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Copyright © 2022 MARCIA CANDIDO

Capa: Marcia Candido


Revisão: Marcia Candido
Diagramação: Marcia Candido
Autor: Marcia Candido
Edição: 1 ⁰ Edição

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

Todos os direitos reservados.

É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte


dessa obra, através de quaisquer meios (tangível ou intangível) sem o
consentimento escrito da autora. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
2018.
Sinopse

Dedicatória!
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 24
Capítulo 25
Epílogo
Redes sociais
Livros Da Série
Livros 4/5/6 Em Breve!
Sinopse

Jennifer Paiva tem apenas 22 anos de idade e acaba de se mudar


com os seus pais e sua irmã mais nova para a cidade de Cleveland, nos
Estados Unidos, após seu pai conseguir para ela uma bolsa de estudos em
uma das melhores faculdades de Cleveland, mas a sua felicidade em poder
cursar a tão sonhada faculdade não dura muito.
Após três meses de estudos na nova faculdade, Jennifer passará por
uma das piores experiências das sua vida, algo que a deixará marcada. O
preconceito e o racismo é algo que nem todo mundo consegue combater, e
isso é lamentável.
Jennifer, mas conhecida como Jenny, sofrerá uma perseguição por
parte de alguns alunos da faculdade, pois muitos não a aceitam pelo
simples fato dela ser negra, e ela não é a única a passar por isso. A jovem
será vítima de uma terrível armação, uma aposta entre alguns garotos da
faculdade resultará em uma grande humilhação para Jennifer Paiva. Um
vídeo íntimo seu circula pela faculdade e ela descobrirá da pior maneira
que o homem a quem ela pensou que a amava, não queria nada além de
humilhar e manchar a sua imagem.
Seus pais são pessoas religiosas e muito rigorosas na criação e
educação das filhas, e uma humilhação como essa pode manchar a imagem
da família Paiva. Jennifer espera ser compreendida e apoiada por sua
família, mas uma drástica atitude de seu pai deixará a jovem ainda mais
abalada.
Por outro lado, Bruno Stuart de 28 anos, filho do dono da faculdade
onde Jennifer estuda, precisa assumir o comando da faculdade que carrega
o nome de sua família, mas ele precisa provar que é responsável o bastante
para assumir os negócios da família, e ele encontrará em seu caminho uma
mulher visivelmente destruída emocionalmente, largada na rua da
amargura. Bruno fará o possível para ajudá-la e intercederá pela bela
jovem de pele negra, se encantando por sua incrível beleza e provando a
todos que apenas ela é digna da sua confiança e seu respeito.
Mesmo com a sua confiança quebrada, Jennifer não será capaz de
evitar uma grande paixão por Bruno Stuart, a única pessoa que lhe
estenderá a mão, mas ela acreditará nas intenções de um homem de classe
tão superior a sua? Jennifer se dará uma chance de conhecer melhor o
filho do dono da faculdade? Para Bruno a sua cor, raça ou religião não
importam, e uma inesperada proposta deixará Jennifer ainda mais
envolvida.
Dedicatória!

Dedico essa obra a todos vocês que apoiam o meu trabalho, que me
incentivam a melhorar a cada história escrita. Um grande beijo com muito
carinho, da sua autora Marcia Candido!
Ando pelo corredor da faculdade recebendo aqueles mesmos olhares
de sempre, olhares de desprezo, de desgosto, olhares de desdém. O
grupinho de patricinhas cochicham me olhando de cima abaixa, mas eu ergo
a minha cabeça, não devo nada a ninguém, não tenho o porquê me
envergonhar da cor da minha pele, eu sou linda e não preciso que ninguém
me diga isso, muito menos aqui nesse lugar.
Mais a diante há mais um grupo me encarando e gargalhando de se
contorcer, será que a minha roupa está suja? Eu sei que não estou feia pois
sei me arrumar muito bem, apesar de não ter roupas de marcas como
gostaria, ainda não trabalho para me sustentar e ajudar os meus pais, por
sorte eu ganhei uma bolsa nessa faculdade.
Paro no meio do corredor olhando de um lado para o outro, estão
todos olhando no celular e sorrindo de se contorcer enquanto me apontam.
Vejo de longe Vinícius entrar na sua sala de aula depois de fingir não me
ver. Corro até lá e entro na sua sala, vejo o meu namorado aos beijos com
uma loira aguada metida a rica, a mesma que ele havia jurado que tinha
terminado antes de se envolver comigo.
— O que pensa que está fazendo, Vinícius? Vai me trocar por essa
garota sem sal? É isso mesmo? Você está voltando com ela antes de
terminar comigo? — Questiono chocada e ele apenas gargalha.
— Não posso trocar você por alguém que sempre foi minha. Eu
nunca terminei com ela, Eva nunca deixou de ser minha namorada, quanto a
você, eu só queria experimentar algo diferente e ganhar uma aposta, e até
que foi legal, mas não sou muito chegado a chocolate preto, a branquinha é
a minha preferida. — Ele sorrir me olhando de cima abaixo, me deixando
sem reação.
— Você já verificou o seu e-mail, Jenny? Vinícius mandou um vídeo
muito divertido para a galera da faculdade... Você tem ótimas performances
na cama, onde você aprendeu tudo isso? Por acaso é garota de programa? A
famosa profissional da vida? — Eva fala enquanto vira o seu celular para
mim.
Vejo na tela do aparelho um vídeo meu transando com Vinícius na
sua casa, foi a primeira vez que transamos depois de três meses que
estávamos juntos, estávamos nos conhecendo e ele me pediu em namoro,
ele foi um dos poucos que me defenderam aqui dentro desse lugar, mas eu
não fazia ideia de que tudo não havia passado de um plano ardiloso para me
humilhar dessa maneira.
O ar me falta, minhas pernas tremem com todas essas pessoas rindo,
debochando de mim enquanto me apontam. Saio da sala sentindo-me zonza
ouvindo apenas uma gritaria, assovios e gargalhadas, uma verdadeira
algazarra, todos me apontando por ter um vídeo íntimo meu rodando pela
faculdade. Como pude confiar tanto em alguém que não merece? Porque ele
me iludiu dessa maneira?
— Eu não sabia que macacos faziam essas posições...
— Além de preta é vulgar...
— Vini disse que deu dinheiro a ela para eles transarem...
— Que nojo, como ele teve coragem de ficar com ela?
— O filho da mãe ganhou mesmo a aposta, não pensei que seria tão
fácil ficar com ela.
Ouço muita gente falar ao mesmo tempo, sinto o meu rosto quente
mas não é de vergonha, é raiva, decepção por passar por algo assim.
Corro até a minha sala para pegar as minhas coisas, quando entro
vejo muitas fotos minhas na cama com Vinícius coladas por todas as
paredes, mas não tinha isso aqui quando vim pôr as minhas coisas. Ele
armou para mim, ficou comigo para me humilhar. Pego as minhas coisas e
saio apressada ouvindo as pessoas me xingar, me ofender de tudo quanto é
nome, apenas corro para fora da faculdade sentindo o meu coração pequeno
e apertado, como eu iria imaginar que estava sendo vítima de uma armação
apenas por eu ser negra?
— Jennifer? Jennifer, está tudo bem? — Pergunta o processo
Cláudio enquanto passo por ele correndo.
Não paro, apenas corro enquanto ouço a sirene da faculdade trocar e
sei que é o sinal de advertência.
Passo pelo portão correndo e me choco em alguém perdendo os
sentidos em seguida.
A minha decepção é tão grande, estou aturando ofensas de racismo
nessa faculdade por semanas só para não perder a bolsa de estudos, mas
para mim já deu, não quero mais estudar, não quero nunca mais pôr os pés
em uma faculdade se for para passar por isso, meus pais vão se decepcionar
comigo mas não estou me importando, a vergonha que eles vão sentir de
mim ao saberem do que houve é que vai me machucar mais.
Meus pais são muito rígidos mas sempre quiseram o melhor para
mim, mas depois disso não faço ideia de como eles vão reagir com tudo
isso. Estou com medo e preocupada, mas vou precisar passar por isso.
— Ei? Acorda! Você está bem? — Ouço alguém me chamar com
tapas de leves pelo rosto.
Respiro fundo virando o rosto de um lado para o outro, abro os
olhos devagar e vejo um playboyzinho metido a besta me encarar confuso,
percebo que estou dentro de um carro muito luxuoso.
— Onde eu estou? O que você fez comigo? Me deixa sair daqui! Eu
quero sair daqui! — Desespero-me pois olho lá para fora e não reconheço o
lugar, não sei onde estou com esse estranho.
— Fica calma! Eu não fiz nada com você, foi você quem desmaiou
em cima de mim, derramou todo o meu café e sujou a minha roupa... Mas
isso não importa, estamos na frente de um hospital, eu vou levar você na
emergência, consegue andar sozinha? Ou eu posso levar você se preferir. —
Ele se levanta pegando a minha mão para me ajudar a sair do seu carro.
— Que hospital é esse? Onde a gente está? O que aconteceu
comigo? — Pergunto confusa ainda me sentindo zonza.
— Você desmaiou em cima de mim enquanto saía correndo da
faculdade. Agora eu é que pergunto? O que aconteceu com você? Porque
estava tão desesperada daquele jeito? — Ele abraça a minha cintura me
guiando para dentro da emergência.
Quando ele fala da faculdade eu me lembro de tudo, das
humilhações, dos xingamentos, da minha decepção ao descobrir que fui
covardemente enganada por um homem que namorou comigo apenas para
me humilhar. Meu Deus, o que eu vou fazer agora? Não posso mais voltar
para aquele lugar.
— Ei? Não precisa chorar. Me conta o que houve?
— Contar o que houve? Você estava na faculdade, você não viu o
que fizeram comigo...? Não vou mais conseguir voltar naquele lugar, eu vou
processar aquela faculdade por permitir uma ação tão cruel contra mim, e
tudo por eu ser negra? Qual é o problema de ser negra? Sou um ser humano
como todo mundo... Me solta! Você é amigo do Vinícius, não é? Ajudou ele
a me humilhar daquela maneira? — Solto-me dele nervosa voltando a
chorar de raiva, de ódio. Saio da emergência irritada.
— Eu não estudo naquela faculdade, eu já me formei. Eu estava
indo até lá para falar com o diretor a pedido do meu pai, ele é o dono da
faculdade e não fazíamos ideia de que estavam praticando racismo dentro
da nossa instituição... É lamentável, é vergonhoso e você tem todo o direito
de nos processar, mas vamos conversar com calma? Eu prometo a você que
meu pai vai ficar ciente de tudo isso e vamos tomar as devidas
providências. Qual é o seu nome? Vamos entrar para você ser atendida?
Depois conversamos com calma. — Ele se aproxima com cautela mas eu
me afasto.
— Eu não vou entrar! Eu não tenho condições de pagar uma
consulta nesse lugar, e não vou aceitar esmolas de ninguém! Eu já fui
humilhada o suficiente. — Saio dali apressada e sem rumo.
— Espera! Ei? Espera!
Ouço ele me chamar mas eu não paro, eu só quero sair daqui, quero
sumir, quero evaporar desse mundo cheio de preconceitos, cheio maldades,
de pessoas ruins. Eu odeio todo mundo. A minha bolsa!
— Merda! Como vou voltar para casa agora? Eu estou longe sem a
minha bolsa e sem os materiais...
Não importa, eu não vou voltar mais naquele lugar, mas como vou
conseguir terminar a faculdade? Já estou no meio do penúltimo ano e falta
tão pouco para me formar, maldita hora que tivemos que nos mudar, trocar
de faculdade foi uma das piores coisas que eu já fiz na vida, eu só aceitei
essa bolsa de estudos porque foi o meu pai quem conseguiu, e a bolsa é
integral, eu não tenho que pagar nenhum centavo das mensalidades, tenho
gastos apenas com os materiais e o transporte.
Ando sem rumo, pensativa, lembrando-me que transei com aquele
infeliz achando que era namorada dele, pensando que ele realmente gostava
de mim e eu me enganei, fui burra demais, fui ingênua, como não percebi
que ele só estava me usando para divertir a faculdade inteira?
Paro abruptamente quando aquele mesmo carro freia bruscamente
bem ao meu lado.
— Seu louco! Está tentando me matar de susto? — Esbravejo
irritada e ele sai do carro apressado.
— Entra no carro ou eu juro que ponho você lá dentro! Eu trouxe
você até aqui então vou te levar de volta... Por favor? Entra no carro? Eu só
estou tentando te ajudar. — Ordena irritado e seu tom de voz me assusta,
mas ele respira fundo com um olhar apreensivo tentando se acalmar.
— Eu não te conheço, não sei como fui parar dentro do seu carro e
te agradeço pela intenção em querer me ajudar, mas eu não vou entrar no
seu carro de novo, se você puder me entregar a minha bolsa, você já vai
estar me ajudando muito... Ahh... Me põe no chão! Seu louco! Me põe no
chão! — Grito para ele me soltar mas ele não o faz, ele me coloca dentro do
seu carro e fecha a porta.
— Ei! O que está fazendo com essa menina? Porque ela está
gritando? — Ouço um homem perguntar preocupado e eu aproveito para
sair do carro novamente.
— Não estou fazendo nada demais, meu senhor, ela é minha
namorada e está fazendo pirraça feito uma criança. — Dispara o infeliz
tentando me pôr novamente no carro.
— Me solta! Eu não sou sua namorada coisa nenhuma!
Empurro-o para longe de mim mas ele me puxa pela nuca me
roubando um beijo, belisco o seu braço para ele me soltar, mas ele não o
faz, seu beijo é forte, intenso e suas mãos seguram firme a minha cintura
para não me deixar sair, mas eu não quero ir a lugar algum.
— Porque não procuram um motel para essa reconciliação? Local
público não é aconselhável. — Dispara o homem e eu me solto desse
estranho completamente ofegante. O que aconteceu aqui?
— Valeu pela dica, irmão! Nós vamos nessa. — O infeliz me põe
dentro do carro e trava a porta para eu não sair.
Estou aérea por conta desse beijo, por ele fez isso? Está tentando
brincar comigo também? Ele dá a volta no carro e entra dando a partida, ele
sai dali e eu fico aqui encarando-o ainda perplexa por ele ter me beijado.
— Para o carro! Eu quero descer! Você é um completo estranho e
ainda é louco. — Contesto evitando encará-lo, estou envergonhada e tensa
por essa situação.
Ainda estou tentando acreditar que passei por uma humilhação
como aquela, o meu pai vai me matar se desconfiar de algo como aquilo.
— Olha, eu não sou um estranho pois já me apresentei, então você
sabe exatamente quem eu sou. Quanto ao beijo, me desculpa mas se eu não
fizesse isso aquele cara ia chamar a polícia, por causa do seu escândalo ele
pensou que eu estava te sequestrando...
— E isso não é um sequestro? Você me disse que é filho do dono da
faculdade, mas não sei o seu nome, não tenho nem como te acusar de
alguma coisa... Oh meu Deus... Você é mesmo o filho do dono da
faculdade? — Contesto séria, mas me espanto a lembrar-me desse detalhe.
Ele é o filho do dono da faculdade e ele me beijou. Com toda
certeza fez isso para rir depois.
— Não seja por isso, meu nome é Bruno Stuart, filho do meio de
Olegário Stuart, o dono das universidades Stuart... E eu não estou te
sequestrando, estou preocupado com você. Me conta o que aconteceu na
faculdade? Eu preciso relatar ao meu pai o que está acontecendo e quero
ouvir a sua versão... Pode confiar em mim? Eu não tenho motivo algum
para mentir para você. — Ele divide a sua atenção entre mim e a pista.
Penso duas vezes antes de abrir a boca e ele volta a me pedir um
voto de confiança. Digo a ele o meu endereço e peço para ele me levar para
casa, mesmo com o coração apertado e receosa pois vou ter que contar aos
meus pais o que houve, antes que eles descubram por terceiros.
Decidido confiar nesse estranho e conto tudo a ele desde a minha
chegada na faculdade a poucos meses, até o acontecido de hoje, não sei se
ganharia alguma coisa processando a faculdade mas eu ameaço fazer isso,
para ele sentir o quanto estou me sentindo mal com tudo que houve, por
incrível que pareça, ele concorda comigo mas pede para antes de tomar
qualquer atitude, para eu conversar com o diretor e também com o pai dele
em uma reunião que ele vai pedir sobre essa situação.
— Eu não vou falar com o diretor! Eu já perdi as contas de quantas
vezes eu fui até a sala dele e nada foi feito, eu não sou a única negra
naquela faculdade e também não sou a única a passar por isso, e nem serei a
última. É um absurdo que ainda existam pessoas assim, perversas,
preconceituosas.
— Eu sei, eu te entendo bem e é exatamente por isso que estou te
pedindo para nos dar uma chance para resolvermos essa questão, com toda
certeza o meu pai não está ciente disso e não quero que você perca a chance
de se formar por causa da negligência do diretor, com toda certeza ele será
devidamente punido por isso. — Suas palavras parecem sinceras mas não
consigo acreditar muito.
— Por favor! Pare o carro? A minha casa não está muito longe
daqui e eu preciso de um tempo. — Suspiro fundo e fecho os olhos com
força antes de abrir.
As minhas lágrimas voltam a descer ao me lembrar daquela terrível
humilhação, não vou conseguir olhar na cara de mais ninguém naquela
faculdade depois de tudo aquilo.
— Você está visivelmente abalada, não é bom você ficar sozinha. Eu
posso ficar aqui com você? Podemos conversar um pouco mais?
— Não! Eu quero ficar sozinha.
— Mas você já está sozinha, eu estou tentando te fazer companhia
justamente para não te deixar sozinha. — Rebate.
— O que você quer comigo? Quer me humilhar também? Não basta
o que fizeram comigo naquela faculdade? Você é dono daquele lugar, como
pode permitir que algo assim aconteça? Eu nunca fiz mal a ninguém para
merecer o que me fizeram comigo, e eu não sou a única a passar por isso...
Semana passada derramaram comida em uma garota só por ela ser negra
como eu, colocaram o pé para uma menina cair de cara no chão por ela
também ser negra, a três dias trancaram um garoto no armário amarrado e
amordaçado, o deixaram lá por horas só por ele ser negro. Estamos
sofrendo perseguição nessa merda de faculdade e ninguém faz nada para
impedir isso! Você é o dono dessa faculdade e mesmo permitindo tudo isso,
quer que eu acredite que está me prestando solidariedade? Conta outra, Sr.
Stuart. — Tento abrir a porta do carro e ele freia bruscamente, parando no
acostamento.
— Eu ainda não sou o dono daquela faculdade, o dono é o meu pai
mas assim que eu assumir a vice presidência vou ficar a frente dessa parte
disciplinar, eu prometo que tudo isso vai mudar... Vou conversar com o meu
pai ainda hoje sobre o que aconteceu, isso não vai ficar impune, é uma
promessa que eu estou te fazendo!
— Não fizeram nada até agora, acha que porque você chegou tudo
vai mudar de uma hora para outra? Eu não acredito em você, nem sei se é
de verdade o filho do dono daquele lugar. — Rebato nervosa pois temo que
o que houve não seja resolvido e eu vou perder a bolsa na faculdade. Não
vou poder concluir os meus estudos.
— Eu prometo que tudo será diferente. Confesso que por termos
outras instituições de ensino para cuidarmos, meu pai pode ter
negligenciado a sua atenção em algumas delas, no entanto, eu mesmo vou
levantar esse assunto com ele e uma investigação será aberta para apurar
esse tipo de crime dentro das nossas universidades. — Seu tom firme e
inquieto chama a minha atenção.
— Vocês tem outras universidades? — Pergunto chocada.
— Sim, essa é apenas mais uma das muitas filiais espalhas pelo
Estados Unidos. Tenho mais dois irmãos, Kevin e Cristiano. Kevin é o mais
velho e acabou de assumir a presidência dos negócios da nossa família, e eu
vou assumir em breve a vice presidência e vou ajudar o meu irmão a
melhorar tudo que for necessário nas nossas redes de ensino, por isso estou
prometendo que tudo será diferente, pode confiar em mim? Não vou
descansar até cumprir a minha promessa. — Suas palavras me deixam
pensativa mas ainda insegura.
— Não te conheço de verdade, não sei se devo confiar você, mas eu
preciso pensar... Eu preciso ficar sozinha um pouco, preciso criar coragem
para contar aos meus pais que não vou mais a faculdade.
— Você não precisa deixar de ir, se quiser faltar por uma semana
apenas para dar um tempo depois do que houve, prometo que suas faltas
serão justificadas como um pedido de desculpas. Você ainda não me disse o
seu nome... Me dá o seu número para entrarmos em contato com você? —
Ele pega a minha mão de forma gentil mas eu solto a sua mão.
— Se é mesmo o filho do dono da faculdade, então você vai
encontrar o meu número de telefone, meu endereço e tudo mais que quiser
saber, a faculdade tem todos os meus dados... Agora por favor? Abra a
porta! — Pego a minha bolsa e as minhas apostilas esperançosa de que ele
não insista.
— Tudo bem, não quero chateá-la mais. Fique com o meu cartão, se
precisar de ajuda ou de qualquer coisa, é só me ligar. Não pense que estou
fazendo isso com más intenções, estou fazendo isso em nome da
universidade, está bem? — O homem ao meu lado me estende um cartão e
eu pego pondo dentro da apostila.
Ele destrava a porta do carro e eu saio batendo a porta, mas ele abre
o vidro.
— Me diz ao menos o seu primeiro nome? — Insiste me fazendo
suspirar fundo.
Ele foi gentil em me tirar daquele lugar, e espero sinceramente que
ele não seja apenas mais um querendo me oferecer ajuda para depois me
humilhar.
— Jennifer...! Meu nome é Jennifer Paiva. — Saio em seguida sem
rumo e sem pressa.
Sigo para casa pensativa e trêmula pois tenho medo da reação do
meu pai, ele é muito conservador por ser cristão, não sei o que será de mim
se um dia ele ver aquele maldito vídeo, vou conversar com ele sem entrar
em muitos detalhes, sem precisar mostrar toda aquela vergonha que eu
passei, talvez assim ele pegue leve comigo.
Não esperava que o Vinícius fosse capaz de algo como aquilo, ele
brincou comigo da pior maneira possível, fingiu gostar de mim só para
conseguir se aproximar, ganhou a minha confiança e eu acabei sendo
humilhada daquela maneira. Não vou entregar a minha confiança de mão
beijada a mais ninguém. Isso é uma promessa que faço a mim mesma.
Paro na porta de casa e respiro fundo, estou andando a horas
evitando encarar a minha família, mas a verdade é que eu preciso deles,
preciso conseguir passar por isso e sei que eles vão me apoiar, vão me
ajudar e talvez possamos voltar para o interior depois que souberem que
não quero mais estudar naquela faculdade. Espero que meu pai não surte
com isso.
Respiro fundo mais uma vez e entro em casa, vejo mamãe andando
se um lado para o outro e meu pai em pé em frente a janela de costas para
mim.
— Parece que tem alguém encrencada. — Yarim desse a escada
correndo mas para quando me ver.
— Do que você está falando? Porque eu estou encrencada? —
Pergunto confusa mas sinto o meu corpo trêmulo.
— Até que enfim você chegou, Jenny! Onde você estava até a essa
hora? Porque não veio para casa assim que saiu da faculdade...
— Janete! Suba com Yarim, eu preciso conversar com Jennifer a
sós. Eu quero ouvir da boca dela, aquelas imagens não entram na minha
cabeça. — Dispara papai ainda de costas para mim.
— Eu não vou sair daqui! Eu também quero saber da nossa filha o
porquê ela fez aquilo... Porque, Jenny? Não foi isso que sonhamos para
você, está dando um mal exemplo a sua irmã, filha. Tudo aquilo é muito
vergonhoso para uma moça como você. — Mamãe chora vindo me abraçar,
mas vejo em seus olhos a mágoa que ela está sentindo e sei que tudo isso é
culpa minha por confiar demais.
Meu peito se apertar pois acho que eles já descobriram sobre o
vídeo e não descobriram por mim.
— Mamãe...
— Saia, Janete! Eu sou o chefe dessa família, então eu vou resolver
esse problema. — Papai finalmente vira-se para mim e ele está sério como
ainda não havia visto.
— Papai, eu posso explicar, se está se referindo ao vídeo...
— Mas é claro que estou me referindo ao vídeo! A minha filha foi
filmada como uma prostituta transando com um qualquer, um
desconhecido! Você está agindo feito uma perdida! Uma mulher indigna. —
Esbraveja furioso e suas palavras me ferem, meu pai nunca falou assim
comigo antes.
— Deixa ela se explicar, Ramiro!
— Explicar o que, Janete! A nossa filha se deixou ser gravada
fazendo sexo como se fosse uma garota de programa, isso tem explicação?
Eu conversei, orientei e neguei que ela se envolvesse com esses garotos da
faculdade, e veja no que deu a desobediência dela! A quanto tempo ela está
agindo assim? A quanto tempo você não é mais virgem, Jennifer? Nem me
responda ou a minha decepção será ainda maior. — Ele vem na minha
direção com um olhar tão severo, ele está visivelmente furioso.
Mamãe se afasta encarando-me tão decepcionada quanto ele.
— Eu sinto muito, mamãe... Eu sinto muito, papai, eu fui uma
vítima...
— Vítima? Você não parecia vítima naquele vídeo, não estava sendo
obrigada a fazer nada, fez porque quis e eu nunca tive tanta vergonha na
minha vida como tenho agora de você... Você não é a minha filha, não
aquela garotinha doce e pura que pensei que fosse, você é uma perdida! É
uma vergonha para essa família e isso não tem explicação.
— Me desculpa, papai? Vamos conversar com calma? Me deixe
explicar o que aconteceu?
— Não tem explicação que apague a vergonha que você nos
causou... A filha que eu sonhei tanto em levar no altar, para entregar ao
homem que a merecesse agora é uma perdida! Uma qualquer! O pastor da
igreja já me ligou, a filha dele de doze anos viu você na internet se
esfregando naquele moleque. Imagina o tamanho da minha vergonha? Você
não consegue imaginar ou não teria feito uma safadeza dessa! Eu não quero
mais você nessa casa! Não vou mais sustentar uma vagabunda! — Ele grita
me acertando uma bofetada e eu vou parar no chão.
— Papai...?
— Ramiro...? O que você fez? Você nunca bateu na nossa filha
antes... — Mamãe questiona espantada e eu ainda estou perplexa.
— Ela não é mais a minha filha! Ela nos envergonhou e trouxe a
desonra para a nossa família. Eu não vou mais admitir isso dentro da minha
casa! EU QUERO ELA FORA DAQUI! AGORA! — Vejo ele socar um
vaso de planta o arremessando longe.
Mesmo assustada eu me levanto do chão e abraço a minha mãe
chorando tão espantada quanto eu.
— Eu não tenho para onde ir, você não pode fazer isso comigo,
papai...? Por tudo que há de mais sagrado...? Me dá mais uma chance? Eu
não sabia que ele ia fazer aquilo ou não teria feito, eu fui enganada, papai?
— Imploro aos prantos aproximando-me dele com cautela.
Ele levanta a mão para me bater novamente, mas ao invés disso ele
me agarra pelo braço e me arrasta até a porta.
— O que vai fazer comigo, papai? Por favor...? Papai, por favor? —
Suplico mas ele não me dá ouvidos.
Papai abre a porta e me joga para fora de casa como se eu fosse algo
inútil que não serve mais. Estou arrasada, o meu coração está dilacerado
com tamanha injustiça pois ele nem me deixou explicar.
— Você não pode fazer isso com a nossa filha, Ramiro! Não precisa
tomar uma atitude tão drástica como essa. — Mamãe tenta vir até a mim
mas ele põe-se na sua frente.
— Eu perdi a minha posição na igreja por causa dela, todos vão me
ver com maus olhos por causa do que ela fez. Se você continuar
defendendo-a, você também vai embora dessa casa! Você devia ter dado
mais orientação a sua filha, devia ter conversado mais e ela não teria feito o
que fez! — Esbraveja encarando a minha mãe com desprezo. Isso me dói.
É culpa minha por ter confiado em alguém que claramente eu não
conhecia. Mamãe tenta mais uma vez vir até mas ele fecha a porta e ouço a
fechadura sendo trancada.
— Espera, papai? Me escuta por favor? Papai? Papai! Me deixa
entrar? Eu não tenho para onde ir, me deixa entrar? — Tento
desesperadamente abrir a porta mas está trancada.
— Não saia daí, filha! Eu vou tentar conversar com o seu pai... Não
vai embora, querida! — Ouço a voz aflita da minha mãe antes do silêncio se
fazer presente.
Choro e me tremo de medo, de angústia. Estou espantada, perplexa
ainda sem acreditar no que acabou de acontecer, essa situação é bizarra, eu
não esperava uma atitude tão drástica do meu pai justamente por ele ser
cristão, por eu ser sua filha. Pensei que ele ficaria ao meu lado mas ao invés
disso, está me tratando igual ou pior que aqueles racistas miseráveis.
O que vai ser de mim se ele não me deixar voltar? Para onde vou?
Não tenho muitas amigas, apenas Tauane sei que poderá me estender a mão.
— Abra a porta, papai? Me deixa entrar? Por favor me deixe entrar?
Não faz isso comigo, pelo amor de Deus? Eu estou implorando! — Agarro
a maçaneta com força tentando desesperadamente abrir a porta, no entanto,
não consigo.
Sento-me na porta de casa e choro, lamento-me profundamente por
ter confiado naquele cretino que em apenas dois meses já disse que me
amava, que ingênua que eu fui, como fui burra de acreditar em alguém
dentro daquela faculdade? Choro insistentemente pois é a única coisa que
posso fazer agora, enquanto ouço os gritos do meu pai repreendendo a
minha mãe.
— Meu Deus, o meu crime não foi assim tão grave, eu só confiei
demais na pessoa errada... Não me desampare agora, por favor? Eu não
tenho para onde ir... Me ajude, meu Deus? — Rezo em voz alta esperançosa
de que Deus ouça o meu clamor.
— NÃO INSISTA, JANETE! NÃO ME ENVERGONHE VOCÊ
TAMBÉM! EU NÃO VOU VOLTAR ATRÁS NA MINHA DECISÃO
POIS SOU UM PAIVA! — Grita aos quarto ventos para quem quiser ouvir.
Meu coração se aperta cada vez mais, aquele desgraçado arruinou a
minha vida, ele me destruiu pois estou perdendo tudo que eu tenho, e eu só
tenho a minha família. Como vou fazer agora sem eles? Para onde vou? O
que vou fazer para me sustentar? Meu Deus me ajuda?
Saio da porta de casa e paro na calçada, encaro a janela do meu
quarto desejando estar na minha cama focada nos estudos como faço todos
os dias, e como será a partir de agora se meu pai não me deixar voltar?
Apenas choro e espero como minha mãe pediu, rezando
mentalmente para que ela consiga convencê-lo a me deixar ficar. Porém,
alguns poucos minutos depois minha irmã sai de casa chorando vindo até a
mim, ela me agarra em um abraço apertado enquanto vejo minha mãe vir
atrás com uma mochila e a minha bolsa.
— Mamãe... Mamãe, me deixe ficar? Eu não tenho para onde ir...
Ela me agarra em um abraço sentido beijando o alto da minha
cabeça, eu choro assim como ela.
— Você errou, filha, errou muito mas eu não desejo esse fim para
você... Você ainda é minha filha e eu te amo, mas eu não posso ir contra o
seu pai, ou ele nos colocará todas nós na rua, e o que vamos fazer? — Seu
tom triste e magoado mostra claramente o desgosto que causei a eles.
— Me perdoa, mamãe? Eu me apaixonei pela pessoa errada e fui
enganada... Ele mentiu para mim quando disse que me amava, foi uma
armação dos garotos da faculdade para me humilhar... Eu não sabia que
estava sendo gravada, mamãe, eu juro... Eu não sabia que algo assim
poderia acontecer. — Desabo em um choro profundo e insistente, mamãe e
Yarim choram junto comigo.
— Eu acredito em você, filha, mas a nossa religião não permite que
uma moça direita fique íntima de um homem antes do casamento, eu fiz
vista grossa para esse relacionamento com aquele garoto pois acreditei que
vocês se entenderiam, pensei que fosse algo sério... Eu não posso ir contra o
seu pai mas eu vou te ajudar no que eu puder sem ele saber... Olha, eu
peguei a sua bolsa e coloquei algumas roupas na sua mochila, coloquei
também algum dinheiro para você se virar por uns dias e vou tentar
continuar te ajudando, mas seria bom que você arrumasse um lugar para
ficar, minha filha, procura alguma das suas amigas e não deixa de me dar
notícias, por favor, querida? — Me orienta entre soluços e volta a me
abraçar.
Tento não chorar mais para não deixá-la ainda pior, tudo isso é culpa
minha por ter me entregado aquele desgraçado infeliz.
— Obrigada por não me virar as costas como o papai fez, mamãe...
Eu pensei que ele fosse me apoiar e ficar do meu lado, mas me enganei. —
Volto a chorar mesmo contra a minha vontade.
— Janete! Yarim! Entrem agora mesmo se não quiserem ir com ela!
— Ouço a voz estridente de meu pai e olho em direção a casa, ele vira o
rosto para não me olhar.
— A minha vida já está desgraçada o suficiente, não quero arrastar
vocês comigo para a rua da amargura... Entrem... Eu mando notícias quando
eu puder... Eu vou sentir tanta falta de vocês. — Abraço minha mãe e minha
irmã mais uma vez.
— Eu vou sentir tanto a sua falta, Jenny... Não quero que você vá.
— Minha irmã deita a cabeça em meu ombro chorando junto comigo.
— Yarim! Janete! — Grita meu pai e elas se soltam de mim.
Mamãe sai apressada arrastando Yarim com ela, as duas entram casa
sem olhar na cara do meu pai e ele fecha a porta sem olhar na minha.
Encaro a porta fechada e tento engolir o choro, olho de um lado para
o outro tentando ter uma ideia de para onde ir agora. A quem vou pedir
ajuda? A minha vida está acabada, destruída.
Pego a mochila e a minha bolsa e limpo o meu rosto, afasto-me da
casa e tiro o meu celular da bolsa, preciso ligar para Tauane, ela será a única
pessoa capaz de me ajudar, é a única amiga sincera que eu tenho.
Ligo para minha amiga e ela atende no quarto toque.
— Jenny? Amiga eu estava mesmo querendo falar com você, queria
saber como você está depois do que houve. Você saiu da faculdade e eu não
consegui falar com você. — Seu tom parece de alívio por conseguir falar
comigo.
— Eu não estou nada bem, Tauane, estou precisando de ajuda, foi
por isso que te liguei... Amiga, eu fui expulsa de casa, os meus pais já
descobriram sobre o vídeo, meu pai ficou furioso e me colocou para fora de
casa, eu não tenho para onde ir, preciso de ajuda e não tenho mais a quem
recorrer... Por favor, me ajude? Eu posso ficar na sua casa por uns dias? —
Explico-me esperançosa e com o coração na mão.
A linha fica muda por um instante, ouço um suspiro pesado que faz
o meu peito se apertar.
— Eu quero te ajudar, amiga, e vou fazer tudo que eu puder por
você, mas os meus pais também já estão sabendo do houve e eu até tentei ir
até você, mas a minha mãe não acha uma boa idéia... Também estamos
sofrendo a mesma perseguição que você e todos os negros naquela
faculdade, minha mãe teme que aprontem comigo também se continuarmos
juntas. Eu só quero que saiba que eu vou estar sempre aqui para o que você
precisar, não importa o que a minha mãe diga, eu não vou me afastar de
você... Eu tenho um dinheiro guardado e vou te ajudar a pagar um hotel ou
uma pensão por uns dias, é tudo que eu consigo fazer nesse momento...
— Tauane, eu agradeço de coração por sua intenção em querer me
ajudar, mas eu já trouxe problemas demais para minha família, não quero te
complicar com os seus pais também... Eu vou dar o meu jeito, não se
preocupe. — Meu coração dói, sangra de medo dessa situação.
— Amiga, eu não posso fazer muito por você mas pelo menos aceite
o dinheiro? Não é muito mas pode ajudar por alguns dias.
— Está bem, eu aceito o dinheiro mas eu prometo que te pago
depois... Não sei como, mas eu vou te pagar... — Minhas lágrimas voltam a
descer mesmo contra a minha vontade.
— Está bem, eu vou fazer uma transferência agora mesmo, se eu
puder te ajudar em algo mais que esteja ao meu alcance, não hesite em me
ligar, está bem? Você vai voltar a faculdade? — Seu tom carinhoso me
acalma um pouco pois sei que está sendo sincera.
— Eu não pretendo mais voltar a essa faculdades, não depois do que
me fizeram pois sei que nada vai mudar... Eu preciso ir, Tauane, eu te dou
notícias, está bem? Obrigada por me ajudar. — Fungo tentando engolir o
choro.
— Eu queria poder te ajudar mais, mas eu não posso, eu sinto
muito...
— Você já está me ajudando muito, amiga, a minha mãe também me
deu algum dinheiro, vou ver o que consigo fazer. Nós falamos depois, até
mais. — Suspiro frustrada e me despeço encerrando a ligação.
Olho de um lado para o outro tentando me decidindo em que direção
seguir, no entanto, não faço a mínima idéia de para que lado ir. Eu preciso
arrumar um trabalho para conseguir me sustentar, eu não vou poder pagar
um hotel e comprar comida por muito tempo. Meu Deus, eu nunca entrei
em um hotel ou motel, qual a diferença de um para o outro? Onde eu posso
me hospedar sem a intenção de transar com alguém?
Sigo para o centro da cidade pois preciso começar a procurar um
trabalho agora mesmo, não posso gastar o pouco dinheiro que tenho antes
de conseguir um trabalho. Paro no ponto de ônibus e me sento ainda com
uma sensação tão dolorosa dentro de mim, como o meu próprio pai foi
capaz de colocar a própria filha na rua, mesmo sabendo que eu não tenho
para onde ir? Minhas lágrimas voltam a descer mas eu seco rapidamente
quando vejo o ônibus vir.
Entro no mesmo e sigo para o centro da cidade, lá será melhor para
conseguir um bom emprego e também o meu pai não vai gostar de saber
que estou por perto, ele está me odiando, nunca vi o meu pai tão furioso, tão
magoado, acho que ele nunca será capaz de me perdoar, mas eu também
não sei se serei capaz de perdoar alguém que me virou as costas em um
momento como esse, eu o amo tanto e pensei que estaria ao meu lado, mas
ele me abandonou, também me humilhou de uma forma tão cruel.
Tento a todo custo não pensar no pesadelo que se tornou a minha
vida, foco a minha atenção nas minhas ideias para conseguir arranjar um
emprego. Abro a minha bolsa e pego um lençol para limpar o rosto, pego
também o estojo de maquiagem e me olho no espelho, estou horrível, me
maquiei para encontrar aquele infeliz na faculdade mas tudo foi um terrível
pesadelo, nunca pensei que algum dia passaria por algo assim.
Limpo o meu rosto e refaço a minha maquiagem aqui mesmo dentro
do ônibus, recebo alguns olhares curiosos e outros de nojo, mas não me
importo, já estou me acostumando a ver essas pessoas ridículas que
preferem ser preconceituosas, Deus não fez ninguém igual a ninguém,
porque eu tenho que ser como eles? Eu amo a minha cor, amo ser negra e
essas pessoas não são melhores do que eu só por serem brancas.
Desço no centro da cidade e passo em algumas lojas perguntando
sobre vagas de emprego, a maioria me dão a mesma resposta. Não! Mas eu
não vou desistir, não sou uma fracassada como muitos pensam, eu sei que
sou forte e eu vou continuar correndo atrás.
Entro em uma sorveteria e compro um picolé, andei demais e estou
morrendo de calor. Sento-me colocando a bolsa sobre a mesa e a mochila
no chão não meu lado.
— Com licença, deseja mais alguma coisa? — Pergunta um rapaz
mais ou menos na minha idade com um bloquinho de pedidos na mão.
— Não, eu vou ficar só no picolé mesmo... Mas estou precisando de
um emprego, você saberia me dizer se algum lugar por aqui está
contratando? No desespero em que estou eu aceito até limpar o chão. —
Suspiro frustrada.
— Poxa, se você tivesse aparecido ontem, você teria conseguido a
vaga de caixa, mas já foi ocupada. — Ele parece tão frustrado quanto eu.
— É uma pena mesmo, mas tudo bem, eu vou continuar tentando...
Eu vou indo, obrigada. — Lamento profundamente por não estar tendo
sorte em encontrar um emprego.
Mas não vou desistir, vou continuar tentando mas eu preciso comer
algo, eu só tomei o café da manhã mas saí de casa tão ansiosa que não comi
muito, a hora do almoço já passou e eu estou morrendo de fome. Por aqui
tudo é muito caro mas eu preciso pelo menos comer um lanche, um pão ou
algo que me ajude a permanecer de pé.
Saio da sorveteria e ando um pouco mais, vejo uma loja de roupas e
decidido entrar para tentar a sorte mais uma vez.
— Boa tarde! Eu gostaria saber se vocês estão contratando, eu estou
precisando muito trabalhar, e...
— Como é que é...? — Me interrompe uma mulher de nariz em pé
rindo na minha cara.
— Eu preciso trabalhar, senhora, estou andando o dia inteiro e...
— Me desculpa mas não estamos contratando... Eu não sei se você
percebeu, mas aqui só trabalham pessoas brancas, querida, então nunca terá
uma vaga aqui para você, é melhor você tentar uma vaga no subúrbio, lá
você encontrará pessoas do seu nível. — A mulher me olha de cima abaixo
com um olhar de desdém.
— Que cabeça a minha procurar emprego justo em uma loja como
essa, eu morreria picada por cobras peçonhentas se eu passasse mais de um
minuto ao seu lado, deve ser por isso que a sua loja está tão vazia, não é?
Com licença. — Sorrio com deboche e saio daqui deixando a mulher
chocada.
Estou cansada de abaixar a cabeça toda vez que alguém me
desrespeita, não estou nesse mundo para isso então preciso ser mais forte do
que realmente sou, mas como conseguir isso sozinha?
São oito horas da noite e eu estou um caco de tão cansada, nunca
precisei andar tanto em toda a minha vida e eu estou esgotada. Paro em uma
praça e compro um cachorro quente e um copo de guaraná, me sento e
como feito uma esfomeada pois hoje o meu almoço foi um pão com
mortadela e um copo de suco, e a minha janta será apenas esse cachorro
quente apenas para não ficar de estômago vazio.
Passo algum tempo aqui pensativa admirando algumas família
passeando, conversando e brincando enquanto eu estou longe da minha
família. Meu Deus, o que eu fiz foi assim tão grave para o meu pai tomar
uma atitude como essa? Se ele não é capaz de me perdoar e ficar ao meu
lado, quem vai ficar?
Depois de um tempo saio da praça e sigo a procura de um lugar para
dormir, procuro por uma pensão mas não encontro, parece não existir isso
por aqui, esses hotéis do centro são muito caros e eu já andei ligando para
alguns deles, apenas para não ter que ir até lá pessoalmente. Se eu tiver que
voltar para o bairro onde moro, vai ser mais um gasto com passagem pois
amanhã terei que voltar aqui outra vez. O que eu faço, meu Deus? O que eu
faço?
Não posso dormir na rua então decido procurar um hotel que seja
mais barato que os outros, eu preciso economizar o máximo que eu puder
até conseguir um emprego para me manter sozinha, sem depender de
ninguém, mas o dinheiro que eu tenho no máximo durará uma semana e eu
tenho que pagar um lugar para dormir e me alimentar para não morrer de
fome.
As dez da noite eu finalmente estou entrando em um hotel e por
sorte eles servem café da manhã incluso no valor, e isso me agradou
bastante, menos uma refeição para eu pagar pois se eu tiver um bom café da
manhã, talvez consiga aguentar até a janta. Meu Deus, que situação.
Depois de um banho bem demorado aproveitando a água quente, eu
visto uma lingerie e um blusão confortável, me jogo na cama e tento dormir
para descansar do terrível dia de hoje, mas minhas lágrimas descem no
instante em que imagens do que houve na faculdade invadem a minha
mente, seguidas pelo surto do meu pai em me pôr na rua.
Choro com a cara enterrada no travesseiro para que não me ouçam
lá de fora, choro o quanto aguento até pegar no sono, durmo desejando com
toda a minha alma sonhar com algo bonito pois a minha vida está muito
feia.
Acordo amanhã seguinte com o telefone ao lado da cama tocando,
atendo e é da recepção e a recepcionista pergunta se eu vou querer dobrar a
diária, digo que não e pergunto pelo café da manhã, ela pede para eu descer
até o salão e eu devo me apressar, pois está terminado o horário do café da
manhã. Apenas concordo.
Pego o meu celular e ele está descarregado, ótimo! Só me faltava
isso. Procuro pelo carregador na minha bolsa e não está, mamãe esqueceu
de pôr o carregador na minha bolsa e eu terei que comprar outro. Visto-me
o mais rápido que consigo e saio apressada para conseguir tomar café, eu
dormi demais e o celular não despertou porque está descarregado, mas pelo
menos eu consegui descansar bastante para a minha luta de hoje.
Entro no salão do café da manhã e sirvo-me, acomodo-me em uma
mesa distante de algumas pessoas que tem a sua atenção em mim, mas tento
não dar atenção a elas e como até me sentir satisfeita, e estava tudo uma
delícia. Termino o meu café e pego as minhas coisas saindo em seguida,
preparada para mais uma vez procurar por uma vaga de emprego, e que
Deus me ajude a encontrar algo logo.
Meus pensamentos vão nos meus pais e minha irmã, como pode de
uma hora para a outra a gente perder tudo que tem? Como pode uma pessoa
cristã fazer o que o meu pai fez? Ele só se preocupou com a sua posição na
igreja e não mediu as palavras e nem as suas atitudes. E o Vinícius? Porque
existem pessoas como ele capaz de brincar e humilhar assim uma pessoa
apenas por prazer? Se fui burra e ingênua? Sim, mas em um lugar onde
você não conhece ninguém, e alguém aparece todo atencioso quando o resto
dos colegas estão te virando a cara, você acaba confiando demais e acaba
quebrando a cara, sei que nem sempre é assim mas no meu caso, eu não dei
muita sorte.
Respiro fundo e sigo direção contraria da que eu fui ontem
procurando emprego, espero sinceramente ter mais sorte hoje.

ALGUNS DIAS DEPOIS...

Amanhã vai fazer uma semana que estou andando sem parar e ainda
não consegui um trabalho para me sustentar, muitas pessoas não quiseram
me contratar por eu ser negra, e isso era visível na maneira como me
olhavam, nem precisavam dizer nada. Outra simplesmente pegaram o meu
contato com a promessa de ligar depois, porém, até agora ninguém me
ligou. Em outros lugares também não tive sorte pois sempre me diziam que
a vaga já havia sido preenchida, fazer o que? Eu preciso continuar tentando
pois o dinheiro está acabando.
Dessa vez estou andando pelo bairro onde meus pais moram, já
rodei tudo por aqui mas também não consegui nada, muitos me apontam
pelo vídeo que aquele canalha colocou na internet para acabar de vez com a
minha vida. Eu liguei, ameacei processá-lo se ele não tirasse o vídeo da
internet, contei aos pais dele sobre o que ele fez, e mesmo me olhando torto,
ele obrigaram Vinícius a retirar o vídeo, mas parece que todos já viram pois
todos comentam.
Não tenho mais o que fazer nesse lugar, mas para onde eu vou
agora? O dinheiro que eu tenho não dá mais para pagar um hotel, onde vou
dormir hoje? E amanhã e depois? Esfrego as mãos no rosto e paro em um
ponto de ônibus, passo longos minutos aqui tentando pensar em uma saída,
mas assim como todos esses dias, não consigo pensar em nada.
O ônibus vem e eu dou sinal, subo no mesmo instante em que ouço
alguém me chamar.
— Jennifer!
Olho para os lados mas não vejo ninguém, entro no ônibus e pago a
minha passagem, o ônibus sai em seguida mesmo eu ouvindo um carro
buzinar. Sento-me no banco da janela pensativa sobre onde vou conseguir
dormir hoje, não consigo pensar em nada pois nem dinheiro para alugar um
albergue eu não tenho, se eu tivesse descoberto esse lugar antes eu não teria
gastado tanto com hotel, de todo jeito iria faltar o dinheiro da comida mas
pelo menos eu teria uma cama quentinha para dormir.
Pedi uma vaga de garçonete em um restaurante hoje e também
ficaram de me ligar, vou rezar o quanto eu aguentar para conseguir qualquer
coisa para fazer, mas sei que o salário que devem pagar naquele restaurante
deve ser muito bom, mas teria que ter dois empregos para conseguir pagar
um aluguel, me sustentar e pagar a faculdade em outro lugar, pois naquela
eu não ponho mais os pés.
Depois de alguns longos minutos eu finalmente desço no centro da
cidade, porque eu voltei para cá? Simples! Meu pai não quer me ver nunca
mais então não posso ficar tão perto dele, além do más, a praça do centro é
bem menos perigosa que a praça perto da casa dos meus pais, e talvez hoje
tenha que dormir na rua é quero estar em um lugar bem movimento, assim
não corro o risco de ser maltratada, roubada ou estuprada com tanta
facilidade, com pessoas por perto eu posso gritar por socorro e rezar para
que não me virem as costas também.
Sigo até a praça e sento-me no primeiro banco que vejo, ponho a
minha mochila ao meu lado e seguro a minha bolsa no colo, olho de um
lado para o outro mais uma vez me dando conta da minha devasta solidão.
Tentei ver a minha irmã na escola dela por duas vezes mas o papai está
buscando ela pessoalmente, tentei ligar para casa mas na maioria das vezes
era ele quem atendia então eu desligava, ainda não pude ver a minha mãe
depois do houve e eu estou me sentindo tão mal por isso, estou literalmente
sozinha nessa vida e não sei mais o que fazer.
As pessoas me humilham, me julgam e me apontam, me maltratam e
eu não tenho ninguém por mim, que sentido há em fazer parte desse mundo
quando tudo está indo de mal a pior? Mas minhas condições, o que me resta
para desgraçar a minha vida de vez?
Estou presa nos meus pensamentos quando sinto alguém arrancar a
minha bolsa da minha mão, e correr para longe de mim.
— MINHA BOLSA! LEVARAM A MINHA BOLSA! LADRÃO!
LADRÃO! — Pego a minha mochila correndo atrás do infeliz.
Alguns rapazes vêem o meu desespero e correm atrás do garoto,
paro de correr quando sinto que estou sem fôlego. Infeliz miserável! Levou
o meu celular e o pouco dinheiro que ainda me restava, nem um cachorro
quente vou conseguir comprar hoje.
Choro de raiva, de ódio desejando matar alguém, por sorte eu havia
colocado os documentos na mochila depois de tirá-los para mostrar no
restaurante, mas o pouco dinheiro que eu tinha para conseguir comer hoje
eu acabei de perder. Já vi que essa praça não é tão segura o quanto pensei,
mas para onde vou agora?
Saio novamente da praça ainda chorando de raiva, mas ouço alguém
me chamar.
— Ei! Morena! — Olho para trás e vejo vir na minha direção os
garotos que correram atrás do ladrão. — Olha, infelizmente o pivete
conseguiu fugir, sinto muito mas a sua bolsa já era. — Ele toma fôlego
cansado por ter corrido.
— Tudo bem, muito obrigada pela intenção em me ajudar.
Obrigada. — Agradeço limpando o rosto e saio em seguida.
Ando sem rumo sem saber para onde ir, nem dinheiro para voltar
para o meu bairro e pedir mais dinheiro a minha mãe, eu não tenho, perdi
também o meu celular e não tenho como ligar para ninguém, o número de
Tauane era novo e eu ainda não havia memorizado, se eu ligar para casa
novamente o meu pai não vai me deixar falar com a minha mãe, nunca dou
sorte dela atender ao telefone pois acho que ele já espera que eu ligue
pedindo para voltar, mas eu não vou voltar, mesmo que eu continue
passando fome, mesmo que eu durma na rua e seja assaltada novamente eu
não volto para casa, meu pai me jogou na rua para eu passar por tudo isso,
então eu não volto mais para aquela casa, não com o coração tão ferido
como está agora.
Não gosto de guardar mágoa de ninguém mas hoje eu tenho motivos
de sobra para isso, talvez um dia isso passe, no entanto, sinto que não
acontecerá tão cedo e não estou me importando com isso. Não posso passar
a vida inteira me desculpando por algo que eu não esperava que
acontecesse, ele nem quis me ouvir, o meu pai me virou as costas e ainda
ameaçou minha mãe caso ela me ajudasse. Eu estou literalmente perdida, se
eu procurar por ela e ele a maltratar por minha culpa, vou me sentir ainda
pior.
Paro em um ponto de ônibus algumas quadras depois da praça, me
sento e fico aqui perdida em pensamentos, desnorteada sem saber o que
fazer. Já está escurecendo e o frio está chegando junto à escuridão da noite,
onde posso ir para me esconder do frio? Onde posso dormir sem ser atacada
novamente? Estou morrendo de fome, estou com a garganta seca de tanta
sede.
Vejo um barzinho do outro lado da rua e decidido ir até lá pedir um
copo d'água, não é a primeira vez que faço isso hoje, e pedir não é um
crime, preciso tentar sobreviver da maneira que dê.
Atravesso a rua e entro no bar, vejo um homem de meia idade atrás
do balcão e sigo até ele.
— Com licença, senhor! Eu estou morrendo se sede mas não tenho
dinheiro para comprar água, eu acabei de ser assaltada, seria possível o
senhor me dá um copo d'água? Pode ser da torneira mesmo, não tem
problema. — Peço com o coração apertado por viver uma situação como
essa.
— Espera um minuto!
O homem me olha de cima abaixo me analisando e sai em seguida,
porque ele me olhou assim? Com que intensão ele me olhou assim? Suspiro
fundo e tento não ver maldade em todo mundo, eu estou péssima, estou um
caco e deve ser por isso que ele me olhou daquele jeito, devo estar
parecendo uma moradora de rua pedindo água.
— Aqui está a água!
O homem coloca um copo grande de água sobre o balcão e parece
gelada, bebo com gosto até a última gota, meu estômago até dói pelo tanto
de água que bebi de uma só vez, não parei nem para respirar.
— A moça está com problema? Eu não te conheço de algum
lugar...? Você tem onde ficar? Eu tenho um quartinho em cima do bar e
talvez você goste de ficar nele. — Sugere o homem novamente me
analisando.
Como ele pode me conhecer de algum lugar? Eu nunca o vi mais
gordo. E com que intensão ele está querendo me ajudar?
— Me desculpe, mas, eu não o conheço. Onde o senhor pode ter me
visto? — Pergunto curiosa.
— Talvez de um vídeo na internet, o seu rosto não é muito comum,
não tem como esquecer... Olha, se estiver mesmo com problemas, eu posso
te dar comida e uma boa grana se você quiser ficar. — Ele sorrir de lado e
eu me afasto espantada com a sua sugestão.
— Obrigada pela água, com licença.
Pego a minha mochila e saio dali apressada, o homem me chama
mas eu corro sem olhar para trás, estou sendo vista como uma garota de
programa, uma prostituta como o meu pai mesmo me chamou. Quero
chorar para me desabafar mas eu já chorei tanto, que não consigo mais
deixar uma única lágrima cair, estou arruinada, a minha vida está mesmo
destruída.
Quantas pessoas mais viram aquele vídeo? A cidade inteira? O
mundo todo? Esfrego as mãos no rosto me sentindo zonza, para um pouco
apenas para tomar fôlego e volto a caminhar, quando dou por mim estou na
frente da rodoviária de Cleveland e sei que lá dentro tem banheiros
gratuitos e ela fica aberta a noite toda. Vou tentar a sorte, posso me encostar
em qualquer lugar e dormir um pouco também, assim o faço.
Entro na rodoviária e procuro pelo banheiro público, entro no
mesmo e a primeira coisa que faço e me lavar da maneira que dá, molhando
uma blusa e passando no corpo. Depois de me higienizar eu troco de roupa
e visto um casaco pois está frio, coloco o capuz para não ser reconhecida
caso mais alguém por aí tenha visto aquele maldito vídeo.
Saio do banheiro a procura de uma poltrona confortável para me
sentar um pouco e descansar, não sei se vão me deixar dormir aqui ou se
vão me pôr para fora, mas vou ficando por aqui até eu puder. E assim o
faço, passo tanto tempo sentada que pego no sono sonhando com a comida
deliciosa da minha mãe, como eu fui perder tudo isso?
Tento apenas dormir o máximo que eu conseguir, mesmo que não
me deixem passar a noite toda aqui, se eu conseguir descansar já vai me
ajudar muito.
Acordo com um alvoroço de gente conversando e me sento
esfregando os olhos, são quatro horas da manhã e já tem muita gente
chegando e saindo da cidade. Está muito frio, ainda estou com muito sono,
sede e fome, porém, levanto-me e vou ao banheiro lavar o rosto e tentar
melhorar a minha aparência.
Até ontem eu estava dormindo em uma cama macia de hotel, o hotel
mais barato que encontrei mas foi de grande serventia, mas hoje é a
primeira de muitas noites que passarei dormindo sentada em algum lugar
que não seja uma cama macia, isso se eu não conseguir logo um emprego e
eu espero ser chamada logo, mas até eu receber o meu primeiro salário vou
ter que dormir assim, vagando por aí tentando seguir em frente, mas não sei
até quando sou capaz de aguentar tudo isso. Não sou tão forte o quanto
tento parecer.
Volto para a mesma poltrona onde dormi e me sento novamente, fico
aqui atenta as pessoas que entram e sai enquanto espero o dia clarear, não
vou conseguir dormir de novo com tanta gente chegando e saindo desse
lugar, mas graças a Deus eu consegui dormir tranquila sem me preocupar
que alguém me ataque novamente, se levassem a minha mochila pelo
menos os documentos estão no bolso da minha jaqueta, e eu vou precisar
muito deles para ser contratada.
Quando o dia finalmente amanhece e eu vejo que o sol já saiu, eu
saio novamente sem rumo e paro em uma praça para ficar um pouquinho no
sol, é a mesma praça onde fui assaltada, mas hoje não tenho nada de valor
para levarem, mas me dou conta de um detalhe.
— Como vão entrar em contato comigo para falar de emprego se
levaram o meu celular...? Eu não acredito nisso.
Mais uma vez estou frustrada e me sentindo derrotada, eu perdi a
guerra e todas as batalhas, não seria melhor desistir de tudo?
— Meu Deus, dai-me forças? Eu não quero desistir pois não sou
assim, tu conheces a minha vida mais do que eu mesma, então me ajude a
aguentar um pouco mais? Me ajude a sobreviver? Se eu pequei por confiar
demais, peço que me perdoe...? Mas por favor...? Por tudo que há de mais
sagrado, meu Deus...? Me ajude a sair dessa situação...? Eu estou
suplicando, me ajude? Eu estou tão desesperada que temo fazer uma
besteira e eu não quero isso, pois sei que não vais me perdoar. — Sinto as
minhas lágrimas voltarem a aparecer e a angústia em meu peito voltar a
crescer.
Me sinto mal por pensar em fazer um besteira, mas na hora do
desespero a gente não pensa nas consequências e eu preciso ser forte.

Passo o dia sentada na praça sem ânimo para nada, eu já percorri


essa cidade inteira atrás de trabalho e não consegui nada, apenas promessa
de me ligarem depois e teve lugares que nem me deixaram falar direito.
Não vou andar de novo, eu não consigo passar por isso de novo.
Já é fim de tarde e eu levanto-me para sair do lugar um pouco, mas
esbarro em alguém.
— Olha por onde anda, negrinha! É o cúmulo do absurdo ter que
esbarrar em alguém assim a uma hora dessas. — Esbraveja uma senhora
branca, uma mulher de meia idade.
— Quem tem que olhar por onde anda é você! A praça é pública e
não está dizendo que só gente branca metida a besta pode andar por ela! —
Rebato irritada.
— Você me respeita, garota!
— Me respeite você para ser respeitada! Você não é melhor do que
eu só por ser branca. Eu amo a cor da minha pele e não vou me envergonhar
por isso só porque existe gente como você, ridícula! — Esbravejo furiosa e
a mulher sai me encarando incrédula.
Afasto-me dali inquieta e sinto alguém segurar o meu braço.
— Me solta!
— Ei! Fica calma! Sou eu, Bruno Stuart, se lembra de mim? Nos
conhecemos há alguns dias atrás no dia daquele acontecimento lamentável.
— Encaro o homem a minha frente e é inevitável me lembrar de tudo que
me fizeram.
— Sim, eu me lembro de você, mas eu não estou afim de
conversar... Eu não estou bem, eu só quero sair daqui. — Solto-me dele e
viro-me para sair, mas novamente ele segura o meu braço.
— Me deixe te ajudar? Estou vendo que está com problemas. O que
aconteceu com você? O que faz aqui nesse estado, chorando? Eu te procurei
no seu endereço mas me disseram que você não mora mais lá. — Pergunta
confuso e ao mesmo tempo curioso.
Ponho a mão no meu rosto e só então percebo as minhas lágrimas.
Estou chorando de nervoso por ter que enfrentar alguém apenas por eu ser
negra, parece até que é crime ser negra.
— Foi me procurar para que? Para me dizer que posso voltar para
sua faculdade, para me humilharem um pouco mais? Não! Muito obrigada.
— Solto-me mais uma vez dele e viro-me abruptamente, no entanto, me
sinto zonza por não ter comido nada desde ontem.
Caio de bunda no chão vendo tudo girar, mas ele se abaixa
abraçando o meu corpo para me ajudar a levantar.
— Você parece fraca, o que está acontecendo com você? Está se
alimentando direito? — Ele pega a minha mochila do chão mas eu pego-a
da sua mão.
— Eu me alimento uma vez por dia para economizar dinheiro, mas
ontem eu fui assaltada e levaram o pouco dinheiro que eu tinha... Eu não
como nada desde ontem e estou me sentindo a pior pessoa do mundo... Por
causa do que fizeram comigo eu fui expulsa de casa e não tenho onde ficar,
tive que dormir essa noite em uma rodoviária para não dormir no meio da
rua... Estou desesperada pois não consigo um trabalho para me manter. A
minha vida não tem mais sentido algum... O meu pai me chamou de todos
os nomes horríveis que nunca imaginei ouvir, e não quero realmente ter que
me tornar uma prostituta para conseguir sobreviver... Estou desesperada
pois sinto que não vou aguentar tudo isso por muito tempo, já passou as
piores ideias pela minha cabeça mas não quero fazer nenhuma loucura. —
Volto a chorar mas me afasto para longe dali, ele vem ao meu lado atento a
mim.
— Eu não fazia ideia de tudo que você está passando. Eu te dei o
meu cartão, porque não me ligou para pedir ajuda? É o mínimo que posso
fazer para me redimir por aquela crueldade que aconteceu dentro da nossa
universidade... Vem comigo! Aqui perto tem um restaurante, você precisa
comer alguma coisa. — Vejo nos seus olhos o quanto ele parece chocado.
Bruno pega a minha mão e me arrasta até o seu carro, dessa vez eu
não vou hesitar pois estou realmente morrendo de fome, não posso me dar
ao luxo de recusar ajuda por orgulho, estou na merda mesmo então graças a
Deus que ele quer me ajudar, pelo menos vou dormir de barriga cheia
mesmo sem saber onde irei dormir, na rua? Em um hotel? No ponto de
ônibus ou na praça? Não sei, mas eu preciso comer alguma coisa, não vou
resistir comendo um cachorro quente por dia.
Entramos no seu carro e pergunto como ele me achou aqui, ele conta
que chamou por mim quando eu estava entrando no ônibus ontem e me
seguiu até aqui, mas me perdeu vista e não conseguiu me encontrar, então
ele voltou hoje para tentar me encontrar, e que bom que ele me encontrou,
isso tem que ser obra de Deus. Então era a voz dele que eu ouvi quando
entrei no ônibus ontem? Se eu tivesse visto ele e o reconhecido, talvez eu
não tivesse sido assaltada naquela praça pois teria me atrasado um pouco
mais para chegar até aqui, e talvez eu nem tivesse vindo para cá
Ele para na porta do mesmo restaurante onde deixei currículo mais
cedo, saímos do carro e entramos no local, é final de tarde e ainda não tem
cliente, mas Bruno entra mandando chamar o gerente. Ele me deixa em uma
mesa e sai para falar com o homem, não demora muito e um garçom
aparece me servindo um prato mas eu não havia pedido nada, mas não
questiono, apenas aceito e começo a comer sem esperar Bruno voltar, a
comida está tão gostosa que como gosto, mas a minha fome é tão grande
que sinto o meu estômago doer, eu passei muitos dias comendo mal e agora
que estou comendo o suficiente, meu estômago parece estar se esticando.
O garçom me serve também um generoso copo de refrigerante mas
não aguento beber tudo. O tal Bruno se aproxima com as mãos nos bolsos e
se senta à minha frente, fico até envergonhada por ele me ver comendo feito
uma esfomeada. Prefiro que meu estômago doa por comer demais do que
por comer de menos. Ele sorrir me deixando ainda mais sem graça.
— Eu conversei com o meu pai e alguns diretores das nossas
instituições, fizemos uma reunião e eu os deixei a par de tudo que tem
acontecido na faculdade, e tudo que aconteceu com você. O meu pai quer te
ver para se desculpar pessoalmente pelo que houve... As nossas instituições
de ensino estão passando por uma investigação, para apurarmos as
negligências dos diretores e professores, os alunos que armaram contra você
também serão investigados, e quando descobrirmos todos os envolvidos,
esses serão expulsos da faculdade e responderão processos se assim você
desejar formalizar as denúncias, a faculdade está disposta a te apoiar nas
suas decisões. — Surpreendo-me com as suas palavras. Por essa eu não
esperava.
Não consigo dizer nada, apenas encaro o homem a minha frente
atento a mim, estou sem reação, não sei o que dizer.
— Olha, você tem todo o direito de processar as pessoas que
armaram contra você, e levando em conta as imagens que foram lançadas
na internet sem o seu consentimento...
— Espera! Você viu o vídeo? Você... Você me viu nua naquele
vídeo? — Pergunto espantada. Mas porque estou tão surpresa se até os
meus pais viram?
— Se eu disser que não, estarei mentindo e eu sou bem sincero,
então sim, me deixei mover pela curiosidade e vi o vídeo... Com todo
respeito, mas, você é muito linda. — Vejo os seus olhos brilhar de um jeito
que não sei explicar, ele me olhar de um jeito que me deixa completamente
envergonhada.
— Muito obrigada pela caridade que você fez em me pagar um
prato de comida, mas agora eu preciso ir. Com licença. — Levanto-me
abruptamente e pego a minha mochila saindo dali apressada.
— Espera, Jennifer! Me desculpa? Eu não quis te faltar com o
respeito, eu só disse a verdade...
— Eu já ouvi isso antes e conseguiram me enganar, mas não vão
fazer isso de novo! E isso é uma promessa que faço a mim mesma. —
Interrompo-o com lágrimas nos olhos mas não as deixo cair.
— Eu não quero te enganar! Eu estou tentando te ajudar, será que
não percebe isso? Estou te dando a chance de fazer aquelas pessoas
pagarem pelos seus crimes, eu te faço um simples elogio e você já fica na
defensiva...? Me deixa te provar que eu mereço a sua confiança? Me deixa
te ajudar? — Seu tom parece angustiado e sincero, mas porque ele ficaria
assim por mim? Nem nos conhecemos direito.
Suspiro fundo tentando não meter os pés pelas mãos, eu preciso de
ajuda e nesse momento apenas ele será capaz de me ajudar.
— Você acha que eu consigo mesmo processar aqueles malditos? Eu
vou mesmo poder voltar a faculdade como antes? Como bolsista? Eu não
tenho como pagar as mensalidades, por isso meu pai havia conseguido a
bolsa para mim. — Volto até a mesa e sento-me novamente, ele suspira
fundo se sentando também.
— Sim! Você consegue e precisa fazer isso para mostrar que existe
justiça, e que racismo é crime. E sim! Você pode voltar a faculdade nas
mesmas condições de antes, com a diferença de que agora você vai se
reportar diretamente a mim, quando algo desrespeitoso acontecer com você
ou qualquer um dos seus colegas. O diretor está sendo investigado e
provavelmente será exonerado do cargo, mas se você quiser se ajudar e
ajudar aos seus colegas mas não sentir confiança em reclamar com o diretor,
é só falar comigo, você tem o meu cartão... Porque não me ligou antes?
Porque não disse que estava com problemas? — Ele pega a minha mão
sobre a mesa em um gesto carinhoso, mas solto a sua mão.
Não quero que ele pense que porque está me ajudando vai poder
passar dos limites comigo, pois não vai mesmo.
— Eu perdi o seu cartão, ou pelo menos não me lembro onde o
coloquei... Eu estou tão destruída que não me passou pela cabeça em te
pedir ajuda, acho que eu também não teria coragem de fazer isso. — Conto
cabisbaixa. — Você conhece o gerente desse restaurante? Você não poderia
me dar uma força para conseguir um emprego? Me desculpa por estar
pedindo isso, mas foi você mesmo que disse querer me ajudar, e eu preciso
muito de um emprego, não tenho como me manter sem dinheiro e nem sei
como vou fazer para conseguir dormir hoje. Vou ter que passar a noite em
claro na rua com medo de ser assaltada novamente. — Peço apreensiva e
pensativa também.
— Você achou que eu iria te pagar um prato de comida e te deixaria
na rua depois? Você precisa me conhecer melhor, Jennifer, só assim você
vai confiar em mim. — Ele abre um sorriso tão lindo que me deixa
constrangida, a quase uma semana eu não consigo sorrir.
— E como você pretende me ajudar? Quanto isso vai me custar?
Porque se tem uma coisa que eu aprendi, é que nada é de graça nessa vida.
— Solto de uma vez e vejo ele soltar um suspiro pesado.
— Você tem toda razão, nada é de graça nessa vida, mas eu pretendo
te fazer um precinho camarada... Estou curioso para saber como é o seu
sorriso, pois ainda não te vi sorrir, eu te conheci chorando e te reencontrei
do mesmo jeito. Esse é o meu preço para te ajudar... Você acha que
consegue me pagar esse preço? — Ele abre novamente aquele sorrindo me
fazendo retribuir espontaneamente. — Uau... Você tem um belo sorriso.
Considere-se com a dívida paga, agora só me resta fazer a minha parte.
Venha! Vamos embora daqui! — Bruno se levanta ainda sorrir e
literalmente me estende a mão, foi a única pessoa capaz de fazer isso depois
que saí de casa.
Ele faz sinal para o gerente avisando que volta depois para
conversar com ele, e eu desejando com toda a minha alma que essa
conversa seja para conseguir uma vaga de emprego para mim, esse cara é
rico e deve ter muita influência nesses lugares, então ele pode sim me
ajudar, eu pedi a Deus para me ajudar e esse cara pode ter vindo até a mim
por um milagre divino.
Saímos do restaurante e entramos no seu carro, ele dá a partida me
levando para algum lugar, mas eu não reclamo, eu preciso confiar nesse
cara pois não tenho escolhas, e se ele quer me ajudar eu sei que não vou
dormir na rua hoje, então que ele me leve seja lá para onde ele estiver indo,
e que não seja uma furada, que ele não tente se aproveitar de mim ou me
enganar como já fizeram, eu já sofri o suficiente pelo erro que cometi
confiando em Vinícius. Aquele maldito.
Bruno puxa assunto querendo saber um pouco mais sobre tudo que
eu tenho passado depois que saí de casa, e eu conto, ele precisa saber a
realidade da minha vida mas evito falar sobre o vídeo, ainda não acredito
que ele me viu naquela situação, transando completamente exposta naquele
vídeo, o que ele deve estar pesando realmente de mim? Como ele realmente
me vê depois dessa situação? Meu Deus que vergonha, não sei onde enfiar a
minha cara toda vez que ele põe a sua atenção em mim.
— O que foi? Parece sem graça, parece envergonhada por algum
motivo. — Questiona com um sorriso de lado me deixando ainda mais
constrangida.
— Não é nada demais, é só que... Eu não queria estar nessa situação
dependendo de ajuda de estranhos. — Não minto, mas também não digo a
verdade.
— Você já me conhece, sabe quem eu sou e não estou te ajudando
por pena, mas sim por questão de justiça, então eu não sou assim tão
estranho. Não concorda? — Ele sorrir ainda mais me deixando sem jeito.
— Concordo.
Limito-me a dizer isso, ele também não diz mais nada ao percebe
que não estou muito afim de conversar agora, tudo que eu preciso e de um
pouquinho de tranquilidade, não quero ter que me preocupar tanto então
vou deixar que ele me ajude, vamos ver onde tudo isso vai terminar.
Entro com ela no meu carro e saio dali seguindo para minha casa,
não muito distante de onde ela estava. Eu não fazia ideia de tudo que essa
garota está passando pelo que houve na faculdade, as suas palavras entre
lágrimas me comoveram, está me doendo vê-la nessa situação por algo que
aconteceu dentro da nossa universidade.
Eu vi o vídeo dela antes que o tirassem do ar, ela é linda, não vou
negar, a primeira impressão que nos dar ao ver um vídeo como aquele, é de
que se trata de uma mulher experiente, uma garota de programa justamente
pela exibição na internet, mas o caso Jennifer é diferente, ela foi enganada,
foi iludida e filmada sem o seu consentimento, mas ela não parecia tão
experiente como as mulheres que citei, ela parecia doce, tímida, sensível e
não fazia idéia da armadilha em que estava caindo.
Conversei com o meu pai e meu irmão Kevin, fizemos uma reunião
e todos chegamos a mesma decisão, não podemos mais permitir que algo
assim se repita e por isso vamos investigar esse tipo de crime dentro de
todas as nossas unidades de ensino. O diretor dessa unidade de Cleveland,
também está sendo investigado e ele está temporariamente afastado do seu
cargo, e se for comprovado a sua negligência a esse ato abominável, ele
será restituído do seu cargo.
— É inadmissível que algo dessa magnitude aconteça dentro da
minha instituição, e eu não sou informado por você, Luciano! Mas sim pelo
meu filho que por coincidência esteve com a jovem agredida moralmente
dentro da nossa universidade, estamos aqui para ensinar e formar pessoas
de bem, e não transformá-las em monstros! Essa universidade pode ser
processada por racismo e tudo mais que eu abomino! E tudo porque você
está se negando a entregar um bom trabalho, um bom desempenho quanto
ao seu cargo, você está negligenciando esse tipo se comportamento e se
fomos processados pelos alunos, eu processo você! Arranco de você até a
sua alma para liquidas as dívidas que você me deixar. — Esbraveja papai
indignado e eu não tiro a sua razão.
— Eu juro que não sabia que tudo isso estava acontecendo...
— Eu andei pela faculdade como você me pediu, papai, aquela
moça realmente não mentiu, ela não é a única aluna a ser desrespeitada
dentro da nossa instituição, muitos alunos negros, indianos e também
asiáticos estão sofrendo preconceitos quanto a sua origem, nós não
ensinamos esse tipo de coisa aqui, e eles precisam ter mais consciência do
crime que estão comentando. Quanto ao aluno que fez a filmagem e
espalhou o vídeo pela nossa faculdade, devemos expulsá-lo como um aviso
aos demais alunos, se esses atos continuarem aqui dentro, ele não será o
único a ser expulso! — Sugiro irritado com essa situação, isso não é bom
para a nossa imagem pois temos uma das melhores universidades do país.
— Concordo com o meu irmão, papai, e já que estamos aqui, acho
que devemos fazer uma reunião com os professores e alertá-los das suas
obrigações em reprovar esse tipo de comportamento. Também precisamos
conversar com essa moça que foi exposta aqui dentro e lá fora também,
devemos a ela um pedido de desculpas. — Reforça meu irmão me dando o
seu apoio.
— Vocês estão certos, será isso mesmo que faremos... Eu vou
confiar essa tarefa a você, Bruno, você teve contato com a moça então
traga-a até a mim, vou marcar uma reunião com ela e os pais dela para
conversarmos e explicarmos as nossas intenções, além de nos
desculparmos. Estou surpreso por eles ainda não terem aparecido por aqui,
por não terem tomado nenhuma atitude contra nós, eu só espero que eles
entendam que não apoiamos esse tipo de desrespeito. — Afirma papai.
— Eu vou fazer isso, papai, e faço questão de passar de sala em
sala para avisar aos professores sobre a reunião, hoje eles não saem daqui
sem nos ouvir. — Saio inquieto e louco para resolver logo essa questão,
esse assunto está me incomodando mais do que eu gostaria.
Sigo pelos corredores e Kevin vem logo atrás de mim, nos
revezamos e fomos cada um para um lado dos corredores entrando de sala
em sala. Poderíamos ter anunciado pelo alto falante mas não queremos
alarmar os alunos, mas eu faço questão de ser mais firme com a turma que
Jennifer frequentava, pois já faz dias que ela não vem e também não me
ligou, vou ter que ir pessoalmente na casa dela para conversamos sobre a
reunião que faremos com ela e os pais.
— Com licença, professor! Eu posso tirar um minuto da sua atenção
e também dos alunos? — Peço licença já entrando na sala e todos me
olham como se perguntassem quem sou eu.
— Mas é claro, Sr. Bruno, fique à vontade. — O professor sorrir
meio sem jeito.
— Bom, em primeiro lugar quero avisá-lo sobre a reunião que
teremos com todos os professores depois das aulas, e é indispensável a
presença se todos. — Aviso em um tom firme.
Ele apenas concorda e eu me viro para encarar a turma, todos
atentos a mim mas a turma do fundo está mais concentrada no celular.
— Bom, para quem não me conhece eu sou Bruno Stuart, filho de
Olegário Stuart, o dono dessa universidade. Confesso que mesmo sendo o
futuro presidente dessa instituição, estou bastante decepcionado com o
desempenho de algumas turmas, essa aqui mesmo parece uma turma da pré
escola onde a gente fala e os espertinhos do fundo fingem que não me
escutam... Eu quero fazer uma pergunta a todos vocês... Vocês estão nessa
instituição para que? O que vocês estão aprendendo aqui? — Solto em um
tom ríspido e vejo o pessoal do fundo largar o celular. Mas ninguém me
responde. — Vocês tem a língua afiada para humilhar, julgar e ofender as
pessoas, mas não conseguem me responder uma simples pergunta? —
Encaro-os incrédulo.
— Estamos aqui para estudar e aprender. Eu quero ser engenheira.
— Responde uma garota na primeira fileira cheia de sorrisos.
— Se você quiser mesmo ser uma boa engenheira, você vai precisar
estudar muito, ou não vai passar de uma garçonete em um boteco de
esquina. E vocês acham que preconceito, racismo e bullying vai ajudar
vocês a chegar em algum lugar? O que aconteceu nessa instituição foi um
crime abominável e todos vocês serão investigados, serão interrogados e
todos aqueles que participaram do que aconteceu, serão expulso e
processado pelo crime que cometeu! Vocês estão em uma faculdade e não
no jardim de infância, deveriam saber que racismo é crime! E nós não
toleramos isso! Nada mais passará despercebi nessa instituição!
Esbravejo encarando a cada um deles para que vejam nos meus
olhos o quanto eles estarão ferrados nas minhas mãos, eu vou fazer de tudo
para que cada um deles pague pelo que fizeram.
— A atitude de vocês foi tão desprezível, vocês foram tão imaturos
que filmaram toda aquela humilhação nos corredores da faculdade, e com
isso sabermos com facilidade quem estava ou não envolvidos naquele
crime. E isso é uma prova contra vocês mesmo. E não adianta correr para
apagar o vídeo, os nossos advogados já baixaram os vídeos e estes serão
anexados no processo de cada envolvido. Isso era tudo. Com licença! —
Sorrio de lado e ergo uma sobrancelha.
Saio da sala em seguida ouvindo os cochichos e acho bom que eles
tenham medo mesmo, pois eu não estou aqui para brincadeira. Jennifer
precisa processar esses infelizes assim como nós o faremos, ou eles não vão
parar, seja aqui ou em outro lugar, eles não vão mudar a menos que
ponhamos um basta isso.
— Para onde você está me levando? Que lugar é esse? — Pergunta
receosa assim que entro pelos portões de casa.
— Relaxa! Aqui é minha casa e eu tenho muitos quartos de
hóspedes vazios, você pode ficar com um deles até conseguir um lugar para
ficar e um emprego para se sustentar, como você mesma disse. — Sorrio
abertamente e mais uma vez ela me dá um sorriso.
— Obrigada por me socorrer, eu não sei o que seria de mim se você
não tivesse aparecido... Eu estava na dúvida se iria dormir na praça, no
ponto de ônibus ou em qualquer lugar que ninguém me expulsasse... Eu não
vou me esquecer nunca do você está fazendo por mim... Eu... Muito
obrigada por me estender a mão, por me ajudar a fazer justiça contra atos
como aqueles. — Ela volta a chorar mas tenta a todo custo disfarçar, ela
está sofrendo, está frágil como um bichinho indefeso.
Essa garota está visivelmente destruída emocionalmente, consigo
ver a sua alma partida na lágrima que desce pelo seu rosto e isso é apenas
mais um dos gatilhos para uma depressão, e até mesmo um suicídio, porque
estou dizendo isso? Porque ela mesmo comentou que pensou em fazer uma
besteira, e isso é o suficiente para saber o quão grande é o desespero de uma
pessoa.
— Não me agradeça, eu só não gosto de injustiça, covardia e é
exatamente isso que fizeram não só com você, mas com muitas outras
pessoas dentro daquela universidade e as pessoas aqui fora, parecem não se
intimidar mesmo sabendo que elas estão comentando um crime, mas dentro
das nossas instituições nós temos o direito de fazermos justiça. E nós vamos
fazer com a sua ajuda, está bem? — Pego a sua mão gentilmente e ela não
recusa o meu toque como fez antes.
— Está bem, vamos fazer justiça... Mas agora eu adoraria poder
dormir um pouco, eu estou exausta. Meu corpo inteiro dói, a minha cabeça,
o meu coração... Está tudo tão dolorido. — Ela me dá um sorriso antes de
ficar cabisbaixa.
— Está bem! Vamos entrar!
Saio do carro e abro a porta para ela, guio-a para dentro de casa e
Agnes vem nos receber, a minha empregada de confiança, ela é quase uma
governanta.
— Agnes, essa é Jennifer, ela vai ficar com a gente por um tempo
então acomode-a em um dos quartos de hóspedes, por favor.
— É claro, senhor, com prazer. É muito bom ter uma mulher nessa
casa, e sendo tão linda fica ainda mais agradável... É um prazer conhecê-la
Jennifer. — Agnes pega a mochila de Jennifer cumprimento-a com um
abraço carinhoso.
— O prazer é todo meu, Sra. Agnes. Também estou contente por
estar aqui. — Jennifer retribui o carinho e as duas saem em direção as
escadas.
Fico aqui parado com as mãos nos bolsos vendo ela subir, quando
está no topo da escada ela para e vira-se para me olhar, e ela ainda está
triste, mas mesmo assim, me dá um pequeno sorriso. A sua tristeza é tão
grande que é quase palpável. Ela está sofrendo por causa de um ato tão
abominável e ela nem teve culpa de nada, ela é só uma menina indefesa e se
apaixonou pelo cara errado, pelo menos eu acredito que ela estava
apaixonada.
Sento-me no sofá e fico aqui pensativo, resolvo ligar para o meu pai
e contar a ele tudo que essa moça está passando, conto também que ela não
tem onde ficar e por isso a trouxe para minha casa como uma convidada, eu
poderia colocá-la em um hotel mas acho mais seguro ela ficar aqui comigo
por um tempo.
Papai fica horrorizado com tudo que conto, e nos demos conta de
que não será possível fazer uma reunião com os pais dela, se o próprio pai
foi capaz de colocá-la na rua pelo que houve, com toda certeza ele irá nos
condenar pelo que houve, ou então não vai se importar tanto assim já que
para, ele a filha é a errada, que tipo de pai faz isso? A garota foi enganada,
humilhada publicamente e ainda é jogada para fora de casa? Já vi muitos
pais defenderem os seus filhos por mais que eles não merecessem, mas ver
um pai abandonar uma filha por algo que ela não teve culpa, isso é
lamentável.
São nove horas da noite e eu entro em casa vendo Agnes descer as
escadas com uma bandeja de comida nas mãos, ela deve ter ido levar o
jantar de Jennifer mas vejo que a comida parece intacta. Ela vem até a mim
apreensiva.
— Me desculpe, senhor, mas a menina não quis comer, ela está tão
triste que dá dó.
— Tudo bem, Agnes, pode levar, depois se ela sentir fome ela come
alguma coisa, obrigado. Eu vou falar com ela. — Agradeço e sigo em
direção a escada, subo decido a conversar um pouco mais com ela e espero
que me ouça.
Passo pelo corredor e vou até o quarto onde Agnes avisou que a
deixou, bato na porta e entro em seguida, ela está deitada mas se senta
evitando me encarar pois já percebi que estava chorando.
— Posso me sentar para conversarmos um pouco? — Aproximo-me
da cama com cautela. Ela apenas concorda.
Sento-me na cama mas ela continua evitando me encarar. Toco o seu
queixo erguendo o seu rosto.
— Não precisa ter vergonha de chorar, na sua situação é
perfeitamente compreensível, mas você não pode ficar sem se alimentar,
você mesma disse que está a dias economizando comida, então... — Tento
puxar assunto mas ela continua calada.
Ela se deita novamente agarrada ao travesseiro, suas lágrimas
descem, no entanto, ela parece tão distante, a sua tristeza é de partir o
coração.
— Olha, enquanto você dormia eu fui até o restaurante onde nós
estivemos mais cedo, o gerente é um conhecido do meu pai e ele vai tentar
te ajudar. A equipe de funcionários já está completa mas ele verá o que
pode fazer, em todo caso, se ele não conseguir nada eu posso tentar em
outros lugares. Minha mãe é uma das acionistas das nossas redes de ensino
e também tem algumas galerias de artes, ela estava precisando se uma
secretária ou algo do tipo, posso tentar falar com ela para ver se consegue
algo para você, entretanto, não quero mais te ver assim, tão triste... Sei o
quanto está sofrendo mas tente seguir a diante? Não pare a sua vida pelo
que houve, você não fez nada de errado, fizeram com você e nós vamos
correr atrás de justiça.
Tento confortá-la de alguma maneira e ela solta um longo suspiro.
Jennifer se senta novamente limpando o rosto e força um sorriso.
— Obrigada por tudo que você está fazendo por mim, não tenho
palavras para descrever o que significa o que você está fazendo... Ninguém
mais me estendeu a mão além de você... Estou triste de ver o quanto esse
mundo pode ser cruel, as pessoas parecem não ter mais um coração dentro
do peito. — Ela volta a chorar mas me agarra em um abraço tão apertado,
tão sentido.
— Eu te entendo, Jennifer, e não tiro a sua razão de pensar assim.
Mas prometo que você sempre poderá contar comigo... Estou muito
preocupado com você, e só você pode mudar isso... Coma alguma coisa
para não ficar fraca? Posso mandar Agnes trazer o seu jantar de volta? —
Solto-me dela com uma sobrancelha erguida, ela me dá mais um sorriso
mas esse não é forçado.
— Não precisa mandar ela trazer nada, eu desço para comer lá em
baixo... Obrigada por me encorajar. — Ela se levanta um pouco mais
animada e eu sorrio.
— Me agradeça com um sorriso, isso é o suficiente. — Peço
seguindo com ela para fora do quarto.
Ela sorrir como pedi mas para na porta do quarto, encarando a cama
onde estava deitada a poucos minutos.
— Relaxa! A cama não vai sumir dali, em todo caso, há outros
quartos com camas tão confortáveis quanto essa, você pode escolher
qualquer uma. — Fico atento a ela e a vejo sem jeito.
— Eu nunca estive em uma cama tão macia quanto essa, e nesses
últimos dias eu senti na pele a falta que faz não poder me deitar a hora que
eu quero, não poder me levantar a hora que dê vontade... Bom, vamos
descer, de repente me deu uma fome. — Jennifer passa por mim com um
sorrio mais largo.
— Fico feliz, por isso. Vou pedir para pôr a mesa...
— Não precisa incomodar as empregadas por minha causa, eu como
na cozinha mesmo. — Contesta.
Sigo com ela para as escadas e descemos até a cozinha, Agnes ainda
está arrumando tudo mas eu peço para ela servir Jennifer, parece que as
duas estão se dando bem pois Agnes trata Jennifer com carinho, e ela
retribui.
Jennifer é servida e come aqui mesmo na ilha da cozinha, me sento
de frente para ela e conversamos um pouco, aproveito para avisar que
amanhã os meus pais virão almoçar conosco para conhecê-la e conversar
sobre o que houve, queremos ajudá-la não só porque não queremos ser
processados, mas também porque não admitimos esse tipo de crime nas
nossas instituições, e não podemos fazer vista grossa para isso.
A minha família inteira se sente no dever de se desculpar com essa
garota, o que ela passou naquela faculdade foi algo imperdoável, mas nós
precisamos nos desculpar e ajudá-la, e nós vamos fazer isso.
Depois de conversar bastante com ela e acompanhá-la no suco, nós
finalmente voltamos para sala e eu convenço-a a voltar para faculdade, com
a promessa de que ela não será humilhada novamente e se isso acontecer
nós tomaremos as devidas providências, e ela sabe que não estou brincando.
— Eu quero muito voltar a estudar, quero me formar não só porque
esse era o desejo de meu pai, mas quero fazer isso por mim mesma... Porém
quando eu fui expulsa de casa eu deixei para trás todo o meu material, as
matérias que eu já fiz eu não tenho mais. O material é caro e eu não tenho
como comprar outro, e eu não quero ter que voltar na casa dos meus pais.
Não sei se um dia serei capaz de perdoar o meu pai pelo que ele me fez. —
Se justifica novamente cabisbaixa, mas não posso deixa-la mudar de idéia.
— Se o que te impede de voltar a faculdade, é o material, então isso
não será problema. Eu como futuro presidente da Universidade Stuart, te
darei o material que você precisa para voltar a estudar, quanto as matérias,
tenho certeza de que o seu professor não vai se importar em repassar para
você, já que ele nunca fez nada para impedir o mal que te fizeram. Ou se
você preferir e for te deixar mais à vontade, você pode pedir ajuda a alguma
amiga, se você tiver uma. — Afirmo pensativo ainda sobre tudo que houve.
Na reunião que tivemos com os professores, todos eles deram a
mesma justificativa pelo fato de não terem feito nada antes para ajudar os
alunos, segundo eles, o reitor sempre fez vista grossa para essas atitudes
abomináveis, e por isso ele está sendo investigado e foi afastado do cargo
hoje, com toda certeza aquele infeliz também é um preconceituoso por
admitir esses atos tão covardes.
— Já é bem tarde, apesar de já ter dormido bastante eu ainda estou
com sono. — Vejo ela bocejar mas me dá um pequeno sorriso.
Ela tem sorrido com frequência enquanto conversávamos, falei
muito de mim e da minha família e ela ficou bastante triste ao falar da sua.
Sei que ela veio do interior com a família e ela gosta de ouvir música pop,
adora comidas simples e tem poucas amigas.
— Levando em conta o tempo que você passou andando por essas
ruas procurando emprego, sei que ainda não descansou o suficiente. Sinta-
se em sua própria casa, Jennifer. Fique à vontade. — Levanto-me e ela faz o
mesmo.
— Jenny! Me chame de Jenny, eu gosto de ser chamada assim. E
não diz que eu não preciso te agradecer pelo que está fazendo por mim, pois
eu preciso e quero fazer isso. — Ela sorrir e respira fundo voltando a ficar
pensativa. — Você está sendo maravilhoso me ajudando tanto. Obrigada de
verdade, Sr. Stuart.
— Sr. Stuart...? Conversamos por tanto tempo e você não chamou
de Sr. Stuart. Por acaso esqueceu o meu nome, Jenny? — Ergo uma
sobrancelha e ela sorrir abertamente. E que sorriso.
— Está certo, Bruno. Tenha uma boa noite, eu vou me deitar agora.
— Ela vai em direção a escada e eu fico aqui com as mãos nos bolsos,
apenas admirando-a subir.
— Tenha uma ótima noite, Jenny!
Ela sobe me deixando aqui pensativo. Sento-me novamente com os
pensamentos nela, Jennifer é uma mulher muito forte, passou por situações
terríveis, está ferida emocionalmente e não desistiu de lutar, é mesmo uma
mulher admirável, além de muito linda.
Lembro-me como se fosse hoje quando lhe roubei um beijo apenas
para não pensarem que eu a estava sequestrando, queria que aquele homem
pensasse que fossemos namorados e deu certo, mas não consegui tirar
aquele beijo da minha mente, cheguei a procurar por ela e esperei que me
ligasse depois que lhe dei o meu número de telefone, mas ela nunca me
ligou e eu nunca consegui encontrá-la, até passei pelo bairro dela na
esperança de vê-la e vi ela subir em um ônibus, quis saber para onde ela
estava indo, o que andava fazendo para não ir mais a faculdade, mas perdi
ela de vista quando fiquei preso em um sinal de trânsito, mas hoje
finalmente a encontrei e ainda estou chocado por saber das necessidades
que ela anda passando.
Me custa acreditar que um pai sendo cristão foi capaz de pôr a
própria filha para fora de casa, como ele fez isso sem ficar com a
consciência pesada? Como ele não foi atrás da filha sabendo que ela
poderia estar correndo perigo nas ruas? Estou indignado, estou furioso com
essa situação por ver tamanha maldade e não poder fazer nada.
Tento não pensar tanto nisso pois agora ela está segura, mas não
posso mantê-la na minha casa para sempre, ou vão pensar que ela é minha
mulher. E até que não seria uma má ideia tê-la como minha mulher, mas ela
não vai confiar em ninguém tão cedo, ela está agradecida por eu tê-la tirado
das ruas, mas isso não vai fazê-la confiar em mim tão de repente.
— E se eu lhe fizer uma proposta?
Ela precisa de uma casa, precisa de um trabalho e precisa se manter.
Por outro lado eu preciso me casar o quanto antes e meu pai acha que estou
fugindo dessa responsabilidade, mas não estou, o problema é que não quero
me casar com qualquer uma, não quero simplesmente pegar uma mulher ali
na esquina e enfiar um anel no dedo dela.
Eu posso tentar fazer um acordo com Jennifer, eu a ajudo e ela me
ajuda, o contrato não precisar ser longo, seis meses ou no máximo um ano,
depois ambos estaremos livres outra vez, para todos os efeitos o casamento
não deu certo e então nos divorciaremos, pode dar certo, mas ela aceitaria a
minha proposta? Só tem um jeito de saber. Conversando com ela mas eu
preciso abordar esse assunto com cautela, não quero que ela pense que
estou tentando me aproveitar dela, mas acho sim que a situação seria
favorável a nós dois.
Passo horas aqui deitado, pensando e repensando sobre todas essas
minhas ideias, pego no sono aqui mesmo deitado no sofá, mas não me
importo, apago literalmente depois do dia intenso de hoje.
Sinto que estou sendo observado mas continuo de olhos fechados,
posso ouvir a sua respiração e isso me intriga, será que é ela?
Abro os olhos lentamente e ela está aqui pertinho de mim, abaixada
admirando as tatuagens a mostra no meu antebraço, ela admira com tanta
atenção tentando descobrir o que são, nem percebe que estou acordado.
Ergo a minha para tocar o seu rosto e ela se assusta, se joga para trás
caindo sentada no carpete.
— Meu Deus... Que susto... Bom dia! — Diz sem graça, totalmente
envergonhada. Sorrio.
— Bom dia...! Você gosta de tatuagens? Tem alguma? — Sento-me
atento a ela enquanto a mesma se levanta ajeitando a sua roupa.
— Eu acho bonita as tatuagens, mas meu pai jamais me deixaria
fazer uma. — Seu sorriso tímido está ali para eu admirar esses lábios fartos
que ela tem.
— Você não mora mais com o seu pai, é dona do seu próprio nariz,
como diz o meu pai... Gostaria de fazer uma tatuagem? — Sugiro curioso
pela sua resposta.
— Não sei se devo, afinal, eu ainda não estou trabalhando, não
tenho dinheiro e...
— Eu pago! Será um presente meu para você. — Ela se senta na
mesinha de centro de frente para mim.
— Imagina, eu não posso aceitar, eu não sou o tipo de mulher que
aceita presentes se desconhecidos, e eu só aceitei a sua ajuda porque não
tinha para onde ir. — Vejo-a sem jeito e sorrio.
— Tudo bem, mas se mudar de idéia é só me falar, o presente ainda
vai estar de pé... E não sou assim tão desconhecido, você não acha...?
Porque se levantou tão cedo? — Encaro a mulher a minha frente, atento ao
seu rosto mas olho no relógio. Ainda são cinco da manhã.
— Pode me chamar de esfomeada, mas eu acordei com fome. Se
importa se eu mexer na sua cozinha? — Jennifer se levanta empolgada e eu
sorrio.
— Estou gostando de te ver assim, essa Jenny eu ainda não
conhecia... A julgar pelo cheirinho de café, acho que Agnes já está acordada
então fique à vontade. — Também me levanto e ela agradece.
Ela vai em direção a cozinha e eu fico aqui admirando-a se afastar.
Mas ela para virando-se para mim, sinto que ela quer me dizer algo mas ela
apenas segue o seu caminho até a cozinha.
Sigo para as escadas e subo para o meu quarto, tomo um banho
pouco demorado e me arrumo para tomar café da manhã, mas acho que vou
comer sozinho como sempre pois a minha hóspede já está comendo.
Depois de arrumado eu desço até a sala de refeições mas não tem
ninguém, mas ouço uma conversa empolgada vindo da cozinha e vou até lá.
Passo pela porta e vejo Jennifer debruçada na ilha conversando com Agnes
que prepara o suco, não tem como não admirar essa garota, já vi ela nua em
um vídeo sendo tocada por outro homem, ela tem um corpo perfeito e suas
curvas são chamativas, prendem a minha atenção nela.
— Bom dia, Sr. Bruno! Só falta eu terminar o suco para pôr na
mesa. — Agnes chama a minha atenção e Jennifer vira-se para mim.
— Bom dia, Agnes! Me serve apenas um café, não estou com fome.
— Aproximo-me delas atento a essa bela mulher de pele negra.
— Como assim você não está com fome? Eu te esperei para
tomarmos café juntos, e... Me desculpa... Eu tomo café sozinha mesmo. —
Seu sorriso tímido volta a aparecer para deixá-la ainda mais encantadora.
— Pensei que já havia tomado café. Sendo assim, podemos tomar
café juntos, eu também não gosto muito de comer sozinho, mas as vezes eu
não tenho muita escolhas. Vamos! — Estendo-lhe a mão e ela pega sem
jeito.
Fomos para sala de refeições e nos sentamos, nos servimos e
começamos a comer com ela me olhando de um jeito deferente, ela não
parece mais me olhar com desconfiança, ou pelo menos está tentando
confiar em mim, eu sinto isso. Passamos um café da manhã agradável e ela
come com gosto enquanto conversámos mais sobre a faculdade, ela aceita
que eu lhe dê o material como um pedido de desculpas e isso me deixa
contente.
— Quero te levar em um lugar, você vem comigo? Não vamos
demorar muito pois os meus pais vem almoçar conosco. Vamos? —
Levanto-me empolgado mas ela parece confusa.
— Para onde vamos? O que vamos fazer? — Sinto a sua curiosidade
no seu tom de voz.
— Eu prefiro que seja uma surpresa, só quero distrair você um
pouco. — Saio da mesa e ela me segue até a sala de estar fazendo inúmeras
perguntas. Eu apenas sorrio.
Saímos de casa com ela dizendo que precisa se arrumar melhor mas
eu não deixo ela entrar de volta em casa, digo que ela está bem assim e
coloco ela dentro do carro lembrando-me de quando nos conhecemos, mas
também me lembro daquele beijo e vê-la sorrir tão abertamente, me faz
querer beijá-la de novo mas não posso chateá-la, não quero que pense que
sou um canalha como aquele que a enganou.
Saímos de casa e seguimos para os pontos turísticos da cidade, ela
me contou que ainda não teve tempo para conhecer o centro da cidade, ela
andou bastante por aqui mas estava tão amargurada que não passou pela sua
cabeça em conhecer a cidade, apenas procurou emprego e nada mais, mas
ela está gostando do nosso passeio pois está sorrindo com mais frequência,
e está prendendo muito a minha atenção nela também.

Passamos uma manhã agradável passeando pela cidade, mas antes


de ir embora decido passar em um shopping para darmos uma olhada em
algumas lojas, e ela me questiona quando entramos em uma loja feminina.
— O que viemos fazer nessa loja? Vai comprar roupas femininas?
Para sua namorada, eu presumo. — Pergunta confusa mas também curiosa.
— Bom dia! Em que posso ajudá-los? Vocês estão juntos? — Uma
vendedora aproxima-se medindo Jennifer de cima abaixo.
Não gosto da maneira como essa mulher a olhou, ela parece sentir
desprezo pela presença de Jennifer e ela percebeu isso.
— Bom dia, Sim! Estamos juntos, a minha namorada precisa de
muitas roupas mas eu gostaria que fossemos atendidos por aquela moça! —
Abraço a cintura de Jennifer e aponto para uma ruiva arrumando os cabides.
— Me desculpe, mas, porque eu não posso atendê-los? O senhor
disse que a moça precisa de muitas roupas...
— Moça, não! Minha namorada! E sim, vamos comprar muitas
roupas mas eu não gosto da maneira como você está olhando para minha
namorada, então eu prefiro deixa uma boa comissão para outra pessoa... E
então? A outra moça vai poder nos atender ou teremos que procurar outra
loja? — Disparo em um tom firme e sério. Sinto Jennifer ficar tensa.
— Claro, senhor. Peço que me desculpem se de alguma maneira os
ofendi. — Se desculpa envergonhada e sai apressada.
— Você ficou louco? O que está fazendo? Porque disse que sou sua
namorada? — Questiona Jennifer envergonhada.
— Porque você vai ser minha namorada em breve. Precisamos
conversar, eu tenho uma proposta para te fazer. — Olho nos seus olhos
ainda abraçado a sua cintura. Ela parece chocada.
— Bom dia! Meu nome é Sandra e eu vou ajudá-los. Venham por
aqui, por favor! — A ruiva aproxima-se toda gentil e sorridente.
Seguimos ela pela loja e ela pergunta a Jennifer sobre o estilo de
roupas que ela gostas, as cores e tamanhos e elas vão separando algumas
peças para Jennifer provar. Mais uma vez ela pergunta para que tudo isso e
eu digo apenas que depois ela vai entender tudo, por hora peço apenas que
ela compre tudo que precisar já que tudo que ela tem, cabe em a mochila de
tão pouco que é.
Peço para ela pegar roupas, bolsas e sapatos, maquiagem e lingerie
entre outras coisas que ela gostar, ela parece sem jeito mas faz o que pedi e
saímos dessa loja mas entramos em outras, compramos perfumes, cremes e
tudo mais que mulheres gostam para ficarem lindas, mas quando penso em
entrar em mais uma loja, sou barrado por uma mulher séria e ao mesmo
tempo muito atraente.
— Já chega! Até agora aceitei tudo isso sem questionar, mas eu
quero saber o que você vai querer em troca de tudo isso... Você não
respondeu a minha pergunta, você é casado? Tem namorada ou algo do
tipo? Porque está fazendo tudo isso? O que significa tudo isso? Quero
respostas agora ou eu vou embora! — Dispara inquieta e eu suspiro. Eu já
esperava por isso.
— Eu não me lembro de você ter feito tantas perguntas, me lembro
apenas de uma então só responderei a mais antiga. As outras te respondo no
carro quando formos embora... Não sou casado, não sou comprometido com
ninguém ou então não teria levado você justo para minha casa. Agora
vamos embora já que não quer comprar mais nada. Eu ainda preciso ir
comprar o seu material para faculdade, quer ir comigo? — Entrego as
bolsas ao segurança e peço para levar para o carro. Ela me lança um olhar
incrédulo.
— Você está brincando comigo? Estou aqui confusa e preocupada e
você não quer responder umas simples perguntas? Você está tramando
alguma coisa, sempre me disseram que quando a esmola é demais, a gente
tem que desconfiar... Vou embora da sua casa agora mesmo! Não quero
nada de você e nem dos seus pais! — Retruca indignada e sai apressada.
— Não é o que você está pensando, Jennifer! Espera! Eu vou
responder as suas perguntas, vou te explicar o porquê de tudo isso. — Sigo
atrás dela e seguro a sua mão, mas ela se solta e continua andando.
— Não quero saber de mais nada, eu só quero ir embora! Já
brincaram comigo, já me magoaram o suficiente e não vou deixar mais
ninguém fazer isso comigo de novo! — Ela sai batendo o pé e novamente
eu seguro o seu braço.
— Ninguém está querendo brincar com você, se me ouvir você vai
entender o que estou pretendendo com tudo isso. Vamos até o meu carro?
Vamos conversar com calma? — Solto o seu braço mas sustento o seu olhar
sério.
Ela não diz mais nada e eu indico o elevador para entrarmos, ela o
faz ainda emburrada e evitando me olhar, espero não estar estragando tudo
com ela, espero não ter perdido a oportunidade dela aceitar a minha
proposta.
Descemos até a garagem e seguimos para o meu carro, de longe vejo
o segurança colocar as compras no porta malas do seu carro, eles são bem
discretos e as vezes até esqueço-me que eles estão por perto.
Abro a porta do carro para ela entrar mas ela hesita, ela olha de mim
para os seguranças e olha a sua volta.
— Olha, eu não estou te sequestrando, não vou te obrigar a nada e
você não precisa vir comigo se não quiser, mas as suas coisas estão na
minha casa e você não tem para onde ir. Não quero que continue passando
necessidade nas ruas, não quero que durma em um banco em uma
rodoviária como já aconteceu antes. Eu te prometo que não estou brincando
com você, não estou mentindo e não estou tramando nada. Entra no carro e
vamos conversar? Eu só quero te ajudar e estou precisando da sua ajuda
também. — Olho nos seus olhos para ela ver que estou sendo sincero.
— Precisa da minha ajuda para que? Como você quer que eu te
ajude?
— Entra no carro e vamos para casa, quando chegarmos lá você já
vai estar ciente de tudo. Vou te contar no caminho, vamos? — Indico para
ela entrar mais uma vez e ela solta uma respiração pesada antes de entrar.
Agradeço mentalmente. Faço sinal para os seguranças e dou a volta
entrando no carro, dou a partida e saio do estacionamento seguindo de volta
para casa.
— Pode começar a falar, ou eu prometo para você que essa é a
última vez que você está me vendo! — Dispara curta e grossa e eu sorrio.
Mulher de personalidade, eu gosto disso.
— Relaxa! Não precisa brigar comigo. — Sorrio de lado mas ela
continua séria. — Bom, para começar, eu comprei todas essas roupas para
você pois vi que tem poucas roupas, com certeza não teve como pegar as
suas coisas na casa dos seus pais, quero que fique na minha casa pelo tempo
que quiser, então achei que te presenteando com algumas roupas te animaria
um pouco, sei que mulheres gostam dessas coisas e você está iniciando uma
vida nova. Sei que não é como você gostaria, mas...
— Obrigada pela sensibilidade em pensar nesse detalhe, foi gentil
da sua parte e eu agradeço, mas não estou acostumada a aceitar nada de
graça, por isso eu vou te pagar por cada peça de roupa assim que eu puder...
Não sei como vou fazer isso, mas vou fazer, eu prometo! — Seu tom firme
e decidido me encanta.
— Não quero jamais te chatear, mas se isso vai fazer você se sentir
melhor, por mim tudo bem, me pague quando puder mas não precisa ter
pressa. — Divido a minha atenção entre ela e a pista.
— Você disse sobre uma tal proposta, do que se trata? É sobre
emprego? Por isso fez questão que eu tivesse roupas novas? — Pergunta
mais curiosa.
— Sim e não! De certa forma mão deixa de ser um trabalho, já que
assinaremos um acordo, se você aceitar, é claro... Bom, como eu já te disse
antes, eu sou o filho do meio de três irmãos, meu irmão mais velhos já é
casado, tem família e por isso o meu pai deu a ele a presidência dos nossos
negócios, não temos apenas as universidades em nome da família Stuart,
também temos uma rede de galerias de artes espalhadas pela cidade e é a
minha mãe quem toma conta dessa parte. Mas enfim. Meu pai quer que eu
assuma a vice presidência das universidades junto com Kevin, mas ele acha
que eu preciso ser mais responsável e eu fui julgado por causa das minhas
tatuagens, por isso digo que entendo o que você está passando. — Conto
calmante.
— Ainda não entendi onde você quer chegar com tudo isso, mas
fico feliz em saber que você realmente entende a minha situação. — Vejo
ela relaxar um pouco mais e isso me agrada.
— Meu pai acha que para eu mostrar que sou realmente responsável
para cuidar dos negócios dele, eu preciso ter uma família como o meu
irmão tem, ele acha que serei mais responsável se eu tiver alguém para me
preocupar e cuidar. Enfim, eu preciso me casar para assumir os negócios da
minha família, mas não posso simplesmente sair ali na rua e escolher uma
mulher para me casar, eu nunca pensei em casamento na minha vida pois
gosto da minha liberdade, mas já que preciso passar por isso, decidi
encontrar alguém que aceite um acordo de seis meses a um ano para estar
ao meu lado, para me ajudar a provar ao meu pai que eu sou mais
responsável do que ele imagina.
— Me deixa ver se eu entendi. Você quer fazer um contrato de
casamento só para o seu pai confiar em você? E como seria tudo isso? Você
se casa, aproveita bem o seu casamento e depois chuta a mulher como se ela
não fosse ninguém importante, é isso? — Questiona chocada.
— Me deixa ver se eu entendi. Você quer fazer um contrato de
casamento só para o seu pai confiar em você? E como seria tudo isso? Você
se casa, aproveita bem o seu casamento e depois chuta a mulher como se ela
não fosse ninguém importante, é isso? — Questiona chocada.
— Não! Não é isso, como eu falei, eu preciso de alguém para estar
ao meu lado, para me ajudar e não para ser o meu brinquedo, e sim, seria
como um casamento mas ninguém é obrigado a nada, nem precisamos
dormir no mesmo quarto, podemos ser amigos mas viveremos na mesma
casa, vou me tornar responsável pela pessoa e vou assumi-la como se fosse
realmente a minha esposa, a mulher que aceitar terá muitas vantagens com
isso, pois estou disposto a pagar uma boa quantia em dinheiro como parte
do acordo, enquanto isso podemos ir nos conhecendo melhor. — Explico
atento as suas reações e ela ainda parece perplexa.
— Entendo, mas ainda acho tudo isso muito louco. É claro que vão
aparecer muitas mulheres se jogando aos seus pés para aceitar uma proposta
como essa, e eu espero que você tenha sorte com isso... Espera! É sobre isso
a proposta que você tem para me fazer? — Diz pensativa mas vejo-a
arregalar os olhos ao me fazer tal pergunta.
— Olha, você precisa de ajuda e eu também, então pensei que
podíamos unir o útil ao agradável, você terá uma casa e eu cobrirei todos os
seus gastos enquanto o nosso acordo estiver válido, você não vai precisar
trabalhar fora, vai apenas focar a sua atenção nos estudos e eu vou
conseguir assumir os negócios da família junto com o meu irmão. Será um
acordo benéfico para nós dois. — Insisto apreensivo.
— Porque eu? Com tantas mulheres melhores do que eu, mais
bonitas e brancas, você resolveu escolher justo eu? — Rebate incrédula,
confusa e eu entendo essa sua reação.
— Porque eu sinto que posso confiar em você, ao final desse
acordo, sei que vai aceitar o fim dele numa boa sem me causar problemas
enquanto outras por aí, podem não aceitar muito bem o fim do mesmo,
levando em conta que sou rico e elas podem lucrar muito com isso. Sei que
você não é interesseira, sei que tem caráter ou então não teria sugerido
devolver tudo que acabei de comprar, e muito menos ameaçaria ir embora
levando em conta que não tem para onde ir. Você foi sincera comigo desde
o primeiro instante em que acordou de um desmaio no meu carro quando
nos conhecemos, e isso diz claramente quem você é, por isso decidi te fazer
essa proposta ao invés de sair por aí procurando alguém. — Finalizo os
meus argumentos e ela parece indecisa.
— Tudo isso é demais para minha cabeça, eu poderia aceitar tudo
isso agora mesmo e os meus problemas acabariam nesse instante... Mas eu
preciso pensar, estou sim desesperada por causa dessa minha situação, mas
eu não posso simplesmente aceitar a sua proposta assim sem mais e nem
mesmo. — Argumenta visivelmente atordoada.
— Eu te entendo, e você pode pensar o tempo que quiser. Quer
dizer, eu tenho quatro meses para me casar e meu pai já está me
pressionando quanto a isso... Jennifer, você é uma garota incrivelmente
forte, é linda e muito sincera, quero muito te conhecer melhor e enquanto
isso podemos nos ajudar, você não acha?
— Digamos que eu aceitei essa sua ideia maluca, o que acontece se
de repente eu resolver romper com o contrato? Quais serão as penalidades
que vou sofrer? — Seus olhos curiosos e receosos estão em mim.
— Se você realmente aceitar a minha proposta, só por esse fato eu já
prometo excluir todo e qualquer e todo tipo de penalidade, se você resolver
romper o acordo podemos simplesmente dizer que o casamento não deu
certo e então nos divorciaremos, você segue a sua vida e eu a minha. No
entanto, podemos continuar a sermos amigos se você quiser. — Sugiro
realmente pensando em uma bela amizade, pois estou vendo que ela não vai
permitir que passe disso.
— Eu vou pensar com calma, depois te dou uma resposta. — Ela
suspiro apreensiva.
— Perfeito! Eu pretendia ter essa conversa com você em casa, mas
como os meus pais vão almoçar conosco, não vamos ter muita liberdade
para uma conversa séria como essa.
— Se eu aceitar essa proposta, como será a reação dos seus pais ao
saber que sou a mesma garota que filmaram transando e ainda fui
humilhada na faculdade de vocês? Se eles pedissem para conhecer os meus
pais eu não teria como fazer isso. — Seu tom agora é de pura preocupação.
Será que ela está cogitando aceitar a minha proposta?
— Com isso você não tem que se preocupar, todos estão vendo a
verdade dos fatos. Você foi uma vítima e não tem que ser julgada por isso, o
que aconteceu não faz de você uma pessoa ruim ou imoral, pelo contrário,
você está sofrendo com tudo isso ao contrário de muitos naquela faculdade,
você vem de família humilde, porém honesta, apesar da atitude cruel do seu
pai. — Argumento atento a mulher ao meu lado e ela parece ainda mais
pensativa.
Entro pelos portões de casa e ela pede para subir para o seu quarto,
deixo ela à vontade e ela sobe apressada deixando as bolsas de compras
para trás. Peço aos seguranças para subir as bolsas e levar para o quarto
dela.
Ando pela sala pensativo sobre essa situação, será que ela vai aceitar
a minha proposta? Será que vou conseguir ter essa mulher por mais tempo
perto de mim? Eu quero ajudá-la, quero mais um beijo daqueles lábios
sensuais mas não quero assustá-la com isso, não quero jamais que ela me
compare com aquele moleque que a humilhou.
— Sr. Bruno, os seus pais acabaram de chegar e estão entrando. —
Agnes entra na sala me tirando dos meus pensamentos.
— Obrigado por avisar, Agnes, suba e peça a Jennifer para descer,
os meus pais precisam conversar com ela. — Peço seguindo até o bar e
sirvo-me uma dose de uísque.
— Agora mesmo, senhor!
Ela sai em seguida em direção a escada e eu fico aqui, preso em
pensamentos até que vejo os meus pais entrarem pelas portas de casa.
— Bom dia, meu filho! — Mamãe vem na minha direção sorridente.
— Bom dia, mamãe! — Recebo-a em meus braços e lhe dou um
beijo no rosto.
— Bom dia, filho! Estamos ansiosos para conhecer a sua nova
hóspede, mas acho que podemos conversar antes sobre aquele nosso
assunto, você concorda? — Papai aproxima-se me abraçando pelos ombros.
— O meu prazo ainda não acabou, papai, eu ainda tenho tempo.
— Por favor, Olegário! Não viemos aqui para falar do nosso filho,
esse assunto pode esperar um pouco mais. — Mamãe intercede por mim.
— Tempo? Você acha que tem tempo? Acha que consegue encontrar
uma mulher e se casar em quatro meses? O prazo que eu te dei era para
você conhece alguém antes de se casar, eu não quero um casamento de
fachada, Bruno! Não quero ser enganado e espero que se lembre disso. —
Insiste papai me deixando inquieto.
— Não quero dar o nosso sobrenome a uma vigarista interessa,
papai! Não vou me casar com qualquer uma então não me apresse! Eu sei o
que estou fazendo, eu vou encontrar uma mulher que queira se casar
comigo sem pensar só no dinheiro que eu tenho. — Retruco.
Odeio ser pressionado e meu pai não sabe fazer outra coisa que não
seja isso.
— Viemos aqui para almoçarmos ou para brigarmos? Decidam ou
eu vou embora agora mesmo! — Dispara mamãe com um olhar sério.
Encaro papai e ele suspiro fundo assim como eu.
— Me desculpem! Não quero discutir por causa disso, mas eu sei
resolver as minhas coisas sozinho. — Volto até o bar e sirvo dois copos de
uísque, volto até o meu pai lhe entregando um.
— Me desculpa, filho, estou apenas preocupado pois o tempo está
passando e você ainda não me trouxe nenhuma novidade, eu preciso que
você ajude o seu irmão com os negócios da nossa família, mas você precisa
me mostrar que é responsável o bastante para isso. — Ele me segura pelo
ombro e eu olho nos seus olhos.
Ele parece realmente preocupado que eu encontre alguém que me
ajude a ser como ele, e no fundo é tudo que eu quero, ser como ele, mas
meu pai me cobra demais e eu vou provar a ele que sou bom, que sou forte
como ele.
— Eu não vou decepcionar você, eu vou me casar em breve e se não
for com ela, será com outra, eu prometo!
— Ela quem? De quem você está falando, filho? — Pergunta
confuso e só então me dou conta do que disse.
— Eu não sabia que gente rica tinha problemas, pensei que somente
os pobres perdessem tempo discutindo... Me perdoem pela indelicadeza,
bom dia! Eu sou Jennifer. — Ela aproxima-se acanhada e mamãe vai na sua
direção analisando-a de cima abaixo.
— Então você é a Jennifer? Minha nossa, que linda... Eu sou Naomi,
mãe do Bruno e esse é o meu marido, Olegário. — Mamãe faz as
apresentações trazendo Jennifer para mais perto de nós.
— É um prazer conhecê-los, Sr. e Sra. Stuart! — Ela cumprimenta
os meus pais com um aperto de mão e ambos estão atentos a ela.
— O prazer em conhecê-la é todo nosso, querida. Acho que
precisamos conversar, te devemos um pedido de desculpas em nome da
nossa instituição de ensino, a universidade Stuart. — Papai põe a mão na
sua cintura levando-a para o sofá. Mamãe faz o mesmo comigo.
— O seu filho já conversou comigo, ele disse que eu posso voltar a
faculdade nas mesmas condições de antes, como bolsista. Ele também disse
que a universidade está disposta a me ajudar com o problema que houve em
relação a alguns alunos... Sinceramente, por mim eu não voltaria nunca
mais para aquela faculdade, por causa do que houve eu estou passando por
coisa que eu nunca imaginei passar na minha vida, mas o seu filho me
convenceu a não desistir. — Diz de cabeça baixa envergonhada pela sua
situação.
Mamãe segura o seu queixo erguendo o seu rosto, mamãe a encara
com carinho e isso é novidade para mim, eu nunca vi minha mãe reagir
assim com uma estranha, afinal, elas acabaram de se conhecer.
— Que bom que o meu filho não te deixou desistir, você parece ser
uma menina estudiosa, carinhosa com a família, parece ser uma moça
descente e não vai ser uma maldade como aquelas que vai tirar isso de você.
Você parece ser uma menina tão doce. — Mamãe segura a mão dela com
ternura e posso ver que elas já estão emocionadas.
— Então a senhora acredita em mim? Acredita que eu não tive culpa
de nada? Que fui usada apenas por ser negra e aquelas pessoas não me
aceitam? — Seu tom trêmulo a denúncia, mas ela segura o choro.
— Mas é claro que eu acredito em você, querida, infelizmente
aquele dia terrível foi filmado e nós vimos a maldade que fizeram com
você, além do más, meu filho nos contou que ajudou quando você saiu da
faculdade desesperada. Vimos o quanto você sofreu e também estamos
sabendo da sua atual situação, meu filho fez bem em trazê-la para casa,
estamos com a consciência pesada por você estar nessa situação, por isso
vamos te ajudar no que for possível. — Mamãe suspira fundo segurando as
suas emoções, eu fico atento a elas.
— Obrigada por acreditar em mim, Sra. Stuart, o meu próprio pai
nem deixou eu me explicar, e vocês que nunca haviam me visto na vida
estão me ouvindo e me estendendo a mão. Muito obrigada por isso. — Suas
emoções aparecem e ela ganha um abraço carinhoso da minha mãe.
Deixo os meus pais à vontade para conversarem com ela e fico aqui
apenas admirando-os, e eles parecem ter se dado bem com ela, mas eles
parecem me analisar a todo instante pois não consigo deixar de admirar essa
bela mulher. Eu vi o cadastro dela na faculdade, ela tem apenas vinte e dois
anos, é tão nova e já viveu inúmeras experiências e a maioria delas muito
desagradáveis, a cada segundo admiro mais essa mulher.
Agnes aparece para dizer que o almoço será servido e nós fomos
para mesa, nos acomodamos e nos servimos enquanto falamos sobre os
processos que estão sendo movidos contra alguns alunos e como Jennifer é
a principal vítima, ela será incluída nos processos contra os envolvidos,
todos naquela faculdade são adultos e sabem do crime que cometeram então
vão ter que pagar por ele. Não podemos deixar essas pessoas mancharem
assim o nome da nossa instituição.
— Jennifer, eu quero te fazer um convite, e antes que pergunte se
estou fazendo isso por pena, eu digo que não é por isso, está bem? Eu
realmente estou precisando de atendentes para trabalhar comigo em uma
das minhas galerias de artes aqui mesmo em Cleveland, e gostaria muito
que você fizesse parte da minha equipe de funcionários. Vamos ter uma
exposição em breve e estou precisando de ajudantes...
— Eu aceito! Me desculpe pela empolgação, mas é que estou a uma
semana andando sem parar procurando por emprego, mas ninguém quis me
contratar, até cheguei a ser ofendida apenas por ter a pele negra, e... Bom,
eu preciso muito de um emprego então eu aceito o convite, não quero ficar
parada sem fazer nada. — Dispara empolgada e eu sorrio.
Gosto de vê-la assim tão contente, mesmo sabendo que ela vai jogar
a minha proposta para o alto agora que estará empregada, trabalhando com
a minha mãe, pelo menos ela vai ficar bem, isso é o que interessa.
— Fico feliz por aceitar o meu convite, querida, preciso que você
venha até a galeria na segunda sem falta com toda a sua documentação,
para preparar a sua contratação, mas faça isso depois da faculdade pois não
quero que falte mais aos seus estudos, está bem assim? Sei que está
estudando arquitetura e fico muito feliz saber disso. — Elas iniciam uma
nova conversa sobre esse assunto e mais uma vez fico quieto na minha.
Atento a tudo.
Terminamos o nosso almoço e fomos para sala, minha mãe e minha
hóspede estão empolgadas conversando enquanto vou com o meu pai até o
bar, sirvo mais uma dose de uísque para nós e paro em frente à janela,
pensativo, frustrado por ter que correr atrás de uma mulher para me casar,
pensei que a minha procura havia acabado.
— O que está acontecendo com você, filho? Nunca te vi tão calado
em toda a minha vida. Eu reparei no jeito que você admira essa menina, por
acaso está interessado nela? — Dispara sem rodeios.
— Mas é claro que não, papai! Não estou interessado em ninguém,
só estou pensando em como conseguir uma pretendente para me casar logo,
mas eu vou conseguir, não se preocupe... Eu vou dar o meu jeito. —
Suspiro fundo e viro-me atento as duas conversando no sofá.
Ela me olha com um sorriso tão aberto, tão radiante que retribuo
sem perceber. Estou feliz por ela estar se dando bem com a minha mãe,
papai também parecer ter simpatizado-se com ela.
— Não adianta me enganar ou tentar se enganar, Bruno Stuart! Você
está sim interessado nessa moça, mas por outro lado ela parece bastante
retraída, parece desconfiada e não é muito fácil conquistar uma mulher
assim. — Mais uma vez as palavras de meu pai chamam a minha atenção.
Encaro-o chocado mas também surpreso.
— Eu não estou interessado nela, papai, mas digamos que eu
estivesse, como você e a mamãe reagiriam a isso? Ela é uma garota
humilde, não tem nem onde ficar, os pais a expulsaram de casa e a
faculdade inteira parece estar contra ela e todas as pessoas negras que
estudam lá. O que você me diria sobre tudo isso? — Viro-me de frente para
ele olhando em seus olhos, ele faz o mesmo.
— O que eu posso te dizer sobre tudo isso? Eu não posso julgar essa
moça pela maldade das pessoas a sua volta, do mesmo jeito que você a está
defendendo, eu também te defendi quando informei ao conselho sobre você
assumir a vice presidência das universidades junto com o seu irmão, muitos
estão querendo o seu lugar, muitos te julgaram por você ser assim, todo
tatuado como esses moleques inconsequentes que vemos por aí, eu te
defendi pois quero apenas a nossa família à frente dos nossos negócios, por
isso quero que seja responsável como o seu irmão, quero que você prove
não só para mim, mas para todos do conselho de que você merece o cargo
que estou te dando, então como posso julgar essa menina apenas por ela não
ser da mesma classe social que nós? Tem muita gente famosa por aí que não
vale o pão que come, muitos milionários que são tão preconceituosos
quanto aqueles alunos da nossa faculdade, com a diferença de que os
milionários tem dinheiro para se safar da lei. — Surpreendo-me com as suas
palavras, acho que eu não conheço o meu pai tanto o quanto eu pensei.
— Eu penso exatamente como você, papai... Acho que precisamos
passar mais tempo juntos, quero conhecer melhor o cara que eu julgava
conhecer mais que a mim mesmo, mas vejo que não conheço o suficiente.
— Sorrio de lado segurando-o pelo ombro. Ele sorrir abertamente.
— Eu também quero conhecer melhor o meu filho, sinto que você
ainda tem muito para me mostrar sobre você e eu quero ver, quero passar
mais tempo perto de você, filho, assim como passo com os seus irmãos. —
Ele me abraça apertado e eu retribuo.
— O que os meus rapazes estão conversando de tão animado? Eu
posso saber ou é segredo? — Mamãe aproxima-se com Jennifer e nós nos
soltamos.
— Eu e meu filho estamos prometendo nos conhecermos mais,
queremos passar mais tempo juntos pois temos muito a aprender um sobre o
outro. — Papai traz a mamãe para os seus braços e eu apenas sorrio.
Admiro a bela morena a minha frente com aquele mesmo sorriso
encantador de agora pouco, nem parece aquela garota tão arrasada que
encontrei ontem, mas sei que essa sua mudança se deve ao fato de que ela
vai trabalhar como ela tanto queria.
— Filho, nós precisamos ir agora, eu preciso voltar até a galeria e
seu irmão está esperando o seu pai para uma reunião. Quero que leve
Jennifer para me ver na segunda, está bem? Mas no domingo faremos um
jantar lá em casa e vamos ficar esperando por vocês, não deixe de ir e muito
menos de levá-la com você, ou eu prometo que puxo a sua orelha até me
cansar. — Ela se solta do papai e me dá um beijo antes de beijar Jennifer.
— Com uma ameaça dessa nem o mais louco dos loucos seria capaz
de desobedecer. Pode esperar por nós, iremos com certeza. — Sorrio
abraçando meu pai que gargalha rindo da minha cara, assim como Jennifer.
— Você conhece a sua mãe, sabe que ela não está brincando então
não deixem de ir. — Me alerta papai sorrindo.
— Não se preocupe, eu não vou deixar de ir.
Levo eles até o carro e mamãe se despede mais uma vez de Jennifer
dizendo o quanto adorou conhecê-la. É impressão minha ou minha mãe já
se apegou a essa garota? Impressionante.
Meus pais se vão e eu entro em casa com Jennifer, ou melhor, Jenny,
como ela gosta de ser chamada.
— Eu vou subir para tomar um banho, se precisar de algo é só
chamar Agnes, ou me chama lá em cima, está bem? Fique à vontade. — Ele
me olha daquele mesmo jeito que me deixa confusa.
Apenas concordo e ele sai em direção a escada. Admiro-o
discretamente, ele é um homem muito bonito e bilionário, ainda não
acredito que ele me fez aquela tal proposta, tudo isso é loucura mas talvez
só assim vou conseguir me acertar na vida, não sou uma mulher interesseira
mas confesso que a sua proposta é tentadora, se não fosse pelo fato desse
contrato não ser um casamento de verdade, eu estaria casada com esse
homem lindo, faria parte dessa família incrível que ele tem, mas tudo não
passaria de uma mentira, não que eu esteja desejando que seja verdade, mas
é que eu gostei muito deles e eu sinto falta da minha família, não gosto de
me sentir tão sozinha.
Vi que Bruno parecia decepcionado por eu aceitar o convite da mãe
dele para trabalhar, pois assim não vou precisar aceitar a sua proposta, eu
terei como me manter mesmo não sabendo quanto vou ganhar trabalhando
nessa galeria de artes. Mas por outro lado, Bruno me ajudou tanto, ele ainda
está me ajudando pois não vou precisar mais dormir nas ruas, ele intercedeu
por mim e graças a ele eu pude conhecer os donos da faculdade, e eles me
trataram com tanto carinho. Me trataram com respeito.
Resolvo sair da casa e andar um pouco pelo jardim, aqui é lindo, o
jardim é enorme e tem muitas plantas em volta da casa, é uma verdadeira
mansão mas eles são podres de ricos, eles podem ter uma casa assim,
apenas nos meus sonhos eu conseguiria morar em um lugar como esse.
Dou a volta na casa e encontro uma enorme piscina e um deck
maravilhoso com poltronas acolchoadas. Sorrio abertamente admirando
tudo isso, esse lugar é incrível. Acho que eu nunca estive tão impressionada
como estou agora, e também não sorrio assim a uma semana.
Paro em frente a piscina e imagens dos meus pais enchem a minha
mente, o que será que eles estão fazendo agora na minha ausência? Será que
pensam em mim? Será que se preocupam comigo? Acho que não, ou então
meu pai não teria me posto na rua sabendo que eu não tinha para onde ir.
Mas que droga de vida! Em quantas furadas irei me meter por não
ter mais os meus pais ao meu lado? Como vou me virar sozinha pagando
aluguel lá fora, morando sozinha sem ninguém para conversar, terei que
começar a minha vida aos poucos, meu primeiro pagamento eu terei que
pagar aluguel, e não vou conseguir comprar muita coisa para dentro de casa
antes de me mudar, se é que vou conseguir comprar alguma coisa, pagar
aluguel e sustentar uma casa é muito difícil e eu terei que fazer isso sozinha,
não terei ajuda e nem apoio de ninguém.
Por outro lado, se eu aceitar a proposta de Bruno eu não vou
precisar passar por nada disso, pelo menos não nos próximos seis meses ou
um ano, e com a grana que ele está disposto a me dar, talvez eu consiga dar
entrada na minha própria casa, vou ter o que os meus próprios pais não tem,
uma casa para chamar de minha! E não vou precisar pagar aluguel, vou
pagar algo que será meu.
— Parece tão distraída. — Ouço a sua voz atrás de mim e me
assusto.
— AHHH...
Viro-me abruptamente e vou de encontro a água, mas ele me puxa
pelo braço me prendendo ao seu corpo. Estou ofegante e trêmula, agarrada
a esse homem com medo dele me soltar, mas novamente ele me olha de um
jeito tão intenso que me deixa sem jeito.
— Você me assustou... Quase me fez enfartar... — Solto-me dele
ainda ofegante e trêmula.
— Me desculpe? Eu não queria te assustar, mas você estava mesmo
distraída. — Ele sorrir de um jeito doce, sorrir com ternura e isso me
confunde. — Eu só vim avisar que estou de saída, se precisar falar comigo
ou precisar de algo, Agnes tem o meu número.
— Está bem, obrigada por avisar. — Afasto-me sem jeito e me sento
em uma das poltronas.
Ele não diz mais nada e sai em seguida me deixando aqui pensativa.
Ele está tão lindo, bem arrumado e os cabelos bem alinhados, ele está muito
cheiroso. Lembro-me das suas tatuagens no seu braço, a sua camisa estava
aberta deixando o seu corpo a mostra, a sua feição adormecida tão suave, a
sua barba por fazer e seus lábios pequenos. A minha respiração pesa sem eu
perceber por pensar nele dessa maneira, ele sugeriu de sermos amigos então
não vou ficar fantasiando coisas. Ainda nem sei se devo aceitar essa
proposta.
O que eu faço, meu Deus? É o senhor quem está me enviando esse
bote salva-vidas? Me sinto à deriva no meio do oceano e preciso me agarrar
em algo para não afundar, e o meu bote salva-vidas é ele, tem que ser ele.
Perco a noção tempo aqui presa nos meus pensamentos, lembrando-
me de como foi conhecer e conversar com o Sr. e a Sra. Stuart, eles são
gente boa e todos estão dispostos a ajudar não só a mim mas todos os
alunos que sofrem preconceito na faculdade, e isso sim é surpreendente. Eu
queria que a minha família estivesse lutando assim por mim também, mas
sei que não posso contar com eles, não posso contar com muita gente.
Eu perdi o meu celular e não me lembro do número da Tauane, ela é
a única amiga que tenho na faculdade mas já sei que os pais dela não vão
mais aprovar a nossa amizade, eles estão envergonhados, talvez até
enojados por causa daquele maldito vídeo. Se antes eu já não tinha muitos
amigos, agora com certeza eu não terei mais nenhum, estou completamente
sozinha nessa vida.
Não posso evitar chorar pois a minha tristeza está presente nessa
fase da minha vida, então o que eu tenho a perder aceitando essa proposta?
Terei uma família de mentirinha mas pelo menos não estarei sozinha, terei
ao meu lado as pessoas que estão lutando por mim agora.
Mas e se o Bruno se apaixonar por outra mulher durante o nosso
contrato? Então teremos que romper o mesmo e cada um segue a sua vida.
Eu preciso tomar cuidado para não me envolver demais com esse acordo,
preciso tomar cuidado para não me apaixonar por ele, não posso gostar
desse homem, não posso ou vou me magoar quando esse acordo terminar,
não quero sofrer por mais ninguém, nem mesmo por ele, eu não posso
gostar dele.
Passo a minha tarde presa em pensamentos mas a noite entra sem eu
me dar conta, na verdade já são quase nove da noite e ele ainda não voltou,
já andei por essa casa inteira para conhecê-la melhor e agora estou sentada a
mesa comendo sozinha, pensei que ele chegaria antes do jantar mas me
enganei, tudo bem, a casa é dele e não somos nada um do outro, então ele
que chegue a hora que quiser.
Depois do jantar eu subo para o meu quarto e vou até o closet,
admiro as roupas que ele me deu e sorrio, são roupas lindas e muito caras
também. Por isso ele comprou tanta coisa para mim, porque ele já pretendia
me fazer essa proposta para ajudá-lo e eu não tenho como negar, ele está
fazendo muito por mim então é justo que eu também o ajude.
Lembro-me dele me defendendo para aquela atendente metida a
besta, se eu estivesse sozinha naquele lugar com certeza ela teria me posto
para fora, deve ser uma preconceituosa que se deu mal hoje. Sorrio
abertamente.
Me troco pondo uma das camisolas que comprei, é um tecido tão
macio, tão confortável. Saio do closet empolgada para me jogar na cama,
mas sinto alguém agarrar abruptamente tentando me beijar, mas seu hálito
forte de álcool me assusta.
— Me solta! Me solta, seu bêbado! O que pensa que está fazendo,
Bruno...? — Empurro-o para longe de mim e ele parece atordoado, mas me
olha com desejo e isso me assusta.
— Me desculpa...? Eu não sei o que estou fazendo, não sei o que
deu em mim... Me desculpa...? Eu só... Eu só vim te dar boa noite...
Desculpa... — Ele esfrega as mãos nos cabelos sem jeito, olha de um lado
para o outro e sai em seguida.
Meu Deus, o que deu nesse homem? Com certeza ele só entrou aqui
porque está bêbado, na verdade ele está muito bêbado, será que ele estava
com alguma mulher até a essa hora? O que me importa? Ele não é nada meu
mesmo, mas se vou aceitar a sua proposta ele não vai mais poder ficar
saindo e bebendo assim, ou vão desconfiar que não estamos juntos de
verdade.
Vou até a porta e tranco apenas para evitar ser atacada no meio da
noite por esse bêbado mulherengo, deve ser por isso que o pai dele precisa
que ele prove ser responsável para assumir os negócios da sua família,
agora entendo muita coisa. Cretino!
Me jogo na cama e tento não pensar tanto nas coisas que ele deve ter
aprontado, isso não é da minha conta então apenas acomodo-me nessa cama
maravilhosa, tento me entregar ao sono e ele vem rapidamente, acho que
nunca dormi tão bem em toda a minha vida como ontem e hoje, e espero
não perder isso pois estou decidida a aceitar esse bendito acordo, é ele que
vai me trazer a estabilidade que eu preciso e mereço, mas ainda precisamos
conversar sobre tudo isso.
Ainda preciso saber as condições desse acordo pois ele não vai se
aproveitar de mim por estarmos casados, isso não! Se ele quiser a minha
amizade como ele mesmo sugeriu, eu aceito o acordo, do contrário, ele que
encontre uma mulher que vá se sujeita a ser a sua prostituta exclusiva para
depois mandá-la embora, eu não nasci para isso.

Acordo cedo como de costume pois estou bem descansada, mas


continuo na cama lembrando-me do dia de ontem, agarro o travesseiro e
fico aqui imersa nos meus pensamentos pois hoje acordei com preguiça e
emotiva, estou com saudades da minha mãe e minha irmã, do meu pai nem
tanto, ainda estou muito magoada com ele, não sei se serei capaz de perdoa-
lo algum dia mas pode ser que sim.
Ouço batidas na porta e a voz de Agnes em seguida perguntando se
vou descer para o café, digo apenas que não estou com fome e que vou ficar
na cama um pouco mais, ela aceita os meus argumentos e eu volto a
prender-me nos meus pensamentos, mas poucos minutos depois ouço mais
batidas na porta, ela deve ter trago algo para eu comer então vou até a porta
e abro, mas dou de cara com ele em pé na porta me admirando como ele fez
ontem à noite, seus cabelos estão molhados e ele usa uma camiseta, ele está
bem formal e consigo ver melhor as suas tatuagens.
— Bom dia! Podemos conversar? — Ele suspiro fundo e parece sem
graça.
Ergo uma sobrancelha o analisando para ver se ele ainda está
bêbado, mas acho que não corro nenhum risco de ser atacada.
— Não se preocupe, eu não estou mais bêbado, e é exatamente por
isso que vim falar com você. Quero me desculpar mais uma vez pela minha
estupidez de ontem, eu estava fora de mim mas te garanto que isso não vai
se repetir, eu não estava bem e acabei bebendo demais... Eu comprei esse
celular para você ontem e esqueci no carro, espero que goste. — Vejo o
homem à minha frente visível envergonhado e isso me surpreende, mas o
seu presente também.
— Um celular? Porque está me dando um celular? — Pego a
pequena sacola que ele estende para mim.
— Todo mundo precisa de um celular, e sei que levaram o seu
quando roubaram a sua bolsa. Se não quiser, tudo bem, eu só pensei em te
fazer um m agrado... Ai dentro também tem um chip novo, mas você ainda
pode recuperar o seu número antigo se quiser. — Ele coça a cabeça
evitando me olhar e eu sorrio.
— Obrigada pelo aparelho, eu estava mesmo precisando de um novo
mas prefiro não recuperar o meu número antigo, depois se eu conseguir ver
a minha mãe eu passo o número novo para ela. É muito gentil da sua parte,
obrigada. — É a minha vez de ficar sem jeito e ele voltar a me olhar
fixamente.
— Não vai tomar café da manhã? Não está com fome? — Questiona
em um tom preocupado.
Porque ele está se preocupando tanto comigo? Na verdade é muito
bom ter alguém se preocupando comigo, pois assim sei que não estou tão
sozinha o quanto pareço.
— Não gosto de comer sozinha, depois eu como alguma coisa...
Estou acostumada a comer com todos na mesa, meu pai não deixa ninguém
se levantar enquanto todos não terminarem de comer. — Justifico-me
pensativa ao me lembrar da minha família.
— Podemos tomar café juntos, eu acabei de sair da academia e
malhar me deixa com fome. Se troca e desça! Vou estar te esperando para
comermos juntos... E não demora! Eu estou faminto. — Ele me dá um
sorriso torto sai sem me deixar dizer mais nada.
Sorrio e entro fechando a porta. Deixo a sacola sobre a cama e corro
para fazer a minha higiene pessoal e tomar um banho rápido, me arrumo e
faço uma maquiagem bem natural e desço me sentindo realmente com
fome, estou mais animada agora que ele se desculpou.
Sigo para sala de refeições e me acomodo, ele entra logo em seguida
se acomodando na ponta da mesa. Me sirvo e ele faz o mesmo, começamos
a comer e Agnes entra na sala nos encarando surpresa, mas porque isso?
— Acordou mesmo com fome hoje, Sr. Bruno, está tomando café
pela segun...
— Agnes! Você pode me trazer um café mais quente? Esse aqui
parece meio frio. — Ele a interrompe e pisca para ela, não entendi isso.
— Claro senhor! Agora mesmo. — Ela sai em seguida sorrindo
envergonhada.
Encaro o homem ao meu lado meio sem jeito, será que... Não! Ele
não pode estar tomando café de novo só para me acompanhar, isso é
possível? Ai que fofo. Abro um sorriso largo e ele encara a minha boca
fixamente, mas volta a encarar os meus olhos.
— O que foi? Porque está sorrindo desse jeito? Está rindo de mim
por acaso? — Ele ergue uma sobrancelha e eu gargalho. — Você está
clareando rindo de mim.
— Me desculpa? Eu não estou rindo de você, é que achei fofo você
tomar café de novo apenas para me fazer companhia. — Sorrio abertamente
e vejo-o corar pela primeira vez.
— Não sei do que você está falando, eu estou realmente faminto. Eu
ainda não tomei café, pode perguntar a Agnes, não é verdade, Agnes? —
Ele desconversa enquanto Agnes serve o seu café mais uma vez.
— Ah sim! Claro. O senhor malha muito então é normal repetir o
café da manhã. — Dispara ela me fazendo gargalhar ainda mais.
— Eu sabia! Mentiroso! Você não me engana, Bruno!
— Vocês mulheres são terríveis! O que custava me dar uma
ajudinha, Agnes? Traidora! — Ele se faz de ofendido mas sorrir
abertamente. — Vi que ficou triste ao contar sobre ter a sua família reunida
na mesa, eu só não queria deixá-la comer sozinha... A verdade é que estou
quase explodindo de tanto que comi. — Ele faz careta e Agnes me
acompanha nas gargalhadas.
Conversamos um pouco enquanto eu como e isso me distrai, me
anima um pouco depois de ter ficado emotiva por causa da minha família.
Agnes é uma senhora mas não é tão velha, ela é carinhosa e gentil como a
minha mãe, isso me deixa ainda com mais saudades dela.
Depois do café da manhã eu vou para sala com Bruno e nos
acomodamos no sofá um de frente para o outro. Ele me olha como se
quisesse dizer algo, mas não diz, então eu digo.
— Eu pensei bastante na proposta que você me fez...
— Está cogitando aceitar?
— Sim! Mas antes quero saber as condições dessa proposta. O que
eu tenho ou não que fazer? Quais serão as minhas obrigações com esse
acordo? Quanto tempo ele valerá? Quem mais sabe sobre ele? Você disse
que esse acordo vem com uma recompensa, digamos assim, eu quero saber
de tudo, se me agradar, você terá a minha resposta agora mesmo. —
Despejo de uma vez vendo-o acomodar-se melhor na poltrona.
— Certo! Bom, para começar esse acordo será de um ano, e
ninguém saberá sobre ele para não trazer problemas para nenhum de nós
dois, mas acho que Agnes deva fazer parte disso para não precisarmos
fingir na frente dela, podemos dizer aos meus pais que estamos nos
conhecendo melhor até o casamento, e assim ninguém estranhará a nossa
falta de intimidade. Esse será um acordo apenas entre nós, ninguém mais
precisa saber sobre ele além de Agnes, mas o nosso casamento será para
todos como se fosse real. Está conseguindo me entender? — Seu semblante
é bem sério ao dizer tudo isso.
— Sim, estou entendendo, lá fora seremos como qualquer outro
casal, mas aqui dentro e longe de qualquer conhecido seremos amigos, até
então está perfeito. E só para constar, se eu aceitar eu continuo no mesmo
quarto em que estou... Porém... O que acontece se recebemos alguma visita
e não pudermos dormir separados? — Pergunto a última parte morta de
curiosidade.
— Só então precisaremos dormir no mesmo quarto, já vou avisando
que não vou dormir no chão, é muito desconfortável...
— Você está me dizendo que eu vou ter que dormir no chão?
— É óbvio que não, Jenny! A minha cama é enorme e podemos
muito bem dividi-la sem nos estranharmos... Por acaso você está com medo
de mim? — Ele sorrir de lado e eu sinto o meu rosto queimar.
— Se você não encher a cara como você fez ontem, eu não vou
precisar ter medo de você. — Disparo inquieta e me levanto.
— Eu já pedi desculpas e repito que isso não vai voltar a acontecer...
Eu não sou de beber assim, o que aconteceu ontem foi apenas uma
extravagância... E ainda fizeram a limpa na minha carteira. — Conta
pensativo me deixando perplexa.
— Como assim? Você foi assaltado? — Indago chocada.
— De certa forma sim... Eu não vou mentir para você, Jenny, eu não
curto muito isso pois não gosto de ser descoberto, e você já viu na mesa do
café que eu minto muito mal. Eu saí ontem porque pensei que você não
fosse mais aceitar a minha proposta, agora que vai trabalhar com a minha
mãe. Então pensei que precisaria voltar para minha rotina de conhecer
mulheres na esperança de encontrar uma possível candidata. Mas a verdade
é que por três vezes eu só encontrei mulheres ambiciosas demais, e a última
limpou a minha carteira quando que deixei sobre a mesa. — O infeliz conta
sorrindo sobre a desgraça que lhe aconteceu, esse cara é louco.
— E você achou isso engraçado? Não estou entendendo...
— Não, Jenny! Eu não acho engraçado mas eu também não vou
chorar por isso. Eu fiz o teste e elas foram reprovadas, apenas isso.
— Como assim fez um teste? Do que você está falando? —
Questiono confusa.
— Eu deixo a carteira sobre a mesa de propósito, assim eu descubro
o caráter delas, faço perguntas que normalmente as respostas são simples
mas elas complicam tudo. — Bruno também se levanta andando pela sala
inquieto.
Eu continuo calada enquanto ele vai até o bar, ele se serve uma dose
de uísque e eu fico atenta a isso.
— Não quero que pense que eu te testei, pois não foi um teste, eu
estava realmente te conhecendo e saber mais sobre você só abriu mais os
meus olhos... Eu te fiz perguntas que eu faço a toda mulher quando estamos
nos conhecendo, perguntas simples e eu nunca ouvi alguém falar com tanto
entusiasmo do quanto gosta de lasanha, ou de bife com batatas fritas, ao
invés de comidas e bebidas finas e caras você prefere o mais simples. —
Ele sorrir de forma doce voltando na minha direção. — Se você fosse como
as outras mulheres que conheci, que só falam de viagens e coisas caras
achando que isso impressiona alguém, talvez eu não tivesse me encantado
tanto por você... Quer dizer... Eu... Eu acho você totalmente diferente das
mulheres que já conheci, por isso escolhi fazer essa proposta a você... E
também porque eu vejo que você realmente precisa da minha ajuda e eu
quero te ajudar, nós dois vamos nos beneficiar com esse acordo e sei que
você não vai aceitar por interesse, mas sim por necessidade.
Suas palavras me deixam pensativa, insegura mas ao mesmo tempo
certa da minha decisão.
— Eu pensei em colocar trezentos mil como valor de contrato, mas
se você achar que pouco eu posso melhorar a minha oferta. — Suas
palavras derrubam o meu queixo no chão.
— Você... Você... Ahh... Trezentos mil dólares...? Você disse...
Trezentos mil... Dólares...? — Pergunto boquiaberta. Eu nunca sonhei ter
tanto dinheiro em toda a minha vida.
— Se acha pouco eu posso aumentar um pouco mais. Talvez uns
quatrocentos...
— Não...! Não precisa aumentar mais, eu... Eu só estou chocada
com tanto dinheiro. — Sento-me no braço do sofá para não cair para trás.
— Isso é um sim? Você está aceitando a minha proposta? — Ele
abre aquele bendito sorriso que me deixa boba. Eu apenas aceno
concordando. — Eu vou tirar toda e qualquer tipo de multa que possua no
contrato, para você não sofrer nenhuma penalidade caso desista do contrato,
mas eu estou confiando em você, Jenny. Se você me der a sua palavra de
que não vai voltar atrás na sua decisão, se me garantir que não vai desistir
do nosso acordo, eu te dou os quatrocentos mil que sugeri agora pouco...
— Eu garanto! Eu juro! Eu prometo por tudo que você quiser! Eu
não vou voltar atrás, pode confiar em mim! — Levanta-me eufórica e
sentido o meu coração bater na garganta. Ele sorrir abertamente.
— Combinado! Eu vou te dar os quatrocentos mil e na segunda
assinamos o acordo...
— Ahhh! Você é louco e eu estou adorando isso...
Me jogo em cima dele sorrindo escandalosamente, ele cai no sofá
comigo em seu colo em enchendo o seu rosto de beijo, ele gargalha.
— Você é mais louca que eu, sabia...? — Gargalhamos juntos mas
eu ainda estou eufórica.
— Eu vou precisar de ajuda, eu quero comprar uma casa para eu ter
onde morar depois que o acordo terminar, já quero deixá-la mobiliada para
eu entrar para dentro sem precisar comprar nada. Eu não entendo dessas
coisas de compra imobiliária e não quero que me passem a perna, então
você vai me ajudar, não vai? — Peço eufórica já imaginando a minha casa
nova, se um dia eu fizer as pazes com os meus pais, eles vão morar comigo.
Encaro o homem em baixo de mim e ele está sério me olhando
daquele jeito estranho, ele está ofegante e segura a minha cintura com
firmeza. Sinto algo duro em baixo de mim e sei que ele está excitado e isso
me estremece.
— Minha nossa... Me desculpa? Eu me empolguei tanto que passei
dos limites... Ai que vergonha, me desculpa, Bruno? — Saio do seu colo
apressada mas ele não diz nada.
Ele se levanta puxando a camiseta para baixo e vejo um grande
volume na sua bermuda.
— Puta merda... Me desculpa? — Saio apressada e completamente
envergonhada.
— Espera, Jenny? Jennifer...? Caralho!
Ouço ele me chamar mas subo as escadas correndo de tão
envergonhada que estou. Minhas pernas estão bambas, meu coração
batendo na boca e a minha respiração tão pesada que puxo o ar com força
para os meus pulmões. Entro no quarto e tranco a porta.
— Que ideia mais sem cabimento foi essa minha de pular em cima
dele...? Meu Deus, eu estava no colo dele, e ele estava tão excitado...
— Jennifer?
Ouço a sua voz e cubro a boca com as mãos, será que ele me ouviu?
Tomara que não.
— Jenny? Me desculpa? Eu não consigo controlar essas coisas.
Você é uma mulher muito linda, e... Estava no meu colo daquele jeito...
Minha nossa... Eu... Me desculpa? Eu não quis te desrespeitar, aconteceu e
não deu para controlar... Me desculpa, vai? — Seu tom aflito atrás da porta
me amolece. Me desarma.
— Eu não vou abrir a porta pois estou muito envergonhada, mas eu
te desculpo e você também me desculpa, combinado? — Encosto-me na
porta me sentindo estranha, me sentindo tensa.
— Compartilhamos da mesma vergonha, então, combinado!
Ouço ele sorrir mas tudo que eu queria nesse momento era cavar um
buraco e me esconder dentro. Ele diz que vai me esperar para o almoço e
sai em seguida pois não ouço mais a sua voz, ouço apenas os seus passos se
afastar. Não sei se vou descer para o almoço, não vou conseguir olhar na
cara dele hoje.
Quatrocentos mil dólares...? Ele vai me dar quatrocentos mil? Eu
vou sonhar com esse dinheiro hoje, eu vou conseguir comprar a minha
própria casa onde vou poder receber a minha mãe e minha irmã, isso se elas
quiserem me visitar.
Eu e meus pais sempre moramos de aluguel, sempre sonhamos em
ter a nossa casa própria e meu pai sempre trabalhou duro contando com
isso, por isso correu atrás de conseguir uma bolsa de estudos para eu cursar
a faculdade, por isso nos mudamos do inferior onde morávamos mas tudo
saiu errado, meu pai não me ver mais como sua filha e ainda me expulsou
de casa, minha mãe tentou me defender e quase foi expulsa também.
Lembro-me do celular que Bruno me deu e me jogo na cama
mexendo nele, é um dos aparelhos mais modernos que já vi. Coloco o chip
novo nele e o mesmo já vem com crédito, sento-me na cama eufórica e ligo
para casa dos meus pais, mas não tenho sorte pois é o meu pai quem atende,
parece até que ele proibiu a minha mãe ou minha irmã de atenderem ao
telefone, ligo para o celular da minha mãe mas também é ele que atende.
— Ele está controlando ela, ele não quer que ela fale comigo... Meu
pai me odeia... Ele me odeia... — Desligo o celular encarando a tela e sinto
as minhas lágrimas descerem.
Lágrimas de decepção, de dor por saber que não pude contar com a
minha própria família, minha mãe nem pode me atender pois meu pai não
deixa. As vezes sinto vontade de ir embora para bem longe dele e
recomeçar a minha vida longe de tudo, mas agora que me comprometi com
esse bilionário eu não posso voltar atrás, vou realizar o meu sonho de ter a
minha casa sem precisar pagar aluguel, não vou mais estar na rua da
amargura como pensei que iria acabar a minha vida.
Jogo-me na cama pensativa e não tem como evitar chorar por eles.
Deixo o tempo passar sem perceber mas saio dos meus pensamentos com
batidas na porta e a voz Agnes avisando sobre o almoço. Tomo coragem e
respiro fundo, pego o aparelho e saio do quarto descendo até a sala com
Agnes, descemos empolgadas enquanto conversamos e o vejo entrar na sala
vindo de fora da casa.
Meu rosto esquenta rapidamente ao lembrar-me que estive sentada
em seu colo e ele ficou excitado comigo. Lembro-me que ele viu o meu
vídeo nua transando com aquele infeliz. É por isso que ele me olha daquele
jeito, por causa do vídeo.
— Não estou com fome, Agnes, eu como alguma coisa mais tarde.
Com licença!
Saio apressada e volto correndo pela escada para voltar ao meu
quarto, mas quando abro a porta ele segura o meu braço impedindo-me de
entrar.
— O que foi? Porque você mudou de repente? Parecia empolgada e
mudou do nada assim que me viu. Eu já te pedi desculpas, Jenny! — Seu
olhar é apreensivo e preocupado.
— Eu já aceitei o seu pedido de desculpas, não se preocupe! Agora
me solte! — Solto-me dele abruptamente e entro no quarto, mas ele entra
junto.
— Se é verdade que me desculpou, então porque está reagindo
assim? Porque está me evitando...? Me diz a verdade, Jennifer? — Insiste
inquieto e eu respiro fundo.
— Você... Você ficou daquele jeito por causa do vídeo, não foi?
Também acha que sou uma mulher vulgar? Por isso ficou daquele jeito? —
Disparo nervosa e ele parece confuso.
— Vai por mim, eu não fiquei tão excitado vendo aquele vídeo
como fiquei com você no meu colo. Me desculpa mas você é gostosa sim e
isso não faz de você uma mulher vulgar...
— Você mesmo sugeriu que fossemos amigos então não fala mais
essas coisas para mim, isso me deixa constrangida. — Esquivo-me dele
totalmente envergonhada, mas ele segura o meu braço.
— Eu te fiz companhia no café da manhã, será que posso ter a sua
companhia no almoço? — Seu olhar agora é esperançoso, seus olhos
brilham de um jeito que me desarma.
— Claro. Vamos descer. — Sorrio sem graça e passo por ele saindo
do quarto.
— Eu já fiz o pedido das suas novas apostilas na universidade, na
segunda-feira você já pode voltar a estudar e lhe entregaremos as suas
apostilas. — Ele puxa assunto enquanto descemos e eu tento esquecer o que
houve.
Ele não foi o único que viu aquele vídeo e eu não posso sair
brigando com todo mundo por causa disso. Entramos na sala de refeições e
nos acomodamos, nos servimos e começamos a comer, ele fala sobre o
jantar de amanhã na casa dos pais dele e quem estará presente, amanhã vou
conhecer os irmãos dele e as cunhadas. A esposa de Kevin e a namorada de
Cristiano, e espero que eles sejam tão simpáticos o quanto os meus os pais
de Bruno foram comigo.

DIA SEGUINTE...

Termino de me arrumar e ponho um dos perfumes novos que Bruno


me deu, me olho no espelho e me sinto realmente linda. Estou usando um
vestido vermelho justo no corpo, ele tem alças finas e um pequeno decote,
mas nada indecente, seu comprimento fica um palmo abaixo dos joelhos, os
saltos e a bolsa são pretos e o batom também vermelho como o vestido.
Nos cabelos eu fiz uma trança embutida lateral e deixei uma franja
na mesma lateral da trança. Fiz uma maquiagem leve para não ficar pesado
demais, os brincos eu uso os mesmos de sempre pois não trouxe nenhum
outro comigo além dos que estava usando. Estou linda sim.
Pego a bolsa e saio do quarto, desço até a sala e ele já está
arrumando parado com algo na mão. Ele me admira descer e seus olhares
me confundem.
— Você está linda... Muito linda...
Ele vem na minha situação com a sua atenção presa em mim. Ele
também está muito bonito, e cheiroso também, meu Deus que homem
charmoso.
— Você está maravilhosa, mas posso te deixar ainda mais bela... —
Ele abre a caixinha preta me revelando um conjunto de brincos e colocar.
— Isso são pérolas?
— Sim! Ouro, pérolas e brilhantes. Você gostou? Posso pôr em
você? — Engulo em seco enquanto ele tira o colar da caixinha.
— Não! Me desculpa mas eu não posso aceitar. Você já me deu um
celular e eu só aceitei porque precisava muito, as roupas também foram
uma necessidade pois eu tinha poucas peças de roupas, está me ajudando
com o processo e as apostilas da universidade, eu não posso aceitar mais
nada! Essas jóias são lindas, você tem um ótimo gosto mas eu não vou
aceitar... Já podemos ir. — Afasto-me indo em direção a porta mas ele
segura o meu braço.
— Aos olhos de todos você será minha esposas, precisa usar belas
jóias e...
— Eu entendo, compreendo o seu ponto de vista mas eu ainda não
sou sua esposa, ainda não assinamos o nosso acordo e quando isso
acontecer, vou comprar as minhas jóias eu mesma, você vai me pagar muito
bem então eu vou assumir as minhas despesas. — Contesto decidida, ele
parece muito surpreso.
— Tudo bem, mas... Aceite pelo menos como um empréstimo? Use-
a e desfrute dela no jantar de hoje, depois você me devolve. — Vejo o
quanto ele parece surpreso e decepcionado por eu não aceitar a jóia.
— Tudo bem, que seja como um empréstimo. Assim que voltarmos
eu o devolvo. — Aviso tirando os meus brincos e vejo surgir em seus lábios
um pequeno sorriso.
— Você é uma mulher muito difícil e desconfiada, sabia? Mas
depois de tudo que passou, é compreensível.
Ele põe o colar em mim e eu ponho os brincos que ele me
emprestou, até o peso deles é diferente, nem se compara com as minhas
bijuterias, esses são mesmo de verdade.
— Agora você está perfeita... — Bruno abre um sorriso tão largo
que sorrio também.
Ele me estende o braço e eu pego, saímos de casa e ele abre a porta
do carro como um perfeito cavalheiro. Entramos no seu carro e saímos em
seguida, seguimos para mansão dos Stuart que segundo Bruno, não fica
muito longe daqui. E realmente foi assim, em pouco minutos estamos
entrando pelos portões da mansão e já na entrada os meus olhos se
arregalam com tamanha beleza.
— Minha nossa... Tudo isso faz parte da mansão? Quantos
quilômetros tem esse lugar? — Pergunto embasbacada e ele solta uma
gargalhada tão gostosa que me deixa sem graça. — Estou passando
vergonha, eu sei. Mas não me importo, eu nunca entrei em um lugar como
esse.
— Não precisa ficar envergonha, essa mansão é realmente muito
grande, nem eu sei ao certo quantos metros quadrados tem esse lugar. —
Me tranquiliza ainda sorrindo.
Fico de boca fechada para não dizer mais nenhuma bobagem.
Muitos metros a nossa frente ele para na entrada da casa onde tem um
chafariz onde o carro dá a volta antes de parar. Esse lugar é muito grande,
ela dá umas duas da casa de Bruno e eu já acho a casa dele imensa.
Ele sai para abrir a porta do carro e eu sorrio, saio do carro
enlaçando o meu braço no seu e entramos juntos na casa, e mais uma vez o
meu queixo vai no chão, a beleza desse lugar é algo indescritível. Agora
entendo a sua facilidade em me oferecer quatrocentos mil dólares apenas
para fingir ser sua esposa, uma situação que não vai durar mais do que um
ano. Essa gente é muito rica.
— Jennifer! Que bom que veio, querida. — Minha futura sogra vem
na minha direção toda sorridente.
— Sra. Naomi! É muito bom vê-la de novo. — Solto-me de Bruno
para cumprimentá-la com um breve abraço.
— Venha comigo! Eu vou te apresentar as minhas noras e aos meus
filhos Kevin e Cristiano. — Ela me arrasta até sala de estar onde vejo
algumas pessoas sentadas sorrindo empolgadas.
— Quem é essa, minha sogra? Mais uma empregada? Já não tem
criados o suficiente? — Meu sorriso se desfaz ao ouvir tal comentário.
— Se você ofender a minha convidada mais uma vez, eu terei que
ser delicada em pedir que se retire da minha casa, Cindy. Você é minha nora
e eu gosto de você, mas aceitar os seus comentários preconceituosos, isso
eu não vou fazer, muito menos dentro da minha casa! — Sra. Naomi segura
firme a minha mão, seu tom é ríspido e cortante. Vejo a garota se encolher
no sofá.
— Me desculpe, minha sogra, eu não falei por mal. — Se desculpa
envergonhada mas ainda estou me sentindo péssima por estar aqui.
— Jennifer, essas são as minhas noras Cindy e Tereza, e os meus
filhos Kevin e Cristiano. Jennifer vai trabalhar comigo na galeria aqui de
Cleveland. E espero que ela seja mais bem recebida do que está sendo
agora. — Seu tom ainda é tão sério quanto o seu olhar.
— É um prazer conhecê-la, Jennifer. Seja bem vinda a essa casa.
Peço desculpas pela minha cunhada, ela é tão sem noção quanto o meu
irmão, acho que é por isso que eles se dão tão bem. — Me cumprimenta o
irmão mais velho com um aperto de mão.
— O prazer em conhecê-los é todo meu. — Cumprimento também a
Tereza, a esposa dele.
— Seja bem-vinda, Jennifer, você está muito linda. — Ela me dá um
sorriso gentil e eu retribuo.
— Jennifer, seja bem-vinda! Não liga para as tolices que Cindy diz.
Não leve a mal, está bem? — Cristiano me estende a mão e eu pego mesmo
receosa.
— Tudo bem, Cristiano, é um prazer conhecê-lo. — Solto a sua mão
acanhada e ele volta para perto da sua namorada.
Olho para o lado e Bruno está com uma cara péssima encarando
fixamente a tal Cindy e o irmão. Teresa me puxa para eu me sentar com ela
e a mesma me faz muitas perguntas sobre a faculdade, sobre a minha
família mas eu não entro em detalhes, não quero e não posso ficar emotiva
na frente dessa gente.
O Sr. Olegário aparece sorridente e toma um drink com os filhos
mais velhos, enquanto isso eu me enturmo com Teresa e a Sra. Naomi que
fala empolgada sobre o que vou fazer na sua galeria, e parece legal, sei que
vai ser muito bom trabalhar com ela.
Fomos todos para mesa de jantar e nos acomodamos em pares de
casais, ainda estou tensa mas tento relaxar um pouco. O jantar é servido e
começamos a comer enquanto converso mais com Teresa e Bruno parece
animado conversando com os pais. Cindy passa o jantar inteiro jogando
piadinhas sobre empregados negros entre outras coisas racistas, ela não se
dirige diretamente a mim então por enquanto eu aguento calada.
— Não sei o porquê gente preta adora vestir vermelho, é só uma
curiosidade, qual é o problema? — Cindy comenta baixinho mas eu consigo
ouvir, e Bruno também.
Ele larga o talher sobre o prato mas antes que ele se pronuncie, o
irmão se levanta agarrando a namorada pelo braço e tira ela da mesa.
Saindo da sala.
— Qual é o problema? Eu não falei nada demais. Os seus pais
sabem sobre o vídeo dessa prostituta e mesmo assim a aceitam nessa casa!
Eu não posso fazer um comentário e todos ficam contra mim? Isso é uma
tremenda palhaçada! — Esbraveja em algum lugar e eu respiro fundo
evitando encarar as pessoas nessa mesa.
Sr. Olegário sai da mesa inquieto e vai na direção em que o filho foi
com a namorada.
— Me desculpem, mas... Acho que foi um erro ter vindo. Você me
leva, Bruno? — Levanto-me da mesa constrangida sentido um imenso
aperto no peito.
— Concordo com você, foi um erro ter vindo, e depois os meus pais
me questionam o porquê eu quase não apareço por aqui... Vamos, Jenny! —
Ele me pega pela mão e me arrasta para sala de estar.
— Espera por favor, meu filho? Jennifer? Mil desculpas, querida?
Eu jamais imaginei passar por uma vergonha dessas dentro da minha
própria casa. Não vão embora, por favor? Não vão? — Suplica Sra. Naomi
e mesmo sabendo que ela não teve culpa de nada, eu estou magoada.
— Sinto muito, Sra. Naomi, mas eu não estou me sentindo bem,
então eu prefiro ir embora. Eu posso ir de táxi para você ficar com os seus
pais, Bruno...
— Não! Você veio comigo e vai voltar comigo! Vamos embora,
amanhã conversarmos, mamãe! — Bruno não solta a minha mão e me leva
para fora da casa.
Sigo para o meu carro com ela mesmo ouvindo as súplicas da minha
mãe para não irmos.
— Olegário! Faz alguma coisa! Não deixa o nosso filho ir embora
assim. — Pede mamãe chorosa e mesmo me partindo o coração vendo-a
assim, coloco Jennifer no carro e dou a volta.
— Espera, Bruno! Filho, por favor? Não sai assim ou você vai
deixar a sua mãe muito triste. Me deixe conversar com a menina, eu preciso
me desculpar por essa afronta de Cindy... Fica, filho? Por favor não vá? —
Papai vem até a mim fechando novamente a porta do carro.
— Eu não quero ficar, papai! Você está cobrando muito de mim
como se nunca tivesse se orgulhado de mim nessa vida, eu estou sendo
testado, estou sendo obrigado a me casar para provar que sou responsável
mas esse inconsequente do Cristiano faz o que bem entende dentro da sua
casa! Ele arruma uma mulher mais maluca que a outra e não é a primeira
vez que essa garota desrespeita alguém aqui dentro, até quando vocês vão
aceitar isso...? Viemos aqui com a maior boa vontade porque você e a
mamãe pediram, e também porque eu queria que Jennifer saísse de casa um
pouco, mas depois disso ela não vai mais querer colocar os pés aqui e com
razão. — Contesto irritado e entro no carro mesmo ele pedindo para não
irmos.
Dou a partida e arranco com o carro para longe dali, indignado com
a maldade que fizeram com Jennifer.
— Bruno? Bruno me responde? — Jennifer chama a minha atenção
e confesso que havia me esquecido dela aqui ao meu lado. — Para o carro?
Por favor pare o carro! — Pede nervosa e eu freio bruscamente antes de
chegar nos portões da mansão.
— Você está bem? O que houve? — Pergunto preocupado mas
ainda irritado.
— Não precisa ficar irritado desse jeito, você está me assustando...
Está tudo bem, eu já devia estar acostumada com isso...
— Não, Jennifer! Você não deve se acostumar com esse tipo de
coisa, isso é errado, é desumano! É cruel as pessoas atacarem as outras
dessa maneira por puro prazer, por descriminação. — Aperto o volante com
força, eu nunca gostei daquela menina.
Ela já se insinuou para minha na frente do meu irmão e aquele otário
acreditou nela. Essa menina não presta! Esse tipo de mulher me dá nojo!
— Eu entendendo a sua raiva pois eu me sinto assim toda vez que
sou atacada dessa maneira, mas a sua família não tem culpa de nada... Por
favor? Não trate os seus pais assim pois pelo menos eles estão do seu lado,
estão te apoiando como os meus pais não fizeram comigo... Bruno, não
queira sentir a mesma solidão que eu estou sentindo por não ter a minha
família aqui comigo, essa dor é horrível... Olha para mim...? Bruno! Olha
para mim? — Seus tom manso, doce e suave me tranquiliza
automaticamente.
Mas ela inclina-se para mim segurando o meu rosto com as duas
mãos me fazendo olhar nos seus olhos, e mesmo marejados eles
transbordam doçura.
— Os seus pais foram muito gentis comigo, a sua mãe mandou
preparar esse jantar para nos receber com tanto carinho, você acha que ela
merece que deixemos ela triste desse jeito? Ela já está triste com o seu
irmão e a namorada dele, não deixa ela triste com você também? Não quero
me sentir culpada por isso então vamos ficar? Se você quiser a gente pode
ficar, nem que seja por mais alguns poucos minutos. — Aquele seu sorriso
sedutor aparecer para me distrair, seus lábios estão ainda mais convidativos
nesse batom vermelho.
— Não precisa aguentar tudo isso por mim e minha família, se não
quiser ficar, eu posso marcar algo lá em casa para nós e os meus pais. —
Sugiro um pouco mais calmo esfregando as mãos no rosto.
— Só para nós e seus pais? Mas e a Teresa e Kevin? Eu gostei
deles... Mas não gostei do Cristiano e isso é um fato visível para todos a
partir de hoje. — Dispara espontaneamente e eu sorrio com a sua
sinceridade. — Não gosto do seu irmão hoje, mas isso não significa que
amanhã ou em um futuro próximo ou distante, a gente não possa se dar bem
se ele mudar, talvez ele só precise de apoio e um voto de confiança... E
então? Vamos ficar? Você sabe o quanto sou gulosa e ainda não comi a
sobremesa. — Diz mais empolgada mas sei que tudo isso é apenas para não
me ver mal.
Retribuo o seu sorriso e dou meia volta com o carro, volto até a
entrada da casa e meus pais ainda estão ali receosos e mamãe chorosa. Saio
do carro e dou a volta abrindo a porta para Jennifer e ela sai ainda
acanhada.
— Filho... Que bom que reconsiderou, nada nesse mundo me deixa
mais triste do que ver os meus filhos saindo de casa assim. — Mamãe vem
me abraçar ainda chorosa mas carinhosa.
— Agradeça a Jennifer, ela sabe como argumentar e por isso sei que
você vai se dar bem com ela trabalhando com você. — Encaro a mulher ao
meu lado com um pequeno sorriso mas ainda sem jeito.
— Obrigada, Jennifer, e mais uma vez peço desculpas por essa
situação desnecessária, você não merecia isso. Eu não poderia estar mais
envergonhada do que agora. — Ela se solta de mim para acariciar o rosto de
Jennifer com carinho.
— Está tudo bem, senhora, não se preocupe com isso. Sempre vai
existir alguém para testar a nossa paciência, mas não vou mentir, hoje eu
fiquei quieta para não ser deselegante, mas numa próxima vez eu vou voar
naquela garota. — Mais uma vez o seu jeito espontâneo nos faz sorrir.
— Você vai estar no seu direito e não vamos poder te julgar por isso,
mas eu espero que não haja uma próxima vez, ninguém merece passar por
isso... Agora vamos entrar! Por mais que não haja mais clima para
continuarmos o nosso jantar, podemos conversar um pouco mais. —
Mamãe abraça Jennifer pela cintura e guia ela de volta para dentro de casa.
Meu pai e Cristiano estão atentos em mim e então entro atrás delas
deixando-os para trás. Mas como já esperava eles estão logo atrás de mim.
— Filho! Vamos conversar? Eu sei que estou cobrando muito de
você e não é justo não fazer o mesmo com o seu irmão. Eu vou dar uma
intimação a Cristiano, ele vai ter que andar na linha e também terá que
passar por provações para ganhar a minha confiança... Ele também vai ter
que tomar juízo e encontrar alguém descente para se preocupar, assim como
Kevin fez e assim como você está fazendo. E pelo que percebo, você já
encontrou a mulher com quem vai se casar, ou eu estou enganado? — Papai
entra em casa ao meu lado e vamos juntos até o bar.
Olho dele para Jennifer e volto a encará-lo.
— Não, papai! Você não está enganado. Eu abri o jogo com
Jennifer, contei que preciso me casar e que gostaria que ela fosse a minha
futura esposa, propus de nos conhecermos melhor e ela aceitou, já que por
enquanto ela vai ficar lá em casa, ela não tem mais ninguém por ela, não
tem para onde ir, então, basicamente estamos morando juntos, mesmo que
estejamos apenas nos conhecendo. — Conto sem jeito admirando a mulher
conversando animada com a minha mãe e minha cunhada Teresa.
— Entendo que estejam se conhecendo, mas você está se
apaixonando por essa menina ou já está apaixonado, meu irmão? —
Dispara Kevin me fazendo engasgar com o meu uísque.
— Você enlouqueceu? Não sei de onde você tira essas ideias, Kevin.
— Contesto sem jeito admirando a minha futura esposa.
— Admite que você gosta dessa moça, filho. Vocês se olham como
um casal apaixonado...
— Não diga bobagens você também, papai! Eu não gosto dela...!
Quer dizer... Gosto dela sim, mas não estou apaixonado, eu apenas gosto da
companhia dela... Ela... Ela é dona de um sorriso fascinante, é gentil,
engraçada, espontânea, e... É que... — Admiro ela gesticulando enquanto
fala e sorrio.
Aqueles lábios vermelhos, daria tudo para beijá-los novamente.
Engulo em seco sentindo a minha garganta áspera e dou uma longa golada
no meu uísque, viro-me para me servir mais uma dose mas o copo escapa
da minha mão, se estilhaçado no chão ao me deparar com o meu pai e meu
irmão me encarando espantados.
— O que é? O que vocês tem? Parecem que viram um fantasma. —
Volto até o bar e pego outro copo me servindo novamente.
— Você prestou atenção nas coisas que você acabou de dizer, filho?
Eu nunca ouvi você falando assim antes. — Papai e Kevin se olham e me
encaram novamente.
— Vamos mudar de assunto, papai? Eu não quero ter que ir embora
nesse instante e deixar a mamãe triste, eu só voltei atrás por causa da...
— Jennifer!
Me interrompe os dois juntos se segurando para não rirem da minha
cara. Suspiro fundo e reviro os olhos, saio de perto deles e vou para perto da
janela, nesse instante Cristiano entra em casa batendo o pé e sobe correndo
escada acima, encaro meu pai e ele diz que vai conversar com ele. Suspiro
fundo e vou para o sofá com Kevin atento as nossas mulheres, quer dizer,
ele atento a sua esposa e eu atento a minha hóspede, a minha futura esposa
de mentirinha.
Ainda estou surpreso por ela ter aceito a minha proposta, a sua
empolgação em pular em cima de mim me jogando no sofá, ela estava
sentada no meu colo e foi inevitável ficar duro, ela beijou o meu rosto
inúmeras vezes e eu fiquei desejando que ela beijasse a minha boca, acho
que estava pedindo demais e me controlei ao máximo para não agarrá-la, e
eu já havia tentado fazer isso antes mas estava bêbado e é óbvio que ela me
rejeitaria.
Saio dos meus pensamentos com ela me olhando envergonhada, sem
jeito e ela não é a única com a sua atenção em mim.
— Você está nesse planeta, meu filho? Eu estou falando com você.
— Mamãe chama a minha atenção e eu desperto-me para vida.
— Me desculpe, mamãe, o que você dizia? — Pergunto sem graça e
ela olha de mim para Jennifer, tão sem graça quanto eu.
Mamãe fica atenta a nós dois e parece bastante desconfiada, ela se
levanta com uma sobrancelha erguida e cruza os braços nos analisando, fico
confuso.
— Bruno e Jennifer! Vocês dois estão juntos? Estão namorando? —
Dispara de forma repentina e eu e Jennifer nos levantamos no mesmo
instante.
— Não! — Contestamos juntos.
— Quer dizer... Eu... A Jennifer, nós conversamos e...
— Bruno foi sincero comigo e contou que precisa se casar, ele
sugeriu de nos conhecermos melhor, e...
— E ela aceitou! É isso... Estamos nos conhecendo melhor... Vamos
nos conhecer um pouco mais até o casamento. — Concluo sentindo-me
tenso.
— Então vocês estão mesmo juntos? Porque não me contaram nada
quando estive na sua casa, filho? — Mamãe abre um sorriso amoroso e vem
abraçar Jennifer.
— Você não me engana, irmãozinho, eu sou o mais velho e te
conheço mais do que você imagina... É uma grande surpresa saber que você
vai finalmente se casar, mas estou feliz que vocês decidiram se conhecer
melhor até o casamento...
— Casamento? De que casamento você está falando, Kevin? —
Questiona papai descendo a escada.
— Meu irmão e Jennifer estavam escondendo o jogo, papai. Eles
estão juntos, decidiram se conhecer melhor antes de se casar. — Conta
Kevin empolgado e eu estou mais vermelho que Jennifer.
— Então vocês estão juntos? Jennifer sabe sobre o casamento? —
Papai aproxima-se surpreso com essa novidade.
— Sim, Sr. Olegário, o seu filho foi muito sincero comigo e me
explicou a sua atual situação, já somos amigos mas decidimos nos
conhecermos melhor e ele me fez uma proposta de casamento, não tenho
mais ninguém além dele, então nós decidimos tentar. — Mesmo com a sua
pele negra linda, consigo ver o quanto ela está vermelha.
— Que notícia maravilhosa! Você vai cumprir com as suas
obrigações mais rápido do que imaginei, meu filho. Fico muito contente
com isso, e já que vocês tomaram essa decisão juntos, não vejo necessidade
de esperarmos tanto para o casamento. Vamos marcar a cerimônia para
daqui a um mês! — Dispara nos deixando chocados.
— Um mês?
Questionamos juntos ainda espantados, eu não estava assim com
tanta pressa para me casar mas meu pai claramente não pensa assim.
— Vocês já tomaram a decisão, vão se casar de um jeito ou de outro
então porque esperar tanto? Os papéis para o casamento já foram
providenciados assim que você prometeu cumprir as minhas exigências, só
falta mesmo marcar a data. — Meu pai nos arrasta para nos sentarmos com
ele e mamãe se junta a nós.
— Eu concordo com o seu pai, meu filho, você precisa assumir logo
os negócios da nossa família junto com o seu irmão, mas você só fará isso
depois de casado, então porque não casar logo? Jennifer é uma menina
incrível e vai me ajudar na galeria junto com Teresa. Vou ter as minhas duas
noras trabalhando comigo. — Mamãe está ainda mais empolgada que meu
pai.
O que vai ser de mim quando eu e Jennifer nos separamos e formos
cada um para um lado, quando esse acordo acabar e dissermos a eles que
não deu certo? E se eles descobrirem que tudo não passou de mentiras? Vou
estar ferrado, eles estão se apegando a Jennifer mais rápido do que eu
poderia imaginar. Merda!
— Vocês estão felizes porque o meu irmão vai se casar com uma
atriz pornô? Porque não podem ficar felizes por mim e Cindy? Só porque
ela é sincera? Dizer a verdade agora é crime? — Cristiano para no meio da
escada incrédulo. Levanto-me já irritado.
— Mesmo que eu fosse uma atriz pornô eu não estaria cometendo
nenhum crime, ao contrário da sua namoradinha infantil e racista! Vocês
dois se merecem, um vale tanto quanto o outro, ou seja, não valem nada!
Seu pivete ridículo! Eu não fiz nada contra você então me respeita! Seu
moleque infantil! — Dispara Jennifer irritada.
— Me respeita você, eu estou dentro da minha casa!
— Então vamos lá fora? Eu vou te mostrar o meu respeito dando
nessa sua cara de pau! — Ela avança na direção de Cristiano mas eu abraço
ela por trás.
— Para mim já chega, Cristiano! Você passou de todos os limites!
— Esbraveja papai furioso.
— Eu não vou ficar aqui vendo isso ou eu também vou passar dos
limites! Para mim também já deu! Vamos Jennifer! E não tenta me
convencer a ficar pois dessa vez você não vai conseguir. — Arrasto-a para
longe dali e saio da casa até o meu carro.
Ela nem espera eu abrir a porta e entra batendo a mesma. Dou a
volta entrando em seguida enquanto ouço os gritos do meu pai dentro de
casa. Dou a partida e saio dali cantando pneus, saio da mansão em alta
velocidade e estamos os dois calados, estou chateado e envergonhado por
ela estar passando por isso de novo, e o pior, dentro da minha casa, o meu
próprio irmão a desrespeitou e não sei se ela ainda vai confiar em mim
depois disso.
— MERDA! MERDA! INFERNO! — Esbravejo socando o volante
furioso.
— Acalme-se por favor...? Fica calmo...? — Pede em um tom
choroso e eu respiro fundo.
— Me perdoe...? Eu... Você não imagina o quanto estou
envergonhado. O meu próprio irmão fazer uma crueldade dessas? Isso é
imperdoável e eu nem sei como me desculpar com você. — Paro no
acostamento tentando me acalmar e ela sai do carro respirando fundo.
Ela está muito chateada e com razão, diante de tudo isso eu não
posso mais prendê-la nesse acordo se ela não quiser. Ouço ela chorar e saio
do carro dando a volta no mesmo, me sentindo um merda por alguém da
minha família ter feito isso com ela.
Aproximo-me dela com cautela e trago-a para os meus braços, ela
tenta se soltar mas eu não deixo.
— Me perdoa? Por favor...? Me perdoa? — Beijo o alto da sua
cabeça e ela me abraça apertado.
Ela chora compulsivamente e eu nem poço pedir para ela não fazer
isso, ela já chegou naquela casa sendo desrespeitada por aquela garota
infantil, ridícula! E agora ela sai dela ainda mais arrasada.
— Vamos sair daqui! É perigoso ficarmos parados no meio da rua a
essa hora da noite. — Ponho ela no carro novamente e entro em seguida.
Sigo para casa ouvindo ela chorar baixinho, isso me incomoda, não
gosto de ver mulher chorando e o choro dela é tão sentido, tão sofrido que
dói em mim também.
Em poucos minutos estamos entrando em casa, ela sobe as escadas
correndo e sei que vai se trancar no quarto.
— Sr. Bruno? Voltaram tão cedo. Como foi o jantar? Onde está a
menina Jennifer? — Agnes entra na sala com uma jarra de água na mão.
— Foi o pior jantar da minha vida, Agnes... Cristiano e Cindy
desrespeitaram Jennifer e ela deve estar me odiando agora. Ela passou o
caminho todo chorando e agora foi se trancar no quarto. QUE ÓDIO!
Porque o Cristiano tem que ser assim? Tão desprezível! — Desabafo
irritado desejando dar uma surra naquele imprestável.
— Fica calmo, senhor, a menina deve estar se sentindo mal, deve
estar se sentindo sozinha. Eu vou tentar conversar com ela, tentar acalmá-la.
— Diz apreensiva e eu esfrego as mãos no rosto tentando realmente me
acalmar.
— Faça isso, Agnes, por favor! Se ela precisar de alguma coisa é só
você providenciar ou me chamar... Vá, pode ir! — Sigo para o bar e ela
segue para as escadas.
Sirvo-me uma dose de uísque mas não vou beber muito, já bebi o
bastante por hoje e amanhã eu preciso trabalhar e não quero estar de
ressaca. Eu já faltei na sexta-feira e meu pai vai descontar o dia, e ele
sempre faz isso como punição por achar que eu falto para ficar na farra, mas
agora a minha falta tem outro motivo. Ela! Jennifer Paiva.
Termino a minha dose de uísque e subo para o meu quarto, tomo um
banho demorado tentando entender o porquê Cristiano tem que ser tão sem
noção, não acredito que ele fez aquilo, chamá-la de atriz pornô? Isso foi
demais, eu devia ter dado um corretivo nele mas isso só iria deixá-la ainda
pior, ela ia se sentir culpada com certeza.
Termino o meu banho e visto uma Boxer preta, uma bermuda
confortável e saio do quarto, sigo até a porta do quarto dela e ouço Agnes
cantarolar, o que está acontecendo aí dentro? Penso em bater na porta mas
não o faço, giro a maçaneta e abro a porta me deparando com Jennifer
adormecida no colo de Agnes que acaricia os seus cabelos. Ela dormiu
chorando, seus olhos inchados não deixam dúvidas.
Encaro a minha empregada mas ela não diz nada, apenas continua
cantarolando a sua canção e eu saio fechando a porta. Eu queria estar ali
consolando ela, queria estar acariciando os seus cabelos negros até que ela
adormecesse tranquila, mas com certeza ela dormiu me odiando, não só a
mim mas a minha família também. Só espero que ela não queira ir embora
amanhã, ela não pode ir, ela não tem onde ficar.
Volto para o meu quarto e me jogo na minha cama preocupado,
apreensivo sem saber o que vai acontecer em seguida, o que vai acontecer
amanhã ou no dia seguinte, eu só sei que não posso deixá-la ir.
Termino de me arrumar e desço para tomar o café da manhã, me
deparo com ela dormindo no sofá abraçada a almofada, a julgar pelos seus
olhos inchados sei que estava chorando. Mas porque ela está dormindo
aqui? Quando ela veio dormir aqui?
Aproximo-me do sofá admirando essa imagem delicada, graciosa,
seu semblante suave com uma feição tranquila de certa forma me
tranquiliza um pouco também. Abaixo-me na sua frente admirando o seu
rosto mais atentamente e ela suspira fundo.
Toco o seu rosto admirando esses lábios tentadores, ela acorda
assustada e se senta abruptamente.
— Bruno...? Bom dia...! Minha nossa, acho que babei na sua
almofada. Depois eu lavo. — Diz espontaneamente e eu sorrio pela
primeira vez desde o acontecido de ontem.
— Não se preocupe com a almofada, quero saber o porquê estava
dormindo aí, porque acordou tão cedo? — Levanto-me ajeitando o meu
blazer.
— Eu acordei no meio da noite por causa de um pesadelo, desci
para beber água e acabei dormindo aqui... Você vai sair tão cedo? — Ela me
analisa de cima abaixo.
— Eu preciso trabalhar e você precisa ir a faculdade, mas antes
vamos tomar café da manhã! — Estendo-lhe a mão mas ela não pega.
— Não sei se vou querer voltar para faculdade, não estou bem
emocionalmente para enfrentar isso de novo.
— Porque não? Você é forte e não vai estar sozinha, você não disse
que têm uma amiga? Além do más, fizemos uma reunião na universidade e
os professores vão controlar melhor os alunos...
— Vocês não conseguem controlar uma única pessoa dentro da sua
própria casa, como vão controlar todos aqueles alunos em uma universidade
tão grande como aquela? Eu estou cansada, Bruno! Não aguento mais ser
humilhada! O que eu fiz para merecer tudo isso? Eu não pedi para nascer
negra mas eu amo a minha cor, e não desejaria ser de outro jeito! —
Levanta-se irritada mas não tiro a sua razão.
— Em uma coisa você tem razão, você tem mais é que se amar
exatamente como você é, e não mude nada por ninguém, você me ouviu...?
Mas Jenny, o meu irmão não tem medo de ser expulso de casa, mas cada
aluno naquela universidade vão temer ser expulsos depois de tanto tempo
pagando pelos estudos. Você não vai deixar de estudar, eu não vou deixar!
— Afirmo com convicção. — Agora vamos tomar o nosso café! Eu vou te
deixar na universidade antes de ir para o escritório.
— Mas, Bruno...
— Não tem mais e nem meio mais! Não me interessa se está me
odiando pelo que houve ontem, e se quiser desistir do nosso acordo você
vai estar no seu direito, mas eu prometi te ajudar e é isso que vou fazer!
Não vou deixar você desistir do seu sonho de se formar por causa de gente
sem noção como o meu irmão. — Pego ela pela mão e seguimos para sala
de refeições.
Nos acomodamos à mesa calados e sérios, mas começamos a comer
com ela me analisando, me olhando atenta. O que será que ela deve estar
pensando?
— Só para deixar claro, eu não te odeio e não vou desistir do nosso
acordo. Eu ainda preciso da grana e você não teve culpa de nada, muito
menos os seus pais. — Afirma em um tom sereno me fazendo respirar
aliviado.
— Está falando sério? Você não me odeia? — Pergunto só para ter
certeza do que ouvi e ela ergue uma sobrancelha sorrindo de lado. — Você
merece almoçar no melhor restaurante da cidade e eu virei te buscar para
almoçarmos juntos. Você é uma mulher incrivelmente forte, determinada,
além de muito linda, é claro, e eu quero desfilar com você hoje à noite,
vamos sair para dar umas voltas, ir no cinema ou dançar, o que você vai
querer fazer?
Me empolgo e ela rir da minha cara, não me importo pois prefiro vê-
la assim, sorrindo ao invés de chorando. Ela desata a falar que quer fazer
tudo que eu sugeri e isso me pega de surpresa, como vou dar conta dessa
mulher hoje? Jantar, cinema e balada em plena segunda-feira? Eu e a minha
língua grande. Sorrio imaginando ela dançando, ela tem cara de quem dança
bem.
Depois do nosso café da manhã ela corre para se arrumar e não
demora muito para descer de volta até a sala, e ela está muito bonita como
de costume. Ela usa uma calça jeans colada e uma blusa de alças finas na
cor branca, mas também usa um casaco também jeans e deixou os cabelos
soltos e lisos, a sua maquiagem não é forte mas mostra claramente o quanto
está linda. Quando foi que eu comecei a repara nesse tipo de coisa?
Ela pega a sua bolsa mas ainda não tem o material, lá na
universidade temos de tudo então lhe daremos o que ela precisar. Entramos
no meu carro e vejo o quanto ela está apreensiva, parece nervosa em ter que
voltar novamente naquele lugar, mas sei que dessa vez tudo será diferente.
Quinze minutos depois estou entrando no pátio da universidade e há
poucos alunos chegando, pois a maioria já devem estar em sala de aula.
Paro o carro logo na entrada em uma vaga especial e encaro Jennifer, ela
parece em pânico mas pego a sua mão com carinho, ela respira fundo.
— Coloca na sua cabeça que você não fez nada de errado, fizeram
com você e eles vão pagar por isso, então entra nessa universidade de
cabeça erguida... Quanto aquele vídeo, não se sinta envergonhada por causa
dele, sei que muitas garotas aí dentro te invejam por ser tão linda... Aquele
moleque filho da mãe é um sortudo por ter tido o prazer de estar com você,
mas é um idiota que ainda vai se arrepender por não ter te valorizado como
você merece. — Olho nos seus olhos realmente sendo sincero com ela. —
Agora levante essa cabeça e vamos entrar! — Ergo a sua mão beijando
espontaneamente e ela parece tão surpresa quanto eu mesmo com esse
gesto.
Não sei o que deu em mim mas agora já foi, não dá para voltar atrás.
Saio do carro sem graça por isso e dou a volta abrindo a porta para ela.
— Obrigada por suas palavras, pelo menos tenho você para me dizer
algo tão belo e encorajador. — Ela abre um sorriso tão lindo que me deixa
lerdo.
— Ahm... Certo! Vamos entrar!
Aciono o alarme do carro e seguimos para dentro do prédio,
andamos pelos corredores lado a lado e ela está de cabeça erguida como
sugeri, ela parece forte e confiante e é assim que ela tem que se sentir.
Os poucos alunos que passam por nós parecem surpresos por vê-la
aqui novamente, e é bom que eles a respeitem pois eu não vou ficar quieto.
Subimos para o segundo andar e paramos em frente a dala 18, ela suspira
fundo e eu peço para entrar primeiro.
— Com licença, professor! Bom dia! — Entro sem bater e vejo
todos com a sua atenção em mim.
— Sr. Bruno! Bom dia! — Me cumprimenta o professor apreensivo,
ele sabe que só apareço por aqui quando o assunto é sério.
— Bom dia, turma! Creio que todos aqui já me conhecem mas vou
me apresentar novamente. Sou Bruno Stuart! Filho de Olegário Stuart,
ninguém menos que o dono dessa instituição. Eu dei um passadinha rápida
por aqui, professor Cláudio, apenas para trazer de volta uma das nossas
melhores alunas, Jennifer Paiva! — Meu tom é mais firme e ríspido do que
eu prendia.
Faço sinal para Jennifer e ela entra de cabeça erguida e nariz em pé,
ela para ao meu lado e o professor vem falar com ela.
— Jennifer...? Minha nossa, como é bom te ver de novo. — Ele a
abraça gentilmente e ela retribui.
— É bom te ver também, professor Cláudio, eu senti falta das suas
aulas e sei que vou precisar repor algumas matérias.
— Acho que você é a única aluna que presta atenção de verdade na
minha aula.
— É porque eu quero aprender de verdade, professor, eu vou
alcançar o meu objetivo e você vai me ajudar me ensinando tudo que sabe,
me passando os seus conhecimentos. E antes de me sentar, quero dar um
pequeno aviso a minha estimada turma... — Seu sorriso gentil dá lugar um
sorriso debochado ao encarar as pessoas a nossa frente. — Eu quero
aproveitar a presença do Sr. Bruno Stuart para deixar claro para todos aqui,
que não vou aceitar que me desrespeitem novamente, se eu ouvir um A
vindo para mim ou para os meus colegas de forma racista e preconceituosa,
eu não vou mais me reportar ao reitor dessa universidade, eu ganhei carta
branca para me reportar diretamente com os Srs. Bruno e Olegário Stuart,
os donos dessa universidade, então tomem cuidado comigo, não vou me
importar em processar um à mais ou um à menos e vocês sabem que alguns
já foram expulsos... Isso era tudo! Obrigada mais uma vez, Sr. Stuart! —
Seu tom é frio, gelado e ao mesmo tempo determinado, eu gosto disso pois
ela vai precisar ser forte aqui dentro.
Jennifer me olha e acena antes de ir para a sua cadeira na primeira
fileira, ela se senta ao som de aplausos de alguns dos seus colegas.
— É isso aí garota! Bem-vinda de volta!
— Voltou poderosa! É assim que se faz!
— Te amo, Jenny! Minha garota! — Dispara uma garota negra
como ela, também muito bonita correndo na sua direção. Elas se abraçam
empolgadas.
— Tauane! Amiga! — Vejo Jennifer emocionada por reencontrar
alguém de quem ela sentia falta.
Mas os outros alunos estão calados e sérios, sei que a partir de agora
eles vão pensar duas vezes antes de colocarem as suas vagas nessa
instituição a prêmio.
— Bom, professor! A sua aluna está entregue, peça para a direção
trazer o novo material dela, eles já estão avisados... E Jennifer! A partir de
hoje você será a porta voz dessa universidade, qualquer ato que você
considerar inadequado, seja de alunos, professores ou funcionários, reporte-
se diretamente a mim ou a Olegário Stuart. Tenham todos uma boa aula!
Olho dela para todos nessa sala e pisco para essa mulher incrível
sorrindo tão abertamente. Saio da sala e posso ouvir a algazarra que ela e as
amigas fazem.
— Seja bem-vinda, Jennifer! Eu mesmo vou te dar um bloco de
notas para você começar a colocar essa gente no lugar delas, e sei que
muitos professores vão te apoiar nisso. — Paro mais a diante ouvindo as
palavras do professor.
Ele é um dos poucos que a apoiavam mas agora será diferente, todos
terão que andar na linha pois eu vou assumir os negócios da família junto
com o meu irmão, e ele tem a mesma linha de raciocínio que eu e meus
pais, diferente de Cristiano, esse sim ainda pode nos meter em problemas.
Saio do campus e entro no meu carro seguindo para o escritório,
acho que o meu pai tem razão, o quanto antes eu me casar, mais rápido vou
poder assumir a vice presidência junto com Kevin e vou precisar visitar
todas as nossas inscrições, quero ter certeza de que esse mesmo problema
não esteja acontecendo e sendo acobertado pelos reitores, muita coisa vai
mudar e todos vão saber quem é Bruno Stuart!

UM MÊS DEPOIS...

— Sei que você está cansado da viagem, meu filho, mas eu preciso
saber como andam as disciplinas nas nossas instituições, há algum
problema grave para ser reportado? Eu vou precisar ir a alguma delas? —
Questiona papai assim que entro na sala da presidência. Meu irmão também
está atento a mim e sei que nenhum deles vão gostar de tudo que eu tenho
para contar.
— Infelizmente sim, papai! Três das nossas filiais estão passando
pelo mesmo problema da Matriz, e pior, estamos sendo processados e
Fernando Belmonte não nos informou nada! Ele está negligenciando atos de
fraudes com os gabaritos das provas semestrais, favorecendo alunos que
pagam para serem aprovados, há também atos de preconceitos contra uma
turma espacial e tudo mais que o senhor possa imaginar, a nossa unidade
está uma verdadeira bagunça! Uma vergonha para o nome da nossa família.
Eu já o denunciei ao conselho e você terá que ir até Nova York! — Jogo
uma pasta com os relatórios sobre a mesa e vou até o bar. Sirvo-me uma
dose tripla de uísque.
— Eu não esperava que as coisas estivessem tão sérias... Não vou
poder viajar agora, o seu casamento é em três dias e eu preciso estar aqui.
— Argumenta pensativo e eu no lugar dele estaria preocupado.
— Você citou três unidades com problemas, Bruno, quais são as
outras? — Kevin abre os relatórios analisando-os.
— Los Angeles e Detroit! Nessas duas o problema não é tão grave
mas ainda assim, é sério. Precisamos de gente de confiança e é isso que está
nos faltando. — Me sento à frente da sua mesa enquanto ele está atento aos
documentos.
— Você tem toda razão, filho, precisamos de mais gente de
confiança e eu vou correr atrás disso assim que passar o seu casamento.
Você está fazendo um excelente trabalhando e eu estou orgulhoso de você,
sei que vou poder ficar tranquilo depois que deixar de vez o comando dos
nossos negócios nas mãos de vocês... Agora só falta fazer Cristiano tomar
juízo, ele viajou a quase um mês e ainda não deu sinal de vida, estou
preocupado. — Encaro meu pai e vejo realmente o quanto ele parece
angustiado em relação ao meu irmão.
Mas se for para ele atrapalhar a minha vida e continuar ofendendo
Jenny, eu prefiro que ele continue onde está.
— Eu vou te acompanhar na viagem, papai, ainda falta visitar as
filiais da...
— Não, Bruno! Você não pode ir comigo, e a sua lua de mel? Você
já fez o bastante, quando vocês voltarem da viagem você continua de onde
parou. — Papai também se serve de uma dose de uísque e eu me levanto.
— Eu não quero parar o meu trabalho, papai, e Jennifer também não
vai poder viajar, ela está na semana de provas e não quer faltar, não quer ter
regalias por se casar comigo, ela é bastante comprometida com os estudos,
é esforçada pois quer se formar como prometeu a si mesma... Dá gosto vê-
la estudando... Jenny é a única mulher que já mereceu a minha confiança, o
meu carrinho. — Sorrio ao me lembrar dela.
Já tem quase duas semanas que não nos vemos e nos falamos apenas
por telefone, eu estou com saudades dela, a gente saiu bastante antes das
minhas viagens, nos divertimos bastante e eu estou me apegando a ela mais
do que eu gostaria.
— Não adianta negar, irmãozinho. Você está se apaixonando pela
sua noiva e ela por você... Você conseguiu! Vai se casar depois de provar a
todos o quanto é responsável, o seu desempenho e comprometimento com o
trabalho está agradando não só ao nosso pai, mas a todos do conselho. —
Dispara Kevin me deixando pensativo, mas também orgulhoso de mim
mesmo por mostrar a todos que eu sou capaz.
Mas ele tem razão, estou me apaixonando pela minha noiva e isso
está me assustando, não estava nos meus planos me apaixonar por ela mas
essa mulher me deixa louco, o seu jeito espontâneo, a sua força de vontade,
o seu caráter, aqueles lábios que a cada dia mexem mais comigo, aquele
maldito sorriso que não me deixa dormir antes de ouvir a sua voz. Suspiro
fundo. Estou ferrado! Estou literalmente ferrado!
— Essa menina tem grande influência nessa sua mudança, Bruno,
você não se prendia a ninguém mas se prendeu a ela quando decidiu ajudá-
la... Eu gostei da sua ideia de pôr Jennifer como porta voz dos
acontecimentos na universidade, isso deu super certo e você devia fazer isso
nas outras unidades. Todos a estão respeitando, estão até mesmo temendo a
Jennifer por ela ter contato direto com os Stuart, e isso mesmo sem saberem
que vocês vão se casar. — Pelo seu tom de voz vejo claramente o quanto
ele parece orgulhoso de mim, e isso me deixa feliz.
— Eu só fiz isso na intenção de deixá-la segura, papai, não só a ela,
mas os outros alunos que sofrem perseguição também, isso vai inibir atos
desrespeitosos dentro da nossa universidade, isso tem que acabar e como
está me dando carta branca para agir, eu vou sim integrar esse método em
todas as nossas unidades de ensino. Podemos também premiar o aluno que
ficar responsável por essa fiscalização, o que acha? — Sugiro empolgado e
recebo aquele seu olhar de admiração.
Meu peito se enche de uma felicidade tão grande quando ele me
olha assim, pois sei que está orgulhoso de mim, sei que está aprovando as
minhas ideias, sei que está confiando e acreditando em mim, está
valorizando as minhas decisões.
— Faça isso, filho! Eu assino em baixo nessa sua decisão. Você e
seu irmão vão se tornar uma excelente dupla trabalhando juntos. — Ele
abraça-me pelos ombros e admira o meu irmão na sua mesa atento a nós.
Sorrio abertamente por fazer parte de grandes melhorias nas nossas
instituições, e sei que a mamãe e Jennifer também vão se orgulhar de mim.
— Eu preciso ir agora, papai, estou exausto e louco para descansar
da viagem, eu nem fui em casa ainda, vim direto para o escritório. — Pego
a minha mochila sobre a cadeira ansioso para sair daqui e descansar um
pouco.
— Vai sim, filho, a sua noiva está sentindo a sua falta.
— Como assim, papai? Ela disse alguma coisa? — Indago surpreso.
— A sua mãe foi vê-la ontem, parece que ela estava com muita
cólica, coisa de mulheres e ela parecia mal, sua mãe deu folga a ela e
passou para vê-la, ela estava dormindo agarrada ao seu travesseiro, dormia
com um sorriso no rosto e quando acordou perguntou quando você voltava,
se iria demorar. — Conta atento a mim como se me analisasse.
— É perfeitamente normal, papai, ainda estamos nos conhecendo e
nos apegamos um ao outro. Mas decidimos dar um passo de cada vez já que
estamos correndo tanto com o casamento. — Desabafo pensativo e tentando
não confessar que tudo isso não passa de um acordo entre mim e ela.
— Eu entendo, filho, mas após o casamento vocês vão ter que dar
um passo a mais na vida de vocês, um passo íntimo, se é que me entende.
— Eu sei, papai, quanto a isso você não tem que se preocupar, as
coisas estão progredindo bastante entre a gente, consumar o meu casamento
não será algo tão difícil, se é que me entende. — Minto e rezo mentalmente
para ele esquecer esse assunto.
Eu e Jennifer estamos sim nos dando bem, mas acho que para ela
não acontecerá nada entre nós além de amizade, e ela dizer que sente
saudade é apenas parte do nosso acordo. Dormimos juntos algumas vezes
quando Kevin dormiu lá em casa com a esposa e também quando dormimos
na casa dos meu pais, mas não aconteceu nada demais, apenas dormimos e
ela fez uma barreira de travesseiros entre nós, não teve como não sorrir por
isso mas depois me senti frustrado.
Não vou negar que queria acordar com ela em meus braços, mas não
aconteceu então vida que segue.
Despeço-me do meu pai e meu irmão e saio em seguida para evitar
mais perguntas, desço os quinze andares com os olhos pregando de sono,
estou exausto, cansado e louco para dormir um pouco mais que apenas
cinco horas de sono. Nas minhas viagens eu me reuni com os professores e
reitores das universidades pelo menos três vezes na semana, os dias que eu
tinha para relaxar eu me afundava no trabalho para preparar um relatório
descente para apresentar a meu pai e meu irmão.
Também cheguei a conversar com muitos alunos que assim que
souberam da minha presença na universidade, vieram espontaneamente me
abordar sobre o que estava acontecendo, alguns alunos preferiram conversar
comigo fora da universidade por medo e receios de sofrerem uma punição
por parte do reitor, ou até mesmo dos professores que estão acobertando
esses atos abomináveis, e foi lamentável tudo que ouvi, mas vamos
solucionar todos esses problemas e eu vou estar à frente de tudo.
Saí do prédio e sigo direto para casa, estou indo de táxi pois mandei
que pegassem o meu carro no estacionamento do aeroporto, afinal, eu não
sabia quanto tempo passaria nessa viagem. Poucos minutos depois estou
descendo do táxi nos portões de casa, pago o taxista e entro pelo portão
cumprimentando os meus seguranças, e um deles me segue até a entrada da
casa enquanto relata tudo sobre a segurança enquanto estive fora, e parece
que está tudo em ordem.
Entro em casa me deparando com Jennifer em cima de uma escada
pendurando um quadro coma a nossa foto na parede. Aproximo-me atento e
paro atrás dela admirado as suas belas pernas, a sua bunda redondinha nesse
shortinho curto, a sua cintura bem desenhada, e... Merda! Se controla,
Bruno!
— O que está fazendo, Jenny?
— Ahhh!
Ela grita pelo susto e se desequilibra, Jennifer cai da escada
dobrável mas amparo-a em meus braços. Ela abraça o meu pescoço
ofegante mas abre aquele seu sorriso encantador.
— Oi, estranho...? Você me assustou...
Ela ainda ofega e eu afasto-me da escada admirando o nosso quadro
que ela pendurou na parede.
— Ahm... A sua mãe está começando a desconfiar da gente, ela
perguntou por que não há fotos nossas pela casa já que estamos nos
conhecendo, e obviamente vamos nos casar. Eu também tive que correr para
o seu quarto quando ela veio me ver e eu acabei dormindo na sua cama,
espero que não se incomode por isso. — Ela fica envergonha e eu sorrio.
— Está tudo bem, não se preocupe com isso. — Ando pela sala com
ela ainda no colo e ela parece não se incomodar com isso.
— Tem mais uma coisa! A sua mãe disse que teremos que ficar na
mansão até o casamento, isso a partir de hoje.
— Não me surpreendo, eu já esperava por isso pois com Kevin e
Teresa foi igual, eles também se casaram na mansão a cinco anos atrás. —
Ponho ela no chão e vejo que ela fica pensativa.
— A sua família e amigos vão estar todos presente, por mais que
não seja um casamento de verdade, eu não terei ninguém da minha família
aqui comigo e isso me incomoda. — Suas palavras são sentidas, tristes
exatamente como quando a conheci.
— O nosso casamento vai ser de verdade, Jennifer, pelo menos para
todos a nossa volta sim, pois você carregará o meu nome, viverá comigo e
terá todos os direitos de uma esposa. Apenas quando estivermos a sós longe
de todos, não precisaremos nos preocuparmos em fingir nada. — Sento-me
no sofá exausto e louco por um banho.
— Essa é mais uma questão que está me preocupando, Bruno, a sua
cunhada e sua mãe estão estranhando o fato de não nos verem mais íntimos,
eu me justifiquei dizendo que sou tímida em relação a expressar atos
íntimos na frente de pessoas, e mesmo depois daquele maldito vídeo elas
acreditaram em mim, mas um ano é muito tempo para fingirmos, não sei se
vamos conseguir passar por isso.
— Relaxa! Vai dar tudo certo. Podemos simular algumas pequenas
brigas para justificar a falta de intimidade, mas nada que seja muito
exagerado, não podemos dar a entender que podemos nos divorciarmos
agora, ou eles realmente vão descobrir o nosso acordo... Por falar em
acordo, o que achou da casa nova? Terminou de decorar? Conseguiu falar
com a sua mãe como você pretendia fazer? — Indago curioso e ela para na
minha frente de braços cruzados.
— Ainda não, Tauane entregou o meu número novo a ela mas até
agora ela não me ligou. Com certeza o meu pai não deixou ela ligar... Eu
pedi para minha amiga não dizer nada sobre o casamento, ou o meu pai iria
ficar sabendo com certeza... Não quero ser humilhada por ele novamente,
pois com certeza ele jogaria na minha cara que estou me casando por
interesse, só pelo fato de você ser rico e eu uma pobretona morta de fome.
— Ela força um sorriso e limpa o rosto discretamente. Sei que ela ainda
sofre muito pelo abandono dos pais, mas ela tem disfarçado bem.
— Em um momento assim a gente dispensa as palavras, tudo que
pode nos confortar é um simples abraço. — Levanto-me de braços abertos
para ela.
Suas lágrimas voltam a cair mas ela vem para os meus braços.
Jennifer me abraça tão apertado que eu retribuo acariciando as suas costas.
Ficamos em silêncio mas ouço ela fungar, sei que a dor por perder a sua
família dessa maneira ainda é muito grande, estão todos vivos mas é como
se não estivessem. Ela está sendo literalmente ignorada pela família e isso é
muito triste.
— Não fica assim...? Te ver triste me deixa muito mal, as vezes até
me sinto um canalha achando que estou me aproveitando da situação para
você me ajudar. Não é a minha intensão me aproveitar de você, eu só pensei
que poderíamos nos ajudar. — Aperto ela contra o meu peito e ouço ela
soltar uma respiração pesada.
— Você não me obrigou a nada, você me fez uma proposta e eu
aceitei, então não tem que ficar se sentindo mal por isso... Você está me
ajudando muito então é justo que eu te ajude também. — Ela ergue o rosto
para me encarar.
Apesar da tristeza em seus olhos, eles ainda brilham de forma
inexplicável. Toco o seu rosto admirando esses lábios fartos aqui de
pertinho, a minha vontade de beijá-la me domina e me faz ofegar, me faz
desejá-la como um louco insano e não sei até quando vou conseguir me
controlar.
— Jenny...
Aperto-a em meus braços sentindo o quanto ela está tensa, mas ela
também prende a sua atenção na minha boca me deixando ainda mais
confuso, será que ela sente algo por mim? Ela vai me rejeitar se eu a beijar?
— Meu Deus, se beijem logo! — Assusto-me com a voz da minha
mãe, Jennifer se solta de mim abruptamente.
— Sra. Naomi...? Não imaginei que viesse nos buscar. — Jennifer
está mais sem graça que eu.
— Eu não acredito que você ainda não se beijaram, vocês vão se
casar em três dias e como vão consumar o casamento se ainda nem se
beijaram? — Dispara mamãe me fazendo engolir em seco.
— Meu Deus, mamãe! Você tem cada uma... Mas é claro que nós já
nos beijamos, estamos mais íntimos do que você pensa... Jennifer é muito
tímida e não gosto de vê-la sem jeito por eu beijá-la em público... Já
estamos ensaiando a nossa lua de mel, não é, princesa? — Trago Jennifer
para os meus braços ainda sem jeito. Mamãe ainda parece desconfiada.
— Por falar em lua de mel, ainda não me conformo por vocês não
quererem viajar, mas, entendo o lado de vocês já que ambos estão
comprometidos com o trabalho e os estudos. — Ela olha de mim para
Jennifer e para em frente ao retrato que ela pendurou na parede. — No
entanto, estou mais tranquila por terem aceito passar o final de semana na
casa de campo, vocês precisam de um tempo a sós para a noite de núpcias.
Eu já mandei prepararem a casa para vocês.
Encaro Jennifer e ela parece espantada ao ouvir a palavra núpcias,
sussurro para ela relaxar e ela soltar uma respiração pesada.
— Muito obrigada por toda essa atenção que está tendo conosco,
Sra. Naomi, e mais uma vez obrigada por me aceitar tão bem. Eu sinto
muito pela confusão que tiveram com Cristiano por minha causa. Ainda
estou me sentindo culpada por ele ter ido embora brigado com vocês. —
Surpreendo-me com as suas palavras, eu não imaginava que ela se
preocupava tanto com isso.
— Você não tem que se sentir culpada, querida, as coisas estão
finalmente voltando ao normal com Cristiano. Ele me ligou hoje de
amanhã, ele está chegando para o casamento de vocês. Cristiano parece
arrependido pelo que fez e que quer se desculpar. — Mamãe aproxima-se
pegando as mãos de Jennifer com carrinho.
— Eu espero realmente que ele esteja arrependido, mamãe, porque
eu não vou aceitar que ele desrespeite Jenny mais uma vez, eu não vou ficar
de braços cruzados de novo, fiz isso uma vez por respeito a você e meu pai,
mas a minha noiva também merece ser respeitada. — Alerto-a sério.
— Não se preocupe, filho, ele não vai desrespeitar a sua noiva
novamente, eu também não vou ficar quieta se ele passar dos limites outra
vez, ele é meu filho e eu o amo tanto quanto amo você e Kevin, mas vocês
dois nunca me deram o trabalho que Cristiano está me dando agora, ele
sabe o quanto está me deixando triste com esse comportamento. — Seu tom
é apreensivo pois ela sabe que não vou perdoar o meu irmão se ele aprontar
de novo.
— Eu espero mesmo que ele se comporte, mamãe, agora eu preciso
descansar um pouco, eu estou exausto. — Afasto-me delas e pego a minha
mochila seguindo para as escadas.
— Eu sei que está cansado, filho, mas não durma demais, eu vou
ficar esperando vocês para o jantar. Eu resolvi passar por aqui apenas para
avisá-los pessoalmente, ouviram? Então não deixem de ir. — Mamãe pega a
sua bolsa e vai em direção a porta.
— Não se preocupe, estaremos lá!
Subo as escadas ansioso por um banho bem relaxante, e assim o
faço, coloco o meu celular para carregar e programo o alarme para despertar
as seis, eu me arrumo rápido então vai dar para descansar bastante.
Agora são três da tarde então faço como planejei, tomei um bom
banho e me jogo na cama apagando em seguida, na terça feira eu volto a
viajar para visitar mais algumas das nossas instituições, e já vou colocar em
prática o método de fiscalização nas unidades, agora que tenho carta branca
para fazer isso eu não vou perder tempo. Vou ser um homem de negócios
como o meu pai quer.

TRÊS DIAS DEPOIS...

É fim de tarde e o sol já está se pondo, hoje é o grande dia e não tem
como evitar ficar nervoso, afinal eu vou me casar. Ando pela sala já
arrumado e sentindo as minhas mãos trêmulas, porque estou tão nervoso se
ela só será minha esposa no papel? Não vou poder tocá-la, não vou poder
consumar o nosso casamento pois tudo não passa de um acordo. Estou
tentando ser apenas seu amigo, mas não sei fazer isso sem desejá-la.
— Bruno!
Saio das minhas aflições com meu irmão parado mais a diante, ele
está arrumado e parece tranquilo.
— Cristiano! Eu já soube que você conversou com Jenny numa boa
e se desculpou, isso a deixou mais tranquila pois mesmo você errando com
ela, Jenny se sentia culpada por você ter viajado evitando falar com os
nossos pais... Ela é uma mulher incrível e não merecia aquilo. — Encaro-o
fixamente e ele abaixa a cabeça.
— Eu sei, eu precisei ser rejeitado e humilhado por uma garota para
reconhecer o meu erro... Eu fiquei em Londres por quase um mês com a
Cindy, ela brincou comigo, ficou com um cara na minha frente e eu perdi a
cabeça, falei um monte para ela e ouvi mais um monte. Ela nunca deu valor
ao que eu sentia por ela... Eu desrespeitei a sua mulher para defendê-la e ela
ainda me chamou de moleque mimado na frente de um monte de gente, foi
decepcionante, ninguém nunca me tratou daquele jeito então pensei em tudo
que Jenny passou. Eu fui um canalha, reconheço. — Desabafa olhando nos
meus olhos e vejo o seu arrependimento.
— Porque não veio falar comigo quando chegou ontem? Eu posso
realmente confiar em você? Eu tenho o meu irmão de volta? — Aproximo-
me dele lhe estendendo a mão, ele pega com um aperto forte.
— Sim! Você pode confiar em mim, eu serei o mesmo de antes, eu
prometo! Não vou mudar por ninguém novamente, isso é uma promessa! —
Suas palavras são sinceras em um tom confiante.
Puxo-o para um abraço apertado e ele retribui no mesmo instante,
vejo mais a diante a minha mãe emocionada por ver os seus filhos se
entendendo.
— Hoje é um dos dias mais felizes da minha vida, descobri que
finalmente vou ser vovó, estou casando mais um filho e estou vendo a
minha ovelha desgarrada de volta ao lar... Eu amo vocês igualmente, meus
filhos. Quando um de vocês se afastam é como se tirassem uma parte de
mim. — Ela vem nos abraçar toda chorosa e nós sorrimos.
— Ninguém vai nos afastar outra vez, mamãe, eu não vou permitir.
— Admiro Cristiano com a nossa mãe, o nosso caçula está de volta.
— E então, noivo? Está preparado? Está chegando a hora, a sua
noiva já está pronta e o papai já subiu para buscá-la. — Kevin aproxima-se
me abraçando pelos ombros, lembrando-me do meu nervosismo.
— Ela já está pronta? Então vamos para cerimônia, tenho que
esperar por ela no altar e não aqui. — Saio arrastando meu irmão e o
mesmo gargalha.
— Eu nunca te visto tão ansioso em toda a minha vida, meu irmão
vai se casar, vai formar família assim como eu estou fazendo... Ainda não
acredito que Teresa está grávida, vamos ter o nosso primeiro filho depois de
cinco anos de casados. — Indaga empolgado e eu estou realmente feliz com
essa novidade.
— Obrigado por me dar um sobrinho, estou muito feliz com o meu
novo posto... Parabéns mais uma vez, papai! — Sorrio abertamente mas ele
ergue uma sobrancelha.
— Espero que você e Jenny não demorem muito para dar um neto a
nossa mãe, ela vai estragar o meu filho se não tiver outro neto para
competir. — Solta espontaneamente e sorrimos.
— É a cara dela fazer isso, mas sinto muito em te informar,
irmãozinho, mas eu Jenny também não estamos com pressa de termos
filhos, ela ainda está na faculdade e eu estou na minha melhor fase do
trabalho, então vamos curtir o casamento por alguns anos como você e
Teresa fizeram. — Rebato sorridente.
Se não estava nos meus planos me casar, ter filhos então não faz o
menor sentido, ainda mais em um casamento de fachada onde a minha
futura esposa só quer a minha amizade, então que assim seja.
Seguimos para cerimônia no jardim dos fundos da casa, a decoração
está incrível. Estão aqui apenas duzentas pessoas que consistente entre
poucos amigos, familiares e alguns acionistas das nossas instituições e suas
famílias. Jennifer ficou apavorada quando soube que teria tanta gente no
nosso casamento, ela está receosas de que mais alguém tenha a mesma
reação que Cristiano teve ao conhecê-la. Mas sei que isso não vai acontecer.
Entro na cerimônia de braços com a minha mãe, Kevin com a sua
esposa Teresa e me surpreendo por Cristiano entrar com Tauane, a amiga de
Jenny, uma negra muito bonita também, mas o que ele está fazendo de
braços dados com ela? Espero que ele não apronte nenhuma estupidez, ou
dessa vez Jennifer não perdoará nenhum de nós, errar uma vez é humano,
mas insistir no erro é burrice e ele sabe disso.
Ao som de violinos os músicos tocam a marcha nupcial, papai surge
de braços dados com ela e eles param na entrada do tapete, a música muda
para hallelujah também ao som de violinos. A minha total atenção está
presa nela, ela está linda, ela sorrir abertamente para mim mesmo eu vendo
a distância o quanto ela parece nervosa, mas o seu sorriso é doce, meigo
fazendo evaporar o ar dos meus pulmões, me deixando boquiaberto.
— Respira, meu filho! Ou você vai desmaiar. — Ouço mamãe ao
meu lado e eu finalmente solto uma respiração pesada.
Me sinto um bobo, um idiota que nunca viu uma mulher tão linda,
estou babando pela minha noiva e acho que todos estão percebendo isso.
Merda! Tento me recompor enquanto ela vem caminhando com o meu pai,
os dois aproximam-se e papai me entrega a mão dela.
— Sei que ainda estão se conhecendo e espero que continuem assim
após o casamento, pois temos que conhecer quem está ao nosso lado todos
os dias. Mas o principal vocês já tem, amor e carinho um pelo outro e isso é
nítido em seus olhos. — Ele olha de mim para Jennifer e vice versa. — Sei
que não estão fazendo isso apenas por obrigação, filho, sei que estão
levando isso a diante porque se gostam então desejo que sejam felizes. —
Papai me abraça e beija o rosto se Jennifer.
— Obrigado, papai! Eu vou seguir os seus conselhos.
Suspiro fundo e guio Jennifer até o padre. Seus olhos estão presos
em mim assim como os meus estão presos nela, ela está mais linda que
imaginei, superou as minhas expectativas.
— Queridos amigos! Estamos aqui hoje para unir em matrimônio,
Jennifer Spencer Paiva e Bruno Felleng Stuart! É de livre e espontânea
vontade que o faz? — Pergunta o padre.
— Sim!
Respondemos juntos e o padre dá início a cerimônia.

Ouvimos todos os sermões do padre e trocamos as alianças olhando


nos olhos um do outro, não sei o que está acontecendo, mas essa situação
está me deixando ainda mais confuso em relação a ela, eu estou mesmo
apaixonado? Como isso é possível? Não tenho nada com essa garota e
mesmo assim me apaixonei? Eu sou um idiota, ela não gosta de mim mas
ela não está errada, isso é só um acordo e ela está seguindo à risca enquanto
eu estou me apaixonando.
— Bruno Felleng Stuart! Você aceita Jennifer Spencer Paiva como
sua legítima esposa, para amar e respeitar, na alegria e tristeza, na saúde e
na doença, nos momentos bons e nas dificuldades por todos os dias de suas
vidas?
— Sim! Eu aceito! — Respondo ofegante ainda mais tenso que
antes pois está chegando a hora do beijo.
— Jennifer Spencer Paiva! Você aceita Bruno Felleng Stuart como
seu legítimo esposo, para amar e respeitar, na alegria e tristeza, na saúde e
na doença, nos momentos bons e nas dificuldades por todos os dias de suas
vidas?
— Sim! Eu aceito! — Responde convicta mas em um tom trêmulo.
Ela também está ofegante, ela também parece nervosa mas sorrir
daquele mesmo jeito doce de antes.
— Há entre nós, algo ou alguém que impeça esse casamento? —
Indaga o padre olhando entre os convidados, mas ninguém responde. —
Sendo assim, pelo poderes a mim concedidos, eu os declaro cansados! O
noivo pode beijar a noiva!
Declara por fim e ambos respiramos fundo. Aproximo-me mais dela
e abraço a sua cintura trazendo-a para o meu corpo, ela está trêmula, está
visivelmente nervosa. Toco a sua nuca e inclino-me para beijá-la, apenas
selo os nossos lábios um no outro mas seu toque é tom suave, movo os
meus lábios tomando os seus para mim em um beijo ardente, profundo
prendendo o seu corpo ao meu, ela retribui segurando os meus braços com
firmeza e sinto o seu corpo ceder. Seu beijo é tão bom, seus lábios são tão
perfeitos.
— VIVA OS NOIVOS!
Grita o meu irmão Kevin despertando-me desse beijo inebriante,
ouço muitos aplausos e Jennifer se afasta envergonhada pelo beijo, estou
surpreso, eu esperei tanto para sentir esse beijo novamente, mas confesso
que dessa vez foi bem mais intenso que da primeira vez. Ela parece tão
surpresa quanto eu pois nos beijamos de verdade.
— Parabéns, irmão! Cunhada! Seja bem-vinda a família! — Kevin
vem nos cumprimentar e eu tento não parecer tão surpreso com esse beijo.
— Obrigada, cunhado! Você sempre foi muito gentil comigo, assim
como a sua esposa e seus pais. — Jennifer permanece ao meu lado
recebendo os cumprimentos do meu irmão.
Meus pais também aproximam-se para nos cumprimentar e mais
uma vez eles citam o fato de estarmos apaixonados, estamos confusos com
isso mas tentamos não deixar transparecer para eles, apenas concordamos
para que acreditem que realmente estamos apaixonados, eles precisam
acreditar nisso.
Saímos da cerimônia de mãos dadas e seguimos para o buffet
montado ao lado, Jennifer estar visivelmente envergonhada e tensa, mas ela
não é a única, por algum motivo eu também estou me sentindo assim.
— Olha, sobre o beijo...
— Relaxa! Faz parte do acordo, eu sabia que isso teria que
acontecer então fica tranquilo. — Dispara evitando me olhar.
Eu não esperava ouvir, eu pensei que ela tivesse gostado. Eu sou
mesmo um idiota!
— Ok! Você tem razão, era exatamente isso que eu iria dizer, faz
parte do acordo. — Concordo mesmo sentimento um nó na garganta me
incomodar.
Não dissemos mais nada, apenas ficamos aqui recebendo os
cumprimentos dos convidados, e não está sendo fácil sorrir para essa gente
com esse aperto que sinto em meu peito, que sensação mais estranha, não
entendo o porquê estou me sentindo assim. Merda! Mil vezes merda!
Minha nossa! Ele me beijou, estamos casados e ele me beijou.
— Olha, sobre o beijo...
— Relaxa! Faz parte do acordo, eu sabia que isso teria que
acontecer então fica tranquilo. — Evito olhar para ele, sei que ele não
queria esse beijo e só o fez porque foi necessário.
Sei que era isso que ele iria dizer e não queria ouvir da sua boca,
não queria ouvir dele que esse beijo foi um erro ou algo do tipo, só fizemos
por que foi necessário e nada mais. Eu queria acreditar nisso, mas fui idiota
o suficiente para nutrir sentimentos por esse cara. Estou sonhando alto
demais, eu sei disso, mas não quero ouvir dele que esse beijo aconteceu por
obrigação, que foi algo inevitável mesmo eu sabendo que essa é a verdade.
— Ok! Você tem razão, era exatamente isso que eu iria dizer, faz
parte do acordo. — Concorda também evitando me olhar.
Eu sabia! Não posso me esquecer que o nosso casamento é apenas
de fachada, é apenas um acordo e eu não posso me iludir com ele.
Não dissemos mais nada, apenas ficamos aqui calados, forçando um
sorriso enquanto recebendo os cumprimentos dos convidados, um a um
todos falam conosco e eu saio um pouco de perto dele para falar com a
minha amiga.
— Você está tão linda, amiga, quando você disse que iria se casar eu
jurava que você estava grávida, como você foi menstruar justo na semana
do seu casamento? Como vai ser a noite de núpcias? — Questiona
empolgada e eu queria estar assim também.
— Meu marido é um homem muito compreensível, ele vai entender
e esperar, mas não vai precisar esperar muito pois hoje é o último dia, quase
não está descendo mais... Por falar nisso, preciso verificar se coloquei o
anticoncepcional na bolsa, eu preciso voltar a tomar logo. — Sento-me com
ela um pouco, pensativa sobre o episódio de agora pouco.
— Está com medo de engravidar do bonitão? Relaxa, amiga, agora
vocês são cansados e engravidar é algo natural no casamento.
— Mas eu não posso engravidar agora, Tauane, quero continuar
conhecendo o meu marido, quero terminar os meus estudos e me formar,
com tudo, ele também está bastante focado no trabalho, então filhos agora
está fora de cogitação. Queremos curtir o casamento antes de pensar nisso.
— Justifico-me sem jeito por falar disso com ela.
Tauane não faz a mínima ideia de que estou gostando do meu
marido de mentira, tinha mesmo que ser de mentira, tudo isso é bom demais
para ser de verdade, até o beijo que eu jurava que ele estava afim foi uma
mentira pois na primeira oportunidade, ele já quis se justificar e se
desculpar pelo acontecido.
Estou me iludindo de novo, estou me apaixonando por quem não
devo e com certeza vou me magoar de novo. Eu preciso evitar isso, preciso
evitar que aquele beijo ou algo mais sério aconteça.
— Você parece triste, amiga, estou vendo que está se segurando para
não chorar... Está assim por causa dos seus pais, não é? — Ela segura as
minhas mãos com carinho e mais uma vez tenho que forçar um sorriso.
— É. É isso, estou triste por não tê-los aqui comigo... Nem a minha
mãe se esforça para falar comigo ou me ver. — Abaixo a cabeça pensativa,
é como se eu não tivesse mais família.
Eu queria muito vê-la, queria dizer que agora tenho uma casa para
tirá-los do aluguel, mas eles parecem não querer mais saber de mim, eles
me odeiam.
— A sua mãe está de pés e mãos atadas, Jenny, ela tem medo do seu
pai colocá-la na rua como fez com você, para onde ela vai sem um emprego
assim como aconteceu com você? A sua mãe nunca trabalhou porque o seu
pai não deixa, me desculpa mas ele é muito machista, amiga. Ele ameaçou
colocar a sua mãe a rua e disse que ela jamais veria Yarim novamente, ela já
perdeu você e não quer perder a filha mais nova, ela ainda não sabe se virar
como você... Ele também me proibiu de levar notícias suas. — Surpreendo-
me com as suas palavras, meu pai insiste nessa palhaçada de querer proibir
a minha mãe de me ver.
— Não é certo um filho odiar um pai, mas eu odeio o meu pai...! Ele
acabou com a minha vida, Tauane... Se não fosse por Bruno ter me tirado
das ruas onde meu pai me jogou, eu não estaria mais aqui, eu já teria
cometido uma loucura. — Abraço a minha amiga tentando não chorar, mas
as minhas lágrimas descem.
— Fica calma, amiga, as pessoas estão olhando. — Ela me aperta
carinhosamente.
— Está tudo bem por aqui? O que está acontecendo com você,
Jennifer? Porque está chorando, querida? — Questiona Sra. Naomi ao se
aproximar atenta a mim.
— Está tudo bem sim, minha sogra, é apenas saudades da minha
mãe... Tauane levou um recado meu para ela mas meu pai ainda não quer
saber de mim. — Conto a verdade pois mentiras tem pernas curtas, e eu não
quero me dar mal.
— Eu sinto muito, querida, mas acho que você terá que esquecer a
sua família, pelo menos por hoje pois você acabou de se casar e já está
triste... Depois vamos dar um jeito de você falar com a sua mãe, mas
precisamos fazer isso com cautela para não prejudicar a situação dela com o
seu pai, está bem assim? Agora põe um sorriso nesse rostinho, o seu marido
vai ficar preocupado com você. — Ela se senta ao meu lado e me entrega
um lenço.
Olho mais a diante e vejo Bruno atento a mim, ele realmente parece
preocupado e parece querer vir até a mim, mas não vem pois está
conversando com alguns dos amigos.
Recomponho-me e me levanto, sorrio tentando fingir que não estou
triste.
— Obrigada por tudo, minha sogra, eu vou tentar não deixar nada
me abalar no dia do meu casamento, é o dia mais feliz da minha vida e por
mais que eu não tenha a minha família aqui comigo, pelo menos tenho
vocês que são pessoas maravilhosas. — Abro o meu melhor sorriso para
ela, lhe dou um breve abraço e me solto. — Eu vou ficar com o meu
marido.
Afasto-me dela e saio arrastando o meu vestido, Bruno está atento a
mim e pede licença vindo me encontrar.
— Está tudo bem? Eu vi que estava chorando, o que aconteceu? —
Ele toca o meu rosto de forma delicada e suave.
— Estou triste por causa dos meus pais, mas não vamos falar sobre
isso agora. Estão todos nos olhando então seja um cavalheiro, e tire a sua
esposa para dançar... Não vamos prolongar muito isso, o quanto antes
sairmos daqui, melhor será para nós dois. — Abraço o seu pescoço e ele
abraça a minha cintura, isso me deixa nervosa mas tem muitos olhares sobre
nós.
— Você tem razão, vamos dançar e cortar o bolo, depois você joga o
buquê e nos mandamos daqui. Está bem assim? — Bruno olha fixamente
nos meus olhos me deixando tensa por me lembrar daquele beijo.
— Está bem, faremos isso mas eu não posso sorrir sozinha.
Precisam pensar que nós dois estamos felizes com tudo isso, então abre
aquele sorriso lindo que você tem... — Sugiro espontaneamente e coro no
momento seguinte.
— Então você acha o meu sorriso lindo...? — Seu sorriso de lado
aparece e ele ergue uma sobrancelha.
— Não vai ficar convencido ou eu retiro o que eu disse. Agora me
tira para dançar! Ou você não sabe dançar? — Provoco-o na intensão de
descontrair um pouco.
— Eu vou te mostrar quem não sabe dançar!
Bruno se solta de mim e me pega pela mão, guiando-me até o centro
da pista de dança abraçando a minha cintura novamente, estou surpresa, ele
vai mesmo dançar comigo?
Ele me gira e me faz voltar contra o seu corpo, o som da música fica
um pouco mais notável e sorrimos, iniciamos uma dança suave e até que
está sendo legal, ele dança muito bem, ele sabe como conduzir uma mulher.
Olhamos a nossa volta e estão todos atentos, estão todos sorrindo nos
admirando.
— Não fica chateada comigo... Mas vou ter que te beijar de novo,
estão todos esperando que eu faça isso... — Alerta-me antes de me inclinar
para trás e me trazer de volta para o seu corpo.
Quando volto a ter o meu rosto tão próximo ao seu, ele me
surpreende com um beijo ardente e tão profundo que me rendo
rapidamente. Beijo-o com a mesma intensidade desejando com toda a
minha alma que não seja um erro, que ele não se arrependa depois. Quando
interrompemos o beijo e ele está me olhando tão ofegante e confuso quanto
eu, o que está acontecendo com a gente? Porque ele tem que mexer tanto
comigo?
— É... É melhor cortarmos logo o bolo... — Sorrio sem jeito e ele
também, mas alguns casais se juntam a nós na dança e com isso sei vamos
prolongar a nossa partida.

Até que a festa foi divertida, tivemos a atenção de tanta gente que
por um momento até me esqueci da falta que os meus pais me fazem,
esqueci um pouco a tristeza que sinto por esse abandono.
Estamos no carro a caminho da tal casa de campo e eu espero que
seja um lugar legal, apenas os meus sogros sabem para onde estamos indo
para não corrermos o risco de recebermos visitas em um momento
improprio, ninguém merece receber visitas durante a lua de mel, mas como
decidimos ficar na cidade, tudo é provável.
Já estamos na estrada a mais de uma hora e eu estou morta de sono,
estou exausta depois de ficar tanto tempo em pé fingindo ser uma esposa
apaixonada ao lado de Bruno. Meu marido, meu Deus, eu me casei de
verdade mas não posso viver esse casamento, mesmo estando apaixonada
por meu marido, eu estou apaixonada por ele.
Eu prometi a mim mesma não confiar em mais ninguém, e eu
quebrei a minha própria regra ao meu apaixonar por Bruno Stuart. Ele tem
sido tão atencioso, gentil. Saímos muito e nos divertimos bastante, ele me
apresentou aos seus amigos e eu pensei que seria vergonhoso, pensei que
eles tivessem visto o meu vídeo na internet mas parece que não, eles são
muito ocupados e não perdem tempo pesquisando vídeo na internet, Bruno
só viu o vídeo porque eu falei sobre isso e ele também investigou na
universidade.
— Ei? Acorde, esposa! Estamos chegando... Jenny?
Ouço a sua voz suave mas não abro os olhos, estou com muito sono
e não quero acordar. Sonho com o meu próprio casamento, o meu
casamento com ele, Bruno estava tão lindo me esperando no altar, eu
desejei com toda a minha alma que tudo isso fosse de verdade, nunca
encontrei um homem que me tratasse como ele me trata, com gentileza,
com carinho pois sei que ele tem carinho por mim, pelo menos isso.
Ele me beijou duas vezes hoje, foi um beijo tão bom, tão intenso que
ainda sinto os seus lábios nos meus, ainda sinto o gosto perfeito do seu
beijo.
— Foi exatamente assim que imaginei entrar com você em casa,
mas na minha imaginação você estava acordada. — Ouço seu tom risonho e
abraço o seu pescoço acomodado o meu rosto no seu pescoço.
Seu perfume é tão bom, na verdade é maravilhoso, até peguei a
mania de cheirar as suas camisas quando ele não está em casa, espero que
Agnes não abra a boca depois que flagrou fazendo isso, até dormir agarrada
ao seu travesseiro eu já fiz, mas fiz sem me dar conta, quando acordei eu já
estava abraçada ao seu travesseiro, sentindo o seu perfume invadir as
minhas narinas.
Sinto quando ele me põe na cama mas estou com tanto sono que
nem me importo em me trocar, durmo assim mesma sem nem ao menos lhe
dar boa noite, eu só quero dormir.

Suspiro fundo acomodo-me melhor na cama, mas sinto que estou


presa em seus braços pois seu perfume está bem presente. Abro os olhos
ainda sonolenta e ele está realmente aqui, está dormindo serenamente
comigo em seus braços. Tento sair para me afastar mas ele não deixa, Bruno
vira-se na cama fazendo eu me virar também, agora é ele quem dorme
quase em cima de mim com o rosto enterrado no meu pescoço.
A sua respiração quente contra a minha pela me causa arrepios,
como vou dormir assim? Porque ele não foi para um quarto de hóspedes?
Acho que por causa dos empregados, todos iriam estranhar o fato de
dormirmos em quartos separados na noite de nupciais, mas não está sendo
fácil dormir com ele assim, agarrado em mim.
Olho para janela e vejo que o dia já está amanhecendo, decido me
levantar e tirar esse vestido para tomar um banho, e assim o faço, levando-
me com cuidado para não acordá-lo e sigo para o closet, tiro o vestido com
cuidado para não danificar e me olho no enorme espelho a minha frente,
estou usando um conjunto de lingerie Branca com cinta ligada porque a
minha cunhada achou que eu iria seduzir o meu marido na noite de núpcias,
e eu nem vi quando ele me pôs na cama e dormiu ao meu lado.
Não vou negar, é um conjunto muito lindo, eu estou me achando
linda mas não me vesti assim para ninguém, apenas para mim mesma.
Através do espelho me deparo com Bruno em pé na porta do closet me
admirando descaradamente.
— Bruno...? O que faz aí...? — Apresso-me para pegar um roupão
dobrado para me cobrir.
— Eu vi quando se levantou, pensei que fosse precisar de ajuda com
o vestido... Acho que eu não te disse ontem o quanto estava linda de noiva.
— Ele entra no closet aproximando-se com cautela.
— Você disse sim, e eu agradeci... Você também estava muito
charmoso... As filhas de alguns dos amigos do seu pai, não gostaram nada
de te ver casando comigo, eu percebi isso. — Lhe dou as costas vestindo o
roupão, tentando a todo custo controlar o meu nervosismo.
— Não me importo com nenhuma delas, eu só me importo com a
minha esposa. — Ele vira-me novamente de frente para ele pondo-me
contra o espelho.
— Bruno...! O que está fazendo...? — Ofego enquanto ele abre o
meu roupão me adirmando com tanto desejo. — Isso não faz parte do
acordo...
— Foda-se o acordo!
Sinto ele me segurar pela nuca e me beijar ferozmente, eu até
poderia tentar evitar isso, mas eu não consigo, apenas retribuo deixando-o
me beijar e me prender ao seu corpo, quando dou por mim ele está se
sentando em um puff comigo em seu colo. Suas mãos me apalpam por
todos os lados e param a minha bunda, me apertando e me pressionando na
sua direção, ele está tão excitado. Seus lábios quentes descem pelo meu
pescoço enquanto desce o meu roupão.
— A sua pele é tão cheirosa... Tão macia...
Sussurra rouco descendo a alça da lingerie mas eu estou perdida em
delírios e sussurros de tesão, eu quero tanto esse homem, mas o que
estamos fazendo? Fizemos um acordo e não estava nesse acordo que
deveríamos consumar esse casamento, mas eu quero, quero muito e estou
disposta a me entregar a ele, mas ouço o seu telefone tocar e me assusto
saindo do seu colo abruptamente, eu havia até me esquecido de onde
estamos.
— Eu vou tomar banho, com licença!
Saio feito um foguete e com o coração batendo na boca.
— Jenny, espera! Jennifer...? Quem é o infeliz que liga para alguém
no meio da lua de mel? Inferno!
Ouço ele me chamar mas não dou ouvir, entro no banheiro
trancando a porta mas posso ouvir que ele está no quarto e está irritado. O
que aconteceu aqui? Ele me beijou e eu quase me entreguei a ele. Meu
Deus, que loucura, ele me quer? Bruno me deseja de verdade ou está
fazendo isso apenas porque nos casamos? Como vou conseguir confiar
nele? Tenho medo de estar me iludindo de novo, tenho medo dele me
magoar então não posso deixar isso acontecer, não até ter certeza das
intenções dele.
Tomo um banho morno não muito demorado pois ele vai querer
tomar banho também, então logo saio do banheiro vestida no roupão, ele
está em pé na frente da janela e passo direto para o closet rezando para ele
não vir atrás de mim, e ele não vem, graças a Deus, me visto correndo e
saio do quarto apressada e ainda envergonhada, eu estava no colo dele, ele
estava duro e me beijava de um jeito tão intenso, suas mãos grandes me
tocando me incendeia de um jeito surpreendente. Avassalador.
— Minha nossa... Ahh o que está acontecendo com a gente...? —
Ando pela sala pensativa.
Toco a minha nuca e ainda sinto-me quente, ainda estou trêmula,
ainda estou excitada mas tento tirar isso dos meus pensamentos. Quem será
que ligou para ele uma hora dessas?
— Sra. Stuart? Bom dia! Eu me chamo Ordália e vou servi-los pelo
tempo que permanecerem aqui, onde gostaria de tomar o seu café? Na sala
de refeições ou no jardim? — Uma das empregadas aparece do nada e eu
tento não me assustar com tudo.
— Bom dia, Ordália! Eu vou tomar café no jardim, o sol já está de
fora e gostaria de aproveitar o frescor da manhã, obrigada. — Aviso antes
de sair, ela apenas concordar.
Saio da casa e vou para o jardim e há uma mesa redonda em baixo
de um enorme guarda-sol, um deck bem amplo com poltronas confortáveis
em volta. Acomodo-me em uma das poltronas no sol e fico aqui enquanto a
mesa é servida, o sol está tão bom, numa temperatura tão agradável que
fecho os olhos curtindo essa sensação, estou quase pegando no sono quando
a empregada avisa que a mesa já está servida.
Agradeço e me sento à mesa no mesmo instante em que ele se
aproxima. Ele se senta e eu me sirvo uma xícara de café com leite, pego
uma fatia do bolo e ele faz exatamente o mesmo.
— Bom dia! — Sua atenção está em mim mas eu não consigo
encará-lo.
— Bom dia!
— Você está bem? Parece chateada.
— Não estou chateada, eu estou bem. — Respondo ainda sem olhar
para ele e bebo o meu café.
— Porque está mentindo?
— Eu não estou mentindo, Bruno!
— Então porque não consegue falar me olhando? Qual é o
problema? — Ele larga a sua xícara de café e eu finalmente o encaro.
Abro a boca para contestar mas não consigo, tento dizer algo mas a
minha voz não sai. Estou sim muito nervosa pelo que houve entre nós.
— Eu não sei o que dizer... Eu não esperava que aquilo acontecesse.
— Você não sabe o que dizer mas eu sei! Não vou pedir desculpas
pelo que houve porque eu não me arrependo, e na cerimônia quando você
disse tudo aquilo sobre o nosso beijo, eu concordei mesmo contra a minha
vontade pois pensei que você não havia gostado, mas você gostou, você me
quer tanto quanto eu te quero e eu senti isso quando te toquei... Eu não me
arrependo por ter te beijado e ainda estou desejando beijar você... Eu quero
você como minha mulher não apenas no papel, era isso que eu queria ter
dito antes do casamento mas não consegui. — Seu tom é angustiante e ele
se levanta inquieto.
Depois de despejar tudo isso Bruno sai me deixando aqui perplexa,
ofegante, tensa. O que deu nesse homem? Como ele me diz tudo isso e sai
assim sem me deixar dizer nada? Ele me quer com sua mulher só porque
nos casamos? Não vou me entregar a ele apenas por isso! Não é porque
somos casados que vou transar com ele, ninguém mais vai brincar comigo e
muito menos ele. Não vou sair de coração partido depois que tudo isso
acabar, não precisamos consumar esse casamento como ele está pensando
que vamos fazer.
Levanto-me decida a ir confrontá-lo sobre o que disse, sigo irritada
em direção a casa mas paro, não vou começar uma DR com ele como se
realmente fossemos um casal, não quero os empregados falado de nós um
dia após o casamento ou vão descobrir a nossa farsa.
Saio batendo o pé e dou a volta na casa, saio sem rumo afim de dar
uma volta por aí e ficar o mais longe possível desse louco. Ele só pode ter
ficado louco.
Quero conversar, quero desabafar com alguém, mas não tenho
ninguém, Tauane é minha amiga mas nos conhecemos a pouco tempo, ainda
não temos aquela amizade de grande e melhores amigas pois ainda estamos
nos conhecendo.
Minha mãe costumava conversar comigo sobre tudo, mas nem isso
eu tenho mais. Respiro fundo e continuo andando, não posso ficar triste por
eles a vida toda, eu preciso seguir a minha vida.
Esse lugar é tão grande, estou andando a tanto tempo que quase não
vejo mais a casa, tem muitas árvores ao redor da propriedade, quantos
hectares tem esse lugar?
— AHHH!
Caio em um buraco profundo e na queda piso em falso e viro o pé.
Isso dói, dói muito.
— Mas que merda de buraco! Como isso veio parar aqui? Espero
que não seja nenhuma armadilha.
Olho a minha volta e percebo que esse buraco foi cavado, não é um
buraco aberto pela natureza, tem marcas como se uma escavadeira tivesse
escavado isso aqui. Meu Deus. Tento escalar para subir mas esse buraco
deve ter uns três metros de profundidade e não tenho onde segurar, não
tenho como subir.
— BRUNO! BRUNO...! SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA! —
Me esguelho de ficar rouca mas ninguém responde.
Continuo gritando na tentativa de ser ouvida, mas depois de alguns
minutos gritando a minha garganta já está doendo. Lembro do meu celular
na bolsa, porque eu não desci com ele? Droga! Porque cavaram esse buraco
em uma propriedade como essa?
Meu pé dói e eu me sento para não forçá-lo e doer ainda mais, já
está inchando e a dor aumentando.
— BRUNO! BRUNO!
Insisto nos grito mas me afastei demais da casa, porque eu fiz isso?
Eu só precisava de um momento sozinha mas não esperava por isso aqui.
As horas vão se passando e a fome vai chegando, eu não comi quase nada
no café da amanhã por causa das coisas que ele me disse. Estou com sede e
está muito frio aqui, o sol parece não chegar nessa área pois a terra é úmida.

Está tarde, já perdi a noção do tempo aqui jogada nesse buraco e até
agora ninguém veio me procurar, será que ele está chateado comigo o
bastante para não se importar com o meu sumiço? Quanto tempo mais vou
ter que ficar aqui joga?
— Eu não entendo, ela sumiu já faz muito tempo, ela deve estar
perdida em algum lugar, mas onde? Nós já procuramos por todos os
lugares. — Ouço a sua voz bem distante e ele parece realmente aflito.
— Podemos procurar de novo, senhor, sua esposa não saiu
propriedade, ela tem que estar por aqui em algum lugar, podemos ter
deixado passar alguma coisa. — Ouço outra voz também distante.
Tento chamar por ele mas a minha voz simplesmente não sai, tento
me sentar mas me sinto fraca demais, estou aqui desde de manhã e já é
tarde.
— JENNY! JENNY! Droga! Onde ela está? Onde a minha mulher
está! Vamos dar uma última volta na propriedade, se não a encontrarmos eu
chamo a polícia para registrar o desaparecimento dela. — Seu tom é firme e
autoritário.
— Sim, senhor! Nós vamos para o lado oeste e...
— Sr. Stuart! Aqui! Ela está no buraco! A sua esposa está no
buraco! — Ouço agora uma voz mais próxima mas eu não consigo abrir os
olhos.
— Jennifer? Jenny você está me ouvindo...? Eu vou descer, peguem
uma escada ou qualquer coisa para eu subir com ela. Agora! — Sua voz é
alterada e logo sinto o meu corpo sendo embalado. — Jennifer? O que
aconteceu? Como você veio parar aqui...? Ei? Fala comigo, vai? Jenny? —
Sinto ele acariciar o meu rosto e me esforço para abrir os olhos.
— Bruno... O meu pé... Dói muito...
Sussurro fechando os olhos novamente, a dor no meu pé é tão
intensa que sinto que não vou aguentar.
— O seu pé está muito inchado, pode ter quebrado... Vamos voltar
para cidade, vou levar você ao médico... Jennifer? Jennifer...? — Sua voz
entra na minha mente como um eco mas eu apago em seguida.
Ele veio atrás de mim, o meu marido veio atrás de mim.

Acordo em um quarto de hospital e ele está andando de um lado


para o outro, olho para o meu pé e ele está imobilizado. Mais a diante a
minha sogra mexendo no celular. Vejo pela escuridão através da janela que
já é noite, como assim? A quanto tempo estou dormindo? Se estou no
hospital então estamos na cidade, quando ele me trouxe para cá?
— Ahh... O que aconteceu comigo? Eu levei uma surra...? Estou
toda dolorida. — Gemo de dor quando tento me sentar, o meu corpo inteiro
dói.
— Graças a Deus você acordou. — Bruno aproxima-se apressado,
seu semblante é bastante preocupado.
— Que situação, querida, sofrer um acidente em plena lua de mel.
— Minha sogra larga o celular vindo até a mim.
— Eu sinto muito, isso não estava nos meus planos... Eu só queria
caminhar um pouco, queria conhecer aquele campo maravilhoso, mas não
esperava cair em um buraco daquele tamanho. — Ponho a mão na cabeça
me sentindo zonza.
— Aquele buraco estava sendo feito sem o nosso conhecimento,
mas meu pai já está cuidando disso... Você ficou por tempo demais naquele
buraco, te procuramos por todos os lados e nada de você. Sei o quanto é
curiosa mas a hora do almoço se aproximava e você não voltava, eu fui te
procurar e não te encontrei, então chamei alguns empregados para me
ajudarem... Eu já estava quase chamando a polícia. — Seus dedos longos
tocam o meu rosto de forma carinhosa, vejo a preocupação nos seus olhos.
— Está tudo bem agora, não se preocupe... O meu pé está quebrado?
— Pego a sua mão com o mesmo carinho.
Ele interrompeu a nossa lua de mel para me trazer para o hospital,
ele está preocupado, ele se importa comigo.
— Não, o seu pé não está quebrado, você apenas torceu o pé e como
ficou muito tempo sem cuidados, inchou bastante, você vai ficar bem, não
se preocupe. — Ele tenta sorrir de lado mas ainda está preocupado.
— Me leva para casa? Eu não gosto de hospitais... Vamos para casa
ou para o campo? — Solto a sua mão sem jeito e passo as mãos pelos
cabelos, eu devo estar horrível.
— Vamos para casa, na segunda eu preciso voltar ao trabalho e você
precisa se recuperar. Não tem cabimento ficarmos no campo, depois que
terminar as suas provas e eu terminar as minhas viagens, vamos viajar para
finalmente curtirmos uma lua de mel, está bem assim? — A julgar pelo que
vejo em seus olhos, ele está mesmo falando sério sobre tudo isso.
— Está bem, será como você sugeriu, obrigada. — Os nossos olhos
estão conectados um no outro sem oferecermos sinais de que desviaremos.
Lembro-me dos seus beijos, das suas mãos me tocando, do quanto
ele estava excitado comigo no seu colo. Minha respiração pesa, sinto o meu
rosto esquentar pois estou desejando beijá-lo de novo.
— A noite de núpcias deve ter sido maravilhosa, e se quiserem
continuar mesmo nessas condições, esperem chegar em casa. — Dispara
minha sogra me deixando visivelmente constrangida.
— Eu vou chamar o médico para te examinar, se ele julgar que você
está bem para irmos embora, então iremos... Eu já volto. — Ele me rouba
um selinho e sai em seguida.
Sorrio envergonhada pois a mãe dele está atenta a mim.
Conversamos enquanto ele não volta e ela pergunta se eu gostei da casa de
campo, apesar do incidente que aconteceu, e sim, eu adorei aquele lugar
pois é calmo, tranquilo o bastante para esquecer a maldade do mundo aqui
fora, mas eu não esperava cair em um buraco e ficar presa nele o dia todo.
Sra. Naomi conta que aquele buraco não era para estar lá e o
responsável será processado, o Sr. Olegário está na casa de campo
resolvendo isso, então estou feliz de não precisar voltar para lá agora. Em
uma outra ocasião pode até ser, mas agora não.

Entramos em casa e Bruno me leva direto para o seu quarto, a sua


mãe veio com a gente então ela precisa me ver no quarto dele, estou sem
jeito por estar em seus braços mas ele não parece nem um pouco
incomodado com isso.
— Vou pedir a Agnes para trazer uma sopa leve para você, está a
muito tempo sem comer nada então...
— Não precisa! Eu não estou com fome.
— Mas você precisa se alimentar, está fraca por ficar tanto tempo
sem comer... Não discute comigo? Eu estou preocupado com você. — Seu
olhar pidão me desarma rapidamente.
— Está bem, mas não prometo comer tudo, meu estômago está
doendo. — Acomodo-me melhor na sua cama e é inevitável sentir o seu
perfume.
— Isso é pelo tempo que ficou sem se alimentar, mas eu vou falar
com Agnes agora mesmo. — Ele vai em direção a porta sorridente mas sua
mãe segura a sua mão.
— Fique com a sua esposa, meu filho, deixa que eu falo com Agnes.
Estou indo para casa mas se precisarem de alguma coisa, não deixem de me
ligar, ouviram...? Se cuide, querida, eu passo para ver você amanhã. — Ela
aproxima-se da cama e se senta tocando o meu rosto como a minha mãe
fazia, com carinho.
— Obrigada pela atenção e compreensão, minha sogra, você é muito
gentil. — Lhe dou um sorriso amoroso como eu dava para minha mãe.
— Mande comprar os remédios dela, filho, a febre dela está
voltando. — Seu olhar sobre mim é um pouco mais preocupado que antes.
— Vou fazer isso agora mesmo, vou pedir a um dos seguranças para
ir buscar pessoalmente. Eu já volto. — Ele sai em seguida e eu puxo o
edredom sentindo um frio que eu não estava sentindo antes.
Os dois saem me deixando sozinha, acomodo-me melhor nos
travesseiros e puxo as cobertas até cobrir a cabeça, fico aqui até pegar no
sono novamente, mas dessa vez sentindo o seu perfume invadir as minhas
marinas, apago rapidamente sentindo o corpo mole.
— Jenny? Jenny, acorda! Ei...? Caramba, você está queimando de
febre. Jennifer? — Respiro cansada sentindo o meu corpo pesar toneladas
enquanto ele puxa as cobertas de cima de mim.
— Me deixa...! Me deixa, Bruno...! Eu estou com frio... Muito frio...
— Puxo as cobertas de volta mas ele as tira novamente.
— Você precisa tomar um banho para baixar a temperatura, vamos!
— Ele tenta me erguer da cama mas eu me solto, deitando-me novamente.
— Você não ouviu que eu estou com frio...? Me deixa aqui? Me dá
apenas os remédios e pronto...
— Não! Você precisa de um banho para baixar a temperatura, você
tomou remédio antes de sair do hospital e ainda não está não hora de tomar
de novo, toma um banho e depois toma o remédio de febre. Levante-se,
Jennifer! Agora! — Ordena em um tom mandão e surpreendo-me com isso.
Sento-me na cama mas me sinto zonza, vejo tudo girar e caio
deitada novamente.
— Droga! Você está muito fraca, Agnes ainda está preparando algo
para você comer. — Ele me pega no colo e eu deito a cabeça em seu ombro.
Bruno me leva para algum lugar e vejo-o entrar comigo no seu
banheiro, ele entra no Box ligando o chuveiro e eu abraço o seu pescoço.
— Bruno... Não faz isso! A água está fria... Está fria... — Abraço-o
apertado mas ele entra na água comigo no colo e eu ergo a perna para não
molhar o pé imobilizado.
— A água não está fria, está morna... Me ajude a te ajudar, vai...?
Estou preocupado com você, morena, você precisa melhorar. — Sinto um
beijo no alto da cabeça e ele me põe em baixo da água novamente,
molhando a minha cabeça.
Não reclamo mais, afinal ele só está tentando me ajudar. Tremo-me
inteira mas ainda estou em seus braços e isso me faz bem, então aguento o
frio calada até ele decidir que já estou um pouco melhor.
Bruno sai do Box comigo e me põe sentada na privada.
— Tire essa roupa molhada e se seque, eu vou pegar outra roupa
para você vestir. — Ele me entrega uma toalha e sai do banheiro apressado.
Ainda estou zonza mas tento obedecê-lo, tento fazer o que me pediu
antes que ele volte. Tiro o short e a blusa, tiro o sutiã e me enrolo na toalha,
quando estou tentando tirar a minha calcinha ele entra no banheiro sem
camisa, e sem me dar conta apoio o pé imobilizado no chão.
— Ahh... Merda! — Me jogo no chão para não apoiar o meu peso
no pé machucado.
Ele me pega novamente no colo e encara a minha calcinha presa nos
meus joelhos, e volta a me encarar. Sinto o meu rosto queimar de tanta
vergonha, eu não poderia estar mais constrangida.
— Não foi assim que me imaginei tirando a sua calcinha, mas...
— Não seja indelicado, Bruno! — Disparo séria e ele sorrir.
— Relaxa! Só estou tentando descontrair... Você está pálida e fraca.
— Ele me põe sentado na bancada da pia e realmente tira a minha calcinha
e põe dentro da pia.
Eu não poderia estar mais envergonhada que agora. Ele me entrega
uma blusa confortável sua e me ajuda a vestir, em seguida me surpreendo
ainda mais por ele colocar uma calcinha em mim.
— O que você está fazendo? Mexeu nas minhas calcinhas? —
Questiono chocada.
— Mexi sim, tem um monte delas no meu closet, se preferir uma
cueca minha...
— Bruno! O que deu em você...? Começou, agora termine de me
ajudar! Eu ainda estou com frio. — Repreendo-o sentindo o meu rosto
queimar.
Ele sorrir me descendo da bancada e eu mesma termino de vestir a
minha calcinha. Tiro a toalha por baixo da blusa e enrolo no cabelo
molhado, mas ele volta a me pegar no colo para eu não apoiar o pé no chão.
Meu marido me leva de volta para cama e me põe senta no instante em que
Agnes entra com uma bandeja.
— Que bom que trouxe a comida dela, Agnes, ela está muito fraca,
não comeu nada o dia todo. — Diz enquanto pega o meu remédio de febre e
me faz tomar com o suco que ela trouxe.
— Fiz uma sopinha leve como a sua mãe pediu, assim ela não fica
com o estômago pesado a uma hora dessas... O senhor não vai jantar, Sr.
Bruno? Sua mãe disse que o senhor não almoçou e nem comeu nada a tarde
toda. — Surpreendo-me com as palavras de Agnes.
— Minha mãe exagerou, Agnes, eu comi um lanche na cantina do
hospital enquanto ela estava com Jenny, essa mocinha dormiu demais
enquanto estava no soro... Me deu um baita susto por desmaiar nos meus
braços. Nunca me senti tão desesperado em toda a minha vida. — Comenta
atento a mim.
Adoro quando ele me chama pelo meu apelido, e vê-lo assim tão
preocupado comigo só me encanta ainda mais por ele. Meu Deus, eu estou
perdidamente apaixonada por ele, que merda eu fui fazer gostando dele?
Ajeito-me melhor na cama e ele arruma os travesseiros para mim,
Agnes põe a bandeja no meu colo e eu tento me esforçar para comer um
pouco.
— Obrigada, Agnes, como sempre você é muito atenciosa. — Dou a
primeira colherada na sopa e realmente está muito gostosa.
Bruno se senta em uma poltrona ao lado da cama e fica atento
enquanto como, mas Agnes sai nos deixando a sós.
— Quanto tempo eu passei naquele buraco? Como você me tirou de
lá? Aquele buraco parecia tão fundo. — Pergunto curiosa.
— Bom, você se afastou da casa assim que eu entrei nela, vi você
andando pelo campo mas logo te perdi de vista, quando foram me avisar
sobre o almoço, descobri que você ainda não havia voltado então saí a
cavalo para te procurar, mas não te achei. Voltei e dei ordens aos
empregados para saírem a sua procura, eu já estava quase chamando a
polícia achando que você havia sido sequestrada. Você me deu um baita
susto, eu fiquei realmente muito preocupado com você. — Relata pensativo
e eu fico imaginando a cena.
Não há mais dúvidas, ele se importa de verdade comigo, mas será
que ele sente algo por mim além de desejo? Ou ele só está curioso para
transar comigo? Com certeza ele tem ficado com outras mulheres por aí
nessas suas viagens, e eu não tenho o direito de me importar com isso, mas
eu tenho o direito de me importar com o fato dele querer transar comigo
assim de repente, ou será que ele já estava querendo isso antes?
— Você estava muito pálida quando te encontrei, estava ardendo
febre e ainda desmaiou para me deixar apavorado, não tive escolha, se eu
chamasse o médico da família ele iria demorar muito para chegar, o jeito foi
te levar eu mesmo para o hospital. Você precisou ficar no soro porque
estava muito fraca, você demorou para acordar e isso também me
preocupou. A empregada ligou para minha mãe e por sua vez ela me ligou,
quando eu cheguei no hospital ela já estava nos esperando. — Ele sorrir ao
falar da sua mãe e eu me lembro da minha.
— Obrigada por me procurar, sei que estava chateado comigo, e...
— Eu não estava chateado com você, Jenny, estava chateado comigo
mesmo mas eu jamais deixaria de procurar você... Eu me importo com você
muito mais do que imagina. — Confessa olhando nos meus olhos e não tem
como não ficar surpresa ao ouvir isso. — Termine de comer, eu também
preciso de um banho. Ainda estou ensopado.
Apenas concordo e ele sai em seguida indo para o banheiro.
Termino de comer a sopa e bebo o suco, deixo a bandeja sobre a cama para
não precisar me levantar, acomodo-me melhor na cama decidindo se durmo
aqui com ele me olhando daquele jeito ou se volto para o meu quarto, mas a
mãe dele vai voltar amanhã e não quero ser pega de surpresa tendo que
voltar correndo para cá.
Vejo ele sair do banheiro com uma toalha enrolada na cintura
enquanto enxuga os cabelos. As suas tatuagens são bem chamativas mas
tento não olhar tanto.
— Precisa de mais alguma coisa? Quer comer algo mais? — Ele
vem em direção a cama e eu evito a todo custo admirá-lo.
— Obrigada, eu estou satisfeita... Só preciso dormir um pouco mais
para esquecer a dor no meu pé. — Acomodo-me nos seus travesseiros e ele
tira a bandeja da cama.
— Já está quase na hora de você tomar os outros remédios, mas
pode dormir, eu te acordo quando for a hora. — Ele leva a bandeja até a
mesa no canto do quarto e segue para o closet.
Encaro a aliança no meu dedo, estou casada com ele, Bruno Stuart é
meu marido mas apenas no papel, ele está tão preocupado comigo, ele é tão
atencioso.
Agarro o travesseiro e fico aqui pensativa até ele sair do closet sem
camisa, usando apenas uma bermuda e seus cabelos estão levemente
bagunçados, sexy. Ele pega a sua mochila e tira dela um notebook, Bruno
acomoda-se na poltrona e se distrai mexendo no mesmo enquanto eu o
admiro discretamente, ele é um homem tão atraente, e especial também por
ser tão gentil e atencioso, não me lembro de outro homem ter sido assim
comigo antes.
Durmo sem me dar conta e me deixo levar pelo sono.
O meu susto foi grande quando me dei conta de que ela havia
sumido, e quando a vi caída naquele buraco fundo, pálida e com o pé
machucado, meu coração doeu de verdade, mas entrei em pânico quando
ela desmaiou depois de todo aquele tempo ali caída, com fome, sede e frio,
não pensei em mais nada, apenas a coloquei no carro com um dos
seguranças da casa e corri literalmente para o hospital.
Ela estava desmaiada, desfalecida em meus braços pelo tempo que
ficou presa naquele buraco, esse é outro assunto que já está sendo resolvido,
um funcionário cavou aquele buraco por algum motivo que não sei explicar,
o fato é que ele deixou o buraco aberto por tempo demais e a grama alta a
sua volta o deixou quase imperceptível. Como ela foi parar naquele buraco?
Ela devia estar muito distraída para não ver o buraco.
Paro em frente a cama e admiro a mulher dormindo agarrada ao meu
travesseiro, eu a tive em meus braços e senti o quanto ela me quer, ela me
beijou e me deixou beijá-la, me deixou tocá-lo e se não fosse o meu
telefone tocar, ela teria se entregado para mim. Ela é gostosa, cheirosa
demais, já estou ficando louco de tanto desejá-la.
Olho no relógio e já está na hora de dar o remédio a ela, pego o
mesmo junto a um copo de água e me sento na beira da cama.
— Jenny? Está na hora do seu remédio... Morena? Acorda? —
Chamo por ela admirando o seu rosto sereno, mas ela não acorda.
Chamo mais uma vez e toco o seu rosto suavemente, ela se mexe
manhosa pelo sono, mas não acorda, continuo chamando por ela e mesmo
sonolenta, Jennifer acorda e toma o remédio, ponho a mão na sua testa e sua
febre cedeu bastante, se ela voltar a piorar eu dou o remédio a ela outra vez.
Minha esposa vira-se para o outro lado e volta a dormir, já são duas
da manhã então me deito ao seu lado e apago a luz no interruptor ao lado da
cama, acomodo-me em baixo das cobertas e tento dormir um pouco e
esquecer o insistente de hoje, será que eu tive alguma parcela de culpa no
que houve? Ela se afastou da casa por minha culpa? Espero que não, ou não
vou me perdoar por isso.

Na manhã seguinte acordo com ela em meus braços dormindo


profundamente, tenho até receios de me mexer e acordá-la, é a segunda
manhã seguinte que acordo com ela em meus braços, mas ontem depois de
vê-la assim, dormindo abraçada a mim, eu acabei adormecendo novamente
mas quando acordei com ela saindo da cama, não fazia ideia de que
acabaria com ela sentada no meu colo seminua e entregue ao nosso
momento, mas tudo acabou dando errado e agora estamos em casa.
Eu quero muito ter essa mulher, mas não é apenas por estarmos
casados, estou desejando estar com ela desde o nosso primeiro beijo, se eu
parar para pensar, é a segunda vez que ela desmaia e me deixa apavorado.
Encaro o seu rosto e esses lábios tentadores, quero beijá-la de novo,
quero estar com ela em meus braços mas admito que não será fácil, por
mais que eu sinta que ela gosta de mim como eu gosto dela. Ela merece
mais que apenas sexo, não vou dar a ela o mesmo que sempre dei a outras
mulheres, estamos nos conhecendo e já saímos muitas vezes, já tivemos
muitos encontros mas nenhum deles foi romântico como mulheres sensíveis
como ela gostam.
Sorrio decidido a dar um encontro de verdade a ela, mas não vou
fazer isso na intensão de transar com ela pois estou ciente de que pode não
rolar tão cedo, acho que ela ainda não confia em mim o suficiente para se
entregar, mas não quero que essa entrega seja apenas uma entrega de corpo,
o que estou sentindo por ela é mais que isso.
Acaricio o seu rosto controlando-me para não beijá-la, mas ela sai
dos meus braços virando-se para o outro lado, aproveito para me levantar
mas me deparo com a minha mãe em pé na porta, nos admirando com um
sorriso bobo.
— Mamãe? O que faz aqui tão cedo? — Pergunto confuso mas falo
baixo para não acordar Jennifer.
— Bom dia para você também, meu filho! Estou indo na casa do seu
irmão ver Teresa, ela também não está muito bem pois está enjoando muito,
então resolvi passa para ver como minha nora está. Ela passou a noite bem?
Você conseguiu descansar? — Ela admira Jennifer por um instante e pega a
minha mão, me arrastando para fora do quarto.
— Ela passou a noite agitada, se mexeu muito enquanto dormia e sei
que é pelo incômodo do pé machucado, ela também teve muita febre mas já
está melhor. — Esfrego os olhos ainda sonolento.
— Estou gostando de ver a maneira como está cuidando da sua
esposa, foi lamentável a interrupção da lua de mel de vocês, mas aqui será
melhor para cuidar dela caso haja alguma emergência. — Mamãe me dá um
sorriso gentil ao falar de Jennifer.
— Concordo com você, acho que aqui ela também fica mais à
vontade pois já criou um vínculo afetivo com Agnes, elas se dão bem pois
Jennifer ainda sente muito a falta da mãe e da irmã.
— Por falar nisso, hoje mesmo vou procurar a mãe dela, quero
conversar com ela mas vou fazer isso de modo que não a prejudique com o
marido. Essa menina ainda sofre muito pelo abandono dos pais, como essa
mulher sendo mãe permite uma coisa dessas? O que ela tem que suportar
para ficar ao lado desse homem? Isso não é justo. — Desabafa indignada e
eu a entendo bem.
— Por favor, mamãe? Pegue leve, ela ainda é a mãe de Jennifer e
não sabemos tudo que ela passa para aceitar uma coisa dessas... Tenta
convencê-la a vir ver a filha? Isso com certeza deixaria Jenny muito feliz
depois desse tempo separadas.
— Não se preocupe, eu vou ver o que consigo fazer sem complicar
ninguém. Agora eu preciso ir, dá um beijo na Jennifer por mim, está bem?
— Está bem, eu dou... Obrigado por se preocupar tanto com ela,
mamãe, ela é importante para mim. — Confesso sem jeito e ela sorrir.
— Eu sei, querido, eu sei... Tenham um bom dia! Se precisar de
alguma coisa você já sabe, me liga, está bem? — Ela me dá um beijo e sai
em direção a escada. Eu apenas concordo.
Entro de volta no quarto e minha linda esposa ainda dorme feito um
anjo, sigo para o banheiro e faço a minha higiene pessoal, tomo um banho
rápido apenas para despertar e sigo para o closet, visto uma Boxer azul
marinho, uma bermuda e uma camiseta. Saio do closet e Agnes entra com o
nosso café da manhã, vejo Jennifer despertar manhosa ainda sonolenta.
— Bom dia, querida! Como está se sentindo hoje...? Bom dia, Sr.
Bruno! — Ela vem até a mesa com uma bandeja generosa com o nosso
café.
— Bom dia, Agnes!
— Bom dia, Agnes! Eu estou melhor, obrigada por perguntar. — Ela
acomoda-se melhor na cama apoiando-se na cabeceira. — Bom dia, Bruno!
— Bom dia, Jenny! Como está o pé? Já passou da sua hora de tomar
o remédio mas eu não quis te acordar. — Aproximo-me da cama e pego os
remédios na mesinha ao lado.
— Latejou bastante durante a noite e agora está doendo um pouco.
Preciso me levantar mas já estou com medo de sentir dor. — Ela faz careta
ao pôr o pé para fora da cama.
— Não se levante! Eu te ajudo, mas primeiro tome os seus
remédios. — Entrego a ela os remédios e volto até a mesma servindo um
copo de suco para ela.
Depois que ela toma os remédios eu pego ela no colo e levo-a até o
banheiro, saio em seguida para deixá-la à vontade. Alguns minutos depois e
já estou preocupado por ela estar demorando, será que está tudo bem? Ela
pode ter caído no banheiro, mas se fosse isso ela teria gritado.
A porta se abre e ela sai pulando em uma perna só. Apresso-me para
ir buscá-la e novamente pego ela no colo levando-a até a mesa, ela se senta
e eu faço o mesmo, sirvo a ela e a mim também começando a comer em
seguida. Ela está com um pequeno sorriso no rosto e eu fico atento a ela.
— A sua mãe disse que viria me ver hoje...
— Ela já veio, você estava dormindo.
— Minha nossa, então ela veio muito cedo. Que bom que eu estava
com você, ou então ela teria estranhado se estivéssemos em quartos
separados. — Comenta agora pensativa.
— É verdade, antes do casamento ela não estranhava tanto pois ela
aceitou os seus argumentos sobre ir devagar até estarmos casados, mas
agora será diferente, teremos que ficar no mesmo quarto com mais
frequência, eu acordei com ela em pé na porta nos admirando dormir,
acredita nisso? — Conto enquanto como e ela parece espantada.
— Caramba, eu não imaginei que seria tão difícil me passar por sua
esposa.
— Está arrependida? — Pergunto atento.
— Não! Mas é claro que não! Eu sou uma mulher de uma palavra
só, eu aceitei participar disso e vou até o final... Você me ajudou muito e é
justo que eu te ajude também... Nós estamos nos ajudando, e... Nos
conhecendo melhor, estamos nos dando bem e isso é legal... Não é? —
Vejo-a ficar sem jeito e sorrio.
— Sim, isso é muito legal e por isso quero te fazer um convite. —
Dou uma golada no meu café e largo a xícara com a minha atenção na
minha esposa.
— Convite? Não vai me chamar para correr, não é? Nas minhas
atuais condições eu não conseguiria dar um passo sozinha. — Jenny sorrir
descontraída me fazendo sorrir mais abertamente.
— Não se preocupe, não vou te convidar para correr, pelo menos
não enquanto estiver com o pé machucado. Mas eu quero te levar para
jantar, ahm, tipo um encontro... Você aceita? Pode ser aqui na mansão
mesmo se não quiser assim com o pé assim. — Sugiro sem graça e receoso
de levar um não. Ela parece surpresa com o meu convite.
— Você quer ter um encontro comigo...? Uau... Está bem... Eu
aceito jantar com você... — Diz olhando nos meus olhos, ela abre aquele
sorriso magnífico que me prende nos seus lábios.
— Ótimo! Legal! Eu... Eu vou pedir a Agnes para preparar algo
legal para nós mais tarde. — Sorrio eufórico. Eu vou ter um encontro a sós
com ela.
Ele sorrir abertamente enquanto tomamos o nosso café, continuamos
a conversar e ela fala da decoração da casa que ainda está em andamento,
eu comprei a casa como ela havia me pedido e passei diretamente para o
seu nome, ela me pediu ajuda para escolher alguns móveis que ela faz
questão de ter na casa e eu ajudei no que pude, ela é muito animada e
divertida para essa coisas, fazer compras com ela não foi tão entediante o
quanto pensei que seria.
Jennifer ainda tem esperanças de conseguir tirar os pais do aluguel
mesmo depois de tudo que o pai dela fez, essa garota tem um coração
enorme e mesmo ainda magoada, ela quer o melhor para eles, isso é
admirável. Eu me lembro dela ligar para casa dos pais e pedir para falar
com a mãe dela, mas o pai pediu para ela não ligar mais, que pai faz isso?
Esse cara está precisando levar uma lição, mas não serei eu a fazer isso, ela
ainda ama o pai dela mesmo não admitindo e não quero ela me odiando por
me meter em algo que não é da minha conta.

A nossa manhã passou tranquila e eu a levei para tomar sol no


jardim, passamos bastante tempo juntos conversando, com ela falando mais
sobre como anda tudo na faculdade e perguntando sobre as minhas viagens,
eu teria que voltar ao trabalho amanhã, mas não quero deixá-la sozinha
nessas condições, vou conversar com o meu pai e avisar que volto ao
trabalho assim que minha esposa melhorar, sei que ele vai entender.
Jennifer pede para subir para o seu quarto, já é quase final de tarde e
ela quer descansar um pouco antes do nosso jantar, então subo com ela e
deixo-a na sua cama. Saio em seguida e desço para falar com Agnes e pedir
que prepare algo especial para mim e Jenny mais tarde, de preferência no
jardim onde ela gosta tanto de ficar, peço também que ela encomende um
generoso buquê de flores pois sei o quanto mulheres gostam disso.
Subo de volta para o meu quarto e pego o meu notebook, preciso
programar as minhas próximas viagens mas não vou alarmar os reitores
antes da hora, gosto de chegar se surpresa para ver de perto tudo que andam
fazendo por lá, óbvio que a essa altura todos estão sabendo que estou
passando pelas nossas instituições, mas ninguém sabe onde vou estar indo
primeiro.
Aproveito e ligo para o meu pai avisando que não vou viajar
enquanto Jennifer não estiver melhor, e como já esperava ele foi
compreensivo, levando em conta que acabei de me casar, então rapidamente
ele concorda que eu fique alguns dias a mais com a minha esposa.
— Minha esposa... Ela é minha esposa... Puta merda! Eu estou
casado. — Comento comigo mesmo, pensativo.
Sei que prometi a ela que esse casamento não duraria mais do que
um ano, mas e se eu quiser que ele dure mais do que isso? Será que ela
aceitaria? Será que ela sente algo por mim como estou sentindo por ela?
Ahh Jennifer Stuart, você não faz ideia do quanto te quero, mulher.
Quero fazer de você minha mulher. Deixo os meus pensamentos de lado e
desligo o meu notebook, arranco as minhas roupas fora e sigo para o
banheiro. Tomo um banho bem demorado e perco a noção do tempo
embaixo d'água.

Termino de me arrumar depois de Agnes vir buscar algumas roupas


de Jennifer que estão no meu closet, ela também me informa que as flores já
chegaram e eu peço para ela me entregar durante o jantar. Estou ansioso, ela
passou o final de tarde no quarto da frente e eu já estou com saudades de
ver o seu sorriso.
Depois de pronto eu saio do meu quarto e ando pelo corredor
esperando por ela, não demora muito e vejo a porta do seu quarto se abrir.
Ela está linda, ela usa um daqueles seus vestidos justo e pouco decotados,
mas com essas belas e torneadas pernas de fora. Seus cabelos estão
cacheados bem ao natural e combina muito com ela.
— Você está linda... Muito linda...
Aproximo-me admirando-a de cima abaixo, ela sorrir sem jeito,
ultimamente ela fica sem jeito com muita facilidade.
— Obrigada! Você também está muito elegante... Como sempre. —
Aquele seu sorriso radiante aparece para me fazer respirar fundo.
— Vamos descer! Vamos jantar no jardim. — Aproximo-me um
pouco mais e pego ela no colo, ela está muito cheirosa.
Admiro esses lábios tentadores aqui de pertinho, quero beijá-la de
novo, quero muito. Ela está ofegante em meus braços e tenta disfarçar, está
sem jeito por eu admirá-la tão fixamente. Tento me controlar mais e sigo
para as escadas, desço com cuidado e sigo para a saída dos fundos.
Saio com ela até o jardim e vejo próximo a piscina a nossa mesa
preparada com alguns arranjos de flores em volta, tem champanhe no gelo e
muitas velas também. Encaro Jennifer e ela parece tão surpresa quanto eu.
— Você não me contou que seria um jantar romântico... Porque isso,
Bruno? — Indaga ainda surpresa me olhando nos olhos.
— Vai por mim, eu também estou surpreso com isso, quando pedi a
Agnes para preparar algo, não imaginei que ela faria isso... Mas eu gostei,
você é minha esposa e merece o melhor. Eu quero que você tenha o melhor.
— Confesso ainda com ela nos braços e ela sorrir. Isso tem que ser um bom
sinal.
Aproximo-me da mesa e ponho ela no chão, puxo a cadeira e ela se
senta admirando a mesa e as velas a nossa volta. Sento-me de frente para
ela e sirvo as duas taças de champanhe, lhe entrego uma mas ela faz sinal
que não, lembro-me do seu pé machucado e me desculpo servindo-a uma
taça de suco, ela pega sorrindo e ergue pedindo um brinde.
— Vamos brindar ao nosso jantar!
— Vamos brindar a nós também, eu estou adorando passar esse
tempo com você, estou adorando te conhecer melhor. — Reforço com um
sorriso de lado.
Brindamos e bebemos a bebida no mesmo instante em que Agnes
aproxima-se com um belo buquê de flores.
— Boa noite ao casal! Eu me chamo Agnes e hoje faço questão de
servi-los! Aqui está as flores que me pediu, senhor! — Diz animada e pisca
nos fazendo sorrir.
— Obrigado, Agnes! Você é demais. — Sorrio abertamente assim
como Jennifer. Levanto-me e aproximo-me dela. — As flores são realmente
lindas mas não se comparam a sua beleza. No entanto, desejo que aceite e
espero que goste.
Entrego-lhe as flores e seus olhos brilham, seu sorriso se abre ainda
mais e ela puxa a respiração com força.
— Obrigada, Bruno, são realmente lindas... Eu amei, obrigada! —
Ela olha das flores para mim e vice versa.
Apenas retribuo ao seu sorriso e me sento novamente. Agnes nos
serve o jantar e sai em seguida nos deixando a sós. Ela põe as flores do
outro lado da mesa e começamos a comer, ouço uma música suave e não
muito alta vir da casa, encaro Jennifer e seu sorriso está ali.
— Agnes pensou mesmo em tudo... — Seu sorriso é tímido mas
ainda assim, lindo.
— Não tenho como reclamar, ela está deixando tudo isso muito
incrível. Eu não teria pensado em nada disso sozinho... Confesso que nunca
pensei em nada disso antes, mas estou gostando agora. — Admito com a
minha atenção nela.
— Não acredito que você nunca foi romântico com uma mulher...
— Nunca havia surgido uma que realmente me inspirasse a isso...
Você é especial, Jenny, notasse isso a distância. — Olho nos seus olhos
brilhantes antes de admirar seus lábios convidativos.
— Você também é especial, Bruno, e não estou dizendo isso apenas
levando em conta tudo que você já fez por mim. O seu jeito de ser, o seu
caráter, a sua sensibilidade em se preocupar com o que eu gosto ou não...
Enfim... Eu nunca havia conhecido um homem como você... — Mesmo
com o seu tom de pele negra consigo ver o quanto está vermelha em admitir
tal coisa.
— Você foi a única mulher a enxergar essas qualidades em mim,
esse sou eu mas poucos conseguem me ver assim, por isso você é tão
especial, é diferente de todas as mulheres que já conheci, por isso nunca fiz
tudo isso para uma mulher... Só para quem realmente merece. — Estou
atento a maneira como ela põe o cabelo atrás da orelha.
Ela sorrir sem jeito e volta a comer, faço o mesmo. Enquanto
comemos trocamos olhares e puxamos assuntos para não ficarmos muito
calados, mas só em estar aqui perto dela já me sinto bem.
Terminamos a nossa sobremesa mas continuamos a nossa conversa,
é tão agradável conversar com ela que perco a noção do tempo. Falamos um
pouco mais do seu trabalho na galeria de artes da minha mãe e ela está
adorando, está muito empolgada e estou gostando de vê-la assim.
Ouço uma música agradável tocar e resolvo tirá-la para dançar.
Levanto-me e lhe estendo a mão.
— A senhorita me concede o prazer de uma dança?
— Não vou conseguir dançar, Bruno, o meu pé ainda não está bem.
— Ela sorrir sem jeito.
— Apenas diga sim ou não! E deixe o resto comigo. — Ergo a
sobrancelha.
— Está bem, eu aceito o seu convite, cavalheiro. — Jenny pega a
minha mão sorrindo e eu a ajudo a se levantar.
Pego ela no colo e seu sorriso se abre mais enquanto abraça o meu
pescoço.
— Para tudo tem um jeito nessa vida, por mais que achemos difícil
demais. — Afasto-me um pouco da mesa e começo a me mover ao som da
melodia da música.
— Você é realmente um cavalheiro, e não é fácil encontrar homens
assim, então sinta-se orgulhoso disso, mulheres adoram homens gentis... E
você dança muito bem. — Ela também ergue uma sobrancelha me fazendo
sorrir.
Apenas danço admirando o seu sorriso aqui de perto, mas vejo que
isso a deixa desconsertada então desvio os meus olhos dela por alguns
instantes, mas sinto os seus dedos delicados acariciar a minha nuca antes de
tocar o meu rosto, seu toque me arrepia inteiro. Encaro os seus olhos antes
de encarar os seus lábios.
— Porque você disse que me quer como sua mulher? É apenas
porque nos casamos? Isso não estava no nosso acordo. — Pergunta com a
respiração irregular assim como ela está deixando a minha.
— Não! Não é apenas porque nos casamos... Eu te quero como
minha mulher porque estou me apaixonando... Estou ciente de que isso não
estava no nosso acordo, mas eu gosto de você, é só por isso que te quero
como minha mulher... Porque eu gosto de você e não quero que sejas de
outro. Quero que sejas minha, quero ser o único a tocar você... — Confesso
ainda movendo-me no ritmo da música, ela encara-me surpresa mas toma a
minha boca em um beijo calmo, mas intenso.
Paro de dançar retribuindo o seu beijo, beijando-a com o mesmo
desejo, com a mesma vontade, com a mesma paixão que sei que ela sente
por mim. Perco-me nesse beijo assombrosamente viciante, quero ela, quero
essa mulher.
— Também gosto de você... Gosto mais do que deveria...
Confessa entre os beijos acariciando o meu rosto, me deixando
ainda mais perplexo com tudo isso. Ela me corresponde, ela gosta de mim!
Paro o beijo olhando fixamente nos seus olhos. Sinto uma euforia tão
grande dentro de mim que me deixa confuso.
— Isso era tudo que eu queria ouvir...
Beijo-a mais uma vez, mas, ardentemente desejando beijá-la inteira,
mas me dou por satisfeito em poder saborear os seus lábios macios. Sigo até
uma das poltronas e sento-me com ela em meu colo. Beijo-a mais uma vez
e novamente ela se entrega.
— O seu beijo é tão bom... Você inteira é tão excitante...
Deixo os seus lábios e beijo o seu pescoço, sua mão acaricia a
minha nuca e seus dedos adentra os meus cabelos, mas ela tenta sair do meu
colo ao sentir o quanto estou excitado.
— Bruno... Minha nossa...
Ela ofega e tenta se levantar, mas não deixo.
— Não precisa fugir de mim, podemos ir devagar...
Tento ao máximo controlar os meus desejos e a minha respiração.
Estou louco para senti-la, já faz semanas que não fico com uma mulher.
— O que está acontecendo com a gente? Não podemos deixar isso
acontecer, Bruno... Quando o nosso acordo terminar você vai me deixar e
eu não quero me magoar, não quero me prender a você emocionalmente
para depois me decepcionar. — Ela sai do meu colo sentando-se ao meu
lado.
— O nosso acordo não precisa acabar, Jenny, eu não quero que
acabe...
— O que...? Como assim? — Me interrompe visivelmente surpresa.
— Pode parecer loucura, levando em conta que estamos casados e
não esperávamos que tudo isso acontecesse, mas... Estamos nos conhecendo
e estamos nos gostando, estamos nos apaixonando e assim como eu, sei que
você também não quer que tudo isso acabe, então... Vamos tentar viver
isso? Quero você como minha mulher, Jennifer! Eu quero você como minha
esposa mas não apenas no papel. Como eu disse, podemos ir devagar se
você se sentir mais à vontade assim, mas eu quero você. — Desabafo
angustiado, receoso de que ela não me aceite.
— Realmente é loucura, pois não esperava me casar de repente e me
apaixonar pelo meu marido após o casamento...
— Então está mesmo apaixonada por mim...? Jenny...? — Toco o
seu rosto admirando esses lábios maravilhosos.
— Sim... Estou apaixonada por você, Bruno... Eu também não quero
que tudo isso acabe... — Afirma em um sussurro também admirando a
minha boca.
Não perco tempo, beijo-a ardentemente e ela corresponde.
— Eu também estou apaixonado por você, Jenny... Muito...
Declaro entre beijos deitando ela na poltrona, pondo-me sobre ela,
Jennifer não me impede, ela me beija com o mesmo desejo abraçando o
meu pescoço. Esfrego-me nela possuído de desejo, beijo entre os seus seios
e acaricio-os ainda sobre o tecido do vestido.
— Quero você... Quero muito você, Jenny...
— Não, Bruno... Os empregados podem nos ver aqui... Ahh... Aqui
não...
Alerta-me entre gemidos e isso só me excita mais. Entretanto, ela
tem razão, não quero os empregados nos vendo nessa situação, quero senti-
la com calma na privacidade do nosso quarto, não quero que ela se sinta
humilhada como fizeram naquele maldito vídeo.
— Tudo bem... Teremos muito tempo e melhores oportunidades
para isso. — Respiro fundo e ergo-me novamente.
Ela também se senta ainda ofegante assim como eu. Tiro a minha
blusa de dentro da calça para cobrir o volume que não devia estar aqui mas
não tem como evitar isso com uma mulher dessas em meus braços.
Encaro-a sem jeito e ela está envergonhada.
— Quero comer ou beber mais alguma coisa? Quer dançar um
pouco mais? — Levanto-me lhe estendendo a mão.
— Quero dançar um pouco mais, mas não precisa me... Ahhh...
Bruno! Eu ia dizer exatamente isso! Não precisa me pegar no colo o tempo
todo. — Ela solta uma gargalhada gostosa quando pego ela no colo.
— Faço questão de pegá-la no colo, assim não me excito com tanta
facilidade e não te deixo tão constrangida... Você é uma mulher muito linda,
e consequentemente muito gostosa também. — Afirmo espontaneamente e
ela evita me encara.
— Minha nossa, Bruno! Você diz cada coisa. — Sorrio por vê-la tão
envergonhada.
Começo a dançar com ela no colo e lhe roubo mais um beijo ou
outro, namoramos por um bom tempo e ela é tão carinhosa, tão meiga e
adoro ver o quanto ela fica envergonhada, mas quando Agnes aparece com
os remédios dela eu finalmente ponho ela no chão e nos sentamos
novamente a mesa. Nos servimos um pouco mais da sobremesa e vejo que a
minha empregada tem um sorriso de satisfação no rosto, acho que ela nos
viu nos beijando.
— Agnes! Me faz um favor? Leve as minhas flores e coloque em
um vaso com água... Põe no meu quarto. — Jenny pega o buquê sorrindo e
isso me deixa contente.
— Acho melhor colocar no quarto do Sr. Bruno, menina Jennifer, a
sua sogra está aí e ficou bastante satisfeita em ver que os recém cansados
estão aproveitando a lua de mel.
— O que? A Sra. Naomi está aqui? Porque você não disse nada
antes, Agnes? Meu Deus, que vergonha. — Vejo minha esposa espantada e
confesso que também estou surpreso.
— Está envergonha porque, Jenny? Somos casados e mamãe precisa
acreditar que estamos realmente em lua de mel... Mas acho que não vamos
mais precisar ficar fingindo, tudo está se tornando muito real para mim. —
Encaro minha esposa fixamente e Agnes está atenta a nós dois.
— Oh meu Deus! Vocês estão mesmo apaixonados? Estão se
entregando ao amor. Que coisa mais linda. — Dispara a minha empregada
olhando de mim para Jennifer.
— É, Agnes... Estamos nos apaixonando. — Afirmo com um sorriso
bobo no rosto. Jennifer sorrir mais abertamente que antes.
— É melhor irmos ver a sua mãe, ela deve ter vindo saber se estou
bem...
— Fique tranquila, querida, eu já expliquei a Sra. Stuart que você
está se recuperando bem e ela não quer incomodar vocês, enquanto vinha
para cá ela disse que já estava de saída. Ela não quis interromper o jantar de
vocês, mas avisou que vem amanhã cedo para te ver, então é bom que ela
encontre você no quarto do seu marido, você não acha? — Sugere pegando
o buquê de flores, Jennifer parece insegura.
— Talvez você tenha razão, mas, não quero ficar incomodando
Bruno, não posso tirar a privacidade dele...
— Relaxa! Não está tirando a minha privacidade, na verdade, estou
adorando dormir com você por perto. — Confesso espontaneamente e ela
sorrir surpresa.
— Vou colocar as flores na água, com licença. — Agnes sai em
seguida nos deixando a sós.
Encaro a minha esposa e ela ainda está sem jeito, mas continuamos
aqui, conversando e eu tomo um pouco mais de champanhe e ela o suco de
laranja. Mas não ficamos por muito mais tempo, logo estou pegando-a
novamente em meus braços e entramos em casa, subo direto para o meu
quarto e ela pede para deixá-la no closet, ela precisa se trocar e eu também,
então pego uma bermuda e sigo para o banheiro, me troco pensativo ao me
lembrar do nosso jantar, ao me lembrar que ela me beijou, que nos
declaramos e vamos tentar viver o que está acontecendo conosco.
Sorrio abertamente e saio do banheiro, ela está parada na porta do
closet encarando o seu pé imobilizado. Ela usa uma camisola decotada e
com as pernas de fora. Corro até ela e pego-a no colo.
— Porque não me esperou? Você não pode forçar esse pé no chão.
— Levo-a até a cama e acomodo-a.
— Eu não gosto de ficar incomodando as pessoas, você já me
carregou no colo a noite inteira... Até dançou comigo no colo. — Ela puxa
as cobertas e eu dou a volta na cama.
Jenny está muito sexy nessa camisola, isso é tentação de mais para
quem quer ir devagar. Engulo em seco.
— Coloque uma coisa na sua cabeça, você nunca me incomoda,
ouviu? Agora durma e descanse. Amanhã vou deixar você com Agnes pois
preciso ir a empresa, preciso terminar alguns relatórios com o meu irmão.
— Acomodo-me ao seu lado entrando embaixo das cobertas.
Quero trazê-la para os meus braços mas não quero deixar tão claro o
quanto estou louco para fazê-la minha, eu sugeri irmos com calma então
não posso ser apressado.
— Obrigada pelo jantar, Bruno, foi maravilhoso, eu gostei muito. —
Aquele seu olhar doce e meigo aparece para me deixar fascinado.
— Eu também adorei, precisamos fazer isso mais vezes mas
também quero te levar para jantar fora, dançar, ir ao cinema, viajar juntos...
Quero passar mais tempo com você. — Surpreendo-me comigo mesmo.
Eu nunca quis nada disso com nenhuma outra mulher, nunca se quer
fui romântico ou quis jantar a sós em um clima tão especial, e agora estou
fazendo planos com ela.
— Eu também gostaria muito de passar mais tempo com você, mas
ambos temos os nossos compromissos, estou estudando e trabalhando,
então só teremos tempo a noite... Eu vou gostar de poder sair e me divertir
com o meu marido. — Argumenta sorrindo, mas fica sem jeito e citar que
sou seu marido. Sorrio.
— Eu vou gostar de proporcionar muitas diversões a minha esposa...
Mas por hora, a única coisa que eu preciso dela, é de um beijo de boa noite.
— Viro-me para ela puxando-a pela cintura até o meu corpo.
Sua respiração pesa mas ela vem de bom grado, seus olhos
castanhos e meigos brilham de um jeito especial. Beijo-a calmamente, mas
um beijo profundo que me faz desejar mais que um beijo.
— Vamos com calma...? Não temos pressa, por mais que estejamos
com o desejo a flor da pele... Vamos com calma... — Alerta-me entre os
beijos e eu suspiro fundo.
— Será como você quiser... Por mais que eu esteja desejando rasgar
essa sua camisola provocante e possuí-la... As suas curvas sensuais me
enlouquecem... Droga! É melhor dormirmos. — Engulo em seco
esforçando-me para me controlar.
— Boa noite, Bruno! — Ela se solta de mim e posso ver o quanto
está tensa. Nervosa.
— Boa noite, Jenny! Durma bem. — Descubro-me por sentir um
calor incômodo tomar o meu corpo.
Estou queimando de desejo por essa mulher, mas é justo que ela
queira ir devagar por mais que tenhamos nos declarado, já brincaram com
ela uma vez, ela só quer ter certeza de que eu também não farei isso com
ela. Essa mulher é admirável.
Ela vira-se para o lado suspirando e eu aproximo-me desejando
dormir com ela mais perto, mas não será uma boa ideia levando em conta o
quanto estou excitado. Encaro as flores em um jarro sobre a mesa no canto
do quarto e lembro-me do nosso jantar, lembro-me dela me beijando, ela
tomou a iniciativa de me beijar, eu já estava enlouquecendo de tanta
vontade de beijá-la de novo. Ela tem um beijo surreal.
— Eu não vou conseguir dormir perto de você... Não consigo deixar
de te desejar... — Surpreendo-me com a sua voz angustiada.
Olho para ela e Jennifer vira-se para mim, pondo-se sobre mim. Ela
toma a minha boca me beijando ardentemente e eu temo estar sonhando por
desejar tanto essa mulher. Sento-me na cama sem deixar os seus lábios,
acaricio o seu corpo tomado pelo desejo e ergo a sua camisola, tiro do seu
corpo admirando os seus seios nus. Encaro o seu rosto e volto a encarar os
seus seios enchendo as minhas mãos com ele.
— Isso tem que ser real... Tem que ser...
Engulo em seco beijando entre os seus seios e chupo cada um deles.
— Eu não pareço real para você...? Estar aqui rebolando no seu
colo, desejando ardentemente que me faça sua mulher, não é real o
bastante...? Ahh... Bruno... — Sussurra no meu ouvido movendo o seu
quadril, se esfregando em mim. Me fazendo gemer.
— Só tem um jeito de descobrir se o que está acontecendo é real...
Abraço a sua cintura fazendo ela se erguer, meto a minha mão na
bermuda e agarro o meu pau, ponho-o para fora e agarro a sua calcinha,
arrebento-a tirando do seu corpo e me encaixo na sua boceta meladinha.
Solto a sua cintura e ela se senta em mim me engolindo na sua carne
quente.
— Ahh... Minha nossa... — Ela geme abraçando o meu pescoço.
— Puta merda... Ahh... Você é real... Cacete! Você é real... — Gemo
chupando o seu pescoço enquanto agarro a sua bunda fazendo ela se mover
mais.
Não aguento essa tortura, deito-a na cama movendo-me mais rápido,
mais forte tomado pelo tesão, ela é quente, é apertada exatamente como
imaginei, ela é minha mulher e se contorce ao receber as minhas investidas.
— Gostosa... Maravilhosa, Jenny...
Tomo a sua boca em um beijo feroz desejando pegá-la de jeito, mas
ela ainda está se recuperando do pé, além do más, tivemos um jantar
romântico e o mínimo que ela espera é que eu seja delicado. E eu serei, pelo
menos por hoje.
Gemo olhando nos seus olhos, ela ofega abraçando o meu pescoço,
geme e se arqueia perdida em delírios, é a visão mais linda de se ver. Nos
entregamos a um delicioso momento de paixão e desejo, saciamos as
suplicas dos nossos corpos até atingirmos um orgasmo intenso como ainda
não havia sentido. Desabo sobre ela me sentindo exausto, como fiquei
esgotado em uma única transa? Talvez pelo fato de não transar com
ninguém a um mês, nunca fiquei tanto tempo sem sexo.
Saio dela e termino se tirar a minha bermuda e minha cueca, acho
que agora posso ficar mais à vontade perto dela. Merda! Cadê a camisinha?
Não usamos camisinha. Encaro Jenny e ela está sem jeito, envergonhada e
cobre o seu corpo. Sorrio puxando as cobertas de cima dela, trago-a para os
meus braços e ela solta uma respiração pesada.
— O que você tem? Está arrependida? Não gostou do que fizemos?
— Questiono preocupado com a sua reação e me esquecendo totalmente
que não usamos a bendita camisinha.
— Mas é claro que eu gostei, e não estou nenhum pouco
arrependida... É só que... Ah minha nossa, só agora estou me dando conta
de que consumamos o casamento, estamos tornando tudo isso real...
Estamos casados e estamos nos apaixonando... Sou sua esposa, você é meu
marido, Bruno. — Ela parece chocada, parece que só agora a ficha está
caindo. Sorrio.
— É isso! Sou seu marido e você é minha esposa. Sei que é tudo
muito repentino e inesperado para nós dois, mas estou feliz de estar vivendo
tudo isso com você, e não com uma estranha qualquer... Estou apaixonado
por você, minha esposa. — Toco o seu rosto olhando nos seus olhos, e eles
estão marejados.
— É a primeira vez que me sinto realmente feliz depois de tudo que
me aconteceu, e é você quem está me proporcionando isso... Bruno, eu não
me arrependo nem por um segundo em ter aceito a sua proposta, não vou
negar que já sentia uma atração por você, mas eu aceitei para conseguir dar
uma vida melhor a minha família, eles moram de aluguel desde que me
entendo por gente, é o maior sonho dos meus pais poderem ter uma casa
própria, e mesmo que eu nunca perdoe o meu pai pelo que ele fez, pelo
menos a minha mãe e minha irmã terão onde ficar caso precisem. Não
quero nunca que elas acabem passando pelo que eu passei... Passei fome,
sede e frio, fui assaltada e desrespeitada por não ter o apoio de ninguém,
por não ter onde ficar, até você chegar para me salvar... Eu devo muito a
você, mas quero que saiba que não é por isso que me apaixonei por você. —
Desabafa emocionada e eu entendo a sua situação. Mas gosto de ouvi-la
dizer que está apaixonada por mim
— Por isso acho você tão diferente, você é espontânea, é sincera e
jamais se envolveria com alguém por interesse. O pouco tempo que te
conheço é o suficiente para eu ter certeza de tudo isso. Você é a primeira
mulher que realmente merece a minha confiança, Jennifer, e por isso quero
ser tudo que você precisa, quero te dar tudo que você merece,
principalmente o meu coração, eu nunca o dei a ninguém mas estou
disposto a entregá-lo a você. — Disparo espontaneamente e vejo-a chocada.
— Me desculpa? Isso foi muito brega, não é? Eu não sei como ser
romântico com uma mulher, mas estou me esforçando para ser assim com
você, mas pelo visto estou falando besteira. — Sinto o meu rosto esquentar
e ela se deita sobre o meu peito.
— Essa foi a coisa mais linda que alguém já me disse até hoje... E
você está sendo romântico, sensível e atencioso desde que nos conhecemos,
foi por isso que me apaixonei por você... E você não foi nada brega. — Ela
me dá um sorriso tão lindo que faz o meu coração disparar.
Toco o seu rosto lhe roubando um beijo urgente, deito-a na cama
aprofundando mais o beijo, nos empolgando novamente e deixamos o nosso
desejo nos dominar, transamos mais uma vez antes de apagarmos exaustos,
mas apagamos com um sorriso bobo no rosto e ela deitada em meus braços
como tanto desejei. Estou feliz, muito feliz.
Acordo com ele abraçado a minha cintura, dormi em seus braços e
agora acordo de conchinha com ele. Meu Deus, nós transamos, fizemos
amor e o casamento foi consumado, sou sua esposa de verdade, ele é meu
marido, Bruno Stuart é meu marido.
Mexo-me tirando o cabelo do rosto e sinto ele beijar as minhas
costas, me arrepio inteira ao sentir os seus lábios quentes na minha pele, e
sua mão grande aperta a minha cintura, prendendo-me ao seu corpo.
— Ainda é muito cedo, então nem pense em fugir de mim... —
Alerta-me em um tom rouco de sono, ainda são cinco da manhã.
— Preciso ir ao banheiro, mas não precisa se levantar para me
ajudar, o meu pé não está mais doendo tanto então eu...
— Eu sou o seu marido, faço questão de ajudar a minha mulher. —
Afirma se levantando. Sorrio abertamente por ele dizer que sou sua mulher.
Pego a minha camisola no meio das cobertas e me visto, levanto-me
com cuidado e ele me pega no colo. Ainda está escuro lá fora e sei que
vamos poder dormir um pouco mais, tenho faculdade pois estamos em
período de provas e eu não posso faltar, e não quero privilégios por ele ser o
meu marido, quero conquistar os meus objetivos por mérito, e não por ser
esposa de um dos futuros donos da faculdade.
Bruno me deixa no banheiro e vai beber água, ele está desfilando de
cueca e isso me deixa tensa, não estou acostumada com essas coisas pois só
tive dois homens na minha vida, o meu primeiro namorado da escola e o
canalha do Vinícius que brincou comigo, então toda essa intimidade de
dormir agarradinha, dormir na mesma cama foi algo inesperado mas que
estou gostando muito, sinceramente eu espero não me decepcionar outra
vez, mas eu quero viver tudo isso que está acontecendo.
Estou apostando as minhas fichas em Bruno Stuart, espero não me
arrepender por isso. Saio do banheiro mancando mas não o vejo, encaro as
rosas no vaso sobre a mesa e sigo até lá com um sorriso bobo no rosto, ele
me deu flores.
Olho para o lado e ele está saindo do closet me admirando com
malícia.
— Gostou mesmo das flores?
— Muito!
— É bom saber disso...
Ele aproxima-se e me abraça por trás, suas mãos descem pela lateral
do meu corpo e ele ergue a minha camisola enquanto cheira o meu pescoço,
tirando o tecido do meu corpo, já estou trêmula e ofegante.
— O que está fazendo...? — Sussurro ao sentir que ele está excitado
e pressiona a sua ereção em mim.
— Fizemos amor devagar, transamos de forma delicado, mas quero
te mostrar algo que eu gosto muito... Quero te mostrar como fazer você
gemer o meu nome. — Ele segura o meu cabelo na nuca e vira o meu rosto
me beijando ferozmente.
Sinto meu o corpo tremer, gemo na sua boca enquanto sinto a sua
mão acariciar a minha boceta, me instigando, me estimulando a rebolar e
me esfregar nele. De repente ele me inclina me fazendo debruçar sobre a
mesa.
— Bruno...
Sussurro quase sem voz e sinto ele se encaixar em mim mas não me
penetra, uma de suas mãos grandes desliza pelas minhas costas e para na
minha cintura enquanto a outra acaricia a minha bunda com uma pegada
forte, tento não desmaiar por esquecer de respirar.
— Se não gostar ou achar que estou sendo bruto demais, é só pedir
para parar, está bem?
— Está bem... Ahhh... Minha nossa...
Mal termino de falar e ele me penetra de uma só vez, mas para
dentro de mim acariciando as minhas costas, posso ouvir a sua respiração.
Me sinto arder e latejar ao mesmo tempo, sinto um desconforto que logo dá
lugar ao prazer quando ele começa a se mover lentamente, mas profundo,
intenso e forte.
Sinto ele segurar os meus cabelos e abraçar o meu corpo para me
erguer, começando a se mover com movimentos mais brutos que antes, é
algo novo para mim mas eu gosto, me causa um tesão absurdo, me deixa
completamente rendida.
— Tem noção do quanto é gostosa...? Hein...? Ahh cacete...
Ele geme em um tom rouco agarrando os meus seios e brinca com
os meus mamilos enquanto me penetra, o som dele se chocando contra mim
é algo surreal. Minhas pernas amolecem quando sinto o meu orgasmo se
formar tão precocemente. Minha nossa, eu já vou gozar e ele me penetra
mais forte.
— Bruno... Bruno... Ahh... Minha nossa... Eu vou desabar... Ahh...
Gemo apoiando as mãos na mesa ouvindo a sua respiração pesada e
seus sussurros, ele segura a minha cintura me penetrando com mais firmeza,
desabo sobre a mesa gemendo, ofegante e sentindo o meu corpo tremer em
colapso.
— Olha para mim, Jenny...? Vamos! Olha para mim! — Seu tom
mandão é tão rouco que me assusta.
Esforço-me para me erguer novamente e olho-o sobre os ombros,
vejo a luxuria em seus olhos, suas expressões de prazer e desejo me excitam
e eu gozo.
— Bruno... — Gemo pedida nessa sensação eletrizante.
— Ahh isso... Isso! Minha nossa... — Ele geme me pegando pelo
cabelo e me ergue, vira o meu rosto e me beija de um jeito que não sei
descrever.
Bruno chupa a minha língua e os meus lábios, geme na minha boca
ainda se movendo então sinto ele gozar.
— Puta merda...! Ahh...
Geme alto tocando o meu corpo de todos os lados, beijando e
chupando o meu ombro e eu tento não desabar outra vez. Isso foi bastante
intenso, foi muito chocante de tão bom. Inclino a cabeça para trás deitando
em seu ombro, estou ofegante e ele também, a sua respiração quente na
minha pele mexe comigo.
— Me leva pra cama...? Ainda quero você... — Viro o rosto
beijando-o ardentemente.
— Nem precisava pedir... Eu também ainda quero você. — Ele
interrompe o beijo saindo de mim.
Viro-me para ele mancando e o mesmo me pega no colo e me leva
pra cama como pedi, antes que eu possa me recuperar de um orgasmo ele já
está me pondo de quatro na cama, me penetrando com aquela mesma
pegada forte de antes, esse homem é surreal, jamais imaginei que ele fosse
assim tão envolvente na cama. Tão ardente.
Antes de chegarmos a um novo orgasmo, Bruno me joga na cama e
me ama com calma, com doçura me deixando completamente encantada,
ele sabe ser bruto, sabe ser forte e envolvente ao mesmo tempo que também
é doce, gentil e romântico.
Nos jogamos na cama exaustos e ofegantes, ele me prende em seus
braços e puxa as cobertas nos cobrindo até a cintura, sorrio sonolenta e não
demora para pegarmos no sono novamente.
— Você é perfeita... Minha mulher é perfeita... — Ouço sua voz
bem distante antes de adormecer de vez, exausta após nos amarmos.
É maravilhoso adormecer com essa frase ecoando na minha
cabeça, "Minha mulher é perfeita." Ele me ver como sua mulher e depois de
tudo que aconteceu entre nós, também já o vejo como meu homem, meu
marido pois é isso que somos, somos marido e mulher e nós consumamos
isso, consumamos o casamento que era para ser apenas um acordo, estamos
casados de verdade e apaixonados e isso está muito claro para nós. Só
espero não me arrepender por tudo isso e sei que não vou.
Ouço batidas na porta mas ainda estou sonolenta, deve ser Agnes
para avisar sobre o café da manhã, será que dormimos tanto assim? Encaro
esse peitoral em baixo de mim e ouço mais batidas na porta. Bruno também
acorda e me abraça apertado no instante em que a porta se abre.
— Sra. Naomi?
— Mamãe? O que está fazendo aqui tão cedo?
Nos sentamos abruptamente nos cobrindo e a mulher a nossa frente
parece chocada.
— Oh meu Deus... Vocês estão nus? Dormiram nus? Estão mesmo
juntos? Vocês consumaram o casamento? — Pergunta eufórica e não tem
como me sentir mais constrangida e confusa.
— Meu Deus, mamãe! Mas é claro que consumamos o casamento, é
isso que todo recém casado faz. — Diz Bruno sem jeito esfregando os
olhos.
— Não um casal que se casa por causa de um contrato...
— O que? Sra. Naomi...? — Encaro-a chocada e ao mesmo tempo
com medo da rejeição.
— Fica tranquila, querida, eu sei de tudo a muito tempo e estou do
lado de vocês. Vocês estão apaixonados mas não enxergavam isso, e estou
feliz por finalmente vê-los se entendendo de verdade... O jantar de ontem,
as flores, eu orientei Agnes por telefone mas quis vir me certificar de que
tudo estava saindo como planejado, não fiquem chateados com Agnes, ela
enxergou em vocês esse mesmo amor que eu estou vendo agora mas ela
precisava de ajuda, e que bom que ela confiou em mim. — Minha sogra
conta emocionada e isso me surpreende.
— Me desculpe, Sra. Naomi? Eu prometo que não queria mentir...
— Não se desculpe, querida, você não mentiu, nenhum de vocês
dois mentiram, vocês apenas encontraram um jeito de ficarem juntos sem
precisar admitir que se gostam... Mas pelo que estou vendo, vocês
finalmente se assumiram. — Seu sorriso é largo e Bruno me abraça me
trazendo para o seu corpo.
— Eu precisava me casar o quanto antes e não sabia o que sentia por
Jennifer, mas eu a desejava muito quando fiz a tal proposta e ela aceitou o
meu acordo. Passamos um mês nos conhecendo e eu me apaixonei por essa
mulher, antes do casamento eu quis dizer a ela o quando a desejo como
minha mulher, mas não tive coragem de fazer isso, temi ser rejeitado sem
saber que ela também tinha interesse em mim... Estamos juntos, mamãe!
Estamos casados e apaixonados e vamos continuar nos conhecendo, vamos
ficar juntos como um casal, o nosso casamento não é mais uma mentira. —
Ele abre um sorriso tão lindo ao falar de nós, isso me desarma.
— Eu já esperava por isso e estou feliz por vocês. Agora sim eu
realmente tenho uma nora. Seja bem-vinda a família, Jennifer querida. —
Ela vem até nós empolgada e literalmente sobe na cama nos beijando com
carinho.
— Obrigada por me aceitar, minha sogra... Meu Deus, isso é de
verdade agora... Que bom que não ficou chateada com a gente pela idéia do
acordo. — Ainda me sinto constrangida por estar nua nos braços dele e a
minha sogra na minha frente sorrindo tão abertamente.
— Eu só não fiquei chateada porque sabia que se gostam, e de certa
forma eu já esperava que isso acontecesse. Ver vocês juntos. Agora vistam-
se e desçam para tomar café da manhã, se planejam mesmo ir trabalhar ou ir
a faculdade, vocês já estão atrasados. Espero vocês lá embaixo! — Ela vai
até a porta e para atenta a nós.
Olho no relógio e constato que realmente estamos em cima da hora.
— Minha nossa! Eu vou tomar um banho rápido e me arrumar. Eu
tenho prova hoje. — Tento me levantar e puxo o edredom comigo para me
cobrir, mas ele vem junto.
— Não precisa correr, eu te ajudo. — Bruno se levanta junto comigo
e a mãe dele sai nos deixando a sós. — Podemos tomar um banho juntos?
— Não acho uma boa idéia, ou vamos nos atrasar mais...
— Você tem um atestado médico, nem precisava ir a faculdade hoje
e o professor não pode te negar de fazer as provas se hoje outro dia...
— Se estou bem o suficiente para fazermos travessuras no meio da
noite, então estou bem o suficiente para ir para faculdade... Eu já falei que
não quero privilégios por ser sua esposa, Bruno, as pessoas já me olham
torto por ser negra, imagina se eu começar a faltar e mesmo assim receber
privilégios por saberem que nos conhecemos? Imagina se descobrem que
somos casados?
— E você não pretende contar? Vai deixar aqueles moleques te
olhando e te paquerando como se você fosse solteira, é isso? Porque eu sei
que nem todos naquela faculdade te rejeitam como aquele canalha fez. —
Dispara confuso. Estou surpresa com a sua reação.
— Eu não fazia ideia de que você se importava com isso...
— Mas é claro que eu me importo, Jenny! Eu não escolhi você para
ser minha esposa apenas porque eu precisava fazer isso, eu já te desejava,
eu já enxergava em você essa mulher incrível que você é... Não me casei
com você para te esconder de ninguém, vamos a eventos de família e a
minha esposa precisa estar ao meu lado, eu quero que esteja ao meu lado.
— Seu tom incomodado me surpreende ainda mais.
— Me desculpe...? Eu... Eu quero ser a esposa que você quer e
precisa que eu seja, mas também quero que você seja o marido que eu quero
e preciso. — Sinto-me sem jeito mas ele aproxima-se tocando o meu rosto.
— Tudo bem, seremos um para o outro o que queremos e
precisamos, e para começar, quero levar a minha esposa na faculdade e
espero não ser rejeitado quando eu me despedir de você com um beijo.
Tudo bem para você? — Ele solta o edredom e abraça a minha cintura.
Suspiro encantada.
— Tudo bem, eu não vou te rejeitar... Eu não conseguiria fazer isso
mesmo que eu quisesse muito... — Admito sem jeito e ele sorrir me
beijando em seguida.
Seguimos para o banheiro e ele me ajuda no banho para eu não
molhar a bota imobilizadora, foi um banho bem intenso pois ele me olha
com desejo, ele me toca com posse e me rouba beijos indecentes, beijos
famintos que me induz a ceder as suas carícias, no entanto, a todo momento
lembro a ele que estamos atrasados para sairmos, então terminamos o nosso
banho e fomos nos arrumar, fizemos isso entre uma troca de olhares e outra,
mas logo estamos prontos e descemos até a sala. Mais uma vez meu marido
me carrega no colo até a mesa do café da manhã e minha sogra sugere
comprarmos muletas, mas digo que já estou bem melhor e que apenas o
filho dela faz questão de me carregar de um lado para o outro.
Minha sogra sorrir nos admirando e ambos estamos sem graça, mas
tentamos não deixar isso nos afetar tanto pois a partir de agora, somos
realmente um casal.

Paramos em uma vaga de estacionamento no pátio da universidade,


ele sai do carro vindo abrir a porta para mim e eu tento me despedir dele
aqui mesmo, mas Bruno faz questão de me levar até a sala de aula, ele faz
questão que nos vejam juntos pois meu marido deu para ter ciúmes de
repente, bom, eu acho que foi de repente mas se eu parar para pensar, ele
sempre me perguntava como estava indo na faculdade, se alguém estava
mexendo comigo ou algo do tipo, eu sempre vi isso apenas como uma
simples preocupação, e não como ciúmes.
Entramos no prédio e seguimos pelo corredor se mãos dadas, ando
mancando me esforçando para não sentir dor, ou não vou conseguir evitar
que ele me leve no colo e me põe sentada na minha sala, já foi difícil
convencê-lo a me deixar entrar aqui andando. Ele é tão fofo.
Subimos para o andar da minha sala e vejo alguns alunos ainda
entrando em suas salas e seus olhares estão em nós, estou de mãos dadas
com o filho do dono dessa faculdade, depois dele mesmo me colocar como
fiscal aqui dentro, agora sim vão falar bastante de mim pelas costas mas
vou tentar não me importar com isso.
— Com licença, professor! — Entro na sala com Bruno ainda ao
meu lado e todos os olhares vem para nós.
— Jennifer? O que aconteceu com você? Quebrou o pé? —
Pergunta o professor com uma expressão preocupada.
— Foi apenas uma torção, não chegou a quebrar mas eu ainda estou
de atestado médico, eu só vim por causa das provas. — Explico tentando
não forçar o meu pé no chão.
— Se você está de atestado eu não entendo o porquê você está aqui,
Jennifer, eu posso te aplicar a minha prova quando você voltar, se você fizer
a prova hoje eu vou ter que desconsiderar o seu atestado, e se você não vier
amanhã você vai levar falta. — Explica sério e atento.
— Estou ciente disso, professor, mas eu não quero ser privilegiada
por ter o apoio da família Stuart, que agora também é a minha família. —
Disparo espontaneamente.
— Ela se considera parte da família só porque está trabalhando para
os Stuart.
— Não sabia que empregados faziam parte da família...
Ouço dois comentários maldosos que me incomodam, olho para
todos na sala e quando abro a boca para me defender, Bruno faz isso
primeiro.
— Em primeiro lugar, eu vou deixar bem claro que Jennifer não é
minha empregada, ela é minha esposa pois somos casados. Em segundo
lugar, agora mais do que nunca todos aqui dentro vão ter que respeitá-la,
pois agora ela também é uma Stuart! — Dispara em um tom ríspido e
abraça a minha cintura.
— Esposa?
— Como assim?
— Podia ter escolhido uma esposa melhor... Uma mulher branca
como ele...
— A cor da pele não nos faz melhor que ninguém, e vocês deveriam
saber disso já que estão aqui estudando para ter um futuro brilhante, mas eu
duvido que vocês cheguem a algum lugar pensando dessa forma tão
preconceituosa... Mas enfim. Jennifer Paiva Stuart é minha esposa, e aquele
que a desrespeitar será suspenso ou até mesmo expulso dessa instituição,
espero que todos tenham entendido o recado pois essa é a última vez que
dou esse aviso... Professor! Isso era tudo que eu tinha a dizer. — Bruno
olha da turma para o professor antes de me olhar nos olhos. — Tenha um
bom estudo! Me liga se precisar ou tiver algum problema.
Eu apenas concordo e ele me dá um beijo casto saindo da sala em
seguida. Vou para minha cadeira e me sento ao lado de Tauane.
— O que aconteceu? E a lua de mel? Pensei que fosse ficar mais
tempo com o seu marido. Como você conseguiu esse machucado no pé? —
Pergunta confusa.
— Longa história, no intervalo conversamos. — Tento não
prolongar a nossa conversa pois não quero dizer nada na frente dessas
pessoas.
Ela é bastante compreensiva então apenas focamos a nossa atenção
no professor que começa a distribuir as provas. Espero que essa novidade
sobre o casamento não me traga dores de cabeça com os meus colegas,
afinal, não fizemos nada de errado.
É contra ética um professor se envolver com um aluno, mas Bruno
não é professor e nem trabalha diretamente com os alunos, ele trabalha na
empresa relacionada as universidades e ajuda a resolver os problemas que
surgem nelas.
Tem gente aqui que nem o conhecia até ele mesmo passar de sala
em sala para falar sobre o crime que fizeram contra mim, não tem como não
se apaixonar por esse homem, nos conhecemos nos portões da faculdade a
algumas semanas atrás e hoje estamos casados, tudo isso é surpreendente,
eu sei disso.
Jennifer Paiva Stuart. Minha nossa, ainda é difícil de acreditar, eu
me casei, começamos tudo isso sem a intenção de nos envolvermos mas
estamos apaixonados, o meu marido está apaixonado por mim assim como
eu estou por ele.
Sorrio abertamente encarando a prova na minha mesa, tento focar a
minha atenção nela e começo a responder as questões. Não é querer me
gabar mas eu sou uma das melhores alunas dessa faculdade, meu pai
sempre me fazia estudar mais do que eu gostaria mas nessa parte eu
agradeço a ele, pois sei que vou conseguir me formar e construir o futuro
que eu sempre desejei para mim graças as suas insistências em me fazer
estudar, ele queria que eu fosse umas das melhores alunas, e eu sou.
SEIS MESES DEPOIS...

Como estratégia eu já saio da minha sala com a bolsa pendurada no


ombro e uma agenda e caneta nas mãos, olho em todas as direções e como
sempre, todos evitam me olhar pois sabem que vou anotar até se uma mosca
voar na minha direção, sigo de nariz em pé pelo corredor e Tauane ao meu
lado fazendo a mesma coisa, ela está fingindo me ajudar na minha tarefa de
fiscalização comportamental, assim os preconceituosos não vão temer
somente a mim, eu falei sobre isso com Bruno e ele me deu carta branca
para escolher alguns dos poucos colegas que tenho para me a ajudar pois
essa universidade é imensa, mas escolhi somente aqueles em quem eu sinto
confiança para me ajudar nessa tarefa de fiscalização, e como recompensar
pelos serviços prestados, todos os alunos receberão um pequeno desconto
nas mensalidades e isso já ajuda muito, eu nunca vi uma universidade fazer
esse tipo de coisa mas Bruno quer provar que tudo pode ser diferente sobre
o seu comando, e suas decisões foram todas aprovadas.
Saio até o pátio e sigo até o carro com o motorista em uma vaga
exclusiva. Muitos questionaram sobre o meu casamento mas eu não devo
nada a ninguém, então apenas falei a verdade, nos apaixonamos e mesmo
que não acreditem nisso e me julguem por estar cansada com o futuro dono
desse lugar, eu não me importo.
Bruno tem vindo me buscar na faculdade com frequência para
almoçarmos juntos, seja em casa ou em um restaurante, apenas quando ele
está muito atarefado ele não vem, mas manda um dos seguranças que se
tornou praticamente o meu guarda-costas, estou achando tudo isso hilário.
Aproximo-me do carro e o homem que me esqueci o nome abre a
porta para eu entrar, mas eu não o faço. Esse não é o mesmo segurança que
me traz sempre, ele usa um uniforme de motorista mas usa óculos escuro
como se quisesse esconder o rosto para não ser reconhecido.
— Você não é o mesmo segurança que está acostumado a vir
comigo, não foi você quem me trouxe mais cedo. Quem é você? Porque eu
não fui informada sobre essa substituição...? Vou ligar para o meu marido,
não vou sair daqui com um estranho. — Questiono desconfiada e abro a
minha bolsa para pegar o celular.
Ele me pega pelo braço me puxando contra o seu corpo mas me
solto abruptamente.
— Você ficou louco? O que está fazendo? Eu vou reclamar com o
meu marido sobre isso!
— Pode reclamar agora! Eu estou ouvindo... Estou muito orgulhoso
da minha mulher, sempre atenta a tudo e percebeu logo a troca do
segurança... Não vou te beijar agora ou vão pensar que você está me traindo
com o seu motorista. — Bruno tira os óculos escuro e o quepe de motorista.
Meu coração acelera.
— Bruno...! Você é louco, eu me assustei, sabia? — Bato no seu
braço e ele sorrir. Quero me atirar em seus braços e beijá-lo.
— Cacete! Não morde o lábio assim... Entra no carro! Quero beijar
você, mas não vestido de motorista na frente dessas pessoas. — Ele suspira
fundo pondo os óculos e o quepe novamente.
Meu marido motorista abre a porta de trás para eu entrar e assim o
faço, entro sorridente e ele faz o mesmo. Deixo as minhas coisas no banco
de trás e pulo para o banco da frente ouvindo as suas risadas. Nem sempre
eu me comporto como uma mulher madura e casada, as vezes me sinto uma
moleca e ele não se incomoda por isso.
Me atiro nos braços do meu marido e beijo-o ardentemente cheia de
saudades, quero que ele me pegue em seus braços, quero fazer amor e quero
transar ao mesmo tempo, ele faz isso como ninguém.
— Vamos embora...? Vamos almoçar em casa? Quero namorar um
pouquinho antes de ir para galeria. — Peço entre os beijos sentindo a sua
mão apertar a minha coxa.
— Ótimo idéia... Vamos logo! — Ele afasta-se ligando o carro e eu
me ajeito no acento.
Seguimos para casa faltando da sua travessura em aparecer vestido
de motorista, ele havia dito que não daria para vir me buscar por conta de
uma reunião inesperada, mas ele conseguiu resolver tudo antes da hora e
veio me fazer uma surpresa, e é óbvio que estou muito feliz com isso. Meu
marido é um amor.
O seu celular toca e ele atende todo misterioso.
— Alô...? Sim, estou com ela agora, vim buscá-la na faculdade...
Espera! Você está falando sério? Você conseguiu...? Não! Faz melhor, leva
para casa dela, vai ser melhor que seja lá... Tudo bem, ahm, você sabe o que
tem que fazer, então nos espera lá, estamos a caminho... Está bem, eu te
amo, nos veremos em alguns minutos. — Diz empolgado surpreendo-me
com a sua declaração final.
A quem ele está declarando que ama? Nem para mim ele disse isso.
— Quem era? Quem você ama, Bruno? — Forço um sorriso mesmo
sentindo um aperto no peito.
— Relaxa! É uma surpresa, você vai gostar...
— Você diz que ama alguém e eu não posso saber quem é...? É a sua
mãe? Ou o seu pai? — Engulo em seco sentindo um nó na garganta.
Ele me olha atento como se me analisasse, pega a minha mão
beijando demorado mas eu solto a sua mão pondo o meu cabelo atrás da
orelha. Será que um dia ele vai me amar? Porque a paixão que sentia por ele
já se transformou em amor, eu amo esse homem mas de repente ele ficou
tão misterioso.
Ele não me responde, continua calado e passa a mão no cabelo,
suspira fundo e encara-me novamente.
— Você está pensando besteiras, tenho certeza disso.
— Se você respondesse uma simples pergunta, eu não precisaria
pensar besteiras. Não concorda? — Rebato em um tom ofendido.
— Me desculpa? Eu só estou tentando te fazer uma surpresa boa,
tenho certeza de que você vai gostar... E sim! Eu estava falando com a
minha mãe, ela está preparando algo especial nós. — Justifica-se sério e eu
me sinto mal. Quando foi que eu fiquei tão ciumenta? Eu nunca fui assim.
— Me desculpa também? Eu não queria ter reagido assim. — Evito
encará-lo pois ainda me sinto mal, me sinto sem graça.
Não dissemos mais nada e seguimos a diante sem eu fazer a mínima
ideia de para onde estamos indo, mais alguns minutos depois reconheço o
endereço da minha casa, a mesma que comprei na esperança de tirar a
meinha mãe do aluguel, mas acho que jamais conseguirei essa façanha, até
hoje ela não veio me ver ou me ligou, ela também não se importa muito
comigo.
O que mais me dói é pensar neles todos os dias e eles não estão nem
aí para mim, toda vez que me sinto triste o meu maior desejo é poder vê-los,
conversar com a minha mãe mas não tenho mais a minha família.
— Ei? Não diz que ficou triste assim por minha culpa, não foi a
minha intensão, prometo...! Jenny? Morena, fala comigo? — Ele para o
carro na frente dos portões da minha casa e eu limpo o rosto ao me dar
conta que já estou em lágrimas.
— É só saudades, não é culpa sua, não se preocupe. — Ainda evito
olhar nos seus olhos mas ele pega a minha mão.
— Se é verdade que a sua tristeza não é culpa minha, então olha nos
meus olhos...? Eu já te conheço o suficiente, Jenny, sei quando está
chateada comigo e eu me sinto um merda por isso... Olha para mim, meu
amor? Diz que me ama? Porque eu amo você. — Meu coração dispara com
as suas palavras.
Olho nos seus olhos sentindo uma emoção tão grande, um
sentimento de felicidade toma o lugar daquele aperto no peito e eu sorrio.
— Não está dizendo isso só porque eu queria ouvir, não é...? Bruno,
eu te amo... Eu te amo tanto... — Atiro-me em seus braços apertando-o tão
forte, mas me solto para beijá-lo.
— Olha nos meus olhos, amor? Me diz você se estou ou não sendo
sincero com você. Diz se estou dizendo isso apenas porque você quer
ouvir? Diz? — Ele segura o meu queixo olhando nos meus olhos.
Vejo o amor transbordar em seus olhos, ele me ama, esse homem me
ama e ele foi o primeiro a dizer as palavras, ele me ama. Beijo-o mais uma
vez ainda emocionada.
— Eu te amo... Te amo, Sra. Stuart! — Declara entre beijos.
— Eu te amo, Bruno... Te amo! — Devolvo sorrindo na sua boca.
— Eu te amo tanto que preparei uma surpresa, vamos entrar! Estão
nos esperando na sua casa. — Suas palavras me surpreendo ao mesmo
tempo que me deixam curiosa.
Bruno me beija antes de descer do carro dando a volta no mesmo,
ele abre a porta como o perfeito cavalheiro que sempre é, acho que não
existe um marido mais fofo que o meu, sem falar nas muitas vezes que ele
me surpreendeu com uma rosa ou um lindo buquê, os presentes também
estão constantes e não posso negar que estou amando isso.
Já ganhei anéis, colares não muito caros e chamativos pois ele sabe
que não vou aceitar, eu me sinto mal com isso, sinto como se ele estivesse
me comprando e não gosto de me sentir assim, e ele faz de tudo para me
agradar. Já fomos em restaurantes caros e lanchonetes simples, já fomos em
baladas ou apenas passamos a noite em casa namorando e conversando,
assistindo a um filme na TV ou nos reunindo com a sua família, e tudo isso
é maravilhoso, eu não me sinto mais tão sozinha.
Entramos pelos portões da minha casa abraçados e trocando beijos
apaixonados, paro por um instante admirando essa bela casa que comprei e
está no meu nome, ela é minha, minha casa onde um dia ainda vou trazer
pelo menos a minha mãe e minha irmã para morarem aqui, isso se elas
ainda me quiserem como parte da família. Nem sei se elas ainda se
lembram que eu existo, que estou aqui morrendo de saudades delas.
A casa é grande, eu nunca poderia imaginar que um dia teria uma
casa como essa, mas agora eu tenho e é para cá que virei caso um dia esse
casamento não dê mais certo, não ficarei mais na rua da amargura onde o
meu pai me jogou. Eu espero nunca perder o meu marido, espero que esse
casamento seja o melhor para nós dois, espero nunca decepcioná-lo e
principalmente que ele não me magoe.
Abrimos a porta de casa e entramos, mas não vejo ninguém, apenas
um cheirinho maravilhoso vindo da cozinha faz o meu estômago roncar,
estou faminta. Mas porque a minha sogra veio para cá? Porque não
almoçarmos na mansão como de costume? O luxo da minha casa não chega
nem perto da casa do Bruno e muito menos da mansão Stuart.
— Jennifer, minha querida nora, que bom que chegaram! — Minha
sogra vem da cozinha empolgada.
Ela nos beija e nos abraça com um sorriso tão grande, ela parece
diferente, está mais animada que o normal e isso me intriga.
— Estou surpresa por vê-la aqui, minha sogra, mas é uma surpresa
boa pois o cheiro está ótimo. Íamos almoçar em casa mas no meio do
caminho, Bruno mudou o nosso curso dizendo que tinha a surpresa para
mim, a sua visita a minha casa é mesmo uma surpresa e que bom que
gostou do lugar. — Solto-me de Bruno e ando pela sala com a minha sogra.
A casa é bem espaçosa, cada cômodo aqui dentro tem um ótimo
tamanho comparado as casas onde já morei, e eu consegui decorar cada
cômodo com o melhor que eu podia.
— Realmente eu gostei muito da sua casa, a decoração ficou ótima e
também reparei que você preparou os quarto esperando que a sua família
viesse ficar com você, conheci o quarto da sua mãe, o quarto a sua irmão e
o seu, mas estou ciente que o seu quarto você preparou por achar que
viveria aqui caso o seu casamento com o meu filho não desse certo, mas
digo e afirmo. Você e meu filho nasceram um para o outro, e nada me deixa
mais feliz do que vê-los se entendendo tão bem, nem eu sabia que o meu
filho era tão romântico... Ele está sendo um cavalheiro e eu estou contente
de vê-lo assim. — Ela para comigo em frente a um quadro novo na parede.
É uma foto minha com a minha mãe e minha irmã, eu não tinha essa
foto, isso é coisa dela mas como ela consegui?
— Eu também não fazia idéia de que o seu filho fosse um homem
tão surpreendente, e eu estou amando tudo que estamos vivendo juntos. —
Abro o meu melhor sorriso para o meu marido parado no meio da sala com
as mãos nos bolsos.
Sua pose é tão sexy, seu olhar ao mesmo tempo que é doce é
perigoso de tão intenso. Ele pisca para mim me fazendo suspirar e morder o
lábio inferior. Das últimas vezes que fiz isso ele me pegou se jeito, me
pegou contra parede, no chuveiro, na poltrona na beira da piscina, no carro
e no chão do closet, e todas as vezes foi maravilhoso, ele tem um tom
mandão que me abala, se ele me mandar plantar bananeira eu faço sem
pensar duas vezes, tamanho é o desejo que ele me desperta.
— Não me olha assim, amor! Agora não...
— Bruno! Pelo amor de Deus, está me matando de vergonha. —
Repreendo-o antes que ele fale alguma bobagem na frente da mãe dele.
— Se comportem, crianças! Deixem para paquerar quando
estiverem a sós pois nós temos vistas. — Dispara minha sogra olhando em
direção a escada e eu faço o mesmo.
Vejo minha mãe e minha irmã paradas no meio da escada
emocionadas, estou em choque, elas estão mesmo aqui?
— Mamãe...? Yarim...? Meu Deus, você estão mesmo aqui? — Meu
tom é trêmulo e meu coração está descompassado.
— Filha... Minha filha! — Mamãe desce apressada e eu corro na sua
direção.
Atiro-me seus braços e choro de saudades, choro de tristeza por ter
estado todo esse tempo longe dela.
— Me perdoe, filha? Eu não pude fazer nada para te ajudar, eu quis
vir atrás de você mas ele não deixou... Me perdoe, Jenny...? Filha, me
perdoe? — Ela chora me apertando tão forte como se tivesse medo de me
soltar.
— Eu tentei te procurar, liguei inúmeras vezes mas nunca conseguia
falar com você... O papai pediu para eu não ligar mais, eu não podia
aparecer lá e ele sempre ia buscar minha irmã na escola... Eu não pude me
aproximar, não tive como fazer isso, mamãe... Eu senti tanto a sua falta, eu
precisei tanto se você... — Desabafo entre lágrimas de dor, de raiva e de
saudades.
— Eu sei filha, eu sei meu amor... Toda vez que ele ficava irritado
eu sabia que era por sua causa, sabia que você havia tentado entrar em
contato... A sua sogra me contou tudo que você passou, meu coração ficou
tão pequeno, eu me senti tão impotente por não poder te ajudar... Eu sinto
muito, filha... Eu sinto muito... Você se casou e eu não estava lá, eu não
pude estar lá. — Ela chora tanto, ela está tão trêmula que também tenho
receios de soltá-la.
Nos soltamos brevemente e eu abro os braços para minha irmã que
vem correndo para mim, ela também chora e diz que sentiu saudades, diz
que também tentou ir atrás de mim na faculdade mas o papai descobriu e a
colou de castigo, a proibiu de ir à escola por uma semana e isso me deixa
incrédula, que atitude ridícula essa do meu pai.
Olho para minha mãe prendendo a minha atenção nos seus olhos,
vejo uma mancha roxa embaixo do seu olho direito e me afasto assustada.
— Mamãe...? Mamãe, porque o seu olho está roxo? O que
aconteceu com você? — Questiono chocada me soltando Yarim e ela põe a
mão no olho abaixando a cabeça.
— Não é nada, querida, eu escorreguei no chão da cozinha
enquanto...
— É mentira! Ela não caiu, o papai bateu nela quando ela disse que
vinha atrás de você, Jenny, e não foi a primeira vez que ele fez isso. —
Dispara minha irmã e eu estou de boca aberta.
— Mamãe...? Porque você permitiu isso? Porque deixou que ele
encostasse as mãos em você? Isso é minha culpa! Tudo isso é minha culpa!
— Altero-me indignada ao saber disso.
— Não é culpa sua, filha, a culpa é minha, eu não devia ter deixado
o seu pai fazer aquilo com você, eu devia no mínimo ter ido junto com
você, querida... Não fica se culpando, eu já estou me sentindo mal o
suficiente por tudo que você passou longe se mim, eu não vou conseguir me
perdoar nunca por ter permitido algo tão cruel... Me perdoa, filha? — Ela
chora mais uma vez vindo me abraçar.
— Você não pode mais aceitar a crueldade que o papai faz, mamãe,
isso é errado e sei que a igreja não aprova isso, ele está te agredindo, você
tem o direito de dar um basta nisso! Eu não vou mais deixar você voltar
para aquela casa! — Solto-me dela decidida limpando o rosto, ela faz o
mesmo.
— A mamãe deu queixa do papai, Jenny, ele foi preso e nós
aproveitamos para sair de casa pois ele será solto logo, com certeza ele vai
querer bater na mamãe de novo. — Relata Yarim chorosa vindo me abraçar.
— Como vocês chegaram até aqui? Como sabiam sobre a minha
casa? Essa casa agora é nossa, vocês vão morar aqui sem precisar pagar
aluguel e nem nada, eu estou trabalhando e ganho um bom salário na
galeria da minha sogra, eu vou sustentar vocês, não vou deixar lhes faltar
nada. Eu prometo! — Olho de uma para a outra e aperto minha irmã em
meus braços. Eu senti muita falta delas.
— A Sra. Naomi esteve lá em casa duas vezes para conversar
comigo, nas duas vezes o seu pai foi tão rude com ela, acho que nunca vou
conseguir me desculpar o suficiente por aquela atitude abominável do
Ramiro. — Diz envergonhada mas minha sogra aproxima-se para abraçá-la.
— Você não tem que se desculpar, Janete, você não teve culpa de
nada, mas sim o seu marido. Vamos esquecer isso, a sua filha está aqui para
te ajudar e impedir que esse hematoma no seu rosto se repita, agora
aproveite esse tempo com as suas filhas, elas te amam e não vão deixar
nada acontecer com você, está bem? — Minha sogra diz toda carinhosa mas
isso não me surpreende, ela é maravilhosa.
— Obrigada pelo seu apoio, pela sua ajuda e compaixão em ir ver a
minha mãe, Sra. Naomi... Você é uma sogra maravilhosa e tem sido como
uma mãe para mim... Obrigada. — Surpreendo-a com um abraço apertado e
ela retribui sorridente.
— Não me agradeça, querida, eu vi o quanto você estava sofrendo
com a ausência da sua família. Eu tive três filhos homens e eu vejo em você
e Teresa, as filha que eu queria ter, e agora eu tenho. — Ela me olha nos
olhos emocionada e eu lhe dou um beijo no rosto.
— Oh meu Deus! Eu me esqueci do meu marido. — Afasto-me sem
jeito e encaro Bruno mais distante sorrindo abertamente.
— Eu devia me sentir ofendido por isso, mas vou te dar um
desconto levando em conta a saudade que você sente da sua família. Te vi
chorar muito por causa deles, então estou feliz que pelo menos a minha
sogra e minha cunhada vão estar perto de você a partir de agora. — Ele
abraça a minha cintura e põe o meu cabelo atrás da orelha.
Lhe dou um breve beijo e o arrasto para perto da minha mãe, ela e
minha irmã sorriem nos admirando juntos, me sinto sem jeito.
— Mamãe! Yarim! Esse é o meu marido, Bruno Stuart. Amor! Essa
é a minha família, as pessoas mais importantes da minha vida além de você.
— Solto espontaneamente e todos sorriem abertamente.
— É um prazer finalmente conhecê-las, Sra. Janete! Yarim! Jenny
fala muito de vocês, o amor e carinho que ela tem por vocês é algo sem
tamanho, eu a admiro muito por isso. — Bruno as cumprimenta com um
aperto de mão e um abraço amistoso.
— Eu também te admiro muito pelo simples fato de ter tirado a
minha filha das ruas, Sr. Bruno, e saber que se amam e que se casaram, me
deixa muito feliz também pois vejo que minha filha está amparada, mas
também é muito querida por sua família. É um prazer muito grande poder
final conhecer o meu genro. — Mamãe se emociona ainda mais e eu vou
para os seus braços.
— Eu comprei essa casa para nós graças ao Bruno, mamãe. Eu não
sei se minha sogra já te contou a verdade por trás desse casamento, mas o
fato é que nos apaixonamos de verdade, tudo aconteceu muito rápido mas
nos casamos já nos amando. — Comento sem jeito e receosa.
— Sim, filha, a sua sogra já me contou tudo, sei que você e seu
marido começaram tudo isso apenas para um ajudar o outro, pois ele
precisava se casar e você não tinha onde morar, não tinha nada além da sua
dignidade mas se apaixonaram um pelo outro, estou na sua casa desde cedo
e tivemos tempo suficiente para conversamos sobre tudo. — Vejo aquele
seu sorriso amoroso que eu tanto senti falta.
— Nossa casa, mamãe! Essa casa é nossa. Eu vou precisar ir ao
mercado, preciso encher os armários e...
— Relaxa, Jennifer! Eu já cuidei de tudo, querida... Agnes já foi ao
mercado e fez uma compra para durar um mês, também deixei algum
dinheiro para qualquer necessidade delas e Agnes virá ajudá-las sempre que
preciso. — Dispara minha sogra e eu estou surpresa, ela pensou mesmo em
tudo.
— Obrigada, minha sogra! Muito obrigada por se preocupar com a
minha família, isso significa muito para mim. — Surpreendo-a com um
novo abraço bem apertado.
— Imagina, querida, não me agradeça, eu sinto na alma o bem que é
poder ajudar o meu próximo, principalmente quando esse alguém é como
parte da minha família... Bom, sei que estamos todos muito famintos então
vamos para mesa, o almoço já está sendo servido. — Ela toca o meu rosto
carinhosamente e segue na frente de braços dados com a minha mãe.
Abraço a minha irmã e meu marido abraça a minha cintura.
— Que partidão você encontrou, hein, maninha? Ganhou na loteria
com um marido tão bonito. — Dispara Yarim nos fazendo sorrir.
— Eu sei, minha irmã, eu tirei mesmo a sorte grande. Bruno é tudo
para mim. — Lhe dou um beijo no rosto antes de beijar também o meu
marido.
Seguimos para sala de refeição e nos acomodamos a mesa, não é
uma sala grande como na casa de Bruno, mas eu me inspirei bastante
naquela casa maravilhosa para decorar a minha, quem não gosta de tudo do
bom e do melhor?
— A sua casa é perfeita, filha, é mais do que eu poderia sonhar que
teríamos. — Mamãe segura a minha mão sobre a mesa com um sorriso
radiante por estarmos juntas novamente.
— É verdade, e eu terei o meu próprio quarto, não vamos precisar
dividir, Jenny. — Comenta Yarim empolgada. — Me esclarece uma dúvida,
Jenny? Se você tem essa casa e está casada, agora que estamos aqui, você
vai morar com a gente ou vai continuar na casa do seu marido? — A
pergunta da minha é pertinente, todos na mesa me olham atentos.
— Eu estou casada e preciso ficar com o meu marido, mas não vou
abandonar vocês, virei vê-las regularmente e vocês também posem ir me
visitar para não se sentirem sozinhas... Sei que você nunca trabalhou antes
porque o papai não permitia, mamãe, mas você pode encontrar alguma
coisa para fazer para se distrair, se você quiser, é claro, se quiser fazer
algum curso para se especializar em alguma coisa, eu pago para você com o
maior prazer... Agora vocês estão comigo, não estão mais sozinhas nas
mãos de um homem que deveria cuidar e zelar por nós, e ao invés disso fez
tudo que dez. Vamos lutar juntas, está bem? — Seguro a mão dela e de
minha irmã, nós três já emocionadas por nos lembrarmos do passado.
— Agora eu também faço parte da família de vocês, então podem
contar comigo também. Vocês não vão lutar sozinhas. — Bruno segura a
minha mão junto a mão de minha mãe.
Nos emocionamos ainda mais, contudo, tentamos passar um
momento agradável ao lado da minha mãe e minha irmã, eu estava com
tanta saudades delas. Ainda estou com dificuldades em acreditar que elas
estejam mesmo aqui, é bom demais depois de tanto tempo poder ver a
minha mãe e minha irmã. Ela está tão linda, parece mais madura para a sua
idade.
Conversarmos bastante e eu converso com Bruno sobre a segurança
delas, sei que meu pai não faz idéia de onde elas estão, mas com certeza
deve imaginar que estão comigo e vai tentar nos encontrar, nem que seja
para tentar levá-las de volta para casa, mas daqui ele não vai tirá-las pois eu
não vou deixar.
Rapidamente meu marido se dispõe a deixar dois seguranças a
disposição da minha mãe e Yarim, o papai vai tentar procurar por ela na
escola então vamos pedir a transferência dela para uma escola mais perto de
nós, e um dos seguranças vai ficar com ela. Minha irmã ainda é de menor
então mamãe vai entrar na justiça para ficar com a guarda dela, e levanto
em conta os maus tratos do meu pai contra minha mãe, ela tem tudo para
conseguir ficar com a guarda de Yarim, e Bruno vai pedir a um dos
advogados da sua família para nos ajudar com isso.

Eu passei um momento maravilhoso com a minha mãe, minha irmã,


meu marido e minha sogra, eles as aceitaram tão bem que estou radiante,
estou tão feliz. Mas depois do nosso almoço prolongado eu me despedi da
minha mãe e Yarim, eu preciso trabalhar mesmo a minha sogra dizendo
para eu tirar o dia de folga, mas eu não posso aceitar isso, não posso deixar
a desejar apenas por ela ser a minha sogra e estar sendo tão amável comigo.
Bruno nos deixa na galeria e segue de volta para empresa, ele avisa
que vem me buscar mais tarde e nos despedimos com um beijo. Entro na
galeria com a minha sogra e sigo direto para o meu posto, eu preciso repor
as peças que já foram vendidas, e em seguidas catalogar as peças novas que
chegaram no almoxarifado.
Minha sogra segue para o seu escritório, uma ampla sala de vidro
bem decorada e com visão para todos os lados do salão, minha sogra tem
muita classe, ela é uma mulher muito distinta e elegante.
Vejo que alguns funcionários vão atrás dela, todos sabem que sou
nora de Naomi Stuart, no entanto, poucos se importam com esse detalhe,
infelizmente até aqui estou sofrendo preconceitos.
A duas semanas estou evitando mexer na cafeteira, uma das
funcionários disse que era apenas para brancos e que eu teria que trazer o
meu próprio café, achei isso muito desrespeitoso mas não falei nada para
não terem motivos para se queixarem de mim, estou trabalhando aqui a
pouco tempo e não quero trazer problemas para minha sogra, então eu
aproveito o meu tempo de descanso para ir comer ou beber alguma coisa
fora daqui.
Coloco três novas peças na vitrine e volto para o almoxarifado,
entretanto, durante o meu trajeto minha sogra sai do seu escritório séria e
com dois funcionários atrás dela, mas ela os dispensa e segue sozinha para
o segundo andar. Olho dela para eles e os infelizes tem um sorriso cínico no
rosto, mas disfarçam rapidamente. Suspiro fundo intrigada, prevendo uma
possível armação contra mim. Até quando vou ter que aturar isso?
Entro de volta no almoxarifado e começo a catalogar as peças, não
demora muito e entram duas funcionárias me oferecendo ajuda, mas minha
sogra foi bem clara quando disse que apenas eu seria responsável por esse
setor, então dispenso elas e volto ao meu trabalho.
Meus pensamentos vão na minha mãe e minha irmã, não vou
conseguir dormir hoje longe delas, será que Bruno vai se importar se eu não
dormir com ele hoje? É só por um dia apenas para ficar um pouquinho mais
perto delas.
A porta do almoxarifado se abre em um solavanco e eu me assunto,
olho para trás e vejo minha sogra em pé na porta e atrás dela bem no fundo
alguns funcionários atentos a nós.
— Jennifer! Precisamos conversar! — Diz em um tom firme e eu
olho dela para os funcionários.
— Claro, Sra. Naomi! — Respondo no mesmo tom firme, não devo
nada a ninguém e não fiz nada de errado.
Ela fecha a porta abruptamente ainda séria e eu tento a todos custo
me acalmar, o que está acontecendo aqui?
— Sra. Naomi, eu não faço ideia do que está acontecendo, mas...
— Relaxa, querida! Fizeram acusações contra você, te acusaram
diretamente mas eu já descobri a verdade. — Revela suspirando fundo,
frustrada, e eu estou surpresa.
— Como assim? Do que me acusaram? Eu não fiz nada, Sra.
Naomi, eu não preciso fazer nada de errado lá fora e muito menos aqui
dentro com uma das pessoas que mais tem me estendido as mãos. —
Justifico-me com lágrimas nos olhos por estar passando por isso.
— Eu sei, querida, e eu confio em você, mas tem gente da minha
confiança aqui dentro armando, mentindo para tirar você daqui, eu preciso
resolver isso e quero você do meu lado de cabeça erguida, está bem? Venha
comigo! — Seu tom ainda é firme e ela me pega pela mão e assim saímos
do almoxarifado.
Todos os funcionários param atentos a nós enquanto nos
aproximamos, alguns sustentam um pequeno sorriso de desdém, mas quem
rir por último, rir melhor.
— Atenção a todos! Fechem a galeria e eu espero a todos na minha
sala, agora! — Ordena em um tom ríspido e sai em seguida me levando
com ela.
Ouço a todos concordando mas minha sogra me leva para longe
dali. Entramos na sua sala e ela pede para eu me sentar enquanto ela mexe
em seu computador, ainda de pé na frente da mesa. Me sento ainda me
sentindo mal pois vejo o quanto ser negro e difícil, mas não me envergonho
por isso, eu não fiz nada a ninguém, não devo nada a ninguém e todos vão
saber disso.
Poucos minutos depois estão todos os funcionários entrando na sala
e eu me levanto, não vou negar, estou receosa sim, mas sei que a Sra.
Naomi vai mostrar a verdade a todos.
— Bom, eu nunca precisei fazer uma reunião de funcionários antes
sobre algo tão sério, ninguém nunca havia sido acusado de nada dentro da
minha galeria, e hoje pela primeira vez eu estou diante de algo abominável,
algo que me envergonha profundamente... Alguns funcionários vieram até a
mim para acusar a minha nora de roubo, segundo vocês, ela pegou uma das
peças mais caras do nosso estoque, mas então eu pergunto, porque ela faria
isso se não tem necessidades para isso? É só porque ela é negra? A cor da
pele não mostra o nosso caráter e eu sei que não foi ela quem roubou essa
peça. — Argumenta em um tom ríspido, duro, e até mesmo indignado.
— As câmeras foram desligadas, Sra. Stuart, todos aqui estamos a
mais tempo trabalhando com a senhora, e nunca sumiu uma única caneta
desse lugar...
— É verdade, Jorge! Nunca sumiu nada aqui de dentro antes e eu
nunca tive uma única reclamação de vocês. E é verdade que as câmeras
foram desligadas, mas quem as desligou não sabia que nós temos um
sistema de áudio, independente das câmeras ligadas ou desligadas, tudo que
é dito dentro dessa galeria é gravado, com exceção dos banheiros. —
Revela de braços cruzados e todos parecem apreensivos.
Sorrio ironicamente e ergo uma sobrancelha. Filhos da mãe, estão
ferrados.
— Eu vou dar a chance de quem pegou a peça no almoxarifado se
explicar, do contrário eu o denunciarei a polícia pois eu sei quem pegou, a
sua voz está gravada conspirando com outras pessoas para prejudicarem
Jennifer. Se preferirem eu posso pôr a gravação em alto e bom som para
todos ouvirem, assim todos vão saber quem pegou a peça da exposição e
também onde ela está. — Minha sogra aproxima-se deles com um olhar
nublado, diferente do olhar doce de ternura que estou acostumada a ver.
— Peço desculpas pelo que fizemos, Sra. Stuart, só queríamos fazer
uma brincadeira...
— Isso não é brincadeira que se faça, vocês acusaram uma pessoa
inocente de roubar dentro da minha galeria! Pondo em dúvida a sua
integridade moral! Por acaso vocês acham que eu aprovaria algo tão
estúpido? — Esbraveja irritada e todos se calam.
— Sra. Naomi! Eu fui acusada injustamente então eu quero relatar o
que vem acontecendo dentro da sua galeria. Eu não gosto de causar
ninguém para não ser acusada, eu não julgo para não ser julgada, e não
ofendo para não ser ofendida. Eu estou trabalhando com vocês a pouco
tempo e Deus sabe o esforço que tenho feito para me dar bem com todos e
evitar confusão, evitar reclamações... Mas eu fui proibida de tocar na
cafeteira pois só os brancos podem usá-la, também fazem comentários
maldoso sobre eu usar o mesmo banheiro que eles, claramente ninguém me
quer trabalhando aqui mas eu não vou desistir! Eu não devo nada a ninguém
e não me importo se a cor da minha pele está incomodando, eu sou assim e
não tenho como mudar, e mesmo se tivesse, eu me amo assim, eu tenho
amor próprio e sinto muito se essa gente não tem. — Desabafo segurando
as lágrimas pois sinto os meus olhos lacrimejar.
— Porque você não me contou nada antes, Jennifer? Porque
aguentou tudo isso calada? Aqui nós não temos seções para brancos e
negros! Todo mundo é igual dentro dessa galeria e não vou mais admitir
esse tipo de descriminação! Estou farta disso! Não aguento mais ver esse
tipo de coisa, eu não suporto pessoas assim! Eu tive que rebaixar o meu
próprio filho por causa de um ato como esse, porque vocês acham que eu
não faria isso com um simples funcionário? Eu exijo que todos vocês
peçam desculpas a Jennifer, agora! — Mais uma vez ela esbraveja olhando
nos olhos de cada um aqui dentro.
— Me perdoe pela minha atitude deplorável, Jennifer, eu prometo
que isso não vai se repetir. — Se desculpa a supervisora, tenho quase
certeza de que ela é a principal envolvida em tudo isso.
— Me perdoe, Jennifer?
— Me desculpa Jennifer?
Um a um todos eles vem se desculpar e eu fico na minha apenas
ouvindo os seus pedidos de desculpas.
— E então, Jennifer? Você vai aceitar o pedido de desculpas dos
seus colegas? Ou podemos ir à delegacia denunciá-los por calúnia e
difamação? A decisão é sua, minha nora. — Sra. Naomi aproxima-se de
mim com um olhar firme e decidido. Suspiro fundo.
— Eu poderia denunciá-los para provar que injustiça se paga com
justiça, mas não! Eu não vou denunciá-los pois sou melhor do que isso,
então eu aceito os pedidos de desculpas apenas para que possamos tentar de
novo, e eu só estou fazendo isso porque a minha inocência foi provada...
Quando a gente recebe tantas pancadas da vida, a gente também passa a
revidar com pancadas mas eu não quero me tornar uma pessoa ruim, não foi
para isso que os meus pais me criaram, não foi essa a educação que eu
recebi então para o bem de todos, eu espero sinceramente que possamos nos
entenderemos melhor a partir de agora. — Meu tom é calmo e sereno, para
que vejam que estou decidida a não deixar nada me abalar.
— Você é uma pessoa admirável, Jennifer, eu sinto muito pela
atitude dos meus colegas. — Diz uma das meninas asiáticas, elas foram as
únicas que não me desrespeitaram aqui dentro.
— Eu concordo com você, Mayumi, e por esse motivo a partir de
agora, Jennifer ocupará o cargo de supervisora pois você está demitida,
Laura. É a sua voz na gravação incentivando a armação contra Jennifer, e é
a sua voz ordenando que a peça fosse retirada do almoxarifado e colocado
na bolsa dela, por isso vocês vieram fazer a acusação. Jennifer perdôou
vocês, mas eu não vou perdoar a todos, então você está demitida, Laura! E
os demais, se eu ouvir mais uma única reclamação da nova supervisora, eu
prometo que as vagas de vocês serão preenchidas por novos funcionários. A
mãe da minha nora está precisando de um emprego, alguém aqui quer ceder
a sua vaga para ela? Ou eu posso realmente confiar em vocês a partir desse
instante?
— Pode confiar, Sra. Stuart! A senhora não terá mais uma única
queixa de ninguém aqui dentro, nós prometemos, não é, pessoal? —
Argumenta Jorge tenso e eu ergo uma sobrancelha, eu espero realmente que
eles andem na linha a partir de agora.
— Muito obrigada pelo meu novo cargo, Sra. Naomi, eu vou fazer
por merecer ainda mais a sua confiança. — Agradeço pegando a sua mão
com carinho. Eu não esperava por essa promoção, mas estou feliz.
— Eu sinto muito por tudo, Sra. Stuart, eu vou pegar as minhas
coisas, com licença. — Laura mais uma vez se desculpa de cabeça baixa e
sai em seguida.
— Todos vocês já podem voltar ao trabalho! E você já pode ocupar
o seu novo cargo a partir de agora, Jennifer. — Recebo um carinho de
ternura da minha sogra e agradeço saindo em seguida com os meus colegas.
Seguimos todos de volta para o salão da galeria e eu peço a Mayumi
para reabrir a galeria, ela sai com um sorriso no rosto e eu gosto disso.
Respiro fundo e começo a verificar cada peça no salão como Laura fazia
antes, eu já estou pegando a manha sobre peças de artes pois eu sou muito
detalhista, eu presto atenção em tudo a minha volta e sei exatamente tudo
que a antiga supervisora fazia.
Por faltar em supervisora, depois de um tempo vejo Laura sair da
sala da minha sogra e segue para copa onde guardamos as nossas bolsas,
quando ela volta para salão em direção a saída, eu paro na frente dela
olhando em seus olhos.
— Você ainda não pode sair! A sua bolsa precisa ser revistada! —
Aviso em um tom ríspido.
— Você só pode estar de brincadeira...
— Eu pareço estar de brincadeira? Você já me viu brincar antes?
Você acabou de armar para mim, eu sou a nova supervisora e quero saber se
está ou não levando algo que não te pertence. Você pode abrir a sua bolsa
espontaneamente ou eu chamarei o segurança para te revistar. — Ergo a
cabeça e empino o meu nariz.
Ela bufa e trinca os dentes de tanto ódio, é filhinha, aqui se faz, aqui
mesmo se paga, o ditado é um fato, quem rir por último, rir melhor. Laura
abre a bolsa e despeja todas as suas coisas sobre uma mesa mais a diante, eu
sabia que ela não seria louca de pegar nada, eu só queria mostrar a ela como
é se sentir humilhada quando alguém desconfia da gente, quando nos
acusam por algo que não fizemos, que o que fizeram comigo pode
acontecer até com ela mesma quando se faz algo mal intencionado, e eu
estou adorando ver a sua cara de humilhada.
— Está satisfeita, Jennifer? Eu não estou levando nada! — Diz entre
dentes.
— Sim! Estou satisfeita, você já pode ir. — Viro-me saindo dali sem
olhar para trás.
Alguns funcionários estão de olho em mim mas não dizem nada, eu
ando pelo salão com segurança e volto ao meu trabalho. Meu coração está
palpitando mas não é de felicidade como eu gostaria, essa promoção veio
em uma ótima hora pois sei que vou ganhar mais, mas não queria que
tivesse sido por um motivo como esse.
Laura foi demitida por armar contra mim para me demitirem, queria
que a minha própria sogra me visse como uma ladra. Eu não roubei nem
quando estava passando fome nas ruas, porque roubaria justo agora? Justo
de quem me estendeu a mão? E tudo isso justo por eu ser negra, isso é
lamentável.
Foi emocionante ver a minha mulher se reencontrar com a sua mãe e
irmã, eu sabia que esse era o seu maior desejo e também a sua maior
tristeza. Jenny está feliz com o nosso casamento e isso é nítido, ainda
estamos conhecendo os nossos gostos, manias e costumes, estamos nos
entendendo bem mas eu sempre a vejo pensativa, triste quando está sem
nada para fazer, e é por isso que tenho saindo bastante com ela, acho que
nunca me diverti tanto com uma única mulher em toda a minha vida. Ela é
divertida, extrovertida, muito alto-astral.
Jennifer pintou os seus cabelos longos de roxo e eu achei incrível,
não imaginei que ela fosse ficar tão linda, no entanto, eu gostei bastante
pois ela ficou diferente, combinou com a sua personalidade espontânea.
Ela é mesmo uma mulher incrível, a sua dor ao ser afastada família,
a sua sensibilidade e doçura é encantador, não foi difícil me apaixonar por
ela e essa paixão já se transformou em amor, eu amo essa mulher como não
imaginei que pudesse amar alguém.
Ela me deixa pensativo, me faz viajar em pensamentos fantasiosos
com apenas um sorriso. A maneira como põe o cabelo atrás da orelha, a
cara de brava ao relatar algum problema ou algo indesejado, a sua mania de
pular em cima de mim feito uma moleca sapeca, ela sempre me enche de
beijos e eu me apaixono ainda mais por ela, suas atitudes e gestos simples
são genuínos, meigos. Nunca conheci alguém tão impressionante como ela.
Essa mulher me fascina de muitas maneiras.
Entro na galeria e ando pelo salão seguindo para o escritório da
minha mãe, porém, paro durante o meu trajeto ao me deparar com Jennifer
conversando empolgada com um casal, mostrando algumas peças mas esse
não é o seu trabalho.
Ela está tão empolgada que não percebe o seu marido aqui
admirando-a atento, ela leva jeito para vendedora, mas que eu saiba ela é
responsável pelo almoxarifado.
Sigo para o escritório da minha mãe e entro encontrando-a
pensativa, imersa em um mar de pensamentos e nem percebe a minha
presença. Paro na frente da sua mesa de braços cruzados e ela me encara
por um instante, antes de se dar conta de que é o seu filho parado na sua
frente, e não um alienígena. Ergo uma sobrancelha e ela se levanta.
— Meu filho! Você já veio buscar Jennifer? Minha nossa, o tempo
passou e eu não me dei conta. — Ela me abraça e me beija carinhosamente
antes de voltar para sua mesa.
— Está tudo bem, mamãe? Aconteceu alguma coisa? Porque Jenny
está no salão? Ela parece empolga atendendo aos clientes. — Sento-me à
frente da sua mesa atenta a ela.
— Acredite ou não, mas ela leva jeito para vendedora, ela já vendeu
seis peças apenas hoje, eu a promovi como supervisora mas ela disse que
não vai apenas supervisionar, ela quer ser mais útil que isso e ela está me
surpreendendo muito desde que veio trabalhar comigo. — Mamãe cruza os
braços admirando a minha mulher interagir com os clientes.
Giro a cadeira olhando na mesma direção que ela, e Jenny está
mesmo se saindo muito bem, ela é ágil, é esperta, desinibida e falante, isso
ajuda bastante na comunicação.
— Espera! A senhora a promoveu a supervisora? O que aconteceu
com Laura? Os funcionários não questionaram o fato dela ser promovida
com tão pouco tempo de trabalho?
— A dona da galeria sou eu então eu promovo quem eu quiser, e
ninguém tem que reclamar... Eu promovi Jennifer porque ela merece e
também porque eu demiti Laura. — Vejo o seu sorriso ao falar da minha
mulher, porém, ela solta um longo suspiro ao falar da demissão de Laura.
— Demitiu Laura? Porque? Ela sempre foi uma excelente
funcionária, você nunca poupou elogios para ela. — Pergunto confuso.
— Você pode conviver com a pessoa por anos, e mesmo assim não
vai conhecê-la tão bem, no entanto, você pode encontrar alguém hoje e
sentir que a conhece desde a infância, esse é o caso dessa menina, a sua
esposa. — Mais uma vez ela admira Jennifer antes de me encarar. — Eu
demiti Laura porque ela arquitetou um plano para prejudicar Jennifer, as
câmeras foram desligadas e eles vieram acusar Jennifer de ter roubado uma
das nossas peças mais caras da galeria...
— O QUÊ? Do que você está falando, mamãe? — Levanto-me
abruptamente.
— Acalme-se, filho! Tudo já foi esclarecido, eles não esperavam
que a galeria tivesse um sistema de gravação de áudio junto as câmeras. Eu
ouvi toda a conspiração, procurei a verdade antes de chamar Jennifer e
reunir os funcionários, eu fiz todos eles se desculparem com a sua esposa,
por isso ela está tranquila e trabalhando empolgada no novo cargo. —
Explica calmamente tentando me manter tranquilo.
Respiro fundo e encaro a minha mulher, ela está olhando na minha
direção surpresa por me ver aqui e apreensiva depois do meu grito. Meu
peito dói apenas em imaginá-la passando por mais essa situação, não
bastava tudo que ela já sofreu? Encaro a minha mãe novamente.
— Se mais alguém desrespeitar a minha mulher aqui dentro, eu
prometo que tiro ela daqui! Sei que você agiu de cabeça fria e tomou a
melhor decisão em fazer todos se desculparem com ela, mas eu estou uma
fera e por mim colocaria todos na rua! — Esbravejo socando a mesa à
minha frente, estou farto de ver tanta injustiça.
Sei que isso não é apenas com ela, pelo mundo inteiro há pessoas
passando por essa mesma situação, preconceito! Racismo! Bullying e tudo
mais, algo tão repugnante e ainda tem gente se prestando a isso.
— Vontade de fazer isso não me faltou, meu filho, mas eu não posso
ficar sem funcionários agora, eu não daria conta de tudo isso sozinha... Eu
entendo a sua fúria e sei que está coberto de razão, mas tenta esfriar a
cabeça, a sua mulher está assustada com a sua reação. — Ela segura o meu
rosto com as duas mãos e eu olho em direção a Jennifer.
Ela parece mais tensa que o normal, ela nunca me viu nesse
descontrole e não quero passar uma imagem de um homem agressivo, pois
eu não sou assim.
— Me desculpa? Eu não queria me descontrolar dessa maneira, mas
eu amo demais essa mulher e vou protegê-la de tudo e de todos!
Conversaremos melhor depois, eu só preciso sair daqui com ela. Agora! —
Respiro fundo algumas vezes e lhe dou um beijo no rosto antes de sair a
passadas largas.
A cada passo que dou meu coração bate mais forte e o meu sangue
bombeia mais rápido, consigo sentir a adrenalina e a raiva tomar conta de
mim, mas não posso fazer nada pois aqui dentro a decisão é da minha mãe,
e não minha, não posso me meter nos negócios dela mas eu posso proteger
a minha mulher.
Aproximo-me dela e paro olhando a minha volta, encarando os
funcionários que estão atentos a mim.
— Vá buscar a sua bolsa! Precisamos ir. — Aviso em um tom rude
mesmo não sendo essa a minha intensão.
— Mas Bruno, eu ainda...
— Eu sou o seu marido, então me obedeça! E não demore, vou ficar
esperando aqui. — Meu tom é baixo mas encaro-a sério puxando uma
respiração pesada, ela sai me deixando aqui.
Dou meia volta encarando os poucos funcionários que se arriscam
olhar na minha direção, meu olhar é de puro desprezo, nojo e indignação.
Quero abrir a minha boca e colocar cada um em seu devido lugar, mas há
cliente na loja e não posso espantá-los por causa de pessoas cruéis como
essas, mas a minha mãe ainda vai me ouvir bastante sobre essa situação.
Jennifer volta apresada e passa por mim indo em direção a porta,
sigo atrás dela e saímos da galeria calados até o meu carro, entramos no
mesmo e ela ainda está calada e eu também. Dou a partida saindo dali
cantando pneus.
— Eu não gostei da maneira como você falou comigo, não sou sua
propriedade para você falar comigo daquele jeito, isso me lembrou muito o
meu pai e eu não quero um marido como ele foi para minha mãe! —
Dispara em um tom firme e convicto.
— Não me compara com o seu pai pois ele é um lixo! Essa é a
verdade. Porra! Eu estou nervoso por defender você e ainda sou criticado, é
isso mesmo?
— Eu agradeço por me defender, mas estou criticando a maneira
como você falou comigo na frente daquelas pessoas, não tinha necessidade
disso então não faça isso de novo! Eu não vou aceitar! Você deu a entender
que manda em mim e eu tenho que obedecer, mas você não é o meu dono,
você é meu marido! — Esbraveja irritada.
— Sim eu sou o seu dono! Nos casamos e você assinou um acordo
então por um ano você me pertence! Você é minha mulher e me deve sim
obediência! — Devolvo no mesmo tom e me arrependo no minuto seguinte.
— Como é que é? Você só pode estar louco! Naquela merda de
contrato não estava dizendo que você mandaria em mim, e eu não vou
aceitar isso! Se quer uma mulher para ser submissa a você, escolheu a
mulher errada! Na cama você pode conseguir me dominar, mas fora dela
não!
— Que merda está acontecendo aqui? Eu tento te defender e te tirar
daquele lugar e você ainda fica contra mim? Qual é o seu problema,
Jennifer? — Questiono irritado e confuso.
— O problema é que eu não preciso de mais ninguém me
humilhando, e você falar comigo daquele jeito é sim uma humilhação! EU
NÃO VOU ACEITAR ISSO, BRUNO! Foi para isso que me fez assinar
aquele acordo? Para ter em quem mandar? — Rebate em um tom trêmulo e
vira o rosto evitando me encarar. Que caralho está acontecendo?
Respiro fundo, estou perdendo o controle da situação e eu não gosto
disso. Esse não sou eu, eu nunca me descontrolei tanto em um dia só, as
coisas que eu falei sobre o contrato, porque eu disse isso?
— Me desculpa se te humilhei como está dizendo que eu fiz, estou
de cabeça quente por não aceitar que desrespeitem a minha mulher!
— Você não aceita que me desrespeitem mas você está fazendo o
quê...? Eu não quero discutir, não quero brigar então me leva para casa...
Vou pegar umas mudas de roupas e vou para minha casa, vou ficar com a
minha mãe...
— Vai se afastar de mim por causa de uma discussão? Na primeira
briga você já está fugindo?
— Não! Não estou fingindo. A sua casa é muito grande, eu não
precisaria ir para tão longe apenas para fugir de você. Reencontrei a minha
mãe e minha irmã hoje e quero ficar com elas, e não estou pedindo
permissão para isso, estou apenas te comunicando. — Seu tom firme e
autoritário me surpreende. Encaro-a chocado.
— Merda! Droga!
Esbravejo apertando o volante com força mas volto a minha total
atenção no trânsito. Que diabos foi tudo isso? Estava tudo indo tão bem e
agora essa situação repentina?
Seguimos o resto do trajeto em silêncio mas vejo ela fungar, cacete!
O que eu fiz? Que merda eu fiz? Pego a sua mão no seu colo mas ela se
solta de mim. Entro pelos portões de casa e sigo até a entrada principal, mal
eu paro o carro e ela pula para fora sem me dar chances de dizer nada.
Suspiro fundo e esfrego as mãos no rosto, saio do carro batendo a
porta, coisa que eu nunca fiz antes, mas entro em casa e corro escada acima
afim de conversar e concertar o meu erro. Sei que agi errado mas eu pedi
desculpas.
Entro no nosso quarto e não a vejo, vou até o closet e ela está
encostada no armário chorando. Sinto vontade de me socar por isso.
— Por favor, vamos conversar? Me desculpa pelo que eu disse eu
estava de cabeça quente, não medi as palavras... Jenny...? Amor, por favor?
Me perdoa? Tudo que eu falei foi da boca para fora. — Aproximo-me com
cautela, mas ela me dá as costas pegando algumas roupas.
— Foi da boca para fora mas me magoou. A maneira como você se
referiu ao nosso acordo como se eu fosse um objeto que te pertence, isso me
magoou, você não manda em mim e precisa me respeitar quando eu disser
não! E eu não queria ter saído da galeria daquele jeito com todos me
olhando, eu parecia uma criança sendo repreendida e isso é ridículo! —
Contesta andando pelo closet, esforço-me para não continuar fazendo
merda.
— Tá legal! Me desculpa? Eu passei dos limites e não medi as
palavras. Porra eu queria fazer mais por você mas dentro da galeria é o
espaço da minha mãe, eu fiquei indignado e só queria te tirar dali! Por
querer te proteger demais eu acabei passando dos limites, mas estou me
desculpando, caramba! É difícil para você entender as minhas razões? Sei
que nada justifica as merdas que eu falei, mas estou me desculpando! —
Justifico-me sentindo-me mal com essa situação.
Ela não diz nada e fica ali para de costas para mim. Saio do closet
inquieto e com o corpo tremendo de tão tenso, como as coisas chegaram a
esse ponto depois de eu ter ido buscá-la cheio de amor para dar? E agora ela
vai se refugiar na casa dela para se afastar de mim.
Sento-me na cama repensando tudo que eu disse, sei que fui um
babaca mas agora o estrago já está feito, quem nunca fez ou disse alguma
merda de cabeça quente? Como vou conseguiu consertar isso agora? Ela sai
do closet com a bolsa de mão e um casaco mas ainda evita me olhar.
— Vou ficar com a minha mãe hoje mas amanhã estarei de volta. Eu
ainda tenho um acordo para cumprir... Tenha uma boa noite! — Jenny vai
em direção a porta e eu solto uma respiração pesada, frustrado.
— Que merda! Como uma coisinha tão pequena pode se tornar tão
grande do nada...? — Resmungo indignado mas ela sai do quarto fingindo
não me ouvir.
Levanto-me e vou atrás dela. Jennifer desce a escada apressada para
fugir de mim, parece até que passou a me odiar de repente. Ela sai de casa e
eu saio atrás, quando ela abre a porta do carro do motorista para entrar, eu
seguro o seu braço para impedi-la.
— Já que faz tanta questão de ficar longe de mim, eu te levo! —
Sigo com ela para o meu carro, mas Jennifer se solta de mim.
— Não precisa! Eu prefiro ir com o motorista pois não quero ir
brigando até em casa. Já que está de cabeça quente, usa esse tempo sozinho
para se acalmar, pois se você me magoar de novo eu vou ter que romper o
nosso contrato, e antes que você diga que não vai me submeter a nenhuma
penalidade por isso, eu vendo novamente aquela casa e te devolvo cada
centavo do que você me deu. Eu durmo na rua com a minha mãe e minha
irmã, mas não vou aceitar que me magoe outra vez! Justo você, o homem
que algumas horas atrás disse amar... Agora não dificulte as coisas pois eu
também estou de cabeça quente, e se eu ficar aqui vamos passar o resto da
noite em pé de guerra...
— Pé de guerra porque você quer, porque eu já pedi desculpas...
Tudo bem, você quer ir com o motorista então vá! Não vou pedir para me
avisar se chegou bem pois sei que não vai fazer isso... Eu realmente sinto
muito por tudo isso. Tenha uma boa noite, Jennifer! — Saio em seguida
para evitar uma nova discussão.
As suas palavras estão ecoando na minha cabeça, não tenho como
negar, eu não esperava por tudo isso, não depois de me declarar para ela e
vice versa, tudo estava indo bem demais, mas tudo aconteceu com a mesma
rapidez e eu não estava preparado para algo assim.
Entro em casa e sigo até o bar, sirvo-me uma dose de uísque e bebo
em uma só golada para sentir o líquido descer queimando, e assim acontece,
mas não é algo tão insuportável quanto essa minha situação com Jennifer.
Até minutos atrás eu a considerava minha mulher, agora já nem sei mais
pois ela está me odiando. Reconheço o meu erro mas eu me desculpei,
entendo ela ficar na defensiva levantando conta tudo que já passou, mas não
imaginei uma reação como aquela.
Sirvo-me mais uma dose de uísque e dessa vez bebo aos poucos, a
goladas mínimas para sentir o gosto do líquido. Imagens dela chorando por
minha causa invade a minha mente.
— AHHH!
Arremesso o copo longe e mal consigo ver em que direção ele foi,
respiro fundo tentando me controlar para não ir atrás dela, ela não me quer
mais, eu vi isso nos olhos dela ao cogitar romper o nosso acordo, o meu
crime foi assim tão grave? Foi pior do que armarem para prejudicarem ela
na galeria?
Não vou ficar enchendo a cara por causa disso ou vou fazer
besteiras, e se eu aprontar mais alguma coisa ela vai querer me matar. Subo
para o meu quarto e arranco as minhas roupas jogando em qualquer lugar,
tomo uma ducha bem demorada antes de me jogar na cama pois eu preciso
me manter calmo, preciso me controlar mais e tentar não pensar tanto no
que houve, ou eu vou surtar.
Na manhã seguinte eu me levanto antes do meu horário e tomo um
banho para aliviar a tensão do corpo, rolei na cama a noite inteira e não
consegui dormir, eu praticamente passei a noite em claro me odiando por
fazer a minha mulher me odiar.
Depois do banho eu me arrumo como de costume e desço até a
cozinha, Agnes ainda está preparando o café da manhã mas eu peço apenas
uma xícara de café sem açúcar para tomar ali mesmo.
— Bom dia, Sr. Bruno! Está tudo bem? Eu encontrei um copo
quebrado na sala, sua esposa não dormiu em casa mas no fundo eu já
imaginava que ela fosse ficar com a mãe ontem...
— Está tudo bem sim, Agnes, pior que isso é impossível! Tenha um
bom dia! — Respondo seco e saio em seguida.
Saio da cozinha decidido a sair logo de casa mas paro de repente,
suspiro fundo me sentindo um lixo pela forma que falei com a minha
empregada, afinal, ela só está preocupada comigo então volto até a cozinha
e me desculpo.
— Agnes? Eu não estou em um bom dia mas isso não me dá o
direito de descontar a minha raiva em você, então peço que me desculpe,
está bem? Tenha um bom dia, caso precise, é só me ligar. — Aproximo-me
mais sereno que antes e lhe dou um beijo na testa em sinal de respeito.
— Tudo bem, senhor, não precisa se desculpar... Tenha um bom dia
de trabalho.
Ela me dá um sorriso gentil e eu apenas aceno saindo em seguida,
ainda me sentindo mal por ter sido tão estúpido. Saio de casa e entro no
meu carro seguindo para empresa mesmo sabendo que vou chegar primeiro
que todo mundo, mas não me importo, eu só não quero ficar aqui sem ela,
tudo fica muito insuportável sem Jennifer.
— Não quero perdê-la mesmo sentindo que já perdi... Se ela quer se
afastar é porque ela precisa de um tempo. Vou tentar dar isso a ela mesmo
contra a minha vontade.
Comento sozinho enquanto sigo o meu caminho para empresa, ainda
é muito cedo então as ruas ainda estão vazias e eu chego na empresa em
poucos minutos, os seguranças já estão apostos em seus lugares e a
recepção já está aberta, então subo para o andar da presidência e sigo para
minha sala ao lado da sala do meu irmão. Sou o vice presidente e um dia
serei o presidente desse lugar.
Tenho conversado muito com o meu irmão sobre família, afinal, ele
já está construindo a dele e assim como o papai, ele não quer passar a
velhice trabalhando, ele quer ter tempo para sua família e ele não está
errado. Eu amo Jennifer e no futuro quero muito ter uma família com ela, os
nossos filhos seriam lindos mas depois daquela minha atitude lamentável,
acho que posso dar a Deus ao nosso casamento, ela é esquentada demais e
eu também não sou uma pessoa nada calma.
É sério que você vai desistir na primeira briga, Bruno Stuart? Você
só precisa esperar ela se acalmar e tentar de novo! Você não pode perder
essa mulher, você a ama ou não?
— Eu a amo... Droga! Eu a amo mesmo sabendo que isso não estava
no contrato.
E porque você fez aquela proposta a ela? Pelos belos olhos dela ou
porque você precisava se casar?
— Eu a escolhi porque eu queria que fosse ela... Desde que a beijei
quando nos conhecemos, eu queria que fosse ela a se casar comigo mas não
porque eu precisava me casar, mas porque eu já queria estar com ela...
Queria que ela fosse minha, e ainda quero... — Paro em frente à janela
pensativo.
E porque você não diz isso a ela, seu idiota? Mulher gosta de ouvir
o quanto é amada, desejada e admirada pelo homem que ela gosta.
— Estou ciente de tudo isso, cacete! Eu só não sei como fazer isso,
nunca precisei fazer isso antes...
Para tudo tem uma primeira vez, ou você vai perdê-la de verdade.
Conversar com o meu subconsciente não está me ajudando muito, só
está me deixando mais pensativo e apreensivo pois depois de seis meses
casados, finalmente tive coragem de dizer eu te amo, com toda certeza ela
deve pensar que eu fui o primeiro a dizer isso, e eu até prefiro que ela pense
assim, mas essa semana enquanto dormia ela disse que me ama, e mesmo
me deixando em choque por ouvir algo dito de forma tão sincera e
verdadeira, não foi algo dito apenas para me impressionar como já falaram
antes, ela se declarou para mim enquanto dormia e isso me tirou o sono.
Eu fiquei feliz sim, na verdade eu fiquei eufórico com a sua
declaração e a levei para jantar fora, comprei um lindo buquê se rosas
vermelhas bem robustas e vistosas, além de uma generosa caixa dos seus
chocolates preferidos, também lhe dei um presente, um colar simples de
ouro com um pingente de diamante, elas não gosta de coisas chamativas e
até nisso ela é diferente das mulheres que já conheci, Jennifer é
simplesmente a mulher da minha vida e não vou perdê-la por uma briga
idiota como essa, no caso, sei que o idiota fui eu então preciso consertar
isso.

As horas estão passando e eu estou focado no trabalho, mesmo


ainda inquieto com o que aconteceu, na parte da manhã eu liguei para uma
floricultura e encomendei uma dúzias de rosas e mandei entregar a ela na
faculdade, pois sei que ela não faltaria ao seu último dia antes do recesso
desse semestre, ela é muito estudiosa e dedicada e eu me orgulho dela por
isso.
Já está chegando a hora do almoço e ela nem se quer ligou para
agradecer as flores, eu mandei um cartão convidando-a para almoçar e
assim podermos conversar em paz e tranquilos, mas ela está mesmo
magoada comigo pois não me respondeu, tentei ligar para lhe dar bom dia e
perguntar sobre o meu convite, mas ela também não me atendeu, isso é o
que mais está me deixando mal, mas o que posso fazer se minha esposa não
quer me ver nem pintado?
Passando o horário de almoço eu liguei para minha mãe
perguntando se minha mulher havia chegado, e sim, ela chegou e está
agindo como se nada tivesse acontecido mas sei que isso é por estar em seu
local de trabalho, Jennifer é bastante profissional. Mamãe questionou se
algo havia acontecido e eu contei a verdade a ela, não gosto de mentiras e
levando em conta o fato dela ser tão desconfiada, ela iria descobrir de um
jeito ou de outro que eu e minha mulher não estamos bem.
— Filho? Está tudo certo para a sua viagem de amanhã? Já reuniu a
documentação que você vai precisar? — Papai entra na minha sala atento
aos papéis nas suas mãos.
— Sim, papai, já está tudo pronto e eu tomei a liberdade de
antecipar a minha viagem, já deixei o nosso piloto avisado que partirei no
final da tarde de hoje. — Informo atento ao computador. Ele para à frente
da minha mesa com a sua atenção em mim.
— Vai adiantar a viagem? Está tudo bem, Bruno? Aconteceu alguma
coisa? Jennifer vai com você como programado?
— Não! Ela não vai... A minha mulher não está falando comigo...
Brigamos ontem à noite e ela foi dormir com a mãe e a irmã dela, a mamãe
deve ter te contado que elas estão na casa de Jennifer. — Puxo a respiração
olhando de um lado para o outro, sentindo-me perdido.
— Sim, a sua mãe me contou, mas não entendi o por que você e sua
esposa brigaram. O que aconteceu? Estão com problemas? Sua mãe
também me contou sobre o que houve na galeria e eu lamento muito por
isso, você saiu de lá com a sua esposa e ambos pareciam chateados, é por
isso que estou te vendo tão mal? — Relata sentando-se à frente da minha
mesa.
— Eu pisei na bola, papai, fiquei furioso pelo que fizeram com ela e
tirei a minha mulher da galeria de uma maneira que ela não gostou, ela me
questionou e como estávamos os dois de cabeça quente, acabamos brigando
feio... Pedi perdão, mandei flores e a convidei para almoçarmos para
conversarmos melhor, mas ela está me ignorando. — Levanto-me inquieto e
paro na frente da janela puxando uma respiração pesada.
— Vocês são jovens, acabaram de se casar e estão descobrindo que
nem tudo é um mar de rosas, mas só os inteligentes sabem agir em uma
situação como essa... Você precisa aprender uma coisa, meu filho, em uma
discussão, a mulher sempre tem razão ou tudo acaba com uma terrível dor
de cabeça e um divórcio inevitável, aprenda com o seu pai pois consegui
manter a mesma mulher ao meu lado por quarenta e dois anos, sabe o que
isso significa? Perseverança! Conhecimento e muitos sim amor, tudo bem
amor, você tem razão amor, me desculpa amor e por aí vai. — Conta
sorrindo me fazendo sorrir também.
— Eu nunca me imaginei sendo quem eu sou agora por causa de
uma mulher, nunca me imaginei correndo atrás para me desculpar e nunca
tive medo de perder alguém como ela.
— Você nunca se sentiu assim antes porque nunca amou de verdade
uma mulher, meu filho, mas está escrito na sua testa que você está de quatro
pela sua mulher, ela é uma garota incrível mesmo. — Vejo um sorriso de
ternura em seu rosto e me surpreendo.
Todos na minha família gostam muito de Jennifer, até Cristiano que
aprontou para ela quando a conheceu já deu o braço a torcer, ele a trata
muito bem e até está de rolo com a amiga dela, que também é uma negra
belíssima.
— Você está certo, papai, eu nunca amei de verdade uma mulher
antes dela desmaiar nos meus braços. A conheci tão aflita, tão frágil que
mesmo sem conhecê-la eu quis cuidar dela, mas foi tão difícil reencontrá-
la... E eu não vou desistir dela, papai, mas acho que nós dois precisamos de
um tempo para refletirmos. — Conto cabisbaixo ao falar dela. Eu daria tudo
por um único beijo dela nesse momento.
— Está bem, se você julga necessário esse tempo, faça isso então,
mas espero que vocês se resolvam logo. Se precisar de mim é só ligar. —
Ele se levanta indo até a porta e nos despedimos antes dele sair me
deixando sozinho.
Ligo para casa e peço a Agnes para preparar a minha mala e deixar
pronta, ela pergunta se deve fazer a mala de Jennifer e eu digo que não, ela
não vai querer ir nessa viagem depois da nossa briga então não vou tocar
nesse assunto.
Volto para minha mesa e termino o meu trabalho, meu estômago dá
sinal de vida pois não almocei, não sinto fome por estar apreensivo demais,
mas sei que preciso me alimentar mas como vou fazer isso brigado com
ela? Eu simplesmente não sinto fome.
— Merda! Droga! — Largo a caneta sobre a mesa e esfrego as mãos
no rosto.
Ouço batidas na porta e peço para entrar, minha secretária entra com
alguns papéis nas mãos e eu suspiro fundo.
— Com licença, Sr. Bruno, me pediram para entregar esses
documentos, a secretária do advogado, o Sr. Kleber. Ele precisa desses
documentos assinados mas o presidente acabou de sair. — Explica-se dando
a volta na minha mesa e para ao meu lado.
— Tudo que posso fazer é revisar esses documentos, não posso
assiná-los no lugar do presidente... Me avise quando o meu irmão voltar.
Pode se retirar agora! — Pego os documentos e abro dando uma olhada
para ver do que se trata.
A mulher concorda e sai em seguida me deixando sozinho. Ponho a
minha atenção nos documentos para que o tempo passe logo, mas
novamente a minha secretária entra com uma xícara de café, e ela sempre
entra nos momentos errados, momentos em que eu prefiro ficar sozinho.
— Sei que não me pediu um café, Sr. Bruno, mas também sei que o
senhor não foi almoçar e não é bom ficar de estômago vazio. — Mais uma
vez ela dá a volta na minha mesa para pôr o café a minha frente.
O que deu nessa mulher? Ela nunca fez isso antes, porque apenas
não estendeu a xícara e pôs na mesa?
Não tenho como negar, ficar longe dele é doloroso demais, mas
aquela situação de ontem foi vergonhoso, ele me tirou da galeria como se eu
fosse uma criança e hoje todos estão me olhando e cochichando pelos
cantos, como se eu tivesse sido culpada por alguma coisa e estava preste a
ser punida pelo meu próprio marido.
Marido? Se ele se considera meu marido, porque jogou na minha
cara que por causa de um contrato eu pertenço a ele? Não gostei disso, ele
deu a entender que é o meu dono e eu não vou aceitar algo assim, porque
ele tinha que agir daquele jeito? Eu nunca o vi assim antes.
— Jennifer! Venha até a minha sala, por favor? — Pede minha sogra
parada mais adiante.
— Claro, senhora! Mayumi! Termina de atender o cliente, por
favor? Eu já volto. Com licença! — Peço sem abandonar o cliente mas saio
em seguida indo até sala da minha chefe, e também a minha sogra.
Entro em seguida e ela pede para eu me sentar à frente da sua mesa,
assim o faço sentindo-me tensa pelo que houve aqui ontem, ela viu a forma
como saímos daqui.
— Não adianta mentir para mim novamente, Jennifer, não adianta
negar que aconteceu algo e fingir que está tudo bem. Bruno me ligou para
saber de você e me contou tudo que houve, ele está tão mal quanto você
está tentando parece não estar. — Surpreendo-me com as suas palavras.
— Me desculpe, Sra. Naomi, eu só estava tentando não preocupá-la
com os nossos problemas... A gente vai se resolver, assim espero. —
Suspiro frustrada pois mal consegui dormir essa noite pensando na nossa
briga.
— Vocês precisam se resolver logo, a viagem de vocês é amanhã e o
que vão fazer? Vão viajar brigados?
— Na verdade eu não sei se devo ir nessa viagem, ele vai viajar a
trabalho e mal vamos ter tempo para ficarmos juntos. — Defendo-me sem
jeito.
— Mesmo que você não vá a essa viagem, você precisa dizer isso a
ele, vocês precisam conversar antes dessa viagem... Estou vendo o quanto
está magoada. Ele disse que te mandou flores e um convite para almoçar,
mas você não respondeu e não atende as ligações dele, vocês precisam
conversar. Bruno errou e merece sim aprender uma lição, mas não deixa de
conversar com ele antes dele viajar, está bem? — Ela inclina-se sobre a
mesa pegando a minha mão.
— Eu não sei do que a senhora está falando, minha sogra, eu não
recebi flores alguma e muito menos um convite para almoçarmos, eu até
estranhei ele não ter me ligado ou tentado vir falar comigo... Eu não pego
no meu celular desde que entrei na faculdade hoje cedo. Espera um minuto!
Eu vou verificar. — Levanto-me apressada e saio da sua sala correndo.
Vou até a copa e pego a minha bolsa, pego o meu celular e tem
várias chamadas perdidas, e também uma mensagem dele pedindo para
conversarmos, como eu não vi isso? O telefone está no modo silencioso
pois sempre que entro em aula, eu faço isso para o professor não chamar a
minha atenção, devo ter esquecido desse detalhe por estar chateada demais.
Volto até a sala da minha chefe e explico a ela o porquê não atendi
as ligações de Bruno, ela é super compreensiva mas ordena que eu vá agora
mesmo falar com ele. Tento argumentar e deixar para conversar mais tarde
quando chegar casa, mas ela é bem firme nas suas decisões e eu não tenho
como contestar.
Obedeço a minha sogra e pego a minha bolsa saindo da galeria em
seguida, entro no carro com o motorista e sigo para empresa Stuart, espero
não ter mais uma briga com ele pois eu queria realmente viajar com ele,
pensei que poderíamos viver uma pequena lua de mel, ou simplesmente
curtirmos alguns momentos juntos em outra cidade, mas vamos ver como
tudo terminará hoje.
Poucos minutos depois estou entrando no elevador do prédio e subo
para o andar da presidência, eu já vim aqui antes então já sei onde fica, mas
qualquer um que entrar aqui precisa de uma identificação, um adesivo com
o nome colado na roupa. Eu sempre sorrio quando vejo o meu nome como
Jennifer Stuart.
Saio do elevador no andar da presidência e sigo até a sala do meu
marido, como sempre a secretária não está na sua mesa e eu estou me
perguntando o que essa mulher está sendo paga para fazer, ela nunca está na
sua mesa quando eu venho aqui, eu sempre a encontro na sala do Bruno.
Não dá outra, abro a porta da sala e entro vendo a secretária se
sentar no seu colo e o beijar, mas ele se levanta abruptamente tirando-a do
seu colo.
— O que pensa que está fazendo? Você ficou louca? Eu sou casado
e você não está aqui para se oferecer para o seu chefe! — Contesta irritado
e a mulher olha na minha direção com um sorriso de lado e uma
sobrancelha erguida. — Jennifer? Amor, eu posso explicar...
— Não precisa se explicar, querido, eu vi tudo... Eu não sabia que as
piranhas já haviam chegado nesse andar, esse prédio é bem alto. — Fecho a
porta e aproximo-me deles atenta a mulher agora séria.
— Eu não sou piranha...
— Cala a sua boca pois eu não estou falando com você! Estou
falando com o meu marido! Pode dar em cima dele o quanto quiser, eu não
sou ciumenta pois mesmo que ele seda ao charme de uma vagabunda
qualquer, é para mim que ele sempre vai voltar, para a esposa dele... Agora
saia! Eu preciso conversar com o meu marido. — Aproximo-me dela com
um olhar mortal, ela olha de mim para Bruno e vice versa. — Não quero ter
que me rebaixar e tirar você pelos cabelos, então é melhor você sair por
bem do que por mal. — Alerto-a cruzando os braço e ela sai apressada se
sentindo ofendida.
Viro-me calmante encarando o homem a minha frente. Sei que ele
não teve culpa mas eu quero dar na cara dele por contratar esse tipo de
mulher, está escrito confusão no decote dela.
— Jenny...
— Não precisa dizer nada sobre isso, eu não quero ouvir... Eu só
vim dizer que vou passar uns dias a mais com a minha mãe e minha irmã.
Isso era tudo, com licença! — Olho dentro dos seus olhos e saio em
seguida.
— Jennifer, espera! E a nossa viagem?
— Nesse momento, ficar com a minha família é mais importante
que essa viagem. — Disparo magoada com essa situação e saio deixando-o
para trás.
— Srta. Castanho! Passe no departamento de RH, você está
demitida! Prefiro ficar sem secretária a manter você aqui! — Ouço ele
esbravejar mas não me importo, entro no elevador e desço até a garagem.
Eu sabia que não devia ter vindo, sabia que a nossa situação poderia
se complicar ainda mais, estou com raiva, com ódio daquela mulher, eu
deveria ter agarrado no pescoço dela e degolar aquela galinha depenada.
— Que ódio! Odeio aquela mulher!
Esbravejo sozinha no elevador antes do mesmo se abrir no térreo,
saio feito um foguete a passadas largas e saio do prédio, entro no carro com
o motorista e apenas peço para ele me tirar dali, e assim ele o faz.
Mando uma mensagem para minha sogra dizendo que não estou me
sentindo bem, que ela pode descontar o restante do dia mas eu não volto
mais hoje para o trabalho, ela questiona sobre o que houve pois sabe que eu
jamais deixaria o trabalho de lado por um motivo bobo, acontece que estou
mal por ter visto Bruno naquela situação com outra mulher, por mais que
ele não tenha culpa no que aconteceu isso me deixou mal, estou morrendo
de ciúmes mas eu jamais admitiria isso para alguém. Que merda!
Chego em casa e subo correndo para o meu antigo quarto, ainda
tenho roupas aqui então tomo um banho e visto uma camisola, me jogo na
cama pensativa e me cubro até a cabeça.
— Espera! Ele me mandou flores quando? Para onde ele mandou
essas flores? Será que ele mandou para minha casa achando que eu ainda
estava com a minha mãe?
Questiono confusa e ainda pensativa, ele não mandaria flores para
faculdade e na galeria não chegou nada, e o seu convite para almoçarmos?
Será que ele me esperou para almoçar? Merda!
Agora é tarde para pensar nisso pois eu não recebi essas benditas
flores e muito menos o convite para almoçar, mas se eu tivesse atendido ao
telefone, com certeza ele teria comentando alguma coisa e poderíamos ter
nos entendido, mas como eu iria atender essa porcaria de telefone se eu
deixei na bolsa longe de mim e ainda no silencioso?
Me acabo em pensamentos e pego no sono, eu não dormi bem essa
noite então me deixo levar pelo sono e durmo tranquilamente.
Sinto um carinho no meu rosto mas não consigo abrir os olhos,
estou com muito sono. Sinto os seus dedos tocar a minha pele em um
carinho suave.
— Eu te amo... Nunca amei uma mulher como eu te amo... Você é a
minha vida, morena. — Seu tom é baixo e rouco mas consigo ouvir.
Bocejo mexendo-me na cama, esforço-me para abrir os olhos e vejo-
o sair do quarto, mas o seu perfume ficou aqui para perturbar os meus
pensamentos, ele está tão cheiroso, sinto tanta falta dos seus beijos. Meu
Deus! Que tormento!
Pego a minha mala e saio de casa entrando no carro, dessa vez vou
com o motorista para ele trazer o carro de volta e não precisar deixá-lo no
aeroporto. Sigo para o aeroporto pensativo, ainda estou me sentindo mal
pela minha atual situação, eu poderia ficar em casa e tentar conversar com a
minha mulher para nos entendermos, mas se ela já estava chateada antes,
deve estar muito mais depois daquela cena patética no meu escritório.
Não sei o que deu naquela louca para fazer aquilo, nunca dei sinais
de que aprovaria algo como aquilo, eu amo a minha esposa e jamais a
magoaria dessa forma tão desrespeitosa, eu só espero que ela também pense
assim, ou o meu casamento já era.
Eu tentei sair atrás dela mas não podia deixar a empresa sem o meu
pai e meu irmão presente, no mínimo eles jogariam na minha cara que eu
abandonei a empresa sem um representante Stuart presente, e eu não estou
podendo deixar a desejar com o meu pai, essa história de casamento só
começou por causa do trabalho e eu só aceitei me casar por isso, até
descobrir que estava fodidamente apaixonado pela minha futura esposa.
Quem em sã consciência faz um acordo desses com uma mulher e se
apaixona antes mesmo de se casar? Esse sou eu, quis dar uma de esperto
com esse casamento arranjado e caí na minha própria armadilha.
Mamãe me ligou querendo saber o que houve pois Jennifer não
voltou para galeria, ela ligou muito chateada e é claro que mamãe estranhou
isso, pois ela mesmo mandou Jennifer ir falar comigo e acontece uma
merda daquelas.
Entramos no aeroporto e por um milagre está vazio, sigo direto para
o portão de embarque e logo estou subindo a porto do jato particular da
empresa. Cumprimento o piloto e copiloto e duas comissárias, acomodo-me
no meu acento ainda frustrado e tento esquecer um pouco tudo que houve.
— Comissária! Me serve uma dose de uísque, por favor. — Peço
enquanto checo o meu celular mas não há nenhuma chamada ou mensagem
dela.
Estou sonhando alto demais se acho que ela vai me ligar estando
chateada. A comissária traz a minha bebida e eu tomo a goladas lentas
enquanto sou avisado que vamos decolar, a aeronave sai do lugar seguindo
pela pista lentamente, fazendo o meu coração disparar e se apertar por estar
deixando ela para trás. Jennifer, minha morena linda, ela nem imagina o
quanto estou sofrendo com essa situação, com certeza ela deve pensar que
não sou capaz de sofrer por ela. E na verdade eu estou destruído.
Sinto que a aeronave está parando na pista e estranho isso, será que
há algum problema impedindo a decolagem?
— Comissária? O que está acontecendo? Porque paramos no meio
da pista? — Questiono tirando o meu cinto de segurança.
— Não há problema algum, senhor, acabamos de ser informados
que é a sua esposa está no aeroporto, por isso paramos.
— Como assim? A minha esposa está aqui? No aeroporto? —
Levanto-me apressado e abro eu mesmo a comporta da aeronave.
— Sim senhor, ela está fazendo o check-up e pediu para esperarmos
por ela...
Não espero ela terminar de falar e saio apressado em busca dela.
Quando estou chegando no portão vejo-a vir apressada mas para quando me
ver. Ofego, ainda não acredito que ela está aqui. Aproximo-me dela e ela
põe o cabelo atrás da orelha em um jeito tímido.
— Jennifer? O que está fazendo aqui?
— O que eu estou fazendo aqui? Não vou deixar o meu marido
viajar sozinho, isso não é óbvio? — Dispara com uma sobrancelha erguida
e passa por mim de nariz em pé, não tem como não sorrir por isso.
Sigo atrás dela e pego a sua mão como de costume, mas me
surpreendo por ela não me rejeitar. Seguimos até a nossa aeronave e
embarcamos a bordo, levantamos vôo com ela ainda calada ao meu lado,
mas reparo que ela não trouxe bagagem.
— Onde está a sua mala? Não trouxe roupas? — Pergunto confuso.
— Não tive tempo de arrumar uma mala, você se declara para mim
enquanto estou dormindo e sai de repente sem dizer mais nada. Eu não
sabia que você viajaria hoje então só tive tempo de pegar a minha bolsa, por
isso vai preparando o seu cartão... Você vai precisar vestir a sua esposa. —
Explica-se ainda sem me olhar, ela está se fazendo de durona e isso é nítido.
— Tudo bem, vou deixar o meu cartão com você, enquanto eu
estiver em reunião você pode fazer compras...
— Negativo! Você é meu marido e não vai me deixar fazer compras
sozinha, eu fui clara, Bruno? — Seu tom é firme e isso me excita.
Cacete! Estou morrendo de saudades dela, estou louco por um beijo
mas temo ser estrangulado pela minha mulher. Engulo em seco.
— Tudo bem, eu vou me programar para fazer o que você quiser,
mas... Será que podemos conversar...? Por favor, Jenny? Está me matando
ficar nesse clima com você, se ouviu a minha declaração então sabe que eu
te amo... — Tiro o meu cinto de segurança e inclino-me tocando o seu
rosto.
Ela ofega me olhando nos olhos, admiro os seus lábios sedutores
aqui de pertinho.
— Bruno... Sei que me ama, mas não consigo esquecer as besteiras
que você me disse ontem... Você me magoou e mesmo se desculpando, eu...
Eu... — Seu tom baixo quase em um sussurro me fascina. Mas entendo ela
ainda estar magoada.
— Eu vou fazer até o impossível para você esquecer as merdas que
eu disse, não foi a minha intensão dizer nada daquilo mas eu estava de
cabeça quente... Me perdoa, meu amor...? Me perdoa? — Argumento
descendo a minha mão até a sua nuca.
Beijo-a ardentemente tamanha é a saudade que sinto dela. Jennifer
não me rejeita, ela me beija com a mesma paixão, com o mesmo desejo.
Tiro o seu sinto de segurança e trago-a para o meu colo, ela não me
contesta, ela amolece rapidamente em meus braços e eu amo essas suas
reações.
— Vamos para o quarto? Vamos fazer as pazes, meu amor...? Sinto a
sua falta... — Sugiro entre beijos acariciando o seu corpo, louco para despi-
la inteira.
Jennifer sai do meu colo ofegante ajeitando a sua roupa e acomoda-
se novamente no seu acento, pondo o cinto de segurança.
— Não vou fazer as pazes com você dentro de um avião... Eu
mereço mais que isso pois não sou apenas a sua esposa, sou também a sua
namorada e sua amante, sou sua amiga, sua companheira... Sou sua mulher
em todos os sentidos então eu quero mais que apenas sexo nas alturas. —
Seu tom é firme e ela ainda está ofegante.
Surpreendo-me com as suas palavras mas ela não deixa de ter razão.
Suspiro fundo e encaro o volume na minha calça, o que vou fazer para me
livrar disso agora?
— Eu já disse e vou repetir. Vou fazer até o impossível para apagar
das suas lembranças aquele acontecimento lamentável... Tudo bem, vou ser
paciente, em menos de duas horas vamos estar em Nova York, podemos
jantar no restaurante do hotel e amanhã ainda teremos o dia livre, já que
antecipamos a nossa viagem. Vamos fazer compras de dia e a noite vamos
sair para jantar, depois vamos dançar um pouco e no final da noite, quero
ter a minha mulher em meus braços outra vez. — Afirmo decidido e ela
ergue uma sobrancelha.
— Já planejou todo o nosso dia de amanhã...? Impressionante, mas
eu gostei. — Seu sorrio encantador aparece para me fazer suspirar.
Inclino-me lhe roubando mais um beijo profundo antes de pôr
novamente o meu cinto de segurança. Ela me olha tão intensamente, sei que
também sentiu a minha falta, sei que me ama tanto quanto eu a amo. Sei
que me quer tanto quanto eu a quero.
— O que fez você mudar de idéia? Porque decidiu vir comigo em
cima da hora? Você havia dito que ficaria com a sua mãe e sua irmã...
Porque não atendeu as minhas ligações mais cedo? Pensei que quando
recebesse as flores você me atenderia. — Pergunto curioso.
— Eu fiquei surpresa quando a sua mãe também me questionou
sobre isso, porque eu não recebi flores alguma, muito menos o seu convite
para almoçar. Confesso que fiquei esperando que me procurasse para
conversarmos, mas fiquei decepcionada por você não ter me procurado...
Quanto as ligações, você sabe que eu sempre ponho o telefone no silencioso
durante as aulas, e eu me esqueci de mudar isso por estar chateada com
você.
— O entregador da floricultura me trouxe o recibo da entrega, Perla
Fonseca foi quem recebeu as flores afirmando que entregaria a você, o
entregador disso que ela se identificou como sua amiga enquanto ele
procurava a sua dala. — Relato confuso.
— Então foi por isso que eu não recebi as suas flores e o tal convite,
Perla não é minha amiga, ela é amiga da Eva e Vinícius, os desgraçados que
armaram para mim em relação aquele maldito vídeo... É uma pena ter
acontecido tudo isso porque eu adoraria ter recebido as flores, eu iria saber
que estava realmente se desculpando, que estava pensando em mim. —
Vejo-a pensativa e me olha sem jeito ao admitir que adotaria ter recebido as
flores.
— Não seja por isso, amanhã mesmo vou te cobrir de rosas e de
beijos, mas os beijos posso começar a te dar agora. — Inclino-me para
beijá-la mas ela tira o cinto de segurança e se levanta.
— Minha garganta está seca, preciso beber algo. — Ela olha a sua
volta sem saber para onde ir.
Faço sinal para comissária e tiro também o meu cinto de segurança,
peço para ela nos servi champanhe mas vejo que minha esposa ainda está
agitada, está tensa e sei que isso é por tentar me evitar, no fundo sei que ela
me quer mas vou tentar aguentar até ela mesma decidir que me quer.
Fomos para uma poltrona mais confortável no fundo da aeronave e
nos acomodamos, bebemos o nosso champanhe calados pois ela parece
acanhada, ela me olha desconsertada e isso me surpreende, não entendo o
porquê disso.
— Você está tão calada, prefiro quando fala pelos cotovelos sem
parar, eu amo o seu jeito espontâneo. — Toco o seu rosto e ela me olha
fixamente.
— Você ama o meu jeito espontâneo? Não se envergonha de mim
por eu as vezes agir feito uma moleca...? Minha mãe me aconselhou a agir
como uma mulher madura, é assim que uma mulher casada deve se
comportar e levando em conta que eu me casei com um Stuart...
— Não! Eu não quero que você mude, eu me apaixonei por você
assim e quero que continue sendo assim... A minha vida era séria demais
antes de você aparecer, por sua causa eu estou sorrindo mais, me divirto
mais e até a minha família sabe que o motivo é você... Eu amo você
exatamente como você é, Jenny. — Afirmo olhando em seus olhos e ela
suspira.
— Bruno... Eu também amo você... Amo muito, obrigada por me
aceitar como eu sou, por me amar como eu sou. — Seus dedos tocam o meu
rosto em um carinho suave.
— Não me agradeça pois não fui eu quem te escolheu. Foi o meu
coração. — Admiro esses lábios maravilhosos que ela tem.
— Minha nossa... Eu não serei capaz de resistir a isso...
Ela me segura pela nuca e me beija ardentemente, um beijo tão
intenso que trago-a para o meu colo e ela não me impede, apenas me beija
de um jeito tão faminto.
— Amor...? Vamos para o quarto...? Não precisamos fazer amor se
não quiser, mas não quero mais ninguém vendo a minha mulher assim, tão
fogosa. — Alerto-a apertando a sua bunda farta esfregando ela em mim.
— Não vou entrar naquele quarto se não for para fazer amor com o
meu marido... Sinto a sua falta... Ahh... Quero você... Mas não quero fazer
isso agora, não aqui... Me ajude a conseguir aguentar, e talvez eu deixe você
me pegar antes de dormir... — Sua fala mansa e seu tom manhoso me
quebram.
— Não estou aguentando de saudades... Mas eu vou fazer esse
sacrifício de esperar... Você precisa sair do meu colo, ou eu não vou resistir.
— Beijo entre os seus seios descendo a alça da sua blusa, no entanto, ela sai
do meu colo apressada sentando-se ao meu lado.
— Preciso de mais uma taça de champanhe... A minha garganta
ainda está seca... — Jennifer pega a garrafa de champanhe no gelo mas eu
tomo da sua mão.
— Não acha melhor tomar uma d'água ou um suco? Eu quero você
ainda hoje, mas se estiver bêbada não vai rolar. — Alerto-a.
— Sou sua esposa, qual é o problema de transar bêbada? —
Questiona.
— Não vou mentir, nunca me excitei com uma mulher bêbada, mas
com você é diferente. Você é provocante demais quando está animadinha,
mas não me sinto bem em transar ou fazer amor com você bêbada, quero
que se lembre de tudo que fizermos então prefiro que esteja completamente
consciente, tenho medo de passar dos limites pois você já sentiu como eu
gosto de pegar você. — Admiro ela umedecer os lábios e suspirar.
— Ok! Eu aceito os seus argumentos... Acho que vou ficar no suco.
— Jenny morde o lábio inferior fazendo o meu pau latejar.
Como é difícil resistir a essa mulher. Que feitiço foi esse que ela
lançou sobre mim? Ela me deixa louco.
— Porque está me olhando assim...? Está me deixando sem jeito. —
Engole em seco agarrando a perna do seu short com força.
Ela está visivelmente excitada, se eu fosse um canalha e insistisse
um pouco mais, não tenho dúvidas de que ela se entregaria para mim agora
mesmo, mas ela não quer fazer isso aqui dentro de um avião e eu vou
respeitar isso, além do más, não vamos demorar a pousar e eu quero mais
tempo com ela.
— Você é linda... Sei que digo isso com frequência mas acredite em
mim, estou sendo sincero... Essa foi a nossa primeira briga e isso me deixou
muito mal, não quero passar por isso de novo, não quero ver você triste
comigo outra vez. — Pego a sua mão tentando mudar de assunto para que
essa tensão sexual se desfaça até chegarmos no hotel.
— Demitiu mesmo aquela secretária? Não quero aquela mulher
perto de você outra vez e não quero ser tratada como uma criança, quero ser
tratada como sua esposa, Bruno, então não deixe aquilo se repetir, está
bem? Eu já vim de uma família de machista, sofri por causa do meu próprio
pai e não quero ter que comparar você com ele outra vez. Peço desculpas
por ter feito isso pois estou contando que isso não se repita. — Seu olhar é
mais sério que antes.
— Eu te dou a minha palavra que isso não vai mais se repetir, eu sei
que errei e também sei que só está aqui comigo agora porque eu reconheci o
meu erro, me desculpei e estou te dando a minha palavra de que isso não
vai mais acontecer... E sim, eu demiti aquela louca mas não posso ficar
muito tempo sem uma secretária, ou a minha vida vai virar um caos. —
Beijo a sua mão demoradamente e aquele seu sorrio que tanto me fascina
aparece.
— Você vai encontrar alguém em quem possa realmente confiar,
mas se você sentir que a pessoa possa te trazer problemas, dispensa antes
que um mal maior aconteça... Eu sou nova mas sei muito bem o que é ser
traída, e a dor que uma traição causa é terrível, não quero passar por isso de
novo pois eu jamais faria isso com você, Bruno... Eu confio em você e não
quero perder isso. — Seus dedos delicados tocam o meu rosto e ela me
beijando brevemente.
— Fora da minha família, você foi a única pessoa a merecer a minha
confiança, Jennifer, o seu caráter é visível e você o mostra sem nem ao
menos perceber, e isso é fascinante, por isso me apaixonei por você. Por
isso não foi difícil te amar. — Ponho o seu cabelo atrás da orelha e ela vem
para os meus braços espontaneamente.
Acolho-a em meu peito e continuamos a nossa conversa, estamos
mais descontraídos que minutos atrás e isso é bom, mas ainda estou cheio
desejos por ela, louco para senti-la, eu só estou me esforçando para
controlar isso até pousarmos.

Já pousamos em Nova York e estamos a caminho do hotel, estamos


famintos então despacho a minha mala e uma mochila para levarem para
suíte, enquanto isso vou para o restaurante com a minha mulher, ela está
mais empolgada e sorrindo como antes da nossa briga, e isso me deixa até
mais leve.
Fizemos os nossos pedidos e jantamos como se estivesse tudo bem
desde que saímos de casa, lembrando que eu saí de casa sozinho e me
odiando por ela estar chateada comigo, mas Deus é pai, eu sabia que ele não
iria me decepcionar pois todos merecem uma segunda chance, e acho que
essa é a minha segunda chance, mas estou ciente de que também pode ser a
última e eu não vou me esquecer disso.
Depois do nosso jantar eu peço para pôr os nossos gastos na conta
da nossa suíte, saímos do restaurante de mãos dadas mas sinto ela agarrar o
meu braço com força, apoiando-se em mim para não cair.
— Amor, você está bem? O que está acontecendo? — Abraço o seu
corpo prendendo ela a mim, ela está mole.
— Não é nada demais... Eu só... Só estou zonza... Eu não devia ter
bebido aquele vinho no jantar. — Ela puxa a respiração com força tentando
se recompor.
— Vamos subir, você precisa descansar.
— Não estou cansada, eu estou bem... Não precisa se preocupar,
está bem? — Ela toca o meu rosto tentando me tranquilizar.
— Só tem um jeito de eu não ficar preocupado. Vamos subir?
Podemos assistir a um filme juntos até pegarmos no sono, ou, podemos
namorar um pouco apenas para ficar com você quietinha em meus braços.
— Abraço novamente o seu corpo e levo-a para o elevador.
Ela sorrir empolgada e vejo que já está voltando ao normal.
Entramos no elevador com mais dois casais, um casal jovem e um casal de
idoso.
— Sei que você prometeu me levar para dançar amanhã, mas e se eu
pedir para dançar agora? — Surpreendo-me com o seu pedido.
— Dançar agora? Aqui dentro do elevador e sem música? —
Questiono confuso.
Ela sorrir e abraça o meu pescoço, Jenny começa a cantarolar uma
música olhando nos meus olhos e nos movemos no seu ritmo. Ela canta
suavemente, seu tom é doce e sereno, a sua voz é incrível, estou surpreso,
eu não fazia ideia de que ela sabia cantar.
Olho para os casais ao nosso lado sorrindo de um jeito amoroso, o
casal mais jovem começa a dançar também e eu sorrio. Encaro fixamente o
rosto da minha mulher, toco a sua pele e ela fecha os olhos ainda cantando
enquanto dançamos.
— Que lindo, éramos exatamente assim quando jovens.
Apaixonados e fazendo tudo que nos dava vontade. — Ouço o senhor dizer
admirando com carinho a sua esposa.
Beijo a minha mulher ainda dançando, amo esse seu jeito
espontâneo, amo as suas atitudes e gestos de carinhos ou atitudes que me
façam ser quem eu deveria ser, estou me conhecendo agora que ela chegou
na minha vida.
— Eu te amo...
— Também te amo...
Nos declaramos entre beijos e as portas do elevador se abrem, nos
separamos sorrindo e saímos do elevador abraçados.
— Parabéns ao casal, vocês são lindos juntos. — Diz a senhora
sorridente.
Sorrimos para ela e eu pego uma flor no vaso de planta ali mesmo
no corredor, vou a até a senhora e entrego a ela.
— Vocês também são um casal inspirador, parabéns! — Beijo a mão
dela e pisco para o senhor que sustenta um largo sorriso.
Aceno para o outro casal e saio pegando a minha mulher no colo,
ela sorrir escandalosamente me fazendo sorrir também, apresso-me para
chegar na nossa suíte e entro encantado com as suas gargalhadas. Corro
para cama e me jogo com ela sorrindo feito duas crianças, é assim que
sempre devemos estar, felizes.
Acordo me espreguiçando na cama procurando pelo meu marido,
mas estou sozinha. Sento-me olhando a minha volta e me deparo com o
quarto cheio de flores, a cama está cheia de pétalas de rosas e meu marido
em pé a frente da cama com as mãos nos bolsos, me admirando.
— Bom dia, princesa. Dormiu bem? — Ele vem até a mim e se
senta ao meu lado tocando o meu rosto.
— Bom dia, amor... O que deu em você? Trouxe uma floricultura
para dentro da suíte? — Questiono com um sorriso até nas orelhas
admirando as flores.
— Uma coisa que você não pode esquecer sobre mim, quando eu
prometo uma coisa, eu cumpro à risca. — Ele abre um sorriso tão lindo.
Meu Deus, eu amo demais esse homem.
— É a coisa mais linda que alguém já fez para mim... As flores são
linda. — Tiro as cobertas sobre mim e sento-me no seu colo de frente para
ele.
— Quero fazer muito mais que apenas te dar flores, quero passar um
dia especial com a minha esposa mas estou preocupado. Ontem você passou
mal no meio do nosso filme, vomitou e quase desmaiou, ainda estou
assustado mas vou acreditar quando você disser que está tudo bem, mas se
passar mal de novo nós vamos para o hospital sem questionamentos, ok? —
Suas mãos acariciam as minhas costas em um carrinho tão bom.
Vejo em seus olhos que ele ainda está preocupado, não estava nos
meus planos passar mal e confesso que não sei o que houve, acho que comi
algo que me fez muito mal, eu não estava daquele jeito antes do jantar e
depois fiquei com mal estar, o estômago revirando e foi inevitável correr
para o banheiro.
Bruno ficou visivelmente espantado e queria me levar para o
hospital a todos custo, apenas quando afirmei que estava bem foi que ele se
acalmou um pouco. Ele me fez tomar um banho e me deu uma de suas
blusas para vestir.
— Prometo para você que não vou questionar, mas acho que temos
algo pendente de ontem... Algo que você queria muito mas abriu mão por
me ver mal... Quero agradecer agora pela sua compreensão com a sua
esposa... — Abro a sua camisa no meu corpo e estou completamente nua.
— Amor...? Você tem certeza...? Jenny, você não está bem... Ahh...
— Ele aperta as minhas coxas admirando o meu corpo enquanto abro a sua
bermuda.
Agarro o seu pau masturbando-o e ponho ele para fora, ergo-me o
suficiente para encaixa-lo em mim e sento lentamente.
— Jennifer... Ahh...
Ele geme adentrando as suas mãos na camisa e acaricia o meu
corpo, beija entre os meus seios nus antes de sugar um deles. Abraço o seu
braço adentrando os meus dedos nos seus cabelos macios, cavalgo nele
rebolando perdida em delírios.
Bruno agarra a minha bunda com as duas mãos e me ergue
levantando-se comigo. Ele me deita na cama metendo em mim mais forte
do jeito que ele sabe que eu gosto, uso os pés para abaixar mais a sua
bermuda e agarro a sua bunda puxando-o contra mim, mas ele segura as
minhas mãos acima da cabeça e se ergue, me penetrando mais
intensamente.
— Isso... Isso... Bruno... Ahh...
Gemo arqueando-me, delirando e estremecendo-me de prazer, não
vou aguentar por muito mais tempo, sinto a tensão a flor da pele, seus
toques me deixam a uma estocada de gozar. Meu marido deita-se sobre mim
agarrando os meus seios com os duas mãos e beija, chupa e lambe cada um
dele sem deixar de se movimentar, essa sensação é viciante.
Nos entregando a um delicioso momento de amor, nos damos por
inteiro um ao outro até atingirmos um prazeroso orgasmo.
Bruno deita a cabeça entre os meus seios ofegante como se tivesse
corrido em uma maratona, assim como eu. Acaricio os seus cabelos de
olhos fechados ainda sentindo-o pulsar dentro de mim, eu amo essa
sensação, isso me excita, isso faz eu me sentir cheia, completa, mas não
saciada. Estou querendo mais, no entanto, meu estômago da sinal de vida e
ele se levantar sorrindo.
— Caramba! Eu me esqueci do nosso café da manhã, o leite e o café
já deve ter esfriado... Vamos! Precisamos nos alimentar. — Ele sai de mim
ajeitando a sua roupa enquanto me admira.
Seus cabelos estão bagunçados caindo sobre o rosto, isso o deixa
mais sexy que normalmente. Seu olhar sobre mim é perigoso como se ele
ainda me quisesse, e ele sabe que eu também ainda o quero.
Sento-me tirando a sua blusa do meu corpo e deito de bruços na
cama, olho-o sobre os ombros e ele está encarando fixamente a minha
bunda. Resolvo ser um pouco mais ousada e fico de quatro na cama
inclinando-me para pegar o meu celular na mesinha de cabeceira, de
repente sinto a cama se mover e meu marido me abraçar por trás.
— O que está acontecendo com você...? Está mais provocante que o
normal, mais safada, mais gostosa... Está perfeita... Ahh... — Questiona me
penetrando novamente. Agarro a cabeceira da cama para não desabar.
— Você me dá exatamente o que eu quero, então é óbvio que vou
querer mais... Muito mais... Ahh... Bruno... — Amoleço com as suas mãos
segurando com firmeza a minha cintura.
Seus movimentos são mais brutos que minutos atrás, ele pega o meu
cabelo mas não puxa, e isso é apenas um sinal, ele quer que eu me erga para
beijá-lo como das outras vezes, e assim o faço, transamos mais uma vez e
como sempre, foi surpreendentemente prazeroso.
Nunca estive tão à vontade com um homem como eu fico com
Bruno, ele me dá liberdade para ficar à vontade, ele sabe como me fazer
agir na hora do sexo, ele me deixa solta, me deixa leve, mole e disposta a
fazer tudo que ele quiser e eu faço com prazer.
Meu marido se surpreendeu quando soube que eu ainda não havia
feito sexo anal com outro homem, ele ficou feliz em por ser o primeiro e eu
não consegui resistir, não vou negar, eu tentei fugir dele por medo e
também por vergonha, eu me senti muito sem jeito quando ele tentou o sexo
anal e eu recuei, afinal, eu nunca havia feito isso antes e quando aconteceu,
foi algo tão natural, tão espontâneo que até eu me surpreendi.
Enquanto fazíamos massagem um no outro usando óleos
aromatizantes, e o próprio óleo de massagem, nos excitamos e fizemos
amor enquanto nos massageávamos, suas mãos me tocava por toda parte
passando o óleo e massageando, e de repente senti o seu dedo massageando
a minha entrada e aos poucos foi me penetrando, eu fiquei totalmente
descontrolada rendida ao prazer, quando dei por mim, ela já estava me
pedindo calma enquanto me penetrava bem lentamente e com cuidado para
não me assustar e não me machucar, e no final eu acabei pedindo mais.
Depois da nossa transa fomos tomar um banho rápido para
tomarmos café, estamos famintos e com certeza vamos ter que pedir outro
café pois já deve estar gelado. E assim fazemos, terminamos o nosso banho
e eu visto a mesma blusa dele que eu usava antes, visto a mesma calcinha
pois não tenho escolhas, eu não trouxe nada comigo além da minha bolsa de
mão, quando desci atrás dele e descobri que havia saído para viajar, apenas
catei a minha bolsa e sai de casa correndo para conseguir alcançá-lo, e que
bom que consegui chegar a tempo de conseguir viajarmos juntos, ou ainda
estaríamos brigados e nos sentindo mal longe um do outro.
Nos sentamos a mesa e começamos a comer enquanto não chega o
novo café que Bruno pediu, mas o seu celular toca e ele atende pondo o
aparelho sobre a mesa no viva voz.
— Mamãe? Bom dia, está tudo bem? — Pergunta com um sorriso
de lado.
Lembro-me que não avisei a minha sogra e nem a minha mãe que eu
iria viajar com Bruno depois da nossa briga.
— Bom dia, meu filho, eu é que pergunto onde você está? Seu pai
me falou que você antecipou a viagem, e também me contou que você e
Jennifer ainda não se entenderam, e agora eu não consigo falar com ela e
nem ela veio trabalhar, o que está acontecendo? A mãe dela também não
sabe nada da filha e já estamos preocupadas. — Ela fala sem respirar e nós
sorrimos.
— Bom dia, minha sogra! Me desculpe por não ter avisado que não
iria trabalhar hoje, eu resolvi de última hora viajar com o meu marido e nós
já estamos em Nova York. — Conto sorridente e ouço ela soltar uma
respiração pesada.
— Oh meu Deus... Você estão juntos? Graças a Deus. Eu estava
muito preocupada, querida, mas também estou feliz de saber que estão
juntos, que fizeram as pazes... Vocês fizeram as pazes, não é? Não viajaram
brigados, não é Bruno? — Seu tom é risonho mas volta a ficar sério.
— Mas é claro que não, mamãe. Eu me desculpei de novo e nos
entendemos, hoje de manhã eu cobri a minha mulher de flores mas estou
devendo a ela um dia de compras, ela veio sem bagagem apenas com a
bolsa de mão, também vamos sair jantar, dançar e depois vamos fazer amor
de novo, e de novo, e de novo...
— Bruno! Você ficou louco? É a sua mãe no telefone. —
Repreendo-o espantada e ele gargalha assim como a minha sogra do outro
lado da linha.
— Relaxa, querida, eu já estou acostumada com as safadezas dos
meus filhos. — Ela gargalha enquanto eu estou sem graça. — Bom, já que
estão juntos eu fico mais tranquila, agora aproveitem o dia de vocês,
passeiem, se divirtam e me liguem se precisar, ouviram? Tenham um bom
dia, meus queridos. — Ela volta a se animar.
— Bom dia, sogrinha querida!
— Bom dia, mamãe! Se precisar, nós ligaremos. Te amo! — Ele se
despede e encerra a chamada.
O café que ele pediu chega e nós terminamos o nosso café da manhã
reforçado pois estávamos mesmo precisando disso, os nossos momentos na
cama são sempre muito intensos, mas são perfeitos.

Ando pelo shopping empolgada arrastando Bruno para todo canto, e


ele vem comigo sem reclamar, meu marido está mesmo cumprindo a risca
as suas idéias para o nosso dia de hoje, e sei que teremos um dos melhores
dias da nossa vida.
Não compramos apenas roupas para mim, compramos para ele
também e meu marido me deixou escolher algumas roupas para ele
também, consequentemente tivemos que comprar uma mala pois não vai
caber tudo na mochila dele que já está cheia.
Depois das nossas compras nós almoçamos e fomos ao cinema,
namoramos no escurinho e foi maravilhoso poder curtir algo assim com ele,
nunca havia ido no cinema com um namorado mas meu marido faz questão
de me levar sempre que dá, isso quando não ficamos em casa mesmo
assistindo TV na sala ou no nosso quarto, a nossa pegação é muito boa, mas
poder ficar em seus braços apenas namorando e recebendo os seus carinhos,
é algo perfeito.
Não pensamos sexo o tempo todo, também conversamos bastante,
fazemos pequenos planos para minha formação e também para o cargo dele
na empresa, falamos muito também do meu trabalho na galeria e agora tem
a minha mãe e minha irmã para cuidar, e eu já tirei uma boa quantia em
dinheiro da minha conta e deixei com elas para gastos pessoais e também
com a casa, minha sogra também fez isso mas elas são responsabilidades
minhas a partir de agora.
Bruno também comentou sobre fazer uma espécie de pensão ou
mesada para minha mãe, só para ela ter como se virar e eu não precisar me
preocupar, mas não quero abusar de mais da sua boa vontade, tenho receios
de que um dia ele jogue isso na minha cara depois de uma briga, eu não vou
perdoá-lo se isso acontecer então prefiro evitar.

Já é noite e eu estou largada nessa cama maravilhosa, esse hotel é


maravilhoso mas aqui faz muito frio, a lareira está sempre acesa para nos
aquecer. Sinto o meu estômago revirar e respiro fundo, me sinto zonza mas
me levanto e paro na frente da janela, está garoando e sei que a noite de
hoje será mais fria que ontem.
Sinto ele me abraçar por trás e beijar o meu ombro antes de cheirar
o meu pescoço. Bruno está gelado pois acabou de sair do banho.
— Não vai se arrumar? Temos um jantar e depois vamos dançar...
Ou você mudou de idéia...? Jennifer! Amor, o que você tem? — Alerta-me
virando o meu rosto para me beijar, mas o seu hálito de creme dental me
deixa enjoada.
Solto-me dele abruptamente e corro para o banheiro, bato a porta e
corro para privada, coloco tudo que comi hoje para fora e quando sinto que
posso desmaiar, Bruno abraça o meu corpo sentando-se comigo no chão.
— Nós vamos para o hospital e não adianta dizer que não precisa,
eu sou o seu marido e só quero ver você bem. — Ele se levanta e me pega
no coloco em seguida.
Bruno me põe sentada na bancada da pia e pega um copo com água
para eu lavar a boca, assim o faço mas ainda estou zonza.
— Me leva pra cama...? Está tudo girando, eu vou cair. — Inclino-
me para o lado mas meu marido me abraça e me pega novamente no colo.
Ele me leva para cama mas mudo de idéia e peço para ir me deitar
no sofá perto da lareira, estou com tanto frio que quero me aquecer. E ele
me põe deitada e vai até o quarto para buscar um edredom.
— Me deixa dormir um pouco? Eu não quero sair daqui nem para ir
ao médico. Eu vou ficar bem, amanhã durante o dia...
— Se você não quer ir ao médico tudo bem, mas eu não vou deixar
para amanhã o que pode se resolver hoje. Vou ligar para recepção e
perguntar se tem algum médico para atender os pacientes. — Afirma
pegando o telefone ao lado do sofá e eu apenas concordo.
Bruno liga para recepção mas eles sugerem chamar um ambulância
ou disponibilizar um carro para me levar ao hospital, eu digo que não vou
sair daqui e ele bufa frustrado, então ele pergunta se tem algum médico
hospedado que possa me atender, e me surpreendo ao ouvi-lo dizer que tem
um médico subindo.
Bruno para na minha frente me olhando de um jeito estranho, ele
parece pensativo mas também parece me analisar. Meu marido abaixa-se ao
meu lado ainda confuso mas vejo um sorriso se formar em seus lábios.
— O que foi? Porque está sorrindo? — Indago confusa.
— Você está vomitando, enjoando e sente tonteiras, exatamente
como Teresa no início da gravidez... Também está mais fogosa e meu irmão
tem relatado sobre os benefícios de uma gravidez... Jenny...? Você está
grávida?
— O QUE...? Espera...! O que? — Sento-me abruptamente com os
olhos levemente arregalados.
— Você tem os sintomas de uma gravidez, você está do mesmo jeito
da Teresa... Cacete! Você só pode estar grávida. — É a vez dele se levantar
e aprece atordoado.
— Não vamos tirar conclusões sem antes ter certeza, amor, eu tomo
pílula, esqueceu? Como eu posso estar grávida se eu tomo pílula? Estamos
casados apenas seis meses eu não posso estar grávida... Eu ainda estou
estudando, estou trabalhando e agora tenho a minha mãe e minha irmã para
cuidar... Minha nossa... — Sinto-me novamente zonza e me deito outra vez.
— Fica calma! Não precisa se desesperar pois para tudo tem um
jeito, ok?
— Como assim para tudo tem um jeito? O que quer dizer com isso?
Você vai querer que eu tire se eu estiver grávida? É isso, Bruno? — Indago
decepcionada mas ele parece incrédulo.
— O quê? Você ficou louca, Jennifer? Porque eu te pediria para tirar
um filho meu? Isso é um absurdo! — Retruca incrédulo e até mesmo
ofendido.
— Me desculpa se te interpretei mal, mas, ainda estou confusa com
essa sua suspeita de que eu possa estar grávida, isso é impossível...
— Não quando a gente transa feito coelhos no cio, então sim, é
muito provável que tenha acontecido. Você está enjoando muito, está
vomitando desde ontem e está zonza... Caralho! Você está grávida...! Amor,
você está grávida! — Ele abaixa-se na minha frente com os olhos brilhando.
Ele toca a minha barriga e sorrir.
— Não acha muito cedo para termos um filho? Eu pensei que
fossemos esperar terminar o contrato para ver o rumo que as nossas vidas
iriam tomar, se você ainda iria querer ficar comigo. — Seguro o seu rosto
com as duas mãos olhando no fundo dos seus olhos.
— Não existe mais contrato e eu ainda quero você... Eu o rasguei no
dia em que percebi que te amava, a meses atrás. Não fazia mais sentido
continuar com aquele contrato pois já estamos casados mesmo... Eu ainda
quero você e agora quero esse filho que você está esperando, mas se um dia
não me quiser mais, você vai estar livre para me deixar se essa for a sua
vontade. — Surpreendo-me com a sua confissão.
— Você... Você rasgou o contrato que assinamos? Mas se eu não
tenho mais o compromisso com esse contrato, como fica o dinheiro que
você me deu? Eu vou ter que devolver? — Me sento apreensiva mas ele
sorrir ainda abaixado na minha frente.
— Esquece aquele dinheiro, eu te dei então ele é seu, eu jamais te
cobraria nada já que a decisão de rasgar o contrato foi minha... Mas não vou
negar, tenho medo de te perder, e agora que pode estar grávida eu tenho
ainda mais medo. — Seu tom é realmente aflito e isso me impressiona.
Atiro-me em seus braços e vamos parar os dois no chão, sorrindo.
Beijo-o ardentemente, um beijo de amor e de paixão.
— É normal casais brigarem, então jamais vamos nos separar por
mais que uma vadia tente tirar você de mim, e quando brigarmos ou
discutirmos por algo, vamos pensar bem e agir de cabeça fria para não nos
magoarmos de novo, está bem assim...? Eu te amo, Bruno. — Beijo-o mais
uma vez e ele sorrir na minha boca. Nesse momento a campainha toca.
— Prometo para você que nunca mais agirei de cabeça quente,
quando a situação me deixar nervoso, vou respirar fundo umas trezentas
vezes antes de dizer ou fazer alguma bobagem... Eu te amo, Jennifer. —
Seus dedos tocam o meu rosto em um carinho suave e ele me beija com
doçura.
Nos levantamos e ele pede para eu ficar deitada no sofá, ele vai até a
porta e é o tal médico que estava subindo e o mesmo vem até a mim para
me examinar, e assim ele o faz.
O médico me examina e pergunta tudo que estou sentindo, e apenas
depois de conversar com ele eu me dou conta do quanto estou atrasada,
minha menstruação está a duas semanas atrasada e eu não percebi pois ando
trabalhando e estudando demais.
— Você pode fazer o exame se quiser, mas você está mesmo
grávida, Sra. Stuart. Meus parabéns ao casal, um filho é sempre a benção.
— O médico sorrir mas eu ainda estou tensa, mesmo feliz por estar
esperando um filho dele e ele gostou da notícia.
— Obrigado por essa confirmação, doutor Elton! Eu vou dormir
mais feliz hoje depois dessa notícia. — Meu marido abraça o médico
empolgado. — Quanto eu lhe devo pela consulta, doutor? Eu faço questão
de pagar.
— Imagina, você não me deve nada, é um prazer para mim dar uma
notícia como essa, afinal, é uma família que está crescendo... Estou aqui
como médico mas também como hóspede, então encare esse atendimento
como uma cortesia. Vou deixá-los à vontade, tenham uma boa noite. — Eles
seguem até a porta conversando e eu fico aqui, com a mão em meu ventre
pensando nessa novidade inesperada.
Estou grávida... Puta merda, eu estou grávida. Meu aniversário é na
próxima semana e esse é o meu presente? Um filho? Como vou para
faculdade quando a minha barriga estiver grande? E quando o bebê nascer?
Ainda falta um pouco mais de um ano para eu terminar a faculdade, até lá o
bebê já nasceu.
— Parece preocupada, não gostou da notícia? — Bruno se deita ao
meu lado e eu vou para os seus braços.
— Estou preocupada sim, mas isso não significa que eu não tenha
gostado da notícia... Estamos construindo a nossa família pois estamos
casados e nos amamos. Mas...
Iniciamos uma conversa e eu conto a ele sobre as minhas
preocupações, ele me escuta atento e diz que podemos dar um jeito, vou ter
que trabalhar menos e poderei terminar a faculdade no semipresencial
quando o bebê estiver perto de nascer, não sei se isso é uma boa idéia mas
vamos ver como as coisas vão acontecer.
UMA SAMANA DEPOIS...

— Jennifer! Largue já essa caixa! Perdeu o juízo, menina! Você está


grávida e não pode pegar peso. Não vou te perdoar se perder o meu neto, eu
fui clara? — Minha sogra me repreende e mamãe corre até a mim tomando
a caixa da minha mão.
— Eu já falei com ela, mas essa menina é teimosa, Naomi, não sei
como Bruno ainda não surtou com essa teimosia. — Dispara mamãe e eu
suspiro.
— Vai por mim, minha sogra, eu só não surtei ainda porque a sua
filha é uma chantagista de marca maior. Ela me suborna, faz ameaças
absurdas que ela sabe que um homem como eu não vai aguentar... Ela sorrir
daquele jeito que me deixa bobo e se aproveita disso para conseguir o que
quer. Essa mulher é terrível. — Meu marido me abraça por trás e eu sorrio.
— Cada um luta com as armas que tem, e eu não tenho culpa de ser
tão boa no que faço. — Viro-me para ele e abraço o seu pescoço.
— Você é malvada, sabia? Mas não vou contestar sobre isso. Eu
aprendi com um homem muito sábio que em um relacionamento a mulher é
quem sempre tem razão. E ele estava certo. — Ele me beija calmamente
mas sinto alguém me abraçar por trás me separando do meu marido.
— Chega de namorar, Jenny! Está quase na hora da sua festa e você
precisa se arrumar. Homens se arrumam em menos de dez minutos, mas nós
mulheres precisamos de no mínimo uma hora para nos arrumarmos com
calma. Vamos! — Teresa me arrasta para dentro da casa com a ajuda de
Tauane.
Olho para trás e meu marido está lá, parado sorrindo com as mãos
nos bolsos. Esse sorriso faz um estragado em mim que ele nem imagina,
fico de calcinha molhada rapidamente quando ele sorrir desse jeito.
— Se concentra, Jennifer! Festa! Convidados! Se arrumar! Você
precisa se arrumar, aliás, porque ainda não começou a se arrumar? —
Tauane ergue uma sobrancelha e eu suspiro.
— É a minha festa, eu só queria dar o meu toque pessoal nela
arrumando algumas coisas do meu jeito. Mas depois que descobri que estou
grávida, eles não me deixam fazer mais nada, mas também não vou negar
que estou adorando ser paparicada por todos. Agora tem duas grávidas para
agitar essa família... Por falar em gravidas, você não devia estar
descansando, Teresa? Essa criança já está perto de nascer e você andando
desse jeito? — Comento enquanto subimos para o segundo andar da casa.
— Eu não faço outra coisa além de descansar, já estou farta disso!
Não pega no meu pé você também. Somos amigas e cunhadas e estamos
gravidas, precisamos nos unir e nos ajudar... Esse povo não nos deixam
fazer nada. — Retruca exasperada e nos sorrimos. Ela não deixa de ter
razão.
Estamos na mansão Stuart desde de ontem e minha mãe e minha
irmã também, e não estranhei que Tauane também foi convidada a vir ficar
conosco, não é mais segredo para ninguém que ela e Cristiano, precisou
acontecer tudo aquilo para ele ver o erro que estava cometendo contra mim
e agora está namorando a minha melhor amiga, que também é negra como
eu, só não entendi o porquê não se assumiram ainda.
Até o meu cunhado aceita o fato de eu ser negra, e agora também
está se envolvendo com uma mulher negra e ele é filho de família rica, e
muitos naquela faculdade ainda me olham torto mesmo não tendo um terço
do dinheiro que essa família tem, moral da história, não é o dinheiro que faz
o caráter das pessoas e há muitos ricos por aí que são tão preconceituoso
quando um pobretão que não tem o de cair morto, mas eu tive muita sorte
em encontrar alguém que me aceitou e lutou por mim.
Meu pai já foi solto porque a justiça funciona assim, eles esperam
acontecer um homicídio para deixar o indivíduo preso, mas sei que meu pai
não será louco o suficiente para fazer uma estupidez dessas, ele é rigoroso
demais, é teimoso demais e tenta ser certinho demais, porém, não acredito
que ele seria capaz de um ato tão cruel quanto matar uma pessoa, bom, eu
quero acreditar nisso pois ele é meu pai, e espero não me enganar quanto a
isso.
Hoje também recebi uma visita inesperada na faculdade e todos, até
mesmo os professores se surpreenderam. Vinícius, Eva e mais dois dos
alunos que foram expulsos da universidade depois daquele terrível
acontecimento, vieram até a mim na faculdade e se desculparam
formalmente pela primeira vez depois de tudo que aconteceu, eu não os via
desde que ficamos cara a cara juntos com os advogados que moveram os
processos contra eles, naquela época eles ainda estavam se vangloriando
pelo que fizeram comigo, mas fiquei sabendo que eles não conseguiram
mais se matricular em nenhuma outra faculdade depois do que houve e
carregando um processo por racismo nas costas. Não vu ser hipócrita de
dizer que não gostei de saber disso, pois gostei muito, eles pagaram e ainda
estão pagando pelo que fizeram e a indenização que recebi, estou usando
para ajudar a minha família como nunca pude fazer antes de tudo isso
acontecer.
O fato é que eles se desculparam formalmente, em público diante de
todos dentro da faculdade, e por causa disso todos estão cientes do mal que
estão fazendo contra s seus colegas dentro da faculdade, e todos estão
vendo as consequência de um ato abominável como esse, e os envolvidos
naquele maldito vídeo por causa daquela aposta, hoje estão se redimindo,
estão fazendo de tudo para provar que mudaram e assim conseguir se
formar e apagar a mancha que eles mesmo causaram na sua reputação.
Como diz o ditado, aqui se faz, aqui se paga e eles estão pagando
pois a universidade não os aceitarão de volta depois de um processo como
esse, agora Vinícius e os outros vão lutar para conseguir entrar em outra
faculdade e concluir os estudos, para tentar se formar como os seus pais
queriam e eu desejo que eles consigam, eu os perdoei, mas isso não é o
suficiente para eles mudar, e nem eu vou esquecer tudo que me fizeram,
mas não vou desejar o mal a eles.
Eu acredito que não vamos para o inferno quando morrermos, o
inferno é aqui mesmo onde estamos e não vamos pagar pelos nossos erros
depois de mortos, vamos pagar ainda em vida e eles estão pagando pelos
erros deles. Só precisamos lutar contra o mal para não entrarmos nesse
inferno, e sei que a minha parte eu estou fazendo.

Minha irmã hoje estuda em um dos melhores colégios de Cleveland,


e sou eu quem pago as mensalidades e tudo que eu peço em troca, é que
suas notas sejam melhores que no colégio anterior e ela está fazendo
exatamente como eu esperava, Yarim está se saindo tão bem na escola
quanto eu na faculdade e a nossa mãe está muito orgulhosa de nós duas.
Minha mãe também está fazendo alguns cursos que ela se interessou
bastante, mas também está trabalhando como nunca pode fazer antes pois o
papai nunca permitiu, e ela está feliz com isso. Estou adorando ver a minha
família feliz e sou eu quem está proporcionando isso a elas, então estou
orgulhosa de mim mesma por isso.

Termino de me arrumar com um vestido Branco tomara que caia,


justo no busto e o seu formato parece um coração ao cobrir perfeitamente os
meus seios agora mais fartos e sensíveis que antes, culpa da gravidez. O
vestido é todo rendado e soltinho, meio rodado e seu cumprimento vai até
um pouco abaixo dos joelhos, na cintura Teresa pôs uma fita Marfim com
uma fivela dourada. No cabelo Tauane fez para mim uma trança embutida
deixando alguns fios soltos nas laterais do rosto, minha maquiagem é leve
pois não quero ficar parecendo uma palhaça maquiada demais.
Ouço batidas na porta e minha mãe entra em seguida com um
sorriso radiante, mas Yarim entra logo atrás dela vindo correndo na minha
direção.
— Caramba! Como você tá linda, Jenny... Quando eu crescer mais
eu quero ser igual a você, sabia? — Yarim me admira de cima abaixo me
fazendo sorrir.
— Obrigada, minha irmã, não só pelo elogio e o seu desejo de ser
como eu, mas também por não ter ficado contra mim quando o papai me
colocou na rua, quando vazaram aquele maldito vídeo... Eu... Estou muito
feliz de ter você e a mamãe aqui comigo depois de tanto tempo longe... Não
temos mais o nosso pai mas temos uma a outra, de agora em diante seremos
as três mosqueteiras, uma ajudando a outra, está bem? — Tento não me
emocionar mas falho miseravelmente, estou muito sensível.
— Não chora, filha, vai borrar a maquiagem... Suas cunhadas
fizeram um excelente trabalho então não chore. — Mamãe me abraça assim
como minha irmã.
— Eu acabei com o seu casamento, mamãe, você acha que é culpa
minha? Tudo que o papai fez, é culpa minha?
— Não! Você não teve culpa de nada, Jenny, o seu pai foi o único
culpado agindo feito um animal! Ele fez tudo que um pai não deveria fazer
com a própria filha quando tudo que ela mais precisava era de apoio,
carinho e amor para passar por tudo aquilo, então para de se culpar, o meu
casamento com o seu pai já não estava mais indo tão bem, não pensa mais
nisso, está? Você está casada, está formando a sua família e está feliz. Eu
estou muito orgulhosa de você... Minha nossa, eu vou ser avó. — Suas
mãos seguram o meu rosto com carinho e seu olhar amoroso me deixar
mais tranquila.
— Te amo, mamãe... Você sempre esteve do meu lado, obrigada. —
Abraço-a apertado e puxo novamente minha irmã para os meus braços.
Ganho beijos e abraços das duas e minhas amigas cunhadas se
juntam a nós, e Teresa está tão sensível quando eu.
— Meninas! Porque estão tão emocionadas? O que está
acontecendo? — Ouço a voz de Kevin e nos soltamos.
— É a gravidez, meu irmão, eu andei pesquisando e sei o quanto
elas ficam sensíveis. — Vejo Bruno parado ao lado do irmão com as mãos
nos bolsos, ambos já arrumados e eles estão lindos.
— Tenho que te dar os parabéns mais uma vez, meu irmão. Eu levei
cinco anos para engravidar a minha mulher e você com apenas seis meses
de casados, já carimbou a sua esposa. — Dispara meu cunhado sorridente e
meu marido gargalha.
— Esse seu comentário foi desnecessário, querido cunhado. Nós não
planejamos engravidar agora mas aconteceu, e estamos felizes com isso. —
Corro para os braços do meu marido e ele me recebe sorridente.
— Você está mais linda que normalmente... Minha esposa é uma
princesa. — Bruno abraça o meu corpo me apertando sutilmente em seus
braços.
Eu adoro isso, me sinto segura em seus braços como nunca senti
antes, apenas assim, sentindo que fazemos parte um outro eu consigo me
sentir bem, consigo sentir que o mundo cruel lá fora não vai me derrubar, e
se isso acontecer eu terei ao meu lado alguém disposto me erguer
novamente. Estou feliz, estou muito feliz.

Ando pela festa de mãos dadas com o meu marido cumprimentando


alguns familiares dele que vieram da Inglaterra, outros da Nova Zelândia
entre outros países, a família dele é bem grande e hoje aqui só temos
famílias e amigos e todos me aceitaram muito bem, é claro que sempre tem
um ou outro para questionar o fato de Bruno ter se casado com uma negra e
não com uma branca.
Uma prima de Bruno sonhava em se casar com ele mas meu marido
sempre deixou claro que não se causaria com mulher da sua família, ele
nunca sentiu interesse em nenhuma delas e ninguém pode impedi-lo de ser
feliz com alguém que ele escolhesse, e a escolhida fui eu então todos estão
me aceitando bem, apesar de as vezes ouvir algum comentário impróprio
mas isso não me afeta mais, apenas finjo que estão falando de outra pessoa
ou então vou ficar louca e acabar com o meu casamento por me estressar.
— Jennifer? Querida, posso falar com você um minuto? — Meu
sogro para na nossa frente com um sorriso amistoso.
Lembro-me do meu pai, era para ser ele aqui na minha frente com
um sorriso de ternura e dizendo que me ama, me chamando de filha e
desejando a minha felicidade, mas eu pensei em acabar com a minha
própria vida por causa dele.
— Ei...? Filha, o que houve? Porque está chorando...? Fiz algo que
te chateou? — Meu sogro pega a minha mão com carinho e eu tento não
chorar mais.
— Me desculpa...? É só que... Eu sinto falta de um pai me olhando
assim, com ternura mas o único pai que tenho, talvez esteja desejando que
eu nunca estivesse nascido. — Desculpo-me em um tom trêmulo e ele me
abraça com ternura, com carinho.
— Não fica assim, querida, você não está sozinha e nunca estará.
Não sou o seu pai mas pode contar comigo sempre que precisar, está bem?
Você é uma menina incrível, se o seu pai não sabe valorizar isso, nós
faremos isso por ele, ok? Agora limpe essas lágrimas pois preciso conversar
com você, Teresa e Tauane, está bem? — Suas mãos tocam o meu rosto em
um carinho gentil e eu tento sorrir e concordar.
Ele me entrega o seu lenço para eu limpar o rosto, e eu faço isso
delicadamente para não borrar a maquiagem. Concordo com ele e suspiro
fundo. Encaro o meu marido brevemente antes de sair de braços dados com
o meu sogro, e seguimos para a mesa da nossa família.
Sr. Olegário chama a minha amiga e minha cunhada para virem
conosco, Teresa também pega o braço do meu sogro e Tauane pega o meu.
Saímos dali andando calmamente e fomos para uma mesa mais distante dos
outros, nos sentamos as três de frente para o meu sogro e ele suspira atentos
a nós.
— Bom, antes de começar a nossa conversa, quero parabenizá-las
pois estão as três muito lindas, mas não foi apenas para isso que as trouxe
aqui. Jennifer já está trabalhando na galeria de Naomi, mas daqui a uns
meses terá que fazer um recesso por causa da gravidez e Teresa já está de
recesso, a minha netinha já vai nascer e estamos todos muito felizes e
empolgados com a sua chegada. Mas enfim, minha esposa está se
organizando para deixar o comando das galerias nas mãos das nossas noras,
enquanto ela e eu curtimos os nossos netos. — Despeja de uma vez nos
surpreendendo com as suas palavras.
— Espera! Como assim deixar o comando das galerias nas nossas
mãos? — Questiona Teresa tão perplexa quanto eu e Tauane que estamos de
boca aberta.
— Teresa, você e Jennifer estão casadas com os meus filhos, já
fazem parte da família e pelo que percebi, não vai demorar muito para
Tauane também entrar para nossa família. O fato é que, eu e Naomi
decidimos que queremos tempo para curtirmos os nossos netos depois que
nascerem, e para isso queremos deixar o comando dos nossos negócios mas
mãos dos nossos filhos e suas esposas, só precisamos saber se estão
dispostas a aceitarem isso. — Diz tranquilamente e eu ainda estou surpresa.
— Mas, Sr. Olegário, eu ainda não sou sua nora e nem sei se seu
filho um dia vai mesmo querer se casar comigo, não sei se vou poder aceitar
isso. — Se justifica Tauane enquanto ainda tento processar o que está
acontecendo aqui.
— Vai por mim, querida, você não estaria fazendo parte dessa
conversa se eu não tivesse certeza das intenções do meu filho com você, e
modéstia à parte, meus filhos tem um gosto muito refinado para escolherem
as suas mulheres, puxaram o pai porque eu também escolhi a melhor. — Ele
sorrir de lado, aquele sorriso galanteador que todos os seus filhos herdaram.
Sorrimos.
— E o que vamos fazer na galeria, Sr. Olegário? Eu não faço idéia
do que fazer em um lugar como esse, eu sei algumas coisas sobre artes
porque Jennifer tem me contado o quanto é encantador admirar as obras da
galeria. — Mais uma vez Tauane se mostrar curiosa e muito interessada.
— Bom, o que vocês vão fazer eu também não faço ideia, mas a
sogra de vocês vai orientá-las e prepará-las para cada cargo que vocês
ocuparem, depois ela vai conversar melhor com vocês sobre tudo isso, ela
me pediu para abordá-las sobre esse tema para que cada uma de vocês vá
pensando no assunto. — Meu sogro tem a fala mansa e descontraída, ele
tem se aproximado bastante de nós e sei que isso é coisa da Sra. Naomi.
— Papai? O que está acontecendo? Você tira as nossas mulheres da
gente assim sem dar muitas explicação, estou sentindo falta da minha
morena perto de mim. — Cristiano aparece cheio de atitudes estendendo a
mão para Tauane.
— Me desculpa, papai, mas tenho que concordar com o meu irmão.
A minha mulher está me fazendo falta. Estou me sentindo abandonado. —
Dispara Bruno em um tom dramático nos fazendo sorrir.
— Não seja por isso, pode levar a sua mulher, e antes que você
também me questione, Kevin! Leve a sua mulher daqui também pois eu vou
atrás da minha. Ela já conversou demais com as suas tias e nós ainda
estamos no início da festa. Vão se divertir! Aproveitem bastante esse
momento em família. Vamos! — Sr. Olegário se levanta abotoando o seu
terno em um gesto elegante.
Lembro-me de Bruno se vestindo, ele tem o mesmo olhar do pai e
os irmãos. A genética dessa família é espetacular, e eu e minhas cunhadas
somos três sortudas.
— Esse sorriso me faz querer beijá-la. Eu posso?
— E desde quando você precisa pedir?
— Minha garota!
Ele me pega para os seus braços e me beija, isso era tudo que eu
queria agora e eu beijo-o com todo o meu amor. Voltamos a circular pela
festa e minha melhor amiga desaparece com o meu cunhado, esses dois
estão terríveis, só falta ela aparecer grávida também. Sorrio.
Ponho a mão em meu ventre imaginando a minha barriga enorme
como a barriga de Teresa. Estou grávida de quase dois meses, mas
engravidei já casada e apaixonada. Meu pai sempre dizia que se eu não
andasse na linda como ele mandava, eu iria acabar grávida de um
vagabundo qualquer e teria que criar o meu filho sozinha. Eu daria tudo
para ele me ver agora, queria olhar nos olhos dele e despejar a minha
felicidade para ver se assim ele mude os seus pensamentos sobre mim, para
ver se assim ele me pedisse perdão por tudo que me fez, mas sei que estou
sonhando alto demais.
— Ficou pensativa de repente, o que houve? — Bruno me abraça
por trás e cheira o meu pescoço como de costume. Suspiro fundo.
— Estou feliz. Muito feliz... Não vejo a hora de sentir o bebê mexer.
— Comento sorridente.
— O que você acha que vai ser? Menino ou menina? Já pensou em
algum nome? — Sinto a sua curiosidade e viro-me para ele.
— Se for menina, eu quero que se chame Nina, mas se for menino
você pode escolher o nome que quiser. — Abraço o seu pescoço suspirando
de felicidade.
— Eu posso escolher o nome que eu quiser? Que tal Alfredo? — Ele
ergue uma sobrancelha e eu faço careta.
— Não é um nome muito bonito e nem o que eu escolheria, mas...
Se você quiser que seja Alfredo, tudo bem. — Concordo meio sem jeito e
ele gargalha na minha cara.
— Você concordaria que o nosso filho se chamasse Alfredo, apenas
para me agradar?
— Sim! Eu pensei que você fosse querer homenagear alguém, sei lá.
— Eu estou brincando, meu amor, eu pensei em um nome mais
bonito... O que você acha de Liam? Significa o protetor corajoso, eu gosto
desse nome. — Suspiro aliviada com a sua sugestão.
— É um nome lindo. Eu gostei. — Meu sorriso vai nas orelhas.
Conversamos empolgados e fazemos planos para quando a minha
barriga crescer e também para quando o bebê nascer, mas por hora ele vai
me acompanhar nas minhas consultas e eu já vou começar a pensar no
quartinho do bebê, vou pedir muitas dicas a Teresa pois ela já preparou o
enxoval da sua filha, a pequena Laís já está pertinho de nascer e a mãe dela
já está agitada com isso, tensão pré parto pois a cada dia se aproxima mais o
dia da bebê nascer.
Estamos todos radiantes e meus sogros ainda mais, eles vão ter dois
netos de uma só vez, as duas noras estão grávidas mas a filha de Teresa já
vai nascer nas próximas semanas.
— Jennifer! Venha, querida? Já está na hora! — Sra. Naomi vem
apressada até a mim e me pega pela mão, mas eu não me solto do meu
marido e trago-o junto.
Fomos para a mesa do bolo e todos se reúnem a minha volta para
cantarmos parabéns, a festa está acontecendo dentro da sala da mansão pois
esse lugar é enorme, e não tem mais do que umas cinquenta pessoas, eu
preferi assim ou minha sogra chamaria até a imprensa para cobrir a festa,
não estou acostumada com tanta exposição então tudo que for o mais
discreto possível, é o que vou preferir e Bruno sempre me apoia.
Cantamos parabéns e eu corto o bolo, o primeiro pedaço é óbvio que
eu dou ao meu marido, amo a minha mãe e o segundo pedaço foi dela, mas
meu marido foi a única pessoa a me estender a mão depois que tudo
começou a desmoronar na minha vida, ele foi a minha salvação, foi o meu
anjo da guarda e todos sabem disso.
Fizemos também um brinde, mas minha mãe e minha sogra estão
monitorando a mim e Teresa por causa da gravidez, então ficamos apenas
no suco e na agua, consequência disso, toda hora precisamos ir ao banheiro
pois a bexiga parece ficar solta com a gravidez.
Depois de cortar o bolo e comer horrores pois o bolo está realmente
uma delícia, eu e meu marido saímos da casa para darmos uma volta no
jardim, a noite está linda, está fresca boa para fazer uma caminhada e
namorar um pouquinho, e assim fazemos para passarmos mais tempo
juntos, adoro momentos assim e aproveito ao máximo a companhia do meu
marido.
10 ANOS DEPOIS...

Termino de assinar as notas fiscais das últimas entregas dessa


semana. Teresa está viajando e me mandou algumas peças de obras de artes
recolhidas na filial da Espanha, são peças que deveriam ter chegado aqui
mas foram entregues lá, mas pelo menos está tudo em ordem, nenhuma
delas está danificada ou corrompida de alguma maneira, elas chegaram aqui
embaladas exatamente como foram entregues lá.
— Jenny! Estamos com problemas no almoxarifado, não tem mais
espaço para as peças que chegaram, ainda tem cinco peças para catalogar e
arrumar no estoque, mas não sabemos onde colocar. — Yarim entra na
minha sala com uma prancheta nas mãos.
— Jennifer! Temos um problema, estamos em uma saia justa com
um cliente, ele reservou duas esculturas africanas do século XV mas só
temos uma peça no estoque. — Tauane entra logo atrás da minha irmã
vindo as duas até a mim.
— Um problema de cada vez, meninas! — Levanto-me vendo tudo
desfocar, respiro fundo e me sento outra vez. — Yarim! As peças que não
couberem no almoxarifado, põe em uma das sala fazias no segundo andar,
tranca na chave e verifica se as câmeras daquela área estão ligadas...
Tauane! Peça ao cliente um pouquinho mais de paciência enquanto ligamos
para as outras filiais, para vermos se ainda temos a peça que ele quer, se
tiver, enviaremos para o endereço dele direto da filial correspondente a
obra, se não tiver, nós faremos o pedido de uma nova peça exclusivamente
para ele. — Levanto-me novamente atenta a elas, mas apresso-me para
pegar a lixeira ao lado da minha mesa.
— Jennifer!
Tauane vem me ajudar assim como minha irmã. Ponho para fora
todo o meu almoço que fiz o meu marido preparar com tanto carinho.
Bruno está de férias no trabalho e está cuidando das crianças enquanto eu
trabalho, ele é um pai maravilhoso.
Temos duas filhas meninas, uma de nove anos e outra de sete, além
de um menino de quatro anos, estou grávida mais uma vez e está vindo
mais um menino, para alegria de Bruno.
— Vou te levar até o banheiro para lavar a boca, Yarim! Liga para
Bruno, se não ligarmos ele vai arrancar o nosso couro depois. — Dispara a
minha supervisora.
— Não faz isso, Yarim! Bruno está com as crianças, não vamos
deixá-lo preocupado à toa... Vocês sabem que enjoar é normal, vocês
também já são mães e já passaram por isso. — Contesto enquanto saímos
da minha sala.
— Me desculpe, maninha, mas seu marido nos fez prometer que
ligaríamos se você passasse mal, você já está de seis meses de gestação e
foi quase um milagre ele te deixar trabalhar... É a segunda vez que você
passa mal essa semana, nas outras gravidez você não enjoou depois dos três
meses, mas nessa você enjoou bastante. — Yarim abraça a minha cintura
enquanto mexe no celular.
— É justamente por isso que eu não quero preocupar o meu marido,
ou ele vai mandar me internar até o bebê nascer, vocês sabem o quanto ele
exagerado nas suas preocupações.
— Tarde demais! Já mandei uma mensagem para ele vir te buscar.
— Yarim! — Contesto mas ouço lá da minha sala o meu celular
tocar.
Reviro os olhos, não vai demorar muito para ele aparecer aqui. Peço
a Tauane para atender o meu celular e dizer a Bruno que estou bem, que foi
apenas um mal-estar e espero que ela me obedeça.
Depois de escovar os dentes e fazer xixi, eu volto para minha sala
enquanto elas voltam ao trabalho, começo a arrumar as minhas coisas pois
sei que terei que ir embora assim que meu marido chegar, pois Tauane me
avisou que ele já está a caminho. Suspiro fundo mas sorrio por ter um
marido tão carinhoso e dedicado, ele se preocupa muito comigo e as
crianças.
Já estamos casados a dez anos e seis meses, quase onze. O nosso
amor não é mais o mesmo, pois ele é ainda maior, a nossa felicidade é
renovadora, ela se multiplica a cada ano que passamos juntos e tudo tem
sido exatamente como queremos e desejamos.
Dois anos depois que me casei, meu pai apareceu nos portões da
minha casa e a princípio, pensamos até que fosse alguém nos vigiando ou
vigiando a casa para invadir, pois ele passou dias rondando a casa até juntar
coragem para vir falar comigo, ele finalmente me pediu perdão por tudo que
me fez. Ele soube pela minha irmã que eu havia me casado, que tive um
filho e havia me formado como ele sempre sonhou.
Yarim mostrou fotos minhas e da minha família para ele e disse que
ele chorou, se lamentou e pediu perdão a ela por tudo que fez, ele também
procurou a minha mãe e ela também o perdoou, eles conversaram bastante e
recomeçaram do zero, voltaram a se conhecer e sair como um casal de
namorados, afinal, eles tem um história juntos e depois de muito pedidos de
perdão, ela lhe deu a chance de se redimir, mas isso apenas depois que ele
veio falar comigo, não teve como não perdoa-lo, eu vi o quanto ele estava
sendo sincero ao se ajoelhar na minha frente chorando como nunca havia
visto em toda a minha existência, meu pai sempre se fez de forte mesmo
quando víamos claramente o quanto ele estava abalado por algum motivo,
ele sempre lutou por nós a maneira dele, apenas as suas últimas atitudes
comigo e minha mãe foram realmente deplorável, mas depois de tanto
tempo longe dele, feliz com a minha família, minha mãe e minha irmã,
aquela mágoa que sentia no meu peito já não existia mais.
Ele saiu da igreja depois das suas atitudes comigo e minha mãe,
depois que foi preso ele mudou bastante e viu que estava sendo um lixo
como exemplo de pessoa, viu o quanto era machista e Deus não se agrada
disso, ele precisou perder tudo para enxergar os seus erros e mudar, ele
precisou se transformar em uma nova pessoa para conseguir recuperar tudo
que as suas atitudes o fez perder.
Depois do seu pedido de perdão, não fazia mais sentido não perdoa-
lo e no fundo, ele sempre me fez falta e sei que ele sempre soube disso, mas
pessoas orgulhosas tem mais dificuldade de aceitação, de reconhecer o erro
e se desculpar, mas nunca é tarde para se arrepender e pedir perdão como
ele fez, como Vinícius e os outros também fizeram.
Hoje meus pais estão casados novamente, eles renovaram os votos e
estão morando na minha antiga casa, eu a dei de presente para eles já que
esse sempre foi o maior sonho dos meus pais, ter uma casa própria.
Minha irmã já está casada e tem a sua família também, ela mora
perto dos nossos pais para não deixá-los sozinhos e eles estão felizes com
isso, quando meus filhos não estão com os avós Stuart, estão com os avós
Paiva, mas como Bruno está de férias ele mesmo decidiu cuidar das
crianças com a ajuda das babás. Nem em sonhos eu e minha irmã pudemos
ter uma babá, mas meus filhos nasceram em berço de ouro, digamos assim.
Eles tem tudo que eu não pude ter e isso me deixa feliz, me deixa realizada.
— Jenny! Amor? — Bruno entra na minha sala apressado e com
uma expressão assustada.
— Amor? O que houve? Você parece assustado. — Levanto-me da
minha cadeira com a mão na barriga.
— Eu é que pergunto o que houve? Porque você passou mal? O que
você tem? Porque não me ligou como eu pedi? — Ele aproxima-se afobado
e pega a minha bolsa, me dá um beijo e me leva em direção a porta.
— Como sempre eu comi demais, estava arrotando o gosto da
comida e acabei vomitando. A médica explicou que isso pode acontecer
sempre que eu comer demais, não precisa se preocupar tanto. Eu estou bem.
— Tento tranquilizá-lo e meu marido põe a mão na minha barriga.
— A senhora vai ficar de repouso pelo resto da semana, e não ouse
me contestar, ou eu vou levá-la para o hospital. Eu fui claro? — Ele me
lança um olhar sério e ao mesmo tempo apavorado, parece pai de primeira
viagem.
Eu me seguro para não rir. Quem vê-lo nesse desespero todo nem
imagina que ele já é pai de três filhos.
— Claro como água, meu amor. Não se preocupe, eu serei
obediente. — Abro um sorriso largo e ele suspira.
— O que eu faço com você, Jennifer? Eu aqui preocupado e você
sorrindo...? Pode sorrir, eu amo esse sorriso mesmo que esteja rindo da
minha cara de bobo. — Contesta emburrado e eu gargalho.
— Você não tem cara de bobo, amor. Tem cara de apaixonado
preocupado, e eu também amo a forma como se preocupa comigo... Como
estão as crianças? Deixou com as babás?
— Não consegui ficar duas horas com os meus próprios filhos.
Papai apareceu lá em casa com a mamãe e os meus sobrinhos, eles
passaram de casa em casa raptando os netos e estão todos na mansão... Eu
já imaginava as intenções do meu pai quando ele comprou um carro maior e
com mais acentos, ele nunca me enganou. — Ele sorrir ao contar como os
meus sogros foram buscar as crianças, aqueles dois estão terríveis.
— De certa forma vai ser bom ter algumas horas de descanso, sem
preocupação com as crianças. Vou poder repousar melhor como o meu
marido ordenou. — Abraço a sua cintura deitando a cabeça em seu peito.
— Na verdade, as crianças não voltam para casa hoje, o papai
mandou construir aquele parquinho na mansão só para as crianças, acha
mesmo que eles vão querer vir embora? Acho que a mamãe vai deixá-los
vir hoje? — Revela enquanto seguimos pelo salão da galeria.
— Tudo bem, vai ser bom para as crianças passarem esse tempo
com os primos e os avós, eles precisam brincar e se divertirem e eu gosto
que ele passem tempo juntos. Amanhã tem o almoço de família na mansão
e eles vem conosco, ou podemos ficar na mansão até domingo, seus pais
vão gostar.
Seguimos abraçados pelo salão e eu me despeço de todos, Bruno
avisa a Tauane que as crianças estão na mansão e eu lembro-a do almoço de
amanhã, aviso a minha irmã também para ela avisar a nossa mãe, afinal,
somos todos uma única família agora, e meus sogros não permitem que
ninguém fique de fora.
Meu pai também está bastante familiarizado com os meus sogros.
Depois que ele conversou e explicou o que sentiu quando tudo aquilo
aconteceu, ele agradeceu por todos terem me estendido a mão, agradeceu
principalmente a Bruno que mesmo ainda receoso de lhe dar uma chance de
se aproximar, acabou cedendo depois de alguns meses estudando o
comportamento e as atitudes do meu pai, eu não fiquei contra ele por causa
disso pois sei que ele só quis me proteger, e eu agradeci por isso.
Saímos da galeria e seguimos direto para casa, hora ou outra sinto a
sua mão na minha barriga em um carinho suave que faz o bebê mexer, fico
atenta a ele e seu sorriso brota instantaneamente me fazendo sorrir também.
Eu amo isso, amo eles.
O nosso filho vai se chamar Andrew, e assim como decidimos na
minha primeira gravidez, a nossa primogênita se chama Nina, a do meio se
chama Erica e o caçula é o Liam, como ele queria que fosse também, e
agora está chegando o Andrew para completar a nossa família e a nossa
felicidade.
Durante o nosso trajeto a minha sogra liga nos intimando a irmos
para mansão, dissemos que estaremos lá amanhã mas ela não aceitou um
não como resposta, e como já temos roupas lá, apenas concordamos e
seguimos direto para mansão, e por mim tudo bem, mas Bruno ainda está
preocupado comigo e sei que não vai me deixar dar um passo sem a sua
fiscalização. Não vai ser a primeira vez que ele faz isso.
Chegamos na mansão e ao nos aproximarmos da casa, vejo mais a
diante no jardim lateral as crianças correndo, gritando e gargalhando com
alguns palhaços de animação correndo atrás deles, uma música infantil não
muito alta e as empregadas com algumas bandejas de lanche.
— Estão dando uma festa e não estamos sabendo? — Sorrio.
— Você conhece os meus pais, quando eles juntam as crianças tudo
acaba em festa. — Ele abraça a minha cintura e seguimos até eles sorrindo.
— Jennifer! Querida venha! Sente-se aqui. Você precisa descansar...
Você é mais teimosa do que eu, sabia? Não quero mais você indo na galeria
por causa dessa barriga, Tauane e Teresa dão conta de tudo então quero
você em casa descansado. Meu neto não pode nascer antes da hora, ouviu?
— Sra. Naomi vem até a mim levando-me com ela até uma das poltronas no
jardim.
— Até que enfim alguém está concordando comigo. Será que a
minha mãe você vai obedecer, Jenny? Você sabe que não estou tranquilo em
casa enquanto você está trabalhando, isso é um absurdo e você sabe disso.
— Suspiro com os questionamentos do meu marido.
— Ok, Bruno! Você venceu! Eu não vou mais para galeria até o
nosso filho completar três meses de nascido, mas isso não significa que não
vou trabalhar de casa, ouviu? — Concordo em um tom firme e sento-me
com ajuda da minha sogra.
— Já é um começo, depois em casa a gente negocia melhor isso aí.
— Ele pisca para mim e corre até as crianças me deixando chocada.
— Esse seu filho é terrível, minha sogra, e o pior é que eu o amo
exatamente assim e ele abusa por saber disso. — Sorrio abertamente
admirando-o correr com as crianças.
— Todos os homens dessa família são terríveis, mas nós os amamos
mesmo assim, acho que se eles fossem diferentes nós não os amaríamos
tanto... Você vai ter o seu segundo filho homem, e um dia você vai ouvir
das suas noras exatamente o que me disse hoje. — Ela senta-se ao meu lado
pondo a mão na minha barriga. Seu sorriso é de pura ternura.
Ela é comigo exatamente como é com Tauane e Teresa, ela nunca
nos tratou diferente uma das outras e seu carinho conosco e com os nossos
filhos, é algo admirável.
Ficamos aqui conversando enquanto admiramos as crianças
brincando com o avô, Bruno no meio deles também parece uma criança e
não tem como não sorrir.
— Filha! Passei na sua casa para te ver mas a Sra. Agnes disse que
você estava aqui, saí do trabalho e vim direto para... Yarim me ligou. —
Papai aparece do nada vindo até a mim.
— Yarim não tem jeito, não sei como ela também não ligou para
mamãe... Eu estou bem, papai, eu comi demais no almoço e acabei
enjoando. Meu marido se aperfeiçoou na cozinha e eu estou me
aproveitando disso, mas como consequência estou comendo demais e passo
mal depois. — Ele abaixa-se na minha frente e beija o meu rosto antes de
beijar a minha barriga.
Estou muito feliz por tê-lo de volta na minha vida me dando todo o
amor que ele havia me negado, tudo está saindo exatamente como sempre
desejei, agora tenho a minha família inteira ao meu lado e todos são tão
carinhosos comigo. Precisei passar por tanta coisa para chegar até aqui, mas
confesso que estar casada com um homem como Bruno foi algo muito
inesperado e surpreendente, nos conhecemos de forma tão inusitada e nos
apaixonamos de maneira repentina, assim como o nosso casamento.
— Sua irmã não ligou para sua mãe. Eu liguei e ela também já está
vindo. Você já está com quase sete meses e sua mãe também está
preocupada com você trabalhando, sabemos o quanto é agitada e não gosta
de ficar parada. — Seu tom preocupado e carinhoso me emociona.
Lembro-me de tudo que chorei com as suas atitudes, lembro da falta
que as suas preocupações me fizeram, pois eu sempre soube o quanto ele
me amava e eu não me lembro do passado com mágoa, lembro-me apenas
que não estou mais sem o meu pai como antes, lembro-me apenas que ele
faz parte da minha vida novamente e ele está sempre ao meu lado, ele
sempre vem correndo quando está preocupado, como agora. De certa forma,
acho que ele está sempre tentando me recompensar por tudo que me fez,
mesmo eu dizendo que ele não tem que fazer isso.
— Você não devia ter feito isso, papai, aqui já estão todos
preocupados comigo, não queria você e a mãe também preocupados. —
Suspiro me ajeitando na poltrona.
— Você parece cansada, a sua mãe não vai gostar de te ver assim,
ela foi trabalhar insegura pensando em você trabalhando, e ao saber que
passou mal ela ficou ainda mais preocupada. Talvez eu tenha errado por
ligar para ela, mas ela ficaria chateada se souber que eu sabia que você não
está bem e não liguei para ela. — Justifica-se meio sem jeito, sorrio.
— Meu sogro! Não sabia que vinha para mansão hoje também.
Minha sogra não veio? — Bruno aproxima-se correndo e meu pai se levanta
para cumprimentá-lo.
— Meu genro! Sim, Janete está saindo do trabalho e está vindo
direto para cá, passei apenas para ver Jenny e as crianças, amanhã
voltaremos para o almoço. — Eles se cumprimentam com um abraço
apertado.
— Vovô! — Grita Nina correndo na nossa direção.
Papai sorrir abertamente recebendo a minha filha em seus braços.
Toda vez que o vejo com as crianças eu me emociono, não apenas ele, mas
meus sogros também. Meus filhos não são brancos, são morenos e são a
coisa mais linda do mundo, são a minha razão de viver e Bruno é encantado
pelos nossos filhos.
Meu marido se senta ao meu lado enquanto minha sogra e meu pai
vão brincar com as crianças, mas Liam e Erica vem até nós pedindo colo,
eles parecem exaustos. O meu caçula está bocejando, ele correu bastante e
já está na hora sua soneca, mas ele está suado e todo sujo de doces.
— Eu quero mimi, mamãe, estou com soninho. — Pede manhoso e
eu pego ele no coloco.
— Está bem, minha vida, vamos entrar, você precisa tomar um
banho antes de dormir, ok? — Levanto-me com ele no colo, mas o pai dele
se levanta junto com Erica também no colo.
— Me dá ele, amor! Liam já está pesado para você carregá-lo no
colo. Deixa Sandra dar banho nele e depois você o faz dormir, você também
precisa descansar um pouco. — Bruno pega Liam do meu colo e seguimos
com as crianças para dentro de casa.
— Espera, mamãe! Para onde vocês vão? — Nina entra na casa
correndo atrás de nós.
— Seus irmãos estão com sono, filha, e eu vou me deitar com eles
para descansar um pouco também... Você está bem? Se divertiu com os seus
avós e seus primos? — Ela abraça a minha cintura e seguimos todos para
escada.
— Sim, mamãe, eu e Léo ajudamos a minha avó a cuidar dos meus
primos pequenos, a gente brincou muito no pula-pula, no escorrega e no
balanço, e o vovô me deu um celular novo de presente, e para o Léo e a
Laís também porque nós somos os primeiros netos. — Ela conta empolgada
me ajudando a subir a escada.
Sorrio ouvindo ela falar sem tirar a sua atenção de mim, ela é muito
carinhosa e dedicada e já se mostrou ansiosa pelo nascimento do irmão,
Nina assim como Erica e Liam, são muito apegados a mim e ao pai, somos
muito presente na vida deles e estamos sempre agradando-os de alguma
maneira, seja com passeios para a Disney ou um simples piquenique na casa
de campo, ou até mesmo aqui na mansão com os avós, ou no jardim lá de
casa, o importante é sempre aproveitarmos o nosso tempo com eles.
Somos o tipo de pais que conversamos bastante e também ouvimos
bastante os nossos filhos, estamos criando-os com total liberdade para nos
contar sobre tudo, acho isso primordial pois não quero que os meus filhos
cresçam como eu cresci, com medos e receios de conversar com os meus
pais por temer alguma punição, por medo de serem castigados ou até
mesmo insultados, eu jamais faria isso com os meus filhos então eles
precisam saber disso, e saber com conversar, passar segurança e
tranquilidade a eles na hora de uma conversa, ajuda bastante e meus pais
aprenderam mais sobre isso depois que me casei, depois de tudo que passei
quando nos separamos.
— Mamãe? Você está bem? Você ficou tão quieta. — Questiona
confusa e eu sorrio afastando os meus pensamentos.
— Não é nada, meu amor, está tudo bem... Eu também preciso de
um banho, estou realmente cansada mas não conta para o seu pai, ou ele vai
ficar preocupado.
— Está bem! É o nosso segredo de meninas.
— Isso mesmo, é o nosso segredo de meninas. Eu estou bem, mas
apenas quando eu estiver realmente passando mal, você vai precisar chamar
o papai e vai ficar cuidando dos seus irmãos, combinado?
— Combinado!
Entramos no meu quarto sorrindo mas ela diz que vai voltar a
brincar com os primos, concordo e ela sai apressada enquanto eu sigo para
o banheiro, tomo um banho pouco demorado e saio vestida em um roupão
encontrando o meu marido em pé em frente à janela, e uma camisola e uma
calcinha confortável sobre a cama.
Visto-me e acomodo-me nessa cama Super King maravilhosa.
Ponho a minha atenção no meu marido e ele vem para cama deitando-se ao
meu lado, ainda em silêncio eu vou para os seus braços acomodando-me em
seu corpo.
— Sei que está preocupado e eu não gosto de te ver assim, eu
prometi não trabalhar e vou cumprir, vou apenas auxiliar as meninas de casa
mas sem me esforçar. Mas sinto que eu não sou a sua única preocupação...
Está tudo bem, amor? — De olhos fechados eu acaricio o seu peito e recebo
um beijo no alto da cabeça.
— Sim, vida, está tudo bem sim, estou apenas lembrando-me de
tudo que já vivemos, imaginando tudo que ainda vamos viver...Eu sempre
falo que nunca me imaginei casado e muito menos sendo pai, hoje eu não
consigo imaginar a minha vida de outro jeito, sem você e as crianças... Se
eu soubesse que encontraria o amor da minha vida dentro de uma das
nossas universidades, teria ido até lá a muito mais tempo, você não teria
passado por nada daquilo e esse bebê que está a caminho, poderia já ser o
nosso quinto filho. — Diz espontaneamente tocando a minha barriga e eu
gargalho.
— Quinto filho...? Acho bom não sonhar com isso, já temos filhos o
suficiente então acho que podemos fechar a fábrica depois desse, não é? O
que você acha sobre isso? — Sugiro sem jeito pois antes de engravidar de
Andrew ele não gostou da ideia.
— Vamos ter mais um menino então o placar está equilibrado...
Falando sério agora, o que você decidir eu te apoio, se acha que o momento
para fazermos isso é agora, então tudo bem, mas... Você está carregando
mais um filho meu, vai passar por um quarto trabalho de parto e sei o
quanto isso é difícil, então deixa que eu fecho a fábrica. — Surpreendo-me
com as suas palavras e ergo o rosto para encará-lo
— Como assim? Amor você, você está me dizendo que...
— Sim, minha vida. Eu vou fazer a vasectomia, assim vamos poder
nos amar e transar bastante sem nos preocupar em tem mais um filho depois
dos cinquenta. — Seu comentário me faz sorrir, mas sua decisão é uma
grande prova de amor.
— Te amo! Muito, mas eu jamais desejaria ter um filho depois dos
cinquenta, então, obrigada pela decisão da vasectomia, vou ter o nosso filho
de parto normal e não quero ter que fazer uma cesariana apenas para não
engravidar mais. A sua atitude significa muito para mim, Bruno. Te amo!
— Eu também te amo, muito! E é por isso que tomei essa decisão.
Faço tudo por você.
— E eu por você.
Beijo-o calmamente antes de ouvir a porta se abrir e os nossos filhos
entrarem feito um furacão. Sorrio suspirando fundo, eu vou sonhar com
essa vasectomia hoje, não imaginei que aos trinta e três anos eu estaria com
quatro filhos, e se não fecharmos a fábrica com certeza virão mais. Sorrio
desse meu pensamento.
— Papai? Conta uma historinha? Eu também estou com sono. —
Pede Erica subindo na cama e eu me afasto para ela se deitar ao lado do pai.
Meus filhos só dormem assim, com um de nós dois colado neles
antes de deixar cada um na sua cama, mas acho que hoje eles vão querer
dormir conosco como ontem. Liam deu para ter ciúmes do bebê que ainda
nem nasceu, consequência disso é que ele tem dormido conosco com
frequência mas já estamos trabalhando para mudar isso.

Eu consegui descansar bastante ao lado dos meus filhos, dormimos


o resto da tarde mas acordei sozinha na cama, as crianças tem um sono de
passarinho mas eu estou dormindo mais que um urso no inverso.
Me levanto e me arrumo para descer, ainda são seis da tarde mas
provavelmente já estão todos esperando que eu desça, e assim o faço, desço
e estão todos na sala conversando enquanto as crianças brincam e correm
por todos os lados, a casa está cheia, estão todos aqui para curtirmos o dia
de amanhã em família. Os meus cunhados com suas famílias e seus sogros,
meus pais e minha irmã com o marido, as crianças e os sogros também,
agora entendo a necessidade dos meus sogros manterem uma casa tão
grande como essa, eles já contavam com isso, sempre desejaram uma casa
cheia e o seu desejo foi realizado.
— O que faz aí parada, meu amor? Conseguiu descansar...? Você
está linda. — Bruno se levanta ao notar a minha presença, e vem até a mim.
— Só estou admirando a minha família... As meninas estão lindas,
vamos a algum lugar? — Sorrio vendo Erica e Nina dançando com as
primas.
— Você acha que elas estão arrumadas de mais? Elas me pediram
para ajudar a escolher as roupas. Também pintei as unhas de Erica de rosa e
acho que ela gostou... Nunca me imaginei fazendo esse tipo de coisa com
uma mulher, mas, as que eu tenho em casa conseguem o querem de mim.
Até me tornei manicure sem precisar fazer curso. — Comenta com um
sorriso lindo e os olhos brilhando ao admirar as nossas filhas.
— Essas são algumas das muitas habilidades que adquirimos
quando nos tornamos pais. E você está sendo perfeito por conseguir lidar
com três mulher dentro em casa, mas o nosso príncipe também já está se
mostrando ciumento como o pai. — Abraço o seu pescoço sorrindo, mas
minha barriga já nos impede de ficarmos tão próximos.
— Em minha defesa, não sou ciumento, sou cuidadoso e o nosso
filho precisa aprender isso de pequeno... E esse garotão que está a caminho
também vai aprender a cuidar das mulheres de casa. — Ele se abaixa
conversando com a minha barriga e beija.
Admiro-o encantada, em todas as minhas gravidez ele tem o mesmo
carinho comigo e com o bebê na minha barriga, e eu amo isso, na verdade
me fascina.
A sua barriga está bem redondinha, está enorme e linda, tem mais
um filho meu a caminho e eu estou ansioso, estou nervoso como se fosse
pai de primeira viagem, mas estou feliz, a minha família é enorme, mas é
linda. Os meus filhos são exatamente como eu imaginei que seriam, lindos
e perfeitos.
Levo-a para se sentar com mamãe e as minhas cunhadas, elas falam
dá decoração do quartinho do bebê que está quase pronto, é o último quarto
que temos em casa e se tivermos mais filhos, teremos que nos mudarmos
para uma casa maior, mas acho que minha esposa tem razão, quatro filhos é
perfeito, já podemos realmente parar por aqui. Vai que vem mais uma
menina?
— É impressionante, os anos se passam mas você olha para ela do
mesmo jeito, como se tivesse acabado de se apaixonar por ela. Sua mãe me
contou sobre o acordo que vocês fizeram, eu não fazia ideia de que vocês
havia se casado por causa de um acordo, afinal, era nítido que estavam
apaixonados. — Papai para ao meu lado com dois copos de uísque nas
mãos e me entrega um.
— Foi a maneira que encontrei de não perdê-la. Eu não parava de
pensar nela desde que a beijei apenas porque um cara pensou que eu a
estava sequestrando, fingi que éramos namorados e a beijei, depois disso
não consegui mais parar de pensar nela. Quando a reencontrei e a levei para
minha casa, eu sabia que ela tinha que ser minha mas não fazia ideia do que
fazer, e como eu precisava me casar logo, não pensei duas vezes, eu queria
que fosse com ela por mais que ela não aceitasse ser minha esposa de
verdade, pelo menos a teria perto de mim como minha esposa de mentira...
Mas fomos nos conhecendo aos poucos, e... Quase nos beijamos algumas
vezes, mas no dia do nosso casamento não tivemos escolha, tivemos que
nos beijarmos e foi prefeito. Na nossa noite de nupcial estávamos exaustos,
apenas nos jogamos na cama e dormimos com a roupa do casamento. —
Conto sorrindo.
— Espera! Então vocês não consumaram o casamento na noite de
núpcias? — Pergunta intrigado.
— Não! Fizemos amor pela primeira vez dias depois do casamento,
a mamãe descobriu sobre o acordo e andou aparecendo de surpresa lá em
casa, então tivemos que dormir juntos para que ninguém desconfiasse da
verdade, e como já estávamos apaixonados acabou acontecendo... A minha
mulher é perfeita, papai... Ela é linda, é amorosa comigo e com as crianças,
é decidida e as vezes impulsiva, mas eu amo até os seus defeitos que se
tornam mínimos perto de tantas qualidades... Minha nossa... Eu sou louco
pela minha esposa, papai... Sinto falta de ar apenas falando dela. — Meu
coração dispara por admirar o sorriso largo em seu rosto, minha voz sai
mais tremula do que eu gostaria.
— Caramba... A sua mãe estava mesmo certa, como sempre... Tá
legal! Pega isso aqui, filho! — Ele entra na minha frente me entregando
uma caixinha vermelha aveludada.
Abro a caixinha e me deparo com um anel belíssimo, e também
parece ser muito caro apesar de tão pequeno e delicado.
— Que anel é esse, papai? Porque está me dando isso? — Indago
confuso.
— Sua mãe deu a Kevin o anel da mãe dela, para que a jóia passe
entre as gerações da nossa família. Esse anel na sua mão, pertenceu a sua
bisavó, a minha avó materna e ele já dei ele a sua mãe um dia, e agora ela
quer que você faça as coisas direito, queremos que você renove os seus
votos com a sua esposa, mas dessa vez faça o pedido como se deve ao invés
de apenas pôr o anel no dedo dela, e nada de acordos! — Seus olhos
brilham enquanto ele me abraça pelos ombros.
Sinto-me sem ar, caramba, esse anel foi da minha mãe e agora ela
quer que eu o dê a minha esposa, se esse anel me trouxer a sorte de ter essa
mulher para o resto da minha vida, não vou deixá-la tirar do dedo nunca.
— Eu já havia pensado em fazer isso antes, papai, a tempos quero
dar a ela um pedido descente e você está me dando um motivo a mais para
eu não adiar mais isso... Obrigado por não ficar contra mim por eu não ter
contado a verdade antes, sobre o meu acordo com Jennifer. Na verdade, eu
rasguei o contrato assim que percebi que a amava, e ela sabe disso. —
Abraço-o apertado antes de me soltar.
— Fico feliz em saber disso, filho, agora vá lá! Não espere nem
mais um segundo, peça a sua esposa em casamento novamente, mas dessa
vez faça com o coração. — Ele me encoraja sorridente, sinto-me confiante
mas também nervoso.
Olho a minha volta e estão todos aqui, os meus irmãos e minhas
cunhadas, meus sogros e meus pais, diferente da primeira vez que pedi a
minha mulher em casamento, não foi nada romântico, apenas jantamos em
casa e eu lhe ofereci o anel como parte do nosso acordo. O meu pai tem
razão, eu preciso refazer aquele pedido.
Respiro fundo, ela está tão animada conversando com Tauane,
Yarim e Teresa, meus irmãos conversando com os seus sogros e minha mãe
conversando com os sogros. Aproximo-me deles parando a um metro e
meio da minha mulher, mas minha filha corre até a mim e abraça a minha
cintura.
— Eu te amo, papai! Eu senti uma vontade enorme de dizer isso. —
Nina ergue o rosto para me encarar. Ajoelho-me na sua frente.
— Eu também te amo, filha! Sempre vou amar você, seus irmãos e a
mamãe acima de tudo... Me dá um beijo? — Toco o seu rostinho e ela me
dá o sorriso mais lindo do mundo.
Ela me dá o beijo que pedi e sai indo para junto da irmã e os primos.
Continuo aqui ajoelhado e encaro a minha mulher me admirando com
ternura, meu coração bate forte toda vez que ela me olha assim, meu peito
se enche e o ar some dos meus pulmões toda vez que ela sorrir.
— O que foi, amor? Porque está me olhando assim? — Questiona
envergonhada e eu sorrio.
— Eu amo quando você fica assim, envergonhada por algo tão
bobo. Quando põe o cabelo atrás da orelha em um gesto tímido. Quando
sorrir desse jeito tão doce e cheio de ternura, até quando fica zangada você
me encanta, estamos casados a quase onze anos e eu sinto como se
estivéssemos começando agora, sinto aqui dentro do peito um amor tão
grande que parece querer explodir para fora... O destino nos uniu de forma
inesperada, é verdade, mas eu não estaria feliz hoje se não fosse com você...
Jennifer! Meu amor, eu te amo tanto, tudo que eu quero nessa vida é fazer
você feliz, quero te dar o mundo e para começar, quero me casar novamente
você, quero fazer tudo direito dessa vez e quero fazer de coração, com todo
o meu amor. Então, Jennifer Spencer Paiva Stuart! Você quer se casar mais
uma vez comigo? Mas dessa vez, nada de acordo. — Emociono-me mas
tento me manter firme, abro a caixinha com o anel e ela já está chorando
mesmo sorrindo tão abertamente.
— Sim! Eu quero me casar de novo com você, Bruno Felleng
Stuart! — Ela abre mais o seu sorriso e se levanta com ajuda de Tauane.
Ela aproxima-se limpando o rosto e eu coloco o anel no seu dedo
ainda ajoelhado na sua frente, beijo a sua barriguinha redondinha e me
levanto beijando-a apaixonadamente.
— O papai e a mamãe estão namorando! — Ouço a voz de Erica.
— É claro que eles estão namorando, eles vão se casar de novo. —
Nina faz festa e nós sorrimos entre beijos.
— VIVA OS NOIVOS! — Grita mamãe incentivando uma festa que
se inicia.
— Que anel lindo, nunca havia visto algo tão belo, mas parece
muito caro...
— Ei! O que importa é que você gostou, e não fui eu quem
escolheu... Na verdade, eu acabei de descobrir que esse anel pertenceu a
minha bisavó, depois a minha avó e minha mãe, e agora eles querem que
ele seja seu para um dia dar a uma de nossas filhas, ou um dos nossos filhos
para que dêem a sua futura esposa. — Conto com um sorriso largo no rosto
mas ela parece surpresa.
— Esse anel era da sua mãe...? Ele está passando por gerações então
é claro que um de nossos filhos o herdará... Obrigada por me dar um
momento como esse, meu amor... Não vou negar, eu sonhei com isso por
muitas vezes, sonhei com você me pedindo em casamento sem a obrigação
de ter que se casar... Eu te amo, Bruno! Amor da minha vida. Meu amor
sem medidas. — Seu tom emocionado e seu sorriso radiante era tudo que eu
precisava ver.
— Você é o amor da minha vida, Jenny... Meu amor por você é sem
medidas, minha vida... Vamos nos casar novamente e seremos ainda mais
felizes, eu te prometo! — Toco o seu rosto e ela toca o meu. Nos beijamos
mais uma vez antes da mamãe nos separar para nos abraçar.
Os nossos filhos correm a nossa volta gritando papai eu te amo!
Mamãe eu te amo! E com essa declaração tão linda o meu coração se enche
ainda mais de alegria. Não tenho dúvidas de que viveremos esse amor por
muitos e muitos anos, não tenho dúvidas de o nosso amor é um amor sem
medidas, um amor infinito, um amor para o resto das nossas vidas.
Beijo a minha esposa mais uma vez com esse sorriso radiante, beijo
e pego os meus filhos no colo ainda mais feliz que antes. Viva o amor, vida
a vida, viva o futuro que se inicia.

Fim!
Livros Da Série
Livros 4/5/6 Em Breve!

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