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Noiva Irresistível do Mafioso

Romance de Casamento por Conveniência

Jolie Damman
Direitos autorais © 2022 Jolie Damman

Todos os direitos reservados

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais,
vivas ou falecidas, é coincidência e não é intencional por parte do autor.

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transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou
outro, sem a permissão expressa por escrito da editora.

Design da capa por: Jolie Damman


Índice

Página do título
Direitos autorais
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Epílogo de Marat
Epílogo de Natalie
Pós-Epílogo
Continue Lendo Esta Série
Série Clube da Máfia e Mais
Sobre Jolie Damman
Capítulo 1
Natalie

Acreditei que ia gostar desse trabalho. Ambiente de escritório, alguns


amigos aqui e ali, oportunidades de conhecer novas pessoas, encontrar um
futuro marido e tudo o mais que alguém da minha idade poderia querer, e
ainda assim, eu me via odiando cada vez mais este lugar. Não havia nada
mais falso do que fingir que estávamos todos aqui cooperando para um
objetivo comum.
Não era nada disso, e havia muita competição. Já era tão grande quanto
a própria Terra, e ficava cada vez maior. Pior, meu chefe estava tentando
encontrar motivos para me demitir.
Ele era um maldito e covarde. Não conseguiu, até agora, encontrar uma
boa razão para me despedir. E havia um bom motivo por trás disso. Eu era
ótima no meu trabalho.
Eu sorri, pensando nisso.
Digitei uma mensagem para um de nossos clientes quando meu chefe
fez um gesto com a mão, me chamando.
Suspirei. Ele queria falar comigo de novo, sério? E aqui estava eu
pensando que hoje ele não iria nem se lembrar de mim, em outras ocasiões
tentando me fazer sentir para baixo enquanto dançava em torno da
possibilidade de me demitir.
Eu odiava este lugar por algumas outras razões, também. As luzes
brancas eram tão brilhantes que eu sentia vontade de usar óculos escuros
aqui. Eu queria poder fazer isso, mas aí todo mundo ficaria tirando sarro de
mim em seus grupos de WhatsApp.
Eu nunca era convidada para eles e nunca seria. Apesar de tentar fazer
amigos aqui, eu só tinha uma, e ela trabalhava em outro departamento. Eu
estava sozinha aqui.
Apesar dessas coisas, eu não deixei esse ambiente ditar o tipo de pessoa
que eu era. De jeito nenhum eu permitiria que algo assim acontecesse.
Eu era independente disso e apesar de não ter muitos amigos, conseguia
ter uma carreira de bastante sucesso. Afinal, ganhava mais dinheiro aqui do
que a maioria dos americanos.
Mas, ainda não era suficiente. Eu odiava minha vida.
E havia tanta digitação e conversa aqui que eu nunca conseguia me
sentir em paz.
Não era à toa que eu sempre tinha que colocar meu fone de ouvido e
ouvir um pouco de música enquanto trabalhava.
E também, não me admirava que as pessoas aqui continuavam me
ignorando enquanto o meu chefe não desistia de encontrar motivos para me
demitir. Raleigh era uma cidade legal, mas logo eu estaria desempregada
como tantas outras pessoas.
Caminhei até o escritório e encontrei meu chefe sentado atrás de sua
mesa. Na frente dele ele tinha seu MacBook.
Era da última versão com todas as coisas extras que um homem como
ele gostava, notei. Ele era mais velho do que eu – ele tinha a pele enrugada e
já estava ficando calvo.
Apesar dessas coisas, ele ainda tentava parecer que era juvenil. A razão
por trás disso era bem simples. Como a maioria de seus funcionários tinha
cerca de metade de sua idade ou menos, ele não queria se sentir deslocado.
Ele tinha alguns vasos de plantas aqui e ali também em seu
escritório. Tenho que fazer que todo mundo pense que sou a favor do meio-
ambiente.
Eu quase podia ouvi-lo dizendo isso para todos na sala principal da sua
empresa. O único problema com isso, porém, era que ninguém jamais
acreditaria nele.
– Você me pediu para vir, chefe? – Eu questionei.
– Natalie, não há necessidade de me chamar de 'chefe'.
– Mas é o que você é. – Eu sorri, mas era um sorriso falso.
– E não há necessidade de sorrir também. Eu não gosto de mentiras.
E deixei meus lábios descansarem em sua posição inicial. Não fazia
muito sentido fingir que meu chefe ia se tornar um homem legal de repente.
– Encontrei algo muito interessante sobre você... – ele disse.
– Sobre o quê?
Meu coração começou a bater mais rápido que o normal. Eu tinha
muitas coisas sobre mim online e nem todas eram boas para um ambiente de
escritório como esse. E eu nunca tentei escondê-los ou excluí-los. Por que
deveria? Eu não passava de um fantasma online.
Ele pegou seu MacBook e virou para mim, o conteúdo na tela me
fazendo dar um passo para trás um instante depois. Eu jamais tinha pensado
que isso... Não, não podia ser. Já tinha desistido disso há muito tempo...
– Meu canal no YouTube…
– Isso mesmo, e eu não gosto nem um pouco dele.
– Mas eu nem o uso mais.
– E é o suficiente para colocar em risco a imagem desta empresa. Você
não quer nos ver falindo por sua causa, não é?
– Eu jamais pensaria assim...
Eu tinha aberto aquele canal há muito tempo para desabafar sobre
algumas das coisas que aconteciam na minha vida então, como política e
notícias nacionais.
Nunca pensei que alguém iria encontrá-lo. Havia uma boa razão pela
qual o canal nunca decolou. O número de assinantes – menos de 40 – me
lembrava disso. O que eu não conseguia entender era ele pensando que
aqueles vídeos ainda eram relevantes...
– Eu posso excluí-lo – acrescentei.
– Muito tarde. Acho que já tomei minha decisão.
Tudo bem Natalie, pensei comigo mesmo, você pode ser uma maricas
agora ou chutar a bunda dele. O que vai ser?
– Me demita de uma vez, então. Eu não me importo – finalmente disse.
Mas eu me importava sim. O que eu faria sem esse trabalho? Me pagava
um pouco mais do que o suficiente e não havia benefícios, mas encontrar
trabalho aqui, depois da pandemia do coronavírus e tudo isso, seria bem
difícil.
A América estava em ruínas, e meu pai ficaria menos do que satisfeito
que o decepcionei. Ele me deu essa oportunidade, afinal.
Eu não ficaria sem-teto – essa era uma preocupação distante. Eu tinha
uma família para cuidar de mim, mas não queria a ajuda deles.
Eu queria uma vida própria, onde eu não tivesse que fazer o que eles
tinham planejado para mim. Aquele casamento não era bom, e não era para
mim.
Inclinei meu queixo para cima e esperei que ele dissesse alguma
coisa. O silêncio já era pior do que a sua resposta, e agora eu estava pensando
como minha vida seria a partir deste momento.
Eu teria que me casar e me tornar a esposa de alguém que não era nada
agradável. Todos os membros daquela família me davam nojo. Talvez eu
devesse fugir e comprar uma nova identidade para mim...
Ele sorriu. – Hoje não. Tenho coisas mais importantes para fazer...
Hoje não? O quê?! Esse cara achava que podia me tratar como vira-lata
sem eu morder? Eu não ia deixar isso ser assim. E sobre o quanto esse
trabalho significava para mim e como minha vida seria a partir de
agora? Bem, foda-se essas coisas.
Eu bati minha mão em sua mesa, fazendo-o dar um gritinho. – Já me
cansei disso. Estou farta deste trabalho, desta empresa e de VOCÊ. Eu estou
terminando com toda essa merda, e não venha implorar para eu voltar.
– Não, espere! – Ele gritou enquanto eu saía de seu escritório. Todos os
meus colegas de trabalho – e em breve ex-'colegas' – ficaram boquiabertos
comigo. Eu sorri. Eu fiz todos eles pensarem que eu nunca faria algo
assim. A reação deles me empoderou.
Caminhei até meu cubículo, desliguei meu computador e fui sair do
prédio quando meu chefe agarrou meu braço. – Por favor, não saia da
empresa. Todos nós precisamos de você.
Mas eu sabia que era mentira. Ele queria me humilhar na frente de todo
mundo novamente. Ele pensou que eu ia comer direto da sua mão mais uma
vez. Ele pensou que eu ia implorar para ficar aqui, mas eu era tudo menos
uma mendiga, e tinha minha autoestima intacta.
Eu soltei meu braço. – Não, e essa é a minha resposta final.
Com isso dito, eu admirei o olhar idiota nos rostos dos meus
'colegas'. Esta era uma decisão minha. Todos eles achavam que eu me
submeteria para sempre a esse tipo de ambiente onde eu tinha que ser tudo
menos eu mesma. Malditos. Eles não sabiam o tipo de pessoa que eu era.
Então saí do prédio com a mente clara. Eu fiz a escolha certa.
◆◆◆

Eu me encontrei na sala de estar com meu pai bem na minha frente. –


Natalie, você cometeu um grande erro.
Seu tom era irritado e rude. Eu sabia que ele ia se sentir assim sobre eu
me despedir, mas neste momento, eu não me importava com isso.
– Pai, você não tem ideia do tipo de coisas que eu tive que passar lá.
– Isso não é importante. Achei que você ia se tornar uma adulta pelo
menos uma vez na vida.
– O quê? – Eu disse enquanto colocava meus punhos na minha cintura,
meus olhos semicerrados.
– Basta olhar para você. Você acha que Marat ficará feliz em se casar
com você?
– Pai, eu não vou me casar com ele!
– Sim, você irá. Nossa família é parceira dele há gerações. Você não vai
quebrar essa tradição. É a única maneira de nos mantermos de pé.
Eu sabia que estávamos tendo um momento difícil aqui na
América. Nossa casa precisava ser repintada e alguns cômodos exigiam ainda
mais atenção, mas eu não achava que precisávamos da família Popov para
nos manter de pé. Deveríamos ser melhores do que isso, certo?
De repente, me peguei desejando que pudéssemos manter pelo menos a
Sra. Freshour aqui conosco. Ela era tão legal e tivemos tantas noites em que
conversamos sobre tudo.
Eu desejava tanto que ela estivesse aqui neste momento para que ela
pudesse me confortar. Ela era a única que entendia que eu não era apenas um
troféu de um homem que eu nem conhecia.
– Tudo bem – eu disse – acho que não tem como mudar isso.
Mas tudo isso poderia ser diferente, na verdade. Se um dia minha
carreira no YouTube decolasse, eu seria tão rica que não precisaríamos mais
da família Popov. Casar com Marat, então, não seria nada mais do que um
pesadelo distante que eu derrotei…
Essas coisas, no entanto, não eram a vida real, e eu precisava me
concentrar nisso. Eu não poderia afundar no abismo da minha imaginação
novamente. Isso aconteceu antes, e não terminou bem para mim.
– Natalie, espere – ele disse, mas eu já estava subindo as escadas
correndo e indo para o meu quarto. Eu precisava de tempo para pensar sobre
as coisas que ele acabou de dizer.
Tudo que fazia com a minha vida parecia falhar de uma forma ou de
outra. Perder aquele emprego era apenas um exemplo disso, mesmo que eu
tenha decidido me demitir dessa vez.
Eu bati a porta atrás de mim e deslizei meu corpo para o chão, meus
olhos lacrimejando. Eu não queria chorar – chorar era para pessoas fracas,
afinal de contas. Mas era como se duas mãos fortes estivessem apertando
meu coração agora. Eu me sentia tão horrível, tão mal. Eu não pude deixar de
começar a me odiar também.
Esse último pensamento, porém, eu afastei de mim. Não podia ficar me
odiando quando sempre estive fazendo a coisa certa. Não era minha culpa
minha vida ser tão horrível.
Desejei que minha família não estivesse mergulhada nesse mar de lama
chamado máfia russa. Eles eram ainda piores que os italianos.
Eu já tinha me encontrado com o homem que se casaria comigo. Sempre
soube que isso era inevitável, desde o início. Mesmo se eu tivesse me tornado
uma trabalhadora de sucesso naquela empresa, meu pai ainda teria me feito
casar com Marat. Afinal, era parte da sua ‘cultura.’
Chorei por alguns minutos e depois me levantei, minha mente clareando
um pouco agora. Eu precisava de um pouco de paz de espírito para que eu
pudesse saber o que fazer a partir de agora.
Encontrar outro emprego? Talvez eu pudesse, mas neste exato momento,
sentia vontade de fazer outra coisa.
Algo muito mais divertido.
Lá fora, ouvi um tiro ou dois. Quem teria pensado há alguns anos que
este bairro se tornaria uma merda sem os negócios do pai em seu auge. Seu
prédio e tudo mais ainda estavam lá, mas ele tinha tão poucos funcionários
agora.
As pessoas agora tinham que recorrer a roubar e matar umas às outras
para sobreviver. Este lugar quase parecia com Detroit agora. Raleigh estava
passando por uma ‘Detroitização’, e isso era uma droga.
Dei uma boa olhada no meu quarto. A pintura desbotada nas paredes me
lembrou, mais uma vez, que nossa antiga mansão precisava ser
reformada. Isso, no entanto, custaria muito dinheiro – dinheiro que não
tínhamos.
Tínhamos comida e não era um problema, mas não podíamos comprar
coisas como costumávamos fazer há cinco anos. Muita coisa mudou por
causa do coronavírus para mim e meu pai. Não foi culpa dele que seu negócio
foi por água abaixo.
A aparência sombria do meu quarto não iria me impedir de fazer a coisa
certa. Posicionei as luzes e a câmera e depois me gravei enquanto falava
sobre minha vida. Número baixo de inscritos ou não, eu ainda ia terminar
esse vídeo.
Eu precisava desabafar. Falar sobre as coisas que aconteceram na minha
vida com a minha amiga de trabalho não seria suficiente. Eu nunca conseguia
sentir que estava sendo totalmente honesta com ela sempre que ela vinha aqui
para me ver.
Falei e falei na frente da câmera e editei o vídeo antes de fazer o
upload. Levaria uma hora para o upload terminar.
Caramba, eu queria ter uma internet melhor, mas aqui fora, esse
provedor estava com medo de instalar sua conexão de fibra. Bandidos
roubariam os cabos. Eu quase podia ouvir um de seus representantes me
dizendo isso.
Ao terminar o upload, não me decepcionei porque o vídeo teve menos
de 20 visualizações e nenhum comentário algumas horas desde que foi ao
ar. Suspirei. Não adiantava persistir com minha carreira no YouTube. Nunca
iria funcionar.
Abri o Tinder e comecei a passar o dedo pela tela. Tive alguns matches,
mas não falei com nenhum deles. Por que eu deveria fazer isso quando meu
destino estava definido de qualquer maneira?
Trabalho ou não, namorado ou não, eu ia me casar com Marat
Popov. Ele me faria morar com ele na Rússia e eu teria que aprender sua
língua, sua cultura e fazer todas as outras coisas que eu não queria acrescentar
à minha vida.
Quando chegou a hora do jantar, sentei-me com papai e enchi meu
prato. Não tinha certeza de quanto eu ia comer, no entanto. Apenas o
suficiente para não perder mais peso, imaginei. – Coloque um pouco mais –
meu pai afirmou uma vez que ele olhou para o meu prato.
Eu não disse nada. Eu ainda estava ressentida por ele ter dito aquelas
coisas para mim antes.
Se ao menos eu tivesse um bom emprego e muito dinheiro, poderia
construir uma vida independente e nunca mais ter que me preocupar com
Marat. Eu sabia qual era o seu ganha pão, e não gostava nem um pouco disso.
Enquanto jantávamos, papai disse – Não me arrependo de ter dito
aquelas coisas. Você precisa aprender a ser mais responsável.
Suspirei. Sentia vontade de estrangulá-lo agora. Não poderíamos pelo
menos ter um jantar tranquilo juntos?
– Eu assumo a responsabilidade pelo o que faço. O que você acha que
estou fazendo agora? Que estou jogando tempo fora até ter que me casar com
aquele filho da mãe?
– Eu não tolero esse tipo de tom comigo.
– Então me expulse daqui. Eu não tenho nada a perder.
Um momento de pausa enquanto ele olhava para mim. – Não, você vai
morar aqui até o próximo mês. Está tudo arranjado. Você vai se casar com ele
quando formos lá novamente.
Eu apertei meu punho no garfo. Sentia vontade de atirá-lo nele, mas me
contive. Ele era meu pai e eu nunca iria machucá-lo, apesar de toda essa
merda de casamento forçado.
– Eu não vou me casar com alguém que eu não gosto!
– E você acha que foi fácil para mim tomar essa decisão? Aprendi a
amar sua mãe depois que me casei com ela.
Um momento de pausa. A memória do que aconteceu com minha mãe
ainda me machucava muito. Eu segurei uma lágrima. Ele não podia saber que
suas palavras me deixaram um pouco mais fraca agora.
– Tanto faz – eu resmunguei antes de comer o resto do jantar no meu
prato.
Eu me abstive de olhar para ele antes de ir até a pia e limpar meu prato e
talheres. Como não tínhamos mais empregadas trabalhando para nós,
precisávamos lavar a louça nós mesmos. E, eu preferia fazer isso agora em
vez de mais tarde.
Então entrei no meu quarto e me joguei na cama. O último pensamento
que tive em mente antes de adormecer foi: como será minha vida a partir de
agora?
Capítulo 2
Marat

Parei o carro quando o semáforo ficou vermelho, outros veículos parando


conosco. O som da chuva encheu o ambiente dentro e fora do veículo. Os
postes de luz lançavam luzes quentes que contrastavam com a aparência geral
sombria da noite de Kazan. Ao meu lado estava sentada minha irmã e ela
segurava em seus braços meu sobrinho.
– Então, quanto tempo você acha que vai levar para chegar lá? – Ela
perguntou.
– Não muito tempo. Artur terá tudo o que precisa. Não se preocupe.
– Eu sei que você ama seu sobrinho, mas eu estava pensando que ele
adoraria ter um primo...
Meu coração saltou. – Você sabe que eu não penso sobre esse tipo de
coisa. Natalie virá, mas não tenho certeza se…
– Vai dar certo? – Ela terminou para mim. – Vocês ficarão bem
juntos. Eu sei que você vai. Eu a encontrei antes muitas vezes, assim como
você.
Suspirei. – Você não sabe disso. Eu sei que ela não gosta de mim.
– Bem, o pai dela também se casou com alguém que ele não gostava
inicialmente. Eles estavam indo bem até que, bem, você sabe o que
aconteceu…
Ela enxugou uma lágrima que acabou de escorrer pelo seu rosto.
– Eu não deveria ter mencionado isso. Desculpe – ela terminou.
Eu me lembrei dela. Ela fora tão boa e gentil conosco. Mas então, o que
tinha que acontecer, aconteceu, e ela foi arrebatada de nós como se nunca
tivesse existido.
Jurei naquele dia que nunca mais deixaria algo assim acontecer
novamente. Nunca seria. Minha família era a coisa mais importante do
mundo para mim.
O sinal ficou verde e eu dirigi pela estrada. – Está tudo bem, irmã. Ela
ainda está conosco. Tenho certeza de que Deus encontrou um bom lugar para
ela com ele.
– Espero que sim.
Alguns minutos de silêncio se seguiram enquanto eu continuava a nos
levar ao nosso destino. Então, ela disse – você precisa pensar sobre sua
vida. Você nunca teve uma namorada.
– Eu não encontrei a mulher certa, e não, Natalie não é a mulher certa.
– Mas o pai disse-
– Respeito a escolha dele, mas ele está de cama. Em breve terei que
fazer escolhas por conta própria para mim e nossa família.
Ela olhou nos meus olhos enquanto eu dirigia. – Você não pode quebrar
a tradição. É o que mantém nossa família saudável e poderosa aqui em
Kazan.
Mordi meu lábio inferior. Eu não estava pensando em fazer algo assim
tão cedo, mas não havia como negar que o pensamento me tentava. Como a
família de Natalie poderia continuar a nos ajudar?
Eles mal conseguiam se manter em Raleigh. Eu sabia que a tradição era
importante, mas fingir que a situação atual era diferente poderia nos
condenar.
– Talvez seja hora de fazer mudanças – eu disse.
– Nem tente. O resto da família nunca o perdoaria.
– Sim, você está certa, mas eu não vou deixar a 'tradição' nos condenar a
todos. Pessoas podem mudar de opinião.
– E você precisa olhar além das coisas que aconteceram em sua vida. Só
porque aquela mulher, seja qual for o nome dela, fez o que fez, não significa
que Natalie seja uma garota má também.
– Ela é 10 anos mais nova que eu. Você não acha que casar com alguém
como ela é errado?
– A tradição é inquebrável – ela disse quando uma motocicleta
barulhenta passou por nós – e você sabe que ela precisa de orientação. Talvez
tudo o que ela precise seja você.
– Não sou psiquiatra – eu disse de volta para ela.
Mila ia me dizer mais uma coisa quando chegamos ao
supermercado. Estacionei o carro e ela parecia ter mudado de ideia. Artur se
apertou contra ela delicadamente e quase adormeceu. Ele ainda espirrava
algumas vezes e seus olhos pareciam mais vermelhos do que o normal. Ele
estava gripado e quase todas as lojas estavam fechadas a essa hora da
noite. Este era o único lugar onde Mila podia comprar seu remédio.
– Você vai ficar bem sozinho lá? – Eu questionei.
– Sim, vou. Apenas cuide de Artur por enquanto – ela disse antes de
entregá-lo para mim.
Fiquei observando-a enquanto ela entrava no supermercado. Eu não era
paranoico, mas precisava ter certeza de que ela ficaria bem. Havia muitas
pessoas tentando nos matar.
Outras famílias sentiriam cheiro de sangue se percebessem como
estávamos agora. Eles sabiam que ainda éramos poderosos, e essa era a única
coisa que os impedia de nos matar.
O pequeno Artur parecia tão fofo. Ele era uma das muitas razões pelas
quais eu queria apenas o melhor para nossa família. Seu pai estava
trabalhando nos Estados Unidos e eu estava basicamente substituindo-o.
Eu gostava disso. Havia algo tão cativante em garantir que ele
conseguisse o que precisava, independentemente das consequências.
Ele estava dormindo como uma pedra. Não importava o quão barulhento
fosse o lado de fora do supermercado, com carros indo e vindo atrás de nós,
ele dormia como um anjinho. Olhar para o rosto dele me lembrou o quanto
ele significava para mim. Eu faria qualquer coisa para mantê-lo vivo.
Quando levantei a cabeça, vi a mãe dele vindo até mim. Ela se sentou no
banco do passageiro e eu disse – Ufa, isso é muita coisa.
– Tenho que ter certeza de que ele sempre tenha apenas o melhor – disse
ela antes de jogar as sacolas plásticas com os pacotes de remédios na parte de
trás do carro.
Devolvi Artur para ela e dei a ré. Enquanto descíamos a estrada de volta
para a casa dela, perguntei – quando Viktor voltará?
Ela olhou para cima enquanto a chuva continuava caindo lá fora,
pensando. – Não sei. Ele disse que tem muitas coisas para fazer lá.
– Ele precisa voltar. Artur precisa dele.
– Ah, vamos – ela disse e sorriu – Artur adora estar com você. Você é
um bom pai de mentirinha.
Eu ri. – Talvez você esteja certa, mas eu não quero que ele cresça e
descubra que seu pai esteve ausente a maior parte de sua vida.
– Vai ficar tudo bem. Artur vai crescer e se tornar um menino muito
inteligente, assim como você.
– Você sabe...
◆◆◆

Mas a próxima coisa que eu senti era que o carro estava virado de
cabeça para baixo e havia um barulho incessante de gotejamento dentro
dele. Eu grunhi. Porra, o que aconteceu? Eu estava dirigindo pela estrada e
conversando com minha irmã. Tudo estava indo bem até que algo nos
atingiu.
Não fora apenas 'algo', mas outro carro. Acabei de avistá-lo não muito
longe de nós e ainda estava na estrada. Homens estavam saindo dele. Eles
usavam ternos escuros e máscaras. Não queriam ser identificados.
Mas comigo, isso não ia funcionar. Só precisava desafivelar o cinto e
sair daqui. Fiz a primeira coisa e quando ia sair do carro capotado, meu
coração disparou. Minha irmã não estava acordada e havia um corte enorme
na sua cabeça.
E Artur. Onde ele estava?
Procurei em todos os lugares e não o encontrei. Procurei mais um pouco
e... então o encontrei. Sua cabeça estava voltada para a outra direção do seu
peito. Eles... quebraram o pescoço dele. Achei que ia gritar, mas me contive.
Medo, ódio e desejo de matá-los vieram à tona, me fazendo pensar em
todas as maneiras que eu poderia matá-los.
Num momento estávamos nos divertindo e no outro minha irmã e Artur
estavam mortos. Eu deveria saber que esse tipo de coisa iria acontecer.
Eu deveria ter visto os sinais. Estava muito quieto quando estávamos
dirigindo pela estrada para voltar para casa, afinal…
Ver o Arturzinho assim e seu rosto angelical partiu meu coração. Eu
senti vontade de chorar agora e não fazer nada além disso. Eu não podia
acreditar que ele estava morto. Ele estava comigo e estava a salvo minutos
atrás.
Artur não conseguia nem pronunciar seu nome completo na idade
dele. Eles o mataram e não podiam nem se sentir mal por isso. Aqueles
desgraçados iam pagar por isso.
Eu vou matar cada um deles. Vou fazer isso devagar, saboreando cada
segundo. Eu vou torturá-los. Vou fazer toda a sua família pensar duas vezes
antes de fazer algo assim comigo novamente.
Se eles achavam que eu ia me acovardar, iriam ficar surpresos. Ver
minha irmã morta enquanto suas mãos ainda procuravam pelo meu sobrinho
era o tipo de coisa que eu nunca iria esquecer. Isso eu jurei aqui e
agora. Nada iria me parar.
– Apenas espere por mim – eu murmurei enquanto acariciava a
bochecha de minha irmã – vou matar todos eles e vingar o pequeno Artur.
Saí do carro e pensei em como estava processando esse novo
mundo. Em um momento minha irmã e a criança mais adorável do planeta
estavam comigo, e no próximo, eles estavam mortos. O pequeno Artur voou
dentro do veículo e deve ter quebrado o pescoço quando o carro capotou.
Eu disse à minha irmã que deveríamos ter colocado o bebê na
cadeirinha. Mas ela não me ouviu e eu me senti muito melhor com Artur ao
meu lado durante toda a viagem. Parte do que aconteceu foi culpa dela, mas
eu não pensava dessa forma.
Eu deveria ter sido mais persistente. Eu deveria ter ouvido menos meus
desejos egoístas. Talvez então eles tivessem sobrevivido ao ataque.
Peguei minha arma do coldre da cintura e caminhei até eles. Não havia
muitos deles, e eu logo descobriria de onde eles tinham vindo. Eu conhecia
todas as facções da Bratva em Kazan. Se eles achavam que esta seria uma
operação simples, eles iriam ficar surpresos.
Ver minha irmã e sobrinho mortos eram coisas que eu nunca iria
esquecer, mas por enquanto, eu precisava ser egoísta. Eu precisava pensar em
como iria lidar com eles e então descobrir de qual facção eles eram.
Ainda chovia bastante, água encharcando minhas roupas. Eu me escondi
atrás de alguns troncos de árvores enquanto me aproximava deles. Alguns
portavam rifles automáticos e espingardas.
Eles estavam vindo para o carro porque provavelmente achavam que
precisavam ter certeza de que eu morreria. Minha irmã e meu sobrinho
perdendo a vida foi apenas um efeito colateral para eles. Eles vieram aqui
apenas por mim.
Escondi-me atrás de outro tronco de árvore e esperei até chegarem ao
carro. Era quando eu ia acabar com eles. Quando eles descobrissem que eu
não morri, eles iam morrer aqui. Eu vou matar todos eles, exceto um, e então
vou torturá-lo até que ele me conte tudo.
– Ok, agora vamos ver se realmente o pegamos – um deles disse
enquanto se agachava para olhar dentro do veículo. Esse era o momento que
estava esperando.
Saí de trás do tronco da árvore rapidamente e matei o primeiro. Os
outros reagiram imediatamente, girando para saber de onde veio o
tiro. Disparei mais uma vez e depois outra antes que o último cara – o que
ainda estava de cócoras – tivesse a chance de pegar sua pistola.
Eles deveriam ter se preparado melhor para isso. O sangue de seus
amigos agora escorria pela encosta que levava mais para dentro da floresta. O
olhar no rosto do último homem era de puro medo. Sua boca estava aberta e
seus olhos, arregalados.
– Você não deveria ter me subestimado – rosnei antes de alcançá-lo e
pisoteá-lo contra o solo. Ele gritou, tentou pegar sua arma, mas eu a chutei
tão longe que não consegui ver para onde foi, acabando com suas chances de
se salvar.
Eu prendi sua cabeça contra o chão lamacento usando meu pé. – Onde
está o resto de vocês? – Rosnei de novo.
Ele não podia lutar e não podia pensar que ia sair dessa vivo. Ele poderia
me fornecer as informações que eu precisava, ou morrer depois de ser
torturado. Ele sabia qual era a minha reputação.
Seu dedo trêmulo se ergueu do chão, apontando para um ponto na
floresta. Enquanto mantinha seu corpo imobilizado, girei e atirei em um
homem que acabara de sair de trás de um tronco de árvore.
Se ele achava que eu poderia ser enganado, agora já sabia que não.
Eu pressionei sua cabeça ainda mais contra o chão, fazendo-o gritar. Ele
parecia tão fraco. Ótimo. Vou saborear cada segundo disso até que ele revele
tudo para mim. Seu choro e fungadas não iriam me fazer mudar de
ideia. Minha irmã e meu sobrinho mereciam ser vingados.
– Bem, aquele foi o último de vocês – rosnei, recusando-me a dar-lhe
um segundo para pensar que ele poderia escapar desta vivo. – Quem ordenou
este ataque?!
Apliquei mais pressão em sua cabeça, fazendo-o gritar de dor e sujando
ainda mais sua pele branca com a lama. – Você vai me responder ou
não? Não vou esperar.
Aliviei um pouco a pressão em sua cabeça, permitindo-lhe alguns
segundos para falar. Ele engasgou antes de finalmente dizer – Você vai me
matar de qualquer maneira quando isso acabar.
– Eu vou fazer muito pior – ameacei antes de chutar seu rosto e fazer
sangue escorrer de seu nariz.
Eu o peguei e o bati contra o meu carro virado, o baque alto acariciando
meus ouvidos. – Minha irmã e meu sobrinho estão mortos. Como você acha
que eu me sinto agora?!
– Sinto muito – ele disse quando notei o cheiro de sua urina enchendo o
ar – não estava dirigindo. Eu não queria fazer isso. Pedi que esperassem por
uma chance melhor, mas eles não me ouviram.
Eu bati seu corpo frágil contra o carro novamente. – Eu não me
importo. Diga-me quem encomendou esse ataque.
Ele olhou para mim enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto sujo e
machucado. – Você promete não me matar?
– Você tem uma escolha melhor do que me contar tudo? Pense nisso
com cuidado, com muito cuidado…
◆◆◆

Ele me contou tudo, e seu corpo imóvel contou o resto da história. Que
sujeito mais patético. Ele pensou que eu ia deixá-lo ir contar a todos dos Vory
sobre a tentativa fracassada de assassinato.
De agora em diante, os Vory deveriam se preocupar comigo.
Ele também me disse o nome do homem que ordenou o ataque. Iakov
Brobov ia se arrepender de ter ordenado que seus homens fizessem isso. Eu
pensei que nossas facções tinham uma trégua, mas vendo o que aconteceu,
agora eu sabia que não era nada mais do que uma mentira.
Chamei meus homens e ordenei que viessem me buscar, o que eles
fizeram. Um deles me perguntou se eu estava bem.
Disse-lhes que chamassem a ambulância e preparassem as coisas para o
funeral. – E pelo amor de Deus, certifique-se de que o lugar seja seguro. Use
quantos homens precisar.
Eu estava puto e com vontade de matar a cidade inteira agora. Não havia
chance de eu me acalmar até que Iakov estivesse morto na minha frente. Jurei
que não ia apenas acabar com a vida dele, mas também fazê-lo implorar por
isso. Ele merecia apenas o pior.
A chuva ainda caía lá fora quando fui levado de volta para casa. Subi as
escadas para chegar ao quarto do meu pai.
Nós nos certificamos de que ele tivesse o melhor serviço médico, e
médicos e enfermeiras vinham aqui todos os dias, mas eu ainda me
perguntava se ele sobreviveria. Talvez ele não quisesse.
Seus olhos me estudaram. – Filho, você parece perturbado com algo.
Sentei ao lado dele e disse – pai… não sei como te contar o que
aconteceu.
Gentilmente, sua mão apertou a minha. – O que aconteceu? Eu preciso
saber. Isso parece sério.
Sua voz era tão fraca quanto o resto de seu corpo. Ele parecia tão frágil
agora. Eu gostaria de poder fazer algo sobre isso, mas seu câncer de pulmão o
estava matando de dentro para fora.
Sabíamos que ele não tinha muito tempo, mas parte de mim ainda
esperava que Deus, um dia, operasse um milagre nele.
Um trovão retumbou do lado de fora quando eu disse – Mila e Artur
estão mortos, pai. Eu os estava levando de volta para casa quando bandidos
dos Vory nos atacaram. Eu fui o único que sobreviveu.
Sua mão apertou a minha com força e uma lágrima rolou por sua
bochecha enrugada. – Você precisa vingá-los. Os Popov nunca perdoam esse
tipo de coisa.
– Eu sei. Vou contar a Viktor em breve sobre o que aconteceu.
Seguiu-se um momento de silêncio enquanto a chuva continuava a cair
do lado de fora, a lua subindo no céu. – E você precisa se casar com
Natalie. É a única maneira de garantir que os Vory não lancem outro ataque
contra nós e, apesar de sua condição atual, sua família ainda pode nos ajudar
muito.
Eu não tinha pensado dessa forma, mas papai estava certo. Precisávamos
de toda a ajuda que podíamos obter agora mais do que nunca. Mila e Artur
precisavam ser vingados.
Nada me impediria de tornar isso realidade. Jurei por suas almas que
suas mortes não seriam em vão.
– Eu... vou me casar com ela, pai. Eu só espero que você esteja lá
conosco.
O canto de seus lábios se curvou para formar um sorriso. – Não se
preocupe, eu vou.
Capítulo 3
Marat

No entanto, alguns dias depois, depois de contar a Viktor sobre o que


aconteceu com Mila e Artur, encontrei-o morto em sua cama. Era uma manhã
como qualquer outra. Estava ensolarado lá fora e não havia nuvens no céu.
Parecia um dia perfeito quando fui até papai e descobri que seu peito
não estava mais se movendo. Seus olhos também estavam fechados naquele
dia.
Ele devia ter morrido durante o sono. As notícias sobre as mortes de
Mila e Artur foram terríveis, mas pelo menos parecia que ele esteve em paz
quando faleceu.
Agora, eu era o líder da família. Ordenei que todos os meus homens
viessem aqui porque eu tinha algumas coisas para lhes dizer. Fiquei do outro
lado da escada enquanto dizia – Meus camaradas, estamos enfrentando um
dos momentos mais difíceis dos nossos tempos. Vocês podem contar
comigo. A questão é, todos vocês estão dispostos a morrer por mim?
Eles rugiram e gritaram que, sim, eles estavam dispostos a fazer
qualquer coisa para garantir que Mila e Artur fossem vingados. Eu
sorri. Boa. Isso estava indo muito melhor do que eu pensava que seria. Nunca
se podia ter certeza de como outros homens processariam uma mudança de
comando como a que aconteceu. A reação deles me garantiu que eu tinha sua
total lealdade.
– Ótimo. Vamos matar Iakov Brobov. Ele é o nosso alvo – eu disse,
atraindo mais rugidos e palmas altas deles. Todos eles sorriram e pareciam
radiantes por eu estar no controle agora. Eu ia mudar as coisas para nós e
garantir que Natalie fosse uma parte importante disso. A ajuda de sua família
era essencial.
Depois que o clima no saguão diminuiu e eu cumprimentei cada um dos
meus homens separadamente, entrei na pequena capela que construímos
dentro de nossa casa. Olhei para a cruz e então me ajoelhei. Deus, dê-me
força para esta batalha que se aproxima.
Eu precisava de sua força para me ajudar com isso. Sem isso, eu não
tinha certeza se poderia vingar as vidas de Mila e Artur. E certifique-se de
que eles tenham um bom lugar lá no céu. Eles mereciam apenas o melhor lá.
Orar era bom. Isso clareou minha mente e me fez focar no objetivo à
frente. Deus estaria comigo. Eu sabia que não era um bom homem, mas Mila
e Artur eram como anjos. Deus vai me ajudar, como sempre fez.
Depois de orar por mais alguns minutos, levantei-me com apenas um
pensamento em mente. Iakov já era um homem morto. Ele só não sabia disso
ainda.
◆◆◆

O funeral estava acontecendo na minha casa. Não adianta enviar meus


homens para proteger outro lugar quando este era o melhor local para enterrar
o meu velho, irmã e sobrinho.
Meu pai estava dentro do caixão, apenas esperando que o resto da
família viesse lamentar sua perda.
‘Lamentar’ é o cacete. Essas pessoas vieram aqui com apenas um
pensamento em mente. Quanto de sua riqueza eles iriam receber depois que
eu revelasse o testamento?
Não muito, eu logo iria dizer a eles. Nada disso, para ser mais
preciso. Meu velho me entregou tudo o que tinha. Ele me disse qual era o seu
último desejo. Ele precisava de Iakov morto.
No céu, ele iria olhar para mim e esperar que eu cumprisse seu
desejo. Ou eu acabaria com a vida de Iakov, ou ele nunca me perdoaria. Eu
não poderia me importar menos com essas pessoas, mas meu pai significava
muito para mim. Eu faria o que fosse preciso para acabar com a vida de
Iakov.
Mila e Artur… vocês dois estão bem aí? Eu perguntei, e então olhei para
o céu antes de jogar meu cigarro na lixeira. Caminhei até o caixão sem dar a
essas pessoas um olhar sem sentido. Eu não precisava da presença deles
aqui. Vieram aqui pela riqueza descrita no testamento e depois esqueceriam
meu pai, Mila e Artur.
Alguém agarrou meu braço e me fez parar. Quem quer que fosse, era
melhor ele ter uma boa razão para estar fazendo isso. Eu não ia tolerar
alguém me tocando assim. Este era um lugar para lamentar e respeitar os
mortos. Fazer qualquer coisa diferente disso era um sacrilégio.
Mas meus olhos se acalmaram quando o encontrei. Eu nem me lembrava
que ele disse que ia vir aqui. Eu estava deixando toda essa tensão e tristeza se
aproveitar do pior que tinha em mim, e isso era algo que eu não podia
perdoar, pensei enquanto olhava para ele.
Eu endireitei minha postura e apertei sua mão, admirando seus olhos um
tanto inocentes – ele não era realmente ingênuo, eu me lembrei, apenas não
tão versado quanto eu na vida da máfia russa.
Ele sabia o que estava acontecendo e pelo que nossa família era
conhecida, mas ele era diferente de nós. Essa fora uma escolha dele, e ele fez
a certa. Ele tinha o potencial de se tornar muito mais, afinal.
– Ioann, estou feliz que você tenha vindo.
Ele sorriu. – Grande irmão, você parece tão mudado.
– Bem, talvez nem tanto. Vamos. Venha comigo.
Eu o levei para longe de todos e de todo o barulho. Eu logo teria que
fazer algo sobre isso se eles não começassem a se comportar aqui, pensei. Eu
captei algumas frases e palavras soltas aqui e ali enquanto eu andava por elas,
e elas fizeram meu estômago revirar em ódio ardente.
– … você sabia que ele tinha um dos relógios mais caros do mundo?
– … você acha que o filho dele vai herdar tudo?
– … ele é quem tem o testamento. Ele, sem dúvida, tentará enganar a
todos nós aqui.
Apertei meu punho e me abstive de dar a Ioann outra razão para pensar
que eu estava passando por um momento difícil. A morte do meu pai
significava muito para mim, mas para o meu irmão mais novo, eu precisava
continuar forte.
Ele ainda se espelhava em mim, afinal, apesar de quase ser um adulto
agora. O pensamento de que ele estava crescendo para se tornar alguém
melhor do que eu enchia meu coração de esperança.
Meus olhos percorreram o jardim e encontrei um local privado onde
poderíamos conversar. Muitas árvores e arbustos densos o cercavam, e não
havia ninguém por perto. Ele e eu podíamos conversar um com o outro sem
esconder nada.
– Marat, você parece derrotado.
– Eu me sinto derrotado. Eu não gosto deles.
– Eu também não. Devemos chutá-los para fora daqui.
Eu sorri. – Talvez em breve. Esteja pronto para isso.
– Com certeza. – Ele levantou seu punho e eu bati meu punho com ela.
– Então, o que vai acontecer agora? – Ele acrescentou, levantando uma
questão para a qual eu não tinha uma resposta completa e satisfatória.
– Vou torturar e matar Iakov. Não há outra maneira de tudo isso acabar
– eu ainda disse, no entanto. Essa era a única coisa que eu sabia com certeza
neste momento.
Ele baixou os olhos. – Você... pensou em não fazer isso...? Talvez ter
uma vida diferente e não ter que se preocupar em ser morto todos os dias…
Eu fiz uma careta. – Você não quer ver sua irmã mais velha e seu
sobrinho vingados?
Ele deu um passo para trás. – Não! Não é nada disso. Estou apenas
preocupado.
– Sobre o quê?
– Sobre você.
– Não se sinta assim. Vou matar apenas os bandidos, assim como nos
videogames que costumávamos jogar juntos.
– Não está vendo? Esse é o tipo de coisa que estou sentindo falta. Você
costumava ter um bom coração.
– Ioann, estar neste tipo de negócio mata o coração de qualquer um. O
meu morreu há muito tempo.
Ele balançou a cabeça em descrença. – Marat, você é o melhor irmão
mais velho do mundo, mas não me deixa te ajudar. Você continua caindo
cada vez mais nesse abismo de ódio e sofrimento.
Senti uma rápida onda de raiva invadindo meu coração e imediatamente
a contive. De jeito nenhum eu maltrataria Ioann. Eu nunca me perdoaria se
algo assim acontecesse.
Eu coloquei minha mão em seu ombro. – Ei, vai ficar tudo bem. Nós
vamos superar isso.
– Eu sei que vou ficar bem, mas você vai? Você se parece cada vez
menos com o irmão mais velho de quem me lembro com tanto carinho.
Sua afirmação entristeceu meu coração, mas eu ainda o puxei para mim
para um abraço caloroso. – Não se preocupe comigo. Eu ainda sou eu, e nada
pode mudar isso.
Quando eu terminei o abraço, notei uma linha de lágrimas escorrendo
pelo seu rosto. Ele a limpou com as costas da mão. – Apenas... pense no que
eu disse. A vingança não vai fazer você se sentir melhor.
Apertei seu ombro, sentindo que ele não aprovaria minhas próximas
palavras. – Eu simplesmente não posso viver sabendo que aquele desgraçado
ainda vive.
◆◆◆

Eu andei com meu irmãozinho de volta para a sala principal onde o


funeral estava sendo realizado, o sol brilhante no céu quase me questionando
por que eu estava me sentindo tão triste. Era um contraste tão grande com o
ambiente sombrio dentro desta sala.
E as pessoas continuaram falando e falando, todas desejando saber
quando eu falaria sobre o testamento. Eles eram a pior coisa sobre o funeral.
Pelo menos o quarto estava impecável e limpo, pensei, notando um
detalhe sem sentido que, em outros momentos, eu não teria prestado
atenção. Não havia sequer uma mancha de terra ou uma folha caída no
chão. A sala do funeral parecia algo tirado diretamente de um hospital.
Este funeral não era só para o meu velho, mas também para Mila e
Artur, pensei novamente, a vontade de voltar no tempo e consertar tudo isso
crescendo dentro de mim como uma grande fogueira.
Minha irmã e meu sobrinho estavam sendo mantidos em caixões
diferentes. Estavam floridos e muito bonitos. Caminhei até eles e vi seus
rostos angelicais. Eles pareciam tão pacíficos agora, como se tivessem
encontrado paz em suas mortes. Eu não podia pedir muito a Deus, mas
desejava, mais uma vez, que ele tivesse encontrado um bom lugar para eles
no céu.
Acariciei a janela do caixão onde minha irmã estava antes de me virar
para sair. Era hora de falar com todos aqui sobre o testamento. Eles não iam
gostar, mas eu ia, e seria um dos melhores momentos de hoje.
Essas pessoas ficariam tão chocadas assim que soubessem da
notícia. Eles pensavam que meu pai havia deixado algo para eles. Essas
cobras voltariam para casa de mãos vazias.
Dei alguns passos em direção ao saguão da casa quando alguém agarrou
meu braço novamente. Meu primeiro instinto foi pensar que meu irmão mais
novo tinha outra coisa para falar comigo.
Talvez ele precisasse reafirmar seus medos de que eu pudesse sucumbir
ao que estava acontecendo e me tornar tão ruim quanto Iakov. Nenhuma
chance de que isso pudesse acontecer, mas eu não deixaria passar por ele para
dizer algo assim para mim.
Mas quando meus olhos encontraram quem me fez parar, meu coração
saltou, e não por uma boa razão. Sra. Vera Popov. Ela parecia pequena e
frágil, e meio patética, como deveria. Depois de todas as coisas que ela fez ao
marido, ela achou que seria uma boa ideia vir aqui e fingir que se importava.
Eu soltei meu braço. Não adianta fazê-la pensar que eu a perdoei.
– Meu filho...– Ela disse com um tom patético.
Qual era o jogo dela agora? Fazer-me pensar que devia cuidar dela? Ela
tinha seu próprio maridinho engomadinho agora. Um homem de negócios, e
ainda mais jovem do que eu. Quão errado era isso? E ela não ‘pôde’ nem uma
vez visitar seu ex-marido em seu leito de morte.
– Eu não sou seu filho. Não mais.
– Sinto muito que tudo isso esteja acontecendo.
– Vá beijar aquele filho da puta e fingir que eu não existo. Se você veio
aqui por dinheiro e móveis, pode procurar em outro lugar.
Seus olhos se arregalaram. Ah, acertei em um ponto fraco. Ela pensou
que ia encontrar ouro aqui. A maldita mulher estava mais interessada em
dinheiro do que em qualquer outra coisa. Não era à toa que ela sempre fora
uma cadela toda a sua vida.
Uma vez que meu pai se tornou pobre para seus padrões, ela disse
alguma besteira e depois foi embora. E seu novo jovem marido estava ali
com todos, bebendo e tentando parecer o homem mais influente aqui. Eu ia
colocá-lo de volta em seu lugar em breve. Ele só precisava esperar.
– Marat, espere – ela implorou, mas eu já estava saindo. Eu não tinha
paciência para suas tentativas fracas de me fazer sentir mal sobre como eu a
tratava.
Caminhei até o topo da escada e esperei que todos chegassem. Eles
pegaram a deixa quando me viram saindo da sala funerária e entrando no
saguão. Ahhh, eu poderia ler essas expressões tão bem.
Todos estavam pensando que iam conseguir pelo menos alguma coisa
com isso.
Sorri quando todos pararam na base da escada. Meu irmão mais novo
era o único que estava ciente do que ia acontecer aqui, e ele estava lá com
eles. Meus homens cercavam não apenas o prédio e as ruas próximas, mas
também o interior da casa.
Seus rifles automáticos e espingardas garantiam que este lugar estava
protegido. Eu tinha ouvido muitas histórias de facções rivais matando seus
inimigos quando estavam de luto pela morte de seus entes queridos.
– Todo mundo, tenho certeza de que todos sabem por que estão aqui.
Minhas palavras foram respondidas por alguns murmúrios aqui e
ali. Tudo muito contido. Todos eles desejavam manter seus desejos
monetários em segredo.
– Mas este testamento aqui me diz que meu pai quer me dar tudo. Vocês
todos vieram aqui para nada.
Murmúrios de raiva agora encheram a sala e o novo marido da minha
mãe gritou – Você está mentindo. Vamos ver o testamento!
Eu sorri e gesticulei em direção a um dos meus guardas. Uma tela em
branco rolou do teto atrás de mim. Um projetor mostrou o que estava escrito
no testamento e, com o passar dos segundos, os murmúrios raivosos
morreram enquanto o silêncio os substituiu. Eu não menti.
– Como você pode ver, é hora de dar o fora daqui e nunca mais
voltar. Meu pai nunca gostou de vocês, exceto meu irmão mais novo, que
pode vir morar comigo, se assim o desejar.
Todos olharam para ele e eu pude ver que ele parecia
desconfortável. Isso estava bem. Ele precisava crescer um pouco e esta era
sua chance de provar para mim o quanto nossa família real importava para
ele.
Ele caminhou para ficar na frente de todos, meu sorriso se alargando. Eu
estava saboreando tanto esse momento.
– Marat, eu gosto de você e você é o meu irmão mais velho, mas não
posso fazer parte disso. Eu não vou morar com você.
Eu tinha levantado meus braços sobre minha cabeça antes que ele
falasse, e agora, fui forçado a deixá-los cair para os lados do meu corpo. Meu
sorriso desapareceu. Não achei que ele fosse me dizer isso. Achei que estar
comigo era o que ele mais queria.
– Ioann... – eu murmurei enquanto silêncio ensurdecedor continuava a
envolver todos nós.
Uma lágrima escapou do canto do seu olho. – Desculpe, irmão, mas
acho que você está se desviando do verdadeiro você. Eu só espero que você
pense nisso e mude de ideia.
E com isso dito, ele se virou e caminhou enquanto seus soluços
quebravam um pouco do silêncio no saguão. Os murmúrios logo
recomeçaram enquanto todos voltavam para seus carros.
Eles ficaram desapontados, mas a decepção deles não podia ser
comparada à minha. Achei que podia contar com meu irmãozinho para
concordar comigo. Apenas mais um erro meu, pensei enquanto um
sentimento de pavor circulava no meu coração.
Eu sabia que não deveria derramar uma lágrima depois que ele fez isso,
mas quanto mais eu a continha, mais ela queria sair. E então, assim
aconteceu, molhando minha bochecha.
Sequei-a com as costas da mão. Não adiantava ficar resmungando sobre
leite derramado. Natalie logo estaria aqui, e ela e eu tínhamos muito o que
conversar.
Capítulo 4
Natalie

Eu cheguei. Eu não estava sozinha. Meu pai decidiu vir aqui, suas mãos
segurando nossas malas. O Aeroporto Internacional de Kazan era enorme e
muito maior do que o da região de Raleigh-Durham. Fiquei ali na entrada da
frente parecendo uma idiota enquanto as pessoas andavam aqui e ali, algumas
entrando em táxis e Uber. Havia muitas pessoas aqui – muito mais do que eu
pensava que haveria.
Kazan me lembrava a Europa Ocidental de muitas maneiras. Eu não
tinha ido a muitos países europeus, mas os que eu tinha ido tinham prédios e
casas muito parecidos com os que eu estava vendo aqui.
As estradas eram um pouco estreitas. A arquitetura era complexa e de
aparência bastante antiga, e o local era muito limpo.
– Vamos. Vamos pegar um táxi – meu pai disse antes de acenar para um
deles parar.
Entramos no carro branco e papai pediu ao motorista em russo para nos
levar ao endereço de Marat. Ele me contou sobre o que aconteceu alguns dias
atrás. O pai, a irmã e o sobrinho de Marat morreram.
Eles tiveram um funeral e tudo dentro de sua mansão. Eles se referiam a
ela como nada mais do que uma casa, mas para mim, era mais como uma
mansão. Era tão grande e tinha tantos quartos, afinal.
O táxi parou e saímos. Papai pagou a carona e tocamos a porta. Alguns
segundos se passaram até que ela foi aberta e na nossa frente estava um dos
guarda-costas de Marat. – Entre. O chefe está esperando por vocês dois.
Papai pediu que eu me comportasse aqui. Eu me senti bastante
desconfortável quando ele teve aquela conversa comigo.
Ele me tratou como uma criança, e eu tinha 25 anos. Ele achava que eu
ia estragar tudo? Tinha tudo sob controle. Eu sabia o que era exigido de mim
aqui. Só não significava que eu tinha que gostar.
O guarda-costas, que era um homem enorme com ombros muito largos,
abriu a porta. Meus olhos pousaram nele. Meu futuro marido. Ele parecia
imponente, mesmo sentado em sua mesa enquanto seus olhos examinavam
um monte de documentos.
Ele ergueu os olhos e sorriu. – Ah, senhorita Natalie e senhor
McCoy. Estou feliz que vocês dois finalmente chegaram.
Eu não podia negar que ele estava deslumbrante. Tanto tempo se passou
desde que eu estive aqui. Eu tinha uma queda por homens mais velhos, e ele
certamente fazia esse papel com perfeição. Mas ainda assim, esse homem era
um monstro. Ele matava e roubava pessoas por dinheiro. Eu sabia que meu
pai fez essas coisas durante seus primeiros anos, mas ele era da família e eu
podia compreender suas razões. Marat, por outro lado, era um caso muito
diferente.
Ele tinha cabelo preto e ele também tinha um rosto tão esculpido e forte
e imponente que eu estava hipnotizada.
Ele era bonito, mas isso era um eufemismo. Ele era muito mais do que
isso. Ele era o tipo de homem cujas dificuldades o moldavam, e ele seria
meu. Ou eu seria dele. Era difícil prever como tudo isso iria acontecer.
Papai disse – Sr. Popov, viemos aqui o mais rápido possível. Esta é
minha filha. Acho que você ainda se lembra dela.
– Eu me lembro sim. Ela é muito bonita.
Sua mão roçou minha bochecha, e eu me encolhi, para a desaprovação
do meu pai. Não foi voluntário. Eu fiz isso porque sua mão estava tão fria e,
apesar da atração que eu sentia por ele, ele exalava perigo.
Ele era o tipo de homem perigoso o suficiente para me levar para a
morte. E papai nunca poderia viver o resto de sua vida sem mim. Eu era
muito importante para ele, e eu me importava muito com ele. O resto da
minha família era uma bagunça, no entanto. Ele era diferente deles.
– Desculpe – eu disse. Eu não queria mostrar a ele que estava com
medo. Mas como eu não poderia estar? Esta não era a minha casa e meu pai
estava me fazendo casar com um homem que eu não gostava.
Papai me deu um longo olhar de desaprovação e disse – Não se
preocupe, acho que sabemos o que precisa ser feito aqui e estarei aqui por
enquanto até planejarmos tudo para o casamento.
Vou dar-lhe um momento de paz e privacidade. Acho que vocês dois
precisam pensar em sua vida futura juntos.
Caramba. Papai já estava falando como se eu quisesse fazer esse
casamento acontecer. Ele então sorriu e caminhou pela porta, fechando-a
atrás de si. Bem, este era o momento da verdade. Eu teria que falar com
Marat e... sim, fazer o oposto do que eu preferia fazer agora.
Seus olhos pareceram disparar quando ele voltou sua atenção para
mim. – Então, o que você acha da Rússia até agora?
Ahn. Começar com o tipo de conversa de 'como está o tempo' não era o
caminho mais interessante que ele poderia ter tomado, mas ainda era muito
melhor do que ele tentando me beijar ou fazer pior comigo agora. Eu não
tinha ideia de como isso ia se desenrolar também.
– Impressionante. Eu prefiro Raleigh, no entanto.
– Quando nos casarmos e eu resolver algumas coisas aqui, talvez
possamos morar lá.
– Mesmo?
– Sim, mas primeiro, esse casamento precisa acontecer, e você precisa
fingir que está gostando. Certas... pessoas não podem descobrir que você está
sendo forçada a isso, ou então eles virão me machucar, você e seu pai.
Um choque de pavor passou pelo meu coração. A última coisa que eu
queria era que as pessoas viessem matar a mim e ao meu pai. Eu não poderia
me importar menos com o que aconteceu com ele, mas se eu precisava de
mais uma razão para fazer o casamento acontecer e mentir sobre como isso
me fazia sentir... bem, aqui estava.
– Sim, acho que não tenho muita escolha. Onde vai acontecer o
casamento?
– Aqui. Não posso correr o risco de te levar para outro lugar. Você vai
ter que passar a maior parte do seu tempo nesta casa.
– O quê?!
– Nada pode ser feito sobre isso. Estou em guerra com Iakov Brobov e
vou matá-lo para vingar Artur e Mila.
Artur e Mila. Seu sobrinho e irmã. – Lamento essa tragédia.
– Obrigado, mas você pode me ajudar garantindo que o casamento
aconteça sem problemas.
Eu me sentia tão péssima que eles mataram a irmã e o sobrinho
dele. Isso não justificava ter que me casar com ele, mas eu tinha uma escolha
melhor? Era isso ou... quem sabia o que eu teria que fazer da minha
vida. Voltar para a faculdade e terminar o mestrado não era mais uma opção
para mim. Eu já estava cansada de estudar.
Eu balancei minha cabeça, olhando para baixo. – Tudo bem. Vou me
casar com você e talvez possamos nos conhecer melhor.
Ele sorriu. – Exato. Teremos mais tempo para isso. Agora, porém,
vamos rever algumas das coisas que precisamos decidir para o casamento.
◆◆◆

Ele me mostrou seus planos para o casamento e como ele queria que
fosse. Não havia muito o que decidir, e ele aceitou algumas das minhas
sugestões.
Seria como qualquer casamento normal com convidados, familiares e
amigos, e haveria muita segurança dentro da mansão e ao redor dela. Ele
deixou bem claro que seu inimigo, Iakov Brobov, era um homem astuto e que
poderia tentar nos matar durante o casamento.
Não senti muito medo de que isso pudesse acontecer. Eu tinha certeza de
que ele colocaria homens suficientes ao redor da mansão para desencorajar
Iakov de tentar nos matar.
Marat me deixou com medo dele e de que era forte o suficiente para me
esmagar com as próprias mãos, mas também estava me mostrando que se
importava com meu bem-estar e que era mais do que capaz de fazer o
casamento acontecer.
Então eu saí e disse ao meu pai que tínhamos falado sobre os detalhes do
casamento e que ele poderia ficar tranquilo.
– Por enquanto, vou morar perto. Não posso correr o risco de perder
você e sei o quanto sou importante para você – ele revelou.
– Obrigado, pai – eu disse antes de beijar sua bochecha e segui-lo para
fora do prédio. Eu fiquei vendo até que ele voltou para o carro e foi embora.
Voltei então para o segundo andar, onde encontrei Marat. – Vamos. Vou
lhe mostrar nosso quarto.
E ele mostrou nosso quarto. Era de cair o queixo, e eu fiquei lá por
alguns segundos apenas apreciando-o. Meu quarto em Raleigh era muito
menor, e ele parecia ter comprado tudo que eu precisava aqui.
– Roupas e esse tipo de coisa, eu posso comprar para você mais
tarde. Qualquer roupa que você queira comprar, é só dizer e eu te levo nas
melhores lojas da cidade.
Senti uma onda de calor no meu coração. Eu vivi uma vida pobre por
muito tempo. Eu não era tão pobre a ponto de não ter comida na mesa, mas
essa minha nova vida já estava me mostrando que ia ser muito diferente do
que eu tinha antes.
Se ele fosse meu marido ou namorado, eu estaria abraçando e beijando
ele agora. No entanto, Marat ainda não passava de um estranho e eu não
ousava fazer nada além de agradecer.
Ele assentiu e disse – Eu tenho algumas coisas para resolver agora. Você
pode ficar explorando a casa e se acostumar com ela. Você vai viver aqui
comigo por um bom tempo.
Ele fechou a porta e eu experimentei algumas das roupas que ele já
havia comprado para mim. Ele não comprou nada mais do que o suficiente
para que eu pudesse passar alguns dias e noites aqui sem ter que reutilizar
roupas usadas. Eu deveria ter trazido mais do que trouxe aqui.
Depois de olhar ao redor da sala e escolher quais peças já gostava, me
peguei me perguntando se viver com ele seria tão ruim, afinal. Marat, até
agora, estava tentando ser um bom homem, e me senti tão péssima por não
ter feito nada que já deveria ter feito.
Com esse pensamento em mente, bati na porta de seu escritório e ele
disse – Entre, Natalie.
Seus olhos se ergueram e depois se arregalaram. – Ah, não pensei que
você fosse colocá-las já.
Coloquei uma saia e uma camisa nova que ele comprou. Elas eram
lindas e eu pensei que ele ia gostar de me ver assim. Eu estava feliz que ele
estava pensando assim.
– Sim. São perfeitas. Obrigado por comprar essas roupas para mim.
Eu andei até ele e, enquanto olhava para baixo, eu disse – Desculpe, não
deveria ter feito o que fiz antes. Não foi minha intenção.
Por um momento, ele tentou se lembrar do que eu estava falando. Seus
olhos clarearam e Marat então disse – Ah, não é nada.
Normal isso acontecer. Estranho que você está sendo forçada a fazer
isso, não é? Eu também estava pensando não muito tempo atrás que toda essa
tradição era bastante estúpida. Mas agora, vejo que é necessário, e talvez
possamos aprender a nos amar.
– Sim, talvez possamos – eu disse depois de me sentar em sua mesa. –
Eu estava me perguntando…
– Sobre o quê?
– Já que vamos nos casar, talvez eu devesse pelo menos descobrir como
você beija.
Seus olhos se arregalaram e eu ri. – Estou falando sério – acrescentei.
Eu o temia quando cheguei aqui, mas agora que via que ele não era tão
ruim assim, por que não tentar me sentir mais confortável com
ele? Estaríamos dormindo juntos também esta noite, afinal.
Seus olhos então se estreitaram um pouco, desenhando um olhar sério
em seu rosto, e pouco a pouco, nossas cabeças se aproximaram, senti sua
respiração se aproximando do meu rosto, o silêncio da sala, as batidas do meu
coração, e o calor que seu corpo emanava.
E então, uma pequena explosão. Nossos lábios se tocaram. Eu estava
fazendo algo que achava que não faria, e era perfeito. Seus lábios eram tão
macios e doces.
Eu não tinha beijado um homem como ele há muito tempo, e ele estava
fazendo minha xota ficar mais molhada a cada segundo. Eu não poderia ter
imaginado um começo melhor com ele.
Eu movi minha cabeça um pouco para trás – apenas o suficiente para
dizer a ele que o beijo havia acabado. – Então, eu beijo bem? – Ele
questionou, sua expressão calorosa e muito convidativa.
Eu sorri. – Demais. Você teve muitas namoradas antes de mim?
Não pensei muito nessa pergunta. Foi apenas algo que veio naturalmente
para mim, e senti que pertencia a este momento, mas parecia que Marat se
sentia desconfortável com isso.
Ele limpou a garganta e ficou pensativo. Ele ia mentir para mim?
– Na verdade, não. Eu... estive esperando pela mulher certa.
Ah. Isso era meio estranho, mas eu não pensei muito
nisso. Considerando a aparência da mansão e as muitas cruzes penduradas
nas paredes, parecia que ele era um homem bastante religioso.
Não era à toa que ele tinha uma bíblia dentro da gaveta de sua mesa de
cabeceira também. Eu não sabia que ele acreditava em Deus e todas essas
coisas.
Eu poderia perguntar a ele sobre essas coisas neste momento, mas decidi
não o fazer. Ele acabou de perder sua irmã e sobrinho. Todos nós
precisávamos de um mecanismo de enfrentamento para eventos dolorosos
como aquele.
Eu sorri. – Bem, espero não decepcionar.
– Sim, claro – disse ele antes de pegar algumas folhas de papel e colocá-
las em sua mesa. – Agora, se você me der licença, eu tenho algumas coisas
que preciso fazer.
– Claro – eu disse e então pulei da mesa. – Boa sorte, e não demore
muito. Eu estarei esperando por você.
Marat não era um homem mau, e pareceu bonitinho quando fiz aquela
pergunta. Isso o fez se sentir desconfortável. Eu me perguntei por quê. Talvez
ele fosse virgem.
Faria sentido, considerando o quão religioso ele era. E aqui estava eu
pensando que minha vida com ele ia ser uma bagunça e que ele ia me deixar
com medo dele. Eu deveria agradecer ao papai que ele me fez vir aqui.
Esse casamento ia arrasar.
Capítulo 5
Marat

Estiquei meus braços sobre minha cabeça e coloquei os documentos de volta


onde eles pertenciam. Dei uma última olhada ao redor do meu escritório e me
perguntei se estava faltando alguma coisa. Parecia que não, então, desci o
corredor e entrei no meu quarto.
As luzes do quarto estavam apagadas, mas as luzes que vinham do
corredor me permitiram ver Natalie. Ela estava dormindo na cama e roncando
um pouco. Parecia que a mudança de ambiente não a afetou muito.
Esse pensamento trouxe um sorriso ao meu rosto. Nossa vida aqui
estava definida para ser boa, então. Ela ficaria feliz por se casar comigo, e
todos acreditariam que o poder da minha família havia reacendido. Isso
significava mais apoio e mais recursos para derrubar Iakov.
E onde ele estava escondido? Eu precisava de algum tipo de isca. Eu
precisava atraí-lo de alguma forma. Não era uma coisa fácil de fazer, mas era
necessário.
Fui até o armário e o abri sem fazer muito barulho. Eu não queria
acordá-la. Ela estava dormindo como um anjo. Natalie era quase como
um. Muito pequena e miúda, e um rosto suave de fazer inveja a muitas
mulheres. Eu era muito mais velho que ela, e o jeito que ela beijava me fez
pensar que esse fato não a incomodava muito.
Apesar de seu corpo magro, ela tinha um par de seios e tanto. Apenas o
pensamento de apalpá-los com minhas mãos endureceu meu pau.
Eu sabia que não faria isso tão cedo, mas um dia ela ficaria bem com
isso. Não fazia sentido apressar nada quando ela estava tão disposta a se casar
comigo.
Tirei minhas roupas de escritório e coloquei meu pijama. Quando olhei
para o relógio na parede, ele dizia que já passava de uma da manhã. Eu
precisava passar menos tempo à noite no meu escritório. Isso não era bom
para a minha saúde.
Caminhei então até a cama e, bem devagar, sem fazer muito barulho,
deslizei para debaixo do cobertor. A cama era larga o suficiente para que ela
pudesse ter todo o espaço que ela precisava, mas mesmo assim me
permitindo sentir o seu calor interno.
Seu rosto estava virado para o meu. Eu não tinha ideia se ela estava
dormindo ou não. A última coisa que eu precisava, porém, era Natalie
pensando que eu ia tirar vantagem dela, se ela acordasse de repente. Por
causa disso, me virei na cama para encarar a porta agora fechada.
Eu dei uma boa olhada em seu lindo rosto antes de fazer isso, no
entanto. Ela tinha o rosto de alguém que passou por muita coisa e desejava
que sua vida pudesse ser diferente. Bem, isso é o que eu estava fornecendo a
ela, certo? Ainda assim, toda essa coisa de casamento parecia tão
estranha. Sempre acreditei que o casamento era o resultado de um homem e
uma mulher se amando tanto que precisavam oficializá-lo.
O que eu estava fazendo era o oposto disso. Eu ia me casar com ela
primeiro, e então ela e eu poderíamos descobrir se iríamos nos amar ou
não. Não era o método mais usual, mas as circunstâncias também não eram
comuns.
Natalie tinha um par de lábios carnudos e convidativos. Quando ela me
beijou – e isso era algo que eu ainda estava tentando processar – eu aprendi
imediatamente que ela sabia o que estava fazendo. Ela deve ter tido muitos
namorados antes de vir aqui.
Eu, por outro lado, tive alguns encontros com algumas mulheres, mas
nunca fiz nada sério com elas. Eu sempre acreditei que a mulher certa era ela,
mesmo que eu não tenha dito isso a ela quando ela me perguntou sobre tal.
Fechei meus olhos e adormeci. Os próximos dias seriam ocupados e
complicados. Não demoraria muito para nos casarmos.
Havia tantas coisas para cuidar, e agora, eu precisava descansar. Teria,
mais tarde, o tempo necessário para ponderar alguns outros detalhes sobre o
casamento.
E acima de tudo, eu precisava ter certeza de que Iakov não tentaria nada
contra nós.
◆◆◆

Os dias que vieram foram cheios de mim e Natalie conversando sempre


que tínhamos a chance. Ela estava ganhando o meu coração, e eu sabia que
ela estava gostando de mim também, embora eu não pudesse ter certeza sobre
isso.
Era finalmente o dia do casamento, e Natalie estaria deslumbrante. Disso
eu tinha certeza. A mansão parecia lotada e estava tão barulhenta agora. Isso
me lembrou de quando eu tive que enterrar meu pai, irmã e sobrinho.
Havia mais pessoas falando e sendo desrespeitosas naquela época, mas
hoje ainda era muito parecido com quando eu tive que chorar suas mortes.
Eu os odiava muito ainda. Eu odiava todos eles, exceto meu irmão mais
novo, que tinha acabado de me ver aqui.
Eu estava fumando perto de uma das paredes do lado de fora da
mansão. Este era um dos poucos lugares aqui onde não havia tantas pessoas
sendo um incômodo.
– Ei – ele disse depois de parar na minha frente.
Eu abaixei meu braço ao meu lado. – Ei. Como vai?
– Marat... eu tenho algo a dizer.
– Sem problemas. Apenas me diga o que é.
Eu sabia o que ele ia me dizer muito antes de pronunciar a primeira
palavra. – É sobre aquele dia que tivemos que enterrar Mila e Artur. Eu não
quis dizer o que disse. Eu sinto muito. Eu sei que você está passando por
muita coisa.
Usando um braço, puxei-o para um abraço e caminhei com ele em
direção ao jardim. – Isso é uma coisa tão boba para se preocupar. Está tudo
bem. Eu não deveria ter sido tão obstinado com você.
Ele olhou nos meus olhos. – Mas você pode me prometer uma coisa?
– Contanto que você me diga o que é – eu disse e sorri.
Ele sorriu também. Perfeito. Eu estava gostando de quebrar um pouco
do gelo que se formou quando ele disse aquelas coisas para mim naquele dia.
Quase pensei que o tinha perdido e que ele não seria mais meu amigo...
– Prometa-me que você não vai se tornar um monstro como Iakov.
Eu olhei em seus olhos. – Você sabe que não é fácil, mas eu prometo de
qualquer maneira. Eu não vou me tornar como ele.
Ele assentiu, olhando para baixo. – Acredito em você.
Capítulo 6
Marat

Eu estava andando pelo quintal da mansão quando ouvi a voz da mamãe –


Marat, espere. Eu tenho algo que eu quero falar com você.
Uma sensação de pavor misturado com ódio inundou meu coração. Ela
ia falar comigo agora? O que eu estava pensando quando a convidei para o
meu casamento?
E então me lembrei por quê. Ioann não teria me perdoado e Natalie
estaria me fazendo todo tipo de perguntas sobre minha mãe se ela não
estivesse aqui.
Ainda bem que Natalie estava em nosso quarto para colocar seu vestido
de casamento – isso significava que ela provavelmente não teria muitas
oportunidades de interagir com minha mãe. Eu poderia vê-la apenas na hora
certa, mas eu ainda queria poder ir até lá e fazer o oposto disso.
– Mãe, eu não tenho tempo para você agora – resmunguei, desejando
que eu ainda estivesse fumando para que a presença dela pudesse ser um
pouco mais suportável.
– Marat, quando você vai me perdoar?
– Nunca. Você se casou com aquele filho da puta enquanto meu pai
estava em seu leito de morte.
Ela ia me dizer algo quando eu coloquei minha mão na frente de sua
boca, dizendo para ela parar. – Eu não...
E então, tiros. Tipo, muitos deles, e eu dei uma última olhada para
mamãe antes de correr direto para o jardim na frente da mansão.
Nenhum tiro estava sendo disparado de volta, e eu me perguntei se isso
era uma coisa boa ou ruim. O que estava acontecendo?
Algumas pessoas gritavam, outras corriam e tentavam se esconder. Isso
estava se tornando uma bagunça.
Cheguei ao jardim da frente da mansão e senti meu coração pular. Que
porra era essa? Como ele conseguiu passar pelos meus homens? Eu pensei
que tinha colocado mais do que o suficiente deles dentro e ao redor do
quarteirão. Eles deveriam ter sido mais do que suficientes para contê-lo. A
menos que…
– Marat! Estou tão feliz por vê-lo novamente – brincou Iakov.
– O que você quer? – Eu rosnei.
– Apenas vê-lo mais uma vez e descobrir como é a sua esposa.
– Bem, ela não está aqui e ela não pode sair. Saia daqui antes que eu te
mate.
Ele sorriu. – Me matar? Mas estou apenas de passagem.
Peguei minha arma e apontei para ele. Eu ia puxar o gatilho quando uma
rodada de murmúrios altos soou atrás de mim.
Eu joguei minha cabeça para trás e encontrei ninguém menos que
Natalie, que não tinha terminado de se maquiar e estava correndo para nós o
mais rápido que suas pernas podiam levá-la.
Atrás dela, as pessoas que eu mandara prepará-la para o casamento a
perseguiam enquanto gritavam frases em francês. Aquelas pobres mulheres
não tinham ideia de que isso ia acontecer.
Apesar disso, fiquei mais surpreso que Natalie decidiu sair correndo do
nosso quarto e vir aqui para descobrir o que estava acontecendo. Isso exigiu
muita coragem dela.
Ainda assim, eu não podia fingir que estava gostando disso, então gritei
– Natalie, volte para o seu quarto e não saia novamente.
E não me admirava que Iakov tinha conseguido vir aqui sem ser
morto. Ele trouxe seus homens, e eles eram mais do que suficientes para me
fazer pensar três vezes antes de abrir fogo.
Ele estava dentro de algum tipo de SUV, no teto solar dele. Eu odiava
tanto aquela arrogância em seu rosto. Eu queria socá-lo até que o sangue
saísse de sua boca.
– Marat, eu quero ajudar – disse Natalie, me fazendo arregalar os olhos.
– O quê?!
– Eu quero ajudar. Eu não vou ser um peso para você – ela afirmou
novamente, trazendo um sorriso ao rosto de Iakov. Havia tantos de seus
homens e tantos de seus carros. Eu não poderia abrir fogo aqui sem derramar
sangue dos meus homens. Eu não queria que a polícia viesse aqui, também.
Uma coisa me acalmou aqui, no entanto. Iakov também não poderia
atirar em mim sem que meus homens o matassem e seus capangas. Ele era
um maníaco, mas não era estúpido.
Ele ia esperar até que tivesse uma chance melhor de acabar com a minha
vida. Essa era uma razão pela qual ele fez seus homens baterem no meu carro
naquela noite.
Apesar de primeiro pensar que esta era a oportunidade de ouro que eu
precisava para acabar com a vida dele, ele aparecendo aqui me fez reavaliar
algumas coisas, e uma delas foi perceber que eu iria precisar de muito mais
homens para derrubá-lo.
Ou isso, ou um tiro bem colocado quando ele não estivesse tão bem
protegido.
– Marat, meu caro. Eu acho que ela pode realmente ser útil. Ouvi dizer
que você está tentando me matar. Como está indo até agora com isso?
Eu sorri. – Continue brincando. Você estará morto antes que perceba
isso.
Seu rosto ficou feroz. – Acho que isso não vai acontecer.
E ele apertou o dedo, me fazendo pular para fora do caminho. Ele estava
louco ou o quê? Mas foi somente uma brincadeira. Sua arma não disparou e,
um instante depois, ele começou a rir.
– Disse que você não pode fazer nada. Estou no controle disso e, se eu
quiser, posso acabar com sua vida e toda a sua facção aqui e agora.
Voltei a ficar de pé, ainda apontando minha arma para ele. – Boa piada,
mas não achei engraçada.
Ele apontou sua arma para o céu e, desta vez, disparou. – Não adianta
mais perder meu tempo aqui. Eu tinha que vê-la. Natalie parece muito
fofinha. Você é um homem de sorte, Marat – ele comentou antes de voltar
para dentro de seu SUV e fechar o teto solar.
Seu carro e os de seus homens seguiram pela estrada, desaparecendo
quando viraram à direita. Eles estavam voltando para seu esconderijo. Agora
que eles sabiam quem era Natalie, eles iriam usá-la contra mim de alguma
forma?
Merda. Eu precisava ter certeza de que ela teria ainda mais homens para
mantê-la segura, e sob nenhuma circunstância ela poderia deixar a
mansão. Este era o único lugar onde ela ficaria segura.
Caminhei até ela e agarrei seu braço. Comecei a levá-la de volta para
dentro enquanto ela reclamava e tentava se libertar de mim. – Solte-me! Eu
sei o que estou fazendo.
– Natalie, o que diabos está se passando na sua cabeça? – Eu disse
depois de parar.
– Eu quero ajudar. Aquele cara é um babaca. Foi ele quem matou sua
irmã e sobrinho, certo?
Desviei meu olhar. Eu não podia acreditar que a estava arrastando cada
vez mais para os meus problemas. Isso não ia acabar bem para mim.
– Sim, e por causa dele você não pode sair de nossa casa. Você vai ficar
aqui e não vai sair até que ele esteja morto.
Achei que ela ia reclamar. Afinal, Natalie se tornou um incômodo e
estava agindo como uma criança, mas então seus olhos se acalmaram. – Tudo
bem. Entendo. Eu vi quantos homens ele tem, e acho que ele tem ainda mais,
certo?
– Sim, provavelmente toda a facção Vory.
– Isso é ruim demais. Meu pai terá que trazer mais homens para cá.
Vê-la preocupada comigo trouxe calor ao meu coração e, por um
momento, minha crença de que eu poderia vingar a morte de minha irmã e
sobrinho foi reacendida.
– Obrigado, Natalie. Agora, volte para o nosso quarto e termine de se
vestir para o casamento.
Ela sorriu. – Este é o casamento mais incomum de todos os
tempos. Quem poderia ter pensado que nosso inimigo iria aparecer aqui de
repente?
– Sim, e então terei que descobrir como ele passou pelos meus homens
sem matá-los.
Ela assentiu e correu para o nosso quarto. Eu queria ser tão
despreocupado assim. As pessoas que contratei para ajudá-la a colocar o
vestido e terminar a maquiagem a perseguiram novamente.
Eles gritaram e imploraram para fazê-la parar e ouvi-los, mas ela não
fez. Ela estava tão focada em terminar este casamento e me ajudar na minha
busca para acabar com a vida de Iakov...
Natalie estava provando tanto que ela era a mulher certa para mim.
Capítulo 7
Natalie

E aqui eu estava achando esse casamento chato até agora. Eu estava sentada
no quarto em frente a um grande espelho enquanto algumas das pessoas que
ele contratou terminavam de pentear o meu cabelo. Eu estava gostando de
toda essa atenção e de ter tantas pessoas fazendo a minha maquiagem e outras
coisas para mim. Tudo isso estava acontecendo apenas por causa do
casamento, mas era ótimo mesmo assim. Talvez eu pudesse me casar mais
algumas vezes para poder reviver este momento.
No entanto, eu tive que afastar esses pensamentos. Havia assuntos muito
mais importantes agora. Iakov achou que ele era tão bom e estava tão cheio
de si quando apareceu aqui de repente.
Uma das mulheres terminou de aplicar um pouco de corretivo no meu
rosto. Ela estava tão preocupada que eu fosse atrapalhar seu trabalho duro
quando eu saí correndo da sala. Eu só queria descobrir do que se tratava a
confusão e quem a estava causando. Eu não achei que me depararia com o
homem que mudou a vida do meu futuro marido para sempre. A morte de sua
irmã e sobrinho não eram coisas das quais ele poderia se recuperar sem
passar por anos e mais anos se lembrando deles.
Quando cheguei aqui, não tinha certeza se o queria como meu
marido. Na verdade, tinha pensado em maneiras de fazê-lo me odiar. Ele
então me expulsaria e eu seria uma mulher livre.
Mas ver como ele estava agora graças à morte de sua irmã e sobrinho
me fez sentir mal por ele, e me conectei a ele de uma maneira que não achava
possível.
Uma das mulheres atrás de mim terminou de pentear meu cabelo e disse
– está tudo perfeito. Logo poderá descer para a capela.
– Obrigado. – Desejei ter perguntado qual era o nome dela, mas não era
algo que me preocupava agora. O que me fez sentir preocupada era como eu
poderia ajudá-lo. Eu precisava pressionar meu pai para fazê-lo enviar mais
homens aqui.
Quantos ele pudesse dispensar. Nossa família era pobre, mas ainda
tínhamos números suficientes para fazer Iakov pensar quatro vezes pelo
menos antes de aparecer aqui novamente.
– Levante-se agora – disse um dos funcionários temporários, e eu o
obedeci.
Primeiro, o mais importante, pensei. O casamento precisava parecer
perfeito. As pessoas ficaram abaladas com a aparição repentina de Iakov, mas
eu ainda precisava estar no meu melhor e agir como se Iakov não tivesse
mudado nada quando ele veio aqui.
Tudo bem. Então, ele precisava me ver, e isso ele fez. Eu ia mostrar a
ele muito em breve quem tinha a vantagem sobre quem, no entanto.
As empregadas ou como se chamavam – gostaria de saber qual era sua
profissão – terminaram de colocar os últimos detalhes no vestido de
noiva. Um deles disse – Agora, hora da grande introdução. Seu pai está
esperando por você lá fora, e ele vai levá-la ao seu marido.
– Obrigado pela ajuda – eu disse antes de sair. Meu vestido de
casamento era muito grande, mas não pesado. A cauda dele deslizava pelo
chão. Ainda bem que fora limpo não faz muito tempo.
Abri a porta e encontrei papai. Seus olhos me examinaram e quando ele
ia dizer alguma coisa – provavelmente que eu estava linda ou algo assim – eu
levantei minha mão. – Pai, você precisa trazer ainda mais homens para
Marat. De jeito nenhum ele pode vencer Iakov sem mais ajuda.
Ele desviou seu olhar, expirando. – Farei o que puder, mas não posso me
deixar desprotegido. Os capangas de Iakov podem vir atrás de mim também.
Eu segurei sua mão na minha. – Apenas faça o que puder.
Ele então disse que estaria tudo bem, mas eu me perguntei se sua ajuda
sozinha seria suficiente para derrubar aquele filho da puta. Talvez eu pudesse
encontrar ainda mais dos Bratva dispostos a acabar com a vida de Iakov, mas
quem?
Papai então me levou para uma sala ao lado do saguão, onde o
casamento seria realizado. Todos estavam sentados em cadeiras. Não havia
bancos. Apesar de nos esforçarmos ao máximo para que o casamento ficasse
bonito e acontecesse como se estivesse acontecendo em uma igreja, não
chegamos a comprar bancos.
Todos olharam para mim quando parei na porta aberta em forma de
arco. As portas duplas estavam abertas. Meu braço estava ligado ao do meu
pai, e me peguei desejando que minha mãe estivesse aqui.
Mas depois do que ela fez, talvez era melhor assim, afinal. Eu não a
suportava mais, e considerando como meu futuro marido a tratava, isso era
algo que compartilhávamos, pensei. Ele falou tão duramente com sua mãe
não muito tempo atrás. Eu ouvi a discussão deles do nosso quarto.
Nosso quarto. Ainda não conseguia acreditar que o casamento estava
acontecendo. Não fazia muito tempo que eu estava brigando com meu chefe
porque ele queria me humilhar e continuar me mantendo lá para que ele
pudesse se sentir melhor consigo mesmo. Isso foi há uma vida.
A sala ficou em silêncio nos últimos segundos. Os fotógrafos tiraram
fotos e mais fotos nossas. Isso tudo poderia estar sendo muito melhor se eu
soubesse quem Marat realmente era.
Tive alguns vislumbres de sua vida, mas ainda não tinha o quadro
completo dela. Que tipo de comida ele gostava? Ele tinha outras cicatrizes
além de sua irmã e sobrinho morrendo? Por que ele odiava tanto sua mãe?
Tantas coisas para perguntar a ele, e essas perguntas teriam que ser
feitas mais tarde. Agora, nossa intimidade estava em sua infância, e eu ainda
não tinha ideia de como seria viver aqui como sua 'prisioneira'.
Papai seguiu em frente, me levando com ele. Senti meu estômago ficar
apertado. Nunca tinha estado numa situação semelhante a esta.
E eu preferiria não fazer o casamento parecer o que parecia agora, no
entanto. Eu não precisava da igreja nem do pai e todas as coisas da Bíblia.
Eu só queria dar apoio e mais homens para Marat. A coisa do casamento
não precisava ser tão oficial assim.
Foi o que pensei, do meu ponto de vista. Eu sabia que ele tinha
considerações diferentes sobre o casamento e sua importância.
Eu já podia imaginá-lo me dizendo que o casamento precisava ser assim
porque, caso contrário, Iakov e seus homens sentiriam cheiro de sangue.
Eu levantei meu queixo enquanto meu pai continuava a me levar para
Marat, aquela famosa canção de casamento tocando ao nosso redor. O lugar
era lindo demais.
Havia flores e outras plantas em todos os lugares da sala. Marat não
poupou despesas para tornar isso o mais bonito possível, e valeu a pena. O
casamento ficou lindo.
Tentei sorrir o máximo que pude. Se o casamento precisava parecer
bom, então eu também. Iakov precisava pensar que eu estava apaixonada por
ele e que meu pai tinha todas as coisas de que precisava para equilibrar a
balança aqui.
Eu estava nervosa e com medo. Terminado o casamento, meu pai
voltaria para casa e eu ficaria sozinha com Marat. Sua casa sempre era
povoada por homens em todos os lugares, mas eu ainda me sentiria solitária
aqui. Eu não teria amigos. Eu não conseguiria sair. Sentia como se estivesse
prestes a fazer uma apresentação na frente de todos na minha sala de aula.
Meu pai parou e me deu a Marat. Ele sorriu, e eu sorri de volta. Todos se
sentaram e o padre começou a recitar palavras da bíblia. Eles entraram por
um ouvido meu e saíram pelo outro. Meus olhos estavam focados em Marat.
Ele estava deslumbrante, e ainda melhor do que seu eu normal. Se talvez
eu não pudesse me conectar emocionalmente com ele, então pelo menos eu
poderia dizer a algumas das minhas amigas na América que ele era bonito, e
deixá-los com inveja de mim.
Esse pensamento fez meu sorriso se alargar. Pude ver que Marat queria
perguntar por que isso aconteceu, mas o padre já estava terminando suas falas
quando me pediu para colocar o anel em seu dedo.
Agarrei sua mão e deslizei o anel no seu dedo. O sorriso de Marat se
alargou, e ele então agarrou minha mão e colocou o anel em meu dedo.
Era isso. O casamento estava prestes a terminar, e Marat e eu seríamos
marido e mulher. Poderíamos ser um casal de verdade, e então, quem sabia o
que ia acontecer.
O padre então disse – E agora, você pode beijar a noiva.
Fiquei ainda mais nervosa e assustada. Eu sabia que ia beijá-lo no final,
mas não tornava isso mais fácil. Eu o beijei antes, mas isso foi quando não
tínhamos tantos olhos em nós. Fora uma coisa privada. Este momento foi
como ser chutada no estômago várias vezes e depois rolar de um
penhasco. Bom, emocionante, mas difícil de assimilar.
Sua cabeça se aproximou da minha. Aconteceu tão devagar que foi
como se o tempo ao nosso redor tivesse desacelerado. Seu sorriso se alargou,
e então, nossos lábios se encontraram.
Eles se conectaram enquanto uma onda de eletricidade percorria meu
corpo, deixando meus joelhos fracos. Eu não desmaiei, no entanto. Essa era a
única coisa que eu não podia fazer neste momento.
Seus lábios se retiraram dos meus, permitindo-me alguns momentos
preciosos para respirar. Talvez para alguém nos observando eu parecesse
normal, mas me senti como se tivesse sido levada por um furacão e depois
arremessada para o outro lado do mundo. Dizer que me sentia perdido seria
um eufemismo.
O padre recitou algumas outras coisas e então, todos aplaudiram. Meu
coração batia tão forte. Eu me sentia muito nervosa e ansiosa. Eu não sabia
por que me sentia ansiosa, no entanto.
O casamento logo terminaria, e então seria a noite de núpcias. Marat e
eu nos conheceríamos melhor nos próximos dias, e talvez eu aprenderia a
amá-lo. O oposto da vida amorosa da maioria das pessoas estava acontecendo
comigo, como naqueles filmes históricos antigos em que a mulher era forçada
a se casar com o seu homem.
No meu caso era meio diferente. Eu não odiava mais Marat. Na verdade,
eu gostava um pouco dele.
Quando todos terminaram de aplaudir, fui levada para fora da casa e
para o jardim. As flores e outras plantas pareciam tão bonitas. Algumas
mulheres – e algumas delas eram pessoas que eu conhecia – se reuniram
alguns metros atrás de mim. Algumas delas gritaram – Natalie, joga pra
mim. Eu mereço ser a próxima a casar!
Nós nem tivemos tempo de conversar muito desde que chegaram
aqui. Não consegui convidar muitas amigas para vir aqui para Kazan. Os que
vieram estavam indo muito bem em termos financeiros.
– Tudo bem, eu vou fazer o meu melhor – eu disse antes de jogar o
buquê o mais longe e o mais alto possível. Ele viajou em um padrão de
semicírculo no ar e caiu nas mãos da minha melhor amiga da empresa em que
eu trabalhei, Stephanie.
Eu sorri, e todos ao seu redor se afastaram com os ombros
caídos. Alguns vieram até mim para dizer que estavam felizes por eu estar
casada agora, e eu disse que estava grata por suas mensagens sinceras. Dei
meus adeuses a elas e alcancei Stephanie.
– Então, você finalmente se casou.
– Sim, e com um chefe da Bratva.
– Você me contou sobre isso. Ainda não consigo acreditar que sua
família é uma delas.
– Bem, não exatamente, mas é uma longa história, e eu tenho algumas
coisas para fazer agora.
Ela assentiu levemente, entendendo que eu não tinha muito tempo para
ela agora. Isso era meio triste. Eu queria que ela pudesse estar aqui e me
ajudar com as coisas.
– Estarei em Kazan por alguns dias. Me mande uma mensagem se quiser
fazer alguma coisa.
– Sim... sobre isso. Não poderei sair da mansão por não sei quanto
tempo. Iakov, o cara que veio aqui sem ser convidado com seus caras em
seus SUVs, quer matar Marat, e ele poderia me usar contra ele.
Seus olhos se arregalaram, mas ela não parecia muito
surpresa. Stephanie era o tipo de mulher que entendia as coisas com rapidez e
facilidade.
Apenas uma das qualidades que a tornavam quem ela era, e também por
que nos tornamos amigas. Eu ainda me lembrava da primeira vez que meu
namorado anterior me largou e eu não estava disposta a contar a ela o que
aconteceu então.
– Obrigado, Natalie, e boa sorte com ele. Não conheço o marido, mas
acho que ele vai te tratar bem.
Eu dei a ela um sorriso de lábios apertados. – Sim, eu acho que ele é um
bom homem.
Capítulo 8
Marat

O relógio tiquetaqueava e tiquetaqueava dentro do meu escritório, a luz


quente do abajur de mesa a única coisa que me impedia de empurrar tudo
para fora da mesa com força e gritar o mais alto possível. Como eu ia matar
Iakov? Eu sabia onde ele morava, mas não tinha homens suficientes para ir
atrás dele, e ele continuava mandando homens aqui para estudar a área e
descobrir mais sobre Natalie. Eles estavam morrendo de vontade de descobrir
uma estratégia para pegá-la. Se eles a pegassem, eles poderiam fazer qualquer
coisa para me obrigar a fazer o que eles quisessem de mim. Iakov poderia me
humilhar na frente de todos, e então nossa facção – a família Popov – não
existiria mais.
Natalie estava dormindo profundamente em nosso quarto. Ainda não
fizemos muito juntos. Matar Iakov era minha preocupação número um,
afinal. Isso meio que me fez sentir mal comigo mesmo, no entanto.
Eu também não tinha ideia de como me aproximar e falar com ela. Casei
com ela, mas tinha pouca experiência com relacionamentos sérios. Essa coisa
de ser marido não estava sendo nada fácil para mim.
Eu disse foda-se, e pensei em acabar com isso aqui e agora. Eu poderia
ir lá e ser ‘O Fantasma’ que as pessoas pensavam que eu era.
Eu poderia matá-lo e acabar com sua vida sem que ninguém descobrisse
sobre isso. Seria rápido e indolor.
Mas então, as chances de minha missão não ser bem sucedida eram
muito altas. Eu não tinha ideia de como me infiltraria em seu QG, e haveria
muitos homens dos quais teria que me esconder.
A menos que…
A porta se abriu lentamente e entrou ninguém menos que Natalie. –
Desculpe, não consegui dormir.
– Mesmo? Achei que você até estava roncando.
Ela sorriu. – Só fingindo. Eu não queria te preocupar.
– Me preocupar? – Eu perguntei quando ela se sentou em cima da mesa
e os documentos que eu estava estudando.
– Os homens do meu pai não são suficientes para acabar com ele? – Ela
perguntou.
Eu coloquei minha mão na minha testa, parecendo derrotado. – Não. Eu
preciso de mais, e não sei onde posso conseguir.
– Hmmm... – Ela parecia pensativa, mas ela realmente não podia me
ajudar agora. O que ela poderia fazer?
– Obrigado, Natalie, mas acho que você já ajudou o suficiente. Quanto
mais você tenta mergulhar nesses problemas, pior é para mim.
Ela suspirou. – Talvez você esteja certo, mas eu não vou desistir.
– Estou feliz que você se importe – eu disse depois de um momento de
pausa.
Ela olhou nos meus olhos e, por um momento, havia uma conexão, mas
era estranha. Eu não acreditava muito que ia me apaixonar por ela e me tornar
um homem feliz no casamento. As coisas estavam progredindo bem, e ela
estava tão linda, como sempre. Como homem, não conseguia parar de pensar
nisso.
Tudo parecia tão confuso.
– O que aconteceu com sua mãe? – Ela questionou. – Aconteceu alguma
coisa entre você e ela?
– Aconteceu sim... ela se casou com outro homem enquanto meu pai
estava em seu leito de morte. Eu não posso perdoá-la, e ela é como um abutre
agora em torno do dinheiro que me pertence.
– Nossa, como isso parece complicado.
– E sua mãe? – Eu perguntei, me inclinando. Eu precisava sentir o
cheiro do perfume dela. Era tão bom e tão parecido com ela.
Eu realmente não a conhecia muito bem, mas não havia como negar que
ela sabia escolher seus perfumes, e isso deixou meu pau tão duro agora. Estou
com muito tesão para o meu próprio bem agora, e eu realmente preciso me
concentrar nos meus estudos.
Um pensamento selvagem passou pela minha cabeça. A única maneira
de descobrir uma maneira de derrubar aquele idiota…
Mas justamente quando eu estava pensando sobre isso, de repente, ela
agarrou minha cabeça e me beijou. Eu a senti vindo do nada, e o beijo
terminou rapidamente. Seus olhos pareciam tão serenos, como se ela
precisasse disso e que sabia que sempre podia me beijar assim.
– Seus lábios são tão macios – ela murmurou.
Eu não tinha ideia de como agir, mas não ia desapontá-la, então agarrei
seu rosto e a beijei de volta, forçando seu corpo a se inclinar um pouco
mais. Estávamos nos beijando como estávamos alguns dias antes do
casamento, mas esse beijo significava muito mais.
Estávamos ficando cada vez mais próximos um do outro, e eu estava
aprendendo mais sobre ela. Nunca pensei que as coisas iriam progredir tão
rapidamente, no entanto. Não fazia muito tempo desde que eu me casei com
ela.
– E você tem lábios muito doces – eu disse antes de puxá-la para um
abraço que acabou se tornando outro beijo. Eu poderia beijá-la por toda a
eternidade. Isso era o que eu precisava esta noite. Eu tinha ficado muito
cansado de estudar esses planos e precisava de algo para tirar minha mente
deles.
O tempo passou e nos beijamos pelo que pareceu uma eternidade. Ela
então caminhou até a porta, sua camisola fluindo com seu lindo corpo. Eu
desejava tanto poder fodê-la agora, mas eu tinha algo mais importante para
lidar. Iakov. Ele não podia escapar e pensar que era o rei do mundo porque
ele fodeu minha vida.
Ela se apoiou no batente da porta de madeira. – Tem certeza que vai
ficar bem sozinho? Peça a alguém para vir aqui e ajudá-lo. Tenho certeza de
que um dos guardas pode descobrir alguma coisa.
– Acredite em mim, eu tentei, mas ninguém conseguiu descobrir
nada. Esses homens são bons para matar, mas não muito mais do que isso.
Ela olhou para baixo, assentindo e parecendo entender que eu tinha
considerado todas as opções possíveis antes de me encontrar nesta situação
terrível. – Então, eu acho que é isso. Posso dormir melhor agora.
Eu quase podia alcançar sua bochecha e acariciá-la agora, mas eu estava
meio distante. Eu sabia que estávamos ficando cada vez mais próximos, mas
algo em minha mente, minha falta de vontade de deixar as pessoas se
aproximarem demais de mim, me fez pensar que eu não deveria envolvê-la
em minha vida pessoal mais do que ela já estava.
E se Iakov a matasse? Eu nunca seria capaz de me perdoar se isso
acontecesse, e por isso ela estava trancada aqui. Ela veio para um país
diferente, onde ela não tinha estado muitas vezes antes – e eu não podia levá-
la para apreciar os belos lugares aqui em Kazan. Assim que essa coisa toda
com Iakov acabasse, era isso que eu faria.
Ela se virou e foi para o nosso quarto. Eu iria aparecer lá em
breve. Agora, eu tinha alguns planos para focar.
Capítulo 9
Natalie

Os dias vieram e se foram. Eu não tinha ideia do que focar agora, como
ajudar melhor Marat. Eu podia ver que ele estava tendo dificuldades com sua
busca para acabar com a vida de Iakov, mas ele não queria que mais ninguém
participasse para descobrir um plano melhor. Enquanto isso, ele continuava
agindo como se o mundo fosse acabar. Ele estava aprendendo a me amar do
mesmo jeito que eu? Eu não tinha ideia, mas sentia que esta noite as coisas
seriam diferentes.
Mais uma vez, eu estava sentada em nosso quarto, e ele estava
trabalhando em seu escritório. Ele fez muito pouco progresso em encontrar
uma maneira de matar aquele filho da puta.
Em minhas mãos eu tinha um dos meus livros que trouxe para ler
aqui. Eu ainda não conseguia ler e falar muito russo, no entanto. Marat me
ensinou o que podia, mas isso não era suficiente. Eu só estava me
perguntando quando ele teria tempo suficiente para mim. Isso poderia
acontecer sem ele terminar sua missão?
Foi quando ouvi um som suave e doce vindo do andar de baixo. Lembrei
daquele som. Meu pai me fez aprender a tocar piano quando eu era criança, e
então fiz algumas coisas horríveis e acabei chorando muito. Eu ainda não
disse a ele que me sentia mal por isso. Talvez eu devesse fazer isso logo antes
que... algo que eu não podia prever acontecesse.
Aquela melodia era muito boa, e se alguém aqui na mansão sabia tocar
piano, então eu deveria aprender algumas coisas com ele.
Enfiei meus pés no meu par de chinelos e desci as escadas. Além de
alguns guardas trabalhando aqui e ali, patrulhando o local para garantir que
ninguém tentasse nada, estava tudo muito sereno e pacífico.
Dei a alguns homens e empregadas que eu conhecia um pouco bem aqui
sorrisos de boca fechada, e então continuei a caminhar em direção à música
do piano. Estava vindo de um quarto trancado, mas logo percebi que a porta
não estava fechada com chave.
Perfeito. Quem quer que estivesse tocando piano teria que falar comigo,
e se tornaria um grande amigo meu. Eu precisava de um amigo de carne e
osso agora para não me sentir tão sozinha aqui. Marat estava sempre tão
ocupado com suas coisas da Bratva.
Lentamente, enquanto meus ouvidos apreciavam a bela canção, abri a
porta e me encontrei dentro do quarto. E encontrei outra coisa, ou melhor,
alguém que não esperava. Eu tive que cobrir minha boca para que meu
suspiro não arruinasse a música. Eu queria que ele terminasse. Ele
precisava. Marat merecia esse momento de paz que estava tendo.
Ele usava uma camiseta branca que revelava o quão masculino e
tonificado seu torso era, e seu par de shorts me permitiu ver que ele não fazia
corpo mole quando precisava malhar suas pernas. A música era alta o
suficiente sem ser irritante, e ele também não tinha ideia de que eu estava
atrás dele, na porta enquanto seus dedos continuavam a pressionar as
teclas. Este era o momento e a hora perfeitos para ele tocar piano.
Uma tecla de cada vez, ele as pressionou, uma e outra vez, sua cabeça
dançando com a música. Era lenta e meio triste.
Talvez era sua maneira de desabafar sobre algumas das coisas que
estavam acontecendo em sua vida. Eu só queria que ele se abrisse para mim e
não para o piano, no entanto.
Eu senti que estava realmente... me apaixonando por ele. Não achei que
pudesse acontecer, mas estava. Marat tinha um lado suave que ele não
mostrou para mim antes.
Aproximei-me dele lentamente, fazendo-o ouvir meus passos. Ele parou
de tocar o piano e se virou no assento. Seus olhos se arregalaram por uma
fração de segundo antes de voltarem ao que eram normalmente.
– Natalie, eu não sabia que você estava aqui.
– Desculpe, eu estava espionando você. Estava apenas admirando aquela
linda canção. Quem te ensinou a tocar?
– Meu pai – disse ele, olhando para baixo, provavelmente lembrando de
seu velho e desejando que ele estivesse aqui. – Queria tirar a minha cabeça de
tudo o que está acontecendo.
– Posso…? – Eu questionei, olhando para o piano.
– Ah, com certeza. Eu adoraria ouvir você tocar.
Ele se levantou e eu me sentei na frente do piano. Preparei meus dedos e
pressionei as teclas, fazendo a máquina funcionar. Eu esperava que a música
estivesse soando bem para ele, mas fazia um tempo desde a última vez que eu
toquei piano, e havia tantas coisas que eu não lembrava mais sobre.
Pelo canto do olho, porém, pude ver a reação em seu rosto. Passou de
sério para contemplativo. Talvez ele estivesse gostando da música, mas eu
não tinha certeza disso. Mesmo se eu perguntasse a ele sobre isso, ele poderia
me dizer uma mentira para que eu não me sentisse mal comigo mesma.
Eu sabia que Marat era conhecido como O Fantasma e ele tinha uma
reputação que o representava, mas para mim, ele estava sendo legal. Eu
desejei que ele não mudasse. Pouco a pouco, porém, sua busca por vingar sua
família o consumia. Eu tinha que fazer algo sobre isso, mas o que poderia ser
feito?
Alguns minutos depois, terminei de tocar a música e perguntei – Então,
quão terrível eu fui?
Ele me deu um sorriso tímido. – Acho que você foi muito bem, na
verdade.
– Vamos, não minta para mim. Diga-me a verdade.
– Mas eu estou. – Ele sorriu. – Você foi bem. Melhor do que eu, até.
Eu me levantei e sorri. – Agora isso é uma mentira que não posso
ignorar.
Aproximei-me dele, sentindo sua hesitação, e trouxe seu rosto para o
meu, beijando-o mais uma vez. Era meio estranho que eu estivesse dando os
primeiros passos aqui, quebrando cada vez mais o gelo que estava entre nós,
mas não pensei muito nisso. Eu já tinha lidado com coisas muito piores antes
na minha vida, e eu meio que gostava de sua atitude reservada.
Seus lábios eram tão macios. Desejei poder continuar beijando-o para
sempre, embora isso não fosse possível agora. Havia um longo caminho pela
frente para fazê-lo me amar.
Eu sabia que ele estava hesitando. Isso não continuaria por muito
tempo. Um dia, ele seria o único a tomar a iniciativa e, então, tudo seria
perfeito. Não teríamos nada em nossas vidas que pudesse nos preocupar.
Eu terminei o beijo, sentindo seu hálito quente no meu rosto. Ele era
muito mais alto, mesmo quando não estava usando suas botas de
escritório. Olhei em seus olhos e encontrei o olhar de um homem que passou
por tanta coisa em sua vida.
Eu me questionava o que ele teve que fazer para chegar ao topo da sua
filial da Bratva, e se ele se arrependeu de alguma das decisões que
tomou. Um segundo depois, percebi que não queria saber tudo sobre
ele. Algumas coisas eram melhor mantidas em segredo, afinal.
Ainda segurando-o contra mim, perguntei – Você vai ficar bem?
Ele sorriu, e eu senti que algo mudou nele. O que era isso, eu não fazia
ideia, mas estava gostando de sua nova atitude. – Por você, eu posso fazer
qualquer coisa, até me sentir bem quando parece que o mundo está desabando
na minha cabeça.
Eu sorri de volta. Ele brincou, e isso parecia tão incomum. Mesmo
quando as coisas não estavam indo do seu jeito, ele ainda brincava. Este novo
ele era um enorme progresso, considerando seu antigo eu.
Um segundo depois, acariciei sua bochecha, aproveitando que este
momento se tornou tão importante para nós.
Olhei para baixo e disse: – Estou indo agora, mas se você quiser vir
comigo, eu... gostaria disso.
Eu sorri, tentando convencê-lo. Ele precisava mudar de ideia sobre
Iakov e como acabar com ele. Ele nunca seria capaz de fazer isso enquanto se
concentrava tanto em seu ódio. Eu precisava acalmar seu coração.
– Sim? – Seu tom era calmo e muito sereno. – Eu gostaria disso
também.
E com isso dito, ele pegou minha mão e me levou para seu quarto. Isso
não foi repentino. Eu não achei que ele me levaria para o quarto dele e
fecharia a porta atrás dele, mas ele fez essas coisas mesmo assim, e o olhar
em seus olhos era o de alguém que sabia o que queria.
Hora de reivindicar sua esposa pela primeira vez. Eu quase podia ouvir
sua mente pensando isso agora.
Apenas o abajur e a lua iluminavam o quarto, mostrando apenas o
suficiente de seu corpo e me fazendo pensar sobre o resto. Suas mãos
desabotoaram sua camisa branca de escritório, e então a deixou cair no chão.
Seu torso estava exposto e era como se tivesse sido esculpido por um
grande artista. Eu sabia que ele malhava, mas eu não achei que ele era tão
tonificado.
Era quase como se ele não tivesse nenhuma gordura corporal. Seus
músculos se mexiam e se flexionavam mesmo quando ele não se movia
muito. Vê-lo assim já estava deixando minha xota tão molhada, achando
difícil respirar.
Lentamente, como se quisesse me dizer que queria tomar seu tempo,
Marat se aproximou e me beijou. Suas mãos seguraram meu rosto para que
eu não tivesse chance de escapar.
E eu não teria nem tentado isso. Isso era tudo o que eu queria desde que
nos casamos. A primeira vez que estávamos fazendo amor. Era quase como
se algo em sua mente tivesse mudado e que agora ele não tinha mais medos.
Seus lábios estavam famintos, e eles resvalavam para cima e para baixo
contra os meus. Sua língua procurou a minha e, a partir de então, era apenas
ele.
Eu não tinha mais nada a dizer sobre como isso estava indo. Apesar de
estar sobrecarregada, eu estava amando cada segundo disso.
Envolvi meus braços ao redor de seus ombros e o beijei de volta. Ele foi
o único controlando todos os beijos antes. Decidi mostrar a ele que não era
uma mulher fraca de mais maneiras do que ele poderia imaginar. Só porque
ele era tão alto e imponente, não significava que eu não tinha meu arsenal
também.
Senti seu corpo se esfregando contra o meu. Seu calor exalava em
pulsos, e ele continuou me fazendo sentir cada vez menor. Pensei na
diferença de idade e a afastei. Não importava agora.
Suas mãos apalpavam meu corpo enquanto eu sentia. Minhas mãos não
eram nada em comparação com as dele, e as minhas pareciam tão
menores. Senti seus músculos se movendo, mudando, flexionando e
inchando. Seu calor fazia parecer que o ar-condicionado estava desligado.
Quando ele terminou o beijo, olhei em seu corpo e me perguntei se isso
era realmente o que eu queria para minha vida.
E sim, era isso. Seus olhos estavam escuros de excitação e amor por
mim. Marat desejou que eu completasse sua vida e aqui estava eu, fazendo
exatamente isso.
– Você é incrível – eu murmurei, esperando que ele não se arrependesse
e tivesse apenas uma coisa em mente agora: assustar qualquer medo que ele
pudesse ter e focar sua vida nas coisas que mais importavam.
– E você é muito mais do que isso – disse ele antes de me beijar e depois
continuar no meu pescoço e seios. Suas mãos gentilmente tiraram minha
camisola e me deixaram toda exposta para ele.
Seu calor me mantinha tão quente, e eu ainda não conseguia respirar
direito. Eu não queria que ele parasse, no entanto. Isso tudo era bom demais.
– O que é preciso para te fazer feliz, Marat? – Eu questionei.
– Você comigo e sempre segura – disse ele antes de tirar meu
sutiã. Movi minha mão ao longo de seu peito duro, sentindo seus músculos e
desejando que tivéssemos feito isso antes desta noite.
Eu ansiava por reivindicar seu coração assim desde que descobri que ele
tinha um bom coração por baixo de todas as coisas que o tornavam o chefe da
Bratva que era.
Marat nunca foi rude e malévolo comigo. Ele era grosseiro apenas com
as pessoas que mereciam isso, e comigo, ele sempre era tão gentil. Ele era
quase como um homem diferente.
Deslizei minha mão pelo seu abdômen, sentindo seus músculos
esculpidos lá embaixo também, e então soltei seu cinto. Ele caiu no chão com
um baque suave enquanto eu continuava a ouvir sua respiração lenta.
Beijei-o mais uma vez enquanto, lá fora, não ouvia nada além do som
suave de um carro se afastando. Eu beijei seus peitorais, seu abdômen, e
então tirei suas calças. Ele saiu delas, e eu admirei suas pernas e quão grossas
elas eram.
– Cuidado. Pode doer – ele disse, ou não? Neste ponto, era difícil saber
o que estava acontecendo com certeza e o que estava ocorrendo apenas em
minha mente.
Eu sorri. – Nada pior do que enfrentar Iakov.
Ele sorriu também, apesar do fato de eu ter mencionado alguém que não
deveria estar envolvido nisso. Ele era um problema para mais tarde.
Eu mordi o cós da sua cueca e a arranquei dele. O material foi rasgado
facilmente, e em pouco tempo minhas narinas e pulmões foram invadidos
pela familiaridade do seu odor almiscarado. Era o cheiro de um homem que
entendia o que era poder e não tinha medo de fazer uso dele, e ele estava tão
excitado por mim que seu pau já estava duro.
Notei a gota de pré-sêmen vindo da pequena abertura. Era tão deliciosa,
pensei quando a lambi. Olhei para cima para encontrar seus olhos e descobri
que ele adorou o que eu tinha acabado de fazer.
Claro que sim. Marat estava apaixonado por mim, e em breve ele estaria
me dizendo isso palavra por palavra.
Eu coloquei seu pau em minha boca e trabalhei nele, o som de pele
encontrando pele enchendo nosso quarto. Finalmente estava acontecendo. Eu
o estava fazendo perceber que ele precisava de amor mais do que qualquer
coisa em sua vida.
Trabalhei sua glândula e depois coloquei o máximo possível dele na
minha boca, fazendo-o gemer e provavelmente desejar que tivéssemos feito
isso há muito tempo.
Eu não podia acreditar que estava me apaixonando por ele
também. Uma vez que ele dissesse as palavras mágicas, eu também diria.
Eu trabalhei no seu pau até parecer que ele não aguentava mais. Ele
gemeu tão alto que me perguntei se alguém poderia ouvi-lo. Voltei a ficar de
pé e depois na ponta dos pés para beijá-lo.
Quando terminei o beijo, ele disse – Agora foi diferente.
Eu sorri, mamando nele e beijando seu pênis. Claro que o cheiro e o
sabor dos meus lábios eram diferentes. Estavam revestidos com o seu pré-
gozo.
– Na cama, agora – ele ordenou e então gentilmente começou a me
empurrar. Andei para trás em direção à cama, senti-a tocar a parte de trás dos
meus joelhos, e então me deitei nela.
Marat subiu e depois me agraciou com beijos apaixonados e lascivos. Eu
não podia suportá-los por muito mais tempo, e então, quando eu pensei que ia
desmaiar, uma onda de orgasmo subiu pelo meu corpo, fazendo-o sacudir e
estremecer. Todo o meu corpo reagiu a esse evento único e incrível.
– Eu vou ser bem cuidadoso com você. Não se preocupe – ele disse de
repente enquanto ele estava me beijando e me fazendo contorcer embaixo
dele.
Eu ia perguntar a ele o que ele quis dizer com isso quando mergulhou
seu pau gordo na minha boceta, até o talo.
Aconteceu de repente e antes que eu tivesse tempo de reagir. Fiquei
surpresa e ele deve ter notado isso porque imediatamente disse – Como eu
disse, serei cuidadoso.
E ele estava sendo assim. Ele começou a meter gostoso em mim de novo
e de novo, mas seus movimentos eram comedidos. Ele sabia o quão grande
ele era e que ele poderia tornar isso mais doloroso do que agradável.
Seus movimentos controlados foram suficientes para me levar ao clímax
uma segunda vez, e depois uma terceira vez, e uma quarta vez até que ele
finalmente gozou também. Mas Marat saiu momentos antes que ele pudesse
cobrir o interior do meu útero com a sua carga.
Ao invés disso, ele começou a gozar na minha barriga, e ficou fazendo
isso pelo que pareceu ser minutos. Eu não achei que ele tinha tanto leite em
suas bolas.
Nós dois estávamos ofegantes e suando como porcos quando ele se
deitou na cama ao meu lado. Eu o puxei para um abraço, e então o
beijei. Essa foi a última coisa que fiz antes de selar meu destino com ele
ainda mais do que no dia do casamento…
Capítulo 10
Marat

Ela apertou o gatilho, e ele clicou. Nenhum som de tiro cortou o ar, no
entanto. Natalie sorriu e olhou para mim. – Estou indo bem com isso?
Aproximei-me dela, quase a abraçando por trás, e ajeitei seu ombro e
aproximei a coronha da arma. – Basta mantê-la no ombro, ou então o recuo
pode machucá-la.
Ela apertou o gatilho mais uma vez, mirando no vaso que eu havia
colocado na outra ponta da sala. – Quando você acha que poderei atirar de
verdade e usar uma arma com balas reais? – Ela questionou, seus olhos tão
cheios de desejo de aprender isso. Eu me perguntei por que seu pai nunca
chegou a ensiná-la a usar uma arma. Nestes tempos, e especialmente em um
país como a América, ela já deveria saber como se defender. E na Rússia,
isso era o básico do básico.
– Em breve. Estou apenas ensinando o básico por enquanto. Não posso
confiar que meus homens conseguirão mantê-la segura o tempo todo. Você
precisa ser capaz de se defender, embora eu espere que nunca chegue a esse
ponto.
Ela ajustou o rifle de novo, certificando-se de que a coronha estava
tocando seu ombro enquanto apontava usando a mira frontal. Ela estava tão
linda agora, e desde aquela noite incrível que tivemos juntos, ficamos mais
próximos um do outro.
Natalie era a mulher com quem sonhei a vida toda, e fiquei tão feliz por
ter me guardado para ela. Aquela noite eu nunca iria esquecer, e logo, quando
a coisa com Iakov terminasse, ela e eu estaríamos conversando sobre fazer
bebês.
Ela abaixou a arma e disse – Quero fazer mais do que isso. Eu quero
ajudá-lo a derrubar Iakov.
A afirmação dela me incomodou um pouco. Eu não queria nada mais do
que mantê-la segura. Envolvê-la em minha caçada para acabar com a vida
dele não era algo com que eu me sentia confortável.
Coloquei minha mão em seu ombro e olhei profundamente em seus
olhos. – Sem chance. Isso tudo é muito novo para você. Eu confio apenas em
meus homens para matá-lo.
– Mas eu posso fazer mais. Posso ajudá-lo a planejar e encontrar pontos
fracos em seu QG e como seus homens operam e esse tipo de coisa. Não
preciso estar na linha de frente.
– Você não estará, e você também não deve pensar muito sobre ele. – Eu
estreitei meus olhos e continuei – mais treino e menos conversa.
Ela parecia um pouco teimosa agora, como se minhas palavras não a
tivessem convencido e que ela ia fazer o que quisesse de qualquer
maneira. Isso poderia e nunca iria acontecer, no entanto. Eu disse algo
importante quando afirmei que ela ia ficar dentro do perímetro da casa até
que a situação mudasse. Este era o único lugar onde ela estaria segura, afinal.
Natalie então apontou sua arma e continuou a treinar sua mira, os
cliques enchendo a sala um pouco. Sentei-me e fiquei observando seu
treinamento, e também, seu corpo. Tive sorte de tê-la.
Ela era tão bonita, e ela me fez lembrar o que meu irmão mais novo me
disse sobre não me tornar um monstro. Contanto que eu tivesse Natalie aqui
comigo, isso não aconteceria.
Ela abaixou o rifle manual novamente e, quando ela abriu a boca, eu me
levantei e anunciei a boa notícia que ela estava esperando o tempo todo –
Acho que você pode estar pronta para um treinamento de verdade agora.
Seus olhos se arregalaram e seus dedos quase deixaram o rifle
escorregar deles. Ela agarrou-o e segurou-o com força, no entanto. Ela sorriu
também, e olhando para mim, disse – Obrigada. Cansei de treinar minha
mira.
– E como você segura o rifle. Isso é ainda mais importante. Você não
pode entrar em um tiroteio e usar sua arma sem saber como segurá-la. A falta
de um detalhe importante assim pode fazer seu rifle voar para longe quando
você apertar o gatilho.
Ela me deu um sorriso de lábios apertados e unilateral. – Eu entendo,
mas esse rifle não voará para lugar nenhum, desde que eu tenha você como
meu professor.
Dei-lhe um sorriso de lábios apertados também, e a beijei, colocando
minha mão atrás de seu pescoço e trazendo-a para mais perto de
mim. Segundos depois, terminei o beijo e disse – Vamos lá. Hora de começar
seu treinamento real. Devemos fazê-lo agora.
Ela sorriu e me beijou, aproximando minha cabeça da dela. – Você é o
melhor. Eu te amo muito.
Eu sorri. Eu também a amava, e isso era algo que aprendi alguns dias
depois do casamento. As coisas estavam indo tão bem entre nós, e ela parecia
radiante para aprender mais sobre como usar o rifle.
Levei-a para o lado de fora da mansão, em um local contíguo ao jardim
e onde já havia pedido a alguns de meus homens que colocassem algumas
garrafas de cerveja em uma mureta. – Então, você acha que sabe como fazer
isso ou quer mais algumas dicas?
Ela olhou para seu rifle e depois olhou para mim. – Acho que sei o
suficiente. Eu tenho o melhor professor do mundo, lembra?
Eu sorri. Natalie costumava brincar com tanta frequência.
Ela apontou a arma, certificando-se de que a coronha estava em contato
com o ombro direito, e então apertou o dedo. A arma fez um som alto, e eu
pensei que seria seguido pelo som da lata voando e atingindo a parede atrás
dela, mas isso não aconteceu.
Ela olhou para mim com um pouco de impaciência e vergonha nos
olhos. Levantei-me e ajustei como ela estava segurando o rifle. – Você foi
bem. Você quase acertou. Agora, tente novamente. Eu estarei aqui, bem perto
de você para ter certeza de que você fará isso certo desta vez.
Seus olhos encontraram os meus e sua confiança foi renovada. Ela
parecia muito melhor agora. Eu podia perceber que ela estava fazendo o seu
melhor para que isso desse certo, e ser seu professor era bacana. Eu não
poderia falhar com ela, e eu não iria.
Senti como sua respiração desacelerou. Ela estava se acalmando. Natalie
aprendia rápido e me impressionava a cada dia. Não demoraria muito até que
ela pudesse se proteger da maioria dos meus inimigos lá fora.
Eu realmente precisava ter certeza de que ela poderia se defender
sozinha. Eu nunca seria capaz de me perdoar se algo terrível acontecesse com
ela.
Inclinei minha cabeça para mais perto de Natalie, sentindo sua
respiração e como seu torso se expandia e contraía. Percebi também o
chilrear dos pássaros distantes, o calor da luz do sol em meu pescoço e o
farfalhar das folhas das árvores.
Tudo estava ficando mais lento para mim, e eu podia sentir que Natalie
estava aprendendo muito. Ela preparou o dedo, e estava a uma polegada de
apertar o gatilho. Justo quando ela pensou em fazer isso, eu agarrei seu pulso
gentilmente e disse
– Devagar. Mais lentamente e pensando para onde a bala irá. Você é
capaz de fazer isso. Você não precisa muito da minha ajuda.
Ela assentiu com a cabeça, dizendo que entendia minhas
palavras. Perfeito. Eu sabia que ela estava prestando atenção em cada
pequena coisa que eu estava dizendo.
Seu corpo estava tão quente contra o meu, e eu me peguei desejando que
ela decidisse fazer uma pausa e subir comigo.
Eu precisava abraçar, beijar e fazer todo tipo de coisa suja com ela. Ela
estava tão disposta todas as noites, e esperar que as horas passassem até a
noite de hoje ia me matar. Não havia nenhuma mulher como Natalie no
mundo.
Ela respirou fundo e disparou o rifle, cada um de nós agradecido por
termos colocado protetores de ouvido. Este rifle era bastante antigo e muito
barulhento.
A bala viajou, cortando o ar, indo rápido e tão rápido que eu não pude
vê-la, e então, houve aquele som reconfortante e familiar de metal rolando no
chão pedregoso. Imediatamente depois de perceber que ela fez certo desta
vez, ela largou o rifle e me abraçou.
Eu tropecei um pouco, sua reação me pegando de surpresa. Ela jogou os
braços em volta do meu pescoço e me beijou apaixonadamente.
– Obrigada e obrigada de novo! – Ela disse e depois continuou com mais
algumas outras coisas da mesma natureza.
Seus olhos brilhavam de alegria, e ela parecia mais feliz desde que
chegou aqui. Aprender a usar uma arma era como uma revelação para ela,
imaginei. Quase como escapar da prisão depois de ser encarcerada por uma
boa parte da vida.
Esse pensamento trouxe de volta memórias que pensei ter
esquecido. Talvez ela tenha percebido isso, talvez não. De qualquer forma, eu
tive que beijá-la de volta e estabelecer uma coisa importante aqui antes que
ela começasse a pensar que podia enfrentar o mundo inteiro agora.
Natalie quebrou o nosso beijo e, ao voltar a ficar de pé, eu disse – Esse é
um passo e há muitos mais para dar. Tem certeza de que está pronta?
– Que tipo de pergunta é essa? Estou pronta para tudo.
Ela sorriu, seu sorriso tão lindo que trouxe uma onda de calor ao meu
coração. Eu juro, tudo com ela parecia muito melhor. Eu não sabia se ainda
estaria vivo agora se ela não tivesse aparecido e me permitido fazer parte de
sua vida.
Enfiei meus dedos em seu cabelo castanho angelical, sentindo o quão
suave era. Ela olhou para mim como se quisesse me fazer muito feliz. Talvez
ela estivesse sentindo todo o pavor e infelicidade em minha mente. A verdade
era que eu não podia descansar sem pôr fim à vida de Iakov.
– Eu sei que você é, mas você precisa treinar mais. Só porque você
conseguiu acertar uma lata de cerveja, não significa que você é uma atiradora
profissional agora.
Ela assentiu freneticamente, entendendo que tinha um longo caminho a
percorrer até que pudesse enfrentar desafios mais sérios.
Ela então segurou seu rifle novamente, apontou-o, certificou-se de que a
coronha estava em contato permanente com seu ombro e disparou. Desta vez,
ela errou o tiro.
– Eu disse que você precisa de muito mais treinamento – afirmei.
Sem olhar para mim, ela me deu um joinha. Eu estava sentado em uma
cadeira e dei-lhe um joinha também. Parecia que ela não tinha medo de não
acertar, e eu tinha certeza que ela teria.
Não havia nada capaz de impedir uma mulher como ela de dominar uma
habilidade. Eu meio que a invejava. Eu queria ser tão controlado assim
quando se tratava de minhas emoções.
Ela disparou o rifle de novo e mais vezes, errando alguns tiros, mas
também atingindo os alvos pretendidos. As latas voaram em direções
diferentes e todas as balas perfuraram o metal como se não fosse
nada. Quando Natalie terminou, ela abaixou o rifle e caminhou até mim.
O sol estava se pondo e tudo estava escurecendo lá fora. Não demoraria
muito até a noite, e então, eu jantaria com ela. Fazer isso com Natalie me fez
lembrar o quanto ser seu marido significava para mim.
– Acertei todas as latas. Acho que estou pronta para enfrentar Iakov
agora – ela afirmou, levantando o queixo.
Eu me levantei e ela deu um passo para trás. O que ela disse não era algo
que eu esperava sair de sua boca. O que ela estava pensando? Que tudo isso
era algum tipo de brincadeira e que ela não estava em perigo? Ela não se
lembrava mais de Iakov aparecendo aqui de repente durante o nosso
casamento?
– Nunca diga isso de novo, Natalie. Estou lhe dizendo para deixá-lo
comigo. Você tentando me ajudar só vai colocar você em perigo, e se algo
acontecer com você... eu não sei o que eu faria.
Ela parecia estar com medo, e eu imediatamente me odiei pelo que
disse. O que eu estava fazendo agora? Natalie era minha esposa, não um dos
capangas de Iakov. Eles eram os únicos que mereciam meu ódio, não ela.
Passei a mão no rosto e disse – Desculpe. Eu não quis te assustar. Você
foi muito bem. Vamos praticar um pouco mais nos próximos dias.
Ela exalou, parecendo aliviada. Talvez ela realmente pensasse que eu
estava prestes a bater nela ou fazer algo tão horrível quanto. Eu nunca faria
nada que pudesse machucá-la.
Ela me devolveu o rifle. – Está bem. Você parecia tão assustador de
repente. Não vou mencionar Iakov de novo.
Desta vez, era eu quem precisava expirar. Eu sabia quando ela estava
dizendo a verdade, e quando ela não estava.
Natalie foi sincera quando disse aquilo. Eu não acho que seria preciso
olhar para ela como eu fiz para fazê-la mudar de ideia, mas ela fez, e agora eu
tinha uma coisa a menos para me preocupar. Sempre me preocupei que ela
fosse fugir da propriedade e perseguir Iakov em uma vã tentativa de matá-lo.
Eu beijei sua bochecha. – Obrigado por entender meu ponto de vista. Eu
só estou pensando em você agora, e você é a única coisa que importa para
mim. A única coisa que realmente importa. Matar Iakov é um dever meu, e
vai acontecer. Ele encontrará seu destino no cano da minha arma.
Ela olhou para mim com olhos curiosos, talvez tentando descobrir se eu
tinha mudado de repente. Isso aconteceu comigo uma vez.
Eu pensei que não poderia ter nenhuma relação com qualquer mulher em
minha vida graças ao meu passado e acreditar no verdadeiro significado de
um casamento, mas Natalie estava me mostrando que havia estado errado.
Poderíamos continuar juntos sem me preocupar com minha religião e o
que isso significava para minha vida. Ela não acreditava em Deus, mas ela
era exatamente como ele. Natalie tinha tantas qualidades. Eu tive tanta sorte
de tê-la como minha mulher.
Ela agarrou minha mão e a apertou. – Apenas me prometa que sempre
continuará sendo quem é.
– Não se preocupe. Eu não vou deixar de ser o homem que você conhece
por causa de um idiota como ele.
Algo do tipo nunca poderia acontecer, e não iria. Fui criado para ser um
homem melhor e sabia quem dependia de mim. Ioann precisava sempre de
mim. Se havia um homem que eu nunca poderia decepcionar na minha vida,
era ele.
Ela abriu outro sorriso largo e disse – Então, quando vamos fazer a outra
parte do treinamento?
Capítulo 11
Natalie

Eu soquei e soquei suas mãos abertas, suor se formando na minha testa. A


sala estava em silêncio, não contando os sons dos meus grunhidos, punho
batendo em palma e meus pés dançando no chão. Sua expressão era séria,
mas calma. Marat sabia como me treinar e estava fazendo maravilhas com
isso. Até pouco tempo atrás, eu não conseguia nem matar uma barata.
Ele abaixou seus braços no momento em que eu ia socar suas mãos outra
vez, me fazendo perguntar – O treino já acabou?
– Você está muito cansada. Faça uma pausa e beba um pouco de água.
– Mas eu quero continuar. Eu não estou cansada.
– Sim você está. Seus movimentos tornaram-se lentos e
desleixados. Seus pés não estão nem nas posições corretas. Você não chegará
a lugar nenhum se continuar assim.
Baixei os punhos, respirando cada vez mais devagar até acalmar um
pouco meu coração acelerado. Marat estava certo. Eu estava me esforçando
demais agora, e não chegaria a lugar nenhum se continuasse fazendo isso.
– Obrigada – eu disse antes de abrir uma garrafa e beber um pouco de
água. Fechei-a e coloquei-a de volta no banco.
Marat já tinha essa sala de treinamento antes de eu vir para a Rússia, e
seus homens sempre vinham aqui para treinar. Agora, porém, estava fechado
para eles. Marat queria me treinar sozinho, e isso era bom.
Eu adorava passar tempo com ele, e isso lhe proporcionava o tipo de
descanso que ele precisava. Ele estava chegando perto. Ele iria terminar seu
plano e acabar com a vida de Iakov em breve.
– Você tem feito um progresso incrível. Você vai me superar em breve.
Eu sorri. – De jeito nenhum isso vai acontecer. Você tem muito mais
experiência.
– Estou falando sério. Você está aprendendo muito rápido e pode até
nocautear alguns dos meus homens.
Aproximei-me de Marat e sussurrei em seu ouvido – Talvez você
devesse convidar alguns deles para treinar conosco hoje.
– Talvez em breve, mas não hoje. Ainda há algumas coisas que quero
ensinar a você em particular.
– Como o quê? – Aproximei minha boca da dele, e estávamos prestes a
nos beijar quando a porta se abriu e entrou Abram, o brigadeiro de Marat.
– Senhor, há algo que você precisa saber.
Marat quebrou o abraço e caminhou até ele. – Fala, Abram.
– É Iakov. Ele saiu do seu esconderijo e podemos matá-lo agora. Não
teremos outra chance como esta.
Os olhos de Marat brilharam com seu desejo de terminar sua caçada de
uma vez por todas. – Tudo bem. É hora de acabar com isso – disse ele sem
pedir mais detalhes. Ele confiava em Abram, assim como eu. Ele era um bom
homem.
Mas eu não ia fingir que não estava preocupada. Agarrei sua mão e o
parei quando ele ia passar pela porta. – Não, você não pode fazer isso. Não
faz parte do seu plano. E se... você falhar?
– Se eu falhar, ele ficará irritado e ainda mais cauteloso. Mas esta
oportunidade é boa demais para ser desperdiçada.
– Pense melhor sobre isso. E se for uma armadilha?
– Talvez seja, mas como eu disse, Iakov fica a maior parte do tempo em
seu esconderijo, e esta é uma das poucas vezes que ele sai. Eu preciso estar lá
e matá-lo.
Eu exalei alto em descrença e desaprovação. – Eu não gosto disso.
Ele colocou as duas mãos em meus ombros e olhou profundamente em
meus olhos. – Você está aqui comigo há meses. Eu treinei você. Você sabe
que eu posso lidar com isso.
Agarrei suas duas mãos e as coloquei juntas na minha frente. – Prometa-
me que você vai voltar vivo e inteiro.
Ele me beijou. – Eu prometo.
Olhei em seus olhos uma última vez, avaliando o quão confiante ele se
sentia sobre o que ia fazer. Ele parecia bastante confiante e também estava
me mostrando que sabia o que estava prestes a fazer.
Marat não era novato quando se tratava de perigo e não tinha medo de
fazer algo que não tinha planejado. Essa oportunidade era ótima para ele, mas
ele tinha pouca ideia de como isso iria dar certo.
– Apenas tenha cuidado. Mais do que o normal.
Ele me deu outro selinho. – Voltarei antes do pôr do sol.
E então, ele saiu correndo pela porta com Abram e entrou em seu SUV
preto. Caminhei até a porta e a observei até ela virar e desaparecer no
cruzamento de duas estradas, pneus cantando. Isso era tudo muito repentino e
eu tinha todas as razões para acreditar que seria muito perigoso para ele.
Mas uma coisa me garantiu que ele ficaria bem, e era o seu amor por
mim.

Marat
O carro dirigia rápido pela estrada, os prédios e casas se tornando um
borrão ao nosso redor. Abram virou à esquerda e entrou em outra
estrada. Seus olhos estavam focados no objetivo, e ele queria matar aquele
filho da puta tanto quanto eu.
Iakov matou seus pais quando era muito jovem e, por isso, precisava
fazê-lo sofrer. Nossos sentimentos em relação a Iakov eram mútuos. Eu não
poderia ter pedido melhor parceiro para uma missão tão importante quanto
esta.
Havia sangue em seus olhos, e ele não descansaria até que Iakov
estivesse morto. Não estávamos levando mais do que alguns homens para
esta ocasião. Essa era a chance que precisávamos. De acordo com Abram,
Iakov tinha apenas alguns homens com ele, e ele estava dentro de um antigo
shopping que muitas pessoas não mais frequentavam.
Claro, haveria polícia chegando assim que o tiroteio começasse, mas
valeria a pena se eu conseguisse acabar com a vida dele.
Artur e Mila precisavam ser vingados. Não chorei muito quando eles
morreram, mas senti como se o mundo tivesse acabado para mim. Agradeci a
Natalie por aparecer na minha vida e me salvar da espiral de pensamentos
negativos que tinha me sugado.
Eu tinha um pingente com as fotos do Artur e da Mila, e abri para
ver. Eles eram a razão pela qual eu estava fazendo isso, e eles seriam
vingados.
Hoje, quando eu pensei que não seria nada mais do que uma noite
comum, eu ia derramar seu sangue. E eu ia fazê-lo sofrer.
Ele colocou um contrato de morte na minha cabeça só porque precisava
acabar com minha facção. Meu pai estava em seu leito de morte e achava que
era sua oportunidade de ouro para tornar sua vida na Bratva menos
complicada.
Afinal, por que ter competição quando você pode simplesmente matá-
la?
Fechei o pingente, coloquei-o debaixo da minha camisa e olhei para
Abram. Seu rosto parecia tão tenso, como se o mundo estivesse acabando ao
nosso redor e tivéssemos apenas uma chance muito pequena de escapar
vivos.
Eu podia ver o quão forte ele estava segurando o volante e o quão
focado ele estava em nos levar até lá. Os outros caras não sentiam o mesmo.
Eles encaravam essa missão como a coisa mais importante de suas
vidas, mas não odiavam Iakov tanto quanto nós. Não era à toa que escolhi
Abram como meu brigadeiro. Ele era o único que entendia meu ódio.
Coloquei minha mão em seu ombro, fazendo-o virar a cabeça para mim
lentamente. Seus olhos ainda pareciam tão fixados em seu objetivo. –
Concentre-se em acabar com a vida dele e não deixe nada ficar no seu
caminho.
Ele assentiu e voltou sua atenção para a estrada. O céu noturno era a
única coisa que me acalmava, além do pensamento de Natalie esperando por
mim em casa.
As pessoas que olhassem pela janela agora pensariam que algo grande
estava para acontecer e teriam razão. Esses muitos SUVs pretos indo em uma
direção só podiam significar uma coisa.
Chegamos ao shopping e não fiquei surpreso quando vi o
estacionamento quase deserto ao redor. Não demoraria muito até que eles
tivessem que fechar este lugar.
As pessoas por aqui começaram a preferir ir aos grandes shoppings, que
tinham lojas melhores e eram mais bem equipados.
Saí do veículo e preparei minha PPSh-41, que era uma metralhadora
russa clássica que meu pai me deu depois que morreu. Perfeito. Eu amava
esta arma. Eu só queria ter um plano melhor para isso que viemos fazer aqui,
no entanto.
Eu gostava das minhas chances, considerando o que Abram me disse
sobre quantos Vory estavam aqui, mas ainda preferia ter mais tempo para
pensar nas coisas e analisar possíveis rotas de fuga caso Iakov sobrevivesse.
Isso ia resultar em um banho de sangue, e eu não me importava se
inocentes morressem. Eu nunca poderia ter chegado ao topo da facção Popov
se não tivesse sido implacável durante toda a minha vida.
Uma coisa boa sobre uma noite silenciosa como esta e o tamanho do
estacionamento ao redor do shopping era que não havia como Iakov e seus
homens saberem que já estávamos aqui. Ainda bem que mantinha vigias por
toda a cidade. Eu nunca teria descoberto que ele estava aqui, caso contrário.
Por que Iakov veio aqui? Não fazia ideia, e eu me importava com a
razão por trás disso. Ele poderia ter ido a algum outro lugar e com mais
homens.
Eu estava muito ciente de que isto poderia ser uma armadilha, e era por
isso que eu estava com meu telefone. Caso as coisas dessem errado aqui, eu
poderia chamar o resto dos meus homens para vir aqui.
Estacionamos os SUVs próximos um do outro e meus homens vieram
até mim. – Não existe um plano específico. Sabemos que ele ainda está aqui e
vamos matá-lo. Não se preocupe com possíveis vítimas. As autoridades não
vão se importar muito se alguns morrerem.
Todos assentiram, meus homens segurando seus Makarovs, AK-74s e
outras armas. Viemos preparados para isso, e os olhares em seus rostos eram
de homens dispostos a morrer e fazer todo o necessário para desferir um
golpe mortal nos Vory.
Iakov era um dos melhores deles, e se ele morresse aqui, eles poderiam
vir atrás de mim com todos os seus homens, mas provavelmente eles fariam
um acordo comigo - uma espécie de armistício até que eles tivessem mais
coragem para vir atrás de mim novamente...
Usávamos armaduras e tudo o mais necessário para isso. Mais uma vez,
porém, desejei ter trazido mais algumas coisas, como explosivos e alguns
homens treinados com rifles de precisão. Acabei de chegar aqui o mais rápido
possível.
Eu não podia deixar essa chance escapar por entre meus dedos. Se eu
tivesse ficado mais tempo na propriedade para planejar melhor isso, talvez
Iakov não estivesse aqui agora.
– Vamos. Você, comigo – eu ordenei, apontando para alguns deles. – E
o resto vai pegar a outra entrada do shopping. Não deixe um deles sequer
escapar. Não podemos permitir que avisem o resto dos Vory sobre nós.
Eles assentiram novamente, mostrando-me que estavam totalmente
focados nisso e que não havia nada que pudesse detê-los. Eu confiava nesses
homens com minha vida, e esta noite, eles iriam provar que minha confiança
significava o mundo para eles.
Eu invadi o shopping com meus homens ao meu lado e meus
pensamentos estavam com Natalie. Mila e Artur eram os que estavam sendo
vingados, mas era por ela que eu voltaria, e mal podia esperar para ver seu
sorriso cativante novamente. Ela era o mundo para mim.
Homens e mulheres que não tinham nada a ver com isso além de terem o
azar de fazer compras a essa hora da noite gritaram e correram para salvar
suas vidas assim que abrimos fogo.
Podíamos facilmente identificar e reconhecer os Vory entre eles. Todos
eles usavam camisas pretas com calças brancas. Esse era o seu traje comum,
e eles gostavam de exibi-lo onde quer que fossem.
Eu me escondi atrás de um pilar de apoio quando balas foram disparadas
em minha direção, e saía do meu esconderijo de vez em quando para tentar
localizar Iakov.
Ele era o único pelo qual eu vim aqui, e embora matar seus homens
fosse algo que eu precisava fazer também, eu não poderia sair daqui sem
acabar com ele de uma vez por todas.
Inclinei-me para o lado e joguei balas no Vory, pintando o chão e as
paredes com seu sangue. Mais gritos e o som de pessoas fugindo encheram o
interior do shopping.
Matei mais alguns de seus homens e avancei mais para dentro do
shopping, certificando-me de verificar cada rosto aqui. Não consegui matar
Iakov por acidente.
Isso tinha uma chance muito pequena de acontecer e eu sabia disso
muito bem, mas ainda assim tinha que ter certeza. Ele precisava saber como
era ver minha irmã e meu sobrinho mortos no meu carro.
Avancei ainda mais dentro do interior do shopping e entrei em uma das
lojas. Pedi a alguns dos meus homens que ficassem comigo enquanto os
outros foram procurar o resto dos capangas de Iakov.
Eu me encontrei em uma loja de roupas, e parecia silenciosa. Apesar
disso, eu sabia que Iakov tinha que estar aqui. Eu o vi correndo para este
lugar enquanto seus homens atiravam em mim. Se ele estava pensando que
poderia escapar de mim, logo descobriria que jamais deixaria isso
acontecer. Não havia como ele sobreviver a esta noite.
Fiz um gesto com a cabeça para fazer meus homens irem em direções
opostas. Havia duas entradas escuras nos fundos da loja, onde guardavam
suas roupas antes de decidir quais colocar à venda.
Meus homens cobriram as entradas e estavam prontos para matar aquele
filho da puta quando, de repente, balas perfuraram suas cabeças.
Seus corpos caíram silenciosamente no chão imaculado da loja, me
fazendo perceber que tinha acabado de cair em uma armadilha.
E então, o filho da puta apareceu de uma das entradas mencionadas, sua
mão segurando uma pistola GSh-18. Em seu rosto havia um largo sorriso de
satisfação, e eu só podia me perguntar por que ele parecia tão satisfeito com o
que estava acontecendo.
Claro, ele matou alguns dos meus homens, mas ainda havia muitos de
nós no shopping e, no que me dizia respeito, ele não tinha chance de pedir
reforços, a menos que quisesse levar uma bala na cabeça agora.
Contemplei meus homens mortos nas entradas dos fundos da loja de
roupas, jurando que vingaria suas mortes também. Iakov não tinha chance de
escapar do shopping.
– Você cometeu o pior erro da sua vida vindo aqui, Iakov – rosnei,
desejando poder puxar o gatilho agora e acabar com essa loucura.
– Ah, mas acho que não. – Ele sorriu, e era o sorriso mais perverso que
eu já tinha visto em seu rosto. – Eu sabia que você viria. Você pensou que eu
não tinha ideia de que você mantinha vigias na cidade?
Mordi meu lábio inferior. – Qual é o seu jogo, então?
– Só para ver se você pode me vencer em uma luta justa de um contra
um. Acha que tem o que é preciso para me matar dessa maneira?
Eu sabia que ele era louco, e então, ele tinha que ter outra coisa debaixo
da manga. – Você acha que eu sou estúpido? No momento em que eu abaixo
minha arma é o momento em que você me mata.
– Eu acho que você é um monte de coisas, mas certamente não é
estúpido. Eu só estava desejando que pudéssemos ter uma briga normal sem
ninguém interferir. Meus homens não farão nada.
Eu zombei. – Desculpe, mas isso não vai acontecer.
Eu puxei o gatilho, e ele também. Sua bala chiou a alguns centímetros
do meu rosto, e eu pensei que o ouvi grunhindo. Talvez eu o tinha acertado,
mas a loja estava muito escura para saber, e agora, eu não tinha ideia de onde
ele foi. Ele estava escondido atrás de algumas araras de roupas, tinha que ser.
– Acabou, Iakov. Eu não vou cair em uma de suas brincadeiras.
– Que pena. – Sua voz soava como se estivesse vindo de todos os
lugares ao mesmo tempo. – Eu esperava que pudéssemos descobrir quem é o
melhor lutador.
– Estou farto de você – eu disse antes de atirar novamente, a bala
atingindo uma placa de madeira na recepção. Eu tinha ouvido o barulho dele
se movendo atrás dela, mas parecia que tinha me enganado. Iakov estava
brincando comigo agora, e ele estava agindo como se fosse uma cobra.
Ele estava se movendo ao meu redor e atrás das araras de roupas. Como
ele estava fazendo isso sem fazer nenhum barulho?
Eu me acalmei e pensei nisso. Iakov estava com medo. Ele sabia que se
eu o visse novamente, ele estaria praticamente morto.
Andei por um pequeno corredor de araras de roupas quando, de repente,
algo colidiu contra mim e me fez cair no chão. Minha metralhadora
escorregou para longe de mim e parou quando colidiu contra a recepção da
loja.
Virei minha cabeça para o que colidiu contra mim e não fiquei surpreso
quando encontrei Iakov. Ele estava bem em cima de mim, me prendendo no
chão, e ele estava trazendo seu punho para me socar. Ele sorriu quando jogou
seu punho fechado contra mim.
Eu não tinha ideia do que aconteceu com sua pistola, mas imaginei que
ele devia tê-la perdido quando pulou para fora do caminho do meu
tiro. Parecia que ele ia conseguir a briga que ele estava desejando, e o
problema para mim era que eu estava em grande desvantagem.
Seu punho caiu como um trovão na direção do meu rosto, e eu movi
minha cabeça rapidamente para o lado antes que pudesse me acertar.
Ele puxou o punho para trás apenas momentos antes de bater no chão de
azulejos, e então alargou seu sorriso quando ele tentou me socar novamente.
Inclinei minha perna e dei um chute com o joelho em sua parte inferior
das costas, seu rosto fazendo uma careta. Perfeito. Isso o machucou.
Eu o empurrei com força e o fiz cair no chão. Iakov se levantou em um
instante quando fiz o mesmo, e então ele tentou me socar mais uma vez.
Saí do caminho e tentei socá-lo, mas ele era muito ágil. Ele se moveu
para o lado tão rapidamente que o meu soco cortou apenas o ar.
Ele caminhou para trás alguns metros, suor se formando em sua
testa. Ele então inclinou a cabeça um pouco para trás e sorriu. – Eu sabia que
você era um bom lutador.
– Eu não estou aqui para brincar com você. Venha até mim. Vou ensinar
como é realmente lutar mano-a-mano.
E ele o fez, correndo para mim tão rápido que tive muito pouco tempo
para reagir. Ele era muito mais rápido do que eu pensava.
Eu coloquei meu braço onde seu punho iria me socar, mas ele mudou a
direção de seu punho e atingiu a linha média do lado do meu torso, me
fazendo sentir uma pontada de dor que parecia que alguém tinha acabado de
me perfurar.
– Maldito! – Eu disse com os dentes cerrados, me afastando dele o mais
rápido possível.
Eu pensei que ele viria me dar um soco de novo imediatamente, mas ele
ficou onde estava, seu sorriso substituído pela sua expressão de arrogância. –
Não me decepcione. Achei que você fosse um dos melhores dos Popov.
– Eu vou te matar agora – eu jurei antes de jogar meu braço contra ele,
mas ele se esquivou tão facilmente, como se o mundo tivesse desacelerado.
E quando pensei que poderia consertar o erro que acabei de cometer, ele
me deu um soco com toda sua força no meu estômago, fazendo-me agarrá-lo.
Eu não podia acreditar na força que ele tinha, apesar de sua construção
magra. Achei que poderia dominá-lo com minha força.
Eu tinha que ter o dobro do peso dele e eu era alguns centímetros mais
alto, afinal. Parecia, porém, que essas coisas estavam jogando contra mim
agora.
Ele estava bem na minha frente e poderia me socar por toda a eternidade
se quisesse. – Você é muito lento – brincou ele, sua voz calma e serena. –
Você deveria ter se exercitado menos na academia e focado mais em como
você luta.
Pensou que poderia me vencer em uma luta justa facilmente? Bem,
agora vou te ensinar que isso não é possível.
Eu ia socá-lo bem na barriga quando ele colocou o braço sobre a sua
cabeça e bateu o cotovelo na minha testa com toda a força, fazendo o mundo
ao meu redor ficar borrado. Senti meus joelhos enfraquecerem enquanto
minhas pernas vacilavam e, alguns segundos depois, eu estava ajoelhado na
frente dele.
A dor na minha cabeça era demais, e eu estava lutando apenas para
permanecer consciente. Eu não conseguia mais me mover um centímetro.
Iakov caminhou até sua arma, que estava no chão a alguns metros de nós
o tempo todo. Ele não a perdeu de vista. Ele tinha se posicionado perto dela
esse tempo todo, caso precisasse usá-la. O filho da puta não estava me
levando a sério.
Ele era tão confiante e eu me odiava tanto por não ser capaz de fazer
nada agora. Achei que tinha ele onde queria. Eu não tinha ideia de que ele
lutava tão bem corpo a corpo.
Consegui mover minha mão apenas o suficiente para tirar meu telefone
do bolso e liguei para o número de Abram.
Ele ia descobrir o que estava acontecendo e que eu precisava de sua
ajuda, e talvez ele chegasse aqui antes que fosse tarde demais.
Deixei meu telefone cair no chão no momento em que Iakov pegou sua
arma e estava se virando para caminhar de volta até mim. Ele então apontou
sua pistola e disse – Acho que vou terminar isso agora. Foi bom conhecer
você, Marat.
Eu não tinha ideia se Abram conseguiria chegar aqui a tempo, e Iakov
estava a um instante de puxar o gatilho. Era isso, não era? O momento em
que eu ia morrer e tudo o que eu tinha feito seria em vão...
Sinto muito, Mila e Artur. Eu falhei com vocês. E lamento, Natalie, por
não poder voltar vivo e inteiro.
Eu exalei e então, eu o ouvi puxando o gatilho.
Capítulo 12
Natalie

O enorme relógio, que era maior do que eu e parecia ameaçador, fazia


aquele som reconfortante que só relógios como ele faziam. Tique-taque,
tique-taque. E dentro da mansão, havia apenas silêncio. Quando Marat foi
atrás de Iakov, o sol estava quase se pondo. Agora, havia apenas uma
escuridão assustadora lá fora. Não havia sequer uma lua no céu. Apenas
nuvens e mais escuridão.
Eu estava sentada em um sofá na sala, minha cabeça apoiada nas costas
da minha mão, e eu estava pensando.
Se alguém viesse aqui e me visse assim, pensaria que eu estava tendo a
mais longa batalha de pensamentos da minha vida, e ele ou ela não estaria
muito errado.
Estava pensando em Marat e, apesar de já ser uma da manhã, não
conseguia dormir. Até que ele estivesse de volta aqui são e salvo, eu estaria
pensando nele e desejando que nada de ruim estivesse acontecendo com ele.
Suspirei e me remexi no sofá, esticando minhas pernas. Eu não podia
acreditar que ele estava demorando tanto para voltar para casa. Achei que sua
nova missão seria simples. Ele pareceu tão confiante que poderia terminar sua
missão com o mínimo de baixas.
O tempo que ele estava demorando para voltar só podia ser um sinal
muito ruim, e me peguei desejando poder fazer alguma coisa. Eu deveria ser
capaz de fazer algo para ajudá-lo, certo?
Levantei-me e fui até um de seus homens, que estava estacionado do
lado de fora da porta da frente. Ele olhou para mim sem expressar nada em
particular. Limpei a garganta e perguntei – Você sabe o que aconteceu com
Marat?
Ele sacudiu sua cabeça. – Não faço ideia, mas não há motivo para se
preocupar. Ele estará de volta em breve.
Olhei para fora da mansão, caminhei ao redor dela para passar um pouco
de tempo, e depois voltei para dentro. Justo quando me sentei no sofá, ouvi os
pneus de veículos cantando do lado de fora.
Corri para o lado de fora da mansão e encontrei todos os SUVs que
tinham ido ao shopping, e de um deles Marat estava sendo retirado.
Ele estava sendo carregado, e três homens o estavam levando para mim.
Suas roupas estavam ensanguentadas e seus olhos estavam fechados. Eu
não tinha ideia se ele estava vivo e respirando, e eu senti meu coração
acelerar tanto enquanto uma confusão de pensamentos inundava minha
mente. Cobri minha boca com a mão para abafar um grito.
Passei de preocupada a chocada em questão de segundos, e vê-lo
derrotado assim me fez pensar o pior. Eu estava pensando que foi tudo por
nada, que foi uma armadilha, e que agora ele estava sendo carregado para
mim como um homem morto.
Eles abriram o portão da frente e pude notar algumas coisas novas sobre
o que aconteceu. Havia um buraco em seu torso, e estava alguns centímetros
abaixo de onde deveria estar seu coração.
Sangue escorria de seu corpo, e comecei a me perguntar se ele foi
baleado mais de uma vez.
A única coisa que me impediu de desmaiar agora foi uma contração de
seu dedo indicador que acabou de acontecer. Ele não estava morto, e havia
uma chance de ele sobreviver... certo?
Marat parecia ter atravessado o inferno e depois voltou para casa quase
morto. Abram era quem conduzia os homens que o carregavam. Eles vieram
até mim e disseram – Prepare a cama. Vou chamar os médicos.
Corri para o quarto e tirei os cobertores, deixando apenas o lençol
branco. Eles entraram pela porta aberta logo em seguida e, sob a luz do
quarto, pude entender melhor como estava.
Ele não foi apenas baleado, mas também espancado. Eu podia ver os
hematomas em seu rosto, pescoço e braços. O que aconteceu lá?
Havia muito pouco tempo para pensar sobre isso, então fui
imediatamente para Marat quando o colocaram gentilmente em sua cama. O
lençol branco estava em um instante sujo com seu sangue, e eu não sabia
como agir agora.
Abram tinha colocado o telefone no ouvido e estava ligando para os
médicos, como disse que faria. Ele então encerrou a ligação e disse – Não
posso levá-lo a um hospital. Ele iria para a cadeia se eles soubessem sobre o
que aconteceu lá. Esses médicos trabalham para nós e vão ficar de boca
fechada.
Ele parecia preocupado, mas ainda reuniu força suficiente para colocar a
mão trêmula no meu ombro. – Vou garantir que ele receba o melhor
tratamento possível.
Eu balancei a cabeça, e isso era praticamente a única coisa que eu podia
fazer agora. Isso e olhar para Marat enquanto esperava que ele fizesse uma
recuperação milagrosa.
Alguns de seus homens vieram até mim, me pediram para dar-lhes
algum espaço, e eles fizeram o possível para enfaixar Marat e impedir que
seu sangue continuasse saindo.
Marat mal conseguia respirar. Ele estava respirando tão devagar e
alto. A sala estava uma bagunça, e homens entravam e saíam dela, cada um
dizendo coisas que eu não conseguia entender. Minha compreensão de russo
ainda era muito limitada. Marat tinha muito a me ensinar quando acordasse
novamente.
E ele acordaria e voltaria ao seu antigo eu, certo?
Agarrei sua mão e a acariciei, os segundos passando até que a sala ficou
mais calma. Ainda havia alguns de seus homens indo e vindo para examiná-
lo e os segundos estavam passando tão lentamente. Quando os médicos
finalmente chegariam?
Olhei para ele como se não pudesse acreditar no que estava acontecendo
e no que tinha acontecido. Marat parecia tão pronto para enfrentar Iakov, que
agora eu odiava tanto que queria estrangulá-lo com minhas próprias mãos.
Estrangulá-lo e fazê-lo implorar por sua vida, seu rosto ficando
vermelho, seus olhos esbugalhados, sua língua saindo e seus pulmões
respirando uma última vez antes que a vida desaparecesse dele.
E eu não me esquivei desses pensamentos. Eu queria sangue agora, e
tinha que ser dele. Iakov era um homem morto e, independentemente do que
acontecesse agora, eu vingaria Marat. Ele não merecia isso. Ele era um bom
homem, e meu marido também.
Tique-taque, tique-taque que seu relógio fazia repetidamente. Era outro
relógio antigo, e no mercado podia ser vendido por um preço bem alto.
Eu estava ficando impaciente por os médicos não estarem aqui, meu
coração cultivando um ódio incontrolável por Iakov, quando a porta se abriu
pela enésima vez esta noite e entraram homens vestidos com jalecos brancos.
Ah, finalmente. Eles eram os médicos.
Um deles, que era um homem alto com cabelo escuro e curto, fez um
gesto com a mão para que eu saísse da sala. Eu não o obedeci inicialmente,
mas então Abram veio até mim, colocou a mão no meu ombro e me tirou da
sala.
– Eles são alguns dos melhores aqui em Kazan. Eles vão salvá-lo.
Olhei para Marat por cima do ombro, notando os médicos pegando suas
coisas e parecendo prontos para realizar uma operação difícil em meu
marido. Eu então olhei de volta para Abram e sua expressão séria acabou me
convencendo.
– Ok. Vou confiar em você, não neles. Espero que eles o salvem.
– Eles vão – disse ele antes de se encostar na parede perto da porta. Ouvi
os médicos fazendo suas coisas dentro do quarto, e também me encostei na
parede, embora do lado oposto da porta.
Abram pegou um de seus cigarros, acendeu-o e depois deu uma
tragada. Ele pegou outro, ofereceu para mim, mas eu acenei com a mão,
recusando. – Eu não fumo, e Marat não gostaria que eu começasse a fumar
agora.
Ele assentiu e guardou o cigarro de volta no maço. Ele fumou por algum
tempo no corredor antes de dizer – Preciso de um pouco de ar fresco
– Eu vou ficar por aqui.
Ele saiu e caminhou até a varanda no segundo andar. Eu o vi acendendo
outro cigarro e fumando sob a luz da lua. Essa era sua maneira de lidar com o
que estava acontecendo.
Eu gostaria de ter um mecanismo de enfrentamento melhor do que
imaginar Iakov morrendo da maneira mais horrível possível, e eu nem o
conhecia.
Outro relógio antigo de parede continuava fazendo seu tique-taque,
tique-taque enquanto eu ouvia o som dos médicos falando em russo entre si e
eles entrando e saindo do quarto. O que eles estavam dizendo? Eles achavam
que Marat ia voltar?
Cruzei os braços sobre o meu peito e fechei os olhos. Eu precisava
pensar nos sons ao meu redor, focar nas pequenas coisas e encher minha
mente. Eu não podia ficar nervoso o tempo todo. Eu precisava pensar
claramente sobre o que aconteceu e o que isso significaria para nossa vida.
Acima de tudo, eu precisaria intervir e liderar uma missão de
vingança. Talvez eu não tivesse a ajuda de ninguém, mas precisava ser feito
de qualquer maneira.
Justamente quando eu pensei em ir tomar um copo d'água, a porta se
abriu e o mesmo médico de cabelos escuros de antes se voltou para mim.
– Eu não falo russo – eu disse a ele em russo, que era basicamente a
única frase completa que eu conhecia na língua deles.
Ele abriu a boca para dizer mais alguma coisa quando corri para a
varanda do segundo andar, onde Abram ainda estava fumando. Abri a porta e
quando ele se virou, eu disse – O médico quer falar com você.
Ele jogou o cigarro ainda aceso no chão, pisou com o pé e correu para o
médico. Eles conversaram em russo e, mais uma vez, não entendi
nada. Nunca antes desejei tanto conhecer a língua deles.
O médico abriu totalmente a porta e os outros médicos estavam tirando
as máscaras e as luvas ensanguentadas. Eles me olharam como se não
soubessem o que dizer, e isso me deixou ainda mais preocupada.
Deixei Abram falar, e todos os médicos conversaram com ele. Eu
desejava tanto saber o que eles estavam dizendo, mas só conseguia distinguir
algumas palavras e frases simples aqui e ali.
– … ele não está nada bem…
– … vai ser difícil para ele, me desculpe…
– … merda, o que eu vou fazer…
Continuei andando na frente deles, roendo as unhas. Quando eles
finalmente terminaram de falar, Abram se virou para mim e disse – Acho
melhor você se sentar.
– Vou me sentar bem aqui, ao lado dele.
Ele olhou para mim e depois para Marat, seus olhos ficando tão
tristes. Ele se sentou comigo do outro lado da cama. Suas mãos estavam
entrelaçadas entre as pernas, sua postura curvada. Ele estava olhando para o
chão, talvez pensando em como iria me dar a notícia.
Ele finalmente abriu a boca e, embora ainda não ousasse olhar nos meus
olhos, proferiu – Marat tomou um tiro na região superior do estômago e
alguns órgãos foram perfurados.
Ele está vivo e estável, por enquanto, mas eles não sabem quando… ele
vai sair do coma.
Coma. Por um momento, não consegui compreender a palavra. Era
como algo que veio das sombras e não tinha forma. Tudo o que eu sabia era
que era ruim e a pior coisa que poderia ter acontecido com ele.
Quantas pessoas já saíram de um coma?
A percepção, o peso da revelação e a palavra em si fizeram meu corpo
sentir mais frio. Senti falta de ar, como se estivéssemos ficando sem
oxigênio. Desta vez fui eu que olhei para o chão de madeira, sem acreditar no
que os médicos diziam a Abram. Eu deveria estar agradecida por eles terem
vindo aqui o mais rápido que podiam e feito o seu melhor, mas eles não
foram capazes de salvar completamente Marat.
Senti meu coração bater tão devagar agora. Eu não podia acreditar que
meu marido não só iria acordar esta noite, mas também possivelmente nos
próximos dias, semanas, meses ou anos também. E ele... ao menos acordaria?
Não saber a resposta para essa pergunta me fez sentir tão perdido e
desesperado.
Eu precisava de um pouco de ar fresco. Eu me levantei e saí da sala,
nem mesmo me preocupando em reconhecer as palavras de Abram.
Ele estava me dizendo algo sobre acreditar em Marat e que ele era um
homem forte, mas eu não conseguia me concentrar em suas afirmações
agora. Senti como se fosse sufocar.
Abri a porta da varanda com força e ofeguei, sentindo o ar fresco
tentando entrar, mas era como se duas paredes nas minhas narinas o
estivessem impedindo. Olhei para o céu e quase pude ver as estrelas em
espiral fora de controle.
Eu pensei que ia desmaiar, minhas mãos agarrando a parede da varanda,
quando uma mão pousou no meu ombro. Girei nos calcanhares e encontrei
Abram. Ele parecia sério e tinha mais algumas coisas para me dizer.
E isso ele fez, não apenas me confortando, mas também me dando uma
nova direção.
Até que Marat acordasse.
Capítulo 13
Natalie

Eu soquei sua mão aberta e chutei o lado de sua coxa, suor escorrendo pelo
meu queixo. Eu soquei e chutei um pouco mais, fingindo que não era Abram
na minha frente, mas Iakov. Eu precisava matá-lo, e isso eu faria.
Ele estava tão confiante. Agora que fizera o que fizera com Marat,
tornara-se menos cauteloso. Ele aparecia aqui às vezes para tirar sarro de nós,
nos provocar e fingir que entraria na mansão para matar a todos nós.
Ah! Ele poderia tentar isso, mas não sairia vivo. Disso eu tinha
certeza. Eu estava sendo treinada e me preparando para matá-lo.
Eu dei um soco nas palmas abertas de Abram e chutei suas pernas ainda
mais. Seu rosto se encolhia cada vez que eu batia nele. Boa. Isso significava
que eu estava indo bem e, portanto, não demoraria muito até que eu estivesse
pronto.
Eu não era nada mais do que uma Youtuber fracassada e agora estava
me tornando uma assassina. Eu só precisava matar meu primeiro alvo, e seria
Iakov. Eu derramaria seu sangue em Kazan.
Eu soquei a palma aberta de Abram mais uma vez e ia dar um soco na
outra mão quando ele a agarrou com firmeza, me fazendo parar. Seus olhos
sérios olharam nos meus e ele disse – Hora de descansar. Você está se
esforçando demais.
– Eu não me importo – rosnei antes de socar sua outra palma, e ele fez o
mesmo de antes.
– Olhe para mim, Natalie.
Recusei-me a olhar para ele e senti raiva crescendo dentro de mim. –
Olhe para mim! – Ele repetiu tão alto que sua voz ecoou na sala.
E eu olhei para ele. Olhei em seus olhos e esperei que ele pudesse
compreender quanta raiva eu estava sentindo agora.
Eu estava com raiva o suficiente para estrangular Iakov e fazê-lo
implorar como uma criança por sua vida.
E pensei em algo que não deveria. Seu sangue saindo de seu pescoço
dilacerado, seus olhos ficando sem vida, seu rosto pálido... Eu precisava fazer
essas coisas acontecerem.
– Eu tenho apenas uma missão, Abram.
– Eu sei, mas você não vai conseguir matá-lo sem ser inteligente sobre
isso, e ser inteligente agora é saber quando descansar também.
Lentamente, retirei um dos meus punhos de sua mão, e então fiz o
mesmo com o outro. Ele deixou seus braços caírem para os lados de seu
corpo e exalou. Seus olhos me examinaram. – Você vai ficar bem?
– Sim – eu disse antes de abrir uma garrafa e engolir um pouco da água.
Eu ia sair da sala de treinamento quando ele agarrou meu braço e olhou
nos meus olhos. – Você sabe que eu o quero morto tanto quanto você.
Não era uma pergunta, mas uma afirmação. Ele me contou sua história e
como se juntou à facção dos Popov. Eu me conectei com ele quando ele abriu
seu coração para mim, e naquela época eu não era nada mais do que uma
estranha para ele que morava com Marat.
– Eu sei. Não se preocupe. Não vou fazer nada estúpido.
◆◆◆

O relógio anunciou meia-noite, e eu suspirei. Havia algo nesses


documentos e planos que poderia me ajudar a acabar com aquele filho da
puta de uma vez por todas?
Olhei para o calendário na mesa de Marat e pensei em quanto tempo ele
já estava em coma. Um mês, e ainda estava contando.
A cada dia eu odiava Iakov mais intensamente. Não demoraria muito até
que eu o odiasse tanto que eu teria que ir até ele, independentemente do quão
louco isso seria.
Sim, eu ainda não estava pronta, mas o que mais eu poderia
fazer? Estudar esses documentos para pensar em um bom plano para chegar
até ele enquanto ele estivesse sozinho dentro de seu esconderijo era quase
impossível.
Poderíamos criar algum tipo de diversão, dividir os Vory e matá-lo
dessa maneira, mas não haveria garantia de que funcionaria.
Sobre a mesa, ao meu lado, estava uma foto de Marat e de mim quando
nos casamos. Quando nos beijamos, para ser mais preciso. Seus lábios nos
meus naquele dia pareciam especiais, e eu não pude deixar de olhar para o
meu anel de casamento no meu dedo.
O silêncio enervante em seu escritório me lembrou dos dias em que vim
aqui antes de nos casarmos apenas para beijá-lo. Eu só estava tentando
descobrir como ele era. Ele era o homem com quem eu me casaria e com
quem viveria o resto da minha vida, afinal.
Parecia ter acontecido em outra vida.
Coloquei os documentos e planos de volta no armário e nas gavetas, e
então saí de seu escritório. Entrei em nosso quarto e havia uma enfermeira
nele. Ela estava verificando seu pulso.
Ela falava inglês e era basicamente a única da equipe médica com quem
eu conseguia me comunicar adequadamente. Afinal, eu ainda estava
aprendendo a língua russa.
– Ele está bem. Nenhum progresso, no entanto.
– Obrigada. Você poderia nos dar um pouco de privacidade?
– Claro – disse ela antes de tirar a máscara e sair da sala, fechando a
porta atrás dela.
Sentei-me ao lado dele e acariciei sua bochecha. Sua barba cresceu um
pouco, e era muito densa e cheia.
Vê-lo assim só trouxe tristeza ao meu coração. Ele era tão alegre e cheio
de vida antes. Ele não conseguia parar de fazer todo tipo de coisa, sempre
ocupado com tudo. Abram era bacana, mas não era Marat, e eu também
sentia falta das nossas noites sujas.
Acariciei sua testa e disse a ele – Sinto sua falta, Marat. Sinto sua falta
todos os dias. – Eu sabia que ele provavelmente não estava ouvindo, mas
havia algo melhor que eu pudesse fazer?
Eu desejei e esperei que ele me desse um sinal – qualquer sinal – de que
ele ainda estava lá, mas ele permaneceu imóvel. Ele estava quase morto. Eu
me perguntei se ele estava sonhando com alguma coisa e se eu fazia parte
disso. Eu deveria ser, certo?
Ele me amava tanto, e agora, ele estava assim.
Eu não tinha ideia se conseguiria, mas mesmo assim disse – Vou matá-
lo. Você apenas espera mais um pouco. Vou vingar o que ele fez com você.
◆◆◆

Apertei o gatilho e atingi o meio do alvo no pequeno campo aberto da


casa. Este era o nosso novo campo de treinamento para tiro. Em minhas mãos
eu tinha uma SKS, e era uma obra de arte. Muito poderosa, e um tiro dela, se
atingisse a parte certa de uma pessoa, poderia matá-la em um instante.
No alvo estava o desenho que fiz de Iakov. Eu não sabia como era seu
rosto, mas Abram sim. Ele me contou como ele era e também tinha algumas
fotos dele empoeiradas e de baixa qualidade. Eu precisava ver e lembrar
daquele rosto. Esse era o rosto do homem que eu logo mataria.
– Você está fazendo um progresso incrível, Natalie – Abram comentou
depois de se levantar e caminhar até mim. – Apenas certifique-se de manter
essa coronha em contato com seu ombro o máximo que puder ao puxar o
gatilho.
– Eu sei, obrigado – eu disse, lembrando minhas sessões de treinamento
com meu marido novamente.
Apontei minha SKS mais uma vez e puxei o gatilho, a bala indo até o
alvo e atingindo o meio dele, onde estava a boca de Iakov.
Baixei a espingarda. – Deveria ter colocado o cérebro dele no meio do
alvo. Teria tornado este treinamento muito melhor.
Ele riu. – Vou pegar outro alvo de madeira como esse e você poderá
fazer o desenho que quiser.
Apontei a SKS e atirei novamente, atingindo o mesmo ponto mais uma
vez. – Droga, você está ficando tão boa nisso que se tornará nossa melhor
atiradora em breve.
Dei-lhe um sorriso de lábios apertados e entreguei-lhe o rifle, minha
mente mal consciente do calor do sol no meu pescoço. – Então, quando
vamos matar Iakov?
– Em breve. Estou desenvolvendo um plano e acho que vai funcionar.
Capítulo 14
Natalie

Deitei no telhado do prédio e apoiei meu rifle sniper SVU na mureta que
separava o prédio de todo o resto. Olhei pela mira e encontrei o esconderijo
de Iakov. Havia luz vindo de um quarto no topo, mas fora isso, o lugar
parecia deserto e silencioso.
Mas eu sabia que não era a verdade. Eles tinham muitos homens lá, e
precisávamos ter certeza de que isso funcionaria.
Meses se passaram desde que Marat entrou em coma, e eu não poderia
deixar de fazer isso. Abram precisava de mim para fazer isso funcionar, para
acabar com a tirania de Iakov, e eu não falharia com ele.
Ele se deitou no telhado também e colocou seus binóculos na frente de
seus olhos. – Ele ainda está dentro do prédio, mas não por muito tempo.
– Você acha que ele vai sair?
– Ele vai. Eu sei o tipo de homem que ele é. Ele gosta de estar no meio
de confusões.
Abram pegou seu rádio de curto alcance e perguntou – Vlad, está tudo
pronto?
Não ouvi o que ele disse, mas Abram não parecia satisfeito. – Bem,
então faça isso. Não deixe que nada atrapalhe.
Ele colocou o rádio de volta no coldre da cintura e eu perguntei: – Está
tudo bem?
– Sim, só tenho que ir lá para ajudá-los.
Ele se levantou e acrescentou – Continue espionando-os usando a
mira. Quando ele aparecer, não perca a oportunidade. Puxe esse gatilho.
Eu assenti. Eu ajustei minha cabeça para que eu pudesse olhar pela
luneta novamente, e continuei a examinar a situação.
Não havia chance de eu perder minha oportunidade de acabar com a
vida dele, mesmo que isso parecesse um anticlímax. Eu preferiria matar
Iakov com minhas próprias mãos em uma luta justa, afinal.
Mas não era momento para ficar pensando assim. Este era o melhor que
eu tinha por enquanto.
Esperei alguns minutos até que uma explosão soou não muito longe de
mim, fazendo pessoas gritarem e algumas fugirem o mais rápido que
podiam. Ouvi gritos de pessoas alegando que era um ato terrorista e que isso
era o fim do mundo.
Eu não me senti má por eles, no entanto. Antes do eu atual, eu
provavelmente estaria fazendo o mesmo, mas agora eu era uma pessoa
diferente. Havia apenas duas coisas que importavam para mim agora, e essas
eram matar Iakov e trazer Marat de volta para mim.
Luzes acenderam dentro do esconderijo de Iakov e eu vi o portão sendo
aberto. SUVs pretos saíram, mas não vi nenhum sinal do próprio. Ele estava
em um dos SUVs? Imaginei que sim, considerando o que Abram me contou
sobre ele. Ele gostava de se meter no meio de qualquer confusão.
Ele era o tipo louco de líder. Ele não se importava com o bem-estar de
seus homens, desde que estivesse se divertindo.
Usando a luneta da minha SVU, segui os grandes veículos enquanto eles
entravam em outra estrada, e depois outra e mais outra, indo na direção do
grande incêndio e da fumaça preta. O que quer que Abram tinha feito, parecia
que estava funcionando.
Eu sorri. Iakov simplesmente não podia ignorar aquela explosão tão
perto de seu esconderijo, podia?
Os SUVs pararam e deles saíram homens vestindo camisas escuras e
calças brancas, que era o traje comum dos Vory. Procurei e procurei
novamente por Iakov, mas não o encontrei. Não havia nenhum homem com
seu rosto.
Merda. Poderia ser que Abram não sabia tanto assim sobre Iakov?
Medo e irritação cresceram dentro de mim. Eu não podia perder essa
oportunidade, e Iakov tinha que aparecer de uma forma ou de outra. Eu não
poderia viver mais um dia sabendo que meu marido estava em coma por
causa dele.
Esperei um pouco mais. Seus homens averiguaram as chamas altas e
caminharam ao redor de sua fonte, tentando descobrir o que aconteceu.
E então, os homens de Abram começaram a abrir fogo contra eles. Eles
deviam ter percebido que Iakov ainda não tinha saído, e agora estavam
tentando consertar isso de alguma forma.
Olhei para o prédio através da mira do rifle de precisão, minha mente
mal prestando atenção na aspereza do material do telhado em minha pele
macia. A lua estava alta no céu e algumas estrelas eram visíveis, mas sua luz
estava esmaecida, graças à poluição do ar.
O portão principal do prédio foi aberto mais uma vez, e dele saiu outro
SUV preto. Esse tinha que ser de Iakov. Eu o segui com minha mira até que
ela parou a um quarteirão da batalha que se seguiu.
Dela saiu um homem que não reconheci, e depois outro e mais
outro. Achei que alguém ia sair e que desta vez tinha que ser Iakov, mas
nenhuma outra porta se abriu, e os homens que já haviam saído estavam indo
em direção ao conflito armado.
Porra. Isso estava demorando muito, e eu não podia esperar muito mais.
Peguei meu rádio de curto alcance e liguei para Abram. – Abram, eu
preciso falar com você – eu disse de novo e de novo, mas ele não
respondeu. Houve apenas silêncio do seu lado.
Desliguei o rádio e o coloquei de volta no coldre, grunhindo. Olhei pela
mira, examinei o prédio e também o conflito que se seguia não muito longe
dele.
Então me levantei e coloquei o rifle sniper de volta na caixa. Eu não
tinha ideia do que estava acontecendo, mas não ia ficar aqui sem fazer nada
enquanto os homens de Abram e Marat arriscavam suas vidas.
Eu precisava ser útil também e, acima de tudo, precisava encontrar
Iakov.
◆◆◆

Pelas ruas escuras e movimentadas, não andei, eu cacei. Minha mente


estava focada em apenas uma coisa. Eu precisava matar Iakov, e ele não ia
escapar de mim. Evitei as pessoas que estavam fugindo do tiroteio. Eu
realmente não sentia pena delas.
Cheguei ao esconderijo de Iakov e me escondi atrás do muro que o
protegia. Acalmei meu coração acelerado depois de me apoiar na parede até
poder ouvir melhor o que estava acontecendo lá dentro.
A parede era alta, mas nada que um pouco de criatividade não
resolvesse. Era por isso que eu tinha este C4. Se ele estava pensando que uma
parede como esta iria me impedir de entrar, logo ficaria chocado.
Eu sabia que a explosão chamaria a atenção, mas fui ágil e ligeira. Eu
poderia subir ao topo do prédio em pouco tempo e estar lá com ele antes que
ele pudesse sacar sua arma. Afinal, os homens de Marat, incluindo Abram,
sempre ficavam impressionados com minha velocidade.
Eu entendia os riscos de estar fazendo isso. Isso poderia muito bem
falhar, mas eu estava focada e determinada. Eu não sairia daqui de mãos
vazias depois de usar a única estratégia que tínhamos para atraí-lo. Isso não
funcionou e, portanto, tinha que chegar até ele por meio dessa estratégia.
Plantei o C4 no prédio e me distanciei dele. Os segundos se passaram, e
então, explodiu, abrindo um buraco na parede e alçando muita fumaça.
Perfeito. A fumaça impediria que seus homens me vessem chegando.
Além disso, muitos de seus homens realmente foram lá para lutar contra os
caras de Marat. Eu podia alcançar o meu objetivo sim.
Rapidamente entrei no quintal do prédio e me impulsionei para o último
andar, escalando as varandas. Homens dentro e fora do prédio gritaram em
russo, obviamente preocupados com a nova explosão.
Eu sorri. Era bom jogá-los em desordem. Talvez Iakov finalmente saísse
agora para verificar o que estava acontecendo tão perto de seu esconderijo.
Subi até a última sacada e me escondi atrás da parede cuja porta de vidro
dava para o interior da sala adjacente.
Controlei minha respiração e pensei por alguns segundos sobre qual
deveria ser meu plano a partir de agora.
Preparei minha pistola. Isso tinha que ser rápido e cirúrgico se eu
quisesse sair daqui viva.
Rapidamente, entrei no quarto e o encontrei vazio. A luz estava acesa e
era a sala que eu tinha visto antes pela luneta, mas não havia ninguém nela.
Que porra. Onde estava...
Algo pesado e rápido me atingiu na cabeça de repente, causando-me
tanta dor que gritei. – Ahhh, você é a mulher dele. Quem poderia ter pensado
que você seria louca o suficiente para vir aqui para me matar. Bem, isso não
vai acontecer mais.
Fiquei de joelhos e olhei para trás, encontrando-o. Iakov se escondeu
atrás da parede perto da sacada, por isso não consegui vê-lo antes que fosse
tarde demais, e então ele me deu um golpe na cabeça com o cabo de sua
pistola.
Eu resmunguei e tentei apontar minha pistola para ele, mas ele a chutou
da minha mão, quebrando uma das minhas unhas.
– Desgraçado! – Eu gritei antes de pular em direção à pistola e rastejar
até ela, mas Iakov já estava pisando na parte inferior das minhas costas, me
prendendo no chão.
– Não tão rápido, querida. Você deveria saber melhor do que vir aqui
sozinha.
Homens arrombaram a porta, e eles eram dele. Em seus rostos havia
diferentes expressões de preocupação e confusão.
Iakov acenou com a mão com a arma para eles e disse – Não precisam
se preocupar, rapazes. Tenho isso sob controle. Ela é a esposa de
Marat. Vocês acreditam que ela veio aqui sozinha para me matar?
Eles riram e um deles perguntou – Você quer que a gente ajude?
– Não há necessidade. Quero fazer essa cadela sofrer antes que ela
morra.
Ele pisou no meu traseiro, me fazendo gritar de dor. Lágrimas
começaram a rolar por uma das minhas bochechas. Eu estiquei minha cabeça,
olhei para ele e encontrei seus olhos jubilosos. Olhos frios, mas felizes. Ele
tinha o olhar de um assassino.
Ele segurava sua pistola preguiçosamente em sua mão, sua coxa
apoiando seu braço, e seu desejo de me atormentar ficou mais intenso a cada
segundo. Eu tinha que sair daqui, mas como?
Ele bateu sua arma perto de seu olho direito, pedindo-me para olhar para
ele sem piscar. E eu não pisquei, embora não fosse porque eu o estava
obedecendo agora. Eu queria dar uma boa olhada em Iakov antes de matá-lo.
Apesar do que aconteceu e estava acontecendo aqui, esse era o seu
destino. Eu não iria descansar até que eu estivesse arrancando-lhe os olhos
com os meus dedos.
Ele suspirou e disse – Você foi tão estúpida.
E então, ele se abaixou ainda mais, seu rosto tão perto que eu quase
poderia agarrar sua cabeça e torcê-la para quebrar seu pescoço. Se ao menos
eu não estivesse presa no chão pelo peso de seu corpo assim...
– Dê uma boa olhada em mim, princesa – ele adicionou, seu tom calmo,
mas diabólico.
E eu o encarei. Na verdade, eu não parei de encará-lo desde que ele me
jogou no chão com o pé assim.
Ele tinha mais uma coisa para me dizer e queria torná-la impactante. Eu
conhecia aquele olhar em seu rosto. Eu tinha visto algo semelhante tantas
vezes antes na minha vida. Ele não só queria me matar, mas também me
machucar.
E quando ele disse as palavras finais, eu sabia que deveria estar com
medo, mas não estava. Não havia nada nem ninguém capaz de me impedir de
me vingar.
Ele respirou, fechou os olhos e os abriu lentamente, tomando seu tempo
e saboreando sua vitória, apesar da brevidade dela.
Abriu a boca tão devagar e depois, ele finalmente falou – Este é o último
rosto que você verá em muito tempo.
Talvez ele estava pensando que eu estava com medo dele. Eu não
estava. Eu ia suportar tudo o que ele tinha para mim, e eu ia sair dessa viva
com sua cabeça morta em minhas mãos.
E também, com um largo sorriso no meu rosto.
Capítulo 15
Marat

Natalie, onde você está? Fiquei me perguntando isso, mas nunca houve uma
única resposta. Eu pensei ter ouvido a voz dela me chamando às vezes, mas
não podia ter certeza de que isso aconteceu. Eu sentia muita falta dela. Sentia
falta do seu toque suave, da sua vontade de fazer a coisa certa e também dos
nossos treinos.
Algo estava me puxando para fora, ou talvez fosse alguém. Puxando-me
para fora deste estranho plano de existência onde nada e tudo acontecia ao
mesmo tempo. Uma força forte capaz de cortar o mundo ao meio…
Meus olhos se abriram lentamente, e eu pensei ter visto alguma luz. Era
tão brilhante. Fechei os olhos novamente e depois os abri. Eu precisava
acordar, precisava ser meu antigo eu e descobrir o que fazer.
Meus olhos se fecharam, e eu os abri mais uma vez. Ouvia o bipe lento e
metódico de uma máquina. Eu era capaz de ver a geometria da sala em que
estava, e era familiar. Meu quarto. Natalie, meu amor, como sempre. Eu
ainda me lembrava do nosso casamento como se tivesse acontecido ontem.
Meus olhos eram teimosos. Eles não queriam ficar abertos, e eu estava
ficando um pouco irritado com isso. Eu precisava acordar, sair da cama e
matar Iakov. Achei que ele tinha me matado.
Imaginei que agora ele estava pensando que tinha vencido, mas mal
sabia ele que eu voltaria para caçá-lo novamente.
Eu só precisava falar com Abram para fazer isso.
E por falar nele, quando abri os olhos mais uma vez, pensei que tinha
acabado de vê-lo aqui. Estranho. Achei que Natalie estaria aqui.
Era meio-dia, então talvez ela estava do lado de fora, continuando seu
treinamento. Tudo o que eu sabia era que não podia continuar dormindo
assim como se nada precisasse ser feito.
Eu precisava de um bom tapa no rosto para me acordar e uma grande
dose de café.
Senti a beirada da cama ceder um pouco. Alguém se sentou, e eu pensei
ter ouvido uma voz. Eu ouvi de novo, e desta vez, soou mais clara. Ficou tão
clara que agora eu podia distinguir as palavras, e sim, eu conhecia aquela
voz.
Eu conhecia aquele homem, e esse pensamento trouxe um sorriso largo
e de lábios apertados ao meu rosto.
E desta vez, quando abri os olhos, não os deixei fechar novamente.
Eu grunhi e lentamente me sentei na cama, apoiando meu torso na
cabeceira da cama. Olhei para ele, para Abram, e continuei a sorrir. Seu rosto
parecia tão patético. Era como se ele estivesse vendo um grande bolo de
chocolate na sua frente.
– O que você está olhando de forma tão engraçada, Abram? – Eu
perguntei, sentindo a garganta seca de repente.
Eu tossi e acrescentei – Um pouco de água antes que minha garganta me
mate.
Sua expressão de choque mudou, lentamente dando lugar a uma de
alegria. Ele caminhou até uma pequena mesa que foi colocada não muito
longe da cama e encheu um copo com água. Ele veio até mim o mais rápido
que suas pernas podiam levá-lo, quase derramando um pouco da água do
copo.
– Cuidado. Vou precisar de cada gota.
Seus lábios se curvaram para formar um sorriso de lábios apertados
quando ele me entregou o copo de água. Engoli-o de uma só vez, e depois o
devolvi a ele. – Mais – eu exigi.
Ele foi até a mesinha e me deu outro copo cheio de água. Senti meu
estômago roncar e pensei em comer alguma coisa, mas então, um pensamento
mais importante passou pela minha cabeça.
– Onde está Natalie?
Seus olhos baixaram por um momento, mas então ele redirecionou seu
olhar para mim. – Há algo que você precisa saber.
Ele então acenou com a mão na frente dele de forma desdenhosa. – Na
verdade, há muito que preciso lhe dizer.
◆◆◆

Segurei uma de nossas fotos de casamento em minhas mãos, meus olhos


lacrimejando e minha garganta sentindo como se houvesse algo enorme
nela. – Natalie, eu não posso acreditar que você foi até ele sozinha. Eu
deveria ter te proibido.
Abram estava na frente da mesa e parecia determinado. – Precisamos ir
lá e atacá-lo antes que ele a mate, se ela já não estiver morta.
– Eu quero ir lá e matá-lo, Abram, mas isso não é fácil. Não temos
homens e poder de fogo para ir contra ele.
Ele abriu a boca para dizer algo, mas depois mudou de ideia. Seus olhos
encararam os meus e ele disse – Precisamos de um plano. Um plano
perfeito. Melhor do que o que eu inventei com Natalie.
– Eu ainda não posso acreditar que você a deixou fazer aquilo sozinha.
– Eu não tinha ideia de que ela estava indo para seu esconderijo sem
ajuda. Eu pensei que ela ia ficar onde estava.
– Você deveria ter sido mais cauteloso.
Eu poderia estar parecendo que estava conseguindo me controlar agora,
mas a verdade era muito diferente disso. Meu coração estava acelerado como
um trem em alta velocidade, e minha mente era uma confusão de
pensamentos diferentes. A única coisa que eu sabia era que precisava salvá-la
e matar Iakov.
Eu chutei a perna da mesa, fazendo-a deslizar um pouco sobre o chão. –
Porra. Se apenas uma das outras facções pudesse vir e nos ajudar.
– Mas eles não vão, chefe. Eles só nos ajudariam se soubessem que
Iakov perderia.
– Porra! – Eu vociferei, socando a mesa com força suficiente para fazer
a minha mão sentir dor. – Eu não vou ficar aqui sem fazer nada.
– O que você vai fazer? – Abram perguntou, parecendo mais nervoso do
que de costume. Ele tendia a não parecer assim, mas as coisas mudaram para
pior. Nós não só perdemos Natalie, mas também muitos homens durante sua
luta sem sentido.
– Vou me entregar a ele, e então... quando eu estiver morto, você
cuidará dos meus homens, meus negócios e garantirá que todos estejam
seguros. Ele me quer. Ele vai deixar você em paz quando eu morrer.
– Mas chefe, você mal saiu do coma. Você não está pronto para
enfrentá-lo novamente.
– Eu tenho que estar. Um minuto desperdiçado aqui é mais um minuto
que ele tem para fazer Natalie sofrer, e acredite, ele está fazendo isso agora.
Abram abriu a boca para me dizer algo de novo quando a porta se abriu
e um dos meus homens entrou. Seu nome era Vlad e em sua mão havia um
telefone. – Chefe, Iakov quer falar com você.
Caminhei até ele o mais rápido que minhas pernas podiam, peguei o
telefone e disse – Diga-me que ela está bem.
– Estou feliz que você não esteja morto, Marat.
Sua voz soava como se ele estivesse tirando sarro de mim, e ele tinha
todo o direito de estar fazendo isso. Ele não só me espancou o suficiente para
me colocar em coma, mas também matou muitos dos meus homens e roubou
minha esposa. Do seu ponto de vista, ele havia vencido todas as batalhas que
tivemos até agora.
E esse pensamento foi o suficiente para ferver meu sangue.
– Diga-me que ela está bem.
– Quem? – Seu tom continuou a ser o de alguém que estava brincando, e
isso me fez sentir vontade de esmagar sua cabeça com minhas próprias mãos.
– Natalie. Pare com essa besteira e seja direto comigo.
– Ahhh, eu me lembro de uma garota com o nome dela. Eu não me
lembro mais dela, no entanto. Acho que... a mudei um pouco demais.
Apertei o telefone tanto que eu sentia minha mão doendo. – Se você
tanto quanto colocou um dedo nela, eu vou matar você.
– Uhmmm, vamos ver sobre isso. Diga, está interessado em outra luta
comigo? Como naquela loja de roupas?
– O quê?!
Eu não podia acreditar no que ele estava propondo. Achei que ele queria
me matar, não lutar corpo a corpo novamente. E ele ganhou aquela outra
luta. Por que ele queria lutar contra mim mais uma vez?
– Eu quero lutar com você de novo, Marat. Aquela briga que eu tive
com você me fez sentir animado para isso, e eu estava tão entediado
recentemente. Natalie é tão quieta e nunca fala comigo. Eu preciso de algo
para me fazer sentir vivo novamente.
Eu pensei por alguns segundos sobre sua proposta. Lutar e vencer contra
ele poderia ser o que eu precisava para mudar isso a meu favor.
Depois da humilhação no shopping, eu estava louca para lutar com ele
novamente, e se ele estava tão disposto agora...
Mas então, havia o problema de tudo isso ser uma armação. Talvez não
houvesse briga e ele só me quisesse fora da mansão para poder me matar
mais facilmente. Ele poderia estar querendo lutar comigo cara a cara
novamente, mas acima de tudo, ele queria me ver morto, afinal.
Mas ainda assim, havia uma opção melhor? Com esse pensamento em
mente, eu disse – Feito. Apenas me diga quando e onde.
– Ahhh, perfeito. Daqui a cerca de uma semana, no antigo ginásio em
Arakchino. Você sabe do que estou falando ou precisa do endereço exato?
– Não, eu sei onde é.
– Ótimo. A luta acontecerá quando o sol se puser. Esteja lá antes
disso. Não me faça ir até sua casa para buscá-lo.
E com isso dito, ele encerrou a ligação.
Vlad estendeu a mão para pegar seu telefone de volta, e eu o
devolvi. Num piscar de olhos, peguei minha arma do coldre e atirei na cabeça
dele. Seus olhos se arregalaram um milissegundo antes disso e seu sangue e
pedaços de cérebro explodiram para fora.
Seu corpo sem vida caiu no chão com um baque suave. Abram correu e
parou na minha frente, seus olhos uma pintura de choque. – Que porra foi
essa, chefe? Por que você fez isso?
– Ele é o traidor. Quando me casei, alguém de dentro permitiu que Iakov
e seus homens passassem pelo perímetro de proteção que coloquei ao redor
do quarteirão, e você disse que ele estragou tudo durante sua tentativa de tirar
Iakov de seu esconderijo, certo?
Ele acenou com a cabeça e eu continuei – Então, pergunte a si mesmo
como Iakov foi capaz de chamá-lo no seu telefone, de todas as pessoas aqui.
Seus olhos baixaram, talvez imaginando o quão cego ele havia sido o
tempo todo a ponto de não perceber algo tão óbvio. Eu ri. Se Iakov ainda
estivesse na linha, imaginei que ele estaria rindo agora também.
◆◆◆

Abram e eu trocamos golpes, sua cabeça e corpo se movendo com o


meu, me acompanhando. Perfeito. Ele era um bom lutador, e eu precisava de
um bom parceiro para isso. Eu precisava me preparar para aquela luta e
precisava vencê-la. Era a única chance que eu tinha de trazer Natalie de volta.
Continuamos trocando mais alguns golpes, meus braços e pernas
trabalhando rápido para bloquear seus ataques. Seus olhos estavam focados
em mim. Abram mal podia esperar para ver aquele filho da puta morto, assim
como eu. Quando eu vencer aquela luta, não vai acabar aí. Vou quebrar o
pescoço dele antes que ele tenha a chance de fugir.
Meu corpo tinha algumas contusões e Abram estava muito pior do que
eu nesse aspecto. Seu rosto tinha alguns cortes também. Ele era um bom
parceiro de treino, mas estava claro que estava aprendendo mais comigo do
que eu com ele.
Isso teria que quebrar o galho, no entanto. Eu não tinha ninguém melhor
do que ele para continuar meu treinamento.
Acima de tudo, eu precisava me concentrar em entender os movimentos
de Iakov. Eu me lembrava deles. Ele meio que lutava como uma cobra. Ele se
movia rápido e podia mudar a direção de seus golpes enquanto os
executava. Eu nunca lutei com alguém como ele.
Acima de tudo, eu estava disposto a fazer qualquer coisa para vencer
aquela luta, mesmo que fosse imoral. Iakov não tinha senso de
moralidade. Por que eu deveria me importar em como eu ganharia?
Abram e eu estávamos suando como porcos. Quando ele balançou o
braço pela enésima vez esta tarde, eu o agarrei e o prendi onde estava. – Isso
é o bastante por enquanto. Precisamos descansar um pouco.
Ele e eu nos sentamos no banco de madeira da sala de
treinamento. Peguei uma garrafa e bebi um pouco da água nela. Abram
também se hidratou e depois derramou o resto sobre sua cabeça.
Ele exalou, tentando se acalmar. – Chefe, acho que você será capaz de
vencer contra ele. Eu mal consigo acompanhar você.
– Não. Não assim, mas estou trabalhando em um plano para pegá-lo
desprevenido. Mesmo que aconteça por apenas um segundo, é tudo que eu
preciso.
– Que tipo de plano? – Ele ergueu uma sobrancelha, me julgando.
Eu não prestei atenção nele me julgando agora. Lutar contra Iakov já era
bastante difícil, e eu precisava de algo para aumentar minhas chances. Eu não
podia me limitar baseado no que algumas pessoas achavam certo acontecer
em uma briga ou não.
– Você vai ver quando isso acontecer. Por enquanto, concentre-se em
seu treinamento.
Ele me olhou com olhos curiosos, provavelmente avaliando se deveria
levar o assunto adiante. Quando ele percebeu que eu não ia contar mais nada
sobre isso, eu disse – Eu preciso perder um pouco de peso também. Iakov é
muito ágil e rápido. Você se lembra do que aconteceu na loja de roupas. Se
não fosse por você...
– Ele teria atirado na sua cabeça. Eu sei.
– E eu sou grato que você conseguiu chegar até mim bem a
tempo. Quando ele apertou o gatilho, pensei que ia morrer.
Um momento de pausa enquanto as memórias daquela noite ressurgiam
em minha mente. Uma vez que elas desapareceram, eu virei minha cabeça
para Abram e disse – Você é a pessoa em quem eu mais confio aqui. Você
provou seu valor quando eu estava em coma. Se eu morrer, quero você no
controle de tudo. Você é o único que meus homens respeitariam.
Ele engoliu em seco, seu pomo de Adão indo para cima e para baixo. –
Não vai chegar a isso. Tenho certeza que você vai vencer e matá-lo, chefe.
Suspirei. – Espero que você esteja certo.
Capítulo 16
Natalie

Eu cuspi em seu rosto, terminando seu sorriso angustiante. Perfeito. Eu


precisava dele irritado, e agora, que era a única coisa que eu podia saborear
sobre estar trancada aqui. Minhas pernas e braços estavam acorrentados de
forma tão apertada que eu não conseguia movê-los nem um centímetro, e este
quarto era muito frio e escuro. Se ele estava pensando, porém, que eu estava
com medo de...
E Iakov então deu um tapa no meu rosto com a traseira da sua mão,
seriedade substituindo sua expressão zombeteira.
– Eu disse para você ser mais amigável comigo. Você quer morrer antes
que ele tenha a chance de salvá-la?
– Você ligou para ele e nem me deixou falar com ele!
Ele inclinou a cabeça para mais perto da minha, seus olhos parecendo
mortos enquanto olhavam para minha alma. – Me sinto melhor sabendo que
fui capaz de espancá-lo tanto que ele entrou em coma. Eu vou fazer o mesmo
e depois vou matar vocês dois.
Ele traçou o dedo debaixo do meu queixo. – Na verdade, esqueça o que
acabei de dizer. Vou acabar com a vida dele diante de seus olhos.
Sua garganta vai ser dilacerada, ele vai gritar, e sangue vai avermelhar
suas escleras enquanto eu aperto o seu pescoço com toda a minha força. Ele
não terá nenhuma chance.
Senti vontade de mordê-lo com força agora. Se ele estivesse mais perto
o suficiente para isso...
Mas ele se inclinou para trás e voltou à sua postura normal. Seus olhos
se arregalaram um pouco e ele perguntou – Você quer um pouco de
comida? Uma garota como você precisa comer. Seria uma pena se você
morresse aqui antes de eu lutar com ele.
Mordi meu lábio inferior. – Não. Eu vou ficar bem.
– Vamos, princesa – disse ele, traçando o dedo no meu peito. – É só um
pouco de comida. Prometo que não coloquei veneno.
– Eu não me importo. Eu não estou com fome.
Ele retirou seu dedo nojento e se virou. – Tudo bem. Acho que é só isso
por enquanto.
Ele caminhou até a porta que levava para fora do porão, e então virou a
cabeça, olhando para mim pelo canto do olho antes de dizer – Mas eu
volto. Espere por mim.
Ele abriu a porta e saiu. Preferi não dizer mais nada a ele. Fingi que era
durona, mas a verdade é que eu estava exausta. Eu precisava de comida. Uma
vez que ele voltasse, eu estava pensando em aceitá-la.
Seria apenas comida, certo?
◆◆◆

As correntes eram a única coisa que segurava meu corpo no lugar. Isso e
a parede atrás de mim, na qual eu estava apoiando um pouco do meu
peso. Meus membros pareciam tão fracos.
Fazia alguns dias desde a última vez que comi, e o cheiro e a falta de luz
nesta sala me fizeram sentir ainda pior. O porão cheirava como se alguém
tivesse matado um bando de ratos e os deixado aqui, e a escuridão me fez
implorar por uma chance de me banhar sob a luz do sol.
A luta entre Iakov e meu marido logo iria acontecer, e apesar de ter sido
trancada aqui com apenas esse filho da puta para me fazer companhia às
vezes, eu não parava de pensar sobre isso.
Marat precisava vencer, e eu tinha certeza de que venceria.
Passos desceram as escadas e uma mão abriu a porta. A luz se esgueirou
pela abertura cada vez maior até que uma figura escura apareceu. – Saia
daqui –eu rosnei, não querendo falar com Iakov agora. O filho da puta
simplesmente não podia me deixar em paz.
– Acorde, acorde – disse ele, seu tom cômico. Ele estava me deixando
nervosa e apesar de saber qual era seu objetivo aqui, eu não conseguia me
controlar. Eu queria continuar o odiando, e ele fazia isso muito mais fácil
cada vez que vinha aqui me visitar.
Cheiro de comida inundou meus pulmões e meu estômago roncou. Eu
estava tão desesperada por comida e me sentia tão fraca que mal conseguia
manter os olhos abertos.
Durante toda a minha estadia aqui até agora, Iakov não me maltratou
muito, mas ele se absteve de me dar comida. E nos dias em que ele me
ofereceu um pouco, eu recusei todas as vezes.
Mas agora, talvez fosse hora de aceitá-lo.
Ele caminhou em minha direção lentamente e em suas mãos ele tinha
um prato. Carne, purê de batatas, bacon assado e ovos fritos. Parecia e
cheirava tão delicioso. Minha boca encheu d'água. Eu não apenas desejava
aquela refeição, eu precisava dela.
Mas havia um grande problema em aceitar sua comida, e era mostrar
que ele ganhou. Eu não queria admitir isso.
Eu vim aqui para mostrar a ele que eu não era fácil de ser domada e que
eu poderia matá-lo. Falhei fazendo a última coisa, mas a primeira não...
ainda.
Ele parou na minha frente, e a luz que vinha da porta semiaberta era o
suficiente para revelar um pouco da refeição. Pude perceber a perfeição
daquelas tiras de bacon, a textura da carne, a aparente maciez do purê de
batata…
Mas acima de tudo, meu nariz não conseguia parar de farejar o
cheiro. Era muito gostoso. Era quase como se ele estivesse me colocando em
um estado de transe onde eu não conseguia mais pensar direito.
Ele levantou minha cabeça com um de seus dedos, sua mão segurando o
prato, e disse – Você não quer comer?
Engoli meu orgulho e assenti, meu corpo inteiro se sentindo tão frágil. –
Perfeito, hora de comer um pouquinho, princesa – Iakov continuou.
Eu ia lhe alfinetar de novo quando, de repente, ele tirou uma colher do
bolso. Ele então encheu-a com um pouco da comida e colocou na frente da
minha boca.
Tinha me acostumado com a ideia de comer sua comida, mas ele me
alimentando de colher como se eu fosse uma garotinha já era demais.
– O que você está fazendo, princesa? Achei que você queria a comida.
– Não... assim. Deixe-me comer sozinha.
– E tirar você dessas lindas correntes? Eu acho que não.
Eu ia cuspir no rosto dele – eu tinha até acumulado a saliva necessária
na boca – quando me lembrei do que aconteceu da última vez que fiz
isso. Com esse pensamento em mente, limpei minha garganta e engoli minha
saliva.
Seus olhos se arregalaram um pouco, provavelmente percebendo que eu
não iria cuspir nele desta vez.
– Natalie, você só tem uma vida, e eu não me importo com isso. Ou
você come agora ou morrerá antes de poder ver seu querido marido
novamente.
Olhei em seus olhos, pensei nas consequências de minhas ações, lembrei
de Marat e engoli meu orgulho novamente.
Eu abri minha boca, e foi isso. Ele quebrou o meu espírito.

Marat
Olhei para o relógio no meu pulso e tomei um gole da minha garrafa de
vodca. – A luta será amanhã, chefe. Você não deveria estar bebendo muito.
– Quem você acha que é agora, Abram? Meu pai?
– Sou seu amigo e estou cuidando de você.
– Foda-se sua preocupação. Eu vou beber o que eu quiser e o quanto eu
quiser.
Ele suspirou, suas mãos entrelaçadas entre as pernas. Ao longe,
podíamos ver as luzes de Kazan à noite. – Diga-me que esta não é a última
vez que estamos nos vendo – pedi.
– Não vai ser, chefe. Eu sei que você vai vencer a luta.
Tomei um gole da minha garrafa novamente. – Eu gostaria de ter sua
confiança.
– Chefe, não ria de mim agora, mas... você não disse que ele luta como
uma cobra?
Coloquei a garrafa no telhado do prédio e virei a cabeça para olhar para
ele. – Sim, disse. O que isso tem a ver com o que estamos falando?
– Então, lute como um falcão. Estes pássaros comem cobras.
Comecei a rir, e então ri pelo que pareceram ter sido minutos. Uma vez
que minhas risadas morreram, eu disse – Eu não tenho penas cobrindo meu
corpo, Abram.
– Eu quis dizer que... você deve se concentrar em ataques aéreos, como
pular, socar e chutar enquanto estiver no ar.
Eu pensei sobre o estilo de luta que ele estava falando e então disse – De
jeito nenhum isso vai funcionar. Ele simplesmente se esquivaria e depois me
socaria ou chutaria.
– Talvez você só precise pensar em como pode adaptar seu estilo de luta
amanhã ou hoje à noite. Eu nem sei que horas são.
– Não importa. Eu vou fazer isso, e vou me certificar de que ela saia de
lá livre. Então, você a levará de volta para a América e ela viverá sua vida
com segurança.
– Chefe, isso não será necessário. Você vai sair de lá vivo também.
Eu ri e peguei a garrafa de vodka para beber novamente, mas seu peso
mais leve me disse que estava vazia. Arremessei-a para longe e o vidro
estilhaçou-se na calçada.
– Abram, você precisa se concentrar em como vai administrar as coisas
por aqui.
Agarrei seu braço, forçando-o a virar a cabeça para mim. – E você não
pode me falhar nisso. Você é o único em quem realmente confio aqui.
Capítulo 17
Natalie

A porta se abriu rapidamente e Iakov entrou. Ele tinha as chaves em suas


mãos enquanto caminhava até mim e começava a soltar meus braços e
pernas. – Não tente nada estúpido antes de eu algemar você.
Eu não ia tentar nada. Não até que Marat estivesse conosco, claro.
– Vire-se – ele disse depois que terminou de remover as correntes.
Eu o obedeci e ele me algemou, o som de cliques enchendo o pequeno
porão. Ele então agarrou meu braço e disse – Você vem comigo, e eu não
quero que você reclame de nada.
Quando chegamos ao lado de fora do prédio, perguntei – O que está te
incomodando tanto agora?
– Acabei de perceber que preferia assistir a um filme do que lutar com
seu pobre marido.
Ele continuou a me levar para fora do prédio, fez seus homens
desbloquearem o portão da frente, e depois me jogou para a parte de trás do
seu SUV. Um painel de vidro grosso entre esse lado e o da frente me impedia
de fazer qualquer coisa que pudesse destruir seus planos, como fazê-lo bater
o carro.
E, bem ao meu lado, havia um cara enorme, com um cavanhaque. Se eu
tentasse fazer com que o carro tivesse um acidente ou escapar usando um
método diferente, ele certamente bateria em mim.
Eu não tive escolha a não ser aceitar meu destino por enquanto e ir para
lá com eles. Pelo menos Iakov estava sendo arrogante o suficiente para me
levar com ele. Achei que ele ia me manter em seu antigo quarto no
porão. Sabia, entretanto, que ele precisava mostrar e provar ao meu marido
que eu estava viva e inteira.
O carro acelerou e pegou outra estrada. Iakov virou a cabeça para trás
para olhar para mim e disse – Não vai demorar muito para chegar lá. Sente-se
firme e, como eu disse, não reclame.
Eu fiz uma careta quando ele sorriu. Sua atitude jovial e zombeteira
estava voltando. Por que eu sequer pensei que ele estava irritado em um
momento como este? Ele tinha a chance de humilhar Marat novamente,
afinal, e esteve ansioso por essa luta a semana inteira.
Enquanto dirigiam o carro, lembrei-me do que foi preciso para chegar a
este ponto sem morrer. Todos os seus abusos, sua mão apalpando meu corpo
enquanto eu não conseguia movê-lo ou fazer qualquer coisa, seus sorrisos e
piadas diabólicos. E entre eles, o que mais se destacou, porém, foi ele me
alimentando de colher.
Essa humilhação eu nunca iria esquecer, e ele iria pagar muito por
isso. Eu sabia que Marat venceria a luta e, quando vencesse, Iakov se tornaria
meu brinquedo.
O carro parou em frente a um antigo ginásio. A placa que dizia “Kazan's
Top Gym” estava quebrada e torta. Quase parecia que ia cair a qualquer
momento. A pintura das paredes havia desbotado e parecia pálida. Havia
partes onde os tijolos haviam caído, e alguns deles já haviam caído no chão
como lembranças de um tempo esquecido.
Este ginásio costumava ser o local para muitos cidadãos da região se
exercitarem.
Agora, não era nada mais do que uma casca de seu antigo eu, e isso
significava que era o lugar perfeito para travar a sua luta.
Iakov saiu do carro e me levou com ele. O ginásio tinha um antigo
ringue de boxe, e acho que essa era uma das muitas razões pelas quais ele
escolheu este lugar para lutar com Marat pela última vez.
Logo depois que chegamos aqui, também Marat, Abram e alguns de
seus homens nos alcançaram. Eu não podia ter certeza, mas parecia que
estávamos empatados em números.
Não haveria um tiroteio aqui a menos que um deles ordenasse tal, e
considerando os olhares em seus rostos, a última coisa que eles queriam era
transformar isso em um banho de sangue. Eles já haviam, até agora, atraído
muita atenção das outras facções da Bratva e das autoridades, afinal.
Marat e Abram vieram até nós e pararam a alguns metros de
distância. Quando seus olhos me encontraram, ele disse – Natalie, não se
preocupe. Independentemente do que acontecer aqui, você sairá viva e bem.
– Eu sei que você vai vencer e matar esse filho da puta, amor – eu disse
com entusiasmo, apreciando o momento em que Iakov teve que segurar a
vontade de me dar um tapa na cara na frente do meu marido. Ele não perderia
a calma na frente de Marat. Essa era a única coisa que ele nunca faria.
Iakov pronunciou – Como prometi, ela está bem e comeu bem, uma vez
convencida de que precisava disso, sendo mais claro.
Eu vi a raiva permeando o rosto de Marat, mas ele a conteve. Esta era
sua chance de me salvar, e ele não iria desperdiçá-la.
Ele respirou lentamente, e então disse – Vamos lá. Vamos começar essa
luta. Já estou cansado de esperar.
Iakov fez um gesto com a mão para que um de seus homens viesse até
mim, e ele me entregou a ele, sua mão apertando meu braço para ter certeza
de que eu não tentaria correr.
Mesmo se eu tentasse, não iria muito longe até que um deles me matasse
com um tiro. Não havia sentido em tentar qualquer coisa agora. Eu precisava
esperar pela conclusão de sua briga.
Marat e Iakov tiraram suas camisas. Marat usava um short de basquete e
Iakov, sua habitual calça cáqui escura. Marat também não usava nada nos
sapatos. Seus pés estavam descalços quando ele subiu no ringue. Iakov, por
outro lado, usava um par de tênis branco.
Eu não tinha certeza, mas estava pensando que Marat fez essa escolha
para que ele pudesse sentir melhor o chão do ringue enquanto lutava. Iakov,
por outro lado, estava tão confiante que não se deu ao trabalho de fazer o
mesmo.
Assim que Iakov subiu no ringue, ele provocou – E aqui estava eu
pensando que ia lutar com um lutador de verdade. Lembra como terminou
nossa primeira partida?
Marat entrou em sua posição de luta, colocando os braços e uma perna
na frente dele, ambos os pés no chão. – Sim, me lembro, e vou me certificar
de que esta termine de forma diferente.
Iakov, por outro lado, não assumiu posição de luta. Seu corpo parecia
relaxado, como se ele estivesse pensando em ir à praia logo depois que isso
acabasse.
Merda, ele estava fazendo todo o possível para me fazer odiá-lo ainda
mais. Minhas mãos estavam coçando por uma chance de estrangulá-lo.
Iakov ameaçou correr, mas não atacou meu marido. Marat, por outro
lado, rapidamente deu alguns passos para trás. A tensão que essa luta estava
gerando era quase palpável.
Meu marido, e essa percepção era uma que eu não conseguia processar
sem me sentir desesperado, não tinha ideia se ele poderia vencer ou pelo
menos dar um golpe sério em Iakov.
O último sorriu, exibindo dentes muito brancos. – Vejo que pensa que
realmente pode contra mim.
– Você não teria me convidado aqui se pensasse que eu não poderia
vencê-lo.
– Touche – Iakov provocou antes de correr e virar a perna com
tudo. Marat se esquivou e tentou chutá-lo, mas o primeiro já havia saltado
para longe. Sua perna cortante encontrou apenas o ar.
– Você precisa fazer mais se está pensando que pode salvá-la.
– Você não tem ideia do tipo de coisa que tenho reservado para você –
ameaçou meu marido antes de correr em direção a ele, saltando e jogando a
perna para a frente. Achei que ia acertar em cheio, mas antes que pudesse,
Iakov esquivou no mesmo segundo, seu movimento lembrando muito o de
uma cobra.
– Essa foi boa – ele zombou antes de se endireitar novamente, sua
postura ainda relaxada. Seu sorriso então se alargou. – Ainda precisa ser mais
rápido. Achei que você ia perder peso esta semana.
– Bem, eu não preciso ser rápido para derrotá-lo – afirmou Marat antes
de correr, sua perna e um braço indo em direções diferentes.
Por um momento que pareceu muito breve, os olhos de Iakov se
arregalaram, mas ele ainda se esquivou do ataque, e desta vez, ele conseguiu
acertar um soco no lado do meu marido.
Ele tropeçou um pouco, mas não perdeu o equilíbrio, o que fez eu e
Abram respirarmos aliviados.
– Mais um ponto para mim – caçoou Iakov antes de chutar e socar meu
marido várias vezes nos seus braços e nas pernas. Ele estava
conseguindo. Ele estava bloqueando seus ataques, e sua velocidade aumentou
bastante durante esta semana que ele treinou. Ele devia ter treinado bastante
durante a semana.
Iakov então parou, parou e deu alguns passos para trás, dando ao meu
marido algum espaço para respirar enquanto avaliava o novo
desenvolvimento dessa luta. Seu sorriso de lábios apertados se alargou
novamente. – Hmmm, você melhorou. Quando nós lutamos, você não era
capaz de fazer isso.
Marat sorriu e, sem olhar para mim, disse – Eu faria qualquer coisa por
ela.
– O amor é poderoso e perigoso. Aprendi isso há muito tempo – disse
Iakov antes de atacar meu marido, que novamente conseguiu bloquear seu
ataque.
Iakov parou e ia dar um passo para trás quando Marat jogou a perna pelo
chão e o fez cair de bunda. Os olhos de Iakov se arregalaram em choque
genuíno e justamente quando ele estava pensando em se vingar daquele
ataque bem-sucedido, meu marido já estava em cima dele, socos e mais socos
contra ele.
Iakov, no entanto, estava conseguindo bloquear todos eles. Meu marido
levou uma fração de segundo para recuperar seu fôlego, e isso foi todo o
tempo que o outro precisava para chutá-lo para longe.
Iakov não estava sorrindo desta vez. – Você melhorou bastante de
verdade. Bem, chega de brincar com você – ele advertiu antes de atacar,
socos e chutes cortando o ar denso e empoeirado do ginásio.
Marat conseguiu bloquear o ataque inicial, mas Iakov tinha ainda
mais. Ele aumentou o ritmo e a força de seus golpes, oprimindo-o, seus
movimentos tão rápidos que ficaram borrados. Eu tentei correr até eles para
ajudá-lo, mas o Vory que estava ‘cuidando’ de mim apertou meu braço e me
manteve onde eu estava.
Marat caiu de costas, o som retumbante ecoando dentro do ginásio. Seu
rosto estava machucado e havia um grande corte sob um de seus olhos. Uma
linha de sangue começou a sair dela.
Ele se ajoelhou e depois se levantou. Ele estava em muito mau estado,
mas podia permanecer de pé. Ele retomou a sua postura de luta e jurou –
Você não vai me derrotar tão facilmente.
– Ah, sim? – Iakov caçoou e então o atacou de novo, socos e chutes
encontrando carne e osso, esmagando meu marido mais uma vez. Justo
quando eu pensei que ele ia cair de costas novamente, seu braço se inclinou e
partiu para cima, socando a barriga exposta de Iakov.
Ele a agarrou, distanciou-se de Marat, e este aproveitou para chutar o
queixo do outro com o joelho. Iakov tombou de costas e sua boca se abriu
para soltar um grito breve de dor.
Marat estava em cima dele em um instante e ele ia terminar esta luta
quando Iakov rolou para fora do caminho e chutou o lado do seu torso. Marat
rolou para o lado também, mas seu corpo era lento demais para voltar a ficar
de pé. Quando ele se ajoelhou, Iakov estava na frente dele quando meteu seu
joelho no queixo do outro.
– Merda – ele rosnou, quase gritando e berrando ao mesmo tempo.
Ele girou as pernas como um dançarino de Hip-Hop, tentando pegar
Iakov desprevenido, mas ele já tinha imaginado que faria isso. Ele pulou para
longe e, em seguida, pisou no rosto do meu marido no chão, e eu senti como
se fosse ele.
Eu gritei e novamente tentei saltar para o ringue para ajudá-lo, mas o
grande Vory ao meu lado apertou ainda mais sua mão no meu braço. Eu virei
minha cabeça para ele e então preparei um tapa quando, de repente, ouvi
Iakov gritando todos os tipos de obscenidades.
Suas mãos estavam apalpando seus olhos, como se algo tivesse sido
jogado neles. Meus olhos avistaram algo que brilhou por uma fração de
segundo sob a luz do sol poente que penetrava pelas janelas quebradas do
ginásio. Areia. Ele jogou areia nos olhos de Iakov quando sentiu que ia
perder a luta.
Estávamos chegando ao final disso. Seus homens e os de Iakov
apontavam agora armas um para o outro, e todos gritavam coisas em russo
que eu não conseguia compreender. Mas isso não era necessário, no entanto.
Meu marido trapaceou.
Eu tentei tirar meu braço do aperto desse capanga dos Vory, mas não fiz
nenhum progresso com isso. Seu aperto era forte, e eu deveria saber que isso
não funcionaria de qualquer maneira.
Meu marido ia dar um soco em Iakov enquanto suas mãos apalpavam
seus olhos quando este se esquivou, e então tirou do bolso da calça uma
pistola muito pequena. Era quase tão pequena quanto a minha mão.
Ele apontou para Marat, que então parou. Todos na sala ficaram em
silêncio. Olhei para Abram e ele parecia decidido a fazer alguma coisa. O que
isso era, eu não sabia, mas esperava que fosse algo capaz de acabar com essa
luta. Já tinha durado tempo demais.
Iakov esfregou seus olhos, que pareciam vermelhos, e então disse –
Trapaceiro de merda! Eu deveria saber que você ia lutar de forma justa.
– E suponho que devo ignorar o fato de que você trouxe uma arma?
– Foda-se você. Estou terminando essa merda de uma vez por todas, e eu
vou te matar agora mesmo.
Tentei correr até eles, tentei fazer alguma coisa, porque Iakov já estava
puxando o gatilho, assim como seus homens e os nossos, mas então, como
um relâmpago, Abram pulou as cordas, abraçou Iakov por trás e mostrou que
tinha uma granada.
Todo o ginásio decrépito ficou em silêncio, todos aturdidos. Eu não
tinha ideia de que ele tinha algo assim planejado.
– Abram! – Eu gritei, mas seus olhos estavam focados apenas em Marat.
– O que você está fazendo? – Meu marido perguntou com a voz fraca,
mostrando a mim e a todos aqui que ele também não tinha ideia de que seu
brigadeiro tinha isso debaixo da manga.
– Acabar com isso de uma vez por todas e matar esse filho da puta por
todas as coisas que ele fez.
Marat abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Abram já estava
puxando a alavanca da granada. – Você tem 4 segundos para sair. Corre!
O aperto no meu braço afrouxou e eu me disparei até Marat. Ele pulou
as cordas do ringue, agarrou minha mão e correu comigo até a porta. Nós
saltamos para fora do ginásio no momento que a granada explodiu, Iakov
gritando de terror e choque.
Toda a estrutura rachou, o telhado desabou e uma grande nuvem de
fumaça saiu do prédio e envolveu boa parte do bairro.
Homens, tanto nossos quanto dos Vory, saíram correndo da fumaça, mas
suas mentes estavam muito atordoadas e confusas para se preocupar conosco.
Marat agarrou meu rosto e me fez olhar em seus olhos. – Vamos, e não
olhe para trás.
– Mas Abram...
– Eu sei, mas temos que ir enquanto ainda temos chance – ele afirmou
antes de fugirmos de lá, nem se incomodando em entrar em um dos SUVs
porque nenhum de nós tinha a chave...
Epílogo de Marat

Eu segurava um retrato em minhas mãos, Natalie sentada ao meu lado em


nosso sofá, as chamas da lareira crepitando. O luar esgueirou-se pelas
cortinas fechadas quando eu disse – Ainda não consigo acreditar que ele fez
isso. Nunca imaginei…
Natalie acariciou minhas costas com a mão, me confortando. – Também
me lembro de cada detalhe daquela noite. Sinto falta dele.
– Eu também – eu disse antes de colocar o retrato de volta na parede.
Com um grunhido, sentei-me no sofá e coloquei meu braço em volta dos
ombros dela, trazendo-a para mim. Mais do que suas palavras, sua presença e
calor me confortavam. – Já se passaram quatro anos e ainda não consigo
esquecê-lo.
Ela olhou para mim. – Eu sei, mas estávamos todos desesperados na
época. Acho que ele pensou que era a única maneira de matar Iakov.
– E eu sou grato que ele fez isso. Não sei o que teria acontecido depois
que Iakov puxou aquela arma.
– Ele era um trapaceiro. Ele a trouxe para o caso de perder.
– Bem, eu não fui muito diferente.
Ela acariciou minha testa e olhou profundamente em meus olhos. – Mas
você estava lutando por mim. Iakov estava apenas lutando por si mesmo. Eu
diria que essa é uma boa desculpa para isso.
– Eu sei. E estou feliz que ele esteja morto.
Minutos se passaram enquanto o fogo continuava a crepitar
preguiçosamente. Quando ela ia se levantar, perguntei – Então, quando
vamos ter nossos próprios filhos?
Seus olhos se arregalaram enquanto ela ria. – Talvez em breve –
ronronou.
– Em breve, tipo, agora?
– Sim, talvez agora…
◆◆◆
Eu estava socando e chutando o saco de pancadas quando alguém abriu
a porta da sala de treinamento. Eu acalmei, olhei em sua direção e encontrei
um dos meus homens na porta aberta. – É seu irmão, chefe. Ele veio falar
com você.
– Deixe-o entrar – eu disse antes de tirar minhas luvas e colocá-las no
banco de madeira.
O cara deu um passo para o lado e Ioann entrou, parecendo mais como
um homem de verdade agora. Todo crescido, alguns centímetros mais alto
que eu, e confiante a ponto de me deixar orgulhoso dele. Eu estava tão feliz
que ele estava conseguindo aproveitar ao máximo sua vida.
Vestia um terno escuro, cabelo curto, barba por fazer e uma postura que
dizia que não tinha medo de nada.
Ele abriu um sorriso enquanto caminhava até mim. Ele abriu seus
braços, assim como eu, e nos abraçamos. Eu me sentia tão feliz que
estávamos nos abraçando. Eu quase tive que me esforçar para não deixar uma
lágrima sair e escorrer pelo meu rosto.
Ele terminou o abraço e disse – Você está muito melhor, irmão. Naquela
noite, quando soube o que aconteceu, pensei...
Ele abaixou a cabeça, e eu coloquei minha mão em seu ombro. – Está
tudo bem. Foi há muito tempo.
– Sim, mas eu gostaria de ter estado aqui naqueles tempos. Eu gostaria
de poder estar mais presente em sua vida.
Apertei seu ombro suavemente, e então deixei meu braço cair ao meu
lado.
– Como eu disse, está tudo bem. Não adianta se preocupar com algo que
você não pode fazer nada a respeito. Concentre-se na sua vida e deixe-me
preocupar com a minha. Além disso, tenho a melhor esposa do mundo para
me dar apoio.
Ele riu. – Espero me casar com alguém tão maravilhosa quanto ela.
– Vamos. Sente-se aqui comigo – convidei antes de levá-lo para a
sala. Um mordomo apareceu e fiz um gesto com a mão para que ele nos
trouxesse um pouco de vinho branco. Eu tinha feito aquele gesto com ele
tantas vezes que ele já o tinha memorizado.
Ioann tomou um gole da sua taça e a colocou na mesa ao lado de sua
cadeira. – Então, por que você veio? – Eu questionei, sabendo que um
homem como ele não teria vindo aqui a menos que tivesse algo vital para
fazer.
– Eu... gostaria de lhe oferecer um emprego em meu escritório. Eu sei
que soa estranho, mas eu realmente gostaria de lhe dar a chance de deixar
essa sua vida para trás e comandar minha equipe de segurança.
Seguiu-se um momento de pausa. Ruminei suas palavras, estudei seus
olhos e considerei sua proposta. Ele não estava mentindo ou fazendo uma
piada. Ioann estava falando sério sobre me oferecer a chance de trabalhar
para ele.
O trabalho provavelmente pagaria mais do que minha vida atual
oferecia, e seria mais seguro para Natalie, mas... havia algo que ele precisava
saber, e eu deveria ser franco com ele.
Eu coloquei minhas mãos entre minhas pernas e me inclinei para frente,
olhando profundamente em seus olhos cinzas.
– Não. Eu sei que você quer o melhor para mim, mas esse é quem eu
sou. – Eu abro meus braços em volta de mim, mostrando a ele toda a
mansão. – Isso está me dando bons frutos e não vejo uma razão boa o
suficiente para me tornar outra pessoa.
Ele suspirou e insistiu – Você seria bem pago e não precisaria mais se
preocupar com homens tentando matá-lo.
– Homens tentando me matar sempre existirão. Eu já irritei muitas
pessoas na minha vida.
Ele abriu a boca e ia continuar a insistir quando me levantei e caminhei
até ele.
Estendi a mão, ele a pegou e eu o ajudei a se levantar. Dei alguns
tapinhas nas laterais de seus ombros e disse – Você é um homem agora, e não
precisa mais se preocupar comigo. Eu sei o que estou fazendo.
Parecia que ia dizer mais alguma coisa, talvez insistir em sua proposta,
mas então respirou alto e disse – Tudo bem, Marat. Não vou continuar
insistindo, mas a oferta estará sempre aberta para você. Se mudar de ideia, é
só me chamar.
Eu balancei a cabeça algumas vezes e o levei para a sala do piano. –
Acha que ainda tem o que é preciso para me vencer no piano? – Eu perguntei,
sorrindo depois que abri a porta.
Ele sorriu também e disse – Você vai se surpreender
Epílogo de Natalie

Eu joguei a bola e Abram, agora com 10 anos, catou-a com a mão enquanto
sorria. – Vamos, você tem que se esforçar mais, mãe – disse ele antes de
arremessar a bola para mim. Deus, esse moleque tinha tanta energia nele. Eu
nunca poderia ganhar assim.
Agarrei-a no ar, tropeçando e quase caindo de bunda. Abram deu
risadinhas. – Isso não foi engraçado, Abram. Eu não consigo acompanhar seu
ritmo. Seu irmãozinho não me permite.
Meu corpo parecia tão pesado. Não demoraria muito até que seu irmão
mais novo nascesse, e então ele teria outra pessoa para brincar com ele. Eu
mal podia esperar para que isso acontecesse, às vezes. Eu precisava do
descanso que ele ter um irmão me traria.
Eu lancei a bola e ele a agarrou sem esforço mais uma vez, seu sorriso
se alargando. Apesar de estar cansada, olhando para seu sorriso, seu cabelo e
seu rosto exultante, não pude deixar de me sentir feliz. Isso era tudo que eu
tinha pedido para a minha vida, e muito mais.
Quando ele ia jogar a bola na minha direção novamente, a voz de um
homem, alta e profunda, soou do nosso lado. – Ei, garoto. Pega leve com ela.
Está muito mais pesada agora.
Sorri, mesmo não gostando muito da piada. Mais pesada agora, sério?
Esse era Marat, e seu cabelo na altura dos ombros lhe dava uma
vibração diferente, mostrando que ele era mais calmo e mais experiente do
que seu antigo eu.
Ele caminhou até o filho, agarrou-o e colocou-o sobre os ombros, pernas
sobre o seu peito enquanto seus braços envolviam o pescoço do pai. O sorriso
grande de Abram se alargou ainda mais, e ele então disse – Papai, mas estou
me divertindo tanto brincando com a mamãe.
– Eu sei, mas ela precisa descansar um pouco, e nós precisamos comer.
– Ahhh, e o que vamos almoçar?
– Você vai ver.
◆◆◆

Marat deitou na cama ao meu lado, e seus braços me puxaram para


ele. Beijei seus lábios macios e pensei em uma memória esquecida. Sua mão
acariciou minha bochecha, trazendo minha atenção de volta para ele. Seus
olhos pareciam preocupados.
– Aconteceu alguma coisa? – Ele questionou, a luz da lua entrando
furtivamente em nosso quarto pelas janelas abertas.
– É sobre Abram. Você acha que ele gostaria que batizamos nosso filho
com o nome dele?
– Sim, acho que sim. Por isso fizemos.
Suspirei e pensei no nosso pequeno Abram. Ele era tão cheio de energia
e merecia a melhor vida possível para ele. Mas teria ela, no entanto? Quanto
mais pensava nisso, mais desejava que uma coisa fundamental mudasse.
Sua mão acariciou minha bochecha e eu olhei para ele. – Acho que
precisamos sair deste lugar. Não é seguro para ele.
– Não, amor. Não há necessidade. Abram vai ficar bem. Não há como
deixar a Bratva e a pátria. Você sabe muito bem disso.
Ele respirou fundo e continuou – e quando tiver idade suficiente, ele se
casará com a mulher certa, como eu fiz, e ele administrará os Popov ainda
melhor do que eu.
Um momento de pausa enquanto eu ruminava suas palavras. – Mas eu
estava pensando que ele merecia algo ainda melhor, como escolher sua
própria esposa.
Marat colocou o dedo indicador na frente dos meus lábios quando eu ia
continuar. – Eu não escolhi você. Não no começo, pelo menos, e aprendi a te
amar. Ele vai ficar bem. Ele não tem motivos para se preocupar com seu
futuro. Aqui, conosco, ele tem dinheiro e uma família para amá-lo.
Outro momento de pausa e, então, eu o beijei. – Ok... você ganhou, por
enquanto.
– Por enquanto? – Ele perguntou, sorrindo. – Acho que minha vitória é
permanente.
E de repente, ele me beijou uma e outra vez, levando-me ao meu prazer
absoluto e tornando esta noite muito melhor do que começou.
Pós-Epílogo
Natalie

Meu pai uma vez me disse que nenhuma ação vinha sem consequências, e
por uma longa parte da minha vida, eu não acreditei nele. Tinha coisas que
aconteceram e que não tiveram consequências associadas a elas, certo? Eu
poderia apontar uma coisa e outra que não se ramificaram para nada em
particular... eu achei. Eu realmente não conseguia me lembrar de muita coisa
agora.
– Mãe! – Uma voz do além me chamou, e eu a ignorei.
Eu estava pensando em meu pai, lembrando dele. Ele estava tão feliz
que eu me casei e segui a vida que ele programou para mim. Uma vez eu
pensei que nunca me casaria com um homem só porque alguém queria que
eu...
– Mãe! – A voz chamou novamente, e desta vez, eu abri meus olhos.
Era meu filho, Abram. Ele tinha 14 anos e já era mais alto que eu, pensei
enquanto me levantava do sofá da sala e verificava se ele conseguiu colocar
suas roupas e sapatos corretamente desta vez.
Meus olhos pararam em seus sapatos. – Seus cadarços estão todos
errados, Abram – eu disse antes de me ajoelhar para amarrá-los corretamente
para ele.
Quando voltei, notei que ele estava corando. Coloquei minhas duas
mãos na cintura e disse – Olhe para mim, Abram.
Ele não fez e eu insisti – Olhe para mim, ou eu não vou te dar uma barra
de chocolate hoje de noite.
Ele exalou e me obedeceu. Eu disse – Bom, agora podemos falar sobre
isso.
Eu estendi minha mão para seus sapatos. – Por que você não conseguiu
amarrar seus cadarços?
– Eu não sei como fazer. Você nunca me ensina!
– Mas eu já ensinei várias vezes, e você já deve saber como fazer isso.
Suspirei e coloquei a mão na testa, fechando os olhos por um segundo. –
Certo, e você precisa ir para a escola agora. Não temos tempo para brigas.
Justo quando ele ia virar e ir para o carro, eu o parei e ajustei sua
gravata. – Nem isso você amarrou direito.
Depois que retirei minhas mãos, ele perguntou – Mãe, quando você vai
me comprar o Playstation 7?
– Abram, essa coisa está tão cara agora, e você precisa se concentrar em
seus estudos. Suas notas são tão ruins.
Ele fez beicinho, e eu disse – Vamos. Entra no carro. Vou levar você
para a escola desta vez.
Olhei pela janela por um instante e continuei – Parece que seu pai está
ocupado com alguma coisa
Abram caminhou rapidamente até o carro e, quando um pensamento
passou pela minha cabeça, parei por um segundo. Seu irmãozinho iria ficar
bem aqui sem mim por alguns minutos, certo? Afinal, a mansão estava lotada
com os homens de Marat, e nós confiávamos neles.
Eu sacudi minha cabeça e caminhei até o carro. Abri a porta e liguei o
motor. Quando cruzamos o portão da frente, Abram disse – Quero um
Playstation 7 e o quero antes da Páscoa. Todos os meus amigos já têm ele!
– Abram, acho que preciso te ensinar uma coisa ou duas sobre o valor do
dinheiro – eu disse quando entrei em outra estrada, continuando a dirigir em
direção a sua escola.
Durante o resto da viagem, ele ficou em silêncio. Ele costumava passar a
maior parte do tempo jogando e mandando mensagens para seus amigos em
seu celular, e agora não estava sendo diferente, pensei quando estacionei o
carro na frente de sua escola.
Coloquei minha mão na tela e disse – Vamos, Abram. Comporte-
se. Estou cansada deles me ligarem para reclamar sobre seu comportamento.
Ele olhou para mim com olhos irritados e rapidamente enfiou o telefone
no bolso da calça. – Você não me entende. Nenhum de vocês entende – ele
disse antes de abrir a porta do carro e fechá-la.
Afundei no banco do carro, cobrindo o rosto com as mãos. O que diabos
eu fiz para merecer isso? Ele fora um garoto doce até os 11 anos e então,
quando seu irmão nasceu, ele se transformou em alguém completamente
diferente. Ele era meu filho e eu o amava, mas algo precisava ser feito sobre
seu comportamento.
Eu estava deslizando minhas mãos pelo meu rosto e ia dirigir de volta
para casa quando ouvi gritos e garotas gritando. Virei a cabeça na direção de
onde vinham os barulhos e meu coração disparou quando encontrei ninguém
menos que Abram brigando contra outro garoto que parecia ter a idade dele.
Abri a porta do carro e corri em direção a eles. – Abram, pare! – Eu
berrei, chamando sua atenção no momento em que o outro garoto acertou um
golpe em cheio em sua bochecha.
Ele tropeçou e caiu de bunda. Ele então pulou para trás por um instante e
ia continuar a briga quando, de repente, o outro garoto sacou uma arma e
apontou para ele.
Que merda estava acontecendo?
Os olhos de Abram se arregalaram e meu coração disparou. O outro
garoto então disse – Isto é pelo meu pai, seu idiota. Vou te matar agora para
fazer o seu pai chorar.
Achei que ele ia puxar o gatilho e estava pronta para pular para salvar
meu filho quando, de dentro da multidão, veio correndo uma mulher de
cabelos compridos. Ela agarrou o braço do garoto, torceu seu pulso e fez a
arma cair no chão.
A arma não fez o barulho que achei que faria, e a luz refletida na
superfície parecia diferente. Não parecia que era feita de metal. Uma
percepção cruzou minha mente como uma lança. Essa arma era de
plástico. Era falsa.
O rosto do garoto se encheu de raiva quando ele girou nos seus
calcanhares e livrou seu braço do aperto de mão da mulher. Ele cruzou os
braços na frente do seu peito e resmungou – O que você está fazendo aqui?
Ela exalou e agarrou sua mão. – Você está vindo comigo agora, e você
vai estudar como o aluno bom e bem comportado que você deveria ser –
afirmou ela com um tom rude antes de levá-lo para dentro da escola, a porta
dupla principal se fechando atrás deles.
Eu ia perguntar a Abram quem eles eram, mas já era tarde demais. Ele
correu para dentro do prédio, e todos os outros se dispersaram, alguns
parecendo desapontados por aquela mulher ter encerrado a briga.
Eu me ajoelhei e peguei a arma de brinquedo. Eu ia jogá-lo na lata de
lixo quando a porta dupla da escola se abriu novamente, e dela saiu aquela
mesma mulher de antes. Ela tinha um sorriso falso no rosto, e eu senti que ela
e eu tínhamos muito o que conversar.
Seu rosto se suavizou quando ela parou na minha frente. Eu disse –
Acho que esse brinquedo é... seu?
– É sim. Nunca deveria ter comprado para ele – ela respondeu enquanto
eu entregava a ela.
Ela exalou. – Olha, eu sei quem você é e o que você fez anos atrás. Eu
sou a ex-mulher de Iakov Brobov, e aquele que estava brigando com seu filho
é o filho dele.
Ela apertou os lábios e continuou – Eu não te odeio pelo que você
fez. Eu deveria ter ouvido minha mãe quando ela disse que ele não era um
bom homem. Estou realmente feliz pela sua morte. Isso me permitiu criar
Viktor por conta própria, e ele estaria muito pior agora se seu pai ainda
estivesse vivo.
Eu trouxe minha mão sobre meu coração. Naquela época eu não fazia
ideia de que ele tinha uma esposa e um bebê que logo nasceria.
– Apenas... diga pro seu filho não se meter com o meu pequeno. Eu não
posso estar por perto o tempo todo para cuidar do Viktor.
Minha boca estava ligeiramente aberta. Eu não sabia o que dizer.
Ela apertou seus lábios novamente e me deu um sorriso unilateral.
– Nós não vamos falar de novo – ela prometeu antes de se virar e voltar
para dentro da escola. As portas duplas se fecharam atrás dela, e eu pensei
que ela tinha que ser uma professora aqui.
E me lembrei mais uma vez do que meu pai me disse há muito tempo
sobre escolhas e consequências. Matar Iakov nos trouxe felicidade e paz,
claro, mas... por quanto tempo?

Fim

Continue lendo esta série com esses links:

1. Nas Garras do CEO: Uma Virgem para o Mafioso


2. Presa ao Mafioso: Romance de Casamento Arranjado
3. A Noiva Virgem do Mafioso: Romance de Casamento Arranjado
4. O Bebê Inesperado do Mafioso: Romance de Gravidez Indesejada
5. Noiva Fugitiva do Mafioso: Romance de Casamento Arranjado
6. Rainha do Mafioso: Romance de Casamento Arranjado

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Nas Garras do CEO: Uma Virgem para o Mafioso


Livro 1 da série

Leia-o AQUI
Imani
Tomei as escadas, chegando ao primeiro andar da mansão e depois virei
para a direita, prosseguindo para onde estava a cozinha. A esta hora da noite,
com os grilos chilreando lá fora, não podia haver ninguém lá.
Teria ela toda para mim, pensei com um sorriso suave no meu rosto.
Apesar dos diferentes obstáculos que muitas vezes apareciam na minha
vida, era um sorriso verdadeiro. Mas hoje à noite também era um pouco
diferente. Não conseguia dormir, preocupada com meus próximos testes e se
eu estava ou não preparada para eles.
Eu precisava estudar mais, mas era sempre tão difícil encontrar bons
companheiros de estudo. Eu tinha alguns amigos. Eu gostava deles e tal, mas
eles estavam mais empenhados em festejar, ficar bêbado, e beijar seus
namorados ou namoradas.
Desci pelo corredor, achando a mansão um pouco sinistra - como
sempre - à noite. Todas estas salas com as luzes apagadas, a ausência de risos
e pessoas conversando, e o silêncio inquebrantável não ajudavam a fazer com
que parecesse mais convidativa.
Havia guardas aqui e ali, mas não era como se houvesse assassinos
tentando nos matar ou algo parecido. Meu pai era um senador do estado da
Virgínia, mesmo morando aqui em Washington.
Sua vida era bastante emocionante. Ele sempre se reunia com todos os
tipos de pessoas.
Ficando acordado até tarde algumas noites, ele sempre me lembrava que
tudo o que tínhamos era possível graças a ele. Se não fosse pela forma como
ele se comercializava e seu charme, ele não teria sido eleito.
Parei em frente à porta da cozinha, virando um pouco minha cabeça para
a direita quando vi um dos guardas vindo aqui.
Na maioria das vezes, eu gostava de imaginar que eles não estavam
aqui. Às vezes me faziam pensar que estávamos vivendo num país que estava
em guerra. Na verdade, a América estava sempre em guerra, mas não era
como se estivéssemos sendo bombardeados diariamente, também.
Eu sabia que eles estavam aqui para nos manter seguros, mas com eles
sempre por perto, eu nunca podia ficar na piscina com apenas o meu biquíni
vestido, e sempre tinha que ter vários amigos juntos.
Pelo menos eles conseguiam me fazer esquecer que havia sempre
guardas me observando... como neste momento.
Eles entendiam o quão importante eu era para meu pai. Se algo
acontecesse comigo, ele despediria todos eles, e muitos desses homens
dependiam dele para sustentar suas famílias, claro.
Eu tinha vestido apenas um pijama rosa claro hoje à noite. Às vezes eu
gostava de vestir uma camisola, mas não hoje à noite.
Entrei na cozinha, ignorando o guarda que estava vindo e o outro atrás
de mim que me seguia. Um assunto que já havia conversado com meu pai
antes era sobre a sua obsessão em me manter sempre sob sua proteção.
Nunca me sentia só. Mesmo quando estava em meu quarto, com a porta
e as cortinas fechadas, sempre tinha uma sensação incômoda de que havia
alguém me vigiando.
Parei em frente à geladeira, abrindo uma de suas portas e depois olhando
para toda a comida que tínhamos dentro dela. Esta não era a única geladeira
que tínhamos na mansão, mas era a única que não parecia ter vindo de um
restaurante militar.
Além disso, esta cozinha era usada apenas por nós - a família
proprietária desta mansão. Minha mãe também morava aqui, embora a esta
hora da noite ela provavelmente estivesse dormindo. Ao contrário de meu
pai, ela não era o tipo de pessoa que gostava muito de trabalhar.
Mas eu supunha que ela não tinha que trabalhar muito, de qualquer
maneira. Ela era uma CEO. Ela tinha funcionários que faziam o trabalho
pesado para ela.
Havia algumas sobras de comida na geladeira, uma torta, frutas,
legumes, fatias de pão, queijo e presunto. Lambi meus lábios quando me
lembrei do sabor de um sanduíche, quando bem preparado e temperado.
Pensando nisso, já havia algum tempo desde a última vez que comi um
deles.
Eu assenti com os meus olhos fechados e sorri suavemente, minhas
mãos encontrando as fatias de pão, o presunto e o queijo. Fechei a porta da
geladeira com o peso do meu corpo e depois prossegui para a mesa.
Virei-me, abri alguns armários e gavetas até finalmente encontrar o que
estava procurando. Uma faca pequena e afiada para me ajudar a espalhar um
pouco de maionese sobre as fatias de pão.
Peguei-a e girei meu corpo quando meu braço derrubou, do balcão, uma
tigela com um monte de tomates dentro, fazendo com que todos eles fossem
rolando no chão.
Porra! Não preciso disso agora, pensei, já caindo de joelhos para pegar
todos os tomates.
E foi então que uma mão apareceu no meu campo de visão, fazendo meu
coração pular uma batida quando meus olhos se alargaram.
Eu levantei minha cabeça, encontrando o rosto de um homem que eu
nunca havia visto antes - e ele também não parecia ser um dos guardas. Não
olhava para seus rostos com frequência, mas este trazia consigo uma aura
espessa de confiança que eu nunca havia visto antes.
E, ao contrário deles, ele ainda estava vestindo um terno esta noite. Um
conjunto escuro e luxuoso que eu nunca tinha visto antes. Feito sob medida.
Ele deve ter encomendado este terno especificamente para ele. Comecei a
achar que ele era o tipo de homem que passava bastante tempo tentando
parecer o seu melhor, mesmo não precisando fazer isso porque era perfeito.
Seus olhos verdes me olhavam com uma intensidade que eu nunca tinha
visto antes. Era como se ele tivesse acabado de conhecer a mulher de sua
vida, mesmo que isso não fizesse o menor sentido.
Seu cabelo, do tipo pimenta e sal, curto e bem definido, era de um estilo
muito comum que eu tinha visto em muitos homens, mas nele era ainda
melhor, e com muito mais glamour também.
Havia algumas rugas em seu rosto, embora sua barba aparada e perfeita
parecesse esconder a maior parte dela. Eu não sabia seu nome, mas uma coisa
eu tinha certeza - quem quer que ele fosse, ele era muito mais velho do que
eu. Por pelo menos uma década, eu diria.

Yegor

Ela estava deslumbrante. Ah, eu estava cansado de encontrar sempre os


mesmos tipos de mulheres todos os dias. Não sabia o que havia com elas,
mas todas tinham a mesma aparência. Olhos falsos, sorrisos falsos, e mentiras
em cima de mentiras.
Mas Imani... Ah, ela era diferente. Sua pele de chocolate foi a primeira
coisa que me roubou a atenção dos olhos, mas foi sua personalidade
ensolarada e inocente que me prendeu a ela como se ela fosse uma vara de
pescador e eu fosse apenas um peixe em um lago raso.
A inocência era algo a que eu não estava mais acostumado.
Ela parecia ser bem jovem. Pelo menos uma década mais jovem que eu,
e uma presa fácil. Eu não sabia que Efrem tinha uma filha tão bonita, tão
ingênua que ela podia roubar o coração de qualquer homem com facilidade.
E ela podia fazer isso sem mesmo estar ciente disso.
Seu cabelo era curto, caindo aos seus ouvidos. Era preto como uma noite
romântica sob a luz de velas. Seus olhos estavam pintados com um tom de
coco que tornava quase impossível para mim olhar para qualquer lugar que
não fossem eles, a simples menção de tentar fazer algo diferente daquilo
parecendo um pecado para minha mente.
O corpo de Imani era um pouco magro, mas ela ainda tinha todas as
curvas que uma mulher como ela deveria ter.
Um par de pés que entrou na sala me tirou do meu transe, fazendo-me
virar meus olhos para a direita.
– Você não é um dos guardas. Quem é você e o que está fazendo aqui? –
Um homem com um boné e um uniforme de guarda perguntou, entrando na
sala.
– Entrei pela porta da frente e pedi permissão para vir, se é com isso que
você está preocupado – disse eu, recusando a ir mais longe de Imani. Eu
ainda tinha tanto para falar com ela.
Ele estava segurando uma M4, como se estivesse pronto para ir para
uma guerra.
– Veremos sobre isso – afirmou ele, estreitando seus olhos e fazendo
minha mão atirar ao punho da minha arma que estava enfiada na minha
cintura. Eu não a peguei e não planejava criar confusão na casa de Efrem,
mas se ele não podia ter homens melhores protegendo sua propriedade, então
ele não me deixava muita escolha.
Um homem apareceu na cozinha pelo corredor escuro, com os olhos
bem abertos quando percebeu o que estava acontecendo aqui. Diferentemente
do homem que estava segurando a espingarda M4, ele só tinha uma pequena
pistola com ele, e não tinha um boné na cabeça. Por que alguém estaria
usando um boné dentro de casa, a menos que ele fosse careca e estivesse
inseguro sobre sua falta de cabelo?
O homem que correu para a sala usava o mesmo uniforme escuro, com o
sobrenome da família Imani gravado nele. Ele era um dos guardas, embora
ainda fosse um mistério para mim porque ele veio aqui de repente.
O cara segurando o M4 virou a cabeça para ele, perguntando, – Você o
conhece?
– Sim, ele é um dos Gorbunov. Ele veio aqui para falar com o chefe.
Seu amigo, cujo nome era Noah Watson, alargou seus olhos com
verdadeira surpresa. Até mesmo seu aperto sobre o rifle ficou menos intenso,
com ele deslocando seu peso enquanto me mostrava que, de todas as coisas
que ele havia assumido que eu era, ele nunca pensou que eu fosse um
Gorbunov.
– Estou vendo – disse ele de repente, com sua voz soando mais como
um murmúrio.
Dando a volta, ele saiu da cozinha com seu amigo seguindo-o,
conversando com ele enquanto ele era ignorado. Noé compreendeu o peso
daquele momento em que ele teve um pouco de cara-a-cara comigo. Se ele
tivesse me irritado mais, ele sabia que eu não teria hesitado antes de fazer
toda a sua família sofrer.
A voz de Imani roubou minha atenção novamente, arrancando-me dos
meus pensamentos.
– Bem, pelo menos isso confirma que você não é um espião ou um
assassino tentando assassinar toda a minha família – disse Imani, abrindo um
sorriso largo e brilhante.
Eu também sorri, embora sem mostrar meus dentes. Eu simplesmente
não estava acostumado a sorrir e rir, mesmo que ela me fizesse sentir vontade
de fazer isso o tempo todo com ela. Nós éramos tão certos uns para os outros.
– Sim, acho que sim. Então, você é a filha do Efrem?
– Meu pai? Ah, sou sim – ela respondeu, passando a mão sobre a mesa
da cozinha e quase fazendo cair a faca pequena que ela colocou em cima
dela.
– Cuidado aí – aconselhei, agarrando não só a faca, mas também as
fatias de pão, o presunto e o queijo antes de afastá-los dela. – Acho que você
precisa de alguém que olhe por você.
Ela esfregou a parte de trás de sua cabeça, fechando seus olhos enquanto
ria, mostrando-me o quão envergonhada ela estava.
– Acho que sim – disse ela, seus olhos se abrindo e olhando para mim
enquanto ela achava impossível não mostrar seus sentimentos por mim. Se
não fosse pelo fato de eu precisar ir ver o pai dela, eu ficaria aqui e
aprenderia mais sobre ela.
– Deixe-me fazer um sanduíche para você – eu ofereci sem perguntar a
ela se ela queria ou não. Eu não precisava fazer isso, já que era óbvio que ela
tinha vindo aqui para um sanduíche e estava fazendo uma bagunça porque ela
era muito desajeitada na cozinha.
– Ah, você não precisa fazer isso – ela estava dizendo antes de fechar a
boca, seus olhos se alargando enquanto me via espalhar um pouco de
maionese sobre as fatias de pão. Eu não podia ter certeza disso, mas imaginei
que meu profissionalismo a estava impressionando.
Afinal, Imani não parecia ser o tipo de garota que estava acostumada
com cozinhas, mesmo querendo fazer um simples sanduíche de presunto e
queijo.
Não demorou muito para colocar uma fatia de presunto e outra de
queijo em uma das fatias de pão, fechando o sanduíche com a outra fatia.
Seus olhos ainda estavam bem abertos quando terminei de fazer o sanduíche,
embora houvesse mais uma coisa que eu precisava fazer antes que ele
estivesse realmente pronto para ela...

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Série Clube da Máfia e Mais

CLUBE DA MÁFIA

1. Não Tenha Medo: Um Romance Mafioso


2. Doces Palavras: Um Romance Mafioso Bratva
3. Propriedade do Mafioso: Um Romance de Casamento
Arranjado
4. Roubada pelo Mafioso: Um Romance de Casamento Arranjado
5. Enganada pelo Mafioso: Um Romance de Casamento
Arranjado
6. Feitiço do Mafioso: A Virgem Cobiçada pelo Viúvo

Ou se preferir, toda a série Clube da Máfia também se encontra nessas


duas coletâneas.

1. Entregada ao Mafioso: Romances de Casamento Arranjado


2. Desejos do Mafioso: As Virgens da Máfia

Gordinha e Macho Alfa

1. Sempre Minha: Um Romance Macho Alfa


Sobre Jolie Damman

Jolie Damman tem apenas uma obsessão: escrever mais e mais livros
sobre mafiosos. Ao encontrar sua paixão com bilionários obsessivos, sheiks,
máfia russa e italiana, ela escreve todos os dias. Seus livros são repletos de
cenas picantes e ela prefere escrever romances dark a qualquer outro.
Se você está buscando homens com excesso de confiança dominando
virgens, você vai encontrar isso aqui. Se está querendo se deitar em sua cama
enquanto mergulha em uma história com um CEO gato, elegante e sexy, você
já encontrou tudo o que precisa.

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