — Angel comenta. — O homem teve
queimaduras na metade do corpo e levou um tiro em cada perna.
Ele estava recuperando-se. Mas agora, não sabemos o que fará e
qual será o próximo passo que ele dará.
— Bem, nós estaremos prontos e esperando por ele — digo,
olhando elas. — Marcus não sabe, só que estou esperando por ele.
— Phillipa, não faça nada precipitado — pede minha irmã,
olhando-me com atenção.
Como se eu fosse ir atrás de Marcus, como se eu fosse
correr para o perigo.
— Eu não farei nada, mas também não serei vítima outra
vez. — Dou um sorriso. — Estarei pronta, esperando por ele.
— Todas nós estaremos. — Zoe diz, acenando.
— Sim, por nós, pela nossa família e pelo nosso legado. —
Lori diz.
— Pode apostar que sim! — Dimitria exclama.
Olhamo-nos, e do nada, começamos a rir. Sério, não faço
ideia do motivo de estarmos rindo, mas nós estamos. Lágrimas se
formam nos meus olhos, e minha barriga dói. Rio tanto, que chego a
dar gargalhadas e curvar-me para frente, colocando as mãos na
barriga.
— Acho que estamos loucas! — anuncio para elas.
— Eu acho que drogaram nosso almoço. — Angel comenta,
dando várias risadas.
— Oh! Será que estamos drogadas? Seria muito engraçado.
— Zoe também ri.
— Não, seria preocupante. — Lori diz, secando o canto dos
olhos.
— Aí, fazia tempo que eu não ria assim. — Dimitria diz,
abanando-se. — Mudando de assunto: como vão as coisas com
Raphael? — Todas se viram para mim.
Paro de rir, encostando minhas costas no encosto do sofá, e
olho para a porta de entrada, imaginando-o do lado de fora, vigiando
a casa.
— Na mesma. Ele continua não querendo falar comigo —
digo a elas.
— Homens... — Dimitria comenta, revirando os olhos.
— Ele só precisa de tempo. Foi difícilpara ele quando se foi.
Raphael só precisa acostumar-se com sua volta. — Lori diz,
segurando minha mão.
— Eu sei, estou aqui para ficar. Não vou a lugar nenhum, e
quando ele estiver pronto, nós conversaremos. — Dou um pequeno
sorriso. — E, bem, estou usando todas as armas que tenho. —
Pisco para elas.
— Ah, sim! Fiquei sabendo do treino de mais cedo. — Zoe
ri.
— Treino? — pergunta Lori.
— Como ficou sabendo? — pergunto, estreitando os olhos.
Com um pequeno sorrisinho, Zoe pega o celular, mostrando
a nós um vídeo onde estou com Miguel e Maddox, treinando.
— Dominic enviou a mim mais cedo — responde.
— Aquele dali é o Raphael? — Angel aponta para o lado do
vídeo.
— Pode apostar que é ele. — Minha irmã confirma.
— Olhe para a cara dele! — Dimitria começa a rir. — Parece
que chupou um limão.
Todas nós rimos pelo seu comentário. Sim, realmente
Raphael não está com cara de que esteja gostando do meu
treinamento com Miguel e Maddox. Bom, muito bom! Vamos ver por
quanto tempo ele irá aguentar.
— Quanto tempo até ele mesmo começar a treiná-la? —
Zoe pergunta.
— Uma aposta? — pergunto a ela, que dá de ombros.
— Por que não? — rebate, e mordo os lábios, dando um
aceno.
— Tudo bem.
— Dou mais dois dias. — Minha irmã diz.
— Dou até amanhã. — Angel é a segunda a falar.
— Uma semana. — Dimitria comenta.
— Está louca? Ele não irá aguentar tanto tempo! — Angel
exclama, balançando a cabeça.
— Raphael não é o mesmo, ele se fará de difícil.— Dimitria
diz.
— Bem, então eu serei mais difícil — digo a elas, com um
pequeno sorriso.
— Dou três dias. — Zoe diz, olhando para a porta, e engole
em seco.
— Três dias para quê?
Olho para Raphael, fingindo inocência. Ele semicerra os
olhos.
— Nada, apenas uma pequena aposta. — Lori diz, dando
um sorriso a ele.
— E sobre o que é essa aposta?
— Hum... deixa eu pensar... — Esfrego o queixo. — Ah! Não
é da sua conta. — Pisco para ele. — Qual será o prêmio do
ganhador? — pergunto, fingindo que Raphael não está presente.
O que é impossível, já que tensão emana do seu corpo.
Porém eu tento, focando nas meninas à minha volta.
— Resolveremos quando tivermos uma vencedora. — Zoe
diz.
— Combinado. — Dimitria sorri.
— Que comece o jogo! — Bato palmas.
Olho de relance para Raphael, que me encara seriamente, e
dou uma piscadinha para ele, fazendo-o travar os dentes. Não vejo
a hora de ouvi-lo chamando-me de gatinha...

Raphael– Dois dias depois...


Fecho minha mão em punho ao observar Phillipa
conversando com Miguel como se eles fossem íntimos — melhores
amigos. E por que você se importa?Esfrego minha barba, sentindo-
a áspera na minha mão. Porra, toda essa situação é uma merda
total. Era para ter acabado, era para Marcus estar morto, e não era
para Phillipa ter voltado. Não aguantando mais ficar parado, do lado
de fora, observando essa coisa entre Phillipa e Miguel, resolvo
entrar.
— Interrompo algo? — pergunto a eles.
Phillipa ergue a cabeça, dando a mim um pequeno sorriso
— encantador, sexy e tão sedutor... Eu sei o que ela está fazendo.
Sei que está jogando comigo, querendo que eu fale com ela,
converse sobre a porra dos nossos sentimentos e do que
aconteceu. O caralho que vou. Não há nada para falar. Não agora,
de qualquer forma. Minha concentração está em mantê-la segura,
nada mais.
— Não, chefe. — Miguel diz, levantando-se do banco, de
frente à ilha da cozinha.
— Não vá. — Cerro os dentes quando Phillipa diz, tocando o
braço de Miguel. — Estava prestes a fazer algo para comermos —
comenta ela, sorrindo.
A porra desse sorriso... Ela pensa que me engana.
Semicerro os olhos, olhando para os dois, mas não digo nada. Não
darei esse gostinho a ela.
— Não quero atrapalhar os dois, só entrei para dizer que
amanhã estarei lutando. Irei reforçar a segurança da casa, e
deixarei Alex junto com Miguel e Maddox — informo a ela.
Viro-me, pronto para sair, porém meu celular toca, então tiro
a mão da maçaneta da porta, pegando-o. Vejo o nome de Dominic.
Suspiro.
— Sim? — Atendo à ligação.
— Raphael? — diz meu primo, do outro lado. — Temos uma
possível localização do paradeiro de Marcus. Iremosinvadir o lugar
em vinte minutos.
Porra, sim!
— Estou indo. — Desligo a chamada e olho para Miguel. —
Cuide da casa até eu voltar. Chame reforços e não tire os olhos
dela. — Aponto para Phillipa.
— É sobre Marcus? — pergunta ela, assim que abro a porta
da cozinha.
— Sim. Temos uma possível localização. — Ela suga o ar,
mordendo os lábios.
— Encontre-o — pede, já começando a esfregar os braços
como se pudesse sentir o toque de Marcus no seu corpo.
Agindo por impulso, deixo a porta da cozinha e caminho até
ela, segurando suas mãos, impedindo-a de esfregar-se mais e
acabar arranhando-se.
— Ele não irá tocá-la nunca mais. Você é mais forte agora,
está protegida, Phillipa. Você está protegida. — A última frase sai
pausadamente dos meus lábios enquanto olho nos seus olhos.
Ela acena com a cabeça, engolindo em seco. Solto suas
mãos e dou um passo para trás.
— Cuide dela — comando para Miguel, ao sair da casa.
Tenho uma caça para fazer.
Bônus

Marcus

— Vamos, nós temos que sair. — Henry joga uma capa


preta em cima de mim.
Olho para ele, sem entender o que quis dizer.
— Levante-se, Marcus — diz, mais uma vez. — Teremos
visita em breve, e não queremos estar aqui quando chegarem.
Cacete! Levanto-me do sofá desgastado, bem rápido, e visto
a capa preta, colocando o capuz para cobrir meu rosto.
— Como descobriram nossa localização? — pergunto a ele.
— Estamos morando aqui há meses.
Essas porras dos Callahan’
s...
— Parece que sua visita ao clube e seu pequeno toque em
Phillipa desencadearam tudo. Eu disse para ficar no escuro, agir
calmamente, mas não, você foi lá e estragou tudo — comenta ele,
então meu corpo treme de raiva.
Saco minha faca e aponto para o seu pescoço, pegando-o
de surpresa.
— Quem você pensa que é para falar comigo desse jeito?
— pergunto a ele, irritado. — Não se esqueça de quem eu sou,
Henry.
— Tudo bem — diz, levantando as mãos.
— Bom, agora, vamos. Não leve nada, não temos tempo —
digo, olhando ao redor. — Quero sair daqui o mais rápido possível.
Se eles sabem sobre nós e nosso paradeiro, temos que sair logo
daqui. — Abaixo a faca, colocando-a na minha capa.
Dois dos nossos homens — os únicos que sobraram —
estão à nossa espera, na parte de trás do apartamento que dá para
um beco onde a tampa do esgoto está aberta. Esse é o nosso meio
de escape. Quando perceberem por onde escapei, já estarei longe.
Capítulo Trinta e Dois

Raphael

Adrenalina corre pelo meu corpo ao saber que do outro lado


da porta possam estar Marcus e Henry. Olho em volta, observando
o conjunto de apartamentos degradados, todos em condições
extremas. Como uma pessoa consegue viver em um lugar como
esse? Posso ouvir uma briga de casal a dois apartamentos atrás, e
choro de criança vindo do apartamento ao lado do qual Marcus
possa estar. Quem consegue criar uma criança em um lugar como
esse? Está caindo aos pedaços. Na esquina há um bordel, e a cada
beco, um pequeno comércio de drogas. Nojento.
Em completo silêncio, nos posicionamos, prontos para
arrombarmos a porta e invadir. Caspen acena com a cabeça para
Carter, que a chuta. Com armas em punho, nós entramos no
apartamento.
— VAZIO!— grita Carter, ao entrar no primeiro cômodo, ao
mesmo tempo que me dirijo para o quarto.
Chuto a porta, quebrando-a no meio. Olho em volta, não
encontrando nada. Todo apartamento está vazio. Porra! Ele não
está aqui.
— Ele conseguiu fugir. — Caspen diz, olhando em volta.
O apartamento está sujo, desgastado e cheio de lixo de fast
food espalhado, há também algumas facas e armas, mas nenhum
sinal de Marcus, o que me deixa extremamente furioso. Ele saiu
antes de chegarmos, o que significa que soube que estávamos
vindo.
— Vasculhem a área, procurem em cada canto. Ele não
deve ter ido longe. Esta noite, caçaremos Marcus e Henry! —
Caspen grita, com sua voz ecoando por todo apartamento.
Ele está com raiva. Seu corpo todo está travado; e sua
respiração, pesada. Caspen está furioso, e não é para menos.
Marcus Esposito escapou mais uma vez.
— Carter, quero que passe a noite procurando por Marcus,
ele não pode escapar, desta vez — diz ao irmão.
— Montarei uma equipe, e estaremos prontos em dez
minutos. Enquanto isso, tenho alguns homens nas ruas, já — diz
Carter, sombrio.
Passo as mãos pelos cabelos. Eu queria que tudo acabasse
hoje. Voltar para a casa de Phillipa e dizer a ela que não o
encontramos irá destruí-la. Uma falha. Mais uma vez, fracassei na
minha promessa. Irritado com toda situação, chuto alguns dos
pertences de Marcus e Henry, os quais estão jogados pelo chão do
apartamento.
— Chefe, pegamos um dos caras de Marcus. Ele estava a
duas quadras daqui. — Derek, segurança de Hector, diz a Caspen.
— Hector está levando-o para o esconderijo.
Caspen acena com a cabeça. Olha para mim, e dou um
aceno para ele. Sim, o cara é meu esta noite.
— Onde ele está? — pergunto, socando o cara nas costelas
mais uma vez.
Ele ri enquanto o sangue escorre da sua boca. O
desgraçado tem a coragem de rir!
— Não sei — cospe, rindo.
Seus dentes estão sujos de sangue; seu olho, inchado e
com um corte aberto. Ele se encontra destruído, mesmo assim, não
diz onde Marcus está. Sua lealdade ao mesmo só causa em mim
mais raiva. Uma raiva desenfreada, de modo que acabo não me
importando nem um pouco sobre quem é esse homem e a
importância de mantê-lo vivo para obtermos informações. Tudo o
que eu faço neste momento de raiva, de ódio puro, é torturá-lo.
Apenas entro em um frenesi, de modo que deixo tudo sair do
controle, faço do homem meu saco de porradas. Se ele não dará
informações do novo esconderijo de Marcus, não há motivos para
mantê-lo vivo. Porra, confesso que até se ele tivesse informações,
eu não me importaria nem um pouco. Apenas preciso descontar
minha raiva em alguém, colocar para fora esse turbilhão de
sentimentos que me envolve. Apenas aproveito a oportunidade.
— Raphael, ele se foi. — Ouço a voz de Dominic, de fundo,
porém não dou ouvidos a ele, continuo o socar o cara.
Sorrio em meio a essa névoa que me envolve, preenchendo
todo meu corpo, dominando-me de forma satisfatória. É muito, muito
bom sentir esse poder, aliviar-me de todos esses sentimentos.
ImaginoMarcus aqui, agora, bem à minha frente: seu rosto, todo
ensanguentado; sua boca, sem dente; os gritos que ele daria...
imagino-o sofrendo, implorando pela vida, por piedade. Porque é
isso que farei quando o tiver. Farei com que ele sofra. Uma morte
lenta, agonizante. Farei com que ele sinta tudo o que Phillipa sentiu.
Não... eu farei pior, muito pior. Marcus desejará que tivesse morrido
naquele incêndio, um ano atrás, porque o que tenho guardado para
ele, só para ele, é muito pior do que morrer queimado. Ele implorará
para o diabo vir buscá-lo.
— Raphael, acabou, ele já está morto. — Dominic diz,
colocando as mãos no meu ombro.
Balançando a cabeça, deixo minha mente clarear. Meus
braços se abaixam, então eu olho para o corpo mole e sem vida à
minha frente. Quero mais, porém quero que a pessoa seja Marcus,
e não um dos seus capangas.
— Caspen irá adorar saber que matamos nosso prisioneiro
sem obtermos informações — ironiza Dom, olhando-me.
— Devo dizer que sinto muito? — pergunto a ele, que
suspira, balançando a cabeça. — Sabemos que ele não daria nada
a nós.
— Sim, eu sei disso, porra, e é o que mais me frustra.
Voltamos à estaca zero — responde, soando irritado.
— Estou dando o fora daqui. Mande alguns dos nossos
limparem essa bagunça e sumirem com o corpo.
Viro-me, indo em direção à porta e caminhando pelo
corredor, até as escadas que dão para o andar de cima. Do lado de
fora, encontro-me com Caspen e Hector.
— O que ele disse? — indaga, mantendo a liderança.
Olho para ele, encolhendo os ombros.
— Nada, ele não disse nada. E não adianta tentar mais,
matei-o.
— Você o matou? — repete ele, estreitando os olhos para
mim.
— Sim, Caspen. Matei o filho da puta com porradas. — Ele
balança a cabeça.
— Saia daqui, antes que eu o mate de porrada — comanda
ele, com sua voz tão mortal, que faria qualquer homem mijar nas
calças.
Mas o vazio que há dentro de mim, a indiferença faz com
que eu me mantenha em pé e sem medo de Caspen.
Volto para a casa de Phillipa. Assim que chego, encontro-me
com Miguel e Maddox. Dou a eles um rápido resumo do que
aconteceu, incluindo o fato de Marcus ter escapado. É apenas uma
questão de tempo, não há muitos lugares para se esconder,
principalmente que agora, todos aqueles que um dia foram parceiros
de negócios de Marcus o veem como um fracasso, e ninguém quer
apoiar ou esconder um fracasso, então ele não tem opções. Uma
questão de tempo até encontrarmos ele.
— Vocês estão liberados. Alex e Christian ficarão nos seus
lugares — dispenso-os.
Sem olhar para trás, subo as escadas, indo direto para o
banheiro. Preciso de um banho antes de verificar Phillipa. Preciso
tirar todo esse sangue do meu corpo, sem falar que necessito de um
tempo para acalmar toda essa adrenalina que me consome, essa
vontade que tenho de sair para caçar, essa puta vontade de bater
tanto em alguém, até o levar à morte, assim como acabei de fazer
com um dos capangas de Marcus. Caralho! Eu preciso voltar ao
ringue, preciso sentir aquela emoção, aquele poder de estar em
uma jaula, lutando pela minha vida, a sensação de ter meu punho
acertando meu adversário... Os gritos, o suor escorrendo pelo
corpo, a eletricidade que me domina, tornando-me um animal... Eu
preciso ser o Ice.

Phillipa

Ele está aqui. Sinto sua presença, assim como todas as


noites desde o primeiro dia em que ele entrou no meu quarto
enquanto eu estava dormindo só para vigiar-me. Sempre em
completo silêncio, nunca dizendo nada a mim, apenas sentado na
minha poltrona, observando enquanto durmo.
— Sabe, não há necessidade de ficar no meu quarto,
Raphael — comento, sentando-me na cama e ligando as luzes que
ficam na minha cabeceira.
Encaro-o. Meu corpo treme ao ver o seu olhar. Ele está tão
sério, tão sombrio, que faz com que os pelinhos dos meus braços se
arrepiem. O Raphael que está no meu quarto neste exato momento
é um que eu não fazia ideia que existisse. Vazio. Essa é a palavra
certa para descrevê-lo.
— Volte a dormir, Phillipa — comanda ele.
— Não é tão fácil assim, Raphael. É estranho tê-lo no meu
quarto, observando-me enquanto durmo.
— Você dormiu nas últimas três noites. — Suspiro.
Puxo minha coberta para cima, cobrindo meu corpo. O
modo como ele está olhando-me... A frieza no seu olhar está
causando frio em mim.
— Dormi mesmo? — Faço a pergunta a ele.
Desde a primeira noite em que ele entrou no quarto, eu
tenho ficado acordada, esperando, não sei bem o que ou por quê.
Eu apenas espero algo, qualquer coisa, até mesmo um pequeno
suspiro. Mas nunca tive nada, pois ele apenas entra no meu quarto,
no meio da noite, e fica, até o sol nascer. Ele entra e sai em
completo silêncio.
— Não importa, Phillipa. Apenas durma, ou não, tanto faz,
só não tente puxar assunto. Não estou com a mínima vontade de
conversar hoje, não com você. — Solto um pequeno bufo.
— Nunca está com vontade de conversar, não é mesmo? —
desdenho.
— Phillipa... — rosna ele, em aviso.
— Tá, tá, tanto faz. — Desligo as luzes em volta da
cabeceira e volto a deitar-me na cama. — Tenha uma boa noite, ou
tanto faz, eu não me importo mesmo.
Babaca. Repito várias vezes na minha mente, mexendo-me
de um lado para o outro na cama. Soco meu travesseiro algumas
vezes. Ouço Raphael suspirar, e um pequeno sorriso se forma nos
meus lábios. Ele está irritado. Bom. Não sou o tipo de mulher que
desiste facilmente. Raphael e eu vamos ter uma conversa, ele
querendo ou não. Se não precisa disso, sinto muito por ele, mas eu
preciso. Faz parte do meu processo de cura, e eu quero me curar
mentalmente, visto que mereço ser feliz. Já sofri demais, já perdi
demais... Droga, eu tentei tirar minha própria vida! Então, sim, eu
mereço a tão sonhada felicidade.
— Raphael? — chamo-o, porém ele não responde. —
Raphael?
— O que é, Phillipa?
— Ele escapou, não foi?
— Sim, ele não estava no local.
Mordo meus lábios, sentindo-me frustrada. Era para essa
merda ter acabado há um ano.
— Não precisa ficar com medo, Marcus não a terá de novo.
Eu mesma não sei bem o que sinto sobre tudo isso, todavia
de uma coisa sei: não é medo.
— Eu não estou com medo — digo a ele.
No entanto não obtenho resposta, o que significa que nossa
pequena conversa — se é que posso chamar isso de conversa —
acabou.
É frustrante saber que Marcus ainda está lá fora, em
qualquer lugar, planejando algo, porém não sinto aquele medo de
antes. É lógico que não sinto paz, sabendo que ele ainda está vivo,
sabendo que ele foi capaz de pôr suas mãos sujas em mim.
Entretanto o que sinto é muito além do medo. Uma mistura de
emoções, mas acima de tudo, eu sinto raiva, uma raiva tão crua, tão
forte, que tudo o que eu mais quero é matar Marcus com minhas
próprias mãos. Eu quero fazer com ele exatamente tudo o que fez
comigo, se não pior.
Não faço ideia do momento em que pego no sono, porém
quando acordo, Raphael já se foi.

— Então, como será nosso treino, hoje? — pergunto a


Miguel, interrompendo sua conversa com Raphael.
Passo pelo mesmo, parando ao lado de Maddox, que está
com uma caneca de café nas mãos. Pego a caneca das mãos dele,
deixando-o confuso, e tomo um gole do seu café. Encosto-me da
bancada da cozinha. Um pequeno sorriso se forma nos meus lábios
ao reparar em quão tenso Raphael está. Tomo mais um gole do
café, depois entrego a caneca a Maddox.
— Olá? O treino de hoje? — digo, estalando os dedos.
— Hum... sobre isso... — Miguel começa a dizer, mas para,
olhando entre mim e Raphael.
— Sobre isso o quê? — pergunto, segurando-me para não
sorrir.
Miguel abre a boca para responder.
— Ireitreiná-la a partir de hoje. — Raphael diz primeiro que
Miguel.
— Ohh! — exclamo, como se fosse uma surpresa para mim.
Parece que Zoe ganhou a aposta. Três dias.
— Bem, na academia, em dez minutos? — interpelo a ele.
O tempo não está muito bom para treinar do lado de fora
hoje, então, como há uma pequena academia na casa, terá que ser
lá o treino.
— Encontrá-la-ei lá — diz ele, antes de retirar-se da
cozinha.
Raphael pega a caneca de Maddox e vira-a na pia, jogando
o café fora.
— Lave a caneca antes de voltar a usar.
Não consigo conter-me, acabo sorrindo.
— Você ainda vai causar um grande problema a nós —
aponta Miguel, assim que Raphael desaparece pela casa.
— Não faço ideia do que está falando — digo a ele,
pegando a própria caneca de café.
Olho para Miguel, dando um pequeno sorriso.
— Você tornou-se um grande problema com P maiúsculo —
acusa-me ele.
Solto um pequeno suspiro. Eu só quero que Raphael
converse comigo, precisamos deste passo. Eu deixei-o, fui embora
sem olhar para trás, sem o enfrentar, no entanto, sinto como se uma
grande parte de mim estivesse faltando. Não me arrependo de ter
ido embora, porém conversar com Raphael é algo que eu deveria
ter feito. Sei que pode ser tarde demais para termos essa conversa,
mas é o que precisamos. Não faço ideia do que será de nós
futuramente. Merda... Não sei nem o que será de mim, mas de uma
coisa eu tenho certeza: Raphael não fugirá. Ele pode até tentar, só
que eu continuarei aqui, esperando-o.
Termino meu café e vou direto para a academia, onde
encontro Raphael esperando por mim.
— Então, por onde começaremos? — pergunto.
Raphael olha-me, dando um pequeno sorrisinho. Semicerro
os olhos para ele, não gostando nem um pouco do sorriso que vejo.
— Por enquanto, vamos apenas aquecer — responde,
apontando para a esteira.
Ele está de brincadeira, né? Controlo minha línguapara não
acabar falando besteira. Não quero irritá-lo, não agora, tão cedo,
então eu apenas caminho até a esteira e começo a aquecer-me,
conforme ele mandou.
Não demora muito para eu saber que Raphael está de
zoação com a minha cara, porque logo após a esteira, ele mandou-
me para o saco de pancadas, e estou nele até agora. Meu treino
não é corpo a corpo, não. É com a porra de um saco de pancadas.
Foi assim que Raphael resolveu treinar-me. Pura vingança da parte
dele. Idiota.Mas não deixo com que minha frustração atrapalhe meu
empenho, pois meu treinamento não é por ele — bem, não
totalmente —, contudo sim por mim. Preciso sentir-me segura,
capaz de defender-me, ser mais confiante, e o treino está ajudando-
me. Não só com o físico,mas mentalmente também. Depois de tudo
o que passei, de toda a dor, da humilhação, a tristeza e a perda que
tive, treinar está aliviando todos esses sentimentos que às vezes me
consomem.
— Já chega por hoje. — Raphael diz, duas horas depois.
Abaixo meus braços, tirando as luvas e colocando-as no
pequeno armário, no canto da parede.
— Obrigada pelo treino — digo, virando-me para ficar de
frente para ele. — Vê-lo-ei mais tarde. — Dou a ele um tchauzinho
ao caminhar para a porta da academia.
— Não estarei aqui mais tarde. — Paro, juntamente com
minha mão na maçaneta da porta.
Ergo minha cabeça para olhá-lo. Céus! Olhar para ele tira
meu fôlego por uns instantes. O homem é pura tentação. Às vezes,
até perco os sentidos quando ele está por perto.
— Terei algumas lutas esta noite — responde à pergunta
não formulada na minha mente.
— Então, acho que o verei na luta.
Não espero por uma resposta dele, apenas saio da
academia, indo direto para o meu quarto. Preciso de um banho, e
logo em seguida, ligarei para as meninas. Temos uma noite de luta
para assistirmos.

Olho entre Miguel, Maddox e Christian, todos parados à


minha frente, olhando-me seriamente. Eles realmente estão falando
sério? Raphael realmente teve a cara de pau de dar-lhes essa
ordem? Será que ele não entende que não manda em mim?
— Oh, irmã! — Lori diz, dando a mim um pequeno
sorrisinho.
— Raphael está louco ao pensar que você ficaria aqui. —
Dimitria diz, balançando a cabeça.
— Está tentando protegê-la. — Zoe comenta, sorrindo.
— Não, ele está tornando-me uma prisioneira. E não aceito
isso, não voltei para ter um homem mandando em mim. — Levanto-
me do meu sofá e encaro meus seguranças. — Eu vou.
— Você não pode ir, Phillipa. — Miguel insiste.
Bufo, olhando para as meninas, que sorriem para mim. Volto
a encarar meus seguranças, cruzando os braços sobre o peito. Bato
o pé, sendo firme na minha decisão.
— Não venham com essa de eu não poder ir, Miguel. —
Aponto o dedo para ele. — Eu vou para essa luta, e acho melhor
não ficarem no meu caminho.
— A ordem foi mantê-la em casa, em segurança, Phillipa. —
Christian diz, e eu começo a rir.
Eu acho, só acho que eles tiveram amnésia, só pode,
porque pelo que eu lembre, a última vez em que me deixaram em
casa, “segura”,fui sequestrada e torturada. Manter-me em casa não
foi eficiente há um ano. Será que eles se lembram disso? Porque eu
não esqueci.
— Fala errada, rapazes. — Dimitria comenta, balançando a
cabeça.
— Foram as ordens — repete Christian.
— Fodam-se as ordens. — Minha voz se eleva um pouco.
— Há um ano, a ordem foi, também, ficar em casa, em segurança, e
vejam bem, não funcionou — desdenho.
Eles olham para mim, espantados com minha resposta.
Quase, quase sinto pena dos três.
— Então, será que podemos sair agora?
Capítulo Trinta e Três

— Acha que Raphael vai surtar ao vê-la aqui? — Angel


pergunta a mim, assim que adentramos a sala vipdo clube, onde a
luta irá acontecer.
— Sinceramente? — Olho para ela e dou de ombros. — Não
estou importando-me em como será a reação dele — respondo,
sendo sincera.
Não sou a mulher de um ano atrás, querendo a aprovação
das pessoas, querendo estar segura em um canto enquanto os
outros a protegem. Não sou, nem quero voltar a ser aquela mulher
de antes, querendo atenção, querendo que todos a aceitem.
— Você mudou. — Há um pequeno sorriso nos lábios de
Zoe quando ela faz o comentário.
Sorrio para ela.
— As circunstâncias fizeram com que eu mudasse, e
sinceramente? Estou muito bem comigo mesma agora.
É a mais pura verdade. Não que eu esteja cem por cento
bem, que tudo o que passei foi para o melhor e todos os blábláblás
que as pessoas dizem apenas para se conformarem com os
horrores: o que aconteceu comigo foi para o bem, para tornar-me
mais forte... e essas coisas ridículas. Realmente, o que vivi, todo
aquele horror fez com que eu mudasse, mas não vou dizer que foi
para o meu bem, ou um aprendizado, ou seja lá o que as pessoas
insistem em colocar na mente como uma desculpa. Não há
desculpa para o que aconteceu comigo, não há justificativa. Eu fui
abusada, torturada. Tudo o que passei mudou-me, porém foi minha
escolha mudar, tornar-me uma pessoa melhor, mais forte e decidida.
Não foi Marcus e sua crueldade que me tornaram assim. A decisão
foi minha, uma escolha que fiz de não permitir que a crueldade dele,
que sua sujeira se infiltrasse em mim, levando-me a ser uma mulher
frágil e delicada, uma pessoa quebrada. Com isso, não preciso da
atitude de Raphael e seu jeito totalmente errado de proteger-me, eu
mesma posso fazer isso por mim.
Pulo quando sinto a vibração do meu celular. Pego-o da
minha bolsa, lendo o nome de Ohana. Um sorriso se forma nos
meus lábios.
— Ei, garota — digo, ao atender à chamada de vídeo.
— Ahh... estamos loucas de saudade! — Ela diz.
Ao seu lado está Moana acenando e sorrindo para mim.
— Espero que não tenha se esquecido de nós! — diz
Moana.
— Nunca — digo a elas. — Como estão?
— Estamos bem, planejando fazer-lhe uma visita. — Ohana
mexe as sobrancelhas.
— Uma noite louca de meninas em Vegas. Isso seria
incrível! — Ao meu lado, Angel exclama.
— Ei, Angel, é bom ver você. — Ohana acena.
— Digo o mesmo, menina. — Angel sorri.
— Ei, tem eu também. — Dimitria aparece, tentando ver
Moana e Ohana.
— E eu. — Lori diz, sorrindo.
— Não se esqueçam de mim, tá bom? — Zoe me empurra
para poder encaixar-se na chamada.
— Wow, vejo que não está sozinha! — Moana diz, rindo.
— Não. Hoje, Raphael está lutando.
— Ele está aí? Quero ver como ele é! Coloca ele aí para
vermos. — Ohana começa a falar, sem parar.
Ela e Moana estão super-animadas com o fato de poderem
dar uma espiadinha em Raphael. Ao meu lado, as meninas
começam a rir.
— O quê? — Moana pergunta.
— Raphael não sabe que Phillipa está aqui para vê-lo lutar.
— Minha irmã diz, e eu mordo os lábios.
Moana estreita os olhos.
— O que está acontecendo, Phillipa? — pergunta Ohana,
olhando-me, com pura preocupação.
— É complicado — digo a elas, sentindo-me um pouco
estranha.
Não quero preocupá-las com o fato de Marcus estar vivo. Eu
apenas quero seguir em frente, sabe?
— O que é complicado? — Moana pergunta.
— Descobrimos que Marcus Esposito está vivo. — Lori diz,
mediante meu silêncio. — Raphael deu ordens aos seguranças de
Phillipa para manterem-na em casa, porém ela quis vir para ver a
luta, e é por isso que ele não sabe ainda que ela está aqui.
Moana e Ohana olham para mim. Há um sorriso formando-
se nos lábios das duas.
— Ah, sim! — Ohana exclama. — Quanto a Raphael querê-
la em casa:, ele é um idiota por achar que ela iria obedecê-lo. E já
quanto a Marcus: quer a nossa ajuda para encontrá-lo e matá-lo de
vez? — pergunta ela, fazendo-me rir.
Ohana é vegana e protetora da vida; já Moana, é ingênua
demais para ao menos pensar em ferir alguém. Para mim, é uma
surpresa ouvir essas palavras da sua boca. Porém, eu sei que por
mim elas lutariam contra Marcus.
— Não — digo a elas. — Não quero as duas na mira dele,
ele já feriu pessoas demais. Pode deixar, que dou conta. — Pisco
para elas.
— Sabemos que dá. — Moana diz, sorrindo. — Então,
deixando Marcus e Raphael de lado: estávamos pensando em
visitá-la antes do dia de Ação de Graças. O que acha?
— Ficaremos apenas quatro dias, mas acho que dá para
matar um pouco a saudade, e quem sabe, caçaremos Marcus. —
Ohana sorri.
Olho para Lori, ela acena para mim. Não é que eu precise
da aprovação dela para as minhas amigas virem visitar-me, contudo
é um momento delicado. Temos que estar atentos em todo o
momento, e precisarei de toda ajuda possível para manter minhas
amigas seguras e mostrar Vegas a elas.
— Iremos conversar com Caspen e Hector, e assim que
tivermos um plano, ligaremos para vocês. Pode ser? — Lori
pergunta a elas.
— Perfeito! Estaremos esperando. — Ohana bate palmas.
— Filme a luta e mande a nós, por favor. — Moana envia
beijos. — Amamos vocês. Ver-nos-emo em breve.
Despeço-me delas e desligo a chamada.
— Caspen enlouquecerá. — Lori comenta.
— Não — digo. — Raphael enlouquecerá.

Uma hora depois...

— Então, Zoe... o que irá querer de recompensa? —


pergunto, virando-me para ela.
A luta já começou, porém não é a vez de Raphael ainda,
então temos mais um pouco de tempo para conversar. Depois da
ligação de Moana e Ohana, resolvemos jantar e relaxar, apenas
observando algumas lutas, absorvendo a energia do lutar, da
multidão.
— Recompensa? — Zoe pergunta de volta.
Sorrio.
— Você ganhou a aposta — informo a ela, que solta um
grito animado.
— Então, Raphael resolveu treiná-la? — Lori questiona.
— Bem, a ideia que ele tem de treinamento é uma ofensa —
comento, fazendo beicinho.
— O que quer dizer? — Dimitria indaga.
— Primeiro, ele colocou-me em uma esteira; depois, em um
saco de pancadas. Esse foi meu treinamento — respondo, e todas
elas começam a rir. — Não é engraçado, eu queria um treinamento
corpo a corpo.
— É claro que queria — provoca-me Angel.
Cutuco-a com o cotovelo, ela mostra a língua para mim.
— Então, o que você quer? — pergunto a Zoe.
No mesmo instante em que faço a ela a pergunta, a porta da
área vipse abre, em seguida Dominic entra. Zoe suspira ao vê-lo. E
aqui está o que ela quer
.
— Você está aqui. — Dom diz, fazendo uma pequena careta
ao olhar para mim.
— Sim, eu estou aqui. — Dou um sorriso sem graça.
Ele suspira, passando as mãos pelos cabelos.
— Você nunca ouve, não é?
— Dom... — Dimitria diz, em tom de aviso.
— Não, está tudo bem — digo a ela, após me levanto indo
até Dominic. — Não preciso ouvir, Dom — desdenho. — Não vou
ficar em casa, como uma prisioneira, porque eu não sou uma.
Ninguém manda em mim, entendeu?
— Marcus está vivo — diz ele, olhando-me nos olhos.
— Sim, eu sei. Só que não tenho medo dele. Não mais. —
Dando a conversa como encerrada, volto a sentar-me. — Raphael é
o próximo. Estou aqui para vê-lo lutar. Até mais, Dominic —
dispenso-o.
Um ano não é o suficiente para curar todas as feridas,
memórias e os sentimentos que tenho sobre o que aconteceu, mas
para mim, foi o suficiente para querer mudar, seguir em frente,
deixar o que aconteceu para trás. Não que eu vá esquecer. Nunca
irei me esquecer de Marcus, da dor, da perda do meu bebê... da
perda da minha escolha naquela noite, de Jordan caindo morto ao
meu lado... Não há tempo para esquecer o horror daquelas horas
que passei nas mãos de Marcus Esposito, porém eu quero seguir
em frente. É algo que meu corpo almeja, que minha alma anseia.
Não esqueci o que aconteceu, só não quero estar presa àquilo.
O grito da multidão faz com que eu volte ao presente. Olho
para o ringue, onde Raphael acaba de entrar. Está explicado os
gritos das pessoas lá embaixo. Ele é uma força a ser reconhecida
quando está prestes a lutar. Neste momento, eu consigo ver o Ice.
— Não é o suficiente — digo a elas.
As três olham-me, sem entender o que quero dizer.
— O que não é o suficiente? — Lori pergunta.
— Ficar aqui — respondo.
Volto a olhar para baixo, onde a multidão está enlouquecida
por Raphael. Alé disso, a música tocando de fundo, toda a
emoção... É isso o que quero. Estar lá embaixo, em meio a todo
aquele vapor, gritar junto com as pessoas, sentir a vibração da
música, dos golpes, dos gritos... Sim, estar aqui, nesta sala fechada,
não é o suficiente.
— Nós vamos descer. — Bato palmas ao levantar-me do
sofá.
— Vamos lá! — Zoe sorri, animada.
Todas nós caminhamos para a porta, porém há nossos
seguranças, parados, encarando-nos.
— Onde pensam que vão? — Francis, segurança de
Dimitria, indaga.
— Phillipa... — Maddox diz, em tom de aviso.
— O quê? Nós queremos apenas assistir à luta lá embaixo,
junto com o pessoal. Aqui é sem graça. — Encolho os ombros.
— De jeito nenhum, porra! — Miguel exclama, olhando-me,
com pura irritação.
— Olha, eu entendo que está tentando proteger-me e que
recebe ordens de Raphael, Caspen e Hector. Porém, eu não sou
uma mulherzinha com medo, trancada na sua torre enquanto os
outros fazem tudo por ela. Estou segura e confiante. — Cruzo os
braços, olhando-o nos olhos.
Miguel passa as mãos pelos cabelos, em frustração. Sorrio,
sabendo que ele nos deixará passar.
— Certo. Espere um segundo, que irei organizar tudo — diz,
e eu sorrio, em vitória.
Cinco minutos depois, estamos em uma área na parte de
baixo, junto com a multidão. Bem, não tão junto assim, já que há um
pequeno cercado de seguranças à nossa volta... Mas quem se
importa? A energia aqui é totalmente diferente e tão eletrizante, que
chega a ser demais.
Pulo, animada com tudo. A luta à minha frente é
EXPLÊNDIDA. Raphael é tão bom, tão delicioso... Abano-me
mentalmente. Sorrio, sentindo-me envolvida com tudo à minha volta.
A multidão grita, e eu grito junto, torcendo por Raphael. Toda essa
adrenalina, o modo com que seu corpo se move pelo ringue, o jeito
com que ele olha para o seu adversário... Um predador. Raphael é o
predador que está pronto para matar sua pobre vítima. Os seus
músculos estão contraindo-se; e o suor, misturado com sangue.
Quente. Estou ficando completamente quente. Agora, posso
entender essa necessidade dele de lutar, de trancar a mente nesse
momento, esquecendo tudo à sua volta, todos os problemas, os
perigos... Eu o entendo agora, porque neste momento, não sinto
nada além de adrenalina. Não há Marcus aqui, não há a sombra do
meu passado, não há dor, nem a perda. Tudo o que sinto é a
eletricidade pulsando nas minhas veias, a pura e deliciosa euforia
que me domina, como uma droga. Uma única dose é o suficiente
para o viciar.
— Isso aí, acaba com ele, Ice! — grito, animada com tudo.
Raphael não me ouve, já que meu grito se mistura à
multidão.
— É incrível! — Zoe diz, rindo. — Nunca fui permitida a
estar assim, tão perto.
— Aproveita, então. — Pisco para ela.
Um sorrisinho se forma nos seus lábios. De relance, ela dá
uma olhada em Dominic.
— Ah, eu vou aproveitar...
Se Dom não prestar atenção, ele não vai saber por qual
direção será o tiro que Zoe dará nele.
Ice, Ice, Ice...!
, a multidão grita.
— Ice,Ice...!— grito junto com as pessoas, erguendo as
mãos.
Mais e mais, eu grito, fazendo com que minha voz se eleve
entre as pessoas, e é quando Raphael dá seu último soco no
adversário, fazendo-o cair no chão, como uma geleia.
— É isso aí, Ice! — grito.
Raphael se vira, com seu olhar travando no meu. Sem
aviso, ele pula por cima das cordas do ringue e caminha até mim.
Mexo-me desconfortavelmente no meu lugar. As meninas dão
risinhos, à minha volta. Quero virar-me e socar cada uma delas,
mas não tenho tempo, pois Raphael abre caminho em meio aos
seguranças e para bem à minha frente.
— Você! — rosna ele.
— Eu — digo, sorrindo.
Sem aviso, ele pega-me pelo braço, levando-me para longe,
não antes de olhar para Miguel.
— Você e eu, mais tarde — avisa ele.
Mordo os lábios ao olhar para Miguel.
— Foi mal. — Gesticulo a ele.
Raphael leva-me com ele, abrindo caminho pela multidão.
As pessoas nos olham, com bocas abertas e olhos arregalados.
Posso até ver o olhar de inveja de algumas garotas. Pelo que
parece, não chamei a atenção apenas de Raphael. Levando-me
para o andar de cima, ele abre a porta do escritório de Hector, que
está vazio — Graças aos deuses —, e bate a porta atrás de nós.
Soltando meu braço, se vira, então seu olhar gélido encara-me. A
Phillipa de um ano atrás sentir-se-ia retraída com esse olhar, porém
a mulher que sou apenas o encara, com a mesma intensidade.
Raphael pode pensar que com essa atitude dele, quem ele é agora,
assustar-me-á, mas está enganado. Nada mais me assusta além do
fato da solidão.
— O que está fazendo aqui? — pergunta, com os dentes
cerrados.
— Vim vê-lo lutar — respondo o óbvio.
Raphael passa as mãos pelos cabelos, em seguida as
desce para o queixo, dando uma pequena esfregada.
— Eu não mandei ficar em casa, em segurança?! — grita,
pegando-me de surpresa.
Olho para ele, erguendo uma sobrancelha. Juro, eu juro que
tento não falar nada, só que não consigo, minha boca não se
controla.
— Fique, sente-se, dê a patinha... — desdenho, rolando os
olhos. — Não sou um cachorro, para seguir ordens, Raphael. E ficar
em casa não funcionou muito da última vez, não está lembrado? —
pergunto a ele, que me olha como se quisesse enforcar-me.
Sorrio. Raphael pega-me pelos braços, colocando-me contra
a porta do escritório. Sua testa se encosta na minha. Prendo a
respiração nos poucos segundos em que sua pele toca a minha.
— Você está arriscando-se, Phillipa — sussurra, com a voz
rouca e cheia de emoções desconhecidas.
— Não estou com medo, não mais, Raphael. — Lambo
meus lábios, dando uma mordidinha no inferior.
O olhar dele recai para a minha boca. Respiro fundo. Eu
espero. Os segundos se transformam em minutos, nenhum dos dois
toma iniciativa... até que Raphael dá um passo para trás.
— Vá para casa, Phillipa...
Capítulo Trinta e Quatro

Raphael

— Vá para casa, Phillipa — digo a ela.


Caralho, eu quero beijá-la! Duro.
— Não. — Sua voz é clara e firme.
Estreito meus olhos para ela. Phillipa continua a encarar-me.
Seus ombros estão erguidos. Ela se encontra cheia de atitude.
Quero rir, mas apenas a olho. A mulher já tinha uma atitude, porém
agora está ainda mais firme nas suas decisões. Não há medo no
seu olhar. Pelo contrário. Tudo o que vejo é determinação. A mulher
que vejo neste momento ri na cara do perigo. Ao mesmo tempo que
acho incrível,acho arriscado, porque ela pode acabar colocando-se
em situações perigosas.
— Não? — repito sua palavra, e Phillipa sorri para mim.
— Não, eu não irei a lugar algum. Não para casa. Vim até
aqui para vê-lo lutar, e é o que pretendo fazer. — Cruza os braços,
olhando-me seriamente.
Essa mulher... essa mulher tira-me do sério! Ela não irá
mudar de ideia, e isso me irrita de uma tal maneira... Esfrego minha
barba e, por fim, dou um aceno.
— Tudo bem, vamos lá. — Pego-a pela mão e a levo de
volta para onde ela estava com os seguranças e as meninas.
No caminho de volta, a multidão para para observar.
Algumas mulheres tentam passar a mão pelo meu corpo, fazendo
sugestões bem quentes, porém não dou atenção a nada disso,
apenas observo Phillipa e sua reação, a atenção que estou tendo.
Um pequeno sorriso se forma nos meus lábios ao vê-la de cara feia,
dando olhares mortais às mulheres à nossa volta. Seu olhar se
encontra com o meu e ela estreita os olhos para mim.
— Não é cansativo? — pergunta.
Dou de ombros.
— Acostumei-me — respondo. — Chega um certo momento
em que apenas não dou atenção. — Ela bufa, dando um rolar de
olhos.
— Duvido muito — desdenha.
— Bem, não sou cego, Phillipa, e é claro que, no começo,
tudo era excitante. Eu estava cheio de raiva contida, então gostava
de toda essa atenção. Só que, com o tempo, meu foco passou a ser
apenas na luta. Não precisa acreditar em mim, mas é a verdade. —
Não sei o porquê de estar explicando-me a ela, entretanto apenas
faço.
— Uhum...
— Não preciso explicar-me a você. Foi você que me deixou
— comento, já com irritação.
Phillipa tenta soltar sua mão da minha, todavia intensifico
meu aperto. Ela está chateada e com ciúme, pelo visto. Issonão
significa que está livre de mim. É perigoso para ela estar aqui, em
meio a essa multidão. Não vou soltá-la para correr o risco de ela sair
correndo e algo acontecer. Phillipa ficará ao meu lado até
chegarmos na sua segurança.
Com o canto dos meus olhos, posso vê-la olhando-me, toda
irritada, mas finjo que não vejo. Apenas a levo para a segurança. Os
seguranças abrem caminho e eu entro na roda onde ela estava.
— Pronto, está entregue — digo, soltando minha mão da
sua, no mesmo instante em que a solto.
Ela fica rodeada por suas amigas. Viro-me de lado para
encarar Miguel, Maddox e Christian, seus seguranças.
— Ela não vai sair daqui, e ninguém irá entrar nesse círculo.
Estamos entendidos? — pergunto a eles.
— Sim, Senhor — dizem, ao mesmo tempo.
— E vocês... — digo aos outros seguranças. — Se algo
acontecer com qualquer uma delas, estarão mortos.
— Estamos bem, Raphael. — Phillipa entra na conversa em
que não foi chamada. — E eu estou pronta. — Ela levanta a blusa,
mostrando sua arma na cintura. — Se alguém entrar no nosso
caminho, eu irei agir.
Fico surpreso com a confiança que ela emana, porém
apenas olho para os seguranças que estão protegendo-as.
— Estamos de acordo? — pergunto a eles, ignorando
Phillipa.
Da última vez, também ela estava armada, mesmo assim,
foi levada. Não quero correr esse risco de novo. Porra, não era nem
para ela estar aqui! Iráfoder minha luta, porque tudo o que estará
na minha mente será Phillipa.
Os seguranças acenam com a cabeça.
— Raphael, que porra é essa!? — Dominic entra no nosso
círculo. — Está atrasando a luta, estamos perdendo dinheiro —
emenda, olhando-me, com irritação. — Eu sabia que sua volta só
daria problema — acrescenta, virando-se para encarar Phillipa, que
bufa para ele.
— Minha volta não trouxe nenhum problema, Dominic. —
Sua voz é de puro desprezo. — O único problema aqui é que não
fizeram o trabalho direito, por isso Marcus continua vivo. Esse é o
problema. — Cruza os braços, encarando-o.
Mordo meus lábios para não rir, porque ela tem razão. O
problema aqui é Marcus Esposito e Henry, o traidor, e não Phillipa e
sua volta à cidade.
Dominic dá um passo à frente. Tento entrar na sua mira,
porém Phillipa também se impõe, ficando cara a cara com Dom.
Eles se encaram por alguns minutos, minutos esses que são bem
tensos e cheios de palavras não ditas. Fecho minha mão em punho,
controlando-me para não entrar na frente dela e mandá-lo recuar,
mas quando estou prestes a interferir, Dominic abre um sorriso.
— Porra, já estava na hora — anuncia ele, pegando-nos de
surpresa, então puxa Phillipa para um abraço. — Você está pronta,
garota. Enfrentou-me sem medo. É assim que um Callahan se
comporta.
— Isso era a porra de um teste? — pergunto a ele.
Dom apenas dá de ombros.
— Vamos lá, cara, temos algumas lutas para ganhar. —
Dominic arrasta-me para fora do círculode segurança, levando-me
para o vestuário. — Prepare-se, você entra em alguns minutos —
diz ele, deixando-me sozinho.
Porra, não faço ideia do que fazer, porque tudo o que penso
é na segurança de Phillipa e no fato de Marcus Esposito estar vivo
por aí. Essa volta de ambos está deixando todos em conflito e
preocupados. Para piorar, não faço ideia do que fazer com ela,
porque não sei se podemos voltar ao que erámos, não sei como
consertar todas as merdas que fiz. Pela primeira vez na porra da
minha vida eu não sei o que fazer. Que caralho de confusão!

Phillipa

Suspiro, aliviada. Essa coisa entre mim e Dominic foi muito


tensa. Um teste. Dominic estava testando-me. Patético. Como se eu
precisasse da aprovação dele para alguma coisa. Até parece que eu
iria recuar com sua atitude. Uma coisa que ninguém sabe é que
passei por vários processos terapêuticos, e um deles me ajudou a
saber como devo agir em certas situações — conflitos. Também
pratiquei Autodefesa — não que eu irei contar para eles. Estou
gostando do meu treino agora com Raphael. Sorrio, pensando em
qual será a reação dele quando souber que sei muito bem me
defender. É claro que minha intenção é boa. Eu quero continuar
aprendendo, só aproveitei a oportunidade para fazer Raphael
aproximar-se. Precisamos fechar este capítulo das nossas vidas
para seguir em frente. Claro, temos que acabar com Marcus
também.
— Você está bem? — Minha irmã pergunta, sentando-se ao
meu lado.
Sorrio para ela.
— É claro.
— Aquilo com Dominic e Raphael foi bem...
— Intenso — comento.
— Quente. — Zoe diz, abanando-se.
— Sim, Raphael estava pronto para se jogar na sua frente e
defendê-la. — Angel sorri para mim.
— Foi desnecessário isso, sim. Dominic estava sendo um
completo idiota. — Dimitria diz, balançando a cabeça. — Se eu
fosse Raphael, teria dado um soco nele.
— Está tudo bem. Não me ofendi e soube lidar com ele —
digo a elas.
— Sim, você foi muito bem. — Acena Zoe, sorrindo.
— A luta vai começar. — Lori diz, acenando para frente.
A multidão vai à loucura quando Raphael sobe no ringue,
tendo seu olhar tão sério e concentrado... Ele dá um giro, parando
quando fica de frente para mim. Seu olhar se concentra em mim.
Meu corpo todo se esquenta, ao mesmo tempo que sinto aquele
latejar gostoso entre minhas pernas. Cruzo-as, tentando controlar
esse desejo que me invade tão de repente, deixando-me
necessitada. Raphael dá um pequeno sorrisinho. Mordo meus
lábios, tentando controlar o gemido que fica preso na minha
garganta. Faz muito, muito tempo que não sei o que é ser tocada,
amada por alguém — Não que eu estivesse disposta depois de tudo
o que aconteceu —, por ter um homem dando-me prazer. Calor
sobe pelo meu corpo, como uma corrente elétrica. Sinto-me
esquentar, minhas bochechas ardem. Balanço a cabeça, tentando
sair dessa névoa tentadora que é Raphael.
— Mulher, você está toda incomodada. — Angel dá um
pequeno empurrão em mim.
— Se um homem como Raphael estivesse olhando-me do
jeito que ele está olhando para ela, eu também estaria assim. —
Zoe diz, rindo.
— Não estão ajudando — digo a elas, que começam a rir.
Olho para Raphael, que ainda está encarando-me. Posso
abanar-me? Está tão calor aqui... Ele dá uma piscada para mim. À
nossa volta, todos suspiram. Eu estava tão concentrada nele e nas
meninas, que não tinha percebido que estão prestando atenção em
nós. É tão constrangedor.
A multidão grita, a luta começa e minha excitação aumenta
ao ver Raphael lutando. Tão, tão sexy...
– Ice, Ice...! — grito junto com as pessoas à minha volta.
À medida que o tempo passa, a luta fica ainda mais pesada.
Raphael leva alguns golpes, o que me deixa tensa. Levanto-me da
cadeira e pulo, gritando o apelido que ele recebeu. Ao meu lado,
Angel, Zoe, Lori e Dimitria também se levantam, gritando e torcendo
por Raphael.
— Ice, Ice, Ice! —
odas
T nós gritamos juntas.
É inexplicável a sensação que estou sentindo neste
momento. Como se o mundo todo se reduzisse apenas a isso, a
este momento. Como se todos à minha volta desaparecessem e
sobrasse apenas Raphael, eu e seu oponente. Sinto como se
estivesse em câmera lenta, como se tudo fosse mais devagar, mais
intenso, após, de repente, tudo voltasse: o som, os gritos, a euforia
do lugar... É tão surreal. Explicar não é o suficiente, precisa estar
aqui para sentir tudo isso. Totalmente viciante.
— Acaba com ele, Ice! — grito.
Raphal vira a cabeça levemente para olhar-me. Sorrio para
ele. Seu olhar se volta ao seu adversário. Ele dá seu golpe, e o
homem cai para trás, desmaiado. Grito, batendo palmas, animada.
Ele ganhou! Raphael ganhou essa rodada! Tudo o que quero é pular
no seu corpo suado com respingos de sangue, em seguida, montar
nele até eu ficar dolorida e não conseguir andar por um bom tempo.
— Está pensando em sexo. — Lori sussurra ao meu ouvido.
Olho para ela, abismada e sem reação.
— O quê? E-eu... — Balanço a cabeça, e ela ri.
— Oh, querida irmã, está em todo seu rosto, você quer
montar nele. — Mexe as sobrancelhas.
— Lori!
— O quê? É totalmente normal. Ver lutas deixa-me excitada
também. Acho que deixa todas as mulheres excitadas. Relaxa — diz
ela, rindo.
— Preciso transar. — Angel diz, do nada, e olho para ela,
que sorri. — É sério, essa luta toda e essa tensão sexual entre você
e Raphael... céus! Estou molhada entre as pernas, preciso transar.
Angel dá um giro de trezentos e sessenta graus, então seu
olhar para em Alex, segurança de Raphael, um atirador excelente.
— Ei, você. — Ela chama por ele.
Alex olha para ela, e posso ver o interesse, porém ele sabe
disfarçar muito bem, pois continua sério e com olhar firme.
— Quer transar? — Mordo meus lábios, tentando não rir.
Angel foi totalmente ao ponto, sem vergonha! Ela apenas
encontrou seu alvo e deu a flechada. Wow!
— Não. — Alex é curto e grosso na sua resposta.
Angel faz beicinho, mas dá de ombros.
— Tudo bem, posso encontrar um que queira uma rapidinha
— comenta, dando um pequeno sorriso.
O olhar de Alex escurece, porém ele continua demonstrando
indiferença. Interessante. Muito interessante esses dois.
Sinto Lori cutucar-me. Olho para ela, dando um pequeno
aceno, em reconhecimento. Parece que não fui a única a reparar
essa interação entre eles. Acho que até Zoe e Dimitria repararam.
Bem, até os seguranças, pois estão todos os observando.
— Uhum... — Miguel limpa a garganta.
Olho para ele.
— Precisamos voltar para a área vip— anuncia ele.
— Não, estamos aqui para ver as lutas — protesto.
— Não, Phillipa. — Miguel diz, sendo firme. — Trouxemos
vocês aqui para verem Raphael lutar. Ele lutou, ganhou, portanto
agora, vocês voltarão para onde estavam. E não tente rebater. —
Suspiro.
É claro que eu gostaria de continuar aqui, onde toda
emoção acontece, porém Miguel tem razão.
A formação é feita, e somos rodeadas por seguranças, que
abrem caminho pela multidão de pessoas eufóricas. Sabe aquela
expressão: estava bom demais para ser verdade? Então... foi
inesperado. A formação estava perfeita, mas de repente, as
pessoas à nossa volta ficam ainda mais agitadas. Estamos sendo
empurrados, e tudo é tão confuso.
— Que merda! — digo, quando sinto uma mão puxando-me
para longe.
Olho para a mão no meu braço, o qual puxo, tentando ser
solta, mas o aperto aumenta. Olho para a pessoa que tenta puxar-
me para longe e suspiro. Henry...
— Oh, não... — lamento.
— Cala a boca, vadia — rosna ele, puxando-me ainda mais,
fazendo com que meu corpo fique bem colado ao dele.
Olho em volta, procurando pelos meus seguranças, só que a
multidão está frenética, por isso não há como chegarem a mim.
Porra, não dá nem para eles me verem! Estou por mim mesma.
Sorrio.
— É melhor me soltar — aviso a ele, que ri.
Sinto algo pontudo na minha barriga. Olho para baixo, vendo
uma arma apontada para mim, com um silenciador. Ah, ele quer
jogar...
— É melhor fazer o que mando, ou atiro, aqui mesmo. —
Ergo uma sobrancelha para ele, em questionamento.
— Boa sorte, filho da puta — digo, agindo rápido.
Pego-o de surpresa: piso bem forte no seu pé e dou uma
cotovelada na sua costela. O idiota se curva, e eu pego a arma da
sua mão, apontando-a para ele.
— Quem vai atirar em quem, agora? — pergunto, sorrindo.
Henry olha para os lados, provavelmente tentando achar
uma rota de fuga, porém chuto suas bolas. Ele se curva novamente,
com dor, e eu puxo seu cabelo com a mão livre. Tiro o silenciador da
ponta da arma e atiro para cima, fazendo com que todos à minha
volta congelem.
— Saiam da porra da minha frente! — grito, irritada com
toda a merda dessa situação.
Seguranças me rodeiam, com armas em punho. Olho para
eles.
— Será que podem ajudar-me aqui? — pergunto a eles, que
apenas ficam parados, olhando para mim. — Olá, preciso de ajuda
aqui — repito, apontando com a cabeça para Henry.
Sorrio quando um segurança dá um passo à frente,
retirando Henry de mim.
— Obrigada. Vamos levá-lo até os outros. Irãogostar de vê-
lo — digo, sorrindo. — O que acha, Henry? Animado para ver os
Callahan’s?
— Vá se foder — cospe ele.
Reviro os olhos. Típico.Sempre as mesmas palavras. Será
que eles ensaiam para dizer sempre o mesmo repertório? À minha
volta, os seguranças do clube começam a tomar o controle da
multidão de pessoas, fazendo todos se acalmarem e voltarem para
a euforia das lutas.
— Acho que ele não está nem um pouco animado. O que
acha? — pergunto ao segurança que está com Henry.
— Se eu fosse um traidor, igual a ele, também não estaria
animado para os Callahan’s. — O segurança comenta, arrastando-o
com ele.
Mais dois seguranças aparecem para proteger-me. Não que
eu precise, mas sei que é necessário. Todos sabem que Marcus
está vivo e que ele é um perigo, tanto que enviou Henry para fazer o
trabalho sujo dele.
Subimos as escadas até o andar de cima e caminhamos até
a área vip. Assim que chegamos às grandes portas, eu ouço a voz
furiosa de Raphael:
— Onde, porra, está Phillipa!?
Capítulo Trinta e Cinco

Raphael

O caralho de uma confusão. Foi exatamente isso que


aconteceu. Não sabemos quem começou, nem o motivo. Tudo o
que sei é que Phillipa estava no meio de tudo. Porra, não era para
essa merda ter acontecido, não era para ela ter descido à área
comum! Ela não deveria nem estar aqui.
Subo as escadas, de dois em dois degraus, para chegar até
a área vipe checar com os próprios olhos que Phillipa está bem e
em segurança. Detesto essa sensação de que algo está errado, de
que tudo foi premeditado. Tudo estava bem, todos estavam seguros,
porém, de repete, a confusão aconteceu, as pessoas ficaram
loucas. Abro as portas da área vipe entro, batendo-as atrás de mim.
Olho para todos os lados. Zoe, Angel, Dimitria e Lori... Olho em
volta, tentando encontrar Phillipa, e é quando percebo que, além de
ela não estar aqui, os outros estão dando ordens e checando as
câmeras de segurança. Não, não, não... Porra, não...
— Raphael... — Miguel diz, com cuidado.
A porta se abre atrás de mim, e Dominic entra, olhando em
volta freneticamente. Ele só se acalma quando seu olhar se
encontra com o de Zoe.
— Que diabos está acontecendo? — Dominic pergunta.
— Não sabemos ainda. — Alex responde.
Meu corpo começa a tremer. Caminho até Miguel,
encurralando-o. Era para Phillipa estar em segurança. Não era para
ela ter vindo, muito menos assistido à luta na área comum. Eu dei
ordens, só que nenhuma delas foi seguida. Agora, não faço a
mínima ideia de onde Phillipa está. Minha mente se enche de
pensamentos indesejados. Encho-me de culpa, de pesar por saber
que ela pode estar correndo perigo, que Marcus possa tê-la. Eu só...
— Onde, porra, está Phillipa!? — grito, bem no seu rosto,
não dando a chance de ele recuar.
— Estou bem aqui, querido. E olha, trouxe um presente. —
Olho para trás, e ao vê-la, todo meu corpo relaxa.
— Porra! — Não me contenho e vou até ela, puxando-a para
os meus braços. — Você está bem, está segura — sussurro.
É estranho, mas lágrimas escorrem dos meus olhos. Enfio
minha cabeça no seu pescoço, abraçando-a bem apertado.
— Você está bem, você está bem... — repito mais e mais,
próximo ao seu pescoço.
Neste momento, não me importo com a audiência que
temos. Tudo o que importa é ela, o simples fato de estar bem, na
minha frente. Seguro-a contra o meu corpo, não querendo deixá-la
ir. Apenas continuo assegurando-me de que ela está bem.
— Raphael... — Phillipa sussurra, passando as mãos pelos
meus cabelos compridos.
Sua voz é pesada e cheia de sentimentos não ditos.
— Tudo culpa minha. Eu sempre falho ao não a proteger —
digo.
Sinto-me fraco neste momento e acabo caindo de joelhos
enquanto as lágrimas rolam pelo meu rosto, sem parar. Não consigo
controlá-las. Encosto minha cabeça em sua barriga, chorando pelo
nosso filho perdido, assim como por tudo o que aconteceu a ela e a
nós. Todas as emoções que guardei durante um ano, toda dor que
tranquei bem fundo, toda culpa e o ressentimento simplesmente
transbordam de mim, como uma queda d’águacarregando tudo o
que está no caminho. Meu corpo todo treme devido aos soluços que
o deixam. Sinto as mãos de Phillipa alisando minha cabeça,
reconfortando-me, e isso só piora a situação, porque era para ser ao
contrário. Era eu quem deveria estar com ela, reconfortando-a de
tudo o que lhe aconteceu, segurando-a nos meus braços e dizendo
que tudo ficará bem. Eu deveria estar ajudando-a a lutar contra seus
demônios, sendo o apoio que ela necessita, mas falhei.
— Sinto tanto... Eu falhei — sussurro, em meio aos soluços.
— Falhei com você, com nosso bebê, falhei com nós. Eu
simplesmente falhei, e sinto muito, muito. — Fungo.
— Está tudo bem, Raphael.
Porra, sua voz... Sua voz é tão calma, tão gentil... Issosó
me quebra ainda mais.
— Não está tudo bem, Phillipa. Não está vendo? — Ergo
minha cabeça, tentando olhá-la, em meio as lágrimas. — Eu prometi
protegê-la, prometi proteger nosso bebê, porém eu... porra, falhei
em minha promessa! Tudo o que aconteceu é culpa minha. Deixei-a
sozinha, então Marcus conseguiu colocar as mãos em você. Porra!
Por minha culpa, nosso bebê se foi. Ele se foi e você se foi. Nada
mais sobrou. — Balanço a cabeça, voltando a apoiar-me na sua
barriga.
Dói demais. É algo inexplicável o que estou sentindo.
Parece mais como se estivessem abrindo meu peito sem anestesia,
em seguida apertassem meu coração, puxando-o para fora de
mim... É difícil explicar, mas dói. Eu quero que toda essa dor vá
embora, entretanto sinto tanto, tanto medo, tanta culpa... E se eu
falhar de novo? Sou um Callahan. Fomos treinados para ser
implacáveis, sem medo, sem falha, sem ressentimento e sem culpa.
Porém quando se trata de Phillipa, eu sinto tudo.
Sinto Phillipa ajoelhar-se à minha frente. Sua testa se
encosta na minha, então ficamos durante alguns minutos em
completo silêncio, apenas um apoiando-se no outro. Sinto suas
mãos em cada lado do meu rosto. Ergo meu olhar. Pisco algumas
vezes, tentando dissipar as lágrimas. Encontro seu olhar. Phillipa
está chorando, assim como eu. Toco suas mãos.
— Sinto muito — sussurro, mais uma vez.
Ela balança a cabeça, mordendo os lábios. Deslizo minhas
mãos pelos seus braços e toco seu rosto. Com meu polegar, seco
as lágrimas que escorrem pelas suas bochechas.
— Eu sinto tanto, gatinha... — sussurro, e um soluço deixa
seus lábios.
Phillipa dá um pequeno sorriso para mim.
— Senti falta do “gatinha” — diz ela, olhando-me nos olhos.
— Você sempre será minha gatinha, Phillipa.
— Senti sua falta, Raphael. Eu senti muito a sua falta. — Ao
ouvir suas palavras, pego-a nos meus braços, segurando-a bem
apertado.
Sua cabeça se apoia no meu peito. Aliso seus cabelos,
beijando o topo da sua cabeça, sentindo o delicioso cheiro do seu
shampoo.
— Perdoe-me, gatinha.
É a única coisa que posso fazer, pois não há como mudar o
passado. Deus, como eu queria mudar tudo o que lhe aconteceu! Eu
queria nunca ter a deixado naquela noite, porque só assim ela
estaria segura, nos meus braços; e nosso bebê, vivo.
Phillipa levanta a cabeça, olhando para mim. Ela sorri, e...
caralho, se não é o sorriso mais sincero que já vi?
— Não há nada a ser perdoado, Raphael. Nós dois erramos
naquela noite. Porém nada do que aconteceu é culpa nossa. Não
podemos ficar culpando-nos por algo que estava fora do nosso
controle. Marcus queria-me, e ele faria de tudo para me ter, não
importa se você estivesse comigo ou não. — Balanço a cabeça para
ela.
— Eu poderia ter evitado. Eu deixei-a...
— Assim como eu deixei você. Nós dois carregamos culpa
que não é nossa. E se quer o meu perdão, terá que me perdoar por
ter o deixado.
— Gatinha... eu perdoei-a há muito tempo. Você fez o que
era melhor para você...
— Não, Raphael — corta-me. — Eu fui egoísta, não pensei
em você, e sinto muito por isso. Porém não me arrependo da minha
decisão de ter ido. — Tiro um fio de cabelo que está grudado nas
suas bochechas.
— Você fez o que achou certo. Estávamos muito
machucados, magoados com tudo o que aconteceu. Esse tempo
separados tornou-nos mais fortes e independentes.
Não foi fácil para mim quando ela se foi. Não foi fácil aceitar
o fato de ela ter me deixado, mas o que mais doeu foi o fato de eu
não ter podido desculpar-me. Ela ter ido embora só fez com que
minha culpa aumentasse, só que com o tempo, eu aceitei sua
partida. Apenas me tranquei, porque a culpa e o medo que eu sentia
eram tão grandes, que estava a ponto de quebrar-me. Então guardei
tudo, bem no fundo do peito, em um baú, e segui em frente,
tentando não pensar nos meus erros. Quando ela voltou, o baú
abriu-se, e todos aqueles sentimentos que eu tinha guardado por
um ano transbordaram em mim, após grudaram como cola.
— Sabe o que eu descobri durante esse tempo longe? —
pergunta ela, abrindo um grande sorriso em meio às lágrimas.
— O quê?
— Que eu amo você. Eu amo...
Não deixo que ela termine a frase: puxo-a para mim,
batendo minha boca na sua, que se abre, então aprofundo o beijo,
soltando um gemido. Sim, beijá-la faz com que eu gema, pois senti
falta dela: do seu toque, do sorriso e do nosso vai e volta. Porra,
beijá-la é como entrar no céu!
Suas mãos se emaranham nos meus cabelos. Aperto-a
contra o meu corpo. Minha língua entra na sua boca e eu beijo-a
com fervor, com pura paixão e desejo. Não há uma parte dela que
não tenha uma parte minha. Neste momento, somos um só, cheios
de fogo, da falta que sentíamos um do outro. Antes, nós erámos
tóxicos um para o outro. Sou homem o suficiente para saber que
erámos cheios de falhas. Mas agora, eu tasco o foda-separa o certo
e o errado. Nós somos quem somos, e merecemos um ao outro.
Phillipa é e sempre foi minha.
Ela solta um pequeno gemido frustrado quando corto o
nosso beijo, e eu sorrio.
— Ah! — Pula, como se acabasse de lembrar-se de algo. —
Eu trouxe algo para você! — exclama, animada.
Phillipa olha de um lado para o outro, estreitando os olhos.
Levanto-me, ficando ao seu lado.
— Onde estão todos? — pergunta ela.
Olho em volta, percebendo que estamos sozinhos.
— Acho que saíram enquanto estávamos no nosso
momento — digo.
— Ops...
Phillipa

Com o braço de Raphael em volta do meu corpo, saímosda


área vip, indo até o escritório principal de Hector, no clube. Um
pequeno sorriso se forma nos meus lábios. Ainda não consigo
acreditar que este momento é real, que estamos juntos. É claro que
temos ainda um longo caminho pela frente, mas o primeiro passo,
nós já demos, que é conversar, dizer o que estávamos sentindo. Foi
incrível. Esse pequeno momento com Raphael foi libertador para
mim. Nós dois estávamos precisando disso. Raphael precisava
ainda mais. Eu não tinha parado para pensar nele, no que ele
estava sentindo. Eu só pensava em mim, na minha dor, na minha
perda e em tudo o que foi feito a mim. Agora percebo que Raphael
sofreu junto comigo. Temos um longo caminho para seguir, e mal
posso esperar para o que está por vir — É claro, precisamos acabar
com Marcus primeiro.
— Pronta? — Raphael pergunta a mim, assim que paramos
de frente para a porta do escritório.
— Sempre. — Ele dá uma batida na porta antes de abri-la.
— Pensei que teria que ir buscá-los. — Dom diz, tão logo,
levando uma cotovelada de Dimitria. — Aí,o que eu fiz? — pergunta
ele, olhando para a irmã.
Sorrio para a interação deles e a leveza que sinto à minha
volta. Como se tudo começasse a encaixar-se, sabe?
— Era o momento deles, e ninguém iria interromper. —
Dimitria diz, olhando feio para Dom.
— Já que todos estão aqui... — Caspen começa a falar, ao
mesmo tempo que seu olhar passa pelo escritório.
Ao seu lado direito, está Carter; e à sua esquerda, Hector.
— Temos que falar sobre o fato de Phillipa ter trazido Henry
a nós.
Ao ouvir o nome de Henry, Raphael puxa-me ainda mais
para perto dele. Posso sentir a raiva emanando do seu corpo.
— Sim, gatinha. Será que pode contar a nós como essa
merda aconteceu? — Ele pergunta a mim, e olho para cima,
encontrando seu olhar.
Meu corpo treme. Passo a língua pelos meus lábios ao
senti-los secos tão de repente. Olho para o canto do escritório, onde
estão Miguel e Maddox, parados, com Henry amarrado aos seus
pés.
— Bem, a luta acabou, e nós estávamos indo para a área
vipquando houve a confusão que, parando bem para pensar, Henry
deve ter premeditado. Ele aproveitou uma pequena brecha no nosso
círculoseguro, agarrando-me e levando-me para longe, mas o plano
dele não deu muito certo — digo, sorrindo. — O erro de homens
como ele é subestimar uma mulher. Coitado... — Balanço a cabeça.
— Estávamos vendo os vídeos das câmeras. Parece que
você tinha tudo sob controle. — Hector diz, encarando-me, bem
sério.
Esses homens Callahan’s têm um jeito de olhar que deixa
qualquer um tremendo, ou de medo, ou de excitação. Porra, esses
homens sabem causar!
Dou de ombros.
— Fui muito bem treinada. — Olho para Raphael, dando-lhe
um sorriso.
— Bem até demais — observa Carter.
— O que posso dizer? Tenho bons professores — comento,
não querendo dizer sobre minhas aulas de Autodefesa como forma
de terapia quando eu estava no Havaí.
Carter olha-me atentamente. Seu olhar deixa-me
desconfortável, então me mexo nos braços de Raphael. Carter
avalia-me. Do nada, um pequeno sorriso se forma nos seus lábios.
— Além de Miguel, Maddox e Raphael, quem mais treinou-
a? — pergunta a mim.
Merda! Ele me pegou. Sinto o olhar de Raphael em mim,
perfurando minha cabeça. Ergo meu olhar, dando um pequeno
sorriso a ele.
— Mais duas pessoas. Era uma forma de terapia para eu
aprender a defender-me. — Raphael aperta-me.
Miguel e Maddox começam a rir, e os outros se juntam a
eles. É incrível que, mesmo com todos no limite, eles conseguem
relaxar por alguns segundos.
Não sinto que eu tenha enganado Raphael, eu só não contei
a ele que já treinava Autodefesa e que queria apenas continuar
treinando. Não menti em nada, só escondi um pequeno fato. Foi o
meu jeito de reaproximar-nos, meu jeito de fazê-lo falar comigo,
interagir comigo depois de tudo o que aconteceu. Não me
arrependo.
— Ela pegou-o nessa, primo. — Dominic diz, dando uma
piscadinha para mim.
— Sim. Iremosconversar mais tarde. — O tom de aviso de
Raphael faz meu corpo todo se arrepiar.
Há uma promessa na sua fala, e estou doida para saber o
que ele irá fazer.
— Voltando ao assunto — Caspen nos interrompe —: temos
que cuidar do nosso convidado especial. — Aponta para Henry.
Saio da segurança dos braços de Raphael e vou até onde
Henry está. Dou um leve chute nele. As coisas que vêm à minha
mente ao olhá-lo... tudo o que ele me fez... Eu o quero morto, mas
primeiro, quero que ele sofra, assim como eu sofri. Quero que
pague pelo que fez. Eu quero vingança. O erro dele foi ter voltado
para me pegar. Henry deveria ter fugido na primeira oportunidade
que teve, mas não, ele ficou com Marcus e veio atrás de mim.
Agora, irá pagar pelos seus pecados. Pecados esses que me
atormentam repetidamente, que tiraram minha paz por um tempo,
que me fizeram perder meu bebê. O que Henry, Marcus e seus
homens fizeram levou-me ao desespero de querer tirar minha vida.
Nunca vou esquecer. Issosempre estará no meu corpo, nas minhas
memórias e na perda do meu filho. Monstros como ele merecem
sofrer, merecem algo pior do que o inferno. Um pequeno sorriso se
forma nos meus lábios quando uma ideia do que fazer com ele se
forma na minha mente.
— Tenho uma ideia perfeita...
Capítulo Trinta e Seis

Raphael

Parado, com os braços cruzados sobre o peito, olho para a


ideia que Phillipa teve. Balanço a cabeça enquanto um sorriso se
forma nos meus lábios. Essa mulher vem surpreendendo-me a cada
dia. Quem teria imaginado que tudo isso foi ideia dela?
Henry está bem no meio da sala de tortura, com seu corpo
pendurado, mas ele não está em pé. Está deitado, suspenso no ar
por uma coleira no pescoço, a qual está presa a uma corrente no
teto. Há um cinto na sua cintura, o qual também está preso por uma
corrente no teto. Suas pernas estão levantadas e abertas, presas a
uma corrente com arame farpado, assim como seus pulsos. Phillipa
fez com ele o que fizeram com ela, só que pior. Phillipa foi presa a
uma mesa; já Henry, está pendurado, sem nada para apoiá-lo. Seu
corpo está nu, exposto à temperatura baixa da sala. Henry tenta
soltar-se, porém o arame se prende à sua pele, abrindo feridas e
fazendo-o sangrar. Seu corpo está tremendo. Mas não é apenas
isso: Phillipa teve também a ideia de colocar nos seus olhos esses
óculos de vídeo game que é em 3D. Ela conectou-os com um vídeo
pornográfico. Uma mistura de prazer com dor. Sem falar no fone de
ouvido que colocou nele, com sons de crianças pedindo socorro,
chorando e implorando. Algo que mexe totalmente com o
psicológico de uma pessoa. Fodido, eu sei. No começo, achei a
ideia estranha. Um monte de coisas misturadas, tudo sem sentido...
Mas agora percebo quão perfeito é. No começo, Henry ficou
excitado, só que depois, começou a gemer de outro modo, não sei o
porquê. Aí, do nada, pôs-se a chorar. Agora, seu corpo está uma
confusão. Ele se mexe desconfortavelmente, porém a cada mexida,
mais os arames entram na sua pele. Chega a ser até bonito de ver.
Parece uma obra de arte meio esquisita, daquelas obras que não
entendemos, mas que achamos bonita quando olhamos bem. Sim,
eu acho que é isso. Uma obra de arte com o corpo humano.
A porta da sala se abre. Viro minha cabeça. Dominic entra.
Seu olhar passa por Henry, depois, pela tela de TV que há na sala,
colocada ali para podermos ver exatamente o que ele está
assistindo pelos óculos 3D. Conseguimos também ouvir os gritos
que ele ouve pelo fone. Dominic assobia.
— Primo, lembre-me de não irritar sua mulher, porque isso...
isso aqui é um espetáculo! — Balança a cabeça.
Ele caminha, dando uma volta ao redor de Henry. Esfrega o
queixo. Um sorriso se forma na sua boca e ele pega um chicote, no
canto da sala, onde todos os aparelhos de tortura estão. Começa a
passá-lo pelo corpo de Henry, fazendo-o gritar.
— Ele está sensível, não é mesmo? — Dominic passa o
chicote por todo o corpo trêmulo homem, até chegar no seu pau,
que está ereto. — Nojento.
Dom coloca o chicote de volta no lugar.
— Como iremos fazer? — pergunta ele.
— Na verdade... — Phillipa diz, entrando na sala, com uma
câmera na mão e um pé para apoiá-la — o que eu irei fazer —
termina.
— Você vai filmar? — pergunta Dom.
Phillipa sorri, animada.
— Sim. Não é legal? — Dominic bufa, e eu apenas sorrio,
achando sua animação quente.
Porra! Tudo o que eu quero neste momento é colocá-la
sobre meus ombros e levá-la para o meu apartamento, em seguida,
jogá-la na minha cama e fodê-la sem sentido. Nós dois passarmos a
noite toda trancados no quarto... Tudo o que eu quero é perder-me
no seu corpo, nos seus gemidos, na curva do seu pescoço, e
principalmente entre suas pernas. Caralho, só de pensar, já fico
duro... Porém, eu sei que este momento é importante. Sei que não
está sendo tão fácil assim como minha gatinha está deixando
transparecer. Phillipa tornou-se uma pessoa muito mais forte do que
já era, e sinto um puta orgulho.
— Vou filmar tudo o que faremos com ele e distribuir por aí.
Quero que chegue até Marcus. — Seu olhar se torna distante, suas
pupilas dilatam. — Eu quero que veja o que está esperando por ele.
— Ela balança a cabeça, como se estivesse saindo de um transe, e
sorri.
— Tem certeza, gatinha?
— Sim, eu tenho certeza. Quero que Marcus sofra
antecipadamente, que ele fique louco quando vir as filmagens.
Quero que ele faça algo precipitado, impulsivo, que o faça vir até
nós sem planejamento. Eu quero que ele venha até mim. — Ela dá
aquela olhadinha maldosa de lado e um sorrisinho.
Pegando-a de surpresa, vou até ela, apanho-a pela nuca e
trago sua boca até a minha. Não me importo nem um pouco que
Dominic esteja por perto e que Henry esteja amarrado, sofrendo no
meio da sala. Eu a beijo como se não houvesse ninguém ao nosso
redor. Beijo-a com tanta intensidade, que ela se apoia em mim. Sua
boca se abre, permitindo a entrada da minha língua. Phillipa solta
um pequeno gemido quando mordo seus lábios.
— Oh, por favor, estou bem aqui. — Dominic diz, dando um
tapinha nas minhas costas.
Corto o beijo, virando meu rosto de lado para olhar a ele.
Um olhar, e Dom dá um passo para trás, erguendo as mãos.
— Não estou mais aqui, podem continuar — diz, recuando.
— Continuar o quê? — Suspiro quando Dimitria entra na
sala.
Atrás dela estão Lori, Caspen, Carter e Hector, assim como
Miguel, Maddox, Alex e mais dois seguranças.
— Nada — digo, não dando assunto.
Lori olha entre mim e Phillipa. Ela nos avalia de cima a
baixo, até que seu olhar para nos nossos rostos. Um pequeno
sorriso se forma nos seus lábios. Olho para Phillipa, observando-a
corar com o olhar avaliador de Lori.
— Ah, sim. Isso é comum na nossa família — comenta ela.
— O que é comum? — Carter pergunta, estreitando os
olhos.
— A excitação quando temos alguém para matar. — O olhar
de Lori vai para Caspen.
Ele dá a ela um pequeno sorriso de mais tarde. Rolo os
olhos. Porra, minha família é louca! Muito, porra, louca! Quem, em
sã consciência, fica excitado ao torturar alguém?
— Acho que estamos perdendo o foco. — Carter diz.
Ele caminha pela sala, assim como Dominic fez. Porém com
Carter é diferente. Ele avalia cada pequeno detalhe. O Ceifador se
faz presente neste momento, avaliando tudo: as correntes, os
arames farpados, o vídeo pornô que passa na tela de TV e os
óculos. Tudo passa pelo olhar avaliativo do assassino. Carter não
perde nada. Esfregando o queixo barbudo, ele olha para Phillipa.
— Tudo foi ideia sua?
— Foi, sim. Queria dar a ele a mesma hospitalidade que ele
me deu, porém eu queria ser mais criativa — responde ela, sorrindo.
— Assim, até no inferno ele se lembrará de mim.
— Interessante. — Carter diz. — Precisará de ajuda? — Ele
sorri ao fazer a pergunta. — Tenho algumas ideias também.
— Sim, isso vai ser perfeito. Acho que todos podem ter um
pouco dele, assim como todos os homens que estavam com ele
tiveram um pouco de mim. — Suas palavras me machucam
profundamente.
Só de pensar, relembrar tudo o que ela passou com Henry,
Marcus e seus homens, me encho de uma raiva, de uma
necessidade avassaladora por buscar vingança, por fazer Marcus e
Henry sofrerem mil vezes pior. A morte para os dois é pouquíssimo.
Eles merecem anos de sofrimento, de tortura, anos de uma solidão
que os deixaria loucos... Henry e Marcus não merecem uma morte
rápida.
— O que quer que façamos, primeiro, gatinha? — pergunto
a ela.
Todos a olham, com expectativa. Phillipa olha para Henry
por um tempo, pensando. Este é o seu momento. Estamos todos
aqui por ela, pelo apoio emocional e físico que ela terá quando
começar. Eu sei que, quando Phillipa der o primeiro passo, tudo o
que ela viveu nas mãos desse homem irá retornar com força na sua
mente. Se já não estiver lá.
— Por agora, nada — diz ela, olhando-nos.
— Nada? — repete Carter, surpreso com a resposta que
Phillipa dá.
Ela finge um bocejo.
— Sabe, eu estou cansada. O dia foi longo, e a noite foi
inesperada. Isso deu um sono, uma vontade de ir para casa e
dormir... — Esfrega o pescoço e boceja mais uma vez. — Acho que
ele pode passar o resto da noite e do dia assim, bem desse jeito.
Deixe os vídeos se repetirem; e o áudio, também. Deixe a
temperatura baixa, porém não baixa o suficiente para matá-lo.
Depois, voltaremos.
Sim, Phillipa sabe muito bem o que está fazendo. Para ela,
não basta apenas torturar fisicamente. Ela quer esgotar a mente de
Henry, deixá-lo emocionalmente frágil, para depois, quebrá-lo de
vez.
— Tudo bem, vamos deixá-lo assim por um tempo. —
Caspen concorda, dando um pequeno aceno.
Olha para Joel, seu segurança.
— Mande dois homens o vigiarem. Se ele desmaiar, joguem
água nele. Voltaremos mais tarde.
— Pode deixar, Chefe. — Joel acena.
— Vamos para casa, gatinha... — sussurro ao seu ouvido,
dando uma pequena mordida na sua orelha.
Todo corpo de Phillipa treme, sua pele toda se arrepia. Um
sorriso se forma nos meus lábios. Ela ergue a cabeça para olhar a
mim. Pisco para a minha gatinha, que solta um pequeno suspiro.

Phillipa

Doce senhora dos homens quentes e das mulheres


excitadas! A tensão que nos envolve dentro do carro, a caminho de
casa, é tão forte, tão cheio de promessas, de desejo, que me deixa
incomodada, necessitada não só entre as pernas, mas no meu
corpo todo. Respiro fundo, tentando controlar um pouco toda essa
euforia, mas não adianta. Neste exato momento, eu quero pular no
colo de Raphael e ter meu caminho com ele.
— Gatinha...
Sua voz... doce Senhor! Sua voz é tão sensual, que acabo
gemendo só de ouvi-la.
— Apenas dirija — digo a ele.
Seu riso ecoa por todo o carro, entrando na minha pele,
fazendo-me tremer. Fecho minhas pernas, sentindo sua risada
rouca lá embaixo. Céus! Issodeveria ser tão errado... Toda essa
sensualidade, esse poder que ele tem...
Assim que o carro para na garagem da minha casa, eu pulo
para fora, precisando de ar, de um momento para colocar tudo o que
sinto no lugar. Mas não adianta, nada adianta. Viro-me quando o
carro dos seguranças se posiciona ao lado do veículo em que
Raphael e eu viemos. Os seguranças saem, entrando na casa
primeiro, minutos depois, aparecem dando um okay. Não perdendo
tempo, Raphael pega minha mão, levando-me para dentro, direto ao
meu quarto.
— Porra, gatinha... — rosna ele, fechando a porta do quarto,
atrás de si.
Minha respiração está pesada no peito. A tensão que
nos rodeia é sufocante. Mordo meus lábios. Raphael para. Por um
momento, nos encaramos, sem desviar o olhar. É quando o calor
preenche meu corpo, juntamente com aquele friozinho no meu
estômago... O desejo, puro desejo. Raphael age junto comigo. Nós
nos encontramos no meio do caminho. Pulo à sua cintura,
encaixando minhas pernas nele. Nossas bocas batem juntas, e
desde então, é um emaranhado de mãos por todos os lados,
cabelos sendo puxados, gemidos... Um total frenesi.
Não faço ideia de onde termino e onde Raphael começa.
Somos um só neste momento. Lágrimas se formam nos meus olhos.
Eu senti tanta falta dele, dos nossos momentos loucos, das brigas e
implicações, do seu toque no meu corpo, da forma com que ele me
completa e sabe exatamente do que eu preciso...
Comigo ainda presa à sua cintura e sem parar o beijo,
Raphael nos leva até o banheiro. Abrindo o boxe de vidro, ele nos
coloca sob o chuveiro. Minhas costas encostam no ladrilho. Raphael
para de beijar-me. Cheia de desejo, observo-o tirando a camisa
suada e jogando-a no chão. Um pequeno gemido deixa meus lábios.
Passo minha mão pelo seu peito, sentindo cada mínimo músculo.
Desço minhas mãos até os gominhos do seu abdome, ao mesmo
tempo que lambo meus lábios. Raphael puxa minha blusa,
rasgando-a, o que deixa meus seios livres.
— Porra, eles são perfeitos pra caralho... — Suas mãos
preenchem-nos, então ele brinca com meus mamilos.
Minha cabeça encosta-se na parede. Céus, é muito bom
sentir seu toque! Sua boca desce para os meus seios. Ele chupa um
de cada vez, tomando seu tempo, lambendo-os e dando pequenas
mordidas. Aproveito o momento e começo a esfregar-me nele.
— Raphael... — sussurro.
— Eu sei, gatinha — diz, com a boca ainda nos meus seios.
— Faça-se vir — comanda, com sua voz rouca, cheia de desejo.
Com as costas apoiadas na parede do boxe, enquanto
Raphael instiga-me, brincando com meus seios, eu me esfrego nele,
sem vergonha nenhuma. A sensação é tão boa... Muito, muito boa,
tanto que me perco no momento. Aquela sensação tão deliciosa
crescendo em mim, como uma corrente elétrica, começando pelos
meus dedos dos pés e subindo até a cabeça, deixando-me toda
arrepiada... Seguro Raphael, com minhas unhas arranhado suas
costas enquanto eu desço no abismo, uma descida tão deliciosa...
Enquanto meu orgasmo toma meu corpo, Raphael continua
a chupar meus seios. Quando meus tremores passam, ele ergue a
cabeça, e logo um sorriso se forma nos seus lábios.
— Deliciosa. — Pisca para mim.
Colocando-me para baixo, Raphael tira sua calça, expondo
seu pau ereto apontando para mim. Ele ajoelha à minha frente,
abrindo o fecho da minha calça. Conforme a puxa para baixo, sua
boca deixa pequenos beijos molhados na minha pele. Um suspiro —
meio gemido — deixa minha boca. Seu olhar se ergue, encontrando
o meu. Passo as mãos pelos seus cabelos.
— Porra, gatinha... senti sua falta — rosna ele, tirando
minha calça junto com a calcinha, em seguida, jogando-as para fora
do boxe.
Raphael liga o chuveiro, deixando a água morna sair. Ele se
levanta, pegando a esponja e o sabonete, após, começa a lavar
meu corpo. Passa a esponja pelo meu corpo, começando pelo
pescoço. Com delicadeza, desce para os meus seios. Posiciona-se
atrás de mim, de modo que seu pau fica entre minhas penas; sua
boca, beijando minha nuca, fazendo-me arrepiar. A esponja desce
pelo meu corpo, até minha barriga. Prendo a respiração quando ele
a passa entre minhas pernas, porém é rápido.
— Não — resmungo, e ele ri.
— Tudo no seu tempo, gatinha — sussurra, mordendo
minha orelha.
Fecho meus olhos e aproveito. Raphael lava-me por inteira:
meus braços, minhas pernas... até que ajoelha à minha frente mais
uma vez.
— Abra as pernas, Phillipa. — Seu comando é tão forte, que
minhas pernas tremem, e eu imediatamente as abro para ele. — O
que precisa, gatinha?
— De você, por favor, Raphael — imploro.
— Seja mais clara, Phillipa. O que você quer?
Abaixo a cabeça, olhando nos seus olhos. Passo a língua
pelos meus lábios ao mesmo tempo que a água do chuveiro cai
entre nós dois.
— Preciso que enfie seus dedos na minha boceta enquanto
sua boca chupa meu clitóris.
Raphael sorri para mim.
— Segure-se em mim, porque eu vou levá-la ao melhor
passeio que já teve — diz ele, e eu sorrio.
Mas o sorriso morre quando sinto sua boca e seus dedos
em mim.
— Raphael! — grito. — Oh... oh... sim!
Céus! Seu toque, sua boca em mim... é tão gostoso. Rebolo
gostoso no seu rosto. Sua língua passa pelo meu clitóris enquanto
seus dedos me fodem. Seguro-o pelos cabelos ao mesmo tempo
que me esfrego nele, sem nenhuma vergonha. O que ele dá, eu
tomo, e não me importo nem um pouco em ter meu prazer.
— Não pare, porra! — grito.
Meus gemidos ecoam pelo banheiro. Tenho certeza de que
dá para me ouvir pela casa toda, mas não me importo. Porra, eu
não me importo nem um pouco! Este é o nosso momento, e vou
aproveitar o máximo que puder.
Puxo seus cabelos quando meu orgasmo me domina.
Raphael aperta meu ponto G, e eu vou à loucura, esguichando. Ele
se levanta, pegando-me nos seus braços, segurando-me enquanto
meu corpo todo treme.
— Tão gostosa, porra! — Beija meu ombro. — Perfeita.
Você é perfeita, gatinha.
Raphael coloca-me sentada no banquinho que há no boxe e
começa a lavar-se. Enquanto meus tremores passam, eu observo-o:
seu corpo, o modo com que seus braços flexionam... Olho para o
seu pau. Pegando-o desprevenido, ajoelho à sua frente, tomando
seu pau nas minhas mãos. Longo, grosso e duro. Pura perfeição. A
cabeça avermelhada e as veias sobressalentes... Olho para ele,
lambendo os lábios.
— Gatinha...
— Raphael...
Sua mão segura meu cabelo. Abaixo minha cabeça,
tomando seu pau à minha boca. Sem desviar meu olhar de Raphael,
eu começo a chupá-lo. Sua cabeça cai para trás e ele solta um
gemido tão sexy, que minha boceta se aperta. Sua mão puxa meu
cabelo e ele toma o controle.
— Bem assim, gatinha — rosna. — Porra, sua boca é o
paraíso...
Minha mão procura seu ponto G, entre suas bolas e seu
ânus. Começo a instiga-lo, passando meu dedo bem de leve.
— Caralho!
Com sua mão livre, ele bate na parede à sua frente. Sua
pélvis se mexe para frente e para trás, conforme minha boca sobe e
desce nele. Quando percebo que seu corpo se contrai, aperto seu
ponto G, e ele vai à loucura.
— Caralho! Caralho! — grita, tentando tirar seu pau da
minha boca, porém o seguro no lugar, tomando tudo dele.
Cada pequena gota.

Raphael

Essa mulher ainda vai matar-me. Puxo Phillipa para cima,


depois, tomo sua boca na minha, beijando-a. Ela sorri entre nosso
beijo.
— Vamos lavar-nos. Quero estar dentro de você — digo a
ela.
Meu pau logo começa a ficar ereto de novo só com o
pensamento de entrar na sua boceta.
Lavamos nosso corpo mais uma vez, mas agora, com
rapidez. Saindo do chuveiro, damos uma rápida secada. Jogo
nossas toalhas no chão e a pego no colo, fazendo-a gritar e rir ao
mesmo tempo.
— É aqui que eu quero você — falo, ao colocá-la na cama.
— Mulher, hoje você é minha, só minha. — Desço no seu corpo
enquanto suas pernas se abrem, deixando-me encaixar nela.
Meu pau esfrega-se na sua boceta, e posso sentir quão
molhada ela está.
— Raphael... Por favor.
Olhando nos seus olhos, entro nela, bem devagar, não
querendo machucá-la. Phillipa enrola sua perna em volta da minha
cintura. Juntos, começamos a mover-nos. Colocando minhas mãos
nas suas, eu as ergo por cima da sua cabeça, ao mesmo tempo que
a minha se abaixa. Beijo seu ombro e seu pescoço.
— Tão apertada... — sussurro para ela. — Tão molhada...
Sua boceta está apertando meu pau tão deliciosamente, gatinha.
Phillipa morde meu ombro, dando pequenos gemidos. Porra,
estar dentro dela é tão gostoso! Eu senti muita falta disto. Durante o
ano todo, tentei preencher o vazio que eu sentia com a falta dela,
mas nenhuma das mulheres com quem tentei ficar era ela, então
nada funcionava.
— Minha, minha e só minha.
— Apenas sua, Raphael.
Uma hora depois, estamos deitados no meio da cama. A
cabeça de Phillipa encontra-se apoiada no meu peito; sua perna
direita, sobre a minha; e sua mão, no meu peito. Já são quatro da
madrugada, entretanto estamos acordados, conversando.
— Está pronta para lidar com Henry mais tarde? —
pergunto.
Phillipa levanta a cabeça.
— Sim. Estava esperando por este momento não só com
ele, mas com Marcus também, mesmo pensando que ele tivesse
morrido. Quero ter meu momento com ele. — A escuridão que vejo
no seu olhar enquanto ela fala...
Sei que precisa disso para ser completamente livre.
— Estarei ao seu lado. — Beijo sua testa, e ela sorri.
— Eu sei que estará. — Beija meu peito, dando um sorriso.
— Temos que dormir.
— Estou sem sono — diz, bocejando.
Sorrio, dando um pequeno aperto no seu nariz.
— Posso ver quão sem sono está — brinco com ela, que ri.
Pego o controle do quarto, apagando as luzes, deixando
apenas a dos abajures, ao lado da cama.
— Descanse, gatinha.
— Boa noite, Raphael.
— Boa noite — digo, observando-a
Phillipa fecha os olhos. Em segundos, ela simplesmente
apaga. Espero por alguns minutos antes de levantar-me e verificar a
casa e os seguranças. Sabendo que tudo está tranquilo, pego meu
celular, ligando-o e conectando-a com a câmera da sala de tortura
da casa principal.
Henry está do mesmo jeito que deixamos. Issoé bom, muito
bom.
Dando-me por satisfeito, volto à cama, puxando Phillipa para
mais perto. Ela resmunga no seu sono, e não posso deixar de sorrir.
Tão fofa...
— Que os anjos lhe deem bons sonhos, gatinha.
Bônus

Marcus

Olho para o relógio da parede do maldito armazém em que


Henry e eu estamos escondidos. Já se passaram três horas desde
que ele saiu para ir ao clube, dar uma olhada e descobrir o que os
Callahan’s estão fazendo em relação a nós dois. Merda! Três horas,
e nada de ele voltar, nenhum sinal de que tudo esteja bem,
nenhuma ligação pelo celular descartável... Não estou gostando
nem um pouco do sentimento que tenho no momento. Andando de
um lado para outro neste local apertado, penso no que pode ter
acontecido para resultar na sua demora. Não é bom.
Uma batida, duas batidas e três batidas rápidas na porta de
ferro. Essas batidas são o nosso código, então do lado de fora pode
ser Henry, ou o menino de rua que contratamos para ficar de olho
em tudo. Antes de abrir a porta, pego minha arma, apontando-a
para frente caso alguém tenha descoberto não só nosso paradeiro,
mas nosso código. Abro-a e suspiro, vendo o menino do outro lado,
olhando de um lado para o outro. Ele entra no pequeno espeçado
que chamamos de casa.
— O que aconteceu? Tem notíciasde Henry? — pergunto a
ele, que olha para baixo, dando um aceno com a cabeça.
— Sim, Senhor.
— Diga-me, garoto. Não tenho o tempo todo! — grito,
ficando irritado.
— Henry foi até o clube e, lá, ele tentou pegar alguém,
porém foi pego pelos Callahan’s, Senhor. Eles estão com Henry.
Fecho os olhos, respirando fundo, tentando não me
descontrolar com toda essa situação. Aquele merdinha idiota! Nunca
faz nada certo, sempre tentando fazer o que não deve. Porra!!
— O vamos fazer, Senhor? — pergunta.
Essa é a grande pergunta de merda. Não faço a menor ideia
do que fazer, porque eu sei que Henry não irá voltar. A partir de
agora, estarei sozinho.
Capítulo Trinta e Sete

Phillipa

Acordo sentindo o peso do corpo de Raphael em cima de


mim, bem como sua respiração fazendo cócegas no meu pescoço.
Sorrio ao relembrar tudo o que fizemos na noite passada e durante
a madrugada. Levanto minha mão direita, passando-a sobre seus
cabelos.
— Bom dia, gatinha. — Sua voz rouca traz arrepios ao meu
corpo.
— Bom dia — resmungo, dando um pequeno bocejo. — Nós
realmente temos que levantar da cama? — pergunto a ele, que ri.
Tenho medo de quando levantarmos, de que toda esta
magia se desfaça. Sei que é bobeira da minha parte, mas não
consigo tirar essa sensação de que algo possa acontecer e estragar
tudo. É sempre assim que acontece comigo.
— Gatinha, olhe para mim — comanda Raphael.
Suspiro, virando meu olhar para encontrar com o seu.
— Está tudo bem, nós estamos bem. Nada vai acontecer —
diz ele, dando um pequeno beijo nos meus lábios.
— Eu sei... é só...
— Pare, Phillipa. Não fique pensando demais, minha
gatinha.
— Vou tentar, mas não posso prometer — digo a ele, que
acena com a cabeça.
Lambo meus lábios quando Raphael se levanta da cama,
em toda sua glória. Céus! Que corpo, que bunda e que pau! Meu
corpo todo se esquenta. Esfrego minhas pernas por debaixo das
cobertas. Eu o quero. Acho que nunca irei parar de querê-lo.
Raphael é todo esculpido. Todo o seu corpo, cada pequeno
detalhe... tudo me deixa desejosa. Mordo meus lábios, tentando
conter um gemido.
Parando na porta do banheiro, Raphael se vira para mim.
— Você vem ou não? — pergunta ele.
Sem esperar por mais um convite, pulo para fora da cama,
em seguida, no seu corpo. Ele ri.
— Sinto-me como uma presa agora — comento, rindo.
— Oh! Pode apostar que você é. — Sorrio para ele, levando
minha boca à sua.
Comigo nos seus braços, Raphael entra no banheiro,
batendo a porta atrás de nós.

— Tirem-me daqui, por favor! Por favor, me tirem daqui... —


Reviro os olhos ao ouvir os pedidos de socorro de Henry.
Totalmente patético. Como se fôssemos loucos... Bem, nós
somos loucos, mas não a ponto de soltá-lo depois de tudo o que fez.
Ele torturou-me, abusou de mim, e ainda teve a coragem de tentar
sequestrar-me uma segunda vez, entrando nos domínios dos
Callahan’s. Uma vergonha vê-lo implorar.
— Não é bom quando se está do outro lado, não é? —
pergunto a ele, sorrindo.
— Por favor, me deixe ir — pede.
Ergo uma sobrancelha. Sérioisso,produção? O cara é uma
figura mesmo. Ele quer ir embora logo agora, que estamos prestes a
começar. Logo na melhor parte. Estalo a língua, balançando a
cabeça.
— Olha, querido — Olho para Raphael —, o passarinho
quer sair da gaiola — desdenho.
Volto a olhar para Henry, que ainda está pendurado, do
mesmo jeito que o colocamos mais cedo. A única diferença é que
não está mais com os fones, nem com os óculos, porque eu quero
que veja o que será feito com ele, quero que tenha a mesma
experiência de merda que eu tive. Também mudamos a posição da
câmera. Colocamos-la em cima, pegando todo o corpo de Henry por
cima, assim, quando as filmagens chegarem a Marcus, ele verá tudo
o que está sendo feito, porém não verá nossos rostos.
Principalmente porque estamos todos de boné.
Estou motivada. Minto: eu estou muito motivada para fazê-lo
sofrer. Nunca fui esse tipo de pessoa, nunca me identifiquei com o
que os Callahan’s faziam, no entanto agora, eu identifico-me. Quero
que ele sofra, que ele sinta a dor que eu senti, eu quero vê-lo
humilhado, assim como eu fui. Quero esmagar toda a esperança e a
vida dos seus olhos. Eu o quero morto. Não seu corpo, mas sua
mente e a alma. Olhar para ele e não ver nada, apenas o fundo do
poço. Porque foi assim que eu me senti quando fui salva, quando
descobri que meu bebê estava morto, quando me olhei no espelho e
vi todas as marcas no meu corpo. Quero que Henry deseje a morte,
porém tudo o que ele terá será a angústia de uma vida de merda,
onde eu estarei em todos os seus pensamentos. Quebrá-lo a ponto
de não restar nada, só um corpo vazio. Porque por mais que eu
esteja melhor, por mais que eu esteja tratando-me para curar todas
as feridas da minha mente, ainda tenho um vazio dentro de mim que
nunca será preenchido, pois o que foi feito nunca será esquecido.
— Gatinha? — Balanço a cabeça, voltando para o presente.
— Oh, sinto muito — digo, sorrindo. — Estava apenas
pensando. — Passo meu dedo pelo corpo nu de Henry, fazendo-o
tremer.
Existe maldade dentro de cada um de nós. Hoje,
especialmente hoje, eu estou deixando a minha dominar-me.
Caminho até onde está a cabeça de Henry. Colocando
minha mão entre os seus cabelos, eu os puxo, virando seu rosto
para mim. Sorrio ao encontrar seu olhar em pânico. Viro seu rosto
para o outro lado e me abaixo, bem próxima à sua orelha, onde
encosto minha boca. Dou uma mordida nela, fazendo-o gritar de dor.
— Baby, hoje eu irei fodê-lo como nunca foi fodido na vida
— sussurro para ele. — Você nunca se esquecerá de mim, nem
quando descer ao inferno. — Solto seu cabelo, distanciando-me
dele.
— Está pronta? — Raphael pergunta a mim.
Não olho só para ele, como também para Carter, Dominic,
Dimitria, Lori e Caspen, que estão na grande sala, todos querendo
um pouco de Henry, e ainda para me apoiar, porque eu sei que não
deve ser fácil torturar e tirar a vida de uma pessoa. Estou pronta,
preparada para isso.
— Eu nasci pronta, querido. — Pisco para Raphael, que dá
um aceno com a cabeça.
Vou até uma parede da sala, olhando para as minhas
opções de objetos de tortura, pensando em qual devo escolher
primeiro. Um sorriso se abre em mim quando vejo dois aparelhos de
cócegas. Pegando-os, eu os coloco nos pés de Henry. Quero que
ele se debata, se contorça, assim como eu quando estava amarrada
sobre a mesa. Quero que os arames entrem ainda mais na sua pele,
infecionando, trazendo muita dor a ele.
— Tá brincando!? — exclama Carter.
Sorrio, porém não digo nada.
— Ela tem ao menos senso de humor — comenta Dominic.
Ligo os aparelhos. Henry começa a contorcer-se, e acontece
exatamente o que eu queria: os arames entram na sua pele,
fazendo-o sangrar, gritar.
— Pare, pare, por favor! — Ele grita.
Seus gritos são melodia para os meus ouvidos.
— O que você disse? — pergunto, colocando a mão na
orelha. — Não estou escutando-o. — Aumento a frequência do
aparelho.
Henry se contorce e grita ainda mais. Sangue escorre entre
seus pulsos e tornozelos, pigando no chão. Volto para a parede,
analisando o que mais posso usar contra ele. Quero algo criativo.
Oh, acho que issoiráservir, penso, ao ver uma caixa com agulhas.
Pego-a, mostrando-a para Raphael, que olha para a caixa e balança
a cabeça. Mexo minhas sobrancelhas.
— Demais, não é? — pergunto, rindo.
— Isso é...
— Deixe-a, Carter. Esse é o momento dela. Quando chegar
o seu, faça o que quiser. — Caspen diz, fazendo Carter calar-se.
Abro a caixa, pegando algumas agulhas. Vou até Henry,
parando ao lado da sua mão direita.
— Acho melhor parar de debater-se, baby, senão vai doer
mais — repito as mesmas palavras que ele tinha dito a mim. —
Apesar de que gosto quando imploram e pedem por favor. — Enfio
uma agulha por entre seu dedo e sua unha. — Implora,vai... —
Continuo a falar, à medida que enfio as agulhas.
Cada palavra minha é repetição das suas palavras, palavras
que ele dizia enquanto abusava de mim. Eu quero, preciso que ele
sinta tudo o que eu senti, porém quero que a dor comece de leve,
aos poucos, até chegar na mesma intensidade da minha.
— Como está sentindo-se? — pergunto a ele. — Estou
fazendo-o ir até a lua, não estou? Tá gostoso?
Sim,o filhoda puta vaisofrer nas minhasmãos. Colocando
todas as agulhas nos seus devidos lugares, volto para onde estão
os outros objetos. Olho atentamente a cada um deles, pensando no
que farei a seguir.
— Isso vai ser épico! — anuncio, pegando um pequeno
maçarico. — Olha, Henry. O que acha? — pergunto, mostrando o
maçarico nas minhas mãos. — Oh, nojento... — digo, ao vê-lo mijar-
se todo. — Eu mal comecei, e já está mijando-se? Patético.
Coloco o maçarico nos seus dedos, nas pontas das agulhas,
e o ligo, deixando-as esquentarem. Henry grita de dor, e para mim, é
gratificante. Tão bom, que me deixa excitada.
— Esquenta, né? — Sorrio. — Está molhadinho para mim?
Seu corpo está quente, desejando-me? — pergunto a ele, rindo.
— Para, para, para! — Ele grita.
— Issomesmo, grita, igual à puta que você é. Grita, deixe
todos escutarem seu grito! — grito ainda mais alto do que ele,
balançando a cabeça enquanto rio.
Não faço ideia de quanto tempo fico nessa, esquentando as
agulhas enfiadas nos seus dedos. Eu apenas me perco no que faço,
nos seus gritos, no modo com que ele implora por ajuda e perdão,
como se fosse assim, tão fácil. Homens como ele não merecem ser
perdoados. Henry nunca terá o meu perdão, assim como Marcus.
— Vamos intensificar. O que acha? — Passo as mãos pelos
seus cabelos. — Carter, tem algo em mente? — pergunto, olhando a
ele, que sorri para mim.
— Eu tenho muito em mente — responde.
— Bom, vamos lá — digo a ele.
Observo enquanto Carter vai até a mesa, próximo à parede,
e tira algumas seringas do bolso, colocando-as sobre a mesa.
— Issoaqui é ácido. Uma misturinha minha que vai fazer
doer. — Ele olha para Henry, que começa a chorar.
Seu corpo começa a tremer, é bonito de ver. O medo no seu
olhar, as lágrimas, o sangue no seu corpo, a dor em todo o seu
rosto... Um espetáculo.
— Eu injeto em algumas partes; e você, em outras. —
Carter diz, e eu aceno para ele. — Vamos lá. Vamos fazê-lo gritar; e
sua pele, corroer-se.
Carter se posiciona ao lado esquerdo de Henry, e eu fico do
lado direito.
— Grita, cadela, grita — digo a Henry, quando enfio a
agulha, apertando a ponta da seringa no seu corpo.
O chiado da pele corroendo-se se mistura com seus gritos.
Sinto o cheiro... O cheiro de sangue e suor. Fecho os olhos,
deixando as sensações que sinto passarem pelo meu corpo, como
uma corrente elétrica. A cada grito de Henry, uma lembrança do que
ele fez se vai, some da minha mente. A cada dor que o faço sentir,
eu me liberto das sombras que ainda carrego daquele dia, sinto
alívio. Realmente não é fácil, porque eu faço exatamente com ele
tudo o que fez a mim, e um pouco mais. Eu faço-o gritar de dor e
prazer. Eu o deixo sangrando por todos os buracos existentes do
seu corpo. Seu ânus fica todo rasgado, machucado, sem falar do
ácido que coloco também ali, além do seu pênis... Ah, sim, coloco
uma capa peniana que vibra, um lubrificante, ligo no máximo e
deixo. Deixo até que ele desmaie por não aguentar mais. Depois,
injeto ácido também no seu pênis, fazendo-o corroer a ponto de não
ter mais nada. Marco cada parte do seu corpo, assim como o meu
foi marcado. Dou a ele toda a dor que eu tive, porém não estou
satisfeita. Eu quero mais, muito mais.
— Por hoje, é só — digo, sorrindo.
— Por hoje? — Caspen pergunta.
— É claro. Ele ainda não está morto. — Sorrio.
— Céus! — Dom balança a cabeça.
— Não, ele, com toda certeza, não irá para o céu. — Rio da
própria piada sem graça.
— O que quer que façamos com ele? — Caspen pergunta a
mim.
Suspiro ao olhar o corpo desmaiado de Henry, pendurado.
— Cuide dele e das suas feridas. Voltarei daqui a três dias,
e vamos recomeçar. Faremos isso até ele não aguentar mais e
morrer.
— Agora sim está falando a minha língua.— Carter sorri. —
Vamos divertir-nos.
— Isso aí! — Sorrio para ele. — Bate aqui — peço,
levantando a mão.
— Não. — Carter diz, e eu faço beicinho.
— Sem graça — comento, e ele apenas suspira.
Dou de ombros.
— Estou com fome — digo, esfregando minha barriga.
— Eu poderia comer agora. — Dimitria comenta.
Minha irmã sorri, lambendo os lábios.
— Sim, também estou com fome. — Ela diz, dando uma
piscadinha para mim.
— Vamos lá, vamos alimentá-la, gatinha. — E com isso,
Henry é assunto morto por hoje.

Raphael– Duas horas depois...

— Bem, Phillipa encaixou-se perfeitamente na família. —


Dominic diz, rindo. — Ela tem o espíritoCallahan nela. — Balanço a
cabeça.
— Espírito Callahan? — pergunto, achando engraçado.
Essa é nova. Estamos caminhando ao escritório de Hector
para conversamos sobre a segurança a mais que teremos quando
as amigas de Phillipa vierem visitá-la. Neste momento, minha
gatinha está descansando, em casa. Depois de tudo o que ela fez
com Henry, parece esgotada, tanto fisicamente, quanto
mentalmente, então a deixei na cama após o banho que dei nela.
Seu corpo estava suado e cheio de respingos de sangue.
— Sim, ela Phillipa tem esse lado frio para vingança. Ela foi
muito bem torturando Henry — comenta.
Suspiro. Sim, ela foi bem até demais, porém isso me
preocupa um pouco. O abuso que Phillipa sofreu foi tão forte, tão
devastador, que sugou todo aquele brilho de felicidade e esperança
dos seus olhos. A mulher que eu vejo ao olhar para ela é tão
diferente da mulher de antes... Não que eu esteja reclamando, é
apenas que me sinto triste com essa mudança, triste por ela. Minha
gatinha nunca mais será a mesma, e sinto-me culpado por tudo o
que ela passou.
— Pego-me imaginando o que ela fará com Marcus.
Merda! Eu não tinha parado para pensar sobre isso ainda.
Porém, a ideia de vê-la causando dor a Marcus da mesma forma
que ele causou dor a ela faz-me sorrir. Tenho certeza de que Phillipa
tem algo muito bom em mente, e não consigo não me orgulhar dela
por isso.
Entrando no escritório de Hector, sento defronte para ele e
Caspen. Dominic se senta ao meu lado, e Carter está no canto do
escritório, em pé, com os braços cruzados. Seu olhar é de puro
tédio.
— Temos que discutir sobre as duas amigas de Phillipa que
virão para uma visita. Precisamos planejar a segurança delas
enquanto estiverem aqui. — Hector diz, olhando para mim. —
Raphael, você é o responsável para formar a segurança e escolher
os homens.
Aceno para ele, de acordo. As duas amigas de Phillipa
escolheram uma péssima hora para virem visitá-la. Toda essa
merda acontecendo, e agora, teremos que nos preocupar com mais
duas pessoas desconhecidas. Entretanto, eu não podia dizer não à
visita delas, pois elas estavam ao lado de Phillipa durante um ano
inteiro, então tudo o que tenho que fazer é recebê-las e cuidar delas
enquanto estiverem por aqui. Uhuu...
— O que elas sabem sobre nós? — pergunta Hector,
olhando para mim.
— Tudo. Elas sabem tudo sobre nós. — Caspen quem
responde a ele. — Tive uma conversa com elas quando levei Lori
para visitar Phillipa. Elas estavam no apartamento. Bem, elas já
sabiam sobre nós. Todos que assistem aos noticiários sabem quem
somos e a fama que temos, então, apenas conversei com elas. —
Dá de ombros.
— Você não apenas conversou com elas, Caspen, você deu
um aviso, isso, sim. — Caspen sorri com as palavras de Carter.
— O importante é que elas me ouviram — diz ele. — Então,
está tudo certo para a visita delas. Raphael, agora é com você, elas
são suas. — Caspen sorri para mim.
Rolo os olhos. Que Deus me ajude e que tudo ocorra bem
durante a passagem delas por aqui.
— O que faremos com Henry? — Dominic pergunta.
— Nada. Ele é de Phillipa e ela decidirá quando ele deve
morrer. — Caspen diz, dando de ombros.
— Precisamos perguntar a ele sobre o esconderijo de
Marcus. — Entro no assunto.
— Será em vão. Marcus já deve estar bem longe do lugar.
Ele já deve saber que temos Henry. — Carter se pronuncia. — Será
perca de tempo ir atrás dele em um lugar que estará vazio.
— Foi por isso que não fiz questão de perguntar a ele sobre
o local. E Henry também não iria dizer. Ele sabe que vai morrer, e
morrerá protegendo Marcus. — Caspen comenta.
— Marcus irá aparecer. — Hector fala, dando um sorrisinho.
— Sim, ele irá — concordo com ele. — O problema é o que
ele irá fazer quando der as caras.
— Caralho! — Carter exclama, com irritação.
— Põe caralho nisso.
Capítulo Trinta e Oito

Phillipa – Dez dias depois...

Sabe aquela expressão: “vivendo nas nuvens”? Então, estou


literalmente vivendo nas nuvens com Raphael nesses últimos dias.
Se não fosse o problema chamado Marcus pairando sobre nossas
cabeças, eu diria que tudo está perfeito. Porém chegaremos lá, pois
tudo o que importa para mim neste momento é meu relacionamento
com Raphael.
Sim! Finalmente estamos juntos. É claro que ainda
carregamos toda a bagagem do passado, entretanto, tenho certeza
de que conseguiremos seguir adiante. Estamos juntos agora, é tudo
o que importa. O resto, iremos resolver juntos. Temos uma vida
inteira pela frente.
Estou tão animada, que parece que irei explodir! Raphael
tem sido tão maravilhoso, que até parece ser outra pessoa. Sei que
tudo o que está fazendo é para compensar todos esses anos em
que foi um completo imbecil comigo. Ele parece um homem
diferente. Todavia, percebo que há momentos em que se perde nos
próprios pensamentos, e toda vez que Marcus é mencionado, eu
vejo culpa no seu olhar. Por mais que eu tente dizer a ele que não é
culpa dele tudo o que passei nas mãos de Marcus, Raphael ainda
não aceitou bem esse fato, e acho que demorará um pouco para
parar de culpar-se. Há certos acontecimentos nas nossas vidas que
não temos como impedir que aconteçam.
Todos os dias, nesses últimos dez dias, Raphael acorda-me
com café da manhã na cama e, depois de uns amassos, me leva
para a sala de treino. Não, eu não parei com meus treinamentos.
Quero estar pronta para o que vier, pois sei muito bem que não é
apenas Marcus. Estar com um Callahan significa que haverá
pessoas à minha volta tentando derrubar-me, então quero estar
pronta, preparada para quem quiser e ousar tentar entrar de frente
com Caspen Callahan e sua família. Eu sou parte da família. Sorrio,
sentindo-me leve. Deus! Fazia tempo que eu não sentia essa leveza
em mim, essa tranquilidade tão relaxante. Balanço meu corpo de um
lado para o outro ao som de ThisIsWhat You Came For, de Calvin
Harris com Rihanna, enquanto me arrumo para o meu encontro com
Raphael. Isso mesmo! Esta noite, ele estará levando-me a um
restaurante para termos um encontro. Nas palavras dele: “teremoso
melhor encontro de todos os tempos”. Só não sei o que isso
significa. O que é o melhor encontro para um homem? Podem haver
tantas possibilidades... Até perguntei para Raphael o que ele tem
em mente, porém tudo o que ele disse foi: é surpresa. Tudo o que
fiz foi revirar os olhos com sua resposta. É surpresa. Grande coisa.
Isso não diz nada a mim.
Como devo vestir-me? Sexy sem ser vulgar, ou mais
conservada? Saltos ou algo mais confortável? Além do cabelo e da
maquiagem... Ainda estou só de calcinha e sutiã.
— Mantenha a calma, Phillipa — digo a mim, ao me olhar no
espelho. — Apenas mantenha a calma, que tudo vai dar certo. —
Suspiro.
Como se isso fosse possível. Meu Deus! Este será meu
primeiro encontro real com Raphael, portanto quero estar
apresentável. Não sabendo mais o que fazer e a ponto de ter um
surto, sento-me na cama, pegando meu celular, e ligo para a minha
irmã, Lori.
— Ei, vadia. Não era para estar arrumando-se para um
encontro? — diz, ao atender, e eu suspiro. — Phillipa, qual é o
problema? — pergunta, preocupada.
— Não sei o que vestir — digo a ela, em completo
desespero.
Lori começa a rir.
— Não é nada engraçado, Lori — digo, irritada. — Estou
desesperada. Este será o nosso encontro oficial, e não sei o que
vestir, não faço ideia de onde ele estará levando-me. Como vou me
preparar!? — Minha voz acaba se elevando um pouco.
— Meu Deus! Você realmente está pirando.
— Sim, Lori, eu estou pirando! — Lágrimas se formam nos
meus olhos.
Doce Senhor, não faço ideia do que está acontecendo
comigo neste momento... Estou perdendo a cabeça. Não, não,
também estou perdendo a noção, os sentidos... Este encontro está
deixando-me louca. Passo minha mão livre pelo rosto, secando-o
das lágrimas monstruosas que escorrem.
— Ei, ei, vai dar tudo certo. Não precisa desesperar-se.
Apenas respire fundo e se acalme, okay? — diz Lori, do outro lado.
Fecho meus olhos e respiro fundo, depois, solto o ar, bem
devagar, tentando relaxar meu corpo.
— Certo — falo. — Mas, Lori? Raphael disse que este será
o melhor encontro de todos os tempos. Entende o porquê da
piração? — Ela resmunga algo.
— Tudo bem. Aguente aí, mandarei ajuda. — Com isso,
desliga, deixando-me ainda mais louca.
Olho para o meu celular, sem reação. Ela apenas deligou.
Na minha CARA! Mandando ajuda! Mandando ajuda! Só isso e puf,
desligou, ainda mandou eu aguentar... Não depois dessa. Levanto-
me da cama e começo a andar de lado para o outro, pensando na
ajuda que Lori mandará. Será que ela virá até aqui para me ajudar?
Mas isso custaria tempo, tempo esse que não tenho! Tiro a mão da
boca quando percebo que estou prestes a roer as unhas. Suspiro.
Se a ajuda de Lori não aparecer logo, eu acho que terei um surto.
Nem mesmo sei o motivo de eu estar assim, mas parece que há
sempre uma primeira vez para tudo.
— Phillipa, gatinha...
Oh, não, não..., penso, quando ouço a batida de Raphael do
outro lado da porta do meu quarto. O que ele está fazendo aqui?
— Abra a porta, gatinha — pede ele.
— Raphael, estou arrumando-me. Não quero que me veja
ainda.
— Abra a porta. Lori mandou-me. — Fecho meus olhos.
Aquela vaca, filha de uma mãe...
— Está tudo bem, eu já sei o que fazer.
Não quero abrir a porta. Não para ele, não no estado em
que me encontro. Lori, juro que vou te matar
, mentalizo.
Ouço o pequeno suspiro de Raphael do outro lado, e em
instante, ele entra no quarto, parando bem à minha frente.
— O quê?? Como?? — pergunto.
Ele apenas sorri para mim. Merda. Tinha me esquecido da
chave reserva que ele tem.
— Gatinha... — diz, dando passos para frente.
— Raphael...
— Soube que está perdendo a cabeça. — Dá um sorrisinho.
Oh! Esse sorrisinho...céus! Eu quero montar nele agora
mesmo! Sua presença é tão forte no meu quarto, que quero pular
nele e ter meu caminho malvado pelo seu corpo. Seu olhar passa
por mim, parando no meu rosto. Lambo os lábios. Seu olhar segue
minha língua.
— Caralho! — Seu braço se encaixa em volta da minha
cintura e ele puxa meu corpo, trazendo-me para mais perto.
Olhamo-nos por míseros segundos. Sua boca desce à
minha, ao mesmo momento que fico na ponta dos pés para beijá-lo.
Nossas bocas batem juntas em um beijo de tirar o fôlego, tão
faminto, tão cheio de necessidade um do outro... Abro minha boca,
deixando-o entrar, então nossas línguasse enrolam. Ele chupa meu
lábio, e um pequeno gemido sai de mim. Sinto a umidade entre
minhas pernas. Tudo o que quero é enrolar-me nele. Raphael vira
meu corpo, fazendo minhas costas baterem na porta. Enrolo minhas
mãos em sua nuca e seus cabelos, segurando-me nele enquanto
nos beijamos, sem nenhuma pressa. Neste momento, há apenas
nós dois, perdidos na nossa bolha.
— Raphael... — resmungo, em protesto, quando ele corta o
beijo, encostando sua testa na minha.
— Está mais calma agora? — pergunta.
Tudo o que consigo fazer é suspirar. Ele ri, dando um beijo
na minha testa.
— É importante para mim — confesso, em um pequeno
sussurro.
— É um encontro, gatinha. — Aceno.
— Eu sei disso, porém é importante para mim. Você disse
que seria o melhor encontro de todos, e agora, não sei o que vestir.
— Merda, sinto que vou chorar de novo...
Meus lábios tremem.
— Gatinha... — Raphael passa a mão pelo meu rosto, e
meus olhos se fecham por causa do toque tão carinhoso dos seus
dedos na minha pele. — Este vai ser o melhor encontro de todos,
mas porque estaremos juntos, porque é especial para nós dois.
Quanto a se vestir... apenas vá arrasando. — Ele beija meus lábios
mais uma vez.
Meus olhos se abrem.
— Apenas vá arrasando? — repito suas palavras. — Grande
ajuda. — Balanço a cabeça. — Mas já tenho uma ideia melhor,
obrigada. — Dou um rápido beijo na sua boca. — Agora, vá. Não
quero atrasar-nos mais do que já atrasei. — Empurro-o para fora do
quarto.
Do lado de fora, Raphael pega-me, tirando-me do chão, e
me beija mais uma vez, fazendo-me relaxar ainda mais. Colocando-
me no chão, ele dá uma piscada e se vai. Fecho a porta do quarto,
com um pequeno sorriso nos lábios. Caminho até a cama, pegando
meu celular, e envio uma mensagem para a minha irmã.

Eu: “Conversaremos mais tarde, vadia.”

Uma hora e meia depois...

Um pequeno sorriso se forma nos meus lábios quando


desço ao andar de baixo para encontrar Raphael. Ouvindo meus
passos, se levanta do sofá e se vira para mim. Quando seu olhar
bate em mim, ele congela. Seus olhos passam por todo meu corpo,
sua boca se abre e ele fica parado, piscando enquanto mais uma
vez passa seu olhar por todo meu corpo. Ainda sorrindo, dou uma
viradinha, mostrando tudo a ele. Ouço um pequeno assobio.
— O que acha? — pergunto a ele.
Raphael balança a cabeça. Mordo minha bochecha por
dentro, esperando por sua resposta.
— Caralho, não... — rosna ele, entre dentes. — Deus me
ajude, mas eu vou matar qualquer um que olhar para você. — Solto
uma gargalhada. — Não estou brincando, mulher. Você está um
espetáculo. — Sorrio.
Raphael caminha até mim, puxando-me para os seus
braços, então sua mão segura-me pela nuca e ele bate sua boca na
minha, tirando o meu fôlego. O beijo é duro, nada gentil. Abro minha
boca, permitindo a entrada da sua língua. Raphael me devora.
— Tudo o que mais quero é jogá-la sobre meus ombros e
levá-la para o quarto, depois, rasgar esse vestido e tê-la embaixo de
mim. Porém, tenho um planejamento para esta noite, e pretendo
segui-lo. — Ele dá mais um beijo em mim. — Você está linda,
gatinha.
Sinto minhas bochechas arderem. Eu sabia que ele iria ficar
louco com o vestido brilhoso, curto e decotado nas costas que
escolhi. Meus cabelos estão soltos, cheios de cachos. Passei um
batom vermelho e calcei um par de saltos cor de prata, bem altos.
Esta era a minha intenção: impressioná-lo.
— Pronta? — pergunta.
Aceno com a cabeça.
Poucos minutos depois, Raphael e eu estamos sentados à
nossa mesa reservada, em um restaurante muito confortável. A
iluminação é baixa, dando um ar mais romântico e aconchegante.
Raphael sentou ao meu lado. Seu braço esquerdo está em volta do
meu ombro; seu dedo, alisando a curva do meu pescoço, de forma
tão sensual, que está deixando-me excitada. Para quem olha de
fora, é um toque normal, tão leve... Todavia é mais do que isso. O
contato do seu dedo contra minha pele, o modo com que ele o
desliza do meu pescoço para o meu ombro, depois, voltando ao
pescoço, é tão sensual, que todo o meu corpo se arrepia. Sem falar
dos seus olhos. Esse azul tão profundo, fazendo-me lembrar do mar
do Havaí, e a intensidade com que me olha... E sua voz...! Tão
rouca, cheia de promessas... Minhas pernas se fecham. Sinto a
umidade entre elas. Olho para Raphael, que está sorrindo para mim.
Suspiro. O homem sabe o que está fazendo. Essa é a intenção dele.
Ele se inclina para mim. Posso sentir sua respiração na minha pele.
Meus olhos se fecham.
— Se eu pudesse, fecharia esse restaurante apenas para
fodê-la sobre a mesa. Porra, não... Se eu pudesse, eu a foderia
agora mesmo, com todas essas pessoas nos olhando. — Solto um
pequeno gemido quando sinto uma leve mordida no meu pescoço.
— Porra, assim mesmo... Eu deixá-los-ia ouvirem seu gemido de
prazer enquanto a penetro profundamente. Todos ficariam
observando-nos, desejando que fossem eles que estivessem no
meu lugar. — Sinto sua mão direita tocar minha perna, subindo até a
barra do meu vestido. — Porém, além de que seríamos presos por
fazermos isso, sou um homem egoísta, portanto a quero só para
mim.
— Raphael... — sussurro seu nome quando sinto sua mão
em minha boceta.
— Caralho, sem calcinha... — grunhe.
— Surpresa. — Sorrio, lambendo meus lábios.
Encosto minha cabeça no seu ombro enquanto ele me toca.
O prazer é tão grande, que fecho meus olhos.
— Abra os olhos, gatinha. Quero que observe todas essas
pessoas à nossa volta, tão alheias ao que está acontecendo entre
nós dois. Quero que observe, que sinta essa adrenalina de que
qualquer um pode olhar para nós e perceber o que está
acontecendo aqui. Observe-os, Phillipa, olhe para eles enquanto a
faço gozar. — Ele diz, dando um beijo molhado no meu pescoço.
Seus dedos circulam meu clitóris. Automaticamente, meus
quadris começam a mexer-se, rebolando na sua mão. Minha mão
agarra sua perna quando sinto que estou perto, muito perto. Quero
fechar meus olhos e jogar a cabeça para trás, gemer seu nome
enquanto venho, entretanto, todos do restaurante estariam olhando
para nós, saberiam o que estamos fazendo. Sendo assim, eu
apenas mordo meus lábios, segurando o gemido que quero soltar.
Venho nas suas mãos, e é neste exato momento que nosso jantar
chega. Suspiro. O garçom olha para o meu rosto, e sinto-me corar.
Desvio o olhar. Ao meu lado, Raphael solta um pequeno rosnado —
bem, é assim que parece. O garçom deixa nosso jantar na mesa e
quase corre para bem longe. Encosto minha cabeça no seu ombro,
sentindo-me envergonhada com a situação.
— Ele sabe — murmuro.
— Sim, ele sabe, e queria estar no meu lugar, o bastardo.
Raphael

Todo o meu corpo está vibrando com o corpo de Phillipa


contra o meu. O restaurante em que estamos tem uma pequena
boate na parte de trás. É uma área separada. A pessoa pode optar
por só jantar, pode fazer os dois, ou só vir para dançar. Uma boa
ideia que os donos tiverem.
Depois que a fiz gozar — o que foi um espetáculo —, nós
jantamos, conversamos, e agora, estamos dançando. Seu corpo
contra o meu, sua deliciosa bunda rebolando contra meu pau
acordado e pronto para a ação... Porra, estou duro desde o
momento em que a vi nesse vestido que se adapta perfeitamente ao
seu corpo, deixando para todos verem suas curvas. Minhas mãos
passeiam pelo seu corpo enquanto dançamos. Estou por um fio
neste momento. Meu coração bate forte no peito, minhas mãos
tremem, e o controle que tenho está esvaindo-se. No entanto, tenho
que me lembrar da programação planejada. Esta noite não é para
mim, e sim para ela.
Seus braços se erguem contra o meu pescoço. Continuo a
passar minhas mãos pelo seu corpo, sentindo cada pedacinho dela
enquanto dançamos em meio à multidão. Abaixo minha cabeça,
dando beijos no seu pescoço. Phillipa se esfrega ainda mais contra
mim. Sorrio contra sua pele.
— Quando chegar no lugar que reservei para nós dois, vou
curvá-la sobre meus joelhos e encher essa sua bundinha de
palmadas, depois, vou deitá-la sobre a cama, abrir suas pernas e
comê-la com minha boca até a fazer gozar no meu rosto — sussurro
ao seu ouvido, fazendo-a tremer. — Vou adorar cada parte sua,
gatinha, brincar com esses seus deliciosos seios... — Aperto seus
seios, segurando-os contra minhas mãos. — Vamos ver se consigo
fazê-la gozar mais uma vez apenas com minha boca nos seus
mamilos. Vou fazê-la implorar, chorar pelo meu pau.
— Raphael...
Meu nome na sua boca... Esse pequeno sussurro cheio de
necessidade, deixando-me saber que ela está pronta para mim...
Porra, esta noite está sendo uma tortura! E estamos apenas
começando.
Viro seu corpo para ficar de frente para o meu, em seguida a
puxo para mais perto de mim fazendo-a montar na minha perna.
Neste momento, nós nos esquecemos de tudo à nossa volta. Somos
apenas nós dois em meio à música. Faço-a dançar montada na
minha perna. Juntos, nós dois nos esfregamos um no outro. Quero
que ela goze mais uma vez, bem aqui, contra mim e na minha
perna.
Enquanto uma mão a segura pela cintura, puxo seu cabelo
com a mão livre, fazendo sua cabeça se curvar para trás, após,
abaixo minha cabeça para a curva do seu pescoço e a beijo.
— Esfregue-se em mim, leve-se ao prazer, gatinha —
comando a ela.
Seu corpo se quebra e ela fica mole nos meus braços.
Sorrio. Tão sexy, porra...
Assim que os tremores do seu corpo cessam, eu a pego
pela mão, levando-a para o estacionamento do restaurante. Paro
em frente ao meu carro e olho para trás, vendo Miguel e Maddox. O
olhar de Phillipa segue o meu. Seus olhos se arregalam quando os
veem.
— Eles estavam presentes esse tempo todo!? — pergunta,
em um gritinho.
Sorrio.
— Sim, gatinha, eles estavam.
— Raphael!
— Phillipa, eles estavam fazendo o trabalho deles, não
ficaram reparando no que estávamos fazendo — tranquilizo-a.
— Tem certeza? — Morde os lábios, ao mesmo tempo que
suas bochechas coram quando ela olha de relance para os dois.
Dou um leve beijo na sua testa.
— Sim, eu tenho.
Olho para Miguel e Maddox, dando um aceno a eles, abro a
porta do carro para Phillipa, ajudando-a a entrar, dou a volta, e
enfim, entro no meu lado e ligo o carro.
— Vamos. Quero comer sua bocetinha. Não aguento mais
esperar...
Capítulo Trinta e Nove

Phillipa

— Vamos, quero comer sua bocetinha. Não aguento mais


esperar.

Essas palavras se repetem na minha mente durante todo o


caminho para o hotel onde Raphael reservou um quarto para
passarmos a noite. Minha boceta lateja, em pura necessidade.
Durante o trajeto, mexo-me desconfortavelmente no meu assento. A
grande mão de Raphael alisa minha perna, o que piora toda a
situação, sendo assim, quando o carro para e ele sai, levando-me
junto. Todas as apostas estão na mesa. A necessidade é tão
grande, que pegamos o elevador privativo direto para a suíte
presidencial do hotel.
— Puta que pariu! — exclama Raphael, quando me jogo
nele assim que as portas do elevador se fecham.
Que se foda ter que esperar até chegarmos no quarto! Eu só
preciso senti-lo, nem que seja por alguns segundos.
Nossas bocas batem uma na outra, com tanta vontade, com
tanto desespero, que eu não sei onde começo e onde ele termina.
— Rápido, rápido! — digo, quando dou uma olhada para os
números dos andares que aparecem no elevador.
Raphal ri, com sua boca ainda na minha. Meu corpo se
esfrega contra o dele, então sinto seu pau tão duro na minha
boceta. Jogo-o contra a parede do elevador e dou um jeito de
encaixar-me nele. Raphael reconhece minha intenção e pega-me
pelas pernas, levantando-me sobre seu corpo. Fecho-as em volta da
sua cintura.
— Porra, gatinha, posso sentir quão molhada está... Minha
calça vai ficar com a mancha da sua boceta molhadinha.
Esfrego-me nele, não me importando nem um pouco sobre
deixar uma mancha na sua calça, ou sobre estarmos em um
elevador que tem câmeras. Merda, eu só o quero!
— Graças a Deus! — falo, quando o elevador para e as
portas se abrem. — AHHHH! — grito, assim que sou posta sobre os
ombros de Raphael.
Meu corpo treme quando sinto o ardor da palma da sua mão
na minha bunda. Suspiro, lembrando muito bem da sua promessa
no restaurante. Mesmo de cabeça para baixo, consigo ver as
grandes portas francesas que dão para a suíteabrindo-se. Solto um
pequeno suspiro quando entramos. O pouco que vejo já me
surpreende. Comigo ainda sobre seus ombros, Raphael tira os
sapatos, jogando-os em seguida para o lado, e se senta na beira do
sofá, colocando-me sobre seus joelhos. Suas grandes mãos
passam pela minha bunda, descendo à bainha do meu vestido,
puxando-o para cima, de modo a expor minha bunda e a boceta nua
para ele.
— Ei... — reclamo, quando ele pega meus pulsos,
segurando-os sobre minhas costas, deixando-me sem firmeza.
— Shiiii. — Sua mão livre passa pelas minhas nádegas e
desce em direção à minha vagina, é então que meu corpo todo
treme. — Molhada demais. — Com a palma da sua mão, ele esfrega
minha vagina molhada, subindo pela minha bunda. — Caralho,
gatinha, você está perfeita assim...
O tapa vem, aí meu corpo vai para frente, porém Raphael
segura-me no lugar. Sua mão volta a instigar-me. Primeiro, na
minha boceta; depois, vai para a minha bunda. Tapa. Meus olhos se
fecham. O desejo é tão forte, que chego a ficar sem ar. Meu corpo
todo está queimando, enchendo-se de uma adrenalina eletrizante.
Quero mais, muito mais do que ele está dando.
A cada passar de mão entre minha vagina e a bunda, ele dá
um tapa, e a cada tapa, fico ainda mais pronta para gozar. Quando
ele percebe, para, deixando-me frustrada. Abro meus olhos e viro a
cabeça de lado para olhá-lo. Seu olhar bate no meu, deixando-me
sem ar.
— Por favor... — peço a ele, sussurrando as palavras.
Raphael se levanta, levando-me junto. Parada de frente
para ele, observo-o passar a língua na mão.
— Tem seu gosto, gatinha. — Pisca para mim.
Pegando-me no colo, ele me leva para o quarto. Suspiro, em
desejo. Eu preciso dele. Quero que me toque. Quero sua boca em
mim; seu pau, fodendo-me; suas mãos, nos meus seios... Eu quero
tudo. Raphael retira meu vestido, deixando-me nua sob seu olhar
apreciativo. Lambo meus lábios, e seu olhar escurece. Raphael me
põe deitada na cama, de frente para ele. Observo-o se despir. Oh,
doce Senhor! Ele está torturando-me. Sim, pura e deliciosa tortura.
Raphael demora a tirar a roupa. Seu olhar está em mim
durante todo momento. Parece que ele tem o tempo todo do mundo,
porque primeiro, tira a blusa, bem devagar. Meu olhar apreciativo
passa pelo seu peito nu, parando naquele V que ele tem. Minha
boca se abre, em um pequeno O. Ele sorri para mim.
— Raphael — chamo-o e abro as pernas, ao mesmo tempo
que minha mão desce entre elas.
— Puta que pariu! — exclama, então um riso deixa meus
lábios.
Com rapidez, ele termina de despir-se.
— Isso foi jogo sujo — diz, olhando-me.
— Você estava demorando demais. Não vê que preciso de
você?
Sem dizer nada, sua cabeça se abaixa, e ele me leva à sua
boca. Joga a cabeça para trás, gritando, em êxtase. Puxo o lençol
da cama e, com a outra mão, puxo seus cabelos. Meu quadril se
levanta enquanto ele me chupa. Rebolo no seu rosto, sem nenhuma
vergonha. O prazer é grande demais. Raphael passa os dedos
sobre minha entrada. Ele vai circulando até enfiar dois dedos dentro
de mim. Enquanto me come com a boca, seus dedos me fodem.
Mas ele não para aí. Eu o sinto lá, principalmente seu dedo
esfregando meu ânus.
— Oh!! — exclamo, quando sinto algo gelado no meu
buraquinho. — O quê?
— Gel, gatinha — responde, com sua boca ainda entre
minhas pernas.
Mas a minha pergunta é: de onde ele tirou esse gel?
Raphael olha para mim e sorri.
— Já estava na cama. Deixei o quarto todo preparado, você
apenas não percebeu. — Pisca para mim. — Agora, aproveite.
Oh, pode ter certeza de que irei aproveitar
.

Raphael

Sorrio ao observar Phillipa na jacuzzido nosso quarto de


hotel, na sacada. Seus olhos estão fechados, e sua cabeça repousa
no encosto de couro. À sua frente está uma bandeja com morangos,
chocolate e champagne. Há um pequeno sorriso nos seus lábios.
Suspiro, satisfeito. Tudo o que eu quero para esta noite é agradar
Phillipa, dar a ela algo inesquecívele, claro, compensar todos esses
anos nos quais errei com ela. Droga, eu ainda preciso fazer muito
por ela... Todos os meus erros precisam ser apagados da sua
memória. Quero colocar novas, e todas elas, muito boas, assim, ela
não pensará no passado.
— Como está sentindo-se? — pergunto-lhe, parando ao
lado da jacuzzi
.
Seus olhos se abrem e ela expande o sorriso.
— Satisfeita — ronrona, ao mesmo tempo que seu olhar
passa pelo meu corpo nu. — Junte-se a mim — pede, erguendo a
mão.
Ponho minha mão na dela e entro na jacuzzi , sentando-me
ao seu lado. A água quente envolve meu corpo. Phillipa descansa a
cabeça no meu ombro.
— Obrigada. Essa noite foi perfeita — diz ela.
— Não agradeça a mim, gatinha. Isso não é nada em
comparação ao que você merece. — Beijo o topo da sua cabeça.
Phillipa ergue a cabeça, com um sorriso travesso formando-
se nos seus lábios. Estreito os olhos.
— O que acha de uma rapidinha aqui? — pergunta,
lambendo os lábios e dando uma mordida.
Porra! Meu pau pulsa, pronto para tomá-la. Puxo-a para
mais perto, tomando sua boca. Phillipa se levanta da jacuzzi ,
colocando-se sobre mim. Seguro sua cintura, fazendo-a descer
sobre meu pau.
— Não está dolorida? — pergunto, entre beijos e mordidas.
— Nem um pouco — responde, montando em mim.
Tiro a bandeja que boia sobre a jacuzzi
, colocando-a do lado
de fora. Phillipa começa a rebolar sobre mim. Meu pau entra e sai
dela enquanto ela me aperta com sua boceta. Sorrio quando
percebo que está fazendo pompoarismo. Caralho! Isso vai fazer
com que eu goze como um adolescente.
— Gatinha...
— Não gosta?
— Porra! — Beijo sua boca, mostrando-lhe o quanto gosto
do que ela está fazendo.
A água da jacuzzitransborda enquanto nos movimentamos,
porém não nos importamos nem um pouco. Tudo o que importa é
nosso momento, como ela monta... Pego o pequeno controle que
está em cima da bandeja, clicando em um botão, então começa a
tocar 34+55, de Ariana Grande. Phillipa sorri para mim. Suas mãos
passam pelo meu peito, descendo pelo abdômen. Beijo seu
pescoço, descendo pela sua clavícula até chegar nos seus seios
enrugados. Minha boca toma-os. Phillipa fecha os olhos enquanto
brinco com ela. Sua boceta aperta-me enquanto ela monta. Perfeita,
essa mulher é simplesmente perfeita. E quero mostrar a ela o
quanto a adoro. Pensando nisso, levanto-me da jacuzzi
, trazendo-a
comigo. Nossos corpos molhados molham o chão, mas não me
importo, só quero apreciar seu corpo.
— Raphael?
— Bem aqui. — Tiro minha boca dos seus seios e a olho. —
Confia em mim?
— Com a minha vida. — Sorrio.
Coloco-a em pé, de frente para o espelho que tem no
quarto.
— Observe-me — comando a ela, que acena.
Posiciono-me atrás dela, apoiando meu queixo no seu
ombro, e começo a passar minha mão pelo seu corpo. Iniciopelos
pulsos, levantando-os e levando-os até meus lábios. Beijo cada
cicatriz. Percebo quando ela prende a respiração, ao mesmo tempo
que seu olhar encontra o meu, através do espelho.
— Perfeita — digo a ela, que pisca repetidamente, contendo
as lágrimas. — Cada parte de você é perfeita: seus pulsos... —
Beijo-os mais uma vez; em seguida, sua barriga — sua barriga,
seus seios, seus tornozelos, suas pernas... tudo é perfeito. Cada
pedacinho de você, gatinha. — Deixo seu olhar e começo a beijá-la.
— Ra... Raphael... — Engasga ao dizer meu nome.
— Deixe-me cuidar de você, gatinha.
— Sim — sussurra.
— Eu a amo, Phillipa — confesso, ainda beijando todo o seu
delicado corpo.
Ela precisa disso, precisa dessa aceitação com o próprio
corpo, com as marcas do que viveu nas mãos de Marcus, e eu irei
ajudá-la.
— Amo cada pedaço de você, cada cicatriz, cada marca,
cada pinta... Eu amo seu olhar, sua boca, seu riso e o modo com
que morde os lábios. Você é perfeita. — Subo, beijando suas coxas,
sua barriga e seus seios, até chegar no seu rosto.
Lágrimas escorrem dos seus olhos. Beijo todo o seu rosto,
secando-as.
— Eu amo você.
— Raphael...
Pego-a em meus braços, colocando-a na cama e cobrindo
seu corpo com o meu.
— Deixe-me amá-la, Phillipa. — Ela acena com a cabeça.
Suas pernas se prendem ao meu corpo de modo que meu
pau desliza para dentro da sua boceta. Suspiramos quando o prazer
toma conta dos nossos corpos, e neste momento, eu a faço minha
de todas as formas, mostro a ela o quanto a amo, quão perfeitos
somos juntos e que somos certos. Eu sou o homem dela.

Phillipa

Raphael está quieto ao meu lado. Seu olhar, concentrado na


estrada, e seus dedos tamborilam no volante enquanto dirige para
algum lugar que ele não contou qual é. Tudo o que disse foi: preciso
te mostrar algo — como se isso dissesse muita coisa. Agora,
estamos aqui, no seu carro, indo para não sei onde. Pelo seu
comportamento, imagino que seja algo importante, sei lá, sabe? Ele
está nervoso e ao mesmo tempo tão quieto, que chega a preocupar-
me. Não faço ideia do que esperar e do que irá acontecer. Só
espero que seja algo bom. Merda! O nervosismo de Raphael está
passando para mim a ponto de que não paro de esfregar as mãos
nas minhas pernas.
— Raphael? — chamo-o, olhando para ele.
— Hum? — grunhe, tendo seus olhos firmes na estrada.
Fico em silêncio por alguns segundos, hesitando.
— Deixe pra lá — digo, e mordo meus lábios, não sabendo
o que fazer.
Eu queria minha coragem e ousadia de volta neste momento
só para fazer várias perguntas a ele, porém essas minhas
qualidades resolveram ir para a puta que pariu, porque aqui elas
não estão. Céus! Esse silêncio está deixando-me louca.
— Gatinha, confia em mim? — Olho desconfiada para
Raphael, vendo que sua expressão está neutra.
E é quando eu percebo que o carro parou. Olho em volta,
tentando ver onde estamos, entretanto não há nada que indique.
Quero rir neste momento. Se eu confio nele? Que pergunta é essa?!
— Bem, se não for jogar-me em uma vala, é claro que
confio. — Tento ser mais leve e engraçadinha, porém ele apenas
fica olhando-me.
Bufo, dando um rolar de olhos.
— Sim, Raphael, eu confio em você — digo a ele, por fim.
Dando um aceno com a cabeça, Raphael volta a colocar o
carro na estrada. Olho pela janela, observando tudo do lado de fora.
Para a minha total descrença, Raphael vira o carro em direção ao
estacionamento de um cemitério. Olho para ele, procurando
respostas, só que o mesmo apenas estaciona o carro e sai, em
seguida, dá a volta para abrir minha porta.
— Raphael?
— Só venha, Phillipa.
Ponho minha mão na sua, deixando-o tirar-me do carro. Sua
mão aperta a minha à medida que caminhamos em direção à
entrada do cemitério. A mão que Raphael segura está pegajosa de
suor. Tento puxá-la da dele para passá-la na minha calça, contudo
ele é firme no seu aperto. Está tão nervoso quanto eu.
Adentramos o cemitério e andamos silenciosamente em
meio aos jazigos. Por incrível que pareça, é tudo tão tranquilo e
pleno... Muitas pessoas veem a morte como algo ruim, sombrio; e
cemitérios, como algo triste, pesado e carregado. Porém para mim
significa paz, tranquilidade. Eu imagino a morte como um descanso,
algo merecido depois da vida. Estar aqui não é algo que traga
tristeza ou sofrimento a mim. Sorrio quando um vento leve passa
por nós. Sim, tranquilidade.
Raphael para. Olho para ele, no entanto seu olhar está
concentrado à nossa frente. Sigo seus olhos, então minha
respiração fica presa na garganta. Lágrimas se formam nos meus
olhos.
— Oh!! — exclamo, ao ler as palavras escritas no jazigo.

“Um filho amado e desejado.


Uma alma pura.
Um Callahan.
Descanse em paz, bebê dos sonhos.”

— Eu queria algo simbólico, então, depois que se foi, resolvi


fazer uma homenagem ao nosso bebê, colocando-o ao lado de toda
a família. Mesmo que ele não esteja aqui em corpo, estará nas
nossas lembranças. — Raphael diz, e aperto sua mão.
— É... — Paro, tentando controlar a emoção que me invade
neste momento. — É perfeito, Raphael.
— Você gostou?
— Eu amei. Muito obrigada por pensar no nosso bebê.
Raphael solta a minha mão, passando seu braço em volta
do meu corpo. Descanso minha cabeça sobre seu peito à medida
que um sorriso se forma nos meus lábios.
— Eu nunca me esqueci dele, gatinha. Eu sei que fui um
idiota antes e que disse coisas que a magoaram. Porra, eu disse
coisas horríveis sobre nosso bebê, mas porque estava com medo e
confuso com os meus sentimentos. — Ele para, então vejo seu peito
subindo e descendo. — Só quero que sabia que eu amei nosso
filho. Ele era amado, desejado e muito esperado. Nunca vou
esquecê-lo. E se eu pudesse, voltaria no tempo e faria tudo
diferente só para tê-lo nos nossos braços, só para vê-lo nascer. —
Lágrimas escorrem pelo meu rosto. — Eu sei que esse não é o lugar
ideal, mas eu a amo, gatinha, e vou passar o resto da minha vida
amando-a, mostrando a você o quanto somos bons juntos, o quanto
meu amor é imenso.
Ergo minha cabeça para olhá-lo. Sorrio para ele. Raphael
seca minhas lágrimas com seus dedos.
— Eu amo você. Sempre amei e continuarei amando, até
não estarmos mais neste mundo — sussurro para ele, que abre um
grande sorriso para mim.
Com minha cabeça apoiada ao seu peito, ficamos ali,
parados, olhando para o jazigo do nosso bebê, que não teve a
oportunidade de vir ao mundo, porém foi muito amado durante o
pouco tempo, por mim, por Raphael e por toda a família Callahan.
Bônus

Marcus

Sozinho. Eu estou sozinho neste caralho de lugar. Henry foi


pego pelos Callahan’s, e tenho certeza de que já está morto. Os
dois únicos homens que sobraram mandaram-se com os rabos
entre as pernas depois de saberem que Henry foi pego. Idiotas.
Deixaram-me sozinho nessa merda. Porra, eu preciso de um plano,
preciso fazer alguma coisa para sair dessa e voltar ao poder! Mas o
que eu posso fazer, se tenho pessoas procurando por mim? Estão
caçando-me como se eu fosse alguma presa. Olho para o garoto
que está no canto do nosso esconderijo, comendo uma marmita.
Quero rir. Tudo o que sobrou foi um moleque de rua que me ajuda.
Não que seja algo ruim. Garotos de rua passam sempre
despercebidos por aí, o que é ótimo para mim, que precisa ficar
sabendo do que está acontecendo do lado de fora. Porém, ele só
serve para isto: trazer comida e informações. Inútil.Preciso de um
plano, qualquer ideia que me tire dessa merda que estou vivendo.
Não sobrevivi para morrer neste lugar ridículo, sem nada. Se eu
tiver que morrer, levarei alguns Callahan’s comigo.
Capítulo Quarenta

Phillipa – Uma semana depois...

— Se você continuar assim, irá acabar abrindo um buraco


no chão. — Raphael sussurra ao meu ouvido.
Paro de andar de um lado para o outro no saguão do
aeroporto e o encaro. Raphael dá um sorrisinho. Tiro minha unha da
boca e solto um pequeno suspiro.
— Estou parecendo tão desesperada assim? — pergunto a
ele.
Raphael puxa-me para os seus braços, dando um beijo na
minha testa. Solto um pequeno suspiro, encostando minha cabeça
no seu peito, e dou um beijo no seu peitoral.
— Gatinha, você está andando de um lado para o outro,
roendo as unhas e, toda hora, olhando para o relógio. Parece que a
qualquer momento irá ter um ataque. — Ele ri, balançando a
cabeça.
Bufo, dando um tapa no seu peito.
— É só... está demorando — resmungo, ansiosa para que o
avião pouse e eu possa rever minhas amigas.
— Amor, isso é normal... Logo, logo elas estarão aqui, e
você poderá bagunçar com elas à vontade. — Rolo os olhos.
— Não sou boa em esperar. — Faço beicinho.
Raphael sorri, dando um beijo rápido no meu biquinho.
— Isso eu já reparei, gatinha. Nunca tem muita paciência
em esperar, não é mesmo?
Olho para ele, estreitando os olhos. Raphael dá uma
piscadinha para mim. O que eu posso fazer? Esperar é um saco, e
confesso que realmente não tenho nem um pouco de paciência em
ficar esperando. Estou louca para ver minhas amigas, então, sim, eu
estou ficando louca aqui, neste aeroporto, esperando o avião
pousar. Dou um sorrisinho para ele. Ponho minha cabeça no seu
peito mais uma vez. Meu sorriso se abre ainda mais ao lembrar-me
dos últimos dias que temos passado juntos. Tudo tem sido tão
perfeito, que tenho até medo de que algo aconteça e estregue tudo.
É complicado. Marcus ainda está por aí, sem contar que não temos
ideia de onde e do que está fazendo ou planejando. Tudo o que
mais quero é que esse homem seja pego. Quero tê-lo, fazê-lo sofrer,
assim como ele fez-me. Minto. Quero que ele sofra muito mais do
que eu sofri. Dizem que é errado fazer justiça com as próprias
mãos. Eu me importo? Não, não me importo nem um pouquinho.
Um riso deixa meus lábios. Olho de relance para Raphael, que me
olha, sem entender nada. O que eu posso dizer? Não consegui
controlar o riso, só escapuliu, ué.
— Cadê esse avião? — reclamo, cruzando os braços.
Raphael ri.
— Calma, gatinha. Já, já o avião pousará e elas estarão
aqui, só temos que esperar mais um pouco — diz, passando as
mãos pelos meus cabelos.
Tudo o que eu mais quero é ter minhas amigas aqui para
podermos aproveitar este final de semana e o Halloween
. Estou tão
animada, e tenho tantas coisas planejadas para todas nós... Só de
lembrar tudo o que planejei, um sorriso se forma na minha boca. Ah,
sim... este Halloweenserá bem interessante. Suspiro.
— Oh, meu Deus! Oh, meu Deus! — Pulo quando ouço a
voz de Ohana.
— Elas chegaram!! — exclamo, animada, ao virar-me e dar
de cara com minhas duas amigas.
— Amiga, ele é bonitão, hein! — Moana grita, olhando para
Raphael, de rabo de olho.
Balanço a cabeça, rindo das suas palavras. Essas duas...
Solto-me de Raphael e corro para os braços das minhas duas
amigas.
— Nem estou acreditando que vocês estão realmente aqui!
— digo a elas.
— Imagine nós!! — Ohana exclama, rindo.
Ela olha em volta, depois, dá uma olhadinha para Raphael,
até que sussurra:
— Será que há mais homens desse por aqui? — Ai, meu
Deus!
Dou uma olhadinha para Raphael, que pisca. Dou de
ombros. O que eu posso fazer?
— Bem... tem alguns...
— Phillipa. — Raphael grunhe, olhando-me de lado.
— Eu só ia falar sobre Miguel e Maddox. — Sorrio, o que o
faz bufar.
— Esses dois são bonitos? — Moana pergunta.
— Eles são sexys, gostosos? — Ohana indaga, sorrindo.
— Eles são super...
— Phillipa...
Rolo os olhos.
— Vocês mesmas irão vê-los — digo, por fim.
— Deus me socorre!

Raphael

Por que mulheres falam tanto? Meu Deus, não sei se irei
aguentar essas duas! Desde o momento em que as peguei no
aeroporto, elas não fecham a boca. Eu queria é desaparecer agora
e só voltar quando elas estiverem no avião, voltando de onde
vieram. E pensar que terão todo o tempo de Phillipa já me irrita,
principalmente agora, que estamos juntos e a quero todo o
momento comigo. Eu vou enlouquecer. O pior é que tenho que ficar
com elas, vigiá-las, protegê-las enquanto elas estiverem aqui.
— O que vocês querem fazer enquanto estiverem aqui? —
Phillipa pergunta a elas.
Olho de relance para as mulheres através do espelho
retrovisor interno do carro. As três estão no banco traseiro,
conversando animadamente. Há um carro atrás de nós, onde estão
Miguel, Maddox e Christian, caso algo aconteça. Segurança nunca é
demais.
— Trouxemos uma lista de tudo o que queremos fazer. —
Ohana diz, abrindo uma bolsa e puxando um papel de dentro.
Balanço a cabeça, já sabendo que essa estadia delas será
bem longa. Acelero um pouco mais o carro, querendo chegar logo
para despejá-las e ficar mais tranquilo, assim poderei vigiá-las de
longe e ter um pouco mais de tranquilidade... eu espero, é claro.
— Então... onde ficaremos? — Ouço a voz de Moana.
Ohana, Moana... tudo parecido, só para confundir minha
mente. Para quê? Para que elas vieram? Logo nesse momento
delicado em que não sabemos o que Marcus anda aprontando. Já
estou sentindo uma dor de cabeça antecipadamente.
— Na minha casa... tenho tudo preparado para recebê-las.
Minha irmã e minhas amigas estão lá, esperando por nós. — Merda!
Eu tinha esquecido desse detalhe
.
Haverá mais mulheres, mais falatório, e tenho certeza de
que terá também confusão, porque quando há muitas mulheres
juntas, sempre acontece algo.
— Bem, Senhoras, nós chegamos — anuncio, assim que
para o caro de frente à entrada da casa.
Abrindo a porta do meu lado, saio para ajudar as damas
com suas coisas. O carro onde os seguranças estão para logo atrás
do meu. Eles me ajudam com as malas.
— Wow, de onde essas belezuras saíram? — Sim,jáestou
até prevendo o que irá acontecer daqui para frente.
Miguel me encara, em puro horror. Apenas sorrio, dando de
ombros. Se eu tive que aguentar os elogios de Moana e Ohana, ele
e todos os outros também aguentarão.
— Quem são vocês? — Moana pergunta, olhando de cima a
baixo para Christian, que dá um passo para bem longe dela.
Mordo os lábios para conter o riso. A cara que ele está
fazendo...
— Solteiro? — pergunta ela, mais uma vez, chegando mais
perto dele.
— Hum... — Christian olha de um lado para o outro, acho
que tentando achar uma forma de fugir.
Dou uma olhadinha para Phillipa, que está com a mão na
boca, rindo. Pisco para ela. Christian limpa a garganta e estufa o
peito. Ele encara Moana, dando a ela um pequeno sorriso.
— Sinto muito... mas você não faz o meu tipo — diz ele a
ela.
— O que isso significa? — Ohana se põe na frente da
amiga, com uma cara de brava. — Quanto preconceito. Isso é
ridículo.
Suspiro. Issovai sobrar para mim, já estou até vendo. Não
que seja um segredo, mas Christian é bem reservado com sua vida
íntima.Ele gosta de manter as coisas para si, no particular. Por mais
que seja um excelente segurança, o cara é tímidoquando o assunto
é relacionamentos e sua sexualidade.
— Senhoras, não é isso o que ele quis dizer — digo,
tentando acalmar as duas.
— O que ele quis dizer, então? — Moana pergunta,
cruzando os braços e batendo o pé.
Ponho suas malas no chão e vou até onde Christan está.
Olho para ele, que dá um pequeno aceno de cabeça.
— O fato de não ser o tipo dele significa que...
— Eu sou gay. — Christian diz, por fim. — Sinto muito em
acabar com sua expectativa, mas eu gosto do que você gosta,
entende? — pergunta a ela, dando um sorrisinho sem graça.
— Ohhh...! — Moana exclama, e logo abre um grande
sorriso. — Isso é perfeito! Nós seremos amigos.
— Isso! Vamos a uma boate gay, e encontraremos um cara
pra você. O que acha? — Ohana pergunta, toda animada.
Passo as mãos pelo meu rosto. Doce Senhor... O que essas
meninas irão aprontar?
— Ahah! Eu sabia que estava ouvindo vozes! O que estão
fazendo, parados aí? — Lori pergunta, aparecendo na porta.
Atrás dela estão Angel, Dimitria e Zoe.
— Só esclarecendo algumas coisas aqui — digo a ela. —
Moana e Ohana, esses são Christian, Miguel e Maddox. Eles são
seguranças, estarão com vocês durante a maior parte do tempo,
assim como outros, que irei apresentar depois. Eles estão aqui para
protegê-las e não para se divertirem com vocês, então, nada de
boate gay, nada de namoradas ou namorados para nenhum deles
— explico a elas, que reviram os olhos e fazem beicinho para mim.
— Isso é tão... — Bufa Moana.
— Meninas, vamos entrar, e não esquenta para ele, não.
Temos todo o tempo do mundo. — Phillipa diz, olhando para mim.
Ergo uma sobrancelha para ela, em questionamento. Já
estou até vendo a merda que isso vai dar. Elas não irão desistir
dessa porcaria de boate gay, nem de arranjar alguém para Christian,
porra... Que essa visita acabe logo, por favor.

Phillipa – Horas mais tarde...

— Ele nem parece gay. — Ohana comenta, dando uma


olhadinha para Christian, que está na cozinha, com os outros caras.
— E gay tem cara? — pergunto a ela, rindo.
Minha amiga dá de ombros.
— Sei lá, só que ele não parece.
— Eu não pareço, mas sou... — Moana diz, um tanto
chateada.
— Você sabia que ele gosta de homens, Dimitria? —
pergunto, olhando para ela.
— Não, estou surpresa. Mas ele nunca demonstrou
interesse em mulheres, como os outros caras. Porém, também
nunca o vi olhando para qualquer homem. — Ela pega um pedaço
de pizza e come.
— Ele só é um homem tímido. — Zoe sorri ao dar uma
olhada para a cozinha, todavia sei muito bem que seu olhar está em
Dominic, apenas em Dominic.
As apresentações já foram feitas há algum tempo, Moana e
Ohana já estão instaladas, e agora, estamos todas na minha sala de
estar, aproveitando a noite, planejando nosso dia de amanhã, e é
claro, todos os caras estão na cozinha, comendo suas pizzas e
jogando conversa fora. Se é o que eles estão fazendo... Mas não
importa. Esta noite é sobre minhas amigas estarem aqui, visitando-
me. Alguns dias com elas é o que eu preciso. Sem falar que o
Halloweenestá chegando, e estamos todas animadas para comprar
nossas fantasias e sair à noite, comemorar. Vai ser épico passar
estes dias com elas, será muito bom para mim. É claro que ainda há
Marcus pairando sobre nossas cabeças, porém não irei pensar
sobre ele. Tornei-me uma pessoa mais confiante, mais segura,
então não tenho mais medo de Marcus, não depois de ter pego
Henry, de tê-lo bem onde eu quero e do jeito que quero. É só uma
questão de tempo. Basta apenas esperar, e tenho certeza de que
Marcus em algum momento irá agir por puro desespero, assim,
colocaremos as mãos nele, e ele será meu.
Já Henry... eu deixei Carter ter um pouco dele. Mas em
Marcus eu não deixarei ninguém encostar. Tenho muitas coisas
planejadas para esse monstro, por isso não quero dividi-lo com
ninguém. Será eu quem o colocará a sete palmos do chão — se
houver corpo para enterrar.

Dia seguinte...

— O que acham? — pergunto, ao sair do provador.


Estamos em uma loja a fantasia, comprando nossas roupas
para a noite de Halloween . Depois de comprarmos tudo, iremos
comprar enfeites para a minha casa, pois quero tudo perfeito. E é
claro, quero que minhas duas amigas tenham as melhores férias
das suas vidas.
— Isso é ridículo. — Moana comenta, rindo.
Eu sei que estou horrível nesta roupa. Só a vesti para
rirmos, divertirmo-nos um pouco. Estamos precisando de diversão.
— Não, pensei em fazer uma surpresa para Raphael —
comento, dando uma voltinha.
— Bem, ele terá uma bela surpresa ao vê-la assim. — Zoe
ri, colocando a mão na boca.
— Tcharam!!! — exclama Lori, saindo do provador, com uma
fantasia de vampira. — O que acham? — pergunta, olhando para
nós.
Seu olhar para em mim, e ela faz uma careta. Sorrio para a
minha irmã. Ela balança a cabeça, em horror.
— Que merda está usando, Phillipa? Isso é monstruoso.
— Bem, então eu acho que estou com a roupa perfeita, já
que é a intenção do Halloween
. — Balanço o corpo, mostrando toda
minha fantasia.
Estou com um vestido de noiva que é longo e largo,
manchado de vermelho, e há um véu por cima da minha cabeça.
— Não quando temos homens gostosos nos esperando, aío
Halloweené para sermos gostosas. — Lori rebate.
— Isso aí, temos que arrasar em nossas fantasias. —
Ohana bate palmas, rindo. — Pode ir tirando essa coisa horrível do
corpo.
— Meu Deus, o que é isso que Phillipa está usando? —
Dimitria olha para mim quando aparece com várias fantasias nos
braços. — Quando essa coisa de comprar fantasia acabou
tornando-se isso? — Aponta para mim. — Meus olhos chegam a
doer. — Balança a cabeça.
— Hahaha, engraçadinha. — Mostro minha língua para ela,
que rola os olhos.
— Tive uma ideia! — Zoe sorri para todas nós.
— Adoro ideias. — Moana acena com a cabeça.
— Eu também. Manda, estamos prontas. — Ohana esfrega
as mãos.
— O que acham de vestirmos uma fantasia assim, igual da
Phillipa, depois, irmos lá na frente, pedir a opinião dos caras? —
pergunta ela, com um sorrisinho travesso.
— Isso!! — Angel diz, rindo. — Porém, eu não tenho
ninguém, então comigo será em vão fazer isso.
— Alex veio junto. — Mexo as sobrancelhas para ela.
— E o que tem ele?
Suspiro. Ela sabe muito bem o que tem ele.
— Ah, pode ir parando, Angel. É tão óbvio que você e Alex
têm química. — Dimitria dá uma piscadinha.
— Espera aí: Alex é aquele moreno maravilhoso? — Moana
brinca, abanando-se.
— Esse mesmo — digo, e ela sorri.
— Oh, se um moreno desse me desse uma olhadinha, eu
montaria nele e nunca o soltaria. — Ohana também se abana.
— Vamos vestir-nos, então? — Zoe pergunta.
— Sim! — Todas nós dizemos, ao mesmo tempo.
Saímos dos nossos lugares e corremos ao redor da loja,
procurando por fantasias horríveis. Eu, que já estou com uma,
aproveito para torná-la ainda mais feia. Sim, quero impressionar
Raphael. Balanço a cabeça, rindo só em imaginar a cara que ele
fará ao me ver com essa roupa. Este dia está começando muito
bem. Eu só espero que termine assim, porque tudo o que é bom
demais dura pouco, ao menos quando se trata de mim. Pare de
pensar demais, Phillipa
, repreendo-me mentalmente.
Termino de escolher os adereços para completar minha
fantasia e vou ao provador. Só quero ver a cara de Raphael. Vai ser
demais.
Minutos depois, estamos todas juntas, indo ao encontro dos
caras, na parte da frente da loja.
— Prontas? — pergunto a elas, que acenam, rindo.
Lori está vestida de bruxa, porém sua bruxa se parece mais
com uma velha. Dimitria está de Annabelle. Chego até a tremer só
de olhar para ela. Zoe está de anjo, porém seu anjo se parece mais
com uma velha gagá, sendo que ela tem até verruga no nariz. O que
quis fazer com isso? Está bem estranho. Angel está de diabinha, só
que não. Ohanna e Moana resolveram vestir-se uma igual à outra.
Elas estão de Freddy Krueger. Estamos horríveis, mas vai valer a
pena, tenho certeza.
— No três, dois, um...
— E aí, o que acharam? — Lori pergunta, assim que
ficamos de frente para todos eles.
— Jesus! — Dominic diz, colocando a mão no peito.
Os outros engasgam, tossindo. Seus olhos estão
arregalados; e suas bocas, abertas. Mordo meus lábios, tentando
não rir pela cara de cada um deles. Raphael olha-me de cima a
baixo. Ele morde os lábios enquanto um pequeno sorriso se forma
na sua boca.
— Estão de brincadeira, né? — Caspen pergunta, olhando
para cada uma de nós.
Seu olhar para na sua esposa. Ele a olha de cima a baixo,
fazendo uma pequena careta.
— Preciso de uma bebida — resmunga.
— Não, essas são as nossas fantasias. Não gostaram? —
Zoe pergunta, com seu olhar indo em direção a Dominic. —
Halloweené isso, não? Dia das bruxas, fantasias e sustos, certo? —
acrescenta, fazendo cara de inocente.
Dominic pisca repetidamente algumas vezes.
— Issoé piada, só pode. — Ele murmura. — Meus olhos
estão ardendo.
— Estamos tão ruins assim? — Angel pergunta, dando uma
voltinha.
Continuo mordendo meus lábios para conter o riso. Nós
estamos péssimas, essa é a verdade.
— Gatinha, você está ótima. — Raphael diz, olhando para
mim, com um pequeno sorriso. — Ficou perfeita assim. —
Semicerro os olhos para ele.
— Oh!! Você mente muito mal, cara. Não faça isso de novo
— comento, rindo.
— Não iremos com essas roupas. — Ohana diz.
— Graças a Deus. — Alex diz, tendo seu olhar em Angel.
— Bem, só não reclamem depois das roupas que
escolhemos. — Moana pisca, sorrindo.
— O que estão aprontando? — Raphael pergunta, todo
desconfiado.
Vou até ele, ficando na ponta dos pés e dando um beijo nos
seus lábios.
— Nada que não possam aguentar.

— Foi tão perfeito... — comenta Ohana, rindo do que


aconteceu mais cedo.
— Sua ideia foi ótima, Zoe. — Zoe sorri para Moana.
— É sempre bom zoar um pouco com a cara deles —
comenta a seguir.
— Phillipa, isso é para pôr onde? — Minha irmã pergunta,
mostrando a mim uma cabeça com sangue escorrendo pela boca.
Olho em volta, tentando ver onde será o melhor lugar para
colocar a cabeça. Estamos arrumando minha casa para o
Halloween. Quero tudo perfeito para a noite de doces ou
travessuras.
— Pode colocar pendurada nessa árvore? — Aponto para a
árvore que quero.
— Pode deixar. Pedirei ajuda para Miguel. — Minha irmã
sorri para mim.
— Voltando ao assunto... — Angel começa — Raphael
dizendo que você está bonita com aquela roupa foi demais.
Todas nós começamos a rir pelo comentário de Angel.
— Foi fofo da parte dele. — Moana sorri para mim.
— Fofo até foi, mas não havia necessidade de dizer aquilo.
Sabíamos que não estávamos bonitas usando aquelas roupas. —
Dimitria ri.
— Bem, mais tarde, mostrarei a ele o quanto apreciei sua
mentira. — Pisco para elas.
— Eca. — Zoe dá uma tremidinha.
— Sem detalhes, por favor. — Moana comenta.
— Sortuda! — Ohana bate na minha bunda.
Sim, eu sei que sou muito sortuda. Neste momento, tenho
tudo o que mais quero: minhas amigas, família, Raphael... Tudo
perfeito. Bem, quase perfeito, já que ainda não tenho Marcus.
Ainda...
Capítulo Quarenta e Um

Raphael

Não consigo conformar-me com o fato de que ainda não


temos nenhuma notíciasobre Marcus. Como isso é possível? Esse
homem não pode ter sumido assim, do nada, principalmente porque
temos gente por toda a cidade e fora dela procurando por ele. Não
há nada sobre ele, em lugar nenhum. Isso é um absurdo. Não
consigo aceitar essa merda.
— Nosso foco principal é proteger as mulheres e as duas
amigas de Phillipa. — Hector diz, olhando para mim, bem sério.
Bufo, sabendo muito bem que a procura por Marcus terá
que ficar para depois. Eu mesmo quero caçá-lo, até achar o
desgraçado, mas por enquanto tenho que ficar de guarda. Não que
eu esteja reclamando, pois nunca é demais ficar perto da minha
gatinha. Porém eu queria ir para as ruas, achar qualquer dica que
indique onde Marcus está. Péssimo momento para a visita de
Moana e Ohana. Deveríamoster dito que não, que elas não podiam
vir, não até tudo estar resolvido. Agora, temos uma preocupação a
mais.
— Temos homens suficientes lá fora, à procura de Marcus,
então tudo o que devemos fazer é proteger nossas mulheres. —
Caspen fala. — Tudo certo para o passeio de hoje? — Ele olha para
mim.
— Está tudo pronto. Já entrei em contato com toda a equipe
de guia, e os helicópteros já estão prontos, esperando por nós —
digo a ele, que acena com a cabeça.
— Ótimo. O dia de hoje tem que ser perfeito para todas elas.
Hector e eu ficaremos na cidade. — Caspen diz, e Hector acena. —
Dominic, Alex, Miguel e Maddox irão com você e as meninas.
Enviarei mais alguns seguranças para ficarem nas redondezas do
Grand Canyon enquanto vocês passeiam.
— Bom, assim fico mais tranquilo. Iremos de helicóptero
para ser mais rápidos. Também reservei passeios por lá. Não quis
alugar quarto de hotel. Ficaremos em uma casa que aluguei. Mais
fácil para proteger, caso Marcus resolva dar as caras. Difícil ele
aparecer por aqui, mas tratando-se dele, nunca se sabe.
— Prefiro que voltem no mesmo dia. — Caspen cruza os
braços, fechando a cara.
Escondo o sorriso. Ao que parece, o grande chefe da máfia
não gosta nem um pouco da ideia de ficar longe da esposa. Não
que ele demonstre isso, todo tão sério e mandão. O homem mal
sorri. Ele só não é pior do que Hector, porque esse sim não tem
expressão nenhuma.
— Caspen, o lugar é grande, e tenho certeza que Phillipa irá
querer mostrar tudo para as amigas. Será impossível voltarmos
hoje. — Olho para o relógio no meu pulso. — Elas já devem estar
acordando, cheias de animação para o dia, então, melhor voltarmos
amanhã, pela tarde, assim, poderemos mostrar-lhes o máximo que
pudermos.
Caspen suspira, passando as mãos pelos cabelos.
— Tudo bem. Quero que Carter vá junto, então. — Ele diz,
olhando para o irmão.
— Porra! — grunhe, e pelo olhar que dá a Caspen, sei muito
bem que isso não ficará assim. — Era para Sophia estar aqui, ao
menos, assim ela aproveitaria o passeio — comenta, frustrado.
— Ela quis ajudar Lauren e Happy a olhar as crianças. Meus
filhos estão com elas. — Caspen dá um pequeno sorriso ao falar
dos filhos.
Balanço a cabeça. É muito amor, mas o que posso dizer?
Sou assim só de pensar em Phillipa. Até quando penso no bebê que
perdemos eu sorrio. Ele esteve presente por tão pouco tempo, mas
foi o suficiente para me deixar feliz. Merda, estou sendo brega
demais...
— Bom, tenho que voltar para casa, Phillipa já deve ter
acordado...
— Na verdade, todas já acordaram. — Dominic diz,
mostrando o celular. — Acabei de receber uma mensagem dizendo
que estão todas prontas e esperando por nós — comenta ele, rindo.
— Por que as mulheres são tão apressadas?
— Apressadas não, elas são ansiosas. — Caspen diz.
— Estão apenas aminadas com o passeio — digo, dando de
ombros.
Dominic, sendo sempre o engraçadinho, ri, apontando o
dedo para mim.
— Acho que até você está todo animado para um passeio
com a namorada, não é? — implica ele.
Fecho a cara pelo seu comentário irritante. Todavia ele tem
razão. Mesmo estando com outras pessoas neste passeio, vai ser
muito bom estar com Phillipa, nem que seja apenas para olhá-la
enquanto aproveita com suas amigas.
— Olha lá, viu? Estou dizendo a verdade. Olhem o sorriso
no rosto dele. — Balanço a cabeça, dando um olhar feio para
Dominic.
— Haha, olha quem fala. A Zoe estará lá também — rebato.
O sorrisinho morre da boca de Dom e ele cruza os braços,
estreitando os olhos para mim. Sorrio, satisfeito porque cutuquei seu
ponto fraco.
— Ela é minha irmã, Raphael, e sua prima.
— Sua irmã adotiva, Dominic. — Mexo as sobrancelhas.
Dom abre a boca para rebater, contudo Caspen limpa a
garganta.
— Vocês dois estão dando dor de cabeça. Saiam daqui e
curtam o passeio, vão. — Ele nos dispensa, com um gesto de mão.
Assim que saímos do escritório, Carter nos segura pelo
braço, parando-nos. Olho para ele, querendo saber o que quer.
— Vocês dois, se comportem, porque se me estressarem,
eu corto a cabeça de vocês. — Ele nos solta e começa a andar na
nossa frente.
Dominic e eu olhamos um para o outro, dando um pequeno
sorrisinho cúmplice. Será mais fácil Carter perder a cabeça, do que
Dom e eu.
Phillipa

É TÃO emocionante, que minhas mãos e pernas estão


tremendo. Estou super-nervosa, e também com aquele friozinho na
barriga, sabe? Ai, é primeira vez que estou em um helicóptero, indo
em direção a Grand Canyon! Eu quero gritar e dar pulinhos, mas
seria muito infantil da minha parte causar esse vexame, então
apenas aperto a mão de Raphael, que olha para mim, sorrindo.
No nosso helicóptero estão minhas duas amigas, Moana e
Ohana. Zoe, Dominic e Alex estão com o piloto, na parte da frente
do helicóptero. Já no segundo, estão Lori, Angel, Dimitria, Miguel e
Maddox, bem como Carter, que se encontra na frente, com o piloto.
— Nervosa? — Raphael pergunta a mim, pelo fone.
— Está tão na cara assim?
Ele aperta minha mão, dando um pequeno sorriso. Com sua
mão livre, dá uma cutucada no meu nariz com o dedo.
— Gatinha, você está com a mão suando, suas pernas não
param de tremer e está mordendo esses lábios. — Pisca para mim.
— Ai, é um nervosismo misturado com excitação... — digo,
sorrindo para ele.
— Eu também estou assim! — Ohana bate palmas. — É
maravilhoso! Olha ali. — Aponta para a janela do avião.
A paisagem é incrível. Ainda nem estou acreditando que
isso está acontecendo, e com as pessoas que eu amo, que me
apoiaram quando eu mais precisei. Ai, quero chorar neste
momento...
— Estamos chegando. Wow, olha como isso é espetacular!
— Moana diz, colocando as mãos na boca.
Sorrio. É muito lindo mesmo. Tão perfeito. Todas essas
rochas, o rio passando entre elas, o sol iluminando tudo... É de tirar
o fôlego, de tão lindo.
O helicóptero pousa no heliporto próximo à casa que
Raphael alugou para passarmos a noite. Assim que as hélices
param, Raphael e Dominic nos ajudam a sair do helicóptero.
— Você viu a paisagem? Estou apaixonada por esse lugar!
— Angel diz, olhando em volta.
— Você mora por perto. Nunca veio visitar? — Zoe
pergunta, olhando para ela.
— Meu foco é o trabalho. Não tinha tempo, nem dinheiro
para passeios como este. — Dá de ombros, como se não fosse
nada, mas dá para perceber que ela sente por não poder fazer e ter
tudo o que quer.
Eu a entendo. Eu já fui ela um dia. Trabalhar para
sobreviver, não para viver, dói demais, porém essa é a verdade da
humanidade.
— Vamos entrar, guardar as malas e começarmos nosso
passeio. — Raphael diz, ao colocar sua mão nas minhas costas,
guiando-me para dentro da casa.

— Raphael — chamo por ele, olhando para a plataforma de


vidro que dá a volta de um lado para o outro, bem na beira de uma
rocha do Grand Canyon.
— Com medo, gatinha? — Ele sorri para mim.
— E se isso cair? E se o vidro rachar e quebrar? —
pergunto.
Meu coração bate forte no peito quando olho para a
plataforma. Minhas mãos tremem mais do que o normal, sem falar
das minhas pernas, que estão bambas. Olho para as minhas
amigas, que já estão no meio da plataforma, tirando várias fotos e
divertindo-se, assim como o resto do pessoal. Só eu que ainda não
tive coragem de colocar o pé na plataforma. O chão é de vidro.
VIDRO.Sem falar das pessoas que estão andando de um lado para
o outro. Eu não sou uma pessoa medrosa, mas isso é brincar com a
morte, não é?
— Gatinha, nada irá acontecer. É bastante seguro. Olhe
para as pessoas. Não tem ninguém com medo e tudo está bem,
suas amigas estão divertindo-se. — Dá um beijinho em mim.
— Phillipa, venha! Queremos fotos! — Moana grita,
balançando a mão.
Mordo meus lábios e dou uma olhadinha a Raphael, que
acena para mim.
— Vá lá e aproveite. Estarei aqui, de olho, depois, irei lá,
tirar uma foto com você. — Ele sorri, dando um pequeno empurrão
em mim para eu ir em frente.
Senhor, tenha misericórdiae me proteja, peço. Um passo de
cada vez, um passo de cada vez, murmuro para mim, colocando um
pé em frente ao outro, até que consigo chegar onde minhas amigas
estão. Elas me abraçam, em seguida, começam a tirar fotos e
apontar para a paisagem. Começo a relaxar aos poucos. Ainda
estou um tanto receosa por causa da plataforma, porém confesso
que é muito bonito.
— Quero ficar aqui para sempre! — Ohana diz, sorrindo.
— Principalmente se estivermos na companhia deles. —
Moana aponta para Miguel e Maddox.
Balanço a cabeça, sorrindo para elas. Dou uma olhadinha
aos dois, que estão de olhos estreitos para minhas amigas. Acho
que essas duas não vão embora enquanto não os enlouqucerem.
Boa sorte para elas. Miguel e Maddox são tão centrados.
— Esta é a segunda vez que venho aqui, mas parece a
primeira. É tão lindo. — Zoe comenta.
Ela sorri, fechando os olhos e erguendo a cabeça. Aproveito
este momento para dar uma espiadinha em Dominic, que está com
um olhar de águia em Zoe. Sorrio. Esses dois têm uma grande
química, entretanto não sei por que Dom ainda não fez nenhum
movimento em direção a ela. Ele a quer tanto quanto ela o quer.
— Meu irmão é lento demais. — Pulo quando ouço a voz de
Dimitria ao meu ouvido.
Olho para ela, que, balançando a cabeça, olha entre Dom e
Zoe.
— Acho que a maioria dos homens dessa família é lenta —
comento.
— Eu concordo plenamente. — Lori ri. — Caspen demorou
anos; Lorenzo, também; aí vem Raphael... e assim vai. — Suspira.
— O que as mocinhas estão fofocando? — Raphael
pergunta, colocando a mão na minha nuca, massageando-a.
— Nada — digo a ele.
— Apenas coisas de mulher. — Dimitria afirma.
— Bom, o que acham de um passeio de helicóptero pelo
Grand Canyon? — Ele sugere, olhando para a gente.
— Pensei que a vinda para cá já fosse um passeio. —
Ohana comenta, enrugando a testa.
— Não, nós apenas viemos para cá de helicóptero, não foi
um passeio — explica ele.
— Será que podemos ir logo? — Carter interrompe. —
Temos horário. — Aponta para o relógio.
Fico perguntando-me como Sophia consegue aguentar esse
homem, sendo que dá medo a qualquer pessoa, basta olhar para
ele. Quando está irritado, fica ainda pior. E pelo que parece, Carter
não queria estar aqui.
— Pode deixar, cara amarrada, nós não iremos atrasar o
passeio. — Moana dá um tapinha no peito de Carter.
Coloco a mão na boca, não acreditando no que ela acaba
de fazer. Essa mulher não tem medo do perigo? Principalmente
porque Carter não gosta de ser tocado, não por qualquer pessoa.
Olho em volta, observando todos parados, olhando entre Moana e
Carter, todos com cara de preocupação. Moana para e olha para
nós, estreitando os olhos.
— Olá. Será que podemos ir? Não sei por que essas caras
de espanto — diz ela, olhando de um lado para o outro, logo em
seguida, seu rosto perde a cor; e seus olhos, se arregalam.
Ela coloca as mãos na boca e dá um passo para trás.
— Tudo vai ficar bem, fiquem tranquilos. E andem bem
devagar para cá — diz, colocando as mãos para frente.
— Moana? — pergunto a ela.
— Mantenham a calma e venham a passos lentos —
continua ela. — Eu estou tranquila, e vocês precisam estar também.
Não precisam fazer essas caras, tudo vai ficar bem.
Sem entender, olho para Raphael, que dá de ombros. Olho
para o restante do pessoal, que olha para Moana como se ela
estivesse louca.
— Moana, o que está acontecendo? — Ohana pergunta,
dando um passo para frente.
— Venham, devagar. — Moana instrui. — A ponte pode cair
a qualquer momento, ou o vidro quebrar...
— Moana, nada vai cair ou quebrar, tudo está perfeitamente
bem — digo-lhe.
Ela pisca repetidamente algumas vezes, olhando em volta,
finalmente percebendo que tudo está bem, então se concentra em
mim.
— Então, por que diabos vocês estavam me olhando com
caras espantadas, com medo? — pergunta. — Vocês deram um
baita susto em mim. — Coloca as mãos no peito. — Não façam
mais isso. Agora que tudo está bem, vamos logo, antes que o cara
grande aqui fique ainda mais emburrado. — Aponta para Carter.
Mordo os lábios, controlando o riso. Essa minha amiga
dança na cara do inimigo.

O passeio de helicóptero foi incrível. O sol estava no seu


melhor. A paisagem encontrava-se perfeita, mas o que esteve
melhor ainda foi o piquenique, bem no topo do Grand Canyon, para
todos nós. Foi o melhor dia de todos, o melhor passeio que Raphael
e os outros caras poderiam planejar.
— Tínhamos que ter gravado a cena lá de Moana. — Zoe
comenta, rindo.
Encontramo-nos todas na jacuzzida casa alugada na qual
estamos hospedas. O dia foi longo, e confesso que estou cansada
do passeio. Meu corpo está ardendo um pouco por causa do sol
quente dessa tarde. Tomo um gole do vinho da minha taça e
começo a rir com a lembrança da cara de Moana mais cedo.
— Não é engraçado. — Ela diz, cruzando os braços.
— Desculpa, Moana, mas foi muito engraçado. — Dimitria ri.
— Você estava toda preocupada; seus olhos, arregalados.
— Mantenham a calma, deem passos, bem devagar. —
Começo a rir com a imitação de Lori.
— Tudo vai ficarbem. Eu estou tranquila . — Ohana se
levanta da jacuzzi
, fazendo uma imitação ainda melhor.
— Isso,ficou perfeita, foi bem assim. — Angel bate palmas,
caindo na gargalhada.
— Ué, você todos pararam e olharam-me, tão preocupados,
que a única coisa que veio à minha mente foi isso. — Moana diz,
fazendo beicinho.
— Estávamos assim porque tocou em Carter — explico a
ela.
— Bonitão, de cara feia, que é assustador? — pergunta,
apontando para dentro da casa, como se Carter estivesse bem ali.
— Esse mesmo. Ele não gosta de ser tocado, muito mesmo
que fale com ele do jeito que falou — explico.
Ela hesita um pouco.
— Bem, agora já foi. Não irei repetir esse meu erro... assim
eu espero. — Do nada, ela começa a rir. — Oh, meninas, pensando
bem, todo aquele meu venham devagar, tenham calma e tudo vai
ficarbem foi hilário. Não acredito que fiz isso. — Coloca a mão na
boca enquanto ri mais.
— Pena que não gravamos. — Dimitria diz.
— Foi épico. — Tomo mais um gole do meu vinho,
saboreando-o.
Era exatamente isso que eu precisava: um bom passeio, ter
minhas amigas ao meu lado e, à noite, relaxar nesta jacuzzi
maravilhosa. Sem falar do meu homem que estará esperando-me
para dormimos juntos. Sorrio só em pensar. Tenho tanta sorte!
— Iiihh, acho que Phillipa, aqui, está sonhando acordada. —
Angel diz, dando uma cutucadinha em mim.
— O quê? — pergunto a elas.
— Sim, sonhando acordada, e acho que sei exatamente
com quem ela está sonhando. — Minha irmã mexe as sobrancelhas.
— Ei, não estou sonhando acordada, só pensando no dia
perfeito que tivemos hoje.
— Perfeito mesmo. Agora, temos que pensar sobre o clube
gay. — Moana comenta, dando um sorrisinho.
Coloco minha mão na testa, balançando a cabeça. Suspiro
quando vejo os sorrisos à minha volta. Deus me ajude!
Capítulo Quarenta e Dois

Dois dias depois...

Issoé uma má ideia. Olho às meninas, que sorriem para


mim, dando acenos animados. Suspiro, não sabendo o que fazer
com essa ideia delas. É claro que eu já imaginava que não
desistiriam da boate gay, mas uma mulher pode sonhar, certo?
— Então... quem vai informar aos homens lá embaixo aonde
iremos? — Ohana pergunta, dando uma olhadinha para mim.
— De jeito nenhuma — nego.
— Vá, Phillipa, é por uma boa causa, por favor. — Moana
pede, sorrindo para mim.
Estreito meus olhos a ela.
— Os grandes chefes aqui são Caspen e Hector. Como
Hector não tem mulher, sobra Lori para falar ao homem dela aonde
vamos — explico, dando à minha irmã um sorriso, meu melhor
sorriso.
Confesso que quero ir à boate gay. Deve ser demais,
principalmente aqui, em Vegas, onde tudo é exagerado. Mas eu sei
que os homens lá embaixo, esperando por nós, não irão gostar nem
um pouco. Posso até imaginar o desconforto deles. Não que eles
sejam preconceituosos. Longe disso. Porém irão chamar atenção,
disso eu tenho certeza, então posso imaginar como será. Super-
divertido para nós, mulheres, e muito desconfortável para os
homens.
— Querida, irmã, o responsável por toda segurança é seu
homem, então, sinto em informar-lhe: você dirá a eles aonde iremos.
— Minha irmã dá um grande sorriso comedor de merda para mim.
Suspiro, sabendo muito bem que ela tem toda razão. Não
estou nem um pouco pronta para descer e dizer aonde vamos,
entretanto terei que fazer esse sacrifício por todas nós.
— O que eu não faço por vocês? — Olho de cara feia para
elas, que sorriem para mim. — Vai ter volta.
— Nós a amamos. — Dimitria sorri, mandando beijos para
mim.
— Estou vendo. — Respirando fundo, viro-me, abrindo a
porta do meu quarto, porém paro antes de sair. — O que estão
fazendo paradas aí?Eu posso dizer para onde vamos, só que todas
irão descer comigo e mostrar apoio. — Começo a rir quando elas
fazem cara de espantadas. — Acharam que seria fácil assim? —
Pisco um olho.
— Tudo bem, nós desceremos com você. — Minha irmã
encaixa seu braço no meu. — Boa sorte — brinca, em um sussurro
ao meu ouvido.
— Vai ter volta.
Ajude-me, oh, deusa do universo, a passar por essa
provação, sussurro, à medida que descemos as escadas. Ao meu
lado, minha irmã ri. Quero ver se ela continuará achando engraçado
quando os caras dizerem não. Principalmente Caspen, que é todo
sério.
— Vejo que já estão prontas. — Raphael diz, ao puxar-me
para si, dando um pequeno beijo nos meus lábios. — Já temos tudo
organizado no clube — acrescenta, sorrindo para mim.
Dou uma olhadinha para as meninas, que dão um aceno,
incentivando-me. Logo em seguida, olho para os caras que nos
esperam. Caspen está com Lori. Ela dá uma piscadinha para mim.
Lá vamos nós.
— Sobre isso... — Paro, dando uma mordidinha nos lábios.
Raphael fica tenso; seu olhar, tão intenso e pensativo, em
mim. Sorrio para ele.
— Phillipa... — grunhe, semicerrando os olhos.
Faço cara de paisagem e olho para todos os lados, menos
para ele.
— Gatinha? — chama, abrindo um grande sorriso.
Eu finalmente o olho.
— É que nós mudamos... hum... digamos que...
— Ah, pelo amor de Deus! — exclama Dimitria, dando um
passo à frente, tornando-se então o centro das atenções. —
Mudamos de clube, nós iremos para...
— Não. — Caspen interrompe-a.
— O quê? Nem terminei de falar. — Ela diz.
— Minha resposta é não. Sei muito bem para onde querem
ir — rebate Caspen.
Olho para Raphael, um pouco hesitante. Ele estreita os
olhos. Dou um meio sorriso sem graça.
— Concordo plenamente com Caspen. Não e não. —
Raphael diz, sendo firme.
— Nós queremos apenas ajudar. — Moana olha para
Christian, dando-lhe um joinhacom o dedo.
Percebendo do que estamos falando, ele começa a rir,
balançando a cabeça.
— A boate gay — diz, e nós acenamos, entusiasmadas.
— Isso mesmo! V
ai ser super! — Bato palmas.
Sinto a mão de Raphael apertar minha cintura, em sinal de
aviso. Olho para ele, fazendo cara feia. Estamos decididas, e
ninguém aqui irá mudar nossas opiniões sobre a boate em que
queremos ir.
— Agradeço pela ajuda de vocês, mas não é meu estilo. —
Christian diz, dando um encolher de ombros.
— Como não é seu estilo? — Ohana pergunta, encarando-o.
— Haverá homens lá, e talvez possa gostar de um, quem sabe.
Christian olha para cada uma de nós. Ele suspira, em
frustração. Olha para Caspen, depois, para Raphael.
— Isso é com vocês. Eu sou apenas o segurança aqui.
— Por favor, por favor... — Todas nós começamos a
implorar, fazendo ecoar nosso pedido pela casa.
— Chega! — Caspen grita, tendo sua voz grossa sobre a
nossa.
Moana e Ohana se encolhem, receosas. Ele dá um olhar
duro para cada uma de nós.
— Vocês, esperem sentadinhas aqui, que vou reorganizar
tudo para esse clube que querem ir. — Estamos prontas para gritar,
em animação, mas o olhar mortal de Caspen nos para. — Não
quero ouvir nenhum sussurro ao menos enquanto resolvo essa
merda.
Caspen lidera os homens até o escritório. Raphael beija
meu pescoço antes de sair.
— Iremos ter uma conversinha mais tarde — sussurra ele,
ao meu ouvido, deixando uma promessa no ar.
Meu corpo treme, em expectativa.

Raphael

Trinco meus dentes quando um cara se aproxima de mim.


Esta já é a décima vez. Sem preconceito, é claro, porém não gosto
quando sou tocado, acariciado, alisado e xavecado neste clube. O
pior é quando tentam agarrar-me. Juro que vou acabar perdendo a
paciência neste lugar. Jesus! Estar aqui é um sacrifício, e dos
grandes, contudo o que posso fazer? As meninas estão divertindo-
se, elas até se enturmaram com um grupo de Drag Queens.
Balanço a cabeça. O que eu não faço por Phillipa?
— Juro por Deus que se alguém tentar apalpar-me mais
uma vez, eu vou perder a paciência. — Dominic murmura, ao meu
lado.
— Somos dois — digo a ele.
— Três — rosna Caspen, olhando em volta, com puro
horror. — Que diabos estamos fazendo aqui?
— Foi você quem concordou — comento, e ele me olha de
cara feia.
— E eu não sei disso? — Balança a cabeça. — Essas
amigas de Phillipa só inventam. Da próxima vez que elas vierem, eu
não estarei aqui.
Passo as mãos pelos cabelos, querendo sair deste lugar o
mais rápido possível. Olho em volta, procurando os demais
seguranças. Escondo o riso quando deparo caras e bocas. Pelo
visto, nenhum deles queria estar aqui.
— Olhem para a cara de Christian — comento, soltando
uma risada.
Pobre coitado, está parado, em um canto escuro, todo
encolhido, olhando em volta, como um animal enjaulado. Para um
homem reservado como ele, estar em um lugar como este deve ser
assustador. Confesso que não é de todo ruim, mas nem todo mundo
gosta de lugares assim.
— Parece que ele vai fugir a qualquer momento. — Caspen
balança a cabeça.
— Todos nós queremos fugir daqui, Caspen. — Dominica
diz, fazendo uma careta.
— Olha o que temos aqui. — Respiro fundo quando somos
interrompidos por dois homens vestidos de mulher. — Qual de
vocês dará a mim o prazer de uma dança?
— Ou algo mais. Eu adoraria levá-los para um passeio. — O
outro diz, mexendo as sobrancelhas de forma sugestiva.
Olho bem para os dois — Consertando: as duas, já que
ambos têm silicone no peito. O rosto é entre feminino e masculino.
Estão com cabelos compridos e maquiagem.
— Desculpa, Senhoras, mas estamos aqui apenas para
observá-las — digo, apontando para o grupo de mulheres dançando
na pista de dança.
— São héteros? — pergunta uma, olhando-nos de cima a
baixo.
— Issoé um pecado! — A outra diz, balançando a cabeça,
em descrença.
— Sim, Senhoras, somos héteros — digo a elas, que
sorriem para mim.
— Espera aí... eu sei quem vocês são. — A loira começa a
rir. — Temos os Callahan’s em uma boate gay, isso é épico!
Merda! Tanto para sermos discretos... Olho para Caspen,
que está tenso, em alerta, olhando para os lados, provavelmente
vendo se alguém está ouvindo a conversa. Graças aos céus, a
boate está barulhenta e ninguém está prestando atenção no que
falamos. Bem, apenas no que falamos, porque há vários olhares
sobre nós.
— Nós iremos deixá-los. Dá para perceber que estão
desconfortáveis aqui. Boa sorte para vocês, rapazes. — Elas dão
tchauzinho e saem de perto.
— Não vou aguentar ficar aqui por muito mais tempo, não —
aviso. — Phillipa terá que me recompensar muito bem por isso.
Cruzo os braços, tentando manter a porra do controle. Boate
gay... era só o que me faltava...

Phillipa

— Isso aqui é demais! — grito, erguendo os braços e


movimentando meu corpo com o ritmo da música.
— Temos que vir mais vezes — concorda Dimitria,
rebolando.
— Não acho que os caras vão gostar da ideia de voltarmos
aqui — comenta Zoe, dando uma olhadinha para onde Caspen,
Raphael e Dominic estão.
Os três se encontram com cara fechada e braços cruzados,
olhando de um lado para o outro. A impressão que dá é de que
queriam estar em qualquer outro lugar.
— Depois conversaremos sobre isso. Vamos aproveitar o
momento — digo a elas, que acenam.
— O que vocês estão fofocando? — Uma drag chamada
Verônica pergunta, colocando o braço em volta de mim. — E,
querida, já aviso: vou querer esse sapato emprestado. — Ela aponta
para os meus pés.
— Já disse que meu número não é o mesmo que o seu —
aviso.
— Daremos um jeito — diz, como se não fosse nada
demais.
Balanço a cabeça, rindo. Ela calça três números a mais que
eu, todavia insiste em querer meus sapatos.
— Preciso deles para uma apresentação. — Pisca um olho.
— Verônica, como irá calçar um sapato menor que seus
pés? — Britney, outra drag, pergunta.
— Já disse que vou dar um jeito, nem que eu corte meu pé.
Olhe para esses sapatos! São lindos, e eu preciso deles. — Ela dá
uma voltinha, olhando para os pés de todas nós. — Na verdade, vou
querer os de todas emprestado. — Sorri.
— Meninas, vamos falar de sapatos depois. Eu quero é me
divertir. — Angel diz, mexendo os quadris.
— Amo essa música! — grito, já movimentando meu corpo,
ao som Call Me By our
Y Name, de Lil Nas X.
Juntamo-nos em uma pequena roda para dançar. A noite
está ótima, e o astral deste lugar é maravilhoso. As pessoas são tão
para frente, divertidas, que se eu pudesse, frequentaria só este
clube.
“Call me when you want, call me when you need”
Gritamos o refrão da música. Sorrio para as meninas.
Porém o intuito de estar aqui é encontrar alguém para
Christian, ou ao menos fazê-lo divertir-se. Só que não consigo achá-
lo.
— Vocês viram Christian? — pergunto, cutucando Lori com
o cotovelo.
Minha irmã dá uma olhada em volta.
— Não.
— O que foi? — Ohana pergunta.
— Christian — digo a ela.
— Ah, ele está em um canto, escondendo-se. Acho que não
está confortável aqui. — Ela responde.
Mordo os lábios. Será que fizemos errado em trazê-lo aqui?
Talvez não tenha se assumido totalmente, ou seja mais reservado.
Merda! Deveríamos ter perguntado a ele primeiro.
— O que está preocupando-a? — Minha irmã pergunta.
— Será que fizemos errado em trazer Christian aqui?
— Ele parecia bem desconfortável quando chegamos —
concorda ela.
— Devemos ir até ele? — pergunto, e ela dá uma olhadinha
em volta.
— Não consigo nem o achar.
Desde que chegamos, Christian está escondido, e nem
sabemos onde. Parece que apenas Ohana o viu em algum lugar. O
que faremos agora?
— Vou dar uma pausa — digo a ela, que acena, em acordo.
Abro espaço pelas pessoas, até chegar no bar, onde
encontro Raphael. Sorrio ao ter uma ideia. Chego por trás dele,
porém Dominic me vê. Com um gesto, peço que fique quieto. Como
resposta, ele pisca para mim.
Quando alcanço Raphael, aperto a bunda dele, que pula e
se vira, pronto para entrar em ação.
— Ei, gato, eu o vi parado aí, com essa deliciosa bunda... O
que acha de dançar comigo, ou me levar para casa? — Dou a ele
um sorrisinho safado.
— Porra, gatinha... — diz, balançando a cabeça. — Quase a
soquei. Não faça mais isso.
Faço beicinho para ele, que me beija.
— Divertindo-se? — pergunta, nos meus lábios.
— Sim, mas parece que vocês não estão.
— Nem um pouco.
— Será que podemos sair deste lugar? — reclama Dominic.
— Estou cansado de ser apalpado.
— Não, estamos nos divertindo muito aqui. Fizemos até
amizade com duas drags. — Dom suspira, fechando ainda mais a
cara. — Vá até Zoe e a convide para dançar, quem sabe sua noite
melhore.
Não espero por uma resposta dele, apenas puxo Raphael
pelo braço, levando-o para a pista de dança e esquecendo
totalmente de Christian.
Para a minha total surpresa, o mesmo está ali, dançando no
meio de Britney e Verônica. Outra surpresa é que Dominic
realmente chamou Zoe para dançar, e Caspen tem minha irmã nos
braços. Sorrio, sabendo que a noite está finalmente indo como
planejado.
Danço com Raphael, esquecendo todos à nossa volta. Estar
nos seus braços é excitante. Nossos corpos se encaixam
perfeitamente.
— Oh! — exclamo, quando vejo um casal de homens
beijando-se.
As mãos de Raphael se fecham na minha cintura. É tão
sensual o casal beijando-se, que me sinto excitada só em olhá-los
juntos. A forma com que se encaixam, as mãos passando por seus
corpos e suas bocas unidas... Suspiro.
— Vê-los beijando-se a excita, gatinha? — Raphael
mordisca minha orelha, trazendo arrepios ao meu corpo.
Dou um pequeno gemido, sentindo que o pau dele se
esfrega em mim. Fecho meus olhos, com a imagem dos dois
homens beijando-se ainda na minha mente enquanto Raphael e eu
dançamos. Suas mãos estão no meu corpo, trazendo sensualidade
à dança, deixando-me ainda mais excitada. Nunca tinha imaginado
que dois homens juntos me excitaria tanto. É tão sensual, quente...
Céus! Estou prestes a ter um orgasmo só em ter a imagem na
minha mente.
— Porra, gatinha... — Raphael pega-me pelo braço,
levando-me para um dos banheiros que há no clube.
A porta é trancada e sou jogada ali. Minhas pernas se
enrolam em volta da cintura de Raphael. Nós nos atacamos como
animais. A batida da música ecoa pelo lado de fora do banheiro.
Esfrego minha boceta no seu pau enquanto sua boca beija a minha
com tanta fome...
— Raphael... — sussurro seu nome, em puro desespero.
Eu o quero dentro de mim, seu pau fodendo-me tão
profundamente, sua pélvis roçando meu clitóris... é disso que
preciso. Raphael coloca-me de pé, rasgando minha calcinha, em
seguida, abre o zíperda própria calça, colocando seu pau para fora.
— Rápido, rápido... — imploro, louca para tê-lo dentro de
mim.
Ele sorri para mim.
— Tão apressada, minha gatinha.
Pegando-me mais uma vez, ele ergue o meu corpo,
colocando-me contra a porta. Minhas pernas se fecham em volta da
sua cintura novamente.
— Se eu soubesse que dois homens juntos a excitaria, teria
vindo antes a este clube. — Sua boca desce sobre a minha.
Fecho meus olhos, abrindo minha boca, deixando sua língua
entrar. Seu pau bate dentro de mim, fazendo-me gemer na sua
boca. Raphael me fode contra a porta do banheiro de uma boate
gay, depois de termos visto dois homens pegando-se. É gostoso
demais. Sua boca desce para o meu pescoço, ele dá pequenas
mordidinhas, excitando-me ainda mais... Coloca as mãos sobre a
porta. Envolvo as minhas nas suas costas, arranhando-o enquanto
ele me toma.
— Não para, não para... — peço.
Quando seu pau se esfrega sobre meu ponto G, minha
cabeça cai para trás, batendo na porta. Doce Senhor das
rapidinhas! Tão gostoso...
— Raphael! — grito seu nome. — Mais, mais, por favor... —
peço a ele.
— Gatinha, sua bocetinha apertando meu pau é tão
gostoso... Caralho, você é toda gostosa... — grunhe ele.
Suas palavras me levam ainda mais ao limite. A sensação é
tão gostosa: seu pau preenchendo-me, seu corpo contra o meu...
Doce Senhor!
— Raphael! — grito seu nome quando venho, à medida que
minha boceta convulsiona.
— Porra, porra, caralho! — rosna ele, preenchendo-me com
seu esperma.
Nossos corpos estão tremendo e cobertos de suor. Abro
meus olhos, olhando para ele. Sua testa está encostada no meu
ombro; nossas respirações, aceleradas. Sorrio, sentindo-me
satisfeita com a rapidinha.
— O banheiro não é exclusivo. — Batem na porta.
Raphael ergue a cabeça, olhando para mim. Mordo os
lábios, tentando conter o riso.
— Quero mijar! Abram logo essa merda! — Não consigo
segurar-me e começo a rir.
Raphael se junta a mim. Às pressas, nós dois nos
arrumamos e saímos do banheiro, rindo.
— Que vergonha — murmuro.
— Eu achei muito gostoso. — Dá uma piscadinha.
Ah, sim. Foi muito, muito gostoso.
Bônus

Marcus

Agir. Eu tenho que agir. Não aguento mais ficar trancado


neste maldito lugar dos infernos, apenas esperando o momento em
que me encontrarão. Um riso sem graça deixa meus lábios. Eu
estou na merda, não tenho aliados, sem Henry, sem minha família,
só na miséria, escondido pelas sombras da noite, fazendo de tudo
para não ser visto, nem localizado.
— Garoto — chamo o menino, que vem.
Patético, não é? Um garoto de rua ajudando-me. Dá até
vontade de rir, de tão trágica que essa merda é.
— Sim, Senhor?
— Quero que fique de olho nos Callahan’s para mim. Conte
a mim tudo o que ouvir e vir. Quero saber onde estarão. — Ele
acena com a cabeça.
Preciso agir, preciso fazer algo, qualquer coisa. Qualquer,
qualquer coisa. Andando de um lado para o outro, repito as
palavras, mais e mais em minha mente. Agir, agir, eu preciso agir,
fazer algo, ir até os Callahan’s. Balanço a cabeça, esfregando a
testa. Merda!
Capítulo Quarenta e Três

Phillipa

Hoje é véspera de Halloween


, e quero comemorar com
grande estilo. É por isso que preparei uma surpresinha para
Raphael. Já está tarde, então minhas duas amigas já estão
acomodadas nas suas camas. Se bobear, até já dormiram, o que
para mim é perfeito. Esta noite é apenas minha e de Raphael,
portanto espero que nada nos atrapalhe.
Estou tão nervosa, que fico andando de um lado para o
outro. Meu corpo está todo tenso. Nunca fiz algo assim. Espero que
Raphael goste. Bem, que homem não gostaria, não é mesmo? Dou
mais uma olhada para mim pelo espelho, em seguida, faço uma
voltinha para ter certeza de que tudo está no lugar. Sim, está tudo
certo, não há nada faltando. Olho também para o quarto, a
preparação que fiz. Tudo está do jeito que planejei. Um pequeno
sorriso se forma no canto da minha boca. Raphael vai ficar louco,
sim, muito louco. Meu coração bate forte no peito. Ai... meu coração
está batendo tão rápido, que parece que terei um treco. Não sei por
que eu estou assim, tão nervosa, pois não é a primeira vez que visto
uma fantasia. Trabalhei durante anos no clube de Caspen
fantasiada de Alice do filme Aliceno País das Maravilhas , bem
como sempre fui confiante e sensual. No entanto, agora é diferente,
é para Raphael. Por isso esta noite é especial.
Só tenho que o esperar chegar da reunião com Caspen,
Hector e Carter. Esperar... eu não tenho paciência para ficar
esperando. Sento-me na beira da cama, olhando para as minhas
mãos. Espero que Raphael não demore muito.
Tudo por culpa da merda de Marcus. Esse homem já
deveria estar morto há muito tempo. Deve ter sete vidas, só pode.
Bem, Caspen deveria é ter arrancado a cabeça dele, assim, não
teria como voltar à vida. Seria bem mais fácil. Um erro. Caspen
cometeu um erro. Mas eu, eu não. Não cometerei esse erro.
Quando tiver Marcus, será para enviá-lo direto ao inferno. Ele e
Henry. Sorrio, sabendo que Henry ainda está vivo e sofrendo.
Meu sorriso se amplia, só que de modo diferente, quando
ouço a porta do andar de baixo abrindo-se e, logo em seguida,
fechando-se. Raphael está em casa, portanto nosso jogo vai
começar. A bruxinha aqui está pronta para brincar.

Raphael

Finalmente em casa. Essa reunião foi cansativa demais,


pois não temos merda nenhuma sobre Marcus. O homem não sai da
toca, ninguém sabe sobre ele. Isso está levando-nos ao limite.
Quero acabar logo com isso, dar um pouco de paz e tranquilidade,
principalmente para Phillipa. Com Marcus estando fora do caminho,
tudo será mais tranquilo... assim eu espero.
Entro na casa, dispensando Miguel e Maddox. Assim que
eles saem, eu ligo o alarme de segurança e dou uma checada nas
câmeras, assim como nos seguranças em volta da casa pelo meu
celular, tendo então a certeza de que tudo está certo. Cansando e
pronto para ter um momento a sós com minha gatinha, subo os
degraus da escada, indo direto para o nosso quarto. Assim que abro
a porta e entro, eu paro, ao mesmo tempo que minha boca se abre,
em total surpresa. O quarto está todo enfeitado: há luzes no teto,
velas acesas, doces sobre a cama, até um caldeirão soltando
fumaça no canto. Balanço a cabeça, descrente com o que estou
vendo. Pisco repetidamente algumas vezes, como se toda
arrumação fosse desaparecer, ou como se o que estou vendo fosse
fruto da minha mente.
— Vejo que o menino malvado chegou. — Phillipa aparece
por trás da fumaça do caldeirão.
Puta merda!
— Fiquei sabendo que foi malvado, muito malvado, por isso
estou aqui para te punir. Está em meu domínio agora. — Minha
gatinha... não, bruxinha diz, caminhando até mim, com os
movimentos sexys dos quadris.
Meu pau se mexe desconfortavelmente na calça. Porra,
essa mulher ainda vai causar a mim um infarto! Meu olhar passa
sobre seu corpo. Minhas mãos tremem pela necessidade de tocá-la,
de puxá-la para mim e tomar sua boca na minha, porém me
controlo, esperando por ela, já que foi quem planejou tudo isso. Só
espero que seja rápida, porque não irei aguentar por muito tempo.
Phillipa tropeça enquanto caminha até mim. Vou para frente,
segurando-a. Ela dá um pequeno sorriso.
— Não sou boa com essas coisas — comenta, fazendo
beicinho.
— Está perfeita, gatinha — rosno as palavras, cheio de
tesão.
Phillipa sorri para mim.
— Esta noite é nossa, e essa bruxinha aqui está louca para
comer o menino mau. — Suas mãos passam por sobre meu peito, e
seu toque deixa uma corrente elétrica em mim.
Essa mulher é minha. Toda minha, e... porra! Sinto-me
orgulhoso por tê-la comigo, ao meu lado.
— O que eu posso fazer, se minha gatinha gosta quando
sou malvado? — digo, indo com ela.
Phillipa olha para mim, com suas pupilas dilatadas. Um olhar
tão sedutor, que por pouco não esqueço do que ela quer e a tomo,
fazendo o que eu quero. Minha gatinha olha para mim durante mais
alguns segundos, por fim, dá um sorrisinho.
— Eu realmente queria que tudo fosse perfeito, que eu
pudesse tomar o controle, mas não sou boa nisso, Raphael. — Ela
balança a cabeça, dando a mim um olhar decepcionado.
Pego no seu queixo, fazendo-a olhar para mim, e dou um
leve beijo no seu nariz.
— Você está fazendo muito bem, gatinha.
— Verdade?
Pego sua mão, colocando-a por sobre minha calça,
mostrando a ela quão excitado estou.
— Bastou eu entrar e olhar para você, que logo me animei.
Faça o que quiser, amor.
Assim que termino de falar, Phillipa se joga em mim,
beijando-me, tomando o controle. Envolvo meus braços em seu
corpo, puxando-a ainda mais para mim. Ela fez tudo isso por mim,
vestiu uma fantasia muito sexy, de bruxa, colocando esse corpete,
deixando seus seios ainda maiores e empinados... Neste exato
momento, eles roçam no meu peitoral. Sem falar do resto da roupa
e da porra das botas que está usando.
Phillipa para o beijo, dando uma pequena mordida no meu
lábio inferior. Dou um pequeno grunhido. Ela sorri, dando uma
piscadinha para mim. Phillipa ergue as mãos, tirando primeiro meu
blazer, após, joga-o no chão do quarto, logo em seguida, abre os
botões da minha camisa, mas não a tira, apenas a deixa aberta,
assim como faz com minha calça.
— Deite e aproveite. — Ela diz, dando uma leve mordida na
minha boca, fazendo-me rosnar contra a sua. — Comporte-se,
querido. — Pisca para mim.
Dou um leve tapa na sua bunda e me coloco na cama,
sentando-me bem no meio, ficando de frente para ela. Pego uma
barra de chocolate, abrindo-a enquanto espero por Phillipa. Ela tira
do seu decote um pequeno controle, o qual serve para controlar o
ar-condicionado, aquecedor, as luzes, o sistema de segurança e o
som da casa. Aperta um botão, então uma música começa a tocar.
Conheço a cantora, que é Beyonce, porém não sei qual é a música.
Caralho! Fico louco vendo-a dançar para mim. Seu delicioso
corpo se move de um lado para o outro, com toda a sua
sensualidade. Mexo-me, sentindo-me desconfortável, observando-a.
Minha vontade é de levantar-me e ir até ela, dançar com ela, sentir
seu corpo contra o meu enquanto ela se move, beijar sua pele,
sentindo-a arrepiar-se com o meu toque... Essa mulher me
desconcerta de uma forma enlouquecedora.
Suas mãos passam pelo seu corpo, dando uma esfregada
sedutora nos seios, após, descendo pela sua barriga até chegar na
sua boceta. Ela continua dançando para mim, até que se vira de
costas, puxando o laço do seu corpete, que em instantes, sai do seu
corpo. Phillipa o joga em mim ao se virar. Seus seios agora estão
livres. Lambo meus lábios, querendo prová-los. Esqueço-me
totalmente dos doces que estão na cama, incluindo a barra de
chocolate aberta. Tudo o que importa agora é ela e sua dança, seu
corpo, os movimentos, essa porra de olhar que dá... Oh, foda-se, eu
preciso tocá-la...

Phillipa
— Raphael! — grito, quando ele pula da cama, chegando
até mim, puxando-me para si e começando a dançar comigo.
Seu corpo está bem junto ao meu; suas mãos, passando
pelo mesmo, chegando nos meus seios e segurando-os. Posso
sentir seu peito duro contra minhas costas e seu pau na minha
bunda.
— Você não faz ideia de como me leva à loucura, gatinha.
— Sua boca está no meu ombro, dando beijos contra minha pele,
enviando-me ao delírio.
Meu corpo todo se arrepia com o contato. Suas mãos ainda
estão nos meus seios, excitando-os, deixando-os duros. Viro-me de
frente para ele. Nossos olhares se encontram. Ergo minhas mãos,
tirando sua camisa do seu corpo, e aproveito para passá-las por
seus braços. Observo sua pele arrepiar-se; e seu abdome, contrair-
se. Sorrio interiormente, sabendo que trago a ele o mesmo efeito
que traz em mim.
— Sua pele, seu corpo... esses seus seios são perfeitos.
Porra, Phillipa... — grunhe, enquanto me livro da sua camisa,
deixando-a cair aos seus pés.
Aproveito esse momento tão íntimo para tocá-lo, assim
como ele toca meu corpo. Aproximo-me ainda mais, curvando-me
para frente e beijando seu peito. Raphael solta meus seios, então
sua mão se enfia entre meus cabelos, apertando minha nuca.
Nossos corpos continuam a mover-se enquanto a música Earned It,
de The Weeknd, começa a tocar. Tudo vai tornando-se tão especial,
tão sensual... Minha boca no seu corpo, sua mão na minha nuca...
Ergo meu olhar para ele, observando-o. Raphael puxa uma
respiração quando meu corpo desce e eu fico de joelhos, de frente
ao seu pênis. Puxo sua calça para baixo, porém deixo sua cueca.
Desço meu corpo até o chão, fazendo-o soltar minha nuca, e
começo a dançar para ele, de baixo, movendo meu corpo conforme
a música.
— Mulher... — rosna, com os dentes trincados.
Mordo meus lábios. Ergo minha mão para ele. Raphael se
ajoelha entre minhas pernas. Suas mãos deslizam pelas minhas
pernas enquanto ele se põe sobre mim. Nossos corpos se movem
ao ritmo da música, em uma dança apenas nossa, improvisada no
momento. Somos toques e beijos movendo-nos sedutoramente.
Suas mãos deslizam pelos meus braços; as minhas, nas suas
costas; sua boca, sobre meu corpo.
— “So I'macare for you” — canta ao meu ouvido, enquanto
seu pau se esfrega na minha boceta por cima da minha fantasia.
Meus olhos se fecham enquanto o prazer domina-me.
Raphael tira a parte de baixo da minha fantasia, deixando-me nua.
Minha pele se arrepia em pequenos tremores quando sinto sua boca
na minha pélvis. Ele apenas dá um leve beijo antes de subir em mim
mais uma vez. Abro meus olhos, encontrando seu olhar. Há tanto
amor, tanta paixão e necessidade lá, que chega a fazer com que
meu peito doa. Sorrio para ele, alisando seu rosto, sentindo a
aspereza da sua barba. Ergo minha cabeça, tomando sua boca na
minha, dando tudo o que não posso dizer em palavras, tudo o que
estou sentindo, enquanto nossos corpos entram em um frenesi de
movimentos, paixão, conforme a música ecoa por todo o quarto. É
difícil de explicar, mas parece que, neste momento, deixamos
nossos corpos falarem, dizerem o que sentem. Complicado e louco,
porém é o que acontece. Tão louco, a sensação, o desejo, esse
embrulho gostoso na barriga, o latejar da minha vagina, seu pau
contra mim, esfregando-se, suas mãos no meu corpo, e sua boca...
Céus! Sua boca na minha, tomando-me, dominando-me... é tão
gostoso!
Invertonossas posições, ficando por cima. Jogo meu cabelo
para trás e rebolo no seu pau, por cima da cueca. Raphael segura-
me pela cintura. Sorrio para ele.
— Tenho algo para você. Fique aqui — digo, levantando-me.
Vou até a cama, pegando um pequeno pacote, e volto para
Raphael.
— O que é isso? — pergunta ele, com a voz rouca.
Mordo meus lábios, abrindo o pacote. Tiro dali um
lubrificante e uma capa peniana masturbadora. Mostro a ele,
sorrindo. Raphael dá um sorrisinho.
— Porra, mulher! — rosna, erguendo-se.
Dá um beijo duro em mim.
— Você quer matar-me — acrescenta.
— Só se for de prazer. — Dou uma piscadinha.
Puxo sua cueca, liberando seu pau, pego o lubrificando,
colocando um pouco dentro do masturbador, e o posiciono sobre
seu pênis. Raphael geme quando começo a masturbá-lo. Vê-lo
perder-se em desejo: os sons dos seus gemidos, a forma com que
seu abdome se contrai e até mesmo o rolar de olhos deixa-me ainda
mais excitada. Aproveito para me esfregar nele enquanto o
masturbo.
Raphael se senta com as pernas abertas. Sua boca toma a
minha enquanto o masturbo. Esfrego minha boceta na sua perna, e
ele aproveita. Pega o lubrificante, colocando um pouco nos seus
dedos, e esfrega meu clitóris. Solto um pequeno gemido de prazer.
Perco-me no momento. Meus gemidos se misturam aos seus e à
música que toca. Não que eu saiba qual está tocando. A sensação...
O prazer é maravilhoso. Sua boca na minha, minha mão
masturbando-o; a sua, no meu clitóris, enquanto esfrego minha
boceta na sua coxa... Meu corpo todo começa a tremer de prazer,
meus dedos dos pés se contorcem, minha respiração acelera e meu
coração bate forte no peito. O prazer é tão grande, que entro em
uma loucura. Esfrego-me ainda mais em Raphael. Loucura, eu sei,
mas eu quero mais, muito mais. Ele percebe, porque logo tira minha
mão e o masturbador dele, em seguida me coloca sobre seu pau,
fazendo-me deslizar nele. Nós dois gememos. Minhas unhas se
fecham em suas costas. Ele geme, mordendo meu ombro enquanto
monto nele. Seu pau entra em mim, meu clitóris se esfrega na sua
pélvis. A sensação de estar preenchida, tomada...
— Caralho, gatinha... — grunhe. — Sua bocetinha está tão
molhada...
— Raphael!
— Issomesmo, gatinha, grite meu nome enquanto monta
em mim. Essa sua boceta tão veludada, tão apertadinha, fodendo-
me...
— Demais, demais... — resmungo, sem fôlego.
— Tome-me, gatinha, sou todo seu.
Suor escorre entre meus seios e no seu peito. Nossos
corpos estão tão unidos, que não há como saber por onde começa e
onde termina. Somos um, neste momento. Estamos tomando o
prazer um do outro, embebedando-nos com isso.
— Raphael! — grito, jogando minha cabeça para trás.
Sinto-me tonta. Meu corpo todo treme, levando-me ao
prazer mais gostoso que já pude sentir. Raphael, percebendo minha
descida ao orgasmo, me põe deitada de costas e monta em mim,
fodendo-me ainda mais fundo, fazendo seu pau esfregar meu ponto
G. Meu corpo tem ainda mais espasmos e eu grito seu nome mais
uma vez, arranhando seu peito.
— Porra, porra, caralho! — grunhe.
Sinto sua porra derramando-se dentro de mim. Um pequeno
sorriso puxa o canto da minha boca quando seu corpo se deita ao
meu lado no tapete.
— Parece que, nesse Halloween
, nós preferimos
travessuras — comento, entre respirações.
Raphael solta uma pequena gargalhada entre suas
respirações. Fecho meus olhos, sentindo-me satisfeita.
Raphael

Phillipa acabou comigo. Olho de relance para ela, que se


acaba nos doces, os quais estão em cima da cama. Balanço a
cabeça. Estamos de banho tomado, aproveitando nosso momento,
apenas comendo e conversando. Ainda estou surpreso pelo que ela
preparou para nós. Eu sabia que Phillipa tinha esse lado atrevido, vi
ele quando ela beijou Angel na minha frente para me provocar.
Porém, depois de tudo o que passamos, não pude ver mais esse
lado dela. Fico feliz que esteja mais solta, mostrando-se mais,
sendo mais forte. Amo todas as partes dela, quem ela foi e quem se
tornou. Amo seu corpo, suas cicatrizes, sua força de vontade e a
porra do seu sorriso. Caralho, eu sou um homem caído,totalmente
apaixonado!
— Animada para amanhã? — pergunto a ela.
— Super, principalmente porque é a última noite das minhas
amigas. Quero que seja perfeito — responde, sorrindo.
Gargalho quando vejo seus dentes sujos de chocolate.
— O quê? — pergunta, desconfiada.
Pego-a pela nuca, dando um beijo duro, sentindo então o
sabor do chocolate.
— Deliciosa — murmuro contra seus lábios.
Phillipa sorri. A última noite das suas amigas na cidade.
Suspiro. Será bem complicado fazer a segurança delas, já que é
noite de Halloween . Todas se encontrarão no clube, onde as
pessoas estarão de fantasia. Porra, não queria estar preocupado,
não agora, neste momento tão relaxante. Só que não há como não
me preocupar. A segurança terá que ser dobrada, e todo cuidado
será pouco. Sinto uma leve pontada no meu peito dizendo que algo
irá acontecer. Caralho...
— Tudo vai ficar bem. — Phillipa diz, olhando-me.
— Eu sei — digo a ela, que estreita os olhos para mim.
— Não minta, Raphael. Você está preocupado. Sei porque
há essa ruga ainda bem no meio da sua testa. Tudo vai ficar bem.
Assim espero, porque eu sei, lá no fundo, eu sei que esta
festa de Halloweenseria um momento perfeito para Marcus querer
aparecer. Só espero que ele não apareça. Minto. Eu quero que ele
apareça. Só assim acabaremos com essa merda para sempre.
Capítulo Quarenta e Quatro

— Você acha que ele irá aparecer? — pergunto, já sabendo


a resposta de Caspen e Hector.
Será a oportunidade perfeita para Marcus aparecer nessa
maldita festa de Halloween. Ele poderá entrar fantasiado, sem
ninguém saber quem é. Claro, isso se estiver desesperado.
— Se ele for esperto, não, ele não aparecerá. Mas Marcus
está sozinho, então é possível que apareça, tentando uma última
jogada desesperada. — Hector diz.
— Em todo caso, nós estaremos esperando por ele. —
Caspen comenta, dando um sorrisinho maldoso.
Passo as mãos pelos cabelos, sentindo-me frustrado com
toda essa procura e espera, esse jogo de esconde-esconde, onde
procuramos, procuramos, porém nada achamos.
— Qual será o plano? — Dominic pergunta, dando uma
olhada para mim.
Eu já tenho um plano. Meu plano é ficar de olho em Phillipa,
ser sua sombra. Onde ela for, eu vou, mesmo que isso possa irritá-
la, pois é para a segurança dela. Não vou errar de novo, não vou
sair de perto dela, deixando-a vulnerável. Eu sei que ela pode lidar
com essa merda, mas lidar com Henry é diferente de lidar com
Marcus. Por mais que ela esteja mais forte e confiante, nunca se
sabe qual será sua reação quando der de cara com ele. Ela pode
agir, assim como fez com Henry, ou pode se perder nas memórias e
ficar paralisada, sem saber o que fazer, portanto não irei arriscar.
— Nós estaremos esperando por ele. Não haverá nenhuma
saída livre. Todas as meninas estarão com um chiprastreador nelas,
bem abaixo da nuca, escondido nos cabelos. Raphael estará com
Phillipa, então quero Miguel e Maddox de olhos nos dois. Alex está
em um ponto do clube a trezentos e sessenta graus para poder
atirar perfeitamente se for preciso. Emílio e Charlie, juntos com
Christian, ficarão de olho nas outras meninas. Nenhuma delas
passará pelas saídas sem o nosso conhecimento, estaremos
rastreando todas pelos celulares. Se Marcus ousar fazer qualquer
coisa, nós pegá-lo-emos. — Caspen explica.
Suspiro. Na fala, tudo é perfeito, contudo vamos ver na
prática. Tudo isso é muito fodido, entretanto essa é a única chance
que temos — caso ele esteja desesperado o suficiente para agir
esta noite —, porque se Marcus não aparecer, voltaremos para a
estaca zero. Olho para a porta quando se faz pequena batida.
— Entre — diz Hector.
A porta se abre, e a governanta da casa da família de
Hector entra. Ela dá um pequeno aceno, reconhecendo-nos, mas
seu olhar está fixo em Hector.
— Senhor, há um menino aqui querendo vê-lo. Ele disse que
é importante. Sua mãe viu-o e levou-o para a cozinha. Sinto que há
algo estranho, Senhor — diz ela, um pouco nervosa.
— Traga-o aqui agora — comanda Hector.
Ela dá um pequeno aceno antes de retirar-se.
— Que porra? — Carter resmunga, no canto da sala. — Não
estou gostando nada dessa merda.
— Fiquem atentos caso seja alguma armação. — Caspen
diz.
Todos nos colocamos em alerta, esperando o menino ser
trazido pela governanta.
Em poucos minutos, a porta se abre mais uma vez, e o
garoto entra. Merda! Sua estatura é baixa. Seu corpo é tão magro,
que parece que o moleque irá partir-se a qualquer momento. Ele
está sujo e há alguns cortes nos seus rosto e braços, assim como
manchas roxas por todo o seu corpo. Um garoto de rua é o que ele
é. Seus olhos se arregalam quando ele entra e nos vê, do mesmo
modo que seu corpo todo treme. Medo, ele está com medo, porém é
esperto o suficiente para manter a cabeça erguida, e o peito,
estufado. Bom garoto.
— Seu nome? — Carter pergunta, dando um passo à frente.
O menino o olha, com puro terror, sua boca se abre, todavia
ele logo a fecha, tomando um fôlego.
— Garoto — diz ele, baixinho.
— Mais alto — comanda Carter, com a voz firme e cheia de
autoridade.
— Garoto. Chamo-me assim. Nunca soube meu nome,
então sou Garoto — responde o menino, com a voz um pouco
trêmula.
Dou um passo à frente, impedindo Carter de fazer seja lá o
que tem planejado para intimidar o menino. Ponho-me na sua frente,
erguendo a mão.
— Sou Raphael Callahan. O que podemos fazer por você,
Garoto? — O menino olha para mim, especificamente para a minha
mão estendida.
Um pouco trêmulo, ele ergue sua mão e aperta a minha, em
um aperto firme. Bem, tão firme quanto ele consegue, já que está
tão magro e sem força. Em seguida, o menino se vira, dando um
olhar pelo escritório, até parar em Caspen.
— Você é o grande chefe? Caspen Callahan? — pergunta.
— Sim, sou eu — responde, dando um aceno. — O que está
acontecendo?
O menino mexe as mãos e os pés. Está nervoso e
desconfortável. De repente, sua barriga faz um barulho alto. Ele
abaixa a cabeça, envergonhado. Está com fome. Porra, detesto
esse governo de merda, bem como os pais que colocam crianças no
mundo e não correm atrás de um sustento melhor!
— Fome. — Carter rosna.
Ele se vira, saindo do escritório, batendo a porta atrás de si.
O menino dá um pulo, assustando-se com a aspereza dele.
Lambendo os lábios, volta a olhar para Caspen.
— Ele pediu que eu ficasse de olho nas coisas para ele. Sou
de rua, passo despercebido, ninguém repara em mim, então foi o
que eu fiz. Mas ele pirou. Está louco, louco. Começou a divagar
sobre uma tal de Phillipa e o que fará. Percebi que ele iria fazer algo
louco, por isso resolvi vir avisar. Não gosto quando machucam
mulheres. — Para, tomando um ar. — Ele não tem ninguém. Vocês
pegaram o Henry, e assim, ele pirou de vez, ele... — Garoto para de
falar, balançando a cabeça.
Meu peito se aperta. Caralho...
— Ele machucou você — digo, e o menino acena com a
cabeça.
— Ele tentou. Estou com esses machucados por causa dele.
Ele queria respostas que eu não podia dar, então ficava frustrado e
perdia o controle. — Fecho minhas mãos, em punho.
— Onde ele está escondendo-se? — Dominic pergunta.
— Não sei mais. Ele me deixou. Bateu em mim, e quando
acordei, não estava mais lá, então resolvi vir até aqui, procurar por
vocês para avisá-los. Marcus Esposito está fora de controle,
portanto ele fará algo, eu sei que vai. — Balança a cabeça.
A porta do escritório volta a abrir-se, e Carter entra, com
uma bandeja cheia de comida. Há sanduíches,sucos, frutas e uma
tigela com frangos fritos. Carter coloca a bandeja na mesa de
Hector.
— Coma — comanda para o menino. — Vamos te chamar
de Kenai, não de Garoto. Entendeu? — O menino acena com a
cabeça.
Kenai caminha até a mesa, onde está a bandeja, e começa
a comer.
— Vá devagar, senão passará mal. — Carter avisa.
— O que faremos agora? — pergunto, olhando para os
meus primos.
— Caçar. — É resposta de Carter, tendo o olhar cheio de
fúria, com uma promessa dolorosa de tortura.
— Marcus virá até nós. — Caspen diz.
— E é quando o pegaremos. Esta noite — digo.
Carter dá um sorrisinho.
— Esta noite... — promete ele.

Phillipa

Sabe aquela sensação na boca do estômago, como se


houvesse várias borboletas batendo suas asas ali? Estranho
descrever, mas é essa sensação que estou tendo agora mesmo, ao
olhar para o clube lotado. É noite de Halloween , portanto todos
estão fantasiados. Balanço a cabeça. É cada fantasia, que só uma
intervenção divina para ajudar, contudo quem sou eu para julgar?
Hoje é dia das bruxas, e cada um se veste do jeito que quer, mas,
céus, algumas são arrepiantes! Não sei se é por isso que estou com
essa sensação, não sei se é porque estou animada com esta noite,
este momento, com minhas amigas aqui, ou se é algo a mais, como
se alguma coisa fosse acontecer. Merda! Estou ficando paranoica,
só pode. Só que algo está incomodando-me. Acho que é por ter
tanta gente com fantasias, não saber quem é quem. Sim, acho que
é isso. Esfrego minha nuca, tentando tirar esse sentimento estranho
de mim. Tudo o que quero é divertir-me, aproveitar a última noite
das minhas amigas na cidade. Sinto uma pequena pontada no peito.
Não quero que elas se vão. Por mim, as duas mudar-se-iam para
cá. Sinto-me tão sentimental hoje. O que está acontecendo comigo?
— Gatinha? — Raphael chama, e eu viro a cabeça para
olhá-lo. — Está bem? Parou de dançar.
Merda! Tinha esquecido que estamos na pista de dança,
dançando. Esta noite não está saindo como planejei. Pelo contrário,
visto que não estou sentindo-me bem.
— E-eu só... Será que podemos dar uma pausa? Preciso
beber algo. — Raphael acena.
Ele avisa às meninas que estamos indo até nossa mesa.
Elas acenam, dando um joinha a mim. Sorrio.
Raphael me guia em meio às pessoas que dançam na pista.
Suas mãos estão na minha cintura; suas costas, coladas às minhas,
protegendo-me. Olho para ele, observando-o. Sua mandíbula está
trincada; e seus olhos, atentos, passando por todo o lugar. Posso
ver o pequeno comunicador preto ao seu ouvido, o qual ele colocou
antes de sair de casa, assim como todos os seguranças que vieram
conosco. Aquela sensação bate ainda mais forte. Tem algo
acontecendo, algo que Raphael não contou a mim, posso sentir
isso.
— O que está acontecendo? — pergunto, virando-me para
encará-lo, assim que chegamos na nossa mesa, onde encontramos
Caspen e Hector sentados, observando atentamente seus celulares.
Eles levantam a cabeça, olhando-nos.
— Eu quem lhe pergunta. Você parou de dançar do nada e
ficou com um olhar estranho. — Raphael diz, pegando uma garrafa
de água, abrindo-a e despejando o líquido em um copo, o qual dá
para mim. — Beba.
Pego o copo, tomando um gole. A água gelada passa pela
minha garganta, dando um pouco de frescor, e também me ajuda a
acalmar.
— Só sinto que algo está errado — digo a ele, olhando-o,
tentando ver algo através do seu olhar, então Raphael suspira. — O
que está acontecendo? Sinto que todos estão tensos e focados
demais para uma noite de diversão.
— Phillipa, a diversão é apenas para você e as meninas.
Nós estamos aqui para a proteção de todas, estamos concentrados
e trabalhando. — Caspen diz, dando uma olhada para a pista de
dança, onde minha irmã, sua esposa, está.
— Mas há algo a mais. Posso sentir isso — rebato, olhando
para eles.
— Gatinha... — Raphael pega-me pelos braços, virando
meu corpo, fazendo-me ficar de frente para ele. — Não se preocupe
com isso, okay? Confie em mim e apenas se divirta. — Beija minha
boca, e eu suspiro contra seus lábios.
— Tudo bem — digo a Raphael, correspondendo ao seu
beijo.
— “I'mfriendswith a monster that's under my bed”!, grito,
assim que a música começa.
Jogo meus braços para cima, fechando meus olhos e
balançando-me, ao ritmo da canção que Eminem canta com
Rihanna. No momento, Raphael tem o corpo junto ao meu; suas
mãos, nos meus quadris. Ele dança junto comigo. Minhas amigas
estão à nossa volta, divertindo-se. Sorrio. Não foi fácil esquecer a
sensação no meu estômago de que algo estava acontecendo, mas
com o passar do tempo, assim como com o esforço de Raphael e as
meninas, eu consegui relaxar mais. Agora, toda a minha
concentração está neste momento, na música e nas minhas amigas.
Balanço minha cabeça de um lado para o outro, jogando
meus cabelos. A música pulsa por todo o clube, fazendo com que as
pessoas vão à loucura.
— Nós não queremos ir embora! — Ohana grita, bem alto,
para que eu possa ouvi-la.
Faço beicinho para ela.
— Vocês poderiam morar aqui! — digo, gostando muito
dessa ideia.
— Não podemos, Phillipa. Queríamos, mas não podemos.
— Moana diz, um pouco triste.
Eu sei que elas não podem. Ambas têm uma vida no Havaí,
família,outros amigos, sem falar que amam aquele lugar. Quem não
amaria? É um paraíso.
— Vou sentir falta de vocês duas. — Jogo meus braços em
volta das duas, abraçando-as.
— Não iremos deixar. Estaremos aqui sempre que
pudermos, sem falar que ligaremos todos os dias. — Moana diz, e
Ohana concorda com um gesto.
— Prometam — peço a elas.
— Nós prometemos. — As duas dizem.
— Agora, vamos aproveitar! — grito, animada.
— Mulheres... — Ouço o resmungo de Raphael e sorrio.
O que eu posso dizer? Estou emocional esta noite. Minhas
duas amigas estarão indo embora amanhã, Marcus ainda não foi
encontrado, e eu... merda, estou apenas emocional, só isso.
Raphael me vira para ele, e seu olhar, tão intenso, passa
pelo meu corpo.
— Já disse que amo sua fantasia? — diz, dando aquele
olhar de que quer me foder.
Sorrio, passando minhas mãos pelo seu peito. Ele está
vestido de pirata, assim como eu estou. Fiz questão de que viesse
fantasiado. E ele está tão sexy... Mordo meus lábios, já pensando
no nosso momento quando chegarmos em casa, porque eu quero
fodê-lo, com nós dois vestidos nessa fantasia. Só o pensamento
envia arrepios pelo meu corpo. Eu o quero muito...
— Já disse, sim, mas não me importo que diga de novo. —
Passo a língua pelos meus lábios, finalizando com uma mordidinha.
O olhar de Raphael trava na minha boca e ele rosna. Suas
mãos apertam minha cintura. Sorrio ao sentir sua ereção contra meu
corpo.
— Pelo amor, será que vocês não poderiam encontrar um
lugar privado, não? — Minha irmã diz. — Estou sentindo essa
tensão toda daqui. Merda, onde está meu marido? — Sorrio, ainda
olhando para Raphael.
— Quente demais — comenta Angel.
— Procurem um quarto. — Dimitria sorri. — Bem, acho
melhor eu procurar alguém para apagar esse calor que se acendeu
apenas em olhá-los. — Desvio meu olhar de Raphael para olhar
Dimitria, que dá um sorrisinho e um tchauzinho para nós ao sair do
grupo.
— Vocês estão exagerando. — Elas sorriem para mim.
— Não estamos, não. — Ohana diz. — Acho que também
irei encontrar alguém.
— Assim como eu. — Moana é a próxima a sair do nosso
círculo.
Logo após ela retirar-se, Angel também sai, deixando
apenas minha irmã e Zoe.
— Acho que nós duas também precisamos ir, Zoe. — Lori
dá uma piscadinha para mim. — Até mais.
E assim, Raphael e eu ficamos na nossa própria bolha, no
meio da pista de dança.
Momentos. A vida é feita de pequenos momentos, e do
nada, desses momentos são feitos acontecimentos. Em um
momento que eu estou dançando com minhas amigas, acontece. Eu
sinto, eu sinto que estou sendo observada. E eu sei, só sei que é
ele. Marcus está aqui, porque essa sensação é a mesma que tive
quando ele encostou em mim assim que voltei depois de um ano,
então eu sei.
— Phillipa? — Raphael chama-me.
Viro minha cabeça para olhá-lo e sorrio. Não paro de
dançar, pois Marcus não pode desconfiar que eu sei que ele está
aqui, que tem seus olhos imundos em mim.
— Ele está aqui. — Gesticulo.
Raphael apenas acena com a cabeça. Ele disfarça ao olhar
em volta, movendo seu corpo contra o meu, ao ritmo da música.
— Você está bem? — pergunta, quando abaixa a cabeça
para beijar meu ombro.
— Sim, eu estou bem. Temos que o pegar. Agora.
— Alguma ideia? — Sua cabeça está no meu ombro; sua
boca, dando beijos nos meus ombro e pescoço.
Sei que ele está assim para que todos que estão com o
dispositivo no ouvido possam ouvir-me.
— É clichê, mas sim, eu tenho. — Sorrio, sabendo que é um
plano bobo, mas que pode dar certo.

Olho para Raphael, dando a ele um aceno de cabeça. Ele


não gosta muito da ideia de deixar-me sozinha para ir ao banheiro,
porém é o que precisamos, algo fácil.
— Não precisa acompanhar-me, querido, irei e voltarei bem
rápido — digo a ele, dando um sorrisinho. — Nada vai acontecer a
mim.
— Gatinha, apenas espere por mim, vou só resolver esse
problema. — Balança o celular nas suas mãos. — Eu já a
acompanharei até o banheiro. Ou, ao menos deixe que um dos
seguranças vá com você.
— Tudo bem, mande um segurança comigo. — Rolo os
olhos, fingindo tédio.
Raphael sorri, dando um leve beijo nos meus lábios. Ele
chama Christian e lhe pede para me olhar enquanto resolve algo. O
segurança me segue até o banheiro, parando na porta. O plano é
esse. Christian fingirá distração, assim, Marcus poderá entrar no
banheiro enquanto o segurança distrair-se ao celular. Um plano
bobo, eu sei disso, contudo, se Marcus estiver desesperado, louco
para pôr as mãos em mim, ele irá tentar entrar no banheiro. Assim
eu espero.
Respiro fundo, indo até a primeira cabine, que fica bem
perto da porta. Fecho-a e espero. Não demora muito para a porta
abrir-se e bater ao fechar-se. Fico perguntando-me o que Marcus
fez com Christian, ou se ele apenas entrou enquanto o mesmo fingia
estar distraído. Ouço seus passos pelo banheiro, indo para o canto.
É agora. Dou descarga, fingindo que usei o sanitário, e saio.
— Olá, Phillipa. — Sua voz ecoa assim que saio da cabine.
— Finalmente estamos a sós. — Ele sorri para mim.
Encaro meu demônio, o qual antes, eu poderia até dizer que
é meu pior pesadelo, mas agora, ele é meu desejo. Observo-o bem.
Ele está fantasiado de Zorro. Patético, eu sei, no entanto é uma boa
fantasia para se passar despercebido. Ninguém saberia que por
debaixo da fantasia há um homem horrível que abusou de mim.
Olhando bem para ele, não parece nada bem. Marcus está do outro
lado do banheiro, parado em uma parede de espelho.
— Parece que o tempo não tem o tratado muito bem, não é?
— desdenho, dando um sorrisinho.
Sim, Marcus não parece nada bem. Suas mãos estão em
constantes movimentos estranhos, ele resmunga para si, e seu
olhar por trás da máscara está bem louco, como se ele estivesse
sob efeito de alguma substância.
— Você não sabe de nada — grunhe, com seus olhos
vidrados em mim.
— Tem certeza? – pergunto, olhando-o de cima a baixo e
fazendo careta. — Não está parecendo bem. Precisa de ajuda?
— Cala a boca! — grita ele. — Eu vou fazer você pagar, vai
ser muito pior do que da última vez, eu farei doer mil vezes mais.
— É para eu ficar com medo? — desdenho, rindo.
— Phillipa!? — Raphael grita, batendo na porta.
— Estou aqui. Há apenas um rato incomodando-me. Já vou
livrar-me dele! — grito de volta.
Marcus perde o controle e se joga para cima de mim, porém
nesse momento, a porta é aberta e Raphael entra, pegando-o pelo
pescoço. Acho toda a cena muito engraçada. Não pergunte o que
deu em mim, mas é tão engraçado, que caio na gargalhada, de
modo que chego a curvar meu corpo, à medida que meu estômago
dói, de tanto que rio. Um plano bobo que foi perfeitamente
executado.
— Parece... — Estou rindo tanto, que nem consigo falar. —
Parece que o tiro nas suas pernas... e todo o fogo pelo seu corpo
afetaram seu raciocínio, Marcus. Caiu perfeitamente nesse plano
idiota que tive — comento, ainda entre risadas.
Tão idiota... Quem, em sã consciência, cairia em algo
assim? Ele devia realmente estar desesperado.
Paro de rir completamente e o encaro. Raphael ainda o tem
preso. Vou até ele, olhando bem nos seus olhos sem vida, e dou um
grande sorriso.
— Está na hora de brincarmos, meu pequeno
brinquedinho...
Capítulo Quarenta e Cinco

— Henry... — chamo por ele, rindo. — Olha aqui o que


temos para você! — anuncio, com pura animação. — Alguém
chegou para ver sua morte — digo, ouvindo-o gemer baixinho.
Assim que pegamos Marcus, nossa noite acabou no clube.
Minhas amigas foram levadas para a minha casa, com Lori, Angel e
Zoe para acompanhá-las durante a noite até eu chegar. Não irei
demorar muito, não agora.
— Coloque-o sentado de frente para Henry. Quero-o
amarrado em arame farpado, assim como fiz com Henry. Nu, se for
possível — peço, sorrindo.
Sim! Eu tenho um grande e animado sorriso no rosto. Isso
faz de mim uma má pessoa? Pode até fazer, porém essa parte de
mim foi feita, forjada a partir do momento em que Marcus e seus
homens colocaram as mãos em mim.
Ele tenta debater-se, como se isso fosse ajudá-lo a sair
daqui. Fico parada, observando Carter e Raphael rasgarem toda a
roupa de Marcus com uma faca. Eles não se importam se o cortam
no processo, nem eu. Acho divertido. Eu não era assim, detestava
violência. Sempre na minha. Acontece que certos acontecimentos
nos moldam, fazem acordar em nós lados que eram desconhecidos.
Foi o que aconteceu comigo. Uma parte minha foi acordada quando
Marcus colocou suas mãos sujas em mim. Assim que eu soube que
ele está vivo, essa parte apenas se animou, dominou-me. Tudo o
que eu quero é que ele sofra.
Raphael e Carter prendem Marcus em uma cadeira de ferro,
colocando arame em suas mãos e seus pulsos.
— Perfeito. — Sorrio mais.
— O que irá fazer agora? — Caspen pergunta a mim,
entrando no lugar, junto com Hector e Dominic.
— Quero que coloque o vídeo que gravei, o da tortura de
Henry. Já que não chegou até ele antes, ele pode ver agora — digo,
sorrindo. — Enquanto isso, quero que injetem o veneno da
boomslang em Henry. Está na hora de ele morrer. Quero que seja
doloroso e que Marcus veja. — Meu sorriso se amplia quando
termino de falar o que eu quero.
Achei criativo quando vi que os Callahan’s possuem
venenos de serpentes para ocasiões como esta. Eles não só têm
veneno, como também o antídoto delas, assim como médicos para
o cuidado. Uma boa maneira de torturar. Quero aplicá-la neste exato
momento. Durante a noite, vou deixar Marcus observando seu fiel
amigo morrer, em agonia, enquanto o vídeo da sua tortura se
repetirá mais e mais, até que eu volte depois de deixar minhas
amigas no aeroporto, aínós começaremos nossa emocionante e tão
esperada festa.
O momento do adeus foi doloroso para mim. Ver minhas
amigas indo embora sem saber quando voltariam... Eu queria muito
que elas ficassem por aqui, mas querer não é poder, não é mesmo?
Detesto despedidas!
Agora, meu foco se volta para Marcus Esposito, para a
minha tão esperada vingança. Chega a dar água na boca só em
imaginar as coisas que farei com ele.
Em silêncio, caminhamos pelo corredor mal-iluminado.
Posso ouvir o pingar da água que sai pelos canos, os passos atrás
de mim... Parece que este momento é esperado por todos da
família.Bem, eu sei que é muito esperado por mim. O universo está
dando uma chance — Ao menos, é assim que penso —, pois era
para Marcus estar morto há muito tempo. É estranho pensar em
tudo o que passei, em estar na presença de Marcus mais uma vez,
principalmente em reviver todo aquele pesadelo, porém de forma
contrária, porque desta vez, o cativo é Marcus, e não eu. Fui uma
vítima dessa merda toda que envolve a máfia. Chega a ser
engraçado, já que não foi a primeira vez. Deus! Só de lembrar tudo
o que passei, me dá nos nervos.
A porta se abre, fazendo-me voltar ao presente. Deixo os
outros entrarem primeiro: Carter, Caspen, Hector, Dominic, Dimitria
e Lori, minha irmã. Ficamos apenas Raphael e eu do lado de fora.
— Está bem? — Ele pergunta a mim, esfregando minhas
costas.
— Vamos acabar logo com isso — digo, entrando na grande
sala de tortura.
Ao ver-me entrando, Marcus começa a mover-se. Dou a ele
um pequeno sorriso seco. Olho em volta, contemplando todo o
lugar, até meu olhar parar em Henry morto no chão. Vou até ele,
dando um pequeno chute no seu corpo só para confirmar sua morte.
Não se move.
— Morto. — Sorrio. — Arranquem a cabeça dele, assim,
teremos certeza de que ele não voltará dos mortos — digo, olhando
para Carter, que dá um aceno.
Caminho até a TV, onde o vídeo da tortura de Henry ainda
passa, e a desligo. Acho que Marcus já entendeu o quanto seu
ajudante sofreu e o que deve esperar. Porque o que tenho para ele
será muito pior.
— E aí,divertiu-se com o sofrimento de Henry? — pergunto,
indo até Marcus, e puxo o que sobrou dos seus cabelos por causa
do incêndio de há um ano.
Olho bem para ele, para o seu corpo queimado,
principalmente para os ferimentos nos seus pulsos e tornozelos
causados pelos arames. Balanço a cabeça. Tudo o que eu vejo é
um homem frágil, caído, praticamente morto, tão diferente do
homem que me tinha há um ano. Memórias do meu tempo com ele
se passam pela minha mente enquanto o encaro.

— Vamos lá,sua puta. — Rienquanto me fode. — É assim


que fazemos com traidores. — Lágrimasse derramam dos meus
olhos, fazendo minha visão embaçar
.
Quero que acabe. O que eu fizpara merecer isso?Por que
está acontecendo comigo? Será que não sofrio bastante? Dói,
Deus, como tudo dói!
Tento me mover, mas só faz com que eu me machuque
mais.É issoo que Marcus quer. Elequer que eu lute,elequer que
eu me machuque.
— Olhepara mim,olhepara todos nós. Você é nossa, e nós
iremosacabar com você, quebrá-lade todas as formaspossíveis.—
Ri.

Ainda posso ouvir o riso que ele dava enquanto violava meu
corpo, ainda posso sentir suas mãos e aquele olhar tão frio sobre
mim. Porém agora, olhando-o assim, tão frágil e acabado, dá
vontade de rir, ao mesmo tempo que sinto uma puta satisfação. É
engraçado, não é? Eu não era assim, nunca quis machucar alguém,
nunca quis chegar a esse ponto, todavia olhe para mim agora. Uma
mulher completamente diferente. Tudo o que mais quero é fazer
com que Marcus sinta dor, a mesma dor que eu senti. Quero ferir
seu ego, destruí-lo. Até diria que quero destruir sua alma, mas ele
não tem uma, então quero destruir o que sobrou dele, do homem
que ele é.
— Como foi? — sussurro ao seu ouvido. — Como foi ver
Henry agonizando? Como foi assistir a morte do seu amigo? —
pergunto, e Marcus se debate. — Você não sabe? Quanto mais
você luta comigo, mais vou gostar de fodê-lo — digo as mesmas
palavras que ele dizia enquanto eu lutava para me soltar, para fugir
dele.
Puxo seu cabelo tão forte, que alguns fios saem nas minhas
mãos. Olho para Carter, que está observando-me.
— Quero que ele veja a cabeça de Henry sendo arrancada,
depois, coloque-o pendurado, em pé, de pernas abertas. Quero que
enrole os arames. Das suas pernas até sua virilha, pulsos e
tornozelos é ultrapassado. Quero um pouco mais do que isso —
peço a ele, que dá um sorrisinho.
Ponho-me ao lado de Raphael, observando Carter ir até o
corpo de Henry. Pegando sua foice, ele a passa pelo pescoço de
Henry, arrancando sua cabeça de uma só vez. Olho para Marcus,
que solta um grito. Seu corpo começa a tremer, então os arames
cravam ainda mais na sua pele, fazendo-o sangrar. É engraçado,
né? Olhe como os poderosos caem.
Raphael dá um pequeno aperto no meu ombro antes de
juntar-se a Carter. Os dois tiram os arames dos pulsos e tornozelos
de Marcus, soltando-o. Ele tenta lutar, até mesmo correr, só que não
há escapatória, não há para onde ir. Coitadinho... Bem, ainda não.
Marcus é pego e colocado em pé. Dominic dá um passo à
frente e ajuda Raphael a segurá-lo enquanto Carter arruma tudo
para deixá-lo pendurado. Quando tudo está pronto, volto a ficar ao
lado dele. Carter retira a cabeça e o resto do corpo de Henry da
sala, deixando tudo limpo.
— Sabe, Marcus — começo, dando voltas pelo seu corpo
—, fiquei um bom tempo pensando sobre o que eu faria com você.
O que seria bom o suficiente? Tive tantas ideias, mas nenhuma
delas parecia boa. Olhe para você. — Aponto para o seu corpo. —
Onde está aquele homem todo cheio de si, forte e poderoso, o
homem que tomou meu corpo e meu filho de mim? — Balanço a
cabeça, olhando-o, com puro desprezo. — Você está com a maior
parte do corpo deformada, suas pernas mal funcionam direito. Um
homem escondido e acabado. Como deve ter sido para você passar
pelo que passou? Toda a recuperação deve ter sido dolorosa.
— Acabe logo com isso, me mate logo! Não é isso que você
quer?! — grita, sacudindo-se, o que faz com que ele grite ainda
mais ao sentir os arames entrarem no seu corpo, especialmente na
sua virilha.
Ai...
— E que graça isso teria? — pergunto. — Onde estaria o
sofrimento? A dor, a humilhação e o desespero? Matá-lo assim,
rápido? Não teria graça, não concorda?
— Sua puta! Vadia! Eu comi-a, fodi mesmo, e se eu
soubesse que estava grávida, teria feito pior!
Pego uma palmatória da mesa onde ficam os instrumentos
de tortura e bato nas suas bolas. Ele grita, contorcendo-se. Quanto
mais movimentos faz, mais os arames furam sua pele.
— Está tentando afetar-me? — Estalo a língua. — Jogando
um jogo sujo, não acha? Ah, Marcus, você não terá uma morte
rápida... Aprendi com você. Não está orgulhoso? — Dou a ele um
grande sorriso. — Cansei de falar, vamos ao que interessa.
Dou outra palmada nas suas bolas antes de voltar para a
mesa e observar atentamente aos instrumentos sobre ela. Eu
realmente fiquei a maior parte da noite pensando no que faria, por
onde começaria. Não tenho ideia do que fazer, tudo o que quero é
que doa. Por onde eu começo? Porra, sinto-me frustrada neste
momento.
— Phillipa? — Raphael chama-me.
— A putinha não sabe o que fazer! — Marcus grita, rindo.
Não faço nada, apenas continuo parada, encarando a mesa
e seus instrumentos.
— Phillipa? — repete Raphael.
Mas tudo o que ouço é os risos de Marcus, sua voz
debochando enquanto ele e seus homens abusam de mim, assim
como sinto seu toque nojento no meu corpo, a boca dele nos meus
seios... Tudo o que ouço é os meus lamentos, a minha dor.
— Elanão consegue, é fracademais.— Marcus desdenha.
— Olhem só para ela, paralisada. Uma putinha que só serve para
foder.
Minhas mãos se fecham em punho. Sorrio quando a ideia se
forma na minha mente. Estalo meu pescoço e abro as mãos. Pego
uma grande e pontuda agulha, junto com uma linha preta e grossa,
parece nylon.
— Acho que você precisa é calar a boca — murmuro, indo
até ele e parando bem à sua frente, de modo a mostrar o que tenho
em mãos. — Nada a dizer? — Dou uma piscadinha, e ele se
mantém quieto. — Foi o que pensei.
Marcus começa a debater-se, porém ele percebe que
quanto mais movimentos faz, mais ferido fica, e ainda os arames
ficam mais perto do seu pênis encolhido.
— Vamos manter sua boca fechada? — pergunto a Marcus,
posicionando-me à sua frente. — É melhor ficar parado. Será menos
doloroso.
— Vá se foder! — Ele cospe em mim, no meu rosto, para
ser específica.
Com raiva, passo a mão, limpando seu cuspe. Ele ri.
— Foi assim que eu fiz na sua boceta antes de fodê-la.
Estava tão seca — provoca, rindo.
Ouço o rosnado de ameaça de Raphael. Os outros apenas
resmungam, com raiva. É isso o que Marcus quer. Ele quer provocar
a ponto de fazer com que alguém o mate rapidamente. Ele não quer
sofrer, não quer ser torturado, então provoca, assim, quem sabe,
acabem perdendo o controle e o matem logo.
Mas não é isso que acontecerá. Não irei permitir.
— Carter, pode segurar a cabeça dele? — pergunto.
Ia pedir para Raphael, mas do jeito que ele está, pode
acabar quebrando o pescoço de Marcus e dando a ele uma morte
rápida. Olho para o mesmo, dando-lhe um grande sorriso,
mostrando que estou bem. Amo você, gesticulo, dando uma
piscadinha para ele. Raphael sorri para mim.
— É melhor colaborar, porque eu posso fazer muito pior. —
Ouço a voz rouca, cheia de ódio.
É Carter dando seu aviso a Marcus. Colocando-se atrás
dele, o Ceifador segura sua cabeça, bem firme, porém Marcus não
ajuda, tornando tudo pior ao debater-se loucamente. Issofaz com
que seja impossível costurar sua boca. Os arames rasgam ainda
mais a sua pele, fazendo-o sangrar muito. Por um instante, observo
o sangue escorrendo por suas pernas e seus pulsos. Admiro a obra
que estou fazendo: o corpo nu com arames, feridas e sangue.
Realmente uma obra bem realista. Poderíamos pintá-lo bem assim.
Acho que faria um grande sucesso.
— Fazendo-se de difícil, Marcus, Marcus...
Olho para a mesa de tortura e esfrego meu queixo,
pensando em algo para fazê-lo ficar parado. Sorrio quando um
apetrecho chama a minha atenção. Vou até a mesa, pegando-o.
Mostro para Carter, que acena com a cabeça, depois, mostro para o
restante que está na sala, observando tudo. Raphael prontamente
coloca para baixo uma corrente que fica acima da cabeça de
Marcus. Caminho até meu homem sexy, dando a ele o apetrecho.
Raphael conecta-o à corrente para mim.
— Obrigada. — Dou um rápido beijo nos seus lábios. —
Pedi sua colaboração, mas parece que não quer ajudar, então vou
por meus próprios meios. — Sorrio, mostrando a Marcus o que
tenho nas mãos.
Nem eu sei o nome disso, porém posso descrevê-lo. Parece
um tipo de coroa, ou uma meia-gaiola. Tem um arco de ferro que se
encaixa na cabeça; e em cima, três ferros que se juntam no meio,
com uma argola que se prende à corrente do teto. Em volta do arco
que fica na cabeça há alguns buracos com pregos bem pontudos.
Parece bem doloroso. Vamos ver se serve de incentivo para deixar
Marcus parado.
— O que acha? — pergunto a ele, rindo.
— Boa sorte — desdenha.
— O único aqui que não está com sorte é você.
Coloco o apetrecho na sua cabeça. Carter continua
segurando-o. Marcus grita quando enfio o primeiro parafuso na sua
cabeça. Seus gritos preenchem todo o lugar, ecoando pelos
corredores. Ele pode gritar à vontade, ninguém irá ouvi-lo, e os que
estão aqui não irão ajudá-lo.
Sangue escorre dos buracos da sua cabeça. Merda. Minha
obra-prima está ficando ainda mais bonita. Um trabalho tão bom.
— Eu vou matá-la, matar, sua vadia! — Marcus grita,
conforme seus olhos se reviram de dor à medida que vou afundando
os pregos na sua cabeça.
Ele tenta mover-se, contudo parece que a dor o impede,
deixando-o bem parado. Bom, muito bom. Essa era a minha
intenção.
— Dói, não é mesmo? — Sorrio para ele. — Como se sente,
hein? Como se sente sabendo que estou violando seu corpo,
sabendo que não há ninguém aqui para ajudá-lo? — provoco-o,
repetindo as frases que ele dizia para mim.
Volto a pegar a agulha e o nylon. Marcus abre a boca, e o
movimento o faz gemer de dor. Porra, isso é fantástico!
— Vou fazer doer — digo a ele, então começo a costurar
sua boca.
O sentimento que tenho é satisfatório. Ele bem que tenta
mover-se, desviar-se das minhas mãos, porém não há escapatória.
Enfio a agulha pelo seu lábio inferior, passando a linha, depois, pelo
seu lábio superior, e vou costurando-o, deixando-o literalmente
calado. Ele faz alguns sons, até se mexe um pouco.
— O quê? — pergunto, rindo. — O que disse? Está tudo
bem? Quer que eu pare? — desdenho, rindo da sua situação. —
Não estou ouvindo. — Oh, isso é muito engraçado
. — Prontinho.
Dou um passo para trás, contemplando o que acabei de
fazer. Merda, ele desmaiou! Covarde. Dá para acreditar? O filho da
puta desmaiou! Eu mal comecei!

Três dias depois...

Parada de frente para Marcus, observo-o. Seu corpo está


esfolado; seus pulsos, pernas e tornozelos, em carne viva. Há
buracos na sua cabeça, já que ele ainda está com “ACOROA”.Foi
assim que apelidei o apetrecho. Sua boca está toda aberta e
danificada, já que, mesmo estando costurada, Marcus tentou gritar
várias e várias vezes, fazendo então com que se rasgasse. Este é o
meu momento final. O dia em que direi adeus a ele e a tudo o que
fez a mim. Colocarei um fim no que eu passei. Três dias. Deixei-o
sofrendo por três dias, pequenas torturas, mas hoje... hoje será o
momento em que ele irá suplicar por uma morte bem rápida, porque
o que fiz nesses últimos dias foi pouco para o que farei agora. Olho
para Dimitria e para a minha irmã, Lori, dando a elas um pequeno
sorriso. Carter e Caspen estão conversando baixinho, no outro
canto da sala. Atrás de mim estão Raphael e Dominic. Todos vieram
para colocar um ponto final em toda essa história.
— Pronta para o grande final? — Minha irmã pergunta,
sorrindo.
— Mais do que pronta — digo a ela.
Dimitria entrega a mim um balde cheio de água gelada com
sal.
— Quando você quiser — fala ela.
— Acorde! — digo, jogando água com sal em Marcus.
Ele se debate, resmungando coisas sem sentido, já que eu
cortei sua língua.
— Tem alguém aqui para vê-lo — informo.
Dou um passo para o lado, e Hector entra, com um homem
ao seu lado, o qual se apresentou para mim como Aléssio D’Angelo.
— Você! — exclama Dimitria, ao olhar para Aléssio.
Ele dá um meio sorriso para ela, só que seu foco está em
Marcus. Dando um passo para frente, Aléssio olha para o meu
cativo, com desprezo. Dando uma volta pelo corpo de Marcus, coça
o queixo, balançando a cabeça. Por fim, ele para e suspira.
— Estou aqui para dizer que é uma vergonha para a máfia.
Ninguém da sua família quis vir para vê-lo e deserdar, mas estou
aqui para isso. Marcus Esposito, sua família o deserda, a máfia o
deserda. Você é um lixo, e como lixo morrerá. — Com essas
palavras, ele dá as costas e sai da sala.
— Bem, isso foi satisfatório — digo, olhando ao redor.
Dimitria está de boca aberta, olhando para a porta pela qual
Aléssio acaba de sair junto com Hector. Estreito meus olhos para
ela, entretanto não pergunto nada, pois não é o momento certo.
Porém vou querer saber de onde eles se conhecem e o porquê de
toda essa surpresa no seu olhar.
— Acho que podemos recomeçar. Pronto, Marcus? —
pergunto ao meu convidado principal e especial.
Ele apenas dá um olhar vazio. Eu o quebrei, céus! Eu
consegui! Sorrio, aliviada e satisfeita com o que fiz.
Indoaté a mesa, pego um chicote que contém espinhos na
ponta. Vou para as costas de Marcus e começo a chicoteá-lo. Ele
tenta gritar, mas tudo o que sai dele são resmungos. A cada
chicotada, eu deixo as lembranças irem embora, bem como toda a
dor e frustação daquele dia. O medo que senti, aquela vontade de
morrer, a preocupação com meu bebê... apenas deixo ir. Eu me
liberto dos próprios demônios. Lágrimas se formam nos meus olhos
enquanto chicoteio as costas de Marcus. Aquela raiva reprimida
dentro de mim...
— AAAHHH! — grito, libertando-me.
É uma sensação boa, muito boa. Difícil explicar, porque só
eu sei o que passei nas mãos desse homem. Meu corpo todo treme,
perco minha força e caio no chão. Minha respiração está acelerada
e há certo ardor na minha garganta por causa dos meus gritos. Eu
apenas fico aqui, caídaaos pés de Marcus. Sangue, há sangue nas
minhas mãos. Tanto sangue... Pisco repetidamente algumas vezes,
tentando concentrar-me no agora, no entanto tudo o que vejo é o
sangue, sangue de Marcus.
— Gatinha... — Raphael diz, tentando levantar-me.
— Não, eu estou bem — digo a ele, saindo do seu alcance.
Eu estou bem. Há quanto tempo digo isso sabendo que é
uma mentira? Eu não estava bem, todavia agora, estou. Pela
primeira vez em muito tempo, essas palavras são verdadeiras.
— Eu estou bem, eu estou bem, eu estou bem! — repito
mais e mais, gritando. — Porra, eu estou bem!
Com minhas forças renovadas, levanto-me do chão, pronta
para continuar. Marcus precisa morrer, hoje será seu fim.

Meu coração bate forte no peito. Minhas mãos estão


tremendo bem de leve. Olho para o corpo irreconhecívelde Marcus.
Ele foi torturado. Eu fiz isso. Essa obra tão bonita. É errado eu
sentir-me orgulhosa do que fiz? É errado eu sentir-me tão em paz,
tranquila? Será que vou ser julgada por causa disso? Pergunto-me
como fui capaz de fazer tudo isso. Como consegui ser tão fria e
calma ao torturar alguém? Como eu consegui? Algumas pessoas
sentir-se-iam doentes só por pensar em fazer algo assim; já eu,
senti-me bem, poderosa. Marcus torturou-me, no entanto eu o
torturei da mesma forma. Arames farpados. Marcus estuprou-me, e
eu esfolei seu pênis. Marcus fez-me gritar, então eu arranquei seus
dentes, sua língua e costurei sua boca. Marcus mordeu meu corpo,
e eu o chicoteei. Não só isso, como fiz também com que ele
sangrasse por todo o corpo, rasguei seu ânus de fora a fora, fiz
buracos na sua cabeça, eletrocutei-o, arranquei seus dedos, quebrei
suas pernas de várias formas e arranquei seus olhos. Sorrio. Tudo o
que ele fez comigo, eu fiz com ele, mas da pior forma. Agora, o cara
é uma casca do homem que um dia ele foi. Sua respiração está tão
rasa, que eu sei que está morrendo.
Para dar o meu ponto final em tudo isso, eu peço para
Carter colocá-lo deitado na mesa. Marcus não se move, ele não
protesta, pois não tem força. Sei que ele está vivo por causa do
subir e descer do seu peito.
— O que irá fazer? — Raphael pergunta.
— Irei escalpelar sua pele até que ele morra.

Sentindo meu corpo cansado, puxo a pele do peito de


Marcus e a jogo no chão. Meu corpo cai para trás, mas Raphael me
apoia no seu peito. Meus olhos se fecham e um pequeno sorriso
puxa o canto da minha boca. Acabou para sempre. Marcus se foi,
está no inferno, onde é o lugar dele. Fim de jogo, filho da puta.
Epílogo

Natal

— Surpresa!
— Meu Deus! — exclamo, colocando as mãos no peito
devido ao susto que acabo de levar.
Olho em volta, com um sorriso puxando o canto da minha
boca, que se abre para um riso feliz. Olho para Raphael, que está
encarando-me. Seus olhos brilham. Ele organizou tudo isso por
mim. Lágrimas pinicam meus olhos. Pisco repetidamente algumas
vezes, tentando controlá-las, mas a emoção é demais. Estão todos
aqui. Toda a família Callahan.
— Oh, nós quebramos a menina. — Vovó Tereza diz,
abrindo caminho em meio às pessoas.
— Não seja uma velha gagá. Ela está apenas emocionada.
— Vovó Nadine rebate, dando um empurrão em Tereza e
abraçando-me antes dela. — Estou tão feliz em vê-la. Você está
maravilhosa, minha neta — diz, sorrindo para mim.
— Saia do meu caminho, sua velha. — Vovó Tereza puxa
Nadine para longe de mim.
Deus! Essas duas mais uma vez! Acho que este Natal será
bem interessante. Aliviará a tensão um pouco, já que Tinna e
Lauren também estão aqui. Elas eram minhas melhores amigas, no
entanto, as duas escolheram os Callahan’s. Eu sei muito bem que
não posso culpá-las. Esta é a vida na máfia: sempre estar ao lado
dela, dos mais fortes. Porém eu confiava nelas. Eu amava as duas,
só que agora, olhando-as, não sinto nada além de uma profunda
tristeza. Não sei se um dia seremos como erámos, principalmente
com Tinna. Observo-a ao lado de Lucien. Seus ombros estão
erguidos. Ela está parada, olhando para mim. Parece um pouco
tensa, não sei dizer ao certo. A mesma abre um pequeno sorriso.
Sinto a mão de Raphael apertando meu ombro, dando apoio a mim.
Consigo sair dos braços das duas velhas mais chatas e mais
engraçadas da família, em seguida, sou cumprimentada pelos
outros.
— Finalmente posso conhecer a gatinha do meu irmão. —
Theodoro diz, chegando até mim.
Ele pega minha mão, dando um beijo no dorso. Às minhas
costas, Raphael dá um pequeno grunhido de aviso. Theodoro lança
uma piscada para mim. Ele fez isso de propósito, sabendo que
implicaria com Raphael, e conseguiu.
— Um prazer conhecê-lo — digo a ele.
Eu já tinha o visto, é claro. Toda vez que ele visitava New
York, ia para o clube.
— É a minha vez. — Victor, que eu já conheço e com quem
já até falei em várias ocasiões, chega, dando um abraço em mim. —
É bom revê-la, Phillipa.
— Obrigada. — Sinto o rubor nas minhas bochechas.
Toda essa atenção que estou tendo é um pouco
desconcertante para mim. Não gosto de ser o centro das atenções.
— Esses meus filhos não têm um pingo de educação. Vocês
estão deixando a menina desconfortável. — Allison, mãe dos três
homens que estão perto de mim, fala.
Ela se aproxima, dando um pequeno sorriso.
— É muito bom conhecê-la e saber que está bem e de volta
para casa, para a família. — Dá um abraço apertado em mim.
Um abraço de mãe. Não que eu já tenha tido um, mas é o
que sinto quando ela me abraça. Mais uma vez, meus olhos se
enchem de lágrimas por esse momento.
Allison me solta, então sou apresentada ao seu esposo,
Derek Callahan, tão bonito quanto os filhos e o resto da família. O
que Deus deu para esse povo quando estavam no ventre da mãe?
Ô família bonita! — Não, família de homens e mulheres gostosos,
isso sim — Merda, estou pensando demais...
— Eu acho que vocês poderiam dar um pouco de espaço
para Phillipa. — Raphael fala, ficando ao meu lado, à medida que
envolve seu braço esquerdo em mim.
— Oh, sinto muito. — Allison dá um pequeno sorriso de
desculpa. — Venha, vamos juntar-nos aos outros.
É um pouco estranho estar na presença de toda a família
depois de tanto tempo. São tantos sentimentos que me envolvem,
que eu não sei o que fazer, então fico apenas parada. Não tenho
dúvida de quem me tornei. Não me sinto culpada pelo meu passado,
nem pelas minhas escolhas. O problema é que não faço ideia do
que essas pessoas estão pensando enquanto olham para mim. Eles
ainda me veem como uma traidora? Eles têm pena de mim? Veem-
me como um monstro? Como a pobre mulher frágil que foi abusada
e perdeu o bebê? Merda! Não gosto de sentir-me assim, fora do
lugar.
— Raphael? — chamo por ele, que se vira, ficando de frente
para mim, cortando minha visão dos outros.
— Gatinha? — Segura meu queixo, fazendo-me olhar nos
seus olhos. — O que está sentindo? — pergunta, com carinho.
Mordo meus lábios, balançando a cabeça. O que eu estou
sentindo? Não parei realmente para pensar sobre essas emoções.
São tantas, além de que é tão estranho, desconcertante, porém há
um sentimento predominante que domina todo o meu corpo. Medo.
Não das pessoas que estão aqui, mas do que elas pensam sobre
mim.
— Medo — sussurro, fazendo com que apenas ele ouça.
Raphael olha para mim, surpreso com minha resposta. Ele
acena com a cabeça, e seus braços me envolvem. Abraça-me,
então minha cabeça pousa no seu peito. Coloco meus braços em
volta do seu corpo, apertando-o contra mim. Se eu pudesse, não
sairia mais daqui, deste casulo que criamos.
— Eu a vejo, Phillipa. — Uma voz diz atrás de Raphael, e
meu corpo fica tenso quando percebo que é a voz de Carter. — Vejo
uma mulher forte que enfrentou um monstro de frente e levou-o ao
inferno.
— Eu a vejo, Phillipa. — Mordo meus lábios ao ouvir a voz
da minha irmã. — Vejo uma irmã, uma protetora que fez de tudo
para proteger América. Uma mulher incrível.
Raphael me solta, colocando-me mais uma vez ao seu lado,
de frente para o resto da família.
— Eu também a vejo, Phillipa. — Dimitria diz, sorrindo para
mim. — Você reergueu-se em meio à dor, tornou-se mais forte e
destemida.
O que eles estão fazendo? Não há como segurar as
lágrimas neste momento, então eu apenas as deixo escorrerem pelo
meu rosto.
— Eu a vejo, Phillipa. — Dominic dá uma piscadinha,
fazendo-me rir em meio às lágrimas. — Você tornou-se bela, cheia
de vida e derreteu o coração gelado desse homem ao seu lado.
Um soluço deixa meus lábios. Eles querem acabar comigo,
só pode. Raphael aperta-me, deixando-me saber que ele está aqui
comigo, que tudo vai ficar bem. E neste momento, eu acredito.
— Eu a vejo, Phillipa. — Céus!
Caspen dá um passo à frente, com seus olhos intensos em
mim.
— Você sobreviveu. — Dá um pequeno aceno, em
reconhecido.
Homem de poucas palavras.
— Eu a vejo. Você foi minha melhor amiga, você apoiou-me
em tudo, mas quando mais precisou de mim, eu não estava lá. Eu a
vejo. Você passou por tanto, entretanto ainda está em pé.
Não consigo me controlar: meu corpo todo treme e soluços
deixam minha boca. É demais para mim. Tudo isso, todas essas
palavras e saber que sou bem-vinda, que não devo ter medo do que
eles pensam ao olhar para mim... As emoções são tantas, porém o
medo se vai, e neste momento, o que sinto é pertencer. Eu pertenço
a essa família.
— Eu a vejo, gatinha. — OH, MEU DEUS!
Viro-me de lado para olhar Raphael em meio às lágrimas.
Ele se coloca de joelhos à minha frente. Ponho a mão na boca,
surpresa com o que está fazendo.
— Eu vejo uma incrível mulher que lutou pela vida, lutou
pelo que queria, sempre de cabeça erguida e com uma atitude
tentadora, embora um pouco irritante, mas que entrou na minha vida
e quebrou minhas barreiras. Duas vezes. Você é a mulher da minha
vida. Eu sei que é clichê e nada romântico, mas você é para mim, e
eu estou orgulhoso de você. Porra, muito orgulhoso! Eu a amo e vou
amá-la pelo resto das nossas vidas. Casa comigo?
— Sim, sim, sim, eu me caso com você! — respondo, sem
pensar.

Fim... ou um novo começo, quem sabe?


Bônus

Dimitria – Festa de Halloween

Observar a tensão sexual entre Raphael e Phillipa deixa-me


incomodada. Eu preciso transar! E é exatamente isso que vou fazer
esta noite. Distancio-me do grupo, caminhando sozinha pelas
pessoas na pista de dança, tentando encontrar um lugar longe. Eu
posso cuidar-me sozinha, não preciso de um bando de homens ao
meu redor, vigiando-me como urubus. Estou bem sozinha, obrigada.
De qualquer forma, se Marcus aparecer esta noite, seu foco será em
Phillipa, não em mim, então por que tenho que me preocupar?
Balanço-me ao ritmo da música, meus quadris vão de um
lado para o outro. Passo minhas mãos pelo corpo, de forma
sensual. Quero achar alguém para foder duro, rápido e sem apego.
Espero que a forma como estou dançando atraia esse alguém. Eu
só quero por esta noite esquecer. Esquecer toda essa coisa sobre
Marcus, esquecer o perigo. Só quero ser eu mesma e aproveitar,
encontrar um homem que balance minhas paredes internas, que
faça com que minhas pernas tremam e que saiba fazer uma mulher
gozar. É pedir demais? Por isso, eu apenas me entrego à dança e à
sensualidade que minha roupa de dominatrix emana. Dou o meu
melhor para atrair alguém.
— Doces ou travessuras? — Uma voz baixa, rouca e tão
sensual sussurra ao meu ouvido, enviando arrepios por todo o meu
corpo.
Issoaí!Era dissoque eu estava falando . Viro meu corpo, de
forma sensual, ficando cara a cara com o dono da voz tão deliciosa.
Doce senhora dos homens fantasiados,que homem é esse?! É
claro, não dá para ver muito, já que ele está fantasiado de O
fantasma da Ópera. Metade do seu rosto está coberto por uma
máscara branca; e a outra metade, à mostra. Desse pouco, eu amo
o que estou vendo: esse sorrisinho de lado, sedutor... E seus
olhos...! Oh, seus olhos cheios de calor fazem com que minha parte
íntima vibre, em empolgação. Sem falar no resto. Seu corpo... Oh,
essa roupa coube perfeitamente em seu corpo todo estruturado.
Senhor, que calor! Acho que toda essa atmosfera sensual do clube
de Hector, aquela tensão sexual entre Phillipa e Raphael... estão
fazendo-me delirar, porque de onde esse homem saiu? Esse cacete
só acontece em filmes!
Meu corpo todo corresponde, como um imã, puxando-me
para ele, fazendo-me ansiar pelo seu toque, por ouvir mais da sua
voz e ter esses seus lábios sobre minha pele, assim como seu olhar
sobre meu corpo. Eu fuidrogada? Lambo meus lábios ao senti-los
secos. Olho bem para o desconhecido à minha frente.
— Esta noite, estou procurando por travessuras, mas acho
que você é uma mistura dos dois. — Consigo dizer a ele, que
gargalha.
Oh, doce cacete! Sua gargalhada... merda, merda... Estou
ficando molhada entre as pernas só por sua risada. Coloco minha
mão na testa, tentando entender o que está acontecendo.
— Então, esta noite, dar-lhe-ei os dois apenas de eu achar
que lhe darei travessuras e você dará a mim o doce do seu corpo.
— O desconhecido ergue a mão, passando seu dedo indicador por
cima do meu decote.
Toda a minha pele se arrepia com o simples toque do seu
dedo. Pego-me imaginando como me sentirei quando o sentir por
inteiro. Por favor, que ele seja tão bom quanto parece
.
— Vamos dançar, minha dama da noite. — Fecho meus
olhos quando ele me agarra, puxando meu corpo para perto do seu.
Acho que morri e fui para o céu. Esse homem, além de ter
uma voz sedutora e um toque de arrepiar, também sabe dançar.
Puta que pariu! Meu corpo está perfeitamente encaixado no seu;
meus seios, roçando seu peitoral coberto, assim como minha virilha
está encaixada à sua perna direita, sendo assim, eu posso senti-lo.
Sua protuberância na minha barriga.
Meus olhos se abrem. Sou pega desprevenida ao encontrar
seu tão intenso olhar em mim. Sim, quente, muito, muito quente.
Fico hipnotizada pelo seu olhar. Seu corpo está envolvido no meu.
Eu sinto não só o calor no seu olhar, mas no seu corpo também. Ele
me envolve de uma tal forma, que em instantes, sinto meu corpo
pegando fogo. O homem sorri para mim, sabendo muito bem o que
está fazendo comigo.
— Deliciosa. — Ele quebra o contato visual ao abaixar sua
cabeça e colocar um beijo casto no meu ombro nu.
— Deus! — resmungo, sentindo-me nas nuvens.
— Eu vou prová-la, dama da noite. Vou beijar cada parte
desse seu corpo delicioso, fazendo-a gemer durante toda a noite.
Minha. — Tremo quando sinto uma pequena mordida no meu
pescoço. — Vou provar o sabor entre suas pernas, provar seus
seios... Estou louco para saber se eles são rosados ou mais
escuros. — Ele se esfrega na minha barriga, deixando-me sentir seu
pau.
Suas mãos passam pelo meu corpo de forma tão deliciosa,
que perco o fôlego. Parece que estou caindo de um precipício. O
que esse homem está fazendo comigo? Como isso é possível?
— Vamos, eu quero você, e não posso mais esperar.
— Por favor...

Sorrio ao despreguiçar. Abro meus braços, passando-os por


toda cama, sentindo a maciez dos lençóis. Meus olhos se abrem,
então olho para os lados. Estou sozinha. Bem, não me importo nem
um pouco, já que essa era a minha intenção o tempo todo. Meu
corpo todo se aquece ao lembrar-me da maravilhosa noite que tive
com o desconhecido do clube. Sim, foi perfeito. Só de pensar, meu
corpo todo se acende para a vida. Bem que eu gostaria de repetir a
dose que tivemos, mas sabia que seria apenas uma noite. Só não
imaginei que seria bom demais. Levanto-me da cama, levando o
lençol comigo, tendo-o assim contra meu corpo. Caminho pelo
quarto de hotel, encontrando então uma bandeja pronta com café da
manhã, bem como uma nota embaixo de um copo de suco.
“Fiqueà vontade, tudo jáestá pago. Até mais,dama
da noite.”

Balanço a cabeça à medida que um sorriso se forma nos


meus lábios. “Dama da noite”.Gostei do apelido que ele deu a mim.
Aproveito que estou sozinha e tomo o café enquanto leio as
mensagens do meu celular. Assim que abro a primeira, porém, o
encanto do dia se vai. Porcaria. Preciso ir para casa, pois eles
pegaram Marcus.

Três dias depois...

Issosó pode ser uma piada! Ou o universo está fodendo-me


bonito. Pisco repetidamente algumas vezes, porque eu realmente
acho que estou tendo alucinações. É ele, o desconhecido do clube,
que além de foder meu corpo, tem fodido minha mente nesses
últimos dias. Cacete! Ele está bem aqui, na minha frente.
— Você?! — digo, abismada.
Meu corpo todo se acende para a vida ao sentir sua
presença. Merda, ele ainda tem esse efeitoem mim... Céus! Estou
perdendo minha sanidade.
O homem olha para mim e dá um meio sorriso, quase não
reconhecendo minha presença. Meu corpo todo fica travado, sendo
assim, eu apenas o observo ir até Marcus.
— Estou aqui para dizer que é uma vergonha para a máfia.
Ninguém da sua família quis vir para vê-lo e deserdar, mas estou
aqui para isso. Marcus Esposito, sua família o deserda, a máfia o
deserda. Você é um lixo, e como lixo morrerá.
Sua voz... Meu Deus, sua voz ainda é como me lembro, a
mesma que se repete durante a noite toda vez que fecho os olhos e
lembro-me do que aconteceu... Meu doce Senhor, eu sei quem ele
é. No entanto, esse homem chegou com meu irmão, e agora, sem
ao menos olhar para mim, está saindo com ele. Merda... O homem
que não sai da minha cabeça e que me fodeu de todas as formas
possíveis é Aléssio D’Angelo,capo-chefe dos D’Angelos,da máfia
italiana!
Próximo livro: Casados Pela
Máfia.

Sinopse

Há uma coisa que você deve saber sobre Dimitria Callahan:


ela não corre atrás de ninguém.
Há uma coisa que você deve saber sobre Aléssio D’Angelo:
ele adora um desafio.

Dimitria

Eu disse que o amava e ele deixou-me. Seis meses depois


do dia em que quebrou meu coração, Aléssio voltou querendo uma
aliança. Quer conversar, como se isso fosse possível. Ele quebrou
meu coração uma vez, duas vezes seria burrice minha.

Aléssio

Ela disse que me amava, eu deixei-a. Agora, estou de volta,


decidido a tê-la de volta, mesmo ela recusando a mim. Estou certo
de que essa mulher foi feita para mim. Dimitria não sabe, mas vou
fazê-la amar-me de novo.
Uma nova ordem se coloca no caminho dos Callahan’s.
Destruição. Morte. Traição. Esse novo grupo coloca todos em
perigo. Será que Aléssio e Dimitria conseguirão entender-se em
meio a toda essa confusão? Quem será o traidor? Quem são os
membros por trás das balaclavas que causam pânico em toda a
cidade?
Músicas

House on Fire – Sia


Broken – Isak Danielson
Wrong – Zayn (Feat. Kehlani)
Please me – Card B e Bruno Mars
Earned It – The W
eeknd
In Y
our Eyes – The Weeknd
Stay – Rihanna (Feat. Mikky Ekko)
Happier Than Ever – Billie Eilish
Nobody's Perfect – Jessie J
Fever – Dua Lipa (Feat. Angèle)
Homesick – Dua Lipa (Feat. Chris Martin)
To Die For – Sam Smith
Trampoline – Zyan (Feat. Shaed)
No Goodbay – Dua Lipa
Lost In o
Yur Light –Dua Lipa (Feat. Miguel)
This Is What Y
ou Came For – Calvin Harris (Feat. Rihanna)
Sweater Weather – Neighbourhood
Partition – Beyonce
Please me – Bruno Mars (Feat. Cardi B)
The Monster – Eminem (Feat. Rihanna)
Agradecimentos

Olá, minhas corujas madrugadoras! Eu quero agradecer


imensamente aos meus leitores, todos que estão acompanhando
esta série, na qual estou dando o meu melhor. Sei que nem sempre
é da forma que vocês querem, principalmente aos meus leitores do
Wattpad — amo vocês. Essa estória foi uma das mais pesadas para
mim, principalmente porque eu fiz — confesso — Phillipa sofrer
bastante.
Muito obrigada por me acompanharem, por torcerem pelo
casal, e também pelos comentários e as estrelas. Agradeço demais
pelo apoio de cada um de vocês. São maravilhosos. Sou e sempre
serei eternamente grata. Fiquem atentos, que vem mais por aí.
Beijos e abraços.

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