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Capa: Mavlis
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INFORMAÇÕES
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida ou
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mecânicos sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos de
citações, resenhas e alguns outros usos não comerciais permitidos na lei de
direitos autorais.
DEDICATÓRIA
PRÓLOGO | Cassio
PRÓLOGO | Caterina
UM | Caterina
DOIS | Caterina
TRÊS | Cassio
QUATRO | Caterina
CINCO | Caterina
SEIS | Cassio
SETE | Caterina
OITO | Caterina
NOVE | Cassio
DEZ | Caterina
ONZE | Caterina
DOZE | Cassio
TREZE | Caterina
QUATORZE | Caterina
QUINZE | Cassio
DEZESSEIS | Caterina
DEZESSETE | Caterina
DEZOITO | Cassio
DEZENOVE | Caterina
VINTE | Caterina
VINTE E UM | Cassio
TRINTA | Cassio
TRINTA E UM | Caterina
EPÍLOGO | Cassio
SOBRE A AUTORA:
AGRADECIMENTOS
SINOPSE
Ela não sabia o que esperar ao se tornar uma Venturinni, mas não
tinha esperanças de um casamento por amor. Assim como os pais, desejava
conquistar o respeito de seu marido e uma boa posição, dando-lhe filhos o
suficiente para ficar segura. No entanto, Cassio era mais difícil do que
imaginou e ao ser capturada no dia de seu casamento, descobriu ser uma
peça ainda mais vulnerável em um jogo de pessoas realmente muito
perigosas.
LIGAÇÕES
Este livro contém ligações com o meu universo da máfia e uma história
independente, portanto, abaixo está relacionado para aquelas que gostam de
se aventurar. Lembrando: não é necessário a leitura de nenhum livro
anterior para compreensão. Cassio é irmão caçula do Danilo de Prometida
Para Um Mafioso e basta acompanhar as notas de rodapé se sentir
necessidade.
NOTAS DA AUTORA
Depois de mais de um ano sem escrever sobre máfia (e me
aventurando sob duas rodas com meus motoqueiros deliciosos), estamos de
volta com essa história gostosa, que vai um pouco além (eu disse POUCO)
do que me permiti nos demais livros e gostei bastante do resultado.
Foda-me.
— Saia.
— Já terminou?
Sem que tivesse controle, fui puxada e eu nem sabia por onde. Tentei
me agarrar ao banco, gritando para que me soltassem. Uma queimação no
braço me fez parar de me debater. Jogada no asfalto frio e com a visão
turva, olhei para os homens de preto, erguendo minhas mãos.
— Ele sempre tem a menina favorita dele. — Ela riu e ajeitou meu
cabelo. — O que quer fazer? Comer e descansar?
Fui educada para ser uma boa esposa, uma ótima mãe e estava tudo
bem por mim, só esperava que meus pais encontrassem um bom marido.
Uma das minhas melhores amigas casou com um idiota que a tratava como
um animal e eu queria muito que ele tivesse um ataque cardíaco. Será que
eles encontraram um noivo e por isso minha avó passou o verão inteiro
bordando um enxoval? Por que eles não me falariam nada?
— Para mim?
Como se ele tivesse a opção de negar uma ordem do chefe. Mas havia
parte da nossa família comandando Vegas, se não me engano, era um
homem chamado Michelangelo Rizzo. Eu não sabia se ele era casado ou
não. Mas também havia outro lado, maior e mais complicado, que era
comandado pela família da Calábria, de quem ouvia histórias tenebrosas
desde nova.
Venturinni.
— Eu irei, papai.
Olhei para mamãe, sentindo meu peito apertar e, como não queria
chorar na frente de nenhum deles, mantive minha postura e pedi licença,
saindo da sala de jantar de cabeça erguida. Subi a escada devagar, porque
sabia que meus passos estavam sendo ouvidos e caminhei até meu quarto,
fechando a porta com cuidado.
Cassio Venturinni era filho do homem que assassinou a esposa e os
dois filhos mais velhos a sangue-frio. Ele e o irmão eram conhecidos como
demônios que enlouqueciam as mulheres, tanto que a esposa de Danilo
nunca mais foi vista depois do casamento. Ninguém sabia sobre ela, as
fofocas corriam que era deprimida e completamente dependente do marido.
Tonia, minha cunhada, estava atrás de mim fazendo cachos nos meus
cabelos. Ela me deu um sorriso tranquilo e apertou meu ombro. Era o dia do
meu noivado e minha casa estava muito agitada. Ainda não havia visto meu
noivo e gostaria que o nosso primeiro encontro fosse privado, mas não era
possível mediante as regras do nosso mundo. Pelo menos, além da nossa
família, apenas os chefes foram convidados e por mais que aquilo fosse
intimidante o suficiente, eu não estaria exposta a muitas pessoas.
Só havia homens.
Puta merda.
— Olá, Cassio.
Cassio era muito mais alto que eu e cheiroso, embora, sentisse a pitada
de cigarro em suas roupas.
— Imagino que esteja de acordo com esse noivado. — Ele parou
próximo a uma estátua de uma mulher tocando violino com crianças ao
redor, perto do orquidário de minha mãe.
— É uma honra. Soube que está nos seus planos que a cerimônia
aconteça daqui a um ano.
— Eu não sei o que dizer. Por que fui escolhida? Eu pensei que apesar
de não sermos declaradamente inimigos, não éramos amigos. Sempre foi
cada um de um lado, sem intervir no trabalho do outro. — Sentei-me ao
lado dela, que segurou minha mão e passou o polegar por minha aliança.
— E eu entrei nessa?
— Esse sacrifício.
A questão era que Utah era dividido entre ser nosso e território da
famiglia, com isso, matar pessoas que eles disseram que iriam cuidar do
assunto deu a entender que eu não confiava na palavra deles. E era verdade,
porra. Para que mentir? Se podia resolver o problema, estava resolvido.
Danilo, no entanto, se irritou porque eu comprometi publicamente a política
entre as famílias.
Mas alguém estava grato? Porra nenhuma. E agora, por causa desse
caralho, noivei com uma garota e em um ano maldito, ela seria minha
esposa.
— Ela é bonita?
— Não.
Aquelas putas sabiam que não queria ouvir suas vozes, apenas seus
gemidos e gritos. Elas entregavam tudo que eu queria se quisessem sair dali
vivas e principalmente, voltar para ganhar mais dinheiro.
— A famiglia exige a prova dos lençóis. Terá que transar com sua
esposa na noite de núpcias e é melhor que não a contamine com nenhuma
doença.
Tudo que fazia era me apegar à intuição e para o que fui criada, eu
poderia ser boa. Uma esposa adorável, uma ótima mãe e se todos os meus
exames estavam corretos, poderia conceber quando meu futuro marido
quisesse. Particularmente, ter filhos com um completo desconhecido me
deprimia, me dava vontade de arrumar uma bolsa de roupas e desaparecer.
No entanto, essa não era uma realidade possível e eu tinha que mudar isso o
quanto antes.
— Acho que terminamos hoje. Essas roupas para eventos sociais serão
catalogadas e etiquetadas, logo vamos embalar tudo. — Mamãe se
aproximou e fiquei de pé, para poder me vestir.
Peguei o cartão, ainda chocada em como sua letra era bonita. Pelo
menos, se deu ao trabalho de escrever à mão. Será que foi ele mesmo? Não
parecia feminina. Não foi a secretária ou governanta…
Aquele lembrete soou como uma ameaça aos meus ouvidos, mesmo
não sendo uma.
Cassio.
Ele tinha meu número por todo esse tempo e nunca entrou em contato
porque não quis. A mensagem era um simples questionamento se havia
recebido o presente e se gostei. Seria educado da minha parte retribuir,
mandando entregar algo, mas não era permitido. Meu pai jamais deixaria,
dizendo que interpretariam como um ato ousado.
— No banho, entre.
— Tem que ser algo bom o suficiente que o instigue a falar mais,
afinal, não custa nada buscar uma conexão antes do casamento que não
infrinja as regras.
— E o que seria?
Cassio não respondeu à mensagem que enviei naquele dia, nem nos
dias seguintes e eu me conformei com o fato de que havia sido educada. Ele
me enviou mais presentes e, de repente, minha casa parecia tomada por
flores e meu pai movendo-se desconfortável na cadeira a cada nova peça de
joia caríssima, querendo aumentar o valor dos itens do casamento para
mostrar que podíamos bancar algo extremamente luxuoso.
— Vai ficar tudo bem, as tendas são ótimas — ela me garantiu e parou
atrás de mim. — A família do seu noivo confirmou presença nos eventos
pré-casamento. Teremos um jantar de ensaio para o cortejo, seus sobrinhos
estarão no melhor comportamento se tudo der certo e depois da cerimônia,
o ensaio fotográfico será aqui no jardim. Mandei encomendar as melhores
flores, entre cerejeiras e rosas, será um ambiente muito romântico.
— Suas cunhadas?
— Não é uma decisão só sua, querida. Sabe que esse casamento é para
que tenham frutos e filhos garantem a sua segurança na família. Lembre-se
sempre, ele é o segundo filho, o irmão e conselheiro, precisa ter herdeiros.
Danilo já tem filhos, a posição dos seus tem que ser assegurada, prove o seu
valor. — Ela olhou em meus olhos e tudo que fiz foi assentir, porque senti
um peso enorme na minha cabeça, como se uma prensa me afundasse no
chão. Lambi meu lábio, mexendo no meu cabelo para disfarçar o nervoso
que borbulhava dentro de mim e cocei a nuca, abrindo um sorriso de
menina obediente.
Tudo que tinha eram lembranças do rosto dele, marcado por sua
expressão feroz e a sensação dos músculos sob a minha palma. Eu queria
saber a sensação de sentir o peitoral dele contra o meu. Deveria ser bom,
quente… gostoso. Balancei a cabeça e voltei a olhar para minha mãe,
tagarelando inocente, sem imaginar que minha mente pervertida estava
escorregando para lugares realmente profanos.
— Tenho certeza de que poderemos nos ver. Você vive dizendo que é
uma aliança política para que nossas famílias possam conviver. Talvez
consiga convencer Cassio a permitir visitas quando estiver muito ocupado.
— Beijei sua bochecha. Eu estava blefando. A família da Calábria era
conhecida por viver completamente reclusa, eles não interagiam com
ninguém e era um verdadeiro milagre que tivessem aceitado fazer parte das
celebrações do casamento.
Soube por alto que as crianças da família deles não iriam participar,
porque o casamento não aconteceria no território deles. Meu pai exigia que
fosse em Chicago, porque ele queria exibir poder e riqueza, principalmente,
todo o luxo que o casamento teria. Nós frequentávamos a igreja católica em
que todos os membros da famiglia faziam parte e o padre que nos foi
apresentado dois anos antes era quem celebraria a cerimônia.
Bella parou na minha frente, ajeitando meu cabelo pela milésima vez e
eu ri, lutando contra a vontade de bagunçar novamente. Ela estava ansiosa,
já meio arrumada, preocupada com as crianças na Itália, com Nanci e
reclamando que Danilo ainda estava de cueca no canto, sem ter se vestido.
O casamento iria acontecer em duas horas, então, cheia de coisas enroladas
no cabelo e com um vestido bonito, disse que iria se maquiar e voltava em
breve.
Dei uma olhada para meu irmão, divertido. Ele apenas bufou. Assim
que ela saiu, Mariano entrou com uma garrafa de uísque sem a tampa, a
agarrei e virei, dando bons goles, porque naquele dia em específico, a
anestesia pelo álcool era mais do que necessária, mas não o suficiente para
ficar bêbado e perder os meus sentidos. Um ano nunca passou tão rápido,
porra. Em um piscar de olhos, o dia do casamento chegou e eu me tornaria
um homem casado.
Parecendo mais segura e menos nervosa, até a voz estava mais firme e
o olhar, treinado no meu, sem desviar.
Eu queria ter tido trinta segundos sozinho com ela para descer minhas
mãos por costas e sentir a curva do bumbum, se era tão firme quanto
parecia, mas a mãe nunca saiu de perto ou a cunhada. Nem mesmo durante
o jantar, quando sentamos lado a lado, sempre havia um dos sobrinhos
próximo ou uma criança pentelha nos encarando sem dar uma mísera
privacidade para sussurrar qualquer coisa que a deixasse ainda mais
ruborizada.
Esperava que não ficasse tão aflita naquela noite, porque tinha a
estúpida tradição dos lençóis e precisaríamos dormir juntos, querendo ou
não. Seria ideal esperar um pouco, ter ao menos a convivência da lua de
mel, mas era a família dela quem exigia a prova da virgindade, não a minha.
Eu não era mais virgem há muito tempo.
— Sabia que estava deixando esse circo correr por ter outros planos.
Imbecil do caralho.
Até chegar ao altar, estava perdendo a minha paciência em ter que
cumprimentar as pessoas. Danilo foi para o lugar dele e o padre sinalizou
para começarmos a entrega das armas, um simbolismo de paz porque uma
noiva pura estava a caminho.
Olhei meu telefone muito breve e não gostei do que vi. Supostamente,
Caterina estava a caminho, em uma comitiva, mas o sinal do gps de sua
pulseira estava parado em sua casa. Ela não estava usando? Eu disse que
nunca deveria tirar, porra.
— Eles a levaram!
Sem que tivesse controle, fui puxada e eu nem sabia por onde. Tentei
me agarrar ao banco, gritando para que me soltassem. Uma queimação no
braço me fez parar de me debater. Jogada no asfalto frio e com a visão
turva, olhei para os homens de preto, erguendo minhas mãos.
— Diga oi para o seu padrinho, docinho. Diga a ele que ainda está
viva e é por pouco tempo. Não queremos dinheiro, apenas que ele sinta a
dor que ele causa em muitas pessoas…
Eles iam me matar por causa da vida política do meu padrinho sem
ao menos saber que meu pai era um mafioso e meu futuro marido um
assassino sanguinário?
— Eu vou, sim. Minha futura cunhada foi sequestrada e sei que posso
ajudar a encontrá-la. Assis e eu já temos um plano enquanto vocês vão para
a casa da família. — Ela apontou para a mala aberta, onde as armas já
estavam separadas e preparadas. — Está tudo pronto. Confie em mim,
Danilo.
Alessa ficou no hotel com três soldados que trouxemos para a escolta.
— No porão.
Desci a escada devagar, para prolongar o medo que ele sentia e apenas
pela forma com que suas pernas estavam encolhidas, podia jurar que já
havia se mijado. A postura não me enganava. Eu não fui nomeado
conselheiro à toa, aprendi a ser bom no que fazia, a lutar, a ter estratégia, a
ser capaz de proteger minha família e os nossos negócios. Era um
Venturinni e, definitivamente, o sequestro que mudou minha vida me fez
nascer de novo. Agora, Caterina estava ganhando as mesmas marcas
assustadoras por causa de um cuzão.
Assis já tinha ido olhar fazia tempo e não retornou. Ele estava
demorando mais do que me sentia confortável. Caterina seguia sob o poder
deles há vários dias e aquilo poderia significar que ela estava morta.
Eu puxei meu capuz, soltando meus coldres e Assis, que nunca falava
nada, apenas mostrou o galpão, as portas, dizendo com seus dedos e sinais
quantos havia em cada lado. Damon e Enrico foram para um lado com seus
homens. Danilo e eu avançamos com Fernando e Mariano. Não era preciso
dizer que entraríamos juntos, vivos, e deveríamos sair juntos e com
Caterina.
Viva ou morta.
DEZ | Caterina
Pareciam pequenos estalos. Era como bolinhas estourando na minha
cabeça. Um som opaco que foi crescendo e acumulando, aumentando,
trazendo arrepio, medo, tensão e quanto mais se aproximava, mais uma
parte do meu ser sussurrava que deveria me cobrir e me proteger de algum
modo, mas não conseguia. Qualquer movimento dependia de uma força que
eu não tinha, era muito frio e doía.
Ah! Cassio!
Eu não sabia com quem ele estava falando, mas seu calor era tão bem-
vindo que fechei meus olhos novamente e me permiti mergulhar no limbo
que me puxava cada vez mais para o fundo acolhedor, agradável e tão em
paz que eu não queria sair. Não queria acordar. Cassio estava ali, era meu
noivo e não meu algoz, apesar de não ser alguém que conhecesse com
profundidade, era o meu salvador.
— Ela vai ficar bem, doutor? — Ouvi a voz da minha mãe e seu toque
gentil no meu cabelo. — Parece tão pacífica.
— Ela vai ficar bem, sim, seu corpo precisa descansar e se recuperar,
o tratamento clínico será um sucesso se seguir as recomendações
necessárias.
— Até onde sei, ele mexeu com os nômades que estavam provocando
a mídia e a polícia, não tinha nada a ver com os negócios da nossa família
— Patrícia falou baixinho. — Aproveitaram a oportunidade e falha da
segurança do seu casamento, porque todos estavam concentrados na igreja.
Houve um trecho da estrada que a comitiva se afastou demais.
— Não. A decisão estará com Dante, afinal, ele é quem começou esse
acordo. Acredito que chegará a um meio-termo que agradará a todos.
— Você vai ficar bem. Eu vim te ajudar com o banho e trouxe coisas
de casa. Ficarei algumas horas de companhia, trouxe livros, revistas, alguns
jogos…
Depois do jantar, ela me ajudou a tomar banho, o que foi mais uma
completa tortura porque recusei que me dessem no leito novamente (como
foi quando estava desacordada) e me arrependi no segundo em que fiquei
de pé, mas era orgulhosa demais para voltar atrás. No entanto, eu me senti
melhor e mais aquecida, confortável com meu pijama. Voltei para a cama,
Patricia colocou uma colcha que era do meu quarto e tinha o meu próprio
cheiro e aquilo era simplesmente um presente depois de tudo que eu havia
passado.
— Tonia estará aqui para o seu café e eu volto assim que possível.
Nunca reparei antes o quanto a voz dele era bonita quando suave.
Trocamos poucas palavras em nosso jantar de ensaio, havia tanta gente ao
redor querendo atenção e preocupados demais em nos deixar sozinhos com
medo de que eu ficasse mal falada ou que a família dele pensasse que eu
não era uma moça de família decente.
— Não há nada de errado com seu corpo, são machucados que têm
cura e cicatrizes fazem parte da nossa vida, além do mais, você tem cortes
sutis e fissurou as costelas. É por isso que sente muita dor.
Meu coração acelerou de tal maneira no peito que parecia que estava
infartando. A dor era de que precisava correr para o mais longe ou me
esconder debaixo da cama, a sensação de tremor foi espalhando pelo meu
corpo. Lambi meus lábios secos, ciente que, por fora, minha expressão
estava calma e pacífica como sempre fui treinada para transparecer. A bela
garota perfeita.
— Não?
— Shh… não chore, anjo. — Ele beijou minha testa, secando minhas
lágrimas com seu polegar. — Não tenha medo. Você é uma Venturinni
agora.
ONZE | Caterina
Fui prometida a Cassio e por mais que não fosse por motivos
amorosos, ele jamais renunciaria a mim. Era assim que funcionava a veia
possessiva e obsessiva dos homens italianos. Ele nunca me abandonaria por
teimosia e orgulho.
Ela tinha odiado. O modelo foi escolhido pela esposa do pai da minha
futura cunhada, que eu ainda não conhecia e agradeci a gentileza de ter me
poupado o estresse de procurar qualquer coisa para poder me casar. Alessa
cuidou de tudo, até mesmo do almoço, já que meus pais estavam
dificultando o processo e só pararam quando o senhor di Fabrizzi retornou
para Chicago e tomou o controle da situação novamente. Ao que parecia,
por mais tensa que fosse a relação entre o senhor Galattore e Cassio, as
famílias ainda não estavam interessadas em uma guerra, o casamento ainda
tinha o propósito de paz.
— Vou avisar ao seu pai que está pronta, está na hora. O casamento
deve acontecer.
— Eu sei que você vai se sair bem. — Patricia beijou a minha testa.
— Obrigada, pai.
Eu pensei que ele diria que faria de tudo por mim, que o sequestro foi
uma experiência traumática para nossa família e mesmo que fosse obrigado
a me entregar à família do meu noivo, eu teria um lar para voltar. Mesmo
não sendo possível, eu queria sentir que haveria alguém lutando por mim e
as raízes tradicionais no coração dele eram muito maiores do que seu amor.
Eu sabia que existiam sentimentos paternais ali, mas era praticidade.
Entregue aos Venturinni, não havia mais nada que ele pudesse fazer por
mim.
Seriam mentiras.
— Você está perfeita. Uma noiva muito bonita, não é amor? — Ela
cutucou o marido, que era um gostoso, mais velho, com alguns fios
grisalhos na lateral e um olhar de deixar arrepiada de um jeito inadequado
para mim, agora, uma mulher casada, porém, não morta.
Isabella estava ao lado dele, ela tinha olhos azuis frios e me analisava.
Eu me senti intimidada. Era a matriarca, a mulher mais importante de tudo e
não parecia ser louca, nem de longe, era… perigosa. Cassio ainda me
segurava, ela me cumprimentou e fomos levados para as fotos. Eu não tinha
certeza se seríamos amigas no futuro, parecíamos ser muito diferentes e
pelo que sabia, eles viviam a maior parte do tempo na Calábria, nós
viveríamos em Vegas.
Dei um beijo em Nonna, que fez uma reza baixa, fazendo parecer que
eu estava em meu leito de morte e por último, meu pai. Não fui autorizada a
chegar perto dos meus irmãos e sabia o motivo: eram homens. Cassio tinha
o poder de decidir quem eu poderia conversar ou não. Voltei pelo mesmo
caminho que fiz, ele abriu a porta para mim, segurando minha mão e nós
saímos em uma grande comitiva. Danilo ordenou que todos os carros
fossem embora ao mesmo tempo.
— O que é aquilo?
— Seu pai não queria uma prova da sua pureza? Eu dei. — Cassio me
deu um olhar provocante, que me trouxe um arrepio rastejante pela espinha.
— Ele insistiu muito que deveríamos ter uma noite de núpcias e exibir a
noiva virgem que estava me entregando, mas como foi sequestrada e
torturada, não foi possível. Então, eu dei a ele o sangue do seu padrinho,
que roubou sua inocência e pureza no dia que deveria ser feliz para todos
nós.
Abri minha boca e fechei diversas vezes, sem saber o que dizer.
Alessa, com olhos de anjinho, participou daquele plano macabro ao decorar
minha casa para o casamento? Eu estava chocada com a família em que
havia acabado de entrar… e, estranhamente, me sentindo vingada.
DOZE | Cassio
Las Vegas
Parei, divertido, mas atento aos hematomas que ainda marcavam sua
pele. Ela ficou parada, com os seios e parte da frente do corpo coberta, mas
porra, suas roupas de patricinha virginal escondiam a bunda redonda, coxas
e panturrilhas bem trabalhadas. A curva da cintura era perfeita para ganhar
uma boa mordida.
Eu olhei em seus olhos com vontade de rir. Aquilo não tinha passado.
Seus pesadelos estavam apenas começando. Ela não ficaria bem e, talvez,
nunca mais voltasse a ser a pessoa que foi antes do sequestro.
TREZE | Caterina
Cassio estava parado na minha frente, seminu pela primeira vez e
preocupado com meus hematomas. Ele ergueu o rosto novamente, ajeitando
a postura e acompanhei com o meu olhar, muito consciente de estar exposta
na frente dele. O tempo todo repetia na minha mente que aquele era meu
marido, alguém que poderia me ver nua, teria tudo de mim e tinha direitos
sobre meu corpo, mesmo sendo um completo desconhecido.
Sem saber como reagir, agarrei seus braços, olhando para o rosto de
homem intenso e ele me beijou. Não foi como no casamento, para
demonstrar posse e poder. Foi diferente. Sua língua e corpo conversavam
com o meu em uma melodia que me dava vontade de dançar de encontro a
ele. O sabor dos lábios do meu marido era viciante. Subi minhas mãos um
pouco mais, surpresa com as reações do meu corpo e me entreguei ao beijo.
Mordi o lábio, atenta aos movimentos, ele foi tomar banho como se a
minha mente não estivesse se tornado gosma aos meus pés e eu mal sabia
como me mover direito, pensando em como lidar com o fogo repentino que
surgiu no meu ventre além da vontade louca de tirar tudo e me enroscar
nele.
— Veremos, esposa.
Peguei uma calça de tecido que era bem gostosa, uma camisa de alças
mais justa que não precisava usar sutiã e deixei os cabelos soltos. Cassio me
puxou pelo cós da calça quando ficou pronto, mal me dando tempo de
agarrar os frascos de remédio que precisaria tomar assim que comesse.
— Obrigada.
— Entendi.
Eu já imaginava que não poderia ficar o tempo todo falando com eles,
a relação pareceu tensa no casamento e depois do lençol deixado de
presente, meus pais deveriam estar bufando. Sem contar que mesmo com
poucos convidados, a fofoca deve ter se espalhado e mamãe tinha
verdadeiro horror em estar na boca do povo.
— Boa noite.
— Não vou ganhar nem um beijo de boa noite? — Ele passou a língua
no lábio inferior.
— Que horas?
— À noite.
— Tudo bem. Eu devo ter alguma coisa que possa usar. — Coloquei os
brincos, pensando que, pela lei, realmente não éramos nada um do outro.
Cassio ficou pronto com rapidez, dizendo que tomaríamos café na rua,
ninguém estava em casa mais e seu irmão já havia ido embora. Eu o segui
até a garagem, memorizando o caminho, ele abriu a porta para mim e entrei,
deixando minha bolsa no chão e prendendo o cinto enquanto ele dava a
volta. Apertando um controle no teto do carro, os portões da garagem
abriram, mas ainda era preciso sair da propriedade.
— Olá, sra. Venturinni. Eu sou Carla e vou cuidar de você hoje, soube
que anda sentindo dores depois de ter sofrido um acidente. Tive acesso ao
seu prontuário, vamos começar trocando de roupa?
— Tudo bem.
— Não que seja da minha conta, mas o que pretende fazer? Cassio
disse que iria para a farmácia. — Mariano andou atrás de mim. Ele estava
chamando muita atenção dentro da loja feminina. Precisava arrumar um
lugar para que se sentasse logo.
Ele me deu um olhar que dizia que eu era um rato indo para a forca.
— O gás vai te fazer espirrar. — Ele riu e pegou meu copo. — Você
estava presa em alguma torre, princesa?
Com o carro cheio de bolsas e sacolas, ele me levou para casa a tempo
de me arrumar para retornar e encontrar meu marido. Em sua mensagem,
Cassio disse que poderíamos ir à capela e depois, jantarmos juntos. Claro
que aceitei. Ele estava dando um passo em minha direção, não podia recuar.
Além do mais, era um dos nossos casamentos, tinha que ser especial de
alguma forma, mesmo que nenhum de nós sentisse algo do tipo.
— Você passou o dia inteiro com ela para que Cassio nos matasse à
noite?
— Ele pediu para você tomar conta da mulher dele e em horas, ela
deixa de se vestir como uma freira para aparecer… de roupa curta! — Assis
parecia irritado.
Ele desceu o olhar sobre meu corpo e senti um peso afundar no peito.
Mordi a pontinha do lábio devagar e sua expressão ficou indecifrável por
um momento.
— Era esse vestido que tinha no seu armário? — Apontou e olhei para
mim mesma com um pouco de orgulho da produção. Estava me sentindo
linda.
Mais cedo, quando ele disse que iríamos sair para jantar, pensei que
seria apenas nós dois. Mas com o humor ruim dele, fiquei grata em
encontrar Alessa no restaurante, que parecia meio boate. Era escuro, com
luzes brilhantes, música alta e dançarinas exóticas. Pela familiaridade de
todos, o estabelecimento deveria pertencer a minha nova família. Cassio
puxou a minha cadeira depois que cumprimentei o casal e sentamos lado a
lado, mas Alessa trocou de lugar com Mariano, para podermos conversar, e
eu adorei a gentileza.
Eu não podia agir como uma idiota toda vez que algum mascarado
chegasse perto de mim. Era Vegas, as pessoas andavam fantasiadas e meu
marido era dono de muitos estabelecimentos que, pelo visto, tinham
diversas atrações.
Enquanto ela bebia água, rindo com Alessa, sem querer, deixou seu
sapato tocar minha panturrilha. Agarrei sua cadeira e a puxei para mim
novamente, ganhando um olhar intenso. Em alguns momentos, havia um
fogo em seus olhos, mas depois, ela escondia, assumindo a personalidade
entediante de boa moça. Eu só não fazia ideia se ela estava fingindo, se era
a sua personalidade ou se a obrigaram a ser alguém perfeito sem deixar que
florescesse sozinha.
Cacete, sim!
— Foi irresistível.
— Também.
— Parece que você gosta de tudo que nós fazemos. — Desci minhas
mãos para seu quadril. Eu nunca pensei que o pescoço e as bochechas de
uma pessoa poderiam ficar tão vermelhas sem estar sendo sufocada. Ela
ficou envergonhada e me deu um olhar cuidadoso, como se tivesse medo.
— Eu nunca fiz nada disso antes e eu não fazia ideia de que podia
ser… gostoso.
E nós não tínhamos feito porra nenhuma ainda. Ela iria descobrir que
havia muito mais e era uma delícia foder.
Sem falar nada, fez espuma e espalhou pelo meu pescoço, ombros, foi
descendo e parou na minha cintura. Toquei a mim mesmo, divertido com
seu olhar. Ela mordeu o lábio e sorriu de lado, interessada, parecendo
fascinada. Caralho, eu ia gozar só com a expressão de seu rosto. Havia um
banco de mármore um pouco mais alto para colocar produtos, passei meu
braço por sua cintura e a coloquei ali, tomando-lhe a boca num beijo
desesperado.
Desci dando mordidas pelo colo dos seios, parando um pouco antes de
chupar cada bico olhando em seu rosto. Ela exalou, segurando meus braços
e empurrou o torso para cima, querendo mais. Chupei e lambi seus peitos,
fazendo barulho até que ficassem inchados. Voltei a beijá-la e arrastei meus
lábios molhados até seu ouvido.
— Tenho certeza de que essa boceta está quente, inchada e pronta para
minha boca.
— Eu vou deixar.
Ela passou o dedo onde havia espirrado meu esperma, sentiu a textura
e lambeu. Safada.
— Não fique. Vou gostar de todas as vezes que agir como uma
putinha.
— Só minha, diz.
Fomos tomar um banho para tirar toda a bagunça e ela vestiu uma
camisola. Desfez a cama, organizou os travesseiros, tomou seu remédio e
mexeu no despertador. Eu dei uma olhada no sistema da casa, verificando
os negócios antes de deitar vestindo uma cueca confortável. Cansada,
adormeceu antes que eu terminasse de responder Danilo, já eu, peguei no
sono, mas como sempre, nunca profundamente.
Alessa tinha filhos pequenos. Nas duas vezes que estiveram aqui,
quase quebraram a casa. Eles eram terríveis e lindos.
— Eu sei, mas eu sinto fome e nunca tem nada para comer. Quero
comprar coisas para deixar na cozinha, na despensa e na geladeira.
Principalmente, ter a liberdade de cozinhar qualquer coisa quando estiver a
fim.
Ele bufou e murmurou baixinho alguma coisa sobre ser bem treinada e
o olhei desconfiada, tentando entender. Seu telefone tocou novamente, mas,
antes de atender, disse que pediria alguém para me levar e saí do escritório
animada. Fui até nosso quarto buscar minha bolsa, guardei o telefone e
peguei uma camisa limpa, mas não vesti, do lado de fora o sol estava digno
de fritar um ovo no asfalto.
— Eu não ouvi se ele pediu isso, além do mais, estou vestida. — Dei
de ombros com um sorriso doce e entrei no carro, fechando a porta.
Mariano não falou mais nada, ouvi música com meus fones enquanto
baixava algumas listas de compras. O mercado era do tipo grande e de luxo,
com carrinhos enormes que precisei de ajuda para tirar do lugar. Estava
empurrando para a entrada quando meu telefone começou a tocar, e pela
insistência, só podia ser Cassio.
— Caterina… porra.
Cassio não falou mais nada, apenas encerrou a chamada. Bufei e vesti
a camisa com um pouco de frustração. Parecia que nunca conseguíamos nos
entender. Eu não tinha ninguém além dele para conversar e nossa
comunicação era simplesmente péssima. Talvez devêssemos transar logo,
assim engravidava e ficaria ocupada, cumpriria meu dever e não existiriam
motivos para termos um diálogo.
Por último, levei o de Cassio. Meu plano era entrar e sair sem falar
nada, porque ele desligou o telefone daquele modo que descobri que odiava.
Deixei o prato na mesa com um copo de chá gelado, pedras de gelo e limão.
Dei as costas, ele riu… a risada acendeu um fogo dentro de mim e me fez
virar.
— Nada.
Era tudo!
Como ainda estava com fome, comi o dele, bebi todo o chá e lavei a
louça. Voltei para o meu quarto, desistindo de malhar, a ida ao mercado já
tinha me cansado o suficiente. Estava na hora de tomar minha medicação da
tarde, eu não aguentava mais, meu estômago doía porque era forte e meu
corpo parecia ter preguiça de melhorar.
Com uma calça de linho e uma blusinha, prendi meu cabelo, desci e
conectei meu telefone no painel de música. Ali era equipado para trocar o
tom das luzes, criando um clima romântico, para tocar listas de reprodução
de sexo e interativo com a boate no porão. Como Assis e Mariano eram
solteiros, eles viviam usando, de vez em quando, ouvia, mas Cassio não
chegou a descer enquanto estive acordada.
Soltei uma risadinha porque notei que ele estava excitado. Naquele
momento, não parecia com fome de comida.
Eu não vi meu marido, Mariano ou Assis. Mas não saber onde Cassio
estava trouxe um buraco ao meu estômago. Morávamos com dois homens
solteiros e eu podia supor que cada uma delas era coisa deles, mas eu era
casada e seria estupidez da minha parte simplesmente não me preocupar em
que cama o homem que compartilhava a vida passou a maior parte da
noite.
Que ódio.
— Bom dia, esposa. — Cassio passou por mim e tentei sentir seu
cheiro discretamente. Lhe dei um aceno, ocupando a boca. — Dormiu bem?
Enviei uma mensagem para Cassio, ele disse que estava longe para
voltar, mas que mandaria alguém me levar até o consultório e me
encontraria o mais rápido possível. Eu disse que ele não precisava me
acompanhar na consulta, era apenas revisão dos exames que fiz. Deixei o
aparelho de lado e saí correndo, vestindo uma calça jeans, uma camisa
branca e um terninho, calçando o tênis e passando perfume.
Ainda bem que Assis era do tipo que dirigia rápido e não falava o que
não fosse necessário. Eu estava de cinto de segurança, trocando mensagens
com Cassio sobre os exames e ele querendo saber se não tinha esquecido
nada importante em casa quando percebi que o carro deu um solavanco para
a esquerda. Olhei para Assis e ele estava tenso, de modo defensivo, estiquei
um pouco e olhei pelo retrovisor. Dois carros.
Mariano pegou minha bolsa e reparei que havia uma marca de tiro no
vidro do meu lado. Assis foi para o elevador e vários homens criaram um
muro ao meu redor, me protegendo. Cassio passou o braço por meu ombro,
me puxando para seu peito e escondi meu rosto ali, agarrando sua camisa e
não soltei mais. Saímos em um andar que parecia um escritório e percebi
ser onde ele trabalhava.
— Não, claro que não — consegui dizer. Ele abaixou na minha frente,
segurando minhas mãos. — Eu nem percebi que o carro foi atingido. Acho
que entrei em pânico e me desliguei. Quem nos seguiu?
— Ainda não sei. O carro não tinha placas e não é uma atividade
comum, aqui os territórios são bem divididos e não estamos em guerra
declarada com ninguém.
A porta da sala em que eles estavam foi aberta por uma mulher, ela
parecia muito segura de si e bonita, mas nem um pouco simpática. Deixou
umas folhas com eles e não fechou direito ao sair. Também não olhou na
minha direção.
Usei um papel para secar os cantos dos meus olhos, passei gloss nos
lábios e ajeitei o cabelo. Ele me deu uma olhada, com um aceno e pegou na
minha mão.
Cassio exalou, mas foi discreto, bem suave, como se apenas uma
pequena parte de seu ser permitisse demonstrar que a minha confiança nele
era bem-vinda. Será que não entendia que estava ali disposta a ser
completamente dele? Eu queria ser sua esposa por completo e não tinha
dificuldades de me entregar. Era ele quem me impedia de ir além.
DEZOITO | Cassio
Caterina foi andando na minha frente quando chegamos em casa. Ela
estava tentando manter a compostura, mas eu sabia que era apenas teatro.
Fui atrás, até nosso quarto. Deixou a bolsa no aparador, tirou os sapatos e
guardou. Estando estranha desde cedo, não sabia ao certo o que havia de
errado com o humor dela. No entanto, aquilo não me assustava em nada.
Convivia com Isabella há anos e ela era a rainha das oscilações.
— O que está havendo com você hoje? — Ergui minha mão e ela
parou, segurando meu pulso e girando para ver meus dedos.
— Eu tirei.
— E daí?
— Caterina!
— Caralho!
Não sei como, mas suas unhas tornaram-se garras. Ela quase arrancou
minhas orelhas. Tentei ficar com raiva de sua loucura, mas tudo que
conseguia fazer era rir, porque eu não disse que tinha fodido outra mulher.
— Pare de rir de mim! Fora desse quarto! Agora! Eu não quero te ver
nem pintado de ouro na minha frente! — ela gritou, ficando em pé na cama
e só agarrei seus joelhos, jogando-a deitada e com um rápido movimento, a
prendi de novo. — Não ouse tentar me beijar. Eu não consigo ser que nem a
minha mãe, não vou aceitar que me traia e toque em mim!
As lágrimas que caíam dos seus olhos eram reais. Cobri sua boca para
que parasse de gritar e ela tentou me morder.
— E por que estava suado? Eu nunca sei onde está quando acordo! E
também, agiu todo desconfiado por ter me visto fora da cama mais cedo!
— Treino todo dia bem cedo, com Mariano ou sozinho. Eu não queria
que tivesse visto as mulheres, foi por isso. Sabe que posso provar, certo?
Tem as imagens. Mas eu não quero que veja Assis fodendo. — Mordi-lhe o
queixo e ela fez um beicinho.
— Não quero vê-lo transando, mas quero ver que você não estava lá.
— Ergueu o queixo, desafiante. — Não tenho motivos para confiar em
você.
Filha da puta.
— Vou falar pela última vez, e aceite a minha palavra. Nunca te traí
— falei pausadamente. — E agora que sei sobre seu posicionamento, farei o
meu melhor para te respeitar. Não há nada no seu corpo que eu precise
procurar em outra mulher, já está claro que tenho atração por você.
— Acho bom.
O biquinho que se formou ali foi bem atraente e lhe dei um beijo. Seu
segredo estava seguro comigo, eu era seu marido e não inimigo, não
precisava temer e sentir-se exposta. Não comigo. Ela era minha esposa e
faria de tudo para protegê-la, até mesmo de si. Nosso quarto estava com
várias coisas quebradas, espalhadas pelo chão e ela ficou cansada depois da
briga, porque adormeceu em meus braços.
E ele jamais poderia dizer que não sabia. Agora, estava tudo bem claro
entre nós.
Terminei meu banho sem ânimo para me vestir, ficar arrumada, eles
que se danassem com as regras de etiqueta. Peguei um conjunto de pijama
limpo e um roupão, calçando pantufas e ajustei a climatização da casa.
Solicitei que a guarita pedisse pizzas, ditando os sabores e tamanhos. Não
estava com vontade de cozinhar e eles nunca poderiam reclamar que
teríamos delivery.
Desci até a adega, acendi a luz e procurei um bom vinho. Com a
garrafa debaixo do braço, fui até a cozinha, pegando taças e ouvi o barulho
dos carros entrando na garagem. Pela maneira com que as portas foram
batidas, eles estavam agitados. Cassio passou primeiro, me olhando e
agarrou o vinho de mim, puxando a tampa com mais facilidade. Agradeci,
pois estava fazendo uma força enorme.
Ele apenas me deu um olhar intolerante e saiu. Não era educado andar
por aí com uma garrafa de vinho, mas eu ia beber tudo mesmo. Joguei-me
no sofá, ligando a televisão, mudando os canais com rapidez e achei um
filme de ação que parecia bom o suficiente para me distrair porque eu não
queria nada de romance. Meu humor estava mais para desejar morte ao
amor.
Ele trouxe prostitutas para a minha casa, podia muito bem me servir.
Fingi que seu olhar ultrajado não me afetou, continuei virada para a
televisão. Mariano passou por mim, jogando-se no outro sofá. Cassio
abaixou, beijando meu pescoço e me assustei, ele deu a volta, puxando
minhas pernas e colocando-as em seu colo.
— A mulher que quase arrancou minhas orelhas fora está nessa cama?
— Ele me cutucou e acabei rindo. Seu tom era divertido.
— É sério que está com tanto ciúme assim? — Cassio me abraçou por
trás.
— Não estou com ciúme. — Eu bufei e virei, olhando para seu rosto
com um sorriso atrevido decorando a minha face. — Você me pertence,
Cassio.
Ele sorriu contra minha boca e me beijou. Foi tão bom que não quis
parar, mesmo que tivesse prometido a mim mesma não ceder. Fui mudando
de posição, ele deitou e fiquei por cima, sentando em seu colo. Cassio subiu
as mãos por dentro da minha camisa, apertou meus seios e puxou o sutiã
para baixo. Tirei minha blusa, jogando-a ao lado na cama e sem perder
tempo, ele soltou o fecho da minha peça íntima.
— Caterina…
Estava pronta para dizer que não aguentava mais quando senti seus
dedos fazendo maravilhas em pontos sensíveis. Pensei erroneamente que o
desconforto não me ajudaria a gozar, mas de algum modo, a dor que sentia
me levou ao prazer. Principalmente com as mordidas e alguns tapas duros
que ganhei - e gostei muito. O orgasmo intenso e as emoções que estavam
me dominando me fizeram cair na cama um pouco em cima dele, meio
mole, com lágrimas nos cantos dos olhos.
— Cacete, Caterina.
— Você disse que eu podia ser… safada na cama — confessei a
última parte bem baixo, com timidez.
— Puta. Fala.
— Não, para. — Escondi meu rosto, ele ficou rindo e agarrou meu
cabelo.
— Puxa vida, tem coisas na sua vida que sequer sei! — Cruzei meus
braços.
— O quê?
Meu corpo inteiro doía. Parecia que tinha sido atropelada. Entre
minhas pernas era simplesmente um latejar, meu quadril queimava e eu só
havia transado duas vezes sem nunca ter feito isso antes. Faria de novo?
Com certeza, mas naquele momento, queria continuar dormindo e me
recuperar.
— Descanse por mais duas horas, depois, vamos sair. — Ele me deu
um beijo e me cobriu novamente, devolvendo o travesseiro. Apenas fechei
os olhos, sem querer perder um mísero segundo do tempo que tinha para
continuar descansando.
Acordei sozinha e ainda dolorida, fui tomar banho sentindo que meu
humor estava um misto de querer sair dançando por aí e, ao mesmo tempo,
me embolar na cama e continuar dormindo. E eu nem era tão preguiçosa
assim. Cassio me encontrou quando já estava vestida, usando uma das
roupas que minha mãe escolheu para meu armário, mas ele andava muito
arrumado e eu me recusava a parecer uma criança ao lado dele.
Ele estava sério e eu não sei por que pensei que tudo que havia
acontecido quebraria sua máscara de seriedade. Mas talvez só estivesse
disposto a compartilhar partes de sua personalidade quando estivéssemos na
cama. Arrumei minha bolsa, saímos juntos e dessa vez, haveria uma
comitiva conosco.
— Acho que é estupidez, deixa pra lá. — Acariciei sua mão com um
sorriso.
— Seu pai negou, mesmo diante das perguntas persuasivas, mas seus
irmãos ainda me geram desconfiança. Eles eram bem próximos do seu
padrinho.
— Nem tudo nas relações das famílias italianas é o que parece, meu
anjo. Muitos são ignorantes sobre a verdade e possuem opiniões baseadas
em tradições antigas. Eu sei que seus irmãos não estavam felizes com o
casamento e o sequestro, pode ter nos unido a famiglia de certo modo, para
quem importa, os nossos inimigos de modo geral, porém, criou uma tensão
entre todos. Não dá para saber em quem confiar. — Cassio acariciou entre
meus dedos. — Não fique assim.
Trocando uma ideia com Alessa sobre nossas roupas, olhei para
Cassio na fila com um sorriso. Ele voltou com um copo grande, batendo a
porta e apenas me joguei nele, enchendo seus lábios de beijos, agradecendo.
Mesmo irritado, abriu um sorrisinho. Fui tomando pelo restante do caminho
com alegria, enchendo meu estômago com o doce muito gostoso. Eu tinha
que tomar cuidado ou faria todo sentido minha mãe ter proibido aquilo por
toda minha vida.
— Sim. Seu pai não está feliz com Cassio no momento, a provocação
do lençol foi a gota d’água e ele não quer que eu ligue, porque agora você
é uma Venturinni.
— Cassio é um bom marido? — Ela quis saber e eu não sabia até que
ponto aquela informação podia ser comprometedora.
— Te amo, mamãe.
Eu sabia que seria assim. Ela estava confiante de que nada aconteceria
e talvez, se o sequestro não tivesse acontecido, Cassio não ficaria tão arisco
em me deixar ter contato com a minha família. Encerrando a chamada,
deixei o aparelho no silencioso no balcão, porque estava melancólica e não
queria estragar a comida. Voltei a me ocupar, o tempo passando e ao ficar
pronto, guardei a travessa no forno e subi.
Escolhi um macacão vinho, de gola alta, sem alças, que ficava justo na
medida certa e com uma modelagem elegante. Eu queria poder ir de tênis,
mas a diferença de Cassio para mim era muita e o salto amenizava bastante.
Selecionei um lindíssimo par, que deixaria meus dedos destruídos, mas eu
usava porque ficava impecável nos pés.
Mais uma vez, não saímos sozinhos, Assis estava o tempo todo
emparelhado com o carro, em uma moto preta, lustrosa, muito potente que
fazia um ronco bem alto na estrada. Do lado de fora da boate, estava muito
cheio, com uma fila enorme e um pouco de trânsito que foi rapidamente
resolvido para que pudéssemos passar e entrar pelo estacionamento
subterrâneo.
— Obrigada.
— Eu não vou ficar pelada aqui fora! Alguém pode me ver! — Ficou
toda vermelha, cruzando os braços.
— Vou entrar de calcinha e top, não vou tirar mais que isso — avisou,
toda severa. Ela era tão certinha, minha esposa. Mal sabia que ia terminar
pelada e se eu tivesse sorte, toda gozada. Com cuidado, deixou os tênis e as
meias no canto, abaixando o short. Eu bufei ao ver sua calcinha, entrei na
água, rindo. Era pequena, branca, com tiras nas laterais. Toda sua bunda
estava de fora. O que era diferente de estar completamente nua na minha
frente? Nada.
Pisando nos degraus, agarrei sua cintura e puxei para o fundo
bruscamente. Ela gritou e me segurou, cruzando as pernas na minha cintura.
A primeira coisa que arrebentei foi o top, jogando longe e o observei boiar.
— Cassio!
Ela não se intrometia nos negócios e arrumava coisas para fazer, era
gentil e educada o tempo todo. Nunca foi minimamente estúpida, nem
mesmo durante a briga. Havia algo nela que era doce, bondoso, muito
carinhoso e, havia um fogo mais fácil de lidar do que a apatia.
— Eu vou usar um cropped mais tarde. Não quero sair toda roxa.
Eu não resistia, tinha que chupá-la. Desci minha boca sobre sua
boceta, dando um beijo que a fez estremecer e agarrar as laterais do banco,
impulsionando o quadril para cima, querendo fundir meu rosto, gemendo
alto e cobrindo a boca pela forma que ecoou. Nós rimos e a levei para os
degraus, pedindo em seu ouvido que ficasse de joelhos, ela nunca tinha
ficado naquela posição, então, posicionei seu corpo corretamente.
Puta que pariu, sua bunda ficava ainda mais bonita daquela forma,
dois montes redondos… esfreguei meu pau de sua entrada ao cuzinho,
cuspindo ali, provocando. A olhada sobre os ombros foi o suficiente para
saber que, em breve, poderíamos começar a tentar. Eu queria tudo dela.
Corpo, mente, tudo. Ela era minha e isso, felizmente, eu não tinha uma gota
de vergonha de dizer.
Empurrei dentro, gemendo, e agarrei bem suas nádegas, começando a
estocar gostoso. Mordi minha boca com força, era tão apertada, mas do jeito
que ficava molhada, tornava tudo ainda mais incrível. Quando gozou, foi
perdendo apoio e precisei mudar de posição, colocando-a em meu colo.
Estávamos, em sua maior parte, fora da água, terminar de foder beijando
deixou a minha manhã ainda melhor.
— Não tenho vergonha disso, pelo menos, não na hora. Mas sempre
entendi que sexo era dentro do quarto, o homem por cima, fazendo tudo…
— Não é para menos. Mas não permita que sua esposa se sinta
sozinha com você, Cassio. Ela é a pessoa que estará ao seu lado, não
importa o que aconteça, valorize isso. Esse é meu conselho de irmão. —
Danilo olhou bem para a tela e assenti. Era a pessoa mais preocupada do
mundo com a minha vida, sempre foi protetor e se fui mimado em minha
criação, a culpa foi toda dele. Depois do sequestro, precisamos nos ajustar.
A pessoa que me tornei não era quem meu irmão conhecia. Ele foi
meu pai para todos os efeitos, me criou com tudo que tinha na vida e nunca
me deixou. Entendia a dor, o medo e a inutilidade quando não pôde me
salvar daquele pesadelo que foi provocado por sua ira no passado. Não
havia culpas ou ressentimentos.
— Deixe-me ver sua mão — pedi, puxando seu pulso e ela revelou o
corte. Ver o sangue me doeu. Eu causei aquilo e desejei que fosse em mim.
— Eu…
Ela estava ferida e chorou. Minha culpa. Caterina olhou bem para
mim.
— Nunca. Eu nunca vou te ferir e prefiro morrer do que ver esse olhar
de medo em seu rosto novamente — falei com veemência. As palavras
necessárias ainda pareciam presas na minha garganta. — Cate…
— Um dia.
Depois de lavar minha mão, vimos que o corte nem era tão profundo e
um curativo simples resolveu. Ele estava triste porque eu me machuquei
com o susto. Seu olhar me devastava, era tanta dor e arrependimento que
assim que terminou, roubei um beijo, depois outro, fui agarrando-o e
empurrando-o para o chuveiro porque estava toda suja de molho nas pernas.
Queimou um pouco, só não estava ferido. Água corrente iria resolver.
Tirei um cochilo com ele na cama, fui acordada com beijos suaves no
pescoço, seios, rosto e lábios. Ele disse baixinho que me deixou dormir até
o último minuto possível e que precisávamos começar a nos arrumar. Fui
até o closet, bocejando, e percebi que o humor dele estava sombrio, eu tinha
separado uma roupa bem reveladora para a noite e depois dos
acontecimentos do dia, decidi deixar a pressão arterial do meu marido
controlada.
Claro que era impossível não chamar a atenção quando estava com
Cassio, Assis ou Mariano. Até mesmo qualquer outro segurança. Eles
tinham uma placa na testa: "Sou um gângster. Me desafiem."
— Não vai pegar nada que a polícia ou qualquer um não saiba que vai
rolar aqui dentro. Sexo, drogas e muita bebida. Boa sorte ao tentar invadir
aqui hoje. — Cassio sorriu de lado, com um jeito perigoso que me trouxe
um arrepio na espinha. — Não quer dizer que eu vá permitir que saia ileso.
— Você.
— Que bom. Não quero ficar longe. — Puxei-o pela gola da camisa.
— Acostumado. Você que fica exausta. Por que não atendeu sua mãe?
Se ela me ligou sem meu pai saber, era melhor esperar que tomasse a
iniciativa novamente quando pudesse. Não queria colocá-la em problemas.
Alguma coisa completamente incompreensível estava acontecendo em
Chicago, eu só não iria me indispor com meu marido por causa dos meus
pais.
Danilo ligou para Cassio e ele saiu para atender. Em algum momento,
iríamos para Itália para estreitar laços com a família e eu não tinha certeza
se eles estavam abertos a me conhecer. Alessa disse que Isabella era muito
na dela, mas éramos cunhadas e esperava que pudéssemos ser próximas.
Afinal, meu marido a chamava de irmã.
— São muitas opções. Eles não possuem um código entre eles para
que possamos reconhecê-los em uma multidão.
— Eu não vou demorar na rua e é melhor que essa mala esteja pronta.
— Abusada…
Cassio foi completamente inútil. Ele disse que eu ficaria linda com
qualquer roupa e voltou a trabalhar, mal desviando os olhos da tela do
computador.
Mariano bateu na porta do quarto, avisando que iria entrar, ele parou
na porta do closet com alguns pacotes dizendo que as minhas compras da
internet haviam sido entregues. Comprei novos biquínis. Eu agarrei as
caixas, que estavam semiabertas por causa da verificação e fui correndo
lavar para poder usar logo que chegássemos na Itália. O tempo estava muito
bom lá.
— Oi, querida. — Ela surgiu, sorridente, porém, podia dizer que tinha
algo errado.
— Estou com uma crise alérgica, sabe como fico quando o tempo
começa a ventar muito aqui em Chicago. Então, amor. Conte-me. Você está
bem? Como é a sua rotina aí? É tudo que sonhamos?
— Minha rotina é como a de toda dona de casa, mamãe. Cuidar da
comida, limpeza, tudo isso e eu estou bem. E aí, aqui não tem muito a dizer,
sinto saudades das crianças. Minhas cunhadas vão me permitir vê-los? —
Mudei de assunto, ciente de que meus irmãos não queriam que eu visse seus
filhos, mas tentei mesmo assim. — Além do mais, essa casa está muito
silenciosa.
— Se não está confiante em falar com sua mãe, passe a apenas trocar
mensagens. Eu realmente aprecio que não fale sobre a nossa vida em
nenhum detalhe com absolutamente ninguém, sendo sua mãe, pai ou
qualquer um. — Ele pegou minha mão e beijou os nós dos meus dedos.
— Ela pode estar apenas triste porque sempre fomos eu e ela para
tudo. Agora, estou aqui, ela está lá e não tem mais ninguém para cuidar.
— Oh, meu bambino! Meu menino! Eu não posso ficar tanto tempo
sem você! — ela arrulhou, agarrando-o e encheu o rosto de beijos. As
orelhas do Cassio ficaram incrivelmente vermelhas. Cobri minha boca,
rindo. — E você, deixe-me vê-la! — Segurou-me pelos ombros, com uma
análise carinhosa. — Linda, maravilhosa. Seja bem-vinda, Caterina. Então,
você é a esposa do meu menino.
— Ah, que isso! As crianças não iriam nos atrapalhar, aqui é a casa
deles. — Caterina deu um passo à frente, preocupada.
— Olá, meninos!
— Essa é a tia Caterina ou tia Cate, vocês devem ser muito educados,
sempre dizer obrigado, por favor, bom dia, boa tarde senhora…
— Mas ela não é velha para ser chamada de senhora! — Félix cruzou
os braços.
Sabia que seria difícil para minha esposa estar com meus irmãos e ela
não era como Bella, desafiante e brava. Ela era mais tímida, precisava
sentir-se segura e por esse motivo, puxei sua cadeira bem ao lado da minha
e não deixei que ficasse sozinha com minha cunhada do outro lado da mesa,
como eles provavelmente organizaram os lugares. Danilo me deu um olhar
divertido, da cabeceira, e os meninos voltaram com Nanci, parecendo
anjos.
O jantar foi tudo aquilo que todos amavam, muita carne, massa,
molho, queijo e salada. Caterina não poderia vencer a determinação de
Nanci em nos ter muito bem alimentados ao ponto de comida vazar pelos
nossos ouvidos, o prato dela mal ficou vazio. Arrastei meu pão por seu
prato, me sentindo em casa e relaxado. Seriam ótimos dias de folga ali na
praia antes de irmos para a villa principal.
— Ela é louca, mas não desse tipo. — Danilo olhou para a esposa com
uma risada.
— Ela não parece louca. — Caterina encolheu as pernas, com sua taça
de vinho e eu peguei a colcha, passando por seus ombros para que ficasse
aquecida do vento gelado da praia.
— E eu faria tudo de novo. Meu maior medo era não ser respeitada
nesse casamento.
— Essa aqui não fica muito atrás. As unhas delas viram garras quando
está furiosa. Quase arrancou minhas orelhas fora porque eu estava sem
aliança — contei rindo e Caterina ficou vermelha, murmurando meu nome
baixinho.
— Eu percebi que existe uma sintonia. Isso é bom. Sabe que passei
por momentos realmente ruins e desde que Bella chegou, ela tem sido o
meu alicerce. Com você, meu irmão, posso confiar esse lado da minha vida
porque é bom e quero que experimente o mesmo. — Danilo tocou meu
ombro. — Mas Bella sempre soube quem era. Precisará ter paciência com
Caterina e as suas descobertas.
— Sim. E não tem que estar arrumada, fique calma, cacete. — Ele riu
da minha ansiedade. Era difícil abrir mão de tudo que fui treinada da noite
para o dia assim.
— Essa casa pertencia ao seu pai? — Virei e fui até a mesinha, onde
ele deixou a caneca fumegante. O chá parecia de hortelã, cheirei antes de
beber e Cassio foi para a cama, deitando.
— Você nunca fala dos seus pais. — Sentei na ponta, dando um gole.
Cassio não desviou o olhar do meu, sem deixar transparecer nenhum
sentimento.
— Eles estão mortos, não tem muito o que dizer sobre eles. Beba o
chá, não te quero passando mal o dia todo. E vou pedir para Nanci não te
importunar com comida. — Ele acariciou minha coxa. Adorava ver sua mão
grande e tatuada contra minha pele, pouco mais clara, mas que sempre
ficava arrepiada por ele. — Só enquanto está com vergonha.
— Está melhor?
— Sim e eu pensei que estaria nua na cama com meu marido, fazendo
coisas. — Dei de ombros com um beicinho.
— Quer foder?
Mordi meu lábio, sem querer recuar, mesmo sentindo meu coração
explodir com a familiar sensação de timidez desejando me dominar.
— Deveria ter dito, nós somos uma família, não precisa ficar com
vergonha. — Nanci puxou uma cadeira para mim e sentou-se ao meu lado.
— Eu tenho mania de alimentar todo mundo, quero que fiquem saudáveis.
Essa determinação durou até irmos para a piscina, estava um sol forte,
as crianças correndo para todo lado e Isabella me ofereceu um drinque. Eu
queria ser mãe e estava acostumada com uma casa cheia, mas, os meus
novos sobrinhos eram simplesmente terroristas. Félix e Fabrizio poderiam
derrubar a casa se estivessem dispostos. Era aquele DNA que meus filhos
teriam? Puta merda!
— Eu sou!
Assis e Mariano apareceram com trajes de banho e ignoraram os
gritos da irmã para não agitar as crianças, pegando as bolas e começando
um jogo agressivo. Julieta continuou entre Cassio e eu, ganhando muita
atenção e mimo. Enchi as boias, espalhando-as na água e meu marido me
puxou mais para o fundo, abraçando-me por trás.
— Se ela vier como Julieta, sim. Eu só não sei se estou preparada para
aquilo ali. — Apontei com o polegar por cima dos meus ombros. Os
meninos estavam escalando a grade cheia de parreiras.
Ah, não! Eu comecei a correr em direção à casa sem olhar para trás e
soltei um grito histérico ao sentir a coisa gosmenta em mim. Coloquei
Julieta na escada e voltei, correndo atrás deles, pegando o peixe e
esfregando-o nas costas de ambos, que riam de se acabar, chegando a cair.
— Eu vou colocar vocês dois na churrasqueira! — Cassio pegou
ambos. — Vamos para casa, estão fedendo!
Ali tinha tanto calor humano e alegria, que era fácil esquecer quem
éramos de verdade e me trouxe uma sensação gostosa de que a minha casa,
minha família (marido e filhos), poderia ser o que eu nunca tive:
normalidade, afeto do tipo cru, sem tanta etiqueta e exigências formais, as
risadas pelos corredores eram altas e por mais que os meninos fossem muito
preparados para o futuro e tivessem no DNA a maldade natural e necessária
para sobreviverem, eles tinham pais que não hesitavam em mostrar amor
nos pequenos detalhes.
— Vamos casar de novo para termos outra lua de mel? — Bella pegou
a mão de Danilo. — E dessa vez, sem fuga e sem tramoias.
Estava impressionada com o quanto era lindo. Eu não sei por que, na
minha imaginação medrosa, com todos os rumores que ouvi sobre a
Calábria e a família Venturinni, pensei que a casa deles seria escura,
sombria, com ar de filme de terror. Mas era o contrário, simplesmente
bonita, no estilo tradicional porque já tinha muitos anos de construção.
O quarto de Cassio ficava no lado mais alto. Ele disse que não era o
dele de infância, que ficava no andar de baixo. Solteiro, morou fora com
Mariano, porque eles recebiam companhias femininas. Franzi o olhar em
sua direção.
Agarrei uma almofada e bati nele com muita força. Rindo, me agarrou
e sentei em seu colo, olhando bem para o seu rosto.
— Em grupo com outros homens não, mas sim, já estive com mais de
uma mulher na cama. — Cassio colocou as mãos atrás da cabeça, todo
arrogante. Idiota.
— Caterina…
— O que foi, marido? Por que está soando ameaçador com a sua
esposa? — Fiz um beicinho. Ele me apertou em seus braços.
— Diga que é só minha. Diga que sempre serei o único a te ver
delirando de prazer — vociferou, agarrando meu cabelo. Aquilo não me
assustava em nada, só me deixava excitada. Deveria ter algum problema
que não estava interessada em pensar profundamente.
— Você sabe que sempre será o único para mim… — Subi minhas
mãos para seus braços e empurrei minhas unhas. — Cassio Venturinni, eu
não tenho problemas em transformar a sua vida em um completo inferno se
me trair com uma ou duas mulheres. Eu vou arrancar seu pau fora!
— Não sei do que você tem medo, só sei que estou aqui e você é a
minha família, é tudo que realmente tenho e não importa o que for
acontecer nessa vida, quero estar sempre ao seu lado. Minha lealdade,
fidelidade, amizade, respeito e companheirismo é todo seu. Sempre será
seu.
Meu desejo por ele era maior do que qualquer coisa que já senti na
vida. Era cru, sem medo ou tabus, era tudo sobre o que podíamos fazer
juntos e o quão gostoso poderia ser. Eu me entregava àquela intimidade sem
receio. Cassio poderia nunca me amar, mas nós jamais poderíamos dizer
que não havia química na cama. Sexo era esplêndido de uma forma que
minha mãe deixou de fora ao me explicar sobre relações adultas. Ela nunca
deu a entender que poderia ser tão bom.
— Eu? Não. Meu pai até tentou me colocar em algumas aulas e não
levo muito jeito. Tanto que foi inútil quando… — Parei de falar e ela
entendeu. — Alessa me contou que você fez parte das buscas e estava lá
quando fui encontrada. Eu não sabia se fica confortável ao falar sobre isso,
mas queria te agradecer. Obrigada de verdade.
— Quando souber dar um bom chute nas bolas dele, irá parar. Vem
que vou te ensinar.
Depois, França.
Nós sequer vivíamos naquela parte. O motivo era meio óbvio, para
que frequentar aquele lado da propriedade se havia uma mancha que
entristecia nosso passado? Danilo recusava-se a falar sobre nossa mãe, mas
Nanci me contou histórias de que ela era agradável, gentil, amorosa e muito
apaixonada pelos filhos. Sua maior realização era ser mãe e eu vivia
pendurado em seu colo, ainda mamava no peito.
Se não fosse parecido com meu pai, estaria morto. Se Danilo não
tivesse feito de tudo para me manter vivo, estaria morto. E agora, Caterina
estava ali, bela de uma forma que sequer poderia descrever. Sua beleza era
mais do que física, havia algo no modo com que agia que era extremamente
encantador. Longe do modo cachorrinho adestrado, estávamos nos
divertindo mais juntos e ela alimentava o homem das cavernas em mim,
sempre precisando da minha segurança e proteção. Era dela e por mais que
Bella estivesse ensinando-a a lutar, ela não fazia o tipo mulher durona.
Funcionava para nós dois assim.
Eu iria levá-la para passar uma semana fora, em Paris, um lugar que
escolheu para conhecer. Só tinha ido uma vez, com a mãe, não puderam
passear muito porque o pai não havia deixado. Ela queria ser turista, fez um
plano de lugares e estava animada. Era um pedacinho de normalidade que
poderia dar a minha esposa e sua alegria até me contagiou um pouco. E eu
nem gostava da França.
Fiquei encostado na pia, ainda de olho, e durante seu banho ela riu
um pouco, dizendo que eu parecia um maníaco. Vestiu roupas leves, calça
de linho, tênis e camiseta que tinha uma letra C em dourado, prendendo o
cabelo e trocou as joias. Tomei banho rápido, vestindo-me e ela ficou atenta
às armas que coloquei no corpo, cintura, botas e peito.
Mariano assobiou, dizendo que estava pronto. Ele iria junto e não
ficaria perto. Desde o sequestro, nenhum de nós ficava em outro país ou
qualquer lugar vulnerável completamente sozinhos. Ele até brincou que
estava na hora de conhecer uma francesa e experimentar. Caterina e Isabella
saíram da sala depois disso, sem querer ouvir mais os absurdos que Mariano
era capaz de dizer em pouco tempo.
— E o que tem?
— Minha mãe amou demais meu pai. Ela quase matou meus irmãos.
Eu só percebi que havia algo muito errado no casamento deles quando Bella
casou com Danilo e nunca permitiu que ele fosse mais do que deveria em
sua vida.
— Tu sabe que não é só isso. Você a olha com carinho e desejo. Ela
mexe contigo, com seu lado carnal e cara… — Mariano atraiu meu olhar.
— Não jogue isso fora.
Eu só tinha a certeza de que faria de tudo por ela, não somente por
um dever, por senso de honra e proteção. Faria porque era ela a mulher que
me aquecia só de olhar em meus olhos, de colocar a mão no meu peito ou
buscar meus dedos, para ficar sentada no sofá, com eles entrelaçados e
nossos pés unidos.
Foi assim com a minha mãe, enlouquecendo meu pai de ciúme e foi
assim que a mãe da Bella quase matou a família inteira.
Paris era linda à noite. Cassio e eu andamos de mãos dadas pela rua
do hotel, que tinha uma visão esplêndida para a Torre Eiffel. Parei no meio
da rua e ele tirou uma foto minha, de braços abertos. Meu nariz estava um
pouco vermelho, por ter chorado com uma apresentação de rua que foi
muito romântica e ele apenas riu, me tirando de perto, porque estava sendo
muito sensível.
— Conte — determinou.
— Você não sabe, para com isso. — Bufei, meio irritada. Eu não
queria compreensão, era um sentimento estranho que parecia que ninguém
iria entender.
— Sequestro é uma ocorrência na nossa família. — Cassio afastou-se
um pouco. — Assis quase morreu em um, Bella lutou por ele, pela própria
vida, estando grávida. Ela levou muito tempo para deixar de ter medo de ser
pega dentro do carro. E eu…
— Não sabia que eles tinham passado por isso — murmurei e parei,
percebendo que ele ia contar algo. Franzi meu cenho, entendendo o que iria
dizer. — Você também, Cassio?
E entendia mesmo.
Cassio não falou nada. Ficou olhando para a janela, tragando o cigarro
e pela força que apertou a madeira, não precisava que entrasse em detalhes.
Levantei e toquei seu ombro, mas ele estava tão tenso que simplesmente
não se movia, trincando o maxilar. Passei por baixo do seu braço, me
enfiando entre seu peitoral e a janela, apoiando as mãos no parapeito e subi,
sentando. Ele estava com um olhar perdido, doloroso, como um mar revolto
em noites de tempestade.
Ele tinha muitos demônios para lutar e talvez, nem desejasse impedi-
los de dominá-lo, por fazer parte da sua essência e ser necessário para
sobreviver no meio em que vivíamos. Mas puta merda, como o homem era
lindo, gostoso e felizmente, meu da cabeça aos pés.
— Bom dia, meu doce anjo — Cassio cantarolou e fui em sua direção,
como uma mariposa atraída pela luz. Sentei em seu colo, tirando o jornal e
beijei seus lábios. Ele foi repetindo bitoquinhas até me fazer rir.
Soltei seu pau com um estalo e ele deu uma risada sombria.
— Otário.
Cassio ainda não tinha uma previsão do nosso retorno para Vegas, por
ter muito o que fazer com Danilo. Estavam com novos planos, mercadorias
e um restaurante bem na divisa entre territórios, no qual a inauguração
estava sendo cuidadosamente planejada. Eu estava bem com essa
temporada fora, gostava de ficar no meu país e me sentia em casa com a
família dele até o momento, só esperava que isso não mudasse.
O processo para embarcar foi tranquilo e precisamos esperar na
aeronave para decolar. A tripulação era a mesma, porém, o fato de ficarmos
parados na pista trouxe um sinal de alerta para Cassio e Mariano. Acreditei
ser apenas um contratempo, mas seria estupidez da parte deles não se
preocuparem.
— Eu não sei o que houve. Simplesmente não acordei, mas foi uma
cochilada renovadora. — Sequei o cabelo, enrolada no roupão.
— Entendo.
Não que pensasse que o soltaria, mas talvez, ter uma irmã mudasse
bastante a minha rotina. Ergui a minha taça, brindamos divertidas e comecei
a contar sobre como foi minha viagem com Cassio e o quanto me sentia
apaixonada por meu marido. Eu sentia muito medo que o amor me
destruísse e ainda assim, não era o suficiente para frear o ritmo louco pelo
qual meu coração batia por ele.
TRINTA | Cassio
Calábria, Itália
— E por que eles ousariam atacar nossa casa se não estamos lá? —
Danilo apoiou as mãos na mesa.
— É porque eles não sabiam que não estamos. — Olhei para a janela
fechada, pensativo. Não era um ataque ali, ao que parecia, era seguro. O
problema estava em Vegas e com a diferença de fuso horário, a noite seria
muito longa para eles, assim como seria um dia extremamente agoniante
para nós.
Sem falar nada, dei as costas e peguei meu notebook, abrindo o mapa.
Danilo ficou andando atrás de mim, esperando o momento que quisesse
compartilhar os meus pensamentos. Antes de falar, era bom pensar e
analisar bem algumas coisas que já vinha pensando.
— Não, baby. Desculpe, deveria ter avisado. — Danilo foi até ela. —
As crianças estão bem?
— Os meninos ficaram um pouco irritados de ficar no quarto, acho
que eles pensam que já são homens. — Ela revirou os olhos discretamente.
— Deixei Cate cuidando da Julieta, para distrair, e conversei com ambos. O
que aconteceu?
Desde que a nossa casa foi invadida, aprendemos a criar uma rota de
fuga para o lugar mais seguro. Era praticamente impossível passar pela
fortaleza da Villa da casa dos meus avós maternos. Ali era lindo, à beira do
mar e foi por isso que ficamos vulneráveis com um plano muito filha da
puta. Eles não obtiveram sucesso e graças a isso, descobrimos que nossos
tios eram os que foderam com a nossa família há muitos anos.
E eu tinha que ter bons planos nas mangas para manter minha família
protegida acima de tudo. Dali mesmo, passamos a acionar nossos contatos,
verificar entre subchefes e associados qualquer mísera informação suspeita.
E levou tempo. Nanci nos preparou sanduíches, Bella manteve as crianças
no segundo andar e à noite, com o amanhecer mais calmo nos Estados
Unidos, fui até meu quarto.
Excitado, fui atrás dela. Caterina abriu a porta de vidro do boxe, com
um semblante preocupado.
O banho a dois foi tudo que precisava. Sua bunda ficou vermelha com
os tapas que dei com a mão molhada. Esperei que secasse o cabelo, fazendo
minha barba e fomos para o quarto juntos, ainda sem roupas. Deitei na
cama, precisando de um tempo. Caterina montou no meu colo e ficou
agarrada em mim como uma mochilinha.
Rolei a tela e percebi que não se falaram o dia inteiro. Mas duas
coisas me chamaram a atenção. Cate enviou uma foto de si mesma na
academia da nossa casa como se estivesse malhando, mas naquele horário,
estava bebendo vinho com Bella na varanda. Depois, enviou uma que
estava cozinhando, mas era a cozinha de Vegas.
— Por quê?
— Já sei o que aconteceu. Chicago está por trás dos ataques e agora, é
guerra.
TRINTA E UM | Caterina
Cassio desceu para buscar nossa comida e nunca mais voltou. Ainda
levou meu telefone, sem me dizer o motivo, mas estava com tanto sono que
não perguntei. Sentei, puxando meu roupão de cetim e amarrei o laço,
pegando as canetas coloridas e o álbum para continuar escrevendo as
legendas das fotos, vendo que o engraçadinho do meu marido escreveu uma
nota bem pervertida. Nossos filhos nunca poderiam ver aquilo depois de
aprenderem a ler. Eu ri e escrevi uma resposta abaixo, mudando de página.
— Por quê?
— Não acreditamos que seja coincidência. A mensagem para sua mãe,
fingindo estar no jantar, pode ter sido um alerta. Ela perguntou se estava em
casa e o que fazia, você respondeu e, um minuto depois, o agrupamento
recebeu o alerta e saíram em direção à nossa casa. É possível ver nas
imagens que eles estavam aguardando um sinal — Cassio me explicou e eu
me senti gelada, sem saber o que pensar. — Não é segredo que seu pai ficou
muito infeliz que matei o Senador e o provoquei abertamente.
— E minha mãe teria algo a ver? Ela permitiria que alguma coisa
acontecesse comigo? — vociferei, defendendo-a. — Cassio, mamãe jamais
faria parte de algo para me matar! Eles atacaram a nossa casa! Depois de
tudo que passei, eu…
— Antes de ser sua mãe, ela é uma esposa obediente e submissa, além
do mais, ela fala com você por vídeo. Não sabemos se é ela por trás das
mensagens de texto.
— Talvez ela tenha dado sinais que você não percebeu ou não soube
como dizer. Mas talvez, não exista inocentes nessa história. Sei que é sua
mãe, mas sou seu marido e não vou permitir que nada te machuque, nem
mesmo a sua família. Espero que isso fique bem claro, Caterina. Se eu
confirmar que seus pais estão por trás desse ataque, eu vou matá-los —
Cassio anunciou com frieza e meu estômago despencou aos pés.
Cassio segurou meu rosto e me beijou tão intensamente que senti pelo
corpo inteiro. Agarrei sua camisa, com medo de deixá-lo ir e, devagar, tirou
dedo por dedo, dando beijos antes de abrir a porta. Bella estava no corredor,
com os olhos cheios de lágrimas também. Danilo saiu do quarto ao lado,
onde guardavam algumas armas, e fechou a mochila.
— Tudo bem.
— Eles vão ficar bem. — Bella tocou meu ombro e me levou para a
sala de estar.
Conhecendo meu marido, ele deve ter surtado. Mas fiquei grata pelo
carinho, era muito importante para mim.
— Apenas intuição.
Tirei meu short, indo para o sanitário e fiz o xixi no potinho, lavando
minhas mãos e colocando o bastão fininho dentro. Bella e eu paramos,
esperando a fita que provava que estava funcionando aparecer e depois de
quase um minuto, uma fraca linha surgiu onde não deveria ter qualquer
coisa. Eu abaixei, incrédula, olhando bem e ela também.
Bella entrou no meu quarto com Julieta nos braços e me deu uma
olhada.
— Sim, sabia, e isso não tem que ser uma preocupação. Vamos
manter a rotina leve, uma dieta equilibrada, um pouco de repouso e ficar
atenta aos sintomas. — Ela se aproximou e abriu um sorriso. — Eu digo
parabéns ou… vamos resolver isso?
— Obrigada por estar disposta a isso, mas é algo que eu não faria.
Meu bebê com Cassio é muito bem-vindo e farei de tudo para mantê-lo
seguro.
— Parabéns, mamãe! Vou amar ser tia pela primeira vez! — Bella me
deu um abraço apertado.
Eu não sabia quando ele voltaria para casa, suas mensagens eram
curtas, bem sucintas e eu estava tentando envolver minha mente no ritmo de
tudo que estava acontecendo. Preocupada com ele fora de casa, e com o
resultado da reunião, que pelo que soubemos, a primeira parte não foi nada
favorável. Era difícil não ficar apreensiva quando sabia que a vida da minha
mãe estava em risco.
Pensar que ela poderia estar ciente de ataques contra a minha vida era
doloroso demais para aceitar e gerando um bebê, percebi que minha mágoa
aumentou um pouco mais enquanto Cassio estava fora de casa. Por
orientação dele, continuei respondendo às perguntas da minha mãe de
maneira sucinta e com a ajuda de Assis, que em alguns momentos,
decifrava que o modo de escrever não era parecido com o que ela falava nos
vídeos.
Atendi duas chamadas, com o fundo branco, no quarto, sem ela poder
saber se era dia ou noite para mim. Havia uma pequena parte que sentia
culpa por mentir, por ter uma noção de que havia algo muito obscuro por
trás, mas outra, queria proteger Cassio, o bebê e todo o restante da minha
nova família.
Sabia que era inocente para muitas coisas e estava aprendendo sobre
outras, depois de refletir bastante e sentir o tom um pouco melhor das
mensagens de Cassio, percebi que eles estavam se alinhando.
— Meu apetite está estranho, mas comi um prato cheio de risoto. Está
dando uma de Nanci para cima de mim, é?
— Acha que Danilo ainda está chateado com o fato de que conversava
com minha mãe sobre minha rotina?
— Eu não acredito que ele esteja, afinal, não era proibido e você até
foi bastante cuidadosa. Claro que mentir ajudou no ataque, se vocês
estivessem em Vegas, seria um problema que não tem como adivinhar. —
Bella apertou meus dedos. — Pare de sentir culpa por isso.
— Fui muito orientada a não expor e achei que estava fazendo a coisa
certa ao não falar onde estava, mas acabei expondo a casa.
— E justamente por isso, não tivemos feridos. Para cada mal, um
bem. — Bella piscou e relaxei na cadeira, peguei meu copo e dei um gole,
estava docinho, gelado, boas laranjas. Nossa proximidade estava sendo
deliciosa, ter uma amiga era bom, falávamos sobre tudo e crescia um
grande conforto em ficarmos na presença uma da outra.
Já era bem tarde quando fui dormir. Antes de deitar, parei na frente do
espelho e peguei o teste que deixei logo ao lado, porque ainda ficava sem
acreditar. Fiz três e todos deram positivo, agendei uma consulta médica e só
iria quando Cassio chegasse, para poder sair sem que ele ficasse atento à
distância e quisesse saber o que estava acontecendo. Não seria por telefone
que contaria que estávamos esperando um bebê.
Guardei tudo em uma caixa e escondi no armário, por não saber que
horas eles retornariam e antes de contar da gravidez, gostaria de saber as
informações que não puderam passar por telefone. Tomei um banho
quentinho, só para relaxar o corpo, peguei meu livro por estar sem sono e li
quase todo, invadindo a madrugada. Estava quase amanhecendo quando
consegui dormir e sabia que iria até a hora do almoço. Meus horários
estavam malucos e precisava regular com urgência.
— Conte tudo. Ainda haverá uma guerra? Foi tudo bem com Damon?
— Entendo que seja ofensivo para eles. Mas por que fingir que não
estamos do mesmo lado?
— Talvez Dante não seja tão volátil quanto dizem, eu também jurava
que vocês eram macabros e malucos. Também ouvi fofocas de que Bella era
depressiva. — Encolhi os ombros. — Fofoca sempre torna informações
maiores do que realmente são e estou muito aliviada de que estão alinhados
no mesmo propósito, só tenho medo de a minha mãe ser uma vítima em
tudo isso.
— Será que tudo isso não é um plano do meu pai para mostrar que não
teve nada a ver com o que aconteceu? A morte do meu padrinho trouxe
vergonha, os ataques continuarem acontecendo meio que inocenta o fato de
que meu padrinho e, ele por consequência, estavam sendo negligentes com
as ameaças dos nômades — sugeri e Cassio beijou minha testa.
Engoli em seco, pensando que por mais que eles fossem bons no que
faziam, sempre haveria um grupo insatisfeito ou sanguinário, desejando
vingança. Já tínhamos inimigos demais para ter que lidar com esses
problemas internos que, se não fossem cortados agora, virariam uma bola
de neve muito maior.
— Estou grávida.
Cassio ergueu o olhar, meio arregalado e separou os lábios em choque.
Por uns segundos, parecia estar processando a informação. Ele encarou a
minha barriga, franzindo o cenho.
Soltando um bocejo, disse que foi dormir pela manhã e ainda estava
cansada.
— Ela virou a noite lendo por ter dormido fora do horário e está
cansada ainda.
— Imagino que seja, todo filho tem uma ligação com a mãe. E você
era especial, o caçulinha. — Ele riu sombriamente, como se estivesse
dentro das memórias. — Não gosto de falar sobre isso.
— Sim. Eu amava a mamãe, ela nos amava muito, era um dia feliz,
carinhoso. E eu amo a minha esposa ainda mais pela mulher que é, a que
nunca permitiria que eu a matasse, que no primeiro ato violento meu, ela
me mataria e protegeria nossos filhos até do inferno, tornando-se o próprio
diabo — ele confessou e dei um aceno.
Nanci era minha mãe para todos os efeitos, ela me criou, era minha
babá, mas sem ela, certamente não saberia muitas coisas importantes. Não
se ateve apenas em me manter vivo, deu educação e amor, me moldou como
homem e, me mimou bastante, o que teve um peso grande na vida adulta e
consequências que tive que aprender a amadurecer na porrada. Sempre tive
tudo o que quis. Crescendo com muito dinheiro e poder, poucas coisas eram
impossíveis para mim.
— Eu sinto muito, não tenho como opinar, minha mãe amava mais o
meu pai do que os filhos. Ela nos jogou na cova dos leões para salvá-lo —
Bella murmurou e senti um aperto no peito porque eu nunca colocaria meus
filhos em um lugar de perigo. Faria de tudo para salvar meu marido, mas
sem colocar nossa prole em risco. — Você a conhece. Acha que concordaria
com um plano que poderia te ferir?
Não havia nada que Bella pudesse dizer que confortaria o incômodo
no meu coração de que minha mãe estava envolvida com meu sequestro.
Meu pai, apesar de sempre ter sido amoroso comigo, nunca me colocou à
frente dos negócios. Para espantar os pensamentos ruins, coloquei música e
agarrei uma colher de pau, cantando com Tiziano Ferro.
— É tão gostoso ver o meu Cassio casado, ele está até ficando com
um corpinho de pai de família — Nanci comentou no modo mãezona.
— Isso não tem nada a ver com a aliança no dedo e sim, com a sua
comida. — Eu peguei a travessa da lasanha e coloquei no balcão, onde as
comidas prontas estavam no aquecedor. A sopa de tomate ainda borbulhava
e estava tão cheirosa que simplesmente me trouxe um buraco no estômago,
louca para fazer uma boquinha, mas os sanduíches de queijo ainda não
estavam prontos.
Não queria. Mesmo que não fosse seguro, gostaria de voltar para
Vegas com Cassio. A mínima ideia de passar a gestação longe dele já me
deixava nervosa.
— Obrigada, Nanci. Eu sei que ele, ou ela, já é sortudo por ter você.
Na verdade, por ter todos vocês, essa família que é capaz de fazer tudo um
pelo outro. — Coloquei a mão na minha barriga. — Quando casei, todos os
rumores me fizeram sentir medo, mas vocês me ensinaram que existe muito
mais por trás do significado de ser família e sou extremamente grata por
isso. Obrigada por me ajudarem a desabrochar.
— Pode ser um aviso, talvez ela diga alguma coisa que faça sentido
mais à frente ou apenas é alguém querendo saber se saio desprotegida na
direção. Todos sabem que eu não tenho prática de direção defensiva —
refleti e apaguei a tela, porque parecia que ela não iria falar mais nada.
Estava apavorada em perder o bebê, cada pesquisa que fazia era sobre
como o começo de uma gestação era delicado e demandava cuidados. A
ansiedade de que as semanas passassem logo para que eu pudesse conversar
com a médica ouvir o coração estava me dominando. E quando pudesse ver
seu formatinho completo em uma ultrassonografia? Seria tão perfeito!
Quando casei com Cassio, planejei filhos para fins comerciais, para
garantir suas posições no futuro e a minha segurança. Agora que nós dois
éramos praticamente um só, descobrir sobre o bebê me assustava, não foi
planejado, havia muitas questões acontecendo e era lindo, porque todos os
meus sentimentos por eles cresciam e eram correspondidos.
Dei as costas e subi o resto das escadas rebolando, ele sabia que eu
não iria para lugar algum sem a companhia dele, a não ser que me irritasse.
— Eu vou tomar banho. Fique quieta aí, nada de ir treinar com Bella
só porque o médico liberou — ele determinou e como sempre, bati
continência, relaxada no lugar porque não desejava me mover. Se pudesse,
ele me enrolava em um plástico bolha, não podia descer a escada sem que
brigasse comigo, sendo que o obstetra disse que poderia praticar exercícios
leves e caminhar na praia.
Meus exames estavam ótimos e o único sintoma da gravidez era o
enjoo pela manhã, olhar para algumas comidas e ficar meio esquisita, sem
querer comer. Aproveitando que não iria levantar, tirei o sutiã, Cassio saiu
do banheiro no mesmo instante e assobiou. Segurei meus seios,
provocando. Ele jogou a toalha no cesto e abaixou, dando um beijo em cada
mamilo.
— Não posso. O médico disse que você deve satisfazer todos os meus
desejos.
Cassio riu e seu telefone tocou, peguei para ele e vi que Mariano dizia
algo sobre o convidado estar acordando. Fiz uma singela careta.
Aquela conversa me fez lembrar de uma ideia que tive antes de dormir
e ele não estava em casa para me ouvir imediatamente.
— Entendi. E se… criarmos uma situação falsa para ver se eles agem
com um ataque? Minha mãe por vídeo, como tem acompanhado, não insiste
em saber onde estou, apenas se estou bem. E por mensagem, sim. Eu acho
que essa é a diferença, Cassio.
— Espertinha.
Assim que ele saiu, descansei e depois, fui me arrumar porque Bella e
eu iríamos verificar a decoração do novo restaurante, que estava pronto e
prestes a ser inaugurado. Como era para arrumar as coisas, escolhi roupas
de ginástica e uma camisa do meu marido por ficar bastante longa. Com
telefone carregado, organizei uma bolsa pequena e encontrei com minha
cunhada terminando de dar o lanche da tarde dos filhos. Julieta me ofereceu
um pedaço de pão, falando sobre a escola naquele dia e queixando-se que o
titio Mariano lhe deu uma mordida antes de sair.
— Mariano tem a idade mental das crianças. Talvez Félix seja mais
maduro. — Bella revirou os olhos, exasperada. Era um clássico da família:
quem não ficasse irritado com o modo robô de Assis e o perturbado do
Mariano, não era um Venturinni de verdade. Os Mansueto possuíam o dom
de nos tirar do sério.
— Calma, ei! — Bella me segurou e desci. — O que será que foi isso?
— Fiquem nos fundos. — Ricardo nos orientou enquanto Assis
engatilhava a arma e descia da escada. Minha cunhada e eu grudamos na
parede, apenas olhando, mas ela levou a mão para dentro do casaco, tirando
sua própria arma.
— Oi.
— Caterina?
— Vai ficar tudo bem, amor. — Bella debruçou-se sobre ele. — Vai
ficar tudo bem, fique acordado.
— Olhe para mim, Danilo — pedi, aos prantos. — Meu bebê precisa
do tio, por favor. Não feche os olhos! — Bati em seu rosto, desesperada.
— Meu irmão tem que ficar vivo ou eu vou matar todos vocês, fui
claro? — vociferei, agarrando seu jaleco. — Não ficará um pó com vida
nesse lugar.
Senti algo dentro de mim quebrar. Ver minha mulher, vulnerável, com
medo e levando as mãos até seu ventre com a possibilidade assustadora de
termos perdido nosso filho me fez sentir impotente e vazio. Caminhei ao
lado dela, segurando sua mão e Bella, ainda desacordada, foi colocada em
um quarto próximo, assim poderia ficar de olho nas duas. Soube por uma
enfermeira que Danilo estava em cirurgia e ainda não tinha mais detalhes
para me dar, porém, meu irmão estava vivo e era assim que tinha que ficar.
— Eu quero que me conte tudo que não vi. Fale tudo nos mínimos
detalhes, preciso saber o que aconteceu.
— Cassio…
— Danilo vai ficar bem, todos nós ficaremos — ela garantiu, cheia de
fé.
Segurei seu rosto com ambas as mãos e encostei minha testa na dela.
— Não faça nada que possa existir a possibilidade de viver sem você.
— O quê, porra?!
— Já falei com Giovanni, até porque, eles perceberam que não havia
como ser qualquer um de nós se não passamos para o lado de lá. — Assis
me acalmou, porque uma guerra estourar quando Danilo estava derrubado,
seria foda. — E, ao que parece, Francis estava fazendo o trabalho dele em
rastrear corretamente o que estava acontecendo conforme as informações do
nosso amiguinho que está no porão da casa de visitantes.
Ele não me respondeu de imediato e não iria, sua mente ainda não
estava confusa o suficiente. Apontei para a parede e Assis foi ligar o som,
para começar o tormento sonoro, para impedi-lo de esconder dentro da
própria mente e não me dizer o que eu precisava saber.
— Vire o rosto dele — falei com Assis e fui para o homem que estava
ao lado. Eles eram parecidos, poderiam ser primos ou irmãos, nada
incomum. Rasguei a camisa, expondo o peito e vi as tatuagens. Eles eram
da famiglia. Era bem provável que estivessem insatisfeitos, traidores que
não queriam a união das famílias.
— Você atirou no meu irmão. Por que acha que vou parar? A não ser
que me diga quem te mandou aqui, porra!
— Vai se foder, cuzão do caralho! — ele berrou de volta, cuspindo em
Assis e nós rimos. Ainda olhando-o, apenas rasguei seu abdômen, ganhando
tremores e um vômito de sangue escorrendo para os meus sapatos. — Para
com isso, cacete! Apenas, pare!
— Chicago.
Acordei e dormi diversas vezes, fui examinada mais de uma vez para
verificar o meu bebê e tirando o incômodo do corte no braço e a dor no
corpo generalizada causada pela queda, estava me sentindo muito melhor,
nada comparado à monstruosidade que foi na época do sequestro. Talvez
fosse a medicação fazendo milagre.
— Danilo está no quarto — avisei com calma, para que não saísse
correndo.
Toda força e ânimo que tive antes, foi por ele, por mim e por meu
marido. Só conseguia pensar no quanto sentia medo, com um pânico que
poderia paralisar minhas pernas e a coragem me fez reagir.
Bella abriu a porta do quarto que Danilo estava, ele parecia pacífico,
não tão pálido e era estranho vê-lo quieto. Ela tocou seu cabelo, o rosto e
parecendo sentir a presença da esposa, ele abriu os olhos, me fazendo
chorar um pouco porque foi muito bonito. Mariano apertou meus ombros e
decidimos dar privacidade ao casal. Estava com fome e havia uma máquina
de lanches no corredor, um biscoitinho com chá acalmaria meu estômago.
— Em algumas horas, irei levá-las para casa, bom, duvido que Bella
vá querer ficar longe de Danilo até que melhore, por mais que seja seguro.
— Deixe que ela fique, eu vou e fico com as crianças junto a Nanci.
— Acalme-se.
— Estamos todos bem e isso é o que importa. Como essas pessoas são
ignorantes com a verdade, logo a luz do entendimento virá. — Eu o
tranquilizei.
— Apenas preciso ouvir sua voz para ter certeza de que está bem.
A voz dele estava carregada com algo tão sombrio, com uma energia
ruim, que trouxe uma dor ao fundo do meu coração e um arrepio na
espinha. Mas ele precisava de mim e eu daria tudo que necessitasse.
— Nós estamos, sim, acabei de deitar, vou descansar para esperá-lo.
— Está dando beijos no bebê, menina? Uma garota sente uma mulher
grávida? — Acariciei seu pelo, ganhando mais carinho na barriga e um
aconchego. Não costumava ficar com os cachorros, embora gostasse deles,
ficavam seguindo Bella o tempo todo porque eram meio que dela, de
Julieta. Não fui criada com bichos, minha mãe não gostava.
Toquei seu rosto, olhando para seus lindos olhos em tom de mel. Eu
era profundamente apaixonada por ele.
Mais uma noite fora de casa, sem dormir juntos, estava morrendo de
saudade do meu marido. Enquanto Danilo não melhorava, apesar de ativo e
andando de um lado para o outro, dando ordens e nos estressando por não
sossegar, ele ainda não conseguia ficar muito tempo em pé e subir escadas.
Era recente demais, não tinha passado uma semana e o idiota tomou um
tiro, não conseguia ouvir as recomendações médicas.
— Feliz com a consulta hoje, sei que serão semanas delicadas daqui
por diante, com todo repouso e cuidados, mas não consigo deixar de ser
muito grata pelo nosso bebê ser tão forte. Rever tudo que Bella e eu
passamos nas imagens, me traz a dimensão do perigo, que na adrenalina, só
é assustador.
— O que foi?
— Ele mandou, sim, só não contava que os nômades iriam te ferir, ele
implorou que parassem e que daria o que fosse necessário. Pagou meio
milhão para não mudarem os planos.
— Isso não muda o fato de que ele é o responsável pelo maior trauma
da minha vida, Cassio. Eu poderia ter morrido só no acidente! E a troco de
quê?
— Eu pedi que fosse contado depois que seu pai for eliminado.
Alguns funcionários relataram que até o momento da demissão, perceberam
que a senhora estava mais reclusa e ficando no quarto na maior parte do
tempo.
— Eu poderei vê-la?
— Meu pai sempre pareceu me amar, mas não acima de sua honra à
famiglia, que bem ou mal, ele achou que estava fazendo o melhor até
começar a contrariar os chefes. Ordem é ordem, ele ignorou isso por
ambição, não duvido nada que o cérebro de azeitona do meu padrinho que o
convenceu a isso. — Respirei fundo, ainda tentando acalmar as batidas do
meu coração com a ansiedade quase conseguindo levar o melhor da minha
sanidade embora.
— Ele achou que iria conseguir? Quer dizer, é tão estúpido pensar que
homens letais como Danilo, Enrico e Damon fariam acordos por besteira! É
duvidar da capacidade dos chefes em nos manter seguros!
— Cate, querida. Você sabe da verdade, de como funciona, seu pai é
um homem velho com raízes tradicionais que não fazem o mínimo sentido
no nosso meio e nem tem ideia de como as coisas funcionam, ele acreditou
que a posição de respeito sendo chefe de cassino lhe dava algum poder.
Mediante a todos, o que tinha e fazia, era nada. — Bella apoiou as mãos na
mesa. — Eu sinto muito, você tem o direito de sentir luto, foi criada por ele,
sei que amava seus irmãos apesar de toda mágoa.
— Eu sei que vou sofrer. Mas também sei que não posso mudar o
passado, nem mesmo as atitudes deles. E o meu casamento pode ter
começado por um acordo político interessante, mas é muito importante para
mim e agora…
— Você e Cassio têm todo direito de não permitir que nada abale a
saúde do bebê. Não se preocupem, Danilo e eu seremos escudos.
— Eu também tenho que te agradecer por ter sido meu alicerce nos
dias em que Danilo ficou de cama. Cuidou dos meus filhos como se fossem
seus.
Na emoção mais crua da minha raiva, viver na villa das viúvas ainda
não era vergonha o suficiente, o maior terror da minha mãe. E quanto ao
meu pai, estava indo tarde. Não era ele quem acordava cansado toda manhã,
como se tivesse corrido uma maratona, deixando Cassio a noite toda em
claro preocupado que me ferisse quando me debatesse.
— Eu não fiz nada, mãe. Laura que ia jogar o Nico na piscina! — Ele
se defendeu e mordi o lábio para não rir.
Ninguém sabia que estava grávida e assim mantive, mas ouvi tudo
que estavam dizendo, a maneira como soavam brigonas com seus anjinhos
agitados e, ao mesmo tempo, protetoras, em alerta, prontas para tudo.
Aquilo era ser uma esposa de mafioso, preparadas para qualquer
eventualidade, sempre, mas nada acima do amor. Eu fiz do meu casamento
um projeto de vida do modo errado e aprendi o que realmente significava
ser um só com seu marido. Agora, na nova fase da minha vida, estava
pronta para aprender a como ser a melhor mãe que meu bebê merecia.
Nada.
Aquele encontro era necessário para reafirmar que não foi um ataque
entre as famílias e tudo seguia na mais perfeita ordem.
Mais tarde, quando todos foram embora, eu fui atrás da minha esposa.
Caterina estava no quarto, recém-saída do banho e a primeira coisa que fiz
foi dar-lhe um beijo no ventre, falando com o meu bebezinho. Ela sorriu,
acariciando meu cabelo e fiquei de pé, tomando sua boca. Ela ficou na
ponta dos pés para me acompanhar e sorri, erguendo-a no colo. Cheirosa,
deixei-a na cama, estava sujo para que a tocasse.
O medo de que ainda acontecesse alguma coisa era forte, por isso,
estávamos impedindo que fizesse esforço ou carregasse peso. Pelo menos,
não estava pegando Julieta no colo ou tentando bancar a engraçadinha.
Caterina era muito centrada para errar. A prova de que havia chorado por
tudo que soube de sua família eram os olhos inchados.
Observando-a comer até terminar com tudo que estava ali por cima,
eu não esperava que, menos de uma hora depois, estaria segurando seu
cabelo no sanitário enquanto ela colocava tudo para fora e reclamando das
contrações no estômago. Lavando a boca e pálida, foi para a cama. Talvez o
temido enjoo matinal tinha acabado de bater na nossa porta ou seu corpo
realmente rejeitou a mistura de carne, queijo, massa e geleia.
Peguei um remédio para enjoo recomendado previamente pelo médico
e a deixei dormir, saindo do quarto para encontrar Danilo no escritório,
olhando o mapa, com nossos territórios marcados. Como era uma tela
grande, foi movendo o dedo, fazendo alguns planejamentos astutos.
Precisaríamos ficar muito atentos nos próximos meses.
Caterina nunca poderia ver aquilo. Ela já estava lidando com emoções
extremas. E eu já teria que ser o portador da notícia.
— Não. Simplesmente sei que vou amar e ficar feliz com o que vier.
— Ela abriu um sorriso e arrastei meu nariz no dela, ganhando um beijinho
com gostinho de chocolate.
— Eu sei que vou amar cada um dos nossos filhos como os maiores
presentes do mundo. Eles serão perfeitos, assim como a mãe, que é
incrível.
— Diga, baby.
Aquela mulher me ensinou que coragem não era sobre usar os punhos,
que resiliência não era sobre ser teimoso, que estratégia exigia, acima de
tudo, calma e muita paciência. Ela não estava determinada a ganhar o meu
amor e sim, que nosso casamento fosse um sucesso e nesse processo, por
sua convicção, a paixão nos pegou completamente desprevenidos.
No dia seguinte, pela manhã, a casa estava uma loucura para organizar
o banquete. Alessa estava no modo maluco de organização, sendo a pessoa
responsável pela decoração, e Nanci preparando o melhor da nossa culinária
com um bolo enorme decorando a mesa principal. Caterina escolheu um
vestido bege claro, justo ao corpo, exibindo a barriguinha e meu irmão ria
feito um idiota cada vez que me encarava. Eu ia dar-lhe um soco, faltava
pouco.
— Vem, está na hora! — Caterina pegou minha mão e nos levou para
a área da piscina. — Danilo disse que devemos ficar parados aqui.
— Eu te amo, filha!
EPÍLOGO | Caterina
Alguns meses depois.
Ela possui
Suas redes sociais:
www.instagram.com/autoramaricardoso
www.twitter.com/eumariautora
http://www.maricardoso.com.br/
Grupo do Facebook.
Livros físicos em
www.lojamavlis.com.br
AGRADECIMENTOS
[1]
Danilo Venturinni personagem de Prometida Para Um Mafioso
[2]
Mariano Mansueto personagem de Prometida Para Um Mafioso e terá o seu próprio livro.
[3]
Damon Galattore é personagem de Império Perigoso
[4]
Dante Biancchi personagem de Coração Perigoso
[5]
Fernando Mansueto é pai da Bella, personagens de Prometida para Um Mafioso
[6]
Assis Mansueto é personagem de Prometida para Um Mafioso e terá o seu próprio livro.
[7]
Enzo Rafaelli personagem de Perigoso Amor – Poder e Honra
[8]
Giovanna Galattore personagem de Império Perigoso
[9]
Juliana Rafaelli personagem de Perigoso Amor – Poder e Honra
[10]
Motoclube da série Perigosos e Protetores
[11]
Enrico Di Fabrizzi personagem de Perigosa Tentação.
[12]
Klaus Delacroix é personagem de Combinação Implacável.