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Instagram: @lunaoliveiraautora

Copyright © 2021 por Luna Oliveira

ISBN: 978-65-00-35704-2

Essa é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida ou
fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico e mecânicos
sem autorização por escrito da autora, salvo em casos de citações, resenhas e
usos não comerciais permitidos na lei de direitos autorais.

Nome da obra: Nosso Império


Série Nascidos Na Máfia - Livro I

Primeira Edição 2021

Belo Horizonte - MG

Nome do autor: Luna Oliveira

Revisão e preparação: Lidiane Mastello

Capa: Ester Costa


“Um império fundado pelas armas tem de se manter pelas armas.”
Charles-Louis de Sécondat, popularmente conhecido como
Montesquieu.
SOBRE A AUTORA

Luna Oliveira é um pseudônimo criado para que eu possa


compartilhar com vocês os personagens que ganham vida em minha mente
insana. Por trás desse pseudônimo habita uma amante da leitura que
recentemente se descobriu apaixonada pelo universo de romances
ambientados na máfia.
O primeiro livro que li sobre esse tema foi “O Monstro Em Mim”, da
autora nacional Nana Simons, a paixão por Lucca e Abriela foi instantânea.
De lá para cá, além de devorar todos os livros dessa autora, que para mim é a
rainha do Dark nacional, li todos os livros que encontrei, nacionais ou não.
Eu não sei como aconteceu, só sei que uma noite veio uma história
em minha cabeça e eu não consegui me sentir em paz enquanto não me sentei
para escrever. Postei os capítulos no Wattpad, não divulguei e deixei para lá.
Voltei para minha profissão, mas eu não consegui parar de pensar no “e se eu
tentar novamente, dessa vez de verdade”.
Desse jeitinho cheguei aqui, nesse lançamento independente. Espero
que dê certo, mas se não der, tudo bem também.
O importante para mim é ver que eu escrevi com todo carinho que
carrego dentro do meu coração e me sinto tão feliz por isso que a sensação de
dever cumprido comigo mesmo não passa.
Bom, é sobre isso. Essa sou eu, espero que deem uma oportunidade
para as próximas páginas e se encantem pelo casal...
Beijinhos!
SINOPSE

Milena Fiore é filha única e herdeira de todo o império construído a


ferro e sangue por seu pai, Giovanni Fiore. Os dois moram no México, mas
carregam nos ombros grandes responsabilidades com a máfia italiana, e, após
sucessivos ataques de inimigos, a jovem se vê obrigada a concordar com um
casamento arranjado para fortalecimento e solidificação do território
conquistado.
O noivo, Stefano Bianchi, é o sobrinho do Chefe de toda a
organização, reconhecido por todos por sua crueldade e ambição. Ele jamais
fugiria do seu dever para com a Famiglia, muito embora casar-se não
estivesse dentre seus desejos e grande será a surpresa de Stefano ao constatar
que sua noiva é tão manipuladora quanto ele.
Entre duas pessoas loucas por controle e poder, será possível nascer
um amor?
AVISOS

Esse livro foi ambientado na máfia e traz temas de violência e abuso


sexual, explorados com leveza, já que o objetivo da presente história não é
romantizar temas polêmicos, mas demonstrar como os personagens, expostos
a um mundo diferente e totalmente fictício, lida com a vida lhes imposta.
Apesar de não se tratar de um romance Dark, pode acionar gatilhos
em pessoas sensíveis a cenas de violência e abuso sexual.
Todos os personagens, locais e situações são frutos da imaginação da
autora e não reproduzem a realidade. Qualquer semelhança com a realidade
não passa de mera coincidência.
Sumário
SOBRE A AUTORA
SINOPSE
AVISOS
Sumário
HIERARQUIA DA FAMIGLIA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
EPÍLOGO
Bônus do próximo livro....
AGRADECIMENTOS
HIERARQUIA DA FAMIGLIA
PRÓLOGO
Milena Fiore

Nascer na máfia não é fácil, ainda mais nascer na Famiglia mais cheia
de tradições do mundo. Eu nunca fui uma garota de viver lamentando,
sempre fui de correr atrás dos meus objetivos. Inclusive, já me chamaram de
pequena manipuladora, mas o que as pessoas têm que entender é que, depois
de ver tudo que vi e sendo filha de quem sou, não vim ao mundo para desistir
sem lutar.
Pensando na trajetória da minha vida até aqui, desde quando deixei a
Itália bem no início da minha pré-adolescência não vivi um dia sequer como
uma garota normal. Todos os dias eram cercados de disputas de territórios,
conflitos armados e soldados me cercando por todos os lados.
Eu nasci na Itália, minha mãe, Luna Fiore, era minha luz e meu pai,
Giovanni Fiore, me tratava como uma princesinha, até que aos meus onze
anos de idade meu mundo cor de rosa desabou. Minha mãe descobriu que
estava muito doente, iniciou seu tratamento assim que foi diagnosticada com
um tipo raro de câncer, mas nem todo o dinheiro que meu pai possuía foi
capaz de salvá-la.
Meu pai amava minha mãe com toda sua alma e quando ela se foi, um
pedaço dele foi junto, o outro pedaço que restou se quebrou, restando a mim
catar caco por caco para que juntos pudéssemos seguir em frente.
Minha mãe amava a Itália e tinha o sangue siciliano correndo forte
nas veias, depois que ela se foi, ficou difícil demais para respirar naquele
país. Papai era um dos Capos que viviam na Sicília, a Famiglia queria
expandir os negócios para o México, entretanto, estavam enfrentando
dificuldades sem uma liderança forte, respeitável e centralizada lá para
comandar. O território era uma loucura completa, várias gangues de rua, MCs
e Cartéis disputavam o controle do submundo do crime no país.
Em uma das reuniões com os outros Capos, meu pai viu a chance do
novo começo que buscava para nós, então ele se ofereceu para se mudar para
o México e liderar os avanços da organização. O Chefe da Famiglia, Lorenzo
Bianchi, concordou com a mudança com um pouco de relutância no início,
pois meu pai era um de seus Capos de confiança, assim, receou que ele
sucumbisse facilmente nas mãos de um dos muitos inimigos.
Na minha inocência infantil, fiquei feliz quando soube da mudança,
amava a Itália e tinha algumas amigas, mas não aguentava ver papai cada dia
mais perdido em lembranças, então fiz minhas malas e prometi que faria do
México meu lar. Papai levou conosco nossa governanta, Lucrécia, que foi
encarregada de me ensinar todas as regras de etiqueta que uma mulher de
berço como eu deveria aprender.
Desde o primeiro dia da mudança percebi que nada seria como antes,
mesmo meu pai tentando me manter alienada dos perigos que nos cercavam,
não foi difícil perceber que para estar em segurança eu precisava andar com o
triplo de soldados que era acostumada e a guerra era uma nova constante no
nosso cotidiano.
A primeira atitude do meu pai foi estabelecer uma rotina pesada com
várias atividades extracurriculares todos os dias da semana, inclusive aos
domingos, para manter minha mente sempre ocupada. Além das aulas de
etiqueta, fazia aulas de dança, aulas de natação, aulas de piano, aulas de
inglês, francês e russo e já era fluente em italiano e espanhol.
A maioria das aulas eu fazia em casa, o que eu preferia já que para
colocar os pés na calçada necessitava de uma comitiva real no meu encalço, o
que chamava mais atenção para mim do que eu suportava. Entretanto,
comecei a me sentir muito sozinha, como solução papai autorizou que os dois
filhos do seu soldado e braço direito, Leonardo Ferrara, frequentassem as
aulas comigo.
Giselle e Nando eram gêmeos e tinham a minha idade, sob as ordens
de papai se mudaram para o complexo que estava sendo construído ao redor
de nossa casa. Eles se tornaram como irmãos para mim, sempre inseparáveis,
e, aproveitamos a forma diferenciada de ensino para concluir mais rápido as
matérias, orgulhando nossos pais com a nossa dedicação.
Papai comandava nosso novo território com mãos de ferro, sempre
estabelecendo limites rígidos, atirando primeiro, perguntando depois. O
tempo foi passando e eu sabia que os negócios estavam cada vez mais
difíceis, via meu pai cada dia mais estressado, mas só realmente me dei conta
de quão grave era a situação quando fui sequestrada.
Era uma tarde ensolarada, eu tinha quatorze anos e estava voltando da
aula de dança junto com os nossos soldados quando fui capturada por uma
gangue de rua que vinha causando problemas para o meu pai. Eu vi os
soldados serem baleados ao tentarem me proteger, foi a cena mais chocante
da minha vida e fez com que a garota ingênua se fosse de vez. Me
mantiveram presa em um galpão por três longos dias, amarrada a uma
cadeira, sem forças ou habilidades para lutar contra meus captores.
O grupo planejava conseguir um resgate milionário de papai, no
entanto, a Famiglia não costumava aceitar esse tipo de negociação para não
abrir precedentes. Quando achei que era o meu fim, em meio à desmaios,
escutei vários disparos, apaguei de vez e acordei nos braços de papai no
hospital.
Eu nunca tinha me sentido tão indefesa, desprotegida e impotente em
toda minha vida como foi durante os dias que passei no cativeiro. Entre todos
os sentimentos possíveis, a impotência que senti era o que me corroía por
dentro, então assim que saí do hospital, decidi que as coisas precisavam
mudar e eu nunca mais seria apenas um alvo fácil.
— Papai, eu sei que as coisas estão difíceis aqui e sei que tem sido
impossível que consiga controlar os negócios da Famiglia e me proteger 24h
por dia, imprevistos sempre poderão acontecer, por essa razão preciso te fazer
um pedido.
Meu pai me olhou tristemente, totalmente abatido desde o meu
retorno para casa. Ele assentiu, esperando que eu continuasse.
— Quero aprender a lutar para me defender, me tornar um soldado, te
ajudar nos negócios, não aceito mais ser vulnerável quando tem tantas coisas
que eu posso fazer por nós.
Papai arregalou os olhos e me disse um “NUNCA” com todas as
letras, mas como eu disse antes, sempre consigo o que quero. Dessa vez não
foi diferente, me empenhei com fervor em aprender a lutar e aos meus vinte
anos já era o braço direito de papai no México.
CAPÍTULO 01
Milena Fiore

Havia um jardim repleto de rosas vermelhas, no centro uma enorme


fonte e parado bem ao seu lado estava um homem alto, forte, cabelos ruivos e
olhos azuis. Definitivamente era Sam Heughan[1] me esperando de braços
abertos e quando estava prestes a me lançar nos braços daquele Highland
bonitão, escutei meu despertador tocar às 05h da manhã e resmunguei
comigo mesma:
— Mais dez minutos no céu, por favor!
Logo peguei no sono, mas nada de conseguir sonhar de novo com
aquele espetáculo de homem e o despertador disparou mais uma vez. Tristeza
e raiva vieram com tudo, mas era melhor embarcar no mundo real, porque a
vida não estava fácil para ninguém. Levantei e fui direto para o banheiro
tomar um banho para despertar meu corpo de vez.
Hoje o dia seria longo, repassei mentalmente todos os compromissos
que precisava enfrentar enquanto colocava minha roupa de treino e prendia
meu cabelo em um rabo de cavalo.
Descendo as escadas senti o cheiro de café recém-coado vindo da
cozinha, Lucrécia madrugava todos os dias para deixar tudo organizado para
que nossa rotina diária se iniciasse de estômago cheio.
— Bom dia, Lucrécia!
— Bom dia, menina! O café da manhã está servido, preparei uma
receita nova de bolo de fubá, espero que aprecie.
— Grazzie! Papai já saiu?
— Sim, menina, saiu tem uns vinte minutos e disse que está à sua
espera na sede da Crivelli[2] às 10h para uma reunião, pediu para não se
atrasar.
— Eu nunca me atraso. — Pisquei para Lucrécia e depois de me fartar
com sua nova receita deliciosa segui para área de treino.
Comecei a treinar com os soldados alguns meses depois do sequestro,
no início aprendi apenas alguns truques para minha defesa, mas com o tempo
papai viu que eu amava lutar e era muito boa nisso, acabou concordando que
eu tivesse um treinamento tão pesado quanto os rapazes da minha idade que
estavam para serem iniciados.
A maioria dos garotos não aceitavam muito bem a ideia de uma
garota treinando junto com eles, mas ninguém questionava as ordens do
Capo, aos poucos eu fui conquistando o respeito dos nossos homens, sempre
deixando bem claro para eles quem eu era e que não aceitaria nenhum tipo de
insubordinação.
— Bom dia, Milena!
— Bom dia, Nando! Pronto para levar porrada?
Gostava de treinar com Nando, pois ele não me tratava diferente por
ser mulher ou ser filha do Capo. Era raro sair sem uma parte do meu corpo
roxa e dolorida após nossas manhãs no ringue, e ficava feliz em ver que ele
também não saía muito diferente.
— Hoje quem vai apanhar é você, mimadinha, vamos começar logo
com isso.
Caí na gargalhada pelas provocações de sempre e após duas horas de
treino pesado, socos, chutes e rolar no tatame para todos os lados, escutamos
Giselle entrar na área de treino.
Diferente de nós dois, ela odiava luta e não se preocupava com os
assuntos da organização. Seu pai a protegia de tudo, eu e Nando
compactuávamos com ele e a mantínhamos numa bolha onde tudo que lhe
importava eram festas, bolsas e sapatos.
Apesar de Giselle ter a nossa idade e estar sempre conosco, ainda era
apenas uma garotinha em nosso mundo, alheia ao perigo ao seu redor e feliz
por ser assim. Eu não ligava, cada pessoa tinha sua personalidade e para falar
a verdade amava tê-la por perto tagarelando sobre assuntos banais no meu
ouvido, me lembrando que a vida podia ser mais que dever e lealdade, existia
também os momentos de curtição.
— Bom dia, meus amores, finalmente sextou! Que bom que cheguei
antes de vocês saírem por essa porta para cometerem suas listas enormes de
crimes diários, preciso fazer um convite irrecusável para hoje à noite.
— Nada de cinema hoje, irmãzinha! Dominic Toreto[3] vai ter que
esperar, hoje eu preciso encher a cara e esquecer uma certa mexicana que
vem tirando meu juízo.
— Quem disse que estava falando de cinema, Nando? Eu quero
mesmo é ir para casa de show da Famiglia e beber tequila até esquecer meu
nome.
Notando a deixa após o convite da minha amiga, decidi intervir antes
que os gêmeos iniciassem uma discussão e Nando resolvesse fazer pirraça
para estragar nossa saída. Não tínhamos permissão para frequentar muitos
lugares por sermos mulheres, ainda por cima solteiras, mas as boates que nos
pertenciam possuíam camarotes seguros e com Nando e os soldados sempre
nos vigiando, podíamos apreciar a noite, dançar e beber fingindo ser garotas
normais.
— Pelo visto meu casal de gêmeos favoritos está querendo quebrar
algumas regras essa noite e eu como a responsável do grupo só posso
perguntar: Swingers ou Massala?
Em coro meus melhores amigos responderam:
— Swingers!
Como poderia ser diferente? Nós três amávamos aquela boate, sem
dúvidas o melhor investimento da Famiglia.
Após combinar os detalhes para a saída de mais tarde com meus
amigos, voltei para casa para me arrumar para reunião com papai e Leonardo.
Estávamos perdendo território para Esteban González, um dos chefes
contrabandistas de drogas da região, precisávamos resolver sobre um dos
carregamentos que foi roubado e dar um jeito em toda a bagunça antes que o
Chefe resolvesse interferir.
Escolhi um terninho da nova coleção que Giselle encomendou
diretamente de Paris, colocando meu Louboutin e dando adeus a qualquer
conforto aos meus pezinhos.
Em todos esses anos papai nunca teve um segundo de paz, a cada
pequena distração um dos nossos inimigos tentou roubar nosso território, mas
a cada investida revidávamos com força total e ampliávamos mais e mais
nossa rede de alcance.
Dessa vez não seria diferente.
— Bom dia, papai! — falei adentrando seu escritório, já que a porta
estava aberta.
Percebi que papai esqueceu novamente de jogar água na orquídea que
comprei para enfeitar seu escritório e a bichinha já estava quase sem vida. O
que fazer para dar mais vida à essa sala sem que isso dependa da cabeça boa
de papai? Talvez plantas artificiais...
— Bom dia, filha! Chegou cedo, Leonardo estará aqui em vinte
minutos, enquanto isso dê uma olhada no faturamento da Massala, não confio
naqueles soldados que a administram.
Era raro traidores entre nós, já que as consequências eram terríveis,
mas não era impossível. Desde que me destaquei nas aulas de matemática,
chamei a atenção de papai e ele contratou professores de contabilidade e
gestão de negócios.
Assim que adquiri o básico de conhecimento, meu pai fez uma
auditoria nos nossos negócios legais e me colocou junto na administração.
Realmente percebi que tinha tino para coisa e hoje tudo passa por minha
aprovação, tanto os negócios legais quanto os de origem duvidosa.
— O senhor não confia nem na sua própria sombra.
Eu gostava do trabalho de campo — por assim dizer —, mas seria
querer demais que papai me deixasse ir para as ruas para fiscalizar as
entregas e correr os riscos do nosso ofício, então ficava responsável apenas
em conferir a parte administrativa e verificar se nossos soldados estavam
sendo leais à organização, além de conquistar novos aliados nas festas chatas
da alta sociedade do México.
Papai também sempre me considerou uma ótima estrategista, então
parou de me esconder as coisas e começou a deixar que eu participasse das
reuniões e opinasse nas decisões de como lidar com nossos inimigos e com
nossos aliados.
Acabei tornando-me quase que uma testa de ferro por trás das
decisões e aprendi cedo que pulso firme nos nossos negócios era medida de
sobrevivência.
Estava feliz com nosso arranjo, a adrenalina fazia falta, mas desde que
me fosse permitido continuar treinando para pelo menos ser útil caso
necessário, não me importava de ficar apenas com a parte burocrática, afinal
esse serviço era tão ou mais importante do que os práticos, e meu trabalho
vinha ajudando-nos a crescer cada dia mais.
Como Lucrécia me ensinou, eu não era de falar palavrões e usava
termos técnicos para falar dos negócios, as regras de etiquetas estavam
impregnadas na minha postura e para mim a organização era como uma
empresa que precisava de mãos de ferro em sua administração.
— Bom dia, Milena!
— Bom dia, Leonardo! Papai está nos aguardando em sua sala. —
Leonardo assentiu e entrou logo atrás de mim para iniciarmos a reunião.
Às vezes tinha impressão de que Leonardo não gostava muito de
receber ordens minhas, mas ele nunca me questionou. Ele sempre me tratou
com respeito e desde que me tornei amiga de seus filhos ele passou a me
direcionar olhares paternais também.
A reunião foi longa, a situação estava difícil, Esteban González era o
novo grande problema para organização e um outro nome menos poderoso
estava surgindo para atrapalhar ainda mais nossos negócios.
Era sempre assim, os inimigos brotavam do chão como baratas prestes
a serem esmagadas, pelo menos eram burros o bastante para não se unirem
contra a Famiglia, isso sim seria nossa perdição. A desorganização deles
faziam com que fosse mais fácil armar uma emboscada.
— Estou confiante que dará certo, pena que não irei participar
pessoalmente desse contra-ataque papai.
— Já conversamos sobre isso, Milena, você já ajuda demais com essa
sua mente geniosa.
— Eu sei e agradeço por me deixar ajudar. Combinei com Nando e
Giselle de ir à Swingers hoje à noite, levaremos alguns soldados e prometo
não voltar tarde, podemos ir?
— Filha eu já te disse que não gosto de você frequentando esses
lugares, mas por seu plano de hoje irei fazer uma exceção, sinto que amanhã
colocaremos um fim no desgraçado do Esteban González. Lembre-se que
apesar de tudo, você ainda tem que seguir as regras da Famiglia e não pode
chegar perto de nenhum daqueles garotos imundos e muito menos deixar que
eles coloquem as mãozinhas em você, fique sempre com Giselle e Nando no
camarote para sua segurança.
Eu revirei os olhos mentalmente para as palavras de papai, sabendo
que ele estava ordenando que eu continuasse virgem apenas para que ele
conseguisse me casar com alguém importante da Famiglia, mas eu não
pretendia contrariá-lo com isso.
Uma das regras mais absurdas da Famiglia era que as moças
permanecessem virgens até o casamento, sendo proibido o casamento com
membros de fora da organização, exceto raras exceções ordenadas
exclusivamente pelo Chefe a fim de criar alianças políticas.
Na Itália as meninas se casavam bem cedo, era muito comum que os
casamentos fossem arranjados para elas desde a infância e celebrados aos
dezoito anos, entretanto, papai se recusou a firmar tais compromissos para
mim quando criança por intervenção de mamãe. Depois que nos mudamos
para o México, vieram muitas outras preocupações e esse assunto ficou em
último plano.
— Claro, papai, sou um anjo, não tem com o que se preocupar. Nós
três iremos ficar o tempo todo no camarote privado sob a vigilância dos
soldados.
Após terminar de resolver mais algumas coisas na sede da empresa,
fui para casa me preparar para noitada com meus amigos.
Quando nos mudamos para o México eu e Giselle não éramos
próximas, na Itália as filhas de soldados não brincavam com as filhas dos
Capos, coisas da hierarquia. Assim que meu pai permitiu que Giselle
frequentasse nossa casa foi fácil me tornar amiga dela, ela era o tipo de
pessoa alto-astral que fazia amizade com todos à sua volta e nos metia nas
melhores aventuras.
Ao contrário de mim, Giselle sonhava apenas com o príncipe
encantado que viria no cavalo branco, mas enquanto ele não aparecia não se
negava a beijar alguns sapos por aí. Beijar garotos também era proibido pelas
regras, mas nós não nos negávamos esse prazer, já era demais ter que casar
virgem, então aproveitávamos o pouco da liberdade que conseguíamos ter.
Tanto eu quanto Giselle beijamos nosso primeiro sapo aos quatorze
anos, nunca passamos disso para evitar a fúria de nossos pais, beijos sem
maldade pelas baladas por aí não iriam fazer mal a ninguém.
Sempre que íamos a uma das boates da Famiglia levávamos Nando,
ele era como um irmão para mim também e nos ajudava a escapar de
qualquer enrascada e das broncas de papai. Teve uma época que eu pensei
que o que sentíamos um pelo outro era mais que amizade e foi aí que até
tentamos nos beijar:
— Esse beijo foi nojento, Nando.
— Eca! Parecia que estava beijando minha irmã, Milena.
Então caímos na gargalhada e nunca mais se repetiu, ele era como um
irmão para mim, impossível sentir atração por ele.
Saí dos meus devaneios e me olhei no espelho realmente apreciando o
que via. Autoestima sempre foi meu forte.
— Nossa, como eu sou linda e gostosa! Esse vestido está um arraso!
— Está mesmo, Milena, agora vamos logo antes que Nando perca a
paciência e nos deixe para trás.
— Que susto, Giselle, quer me matar do coração? Nossa, mas como
você está gostosa, estou vendo que essa noite promete. — Caímos na
gargalhada e fomos comentando sobre assuntos aleatórios até chegarmos na
Swingers e ir direto para nosso camarote reservado curtir a noite.
Entre uma dose e outra de tequila, bebida que aprendi a amar assim
que pisei no México, observamos as pessoas dançando na pista e
comentamos quais eram os gatinhos destaques da noite. Nando como sempre
se retirou do camarote assim que começamos a falar de homens, deixando
alguns soldados nos observando para nossa proteção.
— Olha, Milena, Nando está pegando aquela garota de novo lá na
pista, não acredito nisso!
— Eu acho que daqui a pouco ela vai querer entrar para família,
espero que ele saiba se cuidar, duvido que seu pai aprove isso.
— E eu não sei, coitado! Se papai souber arranja uma pretendente
para ele lá da Itália amanhã mesmo e o arrasta até o altar.
Já fazia um tempo que Nando vinha se enroscando com uma
mexicana misteriosa e, mesmo ele sempre dizendo que não passava de uma
aventura passageira, eu via pela forma que ele falava dela que isso poderia se
tornar um grande problema no futuro.
— Giselle, olha aquele cara no bar de jaqueta de couro, conversando
com a garçonete. — Apontei o dedo bem descarada, contando com a sorte de
que ele não se virasse para nós, Giselle era lerda e se não fosse assim ela não
enxergava.
— Estou vendo amiga, ele é bem gato, estilo malvadão. O que tem
ele?
— Eu o conheço de algum lugar, estou tentando me lembrar de onde.
Estava tão perdida em meus pensamentos que não percebi que estava
encarando, ele virou-se diretamente para mim, emanando um olhar frio e
impiedoso que me trouxe arrepios.
Sem dúvidas um mau presságio do que estava por vir.
CAPÍTULO 02
Milena Fiore

— Disfarça, amiga, ele está se virando para nós! — Saí de meus


devaneios e virei-me para encarar Giselle.
— Meu Deus! Que vergonha, amiga! Para de olhar para ele também,
antes que ele pense em subir para nosso camarote.
— Tarde demais, parece que ele está vindo para cá, mas os nossos
soldados não o deixarão passar, não se preocupe.
— Eu o conheço de algum lugar, Giselle, sinto que teremos
problemas essa noite. Onde está o Nando?
— Você é paranoica demais, ele é só um cara qualquer, essa boate
pertence à Famiglia, não deixariam qualquer um entrar aqui.
Procurei por toda a pista, mas não encontrei Nando. Enviei uma
mensagem para ele e chamei os nossos soldados.
— Um de vocês encontre Nando agora e traga-o aqui, os outros não
deixem ninguém passar por essa porta.
Meus instintos nunca falhavam, tinha algo de errado essa noite,
aquele homem na boate não era qualquer pessoa, tinha certeza de que
reconhecia seu rosto de algum lugar, só não conseguia me lembrar de onde.
— Milena, você está me preocupando, quem é ele? Parece só mais
alguém querendo se divertir.
— Giselle, precisamos ficar prontas para sair daqui pela saída de
emergência, pode não dar tempo de esperar Nando chegar, não saia de perto
de mim, se algo acontecer, eu te manterei segura.
Os soldados não estavam entendendo minha preocupação, muito
menos Giselle, mas o treinamento havia me ensinado a ficar sempre alerta, a
essa altura já tinha pegado minha arma escondida em minhas meias, quando
uma luta na entrada do nosso camarote começou.
— Vamos Giselle, precisamos sair daqui agora!
Abri a porta da saída de emergência, mandei dois soldados irem à
frente para verificar se era seguro e empurrei Giselle para que fosse logo atrás
deles, quando iria entrar também escutei um grito de Nando.
— Giselle vai embora agora, eu preciso voltar para ajudar Nando,
ligue para nossos pais.
Não dei tempo para Giselle responder e mandei os dois soldados
arrastá-la para fora. Os nossos soldados estavam lutando com vários homens,
a pista de dança lá embaixo havia se tornado um campo de guerra, instalando
uma confusão generalizada.
— Droga, essa confusão toda será péssima para os negócios se sair na
mídia!
— Tanta coisa para se preocupar neste momento e você está pensando
nos lucros do seu pai?
Virei-me para ver quem era o dono daquela voz e então de perto
finalmente reconheci quem era o homem no bar.
— Esteban González! Vejo que resolveu dar o braço a torcer e
percebeu que não há lugar melhor para se divertir no México do que as
boates de papai. Está aproveitando a noite?
Ele também estava tentando competir com a Famiglia abrindo boates
pela cidade, certamente aprendeu que não há lugar melhor para encobrir o
tráfico e lavar o dinheiro, então resolvi esfregar sutilmente na cara dele que as
nossas boates eram muito melhores que as dele.
— Ouvi dizer que a princesinha da máfia era corajosa, mas agora que
constatei com meus próprios olhos posso dizer que fiquei encantado. Sinto
desapontá-la, no entanto, não vim me divertir, vim falar com você sobre
negócios.
Olhei para a saída de emergência disfarçadamente, mas não seria
possível escapar por ela sem trocar tiros com Esteban, sem usar um colete à
prova de balas seria uma batalha perdida para mim.
— Como sabia que eu estaria aqui? E que tipo de negócios pretende
discutir comigo?
— Eu sei de muitas coisas a seu respeito, princesa!
Nessa altura, a maioria dos nossos homens estava no chão, Nando
estava lutando contra três homens ao mesmo tempo para conseguir se
aproximar de mim. Eu estava encostada na porta de emergência bloqueando-
a, para que desse tempo para pelo menos Giselle chegasse ao carro e
chamasse por reforços.
Apontei minha arma para a cabeça de Esteban González e ele me
olhou com um sorriso no rosto, parecendo encantado pelo que via.
Babaca!
Não havia mais tempo de escapar, eles eram muitos, e se eu atirasse
em Esteban levaria vários tiros em seguida e realmente não pretendia morrer
hoje.
Tentando ganhar tempo para que chegassem reforços, mantive a
conversa com Esteban.
— É só uma questão de tempo e logo, logo, você será minha,
princesa.
— O que quer dizer com ser sua? O que pretende vindo até aqui,
Esteban?
— Eu gosto de toda essa adrenalina que é a guerra contra a sua
maldita máfia, mas sinceramente estou cansado de perder dinheiro com isso.
Então, minha querida, vim até aqui conhecer minha futura esposa.
— Você quer uma aliança com a organização se casando comigo? Só
pode estar louco.
— Ah, querida, não me chame de louco! Essa com certeza é a ideia
mais prazerosa que eu já tive, irei adorar tê-la na minha cama enquanto
comando nosso império aqui no México. Eu sou poderoso, sua máfia sabe
disso e nada mais vantajoso para vocês do que me terem como aliado.
— Você é nosso inimigo, a Famiglia jamais permitiria um casamento
entre nós, é contra as regras.
Era inacreditável que ele fosse burro o bastante para acreditar que
essa aliança seria possível. Meu pai jamais permitiria esse casamento e muito
menos à organização, ele não tinha nada a oferecer-nos, nada que não
pudéssemos alcançar sozinhos.
— Claro que permitiria se isso fizesse com a guerra aqui acabasse,
todos nós pensamos em dinheiro e poder acima de tudo.
— Você não conhece nossa organização, vivemos pela honra e por
nossos juramentos, não somos ratos sujos como você.
Talvez eu tenha me excedido na provocação, já que ele ficou
vermelho de raiva. Quanto tempo mais demoraria para os reforços chegarem?
— MILENA SAIA DAQUI AGORA!
Nando gritou finalmente chegando próximo a mim muito machucado,
mas antes que ele conseguisse me alcançar, Esteban atirou em seu ombro e
ele caiu desacordado.
— Não o mate, Esteban, senão irá se arrepender! Como espera forjar
essa aliança matando um dos nossos principais soldados? — Esteban
manteve a arma apontada para cabeça de Nando.
— Posso não matar seu amiguinho essa noite, querida futura esposa,
mas apenas se aceitar vir comigo amigavelmente. Você sabe que essa batalha
já está perdida, vamos logo, não me faça perder mais tempo.
— Onde pretende me levar?
— Você precisa conhecer nossa casa e eu preciso conhecê-la melhor,
tenho certeza de que irá amar passar a noite nos meus braços.
Ele se aproximou de mim, mantive minha arma apontada, mas um de
seus homens também tinha a arma apontada na cabeça de Nando.
Eu sabia que ele não iria me matar, já que em sua cabeça essa aliança
dependia de um casamento comigo, então o melhor era deixá-lo me
sequestrar para que eu soubesse alguns de seus planos e até a localização de
sua casa, visto que com sua ousadia de hoje os planos para amanhã já
estavam frustrados.
Eu conseguiria escapar de mais um sequestro, assim esperava. Então,
meu show começou.
— Por favor, não o mate! Ele é meu melhor amigo, como um irmão
para mim! Irei com você se prometer que não irá me tocar sem o meu
consentimento, mas o deixe em paz, eu imploro!
Abaixei a arma, deixei algumas lágrimas caírem pelo meu rosto.
Estava preocupada com Nando, mas não era de lamentar para salvar sequer
minha própria vida, entretanto, preferia que meus inimigos me vissem como
uma garotinha frágil.
— Não que você tenha alguma escolha querida, mas eu não irei te
tocar até nosso casamento. Agora venha comigo, seu amigo acordará logo e
eu não quero ter que o matar.
Deixei que o rato imundo segurasse meu braço e me arrastasse para
fora, enquanto chorava descontroladamente, esperei que ele se distraísse com
meu teatro e não tampasse meus olhos a caminho de seu esconderijo.
CAPÍTULO 03
Milena Fiore

Me surpreendi quando percebi que Esteban realmente iria me levar


para casa dele, pensei que me deixaria em algum galpão ou algo do tipo, mas
ele estava acreditando na minha encenação e não parecia ver necessidade de
testar-me antes de deixar que eu entrasse em sua vida.
Bom para mim, seria mais fácil obter informações e escapar.
Entre uma fungada e outra de nariz, olhava discretamente pela janela
e mentalizava o caminho que percorríamos.
Saímos do centro, o carro andou por cerca de 5 km pelo bairro Tepito,
foi para a Avenida Paseo de La Reforma, logo após para Avenida Centenario,
adentrando no bairro Nueva Atzacoalco, mas me pareceu que era apenas uma
estratégia para prolongar o caminho. Sua mansão ficava no bairro Gabriel
Hernández, escondida pelo parque Nacional El Tepeyac.
Foi neste momento que fiquei feliz em ter me perdido pela cidade
anos atrás na primeira vez que eu e Giselle saímos escondidas. Após Nando
nos achar eu me obriguei a decorar o mapa da Cidade do México, aprendi o
nome de todos os bairros e de grande parte das ruas.
Mamãe sempre me dizia que era importante eu conhecer minha cidade
como a palma de minha mão e mais uma vez ela tinha total razão.
— Bem-vinda ao seu novo lar, querida!
Respirei fundo e entrei logo atrás dele sem dizer uma palavra.
— Rosa, essa é Milena, sua nova patroa, mostre a ela o quarto em que
ela irá ficar, tenho negócios a resolver com meu sogro.
Rosa era uma senhora de aproximadamente cinquenta anos, parecia
simpática e estava visível o medo que sentia do seu chefe. Ela me levou até
um quarto no segundo andar, nele havia uma cama de casal, uma penteadeira,
um closet e um banheiro.
— Este será seu quarto, senhora! O quarto do chefe fica ao lado do
seu, sua janela ficará trancada assim como a porta. Tome um banho, irei
trazer algo para você lanchar antes de dormir.
— Grazzie!
Esperei Rosa sair e verifiquei a janela, realmente trancada, no entanto,
fácil de abrir com um grampo de cabelo. Vi uma sombra e constatei que tinha
uma árvore próxima à janela que seria útil para minha fuga.
Abri o closet e vi que meu sequestrador já tinha comprado até roupas
para mim, mas elas eram horríveis, curtas e estampadas demais. As camisolas
e as peças íntimas me fariam parecer uma prostituta de esquina.
Peguei o vestido menos estampado e justo que achei e fui tomar meu
banho. Não iria dormir com nenhuma daquelas camisolas horríveis.
Esteban González era um homem muito bonito, porém, a sua beleza
não atraía meus olhos.
Ele deveria ter aproximadamente trinta e cinco anos, era alto, forte,
seus olhos eram verdes, mas tinha um péssimo gosto para roupas, seus ternos
eram ridículos e baratos, totalmente diferente dos homens da Famiglia que
sempre estavam vestidos com ternos caros, relógios de ouro e sapatos
exclusivos.
Eu não me considerava fútil, mas no nosso meio a aparência contava
muito, se arrumar bem era importante para passar a impressão certa aos
aliados e para sociedade que nos via apenas como empresários milionários.
Um homem para fazer meu coração palpitar precisaria pelo menos
notar a diferença entre um Rolex e um Champion.
Saí do banheiro e vi uma bandeja com comida em cima da
penteadeira, estava com fome, mas não podia correr o risco de comer uma
comida possivelmente infestada de calmantes.
Para não levantar suspeitas, joguei um pouco do leite e uma fatia de
bolo dentro do vaso sanitário e dei descarga.
Deitei-me na cama, alerta, mas ninguém adentrou meu quarto à noite.
Levantei-me quando o dia amanheceu. Quando saí do banheiro, Esteban
estava me aguardando sentado na cama.
— Bom dia, querida, vim ver como está. Dormiu bem?
— Bom dia! Quanto tempo eu vou ficar aqui? Eu quero ir para casa,
quero ver meu pai!
— Você verá seu pai no dia do nosso casamento, ele ficou
desesperado ao ver as imagens das câmeras de segurança da boate.
Isso era ótimo, ele não interceptou as câmeras.
Papai me conhecia e sabia que eu não iria chorar em uma situação
daquelas, então estava ciente de que eu planejava algo e sabia que ia acionar
o rastreador assim que estivesse pronta para ser resgatada.
— Ele está bem? Você irá fazer algo com ele?
— Claro que não, minha princesa, eu não irei machucá-lo, desde que
você se comporte.
— Por que você quer se casar comigo, Esteban?
— Eu já lhe disse, juntos comandaremos o México, com nosso
casamento me tornarei um aliado da máfia italiana e acabaremos com todos
os outros grupos criminosos que atuam nessa cidade.
— Você acredita que a organização aceitará bem essa aliança?
— Por que não? E mesmo que não dê certo, eu preciso de um herdeiro
e você me dará um, vou gostar de ter um pirralho com esses olhos.
— Então não é só pela aliança que quer se casar comigo?! — Soltei
um suspiro no final da pergunta.
— Você é realmente encantadora, vamos tomar café.
Percebi que ele deu um sorriso sombrio e cínico pelas minhas costas.
Claro que não era só pela aliança, se desse errado ele teria capturado a
filha do seu inimigo para lhe servir como uma cadelinha.
Vai sonhando, idiota!
— Bom dia, Rosa, obrigada pelo lanche de ontem, estava uma delícia.
Rosa fez menção de responder, mas Esteban a interrompeu.
— Não agradeça aos empregados, eles estão aí para nos servir!
O telefone de Esteban tocou e ele atendeu com uma cara de poucos
amigos.
— O que você quer agora? Eu não me importo que seja minha mãe, se
não parar de me importunar irei te mandar ir de encontro ao meu irmão! —
Desligou o telefone e saiu de casa proferindo vários palavrões aos quatro
cantos. Rosa arregalou os olhos em choque e eu fingi que não entendi o que
significou aquela ameaça.
Segundo minhas pesquisas, Esteban era um verme da pior espécie,
anos atrás matou seu próprio irmão para assumir os negócios sozinho, ele não
sabia o significado de família e lealdade.
— Ele não se dá bem com a mãe, Rosa?
— Não é assunto meu, senhora, mas ele não se dá bem com ninguém.
Preciso voltar ao trabalho e a senhora deve voltar para o quarto, vou
acompanhá-la.
— Tudo bem, grazzie! — Sorri gentilmente para Rosa. — A senhora
me lembra minha governanta, Lucrécia, iria amar conhecê-la, aposto que se
dariam bem. Você trabalha aqui há muito tempo?
— Desde meus quinze anos, trabalhei para o pai de Esteban, depois
para seu irmão e agora para ele.
— Então a senhora conhece tudo sobre ele... Poderia me ensinar como
agir com ele, estou apavorada!
— Só não desobedeça, nunca! Ele não tem paciência com quem
contraria suas ordens. Agora tenho que ir, volto para lhe trazer o almoço.
Gostaria de levar Rosa comigo na fuga, tinha certeza de que ela seria
útil para nos dar informações sobre os negócios de Esteban e fiquei com pena
dessa pobre mulher. Provavelmente não teve muitas opções na vida a não ser
trabalhar para essa família, era nítido que não possuía afeto pelo seu chefe e
sua relação com ele era baseada apenas no medo.
— O chefe mandou que almoçasse no quarto e informou que irá jantar
com a senhora às 19h, esteja pronta!
— Tudo bem, Rosa, grazzie!
Era arriscado demais sair do quarto durante o dia, mas eu precisava
entrar no escritório de Esteban antes que ele voltasse para casa e buscar
alguma informação útil. Abri a porta do meu quarto com um grampo,
verifiquei se não havia nenhum guarda pelo corredor e tentei ser o mais
silenciosa possível ao caminhar pela casa.
Esteban não guardava documentos no escritório da casa, havia apenas
algumas pastas com informações irrelevantes, contudo, embaixo de um livro
em sua estante encontrei um nome que me chamou atenção.
Guardei tudo em seu devido lugar e voltei para o quarto, me arrumei
para o jantar e aguardei que viessem me chamar.
A essa altura papai devia estar desesperado, mas a informação que
obtive faria valer a pena todo meu esforço.
Entrei na sala de jantar e sentei-me ao lado de Esteban.
— Boa noite, querida! Fico feliz em lhe comunicar que seu pai disse
que precisa se reunir com os outros membros de sua máfia para dissuadi-los a
aceitar nosso casamento, em breve estaremos casados!
E ele acreditou nisso! Abaixei a cabeça para que meu olhar irônico
não me entregasse. Com certeza papai estava apenas esperando o sinal do
meu rastreador para atacar.
— Por que está triste?
— Não estou.
— Não minta para mim, não quero vê-la mais assim, deveria estar
feliz em se casar comigo, te farei a mulher mais bem fodida do México!
— Seu escr... — Ele ergueu uma sobrancelha para me encarar. —
Você me prometeu esperar até o casamento!
— Prometi, não precisa ter medo de mim, continuará virgem até
nosso casamento, mas preciso de um herdeiro, esteja pronta para nossa noite
de núpcias, meu anjo. Além do mais, estou sem tempo para apreciá-la do
jeito que merece, organizar um casamento não é fácil.
Ele se levantou, ergueu meu queixo com os dedos e me deu um
selinho nos lábios. Tudo que eu queria era lhe dar um soco, mas busquei o
controle no fundo da minha mente e apenas soltei um suspiro.
Ele encarou o suspiro como um sinal de rendição e deu um sorriso
sacana.
— Papai me disse que estava tendo problemas nos negócios com o
senhor há um tempo, que era esperto e sempre conseguia nos roubar.
— Não precisa me chamar de senhor, querida! Me chame de você,
Esteban ou amor. Sim, sou esperto e tenho meus contatos.
— Contatos?
— Minha querida, basta jogar com as cartas certas para se comprar a
lealdade de qualquer pessoa, todo mundo tem seu preço. Existem homens que
se vendem por dinheiro e poder, já outros se vendem por amor.
— Não entendi...
— Claro que não entendeu, esse não é um assunto para uma
princesinha como você.
— Tudo bem. Desculpe!
— Vá para seu quarto, querida, já me cansei da sua companhia. Mas
amanhã irei passar o dia com você. Quem sabe não muda de ideia e resolve
me dar o que tanto quero?
— Boa noite, Esteban!
Subi a escada escutando sua risada. Cretino! Amanhã estaria longe
daqui e com sorte ele estaria morto!
Esperei algumas horas até ter certeza de que Esteban estaria
dormindo, ouvi a porta do seu quarto bater havia uma hora. Peguei o grampo
de cabelo, abri a janela e desci pela árvore. Me escondi e esperei a troca de
guardas para escapar pelo muro da ala oeste da propriedade.
Levantei minha blusa e puxei o pino do meu piercing localizado no
umbigo, acionando o rastreador.
Assim que cheguei à rua procurei uma entrada para o Parque Nacional
El Tepeyac e me escondi até que papai me encontrasse.
CAPÍTULO 04
Milena Fiore

Escutei um barulho e me deitei no chão atrás de um arbusto. As vozes


foram ficando mais próximas até que identifiquei a voz de Leonardo.
— Estou aqui! Até que enfim! Odeio insetos!
— Milena, tudo bem?
— Está sim, cadê papai?
— Estou aqui, minha filha! Graças a Deus que você está a salvo,
minha princesinha — falou me dando um abraço de tirar o fôlego.
— A casa de Esteban González fica do outro lado deste parque, pai,
está cercada por aparentemente trinta homens e se não notaram minha fuga
ele ainda está dormindo. Temos homens o suficiente para um ataque?
— Não, minha filha, o Chefe proibiu qualquer ataque de frente, a
máfia Russa, Bratva, atacou a Famiglia na Itália ontem, tivemos muitas
baixas e agora todos precisam manter posição. Entretanto, vamos infiltrar um
de nossos soldados na equipe de segurança de Esteban, assim que ele
perceber que você escapou provavelmente irá se mudar para se manter
escondido em outro lugar como o rato que é, mas não o perderemos de vista
dessa vez.
Que droga! Tinha esperança de que acabaríamos com Esteban essa
noite.
— Certo! Então vamos para casa.
A nossa organização era poderosa porque era unida. As lideranças
territoriais seguiam as ordens impostas pelo nosso Chefe, Lorenzo Bianchi,
sem questionar. Quando um território era atacado, outros mandavam reforços
e congelavam ataques aos seus inimigos para evitar a perda de muitos
homens ao mesmo tempo.
Lorenzo Bianchi era um ótimo líder, ponderava com sabedoria as
ações de todos os Capos, eu sonhava em conhecê-lo pessoalmente, já que saí
muito jovem da Itália e não me lembrava dele nos poucos eventos que
frequentei.
Saímos do Parque Nacional e fomos para casa.
— Menina, você quase me matou do coração! Você está bem? Te
machucaram? — Lucrécia nem esperou eu passar pela porta para me abraçar
e me encher de perguntas.
— Milena, eu tive tanto medo por você e por Nando! — Giselle
também se mostrou aliviada com minha chegada.
— Como ele está, Giselle?
— O médico da Famiglia aplicou um remédio que o fez apagar, mas
ele está bem, apenas muito machucado.
— Nando é forte, você tinha que o ver lutando com três homens ao
mesmo tempo!
— Não sei como você consegue ter tanta calma, amiga, eu estava a
ponto de ter um colapso nervoso quando entrei no carro carregada pelos
nossos soldados!
— Meninas, essa conversa fica para amanhã, Lucrécia arrume o
quarto para Giselle dormir aqui hoje, Milena e Leonardo venham comigo
para o escritório — disse papai ansioso para que eu lhe contasse tudo que
aconteceu.
— Por que você se deixou sequestrar, filha?
— Esteban tinha muitos homens dentro da boate, não houve tempo
para fuga. Resolvi escutar o que ele tinha a dizer e ver se conseguia algumas
informações relevantes.
— Foi muito arriscado, está proibida de agir assim novamente. Falo
isso como pai e como Capo, capiche?[4]
— Sì[5]! No momento eu não vi outra saída, mas não irei desobedecê-
lo, sei que corri risco, mas descobri algo importante.
— O que descobriu?
— Esteban tem infiltrados dentro da Famiglia, por isso sempre
consegue roubar nossas cargas.
— Cazzo![6] Você descobriu quem são os traidores?
— Entrei no escritório da casa dele e vi dois nomes em uma pasta
com algumas informações recebidas de um tal de Epifânio Vargas, creio que
ele seja um detetive particular. O primeiro nome é de um dos soldados que
fica na portaria da Swingers, o que não me surpreendeu, já que o meu
sequestro foi facilitado por alguém lá de dentro que repassou informações
sobre minha presença na boate.
— Sim, o soldado confessou, sequestraram a filha dele e o
subornaram — informou Leonardo Ferrara, consegui notar suas mãos
fechadas em punho ao lado do corpo. Ele odiava ser traído por seus homens.
Mas a pergunta é, quem gosta de ser traído pelos seus?
— Certo. O segundo traidor foi o que me chamou atenção, Joaquim
Tomaso, nosso querido governador, associado da Famiglia, a quem
apoiaríamos para presidente do país nas próximas eleições.
Papai e Leonardo não conseguiram ou quiseram disfarçar o choque
dessa traição, eles confiavam em mim para uma conversa sem máscaras.
O governador só assumiu o mandato pelo apoio que a organização
ofereceu em sua campanha, mas agora ele estava nos traindo e o destino para
traidores era o pior possível.
— Irei comunicar ao Chefe, isso não irá passar batido por ele, com
certeza mandará alguém de sua família, se o próprio não pisar aqui, a traição
de um associado colocado no topo da política para nos prestar favores é algo
que não pode ser tratado como corriqueiro. Essa conversa não sai daqui, até
recebermos ordens vamos continuar tratando nosso querido governador como
amigo da Famiglia.
— Sim, Capo — Eu e Leonardo respondemos juntos.
— Fez um bom trabalho, filha! Esteban é um problema, mas o peixe
grande é o traidor do governador.
— Grazzie[7], papai!
Continuei contando tudo que aconteceu detalhadamente durante o
sequestro, mencionei os maus-tratos aos funcionários e o desprezo que
Esteban tratava a própria mãe, mas o que deixou papai furioso foi o fato de
que Esteban me tratava como alguém que ele poderia tocar através de uma
aliança que nunca aconteceria.
As mulheres da Famiglia sempre foram um tópico de honra para os
homens feitos, eles deveriam protegê-las dos inimigos, entregá-las em
casamento para um membro que também a manteria segura. Afinal, se não
fossem capazes de proteger suas mulheres tão pouco seriam capazes de
proteger seu território.
Após dar um soco na mesa ao descobrir sobre as intenções de Esteban
de ter seu herdeiro comigo, papai declarou o pior dos meus pesadelos.
— Filha, irei arranjar um casamento para você!
— Como assim? Eu não quero me casar ainda.
— É preciso, os inimigos veem uma ragazza [8]solteira como um alvo
para me atingir, um marido irá me ajudar a te proteger e nos ajudar nos
negócios. Você sabe que apesar dos seus esforços, a organização não aceita
mulheres no comando, se você não se casar em breve vão me aposentar
compulsoriamente e designar outro membro para o nosso território, já que
não tive filhos homens. Escolher um marido para você me permitirá
continuar no comando, supervisionando quem irá assumir minha cadeira
quando chegar a hora, moldando-o para que vocês possam governar juntos.
Não há por que esperar mais.
— Mas, papai, eu sei me cuidar, não preciso da proteção de um
marido, você sabe disso! Espere mais uns dois anos pelo menos para me
casar, eu amo tanto a minha liberdade, gostaria de fazer uma pós-graduação
para me especializar na gestão dos nossos negócios. Se eu me casar agora
terei que acatar as ordens de meu marido e ele pode me impedir de estudar e
trabalhar.
— Esta tarde, minha filha, conversaremos sobre isso depois. Você
está cansada pode se retirar.
— Tudo bem! Boa noite!
Deixei o escritório, mas escutei o papai falando com Leonardo.
— Não há outro jeito, terei que a casar um dia, melhor que seja
agora antes que essa decisão saia das minhas mãos e haja interferência. Irei
falar com o Chefe para que me apresente as possibilidades, vou escolher
alguém experiente e ambicioso que esteja disposto a construir seu nome fora
da Itália, vai ser o melhor para ela e para mim, estou velho para controlar
um país sozinho e proteger minha bambina dessa corja de ratos.
Papai não iria mudar de ideia, minha liberdade estava com os dias
contados e ele não me casaria com um rapaz da minha idade, precisava de
alguém com capacidade de liderar.
Alguém experiente.
Meu pai não entregaria minha mão para um velho, entregaria?
Não. Velho por velho ele continuava no comando.
Poderia esperar um homem entre 30 e 40 anos, alguém do alto escalão
com certeza, nosso território era valioso demais para ser entregue a alguém
sem berço. Com toda certeza teria que lidar com pelo menos dez anos de
idade a mais que a minha.
Pela primeira vez em muito tempo abri espaço em meu coração para o
medo e chorei em minha cama até pegar no sono.

Passaram-se alguns dias sem papai tocar novamente no assunto de


casamento, mas eu sabia que uma hora o assunto viria à tona, então resolvi
aproveitar o máximo da liberdade que me restava antes de virar uma esposa
perfeita e submissa.
— Giselle tenho planos para a noite, vamos sair escondidas para uma
festa. Boca fechada, ok?
— Amo quando você arruma essas festinhas secretas, Milena, me
empresta a sua saia preta?
Giselle era a companheira perfeita para uma aventura às escondidas,
nunca precisei falar duas vezes. Era chamá-la para sair e ela já estava
pensando na roupa que iria usar.
— Papai irei dormir na casa de Giselle essa noite, ok?
— Espero que você não invente nenhuma saída, Esteban González
não irá desistir de você, sabe disso, não é?
— Esteban González está preocupado com o carregamento que
pegamos de volta, não se preocupe. Eu e Giselle temos juízo e passaremos a
noite assistindo Netflix. Boa noite, papai!
— Vou confiar em você, bambola.[9]
No fundo, papai sabia das minhas saídas, mas não ligava.
Se morássemos na Itália teria uma criação mais rígida para que minha
reputação não fosse alvo de fofocas, mas no México papai era a autoridade
máxima e as filhas dos soldados me viam no topo, não ousariam espalhar
fofocas a meu respeito, minha fama de boa menina estava garantida.
Uma das garotas da escola de dança de salão, que eu frequentava
todas as quintas-feiras, estava dando uma festa e me convidou. Ela não estava
diretamente ligada à organização e não fazia ideia de quem eu era realmente,
então hoje eu seria uma garota normal em uma festa normal.
Uma garota normal e irresponsável, nem um pouco preocupada com
sua segurança.

— Milena, que festa animada! A aniversariante está bêbeda de roupa


e tudo dentro da piscina!
— Giselle não quero te carregar essa noite e muito menos segurar
seus cabelos em cima de um vaso sanitário, cinco doses de tequila no
máximo!
— Sim, mamãe!
Giselle ficava bêbada na sexta dose de tequila e passava mal na
oitava, com cinco era suportável, ficava apenas alegre e ainda mais falante.
— Já você, Milena, pode beber quantas quiser que tenho certeza de
que não irei precisar carregá-la ou segurar seus cabelos.
Eu nunca ultrapassei meus limites sozinha com Giselle, ela não tinha
condições de cuidar dela própria, muito menos de nós duas. A única vez que
bebi além da conta estávamos na casa dela, um local seguro e eu baixei a
guarda porque Nando estava lá também.
— Meu telefone está tocando, é o Nando, com certeza já sentiu nossa
falta. Vou atender lá dentro, Milena.
— Pode falar para ele onde estamos, quem sabe ele não vem
aproveitar a festa conosco. Já não dá mais tempo de nos impedir de vir
mesmo.
Nando não aprovaria nossa vinda, escondidas, sem proteção.
Ele era leal a nossos pais, por isso sempre avisávamos ele quando ele
não poderia mais fazer nada para nos impedir. Não era certo colocá-lo na
posição de ter que escolher um lado, principalmente quando sabíamos que ele
não escolheria o nosso.
Giselle assentiu sorrindo e foi para dentro da casa falar com o irmão,
já que aqui fora o barulho impossibilitava que ela conseguisse ouvi-lo.
Em alguns minutos ele estaria aqui com alguns soldados e papai me
esperaria em casa na manhã seguinte com uma bronca daquelas.
Sentei-me em um balanço no jardim e deixei minha mente voar em
um assunto que tanto vinha incomodando-me nos últimos dias.
Será que papai permitiria que eu opinasse na escolha do meu marido
ou a escolha seria inteiramente dele? Eu seria capaz de ser feliz em um
casamento arranjado? Eu perderia minha liberdade? Meu marido me deixaria
continuar ajudando nos negócios da Famiglia?
Pelo menos a resposta para última pergunta era bem óbvia, não, meu
marido não aceitaria minha participação. Qual homem feito aceitaria?
Estava tão distraída em meus pensamentos que acabei abaixando a
guarda, senti um braço me apertar e um pano foi colocado em meu nariz,
rapidamente minha consciência foi se perdendo e eu afundei em uma
escuridão profunda.
CAPÍTULO 05
Milena Fiore

Recobrei a consciência aos poucos e percebi que estava amarrada em


uma cadeira em um cômodo escuro e fedido. A última coisa que me lembrava
era estar naquele balanço.
— Até que enfim minha princesinha acordou!
— Esteban González!
— Estava com saudades? Vai começar seu teatrinho de garota
indefesa novamente?
— Eu não fiz teatro algum, Esteban. — Senti minha cara queimar
com um tapa forte que ele me deu.
— Ah, não fez? E como uma garota indefesa conseguiria abrir uma
janela trancada, pular de dois andares e passar por trinta homens? Bom, vai
gostar de saber que enquanto você escapou de mim eu fiz o meu dever de
casa sobre as regras de sua maldita máfia.
— Descobriu então que a sua tão sonhada aliança nunca aconteceria?
— Ah, querida, descobri isso e muito mais! — Esteban soltou uma
risada sombria e continuou seu monólogo irritante: — Achei interessante a
parte de que as moças da sua Famiglia têm que se casar virgens e quando
essa regra é quebrada elas vão parar em uma casa de prostituição. Sabe,
princesa, você deveria ter sido sincera comigo, essa petulância me fascina
muito mais do que aquele teatro de menina indefesa. Eu não posso negar que
é muito bonita e que seria interessante ter uma esposa como você ao meu
lado.
— Eu nunca me casaria com um porco imundo como você!
A risada sombria de Esteban ecoou pelo local, ele foi até uma mesa
no canto do cômodo, abriu uma maleta e retirou uma tesoura.
— Irei amar ser o seu primeiro, vadia, mas não se preocupe que não
deixarei seu pai te mandar para um bordel sujo, você será a mãe do meu
herdeiro como eu disse antes. Eu irei estragá-la para qualquer outro, você não
terá opção, será minha e irá me passar todas as informações que sabe sobre
sua Famiglia. Ou fica comigo ou vai para um bordel. Escolha fácil, não?
— Isso seria o seu fim, Esteban, não percebe? Eles virão atrás de
você, não vão parar, se me engravidar, tanto eu quanto meu filho não seremos
poupados.
Eu tentei falar com uma voz fria e prática, mas a realidade amarga
provavelmente seria parecida com essa, mesmo sendo contra minha vontade,
um filho ilegítimo poderia não ser aceito, talvez somente eu seria poupada da
morte, mas viveria como uma pária para nossa sociedade.
— Eu não tenho medo, querida, se eles vierem estarei pronto,
protegerei meu herdeiro, mas caso você não se comporte, posso te mandar de
volta. Ainda não percebeu que esse é o meu território? O México é meu lar,
tudo aqui me pertence. Você agora me pertence!
— Eu não sou um objeto para te pertencer!
Esteban se aproximou de mim e com a tesoura cortou a parte de cima
de meu vestido e as alças de meu sutiã deixando meus seios à sua vista.
— Que pena que não se entregou a mim livremente, eu iria te dar
muito prazer, mas não me importo de tomar o que me pertence à força,
mesmo que seu pai um dia te resgate, já estará violada de todas as formas
possíveis. Aprenda de uma vez que ninguém me engana, garota!
Dito isso, Esteban colocou a boca em um dos meus seios enquanto
beliscava o outro. O desespero tomou conta de mim, as lágrimas não paravam
de cair pelo meu rosto, uma ânsia fez com que meu estômago se revirasse.
Foi apenas um momento de descuido em uma festa idiota, eu falhei e
pagaria por isso da pior forma.
— Mais lágrimas falsas? Eu não vou parar, você teve sua chance
comigo e desperdiçou. Misericórdia não existe em nosso mundo, princesa, já
devia saber disso.
Esteban arrancou o que sobrou do meu vestido, deixando-me só de
calcinha e começou a morder a parte de cima do meu corpo, marcando-me,
machucando e torturando.
Eu não conseguia me soltar, mas não iria implorar, morreria antes
disso.
— Você é uma delícia, vadia!
Não havia como impedi-lo, eu disse para ela que nunca deixaria
ninguém me machucar, que seria forte, seria como ela.
— Me perdoe mamãe, eu falhei na promessa! — resmunguei comigo
mesma, perdida nas lembranças enquanto me debatia na cadeira, sem conter
as lágrimas que caíam enquanto Esteban mordia meu pescoço, minha barriga
e cada um dos meus seios, apertando com força minhas coxas, deixando-as
marcadas por seus dedos imundos.
— Eu juro, Esteban, se eu sobreviver ao dia de hoje irei me vingar de
você pessoalmente metendo uma bala na sua testa.
Ele gargalhou diante minha ameaça.
Quando Esteban estava prestes a arrancar minha calcinha e consumar
o ato repugnante, um barulho de explosão fez com que ele se afastasse
imediatamente. Muito fraca ainda sob o efeito do medicamento que ele usou
para me capturar, todo o barulho ao meu redor começou a ficar mais baixo,
senti que estava prestes a me entregar à escuridão novamente.
— Estamos sendo invadidos, precisamos ir agora! — Escutei a voz de
um dos homens de Esteban informando.
— Não sem antes acabar com a vida dessa puta! — retrucou Esteban.
— Não dá tempo, eles já estão na entrada, se não sairmos agora
vamos morrer, chefe.
Não havia mais barulho algum até que senti alguém me cobrir.
— Irá ficar tudo bem, ragazza, irei te levar para casa. — Não
reconheci meu salvador, ele tinha aproximadamente a idade de papai e um
semblante rígido, mas me transmitiu um pouco de segurança com sua voz
paternal, sem resquício algum de desejo ao ver meu corpo praticamente nu.
Ele me retirou da cadeira com delicadeza e me cobriu com seu paletó.
— O senhor chegou bem a tempo, ele não conseguiu terminar o que
começou. — Essas foram as últimas palavras que disse antes de apagar
novamente.
CAPÍTULO 06
Riccardo Bianchi

Bônus

— Localizei a Milena no galpão, estou levando-a para sua casa,


Giovanni.
— Ela está bem? O maldito fez algo a ela?
— Está bem, cheguei a tempo de salvá-la.
— Te encontro lá.
Encerrei a ligação e olhei para Milena deitada no banco de trás do
meu carro, muito machucada, por pouco ela não foi estuprada, nosso acordo
não vingaria e não teria como meu filho se casar com ela.
Ela era realmente uma garota muito bonita, muito parecida com a mãe
dela, tinha certeza de que seria uma boa esposa para meu filho. Recordei-me
como fiquei impressionado com ela através da conversa que tive com meu
irmão Lorenzo dias atrás...
— Riccardo recebi uma ligação de Giovanni, estamos com problemas
no México.
Grande novidade, aquele território trazia mais problemas do que
qualquer outro, entretanto, nas mãos de Giovanni os lucros vinham
recompensando o trabalho.
— O que aconteceu dessa vez lá?
— Um contrabandista está causando dor de cabeça, sequestrou a
filha de Giovanni e pretendia se casar com ela para formar uma aliança
conosco.
— Que idiota! Mataríamos tanto ele quanto ela, caso ela se
comprometesse com ele e traísse a Famiglia.
— A garota é esperta, não se aliaria a um inimigo nosso, Giovanni
disse que precisou ensiná-la a se defender e já sabemos que ela ajuda na
administração dos negócios lá. O território é grande para um único Capo
liderar, ele não tem nenhum filho homem, então fiz vista grossa todo esse
tempo sobre ela estar ciente de coisas que não deveriam ser do seu interesse.
— Entendo. Ela se livrou do sequestrador?
— Essa foi a parte que me impressionou, Riccardo, ela, na verdade,
se deixou sequestrar para se infiltrar na casa do stronzo[10] e descobriu que
o governador está nos traindo, após obter essas informações fugiu e acionou
o pai.
— Uma garota fez tudo isso?
— Filha de Luna Fiore, mio caro!
— Estou impressionado! A fruta não caiu longe da árvore.
— Giovanni teme pela honra da filha, já que o tal contrabandista não
deve desistir tão fácil de colocar as mãos em algo que ele não pode possuir e
por isso quer casá-la com alguém que possa protegê-la e ajudá-lo no
México. Ele sabe que o tempo para escolher um sucessor está se acabando,
se não casasse a filha até o ano que vem eu iria interferir para o bem da
Famiglia. Me pediu o nome dos homens de honra solteiros, que sejam
capazes de aguentar o desafio de controlar o México em um futuro não muito
distante. Sua única observação é que os candidatos não sejam velhos demais
para ela, trinta e seis anos no máximo.
— E você pensou em indicar meu filho Stefano, correto?
— Exatamente! Seu filho mais velho, Pietro, está sendo treinado para
o cargo de Consigliere de meu filho quando passarmos nossas cadeiras,
então não podemos mandá-lo para longe. Stefano por outro lado é a escolha
perfeita, o território é grande e lucrativo, manteremos nossa família forte e
no poder.
— Irei para o México resolver a traição do governador, e vou
conversar com Giovanni sobre o casamento de nossos filhos, quando voltar
conto a novidade para Stefano e marcamos a data.
Assim que desembarquei no México fui para a casa de Giovanni, vi
Milena de longe saindo com alguns soldados para casa de Leonardo Ferrara,
fui para o escritório de Giovanni para que ele me colocasse a par de toda a
situação e para encontrarmos a melhor maneira de lidar com o traidor.
Algumas horas depois, ainda estávamos reunidos quando ele recebeu
uma ligação informando que a filha foi novamente sequestrada.
Giovanni, assim como eu, sabia quais eram as intenções de Esteban,
era o tipo de rato que estávamos acostumados a lidar. Ele já estava caçando
Esteban, com as informações repassadas por um soldado infiltrado estava
buscando as informações sobre sua localização.
Entretanto, o soldado não conseguiu chegar ao nível de confiança para
ficar diretamente encarregado da segurança de Esteban, tendo apenas a
localização dos galpões que ele poderia tê-la levado, assim optamos por nos
dividir na busca e eu cheguei bem a tempo de impedir os planos do maldito,
mas não consegui matá-lo.
Minha prioridade era resgatar minha futura nora para firmar a aliança.
As marcas que o desgraçado fez pelo corpo de Milena logo iriam
desaparecer, mas era bem provável que ela desenvolvesse algum tipo de
trauma com tudo isso.
— Onde estamos? Quem é você? — Milena acordou, ainda sonolenta,
perguntando-me.
— Estamos chegando em sua casa, Milena e eu sou Riccardo Bianchi,
você está segura comigo.
— Não acredito! Eu fui salva pelo Consigliere da Famiglia? Só falta
me dizer que o Chefe está nos aguardando em minha sala!
— O Chefe não veio dessa vez, mas estou impressionado que saiba
quem eu sou, saiu da Itália há tantos anos.
— Eu sei o nome de todos os membros à frente da organização. Muito
prazer em conhecê-lo, senhor.
Milena falou realmente entusiasmada, surpreendendo-me. Como uma
garota que passou por uma tortura minutos atrás podia sorrir dessa forma?
— Fico lisonjeado com seu reconhecimento, você está bem?
— Não muito, mas vou ficar. Tudo que eu preciso é de uma boa noite
de sono para esquecer o show de horrores que vivi hoje. Conseguiu matar
Esteban?
— Ele fugiu.
Milena suspirou.
— Papai tem razão, preciso me casar, a situação aqui está ficando fora
de controle e eu estou sendo um peso para ele, os inimigos me veem como
um alvo para atingi-lo e não vão parar enquanto eu não tiver um marido ao
meu lado para fortalecer nosso poder.
— Você é uma ragazza esperta, Milena, não é um peso, é família, e
protegemos a família. Não se preocupe com isso agora, descanse e amanhã
conversaremos mais.
Depois de entregá-la sã e salva para Giovanni, despejei minhas reais
intenções sobre o casamento e selei o destino de nossos filhos.
CAPÍTULO 07
Stefano Bianchi

— Nosso pai está no México, Stefano.


— Ele te falou o porquê dessa viagem repentina, Pietro?
— Não me disse nada demais, na certa Giovanni está com problemas.
— Deve ser sério para ele pedir ajuda, aquele velho é orgulhoso com
seus negócios, sempre quer dar conta de tudo sozinho, raras as vezes que dá
as caras aqui na Itália para pedir qualquer coisa. Quem dera termos mais
Capos assim.
— Ele tem uma filha que já passou da idade de ser apresentada à
Famiglia. Será que a visita do papai terá algo a ver com isso?
— Se for, você é o mais velho, se casará primeiro, cusão!
— Está para nascer a ragazza que irá conseguir me arrastar para um
altar, meu irmão, papai não me obrigará a casar tão cedo.
Eu também não tinha pressa alguma para me amarrar a alguém,
prezava pela minha liberdade. Por isso eu evitava as festas da Famiglia,
comparecia apenas quando minha presença era obrigatória e saía assim que
minha ausência não seria sentida, odiava quando as garotas tentavam se jogar
para cima de mim querendo o meu sobrenome.
Meu sobrenome não era algo que queria dar de bandeja para alguém,
sempre foi exigido muito de mim e dos meus irmãos. Além de filhos do
Consigliere, éramos sobrinhos do Chefe, caberia a nós assumir posições de
liderança na Famiglia no futuro.
Se for para me amarrar, então que seja para um propósito lucrativo.
— Não irei à festa de hoje, é só um evento informal, tenho planos
melhores, Pietro!
— Irei te representar, irmão, pode ir encher a cara e comer suas putas
no bordel. Aproveite e dê um jeito em Dante, ele está indo longe demais e
não podemos tolerar que continue nos roubando.
— Deveria vir comigo, te garanto que será muito mais divertido.
— Combinei encontrar nosso primo, aproveite a noite, irmão, e tome
cuidado, o traidor pode não estar sozinho.
— Ele não está, tem dois soldados com ele, mas não se preocupe,
você sabe que eu dou conta de três ratos com as mãos nas costas. Boa noite,
irmão!
Pietro era unha e carne do nosso primo, certamente quando Gian
assumisse a cadeira de Chefe, meu irmão seria seu Consigliere. Eu tinha
ciúmes da amizade dos dois na adolescência, mas depois que enxerguei como
as coisas funcionavam em nosso mundo, passei a sentir pena do meu irmão.
O cargo de Consigliere exigia muito de quem o ocupava, não bastava
aconselhar o Chefe. Meu pai vivia na casa de Lorenzo, viajava para vários
lugares de uma hora para outra, não tinha tempo para descanso, não tinha
tempo para família, pois precisava estar de olho em todos para que nada
passasse batido aos olhos do Chefe. Os dois precisavam ter uma relação de
confiança plena um no outro, pois quem estava no topo não tinha muito em
quem confiar.
Eu almejava um cargo alto de comando na Famiglia, tinha orgulho de
ser um Bianchi e cumpriria meu dever em manter nossa família à frente do
comando, por isso, meu pai nos treinava severamente, sem espaço para
distrações.
Quando cheguei no pardieiro que estava sendo administrado por
Dante, me alegrei ao vê-lo sentado com uma puta em seu colo.
— Stefano, que prazer em vê-lo aqui esta noite.
— O prazer será todo meu quando matar um rato traidor que acha que
pode roubar um Bianchi! — Soltei uma risada sombria e vi o medo tomar
conta do traidor.
— Ninguém aqui seria tolo o bastante para fazer uma coisa...
Antes dele terminar a frase acertei um tiro em sua perna para que ele
não fugisse, seus dois soldados vieram em seu socorro, mas disparei na
cabeça deles e ambos caíram mortos no chão.
— Levem o traidor para o galpão — falei para dois soldados meus. —
Você, querida, vem comigo, quando terminar de brincar com seu antigo chefe
iremos nos divertir.
A prostituta assentiu e fomos direto para o galpão começar a diversão.
Acordei no outro dia sozinho em minha cama com uma ressaca
daquelas, o barulho do despertador fazia com que minha cabeça parecesse
que iria explodir.
Tomei um banho e fui tomar um café bem forte, batizado com uma
dose de Whisky para curar minha ressaca.
— Bom dia, filho! Pelo visto a noite de ontem foi boa, ainda está
cheirando a perfume barato. Cadê seu juízo? — Minha mãe odiava que me
envolvesse com prostitutas, queria a todo custo que lhe desse uma nora e isso
me irritava.
— Quando meu pai irá voltar do México?
— Já está no avião e ele quer conversar com você assim que chegar,
pediu para não sair de casa.
— Então estarei no meu quarto, dona Francesca, me chame quando
ele chegar.
Voltei para meu quarto, liguei meu notebook e conferi meus e-mails.
Pouco tempo depois meu pai chegou e pediu para conversar comigo no
escritório.
— Bom dia, pai! Quer falar comigo?
— Bom dia, filho! Vou direto ao ponto, não vejo motivos para
enrolação. Você irá se casar com Milena Fiore, filha de Giovanni Fiore e irá
se mudar para o México.
Despejou como se não fosse nada demais, um evento qualquer na
agenda do dia.
— O quê? Como assim?
Estávamos falando do meu futuro, porra.
— Isso que você ouviu.
Nem fodendo.
— Pietro é o mais velho, ele que se case primeiro!
Meu pai me olhou irritado e esbravejou impaciente:
— Raciocine mais rápido como te ensinei, stronzo! Seu irmão não
poderá se mudar para o México, porque está sendo treinado para ser o
Consigliere. Escute, filho, Giovanni é o único Capo no México e teve apenas
uma filha mulher. Ele está com problemas em mantê-la segura com tantos
inimigos por lá, precisa casá-la e precisa de um genro para ajudá-lo no
comando e passar sua cadeira quando a hora chegar, o que você garantirá que
não vai demorar a acontecer.
— Quantos anos ela tem?
— A idade dela não é importante, você deve ser apenas uns dez anos
mais velho que ela. A ragazza é muito bonita e completamente diferente das
ragazzas que você está acostumado a ver por aqui.
Só uns dez porque não é com o senhor, penso. A menina é um bebê.
— Como diferente?
— Ela ajuda o pai no comando, sabe tudo sobre as nossas transações,
fiquei encantado quando recitou o nome de todos os Capos da Famiglia.
— O senhor encantado?
— Minha nora é perfeita para você, meu filho, vocês me darão netos
fortes para continuar nossa linhagem. Iremos embarcar para o México
amanhã, faça suas malas!
— Mas, pai...
— Sem, mas, no caminho tiro suas dúvidas de como será esse
casamento, não estou lhe dando opção de aceitar ou não, é seu dever com
nossa família, você sabe que está sendo preparado para comandar um
território sozinho desde seu juramento, deveria estar honrado com nossa
escolha. Agora preciso organizar as coisas por aqui antes de viajar
novamente.
Dito isso, eu saí do escritório e fui fazer minhas malas.
México?
Poderia ser pior.
CAPÍTULO 08
Milena Fiore

As marcas feitas por Esteban estavam sumindo da minha pele, mas


ainda tinha pesadelos todas as noites com ele me tocando contra minha
vontade.
Tudo que eu gostaria nesse momento era colocar minhas mãos nele e
me vingar por tudo que me fez.
A vingança é um prato que se come frio, é o que dizem.
Busquei ocupar minha mente com tudo que pudesse ser útil, não havia
tempo para lamentação, passou, eu estava bem e ia me casar com Stefano
Bianchi.
Não me cansava de observar suas fotos, ele era um homem bonito,
alto, forte e sempre estava com um semblante ríspido.
As lembranças da conversa com Riccardo Bianchi e papai no dia
seguinte do meu resgate vagavam pela minha mente...
— Como você está, Milena?
— Estou bem, senhor Bianchi, mas queria que o tivesse matado.
— Não se preocupe com isso, filha, é questão de tempo até
capturarmos Esteban, ele fugiu de sua casa e se escondeu, mas temos
homens em todo país atrás dele. Agora temos algo importante para dizer.
Como te falei eu quero que você se case e Riccardo veio até aqui para
negociar sua mão para o filho dele, Stefano Bianchi.
— Stefano Bianchi? Ele está aqui também?
— Ainda não comuniquei ao meu filho, Milena, mas ele é um homem
de honra e sabe de seus deveres com a Famiglia, vocês irão se casar na
Itália em dois meses e ele irá protegê-la com a vida se necessário. Sei que
você será uma ótima esposa para meu filho.
Vi pelo olhar de meu pai que temia que eu me revoltasse naquele
momento, já que na última conversa sobre o casamento eu lhe pedi mais
tempo, mas eu gostei das conversas que tive com Riccardo, se o filho for pelo
menos um pouco parecido com o pai, nosso casamento poderia ter uma
chance de ser algo mais que apenas negócios.
Além do mais, quem eu seria para recusar um Bianchi como marido?
— Bom, se é assim, tudo bem. Sei que papai fez a melhor escolha
para mim, mas gostaria que Stefano viesse até aqui me conhecer e oficializar
o noivado, será bom para ele ter um vislumbre do que o aguarda antes de se
mudar para cá.
Minha esperança era de que ele me deixasse comandar ao seu lado.
Ele não podia ser tão ruim. Ele não podia ser como Esteban. Me dava uma
ânsia de vômito só de lembrar o que aconteceu.
Será que lembraria dele quando estivesse com Stefano?
Isso seria péssimo! Eu não suportaria!
Definitivamente hoje não seria um bom dia, essas preocupações não
saíam da minha mente, tinha vontade de me acabar de chorar vendo um filme
de cachorrinho perdido comendo chocolate.
Maldita TPM!
Coloquei meu vestido longo apropriado para dança de salão, calcei os
meus sapatos e fui praticar a única coisa que podia melhorar meu dia.
— Bom dia, papai! Estou indo para aula de dança.
— Bom dia, filha! De lá venha direto para casa, seu noivo chegará
hoje à noite, você precisa se arrumar para conhecê-lo.
— Justo hoje. — Suspirei comigo mesma. — A aula de hoje será
rápida, uma hora e meia no máximo estarei em casa, papai, já deixei minha
roupa separada para o jantar, não se preocupe, você sabe que sou linda de
qualquer jeito, por minha causa o noivo não sairá correndo. Pena que não
podemos dizer o mesmo do nosso território, para ele aceitar morar aqui terá
que ter coragem...
— Os Bianchi são fortes, Stefano dará conta do recado. E você, minha
filha, é a menina mais linda desse mundo e a cada dia está mais parecida com
sua mãe. Qualquer um enfrentaria uma guerra para ter a honra de tê-la como
esposa. Tenho muito orgulho de você.
— Ainda falta muito para ser como mamãe, quem sabe um dia chego
lá?
Fiquei feliz com as palavras do meu pai, saí distraída pela porta, mas
pisei em falso descendo a escada, quase dei de cara no chão e meu mau
humor retornou na hora.
Não avistei os soldados que geralmente me acompanhavam nas
minhas saídas e Nando estava em uma missão, mas como a escola de dança
ficava a menos de dez minutos da minha casa, resolvi ir sozinha, hoje se
alguém se metesse comigo iria despejar toda minha raiva.
Peguei o carro e segui para minha aula.

— Hoje iremos dançar Tango, todos os casais estão preparados? —


falou a minha professora assim que a aula iniciou.
Meu companheiro de dança era extremamente habilidoso, já
participou de várias competições pelo país, sem falar que pelo fato de ser gay,
exigência de papai, fazia com que eu me sentisse à vontade para aprender as
coreografias mais ousadas.
A aula passou voando, mas nem toda a diversão da dança melhorou
meu humor.
— Você não está bem hoje, hein? TPM?
— Das bravas, sorte sua que você não tem isso! Já vou indo, até a
próxima!
Me despedi de todos e decidi que ia passar no McDonald’s comprar
um combo daqueles com direito a milk-shake e muita batata frita para aplacar
meus ânimos, mas antes de chegar no carro fui abordada por três homens.
— É sério que vocês querem confusão justo hoje?
— Não é que a vadia é afrontosa?
— Vadia é a senhora sua mãe!
Antes que eles tivessem tempo de dizer qualquer coisa, eu peguei
minha faca na bolsa e comecei a lutar com eles.
— Quem mandou vocês? Esteban ou outro verme?
— Somos três e você é apenas uma, pare de show e venha conosco
descobrir!
— Então será do jeito difícil! Ótimo. Hoje estou a fim de brincar!
Sem muito esforço cortei a garganta do primeiro que tentou me
atacar. O segundo, tentou me atacar por trás, mas fui mais rápida e me virei
lhe dando uma rasteira, jogando-o no chão, cravando minha faca em sua
perna.
O último me olhou assustado, mas logo veio para cima. Ele estava
armado, mas sacou a arma devagar demais e eu consegui tomá-la facilmente
e atirei em sua cabeça, acabando de uma vez com a brincadeira.
— Você virá comigo! — falei para o homem que estava caído na
calçada com a perna sangrando pela minha facada. — Droga! Retirei as
cordas do meu carro e esqueci de colocar de volta!
Sem outra alternativa, tirei alguns pedaços do meu vestido de dança
que era longo e amarrei o homem, bati em sua cabeça com o cabo da arma
para desacordá-lo. Liguei para Felipo, um dos soldados que deveria estar
fazendo minha segurança e esperei que chegasse para me ajudar com a
bagunça.
Suspirei triste para o estrago.
Eu amava esse vestido.
Melhor comprar meu lanche e meu milk-shake para ver se conseguia
melhorar meu humor de cadela para conhecer meu noivo à noite.
CAPÍTULO 09
Stefano Bianchi

A viagem até o México foi longa, meu pai aproveitou o tempo para
me colocar a par sobres os negócios que Giovanni Fiore comandava e me
contar sobre os inimigos que possuíamos.
— Minha noiva ajuda mesmo na administração dos negócios?
— Giovanni não teve filhos homens, a disputa por território no
México é grande, era difícil para ele cuidar de tudo sozinho e proteger a filha,
no início queria apenas ensiná-la autodefesa, mas a menina se mostrou muito
geniosa e começou a lhe ajudar em tudo. Claro que ele não admite isso para
ninguém, mulheres não têm cargos na Famiglia.
— O Chefe sabe e pactua com isso?
— Não há nada que passe despercebido pelo seu tio, se ele não se
meteu é porque não é necessário. Milena foi treinada para suportar tortura e é
leal ao pai e à Famiglia, assim que a resgatei, ela viu que precisava se casar
para se proteger, o que mostra que é uma ragazza inteligente e sem frescuras.
Faz o que precisa, assim como você deve fazer.
— Inteligente eu não sei, mas claro que iria querer se casar comigo.
Qual delas não quer meu sobrenome? Entretanto, eu aceitei esse casamento,
mas não aceitarei que se meta mais nos negócios.
— Quando ela for sua esposa você decidirá sobre ela, mas não
mencione isso agora, enquanto ela não estiver casada ela pertence ao pai. Seja
esperto.
— Vai ser difícil me controlar se ela quiser se meter onde não é
chamada, se ela foi mimada pelo pai, aprenderá da pior forma que comigo
não tolerarei desobediência e não serei manipulado.
Meu pai continuou a conversa contando sobre Esteban González, o
primeiro que teria que eliminar para proteger minha noivinha, assim como me
deixou ciente das traições do governador que colocamos no comando.
O México era uma zona de guerra, não havia o respeito e a lealdade
conquistada na Itália a ferro e sangue.
Seria um desafio.
Minha sorte é que eu amava um desafio, não teria espaço para tédio.
Após horas de voo desembarcamos onde seria meu novo lar.
— Vamos passar na casa de Giovanni antes de ir para casa de
Leonardo, preciso lhe repassar as ordens de Lorenzo imediatamente. —
Giovanni não iria nos hospedar em sua casa por minha causa, parece que meu
sogro temia pela honra de sua princesinha, então escolheu nos hospedar na
casa de seu homem de confiança. Regras da Famiglia.
— Claro, pai, quem sabe não pego minha noivinha de surpresa e vejo
a verdadeira face de Milena antes que ela se encha de maquiagem.
Meu pai apenas sorriu do meu comentário com um ar de deboche, ele
me disse que ela era uma bela ragazza, mas me diria qualquer coisa para não
me ouvir reclamar mais.
Eu não tive curiosidade de ver nenhuma foto dela, preferia ver seu
rosto pessoalmente.
Nunca tinha ido à Cidade do México, era uma bela cidade, mas
completamente diferente da minha amada Itália.
Seria difícil me acostumar.
A casa do meu futuro sogro era bonita e grande o suficiente para uma
pessoa se perder dentro dela, mas não pretendia morar ali quando me casasse,
meu pai já havia separado algumas casas pelo bairro e eu aproveitaria essa
viagem para me decidir qual seria minha.
Giovanni embora nos esperasse só pela noite, nos recebeu com
alegria, mas quando adentramos o seu escritório, me deu uma clara ameaça
do quanto sua filha era importante para ele e que assumindo o compromisso
de me casar com ela teria que mantê-la segura, além de que ele ainda era o
Capo e eu lhe devia obediência e lealdade.
Eu não me surpreendi com suas palavras, se tivesse uma filha um dia
também não entregaria a alguém que não fosse capaz de protegê-la.
— Como sabe Giovanni eu fui treinado a minha vida toda para ocupar
uma posição de respeito na Famiglia, sou um Bianchi e cresci com o peso do
meu sobrenome, não deixarei que ninguém machuque minha mulher e serei
seu braço direito, para juntos aniquilar todos os ratos que têm se metido
contra nós.
Eu vi o semblante orgulhoso do papai com minha resposta, Giovanni
apenas assentiu sem demonstrar nenhum sentimento e prosseguimos com a
reunião.
— Milena está na aula de dança, mas pelo horário já deve estar
chegando.
— Precisamos ir para a casa de Leonardo, meu filho irá conhecê-la no
jantar como combinado.
Estávamos indo em direção à garagem quando um carro em alta
velocidade adentrou o portão, passando por cima de um canteiro de rosas e
parando bem ao nosso lado.
A porta do carro se abriu e vi minha noiva pela primeira vez e fiquei
paralisado com a situação.
Milena estava com o vestido de dança rasgado na altura da coxa, suja
de graxa, suada, tinha uma mancha de sangue nos braços e os cabelos
estavam totalmente desgrenhados.
Na mão dela havia um saco de papel do McDonald’s e um milk-shake
já pela metade.
Cazzo! Ela era linda!
— Minha filha, o que aconteceu? Seu braço — Giovanni indagou.
— O sangue não é meu papai, estou bem! Tentaram me pegar
desprotegida novamente.
— Suas roupas, minha filha...
— Esqueci de voltar as cordas para o carro. — Deu de ombros, como
se não fosse nada demais seu estado bagunçado.
— Foi Esteban González?
— Não sei, mas acho que não. Estavam em três, deixei Felipo com os
outros dois para limpar a bagunça antes que a polícia se intrometa, melhor
mandar reforços.
Ela reportava tudo tão naturalmente para o pai, chupando o canudo do
milk-shake de vez em quando, como se não fosse grande coisa para uma
garota, até que se virou para mim e percebeu minha presença.
Finalmente notei pelo menos uma pontada de constrangimento.
— Vejo que chegaram mais cedo do que o esperado. Desculpe não
estar apresentável para ocasião, se soubesse que estariam aqui tão cedo não
teria ido à aula de dança para recebê-los. Desculpe pela minha aparência um
tanto quanto desalinhada.
— Vejo que seu dia não foi fácil, prazer em conhecê-la bella mia! —
Ela sorriu pelo meu cumprimento e suas bochechas ficaram levemente
vermelhas.
— Prazer em conhecê-lo, Stefano! — Ela se virou para meu pai. —
Fico feliz em revê-lo, senhor Bianchi!
— Eu também estou feliz em revê-la, mas vejo que os inimigos não
deram tréguas em minha ausência. Estava sozinha? Os soldados não faziam
sua escolta?
Notei uma pontada de reprimenda na voz do meu pai. Ele pensou o
mesmo que eu, essa menina precisava aprender sobre obediência
urgentemente.
— A escola de dança fica a dez minutos daqui, lá dentro é seguro já
que há outras filhas de soldados que fazem aulas comigo e sempre estão
acompanhadas, não vi necessidade de levar ninguém comigo no trajeto de
carro, mas fui abordada no estacionamento.
— O que aconteceu com suas roupas? — questionei olhando para
suas pernas descobertas e a vi corar novamente.
— Eu tirei as cordas do meu carro recentemente, não tinha nada para
amarrar um dos homens que capturei — falou dando de ombros novamente.
— Você capturou um dos homens? — perguntei realmente
impressionado com ela.
— Claro! Um deles seria necessário para descobrir quem pretendia
me capturar dessa vez. Fica de presente para você! — Ela jogou as chaves do
carro em minha mão e eu peguei surpreso.
— Irei me trocar rapidamente, não comece a diversão sem mim.
Milena pediu licença e entrou na casa, deixando-me perplexo com
tudo o que aconteceu. Escutei umas batidas dentro do porta-malas, abri com a
chave que ela me entregou e vi um homem amarrado com pedaços do vestido
dela, a cara machucada e uma faca cravada em sua perna.
Fascinante.
CAPÍTULO 10
Milena Fiore

Subi as escadas correndo e me assustei ao chegar no quarto e me olhar


no espelho.
— Dio mio, eu estou horrível!
Sem tempo para pensar na primeira impressão desastrosa que passei
para meu noivo, entrei debaixo do chuveiro e joguei uma água no corpo
rapidamente.
Meu pai ia me matar por sair sem os soldados novamente e ainda por
cima passar por esse vexame na frente do meu noivo.
Precisava saber quem queria me capturar dessa vez, então coloquei
logo uma calça jeans, uma camiseta preta e uma bota, desci passando pela
cozinha para guardar meu lanche na geladeira para mais tarde.
Menos o milk-shake, esse eu já havia tomado todinho para não
desmaiar de fome.
— Lucrécia eles ainda estão na garagem?
— Não, menina, eles foram para o galpão nos fundos. Seu noivo é um
rapaz muito bonito, mas parece ser bastante petulante, tome cuidado com ele
e tente não o irritar, lembre-se do que te ensinei, homens não gostam de ser
comandados abertamente. Seja doce e sorrateira.
As artes da conquista ensinadas por Lucrécia, ela poderia escrever um
livro. Impossível não a amar.
— Eu sei, terei paciência com ele e irei deixá-lo caidinho por mim
que nem irá se importar em fazer todas as minhas vontades.
— Cuidado! Você sempre dobrou seu pai, mas sinto que com ele não
será tão fácil, seja uma boa menina.
— É, ele realmente não pareceu muito feliz com nosso primeiro
encontro, parecia bem surpreso para falar a verdade, não sei se foi uma
surpresa boa ou ruim. Acho que esperava me encontrar de salto alto pela casa
tomando chá com alguma amiga. Mas, agora tenho que ir, Lucrécia, não se
esqueça de fazer aquele pão de queijo que você aprendeu a fazer na sua
viagem ao Brasil, estou apaixonada pela culinária de lá.
— A comida brasileira é realmente deliciosa, já fiz querida, só falta
colocar no forno, vamos ver se eu consegui acertar a mão.
Quando adentrei o galpão dos fundos, vi meu pai e meu sogro
próximo a porta e Stefano torturando o homem que eu capturei.
Pela cara do meu noivo ele gostou bastante do meu presente.
— Ele já falou quem o mandou? — perguntei ao papai.
— Falou assim que Stefano arrancou seu primeiro dedo, foi Martin
Pérez, dessa vez estavam apenas buscando uma brecha em nossas defesas
quando te viram e decidiram que iriam te levar com eles. Não tinham um
plano real, foi coincidência. Mais tarde vamos conversar sobre você não levar
os soldados com você para sua aula, mocinha.
Deixei a parte da bronca de lado e apontei para meu noivo.
— Se ele já falou tudo que precisávamos, por que Stefano ainda está o
torturando? — inquiri para Riccardo e vi ele dar um sorriso sombrio que eu
ainda não tinha visto em sua face. Talvez ele não fosse tão “bonzinho” como
eu julguei antes.
— Meu filho gosta do que está fazendo, Milena, quando eu disse que
ele irá te proteger é porque ele fará. Mandará o homem fatiado para seu chefe
como recado de que agora em diante tem um Bianchi no México.
Eu estava acostumada com a tortura, mas papai não tinha o hábito de
se exceder quando eu estava presente, ele obtinha as informações e se livrava
rapidamente do corpo.
Sempre soube que papai era mais maligno quando eu não estava
presente, porém não acho que ele conseguisse fazer o que Stefano estava
fazendo, a expressão dele era cruel, sentia prazer pela tortura.
Eu pedi a papai que também me ensinasse a resistir aos métodos
utilizados, afinal sabia demais sobre a organização e precisava saber como
manter omertà[11]. Eu fui fortalecida, se me pegassem, nunca soltaria nada em
relação à organização, mas as torturas que presenciei nunca chegaram nem
perto do que Stefano estava fazendo.
De repente ele se virou em minha direção e se surpreendeu ao me ver.
O olhar que ele me lançou logo mudou de surpresa para raiva. Ele não me
queria aqui, era evidente.
Meu pai seguiu Riccardo para trás do galpão em uma conversa sobre
os negócios que não queriam que eu escutasse.
Após terminar, Stefano veio até mim, me puxou pelo braço para saída
da frente do galpão e quando estávamos sozinhos, questionou-me:
— O que você está fazendo aqui?
— Queria saber quem tentou me capturar.
— Aqui não é lugar para você. Iremos nos casar e eu realmente não
dou a mínima de como as coisas eram antes de eu chegar aqui, não quero
mais você envolvida com os negócios da Famiglia.
— Não nos casamos ainda, você não manda em mim!
— Ah, Milena não tente medir forças comigo, eu não sou seu pai para
aguentar um ataque de menina mimada.
— É uma ameaça?
— Saberia se fosse, agora vá logo antes que eu me irrite de verdade
com você.
Minha vontade era dizer algumas verdades para Stefano, como ele
ousava falar assim comigo?
Respirei fundo, engoli a raiva e me retirei.
Confrontar um homem como ele não daria certo, eu só precisava fazer
com que ele visse que não era como as outras garotas.
Não seria hoje, mas ele iria se dobrar e ia comer na minha mão.
Doce e sorrateira.
CAPÍTULO 11
Milena Fiore

Andei a passos largos pelo jardim, irritada com as palavras de


Stefano, até que vi Nando chegando.
— Senti falta dessa cara de cão chupando manga que você faz quando
está com raiva, Milena!
— Raiva é pouco, Nando, sou capaz de matar a próxima pessoa que
me irritar hoje, então meça suas palavras.
— O que aconteceu? — Nos sentamos no banco do jardim e eu
encostei a cabeça nos ombros de Nando em busca de um pouco de conforto.
— Aconteceu que eu estou naqueles dias, tentaram me sequestrar
mais cedo, não consegui comer meu hambúrguer até agora, conheci meu
futuro noivo e descobri que ele é um babaca.
— Você na TPM e com fome, é uma ameaça mundial.
Dei um soco em seu braço, sorrindo.
— Só você para me fazer rir, Nando, também senti sua falta esses
dias. Conseguiu resolver o assunto na fronteira?
— Consegui. Temos novos aliados, a carga foi vendida e creio que
Esteban González nos deixará em paz por um bom tempo, pois explodi um de
seus galpões com pelo menos trinta dos seus homens dentro.
— Uau! Fez uma bagunça e tanto, hein? Isso sim é uma boa notícia.
— Meu pai me contou sobre seu casamento estar chegando, sinto
muito. Seu noivo ficará na minha casa, mas eu ainda não o vi. O que ele fez
para você o chamar de babaca no primeiro encontro?
— Ficou irritadinho de me ver no galpão enquanto ele torturava um
homem. Me mandou embora e já começou a querer me dar ordens antes
mesmo de colocar uma aliança no meu dedo.
— Não são todas as mulheres que são como você, eu pelo menos
nunca conheci nenhuma, tenha um pouco de paciência com ele. Lembra
como os soldados demoraram para te aceitar nos treinos?
— Todos babacas machistas, mas o que me deixa mais irritada é que
nosso jantar de noivado ainda nem aconteceu e ele já está colocando as
asinhas de fora. Imagina quando formos casados!
— Eu não vou deixar que ele te machuque, saiba que estarei sempre
ao seu lado para qualquer coisa, mas confesso que não estou muito
preocupado com isso, sei que você logo irá dobrá-lo como fez com todos nós.
Quando eu iria agradecer a Nando pelo apoio, vi Stefano surgir do
nada com uma cara de poucos amigos.
— O que está acontecendo aqui?
— Nada demais, estávamos apenas conversando — Nando logo
respondeu, levantando-se.
— E que assuntos um soldadinho teria para conversar com minha
futura esposa? — Sarcasmo escorreu pelas palavras de Stefano, será que isso
já era ciúme ou apenas cuidado com sua posse?
— Stefano, eu e Nando fomos criados como irmãos, ele é o filho de
Leonardo, é um soldado de confiança de papai e estava apenas me contando
que cumpriu uma missão.
— Já te disse que não te quero envolvida nos negócios da Famiglia,
mal viro as costas e já está descumprindo minha ordem?
— Milena só ficou feliz em me ver, não deveria tratá-la dessa forma
— Nando tentou me defender, mas só conseguiu irritar mais Stefano que lhe
deu um soco na cara.
— Nunca mais diga como devo tratar minha mulher. Quero você
longe dela!
— Stefano já chega, pelo amor de Deus! Nando só está tentando me
proteger, pare com isso.
Entrei no meio dos dois, porque vi pela cara de Nando que gostaria de
revidar o soco e dizer algumas verdades para Stefano, mas ele precisava ser
cuidadoso com suas atitudes, Stefano seria o meu marido e, uma desavença
entre eles, seria desastroso.
Meu Deus, esse casamento seria um pesadelo!
Fiz um sinal para Nando se retirar.
— Senhor Bianchi, eu e Milena crescemos juntos e eu a protejo e vejo
como uma irmã, desculpe se passei uma impressão errada. Sei que será o
marido dela e pretendo continuar prestando os meus serviços à família,
conquistarei sua confiança assim como meu pai tem a confiança do senhor
Giovanni. Se me dão licença irei até meu pai comunicá-lo do meu retorno e
dos avanços obtidos na minha missão.
— Pode ir, Nando, eu também estou de saída, preciso me arrumar
para o jantar de noivado. — Nando assentiu e me deixou a sós com Stefano,
mas não sem antes fazer sinal para um outro soldado que se mantinha à
distância para ficar de olho em nós. Meu amigo era leal e não me deixaria
sozinha com Stefano soltando fogo pelas ventas.
— Eu poderia matá-lo por estar tão próximo a você, o que você estava
pensando dando essa intimidade toda para outro homem?
— Nando é como um irmão para mim, o que você viu aqui não foi
nada demais. Você não tem motivos para ter ciúmes de mim.
— Eu não estou com ciúmes, Milena, só não aceitarei uma noiva que
não se dê ao respeito.
— Dio mio! Eu sigo as regras da organização à risca, sou leal aos
compromissos que assumo, te garanto que terá uma esposa à sua altura, sei
que logo irá perceber que não há motivos para desconfiar de mim. Pare de
tentar me controlar e me deixe te apresentar quem eu sou e irá se surpreender,
positivamente, eu garanto.
— Dessa vez irei te dar um voto de confiança, porém, se a ver tão
próxima desse soldado novamente não irei hesitar em matá-lo.
— Não se preocupe, logo verá que pode confiar. Tenho assuntos a
resolver em relação ao nosso jantar de hoje, com licença!
Era só o que me faltava, ciúmes de Nando.
CAPÍTULO 12
Milena Fiore

— Ainda bem que chegou, Giselle, preciso da sua ajuda com a


maquiagem.
Giselle trouxe uma pequena mala consigo com suas coisas para ficar
na minha casa pelos dias que meu noivo ficaria na casa dela, pois meu pai
pretendia que eu ficasse acompanhada o tempo inteiro para evitar fofocas
sobre minha reputação.
Acho que Leonardo também queria preservar a reputação da filha,
mantendo-a longe dos convidados que chegaram, visto que vieram pelo
menos meia dúzia de soldados junto com nossos visitantes e eles não
disfarçaram o olhar cobiçoso para minha amiga.
— Eu não iria te deixar na mão no seu jantar de noivado, agora conta
logo como ele é.
— Pelo visto você ainda não viu o Nando.
— Não vi, Nando veio direto para cá e está o dia todo com papai, mas
o que ele tem a ver com seu noivo?
— Meu futuro marido é um ogro, já chegou botando banca de que é
ele que manda em mim e que não me quer trabalhando e fez uma cena
quando me viu conversando com Nando no jardim.
— Sério?
— Ele deu um soco em Nando, que agora está com o olho roxo. Meu
noivo só faltou fazer xixi em mim para marcar território.
— Coitado do Nando, deve ter ficado puto, mas seu noivo será nosso
chefe em breve, não pode haver desavença entre eles, seria assinar o atestado
de óbito do meu irmão. Milena você tem que acalmar seu noivo.
— Eu sei, mas não se preocupe que farei com que Stefano veja que
Nando não representa nenhuma ameaça. Vou me manter distante de Nando
por um tempo, eu não quero prejudicá-lo por ciúmes bobos, os dois vão
acabar se entendendo.
— Faz bem, minha amiga. Mas agora me diga, ele pelo menos é
bonito como nas fotos?
— Muito mais, alto, forte, imponente e tem o rosto de um anjo, mas o
olhar não engana. Uma pena que sua beleza é apenas fachada, ele não
esperou nem nosso jantar de noivado para começar a me dar ordens. Milena
saia do galpão, Milena não participe dos negócios da Famiglia, Milena saia
de perto dos soldados, mi, mi, mi...
Giselle soltou uma risada com meu desabafo dramático.
— Se existe alguém que pode dar conta de um homem assim, é você,
Milena.
— Não será fácil, Giselle.
— Olha, vamos ser realistas, você tem duas opções: Fugir ou fazer
dar certo. Em ambas as opções eu estarei junto com você. Caso escolha fugir,
podemos ir para um país tropical e vender miçangas numa praia, viver da
nossa arte. — Encarei minha amiga que falou sério sobre o futuro que
programou para nós caso aceitasse sua proposta de fuga.
— Viver da nossa arte é tentador — disse zombando da minha amiga
que não conseguia mais segurar o riso. — Mas eu nunca fugiria, você sabe
que eu gosto do que a organização representa em minha vida, e nunca
abandonaria meu pai na cova dos leões, para lidar sozinho com o conselho,
com sua honra manchada por uma filha fugitiva.
— Então está resolvido, Milena, você irá conquistá-lo, não aceite
viver em um casamento sem confiança e amor se vocês podem construir algo
sólido juntos — Giselle falou realmente sério dessa vez e eu assenti
prestando atenção ao seu sábio conselho. — A festa do Dia dos Mortos será
no final de semana, ótima oportunidade de você apresentá-lo ao México sem
a necessidade de vários guardas com vocês, já que todos na festa vão
fantasiados.
— Papai não deixará irmos sozinhos juntos.
— Posso ir com vocês de vela, assim que chegarmos lá arrumo uma
desculpa qualquer e te deixo a sós com ele e o resto é com você, mostre a
garota maravilhosa que é, e conquiste seu homem. Aposto que o deixará de
quatro. Vou pedir para Nando ir também, se mantendo a distância sem ser
visto por seu noivo, se você precisar de ajuda com qualquer imprevisto,
estaremos próximos observando.
Terminei de me arrumar e decidi que iria seguir a ideia louca de
Giselle. Era melhor começar a conquistar meu homem, do que ficar
lamentando-me pelos cantos. Fui para sala e fiquei junto com meu pai
aguardando pela chegada de Stefano e seu pai.
Meu pai teceu elogios sobre a minha aparência, disse o quanto estava
orgulhoso que eu entendesse que esse casamento seria importante,
lembrando-me por fim que eu tinha que seguir tudo que foi me ensinado pela
Lucrécia sobre como uma dama devia se comportar em seu noivado.
Regras de etiqueta eram chatas, mas não ia decepcioná-lo.
Eles chegaram no horário marcado.
Stefano estava extremamente bem-vestido, seu perfume era a melhor
essência que já senti na vida.
Após os cumprimentos nos sentamos à mesa para jantar sem mais
delongas. Eles engajaram em uma conversa sobre os negócios da Famiglia e
eu escolhi ficar em silêncio para não desagradar a Stefano e criar um clima
ruim na frente de papai.
Depois de apreciarmos a sobremesa, nos dirigimos para sala e Stefano
tirou uma caixinha do bolso, pegou minha mão e colocou um lindo anel de
diamante em meu dedo.
Seria romântico se ele tivesse falado algo ou pelo menos sorrisse um
pouco.
— Filha, iremos para Itália na próxima semana, você será apresentada
à Famiglia como noiva de Stefano em um dos eventos, e decidimos adiantar
o casamento para daqui três semanas.
Nossa!
Três semanas, isso é loucura!
— O casamento será mesmo na Itália? — perguntei para papai, mas
foi Riccardo quem respondeu.
— Sim, Milena, todos irão querer comparecer nesse casamento em
sinal de respeito, por isso é mais seguro que seja realizado na Itália já que
aqui a situação não está favorável para uma festa.
— Tudo bem, senhor Bianchi, mas como eu irei conseguir organizar
tudo em outro país e em tão pouco tempo? Eu não conheço nenhum
fornecedor de lá...
Meu Deus, era necessário tanta coisa para celebrar um casamento.
Buffet, fotógrafo, decoração, música, espaço... Eu ia ficar louca!
— Não se preocupe, minha esposa irá te ajudar em tudo, ela é uma
das responsáveis em organizar os eventos da Famiglia, está acostumada a
realizar festas de última hora e está a par de todos os fornecedores que iremos
precisar, é só você falar como quer tudo e saíra do seu jeito.
— Filha, após sua apresentação eu irei retornar para cá e somente
voltarei à Itália no dia do seu casamento, mas você ficará para organizar tudo
junto com sua futura sogra. Giselle e Nando irão ficar com você após a minha
volta, além de alguns dos nossos soldados, você ficará em um hotel da
Famiglia e sei que seu noivo se manterá longe até o casamento — meu pai
falou atravessando um olhar de aviso ao meu noivo que apenas assentiu
discretamente. — Se quiser, Lucrécia poderá ficar com vocês também.
— Não será necessário que Lucrécia vá também, senão quem irá
cuidar de você, papai? Fico feliz em saber que terei Giselle e minha sogra
para ajudar a cuidar de tudo, sei que meu casamento será como sempre
sonhei, vamos dar conta, não se preocupe.
— Você e sua sogra se darão muito bem, Milena, minha esposa não
vê a hora de casar nossos filhos e ter vários netos para mimar.
— Tenho certeza de que sim, senhor Bianchi, ainda não a conheço
pessoalmente, mas pelas minhas pesquisas ela é uma mulher muito admirada
dentro da organização.
— Giovanni, vamos deixar os noivos conversarem um pouco aqui na
sala, preciso tratar uns assuntos a sós com você.
Meu pai e Riccardo foram para o escritório, Stefano se sentou ao meu
lado, pegou minha mão e me olhou nos olhos.
— Você está linda essa noite, Milena, na verdade, você é sempre
bella.
Então havia uma veia romântica apesar de tudo.
— Obrigada, noivo! Eu também tenho que admitir que você é muito
bonito — disse e senti minhas bochechas corarem, então logo mudei de
assunto. — Você conhece a festa do Dia dos Mortos? — Stefano me olhou
sem entender. — É uma festa tradicional aqui do México, dizem que os
mortos vêm visitar seus parentes, as casas são enfeitadas com flores, velas e
incensos, são preparadas várias comidas típicas da região e as pessoas saem
às ruas com máscaras, vestem roupas pretas ou se fantasiam de morte.
— Eu já ouvi falar, mas se os mortos realmente voltassem estaríamos
em sérios apuros. — Caí na gargalhada com seu humor mórbido.
— Tenho que concordar com o senhor, estaríamos todos em apuros.
— Você é minha noiva, não quero que me chame mais de senhor.
— Tudo bem. — Fiquei realmente feliz com isso, já estava me dando
nos nervos ter que lembrar dessa regra de etiqueta idiota e falhando
miseravelmente um monte de vezes. — Então que tal conhecer um pouco do
México comigo e irmos juntos à festa do Dia dos Mortos no sábado?
— Você não deveria sair para esse tipo de evento, é perigoso e os
inimigos estão apenas esperando um vacilo nosso.
— Como eu disse, todos vão fantasiados, ninguém irá nos reconhecer.
Você pode pedir meu pai para irmos, levamos Giselle junto, creio que ele não
irá se opor ao seu pedido. Você consegue cuidar de duas ragazzas
fantasiadas, não?
— Você sempre estará protegida comigo, nunca duvide disso. Irei
pedir ao seu pai, mas você irá arrumar minha fantasia, não tenho tempo para
essas coisas.
— Eba! Você vai amar.
— Isso não é uma desculpa para fugir de mim no meio do tumulto, é?
— Por que eu fugiria de você?
— Talvez eu tenha te assustado mais cedo, não seria incompreensível
se quisesse fugir desse casamento depois do que viu no galpão.
— Não foi a primeira vez que presenciei uma tortura, Stefano, mas
tenho que admitir que você realmente lida muito mais pesado com isso que
meu pai, porém, se é isso que te preocupa pode ficar tranquilo, aos poucos irá
perceber que eu não sou como as garotas que conhece e sei viver no nosso
mundo sem surtar — falei olhando nos olhos dele. — Na verdade, você
representa para mim um desafio e eu não fujo de desafios, com certeza você
será o desafio mais lindo que irei enfrentar em minha vida. — Fiquei
envergonhada novamente ao perceber que falei mais do que deveria.
— Eu não sou um homem bom, Milena, deveria ter medo e querer
fugir de mim.
— Quem no nosso mundo é?
Antes que Stefano respondesse qualquer coisa nossos pais retornaram
à sala, interrompendo qualquer chance de continuar com nossa aproximação.
Papai não recusou o pedido de Stefano para irmos à festa de Dia dos
Mortos, mas deixou claro que além de Giselle teríamos que levar Nando
junto, o que não me surpreendeu nem um pouco, já que na verdade contava
que ele fosse, nem que fosse escondido.
Queria conquistar meu futuro marido, mas ainda não confiava em
ficar sozinha com ele antes do casamento sem saber qual tipo de homem ele
era.
Confiança era artigo de luxo em nosso mundo e eu só depositaria a
minha nele quando me mostrasse ser digno dela.
Stefano relutou sobre a presença de Nando como responsável pela
minha segurança, eu me mantive em silêncio, meu pai teceu uma série de
elogios a Nando referente ao seu desempenho na organização e garantiu que
confiava em sua lealdade, além de deixar claro que sempre se certificou que
Nando nunca manifestou qualquer sentimento por mim que não fosse
permitido, caso isso tivesse ocorrido em qualquer momento, ele não estaria
mais aqui.
Depois que meu pai retirou as dúvidas sobre mim e Nando da cabeça
de Stefano, ele concordou com sua presença meio a contragosto, se despediu
e foi embora.
Levando em conta as primeiras impressões, pelo menos o jantar de
noivado transcorreu tranquilo.
CAPÍTULO 13
Milena Fiore

Após o jantar de noivado, eu não encontrei mais Stefano e o resto da


semana passou voando.
Papai me deu uma aula de como me comportar com meu noivo
durante a festa de Dia dos Mortos, além de deixar claro que estaríamos sendo
observados pelos seus soldados disfarçados o tempo todo, e que era
estritamente proibido ficar sozinha com ele.
Arrumei-me junto com Giselle, optei por um vestido preto justo, mas
não muito curto. Coloquei uma meia-calça trançada e um sapato preto sem
salto, pois queria andar pelas ruas da cidade acompanhando o cortejo e
mostrar para meu noivo como viver no México também poderia ser divertido,
já que esse país também tinha seus encantos.
Quando desci as escadas me deparei com Stefano falando algo para
Nando, nitidamente se corroendo de raiva de papai mandar que ele nos
acompanhasse.
Na verdade, depois do noivado eu liguei para Nando e pedi que
tivesse paciência com Stefano, já que seu futuro como braço direito dele
dependia da confiança entre os dois, conversamos por um longo tempo e ele
me garantiu que não criaria problemas com seu novo chefe, depois começou
a me contar a quantas andavam as suas escapadas escondidas com a
mexicana.
Tinha muito medo pelos dois quando fossem descobertos, mas Nando
me garantiu que não deixaria que o relacionamento chegasse a esse ponto,
que eram só encontros casuais. Bom, eu não acreditei nenhum pouco.
Depois de nos cumprimentarmos e Stefano conhecer Giselle,
seguimos para o centro da cidade para a festa.
Nando foi dirigindo com Giselle no banco da frente, eu e Stefano
fomos no banco de trás, o carro escolhido por papai não tinha divisória entre
a parte da frente e a de trás. Claro que não teria.
Havia alguns soldados que nos acompanhavam, mas mantiveram
distância do nosso carro e nos acompanhariam na festa o tempo todo de
longe, já que todos nós estávamos de máscaras e uma escolta só facilitaria
que fôssemos reconhecidos no meio da multidão.
— Você já foi a essa festa antes? — perguntou meu noivo com um
tom de curiosidade.
— Já sim, ano passado papai autorizou que eu e Giselle fôssemos
acompanhadas dos soldados. — Resolvi deixar de lado os anos anteriores que
eu e Giselle fomos sozinhas e escondidas de papai.
— As moças da Famiglia não costumam ter autorização para ir a
festas que não estejam ligadas à organização, é difícil entender o jeito que seu
pai lhe educou, você teve liberdade demais.
Machista.
— Certamente se eu tivesse continuado morando na Itália não teria
toda a liberdade que tenho aqui, mas não é pelo fato de meu pai me deixar ir
a algumas festas e ajudá-lo nos negócios, que eu não sigo as mesmas regras
que as outras garotas seguem. Fui educada dentro de todos os nossos
costumes, sei e sigo tudo que uma garota do nosso meio precisa seguir para
ser respeitada. Quando nos casarmos eu pretendo apoiá-lo em tudo que
precisar de mim e quero que nosso casamento seja baseado na confiança um
no outro.
Muito embora não confiasse nele ainda.
— Quando eu lhe proibi de ajudar nos negócios é porque não imagino
como poderá ser útil, você vem sendo perseguida por nossos inimigos pelo
seu atual envolvimento, te manter afastada de tudo é a melhor forma de
protegê-la. Mas em relação a liberdade para sair, desde que me comunique
tudo com antecedência para sua segurança, não irei prendê-la, não sou esse
tipo de homem. Entretanto, haverá eventos que, como o de hoje, você
somente irá com minha presença.
— Confesso que tive medo de que você fosse do tipo que trancafiava
mocinhas inocentes em casa. Não pareceu que se importasse muito em me
manter sociável — disse tentando parecer divertida, mas sua reação me pegou
de surpresa, seu olhar se endureceu e ele falou entre os dentes.
— Eu nunca fui um covarde com uma mulher, chega desse assunto.
— Tudo bem, esquece isso, vou aproveitar esse dia para te mostrar
um pouco do seu novo lar, sem preocupações, hoje vamos apenas viver como
um casal de noivos que terá a vida inteira pela frente para se conhecerem
melhor.
Stefano simplesmente assentiu e não disse mais nenhuma palavra até
chegarmos ao centro.
Era muito difícil manter um diálogo com ele na presença dos meus
amigos.
Enquanto eu falava sem parar, ele me respondia com não mais que
duas palavras.
A festa estava animada como nos anos anteriores, os turistas enchiam
as ruas da cidade, muita música, dança, bebida, eu não parava de entupir meu
noivo com as comidas típicas.
Depois que Nando e Giselle se afastaram um pouco nos dando
privacidade, Stefano tirou aquela carranca da cara e me deixou começar a ter
um vislumbre de sua real personalidade.
Fez algumas piadas em relação às comidas que experimentava, riu dos
bêbados, caçoou dos homens vestidos de mulher e para minha felicidade não
olhou para nenhuma outra garota.
E olha que nessa festa elas costumavam ser bem provocantes. Sorte a
dele, porque não era somente ele que sabia atirar.
— Não vou dizer que se compara à Itália, mas é uma bela cidade —
Stefano disse enquanto caminhávamos.
— A Itália é insuperável, mas dá para ser feliz aqui.
— Você ainda sente falta de lá?
— Todos os dias, as lembranças de lá vem junto com a saudade que
sinto da minha mãe.
— Sinto muito por sua perda, me lembro o quanto ela era querida por
todos, as histórias sobre ela circulam até hoje no nosso meio.
— Minha mãe foi uma mulher incrível, quando ela nos deixou papai
não suportou permanecer lá, as poucas vezes que foi à Itália durante esses
anos não me deixou ir junto, não ficando lá mais que o suficiente para
resolver o que precisava. Semana que vem será a primeira vez que voltarei na
terra onde vivi minha infância.
— Isso te deixa desconfortável?
— Não, pelo contrário, estou ansiosa por rever os lugares onde minha
mãe me levava, sinto que de alguma forma vou poder senti-la mais próxima,
entende?
— Acho que sim. Bom, como você está se saindo uma excelente guia
turística aqui, irei me encarregar pessoalmente em te levar em todos os
lugares que quiser quando chegarmos à Itália.
— Isso seria maravilhoso. — Virei-me de frente para ele e soltei um
sorriso sincero. Um casal chegou muito próximo a nós e acabou esbarrando
em mim, sem querer eu cheguei muito próxima a Stefano que me puxou pela
cintura, colando seu corpo no meu, olhando diretamente nos meus olhos.
Como se estivéssemos em câmera lenta ele desceu seus lábios sobre
os meus.
O mundo parou ao nosso redor.
Borboletas se formaram na minha barriga, senti que só havia nós dois
no meio da multidão.
A boca dele tinha um gosto delicioso de menta, ele começou o beijo
devagar, pedindo-me passagem com a língua e assim que eu deixei ele me
conduzir minhas pernas bambearam.
Dono do melhor beijo do mundo.
Aos poucos tudo começou a voltar ao normal ao nosso redor e ele se
afastou lentamente.
— Quero viver para beijá-la assim todos os dias da minha vida —
Stefano falou sem desviar seu olhar do meu. — Sua boca é tão doce que me
faz querer adiantar ainda mais a data do casamento para senti-la de todas as
formas junto a mim.
Abaixei a cabeça para esconder meu rosto que pegou fogo com suas
palavras. Dio mio, esse homem estava testando meus hormônios, a vontade
de agarrar ele em um desses becos estava me matando.
Mas nosso momento junto foi interrompido por Nando que chegou
soltando um pigarro para nos afastar.
— Senhor Bianchi, fui avisado pelos soldados de uma confusão entre
bêbados no próximo quarteirão, melhor retornarmos antes que se espalhe.
— Tudo bem, Nando, fico feliz que esteja atento à sua volta. Milena
já está ficando tarde, já provei todas as delícias possíveis por hoje e então é
melhor levá-la para casa.
Não sabia se ele se referia às comidas que experimentou ou ao nosso
beijo.
Inevitavelmente me vi sorrindo.
O caminho para casa foi tranquilo, mas quando chegamos em casa
Stefano pediu que Nando o acompanhasse amanhã em uma rápida viagem a
cidade vizinha, o que me deixou um pouco temerosa.
Depois que Stefano se foi, papai me chamou ao escritório.
— Como foi a festa, filha? Seu noivo se comportou?
— A festa foi maravilhosa, papai e Stefano se comportou como um
cavalheiro. Ele parece ser um bom homem, quer dizer dentro dos nossos
parâmetros de “bom”.
— Fico feliz em saber, mas não deixe se levar por palavras bonitas
antes do casamento, filha, lembre-se que sua honra é sua maior preciosidade.
— O senhor sabe que eu não sou manipulável, papai, jamais faria algo
para colocar em risco o respeito que todos têm por mim. Mas tem uma coisa
que me deixou um pouco apreensiva.
— O quê, minha filha?
— Stefano pediu que Nando o acompanhasse amanhã em uma
viagem, tenho medo de que ele faça alguma besteira por ciúmes infundados.
— Não se preocupe com isso, a viagem foi ideia minha para
justamente acabar com essa desconfiança de Stefano. Eu observo você e
Nando há anos nos treinos e nunca vi um olhar dele desejoso para você, ele
será o melhor soldado que seu noivo terá quando assumir a minha cadeira,
assim como Leonardo é meu homem de confiança, então os dois só precisam
passar um tempo juntos para que possam perceber isso.
— Se a ideia partiu do senhor fico mais tranquila, achei que meu
noivo tinha preparado um homicídio — digo sorrindo para papai.
— Filha, sobre o seu aniversário na quarta-feira, sei que você queria ir
para a casa de show, mas terá que mudar seus planos. O Chefe ordenou levar
o caso do governador em banho-maria até depois do casamento para ver até
onde a traição está indo, então será arriscado demais ir para lá com Esteban
escondido por aí, seu noivo também não ficará feliz com essa programação.
— Nós vamos viajar para Itália na quinta-feira?
— Sim, na quinta-feira à tarde. O evento que você se apresentará à
Famiglia como noiva de Stefano será no sábado e eu retornarei para cá no
domingo. Leonardo tomará conta de tudo em minha ausência, mas não posso
me ausentar mais que três dias.
— A semana será corrida demais, tenho muita coisa para organizar
para minha viagem, já que vou ficar muito tempo longe, vamos fazer um
jantar apenas para comemorar meu aniversário aqui em casa mesmo,
chamamos Leonardo, os meninos, meu noivo e Riccardo.
— Sabia que iria entender, filha, mas seu sogro já retornou à Itália.
Perguntei mais algumas coisas para o papai em relação aos negócios,
fiquei feliz em ver que ele não se preocupava em esconder nada de mim e
depois fui para meu quarto para conferir os rendimentos das nossas boates.
Não falei com papai sobre as proibições de Stefano, decidi não ir à
sede por enquanto, fazendo tudo de home office, para evitar discussões
estressantes.
CAPÍTULO 14
Milena Fiore

Eu não sei o que aconteceu entre Nando e Stefano na viagem, mas


parecia que a ideia de papai deu certo, estava nítido que os dois se
aproximaram um pouco e Stefano já não olhava para Nando como se fosse
matá-lo a qualquer instante. Grande avanço.
O meu jantar de aniversário teve um clima leve e até papai deixou a
carranca de lado para contar histórias constrangedoras minhas para todos os
meus convidados.
Stefano não gostou muito quando Giselle, boca aberta, contou que nós
duas roubamos a moto de Nando ano passado e fomos fazer um tour pela
cidade. Ele disse simplesmente que moto não era seguro e que não me queria
pilotando uma.
Dio mio! Eu era piloto de fuga, um dia ainda o teria agarradinho na
minha garupa.
Não sei se papai percebeu meu olhar pecaminoso para Stefano
durante o jantar, mas ele não nos deu espaço para ficarmos sozinhos.
Stefano me deu de presente de aniversário um lindo colar de pedras
preciosas com um par de brincos combinando.
Sem dúvidas custou uma fortuna e eu amei.
Na saída ele sussurrou em meu ouvido que a outra parte do meu
presente se encontrava na Itália, o que me deixou arrepiada.
Fosse lá o que estivesse programando, mal podia esperar.
Lucrécia me ajudou a organizar minhas malas, eu nunca havia ficado
tanto tempo longe de casa, estava levando muita coisa, embora minha
intenção fosse dar um jeito de me esbaldar em compras em Milão.
Eu não fazia ideia onde passaria a lua de mel, não tive oportunidade
de questionar isso ao meu noivo. Havia casamentos arranjados que os noivos
nem viajavam, não sabia se Stefano havia programado algo e estava com
medo de me decepcionar ao criar expectativas.
Giselle já estava com suas malas prontas antes mesmo do almoço,
segundo ela se continuasse com elas abertas até a hora de ir, continuaria
enchendo e não haveria lugar no jatinho.
Limites não era algo que ela conhecia em relação a roupas e sapatos.
— Milena, estou que não me aguento, tão animada em voltar à Itália
depois de tanto tempo.
— Seu pai deve estar surtando em te ter tanto tempo longe dele.
— Ele não iria contra uma ordem do seu pai que não te deixaria lá
sem mim, são tantas coisas para organizar, seu casamento vai ser perfeito.
— Tomara que minha sogra goste de nós e ajude realmente, senão
estaremos perdidas.
— Damos conta, eu já pesquisei tudo que vamos precisar para seu
casamento, tenho um plano de contingência, tudo listado e organizado. Estou
tão animada com os preparativos, mal posso esperar para colocar a mão na
massa. E se sua sogra não gostar de você, relaxa, pois vocês vão morar aqui,
ela não conseguirá infernizar sua vida de longe. Agora você não vai acreditar
no que meu pai me disse hoje, Milena...
— O quê?
— Que agora que você será uma mulher casada logo será minha vez
também. Disse para aproveitar a oportunidade para mostrar para Famiglia
que sou uma moça bonita e bem-educada. Acho que ele está entrando em
contato com alguns soldados na Itália a fim de encontrar um noivo para mim.
— Você me acompanhará em todos os eventos que formos, quem
sabe você não encontre alguém da organização e se apaixone, só que precisa
ser alguém que não se importe em se mudar para o México, eu não abro mão
de você viver aqui comigo.
— Ah, minha amiga, me apaixonar eu não sei, mas vou aproveitar
essa viagem para me esbaldar em compras com você e rever todos os lugares
incríveis da nossa terra natal.
Papai chegou em casa após o almoço e disse que partiríamos em uma
hora.
Terminamos de ajeitar tudo e seguimos para o aeroporto.
Quando chegamos lá, Stefano já nos aguardava próximo ao jatinho da
sua família, ele me ajudou a subir e se sentou ao meu lado, papai, Giselle e
Nando, sentaram-se à nossa frente.
Eu não gostava de voar, na verdade, tinha medo de altura, assim que
me acomodei na poltrona, tomei um calmante e apaguei antes mesmo do
avião decolar.
— Filha, acorda! Já chegamos ao hotel.
— Como assim? Eu só me lembro de entrar no avião...
— Você dormiu a viagem toda, tive que te carregar para o carro, mas
não me faça te carregar novamente até o quarto, sabe que estou ficando velho
e minha coluna já não está tão boa como antigamente. — Olhei para meu pai
que estava sentado ao meu lado rindo da minha cara sonolenta e confusa,
enquanto o carro parava em frente a um hotel luxuoso.
— Cadê o resto do povo?
— Seu noivo foi direto para casa dele, estava muito tempo longe e
tem muitas coisas para organizar antes de se mudar para o México, Giselle e
Nando estão no carro de trás junto com outros soldados que fazem nossa
segurança.
— Temos algum compromisso hoje, papai? — Pelo que pude
perceber já era sexta-feira, o dia devia estar quase amanhecendo, já que a
viagem deve ter durado praticamente a noite toda.
— Eu tenho uma reunião com os outros Capos e irei resolver algumas
coisas com o Chefe, ele quer me ver imediatamente, mas a sua agenda está
livre por hoje, filha. Pode ir com Giselle, Nando e alguns soldados fazer
compras, aposto que deve estar louca para fazer isso. Compre um vestido
novo deslumbrante para o evento de amanhã, você sabe que as mulheres da
Famiglia exibem as fortunas de seus pais e maridos como sinal de poder.
— Me conhece bem, papai, já fiz um cronograma de lojas que quero
visitar, sem falar que já olhei um salão de beleza aqui perto e preciso ir lá
pessoalmente para saber se realmente serão eles que irão me arrumar me
arrumar para o evento de amanhã, vou ser a mulher mais linda da festa.
— Você não precisa se esforçar para ser a mais linda, minha
princesinha. Compre presentes para Giselle também, ela precisa estar à altura
para te acompanhar no evento de amanhã. — Desde que me tornei amiga de
Giselle meu pai começou a sentir um enorme carinho por ela também, ele
nunca a destratou e sempre proporcionou a ela uma boa educação, nunca se
importou que eu a enchesse de mimos sempre que saíamos juntas, acho que
no fundo ele a vê como uma segunda filha.
O quarto de hotel era enorme, eu e Giselle iríamos dividi-lo, assim
que entramos no quarto, arrumamos nossas coisas rapidamente, tomamos um
banho, trocamos de roupa e fomos bater perna.
Seguimos a lista de lojas que tínhamos planejado, além de entrar em
várias outras. Nando já estava de saco cheio de nos acompanhar de um lado
para outro cheio de sacolas nas mãos.
Compramos vários vestidos, blusas, calças, sapatos, bolsas, casacos,
lingeries, enfim, nos esbaldamos.
— Milena do céu, eu realmente preciso de uma gargantilha da
Tiffany's para combinar com o vestido que você me deu para usar amanhã à
noite, depois disso não vou te pedir mais nada nunca mais, eu juro! — Giselle
parou em frente à loja e me olhou com uma carinha de cachorro que caiu da
mudança.
— Amiga, já te disse que você pode comprar o que quiser, inclusive
foi ordens de papai, não se preocupe que eu também quero olhar a nova
coleção que eles lançaram.
— Vocês duas querem me matar? Pelo amor de Deus, daqui a pouco
vou ter que alugar um caminhão para levar as coisas que vocês compraram
para o hotel. Eu não aguento mais meninas — Nando disse com uma cara de
choro fingida.
— Essa será a última loja, nós prometemos! — exclamei para ele que
só assentiu enquanto passava as outras sacolas que segurava para o soldado
guardar no carro.
Depois de um dia longo de compras, voltamos para o hotel e meus
pensamentos voavam imaginando o que meu noivo estava fazendo, triste por
ele não ter se despedido de mim quando chegamos e muito menos me
mandado uma mensagem sequer durante o dia todo.
CAPÍTULO 15
Stefano Bianchi

A minha vida estava mudando de uma maneira extraordinariamente


rápida.
De repente estava noivo de uma garota que nunca tinha visto antes,
me mudaria para outro continente e deixaria para trás tudo que havia
construído para ingressar em uma nova vida.
Eu devia estar apreensivo, triste ou pelo menos muito puto, mas para
minha grande surpresa, eu não estava.
Ansioso. Essa era a palavra.
O México me surpreendeu de uma forma positiva, a forma que os
negócios da Famiglia eram tocados lá me excitava, adrenalina corria nas
minhas veias quando imaginava várias maneiras dos nossos lucros
aumentarem coincidindo com minha fome por derramamento de sangue.
Lá eu teria liberdade para agir mais abertamente, a polícia era ainda
mais corrupta que na Itália e a criminalidade se sobressaía nas ruas. Com foco
no tráfico de drogas, logo colocaria todos os cartéis atuantes na nossa folha
de pagamento. Os que não se aliassem seriam destruídos.
O que faltava para solidificar nosso império naquele país era alguém
apto para assumir o controle. Não que meu sogro não fizesse um bom
trabalho, mas já estava ficando velho demais e, se novas políticas não fossem
adotadas, suas conquistas dos últimos anos ruiriam.
Eu já tinha várias ideias em mente para ampliar nosso domínio, queria
fazer de lá uma ponte com outros países para que nossa organização
alcançasse ainda mais poder.
Comprei uma casa na mesma rua onde ficava a casa de Giovanni,
seria mais fácil, prático e seguro morarmos próximos um do outro, além de
que, sabia que Milena iria gostar de não ficar longe do pai.
O pouco tempo que passei com Milena despertou algo em mim que
nunca havia sentido antes.
Ela era linda, inteligente, bem-humorada e sem dúvida muito forte.
Percebi que sua tática era evitar bater de frente comigo, mas sempre
dava um jeitinho de conseguir o que queria, o que não era difícil, pois a cada
dia eu me via querendo agradá-la mais.
Todos à sua volta tinham uma facilidade em atender às suas demandas
e se eu não ficasse esperto, logo, logo, seria mais um em sua lista.
Nunca fui de sentir ciúmes, na verdade, eu nunca tinha namorado
ninguém para saber se era do tipo ciumento, mas só de imaginar alguém
olhando para Milena, perdia totalmente o controle.
Quando vi o soldado com ela naquele jardim no dia em que nos
conhecemos, minha vontade era de matá-lo pela proximidade dos dois. Ela
me garantiu que ele era como um irmão para ela e até Giovanni me disse o
mesmo, mas eu não acreditei nenhum pouco.
Fiz o que qualquer outro Bianchi faria.
Giovanni pediu para que eu fechasse uma negociação de uma carga
em uma cidade vizinha e levasse Nando comigo já que ele conhecia o
comprador, oportunidade perfeita para testar sua lealdade.
Para minha surpresa e alívio, Nando passou no teste com louvor.
Algumas unhas do pé a menos somado a um pouco de tortura psicológica e
tudo que eu consegui foi ver que ele realmente a enxergava com o mesmo
tipo de sentimento que direcionava para sua gêmea. Sua fraqueza era uma
mexicana, problema que eu teria que lidar futuramente caso ele prosseguisse
com essa história.
Menos uma coisa para me preocupar, a lealdade de Nando seria de
grande ajuda, já que não teria muitos homens comigo quando me mudasse.
Na verdade, meu pai me forneceria apenas cinco soldados seus para minha
proteção.
Suas ordens eram claras, assim que pisasse no México deveria
conquistar a lealdade dos homens de Giovanni por minha conta e risco.
Assim que cheguei à Itália fui direto para casa, eu precisava resolver
uns assuntos sobre nossas boates e cuidar de treinar meu irmão mais novo,
Romeo, para ficar no meu lugar nos negócios.
Milena tomou algum tipo de remédio e babou a viagem toda no meu
ombro. Aparentemente, tinha medo de voar. Ela não acordou nem quando
pousamos, queria carregá-la em meu colo até o carro e levá-la ao hotel que se
hospedaria, mas meu sogro não permitiu.
Velho teimoso, deve ter deslocado a coluna.
Assim que adentrei em casa, fui recebido pela minha mãe.
— Meu filho, até que enfim você voltou para casa. Me conte tudo, eu
nem dormi essa noite de ansiedade... Você gostou do México? Como é sua
noiva? Quando vou encontrá-la?
— Oi mama, calma uma pergunta de cada vez. Eu gostei do México,
minha noiva é linda e você só a encontrará amanhã para organizar nosso
casamento.
— Nossa! Quero mais detalhes, não me deixe no escuro assim —
falou atrás de mim enquanto eu subia as escadas em direção ao meu quarto.
— Deixe seu filho chegar primeiro, mulher — disse meu pai
aparecendo no corredor com um sorriso nos lábios. — Tudo certo, filho?
— Tudo sim, pai. A viagem foi tranquila, Giovanni e Milena foram
para o hotel, vou tomar um banho e chamar Romeo para o treinamento. —
Meu pai assentiu e minha mãe fez uma carinha triste e falou com meu pai.
— Queria tanto que minha nora ficasse aqui em casa, facilitaria muito
nos preparativos para o casamento.
— Não seria bom para a reputação dela, mas você poderá ir ao hotel
ficar enfurnada lá o quanto quiser — ele respondeu a ela, e se dirigiu a mim:
Stefano seu tio quer falar com você após a reunião com seu sogro, esteja lá na
hora do almoço.
Após assentir, entrei em meu quarto, tomei um banho rápido, troquei-
me e desci encontrando meu irmão Romeo, esperando-me para tomarmos
café e sairmos.
Romeo é três anos mais novo que eu e também foi treinado duramente
pelo nosso pai, mas até hoje tinha menos responsabilidades que eu com a
Famiglia. O tempo de mordomia finalmente acabou para ele.
Pietro, meu irmão mais velho, estava o tempo todo ocupado junto
com nosso primo Gian, ambos sendo duramente treinados por nosso tio, para
assumir os cargos mais altos da Famiglia daqui a alguns anos.
Eu era encarregado de cuidar da maioria dos negócios de papai,
fiscalizava todas as boates, cuidava dos carregamentos e fazia todo o serviço
sujo. Romeo cuidava apenas da contabilidade e supervisionava nossos
restaurantes e os outros negócios legalizados, mas ainda contava com a ajuda
de papai, nunca assumiu nada sozinho.
Com a minha partida ele teria que ficar no meu lugar e começar a ser
mais proativo e brutal, não dava para ser um Bianchi e passar a vida toda
seguindo ordens e trabalhando somente dentro da lei.
A postura de filhinho caçula tinha que desaparecer para seu próprio
bem, pois eu não estaria mais aqui para socorrê-lo quando precisasse.
Eu não iria pegar leve com ele, assim como nunca ninguém pegou
leve comigo.

— Boa tarde, padrinho! Meu pai me pediu que viesse.


Aproximei-me do meu tio e dei um beijo em seu anel, pedindo sua
benção.
— Boa tarde, Stefano! Eu preciso deixar claro algumas coisas antes
da oficialização de seu noivado. Eu tenho planos para o México, e preciso
que você dê o seu sangue e sua lealdade para que eles se realizem.
Meu tio sempre foi uma incógnita para mim. Ele vivia integralmente
pela Famiglia, controlava nossas vidas como peças em um tabuleiro de
xadrez e nunca demonstrou nenhum remorso ou preocupação que não fossem
com os negócios.
Ele e meu pai professavam aos quatro ventos que nosso sobrenome
carregava orgulho, eu era lembrado disso diariamente.
— O senhor tem minha total lealdade, padrinho. Me inteirei de alguns
negócios do meu futuro sogro, estou realmente ansioso para minha mudança.
Darei tudo de mim para que seus planos se realizem.
— Você tem muito de mim quando jovem, Stefano. Eu percebo em
você um desejo quase que incontrolável pelo poder e controle, por isso já
vinha pensando em lhe mandar para o México há um tempo, antes mesmo de
receber a ligação de Giovanni. Como sabe, nosso poder nos Estados Unidos
está se expandindo, entretanto, precisamos das drogas vindas dos países da
América Latina para abastecê-lo. Com o controle total do México, vamos
facilitar o transporte na fronteira e aumentar nossos lucros significativamente.
Eu plantei a semente enviando Giovanni alguns anos atrás, mas como já
previa ele não foi capaz de acabar com nossa concorrência.
— O território é muito amplo e difícil de ser controlado, mas não é
impossível.
— Exatamente, Stefano. O nosso controle precisa começar dentro da
polícia e da política, assim teremos liberdade de agir contra as outras facções
que concorrem pelo mercado, e a verdadeira guerra se iniciará. Por isso o
investimento no governador.
— E infelizmente ele se mostrou um traidor.
Ele balançou a cabeça em desagrado e virou uma dose de Whisky
antes de prosseguir:
— Será sua primeira missão lidar com ele, quero ele renunciando ao
cargo de governador antes das eleições para presidência e que você encontre
alguém apto para colocar no lugar. Sem chamar atenção da mídia, deverá
mostrar como um Bianchi lida com traidores da Famiglia. Giovanni já está
ciente que você comandará essa questão, entretanto, tudo que diz respeito ao
comando do território você deverá se reportar a ele.
— Ele me parece ser um Capo forte, espero não ter problemas quando
chegar a minha hora de assumir.
— Não acho que terá problemas com seu sogro, eu o deixei tomar a
iniciativa de arranjar o casamento justamente para que a transição de poder
fosse mais tranquila, não precisamos de desentendimentos internos no meio
do caos que é aquele país. Ao que me parece, além das preocupações com os
negócios, a principal motivação de Giovanni é manter a segurança de sua
filha.
— Minha noiva tem sido alvo de muitos ataques.
— E você não irá permitir que esses ataques continuem. Tenho
certeza de que não precisarei lembrar a você que nossas mulheres devem ser
protegidas, seu pai ensinou isso muito bem dando o exemplo em sua casa. O
segredo para conseguir tudo de seu sogro será chegar ao coração de sua
futura esposa e encher a casa dele de netos. Pelo que sei essa tarefa não será
difícil, sua noiva, além de ser belíssima, possui atributos que poderão lhe
ajudar muito na busca pelo poder.
Gostaria de poder dizer que não incomodou a forma que meu tio
acabou de colocar em pontos práticos meu casamento, mas seria uma grande
mentira.
Mantendo de lado a parte de que ele acabou de elogiar a beleza de
minha noiva, prossigo.
— Bom, padrinho, sobre isso gostaria de entender por que permitiu
que Giovanni ensinasse sua filha coisas que nenhuma mulher dentro da
organização tem permissão para saber. Eu irei garantir a proteção dela e por
isso mesmo não vou permitir que ela se envolva nos nossos negócios.
— Stefano, seu sogro estava sozinho em meio a uma guerra, ele
precisava garantir que sua filha ficasse o mais intocável possível e entendeu
por bem ensiná-la a lutar. Eu não me meto em assuntos familiares, você sabe
disso. Quanto a ajuda nos negócios, faço vista grossa pelos mesmos motivos,
responsabilidades demais para aquela raposa velha controlar sozinho. A
menina me parece ser realmente uma boa ajuda, mas será problema seu como
lidará com ela quando se casarem, só não arrume problemas com seu sogro
por causa disso.
Assenti dando o assunto por encerrado. Me despedi do meu tio e fui
ao encontro do meu irmão para retomarmos de onde paramos.
O treinamento de Romeo, me manteria extremamente ocupado até o
dia da apresentação de minha noiva à Famiglia.
CAPÍTULO 16
Milena Fiore

Finalmente o sábado chegou e eu estava radiante por ser a apresentada


oficialmente à Famiglia. Eu e Giselle passamos o dia todo nos dedicando à
nossa beleza, queríamos ser as mais belas ragazzas da noite e deixar todos de
queixos caídos.
Um retorno em grande estilo.
Meu noivo não deu nenhum sinal de vida desde quando pisei aqui,
então eu precisava lembrá-lo do quanto eu era bonita e que ele me prometeu
ser meu guia turístico.
O meu vestido, um Valentino, era longo, justo e branco com detalhes
em cristais swarovski, um decote bem grande nos seios e uma fenda que
deixava praticamente toda a minha coxa descoberta, sem dúvidas estava
muito sexy.
Optei por um sapato extremamente alto, a fim de deixar as minhas
pernas bem alongadas. Também queria dar um pouco de cor ao meu visual,
então coloquei um sapato verde escuro, aprendi a gostar mais de cores
vibrantes no México.
Quando saí do meu quarto meu pai passou a mão pelos cabelos e
disse:
— Você vai matar seu pai e seu noivo hoje, Milena.
— Essa é a intenção papai — disse para ele sorrindo. — Está demais?
— Você virou uma mulher, uma mulher muito bonita, cabe a mim me
acostumar. Não se preocupe, você está perfeita. Vamos! — Papai há muito
tempo não implicava com minhas roupas, quando eu me vestia para chamar
atenção, ele simplesmente mandava mais soldados atrás de mim, em vez de
me mandar trocar de roupa. Eu era grata por isso.
Giselle também não mediu esforços essa noite, estava linda em um
vestido dourado, justo e muito decotado.
Quando chegamos ao salão do evento me surpreendi com a
luxuosidade do lugar, eu entrei de braços dados com papai e Giselle estava
logo atrás de braços dados com Nando.
Ao passar pela porta, senti todos os olhares em nossa direção,
refletindo a curiosidade de todos em conhecer a filha do Capo do México.
Percebi que os homens me olhavam com desejo e as moças com um certo
desprezo.
Coloquei um sorriso treinado no rosto e mantive a postura ereta como
Lucrécia me ensinou.
Logo vi uma mesa no canto direito do salão, onde estava meu noivo,
meu sogro e sua família.
Stefano logo que me viu, levantou-se imediatamente e veio em minha
direção, com o semblante sério de sempre, escondendo qualquer reação de
surpresa ou admiração.
— Você está incrivelmente linda, Milena — Stefano disse levando
minha mão até sua boca e depositando um beijo casto.
— Grazzie! Você também está magnífico — devolvi o elogio com um
sorriso igualmente discreto.
Depois de cumprimentar meu pai e os outros, Stefano nos convidou
para nos sentarmos junto com sua família. Enquanto caminhávamos em
direção à mesa, Stefano trocou algumas palavras com o papai em relação aos
negócios.
— Milena, está é minha mãe, Francesca, meu irmão mais velho,
Pietro, meu irmão mais novo, Romeo, e meu primo, Gian — Stefano me
apresentou à sua família, minha sogra me abraçou forte, de forma carinhosa e
disse que eu era mais linda pessoalmente, enxerguei sinceridade em suas
palavras e devolvi os elogios.
Pietro e Gian simplesmente depositaram um beijo casto em minhas
mãos, mas Romeo além do beijo me deu uma piscadinha e disse que seu
irmão era um homem de sorte, dando um sorriso cafajeste para o irmão que
lhe devolveu um rosnado.
Eles cumprimentaram meu pai, que apresentou Nando e Giselle a
todos e nos sentamos à mesa. Logo minha sogra começou a puxar conversa
comigo e graças a Deus nos demos muito bem. Marcamos de almoçar juntas
no hotel que estava hospedada para começar a organizar os preparativos para
o casamento e ela me encheu de ideias sobre a decoração e o cardápio.
Francesca era uma típica mulher da Famiglia, preocupada com festas
e sapatos, mas conseguia manter uma conversa inteligente sobre arte e
música. Era simpática e nem um pouco discreta, me cobrando netos após
cinco minutos de conversa.
Depois de um tempo, Stefano me tirou para dançar e finalmente
tivemos um pouco de privacidade para conversar.
— Você está estonteante nesse vestido, eu estou tendo problemas em
me controlar e não te levar para um dos cômodos desse lugar.
— Fico feliz que atingi meu objetivo então...
— Objetivo?
— Sim. Te deixar louquinho e te lembrar que eu existo. Você não me
ligou desde que chegamos e eu fiquei sem meu guia turístico — falei com
uma voz manhosa e fazendo um biquinho para ver se comovia pelo menos
um pouco o senhor gelado.
— Então quer dizer que sentiu minha falta. — Eu simplesmente
assenti. — Eu andei ocupado com os negócios, meu irmão assumirá meu
lugar e eu preciso treiná-lo, mas não esqueci da minha promessa. Na verdade,
soube que você ontem estava fazendo compras e não quis atrapalhar seu dia
com Giselle. Essa semana irei te sequestrar quando você menos esperar.
— Ficarei aguardando ansiosamente por isso.
— Temos que voltar para mesa, meu padrinho chegou, você precisa
conhecê-lo e logo em seguida iremos te apresentar à Famiglia e anunciar
nosso noivado.
Normalmente as moças da Famiglia começavam a frequentar esse
tipo de evento aos dezesseis anos e assim eram apresentadas a todos os
jovens solteiros. Papai não quis me apresentar, sempre disse que eu não
precisaria disso para arranjar um marido, minha beleza somada com sua
posição no México já me garantiria um bom casamento.
Era verdade já que assim que papai resolveu me casar, Stefano caiu de
paraquedas em minha casa.
Stefano me apresentou ao Chefe, Lorenzo Bianchi, eu tremi na base, o
homem era uma muralha e tinha o olhar mais frio e calculista que já vi na
vida. Senti que ele analisou cada palavra e gesto meu, sem sombras de
dúvidas sabia de tudo que fazia no México para ajudar papai, mas não tocou
no assunto.
Após os cumprimentos, a música parou, eu, papai e Stefano fomos
chamados ao palco, Stefano iniciou o discurso.
— Boa noite a todos! É com grande satisfação que venho essa noite
anunciar a toda a Famiglia meu noivado com Milena Fiore, filha do nosso
honrado Capo Giovanni Fiore. Com essa união manteremos os laços da
família mais forte e o nosso poder no México ainda mais inabalável. Todos
estão convidados para celebrarem nosso casamento.
Papai também disse uma meia dúzia de palavras rapidamente e todos
levantaram suas taças em sinal de aprovação e eu me mantive no meio dos
dois sorrindo e calada, já que as mulheres deviam se manter como um enfeite
em eventos como estes.
Quando desci os degraus não pude deixar de perceber olhares
invejosos de algumas mulheres em nossa direção, mas eu simplesmente sorri
afetada para elas.
Após o anúncio do nosso noivado, eu dancei com o Chefe em sinal de
respeito, depois com papai, Riccardo e Stefano novamente. Fazia parte da
tradição.
A festa já estava terminando e Giselle desapareceu após dizer que ia
ao banheiro. Nando foi atrás dela preocupado, voltando juntos algum tempo
depois, eu perguntei a ela o que houve, mas ela me disse apenas que estava
tomando um ar.
Nos despedimos de todos e retornamos ao hotel.
CAPÍTULO 17
Milena Fiore

Estávamos almoçando no restaurante do hotel quando meu celular


começou a tocar.
— Oi, Stefano — atendi o celular sorrindo.
— Milena, hoje você passará o dia comigo, fale para seus amigos que
você vai até ao banheiro e venha aqui fora agora. — Stefano desligou sem me
dar a chance de aceitar ou não seu convite.
— Preciso ir ao banheiro e já volto — falei para Nando e Giselle que
estavam discutindo um com outro e sequer prestavam atenção em mim.
Saí do hotel sorrateiramente e vi Stefano encostado no carro de forma
descontraída, de bermuda e camiseta.
— Vamos rápido antes que Nando sinta minha falta — disse sorrindo,
louca para passar o dia toda sozinha com ele.
Stefano abriu a porta do carro para mim com um sorriso discreto nos
lábios, deu a volta, entrou no carro e saímos em disparada pelas ruas da
Sicília.
— Pensei que você teria medo de sair sozinha comigo, não esperava
que fosse atender meu pedido tão prontamente, esperava ter que entrar para te
buscar.
— Daqui a alguns dias estaremos casados, o que me adianta ter medo
de você? Sem falar que estou super curiosa para saber o que meu guia
turístico programou para nós.
— Hoje você vai matar a saudade que sente da Itália.
E foi realmente isso que aconteceu, passeamos por vários pontos
turísticos e Stefano foi muito carinhoso comigo, não com palavras, mas com
gestos.
Eu me abri sobre algumas coisas pessoais com ele, contei dos
passeios que fazia com minha mãe e até me emocionei quando fomos ao seu
lugar favorito.
Não pretendia começar um casamento cheio de barreiras entre nós, já
que ele não era do tipo que demonstrava seus sentimentos, eu iria ter que ser
sentimental por nós dois.
— Você gosta do mar? — Stefano me perguntou já no final da tarde.
— Amo. As ondas trazem uma sensação de paz indescritível. —
Quando dei por mim, Stefano estava estacionando em frente a uma praia
deserta.
Descemos do carro e o tempo estava um pouco frio, porém, eu queria
muito entrar na água.
— O que você está fazendo? — Stefano questionou ao ver que eu tirei
minha blusa e minha saia, ficando somente de sutiã e calcinha, um conjunto
sexy de renda que comprei junto com Giselle no nosso dia de compras.
Definitivamente estava jogando meu pouco juízo ao vento.
— É ruim que você me trouxe aqui e eu não vou aproveitar para dar
um mergulho. — Antes dele responder saí correndo em direção ao mar. —
Está gelada, vem logo — gritei para ele que estava parado de boca aberta me
olhando.
Stefano tirou suas roupas ficando apenas de cueca e que visão
maravilhosa eu tive do seu corpo sarado.
Dio mio, pelo menos nesse quesito ia passar bem durante o
casamento.
Ele veio correndo ao meu encontro com um olhar de desejo
estampado no rosto e assim que me alcançou me beijou com paixão.
Diferente do nosso primeiro beijo no México, esse ele não deixou de apalpar
meu corpo e me apertar junto ao seu corpo.
E apesar do frio que fazia quando as ondas geladas batiam nas minhas
costas, dentro de mim eu sentia tudo queimar.
— Milena, você quer me deixar louco? Cazzo! Se algum homem te
ver aqui desse jeito, serei obrigado a matá-lo — Stefano disse após retirar sua
boca da minha.
— Essa praia está deserta, está frio, ninguém vai vir aqui essa hora.
Relaxa e me beija de novo para me esquentar.
Stefano atendeu o meu pedido e nos beijamos com gosto, até que
fomos interrompidos pelo tremor que surgiu nos nossos corpos por causa da
água gelada.
— Melhor sairmos daqui antes de termos uma crise de hipotermia —
falei para ele sorrindo e saímos da água juntos, pegamos nossas roupas no
chão e entramos para dentro do carro, ligando imediatamente o aquecedor.
Quando ia me vestir, Stefano me impediu.
— Ainda não, minha linda, você não pode me dar essa visão e esperar
que eu me contente apenas com aqueles beijos no mar.
— Nós não nos casamos e você não espera que eu vá... — Stefano me
interrompeu.
— Não irei tirar sua virgindade antes do casamento, não se preocupe
com isso, quero apenas te sentir um pouco mais, posso? — Sem forças para
dizer não, apenas assenti e esperei para ver o que ele queria de mim.
Stefano abaixou o encosto do banco do carro, me colocou em seu colo
e começou a beijar minha boca, apertando-me contra os seus braços fortes.
Senti algo cutucando a minha bunda, quando consegui detectar do que se
tratava foi impossível não soltar um gemido.
Eu não tinha forças para afastá-lo e muito menos queria isso, ele disse
que não iria tirar minha virgindade e eu acreditei, até porque conversei com
algumas amigas de fora da máfia que me contaram que antes de perderem a
virgindade era normal o casal passar por algumas preliminares antes, para se
conhecerem melhor.
Já que estava tendo essa oportunidade com meu noivo, só me restava
aproveitar.
Daria esse voto de confiança a ele e veria até onde isso nos levaria.
— Você é tão linda! — Stefano exclamou, abaixando a alça do meu
sutiã, logo em seguida o desabotoou e me deixou com os seios expostos
perante o seu olhar lascivo. Ele me beijou de forma possessiva e em seguida
desceu a boca pelo meu pescoço e depois para os meus seios.
Senti minha calcinha molhada e definitivamente não era mais pela
água do mar.
Comecei a me esfregar no colo dele a fim de buscar algum alívio na
minha intimidade que não parava de pulsar, Stefano deu um sorrisinho sacana
e desceu os dedos até a minha calcinha, puxou-a para o lado e começou um
movimento gostoso de vai vem sem deixar de beijar e lamber meus seios
como se fosse a fruta mais gostosa do mundo.
O prazer que estava sentindo era algo que jamais senti, me perdi
totalmente nos braços de Stefano, foi impossível evitar, gemi como uma
louca em seu colo. — Vem para mim, Milena, goza gostoso. — Eu senti um
turbilhão de sensações e atingi um orgasmo arrebatador em seu colo, até que
eu caí na real.
Vergonha! Dio mio! Agora onde enfio minha cara?
— Ei, não precisa ficar vermelha assim, o que fizemos aqui é natural,
quero que você se sinta totalmente à vontade comigo — Stefano falou
tentando levantar o meu rosto para eu olhar diretamente para ele.
— Posso vestir minhas roupas? — perguntei ainda sem conseguir
olhar nos olhos dele e ele soltou uma risada sem vergonha, entregando-me
minhas roupas que eu nem vi que tinham ido parar no banco de trás.
Sabia que se tivesse um pouco mais de experiência poderia retribuir o
toque, mas nem morta que eu conseguiria mexer naquela coisa enorme que
ele tinha, assim tão rápido, Stefano também parecia não esperar por isso, já
que começou a se vestir também.
Após nos vestirmos e eu tentar dar um jeito na minha aparência
olhando no espelho do retrovisor, peguei meu celular e vi mil e uma
chamadas perdidas de Nando. Resolvi retornar para ele.
— Milena, onde você está? Está tudo bem?
— Calma, Nando, está tudo bem sim, só fui dar uma volta em um
lugar que minha mãe costumava me levar, já estou a caminho do hotel. — É
claro que ele devia imaginar que eu estava com Stefano, mas não iria dizer
isso a ele.
— Me diz onde você está que te encontro no caminho, você sabe que é
perigoso andar sozinha depois dos ataques da Bratva, seu pai me deixou
responsável pela sua segurança, Milena, você precisa começar a ser mais
responsável — ele esbravejou do outro lado da linha e quando eu ia
responder, Stefano pegou o celular e encerrou a ligação.
— Já estamos voltando, bella, você está comigo e não corre risco
algum, Nando vai se acalmar apenas quando estiver no hotel — Stefano falou
após eu lhe lançar um olhar zangado.
— Eu sei que não corro perigo com você, mas não precisava desligar
na cara dele, se bem que não saberia que desculpa dar a ele mais para se
acalmar — comentei dando de ombros e resolvi mudar o rumo da conversa.
— Como você está se sentindo com tudo isso? Quer dizer com o nosso
casamento, a mudança...
— Eu sempre imaginei que iria me mudar da Itália, como percebeu, a
minha família é grande e não há lugar para todos os Bianchi aqui se quisesse
assumir um cargo de liderança. Não posso negar que um casamento não
estava nos meus planos, mas você foi confiada a mim e não pretendo falhar
com você, não posso te prometer ser um marido carinhoso e essas baboseiras,
mas vou te manter sempre segura e vou dar o meu melhor para que nosso
casamento funcione.
— Hum... Eu quero que nosso casamento dê certo Stefano, não existe
divórcio na máfia e eu não pretendo ter uma vida infeliz. Você desperta em
mim uma mistura de sensações que não sei explicar. Por enquanto, me
contento que você preze apenas pela minha segurança, mas mais cedo ou
mais tarde vamos ficar caidinhos de amores um pelo outro.
Stefano apenas encarou a estrada como se eu tivesse acabado de falar
a maior sandice e o resto do caminho ao hotel ficamos em completo silêncio.
Sabia que falei mais do que deveria, mas não consegui evitar, com ele
as palavras pareciam que queriam saltar da minha boca, eu não conseguia ter
um controle frio das minhas emoções como ele.
Uma coisa era inegável, podia não ter se apaixonado ainda, mas
depois de hoje tinha certeza de que Stefano pelo menos me desejava.
CAPÍTULO 18
Milena Fiore

Emocionei-me maravilhada com meu reflexo no espelho.


— Ah, minha menina, você está tão linda — Lucrécia disse com a voz
trêmula pelas lágrimas que deixava cair.
— É a noiva mais linda de toda a Sicília — complementou Giselle
também emocionada.
— Ainda bem que a maquiagem é à prova d’água, éramos três
manteigas derretidas.
— Filha, posso entrar? — Papai bateu à porta e Giselle abriu dando
passagem para ele. — Está na hora, filha, mas gostaria de ter uma breve
conversa com você a sós.
Lucrécia e Giselle me abraçaram, falaram palavras de carinho e foram
para a capela onde seria realizada a cerimônia.
— Filha, primeiro gostaria de dizer que você é a noiva mais linda que
já vi, podendo ser comparada apenas à sua mãe.
— Obrigada, papai, gostaria tanto de tê-la presente nesse dia tão
importante para mim.
— Ela está presente em nossos corações, sempre estará. Não se
entristeça pela ausência dela, se estivesse aqui estaria tão orgulhosa da filha
quanto eu estou. Você é meu maior tesouro, Milena. Agradeço por ser sempre
tão forte e não me deixar afundar na minha tristeza, por você eu tive motivos
para seguir em frente e tudo que eu faço é pela sua felicidade. Sei que você
aceitou esse casamento pensando em mim também, mas como seu pai preciso
alertá-la. Stefano parece ser leal à Famiglia, mas eu só confiarei nele se
estiver ao seu lado, se você fosse homem herdaria tudo que venho
construindo, mas as coisas no nosso mundo não funcionam assim. Então eu
quero que você seja forte, se empenhe em fazer Stefano te enxergar como eu
te vejo, vocês dois juntos irão conseguir avançar tudo que eu não fui capaz
nesses anos, não permita que ele te exclua, te anule.
— O senhor sabe que eu nunca vou aceitar ficar longe dos negócios,
eu venho adotando uma postura cautelosa quanto às proibições de Stefano,
mas é porque eu preciso que ele confie em mim, depois que nos casarmos eu
quero começar a ajudá-lo aos poucos.
— Por isso te quero nos negócios, você pensa antes de agir e
consegue reverter qualquer situação ao nosso favor, mas saiba que se precisar
bater de frente com Stefano haverá consequências e eu não quero que me
esconda nada, Milena. Caso ele se mostre violento em algum momento eu
preciso saber, não apenas como seu pai, mas também como seu Capo.
Papai me dizer essas palavras foi como um divisor de águas em minha
vida. Sempre soube que me amava, apesar de não ficar repetindo essas
palavras abertamente, mas saber que estaria presente mesmo após meu
casamento me aqueceu. Isso não era normal no nosso mundo, filhas se
casavam e pertenciam aos maridos, os pais se livravam delas.
O meu foi e sempre será o melhor pai do mundo para mim.
— Eu te amo papai. — Ele me abraçou. — Agora vamos antes que
meu noivo venha ver o porquê de tanta demora e me encontre aos prantos.
Agarrada em papai, segui para a capela que seria realizada a
cerimônia. Ao chegar, Giselle correu para me ajudar a ajeitar o vestido e o
longo véu, e depois entrou seguida das outras damas de honra, moças da
Famiglia que eu mal conversava, mas que eram filhas de aliados próximos a
papai.
Quando ouvi o som da marcha nupcial tradicional e vi a porta se abrir,
puxei uma longa respiração e caminhei com papai ao encontro do meu noivo
no altar.
Stefano me olhava com uma expressão neutra, mas quando me tirou
dos braços de papai percebi um pequeno sorriso escorregar pelo canto de seus
lábios, entretanto, tão rápido quanto surgiu se foi, dando lugar à expressão
vazia durante toda a cerimônia.
A cerimônia aconteceu rapidamente, não fizemos os votos, o que era
comum em casamentos arranjados. O beijo ao final também foi rápido, um
breve selinho, claramente em sinal de respeito.
Após sairmos da capela, entrei na limusine que nos conduziria até a
festa.
— Você está linda, Milena, minha vontade é pular logo essa festa e ir
direto para o aeroporto.
— Aeroporto... Teremos lua de mel?
— Infelizmente, preciso me estabelecer no México o mais rápido
possível, então teremos apenas três dias para nós.
— Eu compreendo, também não quero deixar papai sozinho por muito
tempo, já estou na Itália há quase três semanas. Para onde iremos?
— Irá saber quando chegarmos lá. Agora preciso de um beijo de
verdade da minha esposa.
Stefano me puxou para perto e encostou seus lábios nos meus
gentilmente, mas logo introduziu a língua em minha boca e o beijo esquentou
trazendo aquela sensação gostosa de borboletas no estômago novamente.
— Chegamos — Stefano disse, afastando-se e eu mal percebi que o
carro já havia estacionado.
Me recompus, descemos do carro e fomos cumprimentar os
convidados. Era tanta gente que foi um sacrifício ficar em pé sobre o salto
alto por tanto tempo, por fim, estava quase caindo em cima do meu marido.
— Vejo que está cansada, podemos nos sentar agora — Stefano
afirmou e nós caminhamos para a mesa em que se encontrava nossa família.
A festa estava animada, uma típica festa de italianos, muita bebida,
comida e música, do jeito que sempre quis.
— Obrigada, Francesca, está tudo do jeitinho que sempre sonhei, não
conseguiria sem sua ajuda — falei para minha sogra que realmente se
mostrou muito carinhosa comigo, indo ao hotel praticamente todos os dias
para me ver.
— Milena foi um prazer ajudá-la, saiba que de agora em diante você é
a filha que eu nunca tive, estou aqui para o que precisar. Claro que para me
agradecer pode encher minha casa de netos. — Virei-me para Stefano e ele
fez uma expressão esquisita para sua mãe.
— Mamma os filhos virão na hora certa. Venha Milena, está na hora
da nossa dança.
Saindo daquela situação constrangedora fomos para a pista de dança.
— Milena, eu não quero ter filhos por agora, preciso me concentrar
nos negócios no momento, por isso eu quero que use um método
contraceptivo da sua escolha.
— Entendo. Na verdade, sou muito jovem para ser mãe, pretendia
falar sobre isso com você, fico feliz que compartilha do meu pensamento.
Sobre o contraceptivo, eu me consultei com minha ginecologista antes do
casamento e já estou tomando pílulas.
— E se eu quisesse ter filhos agora? — perguntou erguendo uma
sobrancelha.
— Eu te convenceria do contrário — respondi sorrindo docemente,
com minha melhor cara de inocente.
Meu corpo, minhas regras.
Quando eu percebi que a festa estava quase no fim, fui trocar o
vestido com Giselle, conversamos sobre a noite de núpcias e ela me deu
vários conselhos que não tinha a menor ideia se funcionariam, já que tinha
tanta experiência em sexo quanto eu, ou seja, zero.
Lucrécia também tentou ter aquela conversa de mãe comigo antes da
cerimônia, mas ficou envergonhada quando eu perguntei se eu deveria ou não
engolir o esperma do meu marido durante um boquete. Aparentemente
mocinhas da Famiglia não faziam boquetes.
Me despedi de todos e vou com meu marido para o aeroporto, ansiosa
para saber o destino da minha curta lua de mel.
CAPÍTULO 19
Milena Bianchi

Minha intenção não era parecer uma menina medrosa e insegura


diante do meu marido, mas sentia que estava falhando miseravelmente.
Tentei puxar assunto com Stefano quando entrei no avião, mas
somado ao meu pânico de voar estava toda aquela insegurança sobre o que
aconteceria assim que desembarcássemos no nosso destino “romântico”. Me
limitei a perguntar apenas o tempo do voo para saber qual calmante tomar.
Quando acordei o avião estava pousando e graças a Deus eu estava
bem afivelada ao cinto de segurança e institivamente agarrada ao braço de
Stefano.
Desembarcamos e para minha surpresa e alegria estávamos no destino
turístico sonho de qualquer casal recém-casados: Maldivas!
— Eu não acredito que você me trouxe ao paraíso, esse lugar é
incrível! — exclamei sem conseguir esconder minha felicidade enquanto nos
acomodávamos em um bangalô sobre o mar.
— Você verá o verdadeiro paraíso entre os lençóis, querida esposa.
Sem palavras para responder a insinuação dele, me limitei a pegar
uma camisola branca preparada para minha noite de núpcias e fui para o
banheiro tomar um banho.
Certifiquei que a porta do banheiro estava trancada, tirei a roupa e
fiquei me olhando no espelho, esperando que eu conseguisse criar coragem e
não ser tão patética. — Você é linda e gostosa, mostre a ele com quem se
casou. — Tomei o banho, me arrumei e saí quando já até acreditava um
pouco mais em mim.
Stefano também tinha tomado banho, estava sentado no meio da
cama, sem camisa e com uma calça de pano fino e larga. Prontamente se
colocou de pé e veio em minha direção.
— Está simplesmente perfeita, esposa. — Os olhos dele brilhavam de
luxúria.
— Eu confesso que estou nervosa.
— Não fique, deixe que eu te conduza, prometo que serei bom para
você, não estou dizendo que não vai doer, mas tentarei deixar suportável.
— Confio em você.
Stefano se aproximou e me beijou fazendo com que as borboletas no
meu estômago ganhassem vida novamente. Ele passava as mãos por todo o
meu corpo, me incendiando por dentro, fazendo que eu buscasse cada vez
mais pelo seu corpo junto ao meu. Me encostou na parede do quarto,
começou a beijar meu pescoço e dar mordidinhas na minha orelha.
— Bella mia, eu quero você tão louca de desejo quanto eu estou
agora, só assim vou deixar o meninão aqui brincar. — Dizendo isso, Stefano
colocou minha mão em seu membro coberto apenas pela sua cueca.
— Quando você tirou sua calça?
— Foi você que tirou, esposa, estou amando esses amassos, pode
continuar usando e abusando desse corpinho aqui que te pertence.
Munida de uma coragem e ousadia que se sabe lá de onde eu tirei,
empurrei Stefano para cama e quando dei por mim estava me esbaldando no
seu corpo, beijando aquele peitoral malhado como se fosse uma completa
devassa.
— Posso tirar sua cueca? — Stefano estava tão perdido de desejo
quanto eu, mas pareceu incrivelmente surpreso com minha atitude.
— Sou todo seu, esposa!
Eu puxei a cueca dele e não consegui disfarçar o espanto. Seu pau era
enorme e grosso como nos vídeos pornôs que eu assisti por curiosidade, não
imaginava que seria assim ao vivo e em cores.
— Cazzo! Minha pose de mulher fatal acaba aqui marido, isso não vai
caber dentro de mim.
Stefano soltou uma risada, claramente, divertindo-se com meu pavor.
Com apenas um movimento rápido, trocamos de posição e eu estava
deitada na cama e ele por cima de mim.
— Vai caber, esposa, não se preocupe que esse espanto vai passar e
logo, logo, essa boquinha que estava beijando meu peito estará toda em volta
do meu pau. Agora deixe eu retribuir seus carinhos.
Será que era a hora de perguntar se eu devo engolir?
Stefano retirou minha camisola, me deixando só de calcinha e
começou a trilhar uma linha de beijos do meu pescoço até meus seios, suas
mãos foram de encontro ao meu centro e seus dedos iniciaram aquele vai e
vem gostoso por cima da minha minúscula calcinha rendada.
— Preciso sentir seu gosto e saber se é tão doce quanto eu imagino.
Dizendo isso ele retirou minha calcinha e colocou a cabeça entre
minhas pernas.
Visão do paraíso.
Me tornei uma pervertida, queria viver com Stefano com a cabeça
entre minhas pernas.
Ele beijava, lambia, sugava e eu gemia sem controle, o prazer me
inundou e eu estava perdidamente entregue às sensações que ele me
proporcionava, até que cheguei em um clímax arrebatador.
— Agora te farei minha, relaxe e abra as pernas para o seu marido.
Ele se posicionou em cima de mim e eu fiz como pediu, buscando
com todas as minhas forças me manter relaxada.
Em uma estocada só ele entrou, o prazer se foi e veio a dor.
Ele se manteve parado dentro de mim e eu só queria que aquela dor
passasse logo.
— Tão apertada, sua boceta está estrangulando meu pau.
Era como se eu estivesse sendo rasgada ao meio, recusei-me a chorar,
respirei fundo e dei um sinal para Stefano continuar, mas Stefano não se
mexeu. Ele se curvou e me beijou com carinho, deslizou a língua pela minha
orelha, mordeu a pontinha e deu uma leve puxadinha, sussurrando uma série
de putarias no meu ouvido
— Você é tão gostosa, tão apertada e quente. Meu pau está todo
melado agora. Está sentindo como somos bons juntos? Como você me
acomoda perfeitamente dentro de você?
Ele desceu a boca para o meu seio direito e sugou enquanto uma de
suas mãos acariciava meu seio esquerdo.
— Concentre-se em como é bom ter minha língua chupando seus
peitinhos, o que você está sentindo? Seu corpo é tão receptivo aos meus
toques. Você é toda deliciosa.
—Dio mio![12]
— Vou começar a me mexer, concentre-se em minha boca te
lambendo todinha.
Stefano começou a entrar e sair, em um ritmo lento, mas muito
intenso. Eu busquei conforto em suas carícias e aos poucos a dor foi se
dissipando e o prazer foi retornando porém não ao ponto de conseguir gozar.
— Está ficando gostoso, marido, mas eu não acho que vou conseguir
gozar novamente.
Stefano assentiu e deu mais algumas estocadas dentro de mim.
— Você é minha, somente minha — Stefano disse e inundou meu
interior chegando ao seu ápice, o olhar de satisfação que me deu valeu por
toda dor que senti, uma sensação boa de poder dar prazer a ele fez com que
eu esquecesse meu desconforto e sorrisse feliz e realizada.
— Venha, precisamos de um banho e depois podemos dormir. — Ele
me puxou para o banheiro, me lavou carinhosamente e depois voltamos para
o quarto. Tiramos o lençol sujo de sangue e colocamos outro, deitamos e eu
me aninhei em seu peitoral e me entreguei ao cansaço nos braços do meu
marido.
CAPÍTULO 20
Stefano Bianchi

Era algo normal e comum os homens feitos possuírem uma ou várias


amantes.
As esposas normalmente serviam para formar alianças e produzirem
herdeiros.
Certo ou não, essa era a realidade dentro da nossa organização. Os
homens detinham o poder e as mulheres se contentavam com as regalias que
o dinheiro de seus maridos podia comprar.
Entretanto, eu não me encaixava nesse grupo.
Vi homens fortes caírem perante os inimigos por causa de traições
vindas das suas amantes ou até mesmo das suas esposas.
Um coração partido era pólvora suficiente para explodir uma família
inteira.
Por isso, durante toda minha vida nunca deixei ninguém se apegar a
mim. Nunca tive fodas fixas e muito menos namoradas, minhas relações
duravam no máximo uma madrugada e na maioria das vezes as mulheres
eram prostitutas.
Quando conheci Milena soube que não precisaria de mais ninguém,
ela seria capaz de me dar todo o prazer que eu precisava para saciar minhas
necessidades sem que eu precisasse recorrer a alguém fora de casa, era só
ensiná-la direitinho.
A nossa noite de núpcias só demonstrou o quanto eu estava certo com
relação a isso.
Ela me surpreendeu quando tirou minha calça sem nem se dar conta,
perdida de desejo, me jogou na cama e venerou cada pedaço do meu peitoral.
Sei que sou gostoso, meu físico é muito atraente, mas não esperava
por isso na nossa primeira noite juntos.
Percebi que ela não curtiu muito a penetração em si, na verdade, se
esforçou para não chorar em meus braços, mas era questão de tempo e ela
não ia querer mais viver sem eu dentro dela.
Perdido em meus devaneios vejo Milena despertar nos meus braços
no dia seguinte.
— Bom dia, marido!
— Bom dia, esposa! Dormiu bem?
— Como um anjinho. — Seu sorriso era doce e realmente angelical,
totalmente diferente de toda devassidão que deixou escapar ontem à noite. —
O que vamos fazer hoje?
— Eu gostaria de ficar o dia todo nessa cama enterrado em você, mas
imagino que esteja um pouco dolorida, então coloque um biquíni, porque
vamos sair para mergulhar.
Milena assentiu, me deu um selinho, se levantou, pegou um biquíni na
mala e foi para o banheiro. Preferi dar um espaço a ela e fui para o outro
banheiro.
Quando retornei para o quarto, Milena estava terminando de se
arrumar. Tomamos um café da manhã reforçado que pedi para entregarem no
nosso bangalô e fomos para a área de mergulho.
O dia foi muito agradável, deixei os problemas da máfia de lado e me
dediquei a conhecer os gostos da minha esposa. Ela contava sobre as músicas
que gostava, os lugares que frequentava e sobre suas amizades. Eu preferi
escutar, porque não tinha muito de mim para compartilhar, vivia para máfia e
minha alegria estava nas torturas, assunto mórbido demais para uma lua de
mel.
Infelizmente a escuridão me inundava, diferente de Milena que era
um doce anjo, incapaz de qualquer ato de maldade.
Quando voltamos para o nosso bangalô, o jantar romântico que eu
pedi que preparassem já estava nos aguardando.
Via os olhinhos de Milena brilharem com minha dedicação e
surpreendentemente fiquei bem com isso.
Durante o jantar resolvi falar tudo que era necessário para iniciar
nosso casamento às claras.
— Esposa, preciso que entenda o que vou te dizer agora. Eu vejo que
você está se abrindo para mim, deixando o que eu entre completamente em
sua vida em busca de um casamento perfeito. Eu não posso te iludir e nem
vou. Casamento perfeito não existe. Eu não sou bom com sentimentos e não
sei o que é estar apaixonado. Não posso te prometer um amor de contos de
fadas quando dentro de mim só habita escuridão, mas eu posso te dizer como
será entre nós.
Milena assentiu e esperou que eu continuasse explanando meu ponto
de vista.
— Não quero que haja segredos entre nós, se eu te perguntar algo
você vai me dizer a verdade, assim como eu também irei te dizer. Mentiras
por menores que sejam quebram a confiança. Eu não irei te trair, te farei
única em minha vida para que nunca haja ninguém entre nós, não aceito que
ninguém esteja acima de mim na sua vida, quero que assim como você será
minha prioridade eu também seja a sua. Entende isso?
— Entendo e concordo. Você é tão meu quanto sou sua, minha
lealdade está com você.
— Bom. Quanto à máfia, não mudei de ideia. Não quero que você
participe, já tem semanas que deixou de ajudar seu pai e até hoje não vi
nenhuma reclamação dele.
Milena ficou vermelha e quase cuspiu o champanhe na minha cara.
— Como estamos falando em dizer sempre a verdade, acho que é uma
boa hora para te contar que não deixei de ajudar meu pai nos negócios até
anteontem.
— Como assim? — perguntei incrédulo, ela estava ocupada
organizando nosso casamento, porra!
— Stefano, papai raramente me autoriza a fazer trabalhos "de campo",
mas eu sempre fui responsável pelas finanças da organização. Sempre fui um
prodígio com números e papai sempre esteve cercado por traidores. Ele não
dava conta de conferir os lucros mensais e muito menos é organizado o
suficiente para isso, quando comecei a ajudá-lo tudo estava uma bola de
neve. Na primeira vez que peguei os livros do caixa de uma de nossas boates
foram descobertos cinco traidores, desde então não fiquei de fora mais. —
Milena parou de falar e eu fiz um gesto para que ela continuasse a me contar
em que consistia seu trabalho junto ao pai.
— Bem, eu comecei ajudando meu pai a fazer o controle do caixa das
boates, o Chefe pedia um relatório mensal dos rendimentos e tudo estava uma
completa desordem, fiz algumas adaptações informatizando nossos negócios
legais para que ficasse claro tudo que entrava e saía, controlando cada
despesa desnecessária que ia direto para algum soldado metido a espertinho
que gostava de desviar nosso dinheiro. Como me saí bem, meu pai me
apresentou aos negócios ilegais para que eu o ajudasse também, esses foram
mais difíceis de organizar no começo, visto que não podemos usar nenhum
sistema informatizado que pode ser hackeado, ainda assim, com o tempo
consegui colocar tudo em ordem e ampliei os fictícios “ganhos” dos
empreendimentos legais, conseguindo lavar o triplo do dinheiro que era
lavado antes de minha gestão.
— Então você ajudava apenas na parte administrativa?
— Quase isso. Depois de um sequestro, convenci meu pai que deveria
aprender autodefesa para minha própria segurança. Comecei a treinar com os
soldados da minha idade, eles não gostavam muito de ter uma garota no
ringue e eu levei porrada para caramba. Percebi que não importava o quanto
me mostrava capaz, eles sempre me olhavam diferente, então deixei de me
importar. Aos poucos ganhei o meu lugar e passei a ser respeitada entre eles,
até que meu pai deixou que eu participasse de uma reunião que decidiria o
fim de uma gangue que havia surgido. Papai se surpreendeu com as ideias
que eu dei para encurralar nossos inimigos e as seguiu confiante. Para minha
sorte e alegria deu tudo certo, a partir daí papai passou a me colocar a par de
tudo, sem exceção, eu me comunicava em seu nome com outros Capos,
inclusive, claro que apenas por mensagens ou e-mails. Por fim, até cheguei a
convencer o meu pai de receber algumas cargas junto com Nando, mas os
inimigos me viam como o elo fraco dele, então eu não podia deixar que me
vissem à frente, era perigoso demais.
— Papai me contou sobre o sequestro, da forma como te encontrou
presa à cadeira. Não te vi abatida, parece ter lidado muito bem com tudo que
aconteceu quando Esteban a manteve sob seu domínio.
— Não adianta em nada ficar se lamentando pelo que já aconteceu.
Eu fiquei abatida? Fiquei. Tive pesadelos? Vários. Chorei? Muito. Mas tinha
muitos motivos para seguir em frente, sendo você um deles. Então aqui estou
eu querendo começar um novo capítulo em minha vida ao seu lado.
Realmente minha esposa era uma joia rara, totalmente diferente das
outras.
— Percebe que apesar de saber de tudo isso, não muda o fato de que
você me desobedeceu?
— Tecnicamente obedeci ao meu pai, ainda não éramos casados, meu
pai era o responsável por mim e eu fiz o que me pediu, não corri risco algum,
trabalhei de home office apenas com as finanças.
Não aguentei mais manter a minha cara séria diante daqueles olhinhos
brilhantes me encarando e acabei me permitindo sorrir de sua cara de pau.
— Tudo bem, esposa. Vamos conversar sobre os negócios quando
chegarmos à nossa casa. Por agora vamos apenas curtir o restante da nossa
lua de mel.
Peguei Milena no colo e levei para o quarto, doido para me perder
mais uma vez nas suas curvas perfeitas.
A Famiglia, pela primeira vez em minha vida, podia esperar.
CAPÍTULO 21
Milena Bianchi

Em frente minha nova casa, fiquei fascinada com a escolha feita pelo
meu marido que possuía um ótimo gosto.
Enquanto os soldados levavam nossas malas para dentro, reparava
que ele teve o cuidado de se manter próximo à casa de papai, acatando a ideia
de manter um complexo da Famiglia para que facilitasse nas medidas de
segurança.
Eu me sentia cada vez melhor ao lado de Stefano, seu cuidado comigo
aquecia meu coração. Ele era seco com as palavras e não compartilhava suas
emoções, se escondia em uma máscara fria quase o tempo todo, mas suas
atitudes falavam mais que mil palavras.
Ele disse o que esperava do nosso casamento, basicamente o discurso
dele se resumiu em cumplicidade e fidelidade, mas o que ele não sabia é que
juntos também iríamos construir uma verdadeira história de amor.
Eu iria viver um amor avassalador com ele, me dedicaria todos os dias
a fazer com que ele me quisesse mais e mais.
Além disso, era a única forma dele me permitir continuar trabalhando.
Entrei na nossa casa, seguida por seu olhar avaliador, em resposta dei
meu melhor sorriso agradecido.
— Que casa maravilhosa! Estou apaixonada por cada detalhe,
Stefano.
— Nosso lar, esposa. Que bom que gostou, organize nossas coisas do
seu jeito, eu preciso ir encontrar Giovanni, pelo que ele me adiantou há muito
a ser feito, provavelmente volto apenas para o jantar.
— Tudo bem. Irei colocar tudo em ordem, mas amanhã quero ir com
você encontrar papai e conversar sobre como as coisas serão daqui para
frente.
— Milena, eu já disse que...
— Xiiii... Amanhã, marido, hoje preciso colocar nossa casa em
ordem. Vai lá, papai precisa de você. — Dei um beijo calmo em Stefano, ele
assentiu e saiu me deixando com as borboletas que sempre insistiam em
aparecer quando ele me tocava.
Subi as escadas e fui para o nosso quarto. Era enorme, mas precisava
de um toque feminino na decoração, iria trocar as cortinas e colocar uma
penteadeira, sem falar nas paredes que estavam sem vida alguma.
Fui listando tudo que precisava de uma modificação para repassar
para os empregados, outra coisa que também precisava verificar. Sentiria
falta de Lucrécia, precisava de uma governanta tão boa quanto ela para deixar
tudo sempre em ordem, faria um período de testes até encontrar alguém para
a função.
Liguei para Giselle e ela ficou de me visitar outro dia já que estava
ocupada fazendo um favor para o Nando hoje, mas não deixou de me
incentivar a preparar uma surpresa sexy para o meu marido.
Então fiquei de um lado para o outro o dia todo organizando tudo e
agora estava no meu quarto, ansiosa pela chegada do meu marido.
Preparei um jantar romântico, comida de restaurante, coloquei na
mesinha de canto do quarto, champanhe, velas acesas, pétalas de rosas
espalhadas por todo o quarto.
Eu estava usando um conjunto de peças íntimas vermelho rendado,
com direito a cinta liga, meias três quartos e salto alto, tudo escondido
embaixo de um sobretudo.
Se dependesse de mim a noite seria uma criança e nossa lua de mel
não terminaria tão cedo.
Depois da minha primeira vez, as coisas começaram a melhorar. Eu
ainda sentia um desconforto com ele dentro de mim, Stefano era todo
másculo, grande e seu membro era com certeza muito acima da média, mas
meu corpo estava se acostumando e eu quase consegui gozar na última
penetração.
Escutei a maçaneta se mexer e então resolvi me sentar com as pernas
cruzadas de uma forma que imaginava ser sexy.
Stefano abriu a porta e seus olhos percorreram por todo o quarto
parando diretamente em mim.
— Cazzo!
Sem demoras ele estava na minha frente, me beijando loucamente.
Interrompi nosso beijo e decidi que o jantar ficaria para depois. Sob o seu
olhar, tirei meu sobretudo e deixei que ele visse tudo que pertencia somente a
ele.
Queria matar meu marido de uma vez só.
— Esposa, você me enlouquece. Vou venerar cada pedacinho do seu
corpo essa noite.
Stefano começou a tecer beijos pela minha nuca, desceu para meus
seios e retirou cuidadosamente meu sutiã. Sugou meus mamilos, fazendo-me
delirar de desejo.
Não contente, foi descendo e lambendo minha barriga, colocando-se
de joelhos em minha frente.
Lentamente desprendeu a cinta liga da minha perna direita e foi
descendo a meia enquanto seguia uma trilha de beijos desde minha coxa até o
joelho. Quando terminou, repetiu o mesmo processo com a perna esquerda.
Por fim, retirou minha calcinha, me deixando completamente nua na
sua frente.
— Eu vou me deitar na cama e quero que você se posicione em minha
boca.
Stefano fez o que disse, ele permanecia completamente vestido, ainda
hesitante, fiz o que me pediu.
Segurei na grade da cama e posicionei minha entrada sobre sua boca.
— Seu homem vai te chupar e você irá rebolar em minha boca. Quero
tudo de você.
Dizendo isso ele começou a me lamber, brincar com meu clitóris e eu
comecei a gemer sem parar. Eu rebolava para aumentar o atrito e ele
começou a colocar os dedos dentro de mim.
Eu estava completamente perdida de desejo, naquele momento faria
qualquer coisa para que ele não parasse o que estava fazendo.
Gritei por seu nome em meio aos gemidos e quando dei por mim
estava gozando freneticamente em sua boca, meu corpo todo tremia com a
sensação do orgasmo.
Stefano me pegou e me colocou deitada sobre a cama.
— Seu gosto é maravilhoso, mas preciso estar dentro de você.
Ele tirou suas roupas num piscar de olhos e enfiou o seu pau entre
minhas pernas em uma estocada só.
Prazer.
Apenas prazer, não havia mais os resquícios de dor.
— Está gostando de me ter dentro de você?
— Ah sim... Mais forte, preciso de mais.
Stefano aumentou a velocidade e a força, segurou minhas pernas e
urrava enquanto estocava com tudo dentro de mim.
Sem como me segurar, cheguei ao ápice mais uma vez, só que
acompanhada por ele que inundava meu interior.
— Nada como encher sua bocetinha com minha porra, mas preciso de
mais.
Sem tempo para responder, ele me virou, me colocou de quatro e seu
pau, já estava pronto para outra, entrando em mim novamente.
— Eu vou te comer hoje como uma vadia, minha vadia.
As palavras sujas deveriam me ofender, porém, só me excitaram mais
e eu me vi respondendo à altura.
— Sim, sou sua putinha, me coma com força, marido.
Em meio a súplicas, gemidos e gritos cheguei ao ápice pela terceira
vez na noite, apertando o seu pau dentro de mim, fazendo com que Stefano
me acompanhasse no orgasmo mais uma vez.
Cansados, ficamos um tempo deitados retomando o fôlego. Quando
nossas respirações voltaram à frequência normal, levantei-me.
— Venha tomar um banho comigo, marido. O jantar romântico ainda
nos aguarda.
Stefano se levantou e fomos juntos para o chuveiro, onde tivemos
mais uma sessão de sexo bem molhado. Depois jantamos e apagamos
completamente exaustos pelo desempenho da noite.

Era hora de voltar à rotina, o relógio despertava e Stefano já estava


tomando banho.
Levantei-me, entrei no closet e separei nossas roupas.
— Bom dia, esposa! — Stefano saiu do banheiro enrolado na toalha.
— Bom dia, marido! — Fui ao seu encontro, dei um selinho rápido
em seus lábios e me direcionei ao banheiro. — Deixei suas roupas separadas
em cima da cama, quero tomar café da manhã na casa de papai, estou com
saudades dos quitutes de Lucrécia.
Até porque não sabia cozinhar e ainda não tinha contratado uma
empregada.
— Tudo bem, te esperarei lá embaixo.
Eu havia encaminhado uma mensagem para papai nos esperar pela
manhã, queria falar logo com Stefano a respeito do meu papel dentro da
organização, quanto mais enrolasse para ter essa conversa seria pior.
Papai não confiaria em Stefano logo de cara, mesmo sendo sobrinho
do Chefe, tinha certeza de que manteria um pé atrás por um tempo. Traições
dentro da Famiglia ocorriam vez ou outra, mas eu lia muito bem as pessoas e
percebi de cara que ele era tão leal quanto eu.
Terminei de me ajeitar rapidamente e desci para irmos à casa de
papai.
Quando cheguei foi só alegria, Lucrécia me abraçou e disse o quanto
sentiu minha falta, papai apesar do seu jeito mais duro também me recebeu
com muito afeto.
Tomamos café e contei o quanto as ilhas Maldivas eram
maravilhosas, além de falar de alguns passeios que fiz na Itália antes do
casamento.
Stefano não falava muito, apenas concordava com algumas coisas que
eu afirmava e observava minha interação.
Assim que terminamos o café, Leonardo chegou e o papai pediu que
fôssemos nos reunir em seu escritório.
— Stefano, acredito que Milena tenha te colocado a par das atividades
que desempenhava comigo antes do casamento, sendo meu braço direito —
papai falou em um tom duro, quem falava nesse momento era o Capo que
detinha o poder, Stefano apenas assentiu. — Sei como as coisas funcionam
na Itália, mas aqui é diferente. Minha filha não é uma qualquer, ela se tornou
uma mulher forte e inteligente, peça indispensável no meu comando e eu não
quero abrir mão de seus serviços. — Stefano iria falar algo, mas papai cortou
com um gesto.
— Sei que agora ela é sua esposa, mas sou seu Capo. Milena não irá
fazer nada que coloque sua vida em risco, você decidirá se ela continuará
com os treinos, se participará das nossas reuniões e tudo mais, entretanto,
quero que ela continue administrando nossas finanças ao seu lado,
controlando toda a parte financeira como sempre fez.
Nesse momento levei um banho de água fria, pensei que papai iria
impor minha presença pelo menos em seu conselho, mas parece que só seria
necessária como uma reles contadora.
— Capo, concordo que minha esposa continue auxiliando nas
finanças ao meu lado, quanto às outras questões irei conversar com ela em
particular, é um assunto nosso e não quero interferências dentro da minha
casa.
Estava decepcionada.
Como papai poderia me deixar de lado dessa maneira? Minha língua
estava coçando para iniciar uma discussão acirrada, mas pensei melhor e de
agora em diante quem eu teria que dobrar era apenas meu marido.
Doce e sorrateira.
— Bom, se vou continuar à frente das finanças, gostaria de levar
Stefano a todos nossos estabelecimentos e apresentar como tudo é feito por
aqui.
— Justo — papai afirmou. — Leve Stefano em todos os nossos
clubes, apresente os soldados responsáveis por cada serviço e mostre a ele
como gerimos todos os nossos negócios legais. Em relação ao tráfico e
demais negócios, caberá a Nando lhe mostrar tudo. — Papai se virou para
Stefano. — Estou confiando em você para garantir a segurança de Milena.
— Sim, Capo, darei a minha vida pela minha esposa se necessário —
Stefano garantiu em um tom duro.
— Papai, quanto ao governador traidor, o que foi feito a respeito?
— Esperava o retorno de Stefano para lidar com a situação, enquanto
estavam em lua de mel dei corda para ele se enforcar, descobri mais uma
meia dúzia de traidores que recebiam nossa propina, mas faziam jogo duplo.
— Papai encarou Stefano e prosseguiu: — É sua responsabilidade cuidar
dele, o Chefe quer que você mostre a todos a que veio.
Sabia que a família Bianchi era mortalmente vingativa quando se
tratava de traições, as histórias sobre as formas de tortura que utilizavam
eram famosas no nosso meio, o pedido de papai seria um aviso de que de
agora em diante lidaríamos com os inimigos com mãos de ferro.
Quando deixamos o escritório, queria jogar mil e um questionamentos
em Stefano sobre o que ele iria me deixar fazer ou não dentro da organização,
mas ele fugiu de mim como o diabo foge da cruz, disse que tinha muito a
fazer em relação ao traidor.
Preferi manter minha cabeça em tudo que ainda precisava ser
organizado na minha nova casa, enquanto aguardava o retorno do meu
marido, ele teria que fazer uma viagem demorada junto com Nando, já que o
governador estava em outro estado.
Liguei para Giselle que prometeu me visitar à noite para colocarmos
todas as fofocas em dia.

— Amiga, então sexo é tão bom como contam nos livros?


— Muito melhor, Giselle, se eu pudesse não deixava Stefano sair da
nossa cama mais.
— Pervertida.
Contei para Giselle alguma das coisas que Stefano fez comigo, ela
escutava tudo de boca aberta e suspirava indagando quando seria sua vez de
viver algo assim.
Safada!
Os poucos dias que fiquei longe de minha amiga me fizeram sentir
muita saudade de sua alegria contagiante. Com seu jeito divertido e
espontâneo, ela tentava me dar dicas que lia nos livros para preparar mais e
mais surpresas para meu marido.
— E quando você fizer quero saber a reação dele, aposto que vai ficar
de quatro por você. Mas agora é sério, Milena, estou percebendo que você
está um pouco distraída, como foi a reunião com seu pai?
— Giselle, papai colocou nas mãos de Stefano decidir se eu posso ou
não continuar treinando e participando do conselho, Stefano não me deu
chance para uma conversa e eu tenho certeza de que ele não vai deixar eu me
envolver mais. — Suspirei demonstrando toda minha insatisfação.
— Se eu fosse você não teria tanta certeza, ele pode te surpreender.
— Ah, amiga, ele está se adaptando bem ao casamento, mas continua
muito fechado comigo, não sei muito da sua vida pessoal e dos seus gostos,
sempre diz que eu sou mais interessante que a vida dele. Eu acabo falando
pelos cotovelos enquanto ele apenas me escuta.
— Eu imagino que para ele deve ser difícil, homens feitos do nosso
mundo não são muito de conversar sobre a vida, acho que a única exceção
que conheço é meu irmão.
— Nando é mais louco que o Batman, mas você sabe que atrás de
todas aquelas brincadeiras ele esconde um lado bem psicótico. Não se iluda,
seu irmão já fez coisas tão cruéis quanto qualquer outro membro da Famiglia.
— É eu sei e tenho ficado um pouco preocupada com ele, está
obcecado com a tal mexicana. Acredita que ele só a chama assim porque nem
sabe qual é o nome verdadeiro da ragazza?
— Como não sabe o nome dela? Ele não pesquisou com nossos
contatos?
— Aí é que está, a menina é uma lenda, Milena. Por cada cidade que
passa usa um nome diferente, são tantos que é impossível saber qual é o real.
Nando está cada dia mais perturbado com os sumiços dela.
— Estranho. Precisamos investigar, ela pode ser perigosa.
— Não acho que seja, acho que é apenas uma inconsequente curtindo
a vida, pelo menos é o que meu instinto de gêmea apita. Fez meu irmão ficar
que nem um cãozinho atrás dela e não está nem aí para ele, ganhou moral
comigo.
— É. Pelo menos ela não é interesseira que nem a Lily, que tenta
fisgar Nando de qualquer jeito só porque ele tem um cargo de confiança com
nossos pais.
Lily era uma das filhas de um dos soldados e vivia se oferecendo para
Nando e se fazendo de minha amiga, mas a garota era insuportável. Ela
tentou conseguir nosso apoio, mas eu a peguei falando mal de Giselle pelas
costas e tive que mostrar para ela seu devido lugar.
— O único problema será quando meu pai descobrir, não quero nem
pensar nas consequências que essa brincadeira de gato e rato vai causar na
minha família.
Realmente era algo com que se preocupar. A Famiglia não perdoava
ninguém, esse relacionamento com a mexicana estava com os dias contados.
CAPÍTULO 22
Stefano Bianchi

Com carta branca para lidar com Joaquim Tomaso do meu jeito, segui
para Guadalajara, cidade em que o governador se encontrava com demais
ratos que faziam negócios com a Famiglia, nos traindo bem debaixo do nosso
nariz.
Nando estava ao meu lado e confesso que estava começando a simpatizar
com o soldado. Ele não tinha nenhum interesse amoroso em minha esposa,
isso era fato. Entretanto, restava saber como ele iria reagir com meu método
de resolver os problemas, com seu jeito brincalhão demais não sabia se era
capaz de aguentar ser o braço direito de um Bianchi.
Na Itália eu nunca precisei de um braço direito, tinha meu pai e irmãos se
precisasse. Evitava entregar minha confiança a soldados que poderiam me
trair na primeira oportunidade.
Aqui no México a história era outra.
O território era grande demais e eu era o novato na região. Meu sogro já
conquistou a lealdade de seus homens, mas depositava a confiança plena
apenas em Leonardo, pai de Nando, que o auxiliava no controle de todos os
negócios.
Seu conselho foi de que eu conquistasse a lealdade de Nando e o
mantivesse junto comigo o tempo todo, mas minha confiança não vinha de
graça, ao menor sinal de fraqueza ele seria substituído.
— Está muito pensativo e calado soldado, devo me preocupar?
— Não, chefe. Esta cidade me traz boas lembranças, apenas isso. Já
participou de um racha?
— Os melhores carros do mundo são italianos, isso responde a sua
pergunta?
— Conheço o pessoal envolvido com as corridas de Guadalajara, sempre
que venho e tenho tempo livre eu participo. Carros, mulheres e cerveja,
combinação perfeita, meu lugar preferido em todo o México.
— Joaquim só chegará aqui amanhã, preciso mesmo conhecer as cidades
que pretendo comandar. Vamos ver as pessoas daqui comerem poeira, você
me consegue um carro?
— É disso que eu estou falando, Stefano, tenho uma Lamborghini na
cidade com um dos meus contatos, ele é um mecânico da minha confiança,
além de ser responsável pelos desmanches de carros roubados da região.
Corridas ilegais eram fichinha para pessoas como nós, brincar com o
perigo, com a morte, fazia parte da nossa rotina diária. Mas diferente de
Nando, meu interesse nessas corridas era estritamente profissional. Não
precisava de pisar num acelerador para me sentir vivo, a sensação de ser dono
do mundo me atingia quando eu cortava uma garganta.
Assim que chegamos em Guadalajara fomos para o tal desmanche buscar
a Lamborghini de Nando. Calado na minha, apenas observei a interação do
meu soldado com as pessoas da região, pude perceber a fila de carros que
estavam sendo desmontados, várias placas sendo derretidas dando lugar a
outras com números provavelmente clonados.
Interessante.
Negócio lucrativo.
Meus planos para o México era a expansão, assim que colocasse a casa
em ordem em relação aos problemas com as drogas que vinha sufocando meu
sogro, destruindo as duas gangues que davam dor de cabeça a ele, ia começar
a introduzir a Famiglia em outras atividades.
Primeiro nos pagariam por proteção, para que possamos continuar
tocando seus negócios com segurança. Quando se derem conta, tudo estaria
nas minhas mãos.
— Essa é minha menina, o que acha chefe?
— Vai ter que servir.
— Não fala assim, ela tem sentimentos. — Nando acariciou o capô da
Lamborghini como se ela nos escutasse e seguiu dizendo: — Ele não te viu
em ação ainda, mio amore, não ligue para ele, faça todos comerem poeira.
— Você sabe que você é um mafioso, um bandido. Pare com essa
melação, pelo amor de Deus.
— Ah, chefe, não seja insensível, sou um mafioso com sentimentos,
completamente apaixonado pela minha menina.
Minha vontade era dar um soco na cara desse idiota, mas me limitei a
respirar fundo e entrar na porra do carro. Não sem antes conferir por mim
mesmo o motor e os freios.
Chegamos ao local das corridas, vários carros apostos.
— Vamos competir, meu chefe aqui vai participar da corrida principal —
Nando informou a um cara com uma prancheta na mão.
— A principal está em 50400,00$ (cinquenta mil e quatrocentos pesos
mexicanos).
— Quem compete por tão pouco? — indaguei ao Nando, mas quem
respondeu foi o cara da prancheta.
— O movimento é fraco essa época do ano, mas terá uma corrida bacana
no próximo mês, venha competir. Será a mais concorrida de todo o México, é
necessário inclusive fazer reserva com antecedência.
Somente assenti e saí andando com Nando me acompanhando. Vi uma
confusão ocorrer próximo às pistas, os olhos de Nando foram para
uma ragazza que estava claramente no meio do tumulto.
— Eu não acredito que essa maluca está aqui, mexicana do caralho,
preciso ir até ela, chefe.
Assenti.
Nando foi até a ragazza, os dois discutiram e ele aparentemente estava
muito nervoso com ela, mas então ela simplesmente o beijou e ele se
acalmou.
Ótimo.
Meu soldado parecia um cãozinho adestrado.
Os dois continuaram se pegando por um tempo, até que ele a dispensou.
Ela me causou uma sensação estranha, mesmo de longe.
— Você sabe que relacionamentos com mulheres de fora é proibido?
— Não estou em um relacionamento.
— Ótimo.
Não me convenceu nenhum pouco, infelizmente teria que intervir.
Mandaria alguém investigar a vida toda da moça antes que ele complicasse
meus planos por causa de uma boceta.
Finalmente chegou a minha vez de competir e sem trabalho algum
cheguei à linha de chegada muito antes dos meus adversários, encerrando a
noite com estilo na Lamborghini.
Ela era uma belezinha, mas Nando não precisava saber.
Antes do dia amanhecer eu e meus soldados estávamos prontos para
caçada aos traidores.
Joaquim planejava uma reunião com seus cúmplices em um sítio fora da
cidade, mas o que ele não sabia era que todos os seus seguranças já estavam
mortos e foram substituídos por nossos soldados.
Assim que recebemos a informação de que todos os traidores chegaram
ao sítio entramos no local.
— Não quero interferência de ninguém, matarei todos com minhas
próprias mãos hoje e é bom que vejam o que faço com traidores — avisei aos
meus homens. Todos assentiram e entramos na sala.
— Bom dia, Joaquim Tomaso, fiquei sabendo de uma reunião da qual não
fomos convidados. — Vi a cara de surpresa de todos que estavam sentados
junto com ele numa mesa, ao todo doze traidores.
— Stefano Bianchi?
— O próprio, mio amico.
— Achei que estava em lua de mel, soube que se casou com a filha do
nosso amigo Giovanni.
— Soube de coisas que infelizmente me fizeram interromper meus planos
para com minha esposa, o que me deixou muito puto.
— Essa reunião é apenas para... — Disparei nas pernas de um dos
homens que tentava sair de fininho do local e ele caiu no chão sem conseguir
se locomover. — Stefano, nós não...
— Cale-se, Joaquim, já sabemos o motivo de sua reunião e de todas as
outras que fizeram durante todo esse tempo em que a minha Famiglia
bancava sua campanha. Agora você irá lidar com as consequências de sua
traição.
Um dos homens estava armado e ia atirar em mim por debaixo da mesa,
mas Nando atirou em sua mão antes de que ele pudesse fazer qualquer
movimento.
Não que precisasse de sua ajuda, pois eu já havia antecipado os passos de
todos, mas foi bom ver que ele não era tão cru quanto imaginei.
— Não te desobedeci, chefe, ele ainda está respirando, ele é seu para
brincar — Nando falou com um sorrisinho psicótico de lado, levantando as
mãos para o alto.
— Você realmente é um idiota. Aproveita e revista os outros então,
vamos levá-los para o galpão.
Eu estava fodidamente puto, guardando emoções dentro de mim há dias,
já que há muito não tinha ninguém para torturar.
Minha brincadeira durou horas, deixei que meus soldados vissem como as
coisas funcionariam comigo e teve homens feitos que vomitaram durante a
sessão de tortura.
Fracotes de merda.
Nando me surpreendeu, presenciou tudo do começo ao fim com um
sorrisinho no rosto. No final o deixei me ajudar só para ter certeza se não era
pose, ele assoviava enquanto arrancava os dentes do governador com o
alicate, quase tão psicótico quanto eu.
Sem tempo ou paciência para me limpar, desejando apenas que minha
esposa estivesse preparada para lidar com o marido banhado com o sangue
dos inimigos, deixamos Guadalajara com o dever cumprido e a mensagem
dada.
Traidores não seriam tolerados, havia um Bianchi assumindo o comando.
CAPÍTULO 23
Milena Bianchi

Um dos soldados que me era fiel me avisou que meu marido cumpriu sua
missão e já estava a caminho de casa. Assim que terminei de colocar em dia
toda a contabilidade da organização, me arrumei para esperá-lo.
Ele não fugiria da nossa conversa dessa vez.
Nada na vida me preparou para o homem que adentrou minha casa.
— Pelo amor de Deus, me fala que esse sangue todo não é seu. É seu?
— Não. — Não sabia se vi um lampejo de preocupação ou algo mais no
olhar de Stefano.
— Cazzo! Você quase me mata do coração, achei que estava ferido.
Venha vou te dar um banho já que pelo visto não tem água em Guadalajara. E
se te param em uma blitz?
Stronzo[13]!
— Pensei que teria medo ou nojo de mim.
— Medo não, mas você realmente está nojento. Vem logo, tirar essa
sujeira, sua esposa está com saudades.
Ele me seguiu para o banheiro, percebi que ele estava um pouco estranho,
pensativo, provavelmente pensando nas vidas que tirou. Não falei mais nada,
apenas desabotoei sua camisa, retirei toda sua roupa e joguei em um saco de
lixo. Retirei minhas roupas também, puxei-o para dentro do box e liguei o
chuveiro.
Esse era o nosso primeiro banho juntos, normalmente ele me dava
privacidade.
Assim que ele se viu livre de toda a sujeira, me puxou para um beijo e
quando me dei conta já estava com as pernas em volta da sua cintura e com
as costas prensadas na parede gelada.
Foi intenso, ele me penetrava com vigor, sem preliminar, mas eu já estava
molhada o suficiente. Na verdade, assim que o despi meu centro latejou e o
desejo ardeu dentro de mim.
Meu corpo reagia ao dele instantaneamente.
Não demoramos a chegar ao ápice, juntos, numa sincronia perfeita.
Saímos do box, nos secamos, mas continuamos nus. Rolou uma segunda
rodada, mais tranquila e suave no quarto.
— Se soubesse que seria tão bem recebido assim, dormiria fora mais
vezes.
— Nem brinca, Stefano, você não precisa ficar longe para me ter.
— Então minha esposa gosta de dar para o maridinho dela.
— Gostar é pouco, maridinho. Sempre imaginei que sexo seria bom, mas
não sabia que seria tão bom assim. Posso te dar de manhã, de tarde e de noite,
você se casou com uma italiana de sangue quente, agora aguenta. — Dizendo
isso, coloquei a mão no pau de Stefano e ele soltou uma gargalhada.
— Esposa, me chupa — pediu com um sorriso de lado e eu, sem esperar
um segundo pedido, dei uma piscadinha para Stefano e meu lado safada falou
muito mais alto.
— Chupo com gosto, mas também quero que me foda com sua língua.
Sem mais nem menos, sentei na cara dele e me inclinei para abocanhar
seu pau, típico meia nove, como me explicou Giselle durante suas dicas hot.
Comigo, se quer receber, tem que me dar prazer também.
— Gostosa pra cacete! Cazzo!
Minha falta de experiência não pareceu incomodar Stefano, já que
consegui arrancar vários gemidos assim como ele também me fazia quase que
miar, a sensação de dar prazer e receber prazer ao mesmo tempo era boa
demais e logo me vi gozando mais uma vez, engolindo tudo como ele disse
que gostaria que eu fizesse.
Deitamos lado a lado e apagamos.

— Então, poderei continuar participando do conselho? — Depois do


nosso cochilo, acordamos famintos, enquanto eu esquentava uma marmita
que roubei da geladeira de papai, fiz a pergunta de um milhão de dólares.
— Apesar de querer te proteger de tudo, ter sido criado com uma
ideologia diferente em relação ao papel das mulheres na nossa organização,
tenho que concordar que você é forte e dura na queda. Irei concordar que
você participe de algumas reuniões, mas não garanto que saberá de tudo,
como acontece entre você e seu pai, fica a meu critério o que você terá acesso
ou não. Primeiro quero me adaptar e para isso quero contar com sua ajuda.
— Claro, mas então quer dizer que estou meio que em um período de
teste. Não confia na sua esposa, Stefano?
— Eu confio, mas preciso de um tempo para me acostumar. Vamos
começar pelas boates, fazer o tour que sugeriu e você me passa tudo a
respeito dos negócios legais.
— Tudo bem. Podemos começar pela Swingers, é minha boate preferida,
hoje a casa vai estar cheia, contratamos um DJ famosinho da região.
— Vejo que era uma frequentadora assídua, esposa.
— Pretendo continuar sendo, alguma objeção quanto a dançar também,
marido?
— Desde que eu esteja por perto, para garantir sua proteção, claro. Não
me perguntou se você poderá continuar com os treinos...
— Não te perguntei porque a resposta é óbvia, meu desempenho na cama
é graças as aulas de luta e o treinamento pesado, creio que se você quer
continuar com seus vários orgasmos diários não vai interferir nisso também.
Dei um sorrisinho sacana.
Stefano contornou a bancada da cozinha, deu um tapa forte na minha
bunda e me mandou subir e me arrumar, para ir à boate.
— Antes de ir, gostaria de questionar uma coisa. Você já pensou em
quem vamos apoiar para presidência no lugar de Joaquim?
Stefano pareceu pensar se me contava ou se me mantinha de fora.
— Ainda preciso analisar cuidadosamente essa questão.
— Caso aceite um palpite, eu tenho uma lista de nomes que poderá ajudá-
lo. Fiz uma pesquisa minuciosa de possíveis candidatos que possuem boa
relação política e anotei seus pontos fracos que poderiam fazê-los cair na teia
da organização.
— Como você conseguiu montar essa lista se estava ocupada com nosso
casamento?
— Eu moro aqui há mais tempo, tenho meus contatos. Se você aceitar
trabalhar junto comigo, será bem mais fácil conseguir atingir seus objetivos.
Stefano assentiu e eu subi o deixando sozinho para refletir sobre minha
oferta.
Tomei um banho, coloquei um vestido preto básico da Versace e um salto
Louboutin, aquisição feita na Itália, ajeitei meus cabelos e fiz uma
maquiagem um pouco mais pesada do que o habitual.
Quando desci, Stefano já me aguardava pronto na sala, com um look
despojado de tirar o fôlego.
— Você está estonteantemente linda, Milena, tenho algo para você. — Na
sua mão havia uma caixa de veludo. Ele me entregou o colar de diamantes
mais lindo que já vi em minha vida.
— É lindo. — Virei-me e levantei meus cabelos para que Stefano
colocasse em mim. Ele abotoou e em seguida beijou meu pescoço, me virou
para ele e nos beijamos.
Já perdi a conta de quantas joias ele me presenteou desde que nos
conhecemos.
— É melhor pararmos, eu realmente quero ir à Swingers hoje, marido —
disse sorrindo.
— Tem razão, vamos de uma vez antes que eu decida que iremos ficar em
casa para te foder novamente.
Quando chegamos à boate, apresentei Stefano para todos os funcionários
e todos o receberam com um pé atrás. Também não era para menos, assim
que deixamos nossa casa, Stefano colocou sua máscara fria de mafioso e não
fez questão de dar nenhum sorrisinho simpático para quem quer que seja.
Eu mostrei o escritório onde um dos soldados ficava responsável por
controlar tudo que ocorria durante a noite. O soldado mostrou o balanço da
noite e a planilha que alimentava para que eu tivesse acesso a tudo da minha
casa e Stefano se surpreendeu de forma positiva de como nada passava batido
de minhas vistas.
Depois de apresentar toda a parte burocrática, responder todos os
questionamentos e satisfazer toda a curiosidade de Stefano, seguimos para o
camarote reservado.
— Agora vou te apresentar a melhor bebida da vida marido: Tequila!
— Eu já experimentei tequila antes, mas confesso que ainda não tive a
oportunidade de tomar essas exclusivas aqui. — Stefano passou os dedos
pelas garrafas de tequila da minha adega particular do camarote.
— Essas foram feitas especialmente para mim, totalmente artesanais e
possuem um sabor que você não encontrará em outro lugar. Essa aqui é a
melhor. — Apontei para minha garrafa preferida, retirei da adega e servi três
doses para mim e três para Stefano.
— A nós! — Brindamos e eu virei as três doses rapidamente, deixando
meu marido impressionado. — Agora vamos dançar.
Escutando a batida envolvente eu comecei a rebolar ao ritmo da música,
um pouco mais animada pelo nível de álcool que começou a circular no meu
organismo.
Stefano ficou me observando dançar, até que eu sentei no seu colo, mas
fomos interrompidos por batidas na porta e Nando entrou rapidamente sem
olhar diretamente para nós.
— Desculpe interromper a noite de vocês, mas temos um problema.
— O que aconteceu, Nando? — perguntei.
— Pegamos um dos homens do Mártin Pérez na boate infiltrado para
obter informações, ele queria sair com uma das nossas garçonetes, mas ela
percebeu que ele tinha uma tatuagem de lobo nas costas, ligou os pontos e
nos avisou.
— Vocês já o pegaram? — Stefano indagou.
— Não, ele está neste momento tomando uma bebida no bar, a garçonete
falou para ele que sairiam juntos ao final do expediente, mas veio me contar.
— Vamos levá-lo para o galpão — Stefano ordenou e eu interrompo:
— Não, Stefano, traga a garçonete aqui, Nando, sem chamar atenção de
ninguém, eu tenho uma ideia melhor. Vamos deixar que ele acredite que está
obtendo informações verdadeiras dela e levamos ele direto para uma
armadilha. Você acha que podemos confiar na moça, Nando?
— Ela é das antigas, Milena, sabe o que acontece com os traidores e não
tem nada na ficha dela que nos faça duvidar, por enquanto.
— Seu plano pode dar certo, Milena, traga a garota, Nando — Stefano
mandou e assim que Nando saiu ele complementou: — Vou deixar você
montar o esquema para pegar Mártin, mas você contribuirá apenas com a
estratégia.
— Não esperaria menos de você. — Revirei os olhos mentalmente.
Quando a garçonete, que descobri se chamar Lídia, adentrou o camarote
eu disse exatamente as informações que ela ia deixar vazar propositalmente
para o infiltrado. Ela era uma moça esperta, como todas precisavam ser para
encarar a vida noturna, por isso com a grana que iria ganhar somada a
segurança de sua filha, que já estava sendo vigiada por um soldado nosso,
não tinha outra opção senão nos ajudar.
Nando a acompanhou à distância e viu quando o espião a deixou em casa,
intacta, ela confirmou que deixou escapar todas as informações que
repassamos, nós garantimos que sua família ficaria segura e lhe entregamos o
dinheiro como retribuição por sua lealdade.
— Como você tem tanta certeza de que Mártin comparecerá no local
pessoalmente, Milena? Ele apenas mandou os seus homens das outras vezes
que tentou sequestrar você.
— Exatamente por isso, Nando, das outras vezes ele mandou seus
homens e não tiveram sucesso, ele está perdendo completamente seu
território para nós e para Esteban, situações desesperadas levam a medidas
desesperadas, dessa vez ele irá com tudo que tem, sua cartada final.
— Amanhã você não sairá de casa, Milena, nem que eu te amarre ao pé
da cama.
Dei uma piscadinha para Stefano antes de ir embora com Nando e disse
só para ele ouvir.
— Vou amar ser amarrada, baby...
CAPÍTULO 24
Stefano Bianchi

Assim como planejado por Milena, Martin Pérez caiu em nossa


armadilha e conseguimos pegá-lo.
Minha mulher me enchia de orgulho, era difícil admitir, mas sua
mente brilhante me encantou e eu poderia me acostumar a ter alguém para
planejar junto, compartilhar todo o peso que pairava sobre as minhas costas.
Quando chegasse em casa iria me perder no meio de suas pernas e
recompensá-las de todas as formas que eu conhecia pela sua ajuda.
Foi difícil convencê-la a ficar em casa, mas eu não teria a cabeça no
jogo se ela estivesse comigo. Um risco que eu não estava disposto a correr.
— O que faremos com elas? — Nando interrompeu meus
pensamentos apontando para as mulheres que encontramos nos fundos do
estabelecimento em que encontramos o traficante.
Giovanni já havia me avisado que era comum se deparar com esse
tipo de negócio aqui no México.
Tráfico de mulheres.
Encontramos meia dúzia de meninas acorrentadas, chorando,
aterrorizadas. Elas deviam ter entre dezessete e dezenove anos de idade e
pareciam ter vivido um inferno nos últimos dias.
— Vou falar com elas e decidirão o seu futuro.
Nando assentiu e me seguiu até onde elas estavam.
A Famiglia não se envolvia com essa merda, estávamos longe da
redenção, mas tínhamos nossos limites. Prostituição era lucrativo,
principalmente nos clubes que distribuíamos nossas drogas, mas as meninas
que entravam para essa vida faziam por escolha própria.
Muitas entravam em busca de dinheiro “fácil” ou por precisar de
dinheiro para pagar uma faculdade. Não as mantínhamos presas até os fins
dos seus dias nos nossos estabelecimentos, elas assinavam um termo de
confidencialidade que caso fosse quebrado seria pago com sangue, não só
seu, mas também de sua família. Isso as mantinham na linha, também não era
como se elas fossem ter acesso a qualquer informação que colocasse a
organização em risco por ser uma mera prostituta em um dos nossos clubes.
Os Capos e os soldados sabiam dos limites ao se deitarem com
prostitutas, assuntos da Famiglia ficavam de fora dos bordéis e o preço de
deixar qualquer informação escapar, por mais boba que fosse, era alto
demais.
Enquanto elas trabalhavam conosco, viviam em nossas acomodações
e eram constantemente vigiadas por nossos soldados que inspecionavam seus
quartos e pertences, possuindo acesso total à rotina delas.
Quando decidiam sair da vida que levavam, disponibilizamos uma
passagem aérea para que se mudassem para uma nova cidade, enquanto seus
familiares permaneciam sob nossa “proteção”, o que nos garantia que iriam
cumprir com o sigilo sobre qualquer informação sobre a Famiglia que
pudessem ter conhecimento. Vez ou outra mandávamos lembranças para elas
para mostrarmos que estávamos sempre de olho em suas ações.
Muitas recomeçavam a vida fazendo a faculdade planejada, casavam e
constituíam uma família, mantendo seu passado trancado a sete chaves de
seus parceiros, o que era apenas mais uma munição para manter o silêncio.
Outras não davam tanta sorte em seus investimentos, gastavam tudo
que tinham juntado rapidamente e, acostumadas com a vida “fácil”, voltavam
para nossos estabelecimentos em busca da nossa proteção novamente.
Enquanto elas captavam clientes podiam continuar nos nossos
bordéis, quando envelheciam demais arrumávamos uma função qualquer até
o fim de suas vidas, seja como instrutora das novas meninas ou limpando e
organizando os alojamentos dos soldados e das prostitutas.
Sempre havia algo a ser feito em uma organização tão grande quanto
a nossa, então nenhuma mão de obra era desprezada. Além disso,
garantíamos a fidelidade das novatas que viam que a Famiglia não
abandonava a própria sorte nem o menor e mais vulnerável dos membros.
Para elas era um negócio lucrativo, um emprego, uma chance de
crescer na vida usando a sua beleza. Quanto mais belas, mais dinheiro
ganhavam.
Além disso, o fato delas entrarem para essa vida por iniciativa própria
evitava dores de cabeça, elas eram ambiciosas e sabiam que precisavam
agradar para conseguir mais clientes para juntar dinheiro mais rápido para se
verem livres. Estavam dispostas a encarar os mais diversos tipos de fetiches,
já que qualquer coisa além da foda comum lhes proporcionavam uma
generosa retribuição financeira.
— Meninas, olhem para mim. — As ragazzas me olharam
aterrorizadas. — Mártin e seus homens estão todos mortos, mas não posso
libertá-las, pois vocês viram mais do que deveriam. Tenho uma proposta para
fazer a vocês e espero que encarem como uma nova forma de recomeçarem
suas vidas, afinal recusar minha proposta não é uma opção.
Essas meninas foram retiradas de orfanatos ou vendidas pela própria
família ao Mártin, não tinham o que fazer no mundo lá fora e se
simplesmente as libertássemos cairiam em uma nova emboscada ou iriam à
polícia, o que poderia acabar envolvendo a Famiglia em um escândalo.
— Vocês pertencem a partir de hoje à Famiglia, mas não serão
utilizadas como foram pelos homens do Mártin, serão encaminhadas para um
dos nossos alojamentos e trabalharão em nossos estabelecimentos em
qualquer função que estiver disponível.
A ragazza mais velha me encarou.
— Como escravas? Trabalho forçado, senhor? — Sorri diante do seu
questionamento.
— Não, vocês irão receber um salário digno condizente com suas
funções e poderão juntar o dinheiro para recomeçarem suas vidas em outro
lugar, sob nossa proteção, claro. Há regras que deverão ser seguidas, todos os
passos serão acompanhados, mas o que quero que entendam é que se
tornando leal a nós, mantendo o silêncio sobre tudo que verem e ouvirem à
sua volta, terão oportunidade de sair desse inferno de vida que levavam antes
de serem sequestradas.
— Estamos de acordo. — A ragazza assentiu e as outras a
acompanharam, parecia que criaram um tipo de irmandade entre elas,
provavelmente devido ao abuso que sofreram juntas.
— Ótimo. Nando lidará com vocês.
Fiz um sinal para o soldado e me retirei.
Matar por matar mulheres inocentes chamaria atenção das pessoas
comuns, elas veriam a Famiglia como um problema a ser resolvido e
pressionaria as autoridades por uma solução, logo nossos negócios seriam
destaques na mídia.
Já havia caos demais por aqui, precisamos utilizar a política da boa
vizinhança para conseguir a lealdade das pessoas.
Meu telefone tocou e eu o conectei no alto-falante do meu carro.
— Alô, padrinho.
— Stefano, como vão as coisas?
— Está tudo correndo como planejamos, padrinho. Acabei de lidar
com um dos traficantes que dava dor de cabeça ao meu sogro e estou me
inteirando de todos os negócios.
— Certo. Você lidou bem com Tomaso e agora tem uma semana para
me passar sua escolha para assumir o cargo dele.
Porra.
Uma semana é muito pouco tempo.
— Tenho alguns nomes em mente, em uma semana terei feito minha
escolha — menti.
Não fazia a mínima ideia de quem ia colocar no lugar dele.
— Ótimo.
O Chefe desligou sem me dar chance de falar algo mais ou sequer me
despedir.
Sem saída, iria dar uma olhada na lista feita pela minha esposa.
CAPÍTULO 25
Milena Bianchi

Stefano chegou em casa sujo novamente, mas dessa vez não ficou me
encarando esperando o surto como da outra vez.
Ele apenas acenou e entrou no banheiro para se lavar.
Senti que estava meio estranho, mas eu já havia conseguido falar com
Nando e sabia que tinha dado tudo certo no plano para eliminar Mártin.
Esperei que ele terminasse o banho sentada na cama do nosso quarto.
Ele saiu do banheiro de toalha e entrou no closet.
Tinha algo errado.
Entrei no closet atrás dele e o abracei por trás, dando beijinhos em
suas costas.
— Está tudo bem, marido?
— Por que não estaria?
— Não sei, me diz você, está agindo estranho.
Stefano se virou para mim e deu um sorriso frio, calculista e
totalmente diferente dos que tinha me direcionado nos últimos dias.
— Eu estou normal, Milena.
Ele se desprendeu dos meus braços e se afastou para pegar uma cueca
na minha gaveta.
— Você está com outra? Está me traindo?
Em segundos mil e uma teorias passaram pela minha cabeça,
impossível controlar. Stefano não me querendo mais, casamento de fachada e
ele ficando com um monte de mulheres...
— O quê? Não, claro que não. De onde você tirou isso, bella mia?
— Bella mia? Fala a verdade, Stefano, por que você está estranho
comigo como se não suportasse olhar para mim? Você tem outra?
Stefano teve a atitude menos esperada nesse momento.
Caiu na gargalhada.
Ele riu de lacrimejar.
Suicida.
Comecei a bater nele para que parasse de rir de mim.
— Para, para com isso sua louca. — Louca? Ah, eu ia matá-lo! —
Calma, calma! — falou levantando as mãos em rendição. — Eu jamais vou te
trair, já te fiz essa promessa, lembra? — Ele envolveu seus braços em minha
cintura, prendendo os meus para que parasse de estapeá-lo.
— Então o que há de errado e não ouse tentar me enganar, pode
parecer cedo demais, mas já conheço os seus trejeitos e sei quando está
mentindo.
— Eu tenho uma semana para dar um nome ao Chefe de quem ficará
no lugar de Joaquim Tomaso.
Uma luz se acendeu instantaneamente em minha cabeça e já sabia o
que havia de errado.
Orgulho.
Eu tentei tocar no assunto da minha lista com ele três vezes, mas ele
não quis escutar minhas sugestões, mas agora sabia que precisava de mim.
— Essa semana está ocorrendo uma série de eventos de caridade em
homenagem à Nossa Senhora de Guadalupe, a santa padroeira do país, já que
o dia dela está chegando. Podemos ir a esses eventos para que você conheça
os políticos, inclusive os que estão na minha lista, assim poderá fazer a sua
escolha.
Stefano me olhou intrigado.
— Não precisa fazer isso, Milena. Fingir que sua ajuda é menos do
que é para não ferir meu orgulho, a verdade é que sem você eu estaria
totalmente perdido.
— Não estou me desfazendo de mim para te agradar, estou apenas
tentando deixar claro para você que pode contar comigo e que isso em
nenhum momento te torna menos capaz.
— Eu não estou acostumado a ter ajuda, entende? Sempre assumi
tudo sozinho, meu pai sempre colocou toda a responsabilidade em minhas
costas enquanto meus outros irmãos estavam ocupados com outros assuntos,
ele me explicou “o quê” precisava ser feito quando eu tinha acabado de fazer
meu juramento, deu às costas e foi embora sem me explicar o “como fazer”.
— Mas agora você não está mais sozinho. Eu estou aqui e seremos
muito melhores juntos.
— Como um time?
— Sim, como um time. Eu e você contra o mundo, estilo Bonnie e
Clyde, o que acha?
— Acho que você sabe as palavras exatas para me ter de joelhos.
— Não, não, não. Quem ficará de joelhos sou eu, você acabou de sair
do banho e esse seu cheiro misturado com sabonete está me deixando com
água na boca.
Arranquei a toalha de Stefano, comecei dando beijinhos no seu
peitoral e coloquei a mão em seu pau, fui fazendo movimentos para cima e
para baixo, o masturbando.
Lembrei-me da bala Halls preta extraforte no bolso da minha calça e
da passagem do livro que Giselle me mostrou. Coloquei-a em minha boca e
mastiguei, a sensação de refrescância cresceu em minha boca e eu me
ajoelhei na frente de Stefano, assoprei a cabeça do seu pau e ergui meu olhar,
vendo-o se contorcer em prazer.
— Cazzo! Você quer me matar, esposa?
Mergulhei todo o seu comprimento de uma vez só dentro da minha
boca e ele gemeu alto de prazer. Não consegui colocar tudo para dentro, mas
o que não coube eu fui movimentando com uma mão e com a outra eu mexia
em suas bolas.
— Caralho! Eu não vou durar. Eu vou gozar.
Stefano se desmanchou de uma vez dentro da minha boca e eu me
engasguei com sua porra.
Caramba.
Ele não durou cinco minutos!
— Minha nossa, Milena! Eu não tinha uma ejaculação tão rápido
assim desde os meus quinze anos. Onde você aprendeu essas coisas? —
Stefano inquiriu, me levantando e me levando para nossa cama.
— Sou mestre em putaria através dos livros de romances disponíveis
no Kindle, marido.
— Pois agora vou fazer você experimentar do próprio veneno. Passa
para cá uma dessas balas refrescantes aí, pequena feiticeira.
Claro que eu não demorei a jogar o pacote inteiro para meu marido e
a partir de agora, bala Halls preta extraforte, estaria como item permanente
em nossa lista de compras.
CAPÍTULO 26
Stefano Bianchi

Eu e Milena descemos do carro e uma chuva de flashes disparou em


nossa direção. Os repórteres tentaram fazer perguntas, mas passamos direto
pela entrada.
Milena sorria elegantemente para as câmeras e eu mantinha um braço à
sua volta, sem mostrar nenhuma emoção.
Segundo ela, essa seria uma ótima máscara para nós na sociedade que
estávamos construindo. Enquanto ela parecia a garota carismática e inocente,
eu seria o bad boy sem coração.
Me impressionei com quantas informações quentes ela voltava de uma
roda de fofocas com as esposas e amantes da alta sociedade.
Filhos fora do casamento, envolvimento em bordéis, vícios em jogos,
drogas e fetiches dos mais nojentos tipos. Bombas que se explodissem na
mídia destruiria a imagem deles perante os eleitores, garantindo que eles se
tornassem fantoches facilmente manipuláveis em nossas mãos.
— Miguel e Santiago confirmaram presença esta noite, os dois fecham
nossa lista, marido.
Assenti.
— Você conseguiu saber com quem estarão acompanhados?
Ela fez amizade com as principais cerimonialistas do México, não me
pergunte como, algo a ver com bolsas e sapatos que chegaram da Itália, doía
no meu bolso até hoje. Milena tinha a lista de confirmados dos eventos e
todas as informações importantes.
— Miguel é casado há mais de vinte anos e virá com a esposa. Eles
mantêm um casamento de fachada, ele gosta de homens. Ela sorri e parece
uma mulher encantadora, mas tentou se matar duas vezes ano passado, ele a
mantém a maior parte do tempo dopada em casa para que não cometa uma
besteira — sussurrou disfarçadamente em meu ouvido. — Eles têm filhos?
— Um casal. A menina está tentando a carreira de modelo nos Estados
Unidos, foi assim que completou dezoito anos. O rapaz ainda é adolescente,
mandaram-no para um internato na Suíça para afastá-lo dos escândalos com
drogas que se envolvia aqui. Um lar conturbado, filhos problemáticos que
correram para se ver livres dos pais. Eu os coloquei na lista antes de saber das
tentativas de suicídio da esposa e da preferência dele por homens, acho que
talvez sejam problemáticos demais para o cargo que almejamos.
— Se isso vier à tona, será o caos ter a Famiglia envolvida, imagina os da
velha guarda sabendo que colocamos um gay na presidência?
Sorri imaginando que o Conselho faria um inferno na vida do padrinho.
A máfia era extremamente preconceituosa e não aceitava gays, não
abertamente pelo menos. Eu estava pouco me fodendo com a visão retrógrada
da velha guarda, para mim a opção sexual pouco me importava, em seus
momentos livres podiam foder o que quisessem, sejam outros homens ou
mulheres, o que eu precisava dos meus homens era apenas lealdade e
eficiência.
Milena me deu um tapa fraco no braço.
— Marido, pare! É feio ficar torcendo pelo caos da velha guarda.
— A diabinha que habita em você também adora ver aqueles velhos
filhos da puta se ferrando, admite! Eu vi o quanto você se segurava para não
revirar os olhos no nosso casamento toda vez que eles se aproximavam de
nós para desejar que tivéssemos muitos filhos homens rápido.
Ela sorriu e tomou um gole de champanhe.
— Posso ter torcido para um ou dois, talvez uma dúzia, que se engasgasse
com os canapés.
Milena e eu cada dia mais compartilhávamos nossos pensamentos, passo
a passo estávamos obtendo uma sintonia perfeita.
— O que me diz sobre Santiago?
— Ele fecha minha despretensiosa lista com chave de ouro, marido. —
Fomos interrompidos por um casal sorridente.
Milena nos apresentou, tratava-se de um ator famoso das novelas
mexicanas que tanto faziam sucesso pelo alto nível de drama. Sua
acompanhante era uma atriz em ascensão.
Percebi que ele olhava demais para minha mulher e quando peguei sua
mão apertei com força para mostrar que estava mexendo com o homem
errado.
Desviou o olhar de Milena e rapidamente arrumou uma desculpa e se foi.
Esperto.
— Santiago também é casado, mas apenas há dois anos — Milena
retornou ao nosso tópico. — Ele tem trinta e oito anos e a esposa vinte e um.
Foi um casamento arranjado pela família, mas parece que se dão bem, ao que
tudo indica estão apaixonados. Ele já foi casado e tem duas filhas do primeiro
casamento, gêmeas. A primeira esposa morreu.
Milena parou de falar para cumprimentarmos mais algumas pessoas que
surgiam em nosso caminho.
— Jovem, poderá ter uma carreira longa na política. Qual sujeira ele
esconde?
— A melhor de todas. Ele matou a primeira esposa e adivinha quem
ajudou a esconder a verdadeira causa da morte?
Eu a olhei intrigado, mas ela respondeu antes que eu conseguisse dar meu
chute.
— Papai. Ele já está devendo favores à Famiglia e sabe que vamos
cobrar.
Meu sogro era uma raposa velha inteligente, mas aposto que essa jogada
teve o dedo da minha esposa.
— Como isso aconteceu?
— A história é longa, ela era uma megera e eu escutei uma conversa dela
por acaso no banheiro do clube. Ele precisava se livrar dela pelo bem das
filhas, dei a dica do que ela pretendia fazer e papai apareceu na hora para
prestar um favor, evitando o escândalo. As provas do envolvimento dele no
assassinato estão com papai, mas por acaso eu também tenho uma cópia. Em
casa te dou todos os detalhes, porque eles acabaram de chegar.
Assenti e fomos primeiro conversar com Miguel.
O velho tentava manter uma pose de macho alfa, mas não enganava
ninguém.
Burro.
A merda do envolvimento homossexual iria estourar uma hora, era uma
bomba relógio. Se ele fosse mais esperto usaria a seu favor, hoje em dia as
minorias buscavam representação e seria fácil para ele sair do armário e virar
um militante. Ele não chegaria aos cargos mais altos, mas poderia embolsar
muito dinheiro organizando eventos em prol da liberdade sexual.
Seria uma solução para o caso dele, mas era covarde demais para
enfrentar as consequências de sua orientação sexual.
Olhei para Milena e ela soube na hora que já o descartei.
— Miguel, foi um prazer conversar com o senhor e sua esposa, mas eu
preciso saber onde a Lavínia comprou aquele sapato maravilhoso que está
usando, aposto que é da coleção nova. Meu amor, vamos até lá comigo, por
favor, pois ela está com o marido e fico sem graça de ir sozinha.
— É claro. — Nos despedimos de Miguel e fomos para o outro lado do
salão para onde Santiago foi com a esposa. — Espero que não seja verdade
sobre os sapatos, só esse mês foram dez pares novos, esposa. Virou uma
centopeia?
Milena fez um beicinho e Por Dio, se ela me pedir sou capaz de comprar
todo o estoque do Milan Fashion Week só para vê-la sorrir.
— Maria Luísa, como vai? — Milena se aproximou da esposa de
Santiago. — Deixe-me apresentar a vocês meu marido, Stefano Bianchi.
Milena e Maria Luísa se abraçaram e se beijaram no rosto, enquanto eu
apertei a mão de Santiago.
Ele me passou a postura de um homem centrado que sabia que estava
sendo sondado.
Tentou esconder o desconforto de estar em minha presença, mas a
máscara que utilizava aprendi a desvendar nos meus primeiros anos de
homem feito.
Ele nos devia e sabia que íamos cobrar.
— É um prazer conhecê-lo pessoalmente, senhor Bianchi. Sua família é
famosa na alta sociedade, fico feliz em saber de sua mudança para o México.
Se soubesse metade dos meus planos para você talvez não falasse isso.
— Também estou feliz em conhecê-lo, mio amico. A minha família
carrega grande honra por onde passa, estamos sempre à disposição para
ajudar nossos amigos e aliados, talvez seja por isso que ouviu falar tão bem
de nós.
Bingo.
Ele deixou escorregar o medo, mas rapidamente sorriu e acenou para
disfarçar.
Esperto, cumprimentou Milena apenas com um aceno de cabeça e eu fiz o
mesmo com sua esposa.
— Maria Luísa, poderia me acompanhar até o toalete? — Ela olhou para
o marido que assentiu.
— Claro, Milena. Com licença, rapazes.
Assim que as duas saíram, iniciei uma conversa com Santiago.
— Soube que tem grandes pretensões na política.
Ele assentiu.
— Meu pai, atual Senador do Estado, fez uma brilhante carreira e espera
que eu continue seu legado. Além de ser o atual prefeito da cidade, estou
trabalhando no gabinete dele para concorrer a um cargo mais alto nas
próximas eleições.
— A Cidade do México além de ser a capital, produz 20% do PIB total
do país e possui a maior população do México. Como atual prefeito e o apoio
correto seria fácil para você chegar ao topo.
— O senhor quer dizer à presidência?
— Com certeza. Sabe, meu sogro gosta de você. — Na verdade, não fazia
a mínima ideia da relação deles, já que Giovanni não me deu nenhuma pista
sequer de quem escolher para minha indicação. Pensando melhor, agora tinha
certeza de que ele esperava que eu pedisse ajuda a Milena, pois deixou com
ela todas as cartas que eu poderia jogar. — Pelo que sei, vocês têm uma
parceria interessante e nossa família gostaria de aprofundar nossa relação,
oferecendo ainda mais apoio na próxima eleição.
— E assim vocês teriam um amigo na presidência, imagino. O que isso
irá me custar precisamente?
Ele era esperto e objetivo, se fizesse parte da Famiglia talvez poderíamos
ser amigos. Mas ele não fazia parte e eu também não tinha amigos.
— Ah, mio amico, não se preocupe com isso. Veremos no que poderá ser
útil quando ganhar as eleições, até lá preocupe-se apenas em usar nossa
influência para conseguir poder.
— Eu tenho outra opção?
— Sempre há outra opção, mas nem sempre ela nos mantém a salvo da
cadeia.
Ele assentiu compreendendo minha sutil ameaça.
Nesse momento minha ragazza voltou acompanhada de Maria Luísa.
Puxei Milena para perto de mim e ele fez o mesmo com sua esposa.
— Foi um prazer conhecê-lo, Santiago, mas eu e minha esposa temos que
ir. Entrarei em contato para conversarmos mais sobre minha proposta. Boa
noite!
Acenei para o casal, Milena fez o mesmo para Santiago e abraçou Maria
Luísa, trocando uma última confidência, soltando uma risadinha.
Assim que entramos no meu carro, Milena perguntou:
— E então? Temos o seu candidato?
— Santiago ocupará a presidência do México e será nossa porta para
assumirmos o controle do país de uma vez por todas.
Espero estar tomando a decisão correta.
CAPÍTULO 27
Milena Bianchi

A minha relação com Stefano estava fluindo cada vez melhor, já era
perceptível nossa conexão e após ele aceitar minha ajuda para escolher o
candidato para concorrer à presidência, percebi que ele passou a me tratar de
igual para igual.
Ele discutia comigo os acontecimentos do dia, ouvia minha opinião e
tomávamos as decisões em conjunto.
Já erámos bons separados, mas juntos passamos a outro patamar.
— Hoje quero treinar com você, esposa. — Ele me acordou cedinho
com carícias no pescoço e eu fiquei tão feliz em não precisar do meu
despertador no modo soneca. — Quero ver o quão boa você consegue ser
fora da cama, será que vai conseguir me derrubar?
Eu não resisti à provocação, virei-me rapidamente subindo em cima
dele, sentei em cima de suas pernas, prendi suas mãos acima da cabeça e
mantive meu melhor olhar intimidador.
— Vai ser mais fácil do que tirar doce de criança. — Stefano sorriu,
eu subi um pouco mais em suas coxas e logo senti seu pau duro me
cutucando. — Parece que meu marido já está animadinho, vamos logo
treinar.
Antes que ele resolvesse interromper nossos planos de treino, pulei da
cama e corri para o banheiro, trancando a porta. De relance consegui ver a
frustração estampada no rosto dele.
— Ah, esposa, isso não irá ficar assim. Você me provocou e eu não
irei pegar leve com você no treino.
Ponto para mim.

Após terminar de me alongar, pulei no tatame onde Stefano dava


socos em um saco de pancadas.
Ele sorriu contente ao me ver em posição de ataque e eu só queria
mostrar para ele onde estava se metendo.
— Você esvaziou a academia para nosso treino, marido? — Observei
o local vazio.
— Não precisamos de plateia para o showzinho que vamos dar nesse
ringue, esposa.
Eu não sei bem o que ele estava esperando que fosse acontecer, mas
eu não sairia do ringue sem lhe mostrar o quanto estava enganado a respeito
da minha fragilidade.
— Então que comecem os jogos — falei e avancei para cima dele,
com uma sequência de golpes de boxe, observando a sua defesa. Ele era bom
e conseguiu se defender de todos os meus socos. Era nítido que estava
evitando contra-atacar por medo de me machucar, mas eu queria uma luta
justa, então comecei a provocá-lo.
— Sua defesa é boa, pena que não tem coragem para atacar. — Ele
sorriu. — Está com medo de perder para uma mulher?
— Perder para você é a última das minhas preocupações. — Ele
desistiu de ficar na defensiva e tentou me derrubar com uma rasteira, mas eu
captei o movimento antes. Era o que todos os soldados faziam quando
lutavam comigo, tentavam me derrubar para acabar com a luta mais
rapidamente, evitando ao máximo machucar a filha do Capo durante um
treinamento.
— Tão previsível, marido. — Usei o seu próprio golpe contra ele,
quando percebeu já estava imobilizado no chão com uma chave de perna no
pescoço. — O quão errado é ficar excitado levando uma surra da mulher? —
questionei, divertida. — Estou vendo sua protuberância daqui, marido.—
Cazzo! — grunhiu, indignado e eu o deixei sair da imobilização. — Segundo
round, tenho que admitir, você é muito boa. — Reiniciamos outra sequência e
dessa vez ele começou a se soltar verdadeiramente comigo.
No final ficamos empatados, suados e quebrados.
Cansada de lutar, me dei por vencida e rolamos no tatame para outros
fins bem mais divertidos.
No dia seguinte, fui pega de surpresa com um passeio organizado por
Stefano. Segundo ele, não tivemos uma lua de mel decente e já que não
poderíamos tirar mais que um dia de folga das obrigações da organização,
iríamos explorar os pontos turísticos dos arredores da Cidade do México.
Era meio de semana, época de baixa temporada e meu marido
conseguiu organizar um passeio tranquilo, sem aquela loucura de turistas que
costumavam visitar um dos locais considerados Patrimônio da Humanidade
protegido pela Unesco.
— E finalmente, esse é o ponto alto de nosso passeio. — O guia
turístico contratado por Stefano apontava para as Pirâmides de Teotihuacán.
— Conhecida como a Cidade dos Deuses, são responsáveis por tornar a
região uma das mais interessantes atrações de todo o México, cercadas por
muitos mistérios acerca da civilização que vivia no local onde hoje estão
relíquias arqueológicas de valor inestimável.
Caminhamos entre as construções, subimos na Pirâmide do Sol e na
Pirâmide da Lua, visitamos os palácios, avistamos os afrescos preservados e
circulamos entre pequenas construções.
Fiquei fascinada com a vista no alto da Pirâmide do Sol, enquanto o
guia turístico nos explicava as várias teorias acerca dos povos que habitaram
aquela cidade. — Pesquisadores acreditam que o auge de Teothuacán tenha
acontecido entre os séculos III e V, quando mais de 100 mil pessoas
moravam na cidade. Era a maior comunidade da América na época e exercia
enorme influência sobre outras civilizações da mesoamérica. Não se sabe ao
certo quem vivia em Teotihuacán. Acredita-se que tenha sido uma civilização
multiétnica, formada por vários povos. Também é um mistério o porquê do
fim de Teotihuacán. Quando foi descoberta pelos mexicas (astecas), a cidade
já estava abandonada.
Surpreendeu-me que Stefano gostasse desse tipo de passeio, mas ele
parecia tão absorvido em pensamentos quanto eu. Minha mente corria solta
pelas ruínas daquela civilização, imaginando o que ocasionou o seu colapso.
O guia relatava as duas teorias mais difundidas pelos estudiosos em
relação à queda. A primeira teoria defendia que invasores estrangeiros
atacaram a cidade saqueando e queimando-a, mas essa corrente não era muito
aceita já que pesquisas arqueológicas apontavam para uma segunda teoria de
que houve uma revolta interna, por insatisfação da população com a classe
dominante, ocasionando a queima apenas dentro dos principais palácios e
templos usados pela elite da época.
A meu ver a segunda teoria era a mais provável, um levante interno
contra os governantes daquela época que exploravam a população, enquanto
gozavam de uma vida de privilégios. Ao olharmos para o passado com
atenção, podemos enxergar as semelhanças com o presente, a população
comum estava cansada de ser sugada pelos seus governantes e terem poucas
opções de crescer na vida.
— Mesmo com tanta riqueza e poder, esse império ruiu — Stefano
comentou baixinho comigo. — Mas não será assim conosco, chegaremos
juntos ao topo e de lá só sairemos para dar lugar aos nossos filhos. Isso
porque nosso império não será baseado apenas na minha força, mas também
na sua inteligência.
E foi com essa declaração dele que eu soube que já não havia mais o
que temer, pois eu tinha alguém para somar comigo.
CAPÍTULO 28
Milena Bianchi

Já passava das 18h e eu não tinha nenhuma notícia de Stefano e


Nando.
Eles foram para Guadalajara, Stefano queria que a Famiglia se
envolvesse nas corridas de rua e estava muito animado com o aumento dos
lucros que esse novo negócio prometia.
Prometi que não iria me envolver em nenhuma loucura nos próximos
dias para que ele fosse tranquilo com minha segurança e para que
conseguisse cumprir minha promessa combinei de ir ao shopping com
Giselle.
— Vamos entrar nessa loja, preciso de alguns utensílios domésticos
para minha nova cozinha.
— Que eu saiba, Milena, você não cozinha, aposto que sua
governanta já se deu o trabalho de comprar tudo que precisa.
Isso seria um sonho.
— Realmente, eu sou uma negação na cozinha, mas até hoje não
contratei nenhuma governanta Giselle. Nenhuma passou no teste, nenhuma é
como Lucrécia, ficam esperando ordens minhas para tudo, sinceramente,
estou pensando em roubá-la do meu pai. — Giselle caiu na gargalhada.
— Boa sorte com isso, mas fácil seu pai largar a Famiglia do que
largar Lucrécia. Ele declararia guerra contra você.
Quem visse de fora até suspeitava que papai nutria sentimentos pela
sua governanta, já que ela era uma das únicas pessoas que conseguia colocá-
lo na linha. Na verdade, Lucrécia cresceu junto com minha mãe, era como
uma irmã para ela e depois da morte dela, Lucrécia e papai acabaram se
apegando um ao outro, mas até onde meus olhos capturaram não havia mais
que amizade entre eles.
— O pior é que você tem razão, acredita que ele ficou uma fera só
porque ela foi lá em casa outro dia para me ajudar com um jantar para
Stefano? Ele disse que ela estava velha demais para fazer jornada dupla.
Pronto, Lucrécia ouviu, surtou com ele, xingou até a décima geração de nossa
família, falando que velha é reumatismo.
— Só Lucrécia mesmo para brigar com o Capo, enfrentando-o dessa
maneira, queria ter visto essa cena. Em toda a minha vida só vi ele pianinho
com ela.
— Porque você não conheceu mamma, aquela ali sim deixava ele de
cabelos brancos — falei saudosa. — Os dois eram perfeitos juntos.
Continuamos fazendo compras, até que meu telefone tocou e um
número desconhecido apareceu na tela.
— Alô.
— Princesinha, que saudade! — Aquela voz que eu tanto odiava fez
arrepios percorrerem por todo o meu corpo.
— Esteban González, estou surpresa com o contato. — Giselle
arregalou os olhos, puxei-a para dentro de um provador para termos
privacidade e fiz sinal para que ela ficasse em silêncio.
— Fiquei sabendo que se casou com outro. Isso me magoou
profundamente. — Continuei em silêncio aguardando o que viria a seguir. —
Sabe, esse seu comportamento me fez tomar medidas extremas, estamos com
seu marido nesse momento.
Cazzo.
— Como assim está com meu marido?
— Eu não teria porque mentir, você sabe disso, basta ligar para ele,
não irá te atender.
— O que você quer de mim?
— Pelo visto minhas fontes estão certas, você já se apaixonou por ele.
Que decepção. — Revirei os olhos, esse homem era um doente.
— Diga de uma vez Esteban. — Ele soltou uma gargalhada.
— Simples, eu quero você. — Meu estômago revirou imediatamente.
— Venha até mim, sozinha, agora. Estou te esperando a três quadras do
shopping que você está, te mandarei a localização por mensagem. Ah, temos
uma bomba armada, se vier com mais alguém o lugar irá pelos ares em
menos de um minuto e adeus italianinho.
Esteban não esperou uma resposta, desligou, no minuto seguinte
recebi a mensagem com o endereço. Estava certo de que eu agiria como uma
esposa apaixonada e desesperada ao encontro do marido.
Eu precisava ser fria e calculista.
Stefano não deixaria ser capturado tão facilmente, deixaria? Ele
estava a quilômetros de distância, como Esteban poderia estar com ele?
Eu precisava pensar rápido no que realmente estava acontecendo.
Então uma luz se acendeu em minha mente e captei o que era óbvio.
— Giselle, me escuta. Temos um traidor aqui conosco, deve ser um
dos nossos soldados.
Ninguém, exceto os soldados que estavam com Stefano e Nando,
sabia da viagem deles para Guadalajara, então provavelmente tentaram
localizar meu marido e com a informação que eu estava sozinha tentaram
armar uma cilada.
— Como assim?
— É impossível Esteban ter tantas informações sobre mim, eu troquei
meu número de telefone há menos de duas semanas. Fique na porta e finja
que eu ainda estou trocando de roupa. — Giselle saiu e eu liguei para
Stefano, para Nando, mas não me atenderam.
— Alô. Milena?
— Papai, Esteban entrou em contato comigo agora falando que está
com Stefano e quer que vá ao seu encontro. Disse que se eu não for sozinha
irá explodir todo o local. — Enquanto falava com meu pai, abri meu outro
aparelho e analisei o mapa do endereço que Esteban me mandou por
mensagem.
— Milena, isso não faz sentido algum, Stefano estava em
Guadalajara pela última vez que falei com eles há pouco menos de quarenta
minutos, ele está jogando com você.
— Ele não me mandou provas de que Stefano está com eles. — Só
podia ser mentira, Esteban não sabia da viagem.
— Porque ele não está, você vai continuar aí no shopping e eu vou
mandar uma equipe até você e até onde esse filho da puta está, me mande o
endereço.
— Não, papai, ele deve ter uma rota de fuga, se você mandar uma
equipe grande ele vai escapar como das outras vezes. Temos um traidor com
a gente no shopping, ele sabe de todos os meus passos e está repassando as
informações, Giselle vai te mandar o nome dele. — Começava a traçar um
plano em minha mente, hoje iríamos acabar com todos os nossos inimigos de
uma vez e eu mesma me encarregaria de me vingar por tudo que Esteban me
fez.
— Cazzo! Você não vai se arriscar filha, eu te proíbo.
— Tenho um bom plano, pai.
— Claro que tem, não seria você se não tivesse.
— Mande uma equipe para Rua Calle Calderón de la Barca, no
máximo oito homens, dos bem treinados, se Esteban tentar fugir será por lá, a
rua possui um acesso ao metrô subterrâneo que está interditado, tenho certeza
de que essa é sua rota de fuga programada. — Eu reconheci o local, essa
saída foi interditada há um ano devido a um problema na tubulação. —
Mande mais dez homens para encontrar comigo na Avenida Horácio, nº 372,
o senhor tem trinta minutos para os homens estarem lá, disfarçados. Irei
cuidar do soldado traidor nesse tempo e te mando o endereço para buscá-lo.
Desliguei antes que papai respondesse, ele sabia que nada me faria
parar. Ele não me negaria minha vingança.
Saí do provador, encarei Giselle que me aguardava com os olhos
arregalados, puxei-a para um abraço e cochichei em seu ouvido.
— Sem levantar suspeitas, informe ao papai por mensagem o nome
do soldado que irá ficar para trás. — Levei-a para fora da loja e sinalizei para
ela e meus homens.
— Giselle, os soldados vão te levar para casa, meu marido está me
esperando no estacionamento do primeiro andar.
— Não podemos te deixar sozinha, desceremos até o estacionamento
com a senhora.
— Não será necessário, meu marido já me aguarda, acompanhem
Giselle.
A contragosto eles foram para o estacionamento do térreo, eu fui para
saída em seguida e me escondi, logo vi um dos nossos soldados voltando com
a intenção de me seguir.
Ele era um dos recém-chegados da Itália cedidos pelo Chefe, veio
com meu marido, por isso não nos preocupamos em olhar sua ficha.
Assoviei.
— Está à minha procura, soldado?
— Senhora Bianchi, vim me certificar de que está segura.
— E por que não estaria?
Antes que ele pudesse falar ou fazer qualquer coisa, me aproximei e
acertei um soco em seu rosto. Ele proferiu uma sequência de xingamentos e
partiu para cima de mim me acertando também.
— Vadia.
— Filho da puta.
Rolamos no chão e eu o desarmei quando ele tentou sacar a arma.
Com um mata-leão, deixei-o sem ar e ele apagou. Dei mais uma sequência de
socos em sua cara para garantir que ficaria desacordado por um bom tempo.
Arrastei-o para um beco, por sorte já havia anoitecido e estava mais fácil
carregar um corpo sem ser vista.
Passei a localização para papai buscá-lo, precisava ser interrogado
para sabermos se estava agindo sozinho e porque um recém-chegado estava
traindo a Famiglia.
Peguei o celular do soldado traidor, com a sua digital desbloqueei e
respondi a mensagem de Esteban: Ela está a caminho, sozinha.
Olhei no relógio, tinha menos de dez minutos para chegar ao local
onde Esteban se encontrava.
Eu não conseguia deixar tudo nas mãos de Stefano. Era oficial, a hora
da minha vingança finalmente chegou.
CAPÍTULO 29
Milena Bianchi

Quando Esteban decidiu me sequestrar ele selou o seu destino.


Eu poderia perdoar os inúmeros atentados contra à Famiglia, deixar
papai e meu marido lidar com isso, mas depois daquela noite em que ele me
tocou sem minha permissão, depois dos dias que fiquei remoendo seus toques
no meu subconsciente, depois dos pesadelos, eu precisava de um
encerramento.
Meu coração se aqueceu quando cheguei ao local onde iria encontrar
minha vingança.
— Eu sabia que o senhor não me deixaria entrar aí sozinha. — Papai
estava me esperando junto com os soldados que pedi que providenciasse.
— Filha, enquanto eu viver você estará segura. Você terá seu
momento com ele, mas não posso deixar entrar lá agora. — Assenti. Papai
beijou minha cabeça carinhosamente e logo depois colocou sua máscara fria
novamente.
— Os soldados fizeram o reconhecimento do local à nossa volta,
temos três atiradores prontos no alto dos prédios do lado, ele está se
escondendo em uma fábrica de sapatos.
— A outra equipe está na rua que eu indiquei?
— Sim. Eles encontraram um acampamento dentro do túnel do metrô,
Esteban e seus homens se escondiam feito ratos numa linha que estava
inativa, os dois homens que guardavam o local já estão mortos, eles não têm
para onde fugir.
— Certo. Então que comecem os jogos, papai. — Pisquei para ele,
agora era eu e ele contra o mundo novamente. Um dos nossos soldados atirou
em uma das janelas e jogou uma bomba de gás lacrimogêneo no local. Papai
entrou atirando para todos os lados e eu fiquei aguardando o seu sinal.
— Matem todos os filhos da puta, menos Esteban, esse é meu e de
minha filha. — Escutava papai gritar e rir feito um sádico enquanto atirava
em tudo que se movia. — Esteban, cadê você? Seja homem. Apareça.
Depois de realizarem uma limpeza no local, papai me chamou para
entrar. Ele cobria as minhas costas e eu as costas dele para se caso surgisse
algum sobrevivente no meio da chacina que fizemos.
— Finalmente um dia de diversão de pai e filha, estava me devendo
isso, meu velho.
— Como diz Lucrécia, velho é reumatismo.
— Capo, todos estão mortos — um dos soldados confirmou. — Não
encontramos Esteban, ele deve ter saído pelos fundos quando escutou que
estávamos invadindo. Também não há nenhuma ameaça de bomba.
— Ele não irá longe, os soldados que o aguardam lá fora vão trazê-lo.
Busque a gasolina e comece a espalhar, queimaremos o local junto com os
corpos antes que a polícia chegue.
Não demorou muito e nossos soldados chegaram com Esteban sendo
arrastado.
Papai me encarou.
— Irei torturá-lo um pouco, mas você dará o golpe final, filha. Preciso
de informações. — Assenti e aguardei que papai começasse.
Papai começou a cortá-lo com sua faca, retirou alguns dentes com o
alicate, arrancou suas unhas e logo Esteban repassou informações das suas
rotas de drogas, de seus contatos e tudo mais que papai perguntava ele
respondia prontamente.
Quando ele terminou, Esteban estava irreconhecível.
Aquilo embrulhava meu estômago, mas de certa forma, papai estava
me protegendo, Esteban não merecia uma morte fácil depois de tudo que me
fez, eu nunca havia torturado ninguém, porém não o daria uma morte rápida
nem que me quebrasse junto.
— Nos vemos no inferno — sussurrei no ouvido do verme e disparei
um tiro certeiro bem no meio de sua testa.
Papai falava algo comigo, mas eu estava perdida em lembranças
terríveis que eu queria que fossem apagadas completamente da minha
memória.
Finalmente aquela noite ficava de uma vez enterrada em meu passado.
Stefano Bianchi

Depois de conseguir novos empreendimentos para a Famiglia, seguia


com Nando de volta para casa.
Alguns minutos depois de deixar Guadalajara, meu telefone começou
a vibrar com várias notificações de chamadas de Milena e uma mensagem de
Giovanni pedindo que ligasse para ele imediatamente.
Algo estava errado.
— Stefano! — A voz de Giovanni estava agitada.
— Sim, Capo. O que aconteceu?
— Vocês ainda estão em Guadalajara?
— Saímos há pouco tempo. Por quê? Aconteceu alguma coisa?
Milena está bem? — Mil e uma coisas se passaram pela minha cabeça, ele
não estaria tão preocupado se estivesse tudo bem com ela.
— Esteban ligou para Milena dizendo que havia sequestrado você,
pediu que ela fosse ao encontro dele sozinha para te salvar, tentamos contato
com você e com os soldados, mas estavam incomunicáveis. — O local onde
ocorreu a última corrida era sem sinal, porra.
— Os negócios saíram exatamente como planejamos. Me diz que
Milena não foi atrás de mim... — Giovanni me interrompeu antes que
terminasse de falar.
— Calma, Stefano, somos mais espertos que isso. Milena percebeu
que era apenas um blefe. Estamos com tudo esquematizado, ainda hoje
teremos a cabeça do filho da puta. Vou te mandar a localização do
desgraçado, venha direto para cá, já estou aqui com Milena.
— Milena se envolveu nessa merda?
— Estou com ela, não se preocupe, minha filha sabe o que está
fazendo e eu também. Agora venha de uma vez.
Giovanni desligou e eu coloquei o endereço que ele enviou no GPS.
— Acelera essa porra, Nando. Milena está correndo perigo.
— Relaxa, Stefano, você nunca viu Milena e Giovanni agindo juntos,
não vai sobrar nem uma unha daquele filho da puta.
Eu não ouvi nada que Nando estava dizendo, minha Milena estava
correndo perigo por minha culpa, eu precisava protegê-la.
Ela poderia estar caindo numa armadilha para me proteger.
— Anda logo, porra! — gritei com Nando no carro mais uma vez.
Quando finalmente chegamos ao local, percebi que era uma fábrica de
calçados, havia dois soldados do lado de fora, aparentemente calmos,
tomando conta da entrada.
— Tudo já foi resolvido chefe — um dos soldados me avisou. — Sua
esposa e o Capo estão lá dentro terminando o serviço.
Eu não esperei que o soldado me falasse mais nada, adentrei o local
com o coração saindo pela boca e logo vi Milena e Giovanni conversando em
frente ao cadáver de Esteban amarrado na cadeira completamente
desfigurado, com um tiro no meio da testa.
— Milena, você está bem? — indaguei, vi que suas roupas estavam
sujas de sangue, o cabelo todo desgrenhado e tinha alguns ralados nos braços
e pernas.
— Estou bem, marido. Acabou. Ele está morto. Eu o matei. — Ela
correu para os meus braços e me apertou forte, encostando sua cabeça no
meu peito.
Giovanni fez um sinal para os soldados saírem, me entregou um
isqueiro e saiu logo em seguida nos deixando sozinhos.
— Acabou — sussurrei no seu ouvido. — Acabou, fiquei louco
quando soube que você corria perigo, bella mia, nunca mais faça isso comigo
— disse olhando em seus olhos.
— Eu te amo, Stefano.
Aquela sentença acendeu algo dentro de mim e por um minuto pensei
em tudo que se passou pela minha cabeça desde que soube que ela estava em
perigo, não tinha mais por que fugir desse sentimento.
Ela veio sorrateira tomando partes da minha vida e eu nem me dei
conta.
Seu lugar era para sempre ao meu lado, me completando, me
apoiando e me amando. Do mesmo modo, a recíproca era verdadeira.
— Eu também te amo, Milena. Te amo como nunca amei ninguém,
desde a primeira vez que a vi me apaixonei por você e a cada dia esse
sentimento foi crescendo ao ponto de nem me lembrar como era antes de ter
você. Minha, para sempre minha.
— Meu, para sempre meu.
Puxei Milena para um beijo apaixonado e percebi que eu faria
qualquer coisa pela minha pequena por todo o sempre.
Ela era meu lar e juntos comandaríamos nosso próprio império.
EPÍLOGO
Milena Bianchi

Dois anos depois...

Após a reunião de mais de duas horas na sede com papai, Stefano,


Leonardo e Nando, passei na farmácia e vim direto para casa.
A ansiedade e o medo apoderaram-se de mim o dia todo, precisava
confirmar se Lucrécia tinha razão em suas suspeitas.
Eu e Stefano não planejávamos ter um filho por agora, exatamente
por isso havia acabado de colocar o DIU, já que por uma recomendação da
minha ginecologista esse método contraceptivo seria melhor para o meu
organismo do que a bomba de hormônios que eu vinha tomando.
Claro que fomos alertados que teríamos que utilizar outro método
contraceptivo nos primeiros sete dias da colocação do DIU, mas estávamos
comemorando meu aniversário e depois de tantas tequilas da minha parte e
tanto whisky da parte de Stefano, a última coisa que queríamos era colocar
aquela porcaria de camisinha.
Agora estava aqui sentada na tampa do vaso, não fazia ideia de quanto
tempo, observando as duas listinhas presente nos cinco testes de gravidez que
eu fiz.
Grávida!
— Amore mio, você não respondeu às minhas mensagens, está tudo
bem? — Stefano apareceu na porta do banheiro.
Eu não conseguia falar nada, apenas olhei em seus olhos e depois
direcionei o meu olhar para os testes em cima da pia.
Demorou uns bons cinco minutos para ele compreender a situação.
— Isso é o que eu estou pensando? Você está grávida? — Ele pegou
um dos testes nas mãos e voltou seu olhar para mim.
— Sinto muito, eu, eu... — Eu não sabia o que falar, não planejei isso
e imaginava que ele estivesse uma fera comigo.
— Eu vou ser pai, porra! — Contradizendo todas as reações que eu
esperava dele, ele abriu um sorriso enorme no rosto, me puxou para o seu
colo e começou a me encher de beijos. — Eu te amo, Milena e eu já amo
nosso bebê, vamos ser bons nisso, tudo que fazemos juntos somos
incrivelmente bons.
Meu coração se aqueceu e toda a insegurança foi embora.
Desde o dia que Stefano me disse que me amava começamos uma
nova relação, tendo como base o companheirismo. Ele não me deixava mais
de fora de nenhum assunto da organização, assim como eu também vinha
repassando tudo que eu descobria para ele.
Ele se deu conta de que eu não era tão indefesa quanto pensava,
apesar de amar ser mimada por ele, eu também conseguia assumir as
responsabilidades da nossa vida.
Conquistamos muito juntos, elevamos os ganhos no México para
outro patamar. Quando íamos à Itália sua família se enchia de orgulho e
histórias de nossas batalhas eram contadas abertamente na roda de fofocas,
apesar de que para a maioria eu era apenas uma esposa troféu, já que a
organização continuava fazendo vista grossa para minha participação.
Isso não mudaria tão cedo.
Tinha o respeito dos meus homens no México e todos sabiam que
fazia parte do comando, mas para a Famiglia admitir isso publicamente
levaria tempo.
Passei a mão pela minha barriga e só esperava que se o meu bebê
fosse uma menina, que ela fosse sábia para lidar com esse mundo machista e
que continuasse abrindo caminho para que as mulheres capazes fossem
reconhecidas dentro da Famiglia.
— Precisamos marcar um jantar para anunciar para a família e para
comemorar a novidade. — Stefano me tirou dos meus pensamentos.
— Vou providenciar, podemos marcar para daqui a duas semanas e
convidamos seus pais para virem nos visitar. Aproveitamos a oportunidade
para falar com Riccardo sobre as eleições que estão chegando, de todo o jeito
ele ou Chefe terão que vir para nos reunirmos sobre as mudanças que serão
feitas após nossa vitória no Congresso.
— Pensei nisso também, providencie o jantar e fale com sua família,
eu irei ligar para o meu pai. Agora você precisa se alimentar direito,
precisamos marcar também uma consulta para ver se está tudo bem com
nosso filho. Será que já conseguiremos saber o sexo?
Caí na gargalhada com todas as divagações do meu marido.
— Pelas minhas contas eu estou grávida desde meu aniversário, ou
seja, é muito recente.
— Ah, o seu aniversário, foi uma bela foda para concepção mesmo —
ele disse pensativo com um sorrisinho cretino no rosto. — Esse DIU é uma
porcaria, hein?
— Eu te avisei que devíamos aguardar os sete primeiros dias em
celibato, marido, mas não, confia em mim esposa, relaxa e goza. — Stefano
fez um biquinho. — Não faz essa cara, a culpa é sua.
— Eu assumo toda a responsabilidade de ter colocado meu moleque
dentro de você, esposa. Agora vem cá que eu preciso te ter novamente para
comemorar.
Amamo-nos por um longo tempo e dormimos agarradinhos, com
Stefano acariciando a minha barriga e sussurrando palavras carinhosas para
nosso filho.

Após um encontro com Giselle e a tal mexicana de Nando, Stefano


me buscou no restaurante e fomos para o hospital.
No caminho compartilhei com ele todas as minhas suspeitas, já que
Nando estava cada dia mais indo para um caminho sem volta e eu estava
realmente muito preocupada com ele.
— Infelizmente, Leonardo, tem razão em arranjar uma noiva da
Famiglia para ele, Milena, eles não podem continuar com isso e você sabe
disso. A história dos dois não terá um final feliz, ela não faz parte do nosso
mundo. Se ele insistir nisso, você sabe que não teremos como ajudá-lo a
escapar das consequências.
Ao longo desses anos, Stefano e Nando se tornaram quase que
amigos, Nando assumiu mais responsabilidades na Famiglia e Stefano já o
tinha como seu braço direito.
— Eu gostei tanto dela, Stefano. Ela tem um espírito livre, mas dá
para perceber que o ama, será uma pena ter que afastá-los.
Encerramos o assunto, quando chegamos ao hospital.
Assim que minha médica ligou o aparelho e ouvimos o coraçãozinho
do nosso bebê, meu coração transbordou de amor.
— Dá para saber o sexo doutora? — Stefano indagou.
— Ainda é muito cedo, teremos que aguardar as próximas consultas,
acredito que até a décima segunda semana de gestação podemos obter o
diagnóstico do sexo.
Assentimos juntos.
A médica fez mais alguns exames, receitou algumas vitaminas e
recomendou que eu fizesse exercícios físicos mais leves, já que Stefano fez
questão de frisar que treinar levando surras diárias poderia fazer mal ao bebê.
Saímos da consulta e fomos para nossa casa, felizes com nossa
pequena família que se formava.
Eu, meu marido e meu bebê.
A minha vida não poderia ser mais perfeita...

FIM.
Bônus do próximo livro....
Alguns anos atrás...

“Pelo caminho, garrafas e cigarros


Sem amanhã, por diversão, roubava carros
Era Ana Paula, agora é Natasha
Usa salto quinze e saia de borracha
Um passo sem pensar
Um outro dia, um outro lugar
O mundo vai acabar
E ela só quer dançar
O mundo vai acabar
E ela só quer dançar, dançar, dançar
Pneus de carros cantam
Thuru, thuru, thuru, thuru
Thuru, thuru, thuru, thuru
Thuru, thuru, thuru, thuru
Thuru, thuru, thuru, thuru(...)”
Música: Natasha
Capital Inicial

Tudo na vida era uma questão de contatos e isso ela tinha de sobra.
Era difícil acreditar que a menina tinha apenas dezesseis anos, seja
pelos documentos falsos que apontavam para sua maioridade ou pelas roupas
provocantes que destacavam curvas totalmente inapropriadas para uma
adolescente.
Quando sua mãe lhe prometeu a liberdade, ela levou a sério e jurou
nunca se aprisionar a padrões, lugares ou pessoas.
Liberdade.
Era tudo que queria e tudo que ninguém nunca poderia lhe roubar.
Vestida de menina mulher, toda de preto, blusa transparente
destacando sua barriga plana, saia de couro apertada, bota de salto quinze
centímetros e o batom vermelho que faria qualquer um pecar.

Destacou-se no meio da multidão que se aglomeravam em meio a


uma rua deserta de Guadalajara, todos prontos para assistir a uma corrida de
carros clandestina entre os membros das duas gangues que disputavam o
tráfico de drogas da cidade.

Era a primeira vez que frequentava esse tipo de evento, mas jurou
para si mesma que não seria nem de longe a última vez, ela ouvia o ronco do
motor a chamar para uma vida nova, cheia de aventuras.

Sabia que quando retornasse para casa o adeus mais dolorido de toda
a sua vida a aguardava e então se permitiu curtir o momento, coisa que
pretendia fazer por todo o sempre daqui para frente, sem amarras.

Olhou ao redor à procura de alguém interessante o suficiente para se


enturmar e encontrou um rapaz que não deveria ser tão mais velho que ela,
ele estava encostado em um dos carros mais luxuosos do local,
provavelmente querendo participar da corrida em uma próxima rodada.

Foi até ele sem desviar o olhar, algo no ar a proibia de quebrar o


encanto daquela noite.

— Belo carro, você é o piloto?

— Sim, boneca, Nando Ferrara ao seu dispor. Como se chama?

— Natasha. Me levaria para dar uma volta?

Antes que ele tivesse tempo para responder qualquer coisa, o barulho
das sirenes da polícia foi ouvido por todos no local que começaram a
dispersar rapidamente para não serem pegos em uma batida e acabarem a
noite em uma delegacia.

Sem perder tempo ele abriu a porta para ela, deu a volta no carro e os
dois saíram em disparada pelas ruas de Guadalajara, escapando facilmente de
qualquer perseguição policial.
Ela abriu o vidro da sua janela, colocou o rosto para fora e o vento
bateu em seu rosto fazendo seus cabelos voarem e um sorriso nascer com a
sensação de liberdade que se apoderava do seu corpo.

— Não deveria entrar no carro de um desconhecido assim,


principessa.

— Italiano?

— Sim, me mudei há pouco tempo para o México, vejo que tem


facilidade em distinguir o sotaque. Você conhece a Itália?

— Ainda não, mas um dia quem sabe? Você poderia me levar.

— Não sou o tipo de cara que uma bella ragazza como você deveria
andar.

— Pois saiba que eu prefiro os perigosos. Quem sabe eu tenho sorte e


você pode ser até um mafioso. Com toda a loucura que eu guardo dentro de
mim, não vejo tipo que poderia me atrair mais. Talvez até me apaixone por
você.

O chute no escuro que ela deu sobre ele não poderia estar mais certo.

Ele sorriu para ela e parou o carro em um acostamento qualquer. Os


dois se olharam e ela chegou mais perto dele e o beijou.

O beijo que começou calmo foi ganhando vida, os hormônios da


adolescência que estavam à flor da pele se afloraram e ambos estavam
rapidamente entregues ao desejo.

Apesar dele contar apenas com dezessete anos de idade, pela sua
cama já haviam se passado várias mulheres, diferente dela que escolheu esse
momento para entregar seu corpo pela primeira vez a um completo
desconhecido.

Enquanto ela retirava sua blusa, puxou junto o papel higiênico que
usava dentro do seu sutiã, como enchimento, tudo muito discreto, pois ela
não queria que ele soubesse que ainda não tinha toda a glória de uma mulher
dentro de seu sutiã.

Os vidros do carro se embaçaram e se alguém passou por aquela rua


naquele momento escutou uma série de gemidos de prazer e entrega que
ressonaram de dentro da Lamborghini de Nando.
AGRADECIMENTOS

Ufa! Consegui!

O caminho até aqui não foi fácil. Medo, incerteza e insegurança


reinaram no meu coraçãozinho, mas graças a Deus não estou sozinha, por
isso gostaria de agradecer a todos que sonharam junto comigo e me apoiaram.

Meu principal ponto de apoio foi o meu marido, M. H., que me


incentivou a perseguir esse sonho e apostar minhas fichas nesse casal louco
que ganhou vida no meu computador em uma manhã tediosa de domingo.

Somado ao meu marido, também tive aquele incentivo da minha irmã


e das minhas amigas, apesar de não ter compartilhado tanto desse projeto
quanto gostaria com elas, mas a insegurança bateu forte demais no meu peito,
me fazendo optar por manter tudo bem guardadinho. Sei que vocês vão
entender o motivo do meu silêncio e vão continuar me amando.

Agradeço também à Lidiane Mastello, uma revisora incrível que tive


o prazer de conhecer. Com sua ajuda, suas dicas, seu apoio, senti segurança
em publicar este livro.

A todos vocês leitores que chegaram até aqui, sorriram com o jeitinho
de Milena e torceram para que ela conquistasse o coração de Stefano. Por
favor, não deixe de avaliar o livro no final, estarei ansiosa para ler seu
comentário.

Por último, mas nem de longe menos importantes para mim, agradeço
aos meus pais por sempre me oferecerem colo quando o peso da vida adulta é
difícil demais, por serem sempre minha base, meu alicerce e minha
inspiração para escrever estes e muitos outros finais felizes que ainda virão
por aí.

Amo todos vocês!


Beijinhos!

[1] Sam Roland Heughan é um ator escocês conhecido pelo seu papel de Jamie Fraser na
série Outlander.

[2] Empresa de engenharia fictícia, criada pelo Giovanni para lavagem de dinheiro.

[3] Alusão ao filme Velozes e Furiosos estrelado pelo ator Van Diesel.
[4] É um empréstimo do italiano, geralmente usada como uma expressão que interroga o
interlocutor se ele aceitou os termos ou se entendeu o que foi dito.

[5] Sim.

[6] Porra.

[7] Obrigada.

[8] Moça.

[9] Boneca.

[10] Idiota.

[11] É um termo utilizado pela Famiglia que define um código de honra, pautado em um voto de
silêncio, que impede os membros da organização passar informações para os inimigos ou cooperar com
autoridades policiais ou judiciárias, seja em direta relação pessoal, ou com fatos que envolvem
terceiros.

[12] Meu Deus!

[13] Idiota.

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