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UM BEBÊ PARA O CIRURGIÃO

TATUADO

Ariela Pereira
Copyright© 2023 Ariela Pereira

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edição e obra são da autora. É proibida a cópia ou
distribuição total ou de partes desta obra sem o
consentimento da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido


na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

1º Edição
2023
ÍNDICE
SINOPSE:
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
CAPÍTULO 50
CAPÍTULO 51
CAPÍTULO 52
CAPÍTULO 53
CAPÍTULO 54
EPÍLOGO 1
EPÍLOGO 2
AGRADECIMENTOS
NOTA
SOBRE A AUTORA
REDES SOCIAIS
MAIS LIVROS DA AUTORA NA LOJA KINDLE
SINOPSE:

Willow leva uma vida feliz e despreocupada ao lado de sua


mãe, em uma pequena cidade costeira da Carolina do Sul, onde
nasceu e cresceu. Como parte da tradição local, os jovens da região
costumam realizar uma festa na praia para celebrar o início do
verão. No entanto, naquela noite, a comemoração acontece em uma
praia interditada, e quando a polícia aparece, os jovens se veem
forçados a fugir para evitar prisões.
Durante sua fuga, Willow se depara com um turista solitário
que desfruta de uma cerveja na proa de seu veleiro e pede abrigo a
ele. Sem dúvida, é o homem mais bonito e charmoso sobre o qual
Willow já colocou os seus olhos e, sentindo-se irresistivelmente
atraída, ela acaba passando momentos de intensa paixão nos
braços desse estranho, acreditando que nunca mais o verá.
Contudo, no dia seguinte, ela descobre que esse homem não
é apenas um turista, mas sim o renomado cirurgião Dashiel
Whitman, um homem influente e poderoso, que recentemente se
mudou para a cidade com planos de estabelecer residência. Ela
também se depara com rumores de que ele deixou uma esposa em
sua cidade de origem e é dono de um passado repleto de sombras,
incluindo uma passagem obscura por uma gangue durante sua
juventude. Diante dessas revelações, Willow opta por não procurá-lo
ao descobrir que está esperando um filho dele.
Um ano depois, o destino os coloca frente a frente
novamente, quando um crime brutal abala a tranquilidade da cidade
e coloca Dashiel como o principal suspeito. Sendo Willow a única
testemunha, ele precisará da ajuda dela para tentar provar sua
inocência e, apesar de todas as evidência apontarem para ele,
Willow já não sabe no que acreditar. Ela não tem certeza se seus
instintos estão certos quando a alertam de que Dashiel é inocente
de todas as acusações que recaem sobre ele ou se é apenas a
paixão ardente que pulsa dentro dela impedindo-a de enxergar a
verdade.
CAPÍTULO 1

— Não sei se estou muito confortável com a ideia de você saindo


com essa galera — disse minha mãe, preocupada como sempre.
Ela estava sentada na minha pequena cama de solteiro enquanto
eu terminava de me maquiar diante do espelho.
Era sexta-feira à noite, e a atmosfera festiva estava no ar, embora
eu não fosse exatamente uma pessoa festeira. Geralmente, preferia ficar
debaixo das cobertas, lendo um bom livro, em vez de sair para a balada,
especialmente após um dia cansativo de trabalho.
No entanto, essa noite era especial, pois alguns dos jovens da
cidade se reuniriam em uma festa na praia para celebrar o início do verão.
Era uma das poucas ocasiões em que tínhamos as praias somente
para nós durante os meses de calor, antes da chegada dos turistas, que
vinham de diferentes partes do país em busca de diversão e descanso no
litoral.
Aquela noite se tornava ainda mais especial porque marcava o fim
de mais um ano letivo. Para mim era o último ano como estudante, já que
eu não tinha planos de frequentar a faculdade.
Meu futuro estava em Georgetown e já estava traçado. Meu
objetivo era juntar dinheiro para comprar a livraria onde eu trabalhava, a
única da cidade.
Elizabeth, minha chefe, a havia fundado quando tinha minha idade.
Mais tarde, ela se casara com um magnata das telecomunicações que
passava férias na cidade e acabara indo embora com ele.
Após a morte do marido, Elizabeth voltara para Georgetown com
uma generosa herança e, embora tenha reaberto a livraria apenas por
diversão, passou a se dedicar a causas sociais, prestando assistência a
mulheres vítimas de violência doméstica.
Acredito que ela própria tenha sido vítima desse tipo de violência
durante o casamento e estava ajudando outras mulheres na mesma
situação.
Devido à violência que enfrentara, ela havia se fechado
completamente para os envolvimentos afetivos.
Não havia ninguém presente em sua vida, apesar dos rumores na
cidade sobre um possível relacionamento secreto com um homem
casado, os quais eu acreditava serem meras especulações infundadas.
Agora que eu havia terminado o colégio, teria tempo para trabalhar
em período integral para ela e economizar o suficiente para comprar a
livraria.
Elizabeth prometera me vender o negócio a um preço mais
acessível, conhecendo meu amor pelos livros e confiando que eu cuidaria
bem do acervo.
— Não é exatamente uma galera, mãe. São apenas as mesmas
pessoas com as quais convivo na escola o ano todo — expliquei.
— Eu não confio naquele namorado novo da Sarah. Ouvi dizer que
ele foi flagrado fumando maconha na fazenda dos Thompson.
— São só boatos, não acredite em tudo o que ouve. Jeremy não
fuma maconha — eu a assegurei.
No entanto, compreendia as preocupações dela. Mesmo vivendo
em uma cidade com pouco mais de sete mil habitantes, onde todos se
conheciam, o local estava movimentado pelo turismo, e minha mãe temia
que eu passasse pelo mesmo que acontecera com ela, há dezoito anos,
quando fora abandonada por um turista com quem se envolveu. Meu pai.
Minha mãe trabalhou como arrumadeira durante toda a vida, e
naquela época, ele estava hospedado no hotel onde ela atuava.
O homem nunca se deu ao trabalho de sequer pagar uma pensão
alimentícia, de modo que ela me criou sozinha com seu salário de
arrumadeira, enfrentando dificuldades financeiras.
Por isso, passei toda a minha vida ouvindo-a dizer para eu nunca
me envolver com turistas, já que acreditava que eles só exploravam
mulheres como nós e jamais levariam um relacionamento a sério.
— Eu prometo que vou tomar cuidado — insisti.
Olhei uma última vez no espelho, satisfeita com o resultado da
minha maquiagem. O restante da produção também não estava nada mal.
Meu vestido de algodão curto e folgado era simples, mas ficava
bem em meu corpo esguio. Meus cabelos longos e lisos não precisavam
de muita manutenção, caíam como um véu negro sobre meus ombros e
eu gostava deles assim.
Me aproximei de minha mãe e dei um beijo em sua testa.
— Vá assistir a uma série e depois vá dormir. Não espere por mim
— recomendei.
— Vê se não chega muito tarde.
— Não se preocupe, não chegarei tarde e não namorarei turistas —
completei sua frase, antecipando o que ela costumava dizer quando me
via saindo de casa.
Ao sair da modesta moradia, encontrei Sarah me esperando na
calçada. Subi na garupa de sua scooter, e seguimos em direção à festa.
Fiquei surpresa quando ela escolheu o caminho que nos levaria à
Serenity Beach, uma praia próxima ao porto que estava fechada para
manutenção antes do início da temporada de turismo.
— Não acredito que a festa vai ser aqui — comentei. — Essa praia
está fechada! Se nos pegarem fazendo festa aqui, seremos presos.
— Fique tranquila — Sarah respondeu. — O pai do Jeremy está de
plantão hoje na delegacia, ele não vai permitir que outros policiais venham
até aqui.
— Espero que seja assim. Não teríamos dinheiro para pagar fiança,
caso fosse necessário.
Pelo menos, a praia estava afastada o suficiente da cidade para
que os moradores não ouvissem a música e denunciassem.
CAPÍTULO 2

As areias de Serenity Beach já estavam repletas de pessoas, cerca


de trinta delas, mais ou menos, todos rostos familiares. Eram amigos que
estudavam juntos e se conheciam desde a infância.
A maioria deles segurava garrafas de cerveja ou copos com outras
bebidas, e a música eletrônica tocava em volume moderado a partir de um
moderno aparelho de som.
Uma fogueira ardia no centro, cercada pelos convidados, alguns
dançando, outros apenas conversando e bebendo.
Assim que chegamos, Jeremy, o namorado de Sarah, veio nos
receber, e ela se afastou com ele.
Porém, como não era o tipo de amiga que abandonava a outra por
um namorado, logo, ela estava de volta. Pegamos cervejas geladas em
um dos coolers e fomos dançar.
A noite transcorreu como a maioria das festas, com todos se
divertindo, flertando e atualizando as fofocas. Muitos celebravam suas
futuras idas para a universidade.
Meu ex-namorado Tim, como sempre, passou a noite tentando se
aproximar de mim. Ele tinha esperanças de reatar o relacionamento, mas
eu não consideraria voltar com alguém que havia me traído.
Além disso, eu estava mais concentrada em meu trabalho e não
tinha interesse em namorar ninguém, especialmente porque ninguém ali
parecia ser uma opção atraente.
Eu conhecia todos aqueles caras desde que nós frequentávamos o
jardim de infância. Isso quebrava completamente qualquer tipo de
encanto.
No início da madrugada, o que eu mais temia aconteceu. Alguém
gritou: "Polícia!" e logo o som das sirenes encheu o ar, indicando que mais
de uma viatura estava se aproximando.
Houve uma correria frenética, todos fugindo em diferentes direções,
preocupados em salvar a própria pele.
Alguns pareciam estar se divertindo com a situação, como se
tivessem escolhido essa praia para experimentar esse tipo de adrenalina,
achando emocionante fugir da polícia.
No entanto, eu não podia ser presa, pois não tinha dinheiro para
pagar uma fiança, e estava tentando impressionar Elizabeth a ponto de
ela manter a decisão de me vender a livraria.
Ela era o tipo de pessoa que nunca mais me olharia da mesma
maneira se eu fosse parar na prisão.
Então, corri o mais rápido que minhas pernas permitiram. Não
esperei por ninguém e nem olhei para os lados.
Fui em direção ao porto, onde ficavam as lanchas e veleiros dos
ricos, na esperança de invadir um dos barcos e me esconder antes que
me alcançassem.
Olhei para trás e vi a luz de uma lanterna apontada na minha
direção, indicando que os policiais estavam me seguindo. Fiquei em
pânico e acelerei ainda mais o passo, quase em desespero.
Se Sarah fosse pega, provavelmente nada aconteceria com ela,
afinal, namorava o filho de um policial.
Quanto a mim, era apenas a filha de uma mãe solteira que
trabalhava como arrumadeira. A situação poderia ficar feia para o meu
lado.
Ao longe, vi um homem sentado na proa de um grande veleiro, um
dos primeiros barcos no porto.
Corri até ele, na esperança de que fosse alguém com um coração
bondoso o suficiente para me esconder e corajoso o bastante para fazer
isso mesmo sabendo que eu estava fugindo da polícia.
— Por favor, me ajude — implorei, ofegante devido à corrida, com o
coração a ponto de sair pela boca.
Sem esperar por uma resposta, atravessei rapidamente o espaço
entre o píer e o veleiro, invadindo a embarcação.
O homem olhou na direção de onde eu vinha e, em seguida, para
mim. Ele estava sentado em uma espreguiçadeira, uma perna cruzada
sobre a outra, segurando uma garrafa de cerveja.
Seu rosto não me era familiar, então ele provavelmente não era da
cidade.
— De quem você está fugindo? — Ele perguntou.
— Da polícia.
— E o que você fez?
— Nada. Eu estava apenas em uma festa em uma praia fechada.
Ele ficou pensativo por um momento, olhou novamente na direção
da luz da lanterna que se aproximava rapidamente e, por fim, se levantou.
— Tudo bem. Venha comigo.
Ele acenou com a mão, e o segui quando desceu a escadinha de
inox que levava ao interior da embarcação.
O veleiro não era tão grande quanto por fora. Do lado de dentro,
havia um estofado branco embutido na parede e uma mesa retangular de
madeira polida que ocupava todo o espaço, de onde partia um corredor
estreito.
Ainda trêmula devido à adrenalina, sentei-me no estofado,
enquanto o homem permanecia de pé, apoiado na mesa.
— Acalme-se. Eles não vão entrar aqui — ele assegurou.
— Não posso ser presa. Minha mãe teria um infarto, e minha chefe
me demitiria.
— Você é menor de idade?
— Não, tenho dezoito anos.
— Eu só queria saber o tamanho da encrenca em que estou me
metendo.
— Não vai sobrar para você. Assim que os policiais se afastarem,
vou embora, e ninguém nunca saberá que estive aqui.
— Não precisa ter pressa. Pode ficar à vontade. Quer uma cerveja
para se acalmar mais rápido?
— Pode ser.
Ele desapareceu no corredor e voltou logo depois com duas
cervejas, entregando-me uma delas.
Bebi um grande gole, apreciando o líquido amargo e gelado
descendo pela minha garganta seca devido à corrida e ao nervosismo.
— Está se sentindo melhor? — ele perguntou.
— Sim.
CAPÍTULO 3

À medida que eu me acalmava, comecei a prestar mais atenção no


meu salvador daquela noite. Definitivamente, ele não era daqui,
provavelmente um turista que chegara antes dos outros.
No entanto, o que realmente chamou minha atenção foi sua
aparência. Ele era, sem dúvida, o homem mais bonito que já vi na vida.
Alto, com ombros largos, cabelos loiros escuros, quase castanhos, olhos
azuis perolados e uma barba começando a crescer.
Seus braços musculosos estavam cobertos por tatuagens cor de
grafite, que também eram visíveis em seu pescoço, exposto pelo colarinho
da camiseta de malha que ele usava.
Eu tinha quase certeza de que todo o corpo dele era coberto por
essas tatuagens, e, de repente, me peguei curiosa para ver o resto.
Apesar de sua beleza estonteante, essas tatuagens lhe conferiam
um aspecto de selvageria e perigo que, em circunstâncias normais, me
teriam feito sair correndo dali com a mesma pressa com que cheguei.
— Você está aqui sozinho? — perguntei, tomando outro gole da
cerveja.
— Sim, um pouco de solidão às vezes faz bem.
— Você não é daqui.
— Não, acabei de chegar à cidade.
Ele sorriu, revelando um conjunto perfeito de dentes brancos,
parecendo genuinamente interessado na conversa. Minha curiosidade
sobre ele crescia a cada momento.
— E o que o trouxe até Georgetown? Férias?
— Eu estava em busca de um lugar tranquilo como este. E você?
Sempre frequenta festas em praias proibidas?
— Digamos que eu estava comemorando algo especial e acabou
virando um pesadelo. Qual o seu nome?
Ele estendeu a mão em um gesto amigável.
— Dashiel.
Senti um arrepio descer pela minha pele quando toquei sua mão
para cumprimentá-lo.
Todos os meus instintos me alertavam de que aquele homem
poderia ser perigoso, talvez por causa das tatuagens ou pelo fato de estar
sozinho em um veleiro em plena noite de sexta-feira.
Eu deveria sair dali, correr para longe, me esconder em outro lugar.
No entanto, alguma força desconhecida me impedia de partir.
A aura misteriosa que ele emanava, me atraía, ao invés de me
assustar. Pior que isso, aquele homem tinha o estranho poder de
despertar um lado meu que até então eu desconhecia.
O simples ato de olhar para ele, de contemplar seus braços fortes,
imaginando como eram as tatuagens por baixo das roupas, me deixava
perdidamente excitada, com pensamentos lascivos passando-se pela
minha cabeça.
Imaginei aquele corpo grande me pressionando sobre a mesa de
madeira e um formigamento se formou abaixo do meu umbigo.
Eu tinha bebido mais cervejas do que pretendia. Apenas isso
explicava os rumos que os meus pensamentos tomavam.
— Prazer. Sou Willow — falei, tentando disfarçar o rubor em meu
rosto.
Dashiel me observou por um momento, como se estivesse
avaliando algo. Será que podia perceber a minha excitação?
Que constrangedor!
— E você, é daqui mesmo?
— Sim, nasci e cresci na cidade.
— Deve ser uma vida boa, morando sempre perto da praia.
— Não é tão bom quanto parece. A gente se acostuma a ponto de
nem prestar mais atenção.
— Eu entendo o que quer dizer. Às vezes, estamos tão
acostumados com o lugar em que vivemos que deixamos de apreciar a
beleza à nossa volta.
— É verdade. Às vezes, é preciso a chegada de alguém de fora
para nos fazer ver as coisas com novos olhos.
— Concordo. No entanto, estou certo de que isso não é um
problema, pois sempre há pessoas de fora por aqui.
— É verdade, até demais.
Ele fez uma breve pausa, avaliando-me.
— Será que estou enganado, ou você não é muito fã do turismo na
região?
— Você está correto. Realmente não sou. Apesar de ser a principal
atividade econômica da cidade, o excesso de pessoas atrapalha. Isso tira
a magia do lugar, entende? Não temos a mesma privacidade que temos
durante o inverno.
— Entendo perfeitamente. A vida pode ser complicada em aspectos
que nem imaginamos. Às vezes, precisamos ajustar nossos hábitos para
escapar de certas coisas.
O suave som das ondas batendo no casco do barco criava uma
atmosfera tranquila e quase mágica. Respirei profundamente e olhei para
ele.
— O que você está tentando evitar esta noite, ficando aqui sozinho,
Dashiel?
Ele pareceu surpreso com minha pergunta, seus ombros tensos,
revelando sua ansiedade. Eu não era a única ali tentando escapar ou se
esconder de algo.
Apesar da minha curiosidade em desvendar os mistérios que
cercavam aquele homem, não dei muita atenção ao assunto, cada
partícula da minha mente e do meu corpo concentrada em imaginar o
quanto seria bom transar com aquele estranho bem ali, em cima daquela
mesa, sem que ninguém nunca soubesse e sem que nunca mais
voltássemos a nos ver.
Não que eu tivesse o costume de sair por aí trepando com
desconhecidos. Na verdade, Tim fora o primeiro e único homem da minha
vida. Por isso, transar com aquele lindo desconhecido seria a maior
aventura da minha existência.
Ninguém nuca saberia.
Balancei a cabeça, afastando os pensamentos alucinados.
— Não estou fugindo de nada. Apenas queria tomar uma cerveja
enquanto ouço o som das ondas do mar — disse ele.
— E onde está a sua família?
— Não quero falar sobre isso — ele levou a garrafa de cerveja à
boca, tomando outro grande gole.
Foi aí que notei que sua expressão estava ligeiramente
atormentada. Era evidente que ele estava enfrentando algum problema
familiar.
Deslizei o olhar pelos seus dedos, em busca de uma aliança, mas
não havia nenhuma. Apesar de estar na casa dos trinta, ele não era
casado. Deveria estar lidando com questões relacionadas aos pais ou aos
irmãos.
CAPÍTULO 4

Continuamos conversando por algum tempo, sem que eu


conseguisse descobrir muito sobre aquele intrigante desconhecido.
Além de suas falas serem evasivas, como se ele tentasse
deliberadamente manter o ar de mistério, minha mente divagava por
pensamentos luxuriosos, sem prestar muita atenção no que ele dizia.
Ainda assim, consegui capturar quando ele revelou ser um médico
cirurgião.
Era surpreendente imaginar que braços tão robustos como os dele
pudessem possuir a destreza necessária para realizar procedimentos
cirúrgicos.
Decididamente, se um dia eu precisasse de tratamento em um
hospital onde ele trabalhasse, eu hesitaria antes de permitir que ele me
operasse. Sua impressionante força física não me transmitia confiança
alguma.
Aliás, nada naquele homem me transmitia confiança e, ao invés de
me assustar, isso me excitava perdidamente.
— Aqui tem um banheiro? — indaguei, depois da quinta cerveja.
— Sim. Fica no final do corredor. — Ele gesticulou com a mão para
o corredor estreito. — Você aceita outra cerveja?
— Claro. Por que não?
Segui na frente pelo corredor, rumo ao banheiro, enquanto ele
vinha logo atrás de mim, indo buscar a cerveja.
Uma atmosfera de intimidade crescente nos envolvia. Na minha
mente sonhadora, eu esperava que ele me agarrasse a qualquer
momento e me fizesse sua.
Quando saí do banheiro, ele estava voltando da cozinha e nos
encontramos no corredor estreito.
O espaço era pequeno demais para acomodar duas pessoas e
nossos corpos ficaram pressionados um no do outro entre as paredes de
metal.
Agindo como um cavalheiro tatuado, Dashiel se desculpou e tentou
se afastar, contudo, fazendo uso de uma ousadia que eu nem sabia que
possuía, o detive, pousando uma mão na altura do seu quadril.
Ele parou na hora, encarando-me surpreso, seus olhos azuis pouco
a pouco assumindo uma expressão de ardor que me deixou sem fôlego,
completamente atraída e excitada.
A aura de perigo que ele emanava era o que mais atiçava a minha
libido.
— O que você está fazendo, menina? — indagou ele, sua voz
grossa ligeiramente enrouquecida.
Sem saber o que dizer, apenas mordi o lábio, sentindo meu rosto
queimar. Ele continuou:
— Você é linda, mas uma garota com a sua idade deve estar à
procura de um romance e isso eu não posso te oferecer, pois não sou um
cara romântico e não quero esse tipo de compromisso na minha vida.
— Eu não quero um romance.
Dashiel acomodou as duas garrafas de cerveja em uma única mão
e segurou a lateral do meu rosto com a outra. Ele recostou seu polegar
sobre meus lábios e o empurrou para dentro da minha boca.
Sua mão era tão bruta e pesada quanto parecia. Coitados dos
pacientes desse homem.
— Eu não costumo trepar com garotas tão novinhas, mas você é
uma tentação irresistível demais.
— Não sou tão novinha. Já sou adulta e sei o que quero.
Em outro gesto de ousadia, circundei a ponta do seu dedo com a
língua, antes de chupá-lo delicadamente, quando pude contemplar,
satisfeita, a boca máscula de Dashiel se abrindo para puxar o ar.
Sem desviar seus olhos dos meus, ele projetou seus quadris para a
frente, pressionando-os contra meu corpo, empurrando a ereção firme de
encontro ao meu ventre.
— É isso que você quer? — indagou, com um rosnado.
— É.
Sem mais palavras, ele deixou as garrafas de cerveja se
espatifarem no chão e segurou do outro lado do meu rosto com a outra
mão, bruto e firme.
Inclinou o pescoço e cobriu minha boca com a sua. Seus lábios
rígidos e exigentes pressionaram os meus com tamanha dureza que
precisei apoiar a cabeça na parede atrás de mim para não sucumbir.
Sua língua me invadiu, explorando minha boca com uma
possessividade deliciosa.
Sem que o beijo fosse interrompido, suas mãos firmes me
seguraram pela cintura e foram nos conduzindo pelo corredor até que
estávamos de volta à sala.
Minha bunda foi pressionada na borda da mesa e seu corpo maciço
apertou o meu, com força, como se ele quisesse se fundir a mim.
Enfiei as mãos sob o tecido da sua camiseta e suspirei na boca
dele, extasiada, ao sentir os contornos dos músculos das suas costas sob
o toque dos meus dedos.
Eram tão firmes e sólidos quanto se podia imaginar ao olhar para
ele. Sua pele era quente e ao mesmo tempo áspera, de um modo que eu
seria capaz de dar cinco anos da minha vida para sentir o contato dela
diretamente com a minha.
No entanto, não foi o que aconteceu. Ao invés de se despir, Dashiel
me virou brutalmente sobre a mesa, me fazendo debruçar sobre o tampo
frio de madeira.
— O que está fazendo? — indaguei, espantada.
— Vou te comer assim.
Apesar do susto, não protestei quando ele levantou a saia curta do
meu vestido e puxou minha calcinha, tirando-a pelos meus pés. Abaixou-
se atrás de mim e mordeu as duas popas da minha buda, antes de afastá-
las com as mãos.
— Caralho... que bocetinha gostosa que você tem... tão carnuda e
lambuzada...
Ele aproximou o rosto do meu sexo e deu algumas lambidas no
meu clitóris, me fazendo gemer e me contorcer sobre a mesa, me
acabando de tanto prazer.
Depois, concentrou os movimentos da sua língua sobre meu ânus e
me contraí um pouco, temendo pelo que viria em seguida.
— Pelo visto vou ser o primeiro a comer esse cuzinho virgem. —
sussurrou.
— Aí não.
Ele se levantou, usou uma mão para aprisionar meus pulsos às
minhas costas e deu um tapa estalado na minha bunda com a outra.
— E o que você vai poder fazer para me impedir? Estamos aqui
sozinhos. Ninguém a socorreria se você gritasse.
Foi então que percebi o tamanho da encrenca na qual havia me
metido. Começava a cogitar sair correndo dali, quando Dashiel inclinou-se
sobre mim, mordendo minha nuca e lambendo o lóbulo da minha orelha,
enquanto sua virilidade oculta pala calça empurrava minha bunda.
O tesão que corria em minhas veias era tão ardente que tudo o que
consegui fazer foi abrir um pouco mais as pernas e pressionar mais minha
bunda no pau dele.
— Faça o que quiser comigo. — sussurrei, perdida de tanta
excitação.
— Você é corajosa por entrar aqui e se abrir assim para um
desconhecido. Mas gosto disso numa garota.
Dashiel se ergueu e afastou-se alguns centímetros. Virei o pescoço
para trás e vi quando ele abriu o fecho da sua calça jeans, descendo-a até
o meio das coxas, junto com a cueca.
Um pau extremamente grosso, duro e coberto de veias robustas
surgiu diante dos meus olhos.
Tive vontade de me virar, acariciá-lo e me deliciar com o líquido
transparente que escorria da ponta, mas a autoridade oculta que Dashiel
exercia sobre mim me fez permanecer imóvel.
Dashiel tirou um preservativo do bolso e se cobriu. Ele segurou-me
pelos quadris e me puxou mais para si, empinando minha bunda e usando
um pé para me fazer abrir mais as pernas.
Penetrou-me com um gesto busco e firme, metendo fundo, sua
rigidez bruta quase me partindo em duas.
— Caralho! Que bocetinha apertada e quente! — rosnou ele,
puxando os quadris e enterrando-se em mim novamente.
A pressão de toda aquela carne dura entre as paredes latejantes
do meu canal era a sensação mais deliciosa que já experimentei na vida.
Naquele instante nada mais importava para mim que não senti-lo
me penetrando, me preenchendo, me tornando tão completa e ao mesmo
tempo tão entregue, como jamais estive antes.
Sem conseguir controlar os gemidos que saltavam da minha
garganta, segurei na borda posterior da mesa para me firmar no lugar e
empinei mais a bunda, abrindo-me mais para ele, recebendo deliciada
seus golpes, que se tornavam cada vez mais bruscos e acelerados,
causando cada vez mais pressão na minha carne sensível.
As mãos de Dashiel se espalmaram dos dois lados da minha
bunda, a ponto do seu polegar deslizou até a entrada do meu ânus e meu
corpo se contraiu involuntariamente.
Foi então que o tapa veio forte e estalado na minha nádega.
— Quietinha! — ordenou ele, com um grunhido — Apenas relaxe...
Incapaz de resistir às sensações selvagens que dominavam meu
corpo e meus sentidos, continuei debruçada sobre a mesa, entregue,
desamparada, com minha bunda empinada e minhas pernas abertas para
ele.
Dashiel continuou estocando forte, chocando sua pélvis contra
meus glúteos barulhentamente, enquanto acariciava meu orifício menor
com os dedos.
Banhou os dedos com meus líquidos e os empurrou para dentro,
devagar, um de cada vez, intensificando a pressão em meu corpo.
Até que estava me comendo de duas formas, movendo o pau e os
dedos dentro de mim, deixando-me enlouquecida de um prazer delicioso e
inesperado.
CAPÍTULO 5

— Dashiel... eu vou... ahhh... eu vou...


— Eu sei. Goza no meu pau, cadelinha.
Ele deu outro tapa na minha nádega e mais outro, alternando entre
os dois lados enquanto me comia daquele jeito selvagem e delicioso,
preenchendo meus dois orifícios, movendo-se cada vez mais depressa em
meu interior.
Até que explodi em um orgasmo longo e delicioso, que me fez
chorar e me acabar sobre aquela mesa, sem mais me reconhecer.
Ele deu mais algumas estocadas e parou enterrado até o fundo,
gozando com um gemido.
Paramos e permanecemos imóveis no pequeno espaço, o som da
nossa respiração pesada se misturando ao som das ondas do mar
batendo no casco do veleiro.
Meu coração batia tão depressa que eu tinha a impressão que
saltaria do peito a qualquer momento. Jamais em minha vida eu havia
experimentado uma sensação tão magnífica.
Em meio ao silêncio calmo, Dashiel passou a se mover dentro de
mim novamente, dessa vez devagar, languidamente, seu pau ainda duro
deslizando no seu gozo e no meu.
— Vou te comer a noite toda. Não consigo tirar meu pau dessa
bocetinha gostosa. — sussurrou ele.
— Sou toda sua. Faça o que quiser comigo.
Com suas mãos brutas, ele tentou me virar de frente. No entanto,
ficou paralisado quando seu pau saiu de dentro de mim.
— Caralho! A camisinha rasgou! — anunciou, alarmado.
Sentei-me na mesa com um sobressalto, meus olhos correndo para
o pau dele. Estava todo lambuzado de gozo, com apenas a auréola do
preservativo enroscado na base.
— Meu Deus! Não! — exclamei, meio apavorada, um milhão de
possibilidades se passando em minha cabeça, entre elas uma doença
venérea e uma gravidez.
— Você não toma anticoncepcionais?
— Claro que não! Eu nem tenho uma vida sexual ativa! O que vou
fazer agora?!
— Ei, fica calma. Não precisa se desesperar. — Ele se aproximou
de mim, eliminando a distância entre nossos corpos e encaixando-se entre
minhas pernas, seu rosto a míseros centímetros de distância do meu —
Veja pelo lado positivo, agora podemos nos divertir sem a barreira do
preservativo.
Eu estava prestes a enumerar cada um dos motivos pelos quais
deveríamos nos preocupar, quando seus lábios deslizaram sobre meu
rosto, indo para o meu pescoço e cada pensamento se perdeu nas
sensações lascivas que fizeram meu sexo pulsar, pronto para recebê-lo
novamente.
Perdida de tesão, aproximei meu rosto do seu peito largo e o mordi
por cima do tecido fino da camiseta, minhas mãos se enfiando sob a
roupa, acariciando os músculos sólidos, ao mesmo tempo em que meus
quadris se projetavam para a frente e minhas pernas o abraçavam, meu
corpo pronto para ser dele mais uma vez.
O que esse homem me fazia sentir era incompreensível,
desconhecido, uma fome latente que me consumia e parecia jamais ter
fim. Será que era assim com todas as mulheres com que ele ficava?
Nossas bocas se uniram em um beijo selvagem, enquanto nossos
sexos se esfregavam no do outro, lambuzados, latejantes. E foi então que
meu telefone começou a tocar na bolsa esquecida em um canto.
Tentei ignorar, mas foi impossível. Os toques se tornaram
insistentes e cada um deles parecia me alertar de que a situação podia
estar feia, com a polícia perseguindo meus amigos lá fora, enquanto eu
me acabava nos braços de um desconhecido.
Dashiel foi o primeiro a perder a paciência, afastando-se.
— É melhor você atender. — disse ele, percorrendo os dedos entre
os cabelos curtos aloirados, em um gesto de impaciência.
Desci da mesa e peguei o celular na bolsa. Era Sarah.
— Oi, Sarah. Está tudo bem? — atendi.
— Não está nada bem. A polícia foi na minha casa e acordou os
meus pais. Daqui a pouco vão lá falar com sua mãe. Onde diabos você
está?
Soltei um palavrão mental e peguei minha calcinha abandonada no
chão.
A última coisa que podia acontecer era a polícia bater na porta da
minha casa à minha procura. Minha mãe teria um AVC seguido de um
infarto.
— Estou no porto. Vem me buscar?
— O que você está fazendo no porto?
— Me escondendo. Você vem?
— Sim. Estarei aí em dez minutos.
— Até já.
E encerramos a ligação.
— Preciso ir. — anunciei, vestindo minha calcinha e tentando ajeitar
meus cabelos e vestido.
Dashiel já estava completamente recomposto diante de mim, com
suas roupas de volta no lugar e seus cabelos alinhados, como se nem
tivesse acabado de dar uma foda selvagem sobre a mesa.
Se bem que para ele nem devia ter sido tão selvagem assim. O
jeito como ele trepava dizia que ele tinha experiência de sobra nessa
área.
— Está tudo bem? Você quer que eu te leve a algum lugar? —
indagou ele.
— Está sim. Não precisa. Minha amiga vem me buscar.
— Que pena que você tenha que ir tão rápido.
— Também acho uma pena.
— Você podia dizer para a sua amiga não vir e passar essa noite
comigo. Eu te levo em casa pela manhã.
— Eu adoraria. Mas tenho que ir até a delegacia antes que os
policiais batam na porta da minha casa. Isso enlouqueceria minha mãe.
— Que pena. Nos vemos por aí, então.
— É.
No momento que se seguiu, um silêncio carregado de tensão
pairou sobre o ambiente. Lá no fundo, eu secretamente esperava que ele
me desse o número de telefone, ou pedisse o meu.
No entanto, de maneira racional, já sabia que essa troca não
aconteceria, e enquanto os segundos se arrastavam, ecoava a voz da
minha mãe na minha mente, me advertindo para não me envolver com
turistas.
O que acabara de ocorrer ali, fora apenas um encontro casual, uma
aventura que não se repetiria. Era improvável que eu o encontrasse
novamente, já que ele estava apenas de passagem pela cidade.
Além disso, era evidente que um homem como ele tinha uma
mulher tão bonita e bem-sucedida quanto ele esperando em algum lugar.
Ele nunca desejaria algo mais sério com alguém como eu.
Precisei inspirar profundamente para evitar que essa constatação
me afetasse, embora já soubesse que a vida era assim.
O som da buzina da scooter de Sarah, partindo do lado de fora,
quebrou o longo momento de silêncio.
— É minha amiga. Tenho que ir.
— Claro. Eu te acompanho.
Eu preferiria que ele não tivesse me acompanhado até o lado de
fora, evitando assim ter que explicar a Sarah quem era ele. No entanto,
ele me seguiu até o deck.
Quando Sarah pousou seu olhar sobre ele, pareceu esquecer da
minha presença, seus olhos se arregalando e sua boca se abrindo de
espanto.
Essa era, provavelmente, a reação típica que um homem de beleza
estonteante e tantas tatuagens na pele causava em todas as mulheres.
— A polícia não te seguiu até aqui? — indaguei, quebrando o
silêncio e chamando a atenção de Sarah para mim.
— Acho que não. Mas você precisa ir até a delegacia para se
explicar antes que eles visitem sua casa, como fizeram comigo. Eu te
levo.
— Está bem.
Virei-me para Dashiel, incerta sobre como me despedir dele. Podia
sentir o olhar perspicaz de Sarah pairando sobre nós, tentando desvendar
o que aconteceu.
— Então, até outro dia. — falei, com mais formalidade do que
pretendia.
— Até. E boa sorte na delegacia. Se precisar de abrigo novamente,
ou qualquer outra coisa, estarei aqui.
— Está bem.
Com isso, dei-lhe as costas e deixei a embarcação, dirigindo-me
para o píer e subindo na garupa da scooter de Sarah.
Nós mal tínhamos nos afastado dez metros quando ela soltou:
— Minha nossa senhora das calcinhas molhadas! Quem é esse
Adônis e o que vocês estavam fazendo!?
— Ele é apenas um turista que me ajudou, e nós não estávamos
fazendo nada de especial.
— Willow Grace Sullivan, não minta para a sua melhor amiga! Você
está cheirando a sexo e com cara de quem acabou de trepar!
— Ok, eu transei com ele. Mas foi só uma transa casual. Aconteceu
sem planejamento.
— Ai, meu Deus, você finalmente está aprendendo a viver a vida!
Me conta tudo! Ele é tão bom de cama quanto é bonito?
— Te conto depois. Agora temos que resolver isso antes que a
polícia acorde minha mãe.
— Tá bem, eu espero. Mas vou querer detalhes.
— Certo. Agora esquece isso e presta atenção na estrada.
CAPÍTULO 6

Consegui evitar falar sobre Dashiel com Sarah durante todo o fim
de semana. No sábado, me ocupei dando faxina na casa, enquanto minha
mãe fazia expediente no hotel onde trabalhava.
No domingo, foi a vez de Sarah se ocupar, ao passar o dia na
fazenda dos pais de Jeremy.
No entanto, na segunda-feira de manhã, quando abri a livraria, ela
foi a primeira a entrar no estabelecimento, mesmo não gostando de ler.
Cumprimentou-me, sentou-se do outro lado do balcão de
atendimento e, depois de conversar sobre algumas amenidades,
finalmente chegou ao motivo que a havia trazido até ali.
— E aí, me conta quem era aquele cara com quem você transou.
Ele vai passar o verão todo aqui?
— Fala baixo, Elizabeth está no escritório hoje. Não quero que ela
ouça uma só palavra sobre isso. — sussurrei, com um tom de
confidencialidade.
Elizabeth não tinha o costume de frequentar a livraria, dedicando
seu tempo às causas sociais. Ela vinha apenas nas segundas para
certificar-se de que tudo estava organizado.
— Qual é o nome dele?
— Dashiel.
— Sobrenome?
— Como é que eu vou saber?
— Você trepou com um cara de quem nem sabe o sobrenome?!
— Não foi uma entrevista de emprego e vê se para de me julgar. É
você mesma que vivi dizendo que eu preciso curtir mais a vida. Eu estava
curtindo.
— Me conta, como foram as coisas entre vocês.
Ela não me deixaria em paz com esse assunto até que eu contasse
tudo, então fiz um breve resumo da nossa aventura no veleiro.
Enquanto fazia minha narrativa, eu tinha a sensação de que estava
falando de outra pessoa, porque de fato não me reconhecia na garota que
entrara no barco de um estranho e fizera sexo com ele em cima de uma
mesa.
Foi bom. Muito melhor do que eu conseguiria expressar em
palavras. No entanto, parecia que não era eu debruçada sobre aquela
mesa de madeira.
— Ele não tem cara de cirurgião. — constatou Sarah — Ele se
parece mais com um ex-presidiário condenado por assassinato.
— Pensei a mesma coisa.
— Já o procurou nas redes sociais?
— Já, mas não há ninguém com esse nome que se pareça com
ele. Seria mais fácil se eu soubesse o sobrenome.
— Se ele é mesmo cirurgião, deve ter registro no conselho de
medicina. Vamos procurar.
Sem nenhuma cerimônia, Sarah passou para o meu lado do balcão
e ligou o computador, acessando o site do Conselho de Medicina.
Alguns minutos de busca e lá estava ele, lindo como uma miragem,
usando um elegante terno cinza com gravata, com seu rosto muito sério,
em uma única fotografia na página.
Mesmo usando o terno, podia-se ver parte das tatuagens que ele
tinha no pescoço.
Se chamava Dashiel Whitman, formado em medicina pela
Universidade do Texas e residente em Dallas. Era um dos médicos mais
influentes do Texas, especializado em cirurgia cárdio torácica.
Procurei informações mais detalhadas sobre ele, como sua vida
pessoal, mas não havia nada que não fosse relacionado ao seu trabalho.
— Viu? Ele é mesmo médico. Estava falando a verdade. —
comentei.
— Ele parece bom demais para ser verdade — Sarah disse,
admirando a imagem de Dashiel no computador.
Concordei com um aceno de cabeça. A realidade de que ele era
um cirurgião de renome, muito distante do mundo em que eu vivia,
tornava nossa breve e ardente interação no veleiro ainda mais surreal.
— Mas, e agora? O que você vai fazer? — Sarah perguntou,
desviando o olhar da tela.
— Nada. O que aconteceu foi só uma foda casual. Não vai passar
disso. Ele nem mesmo pediu meu telefone.
— Talvez você devesse procurá-lo. Ele parece um presidiário
perigoso, mas pode ser uma pessoa incrível.
— Procurar para que? Você acha mesmo que um homem
importante e rico como ele vai querer alguma coisa com uma pobretona
como eu?
— Não custa tentar, ué. Se ele está passando as férias aqui, vocês
terão tempo de se conhecer melhor.
— Aí depois ele vai embora, nunca mais me procura e fico de
coração partido. Nem morta!
— Acho que já passou da hora de sua mãe parar de enfiar
caraminholas na sua cabeça. Só porque ela se envolveu com o homem
errado, não significa que você vai fazer o mesmo.
— O que vocês estão vendo aí, meninas? — A voz de Elizabeth
surgiu de trás de nós, nos surpreendendo, já que não tínhamos percebido
o momento em que ela saiu do escritório e se aproximou.
Ela era uma mulher na casa dos cinquenta anos. Alta, loira e
esguia, ainda mantinha os traços da beleza que marcara sua juventude.
— Nada demais. Só fazendo pesquisa na internet. — Sarah
respondeu, desconcertada, minimizando a página no computador.
— Espere. Abra essa página novamente. — Elizabeth pediu, e
Sarah atendeu.
Minha chefe aproximou-se da tela, estreitando os olhos para focar a
imagem no site.
— Esse é Dashiel Whitman? — indagou ela.
— Você o conhece? — perguntei.
— Claro. Ele é daqui. Era adolescente quando me casei e fui
embora.
Sarah e eu nos entreolhamos, surpresas.
— Aqui está dizendo que ele é do Texas. — observou Sarah.
— Acho que ele se mudou para o Texas, junto com a família, pouco
antes de ingressar na faculdade. Por que vocês estão pesquisando a vida
dele?
Empalideci, sem saber o que responder. Então, Sarah começou a
mentir.
— Por nada. É que nós o vimos ontem perto de um veleiro,
achamos ele atraente e ficamos curiosas.
Elizabeth cruzou os braços, alternando seu olhar perspicaz entre
nós duas, claramente desconfiada.
— Fiquem bem longe desse homem, meninas. Ele não é flor que se
cheire.
— Como assim?
— Ele era um arruaceiro quando morava aqui. Era líder de uma
gangue perigosa que se metia em brigas e traficava drogas. Ouvi dizer até
que matou um cara e por isso a família teve que partir.
Quanto mais Elizabeth falava, mais aterrorizada eu ficava.
Meu Deus! Como fui capaz de me colocar em um risco tão grande,
entrando no barco de um assassino e me envolvendo com ele?
— O que o levou a agir assim? — indaguei, quase para mim
mesma.
— A má índole. Nunca passou necessidade e nem teve motivos
para se tornar uma pessoa revoltada, já que a família dele é rica e bem
estruturada. Ele fazia isso pelo prazer de praticar a violência. Sempre foi
um cara agressivo. Nem a formação e o casamento foram capazes de
mudá-lo.
— Casamento?! — Sarah e eu exclamamos em uníssono, quase
com um grito, despertando ainda mais a desconfiança de Elizabeth.
— Se ele mentiu dizendo que é solteiro, não acreditem. É bem a
cara de homens canalhas como ele fazerem isso.
— Como você sabe que ele é casado se ele foi embora daqui?
— Não sei por qual milagre ele se tornou um cirurgião renomado,
de modo que o nome dele está sempre em destaque nos sites de notícias
e fofocas. Foi assim que fiquei sabendo que ele se casou com a filha de
um figurão do ramo do petróleo. Está tudo nas redes sociais.
— Já procuramos. Ele não tem redes sociais.
— Ele não, a esposa.
Elizabeth se colocou diante do computador, abriu o Instagram,
pesquisou um perfil e a página que se abriu estava repleta de fotografias
de Dashiel, ao lado de uma estonteante loira de olhos azuis, em diversos
momentos da vida deles.
Havia fotos dos dois nas Ilhas Maldivas, no Egito, em Dubai e
vários outros países onde o turismo custava uma fortuna.
Em todas as imagens, Dashiel parecia feliz e relaxado, muito
diferente do homem sério e atormentado que eu havia conhecido há dois
dias.
Minha nossa senhora das mulheres desamparadas, além de ter tido
um encontro íntimo com um assassino violento e arruaceiro, eu havia me
envolvido com um homem casado!
Minha mãe me mataria se soubesse de uma coisa dessas.
— Ele não estava com a mulher quando vocês o viram? — indagou
Elizabeth.
— Não. Estava sozinho.
— Bem, ele deve tê-la deixado sozinha e saído para se divertir,
seduzindo mulheres desavisadas na rua — O olhar dela se tornou mais
severo sobre nós — Espero que nenhuma de vocês se torne uma dessas
mulheres.
— Imagina. Nós somos mais espertas do que isso. — Foi Sarah
quem disse, e desejei que um buraco profundo se abrisse sob meus pés e
me engolisse.
— Muito bem. Fiquem bem longe dele e avisem suas amigas para
fazerem o mesmo, pois além de casado, Dashiel Whitman é um homem
perigoso.
Dito isto, Elizabeth mudou de assunto, falando sobre as finanças da
livraria e outros aspectos do seu funcionamento.
Agora que eu trabalharia ali em período integral, tínhamos muito a
fazer para as novas adaptações.
CAPÍTULO 7

Nos dias que se seguiram, os boatos sobre a volta de Dashiel para


a cidade se espalharam entre os moradores.
Diziam que ele estava ocupando a mansão que fora dos seus pais,
onde nascera e crescera.
Era uma casa enorme, que estava vazia há anos, construída em
um terreno maior que o necessário, situada em uma área isolada, a
alguns quilômetros de distância do centro da cidade.
A vantagem de ele morar em um local tão isolado e afastado era
que eu não precisava me deparar com ele por aí.
Diziam que ele usava um helicóptero para ir até o Texas fazer suas
cirurgias e que se mudara para Georgetown antes da esposa, deixando-a
sozinha em Dallas, para que ela viesse se unir a ele depois.
Sarah os viu juntos uma vez, passando em um carro de luxo pelo
centro da cidade. Disse que a esposa dele era mesmo tão linda quanto
nas fotografias, e dei graças aos céus por nunca tê-los encontrado.
Algumas vezes, pensei em procurá-lo e confrontá-lo por ter
cometido a canalhice de se envolver comigo, mesmo sendo casado.
No entanto, eu me lembrava de que fora eu que tomara a iniciativa
naquela noite e desistia de ir até ele.
No fundo, eu só queria vê-lo novamente, olhar em seus olhos
lindos, apreciar seu sorriso encantador e examinar suas tatuagens com
mais detalhes, e ficava procurando um pretexto para isso.
Ao mesmo tempo, eu temia pelo dia em que nos reencontraríamos,
o que certamente aconteceria em algum momento, afinal a cidade era
pequena, e, pelo que diziam, ele estava aqui para fixar residência.
Duas semanas haviam se passado desde a noite da festa na praia
interditada. A cidade estava movimentada devido ao fluxo do turismo, com
pessoas vindas de vários lugares do país circulando por todos os lados.
Era a época do ano em que minha mãe mais ganhava dinheiro,
devido ao aumento das gorjetas no hotel.
Como costumava fazer em todos os verões, Elizabeth daria uma
grande festa beneficente, convidando alguns dos vários figurões que
visitavam a costa.
Ajudei com a organização do evento do início ao fim, mas não
estaria presente, pois sabia que Dashiel e sua esposa seriam convidados.
Faltavam poucas horas para o início do evento, eu estava na
cozinha, terminando os últimos ajustes no rico bufê, quando Elizabeth
entrou quase correndo, sua fisionomia apavorada.
— Willow, você precisa me socorrer! — exclamou ela.
— Se acalme, mulher! O que houve?
— Uma das garçonetes precisou levar a mãe ao hospital e não vai
poder vir. Você precisa substituí-la, ou a noite se transformará em um
desastre completo, e todo o trabalho que tivemos terá sido em vão.
— De jeito nenhum. Eu te disse que minha mãe precisa de mim
esta noite para ajudar com os bordados.
— O que são alguns bordados perto de um evento como esse?! —
Ela se mostrava cada vez mais nervosa — É uma emergência. Eu não
estaria pedindo se não fosse.
Comecei a ouvir mentalmente a voz dela me dizendo que não me
venderia mais a livraria e soltei um palavrão interno.
Droga!
Era exatamente o que ela faria se eu recusasse ajuda. Elizabeth
era uma pessoa muito boa, mas era escorpiana, do tipo que não perdoava
e nem esquecia.
Mil vezes droga!
Eu teria que posar de garçonete para Dashiel e a esposa dele,
fingindo que não o conhecia. Por outro lado, que relevância isso teria
diante da possibilidade de meu futuro ser destruído?
— Tá bem. Se é uma emergência, eu topo. Mas só dessa vez.
Elizabeth me estreitou em um abraço, agindo com exagero como
sempre.
— Obrigada! Você é a minha salvadora. — Ela se desvencilhou do
abraço, examinando-me dos pés à cabeça — Agora temos que ver se o
uniforme dela vai servir em você.
CAPÍTULO 8

A luz dos lustres de cristal cintilava sobre a multidão elegantemente


vestida. Eu me movia entre as mesas cobertas por toalhas de linho
branco, usando um uniforme de garçonete, servindo champanhe e
canapés em bandejas de prata.
O salão de festas da casa de Elizabeth estava decorado com
buquês de orquídeas e rosas vermelhas, e um pianista tocava um solo
suave ao fundo.
Os convidados eram milionários que passavam as férias em
Georgetown.
Segundo Elizabeth, o evento tinha como finalidade arrecadar
fundos para a abertura de uma casa de proteção a mulheres vítimas de
violência doméstica, um projeto que ela tinha há anos no papel e visava
atender não apenas às mulheres da cidade, mas de toda a região.
Eu tentava manter um sorriso no rosto, mas por dentro meu
estômago revirava. Sabia que em algum momento Dashiel entraria por
aquela porta.
Vi o nome dele e da esposa na lista de convidados, na mesa oito,
junto com outro casal que já havia chegado. Tentei me manter o mais
afastada possível daquela mesa, servindo as que estavam do outro lado
do salão.
No entanto, seria em vão. Eu teria que enfrentar o maior
constrangimento da minha vida ao me ver diante da esposa de um homem
com quem me envolvi, e não podia fazer nada para evitar essa vergonha.
Pouco tempo depois do início do evento eles entraram pela porta.
Dashiel estava lindo como uma miragem, usando um smoking preto, com
seus cabelos aloirados penteados para trás e sua postura altiva e
imponente.
Ele se encontrava de mãos dadas com a loira, alta e elegante, que
vi nas fotografias no Instagram. Sua esposa, Amélia.
Eles permaneceram perto da porta por um momento, conversando
com Elizabeth, que recepcionava os convidados, enquanto eu tentava me
esconder, ao mesmo tempo em que reprimia a tensão que se instalava em
meu peito.
Eu não esperava ficar indiferente a Dashiel quando voltasse a vê-
lo, afinal o que aconteceu entre nós fora intenso demais. Contudo,
também não esperava toda essa agitação dentro de mim.
Ele era ainda mais atraente do que eu me lembrava, com algumas
partes de suas tatuagens escapando da gola do terno, seus gestos
charmosos e elegantes. Parecia desfilar enquanto caminhava entre as
mesas de mãos dadas com a loira estonteante.
Continuei servindo apenas as mesas do lado oposto do salão onde
eles estavam, evitando olhar na direção deles, tentando não ser
reconhecida, enquanto a noite transcorria com uma lentidão espantosa.
Com o passar das horas, o trabalho se tornou mais árduo e
frenético, com os convidados bebendo e comendo cada vez mais, suas
vozes se tornando mais altas devido ao efeito do champanhe.
Eu estava praticamente correndo até a cozinha para reabastecer a
bandeja quando esbarrei sem querer em uma muralha de concreto.
Porém, não era uma muralha, era Dashiel.
Estava abrindo a boca para me desculpar, quando meus olhos
encontraram seu rosto, e fiquei muda, o coração agitado no peito, as
pernas trêmulas como gelatina.
Por Deus! Como ele era lindo! Mais ainda olhando de perto. Tinha o
maxilar forte ligeiramente oculto pela sombra de uma barba, os olhos
azuis profundos e suas tatuagens eram visíveis na gola da camisa.
Não foi à toa que me entreguei a ele naquela noite. O homem era a
tentação em forma de gente.
Não havia qualquer sinal de surpresa na expressão dele, enquanto
me observava, o que dava indícios de que já estava me vendo há tempos.
Meu plano de não ter minha presença percebida havia descido pelo
ralo.
— Posso conversar com você um instante? — indagou ele, seus
olhos fixos nos meus.
Olhei na direção da mesa dele e vi sua esposa conversando com
os outros convidados, sem prestar atenção em nós.
— Acho melhor não. Não quero confusão para o meu lado.
— É só um instante.
Olhei para os dois lados, e ninguém prestava atenção em nós dois.
Então, acenei para que ele me seguisse, e paramos no corredor
que levava à cozinha, onde não podíamos mais ser vistos pelas pessoas
no salão.
— O que você quer? Eu estou trabalhando!
— Eu só queria que você soubesse que... — Ele se interrompeu,
percorrendo os dedos entre os cabelos lambuzados de gel, como se não
encontrasse as palavras — Eu não fui um canalha com você, como deve
estar imaginando.
— Claro que não. É muito honesto ser casado e sair por aí
transando com outras mulheres! — Não economizei no tom de sarcasmo.
— Eu não estava exatamente casado na noite em que ficamos
juntos. Amélia e eu estávamos nos separando. Vim para Georgetown para
me distanciar dela e dar um ponto final ao nosso casamento. Há muito
tempo que as coisas não estavam boas entre nós.
— Percebe-se o quanto não estão boas.
— Eu estou falando a verdade. Minha vinda para Georgetown
significaria o fim do nosso casamento. Mas ela veio me encontrar. Ela me
contou que está grávida e decidimos dar mais uma chance a nós dois.
Minha nossa! Eu eu tinha transado com um homem cuja esposa
esperava um filho dele! Que espécie de monstro eu era?
— Você não precisa me dar explicações. O que aconteceu entre
nós foi uma transa casual. Eu nem mesmo perguntei seu estado civil.
Satisfeito agora?
— Eu só não queria que você achasse que sou um canalha que trai
a esposa. Eu realmente pretendia me separar dela. Aliás, achei que
estivéssemos separados.
Recordei-me das palavras de Elizabeth sobre ele e um calafrio
desceu pela minha espinha.
Trair a esposa era o mínimo de canalhice que um homem como
aquele poderia cometer. O fato de ele ser casado talvez tenha sido uma
benção na minha vida.
— Tudo bem. Eu acredito em você e nas suas boas intenções.
Agora preciso voltar ao trabalho. Com licença.
— Espere. — Sua mão grande se fechou em volta do meu braço, e
fui invadida por um misto de medo e excitação — É só que... — Ele se
interrompeu novamente, como se não soubesse exatamente como falar o
que pretendia.
— É só que...?
— Não é nada. — Ele soltou o meu braço e enfiou as mãos nos
bolsos da calça, ajeitando sua postura — Me desculpe mais uma vez se te
ofendi de alguma forma.
— Está desculpado. Com licença. — Dito isto, girei sobre os
calcanhares e segui para a cozinha.
Dashiel não voltou a falar comigo durante o resto da noite. Agora
que eu sabia que ele tinha conhecimento da minha presença na festa e
não precisava mais me esconder, não conseguia me conter, e a todo
momento olhava na direção da mesa dele.
Em todas as vezes, ele estava conversando animadamente com a
esposa e os outros convidados.
Não parecia um homem que estava prestes a se divorciar, pelo
contrário, a conexão entre ele e Amélia era perceptível.
Não entendi por que ele me abordou para inventar mentiras, se isso
não mudaria o que aconteceu entre nós.
CAPÍTULO 9
Os dias se passavam agitados como durante todos os verões em
Georgetown, com as ruas apinhadas de turistas, as praias sempre
lotadas, bares e restaurantes sempre movimentados.
Até a livraria onde eu trabalhava, que não era considerada um
ponto turístico, se tornava mais frequentada nessa época do ano, o que
exigia mais esforço e trabalho da minha parte.
Tais esforços não estavam me fazendo muito bem.
Apesar de sempre ter sido uma pessoa bastante saudável,
naqueles últimos dias eu estava me sentindo sempre cansada, sonolenta
e enjoada, muito provavelmente devido ao estresse de atender tantas
pessoas todos os dias.
Nem comentei nada sobre esses desconfortos com minha mãe ou
Elizabeth, para evitar que elas pensassem que eu seria incapaz de cuidar
bem da livraria.
Quase dois meses havia se passado desde que meu caminho se
cruzou com o de Dashiel Whitman. Era noite, e eu estava fechando a
livraria mais tarde do que o habitual, devido à grande quantidade de
clientes que passaram por lá.
Quando saí para a rua, tive a impressão de que a cidade estava
mais escura e silenciosa que o comum, o que me fez acelerar um pouco o
passo em direção à minha casa, que ficava algumas quadras dali.
Eu caminhava pela calçada, fazendo o percurso de todos os dias,
quando um carro grande e luxuoso se aproximou pelo acostamento, vindo
de trás de mim, e parou bem ao meu lado, assustando-me.
O vidro da porta se abriu, e ao perceber que era Dashiel ao volante,
eu não sabia se me acalmava ou se ficava ainda mais apavorada.
Eu não o via desde a noite da festa beneficente de Elizabeth, já
que não circulava muito pela cidade, limitando-me ao trajeto entre minha
casa e o trabalho.
— Entre aí. Eu te dou uma carona. — ofereceu ele.
— Não precisa. Eu gosto de caminhar.
Empinei o queixo e retomei meu percurso, esperando que ele fosse
embora. Mas ele não foi. Em vez disso, passou a me acompanhar com o
carro embaixo velocidade.
— É perigoso para uma jovem andar por aí sozinha a essa hora da
noite.
— Agradeço pela preocupação, mas sei me cuidar.
— A cidade está cheia de pessoas estranhas. E se tiver um
assassino psicopata entre elas?
— Não tem. Eu faço esse mesmo percurso desde os meus quinze
anos, e nunca aconteceu nada.
— Sempre há uma primeira vez para tudo.
— Não para isto.
— Mesmo assim, é mais rápido de carro. Entra aí.
Por fim, perdi a paciência, parei e me virei de frente para ele, meus
braços cruzados, o queixo erguido.
— O que você está querendo, Dashiel? Vai me dizer que se
separou da esposa de novo, para conseguir transar comigo?
Ele saltou, deu a volta pela frente do veículo e se colocou diante de
mim.
Por Deus! Como ele era atraente! Alto, com os ombros largos, o
olhar penetrante e com aquelas tatuagens em seus braços e pescoço,
expostas pela camiseta de mangas curtas.
Sua imagem tão próxima me fez quase perder o fôlego.
— Apesar de você ser encantadora, não estou aqui para tentar
transar com você. — disse ele, seus olhos azuis examinando meu rosto e
descendo pelo meu corpo, me tornando muito consciente do vestido
simples e antigo que eu usava e dos meus cabelos presos em um rabo de
cavalo malfeito — Não por falta de vontade, mas porque sou um homem
casado, que em breve se tornará pai e sei que você não é esse tipo de
garota.
— Você pareceu não se importar muito com isso na noite em que
nos conhecemos.
— Eu já te expliquei que estava me separando e ainda nem sabia
que a Amélia está grávida. Mas não foi por isso que vim aqui.
— E veio por quê?
— Porque preciso conversar com alguém, antes que enlouqueça.
— Converse com sua mulher.
— Não adianta conversar com uma pessoa que só ouve o que
quer.
— Então é só falar o que ela quer ouvir.
Dashiel suspirou, sua mandíbula trincando, gestos tão simples, mas
que o tornavam ainda mais tentador.
— É sério, Willow. Eu preciso conversar com alguém, me abrir, e
você é a única amiga que tenho aqui. Pelo menos a única que não vai me
julgar. Eu te peço que me dê só um pouco do seu tempo.
Talvez esse tenha sido o maior erro da minha vida, mas suas
palavras fizeram meu coração derreter, a tal ponto que comecei a me
sentir um pouco mesquinha por me recusar a ouvir seu desabafo.
Por outro lado, aquele papo podia ser apenas uma estratégia dele
para me levar a algum lugar escondido e repetir o que aconteceu antes.
Considerando o passado dele, isso não seria impossível.
Eu estava dividida entre acreditar nele, ou ouvir a voz da razão. Até
que decidi fazer o que meu coração ordenava com todas as suas forças.
— Tudo bem. Vamos conversar. — anunciei, e um sorriso se
desenhou no canto da boca dele — Mas não quero ser vista na
companhia de um homem casado, para evitar qualquer futura fofoca.
Vamos para um lugar discreto.
— Que tal darmos um passeio em Paradise Beach?
— Pode ser.
Ele abriu a porta do carona para mim, e apesar da hesitação em
entrar no carro de um homem casado, especialmente um com quem tive
um encontro íntimo, nada parecia tão certo naquele momento. Assim,
acomodei-me no assento de couro.
Dashiel tomou o volante, e partimos pelas ruas tranquilas devido ao
horário.
— Você conhece o caminho? — perguntei.
— Claro. Fica na saída da cidade.
— Eu estava prestes a perguntar como conhece uma praia tão
escondida e frequentada apenas pelos moradores, mas lembrei que você
é daqui. Outro detalhe que esqueceu de mencionar, não é?
— Naquela noite em que nos conhecemos, não tivemos muito
tempo para conversar. — Ele lançou-me um olhar rápido carregado de
malícia, e não consegui evitar o rubor que fez meu rosto esquentar —
Mas, pelo visto, você andou pesquisando sobre minha vida.
— Preciso saber com quem estou lidando.
— Aposto que descobriu bastante sobre mim.
— Minha chefe me contou sobre você quando morava aqui.
— E isso a assustou?
— Bastante.
— Não acredite em tudo o que dizem a meu respeito.
— Então você não era um arruaceiro envolvido com drogas na
adolescência?
— Era, mas não matei ninguém, como dizem.
— E como posso ter certeza de que isso é verdade?
— Eu estaria na prisão se fosse um assassino.
— Muitos assassinos estão soltos por aí.
— Você acha mesmo que eu mataria alguém?
— Eu não teria entrado em seu carro se achasse isso.
Ele me presenteou com um sorriso tão encantador que me fez
derreter.
CAPÍTULO 10

Conforme Dashiel dirigia pela estrada que levava à Paradise


Beach, o cenário começava a se desenrolar diante de nós.
Fora do centro da cidade, onde quase já não se via mais casas, a
noite era escura, com um céu estrelado que parecia se fundir com o mar.
Ao chegarmos à praia, estacionamos o carro em um canto discreto
e seguimos em direção à areia. A todo momento eu olhava para os lados,
checando se não estávamos sendo observados.
Apesar de não estarmos fazendo nada de errado, as pessoas
falariam se me vissem na companhia de um homem casado, àquela hora
da noite.
A lua cheia iluminava parcialmente a paisagem à nossa volta,
pintando um cenário de tirar o fôlego. A areia estava fresca sob meus pés
descalços, e o som das ondas se tornou um murmúrio reconfortante.
Dashiel e eu caminhamos lado a lado, perdendo-nos no cenário
deserto e na tranquilidade que a noite proporcionava.
— E então, sobre o que você tanto queria conversar? — indaguei,
quebrando o longo silêncio.
Dashiel olhou para o mar por um momento, como se estivesse
coletando coragem para falar sobre seus problemas.
— Obrigado por ter vindo até aqui comigo. — Ele disse. — Eu
realmente precisava de um lugar assim para me acalmar.
— É incrível aqui à noite, não é? — comentei, curiosa por descobrir
o que tanto o atormentava.
Era difícil imaginar que um homem lindo, rico e bem-sucedido como
ele vivesse assolado pelos problemas.
Dashiel assentiu, olhando para o horizonte.
— Sim, é como se tudo se acalmasse. Às vezes, eu venho aqui
para fugir de tudo, mesmo que seja por um breve momento.
— Do que você tem fugido?
— Minha vida tem sido um caos nos últimos anos. — Ele suspirou
profundamente. — Amelia e eu estamos enfrentando graves problemas
em nosso casamento. Acho que o amor se perdeu, se é que um dia
realmente existiu. — Era intrigante ouvir essas palavras de um homem
com quem compartilhei um momento tão íntimo, mas optei por manter o
silêncio e ouvir — No início, tudo era pura diversão. Nós éramos
excelentes juntos, especialmente no que diz respeito à vida social. Mas
com o tempo, essa chama se apagou, como se algo estivesse faltando.
Nós estaríamos separados se ela não tivesse ficado grávida. Ao mesmo
tempo, não sei se é certo se prender a um casamento por causa de uma
criança.
— Há quanto tempo vocês estão casados?
— Há quatro anos. Eu estava conseguindo colocar minha vida nos
eixos, progredindo em minha carreira na medicina. O pai dela era amigo
do cirurgião-chefe do hospital onde eu trabalhava, o que nos levava a
frequentar as mesmas festas e eventos sociais. Como nos divertíamos
juntos, achei que o casamento fosse a escolha certa. No entanto, agora
percebo que foi um erro.
— Talvez vocês devessem lutar mais um pelo outro. Não se pode
simplesmente descartar uma história de quatro anos assim. E sim, faz
todo sentido permanecer em um casamento pelo bem de um filho.
— Bem, embora estejamos casados há quatro anos, não passamos
todo esse tempo juntos. Tivemos muitos altos e baixos. — Ele soltou um
profundo suspiro — Amelia achou que um filho poderia resolver as coisas,
como se essa fosse a peça que faltava. Mas meus sentimentos não
mudaram com a notícia dessa gravidez o que me faz sentir um crápula
sem coração.
— Eu não entendo muito de família ou de casamento, mas sei que
não é bom para uma pessoa crescer em um lar incompleto, como eu
cresci. As coisas são muito mais difíceis para o filho de uma mãe solteira.
— Meus problemas devem parecer bobagem perto dos seus, não
é?
— Não. Mesmo tendo crescido sem um pai, eu consegui me tornar
uma pessoa feliz.
— O seu pai nunca esteve presente na sua vida?
— Não. Ele simplesmente acusou minha mãe de tentar dar um
golpe por dinheiro e sumiu da vida dela e ela é orgulhosa demais para ter
exigido um teste de paternidade é uma pensão alimentícia. Mas graças a
Deus isso nunca nos fez falta.
— Mesmo que Amélia e eu nos separassemos, eu jamais
abandonaria essa criança, seria um pai presente, embora não saiba se
isso seria o suficiente.
Dashiel olhou para o mar, seus olhos refletindo a tristeza que o
assombrava. Eu queria confortá-lo, mas as palavras escapavam de mim.
Apenas continuei caminhando ao seu lado, oferecendo meu apoio
silencioso.
— Quando vim para Georgetown, pensei que, dessa vez, seria o
fim de tudo, que não haveria retorno. — Ele parou de andar e virou-se
para mim. — O tempo que compartilhamos naquele veleiro... foi o melhor
momento da minha vida em muito tempo.
Nossos olhares se encontraram, e algo dentro de mim se agitou.
Desviei os olhos apressadamente.
— Mas foi apenas uma aventura passageira. Você tem uma esposa
e deve respeitá-la.
Dashiel colocou as mãos nos bolsos da calça e continuamos a
caminhar enquanto se abria.
Aparentemente, a partir do que ele estava dizendo, Amelia era uma
mulher carente e profundamente apaixonada por ele. Ele, por outro lado,
parecia sentir-se aprisionado nesse casamento por compaixão e por
causa da gravidez.
Definitivamente, eu não gostaria de estar no lugar dela.
Claro, a decisão mais sensata seria o divórcio, mas não cabia a
mim dizer isso. Eu não queria ser a pessoa a contribuir para o fim de um
casamento, mesmo que esse casamento já estivesse falido há muito
tempo.
Continuamos a andar pela areia, apreciando a calma e a
serenidade reconfortantes da praia.
Em algum momento, sem que eu percebesse exatamente quando,
nossa conversa acabou direcionada a mim, apesar de minha vida pacata
não oferecer muito para discutir.
Conversamos sobre Georgetown, o turismo na cidade e outros
tópicos variados. Para minha surpresa, nossas opiniões se alinhavam em
muitos assuntos.
Conversamos tanto sobre tantas coisas banais que, no final,
Dashiel estava sorrindo como se seus problemas tivessem desaparecido.
CAPÍTULO 11

— Acho que deveríamos voltar, está ficando tarde, e amanhã


preciso abrir a livraria cedo. — Falei quando o relógio se aproximava de
meia-noite.
— Vamos ficar um pouco mais. Está tão agradável aqui.
— Você diz isso porque não precisa acordar cedo. Vamos indo.
— Eu compraria aquela livraria e te daria de presente, para que
você se tornasse a chefe e não precise trabalhar tanto.
— Haha, como se eu fosse aceitar um presente desses.
— E por que não? Seria algo honesto.
Antes que eu tivesse tempo de responder, vozes animadas
chegaram a nossos ouvidos, e ao longe pude avistar um grupo de
pessoas se aproximando.
Estavam vindo da direção em que estávamos indo.
Entrei em pânico, olhando para todos os lados em busca de um
lugar para nos escondermos.
Não consegui identificar quem eram, devido à distância e à
escuridão, mas se eles estavam em Paradise Beach àquela hora da noite,
certamente eram moradores de Georgetown.
Se me vissem naquela praia deserta, tarde da noite, com um
homem casado, provavelmente tirariam conclusões precipitadas.
— Eles não podem nos ver. — Sussurrei, minha voz trêmula.
— Venha comigo.
Dashiel envolveu meu braço com sua mão firme e me conduziu na
direção oposta ao mar, nos adentrando no coqueiral escuro e deserto.
Percorremos alguns metros na vegetação e nos detivemos,
mantendo um silêncio quebrado apenas pela passagem do grupo de
pessoas pelas areias.
Na obscuridade, Dashiel se aproximou por trás de mim,
surpreendendo-me ao encostar seu corpo maciço ao meu.
Meu coração, já acelerado pela adrenalina, intensificou suas
batidas ao sentir o calor de seu corpo através das roupas.
Virei-me para encará-lo, observando sua silhueta na penumbra.
— O que está fazendo? — perguntei em um sussurro.
— Lutando para resistir a você, mas estou perdendo essa batalha.
Com um movimento brusco, ele me apoiou contra o tronco de um
coqueiro, prendendo meus pulsos acima da minha cabeça com sua mão
que parecia de aço, enquanto a outra explorava minhas curvas por cima
do vestido de algodão.
— Pare! Você não pode fazer isso. — protestei.
Meu coração batia freneticamente, uma mistura de medo e desejo
percorrendo cada fibra do meu ser.
— Não quero parar, e você não pode fazer nada para me impedir,
pois sou mais forte. Posso fazer o que quiser com você aqui mesmo.
— Não.
— É incrível a intensidade do desejo que sinto por você. Não há um
só dia em que eu não me lembre do que aconteceu entre nós naquele
veleiro. Já até toquei punheta pensando nisso.
Suas palavras intensificaram o pânico, e minha mente recordou o
que Elizabeth havia dito sobre seu passado como arruaceiro e assassino.
Meu Deus! Eu estava ferrada! Ele havia inventado toda essa
história de casamento fracassado para me atrair até essa praia deserta e
se aproveitar de mim.
— É melhor me soltar. — insisti.
Em vez de me atender, Dashiel me virou de frente para o coqueiro,
pressionando seu corpo contra minhas costas, sua ereção firme apertando
minha bunda, uma mão mantendo meus pulsos imobilizados, enquanto a
outra explorava meu corpo.
— Eu poderia levantar a saia desse vestidinho curto e fazer o que
quero com você, saciar essa fome incontrolável que você me desperta.
Desde que te vi com aquele uniforme de garçonete, eu tenho pensado
nisso. Poderia até te dar umas palmadas na bunda por me deixar de pau
duro a noite toda, na frente de todos naquela noite.
Ele sussurrava ao meu ouvido, sua respiração quente acariciando
minha pele, enquanto sua mão apertava meus seios e explorava meu
ventre, a outra mantendo meus pulsos presos acima da minha cabeça.
Um medo avassalador tomava conta de mim, fazendo-me tremer.
Porém, havia também o desejo ardente que aquele homem me
despertava, fazendo minha intimidade se encharcar e pulsar.
— Me solte. Não podemos fazer isso. — sussurrei, minha voz
trêmula.
Em resposta, Dashiel lambeu o lóbulo da minha orelha, deslizando
sua mão por baixo da saia do vestido e introduzindo os dedos na minha
calcinha.
Soltei um gemido abafado quando a aspereza dos seus dedos
mergulhou na umidade entre meus lábios vaginas.
— Você está tão meladinha... tudo isso é por minha causa?
— Por favor... me solte...
— Eu poderia passar a noite inteira chupando essa bocetinha
deliciosa. Seu gosto deve ser incrível.
Sua língua fazia movimentos circulares na minha orelha, enquanto
seus dedos massageavam lentamente meu clitóris intumescido, levando-
me à beira da insanidade.
Eu queria que ele me tocasse mais profundamente, que penetrasse
seus dedos em minha vagina, queria ceder ao desejo, mas eu não podia
ignorar sua esposa e sua possível mentira sobre a separação.
Como Elizabeth havia alertado, Dashiel não era digno de confiança.
— Chega! — gritei, lutando contra o turbilhão de sensações que me
invadia, e finalmente ele me soltou, se afastando.
Virei-me e encarei-o em silêncio por um longo momento,
observando seu rosto na penumbra, enquanto ele parecia decidir se
desistia ou continuava com sua investida.
O medo ainda habitava em mim, como ele mesmo havia dito, eu
não poderia impedi-lo se tentasse fazer algo contra a minha vontade.
CAPÍTULO 12

— Peço desculpas. — Dashiel quebrou o longo e perturbador


silêncio — Você deve estar se perguntando se eu menti sobre minha vida
para te atrair até aqui, mas eu juro que não foi o caso. Cada palavra que
saiu da minha boca era sincera.
Eu estava dividida entre acreditar nele e ouvir a voz da razão que
me alertava sobre um homem com o seu passado, capaz de qualquer
coisa para conseguir o que queria, incluindo enganar e mentir.
— É melhor irmos embora. — falei com firmeza.
Quando me virei em direção à praia, Dashiel segurou meu ombro e
fez com que eu o encarasse novamente.
— Diga que acredita em mim. Eu realmente precisava conversar,
estar com alguém como você. O que aconteceu aqui foi... um acidente. Eu
não planejei tocar em você. Apenas perdi o controle.
Eu sinceramente não sabia se deveria confiar nele. Seu rosto na
penumbra não revelava sua expressão.
Mas isso importava pouco agora. Mesmo se ele estivesse sendo
sincero, ainda era um homem casado. Eu não podia seguir adiante com
isso.
— Para ser sincera, eu não sei no que acreditar. Mas sei que
preciso voltar para casa. Está tarde. Se você não quiser me levar, eu...
— Eu te levo. Vamos.
Voltamos para o carro e seguimos pelas ruas quase desertas da
cidade. Durante o trajeto até minha casa, minha mente estava cheia de
pensamentos, dúvidas e culpa.
Mesmo que Dashiel não estivesse inventado essa história sobre um
casamento infeliz, eu estava em uma situação que jamais esperei me
colocar, me envolvendo com um homem que tinha uma esposa, e o que
era pior: uma esposa grávida.
Minha mãe morreria de desgosto se soubesse de uma coisa dessa.
— Acho que é melhor não nos vermos mais. — falei assim que o
carro parou em frente à minha modesta moradia.
Eu não teria revelado meu endereço se morássemos em uma
cidade maior, mas em uma cidade pequena como Georgetown, era
impossível esconder isso.
Dashiel suspirou profundamente, seu rosto na penumbra, suas
mãos apertando o volante com força.
— Ainda acredita que eu estava mentindo com o intuito de te atrair
até aquela praia, só para me aproveitar de você? — Ele perguntou.
— Eu não sei. Mas mesmo que acredite em você, não é seguro
continuarmos nos vendo e correr o risco de sermos descobertos por sua
esposa. Eu não quero que ela descarregue sua raiva em mim.
“Além disso, não quero me apaixonar por você, só para sofrer
depois”. Completei mentalmente.
— Se é isso que você quer, não vou mais te procurar.
— Está bem. — Era hora de sair do carro, e eu não esperava que
fosse tão difícil me afastar dele. — Adeus, Dashiel.
— Adeus, Willow, e mais uma vez, me desculpe.
Com relutância, abri a porta do carro e saí, carregando um vazio
pesado no peito.
Ao entrar em casa, encontrei minha mãe ainda acordada, sentada
no sofá da sala, usando sua camisola de algodão e segurando o celular.
Assim que me viu, ela veio até mim, preocupada. Senti o peso da
culpa por tê-la deixado tão aflita.
— Por que demorou tanto? Estava muito preocupada. Tentei ligar,
mas só dava caixa de mensagem.
— Desculpe, mãe. Eu estava ajudando Elizabeth a organizar uma
nova remessa de livros que chegou hoje e acabei esquecendo de carregar
o celular.
A mentira saiu da minha boca com facilidade, algo que eu não
reconhecia em mim mesma. Era o efeito que Dashiel Whitman exercia
sobre mim, me transformando em alguém que eu não era e não queria
ser.
— Você poderia ter ligado de outro celular para me avisar que
demoraria.
— Eu sei. Me desculpe.
Sentindo-me frágil e vulnerável, abracei minha mãe, permanecendo
em seus braços por um longo momento, enquanto lutava para conter as
lágrimas que ameaçavam cair.
— Está tudo bem, filha? Aconteceu alguma coisa?
— Está sim, mãe. Não aconteceu nada. Só estou cansada. — Mais
uma mentira.
— Vou esquentar o jantar para você.
— Não precisa. Pode ir dormir. Eu me viro.
— Não estou com sono. Venha, coma alguma coisa.
Fomos para a cozinha, e enquanto minha mãe esquentava o cozido
de legumes que sobrara do almoço, percebi que minha saúde estava pior
do que eu imaginava. O cheiro da comida, que deveria estimular meu
apetite, fazia meu estômago revirar.
Talvez estivesse desenvolvendo alguma gastrite. Precisaria
procurar um médico nos próximos dias.
CAPÍTULO 13

Na manhã seguinte, a livraria estava mais tranquila do que nos dias


anteriores, já que ainda era cedo e os turistas ainda estavam
descansando. A agitação normalmente ocorria à tarde.
Minha mãe havia telefonado para Sarah na noite anterior para
perguntar sobre mim, então minha amiga veio para saber das novidades e
estava relaxadamente sentada do outro lado do balcão de atendimento.
Com sua persistência característica, ela já havia me convencido a
falar, e eu acabara contando a ela tudo sobre a noite anterior.
— Claro que ele inventou essa história de casamento infeliz para
tentar te comer de novo. Homens não valem nada mesmo. — Ela
concluiu.
— Foi o que pensei. Ele estava procurando por uma aventura e
criou todo aquele clima de cumplicidade para me atrair até Paradise
Beach. É só que... — Me calei, sem coragem de expressar meus
pensamentos.
— É só que...?
— Não sei. Algo me diz que ele estava sendo sincero. Não sei no
que acreditar.
— Esse "algo" tem nome, e se chama deslumbramento. Você está
deslumbrada por esse homem, como qualquer mulher no seu lugar ficaria
diante das investidas de alguém assim. Esse deslumbramento está
atrapalhando seu julgamento. — Ela se inclinou sobre o balcão, se
aproximando mais, sua voz assumindo um tom de confidência — Pense
no que Elizabeth disse. Ele era rico e ainda assim se envolveu em coisas
obscuras, e a família dele desapareceu repentinamente, talvez por causa
de algum problema sério.
As palavras dela me atingiram como um choque. Lembrei-me das
mãos grandes de Dashiel percorrendo meu corpo e me arrepiei ao pensar
que poderiam pertencer a um assassino.
Sarah e eu continuamos discutindo o assunto até que a porta da
livraria se abriu, e um homem de meia-idade, vestindo terno e gravata,
entrou carregando um buquê de flores campestres e uma caixinha branca.
Definitivamente, ele não tinha aparência de um entusiasta de livros.
— Qual de vocês é Willow Sullivan? — Ele perguntou,
aproximando-se de nós.
— Sou eu. — respondi.
Ele entregou-me o buquê e a caixa, dizendo:
— Com os cumprimentos do Dr. Whitman. O outro presente está lá
fora.
O quê?!
— Senhor, por favor, leve isso de volta. — Eu estendi os presentes
para ele, mas ele não os recebeu. — Diga ao Dr. Whitman que não
aceitei. — Insisti.
— Minha função era apenas entregar. — Ele respondeu de maneira
polida e educada, sugerindo que se eu quisesse devolvê-los, teria que
fazer isso pessoalmente. — Com licença.
Com essas palavras, ele se virou e deixou a loja.
— Meu Deus! Esse Dashiel realmente está com vontade de te
comer novamente! — Exclamou Sarah. — O que tem na caixa?
— Não faço ideia.
Abri a caixa e fiquei boquiaberta ao ver duas chaves idênticas de
um carro.
— Meu Deus! — Sarah exclamou novamente.
Junto com as chaves, havia um bilhete manuscrito, com uma
caligrafia difícil de entender, que li em voz alta:
“Isso é para que eu possa dormir tranquilo à noite,
sabendo que você não estará correndo riscos ao atravessar a
cidade a pé depois do trabalho. Espero que goste da cor.”
Sarah e eu nos entreolhamos, perplexas, e fomos para a rua quase
correndo.
Como havia dezenas de carros estacionados no acostamento,
apertei o botão do alarme, preso à chave, e fiquei perplexa quando as
luzes de uma BMW vermelha, novinha em folha, se acenderam.
— Meus Deus! — Exclamou Sarah, chocada, cobrindo o rosto com
as mãos. — O que você fez para esse homem no barco?
Meu rosto ficou vermelho com a sugestão dela.
— Nada fora do normal. Esse cara é louco!
Olhei para o carro na minha frente. Era lindo, um sonho para
qualquer pessoa. Mas eu jamais aceitaria.
— O carro é incrível! Devemos dar uma volta? — disse Sarah, tão
deslumbrada quanto eu.
— Você está louca? De jeito nenhum! Não posso aceitar esse
carro.
— Por que não? Dashiel é rico, não fará diferença para ele.
— Como eu explicaria isso para a minha mãe e para a cidade toda?
Eles ficariam desconfiados imediatamente.
— Ah, é verdade. Que pena.
— Você pode levá-lo até a casa dele e devolvê-lo por mim.
— Deus me livre! E se a esposa dele pensar que sou a amante e
me matar?
— É exatamente o que eu acho que ela faria se eu fosse até lá.
— Ligue para ele e peça que venha buscá-lo.
— Eu nem tenho o número dele.
— A Elizabeth deve ter.
— E o que eu vou dizer para ela me dar esse número sem
desconfiar de nada?
Sarah refletiu por um instante, até que seu olhar se iluminou e tive
até medo do que ela faria.
— Vamos resolver isso.
Ela tirou as chaves do carro da minha mão e saiu andando ao
longo da calçada. Aproximou-se de Pedro, um vendedor ambulante que
estava sempre circulando por ali com suas capas de celular e outros
artigos à venda, conversou um pouco com ele, gesticulou para a BMW e
entregou-lhe as chaves.
Enquanto Sarah voltava pelo mesmo caminho, Pedro recolhia sua
mercadoria e ia rumo à BMW.
— O que você fez? — indaguei, só mesmo para me certificar de
que estava enxergando direito.
— Dei o carro de presente para o Pedro. Ele vai saber o que fazer
com isso.
Boquiaberta, observei quando Pedro entrou na BMW e saiu
dirigindo até desaparecer ao longo da rua.
— Isso é loucura.
— Eu sei. Mas resolveu o problema, não foi? Agora vamos
esconder aquelas flores antes que Elizabeth apareça por aqui.
De volta ao interior da loja, joguei as flores no lixo com dor no
coração, já que eram lindas demais.
Minha vontade era de confrontar Dashiel, dizendo a ele que eu não
poderia ser comprada. Porém, não me arriscaria a procurá-lo.
Não apenas pela fofoca que isso geraria, mas também pelas
emoções contraditórias que me assombravam quando eu o via.
Eu não confiava nele e, ainda menos, em mim mesma quando
estava perto dele.
CAPÍTULO 14

Possivelmente devido ao estresse emocional dos acontecimentos


daquela manhã, minhas náuseas voltaram com força total. Uma constante
sensação de cansaço me dominava, e meu corpo ansiava por minha
cama
Em certo momento, as náuseas vieram tão violentas que precisei
correr até o banheiro, para evitar vomitar ali mesmo sobre o balcão.
Sarah veio atrás de mim, flagrando-me com o corpo inclinado sobre
o sanitário, colocando para fora todo o café da manhã.
— Por Deus! O que você tem? — indagou ela, segurando meus
cabelos para trás.
— Não sei. Estou assim há alguns dias. Acho que é gastrite.
— Já foi ao médico?
— Não tenho tempo. Depois que...
Antes que eu tivesse tempo de completar a frase, outra golfada de
vômito voou do meu estômago direto para o vaso, silenciando-me.
— Espere aí, sua menstruarão está atrasada?
A princípio, não compreendi onde Sarah queria chegar com aquela
pergunta. Contudo, logo a ficha caiu e senti minhas pernas faltarem, me
forçando a abaixar a tampa do vaso e me sentar sobre ela, desorientada,
aturdida.
Minha menstruarão estava muito atrasada e só agora eu me dava
conta disso.
— Meu Deus! Não! — balbuciei, quase para mim mesma.
— Está atrasada, não é?
— Está.
— Ai, meu Senhor! — Sarah, exclamou, sentando-se no chão ao
meu lado, com suas costas apoiadas na parede — Quando minha irmã
ficou grávida, foi exatamente assim. Ela tinha enjoos diário e estava
sempre sonolenta. Seus seios estão doloridos?
— Estão.
— Pois é gravidez mesmo.
— Não é possível. A vida não pode fazer uma sacanagem dessa
comigo.
— Não foi exatamente a vida. Você não usou camisinha com
Dashiel?
— Ela arrebentou.
— Puta que pariu! Que falta de sorte. Mas não entremos em
pânico. Talvez não seja nada. Vou até a farmácia buscar alguns testes de
gravidez. Você espera aqui.
— Tá bem.
Sarah saiu apressada do banheiro, deixando-me ali sentada, com
as pernas trêmulas e o estômago revirado.
Enquanto esperava, minha mente ia a mil por hora, tentando
processar a ideia de que eu poderia estar grávida. Eu não estava pronta
para ser mãe, não da forma como as coisas estavam.
E o que era pior: grávida de um homem casado, que acabara de
engravidar a própria esposa.
Puta merda!
Minutos que mais pareceram horas se passaram antes que Sarah
retornasse, carregando um pequeno saco da farmácia. Ela me entregou
os testes de gravidez e uma garrafa d'água.
— Vai, faça os testes. Seja qual for o resultado, estarei aqui para
você.
Agradeci a Sarah com um olhar e me dirigi de volta ao banheiro,
segurando os testes nas mãos trêmulas. Fechei a porta e segui as
instruções nos pacotes, mergulhando os testes na urina.
Enquanto esperava os minutos, que pareciam eternos, minha
mente divagava para um futuro incerto, cheio de desafios e
responsabilidades.
Finalmente, o tempo passou, e eu olhei para os resultados.
Lágrimas de choque e desespero encheram meus olhos quando vi a lista
cor de rosa indicando que o resultado dera positivo, em todos os quatro
testes que eu fizera.
Meu coração afundou e uma sensação de pânico tomou conta de
mim. Não havia como negar a realidade agora. Minha vida estava
acabada.
Elizabeth não ia mais querer me vender a livraria pelo preço que eu
podia pagar; minha mãe morreria de tanto desgosto e a esposa de
Dashiel me mataria quando descobrisse.
Com as mãos trêmulas, abri a porta do banheiro e encarei Sarah,
que estava sentada do lado de fora, esperando ansiosamente.
— E aí? Como foi? — Ela perguntou, preocupada.
Eu mal consegui pronunciar as palavras, minha voz falhando diante
da revelação assustadora.
— Deu positivo. Estou grávida.
O rosto dela refletiu uma mistura de choque e preocupação, mas
ela rapidamente se recompôs e me abraçou com carinho.
— Nós vamos passar por isso juntas. Você precisa procurar Dashiel
e contar para ele. Eu vou com você.
— Não quero contar a ele.
— Mas ele é o pai. Tem o direito de saber.
— Minha mãe vai morrer de desgosto. — Um soluço me escapou e
as lágrimas desabaram dos meus olhos — Tudo o que ela sempre quis,
tudo pelo que ela lutou, foi para que eu não tivesse o mesmo destino que
ela. E agora estou aqui, prestes a me tornar mãe solteira também. E o que
é pior: de um homem casado.
— Não fique assim. Nós vamos dar um jeito nisso. Você não
precisa contar nada a ela por enquanto. Talvez você possa fazer um
aborto.
— Eu não teria coragem.
— Vamos dar outro jeito. Agora se acalme.
Quanto mais Sarah tentava me acalmar, mais desenfreadamente
eu chorava. A sensação que eu tinha era de que havia decepcionado
todas as pessoas que já se importaram comigo, e de que havia
decepcionado a mim mesma.
No meu horário do almoço, Sarah e eu fomos ao hospital e
confirmamos a gravidez através de um exame de ultrassonografia.
Era uma gestação de poucas semanas e o coração do bebê batia
forte e saudável.
Não tive coragem de ir em casa almoçar, pois ainda não estava
pronta para encarar minha mãe, então apenas comemos um sanduíche
na rua e voltamos para a livraria.
Eu continuava inconsolável, chorando sem parar. Não tinha forças
nem para reabrir a loja, embora também ainda não estivesse no horário.
Sarah e eu estávamos sentadas do lado de dentro do balcão,
quando as portas se abriram e Elizabeth entrou.
Os olhos dela correram direto para o meu rosto aflito, banhado de
lágrimas e fiquei paralisada, sem saber o que dizer para explicar meu
estado, sem ter que revelar a verdade.
— O que está acontecendo aqui? — indagou ela, aproximando-se
de nós — O que houve com você, minha querida?
— Não é nada. É só que... — Um soluço interrompeu minha fala.
— Você sabe que pode me contar qualquer coisa, não é?
— Não é nada sério. Eu juro.
— É melhor contar a ela, Willow. Talvez ela possa ajudar. —
aconselhou Sarah.
— Me contar o que?
As duas mulheres fixaram o olhar em mim, esperando pela minha
posição. Embora existisse uma grande chance de Elisabeth me demitir,
decidi falar, afinal uma gravidez não era algo que se podia esconder por
muito tempo.
— Eu estou grávida. — confessei.
— E quem é o pai?
— Um turista. Um cara que eu mal conheço. — Um soluço sucedeu
as minhas palavras.
Elizabeth contornou o balcão e me estreitou em seus braços,
surpreendendo-me com a sua solidariedade.
— Oh, meu anjo. Não precisa ficar assim. Tudo vai se resolver. —
disse ela — Você não é a primeira e nem será a última garota a passar
por isso.
— Eu sinto que decepcionei minha mãe, sabe? Ela não esperava
isso de mim.
Ela desvencilhou-se do abraço, fitando meu rosto com afeição.
— Ei, enxugue essas lágrimas e erga a cabeça. Você já decidiu o
que vai fazer?
— Ainda não. Estou completamente perdida.
— Se quiser levar a gravidez adiante, terá meu total apoio. Mas se
optar por interrompê-la, conheço pessoas que podem fazer isso com total
segurança e discrição.
— Não tenho coragem de abortar. É só um bebê inocente. Mas
também não estou pronta para me tornar mãe. Minha vida está só
começando.
— Nesse caso, a melhor opção é entregá-lo para adoção. Eu
conheço pessoas que têm condições financeiras de dar uma vida incrível
para essa criança. Pessoas que não são daqui.
— Acho que essa é uma ótima opção. — Sarah se manifestou.
— Você nem precisaria deixar sua mãe saber sobre essa gravidez.
— Elizabeth continuou falando — Esconda a barriga, dela e da população
de Georgetown. Dá para fazer isso até os cinco, ou seis meses. Depois,
você inventa uma viagem, pode ser uma viagem de trabalho. Você pode
ficar em um apartamento que tenho em Colúmbia. Depois que a criança
nascer, você a entrega para os pais adotivos e volta como se nada tivesse
acontecido.
Um intenso sentimento de gratidão invadiu o meu peito.
— Você faria isso por mim?
— Claro. É o que se faz pelos amigos.
Emocionada, abracei novamente Elizabeth.
— Obrigada. Você é um anjo na minha vida.
— Tudo bem. Agora enxugue essa cara e vamos trabalhar. Há
muita gente lá fora procurando um bom livro para ler.
Sarah e eu nos entreolhamos sorrindo. Elizabeth era mesmo um
anjo na minha vida, a minha salvadora.
CAPÍTULO 15

Não foi fácil chegar em casa à noite e esconder aquela gravidez da


minha mãe. A sensação que eu tinha era de que a estava traindo e
enganando, algo que jamais havia feito antes.
Como eu nunca tive um pai, ela sempre fora o meu pilar, minha
base, minha melhor amiga, e agora eu escondia dela um acontecimento
tão importante da minha vida.
Tudo graças a um momento de loucura nos braços de um
desconhecido.
Eu não amaldiçoava o momento em que meu caminho se cruzara
com o de Dashiel, pois não me arrependia do que aconteceu entre nós.
Foi bom, mais que isso, foi incrível, e eu jamais me esqueceria.
No entanto, ainda não tinha certeza se contaria a ele sobre essa
gravidez.
Eu não queria destruir o casamento dele, deixando que a mulher
dele soubesse sobre nós dois. Além disso, não tinha certeza se ele me
deixaria entregar essa criança para adoção e, definitivamente, não estava
pronta para me tornar mãe.
Talvez ele mesmo decidiria ficar com ela, criá-la junto com o filho
que teria com sua esposa.
Mas eu não sabia como a esposa dele trataria o filho da amante do
seu marido. E se ela resolvesse torturar essa criança, com o intuito de se
vingar de mim? Eu não pagaria para descobrir.
Nos dias que se transcorreram, meus enjoos cessaram com os
comprimidos que o médico havia me receitado, de modo que pude
retomar minha rotina de trabalho na livraria sem problema nenhum e
dando sempre o melhor de mim.
Todas as quartas-feiras eu fechava a livraria um pouco mais cedo e
ia até a casa de Elizabeth para que, juntas, escolhêssemos novos livros
para o acervo.
Naquela quarta-feira, quando cheguei à luxuosa residência, sua
empregada informou que ela estava com visitas no escritório e pedira que
eu aguardasse um pouco.
Eu estava acomodada no sofá branco da ampla sala, quando a
porta do escritório se abriu e as duas mulheres saíram lá de dentro.
Fiquei chocada ao reconhecer a loira, alta e elegante, com quem
Elizabeth conversava. Era Amélia, a esposa de Dashiel.
Porém, o que me deixou verdadeiramente atordoada foi a mancha
roxa que ela tinha em um dos olhos.
Considerando que Elizabeth prestava assistência e
aconselhamento a mulheres vítimas de violência doméstica, não foi difícil
presumir o que havia acontecido a ela.
Por Deus! Eu estava grávida de um covarde que agredia a esposa!
— Olá, querida. Faz tempo que você está esperando? — disse
Elizabeth.
— Não. Cheguei há pouco tempo.
Levantei-me, e mesmo contra a minha vontade, meus olhos
correram para o rosto de Amélia.
A aflição estava estampada em sua fisionomia, seus olhos estavam
avermelhados pelo pranto, a mancha roxa marcava seu olho esquerdo.
Apesar da violência marcada em seus traços, ainda era possível
notar sua beleza estonteante, com a pele de porcelana, os lábios
carnudos e os olhos azuis claros como duas piscinas.
O que se passava na cabeça de um homem capaz de agredir uma
criatura que parecia tão frágil?
— Essa é Amélia Whitman, nova moradora da cidade. — Elizabeth
apresentou, ao perceber que eu a observava — Amélia, essa é Willow.
— É um prazer te conhecer.
— O prazer é todo meu.
Quando apertei sua mão, macia como seda, fui inundada por um
doloroso sentimento de culpa, por ter tido relações sexuais com o marido
dela. Certamente ela o amava demais, ou teria ido embora depois de ser
agredida.
Elizabeth acompanhou Amélia até a porta e voltou para a sala.
— Vamos cuidar em examinar esses livros. Com essa onda de
escrever com inteligência artificial, são tantos títulos ruins, sem emoção
alguma, que precisamos tomar cuidado para não comprarmos porcarias.
— disse Elizabeth.
Ela gesticulou para que eu a seguisse, e ambas entramos no
escritório, dando início à escolha dos títulos, em um site de distribuição.
Tentei, com toda a minha força de vontade, mas não consegui me
concentrar totalmente na tarefa, meus pensamentos voltados para Amélia,
para os traços de violência presentes no rosto dela.
Até que criei coragem e fiz a pergunta que não queria calar.
— Amélia... ela foi agredida pelo marido?
— Infelizmente, foi. Como eu já imaginava, o tempo não mudou
aquele homem. Ele continua sendo o mesmo canalha que sempre foi,
desde a sua adolescência.
— Que coisa horrível!
— É ainda pior do que parece. Ele sempre a agrediu e está
piorando com o tempo. Mesmo ela estando grávida, ele não para com as
agressões.
Instintivamente, cobri meu ventre com as duas mãos, em um gesto
involuntário de proteção.
— Por que ela não o deixa?
— Pelo mesmo motivo que nenhuma das mulheres vítimas desse
tipo de violência deixa seu agressor, ela é emocionalmente dependente
dele. O ama tanto que não consegue viver sem ele. O cara é tão canalha
que a obrigou a se afastar da família para poder agredi-la ainda mais, sem
ninguém para defendê-la.
— Foi por isso que eles se mudaram para Georgetown?
— Sim. Dashiel é tão manipulador e sem escrúpulos que ameaçou
abandoná-la caso ela não o seguisse. Ele chegou a vir para a cidade
antes dela, fazendo chantagem emocional e, como toda mulher
dependente, ela veio atrás dele. Agora está apanhando mais do que
antes, coitada.
Quanto mais Elizabeth falava, mais aterrorizada eu ficava. Dashiel
não era o canalha que eu imaginava, ele era ainda pior.
Inventou toda aquela história de casamento infeliz para me atrair
até a praia deserta e conseguir o que queria de mim. Eu tive muita sorte
de não ter sido violentada por ele, naquele coqueiral escuro, pois era
assim que homens como ele certamente agiam.
Quando deixei a casa de Elizabeth naquela noite, eu estava
decidida: jamais contaria a Dashiel que estava esperando um filho dele.
Um homem capaz de agredir uma mulher indefesa e grávida, sua
própria esposa, nem de longe merecia se tornar pai. Eu tinha pena do filho
que Amélia esperava.
CAPÍTULO 16

Os dias se seguiram sem muitas novidades. Eu estava


conseguindo esconder a gravidez da minha mãe e continuava com minha
rotina na livraria.
Continuava me limitando a ir de casa para o trabalho e do trabalho
para casa, sem percorrer outros grandes trajetos na cidade, com o
objetivo de evitar me deparar com Dashiel por aí.
Não era mais apenas o fato de eu ter tido intimidades com um
homem casado que me impedia de querer olhar para ele. Depois de ver o
estado de Amélia, eu passara a sentir um medo aterrador daquele
homem.
Ainda não podia acreditar que me deixara levar pela conversa dele
e me colocado em um risco tão grande, ficando sozinha com ele em uma
praia deserta, no meio da noite. Foi muita sorte da minha parte escapar
ilesa dessa situação.
Eu não podia nem imaginar o que poderia ter acontecido comigo
naquele coqueiral, afinal, um homem capaz de agredir a própria esposa, a
mulher que dedicava sua vida a ele, seria capaz de qualquer coisa.
Naquela noite, fechei a livraria no horário de sempre e comecei o
meu percurso para casa, caminhando sem pressa pela calçada.
Era sexta-feira e a rua principal estava bastante movimentada, com
o grande fluxo de turistas indo e vindo, à procura de um barzinho ou de
uma boa balada.
Assim que virei a esquina, seguindo por uma rua mais escura e
deserta, o carro luxuoso encostou no acostamento, vindo de trás de mim.
Entrei em pânico ao reconhecer o carro de Dashiel, meu coração
pulando a ponto de sair pela boca, minha mente trabalhando depressa,
buscando uma possível maneira de fugir, embora minhas pernas
parecessem ter paralisado e não me moviam do lugar.
Minha mente me ordena a sair correndo, mas antes que eu tivesse
tempo de obedecer, Dashiel saltou do carro, fazendo a volta pela frente e
se aproximando de mim.
Sua cara era de poucos amigos.
— Eu posso saber por que um vendedor ambulante foi preso
dirigindo o carro que te dei de presente? — vociferou ele, asperamente,
sem ao menos me cumprimentar antes.
Respirei fundo, mais de uma vez, me forçando a manter a calma.
Não ia adiantar nada correr, pois, além de ter as pernas mais longas e
fortes que as minhas, ele tinha um carro.
Além do mais, se aprendi algo com a vida, foi que não se deve
demonstrar medo diante de situações de perigo, pois isso incentiva o
agressor.
— Porque eu não aceitei o seu presente. — respondi, fingindo uma
naturalidade que estava longe de existir.
— E por que não me disse isso, ao invés de dar o carro para outra
pessoa? — Ele parecia realmente ofendido e isso me deixava ainda mais
assustada.
— Eu não tinha o seu número. Não tinha como te contatar.
— Inventa outra! Me contatar seria a coisa mais fácil do mundo.
Sua chefe tem o meu contato.
— Eu não tinha como pedir seu contato para minha chefe sem
explicar o porquê. Ela desconfiaria na hora.
— Você devia ter dado um jeito. E por que recusou meu presente?
— Eu não podia aceitar o presente de um homem casado.
— Não te dei como um homem com segundas intenções, mas
apenas como alguém que se preocupa com você andando por aí a pé a
essa hora da noite.
Senti meu estômago embrulhar ao relembrar as palavras dele na
noite em que caminhamos na praia e todas as outras palavras que ele já
me dissera, sobre ter um casamento infeliz e desejar se separar da
esposa.
Era tudo mentira, tudo falsidade, uma máscara criada para tentar
me ludibriar, assim como o que ele dizia agora, sobre se preocupar
comigo.
Aquele homem era um crápula, um covarde agressivo e tudo o que
saía da boca dele era mentira. Eu não tinha nenhuma obrigação de ficar
ali parada, tendo que olhar para ele.
— Eu não preciso da sua preocupação. — cuspi as palavras, sem
fazer questão de esconder meu nojo e meu desprezo — E não quero
nada de você. Não quero que volte a me procurar. Nunca mais apareça na
minha frente. Faça de conta que nunca me conheceu.
Dei-lhe as costas e tentei retomar minha caminhada, mas ele
tomou-me o caminho, colocando-se à minha frente, parecendo uma
muralha de aço, com o peitoral largo emoldurado pelo tecido da camiseta,
exibindo os braços musculosos e cobertos por tatuagens grafite.
— Por que você está agindo assim? Por que tanta raiva?
Em resposta, apenas desviei dele e tentei me afastar. Foi então que
Dashiel segurou-me pelo braço e me fez virar novamente em sua direção.
Naquele instante, realmente acreditei que ele me bateria, assim
como fazia com sua mulher.
Olhei para os dois lados, à procura de alguém a quem pudesse
pedir socorro, mas não havia mais ninguém na rua além de nós dois.
— Por favor, não faça nada! — supliquei, trêmula, apavorada.
Ele me soltou na mesma hora, sua fisionomia mudando, se
enchendo de surpresa.
— Você está com medo de mim?! — Ele parecia atônito.
— Por favor, não me machuque.
— Eu jamais faria isso! De onde você tirou essas ideias? — Ele
parecia cada vez mais aturdido.
— Eu vi o que você fez com sua mulher. — Me arrependi por ter
dito aquilo no instante em que fechei a boca, mas agora que tinha
começado, iria até o fim — Como você pode ser capaz de agredir uma
mulher e que, ainda por cima, está grávida! Isso é muita covardia. —
Dashiel estava paralisado, silencioso, me observando com seu semblante
endurecido. Apesar de estarmos ligeiramente ocultos pela penumbra da
noite, eu podia enxergar a frieza nos olhos dele e mesmo trêmula de
medo, continuei falando — Agora eu tenho certeza de que tudo o que saiu
da sua boca naquela noite na praia era mentira! Você só queria me atrair
para um lugar deserto e se aproveitar de mim, mas então aquelas
pessoas apareceram e você desistiu, não foi? Como podem existir
pessoas tão inescrupulosas como você nesse mundo?! Como...
— Já chega! — Sua voz grossa esturrou na quietude da noite,
assustando-me e me silenciando — Onde você viu minha mulher?
— Na casa de Elizabeth.
Ele percorreu os dedos entre os cabelos curtos, desalinhando-os.
— Ela procurou por Elizabeth?
— Procurou e Elizabeth vai ajudá-la a se libertar de você, como tem
ajudado tantas outras mulheres na mesma situação.
— Merda!
— Achou mesmo que poderia continuar agredindo-a sem que
ninguém fizesse nada?
Ele aproximou-se um passo de mim, colocando-se tão perto, que
um estremecimento de medo varreu o meu corpo, fazendo com que ele
recuasse.
— Eu nunca agredi minha mulher. — anunciou ele.
Meu estômago embrulhou com sua tentativa de continuar mentindo,
mesmo diante de tais evidências.
Seria mais digno da parte dele assumir o que fez. Mas como
esperar dignidade de um homem como aquele?
— Eu vi o olho roxo dela. Você não tem mais como continuar
mentindo.
— Aquilo foi um acidente infeliz, mas você nunca acreditaria em
mim, não é mesmo?
— Claro que não! Por que diabos alguém inventaria algo assim? —
Como ele não respondeu, continuei falando — Tudo o que sai da sua
boca é mentira e falsidade. Eu não sei onde eu estava com a cabeça
quando me senti tão atraída e seduzida por você. É uma dessas loucuras
que a gente comete sem nem perceber e depois se arrepende. — Dashiel
continuava calado, estático, me observando quase sem piscar — Eu não
quero te ver nunca mais, por favor, pare de me procurar. Eu tenho repúdio
de pessoas como você!
— Pode ficar tranquila. Seu pedido será atendido. — Sua voz soou
surpreendentemente calma — Se algum dia você me ver novamente, não
será porque te procurei. Adeus.
Dito isto, ele deu-me as costas, entrou no seu carro e saiu
apressado pela rua de paralelepípedos.
Só consegui voltar a respirar normalmente depois que o carro virou
em uma esquina e desapareceu das minhas vistas.
CAPÍTULO 17

Nas semanas que se passaram, não tive o desprazer de cruzar


com Dashiel novamente. Quanto à esposa dele, a encontrei algumas
vezes na casa de Elizabeth, sempre exibindo um semblante aflito e
melancólico.
À medida que o tempo avançava, minha barriga começou a crescer
lentamente, o que me obrigou a adotar roupas mais folgadas e pesadas
para ocultá-la.
Com a chegada do outono e do clima mais fresco, isso se tornou
mais conveniente, e nem mesmo minha mãe, com quem convivia
diariamente, suspeitava da minha gravidez.
À medida que o fim do verão se aproximava, a cidade
gradualmente se esvaziava e se acalmava, à medida que os turistas
partiam, restaurando nossa paz e tranquilidade.
Como parte da tradição, a prefeitura contratou um artista para
realizar um show em praça pública, celebrando o encerramento da
temporada turística.
Naquele ano, o show estava programado para ser comandado por
Bruno Mars, que se apresentaria após os artistas locais.
Eu não estava no clima para festas. Minha barriga estava
consideravelmente grande e pesada, meus pés inchados, pernas
exaustas e seios doloridos. Isso sem mencionar que eu precisava vestir
um sobretudo espesso sempre que saía do meu quarto.
No entanto, era otimismo pensar que Sarah desistiria de tentar me
convencer a ir ao show com ela, e foi exatamente o que aconteceu.
— Para de reclamar. Você precisava sair de casa, ou acabaria
caindo em depressão. — disse Sarah, pela enésima vez.
Estávamos nós duas e o namorado dela, Jeremy, vagando pela
praça em meio às centenas de pessoas, entre turistas e moradores,
esperando pelo início da apresentação do cantor convidado.
Por ora, algumas bandas locais se apresentavam no grande palco
suspenso.
— Você diz isso porque não é você que está com uma dor lascada
nas pernas, os pés inchados e ainda tendo que usar essas roupas
abafadas e pesadas.
Apesar de estarmos no início do outono, ainda não estava frio
suficiente para o sobretudo marrom que eu vestia para esconder a
barriga.
— Daqui a pouco, quando o Bruno começar a cantar, você vai se
divertir tanto que nem se dará mais conta de todos esses incômodos.
— Se vocês preferirem, podemos procurar um lugar para sentar. —
propôs Jeremy.
Ele era o único que sabia sobre a minha gravidez, além de Sarah,
Elizabeth e o médico com quem eu fazia consultas periódicas.
— Não precisa. — anunciei — Eu aguento. Além do mais, não
quero que vocês percam o show por minha causa.
— É assim que se fala, garota! — Sarah comemorou.
Continuamos perambulando entre as pessoas animadas,
cumprimentando velhos amigos, dançando e nos divertindo.
Quando se aproximava do início da apresentação do artista
principal, a praça foi enchendo cada vez mais de gente, e foi então que os
enxerguei a uma certa distância, em meio à multidão de pessoas, Dashiel
e Amélia.
Nem de longe eles se pareciam com um casal que enfrentava
tantos problemas. Amélia em nada se assemelhava a uma mulher
agredida pelo marido, pelo contrário, ela parecia feliz e radiante nos
braços de Dashiel, abraçada a ele, trocando carícias íntimas.
Era perceptível a pequena protuberância em sua barriga, indicando
sua gravidez.
Eu não compreendia o que acontecia ali, porque ela parecia tão
apaixonada por um homem que a maltratava. Seria a dependência
emocional da qual Elizabeth tentava libertá-la?
Minha única certeza era que, definitivamente, Amélia não se
parecia com uma mulher que sofria abusos do marido, pelo contrário,
parecia feliz da vida, o que era bastante estranho.
Essa dependência emocional realmente era algo que estava muito
além da minha compreensão.
Quanto a Dashiel, jamais esteve tão lindo e atraente como naquela
noite. Ele se parecia com um guitarrista de uma banda pesada de rock,
usando uma camiseta preta de mangas curtas, exibindo as tatuagens em
seus braços e pescoço, com seus cabelos ligeiramente espetados, a
barba mais crescida do que eu me recordava.
Ele era alto e forte, dono de um charme tão irresistível que não
havia uma só mulher ali que não virasse o pescoço para olhá-lo quando
ele passava. E quanto mais as outras o olhavam, mais Amélia se agarrava
a ele, como se marcasse território.
Eu estava hipnotizada, observando-o como se ele não fosse um
cretino agressor de mulheres, quando subitamente ele pareceu sentir o
peso do meu escrutínio e virou a cabeça, olhando diretamente para mim.
Senti um tremor varrer o meu corpo, sob a mira daquele olhar
intenso e misterioso, um medo aterrador tomando conta das minhas
entranhas, mas também uma onda de desejo ardente, que fazia meu
sangue fluir mais quente nas veias.
Agindo como se não me conhecesse, Dashiel foi o primeiro a
desviar o olhar, voltando sua total atenção para a loira alta e linda que
estava em seus braços. Sua esposa.
Pedi à Sarah e Jeremy que trocássemos de lugar e não voltei a vê-
lo enquanto contava os minutos para o final daquele show.
Algumas semanas depois, minha barriga se tornou grande demais
para que eu conseguisse escondê-la. Minha mãe estava começando a
desconfiar, e Elizabeth e eu chegamos ao consenso de que era hora de
partir.
Inventamos que uma nova livraria seria aberta em Colúmbia e eu
teria que atuar lá durante três meses, treinando a nova equipe de
funcionários. Eram os três meses que restavam para o fim da gestação.
Então, despedi-me da minha mãe e parti para a capital, com meu
peito pesado de receios, mas também de esperança.
Fiquei sozinha no apartamento de Elizabeth, na grande metrópole,
durante os dois primeiros meses, depois disso minha chefe apareceu para
me fazer companhia e me ajudar com tudo durante o parto.
Segundo ela, já havia conseguido uma família para adotar a
menina que eu esperava, um casal de empresários ricos que daria a essa
criança uma vida digna de uma princesa.
Apesar de estar certa na minha decisão de entregar minha filha
para adoção, não havia um só dia em que eu não caísse no choro,
lamentando por não ter a oportunidade de vê-la crescer.
CAPÍTULO 18

Havia chegado o dia do nascimento da minha filha, um momento


que eu sabia que mudaria minha vida para sempre.
Era um dia nublado em Colúmbia, o clima frio combinava com a
tensão que sentia. Elizabeth estava ao meu lado, pronta para me apoiar
em cada passo desse processo.
Naquela manhã, acordei com as primeiras contrações. Era uma
sensação estranha, diferente de tudo que já havia experimentado.
A dor ia e vinha, como ondas que se aproximavam lentamente, me
alertando de que o momento estava chegando.
Nosso plano era ir para o hospital assim que as contrações se
tornassem regulares e intensas.
Vesti minha roupa, cuidadosamente escolhida para a ocasião, e
Elizabeth me ajudou a reunir minhas coisas.
Eu estava nervosa, mas ao mesmo tempo ansiosa para finalmente
conhecer minha menina, antes de entregá-la para a família que a
acolheria.
Caminhamos pelo corredor do apartamento, enquanto eu segurava
a barriga com cuidado, sentindo as contrações ficarem mais frequentes e
fortes.
Assim que chegamos à recepção do hospital, a equipe médica já
estava pronta para nos receber. Fui encaminhada para uma sala de parto,
enquanto Elizabeth se mantinha ao meu lado o tempo todo, segurando
minha mão, me dando forças e encorajamento.
As enfermeiras e o médico foram extremamente gentis, explicando
cada passo do processo e me tranquilizando.
Conforme as horas passavam, as contrações se tornavam mais
intensas, e eu me concentrava em minha respiração, assim como nas
palavras de incentivo de todos à minha volta.
A dor era avassaladora, mas o pensamento de que eu precisava
lutar para que minha filha ficasse bem me mantinha firme.
Finalmente, chegou o momento do parto. Eu estava exausta, mas
determinada a dar a essa criança o melhor começo possível.
Com o apoio de Elizabeth e da equipe médica, comecei a fazer
força. A dor, o medo e a ansiedade se misturavam, mas eu sabia que
valeria a pena.
E então, após um esforço incrível, ouvi o choro do meu bebê pela
primeira vez. Era o som mais doce que já havia ouvido. As lágrimas
inundaram meus olhos.
O médico segurou minha filha e a limpou rapidamente antes de me
entregá-la.
Ela era perfeita. Seus olhos pequenos e curiosos exploraram o
mundo ao seu redor, seu choro suave se transformou em um som
reconfortante.
Eu a segurei nos braços, completamente apaixonada e fascinada.
Minha filha estava ali, uma pequena vida que eu ajudara a criar.
Enquanto a olhava com amor e adoração, um afeto tão genuíno se
apoderou de mim que, naquele instante, eu soube que não conseguiria
me separar dela.
Eu não teria capacidade de abrir mão do vínculo que se formara
entre nós desde o primeiro choro. Foi nesse momento que tomei uma
decisão: minha filha ficaria comigo.
Não importava o que o futuro reservava. Eu estava disposta a
enfrentar todos os desafios que a maternidade traria, não importava o
quão difíceis eles fossem.
Minha filha, aquele pequeno ser que eu segurava nos braços, era o
meu mundo, minha razão de ser. E a partir daquele instante, nossa
jornada juntas começava, repleta de amor e determinação.
Quando a enfermeira a levou, entrei em pânico, achando que a
estava tirando de mim. Contudo, logo a trouxe de volta, usando uma
roupinha cor de rosa de bebê.
Elizabeth já me olhava desconfiada, percebendo que eu não abriria
mão da minha menina, mas ela não disse nada até que estivéssemos
sozinhas na sala de pós-parto.
— Você não vai entregá-la aos pais adotivos, não é? — constatou
ela.
Estava de pé diante do meu leito, observando-me com o bebê nos
braços, seus olhos repletos de ternura, como sempre.
— Não posso fazer isso, me desculpe. Eu a amo demais. Ela é
parte de mim, parte da minha vida.
Elizabeth sentou-se na beirada da cama, segurou minha mão e
disse com voz suave:
— Você sabe o que isso significa, não é? Será uma jornada muito
difícil. Você será uma mãe solteira, terá que enfrentar todos os desafios
sozinha.
Eu concordei, olhando para minha filha e acariciando seu rostinho.
— Eu sei que não será fácil, mas não consigo me separar dela.
Não posso imaginar a vida sem ela.
— Você terá que abrir mão de muitas coisas, principalmente da sua
liberdade. A responsabilidade de cuidar de uma criança é enorme.
Eu assenti, ciente dos sacrifícios que teria que fazer.
— Eu estou disposta a enfrentar tudo isso. Eu a trouxe a este
mundo, e agora quero estar ao lado dela para cada passo do caminho.
Elizabeth olhou para minha filha e sorriu.
— Ela é linda, não há dúvidas. Mas você vai precisar de apoio,
emocional e financeiro. Você não pode fazer isso sozinha.
Eu me senti grata por Elizabeth estar preocupada comigo, mas eu
estava decidida.
— Eu sei que vou precisar de ajuda, e eu a terei. Minha mãe estará
ao meu lado.
— E se, com o tempo, você perceber que não pode lidar com todas
as responsabilidades? E se a pressão for demais?
— Eu farei o meu melhor. Não posso prever o futuro, mas sei que,
neste momento, minha filha é a coisa mais importante da minha vida, eu
não posso desistir dela.
— Procurar pelo pai dela é uma opção?
— Não. De jeito nenhum.
— Você é muito corajosa. — Ela se silenciou por um instante, seu
olhar fraternal alternando entre mim e o bebê — Mas sei que vai conseguir
fazer e saiba que pode contar sempre comigo também.
Um turbilhão de gratidão e euforia explodiu em meu peito,
marejando meus olhos de lágrimas.
— Nem tenho palavras suficientes para agradecer.
— Não precisa agradecer. Me deixe ser a madrinha dessa coisinha
linda e estaremos quites. — Ela soltou um suspiro pesado, uma ruga se
formando em sua testa — Os Robertson vão ficar putos, mas você tem
todo o direito de ficar com sua filha. Saiba que tem o meu apoio nessa
decisão.
— Obrigada. — sussurrei, emocionada.
Nossas mãos se apertaram, selando nosso compromisso de
enfrentar juntas os desafios que estavam por vir.
Minha filha permaneceu serena nos meus braços, como se
entendesse que eu havia tomado a decisão certa.
O amor que sentia por ela era algo que eu jamais imaginei ser
possível, eu estava pronta para enfrentar a maternidade,
independentemente das dificuldades que surgissem no caminho.
CAPÍTULO 19

Seis meses depois.

Era noite de quarta-feira. Após fechar a livraria, passei na casa de


Elizabeth para selecionar os próximos livros que compraríamos para o
acervo e, em seguida, vim diretamente para casa.
Não havia jantado ainda, nem feito mais nada, meu tempo
totalmente dedicado a brincar com o bebê adorável que estava deitado ao
meu lado na cama.
Savana, esse era o nome que Elizabeth e eu escolhemos para
minha filha. Um pingo de amor que ficava cada dia mais encantador, com
suas bochechas rechonchudas e rosadas, olhos azuis que lembravam os
do homem que me ajudara a concebê-la, e cabelos escuros iguais aos
meus.
Ela já estava com seis meses e começava a se sentar sozinha.
Logo após o parto, retornei a Georgetown com ela nos braços,
enfrentando a parte mais difícil: contar à minha mãe que havia escondido
a gravidez.
Ela não ficara decepcionada por eu ter me tornado mãe solteira,
pelo contrário, apaixonou-se pela neta instantaneamente.
A decepção veio da falta de confiança que eu havia demonstrado
ao não compartilhar a gravidez com ela.
Como era de se esperar, a cidade fofocava sobre minha situação,
mas isso não me abalava. Afinal, não era a primeira nem seria a última
garota solteira a engravidar durante a temporada de turismo. Em
Georgetown, isso era quase uma tradição.
Quanto a Dashiel, nunca mais o vi desde que voltei para a cidade.
Apenas ouvia rumores sobre ele e sua esposa.
As histórias eram intensas, indo desde a alegação de que ele a
espancara quase até a morte, fazendo com que ela perdesse o bebê que
esperava, a sugerir que ele não permitia a entrada dela em casa, a fim de
ficar sozinho com suas várias amantes.
Havia, inclusive, comentários sobre ele obrigá-la a compartilhar a
cama com outras mulheres.
A única certeza que eu tinha em meio a todas essas fofocas era
que ela realmente perdera o filho, o que era lamentável, e que eles
estavam vivendo em casas separadas.
Enquanto Dashiel permanecia na mansão de seus pais, ela
comprara outra casa nas proximidades, onde vivia cercada de
empregados.
Dashiel vivia recluso em sua mansão distante, saindo apenas para
suas cirurgias no Texas, sempre de helicóptero e evitando a cidade,
enquanto Amélia circulava livremente, fazendo compras e buscando apoio
emocional com Elizabeth.
Segundo Elizabeth, ela estava devastada com a perda do filho que
tanto queria e eu não podia nem imaginar tamanha dor.
Eu nunca conseguiria entender a dependência emocional que
Amélia tinha por Dashiel, intensa a ponto de impedir que ela se afastasse
definitivamente dele e retornasse à sua família.
Enquanto brincávamos na cama, minha pequena travessa se movia
freneticamente, deixando meias e fralda pelo caminho.
— Ei, mocinha, não é seguro deixar roupas espalhadas assim
quando crescer, sabia? — brinquei, e ela sorriu, exibindo seus dois únicos
dentinhos enquanto tentava balbuciar.
Com certeza, ela seria uma pessoa brincalhona, inquieta e
extrovertida quando crescesse. Eu só esperava que, ao contrário de mim
e de sua avó, soubesse fazer escolhas mais sábias quando se tratasse de
relacionamentos.
Em meio às suas travessuras, Savana pegou minha bolsa e a
sacudiu freneticamente, fazendo com que maquiagens, documentos e
chaves voassem para todos os lados.
— Ah, não! Precisamos arrumar essa bagunça! — repreendi, e ela
sorriu, como se fosse uma brincadeira.
No meio da bagunça, vi o pequeno pen-drive onde Elizabeth e eu
havíamos salvado os novos pedidos de livros para o site do distribuidor.
Provavelmente o coloquei na bolsa por engano.
Precisava entregá-lo a Elizabeth ainda hoje, para não perder o
prazo.
Droga! Esbravejei mentalmente.
O clima estava frio e chuvoso lá fora, e eu não queria deixar minha
filha. No entanto, não tinha escolha. Elizabeth merecia minha dedicação.
Com o pen-drive em mãos, peguei Savana e saí do quarto. Na
cozinha, onde minha mãe estava terminando de lavar a louça do jantar,
minha filha reclamou quando a coloquei no cercadinho em meio aos
brinquedos.
— Mãe, preciso ir até a casa de Elizabeth para entregar um pen-
drive que trouxe por engano. — expliquei.
— Não pode esperar até amanhã? Está tão frio lá fora.
— Infelizmente não. Mas volto em um minuto.
— Vá tranquila, eu cuido dessa pestinha.
Ajoelhei-me diante de Savana e a beijei, prometendo que voltaria
em breve. Em seguida, vesti meu casaco e saí de casa.
Com a ausência da movimentação do turismo, a escuridão envolvia
Georgetown, como um véu sinistro que cobria cada canto da cidade.
O vazio das ruas era palpável, como se um segredo obscuro
pairasse sobre o lugar.
O silêncio era perturbador, não havia sinal de vida, nem o mais
distante murmúrio de conversa. Era como se a própria cidade estivesse
sussurrando um segredo sombrio, esperando para revelar seus mistérios.
Eu marchava pelas ruas desertas, meu coração batendo rápido em
meu peito. O frio cortante mordia minha pele, fazendo-me tremer.
Enfiei as mãos no bolso do meu casaco, desesperada por um
pouco de calor, mas o ar gelado parecia penetrar até os ossos. Apertei o
passo, desejando chegar à casa de Elizabeth o mais rápido possível.
Decidi arriscar um atalho, a fim de chegar mais depressa, seguindo
por um beco estreito que eu conhecia bem.
Era um caminho que eu costumava tomar, mas naquela noite ele
parecia mais ameaçador do que nunca.
As sombras se esticavam, dando forma a criaturas imaginárias que
me observavam. Cada passo ecoava como um trovão, reverberando em
meu peito.
A casa de Elizabeth estava a apenas alguns metros de distância,
mas quando cheguei perto, meu coração gelou.
De onde estava, vi um homem alto saltando a cerca do quintal dela,
saindo de dentro como um fantasma. Fiquei paralisada de horror, minha
respiração presa na garganta, o sangue fugindo do meu rosto, deixando-
me pálida como a morte.
O estranho usava um casaco de moletom preto, o capuz
encobrindo sua cabeça e uma máscara ocultando seu rosto, como se
estivesse disfarçado de pesadelo.
Ele ficou lá parado por um momento, seus olhos ocultos atrás da
máscara me perfurando, sem que eu conseguisse reconhecê-lo.
Um calafrio percorreu minha espinha enquanto ele me encarava,
como se decidisse o destino que teria reservado para mim naquela noite.
O tempo parecia congelar, meu cérebro gritando para fugir, mas
minhas pernas estavam paralisadas, entorpecidas pelo terror.
Até que, finalmente, o homem virou as costas e saiu andando,
desaparecendo na escuridão da noite, seus passos se perdendo no
abismo das ruas vazias.
Por um longo momento, continuei paralisada de medo, meus olhos
pregados na figura sinistra que acabara de desaparecer na noite escura.
Minha mente estava em tumulto, mas finalmente consegui reunir
forças para me mover.
Corri até a entrada dos fundos da casa de Elizabeth, meu coração
martelando dentro do peito como um tambor funesto. Ao me aproximar do
pequeno portão, uma cena aterradora me atingiu em cheio.
Lá, sobre o gramado do quintal, perto da piscina, Elizabeth estava
caída, com seu corpo retorcido em agonia, uma aura de sofrimento
emanando dela.
O que vi a seguir me fez gelar até o âmago da minha alma. Uma
faca estava cravada em seu peito, apenas o cabo visível, o sangue
escorrendo como uma cascata macabra, tingindo a grama de vermelho.
Seus olhos ainda estavam abertos, mas o brilho da vida se esvaía
aos poucos, dando lugar ao horror da morte iminente.
Meu coração se partiu em mil pedaços e um grito de pânico saltou
da minha garganta. Era uma cena terrível, um pesadelo real.
Quem poderia ser capaz de tamanho horror?
O portão estava trancado, então não tive escolha a não ser pular a
cerca, ignorando a dor aguda nas palmas das mãos enquanto aterrissava
do outro lado.
Ajoelhei-me ao lado de Elizabeth, minha mente girando com uma
mistura de terror e aflição.
Meus dedos tremiam quando toquei o celular no meu bolso e
disquei freneticamente o número da emergência, fornecendo nossa
localização com uma voz trêmula.
Enquanto esperava, os olhos de Elizabeth encontraram os meus, e
seus lábios se moveram, tentando formar palavras.
A angústia em sua expressão era palpável, mas apenas gemidos e
um fio de sangue escaparam de sua boca.
Eu podia sentir a urgência em suas tentativas desesperadas de
comunicar algo crucial.
— Você vai ficar bem. Já pedi ajuda. — Eu disse, tentando manter
a voz firme, mas a tremulação denunciava meu desespero.
Eu segurava a mão dela, sentindo seu calor se esvaindo a cada
segundo que passava.
Após várias tentativas, Elizabeth balbuciou com grande esforço.
Três palavras emergiram da sua boca, junto com jatos de sangue que
maculavam seus lábios pálidos:
— Proteja... sua... filha...
Em seguida, seus olhos se fecharam lentamente, e sua mão se
afrouxou em torno da minha. A vida se esvaía dela, enquanto o desespero
se apoderava de mim.
Não! Não podia ser verdade. Aquilo não podia estar acontecendo.
Era um pesadelo surreal, uma realidade distorcida que eu ansiava acordar
e escapar.
Mas, cruelmente, eu não acordei. Elizabeth estava morta,
assassinada, o mundo ao meu redor desmoronava em caos e escuridão.
A sirene da ambulância uivou aproximando-se depressa. Meu olhar
desesperado se alternava entre o rosto pálido de Elizabeth e a porta da
frente da casa, onde as luzes vermelhas e brancas piscavam.
Quando a equipe médica finalmente chegou, os paramédicos se
aproximaram com uma urgência controlada, mas o choque nos olhos
deles quando viram o estado de Elizabeth era evidente.
Um deles tentou fazer alguma coisa, mas depois de alguns
momentos sombrios, balançou a cabeça para o colega.
Era inútil. Elizabeth estava morta. O mundo desabou ao meu redor
enquanto eu a observava impotente, lutando contra as lágrimas que
ameaçavam inundar meus olhos.
— Não toque no corpo, por favor. — disse um dos paramédicos
com voz suave, mas firme. — A polícia está vindo.
Eu balancei a cabeça em silencioso consentimento, minha mão
trêmula deixando de tocar a pele fria de Elizabeth.
O desespero e a impotência me engolfaram enquanto eu assistia a
cena sinistra se desenrolar diante dos meus olhos.
CAPÍTULO 20

Eu não tinha noção do tempo que havia se passado. Estava


sentada em um dos bancos do quintal, observando o corpo de Elizabeth
ser levado, cuidadosamente embrulhado em um saco preto.
Várias pessoas circulavam pelo jardim, entre eles paramédicos e
policiais.
Foi nesse momento que Thomas, o recém-nomeado chefe de
polícia, se aproximou e sentou-se ao meu lado. Seu rosto sério e decidido
contrastava com a cena de horror que se desenrolava diante de nós.
— Lamento profundamente. Sei o quanto você e Elizabeth eram
próximas. — expressou Thomas.
Com pouco mais de vinte anos, ele havia assumido recentemente o
posto de chefe de polícia, enfrentando essa responsabilidade após uma
tragédia que abalou sua família. A mãe dele havia cometido suicídio, o
que levou seu pai, o antigo chefe, a uma depressão profunda, que o
forçou a renunciar ao cargo.
— Você tem alguma ideia de quem possa ter feito isso? Poderia ter
sido um assalto? — perguntei, com a voz trêmula.
— Acredito que não tenha sido um assalto. Até o momento, meus
agentes não encontraram nada fora do lugar na casa. Até mesmo as joias
dela, de grande valor, permanecem intactas. Quem quer que tenha
cometido esse ato veio aqui com a intenção de tirar a vida dela.
— Meu Deus! — murmurei, horrorizada.
— Você viu alguma coisa estranha antes de encontrá-la? Alguma
pessoa suspeita ou algo fora do comum?
Lágrimas encheram meus olhos enquanto eu tentava explicar a
situação, minha voz trêmula e fraca.
— Sim, havia um homem... Eu o vi pulando a cerca do quintal
minutos antes de encontrá-la assim.
Thomas assentiu e tomou algumas notas. Ele parecia considerar
minhas palavras com seriedade.
— Você pode descrever esse homem? O que ele estava vestindo?
Alguma coisa que possa nos ajudar a identificá-lo?
Eu fiz o meu melhor para relembrar os detalhes. Descrevi o homem
alto, seu casaco de moletom preto e o capuz que escondia seu rosto,
além da máscara que ele usava, que me impedia de reconhecê-lo. Cada
detalhe, por mais vago que fosse, parecia vital naquele momento.
Thomas franziu a testa, ponderando minhas palavras.
— Isso é de suma importância. Vamos fazer o nosso melhor para
encontrar esse sujeito. E vou precisar que você nos ajude no que puder
durante a investigação.
Meu coração ainda estava pesado de dor, mas a determinação
cresceu em mim. Elizabeth merecia justiça, e eu faria o possível para
ajudar a polícia a encontrar o responsável por sua morte.
— Farei o que for necessário. — sussurrei.
— Você conhece um indivíduo chamado Dashiel Whitman?
Meu coração deu um salto no peito, cada fibra do meu ser
enrijecendo de tensão.
— Já o vi de longe algumas vezes. Por que pergunta?
— Elizabeth esteve na delegacia algumas semanas atrás, abrindo
uma queixa contra ele por ameaças. Disse que ele a estava pressionando
a não ajudar a esposa dele, a quem aconselhava a deixá-lo. Você sabia
disso?
As palavras de Thomas atingiram-me como um soco no estômago,
e uma onda de medo percorreu meu corpo, fazendo-me tremer.
Imediatamente, lembrei-me das últimas palavras de Elizabeth,
pedindo que eu protegesse minha filha.
Meu Deus! Se Dashiel realmente a tivesse matado por um motivo
tão banal, eu nem queria imaginar o que ele faria se descobrisse que eu
estava escondendo sua filha.
Eu precisava manter esse assassino longe da minha menina.
— Vi a esposa dele na casa de Elizabeth algumas vezes,
reclamando de maus-tratos. — respondi, minha mente nublada pelo
medo.
“Meu Deus, como pude me envolver com alguém tão perigoso?”
— Você acredita que o homem que viu pulando a cerca
corresponde à descrição física dele?
Refleti por um momento, repassando a cena na minha cabeça,
tentando recordar os detalhes.
— Estava escuro, e eu estava longe, mas poderia ser ele, sim. A
altura e o porte atlético batem. — Minhas próprias palavras me
arrepiaram.
— Isso deve ser o suficiente para pedir um mandado de prisão
contra ele.
— É importante que ele seja preso, já que sabe que eu o vi na cena
do crime. Agora preciso voltar para casa. Minha mãe deve estar
preocupada nesse momento.
Ansiosa, levantei-me, e Thomas fez o mesmo, colocando-se diante
de mim.
— Vou providenciar para que um dos policiais a leve de volta. —
Ele hesitou por um momento. — Tentaremos prender Whitman ainda hoje,
mas, caso não consigamos, evite sair de casa, pois você é a única
testemunha deste crime, e ele sabe disso.
Um calafrio percorreu minha espinha.
— Está bem. Obrigada.
Uma viatura me levou e em questão de minutos, eu estava em
casa. Relatei à minha mãe o que havia acontecido e nenhuma de nós
conseguiu dormir durante aquela noite, tomadas pelo medo e apreensão.
Ser a única testemunha de um crime tão brutal não era a única
preocupação que me assombrava. Dashiel havia me presenteado com
uma BMW, e logo a polícia descobriria minha ligação com ele. Thomas
saberia que eu menti sobre não conhece-lo, o que poderia trazer
complicações.
No entanto, isso era o menor dos meus problemas. Por enquanto,
precisava proteger a mim, minha mãe e, acima de tudo, minha filha
daquele monstro.
Era evidente que Dashiel era o assassino de Elizabeth, como ela
sugerira com suas palavras finais. Se ele descobrisse que tinha uma filha,
com certeza faria de tudo para tirá-la de mim, o que parecia pior do que a
própria morte.
Minha mãe e eu só conseguimos relaxar pouco antes do
amanhecer, quando soubemos que Dashiel havia sido preso, e estávamos
livres da ameaça que ele representava.
Os acontecimentos dos dias seguintes se desenrolaram diante de
mim como um triste filme que eu assistia.
Como Elizabeth não tinha família, fiquei responsável por todos os
preparativos do sepultamento dela, desde o velório até o enterro, que
ocorreu em uma fria tarde de domingo.
Não fiquei surpresa ao avistar Amélia entre os presentes, vestida
de luto e claramente abalada.
O que verdadeiramente me chocou foi encontrar o enteado dela no
funeral, filho do seu falecido marido, a quem Elizabeth ajudara a criar.
Eles não eram tão próximos quanto deveriam, eu tinha consciência
disso, dado que ele raramente a visitava em Georgetown após a morte de
seu pai.
Mesmo assim, tomei a iniciativa de telefonar para ele e informá-lo
sobre o falecimento dela, sem muitas expectativas de que ele
comparecesse.
Seu nome era Ethan, um homem de aproximadamente trinta anos,
que costumava exibir um lado extrovertido e brincalhão nas escassas
ocasiões em que o encontrei na casa de Elizabeth.
No entanto, durante o sepultamento, ele se mostrava fechado e
profundamente entristecido, o que era compreensível, considerando o
papel que ela desempenhara em sua vida, assemelhando-se a uma mãe
para ele.
Após o funeral, Ethan veio até mim, e tivemos uma conversa
prolongada sobre o que havia acontecido.
Ele permanecia a mesma pessoa amável que eu conhecia, embora
estivesse visivelmente abalado. Me disse que planejava passar alguns
dias em Georgetown cuidando dos bens de Elizabeth.
Dado que ele não tinha irmãos, sendo o mais próximo que ela tinha
de um parente, agora ele assumiria a responsabilidade por todos os
negócios dela.
Dias depois, ele voltou a me procurar, junto com um advogado,
informando que minha falecida amiga fizera um testamento, deixando a
livraria para mim, sem que eu precisasse pagar por ela.
Apesar da gratidão, a tristeza que enchia meu peito era tão
esmagadora que eu sequer conseguia comemorar o presente.
Não consegui abrir a livraria nos dias seguintes, pois tudo nela me
lembrava de Elizabeth.
Na cidade, o assassinato brutal e a prisão de Dashiel eram o
principal tópico de discussão. A população estava em choque, pois
Georgetown costumava ser uma comunidade pacata, raramente marcada
por eventos tão terríveis. A vida ali nunca mais seria a mesma após
aquela tragédia.
Com o passar das semanas, o burburinho diminuiu, e a tristeza foi
amenizando. Pouco a pouco, começamos a retomar nossas vidas e reabri
a livraria, voltando a trabalhar, mas sempre olhava por cima do ombro,
assustada, a caminho e de volta do trabalho.
A sensação de que Dashiel poderia vir atrás de mim a qualquer
momento para eliminar a única testemunha de seu crime brutal era
constante.
Apesar de ele continuar preso, eu não confiava no sistema
prisional.
CAPÍTULO 21

Duas semanas haviam se passado desde o assassinato de


Elizabeth. Era uma fria manhã de terça-feira, eu me encontrava na livraria,
junto com Savana.
Agora que eu era minha própria chefe, podia trazê-la para o
trabalho todos os dias, porém, fazia isso apenas no período da manhã,
deixando-a com minha mãe durante a tarde, para que descansasse.
Já que os lucros da livraria eram suficientes para cobrir todas as
despesas da casa, minha mãe abandonara seu trabalho de arrumadeira e
se dedicava quase exclusivamente a cuidar da nossa casa e de Savana.
Nas horas vagas, ela confeccionava tapetes e outros itens de
crochês, com os quais conseguia arrecadar um dinheirinho.
Se aproximava do horário do almoço e o movimento de clientes
havia acabado na parte da manhã. Eu estava sozinha com minha filha,
que brincava dentro do cercadinho, sobre um tapete de EVA repleto de
brinquedos espalhados, quando o barulho do sininho da porta se abrindo
encheu o ambiente e me animei, acreditando que se tratava de um cliente
chegando.
Contudo, não era um cliente, era Dashiel.
Fui invadida pelo mais profundo horror ao vê-lo entrando no
estabelecimento, mil possibilidades terríveis passando pela minha cabeça,
sendo a principal delas a certeza de que ele viera até aqui para eliminar a
única testemunha do seu crime e, o que era pior: levar minha filha com
ele.
Movida pelo pânico intenso, corri até Savana, peguei-a no colo e
corri rumo aos fundos, visando escapar pela porta de trás.
Mas Dashiel era muito mais rápido e logo estava à minha frente,
atalhando o meu caminho, impedindo-me de passar.
— Não precisa ter medo de mim. Não vim aqui para te fazer mal. —
disse ele, sua voz soando como as trombetas dos anjos do céu
anunciando minha morte.
— Por favor, não faça nada comigo. Eu disse à polícia que não
reconheci o homem que vi pulando a cerca da casa de Elizabeth. Eu não
disse que era você. Eu juro. — supliquei, agarrada a Savana, com meu
coração martelando de medo.
— E não era eu mesmo. Eu não matei Elizabeth. Preciso que você
acredite em mim.
— Se você me matar vai ser pior, pois logo vão suspeitar de você.
— Será que você não está me ouvindo? Eu não matei sua amiga,
Willow! Acredite no que estou dizendo!
— Como você chegou aqui? Como conseguiu fugir da prisão?
— Eu não fugi. Paguei uma fiança e vou aguardar o julgamento em
liberdade. — Ele fixou seu olhar feroz em Savana — E essa coisinha
linda, quem é?
Engoli em seco, o coração a ponto de sair pela boca.
— É filha da minha irmã. Estou cuidando dela esses dias. Por favor,
nos deixe ir. Nós não fizemos nada.
— Eu não sabia que você tem uma irmã. — Ele fixou seus olhos no
rostinho de Savana, claramente desconfiado e por pouco não amaldiçoei
o fato de minha filha ser tão parecida com ele — Onde ela mora?
— Em Colúmbia. Por favor, me deixe sair. Eu juro que não vou
contar a ninguém que você esteve aqui.
— Por favor, se acalme, eu já disse que não vou te fazer mal
algum.
— Então o que você quer?
— Preciso da sua ajuda, para provar minha inocência.
— Eu vou dizer à polícia que aquele homem não era você. Está
bem assim?
— Não se trata disso. Você tem acesso à casa e à senha do
computador de Elizabeth, pode me ajudar a investigar e encontrar pistas
do verdadeiro assassino.
— Eu ajudo. Faço qualquer coisa. Por favor, apenas me deixe ir
embora.
— Mas que merda! Você não está me ouvindo. Só está com medo
de mim. Eu não matei Elizabeth, porra! E você pode me ajudar a provar
isso. — vociferou ele, tão alto e ríspido que Savana se assustou e
começou a chorar. — Me desculpe. Eu não queria assustá-la. —
completou, com tom de voz mais brando.
— Mas assustou. Por favor, vá embora daqui.
— Só vou quando você disser que acredita em mim. Eu preciso que
você acredite. Eu seria incapaz de matar alguém.
— Eu acredito. Agora me deixe em paz, pelo amor de Deus. — Eu
diria qualquer coisa para que ele fosse embora, ou me deixasse sair.
Dashiel revirou os olhos, soltando um suspiro abafado.
— O que eu preciso fazer para que você entenda que sou
inocente? Eu não a matei. Acredite!
— Se não foi você, então quem foi? Elizabeth não tinha inimigos.
Todos a adoravam.
— É o que eu preciso que você me ajude a descobrir. Acho que
estão armando para cima de mim. Eu jamais a ameacei. Alguém inventou
isso.
— Se quer mesmo descobrir alguma coisa, contrate um detetive
particular. Ele descobrirá tudo.
— Eu não tenho dinheiro. Todos os meus bens e contas bancárias
foram bloqueadas pela polícia. — Ele deu um passo à frente, colocando-
se perto demais, seus olhos azuis, claros como duas piscinas, fixando os
meus — Eu só tenho você. Você é a única que pode me ajudar nesse
momento. Se não acreditar em mim, um inocente vai passar o resto da
vida na cadeia.
Por uma breve fração de segundo, eu hesitei, cogitando acreditar
no que ele dizia. Seu olhar parecia tão sincero, seu desespero tão
genuíno, que até mesmo Savana pareceu perceber alguma coisa e
rapidamente parou de chorar, observando o rosto dele com curiosidade e
esticando o beicinho para fazer charme.
Esse era o poder que Dashiel exercia sobre nós, mulheres, de puro
encantamento e deslumbramento, nos deixando cegas e impossibilitadas
de duvidar de suas palavras.
Ele continuava lindo como eu me lembrava, com os cabelos
aloirados espetados para cima, a sombra da barba marcando o maxilar
forte, as tatuagens visíveis em seus braços e pescoço.
No entanto, logo voltei a mim, ouvindo a voz da razão. Ele era um
homem agressivo e perigoso, sempre foi e sempre seria. Eu tivera provas
disso. Vira o olho roxo da mulher dele.
Além do mais, ninguém mais teria motivos para assassinar
Elizabeth.
— Não posso ajudar. — declarei.
— Você pode, mas não quer. Não acredita em mim, não é?
— Ninguém mais teria motivos para matar Elizabeth.
— E os maridos das outras mulheres a quem ela prestava
assistência?
— A maioria é daqui. Homens covardes, mas inofensivos.
— Eu também sou daqui, mas ninguém consegue esquecer o meu
passado, não é mesmo? Não importa quanto tempo passe, não importa o
quanto eu prove que mudei, sempre serei julgado pelas ações da
adolescência. Isso é puro preconceito!
— Eu só quero que você saia daqui e não me procure mais.
— Como eu disse, você não precisa ter medo de mim. Não sou
esse monstro que as pessoas estão pintando. Alguém está armando para
cima de mim.
— Eu vi sua esposa com o olho roxo.
— Como eu já te expliquei, aquilo foi um acidente. Eu jamais a
agredi propositalmente. Eu jamais machucaria uma mulher.
Nesse instante, o sininho da porta ressoou pelo estabelecimento,
anunciando a entrada de alguém. Era Samuel, um adolescente da cidade
que sempre aparecia para comprar mangás.
Ao perceber a presença de Dashiel, ele ficou paralisado na frente
da porta, seus olhos escuros arregalados de pânico atrás das lentes
grossas de seus óculos, sua boca ligeiramente entreaberta.
Toda a população de Georgetown tinha pavor de Dashiel, devido ao
seu passado sombrio e principalmente aos acontecimentos recentes.
— Está tudo bem aqui? — indagou Samuel, sem desviar seu olhar
assustado do homem diante de mim.
— Por favor, chame a polícia. — falei, e os olhos de Dashiel
assumiram um assustador brilho de fúria, enquanto fixavam meu rosto.
— Não precisa. — anunciou ele, antes que Samuel tivesse tempo
de sacar seu celular — Eu já estava de saída. Mas essa história ainda não
acabou.
Dito isto, Dashiel deu-me as costas, passou por Samuel e saiu da
livraria.
Apenas depois que a porta se fechou às costas dele, consegui
voltar a respirar regularmente, sentando-me em uma poltrona com Savana
no colo, minhas pernas trêmulas como gelatina, meus nervos à flor da
pele, como se eu tivesse acabado de enfrentar uma árdua batalha.
— Ele fugiu da cadeia? — indagou Samuel, avançando pelo
recinto, ansioso para saber das fofocas.
— Não. Parece que foi solto sob fiança.
— Caralho! Se ele ficar em Georgetown, ninguém mais vai
conseguir dormir à noite nessa cidade! O que ele queria com você?
— Minha ajuda para provar sua inocência. Mas ele não é inocente.
Não há nada para provar.
— Acho melhor você ligar para o Thomas e pedir uma ordem de
afastamento. Nunca se sabe o que esperar desse tipo de gente.
Eu não podia acreditar que estava mesmo seguindo o conselho de
um adolescente que lia mangás, mas foi exatamente o que fiz.
Peguei o celular e telefonei para o chefe de polícia, contando o que
acabara de acontecer e solicitando a tal ordem de afastamento.
Thomas me garantiu que entraria com esse processo e que Dashiel
voltaria direto para a prisão se me procurasse de novo.
CAPÍTULO 22

Após fechar a livraria no horário do almoço, não consegui voltar ao


trabalho na tarde seguinte.
Sentia-me inquieta, assustada, temerosa de sair de casa e me
deparar com Dashiel novamente.
Cheguei a ponderar a ideia de deixar a cidade, acreditando que
essa era a única forma de me proteger caso ele tentasse me prejudicar.
A confiança na polícia era mínima, e uma ordem de afastamento
provavelmente não deteria alguém tão perigoso quanto Dashiel.
Entretanto, não estava disposta a transformar minha vida por
completo, abandonando a cidade onde nasci e cresci, por causa de um
assassino. Precisava confrontar meus medos.
À noite, quando minha mãe foi para seu quarto e Savana dormiu
em seu berço ao lado da minha cama, deitei-me, mas a agitação de
pensamentos sombrios perturbava minha mente, o medo ainda me
assombrando.
Cada vez que fechava os olhos, a imagem do olhar desesperado
de Dashiel, pedindo ajuda e alegando estar sendo incriminado, se
projetava claramente em minha mente.
E se ele fosse realmente inocente? E se as alegações de
conspiração contra ele fossem verídicas? Mas quem teria coragem de
armar contra um homem tão poderoso e perigoso?
Subitamente, me lembrei do comportamento de Amélia durante o
show de encerramento do verão, aparentando estar estranhamente feliz
nos braços de Dashiel, apesar das alegações de agressão.
Essa lembrança fez a dúvida se firmar mais profundamente em
meu coração.
E se fosse Amélia a arquitetar uma conspiração contra ele? Mas
por que ela faria isso, se demonstrava amá-lo tão intensamente?
Por outro lado, reconheci que esses pensamentos poderiam ser
influenciados pelo desejo de Dashiel ser inocente, um desejo avivado pela
atração irresistível que ele ainda exercia sobre mim, apesar de tudo.
Não podia negar a chama que ardeu dentro de mim quando o vi na
livraria, uma chama ofuscada pelo medo intenso.
Por precaução, seria mais sensato continuar confiando na narrativa
respaldada pelas evidências e afastar qualquer dúvida que pudesse
surgir.
Afinal, eu tinha uma filha, e a principal prioridade era protegê-la,
como Elizabeth havia mencionado antes de morrer.
Permitir que minhas dúvidas me levassem a acreditar em Dashiel
representaria um risco significativo para sua segurança.
Superando todos os pensamentos relacionados àquele homem,
finalmente consegui adormecer.
No dia seguinte, fui trabalhar com a constante sensação de estar
sendo observada, e assim passei todo o dia, cheia de receios e
apreensões.
Era difícil entender porque a polícia havia permitido que Dashiel
permanecesse em liberdade, considerando o perigo que ele
representava.
Se ao menos Sarah estivesse aqui para me fazer companhia, eu
me sentiria mais segura.
Entretanto, ela estava ocupada trabalhando como caixa em um
supermercado e passava a maior parte do dia nessa atividade.
Naquela noite, mais uma vez tive dificuldades para pegar no sono,
meu pensamento estava tumultuado e o medo continuava a me corroer
até os ossos.
A noite estava fria e chuvosa, como vinha sendo ultimamente. Não
tinha ideia de que horas eram quando acordei com um barulho vindo da
janela e saltei assustada da cama, correndo até o berço de Savana.
Minha filha dormia profundamente, parecendo um anjinho
espalhado entre os lençóis rendados, com sua chupeta na boca.
Ao contemplá-la, senti uma onda de calma que me fez retornar
para a cama, ciente de que tivera mais um pesadelo provocado pelo medo
que me assombrava.
No momento em que me deitei, ouvi o som na janela novamente,
como se alguém tentasse abri-la do lado de fora. Dessa vez, não havia
dúvidas de que era real. Alguém estava tentando invadir meu quarto.
Meu Deus!
Não tive tempo de reagir antes que a janela fosse bruscamente
aberta do lado de fora, e Dashiel pulasse para dentro do quarto.
Ao perceber o terror em meu rosto, ele correu até mim, envolvendo-
me com um braço e silenciando minha boca com a outra mão, sufocando
o grito que se formava em minha garganta.
— Não grite, isso assustaria sua mãe e o bebê. — sussurrou ele,
em meu ouvido.
Meu coração martelava devido à adrenalina que percorria meu
corpo, eu tremia incontrolavelmente de medo.
Tudo o que conseguia pensar era em como escapar dali com minha
filha e o que aquele homem poderia fazer a ela.
“Deus, por favor, não permita que ele a machuque.”
— Se eu soltar sua boca, você promete que não vai gritar? —
indagou Dashiel, e eu assenti.
Ele retirou lentamente sua mão da minha boca, mas posicionou-se
entre mim e o berço, provavelmente sabendo que eu não tentaria escapar
sem Savana.
Dashiel estava todo molhado, seus cabelos encharcados, com seu
sobretudo preto pingando da água da chuva, e seus lábios roxos pelo frio.
— O que você quer? — perguntei, o pânico me dominando.
— Eu preciso que você me escute e acredite quando digo que sou
inocente.
— Por que invadiu meu quarto em vez de conversar comigo em
outro lugar?
— Porque você emitiu uma ordem de restrição contra mim, e eu
não posso me arriscar a ser preso novamente. Preciso provar minha
inocência.
— Você espera que eu acredite em você agora, depois de tudo o
que aconteceu? Depois de tudo o que vi e ouvi sobre você? — Eu estava
furiosa, mas também temerosa pela segurança da minha filha.
Dashiel parecia determinado e desesperado ao mesmo tempo. Ele
olhou para Savana no berço e, em seguida, para mim.
— Eu sei que parece insano, mas eu não sou o assassino que
todos pensam. Alguém está tentando me incriminar e preciso da sua ajuda
para provar minha inocência. Eu juro pela minha vida que não fiz nada do
que estão me acusando. — Ele olhou nos meus olhos, tentando transmitir
sinceridade, seu rosto carregado de angústia.
Eu estava paralisada de medo, mas uma pequena parte de mim,
ainda influenciada pelo desejo e pelas dúvidas que surgiram na noite
anterior, começou a considerar a possibilidade de que ele pudesse estar
dizendo a verdade. Afinal, ele era um homem poderoso, alguém que
parecia ter muitos inimigos.
Minha mente estava confusa, mas eu precisava tomar uma
decisão. Olhei para o berço e para minha filha, que ainda dormia, alheia
ao perigo em nosso quarto.
— Se você tentar qualquer coisa contra ela, eu juro que vou gritar e
chamar a polícia imediatamente. — Minha voz estava firme, mas trêmula.
Dashiel assentiu com a cabeça, concordando com minhas
condições, parecendo aliviado por eu estar disposta a ouvi-lo.
— Preciso que você me ajude a encontrar provas de que estou
sendo injustamente incriminado. O chefe de polícia disse que Elizabeth
abriu uma queixa contra mim, alegando que eu a ameaçava, mas isso
nunca aconteceu, eu nunca a ameacei. Acredito que ela estava por trás
de toda essa armação. Se pudermos acessar o computador dela, talvez
verificar as conversas telefônicas ou encontrar um diário, poderemos
descobrir a verdade.
Eu certamente estava ficando louca, mas quanto mais ele falava,
mais suas palavras pareciam fazer sentido. No fundo do meu coração,
comecei a sentir que ele era inocente.
No entanto, esse sentimento podia facilmente ser uma ilusão
gerada pelo desejo insano que ainda ardia dentro de mim toda vez que
olhava para aquele homem.
— Tudo bem. Eu vou te ajudar. — Eu não podia acreditar que
estava mesmo dizendo aquilo. — Vou te dar uma semana. Tenho as
chaves da casa de Elizabeth e sei a senha do computador dela. Mas você
terá que me prometer que, se não encontrarmos nada que prove sua
suposta inocência, vai me deixar em paz e nunca mais me procurar.
— Muito obrigado por acreditar em mim. Ninguém mais o fez.
— E quem pode culpá-los? — Ele me olhou sombriamente e engoli
em seco — Na verdade, ainda não tenho cem por cento de certeza se
acredito, mas vou te dar esse voto de confiança. Espero não me
arrepender depois.
— Acredite. Eu sou inocente, e vamos provar.
— Assim espero.
Olhei para minha filha adormecida em seu berço e senti um aperto
no coração. E se eu estivesse colocando a vida dela em risco por causa
de um homem?
“Meu Deus! Não permita que eu me arrependa.”
— Você vai ver. — emendou ele.
— Agora me prometa que não fará nada comigo e nem com
Savana, caso não consigamos encontrar essas provas.
— Eu jamais faria mal a você. E presumo que Savana seja sua
sobrinha. — Ele se virou para o berço, seus olhos se fixando no bebê
adormecido, enquanto meu coração parecia parar de bater. — Ela é tão
linda. Se parece com você. Por que você nunca me disse que tinha uma
irmã?
— Porque não tivemos tempo de nos conhecer direito. Ela é filha
do meu pai com outra mulher, que se tornou mãe solteira e não tinha
condições de ficar com a filha. Minha mãe e eu estamos cuidando dela. —
As mentiras fluíam de minha boca com espantosa facilidade.
— Eu sempre quis ter um filho, mas não tive essa sorte. — Puta
merda! — Amélia chegou a engravidar, mas perdeu a criança nos últimos
meses de gestação.
— Sinto muito.
— Tudo bem. Estamos separados agora. Podemos continuar
tentando ter filhos com outras pessoas.
Ele se virou para mim, e quando nossos olhares se encontraram, o
silêncio tomou conta do quarto, tão denso que eu quase podia ouvir o
batimento do meu coração.
— Espero que vocês consigam. — comentei, desviando o olhar —
Agora acho melhor você ir.
— A que horas iremos à casa de Elizabeth amanhã?
— Depois do almoço. Deixarei Savana com minha mãe e fecharei a
livraria. Encontre-me lá para que não nos vejam juntos na cidade.
— Estarei lá pontualmente ao meio-dia.
Ele se aproximou da janela, com os lábios ainda arroxeados pelo
frio causado por suas roupas molhadas.
— Espere um momento. — Fui até o armário e peguei um grosso
cobertor — Troque seu sobretudo por isto. Ele irá te aquecer até você
chegar em casa.
Dashiel me fitou intensamente, revelando uma mistura de surpresa,
gratidão e afeição em seu olhar.
Quando pegou o cobertor que eu lhe ofereci, puxou-me para um
abraço inesperado. Seus braços fortes me envolveram e ele me aninhou
de encontro ao seu sobretudo molhado.
Mesmo através do tecido grosso e encharcado de suas roupas, o
calor de seu corpo me envolveu, e fui inundada por uma explosão de
emoções indescritíveis, que faziam meu coração bater mais rápido.
— Muito obrigado. — sussurrou ele. — Fazia muito tempo que
alguém não era gentil comigo.
Uma torrente de lágrimas marejou os meus olhos e precisei piscar
várias vezes para conseguir contê-las.
Incapaz de resistir ao turbilhão de sentimentos que me dominava,
fechei os olhos e descansei a cabeça em seu peito, sentindo-me
reconfortada, atraída, enfeitiçada.
Meu Deus! Que tipo de influência era essa que Dashiel conseguia
exercer sobre mim? Eu não conseguia entender.
— Tudo bem. Agora vá. — Soltei-me do abraço.
Dashiel trocou seu sobretudo encharcado pelo cobertor e partiu
pela mesma janela por onde havia entrado, desaparecendo na escuridão
da noite chuvosa.
Dei mais uma olhada em Savana, admirando a serenidade de seu
sono, tranquei a janela e voltei para a cama com o peito aquecido, quase
convicta de que tomara a decisão correta ao concordar em ajudar Dashiel,
mesmo que as dúvidas e o medo intenso ainda persistissem.
CAPÍTULO 23

— Será que você ficou maluca?! Esse cara é um assassino e pode


acabar com você e sua filha a qualquer momento! — Sarah praticamente
gritou, do outro lado da linha, chocada e preocupada.
Era início da manhã, eu estava na livraria com Savana e ligara para
ela para contar sobre a invasão de Dashiel ao meu quarto, na noite
passada, e minha decisão de ajudá-lo a provar sua inocência.
— Lembre-se de que você não pode contar isso para ninguém. Fica
só entre nós. — alertei.
— Não vou contar porque sou sua amiga e você está me pedindo,
mas é loucura deixar esse cara se aproximar de você. Está na cara que
ele matou Elizabeth. Só você mesmo não quer enxergar.
— Eu também pensava assim. Mas algo nele me diz que talvez ele
seja inocente e esteja sendo vítima de uma armação.
— Esse algo tem nome e se chama tesão. Você tem tesão nesse
cara e está cega com isto, sem enxergar um palmo à frente do seu nariz.
Está igual àqueles homens babacas, que se encantam por um rabo de
saia e vendem até as cuecas para bancá-las, mesmo cientes de que
estão sendo usados.
— Aí, credo! Também não precisa pegar tão pesado! Eu só estou
dando a ele a chance da dúvida.
— O que você está fazendo é colocando seu pescoço e o de
Savana na guilhotina. Esse cara é um animal. Dizem coisas terríveis sobre
ele.
— Aí é que está o problema. As pessoas falam o que querem, sem
ter certeza de nada.
— Dizem que ele espancou a esposa até fazê-la perder o filho. Não
tem como isso ser mentira. Uma mulher não faz um aborto espontâneo
depois do sexto mês de gravidez e a barriga dela já estava grande.
— Mas alguém viu ele batendo nela, ou só ouviram a história?
— Meu Pai do céu! Você está mesmo cega por esse homem!
— Eu sei que você está preocupada e eu também estou assustada,
mas algo dentro de mim me faz pensar que há mais nessa história do que
podemos ver. Além disso, eu tenho Savana para proteger, e se ele
realmente for culpado, tenho certeza de que ele não fará nada enquanto
estivermos investigando juntos. Precisamos encontrar provas, seja para
inocentá-lo ou incriminá-lo de uma vez por todas.
Sarah suspirou do outro lado da linha. Ela claramente não
concordava com a minha decisão, mas eu acreditava que era a única
maneira de me livrar desse medo constante e proteger a minha filha.
— Tudo bem, Willow. Eu prometo que não vou contar a ninguém,
mas você precisa ser cuidadosa. E eu vou estar sempre disponível para
ajudar no que for preciso, mesmo que ache tudo isso maluco.
— Obrigada. Significa muito para mim. Agora, preciso desligar. Tem
clientes chegando.
Desliguei o telefone e olhei para Savana, que brincava com um livro
de histórias infantis no chão.
Eu sabia que estava me arriscando ao dar uma chance a Dashiel,
mas eu não podia mais viver com medo. Era hora de enfrentar os meus
temores e descobrir a verdade, custasse o que custasse.
O dia passou lentamente na livraria, eu estava inquieta, pensando
no perigoso encontro que teria com Dashiel depois do almoço.
Às vezes, me pegava olhando para a porta da loja, meio que
esperando vê-lo entrar, embora soubesse que ele não arriscaria perder
sua liberdade, infligindo a ordem de afastamento, na frente de todo
mundo.
Quando finalmente chegou a hora de fechar a livraria para o
almoço, eu estava trêmula dos pés à cabeça, engolfada pelo medo.
Já não tinha mais certeza de que queria fazer aquilo e comecei a
achar que estava prestes a cometer um grande erro, me envolvendo com
um assassino.
No entanto, já havia prometido a Dashiel que o ajudaria, portanto,
não poderia recuar agora sem enfurecê-lo ainda mais.
Após o almoço em casa, deixei Savana com a minha mãe e saí,
sem dizer a ela para onde estava indo.
Depois de uma noite chuvosa, o sol finalmente brilhava forte no
céu. Fiz o percurso da minha casa até a mansão que pertencera a
Elizabeth quase sem perceber o caminho, o medo e a ansiedade
corroendo-me até os ossos.
A casa ainda estava intocada, exatamente como minha falecida
amiga a deixara. O enteado dela apenas havia retirado os objetos de
maior valor, como joias e roupas de grife, e colocado uma placa de venda
em frente.
Considerando a quantia exorbitante que estava pedindo por ela,
dificilmente seria vendida.
Introduzi a chave na fechadura da porta quando uma sombra negra
emergiu da lateral da casa, avançando pela ampla varanda, assustando-
me tanto que tive que conter um grito.
Era Dashiel. Estava todo vestido de preto, com o capuz do casaco
cobrindo sua cabeça, da mesma maneira que o homem que eu vira
pulando a cerca do quintal na noite em que Elizabeth fora assassinada.
Vê-lo daquele jeito quase me fez sair correndo e gritando por
socorro, mas me segurei.
— Por que está vestido assim? — perguntei.
Dashiel olhou ao redor, verificando a rua para se assegurar de que
ninguém nos observava.
— Não quero ser visto invadindo a casa da minha suposta vítima.
Diante da minha hesitação, ele fechou a mão ao redor da minha,
destrancou a porta e nos conduziu para dentro da casa, trancando-a
novamente por dentro.
Quanto mais eu o encarava, mais meu sangue gelava de medo. Eu
devia estar completamente insana por me encontrar sozinha com esse
homem na cena do suposto crime dele.
— Por que está me olhando assim? — ele perguntou. — Eu já
disse que não precisa ter medo de mim.
— O homem que vi pulando a cerca naquela noite... — hesitei
antes de continuar — Ele estava usando um casaco semelhante a esse,
com o capuz sobre a cabeça.
Dashiel ficou imóvel por um momento, observando-me
atentamente. Em seguida, tirou o casaco com uma rapidez surpreendente.
— Credo! Esse é o tipo de coisa que se avisa às pessoas.
— Eu achei que você tinha lido o depoimento que dei à polícia.
Por baixo do casaco, ele vestia uma camiseta de malha cinza, de
mangas curtas, e meus olhos foram imediatamente atraídos pelas
tatuagens que cobriam cada centímetro dos seus musculosos braços.
Era impossível olhar para aqueles braços fortes e não desejar ser
envolvida por eles.
A atração irresistível que aquele homem despertou em mim na
noite em que o conheci, na proa de seu veleiro, ainda estava presente,
tomando conta de todo o meu ser e causando uma agitação inevitável em
meu íntimo.
Comecei a me questionar se Sarah não estaria certa quando disse
que meus sentimentos por ele estavam me tornando cega, surda e burra.
— O seu amigo chefe de polícia não me deixou ler. — Dashiel
declarou, sua voz grossa me retirando do transe provocado pelas
tatuagens.
— Nossa! — exclamei, surpresa.
— Você ficaria chocada se soubesse como pessoas com o meu
passado são tratadas nesta cidade. Esse é o principal motivo pelo qual
estou sendo acusado de assassinato.
— E o que você fez no passado que leva tantas pessoas a julgá-lo?
— Nada de tão terrível. Cometi erros, não nego. Me envolvi com
drogas, tive um comportamento inadequado, mas eu era apenas um
adolescente estúpido. Mudei muito depois que tomei juízo.
— Entendo que as pessoas possam ter preconceito, o que é
péssimo para a sua imagem.
— É mais do que péssimo. As pessoas aqui passam o dia inteiro
falando de mim, mas não têm ideia de como é minha vida.
— E como é a sua vida?
— Definitivamente, não sou um assassino, como dizem. E
tampouco agredi minha mulher.
— Se você não a agrediu, como ela perdeu o bebê?
Dashiel ficou reflexivo por um momento antes de responder.
— Ela não estava aqui. Tinha ido para Dallas visitar a família.
Algumas semanas depois, ligou dizendo que havia perdido a criança.
— Que tragédia! Como isso aconteceu?
— Eu não sei. Ela disse que caiu do cavalo. A verdade é que ela
sempre teve dificuldade para engravidar, e talvez essa fragilidade tenha
contribuído para a morte do nosso filho. Eu estava pronto para ser pai, e
essa tragédia acabou comigo.
Sua voz tremeu ligeiramente ao pronunciar as últimas palavras, e
meu coração se apertou.
Se Dashiel fosse realmente inocente como alegava, o que era
improvável, ele tinha o direito de saber que era o pai de Savana.
A questão era se eu teria coragem de admitir que menti para ele
durante todo esse tempo.
— Sinto muito. — murmurei. — Foi por isso que vocês se
separaram?
— Como eu já te disse, nosso casamento estava ruim há muito
tempo. Depois dessa tragédia, as coisas só pioraram. Não tivemos
escolha senão nos separar.
— Mesmo que você esteja sendo acusado de assassinato, ela
ainda quer voltar?
— Ela sabe que sou inocente.
— E como ela pode ter tanta certeza?
— Ela me conhece bem.
Limpei a garganta antes de falar:
— Mas você a agredia, não tem como negar isso. Eu vi o olho dela
roxo em uma das vezes que procurou Elizabeth.
Dashiel suspirou profundamente, sua irritação transparecendo.
— Como já expliquei, foi um acidente.
— Não me culpe por não acreditar. Ela veio buscar ajuda para
superar a dependência emocional que tem por você.
Dashiel deu um sorriso amargo.
— Ela não queria ajuda. O que ela estava fazendo era chantagem
emocional, tentando me fazer sentir culpa pelo que aconteceu e evitar a
separação.
— E o que aconteceu?
— Eu estava treinando boxe em casa, e ela se aproximou por trás
de mim. Meu cotovelo acidentalmente acertou o rosto dela. Foi assim que
ela ficou com o olho roxo e decidiu usar isso para me fazer sentir remorso
por um longo tempo.
Ou a esposa de Dashiel era uma psicopata, ou ele era um
mentiroso patológico
— Se você não a agrediu, então por que ameaçou Elizabeth por
auxiliá-la?
Ele bufou, irritado.
— Eu nunca ameacei Elizabeth. Alguém inventou isso para me
incriminar e, se sua amiga foi até a polícia com essa mentira, era porque
estava por trás dessa armação.
— Claro. E ela também esfaqueou a si própria para incriminar você.
— Eu sei que é complexo e difícil de acreditar, mas deve haver uma
explicação lógica para tudo isso. E a verdade pode estar entre essas
paredes. Vamos procurar.
— Não vai ser fácil. Acho que o enteado dela pode ter levado o
computador. Mas vamos tentar.
— Ela tinha um escritório? Se sim, podemos começar por lá.
— Tinha. Vamos.
CAPÍTULO 24

Nós saímos da sala e entramos no escritório. Como todo o restante


da mansão, o cômodo era amplo e luxuosamente decorado, com móveis
caros, incluindo uma imponente mesa de madeira maciça e várias
estantes repletas de livros.
Tudo ali me fazia lembrar de Elizabeth, e a saudade apertou em
meu peito.
Quase podia visualizá-la sentada atrás de sua mesa, usando seus
óculos apenas quando precisava ler um livro ou documento.
Ela era uma mulher prática, ambiciosa e a mais bondosa que já
conheci. Sentia sua falta em minha vida.
— O computador dela não está aqui. — constatei com
desapontamento.
— Mas deve haver uma pista em algum lugar. — Dashiel
comentou. — Vamos procurar.
Concordei com um gesto de cabeça, e começamos a vasculhar
cada parte do cômodo, abrindo gavetas, folheando livros e verificando se
havia algum esconderijo atrás das obras de arte penduradas nas
paredes.
A poeira dançava na luz do sol que entrava pelas janelas do
escritório, criando um efeito mágico no ar.
Porém, não tínhamos tempo para admirar a beleza do lugar, pois
estávamos em uma missão.
Após um tempo procurando, encontramos um cofre de metal
escondido atrás de um dos quadros, mas não sabíamos a senha.
Era protegido por um sistema de combinação numérica. Dashiel e
eu tentamos várias combinações, como a data de aniversário de
Elizabeth, datas significativas em sua carreira, casamento e viuvez, mas
nada funcionou. O cofre permaneceu fechado.
— Maldição! Deve haver algo importante aí dentro. — Dashiel
murmurou, frustrado.
— Talvez possamos entrar com um pedido junto à polícia para que
especialistas o abram. — sugeri.
— Você acha mesmo que seu amigo Thomas vai me ajudar com
isso? — Dashiel perguntou retoricamente. — Ele não vai mexer um dedo
para me ajudar, pois minha prisão significa que ele fez seu trabalho e não
precisa mais continuar a investigação. Além disso, ele nunca gostou de
mim. Quando éramos adolescentes eu comi a garota que ele gostava, e
depois desse ocorrido ele não podia me ver fumando um baseado que ia
correndo contar para o pai dele. Vivia me infernizando.
— Mas é o trabalho dele. Ele pode ajudar.
— Ajudando ou não, ele vai receber o salário dele do mesmo jeito.
Você acha que ele vai se dar trabalho que considera desnecessário?
— Sinto muito. — respondi, compreendendo sua frustração.
— Vou dar um jeito nisso. Encontrarei alguém para abrir esse
bendito cofre, mesmo que tenha que recorrer a pessoas além dos
especialistas governamentais.
Dashiel parecia determinado, mas não ousei perguntar a que tipo
de pessoas ele se referia.
Deixamos o escritório e continuamos a explorar os outros cômodos
da mansão, cada vez mais ansiosos por encontrar qualquer evidência que
pudesse limpar o nome de Dashiel.
Nossos passos ecoavam pelos corredores luxuosos, destacando a
opulência do lugar com suas paredes cobertas de quadros de renomados
pintores e tapetes persas macios sob nossos pés.
Mesmo conhecendo bem a casa, senti como se estivesse
explorando-a pela primeira vez.
Após inspecionar a maior parte da residência, incluindo quartos, a
cozinha e até a academia, me deparei com a porta que levava ao porão.
Abri-a, mas a escuridão abaixo me deu um calafrio na espinha. Não
tive coragem de descer as escadas sozinha.
— Dashiel, você pode vir aqui? — chamei.
Dashiel estava na academia, mas veio até mim imediatamente.
— O que foi? — ele perguntou.
— Talvez o que estamos procurando esteja lá embaixo. Mas estou
com medo da escuridão. Você poderia verificar?
— Então, a garota que seguiu um suspeito de assassinato até a
cena do crime tem medo do escuro? — Dashiel provocou, um sorriso
cínico no rosto.
— Sim, tenho medo. E não tenho vergonha disso.
— Eu irei verificar.
Dashiel começou a descer as escadas, e não consegui ficar ali
parada, curiosa para saber o que tinha lá embaixo.
Eu nem mesmo sabia sobre a existência de um porão naquela
casa, queria saber o que Elizabeth guardava ali.
Então, o segui, mantendo-me muito perto dele, com medo da
escuridão na qual nos embrenhávamos.
Sem enxergar um só palmo à frente do meu nariz, acabei errando
um degrau e perdi o equilíbrio, o que me fez sair tombando escada
abaixo.
Teria me estatelado no chão, se Dashiel não tivesse me segurado,
interrompendo minha queda. Amparada em seus braços fortes, o tempo
pareceu parar. E não foi apenas para mim, pois nós dois permanecemos
imóveis, com nossos corpos colados ao do outro.
Eu não podia enxergá-lo, devido à escuridão, mas podia sentir o
calor do seu hálito mentolado acariciando minha face, indicando que seu
rosto se encontrava bem próximo ao meu.
Seu calor masculino atravessava a barreira das roupas,
alcançando-me, despertando-me o ardor escaldante da lascívia, me
fazendo perder o fôlego.
Minha mente me ordenava e me afastar dele, mas todo o resto me
mandava ficar em seus braços.
Até que senti a dureza da sua ereção apertando meu abdome e me
assustei, recordando-me de que me encontrava no porão escuro de uma
casa abandonada, nos braços de um suspeito de assassinato, que podia
facilmente ser o homem diabólico sobre quem toda a cidade falava.
Invadida pelo medo, me desvencilhei do seu abraço quase com um
pulo.
Dashiel esticou seu braço até o interruptor, e quando a luz se
acendeu, iluminando o amplo espaço à nossa volta, pude ver o brilho
luxurioso refletido na expressão do seu olhar, tornando-o tentador,
atraente a ponto de me fazer querer voltar para junto do seu corpo e
implorar que me jogasse naquele chão e me fizesse sua ali mesmo.
Dashiel puxou a barra da sua camiseta para baixo, jogando-a sobre
a calça e quando desci o olhar, vi o volume gigantesco da sua ereção
estufado na calça jeans.
A visão causou uma palpitação inesperada entre minhas pernas.
— Me desculpe por isso. — sussurrou Dashiel, ofegante,
desconcertado. — Ele estava se desculpando por ficar excitado e não
entendi porque isso me pareceu tão sexy. — É que você... é que quanto
te toco... — Ele parecia incapaz de completar as frases que formulava —
É que ainda me sinto muito atraído por você... embora esteja ciente de
que isso possa te incomodar... e também já faz muito tempo que... eu
passei vários dias na prisão e...
— Tudo bem. Você não precisa explicar nada. — Eu o interrompi —
Vamos ao que interessa.
— Claro.
CAPÍTULO 25

O porão se estendia, igualmente amplo como os demais cômodos


daquela casa, surpreendentemente limpo para um espaço destinado a
guardar antiguidades.
Caixas e baús alinhados em sequência lógica preenchiam o lugar,
junto a equipamentos de ginástica e diversos objetos antigos.
Se Elizabeth escondesse algum segredo naquela casa, ele, sem
dúvida, residiria ali.
Da mesma maneira que nos outros aposentos, reviramos tudo,
vasculhando caixas e baús, espalhando objetos variados pelo chão.
Entre os achados estavam álbuns de fotografias antigas, retratando
a feliz vida de Elizabeth ao lado do marido e do enteado, vestígios de um
passado guardado meticulosamente, incluindo um vestido de noiva de
design antiquado.
Tudo aquilo era profundamente nostálgico e aguçava a saudade
que eu sentia pela minha amiga.
Entretanto, nenhum indício conectava Elizabeth a Dashiel ou a
qualquer possível trama contra ele. A cada busca minuciosa, a convicção
de que Elizabeth era verdadeira se tornava mais evidente.
Se alguém, além de Dashiel, tivesse razões para atentar contra ela,
com certeza teríamos encontrado alguma pista ali.
— Este homem nas fotos com Elizabeth e seu marido, é filho dela?
— indagou Dashiel, examinando as imagens de Elizabeth ao lado do
falecido marido e do enteado.
Sentados no chão, exaustos da incansável procura por algo que
parecia inexistir, a melancolia de Dashiel pairava no ar.
Seu desânimo era palpável, e eu não podia ignorar a influência de
seu estado, mesmo com cada vez menos certeza de sua suposta
inocência.
— Ele é filho apenas do marido. Mas ela ajudou a criá-lo.
— Onde ele está agora?
— Ele mora em Columbia, mas está em Georgetown atualmente.
Veio para o funeral e está cuidando dos bens que ela deixou.
— Será que ele a matou? — Dashiel folheou as fotografias de
Elizabeth e sua família, buscando por algo específico, embora não
encontrasse — Não há fotos dele adulto aqui, mas é possível que tenha
se tornado um homem grande e forte como o que você viu pulando a
cerca. Ele é assim?
— Sim, é. Mas ele não teria motivos para matar Elizabeth, pelo
contrário. Ela foi a única mãe que ele conheceu. Apesar de terem se
afastado quando ela voltou para Georgetown, foi ela quem o criou.
— Aí pode estar a resposta. Talvez ele tenha ficado ressentido por
ela herdar uma parte considerável da herança do marido e voltou para
reaver o que acreditava ser dele.
— E por que ele esperaria tanto tempo para fazer isso? Já faz anos
desde a morte do pai dele.
Os ombros de Dashiel tombaram, seu semblante ainda mais
abatido. A vontade de confortá-lo, assegurando que, se fosse
verdadeiramente inocente, a verdade emergiria mais cedo ou mais tarde,
era forte. Contudo, eu não me atrevia a tocá-lo.
— Você está certa. Se ele quisesse vingança, teria agido antes.
— Além do mais, ele não precisaria do dinheiro dela, já que o pai
era bilionário e ambos dividiram a fortuna em partes iguais, ficando
igualmente ricos.
— Se existe alguma prova da minha inocência nessa casa, deve
estar naquele maldito cofre.
Dashiel soava genuinamente desesperado.
— Falarei com Thomas. Pedirei que arranje um especialista para
abri-lo.
— Não faça isso. Se Thomas estivesse realmente comprometido
com este caso, já teria aberto aquele trambolho. É mais fácil para ele me
prender e encerrar o assunto.
— O que faremos, então?
— Não faço ideia. — Dashiel abaixou a cabeça, visivelmente
consternado. Permaneceu imóvel por um instante, então voltou-se para
mim, um lampejo de esperança reluzindo em seu semblante. — Existe um
computador na livraria que Elizabeth acessava?
— Sim, há. É bem antigo, mas sempre esteve lá.
Inspirado por uma nova onda de entusiasmo, Dashiel se levantou.
— Talvez possamos encontrar algumas respostas lá.
— É verdade. Elizabeth costumava usá-lo quando visitava a livraria.
Inclusive, ficava no escritório dela antes de ir para o balcão de
atendimento. Ela pode ter deixado um e-mail aberto. Podemos verificar. —
Também me coloquei de pé.
— Preciso que você me permita acessá-lo. Você faria isso por
mim?
— Estou aqui, não estou?
Seu olhar transbordava gratidão e afeto. Eram detalhes sutis como
aquele olhar que me impediam de acreditar plenamente em sua culpa.
— Serei eternamente grato por isso. Agora vamos. Eu vou na
frente, dou uma volta na rua enquanto você tranca a casa e vai até a
livraria. Não a abra para o público e deixe a porta dos fundos destrancada
para que eu entre.
— Pode entrar pela frente. Ninguém vai ficar observando. Além
disso, Thomas não vai te prender por causa da restrição que abri.
Dashiel se aproximou, colocando-se diante de mim, encarando-me
com seriedade.
— Não se trata disso. Não tenho medo daquele idiota. Mas o
sujeito que matou Elizabeth está solto por aí e sabe que você o viu.
Enquanto estou sendo acusado, você estará segura. Mas se ele perceber
que estamos procurando a verdade, se souber que você não acredita que
era eu pulando aquela cerca, sua vida pode estar em perigo.
As palavras de Dashiel reverberaram em mim, um tremor de medo
percorrendo meu corpo. Ainda não havia me dado conta, mas Dashiel
estava correto. Se o assassino se sentisse acuado, certamente tentaria
eliminar a única testemunha de seu crime, ou seja, eu.
Amedrontada, cruzei os braços sobre o peito, tentando conter os
tremores.
— Meu Deus! — sussurrei, apavorada.
— Não precisa ter medo. Eu protejo você, nem que seja a troco da
minha liberdade. Te dou minha palavra.
Nós tínhamos passado toda a tarde empenhados naquela busca
que não deu em nada. Logo anoiteceria e minha mãe e Savana estavam
em casa sozinhas, desprotegidas.
E se o assassino entrasse lá à minha procura enquanto elas
estivessem sós?
Um estremecimento me varreu à medida em que eu previa o perigo
que rondava todas nós.
— Preciso ir para casa. Minha mãe e minha sobrinha estão
sozinhas. — falei, caminhando apressada para a saída do porão.
— Vamos até a livraria primeiro, inspecionar o computador. Depois
você vai para casa. — Dashiel me seguia de perto.
— Não. Fazemos isso amanhã. Preciso voltar para casa. Está
tarde.
Estávamos na metade da escadaria quando ele me segurou
bruscamente pelos dois braços, virando-me para si e fixando seu olhar
furioso em meu rosto.
Naquele instante tive quase certeza de que todas as acusações
que recaíam sobre ele eram verdadeiras.
Os olhos furiosos que fitavam meu rosto se pareciam mesmo com
os de um assassino, e pude visualizar claramente ele tirando minha vida
com facilidade naquele porão silencioso.
— Será que você não entende? Cada minuto é precioso. Eu
preciso provar minha inocência antes que seja condenado por um crime
que não cometi. — Seu tom de voz era ríspido, o que intensificava o medo
que me acometia.
— Por favor, não faça nada comigo. — murmurei.
Dashiel me soltou e deu um passo para trás com sua expressão
atônita, como se tivesse acabado de receber um soco no estômago.
— Por Deus! Você ainda está com medo de mim?!
Eu já não sabia o que pensar ou sentir. Sabia apenas que
precisava voltar para casa e ficar perto da minha filha e da minha mãe.
Então, apenas dei meia volta e subi o que restava das escadas,
alcançando o corredor e marchando apressada rumo à porta de saída.
Dashiel vinha logo atrás de mim.
— Me desculpe se te assustei, não foi a minha intenção. Eu achei
que você já estivesse convencida de que não sou um assassino, mas pelo
visto estava enganado.
Parei e me virei de frente para ele.
— A verdade é que não tenho certeza de nada. Essa história toda é
muito complexa. Já nem sei o que pensar.
— Me diga que vai me deixar investigar aquele computador.
— Eu vou. Só não pode ser hoje. Está tarde e preciso voltar para
casa.
Dito isto, dei meia volta e voltei a andar.
— Tudo bem, eu entendo sua preocupação. Nos vemos amanhã
então.
— Vou fechar a loja e deixar a porta dos fundos destrancada no
início da tarde. Espero você nesse horário.
— Está bem. Até amanhã.
Ele me deu uma encarada demorada, sem que eu tivesse noção do
que se passava pela sua cabeça, antes de abrir a porta da frente e sair.
Seguindo nosso plano de não sermos vistos juntos, esperei um
tempo e deixei a casa, trancando a porta pelo lado de fora.
Caminhei apressadamente pelas ruas, com o coração ainda
acelerado pela tensão no porão e pela inquietude que rondava minha
mente.
Enquanto me aproximava de casa, a ansiedade aumentava, mas
ao mesmo tempo, a expectativa de encontrar minha mãe e minha filha me
acalmava.
A segurança do lar era um alívio em meio a toda a turbulência que
havia experimentado nas últimas horas.
Finalmente, cheguei à minha casa, abri a porta e entrei, respirando
fundo. O cenário que se desenrolava diante de mim era reconfortante.
Minha mãe estava sentada no sofá da sala, concentrada em seu
crochê, enquanto a televisão transmitia uma série que ela gostava.
Minha princesa, brincava tranquilamente no tapete, entretida com
seus brinquedos.
Dei um beijo estalado na bochecha da minha mãe e peguei Savana
no colo, apertando e beijando-a, inebriada com seu cheirinho gostoso,
encantada com o sorriso que ela me dava.
Por Deus! Como eu a amava! Antes de me tornar mãe, eu não
tinha noção de que um amor assim pudesse ser possível.
— Chegou mais cedo. O que houve? — indagou minha mãe, sem
prestar muita atenção em mim.
Seu olhar alternava entre o crochê em suas mãos e a série na
televisão. Eu não ia tirar o sossego dela falando sobre Dashiel e minha
louca decisão de dar a ele a chance de tentar provar sua inocência. Até
porque essa inocência podia nem existir.
— Nada de interessante. Apenas o movimento que estava muito
fraco mesmo.
— As pessoas hoje em dia só querem saber de passar o dia
bisbilhotando a vida dos outros nas redes sociais e se mostrando.
Ninguém mais quer saber de ler um bom livro.
— E essa princesa, dormiu o soninho da tarde?
— Sim. Acordou faz pouco tempo. Inclusive, já está na hora do
lanchinho dela.
— Pode deixar que eu preparo, não é, meu amor?
Savana balançou os bracinhos e sorriu, como se nos
compreendesse, e segui para a cozinha com ela no colo.
CAPÍTULO 26

Naquela noite, depois que minha mãe se recolheu ao seu quarto e


Savana pegou no sono, eu me revirava na cama, incapaz de encontrar
uma posição confortável. Era como se o colchão tivesse mil espinhos
invisíveis, picando cada centímetro do meu corpo.
Meu travesseiro parecia estranhamente quente e sufocante,
enquanto meus pensamentos continuavam a girar em torno de Dashiel.
— Dashiel Whitman... por que você tem que ser tão complicado? —
Eu murmurei para mim mesma, lentamente virando-me para o outro lado
na cama.
As imagens dos olhos dele me fuzilando com fúria, das suas mãos
de aço se fechando em torno dos meus braços, da sua voz ríspida
exigindo que eu o levasse até a livraria, não saíam da minha cabeça.
Naquele momento, ele não se pareceu apenas com um assassino,
mas também com alguém capaz de agredir facilmente uma mulher.
E se tudo o que diziam sobre ele fosse verdade? E se ele
realmente fosse agressivo com sua esposa e tirara a vida de Elizabeth por
tentar ajudá-la? Eu não conseguia afastar as indagações da minha mente.
Minhas dúvidas e incertezas jamais foram tão persistentes.
Eu tinha prometido ajuda-lo a provar sua inocência, mas agora, já
não tinha tanta certeza se ele realmente era inocente.
O que aconteceu esta tarde, só serviu para que eu tivesse ainda
mais medo dele. "Eu posso estar colocando minha vida e a da minha
família em risco", pensei, sentindo um nó no estômago. "E se Dashiel for
realmente culpado? E se ele estiver apenas usando minha ajuda para
escapar da justiça? Como vou perdoar a mim mesma se alguém sair
machucado por causa das minhas decisões?"
Minha angústia crescia conforme as horas passavam, tornando
impossível relaxar e dormir. Eu precisava fazer minhas próprias
investigações até chegar à verdade, antes que fosse tarde demais.
Depois de um longo tempo, finalmente consegui adormecer. Não
sabia por quanto tempo tinha dormido, quando fui repentinamente
arrancada do meu sono, por um grito agudo que rasgou a quietude da
noite.
O som me fez saltar na cama, o coração disparado e o medo se
espalhando pelo meu ser como uma onda de gelo.
Ainda desnorteada, sem entender ao certo o que estava
acontecendo, corri até o berço de Savana e fiquei aliviada quando a
encontrei profundamente adormecida entre os lençóis, com sua chupeta
na boca.
Por um momento, me perguntei se havia sonhado. Mas não, aquele
grito fora bastante real e partira da sala.
Meu Deus! O que estava acontecendo? Hesitante e apavorada,
deixei o quarto, com meus passos silenciosos, mas firmes, avançando
pela casa escura, enquanto tentava controlar o medo crescente dentro de
mim.
Eu não sabia o que enfrentaria lá fora, mas tinha a certeza de que
faria qualquer coisa para proteger minha filha.
Caminhei cautelosamente pelo corredor escuro, sentindo meu
coração bater acelerado enquanto tentava ouvir qualquer som que
pudesse me dar pistas do que estava acontecendo.
A casa estava envolta em um silêncio quase sobrenatural, o que
apenas aumentava o medo que se apoderava de mim.
Eu estava em meio à penumbra da sala, quando meus olhos foram
capturados por um movimento e soltei um grito agudo, do mais puro
horror, quando vi a silhueta de um homem pulando a janela para o lado de
fora.
Apesar de estar escuro, consegui distinguir que se tratava de um
homem alto e forte, como o assassino que pulara a cerca do quintal de
Elizabeth, após cravar aquela faca no peito dela.
Jesus! Seria o mesmo homem? O que ele queria aqui? Teria vindo
eliminar a única testemunha do seu crime? Mas por que estava fugindo
sem tentar me matar?
Na mesma hora, lembrei-me da minha mãe e tentei correr em
direção ao quarto dela, mas antes de dar o primeiro passo, meus pés
tropeçaram em algo no chão. Minha mãe.
Gelei dos pés à cabeça, dominada pelo mais intenso horror ao vê-
la caída no chão, sem saber se estava viva ou morta.
Corri até o interruptor, acendi a luz e caí ajoelhada ao lado da
minha mãe. Havia um ferimento em sua cabeça, de onde um pequeno fio
de sangue escorria, seus olhos estavam cerrados, seu rosto pálido.
— Mãe, acorde! Por favor, acorde! — implorei, lutando contra as
lágrimas que ameaçavam cair dos meus olhos.
Verifiquei o pulso dela, depois sua respiração. Estavam fracos, mas
estavam lá. Ela estava viva e precisava de ajuda.
Esforçando-me para manter a clareza mental, embora um turbilhão
de emoções dominasse meu interior, retornei rapidamente ao quarto,
peguei o celular e voltei correndo para a sala, ao mesmo tempo em que
ligava para a emergência, solicitando uma ambulância.
Depois, liguei também para a polícia e voltei a me ajoelhar ao lado
da minha mãe, desesperada, massageando o peito dela, fazendo
respiração boca a boca para tentar reanimá-la, mas sem obter nenhuma
resposta.
— Meu Deus! Não!
O que aquele desgraçado tinha feito com ela? O que pretendia com
isso? Quem diabos era ele?
Havia uma chance enorme de ter sido o mesmo homem que
assassinara Elizabeth. Viera até minha casa para me matar e assim
eliminar a única testemunha do seu crime.
No entanto, minha mãe o viu antes que ele tivesse a chance de
chegar até meu quarto, e ele fugiu coagido pela possibilidade do grito dela
ter acordado os vizinhos.
Essa era a explicação mais lógica para o ocorrido, já que nenhum
ladrão arriscaria o pescoço para roubar uma casa tão simples como a
nossa.
Por outro lado, minha mente insistia em me alertar de que podia ter
sido Dashiel, invadindo minha casa para procurar a senha do computador
da biblioteca, ou talvez algo que o ajudasse a desvendar a senha do cofre
na casa de Elizabeth.
Se fosse ele, a culpa pelo que estava acontecendo era toda minha,
e eu jamais me perdoaria por ter cometido a estupidez de acreditar nele.
Meu Deus! Onde eu estava com a cabeça para dar ouvidos a um
assassino agressor de mulheres?
CAPÍTULO 27

Enquanto esperava pela ambulância, eu continuava tentando


acordar minha mãe, massageando o peito dela, fazendo respiração boca
a boca.
A cada segundo que passava, minha preocupação aumentava,
assim como a sensação de impotência diante da situação.
Até que finalmente, ouvi o som das sirenes se aproximando e corri
até a porta para recebê-los, ansiosa por qualquer ajuda que pudesse
obter.
— Por aqui! — gritei, guiando os paramédicos até minha mãe. Eles
rapidamente começaram a trabalhar, avaliando a situação e iniciando os
procedimentos necessários.
— É muito grave? Ela vai ficar bem? — perguntei, minha voz
trêmula pelo desespero.
— Foi uma pancada forte na cabeça. Vamos ter que levá-la para o
hospital. — informou um dos paramédicos, enquanto preparavam minha
mãe para ser transportada.
— O que aconteceu? — perguntou outro paramédico, olhando para
minha mãe desacordada no chão.
— Eu não sei. Ela... ela só estava ali, e eu ouvi um grito. Havia um
homem, mas ele fugiu.
— Vamos cuidar dela. No hospital, ela terá toda a ajuda necessária.
— Eu vou com vocês.
Antes que algum deles protestasse, corri até meu quarto, vesti um
casaco por cima da camisola, enrolei Savana com um cobertor grosso e
voltei para a sala a tempo de seguir a maca que levava minha mãe e
entrar junto com ela na ambulância.
Os paramédicos fecharam as portas da ambulância e ligaram as
sirenes novamente.
Assim que a ambulância se movimentou na rua silenciosa, Savana
acordou choramingando, como se pressentisse que havia algo errado, e
tentei acalmá-la, abraçando-a, beijando seu rosto, sussurrando palavras
de conforto em seu ouvido.
— Vai ficar tudo bem, meu amor. A vovó vai ficar bem. Nós todas
ficaremos bem.
Ao chegarmos no hospital, a ambulância parou bruscamente,
fazendo-me engolir em seco. Savana havia se acalmado e voltara a
dormir tranquilamente em meus braços, alheia à situação.
Os paramédicos abriram as portas e rapidamente retiraram a maca
com minha mãe. Eu os segui pelos corredores esterilizados e mal
iluminados, o som dos passos ecoando em meus ouvidos.
— Willow, por favor, espere na sala de espera enquanto nossa
equipe cuida da sua mãe. — disse o Dr. Bennet, um dos médicos da
cidade.
— Mas... eu quero ficar com ela.
— Eu entendo, mas neste momento precisamos avaliar a condição
dela. Vamos mantê-la informada, prometo. — garantiu ele, com um olhar
de compaixão.
Resignei-me e dirigi-me à sala de espera, onde me sentei em uma
cadeira desconfortável, balançando Savana suavemente. Minha mente
estava em turbilhão, pensando no que havia acontecido.
A imagem do homem pulando pela janela, em meio à penumbra, se
recusava a se desfazer da minha cabeça. Se fosse mesmo o assassino de
Elizabeth, nós não estaríamos seguras.
Após o que pareceu uma eternidade, o médico retornou. Seu rosto
sério fez meu coração afundar ainda mais em meu peito.
— Como está minha mãe? — perguntei ansiosamente, minha voz
trêmula.
— Infelizmente, a pancada na cabeça foi bastante forte. —
começou ele, hesitante. — Ela teve um traumatismo craniano. Tentamos
acordá-la, mas não obtivemos resultado. O exame mostrou que a lesão
interna é bastante grave. Ainda precisamos fazer exames mais
minuciosos, mas já podemos adiantar que ela entrou em estado de coma.
— Como assim? — Eu não conseguia entender.
— É um estado de inconsciência profundo e praticamente
irreversível.
Engoli em seco, meu coração se desfazendo em mil pedaços.
— Irreversível?
— Sim. Mas tudo depende do paciente. Talvez ela possa reagir e
acordar. Tudo o que precisamos fazer agora é esperar. — Ele olhou para
Savana, que agora estava acordada em meu colo, e novamente para mim
— É melhor você levar sua filha para casa. Se sua mãe acordar,
avisaremos.
— Eu preciso vê-la.
— Não é uma boa ideia. Ela foi entubada, por causa do exame.
Está na UTI.
— Mesmo assim. Eu quero vê-la.
Ele suspirou, resignado.
— Tudo bem. Venha comigo.
Caminhamos pelo corredor do hospital, onde o cheiro característico
de antisséptico enchia o ar. As luzes brancas e frias pareciam penetrar até
os meus ossos, dando ao ambiente uma atmosfera estéril e desoladora.
Ao chegarmos à Unidade de Terapia Intensiva, meu coração
apertou ainda mais. A porta se abriu, revelando um cenário que me fez
congelar de horror.
Minha mãe estava deitada em uma cama, cercada por máquinas,
tubos e monitores. Um tubo de respiração saía de sua boca, conectado a
um respirador.
Ela parecia frágil e vulnerável, com a pele pálida e os cabelos
brancos espalhados sobre o travesseiro.
Eu me aproximei da cama, segurando a mão dela. Estava gelada e
trêmula. Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu tentava falar
com ela, embora soubesse que ela não podia me ouvir.
— Mãe, por favor, acorde. Você precisa lutar, sair dessa. Eu preciso
de você. Savana precisa de você. Por favor, não nos deixe.
O médico ficou ao meu lado, observando a cena com compaixão.
— É melhor que você se despeça e deixe sua mãe descansar. Ela
está em boas mãos.
Mas eu não podia deixar de olhar para ela, minha visão embaçada
pelas lágrimas.
Depois de um tempo, o médico finalmente me convenceu a sair da
UTI, as lágrimas continuando a fluir pelo meu rosto enquanto eu
caminhava de volta à sala de espera com Savana nos braços.
Ao chegar à grande sala perto da recepção, Thomas e seus
policiais já estavam à minha espera, me fazendo sentir ainda mais
desolada, sem ninguém para me abraçar e dizer que minha mãe ficaria
bem.
— Eu sinto muito pela sua mãe. As enfermeiras disseram o que
houve com ela. — começou Thomas.
— O médico disse que precisamos esperar ela reagir. — sussurrei,
minha voz trêmula. Meus braços estavam dormentes devido às tantas
horas com Savana no colo.
— Eu sei que não é o momento para isto, mas preciso te fazer
algumas perguntas.
— Tudo bem.
Nós nos acomodamos nas cadeiras desconfortáveis da sala de
espera, diante um do outro, e Thomas começou com seu interrogatório.
— Você viu quem fez isso?
— Estava escuro, mas o vi pulando pela janela. Era um homem alto
e forte.
— Você acha que pode ser a mesma pessoa que pulava a cerca da
casa de Elizabeth na noite em que ela foi morta?
— Acho. Era bem parecido.
— Acha que pode ter sido Dashiel Whitman?
Meu sangue gelou nas veias. Aquele era o momento em que eu
deveria contar a Thomas que Dashiel me procurara pedindo ajuda, que
havia uma grande chance de ter sido ele a entrar na minha casa, à
procura da senha do computador da livraria.
Era chegada a hora de eu revelar minha ligação com esse homem,
deixar que a polícia soubesse que eu o conhecia muito mais do que havia
mencionado.
No entanto, as palavras não saíam da minha boca. Por mais que a
voz da razão me ordenasse a falar a verdade, algo dentro de mim me
ordenava a me calar.
Talvez eu estivesse cometendo um dos maiores erros da minha
vida, mas não tive coragem de falar sobre Dashiel, pois se o fizesse,
Thomas o colocaria na cadeia sem nem hesitar e eu não tinha certeza se
ele realmente fora o invasor da minha casa, assim como não sabia se ele
era tudo o que as pessoas e as evidências diziam.
Embora eu tivesse me lembrado claramente da facilidade com que
Dashiel invadiu o meu quarto, há duas noites, para me pedir ajuda, as
dúvidas em meu peito me fizeram calar e tive a sensação de que me
arrependeria amargamente por essa decisão.
CAPÍTULO 28

Após responder às perguntas de Thomas, evitando falar sobre


Dashiel, aceitei a oferta dele de me levar para casa.
O dia já havia amanhecido quando Savana e eu chegamos em
casa, famintas e exaustas. O que não era nada comparado à tristeza que
pesava no meu coração pelo que tinha acontecido à minha mãe e por tê-
la deixado sozinha naquele hospital.
O medo me assombrava. A sensação de que aquele homem
entraria aqui novamente, a qualquer momento, se recusava a me deixar.
Contudo, eu não ia deixar minha casa por causa dele.
Troquei a fralda de Savana e fomos direto para a cozinha, onde a
coloquei no cercadinho forrado com EVA, enquanto preparava sua
mamadeira e algumas torradas para mim.
Não consegui comer quase nada, meu coração aflito, o medo e as
dúvidas me consumindo.
Após a refeição, enchi a banheira com água quente, me despi e
entrei, emergindo na água com Savana nos braços, deitando-a sobre meu
peito, do jeito como ela gostava.
Fechei os olhos, e minha mente girou, invadida pelo turbilhão de
pensamentos. Eu não conseguia esquecer a forma como Dashiel me
olhara e como me segurara na escadaria do porão, após eu dizer-lhe que
não iríamos até a livraria investigar o computador naquele momento.
A fúria que se refletiu no seu olhar, a brusquidão de suas mãos,
tudo dava a entender que ele realmente era um assassino, um agressor
de mulheres. E mesmo assim, eu não falara sobre ele para a polícia.
Meu Deus! Onde eu estava com a cabeça, para acobertar um
possível assassino, que certamente entrara aqui para tentar me matar?
A verdade era que eu estava cega por causa desse homem,
ocultando suas ações e ainda permitindo que ele me usasse para,
possivelmente, procurar evidências que o incriminariam, com o óbvio
intento de destruí-las.
Após um longo período imersa na água morna e relaxante, com
meus olhos fechados e a Savana quietinha ao meu lado, senti como se
houvesse um peso sobre mim e, lentamente, abri os olhos.
Um grito agudo escapou dos meus lábios quando me deparei com
Dashiel parado ali, no meu banheiro, observando-me em silêncio.
Inicialmente, eu pensei que estava presa em um pesadelo, mas a
realidade se impôs: Dashiel estava de fato ali, e sua presença indicava
que ele havia voltado para concluir o que não conseguira durante a noite,
calando-me para sempre.
— Fique calma. Não vou te machucar. — Sua voz grave ecoou no
pequeno espaço do banheiro, enquanto tremores de medo percorriam
meu corpo nu, ainda na água.
— P-por que você está aqui? — Eu gaguejei.
— Peço desculpas pela invasão. Ouvi dizer que alguém entrou em
sua casa e fiquei preocupado. Não bati na porta para evitar chamar a
atenção. Você está bem?
— P-por favor, não faça nada com a gente.
Os olhos de Dashiel se estreitaram, uma expressão ofendida e
surpresa misturada em seu olhar.
— Eu não posso acreditar nisso! Você ainda tem medo de mim?
Quantas vezes preciso dizer que não fiz nada?
— Ah, não? E quem mais poderia ter entrado aqui ontem?
— Alguém entrou, mas com certeza não fui eu.
— Você acabou de demonstrar quão fácil é para você entrar nesta
casa.
— É verdade, é fácil entrar aqui, e foi por isso que vim. Você não
está segura aqui. Se alguém entrou uma vez, pode tentar de novo.
— A polícia está cuidando disso.
— Você falou sobre mim à polícia?
Ele deu um passo à frente, e um arrepio percorreu minha espinha
enquanto Savana começava a choramingar, pedindo para sair da água.
— Haveria algum problema se eu tivesse falado?
— Não para mim. Mas quanto menos pessoas souberem que
estamos investigando, menores serão as chances do assassino de
Elizabeth descobrir. Apesar do que, se ele entrou aqui ontem é porque já
sabe e se sentiu ameaçado.
Savana começou a chorar, desejando sair da água agora fria.
— Você pode se virar? Estamos nuas e precisamos sair da água.
— Sou médico. Estou acostumado a ver pessoas nuas.
— Ainda assim, preciso de privacidade.
Dashiel soltou um suspiro resignado e deixou o banheiro. Enrolei-
nos em uma toalha e segui até o quarto com Savana no colo, enquanto
ele vinha atrás de nós.
Quando ele se virou, vesti uma calça jeans e uma blusa de mangas
compridas e coloquei um conjunto de moletom quente e aconchegante em
Savana.
Depois que nos vestimos, Dashiel virou-se na nossa direção, seus
olhos examinando meu rosto e, em seguida, o de Savana, enquanto
minha filha o observava com curiosidade.
— Ela se parece muito com você. — Ele comentou, e eu desviei o
olhar.
— O fato de você invadir minha casa repetidamente não ajuda a
provar que não entrou aqui ontem.
Dashiel se aproximou de mim, olhando nos meus olhos e me
hipnotizando com seu olhar intenso.
— Willow, acredite, eu não entrei aqui ontem. Seria incapaz de
machucar sua mãe ou qualquer outra pessoa. Preciso que acredite em
mim, porque ninguém mais acredita.
Olhei nos olhos dele e, em meu coração, senti que ele estava
dizendo a verdade sobre sua inocência. Talvez essa sensação estivesse
sendo influenciada pela atração irresistível que ele exercia sobre mim.
— Se eu não acreditasse, já teria gritado por socorro.
Ele soltou um suspiro pesado, como se estivesse se libertando de
um fardo que carregava sobre os ombros.
CAPÍTULO 29

— E sua mãe, como está?


Nesse momento, desabei, lágrimas enchendo meus olhos.
— Não está bem. — murmurei, relembrando minha mãe na UTI. —
O médico disse que ela está em coma e talvez seja irreversível.
As lágrimas fluíram livremente, e Dashiel veio até mim, abraçando-
me e a Savana ao mesmo tempo, nos acolhendo com carinho.
Recostei a cabeça em seu peito e chorei desesperadamente,
minhas lágrimas encharcando sua camisa.
— Chore, deixe sair tudo. — Dashiel sussurrou, seus lábios
próximos aos meus cabelos.
— Não sei o que farei se ela se for.
— Ela não vai partir. Não permitirei que isso aconteça. Conheço
muitos médicos, vou providenciar um helicóptero para levá-la a um bom
hospital na capital.
— Não quero que ela saia de Georgetown. Todos os amigos dela
estão aqui.
— Nesse caso, vou trazer a melhor equipe de neurocirurgiões do
país até aqui. Eles cuidarão dela.
— Você faria isso?
— Claro que faria.
— Pensei que seus bens tivessem sido bloqueados pela polícia e
que você estivesse sem dinheiro.
— Não tenho dinheiro, mas tenho amigos. Eles atenderão ao meu
pedido.
— Obrigada.
Agarrei-me a ele, soluçando e chorando, enquanto ele me envolvia
com um abraço reconfortante, até que todas as lágrimas parecessem ter
secado.
Só quando me separei do abraço, percebi que Savana havia
passado do meu colo para o dele, suas pequenas mãozinhas explorando
as tatuagens em seu pescoço com curiosidade.
Uma profunda emoção varreu minha alma ao vê-los juntos. A
imagem de um homem grande, musculoso, com uma postura altiva,
segurando o bebê frágil e pequeno, foi a visão mais encantadora e
magnífica que já tive na vida.
Observando-os tão próximos, pude notar o quanto Savana se
parecia com ele, o que me fez pensar em como ele ficaria furioso quando
descobrisse que eu havia escondido a existência de nossa filha, enquanto
ele ansiava tanto por ser pai.
— Vá descansar um pouco. Aposto que você mal dormiu a noite
toda. Eu cuidarei da bebê — Dashiel sugeriu.
Eu estava com um dilema em relação à confiança naquele homem,
dado que todas as evidências apontavam para seu envolvimento em um
crime. No entanto, não era insensata a ponto de confiar a minha filha aos
cuidados dele.
— Não estou cansada — menti.
— Não seja desonesta consigo mesma. Mal consegue manter os
olhos abertos.
Inesperadamente, Dashiel me pegou no colo, mantendo Savana
com cuidado, e nos deitou na cama, esticando-se ao meu lado, com o
bebê entre nós. — Tente ao menos cochilar um pouco. Estaremos aqui
quando acordar. — insistiu ele.
— Não estou com sono.
Deitei-me de lado na cama, observando Savana interagindo com
Dashiel, mostrando-se surpreendentemente à vontade com ele, o que era
raro com outras pessoas. Era como se um laço invisível entre os dois
fosse criado pelo sangue que compartilhavam em suas veias.
Minha filha estava notavelmente interessada nas tatuagens do pai
dela, brincando com elas como se fossem desenhos, balbuciando
palavras ininteligíveis e sorrindo, demonstrando um afeto instantâneo por
ele. Nada jamais me pareceu tão encantador como aquela cena.
— Por que tantas tatuagens? — perguntei, meu coração se
acalmando um pouco.
— Eu fiz quando era um adolescente impulsivo, mas não me
arrependo. Gosto delas.
— Aposto que muitas pessoas gostam.
Dashiel olhou para as tatuagens, parecendo rememorar um tempo
distante. Seus olhos brilhavam de uma maneira peculiar, como se aquelas
marcas na pele fossem uma janela para sua juventude.
Ele encarou Savana, apreciando a curiosidade infantil dela e, ao
mesmo tempo, seu gesto natural de interação.
— Essas tatuagens são como capítulos de um livro, cada uma
conta uma história. — explicou, com um olhar longínquo. — Elas
representam diferentes momentos da minha vida, decisões, desafios e
aprendizados. São parte do que fui e do que sou.
Savana parecia compreender suas palavras de alguma forma,
como se pudesse sentir a profundidade por trás delas. Seus olhinhos
curiosos analisavam cada desenho, como se estivesse tentando decifrar
um enigma.
— Você tem alguma que seja a sua favorita? — perguntei,
sonolenta.
Dashiel puxou a manga do casaco e tocou uma tatuagem no
antebraço, onde se via uma rosa entrelaçada com um símbolo incomum.
Seu olhar transmitia um misto de carinho e nostalgia ao observar aquela
marca.
— Esta aqui é especial para mim. É a rosa da minha mãe, e esse
símbolo representa o valor da família. É uma lembrança constante do que
realmente importa na vida.
Savana, de forma surpreendente, tocou suavemente a tatuagem,
como se estivesse fazendo uma conexão inexplicável. Parecia entender a
importância daquilo de um jeito que eu, sua própria mãe, não conseguia
captar.
— Ela é bonita. Cada uma tem uma história?
Ele sorriu, um sorriso genuíno que iluminava seu rosto.
— Nem todas. Algumas foram feitas só por diversão mesmo.
— Alguma dedicada à sua esposa?
Ele adotou uma expressão subitamente séria.
— Minha ex-esposa, você quer dizer.
— Isso.
— Não, como mencionei, fiz as tatuagens há muito tempo, e meu
casamento foi uma ocorrência recente. E você, já considerou fazer alguma
tatuagem?
— Já tive vontade, mas a coragem me faltou.
— Quando todo esse pesadelo acabar, vou te levar a um tatuador
em Dallas. Você pode tatuar o nome desta coisinha linda. — Ele acariciou
o rosto de Savana, que respondeu com um charmoso sorriso, totalmente
encantada pelo homem grande, quase do tamanho da cama, deitado ao
nosso lado.
CAPÍTULO 30

Continuamos a conversar sobre coisas triviais enquanto o clima se


tornava mais leve, como se, por um momento, toda a tensão, tristeza e
desconfiança tivessem se dissipado.
A presença de Dashiel já não parecia ameaçadora, mas sim
reconfortante e misteriosamente familiar.
Savana, com sua inocência, cativava a atenção dele de uma
maneira que eu nunca imaginei ser possível. Ela balbuciava palavras
incompreensíveis, parecendo estar contando uma história a Dashiel, que
a escutava com atenção, como se cada som fosse uma revelação
extraordinária.
— Ela é incrível. — murmurou ele, com um olhar fascinado para
Savana. — Os pais dela têm muita sorte.
— Têm sim. — murmurei, com meus olhos pesados.
Enquanto Savana brincava e ria, uma paz momentânea se instalou
no quarto. A tensão entre nós diminuiu, como se uma espécie de
confiança mútua tivesse começado a brotar ali.
— Vocês duas deveriam passar esses dias na minha casa, até que
tudo se acalme. Não é seguro aqui.
— Não vou abandonar minha casa por causa de um maluco.
— Nesse caso, vou ficar aqui com vocês.
— Não precisa. Eu sei me cuidar.
— Percebi o quanto você sabe se cuidar na noite em que a
conheci, entrando no barco de um desconhecido.
— E abrindo as pernas para ele. Pode falar, Savana ainda não
entende completamente o que a gente diz.
— Eu não ia dizer isso.
Dashiel e eu continuamos conversando sobre outros assuntos até
que, sem perceber, caí no sono. Acordei em pânico, percebendo que
havia adormecido, deixando Dashiel sozinho com Savana.
No entanto, minha ansiedade diminuiu ao abrir os olhos e encontrar
os dois adormecidos ao meu lado.
Dashiel estava deitado de lado, um braço esticado sobre o qual
Savana apoiava a cabeça, com seu rostinho próximo ao dele.
Minha filha nunca tinha se aproximado de alguém tão rapidamente,
e nada me pareceu mais encantador do que essa cena. Pai e filha, juntos,
unidos por um afeto instantâneo e genuíno, mesmo sem saberem o que
eram um para o outro.
Caso a inocência de Dashiel fosse realmente provada, eu revelaria
a verdade a ele, mesmo que ele quisesse arrancar minha cabeça depois,
por eu ter mentido.
Após observá-los por um momento, meu coração se tranquilizou e
voltei a dormir.
Quando acordei novamente, eles não estavam mais na cama,
restavam apenas os lençóis amarrotados ao meu lado.
Sobressaltada, com mil possibilidades terríveis passando pela
minha cabeça, pulei da cama e corri para fora do quarto.
Encontrei os dois na cozinha. Dashiel mantinha Savana sentada na
borda da mesa, enquanto ele estava acomodado em uma cadeira diante
dela, segurando um prato com sua sopa e dando-lhe colheradas.
Ele havia tirado o casaco e estava usando apenas jeans e uma
camiseta de mangas curtas, que revelava seus braços musculosos
cobertos de tatuagens. Seus cabelos estavam desalinhados e sua
atenção estava totalmente concentrada no bebê à sua frente.
Havia vestígios de sopa espalhados por toda parte, incluindo em
suas roupas e cabelos. Mesmo assim, ele parecia irresistível e atraente,
como um desses modelos que se vê nas redes sociais fazendo
propaganda de perfume.
— Que bagunça é essa que vocês estão fazendo aqui? —
perguntei, me aproximando.
Beijei a cabeça de Savana, sentindo seu cheiro gostoso e notando
que sua fralda havia sido trocada.
— Era hora do almoço, e eu presumi que ela estava com fome,
então não quis te acordar. Sente-se melhor?
Sentei-me em uma cadeira do outro lado da mesa, sem conseguir
tirar meus olhos deles, deslumbrada e fascinada com a facilidade com que
eles interagiam, como se realmente sentissem o laço de sangue que os
ligava.
— Não muito. Preciso ir ao hospital ver como minha mãe está.
— Ela está na mesma. Sem resposta aos estímulos para reanimá-
la. Liguei para lá.
Fiquei surpresa com a informação.
— Você ligou, e eles te deram essa informação?
— Sim. O médico que está cuidando dela é amigo da minha família.
Eu já avisei a ele que uma equipe está vindo de Dallas para ajudar no
caso dela. Ela será assistida por um dos melhores neurocirurgiões do
país.
Savana balbuciou, balançando os bracinhos, exigindo a atenção de
Dashiel para si, e ele lhe deu mais uma colherada de sopa.
— Obrigada por tudo. — agradeci.
— Me agradeça me levando até a livraria para investigar aquele
bendito computador. Eu preciso muito provar minha inocência.
— Claro. Vou só preparar algo para nós almoçarmos, e depois de ir
até o hospital ver minha mãe, podemos ir até lá.
— Não precisa preparar nada. Já pedi comida para nós. Deve estar
quase chegando.
— Está bem.
Recostei-me no espaldar da cadeira sem conseguir desviar o olhar
da cena que se desenrolava à minha frente. Savana continuava sentada
na borda da mesa, entretida com as colheradas de sopa que Dashiel
habilmente lhe oferecia. Seus risinhos inocentes, cada vez mais
constantes, preenchiam o ambiente.
A troca de olhares entre ela e Dashiel era cativante. Ele parecia tão
à vontade, envolto em sua figura paterna, o carinho evidente em suas
ações, e ela, por sua vez, respondia com confiança, como se sentisse um
elo especial entre ambos, mesmo sem saber a verdadeira ligação que
compartilhavam.
Por um instante, esqueci as dúvidas, a desconfiança que há dias se
entranhava na minha mente em relação a Dashiel.
Testemunhar aquela interação amorosa entre ele e minha filha fez
com que algo dentro de mim se rendesse ainda mais à certeza de que ele
não era a ameaça que todos tinham em mente.
O carinho que Dashiel demonstrava ao cuidar de Savana
despertava uma sensação acolhedora em mim. Sua presença ali, de certa
forma, trazia uma sensação de segurança, ao invés do medo que antes o
rodeava.
Ele não era o monstro que as pessoas diziam. Nem passava perto
disso. Eu não sabia como seria se ele não estivesse aqui ao meu lado
nesse momento tão difícil da minha vida.
— Obrigada por cuidar dela. — Minha voz soou suave, um
agradecimento sincero brotando nos lábios, em meio a uma onda de
emoções indefiníveis.
Seus olhos se encontraram com os meus, um brilho suave e
compreensivo refletido neles.
Ele apenas sorriu, como se o cuidado para com Savana fosse algo
natural para ele, uma atitude descomplicada e genuína.
Sem dizer nada, aquele sorriso transmitia uma serenidade que
dissipou por completo as incertezas que me assombravam.
CAPÍTULO 31

Dashiel e eu ainda estávamos nos encarando, quando o som


estridente da campainha da porta irrompeu pela casa, quebrando o longo
silêncio, e levantei-me para atender.
Era Wilson, o entregador de um dos restaurantes.
Como morávamos em uma cidade onde todos se conheciam, ele
tinha o hábito de entrar na casa das pessoas ao realizar suas entregas.
Só que dessa vez precisei impedir sua entrada, pois não queria que visse
Dashiel aqui.
Seria questão de poucas horas até que a história se espalhasse e
toda a cidade ficasse sabendo que eu estava andando com o suposto
assassino de Elizabeth, o que incentivaria o verdadeiro culpado a vir atrás
de mim, a fim de eliminar a única testemunha do seu crime.
Após fazermos a refeição acomodados à mesa da cozinha,
envoltos pela atmosfera de serenidade e cumplicidade que se estabelecia
entre nós, como se fôssemos uma família de verdade, Dashiel e eu
chegamos ao consenso de que não podíamos ser vistos juntos pela
cidade. Então, combinamos de nos encontrarmos na livraria dali a duas
horas e saí na frente, deixando-o na casa.
Fui direto para o hospital ver minha mãe. Chegando lá, conversei
com o médico e descobri que ela continuava na mesma situação, sem
reagir ao tratamento, sem dar sinal de consciência.
Ele me garantiu que, se existia uma chance de ela ficar bem, essa
chance estaria nas mãos do médico que estava vindo para Georgetown
para assisti-la, um dos mais bem conceituados neurologistas do país,
vindo tratá-la a pedido de Dashiel.
Meu coração se espatifou em mil pedaços quando vi minha mãe
ainda entubada naquele leito de UTI, parecendo muito debilitada e frágil.
Se eu não tivesse visto aquele assassino maldito pulando a cerca
da casa de Elizabeth, nada disso estaria acontecendo.
Depois de passar um tempo no hospital, fui para a livraria,
empurrando o carrinho de Savana.
Seguindo o plano, tranquei a porta da frente, mantendo a placa de
fechado, e deixei a porta dos fundos aberta.
Savana estava brincando no seu cercadinho, enquanto eu me
encontrava diante do computador, começando a acessá-lo, quando os
passos sorrateiros de Dashiel se fizeram audíveis, e logo ele avançou pelo
recinto, surgindo dos fundos da loja.
Ele tinha seus cabelos molhados e bem penteados e usava roupas
limpas, uma calça folgada bege, camisa listrada clara e um casaco de
moletom aberto preto.
Era impossível olhar para ele e ficar indiferente. Emoções
indecifráveis conflitavam-se dentro de mim com a sua proximidade.
E Savana era outra deslumbrada, enfeitiçada por aquele homem, a
ponto de largar seus brinquedos de lado e estender os bracinhos para ele,
pedindo colo.
— Oi, princesa. — Ele se inclinou e pegou Savana no colo, girando-
a no ar antes de apoiá-la em um dos braços — É bom te ver de novo
também.
Savana balbuciou alguma coisa incompreensível, e ele respondeu
dando beijos estalados na bochecha dela. Em seguida, aproximou-se de
mim com ela no colo.
— E então, conseguiu ver sua mãe? Como ela está?
— Está do mesmo jeito. Sem reagir a nada.
— Ela vai ficar bem. Meu amigo neurologista vai cuidar dela.
— Quando ele chega?
— Amanhã cedo. Não pôde vir antes por ter várias cirurgias
agendadas.
— Tomara que dê certo.
— Vai dar. Você vai ver só. — Ele percorreu seus olhos pela tela do
computador antigo — E então achou alguma coisa relevante aí?
— Ainda não. Comecei a acessar agora.
— Vou dar uma olhada.
Em vez de colocar Savana de volta no cercadinho, Dashiel a
colocou simplesmente no meio da loja, os olhinhos espertos da minha filha
contemplando as estantes de livros, um verdadeiro paraíso a ser
desmembrado para uma bagunceira como ela.
— Ela vai espalhar os livros para todos os lados. — informei.
— Eu arrumo depois. Não gosto de vê-la no cercadinho. Fica
parecendo que está presa.
— Todos os pediatras disseram que é mais saudável do que deixá-
la solta por aí, mexendo em tudo e se colocando em riscos.
— Vou ficar de olho nela. Agora vamos ao computador.
Dashiel foi para a frente do computador, manuseando-o com
experiência, enquanto eu dividia minha atenção entre a tela e Savana.
O pequeno espaço entre o balcão e a parede parecia pequeno
demais para o corpo grande e musculoso daquele homem.
Enquanto vasculhávamos a máquina antiga, em busca de qualquer
pista que nos levasse ao assassino, Savana iniciava sua própria
empreitada pela loja, engatinhando entre as estantes, derrubando livros
no chão, destruindo alguns exemplares.
Ela estava prestes a dar uma mordida em um lançamento
caríssimo da Colleen Hoover, quando tivemos que parar o que fazíamos
para dar-lhe atenção, e Dashiel foi o primeiro a correr até ela, pegando-a
no colo.
— Eu avisei. Agora você vai ter que pagar por todos os exemplares
que ela destruiu. — declarei.
— Sem problemas. Eu pago. Não é coisa linda? O que são alguns
exemplares tolos quando o que está em jogo é a diversão?
Savana soltou uma gargalhada, seguida de um gritinho, como se
pudesse compreender o que ele dizia.
— Agora coloque-a no cercado, se quiser que continuemos.
— Ela não cometeu crime algum para ficar presa, não é, princesa?
Dashiel tentou continuar averiguando o computador com Savana
no colo, mas a garota era uma pimentinha e não parava um só minuto,
batendo na tela e no teclado.
Até que ele desistiu e a levou para uma excursão pelos corredores
da loja, apresentando-lhe alguns livros infantis, falando com ela como se
ela o compreendesse.
Ele escolheu um exemplar ilustrado de “Os Três Porquinhos” e
acomodou-se com ela no colo em uma poltrona, contando-lhe a história,
mostrando as ilustrações, com uma paciência impressionante, como se
estivesse acostumado a lidar com um bebê.
Meu coração derretia ao observar os dois juntos, tão parecidos,
tanto fisicamente quanto no que se referia ao temperamento. Não existia
visão mais magnífica nesse mundo.
Seria loucura desejar ter os dois para mim? Viver uma vida na qual
momentos como esse seriam rotina?
Com certeza seria, afinal, um cirurgião renomado, nascido no seio
de uma família rica, como Dashiel, jamais assumiria esse tipo de
relacionamento com a filha de uma arrumadeira pobretona, como eu.
CAPÍTULO 32

Depois de um longo tempo ouvindo as histórias, como se as


entendesse, Savana pegou no sono e, por fim, Dashiel concordou em
colocá-la no cercadinho, confortavelmente deitada entre os lençóis
forrados sobre o tapete de EVA.
— Agora sim, podemos continuar. — falou ele, voltando para trás
do balcão.
— Tem certeza? Não quer dormir um soninho junto com ela não?
— brinquei.
— Não me culpe por você ter uma sobrinha tão adorável. E então,
achou alguma coisa interessante aí?
— Até agora nada. Mas podemos continuar tentando.
Dashiel tomou a frente e passamos a examinar o computador
juntos. A princípio não encontramos nada relevante, que pudesse
evidenciar a inocência dele.
Não havia nenhum endereço de e-mail inadvertidamente aberto,
nenhum site suspeito navegado, nenhuma pasta contendo algo suspeito.
Nossas esperanças começavam a esvair-se quando Dashiel
restaurou o HD e surgiu um aplicativo antigo de mensagens, desses em
que não se vê o nome e nem a fotografia dos participantes, mas apenas
uma imagem aleatória e um número de identificação.
Ele fora aberto ali algumas vezes, mas tivera sua conta criada em
outro computador, certamente o de Elizabeth.
Em um dos chats, havia uma conversa muito suspeita, entre dois
participantes inidentificáveis, sendo que um deles podia ser Elizabeth. O
diálogo se resumia a ameaças feitas por um dos perfis, exigindo dinheiro
do perfil no qual o aplicativo estava logado.
Mas não era só isso. O perfil do qual acessávamos, que certamente
era de Elizabeth, dizia que não tinha dinheiro, que havia perdido toda a
sua fortuna com investimentos ruins, mas que estava participando de uma
jogada, que lhe traria uma boa renda.
O outro perfil exigia saber sobre o que se tratava essa jogada, mas
Elizabeth não dizia e as ameaças continuavam, inclusive com juras de
morte, caso ela não lhe desse a quantia que lhe devia.
Eram conversas aleatórias, partes delas ocorridas por outro meio,
certamente do celular da minha falecida amiga, de modo que quase não
se compreendia sobre o que eles, ou elas, estavam falando.
No entanto, uma coisa ficara clara: Elizabeth estava falida e
devendo dinheiro a uma pessoa muito perigosa.
— Meu Deus! Deve ser o cara que a matou! — exclamei, chocada.
— Acredita em mim agora? — indagou Dashiel, seus olhos
brilhando de exultação por finalmente enxergarmos uma luz no fim do
túnel.
— Eu não sei. Essa conversa não diz tanto assim. Talvez nem seja
Elizabeth falando nesse aplicativo.
— Claro que era ela. Ninguém mais que tinha muito dinheiro e
perdeu tudo acessou esse computador.
— Ainda é cedo para termos certeza se era ela. Precisamos levar o
computador para a polícia dar uma olhada.
— Não quero a polícia envolvida nisso.
— Não entendo essa sua relutância em falar com a polícia.
— Tenho meus motivos.
— E isso te faz parecer mais culpado.
E era verdade. A resistência dele em se envolver com a polícia não
me ajudava nem um pouco a acreditar na sua inocência, pelo contrário, só
tornava isso mais difícil.
Se ele realmente não cometera crime algum, por que evitar a
polícia?
Intrigada, tentei me afastar, quando então Dashiel me surpreendeu
ao segurar-me pelo braço e puxar-me de volta.
Ele me recostou no balcão e se colocou diante de mim, tão perto
que eu podia sentir o calor da sua respiração batendo em meu rosto. Suas
mãos se apoiaram no balcão atrás de mim, uma de cada lado do meu
corpo, formando um cerco em torno dele.
— Se não acredita na minha inocência, então por que está me
ajudando? Tudo isso é vontade de me dar a boceta de novo?
Meu queixo caiu com o descaramento de suas palavras. Contudo,
ao mesmo tempo em que me chocavam, elas também me excitavam.
— Não use esse tipo de linguagem na frente do bebê. — Lancei um
olhar na direção de Savana, constatando que ela continuava dormindo
profundamente.
— Ela está dormindo. Além do mais, você disse que ela ainda não
entende o que dizemos.
— Mesmo assim. Não quero ouvir esse tipo de coisa. — Tentei sair
do cerco entre seus braços, ele não deixou — Será que dá para me
soltar?
— E por que não quer ouvir? Vai me dizer que não pensa na foda
que demos naquele veleiro? Eu sei que você pensa, sei que não se
esqueceu, assim como eu também não esqueci. Penso nela todos os
dias. Quero te comer de novo toda vez que olho para você.
Ele inclinou a cabeça e afundou seu rosto na curva do meu
pescoço, espalhando beijos e lambidas na minha pele, tão deliciosas que
apenas fechei os olhos e me entreguei às sensações deliciosamente
lascivas, que desciam pelo meu corpo.
— Por favor... pare... — murmurei, sem convicção alguma.
— Não há um só dia em que minha mente não volte àquela noite.
Todas as vezes em que olho para você, penso no quanto foi bom e no
tanto de coisas que ainda quero fazer com você, com mais calma, sem
pressa. Uma noite é pouco para tudo que ainda vamos fazer. — Ele
sussurrava as palavras com seus lábios de encontro à minha pele, o calor
do seu hálito intensificando a corrente de tesão que se apoderava de mim.
— Não podemos fazer isso... você é...
— Não sou mais casado. — Ele interrompeu meu fio de voz — Sou
livre e desimpedido, assim como você. Podemos fazer tudo o que temos
vontade e minha vontade nesse momento é te debruçar nesse balcão, te
dar uns tapas na bunda e meter nessa bocetinha até deixá-la inchada com
tanta pressão.
— Dashiel... por favor...
Ignorando minha súplica inconvicta, ele foi descendo aquela boca
deliciosa e invasiva pelo meu corpo, lambendo e beijando meu colo.
Mordeu meus seios por cima do tecido do vestido e continuou descendo,
até que ajoelhou-se à minha frente.
Com uma impetuosidade incontida, Dashiel levantou a saia do meu
vestido e afastou minha calcinha para um lado, dando uma grande lábia
na minha boceta, sem que nada tivesse me preparado para a onda de
prazer e luxúria que tomou conta de cada minúscula parte do meu ser.
— Ah... porra... — gemi, minhas mãos segurando firmemente a
borda do balcão, temendo que minhas pernas não fossem capazes de
continuar me mantendo de pé.
Guiada por algum instinto primitivo, abri um pouco mais as pernas e
novamente a língua quente e úmida dele se moveu sobre meu sexo,
afundando na umidade entre meus lábios vaginais, atrevidamente,
lambendo-me íntima e profundamente, me fazendo morder o lábio para
sufocar um gemido.
Dashiel segurou dos dois lados da minha calcinha, puxando-a para
baixo e tirando-a pelos meus pés, enquanto continuava chupando minha
boceta, sua língua macia e quente se movimentando com habilidade por
toda a extensão do meu sexo, se infiltrando na minha vagina, movendo-se
freneticamente sobre meu clitóris.
Enquanto eu lutava para conter meus gemidos, que poderiam
acordar Savana, minha mente girava, tentando se apegar à possibilidade
de que eu estava abrindo minhas pernas para um assassino, para o
homem que invadira minha casa e agredira minha mãe, deixando-a em
estado de coma.
No entanto, eu não conseguia pensar, mas apenas sentir. E sentia
que ele não fizera nada disso. Além do mais, mesmo que ele ainda fosse
suspeito, isso parecia não ter a menor relevância naquele momento.
Nada mais importava para mim que não o turbilhão de sensações
que se apoderava do meu âmago, tirando-me o juízo.
Dashiel acelerou os movimentos da sua língua sobre meu clitóris,
ao mesmo tempo em que introduzia dois dedos na minha vagina
lambuzada, movendo-os em um enlouquecedor vai e vem, massageando
deliciosamente meu ponto sensível, quase me levando à loucura.
Até que alcancei o clímax daquele prazer insano, gozando na boca
dele, mordendo o dorso da minha mão para reprimir os gemidos que
ameaçam fugir da minha garganta.
Quando parei de convulsionar, Dashiel ficou de pé, fechou uma
mão em minha nuca e tomou posse da minha boca, beijando-me
profundamente, me fazendo experimentar o gosto e a quentura da minha
própria intimidade, o que só serviu para me dar mais tesão.
Segurei o pau dele por cima da calça, apertando a firmeza bruta
entre meus dedos, ansiosa por senti-lo inteiro dentro de mim, enquanto
Dashiel infiltrava a outra mão sob a saia do vestido e voltava a invadir
minha vagina com os dedos, fodendo-me em vai e vem, com uma
brutalidade deliciosa, ininterrupta, como se eu pertencesse a ele e não
mais a mim mesma, como se ele pudesse fazer o que quisesse comigo.
Eu me acabava de prazer nas mãos daquele homem, girando os
quadris para sentir mais vividamente a rigidez dos dedos dele no meu
canal, sua boca abafando meus gemidos, meu corpo implorando pela
plenitude da sua virilidade.
Foi então que meu celular começou a vibrar sobre o balcão e fiquei
tensa, pensando na minha mãe naquele hospital.
— Preciso atender. — anunciei e Dashiel afastou-se, visivelmente
frustrado.
Uma expressão de puro fogo se refletia nos olhos azuis dele,
enquanto fitavam meu rosto.
— Atenda. — sussurrou ele.
Peguei o celular e olhei o número no visor. Era mesmo do hospital.
— Alô?
— Eu falo com Willow? — indagou a voz masculina, do outro lado
da linha.
— Ela mesmo. Como está minha mãe?
— Aqui é o Dr. Bennet. Infelizmente ela não está bem, por isso
estou ligando.
Digeri as palavras dele e a culpa recaiu sobre meus ombros,
parecendo pesar toneladas.
Como eu podia estar me acabando de prazer nos braços de um
homem, enquanto minha mãe piorava naquele hospital? Que espécie de
filha eu era?
— O que aconteceu? — indaguei, angustiada.
— Identificamos a formação de um coágulo na massa encefálica
dela e precisamos tirar, mas como se trata de uma cirurgia muito
arriscada, precisaremos da autorização de um familiar, no caso, a sua.
Meu coração afundou até o estômago.
— Arriscada como?
— Há um grande risco de ela não voltar.
— Meu Deus!
Nesse momento, Dashiel tirou o telefone da minha mão e trocou
algumas palavras com o outro médico, usando termos médicos que eu
desconhecia, e encerrou a ligação.
— Ela precisa ser operada e posso ajudar. — declarou ele —
Embora não seja a minha área, já acompanhei algumas cirurgias desse
porte. Mesmo assim, vou ligar para meu amigo neurocirurgião e perguntar
se ele pode antecipar a vinda.
— Nem sei como agradecer. Agora tenho que ir ao hospital.
— Eu te levo.
— Não podemos ser vistos juntos.
— O que eu não posso é deixar você sair por aí sozinha nesse
estado. Agora vamos.
Dashiel pegou Savana cuidadosamente no colo, conseguindo levá-
la para fora sem acordá-la.
Assim que deixamos a livraria, avançando pela rua, todos os
olhares se voltaram em nossa direção. Algumas pessoas chegavam a
parar o que faziam para nos observar, afinal, vivíamos em uma cidade
pequena, onde todos já sabiam que Dashiel era o principal suspeito de um
crime do qual eu era a testemunha e suspeito de ter invadido minha casa.
Eu não queria nem imaginar o que estava se passando pela
cabeça daquelas pessoas ao nos verem juntos.
Por outro lado, isso era o que menos me importava agora. Eu só
queria ter certeza de que minha mãe ficaria bem.
Ignorando a observação indiscreta, marchei ao lado de Dashiel até
o carro dele, estrategicamente deixado a duas quadras da livraria.
Ele acomodou Savana confortavelmente no banco de trás e
assumiu o volante, enquanto eu ocupava o assento do carona. Ao mesmo
tempo em que começava a dirigir, ele sacava seu celular, colocando-o no
viva-voz.
A ligação era para o seu amigo neurocirurgião, que morava em
Dallas. Após ouvir o insistente pedido de Dashiel, ele disse que realmente
não poderia vir para Georgetown nesse momento, mas que o instruiria a
fazer a cirurgia da minha mãe por meio de uma chamada de vídeo.
Apesar do medo, eu sabia que essa era a melhor chance que ela
tinha de sobreviver.
No hospital, Dashiel assumiu o controle de tudo. Conversou com o
Dr. Bennet sobre o estado da minha mãe, examinou o prontuário dela e se
colocou a par de tudo.
Me deixaram vê-la por apenas alguns minutos, ainda na UTI, antes
de a levarem para o centro cirúrgico, com a minha permissão para operá-
la.
Sem que eu pudesse fazer mais nada, voltei para a sala de espera,
junto com Savana, e rezei, meu coração apertado, mas ao mesmo tempo
otimista, enquanto esperava.
Os funcionários do hospital eram todos velhos conhecidos, meus e
da minha mãe, de modo que uma das enfermeiras foi até minha casa, em
busca da mamadeira de Savana, o carrinho dela e algumas fraldas para
trocar.
CAPÍTULO 33

Várias horas haviam se passado desde que minha mãe entrara no


centro cirúrgico e ainda continuava lá, sem que ninguém do lado de fora
soubesse o que estava acontecendo, como estava o andamento da
cirurgia.
Eu me encontrava na sala de espera vazia, com os nervos em
frangalhos, enquanto Savana dormia tranquila no carrinho de bebê. Foi
então que Sarah entrou no amplo recinto, com seu rosto aflito, vindo ao
meu encontro quase correndo.
Levantei-me para receber minha amiga e fui acolhida pelos seus
braços amáveis, as lágrimas reprimidas descendo pelo meu rosto, a ponto
de me fazer soluçar.
— Por que você não me ligou para avisar? Eu podia ter ajudado
com Savana. — disse ela — Precisei ficar sabendo pela boca dos outros
sobre a cirurgia da sua mãe.
— Me desculpe. Eu estava aflita demais para qualquer coisa.
— Eu sei, eu entendo. Não precisa pedir desculpas.
Chorei nos braços dela durante um longo momento, até que fui me
acalmando aos poucos e nos desvencilhamos do abraço.
— Como ela está? — indagou Sarah.
— Ainda não se sabe de nada. Estão trancados lá dentro há horas,
sem dar nenhuma notícia.
— É verdade que Dashiel está comandando a cirurgia dela?
— Sim. Um amigo especialista dele está o instruindo por meio de
chamada de vídeo.
— Tenho certeza que vai dar tudo certo e que ela vai ficar bem.
Não é isso que me assusta. O que realmente me espanta é você estar
andando por aí com esse cara. Será que você já se esqueceu do que
conversamos? De que pode ter sido ele quem matou Elizabeth e deixou
sua mãe nesse estado?
Balancei a cabeça negativamente.
— Não foi ele. Tenho certeza que ele é inocente.
— E como você pode ter tanta certeza disso, se nem mesmo a
polícia conseguiu provar nada?
— Eu não sei como, mas sinto que ele não fez nada disso.
Sarah me segurou pelas mãos e fez com que nos sentássemos nas
cadeiras desconfortáveis, diante uma da outra.
— Você se sente assim porque gosta dele. Você é apaixonada por
esse homem e essa paixão não deixa você enxergar um palmo à frente do
nariz. É lógico que foi ele que matou Elizabeth. Ninguém mais na face da
Terra teria motivos para fazer isso.
— Nós encontramos uma conversa suspeita no computador da
livraria, dando a entender que Elizabeth estava falida e alguém a
ameaçava, pedindo dinheiro. Aí pode estar a resposta de todo esse
enigma.
— Elizabeth, falida!? Você convivia diariamente com ela. Sabe
perfeitamente que dinheiro não faltava a ela.
— Falência é o tipo de coisa que dá para esconder. Além disso,
Dashiel e eu encontramos um cofre no escritório dela. Não conseguimos
abri-lo, mas a prova definitiva deve estar lá dentro.
Sarah ficou de pé, sua expressão horrorizada.
— É sério que você entrou na casa de Elizabeth com esse sujeito?!
— indagou, atônita — A coisa está pior do que eu imaginava. Ele está
manipulando você. Te usando para, obviamente, eliminar provas que o
incriminam e você caindo como um patinho.
Também fiquei de pé.
— Não é nada disso. Ele é inocente.
— Claro, porque você sente e isso não tem nada a ver com o que
ele tem entre as pernas.
— Por favor, não seja vulgar.
— Estou tentando abrir os seus olhos. Esse cara é perigoso e você
está colocando não apenas o seu pescoço em risco, mas também o da
sua filha! — Ela gesticulou para Savana, que dormia tranquila no carrinho,
ao nosso lado.
— Sua filha?! — A voz grossa irrompeu pela sala, de muito perto,
fazendo eco no cômodo enorme e vazio — Então ela é mesmo sua filha,
como eu já imaginava.
Dashiel surgiu do corredor e se aproximou de onde estávamos.
Tinha seu rosto abatido, evidenciando os sinais do cansaço, usava um
uniforme azul cirúrgico e tinha um lenço amarrado na cabeça.
Fiquei paralisada por um momento, sem ao menos encontrar forças
para perguntar sobre minha mãe, minha mente martelando com os
pensamentos, me torturando com a certeza de que, sabendo que Savana
era minha filha, ele saberia também que ela era sua.
O olhar de Dashiel oscilava entre Savana e eu, seu semblante
denotando uma mistura de emoções contidas. Ele se aproximou
lentamente, sua voz soando séria e controlada.
— Ela é minha filha, não é? — indagou ele.
Eu não sabia o que responder. Como dizer a um homem que
sonhava ser pai, que escondi a filha dele durante todo esse tempo?
No entanto, nem precisei dizer nada, meu silêncio era a
confirmação que ele precisava. O jeito emocionado como ele olhava para
sua filha era comovente, seus olhos azuis brilhavam como duas joias
raras, exprimindo o mais genuíno afeto.
Aquele olhar confirmava que ele já tinha certeza de que Savana era
sua.
— Como foi a cirurgia? Minha mãe está bem? — consegui
perguntar, quebrando o longo silêncio.
— Sim. Correu tudo bem. Agora é só esperar ela acordar.
Um turbilhão de emoções invadiu o meu peito, levando lágrimas
aos meus olhos.
— Ela vai acordar do coma? — Minha voz saiu fraca e trêmula.
— É o que esperamos. As chances de ela acordar agora são
maiores, pois conseguimos remover o coágulo. — Ele se aproximou do
carrinho de Savana, observando-a emocionado — E então, ela é mesmo
minha filha, não é?
Pensei seriamente em dizer que não, que já estava grávida quando
ficamos juntos. No entanto, eu me lembrava claramente de, naquela noite
no veleiro, ter dito a ele que não tinha uma vida sexual ativa.
Além do mais, Dashiel era um homem inteligente, um médico
renomado, bastava fazer as contas para saber que ela era sua, o que se
confirmaria facilmente com um teste de DNA. Em resumo, seria perda de
tempo mentir.
— Sim. — sussurrei, fazendo um gesto de cabeça.
A emoção se intensificou na expressão dos olhos de Dashiel, seus
lábios se abrindo em um sorriso emocionado, enquanto um medo
avassalador se apoderava de mim. Medo de ele me odiar por ter mentido,
a ponto de tentar tirar minha filha de mim.
No mundo em que vivíamos, ele conseguiria a guarda dela
facilmente, sendo o homem poderoso e rico que era, lutando contra uma
pobretona que não poderia oferecer à Savana o mesmo estilo de vida que
ele ofereceria.
— Eu percebi isso na primeira vez em que a vi. Só achei que seria
bom demais para acreditar. — Ele pegou Savana cuidadosamente do
carrinho, acomodando-a de encontro ao seu corpo, abraçando-a com
cuidado para não acordá-la — Meu Deus... não posso acreditar que sou
mesmo pai dessa princesa tão linda.
Os olhos dele marejaram de lágrimas, as emoções claras em sua
expressão. Naquele instante, tive certeza de que ele jamais a deixaria. Ele
a tiraria de mim, sem que eu pudesse fazer nada para impedi-lo.
— Por favor... não a tire de mim. — murmurei, com minha voz
trêmula, quase inaudível.
Dashiel me encarou com um misto de surpresa e fúria em seus
olhos azuis.
— Por que você não me disse que estava grávida? Por que me
privou de todo esse tempo com ela?
— Eu ia te contar, mas... — Não fui capaz de continuar.
— Mas o que, Willow? — A voz de Dashiel soou alterada,
acordando Savana, que choramingou em seus braços.
— Mas eu vi sua mulher com o olho roxo e fiquei com medo de
você.
— E nem passou pela sua cabeça me procurar para ouvir o outro
lado da história?!
Savana chorou mais alto, enquanto ele a segurava e aproximei-me
deles, trêmula dos pés à cabeça, dominada pelo medo aterrador de
perder minha filha.
— Por favor, entregue-me ela. — murmurei, estendendo os braços
para eles.
Dashiel observou-me por um momento de silêncio, durante o qual
meu coração quase parou de bater. Então, entregou-me Savana.
Ela estava cansada e fatigada de tanto ficar no carrinho, no
ambiente impróprio do hospital, de modo que continuou reclamando
enquanto eu a balançava, tentando confortá-la.
— Eu jamais a tiraria de você. Isso nem me passou pela cabeça. É
só mais uma teoria mirabolante inventada com base no que dizem sobre
mim. — Ele cravou seu olhar mortal em Sarah, que estava branca como
um papel, assustada, ciente de que ele a ouvira ao chegar. — Eu não
matei Elizabeth, como dizem, e nem sou um cara perigoso, como você
afirma com tanta veemência.
— E-eu n-não quis dizer aquilo. Só que... — Sarah gaguejou,
ficando ainda mais pálida.
Eu compreendia o medo que ela sentia. Dashiel realmente tinha
uma aparência intimidante.
Como se não bastasse seu olhar feroz, sua alta estatura e os
ombros muito largos, ele ainda tinha todas aquelas tatuagens espalhadas
pelo corpo, que o tornavam parecido com o líder de uma gangue perigosa,
como de fato ele fora quando adolescente.
— Quis dizer sim. — Ele a interrompeu — Assim como toda essa
cidade, você também acha que sou um assassino agressor de mulheres,
mas vou provar que não fiz nada do que sou acusado.
— Está bem. — Sarah sussurrou, sua voz trêmula.
Dashiel se virou novamente para mim.
— Sua mãe não vai acordar agora. Você precisa ir para casa e
descansar.
— Não vou sair daqui até ter certeza de que ela ficará bem.
Ele fechou os olhos e apertou o espaço entre eles com os dedos,
claramente contendo sua irritação. O cansaço era visível em cada um dos
seus gestos e traços.
— Sua mãe está sedada e não há previsão de quando acordará.
Ela está estável e o Dr. Benett a avisará se houver qualquer alteração.
Sua presença aqui não vai mudar nada. Além do mais, o ambiente
hospitalar não é saudável para um bebê. Savana precisa sair daqui, ela
precisa de conforto. Ou você a leva para casa, ou continua aqui e me
deixa levá-la.
— Não vou me separar da minha filha. Ela fica aqui comigo.
— Você não está sendo racional.
— Ele tem razão. — Sarah interveio, finalmente recobrando a cor
em seu rosto — Vá para casa. Savana não pode ficar aqui esse tempo
todo, sentindo esse cheiro de hospital, dormindo no carrinho. Se sua mãe
acordar, o médico avisa.
— Viu? Até sua amiga, que me odeia, concorda comigo. —
comentou Dashiel e Sarah não disse nada, apenas deu-lhe uma olhada
de soslaio.
Ela não o odiava, apenas tinha medo dele, como eu tivera antes de
conhecê-lo melhor e como toda a cidade tinha, pelo que diziam sobre ele.
— Vocês estão certos. — admiti, derrotada — Vou para casa com
Savana. Não é mesmo bom para ela ficar aqui.
— Eu te levo. — Dashiel se ofereceu.
— Isso pode ser perigoso. — Sarah interveio — Se não foi mesmo
você que matou Elizabeth, o verdadeiro assassino vai se sentir ameaçado
ao ver vocês dois juntos.
— Eu sei disso. Mas já fomos vistos juntos por toda a cidade e não
temos mais a opção de nos esconder. Agora tenho que proteger as duas e
ficar longe não vai ajudar com isso.
O olhar com que Sarah o encarava mudou, passando de assustado
para admirado. Ela começava a ficar deslumbrada por ele, como qualquer
mulher que o enxergasse de perto ficaria, e eu nem podia culpá-la.
— Elas vão mesmo precisar de proteção. O cara que entrou na
casa deve ter sido o mesmo que tirou a vida de Elizabeth e provavelmente
vai tentar eliminar a única testemunha de novo. Não quero nem imaginar
uma coisa dessa.
Processei as palavras dela, e um estremecimento me varreu dos
pés à cabeça.
— Isso não vai acontecer. Esse safado vai ter que passar por mim
se quiser chegar perto dela. E não é qualquer um que passa por mim. —
A admiração se intensificou na expressão de Sarah. — Agora vamos.
Temos que tirar Savana desse hospital.
— Eu iria com vocês, mas Jeremy está me esperando. — disse
Sarah.
— Tudo bem. Eu entendo.
Sarah veio até mim, e nos abraçamos demoradamente.
— Por favor, tome cuidado.
— Eu tomarei.
— Ela estará em boas mãos. — Dashiel emendou.
Deixamos o hospital juntos. Enquanto Sarah se afastava na sua
scooter, Dashiel e eu entrávamos no carro dele e partíamos na direção
oposta.
CAPÍTULO 34

O trajeto até minha casa foi feito em meio a um silêncio tenso,


interrompido apenas pelos eventuais choramingos de Savana. O olhar de
Dashiel se perdia na estrada, e eu sentia o peso da tensão que pairava no
ar.
Ao chegarmos, ele desligou o carro e ficou alguns segundos
encarando o volante antes de se virar para mim.
— Sua amiga estava certa. Você não deveria ter vindo comigo.
Pode ser perigoso para você e para Savana serem vistas comigo, pelo
assassino.
Suspirei, abraçando Savana com mais firmeza.
— Você também estava certo quando disse que é melhor ficar
conosco do que nos deixar sozinhas.
— Você acredita em mim, não é? — perguntou, sua voz suave.
Olhei nos olhos dele e vi a sinceridade. Apesar de todas as
suspeitas, eu acreditava que ele era inocente.
— Acredito, Dashiel. Mas precisamos provar isso.
— Eu vou provar, custe o que custar. — Ele lançou um olhar terno
para Savana — Agora tenho ainda mais motivos para lutar pela minha
liberdade.
A serenidade que ele demonstrava após descobrir que eu havia
ocultado Savana era verdadeiramente surpreendente. Em seu lugar, eu
me sentiria consumida pela raiva.
— Me desculpe por tê-la escondido de você. — sussurrei.
Ele soltou um suspiro pesado.
— Apesar de uma parte de mim estar furiosa por você ter me
negado o direito de vê-la nascer, há outra parte que tenta te entender.
Conheço minha reputação nessa cidade, que é agravada pelas mentiras
inventadas por Amélia. Como se não bastasse, ainda há sua idade. — Ele
balançou a cabeça, parecendo meio desolado — Você era só uma menina
de dezoito anos, que engravidou de um cara de trinta. Eu deveria estar
furioso comigo mesmo.
— Eu não me arrependo de nada. Savana foi a melhor coisa que já
me aconteceu.
Ele sorriu e acariciou a cabeça de Savana, que dormia em meus
braços.
— Você está fazendo um trabalho maravilhoso com ela, mas agora
estou aqui e vamos fazer isso juntos.
— Eu sei.
— Agora vamos entrar.
Ao sairmos do carro, as luzes suaves da rua delineavam o caminho
até a entrada. A casa estava silenciosa, como se soubesse da tensão que
carregávamos conosco.
Dashiel ajudou-me a levar Savana para dentro, e eu a coloquei
suavemente em seu berço, admirando o milagre da vida que tínhamos
criado.
Continuamos ali de pé, diante do berço, observando nossa filha,
mergulhados no mais profundo silêncio.
Eu olhei para Dashiel, seus olhos azuis refletindo uma miríade de
emoções, enquanto ele contemplava o bebê dormindo tranquilamente
entre os lençóis. Ele ainda usava o uniforme do hospital e parecia
realmente encantado e apaixonado por Savana.
— Eu... eu realmente queria ter sabido desde o início. Queria ter
acompanhado sua gestação e presenciado o nascimento dela. Sinto que
perdi tanto desse milagre.
— Mas você está aqui agora. Ainda não é tarde. Ela está só
começando a vida dela.
— Sim, eu estou. E nunca mais sairei do lado dela. — Ele ficou
reflexivo por um instante, seu semblante carregado de emoções — Meu
Deus... ainda não posso acreditar que realmente sou pai. É tudo o que
sempre quis na vida.
— E, apesar de ter te conhecido agora, Savana já adora você.
— Acho que ela pode sentir os laços que nos unem. Assim como
senti quando a vi pela primeira vez. Ela é parte de mim, e eu sou parte
dela. Eu já a amo tanto que seria capaz de dar minha vida por ela.
— Não precisa dar sua vida por ela. Basta tratá-la bem e jamais
magoá-la.
— Eu darei o mundo a ela. Ela terá as melhores escolas, as
melhores coisas e a melhor faculdade.
— Não vamos fazer planos tão longos ainda. Por enquanto, ela só
precisa do nosso amor e carinho, para crescer se sentindo amada.
Dashiel virou o pescoço, fitando-me diretamente nos olhos, com
uma expressão alarmada.
— Vocês precisam se mudar para a minha casa. Aqui não é
seguro.
— Não vou sair da minha casa por causa de um vagabundo.
— Não é só um vagabundo. É um assassino perigoso. Na minha
casa tem os seguranças e quando ele for apanhado você volta para cá.
Parte da sua proposta era realmente preocupação. Contudo,
imaginei que havia uma parte dele relutando em ver sua filha crescendo
em uma casa tão simples quanto a minha, quando poderia estar em meio
ao luxo da sua mansão, um lugar tão isolado da civilização que não
chegara ao conhecimento dele que eu tinha uma filha, mesmo que toda a
cidade já soubesse.
Ele podia ser o pai de Savana e dar tudo o que ela precisava, mas
eu preferia que ela crescesse na simplicidade que eu havia crescido. Não
queria que ela corresse o risco de se tornar uma adolescente esquisita a
ponto de fazer parte de uma gangue e de cobrir o seu corpo com
tatuagens.
Além do mais, eu tinha minha vida e Dashiel tinha a dele. Não
podíamos simplesmente dividir o mesmo teto.
— Nem sabemos se esse cara vai ser apanhado algum dia. Eu fico
na minha casa e Savana fica comigo. Agora, se você puder me dar
licença, preciso tomar um banho. Estou muito cansada, precisando de
roupas limpas e cama.
Dashiel encarou-me durante um longo momento de silêncio, sem
que eu fizesse ideia do que se passava pela sua cabeça.
— Claro. Vou pedir alguma coisa para a gente comer. Será que
ainda estão entregando a essa hora?
— Sim. Eles fecham bem tarde.
— Ótimo. Vou fazer os pedidos.
Ele sacou o celular do bolso e saiu do quarto com o aparelho
moderno nas mãos. Dei mais uma olhada em Savana, que dormia
tranquilamente no berço, e fui para o banheiro.
Sentir a água quente do chuveiro sobre meu corpo exausto e tenso
foi como um bálsamo para as minhas dores. Permaneci no banho durante
um longo momento, pensando na minha mãe naquela UTI, em como ela
se sentiria sozinha e abandonada quando acordasse e não me visse ao
seu lado.
Quando desliguei o chuveiro, a ausência do barulho da água me
permitiu ouvir os sons que vinham do quarto. Era impressão minha, ou
Dashiel estava mesmo cantando? E o que diabos ele estava fazendo de
volta ao meu quarto?
Mais que depressa, enrolei-me em uma toalha e deixei o banheiro
quase correndo. No quarto, o encontrei com Savana no colo, cantando
para ela enquanto a balançava em seus braços, tentando fazê-la voltar a
dormir.
— Shhh — disse ele, esticando o dedo indicador sobre os lábios e
continuando a cantoria. Entoava uma dessas canções de ninar antigas e
melancólicas.
Durante um longo momento, permaneci onde estava,
completamente hipnotizada e enfeitiçada, observando a cena diante de
mim com o coração quentinho de tanto afeto.
O homem grande, musculoso e tatuado, usando um uniforme de
cirurgião, segurando o bebê que parecia ainda mais frágil e pequeno em
seus braços, era realmente a visão mais encantadora que uma mãe
poderia ter.
Savana era sortuda em ter um pai que a amava. Eu nunca soube
como era isso.
— Ela não está com sono, está com fome. — anunciei, avançando
pelo quarto.
— Bem que eu achei que esses olhões azuis estavam abertos
demais para uma hora dessas da noite.
— Vou preparar uma mamadeira para ela.
Dirigi-me em direção à porta, enquanto os olhos de Dashiel me
acompanhavam fixamente.
— É melhor você se vestir primeiro, ou não responderei por mim.
Apenas então me lembrei que usava apenas a toalha e voltei quase
correndo para o banheiro, onde já havia separado roupas limpas.
Após me vestir rapidamente, preparei a mamadeira de Savana e
retornei ao quarto. Dashiel parecia muito à vontade brincando com
Savana na cama, batendo palmas e fazendo-a sorrir com brincadeiras
bobas.
Não pude deixar de notar como a expressão dele mudava ao cuidar
da nossa filha.
— Parece até que você fez isso a vida inteira. Tem certeza que não
tem outro filho?
— Minha irmã tem um filho. Sempre observei o jeito como ela
cuidava dele quando era bebê.
— Eu não sabia que você tem uma irmã.
— Há muito sobre mim que você ainda não sabe, mas pretendo
mudar isso.
— Como? Me levando para morar na sua mansão?
— Talvez isso possa não ser apenas temporário. — Seu olhar se
tornou intenso sobre o meu, e me apressei em virar o rosto.
Eu não queria me iludir com a ideia de que ficaríamos juntos um
dia, pois pertencíamos a mundos diferentes e nem mesmo o fato de
termos uma filha juntos poderia mudar essa realidade.
— Isso não vai acontecer. — retruquei.
— É o que vamos ver.
Dashiel me lançou um sorriso mais do que safado, depois, pegou a
mamadeira da minha mão e ajeitou Savana em seus braços, começando
a alimentá-la.
— Você tem mesmo um jeito surpreendente com ela. — comentei.
— Acredite, nunca pensei que me veria fazendo isso. Mas é como
se algo dentro de mim despertasse quando estou perto dela.
Savana começou a mamar, e o quarto ficou preenchido com o som
suave dela se alimentando, enquanto eu me acomodava na beirada da
cama, encantada como sempre ficava quando observava os dois juntos.
— Ela é tão pequena e indefesa, mas ao mesmo tempo, tão forte.
Uma verdadeira guerreira, como a mãe. — disse Dashiel, rompendo o
longo silêncio.
Agradeci-lhe com um aceno de cabeça, tocada por suas palavras.
Havia algo genuíno em sua expressão, como se a paternidade tivesse
acendido uma chama de responsabilidade e amor dentro dele.
— Ela merece crescer em um ambiente seguro, longe de qualquer
ameaça. Posso providenciar isso para ela, para vocês duas.
Eu ponderava sobre a oferta dele. Por um lado, a segurança
oferecida parecia tentadora, mas por outro, a ideia de mudar
completamente a vida que havíamos construído era assustadora.
Além disso, eu não conseguia ignorar a voz interior que sussurrava
sobre as verdadeiras intenções dele.
— Eu aprecio a preocupação e a oferta, de verdade, mas não
podemos simplesmente abandonar tudo e ir morar em sua casa. Nossa
vida está aqui.
Ele assentiu compreensivamente, mas havia uma sombra de
decepção em seus olhos.
— Antes de tudo isso acontecer, eu era apenas um médico. Agora,
olho para vocês duas, e sinto que a vida me deu algo que eu não sabia
que precisava.
Savana já estava quase adormecida quando terminou a
mamadeira, e Dashiel a colocou novamente no berço.
Ficamos lá parados ao lado do berço, parecendo dois
deslumbrados, observando nossa linda filha enquanto ela voltava a
mergulhar no sono, com sua chupeta na boca, agarrada ao cueiro que
tanto gostava, como se o cheirinho do tecido a reconfortasse.
Pouco depois a comida chegou, e Dashiel foi abrir a porta para o
entregador, cujo rosto ficou pálido como um papel ao olhar para ele, com
seus olhos arregalados de medo.
Dashiel havia pedido asinhas de frango com molho de laranja, e
fizemos a refeição acomodados à mesa da cozinha.
Não falamos muito enquanto comíamos, embora a troca de olhares
entre nós fosse constante e fervorosa.
Cada vez que eu me levantava da cadeira, podia sentir o olhar dele
sobre minha bunda. Às vezes, seu olhar sequioso se fixava na minha
boca, e de alguma forma, eu sabia que ele estava pensando em sexo.
Contudo, não dei espaço para que tentasse nada.
CAPÍTULO 35

— Você pode ir para a sua casa. Não precisa passar a noite aqui.
— anunciei, após a refeição.
Já era madrugada, o cansaço e a preocupação com minha mãe
tomavam conta de mim.
— De jeito nenhum. Não saio do seu lado e da minha filha
enquanto esse psicopata que está solto por aí não for preso.
— Nesse caso, você dorme no quarto da minha mãe, ou então fica
no sofá.
— Eu fico com o sofá.
— Ele é bastante desconfortável.
— Então tenha um pouco de compaixão e divida sua cama comigo.
— Boa noite, Dashiel.
Dito isto, dei-lhe as costas e fui para o meu quarto.
Dei mais uma olhada na minha princesa e fui para a cama. Antes
de me deitar, liguei mais uma vez para o hospital, em busca de notícias
sobre minha mãe e, mais uma vez, disseram-me que ela estava estável,
embora ainda não tivesse dado sinais de consciência.
Apesar de toda a aflição, eu me sentia tão exausta que consegui
dormir durante algumas horas. Era dia quando acordei, Savana
continuava dormindo.
Levantei-me ainda sonolenta e fui direto para a cozinha, onde
preparei um café bem forte para despertar o sono. Liguei mais uma vez
para o hospital, e as informações sobre o estado da minha mãe
continuavam as mesmas.
Com a caneca de café na mão, fui até a sala. Estaquei perto da
porta, estarrecida com a visão com a qual me deparei. Dashiel ainda
estava dormindo, esparramado sobre o sofá de três lugares, pequeno
demais para ele.
Não estava usando camisa, mas apenas a calça azul do uniforme
médico. Pela primeira vez eu tinha uma visão mais completa das suas
tatuagens. Eram desenhos medonhos, todos em cor grafite, que cobriam
completamente seu peitoral largo e musculoso.
Incapaz de me controlar, desci o olhar até o abdômen sarado, onde
era possível enxergar o início de uma camada de pelos púbicos ralos,
aloirados, escapando do cós muito baixo da calça.
Havia imagens ali de uma águia com as asas abertas e os olhos
ferozes que pareciam encarar quem a observava. Várias outras tatuagens
a circundavam.
Um pouco mais abaixo, era possível notar a imensa protuberância
na sua calça, indicando que ele estava de pau duro.
Recostei-me no batente da porta e lentamente ingeri um gole do
meu café, apreciando a visão diante de mim, com um formigamento na
barriga, um calor gostoso se espalhando pelo âmago.
Aquele homem era a tentação em forma de pessoa. Era impossível
olhar para ele e não sentir vontade de transar.
Como se sentisse o peso do meu olhar, ele acordou, abrindo
subitamente seus olhos. Fitou-me durante um momento de silêncio e se
esticou todo, se espreguiçando.
— Bom dia. — falei — Conseguiu dormir bem?
— Mal para caralho. Esse sofá é uma merda.
— Acordou todo dolorido?
— Sim. Principalmente aqui. — Ele fechou sua mão grande sobre e
ereção estufada, apertando-a por cima do tecido da calça, enquanto seus
olhos se estreitavam, reluzindo safadeza pura — Sonhei que estava te
comendo e acordei com meu pau doendo de tanta vontade de te foder. —
Ele sibilou e alguma coisa piscou entre minhas pernas.
— Deve ser porque faz tempo que você não transa.
— Não é por isso, embora também influencie. E Savana?
— Ainda está dormindo.
Sem que nada tivesse me preparado para tamanho descaramento,
ele puxou o pau, duro e enorme, de dentro da calça, masturbando-o
lentamente.
— Você bem que podia tirar a calcinha e dar uma sentadinha aqui.
Estou louco pra sentir o calor dessa bocetinha apertando meu pau.
Ao invés de me chocarem suas palavras me excitavam,
perdidamente, deixando minha calcinha molhada, os bicos dos meus
seios endurecendo a ponto de doerem.
Porra... eu queria muito sentar naquele pau grosso e delicioso,
como ele pedia, mas não podia me entregar à devassidão enquanto
minha mãe sofria naquele hospital.
— Comporte-se, Dashiel. Você está em uma casa de família.
Com o intuito de esconder o que sentia, dei-lhe as costas e rumei
de volta para a cozinha. Antes mesmo de alcançar a metade do cômodo,
ouvi os passos apressados dele atrás de mim, e logo seus braços me
agarraram por trás, puxando-me e pressionando minhas costas contra o
peitoral sólido.
Ele se inclinou e abocanhou minha orelha, sua língua brincando
com o meu lóbulo, enquanto suas mãos intrusivas me apalpavam inteira,
uma delas alternando entre meus seios, apertando-os, enviando correntes
de tesão que se espalhavam por todo o meu ser.
A outra se infiltrou no cós da minha calça de moletom, invadindo
minha calcinha, apertando minha boceta ao mesmo tempo em que
empurrava minha bunda contra a firmeza da ereção.
— Vamos tonar nossa família ainda maior. Estou pronto para ter
mais uns cinco filhos com você.
— Dashiel... pare... — sussurrei, pouco convincente.
— Não quero parar.
Ele nos locomoveu facilmente pela cozinha. Ao nos aproximarmos
da mesa, debruçou-me brutalmente sobre ela, prendendo meus pulsos às
minhas costas, imobilizando-me por completo.
Com a outra mão, ele baixou minha calça e afastou minha calcinha
para um lado, segurando seu pau pelo meio e esfregando a cabeça
rosada na fenda entre meus lábios vaginais e sobre meu ânus, me
lambuzando toda.
— Que delícia... toda babadinha... — sibilou.
— Me solta. Não podemos fazer isso.
Ele continuou esfregando seu pau na minha abertura, ameaçando
me penetrar.
— Podemos sim, somos livres e desimpedidos e você tá toda
meladinha, doida para tomar o meu pau.
— Não... me solta...
— Me pede... me pede pra te comer...
— Não.
Ele deu um tapa estalado na minha bunda, e automaticamente abri
um pouco mais as pernas, empinando-me mais para ele, o fogo do tesão
me consumindo e enlouquecendo.
— Resposta errada... pede... me pede pra te foder bem forte... ou
vou meter em você sem a sua permissão...
Ele deslizou a glande corpulenta sobre minha humidade, levando-a
até meu clitóris e a moveu em círculos firme, massageando meu feixe,
arrancando-me um gemido de puro prazer, me fazendo arreganhar ainda
mais para ele.
— Ah... porra... — gemi, ensandecida.
— Isso minha safadinha, geme no meu pau... vou dar ele todo para
você... mas quero que você peça... me pede pra te comer...
Eu o queria dentro de mim e o resto não mais importava. Contudo,
no instante em que abri a boca para pronunciar as palavras, o choro de
savana irrompeu pela casa, partindo do quarto e nos afastamos com um
movimento apressado, Dashiel subindo sua calça, eu ajeitando a minha
de volta no lugar.
— Salva pelo gongo. — disse ele.
Precisei respirar fundo algumas vezes para conseguir me
recompor. Eu tinha um milhão de repreensões para fazer a ele e a mim
mesma.
Queria dizer-lhe que precisávamos parar com essa loucura, pois
minha mãe estava sofrendo e eu precisava demonstrar algum respeito. No
entanto, nenhuma das palavras atravessou minha garganta.
— Vou cuidar da neném. — avisei.
— E eu vou tomar um banho frio.
Com isto, ele foi rumo ao banheiro, enquanto eu seguia para o
quarto.
CAPÍTULO 36

Peguei Savana no quarto e retornei à cozinha para preparar sua


mamadeira. Pouco depois, Dashiel juntou-se a nós, recém-banhado,
usando as mesmas roupas sujas.
Após abraçar e beijar nossa filha, ele se dedicou a preparar o café,
enquanto eu a alimentava. Fiquei surpresa com as habilidades culinárias
dele ao preparar panquecas e ovos fritos.
Acomodei Savana em sua cadeirinha de refeições e me sentei à
mesa. Um clima agradável de cumplicidade e intimidade se estabeleceu
enquanto fazíamos a refeição.
Durante todo o tempo, Dashiel tentava, insistentemente, ensinar
Savana a pronunciar a palavra “papai”, mesmo ciente de que ela ainda
não sabia falar.
Fiquei ligeiramente indignada quando ela começou a balbuciar algo
como: “pá, pá, pá,” sem nunca ter dado indícios de me chamar de mãe.
— Eu não acredito que ela vai te chamar de pai antes de me
chamar de mãe. — comentei, com tom brincalhão, antes de morder um
pedaço de panqueca.
— O que foi, está com ciúmes? — Dashiel me deu um sorriso
cínico.
— Até parece que tenho motivos para isso.
— Não precisa mesmo ter. Ela vai nos amar igualmente. Não é,
meu amor?
— Pá! Pá! Pá!
Eu não me cansava de observar a harmonia entre os dois,
fascinada pela conexão que compartilhavam. Contudo, era necessário
discutirmos o desdobramento dessa situação.
Não tinha a intenção de me mudar para a residência de Dashiel,
conforme ele desejava. Da mesma forma, não planejava separá-lo de sua
filha.
— Precisamos falar sobre como as coisas se desenrolarão. —
anunciei.
— E como você enxerga esse desdobramento?
— Pode-se considerar o pagamento de uma pensão alimentícia,
assegurando que ela tenha acesso a tudo que você deseja oferecer, e
você ainda pode visitá-la quando quiser.
— Você ouviu isso, Savana? Ela acha mesmo que sairei de perto
de você.
— E o que pretende fazer, ficar dormindo no sofá até ela ir para a
faculdade?
— Até que não é má ideia. Posso trocá-lo por um sofá mais
confortável.
Não consegui conter um sorriso e continuamos conversando sobre
o assunto, sem realmente levá-lo a sério.
Mesmo quando terminamos de comer, permanecemos à mesa,
falando coisas sem relevância, jogando conversa fora e brincando com
Savana, que jamais me pareceu tão feliz e radiante quanto naquele
momento, como se de alguma forma soubesse que Dashiel é parte dela.
O toque do meu celular trouxe de volta a atmosfera de tensão da
qual tínhamos nos esquecido momentaneamente. Meu coração apertou
no peito ao ver que era uma ligação do hospital.
— Alô. — atendi, apreensiva.
— Eu falo com Willow? — A voz que partiu do outro lado da linha
era do Dr. Bennet.
— Sim, doutor. Como está minha mãe?
— Tenho boas notícias, ela acabou de acordar. Está melhor do que
esperávamos, já até falou algumas palavras.
O turbilhão de emoções que me invadiu foi tão intenso que meus
olhos se encheram de lágrimas.
— Meus Deus! Não posso acreditar!
— Pois acredite. E agradeça ao Dr. Whitman. Ele fez um
verdadeiro milagre quando a operou. Dificilmente ela teria se recuperado
sem a intervenção dele.
Olhei para Dashiel, brincando com Savana do outro lado da mesa,
e meu coração se inundou com o mais profundo afeto.
— Eu agradecerei a ele. Posso ir vê-la agora?
— Claro. Só que ela não receberá alta por enquanto. Precisa ficar
no hospital, em observação durante mais alguns dias.
— Tudo bem. Até mais.
— Até.
Quando encerrei a ligação, percebi que as lágrimas escorriam pelo
meu rosto, lágrimas de pura felicidade.
— Boas notícias sobre sua mãe? — antecipou Dashiel.
— Sim. Ela acordou e vai ficar bem. O Dr. Bennet disse que foi
graças à sua cirurgia.
— Com uma notícia dessas e você está chorando, ao invés de
comemorar?
— Estou chorando de tanta felicidade. — Levantei-me e contornei a
mesa, aproximando-me dele, meu peito repleto de gratidão — Obrigada
por ter salvado a vida dela.
Dashiel ficou de pé e me colheu em seu abraço, fazendo-me
parecer muito pequena e frágil em comparação com seu tamanho e sua
força bruta.
O calor do seu corpo era delicioso, e me agarrei a ele, deitando a
cabeça em seu peito largo, com meus olhos fechados, meu coração
acelerado no peito.
— Não precisa me agradecer. Eu faria qualquer coisa por você.
— Por quê?
— Não tem um porquê. Talvez porque você tenha sido a única
pessoa que acreditou quando eu disse que sou inocente de tudo o que me
acusam.
— Me desculpe por ter escondido Savana de você.
— Está desculpada. Agora seque essas lágrimas e vamos ao
hospital ver sua mãe. — Ele desfez o abraço e me encarou com um
sorriso. — Até porque não queremos que o bebê se assuste vendo o
estado em que a mãe dela me deixa.
Demorei um segundo para entender do que ele estava falando e
dei um tapinha em seu peito quando a compreensão me alcançou.
— Não seja safado na frente da minha filha.
— Da nossa filha. Agora vamos.
Partimos para o hospital no carro de Dashiel. Como previsto, todos
os olhares se voltavam para o luxuoso veículo, tentando avistar quem
estava dentro dele, enquanto atravessávamos a cidade.
No hospital, fui direto para o quarto da minha mãe, empurrando o
carrinho de Savana, enquanto Dashiel ia conversar com o Dr. Bennet.
O quarto dela estava banhado por uma luz suave, criando uma
atmosfera serena. Minha respiração ficou presa ao ver minha mãe deitada
no leito.
Seu rosto, habitualmente radiante, agora carregava as marcas da
batalha que enfrentara. Seus cabelos, outrora volumosos, foram
substituídos por uma suave penugem que revelava a recente raspagem
devido à cirurgia.
A expressão serena, no entanto, permanecia inabalável. Seus
olhos cansados, mas brilhantes, encontraram os meus quando entrei.
Ela vestia uma camisola hospitalar, cuja cor desbotada não podia
apagar a dignidade que emanava dela. Uma sensação de vulnerabilidade
pairava no ar, tornando-a mais humana, mais próxima.
Apesar da sua fragilidade evidente, ela sorriu ao me ver. Lágrimas
de alívio e alegria marejavam meus olhos enquanto me aproximava da
cama.
— Mamãe! — exclamei, segurando sua mão com cuidado.
Ela sorriu calorosamente e, com uma voz ainda um pouco frágil,
respondeu:
— Willow, minha querida. Como eu senti sua falta.
As palavras dela foram como música para os meus ouvidos, a
sensação de ter minha mãe de volta, consciente e sorridente, era
indescritível. Segurei Savana no colo, permitindo que ela visse a avó.
— Eu e Savana também sentimos a sua falta. Aquela casa não é a
mesma sem a senhora.
— O que exatamente aconteceu? Prenderam o ladrão que me
atacou?
— Não pense nisso agora, mas apenas em se recuperar. Como a
senhora está se sentindo?
— Confesso que já estive melhor, mas pelo que o médico disse,
também já estive pior. Agora sei que vou melhorar.
— Conseguiu comer alguma coisa?
— Um pouco. Ainda estou meio enjoada por causa da medicação.
Durante os minutos seguintes, conversamos sobre a cirurgia, sobre
como ela se sentia e, claro, sobre Savana. O quarto estava repleto de
emoção, e o tempo parecia desacelerar enquanto falávamos.
— Eu estava com tanto medo de te perder. — confessei, lutando
contra as lágrimas.
— Oh, minha querida, eu sabia que você estaria aqui por mim.
Sempre soube. — Ela apertou minha mão com ternura.
— O Dr. Bennet disse que a senhora ainda precisa ficar aqui alguns
dias, mas logo voltará para casa.
— Eu sei que você sempre foi independente, mas agora mais do
que nunca, quero que você cuide de Savana e de você mesma. Não se
preocupe tanto comigo.
O diálogo prosseguiu, entrelaçando risos e lágrimas. Intrigada, ela
indagou sobre Dashiel, o médico que, de acordo com o Dr. Bennet, havia
salvado sua vida.
Assim como toda a cidade, ela estava ciente das suspeitas que
pairavam sobre ele no caso do assassinato de Elizabeth.
No entanto, não conseguia entender porque tinha sido operada por
ele, pois desconhecia o fato de que ele era o pai de Savana.
Eu havia lhe dito que o pai de minha filha era um turista de
passagem pela cidade, sem nunca mencionar o nome de Dashiel.
Naquele momento, optei por não revelar nada, aguardando sua
completa recuperação para abordar um assunto tão delicado.
CAPÍTULO 37

Pouco tempo depois, Dashiel entrou no quarto para vê-la, fez


algumas perguntas sobre como e sentia e, após prescrever alguma
medicação, avisou que precisaria deixar o hospital para resolver um
problema, mas que logo voltaria para me buscar.
Recomendou-me insistentemente a não ir para casa sozinha,
devido ao perigo que ainda rondava.
Durante as horas que se seguiram, permaneci ao lado da minha
mãe, conversando e fazendo-lhe companhia, para que ela soubesse o
quanto era amada.
Se aproximava do meio-dia quando recebi um telefonema de
Thomas, pedindo que eu fosse até a delegacia conversar com ele. Como
não falou do que se tratava, presumi que ele havia prendido o homem que
invadira nossa casa e agredira minha mãe e me apressei em ir até lá,
ávida por saber quem era o desgraçado e porque fizera isso.
Como a delegacia ficava perto do hospital, fui mesmo a pé,
empurrando o carrinho de Savana.
O policial que estava na recepção me encaminhou até a sala de
Thomas, e logo eu estava sentada à mesa do chefe de polícia, com
Savana no colo e ele nos observando do outro lado.
— Sua filha está enorme. Já fez um ano? — indagou Thomas.
— Não. Ela tem oito meses. É mesmo um bebê grande.
“Vai ficar enorme como o pai dela”. Completei, mentalmente.
— E sua mãe, como está?
— Melhorando, graças a Deus. Passou por uma cirurgia delicada,
mas está bem melhor. — Você conseguiu prender o sujeito que invadiu
nossa casa?
— Ainda não, mas estamos trabalhando nisso. Sua mãe viu o rosto
dele?
— Não. Estava escuro, ela viu apenas o vulto dele e quando gritou,
foi golpeada na cabeça.
— Eu lamento por ela. Foi o Dr. Bennet quem a operou?
— Não. Foi Dashiel Whitman. Ele fez um verdadeiro milagre.
A fisionomia de Thomas se contraiu subitamente.
— Foi para falar sobre esse Dashiel que te chamei aqui. — Seu
tom de voz denotava gravidade, o que me deixou em alerta.
— O que tem ele?
— Fiquei sabendo que você está andando por aí com ele e resolvi
te alertar de que você pode estar correndo um grande perigo. — Ele
projetou seu corpo para a frente, olhando-me diretamente nos olhos —
Esse cara é um assassino, ele é responsável por um crime do qual você é
a única testemunha, provavelmente foi ele quem invadiu sua casa, você
tem ideia do quanto é arriscado ficar perto dele?
— Eu acho que não foi ele que matou Elizabeth. Aliás, tenho quase
certeza disso.
Thomas recostou-se no espaldar da cadeira.
— E como você pode saber disso?
— Eu não sei, mas sinto que não foi ele. — O olhar dele se moveu
lentamente, alternando entre mim e Savana, evidenciando que ele
acabava de desconfiar da minha relação com Dashiel — Eu o estou
ajudando a provar que é inocente. — Emendei, tentando desviar sua
atenção — Nós fomos à casa de Elizabeth e encontramos um cofre, onde
podem estar as provas. Mas não conseguimos abri-lo. Talvez você possa
ajudar com isso.
— Um cofre? Em que lugar da casa?
— No escritório. Atrás de um quadro.
— Vou ver o que posso fazer, mas não sei se conseguirei alguém
na cidade que saiba abri-lo sem a senha. Descobriram mais alguma
coisa?
— Uma conversa suspeita em um aplicativo instalado no
computador da livraria. O diálogo dá a entender que Elizabeth estava
falida e alguém a chantageava.
— Quem?
— Não sei. Não dava para identificar a pessoa, mas talvez você
consiga o endereço do IP com uma ordem judicial.
— Por que você não me procurou antes com essas informações?
— Sei lá, tive medo do que você pensaria, pois falei que não
conhecia Dashiel.
— Realmente, foi um erro da sua parte mentir a esse respeito, mas
esconder informações da polícia é pior.
— Me desculpe.
Thomas soltou um suspiro pesado e novamente se inclinou para a
frente, fitando-me mais de perto.
— Eu vou averiguar o cofre e o chat para ver se encontro alguma
coisa, mas enquanto isso você tem que me prometer que vai ficar longe
desse cara. — Ele fez uma pausa, como se escolhesse as palavras — Eu
não sei ao certo que tipo de ligação você tem com ele, já estou até
achando que ele é o pai da sua filha, mas te garanto que ele é perigoso.
Sei que estou na polícia há pouco tempo, mas cresci acompanhando o
trabalho do meu pai e me preparando para assumir o lugar dele um dia.
Além disso, conheci Dashiel quando ele morava aqui. Ele sempre foi
perigoso, um arruaceiro violento, envolvido com drogas. Se uma coisa eu
posso te dar certeza é que esse cara matou Elizabeth.
Suas palavras provocaram um calafrio na minha espinha.
— Ser um arruaceiro não faz de uma pessoa um assassino.
— Eu não o julgo apenas pelo passado, mas pelas evidências. —
Os olhos dele se ampliaram, fixos nos meus — Willow, ele não tem um
álibi para a noite do crime, disse que estava em casa dormindo, mas um
médico acostumado a dar plantões noturnos não dorme tão cedo. Além do
mais, Elizabeth não tinha nenhum inimigo, fora ele. Ela prestou queixa
contra ele, dizendo que estava sendo ameaçada de morte. Essas provas
são suficientes para nos dar certeza de que ele a matou. Ele só ainda não
está preso porque tem muito dinheiro e pagou o melhor advogado para
tirá-lo da cadeia.
— Essa denúncia que Elizabeth fez, foi via mensagem? Pois pode
ter sido falsifi...
— Meu Deus! Você está cega e surda! — Ele me interrompeu — A
denúncia foi feita pessoalmente. Eu mesmo conversei com ela. Elizabeth
estava apavorada, com medo desse homem. Ele a ameaçou mais de uma
vez, por estar ajudando a mulher dele a deixá-lo.
As palavras dele conseguiram me tirar dos trilhos, derrubando por
terra todas as minhas convicções de que Dashiel era inocente.
De repente, senti como se um abismo se abrisse sob meus pés e
me engolisse. Olhei para a minha filha, e meu coração apertou dentro do
peito. E se eu a estivesse expondo a um assassino? E se Dashiel
realmente fosse culpado?
Se Elizabeth estivera pessoalmente na delegacia, reclamando que
ele a ameaçava, era quase impossível duvidar de que ele a matara.
Minha nossa! E eu deixei que ele dormisse na minha casa, junto
com minha filha.
— Não existe a possibilidade de Elizabeth estar envolvida em uma
trama contra ele, talvez junto com a esposa? Ele me garantiu que nunca a
agrediu. — Tentei me apegar ao último vestígio de esperança de não ter
tido uma filha com um assassino agressor de mulheres.
— Ele jamais confessaria, mas fez isso. A esposa nunca o
denunciou, porque mulheres nessa situação têm dificuldade de delatar o
agressor, mas Elizabeth me contou tudo.
— Então por que ele me pediria ajuda para provar que é inocente?
— Porque você é a única testemunha e ele te quer por perto. Ou
talvez esteja à procura de alguma evidência que o incrimine, a fim de
destruí-la antes de ser encontrada pela polícia. Por isso ele entrou na sua
casa na noite em que sua mãe foi atacada.
Tudo o que ele dizia parecia se encaixar e fazia todo sentido. Ainda
assim, havia uma parte de mim que relutava em acreditar.
Talvez eu estivesse mesmo cega e surda, como todos diziam, tão
apaixonada por Dashiel que me tornara incapaz de enxergar uma verdade
que estava bem diante de mim.
CAPÍTULO 38

Deixei a delegacia com minha mente fervendo de pensamentos. Já


não tinha mais certeza de nada. Não sabia se acreditava na inocência de
Dashiel ou na sua culpa.
Minha única convicção era que eu precisava me afastar desse
homem, pelo menos até que o caso fosse resolvido. Mas como convencê-
lo a ficar longe da filha, se ele estava obstinado a não sair de perto dela?
Meu Deus! Eu precisava pensar sobre como proceder, pois
simplesmente não sabia o que fazer.
Já era hora do almoço e decidi dar uma passada rápida na livraria
antes de ir para casa. Caminhava pelas ruas silenciosas da cidade,
empurrando o carrinho de Savana. Ali, eu conhecia cada pedra do
calçamento, cada rosto que cruzava meu caminho.
O cheiro salgado do mar misturando-se ao aroma suave das flores
que adornavam os jardins bem cuidados, também era bastante familiar e
criavam uma atmosfera de tranquilidade e segurança.
Era mais um dia frio e cinzento de inverno, em que não se via
quase ninguém nas ruas, a serenidade do ambiente acalmava aos poucos
meus pensamentos tumultuados.
Savana, irradiava alegria. Seus olhos curiosos absorviam cada
detalhe do mundo ao redor, enquanto suas mãos inquietas exploravam o
universo contido no carrinho.
Apesar de ter apenas oito meses, ela já demonstrava ser uma
criança extremamente observadora e interessada no mundo que a
cercava. Seus cabelos castanhos claros, escorridos como os meus,
balançavam enquanto ela observava tudo à nossa volta.
Sua risada melodiosa acompanhava o compasso tranquilo dos
meus passos, o som da felicidade infantil ecoava pelas ruas pacatas.
No entanto, o que parecia ser um dia tranquilo logo se transformou
em um pesadelo. O rugido de um motor acelerando rompeu a harmonia
do momento e meu coração saltou no peito como se pressentisse o
perigo.
Instintivamente, meu olhar se voltou para trás, onde um carro se
aproximava em alta velocidade, sem que eu conseguisse enxergar quem
se encontrava ao volante.
A velocidade do veículo aumentava a cada segundo, eu sabia que
precisava agir rápido para proteger minha filha e a mim mesma.
O pânico se instalou em mim quando percebi que o veículo não
diminuía a velocidade e estava mirando diretamente em nossa direção. O
carrinho de Savana, até então um símbolo de segurança, tornou-se um
alvo vulnerável diante da ameaça que se desenhava.
Eu não sabia quem estava no carro ou por que eles pareciam
querer nos atropelar, mas eu estava disposta a fazer o necessário para
proteger minha filha.
Meus músculos reagiram antes mesmo que eu pudesse
compreender completamente o perigo iminente. Com um impulso
desesperado, empurrei o carrinho para trás de um poste, evitando por
centímetros o atropelamento iminente.
O carro passou zunindo, deixando para trás um rastro de poeira.
Minhas mãos tremiam enquanto eu tentava recuperar o fôlego, meu olhar
fixo no carro que havia tentado nos atropelar e que agora se afastava
rapidamente.
Eu mal podia acreditar no que acabara de acontecer. Parecia uma
cena de filme de ação. Eu nunca imaginei que viveria algo assim.
— Por favor, alguém ajude! Socorro! — gritei, minha voz ecoando
entre as casas.
O silêncio que antes preenchia o ar agora era substituído pelos
batimentos descompassados do meu coração e pelo choro assustado de
Savana.
A determinação maternal me impelia a protegê-la a todo custo, e
tirei-a do carrinho, segurando-a firmemente nos braços, verificando se ela
estava fisicamente ilesa.
Tentando passar uma segurança que eu mesma não tinha naquele
momento, abracei-a com força, meu corpo estremecendo levemente ao
perceber o quão perto havíamos estado da morte.
A gravidade da situação se dissipava lentamente, dando lugar ao
alívio de estarmos a salvo. Contudo, a pergunta pairava no ar: quem iria
querer machucar-nos e por quê?
Enquanto as pessoas se aproximavam para ajudar, eu me debatia
internamente com a incerteza do que poderia vir a seguir.
— Willow, você está bem? E a Savana? — perguntou a Sra.
Freeman, uma simpática senhora que morava ali perto.
— Estamos bem, só assustadas. — respondi, tentando recuperar o
fôlego e acalmar meu coração.
— Meu Deus, que susto! O que aconteceu? — questionou Rose,
outra moradora das redondezas, que apareceu correndo ao nosso
encontro.
— O que aconteceu? Vi o carro vindo na direção de vocês! —
exclamou outra mulher, abraçando seu próprio filho como se quisesse
protegê-lo do perigo que nos havia acometido.
— Um carro... ele veio em nossa direção, como se quisesse nos
atropelar. — expliquei, ainda em choque. — Mas estamos bem, foi apenas
um susto. — Eu dizia, tentando tranquilizar a todos ao meu redor.
Tentei esconder o medo em minha voz, mas era difícil disfarçar a
adrenalina que ainda corria por minhas veias.
— Tem certeza que estão bem? Podemos chamar uma ambulância,
se precisarem. — ofereceu um jovem casal que passava pelo local.
— Não, obrigada, estamos bem mesmo. Foi apenas um susto. —
insisti, agradecida pela preocupação de todos.
Alguém trouxe uma cadeira e me sentei nela com Savana no colo.
Outra pessoa ofereceu um copo de água com açúcar e bebi tudo,
enquanto tentava conter meus tremores.
Uma multidão de pessoas se formava à nossa volta, todos
querendo saber sobre o que havia acontecido, sendo que nem eu mesma
entendia. Quem diabos podia querer me matar e ainda por cima fazer isso
enquanto eu estava com minha filha?
Nem precisei pensar muito para compreender que certamente se
tratava da mesma pessoa que invadira minha casa e agredira minha mãe.
Meu Deus! O assassino de Elizabeth! Ele realmente queria a minha
cabeça!
— Vamos chamar a polícia e relatar o que aconteceu. — sugeriu
outro alguém, com ar preocupado. — Eles precisam saber disso.
— Sim, é uma boa ideia. — concordei, respirando fundo e tentando
manter a calma.
— Enquanto isso, por que vocês não vêm para a minha casa e
descansam um pouco? Afinal, foi um grande susto. — ofereceu a Sra.
Freeman, gentilmente.
— Não precisa. Mas obrigada. Tenho que ir para casa.
Pouco tempo depois, uma viatura da polícia parou diante de nós e
Thomas saltou, vindo ao nosso encontro quase correndo.
— Me disseram o que houve, vocês estão bem? — indagou ele.
— Sim. Foi apenas o susto.
— Você viu o modelo do carro e quem estava dirigindo?
— Era um carro grande, escuro, desses bem caros. Não vi quem
estava dentro.
— Provavelmente foi a mesma pessoa que invadiu sua casa. —
constatou Thomas — Você precisa ir até a delegacia prestar uma queixa,
para que eu intensifique as investigações.
— Preciso ir pra casa. Já passou da hora de Savana almoçar. Vou
à delegacia em outro momento.
— Claro. Vá quando se sentir melhor. Eu te levo em casa.
Entrei na viatura junto com Thomas e, em poucos minutos,
estacionamos em frente à minha casa.
— Você não pode ficar aqui sozinha, é perigoso demais. —
declarou ele.
— Não vou ficar aqui. Vou só alimentar Savana e voltar para o
hospital. Vou ficar lá com a minha mãe.
— Se aquele Dashiel aparecer, não o deixe entrar. Invente qualquer
desculpa para afastá-lo.
— Você acha que foi ele quem tentou nos atropelar? — Minhas
próprias palavras provocaram um calafrio na minha espinha.
Como seria possível que Dashiel declarasse tanto amor por Savana
e tentasse matá-la logo em seguida? Não fazia o menor sentido. Aliás,
nada nessa história parecia fazer sentido.
— Acho sim. Ele está disposto a eliminar a única testemunha do
crime que cometeu.
— Meu Deus! Me custa acreditar!
— Você que anda com ele por aí, sabe onde ele está agora?
— Disse que tinha um problema a resolver.
— E explicou que problema era esse?
— Não.
— Pois aí pode estar a resposta para a sua pergunta.
Compreendi o que ele estava tentado dizer e um estremecimento
me varreu de cima à baixo. Não existia mais espaço para acreditar na
inocência de Dashiel. Eu teria que ser muito estúpida para continuar
duvidando que ele era realmente culpado.
Cansada e com sua fralda molhada, Savana choramingou em meus
braços, reclamando.
— Preciso entrar. Mais tarde passo na delegacia para registrar uma
queixa formal.
— Não precisa ter pressa. Vou começar a investigar mesmo assim.
Vá cuidar da sua filha.
— Obrigada pela carona.
CAPÍTULO 39

Entrei em casa com Savana nos braços e tranquei todas as portas


e janelas. O medo me consumia e o silêncio dentro da residência não me
ajudava muito a controlá-lo.
Troquei a fralda de Savana e segui para a cozinha para preparar
nosso almoço. Mantinha o carrinho dela o tempo todo ao meu lado, como
se assim pudesse protegê-la melhor.
Preparei uma sopinha de legumes e nos servi à mesa, comendo ao
mesmo tempo em que dava as colheradas na boca dela.
Ainda estávamos fazendo a refeição, quando houve uma batida na
porta da frente e congelei, o pânico se instalando em mim, o coração a
ponto de sair pela boca.
Antes mesmo de ouvir a voz de Dashiel, eu já sabia que era ele.
— Willow, abra a porta, sou eu. — A voz dele irrompeu pela casa,
partindo do lado de fora.
Merda! Eu não devia ter ficado sozinha com Savana. O que ia fazer
agora?
— Por favor, vá embora!
— O que?! Por que isso agora?
Ciente de que a porta não o seguraria lá fora por muito tempo,
levantei-me, peguei Savana no colo e me apossei da faca da cozinha com
a mão livre, pronta para defender a mim e à minha filha.
— Não quero você perto de nós. Por favor, nos deixe em paz.
— Eu não sei o que te disseram sobre mim, mas se tem algo que
não vou fazer é ir embora. Agora abra logo essa porta! — Ele vociferou,
asperamente.
— Se você insistir, vou chamar a polícia.
— Pois chame, quero ver aquele imbecil me prender sem nenhuma
prova contra mim.
Ouvi o estrondo violento da porta sendo arrombada e segurei
Savana mais firmemente em meu colo, pronta para fugir pela porta dos
fundos.
No entanto, antes que tivesse tempo de sair correndo, Dashiel
entrou na cozinha, fuzilando-nos com seus olhos ferozes.
— Eu conserto a porta depois, preciso saber porque você está
agindo assim. — disse ele — Não vou machucar vocês, pode ter certeza
disso.
Eu envolvia Savana com firmeza em um braço, enquanto na outra
mão brandia a faca, mantendo-a apontada para ele. Me tremia tanto, que
os tremores eram perceptíveis nos movimentos da lâmina suspensa no ar.
— Por favor, não faça nada com a gente.
— É claro que não vou fazer nada com vocês! O que foi que deu
em você?!
Ele deu um passo à frente e ergui um pouco mais a faca,
mantendo-a apontada em sua direção.
— Fique longe!
— O que pretende fazer com essa faca, vai mesmo tentar matar o
pai da sua filha na frente dela?
— Eu já disse para não se aproximar.
Ele deu outro passo em nossa direção, intensificando o medo que
se apoderava de mim.
— Escute, Willow, eu não sei o que te disseram, mas eu não matei
Elizabeth, por favor, acredite em mim. — Ele olhava dentro dos meus
olhos enquanto falava.
— Thomas disse que ela foi pessoalmente até a delegacia,
denunciar você por ameaças de morte. Não tem como não ter sido você
que a matou.
— Eu não a matei. Pelo amor de Deus, acredite em mim.
— E como você explica as ameaças contra ela?
— Eu não sei como explicar isso. Talvez ela estivesse tramando
contra mim, de alguma maneira. Eu nunca a ameacei, nunca agredi minha
mulher, como supostamente ela disse. Não fui eu quem entrou na sua
casa e não tentei te atropelar, eu juro. Tem alguém por aí muito disposto a
me incriminar, mas vou provar que sou inocente e você é a única pessoa
que pode me ajudar a fazer isso. Você é a única que acredita na minha
inocência. — Ele deu mais um passo à frente, seus olhos suplicantes fixos
nos meus — Olhe para mim, Willow, olhe nos meus olhos e me diga o que
vê. Você sabe que não fiz isso, sabe que sou inocente. Pelo amor de
Deus, não permita que joguem você contra mim.
Por um instante, hesitei. Como era possível que ele parecesse
estar sendo tão sincero? Como era possível que eu olhasse para ele e, no
meu coração, tivesse quase certeza de que ele estava dizendo a verdade
e era apenas mais uma vítima de toda essa história?
Eu devia estar ficando louca, apenas isso explicava o sentimento
que brotava no fundo da minha alma, de que ele estava falando a
verdade. Eu estava mesmo cega de paixão por esse homem, a ponto de
permitir que ele me enganasse tão facilmente.
Embora parecesse loucura, eu olhava para ele e sentia, com todos
os meus instintos, que ele não era um assassino.
— Se não foi você, então quem foi? E por que Elizabeth inventaria
uma mentira tão grave a seu respeito?
— Eu não sei, mas vou descobrir e preciso da sua ajuda para fazer
isso.
Ele continuou se aproximando de mim lentamente.
— Eu não sei mais no que acreditar. Estou muito confusa. Nada
parece fazer sentido.
Por fim, Dashiel nos alcançou, tirou a faca da minha mão, jogou-a
para um lado e abraçou a mim e à Savana ao mesmo tempo, nos
acolhendo de encontro ao seu peito largo, afundando o rosto nos meus
cabelos.
— Acredite no que seu coração mandar, pois ele geralmente diz a
verdade. — Ele nos apertou com mais força, alternando seus beijos entre
a minha cabeça e a de Savana — Meu Deus! Como é bom ver vocês
duas. Quase morri de preocupação quando me disseram que vocês quase
foram atropeladas.
— Como você soube disso? Onde estava quando aconteceu?
Ele se afastou do abraço, apenas o suficiente para fitar-me nos
olhos.
— É sério que está passando pela sua cabeça que fui capaz de
fazer isso com vocês?
Vi a expressão ofendida em seu rosto, a preocupação evidente.
Aquilo não podia ser teatral. Eu sentia que não era.
— Eu não sei mais o que pensar. Só quero que isso acabe.
Ele nos abraçou novamente.
— E vai acabar. Vamos pegar o safado que está fazendo isso.
O abraço de Dashiel era reconfortante, mas a confusão persistia
em minha mente. Como eu poderia confiar nele depois de tudo o que
aconteceu?
Apesar da confusão que ainda pairava no ar, por alguns momentos,
a sensação de proteção que ele proporcionava era reconfortante. Eu
podia sentir seu coração batendo forte, e nada nunca me pareceu tão
sincero.
— Por que alguém faria isso conosco? Quem está tentando nos
machucar? — perguntei, com um murmúrio.
— Eu não faço ideia, mas você precisa confiar em mim. Juntos,
podemos descobrir a verdade.
Ainda hesitante, afastei-me do abraço e olhei nos olhos dele,
buscando sinais de mentira. No entanto, só encontrei um misto de
preocupação e sinceridade.
E Savana parecia enxergar o mesmo, pois passou para o colo dele
em um gesto completamente espontâneo, balbuciando palavras
incompreensíveis, eufórica por vê-lo novamente.
Respirei fundo, tentando encontrar clareza em meio ao caos.
— Nós precisamos descobrir a verdade.
— E faremos isso. Eu não quero perder você e Savana.
Suas palavras soavam sinceras, mas eu sabia que a verdade podia
ser obscura e esquiva. Olhei para Savana, que parecia feliz nos braços
dele, como se sentisse que não havia perigo.
Era impossível não ponderar sobre a possibilidade de ele ser vítima
de uma conspiração, mas a incerteza ainda pairava no ar.
— Onde você esteve esta manhã?
— Fui ao encontro de um amigo que conhece um agente do FBI.
Ele vai enviar um perito que consegue abrir cofres como o que tem na
casa de Elizabeth. Ele vai verificar também o computador. Estará na
cidade manhã de manhã.
— Que boa notícia. Finalmente uma luz no fim do túnel.
— Tenho quase certeza de que encontraremos alguma prova lá.
Com isto, poderemos chegar ao verdadeiro culpado. Só que até lá, vocês
não podem ficar nesta casa. Aqui é perigoso demais, não tem segurança
nenhuma. Você e Savana vêm comigo. Vão ficar na minha casa até esse
pesadelo acabar e isso não está aberto a discussões.
— Não posso ir para a sua casa. Isso seria loucura.
Peguei Savana do colo dele e voltei para a mesa, acomodando-a
em sua cadeirinha e me sentando ao seu lado, para continuarmos a
refeição.
— Loucura é ficar nessa casa, sem segurança nenhuma. Você já
teve duas provas de que a pessoa que fez isso quer te ver morta.
Suas palavras causaram um arrepio na minha nuca.
— Vou passar o dia no hospital com minha mãe. Ninguém vai tentar
nada lá.
— Savana não pode passar o dia no ambiente de um hospital, seria
desumano com ela. Na minha casa tem seguranças vigiando durante as
vinte quatro horas do dia. Vocês estarão seguras lá.
— Achei que a polícia tivesse bloqueado seus bens. Como está
conseguindo pagar os seguranças?
— Meu advogado conseguiu fazer com que eles desbloqueassem.
— Ele se acomodou em uma cadeira vazia do outro lado da mesa, sua
fisionomia expressando uma aflição quase palpável. — Não estou
trabalhando esses dias, pois fui proibido de deixar a cidade. Posso ficar o
tempo todo com vocês, levá-las e trazê-las ao hospital para ver sua mãe.
Pense na nossa filha. Esta casa não é segura.
De todas as loucuras que eu vinha cometendo ultimamente,
nenhuma era mais grave do que me enfiar na casa dele com minha filha.
No entanto, nada jamais me pareceu tão certo.
Realmente, nossa casa não era segura, tampouco era seguro sair
por aí sozinha com Savana e eu precisava protegê-la.
— Coma um pouco de sopa. Você está com cara de quem ainda
não almoçou. — ofereci.
Dashiel foi até a panela, pegou um prato e se serviu.
Ao vê-lo se movimentando pela cozinha, vestindo calça jeans e
camisa polo, fui arrebatada pela atração irresistível que ele exercia sobre
mim. Cada pequeno gesto que ele fazia transmitia um charme
incomparável, e questionei-me sobre como o impacto dessa atração
poderia estar influenciando minha capacidade de raciocinar e julgar as
coisas com clareza.
— Eu entendo que isso seja difícil para você. Mas pense na
Savana, pense na segurança dela. Estou disposto a fazer o que for
preciso para proteger vocês duas. — Dashiel sentou-se novamente à
mesa, mexendo a sopa fumegante no prato à sua frente.
Respirei fundo, olhando para a comida à minha frente, agora
esfriando na mesa. O aroma agradável dos legumes misturava-se com a
tensão no ar. Savana brincava com a colher, completamente alheia à
gravidade da situação.
— Se ponha no meu lugar. Eu não sei se posso confiar em você.
Não sei quem está falando a verdade, quem está nos ameaçando, e tudo
isso é assustador. — Minha voz tremia, refletindo a confusão que sentia.
— Eu entendo o seu medo, mas precisamos enfrentar isso juntos.
Se ficarmos separados, estaremos mais vulneráveis. Na minha casa, com
os seguranças, pelo menos teremos algum tipo de proteção.
Savana começou a ficar impaciente na cadeirinha, olhando para
nós com seus grandes olhos curiosos. Era como se ela pudesse sentir a
tensão no ar.
— Não sei o que fazer. — confessei.
— Vamos para minha casa. Lá estaremos seguros e tranquilos.
Savana estará segura. Além disso, podemos nos acalmar e montar um
plano para descobrir quem está fazendo isso conosco. Eu juro, não
deixarei nada acontecer a vocês.
Olhei para Savana, pensando no que seria melhor para ela. O
ambiente seguro de um hospital, com minha mãe, parecia uma opção,
mas realmente não seria saudável para um bebê.
Além disso, nossa casa não era segura. Havia um assassino lá fora
disposto a acabar comigo e se de uma coisa eu tinha certeza, era que ele
tentaria de novo.
— Eu preciso pensar nisso. Não é uma decisão fácil.
Dashiel assentiu compreensivamente.
— Eu entendo. Tome o tempo que precisar. Mas por favor, não
subestime a gravidade da situação. A pessoa que entrou aqui e tentou te
atropelar, vai tentar de novo.
Estremeci com a verdade contida em suas palavras.
Meu Deus! Quando esse pesadelo teria fim?
Savana começou a resmungar, indicando que estava ficando
impaciente. Peguei a colher e dei mais uma colherada de sopa na sua
boca, tentando manter a normalidade em meio ao caos.
Comemos em silêncio durante um momento, a tensão tomando
conta de nós. Depois de algumas colheradas na sopa, Dashiel finalmente
falou:
— Eu entendo que seja difícil confiar em mim depois de tudo que
aconteceu. Sei que estamos no meio de um turbilhão, mas precisamos
fazer escolhas difíceis para proteger a Savana.
Savana, parecia perceber o clima e começou a balbuciar,
estendendo os bracinhos para Dashiel. Ele a pegou no colo com
facilidade, sorrindo para ela.
— Ela sente que algo está errado. Não podemos continuar nesse
estado de constante vulnerabilidade. — Ele segurava Savana com
delicadeza, como se fosse a coisa mais preciosa do mundo.
Olhei para a minha filha, depois para Dashiel. O medo ainda
pulsava em minhas veias, mas uma pequena faísca de confiança
começava a se acender.
Talvez, naquele momento, fosse melhor confiar em alguém do que
enfrentar o desconhecido sozinha.
— Eu não quero arriscar a segurança da Savana, mas também não
quero me colocar em uma situação ainda mais perigosa. — Eu estava
dividida, presa entre o medo e a necessidade de proteger minha filha.
Dashiel aproximou-se da mesa e colocou Savana de volta na
cadeirinha. Ele segurou minhas mãos com firmeza, buscando conexão.
— Eu prometo que farei tudo o que estiver ao meu alcance para
manter vocês seguras. Minha casa é monitorada, tem seguranças, é o
lugar mais seguro para vocês agora. Não estou pedindo para você confiar
em mim cegamente, mas precisamos proteger nossa filha.
Olhei para as mãos entrelaçadas, sentindo a energia dele
transmitindo uma espécie de conforto. Sabia que precisava decidir, e a
escolha não seria fácil.
Eu estava entre a cruz e a espada. Se ficasse em casa, o
assassino voltaria para me matar. Se fosse com ele, poderia ter o mesmo
fim.
— Dashiel, eu... — Fui interrompida pelo choro abafado de Savana,
que parecia cansada, querendo tirar seu cochilo da tarde.
Ele sorriu gentilmente, entendendo minha hesitação, e se afastou
um pouco. Pegou Savana nos braços novamente, acalmando-a com
movimentos suaves.
— Vou esperar lá fora. Se decidir vir comigo, estarei lá. Se não,
respeitarei a sua escolha. Mas, por favor, pense na segurança da Savana.
— Ele deu um beijo na testa de Savana, deu-a para mim e se dirigiu para
a porta.
Fiquei ali, encarando a porta fechada, com Savana no colo,
debatendo-me internamente. Minha filha merecia segurança, mas eu
precisava ter certeza de que não estava caindo em uma armadilha.
Respirando fundo, tomei uma decisão.
Levantei-me da mesa, abri a porta, e lá estava Dashiel, esperando
pacientemente na varanda, oculto pelas plantas das pessoas que
passavam na rua.
— Nós vamos para a sua casa. Mas antes preciso passar no
hospital para ver minha mãe. — Falei, olhando firme nos olhos dele.
Com a decisão tomada, fui para o quarto com Savana nos braços.
A incerteza ainda pairava no ar, mas a sensação de vulnerabilidade na
nossa própria casa tornava a escolha de ir com Dashiel mais convincente.
Eu não podia permitir que nada acontecesse à minha filha.
Enquanto arrumava as roupas dela na mala, Savana pegou no
sono, ali mesmo na minha cama. Era reconfortante ver a tranquilidade
dela, mesmo em meio a toda aquela confusão.
Quando deixei o quarto com uma mala pronta, Dashiel estava na
sala, pronto para nos levar. A ansiedade refletia em seu rosto, mas havia
um toque de alívio também.
Ele se aproximou para ajudar com a mala, enquanto eu acomodava
Savana no carrinho.
— Obrigado por fazer isso, Willow. Eu sei que não é fácil confiar
agora, mas farei o possível para provar minha inocência. — Ele parecia
genuinamente determinado.
Assenti, decidindo guardar minhas dúvidas para depois.
Empurrando o carrinho de uma adormecida Savana, saímos de casa e
entramos no carro de Dashiel.
O trajeto até o hospital foi preenchido por um silêncio nervoso. O
peso da situação pairava sobre nós.
No hospital, passei um tempo com minha mãe, sem deixar que ela
soubesse o que estava acontecendo. Além de não querer preocupá-la, eu
não queria que ela pensasse que eu havia perdido completamente o juízo,
ao me enfiar na casa de um cara que podia ser um assassino frio e cruel.
Qualquer pessoa que soubesse o que eu estava fazendo pensaria
isso. Até eu mesma estava com dúvidas sobre a integridade da minha
sanidade mental.
Dashiel foi conversar com o Dr. Bennet sobre a evolução do quadro
da minha mãe, enquanto eu e Savana ficávamos com ela. Algumas horas
depois, deixamos o hospital no carro dele, a população virando o pescoço
para nos observar, por onde passávamos.
CAPÍTULO 40

Eu havia decidido ir para a casa de Dashiel para garantir a


segurança da minha filha. No entanto, quando o carro em que estávamos
deixou o perímetro urbano de Georgetown, seguindo em direção a uma
área isolada, onde ficava sua imponente mansão, um medo devastador se
apoderou de mim, fazendo-me tremer por dentro.
As palavras de Thomas, afirmando veementemente que Dashiel
era um assassino, repercutiam na minha cabeça com insistência, como
um disco arranhado.
Minha nossa senhora das mulheres desamparadas, e se meus
instintos sobre Dashiel estivessem errados?! E se Thomas estivesse
certo?
Olhei para Savana, que estava mais acordada do que nunca,
acomodada no bebê conforto no banco de trás, e engoli em seco,
temendo estar colocando minha filha sob o mesmo teto que um psicopata.
Tentando manter a calma, afastei todos os pensamentos e
continuei me apegando à hipótese de que havia tomado a decisão certa,
afinal, minha outra opção era ficar em casa esperando que o agressor a
invadisse novamente e acabasse de uma vez com a minha raça, como
parecia obstinado a fazer.
Logo alcançamos uma estrada que levava a uma área mais remota,
onde a mansão se erguia majestosa. O cenário mudou, deixando para
trás as casas e ruas, adentrando uma paisagem mais serena e
arborizada, uma área elevada, de onde se podia avistar o mar ao longe.
O lugar era lindo, isso eu não podia negar. Contudo, também era
assustador, longe de qualquer vestígio de civilização.
A imensa construção surgia à distância, uma visão imponente
contra o céu crepuscular. A entrada principal se abriu majestosa,
revelando um caminho iluminado por pequenos postes. O carro de Dashiel
percorreu a alameda, em meio a jardins bem cuidados, fontes exóticas e
uma arquitetura que exalava luxo.
O carro parou diante da entrada principal, e Dashiel desceu para
abrir a porta para nós, pegando Savana no colo.
Um homem de meia-idade surgiu dos fundos para nos receber.
Após o apresentar como seu motorista, Dashiel ordenou que ele trouxesse
minha mala.
Ao entrarmos, fui recebida por um hall espaçoso, com um lustre
impressionante pendendo do teto alto. Móveis elegantes preenchiam os
espaços, e obras de arte decoravam as paredes.
O silêncio do ambiente era interrompido apenas pelos sons dos
nossos passos, fazendo eco entre as paredes altas demais.
— Bem-vindas à minha casa. — Dashiel sorriu, carregando
Savana, enquanto ela olhava tudo à nossa volta com curiosidade,
parecendo tão impressionada quanto eu — Está gostando, princesa? —
Dashiel continuou falando — Essa casa também é sua. Além dela, você
tem muitas outras propriedades e logo estará dirigindo seu próprio carro.
Você poderá ter qualquer modelo que desejar.
Subimos uma ampla escadaria, dando em um corredor largo.
Enquanto o motorista seguia para uma das portas com a mala, nós
entrávamos em outro quarto.
Era um quarto infantil, amplo, luxuosamente decorado, com papeis
de parede em vários tons de rosa.
Imagens da boneca Barbie se estampavam nos lençóis da cama e
nos quadros pendurados nas paredes; brinquedos modernos, como eu
nunca tinha visto, estavam dispostos a um canto. Até o tapete fofo forrado
no chão remetia ao luxo e ao excesso.
O fato de Dashiel ter preparado aquele quarto para Savana me
dava a certeza de que ele já sabia que viríamos.
— Você já sabia que eu concordaria em vir, não é? — indaguei,
observando os exageros no quarto.
— Eu sabia que um dia minha filha viria conhecer a casa dela e
preparei esse quarto. O que você achou da decoração?
— Achei um exagero. Uma criança não precisa de tudo isso,
enquanto tantas outras não têm nem o básico.
Dashiel colocou Savana sobre o tapete macio no chão, e minha
filha engatinhou euforicamente até um urso de pelúcia que tinha o dobro
do tamanho dela, abraçando-o e sorrindo, encantada com ele e todos os
outros brinquedos que a rodeavam.
Ela tinha adorado o quarto. Era mesmo filha de um burguês.
— O que você estava dizendo sobre exageros? — indagou Dashiel,
observando com satisfação a euforia da nossa filha em meio aos novos
brinquedos.
— Tá. Eu admito. Ela adorou. Foi você quem fez tudo isso?
— Não. Uma decoradora veio da capital. Quanto a você, ficará
comigo na minha suíte. — Fitei-o com olhos arregalados, e ele me deu um
sorriso mais do que cínico — É brincadeira. Preparei um quarto para você
também. Gostaria de conhecê-lo?
— Não precisa. Eu fico aqui com Savana.
— Não há necessidade de vocês duas ficarem aqui espremidas.
Existem vários outros quartos na casa.
— Nós estamos acostumadas a dividir um quarto muito menor que
esse. E mesmo que não estivéssemos, não vou dormir longe da minha
filha. Pode esquecer.
Dashiel soltou um suspiro pesado, resignado.
— Certo. Vou mandar alguém colocar uma cama extra aqui para
você. Agora vamos conhecer o resto da casa.
Ele estendeu os braços para Savana, que correu para o seu colo
com alegria e contentamento, como se os braços dele fossem o lugar
mais acolhedor do mundo, superando até mesmo todos os brinquedos
pelos quais ela estava tão entusiasmada.
Dashiel guiou-nos por corredores luxuosos, salões imponentes e
escadarias majestosas. Cada cômodo tinha sua própria identidade, com
decorações refinadas e mobiliário que exalava opulência.
À medida que avançávamos, Dashiel apresentava cada espaço
com um brilho nos olhos, como se estivesse orgulhoso de mostrar sua
vida extravagante.
— Este é o salão de música, onde eu costumo relaxar ao som de
um bom piano. — Ele anunciou, abrindo as portas duplas para revelar um
ambiente elegante, com um piano de cauda no centro.
Savana bateu palmas animada, enquanto ele a carregava para
mais uma visão deslumbrante.
A excursão continuou pelos corredores adornados com tapeçarias
finas, passando por uma biblioteca vasta, repleta de obras de arte
literárias. Dashiel apontava para estantes cheias de livros raros e
preciosos.
— A biblioteca é um dos meus refúgios favoritos. Aqui, você
encontrará conhecimento que vale mais que qualquer tesouro.
Enquanto explorávamos a casa, Dashiel apresentou os
empregados que se moviam silenciosamente pelos bastidores. Conheci a
cozinheira Mary, uma mulher afrodescendente, com cerca de cinquenta
anos; a arrumadeira Emma, uma ruiva sardenta um pouco mais jovem; o
jardineiro James, um cara com cerca de vinte e poucos anos e os dois
seguranças Anthony e Brian.
Todos eles eram muito simpáticos, atenciosos, e nenhum deles era
natural de Georgetown. Dashiel me explicou que todos já trabalhavam
para ele quando morava no Texas.
A sensação de segurança que a presença dos empregados
proporcionava era reconfortante. Há dias eu não me sentia tão tranquila e
protegida.
Ao chegarmos à área externa, o pai da minha filha nos conduziu-
nos para os jardins meticulosamente cuidados.
Luzes suaves iluminavam a paisagem noturna, revelando flores
exóticas e uma piscina reluzente. O som suave da água que caía de uma
fonte acrescentava um toque sereno à atmosfera.
— Nossa! Por que uma pessoa precisa de tanto espaço para viver?
— indaguei, impressionada com os excessos.
— Essa casa foi construída pelo meu pai, antes mesmo de eu
nascer. Ele que é o exagerado.
— Deve ter sido incrível crescer em um lugar como esse.
— Não é tão incrível quando não se tem o principal, que é a
atenção dos seus pais.
— Eles não te davam atenção?
— Acho que não davam o suficiente, ou eu não teria me tornado
uma pessoa revoltada a ponto de me tornar líder de uma gangue.
Meu coração apertou no peito ao imaginar o garotinho correndo
pelo lugar imenso, obviamente sendo cuidado por babás, enquanto os
pais se mantinham ocupados demais com todos os prazeres que o
dinheiro podia oferecer, sem tempo para dar atenção ao próprio filho.
— Eu sinto muito. — comentei — Quem vê de fora não imagina que
pessoas tão ricas tenham problemas.
— Isso já não tem mais importância. O importante agora é que
serei um pai bem diferente para a minha filha. Darei a ela toda a atenção
que ela desejar.
— Eu tenho certeza disso.
Continuamos conversando enquanto voltávamos à excursão, que
nos levou aos quartos de hóspedes, salas de estar aconchegantes e até
mesmo a uma sala de cinema privativa.
A cada novo cômodo, minha perplexidade crescia. A vida que
Dashiel levava parecia saída de um conto de fadas, embora eu ainda me
questionasse se essa fachada luxuosa escondia algo mais sombrio.
Ao retornarmos ao andar térreo, Dashiel conduziu-me até a sala de
estar principal, onde uma lareira crepitava suavemente. Ele colocou
Savana sentada sobre um tapete, e nos acomodamos nos sofás macios.
Minha pequena pimentinha engatinhou até o centro da sala e se
apossou de uma escultura delicada que se encontrava sobre a mesinha.
Provavelmente, a peça cara estaria espatifada em questão de minutos.
No entanto, quando tentei tirar o objeto de suas mãos, Dashiel
protestou:
— Deixe-a brincar.
— É uma peça cara, ela vai destruir. — retruquei.
— Deixe que destrua. Tudo o que tem nesta casa é dela agora.
— Mesmo assim, precisamos impor limites ou ela crescerá
mimada, achando que pode tudo e que nada tem consequências.
— Não seja tão dramática. Me deixe mimar minha filha. Eu esperei
muito tempo por ela. Vamos esperar ela crescer para começar a impor os
tais limites.
Suspirei, derrotada pelos argumentos dele.
Nesse momento, Mary, a cozinheira, entrou na sala. Tinha sua
fisionomia serena e tranquila, transmitindo uma receptividade
reconfortante, que trazia um pouco de normalidade ao ambiente luxuoso
demais e me fazia sentir um pouco mais relaxada.
— Com licença. O que vocês vão querer para o jantar? — indagou
ela.
Dashiel olhou para mim, como se esperasse que eu respondesse.
Como não falei nada, ele indagou:
— O que você e Savana gostariam de comer?
— Eu como qualquer coisa. Quanto a Savana, vou preparar uma
sopinha para ela.
— Não precisa. Eu posso fazer. — disse Mary — Basta você me
dizer quais são os ingredientes.
— Não quero dar trabalho.
— Não é trabalho. Eu gosto de cozinhar.
— Nesse caso, pode ser uma sopa de legumes com frango sem
pele.
— E para nós, prepare salmão defumado. — Dashiel emendou.
— Sim, senhor. Com licença.
A mulher deu meia volta, retornando para a cozinha, e me senti
como se estivesse dentro de uma série de televisão. Era tudo muito
surreal por ali. Nem na casa de Elizabeth, que era a mais luxuosa na qual
eu já havia estado, tinha tanta formalidade.
Dashiel nos serviu de duas taças de vinho, e continuamos
acomodados nos estofados perto da lareira, conversando amenidades
enquanto Savana continuava brincando no chão, mexendo em tudo o que
via pela frente, tirando tudo do lugar, embora ainda não tivesse destruído
nada.
CAPÍTULO 41

Era como se o tempo tivesse congelado naquela sala, enquanto


Dashiel e eu conversávamos e bebíamos vinho, o efeito da bebida me
deixando cada vez mais solta e falante.
O som do crepitar da lareira e os risos suaves de Savana criavam
uma atmosfera acolhedora e reconfortante. Eu não poderia imaginar um
lugar melhor para estar naquele momento.
Nunca imaginei que ficaria tão à vontade na casa de Dashiel. Era
surpreendente como ele e seus empregados conseguiram fazer com que
eu me sentisse tão acolhida e relaxada. Se existia algum problema além
dos limites daquelas paredes, eu já não me lembrava mais.
Havia algo no ar, uma conexão invisível que nos unia de uma
maneira inexplicável. Aquele momento era único, como se o tempo tivesse
parado só para nós.
Sentados no sofá aconchegante, nossos corpos estavam próximos,
mas não se tocando. Eu podia sentir o calor dele irradiando em minha
direção, tornando-me cada vez mais consciente do espaço que nos
separava.
Seus olhos encontravam os meus a todo momento, sua expressão,
carregada de promessas luxuriosas, atiçava um lado bem safado da
minha imaginação.
Ao mesmo tempo, eu percebia a forma como ele olhava para
Savana, com tanto afeto que chegava a ser comovente.
— Você a ama muito, não é? — constatei, o pensamento saindo
em voz alta, incentivado pelo efeito do vinho.
— Mais que tudo nessa vida. Nunca imaginei que pudesse existir
um sentimento tão genuíno. Eu seria capaz de dar a minha vida por ela.
No tapete, onde bagunçava tudo à sua volta, Savana soltou um
gritinho agudo, como se tivesse compreendido o que ele dissera, e nós
dois gargalhamos em uníssono, completamente enfeitiçados pela nossa
linda menina.
— Me perdoe por tê-la escondido de você.
— Está perdoada, mas nunca mais a afaste de mim.
— Eu não afastarei.
Continuamos conversando fluidamente, falando sobre nossas
vidas, como se nos conhecêssemos há muito mais tempo. O cheirinho da
comida partindo da cozinha começava a tomar conta do ambiente, quando
subitamente um estrondo partiu da direção da porta da frente,
sobressaltando-nos.
Levantei-me com um pulo e me virei para a porta, bem a tempo de
ver a figura feminina, alta, loira e elegante avançando pela sala, nos
observando com um olhar furioso.
Meu coração saltou no peito ao reconhecer Amélia, a esposa de
Dashiel.
— Então é mesmo verdade. Você chegou ao nível de trazer a sua
amante para dentro da nossa casa. — Amélia cuspia as palavras com
uma fúria descontrolada — Parabéns, você conseguiu bater seu próprio
recorde de canalhice.
— Amélia, o que diabos você está fazendo aqui? — indagou
Dashiel, com irritação.
— Como assim o que estou fazendo aqui?! Essa ainda é minha
casa, esqueceu?!
— Não é mais a sua casa. Você não mora mais aqui. Nosso
casamento acabou e você sabe disso.
A resposta de Dashiel apenas serviu para enfurecer ainda mais
Amélia. Seu rosto ficou vermelho como um tomate e seus olhos faiscavam
de raiva. Ela começou a gritar, fazendo um verdadeiro escândalo.
— Acabou porra nenhuma! Nós só estamos dando um tempo. Logo
consertaremos as coisas, como sempre fazemos.
— Não há mais nada a ser consertado. Nossa história se encerrou
faz muito tempo e você precisa aceitar isso. Precisa parar de vir aqui.
— Como você pode dizer isso? Depois de tudo que passamos
juntos? Você acha que pode simplesmente me descartar e seguir em
frente com essa mulherzinha?
— Isso não tem nada a ver com ela. Você precisa parar de vir aqui.
— Essa ainda é minha casa, eu venho quando quiser! O fato de
estar fora por uns dias não te dá o direito de trazer essa vagabunda aqui,
uma pirralha com metade da sua idade, que tem as mãos sujas de peixe!
— Não fale assim dela!
— Vai mesmo defender essa vadia?!
Eles continuaram gritando um com o outro, trocando insultos e
ofensas, enquanto eu os observava chocada.
Amélia parecia outra pessoa. Não havia nada nela da mulher
simpática e humilde que eu havia conhecido na casa de Elizabeth. Era
quase como se tivesse dupla personalidade.
Apesar de Dashiel insistir em repetir que eles dois estavam
separados, não consegui evitar o sentimento de que eu estava me
metendo entre os dois, fazendo o papel de destruidora de lares.
Assustada com os gritos, Savana começou a chorar, e peguei-a no
colo. O olhar que Amélia direcionou à minha filha, quando a viu em meus
braços, foi tão furioso que chegava a ser assustador e, instintivamente,
abracei minha menina com mais firmeza, passando os braços em volta do
seu corpinho, protetoramente.
— Como se não bastasse trazer a vadia amante, ainda trás a sua
filha bastarda para debaixo do meu teto! — A frieza contida na fisionomia
e na voz de Amelia, ao pronunciar aquelas palavras, era realmente
assombrosa.
Por alguma razão desconhecida, as últimas palavras de Elizabeth,
proferidas em seu leito de morte, ecoaram em minha cabeça: “Proteja sua
filha”. Dissera ela.
— Fala assim de novo da minha filha e vou te mostrar do que sou
capaz! — disparei.
Amelia deu um passo na minha direção, parecendo estar
completamente descontrolada. Antes que ela se aproximasse mais,
Dashiel entrou em seu caminho, detendo-a.
— Além de estar dormindo com o meu marido, ainda tem o
atrevimento de me ameaçar! Quem você pensa que é?
— Ele não é mais seu marido. Esse casamento fracassou já faz
tempo e só você não vê isso!
— Eu vou quebrar a sua cara, vagabunda! — Ela gritou, se
debatendo toda, tentando passar por Dashiel para me alcançar.
— Acalme-se, Amélia. Willow está certa. Nosso casamento acabou
faz tempo. Por favor, vá embora daqui.
— Eu não acredito que você vai defender essa vadia!
Savana chorou ainda mais alto, assustada com os gritos, e afastei-
me com ela nos braços, subindo as escadarias que levavam ao segundo
piso e entrando no quarto decorado para ela. Por algum milagre
desconhecido, já havia outra cama lá, uma bem grande.
Comecei a andar de um lado para o outro do aposento com Savana
no colo, ninando-a, até que ela foi se acalmando aos poucos.
Minha vontade era de juntar minhas coisas e ir embora dali, mas
era tarde da noite, Savana ainda não havia jantado, e eu não me sentiria
segura saindo por aí sozinha com ela. Os perigos fora dos limites daquela
casa me pareciam ainda mais iminentes.
Do quarto, ainda era possível ouvir os gritos de Amélia na sala,
embora apenas algumas palavras fossem compreensíveis, devido à
distância.
Ela continuava nitidamente fora de si, proferindo ameaças pesadas
contra mim e minha filha. Ouvi claramente quando ela disse que nos
mataria, e o momento em que aquele carro praticamente voou sobre mim
e Savana, tentando nos atropelar, voltou claro à minha mente, causando-
me um arrepio.
Eu podia até estar enganada, mas se havia uma pessoa capaz de
passar com um carro por cima de nós, essa pessoa era Amélia. Ela
estava completamente perturbada, e uma pessoa nesse estado podia
representar um grande perigo.
Dashiel não deveria ter contado a ela que Savana era sua filha.
Não havia nenhuma necessidade de ela saber disso. Pelo menos não por
enquanto.
CAPÍTULO 42

Os gritos continuaram por um longo tempo no andar de baixo, até


que se silenciaram. Logo em seguida, ouvi passos subindo as escadas, e
a porta do quarto se abriu, permitindo a entrada de Dashiel no aposento
infantil.
Seu semblante estava transtornado, carregando as marcas da
tensão e da fadiga.
— Vocês estão bem? — indagou ele.
— Sim. Só Savana que ficou um pouco assustada.
— Me desculpem por isso. Eu não imaginava que ela fosse
aparecer. Algum dos empregados deve ter avisado que vocês estão aqui.
— Ela ainda está aqui?
— Não, a irmã dela veio buscá-la. Conseguiu fazer com que se
acalmasse um pouco.
— Eu não sabia que ela tem família aqui.
— Não tinha até pouco tempo. A irmã veio ficar com ela esses dias.
Repassei mentalmente o episódio ocorrido na sala e tive certeza de
que tão cedo Amélia não desistiria de correr atrás de Dashiel.
— Dashiel, ela vai aparecer de novo, fazendo escândalo. Savana e
eu não podemos ficar aqui.
Ele sentou-se na beirada da cama ao nosso lado, seu rosto
demonstrando aflição.
— Ela não vai voltar. E mesmo que volte, ela não faz mais parte da
minha vida. Em algum momento, ela vai ter que entender isso.
— Sinto que estou entre vocês dois e não quero ser esse tipo de
pessoa.
— Você não está, acredite em mim. Esse casamento acabou antes
mesmo de eu te conhecer. Além do mais, você e Savana estão seguras
aqui, como não estariam em nenhum outro lugar.
Balancei a cabeça, consternada. Por mais difícil que fosse, eu
precisava concordar com ele. Nenhum lugar era seguro agora.
— Você não devia ter dito a ela que temos uma filha.
— Eu não disse.
— E como ela soube?
Subitamente, um tipo de alerta foi acionado dentro de mim.
Praticamente ninguém sabia que Dashiel era pai de Savana. Como essa
informação havia chegado até Amélia?
— Eu não sei. Elizabeth deve ter contado.
— Elizabeth não sabia. Eu disse a ela que engravidei de um turista
que estava de passagem pela cidade.
Nós nos encaramos durante um longo momento de silêncio, a
compreensão de que havia algo suspeito por trás dessa história, aos
poucos levando perplexidade ao olhar de Dashiel.
— A cidade é pequena. Alguém deve ter falado. — tentou ele.
— Ninguém na cidade sabe. Só Sarah e o namorado dela. E eles
não conhecem Amélia.
— O que você está tentando insinuar?
Fiquei de pé, e Dashiel fez o mesmo.
— Amélia e Elizabeth podiam estar juntas em uma conspiração
contra você, e Amélia acabou a matando para te incriminar, por vingança,
por você ter tido uma filha com outra mulher. Isso explicaria as falsas
acusações de violência doméstica e a falsa acusação de ameaça feita por
Elizabeth na delegacia.
Dashiel permaneceu em silêncio por um momento, reflexivo,
analisando minhas palavras.
— Não. Amélia é louca, mas seria incapaz de matar uma pessoa.
— Pois a cara com que ela me olhou ali na sala era de uma
assassina. — Cruzei os braços na frente do peito, tentando conter um
estremecimento — Também acho que ela jogou o carro sobre mim e
Savana, nos culpando pelo fim do casamento de vocês. E provavelmente
também foi ela que invadiu minha casa.
— Um homem invadiu sua casa.
— Ela pode ter contratado alguém. O mesmo cara que contratou
para esfaquear Elizabeth.
Quanto mais fundo eu mergulhava nas minhas suspeitas, mais elas
pareciam fazer sentido, e mais apavorada eu ficava.
Se Amélia fora capaz de assassinar Elizabeth, que era sua amiga,
eu não queria nem imaginar o que faria comigo e com minha filha.
— Não. Ela não seria capaz disso.
— Seria sim.
Dashiel soltou um suspiro pesado, evidenciando fadiga.
— Vamos deixar para pensar sobre isso depois. O jantar está
pronto. Vamos comer e nos acalmar. Mary está nos esperando para servir
a mesa.
Sentada na cama, cercada pelos novos brinquedos, Savana bateu
palminhas, como se entendesse o que seu pai acabara de dizer, e
sorrimos um para o outro, dissipando pelo menos um pouco a tensão que
se instalara no ar.
Dashiel pegou nossa menina no colo, e descemos juntos para o
primeiro piso. Assim que ouviu nossos passos, Mary veio perguntar se já
podia servir o jantar, e logo a mesa estava lindamente posta, o aroma
delicioso da comida recém-preparada se espalhando pelo ambiente.
Fizemos a refeição quase que totalmente em silêncio, a tensão
ainda presente no ar, meus pensamentos absortos pela possibilidade de
Amélia estar por trás do assassinato de Elizabeth.
Eu tinha quase certeza de que fora ela, pois todas as peças se
encaixavam como em um quebra-cabeças, e embora essa possibilidade
representasse um risco maior para a minha vida e da minha filha, pelo
menos agora havia uma fagulha de esperança de provar a inocência de
Dashiel.
Ao final do jantar, Savana já estava quase dormindo, e Dashiel a
carregou até o andar de cima.
— Eu a coloco na cama. — anunciei, tirando Savana dos braços
dele assim que nos aproximamos da porta do quarto, para que ele
soubesse que precisava voltar dali mesmo.
— Vocês precisam de alguma coisa?
— Não. Estamos bem.
Tentei me virar, ele segurou minha mão, detendo-me.
O toque da sua pele era áspero e delicioso, despertando um calor
gostoso que se alastrava pelas minhas veias.
— Por que não se junta a mim na sala, para uma taça de vinho,
depois que ela dormir?
Ele deslizou a ponta do seu dedo por toda a extensão do meu
antebraço, e meu ventre se contorceu.
Recostado no batente da porta, usando uma camiseta simples e
calça de moletom folgada, com as tatuagens dos braços e pescoço em
evidência, ele parecia mais tentador do que nunca.
Mas eu sabia onde terminaríamos se eu aceitasse aquela taça de
vinho.
— É melhor não fazermos isso. — declarei.
— E por que não? Por causa de Amélia?
— Não só por ela. É que isso não parece certo. E há muito a ser
esclarecido ainda.
Ele soltou minha mão subitamente, reagindo à minha última frase
como se tivesse levado uma bofetada no rosto.
— Claro. Eu esqueci que você ainda não confia em mim. — Meu
silêncio afirmou a veracidade das suas palavras. — Graças a Deus
amanhã isso vai acabar, quando abrirmos aquele bendito cofre.
— A que horas seu amigo vem?
— Pela manhã. Gostaria que você nos acompanhasse até a casa
de Elizabeth, pois assim não vai parecer que estamos invadindo.
— Claro. Só preciso passar no hospital para ver minha mãe antes.
— Eu te levo. — Ele se inclinou para a frente, e pude sentir a
aspereza da sua barba resvalando meu rosto enquanto ele dava um beijo
fraternal em Savana — Boa noite.
— Boa noite.
Entrei no quarto com minha filha nos braços e após acomodá-la
cuidadosamente na caminha com lençóis da Barbie, cobrindo-a com
ternura, troquei o vestido florido por uma camisola e me deitei na cama
que fora colocada ao lado, observando minha pequenina mergulhando no
sono, seu rostinho angelical e sereno, alheio aos tumultos que haviam
invadido nossa noite.
Uma onda de preocupação me envolveu enquanto eu a olhava,
questionando-me sobre o tipo de vida que ela teria a partir daquele
momento.
Se de uma coisa eu tinha quase certeza, era que Amélia voltaria à
casa para nos importunar. Ela não desistiria de Dashiel, e meu maior
temor era que ela conseguisse colocar suas mãos na minha filha e fizesse
algum mal a ela, por vingança.
Descontrolada como estava, aquela mulher seria capaz de
qualquer coisa, inclusive, de tentar nos atropelar com o carro, como
certamente fizera.
Com minha mente fervilhando com os pensamentos, levantei-me,
peguei Savana da sua cama e a acomodei ao meu lado, entre mim e a
parede, para ter certeza de que ela estaria plenamente segura.
Os acontecimentos da noite ecoavam em minha cabeça, como
sombras inquietas. A atmosfera estava carregada com a tensão da
discussão anterior. A imagem de Amelia, furiosa e descontrolada,
permanecia em minha mente.
Uma mulher que, até aquele momento, eu conhecia apenas
superficialmente, mas que agora parecia capaz de qualquer coisa.
Enquanto o silêncio da casa envolvia meus pensamentos, lembrei-
me mais uma vez das palavras de Elizabeth: "Proteja sua filha." Aquelas
palavras não eram apenas um aviso sobre a situação atual, mas pareciam
conter com uma urgência maior, como se houvesse mais em jogo do que
eu conseguia compreender.
Havia algo obscuro e sinistro na conexão entre Amelia e Elizabeth,
e eu precisava descobrir a verdade, para manter minha filha segura.
Enquanto as sombras da noite se fechavam ao meu redor, o sono
finalmente me envolveu, mas minha mente continuava a girar, buscando
respostas em um labirinto de mistérios que se desdobravam diante de
mim.
CAPÍTULO 43

Acordei na manhã seguinte com um sobressalto, demorando um


instante para identificar onde me encontrava. Soltei um suspiro aliviado ao
reconhecer o quarto cor de rosa e ver Savana ainda adormecida ao meu
lado, toda esplanada sobre o colchão, em uma posição que parecia
extremamente desconfortável.
Mas ela era assim mesmo. Passava a noite toda se mexendo
enquanto dormia e parava em qualquer posição. E nem adiantava tentar
deixá-la mais confortável, pois logo ela se movimentava de novo e voltava
a ficar toda torta.
Ao abrir a janela, me deparei com mais um dia frio e cinzento. A
vista dali era linda, com um gramado verde que se estendia até ao longe,
seguido de um penhasco e do mar agitado mais adiante. Quem construiu
aquela casa, escolheu muito bem o terreno.
Deixei a porta do quarto aberta para ouvir Savana caso ela
acordasse e desci para preparar a mamadeira dela. Na cozinha, fui
recebida pelo sorriso amigável de Mary e fiquei surpresa quando ela me
entregou a mamadeira já pronta.
— Vi os ingredientes na sua mala e decidi preparar. Espero que
não se importe. — anunciou ela.
— Imagina. Muito obrigada.
— É um prazer. Sinto saudades de quando preparava para meus
próprios filhos.
— Você tem quantos filhos?
— Três, mas já estão todos casados e têm suas vidas no Texas. E
você, conseguiu dormir bem com sua menina?
— Sim. Apesar da agitação da noite, consegui descansar.
— Esse tipo de agitação não é mais novidade por aqui.
— Por quê? Amelia vem sempre aqui fazer escândalos?
— Não tenho permissão para falar sobre a vida dos patrões, mas
se eu fosse você tomaria cuidado. — O olhar dela assumiu uma
expressão sombria e um calafrio me percorreu — Nem tudo é o que
parece.
— Como assim?
— Como eu disse, não tenho permissão para falar. Aliás, o Dr.
Whitman deixou um recado para você, disse que houve uma mudança nos
planos e que é para você o esperar que ele a levará para ver sua mãe.
Mas, caso não possa esperar, o motorista a levará.
— Tá bem. Obrigada pelo recado.
— De nada. Você gostaria de comer o que no café?
— Eu como qualquer coisa, mas vou alimentar Savana primeiro.
— Muito bem. Vou fazer panquecas. Quando estiver pronta me
avise.
— Claro. Com licença.
Peguei a mamadeira de Savana e voltei para o andar de cima.
Enquanto subia as escadas, pensava nas palavras de Mary.
O que diabos ela queria dizer quando afirmou que nada ali era o
que parecia? Estava falando de Dashiel ou de Amelia?
Eu já não sabia nem mais o que pensar, minha única certeza
naquele momento era que eu precisava tomar muito cuidado com toda
essa situação.
Ao entrar no quarto cor de rosa, onde Savana continuava dormindo
tranquilamente, meu celular vibrou e o peguei para atender à chamada de
Dashiel.
— Alô.
— Bom dia. Dormiu bem?
— Sim, muito bem e obviamente Mary te avisou que já estou
acordada.
— Eu pedi que ela me avisasse. E nossa princesa, como passou a
noite?
— Está dormindo até agora. Onde você está?
Ele soltou um suspiro pesado, evidenciando cansaço e fadiga.
— Infelizmente houve um contratempo e o cara que abriria o cofre
não virá mais.
— Que tipo de contratempo?
— Do tipo que ele não soube explicar. Mas estou conversando com
outra pessoa. Eu mesmo abrirei aquele maldito cofre.
— Sem a senha só mesmo um especialista.
— Eu vou dar um jeito. Quais são seus planos para esta manhã?
— Vou visitar minha mãe.
— Eu gostaria que você me esperasse. Não gosto da ideia de
vocês duas andando por aí sozinhas.
— O motorista pode nos levar.
Ele soltou outro suspiro.
— Tudo bem. Já falei com ele para levá-las. Por favor, tome
cuidado.
— Você também.
Com isto, encerramos a ligação e os pensamentos pipocaram na
minha cabeça, sobre o quanto era estranha toda essa situação. Com todo
o dinheiro que Dashiel tinha para pagar por um trabalho tão simples, era
muito esquisito esse cara não aparecer para a abrir o cofre e mais
esquisito ainda ele estar conversando sobre o arrombamento do tal cofre
com alguém que morava em Georgetown, onde a maioria das pessoas
vivia da pesca e do turismo.
Havia algo muito sinistro por trás de toda essa loucura.
Depois de alimentar a Savana e tomar meu café da manhã, saí da
mansão e dirigi-me ao hospital no carro conduzido pelo motorista. Fiquei
contente ao perceber que minha mãe apresentava uma melhora, com seu
rosto mais corado e sua voz mais clara.
Minha manhã se tornou ainda mais agradável quando Sarah
apareceu para me fazer companhia, abrindo mão de seu dia de folga para
estar no hospital.
Aproveitamos para atualizar uma à outra sobre as novidades,
embora eu tenha evitado mencionar minha estadia na casa de Dashiel na
presença da minha mãe. Quando ela adormeceu, compartilhei todos os
detalhes com minha amiga.
— Você é mesmo muito corajosa de se enfiar na casa desse cara.
— sussurrou Sarah, horrorizada, após ouvir minha narrativa — No seu
lugar, eu já teria saído da cidade.
— Não acho que foi ele que matou Elizabeth. Acho que foi Amelia.
— Se ela foi capaz de esfaquear a própria amiga, não quero nem
imaginar o que fará com você e Savana.
— Ela já tentou nos atropelar com o carro.
— Eu sei que as evidências apontam para ela, mas é muito forçado
acreditar que ela mataria uma pessoa apenas para mandar Dashiel para a
cadeia. Ela podia ter conseguido isso com as acusações de violência
doméstica.
— Acho que ela estava pagando Elizabeth para tentar acusá-lo, por
isso Elizabeth foi até a delegacia denunciá-lo por ameaça, para que a
história fosse ainda mais convincente, mas Elizabeth deve ter desistido do
plano, ou algo assim, e então Amelia resolveu se vingar dela e mandar
Dashiel para a prisão ao mesmo tempo.
— Acho que você leu romances policiais demais, só que isso não é
um livro, é vida real. Você precisa parar de arranjar pretextos absurdos
para tentar desviar a culpa de Dashiel. Está muito na cara que foi ele que
matou nossa amiga.
— Eu sinto que não foi ele.
— Claro, do mesmo jeito que você sente um calor entre as pernas
quando olha para ele.
— Ai, não seja maldosa.
— Estou sendo realista. Esse cara te deixa cega e surda.
Nesse momento, meu celular vibrou com uma chamada de Dashiel
e atendi.
— Já sei como abrir o cofre. Preciso que você venha até a casa de
Elizabeth para me ajudar a entrar. Não quero ser preso por
arrombamento. — disse ele, do outro lado da linha.
— Claro. Estou indo. Me espere escondido, depois que eu entrar
você entra.
— Certo. Venha com o motorista. Até já.
— Até.
E encerramos a ligação.
Levantei-me da poltrona e Sarah fez o mesmo.
— Era ele, não era? — indagou ela.
— Sim, vou até a casa de Elizabeth ajudá-lo a entrar. Ele vai abrir o
cofre. A prova do que aconteceu pode estar lá dentro.
Sarah me encarava com seu queixo caído de perplexidade.
— Como é que você não enxerga o quanto está sendo
manipulada? Esse cara te chama para a cena de um crime que ele
certamente cometeu, e você vai sem nem hesitar! Tem noção do quanto
está colocando sua vida em risco?
— Eu dormi na casa dele, se ele quisesse me fazer mal, já teria
feito.
— Ele ainda precisa de você para ajudar a destruir alguma
evidência. Não quero nem pensar no que pode acontecer quando ele não
precisar mais.
— Para de me deixar aterrorizada.
— Só estou tentando te fazer enxergar a verdade.
— Eu preciso ajudá-lo. Se ele for mesmo culpado, saberemos hoje.
Me deseje sorte.
Coloquei Savana no carrinho e fiz menção de deixar o quarto,
quando Sarah interveio.
— Pelo menos deixe Savana aqui, eu cuido dela.
— Não quero me separar dela.
— Willow, pelo amor de Deus, isso aqui é um hospital e está cheio
de gente. É melhor ela ficar aqui do que invadir uma casa que foi cena de
um crime.
Ponderei sobre o assunto. Ela estava certa. Seria mais perigoso
levá-la, pois não sabia o que encontraríamos naquele cofre. Além do mais,
seria rápido, e Amelia não se arriscaria a chegar perto de Savana na
frente de tanta gente.
— Você promete que não tira os olhos dela?
— Prometo.
— Eu volto antes de elas duas acordarem.
Dei um beijo na minha mãe e outro em Savana, ambas
adormecidas, e deixei o hospital, indo no carro com o motorista até a casa
de Elizabeth.
CAPÍTULO 44

Conforme combinado com Dashiel, destranquei a porta e entrei,


mantendo-a aberta para sua entrada imediata.
Ele usava jeans desbotado e um casaco preto aberto. Havia um
estetoscópio pendurado em seus ombros, e seu rosto evidenciava os
sinais da fadiga.
— Onde está Savana? — Foi a primeira coisa que ele perguntou.
— Deixe-a no hospital com Sarah. Não podemos demorar aqui.
— Certo. Acho que vai ser rápido.
— E para que o estetoscópio?
— Ele vai me ajudar a abrir o cofre.
Nos dirigimos em direção ao escritório, mas antes que pudéssemos
alcançar a porta, sons de passos nos atraíram, e nos viramos para ver
Ethan, o enteado de Elizabeth, descendo as escadas que levavam ao
segundo piso.
Ao perceber nossa presença, ele estacou, seu rosto revelando a
mesma surpresa que nos invadiu.
— O que vocês estão fazendo aqui? — indagou ele, atônito, seu
rosto empalidecendo, seus olhos fixos em Dashiel.
O pai da minha filha deu um passo na direção dele, e Ethan ficou
um pouco mais pálido, parecendo prestes a sair correndo.
Eu sabia o quanto Dashiel podia parecer intimidante, quando
queria, principalmente quando se encontrava na cena de um crime do
qual era acusado.
— Eu ia te perguntar a mesma coisa. — disparou Dashiel, com tom
de voz pouco amigável.
Ethan ajeitou sua postura, tentando se recompor, e recomeçou a
descer as escadas.
— Estava verificando se ficou algum pertence pessoal, antes de
preparar a casa para a venda. — Ele parou a alguns metros de distância
de nós.
— E encontrou alguma coisa importante para tirar daqui? — A
indagação de Dashiel soou repleta de insinuações.
— Não tanto quanto certamente vocês encontrarão. — Rebateu
Ethan — Não é por isso que estão aqui?
— Nós estamos procurando alguma evidência que possa inocentá-
lo. — Expliquei, antes que os ânimos ficassem ainda mais exacerbados —
Há um cofre no escritório de Elizabeth, talvez haja alguma coisa lá.
Ethan cruzou os braços, cético.
— E nem pensaram em dizer isso à polícia, para que
investigassem?
— A polícia não está muito a fim de se aprofundar nesse caso. — O
tom de voz de Dashiel continuava hostil — Mas vamos descobrir a
verdade, custe o que custar. E mais cedo ou mais tarde o verdadeiro
assassino vai estar atrás das grades.
Ethan percebeu a indireta e ficou visivelmente tenso.
— Podem terminar o que vieram fazer aqui, mas só desta vez. —
anunciou Ethan — Depois preciso que você me devolva as chaves da
casa.
— Tudo bem. Obrigada. — concordei.
— Você sabe onde me encontrar. Com licença.
Ele e Dashiel se encaram durante um momento de pura tensão,
parecendo dois galos de briga, até que Ethan desfez o contato visual e
seguiu para a saída, deixando a casa.
— Ele é o assassino. — sussurrou Dashiel, assim que a porta se
fechou atrás do outro homem — Estava aqui eliminando provas.
— Ele não mataria a única mãe que conheceu. Isso é loucura.
— Mataria se se considerasse dono da fortuna que o pai deixou
para ela.
— Mas, de acordo com o chat que vimos, ela estava falida.
— E ele se enfureceu por ela ter gastado um dinheiro que ele
queria e a matou
— Isso é um absurdo.
— Vamos descobrir se é mesmo. Venha.
Dashiel e eu entramos no escritório, a tensão pairando no ar como
uma nuvem espessa. O ambiente, que já era escuro e sombrio, ganhava
contornos ainda mais misteriosos.
O estetoscópio pendurado nos ombros de Dashiel não era apenas
um adereço, era a ferramenta peculiar que ele afirmava poder usar para
escutar os mecanismos internos do cofre, decifrando os sons que
indicavam a combinação correta.
Era uma técnica incomum, mas eu estava disposta a acreditar em
qualquer coisa que pudesse nos fornecer respostas.
Dashiel se aproximou do cofre, colocou o estetoscópio nos ouvidos
e começou a girar os discos com precisão, como um músico afinando um
instrumento. Eu observava atentamente, minha respiração contida,
enquanto ele se concentrava na tarefa.
— Onde você aprendeu a fazer isso? — indaguei, com um
sussurro, quebrando o silêncio pesado.
— O cara que vinha abrir me explicou. Shh, fique quieta.
— Tá. Desculpe.
Cada clique da abertura do cofre ecoava no silêncio do escritório, e
a cada movimento de Dashiel, a ansiedade aumentava. O tempo parecia
se arrastar, enquanto eu podia sentir meu coração pulsando forte no peito.
Meu olhar alternava entre Dashiel e a porta, meio esperando que
Ethan retornasse a qualquer momento.
A ideia de estar na casa de Elizabeth, na cena de um crime, mexia
com meus nervos. Saber que o verdadeiro assassino poderia estar à
espreita só aumentava a intensidade da situação.
Dashiel começou a mover o estetoscópio pelo cofre, ouvindo
atentamente os sons que reverberavam em sua orelha. Cada clique, cada
pequeno ruído parecia uma eternidade, e eu mal conseguia conter a
respiração.
Finalmente, após uma série de tentativas e ajustes, um som
metálico ecoou, indicando que Dashiel havia conseguido abrir o cofre. O
alívio momentâneo foi substituído por uma crescente ansiedade enquanto
ele abria a porta.
No entanto, a decepção se instalou quando o interior revelou-se
vazio. Nada de documentos incriminadores, nenhum sinal do que poderia
ter motivado o assassinato de Elizabeth.
A expressão de Dashiel refletiu desespero e frustração.
— Não pode ser... — murmurou ele, passando as mãos pelos
cabelos.
O desespero se apoderou de Dashiel, seus olhos vasculhando o
cofre em busca de algo que ajudasse a inocentá-lo. Mas não havia nada
ali, apenas o espaço vazio.
Eu me aproximei do cofre, examinando-o com meus próprios olhos,
na esperança de encontrar algo que tivesse escapado ao olhar de
Dashiel.
No entanto, a decepção tomou conta de mim quando constatei que
o cofre estava completamente vazio.
Não havia nada lá, nem mesmo uma mísera nota fiscal, ou
qualquer outro pedaço de papel.
— O que significa isso? — perguntei, sentindo a confusão se
misturar à frustração.
Dashiel permaneceu em silêncio por um momento, como se
estivesse processando a realidade que se desdobrava diante dele. Ele
fechou a porta do cofre com força, encarando-o como se pudesse
arrancar respostas daquele objeto inanimado.
— Alguém esteve aqui antes de nós. Alguém que sabia o que
procurávamos. — Como se não sentisse mais suas pernas, Dashiel
recostou na parede e suas costas foram deslizando para baixo até que ele
estava sentado no chão, seu rosto desolado, seu olhar desesperado. Era
a primeira vez que eu o via tão vulnerável e meu coração apertou dentro
do peito — Se existia alguma coisa aqui que podia provar minha
inocência, ela foi levada. Eu estou mesmo muito ferrado.
Compadecida do desespero dele, eu me abaixei à sua frente,
enquanto ele enfiava a cabeça entre as mãos.
— Ei, fique calmo. Nem tudo está acabado. Eu falei sobre o cofre
com Thomas, talvez ele tenha aberto e encontrado alguma coisa.
— Claro, e ele vai levantar a bunda da cadeira para tentar
encontrar o verdadeiro culpado, quando é muito mais fácil me prender.
— Se existia alguma prova aí dentro, ele não poderá prender um
homem inocente.
Dashiel levantou a cabeça, fitando-me com seu olhar desolado e
meu coração apertou-se ainda mais.
— Se ele realmente tivesse encontrado alguma prova aí, já teria me
informado. Não é assim que a polícia trabalha?
— Talvez ele ainda esteja investigando alguma evidência. Vamos
falar com ele.
— Ou talvez Ethan tenha descoberto como abrir o cofre e veio aqui
eliminar as evidências que o incriminavam. Ou talvez nem tinha nada
dentro dessa merda. Está acabado. Eu vou passar a vida inteira na prisão,
talvez ser condenado à morte, por um crime que não cometi.
— Não fale assim. Vai dar tudo certo.
Tentando confortá-lo, inclinei-me para a frente e o abracei. Foi
então que Dashiel passou seu braço em volta da minha cintura e me
puxou mais para junto dele, me fazendo montar em seu colo, uma perna
de cada lado, meus seios pressionados contra seu peitoral musculoso.
Permanecemos abraçados, imóveis, durante um longo momento,
tão silenciosos que eu podia sentir as batidas do coração dele de encontro
ao meu corpo.
Até que aos poucos o calor da lascívia foi brotando em meu âmago,
se alastrando pelas minhas veias como fogo em pólvora, fazendo meu
corpo esquentar e meu coração acelerar.
Ambos levantamos a cabeça ao mesmo tempo e nos encaramos
em meio ao silêncio quebrado apenas pelo som da nossa respiração
irregular. Em seus olhos, vi o fogo do desejo, o que me deixou ainda mais
perdida de paixão.
CAPÍTULO 45

Não havia mais como negar, eu queria aquele homem e nada


poderia mudar isso.
Sem que nenhuma palavra fosse necessária, aproximamos nossos
rostos e a boca dele tomou posse da minha, em um beijo selvagem, meio
agressivo, sua língua me explorando com posse, sua mão segurando
minha nuca para me prender mais a ele, enquanto o outro braço me
apertava forte contra seu corpo.
Nos beijamos profundamente, demoradamente, enquanto o calor
da luxúria tomava conta de tudo, fazendo meu sangue ferver e o meio das
minhas pernas palpitar, de tal maneira que, inconscientemente, comecei a
mover meus quadris, esfregando-me na ereção que se formava de
encontro ao meu sexo protegido pelas roupas, um gemido partindo da
minha garganta e morrendo na boca dele.
Sem separar sua boca da minha, Dashiel projetou seu corpo para a
frente, me levando junto, sem nos levantar do chão.
Ele continuou nos movendo até que eu estava deitada sobre o
porcelanato duro e frio, com ele em cima de mim, sua boca devorando a
minha, seus quadris se encaixando entre minhas pernas, a ereção me
empurrando por baixo das roupas.
— Diz que você é minha... — sussurrou ele, descendo seus lábios
deliciosos pela minha pele, beijando e lambendo meu pescoço, fazendo-
me arder com as carícias deliciosas.
— Sim... sou toda sua... por quanto tempo você me quiser...
— Eu te quero para sempre. Quero que esteja na minha vida
enquanto eu existir.
— Eu serei sempre sua.
Eu não conseguia acreditar que, depois de tanto tempo, estávamos
finalmente juntos desta forma. Eram incontáveis os momentos em que
havia me imaginado exatamente nesta situação, mas nada se comparava
à realidade do seu toque.
A respiração de Dashiel ficou mais pesada enquanto ele depositava
beijos suaves e molhados no meu pescoço, provocando gemidos baixos
de prazer em mim. Sua barba por fazer arranhava gostosamente minha
pele, intensificando o tesão que incendiava minhas veias.
— Quero você peladinha para mim. — grunhiu ele.
Ele ergueu seu corpo e o ajudei quando começou a me despir.
Nossas mãos apressadas arrancando minhas roupas, peça por peça, até
que eu estava completamente nua, largada sobre o chão gelado, os olhos
de Dashiel percorrendo cada detalhe do meu corpo, sem que eu jamais
tivesse me sentido tão desejada e venerada como naquele instante.
— Você é linda. — sussurrou ele — Não tem ideia de quantas
vezes imaginei você assim, toda nua pra mim.
— Estou aqui agora e sou completamente sua.
Ele segurou meu pé, levando-o à sua boca, beijando e chupando
meus dedos, para em seguida deslizar sua boca deliciosa pela minha
panturrilha, passando pelo interior da minha coxa, até alcançar o meu
sexo.
Suas mãos se espalmaram entre minhas coxas, afastando-as, seus
olhos faiscando de desejo ao observar minha boceta toda aberta para ele.
— Delícia... — grunhiu ele.
Dashiel se inclinou e sua boca se apossou da minha boceta,
chupando, lambendo, mordendo, me enlouquecendo com os movimentos
habilidosos da sua língua.
Espalmei as mãos nas laterais do meu corpo e arqueei as costas,
gemendo e me acabando, enquanto a língua úmida e macia invadia minha
vagina, movendo-se lá dentro em um vai e vem lento e enlouquecedor.
— Ah... delícia... — gemi, ensandecida.
Sua língua continuou naquela carícia gostosa, até que seus lábios
se fecharam sobre clitóris intumescido e deram início a uma deliciosa
sucção, ao mesmo tempo em que ele introduzia dois dedos na minha
vagina e um terceiro no meu ânus, movendo-os em entra e sai, levando-
me ao ápice do prazer, me fazendo explodir em gozo, meus gemidos
ecoando pelo escritório amplo e vazio.
Eu ainda estava convulsionando, largada naquele chão, quando
Dashiel ficou ajoelhado entre minhas pernas e começou a tirar suas
roupas, com mãos apressadas. Não me movi enquanto o observava
desnudando cada parte do seu corpo.
Minha nossa! Ele nu era um espetáculo! Tinha o corpo
simplesmente perfeito, com músculos bem trabalhados nos lugares certos,
a barriga sarada, as coxas grossas e peludas.
No entanto, o que me deixava ainda mais excitada e faminta por
ele, eram suas tatuagens. Elas cobriam cada centímetro da sua pele,
desenhos medonhos e intimidantes, na cor grafite, se espalhando por todo
o seu corpo.
Ele tirou a cueca, e o pau, quase da grossura do meu antebraço,
completamente duro, surgiu diante de mim. Era grande e volumoso, a
glande alcançando a altura do seu umbigo.
Observando-o, lambi os lábios e fiquei de joelhos diante dele,
segurando sua masculinidade entre meus dedos, ao mesmo tempo em
que o beijava na boca.
— Aperta forte... — murmurou Dashiel, rouco, excitado.
Molhei minha mão com o líquido que escapava da abertura na
glande e a movi por toda a extensão do membro ereto, masturbando-o
com força, deliciada com o quanto ele era duro e ao mesmo tempo macio.
— Eu sempre quis te tocar desse jeito. Nem acredito que está
mesmo acontecendo. — sussurrei.
— Eu também sempre esperei por isso. Vou te comer até você não
conseguir mais andar.
Dito isto, ele me segurou pela cintura e me fez virar de costas,
inclinando meu corpo para baixo até que eu estava de quatro, com meus
joelhos apoiados no chão, minha bunda empinada para cima.
Dashiel deu um tapa estalado na minha nádega e segurou meus
quadris com as duas mãos, puxando-me para ele e me penetrando com
um golpe agressivo, chocando sua pélvis contra a minha bunda, tão bruto
e forte que senti o baque violento dentro do meu corpo, alcançando-me
fundo a ponto de machucar e soltei um grito, tentando escapar do seu
ataque brutal.
— Onde pensa que vai? — disse Dashiel, suas mãos fortes
segurando-me firme no lugar — Nós só estamos começando, você vai
tomar o meu pau até não aguentar mais.
Ele puxou seus quadris e os investiu contra mim novamente,
batendo fundo e bruto dentro de mim, de modo que precisei inclinar mais
o dorso e empinar mais a bunda, abrindo-me mais, procurando uma
posição confortável para receber as estocadas.
Até que elas se tornaram incessantes e deliciosas, meu corpo se
familiarizando com a invasão brutal, o prazer incontrolável se alastrando
pelos meus músculos, arrancando-me o juízo e a sanidade, fazendo-me
gemer alto, palavras desconexas saltando da minha garganta.
— Pede pelo meu pau... me diz que quer mais... — Dashiel rosnou.
Seu corpo se chocava contra o meu com tamanha brutalidade que
os sons ecoavam pelo escritório, e quanto mais ele fazia aquilo, mais eu
queria que fizesse.
— Me dá seu pau... dá ele todo pra mim... mete assim... bem
gostoso... me fode com força... ahhh...
Dashiel deu uma palmada estalada na minha bunda, e depois outra
do outro lado.
— Fala que você é minha... que vai dar essa bocetinha para mim
todos os dias...
— Sim... sou sua... toda sua... vou dar a boceta para você todos os
dias...
Ele continuou dando palmadas estaladas nas minhas nádegas,
proporcionando-me uma sensação enlouquecedora de ardor que
intensificava o prazer intenso, enquanto continuava se movendo dentro de
mim, ora apressado, ora lentamente.
Minha bunda estava dolorida quando ele parou, banhou seus
dedos com saliva e introduziu dois deles no meu ânus, um de cada vez,
um gemido rouco irrompendo da sua boca.
— Vou tirar a virgindade desse cuzinho apertado, mas não agora.
Quero gozar nessa bocetinha quente e molhada.
— Sim... faça o que quiser comigo...
Dashiel continuou fodendo minha vagina com o pau e meu ânus
com os dedos, movendo-os ao mesmo tempo, no mesmo ritmo frenético,
arrastando-me para uma doce insanidade, até que todas as sensações
foram se concentrando na altura do meu ventre, anunciando a chegada do
clímax e ele virou-me de frente, sentando-se sobre o porcelanato e me
colocando em seu colo, me fazendo montar em seu pau, dando início a
uma penetração lenta e gostosa, meus líquidos banhando sua pélvis.
— Quero olhar nos seus olhos enquanto você goza. — sussurrou
ele.
Em seguida, segurou-me pela nuca e beijou-me profundamente,
sem deixar de se mover dentro de mim.
Ensandecida, louca por alcançar a libertação, rebolei os quadris em
cima dele, fazendo com que a solidez do seu membro girasse dentro do
meu canal, empurrando gostoso minhas paredes sensíveis, massageando
meu ponto mais vulnerável até que explodi, gozando e gritando, enquanto
seu olhar fascinado fixava meu rosto.
Eu começava a me acalmar quando Dashiel gozou também, seu
pau soltando espasmos dentro de mim.
Permanecemos imóveis por um instante, o som ofegante da nossa
respiração preenchendo o escritório. Então, ele saiu de dentro de mim,
deitou-me de lado no chão, colocou-se às minhas costas e ergueu minha
perna com sua mão, voltando a me penetrar, seu pau duro como uma
pedra deslizando na abundância do nosso gozo, enquanto sua boca
encontrava a minha orelha, lambendo-a e mordendo-a.
CAPÍTULO 46

Depois de um longo tempo, nós finalmente paramos, nossos corpos


suados e exaustos, esparramados no chão, com alguns centímetros de
distância entre nós.
Não havia nenhuma parte de mim que não estivesse trêmula,
exaurida, tomada pela mais plena sensação de saciedade.
Ainda assim, minha vontade era de continuar, como se a fome que
eu sentia por aquele homem jamais tivesse fim.
— Preciso voltar para o hospital e pegar Savana. — sussurrei,
ainda ofegante, buscando forças para me levantar do chão.
Dashiel se virou para mim, jogando uma perna e um braço sobre
meu corpo, aprisionando-me.
— Agora não. Sua amiga está cuidando dela. — Sua boca tomou
posse da minha orelha, dando deliciosas lambidas que fizeram meu sexo
pulsar. — Vamos ficar mais um pouco.
— Não podemos. O hospital não é um ambiente saudável para um
bebê. Além do mais, está na hora do lanchinho dela.
Dashiel deu um suspiro e por fim me soltou. Levantei-me com meu
corpo trêmulo, enquanto ele permanecia deitado no chão, observando-me
atentamente.
Enquanto me vestia, eu não conseguia desviar meu olhar da sua
imagem, ali espelhado no chão lustroso, completamente nu, com o pau
semiereto. Era impossível olhar para ele e não sentir vontade de transar.
O homem era a tentação em pessoa, com o peitoral musculoso, os
ombros largos, as tatuagens terríveis cobrindo sua pele clara. Uma rala
camada de pelos aloirados marcava sua pélvis, suas coxas eram grossas
e peludas.
— Você fica ainda mais linda olhando desse ângulo. — disse ele,
seus olhos fixos no espaço entre minhas pernas.
— Não seja engraçadinho. Precisamos ir buscar nossa filha. Ela já
deve ter acordado a essa hora e está com fome. Além do mais, eu disse à
Sarah que não demoraria.
Dashiel deu mais uma boa olhada na minha bunda e por fim se
levantou, catando suas roupas do chão.
— Tem razão. Vamos levá-la para casa. Vou dispensar o motorista.
Vamos no meu carro.
Ele começou a se vestir em silêncio, sua fisionomia voltando a se
fechar, revelando a angústia de não ter encontrado nada no cofre. Eu não
consegui evitar sentir pena dele, ao mesmo tempo em que temia que ele
realmente fosse preso injustamente.
— Eu vou falar com Thomas, para saber se ele abriu o cofre. —
anunciei.
— Não sei se isso vai adiantar muita coisa, mas é bom perguntar.
— Se ele não ajudar, ainda temos o chat no computador da livraria,
deve ter alguma coisa lá.
— Do jeito que anda a minha sorte, é capaz de eu nunca conseguir
arranjar um hacker para fuçar nele.
— Não seja pessimista. Vamos nos manter esperançosos e tudo se
resolverá.
Completamente vestido, Dashiel se colocou diante de mim, fitando-
me de perto.
— É o que tenho tentado esse tempo todo, me manter otimista,
mas tem hora que não dá. Mesmo assim eu agradeço a você por acreditar
em mim e ficar do meu lado. Você é a única.
— Mais cedo ou mais tarde toda a cidade saberá que você é
inocente. Vamos ter fé.
Nesse momento meu celular vibrou no meu bolso e senti um nó no
estômago ao ver que era uma ligação de Sarah.
— Oi, está tudo bem? — atendi, apreensiva.
— Willow, eu nem sei como te dizer isso, mas Savana sumiu. — A
voz de Sarah evidenciava que ela estava chorando e, de repente, parei de
sentir minhas pernas.
— Como assim? Do que diabos você está falando?
— Eu saí um instante para ir ao banheiro e quando voltei ela não
estava mais no carrinho.
O telefone começou a tremer em minhas mãos, meu coração
batendo com uma força que parecia querer rasgar meu peito. A voz de
Sarah, embargada pelo choro, ecoava em meu ouvido como um presságio
sombrio. Eu tentava, desesperadamente, processar as palavras que ela
acabara de dizer.
"Savana sumiu."
A sala ao meu redor parecia desaparecer, a realidade se
dissolvendo em uma névoa turva. A única coisa que pulsava em minha
mente era o desaparecimento da minha filha, um vazio que se instalava
em meu peito, sufocando-me.
— Pelo amor de Deus, me diz onde está minha filha. — Minha voz,
antes firme, saiu agora em um sussurro que mal conseguia ouvir.
O telefone grudava em minha orelha, como se o simples ato de
afastá-lo pudesse fazer com que a notícia desaparecesse.
Sarah continuou a falar, explicando os detalhes, mas suas palavras
se tornaram um zumbido indistinto.
Eu me agarrei à borda da mesa como se fosse a única coisa que
pudesse me manter de pé. Meu olhar encontrou Dashiel, cujos olhos já
expressavam a compreensão do meu desespero.
— Willow, o que aconteceu? — Sua voz soou abafada, como se
viesse de um lugar distante.
Eu queria dizer a ele, compartilhar essa angústia que ameaçava me
sufocar, mas as palavras não vinham. Então, ele tirou o celular da minha
mão e começou a falar com Sarah.
— Você já chamou a polícia? Checaram as câmeras de segurança?
— disse ele, energicamente. Ouviu por um instante e voltou a falar — Não
deixe de procurar, peça ajuda, quanto mais pessoas procurando mais
rápido a encontraremos. Nós estamos indo.
Ele encerrou a ligação e seus braços me envolveram, abraçando-
me.
— Fique calma, nós vamos encontrá-la.
— Foi Amelia. Ela a pegou. — Minhas próprias palavras
intensificaram meu desespero.
— Sarah já chamou a polícia. Vamos para o hospital.
Deixamos a residência, ingressamos no veículo dele e chegamos
ao hospital em uma velocidade surpreendente. Logo na recepção, Sarah
veio em minha direção, abraçando-me em prantos.
— Me desculpe, me perdoe por ter perdido sua filha. — murmurou
ela, aflita.
Thomas e mais dois policiais uniformizados também estavam
presentes.
— O que aconteceu? — indaguei, desvencilhando-me do abraço.
Esforçava-me por manter-me lúcida e forte, pois se me entregasse
à angústia devastadora que me consumia, certamente não conseguiria me
manter de pé e precisava encontrar minha filha.
— Eu não sei. Saí para ir ao banheiro por um instante, e ela não
estava mais lá quando voltei.
— Minha mãe não viu quem a levou?
— Não. Ela estava dormindo.
Seguindo um impulso descontrolado, corri hospital adentro,
atravessando os corredores, indo direto para o quarto da minha mãe,
onde ela ainda dormia.
Eu só queria me certificar, com meus próprios olhos, de que minha
filha realmente não estava lá, e o desespero se intensificou em minhas
entranhas quando vi o carrinho dela vazio.
Meu Deus! Onde estava minha menina?! O que pretendiam fazer
com ela?
A dor que tomava conta de cada minúscula parte de mim era
lancinante, a pior que eu já havia experimentado. Jamais me perdoaria
por tê-la deixado, por ter cedido ao desejo e me refestelado nos braços de
um homem enquanto alguém a levava.
Quando deixei o quarto, quase sem ver nada à minha frente,
Thomas veio ao meu encontro.
— O que você está fazendo andando por aí com esse Dashiel?
Será que você ficou louca? Esse homem é perigoso! — sussurrou ele,
com tom de gravidade.
— Ele é o pai de Savana. Além disso, eu acredito na inocência
dele. Fomos até a casa de Elizabeth procurar alguma prova que o
inocentasse.
— E encontraram alguma coisa?
— Não. — Balancei a cabeça, desolada, meu coração pesado —
Por favor, me diz que você sabe quem levou minha filha e vai trazê-la de
volta.
— Quem você acha que poderia querer sequestrá-la?
— Amelia, a esposa de Dashiel. Ela está com ciúmes porque
tivemos uma filha, mas eu não sabia que ele era casado quando ficamos
juntos, eu juro.
— Você tem o endereço dela?
— Tenho.
Nesse momento, Dashiel se aproximou de nós, seu rosto
contorcido de tanta aflição.
— Os outros policiais acabaram de checar as câmeras de
segurança; foi Amelia que a levou. — anunciou Dashiel.
— Meu Deus! — sussurrei, o desespero se intensificando em meu
âmago.
— Falei com a irmã dela, e ela disse que Amelia acabou de sair da
cidade de carro. Se corrermos, podemos alcançá-la.
— Vou contatar a polícia rodoviária. Pergunte à irmã em que carro
ela está e em que direção ela foi. — disse Thomas.
— Está em uma SUV preta, foi para o norte.
— Ótimo. Vamos pegá-la.
Thomas sacou seu celular e partiu em direção à saída do hospital,
ao mesmo tempo em que falava com alguém do outro lado da linha.
Dashiel e eu o seguimos até o lado de fora.
CAPÍTULO 47

Várias pessoas da cidade se aglomeravam em frente ao hospital,


algumas delas vindo me cumprimentar, perguntando por notícias de
Savana, demonstrando solidariedade com a minha filha.
Do meio da pequena multidão, surgiu uma loira alta, sofisticada e
elegantemente vestida. Antes mesmo que ela se aproximasse de nós, eu
soube que era a irmã de Amelia, pois a semelhança entre as duas saltava
aos olhos.
— Willow, essa é Jennifer, irmã de Amelia. Jennifer, essa é Willow.
— Dashiel fez as apresentações.
— Eu sinto muito pelo que está acontecendo. — disse ela, após
nos cumprimentar — Amelia não está bem. Está psicologicamente doente.
Ela parecia uma pessoa sensata e gentil, contudo, Amelia me
passara a mesma impressão quando a conheci na casa de Elizabeth.
— Que se dane o psicológico da sua irmã. Eu vou arrancar os
olhos dela com minhas próprias mãos, se ela tocar em um só fio de cabelo
da minha filha.
— Eu entendo a sua indignação e lamento pelo que minha irmã
está fazendo. Mas vamos encontrá-las, está bem?
Não tive condições de responder sem proferir as grosserias que eu
queria dizer, então me mantive calada, abraçada a Dashiel, buscando
conforto no seu abraço.
Um tempo que me pareceu interminável depois, Thomas anunciou
que a polícia rodoviária havia localizado e interceptado o carro de Amelia,
a alguns quilômetros de distância de Georgetown, indo na direção da
capital. Acrescentou que Savana estava mesmo com ela e estava bem.
Os policiais entraram em uma viatura e partiram em alta velocidade
pelas ruas da cidade. Dashiel e eu os seguimos no carro dele, enquanto a
irmã da maldita vinha logo atrás.
Pouco depois, chegamos ao local onde a polícia rodoviária havia
conseguido prender Amelia, uma área deserta à beira da estrada, a
poucos quilômetros de distância de Georgetown.
Havia várias viaturas policiais estacionadas no acostamento e entre
elas um carro preto luxuoso, certamente o de Amelia.
Na mesma hora o reconheci. Era o mesmo carro que tentara
atropelar a mim e à minha filha há alguns dias.
Ao descermos do carro, corri em direção aos policiais que tinham
Amelia sob custódia. A visão dela algemada, escoltada pelos agentes da
lei, trouxe uma sensação de alívio e raiva. Raiva por ela ter ousado tirar
minha filha de mim e alívio por saber que Savana estava fisicamente bem.
Dashiel segurou minha mão, oferecendo um apoio silencioso,
enquanto os policiais transferiam Amelia, algemada, da viatura da polícia
rodoviária para a viatura da cidade. Seu olhar encontrou o meu, e uma
faísca de ódio se refletiu em sua expressão.
— Você acha que tem o direito de ficar com o marido só porque
tem o útero fértil e deu uma filha a ele? Ridículo! Você não é nada para
ele e nem liga para a sua filha. Você ia dá-la para adoção. Ela seria minha
se você não tivesse sido tão estúpida. — gritou ela, e ignorei.
Eu só queria ver minha filha, pegá-la nos braços e ter certeza de
que estava realmente bem.
Aproximei-me da viatura da polícia, onde Savana estava no colo de
uma policial. Um turbilhão de emoções incontroláveis explodiu em meu
peito quando olhei para seu rostinho de perto, seus olhinhos
avermelhados de tanto chorar, sua boquinha suja do iogurte que ela ainda
tinha na mão.
— Percebi que ela estava com fome e tomei a liberdade de dar um
iogurte a ela. — disse a policial rodoviária uniformizada.
— Obrigada. — murmurei, com minha voz trêmula.
Peguei minha filha nos braços e a abracei com força, sentindo o
calor do seu pequeno corpo contra o meu peito, as emoções se
intensificando em meu ser, as lágrimas rolando pelos meus olhos,
enquanto Dashiel se juntava a nós, abraçando nós duas ao mesmo
tempo.
— Mamãe está aqui, Savana. Mamãe está aqui agora. — Sussurrei
enquanto a abraçava com força.
Eu nunca imaginei que pudesse existir um sentimento tão
avassalador quanto a felicidade de tê-la de volta, sã e salva.
Ainda abraçando Savana, observei Amelia entrar na viatura,
lançando-me outro olhar cheio de ódio.
— Você não merece nada disso! — Ela gritou enquanto a porta da
viatura se fechava, isolando suas palavras iradas.
O deserto ao redor testemunhava a intensidade das emoções que
permeavam aquele momento. A polícia rodoviária finalizava os
procedimentos, e Amelia estava prestes a ser levada sob custódia.
A irmã dela aproximou-se de onde estávamos, parecendo
genuinamente preocupada. Eu, no entanto, não tinha espaço para
simpatia naquele momento. Olhei para ela com uma expressão fria,
silenciando qualquer palavra que pudesse escapar da minha boca em um
acesso de raiva.
— Eu sinto muito por toda essa situação. — disse Jennifer.
— Não há desculpas para o que sua irmã fez. Ela vai pagar por
isso. — Dashiel retrucou, passando um braço em volta dos meus ombros,
protetoramente.
— Ela está doente, precisa de tratamento. — Jennifer continuou —
Se vocês não abrirem uma queixa formal, poderei levá-la para Dallas e
providenciar um tratamento adequado para ela.
— Não é só por sequestro que ela será acusada, mas também por
tentar me atropelar.
Ouvindo minhas palavras, Thomas se aproximou, perguntando:
— Você reconheceu o carro dela? Foi ele que tentou atropelar
vocês?
— Foi sim. Não tenho nenhuma dúvida.
— Nesse caso, ela será acusada também por tentativa de
homicídio. — Thomas emendou.
— Não precisa tudo isso, gente. Ela está doente. Posso levá-la
para casa e arranjar o melhor tratamento. — Jennifer interveio e olhei para
ela, minha intuição me alertando de que ela sabia mais do que estava
falando.
— Como Amelia sabia que eu pretendia dar minha filha para
adoção? — indaguei.
Jennifer olhou para Dashiel, hesitante.
— Não adianta mais esconder nada. Amelia vai ter que confessar
tudo o que fez. — disse Dashiel.
— Como eu disse, ela não está bem e isso não é de agora. —
Jennifer hesitou novamente, seu olhar fixo no rosto de Dashiel — Ela
nunca esteve grávida, inventou essa gravidez para que você desistisse do
divórcio.
— Eu já desconfiava disso. Mas era surreal demais para cogitar.
— Como médico, você deveria ter percebido.
— Ela inventou um desconforto e passou a dormir em outro quarto,
quando a barriga começou a crescer.
— Tá, mas o que isso tem a ver com a filha de Willow? — Thomas
interveio.
— Ela ia adotar a garota e dizer que era sua filha com Dashiel.
Elizabeth a estava ajudando com isso. — Quanto mais Jennifer falava,
mais estarrecida eu ficava — Elas inventaram aquela história de violência
doméstica para convencer Willow a ter medo de Dashiel e, com isto,
desistir de falar para ele que estava grávida. Você ia mesmo dar a menina
para adoção, então Amelia ficaria com ela.
— Como Elizabeth soube que eu estava grávida de Dashiel? Eu
nunca disse a ela quem era o pai de Savana.
— Eu não sei. Acho que ela ouviu você e sua amiga conversando.
Mas que importância isso tem agora? O que estou tentando dizer, é que
Amelia piorou muito depois que você desistiu de dar a garota para
adoção. Ela está psicologicamente doente, não precisa de cadeia e sim
de um hospital.
— Por mim, ela vai apodrecer na cadeia. — Dashiel rosnou — Não
foi só o sequestro de Savana, ela também tentou assassinar as duas.
— Ela não fez de caso pensado. Estava fora de si. Pelo amor de
Deus, se coloquem no lugar dela. Ela acha que perdeu você porque não
conseguia engravidar.
— Nunca se tratou disso. O que existia entre nós acabou faz tempo
e não tem nada a ver com gravidez.
Enquanto absorvia todas as informações, minha mente trabalhava
silenciosamente. Eu podia apostar cinco anos da minha vida, como Amelia
propôs à Elizabeth sequestrar Savana, depois que desisti de entregá-la à
adoção, para ficar com ela, dizendo que era sua filha e matou Elizabeth
quando ela se recusou a participar disso.
— Por favor, se ponham no lugar dela. Não a denunciem
formalmente, me deixem levá-la para casa, onde possa receber um
tratamento médico. — insistia Jennifer.
— Sua irmã é uma criminosa. — disparei — Se investigarem-na
mais a fundo vão acabar descobrindo que ela matou Elizabeth e pagou o
mesmo homem para invadir minha casa.
Uma expressão extremamente ofendida se estampou na fisionomia
de Jennifer.
— Minha irmã está desiquilibrada, mas ela jamais tiraria a vida de
uma pessoa! Você deveria pensar duas vezes antes de acusar alguém
sem provas!
— Já chega dessa conversa! — Dashiel interveio, energicamente
— Se Amelia cometeu algum crime, vai ter que pagar. Nós a
denunciaremos formalmente e está acabado. — Ele pegou Savana do
meu colo, minha neném quase adormecida de tanto cansaço — Vamos
sair daqui.
Com a situação sob controle, os policiais partiram com Amelia sob
custódia. Dashiel e eu voltamos para o carro, mantendo Savana próxima,
como se nunca mais quiséssemos soltá-la.
A estrada deserta estendia-se diante de nós, mas agora, mesmo no
meio do nada, estávamos juntos como uma família.
Enquanto dirigíamos de volta para casa, agradeci silenciosamente
por termos superado aquele pesadelo.
CAPÍTULO 48

Nos dias que se seguiram, a paz voltou a reinar em Georgetown.


Com a revelação da ligação entre Elizabeth e Amelia, e dos planos que
elas elaboravam, ninguém mais tinha dúvidas de que Amelia era a
assassina.
Obviamente, o motivo do crime foi o fato de minha falecida amiga
ter se recusado a tirar Savana de mim para dá-la a ela. Descontrolada
como estava, aquela mulher seria capaz de tudo.
Todas as peças agora se encaixavam. O fato de Elizabeth ter ido
até a delegacia, denunciando Dashiel por ameaça, certamente fazia parte
das tentativas delas duas de me convencerem a ter medo de Dashiel e
não contar-lhe sobre a existência da nossa filha.
O autor da facada era, obviamente, um matador contratado por
muito dinheiro, vindo de outra cidade.
Apesar de todas as evidências, Thomas ainda não incriminara
Amelia formalmente pelo assassinato, continuava investigando o caso,
alegando que ainda não tinha nenhuma prova concreta da participação
dela nesse crime e nenhuma confissão.
A megera continuava alegando veementemente que não fizera
isso. Mas era óbvio que ela não confessaria, pois isso poderia garantir-lhe
a pena de morte ou o resto da vida na prisão.
A irmã de Amelia continuava implorando para que Dashiel e eu
retirássemos as queixas de sequestro e tentativa de homicídio contra ela,
e embora eu soubesse que em algum momento os advogados caros dela
a tirariam da prisão, eu me recusava a me tornar responsável por uma
assassina andar livremente por aí. Além do mais, me sentia mais segura
com ela presa.
Embora estivéssemos todos seguros agora, por insistência de
Dashiel, continuei morando na casa dele, pois amava acordar ao seu lado
todas as manhãs, assim como dormir em seus braços todas as noites.
Eu amava estar com ele, fazer as refeições em sua companhia, vê-
lo interagindo com nossa filha, acompanhando o crescimento dela. Amava
perceber o quanto Savana ficava feliz quando estava com ele. Eu amava
cada instante dessa nova fase das nossas vidas e amava aquele homem.
Eu não tinha mais como negar, estava completamente apaixonada
por Dashiel e esse amor crescia um pouco mais a cada dia que eu
passava ao lado dele.
Nossos momentos juntos eram marcados por risadas, conversas
descontraídas e muito sexo. Agora que as suspeitas de assassinato não
recaíam mais sobre ele, eu me sentia livre para viver esse amor,
entregando-me por completo a esse sentimento que me fazia tão feliz.
Alguns dias depois da cirurgia, minha mãe recebeu alta do hospital
e Dashiel preparou um dos quartos de hóspedes para ela, equipado-o
com os mais modernos e sofisticados equipamentos médicos necessários
para que ela se recuperasse ainda mais depressa.
Exagerado como sempre, ele também contratou quatro auxiliares
de enfermagem para tomar conta dela, as quais se alternavam em turnos
diferentes.
Apesar dos protestos dele, fiz questão de voltar a trabalhar na
livraria, mas apenas no período da manhã. Como a casa dele ficava
afastada da cidade, fui obrigada a aceitar o carro que ele me deu de
presente. Pelo menos, dessa vez me deu um carro mais discreto, embora
caro, ao invés da BMW estravagante de antes.
Um mês havia se passado desde a prisão de Amelia e felizmente
ela continuava presa. Por mais que seus advogados tentassem, ainda não
haviam conseguido libertá-la.
Era o final da tarde de sexta-feira. Eu tinha aberto a livraria pela
manhã e estava no jardim da mansão, relaxando em uma espreguiçadeira
perto da piscina, conversando com minha mãe, enquanto Savana
brincava no gramado. Foi quando uma das empregadas se aproximou,
avisando que eu tinha visitas.
— Quem é? — perguntei, curiosa.
— Um rapaz chamado Pablo, que se identificou como cabeleireiro,
sua assistente e uma mulher chamada Evangeline.
Eu conhecia Pablo, era o cabeleireiro e maquiador das pessoas
ricas da cidade, e Evangeline tinha uma loja de roupas chiques.
— Eles querem algo comigo?
— Disseram que o Dr. Whitman os enviou.
Dashiel estava no hospital desde aquela manhã. Apesar de seu
advogado já ter obtido permissão para que ele deixasse a cidade, ele
continuava realizando cirurgias apenas em Georgetown, onde pacientes
vinham de longe para serem operadas por ele.
— Parece que ele quer te fazer uma surpresa — disse minha mãe,
com um sorriso estampado no rosto.
Ela gostava muito de Dashiel e ficou feliz quando eu revelei que ele
era o pai de Savana.
Curiosa, peguei Savana no colo e fui para a sala receber minhas
visitas. Pablo, Alícia e Evangeline se levantaram dos sofás assim que me
viram entrar.
— Menina, que lugar luxuoso é este onde você mora! — disse
Pablo, com seu jeito afeminado e descontraído.
— É mesmo lindo aqui. — comentei.
— Pois eu acho esse lugar um pouco assustador, por ser tão
afastado da cidade, embora não possa negar que é bonito. — emendou
Evangeline.
— E o que os traz aqui?
— O Dr. Whitman nos enviou. Disse para eu arrumar seu cabelo e
te maquiar — adiantou-se Pablo, animado.
— E eu fui enviada para vesti-la. Trouxe alguns trajes do seu
tamanho, mas se não gostar de nenhum, tenho vários outros na loja.
— Dashiel não me falou nada.
— Talvez ele quisesse fazer uma surpresa. Ai meu Deus, por que
um homem desses não cai de paraquedas na minha vida? — Até Savana
sorriu do comentário de Pablo. — Agora entregue a neném a alguém e
vamos começar. Vou te deixar mais espetacular que uma rainha.
— Preciso ligar para Dashiel primeiro. — saquei o celular e liguei
para o pai da minha menina, que atendeu no terceiro toque. — Tem uma
modista e dois maquiadores aqui, dizendo que você os enviou. Está
acontecendo algo que eu precise saber?
— Eu só pensei que talvez você gostaria de me acompanhar a um
evento em Colúmbia, esta noite. O que acha?
— Eu adoraria, mas já é quase noite. Como chegaremos a
Colúmbia antes da madrugada?
— Iremos de helicóptero. Já está tudo providenciado. O piloto já
está a caminho e Mary disse que vai ficar com Savana e sua mãe. Tudo o
que você tem que fazer é se produzir, mas só se estiver à vontade com
isto.
Um sorriso involuntário se abriu em meus lábios. Eu sempre quis
voar de helicóptero, e fazer isso para ir a um evento em um lugar chique
com Dashiel parecia um sonho se realizando.
Além do mais, eu não via problema em deixar Savana com Mary,
se minha mãe também ficaria de olho nela.
— Estarei pronta quando você chegar. — anunciei.
— Ótimo. Até mais tarde. — E encerramos a ligação.
Entreguei Savana a Mary e subi para a suíte com os três
profissionais. Sentei-me na cadeira diante da penteadeira, onde Pablo
depositou diversas maquiagens e acessórios, deixando-me ansiosa para
ver no que aquilo ia dar.
Pablo era talentoso e gentil, começando a trabalhar em meu cabelo
com habilidade, usando vários produtos e criando ondas suaves que
emolduravam meu rosto.
— Você vai ficar deslumbrante. — Ele assegurou, enquanto
manuseava o modelador de cachos com precisão. Eu sorri, sentindo uma
ponta de nervosismo misturada à empolgação.
Enquanto isso, Alícia, sua assistente e maquiadora, aplicava
sombras e delineador em meus olhos, fazendo-os parecerem mais
expressivos e sedutores do que nunca. Minha pele ganhou um brilho
saudável com a base e o blush, e meus lábios se destacaram com um tom
de vermelho profundo.
— Pronto, querida. — disse Alícia, dando um passo atrás e
sorrindo. — Você está absolutamente maravilhosa.
Olhei no espelho e mal consegui reconhecer a pessoa que me
encarava de volta. Meu cabelo estava incrível, os fios soltos e brilhantes
caindo sobre meus ombros. A maquiagem realçava cada detalhe do meu
rosto e me fazia sentir poderosa e confiante.
Eu estava pronta para encarar a noite ao lado de Dashiel.
— Obrigada. — agradeci, minha voz embargada pela emoção. —
Eu... Eu nunca me senti tão bonita.
— Willow, é hora de escolher o seu vestido. — anunciou
Evangeline, entrando no quarto com uma arara repleta de vestidos
deslumbrantes. Ela estava animada, seus olhos brilhavam com
entusiasmo. — Dashiel me disse que vocês têm um encontro especial
planejado esta noite, então vamos garantir que você esteja absolutamente
deslumbrante.
Aproximei-me da arara, meus olhos percorrendo as peças de alta
costura e tecidos luxuosos. Nunca poderia ter imaginado que um dia
usaria algo tão chique e elegante. Evangeline percebeu minha hesitação e
sorriu.
— Não se preocupe. Vamos encontrar o vestido perfeito para você.
— Tranquilizou-me.
Começamos a experimentar diferentes modelos, cada um mais
belo que o anterior. Depois de várias tentativas, meus olhos pousaram em
um vestido cor de pele com pequenos pontos brilhantes longo, com um
decote ousado e uma fenda lateral até a coxa. Evangeline percebeu meu
interesse e me ajudou a vesti-lo.
— Este é o vestido! — Exclamou.
Quando me vi diante do espelho, usando o vestido, eu mal podia
acreditar na mulher elegante que me encarava de volta. Fiquei
emocionada e nervosa com a ideia de mostrar essa nova versão de mim
mesma a Dashiel.
— Será que ele vai gostar? — perguntei, olhando para a estilista
através do espelho.
— Tenho certeza que sim. Agora, vamos adicionar os acessórios
finais e você estará pronta.
Enquanto ela me ajudava a colocar os brincos delicados, ouvi a voz
de Dashiel vindo do andar de baixo, brincando com Savana, e logo o som
de seus passos subindo as escadas encheu o silêncio momentâneo.
Quando ele entrou no quarto, seu olhar encontrou o meu no
espelho e pude ver a admiração em seus olhos. Ele ainda usava as
roupas com as quais saíra pela manhã. Segurava um buquê de rosas
vermelhas em uma mão e uma caixa de veludo quadrada na outra.
— Nossa... Você está incrível. — Murmurou, seus olhos
percorrendo cada detalhe do meu visual.
Não pude deixar de sorrir com o impacto que causei nele.
— Você gosta? — perguntei, dando uma pequena volta para que
ele pudesse ver todos os detalhes do vestido.
— Eu estou sem palavras. Você está deslumbrante. — respondeu
ele, aproximando-se e me entregando o buquê de rosas — Falta apenas
um detalhe. — Ele abriu a caixa de veludo, de onde tirou um
deslumbrante colar de diamantes — Vire-se.
Me virei de costas, e ele colocou o colar em volta do meu pescoço.
— Tenho até medo de sair por aí com uma coisa cara dessa no
pescoço. — comentei, tateando a peça delicada.
— Eu estarei ao seu lado o tempo todo, garantindo que você esteja
segura.
— É lindo, obrigada. E obrigada por tudo isso. — Eu disse, sorrindo
enquanto olhava para o buquê de flores.
— Você merece tudo o que há de melhor, e te darei o mundo se
preciso for.
— Não vejo a hora de descobrir o que você planejou para nós.
— Tenho certeza que você vai gostar, mas antes disso, preciso
tomar um banho e me trocar. Afinal, tenho que estar à altura da mulher
mais bela do mundo. — brincou Dashiel, soltando minha mão e
caminhando em direção ao banheiro. — Prometo ser rápido.
— Eu espero. — respondi, observando-o entrar no banheiro.
Enquanto Dashiel tomava banho, acompanhei Evangeline até a
sala, onde minha mãe e Savana faziam companhia a Pablo e Alícia.
Todos me olharam com admiração quando avancei pelo recinto.
— Você está linda como uma princesa. — Minha mãe falou.
— Obrigada. Me sinto mesmo uma princesa.
Pablo, Alícia e Evangeline se despediram e se foram. Pouco
depois, Dashiel surgiu do segundo andar, trajando um terno impecável,
com uma gravata que combinava com seu estilo elegante.
As tatuagens eram visíveis em seu pescoço e suas mãos,
mantendo aquele ar intimidante e enigmático que tanto me fascinava. Seu
sorriso era contagiante, e seus olhos transbordavam paixão.
— Você está incrível. — elogiei, levantando-me e caminhando até
ele.
— Então, estamos prontos para nossa noite mágica? — perguntou
ele.
— Sim. Podemos ir quando você quiser.
Dashiel pegou Savana nos braços e a encheu de beijos e abraços,
orientando Mary a não tirar os olhos dela nem por um segundo. Depois,
estendeu-me o braço, e deixamos a mansão.
Com o braço entrelaçado no de Dashiel, caminhamos juntos pelo
jardim em direção ao heliponto. Meu coração batia acelerado de
ansiedade e empolgação pela expectativa de voar pela primeira vez.
Meus olhos se arregalaram ao ver o helicóptero nos esperando,
com o piloto do lado de fora.
— Ai, meu Deus. Já não sei se terei coragem de entrar nesse
trambolho. — falei.
— Você vai adorar. Tenho certeza.
— Vamos descobrir agora.
Assim que entrei, senti uma mistura de medo e empolgação
percorrer meu corpo. Dashiel sentou-se ao meu lado e colocou seu cinto
de segurança, observando atentamente minha reação. Ele segurou minha
mão carinhosamente, transmitindo tranquilidade e segurança.
— Pronta? — perguntou ele, apertando levemente minha mão.
— Sim, vamos! — respondi determinada, dando-lhe um sorriso
confiante.
O piloto tomou seu lugar e manuseou alguns botões, fazendo o
helicóptero começar a se mover lentamente, e logo estávamos subindo
cada vez mais alto.
Meu estômago embrulhou com a sensação estranha e excitante de
levantar voo. Olhei pela janela e vi as luzes da cidade se tornarem
menores e mais distantes conforme subíamos.
— É incrível, não é? — perguntou Dashiel, com um olhar fascinado.
— Sim, é maravilhoso! — concordei, admirando a vista espetacular.
Depois de algum tempo de voo, o helicóptero pousou suavemente
no heliponto em Colúmbia. Descemos e seguimos para a limusine luxuosa
que nos esperava, com um motorista pronto para nos levar ao nosso
destino.
— Está sendo mesmo uma noite incrível. — falei enquanto entrava
na limusine.
— E estamos apenas começando. — Ele segurou minha mão mais
uma vez.
A paisagem urbana de Columbia era deslumbrante à noite, com
luzes brilhantes por todos os lados e uma energia pulsante que preenchia
o ar.
Enquanto a limusine deslizava pelas ruas, observei as pessoas
caminhando apressadas e os casais de mãos dadas, conversando
animadamente. Eu me sentia envolvida pela atmosfera vibrante da cidade,
meu coração se aquecendo com a ideia de estar ali com Dashiel,
compartilhando aquela experiência única.
A limusine parou em frente a um edifício imponente, revestido por
uma fachada de mármore branco, que se erguia no coração da cidade.
Tratava-se de um museu, onde um letreiro discreto anunciava a realização
de um leilão da Horton Auctions.
Dashiel precisou apresentar um convite na recepção para
entrarmos. Assim que avançamos pelo lugar, percebi o quanto havia de
grandeza e elegância, não apenas na decoração rústica e belíssima, mas
também nas pessoas elegantemente vestidas que circulavam por todos os
lados, contemplando as obras de arte expostas.
Era tudo muito deslumbrante. Minha mente vagava enquanto eu
observava cada detalhe da arquitetura e da decoração. Eu me sentia
como se estivesse em um filme de época, cercada por pessoas
extremamente sofisticadas e refinadas.
Com nossos braços entrelaçados, Dashiel e eu percorremos os
vastos salões, enquanto ele cumprimentava alguns dos convidados, me
apresentando a eles como sua namorada.
Passamos por um salão onde havia um rico bufê com comidas e
bebidas à vontade, onde beliscamos alguns petiscos de caranguejos e
seguimos nossa excursão, até alcançarmos o salão onde eram exibidos
os artigos a serem leiloados.
A cada passo que dava, eu me encantava mais com as maravilhas
que estavam à minha frente. Pinturas de paisagens espetaculares e
retratos de figuras históricas se mesclavam com esculturas intrincadas e
peças de artefatos antigos.
— Uau, olha só isso! — exclamei, quando paramos diante de um
conjunto de brincos e colar de diamantes e safiras, que parecia ter saído
de séculos atrás.
— Você gosta? — indagou Dashiel.
— Não tem como não gostar de uma coisa dessa.
— Ainda esta noite será seu.
Meu queixo caiu quase até os meus pés.
— Não faça uma coisa dessa! Eu nem teria onde usar uma joia tão
extravagante.
— Arranjaremos onde você possa usá-los.
Com meus protestos sendo ignorados, continuamos explorando o
lugar, até que paramos diante de uma pintura coberta por um véu de seda
azul. Dashiel soltou meu braço e, com um gesto suave, retirou o véu,
revelando uma pintura lindíssima, que retratava um cenário celestial, com
uma lua crescente lançando uma luz etérea sobre um campo de flores
vibrantes.
No centro da composição, uma figura humana estava representada
de costas, olhando para o horizonte. Suas feições não eram claramente
definidas, permitindo que os observadores projetassem suas próprias
experiências e emoções na obra.
— Nossa! Que lindo! — exclamei, fascinada.
— Foi por essa belezura que viemos aqui.
— É realmente fascinante.
— Se chama “Eclipse da Alma” e ganhou fama não apenas por sua
beleza estética, mas também porque desapareceu misteriosamente após
sua primeira exibição. — Dashiel explicava — Rumores e lendas
cresceram em torno desse desaparecimento, alimentando a aura de
mistério que cerca a obra. Quando sua descoberta foi anunciada, isso
causou um frenesi na comunidade artística, despertando o interesse
apaixonado de colecionadores, incluindo o meu.
— Eu não sabia que você coleciona obras de arte.
— Há muito sobre mim que você ainda não sabe, mas pretendo
mudar isto.
CAPÍTULO 49

Pouco tempo depois, nos encaminhamos para outra sala, onde o


leilão era realizado, e nos acomodamos em meio às pessoas elegantes e
sofisticadas, enquanto o leiloeiro, imponente em seu terno bem cortado,
subia no palco. Ele pegou o martelo com um ar de autoridade e ajustou o
microfone.
O silêncio tomou conta da sala, como se todos prendessem a
respiração. A tensão era palpável.
— Senhoras e senhores. — anunciou o leiloeiro, sua voz ressoando
pelo salão. — O próximo item que apresentamos é uma raridade sem
precedentes, a misteriosa obra “Eclipse da Alma”. Começaremos o lance
em um milhão de dólares. Quem dará o primeiro lance?
Meu queixo caiu no chão com o preço daquele quadro. Aquela
quantia seria suficiente para alimentar dezenas de famílias em estado de
miséria, no entanto, seria investido em uma coisa que serviria apenas
para ficar pendurada na parede acumulando poeira.
Eu nunca ia entender como a cabeça dessa gente rica funcionava.
Olhei para Dashiel, cujos olhos brilhavam de determinação. Ele
ergueu a plaqueta de lances e declarou, confiante:
— Um milhão de dólares.
— Excelente. — disse o leiloeiro, sorrindo para Dashiel — Temos
um lance de um milhão de dólares. Alguém oferece mais?
O suspense crescia à medida que outros licitantes entravam na
disputa. Um homem de cabelos grisalhos, sentado do outro lado da sala,
ergueu sua plaqueta e fez um lance de um milhão e meio.
Meu estômago revirava conforme o valor aumentava, mas Dashiel
permanecia inabalável, competindo com o homem lance após lance.
— Três milhões. — gritou Dashiel, sem hesitar.
Sua voz firme e decidida ecoava pela sala, fazendo com que
algumas pessoas se virassem para encará-lo.
— Três milhões de dólares. — repetiu o leiloeiro, claramente
impressionado. — Tem alguém que supera essa oferta?
A sala ficou em silêncio por alguns segundos, e eu prendi a
respiração, esperando ansiosamente. O homem de cabelos grisalhos
pareceu hesitar, olhando para Dashiel com um misto de respeito e
frustração. Finalmente, ele abaixou sua plaqueta, admitindo a derrota.
— Três milhões de dólares! — disse o leiloeiro, uma última vez. —
Vendido para o cavalheiro no número 23!
Os aplausos irromperam na sala enquanto Dashiel sorria triunfante.
Eu estava tão orgulhosa dele e também emocionada por fazer parte desse
momento. Ele havia conquistado a obra que tanto queria.
— Você conseguiu. — sussurrei, apertando a mão dele. — Eu
sabia que você conseguiria.
— Parece que você me deu sorte. — Ele pousou sua mão sobre
minha coxa desnuda pela fenda do vestido, e uma corrente de excitação
me percorreu.
Movida pela emoção, projetei meu corpo para a frente e depositei
uma trilha de beijos em seu pescoço cheiroso.
— Não faça isso no meio de tanta gente. Você sabe que quero
arrancar sua calcinha todas as vezes que me toca desse jeito. —
sussurrou ele.
— Não tem como você arrancar minha calcinha esta noite, pois não
estou usando uma.
Dashiel ficou paralisado, seus olhos árduos fixando os meus, sua
mão apertando minha coxa com mais firmeza, intensificando a lascívia
que me percorria.
Ele engoliu em seco, e nada jamais me pareceu tão sexy quanto o
movimento feito pelo seu cume de Adão.
— Vá para o banheiro e deixe a porta destrancada. — ordenou ele,
ofegante.
— O que?! — indaguei, surpresa.
— Isso que você ouviu. Vá para o banheiro feminino e me espere
lá.
A ideia me pareceu pecaminosamente excitante, contudo, não
podíamos cometer essa sandice.
— Dashiel, não podemos fazer isso aqui.
A mão dele deslizou até o ápice da minha coxa, seus olhos se
fechando enquanto a ponta dos seus dedos resvalava suavemente minha
boceta desprovida de calcinha.
— O que não pode é você sair por aí sem calcinha. — Seu tom de
voz era ameaçador — Agora vá, ou vou te comer aqui mesmo.
Dominada por um misto de excitação e submissão, eu o obedeci,
levantando-me e seguindo para um dos banheiros.
Chegando lá, verifiquei se não havia mais ninguém e deixei a porta
destrancada, recostando-me na pia de mármore, nervosa e ansiosa.
Minutos depois, Dashiel entrou e trancou a porta pelo lado de
dentro, virando-se de frente para mim.
— Tem mais alguém aqui, além de nós? — indagou ele, dando um
passo na minha direção.
— Não. Apenas nós.
Sem desviar seu olhar do meu, ele deu mais alguns passos à
frente, aproximando-se devagar. Havia um ar de ameaça excitante na
expressão do seu rosto.
— Como se atreve a sair de casa sem calcinha, e com um
vestidinho escandaloso desse?
— A calcinha marcava o tecido do vestido. Achei que não ficaria
legal.
— E se você tivesse cruzado as pernas, desapercebidamente, na
frente de outro homem?
— Eu não faria isso.
— Não gosto da ideia de outro marmanjo colocando os olhos
naquilo que pertence a mim.
Como um animal que dava o bote final em sua presa, ele avançou
para cima de mim, sentou-me com facilidade sobre a pia, aprisionou meus
pulsos, contra a parede, acima da minha cabeça e introduziu a outra mão
sob a saia do vestido, tocando meu sexo desnudo, seus dedos ásperos
deslizando deliciosamente sobre minha carne macia, percorrendo a fenda
entre meus lábios vaginais, intensificando o tesão escaldante que
percorria minhas veias.
— Ninguém vai colocar os olhos aí, só você. — falei, excitada,
escorregando os quadris para a frente e abrindo mais as pernas enquanto
seus dedos me invadiam gostoso — Eu não quero nenhum outro homem
além de você, nenhum outro é capaz de me deixar louca de tesão como
você me deixa.
Dois dos seus dedos invadiram minha vagina melada e rebolei os
quadris, fazendo-os girar dentro do meu canal, massageando meu ponto
mais sensível, o que me arrancou um gemido.
— Caralho... que delícia... como você está molhadinha... — rosnou
ele, seus olhos nos meus, seu hálito perfumado acariciando meu rosto —
Acho que você deixou essa xoxota exposta com o intuito de me
enlouquecer... você queria ser comida em cima de uma pia e vou te
ensinar uma lição que você nunca mais vai esquecer.
Dito isto, Dashiel projetou seu corpo para a frente e se apossou dos
meus lábios, beijando-me de um jeito safado que eu amava, esfregando
sua língua na minha ao passo em que movia os dedos em vai e vem
dentro meu canal lambuzado, fodendo minha boca e minha vagina ao
mesmo tempo, arrastando-me para uma deliciosa insanidade da qual eu
nunca mais queria sair.
Quando ele libertou os meus pulsos, minhas mãos ansiosas
correram para o zíper da calça dele e o abriram, puxando o pau enorme
de dentro da cueca e o masturbando.
Puta merda! Como ele estava duro, com o líquido pré-sêmen
escorrendo da abertura na ponta.
Espalhei seus líquidos por toda a extensão do membro enrijecido e
continuei movendo minha mão em torno dele, minha vagina latejando em
volta dos seus dedos.
Mas Dashiel não estava com pressa. Ao invés de atender as
súplicas silenciosas do meu corpo, ele puxou meus quadris mais para
frente, suas mãos brutas fazendo minha bunda deslizar sobre o mármore
gelado da pia.
Então, ajoelhou-se à minha frente, abriu ainda mais minhas pernas
e deu umas boas lambidas na minha boceta, enlouquecendo-me com a
maciez da sua língua quente e úmida se movimentando sobre meu clitóris.
— Ahhh... delícia... — gemi, enlouquecida, apoiando as costas na
parede e me contorcendo toda.
Dashiel continuou lambendo minha intimidade com aquela
habilidade gostosa que me levava à loucura, alternando entre minha
abertura melada e meu feixe de nervos.
Quando eu estava prestes a gozar, ele levantou-se, segurou-me
pela cintura e me colocou no chão, fazendo-me ajoelhar à sua frente.
— Chupa meu pau, gostosa. — Ele ordenou e obedeci de bom
grado, colocando o pau grosso e duro na boca, empurrando a cabeça
para levá-lo até minha garganta — Assim... ahhh... delícia... como você
faz isso bem-feito... puta merda...
Ele segurou na parte de trás dos meus cabelos e passou a mover
minha cabeça de encontro ao seu corpo com mais velocidade, afundando-
se todo na minha garganta, palavras desconexas saltando da sua boca.
Arrancou o sapato de um dos pés e logo o seu dedo maior estava
penetrando minha vagina, me fazendo rebolar sobre ele, em busca de um
contato mais profundo, meu sexo pulsando e se contraindo.
Quando seu pau ficou mais duro na minha boca, Dashiel me puxou
para cima e me debruçou sobre a pia. Levantou a saia do vestido,
enroscando-a na minha cintura, segurou seu pau pelo meio e esfregou a
cabeça na minha entrada encharcada.
— Quer que eu coma essa bocetinha gostosa? — rosnou ele.
— Sim... quero muito...
— Então peça.
— Por favor, coma minha boceta... dá esse pau inteiro para mim...
— Está mesmo achando que vou facilitar sua vida depois de sair
por aí sem calcinha?
Dashiel esfregou um pouco mais a cabeça do seu pau na minha
abertura e o deslizou até meu ânus, espalhando os líquidos da minha
excitação sobre meu orifício menor, empurrando o pau devagar — Vai ter
que tomar nesse cuzinho para aprender uma lição.
— Sim... coloca gostoso no meu cuzinho... — sussurrei, ofegante,
abrindo mais as pernas e empinando mais a bunda.
Dashiel empurrou o pau até a base, penetrando-me fundo,
ameaçando rasgar-me ao meio com sua carne rija.
— Ai... — gemi, engolfada por um misto de dor e prazer.
Ele deu um tapa estalado na minha bunda, depois, puxou o pau e o
enterrou em mim novamente.
— Vou comer esse rabinho até meu pau esfolar e não quero ouvir
reclamações... — Ele me deu outro tapa e mais outro, fazendo minhas
nádegas esquentarem e arderem, enquanto acelerava os movimentos dos
seus quadris, estocando cada vez mais bruto e frenético dentro de mim.
— Toque-se, masturbe-se para o seu homem. — Ele ordenou e obedeci,
molhando dois dedos com saliva e massageando meu clitóris em círculos,
o desconforto de antes dando lugar ao mais intenso prazer, meus gemidos
se tornando mais altos e descontrolados.
Ali, debruçada sobre aquela pia, abri-me ainda mais para Dashiel,
tentando acompanhar seus movimentos, enquanto ele continuava me
comendo por trás, duro, firme e bruto, batendo sua pélvis na minha bunda,
forçando meu corpo a se adaptar à invasão, deixando-me ensandecida de
prazer.
Até que sua voz ressoou como um rosnado pelo banheiro,
ordenando que eu gozasse, e alcancei a libertação, gozando na minha
mão enquanto ele metia e tirava cada vez mais acelerado, parando todo
enfiado em mim para que seu gozo se derramasse, um gemido rouco
escapando da sua garganta.
Meu coração pulava no peito, a ponto de saltar do peito, quando
Dashiel se retirou de mim e me puxou para ele, virando-me de frente e se
apossando da minha boca, em um beijo demorado e apaixonado.
Quando interrompeu o beijo, ele olhou dentro dos meus olhos,
ainda ofegante, e seu rosto lindo se iluminou com um sorriso magnífico.
— Isso foi incrível. — disse ele.
— Eu também gostei. Mas precisamos sair do banheiro antes que
apareça alguém.
Dito isto, comecei a me limpar com papel toalha, enquanto ele fazia
o mesmo.
— As pessoas estão concentradas demais no leilão para fazerem
xixi.
Sorri com seu comentário.
— E para onde vamos agora?
— Continuar no leilão.
— Mas você já conseguiu o que queria.
— Falta arrematar a joia que você gostou.
Fitei-o com surpresa.
— Só porque gostei, não quer dizer que eu a quero.
— Mas a terá. — Completamente vestido e recomposto, ele se
aproximou de mim colocando-se muito perto, seus olhos azuis
escurecidos fixando meu rosto — Você é minha mulher agora e terá tudo
o que sonhar. Deseje ter o céu e as estrelas e eu os darei a você.
Meu coração ainda batia descompassado no peito, emoções
indefiníveis tomando conta de mim.
— Eu não quero nada além do que está bem aqui na minha frente.
Eu só preciso de você e Savana para ser feliz.
— Você já tem nós dois. Agora quero te dar o mundo.
— O mundo é grande demais e complicado. Eu só quero a minha
família e momentos como esse. Isso você já me dá.
Ele acariciou meu rosto com ternura.
— Você agora é minha e quero te proporcionar tudo o que você
merece, não apenas por capricho, mas porque te amo e quero te ver feliz
todos os dias.
Meu coração deu um salto no peito, as emoções se intensificando
em meu interior, a tal ponto que meus olhos marejaram de lágrimas.
— Eu também te amo, com tanta força que chega a ser assustador.
E já tenho tudo o que preciso para ser feliz.
Ele acariciou meu rosto novamente, ajeitando uma mecha de
cabelo atrás da minha orelha.
— Eu também estou feliz e sou grato a você por isso.
Nos fitamos em silêncio durante um longo momento, a paixão
palpável no ar. Antes que nos agarrássemos novamente e
prolongássemos nossa permanência no banheiro, me virei para o espelho
e terminei de me arrumar.
— É impressionante como não consigo afastar da minha cabeça o
fato de que você está sem calcinha. — Dashiel falou atrás de mim, seu
olhar predador encontrando o meu no espelho.
Antes que eu tivesse tempo de dizer alguma coisa, ele me abraçou
por trás, passando um braço em volta da minha cintura e introduzindo a
outra mão pela fenda do vestido. Fechou a mão sobre minha boceta e
esfregou meus grandes lábios um no outro, ao mesmo tempo em que
afundava o rosto na curva do meu pescoço, beijando e lambendo minha
pele, o tesão incendiando novamente minhas veias.
— Caralho... quero te comer de novo... — grunhiu ele.
— Não quero ser presa por trepar no banheiro de um museu. —
Apesar das palavras, eu abri mais as pernas para ele e gemi baixinho
quando seus dedos afundaram na minha umidade.
Foi então que houve uma batida na porta e nos afastamos
apressados.
— Já vai. — falei.
Dashiel e eu nos recompomos e deixamos o banheiro, ignorando o
olhar horrorizado que a mulher de meia idade, que aguardava do lado de
fora, nos lançava.
Por insistência de Dashiel, permanecemos no leilão até que ele
arrematasse o conjunto de brincos e colar que eu havia gostado. Depois,
ele revelou que havia reservado uma suíte em um hotel na cidade e fomos
para lá terminar a nossa noite.
CAPÍTULO 50

Era manhã de segunda-feira, e a primavera começava a mostrar


seus encantos, trazendo consigo dias mais calorosos e menos sombrios.
Eu ocupava meu lugar atrás do balcão da livraria, enquanto Savana
se divertia no cercadinho e alguns clientes exploravam os corredores,
escolhendo suas futuras leituras.
Meus pensamentos voltavam-se para o dia anterior, quando
desfrutamos de um churrasco no jardim da mansão, próximo à piscina.
Foi um dia incrível, reunindo-nos como uma verdadeira família para
receber amigos como Sarah, Jeremy, o Dr. Bennet e sua esposa. Rimos,
conversamos, saboreamos deliciosas refeições e nos refrescamos na
piscina.
No entanto, um momento em especial dominava minha mente:
aquele em que Dashiel me levou até a despensa e transamos em meio às
prateleiras com alimentos, enquanto nossos convidados aguardavam no
jardim.
Foi uma experiência simplesmente inesquecível, como sempre
acontecia quando nos entregávamos um ao outro. Definitivamente, aquele
homem estava me transformando em uma viciada em sexo.
O toque do meu celular arrancou-me dos meus devaneios, e fiquei
apreensiva ao ver que era uma chamada de Thomas.
— Onde você está agora? — indagou ele, depois dos
cumprimentos, a tensão no tom de sua voz deixando-me nervosa.
— Na livraria. Aconteceu alguma coisa?
— Preciso que você venha até a delegacia, mas não diga a
ninguém que está vindo, principalmente ao pai da sua filha.
Um nó fez meu estômago se contorcer.
— Por quê? O que aconteceu?
— Quando você chegar aqui, eu te explico. Tem como você vir
agora?
— Claro. Vou fechar aqui e já vou.
— Ótimo. Até daqui a pouco.
Com essas palavras, finalizei a chamada. A intensidade da
preocupação que se apoderou de mim foi tão avassaladora que senti
meus músculos tensionados.
Eu não sabia o que Thomas queria, mas minha intuição indicava
que Amelia seria libertada, e minha filha poderia estar novamente em
perigo. Restava-me apenas esperar que não fosse esse o caso.
Com os nervos à flor da pele, fechei a livraria. Como a delegacia
ficava próxima, decidi ir a pé, empurrando o carrinho de Savana e
cumprimentando alguns conhecidos pelo caminho.
Ao chegar à delegacia, fui encaminhada diretamente para a sala de
Thomas, onde o encontrei com uma expressão sombria obscurecendo seu
rosto.
— Sente-se, fique à vontade. — disse ele, apontando para a
cadeira do outro lado de sua mesa.
— Nossa! Pela sua cara deve ser coisa séria.
— É muito séria. — A gravidade no tom de sua voz não me ajudou
muito a relaxar. — Como estão as coisas entre você e Dashiel?
— Estamos morando juntos. Mas me diz logo por que me chamou
aqui, estou começando a ficar nervosa.
— Eu estava investigando o suposto envolvimento de Amelia na
morte de Elizabeth e me deparei com uma coisa que preciso que você
veja.
— O que é?
— Aquele supermercado que fica perto da casa de Elizabeth, o
estacionamento dele tem uma câmera de segurança da qual eu ainda não
tinha conhecimento. Fiquei sabendo dela recentemente e fui checar as
imagens.
— E...?
— E consegui as imagens da noite do assassinato. Veja você
mesma.
Ele virou a tela do computador antigo em minha direção, onde eram
exibidas as imagens do imenso estacionamento do supermercado, que eu
conhecia bem. Era noite, o lugar estava bem iluminado, permitindo a visão
clara de alguns poucos carros estacionados, um deles me parecendo
bastante familiar.
Continuei olhando, e logo um homem se aproximou desse carro,
olhando para todos os lados antes de abrir a porta, entrar e colocar o
veículo em movimento, afastando-se.
Fiquei paralisada, congelada no lugar, com meu coração
ameaçando parar de bater, quando o reconheci. Eu não podia ver o rosto
dele, já que usava uma máscara, mas pelas roupas, pelo porte atlético,
com alta estatura, foi possível reconhecer o mesmo homem que vi
pulando a cerca do quintal de Elizabeth na noite em que ela fora morta.
Não era possível!
— Você foi a única pessoa que viu o assassino pulando a cerca do
quintal da Elizabeth na noite em que ela foi morta. — Thomas continuou
— Agora me diga, a descrição dele bate com a do homem que entrou
nesse carro?
Era ele, eu tinha certeza. Ainda assim, precisava ver as imagens
mais uma vez.
— Pode reproduzir o vídeo novamente?
Thomas repassou as imagens, e não tive mais nenhuma dúvida era
o mesmo homem.
— É ele. Meu Deus! Você encontrou o assassino. Quem é ele?
— Tem certeza que você não sabe?
— E como eu poderia saber?
— Pelo carro. O carro em que ele está entrando nas imagens é de
Dashiel. Eu verifiquei tudo, a placa, o modelo, se está em Georgetown.
Fiquei novamente paralisada, com meu sangue gelado nas veias,
minha mente entorpecida processando a informação.
Embora a verdade estivesse bem ali diante de mim, eu me
recusava a acreditar que estava morando sob o mesmo teto que um
assassino, que colocara minha filha e minha mãe sob os domínios de um
monstro cruel e impiedoso, que havia me apaixonado perdidamente por
alguém capaz de tirar a vida de uma mulher inocente.
Não podia ser possível. Devia haver algum engano.
— Não é possível. Dashiel não é um assassino. — sussurrei, mas
sem acreditar nas minhas próprias palavras.
— Eu sei que você gosta dele, e sinto muito por ter que te dizer
isso, mas foi ele. Essas imagens são incontestáveis. O horário em que ele
entrou no carro bate com a hora em que Elizabeth foi morta. O carro é de
Dashiel. Ninguém mais teria acesso a esse carro. Eu sinto muito.
Quanto mais ele falava, mais desorientada eu ficava. Sentia como
se um abismo se abrisse sob meus pés e me engolisse.
Olhei para minha filha, tranquila no seu carrinho, alheia ao que
estava acontecendo, e meu coração se esfarelou em mil pedaços, pelo
fato de tudo o que estávamos construindo ser falso, uma ilusão
passageira, e por tê-la colocado em tamanho perigo, levando-a para a
casa de um assassino.
Meu Deus! Isso não podia estar acontecendo. Só podia ser um
pesadelo.
— Mas por que ele a mataria se Amelia já confessou que não era
agredida em casa e inventou isso para me desencorajar a dizer a ele que
estava grávida? As motivações dele não eram o fato de Elizabeth estar
ajudando sua mulher a fugir?
— Willow... mulheres em situação de violência doméstica
costumam mentir, tentando absolver seus agressores da culpa, para evitar
o julgamento de quem está de fora. Deve ter sido esse o caso de Amelia.
Ela mentiu para que a família não pensasse que ela queria viver ao lado
de um homem agressivo. — Thomas fez uma pausa, observando meu
rosto com escrutínio — Não tem mais como negar, Dashiel matou
Elizabeth.
As palavras dele se repetiram em minha cabeça como um eco
incessante. De súbito, meu estômago embrulhou, com tamanha
ferocidade que tive tempo apenas de correr até a lata de lixo, antes de
começar a vomitar, colocando todo o café da manhã para fora.
— Você está bem? — Thomas levantou-se e se aproximou de mim.
— Não.
A mais devastadora sensação de impotência, medo e angústia
tomou conta de mim, levando uma enxurrada de lágrimas aos meus olhos.
Como pude ter sido estúpida a ponto de me deixar enganar por um
assassino? Como pude ter sido idiota ao nível de me apaixonar por ele e
colocar a vida da minha filha e da minha mãe em suas mãos? Eu era
mesmo muito patética.
— Não fique assim. — disse Thomas, abraçando-me — Qualquer
pessoa no seu lugar teria agido da mesma forma. Ele é mais velho e mais
experiente que você, queria ficar perto da filha e te envolveu em toda essa
teia. Não se culpe. A culpa é toda dele.
Com minha cabeça recostada no peito de Thomas, chorei
desesperadamente, percebendo que o sonho mais lindo que já vivi na
vida não passava de um pesadelo.
Contudo, não podia me deixar abater, pois minha mãe ainda estava
na casa de Dashiel, e eu precisava tirá-la de lá.
— Minha mãe está na casa dele. — anunciei, desvencilhando-me
do abraço e secando as lágrimas com o dorso da mão.
— E ele, onde está?
— No hospital.
— Enviarei uma viatura para a casa dele, enquanto vou com os
outros homens para o hospital efetuar a prisão.
Uma onda de pânico varreu-me inteira.
— E se ele tiver saído do hospital e ido para casa? E se resistir à
prisão e acabar trocando tiros com os policiais?
— Nesse caso, é melhor você ligar para ele e pedir que a encontre
na livraria, mas tomando cuidado para que ele não perceba que foi
descoberto. Você faria isso?
Fiz que sim com a cabeça, a dor impedindo minha voz de sair.
— Ótimo. Vou mobilizar os meus homens. Fique aqui. Quando
estiver tudo pronto, te aviso.
Thomas deixou a sala, o tempo parecendo se arrastar até que ele
estivesse de volta. Minha mente girava, meu peito se contorcia de dor,
como se eu estivesse em meio a um pesadelo, sem conseguir acordar.
— Está tudo providenciado. Uma viatura vai buscar sua mãe.
Agora, entregue-me as chaves da livraria e ligue para Dashiel, pedindo
que a encontre lá. Nós estaremos esperando. — disse Thomas.
— Quero ir junto com a viatura buscar minha mãe.
— Claro. Pode ir. Agora ligue, por favor.
Eu havia mergulhado em uma espécie de torpor, de modo que
meus movimentos pareciam mais lentos e imprecisos que o normal
quando saquei o celular do bolso da calça, digitei os números e coloquei
no viva voz. A cada toque, meu coração falhava uma batida, ameaçando
parar definitivamente.
Por fim, depois de vários toques, a ligação foi atendida, mas não
por Dashiel.
— Oi. Aqui é o assistente do Dr. Bennet. O Dr. Whitman está no
meio de uma cirurgia e me deixou encarregado de atender o telefone.
Gostaria de deixar algum recado?
Olhei para Thomas em busca de instruções e ele gesticulou para
que eu continuasse
— Sim, quero deixar recado. Aqui é Willow. Diga ao Dr. Whitman
que preciso falar com ele com urgência. Peça que ele me encontre na
livraria assim que terminar a cirurgia.
— Recado anotado. Assim que ele sair do centro cirúrgico,
repassarei a ele. Mais alguma coisa?
— Ele vai demorar mais ou menos quanto tempo para sair?
— Cerca de meia hora.
— Tudo bem. Obrigada.
— Disponha. — E encerramos a ligação.
— Ótimo. Você foi muito bem. — disse Thomas — Agora vá. A
viatura vai te levar para buscar sua mãe. Nós cuidaremos do resto.
CAPÍTULO 51

A viatura da polícia estava estacionada do lado de fora da


delegacia, pronta para me levar até a casa de Dashiel.
Meu sangue ainda estava gelado de medo, e minhas mãos tremiam
enquanto o policial uniformizado colocava o carrinho de Savana no porta-
malas e eu me acomodava no banco de trás do veículo com minha filha
no colo.
O policial sentou-se ao volante e lançou-me um olhar solidário
antes de dar partida.
O trajeto até a casa foi silencioso, o ruído do motor misturando-se
ao tumulto de pensamentos em minha mente.
O percurso familiar que levaria à casa que, até poucos minutos
atrás, eu considerava meu lar, agora parecia um caminho sombrio e
desconhecido.
Ao chegarmos, a viatura estacionou em frente. Eu encarei a
imponente mansão por um momento, tentando reunir a coragem
necessária para enfrentar a realidade que se desdobrava diante de mim.
Thomas tinha razão, e a verdade era mais cruel do que eu poderia
suportar.
Com passos trêmulos e Savana nos braços, adentrei a casa que
outrora fora palco de sorrisos e promessas. A sala estava iluminada
apenas pela luz fraca da manhã que escapava pelas cortinas
entreabertas.
Chamei o nome da minha mãe, sentindo o desespero aumentar a
cada segundo de silêncio que se seguia.
Finalmente, a voz dela ressoou pela casa, vinda do quarto.
— Willow? O que está acontecendo?
Subi as escadas quase correndo, em direção ao quarto, onde a
encontrei sentada na beirada da cama, olhando para mim com expressão
de preocupação. Eu respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas,
mas meu peito estava apertado demais.
— Mãe, temos que ir embora daqui. Agora. Não há tempo para
explicar, apenas pegue suas coisas.
Ela arqueou as sobrancelhas, confusa, mas a seriedade em meus
olhos fez com que ela se levantasse rapidamente. Começamos a juntar
algumas roupas e pertences básicos, enquanto eu tentava processar a
magnitude do que estava acontecendo.
— O que está acontecendo, Willow? Por que estamos saindo tão
repentinamente?
Eu não queria contar a verdade a ela naquele momento, não ali,
não com o risco de Dashiel escapar da polícia e aparecer a qualquer
momento. Optei por uma versão simplificada, pelo menos por enquanto.
— Há algo errado com Dashiel. Descobrimos coisas que eu não
posso explicar agora, mas é perigoso ficarmos aqui. Precisamos ir para
casa.
Ela me encarou por um momento, percebendo a gravidade nas
minhas palavras. Sem mais questionamentos, continuou a arrumar suas
coisas, enquanto eu ia para o outro quarto arrumar as minhas e as de
Savana.
Na luxuosa suíte, onde vivi os momentos mais intensos e felizes da
minha vida, sentei Savana na cama e peguei uma mala, abastecendo-a
com apenas as roupas que eu já tinha antes de chegar ali.
Com a mala pronta, olhei em volta uma última vez, meu coração
esfarelado em mil pedaços pela certeza de que tudo os momentos vividos
ali não passaram de uma ilusão, uma mentira. Dashiel nunca foi o homem
maravilhoso por quem me apaixonei. Ele não passava de um assassino
covarde, agressor de mulheres.
Deixei o quarto com Savana pendurada em um braço e a mala na
outra mão. Encontrei minha mãe na sala, com tudo pronto para partirmos.
Enquanto saíamos da casa, minha mente girava em um
redemoinho de emoções. Eu estava deixando para trás a vida que
construí, acreditando na mentira de um homem que agora se revelava
como um assassino cruel e perigoso.
A traição era como uma ferida aberta em meu peito, a urgência de
manter minha mãe e minha filha seguras era a única coisa que me
impedia de desmoronar completamente.
A viatura da polícia ainda estava esperando, e entramos no carro,
deixando para trás o lugar que começávamos a chamar de lar.
Estávamos na metade do percurso de volta para Georgetown,
quando o policial atendeu a uma chamada no rádio do veículo e a voz de
Thomas encheu o espaço pequeno, ordenando que ele fosse direto para a
livraria, já que precisava de reforços para efetuar a prisão de Dashiel.
— Deixa a gente em casa primeiro, antes de ir. — falei, em pânico.
— Não há tempo. Estamos próximos da livraria e Thomas precisa
de reforços.
Quanto mais ele falava, mais o pânico crescia em mim.
— Você tá louco? Não podemos ir até o local onde um assassino
está sendo preso, com um bebê e uma idosa!
— Não tem perigo. Vocês esperam na viatura. Ele não vai se
aproximar de vocês.
Continuei argumentando, mas foi em vão. O policial se recusou até
mesmo a nos deixar pelo caminho, repetindo que não haveria riscos.
Ao nos aproximarmos da livraria, uma pequena aglomeração de
pessoas já se formava na rua, nas proximidades, onde havia também
duas viaturas policiais.
O policial que nos conduzia, ordenou que ficássemos na viatura e
saltou, sacando sua arma e entrando na minha loja.
Sem conseguir ficar ali parada, esperando para ver o que
aconteceria, entreguei Savana para minha mãe e deixei o veículo,
misturando-me à multidão, aproximando-me da livraria.
Do lado de dentro do estabelecimento, partiam sons estrondosos,
como se uma luta estivesse acontecendo e entrei em desespero, certa de
que Dashiel não sairia de lá com vida, afinal eram muitos policiais e
estavam todos armados.
Eu mal conseguia respirar, enquanto o tempo se arrastava, até que
por fim a porta da livraria se abriu e os policiais saíram de lá, dois deles
escoltando o pai da minha filha, que tinha seus pulsos algemados às suas
costas.
Ele ainda usava o uniforme azul claro com o qual realizava as
cirurgias, indicando que viera me encontrar assim que recebera meu
recado. Tinha seus cabelos emaranhados e vários machucados cobriam o
seu rosto.
O desespero se intensificou dentro de mim quando coloquei meus
olhos sobre ele, as lágrimas escorrendo desenfreadas dos meus olhos.
Como se pudesse sentir o peso do meu olhar, Dashiel virou o
pescoço e seu olhar se fixou diretamente em meu rosto. Foi então que ele
estacou, fazendo com que policiais que o escoltavam parassem também.
— Willow! — Ele gritou, a aflição evidente em seu tom de voz e
chorei ainda mais abundantemente, com meu coração despedaçado.
Agindo como uma fera violenta enjaulada, Dashiel conseguiu se
soltar dos policiais e veio correndo em minha direção, sua atitude fazendo
com que todos os policiais sacassem suas armas e as apontassem para
as costas dele.
— Pare, ou vamos atirar! — gritou um deles e fechei os olhos,
esperando pelos sons dos tiros que tirariam a vida do homem com quem
tive uma filha.
No entanto, Dashiel parou, a poucos metros de distância de onde
eu estava.
— Willow, olhe para mim! — gritou ele e abri os olhos, encarando
seu rosto machucado — Eu não fiz isso, pelo amor de Deus, acredite em
mim.
Alguns dos policiais se aproximaram por trás dele, jogando-o de
bruços no chão, imobilizando-o e deferindo-lhe chutes pelo corpo,
enquanto Dashiel continuava gritando, implorando para que eu
acreditasse na sua inocência.
Mas não havia mais como eu acreditar. Eu tinha visto aquele vídeo.
Era o carro dele. Fora ele quem matara Elizabeth.
Sem conseguir continuar observando a cena que se desdobrava
diante de mim, virei as costas e voltei para a viatura, as lágrimas rolando
desenfreadas pelo meu rosto, a mais indescritível agonia se instalando em
todo o meu ser.
A sensação que eu tinha era de que o homem que por quem me
apaixonara tinha acabado de morrer, mas a verdade era que ele jamais
existiu.
CAPÍTULO 52

Dois meses depois.

Era fim de tarde, quase no encerramento do expediente na livraria,


eu permanecia atrás do balcão, observando a rua através do vidro da
porta enquanto devorava um pacote de batatas fritas.
Estava nas primeiras semanas da gravidez, uma gestação que se
destacava pela fome constante, de modo que eu estava sempre
mastigando algo.
— Somente esses? — perguntei, dirigindo um sorriso à mulher que
se aproximava do balcão com uma pilha de livros românticos.
Era uma turista recém-chegada à cidade, marcando o início da
temporada de verão.
— Sim. Deve ser o suficiente para ler na praia. — respondeu ela,
educadamente.
Concluí a compra, deslizando o cartão na maquininha, e nos
despedimos com mais sorrisos. Assim que ela saiu, tranquei a porta e
coloquei o aviso de fechado, impedindo a entrada de mais clientes.
— Vamos para casa, meu amor. — falei, pegando Savana no colo.
Minha filha estava começando a dar seus primeiros passinhos e
não conseguia mais permanecer no cercadinho, ficava solta pela loja,
bagunçando tudo, embora estivesse começando a aprender a se
comportar e a diminuir esse hábito.
Coloquei-a no chão, atrás do balcão, apoiada nas minhas pernas
para se manter de pé e iniciei o balanço do caixa, como fazia sempre no
final do expediente.
Em meio ao silêncio da loja, meus pensamentos voltaram para
onde sempre insistiam em estar nos últimos meses. Dashiel. Era nele que
eu pensava desde que acordava pela manhã, até a hora em que ia dormir.
Por mais que eu tentasse, não conseguia esquecê-lo, seu rosto,
seu sorriso, sua voz, seu cheiro, a forma desesperada como ele me olhou
no dia e que foi preso, estavam sempre na minha cabeça, teimando em
reacender a paixão visceral que eu sentira por aquele homem.
Apesar de tudo, eu ainda o amava, profundamente, e esse amor
estaria comigo pelo resto da vida.
Enquanto ele ainda estava preso, por várias vezes cogitei visitá-lo
na prisão, levar Savana para vê-lo, mas não tive coragem de relevar o fato
de que ele assassinara uma pessoa inocente.
Então me convenci de que precisava tirá-lo da minha cabeça, mas
isso era uma tarefa impossível quando se vivia em uma cidade pequena
como Georgetown, onde as pessoas não falavam em outra coisa, a não
ser nele.
Na hora em que me viam, na rua ou na livraria, vinham tocar no
assunto, fazendo perguntas, como se eu soubesse do paradeiro dele.
A primeira onda de falatórios surgiu na ocasião da sua prisão. Não
se falava em outra coisa nas ruas de Georgetown. Quando as pessoas
estavam começando a esquecer o assunto, ele fugiu da cadeia e os
falatórios começaram novamente.
Não abordavam outro assunto na cidade. Já fazia quase um mês
que ele conseguira escapar da prisão, sem que ninguém soubesse como,
e a polícia ainda não conseguira recapturá-lo.
Nos dias que sucederam sua fuga, eu não tive coragem nem de
sair de casa, apavorada, com medo de que ele voltasse para se vingar por
eu tê-lo reconhecido naquele vídeo no estacionamento do supermercado,
ou para tentar tirar Savana de mim.
No entanto, ele nunca apareceu, nunca mais ninguém o viu e,
embora eu ainda andasse na rua olhando por cima do ombro, não podia
me dar ao luxo de ficar trancada em casa, pois precisava trabalhar.
Logo após a prisão dele, seus pais e sua irmã voltaram para
Georgetown. Estavam morando na grande mansão isolada, onde minha
mãe, Savana e eu moramos durante algumas semanas.
Assim que chegaram, eles quiseram conhecer Savana e a levei
para encontrá-los durante um almoço no restaurante mais movimentado
que consegui pensar.
Desde então, eles apareciam na minha casa de vez em quando
para visitá-la, sempre levando presentes caros e oferecendo dinheiro que
eu recusava. Com seu coração do tamanho de um caminhão, minha filha
gostava deles.
Era óbvio que todos eles sabiam onde Dashiel estava. Certamente
o ajudaram a fugir da cadeia e o estavam acobertando, mas quem ia
forçar toda aquela gente rica, com condições de pagar os mais caros
advogados, a falar? Ninguém tinha culhões para enfrentá-los.
Nem mesmo o amor de Amelia sobreviveu à acusação de
assassinato que recaía sobre Dashiel, pois assim que saiu da cadeia, logo
após a prisão dele, ela foi embora de Georgetown e não voltou a pisar os
pés aqui.
Eu estava terminando de fazer o balanço do caixa quando ouvi um
ruído partindo dos fundos da loja e fiquei apreensiva. No instante
seguinte, dois homens surgiram daquela direção, como dois fantasmas se
materializando diante de mim. Dashiel e um sujeito baixinho que eu não
conhecia.
Seguindo ao meu primeiro instinto, peguei Savana no colo e mirei a
direção da porta de saída. No entanto, eles dois se colocaram entre mim e
o espaço que me permitiria sair de trás do balcão, visando me impedir de
escapar.
— Não fique nervosa. Não estamos aqui para te fazer mal. — disse
Dashiel.
Mas suas palavras não conseguiram me acalmar, pelo contrário, o
pânico intenso instalou-se em mim, mil possibilidades terríveis inundando
minha mente, fazendo-me estremecer.
O pavor que me acometia não me impediu que meu coração
disparasse no peito ao vê-lo depois de tanto tempo. Um turbilhão de
saudade, paixão, devoção mesclando-se ao medo, tomando conta de mim
e ameaçando levar lágrimas aos meus olhos.
Por Deus! Como ele estava diferente! Com sua fisionomia mais
endurecida, os olhos frios como eu jamais tinha visto. Era como se o brilho
da paixão que sempre se refletia em seu olhar, quando ele me encarava,
tivesse se apagado por completo.
— O que vocês querem. Por favor, me deixem em paz. — falei,
com minha voz trêmula.
— Como eu disse, viemos em paz. Só queremos olhar o
computador. Nós íamos entrar depois que vocês saíssem, mas fica mais
fácil explorá-lo com a senha.
Feliz por revê-lo depois de tanto tempo, Savana estendeu os
bracinhos para ele, balbuciando palavras incompreensíveis.
Apenas quando Dashiel olhou para ela, a frieza se dissipou do seu
olhar, dando lugar a uma expressão do mais genuíno afeto, e não
consegui negar-lhe o direito de pegá-la no colo, quando ele estendeu os
braços para segurá-la.
— Papai está aqui, meu amor. — Sussurrou ele, beijando a cabeça
de Savana, aspirando seu cheiro, seu semblante transmitindo emoções
tão intensas e genuínas que as lágrimas marejaram meus olhos,
lamentando pela distância que as circunstâncias impuseram entre eles
durante aqueles meses — Senti tanta falta de você, minha neném. Não
houve um só momento em que eu não tenha pensado em você durante
esse tempo. Eu te amo tanto, tanto.
Ele a apertava contra seu corpo e a beijava, enquanto Savana se
entregava com deleite, balbuciando palavras incompreensíveis,
externando o quanto se sentia feliz por estar com ele novamente.
— Ela sentiu sua falta. — falei, me forçando a conter a enxurrada
de lágrimas.
Dashiel afundou o rosto na curva do pescoço dela mais uma vez,
ninando-a em seus braços.
— Ela está crescida. — sussurrou ele.
— Ela já vai fazer um ano.
Dashiel voltou a olhar para mim, ao passo em que seu semblante
voltava a endurecer, como se eu fosse apenas uma desconhecida.
— Esse é Steve. — Ele apresentou o cara que o acompanhava —
Ele é perito em tecnologia. Nós só viemos olhar o computador e
precisamos de todas as senhas. — Ele fez um instante de silêncio, seu
olhar me fuzilando com uma frieza cortante — Depois disso, vou sumir da
sua vida novamente, pode ficar tranquila.
Suas palavras intensificaram o aperto insuportável que jazia em
meu peito.
— Tudo bem. Podem olhar. — anunciei.
Dashiel me entregou Savana e acenou para que Steve se
aproximasse do computador sobre o balcão. Apesar de eu ter consentido
a presença deles, percebi que Dashiel continuava bloqueando a
passagem para que eu não conseguisse sair de trás do balcão.
Eu não o culpava por não confiar mais em mim, depois de eu ter
ligado para que ele viesse me encontrar, enquanto a polícia o esperava no
meu lugar.
Steve se aproximou do computador com uma expressão séria e
focada, como um cirurgião diante de uma mesa de operações. Ele puxou
uma cadeira e se sentou, seus dedos habilmente dançando sobre o
teclado. Era evidente que ele conhecia os cantos e recantos do mundo
digital como poucos.
— Willow, anote todas as senhas para mim, por favor, e fique
tranquila. Estamos aqui para esclarecer as coisas e provar a inocência de
Dashiel. — Steve disse, sem tirar os olhos da tela.
Seu tom era confiante, como o de alguém acostumado a lidar com
situações complexas, e anotei cada senha em um pedaço de papel.
Apesar de saber que o vídeo que levara Dashiel à prisão era
irrefutável, me flagrei torcendo para que Steve encontrasse alguma prova
que o inocentasse.
Enquanto Dashiel mantinha uma postura impassível, Steve
começou a navegar pelos arquivos do computador. Clicou em pastas,
abriu documentos, sua mente ágil processando as informações em uma
velocidade surpreendente.
— Vamos começar pelo chat que Dashiel mencionou. — Steve
murmurou, examinando a tela.
Seus olhos se estreitaram por um momento antes de ele começar a
digitar com rapidez. Parecia que estava entrando em uma rede sombria,
onde apenas os mais habilidosos conseguiam desvendar os segredos.
O silêncio na loja era quase palpável, quebrado apenas pelo som
ritmado das teclas sendo pressionadas. Dashiel permanecia em pé ao
lado de Steve, observando cada movimento com atenção.
Eu, por minha vez, segurava Savana com firmeza, tentando não
demonstrar o nervosismo que se instalava em mim.
CAPÍTULO 53

Steve olhou para Dashiel com uma expressão indecifrável.


— Esse chat não é o que esperávamos. Não é uma conversa entre
Elizabeth e seu assassino. Nem é Elizabeth falando, é uma tal de Megan
Wiliams.
Os dois homens olharam para mim ao mesmo tempo e compreendi
o que queriam saber.
— Megan é uma garota que trabalhava aqui meio período, quando
eu ainda frequentava o colégio. — informei e vi o desânimo surgir no
semblante de Dashiel.
— Merda! — rosnou ele.
— Mas ainda é cedo para nos desesperarmos. Há muito o que ver
aqui. Vou fazer um backup e todas as mensagens antigas surgirão. —
informou Steve.
Os minutos se arrastavam enquanto Steve mergulhava mais fundo
nos meandros do computador e da internet, explorando rastros digitais e
seguindo trilhas virtuais. A tensão aumentava a cada segundo.
— Ai, meu Deus! — Exclamou Steve.
— O que? — Dashiel quis saber.
— Tiramos a sorte grande. Consegui acessar o aplicativo de
mensagens do celular de Elizabeth por aqui.
Dashiel e eu olhamos para a tela do computador ao mesmo tempo.
— Procure pelas últimas conversas. — disse Dashiel.
— É o que estou fazendo.
Na tela, aparecia várias conversas que Elizabeth tivera nos dias
que antecederam sua morte, inclusive comigo. Com seus olhos ágeis,
Steve parou em um chat específico, onde havia longas conversas, entre
ela e um cara chamado Quentin, cujo conteúdo eu não compreendia
direito devido à velocidade com que Steve passava as páginas.
— Achamos o assassino. — anunciou Steve, sem que eu nem
Dashiel entendêssemos nada — Elizabeth tinha um caso romântico com
esse Quentin, que era casado. A mulher dele cometeu suicídio quando
descobriu a verdade e ele tentou alertá-la de que o filho estava jurando-a
de morte por causa disso. Recomendou que ela saísse da cidade por um
tempo, até as coisas se acalmarem, mas ela se recusou a partir. — Steve
fixou seu olhar em meu rosto — Agora é com você. Quem é o Quentin
com quem ela namorava?
Puxei pela memória. Eu jamais vi Elizabeth namorando com
alguém, ou ao menos tocando no assunto. Depois de ser agredida pelo
falecido marido, ela havia fechado seu coração para o amor.
No entanto, uma mulher havia cometido suicídio poucas semanas
antes da morte de Elizabeth, e o nome do marido dela era Quentin. Pai de
Thomas.
Minhas pernas falharam à medida em que os acontecimentos iam
ganhando forma e sentido na minha cabeça, de modo que precisei me
apoiar no balcão para não desabar. A mãe de Thomas havia cometido
suicídio, sem que ninguém na cidade soubesse o motivo, agora eu sabia
que era porque descobrira que seu marido a traía com Elizabeth e, para
vingar a morte da mãe, Thomas a assassinara.
Tudo fazia sentido, as peças se encaixavam perfeitamente,
inclusive explicavam a natureza do vídeo que Thomas me mostrara na
delegacia. Obviamente forjara aquele vídeo para incriminar Dashiel, a fim
de se safar, já que seria muito mais difícil tentar incriminar Amelia, ou
qualquer outra pessoa.
Elizabeth jamais estivera na delegacia se queixando de ameaças,
essa era apenas mais uma mentira inventada por Thomas para incriminar
o pai da minha filha.
Por Deus! Como não percebi nada antes?
— Você está bem? — A voz de Dashiel penetrou minha mente
tumultuada e fiz que sim com a cabeça.
— Foi Thomas, ele a matou. — declarei, estarrecida com minhas
próprias palavras — Eu não sabia que Elizabeth tinha um caso, ela era
muito reservada com sua vida íntima, mas a mãe de Thomas cometeu
suicídio algumas semanas antes do assassinato e o nome do pai dele é
Quentin.
— Graças a Deus! — Dashiel exclamou, cobrindo o rosto com as
duas mãos, seus ombros relaxando como se uma tonelada fosse tirada de
cima deles — Finalmente vou me livrar desse inferno.
— Qual o próximo passo? — Steve quis saber.
— Rastreie o IP do Quentin e envie junto com o chat dessa
conversa para o meu advogado, com isto ele finalmente vai conseguir
uma ordem judicial para averiguar a câmera do estacionamento do
supermercado e provar que as imagens foram falsificadas e aquele carro
não era o meu. Finalmente esse inferno vai acabar.
O som dos dedos de Steve se movendo freneticamente sobre as
teclas do computador voltaram a tomar conta do ambiente, tornando-se o
único ruído que quebrava o silêncio pesado.
O olhar de Dashiel se fixou em meu rosto, enquanto emoções
intensas explodiam em meu peito, ameaçando levar lágrimas aos meus
olhos.
Por Deus! Então ele era mesmo inocente! Como pude ter sido tão
injusta, a ponto de duvidar dele? De mandá-lo para a prisão, privando-o
da convivência com a nossa filha? Eu jamais me perdoaria pelo meu erro
e sabia que ele também não.
— Acredita em mim agora? — indagou Dashiel, fuzilando-me com
aquele olhar frio que me desmontava.
Sem que fosse capaz de evitar, as lágrimas começaram a rolar pelo
meu rosto.
— Eu sei que você tem todo direito de não querer me perdoar, mas
mesmo assim eu te imploro que me desculpe. — murmurei, com minha
voz trêmula, as lágrimas banhando minha face.
Dashiel permaneceu imóvel durante um longo momento de silêncio,
seus olhos inexpressivos fixando meu rosto. Até que sua voz irrompeu
pela loja.
— Não precisa ficar assim. Você não tinha como saber. Aquele
safado deve ter arranjado um carro igual ao meu e colocou a mesma
placa enquanto gravava o vídeo. O dono do supermercado também deve
estar envolvido. Eles armaram tudo isso muito bem.
— Eu devia ter confiado em você. Por favor, me diz que me perdoa,
pois eu jamais me perdoarei.
— Eu te perdoo. — Sua voz não continha emoção alguma — Mas a
nossa história acabou. As coisas nunca mais serão como antes. Eu não
serei o pai presente que Savana merecia ter. Quando tudo isso se
resolver, voltarei para o Texas e recomeçarei minha vida bem longe desse
inferno.
Um soluço alto me escapou, a dor intensa me alcançando até a
alma, destruindo-me, pelo amor que eu perdia, pelo direito de ter um pai
presente negado à minha filha.
Tive vontade de dizer a ele que estava grávida, que teríamos outro
filho, mas eu não podia usar essa gravidez para tentar coagi-lo a ficar
onde não mais queria estar.
— Eu entendo. — sussurrei, quase com um gemido.
— Pronto. Tudo resolvido. — A voz de Steve irrompeu pelo recinto.
Ele se virou e alternou seu olhar entre nós dois, antes de continuar
falando — Enviei a conversa para o seu advogado e ele já respondeu.
Disse que vai conseguir a ordem judicial para verificar a câmera do
supermercado ainda hoje, mas recomendou que você continue escondido
até que tudo se resolva, afinal não se pode confiar nesse Thomas. — O
olhar dele vagou entre meu rosto e o de Dashiel novamente — Eu acho
que vocês três querem ficar sozinhos. Vou esperar ali nos fundos. — dito
isto, ele levantou-se e seguiu pela mesma direção por onde havia entrado.
— Então... acho que isso é um adeus. — murmurei, minha voz
quase inaudível.
— Eu acho que sim.
Dashiel aproximou-se e pegou Savana dos meus braços. Fechou
seus olhos e permaneceu abraçado a ela durante um longo tempo, seu
semblante carregado de emoção, suas sobrancelhas arqueadas.
— Eu te amo, meu bebê e sempre vou amar. — sussurrou ele —
Papai vai estar longe, mas meus pensamentos sempre estarão com você.
— Como se pudesse compreender o que se passava, Savana
choramingou e agarrou-se mais a ele — Eu sei bebê, está sendo difícil
para mim também. — Eles permaneceram abraçados durante um longo
momento, até que Dashiel a devolveu para os meus braços — Eu vou
estar longe, mas não deixarei que nada falte a ela. Enviarei uma pensão
suficiente para que ela tenha tudo do bom e do melhor. — Sem palavras,
apenas assenti — Adeus.
Dito isto, Dashiel nos deu as costas e seguiu em direção à porta
dos fundos.
Com a visão embaçada pelas lágrimas, observei-o se afastar. Meu
coração parecia um peso morto no peito, e a sensação de desespero me
envolvia como uma névoa densa. O silêncio pesava sobre a loja, apenas
interrompido pelos meus soluços abafados.
Tentei ficar onde estava, respeitar a decisão de Dashiel de ir
embora, mas um impulso incontrolável se apoderou de mim e coloquei
Savana suavemente no chão, correndo atrás dele antes que ele chegasse
à porta dos fundos.
Alcancei-o a tempo de vê-lo segurando a maçaneta.
— Não vá. Fique. — falei, com minha voz trêmula e ele se virou
para me encarar, seu olhar desprovido de emoções — Eu te amo, sempre
amei e sempre vou amar. Fique comigo.
Ele continuou me encarando impassivelmente, sem nenhuma
expressão no seu olhar.
— Willow, eu... Eu não posso ficar. Não depois de tudo o que
aconteceu. Nada poderá mudar o que houve. — Suas palavras cortavam
como lâminas afiadas.
Desesperada, me aproximei e segurei seu rosto entre minhas
mãos, buscando qualquer sinal de hesitação que pudesse fazê-lo
reconsiderar.
— Nós podemos superar isso. Podemos recomeçar. Basta você me
perdoar.
— Eu já te perdoei, como poderia não perdoar? Eu te amo e amo
Savana, mas nada poderá consertar as coisas. Não podemos continuar
de onde paramos. Eu sinto muito.
Suas palavras foram como facadas no meu peito, mas ele as
pronunciou com uma firmeza que não admitia argumentos.
Assisti, impotente, enquanto ele se afastava, indo em direção à
porta dos fundos. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, e meu corpo
tremia com a dor da perda iminente. A porta se fechou atrás dele, e o
vazio se instalou na loja.
Voltei para trás do balcão e fundei no chão, abraçando Savana
como se ela fosse a única coisa segura em minha vida.
CAPÍTULO 54

Dashiel.

Era tarde da noite, eu estava sentado no jardim dos fundos da


mansão, observando o sossego da vegetação à minha frente, ouvindo o
som distante das ondas do mar, enquanto meus pais, minha irmã, meu
sobrinho e a amiga da minha irmã continuavam na sala, bebendo e
ouvindo música animada, comemorando minha vitória recente.
Foi questão de horas até meu advogado conseguir autorização
para que a polícia estadual averiguasse a câmera no estacionamento do
supermercado, constatando que ela fora colocada lá muito tempo depois
do assassinato de Elizabeth, para que Thomas fizesse seu vídeo, usando
as mesmas roupas que vestia quando a matara, entrando em um carro
igual ao meu, com uma placa falsificada.
Thomas já estava preso, assim como o pai dele e o dono do
supermercado. Estava tudo resolvido. Eu era um homem livre novamente,
podia voltar para o Texas, como vinha planejando.
Era para eu estar feliz, comemorando com minha família. No
entanto, tudo o que conseguia sentir era um vazio enorme no peito, por ter
que deixar para trás a mulher que eu amava e a nossa filha.
Por mais que eu tivesse tentado, durante todo esse tempo em que
estive preso e depois foragido, escondido em uma das propriedades da
minha família, jamais consegui tirar Willow dos meus pensamentos.
Eu a amava com mais intensidade do que um dia imaginei ser
capaz de amar alguém. Minha vontade era de ficar em Georgetown, ou
levá-la para o Texas e construir uma família com ela e Savana.
No entanto, como eu poderia compartilhar minha vida com alguém
que não confiava em mim? Que foi capaz de desacreditar na minha
inocência, armando uma tocaia para que eu fosse preso? Que foi capaz
de esconder minha filha de mim?
Eu precisava admitir que a armação de Thomas fora muito bem-
feita e que qualquer pessoa teria caído nela ao ver aquele vídeo, mas
Willow deveria ter confiado em mim, pois é o que se faz quando se ama
alguém.
Bebi um grande gole da minha cerveja, direto do gargalo da
garrafa, e recostei a cabeça do espaldar do banco de cimento, fechando
os olhos, repassando mentalmente os acontecimentos recentes.
A imagem de Willow se projetou mais uma vez na minha cabeça,
nítida como se ela estivesse diante de mim, do jeito como a vi no anterior,
na livraria. Eu a tinha enxergado de longe algumas vezes, quando estava
foragido e me aproximava para ver como Savana estava, mas nada havia
me preparado para o que senti ao vê-la de perto.
Ela estava um pouco diferente, mais encorpada e ainda mais linda
do que me lembrava.
Naquele instante, percebi que meu amor por ela era mais infinito do
que eu havia constatado, assim como meu amor por nossa filha, e estive
prestes a desistir da decisão de deixá-las. Mas eu precisava me manter
firme, afinal não podia compartilhar minha vida com alguém que
desconfiava de mim tão facilmente.
— Que solidão é essa? — A voz feminina interrompeu meus
devaneios e abri os olhos para ver Chloe se aproximando.
Ela era amiga da minha irmã, estava aqui para passar alguns dias
na nossa casa em Georgetown, porque minha irmã achava que nós dois
combinávamos.
Chloe era linda, isso eu não podia negar, e era uma pessoa amável
e gentil, apoiando minha família e nos ajudando enquanto eu estava
foragido, mas eu não sentia nada por ela além de gratidão.
— Só pensando um pouco na vida. Sente-se. — Afastei-me
brevemente, dando espaço para que ela se acomodasse no banco ao
meu lado.
— Sua família está animada. Seu pai estava dançando a
Macarena. — Ela disse sorrindo.
— Eles estão felizes por mim.
— Eu sei. Também estou feliz por você.
— Obrigado.
— Valentina disse que você foi ver Thomas na prisão. Ele disse
porque tentou te acusar?
Um estremecimento de raiva me atravessou quando me lembrei da
cara daquele safado. Eu havia ido conversar com ele na cadeia, após a
sua confissão. Queria saber porque tanta insistência em tentar me
incriminar e a resposta foi a que eu já esperava.
— Disse o que eu já sabia. Que não foi nada pessoal. Eu apenas
era um alvo fácil de ser acusado, devido ao meu passado. Ele sabia que
as pessoas acreditariam facilmente quando fizesse parecer que eu havia
matado Elizabeth. Seria, inclusive, mais fácil do que tentar incriminar
Amelia.
— É impressionante como as pessoas são preconceituosas em
cidades pequenas.
— Não é só nas pequenas cidades. Em todo lugar tem gente
ignorante.
Dei mais um gole na minha cerveja, a imagem de Willow se
projetando em minha mente mais uma vez.
— É verdade, minha manicure coreana que o diga. — Chloe sorriu
da sua própria piada — Mas o importante é que tudo se resolveu e você
poderá voltar para casa.
— Sim. Graças a Deus estou livre.
Chloe moveu-se no banco, se aproximando um pouco mais de
mim, seu perfume suave misturando-se com a brisa noturna. Seus olhos,
levemente iluminados pela luz tênue que vinha da casa, fixaram-se nos
meus.
Era impossível ignorar a maneira como ela se insinuava, seus
gestos delicados e a maneira como seus lábios se curvavam em um
sorriso sugestivo.
— Dashi, você passou por tantas coisas. Deve estar precisando
relaxar um pouco. — Ela deslizou a mão suavemente pelo meu braço.
Eu desviei o olhar por um momento, desconfortável com a situação.
Chloe era uma boa pessoa, eu sabia disso, mas meus pensamentos
estavam em outro lugar, em uma mulher de olhos intensos e cabelos
longos escuros.
— Chloe, eu realmente aprecio tudo o que você fez pela minha
família, mas estou cansado. Só quero aproveitar a paz por um momento.
— Tentei ser delicado, mas ela não parecia desistir facilmente.
Ela se inclinou um pouco mais, seus lábios próximos ao meu
ouvido, sussurrando palavras que nada me despertavam. Chloe era
atraente, não havia como negar, mas meu corpo clamava por outra
mulher.
— Você merece ser feliz. Deixe-me te mostrar como pode ser bom
esquecer os problemas por um momento. — Ela sussurrou, seus dedos
traçando levemente padrões na minha coxa.
Apesar dos meus pensamentos estarem em outro lugar, não faria
mal me divertir um pouco com ela, pelo contrário, talvez até me faria
esquecer Willow.
Então, segurei-a pela nuca e trouxe seus lábios até os meus,
beijando-a avidamente, enquanto ela retribuía com sofreguidão, ansiosa
como uma leoa abatendo sua presa.
Ela era macia, delicada e tinha um gosto bom, mas nem assim
consegui sentir nada, meu corpo não reagia minimamente ao contato,
como se eu estivesse beijando o vento.
Contudo, Chloe era uma boa pessoa e queria se divertir comigo,
talvez valesse à pena tentar mais um pouco. Assim, continuei beijando-a,
enquanto minhas mãos exploravam seu corpo esguio, oculto pelo vestido
de tecido delicado. Os segundos se arrastaram e nada aconteceu. Ela não
era a mulher que eu queria.
— Me desculpe. — Sussurrei, interrompendo o beijo.
O rosto dela estava vermelho, evidenciando o quanto estava com
tesão. Eu queria realmente desejá-la, mas minha alma e meu coração já
tinham uma dona e, naquele instante, percebi que não fazia o menor
sentido ficar longe dela.
— Tudo bem. — Disse Chloe, completamente desconcertada e
levantei-me — Onde você vai? — Indagou ela.
— Dar uma volta. — Dito isto, dei-lhe as costas e me afastei.
O que diabos eu estava fazendo? Me perguntei enquanto
marchava obstinado em direção à porta de saída, ignorando os protestos
da minha família enquanto passava por eles na sala.
Peguei as chaves, entrei no carro e parti pela estrada em direção à
cidade, minha mente traçando o percurso até a casa de Willow.
Por que eu tinha que ser tão impulsivo? Me perguntei mais uma
vez. Eu deveria ficar com a doce Chloe, uma garota legal, altruísta, que
apoiara a mim e à minha família quando mais precisamos e não ir atrás de
uma mulher que não confiava em mim, que me traiu na primeira
oportunidade que teve.
Eu estava agindo como um verdadeiro alucinado, mas não podia
fazer nada a esse respeito, pois Willow era a mulher que eu amava, com
quem queria passar o resto da minha vida e nada poderia mudar isso. Eu
jamais seria feliz com outra pessoa, mesmo que vivesse cem anos.
Obstinado, parei o carro em frente à casa dela. Como era tarde, a
rua se encontrava deserta e silenciosa, com toda a vizinhança dormindo.
Pensei em bater na porta da frente, mas imaginei que isso acordaria a
mãe dela.
Então, contornei a moradia simples e abri a janela do quarto dela
com facilidade. Quando pulei para o lado de dentro, Willow já estava de
pé, segurando ursinho de pelúcia erguido no ar, como se pretendesse
usá-lo para se defender, caso fosse necessário.
O pânico se estampava em seu rosto naturalmente pálido,
tornando-o ainda mais branco. Ela estava mais linda que nunca, com seus
cabelos negros, escorridos, caindo desgovernados pelos seus ombros, os
olhos castanhos escuros arregalados de susto, com uma camisola curta
emoldurando seu corpo mais voluptuoso que o normal.
— Você. — Disse ela, um misto de surpresa e paixão emergindo na
expressão dos seus olhos.
— Se fosse um ladrão, você pretendia derrubá-lo com isso? —
Apontei para o ursinho em sua mão e ela o abaixou desconcertada.
— Foi a primeira coisa que minha mão alcançou. O que faz aqui?
— Vim ver vocês. Aproximei-me do berço de Savana e meu
coração se inundou de afeto ao vê-la dormindo tranquilamente,
transmitindo uma paz que apenas um bebê adormecido teria a
capacidade de emanar.
Por Deus! Como eu a amava! Me custava acreditar que realmente
cogitei me afastar.
— E nem passou pela sua cabeça bater na porta? — Willow
indagou.
— Até passou, mas eu não quis acordar sua mãe. Aproximei-me
alguns passos dela, a paixão explodindo ferozmente em meu peito ao
olhar em seus olhos lindos.
— O que você quer de nós?
Eu nunca fui bom com palavras românticas, mas com Willow elas
saíam naturalmente da minha boca.
— Vim te dizer que fui um imbecil ao acreditar que realmente
poderia viver sem vocês. Eu não posso. Sou louco por você e por nossa
filha, e percebi que minha vida não teria o menor sentido sem vocês duas.
As lágrimas marejaram os olhos de Willow, ao mesmo tempo em
que seus lábios carnudos se curvavam em um sorriso carregado de
emoção.
— Nós também somos loucas por você. Eu te amo e minha vida
não teria nenhum significado sem a sua presença.
Com o coração batendo forte no peito, aproximei-me dela e a
envolvi em um abraço apertado, pressionando-a contra mim.
Beijei seus lábios com uma saudade avassaladora, como se,
naquele momento, eu recuperasse minha existência. Seu gosto, seu
cheiro, seu calor, tudo se tornou extraordinariamente real, dominando meu
ser, como se eu dependesse dela até para respirar. As emoções
irromperam em meu peito, inflamando a paixão que me consumia até o
cerne.
— Eu te amo, Willow. Sempre amei e sempre vou amar. —
Sussurrei, ofegante, interrompendo o beijo e mantendo minha testa
grudada na dela.
— Eu também te amo, com todo o meu coração.
Nos beijamos novamente, profundamente, a paixão e a lascívia
tomando conta de tudo.
Quando comecei a conduzi-la em direção à cama, Willow me
interrompeu.
— Tem algo que preciso te falar. — Disse ela, emocionada.
— O que é?
— Estou grávida. Descobri há alguns dias.
Digeri suas palavras e meu coração disparou, emoções intensas
tomando conta de mim. Não podia existir felicidade maior nesse mundo.
— Meu Deus! Eu serei pai novamente?
Isso explicava porque ela estava ligeiramente mais rechonchuda.
— Sim. Teremos outro filho.
Dominado pelas emoções intensas, ajoelhei-me diante dela, fitando
seu ventre ainda achatado, para em seguida plantar uma camada de
beijos sobre ele, inebriado de tanta paixão.
— É muita felicidade ter outra Savaninha para amar.
— Ou um Savaninho.
Fiquei de pé, fitando-a com um sorriso.
— Obrigado por me fazer tão feliz. Quero ter mais uns cinco filhos
com você.
— Podemos providenciar.
Dito isto, Willow colou seu corpo delicioso no meu, esfregando-se
em mim, deixando-me louco de tesão, enquanto eu me apossava dos
seus lábios e a levava para a cama.
EPÍLOGO 1

Dashiel

Enquanto o iate deslizava graciosamente pelas águas serenas, fui


completamente cativado pela deslumbrante combinação de beleza e
opulência ao meu redor.
A iluminação suave se entrelaçava de maneira harmoniosa com os
raios dourados do sol poente, criando uma atmosfera romântica que
parecia envolver tudo em uma aura mágica.
Uma melodia suave ecoava pelo ar, acompanhando o leve bater
das ondas no casco da embarcação, formando uma sinfonia perfeita para
aquele momento tão especial. Minha irmã havia realmente se superado,
preparando tudo conforme meu pedido.
No convés do iate, havia uma área cuidadosamente arranjada para
Willow e eu, com almofadas macias espalhadas pelo chão, velas
aromáticas e flores enfeitando o espaço, além de uma garrafa de
champanhe e taças de cristal sobre uma pequena mesa, onde seria
servido o nosso jantar.
Cada detalhe meticulosamente organizado para proporcionar a
máxima intimidade e privacidade para o nosso momento a dois.
— Uau! Está tudo tão lindo! — exclamou Willow, impressionada. —
Você realmente sabe como impressionar uma garota.
— Quero que seja sempre perfeito para você.
— Quem imaginaria que um cara durão, cheio de tatuagens, seria
capaz de gestos tão românticos?
— Não estrague a minha reputação espalhando isso por aí. —
brinquei.
Willow sorriu e caminhou até a borda do iate, perdendo-se na vista
esplêndida do oceano à nossa frente. Eu a observei por alguns instantes,
maravilhado com sua beleza, tentando conter a ansiedade que crescia
dentro de mim.
— Vem aqui, Dashiel. — Ela chamou, estendendo a mão.
Eu me aproximei, segurando sua mão, sentindo o calor transmitir
uma corrente elétrica por todo o meu corpo. Juntos, nos apoiamos na
amurada, contemplando o espetáculo da natureza à nossa volta.
— É tão lindo, não é? — Willow murmurou, apertando minha mão
com carinho.
— Sim, é maravilhoso.
— Savana ia adorar isso aqui. Nós devíamos tê-la trazido.
— A traremos em outras ocasiões. O iate vai estar sempre aqui.
Hoje eu queria ficar a sós com você.
Willow encarou-me pensativa.
— Você está estranho. — comentou ela.
— É, eu estou. Mas tenho motivos.
— E que motivos são esses?
Respirei fundo, tentando dissipar o nervosismo que ameaçava me
dominar. Olhei novamente para Willow, que observava meu rosto com
curiosidade. Meu amor por ela era tão intenso que mal conseguia conter a
emoção ao pensar em nosso futuro juntos.
O balanço suave da embarcação nos fazia sentir como se
estivéssemos flutuando em um mundo à parte, afastados de todas as
preocupações e apenas entregues àquele momento único.
Decidi que aquele era o momento perfeito e retirei do bolso a
pequena caixinha de veludo preto.
— Willow, eu preciso te dizer algo importante.
— É impressão minha, ou você está nervoso? — Seus olhos
escrutinavam meu rosto com desconfiança.
— Estou, um pouco. — Respirei fundo antes de continuar falando.
— Desde o dia em que nos conhecemos, eu soube que você era alguém
especial. Você trouxe cor e alegria à minha vida, e todos os momentos
que passamos juntos foram incríveis.
Enquanto falava, sentia a intensidade do seu olhar, como se ela
estivesse lendo minha alma.
— Dashiel, eu também amo cada momento que passamos juntos.
Você é meu porto seguro, meu companheiro, meu melhor amigo.
— O que eu quero dizer é... Eu não consigo imaginar minha vida
sem você. Eu quero compartilhar tudo contigo, enfrentar todas as
adversidades lado a lado, e construir um futuro repleto de amor e
felicidade, com você e nossos filhos.
Foi então que me ajoelhei, abrindo a caixinha de veludo e
revelando o anel de noivado com um diamante solitário.
— Willow, você aceita se casar comigo? — perguntei, sentindo meu
coração bater descompassado, aguardando a resposta dela.
Ela cobriu a boca com as mãos, surpresa e emocionada. Seus
olhos brilhavam com lágrimas de felicidade, e, após alguns segundos que
pareceram uma eternidade, ela finalmente respondeu:
— Sim! Sim, eu aceito me casar com você!
Coloquei o anel no dedo dela, e fiquei de pé, abraçando-a
fortemente, ciente de que, a partir daquele instante, nossas vidas estariam
entrelaçadas para sempre.
— Mal posso acreditar que vamos nos casar! — exclamou ela,
assim que nos desvencilhamos do abraço — Eu sempre sonhei com esse
dia, mas não imaginava que seria assim, tão perfeito.
— Nós ainda temos uma longa jornada pela frente, mas sei que,
juntos, podemos enfrentar qualquer desafio. Eu te amo muito e estou
ansioso para esta nova etapa da nossa vida.
— Eu também te amo.
Ali, no convés, envoltos pela suave iluminação e embalados pelo
som das ondas, celebramos nosso noivado e o início de uma nova etapa
em nossas vidas. Sabíamos que, juntos, enfrentaríamos qualquer desafio
e construiríamos uma vida plena de amor e companheirismo.
EPÍLOGO 2

Willow.

Dashiel e eu nos casamos algumas semanas depois, em uma


cerimônia simples no Havaí, com a presença da minha mãe e da família
dele, com seu sobrinho de cinco anos segurando a mãozinha de Savana
enquanto ambos levavam as alianças até o altar.
Após a lua de mel nas Maldivas e em Dubai, fomos para a casa
dele no Texas, onde nosso segundo filho, Jared, nasceu.
Após alguns meses morando no Texas, decidimos voltar para
Georgetown, onde a vida era mais tranquila e os dias passavam mais
devagar, nos proporcionando mais tempo para nos regozijarmos com a
felicidade construída com base no amor que sentíamos um pelo outro.
Fazia três meses que estávamos de volta a Georgetown. Era fim de
tarde e a mansão estava incrivelmente animada. Comemorávamos o
aniversário de dois anos de Savana, e a irmã e a mãe de Dashiel tinham
organizado uma festa inesquecível para ela.
Tão exageradas quanto meu marido, elas tinham convidado
praticamente todas as crianças da cidade e abarrotado os jardins e os
salões da casa com enfeites e brinquedos com a temática da Cinderela, a
princesa preferida de Savana.
O rico bufê, assim como a bela mesa que comportava o bolo,
estavam dispostos no jardim, onde os convidados se espalhavam, com as
crianças correndo por todos os lados, rindo e se divertindo, em meio a
balões coloridos e ao som da música infantil que tocava ao fundo.
Entre os convidados se encontravam Sarah e Jeremy, que agora
estavam noivos. Logo depois do meu casamento, eu havia entregado o
comando da livraria à Sarah. Agora, além de minha melhor amiga, ela
também era minha sócia, mantendo-se à frente de todos os negócios da
loja.
Quem também estava presente na festa era o novo namorado da
minha mãe, o Sr. Anderson, dono do posto de gasolina. Ela havia se
aproximado dele após começar a frequentar um clube de crochê, e
embora eu ainda não soubesse ao certo como lidar com essa situação, já
que nunca tinha visto minha mãe namorando, dava todo apoio a ela,
afinal, mais do que ninguém, ela merecia ser feliz.
Outra felicidade em nossas vidas foi a notícia que recebemos, por
meio de Valentina, irmã de Dashiel, de que Amelia finalmente havia
encontrado seu caminho na vida, ao se casar com um viúvo que tinha três
filhos ainda pequenos, precisando de uma mãe.
Eu tinha certeza de que, após o tratamento psicológico pelo qual
passara, Amelia se tornaria uma boa mãe para essas crianças, afinal, era
o sonho dela ter filhos.
Após ajudar minha sogra e minha cunhada a receber os
convidados, eu havia subido até o quarto para amamentar o pequeno
Jared, agora com cinco meses. Estava sentada na cama, com as costas
apoiadas na cabeceira, e o bebê mamando no peito, quando a porta se
abriu com um rompante e Savana e Dashiel entraram correndo, brincando
de faz de conta, onde ele fazia o papel de uma fera assustadora que a
perseguia, enquanto Savana sorria exultante, fingindo que fugia.
Não pude acreditar quando vi o estado em que ela se encontrava,
com os cabelos desgrenhados e o vestido da Cinderela todo sujo. Minha
sogra havia passado horas fazendo aquele penteado nos cabelos dela e
trouxera o vestido de Nova Iorque. Ela ia ter um treco quando a visse
naquela situação.
— Sua mãe vai te matar quando vir Savana nesse estado. —
comentei.
— Ah, deixa a garota se divertir. O que são um vestido e um
penteado quando o que está em jogo é a diversão?
Savana se escondeu atrás de uma cortina e balbuciou algo como:
“Papai nem me pega”, atraindo novamente a atenção de Dashiel, que foi
até ela e a pegou no colo, erguendo-a no ar e grunhindo como uma fera,
enquanto fazia cócegas com a boca na sua barriga, arrancando-lhe
gargalhadas altas e gritinhos.
Não consegui evitar o sorriso ao observar os dois. Dashiel parecia
uma criança quando brincava com Savana. Os dois eram unidos como
unha e carne.
— Daqui a pouco é hora dos parabéns e precisaremos nos
recompor. — avisei.
Dashiel sentou-se na cama à minha frente, com uma desgrenhada
Savana no colo. Observou o neném mamando durante um momento e
subiu o olhar até meu rosto, quando pude ver o brilho da luxúria se
refletindo na expressão dos seus olhos azuis.
— Às vezes tenho inveja desse garoto. — disse ele.
— Não seja sem-vergonha na frente das crianças.
— Você sabe que estou falando da conexão especial entre mãe e
filho, Willow. — Ele riu, tentando disfarçar seu descaramento, enquanto
Savana se desvencilhava dos braços dele e se aproximava, ainda
sorrindo, para ver o irmãozinho mamando.
— Sei bem do que você está falando. — Respondi, sorrindo e
olhando para Jared, que, dando-se por satisfeito, abandonava o peito,
permitindo-me ajeitar minha blusa de volta no lugar.
O bebê desviou seu olhar para o pai e a irmã, tentando balbuciar
algumas palavras, como se quisesse participar da conversa, ou mesmo
reprender Dashiel por invejar sua forma de se alimentar e nós dois caímos
na gargalhada, completamente encantados com nosso lindo bebê.
Ao contrário de Savana, que tinha cabelos escuros como os meus
e os olhos azuis como os de Dashiel, Jared tinha cabelos loiros e olhos
castanhos. Ele também era muito mais calmo que a minha princesa
sapeca.
Savana se aproximou, curiosa, e acariciou suavemente o rosto do
irmãozinho. Dashiel olhou para ela com um olhar cheio de ternura, um
sorriso orgulhoso nos lábios.
— Jared tem muita sorte de ter uma irmã tão incrível como você,
Savana. — Ele disse, fazendo cócegas no nariz da menina, que
gargalhou.
— “Jaled” é lindo. — Savana respondeu, olhando para ele com
adoração.
Dashiel me lançou um olhar de cumplicidade e intimidade, antes de
pegar Jared com cuidado, permitindo que eu me levantasse.
— Vamos voltar para a festa antes que sintam nossa falta. —
propus.
— Huum... não sei não. Aqui em cima está mais gostoso. —
Dashiel sussurrou, preguiçosamente e, incapaz de resistir, voltei a me
sentar entre ele e Savana.
— Nossa família é incrível, não é? — comentei, abraçando Savana
por trás e olhando para Jared nos braços tatuados do pai.
— É mais do que eu jamais sonhei. Você trouxe tanta luz para a
minha vida. — Dashiel respondeu, voltando-se para mim e envolvendo a
mim e Savana com seu outro braço.
Nos acomodamos no espaldar da cama, abraçados, unidos. Até
Savana que era uma pimentinha estava quieta, apreciando a serenidade
daquele momento repleto de cumplicidade a mor.
— Eu te amo mais a cada dia, Dashiel. — Murmurei, perdendo-me
na intensidade do azul dos seus olhos.
— E eu te amo além das palavras.
Ficamos ali, abraçados, aproveitando a tranquilidade daquele
momento. Ao fundo, ouvíamos os risos das crianças e os murmúrios
suaves da festa lá embaixo. Sentia-me completa, realizada, rodeada pelo
amor da minha família.
— Eu não poderia pedir por nada mais na vida. — Suspirei,
encostando minha cabeça no peito de Dashiel.
— Nem eu, meu amor. — Ele sussurrou, acariciando meus cabelos.
E assim, juntos, contemplamos, através da janela, o crepúsculo que
marcava não só o final daquele dia especial, mas o início de uma vida
repleta de amor e alegrias compartilhadas.

FIM
AGRADECIMENTOS

Expresso minha gratidão a Deus pela oportunidade de


dedicar-me a fazer o que amo, que é a escrita. Sou profundamente
grata à minha filha, minha fonte de segurança, minha assistente em
tudo, meu alicerce. Agradeço à Letícia por seu auxílio na divulgação
e expresso minha gratidão à minha leitora beta, Lilian Curi, por
sempre me guiar pelo caminho certo.
NOTA
Caso tenha apreciado este livro, ficaria imensamente grata se
pudesse compartilhar sua avaliação e comentário na página do e-
book na Amazon. Isso contribuirá para que mais leitores tenham a
oportunidade de descobrir a obra. Desde já, expresso toda a minha
gratidão.
SOBRE A AUTORA
Nascida em 1973, no interior do estado do Tocantins, Ariela
Pereira é divorciada e mãe de dois filhos. Viveu durante muito
tempo no Rio de Janeiro, posteriormente trocando a agitação da
cidade grande pelo sossego do interior.
Graduada em Pedagogia, pela Universidade Federal do
Tocantins, atuou durante alguns anos como educadora na rede
municipal de ensino, renunciando ao ofício para se dedicar
integralmente à escrita de Romances Contemporâneos.
Sempre foi apaixonada pela literatura, torando-se uma leitora
assídua ainda criança. Escreveu seus primeiros rascunhos aos
dezoito anos e, após publicar suas obras em duas editoras
tradicionais, optou por tornar-se autora exclusiva do KDP.
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