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Capa: Paola Santiago

Informações sobre a capa:


Fontes usadas: Poppins, Blossom Heart e BigNoodleTitling.
Código de imagens: AdobeStock_238556072
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Revisão de Textos: Lidiane Mastello
Diagramação E-book: Hylanna Lima @amorliterario5
Assessoria Literária: HL Assessoria @hlassessorialiteraria

Copyright © – 2023 por Isadora Almeida

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer


forma ou por qualquer meio, sem a autorização expressa da autora
que possui os direitos exclusivos sobre a versão da obra.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº


9.610/98, punido pelo artigo 184 do Código Penal.

______________________________________________________

Esta é uma obra de ficção, seu intuito é entreter as pessoas.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Quaisquer semelhanças com
nomes, datas e acontecimentos reais são mera coincidência.

1ª Edição

Criado no Brasil
Sumário
Nota de Revisão
Sinopse
Nota da Autora
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Epílogo
Agradecimentos
Próximo Lançamento
Mensagem da Beta
Sobre a Autora
Avaliação
O texto aqui apresentado foi corrigido de acordo com o novo
acordo ortográfico da norma culta, porém por se tratar de uma
história fictícia, o texto apresenta em determinados trechos a
linguagem informal.
Hope Bonnarro é filha do Capo de maior influência da Máfia
Bianchi, organização que domina o submundo dos Estados Unidos.
Ela cresceu seguindo três regras: não pode se apaixonar, casar ou
chamar a atenção em troca conseguiu a liberdade para cursar
Medicina na universidade. Um ataque ao comboio que faz a sua
proteção coloca a vida de Hope em risco quando seu irmão é
gravemente ferido e seu pai não pode ir resgatá-la.
Michael Bianchi é o próximo Chefe e precisa de uma aliança
com o Capo Bonnarro, quando a oportunidade surge ele faz uma
oferta, o resgate de Hope em troca dela ser sua esposa. Sem saída
Bartolomeu Bonnarro aceita o pedido. Michael é habilidoso ao
resgatar sua futura noiva, levando-a para a segurança do seu
território, mantendo em segredo o acordo de casamento, a pedido
do Bartolomeu.
Hope sabe que Michael esconde alguma coisa dela e enquanto
tenta manter as promessas que fez a sua família, escondendo os
terríveis segredos que podem causar a destruição dos Bonnarro, ela
terá de lidar com o charme imbatível e humor sombrio de Michael
Bianchi. Um homem sedutor que não está disposto a esperar que
Bartolomeu conte a verdade sobre o acordo à filha, antes de provar
os doces lábios de sua noiva.
Entre segredos, brigas, sedução, mistérios e a construção de
uma relação que pode se transformar em algo mais, os inimigos que
querem capturar Hope não cessam a sua perseguição.
Michael Bianchi está disposto a varrer o país destruindo a
todos que ousem tocar em sua noiva, pois Hope Bonnarro é
intocável para o mundo e pertence somente a ele.
A série Máfia Bianchi apareceu para mim de forma peculiar, a
primeira pessoa que me contou a sua história foi a Emily Bianchi e o
Michael Bianchi. O que aguarda pela dupla de irmãos que deu
origem a história é algo devastador, que possivelmente partirá o
coração das leitoras.
Espero que vocês estejam prontas para o primeiro livro da
Série Máfia Bianchi, com personagens que podem ser maldosos e
sombrios em sua essência, mas que nunca ousariam causar dor
naqueles que são preciosos para si. Foi assim que o Michael
apareceu para mim, com o cuidado e proteção que ele destina a sua
irmã e quanto mais eu conhecia desse personagem eu sabia que o
Michael não seria como nenhum outro.
Meus mafiosos encontraram um lugar no mundo e cada um
mostrará para você, leitora, como a dor e o amor podem andar lado
a lado.
No primeiro livro da série eu te aviso sobre os gatilhos,
violência doméstica, abusos sexual e psicológico, tortura infantil e
adulta. Mas não precisa correr querendo fechar o livro achando que
o Michael cometerá qualquer um desses atos com a Hope, meu
mafioso não faz isso, ele pode causar destruição, mas também traz
salvação. Principalmente para um coração que não sabe o que é o
amor que não machuca.
Aviso que: nenhuma das organizações escritas aqui existem
na realidade e qualquer semelhança é mera coincidência de uma
autora que usou da licença poética para criar um novo mundo. A
cidade de Nova Iorque e Las Vegas, dentre outras, são usadas
meramente com buscas feitas no MAPS, nada do que está escrito no
livro realmente existe, boates, pessoas, lugares, foram todos frutos
da minha mente.
Nenhum trecho dessa obra pode ser reproduzido sem a minha
autorização expressa por escrito e registrada em cartório.
É um enorme prazer ter você aqui e poder dar esse aviso
inicial, te desejo uma leitura envolvente, cativante e que te deixe no
final como eu fiquei. Feliz por ter conhecido esses personagens e
louca pelo próximo livro. Um beijo sombrio.
Isadora Almeida.
Hope
Aniversário de 15 anos da Hope

Não consigo respirar.


Sinto mãos em volta do meu pescoço, abro as pálpebras,
encontrando minha mãe em cima de mim. Os olhos vermelhos
indicando outra crise, suas mãos finas ao redor do meu pescoço,
apertando cada vez mais. Sinto dor, falta de ar, agarro seus braços,
tentando me livrar dela, mexo os quadris para o lado rolando, seu
corpo desequilibra e ela cai no colchão.
A tosse começa com força enquanto tento recuperar o ar. Não
perco tempo na cama, pulo, caindo no chão e tentando me livrar de
seu ataque. Eu deveria ter tomado mais cuidado, trancado a porta
com a cadeira ao invés de usar somente a chave. Debato-me no
chão derrubando a mesinha de cabeceira, o abajur se quebrando em
várias partes.
Engatinho para a porta, ela grita furiosa, com a mão no
pescoço, eu fico em pé e corro, passo pelo portal de madeira
chegando ao corrimão das escadas. Onde estão meus irmãos? Eles
deveriam ter vigiado o quarto dela, nosso pai saiu em missão já faz
cinco dias e ainda não retornou, o Black deveria fazer a minha
segurança hoje.
Escuto quando ela começa a correr atrás de mim, disparo
pelas escadas, preciso que um dos seguranças me ajudem, sei que o
Scott deve estar do lado de fora fazendo a guarda da casa ou então
o Ulises. Um deles precisa me ajudar. Tento gritar, mas a garganta
dói, a voz abafada não alcança os ouvidos de ninguém.
Chego ao último degrau, olho para cima e a vejo com uma
tesoura na mão. Já faz 11 anos que tenho de fugir da minha mãe no
meu aniversário ou ela me mata. Eu a amo tanto, ela é perfeita em
todos os outros dias, menos hoje. Seu ódio e dor pelo que fizeram a
ela 15 anos atrás não desaparece, independentemente do tanto de
terapia que ela faça ou de quantos remédios tome. Ela sempre tenta
me atacar no meu aniversário.
Engulo as lágrimas, o medo tentando me paralisar. Se for
preciso eu lutarei contra ela, mas não quero machucar seu corpo
frágil. É somente um dia de desespero por outros cheios de amor e
carinho, eu preciso ser forte e aguentar a sua dor e ódio. Ao menos
hoje, o dia que eu mais odeio, meu aniversário, nunca pude
comemorar.
Abro a porta da mansão e encontro Scott conversando com
outro soldado. Grito por ele, a voz rouca mal podendo ser ouvida.
Corro na sua direção, seus braços me pegam e o outro segurança
puxa a arma apontando na direção daquela que tenta me matar.
— Não machuque ela! — grito com ele. — Abaixe essa arma.
— Senhorita Bonnarro — Scott me chama. — Fique atrás de
mim. Vou conter sua mãe, suba para pegar os calmantes dela.
— Tome cuidado — peço, a garganta queimando pelo esforço
em falar.
— Sim, senhorita.
Minha mãe atravessa o portal com os olhos castanho-claros,
quase amarelos, vermelhos na parte branca, os cabelos castanhos
como os meus bagunçados e a tesoura com a ponta afiada apontada
para mim. Ela não está bem, Scott é rápido, segura o pulso dela e a
prende contra seu corpo, a arrastando para dentro de casa. Corro
para o escritório do meu pai, digito a senha da fechadura e entro.
Pego a chave em cima de sua mesa, abro o armário, retirando
de lá a seringa usada para acalmar minha mãe em suas crises.
Desço rápido, tropeço no degrau e me seguro no corrimão. O grito
dela parte meu coração, prefiro quando ela me ataca em silêncio, as
palavras machucam mais do que os tapas.
— Sua maldita! Eu devia ter te abortado! Maldita esperança —
grita as lágrimas manchando sua pele. Tento não deixar que suas
palavras me machuquem, sempre que ela se refere ao meu nome
com ódio por tê-lo dado e eu não ter cumprido o que ela queria, é
como receber um soco no estômago.
Scott a segura contra o sofá, a mantendo deitada. Retiro a
tampa da seringa e com a mão tremendo enfio em seu braço,
despejando o líquido no seu corpo. O efeito é rápido, os olhos que
me destilam ódio se fecham aos poucos, fixos em mim.
— A leve para seu quarto — digo ao Scott. — Você, procure
meus irmãos — ordeno ao outro segurança.
Depois de um tempo ficou difícil esconder o que acontecia
dentro da mansão Bonnarro, meu pai ordenou a todos os
seguranças que agissem com discrição e cuidado quando minha mãe
estivesse em crise. Nenhum deles podem machucá-la ou deixar que
me machuque.
Sento no sofá com as mãos tremendo, o pescoço doendo.
Encolho-me em posição fetal com medo de retornar ao meu quarto,
de ficar longe dos seguranças e ela acordar. Embora eu saiba que a
dose a manterá apagada até as 9h do dia seguinte. Aperto os
joelhos contra o peito, a dor me rasgando em duas por ser odiada
pela pessoa que eu mais amo.
Seria mais fácil conviver com seu ódio se ele fosse constante,
eu não teria motivos para a amar ou ansiar pelo seu carinho. Pelo
dia em que ela vai ser capaz de me desejar “feliz aniversário”
novamente. Por quando falará que me ama e nunca mais me
machucará. Eu sei que a culpa não é dela, é toda minha por ter
nascido e trazido sofrimento para sua vida.
São 364 dias no ano recebendo carinho e amor de seus
braços calorosos, e um único dia sendo o alvo de seu ódio. Eu não
aguento mais não poder sonhar com um futuro em que minha mãe
seja capaz de me amar e superar o mal que foi feito a ela e a nossa
família.
— Hope. — A voz de Black chama minha atenção.
Levanto o rosto, vendo-o descer as escadas cambaleando,
usando seu pijama de dormir. Agora sei o motivo dele ter falhado em
me proteger, minha mãe fez alguma coisa com ele, os passos
vacilantes, a voz embolada, e o jeito como tenta forçar a vista indica
que ele foi drogado. Ele senta ao meu lado e me puxa para seus
braços quentes. Black parece com nosso pai, os olhos verdes como
os meus, o cabelo castanho-escuro com tufos enormes.
— Desculpe — ele fala pausadamente. — Acho que ela fez
algo comigo e o Steve.
— Eu fiquei com tanto medo quando acordei com ela me
enforcando. — Descanso a cabeça em seu peito, chorando
copiosamente.
— Me perdoe. — Beija minha cabeça.
Não sei quanto tempo se passa, ficamos na sala com o Black
me confortando e garantindo que nada de ruim torne a acontecer.
Quando os primeiros raios de sol iluminam a mansão, eu vejo o
corpo esguio da governanta entrando com uma bandeja, duas
xícaras e o bule de chá.
— Senhorita Bonnarro. — Entrega-me uma xícara com o
líquido amarelo, pelo cheiro imagino que seja uma mistura das ervas
calmantes. — Tome isso, vai se sentir melhor.
— Obrigada, Senhora Kriper. — Pego a xícara com as mãos
trêmulas.
A falta de sono combinada com a ansiedade pelo medo de ser
morta por minha mãe mexem com meus nervos. Bebo o líquido
apressada e tomo outra xícara. Black fica ao meu lado sem falar
nada, com a mão subindo e descendo pelas minhas costas. Escoro a
bochecha no seu ombro, ele me pega no colo, me levando para seu
quarto, na cama deito com a cabeça no seu peito.
O dia será longo, apesar do que aconteceu na madrugada
ainda tenho uma festa de quinze anos para participar. Onde serei
apresentada pela primeira vez à sociedade da Máfia Bianchi. Perdida
em pensamentos sobre tudo que aconteceu e pode acontecer ao
longo do dia eu durmo.

De frente para a penteadeira do meu quarto, eu encaro meu


reflexo. O vestido branco tem detalhes de prata no cetim brilhante,
mangas de renda com um decote coração. O cabelo cai como uma
cascata, preso somente na lateral esquerda com um adorno de
brilhantes formado por pequenas pétalas de flores. Brincos de
diamantes pequenos, um colar longo que desce pelo meu decote.
Apesar dos quilos de maquiagem, as marcas roxas causadas
pela minha mãe continuam visíveis. Considero usar um lenço no
pescoço para esconder o formato de seus dedos. Vai ficar antiquado
com o vestido e fazer as madames falarem sobre meu look que não
combina. Contudo, será melhor comentários maldosos a explicar que
fui atacada por minha mãe. Não a vi pelo resto do dia, depois que
acordei fiquei no quarto do Black até ele precisar sair.
O Steve apareceu pedindo desculpas por ter apagado, ele
acha que deve ter tomado um sonífero no chá que minha mãe
ofereceu para ele às 22h. Black também tomou a bebida, ela nunca
os tinha dopado ou feito qualquer coisa a nenhum dos dois ou ao
meu pai, mas dessa vez ela provou do que pode ser capaz para
conseguir me ferir.
Enxugo uma pequena lágrima que desce por minha bochecha,
engulo o choro travado na garganta, pisco várias vezes, tentando
não borrar a maquiagem. Eu devo aparentar felicidade e delicadeza
em minha festa e não a tristeza e o medo enrolados como espinhos
no meu coração.
Escuto batidas à porta, autorizo a entrada e meu pai aparece.
É a primeira vez que o vejo hoje. As íris verdes, os cabelos
castanho-escuros bem arrumados e um terno de três peças, pronto
para a festa e me mostrar à sociedade da máfia. Um sorriso triste
em seus lábios rosados. De certa forma eu me pareço com ele,
herdei a cor de seus olhos e o sorriso gentil. Mas de resto sou uma
cópia da minha mãe.
Rosto de traços finos, queixo afilado e bochechas pouco
rechonchudas. Pescoço largo como o de uma princesa, como diz
meu pai, os cabelos castanho-escuros como o da minha mãe, em
um tom puxado para o marrom. Enquanto o do Black, Steve e meu
pai é puxado para o louro o castanho de seus fios. Sou baixinha
como ela, tenho 1,65 de altura, magra, seios medianos que me
deixam confortável com o formato do meu corpo e uma bunda
arrebitada.
Ele entra carregando consigo uma caixinha de veludo preta
retangular. Sorri para mim, beija minha testa com carinho e se
ajoelha, abrindo a caixa. Vejo um colar de diamantes com espessura
de quatro dedos adornando a peça até o fecho. Levanto o cabelo
para que ele coloque, é perfeito para cobrir os machucados
causados por minha mãe, embora seja desconfortável a peça tão
colada ao pescoço.
— Me perdoe pelo que aconteceu hoje — ele alisa meu ombro
—, prometo que não tornará a se repetir.
— Não foi sua culpa. — Suspiro. — Ninguém tem culpa.
— Mesmo assim. — Beija meu cabelo novamente. —
Precisamos conversar sobre algo — sua voz fica séria —, hoje é seu
baile de 15 anos, é costume que os rapazes da máfia te cortejem e
depois me façam propostas de casamento. — Engulo em seco, me
preparando para suas palavras. — Eu vou recusar a todas e peço
que você não retribua o cortejo de nenhum deles. Tudo bem aceitar
dançar, mas somente isso, não permita que passem dos limites ou a
toquem. Lembre-se, Hope, você é intocável.
— Sim, papai — respondo, contendo o bolo na garganta.
Desde cedo eu sabia que o amor não era permitido para mim,
não é de hoje que meu pai dá avisos nos encontros em família de
que devo me manter distante e fria, não permitindo a aproximação
de nenhum homem. Por enquanto só conheço os membros da
família Bonnarro, mas hoje serei apresentada a todos da Máfia
Bianchi. Ir embora daqui significaria um fim aos ataques da minha
mãe, mas as consequências de ter o segredo correndo em minhas
veias descoberto causaria a destruição da minha família.
Engulo em seco, trancando meus sentimentos no fundo do
meu coração e aceitando o destino que me foi definido no dia em
que nasci. Com um sorriso falso eu me levanto, enlaço o braço ao do
meu pai e recebo outro beijo em minha cabeça.
— Sua mãe está dopada, mas consciente no salão de festa,
tente se manter longe dela, vamos deixar o contato somente ao
necessário.
— Sim, pai.
Engulo novamente em seco, saímos do meu quarto e
descemos pelas escadas decoradas da mansão para meu baile de
quinze anos. Seguimos para o salão, os seguranças abrem as portas
duplas e os olhares se voltam para mim. A atração principal da noite
chegou, exibida como um pedaço de carne.
Os primeiros a nos cumprimentar serão o Chefe e o seu filho,
seguido pelo Consigliere e o subchefe, depois os capos. As cinco
grandes famílias que dominam o submundo dos Estados Unidos e
formam a Máfia Bianchi. Meu pai é o capo do estado de Nevada e
responsável pelos cassinos em Las Vegas, até onde eu sei, ele é um
dos mais influentes em nosso meio, e muitos anseiam por alianças
de casamento, unindo as famílias para controlarem os cassinos.
— Boa noite a todos — meu pai fala. — Os recebo em minha
casa com felicidade para comemorar os 15 anos da minha filha Hope
Bonnarro, divirtam-se. — Ergue um copo de uísque que lhe dão. —
Um brinde ao aniversário da minha filha.
Felicitações ecoam no salão. Sorrio sem demonstrar minhas
verdadeiras emoções. É assustador estar conhecendo a todos, eu sei
como devo me portar e o que esperam de mim, mas mesmo assim,
a mera ideia de que um desses homens possa querer casar comigo
me apavora. Não posso ficar com nenhum deles, independente se eu
tiver sentimentos ou qualquer outra coisa. A segurança da minha
família vem em primeiro lugar.
— Bartolomeu Bonnarro. — A voz grave de um homem que
aparenta ter mais de 50 anos fala com meu pai. Seus olhos azuis me
causam calafrios, os cabelos com fios grisalhos e os ombros largos.
— Você tem uma linda filha, parabéns, querida.
Sua mão toca meu ombro, e me retraio, não gosto da forma
como ele me olha. Sinto-me devorada e exposta. Aceno em positivo
agradecendo o cumprimento e me recolho para perto de meu pai.
— Obrigado, Andrew Bianchi. — O nome é um alerta em
minha mente, Bianchi, ele é o Chefe.
Um ombro chama minha atenção ao lado do Chefe. Um
homem mais novo que ele, cabelos negros como a noite, a barba
bem preenchida em seu queixo e metade da bochecha com covinhas
marcantes. O maxilar quadrado e firme, o nariz acompanhando os
traços do rosto, os olhos azuis como gelo, levemente puxados para o
verde. As sobrancelhas grossas e escuras. Baixo o olhar, conferindo
seu corpo forte, braços e ombros largos, pernas torneadas.
Sinto as bochechas ficando mais quentes ao perceber que ele
me encara com a sobrancelha arqueada. Desvio o olhar, tentando
não deixar que perceba meu constrangimento ao ter sido pega no
flagra o analisando. O homem é enorme e muito mais alto que eu e
pela primeira vez no dia meus pensamentos fogem do que
aconteceu de madrugada, focados nesse momento.
— Boa noite. — A voz grave se dirige a mim, uma mão é
estendida na minha direção. — Me concederia a primeira dança —
ele pede formal, sem emoção na voz.
— Com certeza — seu pai fala. — A debutante tem de dançar
com o herdeiro. Vão nessa, vou conversar com o Bonnarro enquanto
isso.
— Pode ir, querida. — Meu pai empurra de leve minhas costas,
para que eu faça o que me pede, seu olhar com um aviso, me
lembrando da conversa de mais cedo.
— Sim. — Deslizo minha mão por sua palma áspera.
Caminhamos para o centro do salão, mantenho a postura
ereta com o coração batendo forte dentro do peito. Quase não
consigo ouvir as pessoas ao meu redor com o som alto das batidas.
Paramos, e ele coloca uma mão em minha cintura, me puxando para
perto, a outra segura firme minha palma. A música clássica começa
a tocar e lembro-me das aulas de dança que tenho desde os 12
anos.
O cheiro quente de sua pele penetra meu olfato, com um
pequeno toque apimentado. Encaro o nó de sua gravata, enquanto
tento não tropeçar nos meus pés, envolvida demais pelo calor
emanando de seu corpo. Sinto uma respiração contra minha cabeça
e levanto a vista, encontrando o azul penetrante de seus olhos fixos
em mim. Engulo em seco, aperto sua mão e tento ouvir o que ele
fala em meio às fortes batidas da música.
— Relaxe, você está muito tensa. — Suspira, os olhos
intrigados. Imagino que não seja essa a reação que ele esperava.
— Desculpe, senhor Bianchi.
— Pode me chamar de Michael — pede, a voz grave. — Não
vou te morder, você quase não respira.
— Oh, céus — digo ao desequilibrar e pisar em seu pé. Ele
franze a testa, e eu fico roxa de vergonha. Tenho ímpeto em parar,
mas Michael não permite, segurando forte minha cintura e
continuando a dança.
Ele é muito mais alto do que eu, dói o pescoço olhar para
cima, a respiração descompassada. Nossos peitos quase se tocando,
a distância de um polegar entre nossos corpos. A força de seu olhar
me causa calafrios e um frenesi inexplicável correndo pela minha
pele. Nunca me senti assim na presença de outro homem e pela
primeira vez no dia, o medo me deixa e eu não penso em mais nada
além dos olhos azuis que me encaram fixamente.
Michael deve ter por volta de 29 anos, como meu irmão Black,
com a maestria de um cavalheiro, ele continua conduzindo nossa
dança, me envolvendo em uma bolha magnética. Em que os
problemas não existem, nada mais importa além do calor de seu
corpo contra o meu, o cheiro de sua pele tão próximo a mim e o
olhar fixo que não me deixa um segundo. Ele permanece calado e
faço o mesmo, não sei o que significa para ele esse momento, mas
para mim é como poder finalmente respirar após o pesadelo.
Silenciosamente peço para que essa noite em seus braços não
tenha fim.
Hope
Dias atuais

Black espera por mim do lado de fora da SUV preta blindada


da família. Faz trinta minutos que a aula acabou e precisei ficar além
do horário tirando dúvidas com a professora de anatomia humana.
Quanto mais vejo os cadáveres e estudamos os ligamentos de um
corpo, eu tenho vontade de pedir ao meu pai para deixar que possa
usar o cadáver de um de seus inimigos como estudo.
Vou sondar o Black para saber o que ele acha dessa ideia, se
concordar é mais chances de conseguir convencer meu pai. Deve ter
um ou dois corpos que eu possa estudar antes de serem desovados.
Os dois seguranças que ficam em sala comigo me acompanham
como falcões. Meus colegas pensam que sou filha de um político ou
de um importante militar ou chefe do FBI, CIA, e até mesmo do
Pentágono, depois de um tempo pararam de perguntar o motivo de
eu viver com seguranças no campus.
— Demorou por quê? — Black abre a porta do carro e entro
com ele se acomodando ao meu lado.
— Estava vendo a composição de um ligamento corrompido
por inflamação, é simplesmente lindo como ele fica mais vermelho e
inchado. — Coloco o cinto e rio da careta do Black.
— Às vezes tenho dúvida se você é mulher ou um mini
monstro. — Cutuca minha barriga.
— Só vocês podem se divertir vendo o interior de um corpo?
— Arqueio a sobrancelha, dando visual ao meu sarcasmo.
— Não é diversão, é tortura. — O carro entra em movimento.
— E eu estou estudando. — Batuco os dedos por cima do
couro do assento. — Inclusive, estava pensando, quando você só
matar alguém sem deixar o corpo dele estripado, deixa eu examinar
o cadáver?
— Mas que diabos!? — O café em sua boca voa para a frente
com o susto.
— Vocês vão jogar fora, eu posso dar um fim melhor — peço,
fazendo bico, consigo o que quero dele ao ser manhosa.
— Hope, você não se envolve nos assuntos da família, já
conversamos sobre isso. — Limpa a perna suja de café, por sorte,
era um americano gelado, não sei como o Black gosta do sabor forte
quase sufocante da cafeína.
— Estudar um cadáver que vocês mataram não é me envolver,
é só dar utilidade a um defunto. — Dou de ombros, percebendo que
não vou vencer a batalha pelo olhar cético do Black.
— Não e nem pense em pedir ao pai.
— Chato. — Bufo, cruzando os braços.
— Sua faculdade de medicina é para saúde da mulher, não ser
uma médica legista. Lembre-se do acordo que fizemos com o Chefe,
não saia da linha ou tudo acaba.
— Tanto faz.
Bato o pé freneticamente contra o assoalho do carro, irritada
por essa proibição maldita. Quando convenci meu pai a me deixar
estudar medicina, usei a desculpa de que seria ginecologista das
mulheres da famiglia. Eu só queria um motivo para voltar a estudar,
depois que terminei o ensino médio me sentia presa em casa, sem
nada para fazer além das poucas atividades da famiglia em que
participo com a minha mãe.
Eu precisava de ar, respirar fora dos muros do complexo em
que os membros da família Bonnarro moram. A mansão passou a ser
uma prisão que me jogava em uma depressão provocada pelas
crises de ansiedade que tenho desde a adolescência. Quando meu
pai percebeu que eu estava morrendo por dentro concordou com as
aulas. Mas antes precisávamos da aprovação do Chefe da Máfia
Bianchi. Não sei o que foi dado em troca, mas ele conseguiu
permissão. Se eu descumprir uma das regras posso acabar perdendo
a liberdade adquirida e ser punida de formas que me dão arrepios
de imaginar.
Os Bonnarro comandam o território de Nevada e são os
principais lavadores de dinheiro, responsáveis por alianças formadas
nos cassinos, entretenimento dos políticos e aliados quando querem
um agrado a mais na hora de uma negociação. Minha família é uma
das mais importantes e dificilmente teria um pedido negado pelo
Chefe.
Na época, eu só queria um pouco de liberdade e poder
interagir com outras pessoas, nunca imaginei que me apaixonaria
pelo estudo do corpo humano e iria querer explorar mais,
principalmente descobrir causas de morte. Me tornar uma médica
legista passou a ser um anseio secreto, não traria benefício à
famiglia e o Chefe não permitiria, tenho de me contentar com o que
consegui.
Deixamos o campus da universidade e seguimos pela
interestadual 95 de carro que dá aproximadamente uma hora e
meia, o helicóptero que é usado para eu poder ir e vir da faculdade
todos os dias está na manutenção, por isso faremos o caminho até
nosso complexo no meio do deserto de Las Vegas de carro. Longo
caminho trancada com o Black enquanto quero bater na cabeça dele
por não me ajudar.
Seus cílios grossos trazem sombras ao seu rosto, como o do
Bartolomeu, ambos são parecidos com estruturas altas, ombros
fortes e rosto de mandíbula quadrada. A barba rala da cor do cabelo,
preenchendo as bochechas, as sobrancelhas grossas. Meu irmão é
lindo, eu o amo. Apesar de ser sério quando precisa, Black sempre
tenta deixar meus dias melhores, é reconfortante saber que o tenho.
O Steve adora implicar comigo, ele é mais divertido e cheio de
ideias que deixam nosso pai maluco. Por ser o que fica mais tempo
em casa, responsável pela segurança da minha mãe e a minha,
aprendi muito autodefesa e como atirar com o Steve. Meu pai e
Black sempre que podem supervisionam o nosso treinamento e
quando Black está ausente é o Steve que cuida da minha segurança
no caminho de ida e volta da faculdade.
Steve é mais cuidadoso em uma luta do que o Black e meu
pai, ambos só brigam para ganhar e são péssimos professores que
não possuem paciência para ensinar. Gosto de treinar com meu
irmão do meio e de como conversamos, eu tenho uma ligação
fraternal com o Steve de cuidado mútuo. O Black sempre irá me
proteger, mas não sinto que posso fazer o mesmo por ele.
É mantido em segredo que possuo treinamento de autodefesa
e sei atirar. Nem mesmo a minha mãe sabe ou teria um ataque com
medo de que eu me machucasse ou fosse morta por uma bala
perdida disparada da minha própria arma. Moças da Máfia nasceram
para casar e ter filhos, não lutarem.
Adormeço depois de 10 minutos de viagem.
O carro balança para o lado. Bato a cabeça no vidro,
acordando de meu sono. Black tem um fuzil M&P10 nas mãos
quando baixa a janela e projeta para fora do carro metade do corpo,
o som das balas disparadas uma seguida da outra explodem dentro
do veículo.
Viro a tempo de ver um carro atrás da gente explodindo e
mais três surgindo por trás dele, Black entra depressa quando somos
atingidos por uma saraivada de balas. Na frente os carros que
faziam nossa escolta são atingidos e explodem.
— Que merda aconteceu? — pergunto, me encolhendo contra
o banco.
— Fomos atacados. — Black recarrega o fuzil. — Fique
abaixada.
— O carro quatro foi destruído, senhor — Scott, meu
segurança informa ao Black, ele dirige rápido, sacolejando o carro
para que possamos desviar das balas furiosas para acertar os pneus.
Ao seu lado, Ulisses, chefe da segurança do Black, se projeta para
fora atirando nos carros à nossa frente.
— Como descobriram a nossa rota? — indago, apertando o
cinto de segurança e me encolhendo com o rosto entre as pernas.
— Não sei — Black diz antes de se projetar para fora
novamente atirando nos perseguidores.
Ele retorna quando o fogo inimigo se intensifica, pega uma
Glock na cintura e me entrega. Seguindo com a troca brutal de tiros
entre o comboio que me protege e ao Black contra os perseguidores
que tentam nos matar.
O céu escurece, um estrondo na traseira do carro gela meu
corpo, encaro meu irmão que estava de joelhos pronto para se
projetar para fora novamente ser jogado contra a porta, batendo a
cabeça no vidro.
O veículo gira várias vezes, bato em algum lugar e perco os
sentidos momentaneamente. Pendurada de cabeça para baixo vejo o
Black contorcido com a cabeça sangrando no teto do carro que foi
parar no chão, os braços dele com vidros fincados na pele e seus
olhos fechados.
— Black — chamo, sentindo dor em cada célula do meu corpo.
Ninguém me responde, não consigo ver o Scott ou o Ulisses
no veículo, eles não usavam cinto, o vidro do para-brisa está
quebrado e um corpo atravessado pela metade sangrando com as
tripas de fora. A porta ao meu lado é arrombada, vejo um par de
botas do lado de fora e em seguida mãos cortam o cinto de
segurança, me jogando no chão.
Tento achar a arma que o Black me deu, caiu no chão perto
da cabeça dele, estico o braço, tocando a ponta dos dedos no cabo.
Grito ao ser puxada para fora, pisco tentando recobrar os sentidos
entorpecidos. Um homem com um sorriso diabólico me encara ao
segurar meus ombros, me puxando para si.
Desmaio.

Acordo com dor nos pulsos e calcanhar. A cabeça zonza sendo


sacudida em algum lugar. Apesar de abrir os olhos não enxergo nada
além da escuridão, o movimento indica que estou dentro da mala de
um carro, já fiz simulações com o Steve de como escapar de um
carro em movimento. Primeiro, preciso tentar alcançar a frente do
meu sutiã onde escondo uma pequena lâmina dentro da costura do
bojo frontal.
As mãos amarradas dificultam meu movimento, mas consigo
alcançar o punhal da lâmina, sinto o carro parando e cesso minha
tentativa, eles não podem saber que tenho isso no sutiã ou vou
perder a chance de conseguir escapar. A mala é aberta e o mesmo
homem que me pegou antes segura meus ombros me puxando com
brusquidão para si. Outros ficam ao redor com armas em punho,
cada célula do meu corpo me mandando ficar quieta e esperar pela
oportunidade certa.
Ele me carrega para dentro de uma casa, vejo um casal
amarrado no sofá, a mulher chora e o homem tem graves
ferimentos no seu rosto. Sou levada escada acima e jogada em uma
cama. O homem sorri perverso antes de tocar minhas coxas. Tento
escapar de seu toque puxando as pernas, ele sobe em cima de mim,
impulsiono a cabeça com força batendo em sua testa.
— Fique longe de mim — grito alto.
— Sua vadia! — O tapa vem forte contra meu rosto, giro a
cabeça com o impacto, sentindo os dentes mordendo a bochecha.
— VAI SE FODER — berro, não conseguindo controlar a raiva
queimando em minhas veias.
— Ficou maluco? — alguém grita atrás dele, um tiro é ouvido.
Giro na cama encarando um segundo sujeito.
Ele usa uma jaqueta escura com o símbolo da Máfia de
Boston. Eles não são nossos inimigos, por que estão me
sequestrando? Nada faz sentido. Balanço o rosto em negativa
tentando entender o que está acontecendo. O homem guarda a
arma e me encara com cansaço, como se não quisesse estar fazendo
isso.
— Não leva para o lado pessoal, Hope — ele fala como se me
conhecesse. — São as ordens do novo Chefe, fique quietinha se não
quiser se machucar, entendeu?
— Meu pai vai matar a todos vocês — rosno. — Seu
desgraçado!
— Se não ficar quieta vou colocar uma fita na sua boca.
— VÁ SE FODER — grito o mais alto que consigo.
Ele nega e pega uma fita, colocando contra meus lábios.
Inspiro fundo com ódio. O sujeito leva o homem baleado
embora, me deixando trancada no quarto. Observo ao redor,
decoração bege com marrom, móveis de casal, duas janelas
indicando que estamos no primeiro andar. Ouço gritos vindo da
mulher, sons de coisas quebrando e vozes perturbadoras dizendo o
que fazem com ela.
Está sendo estuprada e o marido espancado.
O medo se infiltra como uma erva daninha, se o deixar me
dominar vou morrer nesse lugar. Não fui criada para ser uma
mocinha indefesa e não pretendo começar a ser uma covarde agora.
Já tentaram me matar vezes demais dentro de casa para deixar uma
coisa como essas me paralisar.
Torno a enfiar a mão dentro do sutiã, com a ponta dos dedos
puxo a lâmina, segurando na parte de acrílico. Primeiro forço a parte
afiada contra a corda em meus pulsos. Tento não deixar os gritos de
dor da mulher me atrapalharem, preciso manter o foco no que estou
fazendo. A corda finalmente arrebenta e tenho as mãos livres. Com
agilidade solto meus calcanhares.
Levanto-me, percebendo que estou sem minhas sapatilhas, o
piso frio de madeira contra a sola do pé. Encosto o ouvido na porta,
testo o trinco com cuidado percebendo que está trancada. Coloco
uma cadeira contra ela e vou para a janela. Uma trepadeira enrolada
na escada ao lado da janela será a minha saída daqui. Observo se
não tem ninguém do lado de fora. As casas com as luzes apagadas e
a rua iluminada pelos postes.
Seguro na trepadeira agarrando os galhos e a madeira. Firmo
meu pé em um degrau e começo a minha escalada para o chão com
cuidado, as vozes dos homens chegam a mim como fantasmas. Piso
na grama verde, observo ao redor novamente, não vendo ninguém
na varanda. Estou prestes a correr quando a porta se abre, com
agilidade me escondo atrás dos arbustos. Dois homens armados
olham ao redor.
Eles acendem um cigarro e começam a fumar, não parecem
que vão sair dali pelas próximas horas. Escondendo-me entre os
arbustos, saio silenciosamente, entrando no terreno da casa vizinha,
o coração batendo forte contra o peito. Para a minha sorte, a cerca
que divide a casa com a de trás é de madeira, encostada a ela tem
latas de lixo. Subo sem fazer barulho e pulo para o outro lado.
Um cachorro me encara e começa a rosnar. Levanto uma mão
em sua direção, pedindo que faça silêncio. Observo o tamanho de
sua corrente, mais ou menos dois metros. Com passos lentos ando
para trás até bater nos arbustos, caminho com o cachorro me
seguindo. Quando ele dá o primeiro latido, corro para a frente da
casa e disparo pela rua na direção oposta. Escondo-me entre os
becos, tentando me afastar o máximo possível da casa, preciso
encontrar um telefone.
Ao final de uma rua vejo um casal na frente de casa, corro até
eles ao notar o celular na mão da menina. Ambos aparentam ter
vinte anos, como eu. Paro olhando para trás, ela me encara
assustada, o rapaz fica na frente dela a protegendo.
— Por favor — imploro quase sem fôlego. — Deixa eu usar
seu celular?
— Para quê? — ela pergunta desconfiada. — Você está bem?
— Não — respondo, a tontura me batendo, cambaleio caindo
na calçada. — Preciso... ligar para meu pai. — Estico a mão. Não
faço ideia de onde estou ou se os homens já perceberam a minha
fuga. Meu pé dói e meus braços queimam pelo arranhão nos
arbustos. — Por favor — imploro novamente.
— Tá — o homem fala. — Usa o meu. — Ele me entrega o
celular.
Disco o número do meu pai, pedindo aos céus para ele
atender. Lágrimas turvam minha vista, a tontura piorando, ânsia de
vômito ataca meu estômago. Por ora não ouço som de carro ou
pessoas atrás de mim. Meu pai atende no segundo toque. Respiro
aliviada.
— Passarinho para o ninho. — Uso o código secreto que
temos para ele saber que sou eu.
— Hope! — grita, exasperado.
— São homens de Boston — digo a ele. — Não sei onde
estou, me ajuda, pai. — A voz embarga, o peito aperta e eu choro
com medo. — Estou exposta na rua.
— Uma equipe foi te resgatar, sabemos a localização, fique
escondida, não desligue o telefone, vai ficar tudo bem, minha
princesa. — Suas palavras são rápidas e precisas.
— É o celular de um rapaz — aviso, me assusto ao ouvir a
freada brusca de um carro, giro o rosto vendo no final da rua uma
Mercedes correndo na minha direção. — Eles me acharam.
— Corre, Hope — ele manda.
Fico em pé novamente, sentindo uma dor excruciante no
calcanhar.
— Corram — digo ao casal. — Se quiserem viver.
Disparo com o celular na mão. Não consigo mais ouvir meu
pai, a dor no pé aumenta a cada passada. O carro chega mais perto,
jogo o celular no quintal de uma das casas com a chamada ativada,
se me encontrarem vão desligar a ligação, mesmo que esteja longe
da casa, meu pai ainda conseguirá me encontrar se souber a
localização aproximada.
Sinto uma pancada forte na minha nuca e desmaio.
Horas antes

Michael
O celular em cima da mesa toca, desvio a atenção dos
gráficos exibidos no computador sobre a nova rota para trazermos
drogas a Nova Iorque. O nome “Bonnarro” pisca na tela deslizo o
dedo atendendo.
— Sim? — pergunto.
— Preciso que você faça algo para mim — ele pede, pela
primeira vez eu noto temor na voz dele.
— O que aconteceu?
— Minha filha Hope foi sequestrada quando voltava da
faculdade e o Black ficou gravemente ferido, estou sendo atacado
em cinco cassinos ao mesmo tempo e minha equipe não consegue
dar conta de enfrentar os ataques e resgatar a Hope, quero que
você cuide disso.
Hope Bonnarro, a última vez que a vi foi em sua festa de
quinze anos, recordo a ansiedade da menina enquanto dançávamos
e como ela pisou no meu pé vezes demais para serem contadas.
Naquela noite, pedi sua mão em casamento, Bonnarro negou meu
pedido e o de todos que seguiram ao longo dos anos, transformando
a Hope na mulher intocável da Máfia Bianchi. Ela é uma parte
fundamental do meu plano para assumir o lugar do Andrew Bianchi,
e ser o próximo Chefe.
A oportunidade que eu queria caiu de paraquedas em meu
colo, não perderei a chance de ter o que anseio. Sempre consigo o
que quero, independente do tempo que leve. Hope será minha,
assim como a cadeira como Chefe.
— Podemos negociar — digo, desligando o computador e me
escorando na cadeira. — Trago a Hope de volta e ganho o que em
troca?
— O que você quer?
— A Hope.
— Estou te pedindo para salvar a minha filha! Como ousa
pedir ela como recompensa? — Ouço quando ele bate em algo do
outro lado da linha e suspiro.
— Achei que você a queria viva.
— Sei que você só precisa da minha aprovação para ser aceito
como novo Chefe, ela será sua e convenço os outros capos a
aceitarem. Mas a Hope não é uma opção. — Rio rouco para sua
proposta, a vontade do Bartolomeu em manter a Hope em um pote
de vidro inacessível só aumenta a minha vontade de tê-la.
— Achei que você queria sua filha de volta, o tempo está
passando. Só aceito a missão se ela for a recompensa.
A linha fica muda por longos segundos antes de coisas
começarem a serem arremessadas, causando estrondos do outro
lado. Bartolomeu nunca se descontrolou, o fato dele ficar dessa
forma por imaginar Hope como a minha esposa atinge um novo pico
de satisfação dentro de mim.
Terei a garota que foi negada a todos, minha doce mulher
intocável.
— Não conte a ela, deixe que eu dê a notícia.
— Jure pelo seu sangue, Bonnarro.
— Eu juro no sangue e no osso que Hope Bonnarro será sua
esposa se você a trouxer de volta.
— Temos um acordo.
— O que você precisa? — Percebo que ele se contém para não
gritar.
— Imagens da última vez que ela foi vista, você tem agentes
no sistema de segurança de Nevada, passe o contato deles para
mim e mande que fiquem à minha disposição. Vou reunir minha
equipe e iremos resgatá-la.
— Prometa que você não vai contar a ela sobre o noivado, eu
faço isso.
— Como quiser.
Desligo e recebo por mensagem as informações que pedi
enquanto ligo para o Daniel e Kai e mando virem até mim. Atualizo a
eles sobre a situação, ao mesmo tempo que um de meus soldados
da tecnologia rastreia os carros que perseguiram o comboio da
Hope. Black também faz parte da equipe quarteto monstro como
somos chamados, devido aos nossos codinomes, pelos membros da
organização. Espero não termos dificuldades sem ele.
— Será que o Black sobreviveu? — Kai pergunta. — Para o
Bonnarro chamar a gente o Black pode ter morrido.
— Ou gravemente ferido. — Daniel veste o terno, cobrindo as
armas no coldre. — Ele não seria abatido facilmente, mas para não ir
atrás da irmã, e o Steve não poder fazer isso, significa que a
situação em Vegas é mais grave do que o Bonnarro contou para a
gente.
— Consegui. — Simon me entrega o tablet com uma rota de
fuga usada pelos sequestradores. — Rastreei eles pelas câmeras de
segurança do estado, trocaram de carro três vezes, consegui
imagem do rosto de um deles, pela rota estipulo que eles estão indo
para Utah.
— Utah? — Franzo a testa, diminuo o mapa visualizando a
rota que poderiam fazer. — Estão fugindo de nevada e vindo em
direção a Nova Iorque? Eles são loucos?
— Não faz sentido. — Kai analisa o mapa buscando resposta,
mas então um nome pisca na minha vista e tenho todas elas.
— Boston, quando foi que o novo Chefe de lá visitou o
Bartolomeu? — pergunto ao Daniel.
— Faz um mês.
— Eles são da Máfia de Boston e é para lá que estão indo, se
eles continuarem pela interestadual 70 vão parar em Richfield,
preparem-se.
— Sim, senhor!
— Fazia tempo que a Máfia de Boston não entrava em conflito
conosco — Daniel diz.
— Vamos lembrar a eles o motivo de terem ficado escondidos
por anos.
Pego as armas e mando nossos aliados que estão por perto
irem prestar suporte, não sei quantos homens vou encontrar e
garantirei que todos saiam mortos depois de me derem respostas.
Horas depois, quando chegamos a Utah recebo uma ligação do
Bartolomeu informando que a Hope entrou em contato com ele e a
localização aproximada de seu paradeiro. Simon cruza as
informações e achamos onde ela está.
Ninguém vai tocar na Hope, serei o único a fazê-la minha.
Chegamos à localização, homens armados ficam ao ar livre, as
casas ao redor trancadas. Posso sentir no ar o medo que foi infligido
às famílias. Damos a volta na rua, pelos fundos minha equipe entra
nas casas transformando as pessoas dali em aliadas, para não dizer
reféns.
Pelo rádio Trent libera a casa que vai dar visão a residência
que mantém a Hope presa, entro e vou direto para o primeiro andar,
com um binóculo em mãos observo a mulher presa à cadeira com as
mãos amarradas para trás e os pés firmes no assoalho de madeira.
Na sua frente, um homem apontando a arma na cabeça dela
esbravejando. Ela o encara com ferocidade nos olhos verdes, os
dentes rangendo prontos para arrancar a pele da garganta dele se
tiver a oportunidade.
Hope Bonnarro. Seus olhos ficaram por anos na minha mente,
as emoções conflituosas duelando, ela era fácil de ler como uma
folha de papel. Não sabia se sentia alívio, felicidade ou medo por
estar em meus braços. Na noite do seu baile de debutante, quando
a primeira música terminou, ela perguntou baixinho se poderíamos
dançar outra. Algo nela mexeu comigo e cedi a seu pedido.
Eu já tinha decidido firmar um acordo de casamento, mas
confesso que o pequeno momento que tive com ela me fez ter
certeza de que queria isso. Quando ela fosse maior de idade
pertenceria somente a mim, quis ouvir o motivo da ansiedade e as
bochechas vermelhas, o nervosismo que a fazia pisar em meu pé a
cada segundo.
Foi mantida como a Rapunzel trancada no alto da torre sem
que ninguém pudesse ver o quanto a garota Bonnarro cresceu e se
tornou uma mulher atraente. Mesmo amarrada e a mais de dez
metros de distância eu consigo ver a grossura de suas coxas, os
peitos presos na camisa de botões mal abotoados.
Minha.
Vou estripar o desgraçado por ter ousado tocar nela.
— Vamos invadir? — Daniel meu braço direito pergunta.
Baixo o binóculo e encaro a minha equipe.
Daniel Griffin, filho do consigliere, em breve assumirá o lugar
do pai. Entrega a 9mm dourada na minha mão e confiro a munição
antes de colocá-la no coldre escondido pelo paletó. Kai Lucian, filho
do Subchefe e o melhor atirador da Máfia Bianchi, posiciona o rifle
de assalto M4 Hell na janela com o dedo no gatilho, pronto para
matar ao meu comando.
— Posso matar todos daqui. — Kai estrala o chiclete.
— Ainda não — digo a eles. — Vamos esperar os soldados
liberarem a entrada e invadimos. O homem tem uma arma na
cabeça da Hope, não matem o desgraçado até eu colocar as mãos
nele e ensinar o que fazemos quando mexem com as nossas
mulheres.
Aperto o punho, a adrenalina correndo solta em minhas veias,
pedindo por ação e pelo sangue daqueles que ousaram nos desafiar.
Declarar guerra é comum no nosso meio, explodem uma boate,
matam um soldado ou outro, respondemos com violência e
brutalidade. Mas quando ousam atacar as nossas mulheres estão
pedindo para serem os convidados de honra do capeta, a mais bela
tortura aguarda aqueles que tocam em quem nos pertence.
— Quando o Black souber o que fizeram com a Hope — Kai se
ajeita e puxa um cigarro — vai querer destruir Boston em retaliação.
— O que o Bonnarro te ofereceu? — Daniel pergunta, me
olhando desconfiado. — Não é do seu feitio aceitar missões de
outros Capos, você só segue o que o Andrew manda ou o que você
quer fazer.
O quarteto monstro é um grupo de elite liderado por mim,
Daniel, Kai e Black, só seguem as minhas ordens. Só aceito pedidos
de missões de outros Capos quando beneficia meus objetivos. Eu
tenho meu próprio exército dentro da máfia e não quero que ele se
misture com o liderado pelo Andrew. Tudo planejado para quando o
momento chegar, eu tomar o poder.
— Depois eu conto.
Vou respeitar a vontade do Bartolomeu de não anunciar o
noivado por enquanto, ele fez um juramento de sangue pelo
telefone e sabe que todas as minhas conversas são gravadas.
Quebrar a promessa é pedir para morrer.
Eu levo a sério as promessas que faço como o futuro Chefe da
Máfia Bianchi, sou um homem honrado. Estou a poucos passos de
alcançar meus objetivos, Hope será minha e a levarei para casa em
segurança, firmando meu acordo. A notícia de nosso casamento se
espalhará ao vento e o maldito que a sequestrou correrá de medo
da minha fúria.
Levarei ao inferno aqueles que perseguem a minha noiva.
— Vamos? — Daniel pergunta, após receber o sinal dos
soldados que entravam limpando o caminho.
— Sim — respondo.
Com uma Espingarda preta CBC ST12 24 Calibre, duas 9mm
no coldre, acompanhado do meu braço direito e esquerdo deixamos
a casa que fizemos de forte para observar o que acontecia na
morada à frente onde a Hope é mantida como refém. Sem o Black
na equipe parece que estamos com desfalque. Somos um time de
quatro liderados por mim em missões perigosas que exigem os
melhores. Espero que ele não morra, além de deixar minha noiva
triste, sentirei falta do meu amigo de confiança.
— É só isso? — a senhora de 75 anos pergunta quando
passamos por ela na sala. — Vão embora e nada acontecerá comigo
ou meu neto? — Tem lágrimas em seus olhos.
Chego perto da senhora e me sento à sua frente, coloco a
arma na mesinha de centro e a encaro nos olhos, seus braços
magrelos seguram o menino de mais ou menos 17 anos nos braços
com medo de que o machuquemos.
— Obrigado por emprestar a sua casa. — Puxo a carteira do
bolso. — Nossa amiga será salva, você ouvirá tiros e assim como os
outros vizinhos foram instruídos a não chamarem a polícia, se
quiserem viver, espero que faça o mesmo. — Deixo um maço de
dólar em sua mesa. — Tenham um bom dia e se escondam bem
quando sairmos.
— Sim, senhor. — Ela acena em positivo vezes demais.
— Fica na escola, moleque. — Bato no braço dele que se
encolhe mais contra o peito da avó. Rio baixo e vamos embora,
deixando um soldado como garantia de que a senhora ou qualquer
um dos vizinhos, não chame a polícia quando ouvirem os tiros.
Atravessamos a rua com as armas em punhos, disparos são
efetuados dentro da casa em que a Hope está. Encosto na soleira da
porta e Daniel toma o outro lado com o Kai, com um sinal de mão
um dos soldados lá dentro informa que podemos entrar.
Subimos a escada com rapidez e no topo vejo um soldado,
atiro o derrubando antes que ele fosse capaz de sacar sua arma. Kai
dispara contra outro que surge de um quarto e Daniel pega um que
vinha pelas escadas. Chuto a primeira porta, arrebentando as
dobradiças, pedaços de madeira voam contra uma mulher encolhida
no chão, segurando o corpo de um homem morto.
— Tirem eles daqui — ordeno a um soldado que acena em
positivo. — Essa varanda se conecta a do quarto ao lado? —
pergunto à mulher.
Ela treme se encolhendo contra a parede, puxando o corpo do
homem consigo.
— Não tenho tempo para isso. — Abro a janela e espio o lado
de fora, vendo a abertura de meio metro entre uma varanda e outra.
— Daniel, vá por aqui e pegue o desgraçado pelas costas. Kai, vem
comigo.
— Sim, Chefe — respondem e cada um assume a posição que
mandei.
— Você, e você — aponto para dois soldados —, fiquem do
lado de fora esperando as ordens para entrarem e mantenham
qualquer soldado remanescente longe.
— Sim, senhor — respondem em uníssono.
— Não matem o miserável — aviso. — Quero informações
sobre o chefe dele antes do final do dia.
Engatilho a espingarda e atiro na fechadura, fazendo metade
da porta ficar em pedaços, empurro com o pé o que restou da
madeira e entro no cômodo, encontrando a Hope de pé presa com
os braços atrás do corpo e com uma arma apontada para a sua
cabeça. Sua boca amordaçada sangra pelo queixo, as esmeraldas
em seus olhos me encaram aliviadas.
O homem que a prende tem um braço escondido atrás do
corpo da Hope e o outro passado por seu ombro, apontando a arma
na cabeça dela.
— Quem é o gatinho que se esconde atrás de você? — Apoio
a espingarda no ombro, andando até eles despreocupado, enquanto
o homem dá um passo para trás. — Não vai se mostrar? Eu até
guardei os dentes.
Kai ri ao meu lado, vejo o Daniel abrindo a janela que por
sorte fica nas costas do maldito, ele não consegue ver que o
cercamos e quero manter sua atenção em mim.
— Matamos todos os seus homens, vai continuar se
escondendo atrás dela ou se entregar? Se fizer isso em 10
segundos, eu te dou uma morte rápida.
— Vou morrer de um jeito ou de outro — ele grita, mal
consigo ver o rosto dele escondido atrás das costas dela —, mas
antes eu levo essa vadia comigo.
— Ei! — grito, pegando a cadeira e a jogando no chão. —
Tenha respeito, seu verme, com quem pensa que está falando?
— Ele merece ter a língua arrancada. — Kai aponta para o
infeliz com o rifle.
O rato que se esconde não percebe que estamos os três cada
vez mais perto. Deixo a espingarda em cima da cama e estendo os
braços para a Hope.
— Hope, lembra quando você e o Black brincavam de se
esconder debaixo da mesa? — Movimento as mãos com cuidado
para baixo, indicando a minha intenção. — E contavam até três
antes de um procurar o outro?
— De que merda você está falando? — O miserável balança a
arma, afrouxando o braço que a prende, não consigo ver o que ele
faz com o braço esquerdo.
Hope pisca os olhos novamente duas vezes, confirmando que
entendeu o que preciso que ela faça, quando chegar ao três ela
deve se abaixar. O Daniel vai imobilizar o sequestrador enquanto eu
a removo das garras dele.
— Vou contar até 5 para você soltar ela, e eu te mato aqui
mesmo. Caso contrário, te farei sofrer por 10 dias antes de começar
o interrogatório.
— Quero um acordo, eu não queria sequestrar essa garota,
foram ordens do novo Chefe e aquele filho da puta é maluco. — A
voz controlada me deixa atento, ele quer me enganar na conversa.
Daniel se movimenta como um gato prestes a atacar o rato,
enquanto eu e o Kai fazemos o mesmo. Estou a cinco passos da
Hope e daqui consigo pegá-la nos braços com facilidade.
— Ele que mandou você bater nela? — pergunto.
Hope tem um olho roxo e um corte no supercílio manchando o
rosto delicado com sangue.
— Ela tentou fugir, eu disse para ela colaborar. — Sacode os
ombros dela, a fazendo fechar os olhos com dor.
— Qual o seu nome? — Kai pergunta.
— Paul, sou um dos soldados do Chefe Samuel da Máfia de
Boston, aquele desgraçado assumiu após a morte do pai e mudou
tudo.
— Se você é de Boston — Kai diz —, sabe o que fazemos com
quem nos desafia.
— Não minta, Paul, sabemos que você é o chefe de segurança
do Samuel — digo. — Temos muitas imagens de você e seu Chefe
em Las Vegas.
— Eu quero um acordo — ele pede, abraçando Hope pela
cintura. — Deixem que eu fuja usando um nome falso, saindo do
país em segurança e em troca eu contarei tudo sobre o Samuel.
Paul arregala os olhos e engole em seco quando percebe que
não vai conseguir um acordo. Kai aproveita que ele se mantém
distraído para ir mais para o lado, enquanto Paul tem fixa sua
atenção em mim. Ele não percebe o Daniel com a mão pronta para o
desarmar. Estico os braços novamente.
— Vamos contar, Paul, 5.
— Que merda é essa? Você não concordou com os meus
termos.
— 4.
— Você sabe o motivo dele querer a garota?
— Posso descobrir sozinho.
— Não é para casamento!
— 3.
Em um movimento rápido, Daniel agarra o punho dele
puxando para trás e ouço o som de osso sendo quebrado, com uma
chave de braço o derruba no chão. Kai coloca a arma na cabeça
dele, e eu puxo Hope pelos ombros girando nos calcanhares e a
deixando livre de ser machucada. Um gemido ecoa de seu corpo
contra o meu, apoio a mão em suas costas e ela se contorce. Sinto
molhado e quente na palma da mão, baixo a vista para sua camiseta
vendo o vermelho se espalhando.
Pego-a no colo, apoiando sua cabeça contra meu ombro. A
mordaça na boca a impede de falar, mas seus olhos transbordam
medo e gratidão. Imagino o quanto ela deve ter lutado. Para alguém
que passou a vida inteira presa como a Rapunzel, ser sequestrada e
machucada deve ter causado uma tempestade de sentimentos
dentro dela.
— Está tudo bem, estou aqui agora — falo baixinho em seu
ouvido. Ela suspira audivelmente, acenando em positivo.
Encaro o Paul que tem uma faca a poucos centímetros de
distância da sua mão. Daniel prende o corpo dele com um joelho,
segurando seus pulsos atrás das costas, enquanto Kai amarra as
algemas nele. O desgraçado me encara com ódio pungente.
— Se a vadia morrer, o filho da puta do Samuel não vai ter o
que ele quer — me encara —, eu te conto tudo se você prometer me
matar rápido.
— Vou te fazer chorar implorando pelo demônio.
Não espero para ouvir sua resposta. Desço com a Hope para a
sala, sento no sofá com ela em meu colo. O tornozelo esquerdo tem
um roxo manchando a pele branca. Aliso sua bochecha, puxando a
fita devagar para evitar machucá-la.
Os lábios estão cortados com gotinhas de sangue pingando
deles. Com o dedão limpo o líquido vermelho, não resisto a vontade
de trazer seu rosto para perto do meu, com delicadeza beijo sua
têmpora. Nunca imaginei que sentiria vontade de cuidar dela, mas é
por esse sentimento que sou tomado. Removo meu paletó, com um
canivete retiro as amarras de seus pulsos vermelhos, amarro o
paletó ao redor de sua cintura para estancar o sangramento nas
costas.
— Vamos para onde? — Daniel pergunta. — Ela precisa de um
médico.
— Mande levar um médico para Green River, voltar para
Nevada não é uma opção.
— Eles continuam sob ataque — Kai analisa algo no celular. —
Vamos, homens de Boston estão a caminho.
— Por que estão me perseguindo? — A voz rouca chama
minha atenção.
Encaro os olhos temerosos, a vontade crescente de fazê-la se
sentir em segurança sufocando meu peito. Aperto seu braço, a
trazendo para perto, deito sua cabeça na curva do meu pescoço e
levanto, levando-a para o carro.
— Não sabemos, ainda, mas quando descobrir vou me
certificar de que eles nunca mais poderão ver a sombra do seu
rastro.
Antes eu só tinha um desejo sombrio de ter a garota proibida,
agora possuo a certeza: Hope Bonnarro será minha esposa, não
somente para cumprir meu objetivo de ser o Chefe, mas eu quero
cuidar e proteger essa mulher. Nunca mais outro homem tocará no
que é meu.
Hope
Cada centímetro do meu corpo dói. Eu fugi sabendo que seria
perigoso e que eles poderiam me matar ao me prenderem
novamente. Mas era isso ou morrer sem lutar e nunca vou me
entregar para qualquer inimigo que seja. Espero que o casal que me
entregou o celular tenha conseguido fugir sem sofrerem.
Não esperava que seria Michael Bianchi a me resgatar. Não o
vejo desde a minha festa de 15 anos quando dançamos juntos e ele
foi capaz de acalmar a tempestade que nublava a minha mente.
Após o fim da festa fui lembrada mais uma vez que casamento
estava proibido para mim, porém, nem mesmo o alerta do meu pai
aplacou a sensação boa que a dança com o Michael deixou. Ela foi
meu refúgio seguro nas memórias nos anos seguintes.
No mundo em que vivo as meninas são prometidas em
casamento antes dos 18 anos. Tenho 20 anos e muitas propostas
recusadas, algumas agradeço imensamente por meu pai não firmar
acordo com os velhos nojentos que querem subir de cargo
conseguindo um bom casamento.
Não sou tola, sei que meus descendentes terão uma grande
parte do território da família e isso daria ao meu marido uma
vantagem, expandindo seu território. Principalmente se for o Chefe.
No entanto, não consigo imaginar por qual motivo o esquadrão do
Michael me salvaria, sei que o Black faz parte e talvez seja por isso,
mas pelas vezes em que os escutei escondida não costumam aceitar
missões de resgate, somente de destruição.
Existe somente três regras que eu devo seguir para garantir
que minha família permaneça a salvo:

1.
Hope Bonnarro não pode se casar;
2.
Não pode amar; e
3.
Não pode ser vista ou chamar a atenção.
E por seguir fielmente essas regras, não consigo imaginar o
que meu pai daria em troca ao Michael que fosse beneficiá-lo, além
de uma proposta de casamento que está fora de cogitação. Por anos
eu segui essas regras tendo como benefício uma liberdade restrita,
aprendi a me defender, usar uma arma, e principalmente, pude
estudar em uma faculdade no curso que eu quisesse, benefício dado
a poucas mulheres do nosso meio.
Devido ao poder da minha família seria natural que a minha
mão fosse entregue ao Michael, o homem que será o nosso Chefe
em breve. Naquela noite, Michael segurou a minha cintura e fui
intoxicada pelo perfume forte e picante, trazendo a sensação de
calor exalando de seu corpo, pela voz grossa falando baixinho que
deveria relaxar e não pisar no pé dele.
Ele me encarou nos olhos e não me tratou como criança ou
uma menina que estava sendo mostrada como um pedaço de carne
para escolherem o futuro marido. Michael Bianchi mal trocou dez
palavras comigo, segurou minha cintura com respeito e os olhos se
mantiveram nos meus por todo o momento.
Não era para ser um momento especial, somente uma dança
como outras que tive na mesma noite. Mas ela ficou marcada dentro
de mim, criando uma pequena semente de conforto. Em todos esses
anos eu soube o meu destino e as regras que deveria seguir como
filha do Bartolomeu Bonnarro. Porém, nada foi capaz de calar a voz
que pedia para ser confortada novamente e fazer desaparecer a
redoma ao meu redor.
Esse não é o destino de Hope Bonnarro, não me pertence
sonhar com o que nunca poderei ter, devo me conformar com a vida
que levo e ser feliz sem mais ambições. Não imaginava que ao voltar
da faculdade o comboio que me protegia seria atacado, meu irmão
gravemente ferido e eu sequestrada e esfaqueada quando me joguei
nos braços do homem que deveria evitar.
Não sei o que passa na cabeça do Michael e quais são suas
ambições. Mas ele mal imagina que segura uma bomba relógio nos
braços e que se o meu segredo for exposto, minha família seria
destruída levando consigo quem se misturasse a nós.
Michael Bianchi não parece ter sido afetado pela idade,
atualmente ele deve ter 34 anos e está ainda mais lindo, tem olhos
azuis como diamantes transparentes e me encara com a mandíbula
tensionada, enquanto me coloca dentro de um carro, pressionando
seu paletó nas minhas costas. Ele passa o cinto ao meu redor e sua
boca fica a centímetros da minha, inspiro forte, absorvendo o aroma
de pólvora, sangue e o cheiro quente, apimentado com o fundo
amadeirado que eu me lembrava.
Contraio meus músculos inconscientemente e me arrependo
do movimento ao sentir o rasgo em minhas costas abrindo,
irradiando dor pela minha lombar. Fecho os olhos, encostando a
cabeça no ombro dele, agarro com força seu braço, buscando alívio
para o meu tormento em seu aroma caloroso.
— Não se mexe. — Ele empurra meu ombro contra o banco e
grito de dor. — Mantenha o paletó pressionado na ferida.
— Dói muito — gemo, fincando as unhas em sua camisa. —
Faz parar — imploro com as lágrimas descendo pela dor.
— Eu sei. — Sinto dedos em meu rosto e abro uma brecha
das pálpebras, encarando o rosto dele perto do meu. — Aguente
firme, Hope. — A voz grave sopra contra meu rosto.
— Como?
— Durma um pouco. — Sai, fechando a porta do veículo.
Faz dois dias que não sei o que é dormir e tenho sido levada
de um lado ao outro, me machucaram e apanhei feito um cachorro.
Estar na presença de Michael Bianchi é o que faltava para meus
sentidos entrarem em curto, a mente fica dispersa e enquanto os
homens entram no carro e falam comigo, a cabeça pende para o
lado e eu apago.
Acordo com um sacolejo, arrebentando a dor no meio da
minha coluna. Inclino para a frente e uma mão pressiona o
ferimento, gemo e sou puxada contra um peito forte.
— Calma, Hope. — Reconheço o timbre grave do Daniel
Griffin.
Sempre que meu irmão se reunia com os amigos em nossa
casa, eu ficava escondida nas passagens secretas ouvindo o que eles
planejavam. Era a única forma de ter contato com o mundo exterior.
Se descobrirem que faço isso, levarei uma surra e ficarei de castigo.
Eu adoro ouvir as histórias das missões e sei mais desses
homens do que eles podem imaginar. No final, sempre me imaginava
provando da ação que eles narravam de suas missões e podendo
examinar os corpos dos abatidos, descobrindo os mistérios que
cercam a morte biológica de um ser humano.
Sempre fugia quando eles começavam a falar de sexo, é
nojento escutar as coisas que meu irmão se gabava. Ficava com frio
na barriga de desagrado ao ouvir o Michael comentando o quanto
uma boceta era quente e boa de meter. Se eles sonharem que eu sei
desse fato sobre os 4 — Black, Michael, Daniel, Kai —, eu me
tornaria uma santa presa no convento.
Tenho um mínimo de liberdade, contido e controlado para não
causar estragos. É difícil conter a rebeldia em meu âmago, querendo
mais do que deveria ter.
— Ainda dói. — Mordo o lábio, tentando abafar outro gemido.
— Vamos chegar a um local seguro em breve. — Reconheço a
voz divertida do Kai. Não importa o que ele fale ou como, sempre
acho que o Kai usa deboche.
Pela posição das vozes, noto que Daniel é quem me segura,
Kai sentou ao lado dele e Michael que se mantém em silêncio deve
ter ficado no banco da frente. Inclino um pouco a cabeça e consigo
flagrá-lo com os olhos travados em mim, quando percebe que o
peguei me observando, Michael endurece a feição virando de frente.
— Para onde estamos indo? — pergunto. — Vocês têm
notícias do meu irmão?
— Black foi levado ao hospital da famiglia, vai ficar bem —
Daniel responde.
— O que eles fizeram com você? — Michael questiona, virando
o rosto de lado.
— Bateram, não me deram comida e fui trancada mais vezes
do que me lembro em porta-malas. — Abraço meu corpo,
lembrando-me do desespero que é o lugar fechado.
— Ele disse que você tentou fugir, é verdade?
— Mais ou menos. — Abaixo a cabeça, prevendo a bronca que
virá.
— Conte o que aconteceu — Daniel pede, ele faz carinho em
meu braço e deixo a cabeça pender contra seu ombro, as forças se
esvaindo mais uma vez.
— Beba isso. — A grossa mão de Michael paira no meu campo
de visão, segurando uma garrafa de água, com os dedos tremendo a
pego, a tampa já foi removida e bebo o líquido até secar a garrafa.
— Obrigada. — Entrego a garrafa vazia a ele.
— Agora fale.
— Quando chegamos naquela casa, ele me deixou no quarto
amarrada. Eu podia ouvir aqueles homens abusando da mulher e
torturando o marido dela. — Pressiono os ouvidos, tentando abafar
os gritos em minha mente. — Fiquei com medo de que fizessem o
mesmo comigo, a janela não tinha sido fechada e percebi uma
escada com trepadeiras ao lado da varanda.
— Como conseguiu se soltar? — Michael pergunta
desconfiado.
Olho para o lado, sem saber se devo confessar a lâmina no
sutiã, só agora percebo que a perdi depois de retirá-la do sutiã. Vou
precisar de uma nova.
— Meus sutiãs possuem lâminas escondidas no bojo, usei a
que tinha para arrebentar as cordas dos pulsos e tornozelos,
conseguindo escapar pela varanda. Quando pisei no chão acho que
machuquei meu tornozelo, não lembro com exatidão de como me
machuquei, pulei muros, corri muito e peguei o celular de um casal.
Aquelas pessoas estão bem?
— Não tivemos relatos de mortes na região — Michael fala,
fico aliviada.
— Não teve medo do que aconteceria se eles te pegassem? —
Kai pergunta.
— Não. — Encaro o homem de olhos pretos e cabelo preto. —
Se eu fosse mais esperta que eles, conseguiria fugir sem problemas
e depois era só contatar o meu pai para ir me buscar.
— Você é valente, Hope. — Michael me encara com pesar. —
Vai acabar morrendo se continuar assim.
— Vou morrer de qualquer forma, um dia. — Dou de ombros e
faço careta ao sentir a pontada nas costas. — Tanto faz se será cedo
ou depois.
— Continue a história — Daniel instrui.
— Bom, quando percebi que eles tinham me achado corri,
joguei o celular com a ligação em curso para que não desligassem e
meu pai pudesse me achar. Eles bateram na minha nuca, e eu
desmaiei, quando acordei estava amarrada. O maldito do Paul me
bateu como castigo até eu desmaiar. Quando recobrei os sentidos,
ele continuou reclamando do novo Chefe e da missão suicida que
recebeu, poucas horas depois vocês chegaram.
— Não abusaram de você? — Daniel apesar de ter uma voz
grossa, tenta soar suave.
— Eles não podiam, enquanto estava no quarto, após apanhar
do Paul, ouvi um dos soldados falando que o Samuel ordenou que
não me tocassem.
— Você sabe quem é esse homem? — Michael pergunta,
atento à minha reação.
— Não. — Apesar de que ouvi o Black e meu pai conversando
sobre o Samuel ter se encontrado com meu pai em um dos cassinos
da minha família, semanas antes.
— Você vai para Nova Iorque com a gente, não é seguro
voltar para Nevada agora. — Michael retorna à posição.
— O que está acontecendo?
Fico com medo pela minha família, meu irmão hospitalizado,
meu pai lutando uma guerra pelo nosso território. Não consigo
imaginar como a minha mãe deve ter ficado com essa situação, ela é
fraca emocionalmente e não pode sofrer abalos com as missões do
meu pai e irmão, fica passando mal quando eles saem por dias e
voltam machucados.
Comigo sendo levada, ela deve estar à beira de um colapso
nervoso. As lágrimas nublam minha visão e fungo, tentando impedir
que caiam. Fecho as mãos em punhos com o peito sendo
comprimido pela preocupação com a minha família.
— Não temos certeza — Daniel responde, eu noto a mentira
em sua voz.
— Posso falar com meu pai?
— Depois, vá dormir — Michael ordena, fazendo o carro cair
em silêncio.
A preocupação nubla minha mente, pensando em diferentes
cenários em que as pessoas que eu amo poderiam ter se machucado
ou estarem mortas. Meu pai sempre me alertou que eu ser exposta
poderia colocar nossa família em ruína e agora por minha culpa meu
irmão foi hospitalizado, meu pai luta contra inimigos que invadem
nosso território e a minha mãe pode estar tendo um ataque nervoso.
Eu nunca deveria ter nascido.
Michael
— Qual rota devemos pegar? — Kai pergunta ao me passar o
tablet com o mapa aberto.
— Hope foi pega em Las Vegas na interestadual 70 e a
encontramos em Utah, onde estamos agora, nesse momento os
homens do Samuel devem estar na nossa cola. — Analiso as opções
que temos, de preferência quero evitar um confronto direto com os
homens dele ou com os federais. Só tenho o total de 20 soldados
nos acompanhando nos carros do comboio.
Viro o rosto, vendo a garota dormindo novamente com o
queixo apoiado no peito do Daniel, enquanto mantém o paletó
pressionado na ferida dela. Aperto o tablet com vontade de arrancá-
lo dali e poder cuidar dela. A única mulher que desperta meu
instinto protetor é a minha irmã Emily. A Hope faz a possessividade
rasgar minhas entranhas, não a querendo perto de outros homens.
— A melhor opção seria pegarmos um helicóptero no
Colorado, que é o estado mais próximo agora — Daniel fala.
— Muito óbvio — Kai diz. — Melhor irmos para Wyoming ou
Idaho.
— Idaho não é uma opção, muito próximo de Nevada — digo
a eles, tomando a minha decisão. — Vamos contornar os desertos
agora de noite pela interestadual 70 e iremos montar uma base em
Green River, como planejado. Estaremos prontos para qualquer
ataque e conseguiremos nos defender melhor usando os pontos
altos, o helicóptero pega a nós quatro e o Trent. — O soldado que
nomeei para ser o tenente da minha equipe de operações.
— Certo, chefe — Trent responde enquanto dirige. — Vou
repassar as instruções aos soldados e avisar a nossa equipe aérea,
vou garantir dois helicópteros, um de transporte e o outro de
ataque.
— Faça isso.
Encaro a Hope, notando as gotículas de suor acumuladas em
sua testa e temo que ela possa ter uma infecção por causa do corte.
A mão descansando na coxa do Daniel começa a tremer.
— Michael — Daniel me chama.
— Sim?
— Precisamos passar em uma farmácia, a Hope tá pegando
fogo.
— Pode ser uma infecção — Kai diz, tocando a testa dela. —
Para um de nós uma febrinha dessas não seria nada demais, mas
pode ser fatal para ela.
— Não podemos parar no meio do deserto. — Não vejo nada
além da escuridão da noite nos desertos vazios do Oeste dos
Estados Unidos. — Quando chegarmos a Green River mando
comprarem um remédio.
— Bonnarro ficará louco quando ver a cicatriz. — Um sorriso
desponta no canto dos lábios do Kai. — A Rapunzel saiu da torre só
para se machucar.
— Não brinque com isso, Kai — Daniel pede. — Se o Black
souber que você chama a irmã dele assim vai arrancar suas bolas.
— Todos chamamos — ele se defende. — Ninguém fala na
frente dos Bonnarro, é só essa a diferença.
— Se concentrem na missão — digo a eles, irritado pela forma
como falam da Hope. — Ainda não sabemos o motivo dela ter sido
sequestrada.
— É estranho saberem sobre a Hope — Daniel aponta. — Ela
viveu trancada a vida toda, nem eu tinha conhecimento de como era
o rosto dela.
— E vamos muito a casa dos Bonnarro — Kai complementa. —
Talvez eles estejam escondendo algo.
— Saberemos quando chegarmos a Nova Iorque. — Devolvo o
tablet ao Kai. — Por ora descansem, ficaremos alertas enquanto não
pousarmos no complexo.
— Ok — Kai concorda e o som irritante do jogo preenche o
carro.
— Abaixa essa merda — mando.
— Sim, sim — afirma com preguiça enquanto baixa o volume.
— Qualquer dia você perde os dedos de tanto jogar — Daniel
fala.
— Kai remova seu paletó e coloque na Hope — ordeno. —
Daniel avise se a febre e os tremores dela aumentarem.
Eles fazem o que mando e cada um se distrai com o que
pode. Kai volta a jogar, Daniel mexe no celular, e eu deito a cabeça
no banco descansando depois de dois dias de caçada. Repasso as
informações que eu tenho, tentando compreender o que levou a
Hope a ser sequestrada pela máfia de Boston.
Na manhã da sexta ela foi para a faculdade de medicina,
acompanhada do irmão e dos seguranças. Devido a uma falha no
helicóptero no dia anterior tiveram de usar os carros, voltando para
casa o comboio foi atacado no deserto, eles sabiam a rota usada e
estavam esperando com artilharia pesada. Black se feriu quando o
carro capotou e depois foi atingido por três tiros, um na perna, outro
no abdômen e o último no ombro.
Hope foi levada de Las Vegas para Utah em dois dias, fomos
avisados quando ela foi sequestrada uma hora depois e levamos o
resto do tempo a rastreando. Como os filhos da puta a mantiveram
presa no porta-malas foi mais complicado conseguir imagens de
onde ela poderia estar.
Foi preciso usar o reconhecimento facial de um dos bandidos
que tinha ido semanas antes ao cassino acompanhado do Samuel
para conseguirmos rastrear a rota deles e a encontrarmos naquela
casa. Com a ajuda do sinal da ligação dela ao pai facilitou delimitar o
perímetro, ela é corajosa, pensei que fosse uma gatinha medrosa,
mas se mostrou uma leoa. Gosto disso nela.
Ainda não tenho certeza do que o Samuel e o Bartolomeu
conversaram no cassino, o relatório dele ao Andrew, o Chefe da
Máfia Bianchi, foi somente de uma tentativa de aliança. Algo fora de
cogitação, a Máfia de Boston sempre foi desordeira e mal
organizada, nunca mancharíamos o histórico dos Bianchi com esses
homens desprezíveis.
Recebo uma notificação do Andrew, informando que no
momento tropas de reforços foram enviadas para o Bartolomeu e
uma parte se dirige para nos esperar em Green River.
— Caminho limpo? — Trent pergunta pelo fone de ouvido.
— Sim, senhor, as imagens aéreas mostram que os próximos 5
km estão livres e não temos perseguidores — um dos soldados
responde.
— Quero ser informado sobre qualquer poeira que cruze nosso
caminho — digo a eles.
— Sim, Chefe.
O caminho continua tranquilo e aproveito para dormir. Horas
depois, acordo quando estacionamos em um hotel em Green River.
Desço do carro, observando ao redor e chamo um soldado com a
mão. Ele vem escondendo a arma no coldre para não chamar a
atenção dos transeuntes.
— Vá até a farmácia e compre material de primeiros socorros,
linha e agulha para costurar um ferimento.
— Sim, senhor.
Ele vai embora e abro a porta do carro, Daniel remove o cinto
da Hope e a pego no colo. Seu rosto continua banhado em suor,
aproximo a bochecha de sua testa e confiro que sua temperatura
corporal baixou. Ela pende para meu peito, a testa na curva do meu
pescoço. Frágil, poderia quebrar no mínimo toque. A vontade de
alisar seus cabelos arrumando a bagunça dos fios desponta no meu
íntimo. É estranho me sentir protetor por uma mulher que mal
conheço.
— Vamos — Daniel chama, entrando primeiro e confirmando o
caminho livre no prédio alugado.
Subimos pelo elevador e vou dividindo os soldados para
patrulharem o perímetro. Kai abre a porta do quarto e entramos,
deito a Hope na cama de bruços, puxo o paletó manchado pelo
sangue seco e mexo na sua camisa conferindo a gravidade do corte
do tamanho do meu indicador e com um centímetro de espessura.
— Pegue toalhas molhadas — peço a ninguém em específico.
— Vai ficar uma cicatriz. — Kai observa o machucado, e Daniel
me entrega a toalha. — Sabe que não pode levantar a blusa dela,
né? — Ele arqueia a sobrancelha, cruzando os braços, esperando
pela resposta.
— Claro que sei, idiota. — Empurro-o para longe. Mesmo que
sejamos noivos não posso tocar nela enquanto não casarmos, merda
de tradição.
Seguro a camisa da Hope na parte rasgada e aumento o
rasgo, deixando parte de sua pele exposta, nada que vá ferir a sua
honra. Pego a toalha molhada e vou limpando ao redor do
ferimento, removendo o sangue seco. Tento não tocar em sua pele
com meus dedos, somente a ponta da toalha, os presentes no
quarto me observam como um falcão prestes a capturar a presa.
— Vocês não têm nada para fazer? — Arremesso a toalha no
Kai.
— Nunca te vi cuidando de uma mulher — ele comenta. —
Tem algo que você não contou a gente?
— Em Nova Iorque conversamos. — Levanto-me da cama e
vou à janela observar os arredores. — Quanto tempo para o
helicóptero chegar?
— Duas horas, senhor — Trent responde.
— Vá patrulhar o perímetro, nos deixem a sós.
Os soldados saem, permanecendo somente eu, Kai e Daniel
no quarto. Sem outros presentes ambos relaxam a postura.
— O que vamos fazer com a garota? — Kai pergunta. — Ela
precisa de tratamento e curativo por cima da roupa é uma bosta.
— Alguém conseguiu contato com o Bonnarro? — pergunto.
— Não, o Clifford avisou que o Capo luta contra um ataque ao
cassino, explodiram uma bomba há meia hora. Não conseguiremos
falar com ele sem a intervenção do Chefe Bianchi — Daniel
responde.
— Por enquanto fiquem em alerta.
Duas batidas à porta, Daniel abre e pega o kit de primeiros
socorros. Sento na cama ao lado da Hope e analiso o que ele trouxe.
Despejo soro, lavando o ferimento e o encho com gases, prendendo
com esparadrapo, não tenho uma agulha ou linha para fechar o
corte, vai ter de servir por ora.
A camisa dela fica encharcada e fede a sangue. Olho para os
presentes e com um gesto de cabeça, eles entendem que devem
virar de costas, pego a mala de mão no canto do quarto, retirando
de lá uma camisa limpa.
Vou até a Hope e com cuidado a trago para o meu colo.
Desabotoo os botões de sua blusa um a um, a renda do sutiã rosa
com pequenos rasgos no centro mostra onde ela escondia a faca.
Minha mão coça em vontade de tocá-la, a pele banhada pelo suor
brilhando à luz do sol, os seios pressionados contra o bojo,
tentadores. Controlo minha vontade e volto a atenção para o que
deveria fazer. Seguro a lateral para abrir a camisa e sou impedido
por uma mão segurando meu pulso.
— Não. — A voz rouca e fraca.
Encontro os olhos verdes me encarando com medo e súplica.
— Você precisa trocar a blusa — digo a ela.
— Eu... faço isso. — Senta com dificuldade, fazendo careta.
— Certo.
Seguro sua cintura, a mantendo sentada, seu rosto pálido com
gotas de suor pingando, descendo pelo pescoço esguio. Flagro-a me
encarando com raiva e desvio o olhar enquanto seus braços se
movem lentamente removendo a camisa. Hope geme, minha mão
apoiada no quadril quente, travo nossos olhares ao ajudar a vestir a
camisa limpa, primeiro um braço e depois o outro. Ela fixa em mim,
acho que não por medo de que eu a olhe, mas por precisar de
conforto.
Apoio seu ombro no meu antebraço e com a mão livre fecho
os botões da camisa, o tempo todo com o olhar fixo no dela. Ela
respira baixinho quando fecho o último. Os olhos pesados se fecham
novamente, dessa vez ela se apoia no meu peito quando adormece.
Os cabelos contra meu nariz, revelando os dias terríveis que ela
passou no cheiro de suor e sangue. Levo os dedos à sua nuca,
procurando por ferimentos, por sorte não acho nenhum.
Deito-a na cama de bruços novamente, continuo limpando o
suor em sua testa.
— Você não deveria se envolver com a Bonnarro — Daniel
avisa. — Bartolomeu nunca permitiria um casamento com a
Rapunzel.
— Um Capo não pode dizer “não” a um Chefe. — Sorrio
saboreando a informação que somente eu sei. — Foquem na missão.
Eles ficam calados, e voltam a observar o perímetro.
Bartolomeu Bonnarro vai ter de explicar muita coisa sobre a
invasão em seu território para se preocupar com o casamento da
filha.
Hope
Algo explode ao meu redor.
— Não levante — ordenam.
Pisco focalizando a visão contra o travesseiro branco, a dor
nas costas aliviou depois que fizeram um curativo enquanto eu
dormia. Mais uma vez fui pega pela bolha do Michael que me faz
esquecer o mundo e focar somente nos diamantes azuis me
encarando com intensidade, como se ele pudesse enxergar dentro
da minha alma. Enquanto vestia minha blusa com a ajuda dele, me
senti protegida, como nunca antes.
É estranho que isso tenha acontecido, mal tivemos contato um
com o outro e a situação em que estou não deveria permitir
momentos como esse. Outro estrondo me tira dos meus
pensamentos, encolho-me na cama com medo de ser atingida.
Procuro o que acontece ao redor e encontro o Kai posicionado
na janela do quarto com um rifle Trident MK2 CRB, um
semiautomático de cano longo com flutuadores ao redor capaz de
causar um enorme dano. Kai não usa armas pequenas e discretas,
ele gosta de fazer estrago em suas vítimas e protege os
companheiros como uma águia de cima dos prédios.
Black sempre me dizia que o Kai é o atirador que ele confia de
olhos fechados para acertar uma mosca voando sobre a sua cabeça.
Pensar no meu irmão me deixa triste sem saber o que aconteceu
com ele, o peito aperta com a mera possibilidade de que ele tenha
morrido ou esteja gravemente ferido no hospital. Sem meu celular
não posso contatar a minha família.
— Como nos acharam? — pergunto, descendo da cama pelo
lado contrário, mantendo a cabeça baixa.
— Sua febre durou um dia inteiro, não pudemos voar
enquanto você quase convulsionava. O Trent conseguiu um médico
para te atender e fazer um curativo decente nas suas costas e
aplicar medicamento na sua veia, junto de um soro. — Ele se cala e
uma saraivada de tiros é disparada. — Isso deu tempo para que
conseguissem nos rastrear. Agora que acordou vamos sair daqui.
Kai desliza algo pelo chão, me movo devagar e pego o celular
preto na mão. A chamada de voz para o Michael.
— Diga a ele que você acordou e vamos nos encontrar no
terraço para voar.
— Certo.
Levo o aparelho à orelha, esperando o Michael atender,
quando o faz fico surda com o barulho de tiros por todos os lados.
— É a Hope, eu acordei, Kai disse que podemos voar.
— Certo — a voz grave responde antes da linha ficar muda,
indicando o fim da chamada.
Encaro o celular e depois o Kai. Guardo o aparelho no bolso e
engatinho, me escondendo atrás do armário, esperando pelas
ordens dele para que possamos sair. Kai retira o rifle da janela e vem
até mim, caminhando com os ombros largos, confiante, o andar
despreocupado, como se fosse impossível a possibilidade de ele
levar um tiro por se expor.
Não tinha reparado no quanto o Kai é lindo. A pele branca e o
rosto meio quadrado de queixo firme coberto por uma camada de
barba rala. Os lábios meio grossos, olhos pretos, sobrancelhas
grossas bem amparadas e o cabelo levemente grande e bagunçado
na cor preta. Pelo que me recordo, ele tem 34 anos, como o
Michael, Daniel e Black. Todos os herdeiros nasceram no mesmo
ano.
— Posso confiar que você não vai me matar se eu te deixar
usar? — Entrega-me um revólver prateado.
— Claro, é só não puxar o gatilho na sua direção. — Levanto,
ganhando confiança de que não vou morrer por uma bala entrando
pelas janelas. Não vou entregar o trunfo de que sei usar uma arma,
caso precise atirar, eu acerto o alvo e falo que foi sorte.
Retiro o cilindro checando a munição e coloco novamente no
lugar antes de segurar o cabo com as duas mãos e puxar o gatilho,
deixando pronto para atirar quando precisarmos sair.
— Como aprendeu a engatilhar uma arma? — Arqueia a
sobrancelha com um sorrisinho debochado.
— Vejo o meu pai e o Black fazendo, às vezes.
— Vou te passar a situação, presta atenção — levanta um
dedo —, estamos no vigésimo andar e temos de chegar ao terraço
para embarcar. Michael e Daniel estão no décimo terceiro andar e
possivelmente subindo para cá, abatendo os inimigos que
conseguiram entrar no prédio. Vamos sair primeiro e depois os
soldados seguem o percurso de carro. Entendeu até agora?
— Claro. — Reviro os olhos e recebo um peteleco na testa. —
Ai!
— Não revire os olhos para mim e preste atenção, eu vou na
frente e você será a minha retaguarda, não atire nos nossos
soldados ou no Michael e Daniel. Vai saber quem é aliado se a
pessoa baixar a arma quando te vir, caso não o faça, atire sem
pensar duas vezes. Vamos.
— Certo. — Aceno em positivo.
Uma pontada faz com que eu vacile quando ando, encaro
minhas roupas é a mesma camisa bege que o Michael colocou em
mim, a calça jeans e uma sapatilha nos pés, no tornozelo direito um
curativo, recordo de que perdi o sapato quando cheguei à casa em
Utah.
Kai abre a porta e coloca o rifle para fora, verificando se o
caminho está livre, ele me chama com um dedo e vou andando atrás
dele, prestando atenção na nossa traseira. Kai tem uma expressão
séria no rosto enquanto observa à frente e atrás, atento para
qualquer um que possa cruzar nosso caminho.
Mantenho o revólver à frente do meu rosto e pronta para
atirar em quem aparentar querer a minha cabeça empalada. Ainda
não entendi como eu me tornei alvo do novo Chefe da Máfia de
Boston, eu só conheço — e pouco — os membros da Máfia Bianchi.
Aqueles que sabem sobre o meu segredo, o meu pai se encarregou
de mandar todos para o inferno, a informação nunca foi vazada,
prova disso é que continuo viva.
Então como diabos eu me tornei um prêmio de uma máfia
rival? Faria mais sentido ter sido a Emily filha do Chefe ou a Daisha
filha do Consigliere. Até mesmo a Josephine, irmã do Kai e filha do
Subchefe, faria mais sentido ser sequestrada, ela é o rosto da nossa
organização nos eventos de caridade da Máfia. Eu não participo
dessas festas, não saio de casa para nada além de estudar e ganhei
um alvo nas costas, só pode ser piada ou um engano muito grande.
Meu pai é um Capo influente, que foi severamente criticado
quando resolveu que eu não teria uma vida como as garotas da
Máfia. Muitos velhos nojentos foram contra e queriam casamento,
mas nenhum deles pôde enfrentar meu pai.
Eu entenderia esses velhos nojentos tentando derrubar meu
pai para conseguir o lugar dele no conselho dos Capos e se
tornarem o líder da região de Nevada. Mas um desconhecido da
Máfia de Boston? Isso não faz o menor sentido. Por mais durona que
eu possa ser, tenho medo do que acontecerá comigo, meu pai terá
de explicar como fui exposta e me tornei um alvo, não sei o que o
Conselho será capaz de fazer com ele ou comigo após essa
confusão.
— Presta atenção, Hope. — Kai dá outro peteleco na minha
cabeça.
— Para de me bater. — Bato o pé no chão e gemo pela dor na
pele.
— Você bateu nela? — A voz grave estrondosa de Michael soa,
giro nos calcanhares e preciso de um segundo para absorver o
impacto da beleza dele.
Michael Bianchi é enorme, muitos centímetros mais alto do
que eu, chutaria que deve ter por volta de 1,80m ou mais. O rosto
carrega um ar sombrio que é acentuado pela barba preenchida no
queixo e parte inferior da bochecha com uma covinha de cada lado,
os olhos azuis transparentes, as sobrancelhas grossas e os dentes
brancos com os caninos pontudos, estou perdendo a sanidade ao
pensar que eu daria tudo para levar uma mordida desse homem.
As faces esquentam por ser alvo do olhar fixo dele, os ombros
largos e os braços musculosos, a camisa sob medida mantendo o
amplo peitoral coberto, as veias em seu antebraço sumindo na
manga da camisa enrolada no cotovelo. A arma apontando para
baixo com um filete de sangue escorrendo dos dedos. Michael tem
cabelos negros lisos bagunçados para todas as direções,
despertando a vontade de tocar os fios e ajeitá-los no lugar.
A boca, duas linhas finas de lábios, sinto um alvoroço ao ver a
ponta da língua deslizando entre os dentes e mordendo a carne
inferior antes dele subir dois degraus. Inclino a cabeça para cima,
encontrando seu olhar e sendo afogada pelo perfume picante de seu
corpo, quero poder envolver a cintura larga com os braços e esfregar
o rosto em seu peito.
O desejo acende como uma fogueira no meu ventre,
relembrando as vezes em que o vi escondida por frestas da porta ou
de relance. Michael exala masculinidade e poder mesclado à
sensualidade. Eu sempre soube que nunca poderia sentir nada pelo
Michael ou qualquer outro homem. Mas na segurança da minha
mente sempre que eu o via e lembrava de como era ser tocada,
pequenas fantasias iam se criando, nunca imaginei que seria capaz
de reencontrá-lo e principalmente em uma situação como essa.
Temo não conseguir controlar os meus nervos, que anseiam
por aquilo que eu nunca pude ter.
— Ele te bateu? — pergunta próximo.
— Petelecos na testa — sopro, quase não ouvindo a minha
voz.
Os dedos ásperos sobem tocando a pele da testa, afastando
os fios de cabelo que incomodavam a visão. Ele desliza
delicadamente, contornando minha bochecha e arrumando os fios
rebeldes atrás da orelha. Seu olhar encontra o Kai em uma
comunicação silenciosa, não vejo a resposta do outro, tudo o que
consigo é encarar o queixo firme do Michael e o pomo de adão
subindo e descendo em seu pescoço grosso com uma veia saltada.
— Vamos. — Ele aponta para cima, o sigo, tentando não
deixar que percebam que fui afetada.
Tiros são ouvidos nos andares de baixo, ando rápido para o
terraço. Kai abre a porta e o vento das hélices do helicóptero faz
com que eu perca o equilíbrio. Bato contra o corpo forte do Michael,
ele passa o braço ao redor dos meus ombros e debaixo da minha
perna antes de me erguer e correr para a aeronave. Foco a visão no
nó de sua gravata respirando devagar para controlar a dor que sinto
pelo movimento.
Dentro do helicóptero, ele coloca meu cinto e os fones de
ouvido antes de sentar. Kai, Daniel e o soldado que imagino ser o
Trent, sentam na aeronave enquanto outros soldados ficam no chão
dando cobertura. O frio bate forte na minha barriga ao sentir o
movimento do helicóptero no céu que é alvo das balas dos nossos
inimigos. Um segundo helicóptero se junta, atirando nos homens no
terraço.
— Pode relaxar — Michael fala pelo fone de ouvido.
— Certo — afirmo.
Escondo o rosto em seu ombro com medo de olhar para baixo
e ser acertada por um tiro atravessando a janela. Seguro a camisa
dele buscando conforto, Michael não me afasta e nem me traz para
perto, só me deixa ficar com o nariz em seu braço inspirando seu
cheiro enquanto me acalmo.
Serão longas horas de viagem até Nova Iorque, espero ter
notícias de minha família quando pousarmos. Por ora vou continuar
buscando conforto nos braços de um dos homens mais perigoso que
eu conheço.
Hope
Pousamos em Nova Iorque com o sol nascendo no horizonte,
o complexo da Famiglia se estende por quilômetros de distância com
as casas dos membros que residem nessa região protegidas vinte e
quatro horas. Minha família por cuidar dos cassinos em Las Vegas é
a única que não mora no complexo.
O helicóptero pousa e os homens descem primeiro, na minha
vez, Michael estende a mão me ajudando a sair. O machucado
queima pelo movimento brusco e posso sentir filetes de sangue
saindo da ferida, preciso de um médico novamente, a febre retorna
sorrateiramente.
— Bem-vinda, Hope Bonnarro. — Um homem com cabelos
pretos e muitos fios grisalhos na lateral estende os braços para mim
querendo um abraço.
Odeio a forma como seus olhos azuis percorrem meu corpo de
cima a baixo me comendo. É de velhos nojentos como ele que o
meu pai tenta me proteger, casar com um desses homens seria
condenação a tortura, abusos e estupros constantes. Pisco, sentindo
um mal-estar se espalhando por meu corpo, minando minhas forças,
não quero chegar perto do velho nojento.
Aproveito o Michael ao meu lado e puxo a manga de sua
camisa, me escondendo atrás dele, estranhamente acredito que
posso confiar nele. Eu reconheço Andrew Bianchi, ele foi à nossa
casa quando meu pai negociou os termos para que eu pudesse
estudar, fiquei de fora da conversa deles. Antes de ir embora Andrew
exigiu me ver, e os olhos pervertidos que me encararam naquele dia
retornam mais ferozes.
— Não se esconda — rosna, encolho contra o Michael, não
ousando encarar o Chefe.
— Pare — Michael fala, estremeço ao seu comando para que
eu deixe de me esconder atrás dele. Dou um passo para o lado e
sou impedida de me afastar por seu braço. Ele tem a atenção fixa no
pai, que o enfrenta com o queixo erguido.
— Hope! — Uma voz grave soa atrás do Andrew, quebrando a
tensão entre pai e filho. Reconheço o Consigliere, Bellamy Griffin. —
É um prazer te receber em Nova Iorque.
— Obrigada — agradeço baixinho, ainda desconfiada por
causa da reação do Andrew. Bellamy encara o meu rosto.
— É uma pena o que aconteceu com seu irmão.
Tremo da cabeça aos pés ao escutar as suas palavras. Aperto
a manga da blusa do Michael desesperada para saber o que
aconteceu com o meu irmão.
Não, Bellamy não pode se referir ao Black com pesar na voz e
olhar de pena. Homens como o Bellamy só sentem algo pelos outros
quando é um de seus filhos sendo mortos. Meu irmão não está
morrendo e vai se recuperar, ele não pode me deixar.
— O Black? — O ar falta, as pernas vacilam. Michael me
segura com seus braços fortes, impedindo minha queda. Meu peito
explode em desespero.
— Ele não morreu. — Michael segura meu rosto, fazendo
nossos olhares se encontrarem antes de fulminar o Bellamy, encaro
um e outro buscando por respostas enquanto tento respirar. —
Apenas passou por uma cirurgia delicada e vai precisar de um tempo
para se recuperar.
— Jura? — peço, o olhar cravado no dele.
— Sim — responde com firmeza.
Fecho os olhos, desabando contra seu peito, a fraqueza por
não me alimentar há dias toma meu corpo. Michael me pega no colo
antes que eu desmaie.
É estranho me sentir consciente e inconsciente ao mesmo
tempo. Ouço vozes ao meu redor e não sei a quem pertencem, não
consigo abrir as pálpebras e ver onde estou e quem briga
fervorosamente.
— Você deveria ter me dito antes de partir! — esbravejam.
Coisas vão ao chão, causando um estrondo de vidro
espatifado e outros objetos pesados que não se quebram. Quero
mexer meu corpo para escapar da briga, tenho medo de ser atingida
pelos destroços.
— Você estava fora, não tive tempo. — Reconheço a voz do
Michael, controlada e furiosa.
— Eu sou o seu Chefe!
— E estou te contando os termos do acordo agora que nos
encontramos.
— Não brinque comigo, Michael, ou você sabe quem pagará
as consequências.
O silêncio preenche o ambiente por incontáveis segundos para
a minha mente dispersa parecem horas. Apago novamente não
sendo capaz de ouvir a resposta do Michael à ameaça do seu pai.
Abro uma fresta das pálpebras, o ambiente está escuro, pisco
recobrando a consciência. Um “bipe” soa pela sala, giro a cabeça
devagar, conseguindo identificar aparelhos medindo meus sinais
vitais e uma bolsa de soro e outra que parece vitaminas ou
proteínas. A fome aperta no estômago com força causando dor.
— Você acordou. — Um par de olhos azuis como o céu paira
acima da minha cabeça, a luz da janela permite que eu veja o rosto
com clareza.
É uma mulher, cabelos louros caem como uma cascata ao
redor do rosto pequeno e branco como a neve. O queixo afilado, os
lábios finos e o nariz com a ponta redonda é o que consigo visualizar
com a pouca iluminação. Ela se aproxima, trazendo consigo um copo
de água e me ajuda a beber com calma.
— Quer alguma coisa? — A voz dela é macia, me envolvendo
em veludo aconchegante.
— Comida — peço, vendo estrelas pela fome. — Muita, por
favor.
— Vou avisar ao médico que você acordou.
Eu sei que não seria levada a um hospital normal. Pessoas
como eu não podem frequentar hospitais sem ter a polícia fazendo
perguntas e sedenta para acharem um motivo que justifique a prisão
de um dos homens da famiglia. Outro motivo que me fez querer ser
médica, poder proporcionar às mulheres um acompanhamento
ginecológico e pré-natal seguro nas paredes das clínicas clandestinas
da nossa organização.
Partos de emergência, como uma cesariana complicada,
podem causar a morte de uma de nós se o médico-cirurgião não for
qualificado para o serviço. Como muitas vezes já soube que
aconteceu, se elas tiverem a mim, uma louca que adora explorar o
corpo humano como sua obstetra poderão sobreviver junto de seus
bebês.
— Olá, Hope. — Um homem de meia-idade trajando um jaleco
branco entra na sala, segurando uma prancheta ao lado de uma
enfermeira. — Como está se sentindo?
— Muita fome.
— Mandei prepararem uma refeição adequada para você, por
enquanto vou verificar seus sinais vitais.
— Certo.
Fraca demais para prestar atenção no que ele faz, deixo que
me examine enquanto noto que a dor nas costas e tornozelo passou.
Devo ter tomado algum analgésico muito forte. Uma moça
carregando uma bandeja entra seguida pela loura que fica ao meu
lado. O prato é colocado em cima da cama e com um controle
remoto a loura movimenta o mecanismo que faz com que eu fique
sentada escorada no colchão.
— Você sofreu um ferimento a faca nas costas, conseguimos
conter o início de uma infecção, agora é só deixar cicatrizar e
possivelmente ficará somente uma cicatriz pequena, quase invisível.
O corte no supercílio não deixará marcas. Quanto ao tornozelo foi
um simples machucado, não deslocou ou quebrou nenhum osso. Por
ora sua saúde está boa e sem risco de agravos. A Emily vai te fazer
companhia, se precisar de algo pode chamar.
Deixo a mão com o soro parada e uso a outra para levar as
batatas cozidas à boca, meu prato é um caldo de carne com batatas
e arroz solto, acompanhado de um copo de suco e um pedaço de
bolo de chocolate. Emily fica calada, sentada na cadeira me
observando comer. Acho que ela é a irmã do Michael, mas não tenho
certeza, a raiz preta de seu cabelo indica que não é loura natural.
— Quer mais? — ela pergunta quando termino meu bolo.
— Por enquanto não, a última coisa que comi foi uma salada
de frutas no intervalo da aula. — Limpo a boca, e ela remove a
bandeja, deixando em cima da mesa. — Que horas e dia é hoje?
— Terça, são 23 horas. Você ficou quase um dia dormindo.
— Você tem um celular? Quero falar com o meu pai. — Noto
que estou usando as roupas de hospital. — Quem me trocou?
— A enfermeira, homens não tocam nas mulheres, nem o
médico. — Ela senta na beira da cama. — Como você conseguiu
permissão para estudar medicina?
— Mulheres não estudam por aqui?
— Só se o marido deixar, acho que você deve ter a mesma
idade que eu, uns 21 anos, certo? O normal é que estejamos
casadas e com filhos. — Ela me estuda. — O que você tem de
diferente?
— Acho que é o fato de ser de Las Vegas. — Dou de ombros,
não vou compartilhar meus segredos com Emily. — Eu tenho 20
anos, ainda não fiz aniversário esse ano, você já? É casada e tem
filhos? — Busco pela aliança em seu dedo, não encontrando.
— Meu aniversário foi em fevereiro. Só posso casar quando o
Michael assumir como Chefe.
Faz menos de um mês que ela completou ano. As bochechas
vividas disfarçam sua idade, poderia chutar que tinha uns 19 anos.
— Por quê?
— São as regras, ele vai assumir como Chefe, e meu noivo
deveria ser o próximo Consigliere que assumiria em poucos meses.
— Ela boceja e encara o sofá com tristeza por ter de dormir nele.
— Ainda não foi decidido? — Aperto o botão que faz a cama
deitar, apesar de ter dormido o dia inteiro continuo me sentindo
cansada.
— Em tese desde que nasci eu deveria ficar com o filho mais
velho do consigliere, contudo, meu pai quer me fazer sofrer
escolhendo um noivo que vá me machucar e o Michael quer manter
a tradição das famílias. — Senta no sofá, pegando uma manta. — É
um grande jogo político em que um me machuca e o outro me dá o
que eu quero. Mas chega de falar sobre isso.
Não temos intimidade suficiente para continuar perguntando
sobre a vida privada de sua família. Opto por deixar o assunto de
lado, logo retornarei para casa e as questões do casamento dela não
serão partilhadas comigo. Espero que no final, ela consiga um noivo
decente que não a machuque. Amor é uma ilusão no meio em que
vivemos, a verdadeira vitória é ter alguém que não cause dor.
— Posso usar seu celular? — peço.
— Não estou com ele agora. — Deita, se enrolando. —
Michael pediu para avisar que seu irmão vai sobreviver, ele saiu da
UTI e foi para um quarto.
Absorvo a mensagem, agradecendo aos céus por terem
cuidado do Black. Não sei o que seria de mim sem contar com meu
irmão para me apoiar, proteger e dar carinho com os braços
enormes esmagando meu corpo com o dele. Preciso lembrar de
agradecer ao Michael por se preocupar em fazer com que eu
soubesse do Black. Sorrio um pouco por saber que ele teve esse
carinho e atenção comigo.
— E meu pai?
— Tentando expulsar os inimigos. — Faz careta quando bate o
pescoço no braço do sofá. — Odeio isso. — Bate no estofado.
— Quer deitar na cama comigo? — Afasto para o lado. — Vai
ficar apertado...
Emily não me espera terminar a frase e pula na cama ao meu
lado, deitando a cabeça na metade do meu travesseiro. Não
imaginei que ela fosse realmente aceitar.
— Estava me perguntando se você nunca faria o convite.
Dou risada da sua cara fofa. Estranhamente não fico
incomodada com a presença dela. Nunca tive amigas ou muito
contato com as outras meninas da máfia para poder participar das
noites de pijama quando as senhoras se reuniam.
Minha mãe por ter crises nervosas constantemente não
conseguia viajar para Nova Iorque ou me deixar sozinha em casa
por mais de uma noite. Os eventos da famiglia são uma tortura para
ela, no fundo, acho que ela tem uma fobia social não diagnosticada,
meu pai faz o que pode para cuidar de nós duas.
Não sei como ela vai conseguir sobreviver sem saber o que
acontece comigo, quando falar com meu pai vou pedir para poder
conversar um pouco com ela e a tranquilizar. Torço para que a minha
estadia em Nova Iorque seja temporária e que eu possa retornar
para casa rápido e em segurança.
Michael
— Fechem a porta e relaxem — digo ao Kai e Daniel quando
entramos no escritório.
— Vai nos contar o que aconteceu? — Daniel pergunta,
sentando-se no sofá.
Kai serve três copos de uísque, entregando um para cada.
Afrouxo a gravata, desabotoando três botões da camisa antes de me
jogar contra o sofá, exausto da missão. Mal dormi nos últimos dias e
preciso apagar por umas horas antes de interrogar o Paul e
conseguir fechar as pontas soltas da história que o Bartolomeu
contou ao Andrew, não faz sentido os motivos por trás do sequestro.
— O que você pediu em troca pela missão? — Kai indaga,
sentando ao meu lado. — Não é do seu feitio resgate, você gosta
das de destruição.
— Ele te deu os cassinos? — Daniel questiona. — Desde que a
Máfia Bianchi foi formada outras famílias tentam alianças para
controlar os cassinos e nunca conseguem.
— Os Bonnarro são firmes em seu território, serem atacados
de forma displicente é estranho — Kai completa.
— Os cassinos serão meus quando assumir como Chefe, vou
comandar a organização, não precisava disso como prêmio. — Bebo
o uísque, apreciando a queimação.
— Conte logo. — Kai parece uma menininha querendo saber
novidades.
— Hope Bonnarro é minha noiva. — Levanto o copo, fazendo
um brinde. — A Rapunzel encontrou o vilão.
— Não acredito! — Daniel abre a boca surpreso.
— Porra, cara! — Kai soca meu braço. — Como você
conseguiu isso?
— O desespero é um forte aliado. — Inclino o copo na sua
direção antes de virar o conteúdo. — Bonnarro queria a filha viva e
eu queria uma noiva com um pai influente no conselho.
— Contanto que essa não se mate — Kai fala, franzindo a
sobrancelha, lembrando-se sobre o que aconteceu com a minha ex-
noiva.
— Aquilo foi um caso isolado — Daniel aponta. — Todos
sabemos que a Aurora estava com medo de casar por causa da
idade dela, a menina só tinha 17 anos.
— Vocês sempre tiveram certeza de que foi um suicídio —
digo, escondendo o sorriso no copo.
— Ela amarrou uma corda de lençóis no pescoço e pulou da
sacada, não tinha marcas de agressão no corpo ou no quarto dela —
Daniel comenta. — O que te faz pensar que não seria suicídio?
— Depois que conversamos ela pareceu confiar em mim e
estava animada para o casamento. — Estico-me no sofá. — Uma
noiva ansiosa para passar o resto da vida comigo, não tiraria a vida
três meses antes da cerimônia.
— Podia ser encenação — Kai serve mais bebidas —, algo
como “vou fingir que quero casar com esse sádico e depois me
matar”.
— Não seria a primeira vez que uma mulher faz isso. — Daniel
pega o copo e me encara sério. — É comum no nosso mundo que
mulheres jovens tirem a vida antes do casamento.
— Por que são obrigadas a se casarem com 18 anos? São
quase garotas. — Kai franze o nariz. — Odeio pensar na Rebeca
tendo de casar quando fizer 18, ela é um anjinho.
Rimos do jeito que ele fala da irmã. Kai sempre foi protetor
com a Rebeca, ao contrário da Josephine, que é o cão encarnado.
Ela já completou 19 anos e o pai não consegue um casamento à
altura da filha de um subchefe pelos pretendentes odiarem a garota
mais do que a querem comer.
— Posso ser um demônio, mas não sou pedófilo estuprador —
afirmo.
— Ainda teriam de transar. — Pela primeira vez Kai fica
amuado. — A maldita regra dos lençóis exige o sangue da virgem,
como escaparia disso?
— Pensaria na hora. — Coço a cabeça. — Não importa mais,
ela morreu e o casamento não aconteceu.
— Você poderia mudar a regra quando assumir. — Noto a
ansiedade no Daniel, ele anseia que eu lidere como Chefe mais do
que qualquer um.
— Posso pensar. — Remexo o líquido no copo, lembrando-me
da decisão que terei de tomar.
Ficamos em silêncio bebendo. Lamento pelo que aconteceu
com a Aurora, era uma boa garota que foi obrigada pelo pai a casar
comigo. Como filho do Chefe eu não poderia recusar a aliança
proposta pelo Andrew, aceitei calado e decidido que não faria da
vida dela um inferno como a da minha mãe e da Emily.
— Quem diria que o Michael seria o marido da Hope. — Kai se
estica no sofá com um sorriso sarcástico no rosto. — Black vai se
revirar no túmulo quando vir o que fizeram com a irmã dele. —
Levanta o copo, simulando um brinde a alma do Black.
— Kai! — Encaro-o incrédulo. — O Black não morreu, pare de
matar as pessoas antes de enterrarmos o corpo!
— Qualquer dia esse desgraçado — Daniel bate na cabeça do
Kai, que só faz rir — vai matar um de nós com a boca azarenta dele.
— Somos todos cadáveres ambulantes uma hora ou outra
vocês aceitam. — Dá de ombros como se não estivesse falando
bosta.
— Qualquer dia eu arranco a sua língua — ameaço — para
você aprender a ser mais sério.
— Não faça isso! — Arregala os olhos e aponta para mim,
prevejo a merda que ele falará. — Eu preciso dela para chupar
bocetas, não seja estraga prazeres.
— Inacreditável. — Daniel revira os olhos, e eu rio das
maluquices do Kai.
Ele conseguiu deixar o clima mais leve.
— Vai permitir que ela continue estudando? — Kai questiona.
— Não pensei sobre isso. — Coço a barba. — Primeiro tenho
de saber o que o Bonnarro ofereceu em troca ao Andrew para que a
Hope pudesse fazer faculdade.
— Eles nunca revelaram. — Encaro o Daniel. — Meu pai já
tentou diversas vezes descobrir e falhou em todas.
— Se nem o Consigliere obteve a informação pode ser que
seja algo sujo — Kai diz.
— Posso ter uma noção do que é — confidencio —, mas não
vou revelar até ter certeza.
— Envolve a Emily? — Noto a preocupação no tom do Daniel,
ansioso pela resposta.
Encaro- sem responder, Kai chama minha atenção.
— A situação com a Emily continua ruim?
— A mesma coisa. — Levanto-me.
— O Bianchi a mandou cuidar da Hope, por quê? — Daniel
puxa um cigarro do bolso do paletó.
— Eu que pedi, quando chegamos ontem depois de deixar a
Hope na clínica, chamei a Emily para fazer companhia a ela.
— Quando anunciará o noivado? — Daniel sopra a fumaça na
sala.
— Logo, tenho pressa em casar e poder tomar o meu lugar. —
Encosto as mãos na mesa, o cansaço cobrando o preço. — Vão
descansar, depois conversamos.
Eles deixam o escritório, desligo as luzes e deito no sofá
pronto para dormir. Apago quase instantaneamente. Desperto com a
claridade incomodando, sento sofá vendo o Andrew no outro lado
com um charuto entre os dedos e a cara contraída em raiva.
— Você deveria ter me consultado antes de aceitar o noivado.
— Bufo sem paciência para ele. E a mesma chatice de quando deixei
a Hope na clínica. O maldito realmente acredita que manda em mim.
Estou ansioso para quando ele perceber que é o meu bichinho de
estimação e em breve o farei perder tudo que ele aprecia.
— Não tive tempo. — Esfrego o rosto.
— Eu sou o seu Chefe, Michael, não forme acordos sem que
eu dê permissão. — Bate na mesa de vidro, encaro-o com tédio,
cansado de seus discursos. Quando assumir é o Andrew a primeira
pessoa que vou matar.
— Você concorda com o casamento? — pergunto, tentando
não o deixar perceber o desinteresse na voz, não dou a mínima para
o que esse desgraçado pensa.
— Uma união com os Bonnarro vai ser benéfico para nós. —
Alisa o terno, inspira o charuto e joga a fumaça na minha direção.
Fecho os punhos com vontade de socar a cara dele.
— Bartolomeu é um Capo influente no conselho, o apoio dele
é algo que você quer há muito tempo, agora que conseguiu pare de
ficar irritado.
— Não preciso de nada que eu já tenha. — Despeja as cinzas
do charuto no cinzeiro. — O que você acha que eu consegui em
troca da Hope poder estudar?
— Um bom acordo. — Fixo nos seus olhos azuis repletos de
maldades.
— Um casamento entre a Emily e o Black, após a sua
cerimônia vou anunciar a deles.
Aperto os punhos com ódio pungente.
Emily não pode casar com o Black e nunca vou permitir isso.
Se o desgraçado sabia desse acordo e não me informou, vou matá-
lo no hospital. Black é um bom amigo e aliado precioso, não tivemos
desentendimentos ao longo dos anos que passamos juntos, aprecio
sua companhia e sangue frio em uma missão. Será um desperdício
eliminá-lo. Pelo bem da Emily, eu mato a qualquer um.
— O Black sabe?
— Por enquanto não, Bonnarro pediu que deixasse o garoto
cuidar da segurança da irmã enquanto ela estudava, dei a ele o
prazo para anunciar a união até o seu casamento. — Abre os braços
prepotente, sabendo o estrago que vai causar. — Você casado com a
Hope e o Black com a Emily vão me dar controle total de Nevada.
Eu vou te dar um caixão como paletó.
— Você sabe o que vai causar com os Griffin.
O alerta não serve de nada, a expressão de deleite do Andrew
enfurece a besta dentro de mim que anseia por socar a sua cara até
amassar seu crânio. Tenho que impedir essa união ou uma
rachadura será causada na liderança da Máfia Bianchi, desde a
formação, às famílias que lideram a organização se mantiveram as
mesmas, ninguém mexe no território da outra e convivemos em paz
e unidos.
— Se você tivesse demorado mais para escolher outra noiva
iria casar com a Ruby Belarc, a menina vai completar 16 em
setembro e o pai quer um casamento vantajoso.
— Não vou casar com uma criança. — É um limite que nunca
ultrapassarei.
— Besteira, me uni com sua mãe quando ela tinha 16 anos.
Vocês estão quebrando as tradições com essas besteiras do governo
de casamento com menos de 18 anos ser ilegal. Uma garota da
máfia deve casar cedo, virgem e ter filhos fortes.
Uma veia de ódio salta na minha testa por ouvi-lo falar da
minha mãe. A única mulher que me ensinou o que era o amor e
compaixão enquanto o Andrew me transformava em um monstro e
tentava me fazer machucar a mulher que mais amei nesse mundo.
Os ensinamentos que ela me deixou nunca serão apagados. É em
memória dela e pelo amor que tenho por meus irmãos que estou
disposto a tudo para dar um fim na vida do Andrew.
O maior demônio que já cruzou o meu caminho.
A morte dele será três vezes mais dolorosa pelas coisas que
ele fez com ela. Era quase uma santa conformada com a vida que foi
obrigada a levar, a dama impecável e uma esposa troféu.
Quem a via caminhando com o queixo erguido espalhando
confiança não fazia ideia das manchas em seu corpo causadas por
esse desgraçado. Andrew Bianchi pode ser o Chefe mais respeitado
que já tivemos na Máfia Bianchi, e não passa de um sádico
desgraçado que tem como passatempo torturar a família.
Eu vou fazer Andrew queimar antes de mandá-lo para o
inferno e depois reformarei a organização para que garotas como a
minha mãe ou Aurora não percam a vida por medo do inferno.
Daniel e Kai têm razão, as regras de casamento na Máfia Bianchi
devem mudar.
Michael
Após a reunião com o Andrew tomo um banho, visto meu
terno preto com camisa da mesma cor e gravata cinza. Saio da
mansão direto para o galpão número três, onde realizamos torturas
e matamos. Abro o pesado portão com um movimento, sigo para a
sala número cinco, onde encontro Tyron Belarc amarrando os braços
do Paul no gancho suspenso.
Tyron é filho do Capo Nathan Belarc, o responsável pelo
exército da Máfia Bianchi e território de The Brons e Staten Island. A
última vez que o encontrei, mandei negociar com os mexicanos que
estão loucos para venderem a mercadoria deles no nosso território.
Não tenho certeza das vantagens que teríamos com esse acordo,
Tyron foi averiguar para mim.
Apesar de ser um herdeiro, não o quero na minha equipe, o
que muitas vezes gerou desagrados com o Nathan, por o filho ser
excluído. Prefiro usar as habilidades do Tyron para negociações,
extrair informações dos inimigos e controle da sala de operações. O
talento dele seria um desperdício em campo.
— Michael. — Tyron cumprimenta com um aceno de cabeça.
— Não sabia que tinha voltado de viagem.
— Cheguei ontem à noite, parece que perdi uma diversão
daquelas. — Ele cruza os braços, encarando o Paul. — Removo a
roupa dele?
— Somente a camisa, vou começar o aquecimento antes do
Daniel e Kai chegarem.
Paul se remexe nas correntes, tentando fugir quando chego
perto, Tyron aperta o botão suspendendo seu corpo no ar,
impedindo que os pés toquem o chão e inicio o aquecimento. Acerto
seu peitoral como um boxeador batendo no saco de pancadas.
Kai e Daniel chegam depois de meia hora e ficam sentados
observando o estrago que causo no maldito. As mãos sangrando
pelos cortes abertos no corpo dele. Limpo minhas mãos com uma
toalha e ordeno que joguem água fria nele, intercalado com água
quente, os gritos ressoam como uma melodia pelo galpão. Entre um
banho e outro ele começa a balbuciar sobre o Chefe, meias-
verdades que não perguntei. O desgraçado quase não consegue
manter a consciência depois de algumas horas apanhando.
— Quando vai usar o maçarico? — Tyron pergunta, mexendo
nas minhas ferramentas de tortura.
— Vou usar em você se não parar de fazer bagunça — o
advirto.
— Se eu fosse o Paul — Kai diz, bebendo sua cerveja —,
começava a falar, o Michael acabou o aquecimento.
— Quê? — Paul inquire, arregalando os olhos, fiz questão de
não bater em seu rosto para garantir que ele não perdesse os
sentidos.
— Você não achou estranho eu não te fazer nenhuma
pergunta? — Dobro os punhos da minha camisa. Gosto de perceber
como o desespero das minhas vítimas cresce gradualmente quando
elas pensam que estão próximas a morrer e descobrem que aquele
foi só o início da nossa conversa.
— Eu já te disse tudo. — Ele olha para os lados, buscando
uma saída.
— Não tem para onde correr — Daniel avisa, brincando com
um alicate. — Vamos te amarrar ali — aponta para a cadeira de
tortura —, e depois a gente te faz falar.
— Não tem o que falar! — ele grita, e prendo sua boca com
minha mão, o calando.
— Samuel não te encarregaria de pegar a garota se você não
fosse útil a ele. — Analiso como seus olhos fogem do meu, um
covarde que não tem coragem de me encarar de frente.
— Não sei nada sobre ela.
— Não tenho interesse em saber sobre a Hope. — Solto-o e
Tyron aperta o botão do controle para descer as correntes que
mantinham seu corpo suspenso no ar.
Um soldado retira as roupas do Paul e depois o leva a cadeira
de tortura móvel, revestida de preto com pregos no assento e no
descanso de braços e pés que são ativados manualmente, deixo que
o Paul veja onde ele será colocado antes de subir com os pregos.
Sua cabeça, braços, pernas e tronco são amarrados. Escolho qual
ferramenta usar.
— O que você acha? — Aponto para um bisturi. — Pequeno
demais?
— Vamos conversar, eu falo tudo — tenta me persuadir.
— Não se engane, Paul — pego um picador de gelo —, eu sei
que você vai falar, mas antes eu vou me divertir. — Aproximo-me
lentamente dele. — Você só precisa de um ouvido para me escutar,
vamos dar um jeito no outro?
Ele tenta se mexer, seguro seu pescoço e pressiono o picador
de gelo na entrada de seu ouvido em um ângulo inclinado para
baixo, garantindo que não vá furar seus tímpanos, somente perfurar
sua cartilagem. Kai me passa um martelo e começo minha obra de
arte, a cada batida ele grita mais alto, agonizando pela dor.
— Ainda pode me ouvir, Paul?
— Vá... se... foder — fala sem fôlego.
— Nem começamos direito e você já está excitado. —
Pressiono o picador em cima do seu pau. — Quer ver como seus
espermas ficam no seu saco?
— Então, Paul. — Kai segura um alicate, prendendo o mamilo
dele. — Vamos conversar ou prefere continuar sendo o brinquedo do
Michael?
— O que você quer saber? — pergunta, os olhos revirando e
voltando ao normal.
— Até que ele quebrou fácil — Tyron diz.
Afasto-me e volto a examinar minhas ferramentas, escolhendo
a próxima forma como vou machucá-lo quando o Kai terminar de
arrancar as informações dele. Sempre tenho um de meus amigos
presentes em um interrogatório, me perco na dor das vítimas e
esqueço que preciso fazer perguntas a elas, deixo essa parte para
eles, enquanto eu causo sofrimento.
— Quem é o Samuel? — Kai começa, sentando de frente para
o Paul.
— Filho do Zacharias, nosso antigo Chefe.
— Não minta — advirto antes de enfiar o picador de gelo na
sua outra orelha.
— O filho do Zacharias que deveria assumir a posição é o Ian,
ou um dos mais novos Ícaro ou Isaías — Daniel fala. — Nunca ouvi
falar desse Samuel.
— Ian é o herdeiro legítimo, o Samuel é um bastardo, aquele
merda louco, matou a todos e subornou o conselho com ameaças ou
dinheiro para conseguir ser legitimado.
— De onde ele surgiu? — Kai pergunta.
— Não temos certeza, ele morava em Nevada antes de vir
para Boston reclamar a posição dele.
Encaro meus amigos pela informação descoberta, existe a
possibilidade de o Samuel ter conhecido a Hope em algum momento
quando morou em Nevada, mas para isso ele teria de ter contato
com os Bonnarro.
— Por que a Hope? — Daniel indaga. — Ele a conhecia?
— Não sei.
— Resposta errada — digo antes de enfiar o picador de gelo
na sua uretra.
Paul grita chorando, giro torcendo o objeto dentro dele
intensificando a dor. Encharco a mão com o sangue quente do
bastardo. Puxo o picador para fora e o jogo em cima da mesa, Tyron
pega uma seringa de adrenalina e injeta no pescoço dele, o fazendo
despertar.
— Não durma ainda — Kai pede. — Vamos continuar de onde
paramos, por que a Hope?
— Eu não sei. — Ele chora feito um bebê, covarde. — Samuel
ordenou que a levassem, e eu cumpri a ordem.
— Vamos mudar a pergunta — Daniel fala. — Por que você?
— Ele não tem homens de confiança, mesmo que os Capos o
tenham aceitado como novo Chefe, não confiam, e deixaram seus
soldados preparados para enfrentar o Samuel que tem promovido
uma chacina contra quem não o aceita como líder.
— Seja mais claro — Daniel o incentiva quando me aproximo
com um alicate de seus dedos — ou o Michael vai arrancar os seus
dedos.
— Eu sou leal ao Ian, antes dele fugir pediu que eu fingisse
lealdade ao Samuel e quando conseguisse, o traísse como vingança
que levasse a sua destruição. Só cumpri as ordens do meu
verdadeiro Chefe.
— Quer dizer que você está nos usando para o seu plano? —
Kai questiona.
Aperto o cabo do alicate ao imaginar que não passei de uma
peça no jogo de um simples tenente dos soldados.
— Não, eu pretendia realmente entregar a garota ao Samuel,
não queria ser pego e sofrer nas mãos de vocês e desse maluco. —
Ele desiste da vida no segundo em que me ofende. — Eu queria que
vocês destruíssem o Samuel.
— Samuel já é um homem morto que continua respirando —
Tyron avisa. — E você o que acha de nos falar sobre as rotas e
plantas da mansão do seu chefe? Temos de fazer uma visitinha a
ele. Não esqueça de dizer quantos homens ele tem à sua disposição
e onde suas forças foram colocadas.
— Ele não precisa dos dedos para isso — digo e prendo o
indicador no alicate, aperto até separar carne, nervos e ossos,
escutando a música proferida por seus gritos. — Para cada ofensa
ou mentira que você falar eu arranco um dedo.
— Eu te avisei, Paul — Daniel diz. — Não irrite o Michael.
Continuamos o interrogatório e a tortura por mais algumas
horas até o Paul chegar a um estado crítico. Ordeno que o levem
para uma das celas e fechem seus ferimentos, ainda não
descobrimos tudo o que queríamos.
— Ele não é leal ao Samuel — Daniel fala, enquanto limpa as
mãos numa toalha —, mas se recusa a trair a organização, não dá
para entender esse bostinha.
— O senso de lealdade dele é deturpado — Kai comenta.
— Vamos fazer uma pesquisa. — Chamo ambos saindo do
galpão. Entro no carro esperando por eles, dou a partida e vamos
para o prédio de operações.
Passo pela academia de treino, sigo para o subsolo onde sei
que encontrarei o Simon Belarc, primo do Tyron e o melhor hacker
que temos no complexo. Entro pelas portas da sua sala e o vejo
cercado por computadores, liderando uma equipe. O rosto da Hope
estampado em várias telas, mostrando o que ela fazia nos dias
anteriores ao sequestro.
— Senhor — Simon me cumprimenta.
— Preciso de informações, ache uma pessoa para mim.
— O que desejar.
Abro o notebook, entregando a ele as imagens com o rosto do
Samuel de quando ele foi ao cassino do Bartolomeu com a proposta
de aliança.
— Procure tudo sobre esse homem nos últimos vinte anos,
quero saber quem são os pais dele, onde foi criado, amigos,
qualquer coisa que me faça entender como o caminho dele cruzou
com o da Hope.
— Estranho. — Ele coça o queixo e corre para seu computador
retornando com alguns papéis. — O Bonnarro me pediu a mesma
coisa ontem, aqui tem o relatório que mandei para ele.
— Talvez ele não saiba quem é o Samuel — Kai analisa as
folhas —, vou ficar com isso e te passo resumido.
— Achou algo de interessante? — Daniel pergunta ao Simon.
— Sim, venha comigo.
Acompanho-o à sua mesa e Simon exibe na tela imagens do
Samuel quando mais novo em um parque.
— Conhecem esse homem? — Aponta a figura trajada de
preto que leva o Samuel para seu carro e desaparecem.
— Não tem como identificar — digo.
— Exatamente, parece que ele sabia que estava sendo
vigiado, o segui por horas e quando achei que tinha encontrado seu
rastro percebi que eles tinham trocado de carros no túnel. Diferentes
dias da semana por 30 anos o homem de preto encontra o Samuel
no parque e o leva consigo, não posso identificar a rota de destino.
— Consegue ver de onde ele vinha? — Tyron pede.
— Não, o carro aparece nas câmeras perto dos túneis e
naquela época a segurança não era como a de hoje, são poucos os
locais com câmeras de vigilância no sistema de segurança da polícia.
— Bonnarro falou algo quando você entregou o relatório? —
Analiso as folhas.
— Não.
Eu tinha suspeitas de que o Bartolomeu soubesse quem
estava perseguindo a Hope, se fosse verdade ele não mandaria o
Simon fazer uma pesquisa minuciosa. Se ele não sabe o que está
acontecendo, nosso inimigo é mais ardiloso do que imaginei.
— O que levaria o recém-Chefe bastardo a querer uma briga
conosco?
— Não faz sentido. — Kai deixa os papéis em cima da mesa.
— Vou voltar para a sala de treinamento de tiros, depois encontro
vocês.
— Nos reunimos amanhã — digo a eles e deixo o prédio, entro
no carro seguindo para a clínica, hora de encontrar a minha noiva e
ter uma conversa sobre o Samuel. Se a Hope me esconde algo
utilizarei diferentes métodos para fazê-la falar.
Hope
— Acho que são do seu tamanho.
Emily coloca uma sacola da Gucci em cima da cama. Abro,
encontrando um conjunto de lingerie preto rendado, uma blusa de
manga longa bege e um vestido de alcinha com decote quadrado.
— Fecha a porta — peço a ela, segurando a barra da camisa
hospitalar enquanto a puxo para cima.
Meus peitos ficam livres e o frio faz com que eu me trema,
viro de frente para a cama, pegando o sutiã. O som da porta abrindo
chama a atenção, levanto o olhar encontrando um par de diamantes
me encarando com luxúria. A mão dele aperta forte a maçaneta,
Emily empurra o irmão para fora, tentando tampar o rosto dele com
as mãos.
Fico paralisada pelo magnetismo que emanava de Michael
para mim. Um gritinho da Emily me acorda do torpor. Cruzo os
braços na frente dos peitos e me encolho abaixada. O coração
disparado, o nervosismo por ter sido flagrada contorcendo meu
estômago.
Eu deveria odiar o fato dele ter me visto, gritar e o xingar até
ficar rouca, ao invés de querer permanecer presa no magnetismo,
sendo levada de encontro a seus olhos repletos de desejo e permitir
que ele fizesse as sacanagens que passam por sua cabeça.
Estou ficando louca por tal pensamento. Vir para Nova Iorque
foi uma péssima ideia.
— Você não sabe bater?! — ela grita, em seguida um estrondo
indica a porta sendo fechada. — Pode levantar, Hope, já o expulsei.
— Meu pai vai me matar. — Tremo. — Ele me viu nua!
Emily corre para perto de mim, segura meus braços, fazendo
com que eu a encare. O rosto transbordando preocupação ao
acariciar minhas bochechas.
— Na pior das hipóteses você terá de casar com o Michael. —
Ela tenta esconder o nervosismo.
— Essa não é uma opção, meu pai nunca deixaria.
— Uma hora você vai casar, se for com o Michael seremos
cunhadas, não gosta da ideia?
A Emily é um pequeno raio de sol com os cabelos louros,
sorriso doce com as frases certas para te confortar. Aprendi isso nas
horas que passamos juntas. Gosto dela e sei que seríamos ótimas
amigas. Ela só não sabe que casamento é algo que foi proibido para
mim e dificilmente meu pai mudaria de ideia porque um homem viu
meus peitos.
E eu devo arrancar os olhos do Michael, é isso que farei
quando o encontrar ao sair do quarto, vou meter a mão na cara dele
como castigo por ter se atrevido a me ver nua. Vou sufocar o desejo
crescente que tenho por esse homem nem que eu tenha de arrancar
minha vagina.
Agora que estou em segurança, meus pensamentos
conseguiram se acalmar, e longe da bolha magnética que ele me
envolve consigo perceber o que devo fazer. Por mais que não seja o
que eu quero, devo obedecer às regras do meu pai e mostrar ao
Michael que não sou uma opção. Pena que é fácil pensar isso
quando estou longe dele e difícil me lembrar até mesmo como
respirar estando na sua presença.
— Você não entende — levanto —, trancou a porta?
— Sim, ele entrou quando eu estava prestes a girar a chave, o
Michael tem muito mais força do que eu, foi fácil para ele empurrar
e abrir. — Dá de ombros com culpa no rosto.
— Tudo bem, vamos conversar com ele para não contar o que
aconteceu.
— Ele com certeza pode guardar segredo.
Sorrio para ela e pego o sutiã, vestindo as roupas e
arrumando meu cabelo com uma escova que a Emily trouxe, calço
uma rasteirinha. Por sorte, meu calcanhar está ótimo e consigo
andar normalmente. O inchaço desapareceu, assim como minhas
costas não doem mais. Com o coração batendo forte a ponto de ser
capaz de ouvir o som, eu deixo que Emily abra a porta do quarto
para o Michael entrar.
Ele usa um terno perfeitamente cortado para se ajustar ao seu
corpo, os braços e pernas fortes raspam no tecido enquanto ele
anda na minha direção. O olhar letal como de uma água paira no
meu busto coberto pela blusa de mangas, não consigo evitar a
vontade de tapar meu corpo. Nunca fui devorada com o olhar e
agora sei como as mocinhas dos livros que leio se sentem.
É constrangedor e excitante se sentir pelada estando coberta
de tecido, por causa da forma como um homem te encara dizendo
com a expressão o que anseia fazer com seu corpo sem deixar
escapar nenhuma palavra entre os lábios.
— Não sabia que estava trocando de roupa. — Ele não pede
desculpas, o jeito manso ao falar é o melhor que irei ganhar como
um pedido.
— Não entre no quarto de uma mulher sem bater. — Travo os
braços ao lado do corpo, erguendo o queixo para encará-lo de
frente. — Meu pai poderia te matar pelo que você fez.
Michael ri baixinho e seu olhar astuto me diz que ele sabe de
algo que eu não tenho conhecimento. Um arrepio corta minha
coluna ao imaginar que estou no escuro e indefesa para a
informação que ele detém. Ele dá dois passos na minha direção, e
eu recuo até bater as coxas na cama e sentar nela.
— Pare aí mesmo. — Estapeio a mão em seu peito impedindo
seu avanço. Como um animal contrariado ele inclina a cabeça para o
lado, antes de ficar a dois passos de distância. Já cometi loucuras
demais em pensamento para ser tentada por esse homem perto de
mim.
A mão segurando meu queixo me leva para perto dele. Engulo
em seco, esquecendo como se respira ao ser embriagada pelo cheiro
quente de seu corpo. Os lábios rosados a centímetros de distância
dos meus, os olhos analisando meu rosto vagarosamente e parando
travados nos meus.
— Eu entro onde eu quero da forma que achar melhor —
sopra, fecho as pálpebras incapaz de sustentar seu olhar. — Seu pai
já me deu a recompensa pelo seu resgate, a última coisa que ele
fará é me matar.
— Qu-al — pigarreio limpando a garganta — qual foi o
prêmio?
— Vou deixar seu pai te contar. — Seu polegar desliza em
minha bochecha. — Enquanto isso, o que acha de me contar o que
sabe sobre o Samuel?
— Nada. — Suspiro.
— Não estou convencido, por que acha que ele te sequestrou?
— A mão livre sobe por meu quadril pressionando minhas costelas,
tenho um sobressalto e bato o nariz no dele.
Puxo a cabeça para trás, recuando na cama. Apoio os
cotovelos no colchão ganhando distância e podendo respirar melhor,
longe do cheiro embriagante que exala da sua pele. Michael se
mantém de frente para a cama me analisando e respeitando a
distância que impus.
— Nunca vi aquele homem ou um de seus soldados — sou
sincera —, não faço a mínima ideia do motivo de ter me tornado um
alvo e se soubesse eu contaria para que pudessem resolver a
situação e eu retornar para casa.
Michael continua me encarando, respiro acelerada, ansiosa
pelo jeito que seu olhar vasculha cada pedaço do meu corpo, ao
contrário do mal-estar que senti quando o Andrew me olhou com
desejo. Com o Michael eu tenho um comichão de ansiedade, mesmo
que se mantenha longe, sou queimada por sua intenção sexy.
Estou agindo como uma louca por permitir que ele me veja
nessa posição. Busco pela Emily no quarto. Não a encontro. Estou
sozinha com o Michael, a ansiedade dispara por minhas veias
quando ele apoia uma mão em cada lado do meu corpo e desce
ficando próximo novamente sem encostar em mim.
Arfo.
— Você não vai voltar para casa — sopra, pairando a
centímetros dos meus lábios.
— Com-o?
— Nevada continua sob ataque, até seu pai resolver a
situação você ficará aqui. — Ele desliza o nariz da minha bochecha
ao meu pescoço, pisco com dificuldade para respirar. — Sob os meus
cuidados. — Seus lábios molhados se abrem e os dentes deslizam na
pele, o ardor se espalha onde ele morde, pulo batendo contra seu
corpo e grito assustada.
— Você ficou louco? — Pressiono seus ombros sem forças
para empurrá-lo para longe. Michael é pesado e não consigo fazer
com que se mexa.
— Só uma provinha do que me pertence — sussurra em meu
ouvido.
A bolha erótica estoura, trazendo o peso da realidade. As
palavras do meu pai piscam na minha mente, os cuidados que me
mandou ter. Em poucos segundos esqueci os ensinamentos de uma
vida e me deixei levar pela sedução do homem que mexe com o
meu interior e convicções, me fazendo desejar mais do que posso
ter.
— Eu não sou sua — murmuro, afetada.
Naquele segundo eu percebi, Michael Bianchi faria o que
pudesse para me ter como sua.
— Gosto da sua rebeldia, só faz com que eu a queira mais. —
Alisa meu rosto.
— Você é maluco, meu pai nunca permitiria isso. — Nego com
a cabeça, Michael pode ser o próximo Chefe, mas ele nunca seria
capaz de fazer meu pai mudar de ideia.
Espalmo as mãos em seu peitoral, numa tentativa de
empurrá-lo para cima. Michael tem um peitoral firme e macio,
percebo ao tocar por cima da camisa, deve ser cheio de gominhos
no abdômen. Travo os pensamentos, não me deixando levar por
esse lado sombrio e perigoso. Preciso manter a calma e dar um jeito
de sair dessa situação.
— Eu consigo tudo o que eu quero, Hope — ele responde
estralando a língua, fico presa na sensualidade dele a mordendo.
— Michael — chamam do lado de fora, ele suspira frustrado
por ser interrompido e vai abrir a porta.
Meu contato com homens foi reduzido ao meu pai, Black e
Steve. Ter alguém como o Michael testando meus limites é como ser
jogada em um precipício. Ele me dá tudo o que eu sempre quis e
nunca poderei ter, preciso falar com meu pai o quanto antes e dar
um jeito de voltar para casa antes de cometer uma loucura.
Se um dia Michael descobrir o meu segredo vou condenar a
minha família à morte, me envolver com ele é algo fora de
cogitação.
— Tudo bem? — Emily surge no meu campo de visão.
— Sim, ele só queria me perturbar, pronta para ir?
— Talvez seja melhor você continuar mais um dia no hospital.
— Enlaça o braço no meu.
— Preciso de ar fresco. Por que você saiu quando seu irmão
entrou?
— Ele me trancou do lado de fora — ela suspira —, odeio
quando o Michael age como um ogro.
— Em algum momento ele é diferente disso?
— Comigo, o tempo todo. — Puxa meu braço, fazendo com
que deixemos o quarto.
Lembro-me dos momentos carinhosos em que ele cuidou de
mim enquanto me resgatava e um calor se espalha pelo meu peito.
Por mais que ele tenha sido um completo safado dentro do quarto,
eu não consigo deixar de me sentir afetada. Mais do que nunca
preciso tomar cuidado com o que sinto, uma desilusão só vai
magoar meu coração.
Saímos e encontro Michael e Daniel do lado de fora. Emily
paralisa por um segundo, me permitindo ver o quanto a presença do
Daniel mexe com ela. Será possível que ela goste dele?
Michael não parece notar a mudança na irmã ou no amigo,
Daniel exibe uma expressão calma que poucos veriam que ele se
abalou por causa da Emily. Eu o noto apertar os punhos e travar a
mandíbula, como se estar na presença dela causasse dor e agonia
por não estarem juntos.
Daniel tem cabelos negros e barba preenchida, olhos azuis
como o oceano. O rosto retangular, pescoço longo com uma veia
saltada e braços fortes. Ele é enorme como o Michael.
— Vamos para onde? — Emily pergunta.
— Casa — Michael responde.
— Espera — chamo quando ele se vira —, deixa eu falar com
meu pai? Preciso saber como estão as coisas na minha casa.
— Depois.
O homem que tinha fogo nos olhos desaparece, dando espaço
a um bloco de gelo, impossível de se comunicar com ele. Eu não
deveria dar importância, então por que fico chateada ao encarar
suas costas no caminho até a mansão?
Hope
A mansão dos Bianchi é deslumbrante, enquanto exploro o
ambiente com a Emily ela me explica que o térreo é para as
reuniões sociais da famiglia e algumas salas de diversão como a de
jogos, televisão e dos bailes que são realizados na mansão. O
primeiro andar, é reservado para os quartos de visita na ala leste, e
a ala oeste, somente pessoas autorizadas podem frequentar, é onde
fica as salas de reuniões e onde os homens tratam de negócios.
O segundo andar, é somente dos filhos, cada um tem um
quarto com seu espaço pessoal em uma ala, Emily na leste, Matthew
na oeste e Michael na ala norte, a ala sul tem uma piscina que os
irmãos usam com mais privacidade. O terceiro andar, é exclusivo
para o Chefe da família e não tenho permissão para conhecer.
O quarto é um jardim com um heliporto, ocupando todo o
perímetro da mansão, do lado de fora consigo ver as grandes
plantas que rodeiam a estrutura e as flores com as rosas na borda
do telhado. Em alguns cantos da parte externa têm trepadeiras nas
paredes fazendo um belo contraste entre a natureza e o concreto. O
jardim da mansão se estende até onde a vista é capaz de alcançar.
— É muito grande. — Caio exausta na cama da Emily depois
do tour.
— A sua não é? — ela pergunta com genuína curiosidade.
— Emily — Daniel chama. — Nenhuma casa no complexo é
grande como essa.
— Verdade.
Tem um sorriso escondido no canto dos lábios dele ao falar
com ela. Michael também observa a interação dos dois em silêncio,
vejo as nuvens de pensamentos rodeando sua cabeça, não sei se ele
seria a favor da união dos dois. Percebi facilmente que a Emily gosta
do Daniel e talvez ele tenha algum carinho por ela.
É a forma como eles se olham e falam que expressam os
sentimentos escondidos em seus corações. Quando se torna
sufocante para poder demonstrar em palavras ou gestos,
transbordam pelo cantinho dos olhos e dos sorrisos.
— Posso falar com meu pai agora? — peço, estendendo a mão
para o Michael.
— Vamos ao meu escritório. — Ele sai sem esperar por mim.
Salto da cama e o sigo, quase correndo para acompanhar o
passo apressado do Michael pelo corredor. Pegamos o elevador para
o terceiro andar, para a minha sorte, Daniel nos acompanha e não
preciso me preocupar em ser atacada pelo descarado do Michael,
que se mantém impessoal à minha presença.
Como uma pessoa pode queimar e ser uma nevasca em um
pequeno espaço de tempo? Não estou acostumada com
comportamentos como o dele, eu sei que homens da máfia tendem
a ser diferentes com sua família e na presença de outros
integrantes.
Quem vê o Black sério e calculista, não imagina que ele é um
doce comigo e adora me fazer companhia, assistindo a filmes de
dramas tristes. Talvez o Michael seja como o Black, uma cebola que
deve ser descascada por camadas até encontrar o verdadeiro “eu”
dele.
Em meu âmago, eu sei que nunca esqueci do Michael depois
que dançamos na minha festa de 15 anos. Em nosso reencontro ele
foi meu salvador. Nossa diferença de idade não me incomoda, ele é
o primeiro homem a flertar comigo, mostrando os pequenos
prazeres de uma sedução entre duas pessoas. Uma brasa acendeu
dentro de mim, querendo provar do impossível.
Passamos pela porta, entrando em seu escritório. Os móveis
são de madeira escura e as paredes pintadas de cinza claro, quase
branco. Há uma mesa de centro de vidro com dois sofás um de
frente para o outro. Duas cadeiras em frente à mesa e uma atrás.
Nas paredes há armas penduradas em prateleiras e três espadas de
cabo vermelho.
Não contenho o impulso e me aproximo das espadas, tocando
a superfície, em uma delas vejo um dragão asiático contornando o
cabo, da boca saindo fogo dourado que desagua na bainha da
espada. A outra é vermelha com tiras grossas no cabo e a última
vermelho sangue, derramando entre meus dedos.
— Gosta de espadas? — Michael pergunta, a voz grave perto
das minhas costas. Mantenho a atenção na arma para que ele não
perceba meu nervosismo.
— Sim, acho elas fascinantes, posso?
— Claro.
Pego a do dragão nas mãos a removendo do aparador e
percebo que não são espadas, são katanas, espadas japonesas.
Puxo a bainha e a lâmina prateada como mercúrio surge diante dos
meus olhos, o fio letal capaz de cortar ao mero toque em sua
superfície. Empunho a katana, segurando com ambas as mãos.
— São lindas. — Viro de frente para ele, apontando a arma
em seu pescoço. Michael nem se move.
— Gosta de katanas, Hope?
— Com certeza, elas são versões maiores de bisturi, faz ideia
do quanto eu poderia cortar com uma dessas?
— Sei o estrago que elas causam. — Ele toca na ponta da
katana, a movendo para o lado e chegando perto. — Tome cuidado
para não se machucar.
— Certo. — Engulo em seco quando seu rosto fica próximo do
meu.
— Quem te ensinou a segurar uma dessas?
— Aprendi vendo filmes — minto, ele não precisa saber que
foi o Steve.
— Quais?
— Todos os doramas da Coreia e Japão históricos.
— É isso que faz no seu tempo livre? — Tem divertimento em
seu olhar, como se fosse absurdo gostar desse conteúdo.
— Quando não estou estudando, sim.
— Você é fascinante. — Desliza o dedo em minha testa,
colocando os fios soltos atrás da orelha. — Coloque a katana no
lugar.
— E você, por que gosta de katanas?
— Se olhar ao redor vai descobrir a resposta.
Michael se afasta, indo sentar atrás de sua mesa e observo o
escritório. Armários com armas antigas, pistolas, granadas e espadas
estilo as dos filmes medievais de cavaleiros da Europa. Armas que
me lembram as usadas na Guerra Civil dos Estados Unidos ocupam
uma estante, observo a todas e encontro a resposta para a minha
pergunta.
— Você é um colecionador de armas antigas.
— Guardo a história da guerra.
Coloco a lâmina dentro da bainha antes de pendurá-la de
volta, tomando cuidado para não derrubar ou bagunçar as outras
katanas. Suspiro com saudade de sentir a adrenalina de um treino.
Sons de teclado chamam a atenção, procuro a fonte, e noto que
Daniel mexe no notebook sentado no sofá, Michael permanece atrás
de sua mesa, observando cada movimento meu. Sento na cadeira de
frente para ele e estendo a mão, pedindo pelo celular. Ele puxa o
aparelho do bolso do paletó, mexe nele e depois me entrega, a
chamada de vídeo já está em curso para o meu pai.
— Hope! — ele atende, o cansaço de dez anos surge em seu
rosto.
— Pai! Como o Black está?
Ver o rosto do meu pai enche meu coração de tristeza e
saudades, quero poder voltar para casa. A garganta trava com um
bolo enorme sufocando minhas emoções para não deixar os homens
perceberem.
— Bem, recobrou a consciência hoje de manhã.
— E a minha mãe?
— Nervosa, precisei colocá-la para dormir. Você está sozinha?
— Não, Michael e o Daniel estão comigo. — Olho para os
homens que trabalham, falsamente, fingindo não ouvir nossa
conversa.
— O Michael vai cuidar de você, confie nele.
Ele desvia o olhar brevemente para a esquerda e sei que meu
pai esconde alguma coisa de mim. O Black também tem o mesmo
hábito de olhar para a esquerda por um segundo quando guarda
segredos.
— O que você não quer me dizer? — Fico com medo, lágrimas
turvam meus olhos. — É a mamãe?
— A Kennedy está bem, não se preocupe.
— Por que eu fui sequestrada?
— Ainda não sei, estou tentando descobrir como o Samuel
soube de você e o que o levou a isso. O filho da puta se escondeu
depois do atentado, e não consegui rastrear a localização.
— As coisas estão muito bagunçadas? — O celular treme.
— Um pouco, expulsei muitos invasores hoje de manhã. A
polícia quer respostas, tenho usado a mídia para manter a população
no escuro.
— Quando você vem me buscar?
— Em breve, preciso colocar a casa em ordem primeiro.
— E o Black?
— Ele vai ficar no hospital mais um tempo.
— Promete que você não está mentindo. — A visão embaça
pelas lágrimas mal contidas.
— Prometo.
Não tem convicção na voz dele, e eu sei que meu pai me
esconde alguma coisa importante, algo que colocará meu destino
em risco. Se ele souber que descobriram meu segredo pode querer
me poupar da verdade até me fazer desaparecer. Não estou pronta
para dizer adeus à minha família.
— Hope — ele chama, encolho o rosto entre as pernas sem
coragem de continuar a ligação —, olhe para mim.
Não consigo pensar em outra coisa que ele possa estar
escondendo nesse momento. Fui sequestrada, minha identidade
revelada a inimigos poderosos, capazes de mandar meu irmão para
o hospital e fazer com que eu ficasse sob a proteção dos Bianchi. Ele
não disse o dia que me buscaria, depois do Michael dizer que eu
ficaria aqui até resolver a situação, só pode significar que meu pai
não sabe quando voltarei para casa.
— Hope! — ele grita do outro lado, levo um susto e encaro o
celular.
— Sim?
— Você está segura — ele fala com calma, cada palavra
transmitindo uma mensagem que somente nós dois entendemos. O
segredo da minha família não foi descoberto.
— Jura?
— Sim — afirma com convicção. — Amanhã vou conversar
com o Andrew sobre a situação e vamos resolver as coisas para que
você possa voltar para casa.
É nessa parte que ele vacila, quando ele fala “voltar” não
existe certeza. Ele não sabe se será possível, e eu noto que é nesse
pequeno detalhe que meu pai esconde alguma coisa. Encaro o
Michael que tem a atenção na tela do computador e um sorrisinho
no canto dos lábios.
Ele sabe de algo que eu não tenho conhecimento, meu pai
hesita em falar para mim. Olho para meu pai pela tela, a
sobrancelha franzida e o olhar pesaroso. Minha mente trabalha
rápido, tentando achar o que eles escondem.
Michael será o próximo Chefe da Máfia Bianchi, ele mais do
que qualquer outro sabe o que acarreta tocar a filha de um Capo
sem permissão. Ele o fez sem pensar duas vezes, enquanto meu pai
fala do outro lado da linha, eu encaro o Michael, a satisfação nubla
os olhos azuis, enquanto meu coração se aperta dentro do peito.
— O que você ofereceu em troca do meu resgate? —
pergunto com um fio de voz.
Ele fica calado, passa a mão no queixo e desvia o olhar para
longe. Noto que Michael para de digitar, ansiando que a verdade
seja dita o quanto antes para ele receber o seu prêmio.
— Em breve conversamos.
Ele encerra a chamada e afundo o rosto entre as pernas, me
recusando a encarar o destino que se apresenta diante dos meus
olhos. Somente uma coisa justificaria a forma como o Michael me
tratou e o silêncio do meu pai.
Eu fui prometida em casamento.
Hope
Encerro a ligação com meu pai e tento não demonstrar o
tremor nas mãos ao devolver o celular para a mesa do Michael. Ele
me encara, uma sobrancelha arqueada, a certeza de que sabe algo
importante sobre mim que eu desconheço embrulha meu estômago.
Posso ter sentido atração pelo Michael, mas não é o suficiente
para me fazer querer casar com ele, abandonando os juramentos
que fiz à minha família. No máximo uma lembrança para eu levar
para casa e recordar nos dias em que a solidão bate.
— O que você pediu? — pergunto entre dentes, batendo a
mão na mesa ao levantar.
— Seu pai vai te contar — aponta para a porta —, pode ir
agora.
— Eu nunca vou casar com você. — Ergo o queixo. — Não se
iluda com falsas promessas.
Michael levanta devagar, caminha até mim como um lobo
prestes a abater sua presa. Bato a bunda contra a borda da mesa,
agarrando firme a superfície para não voar em seu pescoço e fazê-lo
me contar a verdade sobre o acordo. Seus dedos sobem pelo meu
braço, deslizando a pontinha na pele sensível, arrepios percorrem
meu corpo.
— Você acredita que pode decidir com quem casar? —
pergunta, tocando meu queixo de leve, inclinando-o para encontrar
o seu olhar gélido.
— Não posso, mas sei que ele não decidiria sem me contar
primeiro, meu pai não é assim. — Embora tudo indique que ele
tomou a decisão sem me informar. Ainda preciso entender as
variantes que o fizeram me trair.
Meu peito dói ao pensar que meu pai fez isso comigo. Foram
anos ouvindo-o dizer que eu não poderia me casar para de repente
cair nos braços do Michael Bianchi. O homem com poder suficiente
para fazer os Bonnarro desaparecerem se descobrir o meu segredo.
Pois é isso que ele fará, por ora Michael pode ter sido carinhoso e
atrevido, mas tudo mudará se ele descobrir a verdade, ele nunca me
trataria assim se soubesse.
— Seu pai é um homem de honra que cuida da família. —
Alisa minha bochecha. — Disso você nunca poderá duvidar. Mas há
coisas que nem mesmo ele é capaz de evitar.
— Me conta a verdade — peço, agarrando seu pulso,
impulsionando para a frente e ficando a centímetros dele. — Por
favor.
Michael aperta minhas bochechas, puxando meu rosto para
perto do seu, o hálito quente bate em meus lábios. Os olhos gélidos
causam arrepios na minha alma. Não tenho medo, consigo ver no
fundo das íris que o Michael não vai me machucar.
— Fiz uma promessa a seu pai, não vou quebrar.
— Nem eu. — As lembranças das coisas que prometi a ele me
inundam como um tsunami. Aperto seu pulso com ambas as mãos,
forçando-o a me largar. Eu não posso querer o Michael. Empurro seu
peito sem causar reações em seu corpo, aproveito o paletó aberto e
enfio a mão em sua cintura dura, beliscando a carne com os dedos.
Sou surpreendida quando Michael deixa um riso escapar antes
de se afastar e prender minhas mãos, não deixando que eu continue
meu ataque de beliscões que em vez de machucar causaram
cócegas nele. Prendo um pequeno sorriso, tentando parecer durona.
— Me solta — peço sem vontade.
— Não é assim que eu quero que você use suas garras, da
próxima vez arranhe! — A voz sensual acompanhada do olhar fatal
revira meu ventre.
Michael espalma a palma da mão contra seu peitoral firme,
forçando o toque. Sorrio tentada por seu jeito sexy e confiante,
decido entrar no seu jogo. Nada do que acontecer agora mudará o
que o meu pai já tiver decidido.
— Acha que vai mexer comigo? É só um peitoral coberto — o
provoco.
— Você que pediu.
Antes que eu fale mais alguma coisa, ele solta meus pulsos e
arranca a camisa, saltando botões contra meu rosto. Avança dois
passos, espalmando novamente minha mão contra sua pele firme,
macia debaixo dos meus dedos. Engulo em seco ao ver o peitoral
definido e os gominhos em sua barriga.
— Não pense que pode me assustar.
Arqueio a sobrancelha e travo o olhar contra o seu. Finco as
unhas em sua pele e desço arranhando o peitoral perfeito, deixando
o rastro em vermelho das minhas garras. É a primeira vez que toco
um homem, é excitante e tentador, eu quero mais. Pauso em seu
umbigo, sem coragem de descer para o cinto.
— Vai parar? — me desafia. — Desce um pouco mais para ver
a reação que me causou.
Não mexo minha mão, baixo o olhar para sua calça e não
encontro nada que indique sua excitação. Não é possível que ele não
sinta nada ao ser tocado por mim enquanto estou quase derretendo
de calor por arranhá-lo e ter as mãos em sua barriga sarada,
subindo e descendo acompanhando a respiração regular de seu
corpo.
Michael não se abalou, ao contrário de mim.
— Se quiser disputar comigo, Hope — aproxima o rosto do
meu, falando a centímetros —, vai precisar de artilharia pesada.
— Você é um escroto — ralho, incomodada por não o
despertar.
Estou rompendo a barreira de todos os meus limites por causa
dele e o desgraçado age como um perfeito babaca. Tenho vontade
de enfiar a mão na sua cara por brincar comigo dessa forma.
— Vou te ensinar como me tocar para deixar meu pau duro —
sopra no meu ouvido — Você. É. Minha. Hope.
— Nunca! — grito em sua face. Irritada com ele.
— A vontade que tenho de te foder só aumenta. — Michael
desce o rosto mordendo minha orelha, me odeio por mexer o
quadril, buscando por contato.
Meu corpo incendeia como nunca aconteceu, a vagina pulsa
pedindo por mais, para que ele cumpra suas promessas e acabe com
o rótulo de intocada colocado em mim. Nesse segundo eu quero
arrancar a cabeça do Michael com a mesma força que desejo que
ele me tome e acabe com o meu tormento, com a dor de saber que
nunca poderei formar uma família ou casar.
— Michael... — Daniel hesita antes de chamar o amigo. —
Lembre-se de que eu to aqui.
— Vai dar uma volta. — Michael retira a cabeça do meu
ouvido, encarando o Daniel.
— Não posso, pare de atacar a Hope.
Michael não quer ceder ao pedido do amigo. Ele me encara
antes de liberar minhas mãos, se afastando um passo. Os olhos
travados nos meus me desafiam a continuar contrariando-o.
— Um sádico que destrói a tudo que toca — sibilo, querendo o
desestabilizar.
Recuso-me a ser a única abalada pelo nosso encontro. Nem
que precise jogar sujo para fazê-lo sentir algo.
— Nunca machuquei uma mulher, por que acha que farei com
você?
Fico intrigada pela falta de raiva na fala ou expressão, ele tem
curiosidade para saber como cheguei a essa conclusão. Queria
causar uma reação nele e não em mim.
Como poderei explicar que eu ouvia quando ele falava com
meu irmão sobre quando torturavam um inimigo ou a forma como
ele gosta de transar com uma mulher? Fecho as pálpebras,
inspirando fundo e pensando em uma resposta que não revele meus
segredos.
— É isso o que os homens da máfia fazem, machucam suas
esposas.
Digo o ditado mais conhecido no nosso meio. Meu pai é o
único que eu sei que não machuca a mulher. Já ouvi muitas histórias
de como o Andrew matou a esposa Hannah, o Michael pode ser
diferente, mas não posso arriscar.
— Para uma donzela que viveu trancada em uma torre você
julga errado as pessoas, Hope. — Desliza o dedo na bochecha,
inclino contra a palma de sua mão.
— Não vai me machucar quando nos casarmos? — pergunto
em um fio de voz.
Cresci acreditando que estava livre da vida de uma mulher da
máfia quando meu pai me contou a verdade sobre mim. Não fui
criada como as outras meninas e não sei como viver como elas. Por
um segundo tive o desejo insano de me entregar aos anseios do
meu corpo e esperar ser salva por um vilão.
— Você que supôs que eu pedi sua mão em casamento. — Ele
se afasta tão rápido quanto chegou.
— Não é verdade?
— Fique com a dúvida. — Pisca e retorna à cadeira. — Pode
sair, Emily te mostrará seu quarto.
— Michael me conta a verdade — quase imploro com as mãos
contra a mesa. — Por favor.
A angústia de ficar no escuro dá um nó no meu estômago.
Ansiosa para saber qual será o meu destino nas mãos do homem
que conheço pelas poucas vezes em que o vi escondida.
— Se você quer casar comigo é só pedir que considero a
oferta. — Ele trava o olhar em meus seios. — Você seria uma boa
esposa.
— Não! — Bato na mesa. — Nunca! Meu pai não faria isso!
— Para que a raiva quando você tem certeza da lealdade do
seu pai a você? — ele debocha de mim, minha visão arde com
vontade de arrancar sua cabeça. Odeio ficar no escuro.
Mordo a língua, controlando a vontade de mandá-lo ir se
lascar. É inacreditável como ele está sendo babaca depois do carinho
que me tratou na missão de resgate. Parece que uma chave virou na
sua cabeça, o transformando em outra pessoa. Um homem que
bagunça meus sentimentos, acho que o irritei de alguma maneira,
mas não sei dizer como.
— Você é horrível.
— Já fui chamado de coisa pior, pode ir. — Indica a porta.
Ansiosa pelas coisas que aconteceram no escritório, eu vou
embora.
Tenho de ter mais controle sobre as minhas emoções, o
desgraçado me manipulou para que eu o tocasse. Não consegui
despertar uma ereção nele enquanto me sinto melada no meio das
pernas, imaginando como seria se ele prensasse o quadril contra o
meu e mordesse meu pescoço, beijasse meus lábios.
Preciso ir embora dessa casa ou vou acabar enlouquecendo e
quebrando as regras do meu pai.
Retorno para o quarto da Emily e a encontro mexendo no iPad
na mesa que há no local. Com um aceno de cabeça ela pede que eu
vá sentar ao seu lado, puxo a cadeira e me acomodo. Emily tem o
cabelo preso em um coque e óculos de aros meio redondos na cor
azul bebê de acrílico clarinho.
Somos da mesma altura, ela tem mais carne nas bochechas
do rosto e no busto, as coxas grossas de quem pega peso pesado na
academia. Os olhos inocentes e astutos. Não tenho muito contato
com outras meninas, nem mesmo as minhas primas podia falar com
elas, não sei como me portar nesse momento.
— Como foi a conversa? — Leva a caneca com chá de hortelã
aos lábios, identifico o sabor pelo cheiro forte.
— Meu irmão segue hospitalizado e sem risco de vida, minha
mãe parece estável, ela tem muitas crises de ansiedade — explico
quando a Emily arqueia a sobrancelha em dúvida. — E meu pai luta
para expulsar os inimigos.
— Acha que ele dá conta?
— Com certeza, vai ser difícil sem o Black, mas ele tem o
Steve que é um bom estrategista.
— Qual é a ordem de nascimento entre você e seus irmãos?
Fico confusa se o Steve é mais novo ou velho, pouco o vejo no
complexo.
— Black é o mais velho, o Steve é o do meio com 27 anos,
sou a caçula. Você e seus irmãos, como é a ordem?
— Michael que tem a mesma idade do Black, Matthew é o do
meio com 30 anos, minha idade você já sabe. Você precisa aprender
quem são os filhos dos Capos, idade e a hierarquia deles nas
famílias, é importante.
— Você sabe a de todos? Acho que eu nunca daria conta de
decorar.
— Quando tiver dúvidas é só me perguntar, principalmente
das garotas.
— Obrigada.
— Quanto tempo você pretende ficar aqui?
— Até meu pai vir me buscar.
— Uma pena. — Suspira, colocando a xícara na mesa. —
Queria sua companhia mais um pouco, não nos conhecemos ainda.
— Gostei de ficar com você no hospital — admito. — Seria
bom um tempo de meninas.
— Quer fazer skin care?
— Preciso. — Toco a pele oleosa do meu rosto.
Emily levanta e vai ao banheiro. Suspiro, vou usar o tempo
que passaremos juntas para livrar minha mente dos pensamentos
com o irmão indecente dela. Repasso minha conversa com o Michael
e percebo que devo tê-lo irritado quando neguei com veemência que
me casaria com ele. Michael não parece o tipo de homem
acostumado a receber recusas. E eu só estou acostumada a receber
ordens do meu pai e irmão.
É tudo confuso agora que estou na mansão, só queria poder
retornar à minha casa, onde a ansiedade era somente se a minha
mãe me machucaria ou me trataria com amor. Não saber se o
Michael será carinhoso ou um babaca desperta uma nova ansiedade
que não estou acostumada a lidar.
Observo o iPad, percebendo que antes de eu chegar ela mexia
em um programa de edição de designer gráfico. Curiosa passo as
pastas das artes que ela fez, percebendo que se trata de uma logo
de um artista chamando pessoas para fazerem parte do próximo
show.
— O que é isso? — pergunto a ela quando retorna. — Você
trabalha?
— Não — coloca os produtos em cima da mesa —, faço um
curso on-line de designer gráfico, gosto dessas coisas.
— Seu pai permitiu?
— É só passatempo, e o Michael sabe que faço — dá de
ombros —, não é nada demais.
— Compreendo.
— Vamos limpar sua pele. — Borrifa água no meu rosto e
depois passa o sabonete.
Passo o restante do dia com a Emily cuidando da pele e
fazendo as unhas. Devido ao tumulto dos últimos dias estou
parecendo um mini monstrinho precisando ser cuidada. Aproveito as
horas de paz na companhia dela, gosto dela, é fácil de conversar e
não me causa ansiedade como o Michael.
Minha infância e adolescência foram regradas, contato com
outras pessoas limitados ao extremamente necessário. Até mesmo
na faculdade, eu tinha quatro soldados disfarçados de alunos,
garantindo que ninguém chegaria perto. Em menos de uma semana
meu mundo virou de cabeça para baixo e a dúvida do que meu pai
ofereceu ao Michael como recompensa pelo meu resgate não sai dos
meus pensamentos.
Apesar de eu ansiar no meu âmago ter um relacionamento e
conseguir me libertar da minha prisão. Todas as promessas do meu
pai rondam a minha mente junto das ameaças feitas pela minha
mãe nos meus aniversários. Só de imaginar o que ela seria capaz de
fazer comigo estando longe, meu estômago revira e tenho vontade
de vomitar. Meu pai não pode quebrar suas juras e jogar no lixo
todos os anos em que vivi com medo de casar e ter meu segredo
revelado. Despedaça meu coração a mera possibilidade de ele ter
me traído.
— Vamos jantar em família agora. — Desperto dos
pensamentos quando Emily avisa, escolhendo um vestido fino. —
Amanhã compramos mais roupas para você, pode usar um dos
meus.
Entro no closet e após muito procurar, encontro um vestido
com o busto menor e em decote quadrado. Visto, sentindo as coxas
folgadas no tecido leve, arrumo os cabelos e fazemos maquiagem.
Acho besteira essa preparação toda para jantar, em casa só fazemos
isso quando tem visitas. E talvez por eu estar aqui ela tenha de se
produzir.
— É por minha causa que estamos nos arrumando para
jantar? — pergunto quando termino de passar gloss.
— Não, fazemos todas as noites.
Caminho ao seu lado até a sala de jantar.
Entramos e sou esmagada pela aura ruim do ambiente. Na
ponta da mesa vejo Andrew Bianchi, seu olhar maldoso analisando
meu corpo causa arrepios sinistros em meus pelos. Prendo o braço
no de Emily, querendo me livrar da sensação ruim que aumenta
conforme nos aproximamos. Tenho de cumprimentar o homem que
me faz querer correr para longe.
— Boa noite, querida. — Ele levanta com um sorriso seboso.
Abre os braços para me abraçar e encolho.
Nunca fiquei intimidada na presença de outro homem até
conhecer a encarnação do mal. Tenho medo pelo que acontecerá
durante o jantar.
Michael
Entro na sala de jantar e flagro Andrew abraçando uma Hope
imóvel como uma estátua. Caminho rápido até eles, agarro a mão
dele, impedindo que deslize para a bunda dela. Os olhos do demônio
me encaram com desafio e deleite, me provocando. A boca ardilosa
vira de encontro a pele dela e puxo Hope para trás, chocando seu
corpo contra o meu.
— O que está fazendo, garoto?
— Eu que te pergunto. — Fico na frente de Hope, encarando o
Andrew. — Não tem permissão para tocar nela.
— Eu faço o que eu quiser! — Aproxima-se ficando a
centímetros de distância, me confrontando. — Emily, venha aqui!
Com poucas palavras ele incendeia minha raiva. Sinto a veia
saltando na minha testa, indicando que vou perder o controle.
— Fique onde está! — digo a ela. — Leve a Hope daqui,
agora!
— Não! — Andrew rosna, batendo na mesa causando um
estrondo dos talheres.
— Agora! — grito.
Encaro minha irmã, sem perder tempo segura a mão da Hope
assustada e correm para a porta da sala de jantar. Viro encontrando
meu Chefe furioso por minha desobediência.
— Nunca mais toque na Hope — ordeno.
— Eu sou o seu Chefe! — berra, cuspindo na minha cara. —
Vou te ensinar a me respeitar.
Andrew agarra meu pescoço com uma mão, apertando,
mantenho o olhar travado no dele sem me deixar abalar pela
restrição de ar. Eu não posso ou não deveria contrariar o meu Chefe
e ser desrespeitoso. Contudo, eu perdi o respeito por ele desde o dia
em que matou a minha mãe na minha frente e usou a minha irmã
para me controlar.
Andrew tentou domesticar um animal e ganhou uma besta
incontrolável como filho. Seguro firme a lapela do paletó do Andrew,
erguendo-o acima da minha cabeça e jogando seu corpo contra a
mesa. O som de vidro quebrando estoura no ambiente, subo a mão
fechando o punho para socar a sua cara, desço o braço com força.
Ele desvia para o lado, acerto a mesa em vez da sua cabeça.
Um chute na barriga me afasta dele, cambaleio para trás,
recuperando o equilíbrio. Avanço, segurando sua cintura, jogando-o
no chão com mais força, Andrew geme, subo em seu quadril
prendendo suas pernas com minha canela e pés, seu braço sobe,
tentando segurar meu pescoço, e desvio.
Agarro seu punho, torcendo para trás, imobilizo-o, indo de
encontro ao seu ombro, enquanto ouço o seu gemido enfurecido. Ele
acerta um soco na lateral do meu rosto com a mão livre, a prendo
debaixo da axila e desço a cabeça contra sua testa, arrancando
sangue de seu nariz na segunda vez que repito o movimento.
Imobilizado debaixo de mim, eu controlo a fúria para não o
matar.
— Nunca mais use a Emily para me ameaçar, os dias em que
você fazia isso acabaram.
— Seu moleque atrevido. — Cospe sangue no meu rosto.
Giro rápido a cabeça para me livrar da saliva, bato mais uma
vez a testa contra o nariz dele. A pancada não causa muita dor em
mim. É gratificante ver esse verme gemendo ao ter o nariz
quebrado.
— Sou seu filho, achou mesmo que eu seria diferente de você.
— Aproximo o rosto dele, encarando seus olhos a centímetros de
distância. — Você conseguiu, criou o monstro perfeito que não se
importa em acabar com a vida do pai.
— Você é um fraco que não sabe bater em mulher! Não tenho
orgulho de um covarde.
— Eu era bom quando você batia na Emily e não fazia nada?
— rosno, as lembranças daquela época nublando minha cabeça. —
Ela não vai acabar como a Hannah, você nunca mais vai encostar
um dedo na minha irmã ou na Hope. Se eu vir suas mãos imundas
em cima de uma delas, eu juro que te mato.
— Me mate e o Conselho nunca vai te aceitar como Chefe. —
Sorri, achando que triunfou.
— O Conselho vai comer na minha mão quando souberem que
eu controlo a região de Nevada com meu casamento com a Hope e
em breve o domínio dos Griffin quando fizer do Daniel meu cunhado.
— A Emily vai casar com o Black!
— Você não decide nada! Continue seus últimos dias como
Chefe em paz, obedecendo minhas ordens, se não quiser ser
enterrado vivo. Toque em uma delas novamente, e eu te mato.
Saio de cima do corpo do homem que é meu pai. O
desgraçado que transformou a vida de meus irmãos em um inferno
com o intuito de me manter na linha e ser o Chefe mais poderoso
que a Máfia Bianchi já teve. Ele só não imaginava que toda a dor
que ele causava, eu recebia amor em dobro da minha mãe e irmãos.
Por causa desse amor, o Andrew matou a minha mãe na
minha frente e dos meus irmãos, depois de torturá-la durante dias.
Judiou da Emily por anos enquanto eu crescia e não tinha forças
para enfrentá-lo de volta. Saio da sala de jantar com o sangue
fervendo de ódio. Subo as escadas em dois degraus por vez e bato à
porta do quarto da Emily, ela abre segundos depois.
— Vou buscar o Matthew, se preparem para sairmos para
jantar.
— Mas ainda não acabou o castigo dele. — Ela segura meu
braço, impedindo que eu saia. — Você não pode continuar
contrariando o Andrew ou ele vai te matar.
— Só tem uma coisa que o Andrew teme na vida — digo a ela
— que a Máfia Bianchi tenha um Chefe que não seja alguém de
linhagem pura. Ele nunca me mataria ou deixaria o Matthew
assumir, para ele é mais importante um primogênito no trono do que
uma briga com os filhos.
— Ele vai me castigar pelo que você fez. — Tem lágrimas nos
olhos, puxo minha irmã para o meu peito.
— Não vai, agora entra e tranca a porta, já venho buscar
você.
Já faz dois anos que eu mudei meu comportamento com o
Andrew, na noite em que cheguei em casa após uma missão e o
encontrei torturando a Emily e o Matthew. O filho da puta deixou
ambos pelados e obrigava o Matthew a sentir prazer com a tortura
da irmã. Quando me viu ficou surpreso por eu ter retornado cedo, vi
tudo vermelho, bati nele com força até quebrar a mão socando sua
cara.
Desde então parei de ser ameaçado e passei a ameaçar. É
difícil manter Andrew sob controle, ele não me respeita e não me
teme, não tenho nada para garantir que ele não machuque meus
irmãos, a surra que dei hoje não vai servir de nada. Amanhã ele vai
me olhar com confiança e deixar ciente de que trama alguma coisa.
Falta pouco para eu poder matá-lo sem correr o risco de
perder minha sucessão como Chefe ou ser punido pelo Conselho dos
Capos, formado pelas Cinco Famílias que compõem a Máfia Bianchi,
acusado de traição por matar o atual Chefe. Após o meu casamento,
os dias de Andrew Bianchi estarão contados.
Limpo o rosto com um lenço no elevador, seguindo de
encontro ao meu irmão mais novo.
Matthew estava responsável por um carregamento de drogas
que foi apreendido pelo FBI, como punição, Andrew o trancou no
canil. Um labirinto de concreto com 10 cães famintos e treinados
para matar. Ele adora usar o canil como punição, começou a me
jogar dentro dele quando eu tinha 8 anos, tenho uma cicatriz de
mordida na canela daquela vez. As outras eu fui aprendendo a fugir
dos cães tempo o suficiente para não morrer até perceber aos 16
anos que eu não devo fugir.
Não sou a caça, sou um caçador. Na última vez que entrei no
canil matei todos os cachorros, depois de acabar com o primeiro
enforcado usei os dentes para perfurar a pele dos outros e estourava
suas cabeças batendo no concreto. Quando Andrew me buscou
percebeu que o castigo não funcionaria mais comigo e passou a
torturar a minha mãe, me fazendo assistir a cada segundo.
O Matthew tem medo dos cães, não consegue matá-los e por
isso o canil ainda é eficiente para puni-lo. É a principal forma de
diversão do Andrew para torturar o Matthew. A vontade que tenho é
de jogar Andrew com 100 cachorros no maldito labirinto e assistir
enquanto ele é destroçado, talvez eu faça. As possibilidades de
torturá-lo aumentam a cada dia.
Estranho o silêncio na porta do canil. O soldado de plantão me
cumprimenta com um aceno e destranca a porta. Arqueio uma
sobrancelha quando vejo o Matthew sentado contra a parede, a
cabeça de um rottweiler em sua perna. Os olhos idênticos aos meus
me encaram com frieza, ele segura a orelha do cachorro e a joga
para mim, a cabeça do animal rola até parar na ponta do meu pé.
— Já faz três dias que estou te esperando. — Matthew se
apoia na parede para levantar, pequenos cortes mancham a pele
branca.
— Matou todos? — Encontro sangue, manchando as paredes.
— Não — ele cospe vermelho —, o principal não estava aqui.
Matthew cambaleia na minha direção, contenho o impulso de
segurá-lo para que não caia. Se ele foi capaz de matar os cães e
superar o seu medo conseguirá sair daqui de cabeça erguida.
— Quem? Esse aí era o alfa. — Piso na cabeça sob o meu pé e
a chuto para longe.
— Não, Michael. — Matthew segura meu pescoço, encostando
a testa na minha. — O que eu mais quero matar é o cachorro do
nosso pai. — Sua fala sai mais baixa que um sussurro. Somente eu
escuto e finalmente vibro por meu irmão ter perdido o medo.
— Vamos fazer isso juntos. — Aperto seus ombros. Ele acena
em positivo e passa pela porta de madeira.
O soldado estende para o Matthew um robe e coloca sapatos
à sua frente. Meu irmão se veste, quando somos jogados no canil é
pelado para aumentar a humilhação de ser presos. Não podemos
comer ou beber água, e câmeras filmam cada um de nossos passos
que o Andrew faz questão de que assistamos juntos, enquanto ele ri
nos chamando de covardes.
O canil fica no jardim da mansão, em pouco tempo chegamos
à propriedade. Entro, estranhando o silêncio na casa.
— Onde está o Andrew? — pergunto a um soldado à paisana.
— Saiu faz alguns minutos, senhor.
— Acompanhado?
— Sozinho.
— Dispensado.
— Sim, senhor.
— O que você fez? — Matthew indaga.
— Lembrei a ele que não pode usar a Emily para me controlar
— subimos para a ala dos quartos —, vamos sair para jantar, se
arrume.
— Deixa eu descansar — suspira —, foram seis dias naquele
inferno.
— Depois, quero que você conheça minha noiva. — As portas
de metal se abrem. — Ela ainda não sabe, mantenha segredo.
— Certo. Te encontro lá embaixo.
Seguimos caminhos diferentes e volto para o quarto onde
tomo banho e visto um terno Armani. Andrew vai retaliar de alguma
forma, vou estar preparado para pegá-lo de surpresa, nem saberá o
que o atingiu.
Hope
Michael me salvou mais uma vez quando o Andrew colocou as
patas nojentas dele no meu corpo. Saí rápido com a Emily e ficamos
no quarto esperando o Michael voltar para podermos jantar. Emily
tenta não demonstrar o medo, as mãos tremem enquanto ela anda
de um lado para o outro de olho na porta e na fechadura. Ela
colocou uma cadeira apoiada na maçaneta.
Eu nunca precisei viver com medo de que meu pai entrasse no
meu quarto para me bater. A única vez em que a porta foi aberta eu
tinha 4 anos, minha mãe estava em meio a um surto noturno e me
atacou, balbuciando as palavras que definiram o meu destino. Eu
não tenho medo dela, a amo com todo o coração e queria poder
acalmar sua alma que sofre pelo passado.
É difícil amar quem me machuca, mas não consigo fazer de
outra forma. Após o primeiro ataque aos 4 anos, no dia seguinte
quando ela recobrou os sentidos passou um mês chorando e me
pedindo perdão. Encheu-me de tantos doces e sorvetes que eu
engordei três quilos. Achava que tudo ficaria bem novamente, que
aquele tinha sido só um episódio e nunca mais aconteceria.
Meu pai conversava comigo todos os dias, me explicando o
que aconteceu com a minha mãe sem me traumatizar por completo.
Ele também escondeu a verdade de mim até eu completar 7 anos,
quando fui exposta às palavras da minha mãe, contando em
detalhes o que fizeram com ela naquela noite.
E o motivo dela me odiar, ela queria que eu nascesse como a
sua esperança, de um futuro melhor onde os demônios não
apareceriam para a torturar em seus pesadelos, em que as crises de
consciência não existiriam. Era o meu dever salvá-la e trazer
esperança, como o significado do meu nome. Mas isso não
aconteceu e por mais que ela tente se controlar e me ame durante
um ano inteiro, no dia do meu aniversário os demônios assumem,
me causando medo e fazendo-a me machucar com palavras ou
ações.
Fui machucada mais de uma vez por suas mãos durante um
surto, o Black tem uma cicatriz no cotovelo de uma queda quando
ele tentava impedi-la de me cortar com uma faca quando eu fiz 13
anos. A data do meu aniversário é dolorosa para ela, meu pai estava
em missão, e o Steve e Black cantavam parabéns baixinho no meu
quarto com um bolo pequeno cor de rosa antes dela entrar e
estragar a festa.
Black já era um homem adulto com 27 anos, mas os traumas
que ele carrega o impediram de agir rápido o suficiente. Steve tinha
20 anos, ele segurava o bolo que foi parar no chão enquanto ele
corria para segurar nossa mãe.
Depois disso não comemoro meu aniversário, meus irmãos e
pai tentam me dar parabéns e disfarçadamente, comemorar
entregando cupcakes ou mini bolos. Rejeito a todos com tristeza,
não posso vacilar e fazer algo para mim que causa dor na mulher
que me deu à luz, desejando que eu nascesse como a sua
esperança, capaz de apagar o mal que fizeram a ela.
Apesar de toda a dor física que ela já me causou, eu a amo e
queria ser capaz de afastar os demônios que perturbam sua mente,
tirando sua sanidade em alguns dias. Quando ela está saudável e
livre das memórias que a aprisionam, é um amor e doce de mãe,
fazemos sobremesas juntas, assistimos a programas em streamings
comendo besteira e vamos ao shopping.
O medo que sinto nos surtos da minha mãe é diferente do
que o Andrew causa na Emily. Ele tem vontade de machucá-la para
se divertir, posso perceber na ansiedade emanando dela, no modo
autoritário como ele a chamou enquanto enfrentava o Michael, a
perversidade no olhar dele quando me viu e tocou. Passei poucos
minutos na presença dele e quis correr para me esconder, não
consigo imaginar como é para ela viver com um monstro,
aterrorizando-a dentro de casa.
E essa é a diferença entre uma pessoa que causa dor por
prazer e uma que o faz por sentir medo e não controlar suas ações.
Eu consigo perdoar minha mãe e entendê-la, compreendo os
motivos do meu pai ter me mantido em uma redoma e por isso dói
como o inferno imaginar que ele seria capaz de trair a tudo que me
fez acreditar durante anos.
Preciso conversar com ele e ter a certeza de que não fui
prometida em casamento, de que ele não descumpriu todas as
promessas e que o destino que ele me falava que aconteceria
comigo caso eu casasse e tivesse filhos não é uma possibilidade.
Pois, se o noivado realmente for real, ele estará me entregando a
um futuro que passou a vida tentando evitar que eu vivesse.
— Quando o Michael casar — pergunto, e pigarreio dando
força à voz — a esposa vai ter de morar aqui?
— Sim, todos os Chefes vivem na mansão. — Senta na
poltrona, bate a perna e levanta, ficando ao meu lado na cama.
— E o Andrew?
— Ele deixa a mansão e vai morar na casa ao lado. É a prova
final de que um novo Chefe assumiu, os filhos solteiros se mudam
com os pais.
— Você não pode morar com aquele homem. — Seguro a mão
dela. — Não é seguro.
— Eu sei — sussurra. — Por causa disso o Michael vai deixar o
Andrew vivendo aqui para garantir que eu e o Matthew não iremos
embora.
— Como vai ser?
— O Andrew vai descer para um dos andares, talvez o de
visita, ainda não sei.
— Os outros membros da famiglia não vão achar estranho ou
sinal de fraqueza?
— Provavelmente — inclina a cabeça —, o Michael tem de
escolher uma noiva com influência forte do pai para o apoiar no
Conselho, ele já tem o Daniel, próximo Consigliere ao seu lado e o
Kai, que será o subchefe.
— Alguém como eu? — indago, engolindo em seco.
— Possivelmente, seu pai tem poder.
Deito na cama confusa sobre o que fazer.
Nunca pensei na possibilidade de conseguir realmente me
casar. A palavra do meu pai sempre foi lei e a respeitei sem pensar
sobre o assunto. Estava conformada em ser solteira e poder estudar
como um propósito de vida. Não sei como me sentir com uma
pequena possibilidade de tudo mudar. Por um lado, o medo da nova
vida é o que mais me preocupa, o que se esconde no desconhecido.
Por outro, meu pai me fez uma promessa, e ele não pode
quebrá-la sem antes me consultar ou deixar que me prepare para o
que virá. Agir pelas minhas costas, mesmo na situação em que eu
estava não é certo. Temo por como reagirei quando o encontrar e
ver a verdade na sua cara.
Michael é um enigma que não consigo decifrar. Enquanto me
trazia de volta era carinhoso e gentil. Mas na primeira oportunidade
que teve deixou seu lado safado aflorar e fica me tentando como o
satanás. Não sei lidar com essa dualidade, um homem gentil e um
safado habitando o mesmo corpo. Se ele fosse um escroto completo
seria mais fácil resistir ao que sinto por ele.
Eu não desejaria com tanta força ser envolta na bolha de
segurança que ele me passa, onde esqueço todos os problemas e
posso focar somente em mim e no que estou sentindo. Ele me
protegeu dos sequestradores e do Andrew, não hesita em fazer o
que quer ou agir como um safado, é um homem decidido que sabe
o que faz com cada uma de suas ações, enquanto eu fico presa no
hipnotismo de seus olhos azuis.
Batidas soam e Emily se levanta, tirando a cadeira e abrindo a
porta para o Michael e outro homem atrás dele. Fico de pé,
encarando o desconhecido de olhos azuis como os irmãos e cabelo
preto, poucos centímetros mais baixo que o Michael. O rosto
retangular de maxilar firme coberto por uma camada de barba
escura, ele veste um terno azul, diferente do preto do Michael.
— Matthew. — Emily abraça o irmão.
— Oi, lourinha — ele alisa as costas dela e a solta —, e você é
a Hope?
— Sim.
Cumprimento-o com um aperto de mãos. Matthew é educado
e mantém os olhos confiantes firmes nos meus. O sorriso de canto
de lábios faz meu instinto gritar que ele sabe de algo que eu não
tenho conhecimento, o irmão deve ter contado sobre o resgate e o
prêmio que meu pai ofereceu. A vontade que tenho é de segurar o
Michael pelo pescoço e fazê-lo falar de uma vez por todas o que
esconde de mim.
Saímos da mansão e entramos em um SUV preto, Matthew vai
no banco do carona, enquanto Michael senta ao meu lado e Emily à
esquerda dele. Fico nervosa ao ser comprimida por seu enorme
corpo no ambiente fechado. Entramos em movimento e as luzes de
Nova Iorque piscam do lado de fora atraindo a minha atenção.
Las Vegas é repleta de luminosidade e pontos turísticos de
tirar o fôlego, mas não se compara a como Nova Iorque esbanja
carisma com as ruas explodindo de pessoas andando tranquilas, os
prédios acesos com anúncios de diferentes empresas, o clima frio
não incomoda os pedestres que desfilam em roupas curtas e casacos
longos, outros de manga e saia.
Nova Iorque esbanja conforto e carinho, uma cidade em que
você quer sentar no Central Park e deitar na grama, observar os
esquilos correndo pelo gramado e pegando lanche das pessoas.
Sentar em um banco na calçada, tomar uma bebida quente ou
gelada e conversar horas com as amigas. Na faixa de pedestres, no
sinal vermelho, muitas pessoas tiram fotos em poses artísticas que
vão gerar muitos likes.
Enquanto em Las Vegas o clima é de diversão, dinheiro e sexo
gritam pelas ruas. O oposto completo daqui. Eu queria poder andar
cinco minutos despreocupada e aproveitar o luxo da cidade
maravilhosa. Saio dos meus pensamentos ao estremecer sentindo
dedos deslizando pela fenda do vestido, subindo por minha coxa
para a parte interna. Agarro a mão dele e o encaro, Michael tem a
atenção voltada para a frente, como se não estivesse me bolinando.
— Para — sussurro.
Ele ignora meu pedido e aperta forte, travo a respiração
ansiosa pelo que ele fará em seguida. Observo o carro, notando que
ninguém percebe o que o Michael faz. Meu coração dispara tão
rápido quanto tambores, a excitação por ser tocada em um lugar
proibido pela primeira vez nubla meus pensamentos.
Respiro forte, decidindo ao menos uma vez na vida fazer o
que eu quero, me entregar ao anseio latente entre as minhas pernas
e ser tocada por alguém que me deseja e por quem nutro
sentimentos. Abro um pouco as pernas, deixando seus dedos
fazerem pequenas carícias, subindo aos poucos até o mindinho tocar
minha intimidade por cima da calcinha.
Pulo no lugar, não imaginava que ele iria tão longe, mas gosto
do seu atrevimento. Respirando fundo, tomo coragem de fazer algo
mais ousado, inclino o rosto contra sua orelha e mordo seu lóbulo
com força, querendo causar uma reação nele. Michael trava o
maxilar e fecha os olhos por uns segundos antes de abrir e virar o
rosto, fazendo com que eu o largue. Sinto-me orgulhosa e um tanto
sexy por ter sido capaz de causar chamas de excitação correndo em
seus olhos.
— Me morda novamente — sibila baixinho —, e eu farei o
mesmo na sua boceta.
Tremo internamente, inebriada com a chance de ele realmente
fazer isso comigo. Engulo em seco, procurando uma resposta ousada
à altura, mas perco a chance com o carro parando lentamente, e sua
mão deslizando para fora do meu vestido, ele ajeita a gravata cinza
e saímos, entrando em seguida no restaurante.
Fico ao lado da Emily e sentamos de frente para os homens,
faço questão de ficar cara a cara com o Matthew. Meio abalada pelo
que aconteceu no carro, eu tento me manter quieta e evito encarar
o Michael, a reviravolta de emoções que me tomou nos últimos dias
não me permite pensar coerentemente. Quando estou na presença
dele tudo desaparece.
Jantamos e os irmãos ficam soltos um na presença do outro,
conversando animadamente enquanto observo a interação deles. A
mesa fica em uma parte reservada do restaurante, com paredes ao
redor mantendo a privacidade e um jardim do outro lado do vidro à
esquerda.
— Hope conta como é fazer faculdade — Emily pede. Engulo
o vinho.
— Eu gosto, esse semestre iniciei a matéria de anatomia
humana e começamos a estudar cadáveres, é fascinante ver como o
corpo é uma grande engrenagem que funciona em sincronia,
comandado pelo cérebro e abastecido pelo coração e pulmão.
— Você não tem medo? — Matthew pergunta. — Poucas
pessoas gostam de ver cadáveres.
— Não, eu gosto. Uma veterana tem pesquisado sobre o
Alzheimer e às vezes ela me deixa participar observando. É
fascinante o como ela fala apaixonada enquanto abre um cérebro
doente, buscando as causas da doença e como ela corrompe a
mente.
— Ficaria muito chateada se parasse de estudar? — Michael
pergunta com um brilho perverso no olhar, engulo em seco.
— Sim, a medicina é a única coisa que sou permitida a fazer,
se ficar sem não terei propósito.
— Cuidar de filhos e da casa, como uma dama da famiglia.
— Eu poderia fazer os dois. — Ergo o queixo.
— Tem certeza?
— Claro. Já estou no quarto semestre de dez, quando
terminar tenho dois anos de residência para a especialização...
— Não, Hope — Michael me corta. — Quando você casar terá
de ter filhos, não poderá terminar a faculdade ou fazer residência
sendo uma mulher da máfia. Seu pai te deixou viver um sonho
impossível.
Gelo, suas palavras batem forte na minha alma, inspiro fundo
levando, as mãos ao colo para disfarçar a tremedeira.
— Eu sei — sopro baixinho. — Estou pronta para aceitar o
meu destino, seja ele qual for escolhido por meu pai.
— Quem sabe — Emily intervém —, ela pode continuar a
faculdade se o marido não for um completo babaca.
Matthew ri e Michael arqueia a sobrancelha na direção da
irmã. Quase posso ler a frase “perdeu o juízo, Emily?”. Eu sei que no
mundo em que vivo somente os homens têm permissão para
cursarem faculdades que beneficiem à organização, mas o que
quero fazer também vai trazer frutos e talvez eles possam perceber
isso.
— Você fez faculdade, certo? — pergunto, o encaro ganhando
coragem para enfrentá-lo e mostrar o meu ponto, igual como fiz com
a minha família.
— Claro, administração e economia — responde.
— Eu fiz Direito — Matthew fala orgulhoso.
— Ambas as áreas são bem aproveitadas pela organização.
Mas quantas mulheres vocês já souberam que perderam os bebês
ou morreram durante o parto por falta de uma obstetra que pudesse
lidar com situações de risco? Temos ótimos médicos nos complexos,
mas eles são especializados, principalmente na saúde dos homens
que vivem aparecendo rasgados e morrendo.
Emily dá um pequeno risinho, entendendo aonde quero
chegar. Michael também parece compreender pela expressão
relaxada e interessada em seu rosto. Ainda não tenho certeza sobre
a decisão do meu pai, mas se realmente for o que estou imaginando
preciso usar o tempo que tenho para firmar que quero estudar e o
Michael terá de permitir, se quiser que vivamos em paz.
— Estou cursando medicina para ser obstetra e poder ter um
lugar de valor na organização cuidando da saúde das mulheres. Você
não iria querer que a Emily morresse ao dar à luz e a criança estar
virada e não ter como fazer um parto normal. A cirurgia seria a única
escolha, mas sem um obstetra-cirurgião isso seria impossível. E ir a
um hospital significaria ficarem expostos, ela e a criança.
— Oh, isso acontece muito — Emily fala. — Sem falar que não
podemos cuidar do nosso ciclo menstrual. Algo que os homens não
sentem dor e acham que devemos lidar com isso calada. — Joga o
guardanapo na mesa. — A Hope tem mais do que razão e espero
que o babaca do marido dela não a impeça de cuidar da nossa
saúde.
Encaro-a, a pequena loura de olhos em chamas tem sido uma
ótima companheira. Sorrio, ganhando mais força para finalizar o que
preciso dizer.
— Ainda não sei quem será meu marido babaca, mas se ele
me impedir de cursar a faculdade por causa de nossos filhos, vai
estar colocando em risco a saúde de todas as mulheres da famiglia.
Eu sou perfeitamente capaz de ser uma excelente mãe e médica —
digo orgulhosa, embora não tenha certeza disso. — Afinal,
atendendo no complexo fico perto de casa e as consultas marcadas
me permitiriam cuidar das crianças e das pacientes.
— Gosto como você parece ter tudo traçado — ele diz
tranquilo, escorado na cadeira. Um fio de divertimento passa por
suas íris. — Realmente, nunca pensei na saúde da mulher de tal
forma. Espero que seu marido babaca considere a opção.
Sorrio triunfante por saber que venci essa rodada, e o Michael
tem divertimento de quem gostou de como me posicionei. Não sei
quem ele pensa que eu sou. Mas vou mostrar que além da garota
machucada pela família existe uma mulher que anseia viver e fazer o
que deseja.
Hope
Já se passaram duas semanas desde que cheguei à mansão
Bianchi.
Finalmente vou encontrar meu pai durante o jantar, os
ataques a Nevada foram contidos e muitos inimigos presos e
trazidos para interrogatório. É a informação que o Michael me
passou, ele tem andado ocupado nos últimos dias e pouco temos
nos visto. Emily diz que é normal, o irmão tem muitas funções na
Máfia e não tem tempo de ficar em casa, geralmente quando o vejo
é acompanhado do Andrew.
O homem continua me dando calafrios, evito o máximo que
posso ficar na presença dele. Para a minha sorte, ele também fica
pouco na mansão, e eu e a Emily podemos jantar sozinhas ou
acompanhadas do Matthew, o irmão do meio. Ele é mais divertido
que o Michael, e gosta de contar histórias engraçadas enquanto
fazemos as refeições. Emily implica que ele inventa todas, Matthew
jura que são verdadeiras.
Aliso o vestido bege no corpo de caimento leve no tornozelo,
uma sandália de saltos finos com tiras e uma gargantilha de
brilhantes com um pequeno diamante na ponta. Prendi o cabelo em
um rabo de cavalo elegante com fios soltos na orelha, maquiagem
impecável e perfume doce exalando nos poros.
— Coloca esses. — Emily me entrega um par de brincos em
formato de coração pequenos, cravejados por diamantes. —
Conjunto da gargantilha.
— Obrigada. — Os dedos tremem ao pegar os brincos,
ansiosa para rever meu pai, saber notícias do Black e da minha mãe
e poder descobrir o que o meu pai ofereceu ao Michael.
— Fique calma. — Emily segura meu braço e respira e inspira
devagar.
— É difícil. — Enfio o brinco no furo da orelha e coloco a
tarraxa com dificuldade.
— Seu pai te ama e te protege, certo? — Ela toma o outro
brinco, o colocando na orelha esquerda.
— Sempre.
— Ele não iria fazer algo para te machucar. — Encaro seus
olhos azuis. — Confie no que você conhece sobre o Bartolomeu,
fique calma e se estiver difícil respirar pode segurar minha mão.
— Não sai do meu lado? — Tento controlar o choro na voz,
sem o Black me sinto indefesa.
— Prometo.
— E se ele tiver dado minha mão em casamento ao Michael?
— sussurro baixinho.
— Não sei o que você pode ter ouvido sobre o meu irmão e te
garanto que metade dessas coisas foi só o Michael cumprindo
ordens. Ele me protege e do jeito dele consegue ser carinhoso —
puxa-me para um abraço —, se vocês casarem poderemos ter mais
festas do pijama.
— Com muito chocolate. — Rimos.
A ansiedade não me deixa dormir há quatro dias, de dia eu
fico alerta e sem conseguir me focar em nada. Finjo prestar atenção
ao que acontece ao meu redor sem realmente processar nada,
ontem Emily apareceu no meu quarto com um pote de sorvete e
barras de chocolate, colocamos um filme para assistir e viramos a
noite em claro, conversando e comendo os doces.
Com ela ao meu lado sinto que tenho uma amiga. É gostoso
poder ter com quem conversar. Queria ser capaz de desabafar com
ela, mas os segredos que carrego devem ser mantidos a sete chaves
no meu coração.
Não faço ideia de como me portar ou sentir nos últimos dias,
uma batalha interna entre o que eu deveria ser, o que fui ensinada a
pensar e sentir contra o que eu realmente quero para mim.
Quero continuar na faculdade estudando, me formar e atender
as mulheres da famiglia como minhas pacientes. Já aceitei que não
posso ser uma médica legista, mas ficaria feliz somente como
obstetra. Ter o que fazer para ocupar os meus dias solitários.
Ao contrário do anseio que o Michael tem jogado na minha
mente e corpo de querê-lo por perto, de ficar animada pensando em
quais serão suas próximas palavras ou como ele irá se portar. Os
dias que passamos longe têm sido sem graça, sem emoções. Quero
voltar a me sentir ousada como naquele dia no carro ou quando
toquei sua pele no escritório. É um lado meu que eu desconhecia a
existência, mas que gosto de experimentar.
Eu quero viver para além dos muros da minha casa, sentir
como é amar, ser amada, tocada e tocar um homem que me cause
borboletas no estômago. Nunca vou encontrar um marido capaz de
aceitar meu passado e que não tema continuar ao meu lado. Minhas
ilusões com o que não posso ter terminam quando a realidade me
lembra tudo que está em jogo ao casar, e a perda é grande demais
para ser uma opção.
Não saber o que me espera me causa crises de ansiedade
com taquicardia, insônia e muito mal-estar. Hoje estou a ponto de
correr para o banheiro e chorar por horas até que tudo termine.
Admitir que eu quero mais do que me foi dado, faz com que me
ache uma ingrata que não merece a família protetora que tem.
— Eu não sei o que fazer, pensar ou sentir — confesso para a
Emily, palpitações me deixam com medo de ter um ataque na frente
de todos e desmaiar. E se eu morrer por taquicardia?
— Você está confusa, Hope, é normal. — Ela alisa minha
testa. — Só mostra que você tem sentimentos como qualquer outra
pessoa. Eu vi o quanto você tem se torturado internamente,
achando que tem que tomar uma decisão. Nosso destino nunca nos
pertenceu, não se culpe por achar que você tem escolha.
Emily tem razão, eu nunca tive escolha. É besteira achar que
dessa vez seria diferente. Meu pai sempre tomou as decisões por
mim e me fez crescer com o ideal do que ele achava certo,
sufocando minha voz interior e me fazendo ansiar agradá-lo em cada
uma de minhas escolhas com medo da consequência. Vivendo a
liberdade restrita que ele permitiu que eu tivesse, sou uma ingrata
que cospe no prato que come? Talvez, a verdade é que nunca
consegui calar meu coração rebelde.
Eu não escolhi ser sentenciada a um futuro sem o amor de
um homem e de filhos.
Eu não escolhi ser sequestrada e resgatada pelo Michael.
Eu não escolho o desfecho dessa noite.
Ninguém pode me culpar, nunca foi a minha escolha.
— Você tem razão. — Aperto sua mão, soprando baixinho. —
Vamos acabar com isso.
— Estou com você. — Aperta meus dedos.
Saímos do quarto dela e vamos para o elevador. Matthew
ajeita a gravata em frente à porta. Tomo um segundo observando o
homem alto de ombros fortes. Ele veste um terno azul-marinho feito
sob medida, camisa branca e uma gravata da cor do terno. Os
cabelos aparados na lateral e meio grandes em cima penteados para
trás com gel que brilha sob a luz. Os olhos azuis encontram a gente,
ele sorri com o canto dos lábios e estica a mão, pegando a da irmã.
Matthew tem o rosto esticado, com bochechas marcadas e
maxilar firme. É um homem atraente e muito cheiroso, exala frescor
e leveza com umas notas cítricas que me lembram o verão quando
as laranjeiras desabrocham.
— Boa noite, Hope — a voz grave me cumprimenta, aceno em
retribuição.
Os batimentos aceleram conforme descemos os andares, foco
na respiração e em segurar a mão da Emily. As portas de metal
abrem, dando espaço para o corredor, caminhamos juntos e quando
entramos na sala de jantar fico surpresa ao ver Black sentado ao
lado do meu pai. Tenho o ímpeto de correr para os braços do meu
irmão. Ele tem uma tipoia no ombro esquerdo, o rosto com alguns
ferimentos fechados e uma bengala ao seu lado.
Black me encontra no segundo em que arfo, segura a bengala
para se levantar e caminha mancando até mim. Ele não demonstra
desconforto ao pisar com a perna machucada, veste um terno preto
como a noite, gravata da mesma cor e camisa branca. Caminho ao
seu encontro, estico os braços, e o abraço com cuidado, enfiando a
cabeça em seu peito, sem machucar seu braço imobilizado.
Black cheira a lar.
Os olhos molham e inspiro fundo o aroma amadeirado e
fresco que me lembra casa, assim como a roupa, o cheiro do Black
lembra a noite de quando brincávamos escondidos na sala de jogos,
enquanto nossos pais dormiam.
— Senti sua falta — confesso.
— Eu também — fala baixinho para que somente eu escute.
— Vamos sentar.
— Certo.
Observo o rosto do meu irmão, olhos verde-escuros como os
meus, cílios grossos, nariz afilado e bochechas protuberantes com o
maxilar firme. Os cabelos castanhos com tons dourado penteados
para o lado em um topete alto, Black gosta do cabelo grande caindo
nos olhos, quando vai a jantares importantes penteia para o lado e
fios soltos caem em sua testa.
— Hope querida — meu pai chama.
Solto meu irmão e vou ao seu encontro hesitante, com medo
do que ele tem para me dizer. Ergo o queixo, não deixando que veja
a tremedeira no maxilar.
— Pai — cumprimento contida.
— Vamos conversar em particular antes do jantar. — Segura
meu ombro com uma mão, me guiando para fora da sala. Black nos
segue a passos lentos.
Ao passar pela porta, o Michael entra, impecável em seu terno
cinza, camisa preta e gravata da mesma cor. Os cabelos negros
penteados para o alto com as pequenas pontas meio espetadas. O
cheiro quente atinge meu nariz como um vapor, os olhos confiantes
de quem sabe que vou receber uma notícia que o agrada. O
pequeno sorriso no canto de seus lábios e a forma que ele me
encara com desejo causam arrepios em minha pele.
Deixo-o para trás, seguindo meu pai até um escritório no
primeiro andar, lá Andrew está sentado como um rei à sua mesa,
cumprimenta meu pai e depois sai sem mais delongas. Sozinhos
nesse ambiente fechado, eu me sento no sofá cutucando a ponta
das unhas, quase impossível respirar com o descontrole interno dos
meus nervos. Foco a atenção no peso de papel em cima da mesa
com medo de encarar meu destino.
Meu pai senta ao meu lado, segura minha mão e vejo um
aviso na palma de sua mão virada para mim “câmeras e escutas”
compreendo que vamos precisar falar com cuidado. Ele me puxa
para um abraço e inspiro forte o cheiro de sua pele amadeirada.
Pressiono os braços em seu ombro, querendo me esconder em seu
abraço e fazer o tormento ir embora.
— A mãe? — Não consigo terminar a frase, com medo de
dizer algo errado.
— Bem, ela entendeu a situação.
— Pai. — Afasto-me encarando seus olhos verdes como os
meus, sempre gostei de pensar que tenho os olhos dele, faz com
que eu me sinta mais próxima, ligada a ele de uma forma que
somente eu sei o quanto é importante. — Qual é a situação? O que
você deu como prêmio ao Michael? — Esforço-me para não deixar a
voz embargar, o lábio inferior treme e o prendo com os dentes.
— Eu não tive opções, você entende? — Segura meu rosto,
fazendo carinho na bochecha.
— Como não? Você é o Capo de Nevada, poderia ter usado
seu exército — balbucio ansiosa demais para conseguir me controlar.
— Hope — Black me chama, senta-se ao meu lado e leva meu
rosto para seu peito. Black encosta a boca no meu ouvido
murmurando: — Precisa ficar calma, Michael e Andrew estão
analisando essa conversa. Vai dar tudo certo. — Beija minha cabeça.
— O ataque foi em escala — meu pai fala. — Enquanto o
comboio lutava, eu já tinha direcionado parte das tropas para
defenderem os cassinos Lux, Sorte de Ouro, Cosmo e o 4 Sortes.
São os maiores, muitos civis estavam sendo mortos e não eram
ataques com intuito de roubar. Eles entraram explodindo os
estabelecimentos por fora e dentro. As últimas semanas foram um
caos e a polícia queria que alguém fosse responsabilizado.
— Por que fazer tudo isso? — pergunto com raiva.
— Para dividir minhas tropas e me deixar vulnerável para
poder te resgatar. O Black estava hospitalizado e garantiram que ele
não poderia se mover por um tempo caso não morresse. Eu não tive
outra opção, precisava da equipe do Michael e eles são bons no que
fazem.
— Os melhores — Black fala orgulhoso, ele também é um
membro. — Não confiaria a outra pessoa além de mim, do Steve e
do pai para te proteger que o Quarteto Monstro.
— Mas e o Steve onde ele estava que não foi atrás de mim?
Ele teria ajudado. — Aperto os punhos.
— Seu irmão estava preso no Cosmo durante o primeiro
ataque. Levamos cerca de duas horas para o retirar lá de dentro.
Steve queria ir atrás de você, mas eu já tinha pedido a ajuda do
Michael e da sua equipe, seu irmão era necessário ao meu lado
contendo os ataques.
— O que você deu em troca? — A minha voz treme, aperto as
mãos quase não conseguindo controlar a ansiedade que me devora
por dentro.
— Tentei negociar com o Michael um dos cassinos ou o que
ele quisesse...
— Pai, não enrola — peço, soltando meu irmão e agarrando a
mão dele. — Fala.
— Desculpe por quebrar nossa promessa — fala baixinho,
alisando meu cabelo. — Você agora é a noiva de Michael Bianchi, o
noivado será oficializado hoje com o pedido de casamento, em dois
meses vocês se casam.
Gelo penetra minhas veias.
Paro no tempo sem saber como reagir. As suspeitas que eu
tinha se provaram reais. A vida que meu pai dizia que eu teria caso
casasse, se desmancha diante dos meus olhos como um pesadelo.
Como ele pode ter sido capaz de fazer isso comigo? Arfo não
conseguindo respirar. A culpa é realmente do Michael? Ele não faz
ideia de quem eu sou o que representa a nossa união.
Mas o meu pai...
Minha mãe, Black e Steve sabem o que me foi sentenciado.
Um medo que nunca senti antes percorre as células do meu corpo.
Quero correr, me esconder e nunca mais ser vista. Michael não faz
ideia do que fez com a vida dele e de seus herdeiros ao firmar um
acordo de noivado comigo, porém, eu sei e eu temo por cada
segundo do meu futuro.
Uma promessa antiga foi quebrada.
A impotência rasga a minha alma ao me dar conta de que não
importa o quanto eu tentasse ser uma boa filha. Cumprir cada uma
de suas regras, aguentar calada os abusos da minha mãe e fingir
que não doía quando ela me machucava e depois fazia carinho.
Nada do que vivi importa mais, foi tudo em vão. Enquanto tentava
com todas as forças fazer o que ele pedia, meu pai fez o que jurou
nunca fazer.
Faz 16 anos que sei a verdade sobre a minha família e nunca
ousei questionar meu pai, me rebelar ou fazer qualquer coisa que
nos colocasse em perigo, mas agora a raiva borbulha no meu
sangue como nunca aconteceu antes. Enxergo vermelho, não escuto
nada do que ele fala e com os sentidos bagunçados eu abro a palma
da mão, subindo acima da minha cabeça e descendo com a força
dos anos que reprimi minha alma no fundo do meu corpo para
manter minha família segura. O tapa estrala alto, seu rosto vira na
direção oposta e meu coração quebra.
16 anos em que reprimi minha alma no fundo do meu corpo
para manter a minha família segura.
A família que agora me entrega a um homem que pode nos
destruir se descobrir a verdade sobre o que aconteceu anos atrás.
— Você me traiu — rosno, lágrimas explodem pelo meu rosto.
Respirar fica difícil, o coração bate com força no peito, a vista
escurece e eu apago.
Michael
Eu queria ver como ela reagiria à notícia, esperava choro,
gritos ou aceitação. Mas o tapa que ela deu no rosto do pai me
pegou de surpresa, seguido pelo desmaio. Guardo o celular no
bolso, levantando-me da mesa de jantar. Andrew que vigiava o que
acontecia pelo aparelho dele ri ao se levantar.
— Parece que sua noivinha tem garras — zomba, andando
para fora.
— Noiva? — Emily pergunta, puxando meu braço antes que eu
saia.
— Hope, preciso ir.
Caminho para o escritório poucos passos atrás do Andrew,
percebo Emily me seguindo de longe e Matthew ao lado dela. Ambos
curiosos para saber o que aconteceu. Andrew não bate antes de
entrar e o sigo, Bartolomeu tem a filha nos braços, alisando seus
cabelos e Black olhos preocupados ao encarar a irmã.
Fecho os punhos com vontade de pegar a Hope para mim e
cuidar dela. Poderia esperar qualquer reação, mas não o medo e a
raiva que demonstrou. Tem muito mais por trás do seu temor do que
somente casar comigo. Ela pode pensar o que for, mas não passei
de um homem respeitoso e somente uma vez agi como babaca ao
ver sua reação de recusa ao querer casar comigo.
Quis mostrar a ela com quem estava lidando, mas respeitava
sua vontade, independentemente do que eu queria. O fogo em suas
íris verdes despertou um pequeno demônio no meu cérebro louco
para mostrar a ela que não era isso tudo. Mesmo que a minha
vontade fosse de beijar seus lábios rosados e a fazer gemer na
ponta dos meus dedos.
Hope me deixa louco, por isso mantive distância nas duas
últimas semanas, não queria ser desrespeitoso ou contar sobre o
noivado, quebrando a promessa que fiz a seu pai.
— Não controla sua filha, Bonnarro? — Andrew zomba,
servindo uma dose de uísque para si.
— Não se meta nos assuntos da minha família, Bianchi —
Bartolomeu rosna.
O homem parece um bloco de gelo impossível de ser lido. Não
sei dizer se Bartolomeu tem ódio pelo Andrew, quer castigar a Hope
ou fugir com a filha, a livrando do compromisso. Sirvo uma dose de
uísque para mim e outra para ele e o Black. Entrego o copo a ambos
e sento no sofá de frente, uma perna por cima do joelho, aponto
para a Hope.
— Por que ela desmaiou?
— Hope tem ansiedade forte — Black responde, antes de
continuar dá um gole na bebida. — Quando não gera ataques de
pânicos notícias repentinas e graves a fazem desmaiar. Nos últimos
dias você a notou ansiosa?
— Não.
— A Emily pode ter percebido. — Viro encontrando o Matthew
na porta do escritório. — Posso chamar ela.
— A traga — Andrew autoriza.
Emily entra e quando vê a amiga desmaiada corre para perto
dela. Segura sua cabeça e franze a testa, minha irmã senta ao lado
do Black, que se levanta sentando-se comigo, ele não se atreve a
encarar a Emily, foca a atenção somente na irmã. Talvez ele não
saiba sobre o acordo de casamento.
— O que houve? — Emily pergunta.
— Você conversa muito com ela? — pergunto. — Eles querem
saber se ela apresentou sinais de ansiedade nas últimas semanas.
— Todos os dias. — Emily me encara. — Faz uns quatro dias
que ela não consegue dormir. Fica agitada, arranjando coisas para
fazer ou com dificuldade em respirar.
— Como uma louca — Andrew debocha.
— Minha irmã não é louca, não pense isso dela. Ela só é
ansiosa e acontecimentos fora da rotina podem gerar crises.
— Hope precisa de uma rotina — Bartolomeu se pronuncia —,
e coisas que mantenham sua atenção fixa por horas como estudar,
fazer exercícios e conversar.
— Por isso você a trancou? — Andrew pergunta. — Não queria
que pensassem que sua menina é louca. — Ele ri escandalosamente.
Bartolomeu encara Andrew com sangue nos olhos, aperta a
mão no braço da filha. Uma veia salta em sua testa com a vontade
de reprimir a forma como o Andrew trata Hope. Não adianta, o
demônio do meu pai não sabe o que é ter cuidado com os filhos,
zelar por seu bem-estar. Ele só conhece e sabe causar dor, medo e
retirar as esperanças de uma vida feliz.
— Vamos ter de reconsiderar o casamento — Andrew continua
—, não quero meus netos loucos como a mãe.
— Já chega! — brando em voz morna com ele. — O
casamento vai acontecer. Hope deve ter ficado instável por causa do
sequestro e a distância da família, certo?
— Sim — Bartolomeu responde sem me encarar, travando
uma batalha silenciosa com o Andrew. — Ela faz tratamento e não
precisa de uso constante dos remédios se não tiver gatilhos. Minha
filha não é louca e não permito que a chame dessa forma de novo.
— Oras, se ela não é louca foi você que não soube a educar
direito. — Andrew entorna o líquido do copo, desce com força,
causando um estrondo ao bater o vidro na mesa. — A minha quando
teve uma crise idiota de choro, lhe dei motivo para sentir dor e
derramar lágrimas, nunca mais fez isso. Mulheres da máfia devem
ser fortes e boas mães, não princesas intocáveis.
Emily se encolhe, e eu controlo a vontade de socar o Andrew.
Desafiá-lo quando estamos sozinhos não causa alvoroço e sei que
ele gosta quando me imponho como o Chefe. Na frente de outras
pessoas, principalmente, de um Capo poderoso como o Bonnarro eu
tenho que manter o controle. Nessa sala, Andrew Bianchi não é o
meu pai, é o meu Chefe, que deve ser respeitado.
Por isso, mesmo ouvindo as barbáries que ele fala sobre a
filha, Bartolomeu se contém. Brigar com o Chefe é causar uma
guerra e ele não teria como lidar com um ataque das quatro
famílias, seriam dizimados e perderiam tudo pelo que ele luta para
proteger e entregou a mão da filha.
— Michael quando casar com essa mulher a mantenha na
linha — branda. Contraio o maxilar com vontade de mandá-lo se
foder. — Não traga desonra à nossa família ou filhos fracos. Você é o
próximo Chefe, ser fraco com mulheres será o seu fim, entendeu,
garoto?
— Sim, senhor — rosno. Levanto farto da afronta dele.
Andrew se diverte ao me ver na coleira na frente de outros Capos.
— Eu vou cuidar da minha noiva, fique tranquilo.
— Emily — ela pula com o chamado dele —, vá buscar algo
para acordar a menina, vamos prosseguir com o pedido de noivado
oficial à noiva e jantar, chega de show por hoje.
— Sim, senhor. — Levanta-se de cabeça baixa, saindo
apressada do escritório.
— Depois conversamos — digo ao Black antes de sentar ao
lado da Hope.
O olhar dele lembra a mim mesmo quando via a Emily
sofrendo nas mãos do Andrew sem poder fazer nada para livrar a
minha irmã da dor. Quando estava na minha presença não notei
sinais de ansiedade na Hope, além da forma como a respiração dela
acelerava quando a tocava e as bochechas ganhavam um tom de
rosa.
A petulância dela me deixa com o pau duro de vontade de
amarrá-la à minha cama e surrar sua bunda arrebitada até que
aprenda a responder “sim, senhor” quando eu ordenar. A boquinha
rosa carnuda vai ficar linda calada pelo meu pau metendo até o talo
em sua garganta. Em breve ela será completamente minha. E
apesar do desejo ardente por seu corpo, quero conhecer mais da
sua mente e ajudá-la a ficar menos ansiosa.
Emily retorna e coloca um vidro no nariz da Hope para que
cheire, as pálpebras apertadas são o primeiro sinal de que recobra a
consciência. A mão na coxa do pai sobe à cabeça, ela abre os olhos
como se sentisse dor pelo franzir do nariz e o gemido. Sua visão
foca em mim.
— Como se sente? — Bartolomeu pergunta.
— Confusa — ela responde, ainda apoiada no pai.
— Lembra o que aconteceu?
— Sim. — Pisca com pesar. — Serei a esposa dele.
— Não gostou? — Toco seu braço, a puxando do pai e
forçando a sentar-se de frente para mim, levo as mãos às suas
bochechas fixando nossos olhares. — Você negou tanto que ele não
te daria como prêmio, agora que sabe a verdade, tem algo a me
dizer, Hope?
Provoco-a. Ela não precisa de consolo ou palavras de carinho,
mas de alguém que seja capaz de retirá-la da bolha de sofrimento
em que se meteu. Quero ver a ferocidade em suas íris verde
novamente e não a tristeza que a nubla como uma tempestade.
Minhas palavras causam realmente o que desejo, a fazendo
esquecer a dor causada pelo acordo de casamento.
— Vá se foder — fala baixo em um suspiro que quase não
escuto.
Sorrio, adorando ver as garras dela de fora. Aproximo a boca
de seu ouvido, encarando o desgosto nos olhos de Bartolomeu por
ver como trato sua filha.
— Vou fazer isso com você — digo somente para ela.
Quero atiçar a fera que bateu na cara do pai, sentir suas
presas na minha pele. Fazê-la gritar, implorando para que eu a coma
e deixe que goze no meu pau. Inspiro o cheiro doce de sua pele,
contendo a vontade de lamber a extensão de seu pescoço.
— Hope Bonnarro — falo seu nome com lentidão,
aproveitando cada palavra na minha língua. Fico de joelhos como
manda a tradição e puxo a caixinha de veludo do bolso do paletó.
Abro, mostrando a ela o diamante rodeado por brilhantes em ouro
branco. — Aceita se casar comigo?
— Sim. — Ergue o queixo orgulhosa. Ela se recusa a
demonstrar fraqueza na minha frente.
Levanto-me, puxando seu corpo, colando-o ao meu. Uma mão
no seu cóccix brinca com o limiar de sua bunda. A outra na
bochecha, a trazendo para mim. Pressiono meus lábios nos dela,
sentindo o gosto de amora, Hope hesita sem saber se deve me dar
passagem. Mordo o lábio inferior e com um chiado consigo enfiar
minha língua em seu interior.
Ela não se move, não sabe o que fazer com a língua ou as
mãos, demonstrando a sua inexperiência. Provando o quanto era
intocável e agora é somente minha. A informação desce direito para
minhas bolas, apertando na cueca. Eu quero comer essa mulher,
devorar sua virgindade. Deslizo a língua na sua, a conduzindo em
uma dança sensual. Hope leva as mãos ao meu peito, aperta firme o
tecido do paletó e cede.
Ela se entrega ao beijo, exalando em meus lábios e seguindo
minha língua, trazendo mais do seu gosto de amora na nossa troca
de fluidos. As mãos que me apertavam agora me puxam sutilmente
contra ela, sedenta por mais.
Enquanto devoro seus lábios eu percebo: Hope não está
rejeitando a mim, é outra coisa da qual não tenho conhecimento.
Vou descobrir tudo que ela esconde e mostrar que de mim ela não
pode ter segredos. Nossa união foi selada e em breve subiremos ao
altar onde a farei minha para sempre.
— Não tem para onde fugir — digo ao soltar seus lábios.
— Não sou covarde — refuta.
Sorrio, soltando-a e observando seu corpo cair mole no sofá.
Hope tem garras e não se entregar sem lutar. Gosto disso nela.
Hope
Michael suga minha alma com o beijo.
Eu tenho vontade de me entregar a ele.
Depois de desmaiar e acordar, fui beijada pela primeira vez e
as coisas na minha mente continuam confusas. Mais uma vez ele foi
o único capaz de fazer meu mundo parar, me colocando em uma
bolha onde nada poderia me atingir. Incendiando meu corpo e me
fazendo ansiar para tê-lo somente para mim.
A ansiedade acalmou o suficiente para me deixar pensar e
conseguir fazer parte do meu jantar de noivado. Minha mãe deveria
estar presente, mas não sei como ela reagiria. Se seria capaz de
controlar o medo ou surtaria na frente de todos. No fim, foi bom que
meu pai não a tenha trazido consigo. Em casa lidarei com ela de
forma apropriada. Ainda faltam meses para meu aniversário, ela
deve estar controlada o bastante, por ora.
O clima sombrio tira qualquer vontade de mastigar a comida,
Emily encolhida ao meu lado parece um ratinho assustado. Andrew
fala sem parar sobre a ousadia do Samuel em invadir seu território e
tentar me sequestrar. Ele continua fazendo piada sobre eu ser louca
por causa da ansiedade e ao meu lado, meu pai aperta os talheres
com força suficiente para os partir ao meio.
— Ele teria desistido de você no segundo em que a visse
enlouquecendo. — Ri rasgado.
— Andrew — Michael rosna. — Pare de ofender a minha
noiva.
— Não seja careta, menino. Estamos em família e podemos
brincar um pouco.
Ele quer provocar o Michael, não ao meu pai. Apesar de me
sentir sufocada pela presença do meu pai, tento agir normalmente,
deslizo a mão no joelho do homem ao meu lado, pedindo para que
mantenha a calma. Sua mão envolve a minha em um aperto firme.
Meu pai é hábil para esconder as emoções, mas eu sei o que ele
pensa. Sente culpa por ter me condenado a ser a nora de um
homem desprezível como o Andrew.
O jeito como o Michael me beijou na frente de todos foi muito
quente, se ele fizer isso na frente da famiglia no dia do casamento
vão pensar que já tive relações sexuais com ele. A minha coluna
ainda queima por sentir o local em que ele me tocou, os lábios
forçando os meus a abrirem quando não sabia o que fazer. Um beijo
cheio de desejo, forte, de tirar o fôlego e moldar meus pensamentos
para como será após casarmos.
Eu fiz uma promessa, eu a mantive.
Não existe mais culpa permeando meu coração e mente,
estou em paz por saber que cumpri a minha parte do acordo.
Somente a mágoa e decepção por meu pai ter quebrado suas
promessas. Tento compreender que ele não teve escolha, mas não é
possível que não existisse outra opção além do casamento. O que
preciso fazer é seguir em frente, pensando em maneiras de
sobreviver a um casamento com Michael Bianchi sem que ele
descubra o segredo tenebroso correndo em minhas veias.
Andrew me trata com desprezo por causa da minha saúde
mental, se ele descobrir a verdade mandará matar a mim e a toda a
minha família como punição. Fará do meu pai um exemplo na frente
de todos e da minha mãe um aviso do que acontece com aqueles
que traem a Famiglia. Black e Steve se não forem mortos serão
rebaixados a soldados de baixo nível.
Se a morte não for a minha sentença final, serei jogada em
um dos puteiros da famiglia para ser usada pelos soldados, os
homens com poder farão fila para acabar comigo. Suportar um
casamento com Michael Bianchi é um presente comparado a
segunda opção, passei a vida me escondendo e lutando para não
chamar a atenção e não ter de me casar. E agora aqui estou eu,
noiva do próximo Chefe.
— Voltarei hoje para casa? — pergunto ao fim do jantar.
— Sim, ficará em casa até o casamento. — Meu pai alisa meu
ombro, sei que ele quer me puxar para um abraço, temos muito o
que conversar.
— Esperem — Andrew interrompe a conversa. — A mãe da
menina poderá organizar a cerimônia? É tradição de casamento
Bianchi ser na Catedral de São Patrício e a festa aqui.
— Não ofenda a minha esposa, Bianchi. — Bartolomeu aperta
os punhos com força, deixando as juntas dos dedos brancas. — Ela
vai organizar o casamento da filha, sei das tradições da famiglia,
vamos honrar a todas.
— Você esconde sua esposa tão bem quanto a Hope, é natural
pensar que ela tenha o mesmo problema da filha.
— Chega — a voz de Michael reverbera como um trovão. Ele
bate na mesa retumbando os talheres. — Nos vemos no dia da
cerimônia, podem ir.
Meu pai não responde, me puxa pela mão, encerrando o
jantar. Levantamos e encaro a Emily antes de abraçá-la apertado.
Michael me puxa para ele e me entrega um celular.
— Não fique longe dele — avisa.
Pego o aparelho, rodando em meus dedos, aceno em positivo
antes de guardar na minha bolsa. Sem dizer mais nenhuma palavra
meu pai me puxa pela mão, nos levando ao SUV preto. Mantenho-
me calada com o peso da exaustão nublando a mente cansada.
Na pista de voo do complexo embarcamos no jatinho para
casa.
Sentada, observo a noite estrelada. Black senta ao meu lado e
em frente ao nosso pai. Não quero encará-los, apesar da saudade e
do medo que senti nas últimas semanas, me incomoda como ele
quebrou a promessa.
— Podemos conversar — ele fala, toca meu joelho, chamando
por mim. — Eu sei que você deve estar se sentindo traída por eu ter
violado o juramento que fizemos...
— Como você pode fazer isso comigo? — A voz embarga e os
olhos turvam. A raiva desde que fui sequestrada explode de uma
única vez.
— Por favor, Hope. Eu não tive outra opção. — Ele não me
encara nos olhos.
— Foi você quem passou 16 anos me dizendo que eu nunca
poderia casar, que se fizesse isso estaria condenando a nossa família
à morte — explodo em um soluço, o ar se torna escasso e mal
consigo respirar. Aponto para a minha cabeça. — Faz ideia do que
todos esses anos fizeram com a minha mente? O quanto eu me
culpava sempre que via a mamãe chorando e você a confortando
dizendo que a culpa não era dela.
Levanto-me da poltrona, sufocando sem conseguir conter o
tormento na minha alma.
— Faz ideia do quanto eu me culpo — grito. — eu fiz tudo o
que você me mandou, vivi como ordenou e agora você me diz que
eu devo casar? Era melhor ter enfiado uma bala na minha cabeça!
— Chega! — ele pede, ficando em pé. Suas mãos tocam meus
braços e me afasto dele, ficando no corredor do jatinho.
— NÃO! Eu nunca falei nada, por anos sofri calada,
acreditando que se fizesse o que você pedia isso nunca iria
acontecer.
— Você foi sequestrada, eu tinha que te trazer de volta. —
Seus olhos turvam. Pela primeira vez vejo meu pai abalado. A fúria
em meu peito ameniza, me lembrando que não é somente eu que
estou sofrendo com isso. — O Black estava quase morrendo no
hospital, sua mãe teve uma crise tão forte que precisou ficar
internada com respiradores. O Steve era o único que se mantinha
em pé, me ajudando a defender o território.
— Tivesse deixado o território explodir para ir atrás de mim.
Sinto-me como um grão de areia lutando para permanecer no
lugar enquanto um tsunami destrói tudo o que toca.
— Por favor, Hope, me perdoa — estica a mão —, eu te
prometo, independentemente de vocês casarem eu vou continuar te
protegendo. Podemos dar um jeito nessa situação, você pode
continuar estudando, o que acha?
— Não cabe mais a você cuidar de mim. — Limpo a bochecha.
— Você me largou nas mãos dos Bianchi, em dois meses serei a
esposa dele e terei de lidar sozinha com a bagunça que vocês
causaram.
— Você nunca poderá contar a verdade ao Michael, ninguém
sabe o que aconteceu além da nossa família. Você está segura,
minha filha. — Avança um passo na minha direção e recuo dois, não
consigo ficar perto dele.
— Como estou segura se o que me colocou nessa situação foi
um sequestro? — Aperto a bolsa na mão. — Quem está me
perseguindo?
— Eu ainda não sei. — Suspira cansado.
— Sem suspeitas?
— O Samuel é um completo fantasma, ele surgiu pela primeira
vez em Nevada, a mãe foi morta quando ele era adolescente. Há uns
anos ele sumiu do mapa e reapareceu como o novo Chefe de
Boston, alegando ser filho bastardo do Zacharias.
— Sem ligações com aquela pessoa?
— Não encontrei nenhuma por enquanto.
Aceno em positivo, compreendendo a situação. Não sei como
me meti nessa enrascada, mas já existem coisas demais para eu
lidar na minha vida. Deixarei que os homens que me enlouquecem
cuidem desse infeliz que quer me tomar para si. Não aguento mais
nenhuma emoção ou enlouquecerei de vez.
— Estamos tentando, Hope. — Black segura minha mão. —
Vou te deixar em segurança novamente. — Beija o dorso da minha
pele.
— Queria poder acreditar em você. — Sorrio triste. — Michael
vai participar da segurança? Como sua noiva ele deve ficar de olho
em mim?
— Sim — meu pai responde. — Alguns homens dele seguem
para nossa casa neste momento. Vão ficar vigiando de perto e você
não poderá ir às aulas. Quando casar com o Michael ele vai decidir
se você continuará estudando.
— Ótimo, vou me tornar uma verdadeira prisioneira. — Solto a
mão do Black, a raiva se fundindo à dor.
— Isso não vai acontecer, você será feliz — meu pai tenta me
convencer com suas mentiras.
Passei anos acreditando em cada uma de suas palavras e isso
não impediu a minha queda. Não aguento mais. Arfo, andando para
trás, me sentindo sufocada, precisando de ar, da bolha de conforto
que somente o homem que não faz ideia de como ferrou com o meu
destino é capaz de me dar.
— Vocês dois não fazem ideia de como será o meu
casamento. Vivi fazendo tudo o que me pediram, agindo como vocês
queriam com a promessa de que eu não casaria para ter uma vida
de sofrimento, vocês dois quebraram a promessa então vão para o
inferno!
Passo apressada a caminho da cabine do banheiro. Tranco a
porta e deslizo contra ela. Enfio o rosto entre as pernas, tentando
controlar a respiração e acalmar a palpitação no peito, inspiro fundo.
O rosto banhado pelas lágrimas escapando sem restrição. Céus, o
que eu vou fazer da minha vida agora?
Afogo-me em um mar de sofrimento tendo a minha vida
rompida debaixo dos meus pés. Tudo pelo que acreditei e lutei se
esfarelando diante dos meus olhos. Minha família não consegue
compreender como eu me sinto, apesar de partilharmos o mesmo
segredo não são eles que vivem com a culpa maior pressionando
seu peito e destruindo seus sonhos. Eles continuam vivendo
enquanto eu fui mantida presa em uma redoma.
Uma vibração chama minha atenção e noto que vem da bolsa
no chão da cabine do banheiro. Estico o braço e pego o aparelho
que o Michael me deu. O nome “noivo” brilha na tela, me deixando
saber que é ele. Tenho vontade de ignorar a ligação, mas no
momento tudo o que eu preciso é ser envolta novamente em uma
bolha que me faça esquecer todas as dores no meu peito.
— Por qual razão você pediu que eu fosse sua noiva? —
pergunto ao atender a chamada.
— Precisava da influência do seu pai para dar um golpe no
meu — responde com sinceridade.
— Poderia ter conseguido sem o contrato de casamento —
fungo, não me importando que ele saiba que estou chorando.
— Assim não teria graça, eu te queria também.
— Você nem me conhecia, a única vez em que nos vimos eu
tinha 15 anos.
— A última vez em que nos falamos você tinha 15 anos e era
a pior dançarina com quem já tive o prazer de dançar — fala
prepotente, tenho vontade de furar seus olhos com meus dedos.
— O que você quer dizer com isso? — Soluço, aos poucos a
faca cravada em meu peito sendo retirada.
— Foi no ano passado, estava voltando de uma missão
quando passei em Las Vegas e fui à sua casa. O Black me recebeu e
quando entramos eu a vi deitada no sofá com uma camisa curta.
Lembro como se fosse hoje. Você dormia de boca aberta, um braço
levantado, o seio quase de fora pelo pijama folgado e as coxas
grossas. Um convite para os meus olhos.
— Você é um tarado — digo, as bochechas ficando vermelhas,
não consigo me lembrar disso acontecendo.
— Completamente. Enquanto o Black te pegava no colo e
levava para o quarto, eu decidi que você seria minha.
Um calor sobe pelo meu corpo, consigo visualizá-lo à minha
frente com os olhos em chamas, devorando cada pedaço da minha
pele.
— Teria deixado eles me sequestrarem se meu pai não tivesse
feito o acordo de casamento?
— Bom, eu mataria a todos que tentassem tirar você de mim.
Mas insistiria no casamento, sabia que era a única forma do
Bonnarro ceder.
— Você não faz ideia do que fez com esse acordo. — Mordo
meu lábio, tentando não falar mais do que deveria.
— Podemos descobrir.
— Me deixa continuar estudando? Ao menos terminar o
semestre, vai durar somente mais um mês.
— Não quero te colocar em perigo novamente, Hope.
Continuar na faculdade enquanto querem a sua cabeça é um risco
que não vou correr — ele pausa, suspiro sem saber como o
convencer —, mas você pode trancar o curso. Depois decidimos
como proceder.
— Obrigada.
Trancar o curso é melhor do que desistir. Depois eu posso
abrir novamente. Pela primeira vez nessa noite eu respiro aliviada
por saber que é possível conversar com o Michael. Embora o medo
continue enraizado no meu coração.
— Preciso ir, boa noite.
Ele não espera pela minha resposta e desliga. Encosto a
cabeça na porta, deixando as últimas lágrimas caírem. Não posso
mais me manter presa às palavras do meu pai e aos medos pelo que
acontecerá com a minha família. Agora eu preciso cuidar de mim
mesma e descobrir como passar por essa situação sem desmoronar
e causar uma rachadura na organização. Eu vou sobreviver a isso e
provar que sou feita de ferro e fogo. Chega de ser a mocinha
indefesa.
Eu consigo, lutei com garras e unhas para vir ao mundo,
sobrevivi a um início de aborto quando estava no ventre da minha
mãe, nasci de sete meses e fiquei na incubadora. Toda a trajetória
que me trouxe até aqui foi banhada por sangue e lágrimas, não vai
ser uma adversidade que vai parar Hope Bonnarro.
Eu posso.
Eu consigo.
Limpo as lágrimas com fúria, abro a torneira da pia, deixando
a água lavar os resquícios finais do choro, enxugo o rosto e saio da
cabine decidida a nunca mais recuar em prol de proteger alguém.
Falar com o Michael e descobrir suas verdadeiras intenções ajudou a
acalmar a fúria que queimava em meu peito. Mais uma vez ele foi
capaz de me arrancar do tormento, me envolvendo em uma bolha
acolhedora.
— Ainda temos de conversar — meu pai fala.
Sento-me à sua frente cruzando os braços, estou com tanta
raiva dele por ter me traído.
Eu amo o meu pai, ele foi bom comigo e nunca me rejeitou ou
me maltratou. Ele tinha todos os motivos para não me deixar viver,
me trancar em uma jaula ou me sentenciar a um futuro pior. Ele não
fez nada do que é esperado de um homem como ele.
Acolheu a dor da minha mãe, fez de tudo para que eu sentisse
que ele me ama. Foi por ele e pela minha mãe que eu tomei as
decisões que basearam a minha vida, foi por eles que quando meu
pai me pediu que eu nunca casasse, amasse ou tivesse uma família
eu aceitei, por saber do seu amor e de como ele me protegia.
Engulo em seco toda a minha raiva, preciso me lembrar que
para além da dor sempre existiu o amor por trás de cada uma de
suas ações. Posso ter me descontrolado e ainda me sentir abalada,
mas não posso esquecer tudo pelo que passamos juntos. Terei de
dar um jeito de conseguir conviver com essa nova situação.
— Estou ouvindo.
— As coisas não mudaram, Hope, as regras continuam as
mesmas. Nada de filhos.
— Você não pode mais impedir. Se o Michael quiser, ele me
fará carregar seus bebês.
— Não. — Percebo o tremor em seus dedos, ele os aperta
para disfarçar o nervosismo. — Você não faz ideia do quanto está
doendo te entregar a ele. — Levanta-se, apontando para o tórax. —
Eu passei todos os dias dos últimos 21 anos cuidando e protegendo
você e a sua mãe para que não descobrissem a verdade sobre a
nossa família.
— Eu sei. — A voz embarga, lembranças invadem a minha
mente.
— Se eu tivesse outra opção eu juro que teria escolhido. — As
mãos grossas seguram meu rosto, os olhos vermelhos ao me
encarar de perto. — Você é o meu pequeno anjo, a minha esperança
de um futuro melhor. Eu te amo, minha filha, me perdoe por não ter
sido capaz de te proteger.
— Você não vai lutar sozinha. — Black toca meu ombro. —
Sempre que eu puder vou te visitar na mansão e garantir que nada
saia do controle.
— Ele vai querer filhos — soluço.
— Eu sei — meu pai beija minha testa —, continue tomando o
anticoncepcional sem ele saber, podemos inventar uma doença,
pago os médicos que forem necessários.
— E eu te dou os remédios. — Black alisa minhas costas.
— Desculpem por gritar — peço, fungando. — Mas vocês não
podem continuar achando que será fácil controlar cada um dos meus
passos comigo em Nova Iorque. Michael já deixou claro que
pretende ter herdeiros, eu vou encontrar uma forma de fazer isso
dar certo. — Encaro os olhos verdes de ambos, me sentindo ligada a
eles por esse único traço em comum do nosso DNA. — Obrigada por
tudo que fizeram por mim nos últimos anos, mas agora preciso lutar
sozinha.
— Você nunca está só — meu pai diz, uma lágrima escorre de
seu rosto, revelando uma dor profunda em sua alma. — Me perdoe.
Aceno em positivo. Ele continua sendo a pessoa que eu mais
amo nesse mundo e que cuidou de mim desde quando descobriu
sobre a minha existência. Eu posso fazer meu casamento dar certo e
continuar protegendo meus segredos.
Michael
Limpo o sangue das mãos, já faz um mês e meio que iniciei a
caçada a Samuel Morgan, atual Chefe de Boston. Já torturei cinco
soldados e um Capo, nenhum deles entregou a informação que
preciso: por que o Samuel quer a Hope? Se um Capo não sabe os
motivos por trás das ações do novo Chefe, vou ter que chegar ao
desgraçado para conseguir respostas.
— Michael. — Kai entra apressado na sala de tortura. — A
Tentação está sob ataque, precisamos ir.
— Quem? — Pego a Colt de cabo prateado, guardando no cós
da calça.
— Homens de Boston.
Seguimos pelo corredor para deixar o galpão de tortura. Do
lado de fora, pego o capacete, subo na minha moto Brutale 1000 RR
Nürburgring negra como a noite e veloz como um raio para costurar
entre o trânsito, conseguindo chegar à boate mais rápido que os
reforços nos carros. Kai sobe na dele uma BMW S 1000 RR preta
com dourado. Dou a partida e avanço, passando os carros que
seguem para fora do complexo.
O frio da madrugada ricocheteia o dorso da mão, aperto o
acelerador impulsionando mais velocidade, ultrapassando os carros
como um fio de luz. O sinal à minha frente fica vermelho, curvo-me,
apoiando a perna no chão para manter o equilíbrio da moto,
invadindo a contra mão. Um carro buzina, vindo de encontro a mim,
puxo o guidão para a esquerda, passando entre dois veículos.
Puxo o guidão para cima, ficando sobre uma roda,
conseguindo passar pelos carros sem causar um acidente. A roda da
frente bate no chão, levantando fumaça do atrito com o asfalto.
Corto para a esquerda, entrando na 39 E 58th Street, na frente da
boate vejo dois caras mascarados atirando contra os seguranças.
Puxo o máximo do motor na velocidade, empino em um pneu,
descendo o da frente nos invasores, antes deles perceberem o que
aconteceu estão mortos.
Levanto o visor do capacete para que os seguranças me
reconheçam, eles baixam as armas e me entregam um comunicador.
— Relatório, rápido.
— 20 inimigos no total, senhor, armamento pesado, entraram
atirando e já mataram 10 dos nossos.
Ouço o ronco da moto do Kai parando ao meu lado. Aceno
para ele com a cabeça que entende meu sinal. Apoio os pés no
chão, puxando o guidão para a direita e entro na boate com a moto
cantando pneus. Muitos clientes se escondem atrás das mesas ou
embaixo do palco, o caos reina com o som dos tiros e corpos
ensanguentados.
Puxo a arma e atiro no homem perto da escada, os invasores
usam máscaras com o brasão dourado de uma arma envolta de
espinhos, reconheço como o símbolo da Máfia de Boston. Dois no
alto miram em mim, disparo acertando seus peitos, os fazendo
desabar no chão com um baque surdo. Kai acelera em direção ao
palco, atirando nos inimigos que encontra. Dou a partida subindo as
escadas, minha Nürburgring tem amortecedores potentes que
transformam a subida pela escada como se estivesse em uma
rampa.
Do alto encontro mais clientes escondidos e gritando com
medo de serem atingidos, em um canto, perto da porta que dá
acesso ao escritório e à área VIP para distribuição e uso de drogas,
dois homens saem atirando. Acelero saindo do campo de visão deles
e disparo, acertando a cabeça de um e o ombro de outro, chego
perto e atiro na sua barriga. Desço da moto, caminhando com
cuidado pelo corredor de iluminação vermelha.
Dois civis saem de um quarto particular abaixados, a mulher é
segurada com dificuldade por um homem. Ambos apresentam sinais
de estarem drogados. Mando que parem e passo por eles, entro no
quarto com a arma em punho, sem inimigos. Saio seguindo a passos
cuidadosos pelo corredor. Um taco acerta o capacete, jogando a
minha cabeça para trás, o impacto foi absorvido pelo material e não
sinto muito. Retorno a posição ereta, o homem sobe o braço para
me dar outra tacada, seguro o material de metal atirando em seu
abdômen duas vezes.
Retiro o capacete, checo a munição, somente mais uma bala
sobrando no pente. Pego um dos pentes reserva no bolso do paletó
recarregando a arma. Continuo limpando o corredor a cada inimigo
que aparece, no escritório a porta foi forçada com dinamites, marcas
de pólvora e fogo nas dobradiças.
Entro, vendo dois homens, um revirando os arquivos na
estante e o outro concentrado no notebook. O Anthony, meu primo,
responsável por cuidar dessa boate, tem o rosto estourado por
machucados e respira com dificuldade largado no chão. Puxo minha
arma do coldre do peitoral sem fazer zoada.
— O que os cachorros pensam que estão fazendo? —
pergunto com uma arma apontada para a cabeça de cada um.
Eles se movem rápido, tentando pegar suas armas, atiro na
mão do que mexe no notebook e na perna do outro. Ele cai gritando
no chão, corro em sua direção, acertando sua cabeça.
— Só preciso de um para ter respostas — digo ao outro. —
Comece a latir.
— Não sei de nada.
Aproximo-me dele com cautela, buscando por outros inimigos.
Os sons dos tiros ficam mais altos, indicando que tem gente vindo
para o escritório. Contorno a mesa, encostando a arma na cabeça do
homem e puxo sua máscara. Não reconheço o rosto, Daniel entra no
escritório e quando me vê relaxa a postura, vindo para o outro lado
do ratinho.
— São muito atrevidos, atacando nossas boates. — Daniel
bate na cabeça do homem, o jogando contra a mesa. — Faz ideia da
merda que vai ser quando a polícia chegar querendo explicação e
revistando esse lugar?
— Controlou a situação? — pergunto a ele.
— Sim, senhor, cheguei junto dos reforços, eliminamos a
maioria dos invasores e deixamos alguns para interrogatório. A
equipe de limpeza vai cuidar das coisas importantes — se refere a
sumir com as drogas e provas de atividades ilegais.
— Quanto tempo até a polícia chegar?
— Vinte minutos, consegui causar um acidente na Park Ave
por onde eles vinham.
Daniel enfia as mãos nos bolsos do homem, buscando por
armas ou documentos que sirvam como uma pista, remove uma faca
e um revólver. Um micro pen drive, celular e um rádio para
comunicação.
— É esse o tempo que você tem para falar. — Pressiono o
cano da arma na cabeça do homem.
— Eu só cumpri ordens.
— Quais?
— Invadir a rede de segurança de vocês, seria mais fácil fazer
por uma das boates.
— O que você estava procurando? — Puxo o pescoço dele, o
encarando.
— Formas para acabar com o seu casamento. — O
desgraçado sorri malicioso.
Meu abdômen arde, olho para baixo vendo o sangue
manchando a camisa, ele me apunhalou com um pequeno punhal.
— Como? — inquiro para mim mesmo.
— Seu amigo não checou debaixo da minha perna — o
desgraçado se vangloria.
Seguro a mão dele, puxando o punhal da minha pele. Aperto
seu punho, removendo a arma de suas mãos, com a parte afiada eu
aproximo do olho dele, enfiando devagar por baixo da pálpebra,
enquanto ele se contorce gritando. Daniel o prende contra a cadeira,
e eu uso os cinco minutos restantes arrancando o olho do globo
ocular, deixando pendurado. Faço o mesmo com o outro,
transformando o cara em um boneco de assombração.
— Essa foi a sua punição por me apunhalar — digo calmo. —
A tortura vai começar depois.
Com um sinal de cabeça, os soldados que faziam guarda na
porta levam o corpo do homem. Sento-me na minha cadeira, abro a
gaveta da mesa, pego um rolo de bandagem, pressiono a ferida,
aperto a faixa ao redor da cintura para que fique no canto e abro o
notebook, buscando atividades passadas e o que ele queria invadir.
— O pen drive vou mandar nosso hacker analisar antes de
colocar no computador — Daniel avisa.
— Pode ser uma armadilha, vamos ver o que o bostinha
queria.
Encontro o que ele fazia, buscava invadir a rede de segurança,
querendo encontrar onde seria o meu casamento e a lista de
convidados. Também buscou por lugares em que a Hope iria para
fazer prova de roupa e escolher as coisas da cerimônia. Eles vieram
atrás dela, enquanto reviro os cantos da cidade atrás do Samuel, ele
continua querendo chegar à minha noiva.
A obsessão que ele desenvolveu por ela não pode ser
somente para fins sexuais. Tem algo por trás disso, e eu vou
descobrir, nem que tenha de colocar fogo em Boston para fazer os
ratos saírem da toca.
Pego o celular no bolso e ligo para o piloto do jatinho.
— Prepare para voar, saímos às 6 horas para Las Vegas. —
Desligo.
— O que você vai fazer? — Daniel pergunta.
— Descobrir o que a Hope tem, que causou essa confusão.
— Leva a Emily, ela sente falta da amiga.
Encaro Daniel pelo canto do olho.
— Como você sabe disso?
— Ela falou durante o almoço, você não escutou?
Puxo na memória os assuntos falados no almoço de hoje, e só
recordo de que tenho que ir à Itália negociar um carregamento de
armas que vamos mandar para ajudar na guerra da Máfia Siciliana
contra a Ndrangheta que tem negociado com os Brasileiros e
conseguido uma nova cocaína, está infestando as ruas da Itália
como uma praga, causando perda financeira para os nossos aliados.
— Não, você presta atenção demais nas coisas que a Emily
fala — levanto —, vá se preparar, irá comigo.
— Michael, você sabe que quando assumir como o Chefe eu...
— Sim, não se preocupe com isso.
Saímos do escritório e descemos as escadas, a polícia entra
com armas em punho procurando pela confusão. O local não tem
mais civis e os inimigos mortos foram levados embora. A equipe de
limpeza conseguiu disfarçar bem as manchas de sangue. As famílias
das vítimas vão receber os corpos dos mortos e uma compensação
financeira para ficarem calados, caso queiram justiça terão o mesmo
destino. Os feridos terão o tratamento hospitalar pago. Quem for à
delegacia prestar queixa ou depoimento vai encontrar nossos
advogados.
— Você! — O detetive Jack Santiago aponta para mim com
raiva. — Explique o que aconteceu, onde estão os corpos?
— Não sei do que você está falando.
— E esse sangue na sua camisa? — Aponta. — Dessa vez eu
peguei vocês em flagrante, não vão conseguir escapar.
— Me cortei, nada de mais. — Fecho o paletó escondendo o
sangue. — O que o traz à minha boate?
— O lugar foi alvo de ataques e tiveram muitos mortos, as
vítimas estão prestando depoimento, onde estão os corpos?
— Pergunte à sua fonte de informação, procure o quanto
quiser. Só encontrará rastros de uma noite temática de assalto a
banco, nada de mais.
Passo por ele. Uma mão segura meu ombro, impedindo meu
avanço. Suspiro cansado dessa merda, são quase três horas da
madrugada, minha barriga lateja pelo ferimento e estou a ponto de
estourar os miolos do Jack por ser um detetive exemplar
anticorrupção. Ele vai tentar fuçar e descobrir o que aconteceu, e
seus superiores, com os bolsos cheios da grana, vão barrar o caso e
enterrar o arquivo.
— Eu ainda vou te colocar atrás das grades, você não vai
escapar!
Bato na sua mão, a retirando do meu ombro, limpo o lugar, e
viro o rosto para ele.
— Quer apostar o que acontece primeiro?
— Hãm? — Franze a sobrancelha.
— Eu ser preso ou você acabar a sete palmos do chão. Boa
sorte para o vencedor.
Vou embora. Entrego as chaves da moto para o Daniel levá-la
de volta ao complexo e entro no carro. Ao chegar em casa tomo um
banho limpando as manchas de sangue e faço um curativo, o corte
tem dois centímetros de largura e não foi profundo, com aquele
punhal o desgraçado não conseguiria me matar. Visto um terno
marrom escuro, arrumo uma pequena mala e bato na porta do
quarto da Emily.
— Aconteceu algo? — pergunta, coçando os olhos.
— Vá se arrumar, vou a Las Vegas ver a Hope, você vem
comigo.
Emily não responde, arregala os olhos e corre para dentro do
banheiro. Desço e a espero na sala, faço umas ligações, avisando da
situação para o Andrew que se encontra no Sul da Flórida com o
subchefe Louis Lucian. Digo as providências tomadas e para onde
estou indo, desligo. A campainha toca e Daniel entra acompanhado
da governanta, Emily chega à sala com sua mala e estanca ao ver o
Daniel.
Ela não consegue esconder o quanto gosta dele e o desejo
secreto de casar com o Daniel. Não posso esquecer de confrontar o
Black sobre o acordo de casamento feito entre o Andrew e o
Bartolomeu. Minha irmã casará com quem eu decidir, Andrew a
controlou a vida toda e a fez sofrer sem razões, tomarei cuidado de
escolher quem a fará feliz.
— Vamos.
Seguimos os três para o carro e depois entramos no jatinho.
Ambos embarcam em uma conversa com a Emily falando pelos
cotovelos, e o Daniel a escutando atento. O cansaço da noite cobra
o preço e durmo o voo todo.
Hope
— Hope, vamos escolher o vestido. — Minha mãe bate à porta
do quarto. Encolho o rosto entre os travesseiros, cansada com os
preparativos do casamento.
Quando retornei para casa um mês e meio atrás, minha mãe
me recebeu com choro e pedidos de desculpas, se culpando pelo
que tinha acontecido. Depois dormiu por três dias seguidos e
acordou mentalmente estável, séria e pronta para falar sobre como
seriam os meus dias casadas com um mafioso de alto escalão como
o Michael.
Ao contrário dela, foi difícil para mim me adaptar novamente à
minha rotina. Eu ainda tenho medo de outro ataque acontecer e
embora não tenha dito a ninguém, sou grata por não ter que ir à
faculdade. Qualquer saída me deixa ansiosa, mesmo que esteja ao
lado de Black. E às vezes me pego desejando que o Michael
estivesse aqui, com ele me sentia segura, como se nada pudesse me
tocar.
Nos primeiros dias passei dopada por medicamentos,
controlando meus nervos. Mesmo me esforçando para entender a
decisão do meu pai, não conseguia olhar para ele sem explodir em
lágrimas de decepção. Mas após uma semana em que nos
esforçamos, conversando e restabelecendo nosso vínculo, me sinto
melhor. Conformada com o que foi feito.
Passei as semanas seguintes comprando meu enxoval de
casamento, coisas que vou precisar para morar na mansão e muitas
decorações para serem escolhidas para o casamento. Vou me tornar
a primeira-dama da Máfia Bianchi e isso gerou a comoção entre as
mulheres da famiglia que ligam todos os dias oferecendo ajuda para
os preparativos e querendo se meterem na minha vida.
No segundo em que meu pai percebeu meu celular novo dado
pelo Michael, mandou examinar o aparelho e descobriu um
rastreador. É estranho saber que ele tem acesso à minha localização,
mas isso faz com que eu sinta sua presença mais perto, mesmo que
tenhamos nos falado pouco.
É normal ter rastreadores em celular e não me preocupei com
isso, eu tinha um no meu antigo, quando retornei para casa meu pai
me deu um colar e pulseira com rastreadores que não fico sem,
apesar das medidas de segurança e de andarmos com o dobro de
proteção, ainda olho por cima do ombro com medo de um dos
carros explodirem e aqueles homens me sequestrarem novamente.
Em um piscar de olhos passei de Rapunzel para a Lady Gaga
da Máfia Bianchi. Minha mãe odeia o assédio das senhoras e tem
mantido todas longe com unhas e dentes. A Emily é a única que me
comunico por telefone e tenho saudades, criamos um laço de
amizade confortável, meu chá de panelas vai acontecer no sábado,
porém, ela não confirmou a presença.
Tenho uma folga da loucura que me cerca quando converso
com ela e desabafo, comecei a ser sincera sobre como me sentia
depois dela ter contado sobre uma briga que teve com o pai e como
aquilo impactou nela. Passamos três horas chorando no ouvido uma
da outra enquanto éramos sinceras sobre como é ruim ter a pressão
dos nossos pais escolhendo o nosso destino e nos tratando como
bonecas que não sabem o que é a melhor coisa para a nossas vidas.
Só de imaginar ficar rodeada pelas senhoras e filhas da
famiglia eu quero enfiar um bisturi nos meus olhos. A ansiedade tem
detonado meu estômago, não consigo comer nada sem colocar para
fora e passo noites acordadas, o dia ocupada com o casamento e
sem descansar vai fazer meu corpo entrar em colapso nervoso a
qualquer instante.
— Me deixa em paz — gemo, sabendo que é a minha mãe do
outro lado.
— Desça em vinte minutos. — Bate na porta.
A Kennedy é quem deve ficar mais nervosa com a união com
o Michael e evitar a todo custo que o casamento aconteça. Ao invés
disso tem sido a perfeita mãe da máfia, agindo de acordo com o que
esperam dela e ajudando meu pai na insanidade de que conseguirei
evitar ter filhos do Michael, ela comprou tantas cartelas de
anticoncepcional que vai durar por uns cinco anos ou mais.
Rastejo para fora da cama, tomo um banho. Precisei passar
três camadas de corretivo para esconder o estrago de falta de sono
que se encontra meu rosto. Desço as escadas mais lenta que um
caracol, paraliso ao ver a porta sendo aberta e o Michael passando
pelo portal, acompanhado do Daniel e da Emily. Engulo em seco, ele
não deveria ter vindo aqui, não foi marcado nenhuma reunião que
justifique sua presença. Se ele veio só pode significar que tem algo
errado.
Ele me encontra com o olhar afiado, caminha até mim
decidido. Estou a três degraus do chão e Michael para ficando da
minha altura. Não esperava encontrá-lo antes do casamento e tê-lo
perto demais me encurralando com o cheiro quente provoca outro
desconforto. Troco o peso de uma perna para a outra, ansiosa pela
sua presença. Se soubesse que ele apareceria teria penteado melhor
o cabelo.
— Que bom te ver — balbucio, intoxicada por seu cheiro.
— Você não tem dormido, por quê? — Sua mão sobe para o
meu rosto, tocando a têmpora.
— Ocupada com o casamento. — Suspiro. O polegar alisa
minha bochecha, ele me puxa para mais perto, trazendo uma
enxurrada de desejo. — E você o que tem feito? — pergunto,
tentando parecer casual.
— Descobrindo o motivo dos meus inimigos quererem você. —
Sobe um degrau, seu joelho bate no meu e perco o equilíbrio.
Agarro o corrimão e sua mão se prende à minha cintura, evitando
que eu caia. Acho que a intenção dele desde o início era essa.
Me ter presa em seus braços.
— Quando souber me fala. — Respiro com dificuldade. Bato a
bunda no corrimão e sou prensada nele pelo Michael.
— Não consigo entender — prende meu queixo entre os
dedos, analisando minhas feições de perto —, não pode ter sido a
sua beleza.
— Então — pigarreio, nervosa pela proximidade e por ser alvo
de seu olhar investigativo —, não me acha linda?
— Uma das mais belas mulheres que já conheci. — Repousa
as mãos no meu quadril, puxando contra o seu. — Gostosa a ponto
de me fazer perder a concentração, imaginando o gosto da sua
boceta.
Travo a respiração, como ele consegue ser tão descarado
depois de todo o tempo que ficamos longe? Será assim no nosso
casamento? Um calor absurdo sobe do meu peito para as minhas
bochechas e agradeço o tanto de base que passei para ele não
poder me ver ruborizar.
— Isso foi um elogio? — Arqueio a sobrancelha em dúvida.
— Ah, Hope — sua boca desliza para a minha orelha —, eu só
queria um motivo para te ver, isso é o quanto você não sai da minha
mente. — Beija meu pescoço, sua língua desliza em minha pele e
seus dentes agarram forte, me causando arrepios.
Ele me toca sutilmente, os dedos deslizando para cima e para
baixo contra o vestido que uso. Sacudo a cabeça, fico na ponta do
pé e envolvo os braços ao redor do seu pescoço, encarando a
imensidão gelada de suas íris. Tento controlar o nervosismo, ele
deveria se afastar, falar que é impróprio o contato, ao invés disso,
Michael sorri com o canto dos lábios e passa a língua de leve,
mordendo meus lábios, puxando-os com os dentes.
Eu quero sentir o gosto do seu beijo novamente. Fecho os
olhos inspirando com cuidado, envolvida em seus braços que
apertam meu corpo, forçando meu peito contra o seu. Bato o nariz
no dele, sem coragem de abrir as pálpebras, seu nariz desliza por
minhas bochechas com delicadeza, uma de suas mãos sobe para a
minha cabeça em um carinho gostoso. Quase como se ele não
soubesse se quer me beijar mais do que abraçar.
Seus dentes tocam meu lábio superior, e eu cedo, dando
passagem à sua língua afiada e macia. Diferente da última vez, ele
não tem posse, mas cuidado, um beijo lento e cheio de saudade. A
mão segura meu queixo, me mantendo firme para si, uma perna se
enfia entre as minhas e toca meu centro latejante de desejo. Suspiro
contra seus lábios, ansiando por mais.
— Michael! — a voz estridente do meu pai ressoa.
Largo o pescoço do Michael, me afastando, bato no corrimão.
Levo a mão à boca limpando os lábios molhados pelo beijo, o sem-
vergonha desliza a língua, sugando o resto do meu gosto para ele.
Sorri, mostrando os dentes brancos e vira de frente para o meu pai.
Encaro meu progenitor e fico com medo pela reação dele, os olhos
fervendo de raiva e a mão no coldre da arma.
Eu nem mesmo tentei resistir.
É isso que o Michael sempre faz comigo, me envolve em sua
bolha, impedindo que todos os momentos ruins que me assombram
entrem, me faz esquecer o mundo e minhas obrigações. Percebo
nesse segundo o quanto sou perigosa para mim mesma, não posso
entregar a ele os meus segredos ao mesmo passo que me entrego
sem ressalvas ao conforto que ele me oferece.
Suspiro fundo, descendo as escadas com as pernas um pouco
cambaleantes. Fico ao lado do meu pai que deve querer arrancar a
minha cabeça. Michael desce os degraus despreocupado, abotoando
o paletó, ele não tem medo de nada e toma tudo que quer.
— Bom dia, Bonnarro, temos que conversar, vamos ao
escritório?
— Tenha modos quando estiver na minha casa e não agarre a
minha filha! — ralha.
— Posso beijar minha noiva se eu tiver vontade.
Michael tem poder na voz, não é do tipo que precisa gritar
para se fazer ouvir ou bater em algo. Ele fala, anda, olha, a aura ao
redor dele emana controle tocando no corpo dos que estão por
perto, deixando explícito quem é a pessoa no comando do ambiente.
Independentemente de qual seja e quem esteja envolvido. É ele
quem manda.
Perceber isso esclarece o motivo dele conseguir me controlar
com facilidade, não estou acostumada a ser envolvida por uma aura
dominante como a dele. A ter meu ar roubado e impregnado pelo
desejo que o Michael desperta em mim. Talvez eu também tenha
algum controle sobre ele, já que a primeira coisa que fez ao entrar
foi vir até mim.
— Bom dia. — A voz suave da Emily é ouvida e me viro
encarando minha amiga.
Não resisto a saudades e a puxo para um abraço de sufocar,
Emily dá uns gritinhos e rimos juntas como duas adolescentes.
— Veio para o meu chá de panelas?
— Na verdade, eu não faço ideia, o Michael só falou que eu
vinha junto. — Encolhe os ombros e pula animada. — Hoje é sexta,
talvez dê pra eu ficar.
— Do que estão falando? — Daniel pergunta. Emily ganha um
tom vermelho com a presença dele.
— Meu chá de panela é amanhã, foi por isso que vieram?
— Não — encara o Michael —, depois falamos sobre isso.
Os homens saem para o escritório do meu pai e fico me
coçando para descobrir do que se trata a visita misteriosa. Minha
mãe me chama de algum lugar da casa e antes que ela possa me
arrastar para as compras, eu puxo a mão de Emily, a levando comigo
para o quarto. Lá tranco a porta e jogo a mala dela em cima da
cama.
— Eu preciso muito ir ao banheiro e não quero minha mãe
perturbando, mandando eu me apressar. — Aperto a barriga,
fingindo dor. — Pode mantê-la ocupada se bater na porta?
— Claro, precisa de remédios?
— Só privacidade.
Corro para o banheiro e tranco a porta, com a Emily talvez eu
ganhe tempo para descobrir o que aconteceu. Vou para o boxe e
removo o terceiro azulejo da fileira 5, encontrando o botão secreto
que abre para as passagens seguras da casa. Meu pai só não
imagina que eu uso o esconderijo para perambular ouvindo
conversas secretas. Tecnicamente eu nunca usei essa passagem.
Entro pelos corredores, usando o celular para iluminar o
caminho até o escritório do meu pai. Existem muitos túneis como
esse pelo território, paro quando chego ao exterior do escritório
apertado e fico quieta ouvindo as vozes do outro lado da parede
conversarem sem exaltação, como cavalheiros.
— Eles planejam atacar no dia do casamento — Michael fala.
— Como descobriu? — Fico surpresa por ouvir o Black. —
Achei que os homens que foram torturados não tinham revelado
informações.
— Um pen drive espião. — Algo bate em uma superfície. —
Queriam invadir nossa rede e conseguimos fazer isso com eles, o
Simon entrou na rede deles e conseguimos informações antes que
apagassem o sistema.
— Que porra eles querem com a minha filha?! — Uma batida
me assusta, pulo para trás, tampando a boca para que não me
ouçam.
— É isso que queremos saber — Michael fala. — O que a
Hope tem de especial para causar uma guerra entre Máfias que não
brigam há mais de 20 anos?
— Não faço ideia, estou fazendo o que posso para descobrir
como acabar com essa situação.
— Compartilhe tudo comigo, por enquanto tenho um plano
para pegar eles.
— O que pretende fazer?
— Eles querem atacar no dia do casamento e agora sabem
que temos a informação. Vamos montar uma armadilha, fazer com
que venham até nós.
— Não vai usar minha filha como isca, Bianchi!
— Um chafariz protegido.
— Não! — Black e meu pai respondem juntos.
— É a chance que teremos de pegar eles — Daniel diz. — Se
armamos a armadilha, e eles caírem vamos acabar com a situação.
A Hope ficaria segura de uma vez.
O silêncio preenche o ambiente. Se eu pudesse ver, acredito
que veria meu pai com o rosto franzido pensando na melhor opção.
Até eu percebi que eles têm dificuldades em conseguir capturar
inimigos de valor que possam esclarecer o motivo da perseguição.
Uma armadilha não é uma ideia absurda, somente perigosa.
— Com uma condição — meu pai fala. — Eu cuido do
interrogatório.
— Certo — Michael concorda.
Meu celular brilha com uma mensagem da Emily dizendo que
não consegue mais enrolar minha mãe. Saio pelos túneis com o
coração na mão ao pensar no perigo que serei exposta. Se tudo der
certo, e Samuel for capturado, eu não precisarei ter medo quando
sair e poderei convencer o Michael com mais facilidade para me
deixar estudar.
Michael
Levei um dia e meio montando a armadilha para capturar o
Samuel, se ele quer a Hope terá de vir pegá-la pessoalmente e
quando o fizer estarei pronto para capturá-lo e conseguir as
respostas de que preciso. Por ora, vamos esperar o casamento
passar, não quero estragar o dia da minha noiva, ela já parecia
abatida o suficiente quando a encontrei. A maquiagem pesada e os
olhos turvos de cansados. Meus soldados me passam relatórios
diários de suas atividades e sei que as primeiras semanas foram
bastante difíceis para ela.
Bartolomeu não parece saber o motivo da filha ser
perseguida, mas ele esconde alguma coisa sobre ela. As informações
que tenho sobre Hope são limitadas, nenhuma explica o real motivo
dela não ter participado dos eventos e ser obrigada a uma vida
reclusa.
Homens como Black e Bartolomeu nunca me contariam seus
segredos e resistiriam a mais dura tortura. Para fazê-los falar vou ter
que encontrar algo para usar contra eles, que cause danos, estrago
e medo. A Hope seria uma opção, mas para ser um homem
diferente do Andrew não vou machucar minha esposa, se um dia ela
me trair ou fizer algo contra a organização será punida com a morte,
sem tortura ou envio aos bordéis, um tiro na cabeça de misericórdia.
Tudo que ela demonstrou foi ser uma pessoa que sobrevive e
aguenta as merdas que são jogadas na sua frente. Uma dama que
sabe se portar e uma mulher cheia de desejos ansiando para ser
atendida, que se entrega aos meus beijos sem vergonha, por mais
que as bochechas fiquem rubras. Só de imaginar outras áreas do
seu corpo ganhando cor e o frenesi que ela deve sentir de desejo,
quero lamber cada pedacinho da pele macia e fazê-la minha.
Vou tentar conseguir algo do Black hoje à noite quando
estivermos no cassino bebendo. Uma folga enquanto as mulheres
participam do chá de panelas da Hope, em breve será nosso
casamento, tenho que curtir meus dias de solteiro antes de ficar
preso a uma única boceta. A tentação de beijar os lábios com gosto
de amora nublam meus pensamentos, a vontade de poder mordiscar
a pele de seu busto, os peitos fartos, a barriga lisinha e pélvis,
chegando ao centro da sua carne.
Vou me lambuzar na boceta intocada, chupar até a última
gota do seu melzinho. Morder o grelinho, o deixando em carne viva
e sensível à menor das respirações, quero a Hope se contorcendo na
minha cama, implorando para que a tome com força. Deixar a pele
branca em tons rosados e avermelhados, ardida, sensível e quando
ela estiver quase desmaiando de gozar, eu vou meter fundo no seu
calor.
Afundar meu pau no seu interior e estocar com força e lento,
a fazendo sentir enquanto abro sua carne intocada em duas, lhe
mostrando como é ter um homem entre as pernas. Vou fazer com
que fique viciada no meu pau e o queira sempre que eu estiver em
casa, que seja uma mulher que satisfaz o marido e não lhe dá
oportunidade de procurar na rua o que não tem em casa. Hope
Bonnarro será a esposa perfeita.
Fecho os botões da camisa de seda preta, afivelo o cinto e
confiro a imagem no espelho. Hoje é uma noite de jogos, troquei o
terno por um blazer preto e calça de linho. Calço os sapatos e passo
o perfume, a fragrância forte agrada, e me faz lembrar que a Hope
sempre abre as narinas quando estou perto, inspirando forte meu
cheiro. Vou ensiná-la a fazer aquilo quando estiver ajoelhada com
meu pau na boca, respirando sem engasgar ou vomitar.
Fecho o relógio Rolex e saio do quarto, no corredor encontro a
Hope e a Emily, elas não conseguem me ver e as observo andando
juntas de braços dados. A gargalhada da Emily ressoa pelo
ambiente, e eu não me lembro a última vez em que ouvi a minha
irmã rindo como agora, sem medo de incomodar alguém.
A Emily terá a Hope por perto em poucas semanas e os dias
da minha irmã ficarão menos sombrios. Agrada-me a escolha que fiz
de casar com a Hope ao ver como ela faz bem à pessoa mais
importante do mundo para mim. A próxima coisa que tenho de fazer
é descartar Andrew de nossas vidas e libertar meu passarinho
dourado. Elas descem as escadas e continuo seguindo-as.
Hope usa um vestido de caimento até a metade da coxa e
gola alta, exibindo os ombros. A cintura fina marcada com uma faixa
preta, contrastando com o rosa da peça, o quadril farto pronto para
receber o peso da minha mão o puxando enquanto a fodo de
quatro. Quero ver como ele ficou na frente se realça os peitos ou
esconde. Desço pulando de dois degraus, chamando a atenção de
ambas que param e olham para trás, me vendo do topo. Paro um
degrau acima delas e ficamos completamente de frente.
O vestido tem uma abertura sutil entre os seios, que ficam
separados e marcados pela falta de sutiã. Deslizo a língua nos
lábios, contendo a vontade de segurar a carne macia entre as mãos
e apertar os mamilos que ganham vida na minha presença. Ela tenta
esconder, mas Hope não tem o que é preciso para disfarçar quando
fica excitada. A narina dilatando, inspirando meu cheiro, os olhos em
chamas, ansiosos pelo que farei em seguida.
— Para onde estão indo? — pergunto.
— Voltando para o salão da festa — Emily responde,
mordendo o riso.
— Desembucha.
— Tá. — Suspira rindo.
— Shiu. — Hope aperta a mão dela, querendo impedi-la. —
Coisas de meninas, não precisa ficar sabendo.
— Vocês não vão a lugar nenhum até me dizerem a verdade.
— Vamos sim, quer ver? — Hope vira de costas e puxa a
Emily, descendo os degraus com pressa.
Rio da inocência dela ao achar que conseguiria fugir de mim.
Desço a escada e as pego na metade do caminho para a porta.
Rodeio a sua cintura com o braço, puxando-a para mim, pressiono
seus peitos macios no meu peitoral. Seguro o queixo da atrevida e
me delicio.
— Não pode fugir de mim.
— Nada me impede de tentar. — Estrala os lábios divertida.
— E eu de te punir. — Gosto de como ela me desafia, atiça a
besta que mora dentro de mim, sedenta pela sua carne virgem.
Deslizo o dedão no lábio rosado, o batom se mantém intacto
no lugar, puxo a carne, visualizando os dentes brancos e a beijo. Uso
da liberdade de não ter ninguém para me impedir, agarro a coxa
grossa escondida pelo vestido. Hope arfa nos meus braços, derrete
como uma manteiga, finca as unhas na pele do meu pescoço,
arranhando, o ardor torna o beijo mais intenso. Puxo sua perna,
esfregando nossos quadris.
Devoro-a com fervor, provando o que me pertence,
gemidinhos escapam de sua boca, se infiltrando na minha. Deslizo a
língua contra a sua, invadindo seu interior morno. Puxo o lábio entre
os dentes, seguro seu queixo, inclinando sua cabeça para trás e me
apossando de sua garganta. Lambo a pele com gosto de amora,
mordisco o pescoço sensível, aprecio a sua resposta, ela finca as
unhas na minha carne, sedenta para que eu a faça minha.
— Parem com isso — Emily pede baixinho.
Seguro o rosto da minha noiva, beijando seus lábios macios
antes de me afastar com um sorriso sacana. Hope tem os olhos
espertos na minha direção como se soubesse de um segredo que eu
desconheço. Ela fica na ponta dos pés com as mãos espalmadas no
meu peito e sapeca um beijo nos meus lábios.
— Hoje você vai sair com meus irmãos? — pergunta com
segundas intenções na voz.
— Sim.
— Se ficar com uma única mulher eu vou saber — a unha
desliza em meu peito —, e ficarei muito chateada com você, a ponto
de nunca mais te beijar.
Arqueio a sobrancelha, gostando de vê-la possessiva. O jeito
manso de falar só disfarçando suas reais intenções. Deixo que
continue com sua ameaça sem responder.
— E muito menos te darei a minha vagina — sussurra antes
de se afastar.
Ela segura a mão da Emily e saem correndo como duas
garotinhas pegas no flagra ficando com um rapaz pela primeira vez.
Gargalho com a sua ameaça. Não tem como infernos ela descobrir
se eu ficar com outra mulher, mas o gosto do seu beijo e a vontade
de me enfiar entre suas pernas é um alerta de que ela não sairá da
minha mente. A safada conseguiu o que queria, penetrar meus
pensamentos e fazer morada.
— Vamos? — Black aparece, olhando de mim para a irmã que
entra no salão de festas. — Sabia que é incômodo ver você
devorando minha irmã com os olhos, tenha respeito ao menos na
minha frente.
— Não. — Arrumo o blazer.
— Se fosse eu olhando a Emily como você encara a Hope já
teria recebido um soco, sorte sua que minha mão ainda não se
recuperou.
Sorrio para ele. Realmente eu quebraria sua cara se o visse
desrespeitando a Emily. Mas a Hope é minha noiva, posso tirar uma
provinha antes de casarmos. Não é como se eu pretendesse fugir do
compromisso, aquela pequena ninfa me tem em sua mão, louco de
desejo por ela.
— Inacreditável. — Bufa. — Ao menos finja que se importa
com a opinião dos seus amigos.
— O que tá rolando? — Daniel pergunta, se juntando a nós.
— Michael sem respeito pelas mulheres.
— Você fala isso porque ela é a sua irmã — aponto. — Se
fosse outra não agiria como um idiota.
— É diferente quando é sangue do meu sangue. — Coça a
cabeça. — Vamos indo.
— O Steve vem? — Daniel indaga.
— Vai nos encontrar no cassino — Black responde.
Deixamos a residência e entramos no carro para irmos juntos.
Estou a fim de beber até esquecer a merda dos problemas, se tiver
vontade transo com uma das mulheres prontas para nos servirem.
Vegas é a porra da cidade mais iluminada e barulhenta do país, ao
sairmos dos desertos e entrarmos nas rodovias as luzes da cidade
brilham mais do que as estrelas, as multidões perambulam pela
calçada, turistas prontos para terem o dinheiro roubado.
Chegamos ao cassino Paraíso em Las Vegas, o mais luxuoso
mantido pelos Bonnarro e o local perfeito para encontro dos políticos
quando querem se aliar ou serem associados à Máfia Bianchi, muitos
desesperados para conseguir lavar dinheiro de corrupção ou
implorando por investimentos em suas campanhas.
O atual governador de Nevada foi um que soube implorar e
agradar esperando conseguir apoio, como retribuição ele não deixa a
polícia chegar perto dos nossos cassinos, facilita a entrada das
drogas, sonegação de imposto dentre outras coisas.
Atravesso as enormes portas douradas, ouvindo o som dos
caça-níqueis e das pessoas apostando. Subimos direto para a área
VIP e lá eu começo a jogar poker, um uísque na mesa e algumas
horas depois termino limpando as carteiras dos desafiantes. Eles
podem ser os maiores apostadores que conseguiram o direito de
frequentar esse salão, mas nenhum consegue ser páreo para mim.
Perto da meia-noite o show das dançarinas começa, sento ao
lado do Black e do Daniel para aproveitar o show. Meus amigos
animados bebem e se divertem, puxo o Black pelo colarinho falando
acima da música:
— Tem algo que eu quero saber.
— O quê?
— Por que a Hope foi mantida escondida todo esse tempo?
Os olhos astutos me encaram, vendo dobrado, ele ainda não
ficou bêbado o suficiente, mas talvez se solte mais.
— Não era escondido, foi proteção. — Aponta com um dedo
com a mão que segura o copo.
— Contra o quê?
— Qualquer coisa que pudesse machucá-la. Você entende,
certo? Sabe como os homens podem ser cruéis.
A lembrança das coisas que o Andrew fez com a minha mãe e
faz com a Emily nublam minha visão. Aceno em positivo,
compreendendo o motivo do Bartolomeu, mas não fui convencido
completamente. Sei que tem mais, talvez seja mais fácil fazer a
Hope falar. Solto o Black, escoro no sofá aproveitando o show de
dança das mulheres seminuas.
Elas são deslumbrantes, enquanto tiram a roupa admiro os
corpos sensuais. A ciumenta de olhos verdes invade a minha mente,
fazendo presença pelo resto da noite e minando minha vontade de
comer outra mulher. Só existe uma que eu quero na minha cama e
enquanto não matar a minha fome não vou aceitar outra no lugar
dela.
Hope
Deitadas na cama do meu quarto depois de horas fazendo
compras com a minha mãe, finalmente tenho tudo de que preciso
para o casamento e minha vida casada. Enxoval pronto, decoração e
pratos do casamento decididos, banda contratada para tocar a noite
toda somente clássicos. Distribuição dos lugares feita de acordo com
as famílias e respeitando a tradição.
Com o Michael na cidade é mais fácil me sentir segura. É
estranho pensar que antes eu acreditava que nada poderia me tocar
por ter a minha família cuidando de mim. Mas depois de ser salva
por ele, um pequeno vínculo de confiança foi se formando entre nós
e pela primeira vez em dias respirei aliviada. Ainda não sei o que ele
planeja para pegar o Samuel, mas tenho confiança de que ficarei
segura.
A Máfia Bianchi foi formada nos anos 70 quando a guerra
entre as cinco famílias mafiosas mais poderosas dos Estados Unidos
chegou ao fim com a vitória de três máfias que se uniram para
derrubar as outras duas. Os Bianchi à frente da organização e atuais
líderes, aqueles a quem o nome da nossa máfia pertence. Também
possuem empresas de relevância popular como as boates, museus e
clubes de artes, casas de show e atualmente atuam no mundo das
finanças como leões.
Seus aliados foram os Griffins que se estabeleceram como os
consiglieres, responsáveis pelo Queens, Nova Jersey, principais
influentes no mercado de ações e especialistas em conseguir
informações. Muitos membros dessa família fazem parte de
organizações do Governo como a política, Pentágono, FBI, CIA e
SWATT.
Garantindo o controle de muitas autoridades que não foram
compradas ou influenciadas pela organização.
Por último os Lucian, a família dos subchefes, sempre o braço
esquerdo dos Bianchi. Seu território foca nos portos da costa Leste
por onde chegam os carregamentos de armas e são feitos nas
empresas da família, que legalmente vendem armas para os Estados
Unidos e outros países, um mero disfarce para podermos ter um
arsenal sem levantar suspeitas.
Os Bonnarro perderam a guerra pela liderança dos Estados
Unidos, mas se mantiveram firmes em seu território de Nevada e
comandando os cassinos. Lavagem de dinheiro é a principal coisa
que fazemos, além de lugares para reuniões com pessoas do mais
alto escalão. Nosso complexo localizado no meio do deserto tem
capacidade para alocar grande parte da Máfia caso ataques inimigos
os forcem a sair de Nova Iorque.
Por fim os Belarc, outra família mafiosa que perdeu na grande
guerra. Comandam o território de The Brons e Staten Island, são a
força armada e tecnológica. Responsáveis pelas tecnologias de uso
militar, rastreamento e que for necessário dos meios modernos.
Muitos soldados Belarc fazem a segurança das empresas lícitas e
ilícitas, eventos e segurança pessoal dos membros da famiglia.
Saber quem é cada um e sua importância dentro do mundo
em que vivo determina como organizá-los no casamento. Pois, são
esses cinco sobrenomes que formam o Conselho dos Capos, aqueles
que decidem o destino da organização. Desrespeitar a hierarquia no
momento de serem acomodados mostra desrespeito e falta de
consideração, dando motivos para a união entre duas famílias
poderosas ser questionada.
Minha união com o Michael não é meramente matrimonial, é
política. Se um dia tivermos um herdeiro, a criança será a nova
responsável pelo território que se estende de Nova Iorque a Nevada,
maior do que qualquer outra família já comandou. Com empresas
poderosas no mercado financeiro o suficiente para gerar o PIB de
um país.
Os Bianchi e os Bonnarro ficaram em uma única mesa
simbolizando a união, duas famílias se tornando uma e dando um
vislumbre a outras do que será o futuro da Máfia Bianchi. Os Griffin
à esquerda e os Lucian à direita, sobrando para os Belarc o lugar
mais afastado do centro. Aqueles que menos deterão poder. Assim
como o poder dos Bianchi aumenta, os do Bonnarro se expande de
igual forma.
O poder é daquele que o detém e sabe como expandir, fazer
ser reconhecido, impondo medo e respeito.
— Me conta mais sobre o Michael? — peço a Emily, encarando
o teto do meu quarto. — Preciso de informações para saber lidar
com ele após o casamento.
— O Michael é de boas. — Ela toca minha cabeça, fazendo
carinho no couro cabeludo. — Meu irmão consegue controlar o corpo
e a mente como um computador programado. Ele sempre espera
que suas ordens sejam obedecidas e sabe como as pessoas reagem
a sua presença, sejam homens ou mulheres. Mas ele tem um lado
carinhoso que só demonstra comigo e às vezes com o Matthew.
— Ele será assim comigo? — pergunto incerta, o medo do
desconhecido.
— Não sei, mas acho que sim, Michael pode ser babaca de
vez em quando, mas acho que é porque isso faz parte de quem ele
realmente é. Tipo a essência de um assassino que foi criado por um
monstro insensível. Se não fosse pela nossa mãe, tenho certeza de
que o Michael e o Matthew seriam cópias do Andrew.
— Seu pai me dá calafrios.
— A mim também — suspira —, mas nunca compare o
Michael a ele, isso realmente irrita o meu irmão. Só seja você
mesma e tenho certeza de que as coisas vão se acertar entre vocês
dois.
— Ele beija muito bem — confesso com um risinho.
— Sua sortuda, eu queria saber como é ser beijada.
Seguro seus ombros, encarando as bolas azuis em seus olhos.
— Nunca beijou ninguém?
— Nem uma única vez — faz bico —, mas me conta como foi
a sua experiência.
Deito, a encarando de lado e digo como me senti no primeiro
beijo com o Michael. É bom poder conversar com outra garota sobre
a experiência do primeiro beijo. Ter a Emily morando na mansão
será um presente que vou ganhar com o casamento.
Na hora do jantar descemos, os homens continuam ocupados
no escritório e não nos fazem companhia. Jantamos ouvindo a
minha mãe falar sobre como será o chá de panela de amanhã e o
que esperar do comportamento das convidadas. Quando encerra o
monólogo, subimos para o quarto. Perto da meia-noite quando o
sono começa a bater, tomo coragem de saber algo que
tenho suspeitas.
— Você gosta do Daniel? — pergunto, a pegando de
surpresa.
Emily que usa a mesa no meu quarto para fazer skin care gira
o tronco, derrubando o sérum facial no chão. Com as mãos
atrapalhadas ela pega o vidrinho que por sorte não quebrou, só
derramou um pouco no tapete macio.
— É complicado. — Dá de ombros, escondendo o rosto. Pelo
reflexo do espelho vejo as bochechas vermelhas.
— Se você explicar eu posso entender.
— Eu cresci vendo Daniel, Kai e Michael juntos. No início era
mais como um irmão mais velho, sabe?
— Quando você ainda era criança.
— Sim. — Levanta-se vindo sentar-se na cama comigo. — Mas
um dia quando o Michael saiu em missão, eu tinha uns 14 anos e
estava sozinha com o Andrew na mansão. Eu não sabia que ele
estava em casa e fui para o jardim colher umas flores para colocar
no túmulo da minha mãe, iria completar um ano da morte dela. Ele
me viu fazendo isso e me castigou, levei uma surra no jardim com as
flores de espinho. — Vira-se, baixando o robe e mostrando pequenas
cicatrizes nas costas. — Ganhei elas naquele dia.
— Como ele pode ser tão cruel? — Toco a pele dela,
abraçando-a pelas costas e beijando seu ombro, lágrimas despontam
no canto dos olhos.
— Não foi nem a pior coisa que o Andrew fez. Naquele dia eu
fiquei no jardim com as roupas rasgadas, adormeci e quando acordei
estava sendo carregada pelo Daniel. Ele me levou para meu quarto,
cuidou dos meus ferimentos e chamou a enfermeira para ficar a
noite comigo. Eu mal consigo me lembrar se ele limpou meus
machucados ou se foi outra pessoa, mas nunca esqueci do carinho
de seus braços me segurando ou do beijo que ele deu no topo da
minha cabeça.
O carinho genuíno misturado à tristeza das lembranças parte
meu coração ao perceber que a Emily se apaixonou pelo Daniel
quando viu um lado dele que poucas pessoas devem conhecer. Ao
ser cuidada em sua fragilidade e receber o alento de quem ela via
como somente um amigo do irmão. Para uma garota de 14 anos
com traumas na alma é o suficiente para a paixão nascer.
— Eu consigo te entender. — Aperto-a. — Também vejo seu
irmão como meu salvador em mais de um momento.
— Ele tem o poder de nos fazer sentir seguras. — Ela sorri
doce, e eu quero apertar as bochechas dela.
— Com certeza. — Ergo o queixo altiva. — Meu novo objetivo
é ter um casamento em que a minha voz importe e eu possa ter
liberdade.
— O Michael nunca te prenderia, ele sabe como é ser
prisioneiro. — Gira, me encarando de frente. Saber esse pequeno
segredo sobre o Michael me faz sentir mais perto dele. — O Daniel
gosta de me ouvir falar sem parar. — Muda de assunto antes que eu
possa investigar mais sobre meu noivo
— Ele gosta de você.
— Não sei, apesar de ser atencioso nunca deixou claro que
sentia alguma coisa a mais por mim.
— Aquele homem sente tudo por você, acredite em mim.
— Não me iluda. — Deita-se de costas. — Vamos dormir que
amanhã o dia será cheio.
— Certo, senhora apaixonada.
Ela não me responde e fica quietinha fingindo dormir.
Adormeço, quando acordo gostaria de continuar dormindo
mais um pouco com o tanto de coisa que tenho de fazer. Vou com a
Emily e a minha mãe para o salão para o dia de beleza, chegamos
em casa já arrumadas e vestidas e sem poder comer uma bolacha
fico na porta de casa recebendo todas as senhoras e suas filhas.
Pessoas que nunca vi na vida me cumprimentam como se me
conhecessem há anos.
Por sorte, com a ajuda da Emily sussurrando o nome delas eu
consigo falar com todas sem problemas. No salão minha mãe é
tratada como uma rainha pelas senhoras que anseiam que ela
participe das reuniões em suas casas com maior frequência. As filhas
ficam no meu pé, esperando conseguirem algum benefício, a
Josephine Lucian, irmã mais nova do Kai, com 19 anos está amando
ressaltar o quanto o Black é lindo e querendo saber se ele já tem
uma noiva.
— Socorro — peço no ouvido da Emily, enquanto Josephine
não para de falar.
— Josephine — Emily a chama. — Vou roubar a Hope um
segundo enquanto pegamos umas coisinhas para o chá no quarto
dela, pode avisar a mãe dela que retornamos em breve?
— Claro!
A menina sai animada, vejo Alexandra Belarc vir na nossa
direção e corro com a Emily para fora do salão. Desaparecemos para
o meu quarto feito fantasmas. Respiro aliviada por escapar de todas
aquelas pessoas, não estou acostumada com tanto contato humano.
Mulheres falam muito e alto demais para os meus ouvidos
acompanharem.
— Quando você for a primeira-dama da Máfia, vai se
encontrar em reuniões quinzenais com todas as senhoras, participar
da organização dos bailes e...
— Para! — Tampo os ouvidos. — Quando chegar o momento
eu sofro, agora só preciso de paz.
Emily ri contida, deito-me na cama olhando para o teto por
incontáveis minutos até precisar levantar novamente. Respiro fundo
antes de voltar. Seguro no braço dela e saímos do quarto. No
segundo em que ele entra no corredor eu sinto a sua presença atrás
de mim.
Descemos as escadas e seus passos ecoam, ele age como um
predador cercando a vítima e pronto para dar o bote quando a pegar
desprevenida. Emily nota que alguém nos segue e para olhando para
trás, a imito. Michael para centímetros acima de nós, os olhos
medem cada pedaço de pele exposta pelo meu vestido e se
demoram nos seios, a língua desliza entre os lábios rosados com um
sorriso lascivo.
Inspiro o cheiro dele, olho para os lados evitando o seu rosto
e troco o peso de uma perna para outra. Desde ontem que não o
vejo e a vontade de me perder em seus braços novamente cutuca
no meu interior.
— Para onde estão indo? — pergunta.
— De volta para o salão da festa. — Emily desfaz o riso ao
perceber que prefiro ficar nas garras do seu irmão a voltar ao salão
de festas.
— Desembucha — ordena.
— Tá. — Ri.
— Shiu — a impeço, Emily nunca conseguiria mentir para o
irmão, ela é péssima nisso. — Coisas de meninas, não precisa ficar
sabendo.
— Vocês não vão a lugar nenhum até me dizerem a verdade
— insiste.
— Vamos sim, quer ver? — A vontade de desafiá-lo me tenta
como uma serpente. Enlaço o braço no da Emily descendo as
escadas.
Sua risada ecoa atrás de mim antes dele terminar de descer
os degraus e me segurar em seus braços. Giro contra seu corpo,
batendo o peito contra a muralha de seus músculos cobertos pela
camisa. Seu braço rodeia minha cintura, me puxando contra ele,
uma mão segura meu queixo prendendo minha atenção.
— Não pode fugir de mim.
— Nada me impede de tentar — falo divertida.
— E eu de te punir. — Mordo meu sorriso pelo seu tom de
voz, meu ventre se revirando ansioso.
Seus olhos descem para meus lábios, o dedo os afastando
antes de me tomar para si. E eu deixo o Michael levar tudo o que ele
quer. Entrego-me ao beijo como se precisasse dele para respirar,
arranho seu pescoço com as unhas, levemente me assusto ao sentir
a palma grande segurando minha coxa e subindo minha perna
contra ele, permitindo um encaixe perfeito de nossos quadris. Ele se
mexe contra mim, enviando ondas de choque por meu corpo. Eu
dou tudo o que ele pede em nosso beijo.
— Parem com isso — Emily pede quase em um sussurro.
Michael segura meu queixo com delicadeza, distribuindo beijos
na minha face antes de se afastar com um sorriso divertido,
relaxado. Sou contagiada por sua atmosfera, espalmo as mãos em
seu peito, ficando na ponta dos pés, capturando seus lábios para
mim.
— Hoje você vai sair com meus irmãos? — pergunto, tentando
não transparecer o ciúmes.
— Sim.
— Se ficar com uma única mulher eu vou saber. — Bato a
unha contra seu peitoral, tentando demonstrar confiança. — E ficarei
muito chateada com você, a ponto de nunca mais te beijar.
Michael gosta da minha fala, percebo pelo jeito que sua pupila
dilata e a sobrancelha sobe. Sentindo-me mais ousada do que nunca
falo algo que não me imaginava dizendo a ninguém:
— E muito menos te darei a minha vagina — sussurro com as
bochechas em chamas.
Pego a mão da Emily precisando correr e me esconder antes
que ele revide. Não sei se teria forças o suficiente para me manter
em pé diante do olhar faminto dele.
— Você realmente tem como saber se ele ficar com outra? —
Emily pergunta baixinho quando entramos no salão.
— Meu irmão me contaria. — Dou de ombros, as bochechas
ainda em chamas pelo meu atrevimento.
— Você é louca. — Ela ri.
Acompanho-a em nosso pequeno segredo. Não temo mais
meu casamento como antes, estou ansiosa para saber como será a
minha vida com o Michael.
Hope
Encaro o espelho refletindo a imagem da noiva, um vestido
com forro de cetim, coberto pela renda branca, ajustado a cada uma
das curvas com uma fenda feita pela renda na perna direita,
exibindo o cetim brilhante. Pequenas pedrinhas de diamantes
reluzem ao serem banhadas pela luz. Uma pulseira de diamante de
1932 no pulso direito, as luvas brancas cobrindo até o cotovelo, um
colar de brilhantes azuis, emprestado pela minha mãe. E os brincos
novos que meus irmãos me deram.
Cumprindo as tradições eu tenho: algo velho, novo, azul e
emprestado, trajando o branco da pureza. Os cabelos presos em um
coque alto com caimento na franja, maquiagem sutil, realçando a
cor verde das esmeraldas em meus olhos. Os lábios um rosa clarinho
brilhante. A noiva perfeita para o casamento perfeito. Suspiro
tentando controlar a tremedeira pelo nervosismo, subirei ao altar em
menos de trinta minutos, o medo pelo futuro cravado como uma
serpente em meu peito.
— Estamos prontos — a cerimonialista informa, entrando no
cômodo reservado para a noiva na Catedral de São Patrício. —
Vamos, querida? — Estende a mão para mim.
Travo a respiração por três segundos, exalo o ar entre os
lábios, acalmando meu corpo. Estou há semanas me preparando
para esse dia e recebendo conselhos como será a minha vida de
casada e o que o Michael espera de mim. As pessoas ao meu redor
tentam me dar dicas e me alertar, mas nenhuma delas realmente
sabe o que o Michael quer.
Desde que ele foi embora, após minha festa do chá de
panelas, não conversamos mais. Não faço ideia se terei um marido
carinhoso, babaca ou a mistura dos dois com o safado que habita
aquele corpo tentador. Estou uma pilha de nervos e infelizmente o
único que poderia sanar minhas dúvidas é ele.
Seguro a mão da mulher, deixando o cômodo, no corredor
encontro meu pai vestindo um impecável terno preto com gravata
cinza. Ele estende a mão para mim e deslizo a minha pela sua. Com
um sorriso ele beija a minha cabeça, apertando meus dedos nos
seus. A outra mão sobe para o meu ombro, me puxando para um
abraço melancólico. Apesar de suas escolhas, ele também teme pelo
que acontecerá comigo depois de hoje.
— Você é forte. — Alisa meu ombro desnudo, as alças do
vestido de três centímetros de espessura proporcional à visibilidade
dos ombros e busto, um decote sutil realçando os peitos.
— Eu sei, vamos lá. — Sorrio para ele.
Eu só preciso ficar calada, Michael nunca descobrirá meus
segredos se não falar ou agir estranho. Esse tem sido o meu mantra
calmante. Posso sobreviver ao casamento sem trazer problemas para
a minha família e depois de alguns anos eles ficarão tranquilos
quando perceberem que nada de ruim aconteceu.
Caminhamos pelo corredor até sair para o lado de fora da
igreja. Muitos paparazzi se acumulam além do cordão de proteção,
que impede a entrada de não convidados. Hoje não é somente o
casamento do Herdeiro da Máfia Bianchi, mas também de um dos
empresários mais bem-sucedidos dos Estados Unidos no ramo de
entretenimento, com a filha do homem mais poderoso do estado de
Nevada.
— Pronta? — a cerimonialista pergunta, terminando de ajeitar
a cauda do meu véu. Aceno em positivo, e ela abre as portas da
igreja.
A marcha nupcial começa a tocar, e eu dou o primeiro passo.
As pessoas se levantam para me receber, sorriso no rosto das
mulheres e expressões sérias nos homens. Ao final do tapete
vermelho eu o vejo, lindo, em um terno bege contornando os
músculos, trazendo sensualidade e elegância, com a gravata cinza
diferenciada, chique com uma pedra vermelha no centro. Uma flor
no bolso do terno, impecável em pé diante de toda a igreja, os
diamantes sombrios em seus olhos focados em mim, um sorriso sutil
no canto dos lábios me lembra a última vez em que nos beijamos.
Sorrio para o Michael, um turbilhão de emoções se formando
em meu ventre. Estou a poucos passos dele quando me apoio no
meu pai, tentando controlar um pouco a respiração acelerada. Ergo
o queixo, parando antes das escadas, Michael desce os degraus
como um rei, estende a mão para mim e meu pai me entrega a ele.
— Cuide bem da minha filha — Bartolomeu pede, antes de
apertar a mão do Michael.
— Sim, senhor — responde cordialmente, o brilho brincalhão
não deixa seus olhos, borboletas voam no meu interior, querendo
alfinetá-lo pela formalidade.
— Linda. — Michael segura minha bochecha, admirando
minhas feições antes de baixar a boca ao meu ouvido. — Vou te
comer com os restos do seu vestido rasgado pelos meus dentes.
— Estamos numa igreja! — murmuro com o rosto em chamas.
— O Senhor pode me perdoar, já fiz coisa pior — responde
com uma piscadinha astuta.
Ele ri baixinho e grave, o ar deixando seu nariz batendo na
minha garganta antes de ficar ereto. A expressão cafajeste me
prometendo uma noite de núpcias quente como o deserto do Saara
causa contrações em meu ventre, aumentando a expectativa para a
noite.
Subimos os degraus e ficamos de joelho na frente do padre,
tão velho quanto a igreja. Não me surpreenderia se o ancião caísse
morto quando terminasse a cerimônia. Seguindo a tradição da
famiglia, o casamento é realizado em italiano. Compreendo cada
uma das palavras, mas não as internalizo, estou focada no Michael
que desliza a mão no cavalete implicando com meu dedo mindinho.
Quero rir e mandá-lo prestar atenção na nossa cerimônia, mas
retribuo a implicância, aproveito o comprimento longo da cauda do
vestido que esconde os meus pés para bater no dele sem chamar a
atenção dos convidados. Rio com ele me encarando, arqueando a
sobrancelha negra em um desafio de quem mexe mais com o outro.
Esperava uma cerimônia chata e não pequenas implicâncias com
meu noivo.
Nesse segundo descubro uma nova faceta de Michael Bianchi.
Ele consegue ser divertido e engraçadinho em momentos sérios. Aos
poucos a ansiedade vai se acalmando e as ondas energéticas que
somente ele consegue produzir me envolvem em um calor
eletrizante, me fazendo ansiar para quando sairmos daqui.
A daminha de honra entra segurando o par de alianças,
faremos os votos tradicionais da famiglia. O padre se cala quando
ficamos de pé e o Michael remove a luva da minha mão esquerda. A
aliança é de ouro cravada com o símbolo da Máfia Bianchi. Uma faca
com o desenho de uma cruz na lâmina envolta por uma flor.
— Hope Bonnarro — a voz grave reverbera em meu peito,
prendo a respiração, tentando controlar a ansiedade —, eu, Michael
Bianchi, no sangue e no osso te faço minha esposa, prometo
lealdade, te manter em segurança e te respeitar. Juntos pela honra
dos Bianchi e com a benção do Senhor, somente a morte será capaz
de nos separar.
Com um alfinete Michael espeta a almofada do meu dedo
indicador, uma bolha de sangue na superfície é levada aos seus
lábios. Ele beija meu dedo, bebendo do meu sangue, selando seu
juramento a mim. Michael beija minha mão e pulso, adicionando
algo único ao nosso momento. Desliza a aliança no dedo anelar.
Agora eu sou dele até a morte.
Pego o anel em ouro mais grosso que a minha aliança com o
símbolo da máfia, seguro a mão dele pronta para fazer o meu
juramento.
— Michael Bianchi — controlo o timbre nervosa —, eu, Hope
Bonnarro, juro no sangue e no osso ser a sua esposa, te respeitar,
honrar o meu papel, ser a mãe de seus filhos. Te recebo como meu
marido. Minha lealdade pertence somente a você e nunca será
quebrada. Pela honra dos Bonnarro e com a benção do Senhor,
somente a morte será capaz de nos separar.
Pego o alfinete, espeto o dedo dele, o levo aos meus lábios e
bebo o gosto de ferro do sangue. Retribuo o gesto carinhoso dele,
beijando a palma de sua mão. Com os dedos trêmulos coloco a
aliança em seu dedo anelar, jurando nosso compromisso.
— Com o poder a mim investido pela Santa Igreja Católica eu
vos declaro Marido e Mulher, o noivo pode beijar a noiva — o padre
sentencia.
Michael se aproxima, segura minhas bochechas e me puxa
para si. Os lábios carnudos batem de leve contra os meus, dou
passagem para sua língua, agarro sua cintura, erguendo o queixo
para que ele me beije melhor. As línguas deslizam carinhosas
selando nossa união, ele me beija com calma, saboreando. Seu
carinho desperta novas batidas no meu coração, ternura.
Com um selinho demorado ele descola, afastando o rosto.
Senti saudades de sentir o cheiro sexy do seu corpo. Queria que
estivéssemos sozinhos para o Michael poder me beijar com fogo, e
eu afundar o rosto na maciez de seu pescoço, inalando o aroma pelo
qual fiquei viciada. Gosto de ver o carinho em suas íris, talvez nosso
casamento não seja uma prisão completa.
— Minha — rosna baixinho, sorrio arteira.
— Totalmente — falo espertinha, Michael desperta um novo
lado meu, mais leve que gosta de responder à sua possessividade,
os olhos dele acendem em chamas.
— Os convidados que não fizerem parte da família, por favor,
sigam para o lado de fora da catedral e esperem a saída dos noivos
— a cerimonialista avisa, cortando nosso momento.
Agora que o Michael casou é chegado o momento de o novo
Chefe receber o juramento dos membros da organização. Iniciando
pelo Andrew, jurando lealdade ao filho, seguido do Conselho dos
Capos, familiares e membros associados.
— É com orgulho — Andrew inicia o discurso, ficando ao lado
do Michael, cinco degraus abaixo — que hoje, eu, Andrew Bianchi,
Chefe da Máfia Bianchi, passo ao meu filho a posição como o novo
Chefe da Máfia Bianchi. Que seu comando traga terror aos nossos
inimigos e leve a nossa organização ao controle total do submundo!
Michael estende a mão direita ao pai. Andrew remove o anel
que é o símbolo da sua posição de sua mão e a coloca no dedo do
Michael. Pega um punhal na cintura, colocando a lâmina contra a
palma da mão e a corta.
— Eu juro no sangue e no osso seguir o novo Chefe, respeitar
suas decisões, ser leal e estar ao seu lado em todos os momentos. O
meu território é seu território, minhas riquezas são suas, pela honra
dos Bianchi. Até a morte, meu Chefe.
— Aceito o seu juramento — Michael responde, apertando a
mão ensanguentada do pai.
Os demais membros fazem o mesmo juramento, só trocando
o nome de suas famílias. Um a um Michael os aceita sob a sua
liderança. As mulheres vêm a mim, jurando lealdade e me aceitando
como a líder delas. Emily tem as bochechas vermelhas e os olhos
marejados quando fica à minha frente, quero abraçar a minha amiga
e agradecer o apoio que ela tem me dado. Não precisamos cortar
nossas mãos selando o juramento, um abraço é o necessário.
— Estou muito feliz por você — ela fala no meu ouvido,
fungando baixinho. — Minha cunhada.
— Não acredito que tudo aconteceu — a aperto forte —, estou
animada para morarmos juntas.
— Eu também. — Ela dá um pequeno pulinho e rimos.
Flagro o Michael de olho na gente. Ele transborda paz e
carinho encarando a felicidade da irmã. É algo que percebi nos
últimos meses, ele realmente ama a Emily e se importa em protegê-
la e fazê-la feliz. A humanidade que ele demonstra com ela me faz
ter esperanças de que talvez eu também possa ser alvo de ao
menos um pouco do lado protetor e amoroso dele.
— Vamos. — Ele puxa minha mão ao terminar de limpar o
sangue da sua.
— Você não cortou a sua por quê? — pergunto curiosa.
— Somente os subordinados se machucam pelo Chefe, não o
contrário. — Arqueia a sobrancelha. — Segure no meu ombro.
— Por... — ele não me deixa terminar de falar antes de me
pegar no colo. Abafo o grito, agarro seu pescoço, me ajeitando em
seus braços.
Escondo o rosto na gola de sua camisa, não querendo deixar
que ele perceba como seu gesto me fez ter vontade de rir. Sinto-me
uma princesa em um filme da Disney sendo levada para fora da
igreja pelo seu príncipe. Porém, em vez de um homem de sangue
azul, eu ganhei um mafioso capaz de causar o terror no país.
Palmas ressoam na igreja pelos familiares e do lado de fora
uma chuva de arroz pelos que esperavam a nossa saída. O carro
blindado nos espera no final do tapete vermelho. Sorrio para as
fotos ao ser colocada no chão, Michael abre a porta para mim e
entro agradecendo por ter acabado toda a exibição. Percebo um
vidro dividindo a área do motorista e a nossa.
Meu marido entra, fecha a porta e nos tranca do mundo. Os
vidros negros impedem que nos vejam e no segundo que os olhos
azuis focam em mim, eu esqueço como se respira. Michael sorri
sensual, passando o braço ao redor da minha cintura me trazendo
para o seu colo, a mão direita sobe ao meu busto e os lábios beijam
a minha garganta. É impossível controlar a excitação para saber o
que ele fará em seguida.
— Se não fosse a maldita tradição dos lençóis eu meteria
fundo na sua bocetinha nesse carro. — Pressiono os olhos,
absorvendo o impacto de suas palavras, a promessa de uma noite
quente pairando no ar. Puxa o tecido do vestido até enfiar a mão
entre as minhas pernas, tocando meu centro. Tremo surpresa pela
sua ousadia. — Você está em chamas, Hope.
— Use sua mangueira para apagar — o provoco. As pupilas
dilatam, recebendo minhas palavras, a excitação corta seu rosto. Os
dedos pressionam minha calcinha, e eu arquejo.
— Apagar? — Belisca minha garganta com os dentes e eu
esqueço como respirar, um nó se forma em meu baixo ventre. — Eu
vou incendiar até não restar nada.
Hope
Michael puxa o tecido da calcinha para o lado, deslizando um
dedo em minhas dobras. Fecho os olhos, experimentando a
sensação do toque dele. É diferente das vezes em que fiz isso, a
consciência de sentir com minha vagina é mais forte, crua e
excitante. Dois dedos circulam meu clitóris timidamente em
movimentos circulares, devagarinho. Encosto a testa em seu ombro,
abrindo as pernas para que ele me toque mais.
Agarro seu ombro, impulsionando o quadril de encontro a
seus dedos. Eu sinto Michael sorrindo na minha bochecha, ele
desliza em meu centro, encontrando a entrada da minha intimidade.
A pontinha do dedo brincando de entrar e sair, o carro fica mais
quente, o ar se torna pesado, e eu anseio por tê-lo dentro de mim.
Rebolo o quadril sutilmente, ganhando uns centímetros a mais sendo
penetrados.
— É isso que você quer? — ele pergunta baixinho, a voz rouca
exalando sensualidade. — Que eu meta meu dedo em você
enquanto estamos a caminho da nossa festa?
— Sim — peço, erguendo a cabeça, encontrando seus olhos
azuis transbordando desejo.
— Gosto de ver a timidez em seu rosto — morde o lóbulo da
minha orelha —, mas quando eu estiver com a mão na sua boceta
só quero ver a safadeza em suas íris. Abre as pernas para mim
Hope.
Suas palavras sujas causam um arrepio no meu corpo. A
vontade de entregar o que ele pede incendeia minhas células. Apoio
o pé esquerdo no vidro que divide o carro e o outro no estofado.
Michael segura meu tronco com o braço, apoiando meu corpo rente
ao seu. A boca beija minha testa com pequenas mordidas. Ele
desliza devagarinho o dedo em meu interior, e eu tremo, arquejando
ao ser preenchida pela primeira vez.
— É forte. — Suspiro. Não encontrando outra definição para o
que sinto. Tocada internamente, apreciando a boa sensação de ser
preenchida. Michael puxa a pontinha do dedo, fazendo um gancho,
iniciando investidas precisas.
Agarro seu paletó, buscando alívio para a pressão crescente
no ventre, vou desabar se ele continuar a me penetrar dessa forma.
Não quero imaginar quando for com o seu pau. Mordo o lábio,
enfiando o rosto na curva do seu pescoço suspirando, o prazer
percorrendo meu interior como um choque elétrico.
— Geme para mim, Hope — ele ordena, e o faço.
Abro os lábios permitindo que cada um dos gemidos que vêm
do meu núcleo exploda no ar. As investidas se tornam mais rápidas,
eu fico melada entre as pernas, a calcinha presa, a bunda
encharcada pelos líquidos. O calor aumenta a ponto de ser
insuportável. Abro os olhos encarando a imensidão azul dos do
Michael, ele tem fogo, morde os lábios me encarando com um tesão
que nunca vi antes.
Deito contra seu braço, arqueando o quadril e explodindo
maravilhosamente em seu dedo. Ele enfia fundo mais duas vezes no
meu interior antes de tirar.
— Olha só como você me deixou melecado. — Mostra-me os
dedos brilhantes. — Deve ser deliciosa. — Leva-os à boca, fechando
os olhos em puro deleite com o sabor da minha intimidade.
Respiro pesado, a cena erótica dele lambendo os dedos atiça
meu desejo latente. Seguro a lapela do seu paletó, subindo de
encontro à sua boca. Ele tira os dedos sorrindo lascivo antes de me
beijar. Eu tomo a iniciativa, o sugando, provando meu gosto
misturado ao seu. Aperto seu pescoço com um braço, remexendo o
quadril em busca de mais, agora que provei me tornei uma viciada.
— Doce como uma fruta — sussurra, segurando meu rosto e
me afastando, miro seus lábios brilhantes querendo mais. — Vou te
chupar até não sobrar nada do seu suco. — Ignoro suas palavras,
inclinando a cabeça em busca de seus beijos. Em transe movida
unicamente pela excitação.
— Cala a boca e me beija — ordeno.
Ele gargalha, afrouxa o aperto no rosto e aproveito,
capturando sua boca. Deslizo a língua para dentro dela, puxando o
máximo que posso do beijo que me causa arrepios de excitação.
Estou a um passo de montar com as pernas abertas em seu colo
quando ele segura minha cintura, me mantendo no lugar. Inspiro em
meio ao beijo, me inebriando com o cheiro sexy do Michael. É um
pecado um homem sensual cheirar a sexo.
Sua mão desce entre nós, tocando minha calcinha novamente.
Abro as pernas querendo mais de seus estímulos, ele desliza o
tecido tampando minha intimidade. Solto seus lábios, o encarando
incrédula. Michael suspira decepcionado e aponta para fora com o
queixo. Percebo que chegamos à mansão. Não percebi o tempo
passando.
— Podemos pular a festa — digo a ele.
— Vamos fugir dela — ele aperta minha cintura —, mas depois
que fizermos ao menos duas horas de presença. Preciso tratar de
negócios.
— No nosso casamento? — Franzo a testa.
— Sim. Tem políticos e empresários importantes, como novo
Chefe tenho de receber os novos juramentos de lealdade deles.
— Vão cortar a mão também?
— Não, esses são acordos de mãos limpas. — Rio pelo seu
trocadilho, a última coisa que eles fazem são acordos lícitos. Seus
lábios descem de encontro à minha garganta, os dentes afiados
mordendo a pele sensível. — Estou ansioso pela sobremesa.
Sorrio, me sentindo ousada. Aliso sua nuca, beijo seu pescoço,
com o atrevimento correndo nas veias abro os lábios, sentindo a
pele áspera na minha boca, é uma delícia de se morder e cheirar.
Solto-o, orgulhosa pela marquinha vermelha em sua pele.
— Pronto, agora você também foi marcado.
Desço do seu colo. E Michael gargalha antes de abrir a porta
do carro e descer, estendendo a mão para mim. Todas as pessoas
vão ver o que fiz com ele dentro do carro. As bochechas esquentam
de vergonha, eu deveria ter pensado melhor antes de marcá-lo. Ergo
o queixo, não me deixando abalar por uma coisa boba. Ele é meu
marido e faço o que eu quiser com ele.
A calcinha molhada incomoda quando desço do carro, enlaço
o braço no do Michael, observando como a mansão ficou linda com a
decoração de casamento. Somente os noivos podem entrar nela, os
convidados, incluindo nossas famílias, foram no caminho pelo jardim.
Passamos pelas portas e respiro devagar, minhas coisas já devem
estar no meu quarto.
— Me espera aqui — peço a ele.
— O que pretende fazer? — Arqueia a sobrancelha.
— Ir no banheiro me limpar.
— Não — segura minha cintura, colando nossos narizes —,
quero que você continue com o cheiro da excitação, somente eu vou
tirar cada uma de suas peças de roupa hoje.
— Não! É incômodo. — Troco o peso de pé, hipnotizada pelo
seu olhar mandão. Não entendo o motivo dele despertar meu
interior com suas ordens.
— Excitante — desliza o nariz no meu maxilar seguindo para a
orelha —, sempre que você andar vai lembrar do que fizemos no
carro e pensar em como será hoje à noite.
— Te odeio — digo, sentindo os efeitos do seu comentário. Ele
ri rouco antes de beijar minha testa.
— Vamos, minha rainha, hora de te exibir.
Gosto de como o nome “rainha” soa em seus lábios. Com
admiração, agora que ele é o Chefe, eu tenho que me portar à sua
altura, fazer a todos me respeitarem e aceitarem que minhas
palavras também são as dele. Ser impotente e implacável. Tudo que
só fui dentro do meu peito, segurando as dores que lutam para me
rasgar em duas.
Cruzamos a mansão para chegar ao jardim. Odeio como tudo
aqui é escuro em tons de preto e branco, sem vida.
— Vou mudar toda a decoração a partir de amanhã — aviso a
ele. — Odeio o ar sombrio desse lugar.
— Interessante, vai deixar a minha casa um arco-íris?
— Melhor do que uma masmorra.
— Você ficaria surpresa com o quanto uma masmorra pode
ser interessante. — Para em frente às grandes portas de vidro. A
cerimonialista começa a chamar a atenção dos convidados.
— Duvido. — Estralo a língua.
Ele arqueia a sobrancelha e minhas bochechas incendeiam ao
imaginar que o Michael deve frequentar esses lugares. Memórias de
uma conversa que ouvi dele com o Black falando sobre sexo
retornam, saí correndo pelos túneis quando ele falou que prendeu a
mulher de cabeça para baixo. Céus, não sei se aguento algo assim.
As portas se abrem e uma salva de palmas começa me tirando
do transe. Ficamos no topo da escada do jardim, recebendo os
cumprimentos dos convidados. Coloco o melhor sorriso no meu rosto
e abraço a todos por quem passamos e querem conversar. Nunca vi
tantos sorrisos falsos em um único lugar. Michael e eu caminhamos
até o centro da pista de dança para a primeira dança dos noivos.
O crepúsculo se inicia, banhando nosso momento de magia
pelas cores roxas e alaranjadas do céu. Seguro na mão dele em seu
ombro, Michael agarra minha mão e cintura. A música clássica inicia
e nos movimentamos pela pista. Ele inexpressível, enquanto eu
sorrio como manda o papel.
— Você melhorou na dança — comenta baixinho. — Lembro
de ficar com bolhas no seu aniversário de 15 anos.
— O Black que me ensinou a dançar. — Evito seu olhar com
vergonha. — Culpe a ele.
— Farei isso.
— Naquela época — pigarreio, encontrando seu olhar —, você
tinha interesse em mim?
— Aos meus olhos você era somente uma adolescente que
dançava muito mal. Nunca me interessei por menores se é isso que
você quer perguntar. Mas sim, um casamento político com você foi
cogitado, embora seu pai tenha negado. Eu queria a influência do
Bonnarro, não você.
Fico empertigada, a noite que me mostrou como o mundo
pode ter momentos de calma enquanto dançava com ele, para o
Michael não passou de uma convenção social em que ele planejava
como subir de posto conseguindo apoio dos Capos.
— Eu sei que é normal no nosso mundo garotas serem
prometidas ainda crianças ou adolescentes. Os homens gostam
disso. — Baixo a vista.
— Não, Hope, os pedófilos que gostam. Homens de verdade
só se interessam por mulheres adultas. — Encaro seu rosto duro,
raivoso. — Vou mudar a idade de casamento e dos acordos, nunca
me apeteceu continuar com esses atos.
— Obrigada — agradeço não só por mim, mas todas as
meninas que crescem com o medo de serem violadas ainda crianças
ou adolescentes. — E que tal deixar a noiva escolher se quer casar?
— arrisco.
Michael ri baixinho, mostrando que não era a sua intenção
deixar que o ouvissem, fico constrangida, não é como se eu tivesse
falado alguma besteira.
— Acho que casei com uma progressista.
— Não espere que eu fique calada quando vir algo errado.
— Aguardarei ansioso pelas suas opiniões.
Ele não é nada como eu imaginei. Michael realmente me
escuta e não age como os velhos nojentos da Máfia. Talvez meu
casamento não precise ser algo ruim e eu consiga que ele me deixe
estudar sem causar uma guerra entre nós. Nunca poderei confiar a
ele meu segredo, mas talvez não seja errado ter um pouco de
afeição por meu marido.
Hope
A festa dura até duas horas da madrugada. É quando os
primeiros convidados começam a ir embora. Estou exausta e com os
pés doendo. Sentada ao lado do meu marido, o encaro implorando
para nos recolhermos.
— Cansada, querida? — minha mãe pergunta, faço careta
afirmando. — Quando ele te levar para o quarto, sabe o que vai
acontecer, né? — indaga baixinho.
— Sim, lembro de tudo que a senhora me ensinou.
Só de recordar minha mãe tentando me ensinar como
funciona o sexo, eu quero me enfiar debaixo de um buraco. Ela fez
desenhos bastantes explícitos, enrolou quase uma hora para dizer
que o pênis entra na minha vagina. Foi a coisa mais vergonhosa pela
qual passei e não quero ter essa conversa novamente.
— Só relaxa — leva a mão ao rosto envergonhada —, não
tente ir contra ou fazer algo que te machuque.
— Mãe. — Seguro a mão dela, aproximando a boca de sua
orelha. — O Michael não vai me machucar, ele é gentil quando me
toca.
— Oh, céus, vocês já? — Fica espantada, e rio baixinho
beijando sua bochecha.
— Não, só uma provocação no carro — confidencio a ela, não
quero que ela passe a noite pensando que estou sendo abusada —,
e foi bom.
— Certo — aperta minha mão —, obrigada por me dizer, fico
mais tranquila em saber que ele não te machucará.
— Vai ficar tudo perfeito. — Beijo sua bochecha.
— Amanhã conversamos.
São em momentos como esse que eu a amo com todo o meu
coração. Quando ela tem pleno controle de suas ações e se
preocupa comigo. Gostaria que nossa relação fosse assim o tempo
todo.
— Vamos, Hope — Michael me chama, levantando-se.
O coração salta forte no peito ao perceber que chegou o
momento.
Seguro a mão dele, tentando esconder a animação. Não tenho
medo do que me aguarda, somente muitas expectativas. Com um
dedo ele me deixou encharcada e me deu um delicioso orgasmo,
tremo só em pensar o que conseguirá fazer com outras partes do
corpo em ação.
Não nos despedimos de ninguém em especial, somente
acenos ao passar perto das pessoas. Hoje a mansão é somente
nossa, Andrew, Emily e Matthew ficarão em outros lugares, ela eu
sei que vai para a casa da Senhora Griffin, os outros dois não me
importo.
Entramos, as portas de vidro se fecham, as persianas descem,
cortando a visão do lado de fora para o interior. Respiro forte, aperto
a mão do meu marido, e ele sorri de canto de lábio, os olhos
brilhando em divertimento. Michael para à minha frente, leva a mão
ao meu rosto, alisando minha bochecha com a lateral do indicador. A
boca a centímetros da minha. Inspiro seu cheiro mesclado ao uísque
que ele passou a noite bebendo.
— Eu gosto como você reage a mim — sopra contra meu
rosto, entreabro os lábios, pescando pequenos beijos dele. — Seja
sincera comigo, não quero te machucar.
— Certo.
Sua mão desliza no meu antebraço sem pressa, tocando
sensualmente, terminando o caminho na alça do vestido. O rosto
desce ao meu pescoço, inspirando meu cheiro. Arrepio-me com a
força que ele me cheira, o som alto da respiração no meu ouvido.
Abraço seus ombros, beijando a base da gola de sua camisa.
— Seja você mesma comigo. — Morde meu ombro, deito a
cabeça relaxada, envolta pela bolha sensual. Ele agarra minha
bunda, puxando-me para cima. Pulo enlaçando as pernas em sua
cintura, por sorte o vestido tem a abertura da cintura solta.
— Te peço o mesmo. — Encosto nossos narizes, pela primeira
vez somos sinceros um com o outro. — Vamos fazer dar certo.
— Sim.
Michael toca meus lábios com carinho, a língua entrelaçando
na minha com ternura. Toco seu maxilar, o puxando para mim,
entregando tudo o que tenho no nosso beijo. Sensualidade e paixão
explodindo ao nosso redor. Estou casada, meu destino selado, mas
nada vai me impedir de fazer com que dê certo. Começando por
hoje.
Ele caminha comigo em seu colo, vou beijando-o, na direção
do elevador. As portas metálicas se abrem e o botão para o terceiro
andar é acionado.
— O lugar do Chefe. — Sorrio. — Vou me aproveitar da sua
posição.
— O mundo está aos nossos pés, o use como uma rainha.
— Sempre foi assim para você? Teve tudo o que queria sem
dificuldades.
— Não. — Seu olhar pesa.
Decido não perguntar os segredos que ele esconde por trás da
dor aparente em suas feições. Ao invés disso, pressiono o peito
contra o seu, capturando sua boca para mim em um beijo quente.
Michael aperta minha bunda, fincando as unhas na carne por cima
do tecido. Remexo, adorando a fricção contra seu abdômen.
As portas se abrem e passamos por elas dando uns amassos.
É delicioso poder arranhar seu pescoço sem medo de ser
repreendida ou fazer algo errado. Aproveitando-me da liberdade,
mordisco seu maxilar a pele lisa sem sinal da barba, adoro a maciez
da carne entre os dentes, ataco seu pescoço a fim de marcá-lo mais
do que antes.
Ouço o som de portas se abrindo e olho para trás, percebendo
que chegamos ao nosso quarto. Amplo, uma cama no centro de
frente para as janelas de vidro com vista para a propriedade. Uma
televisão pendurada no teto de frente para dois sofás e um divã
perto da janela. Uma estante repleta de livros e dois jarros com
plantas floridas no canto da janela. Tudo lindo, mas frio.
— Vou mudar toda essa decoração — aviso a ele.
— Faça o que quiser.
Michael caminha comigo em seu colo, para em frente à
enorme cama, me sentando nos lençóis macios e brilhantes. Apoio
as mãos no colchão, aproveitando a visão do meu marido
removendo a gravata e abrindo os botões do paletó um por um. O
rosto com expressão libertina envia avisos aos meus hormônios
afoitos pelo que acontecerá. Ele remove o paletó e o joga no chão,
levanto-me, impedindo que remova o colete do terno.
— Eu faço isso — digo.
— Como quiser. — Abre os braços.
Desabotoo o colete mantendo meus olhos fixos nos seus.
Michael está calmo, apesar da excitação ele tem controle sobre seu
corpo e ações. Diferente de mim que tenho um leve tremor nos
dedos. Aliso seu peito por cima da camisa, dando a volta nos
ombros e removendo o colete. Beijo sua garganta, removo o
primeiro botão da camisa de algodão, beijando a pele exposta por
ele.
Sigo fazendo uma trilha de beijos por seu peitoral e abdômen
conforme vou terminando de remover os botões. Ao final da trilha,
engulo em seco, estico a língua tocando a pele abaixo do umbigo,
macia, não resisto e mordisco o gominho, refazendo o caminho com
mordidas. Aliso sua cintura, nunca pensei que fosse tão bom tocar o
tronco de um homem. Noto as pequenas cicatrizes que contornam
seu corpo. Aliso cada uma delas com a ponta dos dedos, imaginando
como as conseguiu.
As unhas deixam um rastro vermelho até seu ombro, aperto
os músculos fortes de seus braços, removendo a camisa, deixando-o
nu do tronco para cima. Abro a boca, respirando com dificuldade ao
ver o quanto o Michael é gostoso, musculoso, durinho e a pele
macia. Toco novamente seu umbigo descendo pelo V dos músculos
até o cinto. Encaro-o, o impacto da fome em seus olhos bate no
meu peito como um míssil. É a primeira vez que o vejo com desejo
cru no olhar.
— Continue — ordena. — Tire minha calça, Hope. Só pare
quando meu pau pular contra seu rosto.
Fecho os olhos, febril. Ele não me tocou e já me sinto despida.
Engulo em seco, obedecendo à sua ordem. Desafivelo o cinto, puxo,
descartando-o. O botão da calça emperra para sair, devido ao meu
nervosismo. Sento-me na cama, pauso o movimento das mãos,
inspiro e expiro. Está tudo bem, eu posso retirar a calça de um
homem e ver o pênis dele. Repito a frase três vezes antes de abrir
os olhos e remover o botão. Baixo o zíper, encontrando a cueca
boxer preta.
Desço a barra da calça até seus tornozelos, me deliciando com
a visão das pernas grossas, torneadas e fortes. Michael retira a peça
de roupa com os pés, abrindo as pernas mais um pouco. Meu olhar
bate com o monte duro marcando a cueca com maestria. Ele é
enorme, quase pulando para fora do tecido.
— Não para — a voz rouca ordena, carregada de luxúria.
— Só estava admirando. — Dou de ombros.
Puxo a barra do elástico, liberando seu membro que pula para
fora, batendo no meu nariz, devido à proximidade que eu estava.
Grosso, grande, uma veia saltada no centro, a cabecinha rosa
brilhando com um líquido escorrendo dela. Engulo em seco, não
querendo que ele perceba como me afeta, eu movo as mãos para a
sua bunda, apertando as nádegas durinhas, enquanto retiro o tecido
de uma vez.
— Beija — ele manda, segurando a base do pau e trazendo-o
aos meus lábios.
Olho para ele piscando, faço o que diz. Encosto os lábios na
cabecinha rosada, macia. Curiosa com o sabor dele e o coração
quase saindo do peito, eu estico a língua tocando sua ponta. Michael
chia como se sentisse dor. Solto-o assustada com medo de tê-lo
machucado. Suas feições ficam em chamas, ele puxa meu rosto de
volta ao seu membro, desliza o dedo nos meus lábios, os abrindo e
mete a cabeça rosada na minha boca.
Engasgo surpresa, é gostoso, macio apesar de duro. Relaxo a
mandíbula, deixando que ele entre mais. A ponta toca a garganta, e
eu tremo internamente, a vagina contraindo de ansiedade e com
inveja por não ser ela a beneficiária do seu pau. Ele impulsiona
devagarinho algumas vezes, chiando sempre que toca o fundo da
minha garganta. Tenho ânsia de vômito, e Michael puxa para fora.
— Porra de boquinha gostosa, posso passar o dia metendo
nela.
— É bom — digo timidamente.
— Vai ficar melhor quando você aprender a me chupar. Deita
— ordena.
Envolta pela bolha sensual, eu faço o que ele pede. O vestido
se amontoando na cintura. Michael sobe como um predador em
cima de mim, beija minha boca brevemente antes de descer
mordiscando meu pescoço. Sinto-me melada entre as pernas,
agoniada, querendo atenção na minha intimidade. Respiro pesado,
sua boca desce beijando meu busto, os dedos deslizam as alças do
vestido, não estou usando sutiã. Os peitos libertos para que ele faça
o que quiser. Encaro o teto ansiosa demais.
Michael belisca o bico do peito, e eu grito, o encarando
assustada. Ele sorri safado, fazendo-me assistir seu rosto descendo
e a boca aberta abocanhando meu peito. Eu sinto o prazer que seu
ato me causa no corpo todo. Um fio ligando o peito ao meu clitóris.
Aperto seus cabelos gemendo, sua língua se movimenta rápido, ele
suga o que pode, maltratando meu outro peito com beliscões
malditamente gostosos.
Aperto as pernas, necessitada por alívio. Michael ri,
reverberando as vibrações na minha pele e enfia uma perna entre as
minhas. Impulsiono o quadril me esfregando em sua coxa. Empurro
sua cabeça para baixo, precisando de atenção no meu pontinho
necessitado. Ele larga meu peito e faz o mesmo com o outro, os
segundos se tornam minutos em que eu agonizo querendo mais.
Um “ploc” e sou liberta. Michael me vira de costas como uma
boneca, bato o rosto no travesseiro, seus dedos são ágeis descendo
o zíper do vestido, retirando a peça. O tapa na bunda estrala alto,
ele agarra meu quadril, me girando novamente. Seu rosto desce sem
cerimônia contra minha vagina coberta pela calcinha. A mordida é
uma tortura maior que as chupadas no meu peito. Choramingo,
apertando sua cabeça com as pernas, empurrando seu rosto para o
meu centro desesperado.
Michael se livra do meu aperto, ficando de joelhos, puxa
minha calcinha e abre minhas pernas. A fome em seus olhos queima
como o magma ao encarar minha intimidade. O pau duro como aço
bate no umbigo. Ele desliza a língua pelos lábios melados, morde o
inferior, aperta minhas coxas com força, cravando os dedos na pele
sensível.
— Caralho, Hope, você tá encharcada. Isso tudo é a vontade
louca para eu te comer? — Eu não aguento o tom rouco de sua voz,
carregado de tesão.
— Para de enrolar — choramingo. O fogo no ventre me
fazendo perder a razão. — Eu preciso de você.
— Fala, onde você quer que eu meta meu pau?
— Na minha vagina — digo baixinho, envergonhada.
Ficar exposta incendeia minha face, nunca imaginei que
gostaria de tamanha exposição.
— Primeiro vou provar do meu fruto.
Ele desce o rosto na minha vagina, abocanhando a carne
entre os dentes. Lambendo o feixe nervoso do clitóris. Grito,
maravilhada pela sensação de ser devorada. Seu dedo penetra
minha carne, entrando e saindo. Ele enfia um segundo, agarro seus
cabelos, mexendo o quadril, pressionando a perna liberta na lateral
de sua face. O terceiro dedo entra, e eu arquejo, não é possível me
sentir mais cheia do que já estava. Gemo choramingando, meu
desejo chegando ao ápice.
Michael enrola a língua nas minhas dobras, morde meu
clitóris, e eu sou levada ao sétimo céu. Reviro os olhos, incapaz de
conter a saliva escorrendo pelo canto da minha boca ao alcançar o
ápice do prazer. Acho que esqueço de respirar rindo aliviada por
atingir o clímax. Ele continua me lambendo, instigando novamente
meu centro nervoso, quero mais.
— Deliciosa. — Os lábios e queixo brilham pela lubrificação. —
Vamos ao prato principal?
— Qual? — pergunto molenga.
— Meu pau na sua boceta — estremeço — você é apertada
para cacete, Hope. — Ele tem as feições sérias quando sobe
apoiando os braços ao redor da minha cabeça. — Vamos fazer de
ladinho, vai ser melhor para você.
— Certeza? — Não vou discutir, o Michael é enorme e só três
dedos dele me deixou sentindo aberta além dos limites.
— Sim, te deixei encharcada — arqueia a sobrancelha sem
vergonha —, mas vamos pela melhor posição para evitar que você
sinta dor.
— Confio em você — sou sincera.
— Eu sei.
Michael me beija devagarinho, me guiando na posição. Fico de
lado, a cabeça apoiada no antebraço dele, seu rosto pairando acima
do meu. Uma perna meio dobrada e a outra em cima da dele.
Michael guia o pau para a minha entrada, e eu arquejo, ansiosa
demais pelo momento.
— Pronta? — Beija minha orelha. — Estou quase explodindo
de vontade de te comer com força, porra, Hope — morde meu
queixo —, não espere que eu seja delicado sempre, preciso te comer
bruto.
— Céus. — Suspiro animada para que ele cumpra a promessa.
Michael bate o abdômen na minha bunda, a coxa colada na
minha, a perna impedindo que eu me feche. Beija meu pescoço e
começa a meter a cabeça redonda no meu interior. Prendo o ar,
agarrando o lençol ao senti-lo entrando, no início é suave, ele desliza
fácil.
O ardor vem acompanhado de uma forte pressão. Escondo o
rosto no seu braço, mordendo a pele para evitar gritar. A pressão
aumenta e eu choramingo. Michael para de se mexer, a mão desliza
entre minhas dobras, estimulando meu clitóris.
— Relaxa — pede baixinho.
— Tá — respondo.
— Olha para mim.
Viro o rosto, encontrando seu olhar terno. Ele beija meus
lábios com carinho, o cheiro dele misturado ao meu, o beijo com seu
sabor mesclado com o da minha boceta. Os movimentos rápidos no
clitóris e o beijo erótico liberam a tensão do meu corpo, relaxo
abrindo mais as pernas e deixando que ele continue entrando. A
pressão persiste com uma pequena ardência, mas não me incomoda
mais. A excitação tomou conta do meu corpo.
Arfo baixinho na boca dele, relaxada. Eu o sinto por inteiro
dentro de mim, a vagina pulsa apertando e soltando seu membro.
Ele aproveita para sair e entrar, deslizando com mais facilidade.
Estou melada, preenchida e aproveitando o momento. Não vou focar
no incômodo, mas no frenesi se espalhando pelos meus nervos.
Gemo contra a boca dele. Michael para o beijo, travando os
olhos no meu, abre os lábios, e eu me deleito ao ouvir o gemido
rouco deixando sua garganta, batendo contra meu ouvido sensível. É
empoderado saber que estou dando prazer a um homem como ele.
Fico quietinha aproveitando seu desempenho. Gemendo, o ventre
aperta novamente, Michael desliza com mais facilidade, aumentando
o ritmo das estocadas.
— Caralho de boceta gostosa — rosna. — Eu vou te comer até
perder os sentidos — promete. — Apertadinha quase esmagando
meu pau. Você sente isso, Hope? Como eu te fodo gostoso.
— Simmm — respondo em meio ao grito, o prazer cortando
de uma ponta à outra. Crescendo em um nível descomunal.
— Inferno! — Morde meu pescoço, e eu grito enlouquecida. —
Posso ir mais forte?
Ele não estava no máximo?
Sem raciocinar direito aceno em positivo. Michael finca a mão
no meu quadril bombeando rápido, batendo contra minha bunda,
preenchendo o quarto com o som dos nossos corpos. Eu grito,
lacrimejo com a ardência explodindo forte. Mas não quero parar,
preciso de mais. Seguro a bunda dele, trazendo-o para mim, o rosto
cai contra o colchão movimentando rápido. Grito como uma louca, a
vagina explode em líquidos, deixando-o deslizar mais fácil. Michael
aumenta a velocidade, sinto suas bolas deslizando na minha coxa.
— Goza, Hope — ordena no meu ouvido. — Goza gostoso no
meu pau!
Explodo em um milhão de pedaços.
O corpo em chamas desagua em um único ponto.
Arfo sem ar, Michael soca mais uma vez antes de despejar seu
sêmen no meu interior, um jato quente e forte. Ele me aperta contra
seu peito, deslizando para fora. Sinto um vazio enorme ao me ver
sem seu membro me preenchendo. Choramingo baixinho, a ardência
quase esquecida, somente um leve incômodo.
— Tudo bem? — ele pergunta baixinho, respirando pesado no
meu ouvido.
Sem forças para responder aceno em positivo. Michael me
puxa para seu peito e eu sou grata pela tensão sexual que ele criou
entre nós durante o tempo que passamos juntos. Seu cuidado com a
minha primeira vez, tudo culminando para a noite mais quente e
perfeita de núpcias. Não poderia querer nada melhor do que isso, é
impossível que exista.
— Descanse. — Beija o topo da minha cabeça.
Os olhos pesam e eu adormeço em segundos.
Michael
Eu preciso de mais.
Hope é viciante, agora que a provei não pararei. Uma nova
fome foi despertada, rugindo, exigindo por mais.
Tenho planos para fazer com que o casamento dê certo, não
quero viver em uma casa que desperte ânsia de matar minha esposa
ou nunca estar presente. O exemplo de casamento que tive foi meu
pai espancando a minha mãe constantemente, nunca a vi sem um
hematoma no corpo ou tentando esconder as dores com remédios
fortes.
Ela não fazia nada para merecer o tratamento cruel. Cuidava
da casa, dos eventos da famiglia e era a perfeita esposa troféu. O
único erro dela foi amar os filhos. A memória mais antiga que tenho
é borrada, os sons incompreensíveis, somente a imagem e o calor
que senti. Estávamos no jardim, ela plantava umas roseiras com
espinhos, lembro-me de correr para ela, tropeçar e cair. Cortei a
palma da mão, comecei a chorar e com um sorriso no rosto ela me
pegou no colo.
Não me lembro de quantos anos eu tinha, sei que era muito
pequeno, entre 3 ou 4 anos, mas recordo como se fosse hoje o
carinho da minha mãe encostando minha cabeça em seu ombro,
dando tapinhas nas costas e beijando meu rosto. O sorriso dela me
acalmou, parei de chorar e fiquei com ela, a observando cuidar das
rosas, ela as pegava com maestria sem se furar e mostrava para
mim, os lábios falando frases que não me recordo, os olhos azuis
sempre brilhantes e os cabelos louros como o sol.
Andrew aponta o amor como uma fraqueza, algo imperdoável
para um homem da máfia. Minha mãe tentava disfarçar quando
cuidava da gente, sempre quando ele não estava presente e na sua
presença ela era fria e impessoal, inatingível. Mas não era o
suficiente para esconder a gentileza que ela plantou na nossa alma.
Enquanto o Andrew tentava me ensinar a castigar, matar e ser
um monstro, ela me mostrou como abraçar, cuidar e proteger. Por
Matthew e Emily serem os mais novos, ela me dizia que eu tinha de
cuidar deles e não deixar o Andrew destruir meus irmãos.
Eu tinha 9 anos quando fui iniciado como um homem de
honra na máfia. Mais novo do que qualquer outro garoto, a iniciação
só começa aos 12 anos, mas Andrew queria arrancar a semente da
bondade plantada pela minha mãe, fui torturado, passei por um
intenso treinamento de lealdade, transei com uma prostituta,
quando pensei que tinha acabado, Andrew sorriu como um demônio
apresentando meu teste final, ser capaz de bater na minha mãe.
Andrew me trancou em uma sala com ela, somente nós três.
Ele mandava machucá-la, se não obedecesse era ele quem a feria.
Os olhos marejados, a boca cortada e o sangue manchando seu
corpo nunca vão sumir da minha mente enquanto ela me implorava.
— Por favor, Michael, é só me bater.
Para libertar a minha mãe da tortura eu desliguei minhas
emoções, me tornei o monstro que o Andrew queria e a bati, soquei
sua barriga com a força de um garoto de nove anos. Ela gritou alto,
segurou meu ombro e caiu no chão com um sorriso no rosto. Travei
o bolo na garganta, encarei a satisfação no rosto do Andrew e decidi
que o mataria com as minhas próprias mãos quando me tornasse
Chefe.
Depois desse dia, minha mãe continuou me tratando do
mesmo jeito, enquanto eu me afogava em arrependimento por tê-la
machucado. Matava e torturava, tentando expurgar meu pecado, fiz
tudo o que ele pedia, o herdeiro perfeito, o assassino cruel e o líder
temível. Ele continuou machucando Hannah, abusava dela, fazendo-
a gritar para todos escutarmos. Emily corria para meu quarto com
medo pelos gritos da mãe, Matthew se trancava, ouvindo música,
tentando abafar o som, e eu, absorvia cada um daqueles barulhos
jurando nunca ser como ele.
Eu vivo em um mundo que não segue as regras da sociedade,
dominamos o submundo e ditamos como ele deve ser. Com
tradições conservadoras e a dominação das mulheres, as expondo à
violência e o que tiver de pior na mente de um homem. Algumas
regras não posso mudar, como os acordos de casamento e a
obrigatoriedade de um herdeiro legítimo.
Contudo, eu não preciso continuar o ciclo de violência, não
vou forçar a Hope, se ela quiser deitar comigo que seja por sua
vontade. Usarei da sedução para fazê-la me querer e desejar, ser
uma boa esposa e mãe, mas jamais farei uso da violência.
A mudança na Máfia Bianchi vai começar pelo meu
casamento, vou transformar a organização na mais forte Máfia do
mundo, criar um lugar seguro para as nossas mulheres e um futuro
para a minha irmã e filhos, onde eles não precisem ter medo de
amar. Que uma mãe possa abraçar o filho sem ser espancada e que
não seja sinal de fraqueza um pai amar seus filhos ou um marido a
sua mulher.
Hope dorme encostada no meu corpo. Movo-me devagar para
não a acordar, retiro sua cabeça de cima do meu braço, baixo a
perna por cima da minha e descolo nossos quadris. A bunda
arrebitada com uma pinta na nádega esquerda é uma tentação,
baixo o rosto, beijando sua carne macia, a vontade de estapeá-la
formigando na mão.
Ela precisa descansar.
Uma pequena cicatriz em seu quadril chama a minha atenção.
Sutil como o corte de uma faca, analiso sua pele, encontrando
outras espalhadas. Franzo a testa, curioso para saber como ela as
conseguiu. Uma no centro das costas me lembra de quando a
resgatei. O maldito do Paul marcou minha mulher, a raiva borbulha
querendo ressuscitá-lo só para matá-lo novamente.
Hope é minha e ninguém tocará nela novamente.
A posse desperta meus instintos, querendo possuí-la
novamente. Lembro a mim mesmo, meu pau é enorme e a boceta
dela é apertada, tive que me controlar para não socar fundo, virá-la
de frente, de quatro, montada em mim, estapear sua bunda
arrebitada até ficar a marca da minha mão na carne.
Vou ter que acostumá-la primeiro ao sexo antes de intensificar
e fazer as perversidades que eu gosto. Antes de amarrá-la com
algemas e cordas, tenho que fazê-la delirar implorando para ser
comida com força. Ainda sou um monstro na minha essência, gosto
de sexo pesado, de comandar e ser obedecido.
Mas somente com consentimento, serei diferente do Andrew,
vou ter uma parceira que queira estar comigo, viver na escuridão ao
meu lado. Hope vai implorar de joelhos para que eu a tome. E
depois de esgotados de transar eu vou cuidar dela, de cada
centímetro da sua pele.
Minha para adorar, cuidar e transar na perversidade que me
satisfaz.
Um filete de sangue escorre misturado ao esperma saindo de
sua boceta. Acaricio meu pau com a imagem sexy da minha porra,
deixando seu buraquinho apertado. Quero beijá-la e sentir o sabor
erótico de seus fluidos novamente.
Mordo o lábio contendo a vontade e me levanto, puxo o
lençol, limpando entre suas coxas, deixando a marca da consumação
do casamento no tecido branco. Uma tradição para exibir a virilidade
do homem e confirmar que a moça casou pura.
Ela se mexe, deitando-se de costas, os peitos saltando na
minha visão. Redondos, macios, deliciosos de colocar na boca e
lamber. Abaixo o rosto beijando o vão de seu busto, subindo com
pequenas carícias pelo pescoço, paro saboreando seus lábios. Hope
abre um olho, leva a mão à minha cabeça e me beija preguiçosa,
quase sem forças, abre levemente as pernas e sorrio na sua boca,
saboreando a intenção dela.
— Acha que aguenta outra? — pergunto rouco.
— Não — responde baixinho, fechando os olhos, o rosto em
puro deleite —, mas eu queria.
Rio soltando ar pelo nariz. Levanto-me, passo o braço por seu
pescoço e coxas, a trazendo para mim. Hope enlaça meus ombros,
deitando a cabeça. Apesar dos olhos fechados a noto consciente,
exausta e excitada. Caminho para o banheiro, a deito na banheira e
encho com água quente. Ela abre as pálpebras, me mostrando as
esmeraldas em seu olhar antes de sorrir, me estendendo a mão.
— Vem.
— Tenho que fazer algo antes.
Deixo a banheira encher com ela dentro e volto para o quarto.
Retiro o lençol branco, o deixando em cima do sofá e estendo o
edredom para dormirmos. Volto ao banheiro, deito com ela escorada
no meu peito, pego a esponja e limpo entre suas pernas, ela treme
quando toco sua intimidade, fazendo um pequeno chiado com os
dentes.
— Muito dolorida?
— Uma coisinha — responde, suspira aliviada quando retiro a
mão.
— E ainda quer mais. — Mordo sua orelha, contendo meu
instinto selvagem. — Amanhã eu te como gostoso.
— Mais do que hoje? — Encara-me, divertida.
— Muito, hoje foi somente o aperitivo. — Lambo seu pescoço,
adorando como seus pelos ficam arrepiados.
— Ainda bem, estava com medo de todas as vezes serem
assim. — Belisco sua cintura, respondendo à sua provocação.
— Você pode mentir o quanto quiser, mas seu corpo não nega
que você gostou e quer que eu te foda até perder os sentidos.
— Pura ilusão — desdenha, prendendo a respiração.
Agarro seu pescoço, virando-a de frente para mim, prendo seu
queixo com a outra mão e devoro seus lábios. Entrelaço nossas
línguas, simulando investidas como se fosse meu pau na sua boca,
Hope aperta meus ombros, trava a respiração e geme baixinho,
rendida.
Puxo sua língua com os dentes, mordo seus lábios, a beijando
com lasciva. Largo seu queixo, trazendo seu quadril para mim, as
pernas em volta da minha cintura, montando em meu pau desperto.
— Para, para — pede rápido em sussurros sofridos. — Você
ganhou, eu quero mais, mas minha vagina tá doendo agora.
— Depois — a beijo com ternura —, eu vou te comer até te
fazer desmaiar e não conseguir andar no dia seguinte.
— Tenho sérias dúvidas se conseguirei sentar. — Acho graça
do seu jeito de falar preocupada com as sobrancelhas franzidas.
— Quer ficar mais tempo na banheira?
— Não, podemos ir deitar. — Levanto-me, seguro sua mão lhe
dando apoio.
Hope tropeça ao sair da banheira, agarro sua cintura
impedindo a queda. Saio da banheira com ela no colo, ela estica a
mão pegando um roupão para si e passa outro nos meus ombros.
Rio do seu jeito atrapalhado tentando nos secar. No quarto, a sento
no sofá para podermos ajeitar os roupões, ela encara o lençol sujo
de sangue com uma careta.
— Você vai ter mesmo de exibir isso?
— É a tradição.
— É humilhante. — Encolhe as pernas contra o peito, se
abraçando. — Todos os homens da famiglia vão poder ver que eu
sangrei na nossa primeira vez. Deveria ser íntimo, algo só nosso,
não exibido como um troféu. Pode ser um orgulho para você ver os
homens falando que você me tomou, mas para mim é depreciativo.
A exibição estraga a gentileza que você teve comigo na nossa
núpcias.
— Nunca vi a tradição dessa forma. — Sento-me ao seu lado,
refletindo suas palavras.
— Porque você se acostumou a ver somente o lado masculino,
nenhuma mulher gosta disso — encara o lençol —, até mesmo a
minha mãe fica com vergonha de saber que vai ter de me ver
exibida, como aconteceu com ela. — Vira-se para mim. — Me diga,
em todas as vezes que você participou da cerimônia dos lençóis,
quantas presenciou alguma mulher olhando o lençol e
comemorando? Ou quais são as principais frases dos homens nesses
momentos?
— Não são muito agradáveis — admito.
— Por favor — segura minha mão —, você é o Chefe, não
pode mudar isso? Consumamos o nosso casamento, sua palavra
deveria bastar, a cerimônia de lençóis é só humilhação.
Relembro da última vez que fui a essa cerimônia, a filha do
irmão do Consigliere casou com o primo do Kai. Os comentários dos
homens eram depreciativos e sexuais, beirando ao abuso. Violando
verbalmente o corpo da mulher, como se pertencesse a eles e não
ao marido. Encaro a minha noiva, as curvas expostas pelo tecido, o
rosto delicado e triste. O sangue nos lençóis é a marca de seu íntimo
que foi entregue a mim, somente eu a conheço e tenho o direito de
ter tudo dela.
Ninguém poderá tocar ou ver o que é meu.
— Você é minha, Hope. — Seguro seus ombros, a trazendo
para perto, misturando nossas respirações. — Ninguém vai ver o que
pertence somente a mim.
— Vai cancelar a tradição? — pergunta esperançosa.
— Vou mudar, a consumação deve ser provada, somente a
mãe da noiva e do noivo poderão ver.
— Obrigada. — Encosta a cabeça no meu ombro, suspirando
aliviada. — Muito obrigada, Michael.
Continuamos abraçados olhando o céu estrelado. Sua
respiração fica suave, miro seu rosto percebendo que dorme
serenamente. Pego-a com cuidado no colo, levando-a para a cama,
deito-me, encarando o teto até ser vencido pelo sono. O dia será
longo com a revolta dos membros masculinos por não verem o
lençol com sangue.
Desperto com o som de batidas insistentes à porta. Visto um
robe, cubro a Hope com o edredom, ela dorme feito uma pedra,
abro a porta encontrando minha sogra, irmã, as Senhoras Griffin,
Lucian e Belarc, prontas para recolherem o lençol manchado pela
virgindade e o colocarem na sala de eventos exibido como um
quadro.
— Bom dia, senhor — Kennedy Bonnarro me cumprimenta,
evitando encarar meus olhos. — Viemos pegar o lençol.
— A partir de hoje a tradição dos lençóis será alterada. — As
senhoras me encaram com espanto. — Somente a mãe da esposa e
do marido poderão comprovar de portas abertas para as outras
Senhoras que o casamento foi consumado. Digam a seus maridos o
que virem, chega de exibições.
— O Senhor tem certeza? — Kennedy pergunta, os olhos
marejados.
Encaro as cinco mulheres à minha frente, todas com
expressões de alívio e medo. Hope tinha razão, essa não é uma
tradição para comprovar a perda da virgindade, mas um ato de
demonstração do poder masculino e sua dominação. Emily dá um
passo à frente, erguendo o queixo, aliviada porque será poupada
quando chegar a sua vez. Seria desagradável ver os lençóis
sangrados da minha irmã.
— Obrigada por isso, Chefe — a voz treme —, como
representante da família Bianchi eu farei a comprovação junto da
Senhora Bonnarro, se o Senhor permitir.
— Podem entrar, as senhoras podem ver fora do quarto que
elas conferem o lençol no sofá.
— Sim, Senhor — respondem em uníssono.
As duas entram e seguem para o sofá, tocando o lençol,
conferindo a mancha. As bochechas da Emily ficam vermelhas como
um pimentão, o que será que se passa na cabeça dela neste
momento? Ela encara a amiga deitada tranquila dormindo. Kennedy
se aproxima da filha, toca seus cabelos e beija sua testa com um
sorriso antes de segurar minha irmã pela mão e deixarem o quarto.
— Consumação confirmada — Kennedy fala. — Avisarei aos
homens.
— Mandem irem ao meu escritório.
— Certo, Chefe.
Fecho a porta, tomo um banho, visto um terno e deixo a Hope
dormindo. Preparando-me mentalmente para o inferno que será a
revolta por quebrar a tradição dos lençóis.
Como o novo Chefe, meu escritório principal fica no terceiro
andar, a sala ampla com uma mesa e um conjunto de sofá um de
frente para o outro para acomodar vinte pessoas, uma poltrona na
ponta, ocupada somente por mim. Atrás, a mesa de mogno, uma
cadeira e o computador que usarei para trabalhar em casa.
Sento-me na poltrona em frente à mesa esperando meus
convidados. Batidas soam e libero a entrada, Andrew tem o rosto
vermelho de raiva, me divirto com a fumaça deixando sua orelha.
Bellamy e Daniel Griffin entram ocupando seus lugares à minha
direita, Louis e Kai Lucian sentam à esquerda, Bartolomeu e Black
Bonnarro, ao lado dos Lucian, Nathan e Tyron Belarc no lugar que
sobra ao lado do Andrew na direita. O novo conselho de Capos e
seus filhos herdeiros formado. Andrew somente como uma peça
velha prestes a ser jogada fora.
— Bom dia, senhores — os cumprimento.
— Bom dia, Chefe — respondem juntos.
— O que você pensa que está fazendo? — Andrew fala baixo,
controlando a raiva. — Vai acabar com a tradição de décadas da
nossa organização!
— Como seu novo Chefe vou implementar mudanças
estruturais para que a organização chegue a patamares nunca antes
alcançados. A tradição do lençol acontecerá conforme expliquei às
Senhoras, minha esposa e nossa intimidade será mantida no âmbito
privado da nossa casa, não vou tolerar a interferência de ninguém. E
assim será com os próximos casamentos.
— É imperdoável tal mudança — esbraveja.
— Controle-se! Lembre-se com quem você fala. Eu sou o seu
Chefe, Andrew, não vou tolerar impertinências.
Ele aperta os punhos, desviando o olhar. Sabia escolha, sabe
que não deixaria passar um olhar petulante.
— Senhor — Bartolomeu chama —, tem algum outro motivo
para o fim da tradição?
— Você gostaria, Bonnarro, de exibir sua filha como um
pedaço de carne?
— Não.
— E você, Griffin, em breve é a sua menina que vai casar,
ficará confortável em ouvir os homens presentes nesta sala e os
outros membros da organização falando o quanto a sua menina
deve ter sido abusada? Rasgada, que sangrou pouco e os demais
comentários que você já ouviu muitas vezes.
— Não, senhor.
Nenhum deles me encara, devem estar loucos de vontade de
contrariar minhas palavras. Alguns desses homens não se importam
com o que acontece com suas filhas e as machucam como o Andrew
fez com a Emily, mas outros são como o Bonnarro que protegem as
meninas da podridão do nosso mundo.
— Vivemos em tempos modernos e a barbárie ficará para trás.
Somos assassinos, monstros que dominam o submundo. Nada disso
vai mudar por causa de uma exibição de lençol sangrado. Somente a
palavra do marido e das senhoras valerá para comprovar a
consumação do casamento.
— Chefe — Andrew aperta os dedos, ficando na ponta do sofá
—, o senhor pode repensar essa decisão.
— Eu concordo — Louis Lucian se pronuncia. — Não pode
iniciar seu mandato quebrando nossas tradições. Os lençóis devem
ser mostrados!
— Besteira — Bellamy diz, meu consigliere, eu consigo sentir o
sangue dele fervendo para que eu não o substitua. — Se o Bianchi
acredita que deve ser mudado, vamos seguir as ordens dele.
Confiem no seu líder e a Máfia Bianchi nunca perecerá.
— Eu apoio a decisão — Bonnarro se pronuncia. — Já passou
da hora de mudarmos essa tradição e muitas coisas enraizadas que
deveriam ser revistas.
— Também sou a favor — Belarc se posiciona. — Estou
ansioso para ver como o Bianchi se sairá, ele sempre foi um
excelente homem de honra, se é a sua decisão eu a respeito.
— Temos quatro contra dois. — Sorrio, pronto para o golpe
final. — A partir de hoje a tradição dos lençóis seguirá um novo
direcionamento, e Andrew Bianchi não faz mais parte desse
conselho. Você não é mais o Chefe e ficará como um membro
inativo, caso um dia precisemos de sua opinião será chamado para
se reunir a nós. Pode sair. — Aponto para a porta.
Ele ri amargamente, levanta abotoando o terno e sem dizer
uma única palavra deixa o escritório. Esse é só o começo da minha
vingança, Andrew pagará por tudo o que fez a mim, meus irmãos e
minha mãe. Comecei retirando o que ele mais amava, o poder de
controlar a organização, em breve suas empresas serão minhas e ele
será jogado na cadeira de tortura.
A reunião se estende por mais duas horas, aviso a eles sobre
os meus planos para o próximo ano da organização. Lucian, um
velho teimoso, continua insistindo que mudanças não são boas e
deveríamos manter as coisas como estão. Finjo dar ouvidos às suas
reclamações. Todos levantam para ir embora, com um sinal de
cabeça indico que Bartolomeu e Black devem permanecer.
— Sim, Chefe? — Bartolomeu pergunta quando ficamos os
três.
— Conseguimos o que queríamos com o casamento?
— Sim — Black responde. — Eles entraram no estado por
Greenwich, por enquanto sem sinal do Samuel estar junto de seus
homens.
— Seguiremos com o plano, tornem as coisas difíceis. Pode
demorar, mas quando o Samuel ficar frustrado com os soldados que
envia virá pessoalmente, nesse momento o pegamos.
— A segurança da Hope é prioridade — Bartolomeu lembra.
— Ela está comigo, não vai se machucar.
Black encara o chão, deve estar se consumindo de culpa por
ter sido pego na armadilha que levou a irmã.
— Não pretende contar a ela? — Black indaga. — Talvez possa
ser mais seguro se ela souber o que estamos fazendo.
— Não, e proíbo a vocês de falarem a respeito, se eu suspeitar
que ela sabe de algo ambos sofrerão sanções.
— Sim, Senhor — respondem.
— Quero ver as filmagens da entrada deles, quantos eram e
para onde foram?
Bartolomeu me entrega o tablet e relata o que pedi, pelo resto
da manhã continuamos montando a armadilha para os ratos que
ousaram mexer com a minha esposa.
Hope
Ele não deixou levarem os lençóis.
Encaro o tecido em cima do sofá, o recolho e saio do quarto,
vestindo um vestidinho leve depois de tomar um longo banho. Estou
melhor do que imaginava, o incômodo na vagina aliviou depois que
acordei. Ando sem parecer que passei a noite dando para meu
marido.
Céus, só de lembrar a forma como ele me tocou e as coisas
que fizemos meu rosto queima. Michael ter sido gentil mexeu
comigo, quebrando vários dos medos que eu tinha quanto ao nosso
casamento.
Se ele mudou uma tradição de décadas, pode me deixar
estudar. Embora eu saiba que ambas as coisas possuem diferenças
em como serão recebidas e que o Samuel ainda busca por mim.
Entro no elevador, descendo para o primeiro andar, a mansão
aparenta estar vazia. Oficialmente estamos em lua de mel e só será
permitido a entrada de outras pessoas se o Chefe solicitar. Quero
falar com minha família antes de irem embora. Apresso o passo,
entrando na cozinha. A governanta limpa o balcão com um pano,
para o movimento me encarando com um sorriso.
— Bom dia — estendo o lençol —, leve isso para lavar e não
deixe que ninguém veja a mancha.
— Sim, senhora Bianchi. — Pega o tecido. — Vai fazer sua
refeição agora?
— Onde está o senhor Bianchi?
— No escritório, em reunião com os Capos.
— Quando eles saírem me avise, pode servir meu café no
jardim.
— Sim, senhora.
Passo pelas portas de vidro, recebendo com alegria o dia no
lado de fora. É esse o efeito causado por uma noite de sexo gostoso
que sempre ouvi as protagonistas de séries falando? A pele do rosto
estava mais macia e o humor melhor do que o esperado. Até que
gosto dessa minha versão, animada com algo quando as
preocupações ficam em segundo plano.
Caminho entre a passarela de flores, paro ao ver umas
roseiras vermelhas com grandes espinhos, me agacho, tocando com
cuidado as pétalas, deve ter sido com essas que o Andrew bateu na
Emily, os espinhos afiados e pontudos cortariam com facilidade a
pele de uma adolescente. Eu deveria mandar tirar? Quem foi que fez
o jardim da mansão? Parece um trabalho de um profissional. É o
único lugar que não tenho vontade de mexer.
Levanto-me, caminhando para a área de refeições no jardim,
uma estrutura com teto oval revestido em vidro opaco, impedindo a
passagem completa do sol, formando uma pequena sombra. Sento
no sofá branco recostando as pernas no banquinho. Inclino a cabeça
para trás e fecho os olhos. Para fazer meu casamento dar certo
tenho que evitar brigas com o Michael, ontem ele gozou dentro de
mim e por sorte tomo anticoncepcional, não tenho risco de
engravidar.
Se continuarmos transando sem camisinha ele vai ter
desconfianças, vou conversar com ele sobre não termos filhos por
enquanto. Isso vai dar tempo do meu pai descobrir quem é o
Samuel e qual o interesse dele em mim. Se meu segredo for
revelado enquanto estou grávida ou depois de ter um bebê as
consequências seriam terríveis. O Michael pode ser gentil e ter
mudado uma tradição por mim, mas ele nunca perdoaria uma
traição.
Homens da máfia não perdoam, eles matam quem ousa
desafiá-los e quebrar sua confiança. O crime cometido pela minha
família é imperdoável e as consequências podem destruir tudo pelo
qual os Bonnarro lutaram para proteger.
Uma maciez toca minha boca, o cheiro sensual me alerta
quem é meu acompanhante. Seguro seu maxilar esticando a língua
enrolando na dele preguiçosamente.
— Bom dia — murmuro.
— Bom dia — ele cumprimenta, os olhos tranquilos, quase
preguiçosos.
Michael se senta ao meu lado, encosto a cabeça no seu
ombro, fechando os olhos novamente, aproveitando o cheiro dele
mais um pouquinho.
— Quantos dias temos de lua de mel?
— Uma semana — responde, alisando meu antebraço com a
ponta dos dedos.
— Quero viajar. — Abraço sua cintura, enfiando a mão por
dentro do terno, encontrando a arma dele no coldre de peito.
— Eu sei — cheira meus cabelos —, depois faremos isso, não
é um bom momento para sairmos.
— Por causa do Samuel? — Encaro o mar em seus olhos.
— Nenhum inimigo me impediria de fazer o que eu quero. —
A fala dura arrepia meu corpo. — Estou com um plano em ação para
o capturar, por isso não sairemos. É meu dever capturar quem
persegue minha mulher.
— Qual é o plano?
Michael analisa meu rosto, decidindo se me conta ou não. Por
fim ele fica calado, fecho a expressão querendo ser inclusa. Vou ter
que descobrir as passagens secretas daqui se eu quiser saber de
algo que me envolve. Tenciono sair de seus braços, mas ele me
impede, me mantendo presa contra seu peito. A boca desce para
minha orelha beijando várias vezes. Desfaço a careta, rindo contra
seus lábios.
— Quando chegar a hora certa eu te conto.
— Vai me colocar em perigo?
— Não.
— Minha família ficará bem?
— Talvez. — Levanto-me, o encarando com raiva e medo. —
Estou brincando. — Ri de leve. — Seu pai e o Black estão envolvidos
em uma missão, a segurança de ninguém é 100% garantida.
Aprenda isso, Hope, um dia eu posso sair e não voltar.
— Que vá embora. — Dou de ombros, fingindo desinteresse.
Não gosto da ideia de ele não voltar.
— Não seja dramática. — Belisca minha cintura, pulo no sofá,
me encolhendo, rindo pelas cócegas. Michael me solta e estapeio
seu peito em resposta à sua gracinha.
Ele não se moveu um centímetro enquanto implicava comigo,
o sorriso relaxado não vacilou. Sozinho sem ninguém nos
observando ele pode relaxar. Volto a deitar contra ele, os pássaros
começam a assobiar em um ritmo que lembra uma canção. Ao longe
vejo muros de concreto se estendendo por um longo caminho.
— O que é aquilo? — Aponto.
— O labirinto — Michael responde sombrio.
— Por que tem um labirinto aqui? Parece coisa do século
medieval.
— Andrew mandou construir quando eu tinha 12 anos, ele
treina cachorros para matarem pessoas, prende os animais lá
dentro, os deixando famintos e depois castigava a mim ou ao
Matthew nos trancando com os cães.
— Ele é muito cruel — me abraço —, não consigo imaginar
como deve ter sido assustador para vocês.
— No início, quando eu era mais novo, não conseguia lutar
com os cães e corria deles. Quando ganhei músculos passei a me
defender e caçar eles, quando matei a todos, o Andrew soube que
não poderia me castigar mais com o labirinto e encontrou outras
formas para isso.
— O que ele fazia? — Encaro seu queixo, o olhar dele perdido
no tempo.
— Usava a minha mãe ou a Emily, as castigava na minha
frente, já que me torturar não surtia efeito e eu não tenho medo
dele desde os 9 anos.
— Sua relação com ele sempre foi uma guerra?
— Sim.
— Não seja assim com nossos filhos — peço, as palavras saem
sem que eu consiga segurá-las. Arrependo-me no segundo em que
as falo, eu não deveria querer planejar um futuro em que teremos
crianças.
Michael vira de frente para mim, segura meu queixo, me
trazendo para mais perto. Desvio o olhar com medo do que ele fará.
As batidas do coração rápidas como uma bateria sendo tocada em
alta velocidade. Ele inclina o rosto me forçando a encará-lo.
— Eu não quero ser como o Andrew. O que ele plantou de
mau, a minha mãe suprimiu com bondade e amor. Nosso lar não
será um inferno, Hope. Eu te prometo.
— Posso mesmo confiar em você? — A voz embarga,
confiança é uma faca de dois gumes e quando quebrada o estrago é
catastrófico.
— Sim, não espero que o faça agora, estamos no nosso
primeiro dia casados. Mas quando se sentir confortável divida todos
os seus segredos comigo, eles estarão seguros.
— Você está tentando me fazer falar algo que te revele o
motivo do Samuel me perseguir?
— Não. — Puxa-me de volta contra seu peito. — Acredito que
você não sabe a razão, só quero que possamos confiar um no outro.
— Acha que podemos fazer isso? — Um cansaço de anos se
abate sobre o meu corpo. — Como vou saber que você não está me
manipulando?
— Confiando em mim, juramos proteger um ao outro no
nosso casamento, não espero que você faça isso hoje, mas talvez
um dia.
— Me conte um segredo seu — arrisco. — Algo que seria
perigoso outras pessoas saberem. Faça isso e te digo um.
Michael aproxima a boca do meu ouvido, a respiração quente
batendo na minha pele. Travo, esperando por suas palavras, não
acredito que ele realmente vai fazer isso.
— Eu ajudei a minha ex-noiva a fugir, todos pensam que ela
se matou — sussurra.
A alma gela com a informação que ele me dá. Descolo, o
encarando incrédula, um pequeno sorriso no canto de seus lábios e
os olhos satisfeitos por saber que me pegou desprevenida.
— Como?
— O que você ouviu, todos acreditam que ela morreu. É
divertido perceber como ninguém nunca descobriu o que eu fiz, às
vezes me divirto com o Kai, Black e Daniel contando teorias de que
não foi suicídio para ver se eles pescam algo.
— Não tem medo deles descobrirem e usarem isso contra
você?
— Confiança é algo precioso e raro, nós quatro confiamos um
no outro, eles não me trairiam ou eu a eles.
— Você realmente ajudou alguém a fugir? — sussurro.
— Sim.
— Pretende me contar? — Arqueio a sobrancelha,
genuinamente curiosa.
— Vem — puxa novamente contra ele —, seu café chegou.
Vejo a governanta se aproximando com a bandeja, ela sorri,
deixa em cima da mesa e vai embora. Michael aponta que eu devo
comer, ele não pretende me contar nada enquanto não fizer isso.
Parto o bolo enfiando uma fatia na boca e bebendo o suco de uma
vez, curiosa demais sobre o que aconteceu para perder tempo
comendo.
— Agora me conta — peço enquanto engulo.
— O que estou fazendo é uma prova de confiança. — Alisa a
aliança no meu dedo. — Você vai retribuir? — Ele me seduz com o
timbre grosso.
— Antes quero uma prova de que ela está viva.
Ele ri rouco, pega o celular, curiosa, vejo-o abrir uma pasta
protegida e rolar pelas imagens até uma mulher aparecer segurando
um bebê no colo. Não reconheço o rosto na imagem, mas vejo a
felicidade com a criança.
— Aurora hoje tem 19 anos, esse é o filho dela.
— Mostra uma foto dela antes, quero ver se é a mesma.
Ele me encara satisfeito por eu não aceitar somente isso como
prova. Michael sabe que sou esperta e se tentar me enrolar eu vou
dar um jeito de descobrir. Ele mexe mais nas fotos até encontrar a
de uma garota. Elas são diferentes, na primeira imagem a mulher
parece ter passado por uma harmonização fácil, mexeu nos lábios e
olhos mudando o formato. Na foto mais antiga a cor da pele é igual,
os olhos e o cabelo. Elas são diferentes e parecidas.
— Você realmente disse a verdade. — Fico incrédula, nunca
pensei que ele me confiaria algo que pode o fazer ser visto como um
traidor.
— Sim, e agora é a sua vez.
— Que tal você perguntar? É mais fácil eu responder.
— Por que você tem ataques de ansiedade?
Travo, engulo em seco. Revelar o motivo colocaria meu maior
segredo em risco. Trabalho rápido pensando em uma resposta que o
convença sem revelar a real razão por trás das minhas crises.
Respiro fundo, mexo nas mãos me preparando para soltar uma
meia-verdade.
— Quando eu tinha 4 anos a minha mãe entrou no meu
quarto e me enforcou em meio a um surto psicótico. — Baixo a
vista, é doloroso me lembrar do momento que definiu a minha vida.
— Meu pai tinha viajado em missão, se não fosse pelo Black estar
acordado e ter ouvido enquanto ela gritava comigo eu teria morrido.
— Uma lágrima escorre, enxugo rápido, evitando encará-lo. —
Desde então quando passo por situações de muita tensão a
ansiedade me atormenta.
Michael suspira pesado, sua mão toca meu ombro de leve, me
puxando para ele. Com pequenos tapinhas, alisando minhas costas
recebo o seu carinho.
— Ela te machucou outras vezes? — Não tem julgamento na
sua fala, somente preocupação.
— Sim.
— Sua mãe tem alguma doença mental?
— Você pediu um segredo meu em troca, não dela.
É um alívio poder falar do que aconteceu com outra pessoa
naquela noite e não ser julgada ou ter medo da minha mãe ser
punida. Eu a amo e faria de tudo para protegê-la de qualquer mal.
Mas a minha dor continua rasgando meu peito e implorando para
que alguém me ajude a curá-la. Que os problemas sejam resolvidos
e eu não viva temendo pelo futuro, por ser machucada e causar a
destruição da minha família.
— Aurora era uma criança quando foi prometida em
casamento, era de uma família da máfia italiana, aos 17 anos dela,
nos conhecemos e a menina ficou aterrorizada. Um dia quando
fiquei para dormir em sua casa ela me procurou assustada,
confessou que o tio a maltratava e pediu por ajuda. O pai dela sabia
dos abusos, mas não fazia nada, achava que a culpa era da menina.
Eu nunca machucaria Aurora ou qualquer mulher. Mas tinha ciência
de que casar comigo não a libertaria, seria trocar uma prisão por
outra.
— É por causa da sua mãe? Que você não é opressor e
abusivo com meu gênero.
— Sim, machucar vocês é como maltratar a ela.
— Gosto que você seja assim, torna nosso casamento mais
fácil — suspiro, beijando seu pescoço —, mas não espere que eu
agradeça, é sua obrigação ser um bom marido.
Michael gargalha alto, inclinando a cabeça para trás. Sua
risada escandalosa alivia o clima tenso do momento, e rio com ele. A
vontade de beijá-lo aflora no meu peito, passo uma perna ao redor
do seu quadril montando nele, seguro suas bochechas trazendo seu
rosto para mim e beijo os lábios macios.
— Continue — peço, o soltando.
— Eu odiei o pai dela no segundo em que soube a verdade,
montei uma armadilha para o tio dela ser preso por contrabando de
drogas. Enquanto o pai se preocupava com o irmão na cadeia ajudei
Aurora a simular a morte dela, um suicídio. A governanta que
encontrou a menina na varanda foi paga para entrar no quarto no
segundo em que Aurora se jogou, os seguranças a viram pulando e
correram. A governanta a tirou da sacada e a drogou para que os
batimentos ficassem fracos e imperceptíveis. Eu estava na cidade,
quando recebi a ligação voltei para a casa dela, mandei a todos
ficarem longe do corpo e cuidei do enterro. Como o noivo ninguém
suspeitaria.
— O que fez com o corpo?
— Troquei na funerária, incendiaram o de uma menina morta
no necrotério. Aurora foi mandada para a Índia onde fez uma
cirurgia plástica mudando as feições, conseguiu novos documentos e
depois se mudou para a Indonésia, onde vive hoje com o marido e o
filho. Ocasionalmente ela me manda mensagens informando que
estão bem e ninguém a procurou. A governanta que também era
abusada pelo patrão e o tio da Aurora eu dei a ela a chance de se
vingar. Ela colocou um veneno para ambos beberem enquanto
conversaram no escritório e com a minha ajuda a fiz desaparecer.
— É quase impossível de acreditar que você fez isso. Alguém
te ajudou?
— Um crime perfeito não pode ser realizado com muitas
pessoas ao redor, facilita os segredos serem expostos. Fiz tudo
sozinho, as tirei do país pessoalmente, troquei o corpo da Aurora
quando pedi para ficar sozinho com ela no necrotério e a incendiei.
Ninguém sabe delas e vai continuar dessa forma.
— Estou impressionada.
— Te contarei todos os meus segredos. — Alisa a lateral do
meu rosto. — Se você me confiar os seus. Eu tenho o
pressentimento que a razão do Samuel te perseguir se esconde em
um dos mistérios que te rondam. Se me contar poderei te manter
segura.
— Quem sabe um dia.
Deito a cabeça no seu peito, balançada pela história que o
Michael me contou. Existe a possibilidade de ele poder me ajudar. Eu
não vejo como Samuel pode estar ligado a mim, meu pai também
não conseguiu descobrir e não sei quanto estrago o Samuel será
capaz de causar antes de ser capturado.
Eu realmente posso confiar no meu marido?
Michael
Ela não consegue baixar a guarda.
Vou precisar ter calma e paciência para fazê-la confiar em
mim.
A atração que sentimos é mútua, percebo como os pelos dela
se arrepiam quando toco seu corpo, a boca respirando pesado,
engolindo as lufadas de ar que libero enquanto a beijo, os gemidos
baixinhos sempre que toco o vão entre suas pernas. A ansiedade
para saber qual será meu próximo movimento.
É importante para mim viver em um ambiente pacífico, não
quero reproduzir o inferno do meu passado. Uma esposa que me
odeia e só cumpre seus deveres obrigada. Eu quero que ela escolha
estar comigo, se abrir para mim, que confie seus segredos mais
obscuros e entre eles vou achar a resposta do motivo de
perseguirem-na.
A mãe dela tentou matá-la quando ainda era uma criança e
pelo que percebi em suas palavras e pequenas marcas no tronco
não foi a única vez. Hope também tem cicatrizes de um lar
quebrado, ao contrário de mim que odeio o algoz da minha infância,
ela ama a mãe e entende os motivos da agressão. O que faria uma
filha perdoar uma mãe que tentou matá-la mais de uma vez?
Eu quero destruir o meu pai por ter feito isso com a minha
família.
Hope quer salvar a dela.
Talvez quando compreender a diferença entre nós eu encontre
a forma de fazê-la se abrir comigo. É inegável que me importo com
ela, tenho um tesão enorme por seu corpo e quero fodê-la sempre
que a vejo, no mínimo devo ter me afeiçoado a ela. Um monstro
como eu querendo proteger uma gatinha indefesa, parece até uma
piada de um conto de fadas da Disney.
— Do que você ri? — ela pergunta, me tirando dos
pensamentos.
— Que o lobo mau quer proteger a chapeuzinho — falo rouco
em seu ouvido. Ela estica a coluna, apertando as coxas, a mão no
meu peito, fincando as unhas na camisa.
— Contos de fada terminam felizes demais na versão da
Disney, mas na história real dos irmãos Grimm são sempre finais
sangrentos e que te faria correr feito um louco de um lobo.
— Quer correr de mim? — Mordo seu lóbulo, adorando como
ela volta a apertar as coxas.
— Talvez — se aconchega no meu corpo —, não sei se você é
um lobo mau, parece mais um filhote.
Rio grave com sua provocação. Eu gosto de suas respostas
espertinhas, me dá mais vontade de fazê-la se curvar a mim.
— Gostei do desafio, vou te mostrar como um lobo adulto
mata a fome.
— O quê? — A pupila está levemente dilatada pela
expectativa.
— Ontem à noite peguei leve com você. — Puxo seu braço, a
fazendo cair no meu peito. — Era a sua primeira vez, tinha que ser
carinhoso. — Aliso a testa, escondendo a sua franja atrás da orelha.
— Deve ser por isso que me provoca, me chamando de filhote de
lobo. — Agarro seu queixo, respirando contra sua boca. — Vou te
mostrar como gosto de devorar uma mulher.
Enfio a mão debaixo de seu vestido, agarrando a calcinha, e
rasgando-a em duas. Hope dá um gritinho surpresa, leva as mãos ao
meu pescoço, a pupila se dilata quase não sobrando espaço para o
verde das íris.. Sua cabeça gira preocupada de estarmos sendo
vistos. Beijo a garganta exposta, mordiscando a pele macia, estico a
língua, lambendo sua pele.
— Alguém vai nos ver — ela sussurra, esfregando sutilmente o
centro entre as pernas no meu pau que cresce contra o tecido da
calça.
— Te incomoda? — Puxo seu cabelo, expondo seu pescoço
ainda mais, beijo o queixo redondo, deslizando os dentes na carne
macia de seu maxilar. Hope suspira pesado, apertando meu ombro.
— Vai ser embaraçoso se nos virem. — Impulsiono contra ela,
acariciando o clitóris, a umidade encharcando minha calça.
— Ninguém se atreveria a assistir enquanto fodo minha
esposa. — Aperto a carne do lóbulo, me deliciando com o gemidinho
sofrido dela.
— Você é um bárbaro — reclama, rio na sua pele, e beijo sua
orelha, a soltando.
— De joelhos, quero sua boca no meu pau — ordeno.
Ela gosta de receber ordens no sexo. Observo como a boca se
abre, mordendo o lábio inferior, os olhos em chamas com o meu
comando, a respiração travada na garganta, posso ver a veia
saltando mais forte no pescoço.
Ela é a porra de uma submissa.
Fecho os punhos, contendo o tesão avassalador que me corta
ao perceber que apesar da boquinha afiada e as respostas
provocadoras, Hope gosta que eu a domine. Apoio os braços no
encosto do sofá, impulsiono contra seu centro, inclino a cabeça,
indicando que ela deve fazer o que mandei.
— Eu não tenho que obedecer — dá de ombros, descendo —,
vou fazer porque eu quero.
— Se continuar me desafiando vou socar na sua boceta te
abrindo em duas.
As bochechas ficam vermelhas como um tomate. Ela bate os
longos cílios negros duas vezes antes de engolir em seco, ficando de
joelhos sem falar mais nada. As mãos tremem ao segurar a fivela do
cinto, o pau enorme dentro da calça. Hope se atrapalha
desabotoando e descendo o zíper, levanto o quadril, deixando que
retire o tecido da calça, cueca e meus sapatos. Ela me olha
embriagada pela luxúria do momento, as unhas pintadas de branco
se fincam nas minhas coxas, enquanto ela hesita.
— Você fez isso ontem, não tem motivos para ter medo —
digo baixinho, controlando a fera que ruge no meu peito.
— Só é estranho ainda — confessa baixinho, quase não a
escuto. — Nunca acreditei que eu fosse ter esse nível de intimidade
e você é muito...
— Continue — incentivo quando ela fica tempo demais calada.
— Grande — fala em um sussurro, cheia de vergonha — e
rude.
— Venha aqui. — Indico meu colo.
Ela fica de pé novamente, agarro seu pulso, a fazendo sentar
de pernas abertas contra meu pau pulsante. Hope fecha os olhos,
prendo seu quadril, incentivando que esfregue a bocetinha molhada
no meu cacete duro. Com a outra mão trago seus lábios aos meus,
mordiscando a carne macia. Giro-a, deitando seu corpo no sofá,
ficando por cima.
— Eu quero te foder como um louco — murmuro. — Te
amarrar e estapear a sua bunda até você ficar roxa. — Deslizo o
tecido do vestido para cima, livrando seu quadril. Espalmo sua carne
gostosa da bunda, apertando em meus dedos.
— Vai doer muito? — pergunta baixinho, enquanto roço
nossos sexos. — Quando você me bater. — Engole em seco.
— Você vai gritar me implorando por mais — rosno no seu
ouvido. De joelhos puxo meu pau batendo com a cabeça no clitóris
rosinha e inchado. Hope se abre para me receber, a bocetinha
brilhando lubrificada.
— Promete ir com calma? — São nesses momentos em que
ela fala com os olhos cheios de sinceridade implorando por meu
carinho que eu acho que consegui penetrar sua camada e a besta
louca dentro de mim acalma, querendo fazer carinho nela ao invés
de devorá-la como um animal.
— Sempre. — Desço estralando um beijo em seus lábios.
Soco no seu interior, gemendo rouco na sua boca. Quentinha
e apertada, o inferno prazeroso entre suas pernas. Fico de joelhos,
puxo seu quadril contra o meu, socando devagar até ela se
acostumar, os peitos cobertos pelo vestido são um empecilho, agarro
as alças de tecido, puxando em direção opostas, liberando os melões
que ela escondia.
— Meu Deus — grita assustada, sorrio sacana.
— Michael, é o único nome que você pode gritar. — Aperto
seu pescoço branquinho, Hope inclina a cabeça para trás, querendo
respirar conforme impeço a passagem de ar.
Seu interior encharca, recebendo meu pau duro, aumento a
velocidade socando com força, as bolas batendo na bunda
arrebitada. Sua mão aperta meu pulso, enquanto a outra sobe acima
da cabeça segurando o braço do sofá, os lábios vermelhos abertos
liberando gemidos que vêm de sua garganta, os olhos revirando
enquanto ela se perde no prazer que dou a ela.
As bolas apertam e a mão coça para lhe bater. Libero seu
pescoço, Hope inspira fundo, respirando enquanto geme, sem saber
qual dos dois é mais importante agora. Ela busca por minha mão
novamente, a levando ao pescoço, desço o tronco mordendo o bico
rosado do seio, me deliciando com seu grito. Ela me aperta com a
boceta, tornando ainda mais estreito seu interior, agarro o braço do
sofá metendo mais forte, preenchendo seu sexo sem deixar um
centímetro desejando me ter.
— Mi-chael. — Suspira baixinho, apertando meus cabelos com
as mãos, as coxas prensando meu quadril.
Meu nome escapando de seus doces lábios é como um
segredo compartilhado por nós. Levanto o tronco, os peitos
balançam, acompanhando o movimento dos nossos corpos. Minha
mão desce contra a carne macia do seio. Hope grita inclinando o
tronco para cima, a prendo pelo pescoço novamente, desacelerando
as investidas, como um predador encurralando a presa.
Estapeio seu peito novamente, ela fecha os olhos moendo o
quadril contra o meu, esfregando o clitóris na minha pélvis.
Ensandecida precisando de mais. Cesso as investidas, ela abre os
olhos suplicando, levo o dedo à boca indicando que deve ficar
calada, com um aceno de cabeça ela concorda.
— Você vai ficar quietinha enquanto eu surro seus peitos, se
falar ou gemer vou te deixar o resto da semana sem gozar,
entendeu?
— S-im — diz baixinho.
— “Sim, senhor”, é assim que você vai me chamar sempre que
eu meter na sua boceta.
— Sim — engole, os olhos em chamas embriagadas —,
senhor.
Não suporto ver a palavra escapando pelos lábios inchados,
impulsiono firme contra ela, batendo a cabeça do pau na parede de
seu útero. Hope engole um gemido, pressionando a boca com a mão
para ficar calada. Saio devagarinho, metendo fundo novamente, a
cabeça dela batendo no braço do sofá, os seios pulando na minha
cara e o sofrimento em seu rosto por não poder gemer com medo
de castigá-la.
Retorno o ritmo rápido socando sem piedade, estapeio seus
peitos, a carne branca ficando irritada. Ela fecha os olhos, mordendo
os dedos com força, aperto seu pescoço restringindo a passagem de
ar. Prolongando sua tortura enquanto o prazer se espalha como uma
chama pelo meu corpo. O suor pingando contra sua barriga lisinha,
a bocetinha jorrando líquidos, os olhos fechados com tanta força que
poderia nunca mais os abrir. Aprecio meu pau entrando e saindo de
seu interior, a domino com uma mão e a outra a castigo.
As bolas apertam, indicando o gozo próximo.
Hope choraminga baixinho no ápice do seu prazer.
— Goza, Hope — ordeno. — Mostra pra mim o quanto você
gosta que eu a foda com força, minha cadela.
Ela se desmancha em líquidos quentes, o interior em brasas.
Penetro mais duas vezes antes de liberar o gozo, a enchendo com a
minha porra. Paro devagar, aproveitando cada segundo da maciez
que me aperta. Hope larga a mão pendurada para fora do sofá, o
rosto relaxado, vermelho como os peitos. Saio de dentro dela, rosno
com a porra branca escapando por seu buraquinho, com um dedo a
enfio novamente nela.
— Suga meu gozo, Hope — mando, ela franze a testa e aperta
ao redor do meu dedo, fazendo o que mandei. — Boa garota. —
Beijo seu púbis, subindo a carícia pela barriga lisa com pedaços do
vestido ao seu redor. Os peitos vermelhos irritados, deslizo a língua,
lambuzando ambos e acalmando a pele quente.
— Foi... bom — admite, rio contra o bico rosado.
— Claro que foi. — Subo, beijo seu queixo e bochecha. — Fui
eu quem te fodi.
— Grosso. — Agarra meu rosto, me empurrando de lado.
Rio contra sua mão, beijando a palma antes de capturar os
lábios inchados com os meus em um beijo demorado. Levanto-me a
largando, retiro meu paletó e puxo seu tronco, a cobrindo com ele.
Hope é baixinha, faz a peça parecer um vestido no seu corpo.
— Seja sincera comigo. — Abraço seus ombros, descanso sua
cabeça no meu peito. — Somos uma dupla.
— Não sei se posso acreditar nisso.
— Como posso te provar? — Seguro seus ombros, a
encarando.
— Quando for seguro eu quero voltar a estudar, a ideia de
ficar reclusa na mansão me enlouquece. Não vou acreditar em suas
palavras de vivermos em paz enquanto você me mantém presa
nessas paredes. Eu preciso de um pouco de normalidade.
— Eu mudei a tradição do lençol por você — digo.
— Eu sei, sou grata por isso — enlaça meu pescoço —, mas
eu quero estudar, é importante para mim. Não quero sentir como se
precisasse da sua permissão para sair ou com medo de te
desagradar por sair sem avisar.
— Você é minha esposa e só por isso já tem um alvo em suas
costas. Sua segurança é minha prioridade e para isso eu vou
precisar saber onde você estará e com quem. Leve sempre o celular,
já mandei trazerem rastreadores para colocar no seu corpo, nunca
mais a perco de vista. — Beijo sua testa. — Faça as coisas que você
gosta, saia com minha irmã para compras e essas coisas de mulher,
mas sempre me deixe saber onde está.
— Rastreadores, no plural? — Franze a sobrancelha surpresa.
— Um para cada parte do seu corpo — deslizo o dedo em seu
braço —, caso achem um e retirem você terá outros.
— Vou me sentir um computador — rio —, você também tem
essas coisas?
— Sim, é uma tecnologia nova desenvolvida por nossa equipe.
Vai ser implementada em todos os membros, homens e mulheres.
— Vou poder saber onde você está? — pergunta espertinha.
— Você sabe que eu tenho missões e lugares secretos para ir
— digo o óbvio.
— Se você quer me rastrear eu deveria ter o mesmo direito.
— Ergue o queixo. — Lembra o que você disse sobre nosso
casamento? Somos uma dupla, direitos iguais.
— Espertinha. — Deslizo o nariz pelo seu. — Consegue fazer
alguma matéria do seu curso de forma on-line? — Mudo a direção
do assunto.
— Talvez algumas matérias. — Vejo a esperança preenchendo
seu rosto.
— Quando você estiver segura novamente conversamos sobre
as aulas presenciais. Por ora, vamos aproveitar nossa lua de mel.
— Combinado. — Sorri docemente me beijando.
— Vou te levar para sair amanhã à noite.
— Aonde vamos?
— Vou pensar — levanto com ela nos braços —, por enquanto
quero te comer de novo.
— Você vai sair assim? — grita, se referindo a nudez das
minhas partes baixas.
— Estou em casa, posso andar pelado se eu quiser. —
Caminho com ela nos braços. — Todos sabem que arranco os olhos
de quem ousar a encarar despida.
— Você me assusta, às vezes. — A mentira está estampada
nas feições.
— Mentirosa. — Aperto sua bunda sussurrando em seus
lábios: — Você adora quando sou assustador.
— Nunca vou confirmar isso. — Ri baixinho, envolvendo a
boca nos meus lábios.
Levo-a para o nosso quarto onde passamos o resto da tarde
transando.
Levanto-me da cama vestindo uma calça às 20h. Hope se
espreguiça exibindo os peitos vermelhos com marcas de mordidas e
tapas. Adoro deixar sua pele branca marcada pela minha fúria no
sexo.
— Vamos jantar? — ela pergunta, vestindo um robe de cetim.
— Pode comer sozinha. — Sapeco um beijo em seus lábios. —
Vou supervisionar uma operação.
— Estamos em lua de mel, achei que não iria trabalhar.
— Preciso ter certeza de que farão como instruí, vou
acompanhar pelas câmeras de segurança portátil no equipamento
dos soldados.
— Tudo bem — se espreguiça —, vou jantar enquanto isso.
Hope sai do quarto desfilando com a bunda empinada,
movimentando o tecido preto. Quase desisto de acompanhar a
operação para foder novamente sua bocetinha, a cada investida ela
se torna mais perfeita para mim, devorando meu pau faminta.
Sacudo a cabeça e saio do quarto. O terceiro andar da
mansão é uma casa completa, com cozinha e outras áreas para não
precisarmos descer. Minha esposa se inclina abaixada na geladeira
pegando algo no congelador. Não resisto, estapeio sua bunda, me
deliciando com o gritinho que ela dá.
Rio grave e vou para o escritório. Abro o notebook e conecto o
fone para ouvir o que os soldados falam. Trent lidera a equipe que
invade o galpão onde a máfia de Boston guarda cocaína.
Não foi fácil conseguir a informação, mas quando capturamos
um capo, ele falou após um mês de tortura. Esse será meu presente
de retribuição ao Samuel por ter invadido a minha boate. Eles
incendiaram a mercadoria depois de matarem todos os soldados que
tentavam defender o galpão. Uma mensagem para Samuel foi
deixada do lado de fora.
Mande quantos soldados quiser, ela nunca será sua. O seu fim
se aproxima.
O rato se esconde bem o suficiente para que não consigamos
chegar nele. Vou colocar fogo em cada bueiro até que ele apareça,
tentá-lo com uma isca que ele não poderá resistir. De uma forma ou
de outra vou ter o Samuel nas minhas mãos, não importa quanto
tempo demore, ele vai aprender que não se mexe com os Bianchi.
Enquanto me preocupo com um inimigo externo, tenho que
manter um olho no Andrew. Se fosse fácil simplesmente o matar
faria sem pensar duas vezes, mas antes eu quero me vingar, tirar
tudo o que lhe pertence, deixá-lo sem nada e desesperado.
Estou lidando com dois ratos imundos ao mesmo tempo.
Quando os derrotar mostrarei a todos que não importa a
quantidade, eu sempre vencerei.
Hope
Estou cansada. Insaciável é pouco para definir Michael
Bianchi. Ele literalmente está fazendo jus ao nome “lua de mel”,
nunca pensei que dois seres humanos pudessem transar tanto. Os
últimos dias têm mantido minha mente e corpo bastante ocupados,
não me permitido pensar no passado ou cogitar como será o meu
futuro.
Entrei em um mar de calma revigorante, em que posso
respirar sem sentir espinhos ao redor do meu pescoço. É a primeira
vez em 16 anos que consigo entrar em contato comigo mesma e não
ficar apreensiva. Converso todos os dias com a minha família e as
coisas estão bem por lá.
Seria cômico se não fosse trágico os anos que passei me
preocupando com a minha família e como seria a nossa vida se eu
saísse de casa. Em todas imaginei uma tempestade acontecendo por
causa da minha mãe. Mas só dela conversar comigo por vídeo e ver
que estou bem, é o suficiente para que permaneça tranquila.
E eu, com um marido como o Michael, consigo me sentir
segura. Não a ponto de confiar meus segredos a ele ou um dia estar
preparada para ter filhos, mas o suficiente para me entregar às suas
carícias, dormir tranquila ao seu lado. Até mesmo os pesadelos que
eu tive por causa do sequestro desaparecem quando deito a cabeça
no peito dele e seus dedos fazem carinho na minha cabeça.
O mundo entrou em um ritmo perfeito e eu não quero que
isso chegue ao fim.
Vou me abrir para a proposta de paz que ele me fez e deixar o
destino me mostrar qual caminho devo seguir. Espero que no final
dessa jornada eu não caia em um precipício e possa finalmente
descansar do peso comprimindo meu coração todos os dias desde os
4 anos.
O despertador do celular toca me dizendo que está na hora de
tomar o anticoncepcional. Levanto-me da cama, pego o remédio e
vou para a cozinha. É um alívio saber que o terceiro andar é uma
casa com tudo o que precisamos, dessa forma não terei que
encontrar com o Andrew pela mansão.
Eu notei que o Michael trocou toda a equipe de segurança no
nosso primeiro dia aqui, deve ter mandado embora os homens do
pai e colocado os seus para cuidarem da nossa proteção. Encontro
meu marido na cozinha, mexendo no tablet enquanto toma uma
xícara de café, curiosamente ele usa óculos de aros negros.
A imagem do homem sentado, sem camisa, com uma cueca
boxer preta contornando as coxas grossas, lendo concentrado com
óculos no rosto o deixa perigosamente sexy. A boca carnuda envolve
a xícara, bebendo o líquido, e eu engulo em seco, lembrando-me da
deliciosa sensação de seus lábios na minha intimidade, a barba dele
cresceu de ontem para hoje, tremo, desejando os pelos arranhando
entre as minhas pernas.
— Bom dia — digo.
— Bom dia — cumprimenta rouco. — Dormiu muito hoje.
— São só 10 horas, estamos em lua de mel e podemos
acordar tarde. — Dou de ombros.
Abro a geladeira, retirando uma garrafa e tomando meu
comprimido.
Michael observa meu movimento, coloca os óculos na bancada
e vem até mim. Uma mão no quadril e a outra no queixo, seus lábios
capturam os meus em um beijo gelado por causa da água. Seguro
sua cintura, o trazendo para perto, entrelaço nossas línguas, o
frenesi se espalha como uma corrente elétrica por meu corpo.
Deslizo a mão em seus cabelos, os pequenos fios da barba
arranhando meu rosto.
— O que era esse remédio? — ele pergunta, encarando meus
olhos como se pudesse ver a minha alma.
— Meu anticoncepcional. — Fico com medo da sua reação.
Michael franze a testa, posso ver a interrogação no seu rosto
querendo saber o motivo de eu tomar um remédio que vai impedir
que tenhamos filhos. Aliso seus bíceps fortes, investigando os
músculos malhados de seu peitoral. Ontem o vi treinando na
academia e fiquei abismada com a quantidade de peso que ele
consegue pegar. Eu morro só com 10kg imagina pegar 100kg de
ferro.
— Quando você começou a tomar? — É a pergunta que ele
faz, uma escolha segura de palavras. Encontro seus olhos rodeando
seu pescoço com os braços.
— Acho que eu tinha uns 16 anos, nem meu pai aguentava
mais me ouvir reclamando de cólica e o quanto eu passava mal,
muitas vezes precisava ser atendida pelo médico em casa. — Suas
mãos deslizam na cintura, levantando o tecido da camisola de cetim.
— Então comecei a tomar para regular o ciclo e parar de sofrer com
dores.
— Você teria de parar de tomar para termos um filho.
A palavra proibida que me atormenta é dita pela boca dele
sem carregar um terço dos problemas que ela significa para mim.
Encaro a covinha na sua bochecha sem coragem de olhá-lo e dou de
ombros, não me sinto confortável em mentir para o Michael e
quebrar a fina linha de confiança que tecemos entre nós.
— Não precisa ser agora — titubeio. — Não é?
— Temos tempo para isso. — Michael agarra minhas coxas,
me suspendendo em seu colo. — Quero você só para mim mais um
pouco. — Seus lábios não deixam que eu responda, capturam minha
boca para si. Aliviada, me entrego ao beijo envolvente.
Eu não preciso me apressar, vou usar os dias que se seguirão
para tomar a minha decisão. Se o Michael continuar se provando
digno de confiança e fazendo minha ansiedade acalmar com o
carinho nos seus olhos azuis, é sinal de que existe a remota chance
de eu não precisar mais carregar o fardo sozinha.
Posso ter encontrado alguém para dividir.
Entrego-me ao seu toque quente na cozinha. Desfruto da sua
barba arranhando entre minhas pernas, enlouqueço quando seu
membro entra em mim, preenchendo cada cantinho da minha
intimidade. Os braços me segurando forte contra ele, a boca
gemendo rouca contra a minha, o cheiro de sexo espalhado no
ambiente. O ápice encontrando seu lugar entre nossos corpos.
Suados e seminu, Michael nos leva para o banheiro onde
tomamos um banho juntos. Sentada no seu colo aliso seu ombro,
uma linha marcando sua pele.
— Como conseguiu essa? — Aponto para a cicatriz.
— Uma facada, não lembro quando foi. — Franze a testa,
buscando a memória. — Era uma luta em meio a uma missão. O
cara me atacou pelas costas, desviei a tempo quando o Kai gritou
me avisando da investida dele.
— Não gosto de pensar em você machucado. — A água se
move ao nosso redor quando beijo sua pele. — Tome mais cuidado.
— Certo. — Sua mão desliza na minha cintura. — E você,
como conseguiu essa?
Olho para onde ele aponta, na curva do quadril tenho uma
pequena cicatriz que ganhei quando era criança. Sorrio, essa não foi
presente da minha mãe, mas de uma pequena travessura minha.
— Vou te contar um segredo que você está proibido de falar
para qualquer um. — Mordo os lábios, contendo o sorriso.
— Juro. — Leva a mão ao peito.
— Eu gostava de me esgueirar pelas passagens secretas da
minha casa. Uma vez enquanto corria pelo túnel para meu pai não
me flagrar fazendo isso, acabei me arranhando em um arame e
ganhando o machucado. Infeccionou e menti quando o médico
perguntou como me machuquei, eu disse que estava me depilando.
— Que pequena travessa temos aqui. — Sua mão aperta ao
meu redor, colando nossos peitos. — Vou ter de tomar cuidado com
você me espiando, além de querer saber minha localização? —
Arqueia a sobrancelha negra. Sempre que ele faz isso o acho ainda
mais lindo.
— Talvez. — Dou de ombros. — A menos que eu esteja
ocupada demais para prestar atenção em você.
— Isso nunca acontecerá. — Começa a fazer cócegas em
mim. — Sua atenção deve ser toda minha.
A água da banheira transborda enquanto me mexo tentando
escapar de seu ataque de cócegas. É libertador poder confessar isso
para ele e não ter recebido uma reação negativa ou desaprovação.
Aos poucos Michael faz com que eu comece a me sentir em casa na
sua presença. Começo a acreditar que é isso que ele procura em
mim.
Uma casa, um lar seguro para onde ele possa retornar. Ambos
sofremos com nossos lares no passado e agora temos a chance de
construir algo novo juntos. Se não fosse pelo medo de fazer nosso
castelo desmoronar com a verdade no meu âmago, eu me
entregaria de corpo e alma a tudo que esse homem pede.
Terminamos o banho e observo-o vestir um terno creme.
Coloco uma blusa com shortinho e o sigo para fora do quarto.
— Onde você vai? — pergunto.
— Recebi um dossiê com informações. Ao que tudo indica o
Ícaro não foi morto pelo Samuel, o filho mais novo do antigo Chefe
de Boston conseguiu escapar da matança causada pelo irmão
bastardo.
Minha espinha gela com a palavra que ele usa.
— Um bastardo é tão ruim assim?
Michael se vira, ele alisa o cabelo perfeitamente penteado
antes de sentar no sofá da sala, faço o mesmo que ele, esperando
que responda à minha pergunta.
— Na máfia prezamos pela linhagem pura do nosso sangue.
Eu sou filho legítimo de italianos que vieram a Nova Iorque e
fundaram o que é hoje a Máfia Bianchi — vira de lado, alisando meu
rosto —, o seu sangue também é de italiana, os imponentes
Bonnarro que conquistaram Nevada, construindo um império de
lavagem de dinheiro com os cassinos. O orgulho da família em
preservar a linhagem significa tudo no nosso mundo. É como um Rei
que escolhe o primogênito como seu sucessor por ter sido o primeiro
filho dentro de um casamento.
— Mas um bastardo ainda tem o sangue de um dos pais.
— Sim, contudo, não foi concebido dentro do casamento. O
que o torna um filho ilegítimo que não pode almejar o que é dos
irmãos legítimos. Veja o que o Samuel fez, conseguiu desmontar
uma organização proclamando que a máfia pertencia a ele, o
sucessor de verdade foi morto.
— E se ele tivesse ficado quieto? — Tenho um pequeno
taquicardíaco, a ansiedade consumindo meu interior.
— Então não causaria problemas e toda a situação não teria
se desenvolvido. Existem mais bastardos do que você possa
imaginar no nosso meio, muitos dos homens com cargo alto na
organização tiveram filhos com prostitutas, os homens viraram
soldados e as mulheres empregadas. Claro que são somente
suspeitas a paternidade de alguns, se fosse confirmado eles seriam
mortos e as mães também. Os pais seriam acusados de traição,
nesse meio acusar alguém de ter um filho ou de ser um bastardo é
quase um tabu.
— O problema não é ele ser bastardo — falo. Michael me
encara desconfiado, sem entender por que defendo o Samuel. — Foi
ele querer o que não lhe pertencia. Igual como ele está querendo
fazer comigo. — Seguro a mão do meu marido, me aproximando
dele. — Eu pertenço somente a você e ninguém pode me tocar,
certo?
— Sim — me puxa para seu colo —, matarei a todos que
tentarem te ferir.
— Preciso que me prometa uma coisa — peço, ouvindo
batidas altas, o coração quase saindo pela boca, estou a dois
segundos de vomitar.
— O que você quiser.
— Você nunca vai me machucar, independente do que
aconteça. Somos eu e você, nunca um sem o outro.
Michael puxa meu rosto contra o seu, tocando nossas testas,
o polegar alisando carinhosamente a minha bochecha. Respiro
fundo, tentando acalmar a confusão na minha mente e o medo pelo
que acontecerá no futuro. Michael tem razão, os problemas dos
bastardos são aqueles que não sabem ficar quietos e querem o que
não pertence a eles.
Black será o próximo Capo de Nevada, sua posição nunca foi
ameaçada, assim como eu continuo sendo uma Bonnarro com
sangue italiano, nada poderá mudar isso. O meu filho e do Michael
será legítimo, o próximo Chefe e ninguém poderá contestar seu
comando. Ou morrerá por traição.
— Eu te prometo. — Sela sua palavra com um beijo carinhoso.
— Você ficou agitada, por quê?
— Eu odeio como filhos fora do casamento são tratados, não é
culpa deles o que os pais fizeram. Desculpe ter ficado estranha.
— Seja estranha comigo, eu gosto. — Belisca minha cintura,
rio por causa da cosquinha.
— Tá, só não se acostume.
— Farei o meu melhor — levanta, me deixando no sofá —,
estarei no meu escritório. Saímos às 20h hoje.
— Tá bem.
Ele desaparece do meu campo de visão e vou para a cozinha
preparar um chá de camomila com erva-doce. As palpitações não
param e meus pensamentos começam a ir por caminhos obscuros.
Meus segredos pertencem somente a mim e não vou deixar um
bastardo como o Samuel estragar tudo pelo que a minha família
lutou. Continuo sendo uma Bonnarro, mas agora com o poder que o
sobrenome Bianchi me traz.
Passo o resto do dia fazendo coisas para me distrair, malho,
cozinho dois bolos e quando a governanta vem deixar o almoço me
recuso a comer só. Sinto-me mais próxima do Michael após nossa
conversa de mais cedo e ele não saiu do escritório. Coloco os pratos
em uma bandeja e levo comigo para a sua sala. Na porta eu bato,
esperando autorização, quando ele permite minha entrada encontro
meu marido usando a camisa branca com a gravata, o paletó
apoiado na cadeira.
— Vamos almoçar — informo.
— Depois eu como. — Ele não tira os olhos da tela.
Suspiro.
— Não é uma opção. — Caminho até ele, colocando a bandeja
em cima dos papéis.
Michael me olha irritado, puxo sua cadeira, afastando para
trás e sento no seu colo, impulsiono para a frente, nos aproximando
da mesa. Giro o rosto e beijo a linha irritada do seu lábio.
— Todos os dias que você estiver em casa vamos fazer nossas
refeições juntos, se não quiser que eu invada seu escritório como
hoje me encontre na mesa de jantar.
Ele ri baixinho, quase não acreditando na minha ousadia. Dou
de ombros, feliz por ele não ter me mandado embora e aceitado que
iríamos comer juntos. Almoçamos nessa posição e quando ele
termina me coloca de pé.
— Agora me deixe trabalhar. — Bate na minha bunda.
— Sim, senhor. — Jogo um beijo no ar e vou embora com as
coisas.
Uma hora depois começo a me arrumar para o nosso encontro
de mais tarde. Devido a acontecimentos de uma armadilha que o
Michael se recusa a me dar detalhes tivemos de adiar a saída que
ele prometeu no dia seguinte ao nosso casamento. Mas hoje
teremos a nossa noite. Estou animada para sair da mansão com ele,
consegui controlar a ansiedade me distraindo de dia e agora foco em
me arrumar.
Michael se junta a mim perto das 19h despreocupado que
falta somente uma hora para sairmos. Nunca vou entender como os
homens conseguem se arrumar rápido e ficarem perfeitos como se
tivessem passado horas na frente de um espelho. Eu precisei de três
horas só cuidando do meu cabelo.
— Para onde iremos? — pergunto, terminando de colocar o
brinco no lóbulo da orelha.
— Sair.
— Seja mais específico. — Observo meu reflexo no espelho.
A barra do vestido um palmo acima do meu joelho com
elástico na lateral em sentido vertical fazendo uma pequena fenda
na coxa, mangas no punho e um decote em V, preto brilhante, a
bota de cano alto. Michael usa uma camisa gola alta bege e uma
calça social um tom mais escuro, um blazer da cor da calça por
cima, despojado e elegante para os habituais ternos que o vejo
dentro de casa.
— Vou te levar a uma das minhas boates, você não queria se
divertir?
Encaro-o através do reflexo. Nossas conversas com
significados ocultos para mim significam mais do que ele pode
imaginar, acalmam meu coração sempre que percebo que tenho um
lugar ao seu lado e o medo que me paralisa começa a diminuir,
deixando em aberto a remota possibilidade de conseguir confiar
nele.
É difícil me abrir quando passei a vida trancando meus
sentimentos com medo de machucar a minha família. Mas depois
desses dias, eu sinto que posso encarar meu casamento com uma
nova perspectiva. Deixar o Michael entrar um pouco, o suficiente
para acalmar minha alma e ainda manter meus segredos trancados
somente para mim.
— Vamos jantar antes?
— Podemos comer lá. — Segura minha cintura, seu nariz
desliza na pele do meu pescoço. — Cheirosa e linda. — Morde minha
pele. — Quero te comer antes de sairmos.
Depois de uns dias ouvindo suas safadezas consigo me
controlar melhor, resistindo a seus encantos avassaladores.
— Não — falo decidida, seguro sua mão, o afastando. — Nada
de estragar minha noite de diversão, vamos logo.
Puxo sua mão, ouvindo a risada dele atrás de mim.
Entramos no carro e as luzes de Nova Iorque me saúdam.
Michael descansa a mão na minha coxa, atento ao nosso redor.
Percebo os carros que fazem nossa segurança um na frente e outro
atrás, nas faixas duplas mais dois carros pela lateral. A segurança é
um nível acima da que eu tinha em Las Vegas.
O carro estaciona na calçada da Times Square e estranho
quando a porta se abre no lado do Michael. Ele dá a volta abrindo a
minha, a mão estendida me pedindo para descer.
— Achei que íamos à boate.
— Quero dar um passeio.
— É seguro? — Olho ao redor cheio de pessoas transitando.
— Sim.
Noto que tem algo no ouvido dele, pequeno e da cor da pele,
tampando o orifício do tímpano. Aproximo-me tentando ver o que é,
e o Michael desvia me puxando pela cintura, nos fazendo andar. Os
seguranças ao nosso redor se destacam com os ternos pretos. A
sensação de que ele me esconde algo me cutuca como um alfinete.
Decido confiar no Michael, independente do que ele possa ter
planejado não me colocaria em perigo. Andamos pela calçada, há
música vindo de diferentes lugares, as luzes fortes ao ponto de
cegarem ou deixar extremamente maravilhada, turistas fazendo
fotos até com as árvores. Uma vitrine me chama a atenção com uma
bolsa marrom claro deslumbrante. Aproximo-me, encarando a peça
pelo vidro.
— Quer? — ele pergunta. Aceno em positivo. — Vamos entrar.
Na loja uma vendedora sorridente vem nos atender. Michael
observa o lugar e o Trent entra conferindo quantas pessoas tem na
loja e as saídas. Cumprimento a vendedora e experimento a bolsa,
giro no calcanhar para mostrar o Michael e o noto distraído com a
mão no ouvido, encarando o lado de fora. Se antes eu suspeitava,
agora tenho a plena certeza de que o Michael realmente está
planejando algo.
— Ficou linda na senhora — a mulher diz.
— O que acha, querido? — pergunto a ele.
Seus olhos passam dois segundos em mim antes dele acenar
em positivo. Ergo o queixo, esperava uma reação mais positiva já
que foi ideia dele entrar na loja. Vejo uma segunda bolsa em tom de
azul-marinho, a pego e fico na frente dele novamente.
— Qual fica mais bonita em mim? — Mostro a segunda bolsa a
ele. — Responda com sinceridade ou passaremos a noite aqui.
Ele ergue o lábio em um sorriso discreto antes de se
aproximar e me analisar com ambas as bolsas.
— A marrom — responde.
— Concordo. — Sorrio, a azul ficou horrível e me alegra
perceber que ele realmente notou isso. — Obrigada pela ajuda.
— Meus olhos estão sempre em você. — Ele passa o cartão na
máquina no caixa. — Nunca duvide disso. — Segura minha mão, me
puxando. Noto um dos seguranças pegando a sacola.
— Você está preocupado — constato enquanto voltamos para
o carro. — Vai me dizer o motivo?
— Só o protocolo padrão de quando nos expomos assim. —
Entramos no veículo.
A porta se fecha e Michael me puxa para o seu colo, o olhar
divertido.
— Não gosto de pensar que estamos nos expondo ao perigo
— confesso. — Às vezes ainda tenho pesadelos com o sequestro. Na
próxima só sairemos se for necessário.
— Você não vai viver como uma prisioneira. — Alisa minha
bochecha com o polegar. — Foi a primeira coisa que me pediu
quando casamos e isso vale para passeios e tudo o que desejar
fazer. Enquanto estiver comigo não precisa ter medo. — Alisa meu
braço.
— Certo — respondo com um bolo na garganta.
Michael encerra a conversa beijando meus lábios.
Ele entendeu cada um dos meus anseios e da sua forma tenta
atendê-los. Meu coração esquenta e minha alma pede para que
confiemos nele.
Michael
Encaro seu perfil iluminado pela parca luz da cidade que entra
no carro. As mãos em cima do colo, um leve balançar do pé
esquerdo, ansiosa para saber aonde iremos. Ela ainda não tem
conhecimento, mas essa noite não é um simples passeio, estou
usando-a como isca para atrair o Samuel. Na loja de bolsas fui
informado que estávamos sendo seguidos por um carro com quatro
homens desde que deixamos o complexo.
Vou atraí-los até a minha boate, deixá-la em segurança e
capturar os perseguidores. Comecei um jogo de gato e rato com o
Samuel, vou fazer com que ele passe fome, ficar desesperado e não
veja outra alternativa além de vir atrás da Hope pessoalmente,
saindo do buraco de onde ele se esconde. O Ícaro em breve vai
chegar ao complexo, ao que me foi informado ele quer cooperar
conosco com informações sobre o irmão bastardo.
Usarei tudo que puder para conhecer meu inimigo e
desvendar o motivo dele perseguir a minha esposa. Meu casamento
com ela deveria ter servido de aviso, que o inimigo dele não é mais
os Bonnarro, mas os Bianchi, donos de Nova Iorque. O filho da puta
em vez de se assustar e recuar está mais decidido a me enfrentar,
mandando homens ao meu território sempre que entrego os corpos
empalados. A invasão ao galpão foi só o começo, com as
informações do Ícaro colocarei fogo em tudo.
O cheiro adocicado invade meus sentidos, puxo minha esposa
contra meu peito, inspirando seu aroma doce. Ela descansa a mão
na minha coxa e suspira aconchegando o rosto no meu peito. Minha
gatinha arisca querendo atenção. Eu gosto de dominá-la na cama,
mas quando a Hope fica um pouco vulnerável nos momentos que
estamos juntos mexe comigo, o pequeno fio de confiança sendo
fortalecido entre nós.
Seguro seu queixo, levantando sua cabeça, miro os olhos
verdes relaxados, desço a boca encontrando a sua em um beijo
terno, carinhoso. Não esperava que fosse desenvolver sentimentos
pela Hope, mas a cada dia que passamos juntos eu tenho mais
vontade de tê-la para mim, de fazer com que se abra e me aceite
sem medo.
Eu gosto dela, aliso sua bochecha em meio ao beijo terno,
tentando demonstrar meus sentimentos não ditos.
Sua mão sobe, encontrando os pelos ralos da barba, ela alisa
delicadamente se entregando a mim. Um suspiro escapa da sua
boca para a minha, resisto a vontade de prendê-la no meu colo e
meter entre suas pernas. Eu quero que a Hope me deseje tanto
quanto eu a ela. Anseio ver o carinho em seus olhos quando me
olhar, estamos construindo algo juntos e qualquer passo fora da
linha poderá nos fazer desmoronar.
Não quero mais fazer meu casamento funcionar somente por
um ideal de vida pacífica dentro de casa. Eu a quero feliz ao meu
lado, ouvir todos os seus segredos sem segundas intenções, anseio
pela sua confiança tanto quanto por seu carinho. Hope se infiltra nas
minhas veias a cada dia que passa e a vontade de fazê-la feliz
consome a minha carne.
— Gosto quando você me beija assim — ela confessa
baixinho.
— De que jeito?
— Com carinho. — Suspira, fechando os olhos para capturar
meus lábios. — Faz eu acreditar que você gosta de mim.
Aliso seu nariz com o meu sorrindo com os lábios contra os
dela. Ela consegue perceber o que não verbalizo. Em resposta à sua
confissão a beijo novamente com calma, saboreando seu sabor,
aproveitando sua maciez, um beijo longo, carinhoso como ela gosta.
— Gosto de te beijar assim — digo baixinho. — E mais ainda
de como te faz sentir.
Hope inspira uma lufada de ar surpresa. Os olhos verdes me
encaram como duas esmeraldas. Deslizo o polegar na bochecha
vermelha e beijo sua testa. Ela descansa a cabeça no meu peito pelo
resto do caminho até a boate. Preparei uma surpresa para ela se
divertir enquanto realizo o meu plano da noite, tenho certeza de que
no final ela vai se empenhar para mostrar sua gratidão pela
surpresa.
Descemos, os seguranças afastam os malditos paparazzi, que
ficam à espera das celebridades que vêm à boate. A Topline é uma
das mais famosas dos Estados Unidos, uma das poucas que não uso
para a venda de drogas, ela é perfeita para lavagem de dinheiro e
encobrir sonegação de impostos de outras boates menores. Seguro
a cintura da Hope e entramos, por alto vejo a enorme fila de
pessoas querendo alguns minutos de diversão na melhor boate da
cidade.
— Aqui é enorme — Hope fala, admirando a estrutura ampla
iluminada pelas luzes coloridas.
— A vista lá de cima é melhor — digo em seu ouvido, a
guiando para a escada.
Um segurança ao me ver libera a passagem, acena com a
cabeça e subo com a Hope. Encaro o Trent com um sinal para que
ele vá realizar a segunda parte do plano da noite. Minha esposa
sobe rebolando a bunda, tenho vontade de estapear a carne macia,
mas me contenho, em público não posso demonstrar o que sinto.
Sempre ostentando a máscara sem emoção que fui treinado para
ter.
Entramos na sala VIP reservada aos membros de alto escalão
da Máfia Bianchi, minha esposa grita feliz ao ver quem à espera no
interior. Emily dá uns pulinhos alegres vindo na direção da amiga,
elas se abraçam sorrindo e falando ao mesmo tempo impedindo que
eu compreenda o que ambas dizem. Percebi como a Hope sentia
saudade de encontrar outras pessoas enquanto estávamos reclusos
na mansão. Essa noite além de uma missão, é um pequeno presente
para a mulher que me fascina.
— Você não me falou nada — ela diz, me encarando com um
brilho alegre no rosto.
— Surpresa — respondo.
— Vem, olha quem está aqui.
Hope gira encontrando os outros convidados. Kai trouxe a
irmã Josephine, Daniel trouxe a Emily e o Black veio sozinho.
Embora o motivo dos homens presentes seja por outra razão, além
de preencherem a sala de festa. O DJ começa a tocar e a barwoman
a fazer drinks. Emily leva minha esposa para a rodinha. Hope abraça
o irmão, ele sorri feliz ao ver que a irmã está bem.
Fico no canto da janela observando o movimento no piso
inferior. Com o comunicador no ouvido escuto a voz do Trent.
— Eles querem entrar na boate.
— Estão armados? — pergunto, tocando o comunicador para
ativar o microfone.
— Acredito que não, pegaram a fila junto dos outros clientes.
— Usem uma agente mulher para os atrair para a entrada dos
fundos, conforme o planejado. Vou esperar por vocês no porão da
boate.
— Sim, senhor, depois devo subir para cuidar da segurança
das mulheres?
— Vou deixar o Kai e o Black responsáveis por isso, você vem
comigo.
— Certo, Chefe.
— Tudo certo? — Daniel se aproxima, perguntando
discretamente.
— Sim, vamos dar continuidade ao plano.
Encaro minha esposa que bebe alegre um drink rosa com um
morango. Ela flagra meu olhar com fogo em seu rosto, percebo que
ela quer vir até mim, mas ao invés disso pega o morango, levando a
fruta entre os lábios com um olhar lascivo, chupando, a língua enrola
na pontinha, os dentes fincam na carne da fruta, levando um pedaço
para si que é devorado sensualmente.
Recebo sua provocação com satisfação, ela gosta de me
tentar e ultimamente tem sido mais ousada. Vou até ela com passos
lentos, Hope deixa a bebida no balcão e Emily se afasta quando
Daniel a chama. Escoro o cotovelo na superfície plana, seguro a
cintura dela, puxando seu corpo contra o meu. Mordo o resto do
morango preso entre os lábios, a fruta doce misturada ao sabor da
Hope. As mãos sobem no meu pescoço, me puxando para si.
Eu nos separo, engolindo a fruta, os olhos dela brilham como
uma gata prestes a atacar sua presa. Seus lábios se abrem
mostrando um sorriso de dentes brilhantes, as mãos alisam a base
da minha cabeça, ela enfia uma perna entre as minhas, colando sua
bocetinha na minha coxa. Agarro sua bunda, pressionando-a contra
mim, os peitos contra meu peitoral. Desço o rosto beijando sua
garganta, ouvindo um pequeno suspiro de seus lábios.
Beijo o lóbulo com um brinco suspenso, o cheiro doce
inebriante. Capturo seus lábios mordendo a pele macia, me
deliciando com o sabor da minha esposa em um beijo erótico,
aproveitando os minutos que temos distraídos, a música sensual, o
lugar quente, erotismo envolvendo nossos corpos.
— Eu poderia te foder agora — digo em seus lábios.
— Eu deixaria — retruca.
Separo nossos rostos, sabendo que preciso cuidar de outras
coisas.
— Aproveite a noite com suas amigas, preciso resolver algo
rapidinho.
— O que aconteceu? — O semblante preocupado.
— Uns ratos querendo entrar na boate. — Capturo seus lábios
em um beijo rápido. — Volto logo.
— Você vai ficar bem? — Ela não me deixa sair, segurando a
barra do blazer.
A preocupação em suas feições me toca, ela se preocupa
comigo e não tem receio de demonstrar seus sentimentos. Seguro
seu rosto entre as mãos para que ela entenda minhas palavras.
— Sim, volto em uma hora. Nada vai me acontecer e você
ficará segura, aproveite sua noite com as meninas, o Black e o Kai
ficarão cuidando de vocês.
— Obrigada. — Encosta a testa na minha.
Beijo sua bochecha antes de sair. Chamo o Daniel com a
cabeça, ele conversava baixinho com a Emily. Minha irmã tem a
feição indignada, ela nunca consegue esconder seus sentimentos
pelo Daniel e agora que meu amigo precisa casar, ela deve ter medo
de não ser a escolhida. Ainda não decidi se o Daniel é realmente a
melhor escolha, sei o que ele pensa sobre casamento e talvez seja
melhor para a Emily ficar com o Black, que é uma escolha segura.
Essa noite quando a Hope dormir terei uma conversa
definitiva com o Black para saber sobre a participação dele no
acordo de casamento feito pelo Andrew e Bartolomeu. Nas poucas
oportunidades que tive para pensar sobre a situação percebi que
talvez não seja um acordo ruim.
Vou conversar com ambos antes de tomar uma decisão.
Apesar de saber que posso machucar a Emily com a minha escolha,
ela perceberá no futuro que tomei a decisão certa para a sua
felicidade. O Daniel não é quem ela imagina, apesar de saber que
ele é atencioso com ela e nutre um carinho, eu o conheço melhor do
que qualquer outra pessoa e os demônios que ele esconde podem
destruir a pouca luz que sobrou na minha irmã.
— Me avisa se algo sair do controle — Black pede.
— As mantenha em segurança — ordeno a ele.
— Você está me torturando em ter de ficar perto da Josephine
— revira os olhos —, daqui a pouco o Kai vai achar que tenho
interesse na maluca.
— Bom — observo a mulher que não tira os olhos do Black —,
ela com certeza tem sentimentos por você.
— Saco. — Puxa o cabelo. — Meu pai já começou a fazer
pressão para que eu encontre uma noiva, provavelmente vou buscar
por uma italiana, as meninas da famiglia não me interessam muito.
Arqueio a sobrancelha, interessante saber disso. Ele ainda não
faz ideia de que o pai firmou um contrato, e o Bartolomeu deve
pensar que pelo Andrew não ser mais o Chefe e eu não o ter
abordado ainda sobre isso possa significar uma dissolução do
acordo. Guardo a informação para usar mais tarde.
— A Emily ainda não tem noivo — falo, sondando sua reação.
— Não me leva a mal, mas sua irmã não faz o meu tipo. —
Franze o nariz, encarando a Emily.
— E se eu fizesse a oferta de casamento, você negaria?
— Eu teria de me preparar para uma guerra com o Daniel. —
Ele observa nosso amigo, que está impaciente, aparentemente
discutindo com a Emily. — É meio óbvio, não acha?
— Você conhece o Daniel, realmente acredita que ele tem
interesse nela? Às vezes eu duvido disso.
— O Daniel é fechado. — Dá de ombros, me encarando. — A
única mulher que ele conversa ou escuta é a Emily. Se isso não for
um indicativo dos seus sentimentos.
— Nem tudo é o que parece.
— Verdade, não esperava encontrar você e a Hope em clima
romântico — provoca com um sorrisinho debochado. — Minha irmã
te fisgou de jeito.
— Seria o contrário — digo, escondendo uma risada.
Hope realmente conseguiu me cativar, mas sou eu quem a
tem na ponta do meu dedo.
— As mulheres Bonnarro são duronas, elas nunca caem sem
lutar. — Coloca a mão no meu ombro. — Eu tenho certeza de que é
você quem ficou rendido.
— Quando eu retornar vou te mostrar quem é o rendido. —
Aponto para a Josephine. — Aquela ali com certeza quer colocar
uma coleira no seu pescoço.
— Prefiro me jogar de uma ponte. — Rimos.
Josephine Lucian é uma moça bonita que causa terror na
organização com o seu gênio de cão e as maldades que ela faz com
a irmã. Por mais que Louis e Kai tentem esconder o que acontece
dentro de casa, já houve muitas ocasiões de reuniões em que a
Josephine mostrou quem realmente era.
— Senhor — Trent chama no comunicador.
— Tudo pronto?
— Sim, estamos com eles, esperando pelo senhor.
— A caminho. — Chamo o Daniel com os dedos. Kai que
estava sentado jogando no celular se levanta, ficando a posto perto
da janela.
Saio pronto para eliminar uns ratos.
Descemos para o porão, lugar em que prendemos inimigos e
infiltrados na boate. Geralmente evito usar esse lugar para conseguir
informações, mas hoje será uma exceção já que quero voltar para a
minha esposa em menos de uma hora.
No total há cinco homens amarrados com os braços
suspensos, os rostos machucados e um desacordado. Trent tem um
maçarico na mão pronto para fazê-los gritar.
— Boa noite, senhores — cumprimento, sentando em uma
cadeira de frente para os cinco. Daniel faz o mesmo, ficando ao meu
lado.
— Filho da puta — um deles grita.
— Trent, ensine boas maneiras aos nossos convidados. Já
sabe o que escrever.
Um soldado rasga a camisa de todos, expondo seus peitos,
Trent inicia pelo que me xingou, queimando seu peito ao escrever
uma parte da frase que estou enviando ao Samuel. Quando ele
termina o homem desmaia, e é acordado por uma dose de
adrenalina.
— O que acham de falarem o que queremos — Daniel diz —,
e em troca matamos vocês antes de queimar seus corpos, como
fizemos com seu amigo.
O que tinha desmaiado acorda, olha confuso ao redor, ele
percebe onde está e começa a se debater, tentando escapar das
correntes. Trent acerta sua barriga, ordenando que fique quieto. O
da ponta treme, se é de medo ou raiva ainda vou descobrir.
— Por que vocês vieram à minha boate?
O que foi queimado murmura, Trent puxa seus cabelos,
levantando sua cabeça. Ele geme, tosse e abre os olhos me
encarando.
— Seguindo a garota — diz em um fio de voz, em breve ele
morrerá, a dor deve estar o consumindo de fora para dentro, a pele
queimada pelo maçarico.
— Cala a boca — o do meio grita.
— Ei — Daniel o chama. — Quieto ou o próximo a ser
queimado é você.
— Não tenho medo de vocês — nos desafia — nosso Chefe vai
acabar com a sua organização, terá a garota para si e em breve é
você que será torturado.
— E como ele pretende fazer isso? — pergunto
desinteressado. — Seu Chefe é um fraco que tem recebido os corpos
de todos que pisam no meu território, em breve o de vocês.
— Idiota — ele gargalha o sangue escorrendo do nariz —,
você só lidou com os mais fracos. Aqueles que não pertenciam ao
Chefe.
— Encontramos um leal — Daniel diz. — Você é diferente dos
outros, a maioria xingava o Samuel e o amaldiçoava por ser um
bastardo.
O homem enfurece ao ouvir a última palavra, vou me
aproveitar da sua lealdade e vontade de provar a força do chefe
para conseguir o que quero. Por enquanto as poucas palavras que
ele disse bastaram para fechar o quebra-cabeça de quem é o
Samuel e o comportamento estranho de seus subordinados, como o
Paul.
— Ele é o verdadeiro líder, o único que merece a posição de
Chefe.
— Ele é um lunático! — o queimado grita com a voz fraca.
— Não fale nada — o outro responde. — Eu mesmo vou te
matar, seu desleal de merda.
— Parem vocês dois — o que dormia pede. — Nossa máfia se
desmontou desde que o bastardo assumiu — tosse sangue —, ele só
pensa na maldita vingança.
— Samuel não é um bastardo!
Daniel me encara, conseguimos o que queríamos. Dificilmente
eles vão falar mais do que isso e agora temos um panorama bem
montado sobre o que aconteceu, só preciso confirmar. Soldados que
não são leais são instáveis e um perigo para a organização, esse é o
primeiro que encontro com resquícios de lealdade.
— O Samuel já tinha soldados quando invadiu Boston — digo.
— Provavelmente alguns infiltrados. Foi dessa forma que ele
conseguiu derrubar a organização e tem usado os que não são leais
para morrerem no meu território, na fracassada tentativa de
sequestrarem a minha esposa, talvez um teste de lealdade para
continuarem vivos? — Aponto para o falador. — Mas você é fiel e
mesmo assim foi enviado para a morte, imagino que era um dos
infiltrados e que o Samuel desconfie da sua lealdade.
— Ele sabe que sou leal. — Não nega a minha teoria, agora
faz sentido os soldados que não tinham informações suficientes.
— Claro, vai morrer por isso.
Faço o sinal para os soldados queimarem a todos com uma
mensagem que se completa quando os cinco ficam juntos. Meia hora
depois os corpos formam a frase “Você será o próximo, sua hora
chegou”. Eles serão desovados no território do Samuel, espero uma
reação mais positiva com a provocação, espalhei infiltrados em todos
os cantos de Boston, prontos para me avisarem quando ele se
mostrar.
Vou continuar exibindo a Hope, quero que ele veja que ela
continua segura e nenhum dos seus esforços têm resultado. É um
jogo lento, o que tiver mais paciência ganha.
Pego o elevador com o Daniel, meu amigo limpa o sangue na
mão com um lenço, ele não resistiu e socou a cara de um deles até
matá-lo pelas pancadas.
— Tudo bem com você?
— Sim, só uns dias difíceis. — Suspira.
— Brigou com a Emily?
— Algo do tipo — dá de ombros —, ela fica me
enlouquecendo dentro de casa, começou a assistir uma nova série, e
eu juro que me esforcei para ver com ela, mas é muito entediante.
Ontem escapei dizendo que ia trabalhar e fiquei de bobeira com o
Kai, o bocudo acabou comentando que estávamos com mulheres, a
Emily escutou e agora me detesta.
— Você a mimou demais e agora parece que foge, por quê?
— Meu pai começou a fazer pressão pelo casamento e ainda
não tenho certeza.
— Você não gosta de outra, então o que o perturba? —
Encaro o Daniel, se pressionar muito ele vai se fechar e não terei o
que preciso.
— Eu não vou ser bom para ela. — Encara-me com peso nos
olhos. — Não a prenda a um inferno ao meu lado.
— Se você tentar ver por outra perspectiva saberá que o
inferno e o céu andam lado a lado.
— É por causa da Hope que você diz isso?
— Meu casamento abriu meus olhos, a vida não segue como
planejamos e quando tem outra pessoa envolvida é preciso fazer
concessões. Você e a Emily precisam aprender isso.
— Você ama a Hope?
— Ainda não sei. Mas não vou me fechar para a possibilidade
e você deveria fazer o mesmo.
— Nunca imaginei que te ouviria falar apaixonado sobre uma
mulher que não queria casar com você — ele zomba, empurro seu
ombro com o meu.
Quando estou sozinho com o Daniel posso relaxar e aproveitar
uma provocação com meu amigo.
— Benefícios do casamento.
— Não, benefícios por casar com a Hope, você gosta dela,
mesmo que não admita. Desde a missão de resgate eu percebi seu
interesse nela, as coisas só evoluíram como deveriam ser para
vocês.
Encaro-o de canto de olho. As portas do elevador se abrem e
caminhamos para a sala. Abro a porta encontrando minha esposa,
irmã e a Josephine pulando em cima dos sofás cantando alto uma
música da Taylor Swift. Kai tem divertimento nos olhos e o Black
horrorizado com os gritos das meninas.
Hope me vê e saltita na minha direção, pula no meu colo e
canta contra a minha boca.
Eu gosto dela e é tudo o que importa no momento.
Hope
Beijo os lábios do Michael, sentindo uma pequena dormência
na boca. Talvez eu tenha bebido um pouco demais, mas não tenho
certeza e não me importo. Essa noite estou dando a mínima para
qualquer coisa que não seja me divertir.
Emily também bebeu além da conta e estamos começando a
ficar roucas de tanto gritar, cantando a plenos pulmões, Josephine é
a única que se mantém meio-sóbria, mas somente porque ela está
mais interessada em ficar dando em cima do meu irmão. É divertido
ver como ele tenta escapar dos avanços dela sem ser grosseiro.
— Quanto você bebeu? — Michael pergunta, soltando nossos
lábios. Seus olhos azuis brilham, felizes, iluminados pelas luzes
coloridas.
— Só um pouquinho. — Aperto o polegar e o indicador na
frente do rosto. Ele ri, cheira meu pescoço e me coloca no chão.
— Quando quiser ir embora me avisa — pede.
— Vamos ficar aqui a noite toda — cantarolo.
Uma música animada da Katy Perry começa a tocar e grito
pulando no lugar. Seguro a mão dele, o puxando para a pista de
dança. Michael tem a expressão entediada se recusando a dançar.
Ele fica parado feito um poste, seguro suas mãos, as movendo junto
com o meu corpo, aos poucos ele vai se soltando, revira os olhos e
agarra minha cintura com um braço, a testa colada na minha
enquanto balança o quadril no ritmo da batida. Agora outra música
toca, uma mais sensual.
Deslizo as mãos no seu peitoral, apertando a carne sobre a
camisa, beijo seu queixo, deito a cabeça para trás, levanto os braços
e danço envolvida pela melodia, roçando nossos corpos de forma
envolvente. As cores se misturam ao meu redor, o mundo desacelera
e naquele instante existe somente a mim e ao Michael na sala VIP,
dançando grudados um no outro.
A música acaba e outra inicia, permanecemos presos na nossa
bolha por mais um tempo, dançando colados, beijando,
aproveitando o momento como se estivéssemos sozinhos no lugar. O
clima esquenta, encaro seus olhos azuis penetrantes, respiro pesado
contra sua boca, toco seus lábios macios, o beijando com volúpia.
Eu quero o Michael para mim.
É tudo o que a minha mente bêbada pensa.
— Você é meu — sussurro para ele.
— Completamente — responde baixinho, agarrando meu
cabelo e beijando meu pescoço.
— Preciso de outro drink — digo quando sinto a boca seca.
— Certeza? Você já está meio altinha.
— Absoluta.
Solto seu corpo e vou a barwoman pedir mais um drink rosa
que esqueci o nome depois do meu terceiro copo. Emily se escora,
observando o Daniel de longe, ele sentou no sofá e tem os olhos
travados nela, como se quisesse se aproximar e soubesse que não
pode fazer isso ou a minha amiga vai arrancar as bolas dele.
— Ainda com raiva dele? — pergunto, balançando o corpo.
— Ele é um cachorro, me deixou sozinha para ir comer mulher
com o Kai.
— Nojentos — reviro os olhos —, prefiro não pensar na
quantidade de mulheres que o Michael se envolveu antes de
casarmos. — Estralo a língua. — Isso meio que não importa mais.
— Como não? — Ela franze a testa, indignada. — Nós não
podemos transar sem ser com nossos maridos, mas eles ficam com
metade do mundo!
— Algo como provar a masculinidade — dou de ombros —,
nunca me importei com isso. — Pego meu drink rosinha, provando o
gosto doce com o amargo do álcool. — Delicioso.
— Bom, eu me importo.
Coloco a bebida no balcão e seguro seus ombros, tentando
focar no rosto desfocado.
— Você e o Daniel não foram prometidos um ao outro,
tecnicamente ele não tem de ser fiel. — Ela abre a boca para refutar,
e a calo com um “shiu”. — Ainda estou falaaaando — a língua
embola e dou risada —, em vez de ficar irritada com ciúmes, o faça
querer passar mais tempo com você do que com outra mulher.
— Não posso transar com ele — fica triste —, você sabe disso.
— Mas não precisa de sexo para ser mais interessante. —
Estralo um beijo na sua bochecha. — Você é maravilhosa e não
precisa apelar para o sexo.
— Então o que faço com essa dor? — Aponta para o peito.
— Seu irmão é o Chefe, faça ele te dar o Daniel.
Emily reflete sobre o que falo, uma luz acende no seu rosto
quando ela chega à resposta da qual precisa. Acena em positivo,
pega meu drink e bebe de uma vez, fazendo careta ao bater o copo
no balcão.
— Daniel será meu, quer ele queira ou não — diz decidida.
— Isso aí, garota. — Batemos as mãos, dando pequenos
gritos. — Só não faça nada para se arrepender.
— Te consulto antes. — Caminha meio cambaleante,
tropeçando nos próprios pés. Antes que eu possa segurá-la, braços
fortes agarram sua cintura, o rosto dela bate contra a camisa cinza
do Daniel. Ele alisa uma mecha de seu cabelo com carinho nas
feições ao encarar a Emily bêbada.
— Você vai ser meeeeeu — ela fala meio embolado.
— Eu já sou — ele responde baixinho com pesar, eu consigo
sentir a dor que essas palavras causam no Daniel e um alerta pisca
na minha cabeça. Como ele pode falar que é dela com tamanha
tristeza? Quase como se a estivesse condenando ao inferno por isso.
Emily fica em pé, não tenho certeza se ela ouviu o que o
Daniel falou e começa a dançar desajeitada. Ele sorri com os lábios,
a levando para sentar no sofá, enquanto a faz beber uma garrafa de
água. Observo que Michael encara a cena com atenção, a testa
franzida em dúvida, Kai comenta algo com ele e seu olhar me
encontra. Chama-me com os dedos, peço outro drink e vou até ele
sentando em seu colo.
— Kaizinho — cumprimento o outro, lindo como o inferno com
o cabelo grande caindo nos olhos.
— Não me chama assim — pede desgostoso. — Me faz
parecer uma criança.
— Um bebezinhooooo — provoco, cutucando sua bochecha.
— O que você disse a Emily? — Michael pergunta em meu
ouvido.
— Não lembro. — Busco na memória nossa conversa, mas as
coisas ficam confusas demais e não tenho certeza do que eu falei.
— Hope quando bebe esquece as coisas — Black fala,
sentando ao lado do Kai. — Leva sua irmã para longe de mim ou eu
a mato — ele pede ao Kai que ri.
— Aguente o sofrimento que passo todos os dias.
— Vocês são uns chatos — acuso —, a Josephine é legal —
digo, puxando a memória. — Quando não está falando do Black. —
Reviro os olhos. — A culpa é toda sua por ela ser chata.
— Isso não faz sentido, Hope — Black responde.
— Eu concordo — Kai afirma. — A Josephine é um capeta,
mesmo quando não fala do Black.
— Não entendo o motivo dela gostar de mim — Black diz. —
Nunca conversamos tempo o suficiente para isso.
Encaro a Josephine que dança solitária, encarando a multidão
lá embaixo pelo vidro da boate. Nesse segundo eu compreendo, ela
é solitária e a única forma que achou para se fazer ser ouvida foi
sendo inconveniente, forçando sua presença quando não a queriam
por perto.
Recordo que foi assim no meu chá de panela, sempre que ela
ficava sozinha vinha conversar comigo e com a Emily, não sabia o
que falar e iniciava perguntando do Black, mas quando o assunto
mudava, ela seguia o fluxo mais calma, controlada, até. Como se
fosse um alívio ter o que conversar com outras pessoas.
— Josephine — a chamo, ela sorri vindo rapidamente até nós.
— Merda — Black resmunga.
Ao contrário do que meu irmão pensa, ela não senta perto
dele, vem para o meu lado, cruza as pernas, ignorando o Black e o
Kai. Estendo a mão para ela e levanto do colo do meu marido.
— Quer dançar?
— Com certeza — responde animada, ali mesmo começamos
a nos mover no ritmo da música e consigo provar a minha teoria a
mim mesma. Ela é solitária, só quer fazer amigos. Um vulto de
cabelo louro pula contra meu corpo, cambaleio para trás e sou
amparada pelo meu marido, ele encara a Emily irritado por quase
me jogar no chão. Ela sorri com as bochechas vermelhas, os olhos
desfocados, talvez mais bêbada do que eu.
Ignoro o resmungão atrás de mim e voltamos a dançar em
trio. Os homens em dado momento se afastam e ficam conversando
entre eles, enquanto aproveitamos a nossa noite.
Não faço ideia de como acontece, mas em determinado
momento meus olhos pesam muito, me jogo contra o sofá, deitando
por cinco minutinhos. Acordo sentindo muita sede e a cabeça
pesada, a visão desfocada, identifico um travesseiro e um edredom
branco, um braço ao redor da minha cintura, viro encarando meu
marido dormindo.
Cutuco sua bochecha com o mundo girando ao meu redor.
— Hum? — ele murmura sonolento.
— Água — digo com a voz rouca.
— Tem ao lado da cama — diz sem abrir os olhos.
Giro encontrando uma jarra, um copo e uma cartela de
comprimidos em cima da mesinha de cabeceira. Estico a mão,
forçando o mundo a continuar parado, tudo gira ao meu redor. Deito
sem conseguir beber e resmungo gemendo alto. Michael suspira ao
meu lado, levanta-se, dando a volta na cama, enche o copo d’água e
me entrega o comprimido. Ergo o tronco com a cabeça
extremamente pesada, me escoro contra seu corpo bebendo o
comprimido e a água como uma desesperada.
— Muito enjoada? — pergunta.
— Poderia vomitar agora — respondo.
— Se quiser me avisa que te levo ao banheiro.
— Obrigada. — Engunho. A garganta queima com a azia.
Michael alisa minhas costas por um tempinho, aos poucos o
enjoo vai diminuindo. Ele deita novamente me puxando contra seu
peito, o cheiro do meu marido relaxa meu corpo enjoado, sua mão
sobe e desce contra minha coluna, alisando com carinho. Os lábios
beijam o topo da minha cabeça. Aos poucos o sono me embala
novamente e adormeço junto a ele.
Desperto com o clarão das janelas, a governanta Anastácia
abrindo as cortinas com um sorriso no rosto. Faço careta,
escondendo o rosto debaixo dos lençóis querendo dormir mais um
pouco. Passei o dia de ontem com uma ressaca do cão, mal saí da
cama e dormi mais do que em uma vida.
— Hoje é o sábado das senhoras no clube, a senhora não
pode perder. — Bate na minha perna de leve.
— Nem me lembre — resmungo.
Como tradição o primeiro sábado após a lua de mel, as
senhoras da famiglia se reúnem no clube para conversarem e
deixarem a nova integrante ciente de como as coisas na alta
sociedade da máfia nova-iorquina serão no próximo ano. As poucas
reuniões que participei quando aconteceram em Las Vegas, eu quis
afogar todas as mulheres tagarelas na piscina. Sem escolha levanto
para me arrumar.
Na hora do almoço Michael aparece impecável em um terno
bege com o cabelo penteado para trás, mal tive tempo de ver meu
marido. Meu ventre contrai em expectativa por tê-lo vindo até mim,
cumprindo com a sua palavra de sempre fazermos as refeições
juntos.
Aos poucos a solidão começou a desaparecer dando lugar ao
conforto da companhia dele. Aliso seu pescoço, me inebriando no
cheiro másculo, o sorriso de lado nas feições relaxadas. Fico na
ponta do pé capturando um beijo seu.
— Belíssima — ele fala entre um carinho e outro. — Casei com
a mulher mais gostosa desse país — aperta minha bunda puxando
contra si —, e provavelmente do mundo.
— Meu marido até que não é de jogar fora — provoco,
prendendo o riso pela sua cara descrente. Seus dedos se enfiam no
meu vestido, fazendo cócegas na parte baixa da minha coxa. Grito,
tentando escapar e caio cada vez mais na sua teia. — É brincadeira!
— berro com lágrimas nos olhos.
— Diga de novo. — Prende minha cintura contra a dele.
— Meu marido é um tremendo gostoso — mordo o lábio —,
tirei a sorte grande.
Michael sorri convencido antes de me puxar para um beijo
longo. Nesse segundo eu tenho medo do que o futuro nos reserva e
que mais momentos como esse se tornem uma doce lembrança
quando meu passado cobrar a conta, destruindo o que estamos
construindo aos poucos.

É fácil me acostumar às reuniões sociais, apesar de ter sido


criada reclusa, minha mãe sempre fez questão de que eu fosse uma
perfeita dama. Por isso sorrio facilmente para as senhoras, escuto
seus elogios e reclamações, anoto seus anseios para o ano no tablet.
— Senhora Bianchi — Clarisse Griffin toma a palavra —,
acredito que saiba sobre a importância de ter uma auxiliar ou
secretária, como chamam hoje em dia te ajudando e aconselhando.
Se tiver interesse, a minha Daisha poderá te ajudar com tudo.
Daisha Griffin é quase uma cópia do Daniel. Alta de olhos
azuis como o mar e cabelos escuros como a noite, a pele de
porcelana a faz parecer uma boneca enfeitada. Os lábios rosados e
carnudos, o corpo desenvolvido de uma adulta com 19 anos. Ainda
não sei se ela já foi prometida em casamento, mas pelo que ouvi da
senhora Lucian, a Daisha foi prometida ao Kai desde pequena.
Pelo que entendi das apresentações oficiais de hoje, somente
a Emily não tem um prometido — até mesmo a Josephine, o pai dela
iniciou a demonstrar interesse em firmar a relação com o Black.
Todas as senhoras esperam que Daniel seja o parceiro da Emily em
uma aliança antiga entre o Chefe e seu Consigliere.
Devido às mudanças feitas pelo Michael, elas temem que a
alteração de poder traga negatividade para suas filhas e agora todas
são uma opção para casarem com o consigliere.
Escolher a Daisha seria uma opção segura, em que eu não me
posicionaria apontando quem prefiro como a noiva do Daniel,
contudo, eu já levantei a bandeira de qual mulher eu quero que seja
feliz casando com o homem que ela ama. Assim como o Daniel será
o consigliere do Michael, a Emily será a minha consigliere, aquela
que ficará ao meu lado me auxiliando nas decisões e com poder
para comandar.
— Agradeço a indicação — digo a ela, me virando para todas
as senhoras e suas filhas. — A tarde de hoje foi de um prazer
imensurável, estou ansiosa para começar as atividades como a líder
de vocês e para aquela que ficará ao meu lado como meu braço
direito eu escolho a Emily Bianchi e Josephine Lucian como sua
auxiliar. Tenho certeza de que poderei contar com todas, além das
minhas escolhidas.
E com isso uma salva de palmas inicia. Noto o franzir de nariz
da senhora Belarc, ela tem duas filhas Alexandra de 19 anos, Ruby
de 16 anos. A mais velha casará com um membro da máfia italiana,
firmando os laços antigos entre nossas famiglias e a mais nova
acabou de debutar, o pai ainda analisa as propostas de casamento.
Mas pela forma como Luciana se porta, tenho certeza de que ela
quer casar sua filha com alguém mais poderoso como o Daniel, Kai
ou meu irmão Black.
Também existe a possibilidade do Matthew e os outros filhos
homens que não serão os Capos. Antes do final da reunião descubro
todas as possíveis combinações e acordos feitos pelos atuais Capos.
Percebo a sorte que eu realmente tive ao me casar com o Michael e
descobrir nele um companheiro fiel e respeitável, que me agrada a
companhia e me faz ansiar para retornar para os seus braços
quando estamos sós. Muitas das senhoras tentam prolongar ao
máximo o encontro não querendo retornar para os seus maridos.
— Obrigada por me escolher — Josephine diz, sentando ao
meu lado. Mordo um docinho faminta, mas decido esperar pela janta
para fazer a refeição com o Michael. — Sei que muitos me acham
extremamente detestável e que posso ser um pouco chata.
— Também achei isso — falo com carinho, ela sorri
envergonhada. — Qual é o seu problema com sua irmã Rebeca?
Notei como vocês mal se falam.
— Sim — aperta a bolsa em sua mão —, Rebeca e eu nunca
nos demos bem. Mas ela é melhor em fingir seu desprezo e
maldades, infelizmente, às vezes acabo me expondo demais em
nossas brigas e meu pai e o Kai me odeiam por acharem que sou a
vilã — revira os olhos —, por causa dessa vadia desde pequenos eles
nunca foram muito afetuosos comigo e sempre que eu tentava me
aproximar me afastavam. Mas protegem a Rebeca como se ela fosse
uma boneca de cristal.
— Você tem ciúmes dela?
— Eu a odeio. — A raiva emana de seu corpo como um vulcão
prestes a explodir. — Se pudesse matava aquela menina com as
minhas próprias mãos e faria o Kai assistir, ele não percebe quem ela
realmente é, mas eu vejo tudo.
— Se um dia quiser conversar — aperto sua mão —, minha
casa está sempre aberta.
A dor da Josephine me toca, é decepção e abandono em seu
olhar. Ao contrário de mim que tive a minha família lutando para que
eu tivesse a chance de viver, a Josephine não parece ter tido isso.
Ela enxuga o canto do olho e sorri quando a Emily senta ao meu
lado.
— Estou morrendo de fome — murmura. — Mas fiquei de
jantar com o Daniel.
— Fizeram as pazes? — Josephine pergunta.
— Depois dele segurar meu cabelo enquanto passei duas
horas vomitando, acho que vale a pena o perdoar. — Suspira. — Só
espero não saber mais de nenhum outro caso dele.
— Não fique perto do meu irmão, ele tem prazer em fazer os
outros sofrerem, jogando verdades cruas em suas caras —
Josephine avisa.
— Por que você gosta do Black? — indago, mudando de
assunto.
Eu gosto do Kai e sei que toda família tem seus segredos e
desentendimentos. Mas não quero ter uma imagem negativa dele
antes de poder conhecê-lo de verdade. Assim como mudei meus
pensamentos sobre a Josephine quando passamos mais tempo
conversando do que ouvindo o que falavam dela. E como tenho
conhecido o Daniel e percebido as pequenas nuances de uma alma
machucada que ele esconde.
Todas essas pessoas se tornaram importantes para mim e
essenciais na minha nova vida em Nova Iorque. Criar tensões entre
o grupo que mais vou conviver não é uma boa, talvez depois eu
consiga fazer com que o Kai e a Josephine se deem bem, só tenho
de descobrir antes o motivo de se odiarem.
— Ele me salvou. — Ela suspira. — Quando eu tinha 15 anos o
Black foi meu príncipe encantado e desde esse dia não consigo o
esquecer.
— Compartilha com a gente? — Emily pede curiosa.
— Não. — Ergue o queixo envergonhada. — Acho que ele
nem se lembra do que fez, mas para mim significou tudo.
Deixo-a com seus segredos. O relógio bate indicando que já
são 19 horas. As portas do salão se abrem e meu marido entra
imponente como um rei. Todas ficam de pé cumprimentando seu
Chefe, enquanto ele anda a passos decididos na minha direção.
Ergo-me, seguro sua mão e sorrio para as mulheres me despedindo
delas, voltando para os braços do homem que tem me cativado a
cada segundo dos nossos dias juntos.
Hope
Entro no escritório do Michael na mansão, ultimamente ele
tem ficado pouco por aqui. Seus negócios são feitos em um prédio
no centro de Nova Iorque, na semana passada ele me levou para
conhecer seu local de trabalho e me senti uma rainha sendo
apresentada aos súditos. Gostei bastante do secretário dele ser um
homem que também é um soldado que atua na proteção do meu
marido. Michael me passa segurança, independentemente de ser um
homem ou mulher trabalhando com ele, sei que nunca faria nada
para me magoar.
Nosso momento na empresa foi rápido, logo em seguida ele
me deixou no clube de senhoras e passei o resto do dia ocupada
com meus afazeres. É satisfatório ter com o que me ocupar dentro
da organização, mesmo que a vontade de estudar esteja sempre no
meu cérebro, eu compreendo a situação em que estou. Por ora,
estou sendo feliz com o que tenho.
Bato três vezes à porta de mogno, e Michael libera minha
entrada. Giro a maçaneta abrindo a porta, vejo o doutor que me
atendeu no complexo sentado com uma maleta à sua frente e o
Simon, chefe de TI da organização ao seu lado. Michael está atrás
de sua mesa. Não sei o que eles querem comigo, mas pela
expressão do meu marido de contentamento e os outros dois
homens aqui tenho uma leve ideia do que seja.
— Bom dia — cumprimento, caminho de queixo erguido,
ficando ao lado do Michael. — Me chamou, querido?
— Sim. — Ele se levanta, segura a palma da minha mão. —
Finalmente os rastreadores que pedi para você chegaram, vamos
colocar.
— Certo.
Dou a volta na sua mesa, sentando-me no sofá de frente para
o doutor e estendo o braço. O homem sorri contido, imagino que ele
deva estar se perguntando por que tem que fazer isso, quando
médicos não sabem aplicar injeções desde que deixam a faculdade.
Eu me sentiria melhor se a enfermeira estivesse aqui, mas imagino
que o que estamos fazendo tem que ser mantido em segredo.
— O Senhor Bianchi pediu por cinco rastreadores — Simon
fala, abrindo uma pasta com os objetos.
Recolho meu braço e pego um dos rastreadores. Ele é
minúsculo, do tamanho de um comprimido, consigo ver os fios
através do material transparente e uma pequena luz vermelha
brilhando.
— Você disse cinco? — Franzo a testa, encarando meu marido,
sentado ao meu lado.
— Um para cada membro. — Ele toca meu braço. — Não vou
arriscar que encontrem um dos rastreadores e te perder por ficar
sem sinal.
A voz calma, convicta, me dando a única certeza de que sou
importante para ele. Pisco os olhos, contendo a vontade de chorar
pela emoção de saber como o Michael cuida de mim. Em breve
faremos um mês de casados e todos os dias têm sido perfeitas
repetições de cuidado, carinho, confiança e uma paixão que queima
minha alma, exigindo que eu seja sincera em cada uma de minhas
palavras com ele.
— Eu vou virar um computador! — brinco, tentando aliviar a
emoção presa na garganta.
— Tudo bem desde que eu saiba onde você está, pode
começar, doutor — Michael manda.
— Hope, primeiro vou aplicar uma pequena anestesia local e
depois injetarei os rastreadores com o auxílio de uma agulha mais
grossa, podemos?
— Sim.
— Primeiro na panturrilha direita — Michael fala.
Seguro a mão do meu marido, me apoio contra seu peito,
virando a panturrilha para cima. O médico se movimenta, ele segura
minha canela com uma luva em cada mão, aplica a anestesia antes
de pegar uma enorme agulha, coloca o rastreador na seringa e
aplica. Devido à anestesia não sinto nada, mas fica um pequeno
corte de um milímetro quando ele remove a agulha. Com a ajuda de
uma linha e agulha para ponto ele dá um no local, depois faz um
curativo.
Repete o procedimento na coxa esquerda, braço direito, nuca
e lombar. Ainda acho que 5 rastreadores possa ser um exagero, mas
fico calada. Lembrar-me do desespero que passei ao ser sequestrada
e como tudo teria sido resolvido com mais facilidade se eu tivesse
um desses dispositivos, isso faz com que eu fique quieta e confie no
meu marido. Ele sabe o que é melhor.
— Acabamos — o médico fala, colocando o último curativo na
minha lombar.
— Agora vamos ver se estão funcionando — Simon diz,
encarando a tela do tablet. — Sente algum incômodo, Hope?
— Não muito — respondo, sentando normalmente, a coxa
machuca um pouco contra o estofado.
— Aqui está o sinal de cada um. — Mostra a tela do aparelho,
cinco diferentes pontinhos brilhando, apontando que me encontro na
mansão. — Caso um dos dispositivos der defeito saberemos por um
relatório que será enviado ao tablet. Se forem removidos da sua
pele, um sinal avisando da troca de calor, travando a última
localização também será mostrado no relatório. Por ora esses são os
melhores rastreadores do mundo e a menos que sejam removidos
poderemos te encontrar, até mesmo no subsolo.
— Certo — digo.
— Podem ir — Michael fala aos homens.
Os dois se despedem e deixam o escritório. Deito no sofá por
cima do braço que não foi furado, estou me sentindo um queijo
suíço. A palma grossa da mão do Michael desliza na minha coxa
exposta, subindo o tecido do short, seus dedos tocam de leve minha
intimidade e é tudo o que preciso para ficar animada.
— Vem cá — chama manso com a voz pingando luxúria.
Adoro quando o Michael muda o tom de voz para falar comigo.
— Sim? — Enlaço os braços ao redor do seu pescoço,
sentando com as pernas ao redor das suas.
— Tenho uma coisa para você, mas não sei se te dou agora
ou depois de te foder. — Estremeço com seu linguajar.
— O quanto vou querer te agradar depois de ganhar meu
presente? — Aliso a linha do seu maxilar.
— Muito. — Sua mão aperta minha bunda, os dedos puxam o
tecido do short, tentando chegar à minha entrada traseira. — Acho
que vai querer me dar esse cuzinho gostoso. — Sapeca um beijo nos
meus lábios.
Já faz uns dias que ele tenta me convencer a dar a bunda
para ele, mas me mantenho firme na minha recusa. Não tenho
muito tesão em sexo anal, enquanto o Michael fica quase
ensandecido enquanto transamos de quatro e seus dedos se enfiam
na minha bunda, louco de tesão pelo que nego a ele. No fundo, eu
gosto de como o faço perder a sanidade.
— Oh, deve ser algo muito bom então — digo em seus lábios.
— Me entrega primeiro, depois decidimos.
— Safada. — Estrala um tapa forte na minha nádega. Caio
contra seu peito. Ele fica em pé comigo nos braços e caminha até a
sua mesa, senta na cadeira me abraçando pela cintura.
— Se você assinar esses papéis. — Entrega-me uns
documentos que estavam na sua mesa. — Será a próxima aluna da
Universidade de Nova Iorque da turma de medicina.
— Sério? — pergunto surpresa, o peito explodindo em
felicidade.
Michael confirma com a cabeça, e eu grito o abraçando
apertado, encho seu rosto de beijos, a emoção dispara como um
choque elétrico pelo meu corpo. Capturo seus lábios em um beijo
demorado, cheio de carinho e gratidão. Nunca pensei que fosse
conseguir voltar a estudar com tamanha rapidez.
Solto seu rosto pegando os papéis e lendo com cuidado cada
uma das palavras escritas na folha branca. Toda a minha
documentação de transferência já foi preenchida, poderei retornar
no semestre seguinte, que se inicia em quatro meses, ele realmente
está fazendo isso por mim.
— Obrigada — agradeço com os olhos marejados. — Muito
obrigada — soluço, quase não conseguindo conter a emoção.
— E só para deixar muito claro — ele diz com uma expressão
despojada —, não fiz isso só para comer seu cuzinho, sei que você
vai me dar uma hora ou outra. — Gargalho da sua cara descarada,
bato em seu peito. — Eu quero que você seja feliz em nosso
casamento e tenha liberdade de fazer o que deseja. Ser uma médica
na organização, além de te tornar útil, me mostrou que as mulheres
têm mais a contribuir do que somente criarem nossos filhos.
— Eu vou ser eternamente grata a você — declaro, a visão
mareja quando um novo sentimento começa a ganhar voz no meu
coração. As palavras dançando na ponta da minha língua. —
Obrigada, Michael — falo mais uma vez, contendo o impulso que
tenho de expressar a minha paixão. Tenho medo de tudo que
estamos construindo desmoronar se eu deixar a verdade escapar. Eu
quero manter nossos momentos felizes guardados na minha
memória o máximo possível. Para quando a tempestade chegar eu
tê-los para me lembrar dos dias bons.
— Agora, posso comer seu cu? — pergunta safado, gargalho
negando com a cabeça.
— Ainda não, lamento. — Capturo seus lábios antes que ele
possa falar outra safadeza.
— Pelo menos tenho sua bocetinha. — Acho graça do seu
jeito brincalhão safado.
— Completamente sua.
O cheiro sexy invade meus sentidos. Michael me segura ao
levantar e caminhar até o sofá. Ele me deita com cuidado, mas ao
ficar de joelhos eu vejo o fogo queimando suas íris azuis, me
deixando ciente do que virá em seguida. Estremeço em expectativa.
— Se não fossem os malditos pontos eu iria te foder até você
desmaiar — ele rosna, removendo a gravata, a cena sexy se
desenrola diante dos meus olhos. — Fique pelada — ordena.
Respirando irregular eu obedeço a sua ordem, puxo a blusa
por cima da cabeça e retiro o short, tomando cuidado para não bater
nos curativos. O sutiã e calcinha encontram o mesmo destino.
Michael se mantém em pé, me encarando com somente a gravata
faltando, ele a enrola em sua mão, tremo pensando o que virá em
seguida.
— Junte os pulsos acima da cabeça. — Obedeço.
Ele passa uma perna por cima de mim, ficando de joelhos
sobre a minha barriga. O pau marcando a calça, duro como aço,
salivo de vontade de tê-lo na minha boca. Sua mão agarra meus
pulsos e a outra passa a gravata entre minha pele me prendendo.
Adoro quando o Michael me amarra durante o sexo, fico
completamente à mercê do seu controle, confiando que ele nunca
me machucará, sentirei somente prazer.
Seu nariz toca minha testa, os lábios molhados capturam os
meus em um beijo exigente. Suspiro pela mordida na minha língua,
os olhos em chamas, sua mão agarra meu peito com força,
pressionando um mamilo duro entre seu polegar e dedão. Arquejo,
batendo contra seu corpo, Michael desce o tronco, sentando em
cima da minha coxa, me sento melada entre as pernas, ansiosa pelo
seu toque bruto.
— O que acha, Hope, devo ir trabalhar cheirando a boceta? —
ele diz antes de segurar minha coxa e puxá-la para cima, liberando
do aperto de suas pernas.
— Sim — respondo possessiva. — Para toda piranha que
chegar perto de você saber a quem você pertence.
— Banha meu pau com seu cheiro, porra. — Ele prende meu
pescoço com uma mão, enquanto com o quadril mete na minha
intimidade, esfregando meus líquidos contra sua calça. O pau duro
pressiona meu clitóris e eu deliro pela tortura de ser tocada por cima
da roupa.
— Michael, por favor, me fode — imploro, sentindo o princípio
de um orgasmo, mas não querendo atingi-lo apenas com uma
fricção. — Preciso de mais!
— Não — responde rouco. — Você vai ficar com a boceta
pingando até a hora que eu chegar em casa para te foder. Se você
se tocar eu vou te deixar uma semana sem orgasmos.
— Querido — apelo —, por favor, não faça isso.
— Shiu. Eu te quero subindo pelas paredes de noite, Hope, vai
me obedecer!
— Sim, senhor — cedo.
Por sua perna continuar prendendo minha coxa e sua mão
livre segurando a outra, mantendo meu pé ao lado da sua cabeça,
eu não consigo mexer o quadril para aumentar a fricção do seu pau
robusto na minha vagina. Tremeliques atacam meus braços
suspensos acima da cabeça, sua mão no meu pescoço me mantém
imóvel enquanto o início de um orgasmo se forma.
Michael é um desgraçado que sabe o que faz, enquanto judia
do meu clitóris me negando seu pau na minha vagina, me dá um
orgasmo frustrado que ao invés de acalmar meu corpo me faz
queimar em chamas. Derreto contra sua calça, o molhando como ele
queria, tem um sorriso satisfeito no seu rosto por saber que
alcançou o objetivo. Minhas bochechas esquentam, aperto a mão
com vontade de lhe bater por me deixar necessitada.
— Eu te odeio — digo baixinho.
— Não odeia — retruca confiante, soltando minha mão.
Ele libera minha perna e desce contra meu tronco. Abraço sua
cintura com as coxas, as mãos enfio dentro do seu paletó, sentindo
o torso musculoso do meu marido. Seus lábios capturam o meu, as
línguas deslizando em uma dança ritmada de sabores misturados. O
ar falta ao passo que eu não quero soltá-lo. Cada segundo ao seu
lado é apreciado com carinho.
Meu coração bate mais forte ao perceber o que acontece
entre mim e o Michael. A cumplicidade se tornando algo mais forte,
desejo queimando como uma paixão que nunca chegará ao fim. A
vontade de ter mais e que ele conheça cada pequeno pedaço da
minha alma grita como louca dentro de mim.
Eu estou me apaixonando pelo meu marido.
Nesse segundo, eu o beijo rezando para que meus
sentimentos sejam correspondidos.
Meu marido gostoso sai para trabalhar com a calça molhada
pela minha boceta, o cheiro de sexo inebriante. Passo o resto do dia
pensando sobre e me controlando para não me esfregar nas
cadeiras. Querendo me distrair, eu tomo um banho longo e desço
para o quarto da Emily. Bato três vezes antes dela finalmente
responder.
— Vou voltar a estudar — digo animada.
— Isso é fantástico! — ela exclama, dando um pulinho.
— Vamos sair? Quero me distrair um pouco.
— Aconteceu algo? — Fecha a porta do quarto e caminhamos
juntas para o elevador.
— Só seu irmão testando a minha paciência — respondo não
dando mais detalhes.
— Ele sempre faz isso. — Ela ri baixinho e a acompanho.
— Vamos chamar a Josephine e ir para o clube.
— Certo.
Deixamos a mansão e não consigo contato com a Josephine,
estranhando o seu sumiço, mando o Zayn, chefe da minha equipe de
segurança, nos levar à casa dos Lucian. Ao chegar à propriedade
sinto a aura sinistra do lugar, sempre tenho calafrios ao vir aqui.
Minha presença é anunciada antes mesmo que eu desça do carro.
Eleanor tem um sorriso amarelo no rosto ao descer os
degraus da entrada principal. Saio do veículo com a Emily
estranhando a ação da senhora, ela nunca me recebe do lado de
fora, somente dentro de casa. Na segunda semana de casada eu
visitei cada uma delas e os protocolos são sempre receber a esposa
do Chefe em suas residências, não na porta como se quisesse me
mandar embora.
— Boa tarde, senhora Bianchi. — O sorriso amarelo não me
passa despercebido.
— Boa tarde, Eleanor — a chamo pelo primeiro nome,
impondo minha hierarquia, não estou com um bom pressentimento.
— Chame a Josephine.
— Minha filha está doente — ela pressiona as mãos —, não
poderá sair com a senhora hoje.
— Falarei com ela — digo, a desconfiança aumentando.
— Por favor — impede a minha entrada —, não quero que a
senhora fique doente por causa da Josephine, quando ela melhorar
a mandarei te visitar.
— Eleanor — falo altiva —, eu vou entrar nessa casa e ver a
Josephine, se você tiver um problema com isso nossos maridos que
irão se resolver, entendeu?
— Sim, senhora Bianchi — responde contrariada.
Encaro a Emily ao meu lado que tem a testa franzida. Aos
poucos ela tem gostado da presença da Josephine e temos sido boas
amigas. Diferente de mim, ela não tem a autoridade de ser a esposa
do Chefe, por isso espera do lado de fora enquanto entro. A primeira
coisa que noto é o abajur quebrado no chão da sala.
Rebeca, a filha mais nova, está sentada no sofá com o rosto
vermelho em lágrimas, o médico que estava na minha casa faz um
curativo em seu braço que sangra. Busco pela Josephine e não a
encontro, sei que as irmãs têm problemas de convivência, mas não
consigo acreditar que elas poderiam se machucar fisicamente dessa
forma.
— Rebeca — vou para seu lado —, você está bem? — Toco
seu ombro, a menina só tem 17 anos, apesar de ter um corpo
desenvolvido e feições mais velhas, passaria facilmente por alguém
de 20 anos.
— Não — a voz embarga —, a maluca da Josephine jogou o
abajur em mim!
— Rebeca! — a mãe a repreende por contar o que aconteceu.
Encaro o abajur e o machucado na parte interna de seu
antebraço. É um corte que seria feito somente com uma lâmina
rasgando a pele e não por um objeto sendo jogado nela. Guardo
minhas suspeitas para mim, por ora preciso achar minha amiga.
— Onde está a Josephine?
— Senhora Bianchi, por favor. — Eleanor aperta os punhos. —
Isso é um problema de família e com todo o respeito você está
sendo intrometida. Meu marido está chegando e vai lidar com a
situação pessoalmente, por favor, vá embora.
— Eu sou a sua senhora — friso bem a frase —, e estou te
dando uma ordem. A menos que queira que eu use o poder do meu
marido, me leve agora até a Josephine.
— Sim — responde a contragosto.
Zayn me acompanha de perto com mais dois seguranças,
enquanto subimos as escadas. Não bato à porta do quarto da
Josephine, simplesmente entro. Levo a mão à boca triste ao ver a
minha amiga de joelhos em cima de caroços de milho seco
espalhados no chão. Os pulsos dela amarrados com uma corda
branca, e os tornozelos firmemente presos por correntes ligadas ao
seu quadril, impedindo que ela saia da posição de joelhos.
— O que é isso?
— Disciplina — Eleanor responde. — E você não pode mais se
intrometer!
Ela tem razão, eu fiz algo que não deveria e que certamente
vai dar dor de cabeça ao Michael ao tentar resolver a situação. Mas
não vou recuar agora.
— Josephine — chamo por ela, que me olha com ódio nos
olhos. — Você feriu a Rebeca?
— Não — rosna.
— Não minta! — sua mãe grita. — Eu vi nas câmeras de
segurança você jogando o abajur na Rebeca, seu demônio!
— Ela que se cortou! — Josephine grita. — Se eu tivesse feito
aquilo teria tido a certeza de a matar.
— É essa quem você quer defender? — Eleanor pergunta a
mim.
Analiso os fatos, Rebeca realmente foi atingida pelo abajur,
mas o corte não tem como ter sido provocado pelo objeto, a menos
que alguém tenha pegado uma lâmina afiada e a cortado.
— Senhora Bianchi. — Uma voz grave reverbera atrás de mim.
Giro o rosto encontrando Louis Lucian, o subchefe. — A que
devemos a sua visita?
— Vim chamar a Josephine para me acompanhar em um
passeio. — Viro de frente para o homem, o encarando de queixo
erguido. — Mas pelo visto não será possível. Eleanor me explicou a
situação e compreendo que a briga entre as irmãs passou dos
limites. — Encaro a minha amiga, quase sentindo o ódio deixando
seu corpo. — Tenho certeza de que hoje seus pais te deixaram de
castigo. Mas espero encontrar você e a sua família para um jantar na
minha residência, amanhã às 20 horas.
Viro de frente para o Lucian, dando um aviso silencioso. Posso
ser incapaz de impedir que ele a machuque por causa do que
aconteceu em sua casa, mas garantirei que sua punição não afete a
Josephine o suficiente para ela ficar impossibilitada de sair de casa
por causa de machucados.
— Esse é um pedido da sua senhora, você não negará, certo?
— pergunto com um duplo aviso na voz. — Meu marido certamente
formalizará o convite.
— Estaremos presentes. — Ele acena. — Se nos dar licença,
preciso resolver a situação na minha casa.
— Certamente, tenham uma boa tarde. Até amanhã,
Josephine.
Deixo a casa dos Lucian com um mau presságio. Queria poder
fazer mais, mas tenho limitações e possivelmente ouvirei
reclamações do Michael quando ele retornar de noite, seu subchefe
não ficará feliz em acatar ordens da esposa dele sem falar nada.
Passo o resto do dia com a cabeça cheia, Emily tenta não
demonstrar, mas percebo que ela ficou mais sensível depois de saber
sobre a punição da Josephine. Minhas duas amigas são machucadas
por suas famílias, eu queria ser capaz de fazer mais por elas.
Michael retorna perto das 21 horas, analiso seu semblante em
busca se levarei uma bronca ou se iremos transar. Estou na cozinha
do terceiro andar com uma colher de sorvete na boca quando ele
coloca a maleta em cima do balcão e me segura pela cintura.
— Por sua causa, passei duas horas ouvindo reclamações do
Lucian sobre como você se meteu no assunto de família dele, espero
que esteja pronta para me dar seu cu, só assim para me acalmar.
— Boa tentativa. — Levo a colher de sorvete aos seus lábios.
— Eu fiquei com medo deles a machucarem, desculpa por trazer
problemas a você.
— Tudo bem. — Seus lábios gelados pelo sorvete encontram
minha testa. — Você é minha esposa, pode se meter onde quiser,
mas saiba os limites. Josephine realmente machucou a Rebeca com
intenção de matar e eles têm as câmeras de segurança como prova.
Sou contra o castigo físico em mulheres, mas também existe limite
de onde consigo intervir.
— Como o Kai permite isso? — pergunto, o encarando. — Ele
não deveria ser contra?
— Ele não machuca a Josephine, faz o que pode para reduzir
as punições. O Kai é muito protetor com a Rebeca e sua afeição com
a Josephine é mínima.
— Eu não consigo entender, ela não é má pessoa.
— Para você, mas para a família a Josephine sempre foi
alguém a tomarem cuidado ou poderiam acordar mortos por ela.
— Não faz sentido.
— Se você vivesse em Nova Iorque entenderia, com o tempo
vai ficando mais claro. Ela não é quem você pensa, tome cuidado
sempre que estiverem juntas.
— Você não me deixaria com ela se realmente acreditasse
nisso.
— Chega desse assunto. — Encosta nossas testas. — Você se
tocou?
— Nem um segundo — respondo, guardando a conversa
sobre a Josephine para outro momento.
— Boa garota.
Sua mão desce à minha bunda, puxando-me para si. Sorrio
animada pela noite que teremos.
Michael
Aliso o cabelo da Hope, seu rosto pressionando meu peito. Já
faz três meses que estamos casados e a cada dia ela tem sorrido
mais, sua felicidade é contagiante e todos os dias que retorno para
casa, eu tenho a certeza de ter feito a escolha certa ao pedir sua
mão em casamento como recompensa.
Minha garota tem se aberto mais comigo, conversamos sobre
nossos passados e sempre fico impressionado com como ela
conseguia se esgueirar pelos túneis da casa, ouvindo conversas. Se
eu imaginasse que ela me ouvia falando de sexo com o Black e os
outros caras teria tomado mais cuidado. Eu fazia muito sexo sujo e
depravado, sem consideração pelas minhas parcerias e não tinha
vergonha de falar abertamente com os caras.
Mas o que tenho com a Hope vai além do prazer carnal. Ela
toca a minha alma, me faz querer ser mais delicado, aproveitar cada
segundo que temos juntos, quando meu pau entra em seu corpo, a
tocando onde nenhum outro chegou. Fazendo-a completamente
minha. Sou bruto e delicado de uma forma que eu nem sabia que
era possível ser. Quero entrar na sua alma como no seu corpo, aos
poucos tenho conseguido.
Sinto que a Hope só espera mais um passo para ser sincera
comigo e me contar o que ela realmente esconde por trás de seus
olhos verdes. E conforme me abro mais, estabelecendo a nossa
confiança, a resistência dela vai caindo. Os ataques do Samuel
cessaram e a busca por ele tem ficado estagnada, destruí Boston
atrás do desgraçado e não consegui encontrá-lo.
E enquanto o mundo cai do lado de fora eu encontrei meu
lugar seguro. Ouso dizer que estou me apaixonando, embora nunca
tenha experimentado tal sentimento. É somente isso que justifica eu
não conseguir cansar ou me sentir saciado dela, eu a quero como
um louco, cada um de seus beijos, anseio guardar sua risada
somente para mim, tê-la a cada segundo do dia ao meu lado.
Prolongar nossas noites de conversas e almoços juntos, quando não
posso retornar para casa ela aparece no escritório, me alimenta com
comida e a boceta e depois vai embora.
Eu tinha uma ideia de como queria que meu casamento fosse,
mas jamais imaginei que alcançaria esse patamar. Um em que um
homem como eu, um assassino cruel e frio, que domina o submundo
e enche o país de caos e terror, cometendo atos ilegais todos os
dias, pudesse realmente encontrar a paz nos braços de uma mulher.
Sinto-me vivo com ela, com sentimentos que nunca imaginei
sentir surgindo a cada dia que passamos juntos. Inspiro o cheiro
doce da sua cabeça, sua perna largada preguiçosa sobre a minha, a
mão alisando os pelos ralos da minha barba. Beijo cada um de seus
dedos, ouvindo o suspiro feliz que deixa seus lábios.
Uma dor antiga pinica meu coração ao saber que dia é
amanhã e o que acontecerá. Hope ainda não sabe, não tive coragem
de contar a ela e romper a bolha que construímos juntos. Mas
amanhã, mais do que nunca eu preciso dela ao meu lado, sabendo a
verdade e me apoiando, necessito do seu carinho, de seus beijos
apaixonados e reconfortantes.
Mas eu também sei o monstro em que me torno nesse dia e a
destruição que causo ao meu redor. Em como a Emily se esconde
para não ver o caos nos meus olhos e o Matthew me evita para não
brigarmos. Como o Andrew gosta de me atormentar e tornar meu
sofrimento pior, me punindo mesmo depois de anos.
É o dia em que mais sofro durante o ano e o único em que me
torno uma besta, descontrolado. Não posso permitir que a minha
Hope seja pega no vendaval, preciso mandá-la para longe, um lugar
em que a minha escuridão seja incapaz de bloquear a sua luz.
Tenho que protegê-la de mim mesmo.
— Amanhã é o aniversário de falecimento da minha mãe —
confesso a ela em voz baixa. — Não é uma data muito feliz e posso
acabar te machucando, é melhor você ir visitar seus pais.
Me dói pedir que ela se afaste quando tudo que eu preciso é
tê-la ao meu lado. Mas me conheço, sei como fico descontrolado
quando as lembranças daquele dia me atormentam e a culpa me faz
agir cegamente. Hope é uma parte boa da minha vida que eu não
posso manchá-la com a minha escuridão, a fazer chorar e se
arrepender de ter casado comigo.
— Não vou a lugar nenhum — a voz suave fala perto do meu
ouvido, encaro seus olhos verdes como esmeralda, cheios de
empatia. — Vou ficar com você o dia todo. — Alisa minha orelha. —
Não importa o que você faça.
— Eu amo a minha mãe — revelo, a mente começando a
nublar —, e lembrar de como ela morreu me transforma, a culpa é
grande demais. — Seguro seu queixo. — Por favor, você não pode
ficar por perto e sofrer por minha causa.
— Por que você seria culpado? — Franze a testa. — Não foi
seu pai quem a matou?
— Sim, mas a culpa é minha.
— Você nunca seria culpado. — Sobe o tronco em cima do
meu, pressionando os peitos macios. Seus braços rodeiam meu
pescoço, sua testa colada na minha. — Divide sua dor comigo? Eu
estou aqui por você.
Hope me faz querer ser sincero, quase como se ela fosse
capaz de me entregar as respostas que curariam todas as minhas
dores e arrancariam a culpa que me sufoca todos os anos.
— Não posso mais ficar sem você. — Giro ficando por cima
dela, protegendo seu corpo com o meu. Beijo seus lábios macios,
inspiro seu cheiro doce, toco sua pele sedosa. — É impossível para
mim.
— Eu também me sinto assim — ela fala com a voz
embargada, quase consigo tocar os segredos que me esconde. —
Deixa-me entrar? Divide comigo a dor, por favor, prometo que eu
nunca irei embora, nem mesmo se você me pedir. — Segura meu
rosto selando nossos lábios com a sua promessa.
— Nunca te pediria — digo baixinho. — Eu tinha 26 anos
quando aconteceu.

Michael aos 26 anos


Chego em casa após uma viagem ao México para lidar com o
cartel de drogas, os filhos da puta queriam mudar o acordo que
temos para as drogas deles entrarem e serem vendidas por nós. Fui
lembrar aos desgraçados com quem estão lidando.
Passei um mês fora, tenso e nervoso, não por causa dos
mexicanos, mas pelo meu plano que teve de ser colocado em
espera. Um mês sem envenenar o Andrew pode ter reduzido a
eficácia da droga e com isso precisarei de mais tempo para fazer o
desgraçado morrer.
Demorou, mas finalmente consegui uma droga de ação
silenciosa, fiz tudo com cuidado, envenenei seu melhor uísque, bebia
da mesma garrafa que ele e outros capos. Eu sabia que os outros
não morreriam, pois a droga tinha de ser administrada todos os dias
em pequenas quantidades, e eu tomava o antídoto. Somente o
Andrew sentiria o efeito e quando ele morrer ninguém achará
evidência de envenenamento.
A morte perfeita.
Silenciosa e que não colocará em risco a minha sucessão. É
impensável que um filho mate um pai ou um membro da
organização elimine outro sem provas concretas de traição . Eu
tomei cuidado com cada um dos meus passos, os frascos sempre
estavam nos meus bolsos, não pedi a ajuda de ninguém e comprava
a droga pessoalmente.
É impossível ser descoberto, mas essa ida ao México me
deixou inquieto, não era algo que eu precisava resolver, mas o
Andrew foi claro quando me enviou. Passei um mês sem contato
com a minha família, estou nervoso sobre como estão as coisas
agora que retornei e quanto tempo mais terei de envenená-lo,
rezando para não ser descoberto.
A mansão está silenciosa, não vejo os guardas que deveriam
estar fazendo ronda. Puxo minha arma caminhando com cuidado
para dentro, buscando por qualquer um. No final do corredor eu
escuto um estrondo vindo do porão. Desço as escadas com cautela,
meus olhos focam na cena que se desenrola diante de mim e
estremeço.
Eu deveria ter metido uma bala na cabeça desse desgraçado.
Emily tem uma corrente ao redor do pescoço, a forçando a
ficar com o rosto colado ao chão. Matthew ao seu lado amarrado da
mesma forma e de frente para eles o demônio do Andrew,
segurando minha mãe pelo pescoço com uma faca contra sua
barriga nua. Ele sorri, triunfante, eu perdi no segundo em que o
Andrew fez a minha família de refém..
— Você jogou bem, garoto — fala debochado. — É irônico o
quanto sinto orgulho de você por saber que criei um monstro capaz
de matar o próprio pai e o quanto quero te punir por ter tentado me
matar.
— Eu ainda posso fazer isso — digo, apontando a arma para
sua cabeça.
— Espero ansioso pelo dia que você me matará, mas por ora
baixe a arma e sente — aponta para uma cadeira —, você vai
aprender que não pode me machucar sem sofrer as consequências.
Um maldito psicopata que não teme a nada. Tremo com a
raiva queimando minhas veias e a vontade de arrancar os olhos do
Andrew, torturá-lo e humilhar como ele faz com a minha família. Ele
afunda a ponta da lâmina na barriga da minha mãe, arrancando
sangue da pele branca, a arma treme presa entre meus dedos, a
vontade de matá-lo gritando na minha cabeça com o desejo de
salvar minha família.
Observo meus irmãos, me odeio por colocá-los nessa situação.
Minha mãe que nada fez além de me amar, presa nas garras do
desgraçado. A última conversa que eu tive com ela foi antes de ir
para o México. Hannah me puxou para um abraço caloroso e disse
que me amava, retribuí o gesto com um beijo em sua bochecha,
encarando seus olhos azuis tranquilos.
Hoje a encontro com medo nas feições e lágrimas grossas
caindo por sua bochecha. Eu fui um tolo em achar que poderia
vencer esse demônio, que seria capaz de armar uma armadilha que
ele nunca desconfiaria. Não sei onde errei, mas agora percebo o que
vai me custar. Largo a arma aceitando a derrota, caminho para a
cadeira me sentando nela.
— Coloque as algemas nos pés, seja um bom garoto — ele
zomba.
Prendo as algemas no tornozelo e uma no pulso esquerdo.
Andrew larga o corpo da minha mãe que desaba sem forças no chão
frio do porão. Caminha até mim com um sorriso de escárnio antes
de socar a minha cara três vezes.
— Como descobriu? — pergunto, eu tenho certeza de que fiz
tudo corretamente.
— Você quase me enganou, bebendo da mesma garrafa. Mas
eu percebi, você perdeu por um milímetro de diferença do líquido da
noite para o dia. A marca estava rente com a letra I e no dia
seguinte estava um milímetro mais cheia. Como se sente sabendo
que chegou tão perto?
— Não pode ter sido somente por isso — falo, impossível ele
ter notado por alto tão simples.
— O diabo mora nos detalhes, já ouviu essa frase?
— Faça o que quiser comigo, mas os deixe em paz. Eles não
sabiam de nada! — Aperto os punhos, a vontade de machucá-lo
corroendo minhas veias.
— Eu fui paciente todos esses anos, achava que se te surrasse
ou fizesse você presenciar seus irmãos e mãe que tanto ama
sofrendo seria o suficiente — prende meu punho livre —, mas nada
disso é o bastante. Hoje eu vou te fazer sofrer como você nunca
imaginou, será o seu fim Michael, você nunca mais terá coragem de
amar novamente, quando descobrir o quão fraco o amor te torna.
— Eu vou matar você. — Cuspo no seu rosto.
— Eu sei, somente você poderá acabar com a minha vida.
Andrew me soca mais uma vez, pega uma mordaça calando
minha boca antes de iniciar a tortura.
Ele prende a minha mãe de frente para mim com o rosto rente
ao chão. Dá a volta no seu corpo pegando um arame farpado antes
de estralar contra a carne dela. O grito ecoa pelo porão, meus
irmãos que assistem a tudo amordaçados choram e gritam ao ver o
sofrimento da nossa mãe. Tento puxar as correntes para me libertar
e não consigo, estão firmes em meus pulsos.
Andrew não para, ele a suspende no alto com as mãos para
cima, a boca machucada por ter sido amarrada com arame. Remove
suas roupas e com a ponta da faca começa a arrancar a pele de sua
barriga. A dor me invade como uma estaca. Por minha culpa ele a
está fazendo sofrer, judiando da minha mãe. Sou rasgado por dentro
por cada um de seus gritos.
Puxo o pulso com força, tentando libertar meu punho ao ver o
desgraçado com uma serra cortando o pé da minha mãe. O sangue
ferve quente nas veias, impulsiono para a frente, gritando com
lágrimas de ódio escorrendo pelo meu rosto.
— PARA — grito por cima da mordaça.
Forço a corrente no pulso, ouvindo o som de osso quebrado, é
o da minha mão o polegar desloca folgando a corrente banhada pelo
meu sangue. Continuo puxando, tentando me libertar, mas o aperto
não cede. Estouro minha mão em desespero, outro som de osso
deslocando, a dor irradia do meu ombro, indicando que o tirei do
lugar devido aos puxões. Nem que eu me desmonte inteiro, mas vou
me soltar.
A dor, sofrimento, desespero e angústia sendo cravados em
minhas células. Nada do que ele fizesse comigo seria capaz de me
quebrar como ver os cabelos louros dela sendo arrancados com uma
faca, seu lindo rosto desfigurado em cortes e os olhos azuis que me
olharam com amor arrancados para fora das órbitas.
— MAMÃE! — Emily grita, sangue vermelho vivo das correntes
machucando seu pescoço enquanto ela tenta se libertar.
— DESGRAÇADO! — Matthew fala, o queixo cortado de tanto
que ele bate contra o chão tentando se libertar.
Continuo tentando forçar as algemas a romperem, estou
quase perfurando o osso do meu pulso. Torci o tornozelo, enquanto
ele a quebra, eu me desmonto com o desespero correndo em
minhas veias. Eu preciso salvá-la, nem que no processo eu me
desfigure.
Não consigo dizer quantos dias se passaram. Andrew não
parou nem por um segundo até que a minha mãe fosse reduzida a
nada. Um monte de partes arrancadas e jogadas no chão do porão.
Minha cabeça explode em dor, eu sinto como se meu coração
estivesse sendo arrancado do peito por mãos cruéis. Ele segura a
cabeça desfigurada dela e caminha até mim. A consciência me
deixando, perdi muito sangue ao longo dos dias.
— De quem é a culpa por sua mãe ter morrido? — pergunta.
Não consigo responder, a garganta em sangue vivo por ter
gritado por cima da mordaça, como meus irmãos, mas não tenho
forças para falar, a cabeça pende para a frente, não consigo mais vê-
la destroçada. Não tivemos a chance de nos despedir, as últimas
palavras que ela me disse antes de eu viajar trancadas no fundo da
minha mente, abafadas pelos gritos que ela deu em seus últimos
dias na terra.
— Sua Michael, totalmente sua. Vou remover sua mordaça e
se você não me responder corretamente eu vou fazer o mesmo com
a Emily, entendeu?
Aceno em positivo. Ele solta a cabeça dela no meu colo para
remover a minha mordaça. Mal sinto os músculos do maxilar,
dormentes, ressecados e sangue escorrendo por onde mordi a
bochecha e a língua.
— De quem é a culpa por sua mãe ter morrido?
— Minha — respondo rouco, com mil pedras de areia na
garganta.
— Nunca se esqueça, na próxima vez que tentar me matar e
falhar é a Emily que será punida, da mesma forma que sua mãe.
Ele remove as algemas e deixa o porão. Encaro a cabeça
decepada da minha mãe no meu colo sem conseguir me mover.
Desmaio, acordo ouvindo os gemidos dos meus irmãos que
continuam presos. Retiro forças do fundo da minha alma para
segurar a cabeça da minha mãe, ignorando a dor física dos meus
membros quebrados, a abraço forte contra o peito chorando a
tempestade que tinha dentro de mim, caio da cadeira e a deixo no
chão enquanto liberto meus irmãos.
Os meses seguintes foram um borrão onde passei a maior
parte do tempo bêbado e obedecendo ao Andrew anestesiado. Nada
me faria sentir novamente, o amor arrancou de mim a pessoa mais
importante do mundo e se eu continuar sendo fraco perderei meus
irmãos. Afastei-me de todos e vivi a minha dor sozinho, a minha
punição por ter matado a minha mãe.
Dias atuais
Hope chora contra meu peito, reviver o terror do meu passado
mais uma vez me deixa anestesiado. As sombras rondando minha
mente com garras afiadas, prontas para me levarem para si. E eu
quero ir, me entregar ao esquecimento e nunca mais pensar na dor
que causei, na rachadura feita na minha família.
— Eu vou matar o Andrew — ela berra. — Maldito desgraçado.
— Cerra os punhos. — Como ele pôde destruir a própria família
dessa forma? — soluça.
Os olhos verdes encontram os meus, a tempestade de
emoção me traz de volta à realidade, ao lugar em que estou e quem
é a mulher que chora em cima do meu peito. Sentindo a minha dor,
querendo me consolar, tomando para si o meu desejo de vingança.
Aperto Hope com força, sentando na cama com ela no meu colo,
enfio o nariz em seus cabelos, buscando por um pouco de paz, as
mãos tremem enquanto a aperto.
— Olhe para mim, Michael — pede com doçura na voz.
Relutante encontro seu olhar. — De todas as vezes em que você me
falou da sua mãe eu sei que ela nunca iria querer te magoar ou te
ver chorando. Ela te amou a cada segundo da vida dela, e eu sinto
esse amor através de você — sua mão toca meu peito —, você
nunca teve maldade em nenhuma de suas ações, sempre pensou no
que seria melhor para a sua família, aquelas pessoas que você ama
e te amam na mesma intensidade.
— Se eu não tivesse — tento, mas ela coloca um dedo nos
meus lábios, me impedindo de continuar.
— Nada pode mudar o passado e por isso devemos ter certeza
de nossas escolhas para não nos arrependermos. Não vou te deixar
viver pensando “e se”, você fez tudo o que podia naquele momento
e sua mãe sabe, alguma vez ela sequer te olhou com tristeza ou
magoada?
— Não. — A garganta trava e os olhos ardem.
— Exatamente, ela te amava e é isso que o amor faz. Ele cura
todas as feridas, enquanto ela sofria nas mãos do Andrew era o
amor dela pelos filhos que a mantinha em pé e forte. Sua mãe foi
admirada por todas as senhoras por nunca ceder e se manter firme
na nossa sociedade, não tem como uma mulher incrível como ela
sentir qualquer outra coisa que não seja amor pelos filhos. —
Encosta a testa na minha. — Um amor puro que a fez aguentar as
dores e transformou em bondade no coração de vocês.
— Foi por minha culpa — soluço, a dor rasgando meu peito.
— Não — Hope fala convicta, engolindo o próprio choro. — Se
você continuar se culpando vai transformar o sacrifício da sua mãe
no que o Andrew quer. Em dor, mágoas e tragédia. Ela escolheu
amar vocês acima de tudo, se sacrificou sem dizer uma palavra que
pudesse magoar a um de vocês, o amor dela os protegeu e continua
protegendo, você continua amando seus irmãos e eu tenho certeza
de que sua mãe se orgulha de cada um de vocês. Nunca mais repita
que a culpa é sua, não deixe o Andrew manchar o legado que ela
deixou. Sua mãe foi amor, não culpa.
— Em todos os dias de vida dela — murmuro, deixando as
palavras da Hope tocarem meu coração. — Há cada segundo em
que estivemos juntos — deito a cabeça no peito da minha amada —,
eu amei a minha mãe, fiz o que ela queria, não posso ser culpado,
certo?
— Não, meu amor — soluça, encarando o fundo da minha
alma. — Você é uma vítima, mas nunca o algoz.
— Obrigado, Hope. — Escondo o rosto na curva do seu
pescoço. Absorvendo o calor de seu corpo.
Um aconchego que eu achei que nunca mais pudesse sentir
novamente. Os braços ao meu redor de uma mulher que me ama e
que eu a amo com cada uma das minhas células. Igual como amei à
minha mãe, não tem como eu ter sido o culpado, não fui eu que a
matei, eu queria a libertar para que ela pudesse viver feliz rodeada
do amor dos filhos.
A culpa nunca foi minha e pela primeira vez em anos eu
consigo respirar novamente.
Passo a noite nos braços da minha amada, recebendo seu
conforto, quando o relógio desperta, avisando o início de um novo
dia eu continuo na cama inspirando o cheiro doce da Hope. Mas
quando batidas tímidas soam à porta, eu imagino que seja a Emily,
pronta para ir ao túmulo da nossa mãe.
— Depois que minha mãe morreu, o Andrew fingiu um
acidente de carro e a enterrou para que ninguém pudesse ver o que
ele fez. Vou levar a Emily ao túmulo dela, vem comigo? — Não me
sinto forte o suficiente para continuar sozinho.
Não hoje, tudo o que preciso é dela ao meu lado.
— Claro. — Levanta-se, e a sigo. — Vou avisar a Emily que
vamos nos vestir.
— Certo.
Visto o terno preto no automático, deixo o quarto segurando a
mão da Hope. Emily tem os olhos vermelhos e incertos, todos os
anos a levo ao cemitério e depois sumo para me destruir. Contudo,
esse ano eu quero ficar com a minha família, sentir a presença da
nossa mãe. Abraço o corpo pequeno que tanto me lembra a nossa
mãe, beijo sua cabeça e aliso suas costas.
— Vamos chamar o Matthew.
— Já estou aqui. — Ele aparece do canto da sala.
Puxo meu irmão para um abraço em família, não me lembro a
última vez em que os três sofremos juntos no aniversário de morte
da mãe. Recuperamos o fôlego e deixamos a mansão para o
cemitério no final do complexo. Agarro a mão da Hope, incapacitado
de soltá-la, caminhamos sobre a grama verde e vejo a pedra com o
nome “Hannah Bianchi, amada esposa e mãe”.
— Vamos fazer uma lápide nova — digo a eles.
— Podia ser “sentimos saudade da nossa amada mãe” —
Emily fala.
— Ficaria bom. — Aliso seus cabelos.
Emily entrega o buquê de rosas vermelhas, as favoritas da
nossa mãe. Ficamos os quatro em silêncio, encarando o túmulo.
Uma brisa suave toca nossos corpos e o cheiro das rosas preenche o
ambiente, trazendo uma saudade de sentir o perfume dela em seu
corpo. Fico de joelhos, toco a grama macia, fazendo um carinho,
como se fosse possível sentir novamente os fios sedosos de seu
cabelo.
Em silêncio eu faço uma promessa: eu te prometo, mãe,
nunca mais vou viver na escuridão, levarei a vida que eu sei que
você queria para mim. Com amor, e protegendo meus irmãos, não
os deixando sozinhos. Desculpe-me por ter demorado tanto, eu
estava perdido, mas finalmente consegui encontrar a minha
esperança de dias melhores. Tenho certeza de que você gostaria
dela, apesar de não ter dito, eu sei que ela me ama, e eu também a
amo. Você está feliz no céu, mãezinha? Vou garantir que fiquemos
felizes aqui.
Adeus, minha amada mãe.
Hope
Michael ficou vulnerável para mim.
Saber por tudo o que ele passou fere a minha alma e desperta
uma vontade incontrolável de confiar nele. De ser capaz de me abrir
e sentir o alívio que ele demonstrou ao me contar o que mais o
machucava. Não tem como ser errado me abrir com o meu marido.
A forma como ele me encara com leveza apesar da mágoa faz com
que eu queira abraçá-lo e nos esconder do mundo até que toda a
dor se torne somente uma lembrança.
Eu sabia que o Andrew era cruel, mas nunca imaginei que
fosse nesse nível. Ele esquartejou a esposa na frente dos filhos para
quebrar cada um deles e impedir que fossem felizes ou
conhecessem o amor. Não sei como os três conseguiram sobreviver
à tamanha crueldade. Hannah deve tê-los amado com uma força
que nenhuma outra pessoa seria capaz, forte o suficiente para salvar
a alma dos três.
Estamos reunidos na sala assistindo a gravações antigas da
Hannah com os filhos. O monstro do Andrew desapareceu e espero
que continue assim, ele não tem o direito de estragar a bolha de
conforto que os irmãos criaram enquanto sorriem com lágrimas nos
olhos, vendo as imagens da mãe. Agora ela segura a Emily no colo
enquanto fala com o Matthew, ensinando a ele como segurar a irmã,
Michael atrás da câmera ri do irmão com medo de derrubar a mais
nova.
— Eu achava que se te tocasse você quebraria — Matthew diz
rindo. — Acho que levei quase um mês para te segurar direito. —
Puxa a Emily para debaixo do seu braço, alisando os cabelos dela.
— Ainda bem que você foi cuidadoso, ao contrário do Michael.
— Ela encara o irmão mais velho de canto de olho.
— Você não sabia segurar um bebê? — pergunto, encarando o
queixo do meu marido, deitada com a cabeça apoiada em seu
ombro.
— Claro que sabia — ele pega o controle e adianta a gravação
—, era o melhor em não deixar a Emily cair.
Foco na tela vendo o Michael adolescente rindo enquanto
segura a irmã no colo e corre com ela pela sala. Apesar dele segurá-
la direito eu fico com medo de que o vídeo termine com a Emily
caindo no chão e chorando. Hannah tem um sorriso tranquilo
enquanto observa os filhos brincando juntos.
— Venha aqui, Mickey — ela chama suavemente. — Se
continuar fazendo isso a Milly vai vomitar.
Hannah termina a frase e Emily vomita em cima do irmão que
faz careta, afastando-a do seu corpo. Matthew começa a rir e zoar
com o irmão que como vingança o abraça, o sujando de vômito.
Gargalho, não esperava por esse final.
— Como você é malvado — digo ao Michael.
— Só um pouquinho. — Belisca minha cintura.
— Então sua mãe te chamava de Mickey. — Encaro seus
olhos, ele ganha um leve tom de vermelho nas bochechas ao ouvir o
apelido de infância.
— Eu era o Mickey dela — fala cheio de amor. — A Emily era a
Milly e o Matthew o Thew. Era como ela nos chamava quando
estávamos sozinhos.
— Ah, saudades de ouvir a mamãe falando “venha aqui, meu
Mickey mouse” — ele fala com riso na voz.
— Lembra — Emily agita as mãos animada enquanto fala —,
que ela comprou uma roupinha do Mickey e te vestiu com ela? Eu
não era nascida ainda, mas tenho as fotos no meu quarto, quer ver,
Hope?
— Com certeza — digo muito animada.
— Nem pensar — Michael responde. — Eu te disse para
queimar essas fotos.
— Nunca vamos apagar essa evidência — Matthew declara. —
Você era o Mickey e eu o Pato Donald e quando a Emily nasceu virou
a Minnie.
— Eu preciso muito ver essas fotos. — Levanto-me ansiosa
para achar a evidência da infância do meu marido carrancudo. As
bochechas dele ganham um forte tom de vermelho.
— Você não vai a lugar nenhum. — Michael me puxa pela
mão, me fazendo sentar presa no seu colo. — Continue assistindo —
ordena.
Gargalho.
Continuamos os quatro com a nossa maratona de filmes
caseiros e depois de muita insistência, o Michael deixa a Emily pegar
as fotos de quando eles eram crianças. Fico maravilhada ao ver as
roupinhas de desenho no menino de 2 anos, cada uma das
lembranças deles sendo compartilhada e o amor invadindo a
mansão, pela primeira vez desde que estou aqui. Sinto-me
verdadeiramente em casa, protegida e rodeada por um sentimento
forte e caloroso.
— Vocês não conseguiam passar esse dia juntos, não era? —
pergunto aos irmãos.
— Sim — Michael responde. — Por uns anos cada um se
isolava em seu lugar.
— A partir de hoje vocês nunca mais ficarão separados no
aniversário de morte dela. Vamos fazer um feriado anual e sempre
relembrar a memória da mãe de vocês com aquilo que ela mais
queria: os filhos unidos e se amando. Combinado?
— Sim — respondem com um sorriso.
— Depois — Matthew diz, percebo as sombras rondando sua
mente. — Vamos fazer um dia para comemorar a morte do Andrew.
O maldito ainda vai pagar por cada dor que ele nos causou.
— Vocês não têm mais medo? — pergunto, embora já saiba a
resposta.
Para mim que vive com o medo de ter os segredos revelados
e causar destruição é quase impensável cogitar me rebelar. No
entanto, os irmãos têm fogo nos olhos, um ódio tão pungente
quanto o magma de um vulcão.
— Medo só dar poder ao Andrew — Michael diz. — Fui um
fraco que passou anos o evitando e obedecendo na esperança dele
deixar meus irmãos em paz. Mas uma noite quando retornei para
casa mais cedo depois de uma missão e o encontrei. — Ele pausa,
aperta o punho e fecha os olhos, como se a lembrança estivesse
enfiando uma faca em seu peito.
— Tudo bem, Michael — Emily fala, os olhos marejados. —
Pode contar a Hope, eu confio nela. — Estico a mão sobre o torso do
meu marido, segurando a mão dela. — O Andrew tentou fazer com
que o Matthew me estuprasse.
— Não — grito horrorizada.
— Eu nunca machucaria a Emily — Matthew fala com uma
lágrima descendo por sua bochecha —, mas aquele maldito sádico,
ele estava insatisfeito com meu desempenho na organização.
Tentava me punir de outras formas e eu me esforçava para ser o
que ele queria. — Matthew aperta os punhos, fechando firme os
olhos. — Mas ele sabia que só podia nos machucar de verdade se
punisse a um de nós.
— Ele me mandou para uma missão na Itália — Michael
continua. — Eu deveria ter suspeitado, mas naquela época estava
anestesiado, fazendo tudo o que ele mandava sem questionar.
— Vocês dois parem de se culpar — Emily grita, ela tem os
olhos vermelhos, mas não derrama nenhuma lágrima, enquanto eu
tenho o peito apertado em choro. — Nenhum de nós é responsável
pelas ações do Andrew. Ele fez tudo calculado, mandou o Michael
para longe, drogou o Matthew e nos prendeu. — Inspira fundo, seus
olhos me encontram repletos de ira assassina. — Meus irmãos são
tão vítimas quanto eu, daquele sádico maldito.
— O Michael chegou a tempo — Matthew diz. — E desde
então ele passou a enfrentar o Andrew. O desgraçado ainda tenta
nos usar para controlar o Michael, mas estamos mais espertos e
duros. Nunca mais vou dar a chance dele me drogar novamente e
um dia vamos arrancar cada pedaço da pele dele, o destroçar como
ele fez com nossa mãe.
— Mas antes vou tirar tudo dele — Michael afirma firme,
decidido de seu objetivo. — Ele vai implorar por misericórdia e se
arrepender de tudo o que fez antes de morrer.
— Vocês são tão fortes — digo, alisando o peito do Michael e
encarando os irmãos.
Os três se tornaram muralhas inquebráveis.
Após a janta cada um segue para o seu quarto. Tomo um
longo banho relaxante com o Michael e vamos para a cama. Ele se
senta encostado na cabeceira, e eu no seu colo, aliso seus ombros
desnudos, os músculos relaxados após um dia reconfortante em que
os irmãos ficaram ainda mais juntos.
— Hoje você transformou a tempestade em um dia de brisa
calma — ele fala, me encarando. — Obrigado, minha Hope.
— Sempre compartilhe comigo quando não estiver bem,
prometo que não vou quebrar e te darei forças para continuar. Sei
que seu trabalho é difícil e que às vezes você não gosta do que faz,
mas estou aqui por você. — Aliso seu cavanhaque.
— Eu fico louco querendo voltar para casa, só para te
encontrar — ele confessa. — Faz ideia de como é difícil trabalhar e
pensar na minha esposa gostosa e no que ela está fazendo? —
pergunta divertido.
— Como se você não estivesse me observando pelas câmeras.
— Arqueio a sobrancelha. — Eu sempre percebo quando você aperta
o zoom no meu rosto.
— Quem disse que é no seu rosto? É sempre na sua bunda —
brinca, apertando minha carne com os dedos. Gargalho alto quando
sua barba roça minha garganta.
— Seu tarado! — Bato em seu ombro. — Eu aqui querendo te
confortar e você só pensando em sexo.
— Um sexo muito gostoso que fazemos juntos. — Beija atrás
da minha orelha. — Mas eu gosto principalmente quando retorno
para casa e você me recebe com um sorriso nos lábios e logo em
seguida pergunta como foi o meu dia. Sempre vou manter a
escuridão longe das nossas paredes, mas ouvir aquela pequena
frase torna mais fácil respirar quando estou longe. Pois tenho você
com quem compartilhar.
— Você é completamente diferente do que eu imaginei —
digo, criando coragem para liberar o sentimento queimando no meu
peito. — Nossos dias como casados estão me fazendo sentir em casa
— os olhos marejam —, por anos eu ouvi que nunca poderia casar,
ter filhos e amar. — Levo um dedo a seus lábios, impedindo que ele
me interrompa. — Você tem me feito desejar um mundo que eu
achava que era impossível e ao seu lado eu sinto como se pudesse
fazer tudo — sorrio —, me dá só mais um pouco de tempo? Eu
prometo que no final vou te entregar a minha alma e tudo que eu
escondo nela.
— Eu espero a eternidade por você. — Ele alisa minha
bochecha, limpando a lágrima solitária. — Minha pequena Hope, a
única que fez meu coração morto voltar a bater. Quando estiver
pronta vou te fazer sentir como eu — puxa meu rosto para si,
tocando de leve nossas bocas —, livre e contemplando o amor.
Beijo seus lábios apaixonados, deslizando no molhado do seu
interior, puxando seu gosto para mim. Abraço seu peitoral, dou um
selinho demorado antes de deitar a cabeça em seu ombro. As
palavras dançando na minha boca, mas ainda não é o momento
certo, preciso ter mais do Michael antes dele saber quem eu
realmente sou.
Beijo seu peitoral com carinho, disposta a tirar a tensão de
sua pele. Posso não ter coragem de dizer com palavras, mas vou
mostrar a ele com o meu corpo o quanto sou grata por estarmos
juntos e o amo. Sua mão alisa minha cabeça, enquanto vou
descendo com a língua, contornando os gominhos de seu abdômen.
Beijo as cicatrizes que encontro na sua pele branca,
derramando carinho em cada uma delas. Estico as pernas me
deitando na cama, puxo o elástico da sua calça de dormir, ele
levanta o quadril facilitando que eu a remova, o pau duro batendo
no seu umbigo. Seguro a base grossa, fazendo movimentos de vai e
vem antes de abocanhar a cabeça rosada com os lábios. Beijo e
chupo seu gosto na minha boca.
Sugo-o ouvindo seus gemidos grossos, arranho sua pele, a
mão que fazia carinho na minha cabeça se fecha ao redor dos meus
fios, os puxando em um rabo de cavalo enquanto Michael pressiona
minha cabeça contra ele. Seu membro grosso preenche minha boca,
travo a respiração para não vomitar ao senti-lo na minha garganta.
O gemido rouco desperta meu interior, me inundando com a vontade
de tê-lo para mim.
Solto seu membro com um “ploc” antes de abocanhá-lo
novamente. Michael é enorme e não consigo colocar tudo na boca, o
que sobra eu babo e aliso com a mão bombeando rapidamente.
Seus gemidos se intensificam e o aperto no meu cabelo afrouxa,
indicando que ele está prestes a gozar. Deslizo a língua na cabeça
rosada do seu membro, arranhando com meu dente a sensibilidade
da cabeça do seu pau, eu sei que ele gosta quando faço isso..
O jato quente e salgado invade minha boca, engulo tudo, não
deixando uma gotinha de fora. Limpo seu membro faminta, ansiando
por tê-lo dentro de mim. Subo trilhando beijos pelo tórax do meu
marido até encontrar sua boca, em um beijo faminto Michael agarra
minha bunda, me fazendo sentar em cima dele, apesar de ter
acabado de gozar ainda o sinto um pouco duro embaixo de mim.
Sua boca desliza no meu queixo, mordendo e beijando, ataca
minha garganta enquanto ele me deita na cama. Apesar da fome,
seus movimentos são lentos e delicados. Michael me ama como eu
fiz com ele. Remove minha roupa de dormir de renda, expondo
meus seios para seus olhos apaixonados, brilhando de uma forma
diferente. Ele sorri antes de abaixar o rosto entre o vão dos meus
seios e beijar a minha pele com delicadeza.
Meu coração acelera, sentindo o que está por vir, sua boca se
abre pronto para falar, mas o impeço, impulsionando para cima e
colando meus lábios aos seus. Não suportaria ouvir palavras de
carinho e amor antes dele saber quem eu realmente sou. A
possibilidade de ter o amor na palma da minha mão e dela escapar
pela sujeira do meu passado faz eu tremer com um novo medo.
— Hope — ele fala meu nome carregado de paixão.
— Não — imploro. — Hoje não vamos falar nada, somente
sentir. — Seguro seu maxilar, puxando sua boca para mim,
impedindo que ele consiga pronunciar qualquer palavra.
— Não tenha medo de sentir comigo, Hope — ele pede
carinhoso no meu ouvido. — Receba todo o meu... — Engulo sua
palavra com um beijo desesperado.
Soluço contra seus lábios, ele não precisa dizer, eu consigo
sentir, em cada pequena parte do meu ser o quanto o Michael me
ama. Aperto nossos rostos, sua mão segura meu quadril, me
deitando novamente. Ele beija meu maxilar, encontrando meus
olhos, sua mão desce entre nossos corpos encontrando minha
intimidade pronta para recebê-lo.
Não quero parar de beijá-lo, o puxo novamente para mim,
abrindo as pernas, o recebendo. Grande, grosso e gentil Michael
preenche cada pedacinho do meu ser. Sua pélvis batendo contra a
minha, o peitoral largo sobre o meu, roçando nossas peles conforme
ele entra e sai, os lábios apaixonados grudados nos meus enquanto
devoramos os gemidos um do outro.
O universo para e somos engolidos para um mundo paralelo
em que nada mais existe. Somente eu e o Michael e a dança
apaixonada de nossos corpos se conectando e tornando um só. O
tempo deixa de existir, o prazer inunda cada uma de minhas células,
o azul de seus olhos me encara repleto de carinho e tesão. O hálito
quente bate no meu rosto, uma pequena vibração iniciando no meu
interior, os movimentos que se tornam mais rápidos, firmes, nos
conduzindo para uma explosão de amor.
— Você é minha — ele fala convicto, investindo uma última
vez no meu interior antes de se desmanchar em líquidos.
— E você é meu — sorrio — completamente, eu sou sua —
confesso baixinho inebriada pelo orgasmo, resultado de fazer amor.
— E eu sou totalmente seu. — Ele sorri sapeca antes de me
beijar.
Só mais um pouco, vou aproveitar o Michael e sua paixão
silenciosa enquanto me preparo para romper a promessa que fiz à
minha família e confiar por inteiro no meu marido.
Hope
Michael me leva ao estande de tiro no complexo. Ele diz que
devo aprender a atirar agora que vou voltar a estudar e resolvi fingir
que não sei como usar uma arma. A expectativa de surpreendê-lo
me deixa eufórica. Entramos no estande vazio, ele vai até uma das
cabines e pega uma 9mm normal, me mostra como montar e
desmontar a arma, coloca o pente, engatilha e mira acertando o
alvo.
— O segredo é controlar a sua respiração — diz, me
segurando pela cintura, os braços ao redor dos meus, envolvendo a
arma na minha mão. — Vamos tentar agora, com calma, não precisa
ficar chateada por errar na primeira vez.
— É assim que segura? — pergunto, me fazendo de boba,
mordo meu sorriso, ele atrás de mim não vai conseguir perceber que
estou me divertindo.
— Sim, agora só puxar o gatilho.
De propósito eu erro o alvo. Jogo-me para trás fingindo ter
perdido o equilíbrio com o ricocheteado da arma. Michael me segura
firme em seus braços e sorri no meu pescoço. A brincadeira se
prolonga por mais um tempinho, gosto de como ele fica atencioso
me ensinando a como manejar uma arma.
— Acho que agora você consegue. — Ele se afasta, me
deixando atirar sozinha.
— Estou nervosa — brinco, e ele ri.
— Só manter a calma, aos poucos você pega o jeito.
Querendo que ele fique surpreso com meu desempenho, eu
me aprumo corretamente, miro e atiro, acertando o centro do alvo
com quatro tiros seguidos. Sem deixar a arma ricochetear ou mudar
a minha posição. O som alto das balas cessam e o silêncio se
prolonga atrás de mim. Deixo a arma em cima da mesa e giro,
encontrando meu marido de boca aberta, mordo os lábios animada
por tê-lo surpreendido.
— Uau — ele fala. — Agora eu preciso te foder contra essa
mesa. — Leva a mão ao cinto o retirando. Gargalho alto, feliz com o
meu resultado. — Minha mulher é a porra de uma atiradora sexy. De
quatro, Hope.
— Não vai perguntar como aprendi? — inquiro marota. Ele
prende minha cintura contra a mesa, me girando em seus braços
antes de deitar meu rosto contra a superfície.
— Depois conversamos sobre os detalhes. — Ouço o farfalhar
sua calça. — Caralho de mulher atraente — rosna antes de morder
minha nuca. — O que mais você esconde de mim? — murmura,
levantando meu vestido.
— Sou boa em autodefesa. — Suspiro, a excitação correndo
nas minhas veias.
— Vamos ter uma sessão particular. — Mete o pau na minha
boceta.
O ardor deixa a penetração ainda mais intensa. Sua mão
prende minha nuca enquanto a outra estapeia minha bunda
arrebitada. Por sorte estamos sozinhos e eu aproveito o sexo
selvagem que fazemos rodeados por armas. Michael geme como um
animal, saber que o deixei assim por ser uma mulher forte e capaz
de me defender aumenta minha autoestima, alcançando um novo
patamar de empoderamento.
Eu tenho o mafioso mais temido do mundo na ponta do meu
dedo, e isso é gostoso pra caralho. Gemo como uma cadela,
deixando-o saber o efeito que causa em mim, nossas transas
sempre são alucinantes e acontecem em momentos aleatórios do
nosso dia, enquanto a noite deitamos e fazemos amor, dizendo com
nossos corpos o que a boca ainda não está pronta. Michael tem me
dominado e preenchido cada segundo do meu dia, tornando minha
vida totalmente agitada, feliz e realizada.
— Porra! — ele rosna antes de gozar. — Quero te ver atirar de
novo, vamos com uma arma maior. — Sai de dentro de mim.
— Sou ótima com a sua espada. — Gargalho da minha piada
chula. Michael ri maroto antes de me dar um tapa e pegar um rifle
automático.
Passamos o resto do seu dia de folga no estande de tiro, entre
uma arma e outra eu precisava da ajuda dele. Aprendi a manusear
as menores e também falei para ele sobre meus sutiãs com estoque
de pequenas lâminas nos bojos e que precisava de novos. Ele gostou
da ideia de tirar meu sutiã mais do que o colocar, mas no fim pediu
que eu mandasse fazer alguns para a sua irmã, também.
Retornamos para casa e nossa rotina segue. Na próxima
semana vou voltar a estudar, minha segurança está mais rígida do
que nunca, mas é um preço pequeno a pagar para conseguir fazer o
que eu quero. É a primeira vez que me sinto completamente livre,
mesmo rodeada de seguranças. Os dias continuam voando e quando
percebo estou entrando na NYU como a mais nova aluna de
medicina, as aulas são puxadas e quando o dia termina tudo o que
quero é ir para casa e aproveitar meu marido.
No carro ligo para ele, Michael fala que vai ficar no escritório
até mais tarde, não suporto a ansiedade para contar para ele como
foi meu primeiro dia de aula, por isso mando que Zayn me leve ao
prédio da empresa onde sei que ele está. Evito ir a seu escritório nas
boates de prostituição, não gosto de chegar perto desses lugares e
me limito a vir à empresa oficial do meu marido.
Subo para o seu andar e cumprimento seu secretário que me
informa que o Michael está em reunião com o prefeito. Sento-me na
recepção e fico mexendo no meu celular, a hora se arrasta e nada do
meu maridinho aparecer. Já estou quase indo para casa quando a
porta se abre e o prefeito sai seguido pelo homem que domina meus
pensamentos.
— Senhora Bianchi, que prazer te encontrar aqui — o prefeito
me cumprimenta com um aperto de mãos.
— O prazer é meu, senhor prefeito.
— Sua mulher continua linda — ele fala para o Michael que
arqueia a sobrancelha. — Nos vemos na próxima reunião.
— Até mais — meu marido responde antes de me puxar pela
cintura para entrar na sua sala. — Achei que nos encontraríamos em
casa — ele fala.
— Faz a pergunta que eu sempre te faço — peço animada,
rodeando seu pescoço com os braços.
— Como foi o seu dia, querida? — indaga com um sorriso
tranquilo.
— Maravilhoso!
Como uma metralhadora começo a narrar para o Michael cada
segundo das minhas aulas e as pessoas da turma. Apesar de ter uns
10 seguranças, ainda consegui conversar com as meninas que não
sabem que alguns dos alunos homens são para fazer a minha
proteção. Ele precisa me arrastar para fora do escritório para
podermos ir jantar em um restaurante.
Amo como ele escuta cada uma das minhas palavras e faz
perguntas pertinentes, interessado. Uma das coisas que eu mais
tinha medo ao me casar era ser impedida de estudar e viver
trancada dentro de casa, mas hoje eu vivi uma das melhores
experiências em uma universidade fantástica para no final do dia
poder ver o sorriso relaxado do meu marido me escutando
atentamente.
Michael pegou cada um dos meus medos e os transformou em
esperança e dias melhores. Acabaram todas as minhas reservas e
medos, estou pronta para ser verdadeiramente dele.
— Vamos dar um passeio de moto — ele diz quando
chegamos em casa.
— É seguro? — Franzo a testa, embora eu o veja sair bastante
na sua moto, nunca fui com ele.
— Completamente, quero te mostrar uma coisa. — Sapeca um
selinho nos meus lábios antes de me levar para a garagem.
Michael tem umas três motos de corrida, enormes
estacionadas na garagem ao lado de seus carros. Nunca fui muito
chegada em pilotar, prefiro deixar que outra pessoa faça isso e andar
de moto me dá a sensação de que vou cair na primeira curva. Zayn
entra trazendo duas jaquetas, uma para o Michael e outra para mim.
— Avisa ao Trent que estamos saindo, quero dois na frente e
dois atrás, ele sabe para onde iremos.
— Onde estamos indo? — pergunto, vestindo a jaqueta.
— Surpresa — ele fala, colocando o capacete na minha
cabeça. — É a prova de balas, assim como a jaqueta, certifique-se
de mantê-la bem fechada. — Passa o zíper da peça.
Michael sobe e faço o mesmo, seguro na sua cintura com
força. A porta da garagem abre e ele dá a partida. A moto tem um
som suave enquanto meu marido dirige rápido pelas ruas de Nova
Iorque. Ver a cidade através de uma moto é diferente de quando
fazemos o caminho de carro. Sinto como se estivesse fazendo parte
da pista, o vento forte batendo contra meus braços e jogando meus
cabelos como lâminas ricocheteando na minha jaqueta.
Aos poucos as luzes da cidade ficam para trás e entramos pela
interestadual movimentada. Vejo os carros que fazem a nossa
segurança à frente e atrás, alguns de lado, impedindo que outros
veículos se aproximem. Estamos cortando a estrada como um raio,
intocáveis por qualquer um. As estrelas ganham um brilho forte
conforme subimos uma serra, não sei qual é o nosso destino, mas
eu amo a sensação que essa viagem traz.
Ficamos sozinhos na pista, a moto vai perdendo a aceleração
aos poucos, meu peito se enche de liberdade e eu tenho vontade de
gritar e abrir os braços como se pudesse voar solta pelo céu
noturno. Com tremedeiras nas mãos, eu vou voltando à cintura do
Michael. Ele gira o rosto para trás, e eu rio, incapaz de ver seus
olhos através da viseira negra do capacete.
— Eu quero voar! — grito acima do som do vento forte.
— Então abre os braços — ele instrui.
A moto encontra um ritmo estável e seguro, solto a cintura do
Michael, tremo um pouco batendo contra suas costas. Inspiro fundo,
confiando que meu marido não me deixará cair, que eu posso abrir
os braços e voar livre como um pássaro. Hesitante e tomando
cuidado ao me equilibrar, eu abro os braços, o peito eufórico ao
sentir o vento batendo na ponta da minha mão aos ombros.
Desencosto do Michael, inclinando a cabeça para trás, visualizando o
lindo céu estrelado sobre a minha cabeça.
Abro a boca gritando como nunca antes, liberando a felicidade
que explode em meu peito pelos últimos meses em que eu tenho
descoberto a mim mesma e ao amor. Em como a confiança pode ser
poderosa e libertar uma alma presa, grito enquanto meus olhos
banham em lágrimas, felizes visualizando as estrelas que assumem
formas borradas. Eu me sinto parte do universo, como se nada
pudesse me tocar enquanto eu o tiver ao meu lado.
Gargalho como uma louca, grito até a garganta começa a doer
e quando a felicidade não cabe mais dentro do meu peito eu abraço
o tronco do Michael, apoiando o capacete em seu ombro,
compartilhando com ele o meu riso, a minha felicidade, o fim das
algemas que prendiam o meu espírito. Hoje, mais do que nunca, eu
me sinto dele e isso me trouxe à vida e ao desejo ardente por um
futuro em que seremos capazes de ter tudo o que sonhamos.
A moto para silenciosamente, os carros que fazem nossa
proteção se mantêm distantes enquanto os soldados examinam o
perímetro. Meu amado desliga a moto, a apoiando no cavalete de
descanso antes de retirar seu capacete, colocando no retrovisor.
Segura a trava de segurança do meu, o removendo também. Sorrio
para ele até sentir as bochechas ardendo e que a minha felicidade
toca em sua pele.
Nunca vi o Michael sorrir como agora, os dentes brancos
amplamente à mostra, as bochechas pressionando a parte baixa dos
olhos, enquanto suas íris azuis escurecidas pela noite parecem
banhadas em felicidade. Seguro seu pescoço, ele agarra minha
cintura me girando em cima da moto, fazendo com que minha
bunda fique contra o tanque e meu tronco colado ao seu. Inspiro
seu cheiro quente e beijo seus lábios, transmitindo para ele os
sentimentos poderosos que me tomaram.
— Vamos para casa — peço a ele, a necessidade de dizer que
o amo consome meus pensamentos, mas só vou conseguir ser
sincera depois de falar a verdade sobre mim.
— Ainda não chegamos ao nosso destino — ele fala maroto,
sem imaginar o monte de coisa presa no meu peito.
— Não, Michael — encosto nossas testas —, eu quero ir para
a nossa casa e poder te contar o meu segredo.
— Tem certeza? — Ele não esconde o alívio por saber que
estou pronta para isso.
— Muita. — Aceno repetidas vezes, a voz embargando. — Eu
quero compartilhar cada pedaço da minha alma com você.
— Certo — responde ansioso. — Levaremos uma hora para
chegar em casa e meia hora para o chalé que tenho no topo da
serra, tem certeza de que quer voltar para a mansão?
— Casa, depois você me mima no chalé. — Inspiro o ar
gelado da noite. — Preciso do conforto do nosso lar — peço,
encarando seus olhos azuis repletos de compreensão.
— Segure firme. — Beija meus lábios antes de me girar como
uma boneca, me fazendo sentar atrás dele. Michael leva a mão ao
ouvido. — Estamos voltando para a mansão — avisa aos seguranças
que entram novamente nos carros.
Sem perder mais tempo, fazemos o caminho reverso. Eu
tenho ciência de que posso estar perdendo uma noite fantástica de
amor no chalé no topo da serra que subíamos, mas nesse segundo
tudo o que eu preciso é do Michael e da nossa casa. O lugar para o
qual retornamos e nos sentimos seguros, tomei uma decisão que
afetará toda a minha família e embora não exista mais o medo do
Michael me machucar ou a alguém que eu amo, preciso do conforto
que impregnamos em cada uma daquelas paredes ao longo do
quase um ano que estamos juntos.
Fazemos o caminho de volta em menos de quarenta minutos.
Entramos na garagem e desço da moto com as pernas bambas e a
coluna travada em gelo. A ansiedade pelo que estou prestes a fazer
treme meus dedos ao tentar retirar a trava de segurança do
capacete. Michael para na minha frente, segura minha mão e leva
aos seus lábios, ele já removeu o capacete e jaqueta.
— Calma, respira devagar — pede, removendo a trava e me
livrando da peça. — Estamos em casa, tudo bem, certo?
— Sim. — Aceno em positivo, hipnotizada por seus olhos
azuis.
— Se apoia em mim. — Seus braços rodeiam meus joelhos e
cintura, ele me carrega.
Fixo o olhar no seu enquanto vamos para o elevador, subimos
para o nosso andar. Na proteção das paredes do nosso quarto
Michael me senta na cama e retira minha jaqueta, seus lábios
mornos tocam minha têmpora. Agarro sua cintura, pressionando
contra seus lábios, a tristeza de ter que reviver momentos dolorosos
travando a minha garganta.
— Eu sou uma bastarda — digo a frase baixo com tremor na
voz, sem saber se ele pode me ouvir.
Sua mão aperta meus ombros, me puxando mais para si.
— Eu descobri quando tinha quatro anos. Acordei na manhã
do meu aniversário com a minha mãe me enforcando e gritando que
eu era uma bastarda fruto de um estupro. — Soluço, a dor que eu
nunca esqueci rasgando meu peito. Finco as unhas na camisa do
Michael. — Nos anos seguintes em todos os meus aniversários ela
me atacava repetindo o quanto odiava meu verdadeiro pai e o que
ele fez com ela, que odiava a mim por ter nascido.
— Hope. — A voz dele treme. Sua mão puxa meu rosto,
tentando me fazer encará-lo, mas não deixo, me escondo no seu
peito chorando a dor de 16 anos.
— Se você falar algo eu não vou conseguir terminar de contar.
— Soluço, tremendo. — Deixa eu contar tudo, tá?
— Me agarra até a dor passar — ele pede, me colocando em
seu colo, beijando o topo da minha cabeça enquanto choro contra a
sua camisa.
— No primeiro ataque, eu demorei para conseguir entender o
que bastarda e estupro significavam. Fiquei com medo da minha
mãe, mas nos dias seguintes ela chorava pedindo perdão e dizendo
que me amava, eu a perdoava, todas as vezes. Até que cresci e o
medo de morrer e de comemorar meu aniversário foi ficando
insuportável. Somente quando completei 12 anos que meu pai me
explicou quem eu realmente era e traçou meu destino como
intocável.
Hope
Aos 12 anos

É amanhã, vou completar 12 anos e a mamãe vai me


machucar. Tremo escondida dentro do closet, ela desapareceu e
meus irmãos e pai não conseguem encontrá-la. Eu acho que ela
deve ter se escondido na casa da minha tia ou o papai a levou para
longe para que ela não possa me machucar. Mas nunca adianta, ela
sempre consegue me encontrar.
Eu não consigo entender como a mamãe pode tentar me ferir
nos meus aniversários, sempre me chamando de bastarda e dizendo
que fui fruto de um estupro. Já tentei descobrir o que essas palavras
significam, mas ninguém me conta e o papai me proibiu de falar ela
com os nossos familiares ou seria punida. Eu não quero ser punida,
não aguento mais a mamãe me machucando.
Levo a mão à minha barriga, a fome por ficar escondida por
horas me atormenta, mas tenho medo de sair e encontrar a mamãe
pela casa. Faltam poucas horas para a meia-noite, eu sei que ela vai
aparecer de algum lugar. Preciso sair daqui e encontrar outro
esconderijo, um que ela não conheça. Se eu sobreviver ao dia de
amanhã ela vai voltar a ser carinhosa e não precisarei me preocupar.
Ano passado a mamãe fugiu dos braços do pai enquanto ele a
mantinha presa no quarto, ela me encontrou no quarto do Black,
bateu nele com um taco de baseball e depois em mim. O papai foi
rápido a segurando, mas ela ainda machucou a minha perna, fiquei
duas semanas com um roxo e sem andar direito.
O papai é mole com a mamãe, ele não consegue machucá-la
ou usar amarras para prendê-la. Ela sempre grita com ele, o
chamando de Benjamin. Eu vejo como meu pai fica quando é
chamado por esse nome, é como se ele também fosse espancado
pela mamãe. Não sei quem é o Benjamin, mas deve ter sido um
homem mau para deixar minha mãe aterrorizada e meu pai abalado.
É por isso que ela sempre consegue escapar. Se ela bater no
meu pai ou irmãos eles não vão revidar. Se ela chegar até mim, ela
me machuca por tempo o suficiente para eles reagirem. O Black
tenta me proteger, mas ele fica sensível quando a mamãe fala que a
culpa é dele, que ele não a protegeu. O Steve às vezes parece que
entende o que ela fala também, todos eles ficam magoados por
causa das palavras dela, mas é somente a mim que ela tenta matar.
Eu não aguento mais fazer a minha mãe sofrer. Ela me
machuca, mas dói nela também, eu vejo as lágrimas em seus olhos
e como me pede perdão no dia seguinte. Não consigo mais
continuar vivendo dessa forma, por isso, eu decidi que vou dar um
fim ao sofrimento da minha mãe, enquanto todos a procuram, eu
me escondi no quarto há três dias, não bebi e nem comi nada, uma
hora a dor deve passar e o sofrimento dela vai acabar.
Eu só preciso desaparecer.
— Hope. — Escuto a voz do meu pai.
Tampo a boca, ele não pode me achar aqui, o papai vai tentar
me proteger, mas se fizer isso vou continuar magoando a mamãe e
eu não quero mais fazê-la sofrer por minha causa.
— Querida, apareça, por favor.
Fico quietinha, ouço os passos dele pela casa, ele se aproxima
do closet, abre as portas e as roupas acima da minha cabeça se
afastam para os lados. Encontro meu pai com a cara preocupada.
Ele suspira antes de se sentar de frente para mim.
— O que faz aqui, pequena?
— Escondendo — digo, a voz rouca e os lábios secos pela
sede.
— Hope — ele segura meu rosto —, há quanto tempo você
está aqui? — Puxa-me para si analisando meu rosto. Dou de
ombros, sem querer responder, o corpo cansado. — Ei, olha para
mim. — Sua mão dá batidinhas nas minhas bochechas, durmo no
colo do papai.
Acordo sentindo uma picada no braço. Vejo o médico
colocando uma seringa na minha mão, sigo o tubo longo
encontrando um soro acima da minha cabeça. Meu pai tem uma
expressão preocupada enquanto me analisa. O médico vai embora e
ficamos sozinhos, ele senta na ponta da cama, me encarando triste.
— Você não estava comendo, por quê?
— Se eu morresse a mamãe não iria mais sofrer — confesso,
o choro preso na garganta.
— Nunca mais diga isso — ele pede, me puxando para si.
— Eu não consigo entender, por qual motivo a mamãe me
odeia? — Lágrimas grossas descem por minha bochecha. — Eu não
aguento mais, papai, por favor, acaba com meu sofrimento.
— Você está louca?! — Ele segura meus ombros me
sacudindo. Choro mais ainda por tê-lo machucado. Eu deveria ter
encontrado um lugar melhor. — Nunca mais faça isso, está me
ouvindo?
— Me conta a verdade, papai, por que a mamãe me chama de
bastarda e diz que sou fruto de estupro?
— Você ainda é muito nova, não entenderia.
O relógio bate indicando que já é meia-noite. Tremo,
empurrando-o para trás, encaro a porta do meu quarto o medo
tornando difícil respirar. Ela está vindo, vai acabar comigo. Vou
magoar novamente a minha família. Encolho o peito contra os
joelhos chorando até não conseguir mais ouvir a minha voz com a
garganta rouca. Meu pai me abraça contra seu corpo, lágrimas
deixam seus olhos e o sofrimento dele me machuca.
— Eu não deveria ter nascido — digo as palavras da mamãe.
— Só trouxe sofrimento.
— Isso não é verdade, você é a minha menina — ele fala,
beijando minha cabeça, mas não adianta, nada consegue apagar a
dor no meu peito.
— Eu vou desaparecer, papai, prometo que vai parar de doer.
— Não, Hope! — Ele segura meu rosto me forçando a encará-
lo. — Você não pode morrer, está me ouvindo? Você é a minha filha
e eu te amo.
— Ela não é sua filha. — A voz gélida da minha mãe soa da
parede, giro o rosto a encontrando saindo de uma passagem
secreta, eu não sabia que tinha uma aqui.
— Kennedy! — ele grita com ela me soltando e correndo na
sua direção.
— Você não é filha do Bartolomeu, sua bastarda! — berra.
— O quê? — pergunto, encarando meu pai que tampa a boca
da minha mãe. É evidente o desespero em seu rosto ao me encarar.
— Hope, não é verdade, sua mãe está desequilibrada.
No entanto, ela não estava desequilibrada. Ela sabia o que
estava fazendo, eu vejo a faca em sua mão saindo de trás dela.
Papai não nota o objeto afiado e mamãe enfia a lâmina na coxa dele
sem nem mesmo piscar ou encará-lo. Ele grita, ela retira a faca e
acerta seu estômago. Meu pai não consegue fazer nada além de
encará-la enquanto cai no chão. Ela derrama uma lágrima ao
caminhar até mim.
Ela vai me matar.
Paraliso, se ela me acertar com a faca tudo acaba, meu pai
não vai correr mais riscos, meus irmãos pararão de sofrer e a
mamãe não vai mais chorar ou tentar me machucar. Se ela me
acertar será o fim de todo o sofrimento. Fico quietinha, esperando
que ela chegue até mim. Sua mão manchada de sangue agarra
meus cabelos, os olhos fixos nos meus, ela levanta o braço com a
faca fincando a lâmina na minha barriga.
Grito, choro, a dor cortante, meu corpo queima e sinto que
vou desmaiar.
— Você nunca foi filha do Bartolomeu, seu verdadeiro pai me
estuprou e me engravidou de você. Eu te odeio por se parecer com
o Benjamin. Você sente dor, Hope? Foi isso que eu senti enquanto
ele enfiava o pau na minha vagina, me rasgando em duas para gerar
você. Você nunca foi a minha esperança, mas o meu tormento.
— Desculpa, mamãe — peço, tossindo sangue. — Me perdoa.
— Nunca. — Gira a faca na minha barriga.
Desmaio caindo nos braços da morte. Pelo menos agora
ninguém mais vai sofrer por minha causa.
Acordo sentindo meu corpo dormente. Um bipe irritante, abro
os olhos devagar me acostumando com a claridade, o teto branco,
será que estou no céu? Giro o pescoço sentindo dor, encontro minha
mãe sentada em uma cadeira, de cabeça baixa dormindo. As
lembranças do que aconteceu rondando minha mente como um
pesadelo.
Encolho-me fingindo dormir novamente, que dia é hoje? Ela
vai me machucar? O bipe aumenta, ouço a porta abrindo, travo com
medo em cada parte do meu corpo. Uma mão toca a minha cabeça,
e eu grito.
— Hope, sou eu, se acalma meu amor. — É a voz do meu pai.
Lembranças da minha mãe dizendo que ele não é meu pai
reverberam na minha cabeça como uma música que nunca chega ao
fim. Choro inconsolável, se ele não é meu pai, quem é? É por causa
disso que a mamãe me odeia? Grito em um choro desesperado, uma
dor pior do que a física machucando meu coração, doendo tanto que
eu quero arrancar meu peito fora.
— Hope, meu amor. — A voz da minha mãe, sinto seu toque
no meu braço e me encolho, eu não aguento mais ser machucada.
— Querida, por favor, olha para mim, está tudo bem, a mamãe
voltou ao normal.
Não importa, ela pode ser a mamãe boazinha hoje e no meu
próximo aniversário voltar a ser a malvada que me machuca e diz
que meu pai não é meu pai.
— Ela está muito agitada, vou aplicar um calmante — alguém
fala.
Não sinto nada ser espetado em mim, mas meus sentidos vão
ficando mais lentos, a cabeça pesada, não consigo mais chorar. Abro
parcamente os olhos, encontrando minha mãe, pai e um homem
vestido de branco. Apago novamente. Os dias seguintes são
repetições de tempestades de medo, que só pioram quando meu pai
tem que ir embora. Sou sedada ou entro em surto.
Não sei quanto tempo se passa, mas finalmente consigo
acordar e não ficar agitada ou chorando. Uma estranha calmaria se
apossa do meu peito. Não converso com ninguém, como e bebo a
água que me dão. Meus irmãos tentam me fazer falar, mas não
quero ouvir o som da minha voz, quando meu pai retorna, eu sou
levada para casa. Meu quarto me assusta, me recuso a entrar nele e
vou com o Black para o seu quarto.
— Querida, precisamos conversar — meu pai diz. — Se eu te
contar toda a verdade, promete que vai entender e voltar a falar
com a gente? Você já está há seis meses desse jeito, Hope, por
favor, volta para mim — ele pede, mas não consigo reagir às suas
palavras.
— Você não é o meu pai? — pergunto ainda me sentindo
dormente.
— Sou sim — ele segura minha mão —, fui eu quem te criou e
te amou desde o segundo em que soubemos que você existia.
Somente eu sou seu pai — me puxa para ele —, mas existe algo que
você não sabe, vou te contar a verdade por trás dos surtos da sua
mãe para que você não se culpe mais. Podemos superar isso juntos,
minha menina, confia em mim?
— Qual a verdade?
— Eu tinha um irmão, ele se chamava Benjamin, éramos
gêmeos idênticos e o Benjamin sempre quis tudo o que eu tinha.
Almejava a minha posição e a minha família — ele alisa minha
bochecha —, ele queria vocês para ele. Apesar de brigarmos
constantemente, ele ainda era parte da família, um dia enquanto eu
estava em missão o Benjamin buscou sua mãe e o Black na clínica
em que seu irmão tinha ido se consultar, na época o Steve, que
ainda era uma criança estava na casa da sua avó.
Ele fica em silêncio, por mais que eu queira saber a verdade,
fico calada. Não sei mais se algo importa, o homem à minha frente
não é o meu verdadeiro pai. Será que é por isso que ele deixava a
mamãe me machucar? Ele levou uma facada por mim, como posso
ser capaz de pensar isso?
Pressiono a mão nos olhos, cansada de chorar, o desespero
consumindo meu peito. É quase impossível de respirar, não sei mais
se quero ouvir o que ele tem a dizer. Deito-me, escondendo o rosto
no travesseiro, sinto que se ele não falar agora eu nunca mais
saberei a verdade.
— Os adultos costumam fazer uma coisa chamada sexo,
quando estamos pelados e gostamos da outra pessoa — ele pausa
—, mas também usam o sexo para machucar. O Benjamin se
aproveitou que o Black só tinha 14 anos e estava doente e o levou
junto da Kennedy para a casa dele, trancou seu irmão e prendeu sua
mãe na cama. Ele usou o sexo, ferindo o corpo da sua mãe.
— Foi assim... — soluço contra o travesseiro — que eu nasci?
— Não sei se entendo direito o que o meu pai quer dizer. Mas se a
mamãe foi machucada enquanto estava pelada isso deve feri-la até
hoje.
— Sim, é através do sexo que os bebês nascem. Mas como eu
e sua mãe também fazíamos sexo existia a possibilidade da bebê
que ela esperava ser minha.
— Você machucava a mamãe? — pergunto, o encarando.
— Não, Hope, nunca causei dor na Kennedy. O que eu e ela
temos é amor, um pelo outro e por nossa família.
— A mamãe não me ama.
— Ama sim. — Puxa-me para seu peito. — Quando
descobrimos a gravidez sua mãe acreditava que você era minha filha
biológica e se agarrou à esperança de que isso fosse verdade para
conseguir superar a dor causada pelo Benjamin.
— A mamãe nunca teve medo de você?
— Nos primeiros seis meses ela teve medo de tudo, mas
depois foi se acalmando. Antes dos surtos acontecerem, a Kennedy
conseguia se manter sã ao estar comigo e vocês, pois ela sabia que
eu não era o Benjamin. Ela sempre conseguiu nos diferenciar, fazia
isso melhor que a minha mãe. A Kennedy dizia que o nosso andar
era diferente um do outro, a forma como entoávamos as palavras, e
segundo ela, como a olhávamos. Ela sempre sentia o amor que
tenho por ela e nossa família quando nossos olhares se cruzam.
— Quando ela mudou?
— O Benjamin a machucou e fugiu, passou quatro anos se
escondendo de mim, pois sabia que eu o mataria no segundo em
que colocasse minhas mãos nele.
— Quatro anos? — pergunto, lembrando da primeira vez que
a mamãe me atacou. — Foi quando ela começou a me machucar,
nos meus aniversários.
— Sim, eu encontrei o Benjamin apenas quatro anos depois
do ataque à sua mãe, revirei cada lugar do mundo até encontrá-lo
na Argentina. Ninguém da organização podia saber o que o
Benjamin fez ou você e sua mãe estariam em perigo, eu precisava
mantê-las segura enquanto caçava o Benjamin sozinho. Demorou
mais do que deveria, mas eu o achei e o trouxe para o porão. Onde
o amarrei e o torturei, o fazendo sofrer por machucar a sua mãe. A
Kennedy sempre foi forte, ela tinha a certeza de que você era minha
biologicamente e quando eu trouxe o Benjamin para ser punido ela o
enfrentou. Foi quando ela descobriu a verdade.
— Como? — Encaro-o, confusa. Não sei se consigo entender
tudo o que o papai fala, mas compreendo que a mamãe foi
machucada e que eu nasci disso.
— Enquanto eu o torturava, sua mãe entrou no porão,
ninguém podia saber o que o Benjamin fez com ela ou ela seria vista
como desonrada e eu seria um fraco. Por isso mantivemos tudo em
segredo, mas no segundo em que sua mãe ficou cara a cara com ele
ela travou. Aproximou-se do Benjamin, segurou o rosto dele e puxou
a pálpebra de baixo encontrando um pequeno sinal no olho
esquerdo que só é visível se você puxá-la.
— Eu tenho esse sinal. — Encaro a realidade que faz meu
mundo desabar.
— Foi nesse momento que os surtos começaram. Ela
consegue se manter bem o ano inteiro, mas quando lembra do
abuso e te ver no seu aniversário, sabendo que biologicamente você
é do Benjamin ela surta e só quer o ferir através de você. A Kennedy
sabe que se for descoberto que ela teve um filho com outro homem,
independentemente das circunstâncias ela seria punida pela
organização, eu seria morto por esconder uma bastarda, a
assumindo como minha e você seria jogada nos bordéis, lugares em
que mulheres são feridas com o sexo.
Ele me aperta forte contra seu corpo. Tento encarar meu pai
com o mesmo encanto que eu tinha antes, mas não consigo. A
verdade desaguando diante dos meus olhos racha minha cabeça em
duas. Eu sou fruto de um estupro, agora consigo compreender as
palavras da minha mãe, não sou filha do meu pai. O choro irrompe
como um tornado em meu peito, rasgando a vida que eu conhecia.
Eu só nasci trazendo dor à minha família, causando a
destruição de um lar que antes tinha amor. Magoando a minha mãe,
meu verdadeiro pai é um monstro, eu mereço cada um dos ataques
que minha mãe fez, ela deveria ter conseguido me matar para poder
se livrar de mim. A fonte de toda a sua alma ferida.
Minha mãe nunca foi a culpada, mas a vítima. Somente eu
deveria ser punida, machucada e torturada. Minha existência deveria
ter se findado quando eu tinha quatro anos, de que adianta
continuar vivendo uma vida em que só causo destruição? Meus
irmãos vivem com medo, o Bartolomeu não é meu pai e teve de me
aturar em sua vida sabendo a dor que causo na mulher que ele ama.
Eu quero sumir e nunca mais ser capaz de abrir os olhos.
Hope
Aos 14 anos

Eu continuei perguntando, queria saber o quão perverso


Benjamin tinha sido com a minha família e todo o mal que ele tinha
causado. Não importava mais se o Bartolomeu matou o irmão e
espalhou seus pedaços pelo mundo para que sua alma não tivesse
descanso.
Não faz diferença se minha mãe começou a fazer terapia para
se curar e não continuar me machucando em todos os meus
aniversários. Tudo o que eu acreditava ruiu diante dos meus olhos
quando eu tinha 12 anos. E agora eu realmente consigo
compreender o que um estupro significa, quanta dor foi causada na
alma da minha mãe.
Em um mês será meu aniversário de 15 anos, vou ser
apresentada como filha do Bartolomeu em meu baile de debutante,
somente mais uma mentira contada para manter a fachada de
família feliz. Ela vai dar um jeito de vir me matar, como sempre faz,
não importa quantas passagens secretas o Bartolomeu mande
tampar, a Kennedy sempre vai conseguir se libertar.
Eu não consigo mais chamá-lo de pai.
Sinto que o estou punindo com a minha existência, fazendo-o
lembrar do irmão que destruiu a sua família. Meus irmãos tentam
me fazer voltar a sorrir, mas eu me recuso, não consigo encontrar
felicidade no mundo. Eu só queria dormir e nunca mais acordar.
Enquanto vivo uma farsa todos os dias, tentando não causar
problemas a eles.
Estou determinada a libertar a todos da minha família hoje,
vou dar um fim a minha vida enquanto eles dormem, nunca mais
precisarão se preocupar com a Kennedy chorando arrependida ou
lembrando de quando foi abusada. Os dias de sofrimento de todos
chegará ao fim.
Caminho sobre a ponta dos pés, tentando não chamar a
atenção de ninguém. Eu vivi os últimos anos como minha mãe
mandava, fazendo tudo que ela pedia na tentativa de não a
aborrecer. Não derramei uma única lágrima na frente de nenhum
deles, embora não conseguisse mais ser feliz. A dor só crescia,
quanto mais eu me afasto deles, pior é respirar. Não vou mais
continuar assim.
Giro a maçaneta da porta do porão entrando com cuidado,
todos estão dormindo e os guardas estão fazendo a ronda no lado
de fora. Caminho até a mesa do meu pai e abro a gaveta pegando a
arma. Minha mão treme e as lágrimas inundam a minha visão. Eu
não queria fazer isso, mas não suporto mais continuar causando dor.
Encosto o cano da arma na minha garganta, fecho os olhos
inspirando fundo, posiciono o dedo no gatilho. Que minha morte
seja capaz de te libertar, me perdoe, mamãe, me desculpe, papai,
adeus, Black e Steve. Aperto os olhos, sentindo uma dor rascante no
corpo. Puxo o gatilho ouvindo um click.
— NÃO! — O grito ecoa alto, abro os olhos me assustando, a
arma cai da minha mão quando pulo.
Minha mãe corre na minha direção, segura minhas mãos
contra seu peito e me aperta contra ela. Soluço, eu não consegui e
agora vou continuar ferindo-a.
— Nunca mais faça isso, Hope! — ela grita comigo, segurando
minha cabeça.
— Deixa eu ir, por favor — imploro. — Se eu sumir você não
vai mais sentir dor, o Bartolomeu também não terá mais de se
preocupar em sermos descobertos, tudo vai acabar se eu morrer.
— Se você se matar eu me mato. — Ela pega a arma, prende
entre nossos dedos e aponta na sua barriga. — No segundo em que
você fizer isso eu vou também.
— Eu só te machuco — desabo, solto o metal da arma. —
Você seria mais feliz se não fosse por mim.
— Não é verdade. — Ela larga a arma, segurando meu rosto.
— Eu sou uma fodida da cabeça que machuca a pessoa que eu mais
amo no mundo. Mas entenda com cuidado, Hope. — Força-me a
encarar seus olhos. — Eu amo você e é por sua causa que tenho
procurado tratamento. Eu deveria ter falado isso há mais tempo,
sido sincera e não ter deixado você se machucar, mas acabou. Não
me importo mais se seu pai me proibiu de te contar, você já tem 14
anos e precisa entender o que vou dizer, me ouviu?
— Desculpa, mãe — soluço.
— Não, meu amor, eu que tenho de me desculpar. — Puxa-me
contra seu peito. — Eu tentava engravidar quando fui estuprada pelo
Benjamin e a possibilidade de você ser do Bartolomeu foi a única
coisa que me deu esperança para continuar viva e cuidando da
nossa família. Você, meu anjinho, foi a minha Hope. Contudo, o
estupro quebrou a minha mente e eu só entendi isso com a terapia,
enquanto eu me apoiava em você ignorava toda a dor no meu peito.
Encolho a cabeça contra meu peito, não suportando ouvir
novamente sobre o abuso. As palavras do meu pai nunca saíram da
minha mente e o cenário da minha mãe sendo abusada se construiu
nitidamente nos meus olhos.
— Quando fiquei cara a cara com o Benjamin e vi o sinal eu
tive a barreira que me mantinha firme quebrada. Apesar de você ser
biologicamente do Benjamin, foi o Bartolomeu que te criou e amou
cada segundo da sua vida. Ele e somente ele é o seu pai. Mas na
minha mente perturbada eu não consigo ver você no seu
aniversário, somente o Benjamin, por isso eu te machuco. Entro em
transe, mas meu alvo nunca foi você, Hope, mas o fantasma que eu
continuo vendo.
— Eu não entendo. — Franzo a testa com dificuldades para
digerir suas palavras.
— Eu tenho estresse pós-traumático que me faz alucinar e
confundir as pessoas ao meu redor. Por eu ter descoberto a verdade
no seu aniversário, a data se transformou em um gatilho que me faz
alucinar e perder a noção da realidade. Mas eu nunca quis atacar
você. — Alisa meu rosto. — Em meus surtos, se eu machucar o
Benjamin ele nunca poderá contar a verdade a você, não consigo
me lembrar do que eu falo, mas recordo a forte sensação de que
preciso proteger a minha família.
— Isso não faz sentido, mãe. — Soluço.
— Não, não faz o menor sentido para vocês. Mas é dessa
forma que a minha mente perturbada funciona e por isso que estou
me tratando, mas a marca que ele deixou aqui — toca o peito — foi
muito forte e eu não consigo superar sozinha. Por isso eu te peço,
meu amor, me perdoa por ser uma fraca incapaz de te proteger de
mim mesma. — Puxa minha cabeça me beijando. — Eu sou uma
péssima mãe, mas eu juro que te amo com a minha vida e que dói
em mim mais do que em qualquer pessoa te machucar.
— Como eu posso te ajudar? — pergunto, se eu sou o
problema, talvez eu possa ser a solução.
— Você me ajuda só em existir.
— Não é verdade, você continua tendo surtos.
— Eu ainda não estou bem, mas sei que vou conseguir
superar essa dor de anos e parar de te maltratar. Eu te amo, Hope,
seu pai te ama com a vida dele e nunca seríamos capazes de te
deixar se machucar. A culpa não é sua pelo que aconteceu, o único
culpado está morto, mas você precisa ser forte e acreditar com seu
coração que eu te amo.
— Eu só quero que a dor suma.
— Ela vai, você é uma boa menina e mais forte do que eu
jamais fui capaz de ser.
— E se descobrirem que não sou filha do Bartolomeu?
— Não existe essa possibilidade. Um exame de DNA apontaria
que você é dele por seu pai e o Benjamin serem gêmeos idênticos.
Somente nós cinco sabemos a verdade e ela será enterrada com a
nossa família. Você é e sempre será filha de Bartolomeu Bonnarro e
nada mudará isso, minha menina de sangue italiano como o meu,
pura, nascida do amor. É isso que eu acredito e você vai acreditar
também. Eu posso ter sido estuprada, mas foi o amor do seu pai
durante a gravidez que me deu forças para te aceitar e amar como a
nossa filha.
— Eu realmente posso chamar o Bartolomeu de pai? —
choramingo, a dor que mais tem me atormentado, saber que o
homem que eu amo desde criança e que sempre me fez sentir
protegida não era meu verdadeiro pai.
— Eu sou seu pai. — A voz grave soa do alto da escada.
Ele desce com lágrimas grossas saindo dos olhos verdes
idênticos aos meus. Eu tenho tanto dele e ao mesmo tempo não
tenho nada. Seria realmente capaz de fazer meu coração aceitar a
verdade e ainda assim me permitir amar a minha família como era
antes de tudo desmoronar?
— E isso nunca vai mudar — ele me puxa para seu colo —, eu
vou proteger a nossa família a qualquer custo, Hope, nunca vou
deixar que te machuquem e você sempre vai ser a minha filha,
entendeu? Você é minha e nada mudará isso.
— Papai... — Soluço, a dor irradiando como uma queimadura.
Escondo o rosto na curva do seu pescoço, me agarrando a ele como
se pudesse nos fundir. O coração sangrando despedaçado. — Como
eu posso nos proteger? Eu prometo que farei qualquer coisa por
nossa família.
— Continue sendo uma boa menina, nunca conte a verdade
para ninguém. Eu te prometo minha menina que vou te manter em
segurança.
— Você nunca poderá casar — minha mãe fala, a encaro com
lágrimas manchando a visão. — Ter filhos é arriscado, amar alguém
e confiar, pensar que pode contar a verdade quando você não pode.
Nos prometa, Hope, você nunca vai contar a verdade sobre a sua
origem, se ficarmos juntos manteremos o nosso segredo e família
unidos.
— Eu prometo, mãe, nunca vou deixar nosso segredo escapar,
vou proteger a nossa família.
Agarro-me ao pescoço do meu pai, desesperada para que a
dor passe e eu possa ser feliz. Não importa o que aconteça, eu
nunca vou casar, ter filhos e amar. Eu nasci da dor, mas vou viver
cada dia lutando contra o destino cruel que Benjamin sentenciou à
nossa família. Não importa o que aconteça, vou me manter fiel
àqueles que me acolheram e me deram amor quando tinham todos
os motivos para me odiarem.

Hope 18 anos
Não tenho forças para levantar. Deitada, eu encaro a fronha
branca da minha cama, o macio do algodão manchado de lágrimas.
Tentei ser forte, continuar seguindo em frente como se nada me
abalasse, mas agora não existe outra realidade além da trancada
entre essas paredes, estou sufocando um pouco a cada dia.
Batidas soam à porta, falo que pode entrar e vejo meu pai
caminhando até mim com o semblante preocupado. Ele retira os
sapatos e deita na cama, me aninho em seu peito, precisando de um
pouco de carinho, o cheiro reconfortante, suspiro mexendo o rosto
contra seu terno, se eu pudesse me fundiria a ele.
— O que você tem, minha princesa?
— Nada — respondo. É essa a única verdade, eu não tenho
nada.
— Steve me disse que você tem estado meio depressiva
depois da sua formatura, me conta o que houve. — Alisa meu braço.
Suspiro, não faz diferença falar ou continuar calada.
— Eu só não tenho mais nada para fazer.
— Como assim, querida? — Puxa-me fazendo com que me
sente. — Conversa comigo como sempre fizemos.
— Não existe mistério, pai. — Sento-me, apoiando a palma da
mão no colchão e a cabeça no ombro, sem muita força para
continuar ereta. — Eu terminei a escola e o normal seria que eu me
casasse, como a Kessy — minha prima que se uniu recentemente
com um membro de Nova Iorque —, mas não existe mais nada que
eu possa fazer. Não posso me casar, a escola acabou e meus dias
têm sido confinados aqui. — Olho ao redor, as paredes aos poucos
me prensando. — Não posso participar dos eventos da família e me
envolver em atividades das senhoras da organização. Eu nem tenho
permissão de sair para as compras com as minhas primas.
Soluço cansada, foi um ano presa nessa casa, vendo meus
irmãos saindo o tempo inteiro, enquanto eu ficava para trás. Até
mesmo a minha mãe fazia suas viagens para a psicóloga em Los
Angeles e algumas a passeio com o meu pai. Enquanto a mim só
resta continuar aqui, presa, encontrando diversão somente quando
me esgueiro entre as passagens secretas para ouvir o que acontece
no mundo.
— E é isso que me resta enquanto eu viver, não é? —
pergunto com os olhos marejados. — Ficar presa em casa,
esperando os surtos da mãe no meu aniversário. Sem direito a
conhecer ou ver pessoas, não podendo sentir nada além da solidão.
Eu aceito o meu destino e a promessa que fizemos, mas não tem
como eu continuar fingindo que tudo está bem quando na maior
parte do tempo eu fico sozinha nessa casa enorme, nem mesmo os
funcionários têm coragem de falar comigo sem serem repreendidos.
— Me perdoe, minha princesa. — Ele me puxa contra seu
peito, choro a dor que tem me consumido. — Eu não percebi como
estava te machucando.
— Não é culpa sua — murmuro. — Não é de ninguém, é
apenas como as coisas devem ser, mas saber disso não diminui a
dor.
— Me diz como posso te fazer sentir melhor — ele pede,
encarando meus olhos. — Eu faço qualquer coisa.
— Quais opções eu tenho, pai?
Ele fica calado, analisando meu rosto, não existe nada que
podemos fazer.
— O que acha de voltar a estudar? Cursar a faculdade.
— Eu posso fazer isso? — Franzo a testa em dúvida. —
Meninas não são proibidas de estudar depois do colégio?
— São, mas eu vou conseguir permissão com o Chefe. —
Levanta em um pulo. — Vem comigo, vamos escolher seu curso.
— Pai, se isso for te colocar em problemas, não precisa —
reluto.
— Eu sou Bartolomeu Bonnarro, nada me colocará em
problemas. — Sorrio, me iluminando com a sua confiança.
Nunca pensei que eu fosse capaz de poder voltar a estudar.
Na época do colégio apesar das restrições eu gostava de conversar
com as outras garotas e saber sobre a vida delas, imaginar como
seria a minha se eu não tivesse nascido em uma família mafiosa.
Pela primeira vez desde que me formei tenho vontade de sair da
cama. Levanto-me, seguindo meu pai para o seu escritório.
A primeira coisa que fazemos é encontrar faculdades perto da
nossa casa, depois olhamos com cuidado cada um dos cursos e qual
poderia ser o benefício que eles trariam a mim como membro da
máfia. No final da noite, eu me sinto animada com a possibilidade de
cursar medicina. Meu pai leva aproximadamente um mês para
conseguir a minha matrícula e a permissão do Chefe, não sei o que
ele prometeu em troca e nem quero descobrir, por ora vou
aproveitar a minha pequena conquista.
Fazer faculdade e ter um propósito de vida é como uma
injeção de animação diária nas minhas veias. Eu estudo todo o
tempo, passo o dia no campus, tendo aula e conversando com
minhas colegas, não me incomodo com os seguranças ou com o fato
de que devo ficar longe dos rapazes. Apesar de ter muitos
bonitinhos e que facilmente eu poderia me envolver com eles,
mantenho as promessas que fiz à minha família e sou grata todos os
dias por ter conseguido conquistar um propósito.
Mais rápido do que eu pensava, os dias vão passando, viro
noites estudando e às vezes me sinto tão ansiosa com as matérias
que preciso de calmantes para a minha ansiedade. As coisas nunca
estiveram tão boas. Minha mãe continua indo à terapia com uma
psicóloga especializada em violência contra a mulher e acho que tem
funcionado, sinto a Kennedy mais solta e controlada, embora eu
realmente esteja conversando menos com ela por causa dos
estudos.
Sentada à minha mesa no quarto eu reviso a matéria da aula
passada. Tenho ficado fascinada com a cadeira de anatomia humana
e minhas mãos coçam de vontade pelas aulas práticas quando
exploramos cadáveres. Estico-me, as costas doendo, bato o olho no
relógio vendo que falta 1 minuto para a meia-noite, nem percebi a
hora passando, quando sentei para estudar eram 19 horas.
Bocejo, meus olhos descem para a data de hoje, o gelo se
infiltra nas minhas veias ao perceber que dia será em 1 minuto:
24/08, meu aniversário. Encaro a porta do quarto, o medo se
infiltrando como inseto nas minhas veias. Corro para a porta a
trancando, giro a chave e o relógio da sala bate, indicando que é
meia-noite. Encaro as passagens secretas, eu fechei todas? Corro
tocando o dispositivo da tranca, ela não vai conseguir entrar.
Quando foi a última vez que vi a minha mãe? Não consigo me
lembrar, como ela esteve essa semana? Mordo os lábios, nervosa,
ando de um lado para o outro, apertando os cabelos nas mãos, a
ansiedade me atacando como uma bomba. Ouço batidas à porta, o
coração dispara e se for ela?
— Hope, sou eu o Black e o Steve. — A voz grave reverbera
do outro lado.
Com passos hesitantes eu caminho até a porta, o coração
quase explodindo no peito, giro a maçaneta destravando a porta,
abro uma fresta minúscula vendo meus irmãos do outro lado. Ela
não está aqui. Dou passagem para eles que entram rápido,
segurando uma caixa rosa nas mãos. Meu estômago embrulha
imaginando o que poderia ser o conteúdo, encaro o Black que sorri,
Steve abre os braços me puxando para ele.
— Feliz aniversário, maninha — Steve fala, beijando minha
cabeça.
O que tem de feliz hoje? Absolutamente nada. Eu tranquei a
porta? Saio dos braços do Steve e sou pega pelo Black em um
abraço caloroso, empurro seu peito me libertando dele, caminho até
a porta com as mãos tremendo, seguro a maçaneta e uma força do
outro lado me impede de fechar.
Ela empurra a porta com cuidado e os olhos da minha mãe
são a primeira coisa que vejo, dou um passo para trás, ela veio me
machucar. Bato contra algo, braços rodeiam minha cintura, meu
coração bate rápido me deixando surda com o som nas orelhas, a
respiração impossível de passar pela garganta. Ela entra, observo
seu corpo em busca de objetos para me machucar e não encontro
nada, mas isso não quer dizer que estou segura.
— Clama, Hope — Black pede. — Estamos aqui. — Envolve-
me em um abraço, virando-me de costas para a minha mãe e
impedindo que eu a veja, paraliso. — Tira a mãe daqui, Steve.
— Tudo bem — a voz do meu pai fala. — A Kennedy não está
tendo um surto, ela está controlada.
— Hope, meu amor. — A voz dela é como um veludo, fecho os
olhos com medo de encará-la. — Está tudo bem, querida, eu não
quero te machucar, olha para mim.
Nego com a cabeça, o ar se torna cada vez mais escasso.
— Eu só quero te desejar feliz aniversário, meu amor — ela
continua falando. — Vem aqui com a mamãe.
Não pode ser verdade, não tem como isso ser a realidade. Ela
deve estar fingindo, como fez quando eu tinha 16 anos. Simulou que
estava bem, ganhando a confiança da nossa família e quando me
abraçou cortou meu pescoço com a ponta afiada que ela escondia
no anel.
— Não é como da outra vez, Hope — meu pai fala. — Sua
mãe tem se esforçado e está melhor, olhe para a gente, querida.
Nego, não consigo mais ficar aqui.
Empurro o Black e corro para o banheiro. Tranco a porta,
coloco a cadeira que uso para me maquiar contra a maçaneta.
Caminho para trás até entrar dentro da banheira. Ligo a água fria,
tampo os ouvidos não querendo escutar nenhum deles. Eu nunca
vou estar segura em meus aniversários, não importa o que ela faça,
nada vai mudar.
Ignoro todos os chamados e continuo na água fria da
banheira até meu corpo tremer e os dentes baterem. Levanto-me,
molhando tudo ao meu redor, retiro minha roupa e me envolvo em
um roupão. Pego meu pijama na bancada e com cuidado abro a
porta do quarto. Encontro meus irmãos deitados na cama, ao me
verem eles levantam com as expressões tristes.
— A mãe está bem. Hope, você pode confiar — Black diz.
— Não quero ver ela — digo com a voz tremendo. — Por
favor.
— Tudo bem. — Steve vem até mim, me pega no colo e me
deita na cama entre ele e o Black. — Quer seus remédios?
Aceno em positivo.
Ele me entrega os quatro comprimidos, deitada entre meus
irmãos eu deixo os remédios me jogarem no sono, fazendo com que
eu apague pelo resto do meu aniversário.
Não importa se ela tem melhorado, o trauma de anos continua
gravado no meu coração. Para mim, meu aniversário sempre será
uma data que me traz medo e faz com que eu queira desaparecer
do mundo. E isso nunca vai mudar.
Hope
— Essa é quem eu sou — falo com a voz fraca, o dia
clareando timidamente do lado de fora.
Michael alisa meus cabelos com carinho, sinto como se ele
deslizasse uma pena macia entre os fios da minha cabeça. Seu braço
debaixo do meu pescoço, me puxa para si. Durante a minha
confissão ele ficou calado, mas seus olhos transbordavam empatia e
cuidado. Seus lábios beijam minhas lágrimas, não deixando que
nenhuma escorra pelo cantinho de meus olhos.
— Eu amo você. — Sua voz transborda amor e compreensão.
— Todos os seus segredos são meus, sua proteção é minha, sua
liberdade nunca mais será restringida, seus medos nunca mais serão
capazes de te tocar. Você é minha e mais nada nesse mundo poderá
te machucar. — Seu dedo desliza na minha bochecha, me puxando
de encontro ao seu rosto. O hálito quente contra meu nariz, os olhos
focados em mim. — Amo você — repete suavemente.
Meu peito explode. Agarro seu pescoço, me fundindo com seu
corpo, encontrando a paz que a minha alma buscou durante todos
esses anos. Soluço na sua boca, inspiro seu cheiro forte, estou em
casa, com o meu amado, os dias sombrios chegaram ao fim e eu
poderei ser feliz sem temer causar danos na minha família.
Michael é o meu presente, será meu futuro e meu passado. O
único homem que me fez sentir realmente segura, livre e amada.
— Eu te amo tanto. — Transbordo amor em cada uma de
minhas palavras enquanto beijo seus lábios, querendo me unir ao
seu corpo. — Tanto, meu amor, meu, somente meu — repito as
palavras para ter a certeza de que elas nunca poderão ir embora ou
escapar entre meus dedos. — Somente meu amor.
— Venha aqui. — Sua mão desliza na minha cintura. girando
nossos corpos, ele fica sobre o meu, as pernas entre as minhas. Os
olhos cristalinos me encarando com suavidade, o rosto relaxado e
feliz. Sorrio para ele, seguro seu pescoço, mordo o lábio sendo
incapaz de conter a emoção queimando em meu peito.
— Hora de fazer amor? — pergunto marota e gargalho da
minha frase, uma explosão de adrenalina correndo solta em minhas
veias, sinto como se pudesse subir uma montanha dez vezes sem
cansar.
— Toda hora é para fazer amor — responde com um sorriso
despojado. — Me deixe olhar mais para você. — Desliza o dedo
pelos traços do meu rosto. — Como pode ficar mais linda a cada dia
que passa?
— É que eu me cuido. — Dou de ombros, gargalhando, o riso
nunca me deixando.
É incrível como me sinto, nunca imaginei que o momento em
que eu poderia realmente respirar sem medo aconteceria. Mas agora
que estou vivendo cada um desses segundos apaixonada eu só
quero sorrir até as minhas bochechas não aguentarem mais, sentir o
Michael preenchendo cada pedaço do meu corpo, me levando para si
com a paixão que queima entre nós.
Amor, eu estou amando e sendo amada.
— Obrigado por dividir seu passado comigo. — Ele beija
minha testa. — Prometo que vou manter o segredo da sua origem
em segurança e ninguém nunca tocará em você ou na sua família.
Se existir o mínimo risco de isso acontecer eu incendeio o mundo.
— Você é a primeira pessoa com quem consigo conversar
sobre a minha dor — confesso a ele. — Nem mesmo com meus
irmãos ou quando meu pai me obrigou a fazer terapia eu conseguia
falar. Tranquei tudo aqui dentro — toco meu peito — e tentava não
deixar o sentimento me consumir.
— Sempre que quiser compartilhar comigo eu vou te ouvir. —
Alisa minha orelha, os lábios rosados tocam a ponta do meu nariz.
— Somos um só e isso significa dividir a dor e a felicidade,
passarmos juntos pelo inferno e o paraíso. — Seus dedos se
entrelaçam aos meus, ele pressiona nossas mãos entre nossos
peitos. — Eu nunca vou soltar a sua mão, agarre a minha com força
ou leveza, mas não vá embora, não importa o quanto doa, você
sempre vai ter a mim.
— E você a mim. — Beijo seus lábios de leve, o amor
transbordando por cada um dos meus poros. — Sei que seu trabalho
e a vida que levamos é difícil. Mas quando você estiver na nossa
casa quero que deixe tudo que o atormenta para trás, me diga o
que eu poderia fazer para te fazer sentir melhor, seja sempre sincero
comigo e eu vou te dar paz e amor em cada um dos nossos dias.
Não importa o que você faça ou a tempestade que viva fora dessas
paredes, aqui é o nosso lar, nosso cantinho de amor e onde
criaremos a nossa família banhados em lembranças felizes.
— Eu e você, para sempre. — Toca nossas testas.
Fecho os olhos contemplando a calmaria que chegou após a
tempestade. Foi uma jornada difícil, ambos fomos machucados por
nossas famílias, mas nesse segundo nada mais consegue tocar
nossas almas. Nós nos tornamos um só de alma e coração, batendo
no mesmo ritmo, existindo com o mesmo objetivo. Sermos felizes,
protegermos um ao outro e acima de tudo nos amarmos e criarmos
o nosso lugar feliz no mundo, onde sempre poderemos retornar e
respirar em paz, sentir o amor em cada cantinho.
— Por toda a eternidade, Michael e Hope — respondo em um
suspiro.
Michael sorri antes de me beijar. E eu abro a boca, permitindo
que sua língua macia e quente deslize pela minha, explorando cada
cantinho da minha boca. Nossas mãos permanecem entrelaçadas
quando ele a leva acima da minha cabeça, com a livre tiramos as
peças de roupa de cada um, é um pouco difícil e deixamos as
camisas presas em nossas mãos entrelaçadas, não queremos nos
soltar. Por nada nesse mundo, nunca mais estaremos sozinhos,
sempre teremos um ao outro.
Seus dedos agarram meu clitóris em uma pegada poderosa, e
eu estremeço de expectativa. Os movimentos são lentos e fortes, me
fazendo sentir cada um de seus toques na minha intimidade como
se fosse por meu corpo. A perna grossa me mantém aberta para ele,
os olhos travados nos meus enquanto suspiro nos seus lábios,
liberando cada um dos meus gemidos para ele.
— Não para — peço sem fôlego ao ser abandonada por seus
dedos.
— Nunca. — Ele beija minha bochecha. — Hoje eu vou te
amar cada segundo.
Sinto a cabeça de seu pau deslizando entre as minhas dobras.
Abro as pernas enlaçando na sua cintura, ansiosa para tê-lo dentro
de mim, para que sejamos um só. Conectados da forma mais
sublime que existe, em que nunca poderemos ser separados. O
peito sobe e desce em expectativa, arranhando contra o peitoral
macio e firme do meu amado marido. Deslizo a mão livre, segurando
sua cabeça, puxando-o para mim, eu quero me sentir cheia por
Michael em cada lugar do meu corpo.
Minha entrada encharcada o recebe com alegria, apesar do
desespero para receber o prazer que o Michael é capaz de me dar,
eu me sinto deitada em um mar de calma, pronta para experimentar
cada pequeno segundo da nossa união. Ele desliza com facilidade
para dentro de mim, mantenho os olhos fechados, sentindo com
meu corpo a entrada do seu pau, o cuidado que ele tem ao me fazer
ter prazer com o simples ato de me preencher.
Arquejo a coluna, gemo contra sua boca, a língua sugando a
minha, puxando meu sabor para si enquanto derrama o seu em
mim. Nossas pélvis se tocam com cuidado, um vai e vem lento,
aproveitando cada toque. As mãos entrelaçadas acima da cabeça
começam a suar, seu peito desliza contra o meu, pressionando meus
seios e eu arquejo novamente, enlaço as pernas em seu quadril, me
esfregando contra ele. Gemo sentindo o corpo esquentar, o deleite
de fazer amor com meu marido aumentando como um termômetro
prestes a explodir pela alta temperatura.
— Eu amo você — ele sussurra.
Abro os olhos encarando sua expressão, a boca aberta
despejando seus gemidos quentes contra meus lábios, o suor
acumulado na sua testa, as sobrancelhas franzidas enquanto as
pálpebras se mantêm fechadas. Ele aperta minha mão com força ao
investir mais uma vez, tocando uma parte funda do meu interior, o
prazer me corta como um chicote, caminhando em cada parte do
meu ser, atingindo meu núcleo e me fazendo querer explodir.
Choramingo contra o queixo do Michael, mordo sua carne, ele
encosta nossas bochechas. Pressiono o braço livre ao redor do seu
ombro, tornando o espaço entre nossos corpos inexistente. Sexos
unidos, pélvis se batendo uma na outra, barriga separando somente
quando inspiro fundo demais. Eu vou explodir, alcançar um novo
patamar de prazer misturado com amor. Finco as unhas em seus
ombros, me apertando contra ele, pressiono seu pau com minha
vagina, a cabeça começando a nublar.
Os gemidos roucos dele preenchem meus ouvidos alternados
com suas declarações de amor. Eu quero falar também, mas o ar me
falta, trava na garganta e a única coisa que sou capaz é sentir.
Sentir Michael dentro de mim.
Sentir o amor do Michael no meu peito.
Sentir a felicidade que o Michael me trouxe.
Sentir um futuro de realizações para nós dois.
Eu sinto cada micro coisa.
— Você é o amor da minha vida — ele diz baixinho entre
gemidos. — Eu quero te fazer feliz a cada segundo, goza comigo,
Hope, vamos fazer isso juntos.
— Sim, meu amor, meu homem. — Aperto os fios da sua
nuca. — Eu quero ficar eternamente ao seu lado — gemo extasiada.
— Para sempre.
— Minha mulher — ele fala, sua mão aperta a minha com
mais força, Michael estremece. — Goza, Hope.
Obedeço ao seu comando, explodindo em milhões de
partículas de paixão misturadas ao tesão. Michael vem forte em uma
arremetida e se desmancha dentro de mim, o líquido quente
esporrando. Pequenos feixes de luz do sol banham o teto do quarto,
eu rio antes de fechar os olhos, caindo em um sono profundo e
tranquilo.
— Eu te amo. — Escuto ao longe. Sorrio, sim, eu também o
amo, muito.
— Amo você — sussurro.
Feliz.
Amada.
É essa quem eu sou a partir desse momento.
Michael
Aliso os cabelos da Hope, já faz dois dias que ela dorme como
pedra, acordando somente para comer. A chuva de emoções por
contar a verdade sobre o seu passado a derrubou mais do que eu
imaginava que poderia acontecer. Ter a sua confiança marcou uma
nova virada na nossa vida, seu segredo não é algo que poderia ser
mencionado ou contato levianamente, poderia causar a destruição
dos Bonnarro e nos impediria de continuar juntos.
Sou grato a ela por ter confiado em mim, mas ainda existem
coisas que precisam ser esclarecidas. Detalhes que Hope pode não
saber ou nunca tenha perguntado com medo dos pais se chatearem.
Ontem chamei o Bartolomeu e o Black para virem ao meu escritório,
vou ter uma conversa séria com ambos, agora que a Hope está sob
a minha proteção ninguém será capaz de machucá-la e isso inclui a
sua família.
Eu finalmente encontrei um lar. Não somente uma casa para
retornar, mas alguém que me ama, conhece cada pedaço da minha
alma sombria e me aceita, me recebe com um sorriso todos os dias
e tem feito da minha vida uma prova do paraíso. A minha mulher
intocável será ainda mais proibida a todo o mundo e livre como
nunca antes.
Beijo sua cabeça e saio do quarto, abotoo o botão do terno e
vou para o meu escritório. Meus convidados já chegaram e
aguardam por mim. Entro encontrando Black e Bartolomeu, a
semelhança entre eles é notória, assim como a Hope que herdou os
olhos do pai. Se ela não tivesse me contado a verdade eu nunca
imaginaria que ela não é do Bartolomeu, principalmente pelo
cuidado que o pai tem com a filha, algo que o meu nunca soube o
que era.
— Boa tarde, senhores. — Sento-me na poltrona no centro da
mesa, ambos estão no sofá à minha direita.
— Boa tarde, Chefe, qual o motivo de estarmos aqui? —
Bartolomeu pergunta.
— Aconteceu algo com a Hope? — Black se move para a
frente, apoiando o braço no joelho.
— Vocês realmente a amam e fizeram de tudo para protegê-
la. — Inclino-me para a frente, pegando a garrafa de uísque e
servindo três copos. — Sou grato por terem cuidado da minha
esposa esse tempo, mas agora as coisas vão mudar.
— Ao que você está se referindo? — Bartolomeu inquire
desconfiado, sem tocar na bebida. Faço um gesto com o meu copo
indicando que ele deve beber.
Espero até que o líquido desça pela garganta de ambos, tomo
um longo gole antes de encará-los, pronto para a conversa difícil
que teremos.
— Hope me contou que você não é o pai biológico dela.
Eu nunca vi medo no rosto de Bartolomeu Bonnarro, até esse
segundo. Os olhos se arregalam, a pele assume um tom pálido
enquanto o copo de uísque desliza pelos seus dedos, batendo no
carpete. Black é uma cópia da expressão do pai, eles nunca
acreditaram que a Hope fosse capaz de traí-los, mas aqui vou
esclarecer bem a situação.
— Minha esposa nunca traiu a família dela, pelo contrário, ao
me contar a verdade eu e ela firmamos de uma vez por todas o
nosso compromisso como uma família. Vocês não são somente meu
sogro e cunhado, fazem parte da minha família e a partir de hoje
todos os seus segredos me pertencem e estão sob a minha
proteção. Não precisam se preocupar, nada acontecerá com nenhum
de vocês, mas eu ainda tenho muitas perguntas e espero conseguir
a resposta de todas.
— Você — Bartolomeu engole em seco — não sente raiva da
gente?
— Se eu pudesse socaria a sua cara pelos anos que deixou a
Hope sofrendo a ponto de ela ter tentado se matar — aperto o copo,
segurando a raiva —, beba um pouco, vamos ficar aqui por muito
tempo.
— A nossa situação era difícil — Black fala. — Você não
consegue entender.
— Difícil? — encaro Bartolomeu Bonnarro, perguntando
diretamente a ele. Inerte à minha frente. — Sua esposa foi
estuprada e ficou com estresse pós-traumático, tentava matar a filha
em todos os aniversários e conseguia instaurar o terror na vida de
uma criança. Enquanto vocês faziam o quê? Tentam a impedir
deixando que ela se esgueirasse solta pela casa, não usavam de
amarras ou medicamentos para que ela ficasse dopada. Vocês
permitiram que as agressões acontecessem e mesmo que a Hope
não veja isso, eu enxergo com clareza.
— Você não sabe de nada! — Black se levanta, apontando o
dedo para mim. — É a minha família, a minha mãe. Você não faz
ideia do que foi ver a minha mãe sendo estuprada por aquele
desgraçado enquanto eu não podia fazer nada! Ela estava viva e
continuava sofrendo, eu não conseguia a machucar, causar mais dor
— a voz dele treme, a raiva borbulhando como um vulcão no seu
corpo —, podemos ter cometido erros, mas sempre tentamos
proteger as duas.
Levanto, a um passo de socar a cara do Black.
— Não fale sobre dor na minha frente, seu moleque. — Aperto
o punho cravando as unhas na palma da mão. — Eu assisti por anos
meu pai estuprando a minha mãe, o vi esquartejá-la na minha
frente. Então cale a porra da boca quando você for falar o que não
sabe. Podemos ser amigos, mas a situação aqui é totalmente
diferente e eu não vou hesitar em quebrar a sua maldita cara se
você continuar falando idiotices!
— Vocês dois, parem. — Bartolomeu se coloca entre a gente.
— Vamos conversar com calma. Foi um choque saber que a Hope te
contou o que aconteceu na nossa família, não estamos aqui para
medir de quem a mãe foi mais machucada. Tanto a Kennedy quanto
a Hannah sofreram nas mãos de homens terríveis e mesmo assim
elas foram capazes de amar os filhos. Se você quer saber o que
acontece com a cabeça da minha esposa eu te explico, mas
mantenham a calma.
— Você tem razão, a Hope não gostaria que nos matássemos
— digo, me sentando. — Hoje não estou aqui como o Chefe da
Máfia Bianchi, mas como o marido da sua filha.
— Desculpe pelo que falei — Black pede, os olhos focados no
chão. — Não sabia pelo que vocês passaram.
— Toda família tem seus segredos.
— Sim — Bartolomeu diz —, e quanto ao Benjamin, você já
sabe que ele foi declarado como morto em um confronto com
organizações criminosas da Argentina. Mas isso foi o que eu falei
para justificar a morte dele, quando o desgraçado estuprou a minha
Kennedy eu estava em missão, retornei para casa e ele já tinha
fugido, deixando o Black para cuidar da mãe traumatizada, e o Steve
que ainda era uma criança, não conseguia entender o que acontecia.
O Benjamin enquanto abusava da Kennedy, mexia com a cabeça
dela, usando a dor para a atormentar e fazer com que ela me
odiasse. Injetou drogas alucinógenas nela, demoramos quase seis
meses para trazê-la de volta à sua mente.
— Ele não fez aquilo somente porque a queria — constato.
— Ele sempre quis me destruir e ter tudo que era meu.
Quando assumi como Capo, o ódio dele chegou ao máximo, armou
uma forma de destruir a minha família e fugiu. A Kennedy só voltou
ao normal quando soube da gravidez e que a bebê poderia ser
minha filha, na época estávamos tentando engravidar novamente. E
por quatro anos foi isso que a manteve sã. Eu deveria tê-la levado a
um psicólogo, mas você sabe como é difícil ter acesso a esses
médicos no nosso meio, então acreditei que a Hope ser minha era o
suficiente.
— Você nunca quis descobrir a verdade sobre a paternidade?
Fazendo algum exame ou algo do tipo.
— Eu e o Benjamin éramos gêmeos idênticos, mesmo DNA,
mas com impressões digitais diferentes e um sinal do tamanho da
ponta de uma agulha no olho esquerdo visível só quando puxar a
pálpebra para cima. Quando o encontrei na Argentina, fingi sua
morte e o levei para o porão da minha casa, único lugar que poderia
lidar com ele sem ser descoberto, afinal ninguém sabia o que ele
tinha feito. Kennedy desceu para o porão e o encontrou, como um
robô, ela segurou a pálpebra esquerda dele, puxando para cima e
vendo o sinal, tudo que ele fez voltou na mente dela. Eu não sabia,
mas ele a tinha feito acreditar que se ela tivesse um filho a criança
seria a reencarnação dele.
— Mas que merda. — Encaro um ao outro. Black tem a mão
na cabeça, se sentindo culpado.
— Eu não lembrava disso — ele diz. — Tinha coisas que ele
sussurrava no ouvido dela e eu não escutava. Não sabia que ele
tinha mexido com a mente dela para associar um bebê a ele.
— Ninguém tem culpa — Bartolomeu fala. — Foi como se uma
chave virasse na mente da Kennedy, por coincidência era a
madrugada do aniversário da Hope. Ela subiu para o quarto e pegou
no olho dela, encontrando o mesmo sinal, quase como se ela já
soubesse dessa ligação entre eles. No aniversário de quatro anos da
minha filha, Kennedy mudou, tentou matar a Hope, mas nos dias
seguintes ela agia como se aquilo não tivesse acontecido. Eu queria
acreditar que foi só um episódio psicótico.
— Mas não foi.
— Se repetiu, todos os anos. Se tentássemos impedir com
métodos mais invasivos como algemas, remédios era pior, o surto
dela dobrava ou ela se escondia dias antes para pegar a Hope de
surpresa, às vezes planejava com antecedência mandando criarem
passagens secretas que eu não tinha conhecimento. O desgraçado
mexeu com a mente da Kennedy de uma forma que eu não sabia
como trazê-la de volta. Depois dos 12 anos da Hope eu descobri
uma psicóloga para a Kennedy e a levava às consultas. Foi difícil,
precisava ser escondido em Los Angeles com ela utilizando outro
nome e falando sem revelar sobre a organização, somente sobre seu
trauma.
— E isso resolveu?
— Agora estamos tendo resultados melhores, o uso das
drogas causou uma lavagem cerebral e uma alucinação poderosa na
mente da Kennedy. Ela não fazia aquilo consciente, mas não
conseguia impedir. Quando a Hope completou 19 anos os ataques
pararam, aos 20 também não teve outro atentado. Mas a Hope
continua machucada, traumatizada, não acredita que a mãe está
melhor e sempre espera o pior.
— Eu e o Steve tentávamos fazer algo no aniversário dela,
mas a mãe sempre interrompia ou a Hope não tinha ânimo para
comemorar conosco. Minha irmã não consegue mais comemorar o
aniversário ou acreditar que nossa mãe está melhorando,
conseguindo se livrar do inferno em sua mente. Sei que nossa
situação foi fodida e você não tem motivos para acreditar que
estávamos tentando proteger ambas, mas foi isso que fizemos nos
últimos anos.
— Tudo bem. — Acalmo o tormento deles. — Todos nós
possuímos traumas, eu só precisava entender o panorama geral.
Mas agora as coisas serão diferentes, ao menos esse ano, não
permita que sua esposa venha a Nova Iorque ou ligue para a Hope.
Vou dar à minha esposa um aniversário de verdade e não quero
nenhum de vocês por perto.
— Compreendo — Bartolomeu responde a contragosto. —
Quem sabe no próximo ano?
— Se sua esposa estiver realmente bem e a Hope aceitar,
faremos isso. Quero que minha amada seja feliz, por isso vocês
serão incluídos em todas as nossas comemorações. Apesar de tudo,
ela ama a família e não quero quebrar o vínculo entre vocês.
— Obrigado — Bartolomeu agradece — por amar a minha
filha.
— Eu que sou o sortudo. — Sirvo mais uma dose de uísque
para nós.
A porta do escritório abre e minha mulher entra coçando o
olho. Ela se surpreende ao ver o pai e irmão e me encara assustada.
— O que fazem aqui?
— Estávamos conversando sobre o passado e futuro —
respondo a ela, estico a mão a chamando para sentar no meu colo.
— Está melhor?
— Sim. — Senta encarando o pai e o irmão. — Oi.
— Oi, meu bem. — Bartolomeu se levanta, beijando a testa da
filha. — Está tudo bem, você agiu com o seu coração, não precisa
ter receio da escolha que fez.
— Obrigada, pai. — Ela o abraça apertado. — Eu amo o
Michael, estava me matando não poder contar a verdade sobre mim
a ele. Eu sentia como se não fosse certo o amar e ser amada sem
ele saber o risco que poderia correr por minha causa. Não queria
trair a nossa família... — Bartolomeu leva o dedo à boca, indicando
que a Hope deve ficar quieta.
— Você nunca nos traiu, eu te proíbo de repetir essas
palavras. Michael é um homem de honra. — Bartolomeu beija os
cabelos dela. — Ele vai te proteger como eu fiz, não estou com raiva
ou magoado, somente arrependido por ter te feito sofrer tanto. Me
perdoa, Hope.
— Não tem o que perdoar, pai. — A voz dela embarga quando
encara os olhos do pai, idênticos aos seus. — Eu te amo muito e
sempre serei grata por tudo o que fez por mim e por nossa família.
A gente só a aumentou mais um pouco, certo?
— Sim, e vamos aumentar mais ainda com meus netos.
Essas palavras têm poder na minha amada. Seus olhos se
enchem de lágrimas e ela encosta a cabeça no peito do pai. Black,
que assistia a tudo calado, se levanta tocando as costas da irmã e a
abraçando por trás, prendendo minha menina entre eles.
Hope pode não ser biologicamente do Bartolomeu, mas em
seus corações eles são pai e filha.
Hope
— Então você desfez o acordo de casamento entre o Black e a
Emily, acordo esse que meu irmão não tinha ciência — repito o
resumo do que o Michael me disse sobre a reunião interminável dele
com meu pai e irmão.
Eles ficaram mais uma semana em Nova Iorque e foi uma
delícia ter a presença de ambos, principalmente agora que eu não
tenho mais peso no meu coração.
— Sim, agora que casamos ter outra união entre um Bianchi e
um Bonnarro seria uma ameaça à liderança da organização. Nossos
filhos e os deles poderiam ser Chefe ou Capo e brigar pela liderança,
no futuro. — Giro no seu colo. Estamos jantando em casa e
conversando tranquilos.
— Vamos ter muitos filhos?
— Com certeza, quero no mínimo 10.
Gargalho horrorizada.
— Eu não vou ter 10 filhos, o que você acha que eu sou? Uma
vaca parideira!
— Uma vaca muito gostosa. — Aperta minha bunda e bato no
seu ombro.
— Você anda muito ousado, mocinho. — Toco meu nariz no
seu. — Mas agora que o acordo foi desfeito, a Emily vai casar com o
Daniel?
— Minha irmã quer isso e a tradição das famílias pede por
isso. Mas o Daniel não quer casar com ela, ele já me pediu que
quando eu assumisse não firmasse um compromisso entre eles.
— Como assim? — Estou em choque com essa informação. —
Ele é mega atencioso com ela e se dão muito bem, como ele pode
partir o coração dela dessa forma?
— O Daniel não acredita que ele será bom para a Emily. Na
verdade, ele tem convicção de que se ficarem juntos ele vai partir o
coração dela e a sentenciar a uma vida infernal.
— Sua irmã não merece isso.
Fico triste em saber como o Daniel pensa, ele e a Emily
parecem perfeitos juntos. Porém, não o conheço o suficiente para
saber quais são os demônios escondidos por trás das lindas íris azuis
dele.
— Minha amiga já sofreu demais nas mãos do pai para casar
sem amor e ser magoada. Vai partir o coração dela, mas se o Daniel
vai ser malvado com a Emily eu também sou contra essa união.
— Ele nunca seria malvado com ela, mas é complicado, cada
um sabe os demônios que carrega.
— O que você vai fazer?
— Ainda estou pensando — sua mão sobe para a minha
coluna —, mas enquanto isso vamos sair em lua de mel na próxima
semana. Prepare uma mala grande com roupas de frio.
— Tem certeza? E o Samuel?
— Ele desapareceu, varri Boston de uma ponta à outra e o
desgraçado não estava em lugar algum. Parou de enviar homens
atrás de você já faz uns três meses, montei uma armadilha que não
deu resultados, agora que ele sumiu. Destruí tudo da máfia de
Boston, não sobrou um único soldado ou aliado para o abrigar.
Imagino que ele tenha saído do país. Ainda estou procurando, mas
por enquanto, não tenho muita coisa.
— Falando em homens — recordo que queria falar algo com o
Michael já tem um tempinho — o que está acontecendo no clube de
senhoras que todo mês entram funcionários novos? Não sabia que
essa rotatividade dos funcionários acontecia aqui.
— Não é para acontecer — franze a testa —, vou averiguar o
que se passa.
— Certo. — Fico em pé, limpo a boca no guardanapo. — Vem
— o chamo com um dedo.
Michael sorri safado antes de levantar. Corro para o quarto,
soltando pequenos gritinhos. A excitação pela noite que teremos
juntos corre pelo meu corpo como pequenos choques. Nunca achei
que pudesse contemplar tamanha felicidade e agora só rezo para
que ela seja eterna.

Chego da faculdade com o corpo doendo pelas horas abaixada


analisando células no microscópio. Encontro minha cunhada e a
Josephine junto da Daisha na sala, elas têm um monte de revistas
sobre a mesa de centro e fazem anotações nos tablets, eu esqueci
completamente do baile que será daqui um mês para arrecadação
de fundos para crianças com deficiência no hospital regional.
— Digam que vocês já têm tudo pronto — peço, me jogando
com a cara no sofá.
— Você é uma folgada — Josephine fala, sinto o ardor na
bunda ecoando pelo estralo do tapa que ela me dá. Encaro-a e
mostro a língua.
— Sim, senhora estudante de medicina, temos tudo pronto. —
Emily diz sarcástica.
— Vocês são meus anjos.
— Ah, mas você vai nos recompensar — Daisha fala com um
brilho divertido no olhar. Ela é meio tímida, mas quando estamos só
nos quatro se solta um pouco. — Quero ir a Topline, já falou com
seu marido?
— Vamos sexta — estralo a língua —, depois vou para a
minha lua de mel. — Deito a cabeça na almofada, o sono batendo.
— Isso. — Ouço-as comemorando, viro de lado adormecendo.

Agarro a cintura do Michael enquanto ele pilota a moto. Já faz


mais de uma hora que estamos na estrada e ainda não sei o nosso
destino, as malas estão nos carros que fazem a nossa segurança.
Saímos da balada direto para a moto, prontos para curtir a nossa lua
de mel. As meninas se divertiram à beça e deram trabalho aos
rapazes.
O Black se juntou a gente e acabou levando uma Josephine
desmaiada para casa, o Daniel segurou os cabelos da Emily
enquanto ela vomitava, e o Kai tão grudado na Daisha que a menina
só sabia ficar vermelha pelas investidas do safado. Na minha cabeça
todos os casais estão formados e deveriam ficar juntos, depois vou
ver como posso influenciar no acordo de casamento deles. Não tem
como o Daniel ser ruim para a Emily, isso é humanamente
impossível.
Depois de mais um tempo, com os braços dormentes e as
costas doendo, mas adorando a proximidade que a moto nos traz,
chegamos ao destino final. Uma floresta, uma casa no lago e um
píer fantástico com um domo na sua ponta. Não consigo ver o que
tem dentro, mas esqueço toda a dor no corpo com a expectativa
para ver o que existe ali.
Desço da moto e Michael me segura pela mão. Deixamos os
capacetes na garupa e vejo os soldados se espalhando. Noto que
existem outras casas, menores, em cima de torres de observação. É
para lá que alguns homens se dirigem. Embora estejamos a céu
aberto, sinto como se nada pudesse nos tocar.
— Você sabe que dia é hoje? — ele pergunta, alisando minha
bochecha.
— Não faço ideia. — Enlaço os braços ao redor do seu
pescoço.
— Vamos ver se você lembra.
Puxa-me pela cintura, seus lábios tocam os meus antes dele
me fazer arrodear sua cintura com as pernas. O frio do lago
ricocheteia contra minhas bochechas e orelhas, aprofundo o beijo,
esquentando o corpo com o do Michael. Ele caminha tranquilo
comigo sobre a madeira do píer. Chega em frente ao domo de vidro
fumê e digita uma senha na porta que se abre com um clique.
Entramos e meus olhos ficam maravilhados com a beleza
desse lugar. É completamente feito de vidro que possibilita que
vejamos as estrelas acima de nossa cabeça e o lago abaixo de
nossos pés. A estrutura é oval, há uma cama encostada na parede,
um tapete felpudo no centro, um sofá virado para o horizonte e
dezenas de lanternas com formatos de corações flutuando acima de
nossas cabeças com correntes de flores presas por fios invisíveis.
Sinto como se tivesse ultrapassado para uma dimensão
completamente diferente da que tenho vivido. Michael caminha para
o centro e me coloca em pé. Estou sem palavras. Ele segura minha
mão na sua, puxa minha cintura para ele e uma música familiar
começa a tocar. É a valsa que dançamos no meu aniversário de 15
anos.
— Oficialmente hoje completa 6 anos que nos conhecemos
pela primeira vez.
Mexe o corpo, me forçando a segui-lo enquanto a minha
garganta entala e o coração começa a ser envolto em um fio de
amor que sufoca de tamanha emoção.
— Todos os anos vamos comemorar essa data como ela deve
ser, repleta de amor e felicidade, eu e você. E quando tivermos
nossos filhos eles correrão felizes de manhã pulando na nossa cama,
desejando feliz aniversário a mãe deles, enquanto eu te puxo,
tentando ter um segundo do tempo da minha esposa para dizer o
quanto eu a amo e sou feliz por ela ter nascido e se tornado minha.
— Ah, Michael... — Não consigo falar, a emoção travando
minha garganta, os olhos marejam e eu olho para cima,
encontrando a lua posicionada no topo do céu trazendo magia ao
nosso momento.
— Feliz aniversário, Hope — ele sussurra no meu ouvido. —
Obrigado por ter aguentado forte todos esses anos. Mas agora eu só
quero que você relaxe e aproveite. Hoje é e sempre será um dia
especial e importante para mim, é o dia em que a mulher que eu
amo nasceu e venceu a morte diversas vezes, precisamos
comemorar e lembrar das coisas boas. Vou te dar novas memórias
todos os anos, até as ruins serem somente uma simples lembrança
incapaz de tocar a sua alma. Não importa quando ou onde, sempre
que tiver medo do passado lembre-se de hoje e que esse é o nosso
futuro, para sempre.
Eu não consigo mais dançar, meu corpo se desmancha em
lágrimas felizes. Enlaço seu pescoço com meus braços. Ele segura
minha cintura com os dele, me deixando suspensa no ar enquanto
embala nossos corpos no ritmo da valsa. O cheiro das flores, velas
aromáticas misturado ao aroma sexy e quente com um fundo
amadeirado do corpo do Michael penetra cada uma das minhas
células.
Eu beijo seu pescoço, expressando o que não consigo falar.
Felicidade parece um apelido para o que sinto nesse momento, a
liberdade em cada poro, a felicidade irradiando tão forte que seria
capaz de chegar aos céus. A certeza de ter encontrado o amor nos
braços do Michael, um mafioso temível que é capaz de tamanha
surpresa para me mostrar o quanto ele me ama e se importa em
apagar cada resquício de dor.
Nesse segundo o universo para enquanto colo nossos lábios e
sinto os pelos de sua barba arranhando meu rosto, me lembrando
de onde eu estou, quem está ao meu lado e a vida que eu tenho.
Não existem mais dias ruins e agora eles ficaram somente nas
lembranças distantes que eu nunca mais vou querer tocar, mas
mesmo quando me atormentarem, terei todos esses momentos
especiais para vencer a escuridão.
Minha vida se encheu de luz e ela nunca mais será apagada.
— Obrigada — sussurro em seus lábios, um fio de baba
deixando minha boca para a sua. Rio por isso ter acontecido e ele
me beija novamente sem se importar. — Esse foi o melhor presente
de todos.
— Ainda não acabou. — Caminha comigo, me deitando na
cama. — Tenho mais umas coisinhas para fazer com você.
— E eu vou deixar. — Levanto as mãos acima da cabeça,
sorrindo tranquila, excitada por saber que eu sou dele.
O sorriso sacana do meu marido acende um alerta na minha
mente. Ele retira a jaqueta de couro e a camisa, ficando somente de
calça caqui. Uma delícia completa em contraste com a pele branca e
a barba negra no rosto de olhar fatal. Eu subo na cama, retirando
minha jaqueta, enquanto observo os movimentos dele. Michael pega
uma maleta preta e caminha até a cama, sobe de joelhos, respiro
pesado, animada com o que ele vai me mostrar.
— Escolha uma joia.
Grito surpresa ao ver as joias que o Michael se refere. São
plugs anais de diferentes tamanhos com uma joia na ponta e um
vibrador para vagina e clitóris. Encaro-o desconfiada, não acredito
que o safado vai me dar de presente comer meu rabo. Nego com a
cabeça.
— Você não tem jeito.
— O quê? A lembrança da sua primeira vez me dando o
cuzinho nunca sairá da sua memória. — Morde meu lábio, puxando
a carne para si. — Escolhe uma.
— Nada de cuzinho para você — digo com as bochechas em
chamas. — Talvez no seu aniversário — falo meio incerta.
— Caralho, Hope. Vai me fazer esperar dois meses?
— Eu nem deveria ter dito isso. — Levo a mão ao rosto. — Tá,
vamos usar uma joia hoje e só.
A verdade é que o Michael me tenta diariamente com a ideia
de sexo anal e já não tenho mais tanto receio quanto antes. Eu
quero tudo que ele pode me dar, mas ao menos não hoje.
— Escolha.
— A menor. — Aponto a pequena.
— Tira a roupa e fica de quatro.
Com as mãos tremendo em expectativa eu obedeço à sua
ordem. Removo as peças e fico de quatro, ansiosa demais. Mordo os
lábios, tremo um pouco ao sentir objeto sendo passado na minha
nádega. O coração dispara no peito quando Michael desliza o objeto
lambuzado entre a minha bunda.
É pequeno e não incomoda muito, mas causa um efeito
abrasador no meu marido que rosna antes de enfiar a cara entre as
minhas pernas. Grito com o rosto colado no colchão. Sua língua
trabalha feroz na minha carne. Ele agarra meu quadril me girando e
eu vejo estrelas, literalmente. Michael me solta e pega o vibrador,
lambe o objeto e eu deliro com a sensualidade dele ao fazer isso.
O vibrador treme no meu interior. Michael remove a calça e
fica em pé, com a vagina em chamas eu fico de joelhos
abocanhando seu membro. Gemendo contra sua grossura enquanto
deliro pelo estímulo do objeto. Dou o meu máximo, o chupando
gostoso, a bunda e vagina preenchidas. Atinjo meu orgasmo com o
pau dele na minha garganta. Tremo caindo para trás de pernas
abertas.
— Segure seus tornozelos — manda, e eu obedeço. — Não
ouse se mexer.
— Sim, senhor. — Tremo quando ele remove o vibrador.
Seu pau desliza nas minhas dobras molhadas, choramingo ao
senti-lo dentro de mim, a vagina sensível pelo orgasmo recente
apertando feliz por ter o dono dela a tomando. Encaro o céu acima
da cabeça do meu marido perdendo os sentimentos enquanto deliro,
as estrelas se mexem ao meu redor e pelo resto da noite Michael me
ama com seu corpo nos levando a patamares enlouquecedores que
somente nós alcançamos.
Passamos o dia de chamego dentro de casa, o lago esfriou e
resolvemos entrar. Michael faz o almoço enquanto o observo com
um sorriso no rosto.
— Meu marido fica uma delícia na cozinha.
— Principalmente por fazer isso pelado — ele fala orgulhoso
de cada centímetro do seu corpo.
— Com certeza, que bundinha tentadora. — Babo vendo sua
bunda branca e durinha, arranhada pelas minhas unhas. Ainda sinto
os espasmos da nossa noite quente.
Almoçamos conversando e depois assistimos a um filme. Na
hora da janta Michael monta a mesa no lado de fora, ele faz um bife
divino que colocaria o de muitos Chefs 5 estrelas no lixo. O frio bate
e acendemos uma fogueira. Ele senta na cadeira e fico contra seu
colo, aproveitando a brisa fria da noite, encarando as estrelas e o
lago iluminado pela lua.
— Feche os olhos — ele sussurra.
Faço o que pede. Seu corpo me deixa e eu aperto a manta ao
meu redor. Escuto o som de passos quando ele retorna, animada
para outra de suas surpresas. Sorrio, mal contendo a animação.
— Pode abrir.
Rapidamente abro as pálpebras encarando meu marido
sorrindo segurando um bolo de aniversário com as velas 21 em cima
e o nome “Parabéns, Hope” em uma plaquinha. Embargo sem
conseguir conter a felicidade por ganhar um bolo de aniversário
dele.
— Parabéns para você — cantarola, gargalho feliz. Suas mãos
segurando a base do bolo. Vou para a pontinha da cadeira, ouvindo
atentamente cada uma de suas palavras, aproveitando pela primeira
vez uma canção de aniversário. — Nessa data querida, muitas
felicidades, muitos anos de vida. Faça um pedido, amor.
— Que todos os anos sejam assim. — Assopro as velas pela
primeira vez sem medo de alguém estragar a minha felicidade. — De
todos os presentes, esse foi o melhor — confesso a ele.
— Prometo me superar todos os anos. — Beija meus lábios
com o bolo entre nós.
Rindo eu espeto o dedo no bolo, provando um pedaço.
Delicioso, docinho na medida certa e recheado de amor. Michael
coloca o bolo na mesinha e me puxa para si. Ali, naquele lugar
comemorando meu aniversário, banhados pelo céu estrelado e a
noite fria, eu me sinto vivendo um conto de fadas.
Hope
— Redobrem a segurança do clube, é estranho essa troca de
funcionários que tivemos ao longo do ano. — Ouço a voz grave do
Michael.
Apoio os braços na borda da piscina, encontrando meu marido
vindo na minha direção, ao seu lado Trent e o desprezível do
Andrew. Odeio como esse homem tem rastejado pela mansão,
parece um cachorrinho nos pés do Michael, implorando para não
perder as empresas de arte no nome dele. Apesar de ser durão e
sempre encarar o Michael com desafio nos olhos, o Andrew tem se
mantido na linha.
Fica pouco na mansão e quando o faz não perturba ninguém.
Meu marido tem conseguido controlar o escroto do pai dele, pelo
que ele me contou há uns dias, está só esperando a transação da
empresa acabar para poder dar um fim no pai sem levantar
suspeitas. O Andrew vai sair de férias e o Michael nunca será visto
como um traidor que matou o pai, um dos maiores pecados da
nossa organização. Ele precisa ser cuidadoso para não perder o
respeito dos membros.
Nada controla as pessoas como o respeito. Quando se usa o
medo você pode até fazer com que ela te obedeça. Mas nunca vai
evitar os pensamentos de traição e ações que podem levar a isso.
Contudo, ao usar o respeito, a pessoa te admira e cria um forte
senso de lealdade, inquebrável, confiando cegamente em sua
palavra. É isso que meu marido tem feito nesse um ano que
estamos casados, estabelecendo o seu domínio, ninguém ousaria
piscar errado sem a permissão do Michael.
— O que aconteceu no clube? — pergunto, a água se
movendo ao meu redor.
— Medidas de segurança, não precisa se preocupar.
— Ok. — Bato os cílios para ele, querendo seduzi-lo.
— Pode ir — Michael fala ao pai que acena e vai embora sem
me dirigir a palavra. Prefiro quando ele faz assim, não precisamos
ter contato, além do necessário. — Que linda sereia eu encontrei
aqui. — As íris azuis se encontram em chamas me analisando. —
Sobe, quero ver seu biquíni.
— Não estou usando nada — sussurro, desamarrando o laço
nas costas, retiro a peça por cima da cabeça, colocando na borda. —
Vem nadar comigo.
Empurro a parede da piscina com os pés me afastando
lentamente do Michael. A sobrancelha negra arqueia, as covinhas
nas bochechas aparecem sedutoras enquanto meu marido morde os
lábios e retira a gravata azul. Joga os sapatos fora, me dando uma
linda visão do seu corpo ficando desnudo. Odeio ver o curativo em
seu ombro, feito recentemente quando ele voltou de uma missão
que fez com o quarteto monstro.
— Fala para mim de novo o seu codinome no submundo —
peço, só de lembrar eu tremo.
— Dragon. — Puxa a cueca, me delicio com a visão do seu
pau duro, arquejo com vontade de tê-lo dentro de mim.
Removo a parte de baixo do biquíni e jogo para o Michael que
a pega na mão e a cheira. Estou morrendo de saudades e mal me
aguento quando meu homem entra na piscina vindo até mim.
— Vem, Dragon, come sua presa. — Arquejo ao sentir seu
tórax ao redor das minhas pernas.
— Não existe refeição melhor que a sua bocetinha. — Desliza
os dedos em minhas dobras. — Pingando de vontade para eu te
comer. — Morde meu pescoço, ele desliza o membro robusto contra
a minha carne. — Uma rainha de dia e de noite a minha vadia. —
Enfia o pau no meu interior. Cravo os dentes na sua garganta,
rebolando no seu pau do jeito que ele gosta.
— Somente sua — gemo, sentindo as investidas, a água ao
nosso redor se mexendo. Nossos corpos flutuam até minhas costas
baterem na parede da piscina. — Oh, Dragon. — Eu tenho uma tara
enorme em chamá-lo por seu codinome desde que descobri.
O imponente dragão que rasga as ruas do submundo
distribuindo medo e caos. Levando as trevas a cada viela da cidade.
É o meu marido, único que entra no meu corpo e faz o que deseja
comigo e eu me entrego a cada uma de suas perversidades com um
sorriso no rosto, sabendo que ele sempre me dará prazer e amor.
Chegamos ao ápice e continuamos na piscina nadando
pelados até a noite chegar, depois nos arrumamos e vamos a um
jantar da organização. E é assim que tem sido os nossos dias,
conciliando nossos deveres na máfia com o que fazemos em
sociedade. Já concluí um semestre e estou de férias até o próximo
se iniciar em 3 semanas. Por enquanto quero continuar
descansando.
Hoje é sábado, à tarde tenho um encontro marcado com as
Senhoras no clube. Ao entrar estranho os funcionários novos, não
consigo entender como aconteceram tantos acidentes e doenças que
fizeram os antigos saírem.
Os seguranças estão a postos em cada corredor, segurança
redobrada agora que estou aqui. Sento à mesa no centro do salão e
começamos as conversas triviais, até que a Senhora Griffin coloca
um sorriso no rosto que eu sei que vai me perturbar.
— Quando teremos os herdeiros Bianchi? — Sempre que ela
me vê pergunta isso. Mordo os lábios esfregando os dedos para
respondê-la.
— Eu e o Michael ainda estamos desfrutando do nosso
primeiro ano casados. Não planejamos as crianças ainda —
respondo, encarando seu franzir de nariz.
— Mas vocês precisam pensar nisso, temos de ter um
herdeiro, não pode demorar e corre o risco de algo acontecer com
um de vocês. A organização depende disso.
— Meu filho não será gerado pela necessidade da
organização. — Aperto o punho, odeio quando elas falam como se a
criança não passasse de um objeto. — Quando o momento certo
chegar teremos um bebê. Eu poderia estar grávida agora e vocês
não saberiam. — Sorrio para elas.
O que não estou, ainda, somente a Emily, Josephine e Daisha
sabem que estou iniciando o processo de parar de usar o
anticoncepcional para poder ter um filho. Tenho um plano traçado
com meu marido de como conciliar a faculdade e a maternidade.
Estamos tentando ter um bebê, com o nascimento do primeiro terei
outros somente após a minha formatura. Michael insistia na ideia de
10 filhos, mas consegui convencê-lo a ter no máximo 5. Só precisei
usar o argumento de que não teríamos mais tempo para sexo, e ele
desistiu de dobrar a quantidade.
— Como quiser. — Ela bebe o chá, aposto que engolindo as
palavras.
— Não vou transformar a minha gravidez em um mega
evento, conforme-se com isso, senhora Griffin.
— Como não ser um mega evento? — Leva a mão ao peito,
tossindo. — Desculpe por isso.
— Está doente? — Minha garganta coça.
— Não. — Tosse novamente.
Outras pessoas começam a tossir também. Olho ao redor sem
entender como todas tiveram uma crise ao mesmo tempo. O ardor
na garganta aumenta e começo a tossir. Zayn vem até mim com o
semblante preocupado, coloca um pano no meu rosto, me
levantando pelo braço.
— Vamos sair daqui.
Outros seguranças começam a pegar suas senhoras. Emily
que estava ao meu lado desmaia batendo a cabeça na mesa. Antes
que eu consiga chegar a ela escuto o som de vários corpos caindo.
Ao meu redor todas as senhoras e suas filhas que tossiam passam a
desmaiar. Os seguranças empunham armas com lenços na boca.
Minha visão turva e cambaleio para a frente, me encostando no
Zayn. Ele tem a Glock próxima ao rosto enquanto me arrasta. Perco
a força nas pernas caindo de joelho. Zayn tosse, tentando me
segurar nos braços antes de fraquejar.
— O que diabos? — digo antes da visão ficar completamente
embaçada e cair no chão.
Tento mexer o corpo, a cabeça pesada e os olhos impossíveis
de serem abertos. Balanço, seguindo o movimento de onde estou,
acho que estou em um veículo, tento mexer a mão, bato em uma
superfície macia, parece a perna de alguém. A cabeça pende para o
lado encostando em um ombro, o cheiro não é o Michael, seria o
Zayn ou outro segurança?
Tento abrir os olhos, mas estão pesados demais, não consigo.
Entreabro os lábios precisando de mais oxigênio, a cabeça pesada
demais.
— Durma, Hope — alguém fala, não consigo distinguir o tom
de voz, é confuso, não sei se conheço ou não a pessoa. — Logo
estaremos em casa, vai ficar tudo bem.
Casa?
Estou indo para a mansão? O que aconteceu comigo? Não
consigo me lembrar de nada além de desmaiar no clube. Tento mais
uma vez abrir os olhos, algo úmido é pressionado contra meu nariz e
boca, o cheiro forte invade meus sentidos e desmaio outra vez.

— Acorda, princesa. — Escuto no fundo da minha mente. —


Esperei tanto por esse momento, vamos lá, Hope, abre os olhos. —
Tocam o meu rosto.
Impulsiono a cabeça para trás, me livrando do toque. A mente
dolorida e os sentidos torpes. A vista embaça um pouco antes de
focalizar na pessoa à minha frente. Um homem alto de cabeça
raspada e com uma cicatriz de queimadura no rosto.
— Gostou do presente que seu marido me deu? — Ele aponta
para a orelha queimada e parte da bochecha derretida.
— Quem é você? — pergunto com a voz fraca.
— Ora, seu paizinho não falou de mim para você? — Toca
meu queixo, puxo novamente a cabeça para trás. Ele aperta minhas
bochechas entre os dedos, me trazendo para perto de si. —
Deveríamos ter sido apresentados antes, prazer, Hope, eu sou
Samuel Bonnarro, seu irmão.
Não pode ser possível.
O medo se esgueira pelo meu corpo como uma vinheira cheia
de espinhos, machucando cada pedacinho da minha pele.
Prendendo meu coração em uma caixa apertada, comprimindo
enquanto causa uma dor aguda. O ar não chega aos meus pulmões,
a pressão na minha cabeça atinge outro nível. Ergo as mãos na
direção do seu pescoço, meu ataque é parado pela dor das correntes
puxando a carne, restringindo meus movimentos, só então noto meu
corpo amarrado a uma cadeira.
— Mentiroso — rosno, encarando os olhos verdes com
divertimento ao ver meu tormento.
— Benjamin Bonnarro. — Alisa meus cabelos. Abro a boca
mordendo seu punho. Ele puxa para trás, me encarando com ódio.
— Não faça isso de novo ou eu vou te punir.
— Vá se foder! — grito em meio a um rosnado.
— Não está curiosa para saber a nossa ligação?
— Eu vou matar você com as minhas mãos — ameaço, ele
gargalha batendo palmas.
— Bem que nosso pai falou que você era feroz.
— Meu pai é Bartolomeu Bonnarro e ele não teve outros filhos
além do Black e Steve.
— Ah, não, estou falando do irmão usurpador, mas do seu
verdadeiro pai, o Benjamin.
Estremeço com medo por ele saber a verdade e o que fará
com essa informação. Eu achava que somente a minha família e o
Michael conheciam o segredo do meu nascimento, mas se o Samuel
tem essa informação, é possível que ele realmente esteja falando a
verdade sobre ser filho do Benjamin.
Não é hora de ter medo, mas de travar qualquer emoção e
focar em como me libertar. Se eu conseguir pegar o punhal no bojo
do sutiã posso soltar as algemas nos pulsos e atacar o desgraçado.
Observo a sala, uma mesa no canto, janelas indicando que estamos
no segundo ou terceiro andar, já que não consigo ver o chão, e uma
porta. Sem ninguém por perto. Só preciso ganhar tempo até o
Michael me achar, os rastreadores vão trazê-lo para mim.
— O que você quer?
— Um reencontro familiar e vingar nosso pai — abre os braços
—, estou animado por finalmente conhecer a minha irmãzinha —
sorri como um maldito lunático —, mas primeiro eu vou te dar duas
opções. Tenho certeza de que o Bianchi deve ter uma forma de te
rastrear, então você me diz como ele fará isso e eu destruo o
dispositivo ou eu vou te apalpar inteira até encontrar o que procuro.
— Não toque em mim!
— Também não quero fazer isso, somos irmãos, afinal de
contas. — Dá de ombros, o rosto assumindo uma expressão séria. —
Mas eu farei se você não for sincera.
Mordo os lábios, ódio e medo duelando. Respiro fundo,
procurando por qualquer coisa que eu seja capaz de usar contra ele.
Michael tinha razão, precisávamos de cinco rastreadores para o caso
de um ser encontrado, tudo vai ficar bem se eu continuar com os
outros quatro. Mas se o Samuel me apalpar e descobrir a todos vou
perder a vantagem que temos. Não posso deixá-lo retirar a todos.
— O que você fará quando eu falar? — pergunto, tentando
ganhar tempo.
— Vamos deixar o dispositivo aqui e depois iremos embora,
mas você precisa ser rápida ou seu maridinho vai nos encontrar
antes. — Faz som de “tesc”. — Ele consegue ser bem insistente.
Quase que ele me encontrou no galpão de drogas, mas consegui
fugir antes de ser completamente queimado. Imagina como
poderíamos nos conhecer se eu morresse.
— O que você quer de mim?
— Vingança. — O mau brilha em seu rosto. — Bartolomeu
matou o meu pai quando eu tinha 20 anos, Zacharias a minha mãe,
por ter tido um caso com o Benjamin. Eu destruí toda a máfia de
Boston como vingança, matei meus irmãos e peguei o bastardo do
Ícaro antes que ele se encontrasse com o seu marido. O Michael te
contou como ele foi atingido no ombro? Ele tentava proteger o
Ícaro, sedento por informações, no meio do tiroteio matei aquele
desgraçado e ainda feri seu marido. — Gargalha. — Usei
mercenários para isso, Michael ainda deve estar tentando achar que
os contratou, o que você acredita que acontece primeiro, eu o mato
ou ele me encontra?
— Como você existe?
— Depois teremos nosso reencontro familiar cheio de
explicações, mas agora, onde está o rastreador? — Puxa uma faca
do cinto, se aproximando de mim. — Ou quer que eu seja um
incestuoso que procurou até dentro da vagina da irmã?
— Meu braço. — A voz não passa de um sussurro, o medo de
ser estuprada causando um novo alvoroço dentro de mim. — E
perna. — Fecho os olhos me odiando por confessar, mas se ele não
mantiver a sua palavra e me apalpar vai descobrir que menti e se ele
procurar o suficiente achará a todos.
— A informação estava correta. — Sorri, deslizando a faca no
meu rosto. — Você tem dois rastreadores, obrigado por não mentir.
— Como você sabia?
— Eu sou esperto e tenho meu método para conseguir o que
eu quero. — Dá de ombros. — Agora, se doer, não grite.
Sem que eu diga onde estão os rastreadores, ele enfia a faca
no local exato, rasgando minha pele e puxando os pequenos
objetos. Travo os dentes, não dando a ele o gosto de me fazer
sofrer. Samuel sai da sala com os objetos nas mãos, me deixando
sozinha. Novamente tento encontrar alguma câmera, mas não acho
nada.
Curvo o tronco para a frente, levando a mão ao bojo do sutiã.
Por sorte ele usou correntes de meio metro de comprimento e
consigo pegar o punhal. Recordo das aulas que o Michael me deu de
como destravar algemas com a lâmina. O medo de ser pega
atrapalha meus movimentos, mas quando o click no pulso esquerdo
soa eu respiro aliviada. Liberto o direito e em seguida meus
tornozelos.
Deixo as correntes folgadas, dando a impressão de que
continuo presa, mantenho o pequeno punhal firme entre meus
dedos, evitando me cortar, mas pronta para atacar. Quando ele
voltar vou enfiar a lâmina na sua jugular e escapar desse lugar. O
Michael vai me achar onde quer que eu esteja, mas preciso
continuar viva.
Não me importo em ouvir a história sobre o nascimento do
Samuel ou o caso que o Benjamin teve com a mãe dele ou como ele
ficou sabendo sobre mim. Essas respostas podem ir para o inferno,
tudo que me interessa é matar o desgraçado e fugir daqui, retornar
para a minha família e nunca mais sentir medo novamente.
Michael está vindo me salvar, mas não é por isso que ficarei à
mercê do louco maldito do Samuel.
Pendo a cabeça para a frente, quero que ele pense que eu
desmaiei quando retornar. Foco em manter a respiração controlada,
nada pode dar errado. A porta abre, passos soam se aproximando
de mim, uma mão aperta meu ombro, continuo imóvel.
— Hope? — Ouço a voz do desgraçado. — Acho que te
assustei demais com a faca e os rastreadores. Vou ser bonzinho e te
dizer que eu descobri quando te toquei no carro. — Não me mexo,
não vou perder o controle, a única coisa que faço para controlar a
ira é apertar os olhos. — Você é bem gostosinha e se não fôssemos
irmãos eu te reivindicaria como minha. Mas nosso pai foi bem claro
quando me disse que eu deveria te salvar dos Bonnarro de Las
Vegas.
Ele se afasta, preciso usar o elemento surpresa e atacá-lo
somente quando ele estiver próximo o suficiente para eu ser rápida
em um único golpe. Mantenho a minha pose, escutando suas
palavras.
— Nosso pai tinha negócios com o Zacharias, andava muito no
território dele. Teve um caso com a minha mãe e quando ela
engravidou fingiram que era do Zacharias, mas assim que eu nasci,
ele me levou para ser criado pela esposa de um político. Você não
teve a chance de conhecê-lo, é uma pena, ele era incrível.
Sinto quando ele se aproxima novamente, agarra meu queixo
forçando minha cabeça para cima. Permaneço de olhos fechados,
me recusando a encará-lo.
— Por causa do Bartolomeu eu tive de ser criado em segredo
e quando nosso pai transou com a sua mãe, ele tinha certeza de que
a tinha engravidado e teriam um filho juntos. O Bonnarro forçou
meu pai a se esconder, mas ele me levou junto, ainda era um
adolescente de 16 anos, obrigado a fugir por causa do maldito
Bartolomeu. Passamos quatro anos maravilhosos criando laços de
pai e filho enquanto eu aprendia tudo sobre as duas máfias, fazia
contatos e me preparava para quando assumiríamos, destruindo os
Bianchi e os de Boston.
O cheiro podre dele se torna mais forte, o hálito quente
batendo contra a minha bochecha. É agora.
— Mas o desgraçado do Bartolomeu matou o nosso pai e com
isso eu passei os anos seguintes criando a minha própria
organização de assassinos e espiões, me infiltrando em cada lugar.
Os Bianchi continuavam sendo um desafio, mas os de Boston foram
fáceis. Tudo para chegar até esse momento, cumprindo a vontade
do nosso pai de estarmos juntos e reinando no submundo. — Abro
os olhos o encarando, aperto a ponta do punhal com força, inspiro
fundo. — Vamos embora, Hope, seu marido está a caminho.
Libero a lâmina da minha palma subindo a mão contra a sua
jugular em um único golpe, rápido e preciso. O sangue espirra
contra a minha pele, ele arregala os olhos engasgando com os
líquidos. Rasgo a pele de seu pescoço, seu corpo tomba para trás
enquanto ele tenta estancar o sangramento. Levanto-me, indo para
a janela, e a abro.
Do lado de fora vejo guardas posicionados fazendo ronda, não
tem como escapar daqui, estou a muitos metros do chão e uma
queda quebraria no mínimo um osso, sem contar que logo seria
pega por eles. Corro para a porta enquanto Samuel tenta falar algo,
ele cambaleia atrás de mim. Giro a maçaneta, entrando em um
corredor.
Dois homens de preto estão a postos do outro lado. Ao me
verem agem rápido, o soco atinge meu queixo, me jogando no chão.
Perco os sentidos, eu deveria ter sido mais esperta, mas com o
Samuel quase morrendo posso ter ganhado tempo para o Michael
chegar.
Por favor, meu amor, venha logo.
Michael
— Tem algo de errado no clube de senhoras. — Daniel entra
pela porta do meu escritório.
— O que aconteceu? — Levanto-me, pegando a arma na
gaveta.
— Kai já foi para lá com uma equipe, mas as câmeras foram
desligadas e não conseguimos contato com os seguranças que
estavam encarregados do lugar.
— Porra! — Soco a porta.
Corro para fora do prédio dando ordens a todos. Com o celular
rastreio a Hope, ela ainda está no local. Entro no carro, Daniel ao
meu lado e Trent no valente, carregamos as armas enquanto
tentamos ver o que está acontecendo no clube. Sem comunicação,
ligo para a minha esposa e ela não atende.
A localização começa a se mover, estão saindo. Não perco
tempo indo para o clube, mando que sigam o sinal da Hope.
— Kai chegou lá. — Daniel me passa o telefone.
— Está uma zona completa aqui, eles usaram gás sonífero
pela tubulação, jogaram em todo o prédio, os guardas, equipe de
funcionários e as mulheres que estavam reunidas, todos dormiram.
— Cadê a Hope e a minha irmã?
— Emily, nossas mães e irmãs estão dormindo no grande
salão. Mas sem sinal da Hope.
— Vou te enviar a localização do rastreador, intercepte o
veículo, mas não mate minha esposa.
— Vou tomar cuidado.
— Quero todos os soldados de Nova Iorque seguindo o sinal,
feche as interestaduais para eles não poderem sair. Mande todos os
helicópteros e drones ficarem alertas rondando em todos os lugares.
Convoque os capos e mandem que parem agora o que estão
fazendo. Esse é um alerta máximo, Hope será encontrada hoje e
com vida.
— Sim, Chefe!
Desligo a ligação. Daniel mexe no tablet e me entrega,
mostrando sinais das câmeras de segurança da cidade seguindo os
desgraçados. É um comboio de dez carros no total, não consigo ver
a Hope ou qualquer um dentro do veículo além do motorista e os
seguranças, mas um símbolo me chama a atenção.
— Não é a marca dos mercenários que estavam procurando o
Ícaro? — Aponto para o símbolo cravejado no capo de um dos
carros. Um escudo arranhado com uma espada o atravessando.
— São eles mesmo. — Daniel abre outro arquivo com as
informações que temos sobre o grupo. — Podemos achar onde eles
irão se esconder, sabem que será impossível sair do estado agora.
— Saiam do carro! — Trent grita.
Olho para a frente a tempo de ver um míssil vindo na nossa
direção. Abro a porta me jogando para fora do veículo. Giro com os
antebraços protegendo o rosto enquanto o impacto da queda me
joga a metros de distância do carro que explode em meio ao
trânsito.
Um carro freia a cinco centímetros do meu rosto. Com
agilidade me levanto, um tiro acerta perto do meu pé e me escondo
usando o carro que quase me atropelou como escudo. Com os olhos
busco por onde estão os atiradores e vejo quatro vindo na minha
direção.
Mantenho-me agachado, vou para a traseira do carro, puxo
minha Glock 9mm e atiro na direção dos desgraçados. Acerto o
primeiro, um tiro que não veio da minha arma acerta outro,
encontro o atirador. Daniel se esconde atrás de um prédio enquanto
dispara, me dando cobertura. Com a ajuda dele saio do meio da
pista e fico ao seu lado. Os seguranças que vinham em outros carros
começam a atirar em mais inimigos.
— Trent — chamo meu chefe de segurança pelo comunicador,
ele não responde. — Porra, responde, caralho!
— O Trent explodiu com o carro, Chefe — alguém me
responde.
— Merda.
— Se ele não tivesse avisado — Daniel se encolhe contra a
parede, trocando o pente da arma enquanto somos alvejados —
para sairmos não teríamos reagido rápido o suficiente para pular dos
carros.
— Ele era um bom soldado, cacete. — Chuto a parede. —
Perdi meu celular com a queda, está com o seu?
— Aqui — me entrega —, mas não tenho a localização da
Hope.
— Vou mandar o Simon me passar a que ele tem, por ora o
Kai deve estar na cola deles.
— Vou continuar matando esses bostas. — Atira.
Ligo para o Simon que atende de prontidão, ele manda para o
celular do Daniel a localização atual da Hope dos cinco dispositivos
enquanto me informa que o grupo do Kai sofreu um ataque
enquanto perseguiam os carros na ponte Manhattan, que foi
completamente bloqueada pelo grupo de mercenários.
— Vou precisar do helicóptero. Abrirei caminho para ele
pousar aqui, mande vir imediatamente.
— Sim, senhor, o senhor Andrew Bianchi está nesse momento
falando com o Governador, ele disse que temos total suporte da
polícia e que as viaturas estão sendo enviadas para a proteção do
senhor.
— Certo.
Ao menos esse maldito está servindo de alguma coisa. Se a
polícia viesse atrapalhar seria um atraso ainda maior para conseguir
chegar até a Hope. Leva cerca de vinte minutos até conseguirmos
matar os desgraçados, os que ficaram vivos vão ser levados para
interrogatório, é suspeito que o mesmo grupo de mercenários que
participou do ataque ao Ícaro quando ele ia me dar informações
sobre o Samuel estejam fazendo parte do sequestro da Hope.
Subo no helicóptero com o Daniel, o sinal dela se manteve
parado em um conjunto de casas mais afastado no Brooklyn.
— É o território dos Lucian — Daniel diz. — Kai já me falou
que a maioria das casas possuem passagens subterrâneas
interligadas aos túneis que eram usados durante a Lei seca de 1920,
usávamos os túneis para transporte ilegal de bebidas.
— Se ele está planejando usar os túneis, deve saber para
onde eles vão. Como o maldito teria acesso a rotas da nossa
organização?
— Alguém nos traiu, quantos metros os rastreadores da Hope
suportam sem perder o sinal?
— 3 quilômetros de profundidade.
— Conseguiremos acompanhar a rota deles, os túneis foram
feitos 300 metros abaixo do solo — me mostra as plantas —, seria
melhor se o Kai estivesse com a gente, ele conhece tudo com a
palma da mão.
— Pegamos ele na ponte, como está a situação lá? —
pergunto pelos comunicadores.
— O senhor Kai Lucian está fazendo uma bagunça enorme —
alguém me responde. — Explodiu vários trechos da ponte com a
bazuca. Estamos lidando com um total de 50 inimigos com artilharia
pesada.
— Vai ser difícil controlar essa merda nos jornais — Daniel
fala. — Vamos colocar como ataque terrorista.
— Já estamos repassando a informação — respondem. — O
senhor Andrew Bianchi acabou de dar um comunicado à impressa ao
lado do Governador, estão transmitindo que o ataque se trata de
terrorismo doméstico com o objetivo de derrubar o atual governo.
— Tiraram dois rastreadores. — Tenho medo de acharem os
outros e eu não conseguir encontrá-la. — Caralho!
Ela continua no mesmo lugar, estou a menos de trinta
minutos. Preciso chegar a tempo e garantir que a Hope não se
machuque. Enquanto voamos vou monitorando a situação na ponte,
não queria fazer essa parada, mas preciso do Kai.
Somente ele conhece os túneis no Brooklyn para conseguir se
movimentar livremente sem precisar das rotas e ainda sabe os
lugares de emboscada e onde estão as armadilhas. É o território da
família dele e nesse momento eu preciso agir com cautela, em
hipótese alguma vou perder a mulher que eu amo.
Pousamos na ponte dentro do cordão de isolamento de
perímetro. Kai entra na aeronave carregando um rifle e com o rosto
coberto de fuligem e sangue. Um ferimento na cabeça dele goteja o
líquido por seu rosto. Voltamos a voar com reforços seguindo por
solo e outros helicópteros de apoio. Pego o kit de primeiros socorros,
ele se deita no chão respirando cansado enquanto limpo o ferimento
na sua cabeça e enrolo com faixas.
— Eles te pegaram de jeito. — Daniel analisa nosso amigo.
— A porra de um míssil explodiu o carro. Eu ainda estava
pulando quando as chamas me alcançaram. Acabei de gastar mais
uma das minhas sete vidas.
— Quantas você ainda tem? — pergunto, não lembro mais a
contagem.
— Quatro, acho que dá para chegar aos 50. — Levanta,
limpando as pernas. — Entrou em contato com o Black?
— Não, coloquei o Bellamy para movimentar os capos e
trancarem o estado, ele deve ter falado com os Bonnarro.
— E o Trent? — Procura ao redor não encontrando meu
soldado fiel.
— Morto pelo míssil.
— Merda, ele era um bom soldado.
— Prestem atenção. — Corto a linha para que somente os dois
possam me ouvir. — Eu não quero capturar o Samuel, a ordem é
para atirar assim que colocarem os olhos nele. Nada de
interrogatório ou sequer o deixar dizer uma palavra. Entenderam?
— Ele tem informação de morte? — Daniel pergunta, usando
nosso código para quando o inimigo sabe de algo que pode
prejudicar a um de nós ou nossas famílias. Não é comum
executarmos inimigos sem retirar respostas deles primeiro, mas se o
Samuel busca pela Hope e se existir a mínima possibilidade de ele
saber a verdade sobre ela não posso arriscar que ele fale.
— Não tenho certeza, mas não vou arriscar.
— Vamos ordenar aos soldados que a segurança da Hope é
prioridade e que devem atirar para matar qualquer um que a
ameaçar — ele diz.
— Isso mesmo — confirmo.
— Já faz tempo que quero quebrar a cara desse idiota. — Kai
estrala os dedos. — Quem ele pensa que é para mexer com a
mulher do nosso Chefe?
— Um homem morto.
Continuamos traçando planos de ataque quando o Kai nos
passa as informações sobre os túneis e confirma que aquela
localização é uma das mais escondidas, que somente alguns
membros da sua família a conhecem e talvez outros capos que
estavam ativos na época da Lei Seca. Chegamos, o sol começa a se
pôr, vejo vários soldados espalhados pelo terreno, fazendo a
segurança e no alto de uma janela no terceiro andar eu vejo a Hope
olhar para fora antes de correr pelo quarto.
— Ela tentou escapar? — Daniel pergunta, do alto de um
prédio observamos o perímetro com os binóculos.
— Não seria a primeira vez — Kai responde.
— Hope é treinada para conseguir fugir sozinha, mas ainda
me dá medo vê-la fazer isso — confesso para eles. — Precisamos ser
rápidos.
Mobilizo a equipe, aos poucos meus homens vão chegando.
Bellamy e Louis chegam equipados com seus exércitos e artilharia
pesada. Nathan e Tyron Belarc fecharam as interestaduais e estão
começando a se posicionar na saída dos túneis com o esquadrão da
morte. Bartolomeu e Black estão vindo para Nova Iorque, eles
encontraram mais mercenários que vinham prestar apoio, destruíram
os reforços.
Agora Samuel foi isolado e não tem mais rotas de fuga. Vamos
invadir em 10 minutos a casa por cima e por baixo, não o deixando
sequer pensar em respirar para sair vivo dessa. A ordem de matar
foi acatada, mas precisei dizer que o queria vivo para interrogatório,
mesmo não pretendendo seguir isso, conto com meus amigos para
darmos um fim no miserável.
Eu não preciso de respostas, somente da minha esposa
segura. E para isso vou destruir a todos que ficarem no meu
caminho. Hope voltará para casa em segurança antes do jantar e
todas as ameaças a ela serão neutralizadas.
Engatilho a metralhadora semiautomática, com um fone de
ouvido iniciamos a operação. Os soldados começam atirando gás
lacrimogêneo, criando cortina de fumaça para nós e atordoando os
que não usam máscara. Deixo os soldados cuidando da entrada,
com um passo de cada vez entro, a arma em punho.
Abro a porta da casa, encontrando guardas no caminho que
começam a se movimentar ao ouvirem o som de tiros e verem a
fumaça do lado de fora. Atiro, matando cinco de uma vez. Daniel me
dá cobertura enquanto avanço pelo corredor, do lado de fora um tiro
pela janela acerta um soldado que acabará de virar na nossa
direção. Kai e seu suporte como sniper.
— Pode seguir, o corredor de cima está livre — ele avisa pelo
comunicador.
Mando uma equipe na frente, pela localização da Hope ela
deve estar no terceiro andar. Chegamos e abrimos cada uma das
portas, não a encontro. Pego o celular, vendo o rastreador se
movendo para cima. Subo as escadas com Daniel às minhas costas e
dois soldados à frente.
— Eles não estão no terraço, cuidado com o quarto andar —
Kai avisa. — Não tenho visão.
O soldado à frente cai com um tiro na cabeça quando estava
olhando no corredor.
— Achamos ela, senhor — o outro diz, utilizando um espelho
para ver o que acontece. — Dois soldados e o Samuel segurando a
senhora Bianchi com uma faca em seu pescoço. Ele parece
machucado, tem faixas com sangue ao redor do pescoço.
— Jogue o gás — ordeno. — Não esqueça o que eu te disse —
digo ao Daniel. — Nem que você morra, mas não deixe de cumprir a
ordem.
— Estou preparado para isso. — Acena em positivo. — Mas
voltarei vivo, não quero magoar a Emily.
Eu realmente não entendo esse desgraçado, como pode
pensar que será ruim para ela se o tempo todo pensa em não a
magoar? Viro de frente, o gás é jogado e uma saraivada de tiros é
disparada. Eles não querem deixar a gente se aproximar. Um grito
da Hope chega aos meus ouvidos e avanço, preciso salvá-la. Daniel
me segura pelo braço, me jogando contra a parede.
— Se você for agora vai ser alvejado, não perca a
concentração, ele está te atraindo!
— Precisamos de uma rota alternativa. — Aperto o braço dele,
o grito dela aumenta, me deixando cego e surdo. Não posso ficar
parado.
— Eu vou — o soldado fala. — Me use como escudo, senhor.
As balas vão me atingir e você ficará bem.
— Quando eles recarregarem invadimos — Daniel informa.
Os gritos dela me jogam de volta para quando eu era criança
e o Andrew machucava a minha mãe. Eu não podia fazer nada e
agora se sair para a chuva de balas vou acabar morto antes de
chegar até ela. O desespero nubla meus pensamentos, preciso
manter o foco ou vou perder a mulher que eu amo e isso não é uma
opção.
— Faça um furo nessa maldita parede — digo a eles,
recobrando a calma. — Se não podemos ir pelo corredor, vamos
quebrar tudo.
— Tenho granadas. — Outro soldado se junta a gente me
entregando o que peço.
Montamos as granadas presas à parede, o suficiente para
abrir um buraco e explodo tudo. Os tiros ficam mais intensos
conforme vamos quebrando os quartos. Se eles perceberem que
estamos chegando assim podem mudar a estratégia. A casa inteira
treme e o piso ameaça desabar, paramos quando estamos a menos
dois metros de distância dela, mas ainda não a vejo.
— Vamos resolver isso entre a gente, Bianchi. — A voz do
desgraçado se sobrepõe, os tiros param. — Somente eu e você, o
que me diz?
— Solte ela — grito.
Os soldados se posicionam explodindo mais uma parede.
Dessa vez do outro lado por de trás da fumaça eu vejo a Hope,
escondida atrás do Samuel que a prende com um braço. Eles saíram
do corredor e se esconderam em um dos quartos. Os soldados que
atiravam eram somente iscas para me matar quando fosse atrás
dela.
Aponto a arma para a sua cabeça.
— Se fizer isso eu a mato. — Pressiona a lâmina no pescoço
fino da minha amada. O sangue corre quente nas minhas veias com
a vontade de arrebentar o desgraçado.
— Eu não quero uma morte rápida, quero vingança. — Tenho
a testa dele na minha mira, mas não atiro com medo de acertar a
Hope ou dele a machucar com a faca.
— Mata ele, Michael — ela grita, seu desespero é diferente do
que eu imaginava. Hope não tem medo de morrer, mas que ele
continue falando.
Ele sabe a verdade sobre ela.
— Hope é a minha ir... — Puxo o gatilho, acertando uma bala
no meio da sua testa.
A cabeça curva para trás, a faca presa em sua mão desce
rasgando o pescoço e ombro da Hope até o antebraço enquanto seu
corpo desaba no chão. Largo a arma correndo para a minha esposa,
amparo seu corpo nos meus braços, um rolo de faixas brancas é
estendido para mim, rodeio seu pescoço estancando o longo
ferimento em seu corpo, por sorte, não foi profundo.
— Isso dói — ela fala, fazendo careta.
Aperto bem a faixa contra os machucados, enrolando seu
antebraço, o sangue mancha o tecido branco, mas em quantidade
pequena. Respiro aliviado ao ver seus olhos verdes fixos em mim,
trago seu corpo ao meu, abraçando-a, sentindo o calor de sua pele,
ouvindo o som da sua respiração, a cheirando e tendo a certeza de
que a minha Hope está bem e viva.
— Porra, mulher, nunca mais me dê um susto desses — digo
em seu ouvindo, apertando os olhos para não chorar de alívio.
Eu consegui, cheguei a tempo, nada de ruim aconteceu com
ela. Beijo seus cabelos molhados pelo suor. Escuto uma pequena
tosse vindo dela e percebo que eu a apertava contra meu peito.
Merda, estou mais desesperado agora que a salvei do que antes, é
como se as comportas das emoções que mantinha controlada
estivessem finalmente libertas.
— Estou bem, amor — ela fala baixinho. — Me leva para casa?
— pede com os olhos brilhando em tranquilidade.
— Sim — respondo.
Toco seus lábios com os meus, o calor emanando deles. Ela
está bem, viva e segura. Eu sou o caralho do homem mais sortudo
desse mundo por tê-la em meus braços novamente.
Vamos rápido para o helicóptero, não quero esperar chegar à
clínica no complexo, o ferimento não parou de sangrar e por ser no
pescoço tenho medo do que acontecerá. Ordeno que sigamos para o
hospital mais próximo, por sorte é no Brooklyn e o CEO é um de
nossos associados. Ele vai cuidar em manter tudo no sigilo e que a
Hope tenha o melhor atendimento.
Não saio do lado dela um segundo sequer, fico na sala de
cirurgia enquanto os médicos agem rápido fechando o longo
ferimento. Por três centímetros de diferença a artéria do pescoço
não foi cortada, se tivesse os resultados poderiam ser terríveis. Ela é
encaminhada para um quarto VIP, com o Daniel e o Kai a vigiando
de perto, eu entro no banheiro para me livrar do sangue e fuligem.
Enrolo a toalha na cintura enquanto penteio os cabelos na
frente do espelho. Escuto sua voz me chamando e corro para fora do
quarto. Seguro sua mão enquanto me sento na cama, os olhos
verdes quase não se mantêm abertos pelo efeito da anestesia. Os
lábios brancos e rachados, as bochechas sem cor. O curativo no
pescoço se estendendo ao ombro e antebraço.
— Estou aqui. — Toco com delicadeza suas faces.
— Bem pelado — Kai fala rindo.
— Ele tomou um susto daqueles, esqueceu até de usar roupas
— Daniel provoca.
Fulmino os safados que riem mais ainda. Um som delicado
chama a minha atenção, minha esposa está rindo baixinho ao
perceber que saí correndo do banheiro quando a escutei me
chamando.
— Já que vocês a fizeram rir vou deixar que continuem vivos.
— Sei, sei — Daniel zomba.
— Nem se ele quisesse sairia do lado dela — Kai provoca. —
Nosso amigo caiu de quatro pela esposa.
— Mais ajoelhado que um padre! — o safado do Daniel
complementa.
Levanto pronto para socar a cabeça deles, mas sou impedido
pela mão da Hope segurando a minha. Volto a sentar novamente
focando nela.
— Deixa eles, deita comigo? — pede baixinho.
— Sempre. — Beijo seus cabelos. — Você não faz ideia do
quanto fiquei louco quando soube que você foi levada — confesso a
ela, sem me importar com a nossa plateia. — Nunca mais suma da
minha vista ou eu coloco fogo no mundo para te encontrar.
— Prometo. — Sua mão sobe alisando minhas costas.
— Você tem sorte, Hope — Daniel diz. — O Michael te ama
muito.
— Tenha pena da gente e não dê mais outro susto desses
nele ou nossa organização vai acabar sendo presa por causar a
destruição do mundo enquanto ele te procura. — Kai sorri tranquilo.
— Cuide bem desse cara.
— Vem, quero um lanche. — Daniel o puxa para fora.
— Eles cuidam bem de você — minha esposa diz. — Gosto
deles por isso.
— Protegemos um ao outro. — Levanto o edredom, me
deitando ao lado dela.
Escoro a cabeça ao lado da sua, alisando sua pele, tendo a
certeza de que ela está realmente viva e ao meu lado.
— Você precisa tomar cuidado com os interrogatórios, aqueles
homens faziam parte da organização do Samuel. Ele é filho do
Benjamin com a antiga senhora da Máfia de Boston.
— Isso explica por que ele disse que queria vingança e estava
obcecado em te encontrar. Não precisa se preocupar com nada, vou
cuidar dos interrogatórios e garantir que ninguém saiba a verdade.
— Eu sei, posso confiar em você de olhos fechados.
— Dorme um pouco, você passou por muita coisa hoje.
— Vamos jantar juntos?
— Com certeza, eu te fiz uma promessa, lembra?
— Sim, você é bom as cumprindo.
Seu peito assume um ritmo lento indicando que ela voltou a
dormir. Aconchego-me contra o corpo da Hope, do lado de fora as
estrelas e a lua iluminam a cidade. No relógio marca 19 horas. Eu
nunca vou quebrar as promessas que fiz a Hope, desde as mais
simples como fazermos as refeições juntas a de mais alto nível.
Manter o segredo da sua família longe de toda a organização.
Hope
Puxo a mão do meu marido, não o deixando levantar da cama
de hospital, o tenho mantido aqui enquanto me recupero dos
ferimentos. Quando cheguei fui atendida por um cirurgião plástico
que fechou meu ferimento do pescoço ao antebraço, segundo ele,
não ficarei com cicatrizes. Agradeço por isso, não queria uma marca
me lembrando do terror que passei nas mãos daquele homem
desprezível.
— Ainda não acredito que você teve coragem de atirar no
Samuel com a Hope nas mãos dele! — Emily protesta, batendo no
ombro do irmão. — E se ela tivesse morrido?
— Eu queria que ele atirasse — digo a ela. — Pedi por isso.
— Nunca a colocaria em perigo — Michael diz. — Sabia
perfeitamente o que estava fazendo.
— E ela acabou com um corte enorme! — grita Emily
enquanto leva as mãos à cabeça e inspira fundo. — Você não vai
falar nada? — pergunta ao Steve que tem montado guarda desde
que chegou com o Black e meu pai.
— Eu não estava lá, se a decisão do Chefe foi aquela, não
posso contestá-lo.
Ninguém pode, Michael é o Chefe e agiu durante uma missão,
nem mesmo meu pai ousou o repreender. Seria um desrespeito e
demonstraria que o Michael tem subordinados fracos que
questionam a sua decisão. Mas a Emily é uma pessoa à parte, ela o
trata como irmão e não como Chefe. Pelo menos estamos em família
para ela agir livremente, na frente dos outros ela se manteve calada.
— Vocês são inacreditáveis!
— Milly — chamo com a voz manhosa. — Estou morrendo de
vontade de um docinho e não me deixam comer nada,
contrabandeia um para mim?
— Eu que preciso de um doce depois dessa confusão toda. —
Sai a passos largos do quarto.
Steve que observava pela janela com as mãos cruzadas na
frente do corpo se aproxima da cama. Meu irmão já é um homem
adulto com 27 anos, olhos verdes como duas esmeraldas e cabelos
castanho-claros quase puxado para o louro. Ele está prestes a
assumir como segundo no comando de Las Vegas, após o Black se
tornar Capo. Sinto saudades das noites que passávamos em claro
jogando no videogame em seu quarto.
Sua mão sobe tocando meus cabelos com carinho, ele me dá
um sorriso com os lábios e se abaixa beijando a minha cabeça.
Fecho os olhos aproveitando seu carinho. Michael ao meu lado tenta
se levantar, mas não deixo. Estou emocionalmente dependente do
meu marido e não vou permitir que ele se afaste.
— Estamos só os três aqui — ele diz baixinho, encarando meu
marido. — Me conta a verdade, por qual motivo você colocou a
Hope em perigo atirando antes dela ser solta? O cara tinha uma faca
pressionada contra o pescoço dela, mesmo para o melhor atirador,
foi arriscado.
— Samuel é meu irmão — digo a ele. — Benjamin teve um
filho com a ex-esposa do antigo Chefe de Boston. Essa criança era o
Samuel, ele estava querendo vingança contra nosso pai e iria contar
na frente de todos que eu era irmã dele. Se o Michael não atirasse o
calando todos teriam ouvido, e bom, você sabe o que aconteceria.
— Inclino a cabeça, deitando no ombro do Michael. — Não tenho
ressentimento do meu marido por ter feito o que eu pedi e como eu
disse ao Black e ao nosso pai, digo a você. Não tenham nenhuma
dúvida de que o Michael sempre irá me proteger.
— Entendi. — Acena e levanta-se.
— Eu não tive escolha — Michael fala, me apertando contra
ele. — Me odeio por ter machucado a Hope, ela é a pessoa mais
importante da minha vida. — Seus olhos me encontram com carinho
transbordando. — E eu vou continuar pedindo perdão todos os dias
pelo ferimento.
— E eu vou jogar uma panela na sua cabeça se você não
parar com isso. — Aperto seu queixo. — Só quero deixar tudo isso
para trás. Finalmente esse inferno acabou.
— Steve — Michael o encara com diversão no rosto —, ela
sempre foi violenta assim ou piorou depois de casar?
— Você tem sorte de ela não ter uma panela na mão. — Meu
irmão coça a cabeça. — Nas TPMs a Hope vira o cão, já fui acertado
várias vezes por só perguntar como ela estava.
Gargalho do seu exagero.
Batidas soam e em seguida a porta do quarto abre, meu pai e
o Black entram acompanhados da minha mãe. Ela vem até mim com
os braços abertos, me aperta contra seu peito, beijando minha
cabeça. Meu marido tenta escapar novamente e coloco uma perna
em cima das suas.
— Pode ficar aí — digo a ele.
— Isso é cárcere privado — Black fala rindo.
— Chamem como quiser, eu sou a doente e exijo os melhores
cuidados.
— Deixa os homens irem trabalhar — minha mãe diz, alisando
meus cabelos. — Eu cuido de você.
— A proposta é tentadora — me inclino —, mas esse homem
aqui não vai a lugar algum.
— Hope querida — ela alisa minha bochecha —, seu marido
precisa trabalhar, do lado de fora dessas paredes as senhoras e suas
filhas esperam para darem presentes e votos de melhoras a Senhora
delas. Vamos cumprir as convenções e depois você se aproveita do
seu marido.
— Não quero. — Franzo o nariz, me deitando no peito do
Michael. — Use sua autoridade para mandar todas embora.
— Não seja mimada, Hope — minha mãe fala.
Michael ri grave contra a minha cabeça antes de se levantar.
Acho que eu não tenho escolha.
— Volto a noite, o Steve vai ficar fazendo sua segurança. —
Beija minha bochecha.
— Certo, traga um docinho — peço.
— Você e seu desejo de doces — inclina a cabeça —, já faz
uma semana que você está com essa vontade.
— E ela só aumenta.
Batidas à porta lembram-nos de que têm pessoas querendo
me ver. Michael me beija e sai com os homens. Meu irmão fica no
canto do quarto, sentado na cadeira enquanto recebo as senhoras
da famiglia.
Passo o resto do dia cumprindo com os meus deveres e
aproveito os chocolates que elas me entregam junto das flores.
Minha mãe passa o dia comigo e quando a noite chega ela pede ao
Steve para sair um pouco. Senta na ponta da minha cama e segura
minha mão.
— Quero conversar algo com você — alisa meus dedos —, seu
pai me contou que você disse a verdade ao Michael sobre a nossa
família. Fiquei em choque no início, mas vendo como esse homem te
ama eu percebi que você não tinha outra escolha. Somente o amor é
capaz de curar uma alma machucada, se não fosse pelo seu pai eu
nem sei o que seria de mim. — Ela começa a chorar e meu coração
aperta por vê-la sofrendo.
— Você nunca teve medo do Bartolomeu, mesmo ele tendo o
rosto do Benjamin, por quê? — Faço a pergunta que sempre tive
medo de saber diretamente dela.
— Porque eu amo o seu pai. — Sorri como se nada pudesse
magoar seu coração. — Eu sabia quem me machucou e quem lutava
por mim. Foi difícil no início, mas o Benjamin e o Bartolomeu sempre
foram pessoas completamente diferentes para mim. Apesar de
serem idênticos, eu não os via dessa forma. Mas o sinal que você
tem sempre foi um gatilho muito forte, eu continuo lutando todos os
dias para superar esse trauma e ser capaz de ser uma mãe de
verdade para você.
— Mamãe... — Lágrimas invadem meus olhos sem permissão.
— Eu sei que você me ama, eu também te amo, muito. E é
principalmente por você, pelo dia em que seremos capazes de
passar seu aniversário juntas que eu tenho me esforçado. Esse ano
com você longe eu senti uma nova dor — leva a mão ao peito —, a
saudade me sufocou mais do que qualquer surto, a vontade de te
ter por perto e te abraçar forte. Posso ter demorado longos anos,
mas eu estou conseguindo minha menina, aos poucos e quando
você estiver pronta para me deixar fazer parte desse momento eu
venho correndo te abraçar.
— Me abraça agora? — peço soluçando.
— Sempre.
Ela me envolve em seus braços finos, as bochechas
pressionadas contra as minhas enquanto eu choro sentindo seu
cheiro doce. Ela alisa meus cabelos, me enchendo de carinho. Eu
também quero o dia em que poderemos passar meu aniversário
juntas, deixar o passado amargo para trás de uma vez por todas.
Na hora da janta o Michael retorna segurando uma bandeja
bem servida. Minha mãe e o Steve vão embora, e eu janto com o
meu marido, ele me entrega um bombom de morango com um
sorriso sapeca nos lábios. Beijo-o antes de me deliciar com o doce
gosto do chocolate misturado ao morango. Deitamos na cama, seu
braço ao redor da minha cabeça com a mão fazendo carinho em
meus cabelos.
— Hoje terminamos o interrogatório dos homens do Samuel,
quer saber o que descobrimos?
— Sim.
— Eu, Bartolomeu, Black e Steve tomamos a liderança dos
interrogatórios, caso algo saísse de controle. Mas nenhum deles
sabiam que o Samuel e você eram irmãos. Somente que ele era filho
do Benjamin e da Cecília, a ex do Zacharias. Então o que foi
repassado a todos da organização, já que eu tinha de explicar o
motivo pelo qual te sequestraram. Foi que o Samuel era filho do
Benjamin e por causa disso conseguiu do pai acesso a plantas da
nossa organização e informação sobre rotas e os membros, ele
queria vingança pela morte do pai, que ele acreditava ter sido
causada pelo Bartolomeu e não em um confronto com organizações
criminosas da Argentina.
Mexo o tronco sentindo um pouco de dor ao deitar a cabeça
no peito do Michael.
— Enquanto o Benjamin estava na Argentina ele fez contato
com organizações criminosas de vários países, Bolívia, Chile e Brasil,
conseguiu criar uma rede de tráfico e quando foi capturado o
Samuel que tinha 20 anos na época ficou à frente da organização.
Usando um codinome que conhecemos como Serpente, ele expandiu
a organização para assassinos de aluguel e espiões, atualmente ele
tinha uns 40 anos. Infiltrou pessoas em Boston onde ele deu o golpe
e acabou com a organização que matou a mãe dele.
— Ele disse que você tinha causado um incêndio que fez ele
ganhar uma queimadura, foi aquele no galpão em Boston?
— Sim, o Trent colocou fogo em tudo a meu mando, mas o
rato do Samuel se escondeu em uma passagem secreta, conseguiu
fugir por ela, mas foi queimado no processo. Conseguimos pegar o
braço direito do Samuel vivo, ele estava ao lado dele desde a época
do Benjamin. Que manteve em segredo a sua paternidade por saber
o que aconteceria com você, mas todos sempre souberam que ele te
queria. Eles acreditam que era para casar com o Samuel e poder se
vingar do Bartolomeu te colocando em uma vida de sofrimento, ao
menos foi isso que o Samuel falou a eles quando foram em Las
Vegas fazer a proposta de casamento a seu pai.
— Onde está o Trent? Ele ainda não veio me visitar.
— O Trent faleceu durante o ataque do Samuel. — Michael
tem dor na voz, aliso seu peito, o confortando.
— Eu gostava do Trent. — Pequenas lágrimas escapam pelo
canto dos meus olhos. — Lamento pela morte dele.
— Era um soldado fiel e homem honrado. Vamos fazer um
funeral digno para ele.
— Sim, e confortar sua família.
— Com certeza. — Beija o topo da minha cabeça. — O plano
do Samuel sempre foi que eu destruísse Boston por ele, o que
acabei fazendo, seguindo o roteiro do rato enquanto o procurava.
Sua verdadeira organização estava aliada a um grupo conhecido de
mercenários.
— Eu lembro dele falar que matou o Ícaro e te feriu.
— Foi na missão em que voltei com o ferimento à bala.
Quando encontramos o Ícaro no esconderijo, ele começou a falar
sobre a mãe ter tido um caso, mas não sabia com quem era,
somente que era alguém influente que foi capaz de fugir com o
bebê, mas deixou a Cecília para morrer. E depois o Samuel apareceu
causando o caos na organização deles. Após isso, fomos atacados
pelos mercenários e o Ícaro morto, agora sabemos que a mando do
Samuel.
— E quanto ao clube? Como eles conseguiram me pegar lá
dentro.
— Suas observações sobre as trocas de funcionários estavam
corretas. O maldito estava agindo debaixo dos nossos narizes e não
percebemos, já que existiam explicações para cada funcionário que
saía e a ficha do que entrava era completamente limpa. Ele levou
um ano, todo mês colocava duas pessoas novas, homens e
mulheres, que ficaram encarregados de quando fossem ordenados
agir de uma vez. Despejaram gás sonífero na tubulação e encheram
as refeições de mais substância sonífera para quem estava do lado
de fora desmaiar. Desligaram as câmeras e agiram rápido te
pegando e fugindo. Estava tudo planejado, as rotas e como eles
iriam nos atrasar.
— Não consigo acreditar que ele fez tudo isso por vingança.
— Foi realmente algo grande, mas ele não imaginava que eu
colocaria toda a Máfia Bianchi para te trazer de volta. Agimos rápido
ao fechar o estado, forçando-o a recuar no Brooklyn e tentar fugir
pelos túneis que o pai dele tinha as plantas, até o Andrew foi útil
nessa missão de resgate.
— Sério? — Franzo o nariz.
— Sim, o Andrew tem um senso deturpado na cabeça. Mas ele
sabe como ser um bom líder, isso é inegável, não por menos que
todos os mais velhos da organização o respeitam, mesmo depois de
afastado.
— E dificultam que você o faça sumir — sussurro.
— Uma pedra no meu sapato. Você ter atacado o Samuel,
apesar de perigoso, nos deu tempo para invadir a casa em que
estavam antes dele te levar para os túneis. Eu te vi pela janela,
quase que morro do coração pelo medo de você morrer.
— Desculpa, não vou fazer de novo.
Peço outra vez. Michael me fez contar detalhes minuciosos do
que o Samuel disse e fez comigo enquanto fui sequestrada. Em
nenhum momento ele ficou com raiva por eu ter revidado, sabemos
que se fosse um sequestro para assassinato, eu ficar quieta
esperando o resgate poderia resultar na minha morte. Nenhum de
nós culpa o outro pelas escolhas que fizemos, aceitamos e juntos
superamos a adversidade.
— Não vai ser preciso, mas vamos continuar intensificando
seus treinos, se acontecer novamente quero que você seja capaz de
escapar. Eu lido com o resto.
— Certo. — Beijo seu peito. Amo a confiança que o Michael
tem em mim e como ele não me trata como uma princesa indefesa,
mas se esforça para que eu seja forte.
— Depois que conseguimos as informações sobre o Samuel,
mobilizei uma equipe para destruir a organização que ele criou. O
Kai é o líder e está na Argentina agora, causando um verdadeiro
caos nos desgraçados.
— Amo como meu marido dá medo — falo orgulhosa.
— E eu a sua força. — Beija meus lábios. — Vamos descansar
agora.
Desperto com conversas no quarto. Michael está em pé
conversando com o médico.
— Tem certeza do tempo exato? — o doutor pergunta.
— Sim, ela já parou há um mês — Michael responde.
— Parei com o quê?
— De tomar o anticoncepcional — meu marido responde,
sentando ao meu lado. — Na sua ficha sua mãe disse à enfermeira
que você fazia uso das pílulas, o doutor veio confirmar a informação
e estou esclarecendo a ele que você parou.
— Entendi — encaro o médico —, tem algum problema?
— Não, na verdade, acho que é uma boa notícia. — Aproxima-
se me entregando uma folha de exames. — Quando você entrou no
hospital no início da semana fizemos uma bateria de exames e entre
eles um Beta hCG, hoje de manhã recebi o resultado de todos. Mas
como na sua ficha tinha o uso do anticoncepcional precisava
confirmar para ter certeza de que o Beta hCG estava correto.
Parabéns, senhor e senhora Bianchi, vocês vão ter um bebê, a
gravidez está no estágio inicial de 13 dias.
Antes do Michael eu achava que nunca ouviria essas palavras
e sentiria felicidade. Mas nesse exato segundo enquanto encaro os
olhos azuis do meu marido, o sorriso nascendo em seus lábios, as
covinhas marcantes e seus braços me rodeando com cuidado para
não machucar meus ferimentos, eu tenho uma explosão de
felicidade estourando em cada cantinho da minha alma.
Meus olhos se enchem de lágrimas enquanto abraço o Michael
com o braço esquerdo. Soluço radiante, as bochechas doendo pela
felicidade, os olhos quase se fechando e a visão totalmente
embaçada. Meu marido beija meu pescoço várias vezes antes de
segurar meu rosto e beijar a minha testa com carinho que toca a
minha alma.
— Vamos ter um bebê — digo gargalhando, levo a mão ao
meu ventre. Michael cobre a minha com a sua e se agacha tocando
minha barriga.
— Olá, carinha, o papai já está ansioso para te ver.
Eu rio com a felicidade sendo impossível de manter contida. O
médico sai de fininho da sala sorrindo para mim. Aliso os cabelos do
meu marido, enquanto ele fala com nosso bebê. A alegria pelo
momento compartilhado entre nós dois. Mais do que nunca eu sinto
a bolha que o Michael me envolve se expandido com o sentimento
mais sublime que existe.
O amor banhado pela felicidade.
Estou dando os primeiros passos para ter a minha família.
Fruto único e exclusivo da união da minha alma com a do Michael,
provando que o amor é capaz de curar e superar tudo, independente
da dificuldade, se aceitarmos nossos reais sentimentos e lutarmos
por eles, nada será capaz de destruir a junção de dois espíritos
apaixonados e livres.
Hope
Aliso minha barriga de seis meses, deitada com a Emily em
sua cama assistimos a um filme juntas enquanto o Michael, Matthew
e Daniel trabalham no escritório no andar de cima. Eles ficaram de
nos levar para sair já tem mais de uma hora. Não sei qual problema
estão resolvendo, mas ocupou bastante o tempo dos três.
— Sua barriga está muito linda — Emily fala cheia de carinho
pelo sobrinho. — Titia já ama tanto esse pequeno. — Levanta minha
roupa, beijando minha pele.
Sorrio feliz por tê-la ao meu lado. Emily tem me ajudado em
absolutamente tudo, inclusive a aguentar a minha mãe que será
uma avó muito coruja, me encheu de tanto presente para o bebê
que estou ficando sem espaço no quarto do pequeno. Os últimos
meses têm sido completamente tranquilos, sem ataques inimigos —
que eu tenha conhecimento — e sem perturbações na mansão.
Agora que o Andrew passa mais tempo fora da mansão, a
Emily tem encontrado paz e eu não me aborreço com a cara daquele
homem desprezível. Minha gravidez segue perfeita, meu pequeno
Ethan cresce conforme o esperado e está somente com 500 gramas
acima do peso ideal, é difícil resistir às comidas que o Michael me
traz.
Ontem acordei com desejo de comer açaí, algo que nunca
comi antes, mas depois de ver um filme brasileiro em que as
protagonistas comiam o doce, a vontade surgiu no meio da noite e
meu marido passou duas horas procurando na cidade até conseguir
encontrar para mim. Devorei um litro de açaí muito feliz.
— Me fala de novo o significado de Ethan — Emily pede,
tocando onde o bebê chuta.
— Significa que ele será forte, resistente e duradouro. O
primeiro herdeiro de Michael Bianchi deve ter um nome à altura,
nosso milagre depois de tudo pelo que passamos, nosso Ethan.
Apesar de confiar na Emily, ela não sabe a verdade sobre a
minha origem, e nunca saberá. O segredo da minha família pertence
somente àqueles que viveram a tragédia e ao Michael, meu
companheiro. Meus filhos nunca saberão ou terão uma vida com
medo da própria sombra.
Ethan chuta minha bexiga, grito assustada correndo para o
banheiro antes de mijar nas calças. Emily que já se acostumou com
as minhas corridas ao banheiro gargalha. Conforme o pequeno
jogador de futebol vai crescendo ele parece adorar pregar peças na
mamãe, me fazendo quase mijar em público.
Tranco a porta e o silêncio me recebe. Esvazio a bexiga, lavo
as mãos, giro a maçaneta, um grito. Abro a porta, vendo a Emily
encolhida na cama, enquanto o Andrew segura o pênis de pé na
cama mijando na minha amiga. Ele gargalha como um lunático,
agarro a cadeira em frente à mesa de estudos e bato nas costas
dele, o desgraçado cai no chão.
— Emily!. — Pego-a, puxo seu corpo contra o meu. —
Michael! — grito pelo meu marido.
Ele não vai me ouvir, está no terceiro andar da mansão
trancado no escritório. Emily se apoia em mim, atordoada
cambaleando para fora da cama. O banheiro! Puxo-a com dificuldade
na direção do banheiro, meu corpo é puxado para trás, grito ao
bater o quadril no chão. Fico em pânico, Ethan, não posso tê-lo
machucado. Levo a mão ao ventre, não sinto dor.
— Me larga, porra! — Emily grita.
Giro vendo que Andrew a puxa pelos cabelos, arrastando seu
corpo pelo chão do quarto. Preciso tomar cuidado para não
machucar o Ethan, mas não posso deixar esse monstro continuar
ferindo a Emily. Levanto, uma dor aguda na perna me faz vacilar,
cambaleio até a mesa de cabeceira pegando meu celular ligo para o
Michael enquanto busco outras coisas que eu possa jogar nesse
desgraçado. O foco dele não é em mim, somente nela.
— Oi... — ele atende.
— O Andrew vai matar a Emily, estamos no quarto, venha
logo!
Não espero a resposta do Michael, uso meu celular para bater
na cabeça do Andrew. O desgraçado prende Emily contra a parede,
agarra o pescoço dela a sufocando. Ela arranha seu rosto, chuta,
mas nada adianta. Bato novamente no centro de sua cabeça com o
celular, o sangue jorra e o maldito desgraçado não para de
machucá-la.
— Solta! — grito com lágrimas de ódio e medo nublando
minha visão. — Não machuca ela, por favor, para com isso. Michael,
Michael! — chamo por ele ensandecida enquanto minha amiga
morre na minha frente.
— Eu deveria ter te matado antes, sua vadia. — Ele puxa o
corpo dela e bate contra a parede. — Você é a cara da sua mãe. Eu
te odeio tanto por me lembrar dela.
— Eu... odeio... você — Emily fala sufocando, os olhos dela
começando a revirar na órbita.
— Michael! — grito, sentindo a garganta doendo.
O desespero consome minha alma ao ver o rosto da Emily
ficando vermelho como um tomate. Agarro a mão dele tentando
puxar, arranco um pedaço de sua pele com a minha unha, mas nada
adianta, ele tem os olhos vidrados em ódio pungente concentrados
na Emily.
Escuto um estrondo vindo da porta do quarto. Michael irrompe
como um foguete. Atrás dele Matthew e Daniel entram
desesperados. Afasto-me do Andrew deixando os homens lidarem
com isso, uma dor começa a irradiar na minha coluna. Apoio-me na
parede tentando manter a respiração constante.
—Eu vou te matar, desgraçado! — Michael grita.
— Larga ela, seu maldito! — Matthew berra.
— Emily, não fecha os olhos! — Daniel pede desesperado.
Michael agarra o Andrew com uma chave de braço, enquanto
Matthew e Daniel seguram seus braços, o puxando para longe da
Emily. Ela cai no chão como um saco de batatas, manco até ela
ficando de joelhos ao seu lado. Não consigo sentir sua respiração.
— Ela não tá respirando! — berro, o rosto banhado em
lágrimas de desespero pela minha amiga.
Daniel trava os braços estendendo as mãos sobre o coração
da Emily iniciando uma rápida massagem cardíaca. Ele fecha o nariz
dela, cola as bocas fazendo uma respiração mecânica. Seguro o
pulso dela, tentando sentir os batimentos, quase inexistentes. Busco
pelo meu marido que tem as mãos firmes ao redor do pescoço do
Andrew. Ele não consegue ver nada ao seu redor, vai matar o pai se
continuar desse jeito.
— Vamos, Milly, resiste! — Matthew pede com lágrimas nos
olhos, alisando os cabelos da irmã.
— Você não pode fazer isso com a gente — Daniel implora.
Sinto o pulso da Emily ganhando força, Daniel continua o que
fazia, ela tosse recuperando o fôlego. A pressão na minha lombar
diminui quando a vejo bem, embora a coxa tenha começado a arder.
Puxo a Emily contra o meu peito, respiro aliviada por ela ter voltado
para nós.

Michael
Estava a poucos passos de conseguir fazer o Andrew sumir de
uma vez, porém mais uma vez o maldito conseguiu agir primeiro.
Quando a Hope me ligou dizendo o que acontecia, eu senti
minha alma deixando meu corpo. Corri como um louco para o quarto
da Emily, ver o Andrew a enforcando enquanto a Hope tentava a
libertar sem sucesso destravou todos os meus limites. Eu preciso
matar esse desgraçado.
Puxo seu corpo, o derrubo no chão, soco sua cara maldita. Ele
ri para mim, subo na sua barriga e travo as mãos em seu pescoço.
— Você vai morrer, seu desgraçado. — Cuspo na sua cara. —
Eu tinha longos planos de tortura para você, mas chega, nunca mais
você vai machucar a Emily.
— Isso mesmo — ele fala sufocado. — Me mata, somente
você consegue.
— Cala a boca, porra! — grito na sua cara.
Desvio a atenção do seu rosto que assume tons roxos
enquanto o estrangulo, encaro minha irmã que tem as faces rosa
contra o peito da Hope. Seu corpo está molhado enquanto ela chora,
seu olhar encontra o meu, ela engatinha na minha direção com ódio
nas feições. Nunca a vi com tamanha raiva.
— Sai — pede rouca.
— O quê? — Não entendo o que ela quer.
— Ele não pode ter um fim assim. — O branco dos olhos do
Andrew assume um tom vermelho. Um sorriso surgindo no rosto do
desgraçado. — É isso o que ele sempre quis, que você o matasse.
— Se você continuar, vai dar o que ele quer. — Matthew
segura meu braço. — Ele não merece uma morte rápida depois do
que fez com a nossa mãe e com a gente — rosna com lágrimas de
raiva descendo por sua face.
— Essa vingança não é só sua — Emily bate no meu ombro,
chorando —, é minha e do Matthew, também!
— Não teremos outra chance como essa. — Pressiono mais
seu pescoço. — Tem que ser agora.
— Se ele morrer aqui — Daniel fala. — O conselho vai exigir
uma explicação e você sabe que salvar a Emily não será um bom
motivo.
— Não me importo com mais nada, eu não vou soltar o
pescoço dele.
O rosto do Andrew começa a ficar desfigurado, a boca entorta
para a esquerda enquanto o corpo é tomado por espasmos
musculares fortes.
— Ele está tendo um AVC. — Hope vem para perto, noto-a
fazendo careta enquanto segura a coxa. — O rosto ficando torto, os
tremores, são sintomas de AVC, se você o soltar e ele for levado a
um hospital posso fazer com que ele fique debilitado para sempre.
Vocês podem ter a sua vingança aos poucos.
— Como? — Sinto a vida dele se esvaindo entre meus dedos,
não quero largar, não posso arriscar.
— O cuidado tardio durante um AVC deixa sequelas, se o
deixarmos acamado e fingirmos que ele tem diabetes ou outra
doença como escarais que danificam o corpo e muitas vezes tem
partes sendo preciso amputar, vocês poderiam fazer o que
quisessem com o corpo dele, eu cuidaria para ele não morrer.
— Teríamos a nossa vingança. — Emily cerra os dentes. — Ele
mijou em mim, esse porco maldito! Você não pode me negar isso,
Michael.
— Também merecemos fazer ele sofrer. — Matthew segura
meu braço.
Encaro meus irmãos, sofremos juntos nas mãos do Andrew,
fomos a força um do outro. Não posso ser egoísta, não foi só eu que
sofri e quero me vingar. Encaro minha esposa, ela acena em
positivo. Mesmo com o corpo queimando em vontade de matá-lo eu
solto seu pescoço. O corpo dele treme violentamente no chão do
quarto.
— Você é nosso. — Emily sorri sinistro com lágrimas descendo
pelas bochechas. Tenho medo do que isso causará à minha irmã.
— Chamem uma ambulância — Hope manda.
— Não podemos deixar ele sofrendo mais um pouco? —
Matthew pergunta.
— Se continuar ele morre.
Levanto-me observando o sofrimento dele de cima. Hope faz
careta novamente levando as mãos às costas. Vou para o seu lado, a
pegando nos braços. Ela tenta sorrir, mas se curva para a frente, a
seguro firme. Daniel chama uma ambulância, assisto ao corpo do
desgraçado sofrendo, ele fica cada vez mais roxo, talvez nem seja
preciso eu o matar com as minhas mãos.
Andrew passou a vida dizendo que seria eu quem o mataria,
chegando ao ponto de ficar feliz por isso, realizado, cumprindo seu
grande objetivo. Nada faria sua alma sofrer mais do que saber que
não morreu por minhas mãos, talvez o Matthew faça isso, ele
também merece a chance de se vingar.
— Vem comigo, Emily — Hope a chama, puxa sua mão e elas
caminham para o banheiro.
Noto como ela se inclina para a esquerda, vou atrás.
— Você se machucou? — pergunto a ela.
— Cai no chão, mas é somente a perna e a lombar que doem.
— Faz careta. — Vou ao hospital, me deixa primeiro dar um banho
na Emily.
— Não — Emily fala convicta. — Vá agora ao hospital, meu
sobrinho não pode ter sofrido nenhum dano por causa desse
monstro. Eu tomo banho sozinha e te encontro lá.
— Não posso te deixar só. — Hope segura a mão dela com
cuidado, como se a Emily fosse se partir a qualquer instante.
— Ela não estará só. — Daniel segura minha irmã pelos
ombros. — Vou garantir isso, vão para o hospital, eu resolvo tudo
aqui.
Ouço passos nas escadas e soldados entram acompanhados
do médico do complexo, ao lado dele paramédicos com uma maca.
Eles fazem o atendimento necessário no Andrew e o Matthew segue
como acompanhante. Eu vou com a minha esposa no carro, por
enquanto ela não demonstra sentir outras dores além da perna e
lombar, mas eu fico preocupado de que algo aconteça com o bebê.
No hospital uma equipe espera por nós, seguro a mão da
Hope enquanto ela é levada à sala da obstetra.
— Na emergência disseram que você caiu e está com dores —
a doutora começa.
— Sim, estava com a minha cunhada quando escorreguei no
quarto dela e caímos no chão — Hope veste a bata hospitalar —,
mas é só a coxa e a lombar, não sinto nada com o Ethan.
— Faça todos os exames — ordeno.
— Vamos começar ouvindo o coração e vendo o Ethan. Antes
que o papai mate a obstetra. — Sorri amarelo para a Hope.
É um incômodo usarmos médicos fora do complexo, mas o
que temos não tem especialização nenhuma para cuidar de
mulheres grávidas. Minha esposa tinha razão quando ela falava
sobre a necessidade que a organização tem em ter médicas
especializadas na saúde feminina. Não vou parar só com a Hope,
estou com planos para a Emily e outras meninas cursarem
faculdade, elas ainda serão muito importantes.
O som das batidas do coração do meu menino preenche a
sala e a imagem dele na tela mostra que está tudo bem. A doutora
continua fazendo exames na Hope e no final o diagnóstico é de uma
pequena inflamação na lombar por causa da queda e um roxo na
coxa. Por segurança passamos a noite no hospital.
— Não vai saber como o Andrew está? — ela pergunta,
enquanto enlaça nossos dedos.
Cheiro seu cabelo, tentando acalmar os demônios no meu
peito gritando para matar o Andrew. Eu não deveria ter deixado ele
continuar respirando, mas agora que o fiz vou fazer valer a pena. Ele
nunca mais terá um único dia de descanso, seu corpo vai sofrer ao
ponto de destruir a alma e mente dele. Eu tirei tudo o que ele tinha
e agora vou levar o resto da sua alma e seu orgulho.
— Matthew vai cuidar dele, me preocupo mais com a Emily. —
Pego o celular, ligando para o Daniel. — Como minha irmã está? —
inquiro quando ele atende.
— Bem, ela quer ir visitar a Hope, a levo?
— Pode trazer, mas não a deixe sozinha.
— Não faria isso nem que você me ordenasse.
— Quando você fala essas coisas eu acredito que você quer
casar com ela.
— Não quero.
Desliga sabendo que vou continuar insistindo no assunto.
Estou quase tendo que forçar o Daniel a casar com a Emily. Ele pode
acreditar que será ruim para ela, mas são em momentos como esse
que eu tenho certeza de que ele nunca a machucaria.
— Precisamos fazer esses dois ficarem juntos — Hope fala e
boceja se aconchegando no meu peito.
— Durma um pouco.
— Você ainda tem que me levar para jantar.
— Tinha esquecido, vou pedir para trazerem, quer comer o
quê?
— Um hambúrguer e um cachorro-quente, com sorvete de
menta e vitamina de abacate.
— Você deseja cada combinação estranha. — Franzo o nariz.
— É o Ethan, culpe a ele.
— Você sempre diz isso. — Aliso sua barriga, meu menino
chuta minha mão.
Sorrio contemplando o momento em que vivo, com a minha
esposa nos braços, sentindo meu garoto chutando, inundado por
amor, paz e um sentimento sublime de felicidade. Hope continuará
sendo a mulher mais intocável do mundo, somente eu a tenho para
mim.
Hope
Aniversário de 25 anos.

— Palables pla você!


Acordo sentindo uma coisinha pequena pulando em cima de
mim, a voz doce cantando alegremente e as palmas soando pelo
quarto. Abro os olhos encontrando o pequeno Ethan de quase 4
anos pulando na minha barriga, a janelinha na boca, os cabelos
negros como o do pai bagunçados, espetados para todos os lados.
Os olhos azuis como o céu brilhando felizes enquanto ele abre os
braços para mim.
— Alabel, mamãe. — Giro a cabeça encontrando a minha
princesa Evelyn de quase 2 anos.
Rio ao ver a bagunça de fios castanho-escuros presos no topo
da sua cabeça. Os olhos azuis como diamantes me encaram
divertidos, a boca em um coração perfeito me mandando beijinhos
enquanto ela deita por cima da mão.
Quando Ethan estava pedindo por um irmãozinho eu descobri
que estava grávida de Evelyn, ela veio de surpresa, meu
anticoncepcional falhou por causa de um remédio e o fogo do pai
dela foi rápido e certeiro em uma única noite, me dando meus dois
bens mais preciosos do universo.
Eu vivo longos anos ao lado do Michael, governando o
submundo e encarando os desafios que nossa organização, amigos e
familiares foram submetidos, sempre juntos. Ele o rei e eu a sua
rainha. Cumprindo todas as promessas que ele me fez, inclusive a
mais especial, de que meus aniversários seriam sempre rodeados de
amor e que um dia eu acordaria com nossos filhos pulando na minha
cama.
— Obrigada, meus amores. — Puxo os pequenos para meus
braços.
Ambos gargalham enquanto mexo a cabeça entre eles,
fazendo cócegas em seus pescoços. Ethan cheira a ovo e Evelyn a
farinha. Michael fez um ótimo trabalho limpando os nossos anjinhos,
mas já consegui prever o que acontecerá.
Ouço o som da porta abrindo e vejo meu marido entrando
com um bolo de cobertura rosa bem feita, retinha e com velas em
cima, as chamas queimam o pavio enquanto ele caminha até mim
com um sorriso iluminando seu rosto. A calça de dormir pendendo
na cintura e o peito desnudo. Evelyn pula descendo da cama, e o pai
a pega no colo equilibrando com o bolo. Ethan aperta a cabeça
contra meu peito.
— Parabéns para você — Michael começa e as crianças
acompanham cantando trocando todos os R por L e embolando as
linguinhas na boca. Não resisto à fofura do Ethan, aperto suas
bochechas mordendo seu nariz. Ele gargalha, prendendo as mãos no
meu pescoço.
— Palpaaaaaaaaaaaaaaaaai soltoro a mamãe vilo calcochlo.
(Papai, socorro, a mamãe virou cachorro) — pede em meio às
gargalhadas que criam lágrimas no céu que ele tem nos olhos.
— Eu quelu talbien (quero também) — Evelyn pede.
Estico os braços, liberando o Ethan que gira para o outro lado
da cama, e Michael me entrega nossa filha. Ataco a barriga dela
fazendo cócegas enquanto Evelyn gargalha. O som da risada deles é
a melodia mais perfeita e calmante que eu tenho, não saberia viver
um único dia sem ouvir a voz dos meus filhos.
— Agora é a vez do papai. — Michael coloca o bolo no colo do
Ethan e pega a Evelyn. — Divide ela comigo, princesa. — Joga nossa
menina para o alto, a pega nos braços aproveitando a risada gostosa
antes de colocá-la ao lado do irmão.
— Só um polquinho, papai — Ethan fala. — Vamos colmer
bolo.
Eu sou apaixonada em como ele se esforça para falar
corretamente e erra a maioria das palavras. Ethan admira o Michael
e ama o pai com o coração, ele está sempre tentando imitar o
Michael no jeito de se vestir, andar e falar. Eu não suporto a graça
que meus homens ficam quando o Michael e o Ethan usam ternos
combinando.
Acho que o meu marido se sente da mesma forma quando me
vê com roupa combinando com a Evelyn, o amor transborda nos
olhos dele sendo capaz de ser amparado em uma vasilha. E os
beijos que ele nos dá, é difícil resistir quando o Michael é sexy, mas
quando ele está sendo carinhoso e um pai coruja eu fico com
vontade de largar a faculdade para ter um terceiro filho e aproveitar
novamente a imagem que é do Michael colocando um bebê para
dormir.
Estou a três meses de me formar e minha vida está uma
completa loucura, mas quando eu chego em casa e vejo meus
anjinhos correndo para as minhas pernas e jantamos com o pai
deles tudo vale a pena. O caos do mundo para de existir e os
momentos em família duram uma eternidade.
— Parabéns, minha rainha. — Ele toca os lábios de leve nos
meus, somente um pequeno aconchego. — Feliz aniversário.
— Obrigada, meu amor. — Aliso a barba em suas bochechas,
sorrindo feliz. Assopro as velas.
— Sua família vai chegar em uma hora, vamos aproveitar mais
um pouco nossa festinha.
— Tem razão.
— Está nervosa? — Franze a sobrancelha.
É a primeira vez que vou comemorar meu aniversário com
eles, desde que me casei. Meu relacionamento com a minha mãe
tem sido ótimo, ela é presente e ama os netos, mas meus
aniversários têm sido momentos delicados em que eu preferia me
manter longe. Aos poucos fomos nos reaproximando com ligações e
chamadas de vídeo, finalmente me sinto pronta para tê-la ao meu
lado nessa data importante.
— Sim, mas vai ficar tudo bem, eu tenho vocês. — Beijo-o.
— Quelo bejo! (Quero beijo!) — Evelyn pula no meu colo,
afastando o pai e erguendo os braços para ele.
— Sim, senhora ciumentinha. — Ele ri antes de beijar a
bochecha dela várias vezes.
— Bolo, mamãe — Ethan chama — nos ajudalmos o papai.
— Foi? Contem para a mamãe essa aventura.
— Ah o papai deu muuuuuuito talbalho — Evelyn fala,
erguendo os braços para indicar que foi grande o trabalho do meu
marido. — Fazia tuldo ellaro. (Trabalho, fazia tudo errado).
— Eu não acredito, papai você fez isso? — Faço careta para
meu marido.
— Ethan derrubou a farinha na Evelyn e enquanto eu a
limpava, o Queijo — se refere ao nosso gato — derrubou ovos no
Ethan.
— Quanta bagunça.
— Ilpoltante que deu celto (importante que deu certo) —
Ethan fala como um rapazinho, aperto suas bochechas não
aguentando a fofura dele.
— Vamos ver se o bolo ficou bom. — Pego a bandeja e parto
o primeiro pedaço. Entrego ao Michael que sorri piscando um olho,
entrego um pedaço a meus amores e comemos juntos.
A hora corre enquanto tomo banho com a Evelyn e o Michael
limpa o Ethan. Visto minha menina com um vestido rosa e coloco
um em mim igual ao dela. Descemos para a sala, encontro Michael e
Ethan vestidos iguais com camisa bege, blazer marrom e calça da
mesma cor, os óculos escuros é meu fim, rio da fofura que eles
ficam.
Meu marido rodeia minha cintura com os braços antes de me
beijar. A campainha toca, a porta se abre e vejo minha mãe e meu
pai acompanhados do Black e Steve acompanhados de suas esposas
e filhos. Pela primeira vez estou reunida com a minha família, por
parte de pais e a que eu criei com meu marido.
Minha mãe vem até mim com um sorriso enorme no rosto,
abro os braços ansiosa para abraçá-la. Não existe mais medo,
mágoa ou temores no meu coração. As cicatrizes sempre estarão
aqui, mas elas não podem mais me machucar e eu nunca mais
permitirei que a minha felicidade seja roubada.
— Feliz aniversário, minha filha — ela fala no meu ouvido,
meus olhos marejam enquanto sinto seu cheiro e o amor que sai de
seu corpo banhando o meu.
— Obrigada, mãe. — Aliso suas costas.
Eu não quero soltá-la.
Sinto braços pequenos rodeando minhas pernas, olho para
baixo vendo o Ethan me olhando sapeca.
— Vovó num polde monopoliliza a mamãe (Vovó não pode
monopolizar a mamãe) — ele fala emburrado, ciumento até o último
fio de cabelo.
— Como assim, fofinho? — Ela se agacha ficando da altura
dele. — A vovó quer um abraço seu também. — estica os braços e o
Ethan a agarra.
— Parabéns, Hope. — Meu pai me aperta rápido antes do
ciumentinho afastá-lo.
— Posso ter minha vez? — Black pergunta, abrindo os braços,
me enfio entre eles aproveitando meu irmão.
— Talboooooooom! (ta bom!) — Ethan grita, e eu gargalho.
— Só vou ficar um segundo, Ethan — Steve fala antes de me
puxar para ele. Cumprindo o que prometeu em menos de um
segundo ele me solta.
— Vocês num polde ficar com a mamãe. — Ethan agarra
minha perna, possessivo. — Ela é meu e do papai.
— Bianchi — meu pai aperta o ombro do Michael —, temos
que conversar sobre o que você ensina ao meu neto.
Todos dão risada, principalmente quando Michael pisca para o
Ethan e faz OK com a mão.
— Não tem segredo. — Ele vem até mim, coloca a mão na
minha cintura e na cabeça do Ethan, Evelyn corre ficando do lado do
pai. — Ethan está aprendendo de criança que nossas mulheres são
intocáveis para o mundo.
Encaro meu marido, rindo e feliz como nunca. Quando nos
conhecemos eu me achava alguém que trazia desesperança, que
não merecia a felicidade por causar dor. Hoje eu vejo que eu sempre
fui a esperança dele por um futuro de amor e carinho, que
alcançamos juntos.

FIM
Uau, isso realmente está acontecendo? Finalmente escrevi as
últimas palavras do meu romance e estou em um misto gigante de
felicidade e orgulho desses personagens. Hope e Michael foram
complexos e difíceis de escrever desde o segundo em que a história
deles me veio à mente. Espero que você tenha chegado até aqui
sentindo o mesmo que eu com esse final, que eles tiveram cada
coisinha que mereciam.
Tenho uma série de pessoas a agradecer por ter conseguido
chegar até aqui, obrigada, mãe, por sempre apoiar meus sonhos e
quando eu fazia esse projeto você sempre me trazer os chazinhos
que ajudavam a enfrentar esse processo de escrita e por sempre
dizer as pessoas “minha filha é escritora” cheia de orgulho, mesmo
antes de eu publicar o livro. Olha só, mãe, realmente cheguei aqui.
Agradeço às minhas amigas, Iris e Jennifer, que enquanto eu
endoidava com a história, vocês abraçaram o projeto lendo os meus
rascunhos e fazendo apontamentos. Graças a vocês eu consegui
acreditar no poder desses personagens. Obrigada, Jessica, por ter
me dado os meios necessários para esse projeto existir e me
incentivado no início a correr atrás do meu sonho, mas sempre com
o pé no chão. Obrigada, Hylanna, por segurar minha mão de última
hora e fazer parte de tudo isso.
Obrigada a você leitora que chegou até aqui e continua lendo
as palavras dessa autora. Você não faz ideia do quanto é importante
para mim, espero ser capaz de te encontrar nas minhas redes
sociais, obrigada pelo carinho com o livro. E pela avaliação na
Amazon, cada uma delas é importante, obrigada por me dizer o que
achou da história.
Obrigada à minha família por serem a minha base e
permitirem que eu fosse capaz de ter os meios para conquistar esse
lançamento. Ter vocês, me dá forças para continuar. Ana, Vanderlan,
Isabelly, Priscila, Kauã e Vinicius.
Até o próximo livro.
DANIEL E EMILY
UMA HISTÓRIA DE AMOR EM QUE ELE A QUER LONGE, MAS
ELA ESTAVA DISPOSTA A TUDO PARA PROVAR QUE O AMA.
Que honra foi participar do projeto desde livro maravilhoso.
Quando a Isadora me procurou falando sobre a sua obra eu
logo me encantei pela história de Michael e Hope, e obviamente
aceitei ser sua Beta.
E a cada capítulo que eu lia mais apaixonada eu ficava por
eles, assim como por todos os personagens secundários.
Sem dúvidas Isadora Almeida estreou com chave de ouro no
mundo da escrita, com um enredo riquíssimo, que contempla todos
os elementos que um bom livro deve ter. Além é claro de sua escrita
leve e fluida na medida certa.
Desejo muito sucesso a você minha querida que este seja o
início de uma carreira de sucesso.
E a você querido leitor(a) que chegou até aqui, não deixe de
seguir esta autora maravilhosa, pois vem muitas outras histórias
fantásticas por aí.
Hylanna Lima
Leitora Beta
Isadora Almeida é uma autora nordestina que com
persistência e força conseguiu realizar seu maior sonho, ter um livro
publicado na Amazon para várias leitoras poderem ler, se apaixonar
e pedirem por mais. Pisciana, sonhadora e com uma vontade louca
de escrever, ela promete trazer cada vez mais histórias
apaixonantes, reflexivas e comoventes para suas leitoras.
Siga a autora em sua rede social para saber todas as
novidades.
@autoraisadoraalmeida
Por favor, deixe sua avaliação, ela é muito importante e irá me
ajudar a melhorar como autora. Muito obrigada!

Beijos,

Isadora Almeida

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