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2023

Nome da obra: A NOIVA ROUBADA DO MAFIOSO

Revisão e Preparação de Texto: Dani Smith Books


Diagramação: Mavlis

Capa: Mavlis

Nome do autor: Mari Cardoso

www.maricardoso.com.br

Copyright © 2023 por Mariana Cardoso

INFORMAÇÕES

Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida ou
fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico e
mecânicos sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos de
citações, resenhas e alguns outros usos não comerciais permitidos na lei de
direitos autorais.

Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens, alguns


lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, ou eventos reais
é apenas espelho da realidade ou mera coincidência.
SUMÁRIO
Sumário
NOTAS DA AUTORA

DEDICATÓRIA

PRÓLOGO | Cassio

PRÓLOGO | Caterina
UM | Caterina

DOIS | Caterina
TRÊS | Cassio

QUATRO | Caterina
CINCO | Caterina

SEIS | Cassio

SETE | Caterina

OITO | Caterina

NOVE | Cassio

DEZ | Caterina

ONZE | Caterina
DOZE | Cassio

TREZE | Caterina
QUATORZE | Caterina

QUINZE | Cassio
DEZESSEIS | Caterina

DEZESSETE | Caterina

DEZOITO | Cassio
DEZENOVE | Caterina

​VINTE | Caterina
VINTE E UM | Cassio

VINTE E DOIS | Caterina


VINTE E TRÊS | Caterina

VINTE E QUATRO | Cassio


​VINTE E CINCO | Caterina

VINTE E SEIS | Caterina


​VINTE E SETE | Cassio

VINTE E OITO | Caterina


VINTE E NOVE | Caterina

TRINTA | Cassio
TRINTA E UM | Caterina

TRINTA E DOIS | Caterina


TRINTA E TRÊS | Cassio

TRINTA E QUATRO | Caterina

TRINTA E CINCO | Caterina


TRINTA E SEIS | Cassio

TRINTA E SETE | Caterina


TRINTA E OITO | Caterina

TRINTA E NOVE | Cassio


EPÍLOGO | Caterina

EPÍLOGO | Cassio
SOBRE A AUTORA:

AGRADECIMENTOS
SINOPSE

Cassio Venturinni é conselheiro e braço direito de Danilo, é quem


comanda Las Vegas na ausência do irmão mais velho. Carrega consigo as
marcas da mudança de vida, cicatrizes no peito cobertas por tatuagens
assustadoras que o lembravam do momento em que deixou de ser um
menino para se tornar um homem.

Apesar de criado na máfia e treinado para ser letal, foi amado e


protegido não só pelo irmão, como também por sua babá. Sempre teve tudo
o que quis, era assassino e mimado. Mas ao ser levado por latinos em
vingança pela chacina provocada por Danilo anos antes, sua alma, que já
era condenada, foi levada diretamente para o inferno, transformando-o em
um verdadeiro demônio.

Por obediência, aceitou um casamento político, mesmo que uma


esposa não estivesse nos planos e nem fosse algo que lhe fizesse
minimamente feliz. Era honrado e, por esse motivo, faria o seu papel. Ele só
não esperava que depois de um longo noivado a distância, o tão aclamado
dia da cerimônia fosse terminar em uma tragédia: a noiva sendo sequestrada
a caminho da igreja.

Caterina Giordano era herdeira do segundo casamento de seu pai,


sabia que seu futuro era ser mulher de algum homem importante no meio
em que foi criada. Em Chicago, seu sobrenome tinha prestígio e não soube
ao certo reagir quando soube que seria entregue de bandeja como esposa do
segundo homem no comando de uma família muito temida e com histórias
tenebrosas.

Ela não sabia o que esperar ao se tornar uma Venturinni, mas não
tinha esperanças de um casamento por amor. Assim como os pais, desejava
conquistar o respeito de seu marido e uma boa posição, dando-lhe filhos o
suficiente para ficar segura. No entanto, Cassio era mais difícil do que
imaginou e ao ser capturada no dia de seu casamento, descobriu ser uma
peça ainda mais vulnerável em um jogo de pessoas realmente muito
perigosas.
LIGAÇÕES

Este livro contém ligações com o meu universo da máfia e uma história
independente, portanto, abaixo está relacionado para aquelas que gostam de
se aventurar. Lembrando: não é necessário a leitura de nenhum livro
anterior para compreensão. Cassio é irmão caçula do Danilo de Prometida
Para Um Mafioso e basta acompanhar as notas de rodapé se sentir
necessidade.
NOTAS DA AUTORA
Depois de mais de um ano sem escrever sobre máfia (e me
aventurando sob duas rodas com meus motoqueiros deliciosos), estamos de
volta com essa história gostosa, que vai um pouco além (eu disse POUCO)
do que me permiti nos demais livros e gostei bastante do resultado.

Para as ansiosas de plantão, aqui vai a confirmação dos próximos


mafiosos: Mick e Liberty, Fernando e Alessa, Assis e Paola, Mariano e
Emilia, Stefanio e Lara.
Vai ser nessa ordem? Não! Isso só Deus sabe em seus planos de inspiração
para minha vida.
Obrigada por todo carinho até aqui e lembrando: essa história
contém cenas de sexo, violência, ação, palavrões e é altamente
recomendado para maiores de dezoito anos conforme a classificação
indicativa.
DEDICATÓRIA
Esse livro é para vocês, minhas marias mafiosas.
Obrigada Sr. Martins pelas inspirações.
PRÓLOGO | Cassio
Vegas brilhava lá fora. As luzes cintilantes da cidade refletiam no
copo de uísque meio vazio na mesinha à minha frente e, nas costas da
morena ajoelhada entre minhas pernas levando todo meu pau à boca, quase
engasgando, mas fazendo um bom trabalho. Ela olhou em meus olhos toda
sensual e a ignorei, querendo que fizesse seu trabalho. Traguei o cigarro,
olhando para o alto, estalei o pescoço e virei para a porta.

Foda-me.

— Saia.

Ela levantou, sem questionar que não havíamos terminado. Fechei a


calça, virei toda a bebida e peguei minha arma, girando na cadeira. Mariano
entrou, olhando para a bunda nua da mulher com um sorrisinho e arqueou a
sobrancelha.

— Já terminou?

— Não quis atrapalhar. Não avisaram que estava acompanhado. —


Ele jogou-se na cadeira, esticou as pernas e dobrou as mangas da camisa.

— Terminou ou não, porra?

— O que acha? — Deu-me um sorriso enviesado, divertido. —


Danilo [1]provavelmente está a caminho com a pá e pronto para cavar nossas
covas.

Ri secamente, voltando a encarar a cidade e, satisfeito, me servi com


mais bebida. Meu irmão ficaria irritado, como sempre, mas depois
entenderia. Ele confiava em mim, ou não teria me nomeado como
conselheiro. E não foi por política. Nossa família não era conhecida por
fazer o que os outros esperavam, se ele me quisesse apenas como irmão ou
me matar por minha existência inútil, já teria feito.

Saboreei o uísque, engolindo bem devagar e Mariano[2] mexeu em seu


telefone. Poucos minutos depois, as putas voltaram. Afinal, tínhamos
muitos motivos para comemorar. Tirei meu cinto e o envolvi no pescoço de
uma delas, puxando-a para baixo e deixando claro o que eu queria: uma
foda violenta e crua, para extravasar o estresse do dia e o caos doloroso que
enfrentaria pela madrugada.
PRÓLOGO | Caterina

Em um minuto, estava sorrindo para minha sobrinha, fingindo estar


em controle dos meus sentimentos a caminho da igreja e no outro,
estávamos girando sem parar na estrada ao som assustador de tiros e vidro
sendo quebrado. Minha cabeça bateu repetidas vezes na lateral, tentei me
segurar nos bancos, rolando entre minha mãe e o soldado e me rastejei de
volta, querendo saber se Ania estava viva.

Ela choramingou em meus braços, dizendo que seu braço doía e


chutei o vidro, para sairmos do carro. Ele não quebrou de primeira, tudo
parecia tão estranho, confuso, era como se estivesse submersa, embora
tivesse consciência de que estávamos na estrada a caminho do meu
casamento. A urgência de sair correndo me dominou. Só queria me sentir
segura.

Sem que tivesse controle, fui puxada e eu nem sabia por onde. Tentei
me agarrar ao banco, gritando para que me soltassem. Uma queimação no
braço me fez parar de me debater. Jogada no asfalto frio e com a visão
turva, olhei para os homens de preto, erguendo minhas mãos.

— Não me machuque, por favor — implorei, tentando levantar e um


deles colocou a bota na minha barriga, me afundando novamente no lugar.
— Por favor.
UM | Caterina
Chicago

Distraída, brincando com uma mecha do meu cabelo, mal vi a cidade


passar diante dos meus olhos, logo surgiram os portões de ferro da
propriedade dos meus pais. O motorista parou enquanto esperava que
verificassem o carro, uma medida de segurança padrão, e logo fomos
liberados, circulando o grande chafariz e parando em frente às portas
duplas. Elas eram de madeira e tinham desenhos complexos que, desde que
me mudei, quis entender o que significavam, mas mamãe apenas disse ser
uma arquitetura chique local.

Nascida e criada na Itália, ainda não entendia como a mente dos


americanos funcionava. Fomos trazidos para a América há dois anos,
quando papai foi chamado para comandar os cassinos, uma posição de
prestígio e respeito, além de um grandioso aumento de salário na
corporação mafiosa que ele pertencia.

Esperei que meu motorista desse a volta e abrisse a minha porta, me


permitindo sair. A governanta me aguardava, e deu um sorriso amável. Era
bom estar de volta depois de uma temporada com minha Nonna, passando
as férias de verão. Peguei minha bolsa de mão, passei pelos funcionários
cumprimentando-os e a primeira pessoa da minha família que vi, foi meu
irmão mais velho. Melhor dizendo, um dos quatro.

Eu era a caçula, filha do segundo casamento do papai. No primeiro,


ele teve homens, que tinham quarenta, trinta e oito, trinta e seis e por fim,
trinta e quatro anos. Dois viviam na Sicília, eram soldados de alta patente e
outros dois, viviam ali, trabalhando com papai nos cassinos. Pablo, o mais
velho de todos, me deu um beijo na testa, dizendo estar com saudades. Abri
um sorriso, sentindo o carinho dele.

Subi a escada em busca da minha mãe. Bati na porta do quarto antes


de entrar, encontrando-a em sua penteadeira, ainda se arrumando. Parei por
alguns segundos, admirando sua beleza. Ela tinha longos cabelos castanho-
escuros que ficavam em um tom lindo com a luz do sol e olhos pequenos,
azuis-brilhantes, com cílios proeminentes, um nariz empinado e lábios bem
preenchidos que foram comprados cirurgicamente, mas não pareciam, de
tão harmônicos.

Mamãe era muito bonita, tinha pouco mais de cinquenta e um corpo


de deixar qualquer um com inveja. Eu queria ter toda aquela vitalidade.
Éramos muito parecidas, mesmo tom de cabelo, olhos, o nariz, a diferença
era que o meu era natural e ela inspirou-se no meu para corrigir o dela, já os
lábios, puxei da família do meu pai. Eram mais finos, porém, rosados e bem
bonitos. Meu corpo era mais curvilíneo do que o dela, que, mais alta,
aparentava ser mais magra, porém, vestíamos praticamente a mesma coisa.

— Oh, querida! Chegou mais cedo! — Ficou de pé com rapidez.

— Não havia trânsito.

— Queria estar pronta para receber a minha menininha. — Ela me


abraçou apertado. — Feliz aniversário, amor! Dezoito anos, hum?

— Estou me sentindo tão velha. — Revirei os olhos discretamente.

— Foi a idade que casei com seu pai.


E ele tinha o dobro e era pai de quatro moleques pentelhos, mas deixei
isso quieto. Ela era apenas uma jovem quando assumiu aquela família com
tudo que tinha, imaturidade e medo, conquistando uma sogra rabugenta e os
filhos impossíveis do marido. Eu não a julgava por sentir orgulho de seus
feitos e se estávamos todos inteiros, mamãe tinha tudo a ver com isso.

— Ansiosa para seu jantar de comemoração? Seu pai mandou preparar


aquele cordeiro… temperou pessoalmente.

— E ele teve tempo?

— Ele sempre tem a menina favorita dele. — Ela riu e ajeitou meu
cabelo. — O que quer fazer? Comer e descansar?

— Só tomar um banho e deitar, o voo foi longo e meio cansativo.


Nonna mandou muitas coisas.

— Deixe-me adivinhar. — Mamãe bateu com o indicador no queixo.


— Comida?

— Ela bem que tentou. Mandou muitas colchas, outros bordados,


sapatinhos para um futuro bebê e eu disse que minhas cunhadas pareciam
satisfeitas com a quantidade de crianças que já produziram.

Mamãe apenas me deu um sorriso estranho, ajeitando meu cabelo


desnecessariamente e mandou-me deitar para estar com a pele boa para meu
jantar de aniversário. Não haveria convidados externos, apenas nossa
família, o que já enchia a casa e a deixava barulhenta o suficiente. Éramos
italianos, aquilo não era um problema, principalmente porque morávamos
todos juntos: meus irmãos com as esposas e três filhos pequenos cada.

Parei na frente do meu espelho e senti algo diferente. Era meu


aniversário. Dezoito anos. Eu não sentia exatamente nada novo na minha
vida, mas era um rito de passagem muito importante para mulheres do meio
em que eu vivia. Não era tonta, fui criada com um propósito óbvio, um dia
seria esposa de um homem com quem meu pai faria um acordo de
casamento. Tanto que, diferente das meninas da minha idade, eu sequer
olhava para outros garotos, era perda de tempo.

Meu futuro foi traçado quando nasci.

Fui educada para ser uma boa esposa, uma ótima mãe e estava tudo
bem por mim, só esperava que meus pais encontrassem um bom marido.
Uma das minhas melhores amigas casou com um idiota que a tratava como
um animal e eu queria muito que ele tivesse um ataque cardíaco. Será que
eles encontraram um noivo e por isso minha avó passou o verão inteiro
bordando um enxoval? Por que eles não me falariam nada?

Não conseguia pensar em ninguém. Não havia muitas opções no nosso


nível… pelo menos não solteiros. Puta merda, se fosse um velho asqueroso,
nunca mais falaria com meus pais. A diferença de idade deles não me
incomodava porque meio que cresci com isso, mas não conseguia pensar
em me casar com um homem cheio de filhos e já meio idoso. A não ser que
fosse um daddy como nos filmes, que podiam interpretar até garotinhos de
tão gostosos.

Comecei a rir sozinha dos meus pensamentos e fui tomar banho. Se


minha mãe sonhasse com o que se passava na minha cabeça, brigaria
comigo para que eu me comportasse. Eu era uma dama, demonstrar
qualquer comportamento lascivo na sociedade em que vivia era motivo para
minha ruína, mesmo que fosse esperado do sexo masculino conviver em
clubes com prostitutas e dançarinas sem roupas desde o berço.
Mais tarde, mamãe entrou no quarto, acendendo as luzes suavemente e
me acordando. Ela entrou no closet, dizendo ter o vestido perfeito para eu
usar e queria me ajudar a me arrumar. Sentei na penteadeira e peguei a
escova, ouvindo-a tagarelar que minha cunhada estava com uma bolsa
lindíssima para me dar de presente.

— Deveria ter retornado um dia antes para que pudéssemos ir ao


salão. — Ela prendeu meus cabelos em um coque trançado. — Use o colar
que sua Nonna te deu. Combina com seus olhos e será perfeito para essa
noite.

— E devo esperar algo especial?

— É seu aniversário, meu anjo. — Ela beijou meus cabelos e saiu.

Fiquei parada, olhando-me no espelho, ainda desconfiada. Coloquei o


vestido, calcei os sapatos e logo depois de pronta, ouvi meus sobrinhos
pelos corredores e topei com dois deles brincando de pega-pega, peguei o
mais novinho no colo, que me deu beijos de feliz aniversário e fui
descendo. Papai estava servindo uma bebida no bar, abriu os braços e me
refugiei ali, sentindo seu clássico cheiro de menta com charuto de canela.

A governanta havia separado os pacotes que estavam em minha mala


e entreguei tudo para as crianças. Parecia Natal, mas a Nonna fazia questão
de mimar todo mundo. Fui autorizada a beber um pouco de vinho para
socializar e me deliciei com os bolinhos de queijo gruyère e presunto de
parma.

— O jantar está pronto — papai anunciou ao sair da cozinha. Ele


estava verificando pessoalmente o cordeiro, todo cheio de vaidade. —
Vamos comer, família.
Fiquei muito orgulhosa da mesa bonita que mamãe preparou. Toda
comida estava cheirosa e havia muita, as crianças ficaram extremamente
empolgadas, logo avançaram em seus lugares. Eu fui servida com um pouco
de tudo, matando a saudade do tempero de casa, que por mais que fosse
composta por italianos, tinha um sabor diferente.

A sobremesa foi meu bolo, de duas camadas, chocolate, creme branco


e cobertura de frutas vermelhas. Comi dois pedaços e ainda lambi os dedos,
observando a troca de olhares entre minhas cunhadas, meu pai beber mais
do que o normal, mamãe manter o sorriso no rosto e meus irmãos suando.

— Então, querida. Para seu aniversário de dezoito anos, recebemos a


notícia de que Damon Galattore [3]encontrou uma proposta de casamento.

Eu pisquei, aturdida. Embora desconfiasse, engoli em seco.

Meu cérebro deu uma breve bugada.

— Para mim?

— Sim, querida — mamãe retrucou com mais paciência.

— Quem? — Franzi o cenho, tentando pensar em um homem solteiro


no nosso meio. Ou ao menos, viúvo.

— Ele não é de Chicago. — Papai limpou a garganta, mantendo o


controle da situação e somente por isso, senti uma ruga de preocupação
rastejar pela minha espinha. Ele já era um homem idoso e conhecia cada
expressão daquele rosto cansado.

— Nova Iorque, presumo. Ou da Itália? — Coloquei o guardanapo de


linho na mesa, atenta. Não conhecia todos os homens de Nova Iorque, era
muito grande o território sob o comando de Dante Biancchi[4].
— Na verdade, há uma necessidade de fazermos acordos políticos
com a família de Las Vegas, e eu aceitei.

Como se ele tivesse a opção de negar uma ordem do chefe. Mas havia
parte da nossa família comandando Vegas, se não me engano, era um
homem chamado Michelangelo Rizzo. Eu não sabia se ele era casado ou
não. Mas também havia outro lado, maior e mais complicado, que era
comandado pela família da Calábria, de quem ouvia histórias tenebrosas
desde nova.

— Papai? — Virei na cadeira, respirando fundo.

— Cassio Venturinni virá na próxima semana para conhecê-la


pessoalmente.

Venturinni.

— E quem é ele? — Lambi meu lábio seco.

— É o conselheiro e único irmão do chefe. É um ótimo casamento. —


Papai parecia orgulhoso e, ao mesmo tempo, havia um tom de hesitação. —
Sei que está preparada para ser uma excelente esposa e levará honra ao
nosso sobrenome.

— Eu irei, papai.

Olhei para mamãe, sentindo meu peito apertar e, como não queria
chorar na frente de nenhum deles, mantive minha postura e pedi licença,
saindo da sala de jantar de cabeça erguida. Subi a escada devagar, porque
sabia que meus passos estavam sendo ouvidos e caminhei até meu quarto,
fechando a porta com cuidado.
Cassio Venturinni era filho do homem que assassinou a esposa e os
dois filhos mais velhos a sangue-frio. Ele e o irmão eram conhecidos como
demônios que enlouqueciam as mulheres, tanto que a esposa de Danilo
nunca mais foi vista depois do casamento. Ninguém sabia sobre ela, as
fofocas corriam que era deprimida e completamente dependente do marido.

Como poderia sobreviver naquela família?


DOIS | Caterina
Chicago

Tonia, minha cunhada, estava atrás de mim fazendo cachos nos meus
cabelos. Ela me deu um sorriso tranquilo e apertou meu ombro. Era o dia do
meu noivado e minha casa estava muito agitada. Ainda não havia visto meu
noivo e gostaria que o nosso primeiro encontro fosse privado, mas não era
possível mediante as regras do nosso mundo. Pelo menos, além da nossa
família, apenas os chefes foram convidados e por mais que aquilo fosse
intimidante o suficiente, eu não estaria exposta a muitas pessoas.

Meu vestido estava pendurado no armário. Era rosa escuro, um tanto


virginal, para combinar com a minha aparência de menina inocente. Um
cordeiro pronto para o abate de um lobo faminto. Tentei procurar imagens
de Cassio na internet e não encontrei nada, porque obviamente, ele não
tinha redes sociais e ao contrário da família de Nova Iorque, os Venturinni
não apareciam na mídia de nenhuma maneira. Eles viviam completamente
reclusos, eram como uma sombra monstruosa que alimentava o pesadelo de
muitas pessoas do nosso meio.

Mantive meu semblante tranquilo, praticando exercícios de respiração


que aprendi na ioga. Eu não tinha outra alternativa a não ser enfrentar,
manter minha cabeça erguida e aceitar o meu destino, fazendo o melhor.
Enlouquecer e sentir medo não era uma opção. Talvez fossem apenas
fofocas. Talvez, eu tivesse boas chances de lutar pelo meu futuro ao lado do
Cassio. Se mamãe conseguiu domar os filhos do meu pai e ter um
casamento tão saudável quanto possível na vida que tínhamos, eu também
conseguiria.

Terminei de me arrumar sozinha, colocando as joias e o vestido,


porque mamãe estava muito ocupada certificando-se de que o jantar
aconteceria perfeitamente. Pronta, esperei a governanta avisar que poderia
descer, agoniada de ansiedade. Espiei a janela e vi o momento em que
vários carros pretos entraram na propriedade e foram parando na entrada, os
seguranças saindo primeiro e abrindo as portas.

Só havia homens.

Nenhuma das esposas estavam presentes?

Puta merda.

O que aquilo significava?

Normalmente, a presença de mulheres era sinônimo de boa


convivência, a não ser que elas chegassem depois, o que não era incomum.
Abanei meu rosto, o quarto estava climatizado e ainda assim, suava. Lavei
minhas mãos e renovei o perfume, ajeitando a roupa desnecessariamente,
foi quando ouvi a batida na porta, sinal que era hora de sair. Abri, sorri e,
confiante, segui pelo corredor.

Papai estava no pé da escada, me aguardando, e esticou a mão, me


convidando a descer. Apoiei no corrimão, lembrando de ser graciosa, a
garota perfeita que aquele homem estaria levando para casa em trezentos e
sessenta e cinco dias. Não consegui olhar para ninguém, o rosto de todas
aquelas pessoas segurando taças de champanhe eram borrões. Finalmente,
parei ao lado do meu pai.
— Minha amada filha, Caterina — ele me apresentou e então, uma
sombra pairou sobre mim e olhei para a presença intimidante do homem
que se aproximava, me deixando um tanto sufocada. Ele era…
absurdamente lindo, pele morena, olhos castanhos claros, cabelos escuros e
apesar de estar todo coberto de preto, era possível ver que a estrutura era
musculosa. No entanto, a expressão feroz espantava a beleza para longe.
Havia algo letal ali, que me causava uma ânsia de sair correndo e eu estava
acostumada com homens assustadores, não era como se meu pai e irmãos
fossem vendedores de bíblias.

— Caterina. — Ele esticou a mão. — Sou Cassio Venturinni.

— Olá, Cassio.

— Tonia irá acompanhá-los no jardim — papai anunciou e lhe dei um


aceno.

Cassio apoiou minha mão em seu braço, segurei de leve e lembrei de


dar sorrisos simpáticos aos outros convidados. Mas eu não podia dizer que
prestei atenção em qualquer um deles, muito focada em colocar um pé na
frente do outro, não rebolar demais, manter a respiração sob controle, não
aparentar nervosismo e ficar perfeita.

A porta dos fundos estava aberta e o jardim iluminado. Do lado de


fora, o clima seguia abafado e úmido, rezei para meu cabelo não enrugar.
Cassio desceu na frente, me dando apoio e minha cunhada nos seguiu em
silêncio, mantendo uma distância respeitosa para não ouvir a nossa
conversa e, ao mesmo tempo, não nos dar privacidade o suficiente para que
falassem que ficamos sozinhos.

Cassio era muito mais alto que eu e cheiroso, embora, sentisse a pitada
de cigarro em suas roupas.
— Imagino que esteja de acordo com esse noivado. — Ele parou
próximo a uma estátua de uma mulher tocando violino com crianças ao
redor, perto do orquidário de minha mãe.

— É uma honra. Soube que está nos seus planos que a cerimônia
aconteça daqui a um ano.

— Sim. É o momento ideal. Alguma preferência de lugar?

— Acredito que meus pais ficarão honrados caso o casamento


aconteça aqui na catedral, mas ainda não falamos sobre todos os detalhes e
podemos decidir com calma depois. — Coloquei meu cabelo atrás da
orelha, ele segurou meu pulso e tirou do bolso um saquinho de veludo. Ali
continha uma pulseira, com uma plaquinha escrito Venturinni e dois rubis
em cada lado, adornados de maneira elegante, com uma corrente bonita que
parecia ser ouro branco. — É muito bonita.

— Nunca tire. Acredite em mim, saberei se estiver sem ela.

Dei um aceno. Era um presente atencioso, mas certamente, não


combinava com todas as minhas roupas. Ainda segurando minha mão,
pegou a aliança e, sem um pedido formal, porque era desnecessário,
simplesmente deslizou o anel em meu dedo anelar e olhei para a pedra. Era
esperado que um homem de sua posição me entregasse algo luxuoso e
aquilo era digno da realeza.

— Ela é linda. Obrigada.

Cassio deu um aceno, satisfeito, ou algo parecido. Ele não parecia se


importar muito. Ofereceu seu braço e aquela conversa terminou. Eu estava
noiva. Ponto final. Tonia me deu um olhar e eu me perguntei se meu irmão
foi um pouco mais romântico, embora duvidasse. Foi um acordo também.
Eles se viram algumas semanas antes do casamento e se deram bem.
Pareciam gostar um do outro.

Voltamos para a sala principal e fomos recebidos sob aplausos. Cassio


apresentou-me ao irmão, Danilo. Eles eram muito parecidos, principalmente
no quesito de trazer arrepios de medo à minha espinha e um sorriso nervoso
aos meus lábios. Em seguida, estava acompanhado de três homens com o
mesmo sobrenome: Fernando[5], Assis[6] e Mariano Mansueto, que disse
serem da família, e não deu mais explicações.

Enzo Rafaelli [7]estava presente com Damon Galattore. Suas esposas,


para meu alívio, conversavam com minha mãe e foram espirituosas com
elogios a minha roupa. Elas eram boas em ignorar o elefante branco na sala,
gentis demais para me deixar ainda mais histérica e donas de si de um modo
que não se importavam com a tensão. Giovanna era uma mulher que estava
sempre na boca do povo, icônica de muitos modos.

— Está ansiosa para começar os preparativos do casamento? — Tonia


quis saber depois do jantar. Eu estava confusa, havia uma parte minha que
desejava sair pegando todas as revistas e saber tudo que estava na moda,
outra parte, nervosa, queria ficar na cama, enrolada no cobertor, colocando
minha mente em ordem. Meus pensamentos estavam embaralhados e uma
semana não foi o suficiente.

— Claro que sim. Esse é o momento mais esperado da vida de uma


mulher — menti, pegando uma taça de espumante e dando um gole.

— Sinto falta da época do meu casamento, foi um dos momentos mais


lindos da minha vida e, provavelmente, quando Damon pensou que eu
poderia fazê-lo abrir falência. — Giovanna [8]riu, olhando para o esposo,
que estava do outro lado da sala com o primo, que também era o chefe. —
E se posso te dar alguns sábios conselhos, gaste tudo que puder. É uma data
única. Se pensar ser desnecessário ou inútil, lembre-se, não existem
divórcios e eles precisam pagar por tudo que queremos.

— Exatamente tudo. Sem contar que a família de Vegas adora se


exibir. — Juliana [9]olhou com interesse para Danilo e sorriu de maneira
perversa. — Será que eles podem aguentar?

As duas compartilharam uma risada como se fosse uma piada interna


e encarei as minhas mãos. Eu não era como Juliana Rafaelli. Gostaria, mas
não tinha sua força e coragem de comandar os homens com mais letalidade
do que o próprio marido. Papai dizia que a mulher era um monstro. Papai
tentou me ensinar a lutar quando eu quis abandonar o ballet, então sabia
uma coisa ou outra sobre defesa pessoal, mas era boa mesmo com esportes
e me dei muito bem na ginástica olímpica.

Ergui meu olhar ao perceber que estava sendo observada e pelo


reflexo do grande vaso de cerâmica em tom perolado cheio de rosas brancas
da decoração do noivado, percebi que os olhos castanhos como mel do meu
noivo queimavam minha nuca. Ele não desviou mesmo quando me viu
encarando-o. O que será que estava pensando? Eu era um presente ou uma
decepção aos seus olhos?

Meu estômago meio que embrulhou com a noção de que um dia


seríamos íntimos como marido e mulher. Naquele momento, carregar a
aliança de um homem que vivia do outro lado do país era como me sentir
separada por um abismo sem ter nenhuma noção da profundidade. Covarde
como era, perdi a batalha e abaixei o rosto, brincando com meus anéis, e
voltei a conversar com as mulheres.
O jantar foi até divertido, seria mais se eu pudesse ignorar a bola de
cimento no meu estômago e fingir que era mais um evento que meus pais
ofereciam. Os convidados foram embora depois de uma hora de conversa
social e eu estava liberada para retornar ao meu quarto, algo que desejava
desesperadamente.

Tomei banho para tirar todos os produtos do rosto e cabelo, removi a


maquiagem, vesti um pijama e me deparei com mamãe sentada na ponta da
minha cama.

— Você gostaria de conversar, filha? Tem alguma dúvida?

— Eu não sei o que dizer. Por que fui escolhida? Eu pensei que apesar
de não sermos declaradamente inimigos, não éramos amigos. Sempre foi
cada um de um lado, sem intervir no trabalho do outro. — Sentei-me ao
lado dela, que segurou minha mão e passou o polegar por minha aliança.

— Houve um ataque na fronteira, uma chacina, e por motivos


políticos, para que inimigos em comum pensem que somos capazes de
trabalhar em conjunto, o casamento é a melhor maneira de anunciar uma
união.

— E eu entrei nessa?

— Seu pai tem chamado a atenção pelo excelente trabalho e por


consequência, a filha jovem e solteira acaba entrando na lista para…

— Esse sacrifício.

— Para todos, é uma honra — ela me corrigiu suavemente.

— Eu vou embora para longe, mãe. Vou pertencer a outra família e


sabe-se lá se poderei vê-los novamente. Se estourar uma guerra, nunca mais
poderei te ver. Serei obrigada a ser leal ao meu marido e nunca mais poderei
pisar em Chicago ou na Sicília.

Mamãe beijou minha testa, me silenciando.

— Não vamos pensar dessa maneira, e sim, confiar que seremos


capazes de manter essa união. Esse casamento vai fortalecer nossos laços
em comum, está bem?

Não confiava e não estava satisfeita com aquela resposta. Meu


coração aflito me impedia de descansar, mas, por obediência, fui para a
cama e permiti que me cobrisse, apagando as luzes.

Fingi me entregar ao sono mesmo que, por dentro, estivesse com a


cabeça pegando fogo.
TRÊS | Cassio
Voando para Las Vegas

Mariano parecia muito divertido no voo de volta para Vegas e eu


queria dar-lhe um soco na boca por ser babaca. Ele ergueu o dedo,
sorridente, e respirei fundo, dando um único alerta de que minha paciência
estava na porra do fim. Danilo estava nos fundos com seu telefone, fone de
ouvidos e em chamada de vídeo com minha cunhada, Isabella, contando
como havia sido o noivado.

Matei umas pessoas na fronteira e precisaria me casar. Vai tomar no


cu, porra. Eu imaginava que Danilo ficaria um pouco irritado por eliminar
um acampamento de traficantes que estava crescendo entre Nevada e Utah.
Um lado, na Califórnia, era dominado por Devil's Ride, que apesar da
[10]

forte presença, não impediam nossa passagem e eram bons negociantes.


Mas do outro, eu não podia permitir que saíssem da puta que pariu de
Atlanta para criar raízes.

A questão era que Utah era dividido entre ser nosso e território da
famiglia, com isso, matar pessoas que eles disseram que iriam cuidar do
assunto deu a entender que eu não confiava na palavra deles. E era verdade,
porra. Para que mentir? Se podia resolver o problema, estava resolvido.
Danilo, no entanto, se irritou porque eu comprometi publicamente a política
entre as famílias.

Foram só mortes de pessoas inúteis. Ninguém sentiu falta. A polícia


sequer estava se importando e não tinha nada a ver com o fato de estarem
na folha de pagamento. Nem a mídia se deu ao trabalho de noticiar a troca
de tiros e os vizinhos preferiram dormir a ficar em suas janelas com
telefones, gravando vídeos curtos para as redes sociais. Ou seja, eu fiz um
bem à comunidade.

Mas alguém estava grato? Porra nenhuma. E agora, por causa desse
caralho, noivei com uma garota e em um ano maldito, ela seria minha
esposa.

Puta que pariu.

Eu imaginei que a coceira do casamento era coisa da famiglia, e não


que Danilo estivesse armando isso nas minhas costas. Um matrimônio
político para acalmar os ânimos, mostrar que podíamos coexistir e sermos
uma presença forte contra os nossos inimigos. A filha caçula de um chefe
expressivo, de confiança de Damon Galattore, casando-se com o irmão e
conselheiro do chefe da Calábria deixaria alguns dos nossos inimigos, senão
todos, bastante preocupados.

Não era de conhecimento geral que a Calábria era capaz de conversar


com outras famílias italianas. Vivíamos fechados em nosso mundo, sem
fama, sem conhecimento, sem mídias sociais, apenas vivendo nas sombras e
causando nosso caos da melhor ou da pior maneira possível, sem que
soubessem nossos verdadeiros rostos.

— Continue rindo e eu vou arrumar uma esposa para você. —


Fernando colocou dois copos de uísque entre nós e Mariano ficou sério no
mesmo instante.

— Eu não entendo esse medo do casamento. — Assis refletiu do outro


lado.
— E por que não está casado ainda? — Mariano virou, voltando a
sorrir. Ele não conseguia parar.

— Não apareceu a oportunidade, como aconteceu com Cassio.

— Está disposto a ceder o seu lugar para Assis? — Mariano me


provocou.

Não me dei ao trabalho de responder. A aliança no dedo daquela


jovem e muito bonita mulher era minha, eu escolhi e ela me pertencia. Em
um ano, querendo ou não, seria minha esposa e nenhum idiota tomaria o
que já era meu. Não era possível explicar a possessividade que corria nas
veias de um Venturinni, mas era assim que funcionava e eu não lutava
contra isso.

Caterina era minha. Assis que procurasse a própria esposa, porra.

Mariano percebeu a minha expressão e começou a rir. Eu suspirei e


avancei. Fernando nos separou pelos ternos e Danilo nos deu um chute,
mandando que parássemos. Bebi todo meu uísque, ouvindo a ladainha de
que ainda bem que soubemos como nos comportar. Minha cunhada achava
que éramos crianças ainda.

Pousamos em Vegas no meio da madrugada e nossos homens nos


aguardavam com os carros estrategicamente parados, nos quais seguimos
pela cidade até a mansão da família. Apenas Fernando não morava no local,
com a nova esposa, a doce e gentil Alessa. Eles tinham filhos pequenos e
era ótimo, os pirralhos dos meus sobrinhos já eram o suficiente para aturar
quando ficavam nos Estados Unidos.

— Que bom que estão de volta. — Alessa estava na cozinha.

— Oi, querida. — Fernando deu-lhe um beijo.


— Como foi? — Ela quis saber, me olhando com expectativa.

Se fosse qualquer outra mulher querendo ser curiosa, eu mandaria à


merda, mas além de ser da minha família, Alessa era muito querida.
Cuidava de todo mundo o tempo todo, era impossível ficar com raiva dela.
E depois de tudo que passou, todos nós a tratávamos como uma princesa.

Parecia que todas as pessoas da nossa família precisavam passar por


uma prova de fogo para ficarem fortes e com Alessa não foi diferente, o
ponto era que ela continuava sorridente.

— Foi tudo bem. A festa foi maravilhosa e fomos bem recebidos. —


Tirei meu terno e o coloquei apoiado na cadeira.

— Ela é bonita?

— Ela é muito bonita — confirmei com um sorriso orgulhoso. Danilo


bateu na minha nuca e foi embora para seu quarto.

Alessa assumiu uma expressão sonhadora e olhou para o marido,


cheia de planos para o casamento. Eu não tinha certeza se a família da noiva
permitiria que as mulheres da minha participassem dos preparativos e era
uma questão que eu não iria me intrometer.

Deixei o casal sozinho, subi as escadas e entrei no escritório, ligando


para verificar o andamento das boates e cassinos. Eu raramente ficava longe
e não estava com sono, mesmo que cansado, por ter sido o típico evento
social que eu tinha vontade de matar muitas pessoas e manter a bosta da
cordialidade.

Minha noiva era filha caçula de um velho cheio de manias e tinha


quatro irmãos mais velhos que acharam que seria divertido ficar trocando
ameaças em tom de piada. Foi divertido quando Assis e Mariano ficaram
fazendo isso com Danilo anos atrás. Comigo foi um pé no saco. Levei na
esportiva. Era um casamento político. Nosso mundo tinha regras e eu não
pretendia matar a minha esposa, mas não podia prometer que haveria amor.

Chegava a ser ridículo pensar em algo do tipo.

— Eu já sei o que vai tirar esse seu humor de merda. — Mariano


entrou cantarolando no meu escritório. — Mandei trazer alguma diversão
para passar a noite e estão no quarto de hóspedes, portanto, de nada.

— É a recompensa por me encher o saco?

— Não.

Rindo, foi assobiando. Tínhamos que ser discretos, porque apesar de


ficarmos sozinhos ali na maior parte do tempo, quando Alessa estava por
perto, respeitávamos a presença dela. Minha cunhada, Isabella, nos mataria
se sonhasse que havia putas em qualquer cômodo da casa, por isso,
tínhamos um apartamento para diversão no centro.

Terminei de ouvir os relatórios e segui para a ala de hóspedes,


entrando no quarto em que a música estava tocando e tinha duas garotas
começando a se divertir na banheira de hidromassagem. Fechei a porta,
observando-as molhadas, e fui tirando a roupa, sentindo a crescente e
familiar raiva borbulhar no peito. Ela nunca ia embora.

Aquelas putas sabiam que não queria ouvir suas vozes, apenas seus
gemidos e gritos. Elas entregavam tudo que eu queria se quisessem sair dali
vivas e principalmente, voltar para ganhar mais dinheiro.

Fui até a ponta da banheira, agarrando o cabelo da ruiva, induzindo


seu rosto para meu pau. Estava na hora da sua boca ficar ocupada. A outra,
morena, levantou sensualmente e toda molhada, segurei a cintura enquanto
me divertia com seus peitos cheios, explorando a boceta que iria foder
rudemente.

Danilo entrou no quarto na manhã seguinte. Uma vadia ainda dormia e


a outra, estava se vestindo sem pressa. Fumando na cama, desviei o olhar da
janela para encará-lo.

— Acorde-a e desapareça — ele ordenou. As mulheres saíram


rapidamente. — Tem prazo de validade para acabar com esse
comportamento.

— Você disse que eu me tornaria um homem casado, não que


precisava ser fiel.

— A famiglia exige a prova dos lençóis. Terá que transar com sua
esposa na noite de núpcias e é melhor que não a contamine com nenhuma
doença.

Eu ignorei o comentário, por estar muito bem de saúde e saber usar


camisinha.

— Tá de sacanagem? Eu vou ter que exibir a prova de que fodi minha


noiva virgem na frente de todo mundo?

— Damon está negociando um exame íntimo, entre médicos,


comprovando a virgindade em um dia e a não virgindade em outro, algo
discreto, mas o pai é das antigas…

— O pai dela é um cuzão. Mas se querem a prova da virgindade,


terão. Não posso me importar menos. O que você quer?

— Não é difícil ser fiel à sua esposa, Cassio.


— Tirou duas mulheres gostosas da minha cama porque está sendo
fiel a Bella há onze anos? — Abri um sorriso. Se ele não fosse fiel ao seu
casamento, sequer estaria vivo para começo daquela conversa enfadonha.
— Nós dois sabemos que minha amada cunhada teria te deixado eunuco se
tivesse pena de te matar.

Danilo riu, balançando a cabeça.

— Não é sobre isso e, talvez, precise descobrir depois do casamento.


Não foi você, jovem e sábio, que disse que eu só poderia casar se tratasse
minha esposa diferente do que nosso pai tratou a mamãe?

— É óbvio que minha esposa terá de mim o melhor, porra. Irei


respeitá-la e certamente não a tratarei como um cachorro.

— E traí-la não seria falta de respeito? — Danilo arqueou a


sobrancelha.

— É um caralho de um casamento político e eu sequer a conheço,


você quer que eu guarde meu pau na calça como uma mocinha porque me
enfiou nesta merda?

— Eu não quero que faça nada. E foi você quem se enfiou em um


casamento ao matar os motoqueiros de Atlanta. — Ele continuou sorrindo
ao sair do quarto, me deixando com a cabeça fervendo e com uma enorme
vontade de quebrar absolutamente tudo ao redor.

Vesti a cueca, irritado, e peguei um cigarro, fumando até o meu


aposento. Atendi a primeira chamada, tendo coisas importantes a resolver e
decidi deixar a putaria do Danilo no fundo da minha mente. Se ele estava
feliz e satisfeito com o casamento dele, parabéns. Eu também ficava
exultante com sua realização de ter uma linda família, bela esposa, três
filhos, dois meninos e uma princesinha que era a luz dos nossos dias.

Mas isso não significava que aconteceria novamente. Eu não entraria


na porra de um casamento com uma patricinha desconhecida com minha
guarda baixa porque meu irmão encontrou o amor na esposa. Era palhaçada
e uma perda completa de tempo.
QUATRO | Caterina
Chicago

Alguns meses depois

Mamãe me fez subir em um pequeno palco redondo no centro da loja


enquanto a nossa compradora pessoal empurrava uma arara abarrotada de
roupas, para mudar o meu armário de menina solteira para mulher casada.
Eu não sabia como as esposas do lado de lá se vestiam, a maior parte do
nosso lado era conservadora e tradicional, tirando Giovanna e Luna, mas
elas faziam o que queriam e ninguém ousava dizer o contrário.

Dei uma olhada no Google sobre a moda da região e não haveria


nenhuma chance de que minha mãe permitiria que eu comprasse qualquer
roupa minimamente reveladora, talvez deixasse para ter esse tipo de peça
quando pudesse ter autonomia para fazer compras sozinha. Por enquanto,
estava seguindo o ritmo e sendo obediente, ficando de calcinha tipo
cuequinha e sutiã de algodão. Meu cabelo, preso no alto para deixar o
pescoço livre e experimentar algumas joias também.

Aquele preparativo do casamento não estava sendo muito divertido.


Estando noiva há alguns meses, tudo que fiz foi escolher roupas, novas
peças de enxoval, algumas decorações para o casarão de Vegas e cuidar da
lista de convidados que englobava cerca de seiscentas pessoas, incluindo
Vegas, Nova Iorque, Chicago, Sicília, Nápoles e demais territórios
comandados pela famiglia, além de políticos influentes.

Meu padrinho era senador em Chicago, envolvido com nossos


negócios, é claro, e estava agindo como se meu casamento fosse um dos
momentos mais importantes da vida dele. Talvez planejasse estreitar laços
para garantir sua posição. Afinal, o plano era mostrar que todas as famílias
podiam trabalhar juntas. Tudo parecia demais e assustador para mim, era
um tipo de futuro incerto, algo não palpável, que me impedia de dormir à
noite e se não fosse a aliança em meu dedo, pareceria uma ilusão.

Tudo que fazia era me apegar à intuição e para o que fui criada, eu
poderia ser boa. Uma esposa adorável, uma ótima mãe e se todos os meus
exames estavam corretos, poderia conceber quando meu futuro marido
quisesse. Particularmente, ter filhos com um completo desconhecido me
deprimia, me dava vontade de arrumar uma bolsa de roupas e desaparecer.
No entanto, essa não era uma realidade possível e eu tinha que mudar isso o
quanto antes.

Minhas chances estavam em conquistar o respeito de Cassio, a


amizade dele. Amor era uma emoção que os homens da máfia negavam,
quase que uma fraqueza. Papai nunca disse “eu te amo” para minha mãe,
embora a maneira com que ele a tratava me fizesse desconfiar que havia
profundos sentimentos ali. Nonna dizia que ele não amou a primeira esposa
dele, era uma relação puramente comercial feita para dar-lhe uma família
numerosa.

Fiquei cansada com as trocas de roupas e me sentei um pouco, sendo


servida com um sanduíche delicioso e mimosas. Minha cunhada ergueu
uma calcinha pequena, piscando, sussurrando que estava separando uma
caixa de coisas mais interessantes que as da minha mãe. Eu fiquei chocada
com o tamanho do biquíni. Aquilo ia sumir na minha bunda. Ela era louca?
Comecei a rir de puro nervoso.

Mamãe percebeu e virou o rosto, disfarcei, pegando meu telefone e


fingi estar respondendo algumas mensagens.
Por algum motivo estúpido e até meio idiota da minha parte, imaginei
que Cassio iria, ao menos, trocar mensagens comigo. Mas ele não se deu ao
trabalho. Não havia um mísero recado da parte dele e se não fossem os
preparativos do casamento acontecendo a toda velocidade, parecia que
minha vida seguia a mesma de antes: solteira e reclusa em casa. Mudou um
pouco porque papai não me deixava mais passear no shopping com minhas
amigas, segundo ele, não era um comportamento adequado para uma
mulher comprometida e não queria que pensassem mal de mim.

Tentava entender o que havia de errado em um passeio para fazer


compras.

Duvidava que o noivo tivesse deixado a vida de solteiro de lado só por


estar noivo. Ele sequer usava uma aliança.

Olhei para a pulseira em meu braço e a toquei, passando o dedo


cuidadosamente nas pedras. Eu odiava o fato de que nunca tive coragem de
tirar. Era como se ele realmente pudesse saber se tirei ou não.

— Acho que terminamos hoje. Essas roupas para eventos sociais serão
catalogadas e etiquetadas, logo vamos embalar tudo. — Mamãe se
aproximou e fiquei de pé, para poder me vestir.

Ela estava fazendo a minha mudança gradativamente, organizando


tudo em caixas e deixando em ordem para que a governanta da minha futura
casa pudesse se achar e arrumar antes da minha chegada. Eu não sabia se
teria uma lua de mel, era bem provável que sim, mas a noite de núpcias, por
exigência dos meus pais, aconteceria no meu quarto, para que tivesse a
vergonhosa exibição dos lençóis. Nem mesmo os chefes faziam questão
daquilo, porém, meu pai em sua idade jurássica ainda queria provar para
todos que tinha uma filha virgem para oferecer.
Era constrangedor pensar que precisaria me deitar com Cassio sem
conhecê-lo direito, imaginei que poderia apenas provar por um exame,
como a maioria das moças faziam. Na minha fanfic, sonhei que nós dois
teríamos tempo para conhecer um pouco um do outro antes de dormirmos
juntos. Meu marido tomaria o que era dele. Eu já pertencia previamente a
ele em todo caso e sendo irmã de quatro homens idiotas e possessivos, o
céu poderia colidir com o inferno, que ninguém me tiraria de Cassio agora
que todos sabiam do nosso noivado.

Chegamos em casa pouco mais de uma hora depois, a governanta


estava nos aguardando, pegando nossos casacos e luvas. Como minhas
cunhadas estavam fora por muito tempo, as crianças sentiam saudade e
queriam brincar.

A senhora Beviláqua limpou a garganta quando estava seguindo a


bagunça para a brinquedoteca.

— Há um presente para a senhorita na sala de visitas.

— Para mim? — Eu me virei, surpresa.

— Foi enviado de Vegas.

Curiosa e um pouco empolgada, fui na direção oposta. Empurrei as


portas abertas, parei e cobri a boca ao ver o enorme buquê de flores que
estava na mesa de centro. Eram muitas rosas brancas. Eu me perguntei se
foi enviado porque tinha algum significado, por ele achar que combinava
comigo ou por associar à decoração do noivado. Mesmo assim, era
deslumbrante.

Peguei o cartão, ainda chocada em como sua letra era bonita. Pelo
menos, se deu ao trabalho de escrever à mão. Será que foi ele mesmo? Não
parecia feminina. Não foi a secretária ou governanta…

Poderia ter sido algum soldado. Meu irmão mandaria um de seus


homens escrever algo se estivesse com preguiça e não se importasse o
suficiente, mas ele jamais se exporia. Em todo caso, a intenção era boa.
Bonita. Ele dizia que as rosas eram delicadas como eu e esperava que
tivesse boas festas, que na do próximo ano seria a senhora dele. Senti um
friozinho no estômago ao me dar conta de que aquele era o último Natal ao
lado dos meus pais.

Aquele lembrete soou como uma ameaça aos meus ouvidos, mesmo
não sendo uma.

Deixei a nota de lado e peguei a caixa de madeira. Dentro havia uma


sequência de outras de veludo, eram joias. Brincos, pulseiras, anéis… tudo
de ouro branco com diamantes, para demonstrar a generosidade e riqueza
da minha futura família. Mamãe parou ao meu lado, olhando para tudo com
interesse e abriu um sorriso orgulhoso.

— É incrível que seu noivo tenha separado um tempo para te


presentear. Muito atencioso.

Eu pensei que fosse obrigação dele, mas se ela estava encarando


daquele modo, abri um sorriso e não falei nada. Tirei uma foto para deixar o
momento registrado e subi com as joias, para serem guardadas no cofre do
meu quarto junto às outras que já tinha. Deixei tudo ali dentro e fiquei
pensativa se a minha vida seria uma exibição desmedida de luxo e poucos
sentimentos, talvez mamãe tenha me acostumado mal com tanto afeto e
acabei fantasiando uma vida adulta na qual pudesse ter um lar parecido.

Era errado me sentir sendo jogada como um cordeiro no meio de


lobos?
Odiava que eles ignoravam o quão perigoso era esse casamento. Se
tudo desse errado, nunca mais os veria na vida. Minha lealdade pertenceria
ao meu novo sobrenome e viveria sob as regras do meu marido. Mesmo que
minha família lutasse por mim, seria vista como uma traidora pelas outras
pessoas apenas por ter vivido do outro lado da fronteira.

Fechei o cofre, acionando o alarme, e mesmo morrendo de frio, tirei a


roupa, indo tomar banho. Estava nevando do lado de fora, até conferi o
termostato e aqueci o quarto um pouco mais. Deixei a pulseira na mesinha
do canto, com as outras joias que usava diariamente e fui para o chuveiro.
Ao sair, enrolada no roupão, vi que a tela do meu telefone estava acesa.

Havia uma nova mensagem.

Era de um número desconhecido de Vegas.

Cassio.

Ele tinha meu número por todo esse tempo e nunca entrou em contato
porque não quis. A mensagem era um simples questionamento se havia
recebido o presente e se gostei. Seria educado da minha parte retribuir,
mandando entregar algo, mas não era permitido. Meu pai jamais deixaria,
dizendo que interpretariam como um ato ousado.

Sentei na cama, enrolada no roupão, ajeitei a toalha no cabelo e pensei


no que responder. Não queria ser repreendida por falar com meu noivo sem
a presença dos meus pais, mas não queria deixá-lo esperando,
principalmente porque abri a mensagem e apareceu para ele que foi
visualizada. Ele estava online, aguardando. Se fosse fofa demais, poderia
ser vista como uma criança, muito seca, como indiferente. Como uma
mulher de verdade responderia?
Levantei correndo e atravessei os corredores, trombando sem querer
com meu irmão.

— Está pegando fogo no seu quarto? — Ele riu, me firmando.

— Tonia está aqui? — Quis saber, meio ofegante pela corridinha.


Puxa vida, eu tinha que ser menos sedentária.

Pietro sorriu e franziu o cenho.

— No banho, entre.

Abri a porta, passando pelo quarto e a chamei antes de invadir seu


banheiro. Ela enfiou a cabeça do lado de fora do box, cheia de xampu no
cabelo e sabão pelo corpo. Era intimidade demais, porém, precisava de
ajuda. Sentei no balcão da pia e mostrei a mensagem, ela deu um gritinho e
quase caiu, pegando a toalha e lendo com calma.

— E agora? O que eu respondo?

— Tem que ser algo bom o suficiente que o instigue a falar mais,
afinal, não custa nada buscar uma conexão antes do casamento que não
infrinja as regras.

— E o que seria?

Tonia me deu um olhar curioso.

— Nunca falou com um homem antes?

— Eu nunca conversei com ninguém do sexo masculino que não fosse


meu parente de algum modo. Não sei como agir.

Ela parou, meio que respirando fundo.


— Oh, querida, precisamos ter uma conversa muito séria sobre tudo
que acontece entre um homem e uma mulher além dessas trocas de
mensagens.

Mordi o lábio, curiosa. Mamãe conversou comigo sobre a parte


biológica, eu sabia sobre sexo por ter lido, visto nos filmes, mas não era
experiente nem por conversas e pelo visto, havia muito mais a aprender.
CINCO | Caterina
Chicago

Cassio não respondeu à mensagem que enviei naquele dia, nem nos
dias seguintes e eu me conformei com o fato de que havia sido educada. Ele
me enviou mais presentes e, de repente, minha casa parecia tomada por
flores e meu pai movendo-se desconfortável na cadeira a cada nova peça de
joia caríssima, querendo aumentar o valor dos itens do casamento para
mostrar que podíamos bancar algo extremamente luxuoso.

Tivemos que trocar os convites para um papel mais caro, um laço


importado da Índia, um timbre de ouro e papel seda do mais raro. Mamãe
estava enlouquecendo. As lembranças seriam entregues em caixas de
acrílico, com perfumes, charutos, sabonetes e haveria outra caixa para que
os convidados pudessem levar doces e bolos, porque a maioria era italiano e
todo mundo adorava uma boa comida extra.

Papai mandou fazer tendas personalizadas para o casamento, com as


nossas iniciais bordadas e havia tantas flores que já tinha me perdido. Eu
tinha duas agendas da noiva, uma para meu enxoval, um planner para
minha vida em Vegas e uma nova dieta, inclusive, passei a malhar bastante
para tonificar meu corpo e ficar bastante gostosa como as garotas da cidade.
Mamãe achava palhaçada porque uma mulher deveria se resguardar, mas eu
tinha que garantir que meu marido olhasse para mim e não para outras.
Tinha que deixar de ser uma criança, sair de um corpinho de menininha
para algo mais mulherão.
Pensei que um ano seria mais do que o suficiente para preparar um
casamento, mas quanto mais o tempo passava, menos parecia ser possível
conseguir organizar tudo. Quando os convites foram enviados e as
confirmações foram chegando, minha histeria só foi aumentando. Eu tinha
que ser a noiva perfeita. Tudo tinha que acontecer na ordem. Recebi uma
ligação de Isabella, cunhada do Cassio, apresentando-se. Ela não parecia
louca pelo telefone. Apenas uma mulher centrada, até me deixou um pouco
intimidada.

— Seu padrinho disse que os carros estão prontos e verificados. —


Mamãe entrou no meu quarto com a prancheta do casamento. — Em uma
semana o show irá acontecer.

— Estou preocupada com o tempo, mamãe.

— Vai ficar tudo bem, as tendas são ótimas — ela me garantiu e parou
atrás de mim. — A família do seu noivo confirmou presença nos eventos
pré-casamento. Teremos um jantar de ensaio para o cortejo, seus sobrinhos
estarão no melhor comportamento se tudo der certo e depois da cerimônia,
o ensaio fotográfico será aqui no jardim. Mandei encomendar as melhores
flores, entre cerejeiras e rosas, será um ambiente muito romântico.

— Cassio aceitou as fotografias?

— Ele confirmou a presença em todos os eventos que a noiva desejar.

— Que bom. Obrigada por organizar tudo, mamãe. — Apertei a mão


dela.

— Acho que chegou o momento de termos uma conversa sobre sua


noite de núpcias. — Ela me puxou para a cama. — Sei que tivemos algo
prévio quando ficou menstruada e tirei eventuais dúvidas ao longo dos
anos.

— Tonia e Patricia conversaram comigo… algumas coisas. — Limpei


a garganta, tentando não rir da maneira com que ela parecia nervosa.

— Suas cunhadas?

— Elas só queriam garantir que eu não entrasse nesse casamento


completamente ignorante. — Segurei suas mãos para que não sentisse que
eu estava desprezando as orientações dela. Só que conversar com as minhas
cunhadas foi mais divertido e esclarecedor do que mamãe falando sobre
aves e abelhas.

— Teremos uma consulta médica essa semana e ele perguntará sobre


métodos contraceptivos. Eu acredito que é uma decisão que deva tomar
com seu marido, afinal, não sabemos se ele planeja filhos ainda esse ano.

— Espero que ele não queira. — Dei de ombros.

— Não é uma decisão só sua, querida. Sabe que esse casamento é para
que tenham frutos e filhos garantem a sua segurança na família. Lembre-se
sempre, ele é o segundo filho, o irmão e conselheiro, precisa ter herdeiros.
Danilo já tem filhos, a posição dos seus tem que ser assegurada, prove o seu
valor. — Ela olhou em meus olhos e tudo que fiz foi assentir, porque senti
um peso enorme na minha cabeça, como se uma prensa me afundasse no
chão. Lambi meu lábio, mexendo no meu cabelo para disfarçar o nervoso
que borbulhava dentro de mim e cocei a nuca, abrindo um sorriso de
menina obediente.

Aguentei a conversa sobre sexo com a postura ereta, ouvindo


atentamente mamãe sendo técnica e evasiva. Minhas cunhadas foram
detalhistas ao ponto me fazer cobrir os ouvidos só de imaginar que elas
faziam aquilo com meus irmãos.

Sexo me deixava nervosa. Eu vi Cassio uma única vez e ele me tocaria


na nossa noite de núpcias. Aquilo parecia uma coisa fora do sério…

Esperava que pudéssemos nos beijar antes, ter um romance, dançar


juntos e talvez, um pouco de contato físico para me acostumar. Era
completamente fora da realidade, eu sabia, mas ainda tinha esperanças de
que o jantar de ensaio pudesse nos unir de alguma forma. Eu me odiava por
desejar um romance. Quanto mais o casamento se aproximava, mais me
pegava suspirando pelos cantos, criando fantasias idiotas e queria dar na
minha própria cara para acordar para a realidade.

Tudo que tinha eram lembranças do rosto dele, marcado por sua
expressão feroz e a sensação dos músculos sob a minha palma. Eu queria
saber a sensação de sentir o peitoral dele contra o meu. Deveria ser bom,
quente… gostoso. Balancei a cabeça e voltei a olhar para minha mãe,
tagarelando inocente, sem imaginar que minha mente pervertida estava
escorregando para lugares realmente profanos.

— Você entendeu tudo, meu amor?

— Claro que sim, obrigada. — Eu lhe dei um abraço apertado.

— Ah, vou sentir tanto a sua falta! — Ela me apertou, esfregando


minhas costas. — Como será minha vida sem a minha companheira?

— Tenho certeza de que poderemos nos ver. Você vive dizendo que é
uma aliança política para que nossas famílias possam conviver. Talvez
consiga convencer Cassio a permitir visitas quando estiver muito ocupado.
— Beijei sua bochecha. Eu estava blefando. A família da Calábria era
conhecida por viver completamente reclusa, eles não interagiam com
ninguém e era um verdadeiro milagre que tivessem aceitado fazer parte das
celebrações do casamento.

Soube por alto que as crianças da família deles não iriam participar,
porque o casamento não aconteceria no território deles. Meu pai exigia que
fosse em Chicago, porque ele queria exibir poder e riqueza, principalmente,
todo o luxo que o casamento teria. Nós frequentávamos a igreja católica em
que todos os membros da famiglia faziam parte e o padre que nos foi
apresentado dois anos antes era quem celebraria a cerimônia.

Deveríamos ter feito um curso de noivos, mas ninguém nos exigiu


nada.

Minha última semana em casa foi tomada por melancolia e correria. A


casa inteira estava sendo mudada de lugar para comportar todos os parentes
que ficariam hospedados conosco, para as salas que seriam transformadas
em parte da festa e, minha despedida. Eu completei dezenove anos com um
bolo delicioso e meu noivo, exibido, fez uma queima de fogos que encantou
a vizinhança inteira.

Juliana estava certa. Os Venturinni desconheciam a palavra limites


quando se tratava de exibir poder e riqueza, mesmo que ninguém soubesse
de sua existência. Foi um espetáculo lindo, filmei e enviei um
agradecimento por mensagem. Ele nunca me respondeu e assim ficou. Em
dois dias, minha vida inteira iria mudar. Deixaria de ser Caterina Giordano
para ser casada, dona de casa, teria um homem dormindo na minha cama e
tendo direitos sobre o meu corpo, podendo decidir a minha vida.

Nunca tive a oportunidade de pertencer a mim mesma.


Primeiro, era uma criança, vivendo com meus pais, uma adolescente
me preparando para ser mulher e ao crescer, estava sendo entregue para
outra família ter domínio sobre mim. Era assim que funcionava e eu
entendia, não imaginava viver algo diferente, só não deixava de ser
incômodo.

— Você está pronta, querida? — Tonia entrou no meu quarto depois


de bater. — Os carros estão prontos.

— Eu não entendo porque precisamos de tantos seguranças agora. —


Guardei meu pincel de blush, esfregando os lábios um no outro para
espalhar o gloss e soltei meu cabelo. Estava usando um vestido longo,
bonito, mas não muito arrumado porque só iria para a minha última prova
do vestido.

— O casamento está atraindo atenção e há muitas pessoas diferentes


na cidade.

— Isso deveria ser esperado. Muitos gângsters — brinquei, pegando


minha bolsa.

— Vamos. Temos muito o que fazer ainda hoje.

Todas as mulheres da família iriam para o ateliê. Eu não teria


madrinhas, porque não tinha uma amiga casada que pudesse assumir o
papel no qual o marido fosse aceito do outro lado. Cassio teria o irmão
como padrinho e apenas isso. Minha sobrinha mais velha seria minha dama
de honra, ela já tinha doze anos e ficaria próxima ao altar para segurar o
buquê nos momentos determinados.

Ainda assim, todas teriam roupas especiais e acessórios bonitos. Um


casamento da realeza não estaria dando tanto trabalho.
Meu cabelo ficaria preso em algumas camadas, com fios soltos e uma
presilha de diamantes que sustentaria o véu longo. Era exigência da minha
avó, que contava sobre a longa linhagem de mulheres puras da família. Ele
pesava tanto que nas poucas vezes que fiquei com ele na cabeça, senti dor e
rezava para aguentar o tempo de uma longa celebração católica tradicional,
que seria falada em italiano e em inglês, com direito a coral de coroinhas.

— Eu nunca vi noiva mais bonita. — Nonna levou as mãos à boca,


orgulhosa. Minhas duas cunhadas cruzaram os braços, me fazendo rir. Até
minha mãe lhe deu um olhar enviesado.

— Está perfeita, filha. Os ajustes caíram bem.

Particularmente, eu não escolheria um vestido tão bufante, mas estava


parecendo uma princesa. Ele era lindo, romântico e de tirar o fôlego, mas
pesado e trabalhoso de andar. Era necessárias mais duas pessoas para me
ajudar a subir as escadarias da igreja e ainda me perguntava sobre a
logística de caber no banco de trás do carro com tanto tecido flutuando ao
meu redor.

No entanto, eu tinha que admitir, fiquei linda. Não conseguia desviar


os olhos de mim mesma no espelho e com toda a produção completa, tinha
certeza de que a igreja inteira ficaria sem fôlego. Restava saber se o noivo
também ficaria sem reação ao me ver. Ele gostava de exibição. Gostaria de
ter uma bela esposa em seus braços, certo?

De repente, eu estava contando os minutos para o casamento


finalmente acontecer.
SEIS | Cassio
Chicago, Illinois

Bella parou na minha frente, ajeitando meu cabelo pela milésima vez e
eu ri, lutando contra a vontade de bagunçar novamente. Ela estava ansiosa,
já meio arrumada, preocupada com as crianças na Itália, com Nanci e
reclamando que Danilo ainda estava de cueca no canto, sem ter se vestido.
O casamento iria acontecer em duas horas, então, cheia de coisas enroladas
no cabelo e com um vestido bonito, disse que iria se maquiar e voltava em
breve.

Dei uma olhada para meu irmão, divertido. Ele apenas bufou. Assim
que ela saiu, Mariano entrou com uma garrafa de uísque sem a tampa, a
agarrei e virei, dando bons goles, porque naquele dia em específico, a
anestesia pelo álcool era mais do que necessária, mas não o suficiente para
ficar bêbado e perder os meus sentidos. Um ano nunca passou tão rápido,
porra. Em um piscar de olhos, o dia do casamento chegou e eu me tornaria
um homem casado.

Teria uma mulher sob minha responsabilidade, vivendo comigo e


dormindo em minha cama. Era foda. Uma realidade que eu jamais cogitei
em minha vida porque eu não queria um matrimônio, até meu irmão decidir
que aquele seria o meu futuro. Dizer que tive doze meses para me
acostumar com a ideia era fácil e enquanto bebia, ouvindo as risadas de
Assis e Mariano, tive certeza de que a minha vida estava a um passo de
mudar completamente.
Não estava nervoso, com medo ou assustado. Eu era um homem
honrado. Aceitar aquele casamento era mais do que obediência cega, era
entender o meu lugar e o papel que exercia.

— Quero aproveitar que Isabella está ocupada com os preparativos


para propor um brinde. — Danilo saiu do canto e pegou um copo. Fernando
agarrou a garrafa e ao invés de compartilhar germes, serviu as doses de
maneira decente. — Cassio está tornando-se um homem de família hoje,
que entenda a honra que é ser um marido e aprenda a construir uma base
sólida com a esposa. Sejam felizes!

— Felicidades! — Brindamos juntos.

Contanto que ela fizesse o papel dela e eu o meu, cada um vivendo de


acordo com as regras, poderíamos sobreviver. Virei toda a bebida de uma só
vez e olhei a hora, precisando ficar pronto para estar na igreja. O cortejo e a
segurança estavam sob responsabilidade do pai e do padrinho da noiva, algo
que me deixou completamente desconfortável e irritado, mas eu não podia
infringir as regras dali e muito menos ofender a todos mais uma vez.

Ainda precisei apaziguar Danilo. Às vezes, podia ser mais explosivo


do que meu irmão, mas na maior parte do tempo, lembrava de ter a mente
sã de um conselheiro e estrategista. Naquele dia, era sobre festa, não brigas.
Se meu futuro sogro não podia garantir a ida da própria filha até a igreja
sem que acontecesse qualquer coisa, bem, ele deveria fazer um favor a
humanidade e dar um tiro no meio da própria testa.

Eu deixei que a família dela comandasse o show porque eles estavam


empolgados e felizes com o casamento. Bella não teve isso e ficou triste pra
caralho na época. Fernando só entendeu o que causou na filha ao casar-se
novamente com Alessa e por esse motivo, eu não podei as aventuras da
minha futura sogra. Eles também queriam mostrar que eram ricos para toda
a sociedade e aquilo me dava vontade de rir pra caralho.

Era comparável à riqueza deles com a dos Venturinni? Nunca. Mas eu


podia ser humilde de vez em quando. Era a única filha, a última a casar,
deixei que se exibissem o quanto quisessem. Contrataram até mesmo a
porra de um coral de crianças que ninguém iria prestar atenção. Mas valia a
pena quando a noiva estava exuberante e linda.

Um ano fez muita diferença para Caterina.

Na noite anterior, no jantar de ensaio, ela usou um longo vestido


branco de cetim e seus cabelos estavam maiores, lisos, com uma
maquiagem brilhante que realçava o tom de azul dos olhos. Os lábios
também pareceram mais tentadores do que da primeira vez que a vi, quando
ainda tinha um ar angelical, quase adolescente, o que não me causou
nenhuma atração. Ela estava mais gostosa, aquilo era evidente e pelo
menos, fisicamente, não teríamos problemas. Meu pau reagiu muito bem à
visão dela, ao cheiro doce e a pele suave contra a minha enquanto
ensaiávamos o cortejo.

Parecendo mais segura e menos nervosa, até a voz estava mais firme e
o olhar, treinado no meu, sem desviar.

Eu queria ter tido trinta segundos sozinho com ela para descer minhas
mãos por costas e sentir a curva do bumbum, se era tão firme quanto
parecia, mas a mãe nunca saiu de perto ou a cunhada. Nem mesmo durante
o jantar, quando sentamos lado a lado, sempre havia um dos sobrinhos
próximo ou uma criança pentelha nos encarando sem dar uma mísera
privacidade para sussurrar qualquer coisa que a deixasse ainda mais
ruborizada.
Esperava que não ficasse tão aflita naquela noite, porque tinha a
estúpida tradição dos lençóis e precisaríamos dormir juntos, querendo ou
não. Seria ideal esperar um pouco, ter ao menos a convivência da lua de
mel, mas era a família dela quem exigia a prova da virgindade, não a minha.
Eu não era mais virgem há muito tempo.

Inclusive, minha despedida de solteiro foi incrível, mesmo que


Isabella tenha acabado com a festinha, deu para me divertir.

— Hora de irmos, família. — Bella voltou para meu quarto pronta.


Danilo disse algo em seu ouvido, ela riu e bateu em seu peito. — Deixe-me
ver seu irmão. E essa gravata?

— Não consigo fazer ficar reta.

— Eu cuido disso — Danilo avisou. — Podem indo na frente. Nós já


vamos descer.

Todos saíram, inclusive sua esposa, sem questionar. Não estávamos


em nosso território e era um acordo tácito não ficarmos separados em
nenhum momento, entendi que meu irmão queria um momento sozinho
comigo.

— Gostaria de me dar algum conselho?

— Faça de tudo para ser um bom marido ou eu te juro, vou te deserdar


— ele vociferou, me fazendo rir. — Uma nova mulher está chegando a
nossa casa. Ela será sua, Cassio. Não estou dizendo apenas em
responsabilidade. Mas será sua.

— Estou pronto para isso.


— Eu realmente espero que sim. Pronto. Gravata estúpida em seu
devido lugar. — Ele se afastou brevemente. — Obrigado por abrir mão da
Nanci hoje.

— Eu sei que ela amaria estar aqui, mas as crianças e o bem-estar


delas é mais importante que tudo. Além do mais, sempre podemos fazer
outra festa de casamento do nosso jeito lá na vila.

Danilo riu, passando a mão no cabelo.

— Sabia que estava deixando esse circo correr por ter outros planos.

— Sou um Venturinni. Seria estupidez pensar que não tenho um plano


na manga.

Ainda rindo, passou o braço por meu ombro e saímos. Parecíamos


apenas dois irmãos felizes com um casamento, mas estávamos armados até
os dentes e contando as horas para retornamos a Vegas. Tempo demais
visitando Chicago. Já estava de saco cheio.

A catedral escolhida para o casamento era enorme, linda, e estava


cheia ao ponto de ter uma fila do lado de fora para que os organizadores
pudessem colocar os convidados para dentro. O padrinho de batismo da
minha noiva era um senador idiota que Enzo Rafaelli disse que se respirasse
errado ao meu lado, eu poderia acidentalmente matar e Dante fecharia os
olhos sobre isso.

Ele parecia saber, porque nunca ficava perto o suficiente, porém,


atraiu os olhares da mídia. Danilo sinalizou para que nossos homens
tirassem todos os fotógrafos de perto. Eu não queria um mísero flash no
meu rosto que não fosse para o álbum de casamento.

Imbecil do caralho.
Até chegar ao altar, estava perdendo a minha paciência em ter que
cumprimentar as pessoas. Danilo foi para o lugar dele e o padre sinalizou
para começarmos a entrega das armas, um simbolismo de paz porque uma
noiva pura estava a caminho.

Era apenas teatro. Ninguém estava desarmado de verdade.

Dante me deu um sorriso desafiante e eu devolvi. Desde que


empatamos em uma corrida anos antes, passamos a ter respeito e um pouco
mais de implicância um com o outro por puro prazer de antagonizar. Nada
pessoal.

Olhei meu telefone muito breve e não gostei do que vi. Supostamente,
Caterina estava a caminho, em uma comitiva, mas o sinal do gps de sua
pulseira estava parado em sua casa. Ela não estava usando? Eu disse que
nunca deveria tirar, porra.

Voltei minha atenção para o relógio, percebendo que os irmãos dela


não paravam de verificar seus telefones.

— Tem algum problema… — falei com Danilo, em alerta, soltando o


coldre da minha arma.

— Onde está a noiva? — Danilo questionou a um dos irmãos.

— Os carros não se movem. — Ele arregalou os olhos, nervoso.

— Leve Isabella de volta ao hotel — Danilo ordenou a Assis. —


Vamos.

Saímos da igreja, a maioria dos homens armados, entrando nos carros


e saindo em alta velocidade pelas ruas em direção ao último lugar onde o
sinal de Caterina estava. Eu vi as marcas de pneus no chão, engatilhando a
arma antes da curva, e meu irmão me deu um olhar preocupado com a cena
caótica de um acidente muito feio.

Saltei primeiro, correndo e encontrando a mãe dela ferida, viva e


desacordada no banco da frente.

O soldado ao seu lado estava morto com um tiro de doze na testa e a


aparência era das piores, os miolos expostos e gotejando pela roupa,
escorrendo no pescoço junto a um rio de sangue grosso. No banco de trás,
estava uma menina de rosa, desmaiada, e nenhum sinal da minha noiva,
apenas parte de seu vestido agarrado no vidro quebrado e cheio de sangue.

O irmão dela gritou, nervoso.

— Eles a levaram!

Agarrei-o pelo pescoço e o joguei contra a lateral do carro, colocando


minha arma em sua testa.

— Eles quem? Comece a falar agora mesmo.

Eu dei-lhe uma cotovelada no estômago para dizer o que eu


necessitava ouvir.
SETE | Caterina
Em um minuto, estava sorrindo para minha sobrinha, fingindo estar
em controle dos meus sentimentos a caminho da igreja e no outro,
estávamos girando sem parar na estrada ao som assustador de tiros e vidro
sendo quebrado. Minha cabeça bateu repetidas vezes na lateral, tentei me
segurar nos bancos, rolando entre minha mãe e o soldado e me rastejei de
volta, querendo saber se Ania estava viva.

Ela choramingou em meus braços, dizendo que seu braço doía e


chutei o vidro, para sairmos do carro. Ele não quebrou de primeira, tudo
parecia tão estranho, confuso, era como se estivesse submersa, embora
tivesse consciência de que estávamos na estrada a caminho do meu
casamento. A urgência de sair correndo me dominou. Só queria me sentir
segura.

Sem que tivesse controle, fui puxada e eu nem sabia por onde. Tentei
me agarrar ao banco, gritando para que me soltassem. Uma queimação no
braço me fez parar de me debater. Jogada no asfalto frio e com a visão
turva, olhei para os homens de preto, erguendo minhas mãos.

— Não me machuque, por favor — implorei, tentando levantar e um


deles colocou a bota na minha barriga, me afundando novamente no lugar.
— Por favor.

— Apaguem-na e vamos sair daqui.

Encolhi-me, procurando fugir dos golpes, mas fui atingida tantas


vezes que mesmo tentando me agarrar ao pneu do carro para me proteger,
sentia a minha mente fugindo de mim, como se ela corresse pela estrada,
deixando meu corpo estendido à mercê daquela violência gratuita. Eu era
uma filha da máfia, nascida no sangue e no pecado, já marcada na alma e no
inferno, mas nunca havia feito nada.

— Por favor, pare…

— Você está implorando, querida? Estou apenas começando…

Ele agarrou meu tornozelo e me puxou, ralando minha bochecha no


chão.
OITO | Caterina
Tudo estava escuro e frio. Minha cabeça doía em níveis que sequer
podia computar. Levantei com cuidado, me arrastando até a parede,
sentindo dor no peito para respirar e levei minha mão ao pescoço,
percebendo que ainda estava vestida, embora estivesse completamente
arruinada. Passei a mão pelo meu corpo, contabilizando por alto os
ferimentos e tremi ainda mais, puxando a saia para me aquecer.

Minha perna doeu de modo que quis vomitar. Minha aliança de


noivado agarrou na renda e percebi que ainda estar com coisas de valor
significava que aquele sequestro não era por dinheiro, só me restava saber o
que eles queriam em troca para me libertar. Eu não sabia como a máfia
procedia em relação a sequestros, mas imaginava que a minha família faria
de tudo para me encontrar.

Tentei ficar de pé para ao menos descobrir onde estava, mas não


tinha forças. Caí novamente e ouvi passos, me refugiei contra a parede,
buscando qualquer coisa que pudesse me defender e não havia nada. Soltei
um grito agudo que rasgou o silêncio, ecoando no ambiente, ao ser puxada
pelos cabelos. Minha presilha de diamantes foi arrebentada, as pedrinhas
voaram por todo lugar. Uma luz foi ligada no meu rosto e notei ser um
celular.

— Diga oi para o seu padrinho, docinho. Diga a ele que ainda está
viva e é por pouco tempo. Não queremos dinheiro, apenas que ele sinta a
dor que ele causa em muitas pessoas…

Aturdida, olhei para o telefone, sem reação. Era sobre o meu


padrinho?
Aquilo só podia ser uma piada. Eles sabiam quem era a minha
família?

Eles iam me matar por causa da vida política do meu padrinho sem
ao menos saber que meu pai era um mafioso e meu futuro marido um
assassino sanguinário?

Ou eu tinha muitas chances, ou estava muito fodida.


NOVE | Cassio
Danilo me agarrou pela camisa, tirando-me de cima de um dos irmãos
de Caterina para que eu não o matasse, mas ele não tinha me dado respostas
sobre o paradeiro da minha noiva. Eu queria explicações imediatas! Mais
carros foram parando bruscamente. Damon saiu e ordenou que seus homens
fizessem uma varredura no local, engatilhei minha arma e entrei na mata ao
redor, seguindo o rastro das folhas amassadas e fui até o outro lado, onde
havia gotas de sangue.

— Aqui tem marcas de pneu! Eles devem ter deixado os carros de


fuga aqui! — Enrico gritou e correu para o outro lado. — O rastro termina
na esquina!

— Porra! — Puxei meus cabelos. — Só levaram a Caterina!

— Levem a mulher e a criança para o hospital, precisamos que elas


testemunhem assim que puderem, e espalhem os homens pela cidade.
Temos que encontrá-la o mais rápido possível! — Damon vociferou e me
deu um olhar. — Algum inimigo te seguiu até aqui?

— Algum inimigo achou que poderia te provocar aqui? Já sabemos


que sequestro é bem comum nessas terras, não é mesmo?

Ele deu um passo à frente e eu também.

— Não é momento para isso. — Dante entrou entre nós, empurrando-


nos para trás. Eu sequer o vi chegar. — Caterina é jovem e apenas uma
noiva que foi sequestrada no dia do casamento. Nosso dever é resgatá-la
com vida.
— É o meu dever e ninguém vai ficar no meu caminho. Vou matar
quem me impedir de encontrar a minha noiva — avisei, dando as costas.
Queimaria a porra do estado inteiro, mas não sairia dali sem Caterina. Ela
foi dada a mim, me pertencia, e ninguém podia pensar que era permitido
tocá-la e ficar impune.

Não ficariam vivos para contar história.

Damon murmurou que eu não estava sozinho na vingança e não dei


ouvidos, tomado por tanto ódio que queria sair matando qualquer um que
olhasse na minha direção. Danilo achou melhor dirigirmos para o hotel e
nos armarmos, para depois encontrarmos com a família dela, talvez, saber
mais informações antes que eu os mandasse para a vala. Bella estava pronta
para sair, usando roupas pretas de ginástica e luvas, com os cabelos presos,
já sem a maquiagem.

— Você não vai. — Danilo apontou logo que entramos no quarto.

— Eu vou, sim. Minha futura cunhada foi sequestrada e sei que posso
ajudar a encontrá-la. Assis e eu já temos um plano enquanto vocês vão para
a casa da família. — Ela apontou para a mala aberta, onde as armas já
estavam separadas e preparadas. — Está tudo pronto. Confie em mim,
Danilo.

— Isabella, esse é um território que não conhecemos…

— E justamente por isso precisamos cuidar um do outro aqui. — Ela


foi até o marido. Eu não tinha tempo para assistir a discussão dos dois.

Troquei de roupa ali mesmo, ela estava mais do que acostumada a me


ver de cueca, calcei as botas, calça jeans e camiseta, ouvindo uma
mensagem de voz do Dante sobre o rastro que eles seguiram dos carros até
a saída da cidade, e que a família estava sendo apertada, mas juravam não
saber de nada. Eles iam ter que aguentar as minhas perguntas. Voltei para o
carro sem esperar meu irmão direito. Ele e Mariano entraram comigo
enquanto Fernando permaneceu com Isabella e Assis.

Alessa ficou no hotel com três soldados que trouxemos para a escolta.

E era melhor que eles não vacilassem.

Não conhecia Chicago em nada. Era um local completamente


desconhecido, o GPS parecia em grego, tamanha a minha confusão mental e
tantos lugares que tivemos que ir. Era foda ter que confiar em pessoas com
quem não me sentia confortável. Quando Isabella foi sequestrada, Damon e
Enrico estiveram lá, nos ajudando, e eu tinha uma dívida eterna de gratidão,
assim como meu irmão, mas eu era um homem diferente e a raiva que
sentia não me permitia relaxar completamente.

Ver o casamento inteiro sendo desmontado no final do dia seguinte foi


doloroso para a mãe dela. Não havia notícias e nenhum pedido de resgate,
até o pai estava abatido. Ele tentava não demonstrar fraqueza diante de
tantos olhos observando a família, mas era impossível. Bella e Assis
passaram a fazer o rastreio de lugares remotos no estado que poderiam ser
atraentes para esconder uma noiva procurada por muita gente. Inclusive
pela polícia, já que ficou óbvio que não teve uma festa.

No final do segundo dia, minha paciência já tinha ido embora, estava


saindo para uma volta de helicóptero com Enrico quando fui chamado por
Danilo. Ele avisou que um link de vídeo foi enviado para o assistente de
campanha do senador, padrinho de Caterina, e todas as minhas
desconfianças de que aquele sequestro não tinha nada a ver conosco ou com
a famiglia foram confirmadas.
Caterina surgiu extremamente ferida e desalinhada. Ela estava com
um olhar perdido, com muito medo e os lábios roxos, de quem estava
perdendo a batalha para o frio. Antes que o padrinho dela pudesse se mover,
minha mão encontrou sua nuca e o joguei no chão com tanta força que ouvi
o som de seu nariz chocando-se contra o piso de mármore branco.

— Eles não tiveram tempo para ir muito longe. Estão escondidos e


bem debaixo dos nossos olhos, só precisamos recuar e deixar que ganhem
confiança — Dante falou, sentado na poltrona. — Peça que os homens
disfarcem, vamos retroceder. Não é sobre nós e por esse motivo, vamos
fingir que não nos importamos.

— Eu e você vamos conversar — sibilei para o homem, que me


olhava sem implorar, ainda com brio o suficiente para não ceder. Ergui meu
rosto. Minha sogra estava com a mão cobrindo a boca. — Onde podemos
fazer isso sem sujar esses tapetes brancos?

Um dos meus cunhados deu um passo à frente.

— No porão.

— Ótimo. Levem-no até lá e é melhor que ele esteja preparado para as


minhas perguntas. — Apontei e alguns homens o ergueram do chão,
arrastando-o até sumirem em uma escada discreta próxima à cozinha.

— Eu vou com você. — Enrico adiantou-se. Ele era o responsável por


Chicago e a palavra dele ali era lei. Diante da trindade, Dante era quem
mandava em tudo e que não me perguntassem os detalhes, eu não sabia e
não me interessava. Danilo ficava com a informação que convinha, agíamos
conforme nossos interesses e, definitivamente, não éramos amigos, mas
para nossos inimigos, éramos uma família.
Fazia sentido? De vez em quando.

A Calábria sempre manteria nossas portas para o mundo fechadas.

Desci a escada devagar, para prolongar o medo que ele sentia e apenas
pela forma com que suas pernas estavam encolhidas, podia jurar que já
havia se mijado. A postura não me enganava. Eu não fui nomeado
conselheiro à toa, aprendi a ser bom no que fazia, a lutar, a ter estratégia, a
ser capaz de proteger minha família e os nossos negócios. Era um
Venturinni e, definitivamente, o sequestro que mudou minha vida me fez
nascer de novo. Agora, Caterina estava ganhando as mesmas marcas
assustadoras por causa de um cuzão.

— Para começarmos, não me faça perguntar duas vezes. — Eu me


abaixei à sua frente, nivelando nossos olhares.

Santino tentou negociar.

— Não precisamos ter esse tipo de conversa. Sou um parceiro leal à


famiglia…

Eu ri suavemente, tirando minha faca do bolso e a desembalei com


calma, puxando a fita de cetim, depois, o veludo que mantinha a lâmina
segura.

— Eu não sou a famiglia — falei pausadamente para que


compreendesse bem. — Sou a Calábria. Estou do outro lado da fronteira,
não faço política e nem parcerias. Ter um sobrenome italiano não te faz um
de nós. Precisa nascer no pecado e ter honra para lidar com o poder. —
Cravei minha faca em sua coxa, forçando para baixo. — Quem levou
Caterina?

— NÃO SEI, MERDA!


— Ah, você sabe. Porque ele disse que você causou dor à família
dele, então, vai pensar em quem andou provocando com recursos o
suficiente para reagir e porque nesse caralho… — eu enfiei a faca repetidas
vezes, sem parar —, não pensou o quanto isso poderia machucar uma
pessoa inocente como a sua afilhada, já que não tem filhos ou sobrinhos
para serem feridos em seu lugar. Miserável de merda.

Ele gaguejou inúmeros motivos estúpidos. Aparentemente, ele era um


merda que gostava de provocar muitas pessoas usando os recursos da
família Giordano como desculpa para atacar os oponentes e isso nos dava
uma lista enorme. Mas conforme sua boca cheia de sangue balbuciava
coisas inúteis e, ao mesmo tempo, interessantes, Enrico ouvia, dando ordens
e direções aos homens até que sábias palavras chegaram aos meus ouvidos
e eu finalmente entendi o que diabos havia acontecido com minha noiva.

Deixei o homem caído no chão, ainda sem matá-lo por precisar de


mais informações e subi as escadas correndo. Danilo me interceptou. Disse
que Bella tinha uma ideia da região em que pessoas com a descrição que
Enrico mencionou foram vistas brevemente e deveríamos procurar por ali.
Se era uma chance, eu iria agarrar com todas as minhas forças. Assis era um
excelente rastreador e Fernando capaz de encontrar uma agulha em um
palheiro, então, eu não tinha motivos para hesitar.

— Eles são a porra de nômades filhos da puta, não ficam o suficiente


na cidade para incomodar e como provocam abertamente a política e a
polícia, nos deixam de mãos atadas — Enrico comentou no carro enquanto
observávamos o grupo de longe. — Pegamos de poucos em poucos, eles
vendem drogas do pior tipo, chamam a atenção da mídia pela quantidade
insana de mortes por overdose pelo baixo preço. Não é o nosso estilo.
— Soubemos dessa tentativa em Vegas, mas não teve fluxo — Danilo
respondeu. Foi no lado dos Rizzo. Mick chutou a bunda deles para bem
longe. — Sabe de onde surgiram?

— São um grande grupo. Alguns, tivemos a certeza que vieram de


Atlanta, outros, do México. A maioria imigrantes, isso é certo.

— Na busca incansável pelo estilo de vida americano e o sonho


frustrado de não conseguir alcançar. — Bati com meus dedos na porta. O
senador Santino era um dos motivos, ele era um dos que impediam a
legalização de imigrantes latinos, alegando que a grande massa induzia uma
queda no estilo de vida do estado. Mas, na verdade, tinha tudo a ver com a
conquista de território e impedir que gangues inimigas aos italianos se
estabelecessem onde não deveriam.

Assis já tinha ido olhar fazia tempo e não retornou. Ele estava
demorando mais do que me sentia confortável. Caterina seguia sob o poder
deles há vários dias e aquilo poderia significar que ela estava morta.

Mas eu não iria parar até encontrá-la.

Assis assobiou perto da árvore e sinalizou que deveríamos ir. Danilo


puxou o carro mais para frente e na calada da noite, na escuridão fria e
silenciosa da mata abandonada de um lado esquecido do estado de Illinois,
passei pela minha cunhada encapuzada e ela subiu nas costas do marido,
agarrando-se no galho de uma árvore enquanto ele lhe passava um rifle.
Bella foi subindo mais, firmando-se entre as folhas e sinalizou que estava
bem e pronta.

Eu puxei meu capuz, soltando meus coldres e Assis, que nunca falava
nada, apenas mostrou o galpão, as portas, dizendo com seus dedos e sinais
quantos havia em cada lado. Damon e Enrico foram para um lado com seus
homens. Danilo e eu avançamos com Fernando e Mariano. Não era preciso
dizer que entraríamos juntos, vivos, e deveríamos sair juntos e com
Caterina.

Viva ou morta.
DEZ | Caterina
Pareciam pequenos estalos. Era como bolinhas estourando na minha
cabeça. Um som opaco que foi crescendo e acumulando, aumentando,
trazendo arrepio, medo, tensão e quanto mais se aproximava, mais uma
parte do meu ser sussurrava que deveria me cobrir e me proteger de algum
modo, mas não conseguia. Qualquer movimento dependia de uma força que
eu não tinha, era muito frio e doía.

Um estrondo me fez saltar e o peso do vestido molhado fez com que


ele se movesse, rastejando pelas minhas pernas e fazendo com que um grito
de pavor borbulhasse na minha garganta. Mãos quentes me seguraram e me
debati. E então, uma melodia suave de salvação me fez parar.

— Ei, ei. Caterina, sou eu. Cassio.

Abri meus olhos. Desorientada e no escuro, tentei focar em seu rosto.


Não era uma das pessoas sujas e fedidas que me mantinha ali. Era o formato
do rosto de maxilar quadrado, os cabelos…

Ah! Cassio!

— Eu sei, shh… — Ele me ergueu e me perdi um pouco de mim


mesma. — Ela está muito gelada e molhada. Me ajude a cortar a porra
desse vestido, é muito tecido, caralho!

Eu não sabia com quem ele estava falando, mas seu calor era tão bem-
vindo que fechei meus olhos novamente e me permiti mergulhar no limbo
que me puxava cada vez mais para o fundo acolhedor, agradável e tão em
paz que eu não queria sair. Não queria acordar. Cassio estava ali, era meu
noivo e não meu algoz, apesar de não ser alguém que conhecesse com
profundidade, era o meu salvador.

— Ela vai ficar bem, doutor? — Ouvi a voz da minha mãe e seu toque
gentil no meu cabelo. — Parece tão pacífica.

— Ela vai ficar bem, sim, seu corpo precisa descansar e se recuperar,
o tratamento clínico será um sucesso se seguir as recomendações
necessárias.

Abri os olhos, cansada, e mamãe chorou um pouco, dando-me um


beijo, seguido de um abraço que doeu até os dedos dos meus pés. Soltei um
gemido e ela se afastou, pedindo desculpas. Papai estava logo ao lado,
segurou minha mão afetuosamente e me beijou. Eu tentei continuar
acordada depois que a enfermeira conversou comigo, comi um pouco, mas
o sono era forte e voltei a dormir, toda coberta.

Ao acordar novamente, não vi meus pais em lugar nenhum, o quarto


estava escuro. Na porta, havia um homem, de costas. A enfermeira precisou
se identificar para entrar com a minha medicação, acendendo as luzes com
suavidade e franzi o cenho, sentindo dor de cabeça. Doía respirar. Minhas
costelas pareciam querer explodir fora da minha caixa torácica se eu fizesse
algum movimento errado.

A porta foi aberta novamente e minha cunhada entrou.

— Ah, menina! Eu fiquei tão preocupada! — Patricia me deu um


abraço muito cuidadoso.

— Me diga que Ania está bem. — Eu a segurei, morrendo de medo de


ouvir uma notícia ruim. Ninguém me dizia nada direito ou eu não estava
ficando muito consciente.
— Ela está, sim, e querendo te ver a todo custo, mas seu irmão não
acha seguro sair de casa. O importante é que todos estamos bem.

— O que aconteceu? Entendi que fui sequestrada por causa do


padrinho, mas…

— Até onde sei, ele mexeu com os nômades que estavam provocando
a mídia e a polícia, não tinha nada a ver com os negócios da nossa família
— Patrícia falou baixinho. — Aproveitaram a oportunidade e falha da
segurança do seu casamento, porque todos estavam concentrados na igreja.
Houve um trecho da estrada que a comitiva se afastou demais.

Eu olhei para o homem na porta. Não o conhecia. Não parecia ser


alguém da famiglia, mas também não tinha memorizado o rosto de todos os
soldados que trabalhavam conosco.

— Ainda haverá um casamento?

— Sim. A família do seu noivo fez de tudo para te encontrar e não


estão dispostos a renunciar a você por nada. Mas não querem ceder às
exigências da sua mãe, sobre esperar mais alguns meses para fazer um
grande casamento como esse.

— Eles não querem esperar?

— Não. A decisão estará com Dante, afinal, ele é quem começou esse
acordo. Acredito que chegará a um meio-termo que agradará a todos.

— E por que será que não desejam esperar?

— Cassio alega que tem compromissos inadiáveis e que já contava em


ser um homem casado na próxima semana. E para ser bem sincera, seu
irmão e eu entendemos, sua mãe está sendo orgulhosa, com tudo que
aconteceu fazer uma festa é até de péssimo gosto — Patricia comentou e
fomos interrompidas por uma copeira trazendo sopa e pães, eu só não fazia
ideia se era para meu almoço ou jantar. — Em todo caso, nada vai acontecer
enquanto estiver aqui e precisando recuperar-se.

— A única coisa que sei é que sinto muita dor.

— Você vai ficar bem. Eu vim te ajudar com o banho e trouxe coisas
de casa. Ficarei algumas horas de companhia, trouxe livros, revistas, alguns
jogos…

— Você é maravilhosa, obrigada.

No fundo, não estava interessada em nada daquilo, a sensação era de


que havia um grito preso em minha garganta e queria estar o mais longe
possível de qualquer positividade. Patricia não parava de dizer que tudo
ficaria bem e diante do desconforto do meu corpo, meu desejo era atirar a
bandeja de ferro que a enfermeira deixou no canto em sua cabeça, mas
continuei quieta e lhe dando sorrisos de tempos em tempos, sem deixar
transparecer a minha amargura.

Depois do jantar, ela me ajudou a tomar banho, o que foi mais uma
completa tortura porque recusei que me dessem no leito novamente (como
foi quando estava desacordada) e me arrependi no segundo em que fiquei
de pé, mas era orgulhosa demais para voltar atrás. No entanto, eu me senti
melhor e mais aquecida, confortável com meu pijama. Voltei para a cama,
Patricia colocou uma colcha que era do meu quarto e tinha o meu próprio
cheiro e aquilo era simplesmente um presente depois de tudo que eu havia
passado.

— Eu tenho que ir agora.


— Ninguém pode dormir comigo?

— Na verdade, foi um acordo. A família do seu noivo agora é quem


cuida da sua segurança e nossas interações estão limitadas. — Patricia me
deu um sorriso triste. — Não tenho certeza se é verdade porque só ouvi
isso, mas ao que parece, seu padrinho já sabia das ameaças, ele apenas
confessou que não levou a sério. Achou que não seria possível. Isso não foi
de bom-tom para os chefes. Deixou seu pai em uma posição muito ruim
com o senhor Di Fabrizzi[11], tiveram uma reunião de portas fechadas,
porque deu a entender que fomos displicentes com a sua segurança em um
casamento com uma família que veio de fora. Foi falha nossa.

Meu padrinho sabia o tempo todo que eu estava em risco e


simplesmente não fez nada. Engoli em seco e olhei mais uma vez para o
homem grandão na porta. Então ele era de Vegas? Entendia e fazia sentido,
considerando que nosso casamento não aconteceu porque meu padrinho foi
basicamente o “responsável” pelo meu sequestro. Por que a família do meu
noivo confiaria em qualquer um de Chicago para me manter segura?

Eu mesma não estava confiando em mais ninguém.

— Obrigada por vir.

— Tonia estará aqui para o seu café e eu volto assim que possível.

Dei um aceno e puxei mais a coberta. Ela saiu depois de apagar as


luzes, liguei a televisão, sem o real interesse de assistir nada. A medicação
estava começando a fazer efeito, trazendo um alívio gostoso para dormir e
ao mesmo tempo, queria um barulho para não me sentir completamente
sozinha.
Peguei no sono mesmo com o entra e sai de enfermeiras me
verificando, trocando tubos, aplicando medicações até chegar ao ponto de
ser difícil demais ficar completamente acordada.

Senti um pouco de dor na mão e abri os olhos, percebendo que o


modo que estava deitada machucava a agulha ali e virei o rosto, deparando-
me com Cassio sentado na cadeira ao lado da cama. Ele estava olhando-me
com interesse.

— Precisa que chame o médico?

Nunca reparei antes o quanto a voz dele era bonita quando suave.
Trocamos poucas palavras em nosso jantar de ensaio, havia tanta gente ao
redor querendo atenção e preocupados demais em nos deixar sozinhos com
medo de que eu ficasse mal falada ou que a família dele pensasse que eu
não era uma moça de família decente.

— Não. Estou bem. Você está aqui.

— Ao que parece, estava me chamando em seu sonho.

— Eu estava lembrando do momento em que fui encontrada e não


tenho certeza se era você que estava lá ou se foi uma alucinação.

— Eu estava lá. Fui eu que te encontrei. — Cassio ficou de pé e parou


ao lado da cama. — Por que parece que está sentindo muita dor?

— Porque sinto dor o tempo todo, a medicação alivia, mas a


enfermeira deve voltar para me dar uma nova dose a qualquer momento.

Hesitando um pouco, ergueu a mão devagar e tocou meu cabelo,


começando uma carícia suave. Ele desceu os dedos pelo meu rosto e fechei
os olhos.
— Soube que não cancelou o casamento.

— E por que eu faria isso, Caterina? Você é minha.

— Talvez por estar um pouco danificada agora. — Gesticulei para


meus ferimentos.

— Não há nada de errado com seu corpo, são machucados que têm
cura e cicatrizes fazem parte da nossa vida, além do mais, você tem cortes
sutis e fissurou as costelas. É por isso que sente muita dor.

Respirei fundo, cansada, querendo dormir de novo e lembrei do


grande vestido, do casamento, do carro a caminho da igreja cheia de
pessoas querendo me ver vestida de noiva, e tudo que meus pais prepararam
para que fosse um dia inesquecível. E foi, como um pesadelo, estar jogada
em um lugar frio e escuro, molhado, as horas longas e o medo me
sufocando a cada segundo.

Meu coração acelerou de tal maneira no peito que parecia que estava
infartando. A dor era de que precisava correr para o mais longe ou me
esconder debaixo da cama, a sensação de tremor foi espalhando pelo meu
corpo. Lambi meus lábios secos, ciente que, por fora, minha expressão
estava calma e pacífica como sempre fui treinada para transparecer. A bela
garota perfeita.

Eu não podia suportar interpretar um papel para agradar meus pais


nem se quisesse. Iria falhar. Não tinha forças.

— Eu posso te pedir uma coisa, se não for muito atrevimento da


minha parte?

Cassio passou as pontas dos dedos pelo meu braço, causando um


arrepio gostoso e acompanhei com o olhar, fascinada pela maneira com que
seus dedos envolveram os meus. Sua mão era grande e bonita, a pele
morena e tatuada um contraste lindo contra a minha pálida, parecendo
quase sem vida.

— Você é minha noiva, Caterina. Pode me pedir o que quiser. Diga-


me o que deseja e eu farei acontecer.

— Não quero um grande casamento novamente — confessei baixinho.

— Não?

— Eu não posso entrar em uma igreja lotada de pessoas. Estou com


medo. Eu quero… preciso de um tempo de tudo isso.

— Você não quer um casamento como seus pais querem? — Cassio


conferiu, um pouco surpreso e neguei com a cabeça, as lágrimas caindo nos
cantos dos olhos. — Não sinta medo, Caterina. Nada irá acontecer. Eu darei
a minha vida para que fique segura, ninguém nunca mais irá te ferir.

— Foi tão ruim... — Fechei meus olhos com vergonha de chorar na


frente dele.

— Shh… não chore, anjo. — Ele beijou minha testa, secando minhas
lágrimas com seu polegar. — Não tenha medo. Você é uma Venturinni
agora.
ONZE | Caterina

Era o meu segundo dia da noiva. Mamãe estava atrás de mim,


cantarolando e fazendo cachos no meu cabelo e, diferente da primeira vez,
não havia uma comitiva de pessoas me arrumando e me dando um dia digno
da realeza. Eram apenas nós duas, fiz a minha própria maquiagem e ela
estava finalizando o penteado. Tudo aconteceu bem adverso, o vestido era
simples, apenas muito branco, reto, com uma renda bonita no busto e um
pequeno véu na minha cabeça.

As joias eram as mesmas, recuperadas do sequestro, limpas e a única


insistência da minha mãe, que só cedi porque não aguentava mais o
falatório dela na minha cabeça. Ela estava chateada por não ser uma grande
cerimônia que mostrasse ao nosso mundo que eu estava bem, que tentaram
nos derrubar e não conseguiram, mas era mentira. Eu não estava bem, muito
menos feliz. Só estava seguindo o ritmo e fazendo um pouco de jogo,
usando as regras da minha nova família para fugir do circo que meus pais
queriam impor.

Desesperados em ainda manter a boa posição que tinham devido ao


caos que meu padrinho trouxe à relação delicada entre a famiglia e a
Calábria, apenas me fiz de surda em alguns momentos e posterguei a minha
alta hospitalar até o último minuto possível. Deixei o hospital na noite
anterior e meu noivo exigiu uma cerimônia simbólica de casamento na
frente das pessoas que importavam antes que embarcássemos para Vegas.

Fui prometida a Cassio e por mais que não fosse por motivos
amorosos, ele jamais renunciaria a mim. Era assim que funcionava a veia
possessiva e obsessiva dos homens italianos. Ele nunca me abandonaria por
teimosia e orgulho.

— Pronto, amor. Você está linda. — Mamãe colocou as mãos no meu


ombro depois de fixar o véu. — Está confortável com esse vestido?

— Sim. Estou me sentido bem, obrigada.

Ela tinha odiado. O modelo foi escolhido pela esposa do pai da minha
futura cunhada, que eu ainda não conhecia e agradeci a gentileza de ter me
poupado o estresse de procurar qualquer coisa para poder me casar. Alessa
cuidou de tudo, até mesmo do almoço, já que meus pais estavam
dificultando o processo e só pararam quando o senhor di Fabrizzi retornou
para Chicago e tomou o controle da situação novamente. Ao que parecia,
por mais tensa que fosse a relação entre o senhor Galattore e Cassio, as
famílias ainda não estavam interessadas em uma guerra, o casamento ainda
tinha o propósito de paz.

— Vou avisar ao seu pai que está pronta, está na hora. O casamento
deve acontecer.

Seus lábios crispados não passaram despercebidos. Não era um


casamento real. Civicamente, não foi possível nos casarmos, porque
aconteceria na igreja no dia em que fui sequestrada e depois, estava no
hospital e meus pais de palhaçada. Após isso, Cassio precisou estar em
Vegas e retornaria apenas naquele dia, para me buscar. Houve um
desencontro. Era apenas para que eu não saísse dali sem estar casada diante
de Deus, mas pela lei, aconteceria depois.

Mamãe saiu, minhas cunhadas entraram brevemente para me dar um


beijo e se despedirem. Elas sabiam. Nossas vidas estavam separadas dali em
diante. Não poderíamos fazer parte da rotina da outra nunca mais, mesmo
que dissessem que sim, eu estaria do outro lado da fronteira e sem
esperanças de que pudesse visitá-las. As conversas precisariam ser
monitoradas e muito bem pensadas. Qualquer ato falho poderia ser visto
como traição.

Abracei e beijei meus sobrinhos mais de uma vez. Eu não os veria


crescer. Talvez nunca mais os visse. Em uma guerra, eles seriam inimigos
dos meus filhos.

Aquilo doía tanto.

— Seja forte e corajosa. Conquiste o seu lugar, entendeu? — Tonia


sussurrou no meu ouvido. — Uma mulher segura, é uma mulher útil. Lá
não é a famiglia. Prove o seu valor.

— Obrigada. — Dei um aceno depois de engolir em seco.

— Eu sei que você vai se sair bem. — Patricia beijou a minha testa.

Elas sorriram e se foram. Olhei para o alto para espantar as lágrimas,


respirando fundo e ouvi uma batida na porta. Papai entrou, me dando um
sorriso.

— Você está linda, minha filha.

— Obrigada, pai.

Eu pensei que ele diria que faria de tudo por mim, que o sequestro foi
uma experiência traumática para nossa família e mesmo que fosse obrigado
a me entregar à família do meu noivo, eu teria um lar para voltar. Mesmo
não sendo possível, eu queria sentir que haveria alguém lutando por mim e
as raízes tradicionais no coração dele eram muito maiores do que seu amor.
Eu sabia que existiam sentimentos paternais ali, mas era praticidade.
Entregue aos Venturinni, não havia mais nada que ele pudesse fazer por
mim.

Era ridículo da minha parte querer ouvir aquelas palavras.

Seriam mentiras.

Colocando uma expressão corajosa no rosto, segurei o meu buquê.


Meu quarto estava praticamente vazio. A maior parte das minhas coisas
pessoais que restaram da mudança anterior foram embaladas e enviadas
para Vegas pela manhã, sobrou uma bolsa com itens íntimos e maquiagem,
que alguém guardaria na mala aberta em cima da cama para ser levada ao
carro.

A música começou a tocar e nós descemos a escada coberta por um


tapete vermelho e pétalas de rosas brancas. Cassio estava no altar
improvisado com um arco de flores, ao lado de seu irmão e cunhada. Nossa,
eles eram lindos. Isabella era surrealmente bonita. Aquela mulher não era
maluca e deprimida de nenhuma maneira. Ela não estava no jantar de
ensaio, então, era a primeira vez que a via pessoalmente.

Cassio parecia demais com o irmão, a diferença era nos olhos e na


idade, no mais, poderiam ser quase a mesma pessoa.

Fui entregue ao meu noivo, ainda segurando o buquê. Ele apenas me


olhou, sem esboçar nenhuma reação e voltamos a nossa atenção ao padre,
que celebraria nossa cerimônia na igreja e foi orientado a ser rápido. Ele
ministrou uma benção comum, nos declarando marido e mulher depois dos
votos tradicionais, que recitamos cuidadosamente. De frente um para o
outro, Cassio deslizou a aliança em meu dedo, peguei a dele, um aro grosso
com meu nome no meio e reparei que em seu dedo havia a letra C recém-
tatuada.
Ele não pretendia usar aliança no dia a dia? Estava muito enganado
que eu iria aceitar!

Sob aplausos dos poucos presentes, Cassio segurou a minha cintura e


beijou-me possessivamente. Foi o meu primeiro beijo, a primeira vez que
senti um corpo masculino tão perto, peito com peito, respiração tão
próxima. Foi rude, orgulhoso, como se ele finalmente tivesse o prêmio
prometido em seus braços. Viramos para nossa família, peguei o buquê
novamente e meus pais anunciaram que a recepção aconteceria na sala ao
lado enquanto faríamos algumas fotos.

Toda minha família foi andando, meus irmãos, sobrinhos, cunhadas e


pais… e eu fiquei sozinha com os Venturinni.

Uma mulher se aproximou. Ela era baixa, linda, de olhos castanhos e


cabelos loiros escuros, meio ruivos, com um sorriso adorável.

— Você está perfeita. Uma noiva muito bonita, não é amor? — Ela
cutucou o marido, que era um gostoso, mais velho, com alguns fios
grisalhos na lateral e um olhar de deixar arrepiada de um jeito inadequado
para mim, agora, uma mulher casada, porém, não morta.

— Você é Alessa, certo?

— Sim, sou eu! — Ela soltou um risinho alegre.

— Obrigada por escolher esse vestido, ele é lindo e eu adorei. E as


flores também, por fazer tudo isso enquanto estava no hospital. Foi muito
gentil da sua parte. — Eu lhe dei um abraço.

— Eu não sei se lembra deles do nosso noivado, mas esses são


Mariano e Assis Mansueto, eles são nossa família, irmãos de Isabella,
minha cunhada. — Cassio tocou meu cotovelo gentilmente e apontou para
os homens, um deles tinha um sorriso com covinhas, eram tão altos que tive
que dar um passo para trás e erguer o rosto. — Abaixem e se aproximem,
porra. Ela vai ter que pular para falar com vocês?

— Eu sou Mariano. Seja bem-vinda à nossa família. — Mariano


esticou a mão e pegou a minha, dando um beijo. — Ele é o Assis.

E apenas um aceno, só isso. Eu devolvi.

— Seja bem-vinda à família, Caterina. — Danilo parou na minha


frente. Ele me fazia tremer. — Desejo a você e ao meu irmão um longo e
frutífero casamento.

Uhn, merda. A pressão dos filhos do patriarca da família.

— Obrigada — consegui falar com um pouco de custo.

Isabella estava ao lado dele, ela tinha olhos azuis frios e me analisava.
Eu me senti intimidada. Era a matriarca, a mulher mais importante de tudo e
não parecia ser louca, nem de longe, era… perigosa. Cassio ainda me
segurava, ela me cumprimentou e fomos levados para as fotos. Eu não tinha
certeza se seríamos amigas no futuro, parecíamos ser muito diferentes e
pelo que sabia, eles viviam a maior parte do tempo na Calábria, nós
viveríamos em Vegas.

A coitada da fotógrafa parecia visivelmente assustada e tentando fazer


um bom trabalho. Eu não estava no clima e fiquei com pena, por isso
facilitei o trabalho dela, aceitando as poses e sorrindo para as fotos. Cassio
estava ali por estar, ele era o noivo, não podia se importar menos. A única
coisa que senti diferente, foi que entre os toques sutis e delicados de antes,
ele me pegava com mais firmeza, a mão da cintura foi parar no meu
quadril.
Tanto o almoço do meu casamento como o de um velório poderiam
ser a mesma coisa. A música rolava em meio a conversas baixas, todos
muito educados, nenhum grito de pedido de beijo, ninguém dançando,
ombros tensos e sorrisos desafiantes. Eu não disfarcei o alívio quando
Cassio disse que iríamos embora e que deveria me despedir dos meus pais.
Acompanhada de Mariano e Assis, cada um de um lado, atravessei a sala e
abracei minha mãe primeiro, ela não disse nada, apenas sorriu, como se
fôssemos nos ver na próxima semana.

Dei um beijo em Nonna, que fez uma reza baixa, fazendo parecer que
eu estava em meu leito de morte e por último, meu pai. Não fui autorizada a
chegar perto dos meus irmãos e sabia o motivo: eram homens. Cassio tinha
o poder de decidir quem eu poderia conversar ou não. Voltei pelo mesmo
caminho que fiz, ele abriu a porta para mim, segurando minha mão e nós
saímos em uma grande comitiva. Danilo ordenou que todos os carros
fossem embora ao mesmo tempo.

Cassio olhou para trás, deu um adeus debochado ao meu pai e de


repente, um lençol de cetim manchado de vermelho foi caindo do teto. Ele
me colocou no carro enquanto assistia a peça deslizar pelo chão e mamãe
cobrir a boca. Minhas cunhadas cobriram os olhos das crianças, meus
irmãos sacaram as armas, irritados, e meu pai ergueu as mãos, sinalizando
que não, mas olhando diretamente para o meu marido.

Eu ofeguei com o gritinho de alguém.

Cassio entrou no carro, ainda rindo. Assis apenas grunhiu, saindo da


propriedade bem devagar. Mariano estava com a arma no colo, atento.

— O que é aquilo?
— Seu pai não queria uma prova da sua pureza? Eu dei. — Cassio me
deu um olhar provocante, que me trouxe um arrepio rastejante pela espinha.
— Ele insistiu muito que deveríamos ter uma noite de núpcias e exibir a
noiva virgem que estava me entregando, mas como foi sequestrada e
torturada, não foi possível. Então, eu dei a ele o sangue do seu padrinho,
que roubou sua inocência e pureza no dia que deveria ser feliz para todos
nós.

Abri minha boca e fechei diversas vezes, sem saber o que dizer.
Alessa, com olhos de anjinho, participou daquele plano macabro ao decorar
minha casa para o casamento? Eu estava chocada com a família em que
havia acabado de entrar… e, estranhamente, me sentindo vingada.
DOZE | Cassio
Las Vegas

Caterina saiu do banheiro do avião usando um conjunto de moletom,


os cabelos presos e o rosto sem a maquiagem do casamento. Ela me deu um
sorriso tímido, voltou para o seu lugar e pegou a colcha, cobrindo-se.
Alessa ofereceu a ela um pacote de biscoitos, que aceitou nitidamente por
educação, por ser a única pessoa falando com ela o tempo todo e fazendo
sentir-se acolhida. Isabella não era desse tipo, era arisca e desconfiada, só
depois iria relaxar e se abrir.

Afinal, havia uma estranha no nosso ninho.

Depois de tudo que havia acontecido, ela finalmente estava indo


embora para Vegas comigo e não éramos casados de fato. Ainda bem que
não faltava capela na porra daquela cidade para resolvermos o problema em
minutos. Eu não ia esperar mais. Se o pai dela tinha tempo para ficar com
aquela bunda gorda sem fazer nada, o problema não era meu.

Eu tinha negócios para cuidar, um território para gerenciar, drogas de


outras pessoas para roubar, gente para matar e enfim, não me dispunha de
ficar mais em Chicago nem que me pagassem.

As três horas de voo passaram com tranquilidade. Pousamos em Vegas


e eu estava com saudades do calor, do cheiro do deserto e do caos do
trânsito. Caterina passou a viagem de carro olhando para todo lado, curiosa
e um tanto divertida pelas cores da cidade.
Havia uma diferença de fuso horário, por isso ainda estava dia e
quente. Fernando e Alessa foram direto para casa. Mariano e Assis
desapareceram assim que foi possível. Danilo e Isabella despediram-se na
porta, indo para o lado da mansão em que viviam.

— É uma casa enorme e muito bonita — Caterina comentou, olhando


ao redor, admirada e, estranhamente, aliviada. O que ela estava esperando?
— Percebi que as casas aqui possuem uma arquitetura diferente. Deve ser
por causa do clima.

— Vivemos todos aqui, mas na maior parte do tempo, fico sozinho na


residência. Meu irmão fica na Itália com a esposa e os filhos. — Peguei sua
mala, que era pequena, suas coisas já tinham sido enviadas e esperava que
tudo estivesse arrumado conforme havia ordenado. — Vou te mostrar nosso
quarto e os aposentos que costumo frequentar, meu escritório e a cozinha.
Temos duas piscinas, uma fica do lado de fora, outra é interna e aquecida.

Ela subiu atrás de mim, devagar e de cabeça baixa, segurando no


corrimão. Me perguntei se ainda estava com dor. Disfarçou com uma suave
careta no corredor, apressando o passo para me acompanhar e entendi que
sim, ela estava desconfortável e não me falou nada. Andei mais devagar,
mostrando meu escritório, o cinema, a sala de televisão que ficava próxima
ao nosso quarto e a suíte principal.

Interessada, olhou para o banheiro, aproveitou para abrir sua pequena


mala e organizar seus produtos femininos junto aos outros. Abriu as portas
do closet, analisando suas roupas, passando as mãos pelos tecidos pensativa
e deu um olhar para a cama sem falar nada. Aproveitando que estava de pé,
levei-a para conhecer o restante da casa, que era grande, mas ela se
habituaria. Ao invés de voltarmos pela escada, usei o elevador. Achava
palhaçada, Danilo comprou a casa com aquilo porque facilitava com os
carrinhos das crianças e brinquedos, mas não era algo que eu usasse com
frequência.

De volta ao quarto, mexeu no cabelo de uma maneira nervosa.

— Tenho trabalho a fazer. Aproveite para descansar. Sei que foram


longos dias no hospital.

Ela cobriu a boca com um bocejo.

— Eu posso dormir um pouco?

Franzi o cenho. Ela estava me pedindo autorização para dormir? Eles


treinavam cães bem bonitinhos em Chicago. Eu ia chamá-la de Shih-tzu na
minha mente se continuasse assim. Minha sobrinha tinha uma coisa de
dentes tortos e peludo, que balançava o rabo para qualquer coisa e vivia
pedindo carinho.

— Sim. Estarei no escritório. Preciso do seu telefone celular.

Sem discutir, foi até sua bolsa e pegou o aparelho, me entregando e eu


saí sem falar mais nada. Entrei no escritório e fechei a porta, conectando o
aparelho no meu computador e usei um programa para romper a senha.
Talvez, se tivesse me esforçado, saberia o código. Era sua data de
aniversário. Ela tinha muitas fotos, dela mesma, na frente do espelho, com
roupas, em passeios, com os sobrinhos, a família de modo geral e eu fiz um
backup, criando uma conta segura e colocando as informações ali.

Em seguida, peguei seu novo aparelho, passei as fotos, coloquei os


aplicativos e analisei as informações cuidadosamente, instalando o
guardião. Ela teria um novo número. Por enquanto, não tinha problemas
que mantivesse uma interação com a família, embora eles não merecessem.
Mas seria restrito. Eles não eram meus amigos. Se nem Damon e Enrico
confiavam, eu não os permitiria ter acesso a minha vida.

O pai dela passou muito tempo preocupado em gastar com o


casamento, foi arrogante e babaca em não me deixar cuidar da segurança de
Caterina. Ele falhou, e feio. Depois, queriam cobrir o quanto erraram com
uma festa, mas por mim, matava todos. Assim que terminei com o novo
aparelho, quebrei o antigo, ele poderia ter escutas, mesmo que muitos
pequenas, e o joguei na água por um tempo antes de eliminá-lo de vez, na
lareira.

— Não está um pouco calor para o fogo? — Bella entrou no meu


escritório.

— Vocês já vão? — Desviei meu olhar das chamas.

— Amanhã, depois do almoço, estamos muito tempo longe das


crianças. — Ela passou por mim e foi até a janela. — Você é um homem
casado agora.

— Acho que o período dos conselhos foi há um mês.

— Cale a boca e me ouça. Eu posso não ser próxima de Caterina, nem


pretender ser amiga dela ainda, mas sou a matriarca dessa família e não
quero sonhar em saber que a traiu. Respeite o seu casamento, seja exemplo
para os seus sobrinhos ou eu vou acabar com você para que eles aprendam
o que acontece com homens traidores. — Bella deu tapas carinhosos no
meu ombro. — Te amo, meu irmão.

— Eu também te amo, Bella.

Com um sorriso, saiu novamente. Olhei para o alto e apenas balancei


as mãos. Mulheres. Minha cunhada encabeçava a loucura. A famiglia estava
deixando de lado a história da pureza, um exame íntimo no hospital provou
o quanto Caterina era intocada, ela não foi abusada sexualmente no
sequestro e seguia pura. No entanto, casados nas leis de Deus, seguíamos
vivendo no "pecado". Era até divertido pensar em deflorar minha noiva.

Caterina ficou no quarto, sem sair o restante do dia. Terminei meu


trabalho, fazia dias que não comia ou dormia direito. Mariano enviou uma
mensagem dizendo que a comida da noite seria mexicana, então, fui tomar
banho e me livrar daquelas roupas. Entrei e a cama estava feita, se ela
dormiu, refez como uma profissional. Passei para o banheiro tirando minha
gravata e ouvi um frasco de vidro caindo na pia, ela estava nua na frente do
grande espelho e pegou uma toalha rapidamente.

Parei, divertido, mas atento aos hematomas que ainda marcavam sua
pele. Ela ficou parada, com os seios e parte da frente do corpo coberta, mas
porra, suas roupas de patricinha virginal escondiam a bunda redonda, coxas
e panturrilhas bem trabalhadas. A curva da cintura era perfeita para ganhar
uma boa mordida.

— Vai precisar acostumar-se com a intimidade. — Continuei tirando a


minha roupa e jogando no cesto, para lavar.

— Eu sei, só fui pega de surpresa. — Ela tentou relaxar, mudando o


peso da perna e falhou. Decidi ser bonzinho e peguei o roupão no gancho,
abrindo e ajudando-a a se cobrir. Percebi o estremecer com os movimentos,
fazendo com calma. Seu olhar encontrou o meu e abriu um sorriso tímido.
— Obrigada.

— Conseguiu dormir? — Coloquei minhas mãos em seus ombros e


apertei suavemente, deixando que sentisse meu peito em suas costas.
Caterina jogou o cabelo para o lado, pegando o frasco que havia deixado
cair e o movimento fez com que sua bunda roçasse na minha virilha. Eu me
senti um adolescente do caralho por sentir tesão com aquilo, mas gostei e
não disfarcei. Em algum momento, precisaríamos transar e era bom que
fosse, no mínimo, divertido.

— Sim. Um sono revigorante, mas esqueci de ligar o ar e acordei com


muito calor. Como conseguem? E, ah, o chuveiro é simplesmente incrível!
— Ela foi simpática e alegre, uma característica que me soava como uma
esposa daqueles programas de televisão. Eu não a conhecia para saber se
era a sua verdadeira personalidade.

— A casa é climatizada, do lado de fora está muito mais quente. —


Passei meu nariz por sua bochecha. — O quanto está sentindo de dor? Por
que não disse que não estava bem antes?

Caterina fez uma suave careta.

— Não estou sentindo dor de fato, apenas… desconforto. Estou


esquisita, tem movimentos que sinto um pequeno choque, me dá vontade de
retrair e me sinto cansada. Mas não tem nada doendo exatamente. — Olhou
para as mãos e puxei um pouco o roupão, para olhar o hematoma. — O que
foi?

— Abra. Deixe-me ver suas costelas — pedi. Um pouco hesitante,


mordeu o lábio, soltando o laço. Ela mostrou um lado, o cabelo cobria o
seio, mas pude ver que estava com um roxo quase amarelado, até tinha um
ferimento perdendo a casca. Inclinando-se para frente, percebi ser o formato
da sola de uma bota. — Caralho…

— Está tudo bem, Cassio.


— Puta que o pariu… — rosnei, olhando do outro lado e girei seu
corpo inteiro na minha frente, não era pela nudez no sentido sexual. —
Porra.

— Não dói mais, é sério. Já passou. — Ela tentou segurar minhas


mãos e se retraiu, sensível ao toque, na área onde ainda estava bem escuro.
— Estou bem, Cassio.

Eu olhei em seus olhos com vontade de rir. Aquilo não tinha passado.
Seus pesadelos estavam apenas começando. Ela não ficaria bem e, talvez,
nunca mais voltasse a ser a pessoa que foi antes do sequestro.
TREZE | Caterina
Cassio estava parado na minha frente, seminu pela primeira vez e
preocupado com meus hematomas. Ele ergueu o rosto novamente, ajeitando
a postura e acompanhei com o meu olhar, muito consciente de estar exposta
na frente dele. O tempo todo repetia na minha mente que aquele era meu
marido, alguém que poderia me ver nua, teria tudo de mim e tinha direitos
sobre meu corpo, mesmo sendo um completo desconhecido.

No entanto, a beleza dele era… uau. O corpo torneado me deixava


tonta. Não sabia para onde olhava primeiro e isso o divertiu um pouco.
Fiquei perdida nas tatuagens espalhadas pelo peitoral, os braços definidos e
a barriga… nossa. Aquilo era real? Estiquei a mão e toquei, o tempo todo
sob sua análise. Cassio segurou meu pulso gentilmente e deu um passo à
frente, pressionando-me contra a pia. Ele passou o braço por minha cintura,
erguendo-me sutilmente e colocou a perna entre as minhas, a coxa tocando
meu centro.

Sem saber como reagir, agarrei seus braços, olhando para o rosto de
homem intenso e ele me beijou. Não foi como no casamento, para
demonstrar posse e poder. Foi diferente. Sua língua e corpo conversavam
com o meu em uma melodia que me dava vontade de dançar de encontro a
ele. O sabor dos lábios do meu marido era viciante. Subi minhas mãos um
pouco mais, surpresa com as reações do meu corpo e me entreguei ao beijo.

Cassio encostou a testa na minha, com um sorriso de quem tinha poder


sobre mim e respirei fundo, entendendo por que ele pressionou a coxa entre
as minhas pernas. Senti falta no instante em que se afastou, tirando a cueca
casualmente e inclinei minha cabeça para o lado, olhando-o nu, com o pênis
ereto. Era uma descoberta e tanto para mim. Eu nunca havia visto um
homem nu antes de nenhuma forma, meus pais jamais permitiram.

Mordi o lábio, atenta aos movimentos, ele foi tomar banho como se a
minha mente não estivesse se tornado gosma aos meus pés e eu mal sabia
como me mover direito, pensando em como lidar com o fogo repentino que
surgiu no meu ventre além da vontade louca de tirar tudo e me enroscar
nele.

— Nós vamos jantar comida mexicana. Gosta? — Ele pegou o xampu


para lavar o cabelo. Virei, obrigando meu cérebro a trabalhar e peguei meu
sérum novamente, passando no rosto.

— Nunca experimentei antes, porém, eu como de tudo.

— Depende. Parece muito sensível. — Ele fechou o chuveiro, pegando


a toalha e começou a secar o cabelo, passando o tecido pelo corpo. Eu não
conseguia parar de olhar. — Já comeu coisas apimentadas?

Ele estava me provocando?

— Talvez eu possa gostar de coisas apimentadas. — Peguei meu gloss


labial, que era, na verdade, um hidrante, e passei. Cassio parou atrás de
mim, segurando minha cintura e inclinou o rosto para frente, dando uma
suave mordida no lóbulo da minha orelha que fez com que meus mamilos
imediatamente ficassem duros de tão arrepiados.

— Veremos, esposa.

Suprimi os lábios para não sorrir abertamente e ele saiu do banheiro.


Terminei de ajeitar minha aparência com meus cuidados noturnos, passando
perfume e fui para o closet. Eles provavelmente pediram comida, não vi
uma empregada na casa, não fui apresentada a nenhuma governanta e talvez
as coisas fossem diferentes. Ele estava de moletom e camiseta, então, não
havia nenhuma razão para ficar mais arrumada.

Peguei uma calça de tecido que era bem gostosa, uma camisa de alças
mais justa que não precisava usar sutiã e deixei os cabelos soltos. Cassio me
puxou pelo cós da calça quando ficou pronto, mal me dando tempo de
agarrar os frascos de remédio que precisaria tomar assim que comesse.

Usamos o elevador novamente e achei muito engraçado a casa ter um,


ela tinha três andares e muitos lances de escada, mas era algo diferente para
mim. Ainda não havia explorado o lado externo e faria isso no dia seguinte.

Assis e Mariano estavam com a comida na frente de uma enorme


televisão, os sacos ainda fechados, armas de um lado e um jogo de futebol
na tela.

— Danilo e Bella vão ficar no mundinho deles — Mariano avisou. Eu


percebi que minha cunhada não era do tipo acolhedora e não estava
ofendida, ela não me conhecia, mas esperava que tivéssemos a
oportunidade de estreitar laços com calma.

— Boa noite. — Eu fui educada e me sentei na ponta do sofá.

Assis ergueu o olhar e me deu um aceno. Cassio começou a abrir tudo,


espalhando pela mesa e assim que eu senti o cheiro, meu estômago deu olá
de primeira. Ele desembalou uma espécie de sanduíche.

— É um burrito, de carne vermelha, de boi — explicou, me fazendo


rir.

— Nunca comeu nada disso antes? — Mariano quis saber.

— Não. — Senti que meu rosto ficou quente com a atenção.


— Experimente os tacos também, vai amar. — Mariano apontou e
agarrou um burrito, dando uma mordida e de repente, pulou, soltando um
palavrão em italiano e apontou para a tela como se a jogada ali fosse um
completo absurdo.

— Ignore-o, ele é doente. — Cassio me entregou guardanapos.

— Aqui, coma. — Assis me deu uma vasilha com algo verde e


biscoitos de tortilhas. — É guacamole. Experimenta.

— Obrigada.

Subi um pouco mais no sofá, com a minha comida e experimentei um


pouco de tudo. O que deixei, Cassio comeu, conversando com seus amigos.
Tomei minha medicação e depois de lavar minhas mãos, recolhi a bagunça,
jogando o lixo fora e limpando a mesa porque não suportava coisas
desorganizadas. Dei uma espiada na geladeira, só tinha bebida e poucos
mantimentos, o armário seguia o mesmo padrão.

Eles viviam de delivery?

Estava acostumada a ter refeições preparadas em casa e muitos


funcionários à disposição. Não entendia como funcionava a casa e
certamente, não eram eles que limpavam.

Cassio me encontrou fuxicando a despensa e disse que iria dormir. Eu


não ficaria por ali sem ele e o segui até o quarto, até porque, o remédio me
faria pegar no sono com rapidez. Fechou a porta com a chave, deixou sua
arma aparente e desfilou pelo espaço de cueca enquanto mexia no telefone.
Fui até o closet, mas não peguei nenhuma das camisolas de núpcias, porque
não parecia que ele tinha a intenção de me tocar de forma sexual.
Vesti uma camisola bonita, que ia até o meio das coxas e tinha um
decote agradável, mas não era cheia de rendas e transparente, apenas cinza
escura e comum. Prendi meu cabelo em uma trança para não acordar
completamente arrepiado, grata que as fronhas de dormir eram de cetim, o
que já ajudava bastante na minha juba. Meu cabelo era um tipo de liso
grosso que ficava armado com facilidade, sorte ser longo e pesado.

Retornei para a área principal e ele já estava deitado.

— Seu telefone. — Apontou para o aparelho. Eu peguei, era do mesmo


modelo, o último lançado, mas de uma cor diferente, visivelmente mais
novo. — Já está com número ativo. Entre em contato com sua família com
moderação.

— Entendi.

Eu já imaginava que não poderia ficar o tempo todo falando com eles,
a relação pareceu tensa no casamento e depois do lençol deixado de
presente, meus pais deveriam estar bufando. Sem contar que mesmo com
poucos convidados, a fofoca deve ter se espalhado e mamãe tinha
verdadeiro horror em estar na boca do povo.

— Amanhã iremos ao médico. Depois, precisarei ir ao escritório.

— Tenho que comprar algumas coisas de farmácia — avisei, sentindo


falta de produtos que deviam ter ficado no banheiro ou minha mãe não
achou importante embalar.

— Tudo bem, pedirei para alguém te levar.

Puxei as colchas, já que o ar estava deixando o quarto bem gelado e


deitei, me cobrindo e apagando a luz do meu lado. Ele estava
preguiçosamente espalhado e assim ficou mexendo em seu telefone. Não
sabia o que fazer, se deveria virar e desejar boa noite, ou puxar algum
assunto. Já queria dar com a minha testa na parede por mais cedo ter pedido
para dormir, porém, a verdade era que estava apavorada de cometer algum
deslize e acabei me atrapalhando toda.

Seja corajosa, sua tonta.

Virei e olhei-o sobre os meus ombros.

— Boa noite.

Cassio desviou o olhar da tela do telefone, onde parecia trocar


mensagens com alguém e abriu um sorriso lento.

— Não vou ganhar nem um beijo de boa noite? — Ele passou a língua
no lábio inferior.

Mudei minha posição na cama com cuidado, apoiando minha mão em


seu peitoral e dei um beijo no cantinho dos seus lábios. Ainda sorrindo,
puxou minha coxa de encontro a dele e tomou minha boca, saboreando
divertido. Apertou minha perna e subiu para o meu bumbum, olhando em
meus olhos e dando um tapinha.

— Agora você pode dormir. Boa noite.

Seu olhar desceu para os meus mamilos atiçados, encarou-me


novamente e deitei no meu lugar porque… argh! Não sabia o que fazer.
Frustrada e sentindo um latejar incômodo, abracei uma das almofadas
longas, meio que de costas para ele, que não se deu ao trabalho de tirar a
mão da minha bunda e ficou no telefone até que perdi completamente a
batalha para o sono. O remédio iria vencer em algum momento.
Acordei com o som do despertador, mas estava sozinha na cama.
Desliguei o relógio digital, me sentei e cobri a boca para bocejar, ciente de
que precisava me obrigar a ficar desperta para sair. Dei uma olhada na
temperatura do lado de fora e abri meu aplicativo de mensagens, desejando
bom dia para minha mãe, avisando que estava bem e depois ligaria para
falarmos melhor.

Em seguida, me desvencilhei das cobertas e logo tratei de arrumar a


cama, dobrando as colchas, deixando tudo no lugar que havia encontrado no
dia anterior. Guardei as coisas espalhadas e troquei as toalhas do banheiro.
Não tinha nada no estilo que as garotas de Vegas usavam, mas improvisei
com um short de alfaiataria de cintura alta, uma camisa com um dizer
divertido e saltos altos. Deixei meu cabelo bem preso, o rabo cheio de
ondas da trança feita antes de dormir e caprichei na maquiagem para
parecer que eu tinha acabado de acordar com um glow up.

Cassio entrou no quarto assobiando, usando apenas um calção caído e


tênis.

— Eu vim te acordar e já está pronta. — Ele entrou no banheiro,


tirando a roupa. — Ah, vamos nos casar hoje. Arrume um vestido branco,
se quiser.

— Que horas?

— À noite.

— Tudo bem. Eu devo ter alguma coisa que possa usar. — Coloquei os
brincos, pensando que, pela lei, realmente não éramos nada um do outro.

Cassio ficou pronto com rapidez, dizendo que tomaríamos café na rua,
ninguém estava em casa mais e seu irmão já havia ido embora. Eu o segui
até a garagem, memorizando o caminho, ele abriu a porta para mim e entrei,
deixando minha bolsa no chão e prendendo o cinto enquanto ele dava a
volta. Apertando um controle no teto do carro, os portões da garagem
abriram, mas ainda era preciso sair da propriedade.

Vegas era muito diferente de Chicago. O tempo, as casas, as pessoas,


era uma cidade que exalava vibração. Cassio dirigiu em alta velocidade,
porém, não fiquei enjoada. Ele parou dentro de um centro comercial e me
pediu para esperar, que abriria a minha porta. Eu diria ser cavalheirismo,
mas ele apenas queria olhar ao redor para garantir que estava tudo limpo.
Não deixava de ser um cuidado.

Mariano já estava próximo ao elevador e disse que o médico me


aguardava no consultório. Ele impediu que outras pessoas entrassem
conosco, uma mulher me olhou preocupada por estar com dois homens
grandes e assustadores, mas Cassio apenas segurou minha mão e apoiei a
minha outra em seu braço, um pouco ansiosa por estar em um lugar
desconhecido.

Uma enfermeira nos recebeu com uma prancheta.

— Olá, sra. Venturinni. Eu sou Carla e vou cuidar de você hoje, soube
que anda sentindo dores depois de ter sofrido um acidente. Tive acesso ao
seu prontuário, vamos começar trocando de roupa?

— Tudo bem.

— Vem comigo. — Ela sorriu e Cassio ficou o tempo todo de olho.

Vesti uma camisola hospitalar e percebi que a mulher pareceu um tanto


horrorizada. Mas ela tinha um sobrenome italiano, seu sotaque era de quem
falava inglês há pouco tempo e o médico era italiano, com um ar de quem
fazia parte dos negócios. Ele lamentou que eu tivesse sofrido o que sofri,
que as dores, infelizmente, eram normais porque ainda estava me
recuperando.

Cassio ficou de braços cruzados nos fundos do consultório, quieto, mas


ele não saiu e percebi que o músculo de seu rosto tensionava a cada toque
do médico.

— Volte a fazer exercícios lentamente, uma caminhada, um bom


alongamento, mas não pegue peso, não faça musculação ou se canse
excessivamente. Repouse para que se recupere.

— E a medicação? — Cassio quis saber e peguei na minha bolsa as


receitas.

— Bem, bem. Vamos ver.

Achei graça que o médico pegou um óculos que parecia pequeno


demais para seu rosto e começou a ler. Foi o momento que meu marido se
aproximou e colocou a mão na minha nuca, fazendo uma carícia com o
polegar, enquanto aguardávamos. Ergui meu rosto e notei que ele havia
percebido como estava nervosa, então entendi que foi o motivo de ter ficado
próximo. Em algum lugar dentro da muralha em que ele vivia, havia algo
que o fazia prestar atenção em mim.

Eu não sabia que caminho nosso casamento iria trilhar se parecíamos


ter um abismo entre nós. Mas era cedo demais para exigir qualquer coisa.
Mamãe sempre me disse que a esposa perfeita tinha paciência e nunca
questionava o marido. Faria o meu papel e ele nunca teria o que reclamar de
mim.
QUATORZE | Caterina
Cassio me deixou sozinha com Mariano em um shopping. Ele disse
que tinha uma reunião urgente e meu acompanhante não parecia feliz,
inicialmente, iria somente na farmácia, mas depois que vi a quantidade de
mulher bonita andando pelos estabelecimentos que meu marido trabalhava,
decidi fazer compras. Ele deixou um cartão de crédito comigo, orientei-me
pelas placas e encontrei uma boa loja.

— Não que seja da minha conta, mas o que pretende fazer? Cassio
disse que iria para a farmácia. — Mariano andou atrás de mim. Ele estava
chamando muita atenção dentro da loja feminina. Precisava arrumar um
lugar para que se sentasse logo.

— Eu sei, mas preciso de um vestido para hoje à noite.

Ele me deu um olhar que dizia que eu era um rato indo para a forca.

— Terão um encontro quente?

— Algo como isso. Um casamento se enquadra? — Arqueei minha


sobrancelha. — Não vou demorar, prometo.

— Eu tenho uma irmã. Acha que acredito nessas promessas?

Abri um sorriso e acenei para que a vendedora se aproximasse, ela


parecia receosa, mas logo que viu que eu não mordia, me deu total atenção.
Mariano sentou em uma poltrona e ficou o tempo todo muito atento
enquanto meus braços se enchiam de opções. Vestidos curtos, sexy,
reveladores e atraentes. Eu não queria estar vestida como uma senhora de
idade avançada mesmo estando casada, ainda tinha dezenove anos, meu
marido trinta. Não queria parecer irmã dele.

Na máfia, nossa diferença de idade não era nada.

Mariano apenas grunhiu ao me ver cheia de roupas. Eu dei a ele um


sorriso de desculpas e ele só revirou os olhos, me seguindo até os
provadores, expulsando as mulheres que estavam ali e sentou-se em um
sofá. Eu fui para o reservado, com o auxílio da vendedora e de outra, que
não paravam de trazer coisas legais. Aquilo era um jeito divertido de fazer
compras.

Fiquei com fome e Mariano pediu um lanche que consistia em batatas


fritas, hambúrguer e refrigerante.

— Vocês não comem saladas ou coisas do tipo? — perguntei, com o


canudinho na boca. Aquilo era muito bom.

— O gás vai te fazer espirrar. — Ele riu e pegou meu copo. — Você
estava presa em alguma torre, princesa?

— Meus pais não me permitiam comer fast-food. Mamãe dizia que


meus genes italianos poderiam me fazer engordar e eu não encontraria um
marido. — Dei de ombros, pensando no quanto aquilo soou deprimente aos
meus ouvidos.

— Ainda bem que veio para Vegas, baby. — Riu e me entregou as


batatas fritas. Com a fome que estava e com uma senhora costurando a
bainha de um vestido em mim, enfiei um monte na boca. — Meu dia sendo
sua babá só está sendo divertido porque você parece um cachorrinho fofo
vendo a rua pela primeira vez.
A costureira riu e eu fiz um beicinho, ofendida, mas a boca estava
cheia demais para retrucar. Assim que engoli, fiz a única coisa madura que
Mariano merecia com aquele comentário: dei a língua. Voltei para o
reservado e, só de birra, demorei mais uma hora escolhendo sapatos que
não precisava e nem sabia se tinha espaço para guardar porque mamãe fez
tantas compras que o closet do quarto de Cassio estava lotado.

Com o carro cheio de bolsas e sacolas, ele me levou para casa a tempo
de me arrumar para retornar e encontrar meu marido. Em sua mensagem,
Cassio disse que poderíamos ir à capela e depois, jantarmos juntos. Claro
que aceitei. Ele estava dando um passo em minha direção, não podia recuar.
Além do mais, era um dos nossos casamentos, tinha que ser especial de
alguma forma, mesmo que nenhum de nós sentisse algo do tipo.

Tomei um banho caprichado, depilei minhas pernas, achei okay deixar


a virilha do jeito que estava porque… hum, eu não fazia ideia se ele queria
seus direitos como marido, se estava pronta, se teriam mais bons beijos
ou… porra. Parei na frente do espelho quase hiperventilando. Disse a mim
mesma para ficar calma. Se ele quisesse, eu tinha o poder de dizer não?
Mamãe sempre disse que se eu conquistasse o respeito do meu marido, ele
me compreenderia nos dias que eu não quisesse intimidade. Quando mais
nova, não entendia que estava falando sobre sexo, agora, fazia sentido.

Fiz cachos no meu cabelo e usei fixador, prendendo-os. O vestido era


branco, de mangas três quartos, delineava bem os seios sem nenhum decote,
costas nuas e ia pouco abaixo do bumbum. Era a coisa mais insana e curta
da minha vida. Eu estava cometendo uma loucura, algo dentro de mim
borbulhava, com um desejo de aprontar, quebrar as regras, um instinto de
liberdade, uma pequena parte que sussurrava garota atrevida que seria
castigada. Eu fui sequestrada porque homens que deveriam me proteger
ignoraram as ameaças. Talvez eu pudesse ser desobediente de vez em
quando.

Nervosa, passei perfume e coloquei as joias, recebendo uma


mensagem de Mariano informando que estava pronto e me aguardando.
Peguei a pequena bolsa e saí do quarto, não havia mais chances de trocar de
roupa. De cabeça erguida, andei pelos corredores até o elevador, com medo
de usar a escada com meus saltos altíssimos.

Assim que as portas se abriram, Assis xingou.

— Você passou o dia inteiro com ela para que Cassio nos matasse à
noite?

Mariano me olhou desanimado e bufou.

— Eu não sou o marido dela para impedi-la de fazer o que quiser. —


Ele ergueu as mãos, defendendo-se.

— Ele pediu para você tomar conta da mulher dele e em horas, ela
deixa de se vestir como uma freira para aparecer… de roupa curta! — Assis
parecia irritado.

Eu deveria considerar que aquilo significava que eles me acharam


muito bonita, certo?

— Isso não é um problema nosso — Mariano resmungou e foi


andando, abrindo a porta do carro para mim e oferecendo a mão. Agradeci a
gentileza, ele fechou a porta, Mariano entrou no banco do carona e eles
seguiram viagem como um casal de velhos, brigando um com o outro sobre
o rádio, em alta velocidade e pararam dentro de um hotel de luxo, no
estacionamento. Mariano saiu primeiro, cumprimentando os homens ali
com familiaridade e mandou todo mundo desaparecer porque eu iria sair do
carro. Eles saíram sem discutir.

Abriu a porta, me ajudou a sair e ajeitei o vestido antes de ser


conduzida até a capela. O celebrante já estava lá e não era um Elvis, mas se
vestia de maneira cômica. As lapelas altas, o terno vermelho e o cabelo todo
arrepiado, era provavelmente algum personagem que não conhecia ou
apenas um estilo esquisito. Fiquei em uma sala reservada sozinha por
alguns minutos, até que a porta foi aberta e Cassio entrou.

Ele desceu o olhar sobre meu corpo e senti um peso afundar no peito.
Mordi a pontinha do lábio devagar e sua expressão ficou indecifrável por
um momento.

— Era esse vestido que tinha no seu armário? — Apontou e olhei para
mim mesma com um pouco de orgulho da produção. Estava me sentindo
linda.

— Encontrei algo mais bonito hoje.

— Você quer dizer mais curto, certo?

— Só as minhas pernas estão de fora. — Encolhi os ombros.

— Vire-se. Quero ver a sua bunda — ele ordenou e me senti um


pouco ultrajada. — Vire-se, Caterina.

— O que tem na parte de trás?

Sem paciência, agarrou-me pela cintura e me girou, passando a mão


no tecido e me inclinando para a frente. Eu ri. Ele estava tentando ver se a
roupa subia? Eu não era tão louca. Tudo ficava no lugar. Cassio enfiou a
mão por baixo da saia e bati em seu punho, saindo de perto, divertida.
Coloquei as mãos na cintura, olhando-o.

— Não sou irresponsável. Estou usando um short por baixo e ele é


bem justo, não sobe muito…

— É melhor que nenhum homem veja a porra da sua bunda ou eu


cometerei uma chacina hoje — ele avisou em um tom severo, mas eu sabia
que não era ciúme. Era posse. Eu o pertencia, portanto, tudo em mim era
apenas para os olhos dele. No entanto, meu marido descaradamente olhou
para outras mulheres na minha frente e eu não gostei nem um pouco. Se
gostava de pernas em exibição, que ótimo, malhei muito para mostrar as
minhas.

Balancei a cabeça, de acordo, ele respirou fundo e abriu a porta,


ordenando que o homem começasse a cerimônia. Muito romântico, com
toda certeza. Revirei os olhos discretamente e, de mãos dadas, ficamos em
frente ao idiota que gaguejava mais de medo do que qualquer coisa, mas
tinha o poder de nos casar em minutos perante a lei. Ele nos declarou
marido e mulher, Cassio agarrou minha bunda rudemente com uma das
mãos e segurou meu rosto com a outra, dando-me um beijo possessivo.

Além do celebrante, só havia Mariano e Assis, ambos pareciam muito


mais divertidos com a irritação dele do que interessados em olhar para mim.

— Agora, vamos comer.

Mais cedo, quando ele disse que iríamos sair para jantar, pensei que
seria apenas nós dois. Mas com o humor ruim dele, fiquei grata em
encontrar Alessa no restaurante, que parecia meio boate. Era escuro, com
luzes brilhantes, música alta e dançarinas exóticas. Pela familiaridade de
todos, o estabelecimento deveria pertencer a minha nova família. Cassio
puxou a minha cadeira depois que cumprimentei o casal e sentamos lado a
lado, mas Alessa trocou de lugar com Mariano, para podermos conversar, e
eu adorei a gentileza.

Pedi vinho branco, já que comeríamos sushi e só não seria a minha


primeira vez porque minha cunhada me levou para jantar fora uma vez e
experimentamos, porém, mamãe a proibiu de fazer novamente. Eu adorei e
estava louca para comer mais uma vez. Cassio me explicou rapidamente
como segurar os hashis, posicioná-los na mesa se eu ainda fosse comer mais
ou o modo caso já estivesse satisfeita.

Cruzei minhas pernas e o movimento atraiu a atenção dele, que


colocou a mão na minha coxa, indo até o joelho e voltando. Dei um gole do
meu vinho e ouvi atentamente tudo que Alessa me explicava do lugar. Um
show começou e eu fiquei animada, as músicas, dançarinas lindas e os
homens, eles tiraram as camisas. Cobri minha boca, rindo. Fernando fingiu
esconder o rosto da esposa. Eu sequer conseguia desviar os olhos do palco.

Olhei para Cassio, meio divertida e assustada.

— Isso é normal por aqui? — cochichei em seu ouvido.

— É a nova atração da casa, você veio prestigiar a estreia. Está


gostando? — ele respondeu de volta, mas antes de se afastar, deu um beijo
em meu pescoço.

— É muito animado! Dá vontade de dançar também!

Alessa colocou um véu na minha cabeça e piscando para o marido,


acenou umas notas para o dançarino. Cassio xingou. Mariano jogou a
cabeça para trás de tanto rir. Assis ficou atento porque eu não sabia até que
ponto meu marido iria levar o gostoso dançando perto de mim na esportiva,
mas, por sorte, ele sabia o que estava fazendo, porque fez apenas uma dança
simples e nem um pouco invasiva (como fez nas outras mesas, esfregando-
se nas mulheres e tudo). Tímida, lhe entreguei a nota, mas apertando a calça
de Cassio porque inesperadamente me senti assustada, ele estava
mascarado, de preto, e foi subindo um pânico que me deu vontade de correr.

Cassio soltou meus dedos de sua roupa e entrelaçou aos dele,


mantendo nossas mãos em seu colo. Bebi meu vinho, disfarçando que quase
havia tido um colapso e comi mais algumas peças. Ninguém na mesa, além
dele, pareceu perceber. Alessa continuava feliz e sentada no colo do marido,
falando com Mariano, enquanto Assis olhava ao redor, sem relaxar. Aquele
parecia ser seu modo constante, como um instinto de sobrevivência.

Eu não podia agir como uma idiota toda vez que algum mascarado
chegasse perto de mim. Era Vegas, as pessoas andavam fantasiadas e meu
marido era dono de muitos estabelecimentos que, pelo visto, tinham
diversas atrações.

Um grupo de mulheres seminuas dançaram no palco e eu percebi que


uma delas virou e piscou para Cassio, soprando-lhe um beijo. Mariano
percebeu o meu olhar. Eu não faria nenhum tipo de escândalo na rua, muito
menos na frente de qualquer pessoa, então continuei comendo como se ela
não fosse importante, porque não era.

Eu era a esposa, certo?

Ele dormia com as mulheres do clube? Ele me trouxe para um lugar


repleto de amantes? Mamãe sempre soube das escapadas do meu pai por
sentir o perfume na roupa, por mais triste que ficasse, ela dizia saber que
era a mulher mais importante da vida dele e jamais existiria outra até a sua
morte. Eu nunca a entendi de fato e estava começando a sentir que não
queria compreendê-la.
QUINZE | Cassio
Caterina jogou a cabeça para trás, rindo alto e cobriu a boca. Alessa já
estava mais do que animadinha de tanto vinho, por isso, falava o dobro.
Caterina foi um pouco para trás e seu vestido subiu o suficiente para ver seu
shortinho branco, se estivéssemos sozinhos, eu ia ajoelhar entre as pernas
dela e chupar aquela boceta porque, porra, suas pernas de fora, o
movimento fluído da roupa, os lábios pintados de vermelho, o pescoço
implorando para minha boca deixar muitas marcas… Eu nunca pensei que
fosse dizer isso, mas a minha esposa estava me deixando de pau duro.

No entanto, ela ainda me olhava como um cachorrinho assustado e era


tão obediente quanto um treinado. Tinha também o fato de que eu era um
babaca de primeira com tesão, porém, seu corpo precisava de uma
recuperação de tudo que havia passado. O médico deixou claro que ficar na
cama o tempo todo não a ajudaria mentalmente e ainda era cedo demais
para voltar a malhar pesado, precisava tomar a medicação mais um tempo e
voltar a treinos leves.

Enquanto ela bebia água, rindo com Alessa, sem querer, deixou seu
sapato tocar minha panturrilha. Agarrei sua cadeira e a puxei para mim
novamente, ganhando um olhar intenso. Em alguns momentos, havia um
fogo em seus olhos, mas depois, ela escondia, assumindo a personalidade
entediante de boa moça. Eu só não fazia ideia se ela estava fingindo, se era
a sua personalidade ou se a obrigaram a ser alguém perfeito sem deixar que
florescesse sozinha.

Avisei aos demais que iríamos embora. Caterina despediu-se de


Alessa com um abraço. Ela esqueceu da promessa de que ninguém veria sua
bunda e quase deu um showzinho, só deixei passar porque era efeito do
álcool. Peguei sua bolsa, segurei sua mão e fomos para o elevador. Eu não
precisava que eles me acompanhassem, não ali dentro do estabelecimento e
muito menos indo para casa. Estava acostumado a andar sozinho e,
felizmente, o clima na cidade estava tranquilo.

Sozinho com ela, apertei o botão da garagem e depois, para que as


portas fechassem. A luz vermelha acendeu, ela olhou para o alto divertida e
depois para mim.

— Por que está me encarando assim?

Eu só agarrei sua bunda, erguendo-a e coloquei apoiada no aparador


de mãos. Ela assustou-se, soltando um ofego e me agarrou, cruzei suas
pernas em minha cintura e pressionei minha ereção em seu centro. Ela
precisava sentir o que a porra daquele vestidinho tentador fez comigo.
Agarrando minha nuca, foi ela quem me beijou.

Cacete, sim!

Seus lábios com batom vermelho ficaram um pouco manchados e


inchados, coloquei-a no chão um segundo antes da porta abrir e só virei
quando ajeitou o vestido. Meus homens estavam ali, com meu carro pronto
para minha partida e nenhum deles olhou para minha esposa porque eu não
queria. Caterina era linda e minha. Eles que fossem babar a puta que o
pariu.

Desejei que ela tirasse o short e me desse um showzinho com seus


dedos, deixando o banco do meu carro molhado. Também seria muito
divertido fodê-la rudemente e observar suas unhas afundando no couro.
Havia muitas possibilidades de coisas divertidas e pervertidas que
poderíamos fazer juntos.
— Você está bem? — Caterina soou tímida. Ela estava com vergonha
por ter me beijado? Eu era o marido dela, porra. O único que poderia beijar
e fazer o que quisesse.

— Estou ótimo. — Apertei meu pau e sequer percebeu, tirando os


sapatos. — Quer colocar as pernas para o alto? Eu empurro seu banco.

— Ah, eu quero. — Abriu um sorriso. Coloquei minha mão entre suas


pernas, aproveitando o espaço livre e beijei seu pescoço, sugando a pele
enquanto mexia na alavanca, levando para trás com suavidade e travando
novamente. Quando colocou as pernas para o alto, eu mordi sua coxa. Ela
gritou e agarrou meu cabelo. — Cassio! Isso dói!

— Foi irresistível.

— Não é por que quer deixar marcas?

— Também.

— Isso aqui garante que eu sou sua. — Ergueu a mão, mostrando a


aliança.

— É verdade, Caterina. Você é minha. — Segurei seu queixo e a beijei


rude. — Toda minha.

Eu precisava ir para casa gozar o quanto antes. Caterina não


reclamava da velocidade, parecia gostar, ficou brincando de trocar de
música até chegarmos em casa. Ela calçou os sapatos novamente para não
sujar os pés e fomos para nosso quarto. Acionei os alarmes, porque os
idiotas não voltariam naquela noite, iam se enfiar em qualquer boceta. Ela
entrou no banheiro primeiro, fui atrás e abaixei o zíper do seu vestido.
Caterina estava sem sutiã, só com o short. Pelo espelho, vi que nossa
interação anterior trouxe um efeito desejoso ao seu corpo. A parte da frente
estava deliciosamente grudada nos grandes lábios e eu mordi minha boca,
olhando e subindo meu olhar para seus peitos. Era a primeira vez que ela
me deixava vê-los de fato e queria mamar ambos em comemoração.

— Parece que você gosta de tudo que nós fazemos. — Desci minhas
mãos para seu quadril. Eu nunca pensei que o pescoço e as bochechas de
uma pessoa poderiam ficar tão vermelhas sem estar sendo sufocada. Ela
ficou envergonhada e me deu um olhar cuidadoso, como se tivesse medo.

— Eu nunca fiz nada disso antes e eu não fazia ideia de que podia
ser… gostoso.

E nós não tínhamos feito porra nenhuma ainda. Ela iria descobrir que
havia muito mais e era uma delícia foder.

Agarrei seu cabelo, expondo o pescoço e chupei do outro lado, mas


para deixar marca. Caterina fechou os olhos e um gemido escapou de seus
lábios, ela os pressionou juntos.

— Não quero que você se contenha — falei em seu ouvido. — Quero


ouvir seus gemidos, suspiros e todas as reações do seu corpo quando te
tocar. Quero te ver sentir prazer.

— Aprendi que uma dama não geme, apenas deixa o marido se


divertir, embora minhas cunhadas tenham dito outras coisas.

A família dela devia ter sido bizarra nas orientações pré-casamento.

— Vamos tomar banho juntinhos.


Engatei meus dedos em seu short, levando-o para baixo e fiz questão
de abaixar só para ter seu bumbum na reta do meu rosto. Ela ficou
completamente nua na minha frente e foi para a área do chuveiro,
começando a se lavar enquanto eu me despia. Meu pau estava muito duro,
não havia nenhuma chance de disfarçar. Caterina lavou o cabelo e o rosto,
tirando toda a maquiagem, peguei o sabonete líquido e coloquei em sua
mão.

Sem falar nada, fez espuma e espalhou pelo meu pescoço, ombros, foi
descendo e parou na minha cintura. Toquei a mim mesmo, divertido com
seu olhar. Ela mordeu o lábio e sorriu de lado, interessada, parecendo
fascinada. Caralho, eu ia gozar só com a expressão de seu rosto. Havia um
banco de mármore um pouco mais alto para colocar produtos, passei meu
braço por sua cintura e a coloquei ali, tomando-lhe a boca num beijo
desesperado.

Desci dando mordidas pelo colo dos seios, parando um pouco antes de
chupar cada bico olhando em seu rosto. Ela exalou, segurando meus braços
e empurrou o torso para cima, querendo mais. Chupei e lambi seus peitos,
fazendo barulho até que ficassem inchados. Voltei a beijá-la e arrastei meus
lábios molhados até seu ouvido.

— Tenho certeza de que essa boceta está quente, inchada e pronta para
minha boca.

— Ai, meu Deus, Cassio!

Eu queria ouvi-la falar putaria e, talvez, fosse cedo demais.

— Vai me deixar chupar essa boceta?


Seu olhar brilhava, inebriado, as bochechas ganharam um tom rosado
natural intenso e com um aceno, balançou a cabeça, engolindo em seco.

— Quero ouvir a resposta saindo dessa boca. — Segurei o queixo e


mordi o lábio.

— Eu vou deixar.

Desliguei o chuveiro, pegando a toalha e não me dei ao trabalho de


nos secar direito. Levei-a para a cama, o quarto estava escuro e joguei as
almofadas que iriam me atrapalhar para fora do caminho. Caterina rastejou-
se para o meio, olhando-me, e pairei sobre ela, beijando a boca, permitindo
que sentisse meu peso. Fiquei todo arrepiado ao ter meu pau roçando em
sua boceta. Ela estava tão molhada… porra.

Simulei alguns movimentos de vai e vem, dando-lhe prazer no clitóris,


estimulando. Ela estava com o cenho franzido e arranhou o meu braço,
surpresa com as sensações. Sua unha foi parar na minha nuca e eu ficaria
todo marcado, pela primeira vez, sem me importar. Gostava de uma foda
bruta e seria ótimo se ela apreciasse também.

Dei uma mordida em sua cintura e Caterina gritou, rindo e me


batendo. Fui dando mais mordidas, suaves, pela barriga e ventre, afastando
suas pernas e fiquei bem confortável com o rosto próximo à boceta. Ela
exalava um cheiro que era puro tesão. Passei minha língua ao redor de seu
botão, que era pequeno, rosado, mas estava visivelmente inchado. Criou um
fio de ligação. Delicioso.

Ela gemeu, fechando os olhos e depois, apoiou-se nos cotovelos para


ver melhor. Eu a lambi com a minha boca inteira na boceta, explorando
tudo, engolindo o que tinha para me dar e extasiado com seu sabor.
Caterina gozou, tentando fechar as pernas, movendo o quadril,
estremecendo e agarrando os lençóis. Ela não foi nada tímida ou discreta,
foi gostosa pra caralho. Dei um último beijo em sua boceta, ficando de
joelhos na cama e me toquei. Ela assistiu a tudo, ainda em uma nuvem de
prazer, e seu rosto delirante foi o combustível para me fazer gozar em
segundos. Excitado como estava, jorrei minha porra em sua barriga, entre as
pernas e ainda assim, meu pau ainda estava duríssimo.

Ela passou o dedo onde havia espirrado meu esperma, sentiu a textura
e lambeu. Safada.

— Vem aqui limpar com a boca.

Movendo-se na cama, ficou atenta à minha explicação. O que ela tinha


de quieta e cara de santa, tinha de boa aprendiz. Sua boca quente era
maravilhosa, aprendeu bem rápido a dar uma atenção especial para uma
área sensível da minha cabeça. Segurei seu cabelo, avisando que ia gozar
em sua boca e ela engoliu tudo, ficando tímida.

— Você está com vergonha?

— Eu não sei, embaraçada, talvez. — Ela riu e a peguei, beijando sua


boca.

— Não fique. Vou gostar de todas as vezes que agir como uma
putinha.

— Cassio! — ela ralhou, me empurrando, mas estava rindo com


vergonha.

— Minha puta, vai. — Mordi seu ombro, apertando-lhe a bunda,


divertido. Ainda dei um tapão só para deixar de bobeira.
— Para com isso, sou sua esposa — reclamou manhosa e ri contra
seus lábios.

— Só minha, diz.

O lado louco, o diabo possessivo, estava rugindo no meu peito.

— É claro que sou sua. — Ela riu, sem entender.

Fomos tomar um banho para tirar toda a bagunça e ela vestiu uma
camisola. Desfez a cama, organizou os travesseiros, tomou seu remédio e
mexeu no despertador. Eu dei uma olhada no sistema da casa, verificando
os negócios antes de deitar vestindo uma cueca confortável. Cansada,
adormeceu antes que eu terminasse de responder Danilo, já eu, peguei no
sono, mas como sempre, nunca profundamente.

Cada vez que ela se mexia, eu acordava. Não estava acostumado a


dormir com outra pessoa por perto. Acendi um cigarro, deixando a janela
aberta para a fumaça sair e ela começou a choramingar baixinho, movendo-
se na cama como se tentasse se proteger.

— Não me machuque, por favor — implorou baixinho.

Merda. Merda do caralho.

Apaguei o cigarro e, voltando para a cama, puxei a coberta e me


deitei.

— Cate, Cate… — cantei seu nome baixinho, arrastando meus lábios


por sua testa.

Ela abriu os olhos, assustada, e olhou ao redor, confusa. Sentou, como


se precisasse ter certeza de que estava na cama, no nosso quarto, e não onde
seu pesadelo insistia em deixar sua mente presa. Não parecendo acordada
de fato, deitou-se novamente, de costas para mim, porém, com seu corpo
inteiro me tocando. Abraçou um travesseiro e apagou. Deitei de lado,
tirando o cabelo da testa suada, ciente de que aquela seria uma longa noite.
DEZESSEIS | Caterina
Acordei sentindo que havia corrido uma maratona e como sempre,
estava sozinha. Sem pressa para levantar, peguei meu telefone, dando uma
olhada nas mensagens. Assim como minha interação era contida e
monitorada, a da minha mãe também era e a nossa conversa não podia ser
mais idiota e monótona. Mas eu respondia mesmo assim, todos os dias e
tentava manter contato.

Soltei um bocejo, cansada. Fazia uma semana que estava oficialmente


casada, morando ali e alguns dias desde que Cassio e eu passamos a ter
mais intimidade na cama, porém, não fomos além do que fizemos. O que
não era um problema, era gostoso a cada vez, mas fora do quarto, ele
continuava distante, inacessível, me deixava confusa e solitária. A casa era
imensa e havia um grupo de funcionárias que apareciam em dias
determinados para limpeza, eram observadas de muito perto e toda comida,
era pedida.

Eu não tinha nada para fazer. Literalmente. Porra nenhuma. Malhava


de manhã e depois, andava pela casa como uma sombra, ajeitando
desnecessariamente os cômodos, limpando o que já estava limpo e lendo.
Estava de saco cheio de ler. Minhas unhas estavam sempre feitas, cabelos
perfeitos, depilada, se eu quisesse fazer qualquer coisa no centro, era só
pedir e ainda assim, já tinha comprado tudo.

Alessa tinha filhos pequenos. Nas duas vezes que estiveram aqui,
quase quebraram a casa. Eles eram terríveis e lindos.

Cassio e eu ainda não havíamos transado para me preocupar com


bebês. Por enquanto, eu estava engolindo meus possíveis filhos. Rindo
sozinha, saí da cama para espantar a preguiça, peguei um short de ginástica
ao invés da calça de sempre, e deixei a camisa longa de fora. Normalmente,
por respeito, tentava esconder meu corpo de Assis e Mariano, mas eles
andavam sem camisa por todo lado enquanto eu ficava assando na
academia.

Desci a escada com meu telefone na mão e a caixinha de fones de


ouvido na outra. Abri a geladeira, peguei uma garrafa de suco e suspirei,
desistindo. Iria fazer compras e cozinhar. Não era possível que eles
achassem normal não ter um biscoito no armário! Bati a porta, frustrada, e
dei meia volta, subindo a escada novamente. Entrei no escritório do Cassio
sem aviso, ele estava no telefone, falando em italiano e me deu um olhar.
Ignorei. Cruzei os braços e sentei na cadeira à sua frente.

— Você vai malhar usando apenas isso?

— Quero ir ao mercado fazer compras de comida.

— Não precisa. Nós pedimos todos os dias.

— Eu sei, mas eu sinto fome e nunca tem nada para comer. Quero
comprar coisas para deixar na cozinha, na despensa e na geladeira.
Principalmente, ter a liberdade de cozinhar qualquer coisa quando estiver a
fim.

— E você sabe cozinhar?

— Claro que sim, e muito bem — rebati um pouco ofendida. Eu era


excelente.

Ele bufou e murmurou baixinho alguma coisa sobre ser bem treinada e
o olhei desconfiada, tentando entender. Seu telefone tocou novamente, mas,
antes de atender, disse que pediria alguém para me levar e saí do escritório
animada. Fui até nosso quarto buscar minha bolsa, guardei o telefone e
peguei uma camisa limpa, mas não vesti, do lado de fora o sol estava digno
de fritar um ovo no asfalto.

Encontrei um chiclete na bolsa, coloquei na boca e caminhei até o


carro, que já estava na entrada, me esperando. Mariano conduzia o volante
na companhia de um soldado, que ficava na guarita e eu não sabia o nome,
mas ele iria nos acompanhar.

— Vai ser minha babá hoje de novo?

— Não. Eu vou te deixar no mercado com ele, volto para buscar. —


Mariano riu. — Cassio te viu sair?

— Claro que sim.

— E não te mandou colocar uma roupa?

— Eu não ouvi se ele pediu isso, além do mais, estou vestida. — Dei
de ombros com um sorriso doce e entrei no carro, fechando a porta.

Mariano não falou mais nada, ouvi música com meus fones enquanto
baixava algumas listas de compras. O mercado era do tipo grande e de luxo,
com carrinhos enormes que precisei de ajuda para tirar do lugar. Estava
empurrando para a entrada quando meu telefone começou a tocar, e pela
insistência, só podia ser Cassio.

— Oi, marido — atendi, equilibrando minhas coisas.

— O que está usando?

— Hum, minhas roupas de academia?


— Aquelas pequenas e curtas as quais entrou no meu escritório mais
cedo?

— Não troquei de roupa, então, sim.

— Caterina… porra.

— Qual é o problema, Cassio? — questionei mais baixo, me afastando


um pouco do meu segurança. — É um short maior do que a maioria das
mulheres usa aqui em Vegas para malhar e um top cinza, não tem nenhuma
transparência e é bem grande, até o meio da minha barriga.

— Por que está tentando se exibir, caralho?

— Não estou tentando me exibir e sim, me encaixar entre as pessoas


que convive. Tenho uma camiseta comigo, irei colocar.

Cassio não falou mais nada, apenas encerrou a chamada. Bufei e vesti
a camisa com um pouco de frustração. Parecia que nunca conseguíamos nos
entender. Eu não tinha ninguém além dele para conversar e nossa
comunicação era simplesmente péssima. Talvez devêssemos transar logo,
assim engravidava e ficaria ocupada, cumpriria meu dever e não existiriam
motivos para termos um diálogo.

Irritada, fiz as compras enchendo dois carrinhos, também comprei


bebidas e o soldado me ajudou com tudo no caixa, levando para o carro
quando Mariano chegou. Nem falei com ele, fofoqueiro de uma figa. O que
tinha a ver com a minha vestimenta? Idiota. Iria me vingar quando se
casasse. Fiquei ocupada arrumando as compras e separando o que faria para
o jantar, deixei a carne marinando no tempero e preparei um sanduíche bem
gostoso para o meu almoço.
Eu queria ficar com raiva o suficiente para deixar todo mundo com
fome, mas meu coração não permitiria isso. Preparei o de Assis, que estava
em seu escritório e ele assustou-se com a minha batida. Ofereci um prato e
ele aceitou, ficou surpreso e agradeceu. Mariano quase ganhou um pão com
mostarda no rosto porque riu do meu tropeço antes de encontrá-lo, mas
parou ao perceber que eu estava levando comida e foi todo gentil,
perguntando se eu precisava de ajuda. Bobo.

Por último, levei o de Cassio. Meu plano era entrar e sair sem falar
nada, porque ele desligou o telefone daquele modo que descobri que odiava.
Deixei o prato na mesa com um copo de chá gelado, pedras de gelo e limão.
Dei as costas, ele riu… a risada acendeu um fogo dentro de mim e me fez
virar.

— O que é engraçado, marido?

Cassio recostou na cadeira, divertido.

— Essa sua expressão de gatinha furiosa. Está irritada com o quê?

Ora, ele tinha a audácia? Como não poderia saber?

— Nada.

Era tudo!

Cassio gargalhou. Ele estava tripudiando da minha cara e eu nem


sabia como reagir. Olhei para o prato intocado do sanduíche e simplesmente
peguei de volta. Quase derrubei o chá na minha saída triunfal e fingi que
nada aconteceu.

— Ei, volta aqui! É o meu almoço! — gritou, divertido.


— Não é mais! Vocês costumam pedir delivery e eu não devo me
preocupar com a sua alimentação, marido.

Como ainda estava com fome, comi o dele, bebi todo o chá e lavei a
louça. Voltei para o meu quarto, desistindo de malhar, a ida ao mercado já
tinha me cansado o suficiente. Estava na hora de tomar minha medicação da
tarde, eu não aguentava mais, meu estômago doía porque era forte e meu
corpo parecia ter preguiça de melhorar.

Deitei para ler ao perceber que estava um pouco ofegante e dolorida.


Fui a uma consulta com uma ginecologista indicada por Alessa, para ter
uma receita de anticoncepcional, porque sem saber a decisão do meu
marido sobre filhos, queria estar preparada. Por instinto, não conseguia me
sentir bem ficando grávida tão nova, mas eu também tinha consciência do
meu papel e propósito como esposa.

— É aqui que encontro a minha esposa rebelde? — Cassio entrou no


quarto e olhei a hora, ele, provavelmente, iria treinar. Eu tinha que descer
para preparar a comida porque queria comer algo caseiro
desesperadamente.

Tirou o terno, deixou na poltrona e inclinou-se sobre mim.

— É aqui que encontro a esposa que me deixou com fome no almoço?


— Ele estava determinado a me irritar.

— Eu não sei do que está falando, marido. — Abri um sorriso doce.

— Não sabe, é? — Ele riu e me deu um beijo, indo trocar de roupa.

Saindo do closet com seu calção, foi coçando a barriga para a


academia e continuei fingindo que estava lendo. Assim que ele saiu, troquei
de roupa, coloquei uma calça para o idiota não dar um ataque e me
repreendi mentalmente por chamar meu marido daquela maneira, mas ele
merecia de vez em quando. Minha mãe ficaria pasma, ela não me criou para
isso. Eu tinha que ser respeitosa, sempre.

Com uma calça de linho e uma blusinha, prendi meu cabelo, desci e
conectei meu telefone no painel de música. Ali era equipado para trocar o
tom das luzes, criando um clima romântico, para tocar listas de reprodução
de sexo e interativo com a boate no porão. Como Assis e Mariano eram
solteiros, eles viviam usando, de vez em quando, ouvia, mas Cassio não
chegou a descer enquanto estive acordada.

Eu preparei a salada primeiro, rúcula, azeitonas roxas, cebola,


tomates, alface e por minha conta, coloquei pepino, besuntando no azeite e
temperos. Eu fiz filés bem grossos, com purê de batata e pães que comprei
congelados. Arrumei a mesa, deixando as taças de vinho, de água, organizei
tudo bonito e os três apareceram suados, atraídos pelo cheiro.

— Sinto o maravilhoso aroma de carne? — Cassio ergueu as tampas.


— Opa, delícia.

— Vão lavar as mãos. — Bati com o pano de prato na bunda dele.

— Dá tempo de uma chuveirada? — Assis fez uma careta.

— Sim, por favor, ainda vou misturar o queijo no purê.

Eles saíram, provocando um ao outro, terminei de cortar os queijos e


misturei com calma, virando na travessa. Fiquei orgulhosa do primeiro
jantar que preparei na minha casa, porque finalmente parecia que estava em
meu próprio lar e dona da minha vida. Ainda tinha a sensação de que estava
de férias vivendo com um homem.
Cassio foi o primeiro a voltar, com o cabelo todo molhado, calça de
moletom caída na cintura, o caminho do pecado em plena exibição. Parando
atrás de mim, pressionou-me contra o balcão e beijou meu pescoço.

— Ainda irritada, esposa? Vai me deixar com fome de novo?

Soltei uma risadinha porque notei que ele estava excitado. Naquele
momento, não parecia com fome de comida.

— Eu nunca estive irritada hoje, marido. Apenas segui as suas


orientações. — Dei um beijinho em seu braço. Peguei a travessa, levei para
a mesa e comecei a servir os pratos. Cassio sentou na cabeceira, Assis e
Mariano do outro lado. Eles nem falaram nada, apenas devoraram a comida
e fiquei orgulhosa, porque os sons de apreciação e beijos nas pontas dos
dedos eram muito melhores do que qualquer palavra.

Aquele lugar, aos poucos, poderia se tornar a minha casa.


DEZESSETE | Caterina
Acordar mais cedo do que o usual me trouxe muitas surpresas. Como
estava cozinhando, decidi que poderia malhar logo que o sol nascesse para
preparar um café caprichado antes que todos saíssem. Cassio nunca estava
na cama quando acordava e eu não sabia que horas ele realmente saía, mas
fiquei surpresa ao sair do quarto, descer as escadas e encontrar duas
mulheres nuas na sala, fumando cigarro e bebendo. Eu parei perto da porta,
congelada, e elas me deram um olhar. Depois, quando perceberam que eu
era uma esposa, pegaram suas roupas e saíram.

Eu não vi meu marido, Mariano ou Assis. Mas não saber onde Cassio
estava trouxe um buraco ao meu estômago. Morávamos com dois homens
solteiros e eu podia supor que cada uma delas era coisa deles, mas eu era
casada e seria estupidez da minha parte simplesmente não me preocupar em
que cama o homem que compartilhava a vida passou a maior parte da
noite.

Fui para a cozinha, estarrecida. Eles não podiam transar no quarto?


Tinha que ser em uma das salas? Meu sangue estava fervendo! Eu me senti
tão desrespeitada! Quer dizer, a casa não era só minha, mas eu era a única
mulher vivendo ali e sinceramente, eles tinham dinheiro o suficiente para
arrumar muitos lugares para foder. Peguei os ovos na geladeira e percebi
estar tremendo de tanta raiva, coloquei-os com cuidado no balcão e parei,
respirando fundo, tomando o controle de volta.

Em Chicago, pelo menos, era proibido que as esposas convivessem


com as amantes. Alguns homens tinham dificuldade de disfarçar, mas
Damon abominava traição no casamento, a esposa dele não escondia que
odiava homens traidores. Mamãe descobria sempre, porque ela dizia ser
impossível não saber que, ao ligar um carro pela manhã e ele não dar a
partida de frio, significava que alguém o dirigiu durante a noite. As
analogias dela me deixavam maluca, aprendi a dirigir e logo depois só
peguei carros automáticos, ficava louca sem entender.

Até estar casada.

Que ódio.

Mariano apareceu na cozinha com a calça jeans caída, a arma


pendurada atrás e sem camisa. Ele me deu um bom dia preguiçoso,
enchendo a caneca de café. Eu o olhei, desconfiada, e murmurei qualquer
coisa que soasse como uma resposta. Assis deu um olá, recém-banhado e
perfeitamente vestido. Depois, Cassio virou a esquina, meio suado, com
roupas de treino e ficou surpreso ao me ver de pé. Aquilo levou minhas
desconfianças até o último nível.

— Bom dia, esposa. — Cassio passou por mim e tentei sentir seu
cheiro discretamente. Lhe dei um aceno, ocupando a boca. — Dormiu bem?

Por quê? Ele não havia dormido comigo?

Olhei para os três e dei as costas, saindo da cozinha. Fui para a


academia me alongar. Coloquei minha perna na barra, alongando, esticando
as costas e fechei os olhos, respirando fundo. Assim que terminei, conectei
meu telefone no painel e rolei a lista de últimos acessos. Cassio conectou o
aparelho dele quando fomos deitar, porém, ele fazia isso toda noite. Ele
ainda estava online por ali, ouvindo música em seu escritório? Ou na
academia? Em que cômodo, merda?!
Fiquei olhando por um bom tempo, clicando em tudo, querendo
descobrir o que havia acontecido pela madrugada na casa, porém, percebi
que meu acesso era limitado. Não podia ver as imagens da casa, nem
mesmo em tempo real. Somente do nosso quarto, closet, cozinha, academia
e ele foi muito esperto em selecionar apenas cômodos que eu frequentava.
Bati meus dedos na tela do iPad e coloquei-o de volta no suporte,
aumentando a música até que os alto-falantes tremessem os espelhos.

Ainda lembrava de muitos movimentos dos anos que pratiquei


ginástica olímpica. Deixei os colchonetes armados de modo que se eu
caísse, não iria me machucar tanto e me deixei levar, apenas esticando o
corpo, ficando de cabeça para baixo, movimentando meu torso e abrindo
bem as pernas, esticando os braços. Foi desse jeito que Cassio me
encontrou. Ele foi até o painel, abaixou o volume e me sentei, cruzando as
pernas e ficando de costas eretas, observando-o.

— Por que está com esse olhar?

— Que olhar, marido? — Abri um sorriso doce, mas soou meio


irônico e não consegui me conter.

— De quem está desconfiada.

— Eu tenho motivos para estar? — continuei soando uma mocinha.

Cassio estalou a língua.

— Eu não gosto desse comportamento.

Porra, eu não gostava de tanta coisa! Ele agia como um trator,


passando por cima de mim! Simplesmente odiava, muito, com todas as
minhas forças, a minha posição inútil porque nem ser uma esposa completa
Cassio me permitia! No entanto, minha alternativa era engolir, pois assim
que fui orientada, esposas não são chatas e não reclamam de tudo.

— Não sei do que está falando.

— Estou saindo, Caterina.

Uau! Um milagre ele estar avisando que faria qualquer coisa.

— E eu estarei bem aqui, marido. — Coloquei meu cabelo atrás da


orelha.

Balançando a cabeça, saiu, irritado e aquilo fazia de nós duas pessoas


muito irritadas uma com a outra. Puta, desisti de treinar e rezei para não
encontrar com outra mulher no meu caminho ou teria um ataque completo.
As lágrimas se acumularam nos cantos dos meus olhos, fui tomar banho e
meu telefone apitou com um aviso de que estava atrasada para minha
consulta médica. Merda! Esqueci completamente!

Enviei uma mensagem para Cassio, ele disse que estava longe para
voltar, mas que mandaria alguém me levar até o consultório e me
encontraria o mais rápido possível. Eu disse que ele não precisava me
acompanhar na consulta, era apenas revisão dos exames que fiz. Deixei o
aparelho de lado e saí correndo, vestindo uma calça jeans, uma camisa
branca e um terninho, calçando o tênis e passando perfume.

Assis chamou do corredor com um assobio, dizendo que me levaria,


por estar saindo. Eu gritei de volta que estava arrumando a bolsa e soltei o
cabelo, indo escovando no caminho.

— Ele vai te esperar — Assis disse com tranquilidade.

— Eu odeio estar atrasada nos compromissos.


— Ele é muito bem pago para viver à sua disposição. — Ele soou frio,
como sempre, abrindo a porta do carro para mim e entrei, agitada. Estava
ansiosa para saber o que tinha nos exames, se já poderia parar a medicação
porque não sentia mais dor e meu estômago estava muito sensível.

Ainda bem que Assis era do tipo que dirigia rápido e não falava o que
não fosse necessário. Eu estava de cinto de segurança, trocando mensagens
com Cassio sobre os exames e ele querendo saber se não tinha esquecido
nada importante em casa quando percebi que o carro deu um solavanco para
a esquerda. Olhei para Assis e ele estava tenso, de modo defensivo, estiquei
um pouco e olhei pelo retrovisor. Dois carros.

— Estamos sendo seguidos?

— Sim. O carro é blindado, por isso essa porra não desenvolve,


caralho! — Ele bateu no volante, me empurrando de volta sentada e apertou
um botão no painel. Cassio imediatamente começou a ligar para ele. —
Sim, seguidos e eu não tenho visualização. Eu vou para a cidade, avisem
aos demais.

— Tem dois carros a minutos de você — Cassio falou antes de


encerrar a chamada.

Engoli em seco, com meu coração disparado no peito, escorreguei


mais no banco e tentei ficar calma. Mas era difícil quando lembrava do
carro girando sem parar, de tentar fugir com minha sobrinha, os tiros…
minha mente começou a rodar, senti o pânico crescendo e a sensação de que
estava tendo um ataque cardíaco. Puxei um pouco o cinto, tentando respirar
melhor, tendo pontos pretos invadindo a minha visão e de repente,
estávamos em um lugar escuro.
A porta do meu lado foi aberta e Cassio tirou meu cinto, me puxando
e me deixando de pé à sua frente. Ele falava comigo e não conseguia ouvir,
lutando para não desmaiar, sair de outro lugar escuro onde fiquei presa e
com frio.

Mariano pegou minha bolsa e reparei que havia uma marca de tiro no
vidro do meu lado. Assis foi para o elevador e vários homens criaram um
muro ao meu redor, me protegendo. Cassio passou o braço por meu ombro,
me puxando para seu peito e escondi meu rosto ali, agarrando sua camisa e
não soltei mais. Saímos em um andar que parecia um escritório e percebi
ser onde ele trabalhava.

— Sente-se aqui. — Cassio me levou para um sofá. — Está ferida?

— Não, claro que não — consegui dizer. Ele abaixou na minha frente,
segurando minhas mãos. — Eu nem percebi que o carro foi atingido. Acho
que entrei em pânico e me desliguei. Quem nos seguiu?

— Ainda não sei. O carro não tinha placas e não é uma atividade
comum, aqui os territórios são bem divididos e não estamos em guerra
declarada com ninguém.

— Mas isso pode acontecer do nada, certo?

— Pode, como aconteceu. — Cassio beijou minha testa. Assis entrou


com uma garrafa de água, me entregou e fez um sinal para meu marido
acompanhá-lo.

Encolhi minhas pernas, apoiando minha cabeça no vão entre os


joelhos e quando ergui, olhei para fora. Eu nunca tinha visto Cassio com
aquela expressão. Era dolorosamente assustador enquanto dava ordens aos
seus homens. Ele não estava gritando, nem parecia ser rude, apenas havia
algo bizarro no modo com que falava. Ali era a representação do homem
letal, líder. Depois, reuniu-se em portas fechadas com Assis, Fernando e
Mariano. Como conselheiro, certamente estava com Danilo na chamada e
fazendo alguma estratégia para descobrir o que havia acontecido.

Eu me perguntei se tinha alguma coisa a ver com os ataques dos


nômades que me sequestraram. Eles eram muitos e se disfarçavam bem,
podiam estar em todos os lugares. Mas também não tinha certeza dos
motivos que os levaria ali. Vingança? Cassio não entrou no cativeiro e
pediu licença. Ele matou todo mundo, até quem estava ao redor, apenas para
não deixar passar qualquer um que pudesse causar uma retaliação.

Mamãe comentou comigo que a Calábria deixava corpos por onde


passava e na época, estava na cama de um hospital. Tudo que senti foi
alívio por alguém ter cuidado de que eles nunca mais me machucassem.
Também podia ser do motoclube inimigo da famiglia, da Calábria e do
motoclube que dominava a Califórnia. Cassio os matou, isso gerou uma
guerra e por isso, nosso casamento foi acordado. Nada os impedia de ter
agrupado-se novamente.

A porta da sala em que eles estavam foi aberta por uma mulher, ela
parecia muito segura de si e bonita, mas nem um pouco simpática. Deixou
umas folhas com eles e não fechou direito ao sair. Também não olhou na
minha direção.

— Foram os latinos fodidos? — Cassio vociferou com Mariano.

— Dessa vez, eles sequer se moveram da área em que vivem e Rizzo


confirmou a mesma coisa. Não viu nenhuma movimentação. — Mariano
apoiou as mãos na mesa.
— Seriam eles novamente? Já faz tanto tempo, mas não quer dizer que
não possam estar de volta. Afinal, não esconderam que prometeram
vingança pela morte do patriarca. — Assis estava sentado, olhando para a
janela.

— Não. Eles não jogariam para perder depois de tanto tempo —


Fernando refletiu.

— Quero uma varredura completa na cidade. Preciso de respostas.

Cassio ergueu o rosto e me viu observando-os. Ele saiu de seu lugar e


disse para todos que me levaria para casa, que era o lugar mais seguro para
me manter no momento. Minhas pernas ainda tremiam quando fiquei de pé,
mas todo mundo parecia composto, inteiro, mesmo que estressados e por
esse motivo, eu não queria ser a peça frágil. Ergui minha cabeça, pedindo
um minuto para ir ao banheiro.

Usei um papel para secar os cantos dos meus olhos, passei gloss nos
lábios e ajeitei o cabelo. Ele me deu uma olhada, com um aceno e pegou na
minha mão.

— Lembra do que eu te disse? Você é uma Venturinni agora. Nós não


nos entregamos ao medo e a minha promessa, da minha vida pela sua, é
vitalícia. — Ele encostou a testa na minha e fechei meus olhos, respirando
fundo.

— Eu sei que sempre estarei segura com você.

Cassio exalou, mas foi discreto, bem suave, como se apenas uma
pequena parte de seu ser permitisse demonstrar que a minha confiança nele
era bem-vinda. Será que não entendia que estava ali disposta a ser
completamente dele? Eu queria ser sua esposa por completo e não tinha
dificuldades de me entregar. Era ele quem me impedia de ir além.
DEZOITO | Cassio
Caterina foi andando na minha frente quando chegamos em casa. Ela
estava tentando manter a compostura, mas eu sabia que era apenas teatro.
Fui atrás, até nosso quarto. Deixou a bolsa no aparador, tirou os sapatos e
guardou. Estando estranha desde cedo, não sabia ao certo o que havia de
errado com o humor dela. No entanto, aquilo não me assustava em nada.
Convivia com Isabella há anos e ela era a rainha das oscilações.

Tomou a medicação da tarde, para não sentir dor e provavelmente,


tensionou demais os músculos, ficando dolorida. Tirando a roupa, foi tomar
banho, acionando os chuveiros e derrubou alguns produtos, xingou e
abaixou, quase caindo e me molhei um pouco para segurá-la.

— Estou bem, Cassio. — Bateu nas minhas mãos e me afastou. — Foi


só esse estúpido xampu que nunca fica na merda do lugar.

— O que está havendo com você hoje? — Ergui minha mão e ela
parou, segurando meu pulso e girando para ver meus dedos.

Caterina ficou vermelha.

— Cadê a sua aliança? — ela sibilou.

— Eu tirei.

Ela olhou em meus olhos com muita fúria.

— Você fez o quê?

— Eu tirei a aliança — repeti, porque ao que parecia, ela não tinha


ouvido direito. — Vou te deixar tomar banho. Conversamos depois.
Ela ficou parada, apoiando as mãos nos quadris e falou alguma coisa
bem baixo. Achei que fosse um xingamento e dei meia volta.

— O que falou baixo aí?

— Eu disse já chega! — Caterina arqueou a sobrancelha. — E você


entendeu bem.

— Já chega o quê, Caterina? — Eu desafiei de volta, sem uma porra


de paciência para aqueles ataques.

— Você é um homem casado.

— E daí?

Rindo de uma maneira sombria e ao mesmo tempo com os olhos


cheios de lágrimas, ela pegou o roupão e saiu da área do chuveiro, andando
na minha direção com determinação. Erguendo o dedo, cutucou o meu peito
de maneira dolorosa e não o suficiente para me fazer sair do lugar.

— E daí, Cassio Venturinni — ela cantou meu nome com desdém —,


que eu sou a sua esposa. Sua mulher. E neste dedo, ficará a sua aliança,
porque você é o meu marido e eu não vou aceitar que não a use. Exijo que
me respeite. E aproveitando, a partir de hoje, não terão putas nessa casa,
nenhuma outra mulher dormirá aqui. Está me entendendo? Se quer ter
amantes, tudo bem. A partir de agora, nosso casamento será a porra de um
teatro da porta para fora e dormirá no quarto ao lado, tendo liberdade para
deitar e rolar com toda puta que desejar. Fora daqui, é claro. — Abriu um
sorrisinho. — Você tem uma esposa e sabe-se lá onde prefere estar. Você
tem uma esposa e escolheu tirar a aliança.

— Usar a aliança não prova a minha fidelidade.


— Não. Não prova nada. — Ela riu, debochada, como se pudesse
ousar me trair e saiu do banheiro.

— Não dê as costas quando estou falando com você!

— Por que não? — e continuou andando.

— O que deu em você, porra?

— O que deu em mim? Vejamos! Acabei de perceber que estou farta!


— Ela virou, jogando as mãos para o alto. — Eu posso morrer a qualquer
momento por ser a peça mais frágil nesse jogo poderoso. A nossa vida é
perigosa e sequer tenho o respeito do meu marido! Eu ia ao médico,
caramba! E de repente, estavam atirando contra nós! Eu fui sequestrada
porque homens que deveriam fazer de tudo para me proteger falharam com
a minha segurança!

— Eu nunca falhei com você, Caterina! Fiz de tudo para te encontrar!

— E obrigada. Mas agora, não é mais o suficiente. Estou cansada de


ser boa e obediente, de tentar ser a melhor, eu vim aqui disposta a ser uma
ótima esposa porque foi para isso que fui criada. Não tive outro propósito
na minha vida a não ser esse. — Ela apontou para si mesma, furiosa. —
Mas acordar e ver putas nuas na sala da minha casa não estava nos meus
planos, nem ter que lutar até para cozinhar na minha própria cozinha, muito
menos aturar meu marido andando por aí sem aliança quando fico me
remoendo por dentro porque não sei se ele passou a noite com outras
mulheres!

Cruzei meus braços, abrindo um sorriso, divertido. Caterina ficou


ainda mais furiosa. Seu rosto assumiu uma coloração de vermelho perigosa.

— Você está rindo? — ela grunhiu. — Está rindo de mim?


— Estou.

Ela iria fazer o quê?

Puta, agarrou um vaso e jogou na minha direção. Eu abaixei e quebrou


na parede atrás de mim. Não satisfeita e tomada por ódio, continuou
arremessando o que estava ao seu alcance, tentando me atingir e em alguns
objetos, conseguindo. Segurei sua cintura e a tombei na cama, prendendo as
pernas e os braços que se debatiam.

— Desde que cheguei aqui, estão rindo de mim e tripudiando de quem


sou, me chamando de cachorrinho nas minhas costas!

— Pare de agir como um.

— Ora, seu filho de uma…

Proferindo todos os palavrões em italiano e inglês, mordeu meu


pescoço porque foi a única área que conseguiu alcançar. Doeu pra caralho.
Tomei sua boca, beijando-a e ganhei uma mordida na língua.

— Caterina!

— Eu não estou brincando, Cassio!

— O que você quer, inferno?

— Eu quero sua aliança no dedo e ser a única mulher da sua vida.


Nada de prostitutas ou amantes, fui clara?

Porra. Ela ficava ainda mais gostosa quando estava no modo


autoritário. Eu ri contra sua boca, distribuindo beijos em seu rosto só
porque seu corpo não sabia se derretia com meu toque ou ficava puta
porque parecia que não estava levando a sério aquele rompante. Pelo
menos, era uma reação. Caterina ficava escondendo a real personalidade
com medo de me desagradar, talvez nem soubesse quem era de fato.

— Me dê a sua boca. Me beije — pedi baixinho.

— Não. Você está maluco? Eu não quero te beijar, eu quero te agredir.


— Caterina debateu-se e prendi suas mãos acima da cabeça, afastando as
pernas com o joelho, subjugando-a na cama.

— Sabe que agindo assim está me deixando com tesão?

— Não é a minha intenção. — Revirou os olhos.

— Eu entendi, Caterina. Foi bem clara. — Esfreguei o meu nariz em


sua bochecha, indo até o ouvido. — Se quer a aliança no dedo, terá. Se não
me quer com mulher nenhuma, não dormirei com outra. O que a minha
esposa quiser, vai ter.

Ela franziu o cenho, com os olhos cheios de lágrimas e deu uma


cabeçada em mim. Rolei para o lado, segurando meu nariz.

— Caralho!

— Você dormiu com outra mulher depois do nosso casamento? —


berrou, pegando uma almofada e me batendo. — Toda maldita noite
coloquei a minha boca no seu pau para sair daqui e enfiá-lo na vagina de
uma prostituta, Cassio Venturinni?

Não sei como, mas suas unhas tornaram-se garras. Ela quase arrancou
minhas orelhas. Tentei ficar com raiva de sua loucura, mas tudo que
conseguia fazer era rir, porque eu não disse que tinha fodido outra mulher.

— Pare de rir de mim! Fora desse quarto! Agora! Eu não quero te ver
nem pintado de ouro na minha frente! — ela gritou, ficando em pé na cama
e só agarrei seus joelhos, jogando-a deitada e com um rápido movimento, a
prendi de novo. — Não ouse tentar me beijar. Eu não consigo ser que nem a
minha mãe, não vou aceitar que me traia e toque em mim!

As lágrimas que caíam dos seus olhos eram reais. Cobri sua boca para
que parasse de gritar e ela tentou me morder.

— Cale-se, mulher! — gritei, assustando-a, mas ela não estava


recuando, mesmo com um pouco de medo no olhar. — Não faço a mínima
ideia do que seu pai e aquela cara feia dele fazem, mas eu não disse que
estava dormindo com outra mulher, Caterina. Não transei com outra depois
do nosso casamento e as putas que estavam aqui, eram da festinha do
Assis.

Ela me deu um olhar desconfiado e como parou de se mover, soltei


sua boca, mas não afrouxei completamente o aperto.

— E por que estava suado? Eu nunca sei onde está quando acordo! E
também, agiu todo desconfiado por ter me visto fora da cama mais cedo!

— Treino todo dia bem cedo, com Mariano ou sozinho. Eu não queria
que tivesse visto as mulheres, foi por isso. Sabe que posso provar, certo?
Tem as imagens. Mas eu não quero que veja Assis fodendo. — Mordi-lhe o
queixo e ela fez um beicinho.

— Não quero vê-lo transando, mas quero ver que você não estava lá.
— Ergueu o queixo, desafiante. — Não tenho motivos para confiar em
você.

Filha da puta.

— Está me levando ao limite da sanidade e meu bom espírito…


— Eu não me importo. — Deu de ombros. Por alguns segundos, ficou
encarando o teto, depois, olhou em meus olhos deixando transparecer toda
vulnerabilidade. — Não quero ser traída. O que falta em mim que precisaria
procurar em outra mulher?

— Vou falar pela última vez, e aceite a minha palavra. Nunca te traí
— falei pausadamente. — E agora que sei sobre seu posicionamento, farei o
meu melhor para te respeitar. Não há nada no seu corpo que eu precise
procurar em outra mulher, já está claro que tenho atração por você.

— Acho bom.

— Está bem abusadinha. — Lambi seu lábio, soltando seus braços,


Caterina me abraçou e puxei sua perna, para ficar bem encaixado entre elas.
— Mais calma agora, esposa?

— Mais ou menos. Me desculpe por explodir.

— Está se desculpando porque quer ou porque te ensinaram que deve


ser assim?

— Estou meio dividida no momento.

O biquinho que se formou ali foi bem atraente e lhe dei um beijo. Seu
segredo estava seguro comigo, eu era seu marido e não inimigo, não
precisava temer e sentir-se exposta. Não comigo. Ela era minha esposa e
faria de tudo para protegê-la, até mesmo de si. Nosso quarto estava com
várias coisas quebradas, espalhadas pelo chão e ela ficou cansada depois da
briga, porque adormeceu em meus braços.

Deixei-a coberta na cama, pedindo à esposa do caseiro para limpar o


quarto sem fazer barulho. Eu sabia que Caterina não iria acordar, ela tinha
um sono pesado, ainda mais induzida por medicação. Mariano me enviou
uma mensagem, dizendo ter boas respostas e alguns amigos para passarmos
a noite conversando.

Deixei a casa bem protegida, os alarmes acionados e saí em alta


velocidade, ciente de que quem tentou atacar Assis eram apenas cuzões
achando que podiam entrar em Vegas. Na minha experiência, aquilo
significava distração. Precisava descobrir quem, de fato, estava por trás
daquela tentativa para entender o plano real.

Cheguei ao galpão afastado da cidade, o tempo todo de olho em meu


telefone, com as imagens da minha casa aberta e os sensores ativados.
Caterina continuava dormindo. Guardei no bolso, entrando na sala.

— Quem são eles?

Mariano lavou as mãos sujas de sangue, jogando alguns itens


cirúrgicos na bandeja. O que tinha no chão, era uma mistura perfeita para
chamar a morte. Como gostava de ver a dor agonizante espalhar-se pelo
ambiente…

— Não disseram muito, porém, descobrimos que são mercenários que


circulam muito em Atlanta.

— Eles acham que vão conseguir vingança com esses ataques? —


Cocei minha barba, pensativo.

— Talvez, sim. O que pretende fazer? — Assis parou ao meu lado.

— Mande-os de volta, em pedaços, deixe que a cidade saiba que


Atlanta agora está no auge do interesse da Calábria.

E quando nós entrávamos em um novo território, todas as outras


famílias italianas também se estabeleciam. As gangues locais e outras
máfias teriam duas opções: eliminar a ameaça contra nós ou juntar-se a eles.
Estava ansioso para descobrir o que fariam.
DEZENOVE | Caterina
Virei na cama, assustada, sozinha no quarto todo escuro. O chão
estava limpo, nenhum sinal de tudo que arremessei em Cassio. Eu duvidava
que ele tivesse limpado, talvez tivesse pedido para a senhora que morava
em uma das casas da frente para cuidar do serviço e teve que sair. Se o
conhecia um pouco, foi verificar pessoalmente o que aconteceu naquela
tarde.

Estava morrendo de fome e suada, fui tomar um banho direito e, mais


calma, havia uma parte minha que se arrependia de ter explodido. Eu nunca
gritei, agredi e fui minimamente irritada com qualquer pessoa na minha
vida. Mal podia me reconhecer apenas de lembrar, mas outra parte, se sentia
livre. Era como se uma pressão tivesse saído do meu peito e finalmente
coloquei para fora tudo o que me incomodava.

E ele jamais poderia dizer que não sabia. Agora, estava tudo bem claro
entre nós.

Se ele continuasse me atropelando, minhas alternativas seriam aceitar


ou… lutar. Eu não tinha para onde voltar e nem para onde ir. Aquele
casamento era tudo na minha vida. Cassio não podia ser o meu maior
inimigo.

Terminei meu banho sem ânimo para me vestir, ficar arrumada, eles
que se danassem com as regras de etiqueta. Peguei um conjunto de pijama
limpo e um roupão, calçando pantufas e ajustei a climatização da casa.
Solicitei que a guarita pedisse pizzas, ditando os sabores e tamanhos. Não
estava com vontade de cozinhar e eles nunca poderiam reclamar que
teríamos delivery.
Desci até a adega, acendi a luz e procurei um bom vinho. Com a
garrafa debaixo do braço, fui até a cozinha, pegando taças e ouvi o barulho
dos carros entrando na garagem. Pela maneira com que as portas foram
batidas, eles estavam agitados. Cassio passou primeiro, me olhando e
agarrou o vinho de mim, puxando a tampa com mais facilidade. Agradeci,
pois estava fazendo uma força enorme.

Virei um pouco na taça, provando e depois, enchi mais. Assis


suspirou, foi direto no uísque e virou na boca mesmo. Eles provavelmente
sabiam que pedi comida para o jantar.

— Eu vou subir e tomar banho — Cassio avisou.

Bebi todo o vinho e servi mais.

— Estarei na sala de televisão. Aquela não contaminada com germes


do Assis.

Ele apenas me deu um olhar intolerante e saiu. Não era educado andar
por aí com uma garrafa de vinho, mas eu ia beber tudo mesmo. Joguei-me
no sofá, ligando a televisão, mudando os canais com rapidez e achei um
filme de ação que parecia bom o suficiente para me distrair porque eu não
queria nada de romance. Meu humor estava mais para desejar morte ao
amor.

Assis entrou assobiando, usando calça e camisa, os cabelos molhados.


Ele tinha olhos azuis bem impressionantes, era charmoso, do tipo bonito
que deixava a mulherada louca e pelo visto, gostava de mais de uma por
vez.

— Estou indo na cozinha. Quer alguma coisa? — ofereceu, sendo


educado.
— Quero pipoca com manteiga e aquele tempero de bacon, por favor.

Ele trouxe prostitutas para a minha casa, podia muito bem me servir.
Fingi que seu olhar ultrajado não me afetou, continuei virada para a
televisão. Mariano passou por mim, jogando-se no outro sofá. Cassio
abaixou, beijando meu pescoço e me assustei, ele deu a volta, puxando
minhas pernas e colocando-as em seu colo.

Todo mundo teve um dia de merda.

Assis voltou para a sala com refrigerantes no carrinho e pipoca. Cassio


arqueou a sobrancelha, me vendo agarrar a vasilha e dei de ombros. Não
iria explicar. As pizzas foram entregues, comi três pedaços grandes, muito
mais do que me permitiria em qualquer momento, principalmente na frente
do meu marido. Assim que terminei, deixei toda a bagunça para que eles se
virassem e fui embora para o meu quarto.

Escovei meus dentes, fiz a minha rotina de cuidados noturnos e deitei,


o álcool estava fazendo toda a diferença. Fechei os olhos para dormir, com a
sensação de que ficaria enjoada ou vomitaria, era muita coisa no estômago.
Abracei o travesseiro de toda noite.

Cassio entrou no quarto, fechando a porta e eu fingi que estava


dormindo. Puxou a colcha e ouvi seu telefone e arma serem colocados na
mesa ao lado, deitou e logo, seu calor estava em mim.

— A mulher que quase arrancou minhas orelhas fora está nessa cama?
— Ele me cutucou e acabei rindo. Seu tom era divertido.

— Não começa, estou quieta.

— Quero saber se está bem. Assis e Mariano perguntaram se


aconteceu alguma coisa e eu solicitei que eles usassem nosso apartamento
no centro para suas festinhas particulares — falou baixinho no meu ouvido
e assenti, ganhando um beijo na bochecha.

— Nosso, uma grandíssima vírgula, apenas deles — corrigi e ganhei


uma risada. — Essa vida não te pertence mais.

— É sério que está com tanto ciúme assim? — Cassio me abraçou por
trás.

— Não estou com ciúme. — Eu bufei e virei, olhando para seu rosto
com um sorriso atrevido decorando a minha face. — Você me pertence,
Cassio.

Ele sorriu contra minha boca e me beijou. Foi tão bom que não quis
parar, mesmo que tivesse prometido a mim mesma não ceder. Fui mudando
de posição, ele deitou e fiquei por cima, sentando em seu colo. Cassio subiu
as mãos por dentro da minha camisa, apertou meus seios e puxou o sutiã
para baixo. Tirei minha blusa, jogando-a ao lado na cama e sem perder
tempo, ele soltou o fecho da minha peça íntima.

Cassio ergueu o rosto o suficiente para chupar cada biquinho,


delicado, olhando para o meu rosto e me provocando com um amasso rude
das mãos no meu bumbum contra sua ereção que só crescia. Joguei meu
cabelo para o lado, beijando-o. Girando-me na cama, ficou por cima,
tirando o laço da minha calça e fazendo com que eu ficasse completamente
nua com rapidez.

O vinho me trouxe um tesão que só ele sem camisa já estava me


deixando com calor. Era por isso que deveria estar dormindo.

Levei minha mão para entre minhas pernas, pressionando o clitóris,


querendo gozar. Estava pulsando. Cassio parou o movimento de tirar a
própria cueca e xingou.

— Continua, porra. Apenas continue.

— Eu nunca fiz isso, eu só quero…

Pegando meu pulso, lambuzou meus dedos, dando uma mordidinha


nas pontas que enviou um raio de excitação por todo meu corpo, me
fazendo tremer.

— Vai, usa seu instinto. Toque-se para mim, esposa.

Tomei coragem e me toquei. O prazer me fez gemer, fechei os olhos e


mordi o lábio, gostando muito. Cassio beijou entre minhas coxas, voltei a
olhar para seu rosto e vi adoração ali. Ele pegou meus dedos, lambendo,
sentindo o sabor e depois, me chupou. Arquejei, segurando seu cabelo,
arranhando o couro cabeludo. Diferente das outras vezes, estimulou minha
entrada com o polegar, criando uma fricção em meus nervos sensíveis que
me fez pedir por ele ali.

— Caterina…

— Ah, pelo amor… Dio! — Impulsionei meu quadril em sua direção.

— Eu não vou perguntar se tem certeza de novo — Cassio gemeu


contra minha boca e só o beijei. Ao sentir seu pau encaixando na minha
entrada, tensionei, mas logo relaxei, fazendo um suave movimento com o
quadril para que ele não parasse. Ele não iria, porque, no fundo, era um
homem e eu realmente queria. Precisava.

— Não pare, está tudo bem — falei baixinho, me acostumando com a


sensação, porque porra, parecia que estava tão cheia que não conseguia
pensar. Nunca imaginei que dentro de mim o pau dele iria parecer duas
vezes maior.

— Gostosa. Estar dentro de você é uma delícia.

Soltei um gemido e ele procurou minha boca. Havia uma sensação de


prazer indescritível, também estava dolorido, esquisito. Mas foi bom.
Cassio gozou, mordendo meu ombro e eu guardei seus gemidos em meu
ouvido para sempre no coração. Eram incríveis.

— Vire-se — ele ordenou, saindo de cima de mim.

Estava aérea demais para compreender, meus pensamentos corriam


por todo lado, minha boceta latejava entre dor e desejo.

— O que vai fazer?

— Ainda não acabamos…

Estava pronta para dizer que não aguentava mais quando senti seus
dedos fazendo maravilhas em pontos sensíveis. Pensei erroneamente que o
desconforto não me ajudaria a gozar, mas de algum modo, a dor que sentia
me levou ao prazer. Principalmente com as mordidas e alguns tapas duros
que ganhei - e gostei muito. O orgasmo intenso e as emoções que estavam
me dominando me fizeram cair na cama um pouco em cima dele, meio
mole, com lágrimas nos cantos dos olhos.

— Você me bateu na bunda.

— Bati. — Ele riu e agarrou minha carne. — É minha e é gostosa.

Minha resposta foi apenas um gemidinho que não consegui conter.

— Cacete, Caterina.
— Você disse que eu podia ser… safada na cama — confessei a
última parte bem baixo, com timidez.

— Puta. Fala.

— Não, para. — Escondi meu rosto, ele ficou rindo e agarrou meu
cabelo.

— Safada, puta, cachorra… minha. Diz, fala.

— Safada, puta, cachorra e toda sua — repeti, ainda com vergonha,


porque não era fácil falar aquelas coisas sem me sentir inadequada, mas
também era algo nosso, bom e ele me beijou, rude, todo possessivo e me
deixando excitada de novo.

— Caralho, quero tanto você.

Rebolei contra ele e na posição que estávamos, meio de lado, Cassio


me penetrou novamente e devagar. Ele manteve um ritmo muito calmo, o
tempo todo me segurando e beijando, mas assistir seu corpo reagindo e
mudando ao chegar no ápice me fez chorar. Um prazer tão forte explodiu
como uma descarga de choque elétrico que me agarrei a ele, enfiando as
unhas em seus braços.

Cassio não parou de me beijar até que nossas respirações se


acalmaram. Ele lambeu minhas lágrimas, me fazendo sorrir. Não sei como
tive forças para tomar banho, trocar o lençol e fiquei olhando as duas
gotinhas minúsculas de sangue. Sério? Só aquilo?

— Você parece decepcionada — Cassio comentou, trocando as


fronhas.
— Eu pensei que sairia sangue o suficiente para que vocês se
orgulhassem de exibir.

— Vocês, como gosta de dizer, uma vírgula. Minha família não


mantém esse costume. Seu pai era quem queria mostrar a sua pureza, sem
levar em consideração que uma mulher só sangra muito se estiver tensa na
primeira vez. — Ele jogou os travesseiros na cama e pegou o lençol sujo de
mim.

— E como sabe disso?

— Eu não matei as aulas de biologia na faculdade.

Girei, completamente surpresa.

— Você foi para a faculdade?

— Por um tempo. Estava aqui em Vegas e entediado. Fiz enfermagem.


— Deu de ombros, como se não fosse nada de mais.

— Puxa vida, tem coisas na sua vida que sequer sei! — Cruzei meus
braços.

— Acabamos de nos conhecer, melhor dizendo, casar. Até ontem,


estava calada e sendo toda perfeitinha, eu não queria conversar.

— Mas queria transar? — Arqueei a sobrancelha, pronta para jogar


uma almofada no rosto dele.

— Além de ser meu dever como marido, você é gostosa. — Deu-me


uma bitoca e belisquei sua barriga, rindo. — Estou mais ou menos
brincando. Não quero que fique calada e retraída comigo. Não tenho como
saber o que quer se ao te perguntar o que há de errado, me responder que é
nada. Eu sei que tem algo errado, só não posso adivinhar.
Cassio foi até o cesto de roupas sujas, com a bagunça nos braços e
sentei na cama. Eu não tinha certeza de quem eu era para saber como reagir,
havia um duelo enorme na minha cabeça. Estava com vergonha da maneira
com que agi, ao mesmo tempo, não me arrependia. Era confuso. Cada coisa
inesperada que fazia me trazia enormes conflitos que talvez ele nunca
compreendesse.

Voltando para a cama, apagou as luzes e diferente de todas as noites


em que dormimos juntos, ficamos com nossas pernas entrelaçadas na cama.
O peso de todas as atividades logo me trouxe um sono gostoso.
​VINTE | Caterina
Senti um esmagar na minha bunda e depois uma mordida. Puxei o
travesseiro, cobrindo meu rosto e então, um cutucar nas costelas. A risada
era familiar e bufei, mantendo meus olhos fechados sem acreditar que
Cassio, que nunca ficava na cama quando acordava, resolveu que podia me
despertar justamente no dia em que desejava dormir mais. Considerei que
se continuasse a fingir que dormia, ele desistiria.

Ledo engano. Arrancando o travesseiro e as cobertas de mim, virou-


me e deu um beijo ruidoso no pescoço.

— O que você quer?

Minha voz saiu grossa de tanto sono.

— Está na hora de acordar. Temos consulta médica.

— O quê?

— Remarquei para hoje. — Ele tentou me fazer abrir os olhos.

— Cancele. Não posso sair da cama.

— Já é hora do almoço, te deixei dormir demais. — Cassio me puxou


e quis chutá-lo. Quando foi que me tornei tão violenta? Não era aceitável
bater no marido mesmo que ele merecesse, Caterina!

— Não estou satisfeita. Podemos ir amanhã?

Meu corpo inteiro doía. Parecia que tinha sido atropelada. Entre
minhas pernas era simplesmente um latejar, meu quadril queimava e eu só
havia transado duas vezes sem nunca ter feito isso antes. Faria de novo?
Com certeza, mas naquele momento, queria continuar dormindo e me
recuperar.

— Não podemos ir amanhã. — Ele riu no meu ouvido e abri os olhos,


cobrindo a boca para bocejar. — Está sentindo-se mal? Parece meio
gripada, não sei. É realmente bom irmos ao médico, não deveria estar assim
hoje só porque transamos essa madrugada.

— Cassio, meu querido marido. — Eu comecei a falar com paciência.


— Você tem um metro e noventa e dois de altura, cento e três quilos de
mais músculo que gordura. E seu pau, bem, eu não medi ao certo, mas ele
fica desse tamanho aqui quando está excitado. — Exemplifiquei com as
mãos. — Você e todo seu peso estavam em cima de mim com essa coisa
toda dentro de um lugar que nunca coloquei nem um dedo. Acha mesmo
que seria difícil estar doente hoje?

— A esposa bela, recatada e treinadinha foi embora mesmo, não é? —


ele me provocou, deitando-se ao meu lado. Dei-lhe um olhar de esguelha,
meio preocupada. Só fui sincera. Não quis ofendê-lo.

— Desculpe. Vou levantar…

— Não! Eu não a quero de volta. — Cassio me segurou. — Está muito


dolorida?

— Só quero dormir mais.

— Descanse por mais duas horas, depois, vamos sair. — Ele me deu
um beijo e me cobriu novamente, devolvendo o travesseiro. Apenas fechei
os olhos, sem querer perder um mísero segundo do tempo que tinha para
continuar descansando.
Acordei sozinha e ainda dolorida, fui tomar banho sentindo que meu
humor estava um misto de querer sair dançando por aí e, ao mesmo tempo,
me embolar na cama e continuar dormindo. E eu nem era tão preguiçosa
assim. Cassio me encontrou quando já estava vestida, usando uma das
roupas que minha mãe escolheu para meu armário, mas ele andava muito
arrumado e eu me recusava a parecer uma criança ao lado dele.

Ele estava sério e eu não sei por que pensei que tudo que havia
acontecido quebraria sua máscara de seriedade. Mas talvez só estivesse
disposto a compartilhar partes de sua personalidade quando estivéssemos na
cama. Arrumei minha bolsa, saímos juntos e dessa vez, haveria uma
comitiva conosco.

Durante o trajeto, ficou mexendo em seu telefone e senti um


incômodo, lembrando do dia anterior. Olhei para o motorista, inclinando
minha cabeça para o lado e me balancei para afastar o arrepio. Esfreguei
meus braços. Olhei para a janela, pensativa. Por que a minha família não
me protegeu?

— O que foi, Caterina? — Cassio tocou minha coxa, deixando a mão


ali.

— Acho que é estupidez, deixa pra lá. — Acariciei sua mão com um
sorriso.

— Deixa que eu defino se é estupidez ou não. Compartilhe seus


pensamentos.

— Ontem, quando fomos perseguidos, Assis assumiu uma postura,


sabe? Eu não sei dizer, ele estava atento, preparado. Vocês são treinados
para isso… o que me fez lembrar do dia do meu sequestro. A comitiva dos
carros se afastou tanto e ninguém deu falta do carro da noiva? —
questionei, com um aperto no peito. — Tenho um pequeno flash de
memória, estava olhando para minha sobrinha, eu me sentia muito nervosa
devido ao casamento, toda a pressão e a quantidade de pessoas. Meu
vestido enorme me machucando, pesando nas pernas e por um segundo,
olhei para o motorista. Ele não parecia surpreso quando fomos
interceptados na estrada. Ele não ficou na defensiva. Pelo menos no pouco
que lembro, porque logo estávamos girando sem parar e tudo que me
preocupava era tentar me segurar de algum modo.

Cassio estava analisando bem meu rosto.

— E se ele sabia o tempo todo? Eles podem tê-lo matado para


silenciar. E se não foi apenas o meu padrinho ciente das ameaças?

— Seu pai negou, mesmo diante das perguntas persuasivas, mas seus
irmãos ainda me geram desconfiança. Eles eram bem próximos do seu
padrinho.

— Por quê? O que eles ganhariam com o meu sequestro?

Ele lambeu o lábio, como se pensasse bem o que fosse dizer.

— Nem tudo nas relações das famílias italianas é o que parece, meu
anjo. Muitos são ignorantes sobre a verdade e possuem opiniões baseadas
em tradições antigas. Eu sei que seus irmãos não estavam felizes com o
casamento e o sequestro, pode ter nos unido a famiglia de certo modo, para
quem importa, os nossos inimigos de modo geral, porém, criou uma tensão
entre todos. Não dá para saber em quem confiar. — Cassio acariciou entre
meus dedos. — Não fique assim.

— Sei que você vingou, mas os nômades são muitos. E se eles


quiserem revidar?
— Não se preocupe com isso, nós estamos de olho nas
movimentações.

Dei um aceno, preocupada, e voltei a encarar a janela. Cassio me não


soltou mais e eu fiquei grata por isso. Admirava as mulheres fortes da
família, mas eu precisava sentir a mão do meu marido em mim para me
sentir segura. Juliana era um exemplo, todos falavam dela, temiam,
admiravam e idolatravam. Eu não sabia segurar uma arma sem tremer e
talvez, no íntimo, ela também precisava do marido para lhe dar apoio e
segurança.

Chegar ao consultório médico sem sustos e receber boas notícias


animou consideravelmente o meu dia. Estava tudo bem com os meus
exames, eu podia voltar a me exercitar normalmente e como não sentia mais
dor, prometi que tomaria cuidado para não me acidentar de nenhum modo
de novo.

Cassio me ajudou a descer da maca no final, o médico já tinha nos


deixado.

— Acho que mereço um milkshake de comemoração.

— Pensei em brindarmos mais tarde com um jantar. Terá uma nova


atração, quero que assista e se divirta, para esquecer a tensão de ontem. —
Cassio segurou minha cintura, dando-me um beijo suave nos lábios e o
abracei, aproveitando que estávamos sozinhos.

— Eu posso brindar novamente com vinho ou espumante, como uma


mulher adulta, mas também quero um milkshake de morango daquele lugar
que Mariano comprou outro dia. — Ajeitei sua gravata.
— Tudo bem. — Ele deu um tapinha no meu bumbum para que eu
fosse na frente.

No carro, enviei mensagens para Alessa, querendo saber se teria a


companhia dela e ela disse que como a mãe estava na cidade, iria abusar
dos “serviços de babá” para poder sair à noite com o marido. Ela e
Fernando tinham uma boa diferença de idade, como Cassio e eu, mas o
casamento deles não foi necessariamente um acordo. Foi um acaso muito
louco que somente na Calábria seria permitido.

Resmungando, Cassio parou na lanchonete e ficou irritado ao


descobrir que não tinha drive-thru. Ele não queria que os seguranças se
afastassem de mim, por protocolo deles, e saiu do carro, bufando que estava
muito quente do lado de fora. De óculos escuros, terno e gravata, parecendo
um executivo perigoso, eu entendi porque a mulher tropeçou ao passar na
frente dele.

Trocando uma ideia com Alessa sobre nossas roupas, olhei para
Cassio na fila com um sorriso. Ele voltou com um copo grande, batendo a
porta e apenas me joguei nele, enchendo seus lábios de beijos, agradecendo.
Mesmo irritado, abriu um sorrisinho. Fui tomando pelo restante do caminho
com alegria, enchendo meu estômago com o doce muito gostoso. Eu tinha
que tomar cuidado ou faria todo sentido minha mãe ter proibido aquilo por
toda minha vida.

Cassio me deixou em casa e disse que não voltaria para me buscar, eu


iria com Mariano. Prometi que não lhe daria um ataque cardíaco com a
minha roupa. Saindo com o carro em alta velocidade, entrei em casa,
tirando os sapatos e fui para o meu quarto. Apesar de ter comida na balada,
da outra vez voltei com fome e meio bêbada, então, decidi deixar uma
comidinha pronta apenas no caso do meu estômago precisar ser forrado no
meio da madrugada.

Estava distraída, cozinhando o espaguete, quando meu telefone tocou


por chamada de vídeo. Era minha mãe. Antes de atender, achei estranho.
Ela nunca ligava. Atendi, demorou a aparecer por causa da conexão e
percebi que estava fora de casa.

— Ah, filha! Eu queria tanto te ver! — Mamãe levou a mão à boca,


emocionada. — Sinto saudades, mas estava preocupada, sua ausência tem
pesado mais a cada dia e acho que só agora caiu a ficha da dimensão de
tudo.

— Acho que estava empolgada demais com a festa e o casamento,


sem levar em consideração que não poderíamos nos ver com frequência —
falei baixo, olhando sua expressão. — Está na rua?

— Sim. Seu pai não está feliz com Cassio no momento, a provocação
do lençol foi a gota d’água e ele não quer que eu ligue, porque agora você
é uma Venturinni.

Deixei de ser filha por ter sido dada em casamento?

— Entendo, mamãe. Mas não se preocupe, estou bem.

— Cassio é um bom marido? — Ela quis saber e eu não sabia até que
ponto aquela informação podia ser comprometedora.

— Ele é, não se preocupe. — Abri um sorriso.

Nós ainda estávamos nos entendendo. Cassio estava há uma milha de


distância em alguns momentos e no outro, o sentia tão perto que seu
coração parecia bater no mesmo ritmo que o meu. De fato, não nos
conhecíamos e a nossa comunicação não havia mudado apenas porque
explodi e, finalmente, transamos. Eu tinha certeza de que havia muito mais
a enfrentarmos.

— Tenho que ir, amor. Te amo.

— Te amo, mamãe.

Eu sabia que seria assim. Ela estava confiante de que nada aconteceria
e talvez, se o sequestro não tivesse acontecido, Cassio não ficaria tão arisco
em me deixar ter contato com a minha família. Encerrando a chamada,
deixei o aparelho no silencioso no balcão, porque estava melancólica e não
queria estragar a comida. Voltei a me ocupar, o tempo passando e ao ficar
pronto, guardei a travessa no forno e subi.

Escolhi um macacão vinho, de gola alta, sem alças, que ficava justo na
medida certa e com uma modelagem elegante. Eu queria poder ir de tênis,
mas a diferença de Cassio para mim era muita e o salto amenizava bastante.
Selecionei um lindíssimo par, que deixaria meus dedos destruídos, mas eu
usava porque ficava impecável nos pés.

Mariano avisou que estava pronto. Cassio ficou me ligando a cada


dois minutos a partir disso, dizendo estar com fome, querendo uma nova
gravata, me atrapalhando a ficar pronta e meu Deus, como o homem podia
ser insuportável? E eu nem estava atrasada, porque ninguém me disse um
horário para estar pronta! Terminei de me maquiar ignorando-o, desci pelo
elevador e Assis levantou do banquinho como se estivesse me esperando há
horas.

Mais uma vez, não saímos sozinhos, Assis estava o tempo todo
emparelhado com o carro, em uma moto preta, lustrosa, muito potente que
fazia um ronco bem alto na estrada. Do lado de fora da boate, estava muito
cheio, com uma fila enorme e um pouco de trânsito que foi rapidamente
resolvido para que pudéssemos passar e entrar pelo estacionamento
subterrâneo.

Cassio já estava no camarote com Fernando e Alessa. Eu andei até ele


com calma, para não virar o pé e porque o olhar dele fez com que eu me
sentisse tão lisonjeada que quis aproveitar. Ninguém nunca me olhou com
tamanha admiração e desejo. Esticando a mão, pegou-me pela cintura e me
beijou a boca, não tão rude como sempre fazia em público, mas para
demonstrar seu domínio e posse.

Tirei a gravata da minha bolsa e a troquei bem ali, o tempo todo


olhando para seu rosto, me fitando, paquerando meus seios e ao terminar,
abraçou-me com ambas as mãos na minha bunda.

— Você está linda — murmurou em meu ouvido.

— Obrigada.

Eu senti esperanças de que, aos poucos, poderíamos chegar em algum


lugar.
VINTE E UM | Cassio
Caterina apareceu na cozinha, usando roupas de ginástica, ainda
sonolenta, e bocejou, nos desejando bom dia. Passou por trás de mim e foi
até a geladeira, sem prestar atenção na televisão, como nós três. Assis
estava inclinado no balcão, comendo uma torrada e passei meu braço pela
cintura da minha esposa, cheirando seu pescoço. Ela serviu um pouco de
ovos em seu prato e finalmente, olhou para a tela.

— Vocês fizeram isso? — questionou com a boca meio cheia.

— Não fui eu que arranquei os olhos. — Mariano defendeu-se.

— Eu também não sou do tipo que gosta de fatiar — brinquei e seu


olhar apavorado encontrou o meu, em seguida, desviando para Assis, que
continuou inexpressivo.

— E por que estão fazendo isso?

— Porque estamos em comum acordo na Califórnia, passamos com as


drogas, vendemos aqui e ali, temos um bom fluxo nas pequenas e grandes
cidades, quase um tipo “tem espaço para todo mundo”. Mas Atlanta,
Geórgia, ainda não estava no interesse do Danilo — expliquei e ela
assentiu. Era um território que tínhamos boa facilidade de entrar e sair, por
ser um ótimo centro comercial, além de ter condução para qualquer estado
do país. Recebíamos muitas coisas em Jacksonville, enviando para Atlanta
e distribuindo. Mas aquele era um esquema que pertencia apenas à tríade
das famílias italianas e não era do interesse geral.

Nem deveria ser. Algumas coisas funcionavam melhor em segredo.


Porém, era importante fazer com que nossos inimigos pensassem que
Atlanta era um território perdido. Apesar de parecer que nossos atos na
cidade eram desleixados, tinha um propósito em confundir. Danilo nunca
dava as caras e por esse motivo, mantinha minhas estratégias navegando
entre eficazes e discretas.

— Eles estão fazendo uma cobertura muito detalhada. — Caterina fez


uma expressão de nojo, mesmo com as imagens borradas. — Vai ter que
ficar indo até lá?

— Não se preocupe com isso ainda, estamos apenas brincando com


eles.

— Enviar corpos esquartejados é uma brincadeira? Entendi. — Ela


revirou os olhos e foi saindo com seu prato, uma caneca de café e um
rebolar bonito.

— É impressão minha ou ela teve um comportamento ruim bem na


nossa frente? — Mariano abriu um sorriso.

— Ela está colocando as garrinhas de fora.

— E nem convive com a Bella — Assis murmurou, agarrando uma


maçã e indo embora. Aquela casa nunca teve tanta comida, bebida e,
principalmente, frutas. Caterina vivia indo ao mercado, ou pedindo que
comprasse coisas, planejando cardápios, arrumando a mesa e usando as mil
coisas que a família enviou de enxoval. Ela ficava confusa que não
tínhamos funcionários diariamente, nunca foi necessário e eu não gostava
de pessoas na minha casa.

Talvez, no futuro, quando tivéssemos filhos, passasse a ser.

Deixei Mariano sozinho e fui atrás da minha mulher. Ela estava na


varanda dos fundos, com seu telefone, ouvindo um podcast e comendo. O
calor transformava o dia em um ótimo momento para tomar banho de
piscina e como não tinha compromissos urgentes, enviei mensagens para os
dois idiotas que viviam conosco dizendo que ficaria nu com minha mulher
no quintal. Era melhor que eles desaparecessem.

Parei atrás dela, inclinando-me na cadeira e beijei-lhe o pescoço antes


de descer minhas mãos para seus seios. Ela riu, dando-me espaço para
explorar, sem negar nada e virou o rosto, entregando-me a boca gostosa. Fui
até os armários do vestiário, peguei dois roupões e deixei na borda, tirando
minha bermuda. Caterina abriu a boca, olhando ao redor e jogou uma
almofada da cadeira em mim.

— Só tirar a roupa e vir também.

— Eu não vou ficar pelada aqui fora! Alguém pode me ver! — Ficou
toda vermelha, cruzando os braços.

— Acha mesmo que eu vou permitir que qualquer um te veja nua,


cacete?

— Mesmo assim… — Ela ainda estava desconfiada.

— Vem. Tira a roupa. Está calor e vamos praticar um pouco de nado.

— Vou entrar de calcinha e top, não vou tirar mais que isso — avisou,
toda severa. Ela era tão certinha, minha esposa. Mal sabia que ia terminar
pelada e se eu tivesse sorte, toda gozada. Com cuidado, deixou os tênis e as
meias no canto, abaixando o short. Eu bufei ao ver sua calcinha, entrei na
água, rindo. Era pequena, branca, com tiras nas laterais. Toda sua bunda
estava de fora. O que era diferente de estar completamente nua na minha
frente? Nada.
Pisando nos degraus, agarrei sua cintura e puxei para o fundo
bruscamente. Ela gritou e me segurou, cruzando as pernas na minha cintura.
A primeira coisa que arrebentei foi o top, jogando longe e o observei boiar.

— Cassio!

— Olá, peitos! — Dei um beijo em cada um.

— Você é terrível! — Balançou a cabeça com um sorriso divertido.

— É só um mergulho gostoso a dois. — Lambi seu pescoço, nos


levando para um canto mais discreto, que tinha uma entrada para o jardim.
Eu a coloquei sentada no banco de pegar sol, ficando entre suas pernas e
apreciei cada beijo que estava disposta a me dar. Caterina era tímida com
muitas coisas, ficava vermelha com facilidade, mas também, entregava-se
com tudo.

Nossas primeiras vezes foram muito gostosas, mais do que imaginei


que seria com uma esposa inexperiente e virgem. Ela confiava tanto em
mim em tudo que não hesitava. Tudo que queria era a aliança no dedo e
fidelidade. Talvez Caterina não fizesse ideia do que exigir como esposa,
mas até o momento, nossa comunicação parecia mais promissora depois de
sua explosão. Entender que caralhos ela queria sendo quieta e obediente era
muito difícil.

Ela não se intrometia nos negócios e arrumava coisas para fazer, era
gentil e educada o tempo todo. Nunca foi minimamente estúpida, nem
mesmo durante a briga. Havia algo nela que era doce, bondoso, muito
carinhoso e, havia um fogo mais fácil de lidar do que a apatia.

— Cassio! — ela me chamou, manhosa, puxando meu cabelo. — Não


deixe um chupão na minha barriga!
— Por que não? — Beijei o lugar que estava sugando segundos antes.

— Eu vou usar um cropped mais tarde. Não quero sair toda roxa.

— Vai sair com a barriga de fora? E essa peça esquisita tem um


decote? — Quis saber, passando o polegar no mamilo durinho. Mamei em
seguida.

— Você não vai me deixar toda marcada.

— Está muito mandona, não acha? Eu sou o seu marido.

Caterina olhou em meus olhos com um sorriso lindo, me distraindo


com as mãos descendo pelo torso, passando para as laterais e empurrando a
calcinha. Eu terminei de tirar, completamente maluco com sua boceta
brilhando e deixaria a discussão por conta da roupa para depois, até porque,
se eu a irritasse, haveria chances de não ter sexo.

Meu pau me mataria.

Eu não resistia, tinha que chupá-la. Desci minha boca sobre sua
boceta, dando um beijo que a fez estremecer e agarrar as laterais do banco,
impulsionando o quadril para cima, querendo fundir meu rosto, gemendo
alto e cobrindo a boca pela forma que ecoou. Nós rimos e a levei para os
degraus, pedindo em seu ouvido que ficasse de joelhos, ela nunca tinha
ficado naquela posição, então, posicionei seu corpo corretamente.

Puta que pariu, sua bunda ficava ainda mais bonita daquela forma,
dois montes redondos… esfreguei meu pau de sua entrada ao cuzinho,
cuspindo ali, provocando. A olhada sobre os ombros foi o suficiente para
saber que, em breve, poderíamos começar a tentar. Eu queria tudo dela.
Corpo, mente, tudo. Ela era minha e isso, felizmente, eu não tinha uma gota
de vergonha de dizer.
Empurrei dentro, gemendo, e agarrei bem suas nádegas, começando a
estocar gostoso. Mordi minha boca com força, era tão apertada, mas do jeito
que ficava molhada, tornava tudo ainda mais incrível. Quando gozou, foi
perdendo apoio e precisei mudar de posição, colocando-a em meu colo.
Estávamos, em sua maior parte, fora da água, terminar de foder beijando
deixou a minha manhã ainda melhor.

— Eu não acredito que fizemos isso aqui fora.

— Vamos fazer no gramado só para perder a vergonha de transar com


seu marido.

— Não tenho vergonha disso, pelo menos, não na hora. Mas sempre
entendi que sexo era dentro do quarto, o homem por cima, fazendo tudo…

— Ah, meu anjo. Vamos foder muito. — Beijei-a novamente.

Caterina nem chegou a malhar, assim que terminamos nosso banho


safadinho ela foi para o quarto e eu, para o escritório. Danilo ligou, as
crianças pareciam determinadas a quebrar a casa no fundo da ligação. Felix
era simplesmente a criança mais atentada de todos os tempos e o irmão não
ficava atrás. Sorte que a nossa princesa nasceu para tentar equilibrar o caos.
Ela era doce e fofa, nem parecia filha da mãe dela. Muito menos do pai. Um
anjinho perfeito.

Pensar na minha sobrinha sendo até o momento a única menina do


meu irmão, me dava uma ânsia de que nós jamais faríamos um acordo de
casamento em que ela precisasse se mudar para a puta que pariu. Como o
pai de Caterina pode sentir orgulho em entregá-la em um casamento com a
chance de nunca mais ver a filha? Eu não faria uma merda dessas e não
sentia nenhuma culpa do caralho em não permitir que falasse com eles.
Até porque, Caterina era uma Venturinni, pertencia a minha família e
vivia sob as regras da Calábria agora. E nós não éramos conhecidos por
sermos os mais sociáveis entre todos os italianos espalhados por aí.

— Fernando ficará em Vegas por enquanto. Está na hora de


organizar uma viagem e trazer sua esposa para que nosso povo a conheça
— Danilo comentou na chamada.

— Deixe passar todos os eventos. Eu quero estar presente nas


inaugurações.

— Você tem a levado para a rua?

— Não em tudo. Apenas em algumas festas e na luta dessa noite ela


irá comigo.

— Tenho ouvido boas coisas sobre as aparições de vocês, parecem um


casal sólido, o que reforça a imagem de que estamos alinhados com
Chicago. — Ele olhou para trás no momento em que Félix estava quase
arremessando um vaso longe, sem querer, ao chutar Fabrizio no sofá. —
Parem com isso, porra.

— Eu vou encontrar com Delacroix essa noite e vamos alinhar a


abertura do cassino na próxima semana, está quase tudo pronto para a
inauguração e, principalmente, a parte que mais nos interessa — continuei o
assunto. Ele que se virasse em ouvir e impedir que os filhos quebrassem
tudo.

— Certo. Depois que as inaugurações terminarem, quero vocês aqui.


Caterina precisa sentir que faz parte da nossa família. Lembre-se, lealdade
vem com a confiança e isso só é possível com convivência.
— A chamada de vídeo com a mãe também a pegou de surpresa.
Caterina ainda não sabe reagir com a família e está desconfiada, sente-se
traída.

— Não é para menos. Mas não permita que sua esposa se sinta
sozinha com você, Cassio. Ela é a pessoa que estará ao seu lado, não
importa o que aconteça, valorize isso. Esse é meu conselho de irmão. —
Danilo olhou bem para a tela e assenti. Era a pessoa mais preocupada do
mundo com a minha vida, sempre foi protetor e se fui mimado em minha
criação, a culpa foi toda dele. Depois do sequestro, precisamos nos ajustar.

A pessoa que me tornei não era quem meu irmão conhecia. Ele foi
meu pai para todos os efeitos, me criou com tudo que tinha na vida e nunca
me deixou. Entendia a dor, o medo e a inutilidade quando não pôde me
salvar daquele pesadelo que foi provocado por sua ira no passado. Não
havia culpas ou ressentimentos.

Encerrei a chamada algum tempo depois e senti cheiro de comida.


Caterina estava na cozinha. Desci a escada, à procura dela. A música latina
que tocava na cozinha trouxe uma onda de ódio incontrolável, acertei meu
punho no iPad e ele voou longe. Ela se assustou, deixando cair um prato
com alguma coisa quente, que espirrou molho por todo lado e quebrou.

— Ai que merda! — Segurou a mão, pulando no lugar. — O que foi


isso?

— Eu não quero esse tipo de música tocando aqui em casa, porra!

— Não coloquei, era um anúncio da receita que estou assistindo! —


Apontou para a televisão onde havia uma mulher, que parecia em uma
fazenda, ensinando a fazer massa fresca. — Eu sinto muito, não sabia que…
Porra. Vi o sangue escorrendo da palma da mão fechada até o braço,
os olhos cheios de lágrimas, me olhando com um misto de medo e
incompreensão. Aquilo era miserável. Caralho. Puxei meu cabelo, puto
comigo mesmo pelo que causei nela. Dei a volta no balcão e ignorei o
pequeno passo que ela deu para trás, sem a culpar por estar assustada.

— Deixe-me ver sua mão — pedi, puxando seu pulso e ela revelou o
corte. Ver o sangue me doeu. Eu causei aquilo e desejei que fosse em mim.

— Agarrei a faca pelo fio quando me assustei.

— Eu…

Ela estava ferida e chorou. Minha culpa. Caterina olhou bem para
mim.

— Está tudo bem. — Ela tocou meu rosto. — É um machucado e vai


curar. Eu vou tomar cuidado com o ritmo, mesmo que não saiba o porquê, é
bem óbvio que tem um bom motivo por trás dessa reação. Prefiro confiar
que por mais que estejamos nos conhecendo, você não faria isso comigo,
certo?

— Nunca. Eu nunca vou te ferir e prefiro morrer do que ver esse olhar
de medo em seu rosto novamente — falei com veemência. As palavras
necessárias ainda pareciam presas na minha garganta. — Cate…

— Um dia, vai me contar?

— Um dia.

— Eu vou cuidar disso aqui. — Apontou para sua mão, movendo as


pernas para sair do balcão e impedi. — Sério. Tem molho de tomate e cacos
de vidro por todo lado.
— Deixa. Alguém vai limpar e eu vou cuidar de você.

Fazendo uma expressão divertida, que aliviou um pouco a pressão de


duas toneladas no meu peito, puxou-me pela camisa.

— E eu vou ganhar uma massagem também? — Esfregou o nariz no


meu, sendo um bálsamo à tempestade dolorosa dentro de mim.

— Tudo o que a minha esposa quiser, eu darei.


VINTE E DOIS | Caterina
Cassio quis me carregar no colo até nosso quarto e, embora ele tivesse
me assustado profundamente com o rompante inesperado, ao olhar em seus
olhos, encontrei um mar revolto. Algo tão profundo e sombrio, trazendo
angústia e aperto ao meu peito, que não senti raiva ou mágoa. Até o medo
foi embora. Aquela reação era muito além de uma violência gratuita ao
aparelho e ao ritmo. Era mais sobre a vida dele antes de mim que ainda não
sabia.

Eu não teria percebido essa centelha se não tivesse olhado em seus


olhos. Normalmente, me esquivaria, o medo me subjugaria. Sempre que
papai era violento em casa, corria para me esconder ou encarava o chão,
sem coragem, mas Cassio era meu marido e eu queria ter intimidade com
ele a todo custo. Ia derrubar pedra por pedra dos muros dele, não podia
permitir nada entre nós, já era difícil sem conseguirmos conversar
abertamente e o quanto tínhamos dificuldade de nos entender em coisas
bobas.

Depois de lavar minha mão, vimos que o corte nem era tão profundo e
um curativo simples resolveu. Ele estava triste porque eu me machuquei
com o susto. Seu olhar me devastava, era tanta dor e arrependimento que
assim que terminou, roubei um beijo, depois outro, fui agarrando-o e
empurrando-o para o chuveiro porque estava toda suja de molho nas pernas.
Queimou um pouco, só não estava ferido. Água corrente iria resolver.

Sentei no banquinho perto da banheira, pouco usada, ele abaixou na


minha frente lavando minhas pernas, subindo seu carinho por todo meu
corpo e me abraçou. Deitei minha cabeça em seu peito, apenas ouvindo seu
coração bater e fiquei ali pelo tempo que precisei. Deitamos na cama sem
roupas e não fizemos sexo, adorei ficar agarrada nele, sentindo seu calor.
Era uma emoção nova me sentir acompanhada.

Tirei um cochilo com ele na cama, fui acordada com beijos suaves no
pescoço, seios, rosto e lábios. Ele disse baixinho que me deixou dormir até
o último minuto possível e que precisávamos começar a nos arrumar. Fui
até o closet, bocejando, e percebi que o humor dele estava sombrio, eu tinha
separado uma roupa bem reveladora para a noite e depois dos
acontecimentos do dia, decidi deixar a pressão arterial do meu marido
controlada.

Peguei um vestido preto que não deixava muito para a imaginação


pela forma que era justo. Minha mãe o comprou para usar com um poncho
por cima, meias e botas, mas eu iria adaptar com um terninho de corte reto,
longo e sapatos vermelhos, do mesmo tom do batom que pretendia usar.
Andei pelo quarto, me arrumando sob o olhar atento dele e ganhei um
assobio ao vestir as peças íntimas depois de estar com cabelo feito e
maquiada.

Pronto, saiu do quarto primeiro, dizendo que iria verificar tudo e me


vesti, levando mais dez minutos para encontrá-lo. Desci, colocando os
brincos, encontrando-o com Assis e Mariano, também de preto. Parecia até
uniforme, mas era a escolha particular de vestimenta deles. Os carros e os
soldados já estavam prontos do lado de fora. Cassio abriu a porta para mim,
me ajudando a entrar e olhou para o lascado do meu vestido, que ia até
pouco acima do meio da coxa.

E eu não usava as meias escuras que minha mãe separou. Cruzei as


pernas, colocando minha mão no joelho, abrindo um sorrisinho. Do outro
lado do carro, ele só passou o polegar no lábio inferior. Passamos a viagem
inteira presos no olhar um do outro, porém, cada vez que meu curativo
entrava em seu campo de visão, a parte sombria do seu ser tomava conta do
humor.

Do lado de fora do evento, estava muito cheio, com imprensa, polícia


e o público que encheria as arquibancadas. No entanto, não precisava me
preocupar em aparecer. Cassio não permitia que fôssemos fotografados. Os
carros seguiram para os fundos, entramos em um beco, e fui orientada a
manter meu rosto para baixo para que nenhuma das pessoas que, por um
acaso, cruzassem nosso caminho nos corredores, conseguisse tirar uma foto
sem que os seguranças percebessem.

Era meio impossível, mesmo de salto, os três ao meu redor me


cobriam completamente. Subimos alguns lances de escada de ferro e
depois, entramos em uma espécie de camarote todo adaptado para a festa
que Cassio estava oferecendo. Os convidados, que provavelmente não eram
pessoas lícitas, estavam sendo revistados e entregando seus telefones para
serem colocados em sacos lacrados.

Era interessante. Os Venturinni definitivamente não permitiam ser


vistos. E eu gostava disso, nunca almejei fama e era ótima a sensação de
entrar em qualquer lugar sem ser reconhecida.

Claro que era impossível não chamar a atenção quando estava com
Cassio, Assis ou Mariano. Até mesmo qualquer outro segurança. Eles
tinham uma placa na testa: "Sou um gângster. Me desafiem."

Uma pessoa com a sanidade em dia escolheria ficar fora do caminho


deles.

— Tem um engraçadinho com escuta aqui dentro — Mariano


murmurou com Assis, troquei um olhar com Cassio.
— Alguma câmera? — Cassio quis saber e sentou no sofá de couro,
no alto, na parte mais escura e segurou meu quadril, puxando-me para seu
colo. — O que quer beber? — Ele passou a mão na pequena manchinha que
ficou do molho de tomate quente na minha perna. — Está com fome?

— Nenhuma câmera, mas sabe-se lá, essas porras tecnológicas. Nem


sempre nosso aparelho pode ter detectado algo. — Mariano bufou, olhando
para frente.

— Deixe-o entrar e depois, não o deixe ir embora.

— E se ele estiver transmitindo ao vivo?

— Não vai pegar nada que a polícia ou qualquer um não saiba que vai
rolar aqui dentro. Sexo, drogas e muita bebida. Boa sorte ao tentar invadir
aqui hoje. — Cassio sorriu de lado, com um jeito perigoso que me trouxe
um arrepio na espinha. — Não quer dizer que eu vá permitir que saia ileso.

— Fiquem de olho nele — Assis falou em seu comunicador.

— Não me respondeu, esposa. — Cassio tirou meu cabelo do pescoço,


dando um beijo acima da minha pulsação.

— Estou com um pouco de fome, mas acabamos de chegar. Posso


esperar a festa começar de verdade.

Cassio não me deixou ficar longe em nenhum momento. Quando


Alessa chegou, ficou ao meu lado, mas não saí do colo do meu marido.
Podia me mover de um lado ao outro, mas não sair dali. Exceto para ir ao
banheiro depois de já ter bebido muito vinho branco e ele me acompanhou,
ficando perto da cabine de braços cruzados e segurando a minha bolsa. Saí
do reservado, indo lavar as mãos e ri.
— Do que está rindo? — ele questionou, meio irritado, como sempre.

— Você.

— O que tem de engraçado em mim?

— Nada. Só está muito bonitinho bancando o grudento e possessivo


hoje. — Agarrei suas bochechas. Ele deu um tapa forte na minha bunda.

— Não tenho motivos para te deixar longe de mim.

Subi minhas mãos por seu peitoral.

— Que bom. Não quero ficar longe. — Puxei-o pela gola da camisa.

Seu telefone vibrou quando o beijei, ele tirou do bolso, leu a


mensagem e franziu o cenho. Tirando a arma da cintura, pegou meu pulso
com firmeza e foi para a porta.

— O que está havendo?

— Acho que já temos o suficiente de aparição na rua. Vamos para


casa. — Ele abriu um sorrisinho provocante, segurando-me e,
provavelmente, no caminho, avisou aos outros que iríamos embora. Eu
perguntei se ele não precisava ficar para assistir à luta principal. — Não
estou muito inclinado.

Eu ri e entramos no carro na garagem, que aproveitou a madrugada


para sair cantando pneus. Ele ficou atento no banco da frente junto ao
motorista, chegamos bem e eu percebi que sempre ficava tensa ao ponto de
apertar os bancos. Precisava relaxar mais.

Na entrada de casa, abaixei para tirar meus sapatos e gritei ao ser


surpreendida por ele me erguendo. Fomos direto para o quarto, eu ri alto da
maneira com que me arremessou na cama e dali, não saímos mais.

Cassio saiu ao amanhecer e me perguntei se era sobre o homem com a


escuta, o que aquilo significava. Quem poderia ser? Alguma investigação?
Ele não me falou nada quando voltou. Apenas tomou banho, deitou ao meu
lado bem grudado e dormimos mais um pouco. Ficar juntinho na cama era
muito gostoso.

— Hoje vai ser nosso dia da preguiça? — Cassio me acordou e eu ri,


sonolenta.

— Enquanto ficar deitado, também ficarei. Não sei como aguentam


estar na rua em todas as madrugadas.

Ele riu e pegou meu telefone, olhando a tela.

— Acostumado. Você que fica exausta. Por que não atendeu sua mãe?

Cobri minha boca, bocejando.

— Ela ligou? Eu não vi, estava dormindo.

— Não retorne por vídeo — ele determinou e assenti, puxando o


travesseiro para dormir mais.

Se ela me ligou sem meu pai saber, era melhor esperar que tomasse a
iniciativa novamente quando pudesse. Não queria colocá-la em problemas.
Alguma coisa completamente incompreensível estava acontecendo em
Chicago, eu só não iria me indispor com meu marido por causa dos meus
pais.

Danilo ligou para Cassio e ele saiu para atender. Em algum momento,
iríamos para Itália para estreitar laços com a família e eu não tinha certeza
se eles estavam abertos a me conhecer. Alessa disse que Isabella era muito
na dela, mas éramos cunhadas e esperava que pudéssemos ser próximas.
Afinal, meu marido a chamava de irmã.

Seus filhos seriam a família dos meus filhos. E se pudesse ter


esperança, ao ter uma menina, não queria me preocupar que ela fosse
entregue para um território desconhecido. Eu não tinha essa frieza em mim.

Desci em busca de algo para comer e parei ao ouvir as vozes dos


homens que viviam comigo em uma das salas.

— Eles estão em Vegas e podem ser, literalmente, qualquer pessoa —


Assis resmungou. — Está na hora de você sair daqui com Caterina.

— Para destruí-los, preciso saber o foco e a liderança. Nos derrubar


não irá garantir que irão tomar o controle desse território. As ações dessa
madrugada, brincando entre Rizzo e nossas ruas, me dá a entender que
existe uma estratégia. Uma burra, mas existe — Cassio respondeu e eu
fiquei toda arrepiada, encostando na parede, com o coração acelerado. Eles
estavam em Vegas. As pessoas que me pegaram. — Querem vingança pela
chacina na fronteira? Aqueles membros do motoclube eram de Atlanta
também. Desejam vingar as mortes que causamos ao resgatar Caterina?

— São muitas opções. Eles não possuem um código entre eles para
que possamos reconhecê-los em uma multidão.

— Claro que sim. Vivem imundos e em grupos, vamos rastreá-los um


a um. — Cassio grunhiu e me afastei, indo para a cozinha e eles,
provavelmente, ouviram meus passos, porque em segundos, estava atrás de
mim. — Você ouviu alguma coisa?

— Infelizmente, sim. Não foi intencional. — Abri a geladeira, ele


fechou e me virou. — Cassio…
— Eles te roubaram de mim uma vez, não irão conseguir fazer isso
pela segunda vez. Lembre-se…

— Eu sou uma Venturinni agora — completei e ganhei um aceno,


orgulhoso. — Mas da primeira vez, nunca houve uma intenção de me
libertar. Eu seria morta, cedo ou tarde. E se agora eles sequer tentarem um
sequestro com qualquer um de nós? E se forem direto para a morte?

Cassio colocou as mãos nos meus ombros, acariciando com os


polegares e encostou a testa na minha, esfregando o nariz no meu com
suavidade e passando confiança. Relaxei contra seus braços, precisando de
toda força e proteção que vinham dele.
VINTE E TRÊS | Caterina

Entrei no banheiro bocejando e ouvindo o barulho do chuveiro, então


olhei para a área mais reservada. Encostei na pia só para admirar meu
marido e sua pele morena, tatuada, com a água escorrendo pelo seu corpo
junto a um pouco de espuma. Ele passou a mão no cabelo, erguendo a
cabeça e puta merda, mordi a pontinha da minha unha, tirando minha
camisola em seguida.

Cassio me agarrou e sem mal me dar tempo de equilíbrio, tomou


minha boca. Tínhamos apenas dois meses de casados, mas eu já sabia que
depois de treinar, ele tinha uma fome por sexo. E era incrível começar o dia
com um orgasmo, a gente transava em qualquer lugar do nosso quarto (ou
pela casa, se estivéssemos sozinhos). Após nosso interlúdio, passei um
pouco de creme no cabelo e ele parou ao lado, fazendo a barba.

A maneira como tinha controle da navalha era impressionante.


Espalhou a espuma e acompanhei tudo com o olhar, fascinada. Quando
terminou, beijei seus bíceps e fui para o closet, minha mala estava aberta no
chão porque iríamos para a Itália no dia seguinte e eu não conseguia decidir
o que levar. Cassio tinha um armário lá, então, ele não levaria muitas coisas.
Eu não tinha nada e era difícil saber o que deixaria para trás.

Separei algumas blusas leves, jogando-as no espaço vazio, calcinhas, e


peguei um vestido para passar o dia. Cassio ficou pronto para sair. Abaixei
para pegar uns shorts, ele parou atrás de mim e segurou meu quadril, dando
uma empurrada. Eu ri e fiquei de pé, olhando-o pelo espelho e percebi que,
parecíamos um casal. Antes, era como duas pessoas que dormiam juntas e
estavam vivendo na mesma casa, agora, tinha uma sintonia.

— Eu não vou demorar na rua e é melhor que essa mala esteja pronta.

— Tão mandão — cantarolei e ele beijou meu ouvido, me fazendo rir.

— Sou seu marido. — Apertou minha bunda. — Portanto, mando em


você.

— Sim, sim. Chupa mais gostoso, anjo.

— Essa é a única ordem que você quer receber, esposa? — Mordeu o


lóbulo da minha orelha.

— É a única que eu ouço. O restante…

— Engraçadinha. Não é mais o meu cachorrinho treinado? — Ele


agarrou meus braços porque sabia que eu iria reagir bruscamente. Tentei
bater nele e mordi seu braço, ele ria, me atentando. — Amigo, amigo… —
afastou-se com as mãos erguidas.

— Já te falei para não me chamar de cachorrinho. — Pulei em suas


costas, ele me agarrou e foi nos levando para o quarto, me jogando na cama
de qualquer jeito. — Vá para que possa voltar logo. Anda.

— Abusada…

Apesar da expressão fechada, o olhar brincalhão denunciou que não


estava chateado. Eu me concentrei na tarefa de cuidar das malas. Apesar de
ter muitas roupas, não tinha ideia de como as mulheres da Calábria se
vestiam, Alessa vivia aqui em Vegas a maior parte do tempo e tinha um
estilo contemporâneo, de vez em quando também usava roupas mais
reveladoras e não convivi com Isabella o suficiente para saber que tipo de
roupas usava.

Cassio foi completamente inútil. Ele disse que eu ficaria linda com
qualquer roupa e voltou a trabalhar, mal desviando os olhos da tela do
computador.

Mariano bateu na porta do quarto, avisando que iria entrar, ele parou
na porta do closet com alguns pacotes dizendo que as minhas compras da
internet haviam sido entregues. Comprei novos biquínis. Eu agarrei as
caixas, que estavam semiabertas por causa da verificação e fui correndo
lavar para poder usar logo que chegássemos na Itália. O tempo estava muito
bom lá.

Apesar de ter demorado, consegui terminar a mala. Até fiquei suada.


Deixei tudo pronto no canto, me joguei na cama e peguei meu telefone.
Estava navegando na internet quando ele vibrou com uma chamada de
vídeo da minha mãe. Atendi e me ajeitei, tomando cuidado em não mostrar
muito ao meu redor porque Cassio não queria.

— Oi, querida. — Ela surgiu, sorridente, porém, podia dizer que tinha
algo errado.

— Está tudo bem, mãe?

Seu rosto estava um pouco vermelho e os olhos inchados. Cassio


entrou no quarto e ficou em silêncio, tirando a roupa e atento à chamada.

— Estou com uma crise alérgica, sabe como fico quando o tempo
começa a ventar muito aqui em Chicago. Então, amor. Conte-me. Você está
bem? Como é a sua rotina aí? É tudo que sonhamos?
— Minha rotina é como a de toda dona de casa, mamãe. Cuidar da
comida, limpeza, tudo isso e eu estou bem. E aí, aqui não tem muito a dizer,
sinto saudades das crianças. Minhas cunhadas vão me permitir vê-los? —
Mudei de assunto, ciente de que meus irmãos não queriam que eu visse seus
filhos, mas tentei mesmo assim. — Além do mais, essa casa está muito
silenciosa.

— Todo mundo saiu. É um daqueles raros momentos de silêncio, bom,


não vou te atrapalhar mais. Te amo, beijo.

— Também te amo. Tchau, beijo. — Acenei para tela e logo a


chamada foi encerrada. Cassio sentou na ponta da cama, me olhando e eu
sequer sabia o que dizer. — Isso tem ficado cada vez mais esquisito.

— Se não está confiante em falar com sua mãe, passe a apenas trocar
mensagens. Eu realmente aprecio que não fale sobre a nossa vida em
nenhum detalhe com absolutamente ninguém, sendo sua mãe, pai ou
qualquer um. — Ele pegou minha mão e beijou os nós dos meus dedos.

— Ela pode estar apenas triste porque sempre fomos eu e ela para
tudo. Agora, estou aqui, ela está lá e não tem mais ninguém para cuidar.

— Sua mala está pronta?

— Sim, marido. — Revirei os olhos. Cassio franziu o cenho,


ameaçador, e me pegou pelos tornozelos. — Ai, meu Deus! Era brincadeira!
— gritei e fui virada bruscamente. Erguendo meu vestido, bateu em ambas
as minhas nádegas, me fazendo rir mais ainda. Para provocá-lo, empinei um
pouco o meu bumbum e rebolei.

— Porra, Cate. — Ele me agarrou e fui parar em seu colo, beijando-o.


— Nosso voo adiantou algumas horas, vamos sair hoje.
— Em quanto tempo? — Passei meus braços por seus ombros. Estava
um pouco preocupada que, na Itália, aquela proximidade e familiaridade se
dissipasse.

Cassio ainda era difícil em muitas horas do dia e eu estava aprendendo


a separar os momentos que sua irritação e seriedade eram sobre o trabalho,
sobre preocupações e não tinha nada a ver comigo. Não era minha presença
que o incomodava, só era complicado gerenciar tantas emoções novas.

— Uma hora. Vá se vestir. Assis e Mariano irão conosco.

— Ficarei pronta em pouco tempo.

— Ótimo. Sabe que gosto assim, obediente.

Afastei-me e lhe dei a língua, escolhendo uma calça de moletom que


era bem confortável, tênis, meias fofas e uma camiseta grande. Se o sutiã
me irritasse, poderia ficar sem por um tempo. Com tudo pronto, Cassio e
Mariano levaram tudo para o quintal, ele trancou nosso quarto e deixou as
joias que eu não iria levar em um cofre separado e escondido. Pela primeira
vez, vi um helicóptero de perto.

Pousando nos fundos, fez um barulho enorme, mas coube tudo e


pudemos decolar com tranquilidade até um aeroporto particular onde o
jatinho estava pronto, com os comissários e piloto já nos aguardando.
Cumprimentei-os, empolgada e muito grata que aquele curto trajeto foi feito
em segurança. Desde que soube que os nômades — era o único nome que
poderíamos dar a eles porque não se denominavam a nada —, estavam em
Vegas, sair de casa era uma enorme tensão para mim.

Também ficava muito preocupada com Cassio. Ele poderia se cuidar,


era treinado e tinha habilidades, mas não deixava de ser assustador o medo
de perdê-lo para inimigos que nós não procurávamos. Aquilo era coisa do
meu padrinho, que nem estava vivo para contar história. Fernando não
acreditava que o grupo de imigrantes mistos tinha algo a ver com a chacina
que Cassio provocou com o motoclube de Atlanta que estava querendo se
estabelecer na fronteira.

Eram mais de quinze horas de voo e muito cansativo. Dormi, acordei e


comi umas trinta mil vezes. Cassio brincou que iria me amarrar no banco se
eu não sossegasse. Ele tinha trabalho a fazer, ficou ocupado e Mariano foi o
único me dando atenção, roubando no jogo de cartas, me ensinando alguns
golpes de luta para aplicar em Assis. Como se eu fosse conseguir derrubar
algum homem do tamanho deles.

Ao pousar, era quase noite, o sol estava se pondo e carros já nos


aguardavam para levar diretamente para a Villa que a família Venturinni
estava, que não era a principal e sim, em uma comuna de praia, que eles
herdaram da família materna.

Assim que passamos pelos portões de ferro, era possível sentir o


cheiro do mar, ouvir as ondas, mas o casarão principal era todo branco com
mármore, típico da região e de tirar o fôlego.

— Uau! É um lugar lindo.

— Passou por uma reforma recente. — Cassio saiu do carro e deu a


volta, abrindo minha porta. Eu ia respondê-lo, mas uma mulher mais velha
que nós dois e bem bonita, saiu eufórica da cozinha, com um avental e pano
de prato nos ombros. — Nanci!

— Oh, meu bambino! Meu menino! Eu não posso ficar tanto tempo
sem você! — ela arrulhou, agarrando-o e encheu o rosto de beijos. As
orelhas do Cassio ficaram incrivelmente vermelhas. Cobri minha boca,
rindo. — E você, deixe-me vê-la! — Segurou-me pelos ombros, com uma
análise carinhosa. — Linda, maravilhosa. Seja bem-vinda, Caterina. Então,
você é a esposa do meu menino.

— Você nem me deu tempo de apresentá-la, Nanci. — Cassio passou


o braço por meu ombro e olhei-o, adorando aquele caos. Ele era tão
ranzinza em casa, murmurando coisas, só brincava comigo no quarto ou
quando queria me tirar do sério. Ali, era um bebê. Fazia sentido seus traços
mimados.

— Oh, shh! Eu não preciso de tempo. Sou Nanci, a governanta, tudo o


que precisar.

— Ela me criou — Cassio explicou baixinho.

— Estou feliz em conhecê-la. — Abri um sorriso. — Obrigada por me


receber tão bem.

Eu não conhecia o passado do meu marido, tentei perguntar algumas


vezes, para conhecê-lo, e não obtive respostas. Foi antes de estarmos mais
próximos e talvez, devesse tentar novamente.

— Vamos entrar, tem muita comida, as crianças estão ansiosas para


jantar e ver o titio novamente. E Mariano, meu amor, vem aqui. — Nanci
foi para os meninos. Ela apertou Assis rapidamente, respeitando a
necessidade dele de ter seu próprio espaço.

— Vamos entrar em casa. — Cassio entrelaçou nossos dedos e me


levou para dentro.
VINTE E QUATRO | Cassio
Itália

Bella e Danilo estavam descendo a escada juntos e pararam um pouco


para nos ver entrar. Caterina agarrou minha camisa, ela sempre buscava
segurança em mim e eu amava que minha esposa sentia toda a proteção que
tinha por ela. O movimento íntimo não passou despercebido pelos meus
irmãos.

— É bom finalmente estarem em casa. — Danilo me abraçou. — Olá,


cunhada.

— Oi, senhor Venturinni. — Caterina estava muito tímida. Ela


apertava minha camisa ao ponto de beliscar minha pele. Eu ri um pouco
porque Danilo era terrível, ele a faria passar muita vergonha ao descobrir
seus pontos fracos. A idade não lhe deu muita maturidade, não.

— Nada disso, ele gosta de ser adulado, então, chame-o de Danilo,


irmão ou cunhado. Chamá-lo de senhor vai aumentar seu ego e daqui a
pouco, nos mandará chamá-lo de Don ou padrinho. — Bella passou por ele
e me deu um rápido abraço. — Seja bem-vinda. O quarto de vocês está
arrumado e arejado. E bem longe do caos das crianças, então, não se
preocupem.

— Ah, que isso! As crianças não iriam nos atrapalhar, aqui é a casa
deles. — Caterina deu um passo à frente, preocupada.

— Claro que iriam, ainda estamos em uma lua de mel — eu adicionei,


rindo.
— Cassio! — ela ralhou, tímida.

— Aqui é a nossa casa, somos uma família e se eles atrapalham a


minha vida sexual, certamente darão um jeito de atrapalhar a de vocês
também. — Danilo riu, deixando minha esposa quase roxa. Decidi aliviar
sua carga, abraçando-a.

— Vamos comer, imagino que estejam cansados, loucos para dormir


um pouco depois de tanto tempo viajando. — Bella sinalizou para irmos até
a sala de jantar. Estávamos virando o corredor juntos quando fomos
interceptados pelos dois trogloditas que eu chamava de sobrinhos, nos
atropelando. O pai agarrou um e a mãe, outro. — Caterina, quero que
conheça os meus anjinhos. Esse é o mais velho, Félix e esse aqui, que o pai
está tentando não sufocar, é o mais novo, Fabrizio.

— Olá, meninos!

— Eles não arrancaram nenhuma parte do seu corpo no sequestro? —


Félix questionou, olhando para minha esposa com interesse.

— Não, né. Parece que tá tudo aí — Fabrizio rebateu com um ar de


que o irmão era muito burro. E então, eles começaram a se bater. Bella
enfiou dois dedos na boca e assobiou. Até os cães pararam de zonear na sala
ao lado.

— Essa é a tia Caterina ou tia Cate, vocês devem ser muito educados,
sempre dizer obrigado, por favor, bom dia, boa tarde senhora…

— Mas ela não é velha para ser chamada de senhora! — Félix cruzou
os braços.

Caterina me deu um olhar, querendo rir e nos seguramos porque os


pais estavam sendo severos.
— Ela é sua tia, não discuta comigo, garoto! — Bella perdeu a
paciência. — Vocês estão fedendo a peixe! O que estavam fazendo?
Mexendo nas redes de pesca de novo?

— Ops! — Fabrizio se encolheu.

— Lavem as mãos e os braços, é melhor que entrem na sala de jantar


como dois meninos educados. — Bella apontou o dedo e eles saíram, com
medo, porque bem, todo mundo tinha medo dela. — Tenham filhos, é
incrível.

— Sim, é ótimo. Privação de sono e dor de cabeça — Danilo


murmurou.

Caterina e eu não havíamos ainda falado sobre filhos. Ela estava


disposta a engravidar se eu quisesse, mas também começou a tomar pílulas
logo que nossas atividades sexuais passaram a ser frequentes - e se Deus
fosse bom, continuaria sendo incrível para sempre. Mas ainda era cedo
demais para inserirmos crianças na nossa rotina e eu queria que ela
conhecesse mais a nossa vida fora do padrão do que fora criada: de ser mãe
e esposa perfeita.

Eu realmente apreciava seus atos e esforços, mas era mortalmente


entediante tê-la fazendo tudo corretamente. Além do fato de que eu não fui
criado para esperar mulher fazendo nada por mim. Nem imaginei que iria
casar.

Sabia que seria difícil para minha esposa estar com meus irmãos e ela
não era como Bella, desafiante e brava. Ela era mais tímida, precisava
sentir-se segura e por esse motivo, puxei sua cadeira bem ao lado da minha
e não deixei que ficasse sozinha com minha cunhada do outro lado da mesa,
como eles provavelmente organizaram os lugares. Danilo me deu um olhar
divertido, da cabeceira, e os meninos voltaram com Nanci, parecendo
anjos.

Eles sentaram em suas cadeiras, comportados, porque Danilo era


extremamente severo com a postura deles. Um dia, eles seriam líderes e
precisavam saber se portar, mesmo que agissem como selvagens na maior
parte do tempo.

— Julieta já comeu e dormiu, estávamos com ela. Amanhã ela ficará


muito feliz em encontrar os tios — Bella explicou, mediante ao meu olhar
para o lugarzinho dela, vazio.

— Comida! — Mariano entrou na sala. — Oi, bençãos.

— Meninos. — Assis foi mais calmo, porque sabia que agitá-los


àquela hora era um caminho sem volta, eles não parariam nunca mais.

O jantar foi tudo aquilo que todos amavam, muita carne, massa,
molho, queijo e salada. Caterina não poderia vencer a determinação de
Nanci em nos ter muito bem alimentados ao ponto de comida vazar pelos
nossos ouvidos, o prato dela mal ficou vazio. Arrastei meu pão por seu
prato, me sentindo em casa e relaxado. Seriam ótimos dias de folga ali na
praia antes de irmos para a villa principal.

Cate me deu um olhar surpreso pela proximidade, como se não


esperasse que mantivesse nosso contato, mas eu não sabia quando iria
entender: ela era minha e não pretendia ir a lugar algum sem ela. Após a
sobremesa, conversamos até tarde, bebendo vinho. Bella ficou mais
relaxada depois que os meninos foram dormir com Assis, que queria contar-
lhes uma nova história.
— E como tem sido a rotina agora, depois do casamento? — Danilo
perguntou, com as pernas esticadas à frente.

— Estamos aprendendo a conviver um com o outro. — Caterina olhou


em minha direção. — A vida de vocês é muito diferente do que imaginei.
Antes do casamento, estava com muito medo. As pessoas diziam que as
mulheres que entram para essa família, enlouquecem. Sempre me falaram
que Bella era doente, do tipo deprimida, por isso ninguém a via.

Bella explodiu em uma gargalhada alta, chegando a jogar a cabeça


para trás.

— Ela é louca, mas não desse tipo. — Danilo olhou para a esposa com
uma risada.

— Ela não parece louca. — Caterina encolheu as pernas, com sua taça
de vinho e eu peguei a colcha, passando por seus ombros para que ficasse
aquecida do vento gelado da praia.

— Na noite do nosso noivado, ela me sufocou e depois, colocou uma


arma na minha testa. Bella é esse tipo de louca — Danilo argumentou.

— E eu faria tudo de novo. Meu maior medo era não ser respeitada
nesse casamento.

— Essa aqui não fica muito atrás. As unhas delas viram garras quando
está furiosa. Quase arrancou minhas orelhas fora porque eu estava sem
aliança — contei rindo e Caterina ficou vermelha, murmurando meu nome
baixinho.

Bella me deu um chute forte.


— E por que estava sem aliança? Perdeu o juízo? Homem casado
nessa família se comporta como tal. — Apontou o dedo e inclinei-me para
frente, mordendo. Ela riu e me bateu de novo.

— Eu tirei, mas coloquei de volta e segue aqui. — Ergui minha mão.

Danilo balançou a cabeça, como se eu ainda tivesse muito a aprender.

— Mas o que quer dizer em relação a ser muito diferente? — Bella


virou-se para Cate. — Percebi que foi criada de modo tradicional.

— Ah… passei os últimos anos da minha vida me preparando para ser


uma esposa, cuidar da casa, dos filhos e estar sempre pronta para o que o
meu marido precisasse. Meu pai não pegava nem um copo de água para si,
minha mãe estava o tempo todo servindo-o. E o Cassio… — Caterina me
olhou, parecendo confusa e frustrada. — Ele não precisa de mim para nada.
Até as próprias roupas, quando vou perceber, já passou e saiu. Eu tinha
muitas ideias e medos… e é tudo diferente.

Bella pegou a mão da minha esposa.

— Isso não é casamento. Isso é servidão. Não tem nada de errado em


querer cuidar do seu marido, da casa e dos filhos, mas a nossa vida é muito
mais. Temos muito o que fazer, não precisa se meter nos negócios, mas
pode ter a sua rotina e os seus afazeres, contanto que vocês dois tenham
uma boa comunicação e estejam na mesma página sobre os planos de casal
e família. — Ela aconselhou a minha esposa com carinho. — E se Cassio
não pegar o próprio copo de água, quebre o copo na cara dele. Um homem
desse tamanho, Dio!

Caterina começou a rir. Eu fiquei feliz que elas poderiam chegar a um


entendimento mesmo que fosse planejando a minha morte. Quando elas
foram dormir, fiquei sozinho com meu irmão. Ele pegou charutos,
acendemos e ficamos na varanda para que as crianças não acordassem com
o cheiro forte.

— A última vez que estivemos nessa varanda, você era um homem


solteiro. — Ele tragou, olhando para frente. — E a última vez que
estivemos juntos, você não parecia inclinado a ser um bom marido.

— Eu nunca disse que não seria um bom marido, faria um esforço,


mas não tinha ideia do que ser. O casamento é uma coisa nova. — Eu me
apoiei no parapeito, olhando para o mar. — Caterina é tudo que nunca
esperei.

— De uma maneira boa ou ruim?

— Nas primeiras semanas, bem ruim. Ela era calada, obediente,


passiva e treinada. Era enervante. Sendo criado pela Nanci e convivendo
com a Bella, não foi bem esse tipo de mulher que me via casado. Mas
agora, aos poucos, ela tem mostrado a verdadeira personalidade, está se
encontrando, porque os pais projetaram muita coisa, a obrigaram a ser quem
não era e só a alimentaram com servir, servir e servir.

— Eu percebi que existe uma sintonia. Isso é bom. Sabe que passei
por momentos realmente ruins e desde que Bella chegou, ela tem sido o
meu alicerce. Com você, meu irmão, posso confiar esse lado da minha vida
porque é bom e quero que experimente o mesmo. — Danilo tocou meu
ombro. — Mas Bella sempre soube quem era. Precisará ter paciência com
Caterina e as suas descobertas.

— Até o momento, tem sido divertido estarmos juntos e aprendendo.

— E ainda pensa em dormir com outras mulheres?


Eu ri e lhe desejei boa noite, apagando meu charuto. Danilo estava
mais preocupado com a minha fidelidade do que a minha esposa. Mas ele
deveria saber melhor que tudo que eu estava vivendo era completamente
inesperado. Não podia falar sobre o dia do amanhã, nem do passado. A vida
não era fixa como as rochas, ela se movia como areia no vento.

Entrei no quarto de fininho, Caterina estava no centro da cama, com a


camisa do pijama um pouco embolada, podia ver sua barriga e parte do
seio. A coberta estava desleixada na cintura e tirei minha roupa, indo tomar
um rápido banho, depois, voltei e continuei parado admirando sua beleza
serena. Como alguém nascida entre pecado e sangue, podia exalar tanta
beleza e ternura?

Como ela podia ser inocente e carinhosa?

Deitei ao lado dela e ao sentir meu corpo na cama, virou-se, passando


o braço por minha cintura e colocando a coxa em cima da minha. De vez
em quando, seus pesadelos tornavam minhas noites um pouco longas e ela
nunca lembrava no dia seguinte. Era bom, porque assim não ficava cansada
ou triste, mas seu subconsciente alimentava o medo de ser levada
novamente e eu sabia o que aquilo significava.

Antes do sequestro, não era muito inclinado a dormir com as mulheres


que fodia, mas aconteceu algumas vezes. Depois, eu não podia suportar a
presença delas sem sentir tanto ódio, vontade de punir e causar dor. Apesar
do desejo da foda bruta ainda estar pairando no meu íntimo, nunca senti
raiva de Caterina. Nunca quis causar-lhe nenhum tipo de sofrimento, tanto
que ver a ferida na palma de sua mão me trazia tristeza por ter sido o
causador.
Ela não provocava o meu pior. E nem merecia. Só não entendia por
que meu coração ficava tão em paz com a presença dela.
​VINTE E CINCO | Caterina

O amanhecer ali era lindo. Parei perto da janela, olhando o mar


tranquilo, as marolas batendo na areia e aspirei aquele ar puro. Apoiei
minhas mãos na janela, fechando os olhos. Senti o calor do corpo de Cassio
atrás de mim, ele abaixou o rosto e cheirou meu pescoço, segurando minha
cintura e me pressionando de uma maneira deliciosa. Ergui a mão,
acariciando sua nuca, gostando daquele carinho gostoso.

Estávamos sofrendo com a mudança do horário e da casa, acordamos


muito cedo, mesmo depois de uma longa viagem.

E eu estava muito enjoada, não era efeito de nenhuma gravidez, comi


demais no dia anterior. Nanci, a adorável mulher que criou meu marido, não
parou de empanturrar meu prato, não queria fazer desfeita e nem que
pensasse que eu era nojenta. Afinal, ela era minha sogra para todos os
efeitos, a julgar pela relação estreita com todos os membros da família.

Depois de uma garrafa de vinho e muita conversa na varanda, um


momento que eu amei de todo coração, fui dormir para não passar mal.

— Preparei um chá para você. — Cassio pegou minha mão e levou


para a cama. — Tome e volte a dormir. Ainda é muito cedo, será um dia de
sol, vamos ficar na piscina.

— Quando sua família está aqui, gostam de aproveitar como uma


folga? Devo sair de biquíni já ou tenho que estar arrumada?

— Sim. E não tem que estar arrumada, fique calma, cacete. — Ele riu
da minha ansiedade. Era difícil abrir mão de tudo que fui treinada da noite
para o dia assim.

— Essa casa pertencia ao seu pai? — Virei e fui até a mesinha, onde
ele deixou a caneca fumegante. O chá parecia de hortelã, cheirei antes de
beber e Cassio foi para a cama, deitando.

— Era da minha família materna.

Hum, então, eles eram do meio também. Italianos e tradicionais, a


julgar pela estrutura de villa fechada e disposição das casas. A mãe dele
pode ter sido filha de um subchefe. Alguém de tamanha importância para
um acordo de casamento com o todo-poderoso.

— Você nunca fala dos seus pais. — Sentei na ponta, dando um gole.
Cassio não desviou o olhar do meu, sem deixar transparecer nenhum
sentimento.

— Eles estão mortos, não tem muito o que dizer sobre eles. Beba o
chá, não te quero passando mal o dia todo. E vou pedir para Nanci não te
importunar com comida. — Ele acariciou minha coxa. Adorava ver sua mão
grande e tatuada contra minha pele, pouco mais clara, mas que sempre
ficava arrepiada por ele. — Só enquanto está com vergonha.

— Obrigada por cuidar de mim, é um ótimo enfermeiro. — Inclinei-


me no espaço que tinha entre nós e o beijei, ciente de que ele ainda não
queria derramar a história da família, mas pelo menos, tinha a certeza de
que seus pais estavam mortos. Como nunca foram mencionados, ainda
duvidava se estavam vivos ou não. Não muito o pai, por Danilo ser o chefe,
mas a mãe podia estar em algum lugar e não ser próxima deles.

Terminei o meu chá, deixei a caneca vazia na mesinha do lado e voltei


a me deitar, puxando a colcha para cima de nós. Cassio me puxou para bem
pertinho e sentir seu calor me trouxe um tipo de desejo que não deixaria
meu estômago muito feliz no momento. Beijei seu peitoral, descendo minha
mão pelo torso e indo parar perto da cueca.

— Continue assim e essa cama vai começar a bater contra a parede


muito em breve — falou de olhos fechados com um irresistível sorriso de
canto de boca.

— Daqui a pouco, se estiver melhor, não tenho nenhuma oposição.

— Então durma, porque gostei muito da ideia.

O chá, definitivamente, me fez bem. Acordei sozinha na cama e fiz


um beicinho, enviei uma mensagem a ele, apenas no caso dele não estar
fazendo nada importante. Demorou a responder, desisti de esperar e fui
tomar banho para me refrescar e colocar o biquíni.

Cassio apareceu, assobiando. Ele estava todo suado e sujo de areia,


entrou no chuveiro quando escovava o cabelo para tirar os nós.

— Está melhor?

— Sim e eu pensei que estaria nua na cama com meu marido, fazendo
coisas. — Dei de ombros com um beicinho.

Ele saiu do chuveiro como um predador, com um risinho lascivo de


trazer reboliços ao meu interior.

— Minha esposa está fazendo charme? É isso mesmo, gostosa?

— Não estou fazendo charme.

Agarrando-me, segurou meu pescoço pela nuca e minha cabeça ficou


presa à sua disposição. Ele tomou minha boca, provocante, e desceu a mão
para entre minhas pernas, apertando meu centro, o dedo médio buscando
um caminho entre minhas dobras.

— Quer foder?

Mordi meu lábio, sem querer recuar, mesmo sentindo meu coração
explodir com a familiar sensação de timidez desejando me dominar.

— Quero — respondi com determinação. — Você quer me foder?

Cassio grunhiu, me pegando com brusquidão e levou para o quarto


sem tirar a boca da minha, em um beijo visceral que aqueceu todas as
minhas terminações nervosas. Ele afastou minhas coxas, olhou para minha
boceta e levei minha mão até ela, brincando, espalhando umidade. Mordeu
minha virilha e dei um gritinho.

— Fico louco com esse olhar safado — ele murmurou, ficando de


joelhos, acariciando o pau e encaixando-o na minha entrada. Soltei um
gemido, meus mamilos ficaram ainda mais duros e os apertei, puxando. —
Caralho, gostosa!

Ele havia me ensinado a como rebolar indo ao seu encontro. Quando


ficava por cima, aumentava muito meu prazer com a penetração e foi um
aprendizado gostoso. Fiquei curiosa com o que aconteceria se ondulasse
meu quadril e apertasse meu canal ao mesmo tempo.

Eu fiz, meio perdida com as metidas gostosas e foi incrível. Não só


porque o senti ainda mais, como também pela maneira com que ele perdeu
a força nos braços, gemendo e me xingando, começando a meter num ritmo
muito mais frenético que precisei segurar na cabeceira da cama enquanto
havia lucidez.

Minha mente e corpo estavam completamente tomados.


Gozei, arranhando-o, completamente suada. Cassio não parou, ele me
virou, bruto, joguei todo meu cabelo para trás e ele os juntou, segurando e
arqueando minhas costas para criar a empinação perfeita. A cada metida, eu
rebolava juntinho. Ele foi gemendo diferente, perdendo o controle e apertou
meu quadril, gozando.

— Puta que pariu, porra!

Caí contra a cama, meio tremendo, parecendo em choque. Ele ainda


ficou de joelhos, recuperando o fôlego. Virei com cuidado e me estiquei,
com um sorriso.

— Você está bem, marido?

— Estou incrível pra caralho. — Ele me beijou. — Safada, uma


delícia. Gosto desse ar malandro aí.

— Você me deixa tão maluca que nem me reconheço — confessei.


Cassio me puxou gentilmente e fiquei sentada à sua frente. Ele parecia que
ia dizer algo, desistiu e me beijou de novo, com um sentimento que me
trouxe um tipo de quentinho ao coração muito diferente. Trocamos um
olhar, com um sorriso e não quis dizer mais nada. Palavras eram
desnecessárias.

Fomos surpreendidos com pequenos punhos na porta. Era Félix,


dizendo que o papai mandou chamar. Cassio riu e disse que logo iria, fomos
tomar banho e enquanto ele ia encontrar-se com o irmão, coloquei um
biquíni, um vestido longo por cima e prendi meu cabelo. Desci com meu
telefone e uma bolsa com produtos para usar na piscina, encontrando Nanci
na cozinha com Isabella e os três filhos.
Minha cunhada foi simpática na noite anterior, mas podia dizer que
ainda havia um longo caminho para nós duas. Éramos diferentes. Ela era
dominadora e falante, eu era tímida e ainda estava tentando encontrar o meu
lugar. No entanto, seus conselhos foram excelentes e me senti mais
confortável.

— Bom dia, menina. O que gostaria de comer? — Nanci me abordou.

Ai, meu Deus! Não tinha condições de comer nada. Arregalei os


olhos, pensando desesperadamente no que dizer, porque não queria ser
chata.

— Apenas umas frutas. — Apontei para a mesa.

— Tem certeza de que vai comer só isso? — Nanci insistiu.

— Mamma! Ela pode estar enjoada e sem graça. — Isabella


intrometeu-se bruscamente, dando um olhar a Nanci, enquanto oferecia algo
amassado à filha, que era tão linda que parecia uma boneca. E muito
parecida com o pai.

— Oh, está sentindo-se mal, querida? — Nanci esfregou meus braços.

— Desculpe. Comi demais ontem, mais do que o normal e ainda bebi


muito vinho. Passei a madrugada meio…

— Deveria ter dito, nós somos uma família, não precisa ficar com
vergonha. — Nanci puxou uma cadeira para mim e sentou-se ao meu lado.
— Eu tenho mania de alimentar todo mundo, quero que fiquem saudáveis.

— Só exagera na maior parte do tempo. — Isabella revirou os olhos.

— Fiquei com medo de ofender. Sei que se dedicou muito preparando


tudo com carinho para todos e eu estava dormindo ainda.
— Ainda vai pegar o ritmo daqui, ninguém se ofende com nada,
afinal, criamos uma casca grossa com Bella. — Nanci rebateu e eu ri
discretamente.

— E você me ama mesmo assim. — Bella a agarrou por trás, dando


um beijo barulhento nas bochechas. — Fala a verdade. Você ama a loucura
da nossa casa.

— Eu amo e nunca quis trocar por nada nesse mundo. — Nanci


acariciou os braços de Isabella com carinho e me deu um olhar amoroso
também. Eu me senti acolhida, querida e servi um pouco de salada, só para
não ficar com o estômago vazio, mas ainda estava com a sensação de que
deveria ficar longe de álcool e gordura por um tempo.

Essa determinação durou até irmos para a piscina, estava um sol forte,
as crianças correndo para todo lado e Isabella me ofereceu um drinque. Eu
queria ser mãe e estava acostumada com uma casa cheia, mas, os meus
novos sobrinhos eram simplesmente terroristas. Félix e Fabrizio poderiam
derrubar a casa se estivessem dispostos. Era aquele DNA que meus filhos
teriam? Puta merda!

— É por isso que eu bebo — Bella grunhiu ao agarrar um pelo braço e


mandar sentar para comer. A pequena Julieta estava na sombra, olhou para
o alto com as bochechas gordinhas e um beicinho. — Oi, coisa fofa. Quer ir
para a água?

Bella precisava controlar os filhos enquanto comia o almoço.

— Eu posso levá-la, se não for um problema — ofereci, olhando para


a princesa.
— Pode ficar nos degraus, ela tem um pouco de medo da
profundidade, mas gosta de brincar na borda. — Bella apontou para a área e
assenti.

Tirei meu vestido e ganhei um assobio.

— Por baixo das roupas comportadas tem um avião — ela brincou e


eu ri. — E puta merda, Cassio está te batendo ou não controlando a boca?

Eu olhei para os chupões que sequer percebi, Bella soltou uma


gargalhada com a minha expressão e só encolhi os ombros. Passei protetor
solar, coloquei um chapéu e óculos escuros. Agachei na frente da menina,
com medo que chorasse, mas foi só a mãe dizer que eu a levaria para a água
que a pequena esticou os braços. Julieta já andava e falava, mas era quieta,
doce, com um olhar gentil e um ar de amor sem igual. Era muito fofa.

Na piscina, ficou me chamando, era engraçado, embora estivesse


falando corretamente meu nome, o jeito era infantil e enrolado.

— Vem, titia! — me chamou, dando um mergulho no raso. Se eu


tentasse, ia dar com a minha cabeça no chão. — Afunda, titia.

— Será que o titio pode brincar também? — Cassio questionou e


virei, ele tirou a camisa e o short, ficando só de sunga.

— Titio! — Julieta gritou, jogando água para cima.

— Oi, principessa. — Cassio a pegou no colo, enchendo a barriga de


beijos barulhentos, fazendo-a ir ao delírio de alegria. Aquela cena me pegou
desprevenida. Meus ovários entraram em colapso. — Você é o meu
amorzinho?

— Eu sou!
Assis e Mariano apareceram com trajes de banho e ignoraram os
gritos da irmã para não agitar as crianças, pegando as bolas e começando
um jogo agressivo. Julieta continuou entre Cassio e eu, ganhando muita
atenção e mimo. Enchi as boias, espalhando-as na água e meu marido me
puxou mais para o fundo, abraçando-me por trás.

— Acho que serão ótimos pais de menina. — Danilo também entrou


na água e pegou a filha.

— Se ela vier como Julieta, sim. Eu só não sei se estou preparada para
aquilo ali. — Apontei com o polegar por cima dos meus ombros. Os
meninos estavam escalando a grade cheia de parreiras.

— Quem está? — Cassio riu e trocamos um olhar. Que nossos filhos


viessem calmos, era tudo o que estava começando a rezar.
VINTE E SEIS | Caterina
Cassio me pegou pela cintura e contou até três. Eu gritei e nós
pulamos. Levou mais tempo do que pensei para cairmos na água gelada e
logo emergi, ainda eufórica, olhando para o pico sem crer que tive coragem
de pular de tão alto. Nós estávamos em uma praia perto da casa, que tinha
várias rochas e piscinas naturais para mergulhar. E era incrível.

Nadamos até a areia novamente, meu coração ainda acelerado. Cassio


não acreditou que realmente aceitei pular. Passeamos de barco pela manhã,
ele remando e eu tentando fazer com que seus sobrinhos não pulassem na
água sem as boias. Ser tia deles dava trabalho, sentia pena do anjo da
guarda. Não era falta de educação não, os pais ficavam em cima, mas eles
tinham personalidades explosivas.

— Quer almoçar agora? — Cassio passou a mão molhada no cabelo.

— Acho que já pegamos muito sol e temos que alimentar as crianças.


— Eu peguei Julieta no colo, que grudou nas minhas pernas. — Vamos
comer, bebê?

— Batata e carne! — ela respondeu, animada.

— Essa garota passa fome. — Cassio bufou e assobiou para os


meninos, que voltaram correndo com um peixe morto e sorrisos
sardônicos.

Ah, não! Eu comecei a correr em direção à casa sem olhar para trás e
soltei um grito histérico ao sentir a coisa gosmenta em mim. Coloquei
Julieta na escada e voltei, correndo atrás deles, pegando o peixe e
esfregando-o nas costas de ambos, que riam de se acabar, chegando a cair.
— Eu vou colocar vocês dois na churrasqueira! — Cassio pegou
ambos. — Vamos para casa, estão fedendo!

Os meninos pareciam felizes demais com a traquinagem para se


importarem com a bronca. Lavamos os pés, vestimos as roupas e voltamos
a pé para casa, que não ficava muito longe. Danilo e Bella estavam
colocando a mesa, com a comida pronta e mandaram os mais velhos
tomarem banho no quintal, na mangueira, com tio Assis, enquanto Bella
pegava Julieta, para trocar de roupa.

Subi rapidamente para tomar banho, coloquei um vestidinho leve para


ficar fresca, porque minha pele estava quente. Cassio preparou sangrias de
vinho branco, cheio de frutas, geladinho, estava uma delícia. Sentamos
todos ao redor da mesa, um falatório, pratos passando por todo lado, comida
sendo servida e era completamente ao avesso da ordem da casa que fui
criada.

Ali tinha tanto calor humano e alegria, que era fácil esquecer quem
éramos de verdade e me trouxe uma sensação gostosa de que a minha casa,
minha família (marido e filhos), poderia ser o que eu nunca tive:
normalidade, afeto do tipo cru, sem tanta etiqueta e exigências formais, as
risadas pelos corredores eram altas e por mais que os meninos fossem muito
preparados para o futuro e tivessem no DNA a maldade natural e necessária
para sobreviverem, eles tinham pais que não hesitavam em mostrar amor
nos pequenos detalhes.

— Quer mais pudim? — Cassio ofereceu.

— Quero o do seu prato. — Enfiei a colher no pedaço de torta de


chocolate. — Está uma delícia.
— Deixe-me provar. — Ele segurou meu queixo e me beijou. Os
meninos começaram a gritar, fazendo sons de vômito, Assis jogou um
pedaço de pão em Cassio.

— Vamos casar de novo para termos outra lua de mel? — Bella pegou
a mão de Danilo. — E dessa vez, sem fuga e sem tramoias.

— Teve fuga na sua lua de mel? — Eu me afastei de Cassio.

— Sim. Atraímos a atenção de inimigos, mesmo sem querer, e


tivemos que sair às pressas. Foi bom mesmo assim. — Bella abraçou o
marido e olhei para o meu.

— Nada de eventos alucinantes quando formos viajar — falei e ele


riu.

— É uma promessa que não posso fazer.

— Tente. Engraçadinho. — Belisquei sua barriga.

À noite, todos arrumaram suas coisas e partimos para a Villa, onde eu


finalmente, seria apresentada a todos como esposa do Cassio e haveria uma
grande festa no dia seguinte. Todos as famílias foram convidadas, haveria
muita comida e pela quantidade de álcool, muitos sairiam bêbados. Seria
como uma celebração do nosso casamento então separei um vestido branco,
bonito e fresco, que me deixaria arrumada e confortável.

Estava impressionada com o quanto era lindo. Eu não sei por que, na
minha imaginação medrosa, com todos os rumores que ouvi sobre a
Calábria e a família Venturinni, pensei que a casa deles seria escura,
sombria, com ar de filme de terror. Mas era o contrário, simplesmente
bonita, no estilo tradicional porque já tinha muitos anos de construção.
O quarto de Cassio ficava no lado mais alto. Ele disse que não era o
dele de infância, que ficava no andar de baixo. Solteiro, morou fora com
Mariano, porque eles recebiam companhias femininas. Franzi o olhar em
sua direção.

— E agora, felizmente, sou homem de uma boceta só. — Jogou-se na


cama.

Agarrei uma almofada e bati nele com muita força. Rindo, me agarrou
e sentei em seu colo, olhando bem para o seu rosto.

— Assis estava com duas companhias. Você gostava disso também?


De fazer em grupo?

— Em grupo com outros homens não, mas sim, já estive com mais de
uma mulher na cama. — Cassio colocou as mãos atrás da cabeça, todo
arrogante. Idiota.

— Por quê? Só tem um pau! É diferente de uma mulher. — Encolhi


os ombros, decidindo bancar a sonsa para provocá-lo. — Se eu fosse
experimentar sexo a dois, faz todo sentido, tenho dois lugares que
provocam prazer…

— Você… o quê? — Cassio chegou a sentar, quase me derrubando. A


veia possessiva estava gritando. — Está maluca, porra? Sabe quando irá
experimentar sexo a três? Nem depois da minha morte!

Inclinei meu rosto para frente, desafiando-o, e comecei a rir.

— Caterina…

— O que foi, marido? Por que está soando ameaçador com a sua
esposa? — Fiz um beicinho. Ele me apertou em seus braços.
— Diga que é só minha. Diga que sempre serei o único a te ver
delirando de prazer — vociferou, agarrando meu cabelo. Aquilo não me
assustava em nada, só me deixava excitada. Deveria ter algum problema
que não estava interessada em pensar profundamente.

— Você sabe que sempre será o único para mim… — Subi minhas
mãos para seus braços e empurrei minhas unhas. — Cassio Venturinni, eu
não tenho problemas em transformar a sua vida em um completo inferno se
me trair com uma ou duas mulheres. Eu vou arrancar seu pau fora!

Ele riu contra minha boca.

— Está com ciúme, esposa?

— Não sou ciumenta.

— Imagina se fosse… — Lambeu a minha boca para me irritar. —


Sou o homem dessa família, se quiser dormir com alguma puta, ou várias,
eu irei.

— Claro que vai. — Abri um sorriso doce. — Se vai continuar vivo, é


outra história.

Cassio gargalhou, me derrubando na cama e eu ri, com suas


cosquinhas. Ele segurou minhas mãos, imobilizando-as acima da minha
cabeça e prendeu minhas pernas. Eu me acalmei, nervosa de ganhar outro
ataque dos seus dedos.

— Não me faça nunca me arrepender de dizer isso, mas não quero


outra mulher. Eu só quero você.

— Não sei do que você tem medo, só sei que estou aqui e você é a
minha família, é tudo que realmente tenho e não importa o que for
acontecer nessa vida, quero estar sempre ao seu lado. Minha lealdade,
fidelidade, amizade, respeito e companheirismo é todo seu. Sempre será
seu.

— Não tenho medo de nada. A única coisa que quero…

— Então, se queremos ser apenas um do outro, acho que estamos


bem. — Esfreguei meu nariz no dele. Cassio fechou os olhos e me beijou.

Soltando minhas mãos, abracei-o com minhas pernas, acariciando a


nuca, sem soltar a boca e só nos afastamos para tirar as roupas. Sem pressa.
Não havia a mínima urgência. Tínhamos a noite inteira para ficarmos nos
braços um do outro, matando um pouco daquela fome intensa que nunca
passava.

Meu desejo por ele era maior do que qualquer coisa que já senti na
vida. Era cru, sem medo ou tabus, era tudo sobre o que podíamos fazer
juntos e o quão gostoso poderia ser. Eu me entregava àquela intimidade sem
receio. Cassio poderia nunca me amar, mas nós jamais poderíamos dizer
que não havia química na cama. Sexo era esplêndido de uma forma que
minha mãe deixou de fora ao me explicar sobre relações adultas. Ela nunca
deu a entender que poderia ser tão bom.

Minha parte favorita era quando me abraçava e ficava o restante da


noite sem me soltar. E eu sempre torcia que aquele fio que nos conectava
nunca se rompesse, felizmente, a cada dia parecia mais firme. Tive medo
que a Itália nos fizesse distantes um do outro e ali, parecia nos unir ainda
mais. Como tinha muito tempo para ficarmos juntos, estava conhecendo-o
em mais defeitos, descobrindo qualidades como marido que ele estava
revelando aos poucos.
Ao sair para trabalhar de manhã com Danilo, foram visitar alguns
estabelecimentos e eu sabia tudo, só não pensava muito por não ter interesse
em me envolver nos negócios. Coloquei roupas de ginástica depois do café
e acabei encontrando Bella na academia, aquecendo-se, então fui correr,
porque não tinha paciência com exercícios de cardio. Ela parou de fazer uns
movimentos e me olhou.

— O que foi? — Diminuí o ritmo da esteira até parar.

— Você sabe lutar? — Ela deixou o peso no chão.

— Eu? Não. Meu pai até tentou me colocar em algumas aulas e não
levo muito jeito. Tanto que foi inútil quando… — Parei de falar e ela
entendeu. — Alessa me contou que você fez parte das buscas e estava lá
quando fui encontrada. Eu não sabia se fica confortável ao falar sobre isso,
mas queria te agradecer. Obrigada de verdade.

— Você já era da família para todos os efeitos e é isso que fazemos


uns pelos outros, ao menos, aqui em casa. — Ela se aproximou. — Cate,
por mais que Cassio possa te proteger, no futuro, você será mãe. Precisa
saber lutar, como usar uma arma, dirigir defensivamente, porque será você a
responsável por salvar a vida dos seus filhos. Entendo que parece ser muita
responsabilidade, mas te juro, quando engravidar, vai me agradecer de
verdade.

— Eu não sei se consigo.

— Olha, não me interessa que passaram a vida inteira te moldando


dentro de uma bolha, te limitando, agora você é uma Venturinni. Pode
apostar que consegue, sim. — Ela pegou umas faixas e bateu na minha
bunda. — Cunhada minha jamais ficará indefesa. Só vou parar quando
conseguir derrubar um homem do tamanho do Cassio. Vamos treinar todos
os dias enquanto estiver aqui e mandarei que Mariano continue em Vegas.

— Mariano não tem paciência comigo, ele me chama de cachorrinho.

Bella riu, me olhando e acenou. Okay, ela também me achava um cão


bem treinado. Estava começando a ficar com ódio do apelido, iria sair
distribuindo mordidas.

— Quando souber dar um bom chute nas bolas dele, irá parar. Vem
que vou te ensinar.

Animada, subi no tatame, onde aprendi as regras básicas de postura e


respeito, doidinha para conseguir bater em alguém duas vezes o meu
tamanho.
​VINTE E SETE | Cassio
Itália

Depois, França.

Caterina estava parada no mesmo lugar que minha mãe, comigo em


seus braços, morreu. Usando um longo vestido branco e a saia fluída ao seu
redor, aceitou uma taça de espumante que Bella ofereceu. As duas sorriram,
falando alguma coisa sobre um grupo de senhoras perto de nós e não
consegui desviar os olhos da maneira com que ela parecia brilhar. O tempo
estava ruim, por isso, nossa festa de casamento estava acontecendo no
quintal interno, que era coberto.

Nós sequer vivíamos naquela parte. O motivo era meio óbvio, para
que frequentar aquele lado da propriedade se havia uma mancha que
entristecia nosso passado? Danilo recusava-se a falar sobre nossa mãe, mas
Nanci me contou histórias de que ela era agradável, gentil, amorosa e muito
apaixonada pelos filhos. Sua maior realização era ser mãe e eu vivia
pendurado em seu colo, ainda mamava no peito.

Se não fosse parecido com meu pai, estaria morto. Se Danilo não
tivesse feito de tudo para me manter vivo, estaria morto. E agora, Caterina
estava ali, bela de uma forma que sequer poderia descrever. Sua beleza era
mais do que física, havia algo no modo com que agia que era extremamente
encantador. Longe do modo cachorrinho adestrado, estávamos nos
divertindo mais juntos e ela alimentava o homem das cavernas em mim,
sempre precisando da minha segurança e proteção. Era dela e por mais que
Bella estivesse ensinando-a a lutar, ela não fazia o tipo mulher durona.
Funcionava para nós dois assim.

Danilo estava olhando na mesma direção que eu e pela expressão


dele, tendo a mesma lembrança. Ele me deu um olhar preocupado e apenas
balancei a cabeça. Era muito provável que enlouquecesse completamente se
Caterina me traísse e perderia a minha cabeça se nossos filhos não fossem
meus, mas não foi o que aconteceu com meus pais. Mamãe não o traiu.
Nossos irmãos eram filhos do meu pai. E eu jamais permitiria que qualquer
um me envenenasse contra minha esposa.

Estava, finalmente, entendendo o que Danilo me disse sobre ser uma


frente única com minha mulher. Caterina tinha menos dificuldade com isso
do que eu. Ela se entregava, estava disposta a ser minha de corpo e alma,
porque nosso casamento era o propósito dela e eu nunca tive ninguém na
minha vida querendo tanto que desse certo, que fosse bom. Era impossível
desejar decepcioná-la. E, ao mesmo tempo, caralho…

Era para sempre. Eu e ela.

Deixei meu copo vazio em cima da mesa e fui em sua direção. Já


estava farto de estar em público e compartilhá-la com outras pessoas, eu a
queria só para mim, como a pior espécie de homem ciumento. Ela soltou a
taça, sorrindo da maneira doce que chegava a doer no peito de tão bonita e
inclinou a cabeça sutilmente para o lado, querendo entender o que eu iria
fazer. Passei meu braço por sua cintura e cochichei em seu ouvido, pedindo
para que jogasse o buquê logo para sairmos.

Eu iria levá-la para passar uma semana fora, em Paris, um lugar que
escolheu para conhecer. Só tinha ido uma vez, com a mãe, não puderam
passear muito porque o pai não havia deixado. Ela queria ser turista, fez um
plano de lugares e estava animada. Era um pedacinho de normalidade que
poderia dar a minha esposa e sua alegria até me contagiou um pouco. E eu
nem gostava da França.

Acompanhada de Bella e Nanci, foi até onde as mulheres solteiras


estavam reunidas e subiu em um banquinho, jogando as flores com
diversão. Uma menina muito jovem, minha prima, pegou e eu disse para ela
não se animar porque não iria casar tão cedo. Era melhor que se dedicasse
aos estudos. Rindo, foi eufórica mostrar para a mãe e revirei os olhos.
Tradição ridícula. Julieta nunca precisaria se preocupar, ela se casaria se
quisesse, e depois dos quarenta anos, é claro.

Um homem para chegar perto da minha sobrinha precisaria ser muito


bom. Ele poderia morrer acidentalmente ao cruzar meu caminho. Eu não
fazia ideia de como o pai da Caterina poderia dormir à noite sem estar
preocupado com a filha, porque eu não prestava e não era o tipo de genro
que nenhuma família sonhou. A sorte dele era que, apesar da fama, não
estava interessado em deixar minha mulher maluca.

Não mais do que já era.

Peguei minha esposa no meio de gritos de beijos, ela jogou os braços


nos meus ombros, ficando na ponta dos pés e a ergui, beijando-lhe na boca
enquanto tomávamos um banho de arroz branco. Acenamos para a família e
voltamos para casa. A festa iria continuar, nenhum dos convidados eram
conhecidos por ter limites quando se tratava de festejar. Meu irmão
comprou muita bebida, podendo comemorar meu casamento do jeito da
nossa família.

Caterina subiu na minha frente, nossas malas estavam prontas e ela


só queria tirar o vestido de noiva antes de sairmos. Era mais bonito que
todos os outros, por ser simples, rendado, ela nem quis usar saltos só para
continuar confortável. Seus cabelos estavam com cachos bonitos, algumas
flores delicadas e lhe ajudei no banheiro, olhando o tempo todo para seu
rosto, que exalava serenidade.

A Calábria estava lhe fazendo muito bem.

Fiquei encostado na pia, ainda de olho, e durante seu banho ela riu
um pouco, dizendo que eu parecia um maníaco. Vestiu roupas leves, calça
de linho, tênis e camiseta que tinha uma letra C em dourado, prendendo o
cabelo e trocou as joias. Tomei banho rápido, vestindo-me e ela ficou atenta
às armas que coloquei no corpo, cintura, botas e peito.

Mariano assobiou, dizendo que estava pronto. Ele iria junto e não
ficaria perto. Desde o sequestro, nenhum de nós ficava em outro país ou
qualquer lugar vulnerável completamente sozinhos. Ele até brincou que
estava na hora de conhecer uma francesa e experimentar. Caterina e Isabella
saíram da sala depois disso, sem querer ouvir mais os absurdos que Mariano
era capaz de dizer em pouco tempo.

Assis não tinha tolerância para viagens, principalmente uma que


tivesse um roteiro romântico com minha esposa obcecada por compras. Ele
preferia atirar na própria cabeça. Caterina ia fazer compras e por mais que
dissesse que não, ela faria mesmo assim. Ninguém impedia minha esposa
de torrar meu cartão de crédito.

— Estou pronta e animada para nossa viagem — ela anunciou,


pegando a bolsa. — E espero que seja tranquila. Acho que não precisamos
de mais aventuras trágicas em nossas datas comemorativas.

— Definitivamente não precisamos.


Serelepe, foi na frente quase dançando e apertou a bochecha do
Mariano quando ele fingiu latir. Ela ficava furiosa. Mas deixava que se
defendesse, era uma brincadeira inofensiva e eles jamais faltariam com o
respeito. De surpresa, Caterina jogou-se nele, como se fosse cair. Mariano e
eu nos assustamos, tentando pegá-la e em um movimento rápido, bateu com
a perna no tornozelo, desequilibrando-o. Eu o vi cair, levantando rápido
como um raio.

— Eu consegui! — Cate deu vários pulinhos no lugar.

— Trapaceira. — Mariano limpou a calça.

— Não julgue meus métodos. — Caterina abriu um sorriso. — É só


parar de me chamar de cachorrinho.

— Vai me morder? — ele a provocou.

— Cassio, faz alguma coisa! — ela reclamou, apontando.

— Para de implicar com minha mulher, vai arrumar o que fazer. —


Bati na nuca dele e abri a porta do carro. — Vamos para nossa lua de mel e
ignore esse idiota.

— Acho que vou conversar com Bella. Está na hora do Mariano


casar. — Caterina comentou bem alto, para que ele ouvisse.

— Não sabe brincar, é? — Mariano fechou a porta do carro, meio


irritado. Bella estava enchendo o saco que estava na hora dele crescer e
encontrar uma esposa, deixar a putaria. Mas era difícil desapegar da vida de
solteiro. Não que sentisse falta, só que agora, se quisesse dormir em paz, eu
tinha que dizer para minha esposa o que iria fazer ou ela me acusaria de
prejudicar a nossa comunicação.
Às vezes, só estava com um humor ruim e Caterina logo ficava com
a ponta do nariz vermelho, acreditando que era sobre ela. Era foda ter
paciência com alguém sensível. Bella tinha uma casca grossa e em muitas
vezes precisávamos nos defender dela. Cate não era assim. Ela foi criada
para ser o ponto central de uma casa e na família Venturinni, o caos era do
amanhecer até o momento de dormir.

O avião estava pronto e nos aguardando. Caterina não quis mais


beber, havia champanhe e morangos com uma decoração romântica.
Mariano colocou os pés para o alto, com o pote das frutas cheias de
chocolate por cima, bebendo o espumante e nos deu um sorriso. Alguma
coisa me dizia que iria matá-lo antes de voltarmos para casa. Ele me
atormentava até esquecermos que éramos praticamente irmãos, porra.

Caterina adormeceu pouco depois que decolamos, toda embolada na


poltrona, coberta e eu parei de mexer em meu telefone, me distraindo com a
paz de seu semblante.

Mariano ajeitou-se, ficando com a postura correta.

— Danilo e Bella são felizes — ele comentou do nada.

— E o que tem?

— Minha mãe amou demais meu pai. Ela quase matou meus irmãos.
Eu só percebi que havia algo muito errado no casamento deles quando Bella
casou com Danilo e nunca permitiu que ele fosse mais do que deveria em
sua vida.

— Sigo sem entender o que quer com essa merda de assunto.

— Você sabe, sim. Deixa de ser otário. — Mariano me empurrou


suavemente. — Parou de foder outras mulheres e até de olhar. Quando
ficava no clube, seus olhos estavam sempre nas mais bonitas.

— Isso porque no fim da noite, elas estariam quicando no meu pau.

— Tu sabe que não é só isso. Você a olha com carinho e desejo. Ela
mexe contigo, com seu lado carnal e cara… — Mariano atraiu meu olhar.
— Não jogue isso fora.

— E por que se preocupa com isso?

— Caterina me lembra Julieta. Doce, olhar gentil, sempre carinhosa


e porra, tu quer que a nossa sobrinha case com alguém que não a valorize?

Não. Eu jamais desejaria aquilo para minha sobrinha e eu não faria


com a minha esposa, só me preocupava que as pessoas ao meu redor
estavam percebendo que Caterina não era só um alguém que carregava
minha aliança. Ela estava carregando o meu coração, que não sei em que
momento, a doida conseguiu invadir tudo e chegar lá dentro. Era cedo
demais para declarações, eu nem sabia o que, de fato, estava sentindo.

Eu só tinha a certeza de que faria de tudo por ela, não somente por
um dever, por senso de honra e proteção. Faria porque era ela a mulher que
me aquecia só de olhar em meus olhos, de colocar a mão no meu peito ou
buscar meus dedos, para ficar sentada no sofá, com eles entrelaçados e
nossos pés unidos.

Na vida que levava, no mundo ardiloso que fazia parte, o amor


matava.

Foi assim com a minha mãe, enlouquecendo meu pai de ciúme e foi
assim que a mãe da Bella quase matou a família inteira.

O amor era a emoção mais perigosa de todo universo.


O amor nos mataria.
VINTE E OITO | Caterina
Paris, França

Paris era linda à noite. Cassio e eu andamos de mãos dadas pela rua
do hotel, que tinha uma visão esplêndida para a Torre Eiffel. Parei no meio
da rua e ele tirou uma foto minha, de braços abertos. Meu nariz estava um
pouco vermelho, por ter chorado com uma apresentação de rua que foi
muito romântica e ele apenas riu, me tirando de perto, porque estava sendo
muito sensível.

Estava tarde e retornamos para nosso quarto, uma suíte lindíssima.


Nunca imaginei que minha lua de mel seria gostosa, ainda bem que foi
meses depois do nosso casamento. Se fosse em sequência depois do
sequestro ou não, seria bem estranho. Éramos completamente
desconhecidos um para o outro. Nossa proximidade, estava sendo gradual e,
ao mesmo tempo, eu não me sentia mais tão pressionada em fazer o
casamento dar certo, em conquistá-lo, em ter seu respeito e reproduzir tudo
que aprendi incansavelmente nos últimos anos.

Cassio não queria uma esposa perfeita, queria o meu respeito e


fidelidade, sendo leal a ele como homem, conselheiro e chefe, era tudo que
lhe interessava. Era estranho porque minha mãe fez parecer que precisava
controlar tudo minuciosamente para sobreviver a um casamento e depois de
conviver com meu marido, estava perdendo esse medo. Por que ele me
mataria? Sendo mulher, era uma peça frágil no jogo, o sequestro foi a maior
prova disso, mas eu não tinha medo dele e muito menos do restante da
família.
Eu me sentia acolhida.

Depois do banho e de colocar uma camisola bonita, parei em frente à


janela, olhando a cidade e fiquei um pouco arrepiada ao pensar em tudo que
vivi.

— O que foi? — Cassio parou atrás de mim, colocando as mãos nos


meus ombros e pressionou os polegares, fazendo uma massagem gostosa.
Relaxei contra ele. — Está cansada? Andou muito hoje.

— Obrigada por me levar em tantos lugares legais.

— Não quer falar?

— Não quero estragar nosso bom clima.

Cassio me virou para poder olhar em meus olhos.

— Conte — determinou.

— Lembrar do sequestro ainda não é um momento que consigo não


reagir. Fico toda… sei lá, bate medo. Um sentimento ruim de extrema
impotência, porque eu nem consegui me defender. E eu tentei me segurar
no pneu, me agarrar em alguma coisa… — falei baixinho. Cassio encostou
a testa na minha, respirando fundo, me apertando em seus braços e fechei
meus olhos, desejando me fundir a ele. — Eu me sinto falha. Isso não pode
ser normal.

— Claro que é normal. — Ele esfregou os lábios suavemente na


minha testa.

— Você não sabe, para com isso. — Bufei, meio irritada. Eu não
queria compreensão, era um sentimento estranho que parecia que ninguém
iria entender.
— Sequestro é uma ocorrência na nossa família. — Cassio afastou-se
um pouco. — Assis quase morreu em um, Bella lutou por ele, pela própria
vida, estando grávida. Ela levou muito tempo para deixar de ter medo de ser
pega dentro do carro. E eu…

— Não sabia que eles tinham passado por isso — murmurei e parei,
percebendo que ele ia contar algo. Franzi meu cenho, entendendo o que iria
dizer. — Você também, Cassio?

— Lembra quando te disse que cheguei a fazer faculdade e não


terminei? Bom, eu fui sequestrado no último semestre. — Ele deu um
sorrisinho e percebi que foi para amenizar a dureza de seu olhar, que foi se
transformando. — Quando Bella foi levada por causa da mãe dela, Danilo
provocou um caos entre gangues no lado sul da cidade, ele matou muita
gente, foi devastando onde passava para poder encontrá-la e anos depois, a
vida em Vegas estava muito tranquila. Especialmente quando Rizzo veio
para assumir o lado da famiglia.

Fui até a cadeira porque precisava sentar. Ele pegou o cigarro,


acendeu e abriu a janela, começando a fumar.

— E o que aconteceu? — Engoli em seco.

— Estava distraído, guarda baixa, fui pego fazendo um estágio


estúpido e eles… — Cassio parou de falar, trincando os dentes, furioso. —
Eles…

— Tudo bem. Entendi.

E entendia mesmo.

— Não eram só homens, eram mulheres também e elas eram


implacáveis, cruéis… — refletiu, olhando para fora e virou o rosto na
minha direção. — Eu vou te proteger com a minha vida, para sempre,
mesmo quando não tiver mais forças, mas depois disso, não confio em mais
ninguém. Não confio nem mesmo na história de que mulheres são
inofensivas.

— Elas te… tocaram à força? — questionei, mordendo o lábio.

Cassio não falou nada. Ficou olhando para a janela, tragando o cigarro
e pela força que apertou a madeira, não precisava que entrasse em detalhes.
Levantei e toquei seu ombro, mas ele estava tão tenso que simplesmente
não se movia, trincando o maxilar. Passei por baixo do seu braço, me
enfiando entre seu peitoral e a janela, apoiando as mãos no parapeito e subi,
sentando. Ele estava com um olhar perdido, doloroso, como um mar revolto
em noites de tempestade.

Apaguei o cigarro e, lentamente, toquei-o. Levei minhas mãos até


seus bíceps, puxando-o para mim e fiz com que me abraçasse. Seu coração
estava acelerado.

— Você tem pesadelos em algumas noites — falou baixo.

— Eu tenho? Não lembro.

— É uma sorte linda o seu sono ser tão pesado, eu gosto de te


observar dormir.

— Isso é meio stalker — brinquei para aliviar a tensão. — Faz sentido


que alguns dias me sinto tão cansada ao acordar. E você? Tem?

— Se eu dormisse muito, provavelmente, sim, mas eu não preciso


estar dormindo para lembrar de tudo, que elas tocavam no meu pau
incansavelmente até ficar duro, brincando comigo e com a minha sanidade,
o medo que senti de ficar doente e em morrer em todas as vezes que eles me
batiam até que perdia a minha consciência, filmando, para brincar com a
sanidade de Danilo. — Ele continuou falando baixo e engoli o acúmulo de
saliva, que me deu vontade de vomitar. — Foi como um sonho o dia que
Mariano me encontrou. Assis conseguiu me rastrear, eles quebraram a
minha pulseira, mas por algum motivo muito bizarro, ela voltou a funcionar
bem fraco.

Olhei para minha própria pulseira, toda arrepiada e com o sentimento


amargo de que, se soubesse que era um rastreador, nunca teria tirado, nem
mesmo no dia do casamento. Mamãe insistiu, dizendo que as pedras de rubi
não combinavam com meu vestido e as demais joias.

Quando soube o que era, nunca mais tirei. Não importava se


combinava ou não, era bonita, delicada e muito importante.

— Eu sinto tanto, Cassio. Sinto muito de verdade. — Toquei seu rosto


e beijei seus lábios. — E obrigada por não sentir raiva de mim mesmo com
tudo que passou na mão de outras mulheres. Eu não sei se ao ser abusada,
conseguiria chegar perto de algum homem. Acho que sentiria medo ou
raiva, mas nunca senti isso de você. Quando me pegou lá no chão…

Fechei meus olhos para conter as lágrimas.

— Não chore. — Cassio beijou cada pálpebra. — Você é tão


preciosa…

Pedindo para segurar-me nele, ficamos abraçados na janela até que me


levou para a cama. Não fizemos sexo naquela noite, só ficamos muito
juntos, sem nos soltar, com uma necessidade de estar sempre sentindo a
presença um do outro. Ele acordou antes, sentei meio desorientada, com
fome e olhei a hora. Tínhamos combinado de sair para um passeio mais
pomposo, nos dias anteriores, saímos de maneira mais discreta para não
atrair atenção e andar bastante.

Até fomos em uma loja interessante, comprei pela primeira vez um


brinquedinho sexual e Cassio usou em mim, me fazendo gozar de um jeito
que nunca imaginei ser possível. Aquela coisa vibrando no meu clitóris,
massageando e ele metendo junto, puta merda, muito bom!

Levantei meio sonolenta e fui para a sala, encontrando Cassio com


uma calça social preta, camisa branca bem passada ainda aberta e um jornal
francês no colo. Em alguns momentos, parecia que precisava me beliscar ao
vê-lo relaxado, calmo, sem tanto ódio ou indiferença no olhar. Depois do
que soube na noite anterior, entendi que nem tudo sobre seu humor tinha a
ver comigo e nosso casamento basicamente forçado, afinal, foi uma aliança
política.

Ele tinha muitos demônios para lutar e talvez, nem desejasse impedi-
los de dominá-lo, por fazer parte da sua essência e ser necessário para
sobreviver no meio em que vivíamos. Mas puta merda, como o homem era
lindo, gostoso e felizmente, meu da cabeça aos pés.

— Bom dia, meu doce anjo — Cassio cantarolou e fui em sua direção,
como uma mariposa atraída pela luz. Sentei em seu colo, tirando o jornal e
beijei seus lábios. Ele foi repetindo bitoquinhas até me fazer rir.

— Você dormiu bem, marido?

— Eu acho que dormi muito melhor do que imaginei.

— Então, o segredo do nosso bom sono é ficar agarradinho? — Levei


meus lábios para sua orelha, provocando com beijos atrevidos no pescoço.
— Cacete, se for assim, eu vou te grudar em mim, porra — ele
grunhiu, gostando muito do que estava fazendo. Dei-lhe um beijo, daqueles
que dizia que estava disposta a voltarmos para cama e praticar algumas
boas coisas porque era nossa lua de mel. — Caralho, Caterina.

Ele baixou a rendinha do sutiã, chupando meu peito e do nada, me


ergueu. Soltei um gritinho, rindo, fui jogada na cama bruscamente. Tirei
minha camisola, jogando-a longe e entre os travesseiros, observei-o se
despir com muita calma. Foi tirando a camisa como um show, deixando na
ponta e abriu a calça. Lambi meu lábio ao ver o formato do seu pau na
cueca, inclinei-me para frente e o beijei, arrastando minha boca pela
extensão e pressionei a cabeça.

Cassio agarrou meu cabelo, ficando nu, e implorou que o chupasse


logo com uma voz manhosa, sexy, vinda do profundo de sua garganta. Sem
desviar os olhos de seu rosto, levei tudo bem devagar só para saborear seu
gosto e pelo prazer de vê-lo gemer, fechando os olhos, completamente
perdido.

— Sou louco por você, porra.

Soltei seu pau com um estalo e ele deu uma risada sombria.

— Simplesmente quero te comer de quatro, batendo nessa bunda.


Estou até perdido, porque também te quero quicando em cima de mim.

— Acho que temos o dia inteiro para fazermos muitas coisas.

— Eu gosto disso. — Ele agarrou meu pescoço e me beijou,


beliscando meu mamilo, com um puxão doloroso que me trouxe um raio de
excitação tão forte que até poderia gozar. — Eu adoro a maneira que seu
corpo reage entre o prazer e a dor.
— Me ensine mais — pedi, segurando sua nuca.

— Quer uma foda rude? Ah, você terá.


VINTE E NOVE | Caterina
Paris, França
Depois, Itália

Cassio empurrou o vibrador na minha boceta enquanto provocava meu


outro buraco com a língua. Eu gostava tanto daquilo que não tinha espaço
para sentir vergonha devido ao tamanho da intimidade que aquilo
significava. Era demais. Implorei baixinho, desconexa e ele apenas riu,
maldoso, dando uma boa mordida na minha nádega e dizendo que não iria
parar.

Eu tinha a sensação de que se tivesse outro orgasmo, iria desmaiar.


Encharcada e sensível, tremi, toda arrepiada, com tanto tesão que havia uma
parte minha que também não queria parar. Cassio empurrou-me em uma
nova posição, relaxando a tensão das pernas.

— Eu quero você — falei baixo.

— Sei disso. Você me tem. — Cassio me deixou sentir seu peso. Eu


lhe dei um abraço, arranhando suas costas. Soltei um gemido profundo ao
ter seu pau todo dentro de mim. — Porra como isso é bom, baby.

— Sou louca por você.

Aquela dança era sensual, intensa, maravilhosa e só nossa. Eu não


tinha mais forças para aguentar uma nova onda de gozo e senti que meu
mundo balançou com a maneira em que o orgasmo me fez sentir fora de
órbita. Cassio gozou, gemendo gostoso no meu ouvido e me beijou em
seguida.
Ele rolou para o lado, ofegante. Suados, ficamos encarando o teto e
começamos a rir sem parar. Virei para me encaixar em seus braços, ciente
de que precisava levantar para tirar o suor e outros fluidos do corpo, porém,
minhas pernas tremiam. Sendo mais ativo e completamente dominado pela
adrenalina, ele me puxou para o banho. Mas sua energia durou dez minutos.

Amava nossos momentos de normalidade. Um cochilo na cama


agarradinhos era uma delícia. E quando levantamos, trocamos de roupa para
encontrar com Mariano para jantar. Apesar de ficar por perto, ele encontrou
companhias francesas para se divertir, caprichando no sotaque italiano para
atrair a mulherada, que não fazia ideia do perigo que era se envolver com
um homem como ele.

Eu achava muito arriscado. Uma moça poderia sair ferida só de ser


vista ao lado dele. Mariano jurou que era discreto e foi somente diversão. E
do jeito que um monte de garotas rodava em sua cama, ele gostava mesmo
de se divertir. Os irmãos Mansueto diziam não desejar o casamento e
gostavam da vida de solteiro.

Em parte, sentia muita insegurança que Cassio sentisse falta da


variedade por estar sempre acompanhado deles, outra parte, que tentava ser
mais madura, dizia para confiar nas palavras e atitudes dele em relação a
mim. Não era honrado mentir para uma esposa. Ele tinha que cumprir a sua
palavra e somente por isso, não surtava de vez.

Era muito difícil não sentir ciúme. Cassio era extremamente


possessivo e controlador, ficava louco com minhas roupas e biquínis, não
permitia que os homens me olhassem ou me cumprimentassem. Nunca me
deixava sozinha sem ser com seus irmãos, Danilo, Assis e Mariano (sendo
os dois últimos de consideração).
— Quer aprender a jogar pôquer? — Mariano ofereceu, depois de
jantarmos um delicioso peixe com massa e legumes.

Minha mãe nunca permitiu que jogasse algo tipicamente masculino.


Ela dizia que a mesa de homens e charutos não era um local adequado para
uma dama.

Meu marido discordava, só me puxou para seu colo, me ensinando as


regras e para tomar cuidado.

— Mariano é um filho da puta trapaceiro — ele murmurou com um


sorrisinho.

— Isso é mentira, cazzo. Sou apenas muito bom no que faço!

— Bom em roubar — Cassio adicionou secamente.

— Roubar, matar e destruir. — Mariano abriu um sorriso orgulhoso.

— Otário.

Não era muito simples jogar com os dois me olhando, eu me distraía


muito fácil. Ao invés de ficar de olho neles, acabava esquecendo a minha
vez e, obviamente, perdi. Eles riram muito das minhas tentativas e tiveram
pena, mudando o jogo para algo que pudesse participar porque iríamos
embora de madrugada, de volta para a Itália.

Cassio ainda não tinha uma previsão do nosso retorno para Vegas, por
ter muito o que fazer com Danilo. Estavam com novos planos, mercadorias
e um restaurante bem na divisa entre territórios, no qual a inauguração
estava sendo cuidadosamente planejada. Eu estava bem com essa
temporada fora, gostava de ficar no meu país e me sentia em casa com a
família dele até o momento, só esperava que isso não mudasse.
O processo para embarcar foi tranquilo e precisamos esperar na
aeronave para decolar. A tripulação era a mesma, porém, o fato de ficarmos
parados na pista trouxe um sinal de alerta para Cassio e Mariano. Acreditei
ser apenas um contratempo, mas seria estupidez da parte deles não se
preocuparem.

Fiquei quieta, brincando com minha aliança e passei o dedo em uma


cicatriz pequena que ganhou uma queloide. Era um ponto gordinho entre
meus dedos, brinde do sequestro, uma lembrança constante.

Mariano foi para os fundos do avião quando o piloto informou que


iríamos decolar e Cassio prendeu meu cinto, olhando-me, segurando minha
mão e passando o polegar no mesmo lugar, com carinho. Ergui o rosto,
sorrindo com igual carinho em sua direção. Ele sustentou meu olhar com
ternura, me fazendo sentir arrepios de borboletas no estômago.

— Eu amei a nossa lua de mel e espero que possamos passar mais


tempo juntos conhecendo outros países.

Cassio inclinou-se e beijou minha boca. Antes de se afastar, beijou


cada feridinha já curada fisicamente há muito tempo. Emocionalmente,
talvez, precisasse de um pouco mais de tempo.

— Teremos bastante tempo para aproveitarmos muitas viagens juntos


— Cassio prometeu e assenti, encostando a cabeça em seu ombro.

Cansada, soltei um bocejo, pronta para tirar um cochilinho durante o


retorno para casa e acabei dormindo bem pesado, acordando no susto com o
pouso. Mariano tirou uma foto minha toda bagunçada, meio babada e
exausta. Dei-lhe o dedo médio, sem poder acertá-lo e esperei o momento
certo de sairmos. Ao chegar, a casa ainda estava quieta, as crianças com os
pais e Nanci no mercado, então, aproveitei para subir e dormir de novo.
— Bella sentiu muito sono durante a gravidez de Julieta, ela mal
ficava acordada. Se sem estar grávida você dorme assim, imagina quando
formos abençoados com nosso bebê?

Eu virei, divertida e um pouco derretida por ele ter se referido aos


nossos futuros filhos como bênçãos. Saber que prestou atenção na gestação
da cunhada mostrava um lado dele que era familiar e carinhoso, que se
aflorava muito na Itália. Cassio estava um pouco diferente comigo.
Carinhoso, apaixonante. Beijei seus lábios. Ele puxou a colcha para cima de
mim, me embalando como se fosse um charutinho.

Fiquei em minha posição favorita, pegando no sono novamente e


dormi tanto que acordei completamente desorientada na hora do jantar.

Meu estômago estava rugindo de fome, sentei, olhando meu telefone e


vi que tinha mensagens da minha mãe. Tomei banho e Cassio entrou no
quarto, com uma expressão preocupada.

— Cheguei da rua agora com Danilo e Nanci me disse que ainda


estava dormindo. — Ele tirou a jaqueta de couro, puxando a camisa, todo
suado. — Você está bem?

— Eu não sei o que houve. Simplesmente não acordei, mas foi uma
cochilada renovadora. — Sequei o cabelo, enrolada no roupão.

— Chama dormir o dia inteiro de cochilo? Duvido muito que irá


dormir mais tarde.

— Conto com meu marido para me ajudar a passar a noite em claro.


— Balancei as sobrancelhas, divertida. Cassio parou atrás de mim, mesmo
todo molhado porque lá fora estava quente e era muito provável que
estivesse no depósito, dando uma olhada nas coisas da casa que eles
queriam se desfazer.

— Minha esposa está muito safadinha. — Mordeu meu ombro.

— Aprendi com o melhor. — Abri um sorriso e o empurrei para o


chuveiro.

— Nanci fez lasanha, nada de voltar a dormir, já ficou muito tempo


sem comer.

Bati continência para o seu tom mandão e saí do banheiro. Meu


telefone estava tocando com uma sequência de mensagens da minha mãe,
meio que reclamando que sumi, mas estava puta da vida que ela só fazia
perguntas e nunca respondia as minhas sobre minha avó, meus irmãos,
sobrinhos e cunhadas. Parecia que era proibido saber sobre eles, como se eu
fosse uma inimiga, sendo que esse tipo de relação foi o que mais me alertei
quando fui prometida em casamento a Cassio.

Era sem graça, parecia que estava sendo entrevistada e isso me


incomodava. Eu odiava a sensação de que estava sendo investigada e não
compartilhei meus pensamentos com ninguém.

Cassio e eu descemos juntos, encontrando as crianças em seus lugares.


Os meninos estavam arrumados como dois príncipes, de banho tomado,
comendo salada. Bella estava de braços cruzados, olhando-os, arqueando a
sobrancelha de uma maneira assustadora que me deixou com medo.

— Quando eu descobrir o que vocês fizeram, não haverá caverna


nesse mundo em que poderão se esconder — ela sibilou como uma mãe
furiosa.
— Não sei do que está falando, mamãe. — Félix abriu um sorriso
encantador que parecia muito com o do pai e do tio. Ele furou um tomate-
cereja, enfiando-o na boca e Fabrizio continuou comendo como um
anjinho.

Cassio puxou uma cadeira para mim e me sentei, colocando um


pedaço generoso de lasanha no prato enquanto Julieta pedia para sentar no
meu colo. Dividi-me entre comer, dar as colheradas de sua comida e não
nos sujar muito. Não estava acostumada, mas ela gostava de mim e era uma
criança muito doce. Impossível não se apaixonar.

Danilo desceu de banho tomado e sentou-se na cabeceira, nos


desejando Boas-vindas. Nanci foi pegar a sobremesa quando terminamos,
feliz por ouvir que nossa lua de mel foi boa e não teve nenhum
contratempo. Mamãe me enviou mais mensagens, respondi que estava bem,
mas não entrei em detalhes porque Bella me chamou para bebermos vinho
na varanda em frente à piscina, para termos um momento de meninas e
colocou o pai e os tios para cuidar das crianças.

Pegamos colchas, frutas, queijos e as taças, criando um clima


agradável.

— Eu não sou uma pessoa sociável — Bella começou falando e a


olhei, confusa. — Fui criada com meus irmãos e só depois de muito tempo
compreendi a nossa relação. Casei cedo, Danilo me ensinou muito sobre
amor e família. Meu pai também mudou depois que minha mãe morreu e
principalmente com a chegada de Alessa à nossa vida.

— Entendo.

Na verdade, não entendia muito por que ela estava conversando


comigo sobre aquele assunto.
— E como não sou sociável, acabo me distanciando muito das
pessoas, principalmente de quem não conheço. Somente ontem percebi que
você é muito mais jovem que eu e também, casou muito nova. — Ela deu
um gole do vinho. — Quero que saiba que se precisar de uma irmã e uma
amiga, estou disposta a construirmos essa relação. Até que meus irmãos se
casem, precisamos unir forças nessa família — finalizou com uma
piscadinha engraçada, mas aquilo me emocionou demais, porque eu me
sentia sozinha e acabava ficando grudada em Cassio o tempo todo.

Não que pensasse que o soltaria, mas talvez, ter uma irmã mudasse
bastante a minha rotina. Ergui a minha taça, brindamos divertidas e comecei
a contar sobre como foi minha viagem com Cassio e o quanto me sentia
apaixonada por meu marido. Eu sentia muito medo que o amor me
destruísse e ainda assim, não era o suficiente para frear o ritmo louco pelo
qual meu coração batia por ele.
TRINTA | Cassio
Calábria, Itália

Caterina estava ensinando Julieta a nadar com toda paciência e


carinho. Ela era amorosa e paciente, eu tinha que sair e ainda estava em
casa, só enrolando. Danilo ainda não tinha desgrudado da esposa, então, me
dei ao luxo de ficar jogado no sofá um pouco mais. Elas acenaram da água,
animadas, e sorri, com meu telefone e arma na barriga, pensando em pedir
para Nanci uma vitamina de frutas vermelhas que só ela poderia fazer.

Meu telefone vibrou e, ao mesmo tempo, vi Mariano dar um salto na


cadeira, quase derrubando a outra de madeira à sua frente. Li a mensagem e
fiquei em pé também, repentinamente estressado ao saber que nossa casa
em Vegas estava sendo atacada. Elas também se assustaram. Apesar de não
saber o que acontecia e sem ouvir nenhum barulho estranho ao redor,
peguei as toalhas, enrolei ambas e conduzi minha esposa e sobrinha para
dentro.

Ordenei que a casa fosse fechada e os homens ficassem atentos pela


Villa enquanto Danilo descia a escada às pressas.

Minha esposa nunca questionava nada. Ela pegou os meninos,


levando-os para o quarto, Bella apareceu no topo da escada e depois,
desapareceram juntas. Ciente de que ficariam seguras, voltei para onde
estavam meus irmãos, em ligações com nossas equipes de Vegas. Eles ainda
não tinham informações sobre quem havia feito isso ao certo, porém, houve
uma troca intensa de tiros na região, que era muito afastada do centro
urbano.
Fernando estava gerenciando os danos, mas não saber trouxe uma
agonia até o momento em que as coisas se acalmaram e eles não tiveram
abertura para capturar nenhum dos homens com vida. A falta de tatuagens
que identificariam o grupo nos fez ter certeza de que se tratava dos nossos
novos inimigos.

— E por que eles ousariam atacar nossa casa se não estamos lá? —
Danilo apoiou as mãos na mesa.

— É porque eles não sabiam que não estamos. — Olhei para a janela
fechada, pensativo. Não era um ataque ali, ao que parecia, era seguro. O
problema estava em Vegas e com a diferença de fuso horário, a noite seria
muito longa para eles, assim como seria um dia extremamente agoniante
para nós.

Possibilidades sobre quem poderia estar financiando os nômades,


havia muitas. Eles eram um grupo determinado a causar o caos como
cortina de fumaça para conquistar territórios. Estavam tentando entrar em
cidades em que a máfia era predominante, o que eu podia supor que havia
um inimigo com muitos recursos por trás. O que aconteceu com o senador e
o sequestro de Caterina como consequência foi a porra da ponta do iceberg.

Sem falar nada, dei as costas e peguei meu notebook, abrindo o mapa.
Danilo ficou andando atrás de mim, esperando o momento que quisesse
compartilhar os meus pensamentos. Antes de falar, era bom pensar e
analisar bem algumas coisas que já vinha pensando.

— Está tudo bem? — Bella apareceu suavemente. — Devemos ir para


o solário?

— Não, baby. Desculpe, deveria ter avisado. — Danilo foi até ela. —
As crianças estão bem?
— Os meninos ficaram um pouco irritados de ficar no quarto, acho
que eles pensam que já são homens. — Ela revirou os olhos discretamente.
— Deixei Cate cuidando da Julieta, para distrair, e conversei com ambos. O
que aconteceu?

— A casa de Vegas foi atacada. Não houve danos, além de algumas


coisas quebradas. — Danilo esfregou os braços da esposa. Bella arregalou
os olhos, preocupada. — Mas ainda assim, irei mandá-los para a villa de
praia.

Desde que a nossa casa foi invadida, aprendemos a criar uma rota de
fuga para o lugar mais seguro. Era praticamente impossível passar pela
fortaleza da Villa da casa dos meus avós maternos. Ali era lindo, à beira do
mar e foi por isso que ficamos vulneráveis com um plano muito filha da
puta. Eles não obtiveram sucesso e graças a isso, descobrimos que nossos
tios eram os que foderam com a nossa família há muitos anos.

Eu estava com raiva há muito tempo, era algo comum e recorrente


dentro de mim, mas toda vez que lembrava que minha mãe morreu por
inveja e fofoca, meu coração disparava uma quentura pelo meu corpo que
era difícil controlar meus impulsos.

— Meu pai está dizendo que não encontrou rastros de qualquer


formação fixa dos nômades, mas pelas câmeras de trânsito é possível ver
que estavam agrupados e prontos para um ataque, saindo em sincronia perto
da hora do jantar. — Assis disse depois de ouvir a mensagem de Fernando.

— Receberam algum tipo de alerta? — Mariano franziu o cenho. —


De quem? De um dos nossos? O que tem na nossa rotina nesse horário?

Cocei meu queixo, pensativo.


— Geralmente, já estamos em casa no jantar porque Caterina tem
cozinhado. Mas isso não quer dizer nada, os poucos que sabem o que
fazemos, vivem conosco. Não estamos lá, por que vazariam uma
informação para um ataque?

Não considerava a possibilidade de uma traição porque simplesmente


não fazia sentido. Atacaram sem possuir a certeza de que estávamos em
casa ou não. Isso era bom por um lado, por não ter feridos e o grupo em
Vegas pôde reagir a tempo. Por outro, era ruim: se estavam dispostos a
arriscar, significava que poderiam ir até as últimas consequências.

E eu tinha que ter bons planos nas mangas para manter minha família
protegida acima de tudo. Dali mesmo, passamos a acionar nossos contatos,
verificar entre subchefes e associados qualquer mísera informação suspeita.
E levou tempo. Nanci nos preparou sanduíches, Bella manteve as crianças
no segundo andar e à noite, com o amanhecer mais calmo nos Estados
Unidos, fui até meu quarto.

A tensão era grande no corpo, queria foder, e rude, para dissipar o


ódio. Caterina estava no banho, e pelo cheiro de produto, lavando o cabelo.
Seu telefone estava carregando ao lado do leitor digital e um caderno de
couro, que me despertou a curiosidade. Peguei e abri, era um álbum, parecia
novo.

Nas páginas, fotos nossas recém-coladas. Ela estava registrando


nossas memórias como casal, mas também havia outras fotografias com as
crianças e o restante da família. Abaixo de cada, uma legenda escrita a mão.
Selecionei uma caneta colorida e escrevi um recadinho em uma das fotos
que tirei dela em Paris, próximo à janela.
Caterina estava linda com um vestidinho esvoaçante, olhando sobre os
ombros e um corar nas bochechas adorável. Alguns segundos depois que a
fotografei, nós fodemos muito gostoso, ali mesmo. Fiquei de pau duro só de
lembrar de sua bunda empinada, os gemidos contidos porque a janela estava
aberta com a vista da Torre Eiffel ao fundo.

Excitado, fui atrás dela. Caterina abriu a porta de vidro do boxe, com
um semblante preocupado.

— Está tudo bem e eu vou entrar aí com você.

— Fiquei aflita, me distraí fazendo nosso primeiro álbum de família,


ajudei Bella com as crianças e não quis descer para não atrapalhar. — Ela
soou doce, me dando espaço para entrar, tocando meu peitoral. A água
estava morna, uma temperatura bastante agradável. — E por que meu
marido está assim?

— De pau duro? Saudades de você.

Era uma verdade simples e assustadora, mas eu não temeria o fato de


que senti falta da minha mulher o dia inteiro.

Caterina abriu o sorriso mais lindo e verdadeiro, me abraçando e logo


minha boca estava na dela. Porra, como ela beijava bem. Deliciosa. Apertei
a bunda gostosa, adorando o gemido que escapou de seus lábios. Dando um
pequeno passo para trás, apoiou a mão no vidro e me deixou explorar o colo
dos seios com a boca.

Segurando o peito, me ofereceu para chupar. Ela me enlouquecia.

O banho a dois foi tudo que precisava. Sua bunda ficou vermelha com
os tapas que dei com a mão molhada. Esperei que secasse o cabelo, fazendo
minha barba e fomos para o quarto juntos, ainda sem roupas. Deitei na
cama, precisando de um tempo. Caterina montou no meu colo e ficou
agarrada em mim como uma mochilinha.

— Eu também senti sua falta.

— Gosta quando fico te enchendo o saco?

Olhando em meus olhos e depois para minha boca, sorriu de lado.

Foda. Eu a queria de novo. Quando o desejo insano iria diminuir?


Quando a pressa de estar junto pararia de me dominar? Puta que pariu, eu
me tornei escravo dela.

Com uma risadinha safada, deitou de lado, deixando claro como me


queria. Transar beijando daquele jeito expulsou tudo de ruim do meu peito,
estava em paz e por esse motivo, não quis sair da cama. Buscaria nosso
jantar quando a fome batesse, mas queria ficar isolado com ela.

Caterina dormiu e ainda fiquei acordado, com a televisão ligada, sem


poder me mover pelo modo com que estava grudada em mim. Seu telefone
vibrou algumas vezes, primeiro era Bella, mandando fotos, depois, sua mãe.
A mensagem na tela me fez olhar, abri e li. Ela queria saber com urgência
se Caterina estava bem.

Rolei a tela e percebi que não se falaram o dia inteiro. Mas duas
coisas me chamaram a atenção. Cate enviou uma foto de si mesma na
academia da nossa casa como se estivesse malhando, mas naquele horário,
estava bebendo vinho com Bella na varanda. Depois, enviou uma que
estava cozinhando, mas era a cozinha de Vegas.

O horário me fez ligar os pontos e eu precisava de respostas antes de


surtar.
Beijei sua boca, a bochecha, pontinha do nariz, acordando com
carinho.

— Estou com fome.

Foi a primeira coisa que falou antes de abrir os olhos.

— Eu vou pegar a nossa comida. Bella te enviou fotos, andou tirando


algumas sensuais?

— Fofoqueiro. Era surpresa! — Me deu um tapa no peito.

— Eu não abri, só vi na tela. Também li suas mensagens com sua


mãe. Por que está agindo como se estivéssemos em Vegas?

Cate ficou séria.

— Estou um pouco magoada. Não quis compartilhar minha vida…

— Por quê?

— Ah… — Mordeu o lábio. — Eu estou chateada que para minha


família, fui como um produto bonito na vitrine para ser entregue para o
primeiro acordo lucrativo. É como se eu não fosse importante, nunca sei
nada, não falam sobre suas vidas, só tem perguntas, é um saco. Decidi que
também não vou falar nada direito. — Ela olhou para mim. — Por mais que
perceba muitas coisas erradas dos meus pais comigo agora e uma diferença
no modo de ser família, eu sei que também recebia amor. Também fiz parte
deles para agora me sentir uma completa estranha. E você também pediu
para que eu não falasse tudo…

Percebi que pelo modo que seus olhos encheram-se de lágrimas,


estava triste de verdade.
— Obrigado por respeitar isso e eu sinto muito. — Beijei sua testa.

— Está tudo bem. Eu só… não controlei o desabafo.

— Esse beicinho é lindo.

Ganhei um sorriso entre a emoção e fui buscar a nossa comida. No


meio do caminho, convoquei meus irmãos. Eles desceram às pressas,
entrando na cozinha e me encontraram com o telefone de Caterina.

— Eu estava muito bem, prestes a transar, agora que meus filhos


dormiram. É melhor que seja muito bom e importante. — Danilo estava
irritado.

Entreguei o aparelho para Assis.

— Por que Cate está mentindo para a mãe? — ele questionou e vi o


momento em que ele observou a hora, fazendo o cálculo do fuso horário. —
Merda.

— O que foi, caralho? — Danilo perdeu a paciência.

Cruzei os meus braços.

— Já sei o que aconteceu. Chicago está por trás dos ataques e agora, é
guerra.
TRINTA E UM | Caterina

Cassio desceu para buscar nossa comida e nunca mais voltou. Ainda
levou meu telefone, sem me dizer o motivo, mas estava com tanto sono que
não perguntei. Sentei, puxando meu roupão de cetim e amarrei o laço,
pegando as canetas coloridas e o álbum para continuar escrevendo as
legendas das fotos, vendo que o engraçadinho do meu marido escreveu uma
nota bem pervertida. Nossos filhos nunca poderiam ver aquilo depois de
aprenderem a ler. Eu ri e escrevi uma resposta abaixo, mudando de página.

Ele finalmente retornou com sopa de creme de cebola, pães e salada.


Saí da cama para a mesinha do canto, já beliscando e percebi que seu olhar
estava diferente, não mais tão leve depois do nosso cochilo juntos. Afundei
o pão na sopa, tentando decifrá-lo e mordi, mastigando com calma. Cassio
me entregou uma colher, quieto, comendo comigo e colocou a mão na
minha coxa ao terminar, porque sempre acabava antes mesmo. Eu me
inclinei e beijei sua bochecha, agradecendo por ter descido para pegar nosso
jantar.

— Estão todos recolhidos?

— Sim. Foi um dia intenso. — Ele arrastou o pão no fundo da vasilha.

— E está tudo bem?

— Na verdade, não. — Cassio recostou, olhando-me com cuidado. —


As coisas vão ficar um pouco mais violentas nas próximas semanas.

— Por quê?
— Não acreditamos que seja coincidência. A mensagem para sua mãe,
fingindo estar no jantar, pode ter sido um alerta. Ela perguntou se estava em
casa e o que fazia, você respondeu e, um minuto depois, o agrupamento
recebeu o alerta e saíram em direção à nossa casa. É possível ver nas
imagens que eles estavam aguardando um sinal — Cassio me explicou e eu
me senti gelada, sem saber o que pensar. — Não é segredo que seu pai ficou
muito infeliz que matei o Senador e o provoquei abertamente.

— E minha mãe teria algo a ver? Ela permitiria que alguma coisa
acontecesse comigo? — vociferei, defendendo-a. — Cassio, mamãe jamais
faria parte de algo para me matar! Eles atacaram a nossa casa! Depois de
tudo que passei, eu…

Cassio segurou meu rosto, olhando em meus olhos.

— Antes de ser sua mãe, ela é uma esposa obediente e submissa, além
do mais, ela fala com você por vídeo. Não sabemos se é ela por trás das
mensagens de texto.

— Ai, meu Deus! Cassio! — Eu me afastei, puxando meu cabelo, e


fiquei de pé, nervosa, andando de um lado ao outro. — E se as ligações de
vídeo às escondidas foram a maneira dela me alertar? Sempre desligava do
nada, parecendo estar sozinha ou fazendo escondido.

— Talvez ela tenha dado sinais que você não percebeu ou não soube
como dizer. Mas talvez, não exista inocentes nessa história. Sei que é sua
mãe, mas sou seu marido e não vou permitir que nada te machuque, nem
mesmo a sua família. Espero que isso fique bem claro, Caterina. Se eu
confirmar que seus pais estão por trás desse ataque, eu vou matá-los —
Cassio anunciou com frieza e meu estômago despencou aos pés.

— São meus pais, Cassio. Ela é minha mãe.


— Não chore, Caterina. — Ele ficou em pé, andando na minha
direção e recuei.

— Ela não me machucaria. Não a mate, por favor. — Comecei a


chorar, desesperada.

— Meu amor… — Encostou a testa na minha. — Nada vai me


impedir de proteger a nossa família.

— Mas os chefes sabem disso? Danilo vai contar para eles?

— Teremos uma reunião pessoalmente amanhã, no nosso ponto de


encontro.

— É uma acusação grave, pode gerar uma guerra entre as famílias e


isso… ai meu Deus, Cassio! — Cobri meu rosto. Ele me abraçou,
esfregando minhas costas. Ouvi uma suave batida na porta, com um
chamado do lado de fora. — Terá que sair agora?

— Temos que nos organizar, armar um bom plano caso a conversa se


torne sangrenta, além de manter vocês bem seguras aqui. — Ele olhou em
meus olhos. Meu coração acelerou e comecei a hiperventilar. — Não, não
fique assim, acalme-se. — Cassio me levou para a cama, ficando de joelhos
entre minhas pernas. — Não é sua culpa.

— Você promete tomar cuidado? — Respirei fundo, tentando manter a


calma.

— Farei de tudo para estar de volta o mais rápido possível — ele


prometeu, dando-me um beijo. Bateram na porta novamente e ele avisou
que logo sairia. Cassio foi até o closet, se arrumou, pegou suas coisas e as
colocou na mochila. Também vesti uma roupa para descermos juntos. —
Não esqueça de sempre lutar para sobreviver, faça o que for preciso,
continue viva. Entendeu? Se houver um ataque, se as coisas saírem do
controle, lute, não importa o que for acontecer, estarei de volta e vou te
encontrar onde estiver.

— Eu vou ficar segura e prometo cuidar de mim mesma.

Cassio segurou meu rosto e me beijou tão intensamente que senti pelo
corpo inteiro. Agarrei sua camisa, com medo de deixá-lo ir e, devagar, tirou
dedo por dedo, dando beijos antes de abrir a porta. Bella estava no corredor,
com os olhos cheios de lágrimas também. Danilo saiu do quarto ao lado,
onde guardavam algumas armas, e fechou a mochila.

Minha cunhada e eu andamos atrás deles. Assis e Mariano estavam na


sala. Assis ficaria conosco, Mariano iria, porque ele não ficava longe de
Cassio e pelo que havia percebido, Assis era muito grudado com Bella,
mesmo que os dois trocassem pouquíssimas palavras.

— Fique bem, tá bom? — Abracei Mariano.

— Eu vou ficar bem, irmãzinha. — Ele beijou minha testa. — E vou


trazer seu marido de volta.

— Tudo bem.

Abracei Danilo também, e ele riu baixinho, me apertando e dizendo


que ficariam bem. Havia muitas chances de que a boa relação deles com
Enrico e Damon facilitasse todo o plano. Talvez o problema fosse Dante,
que era extremamente protetor e para mim, o mais perigoso de todos,
porque ele representava duas cadeiras no comando: a dele e a do senhor
Rafaelli. Todos diziam que o Biancchi era volátil e perigoso, implacável. Eu
não entendia ao certo o que fez Enzo Rafaelli sair do foco com a esposa,
estava sendo gradual, eles ainda apareciam e tinham muita influência, mas
Dante era quem herdaria tudo dos Rafaelli, incluindo o poder absurdo sobre
a vida de milhares de pessoas.

Ele e Cassio trocavam sorrisos desafiadores.

As crianças entraram com Nanci para se despedirem. Danilo agachou


na frente dos meninos, falando baixinho com ambos, com carinho e, ao
mesmo tempo, firmeza. Eles foram orientados a serem os homens da casa,
cuidar da mamãe, tia e irmã. Obedecer ao tio Assis e não brincarem do lado
de fora, ficando sempre perto dos adultos. Ele beijou Julieta, que chorou,
sem entender nada, com sono e provavelmente percebendo o clima.

Acenamos pela última vez e corri para o banheiro, vomitando todo o


jantar, ansiosa e com o estômago tomado pelo nervosismo. Nanci segurou o
meu cabelo, esfregando minhas costas e Bella me segurou quando as
contrações ficaram fortes demais, me deixando um pouco tonta. Levantei e
lavei a boca, ainda enjoada.

— Eles vão ficar bem. — Bella tocou meu ombro e me levou para a
sala de estar.

— Eu sei, mas fiquei com o estômago embrulhado depois do jantar,


logo que Cassio me contou tudo. Meus pais podem ser responsáveis por
tudo isso? Ainda fico confusa sobre os motivos por trás dessas decisões
absurdas.

— Vamos entender no momento certo, eles só precisam agir antes que


seja tarde demais e tudo que devemos fazer é evitar uma nova tragédia para
a nossa família. — Bella me acalmou, dei-lhe um aceno e para me distrair,
ajudei-a colocando os meninos para dormir. Ninar Julieta trouxe muita
calmaria para o meu coração e ao invés de dormir sozinha em meu quarto,
fiquei no dela, na cama de solteiro perto da dela.
No meio da noite, ela subiu para dormir comigo, dengosa como a mãe
tinha avisado. Os cachorros também quiseram ficar embolados nos meus
pés. Não foi fácil pegar no sono, ainda enjoada e com a garganta sensível,
fui ao banheiro logo que amanheceu. Estava com vontade de chorar, porque
era como reagia em situações de estresse e não queria ceder às minhas
emoções.

Com Julieta no colo, desci a escada, os meninos estavam ajudando


Nanci a colocar a mesa do café.

— Você está melhor, minha menina? — Nanci me pegou nos braços,


toda maternal como era. — Preparei um chá. Cassio ligou cedinho, ainda
estava dormindo, disse que vai ligar de novo depois, para falar com você,
mas ele queria saber se estava bem. Contei que se sentiu mal, preparei o chá
como ele orientou e separei um remédio para enjoo.

Conhecendo meu marido, ele deve ter surtado. Mas fiquei grata pelo
carinho, era muito importante para mim.

— Obrigada, Nanci. Vou tomar o chá e o remédio.

Coloquei Julieta na cadeira e respondi às mensagens dele dizendo que


foi só a ansiedade tomando o melhor de mim. Sentei para comer um ovo
cozido, banana e Bella apareceu, sonolenta, dizendo que teve insônia. A
preocupação estava levando o melhor da nossa rotina e aquilo não era
saudável para as crianças.

Inventei de brincar com eles na brinquedoteca, correndo de um lado


ao outro, jogando bola dentro de casa mesmo. Julieta quis que sentasse com
suas bonecas, ainda sensível e sem vontade de comer, vi Bella entrar no
quarto com um saquinho de papel.
— O que é isso?

— Parece que Assis sempre é nomeado para fazer essas compras. —


Ela riu e mostrou um teste de gravidez. — Vamos lá, mocinha. Vem no
banheiro comigo.

Levantei do chão, agarrando a caixa, confusa.

— Por que acha que estou grávida?

— Apenas intuição.

— Eu tomo pílula. Quer dizer, não sou a melhor em lembrar do


horário corretamente, mas tomo sempre. A esposa do meu irmão levou anos
para engravidar sem se prevenir.

Entramos no banheiro juntas. Ela encostou na porta.

— Eu engravidei de Julieta tomando pílula. É um método


contraceptivo que tem falhas como qualquer outro. É claro que pode ser
apenas coisas da minha cabeça, mas também pode ser…

— Vou fazer porque agora fiquei muito curiosa. E se estiver grávida?


Cassio e eu…

— São casados e transam, pode acontecer. — Ela deu de ombros.

Tirei meu short, indo para o sanitário e fiz o xixi no potinho, lavando
minhas mãos e colocando o bastão fininho dentro. Bella e eu paramos,
esperando a fita que provava que estava funcionando aparecer e depois de
quase um minuto, uma fraca linha surgiu onde não deveria ter qualquer
coisa. Eu abaixei, incrédula, olhando bem e ela também.

— Isso é positivo, certo? — Engoli em seco.


— Parece que sim. Tem duas linhas, a primeira está bem fraca, mas é
visível.

— Ai, meu Deus! — Recuei, encostando na parede.

— Vamos repetir o teste amanhã, com um mais sensível e mais eficaz.


— Bella me tranquilizou. — Vai ficar triste se estiver grávida?

— Não. De maneira alguma, sempre tive certeza de que queria ter


meus filhos e agora sei que Cassio quer também, não sinto a agonia de que
serão bebês produzidos para garantir segurança. Ele vai amar os nossos
filhos. — Coloquei a mão na minha barriga. — Só não queria que fosse em
uma hora como essa, onde uma guerra entre as famílias possa acontecer a
qualquer momento. Eu não quero criar qualquer criança sem o pai.

— Confie na força dos Venturinni. Cassio será um pai presente e


incrível.

E eu não tinha dúvida, só estava com muito medo de perdê-lo.


TRINTA E DOIS | Caterina
Parei na frente do espelho, erguendo a minha blusa e olhei para a
barriga plana. Na minha mão, estava um teste de gravidez mais sensível e o
visor dizia estar grávida de duas semanas. Não parecia. Nada estava
diferente. Sempre senti sono e levava a sensibilidade dos seios pelas
atividades intensas com meu marido, que era um tanto bruto e eu gostava
bastante. Peguei meu telefone, fazendo uma rápida pesquisa sobre uma
gestação tão cedo e fiquei apavorada.

Bella entrou no meu quarto com Julieta nos braços e me deu uma
olhada.

— Deu negativo? — Ela quis saber.

— Positivo. Estou com duas semanas. Sabia que as taxas de aborto


espontâneo são altas?

— Sim, sabia, e isso não tem que ser uma preocupação. Vamos
manter a rotina leve, uma dieta equilibrada, um pouco de repouso e ficar
atenta aos sintomas. — Ela se aproximou e abriu um sorriso. — Eu digo
parabéns ou… vamos resolver isso?

— É contra as nossas regras.

— É contra as minhas regras deixar uma mulher infeliz. Mesmo que


não aceite a ideia do aborto, posso fazer isso com você como sua irmã.

— Obrigada por estar disposta a isso, mas é algo que eu não faria.
Meu bebê com Cassio é muito bem-vindo e farei de tudo para mantê-lo
seguro.
— Parabéns, mamãe! Vou amar ser tia pela primeira vez! — Bella me
deu um abraço apertado.

— Ai, meu Deus! É verdade! É o primeiro sobrinho! — Soltei um


gritinho, rindo e nos balançamos. A coitada da Julieta estava esmagada
entre nós.

Era um misto de sentimentos difíceis de compreender. Bella disse que


não contaria a ninguém, mas Assis ficou me olhando estranho, porque foi
ele quem havia comprado os testes e provavelmente sabia que não era para
a irmã, ou pelo menos estava na dúvida. Não iria espalhar a notícia sem
contar a Cassio, mesmo que todos ali fossem de confiança, queria que meu
marido participasse de todas as decisões.

Eu não sabia quando ele voltaria para casa, suas mensagens eram
curtas, bem sucintas e eu estava tentando envolver minha mente no ritmo de
tudo que estava acontecendo. Preocupada com ele fora de casa, e com o
resultado da reunião, que pelo que soubemos, a primeira parte não foi nada
favorável. Era difícil não ficar apreensiva quando sabia que a vida da minha
mãe estava em risco.

Pensar que ela poderia estar ciente de ataques contra a minha vida era
doloroso demais para aceitar e gerando um bebê, percebi que minha mágoa
aumentou um pouco mais enquanto Cassio estava fora de casa. Por
orientação dele, continuei respondendo às perguntas da minha mãe de
maneira sucinta e com a ajuda de Assis, que em alguns momentos,
decifrava que o modo de escrever não era parecido com o que ela falava nos
vídeos.

Atendi duas chamadas, com o fundo branco, no quarto, sem ela poder
saber se era dia ou noite para mim. Havia uma pequena parte que sentia
culpa por mentir, por ter uma noção de que havia algo muito obscuro por
trás, mas outra, queria proteger Cassio, o bebê e todo o restante da minha
nova família.

Sabia que era inocente para muitas coisas e estava aprendendo sobre
outras, depois de refletir bastante e sentir o tom um pouco melhor das
mensagens de Cassio, percebi que eles estavam se alinhando.

— Danilo disse que eles voltam amanhã — Bella comentou, me


servindo um pouco de suco. — Coma um pouco mais, você dorme muito e
come pouco.

— Meu apetite está estranho, mas comi um prato cheio de risoto. Está
dando uma de Nanci para cima de mim, é?

— A maternidade faz isso, você quer todo mundo bem e alimentado.

Bella sentou-se ao meu lado depois de assobiar porque os meninos


estavam ficando cada vez mais ruidosos na sala ao lado e já era hora de
dormir, então, precisavam se acalmar. Julieta capotou depois de jantar e de
brincar com Assis na brinquedoteca. Os dois eram muito parecidos, bem
quietos e sempre observadores.

— Acha que Danilo ainda está chateado com o fato de que conversava
com minha mãe sobre minha rotina?

— Eu não acredito que ele esteja, afinal, não era proibido e você até
foi bastante cuidadosa. Claro que mentir ajudou no ataque, se vocês
estivessem em Vegas, seria um problema que não tem como adivinhar. —
Bella apertou meus dedos. — Pare de sentir culpa por isso.

— Fui muito orientada a não expor e achei que estava fazendo a coisa
certa ao não falar onde estava, mas acabei expondo a casa.
— E justamente por isso, não tivemos feridos. Para cada mal, um
bem. — Bella piscou e relaxei na cadeira, peguei meu copo e dei um gole,
estava docinho, gelado, boas laranjas. Nossa proximidade estava sendo
deliciosa, ter uma amiga era bom, falávamos sobre tudo e crescia um
grande conforto em ficarmos na presença uma da outra.

Já era bem tarde quando fui dormir. Antes de deitar, parei na frente do
espelho e peguei o teste que deixei logo ao lado, porque ainda ficava sem
acreditar. Fiz três e todos deram positivo, agendei uma consulta médica e só
iria quando Cassio chegasse, para poder sair sem que ele ficasse atento à
distância e quisesse saber o que estava acontecendo. Não seria por telefone
que contaria que estávamos esperando um bebê.

Passei a mão na região do meu umbigo e mordi o lábio, estufando


para ver como ficaria e comecei a rir. Era cedo demais para ter qualquer
volume ali.

Guardei tudo em uma caixa e escondi no armário, por não saber que
horas eles retornariam e antes de contar da gravidez, gostaria de saber as
informações que não puderam passar por telefone. Tomei um banho
quentinho, só para relaxar o corpo, peguei meu livro por estar sem sono e li
quase todo, invadindo a madrugada. Estava quase amanhecendo quando
consegui dormir e sabia que iria até a hora do almoço. Meus horários
estavam malucos e precisava regular com urgência.

— Eu não acredito que ainda está no modo soneca. — Ouvi a voz de


Cassio em meu ouvido. — Vamos lá, Bela Adormecida, abra seus lindos
olhos.

Virei e o encarei, ainda confusa e abri um sorriso, jogando-me em


seus braços, que estava de joelhos ao meu lado. Quase caiu da cama com
meu movimento brusco e inesperado.

— Você está de volta!

— Isso tudo é saudade?

— Nunca fiquei longe, claro que senti a sua falta.

Cassio tirou meu cabelo bagunçado do rosto com um olhar de carinho


e me deu um beijo. Afastei-me depois, ansiosa.

— Conte tudo. Ainda haverá uma guerra? Foi tudo bem com Damon?

— Nunca é fácil para um chefe descobrir que um homem de confiança


está agindo com seus próprios planos, então, sim, ainda haverá uma guerra,
mas não entre nós, apenas uma limpeza necessária que será cuidadosamente
articulada para que todos pensem que o acordo de paz do casamento não
deu certo. — Cassio sentou na cama, parecendo cansado. — Felizmente,
Dante não foi um babaca sobre isso. Ele viu as imagens.

— Entendo que seja ofensivo para eles. Mas por que fingir que não
estamos do mesmo lado?

— É lucrativo confundir nossos inimigos e, é possível que a


insatisfação esteja no fato do quanto essa união prejudicaria anos e anos de
muitos chefes pensando que sempre fomos inimigos — Cassio explicou e
dei um aceno. Danilo não gostava de aparecer, ele mantinha tudo sob
controle e em segredo, tanto que raramente foi relacionado a crimes
cometidos e nunca foi alvo direto de qualquer investigação. Ao contrário da
famiglia, que vivia no foco do FBI e da Interpol.

— Talvez Dante não seja tão volátil quanto dizem, eu também jurava
que vocês eram macabros e malucos. Também ouvi fofocas de que Bella era
depressiva. — Encolhi os ombros. — Fofoca sempre torna informações
maiores do que realmente são e estou muito aliviada de que estão alinhados
no mesmo propósito, só tenho medo de a minha mãe ser uma vítima em
tudo isso.

Cassio pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos.

— É difícil saber. Soube por Enrico que pouco depois do casamento,


um dos seus irmãos pediu retorno para a Itália, voltou a viver na Sicília com
sua avó e o outro, foi transferido para Indiana. Seus pais ficaram sozinhos, a
vergonha do que aconteceu foi grande e muitos se afastaram.

Era o maior pesadelo da minha mãe: ser excluída da sociedade. Meu


pai carregava a posição de prestígio com muito orgulho. O afastamento dos
meus irmãos também deve ter ferido por alimentar os rumores de que
estava envolvido nos planos do meu padrinho.

Tive um pensamento, que achei estúpido, mas quis compartilhar com


Cassio mesmo assim:

— Será que tudo isso não é um plano do meu pai para mostrar que não
teve nada a ver com o que aconteceu? A morte do meu padrinho trouxe
vergonha, os ataques continuarem acontecendo meio que inocenta o fato de
que meu padrinho e, ele por consequência, estavam sendo negligentes com
as ameaças dos nômades — sugeri e Cassio beijou minha testa.

— Ou, estavam trabalhando juntos. Nem mesmo no meu sequestro,


que não teve fins financeiros, fui devolvido com as minhas joias. Seu anel
de noivado vale uma fortuna, assim como o colar, e eles acabaram
destruindo a presilha de diamantes do seu cabelo ao invés de tirar tudo para
vender — Cassio falou baixo. Doeu no meu estômago. Já era ruim que
ignoraram as ameaças, a possibilidade de estarem envolvidos em toda dor
que passei me trouxe uma náusea tão forte que precisei me deitar. —
Apesar da semana ter sido difícil e de muita cautela, conseguimos chegar a
um acordo e somos todos homens de honra. Vamos descobrir. Para o
mundo, Chicago e Calábria vão começar uma guerra e as cartas marcadas
irão morrer.

Engoli em seco, pensando que por mais que eles fossem bons no que
faziam, sempre haveria um grupo insatisfeito ou sanguinário, desejando
vingança. Já tínhamos inimigos demais para ter que lidar com esses
problemas internos que, se não fossem cortados agora, virariam uma bola
de neve muito maior.

— Tenho uma coisa para te contar — anunciei, nervosa. — Espere


aqui, está bem?

— Aconteceu alguma coisa enquanto estive fora? — Cassio ficou


atento e tentou me segurar na cama. — Sem mistérios, Caterina. Soube que
passou mal. Você está doente? Será anemia pelo tanto que dorme?

— Espere aqui — avisei mais firme e consegui me soltar, levantei e


fui até o armário, ciente de que seu olhar estava atento em mim o tempo
todo. Retornei com a caixa, subindo na cama e fiquei de joelhos. — Abra.

— Presente fora de época ou estou esquecendo alguma data


importante? Vejamos, temos o primeiro casamento com sequestro, que foi a
mesma do noivado, o dia que nos conhecemos, o segundo casamento em
Vegas ainda falta muito e o terceiro, acabou de acontecer — ele brincou e
empurrei a caixa, ansiosa. Desde quando Cassio havia se tornado um
tagarela? Retirando a tampa, ele olhou para os testes por um tempo. — É o
que estou pensando?

— Estou grávida.
Cassio ergueu o olhar, meio arregalado e separou os lábios em choque.
Por uns segundos, parecia estar processando a informação. Ele encarou a
minha barriga, franzindo o cenho.

— Estou com duas semanas, nunca imaginei que seria possível


descobrir tão cedo, mas… é isso. Ainda não fui ao médico, nem fiz exame
de sangue. Todos deram positivo.

Cassio limpou a garganta.

— Você está esperando o nosso primeiro filho?

— Sei que não planejamos e é cedo demais…

— Só quero ouvir a resposta, Caterina.

Respirei fundo, crispando os lábios.

— Sim. Estou esperando o nosso primeiro filho.

Cassio empurrou a caixa de seu caminho, e sua reação em seguida me


surpreendeu tão profundamente que estaria para sempre marcada no meu
coração.
TRINTA E TRÊS | Cassio

Caterina estava grávida. Em um movimento rápido, eu a puxei para


meus braços ainda sem acreditar que, dentro dela, estava uma vida que nós
fizemos juntos. Ela riu quando toquei seu ventre, tateando, mas sua barriga
ainda estava plana e os testes, todos positivos. Segurei seu rosto, encantado
e apaixonado com a ideia de que em alguns meses, teria o meu bebê nos
braços. Melhor dizendo, nosso.

— Eu nunca imaginei que veria esse sorriso no dia que


descobríssemos uma gravidez. Seu rosto reflete uma beleza que está me
dando vontade de chorar — ela confessou, meio que amassando o rosto e
ficando com a ponta do nariz vermelha.

— Também não imaginei o quanto ficaria… feliz.

— É muito cedo — Caterina falou mais baixo. — Eu não queria


esconder, mas ainda é uma gestação jovem. Li que as taxas são assustadoras
e ainda estou preocupada.

— Não importa, é a vida do nosso bebê e faremos de tudo para que


nessa primeira fase delicada, vocês fiquem bem. Nem que te amarre nessa
cama, não que isso seja um sacrifício, você adora dormir mesmo.

Com um sorriso amoroso, ela colocou a mão em seu ventre e minha


imaginação correu para o momento em que sua barriga crescesse, quando o
bebê estivesse dormindo ao nosso lado na cama. Não fui criado para ter
medo e sabia como as crianças mudavam a rotina de uma família. Embora,
precisava admitir, houvesse uma porcentagem de choque porque jamais
imaginaria que ela estava grávida. Não pensei que seria aquela notícia a
receber depois de uma viagem exaustiva.

Soltando um bocejo, disse que foi dormir pela manhã e ainda estava
cansada.

— Volte a dormir, eu vou pegar algumas frutas para comer e vou


deitar com você.

— Obrigada, marido. — Ela me deu um beijo.

No começo, não entendia a necessidade dela me chamar de marido,


mas agora, era uma das palavras mais belas que saía da sua boca bonita. Eu
adorava ouvir porque descobri que gostava muito de ser o marido dela.

Deixe-a coberta, desci e parei na sala, olhando o mar, absorvendo a


informação de que minha esposa estava grávida. Caramba! Um bebê! Nós
precisaríamos reformar o quarto mais próximo, porém, nas primeiras
semanas, ele deveria dormir conosco, por ser mais fácil e mais seguro.
Quando estivesse maior, tanto aqui ou em Vegas, poderia ter o seu próprio
espaço. Nanci iria nos ajudar, talvez o bebê devesse ficar aqui na Calábria
até o seu primeiro ano, eu viveria indo e vindo, para não ficar muito tempo
longe da minha família.

Ouvi passos se aproximando e me virei. Danilo estava com um copo


de água na mão e franziu o cenho ao me ver sozinho.

— Está tudo bem com Caterina?

— Ela virou a noite lendo por ter dormido fora do horário e está
cansada ainda.

— E foi expulso do quarto?


— Eu vim pegar frutas para comer e… — parei, respirando fundo. —
Eu vou ser pai. Cate está grávida.

Danilo arregalou os olhos, soltando o copo na mesa de forma a


derrubar um pouco de água, erguendo os braços.

— Que alegria, meu irmão! Terei o meu primeiro sobrinho! — ele


gritou, me pegando em um abraço apertado. — Essa casa terá uma nova
bênção!

— Nós fomos abençoados, mas acho que ainda estou processando a


informação de que minha mulher tem uma vida sendo gerada em seu ventre.
É muito cedo, apenas duas semanas, e já quero fazer tanta coisa!

— Bem-vindo à paternidade, não vai dormir pelos próximos dezoito


anos — ele brincou e parou, analisando meu rosto. — Não está feliz?

— Não só feliz, estou em paz.

Danilo sorriu orgulhoso e disse que, à noite, teríamos um jantar


comemorativo. Não queria que ninguém mais soubesse da gravidez, não até
a barriga aparecer e se ainda pudesse esconder Caterina, manteria assim.
Ela e o bebê precisavam ficar seguros.

— Por que parece estranho e pensativo?

Enfiei minhas mãos nos bolsos. Não havia um problema de fato,


apenas diversos pensamentos confrontando um com o outro na minha
mente.

— Eu sei que não lembro da mamãe e nem do momento de sua morte,


mas tem algo dentro de mim que é ligado a esse evento como um
catalisador.
Danilo coçou a barba, foi para a janela, tirou dois cigarros do bolso e
me ofereceu um. Acendemos. Ele travou um pouco antes de falar:

— Imagino que seja, todo filho tem uma ligação com a mãe. E você
era especial, o caçulinha. — Ele riu sombriamente, como se estivesse
dentro das memórias. — Não gosto de falar sobre isso.

— Porque você tinha uma ligação com ela.

— Sim. Eu amava a mamãe, ela nos amava muito, era um dia feliz,
carinhoso. E eu amo a minha esposa ainda mais pela mulher que é, a que
nunca permitiria que eu a matasse, que no primeiro ato violento meu, ela
me mataria e protegeria nossos filhos até do inferno, tornando-se o próprio
diabo — ele confessou e dei um aceno.

— Caterina será uma mãe diferente. Ela é muito calma e gentil.

— Tem medo de quê em relação a isso? Que não saiba como se


proteger ou os filhos?

Eu não podia afirmar com toda certeza, mas Caterina estava


descobrindo-se a cada novo dia e uma mulher firme nascia bem diante dos
meus olhos. Seus nãos eram com firmeza, doçura, sem charme. Ela não
tinha mais medo de me desagradar e sabia muito bem como expor seus
pontos sem ser ofensiva.

— Eu sei que ela irá amar todos os nossos filhos incondicionalmente e


fará de tudo para protegê-los.

— Que bom, porque ela demonstra serenidade e respeito. O fato de


não ser louca e explosiva como minha adorável esposa, não quer dizer que
ela se permitirá ser anulada.
Eu ri, expelindo fumaça.

— Minhas orelhas ainda possuem as marcas das unhas dela.

Danilo e eu terminamos de fumar, convoquei Assis e Mariano,


dizendo que à noite teríamos muita comida e bebida. Pedi a Nanci algo
caprichado e não contei o motivo, para que eles soubessem ao mesmo
tempo. Com um pote de salada de frutas, subi, entrei no quarto em silêncio,
tomei banho e vesti uma cueca, acordando-a suavemente para comer. Tive
que filmá-la meio dormindo, reclamando que a granola machucou sua
gengiva, ficando puta que estava rindo e tentando empurrar o celular da
minha mão sem derrubar a comida.

Assim que terminou, entreguei-lhe um guardanapo e peguei a vasilha,


deixando na mesinha. Deitei ao lado dela já esperando seu corpo moldar ao
meu. Ela murmurou baixinho que sentiu falta de dormir comigo, fazendo
charme que ficou solitária e com frio ao ponto de deitar no quarto de
Julieta.

— Não foi tanto tempo assim.

— Foi tempo o suficiente — rebateu no mesmo instante, toda brava.


— Nada de ficar viajando sem a minha ilustre companhia.

Dormi pouco e nos raros momentos de descanso, fiquei com Mariano,


então era óbvio que preferia ficar de conchinha com a bunda gostosa da
minha mulher esfregando no meu pau. Seu cheiro gostoso, a pele suave e o
desejo que nunca morria. Eu preferia nem viajar se significasse ficar longe
e, infelizmente, não era assim que a vida funcionava. Para tirar um cochilo,
coloquei a mão em seu peito, meu jeito favorito de ficar.
Quando acordou, ela queria uma única coisa e para ser honesto, depois
que tirou a roupa, me beijando, não pensei em mais nada e quase desejei
não ter marcado o jantar só para embarcarmos em uma maratona de sexo de
matar as saudades. Quanto mais desinibida, mais safada e gostosa a nossa
transa ficava.

— Parece agradavelmente satisfeita — comentei após terminarmos.


Ela riu, sonhadora. — Eu me sinto usado.

Caterina abriu os olhos e me deu um sorriso provocante.

— Eu te usei. Queria muito gozar.

— Pode me usar todas as vezes, principalmente se for rebolar como


fez no meu pau. — Mordi a pontinha de seu dedo.

— O nome disso é saudade e tesão. — Inclinou-se e me deu um beijo.


Ela se esticou para pegar o telefone, lendo uma mensagem, que, pela foto,
era Bella. — Programou um jantar? Caramba, vou ajudar a Nanci. Ela está
enlouquecendo querendo fazer os pratos favoritos de todos.

Nanci era minha mãe para todos os efeitos, ela me criou, era minha
babá, mas sem ela, certamente não saberia muitas coisas importantes. Não
se ateve apenas em me manter vivo, deu educação e amor, me moldou como
homem e, me mimou bastante, o que teve um peso grande na vida adulta e
consequências que tive que aprender a amadurecer na porrada. Sempre tive
tudo o que quis. Crescendo com muito dinheiro e poder, poucas coisas eram
impossíveis para mim.

Mas ao ver Caterina andar pelo quarto, cantarolando enquanto se


vestia, soube que, finalmente, tinha a coisa mais preciosa do mundo e que
dinheiro nenhum jamais poderia comprar. Nosso casamento foi um acordo e
calhou de ser… uma bênção.

— Seu telefone, Cassio — Cate me alertou que estava distraído


demais para percebê-lo vibrar com uma mensagem de Assis. Era hora de
agir.

— Vou sair e volto a tempo do jantar.

— Tudo bem, cuidado. — Ela me deu um beijo.

Vesti minhas roupas rapidamente e fiquei preparado. Assis já estava


no carro me aguardando, Mariano iria nos seguir mais discretamente, de
moto, e Danilo ficaria no ponto de encontro, por isso, teríamos que agir
separados.

Municiei as armas, preparando-as enquanto Assis dirigia em silêncio.


Era quase uma hora de trajeto e com a velocidade que estávamos,
chegaríamos a tempo. Parados atrás de um galpão com dois aviões dentro,
esperamos a aeronave taxiar pela pista, indo calmamente para dentro do
hangar para que o passageiro pudesse desembarcar com segurança. Danilo
estava encostado no carro, tranquilo, e me deu um aceno quando as escadas
foram liberadas.

Francis, o anjo da morte da famiglia e o ponto em comum com a


Calábria, foi o primeiro a aparecer, sombrio e quieto, indo direto para o
banco do motorista sem falar nada. Ele, apesar de estar com ordens de
trabalhar ao nosso lado naquele momento, estava sob a mira de Mariano
porque a posição de Danilo era vulnerável e meu irmão, sendo chefe, tinha
que ser protegido acima de tudo.
Alguns segundos depois, nosso convidado apareceu. Ele era um dos
subchefes de Illinois, que estava ali a mando de Enrico para organizar uma
troca de mercadorias. Foi uma desculpa imbecil para trazê-lo até a Calábria,
porque descobrimos que trocou mensagens com o senador e o pai de
Caterina, então, ele provavelmente tinha respostas para nossas perguntas.

Foi decidido que agiríamos em completo silêncio, sorrateiros.


Enquanto Dante buscava envolvidos na política com os nômades, porque
havia alguém com dinheiro financiando tudo (devido às balas e armas caras,
recuperadas no ataque à minha casa em Vegas), Enrico precisava limpar os
traidores entre os dele. E nós… ficamos com a parte divertida: tortura e
morte.

Surpreendi o homem por trás e ele virou, tentando reagir, mas o


derrubei. Sua arma escorregou pelo chão e Danilo pegou, enfiando-a no
bolso. Francis ligou o carro e foi embora, seu trabalho estava feito.
Amarramos braços e pernas do homem apagado, Assis começou a fechar a
porta do hangar, conduzindo a tripulação para fora. Com tudo escuro,
abaixei e sorri para meu novo amigo, tirando a faca do bolso. Dei um tapa
em rosto, acordando-o.

— Pensei que fosse coisa de covarde atacar por trás. — Ele me


desafiou, orgulhoso, olhando ao redor, buscando uma rota de fuga. Era um
homem que ignorava a importância de ser ativo e atlético. A culpa não era
minha por ser mais rápido e mais forte.

— Eu só entrego honra a quem merece. — Pisei em sua garganta. —


E ao que parece, você é apenas um rato traidor com quem irei me divertir
muito essa noite.
— Chicago sabe que estou aqui. Qualquer coisa que fizerem comigo,
sua esposa estará em perigo, porque Enrico irá vingar a minha vida. — Ele
cuspiu e comecei a rir, para irritá-lo. Falar diretamente da minha mulher
quando sequer deveria saber quem eu era, significava que esteve no
casamento ou era próximo o suficiente da família de Caterina.

Eu nem tinha começado e ele já estava se entregando. Mariano rasgou


a camisa dele, expondo o peito.

— Pois foi justamente Enrico quem me enviou esse presente


adorável.

E com a minha faca, comecei a desenhar linhas em seu peitoral,


gostando de ver o sangue escorrendo pelas bordas e indo em uma
profundidade suficiente para ver a gordura branca ganhando espaço. Ele
tentou não gritar, mas logo me agraciou com a beleza de seu desespero.
TRINTA E QUATRO | Caterina

— Sua mãe ligou de novo? — Bella parou ao meu lado, lavando as


folhas de alface. — Assis não comentou mais nada.

— Não. Eu me pergunto se ela está bem, sempre muito obediente ao


meu pai, já não sei se é uma cúmplice ou está sem saída.

— Eu sinto muito, não tenho como opinar, minha mãe amava mais o
meu pai do que os filhos. Ela nos jogou na cova dos leões para salvá-lo —
Bella murmurou e senti um aperto no peito porque eu nunca colocaria meus
filhos em um lugar de perigo. Faria de tudo para salvar meu marido, mas
sem colocar nossa prole em risco. — Você a conhece. Acha que concordaria
com um plano que poderia te ferir?

— Não. Ela não concordaria, de nenhum modo, mas também não


saberia como impedir e nem como me salvar.

Não havia nada que Bella pudesse dizer que confortaria o incômodo
no meu coração de que minha mãe estava envolvida com meu sequestro.
Meu pai, apesar de sempre ter sido amoroso comigo, nunca me colocou à
frente dos negócios. Para espantar os pensamentos ruins, coloquei música e
agarrei uma colher de pau, cantando com Tiziano Ferro.

— Seu gosto é muito romântico para mim. — Bella revirou os olhos,


preparando a salada. — Sou mais qualquer ritmo sensual que deixe meu
marido possessivo e com tesão.

— Basta colocar uma saia curta que as veias de Cassio explodem. —


Apontei para minha própria roupa, que era toda justinha e me deixava linda.
Eu tinha que aproveitar, porque poderia perder a maioria devido à barriga.
Minha bunda já estava bem maior e não era da gravidez e sim de malhar,
comer e ganhar um pouco mais de gordura na região.

Mesmo com a música, ouvimos os meninos chegarem e eles foram


direto para seus quartos. Cassio, provavelmente, estava sujo. Eu não me
importei, continuei cozinhando. Bella trocou para uma música pop sensual
e passamos a dançar juntas, com Nanci rindo e fazendo as bolinhas do
Gnocchi do outro lado. Eu rodopiei, rebolando com a provocação dela, indo
até o chão, enchendo-me com uma alegria tomada pelo ritmo.

Cassio entrou na cozinha, inclinou a cabeça para o lado e riu com o


clássico olhar ciumento, estava se divertindo mesmo assim e me pegou pela
cintura, dançando juntinho comigo. Ficamos agarradinhos, bailando, e ele
me rodopiou, tombando ao ponto de arrastar meu cabelo no chão e elas
gritaram para que tomasse cuidado comigo.

— Estou tomando cuidado, ai, para! — Ele se esquivou dos golpes de


Bella.

— Fiquei bem. — Ergui minhas mãos, rindo. — Aproveite que


chegou com seus irmãos e vá colocar a mesa. As crianças estão na hora de
estudo.

— Sempre escravizado nessa casa — Cassio murmurou e bati em sua


bunda com o pano de prato. Nanci nos deu um sorriso.

— É tão gostoso ver o meu Cassio casado, ele está até ficando com
um corpinho de pai de família — Nanci comentou no modo mãezona.

— Isso não tem nada a ver com a aliança no dedo e sim, com a sua
comida. — Eu peguei a travessa da lasanha e coloquei no balcão, onde as
comidas prontas estavam no aquecedor. A sopa de tomate ainda borbulhava
e estava tão cheirosa que simplesmente me trouxe um buraco no estômago,
louca para fazer uma boquinha, mas os sanduíches de queijo ainda não
estavam prontos.

Assis e Mariano entraram na cozinha de banho tomado, sem


demonstrar nenhuma preocupação sobre o que os fez sair por horas e
começaram a arrumar a sala de jantar. Cassio estava no telefone, e pelo
modo que falava, era com Fernando. Entendi que o pai de Bella estava
mandando Alessa e as crianças para uma temporada na Itália, para que
ficassem seguros e me dei conta de que todas nós ficaríamos longe dos
nossos maridos.

Não queria. Mesmo que não fosse seguro, gostaria de voltar para
Vegas com Cassio. A mínima ideia de passar a gestação longe dele já me
deixava nervosa.

— Está tudo pronto, vem Danilo! — Bella gritou da escada. Os


meninos passaram correndo, indo para o lavabo, para lavar as mãos. Julieta
apareceu mais devagar, com uma boneca e a boca suja de canetinha. — Seu
pai ficou de olho em você ou na morte da bezerra?

— Na morte da bezerra — ela respondeu com as bochechas fofas


todas pintadas.

— Está mostrando suas asinhas, amor? — Assis a pegou no colo. —


Titio vai limpar.

Ao sentarmos, roubei umas azeitonas, Nanci bateu em minhas mãos e


disse para esperar. Fiz um beicinho. Eu nunca beliscava nada, muito menos
quebrava as regras. Cassio esperou que ela saísse para me dar mais, comi
escondido, bebendo água para engolir logo.
— Terei que sair, passar a noite nos negócios e quero saber logo o
motivo desse jantar gostoso. Estou esquecendo o aniversário de alguém? —
Mariano puxou uma cadeira.

— Eu sei que é algo especial, só não sei o que é. — Nanci apoiou as


mãos na mesa.

Danilo trocou um olhar com Cassio, sorrindo, e entendi que ele já


sabia. Bella segurou a mão dele, com a mesma alegria e orgulho.

— Quero anunciar a vocês que Caterina e eu fomos abençoados com


um bebê. — Cassio ficou de pé porque sabia que Nanci iria jogar-se nele,
com um grito de alegria de que seria vovó novamente. Ela o apertou e
beijou, chorosa, enquanto Mariano me erguia, jogando-me para o alto e bati
nele. Assis, felizmente, foi mais contido.

— Garota, você está batendo forte, puta que pariu! — Mariano


esfregou os braços.

— É a força de mamãe. — Cassio riu, me protegendo.

— E você, menina. Vem aqui. — Nanci me segurou com amor. —


Estou com você para o que precisar, serei a melhor avó para esse bebê.

— Obrigada, Nanci. Eu sei que ele, ou ela, já é sortudo por ter você.
Na verdade, por ter todos vocês, essa família que é capaz de fazer tudo um
pelo outro. — Coloquei a mão na minha barriga. — Quando casei, todos os
rumores me fizeram sentir medo, mas vocês me ensinaram que existe muito
mais por trás do significado de ser família e sou extremamente grata por
isso. Obrigada por me ajudarem a desabrochar.

— Ela é tão fofa. — Danilo suspirou dramaticamente em deboche


para Bella, que riu e bateu nele. — Vem aqui, irmãzinha! — Ele me abraçou
e colocou a mão na minha barriga. — Estou ansioso para ser tio e já rezo
pela saúde desse bebê. Ele ou ela é muito bem-vindo, já é amado.

Cassio e eu trocamos um olhar, muito felizes. Ele agradeceu ao irmão


porque eu comecei a chorar. Já era uma boba antes, provavelmente os
hormônios estavam influenciando naquela emoção. Meu marido me
segurou e nos beijamos, ele limpou minhas lágrimas com os polegares, e
esfregou o nariz no meu antes de colar os lábios em mim, falando baixinho
que eu estava linda e era a luz dos seus olhos.

— Estou ficando enjoado — Mariano reclamou.

— Vamos encontrar uma esposa para ele? — Bella provocou e


concordei no mesmo instante. Danilo o salvou, homens sempre protegiam
os seus e disse que devíamos comer.

A barulheira da mesa foi intensa, com as crianças querendo beijar


minha barriga. Fiquei toda suja de molho, comi mais pão com queijo do que
deveria e provavelmente seria uma longa noite rolando de um lado ao outro
com meu estômago cheio. Eu amava aquele caos. Eram mãos por todo lado,
barulho de pratos, talheres batendo e os meninos fazendo suas clássicas
graças. Félix era um pouco mais velho e a transição de criança para pré-
adolescente lhe dava um ar de ser maduro algumas vezes e depois, ser um
completo bobo com seu irmão.

Danilo ficou em casa. Cassio, Mariano e Assis foram para a boate,


cuidar do cassino e de outros negócios. Bella pediu ajuda para preparar
alguns detalhes da inauguração do restaurante e comemos chocolate com
morango enquanto ouvimos Danilo lutar para colocar os três filhos na cama
ao mesmo tempo.
Eu ri da correria no segundo andar, olhando para o teto. Meu telefone
vibrou enquanto escolhíamos os vinhos que seriam servidos com as
entradas e era uma mensagem de voz da minha mãe. Ela falava muito
baixo, querendo saber se eu estava bem e então, perguntou se meu marido
me dava autonomia para sair sozinha e se tinha acesso às chaves de algum
carro.

— Isso está me soando como um alerta. Responda que sim. — Bella


debruçou-se no celular e coloquei: “Sim, mamãe. Eu adoro dirigir por
Vegas”. Ela respondeu: “tudo bem, isso é importante. Seu pai chegou, te
amo”.

— Pode ser um aviso, talvez ela diga alguma coisa que faça sentido
mais à frente ou apenas é alguém querendo saber se saio desprotegida na
direção. Todos sabem que eu não tenho prática de direção defensiva —
refleti e apaguei a tela, porque parecia que ela não iria falar mais nada.

— As dúvidas não param de crescer, seja forte para não absorver


tantas emoções confusas, seu corpo vai enfrentar muitas mudanças e é
preciso tomar cuidado para não passar nada ao bebê, ter pressão alta…

Estava apavorada em perder o bebê, cada pesquisa que fazia era sobre
como o começo de uma gestação era delicado e demandava cuidados. A
ansiedade de que as semanas passassem logo para que eu pudesse conversar
com a médica ouvir o coração estava me dominando. E quando pudesse ver
seu formatinho completo em uma ultrassonografia? Seria tão perfeito!

Quando casei com Cassio, planejei filhos para fins comerciais, para
garantir suas posições no futuro e a minha segurança. Agora que nós dois
éramos praticamente um só, descobrir sobre o bebê me assustava, não foi
planejado, havia muitas questões acontecendo e era lindo, porque todos os
meus sentimentos por eles cresciam e eram correspondidos.

Meu marido nunca disse eu te amo e eu também não, mas as atitudes


dele valiam mais do que palavras. O modo doce com que me beijava, seu
carinho, os sorrisos e olhares aqueciam o meu coração como nunca pensei
ser possível. Nenhum filme ou livro de romance seriam capazes de
descrever o quanto eu era louca por ele.

Bella virou ao ouvir um barulho suave na escada e eu fiquei surpresa


por ter percebido também, depois de começar a treinar com ela, fiquei mais
atenta. Afinal, mais sorrateira do que minha cunhada para me bater no
tatame estava para existir. Mariano era mais gentil.

— Ainda acordadas, senhoras? — Cassio apareceu, tirando a jaqueta


de couro.

— Chegou mais cedo? — Bella olhou a hora.

— Está tudo tranquilo na rua e os rapazes foram festejar. — Ele


abaixou e me deu um beijo.

— E você veio para casa ficar com sua esposa, é? — provoquei.


Ganhei um olhar meio intolerante, porque se soubesse que Cassio foi para
qualquer festa sem mim ou sem me avisar, iria fatiá-lo em muitos pedaços.

— Vamos dormir, mulher. — Ele abaixou a tela do notebook, puxando


minha cadeira para trás. — Tchau, Bella.

— Tchauzinho, marido adestrado — Bella cantarolou, eu ri e logo


fiquei séria com a expressão emburrada que fez.
— Boa noite, cunhada. — Acenei, mordendo o lábio, ainda contendo
o riso.

— Continue tripudiando e irei para a rua. — Cassio cruzou os braços,


me seguindo pela escada e virei, colocando a mão na cintura com a
sobrancelha arqueada.

— Pode ir, querido. Aproveita e vai agora. — Estiquei o braço e


apontei para a porta. — Se é falta de adeus… só não esqueça que não
ficarei grávida para sempre, sou bonita, gostosa e jovem. Festa não vai me
faltar.

Dei as costas e subi o resto das escadas rebolando, ele sabia que eu
não iria para lugar algum sem a companhia dele, a não ser que me irritasse.

— Maldita provocadora — murmurou atrás de mim e bateu na minha


bunda. — Está cansada de saber que prefiro a sua companhia do que
qualquer festa. Deixa de ser ciumenta.

— Já te disse que não sou ciumenta. — Parei na porta do quarto,


colocando a mão na soleira. — Você é meu.

Cassio me pressionou, apertando minha bunda e me erguendo.

— Gostosa. — Ele me beijou, deixando claro que estava pronto para


nossa festinha particular, que era maravilhosa e deixava nosso quarto bem
agitado durante a noite.
TRINTA E CINCO | Caterina

De calcinha na cama, observava o sol escondido entre as nuvens do


lado de fora e Cassio deitado entre minhas pernas. Ele deu um beijo na
minha boceta acima do tecido e depois, arrastou os lábios de modo
carinhoso por meu ventre, falando baixinho com o bebê, dando bom dia e
subindo cada vez mais. Tivemos a primeira ultrassonografia onde pudemos
ouvir o som do coração e foi emocionante, finalmente, oito semanas.

A casa estava com cheiro gostoso de biscoito de abóbora porque era o


meu desejo do dia. Nanci preparou para mim, para que eu pudesse
descansar um pouco depois da manhã agitada. Alessa foi embora na noite
anterior, e enquanto esteve na cidade, fomos às compras para as primeiras
coisinhas fofas do bebê. Cassio, Danilo, Mariano e Assis estavam
reformando o quarto ao lado pessoalmente, porque era tradição sempre que
um bebê chegava à família.

Escolhi um tema de nuvens e ovelhas fofas, com os olhinhos mais


lindos do mundo. Meus hormônios não estavam ajudando a conter os
impulsos de sair comprando tudo que achava que seria lindo para o nosso
bebê.

— Eu vou tomar banho. Fique quieta aí, nada de ir treinar com Bella
só porque o médico liberou — ele determinou e como sempre, bati
continência, relaxada no lugar porque não desejava me mover. Se pudesse,
ele me enrolava em um plástico bolha, não podia descer a escada sem que
brigasse comigo, sendo que o obstetra disse que poderia praticar exercícios
leves e caminhar na praia.
Meus exames estavam ótimos e o único sintoma da gravidez era o
enjoo pela manhã, olhar para algumas comidas e ficar meio esquisita, sem
querer comer. Aproveitando que não iria levantar, tirei o sutiã, Cassio saiu
do banheiro no mesmo instante e assobiou. Segurei meus seios,
provocando. Ele jogou a toalha no cesto e abaixou, dando um beijo em cada
mamilo.

— Você quer parar de me atentar? — Ele mordeu meu lábio inferior.

— Não posso. O médico disse que você deve satisfazer todos os meus
desejos.

— Vai começar a estalar o chicote, esposa?

— Está dizendo que vai ser meu servo do prazer?

Cassio riu e seu telefone tocou, peguei para ele e vi que Mariano dizia
algo sobre o convidado estar acordando. Fiz uma singela careta.

— Tenho que ir agora, volto para o jantar.

— O homem que veio de Chicago ainda está vivo?

Evitava me envolver nos negócios e no que estava fazendo, porém,


algumas coisas me deixavam aflita e curiosa. Respeitava os limites do
Cassio em me passar informações e até era perigoso saber demais. Não
queria ser vítima do que sabia porque sequer podia me defender direito por
não ter muita prática.

— Estamos descobrindo coisas que envolvem todas as famílias e é por


isso que os chefes decidiram que ele vai continuar vivo para nos dar
respostas adequadas.
— Já tem semanas. A esposa e os filhos não deram falta? Podem ter
alertado os associados nessa… empreitada.

— Deram, sim e estamos nos comunicando com eles, se passando por


ele. O cara é um babaca, é bem provável que a esposa esteja muito feliz que
ele está longe. Também está sentando no amante. — Cassio sorriu de lado.
Caramba! Ela era corajosa em ter um amante! Mulheres que traíam seus
maridos eram imediatamente punidas, não que eu acreditasse que todas
morriam, porque isso significava que o marido precisaria assumir que foi
corno.

Porém, ao longo dos anos, havia mulheres saudáveis que morreram de


doenças misteriosas após rumores de traição surgirem no meio. Mamãe não
falava com nenhum homem que não fosse da família e ainda assim, com
polidez e distância emocional para jamais ser acusada de algo do tipo. Na
Calábria, era meio natural não falar com os demais além do necessário e
com extrema educação, a maioria eram respeitosos e ficavam bem longe.
Sem contar que Bella e eu vivíamos dentro da propriedade e só nos
relacionávamos com nossos “irmãos”.

— E como sabem que a mulher possui um amante?

— Colocaram um soldado infiltrado para instalar câmeras, Enrico viu


e nos contou para que pudéssemos provocar o marido com as imagens aqui
e foi bastante eficaz.

Aquela conversa me fez lembrar de uma ideia que tive antes de dormir
e ele não estava em casa para me ouvir imediatamente.

— Entendi. E se… criarmos uma situação falsa para ver se eles agem
com um ataque? Minha mãe por vídeo, como tem acompanhado, não insiste
em saber onde estou, apenas se estou bem. E por mensagem, sim. Eu acho
que essa é a diferença, Cassio.

— Sua mãe, em algumas chamadas, está preocupada e ansiosa. Em


outras, ela parece estar com medo. — Cassio sentou na ponta da cama para
colocar o sapato. — Ela tem enviado sinais mistos e é por isso que te
peço…

— Cassio, se fosse somente sobre ela, provavelmente teria mais


dificuldade em aceitar que minha mãe está envolvida. Mas agora, é sobre a
nossa segurança e principalmente, do nosso bebê. Eu não vou permitir que
nada nos machuque, nem mesmo meu amor pelos meus pais. Farei de tudo
por nós — afirmei e ele sorriu, meio preocupado ainda e me beijou,
encostando a testa na minha. Ele já dormia pouco antes, depois que
engravidei, com essa ameaça misteriosa pairando sobre nós, mal fechava os
olhos e ficava atento a tudo sobre a minha segurança e bem-estar. — Vai
pensar sobre a situação falsa?

— Vou. Mas nada que te envolva diretamente.

— Não pretendo me envolver mais do que isso — prometi e ele sorriu,


me conhecendo bem. Continuaria dando pitacos, diferente das outras coisas,
aquilo me envolvia diretamente.

— Espertinha.

Assim que ele saiu, descansei e depois, fui me arrumar porque Bella e
eu iríamos verificar a decoração do novo restaurante, que estava pronto e
prestes a ser inaugurado. Como era para arrumar as coisas, escolhi roupas
de ginástica e uma camisa do meu marido por ficar bastante longa. Com
telefone carregado, organizei uma bolsa pequena e encontrei com minha
cunhada terminando de dar o lanche da tarde dos filhos. Julieta me ofereceu
um pedaço de pão, falando sobre a escola naquele dia e queixando-se que o
titio Mariano lhe deu uma mordida antes de sair.

— Mariano tem a idade mental das crianças. Talvez Félix seja mais
maduro. — Bella revirou os olhos, exasperada. Era um clássico da família:
quem não ficasse irritado com o modo robô de Assis e o perturbado do
Mariano, não era um Venturinni de verdade. Os Mansueto possuíam o dom
de nos tirar do sério.

Ricardo, um dos soldados mais próximos, estava perto do carro com


Assis. Eles iriam nos acompanhar. O trajeto durava uns trinta minutos, o
espaço era novo, tinha cheiro de madeira recém-envernizada e as mesas
continuavam viradas, sem as toalhas de linho que encomendei em Milão. A
cozinha estava equipada, tinha cheiro de coisa nova, o chão ainda brilhava.

Assis carregou as caixas de flores falsas e eu orientei onde deveria


começar a pregar as parreiras, qualquer outro soldado ou até mesmo uma
empresa poderia fazer aquilo, porém, aquela pequena casa foi da bisavó de
Danilo e Cassio. Era importante de uma forma pessoal, afinal, foi ela quem
casou com o primeiro contraventor que tomou conta da Calábria, na época,
um território muito disputado.

Bella tirou da mala do carro o quadro da senhora, que todos diziam


que era uma excelente cozinheira e os genes pareciam ter passado para os
bisnetos. Tanto meu marido quanto o irmão mandavam muito bem na
culinária. Subi no banquinho para pendurar no gancho e ela foi me
orientando quando ouvimos um estouro que me assustou ao ponto de me
desequilibrar.

— Calma, ei! — Bella me segurou e desci. — O que será que foi isso?
— Fiquem nos fundos. — Ricardo nos orientou enquanto Assis
engatilhava a arma e descia da escada. Minha cunhada e eu grudamos na
parede, apenas olhando, mas ela levou a mão para dentro do casaco, tirando
sua própria arma.

Tirei meu telefone do bolso, por estar vibrando. Era Cassio.

— Oi.

— Está tudo bem por aí? Devo te encontrar em alguns minutos.

Ricardo abriu a porta e ofeguei ao ver seu corpo sofrer impactos de


bala. Bella me empurrou para o chão e derrubei uma mesa, criando uma
barreira para nós duas.

— Caterina?

— Venha o mais rápido possível. Estamos sendo atacados.

— CATERINA! Me diga o que está acontecendo!

Eu me encolhi quando os vidros quebraram, através da janela, nosso


carro explodiu e foi um som ensurdecedor. Meu coração disparou e cobri
meus ouvidos, sentindo uma tontura. Bella cambaleou, com parte da testa
ensanguentada e tirou uma pequena pistola de sua bota, engatilhando e me
entregando.

— Vamos sair daqui juntas. Eles saberão se virar. — Ela tocou o


ferimento e encostou na mesa. Assis sinalizou do outro lado, para no três,
levantarmos. Ele viria atirando, mas deveríamos dar-lhe cobertura, para
fugir. Nossa única saída era os fundos, onde dava para um beco que descia
para a cidade.
Estava em pânico, meus dedos tremiam e um suor quente escorria por
dentro da minha roupa como se fosse ter um ataque cardíaco a qualquer
momento. Fiquei de joelhos e ao mesmo tempo em que Bella e eu atiramos,
do lado de fora, havia homens que pareciam cercar o restaurante. Ricardo
ainda estava vivo, contra a porta, fazendo força para fechá-la com um
pedaço de madeira que os atrasaria.

Parte do restaurante estava pegando fogo e a fumaça se alastrava,


causando uma coceira na garganta, um peso diferente para respirar. Assis
conseguiu vir para o nosso lado, erguendo Bella, que estava meio
desorientada e corremos para os fundos, mas já havia homens de preto e
encapuzados tentando entrar por ali.

— Para o solário, agora! Saiam pela janela e pulem para o telhado ao


lado, enquanto puderem fugir pelo alto, façam! — Assis ordenou, puxando
a escada.

Eu fui a primeira a subir, ajudando Bella em seguida e corremos para


o vidro, quebrei com o cabo da arma, espalhando cacos para todo lado e
consegui espaço o suficiente para sairmos. Rolei para o telhado, sentindo
uma dor no braço e quando o toquei, percebi que havia sangue escorrendo
por ali até a minha camisa.

Bella e eu viramos o rosto ao ouvirmos uma freada brusca e outra


explosão nos fez gritar. As telhas pareciam antigas demais para aguentar
nosso peso, o único modo de ficarmos seguras era nas bordas, perto dos
muros de cimento entre uma casa e outra, mas ali poderiam nos ver.

— Vamos surpreendê-los por cima. Consegue fazer isso comigo? —


Bella agarrou meu braço. — Danilo e Cassio devem estar do outro lado do
fogo, Ricardo e Assis sozinhos. O máximo que conseguirmos eliminar
daqui do alto será de grande ajuda, mas não fique desatenta, sempre tentam
nos pegar. Somos excelentes moedas de troca.

— Entendi. Eu posso fazer isso com você.

Corremos para as pontas, cada uma de um lado e apesar da fumaça


densa, consegui ver Cassio lutar corpo a corpo com um homem que parecia
ser duas vezes maior do que ele, mas era apenas o jeito corpulento com que
ele agia. Ele seria surpreendido por trás, mirei como Bella havia me
ensinado, sem muita prática e rezando profundamente para que acertasse.
Ela sempre me disse que um segundo de hesitação poderia me matar ou
alguém que eu amasse, por isso, não hesitei.

O homem caiu com um tiro na testa e Cassio virou, surpreso, ele


olhou para o alto e não parecia conseguir me enxergar. Fui mudando de
posição, até que Bella e eu estávamos lado a lado novamente. De repente,
ela gritou, quase se jogando dali de cima e meu pé afundou na telha velha,
me fazendo cair em parte no solário. A dor foi tão forte que gritei ao ponto
de retumbar pelo céu.

— Danilo! Não! — ela gritou e agarrei sua camisa, impedindo-a de


ser vista e ao mesmo tempo, era uma maneira de não afundar, mas nosso
peso fez com que as madeiras antigas cedessem junto às telhas.

Caímos no chão em um baque duro, eu rolei para o lado, tossindo com


a poeira. Bella me arrastou pelo braço quando a outra parte do telhado
começou a despencar em cima de mim e corremos para a escada
novamente. Descemos e ela pulou nas costas de um homem, enforcando-o,
dando vantagem para Assis matá-lo.

— Danilo foi ferido, vamos! — Bella me agarrou e corremos para


fora, derrapei pelas pedras, escorregando um pouco na gasolina e parei ao
ver Cassio erguer Danilo nos braços.

— Vamos sair daqui agora! — Mariano berrou, me empurrando para


um carro que pela minha visão periférica, havia acabado de parar. Os
homens que estavam nele avançaram, armados e nós entramos. Cassio
deixou Danilo no banco do carona, indo para o motorista, Bella e eu
pulamos atrás.

— Bella, fique de retaguarda, não sabemos quem pode nos seguir! —


Cassio gritou tentando dirigir e ao mesmo tempo, pressionar a ferida de
Danilo. Passei por entre os bancos, subindo no colo do meu cunhado e
fiquei de frente a ele, onde tirei minha camisa e a embolei, a maneira que
pressionei seu ferimento para impedir a hemorragia fez com que Danilo
urrasse de dor.

— Vai ficar tudo bem, amor. — Bella debruçou-se sobre ele. — Vai
ficar tudo bem, fique acordado.

— Olhe para mim, Danilo — pedi, aos prantos. — Meu bebê precisa
do tio, por favor. Não feche os olhos! — Bati em seu rosto, desesperada.

Por favor, todos nós precisávamos ficar bem!


TRINTA E SEIS | Cassio

Freei em frente ao pequeno hospital próximo ao vilarejo, saindo do


carro o mais rápido possível e antes de dar a volta completa, Caterina já
estava tentando tirar Danilo de dentro. Um enfermeiro apareceu correndo,
alardeado com o modo com que eu parei e voltou, para buscar uma maca.
Ergui meu irmão nos braços, entramos os três correndo e o deixei na frente
de um médico, que me pediu ajuda para empurrar até a sala de
atendimento.

Enfermeiras agitadas questionavam se Bella e Caterina precisavam de


atendimento. Minha esposa estava pálida, completamente suja de folhagens,
terra, algo laranja e sangue. Ela abraçou Bella, que chorava vendo seu
marido ser levado e de repente, fechou os olhos, desmaiando. Caterina caiu
no chão, sem aguentar o peso.

— Nós seguimos daqui! — O médico me parou.

— Meu irmão tem que ficar vivo ou eu vou matar todos vocês, fui
claro? — vociferei, agarrando seu jaleco. — Não ficará um pó com vida
nesse lugar.

Ao vê-lo assentir com um engolir seco, soltei-o e corri de volta para


elas.

— Eu preciso erguê-la, cuidado com a cabeça! — a enfermeira gritou


comigo e fiz do jeito que pediu, levando Bella desacordada para uma sala
ao lado. — Quero um médico aqui e agora!
— Cassio? — Caterina me puxou pela camisa. — Saia do caminho
deles, deixe que a médica se aproxime!

Desviei do caminho da mulher apressada e olhei para minha esposa.


Tateando seu corpo, encontrei um corte feio no braço, na perna e outro na
região das costelas. Uma enfermeira mais velha e atenciosa levou-nos para
outra sala. Caterina deitou e disse que estava grávida de oito semanas.

— Irei chamar o obstetra, certamente estão todos agitados e temerosos


— ela falou com suavidade.

— Eu não me importo, manda a porra do médico vir aqui agora!

— Cuide dos ferimentos dela, irei até a obstetrícia. — A enfermeira


pediu a uma mais jovem, que não parava de tremer. Aproximou-se de
Caterina, que tinha estado de espírito de parecer assustada, com dor e ainda
ser doce. Segurando meus dedos, quase os quebrou, torcendo conforme seus
cortes eram limpos e costurados. Ela fez de tudo para não gritar.

Assis e Mariano invadiram a emergência armados e mais pessoas


saíram correndo, com medo do que estava acontecendo. Era muito raro ter
ataques na região, portanto, não estavam acostumados.

— Cadê Bella? — Assis quis saber.

— Está em atendimento na sala ao lado. Eu vou ficar aqui e cuidar


deles até que tenha notícias concretas. Mariano, coordene os homens e
limpe a cidade. Assis, levante a nossa equipe, eu quero os vivos em um
único lugar e os quero prontos para mim — determinei, eles assentiram e
saíram novamente, enquanto dois carros paravam e seis homens orientavam
para a segurança.
Caterina foi a primeira a ser levada para exames, o médico disse que a
gestação estava muito no começo para grandes impactos e o que ela havia
sofrido poderia ter provocado um aborto.

— Não me diga isso, por favor. — Caterina começou a chorar. — Não


me diga que perdi o meu bebê.

— Vamos olhar pelo melhor ângulo e fazer o possível, nesse


momento, irei interná-la.

Senti algo dentro de mim quebrar. Ver minha mulher, vulnerável, com
medo e levando as mãos até seu ventre com a possibilidade assustadora de
termos perdido nosso filho me fez sentir impotente e vazio. Caminhei ao
lado dela, segurando sua mão e Bella, ainda desacordada, foi colocada em
um quarto próximo, assim poderia ficar de olho nas duas. Soube por uma
enfermeira que Danilo estava em cirurgia e ainda não tinha mais detalhes
para me dar, porém, meu irmão estava vivo e era assim que tinha que ficar.

Por um tempo, eu era apenas um robô, apenas seguindo de um lado ao


outro. Quando Caterina e eu conseguimos identificar junto ao médico, os
batimentos do bebê no ritmo esperado, minhas pernas quase cederam de
alívio e eu tive que reunir todas as minhas forças para não desmoronar. Eu
não tinha ideia do que faria, como remendar nossos pedaços, se
perdêssemos aquele amor que crescia no ventre da minha mulher.

Minha cunhada tinha ferimentos leves e um galo enorme na cabeça,


acordou desorientada e agitada, querendo saber de Danilo, que ainda estava
em cirurgia.

— Você tem que ir? — Caterina me questionou quando olhei meu


telefone. — Bella e eu vamos ficar bem. Pode confiar — ela me garantiu,
tentando ser forte por todos nós. — O médico disse que eu posso andar,
contanto que passe a maior parte do tempo de repouso, se Bella precisar de
mim, irei até ela.

Encostei a porta do quarto e parei contra a parede, com as mãos nos


bolsos.

— Eu quero que me conte tudo que não vi. Fale tudo nos mínimos
detalhes, preciso saber o que aconteceu.

— Cassio…

— Diga, meu anjo.

Respirando fundo, ela não quis me encarar, narrando os fatos com


calma. Podia ser letargia da medicação ou apenas o modo como estava
lidando com o caos. Mas ouvi seu medo, dor, agonia e a coragem de lutar
por si mesma com Bella, depois, lutando por nós. Ela caiu da porra do
telhado, inferno. Apenas a queda poderia matá-la, fazer com que perdesse o
bebê, somando a todo estresse e ainda estava em risco, com a pressão
arterial elevada.

Dei um passo à frente, controlando o demônio que estava louco para


sair e sedento por sangue. Sentei na ponta da cama e segurei suas mãos.

— Danilo vai ficar bem, todos nós ficaremos — ela garantiu, cheia de
fé.

— Eu vou morrer se alguma coisa acontecer…

— Ele não vai morrer!

— Eu vou morrer se alguma coisa acontecer com você — continuei


falando e ela parou, abrindo e fechando a boca. — Minha vida só tem
sentido com você, Caterina. Odeio que esteja ferida e na cama de um
hospital mais uma vez, tudo que sinto agora é muita raiva.

— Eu sei. Conheço o coração do meu marido. — Ela inclinou-se para


frente, puxando-me pela camisa. — Vá. Pode ir. Libere tudo que está aí
dentro, vingue nosso sangue derramado e volte para mim. Seu bebê e eu
estamos esperando-o.

Segurei seu rosto com ambas as mãos e encostei minha testa na dela.

— Não faça nada que possa existir a possibilidade de viver sem você.

— Eu não pretendo passar um mísero segundo da minha vida sem


estar ao seu lado. Vamos ficar velhinhos juntos. — Caterina me beijou e
desci meu rosto, beijando sua barriga repetidas vezes. Rezei baixinho para
que o coraçãozinho dele ou dela continuasse batendo, forte e saudável,
ergui meu rosto e a beijei mais uma vez. Seu rosto lindo estava com um
pouco mais de cor, embora parecesse cansada.

Bella estava acordada, prometi que voltaria logo e quando cheguei no


fim do corredor, vi que minha cunhada saiu de seu quarto para deitar ao
lado da minha esposa. Elas ficavam mais fortes juntas e se protegeriam
acima de qualquer coisa.

Entrei no carro, ouvindo tudo que Mariano tinha a me dizer, acelerarei


pelas ruas que já estavam vazias, o que significava que a notícia havia se
espalhado feito pólvora. Nanci e as crianças foram levadas para a casa da
família da minha mãe, por ser um local seguro. Parei em frente ao galpão,
onde tinha diversos homens tensos e reunidos.

Empurrei a porta de ferro onde Assis e Mariano estavam verificando


imagens do restaurante e das ruas ao redor.
— O que aconteceu?

— O ataque foi cuidadosamente articulado na fronteira. E detalhe, não


fomos os únicos atacados. — Assis me deu um olhar. — Fizeram parecer
que nós invadimos a Villa Valentinni. Juliana e as filhas estavam lá.

— O quê, porra?!

— Já falei com Giovanni, até porque, eles perceberam que não havia
como ser qualquer um de nós se não passamos para o lado de lá. — Assis
me acalmou, porque uma guerra estourar quando Danilo estava derrubado,
seria foda. — E, ao que parece, Francis estava fazendo o trabalho dele em
rastrear corretamente o que estava acontecendo conforme as informações do
nosso amiguinho que está no porão da casa de visitantes.

— É uma rebelião interna? De novo?

Alguns anos antes, aconteceu por insatisfação com mudanças e foi


uma matança louca por várias semanas. Daquela vez, além de ser muito
novo, a Calábria ficou completamente de fora e com as portas fechadas.
Nos envolver significava que o mundo aceitou que meu casamento com
Caterina era uma união entre as famílias e estavam demonstrando
insatisfação nisso.

— E novamente, vindo da Sicília. Enrico e Damon estão fodidos com


seus homens alimentando a porra da milícia só para causar o caos. —
Mariano puxou os cabelos, ainda todo suado e sujo. — Como elas estão?

— Bem, na medida do possível e quero que vá ficar com elas, porque


eu vou demorar aqui. Me ligue, imediatamente se Caterina sentir qualquer
coisa, não importa o que eu esteja fazendo. Entendeu? Cuide delas.

— Eu vou ligar, prometo. — Mariano saiu rapidamente.


Assis deu a volta na mesa.

— Temos cinco, já entendi quem é o líder e o mais violento,


provavelmente o que atingiu Danilo, pelo que vi nas imagens.

— Vou descer. Fique de olho em tudo. — Puxei as mangas da minha


camisa, descendo a antiga escada de madeira.

As paredes ali cheiravam a mofo, vinho envelhecido, tinta e… morte.


Aquela combinação esquisita, estranhamente me enchia de vida e
alimentava a energia de ódio que exalava toda vez que estava com raiva.
Fui até o canto, onde ficava a mesa, pegando um par de luvas de látex
reforçadas e depois, separei item por item que iria usar: o canivete suíço
que era o meu favorito para brincar, por ter diversos tipos de lâminas e
adereços pontiagudos. Depois, a tesoura cirúrgica, bisturi, alicate bem
afiado e deixei tudo na bandeja.

Parei próximo ao homem e dei-lhe um murro em seu rosto, jogando


água gelada em seguida e ele saltou, debatendo-se, mas estava bem preso.

— Bem-vindo à Calábria. Vou recompensar seu esforço de invadir o


meu território, dando-lhe a melhor estadia desse mundo. — Peguei o bisturi
e deslizei pelo braço, começando com um corte fininho, arrancando um
filete de sangue e ardor, para começar a agonizá-lo lentamente. Aquela
dorzinha iria crescer quando começasse a provocar as outras. — Diga-me,
amigo. O que achou que iria conseguir aqui?

Sinalizei para Assis tirar os sapatos dele, acendi o maçarico,


diminuindo a intensidade da chama e arrastei pela planta dos pés. Seus
gritos começaram baixo, ele estava tentando não sucumbir à dor, mas sentir
a ardência com o cheiro de sua própria carne queimada era demais para
qualquer um. Comecei a rir, alto, incomodando-o e adorando ver sua agonia
porque ele foi capaz de ferir o meu irmão.

Ele se arrependeria de ter nascido.

E não morreria sem me dar as informações que precisava.

— Quem mandou você aqui?

Ele não me respondeu de imediato e não iria, sua mente ainda não
estava confusa o suficiente. Apontei para a parede e Assis foi ligar o som,
para começar o tormento sonoro, para impedi-lo de esconder dentro da
própria mente e não me dizer o que eu precisava saber.

— Vire o rosto dele — falei com Assis e fui para o homem que estava
ao lado. Eles eram parecidos, poderiam ser primos ou irmãos, nada
incomum. Rasguei a camisa, expondo o peito e vi as tatuagens. Eles eram
da famiglia. Era bem provável que estivessem insatisfeitos, traidores que
não queriam a união das famílias.

Não considerava ser uma traição diretamente dos chefes, porque


Enrico e Damon reconheciam que o acordo com Danilo era lucrativo. E eles
jamais passariam por cima de Enzo e Dante, por serem mais do que uma
união de negócios. Eles eram uma família. Laços mais fortes que
sanguíneos os unia, assim como era com os Venturinni e os Mansueto.

Peguei o canivete, escolhendo a lâmina mais profunda e cravei no


estômago dele em um golpe profundo. O grito de dor com o som alto fez
com que o outro gritasse também, pedindo que parasse.

— Você atirou no meu irmão. Por que acha que vou parar? A não ser
que me diga quem te mandou aqui, porra!
— Vai se foder, cuzão do caralho! — ele berrou de volta, cuspindo em
Assis e nós rimos. Ainda olhando-o, apenas rasguei seu abdômen, ganhando
tremores e um vômito de sangue escorrendo para os meus sapatos. — Para
com isso, cacete! Apenas, pare!

— Quem te mandou aqui, caralho?

— Chicago.

Foi o último sussurro do homem que tinha minha faca cravada no


tórax. Ele morreu segundos depois.
TRINTA E SETE | Caterina

Bella soltou um suspiro, deitada com a cabeça no meu ombro e não


me movi, porque naquele momento, era ela quem precisava de uma irmã.
Medicada, foi tombada por estar sentindo dor e ter ficado um tanto histérica
de preocupação com o marido e os filhos. Depois que falamos por vídeo
com Nanci, ela conseguiu se acalmar um pouco e tivemos notícias de que a
cirurgia de Danilo progredia bem. Ele já estava no quarto há horas e não
consegui acordá-la. A enfermeira disse que era normal.

Acordei e dormi diversas vezes, fui examinada mais de uma vez para
verificar o meu bebê e tirando o incômodo do corte no braço e a dor no
corpo generalizada causada pela queda, estava me sentindo muito melhor,
nada comparado à monstruosidade que foi na época do sequestro. Talvez
fosse a medicação fazendo milagre.

Passei a mão nos cabelos de Bella, tentando acordá-la novamente e


seus olhos azuis impressionantes abriram-se. Desconfiada, franziu o cenho
e sentou. A médica disse que não deveríamos dividir a mesma cama porque
ficaríamos doloridas, mas eu não me importei. Eu e ela chegamos àquele
tipo de relação e se precisava de mim, daria o meu melhor. Se fosse o meu
marido em uma mesa com médicos precisando lidar com a vida dele, tinha
certeza de que ela jamais me deixaria.

— Danilo está no quarto — avisei com calma, para que não saísse
correndo.

Bella amassou o rosto, começando a chorar.


— Ele está bem?

— Ele está fora de perigo, só não estava acordado quando a


enfermeira veio aqui e Mariano foi ficar lá, para que não se sentisse
sozinho.

— Eu preciso vê-lo. — Bella saiu da cama e fui atrás, sentindo uma


dorzinha incômoda no quadril. A enfermeira me proibiu de andar, disse que
iria me empurrar na cadeira de rodas e não discuti, ela sabia o que era
melhor e eu não bancaria a teimosa estando grávida. A saúde do meu bebê
era mais importante que tudo.

Toda força e ânimo que tive antes, foi por ele, por mim e por meu
marido. Só conseguia pensar no quanto sentia medo, com um pânico que
poderia paralisar minhas pernas e a coragem me fez reagir.

Bella abriu a porta do quarto que Danilo estava, ele parecia pacífico,
não tão pálido e era estranho vê-lo quieto. Ela tocou seu cabelo, o rosto e
parecendo sentir a presença da esposa, ele abriu os olhos, me fazendo
chorar um pouco porque foi muito bonito. Mariano apertou meus ombros e
decidimos dar privacidade ao casal. Estava com fome e havia uma máquina
de lanches no corredor, um biscoitinho com chá acalmaria meu estômago.

— Você quer mesmo ou é olho grande? — Mariano parou um pouco


distante do meu objetivo e suspirei. Será que me faria sair da cadeira só
para dar-lhe um chute nas bolas?

— Faça o que estou pedindo se não quiser acordar com bolas


lacrimejantes nos seus olhos. Nunca negue o desejo de uma grávida,
querido.
Sorrindo, malandro, comprou o lanche que pedi e a bebida, que estava
quentinha, sem nenhum doce. Não tinha açúcar em lugar algum. Levando-
me de volta para o quarto, me pegou no colo e tomou cuidado com a
medicação, ajeitando meu braço com os fios ligados.

— Tem alguma notícia do Cassio?

— Sim. Ele está… ocupado. — Mariano coçou a nuca. — Filmei


vocês duas dormindo e dei um relatório completo do que o médico disse
sobre todos.

— Eu sei que ele virá no momento certo.

— Em algumas horas, irei levá-las para casa, bom, duvido que Bella
vá querer ficar longe de Danilo até que melhore, por mais que seja seguro.

— Deixe que ela fique, eu vou e fico com as crianças junto a Nanci.

Mariano me deu um aceno, enfiando as mãos nos bolsos e eu tossi,


soltando um gemido de dor. Ele chamou a enfermeira, revirei os olhos e
disse que foi por causa do movimento, estava tudo bem.

— Acalme-se.

— Cassio irá matar a todos se acontecer alguma coisa com você e o


bebê. — Mariano olhou para fora, vigiando e pelo modo que o corredor
estava vazio, acreditava que os funcionários estavam evitando circular por
ali.

— Quando tiver alta, quero que compre flores e chocolates para os


médicos e enfermeiras, eles nos trataram muito bem apesar do modo que
chegamos aqui. Além do mais, a doçura também pode comprar a lealdade
nesse momento delicado, no qual estamos expostos aqui. — Abri um
sorriso porque ele entendeu o meu recado. Ser gentil também poderia nos
ajudar, nem sempre ameaças e armas eram eficazes com pessoas que
literalmente estavam com o poder de cuidar da nossa saúde.

Algumas horas depois, por logística, todos nós fomos liberados. O


médico da família chegou para levar Danilo em uma ambulância equipada
com dois enfermeiros. Bella foi com eles, atenta e pronta para atacar.
Mariano e eu fomos de carro, sozinhos, porque os demais ficariam na
cidade para ajudar Cassio e Assis. No meio do caminho, os homens que
moravam na comuna de praia cruzaram com nosso carro e nos seguiram
para terminarmos o trajeto em segurança.

Mariano dirigia, toda hora olhando seu telefone. Fiquei curiosa.

— O que já sabe que pode me contar? Estou preocupada com Cassio.


Ele é mais diplomático que Danilo quando se trata de lidar com os outros
chefes, mas, com a cabeça cheia e com raiva, é um monstro sem educação.

— Ainda não sei muito, estou monitorando as câmeras dos


estabelecimentos enquanto te levo e tudo que me foi informado é que os
homens vieram treinados para dizer que Chicago está nos atacando
enquanto os que invadiram o vinhedo, também foram tatuados como a
Calábria, para nos culpar — Mariano me respondeu e franzi o cenho.
Cassio sempre deu a entender que ninguém sabia que os chefes trabalhavam
em conjunto em segredo e essa pessoa, ou grupo, que estava arquitetando,
queria causar uma guerra muito perigosa sem saber dessa informação vital.

— E as relações estão estremecidas? — Mordi meu lado, aflita. Meu


casamento foi o primeiro movimento público que uniu todos os chefes no
mesmo lugar em muitos anos. Ou a primeira vez, porque pelo que sabia,
somente nos enterros dos patriarcas que se encontravam.
— Não ainda, pelo menos, não parece. Dante tem seus planos muito
alinhados com Danilo, nada foi deixado de lado, seria uma traição muito
grande acreditar nesse ataque, que por mais estressante que seja, foi
pequeno diante das informações e dinheiro que rolam entre as famílias. —
Mariano apertou o volante. — Pelo menos, meu pai e meus irmãos estão
seguros em Vegas.

— Estamos todos bem e isso é o que importa. Como essas pessoas são
ignorantes com a verdade, logo a luz do entendimento virá. — Eu o
tranquilizei.

Nanci estava agitada no quintal quando chegamos, as crianças, no


segundo andar, com outra senhora que tomava conta da casa, por isso, elas
não viram o pai chegar na ambulância e ser levado para um quarto no térreo
que teria que acomodá-lo por enquanto. Cansada e precisando de um banho,
depois que Danilo e Bella estavam bem, com os filhos ao redor e sendo
mimados por todos, eu fui para o meu quarto.

Deixei algumas roupas ali antes de ir embora para a Calábria, foi o


que me salvou. Tomei banho, um pouco tonta, me apoiando para não cair e
deitei.

— Posso entrar? — Mariano estava com seu telefone na mão. — É


Cassio.

— Oi, marido — atendi com calma, segurando o bocejo.

— Apenas preciso ouvir sua voz para ter certeza de que está bem.

A voz dele estava carregada com algo tão sombrio, com uma energia
ruim, que trouxe uma dor ao fundo do meu coração e um arrepio na
espinha. Mas ele precisava de mim e eu daria tudo que necessitasse.
— Nós estamos, sim, acabei de deitar, vou descansar para esperá-lo.

— Estarei ao seu lado o mais rápido possível.

A ligação foi encerrada em seguida. Olhei para o aparelho, um pouco


confusa com os sentimentos que surgiram e devolvi para o dono. O meu
ficou todo quebrado e, provavelmente, ainda estava no chão do restaurante.
Depois teria tempo para ativar o número e alguém sairia para comprar um
novo aparelho. Não estava com pressa, havia coisas mais importantes para
serem resolvidas antes.

Mariano disse que um dos homens compraria os remédios que o


médico passou, fechou as cortinas para mim, ligou o ar e saiu, deixando o
quarto no clima perfeito para dormir. Foi difícil encontrar uma boa posição,
rolei de um lado ao outro, incomodada, um dos cachorros arranhou minha
porta querendo entrar, levantei, era o peludo de dentes tortos da Julieta. Ela
subiu na minha cama, e quando deitei novamente, ficou fuçando minha
roupa até que levantei a camisa.

— Está dando beijos no bebê, menina? Uma garota sente uma mulher
grávida? — Acariciei seu pelo, ganhando mais carinho na barriga e um
aconchego. Não costumava ficar com os cachorros, embora gostasse deles,
ficavam seguindo Bella o tempo todo porque eram meio que dela, de
Julieta. Não fui criada com bichos, minha mãe não gostava.

E só de pensar nela, meu coração apertou em preocupação. Como será


que ela estava, afinal de contas? Seus sinais mistos me deixavam muito
tensa, sem saber o que fazer.

Peguei no sono sem perceber e, sem sonhos, tomei um susto com um


toque suave no meu rosto. Abri os olhos, reagindo, e era Cassio. Ele
segurou meu pulso da mão fechada em punho que quase acertou seu nariz.
— Desculpa! Você está em casa! — Joguei-me nele, quase derrubando
o cachorro no chão. Cassio me apertou em seus braços, respirando fundo,
fungando no meu pescoço e acariciando minhas costas com as mãos firmes.
Estava de banho tomado, a julgar pelo perfume e cabelos molhados. —
Chegou faz tempo?

— Não. Eu apenas tomei banho antes de subir, para me limpar de


tudo.

Toquei seu rosto, olhando para seus lindos olhos em tom de mel. Eu
era profundamente apaixonada por ele.

— Estou feliz que esteja em casa.

— Deixe-me te ver. — Ele ergueu minha blusa, buscando os


ferimentos, conferiu as receitas e eu ri. — Não deboche da minha
preocupação.

— Nos primeiros meses do nosso casamento, eu era a única muito


preocupada com tudo.

— E continua, é o seu jeito. Aprendi a lidar com isso e respeitar.

— Isso é importante para mim, obrigada. — Dei-lhe um beijo e a


cachorra rosnou. — Temos companhia.

— Eu a vi dormindo contra sua barriga, parece que sente o bebê.

— É bem provável que sim.

Cassio acariciou o pelo dela, a acalmando. Ele ainda estava se


desligando do modus operandi necessário para obter informações dos
nossos inimigos.
— Eu te comparava a essa cachorra. Treinada e bonitinha —
confessou e fiquei irritada. O apelido de cachorrinho ainda me deixava
furiosa mesmo que, em sua maior parte, só usassem para me provocar. — E
estava muito errado.

Aquilo me pegou de surpresa. Cassio jamais admitia seus erros, ele


era simplesmente um teimoso de primeira.

— Estava? Não me vê mais como um cachorrinho?

— Eu te vejo como a luz que guia os meus dias, é a minha paixão, a


mulher que faz com que tudo dentro de mim queime de maneira
descontrolada. Amo a sua evolução e o quanto se descobriu, se libertou e
seu jeitinho sereno, ao mesmo tempo astuto, é um charme espetacular,
impossível de resistir. — Cassio olhou em meus olhos e ainda estava sem
fôlego, absorvendo tudo que ouvi. — Eu poderia ter te perdido de novo.
Poderiam ter te roubado de mim mais uma vez e diferente da primeira,
levariam toda minha vida e coração com você.

— Mas eu mudei. Não fiquei à mercê.

Graças à insistência da minha cunhada em me ensinar um pouco de


tudo que sabia e seria eternamente grata. Ela estava certa o tempo todo.

Cassio colocou meu cabelo atrás da orelha.

— Não. Você só precisava de um empurrãozinho para encontrar quem


é de verdade e quero que saiba que sinto muito orgulho por ter lutado por
sua vida, pelo bebê, por mim e nossa família. — Ele encostou a testa no
meu ombro e acariciei sua nuca. — Eu pensei que amar você me faria um
homem fraco e pronto para a morte, mas é o contrário, me faz forte.
— Eu tenho certeza de que o amor que sentimos um pelo outro é a
nossa fortaleza.

Erguendo o rosto suavemente, sorriu. Era a primeira vez que


confessávamos abertamente nossos sentimentos e por mais que o começo
tenha sido singular, sem uma paixão avassaladora, não trocava cada dia de
aprendizado e intimidade que nos fez crescer como casal até formarmos
uma família com o bebê se desenvolvendo no meu ventre.

Cheguei um pouco para o lado, dando espaço para que deitasse e


ficamos do nosso jeitinho favorito: pernas emboladas e tão juntos que era
impossível saber onde começava um e terminava o outro.

Depois da tempestade, aquela era a melhor bonança.


TRINTA E OITO | Caterina

— Posso dar um beijo na barriga? — Julieta parou na minha frente,


toda amorosa e ergui minha blusa. Félix, que estava correndo na praia,
derrapou perto de mim e apesar de me sujar toda de areia, também quis dar
um beijo no priminho ou priminha. — Sai, Félix!

Fabrizio passou também e quase nos derrubou. Aqueles meninos eram


brutos e não tinham noção do tamanho e peso que já tinham naquela idade.
Foram embora brigando e ri, colocando minhas pernas para o alto,
esticando-as e acariciei minha barriga, limpando o que eles me sujaram de
areia. Tranquila, respirei fundo, aspirando o cheiro do mar.

Ouvi passos aproximando-se, virei e observei meu marido e toda sua


beleza sair das portas que davam para a cozinha com dois copos de
vitamina que Nanci devia ter feito. Era de banana com frutas vermelhas, um
iogurte caseiro delicioso que a senhora que vivia ali fazia. Ele me entregou
e dei um gole, soltando um som profundo de apreciação e sentando-se ao
meu lado, colocou a mão na minha coxa.

Mais uma noite fora de casa, sem dormir juntos, estava morrendo de
saudade do meu marido. Enquanto Danilo não melhorava, apesar de ativo e
andando de um lado para o outro, dando ordens e nos estressando por não
sossegar, ele ainda não conseguia ficar muito tempo em pé e subir escadas.
Era recente demais, não tinha passado uma semana e o idiota tomou um
tiro, não conseguia ouvir as recomendações médicas.

Cassio estava cuidando de tudo e pelo que sabia, haveria uma


importante reunião mais tarde com todos os chefes presentes e envolvidos,
só estavam aguardando Fernando chegar. Assis voou para Vegas, para
cuidar de algumas coisas necessárias pessoalmente e Mariano ficou. Ele
raramente ficava longe de Cassio, eram como irmãos gêmeos irritantes.

— Como está se sentindo? — Cassio passou o braço por meus


ombros.

— Feliz com a consulta hoje, sei que serão semanas delicadas daqui
por diante, com todo repouso e cuidados, mas não consigo deixar de ser
muito grata pelo nosso bebê ser tão forte. Rever tudo que Bella e eu
passamos nas imagens, me traz a dimensão do perigo, que na adrenalina, só
é assustador.

— Ele ou ela é um Venturinni. — Ele colocou a mão em cima da


minha barriga.

— Quando tudo se acalmar, vamos fazer aquelas festinhas de


revelação do sexo?

— Você adora um motivo para festejar. E, sim, vamos fazer. — Deu-


me um beijo e deitei minha cabeça em seu ombro, apreciando a calmaria.
— Tenho que te contar uma coisa.

— O que foi?

— Enrico já tem um veredito sobre os envolvidos.

— E já sabem quem são?

— Os nômades eram pontas de distração. Soubemos que alguns


subchefes pequenos estavam particularmente ofendidos com a minha
atitude de matar a todos e o fechar de olhos da chefia sobre a minha atitude,
depois, ainda oferecer um casamento, na intenção de assustar inimigos, isso
irritou alguns membros — ele começou a falar com calma e aquilo já me
deixou nervosa. — De todas as informações que colhemos, foi comprovado
que seu pai estava envolvido. Nunca houve uma intenção de permitir que
saísse de Chicago, eles contavam que o sequestro me fizesse desistir do
casamento, mas acontece que os nômades não seguiram as regras, te feriram
demais e eu também não desisti de te encontrar. Nas conversas ouvidas, seu
pai jurava que um recuo da nossa parte iria ofender profundamente Enrico,
o que é verdade, e assim, a tentativa de união viraria uma guerra. Não é
segredo que os membros antigos como seu pai desejam dominar a Calábria.

— Meu pai sabia do sequestro?

— Foi arquitetado. Na escuta que me foi enviada, seus irmãos


souberam depois, quando foi encontrada.

— Meu pai mandou me sequestrar?

— Ele mandou, sim, só não contava que os nômades iriam te ferir, ele
implorou que parassem e que daria o que fosse necessário. Pagou meio
milhão para não mudarem os planos.

— Isso não muda o fato de que ele é o responsável pelo maior trauma
da minha vida, Cassio. Eu poderia ter morrido só no acidente! E a troco de
quê?

— A troco de dinheiro e poder, é claro. Guerras movimentam as


vendas, porque novos territórios são conquistados, subchefes são
promovidos e assim… — Ele pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos.
Estava tremendo, com raiva e com vontade de ir a pé até Chicago dizer
umas boas verdades para meu pai, de preferência, com meus punhos. Ele
deveria sentir o peso de uma bota afundando nas costelas para entender a
pontinha do que passei naquele cativeiro.
— Meu padrinho sabia, meu pai e depois meus irmãos. Eles se
afastaram por causa disso? E o que vai acontecer com eles?

— Você sabe o quê. Eles souberam de uma traição e ficaram calados,


deram seus nomes e sangue em honra à famiglia. Não existe ninguém
acima, nem mesmo a paternidade. E para ser honesto, colocaram a vida das
suas cunhadas e sobrinhos em risco, a sorte é que ficou comprovado que
elas não sabiam de nada. — Cassio apertou minha mão. — Enrico disse que
não fará nada com elas. Estou te contando antes, para ter tempo de absorver
a informação até que as notícias oficiais cheguem.

— Meu pai e irmãos serão executados por traição. — Engoli em seco,


sentindo uma dor repentina no peito, falta de ar.

— Ei, amor. Calma, por favor. Eu sinto muito, só não poderia


esconder isso… todos saberão em breve.

— E quanto a minha mãe?

Cassio enfiou a mão no bolso e tirou um aparelho novo.

— Recuperei as mensagens. Ela te enviou uma um minuto depois que


o ataque começou…

“Filha, fuja agora!”.

E em seguida, milhares de ligações e perguntas, áudios dela chorando


de dor e medo de que estivesse morta, implorando perdão, que foi obrigada
pelo meu pai a fazer perguntas e esperava que tivesse entendido todas as
vezes que tentou me alertar. Ouvi-la quebrada e lamentando minha morte
rompeu a represa, me fez gritar. Bella saiu correndo de casa com Danilo e
me segurou, puxando-me para seu colo.
— Ela já sabe que estou viva? — Solucei e Cassio me deu um olhar
triste. Coitada da minha mãe, tudo que deve ter passado e não havia nada
que ninguém pudesse fazer porque era impossível saber se ela era uma
cúmplice ou vítima. No fim, foi apenas como toda esposa submissa vivia no
meio: obrigada a obedecer ao marido acima do amor pelos filhos e ela ainda
tentou me salvar como pôde.

— Eu pedi que fosse contado depois que seu pai for eliminado.
Alguns funcionários relataram que até o momento da demissão, perceberam
que a senhora estava mais reclusa e ficando no quarto na maior parte do
tempo.

— Ele pode tê-la obrigado a ficar lá — Bella refletiu, acariciando seus


cabelos. — Qual foi o veredicto sobre ela?

— Damon a mandará para a villa das viúvas, já que é provável que a


sogra se recuse a recebê-la após a morte do marido — Danilo respondeu e
sequei meu rosto.

— Eu poderei vê-la?

Não tinha certeza se queria ou iria, apenas precisava saber.

— Quando toda poeira baixar, sim, agora não é indicado. — Cassio


acariciou minha bochecha. Ele secou uma lágrima que caiu. — Não fique
assim.

— Eu nem sei explicar as raízes da minha tristeza.

— Vem, Cate. Vamos beber uma água, tomar o calmante que o


médico passou e deitar. Não é bom que fique tão estressada. — Bella me
levou para dentro.
Eu não sabia se queria falar com a minha família. O que meu pai fez
não tinha perdão. Ele e meu padrinho armaram toda uma situação
catastrófica para provocar uma guerra, sem saber que as relações eram
muitos maiores do que simples apertos de mão em público. Aceitou meu
casamento, na intenção ou não de me manter segura, depois, pagou os
nômades para continuar nos atacando.

Enquanto Bella preparava o chá, perguntei sobre os ataques em Vegas,


se tinham alguma relação.

— Talvez, em cada ação calculada em Las Vegas, seu pai tentasse te


pegar de volta — Bella comentou, pensativa. — Eu não sei dizer. Hoje,
tenho certeza de que meu pai faria de tudo para me resgatar, mas antes,
acreditaria que ele iria colocar os negócios à minha frente. Nunca entendi a
maneira do meu pai de demonstrar amor, levamos um longo caminho até
esse entendimento.

— Meu pai sempre pareceu me amar, mas não acima de sua honra à
famiglia, que bem ou mal, ele achou que estava fazendo o melhor até
começar a contrariar os chefes. Ordem é ordem, ele ignorou isso por
ambição, não duvido nada que o cérebro de azeitona do meu padrinho que o
convenceu a isso. — Respirei fundo, ainda tentando acalmar as batidas do
meu coração com a ansiedade quase conseguindo levar o melhor da minha
sanidade embora.

— Quando se trata de negócios…

— Ele achou que iria conseguir? Quer dizer, é tão estúpido pensar que
homens letais como Danilo, Enrico e Damon fariam acordos por besteira! É
duvidar da capacidade dos chefes em nos manter seguros!
— Cate, querida. Você sabe da verdade, de como funciona, seu pai é
um homem velho com raízes tradicionais que não fazem o mínimo sentido
no nosso meio e nem tem ideia de como as coisas funcionam, ele acreditou
que a posição de respeito sendo chefe de cassino lhe dava algum poder.
Mediante a todos, o que tinha e fazia, era nada. — Bella apoiou as mãos na
mesa. — Eu sinto muito, você tem o direito de sentir luto, foi criada por ele,
sei que amava seus irmãos apesar de toda mágoa.

— Eu sei que vou sofrer. Mas também sei que não posso mudar o
passado, nem mesmo as atitudes deles. E o meu casamento pode ter
começado por um acordo político interessante, mas é muito importante para
mim e agora…

— Você e Cassio têm todo direito de não permitir que nada abale a
saúde do bebê. Não se preocupem, Danilo e eu seremos escudos.

Dei a volta na mesa e a abracei apertado.

— Obrigada por ser minha irmã.

— Eu também tenho que te agradecer por ter sido meu alicerce nos
dias em que Danilo ficou de cama. Cuidou dos meus filhos como se fossem
seus.

— Somos uma família e aprendi que sempre ficaremos juntos, é por


isso que nesse momento, não consigo perdoar minha mãe. Só Deus sabe
que o inferno seria pouco pelo que faria para proteger meu filho e os seus
filhos. Mandar mensagens e sinais não é o suficiente, eu entendo a posição
dela, só não aceito.

— Ah, querida. — Bella me abraçou, ela sabia do que eu estava


falando. Mesmo preocupada com Danilo e desejando ficar com ele, a
mulher não se permitiu dormir até ter certeza de que seus filhos estavam
seguros com Nanci.

Na emoção mais crua da minha raiva, viver na villa das viúvas ainda
não era vergonha o suficiente, o maior terror da minha mãe. E quanto ao
meu pai, estava indo tarde. Não era ele quem acordava cansado toda manhã,
como se tivesse corrido uma maratona, deixando Cassio a noite toda em
claro preocupado que me ferisse quando me debatesse.

Eu quis ficar com Julieta, ela sempre me acalmava, e brincar de


boneca me fazia lembrar dos tempos que era apenas uma menina inocente,
sem saber do futuro, o que iria acontecer sendo mulher no seio da máfia
italiana. Passei o dia inteiro com a minha sobrinha e saí do quarto apenas
para cumprimentar os convidados, era muito homem assustador por metro
quadrado, como demonstração de boa convivência, as esposas e os filhos
estavam junto. Era prova de que não haveria qualquer ataque e que
gostariam de manter a relação.

As crianças correndo no quintal trouxeram alguns decibéis de barulho.

— Nino, pelo amor de Deus! Olha a sua idade, garoto! — Giovanna


gritou.

— Eu não fiz nada, mãe. Laura que ia jogar o Nico na piscina! — Ele
se defendeu e mordi o lábio para não rir.

— Não me faça aproveitar que estamos no alto para te jogar daqui —


ela vociferou e ele ergueu as mãos, alto e forte como o pai, já era bem
grande para sua idade. Alguns anos mais novo que Félix, porém, havia
pouca diferença de altura.
— Seu filho parece ter paciência com meninas, Bella. — Juliana saiu
da reunião com um copo vazio. Ela estava indo e vindo, assim como minha
cunhada, porque as duas meio que participavam dos negócios. Eu não me
interessava, o que Cassio me falava já era mais do que o suficiente. — Ele é
bem calmo com Aria, que é uma chata chorona.

— Ah, o amor da maternidade real exala por aqui — Luna brincou.


Ela estava no chão, penteando bonecas com Julieta.

Ninguém sabia que estava grávida e assim mantive, mas ouvi tudo
que estavam dizendo, a maneira como soavam brigonas com seus anjinhos
agitados e, ao mesmo tempo, protetoras, em alerta, prontas para tudo.
Aquilo era ser uma esposa de mafioso, preparadas para qualquer
eventualidade, sempre, mas nada acima do amor. Eu fiz do meu casamento
um projeto de vida do modo errado e aprendi o que realmente significava
ser um só com seu marido. Agora, na nova fase da minha vida, estava
pronta para aprender a como ser a melhor mãe que meu bebê merecia.

Nada ficaria entre nós.

Nada.

Nem mesmo as regras do nosso mundo mafioso.


TRINTA E NOVE | Cassio

O sorriso desafiante de Danilo no fim da reunião me fez rir. Ainda


haveria muitas guerras em que usaríamos os últimos acontecimentos como
desculpa para executar pessoas necessárias. Era sobre estratégia e território,
nada a ver com amizade, laços de afeto e sim, dinheiro e os negócios. Do
lado de fora, um bom cheiro de churrasco, as crianças gritando e o caos
acontecendo. Aqueles gritinhos e risadas, no entanto, tornaram tudo
melhor.

No final do dia, a estratégia para invadir Atlanta estava pronta e todos


concordaram que Assis seria o enviado do nosso lado. Ele fez um excelente
trabalho em Vegas com o pai e irmãos, com apoio do Delacroix e depois,
Rizzo, entrando através do suporte do Marino. Ainda não sabia quem
invadiria o lado da famiglia e, no momento, não nos interessava.

Aquele encontro era necessário para reafirmar que não foi um ataque
entre as famílias e tudo seguia na mais perfeita ordem.

Mais tarde, quando todos foram embora, eu fui atrás da minha esposa.
Caterina estava no quarto, recém-saída do banho e a primeira coisa que fiz
foi dar-lhe um beijo no ventre, falando com o meu bebezinho. Ela sorriu,
acariciando meu cabelo e fiquei de pé, tomando sua boca. Ela ficou na
ponta dos pés para me acompanhar e sorri, erguendo-a no colo. Cheirosa,
deixei-a na cama, estava sujo para que a tocasse.

Fui para o banheiro, me lavando e coloquei uma cueca, cansado. Os


últimos dias foram corridos, cansativos e eu só queria deitar e dormir com a
minha esposa. Infelizmente, não poderíamos namorar, por ela estar de
repouso e eu só queria que ficasse bem de saúde e nosso bebê saísse do
quadro de risco. Por mim, Caterina nem sairia da cama, mas só se a
amarrasse.

O medo de que ainda acontecesse alguma coisa era forte, por isso,
estávamos impedindo que fizesse esforço ou carregasse peso. Pelo menos,
não estava pegando Julieta no colo ou tentando bancar a engraçadinha.
Caterina era muito centrada para errar. A prova de que havia chorado por
tudo que soube de sua família eram os olhos inchados.

— Precisa de alguma coisa? Eu posso descer para pegar antes de


dormimos.

— Eu só quero um abraço. Todo o restante pode esperar.

Puxei as colchas do meu lado, jogando as almofadas no chão e deitei,


trazendo-a para meus braços e assim ficamos, juntinhos, seu cheiro era
minha paz e sentir seu calor significava que não a perdi para o cenário mais
assustador dos meus pesadelos. Toda dor que eu vivi e que mudou a minha
vida não se comparava à dor que sentia só de pensar em sobreviver sem ela.

A garota assustada que chegou na minha vida disposta a ser a melhor


esposa, era, de fato, a melhor de todas e não pela maneira que ela
acreditava.

Acordei sozinho na cama e me assustei no quanto dormi pesado.


Levantei correndo, saí do quarto armado e desci a escada à procura dela.
Estava muito cedo. Não tinha ninguém acordado ainda, mas Caterina estava
com a boca cheia de pão com geleia, restos de churrasco em um prato à sua
frente e uma fatia de pizza rodando no micro-ondas.
— É apenas um lanchinho! Acordei com muita fome! — Defendeu-se
do meu olhar.

— Alguns diriam que isso é um banquete um tanto peculiar —


murmurei e peguei a pizza, era muito gorduroso, já tínhamos conversado
sobre sua alimentação.

— Eu já disse que acordei com fome! E devolve meu prato! —


Caterina me deu uma mordida, pulando nas minhas costas, eu ri e o
coloquei no alto só porque não poderia alcançar. Irritada, subiu no
banquinho e se pendurou no balcão.

— Ei, não faça isso! — Agarrei sua cintura e a coloquei no chão. —


Tudo bem, coma o que quiser! Contanto que nunca mais suba no balcão, fui
claro?

— Sim, senhor. — Bateu continência só porque me irritava


profundamente. — Não faça essa cara aí, é você quem saiu da cama
disposto a me irritar.

— Eu vim atrás de você, preocupado.

— Tá, tudo bem, agora me beija! — ordenou e soltei uma risada,


minha mulher era louca, mas eu a beijei mesmo assim.

Observando-a comer até terminar com tudo que estava ali por cima,
eu não esperava que, menos de uma hora depois, estaria segurando seu
cabelo no sanitário enquanto ela colocava tudo para fora e reclamando das
contrações no estômago. Lavando a boca e pálida, foi para a cama. Talvez o
temido enjoo matinal tinha acabado de bater na nossa porta ou seu corpo
realmente rejeitou a mistura de carne, queijo, massa e geleia.
Peguei um remédio para enjoo recomendado previamente pelo médico
e a deixei dormir, saindo do quarto para encontrar Danilo no escritório,
olhando o mapa, com nossos territórios marcados. Como era uma tela
grande, foi movendo o dedo, fazendo alguns planejamentos astutos.
Precisaríamos ficar muito atentos nos próximos meses.

— Está com dor?

Danilo ergueu o olhar.

— Não. Estou pronto para a história do Assis como subchefe


começar.

— Vai ser interessante ver o desenrolar disso. — Abri um sorriso. —


E estou pronto para ser um marido e pai. Caterina quer ter o bebê aqui e
ficar com Nanci, então, estarei indo e vindo por um tempo, enquanto a
gestação está no começo.

— Quero que aproveite bastante, sei que será um pai incrível.

— Talvez por ter tido um bom exemplo.

Danilo olhou em meus olhos intensamente e sorriu de lado. Ele sabia


que não estava falando do nosso pai.

O telefone dele tocou, ele leu a mensagem e ficou sério.

— Foi feito. A família Giordano… as cunhadas e sobrinhos enviados


para Sicília, para a villa da família da avó de Caterina e a mãe, foi ferida na
troca de tiros, mas está viva e será exilada.

— Pelo que minha esposa sempre falou, a vergonha era o maior


medo.
— É o que vem com a desonra. Aparentemente, Caterina é a única
com senso de preservação e lealdade naquela família.

Ele colocou seu telefone na mesa novamente e espelhou a tela. Pude


ver as imagens, comprovando a execução, uma atitude para provar que o
acordo foi feito.

Caterina nunca poderia ver aquilo. Ela já estava lidando com emoções
extremas. E eu já teria que ser o portador da notícia.

— Eles a criaram para ser a esposa-troféu perfeita, sem erros, mas a


personalidade dela é mais forte. Se eu sonhar em tirar minha aliança, eu não
duvido que irá me agredir novamente.

Apesar de tudo que aconteceu, da limpeza que foi feita em Chicago,


as semanas seguintes foram tranquilas para nós. Aquele tempo de paz foi de
extrema importância para a recuperação física de Danilo, me conectar com
minha esposa e saber como lidar com as oscilações de humor dela.

Caterina completou três meses de gestação e saímos do risco de


aborto para as preocupações comuns de cada etapa. Estive em Las Vegas
duas vezes, sozinho, me reunindo com Fernando, Klaus Delacroix [12]e
outros empresários. Retornei em um dia de extrema importância para nós
dois.

O chá de bebê e o de revelação do sexo. Mariano estava me esperando


no aeroporto privado, com seu clássico sorrisinho irritante e fui até o carro,
louco para ir para casa e matar a saudade da minha mulher. Ela ficou louca
que encomendei uma queima de fogos, do nada, mas era para saber que
estava voltando e o quanto a amava.
Obviamente, ninguém de fora sabia o motivo do espetáculo que
decorou o céu da praia por alguns minutos e fez meu irmão me chamar de
capado apaixonado como se o imbecil não fosse o rei de todos eles. O
quanto Danilo era apaixonado por Bella não era crime, ele só não podia ser
hipócrita e me zoar.

Cheguei em casa assobiando e os cachorros apareceram com Julieta.


Minha sobrinha começou a pular de alegria, querendo colo e a enchi de
beijos, ganhando um abraço bem gostoso.

— Cadê a sua tia?

— Comendo, é claro. — Julieta riu com um revirar de olhos


engraçado.

— Está sempre com a boca ocupada de comida? — Fui andando com


ela até a cozinha, encontrando minha esposa comendo um bolo de
chocolate.

— A titia come muito!

— Eu já disse que é o bebê! Ele ou ela me faz sentir fome de muitos


lanchinhos! — Caterina ralhou com Julieta, que quis sair do meu colo para
sair correndo dos gritos da tia.

— Matando a fome com chocolate, esposa?

— É do tipo saudável. — Fez um pequeno beicinho. Abracei-a


apertado e beijei sua boca. — Olha quem voltou para casa? O papai! Diga
oi! Acredite se quiser, ele está dizendo oi!

— Oi, bebê do papai! — Beijei a barriga dela, que estava começando


a aparecer minimamente. — Ansiosa para sabermos o sexo?
— Você não preparou outra queima de fogos, certo?

— Não. Eu pedi para Danilo cuidar do modo que será revelado.

— Bella já recebeu o exame e eu não tenho nenhuma pista. Estou


muito curiosa.

— Sente algum sexo em específico?

— Não. Simplesmente sei que vou amar e ficar feliz com o que vier.
— Ela abriu um sorriso e arrastei meu nariz no dela, ganhando um beijinho
com gostinho de chocolate.

— Eu sei que vou amar cada um dos nossos filhos como os maiores
presentes do mundo. Eles serão perfeitos, assim como a mãe, que é
incrível.

— Calma, homem. Você vai tirar a minha calcinha.

Soltei uma gargalhada. Caterina sempre me surpreendia e por esse


motivo, peguei-a de surpresa, erguendo-a no colo e deixei o bolo para trás,
subindo a escada direto para o nosso quarto. Aguentar três lances com ela
nos braços significava que estava indo muito bem na academia, mas ainda
com a sanidade em dia porque se mencionasse qualquer coisa relacionada
ao seu peso, ela iria mostrar o quanto era a esposa feroz de um gângster e
arrancar toda minha pele fora.

Antigamente, iria jogá-la na cama com tudo, mas carregando o nosso


bem mais precioso, coloquei-a com cuidado. Fui tirando a minha roupa,
porque, beijando-me como começou, ela só queria uma única coisa.

— Sabe o quanto eu te amo? — ela murmurou contra minha pele,


abaixei meu rosto e chupei seu mamilo, rude, soltando com um estalo. —
Sabe o quanto sou louca por você?

— Diga, baby.

— Sou sua e te amo mais do que o universo, ou muito além dele, o


que for maior.

— Eu te amo, Caterina Venturinni.

Aquela mulher me ensinou que coragem não era sobre usar os punhos,
que resiliência não era sobre ser teimoso, que estratégia exigia, acima de
tudo, calma e muita paciência. Ela não estava determinada a ganhar o meu
amor e sim, que nosso casamento fosse um sucesso e nesse processo, por
sua convicção, a paixão nos pegou completamente desprevenidos.

No dia seguinte, pela manhã, a casa estava uma loucura para organizar
o banquete. Alessa estava no modo maluco de organização, sendo a pessoa
responsável pela decoração, e Nanci preparando o melhor da nossa culinária
com um bolo enorme decorando a mesa principal. Caterina escolheu um
vestido bege claro, justo ao corpo, exibindo a barriguinha e meu irmão ria
feito um idiota cada vez que me encarava. Eu ia dar-lhe um soco, faltava
pouco.

Brinquei com as crianças e começamos a beber logo que o sol ficou


bom o suficiente, para ninguém dizer que mal tomamos café e já estávamos
com álcool no estômago.

— Vem, está na hora! — Caterina pegou minha mão e nos levou para
a área da piscina. — Danilo disse que devemos ficar parados aqui.

— Antes de sabermos o sexo, quero te dar isso aqui. — Tirei do meu


bolso um saquinho de veludo. Era um colar de correntinha com três pedras
de diamantes: ela, eu e o nosso bebê. Conforme tivéssemos filhos, iria
adicionar mais. Bella me disse que deveria dar algo bonito para que
Caterina pendurasse sua aliança quando os dedos começassem a ficar
inchados e nada melhor do que aquilo, que representava a nossa família.

Eu nunca sonhei com aquele cenário e muito menos desejei. Pensar


em casar e ter filhos era a última coisa na minha lista de prioridades. Os
negócios, sim. Era foda imaginar que a vida com ela era melhor do que
qualquer sonho.

— Eu amei, obrigada! Amo cada joia que me dá! — Ela me abraçou e


no mesmo segundo, fumaça cor-de-rosa explodiu dos dispositivos do outro
lado da piscina.

— Danilo! Custava esperar? — Bella ralhou com ele.

— Demorou muito, estava ansioso! — ele gritou de volta.

Caterina abriu a boca em choque e depois, fez sentido que a cor


significava que teríamos uma menina! Nós olhamos um para o outro e
simplesmente gritamos, pulando no mesmo lugar, completamente felizes.
Ajoelhei na frente dela e beijei a barriga que guardava a minha princesa.

— Eu te amo, filha!
EPÍLOGO | Caterina
Alguns meses depois.

Cassio estava se balançando e comecei a rir, porque a nossa filha


estava nos meus braços e chorando. Não tinha motivos para ele se mover.
Era automático. Liliana, nossa princesa, não gostava de dormir durante o
dia. Fazia apenas um mês que ela havia nascido e nossa vida estava um
pouco confusa.

Eu não dormia desde o último trimestre da gravidez porque não


tinha posição, não conseguia respirar e estava profundamente irritada,
querendo que ela nascesse logo por não me aguentar mais um segundo
grávida.

Queria outros filhos, só não tinha certeza se a gestação no final foi o


momento mais divertido da minha vida. Toda agonia passou quando pude
segurar minha princesa nos braços pela primeira vez. Por ela, passaria
qualquer dor, atravessaria o fogo e o inferno.

Até me transformaria no próprio demônio. Ela era tudo para mim e


o mundo inteiro do papai apaixonado. Cassio como pai foi uma surpresa
para todos, ele aguentava as noites insones, os choros, dançava na hora do
banho e segurava minha mão sempre que a crise histérica batia na porta.

— Vem com o papai, princesa.

Eu a entreguei, cansada, sentindo meus seios vazando. Desde que


Liliana nasceu, ganhamos um ritmo para nossos momentos em família, que
eram incríveis. Sem voltar a Las Vegas desde o ano anterior, também não
tive mais contato com minha mãe. Até considerei querer saber se estava
bem, mas ela nunca me respondeu.

Entendi que havia um abismo entre nós. Talvez tivesse vergonha e


arrependimento de tudo. Era agridoce e muito complicado julgar, mas
também impossível de compreender. Como mãe, eu mataria meu marido se
ele arquitetasse matar nossa filha, mas isso era sobre mim. Eu não podia
gerenciar nada sobre ela.

Observando meu marido e filha, tinha cada vez mais a certeza de


que o mundo poderia ser cruel do lado de fora, que o próprio Cassio fosse o
monstro nos pesadelos de muitos, mas ali, enquanto estivéssemos juntos,
absolutamente nada poderia nos destruir.
EPÍLOGO | Cassio
Anos depois.

Liliana corria na nossa frente com seu primo Fabrizio, no


condomínio de casas que morávamos em Vegas. Ela disparou ainda mais na
frente, sentindo-se vitoriosa e me chamando de velhote. Fabrizio me deu
um olhar e sinalizou que iria para o outro lado, para a pegarmos na curva.

Eu fui assobiando, minha filha estava levando o melhor de mim.


Porra. Eu a viciei em corridas, inferno. Mudando meu curso, ouvi um
gritinho feminino que não tinha nada a ver com o da Lili. Virei, enfiando a
mão por baixo da minha camisa.

— Fabrizio derrubou uma garota. — Liliana parou ao meu lado,


suada e ofegante.

— Você não olha por onde anda, imbecil? — a garota vociferou e


negou a mão estendida dele. — Ai, que droga, estou toda suja!

O segurança dela se aproximou e soube quem era na hora. Danna


Delacroix. Tive que me aproximar para conferir. Fabrizio a ergueu em um
movimento rápido e o olhar deles foi como um acidente de trem. Um
desastre. Danna era filha de Klaus, um associado importante e tínhamos
negócios juntos há anos. Ela estava trabalhando com o pai, era feroz e
opinativa.

— Eu posso me desculpar adequadamente? — Fabrizio insistiu.

Ela o olhou com desdém.


— Não.

E deu as costas, indo embora. Lili começou a rir da expressão


embasbacada do meu sobrinho, que não estava acostumado a ser esnobado
por mulheres em nenhuma ocasião. Ele me deu um olhar, coçando a barriga
e sorriu.

— Acabei de encontrar a mulher da minha vida.

Sim, os filhos de Danilo gostavam de enlouquecer a família.


SOBRE A AUTORA:

Mari Cardoso nasceu no início da década de noventa, na região


dos lagos do Rio de Janeiro. Incentivada pela mãe, que lia histórias
bíblicas e entre outras, sempre teve aguçado o amor pelos livros.

Em 2008, passou a se aventurar no mundo das fanfics da Saga


Crepúsculo até que, anos mais tarde, resolveu começar escrever
originais. Em 2019, iniciou a carreira como autora profissional e hoje
tem duas séries em destaque: Elite de Nova Iorque e Poder e Honra,
quarenta livros publicados e algumas milhares de leituras acumuladas.

Tornou-se autora best seller no ano de 2020 com o romance


Perigoso Amor – Poder & Honra.

Ela possui
Suas redes sociais:
www.instagram.com/autoramaricardoso
www.twitter.com/eumariautora
http://www.maricardoso.com.br/
Grupo do Facebook.
Livros físicos em
www.lojamavlis.com.br
AGRADECIMENTOS

Este trabalho não seria possível com a incomparável ajuda profissional da


revisora Dani Smith, da betagem sensível da Paula Guizi, Daiane Lopes e
Keu Bernardo, assim como a edição da Mavlis Editorial. Agradeço
imensamente o apoio no período de construção da história. Não poderia
deixar de fora a torcida das minhas leitoras nos grupos de contato e o
carinho excepcional (e paciência) da minha amada mãe nos dias de muito
trabalho.
Gratidão eterna.

[1]
Danilo Venturinni personagem de Prometida Para Um Mafioso
[2]
Mariano Mansueto personagem de Prometida Para Um Mafioso e terá o seu próprio livro.
[3]
Damon Galattore é personagem de Império Perigoso
[4]
Dante Biancchi personagem de Coração Perigoso
[5]
Fernando Mansueto é pai da Bella, personagens de Prometida para Um Mafioso
[6]
Assis Mansueto é personagem de Prometida para Um Mafioso e terá o seu próprio livro.
[7]
Enzo Rafaelli personagem de Perigoso Amor – Poder e Honra
[8]
Giovanna Galattore personagem de Império Perigoso
[9]
Juliana Rafaelli personagem de Perigoso Amor – Poder e Honra
[10]
Motoclube da série Perigosos e Protetores
[11]
Enrico Di Fabrizzi personagem de Perigosa Tentação.
[12]
Klaus Delacroix é personagem de Combinação Implacável.

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